Mon - Sara Nobrega
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Mon - Sara Nobrega
Monografia realizada no âmbito da unidade Estágio Curricular do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas, orientada pela
Professora Doutora Gabriela Conceição Duarte Jorge da Silva e apresentada à Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra
Setembro 2015
Sara Isabel Queirós Nóbrega
Monografia realizada no âmbito da unidade Estágio Curricular do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas,
Orientada pela Professora Doutora Gabriela Conceição Duarte Jorge da Silva e apresentada à
Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra
Setembro 2015
A Tutora
___________________________
(Professora Doutora Gabriela Jorge da Silva)
A Aluna
_________________________________
Eu, Sara Isabel Queirós Nóbrega, estudante do Mestrado Integrado em Ciências
Farmacêuticas, com o nº 2010144850, declaro assumir toda a responsabilidade pelo
conteúdo da Monografia apresentada à Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra,
no âmbito da unidade Estágio Curricular.
Mais declaro que este é um trabalho original e que toda e qualquer afirmação ou expressão
de outrem, por mim utilizada, está referenciada na Bibliografia desta Monografia, segundo os
critérios bibliográficos legalmente estabelecidos, salvaguardando sempre os Direitos de
Autor, à exceção das minhas opiniões pessoais.
Ao NEF/AAC que durante vários anos fez parte do meu percurso e que permite que hoje
tenha uma maior noção daquilo que é o trabalho de equipa e a responsabilidade perante os
colegas que esperam de nós o melhor trabalho. À direção NEF/AAC 2014/2015.
Aos amigos da faculdade que muito me ajudaram e aturaram durante todo este percurso,
vocês sabem que estão no meu coração.
Aos meus pais, irmão, família e amigas de infância pelo pilar que são na minha vida.
A Coimbra.
Klebsiella pneumoniae como um patogéneo hospitalar: A sua importância com o aumento da resistência aos antibióticos
Índice
Lista de abreviaturas 2
Resumo/Abstract 3
1. Introdução 4
2. Klebsiella pneumoniae 6
3. Mecanismos de Resistência 8
3.1 Beta-Lactamases 11
3.1.2. Carbapenemases 13
4. Multirresistência 16
7. Conclusão 19
8. Referências Bibliográficas 20
1
Klebsiella pneumoniae como um patogéneo hospitalar: A sua importância com o aumento da resistência aos antibióticos
LISTA DE ABREVIATURAS
ECDC - European Centre of Disease Prevention and Control
LPS - Lipopolissacarídeo
OXA-48 - Oxacilinases 48
2
Klebsiella pneumoniae como um patogéneo hospitalar: A sua importância com o aumento da resistência aos antibióticos
RESUMO
A resistência aos antibióticos é cada vez mais um problema com que, diariamente, os clínicos
de todo o mundo têm de lidar.
A emergir largamente nos últimos anos está Klebsiella pneumoniae que através de vários
mecanismos de resistência é já considerada como uma das bactérias patogénicas de maior
preocupação no que diz respeito à multirresistência aos antibióticos.
As beta-lactamases de largo espetro (ESBL) e as carbapenemases produzidas por Klebsiella
pneumoniae (KPC) são os mecanismos de resistência mais utilizados por este bacilo e motivo
de maior atenção pelos investigadores.
ABSTRACT
Antibiotic resistance is an arising problem that every day worldwide clinicians have to face in
healthcare centers.
An emerging cause of multidrug-resistant infections is Klebsiella pneumoniae that through
various mechanisms of resistance is already considered one of the most concerning
pathogenic bacteria with regard to antibiotics multi-resistance.
The predominant mechanisms of resistance used by this bacillus are Extended Spectrum
Beta-Lactamases (ESBL) and Carbapenemases produced by Klebsiella pneumoniae (KPC),
causing greater attention to researchers.
3
Klebsiella pneumoniae como um patogéneo hospitalar: A sua importância com o aumento da resistência aos antibióticos
1. INTRODUÇÃO
4
Klebsiella pneumoniae como um patogéneo hospitalar: A sua importância com o aumento da resistência aos antibióticos
para a transmissão de bactérias, e consequentemente para aumento das resistências, quer
desde a prescrição do médico até ao simples desinfetar de mãos de um enfermeiro ou
auxiliar de saúde.
Da panóplia de bactérias existentes escolhi Klebsiella pneumoniae (K. pneumoniae),
uma das bactérias patogénicas mais adquiridas pós-admissão no hospital em anos recentes, o
que sugere uma transmissão nosocomial. A resistência aos antibióticos é um problema
frequente com esta bactéria, sendo causa de muitos surtos hospitalares, uma vez que esta se
propaga facilmente entre os doentes.3
As opções de tratamento para doentes infetados por K. pneumoniae estão hoje
limitadas a poucos antibióticos, como os carbapenemos, uma vez que é frequente o
isolamento de estirpes resistentes a várias classes de antibióticos. No entanto, também esta
resistência, já conhecida pelos bacteriologistas, tem aumentado e está em vários países
europeus, incluindo Portugal, como poderemos ver neste trabalho.2,4
A bacteriologia é uma ciência em constante mudança, hoje sabemos que um dado
adquirido agora pode não o ser no futuro, e K.pneumoniae é um grande exemplo deste facto.
Esta monografia tem como principal objetivo mostrar a importância de Klebsiella
pneumoniae como um patogéneo oportunista, atualmente em grande foco devido à
emergência de estirpes multirresistentes, os mecanismos de resistência mais importantes,
bem como algumas medidas preventivas e de controlo.
5
Klebsiella pneumoniae como um patogéneo hospitalar: A sua importância com o aumento da resistência aos antibióticos
2. Klebsiella pneumoniae
Nomeada por Edwin Klebs, Klebsiella spp., é uma espécie ubíqua na natureza, que
pode ser encontrada quer no meio ambiente quer a colonizar as superfícies mucosas dos
mamíferos, em locais como o trato gastrointestinal, olhos, trato respiratório e geniturinário,
onde podem originar infeção.5
Pertencente à família Enterobacteriaceae, é caraterizada por ser uma bactéria imóvel,
ao contrário da maioria das enterobactérias que são móveis por flagelos perítricos, e
também por possuir uma cápsula polissacarídica que facilmente é identificada ao formar
colónias mucosas.6 É definida serologicamente pelo antigénio K (cápsula polissacarídea) e
pelo antigénio O (lipopolissacarídeos) que funcionam como fatores de virulência.6,7
Dentro do género Klebsiella existem quatro espécies com diferentes prevalências:
Klebsiella pneumoniae (a mais comum); Klebsiella oxytoca, Klebsiella terrígena e Raoultella
planticola.3
Klebsiella pneumoniae, a clinicamente mais importante, é a espécie que será abordada
mais em pormenor neste trabalho. Este bacilo causa entre 75 a 86% das infeções por
Klebsiella spp., com considerável morbilidade e mortalidade quando estão envolvidas estirpes
multirresistentes. 3Esta bactéria é reportada como um dos patogéneos Gram-negativos mais
comuns em hospitais logo a seguir a Pseudomonas aeruginosa, sendo causa de infeções
nosocomiais (adquiridas 48 horas após internamento) no trato respiratório inferior,
corrente sanguínea e trato urinário, provocando doenças como a pneumonia, sépsis,
infeções cirúrgicas e urinárias.8,9 É considerada a segunda bactéria a seguir à Escherichia coli na
causa de sépsis e infeções urinárias.6,8
Nos animais é também motivo de preocupação, uma vez que quando infetados
provoca mastites que levam à perda de leite e à morte do gado.3
Os principais fatores de risco para a aquisição desta bactéria são:7,10
- Utilização prévia de antibióticos (3 meses antes da hospitalização);
- Hospitalização prévia e tempos de internamento longos;
- Elevado uso de antibióticos (pressão seletiva);
- Ventilação mecânica, cateterização arterial e venosa e outros procedimentos
invasivos;
- Diabetes mellitus;
- Sistema imune comprometido;
- Baixo peso em prematuros.
6
Klebsiella pneumoniae como um patogéneo hospitalar: A sua importância com o aumento da resistência aos antibióticos
Os alvos mais comuns são normalmente recém-nascidos de risco, crianças,
imunodeficientes ou imunocomprometidos, onde devido à sua eficiente colonização
juntamente com a grande resistência aos antibióticos, tem conseguido persistir e disseminar-
se rapidamente.6,11
As fontes ambientais onde se encontra maioritariamente este bacilo incluem:
aparelhos de monitorização de pressão sanguínea, de diálise, ventiladores, solução de
dextrose, desinfetantes de mãos. No entanto, a fonte de transmissão mais comum são as
mãos.6 Segundo um estudo realizado em 2013, as infeções por K.pneumoniae são superiores
em hospitais de internamentos mais longos do que nas unidades de cuidados intensivos de
curta estadia.8,12
É considerada uma grande ameaça em casos de infeções invasivas, tendo aumentado
nos últimos anos o problema da escolha de antibióticos para o seu combate. O elevado risco
de transmissão e propagação das resistências ainda aumentam mais esta ameaça.
FATORES DE VIRULÊNCIA
7
Klebsiella pneumoniae como um patogéneo hospitalar: A sua importância com o aumento da resistência aos antibióticos
- A enzima urease permite o seu crescimento no trato urinário, pois hidrolisa a ureia
a amónia e carbamato, o que aumenta o pH da urina e exacerba a infeção;5
A formação de biofilmes, facilitada pela cápsula através de ligações eletrostáticas, de
Van der Waals e ligações específicas ligando-recetor, é considerada a maior causa para a
falha dos dispositivos médicos implantados, pois permitem uma sobrevivência longa das
bactérias e uma menor suscetibilidade aos antibióticos.5,13
3. MECANISMOS DE RESISTÊNCIA
8
Klebsiella pneumoniae como um patogéneo hospitalar: A sua importância com o aumento da resistência aos antibióticos
As bactérias Gram-negativas, como K.pneumoniae, possuem uma membrana externa,
constituída por fosfolípidos e lípido A do lipopolissacarídeo, que diminui a penetração dos
fármacos hidrofílicos, sendo o transporte alcançado por proteínas que formam poros na
membrana externa, as porinas (hidrofílicas).14,15
Exemplos como os beta-lactâmicos, o cloranfenicol e fluoroquinolonas entram nas Gram-
negativas via estas proteínas. Assim sendo, alterações quer em número, alteração da
conformação ou seletividade das porinas vão alterar a difusão destes antibióticos.14,15
Em K.pneumoniae a ausência OmpK35, OmpK36 e OmpK37 tem ligação direta com
a resistência aos antibióticos, nomeadamente aos carbapenemos.16
§ Bombas de efluxo
9
Klebsiella pneumoniae como um patogéneo hospitalar: A sua importância com o aumento da resistência aos antibióticos
Uma espécie bacteriana pode possuir mais que um tipo de mecanismo de resistência.
A prevalência de um dado mecanismo vai sempre depender da natureza do antibiótico, do
alvo, da própria estirpe e se a resistência é mediada por mutações cromossómicas ou um
plasmídeo resistente.14
A resistência bacteriana pode ser natural sendo intrínseca do organismo e especifica
para determinados antibióticos, por exemplo pela ausência de local de ação, de transporte
ou impermeabilidade celular, ocorrendo sem uma exposição prévia ao antibiótico. Por outro
lado, pode ser adquirida, através de alterações genéticas quer pela ocorrência natural de
mutações espontâneas durante o crescimento quer pela transferência horizontal de genes
dos organismos resistentes para os sensíveis, associados a estruturas de ADN móveis como
os plasmídeos, transposões e integrões.15,17
As mutações, erros na síntese de ADN durante a replicação e falhas nos sistemas de
reparação de ADN, podem ocorrer espontaneamente ou serem induzidas. As primeiras
ocorrem em ambientes naturais e têm uma baixa prevalência, enquanto as induzidas devem-
se à ação de radiação (ultravioleta, ionizante), espécies reativas de oxigénio (ROS),
hidroxilamina ou agentes alquilantes. Se o erro for benéfico para a bactéria tenderá a
preconizar na espécie.13
Os plasmídeos, elementos genéticos móveis não essenciais para a bactéria, são o
grande motor da resistência que favorecem a disseminação de genes resistentes.
Normalmente codificam enzimas que inativam os antibióticos ou reduzem a permeabilidade
das células. Quando a resistência evolui, os genes de resistência conseguem disseminar-se
entre as bactérias através dos mecanismos de transformação, transdução e conjugação (este
último mediado por plasmídeos conjugativos).18
Na transformação, processo espontâneo na natureza, a bactéria adquire moléculas de
ADN ou partes dela que estão dispersas no meio (por exemplo de bactérias mortas) e
incorpora-as à cromatina. Na transdução, são bacteriófagos (vírus) que transferem de uma
bactéria para a outra as moléculas de ADN bacteriano juntamente com o seu.6,13,18
Se a bactéria sobreviver à infeção viral, passa a incluir genes de outra bactéria no seu
genoma. Na conjugação, também conhecida como o “sexo bacteriano”, as bactérias
transferem os genes através da formação de pili entre elas.6,13,18
A pressão seletiva dos antibióticos elimina as bactérias patogénicas suscetíveis e induz
a resistência de bactérias remanescentes que acabam por se multiplicar, deixando o
antibiótico de ser eficaz para uma infeção futura.
10
Klebsiella pneumoniae como um patogéneo hospitalar: A sua importância com o aumento da resistência aos antibióticos
Dentro dos mecanismos de resistência que mais têm emergido recentemente,
encontra-se a produção de beta-lactamases, com especial relevância em K. pneumoniae.
3.1 Beta-lactamases
11
Klebsiella pneumoniae como um patogéneo hospitalar: A sua importância com o aumento da resistência aos antibióticos
Atualmente, entre as beta-lactamases, o grupo mais preocupante para os clínicos são
as beta-lactamases de largo espetro (ESBL), que pertencem à classe A de Ambler, e as
carbapenemases que incluem enzimas das classes A, B e classe D.3,19,20
12
Klebsiella pneumoniae como um patogéneo hospitalar: A sua importância com o aumento da resistência aos antibióticos
K.pneumoniae resistentes a cefalosporinas de 3ª geração variavam desde 1,7% (Finlândia) para
74.8% (Bulgária) sendo a média europeia de 25.6%.2
Portugal encontrava-se entre os 25 e 50%, tendo-se mantido nestes valores durante o ano
de 2013 como se pode constatar pela Figura I. Dependendo do país a percentagem destas
bactérias com ESBL variou dos 62% a 100%.2
3.1.2 Carbapenemases
13
Klebsiella pneumoniae como um patogéneo hospitalar: A sua importância com o aumento da resistência aos antibióticos
No ano anterior, 2012, a percentagem de resistência aos carbapenemos variava de
0% em países com a Finlândia, Suécia e Noruega, para 60,5% na Grécia, o país com maior
prevalência na Europa.2 Em Portugal, as percentagens eram inferiores a 1% tendo aumentado
em 2013 para 1,8% como se pode constatar pelos dados recolhidos pelo ECDC,
apresentados na Tabela II.2,26
14
Klebsiella pneumoniae como um patogéneo hospitalar: A sua importância com o aumento da resistência aos antibióticos
clavulânico mas por EDTA. Predominantemente as carbapenemases pertencem às beta-
lactamases de classe A e B.25,26,27,28
Estas enzimas são codificadas por genes cromossomais ou adquiridas via os
plasmídeos e têm sido reportadas na grande parte das Enterobacteriaceae, Pseudomonas
aeruginosa e Acinetobacter baumannii.26,28
Este trabalho irá focar-se especificamente na enzima KPC, a enzima mais frequente
do grupo que nos últimos anos tem emergido.
Em 1996, a primeira KPC foi isolada de uma estirpe de K.pneumoniae na Carolina do
Norte, nos EUA, e em 2005 foi detetado o primeiro caso de KPC na Europa, em França.
Hoje as enzimas KPC estão espalhadas pelo mundo sendo até consideradas endémicas em
Israel, da Grécia, Itália e USA. Treze variantes da enzima foram já identificadas contudo as
mais comuns são as KPC-2 e KPC-3.4,20,24,28
A KPC está associada a vários surtos e a altas taxas de mortalidade (podem atingir os
50%) em infeções invasivas, uma vez que estirpes que a produzem são geralmente pouco
suscetíveis a vários antibióticos.28,29
Estas enzimas são codificadas pelo gene blaKPC, que possui um grande potencial de
disseminação geográfico e entre diferentes espécies, e é facilmente explicado pela sua
localização num transposão do tipo Tn3, o Tn4401, em plasmídeos de conjugação sendo
transmitidos horizontalmente. Geralmente plasmídeos com o gene blaKPC, estão associados
com determinantes de resistência a outros antibióticos, como os genes que codificam QnrA
e/ou QnrB que elevam a concentração inibitória máxima das fluoroquinolonas e o rmtB, que
metila o ARN ribossomal, alvo dos aminoglicosídeos. Consequentemente, muitas infeções
por Gram-negativos vêm o seu tratamento limitado ou mesmo inexistente.21,24,28
Em Portugal, existem apenas casos esporádicos de KPC e ainda pouco se sabe em
relação à epidemiologia de Enterobacteriacae produtoras de carbapenemases.4
Num estudo português realizado entre 2006 e 2013, onde participaram 13 hospitais
portugueses, foi avaliada a suscetibilidade das bactérias a determinados antibióticos. De 2105
Enterobacteriaceae, 165 mostraram uma suscetibilidade reduzida aos carbapenemos
(ertapenem), dos quais 26 eram K.pneumoniae produtoras de carbapenemases,
nomeadamente, KPC, VIM e NMD.4
15
Klebsiella pneumoniae como um patogéneo hospitalar: A sua importância com o aumento da resistência aos antibióticos
4. MULTIRRESISTÊNCIA
16
Klebsiella pneumoniae como um patogéneo hospitalar: A sua importância com o aumento da resistência aos antibióticos
A tigeciclina é uma glicilciclina que é frequentemente usada em bactérias produtoras
de KPC e bactérias gram-negativas multirresistentes. Contudo não é recomendado no
tratamento de infeções sanguíneas e urinárias pois apresenta nestes locais baixas
concentrações. Relativamente aos aminoglicosídeos, a resistência a estes tem aumentado,
porém quando é detetada alguma suscetibilidade é uma opção terapêutica importante no
tratamento de bactérias produtoras de KPC.20,29
As polimixinas são uma classe de antibióticos polipéptidos cíclicos e a polimixina B e
E (colistina) são as utilizadas atualmente. A colistina altera a permeabilidade da membrana
bacteriana, levando à perda de conteúdo celular e por fim à morte da bactéria. O uso destes
antibióticos não era frequente devido à associada nefrotoxicidade e neurotoxicidade, no
entanto, muitas vezes são os únicos com atividade contra as bactérias produtoras de KPC
pois atingem níveis no soro adequados para tratar infeções sanguíneas.20,29Normalmente, este
antibiótico é usado em combinação com outros antibióticos, uma vez que em monoterapia
pode ocorrer o crescimento da bactéria novamente.29
Outros antibióticos antigos como a fosfomicina ou a nitrofurantoína têm sido
discutidos para o tratamento de infeções urinárias.24
Uma experiência realizada na Grécia entre 2009 e 2010, em 205 doentes com infeção
sanguínea por K.pneumoniae, verificou-se que um tratamento ótimo em K.pneumoniae
resistentes a carbapenemos envolvia uma terapêutica combinada de carbapenemos
(imipenem, meropenem, ou doripenem), juntamente com tigeciclina e um aminoglicosídeo
ou colistina.30
A monoterapia está associada com o aumento de resistências emergentes e com
falhas no tratamento, sendo a suscetibilidade da bactéria aos antibióticos superior quando é
usada a terapia combinada. O uso das doses máximas aprovadas deve ser tido sempre em
conta em infeções severas quando MIC (concentração inibitória mínima) de beta-lactâmicos
estão próximos do limite de suscetibilidade.21
Num estudo retrospetivo de 2013, realizado em Varsóvia, foram analisadas amostras
recolhidas de um tubo endotraqueal, lavagem broncoalveolar, expetoração e fluido pleural,
sendo que a expetoração é considerada a menos confiável pela provável contaminação com
os microrganismos existentes na cavidade oral ou garganta. Dos 1171 doentes avaliados
19.6% das bactérias detetadas correspondia a K.pneumoniae. Os isolados foram testados para
identificar mecanismos de resistência a antibióticos e no caso da K.pneumoniae foram
detetadas ESBLs e KPC. Neste estudo foi também avaliada a suscetibilidade de K.pneumoniae
produtoras de ESBLs (KP-ESBL(+)) e não produtoras (KP-ESBL(-)) e K.pneumoniae
17
Klebsiella pneumoniae como um patogéneo hospitalar: A sua importância com o aumento da resistência aos antibióticos
produtoras de KPC (KP-KPC) a determinados antibióticos, onde se constatou que para o
tratamento de infeções de KP-ESBL(+) e KP-ESBL(-), estas mostraram ser altamente
resistentes a cefalosporinas e quinolonas e suscetíveis apenas para a colistina e
carbapenemos (Tabela III). No entanto, as KP-ESBL(-) são também muito sensíveis aos
restantes antibióticos.31
Para o tratamento de KP-KPC, a terapêutica mais eficaz foi a gentamicina, colistina e
tigeciclina, onde demonstraram 100% de suscetibilidade, sendo resistentes para todos os
restantes. Verificou-se que a bactéria gram-negativa era 100% sensível à colistina,
independentemente da beta-lactamase produzida.31
Tabela III: Suscetibilidade de K.pneumoniae produtora de ESBL e não produtora ESBL e K.pneumoniae
produtora de KPC a determinados antibióticos.31
Tazobactam
Ciprofloxacina 92.9 7.1 0.0 100 0.0 100
A multirresistência torna-se assim um grande desafio para os clínicos uma vez que
nem sempre é identificada pelos métodos de identificação de rotina, o que implica que não é
dado o tratamento efetivo resultando em elevadas taxas de falhas de tratamento.24
18
Klebsiella pneumoniae como um patogéneo hospitalar: A sua importância com o aumento da resistência aos antibióticos
destes casos, a limpeza intensiva do ambiente, a contínua educação dos profissionais de
saúde envolvidos relativamente aos fatores de risco e medidas que podem tomar para evitar
a disseminação e novas políticas na escolha/restrição de antibióticos.23 Foi estudado que o
aumento da resistência a determinados antibióticos está diretamente relacionado com o
aumento do consumo desses mesmos antibióticos.32
As condições de higiene são cruciais para combater a propagação da bactéria,
dado que doentes assintomáticos colonizados com K.pneumoniae podem servir de
reservatório para a bactéria com subsequente transmissão para outros doentes através das
mãos dos profissionais de saúde, assim como itens ou unhas artificiais usadas por eles.7
K.pneumoniae pode ser resistente à cloro-hexidina (utilizado como desinfetante), o que leva a
uma vantagem competitiva desta bactéria.3
É extremamente vital uma deteção laboratorial precoce da bactéria e a realização do
seu antibiograma, bem como determinar o seu mecanismo de resistência. Os isolados
podem aparentar fenotipicamente serem suscetíveis aos carbapenemos atrasando a
terapêutica adequada e as medidas de controlo de infeção levando à transmissão dentro das
instituições.
7. Conclusão
19
Klebsiella pneumoniae como um patogéneo hospitalar: A sua importância com o aumento da resistência aos antibióticos
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