Direito Administrativo Ii: Parte Especial Do Procedimento Da Actividade Administrativa
Direito Administrativo Ii: Parte Especial Do Procedimento Da Actividade Administrativa
Direito Administrativo Ii: Parte Especial Do Procedimento Da Actividade Administrativa
DIREITO ADMINISTRATIVO II
Professor Doutor Paulo Otero – baseado nas aulas teóricas e no manual do Prof. Mário Aroso
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Patrícia Carneiro da Silva
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Formalidades e forma
Do art 97º, nº 1 CPA resulta que o procedimento para a produção do regulamento pode
ser desencadeado por particulares ou pela Administração Pública. Note-se que resulta
do nº2 a exigência de existir publicidade e audiência dos interessados, podendo esta
ser feita por audiência prévia ou por consulta pública.
Quanto à forma, esta pode ser mais ou menos solene, sendo a forma de regulamento
mais solene equivalente ao decreto regulamentar. Este é um regulamento proveniente
do Governo, que carece de promulgação pelo Presidente da República, sob pena de
inexistência jurídica.
Pergunta-se: porque não opta o Governo por, em vez de elaborar um regulamento,
elaborar um decreto-lei? A resposta passa por três factores decisivos:
o O regulamento não está sujeito a fiscalização preventiva da constitucionalidade;
o O regulamento não é objecto de apreciação parlamentar;
o O regulamento pode ser aprovado pelo Primeiro-Ministro em conjunto com o(s)
ministro(s) associados à matéria em análise, não se exigindo aprovação em
Conselho de Ministros.
Quanto à publicidade, os regulamentos do Governo e das Regiões Autónomas são
publicados na I Série do Diário da República (art 119º, nº 1 CRP) e os regulamentos das
associações públicas, tal como os das ordens profissionais, na II Série do Diário da
República. Tem-se seguido uma interpretação infeliz, da qual resulta que todos os
regulamentos em Portugal têm de ser publicados no Diário da República, incluindo os
regulamentos das autarquias locais, sem prejuízo de poderem também ser publicados
no sítio oficial da Internet e em boletim da autarquia.
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pode derrogar disposições legais anteriores e não pode interferir com as áreas
de reserva de acto legislativo.
• Emanados pelo Governo – a maioria da doutrina entende que só um acto
legislativo pode atribuir ao Governo, caso a caso, competência para
emanar um regulamento independente relativamente a cada tipo de
matéria. A esta posição opõem-se aqueles que acham que o art 199º CRP
é um fundamento jurídico comum para todos os regulamentos
independentes do Governo. Seguindo a doutrina maioritária, entende-se
que o art 112º, nº 6 CRP visa impedir que o Governo fuja ao decreto lei
através da emanação de regulamentos independentes, fugindo assim aos
requisitos específicos da produção legislativa.
• Emanados pelas formas de Administração Autónoma (chamados
regulamentos autónomos) – associam-se, no caso das Regiões
Autónomas, ao seu poder de autorregulamentação. Têm como base legal
as previsões estabelecidas nos Estatutos Político-Administrativos de cada
Região Autónoma. Estes são regulamentos especiais, na medida em que
se sobrepõem aos regulamentos gerais emanadas pelos órgãos da
República. Também as autarquias locais têm garantido um poder de
autonormação (art 241º CRP). A base legal destes está na previsão dos
poderes normativos dos órgãos autárquicos que constam das leis que
regulam o quadro das atribuições e competências das autarquias locais.
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RENASCE A APLICAÇÃO DE A 6
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Cessação de vigência
A cessação de vigência dos regulamentos pode ocorrer por quatro vias:
o Revogação – art 146º CPA
o Declaração administrativa de invalidade – art 144º CPA
o Caducidade – art 145º CPA
o Intervenção do legislador
No âmbito da revogação, vigora o princípio da livre revogabilidade dos regulamentos,
excepto nos casos previstos no nº2 do artigo supracitado. Esta revogação pode ser feita
pelo autor do acto e por quem exerça poderes revogatórios sobre o órgão que emana
o regulamento.
A caducidade, por sua vez, pode ocorrer numa de três situações:
o Verifica-se o termo final ou a condição resolutiva (art 145º, nº 1 CPA)
o Verifica-se o desaparecimento da situação material subjacente, ou seja, esgota-
se o objecto;
o Dá-se a caducidade dos regulamentos de execução quando a lei que estes
visavam regular foi revogada (art 145º, nº 2 CPA)
A este último ponto excepciona-se o caso em que o regulamento já em vigor não seja
incompatível com a lei nova. Assim:
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o mesmo pode dar uma ordem nesse sentido, estando o subalterno vinculado a
fazê-lo por via do dever de obediência).
o Órgão delegante ou subdelegante, consoante o caso – quem pode o mais
(revogar a delegação) pode o menos (actos praticados ao abrigo dessa
delegação) – art 169º, nº 4 CPA
o Órgão de superintendência ou órgão tutelar (art 169º, nº 5 CPA) – só existe nos
casos expressamente previstos na lei. O Professor Paulo Otero defende que a
disposição deve ser interpretada em articulação com o art 51º CRP.
o Órgão competente preterido – equivale ao seguinte cenário: CML + Assembleia
Municipal. CML pratica um acto da competência da Assembleia – acto está ferido
de incompetência relativa. Quem pode revogar este acto?
o O órgão competente, que foi preterido? Sim – não faz sentido que ele,
que já foi privado da prática do acto, fosse agora privado da competência
para revogar esse acto. Admitir que ele não poderia revogar era atribuir
relevância positiva à ingerência na esfera de competência do órgão. – art
169º, nº 6 CPA. O Professor Paulo Otero afirma que esta disposição não
é muito feliz: este acto que invade a esfera de competência do órgão
competente é um acto inválido. Se a revogação se diferencia da anulação
por dizer respeito ao mérito e à conveniência, estamos perante um erro
de qualificação – isto nunca é um caso de revogação, mas sim um caso
de anulação.
Quanto ao regime jurídico da revogação, este obedece a três ideias-chave:
1. Existem actos de revogação impossível – actos que não podem ser revogados.
Estes são os actos a que se refere o art 166º, nº 1 CPA:
o Actos nulos, porque são inválidos e porque revogar implica cessar efeitos
e um acto nulo não produz quaisquer efeitos;
o Actos anulados contenciosamente, visto que já estão destruídos por
decisão judicial;
o Actos que já foram revogados com eficácia retroactiva, pois que tal
equivale a um acto de revogação inválido, por falta de objecto – esse acto
está ferido de violação de lei, sendo nulo pelo disposto no art 161º, nº 2,
al c) CPA.
Os actos válidos são livremente revogáveis com fundamento em razões de mérito. Este
é o princípio geral que se retira do art 167º, nº 1, a contrario CPA. Excepcionam-se os
casos em que os actos válidos não podem ser livremente revogados: actos que a lei
impõe que tenham de existir; actos que criam obrigações legais ou direitos
irrenunciáveis para a AP; actos constitutivos de direitos.
revogação dos actos constitutivos de direitos:
consideram-se constitutivos de direitos os atos administrativos que atribuam ou
reconheçam situações jurídicas de vantagem ou eliminem ou limitem deveres, ónus,
encargos ou sujeições, salvo quando a sua precariedade decorra da lei ou da natureza
do ato. (art 167º, nº 3 CPA)
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Falamos de actos que atribuem posições jurídicas activas, bem como que restringem
ou excluem situações jurídicas passivas. Os actos constitutivos de direitos diferem dos
chamados actos precários (estruturalmente constitutivos de direitos), sendo esses
aqueles que atribuem posições jurídicas favoráveis, mas que podem a qualquer
momento ser revogados. Diferem também dos actos verificativos, sendo esses actos
declarativos que seguem o regime dos actos constitutivos – não podem ser livremente
revogáveis (p.e. certidão de cadeiras feitas, certificado de licenciatura).
No regime geral de revogação dos actos constitutivos de direitos, tem-se que os actos
têm de ser, obviamente, válidos. O princípio geral do direito português é que os actos
constitutivos de direitos não podem ser revogáveis – proibição da revogação dos actos
constitutivos de direitos válidos. Essa regra tem excepções, previstas no art 167º, nº 2
CPA (se o acto é parcialmente desfavorável pode ser revogado na parte desfavorável; se
todos os beneficiários manifestam a sua concordância e o direito não é indisponível; se
há superveniência de conhecimentos técnicos e científicos ou uma alteração das
circunstâncias de facto; ou, ainda, se há reserva de revogação – note-se que aí não
estaremos, então, perante um verdadeiro acto constitutivo de direitos).
Este nº 2 (introduzido em 2015) levanta um problema constitucional: podem actos
constitutivos de direitos criados em vigência do outro CPA estar sujeitos a este regime,
ou será que o legislador devia ter previsto um regime transitório, em nome da segurança
jurídica? Se optarmos pela segunda via, há inconstitucionalidade. O Professor refere-
nos o art 167º, nº 4 CPA, do qual resulta que nestes casos (os da alínea c) do nº 2), a
revogação só é possível no prazo de um ano a contar do conhecimento desta nova
causa – mas este ano pode ser estendido por mais dois: tem um limite máximo de 3
anos, o que vem precarizar os actos constitutivos de direitos. O nº 5 do art 167º admite
a revogação, mas se o destinatário estava de boa-fé, há direito a indemnização pela
prática de acto lícito.
Vigora o princípio do paralelismo das formas: acto de revogação deve ter a forma do
acto revogado (art 170º, nº 1) – com excepções, previstas no art 170º/2. Quanto às
formalidades, a revogação obedece às formalidades do acto revogado. Quanto aos
efeitos da revogação, a regra é a não retroactividade da revogação, excepto se esta for
favorável aos interessados ou se os interessados manifestarem concordância (salvo
direitos indisponíveis) – art 171º, nº 1 CPA.
ANULAÇÃO
A anulação fundamenta-se sempre em razões de legalidade – tem como fundamento
a invalidade do acto (art 165º, nº 2 CPA). Esta corresponde a um dever da
Administração Pública, dado que através da anulação a mesma repõe a legalidade –
estamos ainda no âmbito do princípio da legalidade, mesmo que o órgão decisor tenha
competência para anular ou, se possível, sanar as invalidades.
A regra é que a anulação produz efeitos retroactivos, resultando isso do art 163º, nº 3
e 171º, nº 3, primeira parte CPA. Existem, no entanto, casos de anulação administrativa
atípica. Falamos dos casos em que a anulação é ex nunc (art 168º, nº 4, al b) CPA + art
171º, nº 3, 2ª parte), dos casos que envolvem a modelação de efeitos, permitindo que
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o acto anulável produza efeitos (163º nº 5 CPA) e ainda dos casos em que há anulação,
mas há dever de indemnizar (art 168º, nº 6 CPA).
A anulação administrativa difere da declaração de nulidade – a anulação produz
alterações na ordem jurídica, enquanto que a declaração de nulidade ou inexistência é
meramente declarativa.
Quanto à competência para levar a cabo a anulação de actos administrativos, esta é
dividida em três possibilidades:
• O autor que é competente e o autor que é incompetente para a prática do acto
(art 169º, nº 3 CPA), sendo que a competência do autor incompetente se funda
no princípio do autocontrolo da legalidade.
• O superior hierárquico, mesmo que a competência seja exclusiva do subalterno
(art 169º, nº 3 CPA)
• O órgão tutelar ou de superintendência, na sequência de recurso interposto.
Quanto ao regime, à semelhança do que foi já visto para a revogação, existem cinco
ideias a reter:
1. Existem actos de anulação impossível – todos os previstos no art 166º, nº 2 CPA;
2. Se a invalidade dos actos administrativo só fundamenta a sua anulação dentro
de um certo prazo, decorrido esse prazo a anulação já não é válida. Passado
esse prazo, o acto de anulação está ferido de violação de lei, que se reconduz à
anulabilidade. A regra geral é a de 5 anos. Se o órgão tinha conhecimento da
causa da invalidade, ele só tem 6 meses (art 168º, nº 1 CPA). Estes prazos são
relevantes em caso de erro, porque em caso de erro do decisor os 6 meses
contam a partir do momento em que se conhece o erro. Findo o prazo, o acto
consolida-se na ordem jurídica, passando a ser inválido o acto de anulação (por
violação de lei e por incompetência em função do tempo). Todos os prazos
podem ser encurtados mediante impugnação contenciosa.
3. Se o acto inválido é objecto de impugnação contenciosa, só é possível anulação
até ao fim da discussão no tribunal (art 168º, nº 4 CPA);
4. Consolidada a invalidade do acto pelo decurso do tempo, pergunta-se: a que
regime estará sujeito o acto entretanto consolidado? A resposta só pode ser
uma: ele encontra-se sujeito às regras de revogação dos actos válidos (art 167º
CPA). Só podia ser assim: ele não pode ser anulado com base na sua invalidade,
pois que um acto que nasceu inválido e que se consolidou, não pode ser maior
garantia de continuidade na ordem jurídica e um acto válido pode sempre ser
revogado (art 170º CPA);
5. O regime da anulação dos actos administrativos suscita sérias dúvidas de
inconstitucionalidade:
• A propósito da lesão da tutela da confiança e da segurança jurídica, para
os actos praticados antes da entrada em vigor do novo Código e que
estão sujeitos ao regime nesse definidos;
• Princípio da intangibilidade do caso julgado e a sua relação com o art
168º, nº 7 CPA.
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Actos declarativos
São actos que não introduzem alterações na ordem jurídica. Podem ser actos de
verificação, actos de valoração ou actos de transmissão, existindo diversas modalidades
destes actos. Nem todos estes actos estão disciplinados no CPA, sendo que há actos
relativamente aos quais o CPA produz um regime desenvolvido (actas, certidões,
pareceres, informações, publicação e notificação).
Os actos de verificação são actos que não introduzem inovações na ordem jurídica,
mas seguem o regime dos actos constitutivos de direitos – não podem ser, por isso,
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impugnação só pode ser feita no prazo de um ano
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EXEMPLO: ocorre a expropriação de um terreno, sendo essa declarada inválida 10 anos depois. Como é
feita a reconstituição da situação actual hipotética, tendo em conta que nesses 10 anos se construiu nesse
terreno um bairro social. À luz dos princípios deveria proceder-se à destruição do bairro, mas tal não é
razoável. A questão é assim resolvida por via indemnizatória.
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Cabe agora, portanto, tratar das diligências típicas dos particulares. Do art 116º resulta
que cabe aos interessados provar os factos que são alegados. São meios instrutórios
para esse efeito os que resulta dos arts 107º e 116º, nº 3 CPA:
o Juntar alegações
o Juntar documentos
o Requerer diligências
o Juntar pareceres
Pode existir produção antecipada de prova, quando há risco a prova ser muito difícil
(art 120º CPA).
Segue-se a preparação da decisão final. Aqui, o princípio geral é o da audiência prévia
dos interessados – arts 121º a 124º CC. Todas as decisões de conteúdo negativos estão
sujeitas a audiência prévia, sendo que há também casos de dispensa desta audiência
(art 124º CPA). A audiência pode ser escrita ou oral, reforçando-se aqui o dever de
fundamentação. Se a audiência prévia for preterida, entende o Supremo Tribunal de
Justiça que há vicio de forma. O Professor Paulo Otero discorda – se estiver em causa
a violação de um núcleo essencial de um direito fundamental (como o direito de um
justo procedimento), devemos falar em violação de lei, que leva à nulidade; se não se
atingir esse conteúdo essencial do núcleo, a consequência é a mera anulabilidade.
Chega-se assim à última fase do procedimento: a fase de extinção. Esta começa quando
a Administração tem já uma decisão preparada. A mesma pode ocorrer por sete
maneiras diferentes:
o Decisão expressa – é a que deverá ser a forma normal de extinção do
procedimento (art 93º e 94º CPA). A Administração tem o dever de decidir,
resultando esse dever desde logo do art 13º CPA. A regra é a da forma escrita,
havendo conteúdo dito obrigatório (art 151º CPA).
o acto administrativo normal ou tradicional – art 127º CPA
o acto administrativo consensual – art 57º, nº 3 CPA
o acto contractual – 57º CPA
o Forma de extinção prevista nos arts 129º e 130º CPA
o Acordo substitutivo do procedimento – em vez de continuar o procedimento, a
Administração resolve a situação por acordo (art 77º, nº 4 CPA). Essa situação é
possível fora das conferências procedimentais.
o Desistência e renúncia por parte do particular – art 131º CPA
o Deserção – particular desinteressa-se pelo procedimento (art 132º CPA)
o Impossibilidade ou inutilidade superveniente – art 95º CPA
o Falta de pagamento de taxas ou despesas – art 133º CPA
MARCHA DO PROCEDIMENTO – PROCEDIMENTO DECLARATIVO GRACIOSO
Neste caso, o que se verifica é que o particular não está contente com a decisão da
Administração, resolvendo desencadear um meio gracioso – art 184º a 199º CPA.
Como procedimento típico, o CPA define o recurso hierárquico. Foquemo-nos nesse.
Começa-se pelo requerimento inicial (art 184º, nº 3 CPA) – neste, o particular deve
identificar o recorrente, o objecto do recurso e os fundamentos do recurso. O recurso
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tanto pode ser de acto expresso como pode ser de omissão, devendo sempre o
particular deve formular um pedido – art 184º CPA.
Os destinatários do recurso hierárquico, sem prejuízo das situações especiais, estão
previstos no art 194º CPA. Do recurso hierárquico resulta a criação de um dever legal
de decidir na esfera jurídica do superior. É com art 189º que se torna possível saber se,
com o recurso hierárquico, há ou não efeito suspensivo. Esta questão consiste em saber
se, com a interposição do recurso, pode ou não a Administração aplicar a decisão. A
lei trata a matéria distinguindo entre dois tipos de recurso hierárquico:
o Necessário – quando é condição para acesso aos tribunais. Nestes casos, a sua
interposição tem sempre efeito suspensivo, visando tal factor proteger os
particulares;
o Facultativo – não tem efeito suspensivo.
Como pressupostos do recurso, temos o disposto no art 196º a contrario. A falta de um
dos pressupostos gera indeferimento liminar. O art 195º, nº 1 CPA impõe a notificação
dos contrainteressados – há decisões em que alguém impugna a decisão, mas a decisão
é favorável a outro destinatário. São contrainteressados aqueles que têm um interesse
contrário aos que procedem à impugnação. O superior hierárquico deve sempre ouvir
o autor do acto, ou seja, aquele que emitiu a decisão que está a ser objecto de recurso.
A decisão do recurso está prevista no art 197º CPA. Esta pode ser o rejeitar
liminarmente, a improcedência do recurso (Administração confirma a decisão do
subalterno) ou, ainda, a procedência do recurso. O prazo de decisão é o previsto no art
198º CPA. É sempre possível reclamar da decisão do recurso em caso de omissão de
pronúncia.
Coloca-se a questão de saber se a resposta ao recurso pode ser pior para o particular
do que foi a primeira decisão tomada pela Administração – fala-se da possível
reformatio para pior. O princípio geral é o de negar a reforma para pior (art 195º, nº 4
CPA). Assim, regra geral, o que resulta da decisão do recurso não pode ser menos
favorável ao recorrente.
MARCHA DO PROCEDIMENTO – PROCEDIMENTO DE EXECUÇÃO
Estamos perante situações em que a Administração Pública formula uma determinada
definição do direito ao caso concreto – exerce a autotutela declarativa –, mas o
destinatário dessa definição não acata voluntariamente a decisão – não implementa o
que a Administração exige dele. Implica passar-se à execução do regime delimitado.
A regra histórica, no Direito Português, é a da autotutela executiva – perante o não
acatamento voluntário de uma decisão administrativa por um particular, a
Administração pode, sem recorrer previamente ao tribunal, usar a força para fazer
cumprir. A Administração Pública, assim, não carece de ir a tribunal para fazer vingar a
sua vontade.
Apesar e ser essa a regra no nosso Ordenamento, o CPA de 2015 veio operar, nas
palavras do Professor, uma “pequena grande revolução”, passando a exigir como via
de regra (princípio geral) a intervenção prévia dos tribunais (arts 175º a 183º CPA).
Cabe avaliar o âmbito de aplicação do art 175º CPA, que trata do objecto da execução
dos actos administrativos. Prevêem-se aqui, fundamentalmente, três hipóteses:
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8º, nº 2 – vigora o regime velho. Desse artigo resulta que, por via de regra, há privilégio
de execução prévia.
Sublinhe-se ainda que a solução transitória acima mencionada – manter em vigor o CPA
91 no âmbito da execução dos actos administrativos – não tem cobertura na lei de
autorização legislativa que serviu de base ao novo Código: essa falta de autorização
legislativa leva à inconstitucionalidade da manutenção em vigor do CPA de 1991.
Continua hoje a Administração a gozar de autotutela declarativa e executiva, mas agora
de forma inconstitucional.
A falta do título executivo levanta um problema de a Administração Pública agir ao
abrigo do princípio da separação de poderes – ela está a substituir um título executivo
por uma decisão dela própria. Assim, a execução será, nesses casos, um acto nulo – não
há dever de obediência.
Fica a questão: dever-se-á aplicar um regime inconstitucional? Ou um Código nulo?
Os contractos administrativos
Temos, aqui, dois tipos de procedimento:
• O procedimento dos contractos administrativos;
• O procedimento dos contractos de Direito Privado da Administração Pública
O que os distingue não é o procedimento administrativo, já que ambos estão sujeitos ao
regime do Código dos Contractos Públicos – o seu processo está sujeito ao mesmo
regime jurídico. Distingue-os o regime substantivo ou material que regula o contracto:
se o contracto é regulado, em termos substantivos, pelo Direito Administrativo, então
é um contracto administrativo; se o mesmo é regulado pelo Direito Privado, então é
um contracto de Direito Privado da Administração Pública.
O CCP é constituído por um regime geral, composto pelos arts 16º a 277º CCP, aplicável
à formação de todos os contractos públicos (art 1º, nº 2 CCP). Mais, estes mesmos
artigos são aplicáveis aos procedimentos destinados a actos unilaterais se esses
envolvem benefícios ou vantagens aos seus destinatários – art 1º, nº 3 CCP. Já o regime
previsto nos arts 278º a 454º CCP apenas se aplica aos contractos administrativos (art
1º, nº 5 CCP).
Sendo o regime comum, pergunta-se: como se forma um contracto administrativo?
Quais as fases? A decisão de contractar é a primeira decisão administrativa, estando
ela regulada no art 278º CC. O principio nuclear nesta matéria é o seguinte: é possível
a utilização da forma contractual em todos os casos em que a Administração poderia
decidir por acto administrativo. Esta é uma manifestação do princípio da equiparação
entre a forma de contracto e a forma de acto. O mesmo comporta, no entanto,
excepções (situações em que a lei dispõe em contrário e situações em que a natureza
das relações a estabelecer não permite o contracto).
O conteúdo da decisão de contractar exige 4 itens de conteúdo:
o Definição do objecto do futuro contracto;
o Termos do conteúdo e as condições do contracto;
o Regras sobre apresentação, escolha de candidatos e respectivas propostas;
o Condições de validade e de eficácia da própria decisão de contractar.
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hierarquia das propostas, pode perguntar-se se há aqui novo dever de audiência prévia
(uma coisa é certa, a decisão da Administração será objecto de relatório final, que não
é a decisão final – é uma mera proposta de decisão, que vai ser apresentada ao órgão
administrativo decisor, que detém a última palavra no acto final de adjudicação. Esta
ainda não é a celebração do contracto, mas simplesmente o acto que define com quem
a AP vai contractar);
o Celebração do contracto administrativo – o contracto é celebrado, dando início a uma
nova fase:
o Execução do contracto – caracteriza-se por três princípios nucleares:
o Princípio da estabilidade contractual3 - encontra fundamento no art 279º
CCP. Comporta excepções, presentes no art 311º CCP. A estabilidade não
exclui o poder de modificação unilateral das prestações (art 312º, al b) CCP);
o Princípio do equilíbrio financeiro – art 282º e 314º, nº 1 CCP
o Princípio da intervenção exorbitante da Administração – esta tem poderes
de intervenção exorbitante. São eles: poder de modificação unilateral (art
302º, al c) CCP), poder de dirigir a execução das prestações (art 302º, a),
303º e 304º), poder de fiscalização do modo de execução das prestações
(art 302, b), 303º, 305º e 306º), poder sancionatório (art 302º, b), 329º e
333º) e poder de rescisão unilateral (art 302º, al e) CCP).
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limitada pela alteração das circunstâncias – art 312º, al a) CCP
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