Texto 2
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Capa
Sheylla Tomás Silva
Impressão e acabamento
JM Gráfica e Editora
Ficha Catalográfica
ISBN: 978-85-7455-285-9
CDD 379.81
1Unidade
SEÇÃO 1
CONCEPÇÕES TEÓRICAS DO ESTADO
1 INTRODUÇÃO
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atual, constitui uma instituição social particular na qual uma
Unidade
série de funções, que antes eram exercidas pelo conjunto
da sociedade, torna-se privilégio exclusivo de instituições
particulares (MANDEL, 1977). Essa construção teórica
de Marx tem enfrentado muitas divergências que se
acumulam durante vários anos, principalmente, quando
existem diferentes perspectivas de transformação do Estado
capitalista, de superação de qualquer forma de Estado. Figura 1.1.2 - Milton Friedman
– (31/07/1912, Nova York, EUA -
No entanto, nos últimos tempos, o debate está 16/11/2006, São Francisco, EUA).
Nascido no bairro do Brooklyn,
centrado no papel e na função do Estado capitalista; ou seja, em Nova York, filho de imigrantes
ucranianos. Formado em Econo-
de um lado, na sua capacidade de exercer autonomia absoluta mia, foi um dos mais influentes
teóricos do liberalismo econômi-
diante da sociedade e, portanto, a serviço de uma determinada co. Defendia que a liberdade eco-
nômica é uma condição essencial
classe; de outro, a existência de um Estado de autonomia para a liberdade das sociedades e
dos indivíduos. Ganhou o Prêmio
relativa, cuja função se manifestaria de diversas dimensões: Nobel de Economia de 1976. Fon-
te: “Wikemedia Commons”.
uma dimensão com a função reguladora das relações sociais
a serviço da manutenção das relações capitalistas e, portanto,
da exploração do trabalho para o capital. Ou seja, um Estado
que também atua como protagonista e se impõe como
regulador da vida econômica, política e social, formando
uma unidade contraditória, mas hegemônica com o capital.
Numa outra dimensão está o Estado como representação
dentro da sociedade democrática, dividindo, assim, com os
demais atores, sociedade civil e mercado, a dinâmica das
relações sociais.
De tudo isso, de acordo com Vieira (2011), a
presença do Estado, na organização e na mediação entre
capital e sociedade, revela que a base de sustentação de
acumulação do capital se dá através da intervenção estatal.
É esse Estado que engendra o espaço político e mantém-
se como tradicional controle dos centros de decisão. Ele se
destaca como instrumento, por excelência, da dominação
burguesa e, em determinadas circunstâncias, converte as
decisões particularistas em algo relevante para toda a nação.
Numa visão dialética da história, observamos
para conhecer
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SEÇÃO 2
Unidade
RELAÇÃO ESTADO, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
3º
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Cunha, “quanto menos poder o Estado possui, menos
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será sua esfera de ação e maior será a liberdade que o
indivíduo poderá desfrutar” (1980, p. 30).
A propriedade é um princípio justificado pelo
liberalismo como fruto do trabalho e do talento de
cada um, e são reconhecidos como meios legítimos
de ascensão social e de aquisição de riquezas. Para os
liberais, qualquer indivíduo pobre, mas que trabalhe e
tenha talento, pode adquirir propriedade e riquezas;
assim, qualquer privilégio decorrente do nascimento não
é tolerado.
A igualdade defendida pelos liberais não significa
igualdade de condições materiais. Nos argumentos,
os homens não são tidos como iguais em talentos e
capacidades; dessa maneira, também não podem ser
iguais em riquezas. A igualdade social é nociva, pois
provoca uma padronização, uma uniformização entre os
indivíduos, o que seria um desrespeito à individualidade
de cada um. A verdadeira posição liberal exige a
“igualdade perante a lei”, igualdade de direitos entre os
homens, igualdade civil (CUNHA, 1980).
A democracia consiste no igual direito de todos
de participarem do governo através de representantes
de sua própria escolha. A democracia consiste e exige o
individualismo, a propriedade, a liberdade e a igualdade.
Figura 1.2.2 - Imagem da Revolução
A não realização de um desses princípios implica na Francesa. Em 1789 teve início, na
França, uma revolução política, sím-
impossibilidade de todos os outros. No entanto, a sua bolo da destruição do poder absolu-
tista dos reis e do início do poder da
realização resultaria numa sociedade aberta, onde todos burguesia no mundo ocidental. A Re-
volução Francesa tornou-se tão signifi-
os homens teriam iguais oportunidades de ocupação das cativa, que os historiadores a colocam
como marco divisor da história, na
posições nela existentes (CUNHA, 1980). passagem da Idade Moderna para a
Idade Contemporânea.
Como se pode perceber, a ideologia liberal Fonte: “Wikemedia Commons”.
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para as massas, mas na educação de um indivíduo suficiente
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rico para custear um preceptor.
François Marie Arout Voltaire (1694 – 1778) foi um
defensor da discriminação social. Para ele, a plebe é a fonte
e o alimento de toda superstição e de todo fanatismo. Em
seus discursos, destacava o temor pela instrução das massas,
pois a via como perigosa à ordem social.
Denis Diderot (1713 – 1784) pertencia ao mesmo
grupo de Voltaire, contudo suas ideias divergiam do grupo.
Para Diderot, era preciso incentivar os artesãos e os operários
para a instrução escolar. Para ele, todos precisariam ler,
escrever e contar, desde os ministros de Estado até o último
dos camponeses. Em seus discursos e escritos, deixava
explícita sua antipatia ao luxo e a recusa em acreditar que a
pobreza e a felicidade sejam facilmente compatíveis.
Jean Antoine Nicolas de Caritat, Marquês de
Condorcet (1743 – 1794), foi discípulo de Rousseau. Foi um
dos primeiros liberais a discutir sobre um sistema público
e gratuito de educação, com a finalidade de estabelecer a
igualdade de oportunidades. Para Condorcet, o Estado deve
assegurar a cada cidadão o gozo dos seus direitos, intervindo
na supressão das desigualdades. Em seus discursos, apontava
três desigualdades sociais: a desigualdade de riqueza, de
profissão e a de instrução.
Apesar de discípulo de Rousseau, suas ideias
apresentavam diferenças. Para Condorcet, a ciência da
educação é um capítulo da política e deve ser assumida
pelo Estado, portanto deve ser retirada das mãos dos
particulares. Rousseau, por outro lado, pregava que a
educação é um domínio à parte da economia e da política.
Condorcet reforçava que o Estado tem de ter o controle
do ensino, como também a obrigação de instruir, não a de
educar, esta tarefa deixa a cargo das famílias e dos padres.
O Estado deve apenas ensinar as ciências positivas. Além
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uma classe pudesse passar para outra. Para Cunha (1980),
Unidade
essa foi a expressão mais completa e radical da corrente
do pensamento liberal, que se orientou para a abertura
das oportunidades sociais, na linha de Rosseau, Diderot,
Condorcet e Lepelletier. Isto significa que, para os liberais,
a educação tem papel de instrumento de correção das
desigualdades produzidas pela ordem econômica.
Anísio Teixeira trabalhou incessantemente no
plano do Estado brasileiro para que as ideias liberais, mais
precisamente as de Dewey, fossem admitidas nas escolas
brasileiras. No entanto, segundo Cunha (1980), ele sofreu
sérias distorções no plano da execução, quando a política
educacional no Brasil, principalmente, a partir dos anos
50, utilizou a escola como instrumento de preparação
para ocupações, totalmente inverso às ideias liberais, ao
pensamento de Dewey e ao de Anísio Teixeira.
Cunha analisou vários textos oficiais que
supostamente se basearam nos princípios liberais da
sociedade aberta. Esses textos, de acordo com o autor,
apresentaram distância entre o discurso democrático e
a prática discriminatória, pois o discurso culpabilizava
os indivíduos pelas condições adversas em que viviam e
propunha o Estado como interessado na sociedade aberta,
portanto um caráter ambíguo nos textos oficiais. Diante
dessas contradições, Cunha (1980) afirmou que o papel
atribuído à educação no Brasil pelas ideias liberais, pela
escola nova e pelo plano de Estado mostrou ter uma função
ideológica de dissimular os mecanismos de discriminação da
própria educação e também da ordem econômica e política.
Para completar sua tese, Cunha demonstrou
a distância entre o discurso democrático e a prática
discriminatória com dados da realidade educacional 1.2.4 - O SENHOR GLUTÃO CAPI-
TALISMO VERSUS O ESTADO DE-
brasileira. Para ele, não existe igualdade de oportunidade MOCRÁTICO DE DIREITO. Imagem:
“Wikemedia Commons”.
e de qualidade da educação oferecida. A concretização da
para conhecer
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