Apostila - PROFESSOR I - PRATA-MG - 2022 PDF
Apostila - PROFESSOR I - PRATA-MG - 2022 PDF
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Concurso
PRATA - MG
Professor I
▪ Língua Portuguesa
Apostila elaborada
conforme Edital 01/2022
versão 01 - 05/12/2022
Apresentação
Fazer parte do serviço público é o objetivo de muitas pessoas.
Nesse sentido, esta apostila reúne os conteúdos cobrado no edital de abertura do concurso.
A Tutoria tem o cuidado de selecionar as informações do conteúdo programático das
disciplinas abordadas. Toda essa disposição de assuntos foi pensada para auxiliar em uma
melhor compreensão e fixação do conteúdo de forma clara e eficaz.
A apostila que você tem em mãos é resultado da experiência e da competência da Tutoria,
que conta com especialistas em cada uma das disciplinas.
Ressaltamos a importância de fazer uma preparação focada e organizada para obter o
desempenho desejado. A apostila da Tutoria será o diferencial para o seu sucesso e na
realização do seu sonho.
Importante
O conteúdo desta apostila tem por objetivo atender às exigências do edital. Assim, recomendamos ampliar seus
conhecimentos em livros, sites, jornais, revistas, entre outros meios, para sua melhor preparação.
Atualizações legislativas poderão ser encontradas nos sites governamentais.
A presente apostila não está vinculada à instituição pública e à empresa organizadora do concurso público a que
se destina, a sua aquisição não inclui a inscrição do candidato no concurso público e também não garante a sua
aprovação no concurso público.
Proteção de direitos
Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos pela Lei nº 9.610/98. É proibida a reprodução
de qualquer parte deste material didático, sem autorização prévia expressa por escrito pela Tutoria.
Como montar um cronograma
de estudos para concurso
Todo estudante sabe que o sucesso começa bem antes da prova e, sendo assim, é preciso ter um cronogra-
ma de estudos para ajudar a manter o foco, organização e rendimento. Confira as dicas.
Prestar um concurso exige muita dedicação, foco e tempo de estudos. Para conseguir ser bem-sucedido na caminha-
da, é preciso criar um cronograma de estudos para concurso eficaz que se encaixe na sua rotina e nos compromissos
que você tem.
Montar um plano vai te ajudar a se concentrar melhor nos seus afazeres e pode te deixar motivado para cumprir seu
objetivo de passar num concurso público.
Entender a rotina
O primeiro passo para montar um cronograma de estudos para concurso é compreender a sua rotina. É preciso
entender como você gasta as horas dos seus dias, quais atividades tomam mais tempo, quais são indispensáveis e
quando você realiza cada uma. Então, é hora do papel e caneta: anote!
Escreva detalhadamente o que você faz em cada dia da semana:
• Quando acorda;
• Horário de trabalho;
• Seus intervalos;
• Todas as refeições.
1.
çamento da margem esquerda.
Sentido
Coesão
Quando Lula disse a Collor no primeiro debate do segundo
É a amarração entre as várias partes do texto. Os principais
turno das eleições presidenciais de 1989:
elementos de coesão são os conectivos, vocábulos gramati-
“Eu sabia que você era collorido por fora, mas caiado por cais, que estabelecem conexão entre palavras ou partes de
dentro.” uma frase. O texto deve ser organizado por nexos adequados,
com sequência de ideias encadeadas logicamente, evitando
Os brasileiros colocaram essa frase no âmbito dos “discursos
frases e períodos desconexos. Para perceber a falta de coe-
da campanha presidencial” e entenderam não “Você tem co-
são, a melhor atitude é ler atentamente o seu texto, procurando
res fora, mas é revestido de cal por dentro”, mas “Você apre-
estabelecer as possíveis relações entre palavras que formam
senta um discurso moderno e de centro-esquerda, mas é um
a oração e as orações que formam o período e, finalmente,
reacionário”.
entre os vários períodos que formam o texto. Um texto bem tra-
Observe que há duas operações diferentes no entendimento do balhado sintática e semanticamente resulta num texto coeso.
texto. A primeira é a apreensão, que é a captação das relações
que cada parte mantém com as outras no interior do texto. No
entanto, ela não é suficiente para entender o sentido integral. Coerência
Uma pessoa que conhecesse todas as palavras da frase acima,
mas não conhecesse o universo dos discursos da campanha A coerência está diretamente ligada à possibilidade de estabe-
presidencial, não entenderia o significado da frase. Por isso, é lecer um sentido para o texto, ou seja, ela é que faz com que
preciso colocar o texto dentro do universo discursivo a que ele o texto tenha sentido para quem lê. Na avaliação da coerência
pertence e no interior do qual ganha sentido. Alguns teóricos será levado em conta o tipo de texto. Em um texto dissertativo,
chamam “conhecimento de mundo” ao universo discursivo. será avaliada a capacidade de relacionar os argumentos e de
Na frase acima, collorido e caiado não pertencem ao universo organizá-los de forma a extrair deles conclusões apropriadas;
da pintura, mas da vida política: a primeira palavra refere-se a num texto narrativo, será avaliada sua capacidade de construir
Collor e ao modo como ele se apresentava, um político moderno personagens e de relacionar ações e motivações.
e inovador; a segunda diz respeito a Ronaldo Caiado, políti-
co conservador que o apoiava. A essa operação chamamos
compreensão.
Tipos de Composição
Apreensão + Compreensão = Entendimento do texto Descrição: é representar verbalmente um objeto, uma pessoa,
um lugar, mediante a indicação de aspectos característicos, de
Para ler e entender um texto é preciso atingir dois níveis de
pormenores individualizantes. Requer observação cuidadosa,
leitura: informativa e de reconhecimento.
para tornar aquilo que vai ser descrito um modelo inconfundí-
A primeira deve ser feita cuidadosamente por ser o primeiro vel. Não se trata de enumerar uma série de elementos, mas de
contato com o texto, extraindo-se informações e se preparan- captar os traços capazes de transmitir uma impressão autênti-
do para a leitura interpretativa. Durante a interpretação grife pa- ca. Descrever é mais que apontar, é muito mais que fotografar.
lavras -chave, passagens importantes; tente ligar uma palavra É pintar, é criar. Por isso, impõe-se o uso de palavras especí-
à ideia central de cada parágrafo. ficas, exatas.
A última fase de interpretação concentra-se nas perguntas e Narração: é um relato organizado de acontecimentos reais ou
opções de respostas. Marque palavras como não, exceto, res- imaginários.
pectivamente, etc., pois fazem diferença na escolha adequada.
São seus elementos constitutivos: personagens, circunstân-
Retorne ao texto mesmo que pareça ser perda de tempo. Leia cias, ação; o seu núcleo é o incidente, o episódio, e o que a
a frase anterior e posterior para ter ideia do sentido global pro- distingue da descrição é a presença de personagens atuantes,
posto pelo autor. que estão quase sempre em conflito.
Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias sele- – A narração envolve:
tas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela 1. Quem? Personagem;
ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclu- 2. Quê? Fatos, enredo;
são do texto. 3. Quando? A época em que ocorreram os acontecimentos;
4. Onde? O lugar da ocorrência;
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Língua Portuguesa
5. Como? O modo como se desenvolveram os acontecimentos; como “desvios da normalidade”, pois o que lhe interessa é pôr
6. Por quê? A causa dos acontecimentos; esses recursos retóricos a serviço de sua concepção estética.
Dissertação: é apresentar ideias, analisá-las, é estabelecer um
ponto de vista baseado em argumentos lógicos; é estabele- Sentido Imediato
cer relações de causa e efeito. Aqui não basta expor, narrar ou
descrever, é necessário explanar e explicar. O raciocínio é que Sentido imediato é o que resulta de uma leitura imediata que,
deve imperar neste tipo de composição, e quanto maior a fun- com certa reserva, poderia ser chamada de leitura ingênua ou
damentação argumentativa, mais brilhante será o desempenho. leitura de máquina de ler.
– Uma leitura imediata é aquela em que se supõe a exis-
Sentidos Próprio e Figurado tência de uma série de premissas que restringem a decodi-
ficação tais como:
Comumente afirma-se que certas ocorrências de discurso têm 1. As frases seguem modelos completos de oração da língua.
sentido próprio e sentido figurado. Geralmente os exemplos de 2. O discurso é lógico.
tais ocorrências são metáforas. Assim, em “Maria é uma flor” 3. Se a forma usada no discurso é a mesma usada para esta-
diz-se que “flor” tem um sentido próprio e um sentido figurado. belecer identidades lógicas ou atribuições, então, tem-se,
O sentido próprio é o mesmo do enunciado: “parte do vegetal respectivamente, identidade lógica e atribuição.
que gera a semente”. O sentido figurado é o mesmo de “Ma- 4. Os significados são os encontrados no dicionário.
ria, mulher bela, etc.” O sentido próprio, na acepção tradicional 5. Existe concordância entre termos sintáticos.
não é próprio ao contexto, mas ao termo. 6. Abstrai-se a conotação.
7. Supõe-se que não há anomalias linguísticas.
O sentido tradicionalmente dito próprio sempre corresponde
8. Abstrai-se o gestual, o entoativo e editorial enquanto modi-
ao que definimos aqui como sentido imediato do enunciado.
ficadores do código linguístico.
Além disso, alguns autores o julgam como sendo o sentido pre-
9. Supõe-se pertinência ao contexto.
ferencial, o que comumente ocorre.
10. Abstrai-se iconias.
O sentido dito figurado é o do enunciado que substitui a metá- 11. Abstrai-se alegorias, ironias, paráfrases, trocadilhos, etc.
fora, e que em leitura imediata leva à mesma mensagem que se 12. Não se concebe a existência de locuções e frases feitas.
obtém pela decifração da metáfora. 13. Supõe-se que o uso do discurso é comunicativo. Abstrai-se
o uso expressivo, cerimonial.
O conceito de sentido próprio nasce do mito da existência da
leitura ingênua, que ocorre esporadicamente, é verdade, mas Admitindo essas premissas, o discurso será indecifrável, inin-
nunca mais que esporadicamente. teligível ou compreendido parcialmente toda vez que nele
surgirem elipses, metáforas, metonímias, oxímoros, ironias,
Não há muito que criticar na adoção dos conceitos de sentido
alegorias, anomalias, etc. Também passam despercebidas as
próprio e sentido figurado, pois ela abre um caminho de abor-
conotações, as iconias, os modificadores gestuais, entoativos,
dagem do fenômeno da metáfora. O que é passível de crítica
editoriais, etc.
é a atribuição de status diferenciado para cada uma das cate-
gorias. Tradicionalmente o sentido próprio carrega uma cono- Na verdade, não existe o leitor absolutamente ingênuo, que se
tação de sentido “natural”, sentido “primeiro”. comporte como uma máquina de ler, o que faz do conceito de
leitura imediata apenas um pressuposto metodológico. O que
Invertendo a perspectiva, com os mesmos argumentos, poderí-
existe são ocorrências eventuais que se aproximam de uma
amos afirmar que “natural”, “primeiro” é o sentido figurado, afi-
leitura imediata, como quando alguém toma o sentido literal
nal, é o sentido figurado que possibilita a correta interpretação
pelo figurado, quando não capta uma ironia ou fica perplexo
do enunciado e não o sentido próprio. Se o sentido figurado
diante de um oxímoro.
é o “verdadeiro” para o enunciado, por que não chamá-lo de
“natural”, “primeiro”? Há quem chame o discurso que admite leitura imediata de grau
zero da escritura, identificando-a como uma forma mais primi-
Pela lógica da Retórica tradicional, essa inversão de perspecti-
tiva de expressão. Esse grau zero não tem realidade, é apenas
va não é possível, pois o sentido figurado está impregnado de
um pressuposto. Os recursos de Retórica são anteriores a ele.
uma conotação desfavorável. O sentido figurado é visto como
anormal e o sentido próprio, não. Ele carrega uma conotação
positiva, logo, é natural, primeiro. Sentido Preferencial
A Retórica tradicional é impregnada de moralismo e esteti-
zação e até a geração de categorias se ressente disso. Essa Para compreender o sentido preferencial é preciso conceber
tendência para atribuir status às categorias é uma constante o enunciado descontextualizado ou em contexto de dicioná-
do pensamento antigo, cuja índole era hierarquizante, sempre rio. Quando um enunciado é realizado em contexto muito ra-
buscando uma estrutura piramidal para o conhecimento, o que refeito, como é o contexto em que se encontra uma palavra
se estende até hoje em algumas teorias modernas. no dicionário, dizemos que ela está descontextualizada. Nesta
situação, o sentido preferencial é o que, na média, primeiro se
Ainda hoje, apesar da imparcialidade típica e necessária ao impõe para o enunciado. Óbvio, o sentido que primeiro se im-
conhecimento científico, vemos conotações de valor sendo põe para um receptor pode não ser o mesmo para outro. Por
atribuídas a categorias retóricas a partir de considerações to- isso a definição tem de considerar o resultado médio, o que
talmente externas a ela. não impede que pela necessidade momentânea consideremos
Um exemplo: o significado preferencial para dado indivíduo.
o retórico que tenha para si a convicção de que a qualidade de Algumas regularidades podem ser observadas nos signi-
ficados preferenciais. Por exemplo: o sentido preferencial
qualquer discurso se fundamenta na sua novidade, originalida-
da palavra porco costuma ser: “animal criado em granja para
de, imprevisibilidade, tenderá a descrever os recursos retóricos
abate”, e nunca o de “indivíduo sem higiene”. Em outras pala-
vras, geralmente o sentido que admite leitura imediata se impõe
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Língua Portuguesa
sobre o que teve origem em processos metafóricos, alegóricos, aconteça, pelo menos não tenha preguiça de pensar, refletir,
metonímicos. Mas esta regra não é geral. Vejamos o seguinte formar ideias e escrever quando puder e quiser.
exemplo: “Um caminhão de cimento”. O sentido preferencial
Tornar-se, portanto, alguém que escreve e que lê em nosso
para a frase dada é o mesmo de “caminhão carregado com ci-
país é uma tarefa árdua, mas acredite, valerá a pena para sua
mento” e não o de “caminhão construído com cimento”. Neste
vida futura. Mesmo que você diga que interpretar é difícil, você
caso o sentido preferencial é o metonímico, o que contrapõe a
exercita isso a todo o momento. Exercita através de sua leitura
tese que diz que o sentido “figurado” não é o “primeiro signifi-
de mundo. A todo e qualquer tempo, em nossas vidas, inter-
cado da palavra”. Também é comum o sentido mais usado se
pretamos, argumentamos, expomos nossos pontos de vista.
impor sobre o menos usado.
Mas, basta o(a) professor(a) dizer “Vamos agora interpretar
Para certos termos é difícil estabelecer o sentido preferen- esse texto” para que as pessoas se calem. Ninguém sabe o
cial. Um exemplo: Qual o sentido preferencial de manga? O de que calado quer, pois ao se calar você perde oportunidades va-
fruto ou de uma parte da roupa? liosas de interagir e crescer no conhecimento. Perca o medo de
expor suas ideias. Faça isso como um exercício diário e verá
que antes que pense, o medo terá ido embora.
Texto – é um conjunto de ideias organizadas e relacionadas
2.
entre si, formando um todo significativo capaz de produzir in-
textos cada uma delas, há certa informação que a faz ligar-se com
a anterior e/ou com a posterior, criando condições para a es-
truturação do conteúdo a ser transmitido. A essa interligação
dá-se o nome de contexto. Nota-se que o relacionamento entre
Cada vez mais, é comprovada a dificuldade dos estudantes, as frases é tão grande, que se uma frase for retirada de seu
de qualquer idade, e para qualquer finalidade de compreender contexto original e analisada separadamente, poderá ter um
o que se pede em textos, e também dos enunciados. Qual a significado diferente daquele inicial.
importância de entender um texto? Intertexto - comumente, os textos apresentam referências dire-
Quando se fala em texto, pensamos naqueles longos, com in- tas ou indiretas a outros autores através de citações. Esse tipo
trodução, desenvolvimento e conclusão, onde depois temos de recurso denomina-se intertexto.
que responder uma ou várias questões sobre ele. Na verdade, Interpretação de Texto - o primeiro objetivo de uma interpre-
texto pode ser a questão em si, a leitura que fazemos antes de tação de um texto é a identificação de sua ideia principal. A
resolver o exercício. E como é possível cometer um erro numa partir daí, localizam-se as ideias secundárias, ou fundamenta-
simples leitura de enunciado? Mais fácil de acontecer do que ções, as argumentações ou explicações que levem ao esclare-
se imagina. Se na hora da leitura, deixamos de prestar atenção cimento das questões apresentadas na prova.
numa só palavra, como uma “não”, já muda a interpretação.
Normalmente, numa prova o candidato é convidado a:
Veja a diferença:
Identificar - reconhecer os elementos fundamentais de uma
Qual opção abaixo não pertence ao grupo? argumentação, de um processo, de uma época (neste caso,
Qual opção abaixo pertence ao grupo? procuram-se os verbos e os advérbios, os quais definem o
tempo).
Isso já muda totalmente a questão, e se o leitor está desatento,
vai marcar a primeira opção que encontrar correta. Pode pa- Comparar - descobrir as relações de semelhança ou de dife-
recer exagero pelo exemplo dado, mas tenha certeza que isso renças entre as situações do texto.
acontece mais do que imaginamos, ainda mais na pressão da Comentar - relacionar o conteúdo apresentado com uma rea-
prova, tempo curto e muitas questões. Partindo desse princí- lidade, opinando a respeito.
pio, se podemos errar num simples enunciado, que é um texto
curto, imagine os erros que podemos cometer ao ler um texto Resumir - concentrar as ideias centrais e/ou secundárias em
maior, sem prestar devida atenção aos detalhes. É por isso que um só parágrafo.
é preciso melhorar a capacidade de leitura e compreensão.
Parafrasear - reescrever o texto com outras palavras.
A literatura é a arte de recriar através da língua escrita. Sendo
Exemplo
assim, temos vários tipos de gêneros textuais, formas de escri-
ta. Mas a grande dificuldade encontrada pelas pessoas é a in-
Título do Texto Paráfrases
terpretação de textos. Muitos dizem que não sabem interpretar,
ou que é muito difícil. Se você tem pouca leitura, consequen- “O Homem A integração do mundo.
temente terá pouca argumentação, pouca visão, pouco ponto Unido” A integração da humanidade. A união
de vista e um grande medo de interpretar. A interpretação é do homem.
o alargamento dos horizontes. E esse alargamento acontece Homem + Homem = Mundo. A macaca-
justamente quando há leitura. Somos fragmentos de nossos da se uniu. (sátira)
escritos, de nossos pensamentos, de nossas histórias, muitas
vezes contadas por outros. Condições Básicas para Interpretar
Quantas vezes você não leu algo e pensou: – Faz-se necessário:
1. Conhecimento Histórico – literário (escolas e gêneros lite-
“Nossa, ele disse tudo que eu penso”. rários, estrutura do texto), leitura e prática.
Com certeza, várias vezes. Temos aí a identificação de nossos 2. Conhecimento gramatical, estilístico (qualidades do texto)
pensamentos com os pensamentos dos autores, mas para que e semântico. Na semântica (significado das palavras) in-
cluem-se: homônimos e parônimos, denotação e conota-
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Língua Portuguesa
ção, sinonímia e antonímia, polissemia, figuras de lingua- Falou tudo quanto queria (correto).
gem, entre outros. Falou tudo que queria (errado - antes do que, deveria aparecer
3. Capacidade de observação e de síntese. o demonstrativo o).
4. Capacidade de raciocínio. Vícios de Linguagem – há os vícios de linguagem clássicos
Interpretar X Compreender (barbarismo, solecismo, cacofonia...); no dia a dia, porém, exis-
tem expressões que são mal empregadas.
Interpretar Significa Compreender Significa – Por força desse hábito cometem-se erros graves como:
Explicar, comentar, julgar, Intelecção, entendimento, 1. “Ele correu risco de vida”, quando a verdade o risco era de
tirar conclusões, deduzir. atenção ao que realmente morte.
está escrito. 2. “Senhor professor, eu lhe vi ontem”. Neste caso, o prono-
Tipos de enunciados: me oblíquo átono correto é “o”.
Tipos de enunciados: 3. “No bar: Me vê um café”. Além do erro de posição do pro-
através do texto, infere-se
que... o texto diz que... nome, há o mau uso.
é possível deduzir que... é sugerido pelo autor que... – Algumas dicas para interpretar um texto:
1. Leia bastante. Textos de diversas áreas, assuntos distin-
o autor permite concluir de acordo com o texto, é tos nos trazem diferentes formas de pensar.
que... correta ou errada a 2. Pratique com exercícios de interpretação. Questões
afirmação... simples, mas que nos ajuda a ter certeza que estamos
qual é a intenção do autor
prestando atenção na leitura.
ao afirmar que... o narrador afirma...
3. Cuidado com o “olho ninja”, aquele que quando damos
conta, já está no final da página, e nem lembramos o que
Erros de Interpretação lemos no meio dela. Talvez seja hora de descansar um pou-
co, ou voltar a leitura num ponto que estávamos prestando
– É muito comum, mais do que se imagina, a ocorrência
4.
atenção, e reler.
Ative seu conhecimento prévio antes de iniciar o texto.
de erros de interpretação. Os mais frequentes são:
Qualquer informação, mínima que seja, nos ajuda a com-
1. Extrapolação (viagem). Ocorre quando se sai do contexto,
preender melhor o assunto do texto.
acrescentado ideias que não estão no texto, quer por co-
5. Faça uma primeira leitura superficial, para identificar a
nhecimento prévio do tema quer pela imaginação.
ideia central do texto, e assim, levantar hipóteses e saber
2. Redução. É o oposto da extrapolação. Dá-se atenção ape-
sobre o que se fala.
nas a um aspecto, esquecendo que um texto é um con-
6. Leia as questões antes de fazer uma segunda leitura mais
junto de ideias, o que pode ser insuficiente para o total do
detalhada. Assim, você economiza tempo se no meio da
entendimento do tema desenvolvido.
leitura identificar uma possível resposta.
3. Contradição. Não raro, o texto apresenta ideias contrárias
7. Preste atenção nas informações não-verbais. Tudo que
às do candidato, fazendo-o tirar conclusões equivocadas
vem junto com o texto, é para ser usado ao seu favor. Por
e, consequentemente, errando a questão.
isso, imagens, gráficos, tabelas, etc., servem para facilitar
Observação: Muitos pensam que há a ótica do escritor e a nossa leitura.
ótica do leitor. Pode ser que existam, mas numa prova de con- 8. Use o texto. Rabisque, anote, grife, circule... enfim, procu-
curso o que deve ser levado em consideração é o que o autor re a melhor forma para você, pois cada um tem seu jeito de
diz e nada mais. resumir e pontuar melhor os assuntos de um texto.
Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que relacio- Além dessas dicas importantes, você também pode grifar pa-
nam palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre si. Em lavras novas, e procurar seu significado para aumentar seu vo-
outras palavras, a coesão dá-se quando, através de um pro- cabulário, fazer atividades como caça-palavras, ou cruzadinhas
nome relativo, uma conjunção (nexos), ou um pronome oblíquo são uma distração, mas também um aprendizado.
átono, há uma relação correta entre o que se vai dizer e o que
Não se esqueça, além da prática da leitura aprimorar a compre-
já foi dito. São muitos os erros de coesão no dia a dia e, entre
ensão do texto e ajudar a aprovação, ela também estimula nos-
eles, está o mau uso do pronome relativo e do pronome oblíquo
sa imaginação, distrai, relaxa, informa, educa, atualiza, melhora
átono. Este depende da regência do verbo; aquele do seu ante-
nosso foco, cria perspectivas, nos torna reflexivos, pensantes,
cedente. Não se pode esquecer também de que os pronomes
além de melhorar nossa habilidade de fala, de escrita e de me-
relativos têm cada um valor semântico, por isso a necessidade
mória. Então, foco na leitura, que tudo fica mais fácil!
de adequação ao antecedente. Os pronomes relativos são mui-
to importantes na interpretação de texto, pois seu uso incorreto
traz erros de coesão. Organização do Texto e Ideia Central
– Assim sendo, deve-se levar em consideração que exis- Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias seletas e
organizadas, através dos parágrafos, composto pela ideia central,
te um pronome relativo adequado a cada circunstância, a
saber: argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão do texto.
1. Que (neutro) - relaciona-se com qualquer antecedente.
Mas depende das condições da frase.
– Podemos desenvolver um parágrafo de várias formas:
1. Declaração inicial;
2. Qual (neutro) idem ao anterior. 2. Definição;
3. Quem (pessoa). 3. Divisão;
4. Cujo (posse) - antes dele, aparece o possuidor e depois, o 4. Alusão histórica.
objeto possuído.
5. Como (modo). Onde (lugar). Quando (tempo). Quanto Serve para dividir o texto em pontos menores, tendo em vista os
(montante). diversos enfoques. Convencionalmente, o parágrafo é indicado
através da mudança de linha e um espaçamento da margem es-
Exemplo: querda. Uma das partes bem distintas do parágrafo é o tópico fra-
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Língua Portuguesa
– Basicamente, existem três tipos de texto: Resposta “C”. Apesar do autor não ter citado o nome dos ín-
1. Texto narrativo; dios, é possível concluir pelas características apresentadas no
2. Texto descritivo; texto. Essa resposta exige conhecimento que extrapola o texto.
3. Texto dissertativo.
Tome cuidado com as vírgulas.
Cada um desses textos possui características próprias de
construção, que pode ser estudado mais profundamente na Veja por exemplo a diferença de sentido nas frases a seguir:
tipologia textual. 1. Só, o Diego da M110 fez o trabalho de artes.
2. Só o Diego da M110 fez o trabalho de artes.
É comum encontrarmos queixas de que não sabem interpretar 3. Os alunos dedicados passaram no vestibular.
textos. Muitos têm aversão a exercícios nessa categoria. Acham 4. Os alunos, dedicados, passaram no vestibular.
monótono, sem graça, e outras vezes dizem: cada um tem o 5. Marcão, canta Garçom, de Reginaldo Rossi.
seu próprio entendimento do texto ou cada um interpreta a sua 6. Marcão canta Garçom, de Reginaldo Rossi.
maneira. No texto literário, essa ideia tem algum fundamento,
tendo em vista a linguagem conotativa, os símbolos criados, Explicações:
mas em texto não literário isso é um equívoco. Diante desse 1. Diego fez sozinho o trabalho de artes.
problema, seguem algumas dicas para você analisar, compre- 2. Apenas o Diego fez o trabalho de artes.
ender e interpretar com mais proficiência. 3. Havia, nesse caso, alunos dedicados e não dedicados e
1. Crie o hábito da leitura e o gosto por ela. Quando nós pas- passaram no vestibular somente os que se dedicaram, res-
samos a gostar de algo, compreendemos melhor seu fun- tringindo o grupo de alunos.
cionamento. Nesse caso, as palavras tornam-se familiares 4. Nesse outro caso, todos os alunos eram dedicados.
a nós mesmos. Não se deixe levar pela falsa impressão 5. Marcão é chamado para cantar.
de que ler não faz diferença. Leia tudo que tenha vontade, 6. Marcão pratica a ação de cantar.
com o tempo você se tornará mais seleto e perceberá que Leia o trecho e analise a afirmação que foi feita sobre ele:
algumas leituras foram superficiais e, às vezes, até ridícu-
las. Porém elas foram o ponto de partida e o estímulo para “Sempre fez parte do desafio do magistério administrar adoles-
se chegar a uma leitura mais refinada. Existe tempo para centes com hormônios em ebulição e com o desejo natural da
cada momento de nossas vidas. idade de desafiar as regras. A diferença é que, hoje, em muitos
2. Seja curioso, investigue as palavras que circulam em seu meio. casos, a relação comercial entre a escola e os pais se sobrepõe
3. Aumente seu vocabulário e sua cultura. Além da leitura, à autoridade do professor”.
um bom exercício para ampliar o léxico é fazer palavras Frase para análise.
cruzadas.
4. Faça exercícios de sinônimos e antônimos. Desafiar as regras é uma atitude própria do adolescente das es-
5. Leia verdadeiramente. colas privadas. E esse é o grande desafio do professor moderno.
6. Leia algumas vezes o texto, pois a primeira impressão - Não é mencionado que a escola seja da rede privada.
pode ser falsa. É preciso paciência para ler outras vezes. - O desafio não é apenas do professor atual, mas sempre fez
Antes de responder as questões, retorne ao texto para sa- parte do desafio do magistério. Outra questão é que o gran-
nar as dúvidas. de desafio não é só administrar os desafios às regras, isso é
7. Atenção ao que se pede. Às vezes a interpretação está parte do desafio, há também os hormônios em ebulição que
voltada a uma linha do texto e por isso você deve voltar fazem parte do desafio do magistério.
ao parágrafo para localizar o que se afirma. Outras vezes, a
questão está voltada à ideia geral do texto. - Atenção ao uso da paráfrase (reescrita do texto sem prejuízo
8. Fique atento a leituras de texto de todas as áreas do co- do sentido original).
nhecimento, porque algumas perguntas extrapolam ao que - A paráfrase pode ser construída de várias formas, veja
está escrito. algumas delas: substituição de locuções por palavras; uso
de sinônimos; mudança de discurso direto por indireto e vi-
Veja um exemplo disso: ce-versa; converter a voz ativa para a passiva; emprego de
Texto: antonomásias ou perífrases (Rui Barbosa = A águia de Haia;
o povo lusitano = portugueses).
Pode dizer-se que a presença do negro representou sempre fa-
tor obrigatório no desenvolvimento dos latifúndios coloniais. Os Observe a mudança de posição de palavras ou de
antigos moradores da terra foram, eventualmente, prestimosos expressões nas frases. Exemplos:
colaboradores da indústria extrativa, na caça, na pesca, em deter- - Certos alunos no Brasil não convivem com a falta de pro-
minados ofícios mecânicos e na criação do gado. Dificilmente se fessores.
acomodavam, porém, ao trabalho acurado e metódico que exige - Alunos certos no Brasil não convivem com a falta de pro-
a exploração dos canaviais. Sua tendência espontânea era para fessores.
as atividades menos sedentárias e que pudessem exercer- se sem
regularidade forçada e sem vigilância e fiscalização de estranhos. - Os alunos determinados pediram ajuda aos professores.
(Sérgio Buarque de Holanda, in Raízes)
- Determinados alunos pediram ajuda aos professores.
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Língua Portuguesa
- Alunos certos = aluno correto. CAMPOS, Paulo Mendes. De um caderno cinzento. São Paulo: Companhia das
Letras, 2015. p. 40-42.
- Alunos determinados = alunos decididos.
- Determinados alunos = qualquer aluno. 2. (Prefeitura do Rio de Janeiro – RJ Assistente Adminis-
trativo - Prefeitura do Rio de Janeiro– RJ/2016)
O gênero crônica, em que se enquadra o texto, é frequentemen-
Questões te escrito em primeira pessoa e reflete, muitas vezes, o posicio-
namento pessoal de seu autor. Pode-se afirmar que, na crônica
1. (MPE-SC – Promotor de Justiça – MPE-SC/2016) de Paulo Mendes Campos, o “eu” que fala:
“A Família Schürmann, de navegadores brasileiros, chegou ao a) confunde-se com o autor, tecendo críticas ao dr. Maynard
ponto mais distante da Expedição Oriente, a cidade de Xangai, b) distingue-se do autor, mostrando-se crítico e perspicaz
na China. Depois de 30 anos de longas navegações, essa é c) distingue-se do autor, mostrando-se ingênuo e alienado
a primeira vez que os Schürmann aportam em solo chinês. A d) confunde-se com o autor, valorizando a divulgação cientí-
negociação para ter a autorização do país começou há mais de fica pelos jornais
três anos, quando a expedição estava em fase de planejamen-
to. Essa também é a primeira vez que um veleiro brasileiro re- 3. (Prefeitura do Rio de Janeiro – RJ Assistente Adminis-
cebe autorização para aportar em solo chinês, de acordo com trativo - Prefeitura do Rio de Janeiro– RJ/2016)
as autoridades do país.” Pode-se afirmar que o texto de Paulo Mendes Campos é argu-
(http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/03/bfamilia-schurmannb-navega-pe- mentativo, uma vez que se caracteriza por:
la-primeira-vez-na-antartica.html)
a) encadear fatos que envolvem personagens
Para ficar caracterizada a ideia de passado distante, a expres- b) tentar convencer o leitor da validade de uma ideia
são “há mais de três anos” deve ser reescrita: “há mais de três c) caracterizar a composição de ambientes e de seres vivos
anos atrás”. d) oferecer instruções para o destinatário praticar uma ação
( ) Certo ( ) Errado 4. (Prefeitura do Rio de Janeiro – RJ Assistente Adminis-
trativo - Prefeitura do Rio de Janeiro – RJ/2016)
Leia o texto e responda as questões 02, 03 e 05.
Em “Doutrina ainda o nutricionista americano...”, a palavra em
Crônica destaque pode ser substituída, sem
Como o povo brasileiro é descuidado a respeito de alimen-
prejuízo do sentido, por:
tação! É o que exclamo depois de ler as recomendações
de um nutricionista americano, o dr. Maynard. Diz este: “A a) adestra, amestra, amansa
apatia, ou indiferença, é uma das causas principais das die- b) educa, corrige, repreende
tas inadequadas.” Certo, certíssimo. Ainda ontem, vi toda uma c) catequiza, converte
família nordestina estendida em uma calçada do centro da ci- d) formula, ensina
dade, ali bem pertinho do restaurante Vendôme, mas apática, 5. Prefeitura de Chapecó – SC – Engenheiro de Trânsito –
sem a menor vontade de entrar e comer bem. Ensina ainda o IOBV/2016)
especialista: “Embora haja alimentos em quantidade suficien-
te, as estatísticas continuam a demonstrar que muitas pessoas Por Jonas Valente*, especial para este blog.
não compreendem e não sabem selecionar os alimentos”. É A Comissão Parlamentar de Inquérito sobre Crimes Ciberné-
isso mesmo: quem der uma volta na feira ou no supermercado ticos da Câmara dos Deputados divulgou seu relatório final.
vê que a maioria dos brasileiros compra, por exemplo, arroz, Nele, apresenta proposta de diversos projetos de lei com a
que é um alimento pobre, deixando de lado uma série de ali- justificativa de combater delitos na rede. Mas o conteúdo des-
mentos ricos. Quando o nosso povo irá tomar juízo? Doutrina sas proposições é explosivo e pode mudar a Internet como a
ainda o nutricionista americano: “Uma boa dieta pode ser obti- conhecemos hoje no Brasil, criando um ambiente de censura
da de elementos tirados de cada um dos seguintes grupos de na web, ampliando a repressão ao acesso a filmes, séries e ou-
alimentos: o leite constitui o primeiro grupo, incluindo-se nele tros conteúdos não oficiais, retirando direitos dos internautas e
o queijo e o sorvete”. Embora modestamente, sempre pensei transformando redes sociais e outros aplicativos em máquinas
também assim. No entanto, ali na praia do Pinto é evidente de vigilância.
que as crianças estão desnutridas, pálidas, magras, roídas de
verminoses. Por quê? Porque seus pais não sabem selecionar Não é de hoje que o discurso da segurança na Internet é usa-
o leite e o queijo entre os principais alimentos. A solução lógica do para tentar atacar o caráter livre, plural e diverso da Internet.
seria dar-lhes sorvete, todas as crianças do mundo gostam de Como há dificuldades de se apurar crimes na rede, as soluções
sorvete. Engano: nem todas. Nas proximidades do Bob´s e do buscam criminalizar o máximo possível e transformar a navega-
Morais há sempre bandos de meninos favelados que ficam só ção em algo controlado, violando o princípio da presunção da
olhando os adultos que descem dos carros e devoram sorvetes inocência previsto na Constituição Federal. No caso dos crimes
enormes. Crianças apáticas, indiferentes. Citando ainda o ilus- contra a honra, a solução adotada pode ter um impacto trágico
tre médico: “A carne constitui o segundo grupo, recomendan- para o debate democrático nas redes sociais – atualmente tão
do-se dois ou mais pratos diários de bife, vitela, carneiro, gali- importante quanto aquele realizado nas ruas e outros locais da
nha, peixe ou ovos”. Santo Maynard! Santos jornais brasileiros vida off line. Além disso, as propostas mutilam o Marco Civil da
que divulgam as suas palavras redentoras! E dizer que o nosso Internet, lei aprovada depois de amplo debate na sociedade e
povo faz ouvidos de mercador a seus ensinamentos, e continua que é referência internacional.
a comer pouco, comer mal, às vezes até a não comer nada. (*BLOG DO SAKAMOTO, L. 04/04/2016)
Não sou mentiroso e posso dizer que já vi inúmeras vezes, aqui
no Rio, gente que prefere vasculhar uma lata de lixo a entrar em Após a leitura atenta do texto, analise as afirmações feitas:
um restaurante e pedir um filé à Chateaubriand. O dr. Maynard I. O jornalista Jonas Valente está fazendo um elogio à visão
decerto ficaria muito aborrecido se visse um ser humano esco- equilibrada e vanguardista da Comissão Parlamentar que
lher tão mal seus alimentos. Mas nós sabemos que é por causa legisla sobre crimes cibernéticos na Câmara dos Deputa-
dessas e outras que o Brasil não vai pra frente. dos.
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Língua Portuguesa
II. O Marco Civil da Internet é considerado um avanço em Não Literal é o sentido da palavra desviado do usual, isto é,
todos os sentidos, e a referida Comissão Parlamentar está aquele que se distancia do sentido próprio e costumeiro.
querendo cercear o direito à plena execução deste marco.
Exemplo:
III. Há o temor que o acesso a filmes, séries, informações em
geral e o livre modo de se expressar venham a sofrer cen- “As pedras atiradas pela boca ferem mais do que as atiradas
sura com a nova lei que pode ser aprovada na Câmara dos pela mão.”
Deputados.
“Pedras”, nesse contexto, não está indicando o que usualmen-
IV. A navegação na internet, como algo controlado, na visão
te indica, mas um insulto, uma ofensa produzida pela boca.
do jornalista, está longe de se concretizar através das leis a
serem votadas no Congresso Nacional.
V. Combater os crimes da internet com a censura, para o Ampliação de Sentido
jornalista, está longe de ser uma estratégia correta, sendo Fala-se em ampliação de sentido quando a palavra passa a
mesmo perversa e manipuladora. designar uma quantidade mais ampla de objetos ou noções do
Assinale a opção que contém todas as alternativas corretas. que originariamente.
a) I, II, III. “Embarcar”, por exemplo, que originariamente era usada para
b) II, III, IV. designar o ato de viajar em um barco, ampliou consideravel-
c) II, III, V. mente o sentido e passou a designar a ação de viajar em ou-
d) II, IV, V. tros veículos. Hoje se diz, por ampliação de sentido, que um
passageiro:
Respostas - embarcou num ter.
01. Errado - embarcou no ônibus das dez.
O verbo haver já contém a ideia de passado. A adição do termo - embarcou no avião da força aérea.
“atrás” caracteriza pleonasmo.
- embarcou num transatlântico.
02. (C)
“Alpinista”, na origem, era usado para indicar aquele que esca-
Dentro da crônica existe o “ o Eu” introduzido pelo Autor la os Alpes (cadeia montanhosa europeia). Depois, por amplia-
Paulo Mendes Diferença: ção de sentido, passou a designar qualquer tipo de praticante
“o Eu” se mostra ingênuo (Aquele que é inocente, sincero, sim- do esporte de escalar montanhas.
ples.) e alienado (1-Cedido a outro dono, ou o que enlouque-
ceu, 2-vendido.) Restrição de Sentido
Um exemplo é quando ele diz: “É o que exclamo depois de Ao lado da ampliação de sentido, existe o movimento inverso,
ler as recomendações de um nutricionista americano, o dr. isto é, uma palavra passa a designar uma quantidade mais res-
Maynard” trita de objetos ou noções do que originariamente. É o caso,
por exemplo, das palavras que saem da língua geral e passam
O autor não se mostra ingênuo e nem alienado, uma vez que, ele
a ser usadas com sentido determinado, dentro de um universo
mesmo é quem escreve a Crônica.
restrito do conhecimento.A palavra aglutinação, por exemplo,
03. (B) na nomenclatura gramatical, é bom exemplo de especialização
de sentido. Na língua geral, ela significa qualquer junção de
São características de textos:
elementos para formar um todo, porém em Gramática designa
encadear fatos que envolvem personagens - NARRATIVO apenas um tipo de formação de palavras por composição em
que a junção dos elementos acarreta alteração de pronúncia,
tentar convencer o leitor da validade de uma ideia - DISSERTA-
como é o caso de pernilongo (perna + longa).
TIVO ARGUMENTATIVO
Se não houver alteração de pronúncia, já não se diz mais aglu-
caracterizar a composição de ambientes e de seres vivos
tinação, mas justaposição. A palavra Pernalonga, por exemplo,
- DESCRITIVO
que designa uma personagem de desenhos animados, não se
oferecer instruções para o destinatário praticar uma ação - IN- formou por aglutinação, mas por justaposição.
JUNÇÃO/ INSTRUCIONAL
Em linguagem científica é muito comum restringir-se o signifi-
04. (D) cado das palavras para dar precisão à comunicação.
Doutrina = conjunto coerente de ideias fundamentais a serem A palavra girassol, formada de gira (do verbo girar) + sol, não
transmitidas, ensinadas. pode ser usada para designar, por exemplo, um astro que gira
em torno do Sol: seu sentido sofreu restrição, e ela serve para
05. (C) designar apenas um tipo de flor que tem a propriedade de
acompanhar o movimento do Sol.
Sentido Literal e Sentido Não Literal Há certas palavras que, além do significado explícito, contêm
outros implícitos (ou pressupostos).
Literal é o sentido da palavra interpretada ao pé da letra, isto Os exemplos são muitos. É o caso do adjetivo outro, por exem-
é, de acordo com o sentido geral que ela tem na maioria dos plo, que indica certa pessoa ou coisa, pressupondo necessa-
contextos em que ocorre. É o sentido próprio da palavra. riamente a existência de ao menos uma além daquela indicada.
Exemplo:
Prova disso é que não faz sentido, para um escritor que nunca
“Uma pedra no meio da rua foi a causa do acidente.” lançou um livro, dizer que ele estará autografando seu outro
A palavra “pedra” aqui está usada em sentido literal. livro. O uso de outro pressupõe necessariamente ao menos um
livro além daquele que está sendo autografado.
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Respostas
1. D
O sentido figurado ou conotativo, é aquele em que se atribui à
palavra ou expressão, um sentido ampliado, diferente do sen-
tido literal/usual.
Na imagem há uma combinação de linguagem verbal e não
d) A palavra “Indivisibilidade” foi usada com o sentido de “iso- verbal, juntas elas fornecem o insumo necessário para o bom
lamento”, “exclusão” e, portanto, é o gabarito. entendimento e compreensão da temática.
2. A Em uma leitura superficial, uma leitura sem inferências, o leitor
nata:na.ta sf (lat matta) 1 Camada que se forma à superfície do poderia cair no erro de não perceber a intenção real do autor, a
leite; creme. 2 A melhor parte de qualquer coisa, o que há de denúncia sobre a violência. Portanto, para realizar uma boa in-
melhor; a fina flor, o escol. N. da terra: nateiro; terra fértil. terpretação é necessário atentar-se aos detalhes e fazer certos
questionamentos como:
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- Por que o Cristo Redentor sente-se “incomodado” e “ex- “Elas estão por cima”, é o que se pensa de quem encontrou
posto a riscos”? seu espacinho sob a aba da aceitação. Porém, é preciso ba-
- O que significam as balas que o cercam por todos os lados? talhar para ter um espaço ali. Esse dragão não aceita qualquer
um; e sua aceitação, como tudo nesta vida, tem um preço.
- Por que o Cristo Redentor está usando colete à prova de
balas? Para ser aceita, em primeiro lugar, você não pode querer des-
truir esse dragão. Óbvio. Você não pode atacá-lo, você não
A partir de questionamentos como os citados acima é possível
pode ridicularizá-lo, você não pode falar para outras pessoas o
adentrar no contexto social, Rio de Janeiro violento, que ins-
quanto seus dentes são perigosos, você não pode sequer fazer
taura críticas e denúncias a determinada realidade.
perguntas constrangedoras a ele.
Portanto, ao inferir, o leitor é capaz de constatar os detalhes ocultos
Faça qualquer uma dessas coisas e você estará para sempre
que transformam a leitura simples em uma leitura reflexiva.
riscada da lista VIP da aceitação. Ou, talvez, se você se humi-
lhar o suficiente, ele consiga se esquecer de tudo o que você
Questões fez e reconsidere o seu pedido por aceitação.
A melhor coisa que você pode fazer para conseguir aceitação é
1. (Pref. De Teresina/PI – Professor Português – NUCE- atacar as pessoas que querem destruir o generoso distribuidor
PE/2016) deste privilégio. Uma boa forma de fazer isso é ridicularizando-
Segundo o Inaf (Indicador de Alfabetismo Funcional), analfa- -as, e pode ser bem divertido fingir que esse dragão sequer
beto funcional é aquele que, mesmo sabendo ler e escrever existe, embora ele seja algo tão monstruosamente gigante que
frases simples, não possui as habilidades necessárias para é quase como se sua existência estivesse sendo esfregada em
satisfazer as demandas do seu dia a dia e se desenvolver nossas caras.
pessoal e profissionalmente. De acordo com as teorias de Reforçar o discurso desse dragão, ainda que você não saiba
compreensão como atividade inferencial, compreender o texto muito bem do que está falando, é o passo mais importante que
é, essencialmente, uma atividade de relacionar conhecimentos, você pode dar em direção à tão esperada aceitação.
experiências e ações em um movimento interativo e negociado.
Concebendo a compreensão como processo, a leitura realiza- Reproduzir esse discurso é bem simples: basta que a men-
-se a partir de diferentes horizontes. Nesse sentido, é correto sagem principal seja deixar tudo como está e há várias formas
afirmar que o processo inferencial está: de se dizer isso, das mais rudimentares e manjadas às mais ela-
a) no horizonte máximo da leitura. boradas e inovadoras. Não dá pra reclamar de falta de opção.
b) no horizonte mínimo da leitura. Pode ter certeza que o dragão da aceitação dará cambalhotas
c) na falta de horizonte da leitura. de felicidade. Nada o agrada mais do que ver gente impedindo
d) no horizonte problemático da leitura. que as coisas mudem.
e) no horizonte indevido da leitura.
Uma vez aceita, você estará cercada de outras pessoas tão le-
2. (SEDU/ES – Professor – Língua Portuguesa – FCC/2016) gais quanto você, todas acolhidas nesse lugar quentinho cha-
Ensinar o leitor-aluno a fixar objetivos e a ter estratégias de leitura, mado aceitação. Ali, você irá acomodar a sua visão de mundo,
de modo a perceber que essa depende da articulação de várias como quem coloca óculos escuros para relaxar a vista, e irá
partes que formam um todo. É, então, um pressuposto metodoló- assistir numa boa às pessoas se dando mal lá fora.
gico a ser considerado. O leitor está inserido num contexto e preci- É claro que elas só estão se dando tão mal por causa do tal
sa considerar isso para compreender os textos escritos. Em sala de dragão; mas se você não pode derrotá-lo, una-se a ele, não é
aula, configuram-se como estratégias de preparação para a leitura o que dizem?
as ações de descobrir conhecimentos prévios dos alunos, discutir
o vocabulário do texto, explorar a seleção do tema do texto, do O que ninguém diz quando você tenta a todo custo ser aceita
assunto tratado, levantar palavras-chave ligadas a esse tema/as- é que nem isso torna você imune. Ser aceita não é garantia
sunto, e exercitar inferências sobre o texto. nenhuma de ser poupada.
(Espírito Santo (Estado). Secretaria da Educação. Ensino fundamental: anos Você pode tentar agradar ao dragão, você pode caprichar na
finais: área de Linguagens e Códigos / reprodução e perpetuação do discurso que o mantém acoco-
Secretaria da Educação. Vitória: SEDU, 2009, p. 69. v.1) rado sobre este mundo, você pode até se estirar no chão para
se fazer de tapete de boas-vindas, mas nada disso irá adiantar,
O ato de “exercitar inferências sobre o texto” pressupõe de- especialmente porque esse discurso só foi feito para destruir
senvolver atividades pedagógicas que permitam ao leitor-aluno você.
a) destacar o que é do seu interesse no texto.
b) localizar informações explícitas no texto. E aí é que a aceitação se revela como uma armadilha. Tudo o
c) apreender informações implícitas no texto. que você faz para ser aceita por aquilo que es- maga as outras
d) produzir novo texto com base no texto lido. sem dó só serve para deixar você mais perto da boca cheia de
e) ler em voz alta o texto de leitura. dentes que ainda vai te mastigar e te cuspir para fora. Pode
demorar, mas vai. Porque só tem uma coisa que esse dragão
3. (AL-GO - Analista Legislativo - Analista de Redes e Co- realmente aceita: dominar e oprimir.
municação de Dados – CS-UFG/2015) A armadilha da
aceitação Então, se ele sorrir para você, não se engane: ele não está te
aceitando. Está apenas mostrando os dentes que vai usar para
Existe um lugar quentinho e cômodo chamado aceitação. fazer você em pedaços depois.
Olhando de longe, parece agradável. Mais do que isso, é
VALEK, Aline. Disponível em: < http://www.cartacapital.com.br/blogs/escri-
absolutamente tentador: os que ali repousam parecem con- to- rio-feminista/a-armadilha-da-aceitacao-4820.html >. Acesso: 13 fev. 2015.
fortáveis, acolhidos, até mesmo com um senso de poder, como (Adaptado).
se estivessem tirando um cochilo plácido debaixo das asas de
um dragão. No texto, o uso das palavras “aceita” e “riscada”, no feminino,
conduz à inferência de que:
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Língua Portuguesa
a) a forma nominal dessas palavras se restringe à flexão no Se ela precisa ser buscada fora, permanentemente, será outra,
feminino provavelmente pior.
b) essas palavras concordam em gênero com palavras a que
Penso no amor, fonte permanente de júbilo e apreensão.
se referem.
c) os interlocutores imediatos do texto são do sexo feminino. Quando ele nos é subtraído, instala-se em nós uma tristeza
d) tais palavras concordam com o sexo da escritora do texto. sem tamanho e sem fim, que tem o rosto de quem nos deixou.
Ela vem de fora, nos é imposta pelas circunstâncias, mas tor-
4. 04. (IF/RJ – Administrador – BIO-RIO/2015)
na-se parte de nós. Um luto encarnado. Um milhão de carna-
Saltando as muralhas da Europa vais seriam incapaz de iluminar a escuridão dessa noite se não
houvesse, dentro de nós, alguma fonte própria de alegria. Nem
De um lado está a Europa da abundância econômica e da esta-
estaríamos na rua, se não fosse por ela. Nem nos animaríamos
bilidade política. De outro, além do Mediterrâneo, uma extensa
a ver de perto a multidão. Ficaríamos em casa, esmagados por
faixa assolada pela pobreza e por violentos conflitos. O pre-
nossa tristeza, remoendo os detalhes do que não mais existe.
cário equilíbrio rompeu-se de uma vez com o agravamento da
Ao longe, ouviríamos a batucada, e ela nos pareceria remota e
guerra civil na Síria. Da Síria, mas também do Iraque e do Afega-
alheia.
nistão, puseram-se em marcha os refugiados. Atrás deles, ou
junto com eles, marcham os migrantes econômicos da África Nossa alegria existe, entretanto. Por isso somos capazes de
e da Ásia. No maior fluxo migratório desde a Segunda Guerra cantar e dançar quando o destino nos atinge.
Mundial, os desesperados e os deserdados saltam as muralhas
Nossa alegria se manifesta como força e teimosia: ela nos
da União Europeia. põe de pé quando nem sairíamos da cama. Ela se expõe
Muralhas? Em tempos normais, os portais da União Europeia como esperança: acreditamos que o mundo nos trará algo
estão abertos para os refugiados, mas fechados para os imi- melhor esta manhã; quem sabe esta noite; domingo, talvez. Ela
grantes. Não vivemos tempos normais. Os países da Europa nos torna sensível à beleza da mulher estranha, ao sorriso feliz
Centro-Oriental, Hungria à frente, fazem eco à xenofobia da do amigo, à conversa simpática de um vizinho, aos problemas
extrema-direita, levantando as pontes diante dos refugiados. do colega de trabalho. Nossa alegria cria interesse pelo mundo
Vergonhosamente, a Grã-Bretanha segue tal exemplo, ainda e nos faz perceber que ele também se interessa por nós.
que com menos impudor. Por mínima que seja, essa fonte de luz e energia é suficiente
A Alemanha, seguida hesitantemente pela França, insiste num para dar a largada e começar do zero.
outro rumo, baseado na lógica demográfica e nos princípios Um dia depois do outro. Todos os dias em que seja necessário.
humanitários. Angela Merkel explica a seus parceiros que a Eu-
ropa precisa agir junta para passar num teste ainda mais difícil Quando se está por baixo, muito caído, não é fácil achar o
que o da crise do euro. “O futuro da União Europeia será mol- interruptor da nossa alegria. A gente tem a sensação de que
alegria se extinguiu e com ela o nosso desejo de transar e
dado pelo que fizermos agora, alerta a primeira-ministra alemã.
de viver, que costumam ser a mesma coisa. Mas a alegria
(Mundo, outubro 2015) está lá - feita de boas memórias, do amor que nos deram,
do carinho que a gente deu aos outros. Existe como presença
De alguns segmentos do texto o leitor pode fazer uma série de
abstrata, mas calorosa, que nos dirige aos outros, que nos faz
inferências. A inferência inadequada
olhar para fora. É isso a alegria: algo de dentro que nos leva ao
do segmento “O precário equilíbrio rompeu-se de uma vez com mundo e nos permite o gozo e a reconhecimento de nós mesmos,
o agravamento da guerra civil na Síria” é: no rosto do outro. Empatia e simpatia. Amor.
a) já havia uma guerra civil na Síria há algum tempo.
Se a alegria vem de dentro ou de fora? De dentro, claro. Mas seu
b) existia um tênue equilíbrio nas tensões da região.
sintoma mais bonito é nos jogar para fora, de encontro à música
c) haviam ocorrido rompimentos em países do local referido.
e à dança do mundo, ao encontro de nós mesmos.
d) a guerra civil na Síria envolvia outros países vizinhos.
e) um conflito interno de um país pode afetar nações próxi- Adaptado de http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noti-
cia/2015/02/dentro-de-nos-balegriab.html
mas.
Em relação ao texto, é correto afirmar que:
5. (EBSERH – Advogado - Instituto AOCP/2015)
a) somente por meio de inferência é possível concluir que o
[...] a alegria questionamento inicial do texto é respondido.
b) não há elementos linguísticos no texto que comprovem a
Seu sintoma mais bonito é nos jogar para fora, de encontro ao resposta ao questionamento inicial que o autor faz.
mundo e a nós mesmos c) o questionamento inicial não é respondido no decorrer do tex-
IVAN MARTINS to, propositalmente, ficando como uma reflexão para o leitor.
d) no texto o autor responde explicitamente seu questiona-
A alegria vem de dentro ou de fora de nós? mento inicial.
A pergunta me ocorre no meio de um bloco de carnaval, en- e) não é possível, durante a leitura, definir se o questiona-
quanto berro os versos imortais de Roberto Carlos, cantados mento inicial do texto é respondido.
em ritmo de samba: “Eu quero que você me aqueça neste in-
verno, e que tudo mais vá pro inferno”. Respostas
Estou contente, claro. Ao meu redor há um grupo de amigos e 01. A
uma multidão ruidosa e colorida. Ainda assim, a resposta so- Questão parece difícil pois a redação não é muito boa. Pergun-
bre a alegria me ilude. Meu coração sorri em resposta a essa tando da seguinte forma fica mais fácil de entender: “É possível
festa ou acha nela apenas um eco do seu próprio e inesperado fazer uma conclusão ou uma dedução do texto a partir de”...viu,
contentamento? ficou mais fácil achar a resposta.
Embora simples, a pergunta não é trivial. Se sou capaz de Torna-se óbvio que só podemos deduzir um texto quando le-
achar em mim a alegria, a vida será uma. mos o máximo de seu argumento.
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Língua Portuguesa
Na segunda pessoa, o autor costuma falar diretamente com o - Caminhada (substantivo), caminhada (verbo).
leitor, como um diálogo. É um caso mais raro e faz com que o - Cedo (verbo), cedo (advérbio).
leitor se sinta quase como outro personagem que participa da - Somem (verbo somar), somem (verbo sumir).
história. - Livre (adjetivo), livre (verbo livrar).
- Pomos (substantivo), pomos (verbo pôr).
Terceira pessoa
- Alude (avalancha), alude (verbo aludir).
Esse ponto de vista coloca o leitor numa posição externa, como
se apenas observasse a ação acontecer. Os diálogos não são Parônimos: são palavras parecidas na escrita e na pronúncia.
como na narrativa em primeira pessoa, já que nesse caso o coro e couro, cesta e sesta, eminente e iminente, degradar e
autor relata as frases como alguém que estivesse apenas con- degredar, cético e séptico, prescrever e proscrever, descrição e
tando o que cada personagem disse. discrição, infligir (aplicar) e infringir (transgredir), sede (vontade
de beber) e cede (verbo ceder), comprimento e cumprimen-
to, deferir (conceder, dar deferimento) e diferir (ser diferente,
Significação das Palavras divergir, adiar), ratificar (confirmar) e retificar (tornar reto, corri-
gir), vultoso (volumoso, muito grande: soma vultosa) e vultuoso
Quanto à significação, as palavras são divididas nas se- (congestionado: rosto vultuoso).
guintes categorias:
Polissemia: Uma palavra pode ter mais de uma significação.
Homônimos: são palavras que têm a mesma pronúncia, e às A esse fato linguístico dá-se o nome de polissemia. Exemplos:
vezes a mesma grafia, mas significação diferente. - Mangueira: tubo de borracha ou plástico para regar as plan-
Exemplos: tas ou apagar incêndios; árvore frutífera; grande curral de
gado.
- São (sadio), são (forma do verbo ser) e são (santo).
- Pena: pluma; peça de metal para escrever; punição; dó.
- Aço (substantivo) e asso (verbo).
- Velar: cobrir com véu; ocultar; vigiar; cuidar; relativo ao véu
do palato.
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Língua Portuguesa
Podemos citar ainda, como exemplos de palavras polissêmi- Espécie ameaçada de extinção escapa dos caçadores da ma-
cas, o verbo dar e os substantivos linha e ponto, que têm de- neira mais radical possível – pelo céu.
zenas de acepções.
Os rinocerontes-negros estão entre os bichos mais visados da
Sentido Próprio e Sentido Figurado: as palavras podem ser África, pois sua espécie é uma das preferidas pelo turismo de
empregadas no sentido próprio ou no sentido figurado. caça. Para tentar salvar alguns dos 4.500 espécimes que ainda
restam na natureza, duas ONG ambientais apelaram para uma
Exemplos:
solução extrema: transportar os rinocerontes de helicóptero.
- Construí um muro de pedra. (sentido próprio). A ação utilizou helicópteros militares para remover 19 espé-
- Ênio tem um coração de pedra. (sentido figurado). cimes – com 1,4 toneladas cada um – de seu habitat original,
- As águas pingavam da torneira, (sentido próprio). na província de Cabo Oriental, no sudeste da África do Sul,
e transferi-los para a província de Lampopo, no norte do país,
- As horas iam pingando lentamente, (sentido figurado).
a 1.500 quilômetros de distância, onde viverão longe dos ca-
Denotação e Conotação: Observe as palavras em destaque çadores. Como o trajeto tem áreas inacessíveis de carro, os
nos seguintes exemplos: rinocerontes tiveram de voar por 24 quilômetros. Sedados e de
- Comprei uma correntinha de ouro. olhos vendados (para evitar sustos caso acordassem), os rino-
cerontes foram içados pelos tornozelos e voaram entre 10 e 20
- Fulano nadava em ouro.
minutos. Parece meio brutal? Os responsáveis pela operação
No primeiro exemplo, a palavra ouro denota ou designa sim- dizem que, além de mais eficiente para levar os paquidermes a
plesmente o conhecido metal precioso, tem sentido próprio, locais de difícil acesso, o procedimento é mais gentil.
real, denotativo. (BADÔ, F. A fuga dos rinocerontes. Superinteressante, nº 229, 2011.)
No segundo exemplo, ouro sugere ou evoca riquezas, poder, A palavra radical pode ser empregada com várias acepções,
glória, luxo, ostentação; tem o sentido conotativo, possui vá- por isso denomina-se polissêmica.
rias conotações (ideias associadas, sentimentos, evocações
que irradiam da palavra). Assinale o sentido dicionarizado que é mais adequado no con-
texto acima.
a) Que existe intrinsecamente num indivíduo ou coisa.
Questões b) Brusco; violento; difícil.
c) Que não é tradicional, comum ou usual.
1. (Pref. de Lauro Muller/SC – Auxiliar Administrativo – d) Que exige destreza, perícia ou coragem.
FAEPESUL/2016)
5. (UNESP – Assistente Administrativo I – VUNESP/2016)
Atento ao emprego dos Homônimos, analise as palavras
O gavião
sublinhadas e identifique a alternativa CORRETA:
a) Ainda vivemos no Brasil a descriminação racial. Isso é crime! Gente olhando para o céu: não é mais disco voador. Disco
b) Com a crise política, a renúncia já parecia eminente. voador perdeu o cartaz com tanto satélite beirando o sol e a lua.
c) Descobertas as manobras fiscais, os políticos irão agora Olhamos todos para o céu em busca de algo mais sensacional e
expiar seus crimes. comovente – o gavião malvado, que mata pombas.
d) Em todos os momentos, para agir corretamente, é preciso
o bom censo. O centro da cidade do Rio de Janeiro retorna assim à contem-
e) Prefiro macarronada com molho, mas sem estrato de to- plação de um drama bem antigo, e há o partido das pombas
mate. e o partido do gavião. Os pombistas ou pombeiros (qualquer
palavra é melhor que “columbófilo”) querem matar o gavião. Os
2. (Pref. de Cruzeiro/SP – Instrutor de Desenho Técnico e amigos deste dizem que ele não é malvado tal; na verdade come
Mecânico – Instituto Excelência/2016) a sua pombinha com a mesma inocência com que a pomba
Assinale a alternativa em que as palavras podem servir de come seu grão de milho.
exemplos de parônimos: Não tomarei partido; admiro a túrgida inocência das pombas e
a) Cavaleiro (Homem a cavalo) – Cavalheiro (Homem gentil). também o lance magnífico em que o gavião se despenca sobre
b) São (sadio) – São (Forma reduzida de Santo). uma delas. Comer pombas é, como diria Saint-Exupéry, “a ver-
c) Acento (sinal gráfico) – Assento (superfície onde se senta). dade do gavião”, mas matar um gavião no ar com um belo tiro
d) Nenhuma das alternativas. pode também ser a verdade do caçador.
3. (TJ/MT – Analista Judiciário – Ciências Contábeis – Que o gavião mate a pomba e o homem mate alegremente o
UFMT/2016) gavião; ao homem, se não houver outro bicho que o mate, pode
Na língua portuguesa, há muitas palavras parecidas, seja no lhe suceder que ele encontre seu gavião em outro homem.
modo de falar ou no de escrever. A palavra sessão, por exem- (Rubem Braga. Ai de ti, Copacabana, 1999. Adaptado)
plo, assemelha-se às palavras cessão e seção, mas cada uma
O termo gavião, destacado em sua última ocorrência no texto
apresenta sentido diferente. Esse caso, mesmo som, grafias di-
– … pode lhe suceder que ele encontre seu gavião em outro
ferentes, denomina-se homônimo homófono. Assinale a alterna-
homem. –, é empregado com sentido
tiva em que todas as palavras se encontram nesse caso.
a) próprio, equivalendo a inspiração.
a) taxa, cesta, assento
b) próprio, equivalendo a conquistador.
b) conserto, pleito, ótico
c) figurado, equivalendo a ave de rapina.
c) cheque, descrição, manga
d) figurado, equivalendo a alimento.
d) serrar, ratificar, emergir
e) figurado, equivalendo a predador.
e)
4. (TJ/MT – Analista Judiciário – Direito – UFMT/2016 ) Respostas
A fuga dos rinocerontes 1. Resposta C
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Língua Portuguesa
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Língua Portuguesa
O objetivo de um texto descritivo é levar o leitor a visualizar - Características psicológicas (personalidade, temperamento,
uma cena. É como traçar com palavras o retrato de um objeto, caráter, preferências, inclinações, postura, objetivos).
lugar, pessoa etc., apontando suas características exteriores,
Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de caráter
facilmente identificáveis (descrição objetiva), ou suas caracte-
geral.
rísticas psicológicas e até emocionais (descrição subjetiva).
Descrição de pessoas (II):
Uma descrição deve privilegiar o uso frequente de adjetivos,
também denominado adjetivação. Para facilitar o aprendizado Introdução: primeira impressão ou abordagem de qualquer as-
desta técnica, sugere-se que o concursando, após escrever pecto de caráter geral.
seu texto, sublinhe todos os substantivos, acrescentando an-
tes ou depois deste um adjetivo ou uma locução adjetiva. Desenvolvimento:
- Análise das características físicas, associadas às caracterís-
Descrição de objetos constituídos de uma só parte:
ticas psicológicas (1ª parte).
- Introdução: observações de caráter geral referentes à pro-
- Análise das características físicas, associadas às caracterís-
cedência ou localização do objeto descrito.
ticas psicológicas (2ª parte).
- Desenvolvimento: detalhes (lª parte) - formato (compara-
ção com figuras geométricas e com objetos semelhantes); Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de caráter
dimensões (largura, comprimento, altura, diâmetro etc.) geral.
- Desenvolvimento: detalhes (2ª parte) - material, peso, cor/ A descrição, ao contrário da narrativa, não supõe ação. É uma
brilho, textura. estrutura pictórica, em que os aspectos sensoriais predomi-
- Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua nam. Porque toda técnica descritiva implica contemplação e
utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto apreensão de algo objetivo ou subjetivo, o redator, ao descre-
como um todo. ver, precisa possuir certo grau de sensibilidade. Assim como o
pintor capta o mundo exterior ou interior em suas telas, o autor
Descrição de objetos constituídos por várias partes: de uma descrição focaliza cenas ou imagens, conforme o per-
- Introdução: observações de caráter geral referentes à pro- mita sua sensibilidade.
cedência ou localização do objeto descrito.
Conforme o objetivo a alcançar, a descrição pode ser não-lite-
- Desenvolvimento: enumeração e rápidos comentários das rária ou literária. Na descrição não- literária, há maior preocu-
partes que compõem o objeto, associados à explicação de pação com a exatidão dos detalhes e a precisão vocabular. Por
como as partes se agrupam para formar o todo. ser objetiva, há predominância da denotação.
- Desenvolvimento: detalhes do objeto visto como um todo
(externamente) - formato, dimensões, material, peso, textu- Textos descritivos não-literários: A descrição técnica é um tipo
ra, cor e brilho. de descrição objetiva: ela recria o objeto usando uma lingua-
gem científica, precisa. Esse tipo de texto é usado para des-
- Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua
crever aparelhos, o seu funcionamento, as peças que os com-
utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto
põem, para descrever experiências, processos, etc.
em sua totalidade.
Exemplo:
Descrição de ambientes:
Folheto de propaganda de carro
Introdução: comentário de caráter geral.
Conforto interno - É impossível falar de conforto sem incluir o
Desenvolvimento: detalhes referentes à estrutura global do
espaço interno. Os seus interiores são amplos, acomodando
ambiente: paredes, janelas, portas, chão, teto, luminosidade e
tranquilamente passageiros e bagagens. O Passat e o Passat
aroma (se houver).
Variant possuem direção hidráulica e ar condicionado de ele-
Desenvolvimento: detalhes específicos em relação a obje- vada capacidade, proporcionando a climatização perfeita do
tos lá existentes: móveis, eletrodomésticos, quadros, escultu- ambiente.
ras ou quaisquer outros objetos.
Porta-malas - O compartimento de bagagens possui capaci-
Conclusão: observações sobre a atmosfera que paira no dade de 465 litros, que pode ser ampliada para até 1500 litros,
ambiente. Descrição de paisagens: com o encosto do banco traseiro rebaixado.
Introdução: comentário sobre sua localização ou qualquer ou- Tanque - O tanque de combustível é confeccionado em plásti-
tra referência de caráter geral. co reciclável e posicionado entre as rodas traseiras, para evitar
Desenvolvimento: observação do plano de fundo (explicação a deformação em caso de colisão.
do que se vê ao longe). Textos descritivos literários: Na descrição literária predomina
Desenvolvimento: observação dos elementos mais próximos o aspecto subjetivo, com ênfase no conjunto de associações
do observador - explicação detalhada dos elementos que com- conotativas que podem ser exploradas a partir de descrições
põem a paisagem, de acordo com determinada ordem. de pessoas; cenários, paisagens, espaço; ambientes; situa-
ções e coisas. Vale lembrar que textos descritivos também po-
Conclusão: comentários de caráter geral, concluindo acerca dem ocorrer tanto em prosa como em verso.
da impressão que a paisagem causa em quem a contempla.
Descrição de pessoas (I):
Narração
Introdução: primeira impressão ou abordagem de qualquer as-
pecto de caráter geral. A Narração é um tipo de texto que relata uma história real, fictí-
cia ou mescla dados reais e imaginários. O texto narrativo apre-
Desenvolvimento: senta personagens que atuam em um tempo e em um espaço,
- Características físicas (altura, peso, cor da pele, idade, ca- organizados por uma narração feita por um narrador. É uma
belos, olhos, nariz, boca, voz, roupas). série de fatos situados em um espaço e no tempo, tendo mu-
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Língua Portuguesa
dança de um estado para outro, segundo relações de sequen- Tempo - Quando? Época em que ocorreu o fato Espaço -
cialidade e causalidade, e não simultâneos como na descrição. Onde? Lugar onde ocorreu o fato
Expressa as relações entre os indivíduos, os conflitos e as li-
Modo - Como? De que forma ocorreu o fato
gações afetivas entre esses indivíduos e o mundo, utilizando
situações que contêm essa vivência. Causa - Por quê? Motivo pelo qual ocorreu o fato Resultado
- previsível ou imprevisível.
Todas as vezes que uma história é contada (é narrada), o narra-
dor acaba sempre contando onde, quando, como e com quem Final - Fechado ou Aberto.
ocorreu o episódio. É por isso que numa narração predomina a
Esses elementos estruturais combinam-se e articulam-se de
ação: o texto narrativo é um conjunto de ações; assim sendo,
tal forma, que não é possível compreendê-los isoladamente,
a maioria dos verbos que compõem esse tipo de texto são os
como simples exemplos de uma narração. Há uma relação de
verbos de ação. O conjunto de ações que compõem o texto
implicação mútua entre eles, para garantir coerência e verossi-
narrativo, ou seja, a história que é contada nesse tipo de texto
milhança à história narrada.
recebe o nome de enredo.
Quanto aos elementos da narrativa, esses não estão, obriga-
As ações contidas no texto narrativo são praticadas pelas per-
toriamente sempre presentes no discurso, exceto as persona-
sonagens, que são justamente as pessoas envolvidas no epi-
gens ou o fato a ser narrado.
sódio que está sendo contado. As personagens são identifica-
das (nomeadas) no texto narrativo pelos substantivos próprios. Exemplo:
Porquinho-da-índia
Quando o narrador conta um episódio, às vezes (mesmo sem
querer) ele acaba contando “onde” (em que lugar) as ações Quando eu tinha seis anos
do enredo foram realizadas pelas personagens. O lugar onde Ganhei um porquinho-da-índía.
ocorre uma ação ou ações é chamado de espaço, representa- Que dor de coração me dava
do no texto pelos advérbios de lugar. Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala.
Além de contar onde, o narrador também pode esclarecer Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
“quando” ocorreram as ações da história. Esse elemento da Ele não gostava
narrativa é o tempo, representado no texto narrativo através Queria era estar debaixo do fogão.
dos tempos verbais, mas principalmente pelos advérbios de Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
tempo. É o tempo que ordena as ações no texto narrativo: é ele
que indica ao leitor “como” o fato narrado aconteceu. - O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.
Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. 4ª ed. Rio de Janeiro, José Olympio,
A história contada, por isso, passa por uma introdução (parte 1973, pág. 110.
inicial da história, também chamada de prólogo), pelo desen-
volvimento do enredo (é a história propriamente dita, o meio, Observe que, no texto acima, há um conjunto de transfor-
o “miolo” da narrativa, também chamada de trama) e termina mações de situação: ganhar um porquinho-da-índia é passar
com a conclusão da história (é o final ou epílogo). Aquele que da situação de não ter o animalzinho para a de tê-lo; levá-lo
conta a história é o narrador, que pode ser pessoal (narra em 1ª para a sala ou para outros lugares é passar da situação de ele
pessoa: Eu) ou impessoal (narra em 3ª pessoa: Ele). estar debaixo do fogão para a de estar em outros lugares; ele
não gostava: “queria era estar debaixo do fogão” implica a
Assim, o texto narrativo é sempre estruturado por verbos volta à situação anterior; “não fazia caso nenhum das minhas
de ação, por advérbios de tempo, por advérbios de lugar e ternurinhas” dá a entender que o menino passava de uma situ-
pelos substantivos que nomeiam as personagens, que são ação de não ser terno com o animalzinho para uma situação de
os agentes do texto, ou seja, aquelas pessoas que fazem
ser; no último verso tem-se a passagem da situação de não ter
as ações expressas pelos verbos, formando uma rede: a
namorada para a de ter.
própria história contada.
Verifica-se, pois, que nesse texto há um grande conjunto de
Tudo na narrativa depende do narrador, da voz que conta a
mudanças de situação. É isso que define o que se chama o
história.
componente narrativo do texto, ou seja, narrativa é uma mu-
Elementos Estruturais 1 dança de estado pela ação de alguma personagem, é uma
transformação de situação. Mesmo que essa personagem não
- Enredo: desenrolar dos acontecimentos.
apareça no texto, ela está logicamente implícita. Assim, por
- Personagens: são seres que se movimentam, se relacio- exemplo, se o menino ganhou um porquinho-da-índia, é por-
nam e dão lugar à trama que se estabelece na ação. Reve- que alguém lhe deu o animalzinho.
lam-se por meio de características físicas ou psicológicas.
Os personagens podem ser lineares (previsíveis), comple- Assim, há basicamente, dois tipos de mudança: aquele em
xos, tipos sociais (trabalhador, estudante, burguês etc.) ou que alguém recebe alguma coisa (o menino passou a ter o por-
tipos humanos (o medroso, o tímido, o avarento etc.), heróis quinho-da índia) e aquele alguém perde alguma coisa (o por-
ou anti-heróis, protagonistas ou antagonistas. quinho perdia, a cada vez que o menino o levava para outro
lugar, o espaço confortável de debaixo do fogão). Assim, temos
- Narrador: é quem conta a história.
dois tipos de narrativas: de aquisição e de privação.
- Espaço: local da ação. Pode ser físico ou psicológico.
- Tempo: época em que se passa a ação.
Cronológico: o tempo convencional (horas, dias, meses); Existem três tipos de foco narrativo:
Psicológico: o tempo interior, subjetivo. - Narrador-personagem: é aquele que conta a história na
qual é participante. Nesse caso ele é narrador e personagem
Elementos Estruturais 2 ao mesmo tempo, a história é contada em 1ª pessoa.
Personagens - Quem? Protagonista/Antagonista Acontecimen- - Narrador-observador: é aquele que conta a história como
to - O quê? Fato alguém que observa tudo que acontece e transmite ao leitor,
a história é contada em 3ª pessoa.
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Língua Portuguesa
- Complicação: é a parte do texto em que se inicia propria- Narrador Objetivo: não se envolve, conta a história como sen-
mente a ação. Encadeados, os episódios se sucedem, con- do vista por uma câmara ou filmadora.
duzindo ao clímax.
Exemplo:
- Clímax: é o ponto da narrativa em que a ação atinge seu
momento crítico, tornando o desfecho inevitável. Festa
- Desfecho: é a solução do conflito produzido pelas ações Atrás do balcão, o rapaz de cabeça pelada e avental olha o
dos personagens. crioulão de roupa limpa e remendada, acompanhado de dois
meninos de tênis branco, um mais velho e outro mais novo,
Tipos de Personagens mas ambos com menos de dez anos.
Os personagens têm muita importância na construção de um Os três atravessam o salão, cuidadosamente, mas resoluta-
texto narrativo, são elementos vitais. mente, e se dirigem para o cômodo dos fundos, onde há seis
Podem ser principais ou secundários, conforme o papel que mesas desertas.
desempenham no enredo, podem ser apresentados direta ou O rapaz de cabeça pelada vai ver o que eles querem. O ho-
indiretamente. mem pergunta em quanto fica uma cerveja, dois guaranás e
A apresentação direta acontece quando o personagem apare- dois pãezinhos.
ce de forma clara no texto, retratando suas características físi- - Duzentos e vinte.
cas e/ou psicológicas, já a apresentação indireta se dá quando O preto concentra-se, aritmético, e confirma o pedido.
os personagens aparecem aos poucos e o leitor vai construin-
do a sua imagem com o desenrolar do enredo, ou seja, a partir - Que tal o pão com molho? – sugere o rapaz.
de suas ações, do que ela vai fazendo e do modo como vai - Como?
fazendo.
Passar o pão no molho da almôndega. Fica muito mais gos-
Em 1ª pessoa toso. O homem olha para os meninos.
- O preço é o mesmo – informa o rapaz.
Personagem Principal: há um “eu” participante que conta a
história e é o protagonista. Exemplo: - Está certo.
“Parei na varanda, ia tonto, atordoado, as pernas bambas, o Os três sentam-se numa das mesas, de forma canhestra, como
coração parecendo querer sair-me pela boca fora. Não me se o estivessem fazendo pela primeira vez na vida.
atrevia a descer à chácara, e passar ao quintal vizinho. Come- O rapaz de cabeça pelada traz as bebidas e os copos e, em se-
cei a andar de um lado para outro, estacando para amparar- guida, num pratinho, os dois pães com meia almôndega cada
-me, e andava outra vez e estacava.” um. O homem e (mais do que ele) os meninos olham para den-
(Machado de Assis. Dom Casmurro) tro dos pães, enquanto o rapaz cúmplice se retira.
Observador: é como se dissesse: É verdade, pode acredi- Os meninos aguardam que a mão adulta leve solene o copo
tar, eu estava lá e vi. Exemplo: de cerveja até a boca, depois cada um prova o seu guaraná e
morde o primeiro bocado do pão.
“Batia nos noventa anos o corpo magro, mas sempre teso do
Jango Jorge, um que foi capitão duma maloca de contraban- O homem toma a cerveja em pequenos goles, observando cri-
dista que fez cancha nos banhados do Brocai. teriosamente o menino mais velho e o menino mais novo ab-
sorvidos com o sanduíche e a bebida.
Esse gaúcho desamotinado levou a existência inteira a cruzar
os campos da fronteira; à luz do Sol, no desmaiado da Lua, Eles não têm pressa. O grande homem e seus dois meninos. E
na escuridão das noites, na cerração das madrugadas...; ainda permanecem para sempre, humanos e indestrutíveis, sentados
que chovesse reiúnos acolherados ou que ventasse como por naquela mesa.
alma de padre, nunca errou vau, nunca perdeu atalho, nunca (Wander Piroli)
desandou cruzada! ...
(...) Tipos de Discurso
Aqui há poucos – coitado! – pousei no arranchamento dele. Ca- Discurso Direto: o narrador passa a palavra diretamente para
sado ou doutro jeito, afamilhado. Não nos víamos desde muito o personagem, sem a sua interferência.
tempo. (...)
Exemplo:
Fiquei verdeando, à espera, e fui dando um ajutório na matança Caso de Desquite
dos leitões e no tiramento dos assados com couro.”
(J. Simões Lopes Neto – Contrabandista) Vexame de incomodar o doutor (a mão trêmula na boca).
Veja, doutor, este velho caducando.
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Língua Portuguesa
Bisavô, um neto casado. Agora com mania de mulher. Todo Discurso Indireto-Livre: ocorre uma fusão entre a fala do perso-
velho é sem-vergonha. nagem e a fala do narrador. É um recurso relativamente recen-
te. Surgiu com romancistas inovadores do século XX. Exemplo:
Dobre a língua, mulher. O hominho é muito bom. Só não me
pise, fico uma jararaca. A Morte da Porta-Estandarte
Se quer sair de casa, doutor, pague uma pensão. Que ninguém o incomode agora. Larguem os seus braços.
Essa aí tem filho emancipado. Criei um por um, está bom? Rosinha está dormindo. Não acordem Rosinha. Não é preciso
Ela não contribuiu com nada, doutor. Só deu de mamar no pri- segurá-lo, que ele não está bêbado... O céu baixou, se abriu...
meiro mês. Esse temporal assim é bom, porque Rosinha não sai. Tenham
paciência... Largar Rosinha ali, ele não larga não... Não! E esses
Você desempregado, quem é que fazia roça? tambores? Ui! Que venham... É guerra... ele vai se espalhar...
Isso naquele tempo. O hominho aqui se espalhava. Fui joga- Por que não está malhando em sua cabeça? ... (...) Ele vai tirar
do na estrada, doutor. Desde onze anos estou no mundo sem Rosinha da cama... Ele está dormindo, Rosinha... Fugir com
ninguém por mim. O céu lá em cima, noite e dia o hominho aqui ela, para o fundo do País... Abraçá-la no alto de uma colina...
na carroça. Sempre o mais sacrificado, está bom? (Aníbal Machado)
mas do homem em geral e de todos os métodos para atingir Características: caracterização de espaços ou aspectos.
o poder);
Estatísticas: apresentação de dados estatísticos. Ex.: “Em
- existe mudança de situação no texto (por exemplo, a mu- 1982, eram 15,8 milhões os domicílios brasileiros com televiso-
dança de atitude dos que clamam contra a corrupção da res. Hoje, são 34 milhões (o sexto maior parque de aparelhos
corte no momento em que se tornam primeiros-ministros); receptores instalados do mundo). Ao todo, existem no país 257
- a progressão temporal dos enunciados não tem importân- emissoras (aquelas capazes de gerar programas) e 2.624 repe-
cia, pois o que importa é a relação de implicação (clamar tidoras (que apenas retransmitem sinais recebidos). (...)”
contra a corrupção da corte implica ser corrupto depois da
Declaração Inicial: emitir um conceito sobre um fato.
nomeação para primeiro-ministro).
Citação: opinião de alguém de destaque sobre o assunto do
Características:
texto. Ex.: “A principal característica do déspota encontra-se
- ao contrário do texto narrativo e do descritivo, ele é temá- no fato de ser ele o autor único e exclusivo das normas e das
tico; regras que definem a vida familiar, isto é, o espaço privado. Seu
- como o texto narrativo, ele mostra mudanças de situação; poder, escreve Aristóteles, é arbitrário, pois decorre exclusiva-
mente de sua vontade, de seu prazer e de suas necessidades.”
- ao contrário do texto narrativo, nele as relações de an-
terioridade e de posterioridade dos enunciados não têm Definição: desenvolve-se pela explicação dos termos que
maior importância - o que importa são suas relações ló- compõem o texto.
gicas: analogia, pertinência, causalidade, coexistência, cor-
respondência, implicação, etc. Interrogação: questionamento. Ex.: “Volta e meia se faz a per-
gunta de praxe: afinal de contas, todo esse entusiasmo pelo
- a estética e a gramática são comuns a todos os tipos de
futebol não é uma prova de alienação?”
redação. Já a estrutura, o conteúdo e a estilística possuem
características próprias a cada tipo de texto. Suspense: alguma informação que faça aumentar a curiosida-
de do leitor.
Dissertação Expositiva e Argumentativa Comparação: social e geográfica.
A dissertação expositiva é voltada para aqueles fatos que estão
Enumeração: enumerar as informações. Ex.: “Ação à distân-
sendo focados e discutidos pela grande mídia. É um tipo de
cia, velocidade, comunicação, linha de montagem, triunfo das
acontecimento inquestionável, mesmo porque todos os deta-
massas, Holocausto: através das metáforas e das realidades
lhes já foram expostos na televisão, rádio e novas mídias.
que marcaram esses 100 últimos anos, aparece a verdadeira
Já o texto dissertativo argumentativo vai fazer uma reflexão doença do século...”
maior sobre os temas. Os pontos de vista devem ser decla-
Narração: narrar um fato.
rados em terceira pessoa, há interações entre os fatos que se
aborda. Tais fatos precisam ser esclarecidos para que o leitor
se sinta convencido por tal escrita. Quem escreve uma disser-
Desenvolvimento
tação argumentativa deve saber persuadir a partir de sua crítica É a argumentação da ideia inicial, de forma organizada e pro-
de determinado assunto. A linguagem jamais poderá deixar de gressiva. É a parte maior e mais importante do texto. Podem
ser objetiva, com fatos reais, evidências e concretudes. ser desenvolvidos de várias formas:
São partes da dissertação: Introdução / Desenvolvimento / Trajetória Histórica: cultura geral é o que se prova com este
Conclusão. tipo de abordagem.
Definição: não basta citar, mas é preciso desdobrar a ideia
Introdução
principal ao máximo, esclarecendo o conceito ou a definição.
Em que se apresenta o assunto; se apresenta a ideia principal,
Comparação: estabelecer analogias, confrontar situações
sem, no entanto, antecipar seu desenvolvimento.
distintas.
Tipos:
Bilateralidade: quando o tema proposto apresenta pontos fa-
Divisão: quando há dois ou mais termos a serem discutidos. voráveis e desfavoráveis.
Ex.: “Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que
olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro...” Ilustração Narrativa ou Descritiva: narrar um fato ou descre-
ver uma cena.
Alusão Histórica: um fato passado que se relaciona a um fato
presente. Ex.: “A crise econômica que teve início no começo Cifras e Dados Estatísticos: citar cifras e dados estatísticos.
dos anos 80, com os conhecidos altos índices de inflação que Hipótese: antecipa uma previsão, apontando para prováveis
a década colecionou, agravou vários dos históricos problemas resultados.
sociais do país. Entre eles, a violência, principalmente a urba-
na, cuja escalada tem sido facilmente identificada pela popu- Interrogação: Toda sucessão de interrogações deve apresen-
lação brasileira.” tar questionamento e reflexão.
Refutação: questiona-se praticamente tudo: conceitos, valo-
Proposição: o autor explicita seus objetivos.
res, juízos.
Convite: proposta ao leitor para que participe de alguma coisa
Causa e Consequência: estruturar o texto através dos por-
apresentada no texto. Ex.: Você quer estar “na sua”? Quer se
quês de uma determinada situação.
sentir seguro, ter o sucesso pretendido? Não entre pelo cano!
Faça parte desse time de vencedores desde a escolha desse Oposição: abordar um assunto de forma dialética.
momento!
Exemplificação: dar exemplos.
Contestação: contestar uma ideia ou uma situação. Ex.: “É
importante que o cidadão saiba que portar arma de fogo não é
a solução no combate à insegurança.”
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Língua Portuguesa
É uma avaliação final do assunto, um fechamento integrado de Uma possível solução é apresentada.
tudo que se argumentou.
O texto conclui que desigualdade não se casa com
Para ela convergem todas as ideias anteriormente desenvolvidas. modernidade.
Conclusão Fechada: recupera a ideia da tese. É bom lembrarmos que é praticamente impossível opinar sobre
Conclusão Aberta: levanta uma hipótese, projeta um pensamen- o que não se conhece. A leitura de bons textos é um dos re-
to ou faz uma proposta, incentivando a reflexão de quem lê. cursos que permite uma segurança maior no momento de dis-
sertar sobre algum assunto. Debater e pesquisar são atitudes
Exemplo: que favorecem o senso crítico, essencial no desenvolvimento
Direito de Trabalho de um texto dissertativo.
Ainda temos:
Com a queda do feudalismo no século XV, nasce um novo
modelo econômico: o capitalismo, que até o século XX agia Tema: compreende o assunto proposto para discussão, o as-
por meio da inclusão de trabalhadores e hoje passou a agir por sunto que vai ser abordado.
meio da exclusão. (A)
Título: palavra ou expressão que sintetiza o conteúdo discutido.
A tendência do mundo contemporâneo é tornar todo o trabalho
automático, devido à evolução tecnológica e a necessidade de Argumentação: é um conjunto de procedimentos linguísticos
qualificação cada vez maior, o que provoca o desemprego. Ou- com os quais a pessoa que escreve sustenta suas opiniões, de
tro fator que também leva ao desemprego de um sem número forma a torná-las aceitáveis pelo leitor. É fornecer argumentos,
de trabalhadores é a contenção de despesas, de gastos. (B) ou seja, razões a favor ou contra uma determinada tese.
Segundo a Constituição, “preocupada” com essa crise social Estes assuntos serão vistos com mais afinco posterior-
que provém dessa automatização e qualificação, obriga que mente. Alguns pontos essenciais desse tipo de texto são:
seja feita uma lei, em que será dada absoluta garantia aos tra- - toda dissertação é uma demonstração, daí a necessidade
balhadores, de que, mesmo que as empresas sejam automati- de pleno domínio do assunto e habilidade de argumentação;
zadas, não perderão eles seu mercado de trabalho. (C) - em consequência disso, impõem-se à fidelidade ao tema;
Não é uma utopia?! - a coerência é tida como regra de ouro da dissertação;
Um exemplo vivo são os boias-frias que trabalham na colheita da - impõem-se sempre o raciocínio lógico;
cana de açúcar que devido ao avanço tecnológico e a lei do go- - a linguagem deve ser objetiva, denotativa; qualquer ambi-
vernador Geraldo Alkmin, defendendo o meio ambiente, proibindo guidade pode ser um ponto vulnerável na demonstração do
a queima da cana de açúcar para a colheita e substituindo-os en- que se quer expor. Deve ser clara, precisa, natural, original,
tão pelas máquinas, desemprega milhares deles. (D) nobre, correta gramaticalmente. O discurso deve ser impes-
soal (evitar-se o uso da primeira pessoa).
Em troca os sindicatos dos trabalhadores rurais dão cursos de
cabelereiro, marcenaria, eletricista, para não perderem o mer- O parágrafo é a unidade mínima do texto e deve apresentar:
cado de trabalho, aumentando, com isso, a classe de trabalhos uma frase contendo a ideia principal (frase nuclear) e uma ou
informais. mais frases que explicitem tal ideia.
Como ficam então aqueles trabalhadores que passaram à vida Exemplo: “A televisão mostra uma realidade idealizada (ideia
estudando, se especializando, para se diferenciarem e ainda central) porque oculta os problemas
estão desempregados? como vimos no último concurso da
sociais realmente graves. (ideia secundária)”.
prefeitura do Rio de Janeiro para “gari”, havia até advogado na
fila de inscrição. (E) Vejamos:
Já que a Constituição dita seu valor ao social que todos têm Ideia central: A poluição atmosférica deve ser combatida
o direito de trabalho, cabe aos governantes desse país, que urgentemente.
almeja um futuro brilhante, deter, com urgência esse processo
Desenvolvimento: A poluição atmosférica deve ser combatida
de desníveis gritantes e criar soluções eficazes para combater
urgentemente, pois a alta concentração de elementos tóxicos
a crise generalizada (F), pois a uma nação doente, miserável e
põe em risco a vida de milhares de pessoas, sobretudo daque-
desigual, não compete a tão sonhada modernidade. (G)
las que sofrem de problemas respiratórios.
1º Parágrafo – Introdução - A propaganda intensiva de cigarros e bebidas tem levado
muita gente ao vício.
Tema: Desemprego no Brasil.
- A televisão é um dos mais eficazes meios de comunicação
Contextualização: decorrência de um processo histórico criados pelo homem.
problemático.
- A violência tem aumentado assustadoramente nas cidades
2º ao 6º Parágrafo – Desenvolvimento e hoje parece claro que esse problema não pode ser resolvi-
do apenas pela polícia.
Argumento 1: Exploram-se dados da realidade que remetem a
uma análise do tema em questão. - O diálogo entre pais e filhos parece estar em crise atual-
mente.
Argumento 2: Considerações a respeito de outro dado da - O problema dos sem-terra preocupa cada vez mais a socie-
realidade. dade brasileira.
Argumento 3: Coloca-se sob suspeita a sinceridade de quem O parágrafo pode processar-se de diferentes maneiras:
propõe soluções.
Argumento 4: Uso do raciocínio lógico de oposição.
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Língua Portuguesa
Enumeração: Caracteriza-se pela exposição de uma série de ta e só muitos séculos mais tarde é que passou à comunicação
coisas, uma a uma. Presta-se bem à indicação de característi- de massa.
cas, funções, processos, situações, sempre oferecendo o com-
Espaço - O solo é influenciado pelo clima. Nos climas úmi-
plemento necessário à afirmação estabelecida na frase nucle-
dos, os solos são profundos. Existe nessas regiões uma forte
ar. Pode-se enumerar, seguindo-se os critérios de importância,
decomposição de rochas, isto é, uma forte transformação da
preferência, classificação ou aleatoriamente.
rocha em terra pela umidade e calor. Nas regiões temperadas
Exemplo: e ainda nas mais frias, a camada do solo é pouco profunda.
1. O adolescente moderno está se tornando obeso por várias (Melhem Adas)
causas: alimentação inadequada, falta de exercícios siste-
Explicitação: Num parágrafo dissertativo pode-se concei-
máticos e demasiada permanência diante de computado-
tuar, exemplificar e aclarar as ideias para torná-las mais
res e aparelhos de Televisão.
compreensíveis.
2. Devido à expansão das igrejas evangélicas, é grande o
número de emissoras que dedicam parte da sua progra- Exemplo: “Artéria é um vaso que leva sangue proveniente do
mação à veiculação de programas religiosos de crenças coração para irrigar os tecidos. Exceto no cordão umbilical e na
variadas. ligação entre os pulmões e o coração, todas as artérias contém
3. sangue vermelho- vivo, recém-oxigenado. Na artéria pulmonar,
- A Santa Missa em seu lar. porém, corre sangue venoso, mais escuro e desoxigenado, que
o coração remete para os pulmões para receber oxigênio e li-
- Terço Bizantino.
berar gás carbônico”.
- Despertar da Fé.
Antes de se iniciar a elaboração de uma dissertação, deve
- Palavra de Vida.
delimitar-se o tema que será desenvolvido e que poderá ser
- Igreja da Graça no Lar. enfocado sob diversos aspectos. Se, por exemplo, o tema é
4. a questão indígena, ela poderá ser desenvolvida a partir das
- Inúmeras são as dificuldades com que se defronta o gover- seguintes ideias:
no brasileiro diante de tantos desmatamentos, desequilí- - A violência contra os povos indígenas é uma constante na
brios sociológicos e poluição. história do Brasil.
- Existem várias razões que levam um homem a enveredar - O surgimento de várias entidades de defesa das populações
pelos caminhos do crime. indígenas.
- A gravidez na adolescência é um problema seríssimo, por- - A visão idealizada que o europeu ainda tem do índio brasi-
que pode trazer muitas consequências indesejáveis. leiro.
- O lazer é uma necessidade do cidadão para a sua sobrevi- - A invasão da Amazônia e a perda da cultura indígena.
vência no mundo atual e vários são os tipos de lazer.
Depois de delimitar o tema que você vai desenvolver, deve fa-
- O Novo Código Nacional de trânsito divide as faltas em vá-
zer a estruturação do texto.
rias categorias.
A estrutura do texto dissertativo constitui-se de:
Comparação: A frase nuclear pode-se desenvolver através da
comparação, que confronta ideias, fatos, fenômenos e apre- Introdução: deve conter a ideia principal a ser desenvolvida
senta-lhes a semelhança ou dessemelhança. (geralmente um ou dois parágrafos). É a abertura do texto, por
Exemplo: isso é fundamental. Deve ser clara e chamar a atenção para
dois itens básicos: os objetivos do texto e o plano do desenvol-
“A juventude é uma infatigável aspiração de felicidade; a ve- vimento. Contém a proposição do tema, seus limites, ângulo de
lhice, pelo contrário, é dominada por um vago e persistente análise e a hipótese ou a tese a ser defendida.
sentimento de dor, porque já estamos nos convencendo de que
a felicidade é uma ilusão, que só o sofrimento é real”. Desenvolvimento: exposição de elementos que vão funda-
mentar a ideia principal que pode vir especificada através da
(Arthur Schopenhauer)
argumentação, de pormenores, da ilustração, da causa e da
Causa e Consequência: A frase nuclear, muitas vezes, encon- consequência, das definições, dos dados estatísticos, da orde-
tra no seu desenvolvimento um segmento causal (fato motiva- nação cronológica, da interrogação e da citação. No desenvol-
dor) e, em outras situações, um segmento indicando consequ- vimento são usados tantos parágrafos quantos forem neces-
ências (fatos decorrentes). sários para a completa exposição da ideia. E esses parágrafos
podem ser estruturados das cinco maneiras expostas acima.
Exemplos:
- O homem, dia a dia, perde a dimensão de humanidade que Conclusão: é a retomada da ideia principal, que agora deve
abriga em si, porque os seus olhos teimam apenas em ver as aparecer de forma muito mais convincente, uma vez que já
coisas imediatistas e lucrativas que o rodeiam. foi fundamentada durante o desenvolvimento da dissertação
(um parágrafo). Deve, pois, conter de forma sintética, o ob-
- O espírito competitivo foi excessivamente exercido entre jetivo proposto na instrução, a confirmação da hipótese ou
nós, de modo que hoje somos obrigados a viver numa so- da tese, acrescida da argumentação básica empregada no
ciedade fria e inamistosa. desenvolvimento.
Tempo e Espaço: Muitos parágrafos dissertativos marcam
temporal e espacialmente a evolução de ideias, processos. Injunção
Exemplos: Os textos injuntivos têm por finalidade instruir o interlocutor,
utilizando verbos no imperativo para atingir seu intuito.
Tempo - A comunicação de massas é resultado de uma lenta
evolução. Primeiro, o homem aprendeu a grunhir. Depois deu Os gêneros que se apropriam da estrutura injuntiva são:
um significado a cada grunhido. Muito depois, inventou a escri- manual de instruções, receitas culinárias, bulas, regulamentos,
editais etc.
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Língua Portuguesa
“[...] Não instale nem use o computador em locais muito quen- Muita gente fala que, com a inflação e a recessão, pode perder
tes, frios, empoeirados, úmidos ou que estejam sujeitos a vi- o emprego ou os clientes. Faltará renda, faltarão consumido-
brações. Não exponha o computador a choques, pancadas ou res. O ano de 2015 será, mais uma vez, ruim para quem vende.
vibrações, e evite que ele caia, para não prejudicar as peças Será um ano bom para quem pensa em comprar. Estarei atento
internas [...]”. (Manual de instruções de um computador). aos bons negócios para quem tem dinheiro na mão. Se a renda
fixa paga bem, a compra à vista tende a me dar descontos
maiores. É por esse mesmo motivo que, em 2015, evitarei as
Questões dívidas. Os juros estão altos e isso me convida a poupar, e não
a alugar dinheiro dos bancos. Dívidas de longo prazo são cor-
1. (SHDIAS – ANALISTA ADMINISTRATIVO JÚNIOR – rigidas pela inflação, também em alta. Por isso, aproveitarei os
IMA/2015) ganhos extras de fim de ano para liquidar dívidas e me policiar
(...) Há um pôr-do-sol de primavera e uma velha casa abando- para não contrair novas.
nada. Está em ruínas. No ano que começa, também não quero fazer papel de otário
A velha casa não mais abriga vidas em seu interior. Tudo é pas- e deixar nas mãos do governo mais impostos do que preciso.
sado. Tudo é lembrança. Não sonegarei. Mas aproveitarei o fim do ano para organizar
meus papéis e comprovantes, planejar a declaração de Impos-
Hoje, apenas almas juvenis brincam despreocupadas e felizes to de Renda de março e tentar a maior restituição que puder,
entre suas paredes trêmulas. ou o mínimo pagamento necessário. Listarei meus gastos com
Em seu chão, despido da madeira polida que a cobriam, bro- dependentes, educação e saúde, doarei para instituições que
tam ervas daninhas. Entre a vegetação que busca minimizar as fazem o bem, aplicarei num PGBL o que for necessário para o
doces recordações do passado, surge a figura amarela e suave máximo benefício. Entregarei minha declaração quanto antes,
da margarida, flor-mulher. As nuanças de suas cores sorriem e no início de março. Quero ver minha restituição na conta mais
denunciam lembranças de seus ocupantes. cedo, já que 2015 será um ano bom para quem tiver dinheiro
na mão.
A velha casa está em ruínas. Pássaros saltitam e gorjeiam nas
amuradas que a cercam. Seus trinados são melodias no al- Para quem lamenta, recomendo cuidado com o monstro e com
tar do tempo à espera de redentoras orações. Raízes vorazes o governo. Para quem está atento às oportunidades, desejo
de grandes árvores infiltraram-se entre as pedras do alicerce e boas compras.
abalam suas estruturas. (Disponívelem:http://epoca.globo.com/colunas‐e‐blogs/gustavo‐cerbasi/noti-
cia/2015/01/como‐cuidar‐de‐bseu‐dinheirob‐em‐2015.html
Agoniza a velha casa. Agora, somente imagens desfilam, ao
De acordo com a tipologia textual, o objetivo principal do
longo das noites. As janelas são bocas escancaradas. A casa
autor é:
velha em ruínas clama por vozes e movimentos...
a) narrar.
(Geraldo M. de Carvalho) b) instruir.
De acordo com a tipologia textual, o texto acima: c) descrever.
a) é descritivo, com traços dissertativos compondo um am- d) argumentar.
biente nostálgico. 3. (ELETROBRAS – Eletricista/Motorista – IADES /2015)
b) possui descrição subjetiva apenas no trecho “A velha casa
não mais abriga vidas em seu interior. Tudo é passado. Por isso foi à luz de uma vela mortiça Que li, inserto na cama,
Tudo é lembrança.” O que estava à mão para ler -- (...)
c) ocorre uma descrição objetiva narrativa no trecho todo.
Em torno de mim o sossego excessivo de noite de província
d) é formado basicamente de descrições subjetivas.
Fazia um grande Barulho ao contrário,
2. (PREFEITURA DE RIO NOVO DO SUL/ES – AGENTE Dava-me uma tendência do choro para a desolação.
FISCAL – IDECAN/2015)
A “Primeira Epístola aos Coríntios” ...
Como cuidar de seu dinheiro em 2015
Relia-a à luz de uma vela subitamente antiquíssima,
Gustavo Cerbasi.
E um grande mar de emoção ouvia-se dentro de mim... Sou
Em 2015, cuidarei bem do meu dinheiro. Organizarei bem os nada...
números e as verbas. Esses números mudarão bastante ao
Sou uma ficção...
longo do ano. Um monstro chamado inflação ronda o país. Só
que, agora, ele usa um manto da invisibilidade, que ganhou Que ando eu a querer de mim ou de tudo neste mundo?
de seu criador, o governo. Quando morder meu bolso, eu nem
“Se eu não tivesse a caridade.”
saberei de onde terá vindo o ataque, não terei tempo de me
defender. Por isso, deixarei boas gorduras no orçamento para E a soberana luz manda, e do alto dos séculos, A grande men-
atirar a ele, quando aparecer. Essas gorduras serão chamadas sagem com que a alma é livre... “Se eu não tivesse a caridade...”
de verba para lazer e reservas de emergência. Meu Deus, e eu que não tenho a caridade.
Em 2015, não farei apostas. Já há gente demais apostando CAMPOS, Álvaro de. (Heterônimo de Fernando Pessoa). Ali não havia eletricida-
de. In: “Poemas”. Disponível em:< http://www.citador.pt/poemas/>. Acesso em:
em imóveis, ações e outros investimentos especulativos. Farei 5 jan. 2015, com adaptações.
escolhas certeiras. Deixarei a maior parte de meu investimento
na renda fixa. Ela está com uma generosidade única no mun- A respeito da tipologia textual, é correto afirmar que o poema
do. Enquanto isso, estudo o desespero de especuladores que representa uma
aguardarão a improvável recuperação dos imóveis, da Petro- a) narração.
bras, da credibilidade dos mercados. Quando esses especula- b) argumentação.
dores jogarem a toalha, usarei parte de minhas reservas para c) (descrição.
fazer investimentos bons e baratos. Mas não na Petrobras. d) caracterização.
e) dissertação.
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Língua Portuguesa
Comparação
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Língua Portuguesa
- a parte pelo todo. Exemplo: Não há teto para os necessita- A essas construções que se afastam das estruturas regulares
dos. (a parte teto está no lugar do todo, “a casa”). ou comuns e que visam transmitir à frase mais concisão, ex-
- o indivíduo pela classe ou espécie. Exemplo: Ele foi o judas pressividade ou elegância dá-se o nome de figuras de constru-
do grupo. (o nome próprio Judas está sendo usado como ção ou de sintaxe.
substantivo comum, designando a espécie dos homens trai- São as mais importantes figuras de construção:
dores).
- o singular pelo plural. Exemplo: O homem é um animal racio-
nal. (o singular homem está sendo usado no lugar do plural Elipse
homens).
Consiste na omissão de um termo da frase, o qual, no en-
- o gênero ou a qualidade pela espécie. Exemplo: Os mortais
tanto, pode ser facilmente identificado. Exemplo: No fim da
somos imperfeitos. (a palavra mortais está no lugar de “se-
festa, sobre as mesas, copos e garrafas vazias. (ocorre a omis-
res humanos”).
são do verbo haver: No fim da festa havia, sobre as mesas,
- a matéria pelo objeto. Exemplo: Ele não tem um níquel. (a copos e garrafas vazias).
matéria níquel é usada no lugar da coisa fabricada, que é
“moeda”).
Pleonasmo
Observação: Os últimos 5 casos recebem também o nome de
Sinédoque.
Consiste no emprego de palavras redundantes para refor-
çar uma ideia. Exemplo: Ele vive uma vida feliz.
Perífrase Observação: Devem ser evitados os pleonasmos viciosos, que
não têm valor de reforço, sendo antes fruto do desconhecimen-
É a substituição de um nome por uma expressão que facilita a to do sentido das palavras, como por exemplo, as construções
sua identificação. Exemplo: O país do futebol acredita no seu “subir para cima”, “protagonista principal”, “entrar para den-
povo. (país do futebol = Brasil) tro”, etc.
Polissíndeto: consiste na repetição enfática do conectivo, ge-
Sinestesia ralmente o “e”. Exemplo: Felizes, eles riam, e cantavam, e pu-
lavam de alegria, e dançavam pelas ruas...
É a mistura de sensações percebidas por diferentes órgãos do
sentido.
Inversão ou Hipérbato
“O vento frio e cortante balança os trigais dourados e macios
que se estendiam pelo campo.” (frio e cortante = tato / doura- Consiste em alterar a ordem normal dos termos ou orações
dos e macios = visão + tato) com o fim de lhes dar destaque:
“Passarinho, desisti de ter.” (Rubem Braga)
Catacrese “Justo ela diz que é, mas eu não acho não.” (Carlos Drummond
de Andrade)
Consiste em transferir a uma palavra o sentido próprio de ou-
tra, utilizando-se formas já incorporadas aos usos da língua. “Por que brigavam no meu interior esses entes de sonho não
Se a metáfora surpreende pela originalidade da associação de sei.” (Graciliano Ramos)
ideias, o mesmo não ocorre com a catacrese, que já não chama “Tão leve estou que já nem sombra tenho.” (Mário Quintana)
a atenção por ser tão repetidamente usada. Exemplo: Ele em-
barcou no trem das onze. (originariamente, a palavra embarcar Observação: o termo que desejamos realçar é colocado, em
pressupõe barco e não trem). geral, no início da frase.
Antonomásia Anacoluto
Ocorre quando substituímos um nome próprio pela quali- Consiste na quebra da estrutura sintática da oração. O tipo de
dade ou característica que o distingue. Exemplo: O Poeta anacoluto mais comum é aquele em que um termo parece que
dos Escravos é baiano. (Poeta dos Escravos está no lugar do vai ser o sujeito da oração, mas a construção se modifica e ele
nome próprio Castro Alves, poeta baiano que se distinguiu por acaba sem função sintática. Essa figura é usada geralmente
escrever poemas em defesa dos escravos). para pôr em relevo a ideia que consideramos mais importante,
destacando-a do resto. Exemplo: “Eu, que era branca e linda,
eis-me medonha e escura.” (Manuel Bandeira) (o pronome eu,
Figuras de Construção enunciado no início, não se liga sintaticamente à oração eis-me
medonha e escura.)
Compare as duas maneiras de construir esta frase:
Os homens pararam, o medo no coração. Silepse
Os homens pararam, com o medo no coração. Ocorre quando a concordância de gênero, número ou pessoa
Nota-se que a primeira construção é mais concisa e elegante. é feita com ideias ou termos subentendidos na frase e não cla-
Desvia-se da norma estritamente gramatical para atingir um fim ramente expressos.
expressivo ou estilístico. Foi com esse intuito que assim a redi- A silepse pode ser:
giu Jorge Amado.
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Língua Portuguesa
Onomatopeia Paranomásia
Consiste no aproveitamento de palavras cuja pronúncia imita Palavras com sons semelhantes, mas de significados diferen-
o som ou a voz natural dos seres. É um recurso fonêmico ou tes, vulgarmente chamada de trocadilho.
melódico que a língua proporciona ao escritor.
Exemplo: Era iminente o fim do eminente político.
“Pedrinho, sem mais palavras, deu rédea e, lept! lept! arrancou
estrada afora.” (Monteiro Lobato)
“O som, mais longe, retumba, morre.” (Goncalves Dias)
Neologismo
“O longo vestido longo da velhíssima senhora frufrulha no alto Criação de palavras novas. Exemplo: O projeto foi conside-
da escada.” (Carlos Drummond de Andrade) rado imexível.
“Tíbios flautins finíssimos gritavam.” (Olavo Bilac) “Troe e re-
troe a trompa.” (Raimundo Correia) “Vozes veladas, veludosas
vozes, volúpias dos violões, vozes veladas, vagam nos velhos Figuras de Pensamento
vórtices velozes dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.” (Cruz e
Sousa) São processos estilísticos que se realizam na esfera do pensa-
mento, no âmbito da frase. Nelas intervêm fortemente a emo-
As onomatopeias, como nos três últimos exemplos, podem re-
ção, o sentimento, a paixão.
sultar da Aliteração (repetição de fonemas nas palavras de uma
frase ou de um verso). Principais figuras de pensamento:
Repetição: consiste em reiterar (repetir) palavras ou orações
para enfatizar a afirmação ou sugerir insistência, progressão: Antítese
“O surdo pede que repitam, que repitam a última frase.” (Cecília
Meireles) Consiste em realçar uma ideia pela aproximação de palavras
de sentidos opostos.
“Tudo, tudo parado: parado e morto.” (Mário Palmério)
Exemplo:
“Ia-se pelos perfumistas, escolhia, escolhia, saía toda perfuma-
da.” (José Geraldo Vieira) “Morre! Tu viverás nas estradas que abriste!” (Olavo Bilac)
Consiste na omissão de um ou mais termos anteriormente “Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres
enunciados. Que ninguém mais merece tanto amor e amizade” (Vinícius de
Exemplo: A manhã estava ensolarada; a praia, cheia de gente. Moraes)
(há omissão do verbo estar na segunda oração (...a praia esta-
va cheia de gente)).
Eufemismo
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Língua Portuguesa
Hipérbole Questões
Ocorre quando, para realçar uma ideia, exageramos na sua 1. (IF/PA - Auxiliar em Administração – FUNRIO/2016)
representação.
“Eu sou de lá / Onde o Brasil verdeja a alma e o rio é mar / Eu
Exemplo: Está muito calor. Os jogadores estão morrendo de sou de lá / Terra morena que eu amo tanto, meu Pará.” (Pe.
sede no campo. Fábio de Melo, “Eu Sou de Lá”)
Nesse trecho da canção gravada por Fafá de Belém, en-
Ironia contramos a seguinte figura de linguagem:
a) antítese.
É o emprego de palavras que, na frase, têm o sentido oposto ao b) eufemismo.
que querem dizer. É usada geralmente com sentido sarcástico. c) ironia
d) metáfora
Exemplo: Quem foi o inteligente que usou o computador e
e) silepse.
apagou o que estava gravado?
2. (Pref. de Itaquitinga/PE - Técnico em Enfermagem –
IDHTEC/2016)
Paradoxo
MAMÃ NEGRA (Canto de esperança)
É o encontro de ideias que se opõem; ideias opostas. Tua presença, minha Mãe - drama vivo duma Raça, Drama de
Exemplo: carne e sangue Que a Vida escreveu com a pena dos séculos!
Pelo teu regaço, minha Mãe, Outras gentes embaladas à voz
“É tão difícil olhar o mundo e ver o que ainda existe pois sem da ternura ninadas do teu leite alimentadas de bondade e poe-
você meu mundo é diferente minha alegria é triste.” (Roberto sia de música ritmo e graça... santos poetas e sábios... Outras
Carlos e Erasmo) gentes... não teus filhos, que estes nascendo alimárias semo-
(a alegria e a tristeza se opõem, se a alegria é triste, ela tem ventes, coisas várias, mais são filhos da desgraça: a enxada
uma qualidade que é antagônica). é o seu brinquedo trabalho escravo - folguedo... Pelos teus
olhos, minha Mãe Vejo oceanos de dor Claridades de sol-pos-
to, paisagens Roxas paisagens Mas vejo (Oh! se vejo! ...) mas
Personificação ou Prosopopéia ou Animismo vejo também que a luz roubada aos teus [olhos, ora esplende
demoniacamente tentadora - como a Certeza... cintilantemente
Consiste em atribuir características humanas a outros seres. firme - como a Esperança... em nós outros, teus filhos, geran-
do, formando, anunciando - o dia da humanidade.
Exemplo:
(Viriato da Cruz. Poemas, 1961, Lisboa, Casa dos Estudantes do Império)
“Ah! cidade maliciosa de olhos de ressaca
O poema, Mamã Negra:
que das índias guardou a vontade de andar nua.” (Ferreira a) É uma metáfora para a pátria sendo referência de um país
Gullar) africano que foi colonizado e teve sua população escravi-
zada.
b) É um vocativo e clama pelos efeitos negativos da escravi-
Reticência zação dos povos africanos.
c) É a referência resumida a todo o povo que compõe um país
Consiste em suspender o pensamento, deixando-o meio libertado depois de séculos de escravidão.
velado. d) É o sofrimento que acometeu todo o povo que ficou na
Exemplo: terra e teve seus filhos levados pelo colonizador.
e) É a figura do colonizador que mesmo exercendo o poder
“De todas, porém, a que me cativou logo foi uma... uma... não por meio da opressão foi “ninado “ela Mamã Negra.
sei se digo.” (Machado de Assis)
3. (Pref. de Florianópolis/SC - Auxiliar de Sala – FEPE-
“Quem sabe se o gigante Piaimã, comedor de gente...” (Mário SE/2016)
de Andrade)
Analise as frases abaixo:
1. ” Calções negros corriam, pulavam durante o jogo.”
Retificação 2. A mulher conquistou o seu lugar!
3. Todo cais é uma saudade de pedra.
Como a palavra diz, consiste em retificar uma afirmação 4. Os microfones foram implacáveis com os novos artistas.
anterior. Exemplos: É uma joia, ou melhor, uma preciosidade,
esse quadro. Assinale a alternativa que corresponde correta e sequen-
cialmente às figuras de linguagem apresentadas:
O síndico, aliás, uma síndica muito gentil não sabia como re- a) metáfora, metonímia, metáfora, metonímia
solver o caso. b) metonímia, metonímia, metáfora, metáfora
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Língua Portuguesa
c) metonímia, metonímia, metáfora, metonímia B - Metonímia. Substitui um ser por outro com alguma relação
d) metonímia, metáfora, metonímia, metáfora de significa. Exemplo: O bonde passa cheio de pernas. [Pernas
e) metáfora, metáfora, metonímia, metáfora = pessoas].
4. (COMLURB - Técnico de Segurança do Trabalho – Com isso vamos analisar as alternativas:
IBFC/2016) a) ” Calções negros corriam, pulavam durante o jogo.” - cal-
ções = jogadores. Metonímia
Leia o poema abaixo e assinale a alternativa que indica a
b) A mulher conquistou o seu lugar! - mulher = mulheres [re-
figura de linguagem presente no texto:
presentando todas as classes de mulheres]. Metonímia.
Amor é fogo que arde sem se ver Amor é fogo que arde sem se c) Todo cais é uma saudade de pedra. Comparação do cais
ver; É ferida que dói e não se sente; com uma saudade de pedra. Metáfora.
d) Os microfones foram implacáveis com os novos artistas.
É um contentamento descontente; É dor que desatina sem
[Microfones = os críticos] Metonímia.
doer;
(Camões) 3. Resposta B
a) Onomatopeia METÁFORA: Apresenta uma palavra utilizada em sentido figu-
b) Metáfora rado, uma palavra utilizada fora da sua acepção real, em vir-
c) Personificação tude de uma semelhança submetida. É uma comparação sem
d) Pleonasmo elementos comparativos.
5. (Prefeitura de Chapecó/SC - Engenheiro de Trânsito – 4. Resposta D
IOBV/2016)
Dia mundial da água: Dia de comemorar
O OUTRO LADO
Porém, não há tanto o que comemorar diante de tantos fatos
só assim o poema se constrói: quando o desejo tem forma de “ruins” ocorridos com a água. Logo, uma ironia.
ilha e todos os planetas são luas, embriões da magia então po-
demos atravessar as chamas sentir o chão respirar ver a dança 5. Resposta C
da claridade ouvir as vozes das cores fruir a liberdade animal Sinestesia ocorre quando há uma combinação de diversas
de estarmos soltos no espaço ter parte com pedra e vento se- impressões sensoriais (visuais, auditivas, olfativas, gustativas
guir os rastros do infinito entender o que sussurra o vazio – e e táteis) entre si, e também entre as referidas sensações e
tudo isso é tão familiar para quem conhece a forma do sonho. sentimentos.
(WILLER, Claudio, Estranhas experiências, 2004, p. 46)
5.
verso “ouvir as vozes das cores”, entre outros versos, é ex-
pressa uma figura de linguagem. Esta pode ser assim definida:
“Figura que consiste na utilização simultânea de alguns dos Ortografia
cinco sentidos”
(CAMPEDELLI, S. Y. e SOUZA, J. B. Literatura, produção de textos & gramática.
São Paulo, Saraiva, 1998, p. 616). A palavra ortografia é formada pelos elementos gregos orto
“correto” e grafia “escrita” sendo a escrita correta das palavras
Como é denominada esta figura de linguagem? da língua portuguesa, obedecendo a uma combinação de crité-
a) Eufemismo. rios etimológicos (ligados à origem das palavras) e fonológicos
b) Hipérbole. (ligados aos fonemas representados).
c) Sinestesia.
d) Antítese. Somente a intimidade com a palavra escrita, é que acaba tra-
zendo a memorização da grafia correta.
Respostas Deve-se também criar o hábito de consultar constantemente
1. Resposta D um dicionário.
2. Resposta C Vogais: a, e, i, o, u, y, w.
Note que ambas são figuras de linguagem, e cada uma tem Consoantes: b,c,d,f,g,h,j,k,l,m,n,p,q,r,s,t,v,w,x,z.
suas características: Alfabeto: a,b,c,d,e,f,g,h,i,j,k,l,m,n,o,p,q,r,s,t,u,v,w,x,y,z.
A - Metáfora. Comparação implícita entre seres que nós fa- Observações:
zemos. Nessa comparação não usamos a palavra ‘como’.
Exemplo: Meu cartão de crédito é uma navalha. [Navalha = no A letra “Y” possui o mesmo som que a letra “I”, portanto, ela é
sentido que corta profundo, cartão como navalha significa que classificada como vogal.
prejudica muito a vida financeiro]. Outro exemplo: Essa mulher A letra “K” possui o mesmo som que o “C” e o “QU” nas pala-
é uma cobra [cobra = sentido de perigosa, astuta] vras, assim, é considerada consoante.
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Língua Portuguesa
No nome próprio Wagner o “W” possui o som de “V”, logo, - Em palavras formadas com o prefixo anti- (contra): antiaé-
é classificado como consoante. Já no vocábulo “web” o “W” reo, Anticristo, antitetânico, antiestético, etc.
possui o som de “U”, classificando-se, portanto, como vogal. - Nos seguintes vocábulos: aborígine, açoriano, artifício,
artimanha, camoniano, Casimiro, chefiar, cimento, crânio,
criar, criador, criação, crioulo, digladiar, displicente, erisipe-
Emprego da letra H la, escárnio, feminino, Filipe, frontispício, Ifigênia, inclinar,
incinerar, inigualável, invólucro, lajiano, lampião, pátio, peni-
cilina, pontiagudo, privilégio, requisito, Sicília (ilha), silvícola,
Esta letra, em início ou fim de palavras, não tem valor fonético; siri, terebintina, Tibiriçá, Virgílio.
conservou-se apenas como símbolo, por força da etimologia e
da tradição escrita. Grafa-se, por exemplo, hoje, porque esta
palavra vem do latim hodie.
Emprega-se a letra O
Abolir, banto, boate, bolacha, boletim, botequim, bússola, cho-
Emprega-se o H ver, cobiça, concorrência, costume, engolir, goela, mágoa, mo-
- Inicial, quando etimológico: hábito, hélice, herói, hérnia, cambo, moela, moleque, mosquito, névoa, nódoa, óbolo, ocor-
hesitar, haurir, etc. rência, rebotalho, Romênia, tribo.
- Medial, como integrante dos dígrafos ch, lh e nh: chave,
boliche, telha, flecha, companhia, etc. Emprega-se com a letra U
- Final e inicial, em certas interjeições: ah!, ih!, hem?, hum!, Bulir, burburinho, camundongo, chuviscar, cumbuca, cúpu-
etc. la, curtume, cutucar, entupir, íngua, jabuti, jabuticaba, lóbulo,
- Algumas palavras iniciadas com a letra H: hálito, harmo- Manuel, mutuca, rebuliço, tábua, tabuada, tonitruante, trégua,
nia, hangar, hábil, hemorragia, hemisfério, heliporto, hema- urtiga.
toma, hífen, hilaridade, hipocondria, hipótese, hipocrisia, Parônimos: Registramos alguns parônimos que se diferenciam
homenagear, hera, húmus; pela oposição das vogais /e/ e /i/, /o/ e /u/.
- Sem h, porém, os derivados baianos, baianinha, baião, baia- Fixemos a grafia e o significado dos seguintes:
nada, etc. área = superfície
ária = melodia, cantiga
Não se usa H arrear = pôr arreios, enfeitar
- No início de alguns vocábulos em que o h, embora etimo- arriar = abaixar, pôr no chão, cair
comprido = longo
lógico, foi eliminado por se tratar de palavras que entraram
cumprido = particípio de cumprir
na língua por via popular, como é o caso de erva, inverno, e comprimento = extensão
Espanha, respectivamente do latim, herba, hibernus e His- cumprimento = saudação, ato de cumprir
pania. Os derivados eruditos, entretanto, grafam-se com h: costear = navegar ou passar junto à costa
herbívoro, herbicida, hispânico, hibernal, hibernar, etc. custear = pagar as custas, financiar
deferir = conceder, atender
diferir = ser diferente, divergir
Emprego das letras E, I, O e U delatar = denunciar
dilatar = distender, aumentar
descrição = ato de descrever
Na língua falada, a distinção entre as vogais átonas /e/ e /i/, discrição = qualidade de quem é discreto
/o/ e /u/ nem sempre é nítida. É principalmente desse fato que emergir = vir à tona
nascem as dúvidas quando se escrevem palavras como quase, imergir = mergulhar
intitular, mágoa, bulir, etc., em que ocorrem aquelas vogais. emigrar = sair do país
imigrar = entrar num país estranho
emigrante = que ou quem emigra
Escreve-se com a letra E: imigrante = que ou quem imigra
- A sílaba final de formas dos verbos terminados em –uar: eminente = elevado, ilustre
continue, habitue, pontue, etc. iminente = que ameaça acontecer
- A sílaba final de formas dos verbos terminados em –oar: recrear = divertir
recriar = criar novamente
abençoe, magoe, perdoe, etc.
soar = emitir som, ecoar, repercutir
- As palavras formadas com o prefixo ante– (antes, anterior): suar = expelir suor pelos poros, transpirar
antebraço, antecipar, antedatar, antediluviano, antevéspera, sortir = abastecer
etc. surtir = produzir (efeito ou resultado)
sortido = abastecido, bem provido, variado
- Os seguintes vocábulos: Arrepiar, Cadeado, Candeeiro,
surtido = produzido, causado
Cemitério, Confete, Creolina, Cumeeira, Desperdício, Desti- vadear = atravessar (rio) por onde dá pé, passar a vau
lar, Disenteria, Empecilho, Encarnar, Indígena, Irrequieto, La- vadiar = viver na vadiagem, vagabundear, levar vida de vadio
crimogêneo, Mexerico, Mimeógrafo, Orquídea, Peru, Quase,
Quepe, Senão, Sequer, Seriema, Seringa, Umedecer.
Emprego das letras G e J
Para representar o fonema /j/ existem duas letras; g e j. Gra-
fa-se este ou aquele signo não de modo arbitrário, mas de
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Língua Portuguesa
acordo com a origem da palavra. Exemplos: gesso (do grego - - SC, SÇ: acréscimo, adolescente, ascensão, consciência,
gypsos), jeito (do latim jactu) e jipe (do inglês jeep). consciente, crescer, cresço, descer, desço, desça, discipli-
na, discípulo, discernir, fascinar, florescer, imprescindível,
Escrevem-se com G: néscio, oscilar, piscina, ressuscitar, seiscentos, suscetível,
- Os substantivos terminados em –agem, -igem, -ugem: gara- suscetibilidade, suscitar, víscera.
gem, massagem, viagem, origem, vertigem, ferrugem, lanu- - X: aproximar, auxiliar, auxílio, máximo, próximo, proximida-
gem. Exceção: pajem de, trouxe, trouxer, trouxeram, etc.
- As palavras terminadas em –ágio, -égio, -ígio, -ógio, -úgio: - XC: exceção, excedente, exceder, excelência, excelente,
contágio, estágio, egrégio, prodígio, relógio, refúgio. excelso, excêntrico, excepcional, excesso, excessivo, exce-
- Palavras derivadas de outras que se grafam com g: mas- to, excitar, etc.
sagista (de massagem), vertiginoso (de vertigem), ferrugino-
so (de ferrugem), engessar (de gesso), faringite (de faringe),
selvageria (de selvagem), etc. Homônimos
- Os seguintes vocábulos: algema, angico, apogeu, auge, acento = inflexão da voz, sinal gráfico
estrangeiro, gengiva, gesto, gibi, gilete, ginete, gíria, giz, assento = lugar para sentar-se
hegemonia, herege, megera, monge, rabugento, sugestão, acético = referente ao ácido acético (vinagre)
tangerina, tigela. ascético = referente ao ascetismo, místico
cesta = utensílio de vime ou outro material
Escrevem-se com J: sexta = ordinal referente a seis
círio = grande vela de cera
- Palavras derivadas de outras terminadas em –já: laranja (la- sírio = natural da Síria
ranjeira), loja (lojista, lojeca), granja (granjeiro, granjense), cismo = pensão
gorja (gorjeta, gorjeio), lisonja (lisonjear, lisonjeiro), sarja (sar- sismo = terremoto
jeta), cereja (cerejeira). empoçar = formar poça
- Todas as formas da conjugação dos verbos terminados em empossar = dar posse a
incipiente = principiante
–jar ou –jear: arranjar (arranje), despejar (despejei), gorjear
insipiente = ignorante
(gorjeia), viajar (viajei, viajem) – (viagem é substantivo). intercessão = ato de interceder
- Vocábulos cognatos ou derivados de outros que têm j: interseção = ponto em que duas linhas se cruzam
laje (lajedo), nojo (nojento), jeito (jeitoso, enjeitar, projeção, ruço = pardacento
rejeitar, sujeito, trajeto, trejeito). russo = natural da Rússia
- Palavras de origem ameríndia (principalmente tupi-guarani)
ou africana: canjerê, canjica, jenipapo, jequitibá, jerimum, ji-
boia, jiló, jirau, pajé, etc. Emprego de S com valor de Z
- As seguintes palavras: alfanje, alforje, berinjela, cafajeste,
- Adjetivos com os sufixos –oso, -osa: gostoso, gostosa, gra-
cerejeira, intrujice, jeca, jegue, Jeremias, Jericó, Jerônimo,
cioso, graciosa, teimoso, teimosa, etc.
jérsei, jiu-jítsu, majestade, majestoso, manjedoura, manjeri-
cão, ojeriza, pegajento, rijeza, sabujice, sujeira, traje, ultraje, - Adjetivos pátrios com os sufixos –ês, -esa: português, por-
varejista. tuguesa, inglês, inglesa, milanês, milanesa, etc.
- Atenção: Moji, palavra de origem indígena, deve ser escrita - Substantivos e adjetivos terminados em –ês, feminino –esa:
com J. Por tradição algumas cidades de São Paulo adotam burguês, burguesa, burgueses, camponês, camponesa,
a grafia com G, como as cidades de Mogi das Cruzes e Mo- camponeses, freguês, freguesa, fregueses, etc.
gi-Mirim. - Verbos derivados de palavras cujo radical termina em –s:
analisar (de análise), apresar (de presa), atrasar (de atrás),
extasiar (de êxtase), extravasar (de vaso), alisar (de liso), etc.
- Formas dos verbos pôr e querer e de seus derivados:
Representação do fonema /S/ pus, pusemos, compôs, impuser, quis, quiseram, etc.
- Os seguintes nomes próprios de pessoas: Avis, Balta-
sar, Brás, Eliseu, Garcês, Heloísa, Inês, Isabel, Isaura, Luís,
O fonema /s/, conforme o caso, representa-se Luísa, Queirós, Resende, Sousa, Teresa, Teresinha, Tomás,
por: Valdês.
- C e Ç: acetinado, açafrão, almaço, anoitecer, censura, ci- - Os seguintes vocábulos e seus cognatos: aliás, anis,
mento, dança, dançar, contorção, exceção, endereço, arnês, ás, ases, através, avisar, besouro, colisão, convés,
Iguaçu, maçarico, maçaroca, maço, maciço, miçanga, mu- cortês, cortesia, defesa, despesa, empresa, esplêndido, es-
çulmano, muçurana, paçoca, pança, pinça, Suíça, suíço, pontâneo, evasiva, fase, frase, freguesia, fusível, gás, Goiás,
vicissitude. groselha, heresia, hesitar, manganês, mês, mesada, obsé-
quio, obus, paisagem, país, paraíso, pêsames, pesquisa,
- S: ânsia, ansiar, ansioso, ansiedade, cansar, cansado, des-
presa, presépio, presídio, querosene, raposa, represa, re-
cansar, descanso, diversão, excursão, farsa, ganso, hor-
quisito, rês, reses, retrós, revés, surpresa, tesoura, tesouro,
tênsia, pretensão, pretensioso, propensão, remorso, sebo,
três, usina, vasilha, vaselina, vigésimo, visita.
tenso, utensílio.
- SS: acesso, acessório, acessível, assar, asseio, assinar, car-
rossel, cassino, concessão, discussão, escassez, escasso,
essencial, expressão, fracasso, impressão, massa, massa-
Emprego da letra Z
gista, missão, necessário, obsessão, opressão, pêssego,
- Os derivados em –zal, -zeiro, -zinho, -zinha, -zito, -zita: cafe-
procissão, profissão, profissional, ressurreição, sessenta,
zal, cafezeiro, cafezinho, avezinha, cãozito, avezita, etc.
sossegar, sossego, submissão, sucessivo.
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Língua Portuguesa
Emprego das iniciais minúsculas A par: equivale a (bem informado, ciente): Estamos a par das
boas notícias.
- Nomes de meses, de festas pagãs ou populares, nomes Ao par: indica relação (de igualdade ou equivalência entre valo-
gentílicos, nomes próprios tornados comuns: maia, ba- res financeiros – câmbio): O dólar e o euro estão ao par.
canais, carnaval, ingleses, ave-maria, um havana, etc.
- Os nomes a que se referem os itens 4 e 5 acima, quando Aprender: tomar conhecimento de: O menino aprendeu a
empregados em sentido geral: São Pedro foi o primeiro lição.
papa. Todos amam sua pátria. Apreender: prender: O fiscal apreendeu a carteirinha do
- Nomes comuns antepostos a nomes próprios geográfi- menino.
cos: o rio Amazonas, a baía de Guanabara, o pico da Ne-
blina, etc. À toa: é uma locução adverbial de modo, equivale a (inutilmen-
te, sem razão): Andava à toa pela rua.
- Palavras, depois de dois pontos, não se tratando de cita-
ção direta: “Qual deles: o hortelão ou o advogado?”; “Che- À toa: é um adjetivo (refere-se a um substantivo), equivale a
gam os magos do Oriente, com suas dádivas: ouro, incenso, (inútil, desprezível). Foi uma atitude à toa e precipitada. (até
mirra”. 01/01/2009 era grafada: à-toa)
- No interior dos títulos, as palavras átonas, como: o, a,
com, de, em, sem, grafam-se com inicial minúscula.
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Língua Portuguesa
Baixar: os preços quando não há objeto direto; os preços Entrega a domicílio com verbos de movimento: Enviou as
funcionam como sujeito: Baixaram os preços (sujeito) nos su- compras a domicílio.
permercados. Vamos comemorar, pessoal!
As expressões “entrega em domicílio” e “entrega a domicílio”
Abaixar: os preços empregado com objeto direto: Os pos- são muito recorrentes em restaurantes, na propaganda televi-
tos (sujeito) de combustível abaixaram os preços (objeto direto) sa, no outdoor, no folder, no panfleto, no catálogo, na fala. Con-
da gasolina. vivem juntas sem problemas maiores porque são entendidas
da mesma forma, com um mesmo sentido. No entanto, quan-
Bebedor: é a pessoa que bebe: Tornei-me um grande bebe-
do falamos de gramática normativa, temos que ter cuidado,
dor de vinho.
pois “a domicílio” não é aceita. Por quê? A regra estabelece
Bebedouro: é o aparelho que fornece água. Este bebedouro que esta última locução adverbial deve ser usada nos casos de
está funcionando bem. verbos que indicam movimento, como: levar, enviar, trazer, ir,
conduzir, dirigir-se.
Bem-Vindo: é um adjetivo composto: Você é sempre bem vin-
do aqui, jovem. Portanto, “A loja entregou meu sofá a casa” não está correto.
Já a locução adverbial “em domicílio” é usada com os verbos
Benvindo: é nome próprio: Benvindo é meu colega de classe.
sem noção de movimento: entregar, dar, cortar, fazer.
Boêmia/Boemia: são formas variantes (usadas normalmente):
A dúvida surge com o verbo “entregar”: não indicaria movimen-
Vivia na boêmia/boemia. Botijão/Bujão de gás: ambas formas
to? De acordo com a gramática purista não, uma vez que quem
corretas: Comprei um botijão/bujão de gás.
entrega, entrega algo em algum lugar.
Câmara: equivale ao local de trabalho onde se reúnem os
vereadores, deputados: Ficaram todos reunidos na Câmara Porém, há aqueles que afirmam que este verbo indica sim mo-
Municipal. vimento, pois quem entrega se desloca de um lugar para outro.
Câmera: aparelho que fotografa, tira fotos: Comprei uma câ- Contudo, obedecendo às normas gramaticais, devemos usar
mera japonesa. “entrega em domicílio”, nos atentando ao fato de que a fina-
lidade é que vale: a entrega será feita no (em+o) domicílio de
Champanha/Champanhe (do francês): O champanha/cham- uma pessoa.
panhe está bem gelado.
Espectador: é aquele que vê, assiste: Os espectadores se
Cessão: equivale ao ato de doar, doação: Foi confirmada a fartaram da apresentação.
cessão do terreno.
Expectador: é aquele que está na expectativa, que espe-
Sessão: equivale ao intervalo de tempo de uma reunião: A ra alguma coisa: O expectador aguardava o momento da
sessão do filme durou duas horas. chamada.
Seção/Secção: repartição pública, departamento: Visitei hoje Estada: permanência de pessoa (tempo em algum lugar): A es-
a seção de esportes. tada dela aqui foi gratificante.
Demais: é advérbio de intensidade, equivale a muito, aparece Estadia: prazo concedido para carga e descarga de navios
intensificando verbos, adjetivos ou o próprio advérbio. Vocês ou veículos: A estadia do carro foi prolongada por mais algu-
falam demais, caras! mas semanas.
Demais: pode ser usado como substantivo, seguido de artigo, Fosforescente: adjetivo derivado de fósforo; que brilha no
equivale a os outros. Chamaram mais dez candidatos, os de- escuro: Este material é fosforescente.
mais devem aguardar. Fluorescente: adjetivo derivado de flúor, elemento químico, re-
De mais: é locução prepositiva, opõe-se a de menos, refere-se fere-se a um determinado tipo de luminosidade: A luz branca
sempre a um substantivo ou a um pronome: Não vejo nada de do carro era fluorescente.
mais em sua decisão.
Haja - do verbo haver - É preciso que não haja descuido.
Dia a dia: é um substantivo, equivale a cotidiano, diário, que
Aja - do verbo agir - Aja com cuidado, Carlinhos.
faz ou acontece todo dia. Meu dia a dia é cheio de surpresas.
(até 01/01/2009, era grafado dia-a-dia) Houve: pretérito perfeito do verbo haver, 3ª pessoa do singular.
Dia a dia: é uma expressão adverbial, equivale a diariamente. Ouve: presente do indicativo do verbo ouvir, 3ª pessoa do
O álcool aumenta dia a dia. Pode isso? singular.
Descriminar: equivale a (inocentar, absolver de crime). O réu Levantar: é sinônimo de erguer: Ginês, meu estimado cunha-
foi descriminado; pra sorte dele. do, levantou sozinho a tampa do poço.
Discriminar: equivale a (diferençar, distinguir, separar). Era Levantar-se: pôr de pé: Luís e Diego levantaram-se cedo e,
impossível discriminar os caracteres do documento. Cumpre dirigiram-se ao aeroporto.
discriminar os verdadeiros dos falsos valores. /Os negros ainda Mal: advérbio de modo, equivale a erradamente, é oposto
são discriminados. de bem: Dormi mal. (bem). Equivale a nocivo, prejudicial, enfer-
Descrição: ato de descrever: A descrição sobre o jogador foi midade; pode vir antecedido de artigo, adjetivo ou pronome: A
perfeita. comida fez mal para mim. Seu mal é crer em tudo. Conjunção
subordinativa temporal, equivale a assim que, logo que: Mal
Discrição: qualidade ou caráter de ser discreto, reservado: chegou começou a chorar desesperadamente.
Você foi muito discreto.
Mau: adjetivo, equivale a ruim, oposto de bom; plural=maus;
Entrega em domicílio: equivale a lugar: Fiz a entrega em feminino=má. Você é um mau exemplo (bom). Substantivo: Os
domicílio. maus nunca vencem.
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Mas: conjunção adversativa (ideia contrária), equivale a porém, Tampouco: advérbio, equivale a “também não”: Não compare-
contudo, entretanto: Telefonei-lhe mas ela não atendeu. ceu, tampouco apresentou qualquer justificativa.
Mais: pronome ou advérbio de intensidade, opõe-se a menos: Tão pouco: advérbio de intensidade: Encontramo-nos tão
Há mais flores perfumadas no campo. pouco esta semana.
Nem um: equivale a nem um sequer, nem um único; a palavra Trás ou Atrás = indicam lugar, são advérbios.
“um” expressa quantidade: Nem um filho de Deus apareceu
Traz - do verbo trazer.
para ajudá-la.
Vultoso: volumoso: Fizemos um trabalho vultoso aqui.
Nenhum: pronome indefinido variável em gênero e número;
vem antes de um substantivo, é oposto de algum. Nenhum jor- Vultuoso: atacado de congestão no rosto: Sua face está vul-
nal divulgou o resultado do concurso. tuosa e deformada.
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Língua Portuguesa
6.
tográfica em vigor:
a) gratuíto
b) Perú
c) ônus
Acentuação
d) rúbricas
e) baiúca
gráfica
4. 4. (Pref. De Quixadá-CE – Agente de Combate às Ende-
mias – Serctam/2016) Marque a opção em que TODOS
os vocábulos se completam com a letra “s”:
a) pesqui__a, ga__olina, ali__erce. Tonicidade
b) e__ótico, talve__, ala__ão.
c) atrá__ , preten__ão, atra__o. Num vocábulo de duas ou mais sílabas, há, em geral, uma
d) bati__ar, bu__ina, pra__o. que se destaca por ser proferida com mais intensidade que
e) valori__ar, avestru__ , Mastru__ . as outras: é a sílaba tônica. Nela recai o acento tônico, tam-
bém chamado acento de intensidade ou prosódico. Exem-
Respostas plos: café, janela, médico, estômago, colecionador.
Monossílabos tônicos
São os que têm autonomia fonética, sendo proferidos for-
temente na frase em que aparecem: é, má, si, dó, nó, eu, tu,
nós, ré, pôr, etc.
Monossílabos átonos
São os que não têm autonomia fonética, sendo proferidos
fracamente, como se fossem sílabas átonas do vocábulo
a que se apoiam. São palavras vazias de sentido como ar-
tigos, pronomes oblíquos, elementos de ligação, preposi-
ções, conjunções: o, a, os, as, um, uns, me, te, se, lhe, nos,
de, em, e, que.
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Língua Portuguesa
Acentuação dos Vocábulos Segundo as novas regras os ditongos abertos “éi” e “ói” não
são mais acentuados em palavras paroxítonas: assembléia,
Proparoxítonos platéia, idéia, colméia, boléia, Coréia, bóia, paranóia, jibóia,
apóio, heróico, paranóico, etc. Ficando: Assembleia, plateia,
Todos os vocábulos proparoxítonos são acentuados na vo- ideia, colmeia, boleia, Coreia, boia, paranoia, jiboia, apoio, he-
gal tônica: roico, paranoico, etc.
- Com acento agudo se a vogal tônica for i, u ou a, e, o Nos ditongos abertos de palavras oxítonas terminadas em
abertos: xícara, úmido, queríamos, lágrima, término, désse- éi, éu e ói e monossílabas o acento continua: herói, constrói,
mos, lógico, binóculo, colocássemos, inúmeros, polígono, dói, anéis, papéis, troféu, céu, chapéu.
etc.
- Com acento circunflexo se a vogal tônica for fechada ou
nasal: lâmpada, pêssego, esplêndido, pêndulo, lêssemos, Acentuação dos Hiatos
estômago, sôfrego, fôssemos, quilômetro, sonâmbulo etc.
A razão do acento gráfico é indicar hiato, impedir a ditongação.
Compare: caí e cai, doído e doido, fluído e fluido.
Acentuação dos Vocábulos - Acentuam-se em regra, o /i/ e o /u/ tônicos em hiato com vo-
Paroxítonos gal ou ditongo anterior, formando sílabas sozinhas ou com s:
saída (sa-í-da), saúde (sa-ú-de), faísca, caíra, saíra, egoísta,
heroína, caí, Xuí, Luís, uísque, balaústre, juízo, país, cafeína,
Acentuam-se com acento adequado os vocábulos paroxítonos
baú, baús, Grajaú, saímos, eletroímã, reúne, construía, proí-
terminados em:
bem, influí, destruí-lo, instruí-la, etc.
Paroxítonas terminadas em ditongo oral crescente e ditongo - Não se acentua o /i/ e o /u/ seguidos de nh: rainha, fuinha,
oral decrescente são acentuadas. moinho, lagoinha, etc; e quando formam sílaba com letra
Ditongo oral crescente: ânsia(s), série(s), régua(s). que não seja s: cair (ca-ir), sairmos, saindo, juiz, ainda, diur-
no, Raul, ruim, cauim, amendoim, saiu, contribuiu, instruiu,
Ditongo oral decrescente: jóquei(s), imóveis, fôsseis (verbo). etc.
Ditongo crescente, seguido, ou não, de s: sábio, róseo, pla- De acordo com as novas regras da Língua Portuguesa não se
nície, nódua, Márcio, régua, árdua, espontâneo, etc. acentua mais o /i/ e /u/ tônicos formando hiato quando vierem
- i, is, us, um, uns: táxi, lápis, bônus, álbum, álbuns, jóquei, depois de ditongo: baiúca, boiúna, feiúra, feiúme, bocaiúva,
vôlei, fáceis, etc. etc. Ficaram: baiuca, boiuna, feiura, feiume, bocaiuva, etc.
- l, n, r, x, ons, ps: fácil, hífen, dólar, látex, elétrons, fórceps, Os hiatos “ôo” e “êe” não são mais acentuados: enjôo, vôo,
etc. perdôo, abençôo, povôo, crêem, dêem, lêem, vêem, relêem.
- ã, ãs, ão, ãos, guam, guem: ímã, ímãs, órgão, bênçãos, Ficaram: enjoo, voo, perdoo, abençoo, povoo, creem, deem,
enxáguam, enxáguem, etc. leem, veem, releem.
Não se acentua um paroxítono só porque sua vogal tônica é
aberta ou fechada. Descabido seria o acento gráfico.
Acento Diferencial
Exemplo: cedo, este, espelho, aparelho, cela, janela, socorro,
pessoa, dores, flores, solo, esforços.
Emprega-se o acento diferencial como sinal distintivo de vocá-
bulos homógrafos, nos seguintes casos:
- pôr (verbo) - para diferenciar de por (preposição).
Acentuação dos Vocábulos Oxítonos
- verbo poder (pôde, quando usado no passado)
Acentuam-se com acento adequado os vocábulos oxítonos - é facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as
terminados em: palavras forma/fôrma. Em alguns casos, o uso do acento
deixa a frase mais clara. Exemplo: Qual é a forma da fôrma
- a, e, o, seguidos ou não de s: xará, serás, pajé, freguês,
do bolo?
vovô, avós, etc. Seguem esta regra os infinitivos seguidos
de pronome: cortá-los, vendê-los, compô-lo, etc. - Segundo as novas regras da Língua Portuguesa não exis-
te mais o acento diferencial em palavras homônimas (grafia
- em, ens: ninguém, armazéns, ele contém, tu conténs, ele igual, som e sentido diferentes) como:
convém, ele mantém, eles mantêm, ele intervém, eles intervêm,
- côa(s) (do verbo coar) - para diferenciar de coa, coas (com
etc.
+ a, com + as);
- pára (3ª pessoa do singular do presente do indicativo do
Acentuação dos Monossílabos verbo parar) - para diferenciar de para (preposição);
- péla (do verbo pelar) e em péla (jogo) - para diferenciar de
pela (combinação da antiga preposição per com os artigos
Acentuam-se os monossílabos tônicos: a, e, o, seguidos ou
ou pronomes a, as);
não de s: há, pá, pé, mês, nó, pôs, etc.
- - pêlo (substantivo) e pélo (v. pelar) - para diferenciar de pelo
(combinação da antiga preposição per com os artigos o, os);
Acentuação dos Ditongos - péra (substantivo - pedra) - para diferenciar de pera (forma
arcaica de para - preposição) e pêra (substantivo);
Acentuam-se a vogal dos ditongos abertos éi, éu, ói, quando - pólo (substantivo) - para diferenciar de polo (combinação
tônicos. popular regional de por com os artigos o, os);
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Língua Portuguesa
40
Língua Portuguesa
3. Resposta “ERRADO”
O til não é acento.
Os acentos (agudo e circunflexo) só podem recair sobre a síla-
ba tônica da palavra; ora, como o til não é acento, mas apenas
um sinal indicativo de nasalização, ele tem um comportamento
7. Emprego do
que os acentos não têm:
a) ele pode ficar sobre sílaba átona (órgão, sótão),
sinal indicativo
b) pode aparecer várias vezes num mesmo vocábulo (pão-
zão, alemãozão, por exemplo) e
c) não é eliminado pela troca de sílaba tônica causada pelo
de crase
acréscimo de –zinho e de -mente: rápido, rapidamente;
café, cafezinho — mas irmã, irmãzinha; cristã, cristãmente; Crase é a superposição de dois “a”, geralmente a preposição
e assim por diante. “a” e o artigo a(s), podendo ser também a preposição “a” e o
pronome demonstrativo a(s) ou a preposição “a” e o “a” inicial
4. Resposta “CERTO”
dos pronomes demonstrativos aqueles(s), aquela(s) e aquilo.
Trema Essa superposição é marcada por um acento grave (`).
Linguiça, bilíngue, consequência, sequestro, pinguim, sagui, Assim, em vez de escrevermos “entregamos a mercadoria a a
tranquilidade... O trema acaba de ser suprimido dos grupos de vendedora”, “esta blusa é igual a a que compraste” ou “eles
letras GUI, GUE, QUI e QUE, nos quais indicava a pronúncia deveriam ter comparecido a aquela festa”, devemos sobrepor
átona (fraca) da letra “u”. os dois “a” e indicar esse fato com um acento grave: “Entre-
gamos a mercadoria à vendedora”. “Esta blusa é igual à que
Entretanto, não pose-se dizer que o trema desapareceu de to-
compraste”. “Eles deveriam ter comparecido àquela festa.”
das as palavras da língua portuguesa. Isso porque será manti-
do nos nomes estrangeiros e nos termos deles derivados. As- O acento grave que aparece sobre o “a” não constitui, pois,
sim: Müller e mülleriano, por exemplo. a crase, mas é um mero sinal gráfico que indica ter havido a
união de dois “a” (crase).
5. Resposta C
Para haver crase, é indispensável a presença da preposição
Erros das alternativas:
“a”, que é um problema de regência. Por isso, quanto mais
a) ruim
conhecer a regência de certos verbos e nomes, mais fácil será
b) flores, economia
para ele ter o domínio sobre a crase.
c) ok
d) Giz e caju
e) Portugueses
Não existe Crase
6. 06. Resposta C
Está - São acentuadas oxitonas terminadas em O,E ,A, EM, - Antes de palavra masculina: Chegou a tempo ao trabalho;
ENS País - São acentuados hiatos I e U seguidos ou não de S Vieram a pé; Vende-se a prazo.
- Antes de verbo: Ficamos a admirá-los; Ele começou a ter
7. Resposta A alucinações.
a) Correta
b) Erro: Inglêsa > Correta: Inglesa. - Antes de artigo indefinido: Levamos a mercadoria a uma
c) Erro: Idéias > Correta: Ideias firma; Refiro-me a uma pessoa educada.
d) Erro: Barrôco > Correta: Barroco - Antes de expressão de tratamento introduzida pelos
e) Erro: Gluteos > Correta: Glúteos pronomes possessivos Vossa ou Sua ou ainda da ex-
pressão Você, forma reduzida de Vossa Mercê: Enviei
dois ofícios a Vossa Senhoria; Traremos a Sua Majestade, o
rei Hubertus, uma mensagem de paz; Eles queriam oferecer
flores a você.
- Antes dos pronomes demonstrativos esta e essa: Não
me refiro a esta carta; Os críticos não deram importância a
essa obra.
- Antes dos pronomes pessoais: Nada revelei a ela; Dirigiu-
-se a mim com ironia.
- Antes dos pronomes indefinidos com exceção de outra:
Direi isso a qualquer pessoa; A entrada é vedada a toda pes-
soa estranha. Com o pronome indefinido outra(s), pode ha-
ver crase porque ele, às vezes, aceita o artigo definido a(s):
As cartas estavam colocadas umas às outras (no masculino,
ficaria “os cartões estavam colocados uns aos outros”).
- Quando o “a” estiver no singular e a palavra seguinte
estiver no plural: Falei a vendedoras desta firma; Refiro-me
a pessoas curiosas.
- Quando, antes do “a”, existir preposição: Ela compare-
ceu perante a direção da empresa; Os papéis estavam sob
a mesa. Exceção feita, às vezes, para até, por motivo de
clareza: A água inundou a rua até à casa de Maria (= a água
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Língua Portuguesa
chegou perto da casa); se não houvesse o sinal da crase, tivos e indicar o fenômeno mediante um acento grave: Enviei
o sentido ficaria ambíguo: a água inundou a rua até a casa convites àquela sociedade (= a + aquela); A solução não se
de Maria (= inundou inclusive a casa). Quando até significa relaciona àqueles problemas (= a + aqueles); Não dei atenção
“perto de”, é preposição; quando significa “inclusive”, é par- àquilo (= a + aquilo). A simples interpretação da frase já nos faz
tícula de inclusão. concluir se o “a” inicial do demonstrativo é simples ou duplo.
- Com expressões repetitivas: Tomamos o remédio gota a Entretanto, para maior segurança, podemos usar o seguinte
gota; Enfrentaram-se cara a cara. artifício: Substituir os demonstrativos aquele(s), aquela(s), aqui-
lo pelos demonstrativos este(s), esta(s), isto, respectivamente.
- Com expressões tomadas de maneira indeterminada: O
Se, antes destes últimos, surgir a preposição “a”, estará com-
doente foi submetido a dieta leve (no masc. = foi submetido
provada a hipótese do acento de crase sobre o “a” inicial dos
a repouso, a tratamento prolongado, etc.); Prefiro terninho a
pronomes aquele(s), aquela(s), aquilo. Se não surgir a prepo-
saia e blusa (no masc.= prefiro terninho a vestido).
sição “a”, estará negada a hipótese de crase. Enviei cartas
- Antes de pronome interrogativo, não ocorre crase: A que àquela empresa./ Enviei cartas a esta empresa; A solução não
artista te referes? se relaciona àqueles problemas./ A solução não se relaciona a
- Na expressão valer a pena (no sentido de valer o sacri- estes problemas; Não dei atenção àquilo./ Não dei atenção a
fício, o esforço), não ocorre crase, pois o “a” é artigo isto; A solução era aquela apresentada ontem./ A solução era
definido: Parodiando Fernando Pessoa, tudo vale a pena esta apresentada ontem.
quando a alma não é pequena... - Palavra “casa”: quando a expressão casa significa “lar”,
“domicílio” e não vem acompanhada de adjetivo ou locução
adjetiva, não há crase: Chegamos alegres a casa; Assim que
A Crase é Facultativa saiu do escritório, dirigiu- se a casa; Iremos a casa à noiti-
nha. Mas, se a palavra casa estiver modificada por adjetivo
- Antes de nomes próprios feminino: Enviamos um telegra- ou locução adjetiva, então haverá crase: Levaram-me à casa
ma à Marisa; Enviamos um telegrama a Marisa. Em portu- de Lúcia; Dirigiram-se à casa das máquinas; Iremos à en-
guês, antes de um nome de pessoa, pode-se ou não empre- cantadora casa de campo da família Sousa.
gar o artigo “a” (“A Marisa é uma boa menina”. Ou “Marisa é
- Palavra “terra”: Não há crase, quando a palavra terra signifi-
uma boa menina”). Por isso, mesmo que a preposição esteja
ca o oposto a “mar”, “ar” ou “bordo”: Os marinheiros ficaram
presente, a crase é facultativa.
felizes, pois resolveram ir a terra; Os astronautas desceram a
- Quando o nome próprio feminino vier acompanhado de uma terra na hora prevista. Há crase, quando a palavra significa
expressão que o determine, haverá crase porque o artigo “solo”, “planeta” ou “lugar onde a pessoa nasceu”: O colono
definido estará presente. Dedico esta canção à Candinha dedicou à terra os melhores anos de sua vida; Voltei à terra
do Major Quevedo. [A (artigo) Candinha do Major Quevedo é onde nasci; Viriam à Terra os marcianos?
fanática por seresta.]
- Palavra “distância”: Não se usa crase diante da palavra dis-
- Antes de pronome adjetivo possessivo feminino singu- tância, a menos que se trate de distância determinada: Via-
lar: Pediu informações à minha secretária; Pediu informa- -se um monstro marinho à distância de quinhentos metros;
ções a minha secretária. A explicação é idêntica à do item Estávamos à distância de dois quilômetros do sítio, quando
anterior: o pronome adjetivo possessivo aceita artigo, mas aconteceu o acidente. Mas: A distância, via-se um barco
não o exige (“Minha secretária é exigente.” Ou: “A minha pesqueiro; Olhava-nos a distância.
secretária é exigente”). Portanto, mesmo com a presença da
- Pronome Relativo: Todo pronome relativo tem um substan-
preposição, a crase é facultativa.
tivo (expresso ou implícito) como antecedente. Para saber se
existe crase ou não diante de um pronome relativo, deve-se
substituir esse antecedente por um substantivo masculino. Se
Casos Especiais o “a” se transforma em “ao”, há crase diante do relativo. Mas,
se o “a” permanece inalterado ou se transforma em “o”, então
- Nomes de localidades: Dentre as localidades, há as que admi- não há crase: é preposição pura ou pronome demonstrativo: A
tem artigo antes de si e as que não o admitem. Por aí se deduz fábrica a que me refiro precisa de empregados. (O escritório a
que, diante das primeiras, desde que comprovada a presença que me refiro precisa de empregados.); A carreira à qual aspiro
de preposição, pode ocorrer crase; diante das segundas, não. é almejada por muitos. (O trabalho ao qual aspiro é almejado
Para se saber se o nome de uma localidade aceita artigo, de- por muitos.). Na passagem do antecedente para o masculino,
ve-se substituir o verbo da frase pelos verbos estar ou vir. Se o pronome relativo não pode ser substituído, sob pena de fal-
ocorrer a combinação “na” com o verbo estar ou “da” com o sear o resultado: A festa a que compareci estava linda (no mas-
verbo vir, haverá crase com o “a” da frase original. Se ocorrer culino = o baile a que compareci estava lindo). Como se viu,
“em” ou “de”, não haverá crase: Enviou seus representantes à substituímos festa por baile, mas o pronome relativo que não
Paraíba (estou na Paraíba; vim da Paraíba); O avião dirigia- se foi substituído por nenhum outro (o qual etc.).
a Santa Catarina (estou em Santa Catarina; vim de Santa Ca-
tarina); Pretendo ir à Europa (estou na Europa; vim da Europa).
Os nomes de localidades que não admitem artigo passarão
a admiti-lo, quando vierem determinados. Porto Alegre inde-
A Crase é Obrigatória
terminadamente não aceita artigo: Vou a Porto Alegre (estou
- Sempre haverá crase em locuções prepositivas, locu-
em Porto Alegre; vim de Porto Alegre); Mas, acompanhando-se ções adverbiais ou locuções conjuntivas que tenham
de uma expressão que a determine, passará a admiti-lo: Vou como núcleo um substantivo feminino: à queima-roupa,
à grande Porto Alegre (estou na grande Porto Alegre; vim da à maneira de, às cegas, à noite, às tontas, à força de, às
grande Porto Alegre); Iríamos a Madri para ficar três dias; Iría- vezes, às escuras, à medida que, às pressas, à custa de,
mos à Madri das touradas para ficar três dias. à vontade (de), à moda de, às mil maravilhas, à tarde, às
- Pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo: quando oito horas, às dezesseis horas, etc. É bom não confundir a
a preposição “a” surge diante desses demonstrativos, deve- locução adverbial às vezes com a expressão fazer as vezes
mos sobrepor essa preposição à primeira letra dos demonstra- de, em que não há crase porque o “as” é artigo definido
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Língua Portuguesa
puro: Ele se aborrece às vezes (= ele se aborrece de vez em Tua presença, minha Mãe - drama vivo duma Raça, Drama de
quando); Quando o maestro falta ao ensaio, o violinista faz carne e sangue Que a Vida escreveu com a pena dos séculos!
as vezes de regente (= o violinista substitui o maestro). Pelo teu regaço, minha Mãe, Outras gentes embaladas à voz
- Sempre haverá crase em locuções que exprimem hora da ternura ninadas do teu leite alimentadas de bondade e poe-
determinada: Ele saiu às treze horas e trinta minutos; Che- sia de música ritmo e graça... santos poetas e sábios... Outras
gamos à uma hora. Cuidado para não confundir a, à e há gentes... não teus filhos, que estes nascendo alimárias semo-
com a expressão uma hora: Disseram-me que, daqui a uma ventes, coisas várias, mais são filhos da desgraça: a enxada
hora, Teresa telefonará de São Paulo (= faltam 60 minutos é o seu brinquedo trabalho escravo - folguedo... Pelos teus
para o telefonema de Teresa); Paula saiu daqui à uma hora; olhos, minha Mãe Vejo oceanos de dor Claridades de sol-pos-
duas horas depois, já tinha mudado todos os seus planos (= to, paisagens Roxas paisagens Mas vejo (Oh! se vejo!...) mas
quando ela saiu, o relógio marcava 1 hora); Pedro saiu daqui vejo também que a luz roubada aos teus [olhos, ora esplende
há uma hora (= faz 60 minutos que ele saiu). demoniacamente tentadora - como a Certeza... cintilantemente
- Quando a expressão “à moda de” (ou “à maneira de”) firme - como a Esperança... em nós outros, teus filhos, geran-
estiver subentendida: Nesse caso, mesmo que a palavra do, formando, anunciando - o dia da humanidade.
subsequente seja masculina, haverá crase: No banquete, (Viriato da Cruz. Poemas, 1961, Lisboa, Casa dos Estudantes do Império)
serviram lagosta à Termidor; Nos anos 60, as mulheres se
Em qual das alternativas o acento grave foi mal empregado,
apaixonavam por homens que tinham olhos à Alain Delon.
pois não houve crase?
- Quando as expressões “rua”, “loja”, “estação de rádio”, a) “Milena Nogueira foi pela primeira vez à quadra da escola
etc. estiverem subentendidas: Dirigiu- se à Marechal Flo- de samba Império Serrano, na Zona Norte do Rio.”
riano (= dirigiu-se à Rua Marechal Floriano); Fomos à Renner b) “Os relatos dos casos mostram repetidas violações dos
(fomos à loja Renner); Telefonem à Guaíba (= telefonem à direitos à moradia, a um trabalho digno, à integridade cul-
rádio Guaíba). tural, a vida e ao território.”
- Quando está implícita uma palavra feminina: Esta religião c) “O corpo de Lucilene foi encontrado próximo à ponte do
é semelhante à dos hindus (= à religião dos hindus). Moa no dia 11 de maio.”
- Com o pronome substantivo possessivo feminino no sin- d) “Fifa afirma que Blatter e Valcke enriqueceram às custas
gular ou plural, o uso de acento indicativo de crase não é da entidade.”
facultativo (conforme o caso será proibido ou obrigató- e) “Doriva saiu e Milton Cruz fez às vezes de técnico até a
rio): A minha cidade é melhor que a tua. O acento indicativo chegada de Edgardo Bauza no fim do ano passado.”
de crase é proibido porque, no masculino, ficaria assim: O
meu sítio é melhor que o teu (não há preposição, apenas o 2. (Pref. De Itaquitinga/PE – Assistente Administrativo –
artigo definido). Esta gravura é semelhante à nossa. O acen- IDHTEC/2016)
to indicativo de crase é obrigatório porque, no masculino, Em qual dos trechos abaixo o emprego do acento grave foi
ficaria assim: Este quadro é semelhante ao nosso (presença omitido quando houve ocorrência de crase?
de preposição + artigo definido). a) “O Sindicato dos Metroviários de Pernambuco decidiu
- Não confundir devido com dado (a, os, as): a primeira ex- suspender a paralisação que faria a partir das 16h desta
pressão pede preposição “a”, havendo crase antes de palavra quarta-feira.”
feminina determinada pelo artigo definido. Devido à discussão b) “Pela manhã, em nota, a categoria informou que cruzaria
de ontem, houve um mal-estar no ambiente (= devido ao baru- os braços só retornando às atividades normais as 5h desta
lho de ontem, houve...); A segunda expressão não aceita pre- quinta-feira.”
posição “a” (o “a” que aparece é artigo definido, não havendo, c) “Nesta quarta-feira, às 21h, acontece o “clássico das mul-
pois, crase): Dada a questão primordial envolvendo tal fato (= tidões” entre Sport e Santa Cruz, no Estádio do Arruda.”
dado o problema primordial...); Dadas as respostas, o aluno d) “Após a ameaça de greve, o sindicato foi procurado pela
conferiu a prova (= dados os resultados...). CBTU e pela PM que prometeram um reforço no esquema
- Excluída a hipótese de se tratar de qualquer um dos casos de segurança.”
anteriores, devemos substituir a palavra feminina por ou- e) “A categoria se queixa de casos de agressões, vandalismo
tra masculina da mesma função sintática. Se ocorrer “ao” e depredações e da falta de segurança nas estações.”
no masculino, haverá crase no “a” do feminino. Se ocorrer “a” 3. (MPE/SC – Promotor de Justiça – MPE/SC/2016)
ou “o” no masculino, não haverá crase no “a” do feminino. O
problema, para muitos, consiste em descobrir o masculino de Em relação ao emprego do sinal de crase, estão corretas
certas palavras como “conclusão”, “vezes”, “certeza”, “morte”, as frases:
etc. É necessário então frisar que não há necessidade alguma a) Solicito a Vossa Excelência o exame do presente documento.
de que a palavra masculina tenha qualquer relação de sentido b) A redação do contrato compete à Diretoria de Orçamento
com a palavra feminina: deve apenas ter a mesma função sin- e Finanças.
tática: Fomos à cidade comprar carne. (ao supermercado); Pe- ( ) Certo ( ) Errado
dimos um favor à diretora. (ao diretor); Muitos são insensíveis
à dor alheia. (ao sofrimento); Os empregados deixam a fábrica. 4. (MPE/SC – Promotor de Justiça – MPE/SC/2016)
(o escritório); O perfume cheira a rosa. (a cravo); O professor “O americano Jackson Katz, 55, é um homem feminista – defi-
chamou a aluna. (o aluno). nição que lhe agrada. Dedica praticamente todo o seu tempo a
combater a violência contra a mulher e a promover a igualdade
entre os gêneros. (...) Em 1997, idealizou o primeiro projeto de
Questões
prevenção à violência de gênero na história dos marines ameri-
canos. Katz – casado e pai de um filho – já prestou consultoria
1. (Pref. De Itaquitinga/PE – Técnico em Enfermagem –
à Organização Mundial de Saúde e ao Exército americano.”
IDHTEC/2016)
(In: Veja, Rio de Janeiro: Abril, ano 49, n.2, p. 13, jan. 2016.)
MAMÃ NEGRA (Canto de esperança)
No texto acima, o sinal indicativo de crase foi empregado cor-
retamente, em todas as situações. Poderia ter ocorrido tam-
43
Língua Portuguesa
8.
5. (Pref. De Criciúma/SC – Engenheiro Civil – FEPE-
Formação,
SE/2016)
Analise as frases quanto ao uso correto da crase.
classe e
1. O seu talento só era comparável à sua bondade.
2. Não pôde comparecer à cerimônia de posse na Prefeitura.
3. Quem se vir em apuros, deve recorrer à coordenação local
de provas.
4. Dia a dia, vou vencendo às batalhas que a vida me apresenta. emprego de
palavras
5. Daqui à meia hora, chegarei a estação; peça para me
aguardarem.
a) São corretas apenas as frases 1 e 4.
b) São corretas apenas as frases 3 e 4.
c) São corretas apenas as frases 1, 2 e 3. As Classes de Palavras possuem vários outros nomes... por
d) São corretas apenas as frases 2, 3 e 4. exemplo: Classes Gramaticais, Classes Morfológicas e Mor-
e) São corretas apenas as frases 2, 4 e 5. fossintaxe. Porém, o que todas estudam são as dez classes
que existem. São elas: substantivo, adjetivo, advérbio, verbo,
Respostas conjunção, interjeição, preposição, artigo, numeral e pronome.
Estudaremos a seguir, o emprego de cada uma. Vamos lá!?
1. Resposta E
Às vezes / As vezes
Ocorrerá a crase somente quando “às vezes” for uma locução Artigo
adverbial de tempo (= de vez em quando, em algumas vezes).
Quando a expressão “as vezes” não trouxer o significado cita-
do não acontecerá crase. Artigo é a palavra que acompanha o substantivo, indicando-lhe
o gênero e o número, determinando-o ou generalizando-o. Os
2. Resposta B artigos podem ser: Definidos e Indefinidos.
Indicação de horas especificadas ocorre crase: Chegare-
mos às sete horas
Saímos às dez horas
Definidos: o, a, os, as
3. Certo Determinam os substantivos, trata de um ser já conhecido;
denota familiaridade: “A grande reforma do ensino superior é a
Em relação ás assertivas:
reforma do ensino fundamental e do médio.” (Veja – maio de 2005)
a) Não se emprega o sinal da crase antes de pronomes de
tratamento, salvo: senhora, senhorita e dona.
b) A redação do contrado compete á diretoria de orçamentos
Usa-se o artigo definido:
e finanças. - com a palavra ambos: falou-nos que ambos os culpados
foram punidos.
Ao trocar-mos o substantivo feminino: diretoria pelo substan-
- com nomes próprios geográficos de estado, pais, ocea-
tivo masculino Diretor: Compete ao diretor de orçamentos e
no, montanha, rio, lago: o Brasil, o rio Amazonas, a Argen-
finaças. ( a=preposição + o=artigo)
tina, o oceano Pacífico, a Suíça, o Pará, a Bahia. / Conheço
4. Errado o Canadá mas não conheço Brasília.
NÃO se usa crase antes de verbo! - com nome de cidade se vier qualificada: Fomos à histó-
rica Ouro Preto.
5. Resposta C
- depois de todos/todas + numeral + substantivo: Todos os
1. O seu talento só era comparável à sua bondade. vinte atletas participarão do campeonato.
Nos casos de pronome possessivo, a crase é FACULTATIVA. - com toda a/todo o, a expressão que vale como totalidade,
2. Não pôde comparecer à cerimônia de posse na Prefeitura. inteira. Toda cidade será enfeitada para as comemorações
Não há o que discutir: quem comparece, comparece a algo. de aniversário. Sem o artigo, o pronome todo/toda vale
Logo, VTI, exige crase. como qualquer. Toda cidade será enfeitada para as come-
morações de aniversário. (Qualquer cidade)
3. Quem se vir em apuros, deve recorrer à coordenação local
de provas. - com o superlativo relativo: Mariane escolheu as mais lin-
O mesmo caso do item anterior, VTI. Quem recorre, recorre a das flores da floricultura.
algo ou a alguém. - com a palavra outro, com sentido determinado: Marcelo
4. Dia a dia, vou vencendo às batalhas que a vida me apresenta. tem dois amigos: Rui é alto e lindo, o outro é atlético e sim-
Uso incorreto da crase, pois quem vence, vence algo e não a pático.
algo. Logo, é VTD, não exigindo crase. - antes dos nomes das quatro estações do ano: Depois da
primavera vem o verão.
5. Daqui à meia hora, chegarei a estação; peça para me
aguardarem. - com expressões de peso e medida: O álcool custa um real
Não confundir com exemplos como “às 13 horas”, semelhante o litro. (=cada litro)
a “ao meio dia”. Neste caso, usando-se o bizu da substituição
fica: “daqui a 10 minutos”. Vê-se que a crase é desnecessária.
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Língua Portuguesa
Não se usa o artigo definido O artigo (o, a, um, uma) anteposto a qualquer palavra transfor-
- antes de pronomes de tratamento iniciados por posses- ma-a em substantivo. O ato literário é o conjunto do ler e do
sivos: escrever.
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Língua Portuguesa
c) “quando”, “por que”, “e” e “lá”. três vezes maiores que a do som. Nesse item dos supersôni-
d) “por que”, “não”, “a” e “quando”. cos, _8_ estrelas internacionais foram o Concorde (franco-bri-
e) “guerra”, “quando”, “a” e “não”. tânico) e o Tupolev (russo), que transportavam 144 passageiros
e voaram até os anos 90, mas, devido aos elevados custos de
3. (Ceron/RO - Direito – EXATUS/2016)
manutenção, passagens e combustíveis, eles acabaram por ter
A lição do fogo as suas produções suspensas.
1º Um membro de determinado grupo, ao qual prestava servi- < http://www.portalbrasil.net/aviacao_historia.htm>. Acesso em:13/12/2015
(com adaptações).
ços regularmente, sem nenhum aviso, deixou de participar de
a) 1 - a / 2 - à / 3 - a / 4 - a 5 - a / 6 - a / 7- à / 8 - às
suas atividades.
b) 1 - a / 2 - a / 3 - a / 4 - à / 5 - à / 6 - a / 7- a / 8 - as
2º Após algumas semanas, o líder daquele grupo decidiu vi- c) 1 - à / 2 - a / 3 - à / 4 - à / 5 - a / 6 - à / 7- à / 8 - às
sitá-lo. Era uma noite muito fria. O líder encontrou o homem d) 1 - a / 2 - à / 3 - à / 4 - a / 5- à / 6 - a / 7- à / 8 - às
em casa sozinho, sentado diante lareira, onde ardia um fogo e) 1 - a / 2 - a / 3 - à / 4 - a / 5- a / 6 - a / 7- a / 8 - as
brilhante e acolhedor.
3º Adivinhando a razão da visita, o homem deu as boas-vindas
Respostas
ao líder, conduziu-o a uma cadeira perto da lareira e ficou quie- 1. Resposta B
to, esperando. O líder acomodou-se confortavelmente no local a) OS (Artigo definido)
indicado, mas não disse nada. No silêncio sério que se formara, b) UMAS (Pronome indefinido, pois está substituindo a pala-
apenas contemplava a dança das chamas em torno das achas vra “pessoas”) Caberia no máximo um pronome indefinido.
da lenha, que ardiam. Ao cabo de alguns minutos, o líder exa- Mas não um artigo.
minou as brasas que se formaram. Cuidadosamente, selecionou c) OS (Artigo definido)
uma delas, a mais incandescente de todas, empurrando-a d) AS (Artigo definido)
lado. Voltou, então, a sentar-se, permanecendo silencioso e imó-
2. Resposta E
vel. O anfitrião prestava atenção a tudo, fascinado e quieto. Aos
poucos, a chama da brasa solitária diminuía, até que houve um Substantivo: Sempre PODE vir antecedido de artigo. “A
brilho momentâneo e seu fogo se apagou de vez. GUERRA...”
4º Em pouco tempo, o que antes era uma festa de calor e luz Pronome Relativo: Função coesiva, sempre anafórico (reto-
agora não passava de um negro, frio e morto pedaço de car- mada de uma informação), referem-se a um substantivo ou
vão recoberto uma espessa camada de fuligem acinzentada. pronome substantivo. “ E QUANDO...”
Nenhuma palavra tinha sido dita antes desde o protocolar
Artigo: é uma palavra que se antepõe ao substantivo, serve
cumprimento inicial entre os dois amigos. O líder, antes de se
para determiná-lo. É variável em gênero e número.
preparar para sair, manipulou novamente o carvão frio e inútil,
colocando-o de volta ao meio do fogo. Quase que imediata- Artigo definido: o, a, os, as, esses determinam o substantivo
mente ele tornou a incandescer, alimentado pela luz e calor com precisão.
dos carvões ardentes em torno dele. Quando o líder alcançou a
Advérbio: Invariável, refere-se a verbo exprimindo uma cir-
porta para partir, seu anfitrião disse:
cunstância ou modifica o adjetivo ou outro advérbio. “...NÃO
5º – Obrigado. Por sua visita e pelo belíssimo sermão. Estou SEI...”
voltando ao convívio do grupo.
3. Resposta B
RANGEL, Alexandre (org.). As mais belas parábolas de todos
[...]sentado diante da lareira[...]; [...]empurrando-a para o lado;
os tempos –Vol. II.Belo Horizonte: Leitura, 2004.
Assinale a alternativa que preenche corretamente as la- [...]pedaço de carvão recoberto de uma espessa camada[...];
cunas do texto: 4. Resposta E
a) a – ao – por.
b) da – para o – de. 1- “O transporte passou A ser considerado...” Este A é ape-
c) à – no – a. nas PREPOSIÇÃO; 2- ‘A introdução dos motores A JATO “-
d) a – de – em. Jato é palavra masculina, por isso não há crase. 3-” ...deu
maior impulso ( A) _À ___ (A) aviação.. “ 4-” ..começaram A
4. 03. (ANAC - Analista Administrativo – ESAF/2016) ser usados...”.Este A é apenas preposição.. 5-” ..Passaram A
Assinale a opção que preenche as lacunas do texto de forma estudar....”.Este A é apenas preposição.. 6- ..” A dos chamados
que o torne coeso, coerente e gramaticalmente correto. “ supersônicos”..”. Este A é apenas preposição...7-” A velo-
cidades duas ou três vezes maiores que...” Este A também é
O transporte internacional passou _1_ ser utilizado em larga apenas preposição, além disso está diante de uma palavra no
escala depois da II Guerra Mundial, por aviões cada vez maio- plural: VELOCIDADES= crase.
res e mais velozes. A introdução dos motores _2_ jato, usados
pela primeira vez em aviões comerciais (Comet), em 1952, pela
BOAC (empresa de aviação comercial inglesa), deu maior im- Substantivo
pulso _3_ aviação como meio de transporte. No final da década
de 1950, começaram _4_ ser usados os Caravelle, de fabri-
Substantivo é a palavra que dá nomes aos seres. Inclui os
cação francesa (Marcel Daussaud/ Sud Aviation). Nos Estados nomes de pessoas, de lugares, coisas, entes de nature-
Unidos, entravam em serviço em 1960 os jatos Boeing 720 e za espiritual ou mitológica: vegetação, sereia, cidade, anjo,
707 e dois anos depois o Douglas DC-8 e o Convair 880. Em árvore, passarinho, abraço, quadro, universidade, saudade,
seguida apareceram os aviões turbo-hélices, mais econômicos amor, respeito, criança.
e de grande potência. Soviéticos, ingleses, franceses e nor-
te-americanos passaram _5_ estudar a construção de aviões Os substantivos exercem, na frase, as funções de: sujeito,
comerciais cada vez maiores, para centenas de passageiros, predicativo do sujeito, objeto direto, objeto indireto, comple-
e _6_ dos chamados “supersônicos”, _7_ velocidades duas ou
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Língua Portuguesa
Há substantivos que mudam o timbre da vogal tônica, no plu- - substantivo composto de três ou mais elementos não
ral. Chama-se metafonia. Apresentam o “o” tônica fechado no ligados por preposição: o bem-me-quer = os bem-me-
singular e aberto no plural: caroço (ô), caroços (ó) / imposto (ô), -queres / o bem-te-vi = os bem-te-vis / o sem-terra = os
impostos (ó) / forno (ô), fornos (ó) / miolo (ô), miolos (ó) / poço sem-terra / o fora-da-lei = os fora- da-lei / o João-ninguém
(ô), poços (ó) / olho (ô), olhos (ó) / povo (ô), povos (ó) / corvo = os joões-ninguém / o ponto-e-vírgula = os ponto-e-vírgula
(ô), corvos (ó). Também são abertos no plural (ó): fogos, ovos, / o bumba-meu-boi = os bumba-meu-boi.
ossos, portos, porcos, postos, reforços. Tijolos, destroços. - quando o primeiro elemento for: grão, grã (grande), bel:
Há substantivos que mudam de sentido quando usados no grão-duque = grão-duques / grã-cruz = grã-cruzes / bel-pra-
plural: Fez bem a todos (alegria); Houve separação de bens. zer = bel-prazeres.
(Patrimônio); Conferiu a féria do dia. (Salário); As férias foram
maravilhosas. (Descanso); Sua honra foi exaltada. (Dignidade); Somente o primeiro elemento vai para o plural
Recebeu honras na solenidade. (Homenagens); Outros: bem = - substantivo + preposição + substantivo: água de colônia
virtude, benefício / bens = valores / costa = litoral / costas = = águas-de-colônia / mula-sem-cabeça = mulas-sem-cabe-
dorso / féria = renda diária / férias = descanso / vencimento ça / pão-de-ló = pães-de-ló / sinal-da-cruz = sinais-da-cruz.
= fim / vencimento = salário / letra = símbolo gráfico / letras = - quando o segundo elemento limita o primeiro ou dá ideia
literatura. de tipo, finalidade: samba-enredo = sambas-enredo / pom-
Substantivos empregados somente no plural: Arredores, be- bo-correio = pombos-correio / salário-família = salários-fa-
las-artes, bodas (ô), condolências, cócegas, costas, exéquias, mília / banana-maçã = bananas-maçã / vale-refeição = va-
férias, olheiras, fezes, núpcias, óculos, parabéns, pêsames, vi- les-refeição (vale = ter valor de, substantivo+especificador)
veres, idos, afazeres, algemas. A tendência na língua portuguesa atual é pluralizar os dois
A forma singular das palavras ciúme e saudade são também elementos: bananas-maçãs / couves-flores / peixes-bois /
usadas no plural, embora a forma singular seja preferencial, já saias-balões.
que a maioria dos substantivos abstratos não se pluralizam.
Aceita-se os ciúmes, nunca o ciúmes. Os dois elementos ficam invariáveis quando
houver
“Quando você me deixou, - verbo + advérbio: o ganha-pouco = os ganha-pouco / o
meu bem, cola-tudo = os cola-tudo / o bota-fora = os bota-fora
me disse pra eu ser feliz e passar bem - os compostos de verbos de sentido oposto: o entra-e-sai
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
= os entra-e-sai / o leva-e-traz = os leva- e-traz / o vai-e-vol-
mas depois, como era
de costume, obedeci” (gravado por Maria Bethânia) ta = os vai-e-volta.
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Língua Portuguesa
Adjetivo é a palavra variável em gênero, número e grau que mo- Cidade, Estado, País e Adjetivo Pátrio:
difica um substantivo, atribuindo-lhe uma qualidade, estado, Amapá: amapaense;
ou modo de ser: laranjeira florida; céu azul; mau tempo; cavalo
Amazonas: amazonense ou baré;
baio; comida saudável; político honesto; professor competen-
te; funcionário consciente; pais responsáveis. Anápolis: anapolino;
Angra dos Reis: angrense;
Aracajú: aracajuano ou aracajuense;
Classificação Bahia: baiano;
Bélgica: belga;
Simples
Belo Horizonte: belo-horizontino;
Apresentam um único radical, uma única palavra em sua Brasil: brasileiro;
estrutura: alegre, medroso, simpático, covarde, jovem, exube-
Brasília: brasiliense;
rante, teimoso;
Buenos Aires: buenairense ou portenho ou bonairense ou
bonarense;
Compostos
Cairo: cairota;
Apresentam mais de um radical, mais de duas palavras em Cabo Frio: cabo-friense;
sua estrutura: estrelas azul- claras; sapatos marrom-escuros;
Campo Grande: campo-grandense;
garoto surdo-mudo1.
Ceará: cearense;
Primitivos Curitiba: curitibano;
Distrito Federal: candango ou brasiliense;
são os que vieram primeiro; dão origem a outras palavras: atu-
Espírito Santo: espírito-santense ou capixaba;
al, livre, triste, amarelo, brando, amável, confortável.
Estados Unidos: estadunidense ou norte americano;
Derivados: Florianópolis: florianopolitano;
São aqueles formados por derivação, vieram depois dos Florença: florentino;
primitivos: amarelado, ilegal, infeliz, desconfortável, entriste- Fortaleza: fortalezense;
cido, atualizado.
Goiânia: goianiense;
Goiás: goiano;
Pátrios
Japão: japonês ou nipônico;
Indicam procedência ou nacionalidade, referem-se a cidades, João Pessoa: pessoense;
estados, países.
Londres: londrino;
Maceió: maceioense;
Locução Adjetiva Manaus: manauense ou manauara;
Maranhão: maranhense;
É a expressão que tem o mesmo valor de um adjetivo. A locu- Mato Grosso: mato-grossense;
ção adjetiva é formada por preposição + um substantivo.
Mato Grosso do Sul: mato-grossense-do-sul;
Vejamos algumas locuções adjetivas: Minas Gerais: mineiro;
Natal: natalense ou papa-jerimum;
Angelical de anjo Etário de idade
Nova Iorque: nova-iorquino;
Abdominal de abdômen Fabril de fábrica Niterói: niteroiense;
Novo Hamburgo: hamburguense;
Apícola de abelha Filatélico de selos
Palmas: palmense;
Aquilino de águia Urbano da cidade Pará: paraense;
Argente de prata Gástrica do estômago Paraíba: paraibano; Paraná: paranaense;
Pernambuco: pernambucano;
Áureo de ouro Hepático do fígado
Petrópolis: petropolitano; Piauí: piauiense;
Auricular da orelha Matutino da manhã Porto Alegre: porto-alegrense;
Bucal da boca Vespertino da tarde Porto Velho: porto-velhense;
Recife: recifense;
Bélico de guerra Inodoro sem cheiro Rio Branco: rio-branquense;
Cervical do pescoço Insípido sem gosto Rio de Janeiro: carioca/ fluminense (estado);
Rio Grande do Norte: rio-grandense-do-norte ou potiguar;
Cutâneo de pele Pluvial da chuva
Rio Grande do Sul: rio-grandense ou gaúcho;
Discente de aluno Humano do homem Rondônia: rondoniano;
Docente de professor Umbilical do umbigo Roraima: roraimense;
Salvador: soteropolitano;
Estelar de estrela Têxtil de tecido
Santa Catarina: catarinense ou barriga-verde;
Algumas locuções adjetivas não possuem adjetivos cor- São Paulo: paulista/paulistano (cidade);
respondentes: lata de lixo, sacola de papel, parede de tijolo, São Luís: são-luisense ou ludovicense;
folha de papel, e outros. Sergipe: sergipano;
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Língua Portuguesa
Grau do Adjetivo
Flexões do Adjetivo
Grau comparativo de: igualdade, superioridade (Analítico e
O adjetivo, como palavra variável, sofre flexões de: gênero, nú- Sintético) e Inferioridade; Grau superlativo: absoluto (analítico e
mero e grau. sintético) ou relativo (superioridade e inferioridade).
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Língua Portuguesa
- Sintético: adjetivo + issimo, imo, ílimo, érrimo: Minha coma- Emprego Adverbial do Adjetivo
dre Mariinha é agradabilíssima;
- o sufixo -érrimo é restrito aos adjetivos latinos terminados O menino dorme tranquilo. / As meninas dormem tranquilas.
em r; pauper (pobre) = paupérrimo; macer(magro) = macér- Em ambas as frases o adjetivo concorda em gênero e número
rimo; com o sujeito.
- forma popular: radical do adjetivo português + íssimo: po- O menino dorme tranquilamente. / As meninas dormem tran-
bríssimo; quilamente. O adjetivo assume um valor adverbial, com o
- adjetivos terminados em vel + bilíssimo: amável = ama- acréscimo do sufixo mente, sendo, portanto, invariável, não vai
bilíssimo; para o plural.
- adjetivos terminados em eio formam o superlativo ape- Sorriu amarelo e saiu. / Ficou meio chateada e calou-se. O ad-
nas com i: feio = feíssimo / cheio = cheíssimo; jetivo amarelo modificou um verbo, portanto, assume a fun-
- os adjetivos terminados em io forma o superlativo em ção de advérbio; o adjetivo meio + chateada (adjetivo) assume,
iíssimo: sério = seriíssimo / necessário = necessariíssimo / também, a função de advérbio.
frio = friíssimo.
Algumas formas do superlativo absoluto sintético erudito
(culto):
Questões
ágil = agílimo; 1. (COMPESA - Analista de Gestão – Advogado – FGV/2016)
agradável = agradabilíssimo; agudo = acutíssimo;
amargo = amaríssimo; amigo = amicíssimo; antigo = antiquíssi- A substituição da oração adjetiva por um adjetivo de valor equi-
mo; áspero = aspérrimo; atroz = atrocíssimo; valente está feita de forma inadequada em:
benévolo = benevolentíssimo; bom = boníssimo, ótimo; capaz a) “Quando você elimina o impossível, o que sobra, por mais
= capacíssimo; improvável que pareça, só pode ser a verdade”. / restante
célebre = celebérrimo; cruel = crudelíssimo; difícil = dificílimo; b) “Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorân-
doce = dulcíssimo; eficaz = eficacíssimo; fácil = facílimo; cia”. / consciente dos limites da própria] ignorância.
feliz = felicíssimo; c) “A única coisa que vem sem esforço é a idade”. / indife-
fiel = fidelíssimo; frágil = fragílimo; rente
frio = frigidíssimo, friíssimo; geral = generalíssimo; humilde = d) “Adoro a humanidade. O que não suporto são as pessoas”.
humílimo; incrível = incredibilíssimo; inimigo = inimicíssimo; jo- / insuportável
vem = juvenilíssimo; livre = libérrimo; e) “Com o tempo não vamos ficando sozinhos apenas pelos
magnífico = magnificentíssimo; magro = macérrimo, magérri- que se foram: vamos ficando sozinhos uns dos outros”. /
mo; mau = péssimo; falecidos
miserável = miserabilíssimo; negro = nigérrimo, negríssimo; no- 2. (Pref. de Paulínia/SP - Engenheiro Agrônomo –
bre = nobilíssimo; FGV/2016)
pessoal = personalíssimo;
pobre = paupérrimo, pobríssimo; sábio = sapientíssimo; “O povo, ingênuo e sem fé das verdades, quer ao menos crer
sagrado = sacratíssimo; simpático = simpaticíssimo; simples = na fábula, e pouco apreço dá às demonstrações científicas.”
simplíssimo; tenro = tenríssimo; (Machado de Assis)
terrível = terribilíssimo; No fragmento acima, os dois adjetivos sublinhados possuem,
veloz = velocíssimo. respectivamente, os valores de
Usa-se também, no superlativo: a) qualidade e estado.
b) estado e relação.
- prefixos: maxinflação / hipermercado / ultrassonografia / c) relação e característica.
supersimpática. d) característica e qualidade.
- expressões: suja à beça / pra lá de sério / duro que nem e) qualidade e relação.
sola / podre de rico / linda de morrer / magro de dar pena.
3. (Pref. de Paulínia/SP - Engenheiro Agrônomo –
- adjetivos repetidos: fofinho, fofinho (=fofíssimo) / linda, lin- FGV/2016)
da (=lindíssima).
- diminutivo ou aumentativo: cheinha / pequenininha / gran- Entre as frases de Machado de Assis a seguir, assinale a aquela
dalhão / gostosão / bonitão. em que a locução adjetiva sublinhada mostra uma substituição
inadequada.
- linguagem informa, sufixo érrimo, em vez de íssimo: chi-
a) “A fantasia é um vidro de cor, porém mentiroso.” / colorido
quérrimo, chiquetérrimo, elegantérrimo.
b) “Sem ter passado por provas da experiência, é muito raro
Superlativo Relativo: ressalta a qualidade de um ser entre dizer coisa com coisa.” / experientes
muitos, com a mesma qualidade. c) “Admiremos os diplomatas que sabem guardar consigo os
segredos dos governos.” / governamentais
Pode ser:
d) “Amor ou eleições, não falta matéria às discórdias dos ho-
Superlativo Relativo de Superioridade: Wilma é a mais pren- mens.” / humanas
dada de todas as suas amigas. (Ela é a mais de todas) e) “A tática do parlamento de tomar tempo com discursos até
o fim das sessões não é nova.” / parlamentar
Superlativo Relativo de Inferioridade: Paulo César é o menos
tímido dos filhos. 4. (Pref. de São Gonçalo/RJ - Analista de Contabilidade –
BIO-RIO/2016)
Texto
ÉDIPO-REI
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Língua Portuguesa
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Língua Portuguesa
Quinquênio: período de cinco anos - o fracionário meio concorda em gênero e número com
Resma: quinhentas folhas de papel o substantivo no qual se refere: O início do concurso será
Semestre: período de seis meses meio-dia e meia. (Hora) / Usou apenas meias palavras.
Septênio: período de sete anos
Sexênio: período de seis anos Número
Terno: conjunto de três coisas - os numerais cardinais milhão, bilhão, trilhão, e outros,
Trezena: período de treze dias variam em número: Venderam um milhão de ingressos para
Triênio: período de três anos a festa do peão. / Somos 180 milhões de brasileiros.
Trinca: conjunto de três coisas
- os numerais ordinais variam em número: As segundas
Algarismos: Arábicos e Romanos, respectivamente: 1-I, colocadas disputarão o campeonato.
2-II, 3-III, 4-IV, 5-V, 6-VI, 7-VII, 8-VIII, 9-IX, 10-X, 11-XI, 12-XII, - os numerais multiplicativos são invariáveis quando usa-
13-XIII, 14-XIV, 15-XV, 16-XVI, 17-XVII, 18-XVIII, 19-XIX, 20-XX, dos com valor de substantivo: Minha dívida é o dobro da
30-XXX, 40-XL, 50- L, 60-LX, 70-LXX, 80-LXXX, 90-XC, 100-C, sua. (Valor de substantivo – invariável)
200-CC, 300-CCC, 400-CD, 500-D, 600-DC, 700-DCC, 800-
- os numerais multiplicativos variam quando usados como
DCCC, 900-CM, 1.000-M.
adjetivos: Fizemos duas apostas triplas. (Valor de adjetivo
Numerais Cardinais: um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, - variável)
oito, nove, dez, onze, doze, treze, catorze ou quatorze, quinze, - os numerais fracionários variam em número, concordando
dezesseis, dezessete, dezoito, dezenove, vinte..., trinta..., qua- com os cardinais que indicam números das partes.
renta..., cinquenta..., sessenta..., setenta..., oitenta..., noven-
- Um quarto de litro equivale a 250 ml; três quartos equivalem
ta..., cem..., duzentos..., trezentos..., quatrocentos..., quinhen-
a 750 ml.
tos..., seiscentos..., setecentos..., oitocentos..., novecentos...,
mil.
Grau
Numerais Ordinais: primeiro, segundo, terceiro, quarto, quin-
Na linguagem coloquial é comum a flexão de grau dos nu-
to, sexto, sétimo, oitavo, nono, décimo, décimo primeiro, déci-
merais: Já lhe disse isso mil vezes. / Aquele quarentão é um
mo segundo, décimo terceiro, décimo quarto, décimo quinto,
“gato”! / Morri com cincão para a “vaquinha”, lá da escola.
décimo sexto, décimo sétimo, décimo oitavo, décimo nono,
vigésimo..., trigésimo..., quadragésimo..., quinquagésimo...,
sexagésimo..., septuagésimo..., octogésimo..., nonagésimo..., Emprego dos Numerais
centésimo..., ducentésimo..., trecentésimo..., quadringentési-
mo..., quingentésimo..., sexcentésimo..., septingentésimo..., - para designar séculos, reis, papas, capítulos, cantos (na
octingentésimo..., nongentésimo..., milésimo. poesia épica), empregam-se: os ordinais até décimo: João
Paulo II (segundo). Canto X (décimo) / Luís IV (nono); os car-
Numerais Multiplicativos: dobro, triplo, quádruplo, quíntuplo,
dinais para os demais: Papa Bento XVI (dezesseis); Século
sêxtuplo, sétuplo, óctuplo, nônuplo, décuplo, undécuplo, duo-
XXI (vinte e um).
décuplo, cêntuplo.
- se o numeral vier antes do substantivo, usa-se o ordinal. O
Numerais Fracionários: meia, metade, terço, quarto, quinto, XX século foi de descobertas científicas. (Vigésimo século)
sexto, sétimo, oitavo, nono, décimo, onze avos, doze avos, tre- - com referência ao primeiro dia do mês, usa-se o nume-
ze avos, catorze avos, quinze avos, dezesseis avos, dezessete ral ordinal: O pagamento do pessoal será sempre no dia
avos, dezoito avos, dezenove avos, vinte avos..., trinta avos..., primeiro.
quarenta avos..., cinquenta avos..., sessenta avos..., setenta
- na enumeração de leis, decretos, artigos, circulares,
avos..., oitenta avos..., noventa avos..., centésimo..., ducenté-
portarias e outros textos oficiais, emprega-se o numeral
simo..., trecentésimo..., quadringentésimo..., quingentésimo...,
ordinal até o nono: O diretor leu pausadamente a portaria
sexcentésimo..., septingentésimo..., octingentésimo..., non-
8ª. (portaria oitava)
gentésimo..., milésimo.
- emprega-se o numeral cardinal, a partir de dez: O artigo
16 não foi justificado. (Artigo dezesseis)
Flexão dos Numerais - enumeração de casa, páginas, folhas, textos, aparta-
mentos, quartos, poltronas, emprega-se o numeral car-
dinal: Reservei a poltrona vinte e oito. / O texto quatro está
Gênero na página sessenta e cinco.
- os numerais cardinais um, dois e as centenas a partir
- se o numeral vier antes do substantivo, emprega-se o ordi-
de duzentos apresentam flexão de gênero: Um menino e
nal. Paulo César é adepto da 7ª Arte. (Sétima)
uma menina foram os vencedores. / Comprei duzentos gra-
mas de presunto e duzentas rosquinhas. - não se usa o numeral um antes de mil: Mil e duzentos
reais é muito para mim.
- os numerais ordinais variam em gênero: Marcela foi a
nona colocada no vestibular. - o artigo e o numeral, antes dos substantivos milhão, mi-
lhar e bilhão, devem concordar no masculino: quando o
- os numerais multiplicativos, quando usados com o valor
sujeito da oração é milhões + substantivo feminino plural, o
de substantivos, são variáveis: A minha nota é o triplo da
particípio ou adjetivo podem concordar, no masculino, com
sua. (Triplo – valor de substantivo)
milhões, ou com o substantivo, no feminino. Dois milhões de
- quando usados com valor de adjetivo, apresentam fle- notas falsas serão resgatados ou serão resgatadas (milhões
xão de gênero: Eu fiz duas apostas triplas na loto fácil. (Tri- resgatados / notas resgatadas)
plas valor de adjetivo)
- os numerais multiplicativos quíntuplo, sêxtuplo, sétuplo
- os numerais fracionários concordam com os cardinais e óctuplo valem como substantivos para designar pes-
que indicam o número das partes: Dois terçosdos alunos soas nascidas do mesmo parto: Os sêxtuplos, nascidos
foram contemplados. em Lucélia, estão reagindo bem.
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mento - senhor, senhora, senhorita, dona, pede o verbo na No caso, usa-se o pronome dele, dela para desfazer a am-
3ª pessoa, e não na 2ª. biguidade.
- Os pronomes oblíquos me, te, lhe, nos, vos, lhes (formas de - Os possessivos, às vezes, podem indicar aproximações
objeto indireto, 0I) juntam-se a o, a, os, as (formas de objeto numéricas e não posse: Cláudia e Haroldo devem ter seus
direto), assim: me+o: mo/+a: ma/+ os: mos/+as: mas: - Re- trinta anos.
cebi a carta e agradeci aojovem, que ma trouxe. nos +o: - Na linguagem popular, o tratamento seu como em: Seu
no-lo / + a: no-la / + os: no-los / +as: no-las: -Venderíamos Ricardo, pode entrar!, não tem valor possessivo, pois é uma
a casa, se no-la exigissem. te+ o: to/+ a: ta/+ os: tos/+ as: alteração fonética da palavra senhor
tas: -Dei-te os meus melhores dias. Dei-tos. lhe+ o: lho/+ - Os pronomes possessivos podem ser substantivados:
a: lha/+ os: lhos/+ as:lhas: -Ofereci -lhe flores. Ofereci-lhas. Dê lembranças a todos os seus.
vos+ o: vo-lo/+ a: vo-la/+ os: vo-los/+ as: vo-las: - Pedi-vos
- Referindo-se a mais de um substantivo, o possessivo
conselho. Pedi vo-lo.
concorda com o mais próximo: Trouxe-me seus livros e
No Brasil, quase não se usam essas combinações (mo, to, anotações.
lho, nolo, vo-lo), são usadas somente em escritores mais - Usam-se elegantemente certos pronomes oblíquos: me,
sofisticados. te, lhe, nos, vos, com o valor de possessivos. Vou seguir-lhe
os passos. (os seus passos)
Pronomes de Tratamento - Deve-se observar as correlações entre os pronomes pes-
São usados no trato com as pessoas. soais e possessivos. “Sendo hoje o dia do teu aniversário,
apresso-me em apresentar-te os meus sinceros parabéns;
Dependendo da pessoa a quem nos dirigimos, do seu car-
Peço a Deus pela tua felicidade; Abraça-te o teu amigo que
go, idade, título, o tratamento será familiar ou cerimonio-
te preza.”
so: Vossa Alteza-V.A.- príncipes, duques; Vossa Eminência-V.
Ema-cardeais; Vossa Excelência-V.Ex.a-altas autoridades, - Não se emprega o pronome possessivo (seu, sua) quando
presidente, oficiais; Vossa Magnificência-V.Mag.a-reitores de se trata de parte do corpo. Veja: “Um cavaleiro todo vestido
universidades; Vossa Majestade-V.M.-reis, imperadores; Vos- de negro, com um falcão em seu ombro esquerdo e uma
sa Santidade-V.S.-Papa; Vossa Senhoria-V.Sa-tratamento espada em sua, mão”. (usa-se: no ombro; na mão)
cerimonioso.
- São também pronomes de tratamento: o senhor, a senho- Pronomes Demonstrativos
ra, a senhorita, dona, você.
Indicam a posição dos seres designados em relação às
- Doutor não é forma de tratamento, e sim título acadêmico.
pessoas do discurso, situando-os no espaço ou no tempo.
Nas comunicações oficiais devem ser utilizados somente
Apresentam-se em formas variáveis e invariáveis.
dois fechos:
Respeitosamente: para autoridades superiores, inclusive Em relação ao espaço:
para o presidente da República. Este (s), esta (s), isto: indicam o ser ou objeto que está próxi-
Atenciosamente: para autoridades de mesmahierarquia mo da pessoa que fala. Exemplo: Este é o meu primeiro celular,
oude hierarquia inferior. amigos.
- A forma Vossa (Senhoria, Excelência) é empregada quando Esse (s), essa (s), isso: designam a pessoa ou a coisa próxima
se fala com a própria pessoa: Vossa Senhoria não compare- daquela com quem falamos ou para quem escrevemos. Exem-
ceu à reunião dos sem-terra? (falando com a pessoa). plo: Senhor, quanto custa esse pacote de milho?
- A forma Sua (Senhoria, Excelência ) é empregada quando se
Aquele (s), aquela (s), aquilo: indicam o ser ou objeto que está
fala sobre a pessoa: Sua Eminência, o cardeal, viajouparaum
longe de quem fala e da pessoa de quem se fala (3ª pessoa).
Congresso. (falando a respeito do cardeal)
Exemplo: Você pode me emprestar aquele livro de matemática?
- Os pronomes de tratamento com a forma Vossa (Senhoria,
Excelência, Eminência, Majestade), embora indiquem a 2ª Observação
pessoa (com quem se fala), exigem que outros pronomes e Os pronomes “Aquele(s)”, “Aquela(s)” também podem indi-
o verbo sejam usados na 3ª pessoa. Vossa Excelência sabe car afastamento temporal. Exemplos: Aqueles belos tempos
que seus ministros o apoiarão. que não voltam mais.
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Língua Portuguesa
lhante, tal, equivalendo a aquele, aquela, aquilo. O próprio Locuções Pronominais Indefinidas
homem destrói a natureza; Depois de muito procurar, achei
São locuções pronominais indefinidas duas ou mais pala-
o que queria; O professor fez a mesma observação; Estra-
vras que equiva em ao pronome indefinido: cada qual / cada
nhei semelhante coincidência; Tal atitude é inexplicável.
um / quem quer que seja / seja quem for / qualquer um / todo
- para retomar elementos já enunciados, usamos aquele (e aquele que / um ou outro / tal qual (=certo) / tal e, ou qual /
variações) para o elemento que foi referido em 1º Iugar e
este (e variações) para o que foi referido em último lugar. Pronomes Relativos
Pais e mães vieram à festa de encerramento; aqueles, sérios
e orgulhosos, estas, elegantes e risonhas. São aqueles que representam, numa 2ª oração, alguma palavra
que já apareceu na oração anterior. Essa palavra da oração an-
- dependendo do contexto os demonstrativos também ser-
terior chama-se antecedente: Comprei um carro que é movido
vem como palavras de função intensificadora ou deprecia-
a álcool e à gasolina. É Flex Power. Percebe-se que o pronome
tiva. Júlia fez o exercício com aquela calma! (=expressão
relativo que, substitui na 2ª oração, o carro, por isso a palavra
intensificadora). Não se preocupe; aquilo é uma tranqueira!
que é um pronome relativo. Dica: substituir que por o, a, os, as,
(=expressão depreciativa)
qual / quais.
- as formas nisso e nisto podem ser usadas com valor de en-
tão ou nesse momento. A festa estava desanimada; nisso, a Os pronomes relativos estão divididos em variáveis e
orquestra tocou um samba e todos caíram na dança. invariáveis.
- os demonstrativos esse, essa, são usados para destacar um Variáveis: o qual, os quais, a qual, as quais, cujo, cujos, cuja,
elemento anteriormente expresso. cujas, quanto, quantos;
- Ninguém ligou para o incidente, mas os pais, esses resolve-
Invariáveis: que, quem, quando, como, onde.
ram tirar tudo a limpo.
Emprego dos Pronomes Relativos
Pronomes Indefinidos - O relativo que, por ser o mais usado, é chamado de relativo
São aqueles que se referem à 3ª pessoa do discurso de universal. Ele pode ser empregado com referência à pessoa
modo vago indefinido, impreciso: Alguém disse que Paulo ou coisa, no plural ou no singular: Este é o CD novo que
César seria o vencedor. Alguns desses pronomes são variáveis acabei de comprar; João Adolfo é o cara que pedi a Deus.
em gênero e número; outros são invariáveis. - O relativo que pode ter por seu antecedente o pronome
demonstrativo o, a, os, as: Não entendi o que você quis
Variáveis: algum, nenhum, todo, outro, muito, pouco, certo,
dizer. (o que = aquilo que).
vários, tanto, quanto, um, bastante, qualquer.
- O relativo quem refere se a pessoa e vem sempre prece-
Invariáveis: alguém, ninguém, tudo, outrem, algo, quem, nada, dido de preposição: Marco Aurélio é o advogado a quem
cada, mais, menos, demais. eu me referi.
Emprego dos Pronomes Indefinidos - O relativo cujo e suas flexões equivalem a de que, do qual,
de quem e estabelecem relação de posse entre o antece-
Não sei de pessoa alguma capaz de convencê-lo. (alguma, dente e o termo seguinte. (cujo, vem sempre entre dois
equivale a nenhum) substantivos)
- Em frases de sentido negativo, nenhum (e variações) equi- - O pronome relativo pode vir sem antecedente claro, explíci-
vale ao pronome indefinido um: Fiquei sabendo que ele não to; é classificado, portanto, como relativo indefinido, e não
é nenhum ignorante. vem precedido de preposição: Quem casa quer casa; Feliz o
- O indefinido cada deve sempre vir acompanhado de homem cujo objetivo é a honestidade; Estas são as pessoas
um substantivo ou numeral, nunca sozinho: Ganharam de cujos nomes nunca vou me esquecer.
cem dólares cada um. (inadequado: Ganharam cem dólares - Só se usa o relativo cujo quando o conseqüente é dife-
cada.) rente do antecedente: O escritor cujo livro te falei é pau-
- Colocados depois do substantivo, os pronomes algum/algu- lista.
ma ganham sentido negativo. Este ano, funcionário público - O pronome cujo não admite artigo nem antes nem depois
algum terá aumento digno. de si.
- Colocados antes do substantivo, os pronomes algum/algu- - O relativo onde é usado para indicar lugar e equivale a:
ma ganham sentido positivo. Devemos sempre ter alguma em que, no qual: Desconheço o lugar onde vende tudo mais
esperança. barato. (= lugar em que)
- Certo, certa, certos, certas, vários, várias, são indefini- - Quanto, quantos e quantas são relativos quando usados
dos quando colocados antes do substantivo e adjetivos, depois de tudo, todos, tanto: Naquele momento, a querida
quando colocados depois do substantivo: Certo dia perdi comadre Naldete, falou tudo quanto sabia.
o controle da situação. (antes do substantivo= indefinido);
Eles voltarão no dia certo. (depois do substantivo=adjetivo). Pronomes Interrogativos
- Todo, toda (somente no singular) sem artigo, equivale a
São os pronomes em frases ínterrogativas diretas ou in-
qualquer: Todo ser nasce chorando. (=qualquer ser; indeter-
diretas. Os principais interrogativos são: que, quem, qual,
mina, generaliza).
quanto:
- Outrem significa outra pessoa: Nunca se sabe o pensa-
- Afinal, quem foram os prefeitos desta cidade? (interrogativa
mento de outrem.
direta, com o ponto de interrogação)
- Qualquer, plural quaisquer: Fazemos quaisquer negócios.
- Gostaria de saber quem foram os prefeitos desta cidade.
(interrogativa indireta, sem a interrogação)
59
Língua Portuguesa
Os Emirados Árabes estão investindo em fontes energéticas re- 6. 06. (MPE-RS - Agente Administrativo – MPE-RS/2016)
nováveis. Não vão substituir o petróleo, que eles têm de sobra Assinale a alternativa que preenche correta e respectivamente
por mais 100 anos pelo menos. O que pretendem é diversificar as lacunas dos enunciados abaixo.
e poluir menos. Uma aposta no futuro. 1. Quanto ao pedido do Senhor Secretário, a secretaria
A preocupação com o planeta levou Abu Dhabi a tirar do papel deverá __ que ainda não há disponibilidade de recursos.
a cidade sustentável de Masdar. Dez por cento do planejado 2. Apesar de o regimento não exigir uma sindicância neste
está pronto. Um traçado urbanístico ousado, que deixa os car- tipo de situação, a gravidade da ocorrência __, sem dúvida.
ros de fora. Lá só se anda a pé ou de bicicleta. As ruas são bem 3. Embora os novos artigos limitem o alcance da lei, eles não __.
estreitas para que um prédio faça sombra no outro. É perfeito d) informar-lhe – a justificaria – revogam-na
para o deserto. Os revestimentos das paredes isolam o calor. e) informar-lhe – justificá-la-ia – a revogam
E a direção dos ventos foi estudada para criar corredores de f) informá-lo – justificar-lhe-ia – a revogam
brisa. g) informá-lo – a justificaria – lhe revogam
(Adaptado de: “Abu Dhabi constrói cidade do futuro, com tudo movido a energia
h) informar-lhe – justificá-la-ia – revogam-na
solar”. Disponível em:http://g1.globo.com/globoreporter/noticia/2016/04/abu-
-dhabi-constroi-cidade-do-futuro-com-tudo-movido-energia-solar.html) Respostas
Considere as seguintes passagens do texto: 1. Resposta C
I. E foi exatamente por causa da temperatura que foi cons- a) Finalmente aprovaram o decreto que lutamos tanto por ele.
truída em Abu Dhabi uma das maiores usinas de energia Quem luta, luta por algo.
solar do mundo. (1º parágrafo)
II. INão vão substituir o petróleo, que eles têm de sobra por Forma correta: Finalmente aprovaram o decreto pelo qual lu-
mais 100 anos pelo menos. (2º parágrafo) tamos tanto.
III. Um traçado urbanístico ousado, que deixa os carros de b) Nas próximas férias, minha meta é fazer tudo que tenho
fora. (3º parágrafo) direito. Tem direito a algo.
IV. As ruas são bem estreitas para que um prédio faça sombra Forma correta: Nas próximas férias, minha meta é fazer tudo
no outro. (3º parágrafo) a que tenho direito.
O termo “que” é pronome e pode ser substituído por “o qual” c) (GABARITO) Eu aprovaria o texto daquele parecer que o
APENAS em relator apresentou ontem. Apresentar: VTD.
e) I e II. d) Existe um escritor brasileiro que todos os brasileiros nos
f) II e III. orgulhamos. Orgulhar de algo ou de alguém.
g) I, II e IV. Forma correta: Existe um escritor brasileiro do qual todos os
h) I e IV. brasileiros nos orgulhamos.
i) III e IV. e) Na política, às vezes acontecem traições onde mostram
3. (Pref. de Itaquitinga/PE - Assistente Administrativo – muita sordidez.
IDHTEC/2016) Onde é usado para substituir termos que contenham a noção
O emprego do pronome “aquela” na charge: de lugar. Nesse caso não deveria ser usado onde e sim as
a) Dá uma conotação irônica à frase. quais, concordando com traições.
b) Representa uma forma indireta de se dirigir ao casal. Forma correta: Na política, às vezes acontecem traições as
c) Permite situar no espaço aquilo a que se refere. quais mostram muita sordidez.
d) Indica posse do falante.
e) Evita a repetição do verbo. 2. Resposta B
QUE = o qual(s) a qual(s), é pronome relativo.
60
Língua Portuguesa
I. E foi justamente por causa da temperatura O QUAL foi Verbo é a palavra que indica ação, movimento, fenômenos da
construída... (errado, a temperatura A qual) natureza, estado, mudança de estado. Flexiona-se em número
II. Não vão substituir o petróleo, O QUAL eles têm de sobra... (singular e plural), pessoa (primeira, segunda e terceira), modo
(certo, o petróleo tem de sobra, o qual) (indicativo, subjuntivo e imperativo, formas nominais: gerún-
III. Um traçado urbanístico ousado, O QUAL deixa os carros... dio, infinitivo e particípio), tempo (presente, passado e futuro) e
(certo, o traçado deixa os carros, o qual) apresenta voz (ativa, passiva, reflexiva).
IV. As ruas são bem estreitas para ISSO (Conjunção inte-
De acordo com a vogal temática, os verbos estão agrupa-
grante).
dos em três conjugações:
3. Resposta C
1ª conjugação – ar: cantar, dançar, pular.
“O pronome demonstrativo é utilizado em três situações. Pode
2ª conjugação – er: beber, correr, entreter.
se referir a espaço, ideias ou elementos”.
3ª conjugação – ir: partir, rir, abrir.
Exemplos de pronomes demonstrativos:
O verbo pôr e seus derivados (repor, depor, dispor, compor,
Primeira pessoa: este, estes, estas (variáveis); isto (invariável).
impor) pertencem a 2ª conjugação devido à sua origem la-
Segunda pessoa: esse, essa, esses, essas (variáveis); isso (in-
tina poer.
variável). Terceira pessoa: aquele, aquela, aquelas (variáveis);
aquilo (invariável).
Elementos Estruturais do Verbo:
4. Resposta E
As formas verbais apresentam três elementos em sua es-
Os pronomes conosco e convosco devem ser substituídos trutura: Radical, Vogal Temática e Tema.
por com nós e com vós, respectivamente, quando apare-
cem seguidos de palavras enfáticas como mesmos, pró- Radical: elemento mórfico (morfema) que concentra o signi-
prios, todos, outros, ambos, ou de numeral: ficado essencial do verbo. Observe as formas verbais da 1ª
conjugação: contar, esperar, brincar. Flexionando esses ver-
O diretor implicou com nós dois. bos, nota-se que há uma parte que não muda, e que nela está
Senhores deputados, quero falar com vós mesmos. o significado real do verbo.
O pronome regido pela preposição entre deve aparecer na for- cont é o radical do verbo contar; esper é o radical do verbo
ma oblíqua. Assim, é correto dizer entre mim e ele, entre ela e esperar; brinc é o radical do verbo brincar.
ti, entre mim e ti. Os pronomes pessoais do caso oblíquo Se tiramos as terminações ar, er, ir do infinitivo dos verbos,
funcionam como complementos: Isso não convém a mim, Fo- teremos o radical desses verbos. Também podemos antepor
ram embora sem ti, Olhou para mim. Os pronomes pessoais do prefixos ao radical: des nutr ir / re conduz ir.
caso reto exercem a função de sujeito na oração. Dessa forma,
os pronomes eu e tu estão empregados corretamente nos se- Vogal Temática: é o elemento mórfico que designa a qual
conjugação pertence o verbo. Há três vogais temáticas: 1ª
guintes casos: Pediu que eu fizesse as compras, Saberão só
conjugação: a; 2ª conjugação: e; 3ª conjugação: i.
quando tu partires, Trouxeram o documento para eu assinar.
Tema: é o elemento constituído pelo radical mais a vogal
5. Resposta D
temática: contar: -cont (radical) + a (vogal temática) = tema.
a) Esqueci - me de te contar que vi ele na rua. - Estaria COR-
Se não houver a vogal temática, o tema será apenas o radical:
RETO
contei = cont ei.
b) Nunca SE pode falar mal de quem não conhece-se. Estaria
CORRETO Desinências: são elementos que se juntam ao radical, ou ao
c) Esta situação se-refere a assuntos empresariais. ERRADO! tema, para indicar as flexões de modo e tempo, desinências
d) Esta situação REFERE-SE a assuntos empresariais. Estaria modo temporais e desinências número pessoais.
CORRETO!
Contávamos
e) Precisa-se de bons funcionários. A colocação do pronome
está correta de acordo com a regra. Cont = radical
6. Resposta B a = vogal temática
1. Quanto ao pedido do Senhor Secretário, a secretaria de-
va = desinência modo temporal
verá INFORMAR-LHE que ainda não há disponibilidade de
recursos. O pronome LHE caracteriza um objeto indireto, mos = desinência número pessoal
que no caso é o Senhor Secretário; o objeto direto é:”que
ainda não há disponibilidade de recursos”. Flexões Verbais:
2. Apesar de o regimento não exigir uma sindicância
neste tipo de situação, a gravidade da ocorrência JUS- Flexão de número e de pessoa: o verbo varia para indicar o
TIFICÁ-LA-IA, sem dúvida. Se o verbo estiver no futuro do número e a pessoa.
presente ou no futuro do pretérito, ocorrerá a mesóclise, - eu estudo – 1ª pessoa do singular;
desde que não haja palavra atrativa Ex: “a gravidade da
ocorrência NÃO A justificaria”. - nós estudamos – 1ª pessoa do plural;
3. Embora os novos artigos limitem o alcance da lei, eles não - tu estudas – 2ª pessoa do singular;
A revogam. O advérbio de negação NÃO atrai o pronome
oblíquo A causando uma próclise. - vós estudais – 2ª pessoa do plural;
- ele estuda – 3ª pessoa do singular;
61
Língua Portuguesa
Pretérito Perfeito: É usado na indicação de um fato passado Pretérito Mais- partira, partiras, partira, partíramos,
concluído. Ex.: Cantei, dancei, pulei, chorei, dormi... Que-Perfeito partíreis, partiram.
Pretérito Mais-Que-Perfeito: Expressa um fato passado ante- Futuro do partirei, partirás, partirá, partiremos,
rior a outro acontecimento passado. Ex.: Nós cantáramos no Presente partireis, partirão.
congresso de música.
Futuro do Pretérito partiria, partirias, partiria, partiría-
Futuro do Presente: Na indicação de um fato realizado num mos, partiríeis, partiriam.
instante posterior ao que se fala. Ex.: Cantarei domingo no coro
da igreja matriz.
Futuro do Pretérito: Para expressar um acontecimento pos-
Emprego dos Tempos do Subjuntivo
terior a um outro acontecimento passado. Ex.: Compraria um
Presente: é empregado para indicar um fato incerto ou du-
carro se tivesse dinheiro
vidoso, muitas vezes ligados ao desejo, à suposição: Du-
vido de que apurem os fatos; Que surjam novos e honestos
políticos.
Pretérito Imperfeito: é empregado para indicar uma
condição ou hipótese: Se recebesse o prêmio, voltaria à
universidade.
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Língua Portuguesa
Por exemplo:
- Queremos acordar bem cedo amanhã.
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Língua Portuguesa
- Eles não podiam reclamar do colégio. irem primeiro; O bom é sempre lembrarmos desta regra (su-
- Vamos pensar no seu caso. jeito desinencial, sujeito implícito = nós).
- Quando tiver sujeito diferente daquele da oração principal;
Quando o sujeito do infinitivo é o mesmo do verbo da oração
Por exemplo: O professor deu um prazo de cinco dias para
anterior;
os alunos estudarem bastante para a prova; Perdoo-te por
Por exemplo: me traíres; O hotel preparou tudo para os turistas ficarem
- Eles foram condenados a pagar pesadas multas. à vontade; O guarda fez sinal para os motoristas pararem.
- Devemos sorrir ao invés de chorar. - Quando se quiser indeterminar o sujeito (utilizado na tercei-
ra pessoa do plural); Por exemplo: Faço isso para não me
- Tenho ainda alguns livros por (para) publicar.
acharem inútil; Temos de agir assim para nos promoverem;
Quando o infinitivo preposicionado, ou não, preceder ou estiver Ela não sai sozinha à noite a fim de não falarem mal da sua
distante do verbo da oração principal (verbo regente), pode ser conduta.
flexionado para melhor clareza do período e também para se - Quando apresentar reciprocidade ou reflexibilidade de ação;
enfatizar o sujeito (agente) da ação verbal. Por exemplo: Por exemplo: Vi os alunos abraçarem- se alegremente; Fi-
- Na esperança de sermos atendidos, muito lhe agradecemos. zemos os adversários cumprimentarem-se com gentileza;
- Foram dois amigos à casa de outro, a fim de jogarem futebol. Mandei as meninas olharem-se no espelho.
- Para estudarmos, estaremos sempre dispostos. Como se pode observar, a escolha do Infinitivo Flexionado é
- Antes de nascerem, já estão condenadas à fome muitas feita sempre que se quer enfatizar o agente (sujeito) da ação
crianças. expressa pelo verbo.
- Se o infinitivo de um verbo for escrito com “j”, esse “j” apa-
Com os verbos causativos “deixar”, “mandar” e “fazer” e seus
recerá em todas as outras formas.
sinônimos que não formam locução verbal com o infinitivo que
os segue; Por exemplo: Deixei-os sair cedo hoje. Por exemplo:
Com os verbos sensitivos “ver”, “ouvir”, “sentir” e sinônimos, Enferrujar: enferrujou, enferrujaria, enferrujem, enferrujarão,
deve-se também deixar o infinitivo sem flexão. Por exemplo: enferrujassem, etc. (Lembre-se, contudo, que o substantivo
Vi-os entrar atrasados; Ouvi-as dizer que não iriam à festa. ferrugem é grafado com “g”.).
É inadequado o emprego da preposição “para” antes dos obje- Viajar: viajou, viajaria, viajem (3ª pessoa do plural do presente
tos diretos de verbos como “pedir”, “dizer”, “falar” e sinônimos; do subjuntivo, não confundir com o substantivo viagem) viaja-
- Pediu para Carlos entrar (errado), rão, viajasses, etc.
- Pediu para que Carlos entrasse (errado). - Quando o verbo tem o infinitivo com “g”, como em “dirigir”
e “agir” este “g” deverá ser trocado por um “j” apenas na
- Pediu que Carlos entrasse (correto).
primeira pessoa do presente do indicativo. Por exemplo: eu
Quando a preposição “para” estiver regendo um verbo, como dirijo/ eu ajo
na oração “Este trabalho é para eu fazer”, - O verbo “parecer” pode relacionar-se de duas maneiras dis-
pede-se o emprego do pronome pessoal “eu”, que se revela, tintas com o infinitivo. Quando “parecer” é verbo auxiliar de
neste caso, como sujeito. Outros exemplos: um outro verbo: Elas parecem mentir. Elas parece mentirem.
Neste exemplo ocorre, na verdade, um período composto.
- Aquele exercício era para eu corrigir.
“Parece” é o verbo de uma oração principal cujo sujeito é a
- Esta salada é para eu comer? oração subordinada substantiva subjetiva reduzida de infini-
- Ela me deu um relógio para eu consertar. tivo “elas mentirem”. Como desdobramento dessa reduzida,
podemos ter a oração “Parece que elas mentem.”
Em orações como “Esta carta é para mim!”, a preposição está
ligada somente ao pronome, que deve se apresentar oblíquo
tônico. Gerúndio
Infinitivo Pessoal
O gerúndio pode funcionar como adjetivo ou advérbio. Por
É o infinitivo relacionado às três pessoas do discurso. exemplo: Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (Função de
advérbio); Nas ruas, havia crianças vendendo doces. (Função
Na 1ª e 3ª pessoas do singular, não apresenta desinências, as-
adjetivo)
sumindo a mesma forma do impessoal; nas demais, flexiona
-se da seguinte maneira: Na forma simples, o gerúndio expressa uma ação em cur-
so; na forma composta, uma ação concluída. Por exemplo:
2ª pessoa do singular: Radical + ES. Ex.: teres (tu) 1ª pessoa
Trabalhando, aprenderás o valor do dinheiro; Tendo trabalhado,
do plural: Radical + mos. Ex.: termos (nós) 2ª pessoa do plural:
aprendeu o valor do dinheiro.
Radical + dês. Ex.: terdes (vós) 3ª pessoa do plural: Radical +
em. Ex.: terem (eles)
Por exemplo: Foste elogiado por teres alcançado uma boa Particípio:
colocação.
Quando não é empregado na formação dos tempos compos-
Quando se diz que um verbo está no infinitivo pessoal, isso tos, o particípio indica geralmente o resultado de uma ação ter-
significa que ele atribui um agente ao processo verbal, minada, flexionando-se em gênero, número e grau. Por exem-
flexionando-se. plo: Terminados os exames, os candidatos saíram. Quando o
O infinitivo deve ser flexionado nos seguintes casos: particípio exprime somente estado, sem nenhuma relação tem-
poral, assume verdadeiramente a função de adjetivo (adjetivo
- Quando o sujeito da oração estiver claramente expresso; verbal). Por exemplo: Ela foi a aluna escolhida para representar
Por exemplo: Se tu não perceberes isto...; Convém vocês a escola.
64
Língua Portuguesa
NÓS somos éramos fomos temos sido EU ------ ------ Por ser eu
VÓS sois éreis fostes tendes sido TU Sê tu Não sejas tu Por seres tu
ELES são eram foram têm sido ELE Seja ele Não sejas ele Por ser ele
NÓS Sejamos nós Não sejamos nós Por sermos nós
Pret.Mais que Pret. Mais que Perfeito
Perfeito Simples Composto VÓS Sedes vós Não sejais vós Por serdes vós
EU fora tinha sido ELES Sejam eles Não sejam eles Por serem eles
65
Língua Portuguesa
ELES estão estavam estiveram têm estado ELES Quando eles estiverem Quando eles tiverem estado
Imperativo
Pret. Pret. Mais Futuro do Futuro do
Mais que que Perfeito Presente Presente
Perfeito Composto Simples Composto Imperativo Imperativo Infinitivo
Simples Afirmativo Negativo Pessoal
EU estivera tinha estado estarei terei estado
EU ----- ------ Por estar eu
TU estiveras tinhas estarás terás estado
estado
TU está tu Não estejas tu Por estares tu
ELE estivera tinha estado estará terá estado ELE esteja ele Não esteja ele Por estar ele
NÓS estivéra- tínhamos estaremos teremos NÓS estejamos Não estejamos Por estarmos nós
mos estado estado nós nós
VÓS estivéreis tínheis estareis tereis estado VÓS estai vós Não estejais vós Por estardes vós
estado
ELES estejam eles Não estejam eles Por estarem eles
ELES estiveram tinham estarão terão estado
estado
Formas Nominais
Infinitivo: estar
Futuro do Pret. Simples Futuro do Pret. Composto
Gerúndio: estando
EU estaria teria estado Particípio: estado
66
Língua Portuguesa
HAVER
Futuro do Pret. Simples Futuro do Pret. Composto
Modo Indicativo
EU teria teria tido
Presente Pretérito Pretérito Pretérito
TU terias terias tido Imperfeito Perf. Perf.
Simples Composto
ELE teria teria tido
EU hei havia houve tenho havido
NÓS teríamos teríamos tido
TU hás havias houveste tens havido
VÓS teríeis teríeis tido
ELE há havia houve tem havido
ELES teriam teriam tido
NÓS havemos havíamos houvemos temos
Modo Subjuntivoi havido
NÓS Que nós Se nós Se nós tivésse- TU houveras tinhas haverás terás havido
tenhamos tivéssemos mos tido havido
VÓS Que vós tenhais Se vós tivésseis Se vós tivésseis ELE houvera tinha havido haverá terá havido
tido
NÓS houvéra- tínhamos haveremos teremos
ELES Que eles tenham Se eles Se eles tivessem mos havido havido
tivessem tido
VÓS houvéreis tínheis havereis tereis havido
havido
Futuro Simples Futuro Composto ELES houveram tinham haverão terão havido
havido
EU Quando eu tiver Quando eu tiver tido
TU Quando tu tiveres Quando tu tiveres tido Futuro do Pret. Simples Futuro do Pret. Composto
ELE Quando ele tiver Quando ele tiver tido
EU haveria teria havido
NÓS Quando nós tivermos Quando nós tivermos tido
TU haverias terias havido
VÓS Quando vós tiverdes Quando vós tiverdes tido
ELE haveria teria havido
ELES Quando eles tiverem Quando eles tiverem tido
NÓS haveríamos teríamos havido
Modo Imperativo
VÓS haveríeis teríeis havido
NÓS tenhamos Não tenhamos Por termos nós EU Que eu haja Se eu houvesse Se eu tivesse
nós nós havido
VÓS tende vós Não tenhais vós Por terdes vós TU Que tu hajas Se tu houvesses Se tu tivesses
havido
ELES tenham eles Não tenham eles Por terem eles
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Língua Portuguesa
ELES Que eles hajam Se eles Se eles tivessem Presente Pretérito Pretérito Pretérito
Imperfeito Perfeito Perfeito
houvessem havido
EU vou ia fui fora
TU Quando tu houveres Quando tu tiveres havido NÓS vamos íamos fomos fôramos
ELE Quando ele houver Quando ele tiver havido VÓS ides íeis fostes fôreis
NÓS Quando nós houvermos Quando nós tivermos havido ELES vão iam foram foram
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Língua Portuguesa
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Língua Portuguesa
les Bianchi bateu com seu carro em um trator durante um GP, Respostas
aquaplanou e não conseguiu para evitar o choque.
1. Resposta D
(http://espn.uol.com.br/noticia/603278_pai-diz-que-pilotos-da-f-1-temmedo-de-
-falar-a-verdade-sobre-o-acidente-fatal-de-bianchi) Nesse tipo de questão é necessário fazer a concordância entre
o tempo verbal dos verbos presentes na frase.
Complete com a sequência de verbos que está no tempo,
a) Não seria de se esperar que todas as músicas ALCAN-
modo e pessoa corretos:
ÇASSEM igual repercussão onde quer que se produzis-
a) Tem – tem – vem - freiar
sem. (alcançassem - produzissem)
b) Tem – tiveram – vieram - frear
b) Se todos os povos frequentassem a mesma linguagem
c) Teve – tinham – vinham – frenar
musical, a universalidade de sentido SERIA indiscutível.
d) Teve – tem – veem – freiar
(frequentassem - seria)
e) Teve – têm – vêm – frear
c) A cada vez que se propaga em escala industrial, a música
3. (Prefeitura de Florianópolis/SC - Auxiliar de Sala – FE- PODE se transformar num fetiche do mercado. (propaga
PESE/2016) - pode)
d) As diferentes manifestações musicais trariam consigo lin-
Assinale a alternativa em que está correta a correlação entre os
guagens que se MARCARIAM como particulares. (trariam
tempos e os modos verbais nas frases abaixo.
- marcariam)
a) A entonação correta ao falarmos colabora com o entendi-
mento que o outro tem do assunto tratado e reforçaria a 2. Resposta E
nossa persuasão.
Teve - Pretérito perfeito do indicativo Têm - Presente do
b) Para falar bem em público, organize as ideias de acordo
Indicativo
com o tempo que você terá e, antes de falar, ensaie sua
apresentação. Vêm - ( verbo vir) – Presente do Indicativo Frear - Infinitivo
c) A capacidade de os adolescentes virem a falar em público,
3. Resposta B
teria dependido dos bons ensinamentos da escola.
a) A entonação correta ao falarmos colabora com o entendi-
d) Quem vier a comparar a fala dos jovens de hoje com os
mento que o outro tem do assunto tratado e REFORÇA a
da geração passada, haveria de concluir que os jovens de
nossa persuasão. Errada.
hoje leem muito menos.
b) Para falar bem em público, organize as ideias de acordo
e) O contato visual também é importante ao falar em público.
com o tempo que você terá e, antes de falar, ensaie sua
Passa empatia e envolveria o outro.
apresentação. Gabarito
4. (Pref. de Caucaia/CE - Agente de Suporte a Fiscaliza- c) A capacidade de os adolescentes virem a falar em público,
ção – CETREDE/2016) TEM dependido dos bons ensinamentos da escola. Errado.
d) Quem vier a comparar a fala dos jovens de hoje com os da
Em “Conheço uma moça... Se alguém contasse sua história,
geração passada, HAVERÁ de concluir que os jovens de
fariam como o senhor...” há verbos empregados respectiva-
hoje leem muito menos. Errada.
mente no presente do indicativo, no
e) O contato visual também é importante ao falar em público.
a) pretérito imperfeito do subjuntivo, no futuro do pretérito do
Passa empatia e ENVOLVE o outro. Errada.
indicativo.
b) pretérito imperfeito do indicativo, no futuro do pretérito do 4. Resposta A
indicativo.
contasse - indica modo pretérito imperfeito do subjuntivo
c) futuro do pretérito do indicativo, no pretérito imperfeito do
subjuntivo. fariam - indica modo futuro do pretérito do indicativo.
d) futuro do pretérito do indicativo, no pretérito imperfeito do
5. Certo
indicativo.
e) futuro do pretérito do subjuntivo, no pretérito imperfeito do O pretérito perfeito consiste num processo verbal que exprime
subjuntivo. um fato passado não habitual; ao passo que o imperfeito expri-
me um fato habitual, rotineiro. A título de ilustração, analisemos:
5. (MPE-SC - Promotor de Justiça – Vespertina – MPE-
-SC/2016) Sempre que a encontrava revivia os bons tempos. (pretérito im-
perfeito) Sempre que a encontrei revivi os bons tempos. (pre-
“Desde as primeiras viagens ao Atlântico Sul, os navegado-
térito perfeito)
res europeus reconheceram a importância dos portos de São
Francisco, Ilha de Santa Catarina e Laguna, para as “estações O pretérito perfeito, diferenciando-se do imperfeito, indica a
da aguada” de suas embarcações. À época, os navios eram ação momentânea, determinada no tempo.
impulsionados a vela, com pequeno calado e autonomia de
Já o imperfeito expressa uma ação durativa, não limitada no
navegação limitada. Assim, esses portos eram de grande im-
tempo.
portância, especialmente para os navegadores que se dirigiam
para o Rio da Prata ou para o Pacífico, através do Estreito de Assim, no intento de constatarmos tais diferenças, atentemo-
Magalhães.” -nos aos exemplos que seguem:
(Adaptado de SANTOS, Sílvio Coelho dos. Nova História de Colocava em prática todo o aprendizado que adquiria median-
Santa Catarina. Florianópolis: edição do Autor, 1977, p. 43.) te as aulas a que assistia. (pretérito imperfeito)
Em “os navegadores europeus reconheceram” a forma verbal Colocou em prática todo o aprendizado que adquiriu mediante
encontra-se no pretérito perfeito do indicativo, tempo que in- as aulas a que assistiu. (pretérito perfeito)
dica ação ocorrida e concluída em determinado momento do
passado.
( ) Certo ( ) Errado
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Superioridade
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Língua Portuguesa
- Na locução adverbial a olhos vistos (=claramente), o par- mais gélido será o gabinete da autoridade. Mas a maneira de
ticípio permanece no masculino plural: Minha irmã Zuleide conquistar esse conforto térmico tende a ser equivocada.
emagrecia a olhos vistos.
Estive em um hotel do Nordeste amplamente servido pela agra-
- Dois ou mais advérbios terminados em mente, apenas dável brisa do mar e cuja propaganda é ser “ecológico”. No
no último permanece mente: Educada e pacientemente, entanto, é ar condicionado dia e noite, pois a arquitetura não
falei a todos. permite a circulação natural do ar. Pior, como na maioria das
- A repetição de um mesmo advérbio assume o valor su- nossas edificações, o isolamento é péssimo. Um minuto des-
perlativo: Levantei cedo, cedo. ligado, e quase sufocamos de calor. Uma parede comum de
alvenaria tem um décimo da resistência térmica recomendada
pela Comunidade Europeia. E do excesso de vidros, nem falar!
Questões
A terceira é uma birra pessoal, já que minha profissão me leva a
1. Assinale a frase em que meio funciona como advérbio: falar em público. Os arquitetos não descobriram que o Power-
a) Só quero meio quilo. Point requer uma sala que escureça e uma iluminação que não
b) Achei-o meio triste. vaze na tela. Sem isso, ou a projeção fica esmaecida ou, se é
c) Descobri o meio de acertar. apagada a luz, do professor só se vê o vulto. A solução é ridi-
d) Parou no meio da rua. culamente simples: um spot no conferencista.
e) Comprou um metro e meio.
E assim vamos, aos encontrões com o desconforto, em recor-
2. Só não há advérbio em: rente zigue-zague.
a) Não o quero. (CASTRO, Cláudio de Moura. Veja, 11/02/2015,p.18,fragmento)
b) Ali está o material.
c) Tudo está correto. Qual o advérbio ou expressão adverbial que marca a aprecia-
d) Talvez ele fale. ção do autor sobre o conteúdo da oração?
e) Já cheguei. a) Até o meio século passado (3º§).
b) Hoje (3º§).
3. Qual das frases abaixo possui advérbio de modo? c) Assim (6º§).
a) Realmente ela errou. d) Ridiculamente (5º§).
b) Antigamente era mais pacato o mundo. e) Em muitos (2º§).
c) Lá está teu primo.
d) Ela fala bem. 6. (MPE-SC - Promotor de Justiça – Vespertina – MPE-
e) Estava bem cansado. -SC/2016)
4. Classifique a locução adverbial que aparece em “Ma- “A Família Schürmann, de navegadores brasileiros, chegou ao
chucou-se com a lâmina”. ponto mais distante da Expedição Oriente, a cidade de Xangai,
a) modo na China. Depois de 30 anos de longas navegações, essa é
b) instrumento a primeira vez que os Schürmann aportam em solo chinês. A
c) causa negociação para ter a autorização do país começou há mais de
d) concessão três anos, quando a expedição estava em fase de planejamen-
e) fim to. Essa também é a primeira vez que um veleiro brasileiro re-
cebe autorização para aportar em solo chinês, de acordo com
5. (UFCG - Administrador – UFCG/2016) as autoridades do país.”
Os zigue-zagues do conforto (http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/03/bfamilia-schurmannb-navega-pe-
la-primeira-vez-na-antartica.html)
Hoje, a ideologia do conforto varreu nossa sociedade. É um
Em “Essa também é a primeira vez” há ideia de inclusão.
grande motor da publicidade e do consumismo. Contudo,
o avanço não é linear, havendo atrasos técnicos e retroces- ( ) Certo ( ) Errado
sos. Em três áreas enguiçadas, o conforto e desconforto se
embaralham. Respostas
A primeira é o conforto acústico. Raras salas de aula oferecem 1. Resposta B
um mínimo de condições. Padecem os professores, pois só
berrando podem ser ouvidos. Uma conversa tranquila é impos- Alternativa A: meio quilo = quantidade
sível na maioria dos restaurantes. Em muitos, não pode haver Alternativa B (correta): meio triste = advérbio de intensidade
conversa de espécie alguma. O bê-á-bá do tratamento acústi-
co é trivial. Por que temos de ser torturados por tantos decibéis Alternativa C: descobri o meio = jeito, maneira
malvados? Alternativa D: meio da rua = metade
A segunda é o conforto térmico. Quem gosta de sentir frio ou Alternativa E: um metro e meio = quantidade
calor? Na verdade, não se trata de gostar, mas de ser atropela-
do por imperativos culturais. Por não precisarem se impor pela 2. Reposta C
vestimenta, oficiais britânicos usavam bermudas e camisas de Alternativa A: Não – advérbio de negação
mangas curtas nos trópicos. Mas no Rio de Janeiro, a aristo-
cracia do Segundo Império não saía de casa sem terno, colete Alternativa B: Ali – advérbio de lugar
e sobrecasaca, todos de espessa casimira inglesa. E mais: gra- Alternativa D:Talvez – advérvio de dúvida Alternativa E: Já –
vata, camisa de peito duro, cartola e luvas. E se assim fazia a advérbio de tempo
nobreza, o povaréu tentava imitar. Até o meio século passado,
as elegantes usavam casaco de pele na capital. Hoje, a moda 3. Resposta D
deu cambalhota, o chique é sentir frio. Quanto mais importante, Alternativa A: Realmente – advérbio de afirmação
Alternativa B: Antigamente – advérbio de tempo
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Perante (posição anterior): Permaneceu calado perante todos. 5. Classifique a palavra como nas construções seguintes,
numerando, convenientemente, os parênteses. A se-
Por (percurso, espaço, lugar): Caminhava por ruas desconheci-
guir, assinale a alternativa correta:
das. causa: Por ser muito caro, não compramos um DVD novo.
1. Preposição
espaço: Por cima dela havia um raio de luz.
2. Conjunção Subordinativa Causal
Sem (ausência): Eu vou sem lenço sem documento. 3. Conjunção Subordinativa Conformativa
4. Conjunção Coordenativa Aditiva
Sob (debaixo de / situação): Prefiro cavalgar sob o luar. Viveu,
5. Advérbio Interrogativo de Modo
sob pressão dos pais.
( ) Perguntamos como chegaste aqui.
Sobre (em cima de, com contato): Colocou ás taças de cristal
sobre a toalha rendada. assunto: Conversávamos sobre políti- ( ) Percorrera as salas como eu mandara.
ca financeira.
( ) Tinha-o como amigo.
Trás (situação posterior; é preposição fora de uso. É substituí-
( ) Como estivesse muito frio, fiquei em casa.
da por atrás de, depois de): Por trás desta carinha vê-se muita
falsidade. ( ) Tanto ele como o irmão são meus amigos.
Curiosidade: O símbolo @ (arroba) significa AT em Inglês, a) 2-4-5-3–1
que em Português significa em. Portanto, o nome está at, b) 4 -5 - 3 - 1 – 2
em algum provedor. c) 5-3-1-2–4
d) 3-1-2-4–5
e) 1-2-4-5-3
Questões
Respostas
1. Assinale a alternativa em que a preposição destacada
estabeleça o mesmo tipo de relação que na frase ma- 1. Resposta C
triz: Criaram-se a pão e água. Na frase matriz, a preposição “a” estabelece a ideia de instru-
a) Desejo todo o bem a você. mento, ou seja, daquilo que foi usado para que se praticasse
b) A julgar por esses dados, tudo está perdido. uma ação.
c) Feriram-me a pauladas.
d) Andou a colher alguns frutos do mar. Na alternativa C, a preposição “a” estabelece o mesmo tipo de
e) Ao entardecer, estarei aí. relação.
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9.
- Termos Integrantes da Oração: Complemento Nominal
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- apresentar-se como elemento determinante em relação ao Vossa Excelência agiu com imparcialidade.
predicado;
Isto não me agrada.
- constituir-se de um substantivo, ou pronome substantivo ou,
ainda, qualquer palavra substantivada. O núcleo (isto é, a palavra base) do sujeito é, pois, um substan-
tivo ou pronome. Em torno do núcleo podem aparecer palavras
Exemplos: secundárias (artigos, adjetivos, locuções adjetivas, etc.).
A padaria está fechada hoje. Exemplo: “Todos os ligeiros rumores da mata tinham uma voz
está fechada hoje: predicado nominal fechada: nome adjetivo para a selvagem filha do sertão.” (Joséde Alencar)
= núcleo do predicado a padaria: sujeito padaria: núcleo do O sujeito pode ser:
sujeito - nome feminino singular
Simples: quando tem um só núcleo: As rosas têm espi-
Nós mentimos sobre nossa idade para você. nhos; “Um bando de galinhas-d’angola atravessa a rua em fila
mentimos sobre nossa idade para você: predicado verbal men- indiana.”
timos: verbo = núcleo do predicado nós: sujeito Composto: quando tem mais de um núcleo: “O burro e o
cavalo nadavam ao lado da canoa.”
No interior de uma sentença, o sujeito é o termo determinan-
te, ao passo que o predicado é o termo determinado. Essa Expresso: quando está explícito, enunciado: Eu viajarei
posição de determinante do sujeito em relação ao predicado amanhã.
adquire sentido com o fato de ser possível, na língua portugue-
Oculto (ou elíptico): quando está implícito, isto é, quando não
sa, uma sentença sem sujeito, mas nunca uma sentença sem
está expresso, mas se deduz do contexto: Viajarei amanhã. (su-
predicado.
jeito: eu, que se deduz da desinência do verbo); “Um soldado
Exemplos: saltou para a calçada e aproximou-se.” (o sujeito, soldado, está
expresso na primeira oração e elíptico na segunda: e (ele) apro-
As formigas invadiram minha casa.
ximou-se.); Crianças, guardem os brinquedos. (sujeito: vocês)
as formigas: sujeito = termo determinante Agente: se faz a ação expressa pelo verbo da voz ativa: O
invadiram minha casa: predicado = termo determinado Nilo fertiliza o Egito.
Há formigas na minha casa. Paciente: quando sofre ou recebe os efeitos da ação ex-
pressa pelo verbo passivo: O criminoso é atormentado pelo
há formigas na minha casa: predicado = termo determinado remorso; Muitos sertanistas foram mortos pelos índios; Cons-
sujeito: inexistente truíram-se açudes. (= Açudes foram construídos.)
O sujeito sempre se manifesta em termos de sintagma nominal, Agente e Paciente: quando o sujeito realiza a ação expres-
isto é, seu núcleo é sempre um nome. Quando esse nome se sa por um verbo reflexivo e ele mesmo sofre ou recebe os
refere a objetos das primeira e segunda pessoas, o sujeito é efeitos dessa ação: O operário feriu-se durante o trabalho;
representado por um pronome pessoal do caso reto (eu, tu, Regina trancou-se no quarto.
ele, etc.). Se o sujeito se refere a um objeto da terceira pessoa,
Indeterminado: quando não se indica o agente da ação ver-
sua representação pode ser feita através de um substantivo, de
bal: Atropelaram uma senhora na esquina. (Quem atropelou a
um pronome substantivo ou de qualquer conjunto de palavras,
senhora? Não se diz, não se sabe quem a atropelou.); Come-se
cujo núcleo funcione, na sentença, como um substantivo.
bem naquele restaurante.
Exemplos:
Observações:
Eu acompanho você até o guichê.
Não confundir sujeito indeterminado com sujeito oculto.
eu: sujeito = pronome pessoal de primeira pessoa - Sujeito formado por pronome indefinido não é indeter-
Vocês disseram alguma coisa? minado, mas expresso: Alguém me ensinará o caminho.
Ninguém lhe telefonou.
vocês: sujeito = pronome pessoal de segunda pessoa - Assinala-se a indeterminação do sujeito usando-se o
Marcos tem um fã-clube no seu bairro. Marcos: sujeito = subs- verbo na 3ª pessoa do plural, sem referência a qualquer
tantivo próprio Ninguém entra na sala agora. ninguém: sujeito agente já expresso nas orações anteriores: Na rua olha-
= pronome substantivo O andar deve ser uma atividade diária. vam-no com admiração; “Bateram palmas no portãozinho
da frente.”; “De qualquer modo, foi uma judiação matarem
o andar: sujeito = núcleo: verbo substantivado nessa oração a moça.”
Além dessas formas, o sujeito também pode se consti- - Assinala-se a indeterminação do sujeito com um verbo ativo
tuir de uma oração inteira. Nesse caso, a oração recebe o na 3ª pessoa do singular, acompanhado do pronome se. O
nome de oração substantiva subjetiva: pronome se, neste caso, é índice de indeterminação do su-
jeito. Pode ser omitido junto de infinitivos.
É difícil optar por esse ou aquele doce...
Aqui vive-se bem. Devagar se vai ao longe.
É difícil: oração principal
Quando se é jovem, a memória é mais vivaz.
optar por esse ou aquele doce: oração substantiva subjetiva
Trata-se de fenômenos que nem a ciência sabe explicar.
O sujeito é constituído por um substantivo ou pronome, ou por
uma palavra ou expressão substantivada. - Assinala-se a indeterminação do sujeito deixando-se o
verbo no infinitivo impessoal: Era penoso
Exemplos:
carregar aqueles fardos enormes; É triste assistir a estas cenas
O sino era grande. repulsivas.
Ela tem uma educação fina.
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Predicado: assim como o sujeito, o predicado é um segmento Nos predicados verbais e verbo-nominais o verbo é respon-
extraído da estrutura interna das orações ou das frases, sendo, sável também por definir os tipos de elementos que apare-
por isso, fruto de uma análise sintática. Nesse sentido, o pre- cerão no segmento. Em alguns casos o verbo sozinho basta
dicado é sintaticamente o segmento linguístico que estabelece para compor o predicado (verbo intransitivo). Em outros casos
concordância com outro termo essencial da oração, o sujeito, é necessário um complemento que, juntamente com o verbo,
sendo este o termo determinante (ou subordinado) e o predi- constituem a nova informação sobre o sujeito. De qualquer for-
cado o termo determinado (ou principal). Não se trata, portan- ma, esses complementos do verbo não interferem na tipologia
to, de definir o predicado como “aquilo que se diz do sujeito” do predicado.
como fazem certas gramáticas da língua portuguesa, mas sim Entretanto, é muito comum a elipse (ou omissão) do verbo,
estabelecer a importância do fenômeno da concordância entre quando este puder ser facilmente subentendido, em geral por
esses dois termos essenciais da oração. Então têm por carac- estar expresso ou implícito na oração anterior. Exemplos:
terísticas básicas: apresentar-se como elemento determinado
em relação ao sujeito; apontar um atributo ou acrescentar nova “A fraqueza de Pilatos é enorme, a ferocidade dos algozes
informação ao sujeito. inexcedível.” (Machado de Assis) (Está subentendido o verbo
é depois de algozes)
Exemplos:
“Mas o sal está no Norte, o peixe, no Sul” (Paulo Moreira da
Carolina conhece os índios da Amazônia. Silva) (Subentende-se o verbo está depois de peixe)
sujeito: Carolina = termo determinante “A cidade parecia mais alegre; o povo, mais contente.” (Povina
predicado: conhece os índios da Amazônia = termo determinado Cavalcante) (isto é: o povo parecia mais contente)
Todos nós fazemos parte da quadrilha de São João. Chama-se predicação verbal o modo pelo qual o verbo forma
o predicado.
sujeito: todos nós = termo determinante
Há verbos que, por natureza, tem sentido completo, poden-
predicado: fazemos parte da quadrilha de São João = termo do, por si mesmos, constituir o predicado: são os verbos de
determinado predicação completa denominados intransitivos. Exemplo:
Nesses exemplos podemos observar que a concordância é As flores murcharam. Os animais correm.
estabelecida entre algumas poucas palavras dos dois termos
essenciais. No primeiro exemplo, entre “Carolina” e “conhece”; As folhas caem.
no segundo exemplo, entre “nós” e “fazemos”. Isso se dá por- “Os inimigos de Moreiras rejubilaram.” (Graciliano Ramos)
que a concordância é centrada nas palavras que são núcleos,
Outros verbos há, pelo contrário, que para integrarem o pre-
isto é, que são responsáveis pela principal informação naque-
dicado necessitam de outros termos: são os verbos de pre-
le segmento. No predicado o núcleo pode ser de dois tipos:
dicação incompleta, denominados transitivos. Exemplos:
um nome, quase sempre um atributo que se refere ao sujeito
da oração, ou um verbo (ou locução verbal). No primeiro caso, João puxou a rede.
temos um predicado nominal (seu núcleo significativo é um
“Não invejo os ricos, nem aspiro à riqueza.” (Oto Lara Resende)
nome, substantivo, adjetivo, pronome, ligado ao sujeito por um
verbo de ligação) e no segundo um redicado verbal (seu núcleo “Não simpatizava com as pessoas investidas no poder.” (Cami-
é um verbo, seguido, ou não, de complemento(s) ou termos lo Castelo Branco)
acessórios). Quando, num mesmo segmento o nome e o verbo
Observe que, sem os seus complementos, os verbos puxou,
são de igual importância, ambos constituem o núcleo do predi-
invejo, aspiro, etc., não transmitiriam informações completas:
cado e resultam no tipo de predicado verbo-nominal (tem dois
puxou o quê? Não invejo a quem? Não aspiro a quê?
núcleos significativos: um verbo e um nome).
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Língua Portuguesa
Os verbos de predicação completa denominam-se intransitivos da faca; pegar de uma ferramenta; tomar do lápis; cumprir com
e os de predicação incompleta, transitivos. Os verbos transiti- o dever; Alguns verbos transitivos diretos: abençoar, achar,
vos subdividem-se em: transitivos diretos, transitivos indiretos colher, avisar, abraçar, comprar, castigar, contrariar, convidar,
e transitivos diretos e indiretos (bitransitivos). desculpar, dizer, estimar, elogiar, entristecer, encontrar, ferir,
imitar, levar, perseguir, prejudicar, receber, saldar, socorrer, ter,
Além dos verbos transitivos e intransitivos, quem encerram
unir, ver, etc.
uma noção definida, um conteúdo significativo, existem os de
ligação, verbos que entram na formação do predicado nominal, Transitivos Indiretos
relacionando o predicativo com o sujeito.
São os que reclamam um complemento regido de preposição,
Quanto à predicação classificam-se, pois os verbos em: chamado objeto indireto.
Intransitivos Exemplos:
São os que não precisam de complemento, pois têm sentido “Ninguém perdoa ao quarentão que se apaixona por uma ado-
completo. lescente.” (Ciro dos Anjos) “Populares assistiam à cena apa-
rentemente apáticos e neutros.” (Érico Veríssimo) “Lúcio não
“Três contos bastavam, insistiu ele.” (Machado de Assis) “Os atinava com essa mudança instantânea.” (José Américo)
guerreiros Tabajaras dormem.” (José de Alencar)
“Do que eu mais gostava era do tempo do retiro espiritual.”
“A pobreza e a preguiça andam sempre em companhia.” (Mar- (José Geraldo Vieira)
quês de Maricá)
Observações: Entre os verbos transitivos indiretos importa
Observações: Os verbos intransitivos podem vir acompanha- distinguir os que se constroem com os pronomes objetivos
dos de um adjunto adverbial e mesmo de um predicativo (qua- lhe, lhes. Em geral são verbos que exigem a preposição a:
lidade, características): Fui cedo; Passeamos pela cidade; Che- agradar-lhe, agradeço- lhe, apraz-lhe, bate-lhe, desagrada-lhe,
guei atrasado; Entrei em casa aborrecido. As orações formadas desobedecem-lhe, etc. Entre os verbos transitivos indiretos
com verbos intransitivos não podem “transitar” (= passar) para importa distinguir os que não admitem para objeto indireto as
a voz passiva. Verbos intransitivos passam, ocasionalmente, a formas oblíquas lhe, lhes, construindo -se com os pronomes
transitivos quando construídos com o objeto direto ou indireto. retos precedidos de preposição: aludir a ele, anuir a ele, assistir
- “Inutilmente a minha alma o chora!” (Cabral do Nascimento) a ela, atentar nele, depender dele, investir contra ele, não ligar
- “Depois me deitei e dormi um sono pesado.” (Luís Jardim) para ele, etc.
- “Morrerás morte vil da mão de um forte.” (Gonçalves Dias) Em princípio, verbos transitivos indiretos não comportam a
- “Inútil tentativa de viajar o passado, penetrar no mundo que forma passiva. Excetuam-se pagar, perdoar, obedecer, e pou-
já morreu...” (Ciro dos Anjos) co mais, usados também como transitivos diretos: João paga
(perdoa, obedece) o médico. O médico é pago (perdoado, obe-
Alguns verbos essencialmente intransitivos: anoitecer, cres- decido) por João. Há verbos transitivos indiretos, como atirar,
cer, brilhar, ir, agir, sair, nascer, latir, rir, tremer, brincar, chegar, investir, contentar-se, etc., que admitem mais de uma prepo-
vir, mentir, suar, adoecer, etc. sição, sem mudança de sentido. Outros mudam de sentido
Transitivos Diretos com a troca da preposição, como nestes exemplos: Trate de
sua vida. (tratar=cuidar). É desagradável tratar com gente gros-
São os que pedem um objeto direto, isto é, um comple- seira. (tratar=lidar). Verbos como aspirar, assistir, dispor, ser-
mento sem preposição. Pertencem a esse grupo: julgar, vir, etc., variam de significação conforme sejam usados como
chamar, nomear, eleger, proclamar, designar, considerar, transitivos diretos ou indiretos.
declarar, adotar, ter, fazer, etc. Exemplos:
Transitivos Diretos e Indiretos
Comprei um terreno e construí a casa.
São os que se usam com dois objetos: um direto, outro indi-
“Trabalho honesto produz riqueza honrada.” (Marquês de reto, concomitantemente.
Maricá)
Exemplos:
“Então, solenemente Maria acendia a lâmpada de sábado.”
(Guedes de Amorim) No inverno, Dona Cléia dava roupas aos pobres. A empresa
fornece comida aos trabalhadores.
Dentre os verbos transitivos diretos merecem destaque os
que formam o predicado verbo nominal e se constrói com Oferecemos flores à noiva.
o complemento acompanhado de predicativo. Exemplos:
Ceda o lugar aos mais velhos.
Consideramos o caso extraordinário. Inês trazia as mãos sem- De Ligação
pre limpas.
O povo chamava-os de anarquistas. Os que ligam ao sujeito uma palavra ou expressão chamada
predicativo. Esses verbos, entram na formação do predicado
Julgo Marcelo incapaz disso. nominal.
Observações: Os verbos transitivos diretos, em geral, po- Exemplos:
dem ser usados também na voz passiva; Outra caracterís-
tica desses verbos é a de poderem receber como objeto A Terra é móvel. A água está fria.
direto, os pronomes o, a, os, as: convido-o, encontro-os, in-
O moço anda (=está) triste. Mário encontra-se doente.
comodo-a, conheço-as; Os verbos transitivos diretos podem
ser construídos acidentalmente com preposição, a qual lhes A Lua parecia um disco.
acrescenta novo matiz semântico: arrancar da espada; puxar Observações: Os verbos de ligação não servem apenas de
anexo, mas exprimem ainda os diversos aspectos sob os
quais se considera a qualidade atribuída ao sujeito. O ver-
bo ser, por exemplo, traduz aspecto permanente e o verbo
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Língua Portuguesa
estar, aspecto transitório: Ele é doente. (aspecto permanen- Termos Integrantes da Oração
te); Ele está doente. (aspecto transitório). Muitos desses ver-
bos passam à categoria dos intransitivos em frases como: Era Chamam-se termos integrantes da oração os que completam a
=existia) uma vez uma princesa.; Eu não estava em casa.; Fi- significação transitiva dos verbos e nomes. Integram (inteiram,
quei à sombra.; Anda com dificuldades.; Parece que vai chover. completam) o sentido da oração, sendo por isso indispensável
Os verbos, relativamente à predicação, não têm classifica- à compreensão do enunciado.
ção fixa, imutável. Conforme a regência e o sentido que São os seguintes:
apresentam na frase, podem pertencer ora a um grupo, ora Complemento Verbais (Objeto Direto e Objeto Indireto);
a outro. Exemplos: Complemento Nominal;
O homem anda. (intransitivo) Agente da Passiva.
O homem anda triste. (de ligação)
O cego não vê. (intransitivo) Objeto Direto
O cego não vê o obstáculo. (transitivo direto)
É o complemento dos verbos de predicação incompleta, não
Deram 12 horas. (intransitivo) regido, normalmente, de preposição. Exemplos:
A terra dá bons frutos. (transitivo direto)
As plantas purificaram o ar.
Não dei com a chave do enigma. (transitivo indireto)
Os pais dão conselhos aos filhos. (transitivo direto e indireto) “Nunca mais ele arpoara um peixe-boi.” (Ferreira Castro)
É o termo que se refere ao objeto de um verbo transitivo. “Viveu José Joaquim Alves vida tranquila e patriarcal.” (Vivaldo
Coaraci)
Exemplos:
O juiz declarou o réu inocente. “Pela primeira vez chorou o choro da tristeza.” (Aníbal Machado)
O povo elegeu-o deputado. “Nenhum de nós pelejou a batalha de Salamina.” (Machado de
As paixões tornam os homens cegos. Nós julgamos o fato
Assis)
milagroso.
Em tais construções é de rigor que o objeto venha acompanha-
Observações: O predicativo objetivo, como vemos dos exem-
do de um adjunto.
plos acima, às vezes vem regido de preposição. Esta, em cer-
tos casos, é facultativa; O predicativo objetivo geralmente se Objeto Direto Preposicionado: Há casos em que o objeto
refere ao objeto direto. Excepcionalmente, pode referir-se ao direto, isto é, o complemento de verbos transitivos diretos,
objeto indireto do verbo chamar. Chamavam-lhe poeta; Pode- vem precedido de preposição, geralmente a preposição a.
mos antepor o predicativo a seu objeto: O advogado consi- Isto ocorre principalmente:
derava indiscutíveis os direitos da herdeira.; Julgo inoportuna - Quando o objeto direto é um pronome pessoal tônico:
essa viagem.; “E até embriagado o vi muitas vezes.”; “Tinha Deste modo, prejudicas a ti e a ela.; “Mas dona Carolina
estendida a seus pés uma planta rústica da cidade.”; “Sentia amava mais a ele do que aos outros filhos.”; “Pareceu-me
ainda muito abertos os ferimentos que aquele choque com o que Roberto hostilizava antes a mim do que à ideia.”; “Ricar-
mundo me causara.” dina lastimava o seu amigo como a si própria.”; “Amava-a
tanto como a nós”.
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Língua Portuguesa
- Quando o objeto é o pronome relativo quem: “Pedro Se- O objeto indireto completa a significação dos verbos:
veriano tinha um filho a quem idolatrava.”; “Abraçou a todos;
- Transitivos Indiretos: Assisti ao jogo; Assistimos à missa e
deu um beijo em Adelaide, a quem felicitou pelo desenvolvi-
à festa; Aludiu ao fato; Aspiro a uma vida calma.
mento das suas graças.”; “Agora sabia que podia manobrar
com ele, com aquele homem a quem na realidade também - Transitivos Diretos e Indiretos (na voz ativa ou passiva):
temia, como todos ali”. Dou graças a Deus; Ceda o lugar aos mais velhos; Dedicou
sua vida aos doentes e aos pobres; Disse-lhe a verdade.
- Quando precisamos assegurar a clareza da frase, evi-
tando que o objeto direto seja tomado como sujeito, im- (Disse a verdade ao moço.)
pedindo construções ambíguas: Convence, enfim, ao pai O objeto indireto pode ainda acompanhar verbos de outras ca-
o filho amado.; “Vence o mal ao remédio.”; “Tratava-me sem tegorias, os quais, no caso, são considerados acidentalmente
cerimônia, como a um irmão.”; A qual delas iria homenagear transitivos indiretos: A bom entendedor meia palavra basta;
o cavaleiro? Sobram-lhe qualidades e recursos. (lhe=a ele); Isto não lhe con-
- Em expressões de reciprocidade, para garantir a clare- vém; A proposta pareceu-lhe aceitável.
za e a eufonia da frase: “Os tigres despedaçam- se uns
Observações: Há verbos que podem construir-se com dois
aos outros.”; “As companheiras convidavam-se umas às
objetos indiretos, regidos de preposições diferentes: Rogue a
outras.”; “Era o abraço de duas criaturas que só tinham uma
Deus por nós.; Ela queixou-se de mim a seu pai.; Pedirei para
à outra”.
ti a meu senhor um rico presente; Não confundir o objeto direto
- Com nomes próprios ou comuns, referentes a pessoas, com o complemento nominal nem com o adjunto adverbial; Em
principalmente na expressão dos sentimentos ou por frases como “Para mim tudo eram alegrias”, “Para ele nada é
amor da eufonia da frase: Judas traiu a Cristo.; Amemos a impossível”, os pronomes em destaque podem ser considera-
Deus sobre todas as coisas. “Provavelmente, enganavam é dos adjuntos adverbiais.
a Pedro.”; “O estrangeiro foi quem ofendeu a Tupã”.
- Em construções enfáticas, nas quais antecipamos o ob- O objeto indireto é sempre regido de preposição, expressa
jeto direto para dar-lhe realce: A você é que não enga- ou implícita. A preposição está implícita nos pronomes obje-
nam!; Ao médico, confessor e letrado nunca enganes.; “A tivos indiretos (átonos) me, te, se, lhe, nos, vos, lhes. Exem-
este confrade conheço desde os seus mais tenros anos”. plos: Obedece-me. (=Obedece a mim.); Isto te pertence. (=Isto
pertence a ti.); Rogo-lhe que fique. (=Rogo a você...); Peço-
- - Sendo objeto direto o numeral ambos(as): “O aguaceiro
-vos isto. (=Peço isto a vós.). Nos demais casos a preposição
caiu, molhou a ambos.”; “Se eu previsse que os matava a
é expressa, como característica do objeto indireto: Recorro a
ambos...”.
Deus.; Dê isto a (ou para) ele.; Contenta-se com pouco.; Ele
- Com certos pronomes indefinidos, sobretudo referentes só pensa em si.; Esperei por ti.; Falou contra nós.; Conto com
a pessoas: Se todos são teus irmãos, por que amas a uns e você.; Não preciso disto.; O filme a que assisti agradou ao pú-
odeias a outros?; Aumente a sua felicidade, tornando felizes blico.; Assisti ao desenrolar da luta.; A coisa de que mais gos-
também aos outros.; A quantos a vida ilude!. to é pescar.; A pessoa a quem me refiro você a conhece.; Os
- Em certas construções enfáticas, como puxar (ou arrancar) obstáculos contra os quais luto são muitos.; As pessoas com
da espada, pegar da pena, cumprir com o dever, atirar com quem conto são poucas.
os livros sobre a mesa, etc.: “Arrancam das espadas de aço
Como atestam os exemplos acima, o objeto indireto é repre-
fino...”; “Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da
sentado pelos substantivos (ou expressões substantivas) ou
agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha e entrou
pelos pronomes. As preposições que o ligam ao verbo são: a,
a coser.”; “Imagina-se a consternação de Itaguaí, quando
com, contra, de, em, para e por.
soube do caso.”
Objeto Indireto Pleonástico: à semelhança do objeto direto, o
Observações: Nos quatro primeiros casos estudados a pre-
objeto indireto pode vir repetido ou reforçado, por ênfase.
posição é de rigor, nos cinco outros, facultativa; A substituição
do objeto direto preposicionado pelo pronome oblíquo átono, Exemplos: “A mim o que me deu foi pena.”; “Que me importa
quando possível, se faz com as formas o(s), a(s) e não lhe, lhes: a mim o destino de uma mulher tísica...? “E, aos brigões, in-
amar a Deus (amá-lo); convencer ao amigo (convencê- lo); O capazes de se moverem, basta-lhes xingarem-se a distância.”
objeto direto preposicionado, é obvio, só ocorre com verbo
Complemento Nominal
transitivo direto; Podem resumir-se em três as razões ou finali-
dades do emprego do objeto direto preposicionado: a clareza É o termo complementar reclamado pela significação transitiva,
da frase; a harmonia da frase; a ênfase ou a força da expressão. incompleta, de certos substantivos, adjetivos e advérbios. Vem
Objeto Direto Pleonástico: Quando queremos dar destaque sempre regido de preposição. Exemplos: A defesa da pátria;
ou ênfase à ideia contida no objeto direto, colocamo-lo no iní- Assistência às aulas; “O ódio ao mal é amor do bem, e a ira
cio da frase e depois o repetimos ou reforçamos por meio do contra o mal, entusiasmo divino.”; “Ah, não fosse ele surdo à
pronome oblíquo. A esse objeto repetido sob forma pronominal minha voz!”
chama-se pleonástico, enfático ou redundante. Observações: O complemento nominal representa o rece-
bedor, o paciente, o alvo da declaração expressa por um
Exemplos:
O dinheiro, Jaime o trazia escondido nas mangas da camisa. nome: amor a Deus, a condenação da violência, o medo de
O bem, muitos o louvam, mas poucos o seguem. assaltos, a remessa de cartas, útil ao homem, compositor de
“Seus cavalos, ela os montava em pelo.” (Jorge Amado) músicas, etc. É regido pelas mesmas preposições usadas no
objeto indireto. Difere deste apenas porque, em vez de com-
Objeto Indireto plementar verbos, complementa nomes (substantivos, adjeti-
vos) e alguns advérbios em –mente. Os nomes que requerem
É o complemento verbal regido de preposição necessária e complemento nominal correspondem, geralmente, a verbos de
sem valor circunstancial. Representa, ordinariamente, o ser a mesmo radical: amor ao próximo, amar o próximo; perdão das
que se destina ou se refere à ação verbal: “Nunca desobedeci injúrias, perdoar as injúrias; obediente aos pais, obedecer aos
a meu pai”. pais; regresso à pátria, regressar à pátria; etc.
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Exemplos: Nuvens escuras borravam os espaços silenciosos, Quando você estiver metido entre grã-finos, é preciso ter mui-
sinal de tempestade iminente. O espaço é incomensurável, fato to, muito cuidado: eles são tão primitivos!
que me deixa atônito. Mário Quintana
Simão era muito espirituoso, o que me levava a preferir sua Em relação à oração “eles são tão primitivos!”, assinale o item
companhia. INCORRETO.
Um aposto pode referir-se a outro aposto: a) Refere-se a grã-finos.
a) O sujeito é indeterminado.
“Serafim Gonçalves casou-se com Lígia Tavares, filha do velho
a) O predicado é nominal.
coronel Tavares, senhor de engenho.” (Ledo Ivo)
a) Tem verbo de ligação
O aposto pode vir precedido das expressões explicativas
isto é, a saber, ou da preposição acidental como: a) Apresenta predicativo do sujeito.
2. (CISMEPAR/PR – Advogado – FAUEL/2016).
Dois países sul-americanos, isto é, a Bolívia e o Paraguai, não
são banhados pelo mar. Este escritor, como romancista, nunca O assassino era o escriba
foi superado.
Paulo Leminsky
O aposto que se refere a objeto indireto, complemento nominal
Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito
ou adjunto adverbial vem precedido de preposição:
inexistente.
O rei perdoou aos dois: ao fidalgo e ao criado.
Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida, regular
“Acho que adoeci disso, de beleza, da intensidade das coisas.” como um paradigma da 1ª conjugação. Entre uma oração su-
(Raquel Jardim) bordinada e um adjunto adverbial,
De cobras, morcegos, bichos, de tudo ela tinha medo. ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito assindético de
nos torturar com um aposto.
Vocativo: (do latim vocare = chamar)
Casou com uma regência.
É o termo (nome, título, apelido) usado para chamar ou inter- Foi infeliz.
pelar a pessoa, o animal ou a coisa personificada a que nos Era possessivo como um pronome.
dirigimos: E ela era bitransitiva. Tentou ir para os EUA. Não deu.
“Elesbão? Ó Elesbão! Venha ajudar-nos, por favor!” (Maria de Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
Lourdes Teixeira) “A ordem, meus amigos, é a base do gover-
no.” (Machado de Assis) conectivos e agentes da passiva, o tempo todo. Um dia, matei-
-o com um objeto direto na cabeça.
“Correi, correi, ó lágrimas saudosas!” (Fagundes Varela) “Ei-lo,
o teu defensor, ó Liberdade!” (Mendes Leal) Na frase “Entre uma oração subordinada e um adjunto adver-
Observação: Profere-se o vocativo com entoação exclamati- bial”, o autor faz referência à oração subordinada. Assinale a
va. Na escrita é separado por vírgula(s). No exemplo inicial, os alternativa que NÃO corresponde corretamente à compreensão
pontos interrogativo e exclamativo indicam um chamado alto e da relação entre orações:
prolongado. O vocativo se refere sempre à 2ª pessoa do dis- a) Oração subordinada é o nome que se dá ao tipo de ora-
curso, que pode ser uma pessoa, um animal, uma coisa real ção que é indispensável para a compreensão da oração
ou entidade abstrata personificada. Podemos antepor-lhe uma principal.
interjeição de apelo (ó, olá, eh!): b) Diferentemente da coordenada, a oração subordinada é a
que complementa o sentido da oração principal, não sen-
“Tem compaixão de nós, ó Cristo!” (Alexandre Herculano) do possível compreender individualmente nenhuma das
orações, pois há uma relação de dependência do sentido.
“Ó Dr. Nogueira, mande-me cá o Padilha, amanhã!” (Graciliano
c) Subordinação refere-se a “estar ordenado sob”, sendo in-
Ramos) “Esconde-te, ó sol de maio, ó alegria do mundo!” (Ca-
diferente a classificação de uma oração
milo Castelo Branco)
d) coordenada ou subordinada, pois as duas têm a mesma
O vocativo é um tempo à parte. Não pertence à estrutura da validade.
oração, por isso não se anexa ao sujeito nem ao predicado. e) A oração principal é aquela rege a oração subordinada, não
sendo possível seu entendimento sem o complemento.
3. (EMSERH – Auxiliar Operacional de Serviços Gerais –
FUNCAB/2016)
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Língua Portuguesa
Afinal, no décimo dia, chegou a explicação do enigma. Foi uma No dia seguinte, o vendedor repetiu a sua alegre invasão.
Afinal, os colonos ainda que hesitaram: aquele negro trazia
coisa tão dramática, tão original, tão crível, que Malvina não
aves de belezas jamais vistas. Ninguém podia resistir às
teve nem um ataque de histerismo, nem uma crise de cólera. suas cores, seus chilreios. Nem aquilo parecia coisa deste
Ficou apenas petrificada. verídico mundo. O vendedor se anonimava, em humilde de-
“Você será amada... se usar, pela manhã, o creme de beleza saparecimento de si:
Lua Cheia. O creme Lua Cheia é vendido em todas as farmá- - Esses são pássaros muito excelentes, desses com as asas
cias e drogarias. Ninguém resistirá a você, se usar o creme Lua todas de fora.
Cheia.
Os portugueses se interrogavam: onde desencantava ele tão
Era o que continha o papel verde-mar, escrito em enérgicos maravilhosas criaturas? onde, se eles tinham já desbravado os
caracteres masculinos. Ao voltar a si, Malvina arrastou-se até mais extensos matos?
o telefone:
O vendedor se segredava, respondendo um riso. Os senhores
-Alô! É Jorge quem está falando? Já pensei e resolvi casar-me receavam as suas próprias suspeições.
com você. Sim, Jorge, amo-o! Ora, que pergunta! Pode vir. - teria aquele negro direito a ingressar num mundo onde eles
A voz de Jorge estava rouca de felicidade! E nunca soube a que careciam de acesso? Mas logo se aprontavam a diminuir-lhe
devia tanta sorte! os méritos: o tipo dormia nas árvores, em plena passarada.
Eles se igualam aos bichos silvestres, concluíam.
André Sinoldi
Fosse por desdenho dos grandes ou por glória dos pequenos,
Se a oração escrita na carta estivesse completa, como em
a verdade é que, aos pouco-poucos, o passarinheiro foi viran-
“Você será amada POR MIM”, o termo
do assunto no bairro do cimento. Sua presença foi enchendo
destacado funcionaria como: durações, insuspeitos vazios. Conforme dele se comprava, as
a) complemento nominal. casas mais se repletavam de doces cantos. Aquela música se
b) objeto direto. estranhava nos moradores, mostrando que aquele bairro não
c) agente da passiva. pertencia àquela terra. Afinal, os pássaros desautenticavam os
d) objeto indireto. residentes, estrangeirando-lhes? [...] O comerciante devia sa-
e) adjunto nominal. ber que seus passos descalços não cabiam naquelas ruas. Os
brancos se inquietavam com aquela desobediência, acusando
4. (EMSERH – Enfermeiro – FUNCAB/2016)
o tempo. [...]
Assinale a alternativa correspondente ao período onde há
predicativo do sujeito:
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As crianças emigravam de sua condição, desdobrando-se em só ano a mais, saúde a mais, brinquedinhos a mais. Seremos
outras felizes existências. E todos se familiavam, parentes apa- uns robôs cinzentos e sem graça!
rentes. [...] Lya Luft, Veja. São Paulo, 2 de março, 2011, p.24
Os pais lhes queriam fechar o sonho, sua pequena e infini- A conjunção destacada em: “Quem sabe nos mataremos me-
ta alma. Surgiu o mando: a rua vos está proibida, vocês não nos, SE as drogas forem controladas e a miséria extinta.” intro-
saem mais. Correram-se as cortinas, as casas fecharam suas duz uma oração que expressa ideia de:
pálpebras. a) causa.
COUTO, Mia. Cada homem é uma raça: contos/ Mia Couto - 1ª ed. - São Paulo: b) comparação.
Companhia das Letras, 2013. p.63 - 71. (Fragmento).
c) condição.
Sobre os elementos destacados do fragmento “Em verdade, d) conformidade
seu astro não era o Sol. Nem seu país não era a vida.”, leia as e) consequência.
afirmativas. Respostas
I. A expressão EM VERDADE pode ser substituída, sem alte-
ração de sentido por COM EFEITO. 1. Reposta B
II. ERA O SOL formam o predicado verbal da primeira oração. A - C=> Refere-se a grã-finos B - E => O sujeito é grã finos
III. NEM, no contexto, é uma conjunção coordenativa. C - O predicado está ligado ao nome.
D - Verbos de ligação: Ser, estar, parecer... E - Primitivos carac-
Está correto apenas o que se afirma em: teriza o sujeito.
d) I e III.
2. Resposta C
e) III.
f) I e II. Como a própria resposta diz, Subordinação refere-se a “estar
g) I. ordenado sob”.
h) II e III.
3. Resposta: C
5. (EMSERH – Auxiliar Administrativo – FUNCAB/2016)
Vamos lá:
Como seremos amanhã? - O agente da passiva é um termo preposicionado (por, pelo, de).
Estar aberto às novidades é estar vivo. Fechar-se a elas é mor- - Só ocorre na voz passiva; em caso de dúvida é só transfor-
rer estando vivo. Um certo equilíbrio entre as duas atitudes aju- mar na voz ativa.
da a nem ser antiquado demais nem ser superavançadinho, - Se relaciona com o particípio (tanto o regular, quanto o irre-
correndo o perigo de confusões ou ridículo. gular). Voz ativa: Eu amarei você.
Sempre me fascinaram as mudanças - às vezes avanço, às Voz passiva: Você será amada (particípio) por mim (agente da
vezes retorno à caverna. Hoje andam incrivelmente rápi-
passiva. Note que está preposicionado)
das, atingindo usos e costumes, ciência e tecnologia, com
reflexos nas mais sofisticadas e nas menores coisas com 4. Resposta A
que lidamos. Nossa visão de mundo se transforma, mas
penso que não no mesmo ritmo; então, de vez em quando 1) A locução “Em verdade” tem sentido equivalente a expres-
nos pegamos dizendo, como nossas mães ou avós tanto são “Com efeito”, ambas significam ‘De modo efetivo’. Vejam
tempo atrás: “Nossa! Como tudo mudou!” como faz sentido:
Nos usos e costumes a coisa é séria e nos afeta a todos: De modo efetivo, seu astro não era o Sol (...)”. Logo concluímos
crianças muito precocemente sexualizadas pela moda, pela te- que a substituição de uma pela outra está correta.
levisão, muitas vezes por mães alienadas. [...]
2) O termo “nem”, no contexto em que está inserido, é sem
Na saúde, acho que melhorou. Sou de uma infância sem anti- dúvida uma conjunção coordenativa, pois, lembremos, as ora-
bióticos. A gente sobrevivia sob os cuidados de mãe, pai, avó, ções coordenadas, cada uma, separadamente, possuem sen-
médico de família, aquele que atendia do parto à cirurgia mais tido completo, assim determina a gramática normativa de LP.
complexa para aqueles dias. Dieta, que hoje se tornou obses- Vejamos o desmembramento delas, nesse caso:
são, era impensável, sobretudo para crianças, e eu pré- ado- - “seu astro não era o Sol” (Oração 1)
lescente gordinha, não podia nem falar em “regime” que minha
- “seu país não era a vida” (Oração 2)
mãe arrancava os cabelos e o médico sacudia a cabeça: “Nem
pensar”. Notem que ambas, quando separadas, continuam possuindo
um sentido (significado) completo.
Em breve estaremos menos doentes: célula-tronco e chips
vão nos consertar de imediato, ou evitar os males. Teremos de Trazem informações inteligíveis para que as leem.
descobrir o que fazer com tanto tempo de vida a mais que nos
será concedido... [...] O que não acontece com as orações SUBORDINADAS que,
como o próprio nome prenuncia, tem seu prejudicado caso
Quem sabe nos mataremos menos, se as drogas forem con- seja separada.
troladas e a miséria extinta. Não creio em igualdade, mas em
dignidade para todos. Talvez haja menos guerras, porque de Aquilo que é subordinado não “sobrevive” separadamente,
alguma forma seremos menos violentos.[...] lembrem-se disso.
As crianças terão outras memórias, outras brincadeiras, As coordenadas sim, elas apenas estão interligadas para com-
outras alegrias; os adultos, novas sensações e possibili- porem juntas um sentido maior.
dades. Mas as emoções humanas, estas eu penso que vão 5. Resposta C
demorar a mudar. Todos vão continuar querendo mais ou
menos o mesmo: afeto, presença, sentido para a vida, alegria. “Quem sabe nos mataremos menos, SE as drogas forem con-
Desta, por mais modernos, avançados, biônicos, quânticos, in- troladas e a miséria extinta.” “Quem sabe nos mataremos me-
críveis, não podemos esquecer. Ou não valerá a pena nem um
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Língua Portuguesa
nos, CASO as drogas forem controladas e a miséria extinta.” se As orações coordenadas são sindéticas - OCS: quando vêm
(caso) a troca dê certo = condicional introduzidas por conjunção coordenativa.
Exemplo:
O período é simples quando só traz uma oração, chamada ab- Orações coordenadas sindéticas aditivas: e, nem, não só...
soluta; o período é composto quando traz mais de uma oração. mas também, não só... mas ainda.
Exemplo: Pegou fogo no prédio. (Período simples, oração ab- Saí da escola / e fui à lanchonete.
soluta.); Quero que você aprenda. (Período composto.) OCA OCS Aditiva
Existe uma maneira prática de saber quantas orações há Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma conjunção
num período: é contar os verbos ou locuções verbais. Num que expressa ideia de acréscimo ou adição com referência
período haverá tantas orações quantos forem os verbos ou as à oração anterior, ou seja, por uma conjunção coordenativa
locuções verbais nele existentes. aditiva.
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Língua Portuguesa
Vamos andar depressa / que estamos atrasados. “Que diria o pai se soubesse disso?” (Carlos Drummond de
OCA OCS Explicativa Andrade)
Observe que a 2ª oração é introduzida por uma conjunção A cápsula do satélite será recuperada, caso a experiência te-
que expressa ideia de explicação, de justificativa em relação nha êxito.
à oração anterior, ou seja, por uma conjunção coordenativa
explicativa. Concessivas: Expressam ideia ou fato contrário ao da oração
Leve-lhe uma lembrança, que ela aniversaria amanhã. principal, sem, no entanto, impedir sua realização.
“A mim ninguém engana, que não nasci ontem.” (Érico Conjunções: embora, ainda que, apesar de, se bem que, por
Veríssimo) mais que, mesmo que.
“Qualquer que seja a tua infância, conquista-a, que te aben-
çoo.” (Fernando Sabino) Ela saiu à noite / embora estivesse doente.
O cavalo estava cansado, pois arfava muito. OP OSA Concessiva
Admirava-o muito, embora (ou conquanto ou posto que ou
Período Composto por Subordinação se bem que) não o conhecesse pessoalmente.
Embora não possuísse informações seguras, ainda assim
Observe os termos destacados em cada uma destas
arriscou uma opinião.
orações:
Cumpriremos nosso dever, ainda que (ou mesmo quando ou
Vi uma cena triste. (adjunto adnominal)
ainda quando ou mesmo que) todos nos critiquem.
Todos querem sua participação. (objeto direto)
Por mais que gritasse, não me ouviram.
Não pude sair por causa da chuva. (adjunto adverbial de causa) Conformativas: Expressam a conformidade de um fato com
Veja, agora, como podemos transformar esses termos em outro.
orações com a mesma função sintática:
Conjunções: conforme, como (=conforme), segundo.
Vi uma cena / que me entristeceu. (oração subordinada com
O trabalho foi feito / conforme havíamos planejado.
função de adjunto adnominal) OP OSA Conformativa
Todos querem / que você participe. (oração subordinada com O homem age conforme pensa.
função de objeto direto)
Relatei os fatos como (ou conforme) os ouvi.
Não pude sair / porque estava chovendo. (oração subordina-
da com função de adjunto adverbial de causa) Como diz o povo, tristezas não pagam dívidas.
Em todos esses períodos, a segunda oração exerce uma certa O jornal, como sabemos, é um grande veículo de informação.
função sintática em relação à primeira, sendo, portanto, subor- Temporais: Acrescentam uma circunstância de tempo ao que
dinada a ela. Quando um período é constituído de pelo menos foi expresso na oração principal.
um conjunto de duas orações em que uma delas (a subordina-
da) depende sintaticamente da outra (principal), ele é classifi- Conjunções: quando, assim que, logo que, enquanto, sempre
cado como período composto por subordinação. As orações que, depois que, mal (=assim que).
subordinadas são classificadas de acordo com a função que Ele saiu da sala / assim que eu cheguei.
exercem: adverbiais, substantivas e adjetivas. OP OSA Temporal
As orações subordinadas adverbiais (OSA) são aquelas que “Lá pelas sete da noite, quando escurecia, as casas se esva-
exercem a função de adjunto adverbial da oração principal ziam.” (Carlos Povina Cavalcânti)
(OP). São classificadas de acordo com a conjunção subordina- “Quando os tiranos caem, os povos se levantam.” (Marquês
tiva que as introduz: de Maricá)
- Causais: Expressam a causa do fato enunciado na oração
Enquanto foi rico, todos o procuravam.
principal. Conjunções: porque, que, como (= porque), pois
que, visto que. Finais: Expressam a finalidade ou o objetivo do que foi enun-
ciado na oração principal.
Não fui à escola / porque fiquei doente.
OP OSA Causal Conjunções: para que, a fim de que, porque (=para que), que.
O tambor soa porque é oco. Abri a porta do salão / para que todos pudessem entrar.
Como não me atendessem, repreendi-os severamente. OP OSA Final
Como ele estava armado, ninguém ousou reagir.
“Faltou à reunião, visto que esteve doente.” (Arlindo de Sousa) “O futuro se nos oculta para que nós o imaginemos.” (Mar-
quês de Maricá)
Condicionais: Expressam hipóteses ou condição para a ocor-
rência do que foi enunciado na principal. Aproximei-me dele a fim de que me ouvisse melhor.
Conjunções: se, contanto que, a menos que, a não ser que, “Fiz-lhe sinal que se calasse.” (Machado de Assis) (que = para
desde que. que)
Irei à sua casa / se não chover. “Instara muito comigo não deixasse de frequentar as recep-
OP OSA Condicional ções da mulher.” (Machado de Assis) (não deixasse = para que
não deixasse)
Deus só nos perdoará se perdoarmos aos nossos ofensores.
Se o conhecesses, não o condenarias. Consecutivas: Expressam a consequência do que foi enuncia-
do na oração principal.
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Língua Portuguesa
Conjunções: porque, que, como (= porque), pois que, visto que. Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta: É aque-
la que exerce a função de objeto indireto do verbo da oração
A chuva foi tão forte / que inundou a cidade.
principal.
OP OSA Consecutiva
Observe: Necessito de sua ajuda. (objeto indireto)
Fazia tanto frio que meus dedos estavam endurecidos.
Necessito / de que você me ajude.
“A fumaça era tanta que eu mal podia abrir os olhos.” (José
OP OSS Objetiva Indireta
J. Veiga)
Não me oponho a que você viaje. (= Não me oponho à sua
De tal sorte a cidade crescera que não a reconhecia mais.
viagem.)
As notícias de casa eram boas, de maneira que pude prolon- Aconselha-o a que trabalhe mais.
gar minha viagem. Daremos o prêmio a quem o merecer.
Lembre-se de que a vida é breve.
Comparativas: Expressam ideia de comparação com referên-
cia à oração principal. Oração Subordinada Substantiva Subjetiva: É aquela que
exerce a função de sujeito do verbo da oração principal.
Conjunções: como, assim como, tal como, (tão)... como, tanto
como, tal qual, que (combinado com menos ou mais). Observe: É importante sua colaboração. (sujeito)
A preguiça gasta a vida como a ferrugem consome o ferro.” A oração subjetiva geralmente vem:
(Marquês de Maricá) - depois de um verbo de ligação + predicativo, em constru-
Ela o atraía irresistivelmente, como o imã atrai o ferro. ções do tipo é bom, é útil, é certo, é conveniente, etc. Ex.: É
certo que ele voltará amanhã.
Os retirantes deixaram a cidade tão pobres como vieram.
- depois de expressões na voz passiva, como sabe-se, conta-
Como a flor se abre ao Sol, assim minha alma se abriu à luz -se, diz-se, etc. Ex.: Sabe-se que ele saiu da cidade.
daquele olhar. - depois de verbos como convir, cumprir, constar, urgir, ocor-
Observação: As orações comparativas nem sempre apre- rer, quando empregados na 3ª pessoa do singular e segui-
sentam claramente o verbo, como no exemplo acima, em dos das conjunções que ou se. Ex.: Convém que todos par-
que está subentendido o verbo ser (como a mãe é). ticipem da reunião.
Proporcionais: Expressam uma ideia que se relaciona propor- É necessário que você colabore. (= Sua colaboração é
cionalmente ao que foi enunciado na principal. necessária.)
Conjunções: à medida que, à proporção que, ao passo que, Parece que a situação melhorou.
quanto mais, quanto menos. Aconteceu que não o encontrei em casa.
Quanto mais reclamava / menos atenção recebia. Importa que saibas isso bem.
OSA Proporcional OP
Oração Subordinada Substantiva Completiva Nominal: É
À medida que se vive, mais se aprende. aquela que exerce a função de complemento nominal de um
À proporção que avançávamos, as casas iam rareando. termo da oração principal.
O valor do salário, ao passo que os preços sobem, vai Observe: Estou convencido de sua inocência. (complemento
diminuindo. nominal)
Estou convencido / de que ele é inocente.
Orações Subordinadas Substantivas OP OSS Completiva Nominal
As orações subordinadas substantivas (OSS) são aquelas que, Sou favorável a que o prendam. (= Sou favorável à prisão dele.)
num período, exercem funções sintáticas próprias de substan-
Estava ansioso por que voltasses.
tivos, geralmente são introduzidas pelas conjunções integran-
tes que e se. Sê grato a quem te ensina.
Elas podem ser: “Fabiano tinha a certeza de que não se acabaria tão cedo.”
Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta: É aque- (Graciliano Ramos)
la que exerce a função de objeto direto do verbo da oração Oração Subordinada Substantiva Predicativa: É aquela que
principal. exerce a função de predicativo do sujeito da oração principal,
Observe: O grupo quer a sua ajuda. (objeto direto) vindo sempre depois do verbo ser.
O grupo quer / que você ajude. Observe: O importante é sua felicidade. (predicativo)
OP OSS Objetiva Direta O importante é / que você seja feliz.
O mestre exigia que todos estivessem presentes. (= O mestre OP OSS Predicativa
exigia a presença de todos.) Seu receio era que chovesse. (Seu receio era a chuva.)
Minha esperança era que ele desistisse.
Mariana esperou que o marido voltasse.
Meu maior desejo agora é que me deixem em paz.
Ninguém pode dizer: Desta água não beberei. Não sou quem você pensa.
O fiscal verificou se tudo estava em ordem. Oração Subordinada Substantiva Apositiva: É aquela que
exerce a função de aposto de um termo da oração principal.
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Língua Portuguesa
Pedra que rola não cria limo. O infinitivo, o gerúndio e o particípio não constituem orações
reduzidas quando fazem parte de uma locução verbal.
Os animais que se alimentam de carne chamam-se carnívoros.
Exemplos:
Rubem Braga é um dos cronistas que mais belas páginas
escreveram. Preciso terminar este exercício.
“Há saudades que a gente nunca esquece.” (Olegário Ele está jantando na sala.
Mariano)
Subordinadas Adjetivas Explicativas: São explicativas quan- Questões
do apenas acrescentam uma qualidade à palavra a que se
referem, esclarecendo um pouco mais seu sentido, mas sem 1. (TRF – 3ª Região – Analista Judiciário – Área Adminis-
restringi-lo ou especificá-lo. trativa - FCC/2016)
Exemplo: Depois que se tinha fartado de ouro, o mundo teve fome de
açúcar, mas o açúcar consumia escravos. O esgotamento das
O escritor Jorge Amado,/que mora na Bahia,/ ançou um novo livro.
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Língua Portuguesa
minas − que de resto foi precedido pelo das florestas que for- políticas são apagadas. A violência de que participavam, ou que
neciam o combustível para os fornos −, a abolição da escra- combatiam, é esquecida. O museu parece assim desempenhar
vatura e, finalmente, uma procura mundial crescente, orientam um papel de pacificação social. A guerra das imagens extingue-se
São Paulo e o seu porto de Santos para o café. De amarelo, na pacificação dos museus.
passando pelo branco, o ouro tornou-se negro.
Todos os objetos reunidos ali têm como princípio o fato de terem
Mas, apesar de terem ocorrido essas transformações que tor- sido retirados de seu contexto. Desde então, dois pontos de vista
naram Santos num dos centros do comércio internacional, o concorrentes são possíveis. De acordo com o primeiro, o museu é
local conserva uma beleza secreta; à medida que o barco pe- por excelência o lugar de advento da Arte enquanto tal, separada
netra lentamente por entre as ilhas, experimento aqui o primei- de seus pretextos, libertada de suas sujeições. Para o segundo,
ro sobressalto dos trópicos. Estamos encerrados num canal e pela mesma razão, é um “depósito de despojos”. Por um lado,
verdejante. Quase podíamos, só com estender a mão, agarrar o museu facilita o acesso das obras a um status estético que as
essas plantas que o Rio ainda mantinha à distância nas suas exalta. Por outro, as reduz a um destino igualmente estético, mas,
estufas empoleiradas lá no alto. Aqui se estabelece, num palco desta vez, concebido como um estado letárgico.
mais modesto, o contato com a paisagem.
A colocação em museu foi descrita e denunciada frequente-
O arrabalde de Santos, uma planície inundada, crivada de mente como uma desvitalização do simbólico, e a musealiza-
lagoas e pântanos, entrecortada por riachos estreitos e canais, ção progressiva dos objetos de uso como outros tantos es-
cujos contornos são perpetuamente esbatidos por uma bruma cândalos sucessivos. Ainda seria preciso perguntar sobre a
nacarada, assemelha - se à própria Terra, emergindo no come- razão do “escândalo”. Para que haja escândalo, é necessário
ço da criação. As plantações de bananeiras que a cobrem são que tenha havido atentado ao sagrado. Diante de cada crítica
do verde mais jovem e terno que se possa imaginar: mais agu- escandalizada dirigida ao museu, seria interessante desvendar
do que o ouro verde dos campos de juta no delta do Bramapu- que valor foi previamente sacralizado. A Religião? A Arte? A
tra, com o qual gosto de o associar na minha recordação; mas singularidade absoluta da obra? A Revolta? A Vida autêntica?
é que a própria fragilidade do matiz, a sua gracilidade inquieta, A integridade do Contexto original? Estranha inversão de pers-
comparada com a suntuosidade tranquila da outra, contribuem pectiva. Porque, simultaneamente, a crítica mais comum con-
para criar uma atmosfera primordial. tra o museu apresenta-o como sendo, ele próprio, um órgão
de sacralização. O museu, por retirar as obras de sua origem,
Durante cerca de meia hora, rolamos por entre bananeiras,
é realmente “o lugar simbólico onde o trabalho de abstração
mais plantas mastodontes do que árvores anãs, com troncos
assume seu caráter mais violento e mais ultrajante”. Porém,
plenos de seiva que terminam numa girândola de folhas elás-
esse trabalho de abstração e esse efeito de alienação operam
ticas por sobre uma mão de 100 dedos que sai de um enorme
em toda parte. É a ação do tempo, conjugada com nossa ilusão
lótus castanho e rosado. A seguir, a estrada eleva-se até os 800
da presença mantida e da arte conservada.
metros de altitude, o cume da serra. Como acontece em toda
parte nessa costa, escarpas abruptas protegeram dos ataques (Adaptado de: GALARD, Jean. Beleza Exorbitante. São Paulo, Fap.-Unifesp,
2012, p. 68-71)
do homem essa floresta virgem tão rica que para encontrarmos
igual a ela teríamos de percorrer vários milhares de quilômetros Na frase Diante de cada crítica escandalizada dirigida ao mu-
para norte, junto da bacia amazônica. seu, seria interessante desvendar que valor foi previamente
sacralizado (3°parágrafo), a oração sublinhada complementa o
Enquanto o carro geme em curvas que já nem poderíamos qua-
sentido de
lificar como “cabeças de alfinete”, de tal modo se sucedem
a) um substantivo, e pode ser considerada como interroga-
em espiral, por entre um nevoeiro que imita a alta montanha
tiva indireta.
de outros climas, posso examinar à vontade as árvores e as
b) um verbo, e pode ser considerada como interrogativa di-
plantas estendendo-se perante o meu olhar como espécimes
reta.
de museu.
c) um verbo, e pode ser considerada como interrogativa in-
(Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. Coimbra, Edições 70, direta.
1979, p. 82-3)
d) um substantivo, e pode ser considerada como interroga-
No primeiro período do segundo parágrafo, as duas ora- tiva direta.
ções que não se subordinam a nenhuma outra contêm os e) um advérbio, e pode ser considerada como interrogativa
seguintes verbos: indireta.
a) conserva − experimento
b) terem ocorrido − conserva 3. (ANAC – Analista Administrativo – ESAF/2016)
c) tornaram − penetra Assinale a opção que apresenta explicação correta para a in-
d) tornaram − experimento serção de “que é” antes do segmento grifado no texto.
e) conserva − penetra
A Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República di-
2. (TRF – 3ª Região – Analista Judiciário – Área Adminis- vulgou recentemente a pesquisa O Brasil que voa – Perfil dos
trativa - FCC/2016) Passageiros, Aeroportos e Rotas do Brasil, o mais completo
O museu é considerado um instrumento de neutralização – e tal- levantamento sobre transporte aéreo de passageiros do País.
vez o seja de fato. Os objetos que nele se encontram reunidos Mais de 150 mil passageiros, ouvidos durante 2014 nos 65
trazem o testemunho de disputas sociais, de conflitos políticos aeroportos responsáveis por 98% da movimentação aérea do
e religiosos. Muitas obras antigas celebram vitórias militares e País, revelaram um perfil inédito do setor.
conquistas: a maior parte presta homenagem às potências domi- <http://www.anac.gov.br/Noticia.aspx?ttCD_CHAVE=1957&slCD_ ORI-
GEM=29>. Acesso em: 13/12/2015 (com adaptações).
nantes, suas financiadoras. As obras modernas são, mais gene-
ricamente, animadas pelo espírito crítico: elas protestam contra a) Prejudica a correção gramatical do período, pois provoca
os fatos da realidade, os poderes, o estado das coisas. O museu truncamento sintático.
reúne todas essas manifestações de sentido oposto. Expõe tudo b) Transforma o aposto em oração subordinada adjetiva ex-
junto em nome de um valor que se presume partilhado por elas: a plicativa.
qualidade artística. Suas diferenças funcionais, suas divergências c) Altera a oração subordinada explicativa para oração res-
tritiva.
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Língua Portuguesa
Sendo esporte coletivo, o futebol tem implicações e significa- Mas, apesar de terem ocorrido essas transformações (oração su-
ções psicológicas coletivas, porém calcadas, pelo menos em bordinada) / que (pronome relativo - oração subordinada adjetiva)
parte, nas individualidades que o compõem. O jogo é coleti- tornaram Santos num dos centros do comércio internacional,
vo, como a vida social, porém num e noutra a atuação de um o local conserva uma beleza secreta (oração principal);
só indivíduo pode repercutir sobre o todo. Como em qualquer à medida que o barco penetra lentamente por entre as ilhas
sociedade, na do futebol vive-se o tempo inteiro em equilí- (oração subordinada), experimento aqui o primeiro sobressalto
brio precário entre o indivíduo e o grupo. O jogador busca o dos trópicos (oração principal).
sucesso pessoal, para o qual depende em grande parte dos
companheiros; há um sentimento de equipe, que depende das 2. Resposta C
qualidades pessoais de seus membros. O torcedor lúcido bus- A oração sublinhada realmente é uma Oração Sub. Substantiva
ca o prazer do jogo preservando sua individualidade; todavia, Subjetiva (pois tem função de sujeito), porém ela completa o
a própria condição de torcedor acaba por diluí- lo na massa. sentido do verbo “desvendar” e é uma interrogativa indireta,
(JÚNIOR, Hilário Franco. A dança dos deuses: futebol, cultura, sociedade. São pois não há interrogação.
Paulo: Companhia das letras, 2007, p. 303-304, com adaptações)
3. Resposta B
*Ballon d’Or 1990 - prêmio de melhor jogador do ano O jogador
busca o sucesso pessoal... Do modo como está, trata-se de um aposto explicativo, aquele
que explica ou esclarece algo; no caso explicando o que é a
A mesma relação sintática entre verbo e complemento, subli- pesquisa O Brasil que voa.
nhados acima, está em:
a) É indiscutível que no mundo contemporâneo... Se colocarmos um QUE É antes, ficaria assim: A Secretaria
b) ...o futebol tem implicações e significações psicológicas de Aviação Civil da Presidência da República divulgou recen-
coletivas... temente a pesquisa O Brasil que voa – Perfil dos Passageiros,
c) ...e funciona como escape para as pressões do cotidiano. Aeroportos e Rotas do Brasil, que é o mais completo levanta-
d) A solução para muitos é a reconversão em técnico... mento sobre transporte aéreo de passageiros do País.
e) ...que depende das qualidades pessoais de seus membros.
Logo, a oração em destaque é uma oração subordinada adje-
5. 05. (MPE/PB - Técnico ministerial - diligências e apoio tiva EXPLICATIVA, que é aquela isolada por vírgula e que tem
administrativo - FCC/2015) valor de adjetivo.
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, Outro exemplo: Meu irmão, que sempre aprontou, casou-se.
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha
aldeia Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia. 4. Resposta B
O Tejo tem grandes navios E navega nele ainda, O jogador busca o sucesso pessoal ... SUJEITO - VERBO
Para aqueles que veem em tudo o que lá não está, A memória TRANSITIVO DIRETO - OBJETO DIRETO
das naus. a) É indiscutível que no mundo contemporâneo... VERBO DE
O Tejo desce de Espanha LIGAÇÃO - PREDICATIVO DO SUJEITO - SUJEITO ORA-
E o Tejo entra no mar em Portugal CIONAL.
Toda a gente sabe isso. b) ... o futebol tem implicações e significações psicológicas
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia coletivas ... SUJEITO - VERBO TRANST. DIRETO - OBJE-
E para onde ele vai TO DIRETO.
E donde ele vem
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram
Ninguém nunca pensou no que há para além
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Língua Portuguesa
Vocativos, Apostos
Vocativos: Queridos ouvintes, nossa programação passará por
pequenas mudanças.
c) e funciona como escape para as pressões do cotidiano. Apostos: É aqui, nesta querida escola, que nos encontramos.
SUJEITO - VERBO TRANS. INDIRETO - OBJETO INDIRETO
d) A solução para muitos é a reconversão em técnico ... SU- Omissões de Termos
JEITO - VERBO DE LIGAÇÃO - Elipse: A praça deserta, ninguém àquela hora na rua. (Omi-
e) que depende das qualidades pessoais de seus membros. tiu-se o verbo “estava” após o vocábulo “ninguém”, ou seja,
SUJEITO - VERBO TRANS. INDIRETO - OBJ. INDIRETO ocorreu elipse do verbo estava)
5. Resposta B Zeugma: Na classe, alguns alunos são interessados; outros,
“O fragmento O TEJO TEM GRANDES NAVIOS E NAVEGA (são) relapsos. (Supressão do verbo “são” antes do vocábulo
NELE AINDA, PARA AQUELES QUE “relapsos”)
Vírgula Proibida
Enumerações
Sem gradação: Coleciono livros, revistas, jornais, discos.2
Com gradação: Não compreendo o ciúme, a saudade, a dor
da despedida.
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Língua Portuguesa
Este sinal gráfico é utilizado para anunciar pausas mais fortes, - Nos diálogos, para marcar a fala das personagens. Exem-
para separar orações adversativas (enfatizando o contraste de plo: As meninas gritaram: — Venham nos buscar!
ideias) e para separar os itens de enunciados. - No meio de sentenças, para dar ênfase em informações.
Exemplos: Exemplo: O garçom — creio que já lhe falei — está muito bem
no novo serviço - é o que ouvi dizer.
Os dois rapazes estavam desesperados por dinheiro; Ernesto
não tinha dinheiro nem crédito. (pausa longa)
Sonhava em comprar todos os sapatos da loja; comprei, po-
rém, apenas um par. (separação da oração adversativa na qual
Ponto de Exclamação !
a conjunção - porém - aparece no meio da oração)
Enumeração com explicitação - Comprei alguns livros: de Usos do Ponto de Exclamação
matemática, para estudar para o concurso; um romance, para
me distrair nas horas vagas; e um dicionário, para enriquecer - Após vocativos. Exemplo: Vem, Fabiano!
meu vocabulário. - Após imperativos. Exemplo: Corram!
Enumeração com ponto e vírgula, mas sem vírgula, para - Após interjeição. Exemplos: Ai! / Ufa!
marcar distribuição - Comprei os produtos no supermerca- - Após expressões ou frases de caráter emocional. Exemplo:
do: farinha para um bolo; tomates para o molho; e pão para o Quantas pessoas!
café da manhã.
Parênteses ( ) Aspas
“”
Aplicação das Aspas
Usos dos Parênteses
- Isolam termos distantes da norma culta, como gírias, neolo-
gismos, arcaísmos, expressões populares entre outros.
Isolar datas
Exemplo: Eles tocaram “flashback”, “tipo assim” anos 70 e 80.
Exemplo: Refiro-me aos soldados da Primeira Guerra Mundial
Foi um verdadeiro “show”.
(1914-1918).
- Delimitam transcrições ou citações textuais
Isolar siglas. Exemplo: Segundo Rui Barbosa: “A política afina o espírito.”
Exemplo: A taxa de desemprego subiu para 5,3% da popula- - Isolam estrangeirismos.
ção economicamente ativa (PEA)... Exemplo: Os restaurantes “fast food” têm reinado na cidade.
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Língua Portuguesa
*
nos aposentar cada vez mais tarde se quisermos manter um
Asterisco padrão de vida razoável.
Em 2009, pesquisadores publicaram um estudo na revista Lan-
Empregado para chamar a atenção do leitor para alguma nota cet e afirmaram que metade das pessoas nascidas após o ano
(observação). 2000 vai viver mais de 100 anos e três quartos vão comemorar
seus 75 anos.
Barra /
Até 2007 acreditávamos que a expectativa de vida das pessoas
não passaria de 85 anos. Foi quando os japoneses ultrapassa-
ram a expectativa para 86 anos. Na verdade, a expectativa de
Aplicada nas abreviações das datas e em algumas abreviaturas. vida nos países desenvolvidos sobe linearmente desde 1840,
indicando que ainda não atingimos um limite para o tempo de
vida máximo para um ser humano.
Hífen - No início do século XX, as melhorias no controle das doenças
infecciosas promoveram um aumento na sobrevida dos huma-
Usado para ligar elementos de palavras compostas e para nos, principalmente das crianças. E, depois da Segunda Guer-
unir pronomes átonos a verbos. Exemplo: guarda-roupa ra Mundial, os avanços da medicina no tratamento das enfer-
midades cardiovasculares e do câncer promoveram um ganho
para os adultos. Em 1950, a chance de alguém sobreviver dos
Questões 80 aos 90 anos era de 10%; atualmente excede os 50%.
1. (IF-TO – Auditor – IFTO/2016) Marque a alternativa em O que agora vai promover uma sobrevida mais longa e com
que a ausência de vírgula não altera o sentido do enun- mais qualidade será a mudança de hábitos. A Dinamarca era
ciado. em 1950 um dos países com a mais longa expectativa de vida.
a) O professor espera um, sim. Porém, em 1980 havia despencado para a 20a posição, devido
b) Recebo, obrigada. ao tabagismo.
c) Não, vá ao estacionamento do campus. O controle da ingestão de sal e açúcar, e a redução dos vícios
d) Não, quero abandonar minha funções no trabalho. como cigarro e álcool, além de atividade física, vão determinar
e) Hoje, podem ser adquiridas as impressoras licitadas. uma nova onda do aumento de expectativa de vida. A própria
2. (MPE-GO – Secretário Auxiliar – MPE-GO/2016) Assina- qualidade de vida, medida por anos de saúde plena, deve mu-
le a alternativa correta quanto ao uso da pontuação. dar para melhor nas próximas décadas.
a) Os motoristas, devem saber, que os carros podem ser uma O próximo problema a ser enfrentado é a falta de dinheiro para
extensão de nossa personalidade. as últimas décadas de vida: estamos nos aposentando muito
b) Os congestionamentos e o número de motoristas na rua, cedo e o que juntamos não será o suficiente. Precisamos guar-
são as principais causas da ira de trânsito. dar 10% do salário anual e nos aposentar aos 80 anos para
c) A ira de trânsito pode ocasionar, acidentes e; aumentar os que a independência econômica acompanhe a independência
níveis de estresse em alguns motoristas. física na aposentadoria.
d) Dirigir pode aumentar, nosso nível de estresse, porque
você está junto; com os outros motoristas cujos comporta- Os pesquisadores propõem que a idade de aposentadoria
mentos, são desconhecidos. seja alongada e que os sexagenários mudem seu raciocí-
e) Segundo alguns psicólogos, é possível, em certas circuns- nio: em vez de pensar na aposentadoria, que passem a mirar
tâncias, ceder à frustração para que a raiva seja aliviada. uma promoção.
(Adaptado de: TUMA, Rogério. Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/
3. (SEGEP-MA – Analista Ambiental – FCC/2016) A frase revista/911/o-contribuinte-secular)
escrita com correção é:
a) Humberto de Campos, jornalista, critico, contista, e me- Atente para as afirmações abaixo.
morialista nasceu, em Miritiba, hoje Humberto de Campos I. Sem prejuízo para a correção, o sinal de dois-pontos pode
no Maranhão, em 1886, e falesceu, no Rio de Janeiro em ser substituído por “visto que”, precedido de vírgula, em: O
1934. próximo problema a ser enfrentado é a falta de dinheiro para
b) O escritor Humberto de Campos, em 1933, publicou o livro as últimas décadas de vida: estamos nos aposentando muito
que veio à ser considerado, o mais celebre de sua obra: cedo e o que juntamos não será o suficiente. (7o parágrafo)
Memórias, crônica dos começos de sua vida. II. No segmento A própria qualidade de vida, medida por
c) Em 1912, Humberto de Campos, transferiu-se para o Rio anos de saúde plena, deve mudar para melhor..., as vírgu-
de Janeiro, e entrou para O Imparcial, na fase em que ali las podem ser corretamente substituídas por travessões.
encontrava-se um grupo de eximios escritores. (6º parágrafo)
d) De infância pobre e orfão de pai aos seis anos; Humberto III. Haverá prejuízo para a correção caso uma vírgula seja
de Campos, começou a trabalhar cedo no comércio, como colocada imediatamente após “alongada” no segmento:
meio de subsistencia. Os pesquisadores propõem que a idade de aposentadoria
e) Humberto de Campos publicou seu primeiro livro em 1910, seja alongada e que os sexagenários mudem seu raciocí-
a coletânea de versos intitulada Poeira; em 1920, já mem- nio... (último parágrafo)
bro da Academia Brasileira de Letras, foi eleito deputado Está correto o que se afirma APENAS em:
federal pelo Maranhão.
a) I e II.
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Língua Portuguesa
7. (MPE-GO – Secretário Auxiliar – MPE-GO/2016) O pe- —O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fa-
ríodo abaixo foi escrito por Machado de Assis em seu zem passar por bobos.
Conto de Escola. A alternativa que apresenta a pontua-
ção de acordo com a norma culta é:
a) Compreende-se que o ponto da lição era difícil e que o
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Língua Portuguesa
— Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difici- emocional, sem uma escola que estimule seu potencial, sem
lão, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar ter o que fazer com seu tempo livre, sem enxergar uma luz no
por bobos. fim do túnel, ela fica muito mais perto da droga, do tráfico, do
delito, da violência e da gestação na adolescência. É nessa
— Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bo-
mesma família, sem pai à vista, de baixa renda, longe da sala
bos ganham vida.
de aula, nas periferias, que pipocam os quase 15% das jovens
— Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que nin- que são mães na adolescência, taxa alarmante que resiste a
guém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles baixar nas regiões mais carentes.
sabem.
E o que acontece com essa menina que engravida porque en-
— Piá lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não xerga na maternidade um papel social, uma forma de justificar
confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, sua existência no mundo? Iludidas com a perspectiva de esta-
por exemplo, facilita o ser bobo. Ah, quantos perdem por não bilizar um relacionamento (a família estruturada que não têm?),
nascer em Minas! elas ficam, usualmente, sozinhas, ainda mais distantes da es-
cola e de seu projeto de vida. O pai da criança some no mundo,
— Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima
e são elas que arcam com o ônus do filho, sobrecarregando
das casas.
um lar que já vivia no limite. Segue-se um ciclo que parece não
— E quase impossível evitar o excesso de amor que um bobo ter fim. Sem políticas públicas que foquem nessa família mais
provoca. E que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o vulnerável, no apoio emocional e social para esses jovens, em
amor faz o bobo. uma escola mais atraente, em projetos de vida, em alternativas
(Clarice Lispector. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, de lazer, a realidade diária na vida desses jovens continuará a
1984.) ser a gravidez na adolescência, a violência e a criminalidade.
“O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fa- BOUER, Jairo. A importância da família estruturada. 11 jul. 2016. Época. Dispo-
nível em: Acesso em: 19 jul. 2016 (Adapt.)
zem passar por bobos.” A assertiva que
Releia o trecho a seguir.
apresenta análise correta em relação ao parágrafo transcrito é:
a) Há três adjetivos em função predicativa. A mãe e a avó, nessa família brasileira que cresce cada vez
b) Fazer foi usado como verbo impessoal. mais matriarcal, desdobram-se para tentar cumprir esses re-
c) O verbo haver está na terceira pessoa do singular porque quisitos e preencher as lacunas, mas são “atropeladas” pela
é impessoal. rotina dura.
d) A forma verbal fazem concorda com o pronome relativo que.
Em relação ao uso das aspas nesse trecho, assinale a alterna-
e) A oração que se fazem passar por bobos deveria estar pre-
tiva CORRETA.
cedida de vírgula porque explica o termo espertos.
a) Relativizam um conceito.
9. (IFN-MG – Psicólogo - FUNDEP (Gestão de Concursos) b) Marcam uma transcrição.
/2016) c) Sinalizam ironia por parte do autor.
d) Destacam uma pausa no texto.
A importância da família estruturada
10. (SEGEP-MA – Analista Ambiental – Pedagogo –
Um levantamento do Ministério Público de São Paulo traz
FCC/2016)
um dado revelador: dois terços dos jovens infratores da capi-
tal paulista fazem parte de famílias que não têm um pai dentro Será que a internet está a matar a democracia? Vyacheslav W.
de casa. Além de não viverem com o pai, 42% não têm contato Polonski, um acadêmico da Universidade de Oxford, faz essa
algum com ele e 37% têm parentes com antecedentes crimi- pergunta na revista Newsweek. E oferece argumentos a respei-
nais. Ajudam a engrossar essas estatísticas os garotos Waldik to que desaguam em águas tenebrosas.
Gabriel, de 11 anos, morto em Cidade Tiradentes, Zona Leste
A internet oferece palco político para os mais motivados (e
de São Paulo, depois de fugir da Guarda Civil Metropolitana, e
despreparados). Antigamente, o cidadão revoltado podia ter
Italo, de 10 anos, envolvido em três ocorrências de roubo só
as suas opiniões sobre os assuntos do mundo. Mas, tirando
em 2016, morto pela Polícia Militar no início de junho, depois
o boteco, ou o bairro, ou até o jornal do bairro, essas opiniões
de furtar um carro na Zona Sul da cidade. O pai de Waldik é
nasciam e morriam no anonimato.
caminhoneiro e não vivia com a mãe. O de Italo está preso por
tráfico. A mãe já cumpriu pena por furto e roubo. Hoje, é possível arregimentar dezenas, ou centenas, ou milha-
res de “seguidores” que rapidamente espalham a mensagem
É certo que um pai presente e próximo ao filho faz diferen-
por dezenas, ou centenas, ou milhares de novos “seguido-
ça. Mas, mais que a figura masculina propriamente dita, faz
res”. Quanto mais radical a mensagem, maior será o sucesso
falta uma família estruturada, independentemente da configu-
cibernauta.
ração, que dê atenção, carinho, apoio, noções de continên-
cia e limite, elementos que protegem os jovens em fase de Mas a internet não é apenas um paraíso para os politicamente
desenvolvimento. motivados (e despreparados). Ela tende a radicalizar qualquer
opinião sobre qualquer assunto.
A mãe e a avó, nessa família brasileira que cresce cada vez
mais matriarcal, desdobram-se para tentar cumprir esses re- A ideia de que as redes sociais são uma espécie de “ágora mo-
quisitos e preencher as lacunas, mas são “atropeladas” pela derna”, onde existem discussões mais flexíveis e pluralistas,
rotina dura. Muitas vezes, não têm tempo, energia, dinheiro e não passa de uma fantasia. A internet não cria debate. Ela cria
voz para lidar com esses garotos e garotas que crescem na trincheiras entre exércitos inimigos.
rua, longe da escola, em bairros sem equipamentos de esporte (Adaptado de: COUTINHO, João Pereira. Disponível em: http://www1.folha.uol.
e cultura, próximos de amigos e parentes que podem estar en- com.br/colunas/joaopereiracoutinho/2016/08/1801611)
volvidos com o crime.
Atente para as afirmações abaixo a respeito do 1‘ parágrafo
A criança precisa ter muita autoestima e persistência para bus- do texto.
car nesse horizonte nebuloso um projeto de vida. Sem apoio
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Língua Portuguesa
I. O ponto de interrogação pode ser excluído, sem prejuízo mos nos aposentando muito cedo e o que juntamos não
para a correção e o sentido, por se tratar de pergunta re- será o suficiente.
tórica. II. Correto: No segmento A própria qualidade de vida - me-
II. As vírgulas isolam o aposto. dida por anos de saúde plena - deve mudar para melhor...
III. Na última frase do parágrafo, o pronome “que” retoma “ar- III. NÃO Haverá prejuízo para a correção. Os pesquisadores
gumentos”. (sujeito) propõem que a idade de aposentadoria seja alon-
IV. No contexto, o verbo “desaguar” está empregado em sen- gada, e que os sexagenários (sujeito) mudem seu raciocí-
tido figurado. nio...
Está correto o que se afirma APENAS em: 5. (B)
e) I e II.
Esta é a ideia a qual a autora se mostra contrária, a de que não
f) II, III e IV.
há beleza ou felicidade depois da juventude.
g) II e III.
h) I e IV. 6. 6. (D)
a) A vírgula não pode separar o sujeito (o bolo...) do verbo
Respostas (sumiu). Incorreta.
b) Há vírgula entre o sujeito (ele) e o verbo (retirou). Incorreta.
1. (E) c) O ponto e vírgula está separando um aposto explicativo,
a) O professor espera um, sim. O PROF. ESTA ESPERANDO quando na verdade deveria haver um sinal de dois-pontos.
UM ALGO, QUANDO TIRO A VIRGULA ELE FICA ‘’ESPE- d) Essa é a vírgula que marca termo omitido (Zeugma).
RANDO UM SIM’’.
b) Recebo, obrigada. A PESSOA RECEBE E DIZ OBRIGADO, Paulo pretende cursar Medicina; Márcia, Odontologia. (preten-
QUANDO TIRO A VIRGULA ELE PASSA A RECEBER É UM de cursar)
OBRIGADO. 7. (B)
c) Não, vá ao estacionamento do campus. ‘’VÁ AO ESTACIO-
NAMENTO’’, QUANDO TIRO A VIRGULA PASSA A ‘’NÃO A alternativa A tem dois pontos que não deveriam aparecer
VÁ AO ESTACIONAME...’’ na oração.
d) Não, quero abandonar minha funções no trabalho. EU 8. (C)
QUERO ABANDONAR, QUANDO TIRO A VIRGULA FICA a) Errada. Há apenas um adjetivo em função de predicativo
NEGADO ‘’NÃO QUERO...’’ do sujeito, que é o termo “simpático”. Repare que está
e) Todas mudaram de sentido, menos a última. qualificando o sujeito “Bobo” e se relacionam através de
2. (E) um verbo de ligação.
“O bobo (sujeito) é (verbo de ligação) sempre tão simpático
Conferindo as demais: (predicativo do sujeito)
a) Os motoristas, devem saber, que os carros podem ser uma b) Errada. O verbo não foi usado de forma impessoal pois é
extensão de nossa personalidade. NÃO SE SEPARA SU- possível achar seu agente. Quem se faz passar por bobos?
JEITO DO PREDICADO POR VÍRGULA. Os espertos.
b) Os congestionamentos e o número de motoristas na rua, c) Gabarito. Sem comentários. Perfeita. Está no presente do
são as principais causas da ira de trânsito. NÃO SE SEPA- indicativo na terceira pessoa do singular.
RA SUJEITO DO PREDICADO POR VÍRGULA. d) Errada. A forma verbal “fazem” concorda com “espertos”.
c) A ira de trânsito pode ocasionar, acidentes e; aumentar os e) Errada. A frase está perfeita, em ordem direta e não caberia
níveis de estresse em alguns motoristas. NÃO SE SEPARA vírgula nesse trecho.
POR VÍRGULA VERBO DE SEU COMPLEMENTO (no caso
‘ocasionar’ sendo VTD e acidentes OD) 9. (A)
d) Dirigir pode aumentar, nosso nível de estresse, porque O palavra “atropelar” foi colocada entre aspas para que o in-
você está junto; com os outros motoristas cujos comporta- terlocutor conceitue de forma conotativa, ou seja, um conceito
mentos, são esconhecidos. ** NÃO SE SEPARA POR VÍR- diferente. Nesse caso, o termo “atropelar” foi usado no sentido
GULA VERBO DE SEU COMPLEMENTO de não conseguirem por causa da rotina dura.
e) Segundo alguns psicólogos, é possível, em certas circuns-
tâncias, ceder à frustração para que a raiva seja aliviada. Exemplo: Levei um “bolo” no encontro com aquela mulher
(Correta) - Aqui o termo “bolo” não está no seu sentido denotativo,
está com conceito diferente, de que não cumpriram com o
3. (E) compromisso.
a) Humberto de Campos, jornalista, critico, contista, e memo-
rialista nasceu, em Miritiba, hoje Humberto de Campos no 10. (B)
Maranhão, em 1886, e FALECEU, no Rio de Janeiro em 1934. Item I = ERRADO.
b) O escritor Humberto de Campos, em 1933, publicou o livro
que veio à ser considerado, o mais celebre de sua obra:
Memórias, crônica DO COMEÇO de sua vida.
c) Em 1912, Humberto de Campos, transferiu-se para o Rio
de Janeiro, e entrou para O Imparcial, na fase em que ali
encontrava-se um grupo de exÍmios escritores.
d) De infância pobre e orfão de pai aos seis anos; Humberto
de Campos, começou a trabalhar cedo no comércio, como
meio de subsistÊncia.
4. (A)
I. Correto: O próximo problema a ser enfrentado é a falta de
dinheiro para as últimas décadas de vida, visto que esta-
99
Língua Portuguesa
Caso o ponto de interrogação for excluído, a frase (Será que a O adjetivo que se refere a mais de um substan-
internet está a matar a democracia?) tivo de gênero ou número diferentes, quando
perde o caráter de pergunta, de reflexão e passa a ser uma posposto, poderá concordar no masculino plu-
afirmação. A correção vai se prejudicar. ral (concordância mais aconselhada), ou com o
substantivo mais próximo.
Item II = CERTO. As vírgulas isolam o aposto.
Exemplo:
Aposto é um termo que se junta a outro de valor substantivo
ou pronominal para explicá-lo ou especificá-lo melhor. Vem se- No masculino plural
parado dos demais termos da oração por vírgula, dois-pontos
ou travessão. “Tinha as espáduas e o colo feitos de encomenda para os ves-
tidos decotados.” (Machado de Assis)
O aposto se revela na seguinte passagem: Vyacheslav W. Po-
lonski, um acadêmico da Universidade de Oxford, faz essa per- “Os arreios e as bagagens espalhados no chão, em roda.”
gunta na revista Newsweek. (Herman Lima)
Item III = CERTO. Na última frase do parágrafo, o pronome “Ainda assim, apareci com o rosto e as mãos muito marca-
“que” retoma “argumentos”. dos.” (Carlos Povina Cavalcânti)
A finalidade do pronome relativo é evitar a repetição do termo “...grande número de camareiros e camareiras nativos.” (Érico
antecedente na oração em que ocorre. Veríssimo)
Com o substantivo mais próximo
Item IV = CERTO. No contexto, o verbo “desaguar” está empre-
gado em sentido figurado. A Marinha e o Exército brasileiro estavam alerta.
Desaguar = Drenar, Enxugar, Lançar as águas em (falando do Músicos e bailarinas ciganas animavam a festa.
curso dos rios).
“...toda ela (a casa) cheirando ainda a cal, a tinta e a barro fres-
co.” (Humberto de Campos)
11. Concordância
“Meu primo estava saudoso dos tempos da infância e falava
dos irmãos e irmãs falecidas.” (Luís Henrique Tavares)
Exemplo: O alto ipê cobre-se de flores amarelas. Seus olhos têm algo de sedutor.
100
Língua Portuguesa
Todavia, por atração, podem esses adjetivos concordar com o Tomar hormônios às refeições não é mau.
substantivo (ou pronome) sujeito: “Elas nada tinham de ingê-
É necessário ter muita fé.
nuas.” (José Gualda Dantas)
Havendo determinação do sujeito, ou sendo preciso realçar o
predicativo, efetua-se a concordância normalmente:
Concordância do adjetivo predicativo com o
É necessária a tua presença aqui. (= indispensável)
sujeito
“Se eram necessárias obras, que se fizessem e largamente.”
A concordância do adjetivo predicativo com o sujeito realiza-se (Eça de Queirós)
consoante as seguintes normas: “Seriam precisos outros três homens.” (Aníbal Machado)
O predicativo concorda em gênero e número “São precisos também os nomes dos admiradores.” (Carlos
com o sujeito simples de Laet)
Vossas Excelências, senhores Ministros, são merecedores de “Vi setas e carcás espedaçados”. (Gonçalves Dias)
nossa confiança. Encontrei jogados no chão o álbum e as cartas.
Vossa Alteza foi bondoso. (com referência a um príncipe)
Se anteposto ao objeto, poderá o predicati-
O predicativo aparece às vezes na forma do vo, neste caso, concordar com o núcleo mais
masculino singular nas estereotipadas locu- próximo
ções é bom, é necessário, é preciso, etc., em- É preciso que se mantenham limpas as ruas e os jardins.
bora o sujeito seja substantivo feminino ou
plural Segue as mesmas regras o predicativo expres-
Bebida alcoólica não é bom para o fígado. so pelos substantivos variáveis em gênero e
número
“Água de melissa é muito bom.” (Machado de Assis)
Temiam que as tomassem por malfeitoras;
“É preciso cautela com semelhantes doutrinas.” (Camilo Cas-
telo Branco) Considero autores do crime o comerciante e sua empregada.
101
Língua Portuguesa
O governo avisa que não serão permitidas invasões de O substantivo que se segue às locuções um e outro e nem ou-
propriedades. tro fica no singular. Exemplos: Um e outro livro me agradaram;
Nem um nem outro livro me agradaram.
Quando o núcleo do sujeito é, como no último exemplo, um
coletivo numérico, pode-se, em geral, efetuar a concordância
Outros casos de concordância nominal
com o substantivo que o acompanha:
Registramos aqui alguns casos especiais de concordância
Centenas de rapazes foram vistos pedalando nas ruas; nominal:
Dezenas de soldados foram feridos em combate. Anexo, incluso, leso. Como adjetivos, concordam com o
Referindo-se a dois ou mais substantivos de gênero diferentes, substantivo em gênero e número:
o particípio concordará no masculino plural: Anexa à presente, vai a relação das mercadorias.
Atingidos por mísseis, a corveta e o navio foram a pique; Vão anexos os pareceres das comissões técnicas.
“Mas achei natural que o clube e suas ilusões fossem leiloa- Remeto-lhe, anexas, duas cópias do contrato.
dos.” (Carlos Drummond de Andrade)
Remeto-lhe, inclusa, uma fotocópia do recibo.
Os crimes de lesa-majestade eram punidos com a morte.
Concordância do pronome com o
Ajudar esses espiões seria crime de lesa-pátria.
nome Observação: Evite a locução em anexo.
A olhos vistos. Locução adverbial invariável. Significa
O pronome, quando se flexiona, concorda em visivelmente.
gênero e número com o substantivo a que se
refere “Lúcia emagrecia a olhos vistos”. (Coelho Neto)
“Martim quebrou um ramo de murta, a folha da tristeza, e dei- “Zito envelhecia a olhos vistos.” (Autren Dourado)
tou-o no jazido de sua esposa”. (José de Alencar) Só. Como adjetivo, só [sozinho, único] concorda em
número com o substantivo.
“O velho abriu as pálpebras e cerrou-as logo.” (José de Alencar)
Como palavra denotativa de limitação, equivalente de apenas,
O pronome que se refere a dois ou mais subs- somente, é invariável.
tantivos de gêneros diferentes, flexiona-se no
Eles estavam sós, na sala iluminada.
masculino plural
Esses dois livros, por si sós, bastariam para torná-los célebre.
“Salas e coração habita-os a saudade” (Alberto de Oliveira)
Elas só passeiam de carro.
“A generosidade, o esforço e o amor, ensinaste-os tu em toda
Só eles estavam na sala.
a sua sublimidade.” (Alexandre Herculano)
Forma a locução a sós [=sem mais companhia, sozinho]
Conheci naquela escola ótimos rapazes e moças, com os
quais fiz boas amizades. Estávamos a sós. Jesus despediu a multidão e subiu ao monte
“Referi-me à catedral de Notre-Dame e ao Vesúvio familiarmen- para orar a sós.
te, como se os tivesse visto.” (Graciliano Ramos) Possível. Usado em expressões superlativas, este
adjetivo ora aparece invariável, ora flexionado.
Os substantivos sendo sinônimos, o pronome
“A volta, esperava-nos sempre o almoço com os pratos mais
concorda com o mais próximo
requintados possível.” (Maria Helena Cardoso)
“Ó mortais, que cegueira e desatino é o nosso!” (Manuel
“Estas frutas são as mais saborosas possível.” (Carlos Góis)
Bernardes)
“A mania de Alice era colecionar os enfeites de louça mais gro-
Os pronomes um... outro, quando se referem a tescos possíveis.” (ledo Ivo)
substantivos de gênero diferentes, concordam “... e o resultado obtido foi uma apresentação com movimentos
no masculino os mais espontâneos possíveis.” (Ronaldo Miranda)
Marido e mulher viviam em boa harmonia e ajudavam-se um Como se vê dos exemplos citados, há nítida tendência, no por-
ao outro. tuguês de hoje, para se usar, neste caso, o adjetivo possível
no plural. O singular é de rigor quando a expressão superlativa
inicia com a partícula o (o mais, o menos, o maior, o menor, etc.)
102
Língua Portuguesa
Os prédios devem ficar o mais afastados possível. As cordas eram bastante fortes para sustentar o peso. Os
emissários voltaram bastante otimistas.
Ele trazia sempre as unhas o mais bem aparadas possível. O
médico atendeu o maior número de pacientes possível. “Levi está inquieto com a economia do Brasil. Vê que se aproxi-
mam dias bastante escuros.” (Austregésilo de Ataíde)
Adjetivos adverbiados. Certos adjetivos, como sério,
claro, caro, barato, alto, raro, etc., quando usados com Menos. É palavra invariável
a função de advérbios terminados em – mente, ficam
invariáveis. Gaste menos água.
Vamos falar sério. [sério = seriamente] Penso que falei bem À noite, há menos pessoas na praça.
claro, disse a secretária.
Esses produtos passam a custar mais caro. [ou mais barato] Questões
Estas aves voam alto. [ou baixo]
Junto e direto ora funcionam como adjetivos, ora como 1. (Pref. de Lauro Muller/SC – Auxiliar Administrativo –
advérbios. FAEPESUL/2016)
Marque a alternativa em que a concordância nominal este-
“Jorge e Dante saltaram juntos do carro.” (José Louzeiro) ja CORRETA:
“Era como se tivessem estado juntos na véspera.” (Autram a) Desde que comprovadas as faltas, sofrerá punições as ins-
Dourado). “Elas moram junto há algum tempo.” (José Gualda tituições que não respeitarem a lei vigente.
Dantas) b) Novas taxas de juro, segundo os economistas internacio-
nais, será anunciado na próxima semana.
“Foram direto ao galpão do engenheiro-chefe.” (Josué Guimarães) c) Foi inaugurada ontem, depois de vários cancelamentos,
- Todo. No sentido de inteiramente, completamente, novas obras da administração local.
costuma-se flexionar, embora seja advérbio. d) Prossegue implacável as denúncias contra governantes e
empreiteiros do nosso país.
Esses índios andam todos nus. e) Não estão previstas, até o momento, novas datas para a
Geou durante a noite e a planície ficou toda (ou todo) branca. realização das provas.
As meninas iam todas de branco. 2. (Pref. de Nova Veneza/SC – Psicólogo – FAEPE-
A casinha ficava sob duas mangueiras, que a cobriam toda. SUL/2016)
Mas admite-se também a forma invariável: A alternativa que está coerente com as regras da concordância
nominal é:
Fiquei com os cabelos todo sujos de terá. Suas mãos estavam a) Ternos marrons-claros.
todo ensanguentadas. b) Tratados lusos-brasileiros.
Alerta. Pela sua origem, alerta (=atentamente, de prontidão, c) Aulas teórico-práticas.
em estado de vigilância) é advérbio e, portanto, invariável d) Sapatos azul-marinhos.
e) Camisas verdes-escuras.
Estamos alerta.
3. (SAAEB – Engenheiro de Segurança do Trabalho – FA-
Os soldados ficaram alerta. FIPA/2016)
“Todos os sentidos alerta funcionam.” (Carlos Drummond de Indique a alternativa que NÃO apresenta erro de concordância
Andrade) nominal.
a) O acontecimento derrubou a bolsa brasileira, argentina e
“Os brasileiros não podem deixar de estar sempre alerta.”
a espanhola.
(Martins de Aguiar)
b) Naquele lugar ainda vivia uma pseuda-aristocracia.
Contudo, esta palavra é, atualmente, sentida antes como c) Como não tinham outra companhia, os irmãos viajaram só.
adjetivo, sendo, por isso, flexionada no plural: Nossos che- d) Simpáticos malabaristas e dançarinos animavam a festa.
fes estão alertas. (=vigilantes)
4. (CASAN – Técnico de Laboratório – INSTITUTO
Papa diz aos cristãos que se mantenham alertas. AOCP/2016)
“Uma sentinela de guarda, olhos abertos e sentidos alertas, es- “Estamos Enlouquecendo Nossas Crianças!
perando pelo desconhecido...” (Assis Brasil, Os Crocodilos, p. 25)
Estímulos Demais... Concentração de Menos”
Meio. Usada como advérbio, no sentido de um pouco,
31 Maio 2015 em Bem-Estar, filhos
esta palavra é invariável.
Vivemos tempos frenéticos. A cada década que passa o
Exemplos: A porta estava meio aberta. modo de vida de 10 anos atrás parece ficar mais distante:
10 anos viraram 30, e logo teremos a sensação de ter se
As meninas ficaram meio nervosas.
passado 50 anos a cada 5. E o mundo infantil foi atingido
Os sapatos eram meio velhos, mas serviam. em cheio por essas mudanças: já não se educa (ou brinca,
alimenta, veste, entretêm, cuida, consola, protege, ampara e
Bastante. Varia quando adjetivo, sinônimo de suficiente
satisfaz) crianças como antigamente!
Não havia provas bastantes para condenar o réu. O iPad, por exemplo, já é companheiro imprescindível nas re-
Duas malas não eram bastantes para as roupas da atriz. feições de milhares de crianças. Em muitas casas a(s) TV(s)
fica(m) ligada(s) o tempo todo na programação infantil – naque-
Fica invariável quando advérbio, caso em que modifica les canais cujo volume aumenta consideravelmente durante os
um adjetivo. comerciais – mesmo quando elas estão comendo com o iPad
à mesa.
103
Língua Portuguesa
Muitas e muitas crianças têm atividades extracurriculares pelo No sintagma “uma boa competitividade”, a concordância no-
menos três vezes por semana, algumas somam mais de 50 ho- minal se dá porque.
ras semanais de atividades, entre escola, cursos, esportes e a) temos uma preposição seguida de dois substantivos femi-
reforços escolares. ninos singulares.
b) temos uma preposição, um advérbio e um substantivo
Existe em quase todas as casas uma profusão de brinquedos,
masculino singular.
aparelhos, recursos e pessoas disponíveis o tempo todo para
c) temos um artigo definido feminino singular, um adjetivo fe-
garantir que a criança “aprenda coisas” e não “morra de tédio”.
minino singular e um substantivo masculino singular.
As pré- escolas têm o mesmo método de ensino dos cursos
d) temos um artigo definido feminino singular, um adjetivo fe-
pré-vestibulares.
minino singular e um substantivo feminino singular.
Tudo está sendo feito para que, no final, possamos ocupar, e) temos um artigo indefinido feminino singular, um adjetivo
aproveitar, espremer, sugar, potencializar, otimizar e, finalmen- feminino singular e um substantivo feminino singular.
te, capitalizar todo o tempo disponível para impor às nossas
5. (CISMEPAR/PR – Advogado – FAUEL/2016)
crianças uma preparação praticamente militar, visando seu
“sucesso”. O ar nas casas onde essa preocupação é latente A respeito de concordância verbal e nominal, assinale a alter-
chega a ser denso, tamanha a pressão que as crianças sofrem nativa cuja frase NÃO realiza a concordância de acordo com a
por desenvolver uma boa competitividade. Porém, o excesso norma padrão da Língua Portuguesa:
de estímulos sonoros, visuais, físicos e informativos impedem a) Meias verdades são como mentiras inteiras: uma pessoa
que a criança organize seus pensamentos e atitudes, de ver- meia honesta é pior que uma mentirosa inteira.
dade: fica tudo muito confuso e nebuloso, e as próprias in- b) Sonhar, plantar e colher: eis o segredo para alcançar seus
formações se misturam fazendo com que a criança mal saiba objetivos.
descrever o que acabou de ouvir, ver ou fazer. c) Para o sucesso, não há outro caminho: quanto mais dis-
tante o alvo, maior a dedicação.
Além disso, aptidões que devem ser estimuladas estão
d) Não é com apenas uma tentativa que se alcança o que se
sendo deixadas de lado: Crianças não sabem conversar. Não
quer.
olham nos olhos de seus interlocutores. Não conseguem focar
em uma brincadeira ou atividade de cada vez (na verdade a
maioria sequer sabe brincar sem a orientação de um adulto!). Respostas
Não conseguem ler um livro, por menor que seja. Não aceitam 1. Resposta E
regras. Não sabem o que é autoridade. Pior e principalmente: a) Desde que comprovadas as faltas, sofrerá (sofrerão) puni-
não sabem esperar. ções as instituições que não respeitarem a lei vigente.
Todas essas qualidades são fundamentais na construção de b) Novas taxas de juro, segundo os economistas internacio-
um ser humano íntegro, independente e pleno, e devem ser nais, será (serão)anunciadas na próxima semana.
aprendidas em casa, em suas rotinas. c) Foi (foram)inaugurada ontem, depois de vários cancela-
mentos, novas obras da administração local.
Precisamos pausar. Parar e olhar em volta. Colocar a mão na d) Prossegue (Prosseguem implacáveis) implacável as de-
consciência, tirá-la um pouco da carteira, do telefone e do vo- núncias contra governantes e empreiteiros do nosso país.
lante: estamos enlouquecendo nossas crianças, e as estamos e) Não estão previstas, até o momento, novas datas para a
impedindo de entender e saber lidar com seus tempos, seus realização das provas.
desejos, suas qualidades e talentos. Estamos roubando o tem-
po precioso que nossos filhos tanto precisam para processar 2. Resposta C
a quantidade enorme de informações e estímulos que nós e o Quanto à letra “e”, tem-se que o primeiro elemento do adjeti-
mundo estamos lhes dando. vo composto permanecerá invariável: Camisa verde-escura,
Calma, gente. Muita calma. Não corramos para cima da criança então observe: plural do substantivo camisa é camisas verde
com um iPad na mão a cada vez que ela reclama ou achamos é adjetivo, como se trata de adjetivo composto, no caso ver-
que ela está sofrendo de “tédio”. Não obriguemos a babá a ter de-escura, apenas o segundo adjetivo, vai ao plural. Ficando
um repertório mágico, que nem mesmo palhaços profissionais assim: Camisas verde - escuras.
têm, para manter a criança entretida o tempo todo. O “tédio” 3. Resposta D
nada mais é que a oportunidade de estarmos em contato co- a) Errado - A bolsa brasileira, A argentina e A espanhola
nosco, de estimular o pensamento, a fantasia e a concentração. b) Errado - Pseuda-aristocracia, deveria ser Pseudo
Sugiro que leiamos todos, pais ou não, “O Ócio Criativo” de c) Errado - Os irmãos viajaram Sós.
Domenico di Masi, para que entendamos a importância do uso d) Correta - A concordância deste adjetivo poderá ser com
consciente do nosso tempo. mais próximo ou com os dois
104
Língua Portuguesa
O verbo concorda com o sujeito, em harmonia com as seguin- O sujeito é composto e de pessoas
tes regras gerais:
diferentes
Verbo depois do sujeito “Tu e ele partireis juntos.” (Mário Barreto) (tu e ele = vós)
“As saúvas eram uma praga.” (Carlos Povina Cavalcânti) Você e meu irmão não me compreendem. (você e ele = vocês)
“Tu não és inimiga dele, não? (Camilo Castelo Branco) Muitas vezes os escritores quebram a rigidez dessa regra:
Ora fazendo concordar o verbo com o sujeito mais próxi-
“Vós fostes chamados à liberdade, irmãos.” (São Paulo) mo, quando este se pospõe ao verbo:
“O que resta da felicidade passada és tu e eles.” (Camilo Cas-
Verbo antes do sujeito telo Branco)
Acontecem tantas desgraças neste planeta!
“Faze uma arca de madeira; entra nela tu, tua mulher e teus
Não faltarão pessoas que nos queiram ajudar. filhos.” (Machado de Assis)
A quem pertencem essas terras? Ora preferindo a 3ª pessoa na concorrência tu + ele (tu + ele =
vocês em vez de tu + ele = vós):
105
Língua Portuguesa
Núcleos do sujeito unidos pela preposição com “Tanto Noêmia como Reinaldo só mantinham relações de ami-
zade com um grupo muito reduzido de pessoas.” (José Condé)
Usa-se mais frequentemente o verbo no plural quando se atri-
bui a mesma importância, no processo verbal, aos elementos “Tanto a lavoura como a indústria da criação de gado não o
do sujeito unidos pela preposição com. demovem do seu objetivo.” (CassianoRicardo)
Exemplos:
Manuel com seu compadre construíram o barracão.
Sujeitos resumidos por tudo, nada, ninguém
“Eu com outros romeiros vínhamos de Vigo...” (Camilo Castelo Quando o sujeito composto vem resumido por um dos prono-
Branco) “Ele com mais dois acercaram-se da porta.” (Camilo mes, tudo, nada, ninguém, etc. o verbo concorda, no singular,
Castelo Branco) com o pronome resumidor.
Pode se usar o verbo no singular quando se deseja dar Exemplos:
relevância ao primeiro elemento do sujeito e também
quando o verbo vier antes deste. Jogos, espetáculos, viagens, diversões, nada pôde satisfazê-lo.
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Língua Portuguesa
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Língua Portuguesa
Ressalte-se, porém, que nesse caso é preferível construir a fra- Nenhum de vós a viu?
se de outro modo:
Jairo é um empregado meu que não sabe ler. Qual de nós falará primeiro?
Dos meus empregados, só Jairo não sabe ler.
Na linguagem culta formal, ao empregar as expressões em Pronomes quem, que, como sujeitos
foco, o mais acertado é usar no plural o verbo da oração
adjetiva: O verbo concordará, em regra, na 3ª pessoa, com os pronomes
O Japão é um dos países que mais investem em tecnologia. quem e que, em frases como estas:
Gandhi foi um dos que mais lutaram pela paz. Sou eu quem responde pelos meus atos.
O sertão cearense é uma das áreas que mais sofrem com as Somos nós quem leva o prejuízo.
secas. Eram elas quem fazia a limpeza da casa.
Heráclito foi um dos empresários que conseguiram superar a “Eras tu quem tinha o dom de encantar-me.” (Osmã Lins)
crise.
Todavia, a linguagem enfática justifica a con-
Embora o caso seja diferente, é oportuno lem- cordância com o sujeito da oração principal
brar que, nas orações adjetivas explicativas,
“Sou eu quem prendo aos céus a terra.” (Gonçalves Dias)
nas quais o pronome que é separado de seu an-
tecedente por pausa e vírgula, a concordância “Não sou eu quem faço a perspectiva encolhida.” (Ricardo
é determinada pelo sentido da frase Ramos)
Um dos meninos, que estava sentado à porta da casa, foi cha- “És tu quem dás frescor à mansa brisa.” (Gonçalves Dias)
mar o pai. (Só um menino estava sentado.)
“Nós somos os galegos que levamos a barrica.” (Camilo Cas-
Um dos cinco homens, que assistiam àquela cena estupefa- telo Branco)
tos, soltou um grito de protesto. (Todos os cinco homens as-
sistiam à cena.) A concordância do verbo precedido do prono-
me relativo que far-se-á obrigatoriamente com
o sujeito do verbo (ser) da oração principal, em
Mais de um
frases do tipo
O verbo concorda, em regra, no singular. O plural será de rigor Sou eu que pago.
se o verbo exprimir reciprocidade, ou se o numeral for superior
És tu que vens conosco?
a um.
Somos nós que cozinhamos.
Exemplos:
Eram eles que mais reclamavam.
Mais de um excursionista já perdeu a vida nesta montanha.
Em construções desse tipo, é lícito considerar o verbo ser
Mais de um dos circunstantes se entreolharam com espanto. e a palavra que como elementos expletivos ou enfatizan-
Devem ter fugido mais de vinte presos. tes, portanto não necessários ao enunciado. Assim:
Sou eu que pago. (=Eu pago)
Quais de vós? Alguns de nós Somos nós que cozinhamos. (=Nós cozinhamos)
Foram os bombeiros que a salvaram. (= Os bombeiros a
Sendo o sujeito um dos pronomes interrogati- salvaram.)
vos quais? quantos? Ou um dos indefinidos al- Seja qual for a interpretação, o importante é saber que, neste
guns, muitos, poucos, etc., seguidos dos pro- caso, tanto o verbo ser como o outro devem concordar com o
nomes nós ou vós, o verbo concordará, por pronome ou substantivo que precede a palavra que.
atração, com estes últimos, ou, o que é mais
lógico, na 3ª pessoa do plural
Concordância com os pronomes de
“Quantos dentre nós a conhecemos?” (Rogério César
Cerqueira) tratamento
“Quais de vós sois, como eu, desterrados...?” (Alexandre
Herculano) Os pronomes de tratamento exigem o verbo
na 3ª pessoa, embora se refira à 2ª pessoa do
“...quantos dentre vós estudam conscienciosamente o passa-
do?” (José de Alencar)
discurso
Vossa Excelência agiu com moderação.
Alguns de nós vieram (ou viemos) de longe.
Vossas Excelências não ficarão surdos à voz do povo.
Estando o pronome no singular (3ª pessoa) fi- “Espero que V.S.ª. não me faça mal.” (Camilo Castelo Branco)
cará o verbo
“Vossa Majestade não pode consentir que os touros lhe matem
Qual de vós testemunhou o fato? o tempo e os vassalos.” (Rebelo da
Nenhuma de nós a conhece. Silva)
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Língua Portuguesa
Concordância com certos substantivos “Em Santarém há poucas casas particulares que verdadeira-
mente antigas.” (AlmeidaGarrett)
próprios no plural
Entretanto, pode-se considerar sujeito do verbo principal a ora-
Certos substantivos próprios de forma plural, como Estados ção iniciada pelo infinitivo e, nesse caso, não há locução verbal
Unidos, Andes, Campinas, Lusíadas, etc., levam o verbo para e o verbo auxiliar concordará no singular. Assim:
o plural quando se usam com o artigo; caso contrário, o verbo
Não se pode cortar essas árvores. (sujeito: cortar essas árvo-
concorda no singular.
res; predicado: não se pode)
“Os Estados Unidos são o país mais rico do mundo.” (Eduardo
Deve-se ler bons livros. (sujeito: ler bons livros; predicado: deve-se)
Prado)
Em síntese: de acordo com a interpretação que se esco-
Os Andes se estendem da Venezuela à Terra do Fogo. lher, tanto é lícito usar o verbo auxiliar no singular como no
“Os Lusíadas” imortalizaram Luís de Camões. plural. Portanto:
Campinas orgulha-se de ter sido o berço de Carlos Gomes. Não se podem (ou pode) cortar essas árvores.
Tratando-se de títulos de obras, é comum deixar o verbo no Devem-se (ou deve-se) ler bons livros.
singular, sobretudo com o verbo ser seguido de predicativo no “Quando se joga, deve-se aceitar as regras.” (Ledo Ivo)
singular:
“Concluo que não se devem abolir as loterias.” (Machado de Assis)
“As Férias de El-Rei é o título da novela.” (Rebelo da Silva)
“As Valkírias mostra claramente o homem que existe por de-
Verbos impessoais
trás do mago.” (Paulo Coelho)
“Os Sertões é um ensaio sociológico e histórico...” (Celso Luft) Os verbos haver, fazer (na indicação do tempo), passar de (na
indicação de horas), chover e outros que exprimem fenômenos
A concordância, neste caso, não é gramatical, mas ideológica,
meteorológicos, quando usados como impessoais, ficam na 3ª
porque se efetua não com a palavra (Valkírias, Sertões, Férias
pessoa do singular:
de El-Rei), mas com a ideia por ela sugerida (obra ou livro). Res-
salte-se, porém, que é também correto usar o verbo no plural: “Não havia ali vizinhos naquele deserto.” (Monteiro Lobato)
“Havia já dois anos que nós não nos víamos.” (Machado de
As Valkírias mostram claramente o homem...
Assis)
“Os Sertões são um livro de ciência e de paixão, de análise e
“Aqui faz verões terríveis.” (Camilo Castelo Branco)
de protesto.” (Alfredo Bosi)
“Faz hoje ao certo dois meses que morreu na forca o tal malva-
do...” (Camilo Castelo Branco)
Concordância do verbo passivo - Também fica invariável na 3ª pessoa do singular o verbo que
forma locução com os verbos impessoais haver ou fazer:
Quando apassivado pelo pronome apassivador se, Deverá haver cinco anos que ocorreu o incêndio.
o verbo concordará normalmente com o sujeito
Vai haver grandes festas.
Vende-se a casa e compram-se dois apartamentos.
Há de haver, sem dúvida, fortíssimas razões para ele não acei-
Gastaram-se milhões, sem que se vissem resultados concretos. tar o cargo.
“Correram-se as cortinas da tribuna real.” (Rebelo da Silva) Começou a haver abusos na nova administração.
“Aperfeiçoavam-se as aspas, cravavam-se pregos necessá- O verbo chover, no sentido figurado (= cair ou sobrevir em
rios à segurança dos postes...” (Camilo Castelo Branco) grande quantidade), deixa de ser impessoal e, portanto
concordará com o sujeito:
Na literatura moderna há exemplos em contrá- Choviam pétalas de flores.
rio, mas que não devem ser seguidos
“Sou aquele sobre quem mais têm chovido elogios e diatri-
“Vendia-se seiscentos convites e aquilo ficava cheio.” (Ricardo bes.” (Carlos de Laet)
Ramos)
“Choveram comentários e palpites.” (Carlos Drummond de
“Em Paris há coisas que não se entende bem.” (Rubem Braga) Andrade)
Nas locuções verbais formadas com os verbos “E nem lá (na Lua) chovem meteoritos, permanentemente.”
auxiliares poder e dever, na voz passiva sinté- (Raquel de Queirós)
tica, o verbo auxiliar concordará com o sujeito. - Na língua popular brasileira é generalizado o uso de ter,
impessoal, por haver, existir. Nem faltam exemplos em
Exemplos: escritores modernos:
Não se podem cortar essas árvores. (sujeito: árvores; locução “No centro do pátio tem uma figueira velhíssima, com um
verbal: podem cortar) banco embaixo.” (José Geraldo Vieira)
“Soube que tem um cavalo morto, no quintal.” (Carlos
Devem-se ler bons livros. (=Devem ser lidos bons livros) (sujei-
Drummond de Andrade)
to: livros; locução verbal: devem-se ler)
- Existir não é verbo impessoal. Portanto:
“Nem de outra forma se poderiam imaginar façanhas memoráveis
como a do fabuloso Aleixo Garcia.” (Sérgio Buarque de Holanda) Nesta cidade existem (e não existe) bons médicos.
Não deviam (e não devia) existir crianças abandonadas.
109
Língua Portuguesa
Concordância do verbo ser “Mentiras, era o que me pediam, sempre mentiras.” (Fernando
Namora)
O verbo de ligação ser concorda com o predicativo nos seguin- “Os responsórios e os sinos é coisa importuna em Tibães.”
(Camilo Castelo Branco)
tes casos:
Quando o sujeito é um dos pronomes tudo, o, Nas locuções é muito, é pouco, é suficiente, é
isto, isso, ou aquilo demais, é mais que (ou do que), é menos que
“Tudo eram hipóteses.” (Ledo Ivo) (ou do que), etc., cujo sujeito exprime quantida-
de, preço, medida, etc.
“Tudo isto eram sintomas graves.” (Machado de Assis)
“Seis anos era muito.” (Camilo Castelo Branco)
Na mocidade tudo são esperanças. Dois mil dólares é pouco.
Cinco mil dólares era quanto bastava para a viagem.
“Não, nem tudo são dessemelhanças e contrastes entre Brasil
Doze metros de fio é demais.
e Estados Unidos.” (Viana Moog)
Na indicação das horas, datas e distância o ver-
A concordância com o sujeito, embora menos
bo ser é impessoal (não tem sujeito) e concor-
comum, é também lícita
dará com a expressão designativa de hora, data
“Tudo é flores no presente.” (Gonçalves Dias) ou distância
“O que de mim posso oferecer-lhe é espinhos da minha coroa.” Era uma hora da tarde.
(Camilo Castelo Branco) “Era hora e meia, foi pôr o chapéu.” (Eça de Queirós)
“Seriam seis e meia da tarde.” (Raquel de Queirós)
O verbo ser fica no singular quando o predicativo é formado de “Eram duas horas da tarde.” (Machado de Assis)
dois núcleos no singular:
Observações:
“Tudo o mais é soledade e silêncio.” (Ferreira de Castro)
Pode-se, entretanto na linguagem espontânea, deixar o
verbo no singular, concordando com a ideia implícita de
Quando o sujeito é um nome de coisa, no sin- “dia”:
gular, e o predicativo um substantivo plural “Hoje é seis de março.” (J. Matoso Câmara Jr.) (Hoje é dia
“A cama são umas palhas.” (Camilo Castelo Branco) seis de março.) “Hoje é dez de janeiro.” (Celso Luft)
“A causa eram os seus projetos.” (Machado de Assis) Estando a expressão que designa horas precedida da locu-
“Vida de craque não são rosas.” (Raquel de Queirós) ção perto de, hesitam os escritores entre o plural e o singular.
Sua salvação foram aquelas ervas.
“Eram perto de oito horas.” (Machado de Assis)
O sujeito sendo nome de pessoa, com ele concordará o
verbo ser: “Era perto de duas horas quando saiu da janela.” (Macha-
do de Assis) “...era perto das cinco quando saí.” (Eça de
Emília é os encantos de sua avó. Queirós)
Abílio era só problemas. O verbo passar, referente a horas, fica na 3ª pessoa do
Dá-se também a concordância no singular com o sujeito singular, em frases como: Quando o trem chegou, pas-
que: sava das sete horas.
“Ergo-me hoje para escrever mais uma página neste Diário que Locução de realce é que
breve será cinzas como eu.” (Camilo Castelo Branco)
O verbo ser permanece invariável na expressão expletiva ou de
realce é que:
Quando o sujeito é uma palavra ou expressão Eu é que mantenho a ordem aqui. (= Sou eu que mantenho a
de sentido coletivo ou partitivo, e o predicativo ordem aqui.)
um substantivo no plural Nós é que trabalhávamos. (= Éramos nós que trabalhávamos)
As mães é que devem educá-los. (= São as mães que devem
“A maioria eram rapazes.” (Aníbal Machado) educá-los.)
A maior parte eram famílias pobres. Os astros é que os guiavam. (= Eram os astros que os guiavam.)
O resto (ou o mais) são trastes velhos.
“A maior parte dessa multidão são mendigos.” (Eça de Queirós)
Da mesma forma se diz, com ênfase
Quando o predicativo é um pronome pessoal “Vocês são muito é atrevidos.” (Raquel de Queirós)
ou um substantivo, e o sujeito não é pronome “Sentia era vontade de ir também sentar-me numa cadeira jun-
pessoal reto to do palco.” (Graciliano Ramos)
“Por que era que ele usava chapéu sem aba?” (Graciliano Ramos)
“O Brasil, senhores, sois vós.” (Rui Barbosa)
“Nas minhas terras o rei sou eu.” (Alexandre Herculano) Observação:
“O dono da fazenda serás tu.” (Said Ali) O verbo ser é impessoal e invariável em construções enfá-
“...mas a minha riqueza eras tu.” (Camilo Castelo Branco) ticas como:
Mas: Eu não sou ele. Vós não sois eles. Tu não és ele.
Era aqui onde se açoitavam os escravos. (= Aqui se açoita-
Quando o predicativo é o pronome demonstra- vam os escravos.)
tivo o ou a palavra coisa Foi então que os dois se desentenderam. (= Então os dois
Divertimentos é o que não lhe falta. se desentenderam.)
“Os bastidores é só o que me toca.” (Correia Garção)
110
Língua Portuguesa
A primeira construção (que é a mais lógica) analisa-se deste modo. “Outros, de aparência acabadiça, parecia que não podiam
Sujeito: os livros; verbo hajam (= tenham); objeto direto: vista. com a enxada.” (José Américo)
A situação é preocupante; hajam vista os incidentes de sábado. “As notícias parece que têm asas.” (Oto Lara Resende) (Isto é:
Parece que as notícias têm asas.)
Seguida de substantivo (ou pronome) singular, a expressão,
evidentemente, permanece invariável: A situação é preocupan- Essa dualidade de sintaxe verifica-se também com o verbo
te; haja vista o incidente de sábado. ver na voz passiva: “Viam-se entrar mulheres e crianças.” Ou
“Via-se entrarem mulheres e crianças.”
Bem haja e Mal haja
Concordância com o sujeito oracional
Bem haja e mal haja usam-se em frases optativas e imprecati-
vas, respectivamente. O verbo concordará normalmente com o O verbo cujo sujeito é uma oração concorda obrigatoriamente
sujeito, que vem sempre posposto: na 3ª pessoa do singular:
“Bem haja Sua Majestade!” (Camilo Castelo Branco) Parecia / que os dois homens estavam bêbedos.
Verbo sujeito (oração subjetiva)
Bem hajam os promovedores dessa campanha!
Faltava / dar os últimos retoques.
“Mal hajam as desgraças da minha vida...” (Camilo Castelo Verbo sujeito (oração subjetiva)
Branco)
Outros exemplos, com o sujeito oracional em destaque:
Não me interessa ouvir essas parlendas.
Concordância dos verbos bater, dar e soar
Anotei os livros que faltava adquirir. (faltava adquirir os livros)
Referindo-se às horas, os três verbos acima con- Esses fatos, importa (ou convém) não esquecê-los.
cordam regularmente com o sujeito, que pode ser São viáveis as reformas que se intenta implantar?
hora, horas (claro ou oculto), badaladas ou relógio
“Nisto, deu três horas o relógio da botica.” (Camilo Castelo
Branco)
111
Língua Portuguesa
Se o sujeito da oração for milhões, o particípio ou o adjetivo “Para os lados do sul e poente, não se viam senão edifícios
podem concordar, no masculino, com milhões, ou, por atração, queimados.” (Alexandre Herculano)
no feminino, com o substantivo feminino plural: Dois milhões “Por toda a parte não se ouviam senão gemidos ou clamores.”
de sacas de soja estão ali armazenados (ou armazenadas) no (Rebelo da Silva)
próximo ano. Foram colhidos três milhões de sacas de trigo.
Os dois milhões de árvores plantadas estão altas e bonitas.
Concordância com formas gramaticais
Concordância com numerais fracionários Palavras no plural com sentido gramatical e função de su-
jeito exigem o verbo no singular:
De regra, a concordância do verbo efetua-se com o numerador.
“Elas” é um pronome pessoal. (= A palavra elas é um pronome
Exemplos: pessoal.)
“Mais ou menos um terço dos guerrilheiros ficou atocaiado Na placa estava “veiculos”, sem acento.
perto...” (Autran Dourado)
“Contudo, mercadores não tem a força de vendilhões.” (Ma-
“Um quinto dos bens cabe ao menino.” (José Gualda Dantas)
chado de Assis)
Dois terços da população vivem da agricultura.
Não nos parece, entretanto, incorreto usar o verbo no plural,
quando o número fracionário, seguido de substantivo no plural, Mais de, menos de
tem o numerador 1, como nos exemplos:
O verbo concorda com o substantivo que se segue a essas
Um terço das mortes violentas no campo acontecem no sul
expressões: Mais de cem pessoas perderam suas casas, na
do Pará.
enchente.
Um quinto dos homens eram de cor escura.
Sobrou mais de uma cesta de pães.
Gastaram-se menos de dois galões de tinta.
Concordância com percentuais
Menos de dez homens fariam a colheita das uvas.
O verbo deve concordar com o número expresso na porcentagem:
Só 1% dos eleitores se absteve de votar.
Só 2% dos eleitores se abstiveram de votar.
112
Língua Portuguesa
2. (TRT - 14ª Região (RO e AC) - Analista Judiciário - Ofi- Daí por que são preocupantes os dados mais recentes da As-
cial de Justiça Avaliador Federal – FCC/2016) sociação Nacional dos Birôs de Crédito, que congrega empre-
sas do setor de crédito e financiamento.
Revolução
Segundo a entidade, havia, em outubro, 59 milhões de consu-
Notícias de homens processados nos Estados Unidos por as- midores impedidos de obter novos créditos por não estarem
sédio sexual quando só o que fizeram foi uma gracinha ou um em dia com suas obrigações. Trata-se de alta de 1,8 milhão em
gesto são vistas aqui como muito escândalo por pouca coisa e dois meses.
mais uma prova da hipocrisia americana em matéria de sexo. A
hipocrisia existe, mas o aparente exagero tem a ver com a luta Causa consternação conhecer a principal razão citada pe-
da mulher americana para mudar um quadro de pressupostos los consumidores para deixar de pagar as dívidas: a perda
e tabus tão machistas lá quanto em qualquer país latino, e que de emprego, que tem forte correlação com a capacidade de
só nos parece exagerada porque ainda não chegou aqui com pagamento das famílias.
a mesma força. As mulheres americanas não estão mais para Até há pouco, as empresas evitavam demitir, pois tendem a
brincadeira, em nenhum sentido. perder investimentos em treinamento e incorrer em custos tra-
A definição de estupro é a grande questão atual. Discute-se, balhistas. Dado o colapso da atividade econômica, porém, jo-
por exemplo, o que chamam de date rape, que não é o ataque garam a toalha.
sexual de um estranho ou sexo à força, mas o programa entre O impacto negativo da disponibilidade de crédito é imediato. O
namorados ou conhecidos que acaba em sexo com o consen- indivíduo não só perde a capacidade de pagamento mas tam-
timento relutante da mulher. Ou seja, sedução também pode bém enfrenta grande dificuldade para obter novos recursos,
ser estupro. Isso não é apenas uma novidade, é uma revolução. pois não possui carteira de trabalho assinada.
O homem que se criou convencido de que a mulher resiste
apenas para não parecer “fácil” não está preparado para acei- Tem-se aí outro aspecto perverso da recessão, que se soma às
tar que a insistência, a promessa e a chantagem sentimental muitas evidências de reversão de padrões positivos da última
ou profissional são etapas numa escalada em que o uso da década – o aumento da informalidade, o retorno de jovens ao
força, se tudo o mais falhar, está implícito. E que muitas vezes mercado de trabalho e a alta do desemprego.
ele está estuprando quem pensava estar convencionalmente (Folha de S.Paulo, 08.12.2015. Adaptado)
conquistando. No dia em que o homem brasileiro aceitar isso,
Assinale a alternativa correta quanto à concordância verbal.
a revolução estará feita e só teremos de dar graças a Deus por
a) A mudança de direção da economia fazem com que se
ela não ser retroativa.
altere o tamanho das jornadas de trabalho, por exemplo.
A verdadeira questão para as mulheres americanas é que o ho- b) Existe indivíduos que, sem carteira de trabalho assinada,
mem pode recorrer a tudo na sociedade enfrentam grande dificuldade para obter novos recursos.
- desde a moral dominante até as estruturas corporativas e c) Os investimentos realizados e os custos trabalhistas fize-
de poder − para seduzi-las, que toda essa civilização é no ram com que muitas empresas optassem por manter seus
fundo um álibi montado para o estupro, e que elas só con- funcionários.
tam com um “não” desacreditado para se defender. Estão d) São as dívidas que faz com que grande número dos consu-
certas. midores não estejam em dia com suas obrigações.
e) Dados recentes da Associação Nacional dos Birôs de Cré-
(VERISSIMO, Luis Fernando. Sexo na cabeça. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002,
p. 143) dito mostra que 59 milhões de consumidores não pode
obter novos créditos.
As exigências quanto à concordância verbal estão plena-
mente atendidas na frase: 4. (CONFERE – Assistente Administrativo VII – INSTITUTO
CIDADES/2016)
a) A muitos poderá parecer um excesso as lutas trava-
das pelas mulheres americanas contra a prática de graves ati- AQUECIMENTO GLOBAL (com adaptações)
tudes machistas.
113
Língua Portuguesa
Todos os dias acompanhamos na televisão, nos jornais e revis- b) Para ela, a indústria do tabaco está usando a “telona”
tas as catástrofes climáticas e as mudanças que estão ocor- como uma espécie de última fronteira para anúncios, men-
rendo, rapidamente, no clima mundial. Nunca se viu mudanças sagens subliminares e patrocínios, já que uma série de me-
tão rápidas e com efeitos devastadores como tem ocorrido nos didas em diversos países passou a restringir a publicidade
últimos anos. do tabaco.
c) E 90% dos filmes argentinos também exibiu imagens de
A Europa tem sido castigada por ondas de calor de até 40 graus
fumo em filmes para jovens.
centígrados, ciclones atingem o Brasil (principalmente a costa
d) Os especialistas da organização citam estudos que mos-
sul e sudeste), o número de desertos aumenta a cada dia, for-
tram que quatro em cada dez crianças começa a fumar
tes furacões causam mortes e destruição em várias regiões do
depois de ver atores famosos dando suas “pitadas” nos
planeta e as calotas polares estão derretendo (fator que pode
filmes.
ocasionar o avanço dos oceanos sobre cidades litorâneas). O
que pode estar provocando tudo isso? Os cientistas são unâ-
nimes em afirmar que o aquecimento global está relacionado a Respostas
todos estes acontecimentos. 1. Resposta E
Pesquisadores do clima mundial afirmam que este aquecimen- Aqui temos um caso de coletivo partitivo, ou seja, quando o
to global está ocorrendo em função do aumento da emissão sujeito é um coletivo ou partitivo (exército, alcateia, rebanho,
de gases poluentes, principalmente, derivados da queima de a maior parte de, a maioria dos etc.) seguido de complemento
combustíveis fósseis (gasolina, diesel, etc.), na atmosfera. Es- plural, a concordância verbal pode ser feita com o verbo no
tes gases (ozônio, dióxido de carbono, metano, óxido nitroso singular (concordando com o núcleo do coletivo partitivo) ou no
e monóxido de carbono) formam uma camada de poluentes, plural (concordando com o complemento). ex: A maioria dos vi-
de difícil dispersão, causando o famoso efeito estufa. Este fe- ciados não consegue/conseguem libertar-se da dependência.
nômeno ocorre, pois estes gases absorvem grande parte da
radiação infravermelha emitida pela Terra, dificultando a dis- 2. Resposta C
persão do calor. a) (INCORRETO): A muitos poderá (PODERÃO) parecer um
excesso as lutas travadas pelas mulheres americanas con-
O desmatamento e a queimada de florestas e matas também tra a prática de graves atitudes machistas.
colabora para este processo. Os raios do Sol atingem o solo e b) (INCORRETO): Acaba (ACABAM) por se constituir numa
irradiam calor na atmosfera. Como esta camada de poluentes grande hipocrisia as atitudes de quem se diz reger por de-
dificulta a dispersão do calor, o resultado é o aumento da tem- terminada moral e pratica outra, inteiramente diversa.
peratura global. Embora este fenômeno ocorra de forma mais c) (GABARITO): É comum que aos homens ocorra estar no
evidente nas grandes cidades, já se verificam suas consequên- exercício de um direito quando, em suas práticas amoro-
cias em nível global. (...) sas, impõem às mulheres o que as humilha e as desonra.
O protocolo de Kioto é um acordo internacional que visa à re- d) (INCORRETA): Couberam (COUBE) às mulheres america-
dução da emissão dos poluentes que aumentam o efeito estufa nas, cansadas de se submeterem aos machistas, travar
no planeta. Entrou em vigor em 16 fevereiro de 2005. O princi- duras lutas contra o assédio sexual e outras práticas que
pal objetivo é que ocorra a diminuição da temperatura global as vitimam.
nos próximos anos. Infelizmente os Estados Unidos, país que e) (INCORRETA): A maioria dos homens não costuma levar a
mais emite poluentes no mundo, não aceitou o acordo, pois sério o “não” que, saindo das bocas das namoradas, res-
afirmou que ele prejudicaria o desenvolvimento industrial do soam (RESSOA) como se fosse tão somente uma fingida
país. (...) evasiva.
(http://www.suapesquisa.com/geografia/aquecimento_global.htm) 3. Resposta C
a) A mudança de direção da economia FAZ com que se altere
Marque a opção em que há total observância às regras de
o tamanho das jornadas de trabalho, por exemplo.
concordância verbal:
b) EXISTEM indivíduos que, sem carteira de trabalho assinada,
a) “Pesquisadores do clima mundial afirmam que este aque-
enfrentam grande dificuldade para obter novos recursos.
cimento global está ocorrendo em função”
c) São as dívidas que FAZEM com que grande número dos
b) “Nunca se viu mudanças tão rápidas e com efeitos devas-
consumidores não estejam em dia com suas obrigações.
tadores”
d) Dados recentes da Associação Nacional dos Birôs de
c) “O desmatamento e a queimada de florestas e matas tam-
Crédito MOSTRAM que 59 milhões de consumidores não
bém colabora para este processo”
pode obter novos créditos.
d) “Infelizmente os Estados Unidos, país que mais emite po-
luentes no mundo, não aceitou o acordo” 4.
a) Correta
5. (COPEL – Contador Júnior - NC-UFPR/2016)
b) “Nunca se VIRAM mudanças tão rápidas e com efeitos de-
Assinale a alternativa em que os verbos sublinhados estão cor- vastadores” (Mudanças são vistas)
retamente flexionados quanto à concordância verbal c) “O desmatamento e a queimada de florestas e matas tam-
bém colaboram para este processo”
A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou recentemente
d) “Infelizmente os Estados Unidos, país que mais emite po-
a nova edição do relatório Smoke- free movies (Filmes sem ci-
luentes no mundo, não ACEITARAM o acordo” (OS ESTA-
garro), em que recomenda que os filmes que exibem imagens
DOS UNIDOS).
de pessoas fumando deveria receber classificação indicativa
para adultos. Com artigo no singular ou SEM ARTIGO > SINGULAR.
a) Pesquisas mostram que os filmes produzidos em seis pa- EX: Minas Gerais é um lindo estado!
íses europeus, que alcançaram bilheterias elevadas (in- Com artigo plural, o verbo fica no plural:
cluindo alemães, ingleses e italianos), continha cenas de EX: Os Estados Unidos aceitaram o acordo.
pessoas fumando em filmes classificados para menores de 5. Resposta C
18 anos. a) A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou recente-
114
Língua Portuguesa
mente a nova edição do relatório Smoke- free movies (Fil- - Com o infinito pessoal precedido de preposição: Por se
mes sem cigarro), em que recomenda que os filmes que acharem infalíveis, caíram no ridículo.
exibem imagens de pessoas fumando deveriam receber
classificação indicativa para adultos.
b) Pesquisas mostram que os filmes produzidos em seis paí- Mesóclise
ses europeus, que alcançaram bilheterias elevadas (incluindo
alemães, ingleses e italianos), continham cenas de pessoas Usa-se a mesóclise tão somente com duas formas verbais, o
fumando em filmes classificados para menores de 18 anos. futuro do presente e o futuro do pretérito, assim quando não
c) Para ela, a indústria do tabaco está usando a “telona” vierem precedidos de palavras atrativas.
como uma espécie de última fronteira para anúncios, men- Exemplos:
sagens subliminares e patrocínios, já que uma série de
medidas em diversos países passou a restringir a publi- Confrontar-se-ão os resultados.
cidade do tabaco. Confrontar-se-iam os resultados.
d) E 90% dos filmes argentinos também exibiram imagens de
Mas:
fumo em filmes para jovens.
e) Os especialistas da organização citam estudos que mostram Não se confrontarão os resultados.
que quatro em cada dez crianças começam a fumar depois Não se confrontariam os resultados.
de ver atores famosos dando suas “pitadas” nos filmes.
Não se usa a ênclise com o futuro do presente ou com o
futuro do pretérito sob hipótese alguma. Será contrária à
norma culta escrita, portanto, uma colocação do tipo:
Diria-se que as coisas melhoraram. (errado)
pronominal Ênclise
115
Língua Portuguesa
A mesma norma é válida para os casos em que a locução ver- Emprego Proibido
bal vem precedida de pausa. - Iniciar período com pronome (a forma correta é: Dá-me um
Exemplo: Em dias de lua cheia, pode-se ver a estrada mesmo copo d’água; Permita-me fazer uma observação.);
com faróis apagados; Em dias de lua cheia, pode ver-se a es- - Após verbo no particípio, no futuro do presente e no futuro
trada mesmo com os faróis apagados. do pretérito. Com essas formas verbais, usa-se a próclise
Sem atração nem pausa: (desde que não caia na proibição acima), modifica-se a es-
trutura (troca o “me” por “a mim”) ou, no caso dos futuros,
Quando a locução verbal não vem precedida de palavra atrati- emprega-se o pronome em mesóclise. Exemplos: “Conce-
va nem de pausa, admite-se qualquer colocação do pronome. dida a mim a licença, pude começar a trabalhar.” (Não po-
deria ser “concedida-me” – após particípio é proibido - nem
Exemplos:
A vida lhe pode trazer surpresas. “me concedida” – iniciar período com pronome é proibido).
A vida pode-lhe trazer surpresas. “Recolher-me-ei à minha insignificância” (Não poderia ser
A vida pode trazer-lhe surpresas. “recolherei-me” nem “Me recolherei”).
Observações
- Quando o verbo auxiliar de uma locução verbal estiver Questões
no futuro do presente ou no futuro do pretérito, o pro-
nome pode vir em mesóclise em relação a ele: Ter-nos-ia 1. (Pref. de Itaquitinga/PE – Psicólogo – IDHTEC/2016)
aconselhado a partir. “A tragédia que iniciou com o rompimento da barragem de re-
- Nas locuções verbais, jamais se usa pronome oblíquo áto- jeitos de minérios em Mariana-MG e se estendeu até o Leste do
no depois do particípio. Não o haviam convidado. (correto); Espírito Santo, mar adentro, nos faz refletir quais ações pode-
Não haviam convidado-o. (errado). riam ter sido executadas para evitar esse desastre.
- Há uma colocação pronominal, restrita a contextos li-
A maioria dos especialistas afirma que rompimentos de barra-
terários, que deve ser conhecida: Há males que se não
gens são eventos muito lentos, que sinais já haviam sido detec-
curam com remédios. Quando há duas partículas atraindo
tados sobre o problema em Mariana. Todos dizem que houve
o pronome oblíquo átono, este pode vir entre elas. Pode-
negligência e consequentemente o desastre; agora, a maioria
ríamos dizer também: Há males que não se curam com re-
das informações sobre o que realmente aconteceu não foram
médios.
ainda disponibilizadas, mesmo após tantos dias.
- Os pronomes oblíquos átonos combinam-se entre si em
casos como estes: Ao olharmos para o estado da Bahia, temos vinte e quatro bar-
ragens de rejeitos semelhantes à Barragem do Fundão. E com
me + o/a = mo/ma te + o/a = to/ta
informações de que quatro delas apresentam dano potencial
lhe + o/a = lho/lha elevado, sendo duas localizadas no município de Jacobina e
nos + o/a = no-lo/no-la vos + o/a = vo-lo/vo-la duas em Santa Luz, estando todas sob constante vigilância da
Tais combinações podem vir: Departamento Nacional de Produção Mineral.”
Proclítica: Eu não vo-lo disse? (http://www.tribunafeirense.com.br/noticias/11162/por-pedroamerico-lopes-e-
-preciso-aprender-com-os-desastres.html)
Mesoclítica: Dir-vo-lo-ei já.
Em qual das alternativas houve erro na colocação pronominal
Enclítica: A correspondência, entregaram-lha há muito tem-
a) “Desconhecido pela maioria dos turistas, um impressio-
po.
nante caldeirão de chamas amarelo brilhante e sem fuma-
Segundo a norma culta, a regra é a ênclise, ou seja, o pro- ça nunca se apaga.”
nome após o verbo. Isso tem origem em Portugal, onde b) “Delicadeza é aquilo que nos alcança sem nos tocar. É a
essa colocação é mais comum. No Brasil, o uso da próclise melodia que nos embala mesmo em silêncio. É quando a
é mais frequente, por apresentar maior informalidade. Mas, boca empresta um sorriso aos olhos sem que nenhuma
como devemos abordar os aspectos formais da língua, a
cobrança seja feita.”
regra será ênclise, usando próclise em situações excepcio-
c) “Concentre-se naquilo que você é bom, delegue todo o
nais, que são:
resto.”
Palavras invariáveis (advérbios, alguns pronomes, conjunção) d) “Ao final, se chegou ao livro digital, com textos e dezenas
atraem o pronome. Por “palavras invariáveis”, entendemos os de imagens coloridas.”
advérbios, as conjunções, alguns pronomes que não se flexio- e) “Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimo-
nam, como o pronome relativo que, os pronomes indefinidos niais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o
quanto/como, os pronomes demonstrativos isso, aquilo, isto. adolescente restitua a coisa”
Exemplos: “Ele não se encontrou com a namorada.” – próclise
2. (Pref. de Florianópolis/SC – Auxiliar de Sala – FEPE-
obrigatória por força do advérbio de negação. “Quando se en-
SE/2016)
contra com a namorada, ele fica muito feliz.” – próclise obriga-
tória por força da conjunção; Analise a frase abaixo:
Orações exclamativas (“Vou te matar!”) ou que expressam de- “O professor discutiu............mesmos a respeito da desavença
sejo, chamadas de optativas (“Que Deus o abençoe!”) – prócli- entre .........e ........ .
se obrigatória.
Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas
Orações subordinadas – (“... e é por isso que nele se acentua o do texto.
pensador político” – uma oração subordinada causal, como a a) com nós - eu - ti
da questão, exige a próclise.). b) conosco - eu - tu
c) conosco - mim - ti
d) conosco - mim - tu
e) com nós - mim - ti
116
Língua Portuguesa
3. (Transpetro – Auditor Júnior – CESGRANRIO/2016) outro lado, o preconceito existente, antes disfarçado, deixou
de ser tímido e passou a se manifestar de forma aberta e hostil.
A função da arte
Comparado a outros países, o Brasil não recebe um núme-
Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o ro elevado de refugiados, e a maioria da sociedade brasileira
para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, aceita-os, acreditando que é possível fazer algo para ajudá-los,
estava do outro lado das dunas altas, esperando. mesmo diante do momento crítico da economia e da política.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de Diante desse cenário, destacam-se as iniciativas de solidarie-
areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus dade, de forma objetiva e praticada por jovens estudantes de
olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que nossas universidades. Com a cabeça aberta e o respeito ao
o menino ficou mudo de beleza. diferente, muitos deles manifestam uma visão de mundo que
permite acreditar em transformações sociais de base.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando,
pediu ao pai: - Me ajuda a olhar! (Soraia Smaili, Refugiados no Brasil: entre o exílio e a solidariedade. Em: carta-
capital.com.br. 02.02.2016. Adaptado)
GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. Porto Alegre:L&PM, 2002. P.12.
Assinale a alternativa correta quanto à colocação pronominal,
No que se refere à colocação pronominal, respeita-se a norma- conforme a norma-padrão.
-padrão em: a) Quando dão-se conta da situação dos refugiados, as pes-
a) Queria que admira-me-ssem na velhice. soas já põem-se a acolhê-los sem discriminação.
b) Me seduziria poder ser jovem a vida toda. b) No Brasil, vê-se que o número de refugiados não é tão
c) A aposentadoria, esperarei-a com ansiedade. grande. Aceita-os, sem restrição, boa parte da população.
d) Nunca senti-me tão velho como hoje. c) Se veem imagens dramáticas dos refugiados na TV. Não
e) Ninguém o observava com a mesma atenção que eu. trata-se de ficção: é a pura realidade.
4. (Pref. de Caucaia/CE – Agente de Suporte a Fiscaliza- d) Têm visto-se turbilhões de refugiados. O mundo os vê se
ção – CETREDE/2016) deslocarem em busca de uma vida melhor.
e) Os refugiados buscam uma vida melhor. Discriminaria-os
Marque a opção em que ocorre ênclise. aqueles que desconhecem a solidariedade.
a) Disseram-me a verdade.
b) Não nos comunicaram o fato. 7. (Câmara de Marília/SP – Procurador Jurídico – VU-
c) Dir-se-ia que tal construção não é correta. NESP/2016)
d) A moça se penteou. Uma noite no mar Cáspio
e) Contar-me-ão a verdade?
Na semana passada, uma aluna da Sorbonne foi encarrega-
5. (MPE/RS – Agente Administrativo – MPE-RS/2016) da de fazer um estudo sobre a literatura latino-americana, mal
informada de tudo, inclusive sobre a América Latina. Veio en-
Assinale a alternativa que preenche correta e respectivamente trevistar algumas pessoas e, não sei por que, pediu-me que a
as lacunas dos enunciados abaixo. recebesse para uma conversa que pudesse explicar o Brasil
1. Quanto ao pedido do Senhor Secretário, a secretaria com apenas um título que serviria de roteiro para o trabalho
deverá ____ que ainda não há disponibilidade de recursos. que deveria apresentar.
2. Apesar de o regimento não exigir uma sindicância neste tipo
de situação, a gravidade da ocorrência ____, ____ sem dúvida. Já me pediram coisas extravagantes, recusei algumas, aceitei ou-
3. Embora os novos artigos limitem o alcance da lei, eles não tras. Aleguei minha incompetência para titular qualquer coisa.
____. Mas não quis decepcionar a moça. Pensando na atual crise
a) informar-lhe – a justificaria – revogam-na política, sugeri “Garruchas e punhais” – era o nome da briga
b) informar-lhe – justificá-la-ia – a revogam entre os meninos da rua Cabuçu contra os meninos da rua Lins
c) informá-lo – justificar-lhe-ia – a revogam de Vasconcelos. Morei nas duas e era considerado um espião
d) informá-lo – a justificaria – lhe revogam a soldo de uma ou de outra. O que no fundo era verdade, con-
e) informar-lhe – justificá-la-ia – revogam-na siderava idiotas os dois lados.
A moça riu mas não gostou. Todos os países têm garruchas e
6. 06. (Pref. de São Paulo/SP – Analista Fiscal de Servi- punhais. Dei outra sugestão: “O mosteiro de tijolos de feltro”.
ços VUNESP/2016) Ela não gostou – nem eu. Parti então para uma terceira via, por
O mundo vive hoje um turbilhão de sentimentos e reações no sinal, a mais estúpida. Pensou um pouco, inicialmente recusou.
que diz respeito aos refugiados. Trata-se de uma enorme tra- Olhou bem para mim e aprovou: “Uma noite no mar Cáspio”.
gédia humana, à qual temos assistido pela TV no conforto de Para meu espanto, ela aceitou.
nossas casas. Acredito que os professores da Sorbonne também gostarão. E
Imagens dramáticas mostram famílias inteiras, jovens, crianças eu nem sei onde fica o mar Cáspio, embora também não saiba
e idosos chegando à Europa em busca de um lugar suposta- onde fica o Brasil.
mente mais seguro para viver. Embora os refugiados da Síria (Carlos Heitor Cony. Folha de S.Paulo, 26.01.2016. Adaptado)
tenham ganhado maior destaque, existem ainda os refugiados
africanos e os latino-americanos. ________ uma aluna da Sorbonne que a recebesse para uma
Dentro da América Latina, vemos grandes migrações, uma conversa que pudesse explicar o Brasil com apenas um título
marcha de pessoas que buscam o refúgio, mas que terminam que ________ de roteiro para o trabalho que deveria apresentar.
em uma espécie de exílio. Já me pediram coisas extravagantes, recusei algumas, aceitei
outras. Mas não ________.
O Brasil, que sempre se destacou por sua capacidade de aco-
lher diferentes culturas, apresenta uma das sociedades com Em conformidade com a norma-padrão, as lacunas da frase
maior diversidade. Podemos afirmar nossa capacidade de lidar devem ser preenchidas, respectivamente, com:
com o multiculturalismo com bastante naturalidade, embora, a) Pediu-me … serviria-lhe … lhe quis decepcionar
muitas vezes, a questão seja tratada de maneira superficial. Por b) Me pediu … servir-lhe-ia … quis decepcioná-la
c) Pediu-me … lhe serviria … a quis decepcionar
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Língua Portuguesa
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Língua Portuguesa
13. Regência
Antipatia A / POR Sentia antipatia por ela
Apto A / PARA Estava apto para ocupar
o cargo
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Língua Portuguesa
ritmo, com a sintaxe, com as sonoridades, com o sentido das c) Um memorando serve não para informar a quem o lê, mas
palavras. O poema é um todo. (…) para proteger quem o escreve.COMPLEMENTA O VERBO
d) Quem é burro pede a Deus que o mate e ao diabo que o
Os poetas enfraquecem a sintaxe, fazendo-a ajustar-se às exi-
carregue.COMPLEMENTA O VERBO
gências do verso e da expressão poética.
e) O desenvolvimento é uma receita dos economistas para
Sem se permitir verdadeiras incorreções gramaticais, eles se promover os miseráveis a pobres – e, às vezes, vice-versa.
permitem “licenças poéticas”. COMPLEMENTA O VERBO
Além disso, eles trabalham o sentido das palavras em dire- 2. 02. Resposta A
ções contrárias: seja dando a certos termos uma extensão ou
O verbo preferir é acompanhado pela preposição “A”.
uma indeterminação inusitadas; seja utilizando sentidos raros,
em desuso ou novos; seja criando novas palavras. 3. Resposta D Orgulhoso por Rico por Sedento por
Tais liberdades aparecem mais particularmente na utilização de 4. Resposta D
imagens. Assim, Jean Cohen, ao estudar o processo de fabrica-
ção das comparações poéticas, observa que a linguagem cor- “Às quais” retoma o termo “as mulheres”.
rente faz espontaneamente apelo a comparações “razoáveis” “Cujo” – pronome utilizado no sentido de posse, fazendo re-
(pertinentes) do tipo “a terra é redonda como uma laranja” (a ferência ao termo antecedente e ao substantivo subsequente.
redondeza é efetivamente uma qualidade comum à terra e a uma
laranja), ao passo que a linguagem poética fabrica comparações 5. Resposta A
inusitadas tais como: “Belo como a coisa nova/Na prateleira até a) Chamaram Jean de poeta. Correto.
então vazia” (João Cabral de Melo Neto). Ou, então estranhas b) “Não obedeço a rima das estrofes”, disse o poeta. Não
como: “A terra é azul como uma laranja” (Paul Éluard). obedeço à rima.
c) Todos os escritores preferem o elogio do que a crítica. Pre-
Francis Vanoye
ferem o elogio à crítica.
Assinale a alternativa correta quanto à regência verbal. d) Passou no cinema o filme sobre aquele poeta que gosto
a) Chamaram Jean de poeta. muito. Poeta de que gosto muito.
b) “Não obedeço a rima das estrofes”, disse o poeta. e) Eu me lembrei os dias da leitura de poesia na escola. Eu
c) Todos os escritores preferem o elogio do que a crítica me lembrei dos dias OU eu lembrei os dias.
d) Passou no cinema o filme sobre aquele poeta que gosto 6. Resposta A
muito.
e) Eu me lembrei os dias da leitura de poesia na escola. Frase incorreta: I. Visando apenas os seus próprios interes-
ses, ele, involuntariamente, prejudicou toda uma família.
6. Assinale a alternativa que contém as respostas corre-
tas. Correção: I. Visando apenas Aos seus próprios interesses, ele,
I. Visando apenas os seus próprios interesses, ele, involunta- involuntariamente, prejudicou toda uma família.
riamente, prejudicou toda uma família. 7. Resposta C
II. Como era orgulhoso, preferiu declarar falida a firma a acei-
tar qualquer ajuda do sogro. Correção: Ele foi acusado de roubar aquela maleta.08. Res-
III. Desde criança sempre aspirava a uma posição de desta- posta C
que, embora fosse tão humilde. Alternativa A: digno DE
IV. Aspirando o perfume das centenas de flores que enfeita-
vam a sala, desmaiou. Alternativa B: baseado EM/SOBRE Alternativa D: especialista
e) II, III, IV EM Alternativa E: favorável A
f) I, II, III
g) I, III, IV
h) I, III Regência Verbal
i) I, II
7. Assinale o item em que há erro quanto à regência: A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre os
a) São essas as atitudes de que discordo. verbos e os termos que os complementam (objetos diretos e
b) Há muito já lhe perdoei. objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos adverbiais). O es-
c) Ele foi acusadso por roubar aquela maleta. tudo da regência verbal permite-nos ampliar nossa capacidade
d) Costumo obedecer a preceitos éticos. expressiva, pois oferece oportunidade de conhecermos as di-
e) A enfermeira assistiu irrepreensivelmente o doente. versas significações que um verbo pode assumir com a sim-
ples mudança ou retirada de uma preposição.
8. Dentre as frases abaixo, uma apenas apresenta a re-
gência nominal correta. Assinale-a: A mãe agrada o filho. (agradar significa acariciar, contentar)
a) Ele não é digno a ser seu amigo. A mãe agrada ao filho. (agradar significa “causar agrado ou
b) Baseado laudos médicos, concedeu-lhe a licença. prazer”, satisfazer)
c) A atitude do Juiz é isenta de qualquer restrição.
d) Ele se diz especialista para com computadores eletrônicos. Logo, conclui-se que “agradar alguém” é diferente de “agradar
e) A equipe foi favorável por sua candidatura. a alguém”.
O conhecimento do uso adequado das preposições é um dos
Respostas aspectos fundamentais do estudo da regência verbal (e tam-
bém nominal). As preposições são capazes de modificar com-
1. Resposta B
pletamente o sentido do que se está sendo dito.
a) O Brasil dá Deus a quem não tem nozes, dentes etc. COM-
PLMENTA O VERO Cheguei ao metrô.
b) É preciso passar o Brasil a limpo. NÃO COMPLEMEN-
TA O VERBO. É O GABARITO. Cheguei no metrô.
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Língua Portuguesa
No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no segundo Foi logo batendo à porta; (bater junto à porta, para alguém
caso, é o meio de transporte por mim utilizado. A oração “Che- abrir); Para que ele pudesse ouvir, era preciso bater na porta de
guei no metrô”, popularmente usada a fim de indicar o lugar a seu quarto; (dar pancadas).
que se vai, possui, no padrão culto da língua, sentido diferente.
Casar: Marina casou cedo e pobre. (VI não exige complemen-
Aliás, é muito comum existirem divergências entre a regência
to). Você é realmente digno de casar com minha filha. (VTI com
coloquial, cotidiana de alguns verbos, e a regência culta.
preposição). Ela casou antes dos vinte anos. (VTD sem pre-
Abdicar: renunciar ao poder, a um cargo, título desistir. Pode posição). O verbo casar pode vir acompanhado de pronome
ser intransitivo (VI - não exige complemento) / transitivo direto reflexivo: Ela casou com o seu grande amor; ou Ela casou-se
(TD) ou transitivo indireto (TI + preposição): D. Pedro abdicou com seu grande amor.
em 1831. (VI); A vencedora abdicou o seu direto de rainha.
Chamar: emprega-se sem preposição no sentido de convocar;
(VTD); Nunca abdicarei de meus direitos. (VTI)
O juiz chamou o réu à sua presença. (VTD). Emprega-se com ou
Abraçar: emprega-se sem preposição no sentido de apertar sem preposição no sentido de denominar, apelidar, construido
nos braços: A mãe abraçou-a com ternura. (VTD); Abraçou-se com objeto + predicativo: Chamou-o covarde. (VTD) / Chamou-
a mim, chorando. (VTI) -o de covarde. (VID); Chamou-lhe covarde. (VTI) / Chamou-lhe
de covarde. (VTI); Chamava por Deus nos momentos dificeis.
Agradar: emprega-se com preposição no sentido de conten-
(VTI).
tar, satisfazer.(VTI): A banda Legião Urbana agrada aos jovens.
(VTI); Emprega-se sem preposição no sentido de acariciar, mi- Chegar: o verbo chegar exige a preposição a quando indica
mar: Márcio agradou a esposa com um lindo presente. (VTD) lugar: Chegou ao aeroporto meio apressada. Como transitivo
direto (VTD) e intransitivo (VI) no sentido de aproximar; Che-
Ajudar: emprega-se sem preposição; objeto direto de pessoa:
guei-me a ele.
Eu ajudava-a no serviço de casa. (VTD)
Aludir: (=fazer alusão, referir-se a alguém), emprega-se Contentar-se: emprega-se com as preposições com, de, em:
com preposição: Na conversa aludiu Contentam-se com migalhas. (VTI); Contento-me em aplaudir
daqui.
vagamente ao seu novo projeto. (VTI)
Custar: é transitivo direto no sentido de ter valor de, ser caro.
Ansiar: emprega-se sem preposição no sentido de causar mal- Este computador custa muito caro. (VTD). No sentido de ser
-estar, angustiar: A emoção ansiava-me. (VTD); Emprega-se difícil é TI. É conjugado como verbo reflexivo, na 3ª pessoa do
com preposição no sentido de desejar ardentemente por: An- singular, e seu sujeito é uma oração reduzida de infinitivo: Cus-
siava por vê-lo novamente. (VTI) tou-me pegar um táxi; O carro custou-me todas as economias.
Aspirar: emprega-se sem preposição no sentido de respirar, É transitivo direto e indireto (TDI) no sentido de acarretar: A
cheirar: Aspiramos um ar excelente, no campo. (VTD) Empre- imprudência custou-lhe lágrimas amargas. (VTDI).
ga-se com preposição no sentido de querer muito, ter por ob- Ensinar: é intransitivo no sentido de doutrinar, pregar: Mi-
jetivo: Gincizinho aspira ao cargo de diretor da Penitenciária. nha mãe ensina na FAI. (VTI). É transitivo direto no sentido de
(VTI) educar: Nem todos ensinam as crianças. (VTD). É transitivo di-
reto e indireto no sentido de dar ínstrução sobre: Ensino os
Assistir: emprega-se com preposição no sentido de ver, pre-
exercícios mais dificeis aos meus alunos. (VTDI).
senciar: Todos assistíamos à novela Almas Gêmeas. (VTI) Nes-
se caso, o verbo não aceita o pronome lhe, mas apenas os Entreter: empregado como divertir-se exige as preposições: a,
pronomes pessoais retos + preposição: O filme é ótimo. Todos com, em: Entretínhamo-nos em recordar o passado.
querem assistir a ele. (VTI). Emprega-se sem / com preposição
Esquecer / Lembrar: estes verbos admitem as constru-
no sentido de socorrer, ajudar: A professora sempre assiste os
ções: Esqueci o endereço dele; Lembrei um caso interessante;
alunos com carinho. (VTD); A professora sempre assiste aos
Esqueci-me do endereço dele; Lembrei-me de um caso inte-
alunos com carinho. (VTI). Emprega-se com preposição no
ressante. Esqueceu-me seu endereço; Lembra-me um caso
sentido de caber, ter direito ou razão: O direito de se defender
interessante. Você pode observar que no 1º exemplo tanto o
assiste a todos. (VTI). No sentido de morar, residir é intransitivo
verbo esquecer como lembrar, não são pronominais, isto é, não
e exige a preposição em: Assiste em Manaus por muito tempo.
exigem os pronomes me, se, lhe, são transitivos diretos (TD).
(VI).
Nos outros exemplos, ambos os verbos, esquecer e lembrar,
Atender: empregado sem preposição no sentido de rece- exigem o pronome e a preposição de; são transitivos indiretos
ber alguém com atenção: O médico atendeu o cliente pacien- e pronominais. No exemplo o verbo esquecer está emprega-
temente. (VTD). No sentido de ouvir, conceder: Deus atendeu do no sentido de apagar da memória e o verbo lembrar está
minhas preces. (VTD); Atenderemos quaisquer pedido via inter- empregado no sentido de vir à memória. Na língua culta, os
net. Emprega-se com preposição no sentido de dar atenção a verbos esquecer e lembrar quando usados com a preposição
alguém: Lamento não poder atender à solicitação de recursos. de, exigem os pronomes.
(VTI). Emprega-se com preposição no sentido de ouvir com
Implicar: emprega-se com preposição no sentido de ter im-
atenção o que alguém diz: Atenda ao telefone, por favor; Aten-
plicância com alguém: Nunca implico com meus alunos. (VTI).
da o telefone. (preferência brasileira).
Emprega-se sem preposição no sentido de acarretar, envolver:
Avisar: avisar alguém de alguma coisa: O chefe avisou os A queda do dólar implica corrida ao over. (VTD); O desestímu-
funcionários de que os documentos estavam prontos. (VTD); lo ao álcool combustível implica uma volta ao passado. (VTD).
Avisaremos os clientes da mudança de endereço. (VTD). Já tem Emprega-se sem preposição no sentido de embaraçar, com-
tradição na língua o uso de avisar como OI de pessoa e OD de prometer: O vizinho implicou-o naquele caso de estupro. (VTD).
coisa; Avisamos aos clientes que vamos atendê-los em novo É inadequada a regência do verbo implicar em: - Implicou em
endereço. confusão.
Bater: emprega-se com preposição no sentido de dar panca- Informar: o verbo informar possui duas construções, VTD
das em alguém: Os irmãos batiam nele (ou batiam-lhe) à toa; e VTI: Informei-o que sua aposentaria saiu. (VTD); Informei-lhe
Nervoso, entrou em casa e bateu a porta; (fechou com força);
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Língua Portuguesa
que sua aposentaria saiu. (VTI); Informou-se das mudanças linguagem formal, culta, é inadequado usar este verbo reforça-
logo cedo. (inteirar-se, verbo pronominal) do pelas palavras ou expressões: antes, mais, muito mais, mil
vezes mais, do que.
Investir: emprega-se com preposição (com ou contra) no sen-
tido de atacar, é TI: O touro Bandido investiu contra Tião. Em- Presidir: emprega-se com objeto direto ou objeto indireto, com
pregado como verbo transitivo direto e índireto, no sentido de a preposição a: O reitor presidiu à sessão; O reitor presidiu a
dar posse: O prefeito investiu Renata no cargo de assessora. sessão.
(VTDI). Emprega-se sem preposição no sentido também de
Prevenir: admite as construções: - A paciência previne dissa-
empregar dinheiro, é TD: Nós investimos parte dos lucros em
bores; Preveni minha turma; Quero preveni-los; Prevenimo-nos
pesquisas científicas. (VTD).
para o exame final.
Morar: antes de substantivo rua, avenida, usa-se morar com
Proceder: emprega-se como verbo intransitivo no sentido de
a preposição em: D. Marina Falcão mora na Rua Dorival de
ter fundamento: Sua tese não procede. (VI). Emprega-se com
Barros.
a preposição de no sentido de originar-se, vir de: Muitos ma-
Namorar: a regência correta deste verbo é namorar alguém les da humanidade procedem da falta de respeito ao próximo.
e NÃO namorar com alguém: Meu filho, Paulo César, namora Emprega-se como transitivo indireto com a preposição a, no
Cristiane. Marcelo namora Raquel. sentido de dar início: Procederemos a uma investigação rigo-
Necessitar: emprega-se com verbo transitivo direto ou indire- rosa. (VTI)
to, no sentido de precisar: Necessitávamos o seu apoio; Ne- Querer: emprega-se sem preposição no sentido de desejar:
cessitávamos de seu apoio. (VTDI). Quero vê-lo ainda hoje. (VTD). Emprega-se com preposição no
Obedecer / Desobedecer: emprega-se com verbo transitivo sentido de gostar, ter afeto, amar: Quero muito bem às minhas
direto e indireto no sentido de cumprir ordens: Obedecia às cunhadas Vera e Ceiça.
irmãs e irmãos; Não desobedecia às leis de trânsito. Residir: como o verbo morar, o verbo responder, constrói-se
Pagar: emprega-se sem preposição no sentido de saldar coisa, com a preposição em: Residimos em Lucélia, na Avenida In-
é VTI: Cida pagou o pão; Paguei a costura. Emprega-se com ternacional. Residente e residência têm a mesma regencia de
preposição no sentido de remunerar pessoa, é VTI: Cida pa- residir em.
gou ao padeiro; Paguei à costureira. Emprega-se como verbo Responder: emprega-se no sentido de responder alguma coi-
transitivo direto e indireto, pagar alguma coisa a alguém: Cida sa a alguém: O senador respondeu ao jornalista que o projeto
pagou a carne ao açougueiro. Por alguma coisa: Quanto pagou do rio São Francisco estava no final. (VTDI). Emprega-se no
pelo carro? Sem complemento: Assistiu aos jogos sem pagar. sentido de responder a uma carta, a uma pergunta: Enrolou,
enrolou e não respondeu à pergunta do professor.
Pedir: somente se usa pedir para, quando, entre pedir e o para,
puder colocar a palavra licença. Caso contrário, díz-se pedir Reverter: emprega-se no sentido de regressar, voltar ao esta-
que; A secretária pediu para sair mais cedo. (pediu licença); do primitivo: Depois de aposentar-se reverteu à ativa. Empre-
A direção pediu que todos os funcionários comparecessem à ga-se no sentido de voltar para a posse de alguém: As jóias
reunião. reverterão ao seu verdadeiro dono. Emprega-se no sentido de
destinar-se: A renda da festa será revertida em beneficio da
Perdoar: emprega-se sem preposição no sentido de perdoar
Casa da Sopa.
coisa, é TD: Devemos perdoar as ofensas. (VTD). Emprega-se
com preposição no sentido de conceder o perdão à pessoa, é Simpatizar / Antipatizar: empregam-se com a preposição
TI: Perdoemos aos nossos inimigos. (VTI). Emprega-se como com: Sempre simpatizei com pessoas negras; Antipatizei com
verbo transitivo direto e indireto no sentido de ter necessidade: ela desde o primeiro momento. Estes verbos não são pro-
A mãe perdoou ao filho a mentira. (VTDI). Admite voz passiva: nominais, isto é, não exigem os pronomes me, se, nos, etc:
Todos serão perdoados pelos pais. Simpatizei-me com você. (inadequado); Simpatizei com você.
(adequado)
Permitir: empregado com preposição, exige objeto indireto
de pessoa: O médico permitiu ao paciente que falasse. (VTI). Subir: Subiu ao céu; Subir à cabeça; Subir ao trono; Subir ao
Constrói-se com o pronome lhe e não o: O assistente permitiu- poder. Essas expressões exigem a preposição a.
-lhe que entrasse. Não se usa a preposição de antes de oração
Suceder: emprega-se com a preposição a no sentido de subs-
infinitiva: Os pais não lhe permite ir sozinha à festa do Peão. (e
tituir, vir depois: O descanso sucede ao trabalho.
não de ir sozinha).
Pisar: é verbo transitivo direto VTD: Tinha pisado o continen- Tocar: emprega-se no sentido de pôr a mão, tocar alguém, to-
te brasileiro. (não exige a preposição no). car em alguém: Não deixava tocar o / no gato doente. Empre-
ga-se no sentido de comover, sensibilizar, usa-se com OD: O
Precisar: emprega-se com preposição no sentido de ter ne- nascimento do filho tocou-o profundamente. Emprega-se no
cessidade, é VTI: As crianças carentes precisam de melhor sentido de caber por sorte, herança, é OI: Tocou-lhe, por he-
atendimento médico. (VTI). Quando o verbo precisar vier rança, uma linda fazenda. Emprega-se no sentido de ser da
acompanhado de infinítivo, pode-se usar a preposição de; a competência de, caber: Ao prefeito é que toca deferir ou inde-
língua moderna tende a dispensá-la: Você é rico, não precisa ferir o projeto.
trabalhar muito. Usa-se, às vezes na voz passiva, com sujeito
indeterminado: Precisa-se de funcionários competentes. (sujei- Visar: emprega-se sem preposição, como VTD, no sentido de
to indeterminado). Emprega-se sem preposição no sentido de apontar ou pôr visto: O garoto visou o inocente passarinho;
indicar com exatidão: Perdeu muito dinheiro no jogo, mas não O gerente visou a correspondência. Emprega-se com preposi-
sabe precisar a quantia. (VTD). ção, como VTI, no sentido de desejar, pretender: Todos visam
ao reconhecimento de seus esforços.
Preferir: emprega-se sem preposição no sentido de ter pre-
ferência. (sem escolha): Prefiro dias mais quentes. (VTD). Pre-
ferir - VTDI, no sentido de ter preferência, exige a preposição
a: Prefiro dançar a nadar; Prefiro chocolate a doce de leite. Na
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Língua Portuguesa
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Língua Portuguesa
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Língua Portuguesa
14. Equivalência e
boas “sintaxes”, boas misturas, ou seja, a vírgula ajuda-nos a
não “embolar” o sentido quando produzimos frases comple-
xas. Com isto, “entregamos” frases bem organizadas aos nos-
sos leitores.
transformação O básico para a organização sintática das frases é a ordem
direta dos termos da oração.
de estruturas Os gramáticos estruturam tal ordem da seguinte maneira:
sujeito + verbo + complemento verbal + circunstâncias
“Ideias confusas geram redações confusas”. Esta frase leva- A globalização + está causando + desemprego + no Brasil nos
-nos a refletir sobre a organização5 das ideias em um texto. dias de hoje.
Significa dizer que, antes da redação, naturalmente devemos
Nem todas as orações mantêm esta ordem e nem todas
dominar o assunto sobre o qual iremos tratar e, posteriormente, contêm todos estes elementos, portanto cabem algumas
planejar o modo como iremos expô-lo, do contrário haverá difi- observações:
culdade em transmitir ideias bem acabadas. Portanto, a leitura,
a interpretação de textos e a experiência de vida antecedem o As circunstâncias (de tempo, espaço, modo, etc.) normalmen-
ato de escrever. te são representadas por adjuntos adverbiais de tempo, lugar,
etc. Note que, no mais das vezes, quando queremos recordar
Obtido um razoável conhecimento sobre o que iremos escre- algo ou narrar uma história, existe a tendência a colocar os
ver, feito o esquema de exposição da matéria, é necessário sa- adjuntos nos começos das frases:
ber ordenar as ideias em frases bem estruturadas. Logo, não
basta conhecer bem um determinado assunto, temos que o “No Brasil e na América…” “Nos dias de hoje…” “Nas minhas
transmitir de maneira clara aos leitores. férias…”, “No Brasil…”. E logo depois os verbos e outros ele-
mentos: “Nas minhas férias fui…”; “No Brasil existe…”
O estudo da pontuação pode se tornar um valioso aliado para
organizarmos as ideias de maneira clara em frases. Para tanto, Observações
é necessário ter alguma noção de sintaxe. “Sintaxe”, confor- a) tais construções não estão erradas, mas rompem com a
me o dicionário Aurélio, é a “parte da gramática que estuda a ordem direta;
disposição das palavras na frase e a das frases no discurso, b) é preciso notar que em Língua Portuguesa, há muitas fra-
bem como a relação lógica das frases entre si”; ou em outras ses que não têm sujeito, somente predicado. Por exemplo:
palavras, sintaxe quer dizer “mistura”, isto é, saber misturar as Está chovendo em Porto Alegre. Faz frio em Friburgo. São
palavras de maneira a produzirem um sentido evidente para os quatro horas agora;
receptores das nossas mensagens. c) Outras frases são construídas com verbos intransitivos,
Observe: que não têm complemento: O menino morreu na Alema-
1. A desemprego globalização no Brasil e na está Latina nha, (sujeito +verbo+ adjunto adverbial)
América causando. d) A globalização nasceu no século XX. (Idem)
2. A globalização está causando desemprego no Brasil e na e) Há ainda frases nominais que não possuem verbos: cada
América Latina. macaco no seu galho. Nestes tipos de frase, a ordem direta
faz-se naturalmente. Usam-se apenas os termos existen-
Ora, no item 1 não temos uma ideia, pois não há uma frase, as tes nelas.
palavras estão amontoadas sem a realização de “uma sintaxe”,
Levando em consideração a ordem direta, podemos esta-
não há um contexto linguístico nem relação inteligível com a
belecer três regras básicas para o uso da vírgula:
realidade; no caso 2, a sintaxe ocorreu de maneira perfeita e o
sentido está claro para receptores de língua portuguesa inteira- Se os termos estão colocados na ordem direta não haverá a
dos da situação econômica e cultural do mundo atual. necessidade de vírgulas. A frase (2) é um exemplo disto:
126
Língua Portuguesa
- A globalização está causando desemprego no Brasil e na Nota-se que a quebra da ordem direta frequentemente se dá
América Latina. com a colocação das circunstâncias antes do sujeito. Trata-
-se da ordem inversa. Estas circunstâncias, em gramática, são
Todavia, ao repetir qualquer um dos termos da oração por
três vezes ou mais, então é necessário usar a vírgula, mes- representadas pelos adjuntos adverbiais. Muitas vezes, elas
mo que estejamos usando a ordem direta. Esta é a regra são colocadas em orações chamadas adverbiais que têm uma
básica nº1 para a colocação da vírgula. Veja: função semelhante à dos adjuntos adverbiais, isto é, denotam
tempo, lugar, etc.
A globalização, a tecnologia e a “ciranda financeira” causam
desemprego… Exemplos:
Em princípio, não devemos, na ordem direta, separar com vír- Observações alguns gramáticos, Sacconi, por exemplo,
consideram que as orações subordinadas adverbiais de-
gula o sujeito e o verbo, nem o verbo e o seu complemento,
vem ser isoladas pela vírgula também quando colocadas
nem o complemento e as circunstâncias, ou seja, não devemos após as suas orações principais, mas só quando a) a ora-
separar com vírgula os termos da oração. ção principal tiver uma extensão grande:
Veja exemplos de tal incorreção: Exemplo: A globalização causa… , enquanto os países…(vide
O Brasil, será feliz. A globalização causa, o desemprego. frase acima); b) Se houver uma outra oração após a principal e
antes da oração adverbial: A globalização causa desemprego
Ao intercalarmos alguma palavra ou expressão entre os
no Brasil e as pessoas aqui estão morrendo de fome , enquanto
termos da oração, cabe isolar tal termo entre vírgulas, as-
sim o sentido da ideia principal não se perderá. Esta é a re- nos países portadores de alta tecnologia…
gra básica nº2 para a colocação da vírgula. Dito em outras Quando os adjuntos adverbiais são mínimos, isto é, têm
palavras: quando intercalamos expressões e frases entre apenas uma ou duas palavras não há necessidade do uso
os termos da oração, devemos isolar os mesmos com vír- da vírgula:
gulas. Vejamos:
Hoje a globalização causa desemprego no Panamá.
A globalização, fenômeno econômico deste fim de século XX, Ali a globalização também causou…
causa desemprego no Brasil. Aqui um aposto à globalização foi A não ser que queiramos dar ênfase: Aqui, a globalização…
intercalado entre o sujeito e o verbo.
Na língua escrita, normalmente, ao realizarmos a ordem in-
versa, emprestamos ênfase aos termos que principiam as
Outros exemplos frases. Veja este exemplo de Rui Barbosa destacado por
A globalização, que é um fenômeno econômico e cultural, está Garcia:
causando desemprego no Brasil e na América Latina. “A mim, na minha longa e aturada e continua prática do escre-
Neste caso, há uma oração adjetiva intercalada. ver, me tem sucedido inúmeras vezes, depois de considerar
por muito tempo necessária e insuprível uma locução nova, en-
As orações adjetivas explicativas desempenham frequente- contrar vertida em expressões antigas mais clara, expressiva e
mente um papel semelhante ao do aposto explicativo, por isto elegante a mesma ideia.”
são também isoladas por vírgula.
Estas três regras básicas não solucionam todos os proble-
A globalização causa, caro leitor, desemprego no Brasil… mas de organização das frases, mas já dão um razoável
suporte para que possamos começar a ordenar a expres-
Neste outro caso, há um vocativo entre o verbo e o seu são das nossas ideias. Em suma: o importante é não separar
complemento. os termos básicos das orações, mas, se assim o fizermos, seja
A globalização causa desemprego, e isto é lamentável, no Brasil… intercalando ou invertendo elementos, então devemos usar a
vírgula.
Aqui, há uma oração intercalada (note que ela não pertence ao
assunto: globalização, da frase principal, tal oração é apenas um Observação: quanto à equivalência e transformação de es-
comentário à parte entre o complemento verbal e os adjuntos. truturas, outro exemplo muito comum cobrado em provas é o
enunciado trazer uma frase no singular, por exemplo, e pedir
Observação: a simples negação em uma frase não exige
que o aluno passe a frase para o plural, mantendo o sentido.
vírgula:
Outro exemplo é o enunciado dar a frase em um tempo verbal,
A globalização não causou desemprego no Brasil e na América e pedir para que o aluno passe-a para outro tempo verbal.
Latina.
Quando “quebramos” a ordem direta, invertendo-a, tal quebra Questões
torna a vírgula necessária. Esta é a regra nº3 da colocação da
vírgula. 1. (MRE - Oficial de Chancelaria – FGV/2016)
No Brasil e na América Latina, a globalização está causando Texto 1 – Um país em berço de sangue
desemprego…
O maior país da América Latina, com a maior população ca-
No fim do século XX, a globalização causou desemprego no tólica do mundo, não nasceu de forma tranquila. Neste livro,
Brasil… com o realismo dos documentos originais, vemos claramente a
brutalidade do extermínio dos índios na costa brasileira, berço
127
Língua Portuguesa
de sangue cujo marco determinante é a fundação da cidade do que às vezes não contam com saneamento básico ou asfalto e
Rio de Janeiro. apresentam elevados índices de violência.
O Brasil real começou a ser construído por homens como o A especulação imobiliária também acentua um problema cada
degredado João Ramalho, que raspava os pelos do corpo para vez maior no espaço das grandes, médias e até pequenas ci-
se mesclar aos índios e construiu um exército de mestiços ca- dades: a questão dos lotes vagos. Esse problema acontece por
çadores de escravos mais poderoso que o da própria Coroa; dois principais motivos: 1) falta de poder aquisitivo da popu-
personagens improváveis como o jesuíta Manoel da Nóbrega, lação que possui terrenos, mas que não possui condições de
padre gago incumbido de catequizar um povo de língua indeci- construir neles e 2) a espera pela valorização dos lotes para
frável, esteio da erradicação dos “hereges” antropófagos; líde- que esses se tornem mais caros para uma venda posterior.
res implacáveis como Aimberê, ex-escravo que tomou a frente Esses lotes vagos geralmente apresentam problemas como o
da resistência e Cunhambebe, cacique “imortal”, que dizia po- acúmulo de lixo, mato alto, e acabam tornando-se focos de
der devorar carne humana porque era “um jaguar”. doenças, como a dengue.
Incluindo protestantes franceses, que se aliaram aos índios PENA, Rodolfo F. Alves. “Problemas socioambientais urbanos”;
para escapar dos portugueses e da Inquisição, além de ma- Brasil Escola. Disponível em
melucos, os primeiros brasileiros verdadeiramente ligados à http://brasilescola.uol.com.br/brasil/problemas-ambientais-sociais-decorrentes-
terra, que falavam tupi tanto quanto o português e partiram do -urbanização.htm. Acesso em 14 de abril de 2016.
planalto de Piratininga para caçar índios e estenderam a colô-
A estruturação do texto 1 é feita do seguinte modo:
nia sertão adentro, surge um povo que desde a origem nada
a) uma introdução definidora dos problemas sociais urbanos e
tem da autoimagem do “brasileiro cordial”.
um desenvolvimento com destaque de alguns problemas;
(Texto da orelha do livro A conquista do Brasil, de Thales Guaracy, Planeta, Rio b) uma abordagem direta dos problemas com seleção e ex-
de Janeiro, 2015)
plicação de um deles, visto como o mais importante;
O texto 1 tem como marca estrutural ou temática: c) uma apresentação de caráter histórico seguida da expli-
a) uma rigorosa sucessão cronológica de fatos históricos; citação de alguns problemas ligados às grandes cidades;
b) a evolução de fatos que comprovam a aquisição de nossa d) uma referência imediata a um dos problemas sociais urba-
“cordialidade”; nos, sua explicitação, seguida da citação de um segundo
c) a progressiva inclusão histórica de diferentes seres humanos; problema;
d) uma contínua preocupação com a nossa formação religiosa; e) um destaque de um dos problemas urbanos, seguido de
e) a finalidade de chegar-se a personagens brasileiros. sua explicação histórica, motivo de crítica às atuais auto-
ridades.
2. (Pref. de Mangaratiba/RJ - Assistente Social – BIO-
-RIO/2016) 4. (Prefeitura de São Gonçalo/RJ - Analista de Contabili-
dade – BIO-RIO/2016)
Entre os pensamentos abaixo, aquele que NÃO apresenta
uma estrutura comparativa é: Texto
a) “A arte vence a monotonia das coisas, assim como a espe-
rança vence a monotonia dos dias”.(Chesterton) ÉDIPO-REI
b) “Muita luz é como muita sombra: não deixa ver”. (Carlos Diante do palácio de Édipo. Um grupo de crianças está ajoe-
Castañeda) lhado nos degraus da entrada. Cada um tem na mão um ramo
c) “O bem é aquele que trabalha pela unidade, o mal é aquele de oliveira. De pé, no meio delas, está o sacerdote de Zeus.
que trabalha pela separação”. (A. Huxley) (Edipo-Rei, Sófocles, RS: L&PM, 2013)
d) “Bons julgamentos vêm da experiência e, frequentemente,
a experiência vem de maus julgamentos”. (Rita Mae Brown) A mesma estrutura de “grupo de crianças” ocorre em:
e) “O pessimista se queixa do vento, o otimista espera que ele a) descrição de uma cena.
mude e o realista ajusta as velas”. (William George Ward) b) presença de um sacerdote.
c) montão de gente.
3. (MPE/RJ - Analista do Ministério Público – Processual d) casa de Édipo.
– FGV/2016) e) ramo de oliveira.
Texto 1 – Problemas Sociais Urbanos 5. (UFCG - Assistente em Administração – UFCG/2016)
Brasil escola Texto 1
Dentre os problemas sociais urbanos, merece destaque a Mobilidade urbana no Brasil
questão da segregação urbana, fruto da concentração de ren-
da no espaço das cidades e da falta de planejamento público Nos últimos anos, o debate sobre a mobilidade urbana no Bra-
que vise à promoção de políticas de controle ao crescimento sil vem se acirrando cada vez mais, haja vista que a maior parte
desordenado das cidades. A especulação imobiliária favorece das grandes cidades do país vem encontrando dificuldades em
o encarecimento dos locais mais próximos dos grandes cen- desenvolver meios para diminuir a quantidade de congestio-
tros, tornando-os inacessíveis à grande massa populacional. namentos ao longo do dia e o excesso de pedestres em áre-
Além disso, à medida que as cidades crescem, áreas que antes as centrais dos espaços urbanos. Trata-se, também, de uma
eram baratas e de fácil acesso tornam-se mais caras, o que questão ambiental, pois o excesso de veículos nas ruas gera
contribui para que a grande maioria da população pobre bus- mais poluição, interferindo em problemas naturais e climáticos
que por moradias em regiões ainda mais distantes. em larga escala e também nas próprias cidades, a exemplo do
aumento do problema das ilhas de calor.
Essas pessoas sofrem com as grandes distâncias dos locais de
residência com os centros comerciais e os locais onde traba- A principal causa dos problemas de mobilidade urbana no Bra-
lham, uma vez que a esmagadora maioria dos habitantes que sil relaciona-se ao aumento do uso de transportes individuais
sofrem com esse processo são trabalhadores com baixos sa- em detrimento da utilização de transportes coletivos, embora
lários. Incluem-se a isso as precárias condições de transporte esses últimos também encontrem dificuldades com a superlo-
público e a péssima infraestrutura dessas zonas segregadas, tação. Esse aumento do uso de veículos como carros e motos
128
Língua Portuguesa
deve-se a, pelo menos, cinco fatores: má qualidade do trans- do Taiti, de Paul Gauguin, é um dos quadros da última parte
porte público no Brasil; aumento da renda média do brasileiro da mostra, chamada de A Cor em Liberalidade, que tem como
nos últimos anos; redução de impostos por parte do Governo marca justamente a inspiração que artistas como Gauguin e
Federal sobre produtos industrializados (o que inclui os carros); Paul Cézanne buscaram na natureza tropical. A pintura é um
concessão de mais crédito ao consumidor; e, por fim, herança dos primeiros trabalhos de Gauguin desenvolvidos na primeira
histórica da política rodoviária do país. temporada que o artista passou na ilha do Pacífico, onde duas
mulheres aparecem sentadas a um fundo verde-esmeralda,
Entre as principais soluções para o problema da mobilidade
que lembra o oceano.
urbana, na visão de muitos especialistas, estaria o estímulo
aos transportes coletivos públicos, através da melhoria de suas A exposição vai até o dia 7 de julho, com entrada franca.
qualidades e eficiências e do desenvolvimento de um trânsito Fonte:http://agenciabrasil.ebc.com.br/cultura/noticia/2016-05/mostra-otriun-
focado na circulação desses veículos, e a diversificação dos fo-da-cor-traz-grandes-nomes-do-pos-impressionismo-para-sp Acesso em:
modais de transporte. Ao longo do século XX, o Brasil foi es- 29/05/2016.
sencialmente rodoviarista, em detrimento do uso de trens, me- A partir das características estruturais desse texto, é possível
trôs e outros. A ideia é investir mais nesses modos alternativos, afirmar que ele pertence ao gênero textual:
o que pode atenuar os excessivos números de veículos transi- a) Notícia, em virtude de ser impessoal e narrar um evento
tando nas ruas das grandes cidades do país. recente.
De toda forma, é preciso ampliar os debates, regulamentando b) Reportagem, uma vez que apresenta um evento de manei-
ações públicas para o interesse da questão, tais como a difu- ra refletida.
são dos fóruns de mobilidade urbana e a melhoria do Estatuto c) Artigo de Opinião, pois está em primeira pessoa e defende
das Cidades, com ênfase na melhoria da qualidade e da efici- uma ideia.
ência dos deslocamentos por parte das populações. d) Editorial de arte, por ter um autor que opina a um interlo-
cutor explícito.
(PENA, Rodolfo F. Alves. “Mobilidade urbana no Brasil”. Disponível em <http://
brasilescola.uol.com.br/geografia/mobilidade-urbanano-brasil.htm>. Acesso em 7. (Copergás/PE - Analista Administrador – FCC/2016)
25/03/2016. Adaptado).
Idades e verdades
Analisando-se a estrutura do texto, conclui-se que se trata de
um / uma: O médico e jornalista Dráuzio Varella escreveu outro dia no jornal uma crônica
muito instigante.
a) Depoimento
b) Debate Destaco este trecho:
c) Notícia
“Nada mais ofensivo para o velho do que dizer que ele tem
d) Artigo de opinião
‘cabeça de jovem’. É considerá-lo mais inadequado do que o
e) Reportagem
rapaz de 20 anos que se comporta como criança de dez. Ainda
6. (Prefeitura de Natal/RN - Agente Administrativo – CKM que maldigamos o envelhecimento, é ele que nos traz a aceita-
Serviços/2016) ção das ambiguidades, das diferenças, do contraditório e abre
espaço para uma diversidade de experiências com as quais
Mostra O Triunfo da Cor traz grandes nomes do pós-impres-
nem sonhávamos anteriormente. ”
sionismo para SP Daniel Mello - Repórter da Agência Brasil A
exposição O Triunfo da Cor traz grandes nomes da arte moder- Tomo a liberdade de adicionar meu comentário de velho:
na para o Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo. São não preciso que os jovens acreditem em mim, tampouco
75 obras de 32 artistas do final do século 19 e início do 20, estou aberto para receber lições dos mocinhos. Nossa al-
entre eles expoentes como Van Gogh, Gauguin, Toulouse-Lau- ternativa: ao nos defrontarmos com uma questão de comum
trec, Cézanne, Seurat e Matisse. Os trabalhos fazem parte dos interesse, discutirmos honestamente que sentido ela tem para
acervos do Musée d’Orsay e do Musée de l’Orangerie, ambos nós. O que nos unirá não serão nossas diferenças, mas o que
de Paris. nos desafia.
(LAMEIRA, Viriato, inédito)
A mostra foi dividida em quatro módulos que apresentam os
pintores que sucederam o movimento impressionista e recebe- É preciso corrigir, por apresentar em sua construção uma defi-
ram do crítico inglês Roger Fry a designação de pós-impressio- ciência estrutural, a redação da seguinte frase:
nistas. Na primeira parte, chamada de A Cor Cientifica, podem a) A muita gente ocorre que os velhos estimem ser tratados
ser vistas pinturas que se inspiraram nas pesquisas científicas como jovens, em vez de serem valorizados pelos ganhos
de Michel Eugene Chevreul sobre a construção de imagens obtidos em sua longa experiência de vida.
com pontos. b) Imagina-se que a ingenuidade de uma criança ou o caráter
aventureiro de um jovem possam ser atributos positivos
Os estudos desenvolvidos por Paul Gauguin e Émile Bernard
invejados pelos velhos, quando não o são.
marcam a segunda parte da exposição, chamada de Núcleo
c) Os jovens, presumivelmente, não deverão considerar-se
Misterioso do Pensamento. Entre as obras que compõe esse
criaturas privilegiadas se alguém os julga tão ativos e in-
conjunto está o quadro Marinha com Vaca, em que o animal
ventivos quanto costumam ser as crianças de dez anos.
é visto em um fundo de uma passagem com penhascos que
d) Ao comentar a afirmação de Dráuzio Varella, o autor do
formam um precipício estreito. As formas são simplificadas, em
texto não se mostra disposto nem a aprender algo com os
um contorno grosso e escuro, e as cores refletem a leitura e
jovens, nem a esperar que estes acreditem nele.
impressões do artista sobre a cena.
e) Conquanto os velhos pareçam injustiçados, razão pela qual
O Autorretrato Octogonal, de Édouard Vuillard, é uma das pin- as pessoas tendem a consolá-los atribuindo-lhes juventude,
turas de destaque do terceiro momento da exposição. Intitula- há por isso mesmo como valorizar sua experiência.
da Os Nabis, Profetas de Uma Nova Arte, essa parte da mostra
8. (MRE - Oficial de Chancelaria – FGV/2016) Texto 1 – Um
também reúne obras de Félix Vallotton e Aristide Maillol. No
país em berço de sangue
autorretrato, Vuillard define o rosto a partir apenas da aplica-
ção de camadas de cores sobrepostas, simplificando os tra- O maior país da América Latina, com a maior população ca-
ços, mas criando uma imagem de forte expressão. O Mulheres tólica do mundo, não nasceu de forma tranquila. Neste livro,
129
Língua Portuguesa
com o realismo dos documentos originais, vemos claramente a plenos e tinha simpatias pela Ku Klux Klan. Merece ter seu
brutalidade do extermínio dos índios na costa brasileira, berço nome cassado?
de sangue cujo marco determinante é a fundação da cidade do
A resposta é, obviamente, “tanto faz”. Um nome é só um nome
Rio de Janeiro.
e, para quem já morreu, homenagens não costumam mesmo
O Brasil real começou a ser construído por homens como o fazer muita diferença. De resto, discussões sobre racismo são
degredado João Ramalho, que raspava os pelos do corpo para bem‐vindas. Receio, porém, que a demanda dos alunos ca-
se mesclar aos índios e construiu um exército de mestiços ca- minhe perigosamente perto do anacronismo. Sim, Wilson era
çadores de escravos mais poderoso que o da própria Coroa; racista, mas não podemos esquecer que a época também o
personagens improváveis como o jesuíta Manoel da Nóbrega, era. O 28º presidente dos EUA não está sozinho.
padre gago incumbido de catequizar um povo de língua indeci-
“Não sou nem nunca fui favorável a promover a igualdade so-
frável, esteio da erradicação dos “hereges” antropófagos; líde-
cial e política das raças branca e negra... há uma diferença fí-
res implacáveis como Aimberê, ex-escravo que tomou a frente
sica entre as raças que, acredito, sempre as impedirá de viver
da resistência e Cunhambebe, cacique “imortal”, que dizia po-
juntas como iguais em termos sociais e políticos. E eu, como
der devorar carne humana porque era “um jaguar”.
qualquer outro homem, sou a favor de que os brancos mante-
Incluindo protestantes franceses, que se aliaram aos índios nham a posição de superioridade.” Essa frase, que soa parti-
para escapar dos portugueses e da Inquisição, além de ma- cularmente odiosa a nossos ouvidos modernos, é de Abraham
melucos, os primeiros brasileiros verdadeiramente ligados à Lincoln, que, não obstante, continua sendo considerado um
terra, que falavam tupi tanto quanto o português e partiram do campeão dos direitos civis.
planalto de Piratininga para caçar índios e estenderam a colô-
O problema são os americanos; eles são atavicamente racis-
nia sertão adentro, surge um povo que desde a origem nada
tas, dirá o observador anti-imperialista. Talvez não. “O negro
tem da autoimagem do “brasileiro cordial”.
é indolente e sonhador, e gasta seu dinheiro com frivolidades
(Texto da orelha do livro A conquista do Brasil, de Thales Guaracy, Planeta, Rio e bebida”. Essa pérola é de Che Guevara. Alguns dizem que,
de Janeiro, 2015)
depois, mudou de opinião. Quem não for prisioneiro de seu
O “Brasil real”, segundo o texto 1, foi: próprio tempo que atire a primeira pedra.
a) construído por atos de violência; (SCHWARTSMAN, Hélio. Folha de S. Paulo, 13 de dezembro de 2015.)
b) formado a partir da participação estrangeira;
c) estruturado a partir da ação católica; De acordo com a estrutura e os recursos textuais apresenta-
d) estabelecido com base em atos ilegais; dos, é correto afirmar acerca do texto em análise que sua prin-
e) organizado apesar das contradições internas. cipal finalidade é
a) desenvolver o conceito de racismo relacionado a épocas
9. (TER/PI - Conhecimentos Gerais para os Cargos 1, 2 e diferentes.
4 – CESPE/2016) b) oferecer esclarecimentos sobre o fato motivador para o de-
Em relação à conceituação, à finalidade e aos aspectos estru- senvolvimento do texto.
turais e linguísticos das correspondências oficiais, assinale a c) apresentar opinião pessoal para um debate público acerca
opção correta. de uma questão de caráter social.
a) O memorando é um expediente oficial de circulação inter- d) buscar, através do discurso social, a expressão da subjeti-
na ou externa. vidade utilizando uma linguagem amplamente metafórica.
b) Como não existe padrão definido para a estrutura das
mensagens enviadas por meio de correio eletrônico, não Respostas
há orientações acerca da linguagem a ser empregada nes- 1. Resposta C
sas comunicações. a) uma rigorosa sucessão cronológica de fatos históricos;
c) Informar o destinatário sobre determinado assunto, propor errada. não faz qualquer referência cronológica, exceto o
alguma medida e submeter projeto de ato normativo à con- surgimento do brasil, mas não se pode falar em sucessão
sideração desse destinatário são alguns dos propósitos cronológica.
comunicativos da mensagem. b) a evolução de fatos que comprovam a aquisição de nossa
d) A exposição de motivos varia estruturalmente conforme “cordialidade”; errada urge um povo que desde a origem
sua finalidade comunicativa. nada tem da autoimagem do “brasileiro cordial”.
e) A situação comunicativa mediada pelo ofício é restrita aos c) a progressiva inclusão histórica de diferentes seres huma-
ministros de Estado, estejam eles no papel de remetente nos; certa. Tem o jesuíta Manoel da Nóbrega; o Aimberê,
ou de destinatário. ex-escravo; tem o Cunhambebe...
10. (SEARH/RN - Professor de Ensino Religioso – IDE- d) uma contínua preocupação com a nossa formação religio-
CAN/2016) sa; errada. Apesar de fazer várias referências religiosas (je-
suítas, catequizar, hereges, igreja católica...) não demostra
Texto I para responder à questão. uma preocupação com a formação religiosa.
Caça aos racistas e) a finalidade de chegar-se a personagens brasileiros; errada. A
finalidade de mostrar a formação do Brasil, através de perso-
Alunos da Universidade Princeton querem tirar o nome de nagens brasileiros (índios) e estrangeiros (colonizadores). (não
Woodrow Wilson de uma das mais importantes faculdades da sei se está certa a análise, mas foi assim que resolvi)
instituição, a Woodrow Wilson School of Public and Internatio-
nal Affairs. O motivo, é claro, é o racismo. 2. Resposta D
a) comparação entre arte e esperança;
Thomas Woodrow Wilson (1856‐1924) ocupou a Presidência b) comparação entre luz e sombra;
dos EUA por dois mandatos (1913‐1921). Era membro do Par- c) comparação entre bem e mal;
tido Democrata, levou o Nobel da Paz em 1919 e foi reitor da d) não há comparação entre os elementos;
própria universidade. Mas Wilson era inapelavelmente racista. e) comparação entre pessimista e otimista.
Achava que negros não deveriam ser considerados cidadãos
3. Resposta B
130
Língua Portuguesa
FGV costuma usar paralelismo entre as alternativas e a geral- alguma medida e submeter projeto de ato normativo à con-
mente a alternativa que sobra é o gabarito. Não são todas as sideração desse destinatário são alguns dos propósitos
questões que possuem paralelismo. comunicativos da exposição de motivos.
d) Certo. A exposição de motivos varia estruturalmente con-
a) uma introdução definidora dos problemas sociais urbanos
forme sua finalidade comunicativa. (Para apenas informar
e um desenvolvimento com destaque de alguns problemas;
não precisa ter arquivos anexos, já nos outros casos têm
d) uma referência imediata a um dos problemas sociais ur- que conter)
banos, sua explicitação, seguida da citação de um segundo e) A situação comunicativa mediada pelo aviso é restrita aos
problema; ministros de Estado, estejam eles no papel de remetente
ou de destinatário.
c) uma apresentação de caráter histórico seguida da explicita-
ção de alguns problemas ligados às grandes cidades; 10. Resposta C
e)um destaque de um dos problemas urbanos, seguido de sua Desenvolver o conceito de racismo relacionado a épocas di-
explicação histórica, motivo de crítica às atuais autoridades. ferentes. O conceito é sempre o mesmo, o que acontece é a
apresentação de citações controversas de personagens histó-
4. Resposta C
ricos considerados heróis;
5. Resposta D
Oferecer esclarecimentos sobre o fato motivador para o de-
Questão que envolve o assunto de Gênero Textual. senvolvimento do texto. O texto explicando o texto? Seria a
metalinguagem;
Nesses tipos de questões devemos observar “sempre” a fonte
do texto, que fica ou no início ou no final dele. Apresentar opinião pessoal para um debate público acerca de
uma questão de caráter social. Por enquanto esta, sugestiva,
Artigo de opinião:
simplista, mas, vamos à frente;
Contém assinatura.
Buscar, através do discurso social, a expressão da sub-
São textos autorais, cuja opinião é da inteira responsabilidade jetividade utilizando uma linguagem amplamente metafórica.
de quem o escreveu. Seu objetivo é do de persuadir o leitor. O tal amplamente não acontece, e metáforas não, não para um
texto informativo;
6. Resposta B
A reportagem é um dos gêneros textuais do universo jornalís-
15. Relações de
tico, e todos os textos que habitam nesse universo têm como
principal missão informar. Por cumprir uma tarefa tão impor-
tante, a reportagem desempenha uma função social e deve es-
tar sempre a serviço da comunicação. Diferentemente do que
acontece com a notícia, cujas características formam outro gê-
nero textual, a reportagem não tem como objetivo noticiar um
sinonímia e
antonímia
assunto pontual, algo que esteja acontecendo, por exemplo,
no dia de hoje. A reportagem pode escolher como tema um
assunto que faça parte da realidade das pessoas e que seja de
interesse de uma comunidade.
7. Resposta E
Oração adverbial Concessivas: exprimem um fato que se Sinônimos
concede, que se admite, em oposição ao da oração principal.
As conjunções são: embora, conquanto, que, ainda que,
mesmo que, ainda quando, mesmo quando, posto que, por São palavras de sentido igual ou
mais que, por muito que, por menos que, se bem que, em que aproximado.
(pese), nem que, dado que, sem que (=embora não).
8. Resposta A Exemplo:
O Brasil real começou a ser construído por homens como o - Alfabeto, abecedário.
degredado João Ramalho, que raspava os pelos do corpo para - Brado, grito, clamor.
se mesclar aos índios e construiu um exército de mestiços ca- - Extinguir, apagar, abolir, suprimir.
çadores de escravos mais poderoso que o da própria Coroa; - Justo, certo, exato, reto, íntegro, imparcial.
personagens improváveis como o jesuíta Manoel da Nóbrega,
padre gago incumbido de catequizar um povo de língua indeci- Na maioria das vezes não é indiferente usar um sinônimo pelo
frável, esteio da erradicação dos “hereges” antropófagos; líde- outro. Embora irmanados pelo sentido comum, os sinônimos
res implacáveis como Aimberê, ex-escravo que tomou a frente diferenciam-se, entretanto, uns dos outros, por matizes de sig-
da resistência e Cunhambebe, cacique “imortal”, que dizia po- nificação e certas propriedades que o escritor não pode des-
der devorar carne humana porque era “um jaguar”. conhecer. Com efeito, estes têm sentido mais amplo, aqueles,
mais restrito (animal e quadrúpede); uns são próprios da fala
9. Resposta D corrente, desataviada, vulgar, outros, ao invés, pertencem à es-
a) O memorando é um expediente oficial de circulação interna fera da linguagem culta, literária, científica ou poética (orador e
b) Um dos atrativos de comunicação por correio eletrônico é tribuno, oculista e oftalmologista, cinzento e cinéreo).
sua flexibilidade. Assim, não interessa definir forma rígida
para sua estrutura. Entretanto, deve-se evitar o uso de lin-
guagem incompatível com uma comunicação oficial.
c) Informar o destinatário sobre determinado assunto, propor
131
Língua Portuguesa
A contribuição Greco-latina é responsável pela crescente de pessoas quando acaba a bateria do dispositivo
existência, em nossa língua, de numerosos pa- móvel ou quando ficam sem conexão com a Internet. Essa in-
res de sinônimos. formação, como toda nova droga, ao embotar a razão e abrir
os poros da sensibilidade, pode tanto ser um remédio quanto
Exemplos: um veneno para o espírito.
- Adversário e antagonista. (Vinicius Romanini, Tudo azul no universo das redes. Revista USP, no 92.
Adaptado)
- Translúcido e diáfano.
- Semicírculo e hemiciclo. As expressões destacadas nos trechos – meter o bedelho
/ estimar parâmetros / embotar a razão – têm sinônimos
- Contraveneno e antídoto.
adequados respectivamente em:
- Moral e ética. a) procurar / gostar de / ilustrar
- Colóquio e diálogo. b) imiscuir-se / avaliar / enfraquecer
- Transformação e metamorfose. c) interferir / propor / embrutecer
d) intrometer-se / prezar / esclarecer
- Oposição e antítese.
e) contrapor-se / consolidar / iluminar
O fato linguístico de existirem sinônimos chama-se sinonímia,
2. (Pref. de Itaquitinga/PE – Psicólogo – IDHTEC/2016)
palavra que também designa o emprego de sinônimos.
A entrada dos prisioneiros foi comovedora (...) Os combaten-
tes contemplavam-nos entristecidos. Surpreendiam-se; co-
Antônimos moviam-se. O arraial, in extremis, punhalhes adiante, naquele
armistício transitório, uma legião desarmada, mutilada famin-
ta e claudicante, num assalto mais duro que o das trincheiras
em fogo. Custava-lhes admitir que toda aquela gente inútil e
São palavras de significação oposta. frágil saísse tão numerosa ainda dos casebres bombardeados
durante três meses. Contemplando-lhes os rostos baços, os
Exemplos: arcabouços esmirrados e sujos, cujos molambos em tiras não
- Ordem e anarquia. encobriam lanhos, escaras e escalavros – a vitória tão longa-
- Soberba e humildade. mente apetecida decaía de súbito. Repugnava aquele triunfo.
Envergonhava. Era, com efeito, contraproducente compensa-
- Louvar e censurar.
ção a tão luxuosos gastos de combates, de reveses e de mi-
- Mal e bem. lhares de vidas, o apresamento daquela caqueirada humana –
A antonímia pode originar-se de um prefixo de sentido oposto do mesmo passo angulhenta e sinistra, entre trágica e imunda,
ou negativo. Exemplos: bendizer/maldizer, simpático/antipáti- passando- lhes pelos olhos, num longo enxurro de carcaças e
co, progredir/regredir, concórdia/discórdia, explícito/implícito, molambos...
ativo/inativo, esperar/desesperar, comunista/anticomunista, Nem um rosto viril, nem um braço capaz de suspender uma
simétrico/assimétrico, pré-nupcial/pós- nupcial. arma, nem um peito resfolegante de campeador domado:
mulheres, sem-número de mulheres, velhas espectrais, moças
envelhecidas, velhas e moças indistintas na mesma fealdade,
Questões escaveiradas e sujas, filhos escanchados nos quadris desnal-
gados, filhos encarapitados às costas, filhos suspensos aos
1. (MPE/SP – Biólogo – VUNESP/2016) peitos murchos, filhos arrastados pelos braços, passando;
McLuhan já alertava que a aldeia global resultante das mídias crianças, sem-número de crianças; velhos, sem-número de ve-
eletrônicas não implica necessariamente harmonia, implica, lhos; raros homens, enfermos opilados, faces túmidas e mor-
sim, que cada participante das novas mídias terá um envol- tas, de cera, bustos dobrados, andar cambaleante.
vimento gigantesco na vida dos demais membros, que terá a (CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. Edição Especial. Rio
chance de meter o bedelho onde bem quiser e fazer o uso que de Janeiro: Francisco Alves, 1980.)
quiser das informações que conseguir. A aclamada transparên- Em qual das alternativas abaixo NÃO há um par de sinônimos?
cia da coisa pública carrega consigo o risco de fim da priva- a) Armistício – destruição
cidade e a superexposição de nossas pequenas ou grandes b) Claudicante – manco
fraquezas morais ao julgamento da comunidade de que esco- c) Reveses – infortúnios
lhemos participar. d) Fealdade – feiura
Não faz sentido falar de dia e noite das redes sociais, apenas e) Opilados – desnutridos
em número de atualizações nas páginas e na capacidade dos
usuários de distinguir essas variações como relevantes no con- Respostas
junto virtualmente infinito das possibilidades das redes. Para 1. Resposta B
achar o fio de Ariadne no labirinto das redes sociais, os usuá-
rios precisam ter a habilidade de identificar e estimar parâme- Imiscuir: tomar parte em, dar opinião sobre (algo) que não lhe
tros, aprender a extrair informações relevantes de um conjunto diz respeito; intrometer-se, interferir Embotar: tirar ou perder o
finito de observações e reconhecer a organização geral da rede vigor; enfraquecer(-se).
de que participam.
2. Resposta A
O fluxo de informação que percorre as artérias das redes so-
Armistício é um acordo formal, segundo o qual, partes envolvi-
ciais é um poderoso fármaco viciante. Um dos neologismos
das em conflito armado concordam em parar de lutar. Não ne-
recentes vinculados à dependência cada vez maior dos jovens
cessariamente é o fim da guerra, uma vez que pode ser apenas
a esses dispositivos é a “nomobofobia” (ou “pavor de ficar
um cessar-fogo enquanto tenta-se realizar um tratado de paz.
sem conexão no telefone celular”), descrito como a ansieda-
de e o sentimento de pânico experimentados por um número
132
Básico
de Informática
Sumário
1. Windows 10................................................................................... 2
2. MS Office 2016 ........................................................................... 10
3. Plataforma Google (Sala de aula, Documentos e Planilhas ........ 55
Básico de Informática
Continuum
O modo Continuum foi criado para uso em aparelhos
híbridos que combinam tablet e notebook. Com este modo
o usuário pode alternar facilmente entre o uso do híbrido
como tablet e como notebook, basicamente combinando a
simplicidade do tablet com a experiência de uso tradicional.
Microsoft Edge
A terceira das 10 novidades no Windows 10 listadas
neste artigo é o navegador Microsoft Edge. O navegador
substituirá o Internet Explorer como o navegador padrão do
Windows.
O novo navegador foi desenvolvido como um app Uni-
versal e receberá novas atualizações através da Windows
Store. Ele utiliza um novo mecanismo de renderização de
páginas conhecido também pelo nome Edge, inclui suporte
para HTML5, Dolby Audio e sua interface se ajusta melhor a
diferentes tamanhos de tela.
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2
Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
08 – Central de Ações
A Central de Ações é a nova central de notificações
do Windows 10. Ele funciona de forma similar à Central de
Ações do Windows Phone 8.1 e também oferece acesso rá-
pido a recursos como modo Tablet, Bloqueio de Rotação e
VPN.
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
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5
Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
1. Dispositivos
2. Unidades e Partições
Para acessar tudo o que armazenado nos dispositivos
acima, o Windows usa unidades que, no computador, são 4. Arquivos
identificadas por letras. Assim, o HD corresponde ao C:; o lei- Os arquivos são o computador. Sem mais, nem menos.
tor de CD ou DVD é D: e assim por diante. Tais letras podem Qualquer dado é salvo em seu arquivo correspondente.
variar de um computador para outro. Existem arquivos que são fotos, vídeos, imagens, programas,
Você acessa cada uma destas unidades em “Este Com- músicas e etc.
putador”, como na figura abaixo: Também há arquivos que não nos dizem muito como,
por exemplo, as bibliotecas DLL ou outros arquivos, mas que
são muito importantes porque fazem com que o Windows
funcione. Neste caso, são como as peças do motor de um
carro: elas estão lá para que o carango funcione bem.
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
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7
Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Bloco de Notas É uma alternativa gratuita para criar e/ou editar docu-
mentos, como contratos, por exemplo, mesmo que tenha
sido criado originalmente no Word.
Muitos concursos e exames de progressão exigem o co-
nhecimento do WordPad
Ferramenta de Captura
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Integração do office 2016 com Windows 10 Comentários: Para desinstalar um programa de forma
O Office 2016 é a primeira versão do programa desde segura deve-se acessar Painel de Controle / Adicionar ou re-
o lançamento do Windows 10, com alguns truques incorpo- mover programas
rados a ele como o Windows Hello que é um acumulado de Resposta – Letra A
identificadores biométricos que podem ou não estar pre-
sentes na máquina, como leitores digitais e íris. O outro é o 2- Nos sistemas operacionais como o Windows, as infor-
assistente digital da Microsoft (Cortana), porem ainda não mações estão contidas em arquivos de vários formatos, que
está disponível no Brasil. são armazenados no disco fixo ou em outros tipos de mídias
removíveis do computador, organizados em:
(A) telas.
(B) pastas.
(C) janelas.
(D) imagens.
(E) programas.
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9
Básico de Informática
2. MS Office 2016
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Equações à tinta
Incluir equações matemáticas ficou muito mais fácil. Vá
até Inserir > Equação > Equação à Tinta sempre que desejar
incluir uma equação matemática complexa em um docu-
mento. Se tiver um dispositivo sensível ao toque, use o dedo
ou uma caneta de toque para escrever equações matemá-
ticas à mão, e o Word 2016 vai convertê-las em texto. Caso
não tenha um dispositivo sensível ao toque, use o mouse
para escrever. Você pode também apagar, selecionar e fazer
correções à medida que escreve.
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Interface
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Através dessa ABA, podemos criar novos documentos, abrir arquivos existentes, salvar documentos, imprimir, preparar o
documento (permite adicionar propriedades ao documento, criptografar, adicionar assinaturas digitais, etc.).
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
ABAS
Os comandos para a edição de nosso texto agora ficam agrupadas dentro destas guias. Dentro destas guias temos os
grupos de ferramentas, por exemplo, na guia Página inicial, temos “Fonte”, “Parágrafo”, etc., nestes grupos fica visíveis para
os usuários os principais comandos, para acessar os demais comandos destes grupos de ferramentas, alguns destes grupos
possuem pequenas marcações na sua direita inferior.
O Word possui também guias contextuais quando determinados elementos dentro de seu texto são selecionados, por
exemplo, ao selecionar uma imagem, ele criar na barra de guias, uma guia com a possibilidade de manipulação do elemento
selecionado.
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13
Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
A galeria de documentos é o local onde você pode criar um documento em branco ou usar um modelo predefinido. A
galeria fica disponível ao abrir o Word ou você pode acessá-la escolhendo Arquivo > Novo se estiver trabalhando em um
documento existente.
Diga-Me é uma nova ferramenta de pesquisa e está disponível no Word, no PowerPoint e no Excel 2016. Ela exibe os co-
mandos necessários quando você digita o que deseja fazer. Por exemplo, digite “configurações de fonte” na janela Diga-me
o que você quer fazer. Em seguida, escolha uma das sugestões exibidas ou escolha Obter Ajuda sobre “configurações de
fonte” para abrir o visualizador da Ajuda.
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Quando o Word abrir, clique em Faça um tour ou digite “Bem-vindo ao Word” na caixa Pesquisar modelos online. O mo-
delo Bem-vindo ao Word é aberto.
Este documento permite que você explore cinco áreas:
- Usar guias dinâmicas de layout e alinhamento
- Colaborar no Modo de Exibição Marcação Simples
- Inserir Imagens e Vídeos Online
- Desfrutar da Leitura
- Editar conteúdo em PDF no Word
Criando um documento
Quando você abre o Word, a galeria de documentos é exibida, permitindo que você escolha o modelo de documento em
branco ou um dos vários outros modelos.
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15
Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Utilizando um modelo
Quando você inicia um aplicativo do Office, como o Word, o Excel, o PowerPoint, o Visio ou o Access, a primeira coisa que
você vê é uma lista de modelos que podem ser usados para criar seus arquivos e documentos.
Para encontrar modelos para os aplicativos do Office a qualquer momento, selecione Arquivo > Novo. Veja um exemplo
de como isso é exibido no Word:
Insira uma pesquisa para o tipo de modelo que você está procurando na caixa de pesquisa que diz Procurar modelos on-
line. Para navegar pelos tipos de modelos populares, selecione qualquer uma das palavras-chave abaixo da caixa de pesquisa.
Selecione a miniatura de um modelo para ver uma visualização maior de como ele é. Você pode usar as setas em ambos
os lados da visualização para rolar pelos modelos relacionados. Depois de encontrar um modelo de que você gosta, selecio-
ne Criar.
DICA : Se você usa um modelo com frequência, pode fixá-lo para que esteja sempre à mão quando você inicia o aplicativo
do Office. Basta selecionar o ícone de pino que aparece abaixo da miniatura na lista de modelos.
Modos de documento e compatibilidade
Quando você abre um documento no Word 2016, ele se encontra em um destes modos:
- Modo Word 2013-2016
- Modo de Compatibilidade do Word 2010
- Modo de Compatibilidade do Word 2007
- Modo de Compatibilidade do Word 97-2003
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Caso você veja o Modo de Compatibilidade na barra de título, saiba como descobrir em que modo você está:
- Clique em Arquivo > Informações.
- Na seção Inspecionar Documento, clique em Verificar Problemas e em Verificar Compatibilidade.
Clique em Selecionar versões a exibir para verificar se há uma marca de seleção exibida ao lado do nome do modo em
que o documento se encontra.
Na guia Recuos e Espaçamento, escolha as configurações (veja abaixo os detalhes de cada configuração) e clique em OK.
Opções da caixa de diálogo Parágrafo
Escolha uma destas opções na caixa de diálogo Parágrafo. Na parte inferior da caixa de diálogo, a caixa Visualização mos-
tra a aparência das opções antes que você as aplique.
Geral
Escolha À Esquerda para alinhar o texto à esquerda com uma margem
Alinhamento
direita irregular (ou use o atalho de teclado CTRL+L).
EscolhaCentralizar para centralizar o texto com uma borda esquerda e
direita irregulares (CTRL+E).
EscolhaÀ Direita para alinhar o texto à direita com uma margem esquerda
irregular (CTRL+R).
EscolhaJustificar para alinhar o texto à esquerda e à direita, adicionando
espaço entre as palavras (CTRL+J).
O nível no qual o parágrafo aparece no modo de exibição de Estrutura
Nível da estrutura de tópicos
de Tópicos.
Escolha Recolhido por padrão se quiser que o documento seja aberto
com os títulos recolhidos por padrão.
Recuo
Move-se no lado esquerdo do parágrafo de acordo com quantidade que
Para a Esquerda
você escolher.
Move-se no lado direito do parágrafo de acordo com quantidade que você
Para a Direita
escolher.
Especial Escolha Primeira linha > Por para recuar a primeira linha de um parágrafo.
Escolha Deslocamento > Por para criar um recuo deslocado.
Quando você escolher isso, Esquerda e Direita tornam-se Dentro e Fora.
Espelhar recuos
Isso é para impressão de estilo de livro.
Espaçamento
Antes Ajusta a quantidade de espaço antes de um parágrafo.
Depois Ajusta a quantidade de espaço após um parágrafo
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Recuo
Move-se no lado esquerdo do parágrafo de acordo com quantidade que
Para a Esquerda
você escolher.
Espaçamento entre linhas Escolha Simples para texto com espaçamento simples.
Escolha 1,5 linhas para definir o espaçamento do texto uma vez e meia o do
espaçamento único.
Escolha Duplo para texto com espaçamento duplo.
Escolha Pelo menos > Em para definir a quantidade mínima de espaçamento
necessário para acomodar a maior fonte ou gráfico na linha.
Escolha Exatamente > Em para definir o espaçamento de linha fixa, expresso
em pontos. Por exemplo, se o texto estiver em fonte de 10 pontos, você pode
especificar 12 pontos como o espaçamento entre linhas.
EscolhaMúltiplo > Em para definir o espaçamento de linha como um múltiplo
expresso em números maiores que 1. Por exemplo, definir o espaçamento
entre linhas como 1,15 aumentará o espaço em 15% e definir o espaçamento
entre linhas como 3 aumentará o espaço em 300% (espaçamento triplo).
Escolha Não adicionar espaço entre parágrafos do mesmo estilo quando não
Não adicionar …
quiser espaço adicional entre os parágrafos.
Se você quiser salvar as configurações como padrão, clique em Definir como padrão.
Clicar em Guias… abre a caixa de diálogo Guias, onde você pode definir precisamente as guias.
Inserir imagens
As imagens podem ser inseridas (ou copiadas) a partir de vários locais diferentes, inclusive de um computador, de uma
fonte online como o Bing.com ou de uma página da Web.
Inserir uma imagem a partir de um computador
Clique no local em que deseja inserir a imagem no documento.
Clique em Inserir > Imagens.
Navegue até a imagem que você deseja inserir, selecione-a e clique em Inserir.
OBSERVAÇÃO: Por padrão, o Word insere a imagem em um documento. Mas você pode, de forma alternativa, vincular
seu documento à imagem para reduzir seu tamanho. Para fazê-lo, na caixa de diálogo Inserir Imagem, clique na seta ao lado
de Inserir e clique em Vincular ao Arquivo.
Inserir imagem a partir de uma fonte online
Caso não tenha uma imagem ideal no seu computador, experimente inserir uma a partir de uma fonte online, como o
Bing ou o Flickr.
Clique no local onde deseja inserir a imagem no documento.
Clique em Inserir > Imagens Online.
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Na caixa de pesquisa, digite uma palavra ou frase que descreva a imagem desejada e pressione Enter.
Na lista de resultados, clique na imagem desejada e em Inserir.
Inserir uma imagem a partir de uma página da Web
Abra seu documento.
Na página da Web, clique com o botão direito do mouse na imagem que deseja e clique em Copiar.
No seu documento, clique com o botão direito do mouse no local que deseja inserir a imagem e clique em Colar.
Clique na tabela exibida no documento. Caso seja necessário fazer ajustes, você poderá adicionar colunas e linhas em uma
tabela, excluir linhas ou colunas ou mesclar células.
Quando você clica na tabela, as Ferramentas de Tabela são exibidas.
Use as Ferramentas de Tabela para escolher diferentes cores, estilos de tabela, adicionar uma borda a uma página ou
remover bordas de uma tabela. Você pode até mesmo inserir uma fórmula para fornecer a soma de uma coluna ou linha de
números em uma tabela.
Se você tem um texto que ficará melhor em uma tabela, o Word pode convertê-lo em uma tabela.
Inserir tabelas maiores ou tabelas com comportamentos de largura personalizada
Para obter tabelas maiores e mais controle sobre as colunas, use o comando Inserir Tabela.
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Se o Word encontrar um possível erro, um painel de tarefas será aberto e mostrará as opções de ortografia e gramática:
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
PLANILHA ELETÔNICA MS EXCEL 2016 Clique na guia Página Inicial e, em seguida, clique
em AutoSoma no grupo Edição.
Tarefas básicas no Excel2
Criar uma nova pasta de trabalho A AutoSoma soma os números e mostra o resultado na
Os documentos do Excel são chamados de pastas de célula selecionada.
trabalho. Cada pasta de trabalho contém folhas que, nor- Criar uma fórmula simples
malmente, são chamadas de planilhas. Você pode adicionar Somar números é uma das coisas que você poderá fazer,
quantas planilhas desejar a uma pasta de trabalho ou pode mas o Excel também pode executar outras operações mate-
criar novas pastas de trabalho para guardar seus dados se- máticas. Experimente algumas fórmulas simples para adicio-
paradamente. nar, subtrair, multiplicar ou dividir seus valores.
Clique em Arquivo e em Novo. Escolha uma célula e digite um sinal de igual (=).
Em Novo, que em Pasta de trabalho em branco Isso informa ao Excel que essa célula conterá uma fór-
mula.
Digite uma combinação de números e operadores de
cálculos, como o sinal de mais (+) para adição, o sinal de
menos (-) para subtração, o asterisco (*) para multiplicação
ou a barra (/) para divisão.
Por exemplo, insira =2+4, =4-2, =2*4 ou =4/2.
Pressione Enter.
Isso executa o cálculo.
Você também pode pressionar Ctrl+Enter (se você dese-
ja que o cursor permaneça na célula ativa).
Aplicar um formato de número
Para distinguir entre os diferentes tipos de números, adi-
cione um formato, como moeda, porcentagens ou datas.
Selecione as células que contêm números que você de-
seja formatar.
Clique na guia Página Inicial e, em seguida, clique na
seta na caixa Geral.
Insira os dados
Clique em uma célula vazia.
Por exemplo, a célula A1 em uma nova planilha. As célu-
las são referenciadas por sua localização na linha e na coluna
da planilha, portanto, a célula A1 fica na primeira linha da
coluna A.
Inserir texto ou números na célula.
Pressione Enter ou Tab para se mover para a célula se-
guinte.
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Selecione um formato de número Clique em Tabelas, mova o cursor para o botão Tabe-
la para visualizar seus dados e, em seguida, clique no bo-
tão Tabela.
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Na caixa Nome do arquivo, digite um nome para a pasta Para pesquisar dados em linhas ou colunas, na caixa Pes-
de trabalho. quisar, clique em Por Linhas ou Por Colunas.
Clique em Salvar. Para procurar dados com detalhes específicos, na cai-
xa Examinar, clique em Fórmulas, Valores ou Comentários.
Imprimir o seu trabalho OBSERVAÇÃO: As opções Fórmulas, Valores e Comentá-
Clique em Arquivo e, em seguida, clique em Imprimir ou rios só estão disponíveis na guia Localizar, e somente Fórmu-
pressione Ctrl+P. las está disponível na guia Substituir.
Visualize as páginas clicando nas setas Próxima Pági- Para procurar dados que diferenciam maiúsculas de mi-
na e Página Anterior.
núsculas, marque a caixa de seleção Diferenciar maiúsculas
de minúsculas.
Para procurar células que contenham apenas os carac-
teres que você digitou na caixa Localizar, marque a caixa de
A janela de visualização exibe as páginas em preto e seleção Coincidir conteúdo da célula inteira.
branco ou colorida, dependendo das configurações de sua Se você deseja procurar texto ou números que também
impressora. tenham uma formatação específica, clique em Formato e
Se você não gostar de como suas páginas serão impres- faça as suas seleções na caixa de diálogo Localizar Formato.
sas, você poderá mudar as margens da página ou adicionar DICA: Se você deseja localizar células que correspondam
quebras de página. a uma formato específico, exclua qualquer critério da cai-
Clique em Imprimir. xa Localizar e selecione a célula que contenha a formatação
que você deseja localizar. Clique na seta ao lado de Formato,
Localizar ou substituir texto e números em uma pla- clique em Escolher formato da célula e, em seguida, clique
nilha do Excel 2016 para Windows na célula que possui a formatação a ser pesquisada.
Localize e substitua textos e números usando curingas Siga um destes procedimentos:
ou outros caracteres. Você pode pesquisar planilhas, linhas, Para localizar texto ou números, clique em Localizar
colunas ou pastas de trabalho. Tudo ou Localizar Próxima.
Em uma planilha, clique em qualquer célula. DICA: Quando você clicar em Localizar Tudo, todas as
Na guia Página Inicial, no grupo Edição, clique em Loca-
ocorrências do critério que você estiver pesquisando serão
lizar e Selecionar.
listadas, e você poderá ir para uma célula clicando nela na
lista. Você pode classificar os resultados de uma pesqui-
sa Localizar Tudo clicando em um título de coluna.
Para substituir texto ou números, digite os caracteres
de substituição na caixa Substituir por (ou deixe essa caixa
em branco para substituir os caracteres por nada) e clique
em Localizar ou Localizar Tudo.
OBSERVAÇÃO: Se a caixa Substituir por não estiver dis-
Siga um destes procedimentos: ponível, clique na guia Substituir.
Para localizar texto ou números, clique em Localizar. Se necessário, você poderá cancelar uma pesquisa em
Para localizar e substituir texto ou números, clique andamento pressionando ESC.
em Substituir. Para substituir a ocorrência realçada ou todas as ocor-
Na caixa Localizar, digite o texto ou os números que rências dos caracteres encontrados, clique em Substi-
você deseja procurar ou clique na seta da caixa Localizar e, tuir ou Substituir tudo.
em seguida, clique em uma pesquisa recente na lista. DICA: O Microsoft Excel salva as opções de formata-
Você pode usar caracteres curinga, como um asterisco ção que você define. Se você pesquisar dados na planilha
(*) ou ponto de interrogação (?), nos critérios da pesquisa: novamente e não conseguir encontrar caracteres que você
Use o asterisco para localizar qualquer cadeia de carac-
sabe que estão lá, poderá ser necessário limpar as opções
teres. Por exemplo, s*r localizará “ser” e “senhor”.
de formatação da pesquisa anterior. Na caixa de diálogo Lo-
Use o ponto de interrogação para localizar um único ca-
calizar e Substituir, clique na guia Localizar e depois em Op-
ractere. Por exemplo, s?m localizará “sim” e “som”.
DICA: Você pode localizar asteriscos, pontos de inter- ções para exibir as opções de formatação. Clique na seta ao
rogação e caracteres de til (~) nos dados da planilha prece- lado de Formato e clique em Limpar ‘Localizar formato’.
dendo-os com um til na caixa Localizar. Por exemplo, para
localizar dados que contenham “?”, use ~? como critério de Alterar a largura da coluna e a altura da linha
pesquisa. Em uma planilha, você pode especificar uma largura de
Clique em Opções para definir ainda mais a pesquisa e coluna de 0 (zero) a 255. Esse valor representa o número de
siga um destes procedimentos: caracteres que podem ser exibidos em uma célula forma-
Para procurar dados em uma planilha ou em uma pasta tada com a fonte padrãoTE000127106. A largura de coluna
de trabalho inteira, na caixa Em, clique em Planilha ou Pasta padrão é 8,43 caracteres. Se a largura da coluna for definida
de Trabalho. como 0 (zero), a coluna ficará oculta.
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Em Tamanho da Célula, clique em Largura da Coluna. Clique com o botão direito do mouse na coluna de des-
Na caixa Largura da coluna, digite o valor desejado. tino, aponte paraColar Especial e clique no botão Manter
Clique em OK. Largura da Coluna Original
DICA: Para definir rapidamente a largura de uma única
coluna, clique com o botão direito do mouse na coluna se-
lecionada, clique em Largura da Coluna, digite o valor dese- Alterar a largura padrão de todas as colunas em uma
jado e clique em OK. planilha ou pasta de trabalho
Alterar a largura da coluna para ajustá-la automatica- O valor da largura de coluna padrão indica o número
médio de caracteres da fonte padrão que cabe em uma cé-
mente ao conteúdo (AutoAjuste)
lula. É possível especificar outro valor de largura de coluna
Selecione as colunas a serem alteradas. padrão para uma planilha ou pasta de trabalho.
Na guia Página Inicial, no grupo Células, clique em For- Siga um destes procedimentos:
matar. Para alterar a largura de coluna padrão de uma planilha,
clique na guia da planilha.
Para alterar a largura de coluna padrão da pasta de tra-
balho inteira, clique com o botão direito do mouse em uma
guia de planilha e, em seguida, clique em Selecionar Todas
as Planilhas no menu de atalhoTE000127572.
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Para alterar a altura da linha a fim de ajustá-la ao con- Na caixa Símbolo, clique no símbolo de moeda desejado.
teúdo, clique duas vezes no limite abaixo do título da linha. OBSERVAÇÃO: Se desejar exibir um valor monetário sem
um símbolo de moeda, clique em Nenhum.
Formatar números como moeda no Excel 2016 Na caixa Casas decimais, insira o número de casas deci-
Para exibir números como valores monetários, forma- mais desejadas para o número.
te-os como moeda. Para fazer isso, aplique o formato de Por exemplo, para exibir R$138.691 em vez de colo-
número Moeda ou Contábil às células que deseja formatar. car R$ 138.690,63 na célula, insira 0 na caixa Casas decimais.
As opções de formatação de número estão disponíveis na Conforme você faz alterações, preste atenção ao número na
guia Página Inicial, no grupo Número. caixa Amostra. Ela mostra como a alteração das casas deci-
mais afetará a exibição de um número.
Na caixa Números negativos selecione o estilo de exibi-
ção que você deseja usar para números negativos.
Se não quiser usar as opções existentes para exibir nú-
meros negativos, você pode criar seu próprio formato de
número.
OBSERVAÇÃO: A caixa Números negativos não está dis-
Formatar números como moeda ponível para o formato de número Contábil. O motivo disso
Você pode exibir um número com o símbolo de moe- é que constitui prática contábil padrão mostrar números ne-
da padrão selecionando a célula ou o intervalo de células e gativos entre parênteses.
clicando em Formato de Número de Contabilização no Para fechar a caixa de diálogo Formatar Células, clique
grupo Número da guia Página Inicial. (Se desejar aplicar em OK.
o formato Moeda, selecione as células e pressione Ctr- Se o Excel exibir ##### em uma célula depois que você
l+Shift+$.) aplicar formatação de moeda em seus dados, isso significará
Alterar outros aspectos de formatação que talvez a célula não seja suficientemente larga para exi-
Selecione as células que você deseja formatar. bir os dados. Para expandir a largura da coluna, clique duas
Na guia Página Inicial, clique no Iniciador de Caixa de vezes no limite direito da coluna que contém as células com
Diálogo ao lado deNúmero. o erro #####. Esse procedimento redimensiona automati-
camente a coluna para se ajustar ao número. Você também
pode arrastar o limite direito até que as colunas fiquem com
o tamanho desejado.
Operadores e Funções
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28
Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
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29
Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
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30
Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Nome do
Descrição
argumento
O primeiro número que você
deseja somar. O número pode
número1
ser como “4”, uma referência de
(Obrigatório)
célula, como B6, ou um intervalo
de células, como B2:B8.
Este é o segundo número que
número2-255 você deseja adicionar. Você pode
(Opcional) especificar até 255 números des-
sa forma.
Use o Assistente de AutoSoma para rapidamente os in-
Soma rápida com a barra de Status tervalos contíguos de soma
Se você quiser obter rapidamente a soma de um inter- A caixa de diálogo de AutoSoma também permite que
valo de células, tudo o que você precisa fazer é selecionar o você selecione outras funções comuns, como:
intervalo e procure no lado inferior direito da janela do Excel. Média
Contar números
Máx
Min
Mais funções
Barra de Status
Esta é a barra de Status e exibe as informações sobre
tudo o que você selecionou, se você tiver uma única célula
ou várias células. Se você com o botão direito na barra de
Status de uma caixa de diálogo do recurso será pop-out exi-
bindo todas as opções que você pode selecionar. Observe
que ele também exibe valores para o intervalo selecionado
se você tiver esses atributos marcados.
82
31
Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
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32
Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
=SUM(A1:A3,B1:B3)
Qual será atualizada ao adicionar ou excluir linhas.
Usando operadores matemáticos com soma
Digamos que você deseja aplicar uma porcentagem de
desconto para um intervalo de células que você já somados.
= SUM(A2:A14) *-25%
Resultará em 25% do intervalo somado, entretanto, que
rígido códigos a 25% da fórmula, e pode ser difícil encontrar
84
33
Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
mais tarde se precisar alterá-lo. É muito melhor colocar os = SUM(‘January Sales:December Sales’! A2)
25% em uma célula e referenciando que em vez disso, onde SOMA com outras funções
ele está check-out em Abrir e facilmente alterados, assim: Absolutamente, você pode usar soma com outras fun-
= SUM(A2:A14) * E2 ções. Aqui está um exemplo que cria um cálculo da média
Dividir em vez de multiplicar você simplesmente substi- mensal:
tua a “*” com “/”: = SUM(A2:A14)/E2
Adicionando ou retirando de uma soma
i. você pode facilmente adicionar ou subtrair de uma
soma usando + ou - assim:
= SUM(A1:A10) + E2
= SUM(A1:A10)-E2
SOMA 3D
Às vezes você precisa somar uma determinada célula em
várias planilhas. Pode ser tentador clique em cada planilha e
a célula desejada e use apenas «+» para adicionar a célula =SUM(A2:L2)/COUNTA(A2:L2)
valores, mas que é entediante e pode ser propensa, muito Que usa a soma de A2:L2 dividido pela contagem de
mais assim que apenas tentando construir uma fórmula que células não vazias em A2:L2 (maio a dezembro estão em
faz referência apenas uma única folha. branco).
i = Planilha1! A1 + Plan2! A1 + Planilha3! A1
Você pode fazer isso muito mais fácil com um 3D ou Função SE
soma 3 dimensionais: A função SE é uma das funções mais populares do Ex-
cel e permite que você faça comparações lógicas entre um
valor e aquilo que você espera. Em sua forma mais simples,
a função SE diz:
SE(Algo for Verdadeiro, faça tal coisa, caso contrário,
faça outra coisa)
Portanto, uma instrução SE pode ter dois resultados. O
primeiro resultado é se a comparação for Verdadeira, o se-
gundo se a comparação for Falsa.
Exemplos de SE simples
= SUM(Sheet1:Sheet3! A1)
Qual somará a célula A1 em todas as planilhas da plani-
lha 1 para a planilha 3.
Isso é especialmente útil em situações em que você tem
uma única folha para cada mês (janeiro a dezembro) e você
precisa total-las em uma planilha de resumo.
=SE(C2=”Sim”;1,2)
No exemplo acima, a célula D2 diz: SE(C2 = Sim, a fór-
mula retorna um 1 ou um 2)
= SUM(January:December! A2)
Qual somará célula A2 em cada planilha de janeiro a de-
zembro.
85
34
Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Introdução
A melhor maneira de começar a escrever uma instrução
SE é pensar sobre o que você está tentando realizar. Que
comparação você está tentando fazer? Muitas vezes, escre-
ver uma instrução SE pode ser tão simples quanto pensar
na lógica em sua cabeça: “o que aconteceria se essa con-
dição fosse atendida vs. o que aconteceria se não fosse?”
Você sempre deve se certificar de que suas etapas sigam
uma progressão lógica; caso contrário, sua fórmula não exe- =SE(E7=”Sim”;F5*0,0825;0)
cutará aquilo que você acha que ela deveria executar. Isso é Neste exemplo, a fórmula em F7 está dizendo SE(E7 =
especialmente importante quando você cria instruções SE “Sim”, calcule o Valor Total em F5 * 8,25%, caso contrário,
complexas (aninhadas). nenhum Imposto sobre Vendas é cobrado, retorne 0)
= SE(C2>B2,C2-B2,0)
86
35
Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Sintaxe
SOMASE(intervalo, critérios, [intervalo_soma])
A sintaxe da função SOMASE tem os seguintes argu-
mentos:
intervalo Necessário. O intervalo de células a ser ava-
Em casos onde uma simples função SE tem apenas dois liada por critérios. Células em cada intervalo devem ser nú-
resultados (Verdadeiro ou Falso), as funções se aninhadas SE meros ou nomes, matrizes ou referências que contenham
podem ter de 3 a 64 resultados. números. Valores em branco e texto são ignorados. O inter-
=SE(D2=1;”SIM”;SE(D2=2;”Não”;”Talvez”)) valo selecionado pode conter datas no formato padrão do
Na ilustração acima, a fórmula em E2 diz: SE(D2 é igual Excel (exemplos abaixo).
a 1, retorne “Sim”, caso contrário, SE(D2 é igual a 2, retorne critérios Obrigatório. Os critérios na forma de um nú-
“Não”, caso contrário, retorne “Talvez”). mero, expressão, referência de célula, texto ou função que
define quais células serão adicionadas. Por exemplo, os cri-
CONT.SE térios podem ser expressos como 32, “>32”, B5, “32”, “ma-
Use CONT.SE, uma das funções estatísticas, para contar çãs” ou HOJE().
o número de células que atendem a um critério; por exem- IMPORTANTE : Qualquer critério de texto ou qualquer
plo, para contar o número de vezes que uma cidade especí- critério que inclua símbolos lógicos ou matemáticos deve
fica aparece em uma lista de clientes. estar entre aspas duplas (“). Se os critérios forem numéricos,
as aspas duplas não serão necessárias.
Sintaxe intervalo_soma Opcional. As células reais a se-
CONT.SE(intervalo, critério) rem adicionadas, se você quiser adicionar células di-
ferentes das especificadas no argumento intervalo. Se
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36
Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
o argumento intervalo_soma for omitido, o Excel adicionará Se você deseja incluir valores lógicos e representações
as células especificadas no argumento intervalo (as mesmas de texto dos números em uma referência como parte do
células às quais os critérios são aplicados). cálculo, utilize a função MÁXIMOA.
Você pode usar os caracteres curinga – o ponto de in- Exemplo
terrogação (?) e o asterisco (*) – como o argumento critérios. Copie os dados de exemplo da tabela a seguir e cole-os
O ponto de interrogação corresponde a qualquer caractere na célula A1 de uma nova planilha do Excel. Para as fórmulas
único; o asterisco corresponde a qualquer sequência de ca- mostrarem resultados, selecione-as, pressione F2 e pressio-
racteres. Para localizar um ponto de interrogação ou asteris- ne Enter. Se precisar, você poderá ajustar as larguras das co-
co real, digite um til (~) antes do caractere. lunas para ver todos os dados.
Comentários
A função SOMASE retorna valores incorretos quando Dados
você a utiliza para corresponder cadeias de caracteres com 10
mais de 255 caracteres ou para a cadeia de caracteres #VA-
7
LOR!.
O argumento intervalo_soma não precisa ter o mesmo 9
tamanho e forma que o argumento intervalo. As células reais 27
adicionadas são determinadas pelo uso da célula na extremi- 2
dade superior esquerda do argumentointervalo_soma como Fórmula Descrição Resultado
a célula inicial e, em seguida, pela inclusão das células cor- Maior valor no
respondentes em termos de tamanho e forma no argumen- =MÁXIMO(A2:A6) 27
intervalo A2:A6.
to intervalo. Por exemplo: Maior valor no
= M Á X I M O ( A 2 : A 6 ;
intervalo A2:A6 e 30
Se o intervalo e intervalo_ Então, as células 30)
o valor 30.
for soma for reais serão
A1:A5 B1:B5 B1:B5 MÍNIMO (Função MÍNIMO)
A1:A5 B1:B3 B1:B5 Descrição
Retorna o menor número na lista de argumentos.
A1:B4 C1:D4 C1:D4
Sintaxe
A1:B4 C1:C2 C1:D4 MÍNIMO(número1, [número2], ...)
A sintaxe da função MÍNIMO tem os seguintes argu-
Porém, quando os argumentos intervalo e intervalo_ mentos:
soma na função SOMASE não contêm o mesmo número de Núm1, núm2,... Núm1 é obrigatório, números subse-
células, o recálculo da planilha pode levar mais tempo do quentes são opcionais. De 1 a 255 números cujo valor MÍNI-
que o esperado. MO você deseja saber.
Comentários
MÁXIMO (Função MÁXIMO) Os argumentos podem ser números, nomes, matrizes
Descrição ou referências que contenham números.
Retorna o valor máximo de um conjunto de valores. Os valores lógicos e representações em forma de texto
Sintaxe de números digitados diretamente na lista de argumentos
MÁXIMO(número1, [número2], ...) são contados.
A sintaxe da função MÁXIMO tem os seguintes argu- Se um argumento for uma matriz ou referência, apenas
mentos: os números daquela matriz ou referência poderão ser usa-
Núm1, núm2,... Núm1 é obrigatório, números subse- dos. Células vazias, valores lógicos ou valores de erro na ma-
quentes são opcionais. De 1 a 255 números cujo valor máxi- triz ou referência serão ignorados.
mo você deseja saber. Se os argumentos não contiverem números, MÍNIMO
Comentários retornará 0.
Os argumentos podem ser números, nomes, matrizes Os argumentos que são valores de erro ou texto que
ou referências que contenham números. não podem ser traduzidos em números causam erros.
Os valores lógicos e representações em forma de texto Se você deseja incluir valores lógicos e representações
de números digitados diretamente na lista de argumentos de texto dos números em uma referência como parte do
são contados. cálculo, utilize a função MÍNIMOA.
Se um argumento for uma matriz ou referência, apenas Exemplo
os números nesta matriz ou referência serão usados. Células Copie os dados de exemplo da tabela a seguir e cole-os
vazias, valores lógicos ou texto na matriz ou referência serão na célula A1 de uma nova planilha do Excel. Para as fórmulas
ignorados. mostrarem resultados, selecione-as, pressione F2 e pressio-
Se os argumentos não contiverem números, MÁXIMO ne Enter. Se precisar, você poderá ajustar as larguras das co-
retornará 0. lunas para ver todos os dados.
Os argumentos que são valores de erro ou texto que
não podem ser traduzidos em números causam erros.
88
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Dados
10
7
9
27
2
Fórmula Descrição Resultado Se o botão Mesclar e Centralizar estiver esmaecido, ve-
O menor dos rifique se você não está editando uma célula e se as células
=MÍNIMO(A2:A6) números no 2 que você quer mesclar não estão dentro de uma tabela.
intervalo A2:A6. DICA : Para mesclar células sem centralizar, clique na
O menor dos seta ao lado de Mesclar e Centralizar e clique em Mesclar
=MIN(A2:A6;0) números no 0 Através ou Mesclar Células.
intervalo A2:A6 e 0. Se você mudar de ideia, é possível dividir as células que
foram mescladas.
Média
Calcula a média aritmética de uma seleção de valores. Criar um gráfico no Excel 2016 para Windows
Em nossa planilha clique na célula abaixo da coluna de Use o comando Gráficos Recomendados na guia Inse-
idade na linha de valores máximos E17 e monte a seguinte rir para criar rapidamente um gráfico ideal para seus dados.
função =MEDIA(E4:E13). Com essa função estamos buscan- Selecione os dados que você deseja incluir no seu grá-
do no intervalo das células E4 à E13 qual é valor máximo fico.
encontrado. Clique em Inserir > Gráficos Recomendados.
Mesclar células
A mesclagem combina duas ou mais células para criar
uma nova célula maior. Essa é uma excelente maneira de
criar um rótulo que se estende por várias colunas. Por exem-
plo, aqui, as células A1, B1 e C1 foram mescladas para criar
o rótulo “Vendas Mensais” e descrever as informações nas
linhas de 2 a 7.
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
DICA : Se não vir um tipo de gráfico que agrade você, clique na guia Todos os Gráficos para ver todos os tipos de gráfico
disponíveis.
Quando você encontrar o tipo de gráfico desejado, clique nele e clique emOK.
Use os botões Elementos do Gráfico, Estilos de Gráfico e Filtros de Gráficopróximos ao canto superior direito do gráfico
para adicionar elementos de gráfico como títulos de eixo ou rótulos de dados, para personalizar a aparência do seu gráfi-
co ou alterar os dados exibidos no gráfico.
DICAS :
Use as opções nas guias Design e Formatar para personalizar a aparência do gráfico.
Se você não vir essas guias, adicione as Ferramentas de gráfico à faixa de opções clicando em qualquer lugar no gráfico.
Criar uma Tabela Dinâmica no Excel 2016 para analisar dados da planilha
A capacidade de analisar todos os dados da planilha pode ajudar você a tomar decisões de negócios melhores. Porém, às
vezes é difícil saber por onde começar, especialmente quando há muitos dados. O Excel pode ajudar, recomendando e, em
seguida, criando automaticamente Tabelas Dinâmicas que são um excelente recurso para resumir, analisar, explorar e apre-
sentar dados. Por exemplo, veja uma lista simples de despesas:
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Adicionar ou alterar a cor do plano de fundo das células DICA : Para aplicar a cor selecionada mais recentemente,
É possível realçar dados em células utilizando Cor de clique em Cor de Preenchimento . Você também encon-
preenchimento para adicionar ou alterar a cor do plano de trará até 10 cores personalizadas selecionadas mais recente-
fundo ou padrão das células. Veja como: mente em Cores recentes.
Selecione as células que deseja realçar. Aplicar um padrão ou efeitos de preenchimento.
DICAS : Para utilizar uma cor de fundo diferente para Quando você deseja algo mais do que apenas um preen-
a planilha inteira, clique no botão Selecionar Tudo. Isso irá chimento de cor sólida, experimente aplicar um padrão ou
ocultar as linhas de grade, mas é possível melhorar a legi- efeitos de preenchimento.
bilidade da planilha exibindo bordas ao redor de todas as Selecione a célula ou intervalo de células que deseja for-
células. matar.
Clique em Página Inicial > iniciador da caixa de diálo-
go Formatar Células ou pressione Ctrl + Shift + F.
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Remover cores de célula, padrões, ou efeitos de CTRL+A — Seleciona a planilha inteira. Se a planilha
preenchimento contiver dados, este comando seleciona a região atual. Pres-
Para remover quaisquer cores de fundo, padrões ou sionar CTRL+A novamente seleciona a região atual e suas
efeitos de preenchimento das células, basta selecioná-las. linhas de resumo. Pressionar CTRL+A novamente seleciona
Clique em Página Inicial > seta ao lado de Cor de Preenchi- a planilha inteira.
mento, e então selecione Sem Preenchimento. CTRL+SHIFT+A — Insere os nomes e os parênteses do
argumento quando o ponto de inserção está à direita de um
nome de função em uma fórmula.
CTRL+N — Aplica ou remove formatação em negrito.
CTRL+C — Copia as células selecionadas.
CTRL+C (seguido por outro CTRL+C) — exibe a Área de
Transferência.
CTRL+D — Usa o comando Preencher Abaixo para co-
piar o conteúdo e o formato da célula mais acima de um
intervalo selecionado nas células abaixo.
Imprimir cores de célula, padrões ou efeitos de preen- CTRL+F — Exibe a caixa de diálogo Localizar e Substituir
chimento em cores com a guia Localizar selecionada.
Se as opções de impressão estiverem definidas SHIFT+F5 — Também exibe essa guia, enquanto SHIF-
como Preto e branco ouQualidade de rascunho — seja pro- T+F4 repete a última ação de Localizar.
positalmente ou porque a pasta de trabalho contém plani- CTRL+SHIFT+F — Abre a caixa de diálogo Formatar Cé-
lhas e gráficos grandes ou complexos que resultaram na ati- lulas com a guia Fonte selecionada.
vação automática do modo de rascunho — não será possível CTRL+G — Exibe a caixa de diálogo Ir para. (F5 também
imprimir as células em cores. Veja aqui como resolver isso: exibe essa caixa de diálogo.)
Clique em Layout da Página > iniciador da caixa de diá- CTRL+H — Exibe a caixa de diálogo Localizar e Substi-
logo Configurar Página. tuir com a guia Substituir selecionada.
CTRL+I — Aplica ou remove formatação em itálico.
CTRL+K — Exibe a caixa de diálogo Inserir Hiperlink para
novos hiperlinks ou a caixa de diálogo Editar Hiperlink para
os hiperlinks existentes que estão selecionados.
CTRL+N — Cria uma nova pasta de trabalho em branco
CTRL+O — Exibe a caixa de diálogo Abrir para abrir ou
localizar um arquivo.
CTRL+SHIFT+O — Seleciona todas as células que con-
têm comentários.
Na guia Folha, em Imprimir, desmarque as caixas de se- CTRL+P — Exibe a caixa de diálogo Imprimir.
leção Preto e branco e Qualidade de rascunho. CTRL+SHIFT+P — Abre a caixa de diálogo Formatar Cé-
OBSERVAÇÃO : Se você não visualizar cores em sua pla- lulas com a guia Fonte selecionada.
nilha, talvez esteja trabalho no modo de alto contraste. Se CTRL+R — Usa o comando Preencher à Direita para co-
não visualizar cores ao visualizar antes de imprimir, talvez piar o conteúdo e o formato da célula mais à esquerda de
nenhuma impressora colorida esteja selecionada. um intervalo selecionado nas células à direita.
CTRL+B — Salva o arquivo ativo com seu nome de ar-
Principais atalhos quivo, local e formato atual.
CTRL+Menos (-) — Exibe a caixa de diálogo Excluir para CTRL+T — Exibe a caixa de diálogo Criar Tabela.
excluir as células selecionadas. CTRL+S — Aplica ou remove sublinhado.
CTRL+; — Insere a data atual. CTRL+SHIFT+S — Alterna entre a expansão e a redução
CTRL+` — Alterna entre a exibição dos valores da célula da barra de fórmulas.
e a exibição de fórmulas na planilha. CTRL+V — Insere o conteúdo da Área de Transferência
CTRL+’ — Copia uma fórmula da célula que está acima no ponto de inserção e substitui qualquer seleção. Disponí-
da célula ativa para a célula ou a barra de fórmulas. vel somente depois de ter recortado ou copiado um objeto,
CTRL+1 — Exibe a caixa de diálogo Formatar Células. texto ou conteúdo de célula.
CTRL+2 — Aplica ou remove formatação em negrito. CTRL+ALT+V — Exibe a caixa de diálogo Colar Especial,
CTRL+3 — Aplica ou remove formatação em itálico. disponível somente depois que você recortar ou copiar um
CTRL+4 — Aplica ou remove sublinhado. objeto, textos ou conteúdo de célula em uma planilha ou em
CTRL+5 — Aplica ou remove tachado. outro programa.
CTRL+6 — Alterna entre ocultar objetos, exibir objetos e CTRL+W — Fecha a janela da pasta de trabalho sele-
exibir espaços reservados para objetos. cionada.
CTRL+8 — Exibe ou oculta os símbolos de estrutura de CTRL+X — Recorta as células selecionadas.
tópicos. CTRL+Y — Repete o último comando ou ação, se possível.
CTRL+9 — Oculta as linhas selecionadas. CTRL+Z — Usa o comando Desfazer para reverter o últi-
CTRL+0 — Oculta as colunas selecionadas. mo comando ou excluir a última entrada digitada.
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
CTRL+SHIFT+Z — Usa o comando Desfazer ou Refazer para reverter ou restaurar a correção automática quando Marcas
Inteligentes de AutoCorreção são exibidas.
CTRL+SHIFT+( — Exibe novamente as linhas ocultas dentro da seleção.
CTRL+SHIFT+) — Exibe novamente as colunas ocultas dentro da seleção.
CTRL+SHIFT+& — Aplica o contorno às células selecionadas.
CTRL+SHIFT+_ — Remove o contorno das células selecionadas.
CTRL+SHIFT+~ — Aplica o formato de número Geral.
CTRL+SHIFT+$ — Aplica o formato Moeda com duas casas decimais (números negativos entre parênteses)
CTRL+SHIFT+% — Aplica o formato Porcentagem sem casas decimais.
CTRL+SHIFT+^ — Aplica o formato de número Exponencial com duas casas decimais.
CTRL+SHIFT+# — Aplica o formato Data com dia, mês e ano.
CTRL+SHIFT+@ — Aplica o formato Hora com a hora e os minutos, AM ou PM.
CTRL+SHIFT+! — Aplica o formato Número com duas casas decimais, separador de milhar e sinal de menos (-) para va-
lores negativos.
CTRL+SHIFT+* — Seleciona a região atual em torno da célula ativa (a área de dados circunscrita por linhas e colunas
vazias).
CTRL+SHIFT+: — Insere a hora atual.
CTRL+SHIFT+” –Copia o valor da célula que está acima da célula ativa para a célula ou a barra de fórmulas.
CTRL+SHIFT+Mais (+) — Exibe a caixa de diálogo Inserir para inserir células em branco.
Fórmulas básicas
As primeiras fórmulas aprendidas na escola são as de adição, subtração, multiplicação e divisão. No Excel não é diferente.
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Função Se
Essa função trata das condições de valores solicitados. Para que entenda, se você trabalhar em uma loja que precisa saber
se os produtos ainda estão no estoque ou precisam de mais unidades, essa é uma excelente ferramenta. Veja por que:
*Fonte: http://www.portaleducacao.com.br/informatica/artigos/71948/23-formulas-e-atalhos-que-vao-facilitar-sua-
-vida-no-excel#ixzz48neY9XBW
As apresentações do PowerPoint funcionam como apresentações de slide. Para transmitir uma mensagem ou uma histó-
ria, você a divide em slides. Considere cada slide com uma tela em branco para as imagens, palavras e formas que ajudarão
a criar sua história.
Escolha um tema
Ao abrir o PowerPoint, você verá alguns modelos e temas internos. Um tema é um design de slide que contém correspon-
dências de cores, fontes e efeitos especiais como sombras, reflexos, dentre outros recursos.
Escolher um tema.
Clique em Criar ou selecione uma variação de cor e clique em Criar.
3 Fonte: https://support.office.com/pt-br/powerpoint
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
DICA : Esses temas internos são ótimos para widescreen (16:9) e apresentações de tela padrão (4:3).
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Excluir um slide
No painel à esquerda, clique com o botão direito do
mouse na miniatura de slide que você deseja excluir (mante-
nha pressionada a tecla CTRL para selecionar vários slides) e
então clique em Excluir Slide.
Adicionar texto
Selecione um espaço reservado para texto e comece a
digitar.
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Adicionar imagens
Na guia Inserir, siga um destes procedimentos:
Para inserir uma imagem que está salva em sua unidade local ou em um servidor interno, escolha Imagens, procure a
imagem e escolha Inserir.
Para inserir uma imagem da Web, escolha Imagens Online e use a caixa de pesquisa para localizar uma imagem.
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Se você não estiver no primeiro slide e desejar começar do ponto onde está, clique em Do Slide Atual.
Se você precisar fazer uma apresentação para pessoas que não estão no local onde você está, clique em Apresentar Online
para configurar uma apresentação pela Web e escolher uma das seguintes opções:
Apresentar-se online usando o Office Presentation Service
Iniciar uma apresentação online no PowerPoint usando o Skype for Business
Em seguida, ao incluir conteúdo nos slides, você pode escolher os layouts de slide mais adequados ao conteúdo, como
mostrado aqui no Modo de Exibição Normal.
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O diagrama a seguir mostra as várias partes de um layout que você pode incluir em um slide do PowerPoint.
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NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Básico de Informática
Para acessar o modo de exibição de Slide mestre, na guia Exibir, selecione Mestre de lado. O slide mestre é o slide superior
no painel de teclado polegar no lado esquerdo da tela. Os layouts de slide relacionados aparecem logo abaixo do slide mestre.
Quando você edita o slide mestre, todos os slides que seguem aquele mestre conterá essas alterações. No entanto, a
maioria das alterações feitas serão provavelmente ser os layouts de slide relacionada ao mestre.
Quando fizer alterações em layouts e o slide mestre no modo de exibição de Slide mestre, outras pessoas que trabalham
na sua apresentação (no modo de exibição Normal) não podem excluir acidentalmente ou editar que você já fez.
Dica final: é recomendável editar o slide mestre e os layouts antes de começar a criar os slides individuais. Dessa maneira,
todos os slides adicionados à sua apresentação se basearão em suas edições personalizadas. Se você editar o slide mestre
ou os layouts após criar cada slide, precisará aplicar novamente os layouts alterados aos slides da apresentação no modo de
exibição Normal. Caso contrário, as alterações não aparecerão nos slides.
Temas
Um tema é uma paleta de cores, fontes e efeitos especiais (como sombras, reflexos, efeitos 3D e muito mais) que com-
plementar uns com os outros. Um designer competente criado cada tema no PowerPoint. Podemos disponibilizar esses temas
predefinidos na guia Design na exibição Normal.
Todos os temas usados em sua apresentação NOÇÕES DE slide
incluem um INFORMÁTICA
mestre e um conjunto de layouts relacionados. Se você
usar mais de um tema na apresentação, terá mais de um slide mestre e vários conjuntos de layouts.
105
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Layouts de Slide
Altere e gerenciar layouts de slide no modo de exibição de Slide mestre. Para acessar o modo de exibição de Slide mestre,
Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Se várias contas de email configuradas no Microsoft Enviado para – para localizar emails enviados a você,
Outlook, o botão de aparece e a conta que enviará a mensa- não enviados diretamente a você ou enviados por outro
gem é mostrada. Para alterar a conta, clique em de. destinatário
Na caixa Assunto, digite o assunto da mensagem. Sinalizado – para localizar emails sinalizados por você
Insira os endereços de email dos destinatários ou os no- apenas
mes na caixa Para, Cc ou Cco. Separe vários destinatários Importante – para localizar somente emails rotulados
com um ponto e vírgula. como importantes
Para selecionar os nomes dos destinatários em uma lista
no Catálogo de Endereços, clique em Para, Cc ou Cco e cli- EXERCÍCIOS
que nos nomes desejados.
Não vejo a caixa Cco. Como posso ativá-lo? 1) (LIQUIGÁS 2012 - CESGRANRIO - ASSISTENTE AD-
Para exibir a caixa Cco para esta e todas as mensagens MINISTRATIVO) Um computador é um equipamento capaz
futuras, clique em Opções e, no grupo Mostrar Campos, cli- de processar com rapidez e segurança grande quantidade
que em Cco. de informações.
Clique em Anexar arquivo para adicionar um anexo. Ou Assim, além dos componentes de hardware, os compu-
clique em Anexar Item para anexar itens do Outlook, como tadores necessitam de um conjunto de softwares denomi-
mensagens de email, tarefas, contatos ou itens de calendário. nado:
a. arquivo de dados.
b. blocos de disco.
c. navegador de internet.
d. processador de dados.
e. sistemaoperacional.
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Básico de Informática
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
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Básico de Informática
3. Plataforma Google
GOOGLE CLASSROOM: Criando uma sala de aula online
1. Introdução
O Google Classroom é uma ferramenta de sala de aula online e gratuita. Para ter acesso ao recurso,
acesse o seguinte endereço: https://classroom.google.com/
Para utilizar a ferramenta, é necessário possuir uma conta do Google. Para tanto, acesse o
endereço do Google Classroom fornecido previamente e clique em Sign in.
Na tela seguinte, você poderá escolher participar de uma turma ou criar uma turma. Para tanto,
clique no ícone ( ) e selecione a opção que mais se adequa ao seu objetivo.
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Básico de Informática
Nesse tutorial, a opção é criar uma turma. Para tanto, clique em Criar turma.
Em seguida será exibida a mensagem abaixo. Selecione a opção “Eu li e entendi...” e clique em
Continuar.
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Básico de Informática
Obs: O nome da turma é a única informação obrigatória para a criação da turma. Os outros
dados solicitados são opcionais e referem-se a:
o Seção: informações básicas da turma, como o horário ou série/ano.
o Assunto: disciplina ou área do conhecimento que se destina a turma.
o Sala: localização da turma.
Obs: Após a criação da turma, o Google Classroom cria automaticamente um código para a turma. Com
esse código é possível convidar alunos e/ou professores para participar da sala de aula.
Após a criação da turma, você poderá personalizar sua sala de aula. Para alterar a imagem padrão
exibida na parte superior do mural, clique em Selecionar tema, para escolher entre uma variedade
de modelos de temas disponíveis pela ferramenta, ou clique em Fazer upload da foto, para
importar imagens do seu próprio computador.
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Básico de Informática
4. Criando atividades
Para criar atividades em sua sala de aula, acesse a guia Atividades na parte superior da tela da sua
turma.
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Básico de Informática
Em seguida, clique em Criar e escolha a atividade que se deseja criar. Para isso, selecione a opção
que mais se adequa ao seu objetivo.
Para criar uma tarefa, clique na opção Tarefa e insira o título e as instruções da atividade. Nesta
opção é possível inserir arquivos, vídeos e/ou links, atribuir nota e prazo de entrega.
Além disso, você poderá postar a tarefa imediatamente, salvar um rascunho ou programar a
postagem para depois. Para tanto, após preencher todas as informações da atividade, clique na
seta ao lado da opção “Criar tarefa” e escolha a opção que mais se adequa ao seu objetivo.
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Básico de Informática
A atividade Tarefa com teste possui as mesmas funcionalidades da “Tarefa”. No entanto, nessa
opção é possível utilizar o Formulário Google para a realização da atividade.
Em Pergunta, você poderá criar perguntas para respostas curta ou de múltipla escolha. Para tanto,
digite o enunciado da pergunta, preencha as instruções, se necessário, e escolha o tipo resposta,
conforme indicado na imagem abaixo.
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Básico de Informática
Nas perguntas para resposta curta, os alunos podem responder uns aos outros e editar a própria
resposta depois de enviá-la. Para tanto, é necessário ativar ou desativar as interações entre
respostas, basta escolher a opção que mais se adequa ao seu objetivo.
Na opção Material é possível carregar na sala de aula, os materiais a serem utilizados pela turma.
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Básico de Informática
Em Reutilizar postagem, caso você tenha outras turmas criadas na ferramenta, você poderá
reutilizar as postagens já feitas nestas turmas. Para tanto, basta selecionar a turma e, em seguida, a
postagem e clicar em Reutilizar.
A opção Tópico refere-se à organização das atividades de sua sala de aula em módulos ou unidades.
Para tanto, clique em Tópico, digite um nome para o módulo ou unidade e clique em Adicionar.
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Básico de Informática
Para comunicar-se com a sua turma, você poderá compartilhar avisos e informações no mural da
turma. Para tanto, acesse o Mural da sala de aula e clique no campo “Compartilhe algo com sua
turma...”, conforme indicado na imagem abaixo.
5. Convidando os alunos
Para que os alunos tenham acesso à sala de aula, você deverá convidá-los ou fornece-lhes o código
da turma para que eles se adicionem. Para convidar os alunos, acesse a guia Pessoas na parte
superior da tela da sua turma e, em seguida, clique no ícone ( ) – “Convidar alunos”.
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Básico de Informática
Logo após, digite os nomes ou endereços de e-mail dos alunos e clique em Convidar.
Para que os alunos adicionem a si mesmos, basta fornece-lhes o código da turma. Para isso, acesse
o Mural da turma, copie o código e envie aos alunos.
Tutorial Google Classroom: Criando uma sala de aula online de Jessica Aparecida de Oliveira está
licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.
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Básico de Informática
Google Documentos
Google www.google.com.br
Primeiro Passo
Fazer login no google com sua
conta de e-mail institucional
Google www.google.com.br
Acesse o Documentos
Após o login, você terá acesso
a todos os apps Google.
Escolha o Documentos;
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Básico de Informática
Tela do Documentos
Novo Modelos
(Em branco) disponíveis
Documentos
Recentes
Tela do Documentos
Criar novo
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Básico de Informática
Tela douma
*Crie uma Pasta, um Documento, uma Planilha, Drive
Apresentação, um Formulário, faça o upload de
arquivos ou pastas do computador.
Nomear
arquivo
Menu de recursos,
semelhante ao Word
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Básico de Informática
Google Planilhas
Google www.google.com.br
Primeiro Passo
Fazer login no google com sua
conta de e-mail institucional
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Google www.google.com.br
Acesse o Planilhas
Após o login, você terá acesso
a todos os apps Google.
Escolha o Planilhas;
Tela do Planilhas
Nova Modelos
(Em branco) disponíveis
Planilhas
Recentes
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Tela do Planilhas
Criar nova
Tela douma
*Crie uma Pasta, um Documento, uma Planilha, Drive
Apresentação, um Formulário, faça o upload de
arquivos ou pastas do computador.
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Básico de Informática
Nomear
arquivo
Menu de recursos,
semelhante ao Excel
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Básico de Informática
Insira
Gráficos
Insira
Dados
72
Atualidade
e Conhecimento
Geral
Sumário
Dessa forma, essa taxa de desemprego é duas vezes Também observa-se o aumento da pobreza absoluta e
maior do que as de 2013 e 2014. Portanto, isso da miséria no país. Além disso, já nota-se uma queda da
demonstra o quanto a situação do desemprego no Brasil renda de maneira geral dos brasileiros.
aumentou nos últimos anos. Em conclusão, há impacto direto na vida do povo e na
Mas como isso pode ser cobrado nas Atualidades para capacidade da absorção de bens e serviços. Em síntese,
concursos em 2021? tudo isso influencia no crescimento econômico. Assim
transformado em um ciclo vicioso.
“Normalmente, o que se pede é causa e consequência”,
afirma o professor. Em síntese, algumas causas para Não tem emprego, não tem renda, não tem consumo,
que o fenômeno do desemprego esteja em alta são: não tem produto, novamente, não tem renda, resume
Alex Mendes.
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Conhecimento Geral e Atualidade
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Conhecimento Geral e Atualidade
Pretende rediscutir a entrada dos Estados Unidos no Bolsonaro ainda não disse a que veio”, afirma o
pacto com o Irã, para não criação de bombas nucleares professor. “A economia não consegue se recuperar”.
e enriquecimento de urânio para aquele país.
Por conta disso e da taxa de desemprego alta, ocorre
Tende a ter uma relação mais amistosa com a América assim uma queda da renda per capita. Como ela é um ⅓
Latina. do indicador IDH, isso colaborou para a queda do Brasil
no Índice de Desenvolvimento Humano.
Fortalecer o Obamacare, programa de saúde para a
população mais pobre dos EUA. Por consequência, demonstra que o Brasil se tornou um
país mais desigual, desde 2014 até o presente momento,
Tentar combater a pandemia de Covid-19 nos EUA, um
quando começou a crise econômica ainda no governo
epicentro do Coronavírus no mundo.
Dilma Rousseff.
“A gente aguarda para ver quais são os
posicionamentos que ele deve tomar em relação a
China”, destaca o especialista.
Em resumo, o IDH é baseado em três grandes O governo Jair Bolsonaro havia proposto um auxílio-
indicadores: emergencial de apenas R$ 200 reais. Em seguida, o
parlamento brasileiro aumentou esse valor para R$ 500.
Expectativa de vida: quantidade média de anos que uma
pessoa vive ao nascer em determinado país. Ao perceber que poderia ganhar apoio popular, a
presidência subiu para R$ 600. Depois, ainda pagou
Escolaridade: número de analfabetos em relação a mais quatro parcelas de R$ 300.
população total, nível de escolaridade e o nível de
escolaridade esperada para os próximos anos. O auxílio ajudou a população a enfrentar parte das
consequências da pandemia. Inclusive, para algumas
PIB per capita. famílias houve até mesmo um aumento de renda, pois
Em suma, a grande notícia ruim para o Brasil, mas que já mais de um membro recebia o auxílio.
era relativamente esperada, foi a queda do país no IDH. Também há os trabalhadores que já recebiam o bolsa
Ele varia de zero a um. Quanto mais próximo de um, família e passaram a poder contar em conjunto com o
melhor o Índice de Desenvolvimento Humano. auxílio.
A queda que o Brasil teve está basicamente relacionada Ou seja, houve uma relativa elevação de renda da
à queda da renda per capita, por pessoa. Desde 2014, o camada mais pobre da população. Em conclusão, isso
Brasil sofre com uma crise econômica grave. ajudou a sustentar minimamente o consumo no ano de
Posteriormente, o governo Bolsonaro vive um momento 2020.
econômico muito difícil.
No ano passado a economia não reagiu, crescendo
menos do que em 2018, quando cresceu 1,3. Já em
Qual é a preocupação para 2021?
2019, seu crescimento foi de apenas 1,1. Ainda, o dia 31 de dezembro foi marcado pelo fim do
estado de calamidade pública, decretado pelo congresso
Em 2020, deve haver uma queda da atividade
econômica entre 3,5% e 4,5%. “Portanto, o governo
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Conhecimento Geral e Atualidade
nacional. Simultaneamente, teve fim o auxílio A procura por combustíveis mais limpos e sustentáveis
emergencial. também tende a ser um dos responsáveis pela
diminuição da dependência mundial do petróleo e, em
O momento atual é muito difícil devido a:
consequência, da demanda pelo produto.
Taxa de desemprego recorde, mais 14 milhões
de brasileiros desempregados – fora os que
desistiram de procurar uma vaga remunerada. Crise diplomática Brasil x China
Queda da renda e na demanda agregada. A China é hoje o maior parceiro comercial do Brasil.
Segunda maior economia do mundo, o país tem no país
Demora do mundo para a recuperação das sul-americano um de seus principais fornecedores de
consequências da pandemia. recursos naturais.
Falta de um cronograma do Ministério da Saúde Apesar disso, uma crise diplomática que surgiu
para a vacinação. recentemente entre os dois países como um assunto que
Demora em conseguir vacinar toda a população se destacou nas notícias.
a ponto da atividade econômica voltar a fluir no Um exemplo foi um comentário do até então ministro da
ritmo normal. Educação brasileiro, Abraham Weintraub, em uma rede
Número alto de mortos e contaminados no final social, em que insinuou que a China iria sair fortalecida
de 2020 e início de 2021. da crise atual, associando a origem da Covid-19 ao país
asiático.
População mais pobre desamparada sem o
auxílio emergencial. Comentário reforçado também pelo ministro da Relações
Exteriores do Brasil.
Principalmente sem essa renda do auxílio, o
professor Alex prevê que haja a queda relativa “O ministro Ernesto Araújo, das Relações Exteriores,
da demanda. Por consequência, isso também disse que o Brasil não iria se retratar e que, na verdade,
interfere na recuperação econômica do Brasil ao a China faz parte de um plano global para espalhar o
longo do ano de 2021. comunismo para o mundo como um todo e para o
socialismo global.”
Além disso, também aumenta a pobreza, a
miséria e todas as consequências que resultam
desse processo. Fogo afetou 85% das espécies
em extinção na Bacia Amazônica
Crise do Petróleo Um estudo internacional com a participação de cientistas
A crise mundial do preço do petróleo foi também brasileiros revelou que 85% das espécies consideradas
influenciado pela pandemia. ameaçadas de extinção na região amazônica foram
impactadas pelas queimadas de 2001 a 2019.
No entanto, as flutuações nos valores dos barris já
acontecem há um tempo. Antes da crise econômica de Os resultados foram publicados na renomada revista
2008, o professor afirmou que o barril chegou a ser científica Nature e levam em consideração 11.514
cotado em $130 dólares. espécies de plantas e 3.079 espécies de vertebrados em
toda a extensão da Bacia Amazônica.
Nos últimos anos, com a recuperação econômica pós-
crise, chegou à $70 dólares. Atualmente está no custo de
$23 dólares. Um dos motivos é a crise do coronavírus. Melhor campanha do Brasil nas
Você tem menos mobilidade em termos de aviação em Paralimpíadas
escala mundial, menos transportes de cargas e de
passageiros e automaticamente com o processo de O Brasil encerrou sua participação nos Jogos
confinamento social e de lockdown em algumas regiões, Paralímpicos de Tóquio com sua melhor campanha da
a demanda por combustível diminui. A consequência de história no evento. Foram 72 medalhas, sendo 22 de
uma queda da demanda é a redução do preço, explica o ouro, 20 de prata e 30 de bronze, o que garantiu o
professor. sétimo lugar no quadro de medalhas. É o maior número
de medalhas douradas do país, superando os 21 ouros
Por outro lado, engana-se quem acha que este é o único de Londres 2012.
motivo. Segundo o professor, a crise vem de dentro da
própria Organização dos Países Importadores de
Petróleo (OPEP). Atos pró-governo e ameaças ao
Nos último anos, Rússia e Arábia Saudita, dois grandes
produtores mundiais, não entraram em acordo sobre a
STF
redução da produção de óleo no mercado internacional. O Presidente da República, Jair Bolsonaro, insuflou sua
base em protestos em Brasília e São Paulo com
“Em virtude disso, a Arábia Saudita tomou a decisão de
ameaças a ministros do Supremo Tribunal Federal
ampliar a sua produção, o que gerou uma queda pontual
(STF). O presidente novamente questionou, sem provas,
do preço do petróleo, que prejudica muito mais a Rússia
a segurança do sistema eleitoral.
do que a própria Arábia Saudita”.
5
Conhecimento Geral e Atualidade
Polônia, Portugal, República Tcheca e Suécia. O Reino Unido também enviaria mais dinheiro para a
União Europeia do que recebe de volta em investimen-
Estados-não membros da União Europeia: Islândia, Li-
tos. Saindo, sobraria mais dinheiro para ser investido
echtenstein, Noruega e Suíça.
no país.
Estados da União Europeia que não integram o Espaço
A questão da migração de cidadãos europeus ao Reino
Schengen:
Unido foi um dos temas polêmicos. Três milhões de mi-
Bulgária, Romênia, Chipre, Croácia, Irlanda e Reino grantes de países do bloco do leste europeu, residem e
Unido, trabalham no país. O argumento utilizado pelos defen-
sores da saída é de que esses migrantes tiram o em-
O fim dos controles das fronteiras internas da União prego dos britânicos e tem acesso ao sistema de segu-
Europeia e de Schengen foi acompanhado por um re- ridade social, prejudicando a qualidade dos serviços
forço das fronteiras externas: os Estados membros que para os nacionais.
se localizam na linha de frente têm a responsabilidade
de realizar rigorosos controles em suas fronteiras e for- Os defensores da permanência argumentaram que sair
necer, dependendo do caso, vistos de curta permanên- do bloco vai trazer prejuízos econômicos, como a exi-
cia. Em casos excepcionais podem ser retomados o gência de novas tarifas, regulações e acordos comerci-
controle das fronteiras pelos países. ais. Exemplo: O Reino Unido terá que fazer acordos co-
merciais com cada país ou blocos econômicos separa-
A crise econômica mundial de 2008, trouxe enormes de- damente, inclusive com a União Europeia.
safios à integridade do bloco econômico. A Grécia, en-
volvida em uma grave crise econômica, ameaçou sair A vitória do sair, levou a renúncia de David Cameron.
da União Europeia. O grande afluxo de migrantes vindo Thereza May assumiu como primeira-ministra. É a pri-
da África e da Ásia, a partir de 2014, em direção à Eu- meira mulher a assumir o cargo em 25 anos, ou seja,
ropa também tenciona as relações internas. Vários paí- desde o fim da era Margareth Thatcher, conhecida como
ses resistem a receber e dar asilo à parcela desses mi- “A Dama de Ferro”.
grantes.
A vitória do “sair” no Brexit, voltou a movimentar o tema
Neste ambiente de crise – econômica e migratória - da saída da Escócia do Reino Unido. Os escoceses
cresceu o discursode partidos eurocéticos, com resis- preferem permanecer na União Europeia e já se movi-
tências a várias das políticas comuns do bloco. Alguns mentam pela realização de um novo plebiscito por sua
defendem a saída de seus países do bloco. São parti- independência. Em 2014, um plebiscito acabou deci-
dos de extrema esquerda e direita. Em vários países dindo pela permanênciados escoceses no Reino Unido,
europeus, a extrema direita cresce nas eleições parla- e um dos argumentos principais da campanha contra a
mentares e presidenciais. independência era o acesso à União Europeia via Reino
Unido.
O Brexit A saída do Reino Unido alimenta temores sobre a esta-
bilidade e o futuro da União Europeia. Politicamente, os
O Reino Unido é um dos países onde a permanência
partidos nacionalistas crescem em vários países. Uma
no bloco é fortemente questionada. É um país formado
de suas bandeiras é a saída ou maior soberania nacio-
por quatro países: Inglaterra, Escócia, País de Gales e
nal sobre a regulação europeia. A saída dos britânicos
Irlanda do Norte. Os britânicos – como são chamados-
serviria como mais um estímulo para a defesa dessas
não fizeram parte das origens da União Europeia. Foi
ideias nos seus países.
somente em 1973 que o Reino Unido ingressou na Co-
munidade Econômica Europeia (CEE). Dois anos de- Por enquanto, o Reino Unido continua fazendo parte da
pois, em 1975, renegociou as condições de participa- União Europeia, já que a saída não é automática. Abriu-
ção e realizou um referendo sobre a permanência na se um período de negociações entre o país e o bloco
CEE. Na época, os britânicos votaram por continuar na europeu, sobre os termos da saída. As negociações po-
Comunidade Econômica. dem durar até dois anos. A saída estava programada
para ocorrer até março de 2019, mas foi adiada para 31
Quatro décadas após o referendo, em junho de 2016,
de dezembro de 2020.
em um plebiscito, os britânicos decidiram sair da
União Europeia, o que está sendo chamado de Concluídas as negociações, os termos terão que ser
“Brexit”. É uma abreviação das palavras “British” (britâ- aprovados pelo Conselho Europeu e ratificados pelo
nico, em inglês) e “exit” (saída). Parlamento Europeu. De parte do Reino Unido, terão
que ser aprovadas pelo parlamento britânico.
Na votação, os eleitores tinham de responder a apenas
uma pergunta: "Deve o Reino Unido permanecer como A negociação está se dando em torno das seguintes di-
membro da União Europeia ou sair da União Europeia?” retrizes:
52% dos eleitores votaram por sair, 48% por permane-
Fatura de saída do Reino Unido – Enquanto membro da
cer.
União Europeia, o país faz parte do orçamento do
Os defensores da saída alegaram que o crescimento da bloco, recebendo investimentos e contribuindo financei-
União Europeia diminuiu a importância e a soberania bri- ramente para o cofre geral. A União Europeia possui
tânica. O país tem que seguir regulações nas áreas de um orçamento comum e fundos setoriais. Atualmente
economia, política, migrações, entre outras, decididas está em vigor o orçamento do período de 2014-2020. A
pelo bloco econômico. União Europeia queria que o Reino Unido cumprisse
7
Conhecimento Geral e Atualidade
com todos os compromissos de aporte financeiro já as- espanhóis que, diariamente, atravessam a fronteira.
sumidos, mesmo que alguns aportes tenham que ser São aproximadamente 7 mil pessoas.
realizados após o país já estar fora do bloco europeu.
Nas negociações, ficou acertado que o Reino Unido vai - ALCA
desembolsar entre 40 e 45 bilhões de euros, para pagar
por compromissos já assumidos. A Área de Livre Comércio das Américas {ALCA) foi pro-
posta pelos Estados Unidos, em 1994. Seria integrada
Imigrantes – O que se discute é a manutenção dos di-
por todos os países americanos, exceto Cuba. Não che-
reitos sociais dos três milhões de cidadãos da UE que
gou a se constituir como um bloco econômico. Após su-
vivem no Reino Unido, e de mais de um milhão de ci-
cessivas discussões em torno da formação do bloco
dadãos britânicos que vivem em países do bloco euro-
econômico, a Cúpula das Américas de 2005, realizada
peu. Conforme o que já foi negociado, os direitos soci-
na Argentina, marca o fracasso do acordo, deixando as
ais de ambos estão garantidos. Esse foi um dos argu-
negociações em suspenso.
mentos críticos dos defensores do Brexit, pois os naci-
onais de outros países da União Europeia, que residem
no Reino Unido, têm acesso às políticas de assistência - NAFTA
social, ao sistema de saúde, entre outras garantias.
O bloco é uma área de livre comércio integrada por Es-
Fronteira entre a Irlanda e a britânica Irlanda do Norte tados Unidos, Canadá e México. O tratado foi assinado
– A fronteira entre a Irlanda do Norte (parte do Reino em 1992 e entrou em vigor em 1994.
Unido) e a República da Irlanda (um país independente, Na sua campanha eleitoral, o então candidato a presi-
membro da União Europeia) é a única ligação terrestre
dente dos Estados Unidos, Donald Trump, prometeu re-
entre a Europa e o Reino Unido. Atualmente, não existe ver os termos do tratado de livre comércio. O presidente
controle para europeus atravessarem essa linha graças
norte-americano considera que o tratado tem termos
aos acordos de livre circulação de pessoas. que prejudicam a economia dos Estados Unidos, e, por
Nas negociações já realizadas, o Reino Unido se com- consequência, favorecem as economias do Canadá e
prometeu a não estabelecer uma "fronteira dura" {com do México. Já como presidente, os EUA começaram a
postos de controle) entre a Irlanda e a Irlanda do Norte. discutir com os demais parceiros a renegociação do tra-
O temor era que um rompimento pouco amigável preju- tado de livre comércio.
dicasse a economia da ilha irlandesa, em ambos os la-
As negociações estão em andamento e até o momento,
dos. nenhuma mudança foi anunciada.
Outro assunto fundamental, que está em discussão, é
a parceria comercial entre Reino Unido e União Euro- - MERCOSUL
peia. Hoje eles fazem parte de um mercado comum,
mas com a saída britânica, os mercados se separam e, Criado em 1991, o Mercado Comum do Sul (MERCO-
com isso, surgem as barreiras comerciais — impostos SUL) completou 25 anos em 2016. Como o nome diz, o
ou legislações diferentes que impõem obrigações téc- bloco econômico almeja ser um Mercado Comum. No
nicas a determinados produtos, por exemplo. entanto, ainda não atingiu esse estágio. Segundo o Mi-
nistério das Relações Exteriores do Brasil, o bloco pode
A saída do Reino Unido também reativou a disputa entre ser caracterizado como uma união aduaneira em fase
o país e a Espanha pela península de Gibraltar. Espa- de consolidação, com matizes de mercado comum,
nhóis e britânicos têm um desentendimento histórico com eliminação dos entraves à circulação dos fatores
sobre quem tem o direito de exercer soberania sobre de produção, bem como pela adoção de política tarifá-
um território minúsculo no sul da Espanha. Os dois pa- ria comum em relação a terceiros países, por meio de
íses já tiveram guerras por isso, mas nas últimas déca- uma Tarifa Externa Comum (TEC).
das esse era apenas um assunto desconfortável entre
amigos. Com o Brexit, o futuro de Gibraltar foi para a Os seus Estados Partes (membros efetivos ou plenos)
mesa de negociações e a União Europeia se posiciona fundadores são o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o
favoravelmente ao pleito espanhol. Paraguai. A Venezuela (Estado Parte) ingressou no
bloco em 2012. O Paraguai foi suspenso do bloco em
O Reino Unido controla Gibraltar desde 1713. Os britâ- junho de 2012, mas retornou ao bloco em fevereiro de
nicos conquistaram a península durante a guerra de se- 2014. A Bolívia é um Estado Parte em processo de ade-
cessão espanhola junto aos holandeses. A península são. Para a conclusão da sua integração definitiva
desde então é um território britânico ultramarino.
como Estado Parte, falta, ainda, a ratificação do seu in-
Para o Reino Unido, controlar o território é importante por gresso por alguns parlamentos nacionais.
razões militares, uma vez que garante o controle de to-
Estados Partes são os que participam dos acordos e
das as navegações que entram e saem do Mediterrâ- tratados do Mercosul e possuem uma maior integração
neo. Mas, além disso, com maioria populacional de ori-
comercial. Possuem direito de voto, são os países que
gem britânica, o governo de Londres não está disposto tem poder de decisão sobre os assuntos do bloco eco-
a abrir mão de um território habitado por seus cidadãos.
nômico.
Já a Espanha reclama o território sobretudo por razões O MERCOSUL conta ainda com Estados Associados
históricas - não admite ter perdido sua soberania. Cerca
(membros associados) e Estados Observadores (mem-
de metade da força de trabalho gibraltina é de bros observadores). Os Estados Associados são o
8
Conhecimento Geral e Atualidade
Chile, Equador, Peru, Colômbia, Guiana e Suriname. Em outubro de 2015, 12 países – Estados Unidos, Aus-
Assim, podemos notar que o MERCOSUL abrange to- trália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México,
dos os países da América do Sul. México e Nova Ze- Nova Zelândia, Peru, Cingapura e Vietnã chegaram a
lândia também são Estados Observadores. um acordo de livre comércio que resultou no maior bloco
econômico da história. Esses países reúnem 40% do
Os membros associados aderem, fazem parte da área
PIB mundial e tem 793 milhões de consumidores. Para
de livre comércio, mas não adotam a Tarifa Externa Co-
os Estados Unidos e Japão, o Tratado representou uma
mum (TEC). Portanto, não participam integralmente do
oportunidade de ficarem à frente da China (não incluída
bloco, aderem, apenas, a alguns acordos comerciais e
no TTP) e de criarem uma zona econômica na bacia do
não possuem poder de voto nas decisões do Mercosul.
Pacífico capaz de contrabalançar o peso econômico
Podem participar na qualidade de convidado nas reuni-
dos chineses na região.
ões de organismos do bloco e podem assinar acordos
sobre matérias comuns. O Tratado foi assinado quando Barak Obama era o pre-
sidente dos Estados Unidos. No entanto, cumprindo
Um membro observador é aquele que apenas participa
uma promessa de campanha, o novo presidente dos
das reuniões do bloco, no sentido de melhor acompa-
Estados Unidos, Donald Trump, assinou um decreto re-
nhar o andamento das discussões, mas sem poder de
tirando os Estados Unidos do TTP.
participação ou voto.
O argumento de Trump, para a saída dos EUA do TTP,
Uma das críticas ao MERCOSUL são os poucos acor-
é de que o acordo contém termos que são prejudiciais
dos de livre-comércio com outros países ou blocos
à economia norte-americana e aos trabalhadores do
econômicos. Só possui três acordos, com Egito, Israel
país. A decisão de Trump foi considerada uma medida
e Palestina.
protecionista, em sentido contrário aos rumos da globa-
O bloco negocia há mais de uma década um acordo de lização atual.
livre comércio com a União Europeia. As negociações
A retirada americana, na prática, inviabilizou o Tratado,
enfrentam impasse principalmente devido à resistência
já que para entrar em vigor, o texto precisaria ser ratifi-
da Argentina em reduzir as tarifas de importação. Isso
cado por países que representassem 85% do PIB total
porque existe o receio de que a abertura do mercado aos
dos signatários. Como os EUA detém 60% do PIB den-
manufaturados europeus enfraqueça as indústrias naci-
tro do bloco, não tinha como o TTP entrar em vigor nos
onais. Por outro lado, há quem defenda que os ganhos
termos acordados.
no médio prazo com o aumento das exportações podem
compensar essas eventuais perdas iniciais. Treze meses depois da saída dos EUA, em março de
2018, na capital do Chile, Santiago, os onze países re-
Em dezembro de 2016, a Venezuela foi suspensa do
manescentes assinaram o Tratado Integral e Progres-
MERCOSUL. Quando do seu ingresso no bloco, em sista de Associação Transpacífico {conhecido como
2012, foi concedido ao país um prazo de quatro anos TPP11). O acordo entrará em vigor quando for apro-
para que adequasse legislação e normas internas aos vado em pelo menos 6 dos 11 países signatários.
acordos e tratados do bloco econômico. Findado o
prazo, o país não cumpriu com a adequação de todas O novo tratado conserva e essência do TPP original,
as normas e legislações necessárias à sua adesão mas cerca de 20 pontos foram suspensos para proteger
como membro pleno do bloco. Dessa forma, a Venezu- o equilíbrio entre os países signatários, principalmente
ela foi suspensa do MERCOSUL pelos demais países no capítulo de propriedade intelectual.
membros.
Nova suspensão foi aplicada ao país, em agosto de Uma ordem antiglobal
2017, com base na cláusula democrática, constante do No início dos anos 1990, o mundo parecia ter entrado
Protocolo de Ushuaia do MERCOSUL. O bloco entende em uma fase de amplas oportunidades para todos. Com
que há uma ruptura na ordem democrática do país e o fim da Guerra Fria e a consolidação de uma Nova Or-
que os poderes não estão funcionando de modo har- dem Mundial, sob a liderança hegemônica dos Estados
mônico e independente. Unidos (EUA), nada parecia deter o processo de globa-
As suspensões são políticas, afetando o direito do país lização e as novas possibilidades de desenvolvimento
de votar, ser votado e de exercer a presidência rotativa que ele prometia. Sem o antagonismo comunista repre-
do bloco. Não afetam as trocas comerciais entre a Ve- sentado pela União Soviética (URSS), o capitalismo
nezuela e os demais países do bloco. Os acordos comer- passou a reinar absoluto no planeta.
ciais continuam em vigor. As políticas neoliberais deram a sustentação econô-
Para retornar como membro pleno do MERCOSUL, a mica à globalização, enquanto o avanço da tecnologia
Venezuela terá que solucionar internamente os fatores da informação, particularmente da internet, tornou viá-
que deram causa as duas suspensões. Contudo, não vel a interconexão e aproximação entre as diversas na-
confunda, o país não foi excluído do bloco, suspensão ções. Ao longo do tempo, porém, esse sistema come-
é diferente de exclusão. çou a mostrar algumas fissuras. Ao contrário do que
pregavam alguns dos principais teóricos da globaliza-
- Tratado de Livre Comércio Trans-Pacífico {TTP) e Tra- ção, o aumento da integração mundial e a ampliação do
tado Integral e Progressista de Associação Transpací- comércio não promoveram o bem-estar geral dos indi-
fico {TPP11) víduos e a redução das desigualdades entre as nações.
9
Conhecimento Geral e Atualidade
A globalização fez alguns vencedores, mas deixou mui- expressar uma ideologia, que se fundamenta nos valo-
tos perdedores pelo caminho. E é nesse fosso de desi- res de identidade nacional para alcançar objetivos polí-
gualdade que começam a surgir as reações ao sistema ticos. Defendem a tese de que a solução para os pro-
de integração econômica mundial. blemas econômicos e sociais de um país está em me-
nos integração, mais protecionismo e maior restrição ao
O questionamento ao livre-comércio ingresso de trabalhadores estrangeiros no país. As re-
lações com outras nações acabam sendo definidas
A crise econômica mundial de 2008 trouxe à tona os mais em termos de competição, onde prevalecem as ri-
problemas da globalização. A recessão causada por validades nacionais. Para especialistas, a eleição de
essa crise levou diversos países a rever suas políticas Donald Trump e o fenômeno do Brexit são exemplos de
econômicas. Para proteger os empregos e a produção ascensão do nacionalismo político.
local, muitos governos passaram a questionar o livre-
comércio, mais especificamente os benefícios dos blo- A xenofobia
cos econômicos.
Um dos pilares da globalização é a livre circulação de
A abertura comercial expõe os países à competitividade
capitais (dinheiro), bens, serviços e pessoas. Contudo,
típica do capitalismo e do liberalismo econômico. Ao eli-
o livre trânsito de pessoas sempre foi um aspecto frágil
minar as barreiras à importação, os bens que entram no
da globalização. O desenvolvimento tecnológico dos úl-
país disputam mercado com os produtos nacionais.
timos anos proporcionou enormes avanços nos meios
Aquele que tem maior vantagem competitiva, seja por
de transporte, o que ajudou a intensificar os movimen-
cobrar menos impostos, por pagar baixos salários ou
tos migratórios em diversas partes do mundo. O desen-
por dispor de um câmbio mais favorável para as expor-
volvimento das telecomunicações, por sua vez, facilitou
tações, vai se dar melhor na conquista pelo mercado
as transferências bancárias, permitindo a um imigrante
consumidor. E, dependendo do tipo de acordo comer-
africano que mora na Europa enviar parte de seu salário
cial, a entrada de produtos estrangeiros pode afetar
mensalmente para ajudar os familiares que vivem em
todo um setor da economia de um país.
sua terra natal.
contato com outras culturas e cresceram economica- de interdependência com os mercados globais, o que
mente com o esforço do trabalhador imigrante. Mesmo aumenta o seu peso nas principais decisões mundiais.
na Europa atual, com as taxas de natalidade em declí-
Na tentativa de projetar sua influência pelo mundo, a
nio, projeções apontam que faltará mão de obra no fu-
China investe na chamada “diplomacia econômica”.
turo para sustentar o crescimento econômico. E, nesse
Com projetos de financiamento, aquisiçãode matérias-
sentido, a aceitação do trabalhador imigrante seria fun-
primas e obras de infraestrutura, o país aposta no poder
damental para driblar essa encruzilhada demográfica.
de sua economia para angariar aliados. É uma forma
de estabelecer uma relação na qual os outros países se
China tornem cada vez mais dependentes do capital chinês. A
presença chinesa é cada vez mais presente na América
A civilização chinesa tem mais de quatro mil anos. Após
Latina, África, Ásia e Europa.
um longo período imperial e uma breve república, uma
revolução liderada pelo Partido Comunista Chinês Na América Latina, mais precisamente na Nicarágua,
(PCCh), de Mao Tsé-Tung, deu origem à República Po- está em construção um canal interoceânico bancado
pular da China, em 1949. O país foi reorganizado nos pela empresa chinesa HKND a um custo de
moldes socialistas.
50 bilhões de dólares. Quando for inaugurado, em
Com a morte de Mao, em 1976, a China implementou 2019, o megaprojeto irá competir com o canal do Pa-
um modelo, ainda vigente, chamado por seus dirigentes namá e deverá estimular ainda mais o fluxo comercial en-
de socialismo de mercado. O país manteve o controle tre China e América Latina.
estatal das fábricas e da terra, mas permitiu a abertura
ao mercado mundial em determinadas regiões, deno- O projeto mais ambicioso da China responde pelo nome
minadas de Zonas Econômicas Especiais. de “Nova Rota da Seda”. O objetivo é criar um corre-
dor econômico, composto por estradas, ferrovias, oleo-
Nessas zonas se instalaram empresas multinacionais, dutos e cabos de fibra ótica, que irá conectar, por via
para produzir artigos para a exportação, atraídas por in- terrestre e marítima, a China à Europa e à África. O cor-
centivos fiscais e pela barata e numerosa mão de obra redor atravessará a Ásia Central, o Oriente Médio e o
chinesa. Posteriormente, o governo autorizou a proprie- Oceano Índico. Para desenvolver este projeto de inte-
dade privada em algumas situações e fez maciços in- gração eurasiana, a China criou um fundo com dezenas
vestimentos em tecnologia para aperfeiçoar a sua in- de bilhões de dólares, que serão investidos em obras de
dústria. infraestrutura nos países vizinhos. A rota da seda foi um
Com essas medidas, o país inundou o planeta com corredor econômico que uniu Oriente e Ocidente no pri-
seus produtos “made in China”, tornando-se o maior ex- meiro milênio de nossa era.
portador mundial. Se a princípio os produtos chineses
eram associados à baixa qualidade, hoje eles já pos-
suem maior valor agregado, como eletroeletrônicos e
automóveis. Paralelamente, para suprir sua demanda
por alimentos, energia e matérias-primas, a China tor-
nou-se um grande importador de commodities, como
petróleo e minério de ferro.
Com essas ações, a China atrelou seu crescimento à
economia de outras nações, firmando parcerias com
países da África e da América Latina, incluindo o Brasil.
Na crise mundial iniciada em 2008, por exemplo, a
queda na demanda chinesa por commodities foi um dos
fatores que afetaram a economia brasileira.
Atualmente, o país é a segunda maior economia do
mundo, respondendo por mais de 10% do PIB mundial, O país disputa com o Japão a posse das ilhas de Sen-
atrás apenas dos Estados Unidos. kaku, para os japoneses, ou Diaoyu, para os chineses,
localizadas no Mar da China Oriental.
Por ter uma economia voltada para o comércio exterior, O Mar do Sul da China é, atualmente, o foco de maior
a China passou a ser um dos grandes defensores da tensão no Sudeste Asiático. A área é reivindicada pela
globalização e do livre-comércio. É uma defesa que tem China, que alega ter precedência histórica com base
sido reafirmada diante de críticas do presidente dos Es- em um pedido feito em 1947. No entanto, além das Fi-
tados Unidos, Donald Trump, à essa mesma globaliza- lipinas, países como Vietnã, Brunei, Malásia e Taiwan
ção e livre-comércio. também disputam a soberania sobre a região e querem
negociar com base na convenção da ONU sobre o Di-
Para além das questões econômicas, a China quer se reito do Mar, que define zonas de 200 milhas para cada
firmar como uma liderança global, capaz de não apenas país. O problema é que, devido à proximidade entre es-
ser uma potência regional, mas de ameaçar a hegemo- sas nações, as fronteiras marítimas não são bem defi-
nia mundial dos EUA. O fato é que se trata de dois as- nidas.
pectos praticamente indissociáveis: com o poder eco-
nômico e a expansão comercial, o país cria uma relação O Mar do Sul da China é fundamental para a indústria
11
Conhecimento Geral e Atualidade
da pesca, rica em reservas de petróleo e estratégica Europeia. A Comunidade do Pacífico é uma entidade
para o transporte marítimo. Mesmo com a indefinição que congrega países e territórios situados no Oceano
das fronteiras, a China ampliou a ofensiva para consoli- Pacífico. A Unasul não é um bloco econômico, mas
dar a ocupação da área em 2014, ao construir ilhas ar- uma entidade que congrega os países da América do
tificiais em Spratly e instalar plataformas para a explo- Sul. Por exclusão, a resposta é o Mercosul. O bloco
ração de petróleo na região. Essa iniciativa chinesa é possui uma presidência rotativa. Por ordem alfabética,
vista como uma forma de impor sua hegemonia no Su- a cada seis meses um Estado-parte assume a presi-
deste Asiático. dência do bloco.
A disputa foi parar na Corte Permanente de Arbitragem Gabarito: B
da ONU, que decidiu que a China não tem base legal
para reivindicar “direitos históricos” sobre o Mar do Sul
da China. O governo de Pequim informou que não reco- 2) {FUNRIO/IF BA/2016 – ASSISTENTE EM ADMINIS-
nhece e não irá acatar a decisão. TRAÇÃO) O Mercosul foi fundado a partir do Tratado
de Assunção em 1991, por Argentina, Brasil, Paraguai
Apesar do vertiginoso crescimento econômico, o país
e Uruguai. A Venezuela, em 2006, solicitou sua entrada
convive com problemas que causam instabilidade ao
no bloco, o que foi efetivado em 2012. Que outro país
atual modelo político-econômico: significativa desigual-
também solicitou a entrada como membro permanente
dade social, corrupção, degradação ambiental e cres-
do Mercosul, mas ainda não foi integrado ao grupo?
cente descontentamento popular.
a) Bolívia.
A China é uma ditadura que reprime a liberdade de ex-
b) Chile.
pressão e viola os direitos humanos. No entanto, há uma
c) Colômbia.
resistência interna, e diversos dissidentes desafiam o
d) México.
regime. O país é o principal parceiro comercial e destino
e) Peru.
das exportações do Brasil.
COMENTÁRIOS:
O atual presidente Xi Jinping já é considerado o homem
A Bolívia solicitou entrada como membro permanente
mais poderoso da China, desde Mao Tsé-Tung. Xi foi
reeleito para um segundo mandato presidencial de do Mercosul. É um Estado parte em processo de ade-
são. Para a sua integração definitiva, falta, ainda, a
cinco anos, no período de 2018 a 2023, como chefe da
Comissão Militar Central e como secretário-geral do aprovação de alguns parlamentos nacionais.
Partido Comunista Chinês. Gabarito: A
Em uma alteração constitucional histórica, o parla-
mento chinês aboliu o limite de dois mandatos presiden-
ciais consecutivos de cinco anos. Com isso, Xi Jinping 3) {VUNESP/PREFEITURA DE GUARULHOS/2016 –
poderá permanecer no poder por tempo indeterminado. AGENTE ESCOLAR) O Mercosul continua em crise
O “Pensamento de Xi Jinping sobre o Socialismo com pela passagem da presidência rotativa do bloco. A reu-
Características Chinesas na Nova Época”, a teoria do nião de seus sócios fundadores, realizada nesta quinta-
presidente sobre o futuro do país, foi incluído na consti- feira
tuição do PCCh e na constituição do país. {04.08.2016) em sua sede de Montevidéu, terminou
sem qualquer avanço ou consenso. A reunião permitiu
a “constatação de que não houve consenso em torno do
QUESTÕES COMENTADAS tema da presidência pro tempore”, disse o vice-chance-
1) {FCC/PM AP/2017 – SOLDADO) Em 21 de julho, o ler paraguaio a jornalistas depois do encontro. A crise
presidente Michel Temer participou de reunião com pre- no Mercosul prolonga-se desde junho, sem sinal de so-
sidentes de outros países sul- americanos, em Men- lução. Na última sexta {29.07.2016), o Uruguai deu por
doza, na Argentina. Entre os temas discutidos na reu- encerrada sua gestão na presidência rotativa, sem
nião estava a atual situação da Venezuela. O encontro anunciar a transferência do posto a qualquer um dos
marcou a entrada do Brasil na presidência temporária sócios do bloco.
do bloco pelos próximos seis meses. {Gl, 04.08.2016. Disponível em:
(Adaptado de: goo.gl. Acessado em 21/07/2017) <http://goo.gl/NBZQux> . Adaptado)
12
Conhecimento Geral e Atualidade
fronteiras nacionais em relação à circulação de pes- governos a censurá-la. A propósito, a ONU e a Organi-
soas e mercadorias. zação dos Estados Americanos {OEA) condenam a vio-
lência do governo venezuelano contra os opositores
d) a oposição que Brasil, Paraguai e Argentina fazem
que tomam as ruas.
à Venezuela na presidência do bloco, devido à instabi-
lidade política deste país. Considerando esses e outros aspectos típicos dos tem-
pos atuais,julgue o item.
e) a divergência em relação ao tratado de livre comér-
cio do bloco com os EUA, em estágio avançado de ne- Em marcha acelerada para se tornar a principal potên-
gociação, o que tem impactado a tomada de decisão cia econômica mundial, a China tem ampliado sobre-
pelos países. maneira seus espaços democráticos mediante ações
radicais, como, por exemplo, o fim da censura à Internet
COMENTÁRIOS:
no país.
O MERCOSUL possui uma presidência rotativa, cha-
COMENTÁRIOS:
mada de “pro tempore”. A cada seis meses um dos paí-
ses membros assume a presidência do bloco, conforme A China não é uma democracia, não há eleições livres
uma rotação por ordem alfabética. No final de julho de e diretas no país.A imprensa é controlada, opositores
2016, o Uruguai, que estava na presidência, encerrou o do regime são presos e a internet é censurada. O re-
seu mandato. O próximo país a assumir a presidência gime do Partido Comunista Chinês, no poder desde
seria a Venezuela. No entanto, Argentina, Brasil e Pa- 1949, não está promovendo reformas democráticas no
raguai alegaram que a Venezuela não poderia assumir país.
a presidência por não estar cumprindo algumas normas
Gabarito: Errado
do bloco econômico. Seriam regras relacionadas com o
respeito aos direitos humanos e de integração ao mer- 5) {UEPA/SEFAZ PA – FISCAL DE RECEITAS ESTA-
cado econômico. DUAIS) “A China é a nação mais populosa do mundo, a
quarta mais extensa, a segunda maior economia e a
A clausula democrática é uma das normas que a Vene-
mais antiga e contínua civilização, representando o epi-
zuela estaria desrespeitando, segundo os três países.
centro da Ásia. A rapidez com que tem se modernizado
Por ela, para ser membro pleno do bloco, o país deve
e sua economia crescido, com formas peculiares em
ser uma democracia. Uma das alegações é de que a
termos político econômicos, estão alterando a correla-
democracia não é plena na Venezuela. Direitos políticos
ção de forças no mundo”.
estariam sendo violados. Como exemplo, cita-se a pri-
são de opositores pela máquina chavista que controla- VISENTINI, P. F. China, potência emergente: pivô da
ria o Judiciário. transformação mundial. In BRICs: as potências emer-
gentes. Vozes, RJ, 20l3. (Com adaptações)
Diante do impasse, a Venezuela declarou ter assumido
a presidência “pro tempore” do bloco. Os quatro países Tomando o texto como referência marque a alternativa
se reuniram e estabeleceram uma presidência compar- correta.
tilhada até o final de 2016. O Uruguai se absteve, não
foi a favor, nem contra essa decisão. a) A civilização chinesa evoluiu ao longo de sua história
para um estado descentralizado, tendo como sistema
Foi estabelecido um prazo para que a Venezuela cum- econômico o socialismo e orientação religiosa funda-
prisse com regras do bloco que ainda estão pendentes. mentalista.
O prazo se encerrou em dois de dezembro. Como a Ve-
nezuela não se adequou às normas pendentes, foi sus- b) A geografia da China é marcada pela homogenei-
pensa do bloco econômico. Com a suspensão, perdeu dade entre Norte e Sul e seus característicos campos
o direito de voto. de arroz que permanecem alagados por quase todo o
ano.
Gabarito: D
c) No período pós-guerra a China manteve estreita rela-
ção com a Coréia do Sul, pois necessitava de ajuda
econômica e militar.
4) {CESPE/CAIXA – MÉDICO DO TRABALHO) No Rio
de Janeiro, quatro dias após ser atingido na cabeça por d) A República Popular da China continua afirmando
um rojão quando trabalhava na cobertura de manifesta- sua inserção mundial, apesar das fragilidades de suas
ção contra o aumento de passagens de ônibus, o cine- instituições, político-sociais internas e sua moeda.
grafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade teve a
morte confirmada. Enquanto isso, na contramão de ou- e) A China tem estreitado relações com os países vizi-
tras regiões, países africanos reforçam perseguição a nhos, consolidando sua ascendência na Ásia, ao
homossexuais com novas leis. Aliás, a ausência de go- mesmo tempo em que vem substituindo os EUA em
vernantes de países importantes na abertura dos Jogos parcerias comerciais regionais.
de Inverno de Sochi foi entendida como uma espécie COMENTÁRIOS:
de boicote a Vladimir Putin pelo modo como seu governo
vem lidando com os direitos humanos. No campo das Incorreta. A partir de 1949, até o presente, implantou-
comunicações, o poder da rede mundial de computado- se na China um regime centralizado, sob o comando do
res como instrumento de consciência política e de arre- Partido Comunista Chinês (PCCh) e tendo como sis-
gimentação para protestos tem levado dezenas de tema econômico o socialismo. O regime não possui ne-
nhuma orientação religiosa. Na China, o governo
13
Conhecimento Geral e Atualidade
permite um grau limitado de liberdade religiosa, porém a enorme crescimento econômico do país, o mais popu-
tolerância oficial só é estendida aos membros de organi- loso e a segunda economia do planeta.
zações religiosas aprovadas pelo Estado e não para
Assinale a alternativa que indica a cidade e o país a que
aqueles que são adeptos de outras religiões. Boa parte
o texto faz referência.
da população é agnóstica e não professa nenhuma
crença religiosa. a) Déli, Índia.
Incorreta. O relevo da China é variado e complexo, com b) Pequim, China.
planaltos, planícies, depressões, chapadas, serras, cor-
dilheiras, etc. O país é físico, social, econômico e cultu- c) Moscou, Rússia.
ralmente muito diversificado. d) Hong Kong, Taiwan.
Incorreta. No período pós-guerra e nos dias atuais a e) Tóquio, República Popular da China.
China mantémestreita relação com a Coréia do Norte,
país que necessita da ajuda econômica e militar chi- COMENTÁRIOS:
nesa. A China é a segunda economia do planeta. O seu Pro-
Incorreta. O que não há na China é a democracia, to- duto Interno Bruto (PIB) cresce anualmente a altas ta-
davia isso nãosignifica que as instituições político-soci- xas. O vertiginoso crescimento chinês traz consigo uma
ais são frágeis. A moeda chinesa – o Yuan – é forte e série de problemas sociais e ambientais. A poluição é
estável. um deles, sendo considerado um problema que se não
for minimizado, poderá afetar o nível do crescimento
Correta. A China é uma potência econômica mundial, é chinês. Nas grandes cidades, como Pequim, a poluição
o segundo maior PIB do mundo. O país tem estreitado do ar é um grave problema ambiental e de saúde pú-
relações com os países vizinhos, consolidando sua as- blica.
cendência na Ásia, ao mesmo tempo em que vem subs-
tituindo os Estados Unidos em parcerias comerciais re- Gabarito: B
gionais.
Gabarito: E 8) {VUNESP/SAP SP – AGENTE DE ESCOLTA E VI-
GILÂNCIA PENITENCIÁRIA) A crise econômica que
atingiu os países europeus no ano passado levou a es-
6) {FCC/CAIXA – MÉDICO DO TRABALHO) Embora peculações, no final de 2012, sobre o fim do Euro. A ado-
pertencentes à União Europeia, alguns países não ade- ção da moeda única, dez anos antes, teve como obje-
riram à Zona do Euro, razão pela qual mantêm suas tivo
próprias moedas oficiais. É o caso
a) facilitar a circulação de turistas entre os países euro-
a) da lira italiana. peus, eliminando a necessidade das trocas de moedas.
b) do xelim austríaco. b) agrupar os países com moedas fracas, dando-lhes
condições de competir com nações com moedas está-
c) do marco alemão.
veis.
d) da libra esterlina.
c) reforçar o caixa dos bancos internacionais
e) do dracma grego. responsáveis pelos empréstimos aos países
do Terceiro Mundo.
COMENTÁRIOS:
d) facilitar o comércio europeu, gerar empregos, facili-
A União Europeia é uma união econômica e monetária,
tar o intercâmbio e a ajuda aos países membros.
com 28 países membros. O Euro, moeda única do bloco
não é adotada por todos os países. e) Disponibilizar aos países europeus menos desenvol-
vidos maior volume de recursos para programas soci-
Zona do Euro – 19 países: Alemanha, Áustria, Bélgica,
ais.
Chipre, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Fin-
lândia, França, Grécia, Holanda, Letônia, Lituânia, Re- COMENTÁRIOS:
pública da Irlanda, Itália, Luxemburgo, Malta e Portugal.
O euro é a moeda única de 19 dos 28 países que compõe
O Reino Unido NÃO faz parte da Zona do Euro, a sua
a União Europeia. A adoção da moeda única em 2002
moeda é a libra esterlina.
teve como objetivo facilitar o comércio europeu, gerar
Gabarito: D empregos, facilitar o intercâmbio e a ajuda aos países
membros.
O euro facilita as viagens, contribui para a solidez das
7) {FEPESE/DPE SC – TÉCNICO ADMINISTRATIVO)
finanças públicas, aumenta a transparência dos preços,
Notícias dão conta de que uma grande cidade de um
elimina os custos de câmbio da moeda, melhora o fun-
país asiático sofreu, em um recente final de semana,
cionamento da economia europeia, facilita o comércio
com o pior nível de qualidade do ar já registrado em sua
internacional, contribui para gerar mais empregos, na
história. Os índices de poluição chegaram a ser 30 a 40
ajuda aos países membros e confere à União Europeia
vezes mais elevados do que os recomendados.
uma voz mais forte nos fóruns internacionais.
O desastre, certamente, guarda íntima relação com o
14
Conhecimento Geral e Atualidade
Como União Europeia, o bloco nasce em 1992, com o países se unem para intensificarem o comércio intra-
Tratado de Maastricht, reunindo inicialmente 12 países. bloco e extrabloco, bem como, para terem uma inser-
Atualmente integram a comunidade ção mais competitiva no comércio mundial.
28 países. As palavras proferidas pelo presidente da Gabarito: Certo
Comissão Europeia, Romano Prodi, em 2004, na sole-
nidade de admissão de dez novos países, deixam claro
que a União Europeia foi criada com o objetivo de ofere- 14) O trecho final do texto remete à crescente participa-
cer ao bloco continental condições de inserir-se vanta- ção da China na economia mundial, decorrente, em es-
josamente na atual ordem econômica global: pecial, da modernização de sua economia, possibili-
tada, por sua vez, pela democratização das instituições
“Na nova ordem mundial, dominada por uma única su-
políticas do país, com a substituição do modelo autori-
perpotência e pela dinâmica da globalização, nosso fu-
tário comunista pela democracia representativa nos
turo depende de nossa capacidade para permanecer
moldes ocidentais.
unidos. Apenas seremos capazes de manter e desen-
volver a nossa independência no mundo, nossos valo- COMENTÁRIOS:
res e nosso modelo de desenvolvimento econômico,
político e social se estivermos unidos.” A China já é o segundo maior PIB do mundo. A sua
economia vem se modernizando rapidamente. O país
Gabarito: Certo não é uma democracia, é um regime autoritário, gover-
nado com mão de ferro pelo Partido Comunista Chinês
12) Para que haja mudanças nos tratados da UE, é ne-
(PCCh). Não há liberdade de imprensa, de opinião, de
cessária a aprovação unânime dos Estados que a inte-
manifestações e a internet é vigiada e censurada.
gram.
Gabarito: Errado
COMENTÁRIOS:
Para haver alteração em um tratado da União Europeia,
é necessária a aprovação unânime dos estados que a 15) {IESES/ALGÁS/2017 – ANALISTA DE PROJE-
integram. Toda a ação do bloco deriva de tratados vo- TOS ORGANIZACIONAIS - adaptada) A União euro-
luntária e democraticamente aprovados por todos os peia formada por 28
Estados- Membros.
{vinte e oito) países tem atualmente 05{cinco) deles
Gabarito: Certo que gastam mais do que arrecadam, batizados de
“piigs” que é a sigla no qual aglomeram as iniciais dos
países deficitários. São eles:
13) {CESPE/TJ RR – ADMINISTRADOR) A crise para-
a) Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha.
guaia acabou tendo efeito positivo sobre o Mercado Co-
mum do Sul {MERCOSUL), união aduaneira que tendia b) Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Suécia.
à irrelevância em um mundo em transição no que se
c) Polônia, Itália, Islândia, Grécia e San Marino.
refere à disputa de poder. Atualmente, são apenas qua-
tro os países- membros plenos do bloco, visto que um d) Polônia, Irlanda, Islândia, Grécia e Espanha.
deles, o Paraguai, foi suspenso. Há, ainda, outros paí-
ses associados, como Bolívia e Chile. A incorporação COMENTÁRIOS:
plena de outros Estados é sempre um procedimento A União Europeia é formada por 28 países. O bloco re-
complexo, não só tecnicamente, mas também do ponto gional foi fortemente atingido pela crise econômica
de vista político, como evidencia o processo de reco- mundial de 2008. Cinco países foram os mais afetados
nhecimento da Venezuela como membro pleno. O pela crise e eram chamados pela sigla “PIIGS”. São
maior desafio a ser enfrentado pelo bloco, contudo, não eles: Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Spain (Espanha).
diz respeito propriamente à sua expansão, por meio da
adesão de outros países, mas à ofensiva econômica Gabarito: A
chinesa sobre a América Latina.
Clóvis Rossi. A China e o despertar do MERCOSUL. In:
Folha de S. Paulo, 1.o/7/2012 (com adaptações).
Tendo o texto acima como referência inicial e conside-
rando os temas nele abordados, julgue o item.
O MERCOSUL evidencia uma das características da
economia globalizada dos tempos atuais, a de forma-
ção de blocos regionais ou continentais com o objetivo
de facilitar a inserção dos países-membros na atual
economia mundial, altamente competitiva.
COMENTÁRIOS:
Uma das características da atual economia globalizada
é a formação de blocos regionais ou continentais. Os
16
Conhecimentos
Específicos
História e Geografia
de Minas Gerais
Minas Gerais: dados gerais, mapa, história - Brasil Escola https://brasilescola.uol.com.br/imprimir/8336M
Conhecimentos Específicos - Hist. e Geogr. de Minas Gerais
Minas Gerais
Minas Gerais é o segundo estado mais populoso do Brasil. Concentra grandes áreas
industriais e aglomerados urbanos, além de ser importante na extração de recursos minerais.
O estado de Minas Gerais localiza-se na região Sudeste, a mais rica e mais populosa do país. Dessa maneira, Minas está
entre os estados mais ricos do Brasil, com cidades importantes para todo o território nacional, como:
Uberaba
Uberlândia
Ouro Preto
Região: Sudeste
Governo: eleito democraticamente, por meio de eleições diretas, ocupando o cargo por quatro anos, podendo ser
reeleito por igual período.
Gentílico: mineiro
A Caatinga marca sua presença no norte do estado, na divisa com a Bahia, em especial no Vale do Jequitinhonha. Essa
região sofre com a aridez do sertão, possuindo as cidades mais pobres do estado e muita similaridade com as paisagens
nordestinas, tanto em relação ao clima quanto ao relevo.
A Mata Atlântica é o segundo maior bioma do estado, sendo encontrada na parte oriental, nas divisas com Espírito
Santo e Rio de Janeiro. Bromélias, cipós, samambaias e orquídeas são comuns nesse bioma.
Já o Cerrado, maior bioma presente no estado, aparece em 50% do território mineiro, sendo berço de importantes bacias
hidrográficas que nascem em Minas Gerais, como a bacia do São Francisco e a do rio Jequitinhonha.
Em relação ao clima, apresenta variações do tropical, com temperaturas anuais médias na casa dos 18 ºC. Nas áreas
de maior altitude, há temperaturas anuais menores. No geral, o estado apresenta duas estações bem definidas: uma quente
e chuvosa, entre outubro e março, e outra mais seca e amena, entre abril e setembro.
Na hidrografia, o estado é conhecido com a caixa d’água do Brasil, devido ao grande armazenamento de água no território
e aos biomas. Os rios de destaque são:
rio Grande
rio Doce
rio Jequitinhonha
rio Paranaíba
rio Pardo
Já o relevo mineiro compreende áreas com altitudes que podem chegar a quase 2900 m, como a Serra do Caparaó, a
mais alta do estado, com pico de 2890 m de altitude. Grande parte de Minas Gerais está localizada no planalto atlântico,
região conhecida pelos mares de morros no Sudeste brasileiro. Planaltos e chapadas são bem comuns no estado.
No sudoeste de Minas, encontramos a mais famosa formação geológica, a Serra da Canastra, que abriga as nascentes
do rio São Francisco e o Parque Nacional da Serra da Canastra, importante ponto turístico e de preservação ambiental do
país.
Bahia, ao norte
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Hist. e Geogr. de Minas Gerais M
Goiás, a oeste
Observe o mapa:
Ainda de acordo com o governo mineiro, a quantidade de municípios em cada região está distribuída da seguinte maneira:
Central (158)
Jequitinhonha/Mucuri (66)
Mata (142)
Triângulo (35)
O fato de estar, geograficamente, no meio da região Sudeste fez com que Minas Gerais atraísse uma população ávida por
conquista e glória na descoberta de pedras preciosas, no século XVII. Essa avidez ainda vive nos mineiros, sempre
solidários com seus pratos de quitandas, com bolos, broas e o famoso pão de queijo.
Na culinária, o mineiro mistura ingredientes oriundos dos três povos que formaram a população de Minas e, também, de
grande parte do Brasil. Pratos com ingredientes indígenas, africanos e europeus permeiam a culinária desse estado, como
o feijão tropeiro, torresmo, angu de milho verde, paçoca de carne seca, entre outros.
Na arte barroca, nas modas sertanejas e/ou nas tradições indígenas e africanas, a população mineira molda seu caráter
ao longo do tempo, com a característica de ser um povo solícito e carismático.
Há forte presença industrial, em especial o ramo automobilístico. No agronegócio, o destaque fica por conta da
criação/produção de carne bovina, milho, leite e café.
Devido ao relevo acidentado, o estado conta com várias cachoeiras e parques, sendo o turismo um setor importante para
sua economia. Entre as cidades visitadas, chama atenção Ouro Preto, São João del Rei e Poços de Caldas.
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Minas Gerais: dados gerais, mapa, história - Brasil Escola https://brasilescola.uol.com.br/imprimir/8336M
Conhecimentos Específicos - Hist. e Geogr. de Minas Gerais
Quanto às rodovias estaduais, 22.286 km são pavimentados e 4.925,75 km ainda são de estradas de terra. Quanto às
federais (9.205 km), apenas 576,60 km não são pavimentados.
Pelo estado cruzam as principais rodovias federais do Centro–Sul brasileiro, sendo importantes vias de comunicação
entre os estados dessa região, além de servir como entreposto para a ida até estados nordestinos e nortistas.
Rodovias como a BR 381, conhecida como Fernão Dias, e a BR 040 revelam a posição geoestratégica do estado na ligação
entre zonas interioranas e áreas litorâneas brasileiras.
Guimarães Rosa
Na arte barroca, Aleijadinho encanta-nos ainda hoje com suas obras feitas há mais de dois séculos.
Para os amantes da história colonial brasileira, cidades históricas não faltam: Ouro Preto, Congonhas, Diamantina, São
João del Rei, Mariana, Tiradentes, sendo as três primeiras Patrimônio Mundial da Humanidade.
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6Minas Gerais: dados gerais, mapa, história - Brasil Escola https://brasilescola.uol.com.br/imprimir/8336
Conhecimentos Específicos - Hist. e Geogr. de Minas Gerais
Em Brumadinho, cidade na região metropolitana da capital Belo Horizonte, encontra-se o Museu de Inhotim, considerado
o maior museu a céu aberto do mundo.
Ainda no século XVIII, Minas Gerais observou rápido povoamento e surgimento de aglomerações urbanas devido à
exploração de recursos minerais, tornando-se um grande centro econômico do período colonial.
A alta cobrança de impostos por parte do governo português em relação aos recursos extraídos de Minas Gerais gerou uma
grande revolta popular no fim do século XVIII, originando o movimento que ficou conhecido como Inconfidência Mineira.
Nesse movimento, os seus idealizadores pregavam o rompimento das relações entre colônia e metrópole. Ainda hoje, a
bandeira do estado celebra tal feito, com a frase Libertas que sera tamem, que significa “Liberdade, ainda que tardia”.
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Minas Gerais: dados gerais, mapa, história - Brasil Escola https://brasilescola.uol.com.br/imprimir/8336
No século XIX, a introdução do plantio de café fez com que houvesse investimentos em infraestrutura, como ferrovias, e
propiciou o desenvolvimento industrial do estado. No entanto, foi com a produção alimentícia, em destaque a produção de
laticínios,que Minas Gerais ganhou força no cenário nacional no início do século XX, sendo o político mineiros
protagonistas da chamada “política do café com leite”, em alusão ao café paulista e ao leite mineiro.
7 of 7 6/21/2022, 5:56 PM
História
e Geografia
do Brasil
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História e Geografia do 117 Brasil
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APOSTILAS OPÇÃO História e Geografia do Brasil
Os empreendimentos marítimos portugueses são unidade de Incas e Astecas, e tinham de ser conquistados um
divididos em duas etapas distintas: por um. A existência de grupos não pacificados ou dominados
gerava uma grande perda para a economia local, pois os gastos
- Reconhecimento e exploração do litoral da África e com a defesa desses lugares eram muito grandes, além dos
procura de um novo caminho marítimo para o Oriente prejuízos gerados pelos ataques, como são os casos das
(Índias). A primeira foi iniciada pela tomada de Ceuta em 1415, Guerras de Arauco na região do Chile e as rebeliões no norte
um entreposto mercantil norte-africano até então controlado do México causados por Mixtecas.
pelos mouros (árabes). Nessa fase, durante a qual foram
fundadas várias feitorias na costa africana para traficar A Escravidão no Brasil
escravos e produtos locais (ouro, marfim, pimenta-vermelha), O domínio da América portuguesa se deu de forma muito
descobriram-se as ilhas atlânticas da Madeira, dos Açores e de diferente da América espanhola. O território brasileiro possuía
Cabo Verde; as ilhas Canárias foram descobertas em um uma grande variedade de povos indígenas, de diferentes
período anterior. culturas e costumes. É importante destacar a heterogeneidade
- “Périplo africano” (contorno do continente) - Com a dos povos que aqui viviam. Há uma estimativa de que no
conquista de Constantinopla pelos turcos em 1453, os preços momento do contato com os europeus viviam aqui entre 2 e 4
das especiarias orientais elevaram-se repentinamente, milhões de pessoas, que estariam, segundo alguns autores,
incentivando ainda mais a busca de uma rota para as Índias. divididos em mais de 1000 povos diferentes, que
Assim, com a morte do Infante D. Henrique (1460), que até desapareceram por conta de epidemias, conflitos armados e
então dirigira a expansão marítima portuguesa, o Estado luso desorganização social e cultural.
empenhou-se em completar o “périplo africano”. Nessa nova Para os portugueses o desafio foi diferente do enfrentado
etapa, destacaram-se as viagens de Bartolomeu Dias (Cabo das pelos espanhóis. A mão de obra indígena era indispensável
Tormentas ou Boa Esperança, em 1488) e de Vasco da Gama para as intenções mercantilistas de Portugal, que pretendia
(chegada a Calicute, na Índia, em 1498). Pouco depois a iniciar a produção da cana-de-açúcar para a produção do
esquadra de Pedro Álvares Cabral, que chegou ao Brasil, em açúcar voltada para a exportação para o mercado europeu.
1500. Isso gerava a necessidade da existência de uma grande
Já no século XVI, sob o comando do almirante Francisco de quantidade de mão de obra barata para gerar lucros.
Almeida, novas tentativas são desenvolvidas, mas somente por Apesar de serem considerados súditos da coroa e portanto,
volta de 1509 os portugueses vêm a conhecer suas vitórias não poderem ser escravizados, a legislação criada por Portugal
mais significativas. Entre esse ano e aproximadamente 1515, o permitia recursos legais para a prática da dominação das
comandante alm. D. Afonso de Albuquerque — considerado o populações nativas. Os grupos indígenas que sofreram o maior
formador do Império português nas Índias — passou a ter impacto da escravidão foram aqueles localizados no nordeste
sucessivas vitórias no Oriente, conquistas que atingiram desde do país, nas capitanias de Pernambuco e Bahia. Durante o
a região do Golfo Pérsico (Áden), adentraram a Índia (Calicute, período de 1540 a 1570 muitos colonos que habitavam as
Goa, Diu, Damão), a ilha do Ceilão (Sri Lanka) e chegaram até à citadas capitanias fizeram contato com indígenas da região e
região da Indochina, onde foi conquistada a importante Ilha de começaram a estabelecer trocas. Pelo fato de existirem muitos
Java. grupos indígenas no Brasil, existiam também muitas
diferenças e as guerras entre eles eram algo constante. Muitos
Conflito, Dominação e Resistência dos Indígenas dos prisioneiros feitos nesses conflitos eram trocados com os
portugueses, que os utilizavam como escravos.
Resistências à Escravidão Uma das formas de resistência indígena, consistia no
O processo de interação e dominação entre indígenas e isolamento, eles foram se deslocando para regiões mais
europeus começa com os primeiros contatos nas ilhas da pobres, onde o homem branco ainda não havia chegado. Isso
América Central em 1492. Lá foram implantados os permitiu que houvesse a preservação da herança biológica,
“repartimentos” que consistiam na distribuição de indígenas a social e cultural. Apesar de muitos índios terem se isolado, o
alguns espanhóis, conhecidos como encomendeiros, que número de mortos foi ainda maior. Estima-se que viviam no
tinham a função de cuidar e os catequizar na fé cristã, Brasil cerca de quatro milhões de índios quando os
ganhando em troca a mão de obra indígena. Em 1500 a coroa colonizadores chegaram, hoje em dia, segundo o IBGE, são
espanhola tornou os indígenas livres e não mais sujeitos a cerca de 817 mil índios1.
servitude. Ao mesmo tempo ainda era possível dominar e
escravizar indígenas através da chamada “Guerra Justa”, Ocupar, Dominar e Colonizar o Brasil
quando as ações dos espanhóis pudessem ser consideradas Os portugueses chegam ao Brasil em 22 de abril de 1500,
morais. com a esquadra de Pedro Alvares Cabral, iniciando o período
O impacto da escravidão das populações indígenas foi conhecido como Pré-Colonial.
imenso. Poucos anos após a chegada de Colombo em 1492 Durante os primeiros trinta anos o Brasil foi atacado pelos
grande parte da população nativa da América havia sido holandeses, ingleses e franceses que tinham ficado de fora do
dizimada por doenças e conflitos com europeus. Em 1512, Tratado de Tordesilhas (acordo entre Portugal e Espanha que
tentando regular o funcionamento das Encomiendas, surgiu a dividiu as terras recém descobertas em 1494). Os corsários ou
Lei de Burgos (primeiro código de leis que deveria guiar o piratas também saqueavam e contrabandeavam o pau-brasil,
comportamento os espanhóis na América, entre suas o que gerava medo por parte da coroa portuguesa em perder
diretrizes, estava a proibição ao mal trato indígena). Porém, a o território brasileiro para um outro país. Para tentar evitar
lei pouco adiantou, pois a ação intensiva dos encomendeiros e estes ataques, Portugal organizou e enviou ao Brasil as
a falta de fiscalização sobre suas ações não acabaram com as Expedições Guarda-Costas, porém com poucos resultados.
práticas de morte e trabalhos forçados. Os portugueses continuaram a exploração da madeira,
Apesar dos impérios americanos constituírem grande construindo feitorias no litoral que serviam em resumo como
parte do território de ação dos espanhóis, alguns grupos armazéns e postos de trocas com os indígenas.
autônomos renderam aos espanhóis grandes preocupações e No ano de 1530, o rei de Portugal, D. João III, organizou a
conflitos. Grupos como os Araucanos e Mixtecas, que viviam primeira expedição com objetivos de colonização efetiva,
nas fronteiras dos grandes impérios, não possuíam a mesma comandada por Martin Afonso de Souza. A intenção era povoar
1 https://indigenas.ibge.gov.br/graficos-e-tabelas-2.html
A chegada dos europeus revelou a eles um universo brasileira tornava impossível policiá-la integralmente e
completamente novo, de tecnologias, animais e modo de impedir o tráfico por contrabandistas.
pensar. Pero Vaz de Caminha, o escrivão daquela empreitada Indiretamente a concorrência entre franceses e
descreve a curiosidade dos nativos ao conhecerem a galinha. portugueses deixou marcas na costa brasileira. Foram
“Quase tiveram medo dela – não lhe queriam tocar, para logo construídas fortificações por ambas as facções nos trechos
depois tomá-la, com grande espanto nos olhos”. mais ricos e proveitosos para servir de proteção em caso de
O fim da extração do pau-brasil não livrou a espécie do ataque e para armazenamento do pau-brasil à espera do
perigo de extinção. As atividades econômicas subsequentes, embarque. As fortificações não duravam muito, apenas alguns
como o cultivo da cana-de-açúcar e do café, além do meses, o necessário para que se juntasse a madeira e se
crescimento populacional, estiveram aliadas ao embarcasse.
desmatamento da faixa litorânea, o que restringiu A exploração do pau-brasil era uma atividade que tinha
drasticamente o habitat natural desta espécie. Mas sob o necessariamente de ser nômade, pois a floresta era explorada
comando do Imperador Dom Pedro II, vastas áreas de Mata intensivamente e rapidamente se esgotava, não dando origem
Atlântica, principalmente no estado do Rio de Janeiro, foram a nenhum núcleo de povoamento regular e estável.
recuperadas, e iniciou-se uma certa conscientização
preservacionista que freou o desmatamento. Entretanto, já se A Colonização Acidental do Brasil
considerava o pau-brasil como uma árvore praticamente
extinta. * A respeito da “colonização acidental” do Brasil, fique
atento. Normalmente ela é contextualizada em duas situações:
As Feitorias - A primeira e menos comumente cobrada é a respeito da
História de Diogo Álvares Correa, o quase folclórico Caramuru.
Durante o período pré-colonial não teremos a fundação de Nessa linha, acredita-se que desde o seu naufrágio (1510) e
cidades, apenas a instalação de feitorias. Era o nome dado aos estabelecimento entre os Tupinambás da Bahia, foi iniciado
entrepostos comerciais europeus em territórios estrangeiros. gradativamente o processo colonizador, mesmo que não
Inicialmente estabelecidas nos diferentes estados na Europa intencional. Caramuru estabeleceu família, e oferecia
medieval, foram mais tarde adaptadas às possessões coloniais. facilidades a negociadores estrangeiros que ao Brasil
Uma feitoria podia ser desde uma simples casa até um chegavam. O mesmo ocorreu com João Ramalho, que tinha as
conjunto de equipamentos e estruturas militares ou de mesmas características, porém viveu na região de São Vicente
acolhimento e manutenção de navios, no caso do Brasil pré- entre os índios Guaianá.
colonial o principal objetivo era o armazenamento do pau- - A segunda entende que todos os esforços anteriores a
brasil. 1530 (experiências com feitorias, missões guarda-costas)
“acidentalmente” iniciaram a colonização do Brasil. É
As Primeiras Expedições considerada acidental porque apenas após o envio de Martín
Afonso de Souza, a experiência das Capitanias e o Governo
As principais expedições marítimas portuguesas enviadas Geral é que o governo português realmente mostrou intenção
ao Brasil após a passagem da esquadra de Pedro Álvares de colonizar o território.
Cabral, e chamadas de expedições exploratórias foram:
Expedição de Gastar de Lemos (1501) – explorou E é justamente a instabilidade e a insegurança do domínio
grande parte do litoral brasileiro e deu nome aos principais português sobre o Brasil que estão na origem direta da
acidentes geográficos então encontrados (ilhas, cabos, rios, expedição de Martim Afonso de Sousa, nobre militar lusitano,
baías). Esses batismos aconteciam conforme o santo de cada e a posterior cessão dos direitos régios a doze donatários sob
dia e as festas religiosas comemoradas na época. Assim, o sistema das capitanias hereditárias. Em 1530, D. João III
surgiram nomes como Ilha de São Vicente, Cabo de São Rock, mandou organizar a primeira expedição com objetivos de
rio São Francisco, Ilha de São Sebastião, etc. colonização.
Participava da tripulação o experiente navegador Esta tinha como objetivos: povoar o território brasileiro,
florentino Américo Vespúcio, que verificou a existência de expulsar os invasores e iniciar o cultivo de cana-de-açúcar no
grande quantidade de pau-brasil em longas faixas do litoral, o Brasil.
que provocou contentamento em diversos comerciantes. Não bastando o risco de invasão, os portugueses não
Expedição de Gonçalo Coelho (1503) – organizada a alcançaram o lucro esperado com a construção de uma rota
partir de um contrato entre a Coroa e ricos comerciantes de marítima que os ligassem diretamente às Índias. O desgaste
olho no pau-brasil, dentre os quais se destacava Fernão de causado pelo longo percurso e a concorrência comercial de
Noronha. outros povos acabou fazendo com que o comércio com o
Esse contrato tinha essencialmente duas cláusulas: enviar Oriente não fosse muito atrativo. Desse modo, o governo
seis navios anualmente ao Brasil para explorar até trezentas português voltaria suas atenções para a exploração do espaço
léguas do seu litoral e construir feitorias destinadas à proteção colonial brasileiro.
do litoral, mantendo-as pelo prazo de três anos. Para Portugal
a construção de feitorias significava a proteção da terra, Questões
medida fundamental já que diversos estrangeiros visitavam a
costa brasileira. 01. (ESPCEX - Aman) “Os primeiros trinta anos da
Expedição de Cristóvão Jacques (1516 e 1520) – essas História do Brasil são conhecidos como período Pré-Colonial.
expedições foram chamadas de guarda-costas ou de Nesse período, a coroa portuguesa iniciou a dominação das
policiamento, já que o objetivo era vigiar o litoral terras brasileiras, sem, no entanto, traçar um plano de
especialmente temendo uma invasão francesa. Durante o ocupação efetiva. […] A atenção da burguesia metropolitana e
século XVI, franceses e portugueses tiveram vários confrontos do governo português estavam voltados para o comércio com
disputando o comércio do pau-brasil. o Oriente, que desde a viagem de Vasco da Gama, no final do
Tinham um caráter basicamente militar, pois sua missão século XV, havia sido monopolizado pelo Estado português.
era aprisionar os navios franceses que sem pagar tributos à […] O desinteresse português em relação ao Brasil estava em
Coroa Portuguesa retiravam enormes quantidades de pau- conformidade com os interesses mercantilistas da época,
brasil do nosso litoral. O resultado alcançado por essas como observou o navegante Américo Vespúcio, após a
expedições foi pouco significativo. A grande extensão da costa
exploração do litoral brasileiro, pode-se dizer que não com recursos particulares sem que a coroa tivesse que investir
encontramos nada de proveito”. dinheiro.
Berutti, 2004. O regime de capitanias já havia sido aplicado com êxito nas
ilhas atlânticas (Madeira, Açores, Cabo Verde e São Tomé) e no
Sobre o período retratado no texto, pode-se afirmar que próprio Brasil já existia a capitania de São João,
o(a) correspondente ao atual arquipélago de Fernando de Noronha.
(A) desinteresse português pelo Brasil nos primeiros anos O território brasileiro foi dividido em 14 capitanias e
de colonização, deu-se em decorrência dos tratados doadas a doze donatários. Os limites de cada território
comerciais assinados com a Espanha, que tinha prioridade definido sempre por linhas paralelas iniciadas no litoral,
pela exploração de terras situadas a oeste de Greenwich. estavam especificados na Carta de Doação. Este documento
(B) maior distância marítima era a maior desvantagem estipulava que a capitania seria hereditária, indivisível e
brasileira em relação ao comércio com as Índias. inalienável, podendo ser readquirida somente pela Coroa.
(C) desinteresse português pode ser melhor explicado pela Nesse processo havia um segundo documento: o Foral,
resistência oferecida pelos indígenas que dificultavam o que regulamentava minuciosamente os direitos do rei. Na
desembarque e o reconhecimento das novas terras. realidade, os donatários não recebiam a propriedade das
(D) abertura de um novo mercado na América do Sul, capitanias, mas apenas sua posse. Ainda assim possuíam
ampliava as possibilidades de lucro da burguesia amplos poderes administrativos, militares e judiciais,
metropolitana portuguesa. respondendo unicamente ao soberano. Tratava-se portanto de
(E) relativo descaso português pelo Brasil, nos primeiros um regime administrativo descentralizado.
trinta anos de História, explica-se pela aparente inexistência São Vicente e Pernambuco foram as únicas capitanias que
de artigos (ou produtos) que atendiam aos interesses daqueles prosperaram. O fracasso do projeto como um todo decorreu de
que patrocinavam as expedições. vários fatores: falta de coordenação entre as capitanias, grande
distância da metrópole, excessiva extensão territorial, ataques
Gabarito indígenas, desinteresse de vários donatários e, acima de tudo,
insuficiência de recursos.
01.E Motivado por esses fracassos, a saída encontrada pelo rei
foi uma mudança na forma de administrar a colônia, com a
BRASIL COLONIAL criação do Governo-Geral.
As capitanias hereditárias não desapareceram de uma vez
Da Organização da Colônia ao Governo Geral com a criação do Governo-Geral, elas foram gradualmente
readquiridas pela Coroa até serem totalmente extintas, na
A organização colonial mostrada aqui é aquela a partir de segunda metade do século XVIII pelo Marquês de Pombal.
1530, após o chamado período pré-colonial. É o período após
o envio da expedição de Martin Afonso de Souza com a * A relação de propriedades e nomes dos donatários e suas
intenção de policiar, ocupar e explorar efetivamente o capitanias já não é alvo de questões (é mais pedida em
território brasileiro, aceito como início real da colonização. vestibulares do que em concursos). De qualquer forma a lista
segue abaixo. Sugiro que foquem sua atenção mais nas
As Capitanias Hereditárias características e motivos do fracasso do que na relação
capitania-donatário.
Governo Geral
Em compensação, o terceiro governador-geral, Mem de Sá, era mais aberta, mais heterogênea e marcada por uma relativa
mostrou-se tão eficiente que a metrópole o manteve no cargo mobilidade social, portanto mais avançada em relação à
até sua morte. Foi ele quem conseguiu expulsar os invasores sociedade rural e escravista dos séculos XVI e XVII.
franceses, com ajuda de seu sobrinho Estácio de Sá. Os folguedos (festas populares) das camadas mais pobres
Depois de Mem de Sá, por duas vezes a colônia foi dividida conviviam com os saraus e outros eventos sociais da camada
temporariamente em dois governos-gerais: a primeira teve dominante. Com relação a esta, o hábito de se locomover
como divisão a Repartição do Norte, com capital em Salvador, em cadeirinhas ou redes transportadas por escravos,
e a do Sul, com capital no Rio de Janeiro. evidencia o aparecimento do escravo urbano, com destaque
A segunda divisão foi durante a União Ibérica3, onde o para os chamados negros de ganho5.
Brasil foi transformado em duas colônias distintas: Estado do
Brasil (cuja capital era Salvador e, depois, Rio de Janeiro) e Escravos e homens livres na Colônia
Estado do Maranhão (cuja capital era São Luís e, depois, No Brasil colonial a mão de obra escrava foi utilizada
Belém). A reunificação só seria concretizada pelo Marquês de amplamente. A escravidão está presente na formação do país,
Pombal, em 1774. desde os índios aos negros que chegavam em navios, a
Além das Capitanias e do Governo-Geral, as Câmaras utilização do trabalho escravo se deu pela intenção de
Municipais nas vilas e nas cidades desempenhavam papel maximizar lucros através da super exploração do trabalho e do
menor na administração do Brasil colonial. O controle das trabalhador. Apesar da ampla utilização do trabalho escravo,
Câmaras Municipais era exercido pelos grandes proprietários este não foi o único. Uma parte da sociedade era livre,
locais, conhecidos como "homens-bons". Entre suas composta de trabalhadores livres, que no início eram apenas
competências, destacavam-se a autoridade para decidir sobre os portugueses condenados ao exílio na América como
preços de mercadorias e a fixação dos valores de alguns punição.
tributos. Ser livre, mas pertencer ao último estamento social na
As eleições para as Câmaras Municipais eram realizadas colônia significava apenas não ser escravo. Mesmo sendo
entre os já citados homens-bons. Elegiam-se três vereadores, livres, os mais pobres eram marginalizados e tinham poucas
um procurador, um tesoureiro e um escrivão, sob a chances de ascensão sendo privados de exigir melhores
presidência de um juiz ordinário (juiz de paz). situações econômicas. No grupo de trabalhadores livres
estavam os desgredados portugueses, escravos forros
Sistema Colonial (libertos) e os pardos.
O cultivo do açúcar e os engenhos motivaram essa variação
Sociedade de posição dos trabalhadores livres, em que os senhores de
No topo da pirâmide social do período estavam os engenhos consideravam estar no topo da sociedade. A divisão
senhores de engenho. Eles dominavam a economia e a política, da terra através das sesmarias6 beneficiava os mais abastados
exercendo poder sobre sua família e sobre outras pessoas que que se tornavam os grandes proprietários e arrendavam uma
viviam em seus domínios sob sua proteção – os agregados. Era parte para colonos que não possuíam condições para ter sua
a chamada família patriarcal. própria terra, denominando assim os senhores de engenhos
Na camada intermediária estavam os homens livres, como (produtores de açúcar) e os agricultores (produtores de cana).
religiosos, feitores, capatazes, militares, comerciantes, As relações entre senhores de engenho e agricultores, unidos
artesãos e funcionários públicos. Alguns possuíam terras e pelo interesse e pela dependência em relação ao mercado
escravos, porém não exerciam grande influência internacional, formaram o setor açucareiro.
individualmente, principalmente em relação à economia.
Na base estava a maior parte da população, que era A Resistência à Escravidão
composta de africanos e índios escravizados (sendo os índios Onde quer que tenha existido escravidão, houve
a primeira tentativa de escravidão). Os escravos não eram resistência escrava. No Brasil os escravizados criaram diversas
vistos como pessoas com direito a igualdade. Eram maneiras de resistência ao sistema escravista durante os
considerados propriedade dos senhores e faziam quase quatro séculos em que a escravidão existiu entre nós. A
praticamente todo o trabalho na colônia. Os escravos nas resistência poderia assumir diversos aspectos: fazer “corpo
zonas rurais não tinham nenhum direito na sociedade e mole” na realização das tarefas, sabotagens, roubos,
começavam a trabalhar desde crianças. sarcasmos, suicídios, abortos, fugas e formação de quilombos.
A sociedade colonial brasileira foi um reflexo da própria Qualquer tipo de afronta à propriedade senhorial por parte do
estrutura econômica, acompanhando suas tendências e escravizado deve ser considerada como uma forma de
mudanças. Suas características básicas entretanto, definiram- resistência ao sistema escravista.
se logo no início da colonização segundo padrões e valores do As motivações que levavam um escravizado a fugir eram
colonizador português. Assim, a sociedade do Nordeste variadas e nem todas as fugas tinham por objetivo se livrar do
açucareiro do século XVI, essencialmente ruralizada, domínio senhorial. De forma contrária, às vezes, o escravizado
patriarcal, elitista, escravista e marcada pela imobilidade fugia à procura de um outro senhor que o comprasse; caso o
social, é a matriz sobre a qual se assentarão as modificações seu senhor não aceitasse a negociação, ele poderia continuar
dos séculos seguintes4. fugindo e, portanto, dando prejuízos e maus exemplos, até que
No século XVIII, a sociedade brasileira conheceu seu senhor resolvesse vendê-lo.
transformações expressivas. O crescimento populacional, a Era comum a fuga por alguns dias, quando em geral o
intensificação da vida urbana e o desenvolvimento de outras escravizado ficava nas imediações da moradia de seu senhor,
atividades econômicas para atender a essa nova realidade, às vezes para cumprir obrigações religiosas, outras para
resultaram indubitavelmente da mineração. Embora ainda visitar parentes separados pela venda, outras ainda, para fazer
conservasse o seu caráter elitista, a sociedade do século XVIII algum “bico” e, com o dinheiro, completar o valor da alforria.
diretos, o trono português foi ocupado provisoriamente por seu tio-avô. Após seu 6 Sesmarias nada mais eram do que pedaços de terra doados a beneficiários
falecimento, Felipe II, rei da Espanha e tio de D. Sebastião assume o trono para que estes a cultivassem. Assim como no exemplo das capitanias, a posse real
português. Esse período durou 60 anos (1580 – 1640). Ele influenciou ainda era da Coroa e os beneficiários, deviam cumprir uma série de exigências para
definitivamente as relações entre Portugal e Espanha e alterou de forma marcante garantir sua posse. Diferentemente das capitanias, ela não podiam ser divididas
nosso território originalmente definido pelo Tratado de Tordesilhas. em novos lotes.
7 OLIVEIRA, M. B. AMANDA. Ação educacional jesuítica no Brasil colonial. 8 MOREIRA, S. ANTONIA. Intolerância Religiosa em Acapare. UNILAB.
seus elementos.
voltados à exportação.
tamanho das datas era reduzido. Normalmente as datas eram preando índios ou comercializando as ervas do sertão), as
lotes com no máximo 50 metros de largura. entradas eram expedições financiadas pela Coroa,
No início da atividade mineradora foi estabelecido um normalmente composta por soldados portugueses e
imposto para as pessoas que se dedicavam à extração: o brasileiros. Embora o objetivo inicial fosse mapear o território
quinto. Correspondia a 20% do ouro extraído, que deveria ser brasileiro e facilitar a colonização, as entradas também
pago para a Coroa. Como era difícil determinar se uma barra envolviam-se em conflitos com os índios (principalmente
ou saca de ouro havia sido ou não quintada, a sonegação era aqueles que apresentavam resistência) e, como era de se
uma pratica fácil de ser realizada. esperar, também lucravam com isso.
Com o objetivo de regularizar a cobrança, foi criado um
imposto adicional chamado finta11 que não funcionou como A Caça ao Índio
planejado e acabou sendo extinto. Para resolver o problema o Inicialmente a caça ao índio (preação) foi uma forma de
governo criou as Casas de Fundição, das quais a mais famosa suprir a carência de mão-de-obra para a prestação de serviços
foi a de Minas Gerais, inaugurada em 1725. domésticos aos próprios paulistas. Porém logo transformou-se
Nas casas de fundição o minerador entregava seu ouro, que em atividade lucrativa, destinada a complementar as
era fundido e transformado em barras, das quais era necessidades de braços escravos, bem como para a triticultura
descontado o quinto. Após as Casas de Fundição, também foi (cultura do trigo) paulista.
proibida a comercialização e exportação de ouro em pó. É Na primeira metade do século XVII os vicentinos
possivelmente dessa época o surgimento dos “Santos do pau (bandeirantes da Vila de São Vicente) realizaram incursões
oco” (imagens de santos esculpidas por dentro e preenchidas principalmente contra as reduções jesuíticas espanholas,
com ouro em pó, para fugir da fiscalização e da cobrança). resultando na destruição de várias missões, como as do Guairá,
Em 1735 a Coroa começou a cobrar um novo imposto, a Itatim e Tape, por Antônio Raposo Tavares. Nesse período, os
Capitação. Era um imposto per capita, pago em ouro pelas holandeses, que haviam ocupado uma parte do Nordeste
pessoas e estabelecimentos comerciais da área mineradora. açucareiro, também conquistaram feitorias de escravos
Em 1750 a capitação foi extinta, restando apenas o quinto. negros na África, aumentando a escassez de escravos africanos
Apesar disso, era exigida uma arrecadação mínima de 100 no Brasil.
arrobas de ouro por ano. Caso não fosse atingida a arrecadação
era decretada a derrama: cobrança da quantidade que faltava O Bandeirismo de Contrato
para completar as 100 arrobas de arrecadação. A ação de bandeirantes paulistas contratados pelo
Conforme as jazidas foram se esgotando, a produção de governador-geral ou por senhores de engenho do Nordeste
ouro caiu assim como a arrecadação de impostos. As suspeitas com o objetivo de combater índios inimigos e destruir
de sonegação de impostos e a violência da Intendência quilombos, corresponde a uma fase do bandeirismo na
aumentaram juntamente, gerando atritos e conflitos entre segunda metade do século XVII. O principal acontecimento
autoridades e mineradores, uma das causas da Inconfidência desse ciclo de bandeiras foi a destruição de um conjunto de
Mineira de 1789. quilombos situados no Nordeste açucareiro, conhecido
Para a extração do ouro foram organizados dois tipos de genericamente como Palmares.
empreendimentos: lavras e faiscações. A atuação do bandeirismo foi de fundamental importância
As lavras eram unidades de produção relativamente para a ampliação do território português na América. Num
grandes, podendo até possuir equipamento especializado e o espaço muito curto os bandeirantes devassaram o interior da
trabalho de mais de 100 escravos, o que exigia o investimento colônia explorando suas riquezas e arrebatando grandes áreas
de alto capital, sendo rentável apenas em jazidas de ouro de do domínio espanhol, como é o caso das missões do Sul e
tamanho suficientemente grande. Sudeste do Brasil.
Nas faiscações, que eram pequenas unidades produtoras, Antônio Raposo Tavares, depois de destruí-las, foi até os
trabalhavam somente algumas pessoas (por vezes eram até limites com a Bolívia e Peru atingindo a foz do rio Amazonas,
mesmo compostas de trabalhadores individuais). Era comum completando assim o famoso périplo brasileiro. Por outro lado,
a prática do envio de escravos por homens livres para os bandeirantes agiram de forma violenta na caça de indígenas
faiscação, sendo o ouro encontrado dividido entre ambos. e de escravos foragidos, contribuindo para a manutenção do
sistema escravocrata que vigorava no Brasil Colônia.
Expansões Geográficas
Conquistas e Tratados
Entradas e bandeiras, conquista e colonização do nordeste, Fato curioso na ação das bandeiras e entradas é que eles
penetração na Amazônia, conquista do Sul, Tratados e limites. não tinham real noção do tamanho do nosso território. Era
comum pensarem que se adentrassem o suficiente, logo
Bandeiras e Bandeirantes chegariam às colônias espanholas. As necessidades
As bandeiras, tradicionalmente definidas como expedições econômicas (que já falamos acima) levaram os portugueses a
particulares, em oposição às entradas, de caráter oficial, adentrar muito mais do que o combinado no Tratado de
contribuíram decisivamente para a expansão territorial do Tordesilhas e posteriormente obrigou os governos a
Brasil Colônia. A pobreza de São Paulo, decorrente do fracasso reconhecerem novos acordos.
da lavoura canavieira no século XVI, a possibilidade da No século XVII um evento ajudou para que essa expansão
existência de metais preciosos no interior e particularmente, a ocorresse sem maiores problemas. Trata-se da União Ibérica.
necessidade de mão-de-obra para o açúcar nordestino durante Para a expansão territorial brasileira isso foi ótimo. Primeiro
a União Ibérica, levaram os paulistas a organizar a caça ao por estreitar as relações entre colônias portuguesas e
índio, o bandeirismo de contrato e a busca mineral. espanholas e depois por, quando dos portugueses adentrarem
o território além do estabelecido não encontrarem nenhum
As entradas tinham uma origem diferente, porém com problema, afinal os espanhóis entendiam que o seu povo
finalidade semelhante à dos bandeirantes. Enquanto o estava povoando a sua terra.
movimento das bandeiras tratava-se de uma expedição Os limites estabelecidos em Tordesilhas foram tão
particular (normalmente financiada pelos próprios paulistas) alterados e de forma tão definitiva (várias novas colônias já
com objetivo de obter lucros (encontrando metais preciosos, haviam sido estabelecidas) que um novo acordo sobre os
limites territoriais entre Portugal e Espanha foi estabelecido: possuíam um objetivo em comum: derrotar os colonizadores
o Tratado de Madri (1750). Em resumo ele reconhecia que a portugueses.
maioria do território desbravado pertencia a Portugal, Em 1555 os franceses fundaram na baía de Guanabara a
baseado no princípio da posse por uso. França Antártica, criando uma sociedade de influências
No período colonial, que dura até o ano de 1815 quando protestantes. Através dos franceses, algumas partes do litoral
o Brasil é elevado à categoria de Reino Unido de Portugal e brasileiro ganharam diversas feitorias e fortes.
Algarves, ainda teremos o início dos conflitos da Cisplatina Por aproximadamente cinco anos ocorreram conflitos
(1811 – 1828) – disputa entre Portugal e Espanha em torno da entre os portugueses e a Confederação dos Tamoios. Em 1567
fronteira do RS devido às pretensões espanholas de controlar os portugueses derrotaram a Confederação e expulsaram os
o rio da Prata -. Porém esse conteúdo é mais comumente franceses do litoral brasileiro, o que não desencorajou os
pedido dentro do período imperial, talvez pelo seu final ter ideais franceses.
sido após 1822. No século XVII (1612), fundaram a França Equinocial,
correspondente à cidade de São Luís, capital do estado do
União Ibérica Maranhão.
Em 1578, na luta contra os mouros marroquinos em Com a intenção de conter a expansão francesa, Portugal
Alcácer-Quibir, o rei D. Sebastião de Portugal, desapareceu. enviou uma expedição militar à região do Maranhão. Essa
Com isso teve início uma crise sucessória do trono português, expedição atacou os franceses tanto por terra quanto por mar.
já que o rei não deixou descendentes. O trono foi assumido por Em 1615, foram derrotados e se retiraram do Maranhão,
um curto período de tempo por seu tio-avô, o cardeal Dom deslocando-se para a região das Guianas onde fundaram uma
Henrique, que morreu dois anos depois, sem deixar herdeiros. colônia, a chamada Guiana Francesa.
Logo após, Filipe II da Espanha e neto do falecido rei Após duas tentativas mal sucedidas de estabelecimento de
português D. Manuel I, demonstrou o interesse em assumir o uma civilização francesa no Brasil colonial, os franceses
trono português. Para alcançar o poder, além de se valer do passaram a saquear através de corsários (piratas), algumas
fator parental, o monarca hispânico chegou a ameaçar os cidades do litoral brasileiro no século XVIII. A principal delas
portugueses com seus exércitos para que pudesse exercer tal foi a cidade do Rio de Janeiro, de onde escoava todo ouro
direito. Assim foi estabelecida a União Ibérica, que marca a extraído da colônia rumo a Portugal. Uma primeira tentativa
centralização de Portugal e Espanha sob um mesmo governo. de saque, em 1710, foi barrada pelos portugueses; entretanto,
A vitória política de Filipe II abriu oportunidade para que no ano de 1711, piratas franceses tomaram a cidade do Rio de
as finanças de seu país pudessem se recuperar após diversos Janeiro e receberam dos portugueses um alto resgate para
gastos em conflitos militares. Para tanto, tinha interesse em libertá-la: 600 mil cruzados, 100 caixas de açúcar e 200 bois.
estabelecer o comércio de escravos com os portugueses que Terminavam, então, as tentativas de invasões francesas no
controlavam a atividade na costa africana. Além disso, o Brasil.
controle da maior parte das possessões do espaço colonial
americano permitiria a ampliação dos lucros obtidos através Invasões Inglesas
da arrecadação tributária. As incursões inglesas no Brasil ficaram restritas a ataques
Apesar das vantagens, o imperador espanhol manteve uma de piratas e corsários.
significativa parcela dos privilégios e posições ocupadas por William Hawkins foi o primeiro corsário inglês a aportar
comerciantes e burocratas portugueses. na colônia. Entre 1530 e 1532, percorreu alguns pontos da
Mesmo preservando aspectos fundamentais da costa e fez escambo de pau-brasil com os índios. Outro foi
colonização lusitana, a União Ibérica também foi responsável Thomas Cavendish, que atracou em Santos em 1591.
por algumas mudanças. Com a junção das coroas, as nações Conhecido como “lobo-do-mar”, Cavendish estava a serviço da
inimigas da Espanha passam a ver na invasão do espaço rainha inglesa Elizabeth I.
colonial lusitano uma forma de prejudicar o rei Filipe II. Desta O corso realizado pelos ingleses entretanto, intensificou-se
maneira, no tempo em que a União Ibérica foi vigente, ingleses, apenas na segunda metade do século XVI, quando os conflitos
holandeses e franceses tentaram invadir o Brasil. entre católicos e protestantes tornaram-se intensos na
Entre todas essas tentativas, podemos destacar Inglaterra e os mercadores empolgaram-se com as
especialmente a invasão holandesa, que alcançou o monopólio possibilidades comerciais abertas pelas novas rotas
da atividade açucareira em praticamente todo o litoral marítimas.
nordestino. No ano de 1640 a Restauração definiu a vitória A primeira incursão pirata dos ingleses ao litoral brasileiro
portuguesa contra a dominação espanhola e a consequente foi em 1587. Em 1595, o inglês James Lancaster conseguiu
extinção da União Ibérica. Ao fim do conflito, a dinastia de tomar o porto do Recife. Retirou grande volume de pau-brasil,
Bragança, iniciada por dom João IV, passou a controlar que levou para a Inglaterra depois de realizar saques na
Portugal. capitania durante mais de um mês.
12 Poderosa família que dos séculos XVI ao XX governaram diversos reinos na 13 A União de Utrecht foi um acordo assinado na cidade holandesa de Utrecht,
Europa, entre eles Áustria, Nápoles, Sicília e Espanha. em 23 de Janeiro de 1579, entre as províncias rebeldes dos Países Baixos - naquele
tempo em conflito com a coroa espanhola durante a guerra dos 80 anos.
Portugal. Entre os principais motivos para esses movimentos ele foi enforcado, decapitado e esquartejado. Os outros
estavam: participantes foram condenados ao desterro na África.
- a alta cobrança de impostos;
- limites estabelecidos pelo Pacto Colonial que obrigava o Conjuração Baiana (1798)
Brasil de comercializar somente com Portugal; A conjuração Baiana, ou Revolta dos Alfaiates, assim
- a falta de autonomia e representação na criação de leis e como a Conjuração Mineira, foi influenciada pelos ideais
tributos, além da política dominada por Portugal; iluministas, em especial a Revolução Francesa. Ocorrida na
- os ideais iluministas e separatistas vindos da Europa e Bahia em 1798, buscava a emancipação e defendeu
dos Estados Unidos. importantes mudanças sociais e políticas na sociedade.
Entre as causas do movimento estava a insatisfação com
A Inconfidência Mineira (1789) Portugal pela transferência da capital para o Rio de Janeiro em
Na segunda metade do século XVIII, a produção de ouro 1763. Com tal mudança, Salvador (antiga capital) sofreu com a
nas Minas Gerais vinha apresentando um grande declínio, o perda dos privilégios e a redução dos recursos destinados à
que aumentou os choques e conflitos entre a população local e cidade. Somado a tal fator, o aumento dos impostos e
as autoridades portuguesas. Quanto menos ouro era extraído, exigências à colônia vieram a piorar sensivelmente as
maiores eram os boatos e ameaças do acontecimento da condições de vida da população local. O preço dos alimentos
Derrama15, atitude que afetaria boa parte da elite local. também gerou revolta na população. Além de caros, muitos
Os grupos mais influenciados pelas ideias iluministas, que produtos tornavam-se rapidamente escassos pelas restrições
eram também os que mais teriam a perder com as medidas do impostas sobre o comércio e as importações.
governo português, resolveram tomar uma atitude dando Os revoltosos defendiam a separação da região do restante
início em 1789 ao movimento que seria chamado pela da colônia, buscando independência de Portugal e instalando
metrópole de Inconfidência Mineira, ou Conjuração Mineira. um governo baseado nos princípios da República. Também
Os inconfidentes tinham como objetivo a imediata defendiam a liberdade de comércio (fim do pacto colonial
separação da colônia, criando uma República moldada pelo estabelecido), o aumento dos soldos16 e a igualdade entre as
pensamento liberal-iluminista e pela Constituição dos Estados pessoas, resultando na abolição da escravidão.
Unidos, que havia conquistado sua independência em 1776. O movimento ganhou o nome de Revolta dos Alfaiates pela
Após conquistada a liberdade em relação à metrópole, grande adesão desses profissionais no movimento, entre eles
estabeleceriam São João del-Rei como capital, criariam a Manuel Faustino dos Santos Lira e João de Deus do
Universidade de Vila Rica e dariam estímulo à abertura de Nascimento. Outros setores também aderiram ao movimento,
manufaturas têxteis e de uma siderurgia para o novo Estado. como o militar, representado pelo soldado Luís Gonzaga das
Em relação à escravidão as posições eram divergentes. Virgens.
A revolta foi suspensa quando participantes da O movimento contou com a participação de pessoas
conspiração denunciaram o movimento ao governador. O pobres, letrados, padres, pequenos comerciantes, escravos e
coronel Joaquim Silvério dos Reis foi apontado como principal ex-escravos.
delator. Endividado com a coroa assim como outros A revolta foi impedida antes mesmo de começar. O ferreiro
inconfidentes, o coronel resolveu separar-se do movimento e José da Veiga informou sobre os detalhes do movimento ao
apresentar um depoimento formal para o governador da governador, que pôde mobilizar tropas do exército para conter
capitania, Visconde de Barbacena. O governador suspendeu a os revoltosos.
cobrança e mandou prender os inconfidentes.
Após a confissão de Joaquim Silvério e a prisão dos Questões
suspeitos foi instituída a devassa, uma investigação levada a
cabo pelas autoridades da época, constatando que 01. (TJ/SC - Analista Administrativo - TJ) Sobre o
envolveram-se no movimento da Capitania das Minas grandes Período Colonial Brasileiro, assinale a alternativa INCORRETA:
fazendeiros, criadores de gado, contratadores, exploradores (A) De 1500 a 1530 a economia brasileira gravitou em
de minas, magistrados, militares, além de intelectuais luso- torno do pau-brasil. Após 1530, declinando o comércio com as
brasileiros. Índias, a coroa portuguesa decidiu-se pela colonização do
Dentre os inconfidentes, destacaram-se os padres Carlos Brasil.
Correia de Toledo, José de Oliveira Rolim e Manuel Rodrigues (B) A extração do pau-brasil foi declarada estanco, ou seja,
da Costa, além do cônego Luís Vieira da Silva; o tenente- passou a ser um monopólio real, cabendo ao rei conceder a
coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, comandante permissão a alguém para explorar comercialmente a madeira.
militar da capitania, os coronéis Domingos de Abreu Vieira, O primeiro arrendatário a ser beneficiado com o estanco foi
também comerciante, e Joaquim Silvério dos Reis, rico Fernando de Noronha, em 1502.
negociante; e os letrados Cláudio Manuel da Costa, Inácio José (C) A administração colonial foi efetuada inicialmente por
de Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga. meio do sistema de Capitanias Hereditárias. Com seu fracasso
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi o único foram instituídos os Governos Gerais, não para acabar com as
“conspirador” que não fazia parte da elite. Conhecido como capitanias, mas para centralizar sua administração.
alferes (primeiro posto militar) e dentista prático, foi talvez (D) No sistema de Capitanias hereditárias a ocupação das
por sua origem o mais duramente castigado. A memória de terras era assegurada pela Carta de Doação e pelo Foral. A
Tiradentes passou a ser celebrada no Brasil com a carta de doação determinava os direitos e deveres dos
Proclamação da República, quando foi considerado herói donatários e o Foral cedia aos donatários as terras, bem como
nacional pelo regime estabelecido em 15 de novembro de o poder administrativo e jurídico das mesmas.
1889. Sua representação mais conhecida é muito semelhante (E) O primeiro núcleo de colonização do Brasil foi a Vila de
à imagem de Cristo, reforçando a construção da imagem de São Vicente, fundada no litoral paulista em 1532.
mártir.
Assinada em 19 de abril de 1792, no Rio de Janeiro, a
sentença de morte de Tiradentes cumpriu-se dois dias depois:
15 No Brasil Colônia, a derrama era um dispositivo fiscal aplicado em Minas 16 A palavra ¨soldo¨ (em latim ¨solidus¨), remuneração por serviços militares e
Gerais a fim de assegurar o teto de cem arrobas anuais na arrecadação do quinto. ¨soldado¨, têm sua origem no nome desta moeda.
O quinto era a retenção de 20% do ouro em pó ou folhetas que eram direcionadas
diretamente a Coroa Portuguesa
02. (TJ/SC - Assistente Social - TJ) Sobre o Período joanino ou após o período colonial, estamos falando das
Colonial brasileiro, assinale a única alternativa que está CORTES portuguesas, uma vez que a presença lusitana no
INCORRETA: nosso território é ininterrupta desde o descobrimento.
(A) Portugal só deu início à colonização das terras
conquistadas, que passaram a chamar-se Brasil, devido à Realizações Político-sociais das Cortes no Brasil
pressão que sofria com o declínio de seu comércio com o
oriente e com a sistemática ameaça estrangeira no território As mudanças econômicas e políticas que vinham soprando
brasileiro. suas ideias da América do Norte e da Europa para as colônias
(B) O sistema de Capitanias Hereditárias foi implantado
é fator chave para entendermos porque a família real
por D. João III mas não teve o sucesso esperado. Entre os
portuguesa mudou-se com toda a sua Corte da “civilizada”
fatores que contribuíram para o fracasso das capitanias
Lisboa para a abandonada colônia brasileira.
podemos citar: falta de terras férteis em algumas regiões, falta
O absolutismo viu suas bases estremecerem na segunda
de interesse dos donatários, conflitos com os indígenas, falta
metade do século XVIII principalmente pelo sucesso das
de recursos financeiros para o empreendimento por parte de
Revoluções Estadunidense e Francesa com suas ideias
quem recebia a capitania.
democráticas. No mesmo sentido, sua política econômica - o
(C) Tomé de Souza foi o primeiro Governador-Geral do mercantilismo - via o capitalismo industrial começar a tomar a
Brasil e a sede do governo geral foi estabelecida na Bahia. dianteira frente ao capitalismo comercial, marca desses
(D) A estrutura econômica brasileira do período colonial governos.
tinha como principais características a monocultura, o Mas foi da França o empurrão fundamental para a
latifúndio, o trabalho escravo e a produção para o mercado mudança da Corte lusitana17. Quando da expansão
externo. napoleônica na Europa, apenas a Inglaterra conseguia fazer
(E) O primeiro núcleo de colonização do Brasil foi a Vila de frente aos franceses. Em uma tentativa de enfraquecer seu
Santos, fundada em 1532.
maior adversário, a França decreta um bloqueio comercial à
Inglaterra por todos os países que estavam sob sua influência,
Gabarito
entre eles, Portugal, que não aceita manter o bloqueio,
desencadeando a invasão francesa, consequência da fuga da
01.D / 02.E
Corte para o Brasil.
Os motivos que o leva a não aceitar manter o bloqueio
dizem respeito a uma série de acordos econômicos entre
Portugal e Inglaterra (mal feitos), que tornou Portugal uma
c) O Período Joanino e a nação dependente. As premissas dos acordos mantinham os
Independência (1) A presença portugueses como uma economia basicamente agrária
britânica no Brasil, a enquanto os ingleses desenvolviam sua indústria.
O Tratado de Methuen exemplifica bem isso: Portugal
transferência da Corte, os forneceria vinho aos ingleses (campo) e a Inglaterra forneceria
tratados, as principais tecidos aos portugueses (indústria). Sem opção e por exigência
medidas de D. João VI no da Inglaterra, Portugal recusa o bloqueio.
Por sua vez, Napoleão foi um cão que latia e também
Brasil, a política joanina, os mordia. Ao ver a recusa portuguesa nos seus planos, a França
partidos políticos, as revoltas, invade e divide Portugal com a Espanha (Tratado de
conspirações e revoluções e a Fontainebleau) além de declarar extinta a Dinastia dos
Bragança.
emancipação e os conflitos
sociais. (2) O processo de A Fuga para o Brasil
independência do Brasil. d) Portugal contou com o apoio naval inglês para sua fuga.
Cerca de 15 mil pessoas que compunham a Corte fizeram a
Brasil Imperial Primeiro viagem que durou cerca de dois meses com escolta e medidas
Reinado e Período Regencial: de segurança como colocar membros da família real em
aspectos administrativos, diferentes navios, caso houvesse ataques.
Ao chegar, D. João tomou duas medidas que afetaram tanto
militares, culturais, França quanto Inglaterra, sendo:
econômicos, sociais e - a retaliação à Napoleão, invadindo e conquistando a
territoriais; Segundo Reinado: Guiana Francesa; e
- premiando a Inglaterra e visando o próprio conforto,
aspectos administrativos, ainda em 1808 assinou uma Carta Régia com a medida que
militares, econômicos, sociais ficou conhecida como “Abertura dos Portos às Nações Amigas”,
e territoriais; e Crise da beneficiando basicamente o país inglês.
A medida mudava o status do Brasil, mas beneficiou muito
Monarquia e Proclamação da os ingleses que agora não precisavam mais negociar com a
República. metrópole suas relações comerciais em território nacional.
Além das mudanças que afetavam política e economia
externas, D. João também realizou mudanças internas.
Temos que ter em mente que até então o Brasil é uma
PERÍODO JOANINO E A INDEPENDÊNCIA colônia. Isso significa que todo o aparato administrativo,
judiciário e econômico são da metrópole. Com a vinda da Corte,
Só passando para lembrar que quando tratamos sobre todos os tipos de decisões nesse sentido que eram tomadas em
a chegada dos portugueses no Brasil a partir do período Lisboa, teriam que ser tomadas no Rio de Janeiro e para isso
seguiu-se uma série de mudanças: nomeou ministros de Estado, apenas algumas fizeram algo a respeito, como foi o caso de
criou secretarias públicas, criou tribunais de justiça, o Banco do Pernambuco.
Brasil e o Arquivo Central. Com ideais republicanos, separatistas e anti-lusitanos, a
Mudanças na cidade também foram realizadas com a Revolução Pernambucana ia contra os pesados impostos,
intenção de tornar a capital do Brasil uma cidade mais próxima descaso administrativo e opressão militar.
do que a Corte estava acostumada na Europa: foram criados A Revolução apenas teve início após a delação do
jornais de circulação diária, uma biblioteca real com mais de 60 movimento. Quando os líderes conspiradores foram presos, a
mil exemplares vindos de Lisboa, Academias militar e da luta começou. A revolta chegou a contar com a participação da
marinha, faculdades de medicina e de direito, observatórios, Paraíba e Rio Grande do Norte, porém a coroa conseguiu
jardim botânico, teatros (...) Estruturalmente a cidade ganhou encerrá-la através da força militar.
iluminação pública, ruas pavimentadas, chafarizes e pontes. Alguns líderes foram executados e outros receberam o
Culturalmente a principal mudança se deu pela vinda da perdão real anos depois, como Frei Caneca.
Missão Francesa para a criação da Imperial Academia e Escola
de Belas-Artes, tendo como principal nome o artista Jean- O Retorno de D. João para Portugal
Baptiste Debret.
Apesar de os trabalhos realizados pela Missão Francesa Lisboa e Rio de Janeiro literalmente inverteram os papeis
não influenciarem o grosso da população brasileira e carioca, nesse período. Se antes Lisboa era o centro do império
foram de grande importância para o conhecimento do Brasil português com suas instituições e riquezas colhidas pela
na Europa. forma de governo colonial, agora ela via o Rio de Janeiro
Como era no Rio de Janeiro que as coisas aconteciam, foi assumir esse papel.
natural o crescimento populacional. Além do número Os comerciantes portugueses viram sua economia
crescente de brasileiros que migravam em busca de emprego despencar quando das assinaturas de D. João nos novos
na capital, o número de escravos também aumentou – para acordos com os ingleses. O Brasil era o principal mercado
atender a maior demanda de serviços – assim como o de lusitano. Não bastasse isso, o rei de Portugal não tinha planos
estrangeiros que faziam negócios e já pregavam a ideia de de regressar e ainda deixou o governo do país a cargo de um
trabalhadores assalariados. inglês (general Beresford).
Economicamente, apesar de D. João autorizar a instalação Fórmula certa para insatisfação, foi o que ocorreu: Em 24
de manufaturas no país, os acordos desiguais feitos com a de agosto de 1820 eclodiu a Revolução do Porto, onde,
Inglaterra castravam as intenções empreendedoras dos vitoriosa, a nova Assembleia Constituinte (Cortes
brasileiros. portuguesas) adotou nova Constituição, exigindo o retorno da
Em 1810 foi assinado o Tratado de Comércio e Navegação Família Real para jurar à ela e a volta do Brasil à condição de
em que os produtos ingleses entravam em nosso país com colônia. Não foi o que aconteceu.
taxas menores até do que os produtos portugueses. D. João garantiu que sua família ainda governasse os dois
territórios. Para agradar os portugueses, ele regressou à
O Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves Portugal. Para agradar os brasileiros ele deixou seu filho, D.
Pedro I como regente, assegurando que o Brasil não voltaria a
Após a derrota de Napoleão, o Congresso de Viena18 ser colônia.
contou com os principais representantes dos países europeus
e decidiu os caminhos que seriam tomados a partir de então. O Dia do Fico e a Independência do Brasil
Em uma disputa de interesses entre Inglaterra e França, D.
João acaba sendo influenciado pelas ideias francesas e decide Apesar dos planos de D. João, as Cortes portuguesas não
continuar com a Corte no Brasil, além de declará-lo como encararam bem o fato de D. Pedro I ter ficado no Brasil como
Reino Unido de Portugal e Algarves. regente. A partir daí ele passa a ser pressionado a voltar para
No Congresso de Viena ficou decidido que toda e qualquer Portugal e prestar homenagens às Cortes.
mudança realizada durante a expansão napoleônica seria Por outro lado a aristocracia brasileira sabia que a única
desfeita. Reis destituídos – como os casos de Portugal e forma de garantir que o país não regressasse à condição de
Espanha – teriam seu governo restaurado. Essa era uma colônia era apoiar o movimento emancipacionista em volta de
medida que beneficiaria novamente a Inglaterra. Se D. João D. Pedro I.
voltasse a Portugal, dificilmente ele conseguiria fazer com que Em janeiro de 1822 com grande apoio do movimento
as mudanças realizadas no Brasil (econômicas) voltassem ao emancipacionista brasileiro D. Pedro I não cumpre às
modelo antigo, aquele em que a metrópole tem controle sobre exigências das Cortes e afirma que permaneceria no Brasil
a colônia. (“Dia do Fico”). Esse dia foi seguido de negociações e mudanças
A Inglaterra já havia estabelecido negócios e influência na administração brasileira até finalmente em 7 de setembro
dentro do nosso país, e os próprios comerciantes e classe alta do mesmo ano ser declarada a independência do Brasil.
brasileiros não aceitariam o retorno à condição de colônia.
Do outro lado do Atlântico tínhamos uma Lisboa O Reconhecimento da Independência
financeiramente debilitada ao ponto de a Corte preferir O simples fato de D. Pedro I declarar o Brasil independente
permanecer no Rio de Janeiro. A solução para manter a posição não o tornava assim. Era necessário que externamente essa
em Lisboa e o controle sobre o Brasil foi elevá-lo a categoria de independência fosse reconhecida. Portugal, claro, não o fez. No
Reino e não mais colônia. início apenas alguns reinos africanos com o qual o Brasil tinha
relações comerciais (negociação de escravos) e os Estados
Revolução Pernambucana Unidos (dois anos depois) reconheceram nossa autonomia.
A Inglaterra, embora continuasse fazendo negócios com o
Todas as melhorias que foram descritas há pouco ficaram Brasil não reconheceu de imediato a nova condição, uma vez
restritas apenas ao Rio de Janeiro. As outras províncias do que não queria perder Portugal como parceiro/dependente
Brasil ainda sofriam com a precariedade econômica e social. dentro da Europa. Visando os próprios interesses foi ela quem
Esse cenário gerou descontentamento em várias regiões mas
18 O Congresso de Viena foi uma conferência entre embaixadores das grandes junho de 1815, cuja intenção era a de redesenhar o mapa político do continente
potências europeias que aconteceu na capital austríaca, entre maio de 1814 e europeu após a derrota da França napoleônica
intercedeu para que um acordo fosse realizado entre Brasil e brasileiras. O nordeste, já marginalizado nesse período e com
Portugal. histórico de revoltas contra a coroa, novamente se
Em 29 de agosto de 1825 foi assinado o Tratado de Paz e movimentou. Com início em Pernambuco e com apoio popular,
Aliança, em que mediante o pagamento de dois milhões de outras províncias se juntaram ao movimento (Rio Grande do
libras esterlinas como indenização, e a continuidade do título Norte, Ceará e Paraíba).
de imperador do Brasil para D. João, Portugal reconhecia a Apesar de iniciada por lideranças populares, entre eles
emancipação do Brasil. Cipriano Barata e Frei Caneca, as elites regionais também
O dinheiro foi conseguido junto à Inglaterra que reviu seus apoiaram o movimento. Do ponto de vista social foi o mais
acordos comerciais com o Brasil e conseguiu o “compromisso” avançado do período com reformas sociais, mudança de
do fim da escravidão no país, além do pagamento da própria direitos políticos e abolição da escravidão.
dívida. A partir daí outras nações da América e do mundo Essas mesmas mudanças radicais levaram as elites
também reconheceram o Brasil como nação autônoma. regionais a abandonar o movimento, pois temiam perder seus
próprios privilégios.
O Primeiro Reinado (1822-1831) Sem o apoio da aristocracia local e com forte repressão do
governo, o levante foi contido com dezesseis membros sendo
De cara, alguns fatores chamaram a atenção a respeito da condenados à morte, entre eles, Frei Caneca.
independência do Brasil:
- éramos o único país na América que após a emancipação A Cisplatina
da metrópole continuamos a viver em um regime monárquico; A região da Cisplatina20 sempre foi alvo do interesse do
- a população não teve participação alguma no processo e governo português que desejava expandir suas fronteiras até
até mesmo províncias mais distantes só ficaram sabendo da o rio da Prata. Após a “bagunça” feita por Napoleão às Coroas
mudança meses depois; europeias, mais precisamente à Coroa espanhola que teve sua
- a aceitação não foi total e pacífica como era de se esperar. continuidade interrompida e retomada após a queda do
general francês, as colônias americanas viviam um período de
Algumas regiões, principalmente aquelas com instabilidade e descentralização. Todos os movimentos de
conservadores portugueses e acúmulo de tropas lusitanas não independência dessas colônias, apesar de bem sucedidos, as
apenas recusaram-se a aceitar a autoridade de D. Pedro I como debilitaram econômica e politicamente. Foi quando dessa
lutaram contra ela. instabilidade que D. João viu a oportunidade de realizar um
As províncias da Bahia, Cisplatina, Maranhão, Piauí e Pará antigo desejo português, em 1820 ele ordena às tropas
resistiram ao novo governo e apenas com o uso da força imperiais invadirem a região da Cisplatina.
aceitaram a nova condição. Mesmo após o retorno de D. João à Portugal e à
Na prática, nossa política não teve mudanças, ainda independência, a Cisplatina continuou sendo parte do Brasil
vivíamos em uma monarquia centralizadora e mesmo os (até 1828), porém à duras custas, a região nunca aceitou o
defensores de ideias republicanas só pensavam em sua domínio brasileiro, e constantemente D. João e posteriormente
projeção política e não em uma mudança de fato. D. Pedro I tinham de enviar expedições para conter as revoltas.
Isso não apenas gerava custos aos cofres imperiais como
A Primeira Constituição Brasileira também atacava a imagem do imperador, que se mostrava
D. Pedro I havia convocado uma Assembleia Constituinte incapaz de resolver a questão. A opinião pública era avessa à
antes mesmo de declarar o Brasil independente. E desde o causa de gastar com os conflitos e insistir em manter a posse
primeiro momento houve desacordo. de uma região que nem era semelhante culturalmente ao povo
A Assembleia, liderada pelos irmãos Andrada, tinha a brasileiro.
intenção de fazer uma Constituição similar à portuguesa, onde Enfim, em 1828, com apoio do governo argentino, as forças
D. Pedro teria seus poderes limitados. Já o monarca, que era cisplatinas fazem com que o Brasil se retire do conflito e
conhecido por ser autoritário e centralizador trabalhou para proclamam a República Oriental do Uruguai.
permanecer com todos os poderes em torno de si. A imagem de D. Pedro I sai abalada após o episódio. Seguiu-
Apesar da Constituição elaborada por influência dos se a isso o misterioso assassinato de Libero Badaró (jornalista
Andrada ter a intenção de limitar os poderes de D. Pedro I, ela declarado opositor e crítico de D. Pedro I), maior força do
garantia os privilégios da aristocracia rural. Popularmente movimento liberal e aumento das críticas a respeito da
conhecida como Constituição da Mandioca19 ela garantia os conduta política do imperador.
privilégios à quem tivesse a posse da terra e defendia a Além da pressão política, do exército e da população, D.
manutenção da escravidão. Pedro I teve de superar uma crise sucessória. Quando D. João
Acontece que essa Constituição, onde o legislativo faleceu, D. Pedro I abdica do trono português em favor de sua
predominaria pelo executivo nem chegou a ser concluída. Em filha. Em Portugal é iniciado então um conflito sucessório
12 de novembro de 1823 D. Pedro I ordenou o fechamento da entre D. Maria da Glória e o irmão de D. Pedro I, D. Miguel.
Assembleia (episódio conhecido como “Noite da Agonia”), D. Pedro passa a gastar recursos brasileiros para garantir
convocou um Conselho de Estado e encomendou a nova o trono de sua filha, o que gera mais descontentamento
Constituição do país, onde seu poder estaria assegurado. nacional. Com a pressão interna e a necessidade de cuidar de
A nova Constituição dividia o Estado em quatro poderes: seus interesses em Portugal, D. Pedro I abdica do trono
executivo, legislativo, judiciário e moderador. O poder brasileiro e retorna para seu país, deixando como herdeiro seu
moderador era exclusivo de D. Pedro I e estava acima de todos filho, D. Pedro II.
os outros. Assim ele mantinha todas as características
centralizadoras e absolutistas de uma monarquia e não via O Período Regencial (1831-1840)
precedentes de verdadeira oposição.
D. Pedro II, herdeiro do trono brasileiro tinha apenas cinco
A Confederação do Equador anos de idade quando D. Pedro I retornou a Portugal. A maioria
A tendência autoritária de D. Pedro I e a nova Constituição dos políticos brasileiros ainda eram favoráveis à manutenção
desagradaram em vários aspectos muitas províncias do império e se preocuparam com as possíveis revoltas que
19 Apenas pessoas com mais de 150 alqueires de mandioca poderiam se 20 Província do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e, posteriormente,
haveriam tendo uma criança como governante. Ficou então Regência Una
decidido que o país seria governado por regentes até a idade Apesar de uma tentativa frustrada de assumir o poder em
apropriada de D. Pedro II. 1832, abandonando o cargo de Ministro da Justiça logo em
Politicamente esse foi o período mais conturbado desde a seguida, o padre Feijó obteve a maioria dos votos na eleição
colonização. Além dos grupos regionais que se revoltaram, o para Regente em 1835. Sendo empossado em 12 de outubro
próprio cenário político não tinha unidade. Apesar de todos do mesmo ano para um mandato de quatro anos, não
fazerem parte basicamente dos mesmos segmentos e terem completando nem dois anos no cargo. Seu governo é marcado
interesses econômicos semelhantes, politicamente estavam por intensa oposição parlamentar e rebeliões provinciais,
divididos entre: como a Cabanagem, no Pará, e o início da Guerra dos Farrapos,
no Rio Grande do Sul. Com poucos recursos para governar e
- Restauradores (conhecidos como Caramurus, eles isolado politicamente, renunciou em 19 de setembro de 1837.
defendiam a continuidade de D. Pedro I no poder e
acreditavam que a tranquildade política passava pela ação Segunda Regência Una
absolutista. José Bonifácio fazia parte desse grupo que foi Com a renúncia de Feijó e o desgaste dos liberais, os
articulador do Golpe da Maioridade anos depois); conservadores obtêm maioria na Câmara dos Deputados e
- Liberais moderados (apesar do nome, esse grupo era elegem Pedro de Araújo Lima como novo regente único do
composto em grande parte pela aristocracia rural. Eram contra Império, em 19 de setembro de 1837. A segunda regência una
reformas sociais e lutavam por manter seus privilégios. é marcada por uma reação conservadora, e várias conquistas
Defendiam a monarquia, porém de forma menos autoritária do liberais são abolidas. A Lei de Interpretação do Ato Adicional,
que D. Pedro I empregava. Eram chamados de Chimangos); aprovada em 12 de maio de 1840, restringe o poder provincial
- Liberais exaltados (era o grupo mais variado, tinha e fortalece o poder central do Império. Acuados, os liberais
desde aristocratas até trabalhadores livres e sem terras. Esse aproximam-se dos partidários de D. Pedro II. Juntos, articulam
grupo buscava reformas sociais e políticas, maior autonomia o chamado golpe da maioridade, em 23 de julho de 1840.
das províncias e mudanças constitucionais. Eram conhecidos
como Chapéus-de-palha). Revoltas no Período Regencial
Revolta dos Malês (1835) a monarquia e manter a unidade do império. Em 1840, com
Em Salvador, nas primeiras décadas do século XIX, os uma regência conservadora o parlamento aprova adiantar a
negros escravos ou libertos correspondiam a cerca de metade maioridade de D. Pedro II.
da população. Pertenciam a vários grupos étnicos, culturais e
religiosos, entre os quais os muçulmanos – genericamente Segundo Reinado
denominados malês -, que protagonizaram a Revolta dos
Malês, em 1835. Ao contrário do que aconteceu com seu pai, a preparação
O exército rebelde era formado em sua maioria, por política de D. Pedro II parece ter sido melhor. Mesmo sem
“negros de ganho”, escravos que vendiam produtos de porta abandonar o aspecto autoritário em seu governo,
em porta e, ao fim do dia, dividiam os lucros com os senhores. politicamente ele soube trabalhar com as aristocracias rurais.
Podiam circular mais livremente pela cidade que os escravos D. Pedro II dava a elas a condição de crescerem
das fazendas, o que facilitava a organização do movimento. economicamente e em troca recebia seu apoio político.
Além disso, alguns conseguiam economizar e comprar a Falamos em aristocracias porque nesse período uma nova
liberdade. Os revoltosos lutavam contra a escravidão e a elite agrária e mais poderosa surgiu representada pelos
imposição da religião católica, em detrimento da religião cafeicultores do sudeste frente a antiga elite nordestina. O café
muçulmana. passou a ser o principal produto do país e assim permaneceu
A repressão oficial resultou no fim da Revolta dos Malês, até a república.
que teve muitos mortos, presos e feridos. Mais de quinhentos
negros libertos foram degredados para a África como punição. Liberais e Conservadores21
Liberais (chamados de Luzia) e conservadores
Sabinada (1837-1838) (Saquarema) diferiam em suas teorias e aspirações políticas
A Sabinada ocorreu na Bahia, com o objetivo de implantar em seus discursos, porém, durante todo o Segundo Reinado
uma república independente. Foi liderada pelo médico ficou claro que quando no poder, ambos eram iguais.
Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, e por isso ficou Os liberais defendiam a descentralização e autonomia das
conhecida como Sabinada. O principal objetivo da revolta era províncias enquanto os conservadores, como o próprio nome
instituir uma república baiana, mas só enquanto o herdeiro do sugere, defendiam um governo forte e centralizado.
trono imperial não atingisse a maioridade legal.
Diferentemente de outras revoltas ocorridas no período, a As Eleições do Cacete
sabinada não contou com o apoio das camadas populares e Ao assumir, D. Pedro II vivenciou um grande impasse
nem com os grandes proprietários rurais da região, o que político: para auxiliá-lo em seu governo foi criado o Ministério
garantiu ao exército imperial uma vitória rápida. da Maioridade. O problema se deu porque o Ministério tinha
sua maioria composta por liberais, enquanto a Câmara era
Balaiada (1838-1841) composta maioritariamente por conservadores. Qualquer
Balaiada ocorreu no Maranhão, em 1838, e recebeu esse decisão a ser tomada gerava grande debate pelas divergências
nome devido ao apelido de uma das principais lideranças do entre ambos.
movimento, Manoel Francisco dos Anjos Ferreira, o "Balaio", A solução encontrada para acabar com essa disputa foi
conhecido por ser vendedor do produto. dissolver a Câmara e convocar novas eleições: As Eleições do
A Balaiada representou a luta da população pobre contra Cacete. O nome não foi por acaso. Para garantir a vitória, o
os grandes proprietários rurais da região. A miséria, a fome, a partido liberal colocou “capangas” para trabalhar nas eleições
escravidão e os maus tratos foram os principais fatores de e através de coerção e ameaças eles venceram.
descontentamento que levaram a população a se revoltar. Os liberais mantiveram-se no poder por pouco tempo.
A principal riqueza produzida na província, o algodão, Apesar de serem maioria, as pressões externas (Inglaterra) e
sofria forte concorrência no mercado internacional, e com isso internas (Guerra dos Farrapos), e a má impressão que ficou
o produto perdeu preço e compradores no exterior. Além da após o uso da força nas eleições fez com que o imperador
insatisfação popular, a classe média maranhense também se novamente dissolve-se a Câmara e formasse um novo
encontrava descontente com o governo imperial e suas ministério, este composto por ambos os lados.
medidas econômicas, encontrando na população oprimida
uma forma de combatê-lo. Revolução Praieira
Os revoltosos conseguiram tomar a cidade de Caxias em A Revolução Praieira ocorreu na metade do século XIX
1839 e estabelecer um governo provisório, com medidas que (1848) em um contexto onde o nordeste já sofria as
causaram grande repercussão, como o fim da Guarda Nacional consequências econômicas da crise do açúcar, enquanto a
e a expulsão dos portugueses que residiam na cidade. região sudeste já era a “favorita” do Império com a
Com a radicalização que a revolta tomou, como a adesão de prosperidade econômica ocasionada pelo café.
escravos foragidos, a classe média que apoiava as revoltas Pernambuco era uma província conturbada na época:
aliou-se ao exército imperial, o que enfraqueceu bastante o eram os portugueses quem controlavam o comércio e a
movimento e garantiu a vitória em 1841, com um saldo de política local. O cenário de problemas econômicos, sociais e
mais de 12 mil sertanejos e escravos mortos em batalhas. Os políticos criou o clima para um conflito entre os partidos
revoltosos que acabaram presos foram anistiados pelo Liberal e Conservador.
imperador. Os portugueses se concentravam em torno do partido
conservador. Os democratas e liberais brasileiros em torno do
A Maioridade e a Tranquilidade Política partido liberal. Após as eleições de 1848 que tiveram como
Toda a instabilidade do período regencial colocou tanto resultado a eleição de um conservador para o cargo de
liberais quanto conservadores em xeque, uma vez que ambos presidente de província, os liberais revoltam-se pegando em
haviam ocupado o poder mas nenhum conseguiu trazer armas e lançando o Manifesto ao Mundo, documento que
estabilidade ao país. A ideia de antecipar a maioridade de D. exigia o fim dos privilégios comerciais portugueses, liberdade
Pedro II começou a agradar ambos os grupos: os liberais de imprensa, fim da monarquia e proclamação da república,
esperavam que com isso teriam a chance de voltar ao governo. fim do voto censitário, extinção do poder moderador e Senado
Os conservadores viam nisso uma oportunidade de preservar vitalício.
Com adesão popular os revoltosos chegaram a derrubar o além de características físicas distorcidas (a obra Moema –
presidente de província e controlar Olinda, porém as tropas Victor Meirelles - é representada com pele quase branca).
imperiais os contêm em 1849. No campo das instituições, D. Pedro II revelou-se grande
entusiasta e apoiador. Sempre demonstrou interesses pelas
O Parlamentarismo às Avessas atividades do IHGB (Instituto Histórico e Geográfico
Em 1847 D. Pedro II cria no Brasil um sistema Brasileiro) do qual chegou a receber o título de protetor da
parlamentarista até então inédito no mundo. instituição. Pouco depois fundou a Ópera Nacional, a Imperial
Um sistema parlamentarista tradicional funciona com o rei Academia de Música e o Colégio Pedro II, onde ele
(ou presidente) sendo o chefe de Estado, porém não sendo o frequentemente fazia visitas.
chefe de governo. Isso implica nas responsabilidades políticas Por fim, manteve incentivos financeiros em campos de
do cargo, onde o chefe de governo as têm em muito maior estudo como medicina e direito.
quantidade.
Normalmente é o parlamento quem elege o Primeiro O Caso Indígena
Ministro para chefe de governo. No Brasil as coisas No século XVIII a metrópole desenvolveu um projeto
aconteceram um pouco diferentes: o Parlamentarismo às civilizador que foi incorporado à colônia. O conceito era
Avessas, como ficou conhecido, contava com um novo cargo, o simples à primeira vista: povos que não respondiam ao poder
de Presidente do Conselho de Ministros (que em um sistema real precisavam ser subjugados.
normal seria o Primeiro Ministro), submisso e escolhido por D. Acontece que as elites locais ao incorporar a ideia não
Pedro II, que poderia destitui-lo quando quisesse. levavam em conta o fator “civilizador”, mas sim o econômico.
Era uma forma de manter o parlamento e o Presidente sob Caso não houvesse a possibilidade de angariar recursos (de
controle e que acabava descaracterizando o sistema como qualquer natureza) a intervenção não era justificada. De uma
Parlamentarista. forma mais simples: o projeto só aconteceu em regiões que
dariam algum retorno financeiro para as expedições, para as
A Influência do Café elites ou para a metrópole.
O sistema de produção rural no Brasil sempre foi o mesmo, Civilizar ou não o indígena tinha um segundo lugar de
baseado na monocultura, grande propriedade e trabalho importância nessa empreitada.
escravo. Desde a crise do açúcar e esgotamento das jazidas de
ouro, o país procurava seu novo salvador econômico. Este se A Questão Agrária
apresentou na figura do café, que além da mudança em relação Do início da colonização até o século XIX a questão e a
à mão de obra, mostrou poucas mudanças na estrutura de política agrária no Brasil eram definidas pelas sesmarias. Ao
produção. mesmo tempo em que a concessão de uma sesmaria era a
Graças ao aumento do consumo europeu, clima e solos garantia legal de posse da terra, apenas quem tivesse relações
favoráveis, além da já estabelecida estrutura de grandes e contatos políticos conseguiam esse acesso.
propriedades e monocultura, o café já na primeira metade do Outras formas como a ação de posseiros também eram
século XIX despontava como principal produto nacional. Das comuns, porém até o ano de 1850 ela era ilegal mediante
primeiras fazendas comerciais no Rio de Janeiro, até sua algumas condições.
expansão para o interior de Minas Gerais, São Paulo e norte do O que muda em 1850 é o advento da Lei nº 601, conhecida
Paraná, até quase a metade do século seguinte o café não como Lei de Terras. A criação dessa lei não apenas afirmava a
apenas conseguia sozinho equilibrar nossa balança comercial, legalidade das sesmarias como garantia o direito legal da terra
mas foi responsável pelo desenvolvimento da malha a posseiros (desde que as terras tivessem sido possuídas
ferroviária, algumas cidades que a acompanhavam e pela anteriormente à lei e fossem devidamente cultivadas).
introdução da mão de obra livre. A Lei de Terras veio para garantir o valor de um novo
Com crescente demanda, maior necessidade de braços produto, a própria terra, uma vez que a escravidão via seus
para a lavoura, com a pressão da Inglaterra pelo fim do tráfico dias contados desde a aprovação da Lei Eusébio de Queirós. A
e posteriormente fim da escravidão, os cafeicultores não lei que proibia o tráfico de escravos dificultou a obtenção de
encontraram outra solução que não trazer trabalhadores mão de obra para os grandes fazendeiros, que então
imigrantes europeus para suas fazendas. importavam escravos de outras regiões do país. Com a
Esse foi um período que marca o país em todos os aspectos: escassez de escravos, a terra passaria a ser o principal produto
- sociais com o surgimento de novas classes; e símbolo de status (da mesma forma que ter um grande
- políticos com a mudança do eixo central da velha número de escravos destacava as pessoas de maiores fortunas
oligarquia açucareira para a nova oligarquia cafeeira (Barões e influência, agora a terra garantia essa imagem).
do Café); e A Lei de Terras ainda tinha um segundo propósito: garantir
- econômicas com o desenvolvimento de cidades, serviços que apenas quem tivesse capital (normalmente quem já tinha
e ensaios de industrialização. terras) conseguisse obtê-las. As terras devolutas (aquelas
“desocupadas”22) não mais seriam entregues por doação ou
Cultura ação de posseiros, o que garantia que os trabalhadores
A cultura no século XIX desenvolveu-se de acordo com os dependessem de um emprego em fazendas.
padrões europeus. O governo arrecadou mais impostos com demarcação e
Na literatura tínhamos o romantismo como principal vendas e com isso conseguiu financiar, junto de cafeicultores a
gênero seguindo as devidas influências exteriores. José de vinda de mão de obra imigrante no período.
Alencar com sua obra O Guarani nos dá um bom exemplo
disso, descrevendo o índio Peri como herói que enfrenta tribos Imigração23
menos civilizadas. Vários são os motivos que explicam o movimento de
No campo das artes os indígenas também eram retratados imigração para o Brasil: internamente havia o preconceito dos
de maneira ao imaginário europeu: passivos e martirizados, grandes produtores rurais que, quando obrigados a abrir mão
do trabalho escravo por motivos de lei ou econômicos, não
22 Quando falamos em terras “desocupadas” falamos do ponto de vista do 23 Adaptado: UNOPAREAD <
governo da época. Eram terras no qual o governo não havia recebido rendimentos. http://www.unoparead.com.br/sites/museu/exposicao_sertoes2/Imigrantes-e-
Indígenas e posseiros sem permissão ocupavam essas terras e eram expulsos sem migracoes.pdf>
cerimônia ou compensação.
admitiam ter que pagar para os mesmos negros trabalhar em de Queiroz, que a partir da data de sua publicação proíbe o
suas terras. Havia a desinteligência de que a partir daquele tráfico negreiro no Brasil.
momento o escravo não seria ideal para o trabalho rural e Como o governo não tinha intenção nenhuma de acelerar o
ainda as aspirações do governo de uma “recolonização”, processo que levaria o fim da escravidão, a Lei Eusébio de
principalmente da região sul ainda alvo de disputas de Queiroz garantia apenas o fim do tráfico de importação. O
fronteiras ou povoada por indígenas. tráfico ou troca interna ainda era permitido, o que ocasionou
Externamente víamos na Europa um exemplo inverso ao grande deslocamente de contingente negro escravo do
Brasil: aqui tinham terras de sobra e poucos trabalhadores, lá nordeste para as colheitas de café no Vale do Paraíba no
eles tinham muitos braços livres e poucas terras. A Europa do sudeste.
século XVIII e XIX viu um aumento na taxa de natalidade, Uma segunda consequencia foi que com o capital que agora
expulsão dos trabalhadores do campo e pequenos estava “sem destino”, uma vez que a compra de escravos se
proprietários, além de perseguições políticas e religiosas. tornava mais difícil com o tempo, novas atividades econômicas
Pareceu à época uma solução natural que os imigrantes começaram a receber esse dinheiro: bancos, estradas de ferro,
europeus arriscassem a sorte no novo continente. indústrias, companhias de navegação...
A região sudeste, principalmente o estado de São Paulo, A modernização do pensamento econômico, mesmo que de
apesar de ter tido grande influência imigrante demorou a certa forma forçada, também provocou mudanças na política
“engrenar”. As primeiras experiências receberam o nome de externa do país. Em 1844 o ministro da Fazenda Alves Branco
sistema de parceria. Nesse sistema os imigrantes promulga uma lei que levaria seu nome, e que aumentava as
trabalhavam no cultivo e colheita do café, e dividiam os lucros taxas alfandegárias para os produtos importados. Era uma das
e eventuais prejuízos com o dono da terra. O maior exemplo poucas vezes até então em nossa história que o governo
desse sistema (e seu fracasso) foi o implantado pelo Senador tomava medidas que beneficiavam nossa indústria em relação
Campos Vergueiro. Apesar da promessa, a fazenda tinha o à estrangeira.
monopólio de tudo que os imigrantes necessitavam adquirir
(sempre com preços mais elevados), o que resultava em uma Processo Abolicionista25
dívida viciosa com o fazendeiro. Além disso, devido à Em maio de 1888, a princesa Isabel Cristina Leopoldina de
proximidade do contato com o trabalho escravo, o tratamento Bragança conhecida posteriormente como “A Redentora”
com os imigrantes era semelhante, o que chegou a fazer com assina o documento que finalmente colocou fim à escravidão
que o próprio governo italiano recomendasse que seus no país.
cidadãos não viessem para o Brasil. A História normalmente nos ensina a respeito do ato
Nos últimos anos do século XIX, com a situação se generoso dessa figura, mas não podemos ignorar que o dia 13
agravando na Itália e com a maior necessidade de mão de obra de maio foi apenas o cume de uma empreitada que vinha sendo
no Brasil, governo e fazendeiros oferecem melhores construída há muito tempo.
condições, o que abre as portas definitivamente para a A resistência à escravidão por parte dos negros existiu
chegada do europeu. sempre que houve a escravidão. Fugas, violência contra os
O sul, como falamos acima, mostrou uma colonização senhores e formação de quilombos eram algumas das práticas
diferente. Composto por pequenas propriedades familiares ou comuns que existiam desde a colônia. A partir da segunda
comunidades rurais, a região não atendeu os interesses do metade do século XIX, talvez por algumas leis já existirem, elas
mercado externo e o governo tinha maior preocupação em se tornaram mais comuns.
garantir a posse do Brasil na região do que garantir as A sociedade também já contava com um número maior de
exportações da época. entusiastas que estavam dispostos a lutar pelo fim dessa
prática e pressionar o governo. O império inglês junto desses
Tráfico Negreiro, Lutas Abolicionistas e o Fim da fatores finalmente consegue se colocar em posição de forma
Escravidão24 que o Brasil não podia mais ignorá-lo.
À época da independência D. Pedro I se viu pressionado As seguintes leis são o resultado dessas pressões e
por dois lados muito importantes para manter seu governo: mostram a evolução do processo de abolição:
- De um lado a Inglaterra, nação industrializada que via na
extinção do comércio de escravos (e na própria instituição Lei no 581 (Lei Eusébio de Queirós), de 4 de setembro de
escravista) maior possibilidade de capital e mercado 1850: a partir dessa data é proibido o tráfico de escravos para
consumidor. Seu apoio político e financeiro ao Brasil no o Brasil. Trocas internas entre províncias de escravos que já
processo de independência estava condicionado ao estão no país ainda são permitidas.
compromisso do país em abolir essa prática.
- Do outro lado estavam os grandes proprietários de terra, Lei no 2.040 (Lei do Ventre Livre), de 28 de setembro de
motivo pelo qual nem D. Pedro I, nem a regência e nem D. 1871: considerava livre todos os filhos de mulheres escravas
Pedro II conseguiram cumprir o acordo. nascidas a parte dessa data.
No curto período anterior ao aumento da produção
cafeeira no país, o tráfico de escravos de fato diminuiu em Lei no 3.270 (Lei dos Sexagenários ou Lei Saraiva-
números visto que a necessidade de mão de obra era menor. A Cotegipe), de 28 de setembro de 1885: a Lei concedia
partir do momento em que os grandes fazendeiros sentiram liberdade a escravos com mais de 60 anos de idade.
necessidade de mais braços em suas lavouras, mesmo com leis
da regência proibindo a importação de escravos, o volume Lei no 3.353 (Lei Áurea), de 13 de maio de 1888: Art. 1o É
voltou a crescer. As consequências foram a maior pressão declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil.”
inglesa sobre o Brasil no aspecto político, e na prática uma
perseguição real da marinha inglesa a navios negreiros. A Questão Platina26
Sentindo a pressão britânica surtir mais efeito que a
interna, finalmente em 1850 o governo brasileiro promulga A questão da Cisplatina foi um conflito entre Brasil e
uma lei com a verdadeira intenção de cumpri-la. A Lei Eusébio Argentina pelo controle de parte da bacia do Prata,
24 Adaptado de FOGUEL, I. Brasil: Colônia, Império e República. < 26 Adaptado de: JARDIM, W. C. A Geopolítica no Tratado da Tríplice Aliança.
especificamente na região Cisplatina (que corresponde ao a autonomia uruguaia e um acordo com o Uruguai que garantia
atual Uruguai). ajuda mútua.
Deve-se entender que apesar de em parte da história o Foi a partir das intervenções brasileiras no governo
Uruguai pertencer ao Brasil ou ser tomado pela Argentina, o uruguaio (quando depôs Aguirre e assume Flores) que o
conflito nunca envolveu apenas duas partes. Paraguai quebra sua política de neutralidade. Considerando
Historicamente o que hoje corresponde ao território que o Brasil perturbava a harmonia da região e temendo que
uruguaio foi uma colônia portuguesa (Colônia de Sacramento). ele mesmo fosse o próximo alvo (além do fato de Solano Lopes
Quase um século depois (1777) a colônia passa a ter domínio ser simpatizante de Aguirre, derrotado no Uruguai com ajuda
espanhol, que dura até a transferência da coroa portuguesa brasileira), o Paraguai direcionou vários avisos preventivos ao
para o Brasil que volta a anexá-lo. Brasil. Não surtindo efeito, no final de 1864 Solano Lopes
Acontece que o período em que a Espanha controlou a ordena o aprisionamento do navio brasileiro Marquês de
região deixou marcas mais fortes que o período colonial Olinda e declara guerra do Brasil, é o início da Guerra do
português (cultura e língua). Não se sentindo como parte do Paraguai.
império português, a Cisplatina (Uruguai) inicia um
movimento de separação. O Conflito
A Argentina que já era independente e tinha interesses O início do conflito envolveu apenas os dois países, porém
expansionistas à região não demorou a comprar o lado do o próprio Paraguai acabou fomentando os seus vizinhos a se
Uruguai enviando além do apoio político, suprimentos. juntarem a causa brasileira.
O governo brasileiro não recuou, além de fazer frente ao O Paraguai mostrou clara vantagem tomando partes do
Uruguai ele declarou guerra à Argentina. Apesar de haver território brasileiro (MS) e posteriormente invadindo até a
algum equilíbrio durante o início do conflito, o nosso governo Argentina (queria através dela dominar o Rio Grande do Sul).
sofreu com grande pressão interna. O país já estava endividado A vantagem do país se mantém até a formação da Tríplice
com os gastos da independência e bancar um conflito em tão Aliança, unindo Brasil, Argentina e Uruguai.
pouco tempo depois causou insatisfação geral (aumento de A partir daí o conflito se torna desfavorável. Apesar de o
impostos). Paraguai estar estruturado, os números não podiam ser
Em 1828, com mediação inglesa e se vendo muito ignorados. O Paraguai contava com uma população total de
pressionado, Brasil e Argentina chegam a um acordo e ambos 800.000 habitantes no período contra 13.000.000 dos aliados.
concordam que a região da Cisplatina se tornaria O Rio da Prata, única via de comunicação do Paraguai para fora
independente. Tinha início a república do Uruguai. do continente foi bloqueado pelo maior número de navios
Posteriormente Brasil e Argentina ainda brigaram aliados. Por fim, países como a Inglaterra ofereciam apoio
indiretamente dentro do território uruguaio: a política do financeiro aos aliados enquanto o Paraguai se matinha
novo país estava dividida principalmente entre dois partidos, sozinho.
os “colorados” e os “blancos” (federalistas e unitários A partir de 1868, muito sob o domínio de Caxias a
respectivamente) onde o Brasil apoiava os colorados e a vantagem já havia passado para os aliados e a Guerra se passou
Argentina os blancos. apenas em território paraguaio. Em março de 1870, já com o
Internamente o Uruguai sofreu com sucessivas trocas no conflito vencido, Conde D’Eu, genro de D. Pedro II, substituto
comando por parte de generais ou de acordo com os interesses de Caxias no comando das tropas aliadas persegue o restante
vizinhos até o ano de 1865, contando com grande contingente das forças paraguaias e executa Solano Lopes.
brasileiro (gaúcho) quando o general Flores assume o poder e
cessam os conflitos internos. As Consequências da Guerra
Apesar de os países aliados ganharem territórios, seu saldo
A Guerra do Paraguai comum dessa guerra foi o aumento da dívida externa além do
número de vidas perdidas.
A Guerra do Paraguai foi um conflito envolvendo Brasil, Para o Paraguai as perdas foram irremediavelmente mais
Paraguai, Uruguai e Argentina que durou entre os anos de pesadas e mostram sequelas até hoje.
1864 e 1870 e teve consequências que marcam o continente Cerca de 75% de sua população morreu nesse período
até hoje. (90% dos homens). Ele perdeu 150.000 km² de seu território,
O Paraguai não era o país mais rico da América Latina até teve seu parque industrial destruído, sua malha ferroviária
o início do conflito, mas é correto dizer que era o mais vendida a companhias inglesas a preço de sucata, reservas de
desenvolvido socialmente e menos dependente madeira e erva-mate praticamente entregue aos estrangeiros.
economicamente. Por fim, todas as terras passaram para o controle de
Desde 1811, ano de sua independência, o país fora banqueiros estrangeiros que as alugavam aos paraguaios.
governado por apenas três governantes, não encontrando a
turbulência política interna que aconteceu com alguns A Crise do Império
vizinhos, como o Uruguai.
Era Francisco Solano Lopes o líder uruguaio no período do A partir da década de 1870 o império brasileiro vê seus
conflito e assim como seus antecessores ele garantiu algumas melhores dias passarem. Uma crise iniciada com o conflito do
medidas que tornavam o Paraguai um país único na América Paraguai resultaria em quase vinte anos depois na
Latina: apesar de não ser democrático, seu governo proclamação da república.
beneficiava as camadas populares, não havia elite agrária e as A crise do império pode ser baseada em quatro pilares:
terras eram garantidas aos trabalhadores rurais, seus
principais produtos (erva-mate e madeira) eram de - Questão abolicionista e de terras: durante muito tempo
monopólio do Estado, a maioria das famílias tinham garantido a escravidão foi a base econômica das elites que apoiavam a
o direito a emprego, comida, moradia e vestuário. O monarquia. Com a grande campanha abolicionista e as
analfabetismo quase não existia, não tinha dívida externa e já medidas graduais tomadas pelo império, a antiga aristocracia
havia iniciado um processo de industrialização. escravista que ainda apoiava D. Pedro II ficou descontente com
seu governo. As novas elites, que faziam fortuna com o café e
As Causas da Guerra se adaptaram ao trabalho livre imigrante europeu, ansiavam
O Paraguai se manteve fora dos conflitos na região desde por mais autonomia política, e passaram a fazer grande
sua independência. Tinha um acordo com o Brasil que garantia campanha em favor da república.
A sociedade, agora com crescente número de imigrantes favorecendo a permanência dos libertos como trabalhadores
também convivia com novas ideias (entre elas o nas fazendas já existentes.
abolicionismo).
D. Pedro II se viu sem o apoio da classe média da sociedade, Gabarito
da nova aristocracia e também da antiga.
01.B / 02.E
- Questão religiosa: a Constituição de 1824 declarava o
Brasil um país oficialmente católico. A Constituição fixava que
a Igreja deveria ser subordinada ao Estado, razão pelo qual já e) Brasil República
haviam alguns atritos. O problema maior se dá a partir de 1860
quando o Papa Pio IX publica a Bula Syllabus, excluindo
Aspectos administrativos,
membros da maçonaria de irmandades católicas. Apesar de o culturais, econômicos, sociais
imperador não acatar as recomendações, os bispos de Olinda e territoriais, revoltas, crises e
e Belém seguem as instruções do Papa. Em consequência, D.
Pedro II ordena que ambos sejam presos, o que leva a Igreja a
conflitos e a participação
também dar as costas a coroa. brasileira na II Guerra
Mundial.
- Questão militar: até a Guerra do Paraguai o exército
brasileiro não tinha qualquer influência ou importância para o
governo. Durante as regências a criação da Guarda Nacional
BRASIL REPÚBLICA
garantiu que a necessidade de um exército forte quase não
existisse.
A palavra República possui várias interpretações, sendo a
A Guerra do Paraguai vem para mudar essa situação.
mais comum a identificação de um sistema de governo cujo
Forçados a se modernizar e se estruturar, após a guerra o
Chefe de Estado é eleito através do voto dos cidadãos ou de
exército não apenas exige maior participação no governo do
seus representantes, com poderes limitados e com tempo de
país como passa a ter setores contrários às ideias
governo determinado.
monarquistas.
A República tem seu nome derivado do termo em latim Res
Como a Coroa continuava intervindo em assuntos militares
publica, que significa algo como “coisa pública” ou “coisa do
e punindo alguns de seus membros a ponto de censurar a
povo”.
imprensa em determinados assuntos relacionados às forças
Em 15 de novembro de 1889 foi instituída a República no
armadas, o exército também dá as costas a monarquia e com
Brasil. Entre os fatores responsáveis para o acontecimento,
isso deixa D. Pedro II sem nenhum apoio de peso.
estão a crise que se instalou sobre o império, os atritos com a
Sem apoio após a abolição da escravatura por parte da
Igreja e o desgaste provocado pela abolição da escravidão.
princesa Isabel, em novembro de 1889 com a ação militar, sem
Com a Guerra do Paraguai e o fortalecimento do exército, os
conflitos ou participação popular, termina o império brasileiro
ideais republicanos começaram a ganhar força, sendo
e tem início o período Republicano.
abraçados também por parte da elite cafeicultora do Oeste
Paulista.
Questões
O Movimento Republicano e a Proclamação da
01. (Prefeitura de Monte Mor/SP – Agente de Transito
República
– CONSESP) Historicamente, o primeiro passo para o
advento do Parlamentarismo no Brasil, ocorreu na época do
Mesmo com a manutenção do sistema escravista e de
Império com:
latifúndio exportador, na segunda metade do século XIX o
(A) A Constituição outorgada em 1824
Brasil começou a experimentar mudanças, tanto na economia
(B) A criação da presidência do Conselho de Ministros por
como na sociedade.
D. Pedro II
O café, que já era um produto em ascensão ganhou mais
(C) A abdicação de D, Pedro I
destaque quando cultivado no Oeste Paulista. Juntamente com
(D) A declaração da maioridade
o café na região amazônica a borracha também ganhava
mercado.
02. (IF/AL – Professor-História – CEFET/AL) No
Com a ameaça do fim da escravidão, começaram os
processo crescente que levou à abolição dos escravos
incentivos para a vinda de trabalhadores assalariados gerando
(1888), o Brasil passou a instituir uma legislação que iria
o surgimento de um modesto mercado interno, além da
culminar com a abolição. Em 1850 foi sancionada a Lei
criação de pequenas indústrias. Surgiram diversos organismos
Euzébio de Queiróz (proibição do tráfico de escravos). Em
de crédito e as ferrovias ganhavam cada vez mais espaço,
contrapartida o império instituiu a Lei das Terras, que
substituindo boa parte dos transportes terrestres, marítimos e
significou:
fluviais.
(A) Objetivando regularizar os quilombos que existiam no
As mudanças citadas acima não alcançaram todo o
Brasil, foi criada a Lei das Terras, dessa forma, os quilombolas
território brasileiro. Apenas a porção que hoje abrange as
poderiam permanecer nas terras ocupadas.
regiões Sul e Sudeste foram diretamente impactadas, levando
(B) O império objetivava com a criação da LEI DAS TERRAS
inclusive ao crescimento dos núcleos urbanos. Em outras
facilitar a aquisição de terras pelos negros libertos e dificultar
partes como na região Nordeste, o cultivo da cana-de-açúcar e
para os imigrantes.
do algodão, que por muito tempo representaram a maior parte
(C) A Lei das Terras tinha o objetivo de restringir terras
das exportações nacionais, entravam em declínio.
para os novos libertos e facilitar para os imigrantes.
Muitos dos produtores e da população dessas regiões em
(D) Pensando em proteger os negros libertos, a Lei das
desenvolvimento passavam a questionar o centralismo
Terras seria um arcabouço jurídico que protegeria todos os
político existente no império brasileiro que tirava a autonomia
brasileiros.
local. A solução para resolver os problemas advindos da
(E) Visando a aumentar os valores das terras, a lei foi
mudança pela qual o país passava foi encontrada no sistema
criada dificultando, assim, a compra por parte dos libertos,
federalista, capaz de garantir a tão desejada autonomia
regional. Não é de se espantar que entre os principais
apoiadores do sistema federalista estivessem os produtores de Conforme salientado pelo ministro Aristides Lobo, a
café do oeste paulista, que passavam a reivindicar com mais proclamação ocorreu às vistas de um povo que assistiu tudo de
força seus interesses econômicos. forma bestializada.
Apesar das influências republicanas nas revoltas e
tentativas de separação desde o século XVIII, foi apenas na O Governo Provisório e a República da Espada
década de 1870, com a publicação do Manifesto Republicano,
que o ideal foi consolidado através da sistematização Proclamada a República, o primeiro desafio era
partidária. estabelecer um governo. O Marechal Deodoro da Fonseca ficou
O Manifesto foi publicado em 3 de dezembro de 1870, no responsável por assumir a função de Presidente até que um
jornal A República, redigido por Quintino Bocaiúva, Saldanha novo presidente fosse eleito. Os primeiros atos decretados por
Marinho e Salvador de Mendonça, e assinado por cinquenta e Deodoro foram o banimento da Família Real do Brasil,
oito cidadãos entre políticos, fazendeiros, advogados, estabelecimento de uma nova bandeira nacional, separação
jornalistas, médicos, engenheiros, professores e funcionários entre Estado e Igreja (criação de um Estado Laico, porém não
públicos. Defendia o federalismo (autonomia para as laicista), liberdade de cultos, secularização dos cemitérios e a
Províncias administrarem seus próprios negócios) e criticava Grande Naturalização, ato que garantiu a todos os estrangeiros
o poder pessoal do imperador. que moravam no Brasil a cidadania brasileira, desde que não
Após a publicação do Manifesto, entre 1870 e 1889 os manifestassem dentro de seis meses a vontade de manter a
ideais republicanos espalharam-se rapidamente pelo país. Um nacionalidade original.
dos principais frutos foi a fundação do Partido Republicano No plano econômico, Rui Barbosa assumiu o cargo de
Paulista, fundado na Convenção de Itu em 1873 e marcado pela Ministro da Fazenda lançando uma política de incentivo ao
heterogeneidade de seus membros e da efetiva participação setor industrial, caracterizada pela facilitação dos créditos
dos cafeicultores do Oeste Paulista. bancários, a especulação de ações e a emissão de papel-moeda
Os republicanos brasileiros divergiam em seus ideais, em excesso. As medidas tomadas por Rui Barbosa que
criando duas tendências dentro do partido: A Tendência buscavam modernizar o país, acabaram por gerar uma forte
Evolucionista e a Tendência Revolucionária. crise que provocou o aumento da inflação e da dívida pública,
Defendida por Quintino Bocaiuva, a Tendência a quebra de bancos e empobrecimento de pequenos
Evolucionista partia do princípio de que a transição do investidores. Essa dívida ficou conhecida como Encilhamento.
império para a república deveria ocorrer de maneira pacífica, Em 24 de fevereiro de 1891 foi eleito um Congresso
sem combates. De preferência após a morte do imperador. Constituinte, responsável por promulgar a primeira
Já a Tendência Revolucionária, defendida por Silva Constituição republicana brasileira, elaborada com forte
Jardim e Lopes Trovão, dizia que a República precisava “ser influência do modelo norte-americano. O Poder Moderador, de
feita nas ruas e em torno dos palácios do imperante e de seus uso exclusivo do imperador foi extinto, assim como o cargo de
ministros” e que não se poderia “dispensar um movimento Primeiro-Ministro, a vitaliciedade dos senadores, as eleições
francamente revolucionário”. A eleição de Quintino Bocaiúva legislativas indiretas e o voto censitário.
(maio de 1889) para a chefia do Partido Republicano Nacional Em relação ao poder do Estado, foi adotado o sistema de
expurgou dos quadros republicanos as ideias revolucionárias. tripartição entre Executivo, Legislativo e Judiciário, com um
O final da Guerra do Paraguai (1870) aumentou os sistema presidencialista de voto direto com mandato de 4 anos
antagonismos entre o Exército e a Monarquia. O exército sem reeleição. As províncias, que agora eram denominadas
institucionalizava-se. Os militares sentiam-se mal Estados, foram beneficiadas com uma maior autonomia
recompensados e desprezados pelo Império. Alguns jovens através do Sistema Federalista.
oficiais, influenciados pela doutrina de Augusto Comte Em relação ao voto, antes censitário, foi declarado o
(positivismo) e liderados por Benjamin Constant, sentiam-se sufrágio universal masculino, ou seja, “todos” os homens
encarregados de uma "missão salvadora" e estavam ansiosos alfabetizados e maiores de 21 anos poderiam votar. Na prática
por corrigir os vícios da organização política e social do país. A o voto ainda continuava restrito, visto que eram excluídos os
"mística da salvação nacional" não era privativa deste pequeno mendigos, os padres e os praças (soldados de baixa patente).
grupo de jovens. Generalizara-se entre os militares a ideia de No Brasil de 1900, cerca de 35%27 da população era
que só os homens de farda eram "puros" e "patriotas", ao passo alfabetizada. Desse total ainda estavam excluídas as mulheres,
que os civis, as “casacas” como diziam eram corruptos venais já que mesmo sem uma regra explícita de proibição na
e sem nenhum sentimento patriótico. constituição, “considerou-se implicitamente que elas estavam
A Proclamação resultou da conjugação de duas forças: o impedidas de votar”28
exército descontente, e o setor cafeeiro da economia, A Constituição também determinava que a primeira
pretendendo este eliminar a centralização vigente por meio de eleição para presidente deveria ser indireta através do
uma República Federativa que imporia ao país um sistema Congresso. Deodoro da Fonseca venceu a eleição por 129
favorável a seus interesses. votos a favor e 97 contra, resultado considerado apertado na
Portanto, a Proclamação não significou uma ruptura no época. Para o cargo de vice-presidente o Congresso elegeu o
processo histórico brasileiro: a economia continuou marechal Floriano Peixoto.
dependente do setor agroexportador. Afora o trabalho A atuação de Deodoro foi encarada com suspeita pelo
assalariado, o sistema de produção continuou o mesmo e os Congresso, já que ele buscava um fortalecimento do Poder
grupos dominantes continuaram a sair da camada social dos Executivo baseado no antigo Poder Moderador. Deodoro
grandes proprietários. Houve apenas uma modernização substituiu o ministério que vinha do governo provisório por
institucional. um outro, que seria comandado pelo Barão de Lucena,
O golpe militar promovido em 15 de novembro de 1889 foi tradicional político monárquico. Em 3 de novembro de 1891 o
reafirmado com a proclamação civil de integrantes do Partido presidente fechou o Congresso, prometendo novas eleições e a
Republicano, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Ao revisão da Constituição.
contrário do que aparentou, a proclamação foi consequência A intenção do marechal era limitar e igualar a
de um governo que não mais possuía base de sustentação representação dos Estados na Câmara, o que atingia os
política e não contou com intensa participação popular. grandes Estados que já possuíam uma participação maior na
27 Souza, Marcelo Medeiros Coelho de. O analfabetismo no brasil sob 28 FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1999. Página 251.
enfoque demográfico. Cad. Pesqui. Jul 1999, no.107, p.169-186. ISSN 0100-1574
política. Sem obter o apoio desejado dentro das forças conflitos e mortos posteriormente, o que garantiu o apelido de
armadas, Deodoro acabou renunciando em 23 de novembro de “revolução da degola”.
1891, assumindo em seu lugar o vice Floriano Peixoto.
Floriano tinha uma visão de República baseada na Características da Primeira República
construção de um governo estável e centralizado, com base no
exército e no apoio dos jovens das escolas civis e militares. A O período que vai de 1889, data da Proclamação da
visão de Floriano chocava-se diretamente com a visão dos República, até 1930, quando Getúlio Vargas assumiu o poder,
grandes fazendeiros, principalmente os produtores de café de é conhecido como Primeira República. O período é marcado
São Paulo que almejavam um Estado liberal e descentralizado. pela dominação de poucos grupos políticos, conhecidos como
Apesar das diferenças, o presidente e os fazendeiros oligarquias, pela alternância de poder entre os estados de São
conviveram em certa harmonia, pela percepção de que sem Paulo e Minas Gerais (política do café-com-leite), e pelo poder
Floriano a República corria o risco de acabar, e sem o apoio dos local exercido pelos Coronéis.
fazendeiros, Floriano não conseguiria governar. Com a saída dos militares do governo em 1894, teve início
Os dois primeiros governos republicanos no Brasil o período chamado República das Oligarquias. A palavra
ganharam o nome de República da Espada devido ao fato de Oligarquia vem do grego oligarkhía, que significa “governo de
seus presidentes serem membros do exército. poucos”. Os grupos dominantes, em geral ligados ao café e ao
gado, impunham sua vontade sobre o governo, seja pela via
A Revolução Federalista legal, seja através de fraudes nas votações e criação de leis
Desde o período imperial, o Rio Grande do Sul fora palco específicas para beneficiar o grupo dominante.
de protestos e indignações com o governo, como pode ser
observado na Revolução Farroupilha, que durou de 1835 até O Coronelismo
1845. Com a Proclamação da República, a política no Estado Durante o período regencial, espaço entre a abdicação de
manteve-se instável, com diversas trocas no cargo de D. Pedro I e a coroação de D. Pedro II, diversas revoltas e
presidente estadual. Conforme aponta Fausto, entre 1889 e tentativas de separação e instalação de uma república
1893, dezessete governos se sucederam no comando do aconteceram no Brasil. Sem condições de controlar todas as
Estado29, até que Júlio de Castilhos assumiu o poder no Estado. revoltas, o governo regencial, pela sugestão de Diogo Feijó,
Dois grupos disputavam o controle do Rio Grande do Sul: o criou a Guarda Nacional.
Partido Republicano Rio-grandense (PRR) e o Partido Com o propósito de defender a constituição, a integridade,
Federalista (PF). a liberdade e a independência do Império Brasileiro, sua
O Partido Republicano era composto por políticos criação desorganiza o Exército e começa a se constituir no país
defensores do positivismo, apoiadores de Júlio de Castilhos e uma força armada vinculada diretamente à aristocracia rural,
de Floriano Peixoto. Sua base política era composta com organização descentralizada, composta por membros da
principalmente de imigrantes e habitantes do litoral e da Serra elite agrária e seus agregados. Para compor os quadros da
do Rio Grande do Sul, formando uma elite política recente. Guarda nacional era necessário possuir amplos direitos
Durante o conflito foram conhecidos como Pica-paus. políticos, ou seja, pelas determinações constitucionais,
O Partido Federalista defendia um sistema de governo poderiam fazer parte dela apenas aqueles que dispusessem de
parlamentarista e a revogação da constituição do Estado, de altos ganhos anuais.
caráter positivista. Foi fundado em 1892 e tinha como líder o Com a criação da Guarda e suas exigências para
político Silveira Martins, conhecida figura política do Partido participação, surgiram os coronéis, que eram grandes
Liberal durante o império. A base de apoio do Partido proprietários rurais que compravam suas patentes militares
Federalista era composta principalmente de estancieiros de do Estado. Na prática, eles foram responsáveis pela
campanha, que dominaram a cena política durante o império. organização de milícias locais, responsáveis por manter a
Durante o conflito ganharam o apelido de Maragatos. ordem pública e proteger os interesses privados daqueles que
O conflito teve início em fevereiro de 1893, quando os as comandavam. O coronelismo esteve profundamente
federalistas, descontentes com a imposição do governo de enraizado no cenário político brasileiro do século XIX e início
Júlio de Castilhos, pegaram em armas para derrubar o do século XX.
presidente estadual. Desde o início da revolta, Floriano Após o fim da República da Espada, os grupos ligados ao
Peixoto, então presidente do Brasil, colocou-se do lado dos setor agrário ganharam força na política nacional, gerando
republicanos. Os opositores de Floriano em todo o país uma maior relevância para os coronéis no controle dos
passaram a apoiar os federalistas. interesses e na manutenção da ordem social. Como
No final de 1893 os federalistas ganharam o apoio da comandantes de forças policiais locais, os coronéis
Revolta Armada que teve início no Rio de Janeiro, causada configuravam-se como uma autoridade quase inquestionável
pelas rivalidades entre o exército e a marinha e o nas áreas rurais.
descontentamento do almirante Custódio José de Melo, A autoridade do coronel, além de usada para manter a
frustrado em sua intenção de suceder Floriano Peixoto na ordem social, era exercida principalmente durante as eleições,
presidência. para garantir que o candidato ou grupo político que ele
Parte da esquadra naval comandada pelo almirante representasse saísse vencedor. A oposição ao comando do
deslocou-se para o Sul, ocupando a cidade de Desterro (atual coronel poderia resultar em violência física, ameaças e
Florianópolis), em Santa Catarina, e a partir daí ocupando perseguições, o que fazia com que muitos votassem a
parte do Paraná e a capital Curitiba. O prolongamento do contragosto, para evitar as consequências de discordar da
conflito, com grandes custos aos revoltosos, levou à decisão de autoridade local, gerando uma prática conhecida como Voto
recuar e manter-se no Rio Grande do Sul. de Cabresto.
A revolta teve fim somente em agosto de 1895, quando os Na república velha, o sistema eleitoral era muito frágil e
combatentes maragatos depuseram as armas e assinaram um fácil de ser manipulado. Os coronéis compravam votos para
acordo de paz com o presidente da república, garantindo a seus candidatos ou trocavam votos por bens materiais. Como
anistia para os participantes do conflito. Apesar de curta, a o voto era aberto, os coronéis mandavam os capangas para os
Revolução Federalista teve um saldo de mais de 10.000 locais de votação, com o objetivo de intimidar os eleitores e
mortos, a maior parte deles de prisioneiros capturados em
ganhar os votos. As regiões controladas politicamente pelos temporário da nova Câmara eleita, o que até antes da reforma
coronéis eram conhecidas como currais eleitorais. de Campos Salles significava o mais velho parlamentar eleito.
Os coronéis costumavam alterar votos, sumir com urnas e Com a reforma, o presidente da nova Câmara deveria ser o
até mesmo patrocinavam a prática do voto fantasma. Este presidente do mandato anterior, desde que reeleito. Dessa
último consistia na falsificação de documentos para que forma, o novo presidente da Câmara seria sempre alguém
pessoas pudessem votar várias vezes ou até mesmo utilizar o ligado ao governo, e caso algum deputado oposicionista ou que
nome de falecidos nas votações. desagradasse o governo fosse eleito, ficava mais fácil removê-
Dessa forma, a vontade política do coronel era atendida, lo do poder.
garantindo que seus candidatos fossem eleitos em nível
municipal e também estadual, e garantindo também Convênio de Taubaté
participação na esfera federal. Desde o período imperial o café figurava como principal
produto de exportação brasileiro, principalmente após a
Prudente de Morais segunda década do século XIX. Consumido em larga escala na
Europa e nos Estados Unidos, o cultivo da planta espalhou-se
Floriano tentou garantir que seu sucessor fosse um aliado pelo vale do Paraíba fluminense e paulista. Continuando sua
político, porém as poucas bases de apoio de que dispunha não marcha ascendente, houve expansão dos cafeeiros na
lhe foram suficientes para concretizar o desejo. No dia 1 de província de Minas Gerais (Zona da Mata e sul do estado), ao
março de 1894 foi eleito o paulista Prudente de Morais, mesmo tempo em que a produção se consolidava no interior
encerrando o governo de membros do exército, que só de São Paulo, principalmente no “Oeste Paulista”.
voltariam ao poder em 1910, com a eleição do marechal A grande oferta causada pela produção em excesso levou a
Hermes da Fonseca. uma queda do preço, visto que havia mais produto no mercado
Prudente buscou desvincular o exército do governo, e menos pessoas interessadas em adquiri-lo.
substituindo os cargos que eram ocupados por militares por O convênio de Taubaté foi um acordo firmado em 1906,
civis, principalmente representantes da cafeicultura, último ano do mandato de Rodrigues Alves (1902-1906), entre
promovendo uma descentralização do poder. os presidentes dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de
Suas principais bandeiras eram a de uma república forte, Janeiro, na cidade de Taubaté (SP), com o objetivo de pôr em
em oposição às tendências liberais, antimonarquistas e prática um plano de valorização do café, garantindo o preço do
antilusitanas. produto por meio da compra, pelo governo federal, do
excedente da produção. O acordo foi firmado mesmo contra a
Campos Salles vontade do presidente, e foi efetivamente aplicada por seu
sucessor, Afonso Pena.
Em 1898 o paulista Manuel Ferraz de Campos Salles
assumiu a presidência no lugar de Prudente de Morais. Antes O Tratado de Petrópolis e a Borracha
mesmo de assumir o governo, Campos Salles renegociou a O espaço físico que constitui o Estado do Acre, era, até o
dívida brasileira, que vinha se arrastando desde os tempos do início do século XX, considerado uma zona não descoberta, um
império. território contestado pelos governos boliviano e brasileiro.
Para resolver a situação, ele se reuniu com os credores e Em 1839, Charles Goodyear descobriu o processo de
estabeleceu um acordo chamado Funding-Loan. Este acordo Vulcanização, que consistia em misturar enxofre com borracha
consistia no seguinte: o Brasil fazia empréstimos e atrasava o a uma temperatura elevada (140ºC/150ºC) durante certo
pagamento da dívida, fazendo concessões aos banqueiros número de horas. Com esse processo, as propriedades da
nacionais. Como consequência a indústria e o comércio foram borracha não se alteravam pelo frio, calor, solventes comuns
afetados e as camadas pobres e a classe média também foram ou óleos.
prejudicadas. Apesar do surto econômico e da procura do produto,
A transição de governos consolidou as oligarquias de São favorável para a Amazônia brasileira, havia um sério problema
Paulo e Minas Gerais no poder. O único entrave para um para a extração do látex: a falta de mão-de-obra.
governo harmônico eram as disputas políticas entre as Isso foi solucionado com a chegada à região de nordestinos
oligarquias locais nos Estados. O governo federal acabava (Arigós) que vieram fugindo da seca de 1877. Prisioneiros,
intervindo nas disputas, porém, a incerteza de uma exilados políticos e trabalhadores nordestinos misturavam-se
colaboração duradoura entre os Estados e a União ainda nos seringais do Acre, fundavam povoações, avançavam e se
permanecia. Outro fator que não permitia uma plena estabeleciam em pleno território boliviano.
consolidação política era a vontade do executivo em impor-se A exploração brasileira na região incomodava o governo
ao legislativo, mesmo com a afirmação na Constituição de que boliviano, que resolveu tomar posse definitiva do Acre.
os três poderes eram harmônicos e independentes entre si. Fundou a vila de Puerto Alonso, em 03 de janeiro de 1889, e
A junção desses fatores levou Campos Salles a criar um foram instalados postos da alfândega para arrecadar tributos
arranjo político capaz de garantir a estabilidade e controlar o originados da comercialização de borracha silvestre. Essa
legislativo, que ficou conhecido como Política dos atitude causou revolta entre os quase sessenta mil brasileiros
Governadores. que trabalhavam nos seringais acreanos. Liderados pelo
Basicamente, a política dos governadores apoiava-se em seringalista José Carvalho, do Amazonas, os seringueiros
uma ideia simples: o presidente apoiava as oligarquias rebelaram-se e expulsaram as autoridades bolivianas, em 03
estaduais mais fortes, e em troca, essas oligarquias apoiavam de maio de 1889.
e votavam nos candidatos indicados pelo presidente. Após o episódio, um espanhol chamado Luiz Galvez
Na Câmara dos Deputados, uma mudança simples garantiu Rodrigues de Aurias liderou outra rebelião, de maior alcance
o domínio. Conhecida como Comissão de Verificação de político, proclamando a independência e instalando o que ele
poderes, essa ferramenta permitia decidir quais políticos chamou de República do Acre, no local conhecido como
deveriam integrar a Câmara e quais deveriam ser “degolados”, Seringal Volta da Empresa, em 14 de julho de 1889. Galvez, o
que na gíria política da época significava ser excluído. “Imperador do Acre”, como auto proclamava-se, contava com
Quando ocorriam eleições para a Câmara, os vencedores o apoio político do governador do Amazonas, Ramalho Junior.
em cada estado recebiam um diploma. Na falta de um sistema Entretanto, a República do Acre durou apenas oito meses. O
de justiça eleitoral, ficava a cargo da comissão determinar a governo brasileiro, signatário do Tratado de Ayacucho, de 23
validade do diploma. A comissão era escolhida pelo presidente de março de 1867, reconheceu o direito de posse da Bolívia,
prendeu Luiz Galvez Rodrigues de Aurias e devolveu o Acre ao de-obra, o que possibilitou uma produção expressiva, já no ano
governo boliviano. de 1900. Gradativamente, a produção asiática foi superando a
Mesmo com a devolução do Acre aos bolivianos, a situação produção amazônica e, em 1912 há sinais de crise, culminando
continuava insustentável. O clima de animosidade persistia e em 1914, com a decadência deste ciclo na Amazônia brasileira.
aumentava a cada dia. Em 11 de julho de 1901, o governo Para a economia nacional, a borracha teve suma
boliviano decidiu arrendar o Acre a um grupo de empresários importância nas exportações, visto que em 1910, o produto
americanos, ingleses e alemães, formado pelas empresas representou 40% das exportações brasileiras. Para a
Conway and Withridge, United States Rubber Company, e Export Amazônia, o primeiro Ciclo da Borracha foi importante pela
Lumber. Esse consórcio constituiu o Bolivian Syndicate que colonização de nordestinos na região e a urbanização das duas
recebeu da Bolívia autorização para colonizar a região, grandes cidades amazônicas: Belém do Pará e Manaus.
explorar o látex e formar sua própria milícia, com direito de Durante o seu apogeu, a produção de borracha foi
utilizar a força para atender seus interesses. responsável por aproximadamente 1/3 do PIB do Brasil. Isso
Os seringueiros brasileiros, a maior parte formada por gerou muita riqueza na região amazônica e trouxe tecnologias
nordestinos, não aceitaram a situação. Estimulados por que outras cidades do sul e sudeste do Brasil ainda não
grandes seringalistas e apoiados pelos governadores do possuíam, tais como bondes elétricos e avenidas construídas
Amazonas e do Pará, deram início, no dia 06 de agosto de 1902, sobre pântanos aterrados, além de edifícios imponentes e
a uma rebelião armada: a Revolta do Acre. Os seringalistas luxuosos, como o Teatro Amazonas, o Palácio do Governo, o
entregaram a chefia do movimento rebelde ao gaúcho José Mercado Municipal e o prédio da Alfândega, no caso de
Plácido de Castro, ex-major do Exército, rebaixado a cabo por Manaus, o Mercado de São Brás, Mercado Francisco Bolonha,
participar da Revolução Federalista do Rio Grande do Sul, ao Teatro da Paz, Palácio Antônio Lemos, corredores de
lado dos Maragatos. mangueiras e diversos palacetes residenciais no caso de
A Revolta por ele liderada, financiada por seringalistas e Belém.
por dois governadores de Estado, fortalecia-se a cada dia, na
medida em que recebia armamentos, munições, alimentos, Industrialização e Greves
além de apoio político e popular. Em todo o país ocorreram Ao ser proclamada a República em 1889, existiam no Brasil
manifestações em favor da anexação do Acre ao Brasil. 626 estabelecimentos industriais, sendo 60% do ramo têxtil e
A imprensa do Rio de Janeiro e de São Paulo exigia do 15% do ramo de produtos alimentícios. Em 1914, o número já
governo brasileiro imediatas providências em defesa dos era de 7.430 indústrias, com 153.000 operários.
acreanos. Por seu lado, o governo brasileiro procurava Após o incentivo para abertura de novas indústrias
solucionar o impasse pela via diplomática, tendo à frente das decorrentes do período de 1914 a 1918, em que a Europa
negociações o diplomata José Maria da Silva Paranhos Júnior, esteve em guerra, diversas empresas produtoras
o Barão do Rio Branco. Mas todas as tentativas eram inócuas e principalmente de matéria-prima iniciaram atividades no
os combates entre brasileiros e bolivianos tornavam-se mais Brasil. Em 1920, o número havia subido para 13.336, com
frequentes e acirrados. 275.000 operários. Até 1930, foram fundados mais 4.687
Em meio aos conflitos, o presidente da Bolívia, general José estabelecimentos industriais.
Manuel Pando, organizou sob seu comando uma poderosa Há que se levar em conta que a industrialização se
expedição militar para combater os brasileiros do Acre. O concentrou no eixo Rio-São Paulo e, secundariamente, no Rio
presidente do Brasil, Rodrigues Alves, ordenou que tropas do Grande do Sul. O empresariado industrial era oriundo do café,
Exército e da Armada Naval, acantonadas no Estado de Mato do setor importador e da elite dos imigrantes.
Grosso, avançassem para a região em defesa dos seringueiros Durante o período republicano fica evidente o descaso das
acreanos. O enfrentamento de tropas regulares do Brasil e da autoridades governamentais com os trabalhadores. O país
Bolívia gerou a Guerra do Acre. passava por um momento de industrialização e os
As tropas brasileiras, formadas por dois regimentos de trabalhadores começam a se organizar.
infantaria, um de artilharia e uma divisão naval, ajudaram Em sua maioria imigrantes europeus que possuíam uma
Plácido de Castro a derrotar o último reduto boliviano no Acre, forte influência dos ideais anarquistas e comunistas, os
Puerto Alonso, hoje Porto Acre. Em consequência, no dia 17 de primeiros trabalhadores das fábricas brasileiras possuíam um
novembro de 1903, na cidade de Petrópolis, as repúblicas do discurso inflamado, convocando os colegas a se unirem em
Brasil e da Bolívia firmaram o Tratado de Petrópolis, através associações que resultariam posteriormente na fundação dos
do qual o Brasil ficou de posse do Acre, assumindo o primeiros sindicatos de trabalhadores.
compromisso de pagar uma indenização de dois milhões de Os líderes dos movimentos operários buscavam melhores
libras esterlinas ao governo boliviano e mais 114 mil ao condições de trabalho para seus colegas como redução de
Bolivian Syndicate. jornada de trabalho e segurança no trabalho. Lutavam contra
O Tratado de Petrópolis, aprovado pelo Congresso a manutenção da propriedade privada e do chamado “Estado
brasileiro em 12 de abril de 1904, também obrigou o Brasil a Burguês”.
realizar o antigo projeto do governo boliviano de construir a Ocorreram entre 1903 e 1906 greves de pouca expressão
estrada de ferro Madeira-Mamoré. A Bolívia, aproveitando-se pelo país, através de movimentos de tecelões, alfaiates,
do momento político, colocou na pauta de negociações seu portuários, mineradores, carpinteiros e ferroviários. Em
ambicionado projeto. Em contrapartida, reconheceu a contrapartida, o governo brasileiro criou leis para impedir o
prioridade de chegada dos primeiros brasileiros à região e avanço dos movimentos, como uma lei expulsando os
renunciou a todos os direitos sobre as terras do Acre. estrangeiros que fossem considerados uma ameaça à ordem e
segurança nacional.
O Declínio da Borracha A greve mais significativa do período ocorreu em 1917, a
Em 1876, Henry Alexander Wyckham contrabandeou Greve Geral em São Paulo, que contou com os trabalhadores
sementes de seringueiras da região situada entre os rios dos setores alimentício, gráfico, têxtil e ferroviário como mais
Tapajós e Madeira e as mandou para o Museu Botânico de Kew, atuantes. O governo, para reprimir o movimento utilizou
na Inglaterra. Muitas das sementes brotaram nos viveiros e inclusive forças do Exército e da Marinha.
poucas semanas depois, as mudas foram transportadas para o A repressão cada vez mais dura do governo através de leis,
Ceilão e Malásia. decretos e uso de violência acabou sufocando os movimentos
Na região asiática as sementes foram plantadas de forma grevistas, que acabaram servindo de base para a criação no
racional e passaram a contar com um grande número de mão- ano de 1922, inspirado pelo Partido Bolchevique Russo, do
conscientização e educação. Disso se aproveitaram os cangaceiros, que andavam em bandos armados e espalhavam
militares e políticos adversários de Rodrigues Alves. o medo pelo sertão nordestino. Promoviam saques a fazendas,
Assim, irrompeu a Revolta da Vacina (novembro de 1904), atacavam comboios e chegavam a sequestrar fazendeiros para
sob a liderança do senador Lauro Sodré. O levante foi obtenção de resgates. A população que respeitava e acatava as
rapidamente dominado, fortalecendo a posição do presidente. ordens dos cangaceiros era muitas vezes beneficiada por suas
atitudes. Essa característica fez com que os cangaceiros fossem
Revolta da Chibata30 respeitados e até mesmo admirados por parte da população da
A Revolta da Chibata ocorreu em 22 de novembro de 1910 época.
no Rio de Janeiro. Entre outros, foi motivada pelos castigos Como não seguiam as leis estabelecidas pelo governo,
físicos que os marinheiros brasileiros recebiam. As faltas eram perseguidos constantemente pelos policiais. Usavam
graves eram punidas com 25 chibatadas (chicotadas). Esta roupas e chapéus de couro para protegerem os corpos,
situação gerou uma intensa revolta entre os marinheiros. durante as fugas, da vegetação cheia de espinhos da caatinga.
O estopim da revolta se deu quando o marinheiro Além desse recurso da vestimenta, usavam todos os
Marcelino Rodrigues foi castigado com 250 chibatadas, por ter conhecimentos que possuíam sobre o território nordestino
ferido um colega da Marinha, dentro do encouraçado Minas (fontes de água, ervas, tipos de solo e vegetação) para fugirem
Gerais. O navio de guerra estava indo para o Rio de Janeiro e a ou obterem esconderijos.
punição, que ocorreu na presença dos outros marinheiros, Existiram diversos bandos de cangaceiros. Porém, o mais
desencadeou a revolta. conhecido e temido da época foi o bando comandado por
O motim se agravou e os revoltosos chegaram a matar o Lampião (Virgulino Ferreira da Silva), também conhecido pelo
comandante do navio e mais três oficiais. Já na Baia da apelido de “Rei do Cangaço”. O bando de Lampião atuou pelo
Guanabara, os revoltosos conseguiram o apoio dos sertão nordestino durante as décadas de 1920 e 1930.
marinheiros do encouraçado São Paulo. De 1921 a 1934, Lampião dividiu seu bando em vários
O líder da revolta, João Cândido (conhecido como o subgrupos, dentre os quais os chefiados por Corisco, Moita
Almirante Negro), redigiu a carta reivindicando o fim dos Brava, Português, Moreno, Labareda, Baiano, José Sereno e
castigos físicos, melhorias na alimentação e anistia para todos Mariano. Entre seus bandos, Lampião sempre teve grande
que participaram da revolta. Caso não fossem cumpridas as apreço pelo bando de Corisco, conhecido como “Diabo Loiro” e
reivindicações, os revoltosos ameaçavam bombardear a também grande amigo de Virgulino.
cidade do Rio de Janeiro (então capital do Brasil). Lampião morreu numa emboscada armada por uma
volante33, junto com a mulher Maria Bonita e outros
Segunda Revolta31 cangaceiros, em 29 de julho de 1938. Tiveram suas cabeças
Diante da grave situação, o presidente Hermes da Fonseca decepadas e expostas em locais públicos, pois o governo
resolveu aceitar o ultimato dos revoltosos. Porém, após os queria assustar e desestimular esta prática na região.
marinheiros terem entregues as armas e embarcações, o A morte de lampião atingiu o movimento do Cangaço como
presidente solicitou a expulsão de alguns deles. A insatisfação um todo, enfraquecendo e dividindo os grupos restantes.
retornou e no começo de dezembro, os marinheiros fizeram Corisco foi morto em uma emboscada no ano de 1940,
outra revolta na Ilha das Cobras. encerrando de vez o cangaço no Nordeste.
Esta segunda revolta foi fortemente reprimida pelo
governo, sendo que vários marinheiros foram presos em celas A Semana de Arte Moderna de 1922
subterrâneas da Fortaleza da Ilha das Cobras. Neste local, onde
as condições de vida eram desumanas alguns prisioneiros O ano de 1922 representou um marco na arte e na cultura
faleceram. Outros revoltosos presos foram enviados para a brasileira, com a realização da Semana de Arte Moderna, de 11
Amazônia, onde deveriam prestar trabalhos forçados na a 18 de fevereiro. A exposição marcava uma tentativa de
produção de borracha. introduzir elementos brasileiros nos campo da arte e da
O líder da revolta João Cândido foi expulso da Marinha e cultura, vistas como dominadas pela influência estrangeira,
internado como louco no Hospital de Alienados. No ano de principalmente de elementos europeus, trazidos tanto pela
1912, foi absolvido das acusações junto com outros elite econômica quanto por trabalhadores imigrantes,
marinheiros que participaram da revolta. principalmente italianos que trabalhavam na indústria
paulista.
O Cangaço no Nordeste32 Na virada do século XX, São Paulo despontava como
Entre o final do século XIX e começo do XX (início da segunda maior cidade do país, atrás apenas do Rio de Janeiro,
República), ganharam força, no nordeste brasileiro, grupos de capital nacional. Apesar de ocupar o segundo lugar em
homens armados, conhecidos como cangaceiros. Estes grupos tamanho, a cidade possuía grande taxa de industrialização,
apareceram em função principalmente das péssimas mais até que a capital, principalmente pelos recursos
condições sociais da região nordestina. O latifúndio que proporcionados pela produção de café.
concentrava terra e renda nas mãos dos fazendeiros, deixava a O contato proporcionado pelos novos meios de transporte
margem da sociedade a maioria da população. e de comunicação proporcionou o contato com novas
Existiram três tipos de cangaço na história do sertão: tendências que rompiam com a estrutura das artes
predominante desde o renascimento. Entre elas estavam o
O defensivo, de ação esporádica na guarda de futurismo, dadaísmo, cubismo, e surrealismo.
propriedades rurais, em virtude de ameaças de índios, disputa No Brasil, o espírito modernista foi apresentado por
de terras e rixas de famílias; autores como Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Lima
O político, expressão do poder dos grandes fazendeiros; Barreto e Graça Aranha, que se desligaram de uma literatura
O independente, com características de banditismo. de “falsas aparências”, procurando discutir ou descobrir o
“Brasil real”, frequentemente “maquiado” pelo pensamento
O Cangaço pode ser entendido como um fenômeno social, acadêmico. As novas tendências apareceram em 1917, em
caracterizado por atitudes violentas por parte dos
30 http://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/revolta-da- 32 http://www.seja-ead.com.br/2-ensino-medio/ava-ead-em/3-ano/03-
chibata ht/aula-presencial/aula-5.pdf
31 http://www.abi.org.br/abi-homenageia-filho-do-lider-da-revolta-da- 33 Tropa ligeira, que não transporta artilharia nem bagagem.
chibata/
trabalhos: da pintora Anita Malfatti, do escultor Brecheret, do Em outubro de 1921, os ânimos dos militares foram
compositor Vila Lobos e do intelectual Oswaldo de Andrade. exaltados com a publicação de cartas no Jornal Correio da
Os modernistas foram buscar inspiração nas imagens da Manhã, do Rio de Janeiro, assinadas com o nome do candidato
indústria, da máquina, da metrópole, do burguês e do Artur Bernardes e endereçadas ao líder político mineiro Raul
proletário, do homem da terra e do imigrante. Soares. Em seu conteúdo, criticavam a conduta do ex-
Entre os escritores modernistas, o que melhor reflete o presidente e Marechal do Exército, Hermes da Fonseca, por
espírito da Semana é Oswald de Andrade. De maneira geral, ocasião de um jantar promovido no Clube Militar.
sua produção literária reflete a sociedade em que se forjou sua As cartas puseram lenha na fogueira da disputa, deixando
formação cultural: o momento de transição que une o Brasil os militares extremamente insatisfeitos com o candidato.
agrário e patriarcal ao Brasil que caminha para a Pouco antes da data da eleição dois falsários assumiram a
modernização. Ao lado de Oswald de Andrade, destaca-se autoria das cartas e comprovaram tratar-se de uma armação.
como ponto alto do Modernismo a figura de Mário de Andrade, A conspiração não teve maiores consequências, e as eleições
principal animador do movimento modernista e seu espírito puderam transcorrer normalmente em março de 1922.
mais versátil. Cultivou a poesia, o romance, o conto, a crítica, a Como era de se esperar, a vitória foi de Artur Bernardes. O
pesquisa musical e folclórica. problema foi que nem a Reação Republicana nem os militares
aceitaram o resultado. Como o governo se manteve inflexível e
Os Anos 1920 e a Crise Política34 não aceitou a proposta da oposição de rever o resultado
eleitoral, o confronto se tornou apenas uma questão de tempo.
Após a Primeira Guerra Mundial, a classe média urbana
passava cada vez mais a participar da política. A presença O Tenentismo35
desse grupo tendia a garantir um maior apoio a políticos e Após a Primeira Guerra Mundial, vários oficiais jovens de
figuras públicas apoiados em um discurso liberal, que baixa patente, principalmente tenentes (e daí deriva o nome
defendesse as leis e a constituição, e fossem capazes de do movimento tenentista) sentiam-se insatisfeitos. Os soldos
transformar a República Oligárquica em República Liberal. permaneciam baixos e o governo não fazia menção de
Entre as reivindicações estavam o estabelecimento do voto aumentá-los. Havia um grande número deles, e as promoções
secreto, e a criação de uma Justiça Eleitoral capaz de conter a eram muito lentas. Um segundo-tenente podia demorar dez
corrupção nas eleições. anos para alcançar a patente de capitão.
Em 1919, Rui Barbosa, que já havia sido derrotado em Sua reinvindicações oficiais foram contra a desorganização
1910 e 1914, entrou novamente na disputa como candidato de e o abandono em que se encontrava o exército brasileiro. Com
oposição, enfrentando o candidato Epitácio Pessoa, que o tempo os líderes do movimento chegaram à conclusão de que
concorria como novo sucessor pelo PRM (Partido Republicano os problemas que enfrentavam não estavam apenas no
Mineiro). exército, mas também na política.
Permanecendo ausente do Brasil durante toda a Com a intenção de fazer as mudanças acontecerem, os
campanha, devido à sua atuação na Conferência de Paz da revoltosos pressionaram o governo, que não se prontificou a
França, Epitácio venceu Rui Barbosa no pleito realizado em atendê-los, o que gerou movimentos de tentativa de tomada de
abril de 1919 e retornou ao Brasil em julho para assumir a poder por meio dos militares. Esse programa conquistou
presidência da República. ampla simpatia da opinião pública urbana, mas não houve
Apesar da derrota, o candidato oposicionista conseguiu mobilização popular e nem mesmo engajamento de
atingir cerca de um terço dos votos, sem nenhum apoio da dissidências oligárquicas à revolução (com exceção do Rio
máquina eleitoral, inclusive conquistando a vitória no Distrito Grande do Sul), daí o seu isolamento e o seu fracasso.
Federal.
Mesmo com o acordo de apoio conseguido com a Política Os 18 do Forte
dos Governadores, e o controle estabelecido por São Paulo e Como citado anteriormente, a vitória de Artur Bernardes
Minas Gerais no revezamento de poder a partir da década de em março de 1922 não agradou os setores oposicionistas.
1920, estados com uma participação política e econômica Durante o período em que aguardava para assumir a posse,
considerada mediana resolveram interferir para tentar acabar que acontecia no dia 15 de novembro, houveram diversos
com a hegemonia da política do “Café com Leite”. protestos contra o mineiro.
Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia se Em junho, o governo federal interveio durante a sucessão
uniram nas eleições presidenciais de 1922, lançando um estadual em Pernambuco, fato que foi extremamente criticado
movimento político de oposição - a Reação Republicana - que por Hermes da Fonseca. O presidente Epitácio Pessoa, que
lançou o nome do fluminense Nilo Peçanha contra o candidato ainda exercia o poder, mandou prender o ex-presidente e
oficial, o mineiro Artur Bernardes. ordenou o fechamento do Clube Militar em 2 de julho.
A chapa oposicionista defendia a maior independência do As ações de Epitácio geraram uma crise que culminou em
Poder Legislativo frente ao Executivo, o fortalecimento das uma série de levantes na madrugada de 5 de julho. Na capital
Forças Armadas e alguns direitos sociais do proletariado federal, levantaram-se o forte de Copacabana, guarnições da
urbano. Todas essas propostas eram apresentadas num Vila Militar, o forte do Vigia, a Escola Militar do Realengo e o 1°
discurso liberal de defesa da regeneração da República Batalhão de Engenharia; em Niterói, membros da Marinha e do
brasileira. Exército; em Mato Grosso, a 1ª Circunscrição Militar,
O movimento contou com a adesão de diversos militares comandada pelo general Clodoaldo da Fonseca, tio do
descontentes com o presidente Epitácio Pessoa, que nomeara marechal Hermes. No Rio de Janeiro, o movimento foi
um civil para a chefia do Ministério da Guerra. A Reação comandado pelos "tenentes", uma vez que a maioria da alta
Republicana conseguiu, em uma estratégia praticamente oficialidade se recusou a participar do levante.
inédita na história brasileira, desenvolver uma campanha Os rebeldes localizados no Forte de Copacabana passaram
baseada em comícios populares nos maiores centros do país. a disparar seus canhões contra diversos redutos do Exército,
O mais importante deles foi o comício na capital federal, forçando inclusive o comando militar a abandonar o Ministério
quando Nilo Peçanha foi ovacionado pelas massas. da Guerra. As forças legais revidaram, e o forte sofreu sério
bombardeio.
34 http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos20/CrisePolitica 35
http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos20/CrisePolitica/Movi
mentoTenentista
Os revoltosos continuaram sua resistência até a tarde de 6 1925. Formou-se assim o contingente que deu início à marcha
de julho, quando resolveram abandonar o Forte e marchar da Coluna Prestes.
pela Avenida Atlântica, indo de encontro às forças do governo
que enfrentavam. A Coluna Prestes
Em uma troca de tiros com as forças oficiais, morreram Enquanto alguns militares se rebelavam em São Paulo, Luís
quase todos os revoltosos, que ficaram conhecidos como “Os Carlos Prestes, também militar, organizava outro grupo no Rio
18 do Forte de Copacabana”. Apesar do nome atribuído ao Grande do Sul. Em abril de 1925, as duas frentes de oposição,
grupo, as fontes de informação da época não são exatas, com a Paulista liderada por Miguel Costa, e a Gaúcha, por Prestes,
vários jornais divulgando números diferentes. Os únicos uniram-se em Foz do Iguaçu e partiram para uma caminhada
sobreviventes foram os tenentes Siqueira Campos e Eduardo pelo Brasil.
Gomes, com graves ferimentos. Sempre vigiados por soldados do governo, os revoltosos
evitavam confrontos diretos com as tropas, por meio de táticas
A Revolta de 192436 de guerrilha.
Os participantes das Revoltas de 1922 foram julgados e Por meio de comícios e manifestos, a Coluna denunciava à
punidos em dezembro de 1923, acusados de tentar promover população a situação política e social do país. Num primeiro
um golpe de Estado. Novamente o exército teve suas relações momento, não houve muitos resultados, porém o movimento
com o governo federal agravadas, com uma tensão crescente ajudou a balançar as bases já enfraquecidas do sistema
que gerou uma nova revolta militar, novamente na oligárquico e a preparar caminho para a Revolução de 1930.
madrugada, em 5 de julho de 1924 em São Paulo, articulada A Coluna Prestes durou 2 anos e 3 meses, percorrendo
pelo general reformado Isidoro Dias Lopes, pelo major Miguel cerca de 25 mil quilômetros através de treze estados do Brasil.
Costa, comandante do Regimento de Cavalaria da Força Estima-se que a Coluna tenha enfrentado mais de 50 combates
Pública do estado, e pelo tenente Joaquim Távora, este último contra as tropas governistas, sem sofrer derrotas.
morto durante os combates. Tiveram ainda participação A passagem da Coluna Prestes, gerava reações diversas na
destacada os tenentes Juarez Távora, Eduardo Gomes, João população. Como forma de desmoralizar o movimento, o
Cabanas, Filinto Müller e Newton Estillac Leal. governo condenava os rebeldes e associavam suas ações a
O objetivo do movimento era depor o presidente Artur assassinos e bandidos.
Bernardes, cujo governo transcorria, desde o início, sob estado Iniciando a marcha, a coluna concluiu a travessia do rio
de sítio permanente e sob vigência da censura à imprensa. Paraná em fins de abril de 1925 e adentrou no Paraguai com a
Entre as primeiras ações dos revoltosos, ganhou intenção de chegar a Mato Grosso. Posteriormente percorreu
prioridade a ocupação de pontos estratégicos, como as Goiás, entrou em Minas Gerais e retornou a Goiás.
estações da Luz, da Estrada de Ferro Sorocabana e do Brás, Após a passagem por Goiás, a Coluna partiu para o
além dos quartéis da Força Pública, entre outros. Nordeste, chegando em novembro ao Maranhão, ocasião em
Logo após a ocupação, no dia 8 de julho o presidente de São que o tenente-coronel Paulo Krüger foi preso e enviado a São
Paulo, Carlos de Campos, deixou o palácio dos Campos Elíseos, Luís. Em dezembro, penetrou no Piauí e travou em Teresina
sede do governo paulista na época. No dia seguinte, os sério combate com as forças do governo. Rumando então para
rebeldes instalaram um governo provisório chefiado o Ceará, a coluna teve outra baixa importante: na serra de
pessoalmente pelo general Isidoro. O ato foi respondido com Ibiapina, Juarez Távora foi capturado.
um intenso bombardeio das tropas legalistas sobre a cidade, Em janeiro de 1926, a coluna atravessou o Ceará, chegou
principalmente em bairros operários de São Paulo na região da ao Rio Grande do Norte e, em fevereiro, invadiu a Paraíba,
zona leste. Os bairros da Mooca, Brás, Belém e Cambuci foram enfrentando na vila de Piancó séria resistência comandada
os mais atingidos pelo bombardeio. pelo padre Aristides Ferreira da Cruz, líder político local. Após
A partir do dia 16, sucederam-se as tentativas de ferrenhos combates, a vila acabou ocupada pelos
armistício. Um dos principais mediadores foi José Carlos de revolucionários.
Macedo Soares, membro da Associação Comercial de São Continuando rumo ao sul, a coluna atravessou
Paulo. Num primeiro momento, o general Isidoro condicionou Pernambuco e Bahia e retornou para Minas Gerais, pelo norte
a assinatura de um acordo à entrega do poder a um governo do Estado. Encontrando vigorosa reação legalista e precisando
federal provisório e à convocação de uma Assembleia remuniciar-se. O comando da coluna decidiu interromper a
Constituinte. A negativa do governo federal, somada às marcha para o sul e, em manobra conhecida como "laço
consequências do bombardeio da cidade, reduziu as exigências húngaro37", retornar ao Nordeste através da Bahia. Cruzou o
dos revoltosos à concessão de uma anistia ampla aos Piauí, alcançou Goiás e finalmente chegou de volta a Mato
revolucionários em 1922 e 1924. Entretanto, nem essa Grosso em outubro de 1926.
reivindicação foi atendida. Àquela altura, o estado-maior revolucionário decidiu
Como as exigências dos revoltosos não foram atendidas e enviar Lourenço Moreira Lima e Djalma Dutra à Argentina,
a pressão do governo aumentava, a solução foi mudar a para consultar o general Isidoro Dias Lopes quanto ao futuro
estratégia. Em 27 de julho os revoltosos abandonaram a da coluna: continuar a luta ou rumar para o exílio.
cidade, indo em direção a Bauru, no interior do Estado. O Entre fevereiro e março de 1927, afinal, após uma penosa
deslocamento foi facilitado graças a eclosão de diversas travessia do Pantanal, parte da coluna, comandada por
revoltas no interior, com a tomada de prefeituras. Siqueira Campos, chegou ao Paraguai, enquanto o restante
Àquela altura, já haviam eclodido rebeliões militares no ingressou na Bolívia, onde encontrou Lourenço Moreira Lima,
Amazonas, em Sergipe e em Mato Grosso em apoio ao levante que retornava da Argentina. Tendo em vista as condições
de São Paulo, mas os revoltosos paulistas desconheciam tais precárias da coluna e as instruções de Isidoro, os
acontecimentos. revolucionários decidiram exilar-se.
Em outubro, enquanto os paulistas combatiam em Durante o tempo em que passou na Bolívia, Prestes
território paranaense, tropas sediadas no Rio Grande do Sul dedicou-se a leituras em busca de explicações para a situação
iniciaram um levante, associadas a líderes gaúchos contrários de atraso e miséria que presenciara em sua marcha pelo
à situação estadual. As forças rebeladas juntaram-se aos interior brasileiro. Em dezembro de 1927 foi procurado por
paulistas em Foz do Iguaçu, no Paraná, no mês de abril de Astrojildo Pereira, secretário-geral do Partido Comunista
http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos20/CrisePolitica/Leva aplicado na platina dos uniformes dos oficiais de antigamente, o “laço húngaro”.
ntes1924
Brasileiro, que fora incumbido de convidá-lo a firmar uma O governador mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada,
aliança entre "o proletariado revolucionário, sob a influência que esperava ser o indicado para a sucessão presidencial,
do PCB, e as massas populares, especialmente as massas propôs o lançamento de um movimento de oposição para
camponesas, sob a influência da coluna e de seu comandante". concorrer contra a candidatura de Júlio Prestes. O apoio partiu
Prestes, contudo, não aceitou essa aliança. Foi nesse de outros dois estados insatisfeitos com a situação política: Rio
encontro que obteve as primeiras informações sobre a Grande do Sul e Paraíba.
Revolução Russa, o movimento comunista e a União Soviética. Do Rio Grande do Sul surgiu, após inúmeras discussões
A seguir, mudou-se para a Argentina, onde leu Marx e Lênin. entre os três estados, o nome de Getúlio Vargas – governador
gaúcho eleito em 1927, que fora Ministro da Fazenda de
A Defesa do Café Washington Luís – para presidente, tendo como vice o nome
Os acordos para a manutenção do preço do café elevaram do governador da Paraíba e sobrinho do ex-presidente
a dívida brasileira, principalmente após as emissões de moeda Epitácio Pessoa, o pernambucano João Pessoa Cavalcanti de
realizadas entre 1921 e 1923 por Epitácio Pessoa, o que gerou Albuquerque.
uma desvalorização do câmbio e o aumento da inflação. Artur Definidos os nomes, foi formada a Aliança Liberal, nome
Bernardes preocupou-se em saldar a dívida externa brasileira, que definiu a campanha. O Partido Democrático de São Paulo
retomando o pagamento dos juros e da dívida principal a expressou seu apoio à candidatura de Getúlio Vargas,
partir do ano de 1927. enquanto alguns membros do Partido Republicano Mineiro
Com o objetivo de avaliar a situação financeira do Brasil, resolveram apoiar Júlio Prestes.
em fins de 1923 uma missão financeira inglesa, chefiada por A Aliança Liberal refletia os desejos das classes
Edwin Samuel Montagu chegou ao país. Após os estudos, a dominantes regionais que não estavam ligadas ao café,
comissão apresentou um relatório à presidência da República, buscando também atrair a classe média. Seu programa de
em que apresentava os riscos decorrentes da emissão governo defendia o fim dos esquemas de valorização do café, a
exagerada de moeda e o consequente receio dos credores implantação de alguns benefícios aos trabalhadores, como a
internacionais. aposentadoria (nem todos os setores possuíam), a lei de férias
A defesa dos preços do café representava um gasto e a regulamentação do trabalho de mulheres e menores de
entendido pelo governo federal como secundário nesse idade. Além disso, insistiam no tratamento com seriedade pelo
momento, mesmo em meio às críticas de abandono proferidas poder público das questões sociais, que Washington Luís
pelo setor cafeeiro. A solução foi passar a responsabilidade da afirmava serem “caso de polícia”. Um dos pontos marcantes da
defesa do café para São Paulo. Em dezembro de 1924 foi criado campanha da Aliança Liberal foi a participação do
o Instituto de Defesa Permanente do Café, que possuía a função proletariado.
de regular a entrada do produto no Porto de Santos e realizar
compras do produto para evitar a desvalorização. Reflexos da Crise de 1929 no Brasil
No plano externo, a quebra da bolsa de valores de Nova
O Governo de Washington Luís York, seguida da crise que afetou grande parte da economia
mundial, também teve repercussões no Brasil.
Em 1926, mantendo a tradicional rotação presidencial O ano de 1929 rendeu uma excelente produção de café,
entre São Paulo e Minas Gerais, o paulista radicado tudo que os produtores não esperavam. A colheita de quase 30
Washington Luís foi indicado para a sucessão e saiu vencedor milhões de sacas na safra 1927-1928 representava
nas eleições de 1926. Seu governo seguiu com relativa aproximadamente o dobro da produção dos anos anteriores.
tranquilidade, até que em 1929 uma série de fatores, internos Esperava-se que, devido a alternância entre boas e más safras
e externos, mudaram de maneira drástica os rumos do Brasil. 1929 representasse uma colheita baixa, já que as três últimas
No plano interno, a insatisfação das camadas urbanas, em safras haviam sido boas.
especial da classe média, crescia cada vez mais. A estrutura de Aliada a ideia de uma safra baixa, estava a expectativa de
governo baseada no poder das oligarquias, dos coronéis e da lucros certos, garantidos pela Defesa Permanente do Café, o
predominância dos grandes proprietários e produtores de café que levou muitos produtores a contraírem empréstimos e
da região de São Paulo não atendia as exigências e os anseios aumentarem suas lavouras.
de boa parte da população, que não fazia parte ou não era A produção, ao contrário do esperado, graças às condições
beneficiada pelo sistema de governo. climáticas e a implantação de novas técnicas agrícolas. O
Em 1926 surgiu o Partido Democrático, de cunho liberal. O excesso do produto foi de encontro com a crise, que diminuiu
partido desponta como oposição ao PRP (Partido Republicano o consumo, e consequente o preço do café. O resultado foi um
Paulista), que repudiava o liberalismo na prática. Seus endividamento daqueles que apostaram em preços altos e não
integrantes pertenciam a uma faixa etária mais jovem em quitaram suas dívidas.
comparação aos republicanos, o que também contribuiu para Em busca de salvação para os negócios, o setor cafeeiro
agradar boa parte da classe média insatisfeita com o PRP. recorreu ao governo federal na busca de perdão das dívidas e
Formado por prestigiados profissionais liberais e filhos de de novos financiamentos. O presidente, temendo perder a
fazendeiros de café, o partido tinha como pauta a reforma do estabilidade cambial, recusou-se a ajudar o setor, fator que foi
sistema político, através da implantação do voto secreto, da explorado politicamente pela oposição.
representação de minorias, a real divisão dos três poderes e a Apesar do esforço em tentar combater o candidato de
fiscalização das eleições pelo poder judiciário. Washington Luís, a Aliança Liberal não foi capaz de derrotar
Júlio Prestes, que foi eleito presidente em 1º de Março de 1930.
A Sucessão de Washington Luís
Voltando à política do Café-com-leite, em 1929 começava a A Revolução de 1930
campanha para a escolha do sucessor de Washington Luís. Pela
tradição, o apoio deveria ser dado a um candidato mineiro, já Em 1º de março de 1930 Júlio Prestes foi eleito presidente
que o presidente que estava no poder fora eleito por São Paulo. do Brasil conquistando 1.091.709 votos, contra 742.794 votos
Ao invés de apoiar um candidato mineiro, Washington Luís recebidos por Getúlio Vargas. Ambos os lados foram acusados
insistiu na candidatura do governador de São Paulo, Júlio de cometer fraudes contra o sistema eleitoral, seja
Prestes. A atitude do presidente gerou intensa insatisfação em manipulando votos, seja impondo votos forçados através de
Minas Gerais, e ajudou a alavancar o Rio Grande do Sul no violência e ameaça.
cenário político.
A derrota Getúlio Vargas nas eleições de 1930 não - 1919: Delfim Moreira da Costa Ribeiro (vice de Rodrigues
significou o fim da Aliança Liberal e sua busca pelo controle do Alves, assumiu em seu lugar);
poder executivo. Os chamados “tenentes civis” acreditavam - 1919-1922: Epitácio da Silva Pessoa;
que ainda poderiam conquistar o poder através das armas. - 1922-1926: Artur da Silva Bernardes;
Buscando agir pelo caminho que o movimento tenentista - 1926-1930: Washington Luís Pereira de Sousa (deposto
havia tentado anos antes, os jovens políticos buscaram fazer pela Revolução de 1930);
contato com militares rebeldes, que receberam a atitude com - 1930: Júlio Prestes de Albuquerque (eleito presidente em
desconfiança. Entre os motivos para o receio dos tenentes, 1930, não tomou posse, impedido pela Revolução de 1930);
estava o fato de que alguns nomes, como João Pessoa e Osvaldo - 1930: Junta Militar Provisória: General Augusto Tasso
Aranha, estiveram envolvidos em perseguições, confrontos e Fragoso, General João de Deus Mena Barreto, Almirante Isaías
condenações contra o grupo. de Noronha.
Porém, depois de conversas e desconfianças dos dois lados,
os grupos chegaram a um acordo com a adesão de nomes de Questões
destaque dos movimentos da década de 20, como Juarez
Távora, João Alberto e Miguel Costa. A grande exceção foi o 01. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário - História -
nome de Luís Carlos Prestes, que em maio de 1930 declarou- FCC) Seu Mundinho, todo esse tempo combati o senhor. Fui eu
se abertamente como socialista revolucionário, e recusou-se a quem mandou atirar em Aristóteles. Estava preparado para
apoiar a disputa oligárquica. virar Ilhéus do avesso. Os jagunços estavam de atalaia, prontos
Os preparativos para a tomada do poder não aconteceram para obedecer. Os meus e os outros amigos, para acabar com a
da maneira esperada, deixando o movimento conspiratório em eleição. Agora tudo acabou.
uma situação de desvantagem. Porém, em 26 de julho de 1930 (In: AMADO, Jorge. Gabriela, cravo e canela)
ocorreu um fato que serviu de estopim para o movimento
revolucionário: por volta das 17 horas, na confeitaria “Glória”, O texto descreve uma realidade que, na história do Brasil,
em Recife, João Pessoa foi assassinado por João Duarte Dantas. identifica o
O crime, motivado tanto por disputas pessoais como por (A) tenentismo, que considerava o exército como a única
disputas públicas, foi utilizado como justificativa para o força capaz de conduzir os destinos do povo.
movimento revolucionário, sendo explorado seu lado público, (B) coronelismo, que se constituía em uma forma de o
e transformado João Pessoa em “mártir da revolução”. poder privado se manifestar por meio da política.
A morte de João Pessoa foi extremamente explorada por (C) mandonismo, criado com o objetivo de administrar os
seus aliados como elemento político para concretizar os conflitos no interior das elites agrárias do país.
objetivos da revolução. Apesar de ter morrido no Nordeste e (D) messianismo, entidade com poderes políticos capaz de
ser natural da região, o corpo do presidente da Paraíba foi subjugar a população por meio da força.
enterrado no Rio de Janeiro, então capital da República, fator (E) integralismo, que consistia em uma forma de a
que reuniu uma enorme quantidade de pessoas para oligarquia cafeeira demonstrar sua influência e poder político.
acompanhar o funeral. A morte de João Pessoa garantiu a
adesão de setores do exército que até então estavam 02. (TRT 3ª Região/MG - Analista Judiciário - História -
relutantes em apoiar a causa dos revolucionários. FCC) Para responder à questão, considere o texto abaixo.
Feitos os preparativos, no dia 3 de outubro de 1930, nos ... A forma federativa deu ampla autonomia aos Estados, com
estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e no Nordeste, a possibilidade de contrair empréstimos externos, constituir
estourou a revolução comandada por Getúlio Vargas e pelo forças militares próprias e uma justiça estadual.
tenente-coronel Góes Monteiro. As ações foram rápidas e não [...] A representação na Câmara dos Deputados,
encontraram uma resistência forte. No Nordeste, as operações proporcional ao número de habitantes dos Estados, foi outro
ficaram a cargo de Juarez Távora, que contando com a ajuda da princípio aprovado...
população, conseguiu dominar Pernambuco sem esforços. [...] A aceitação resignada da candidatura Prudente de
Em virtude do maior peso político que os gaúchos Moraes, que marcou o início da república civil oligárquica,
detinham no movimento e sob pressão das forças consolidada por Campos Sales, se deu em um momento difícil,
revolucionárias, a Junta finalmente decidiu transmitir o poder quando Floriano dependia do apoio regional [...].
a Getúlio Vargas. Num gesto simbólico que representou a (Adaptado de: FAUSTO, Boris. Pequenos ensaios de História da República
(1889-1945). São Paulo: Cebrap, 1972, p. 2-4)
tomada do poder, os revolucionários gaúchos, chegando ao
Rio, amarraram seus cavalos no Obelisco da avenida Rio
O principal mecanismo para a consolidação da república a
Branco. Em 3 de novembro chegava ao fim a Primeira
que o texto se refere foi a
República.
(A) política de “salvação nacional", desencadeada pelos
militares ligados aos grandes fazendeiros mineiros e paulistas
Candidato (a), segue abaixo a lista completa dos
com a finalidade de fortalecer o poder das oligarquias
presidentes da República Velha com a cronologia correta:
estaduais do sudeste.
(B) “campanha civilista" que defendia a regulamentação
- 1889-1891: Marechal Manuel Deodoro da Fonseca;
dos preços dos produtos de exportação e garantia os
- 1891-1894: Floriano Vieira Peixoto;
empréstimos contraídos no exterior aos fazendeiros das
- 1894-1898: Prudente José de Morais e Barros;
grandes propriedades.
- 1898-1902: Manuel Ferraz de Campos Sales;
(C) “política dos governadores", que consistia na troca de
- 1902-1906: Francisco de Paula Rodrigues Alves;
apoio entre governo federal e governos locais, com a finalidade
- 1906-1909: Afonso Augusto Moreira Pena (morreu
de manter no poder os representantes dos grandes
durante o mandato)
fazendeiros.
- 1909-1910: Nilo Procópio Peçanha (vice de Afonso Pena,
(D) política do “café-com-leite", que incentivava uma
assumiu em seu lugar);
disputa acirrada entre os representantes dos pequenos
- 1910-1914: Marechal Hermes da Fonseca;
Estados e enfraquecia o poder dos fazendeiros paulistas e dos
- 1914-1918: Venceslau Brás Pereira Gomes;
mineiros.
- 1918-1919: Francisco de Paula Rodrigues Alves (eleito,
(E) política de “valorização do café" realizada pelos
morreu de gripe espanhola, sem ter assumido o cargo);
Estados contribuía para o enfraquecimento do poder local e
garantia a troca de favores entre os fazendeiros e o governo As manifestações de rua começaram a ocorrer com o apoio
federal. de todas as forças políticas do Estado, até por aquelas que
tinham simpatizado com o movimento de 1930 (exemplo do
Gabarito Partido Democrático - PD). Diante das pressões crescentes,
Getúlio resolveu negociar com a oligarquia paulista, indicando
01.B / 02.C um interventor do próprio Estado. Isso foi interpretado como
um sinal de fraqueza. Acreditando que poderiam derrubar o
A ERA VARGAS governo federal, os oligarcas articularam com outros estados
uma ação nesse sentido.
Dentro das divisões históricas do período republicano, a Manifestações de rua intensificaram-se em São Paulo.
“Era Vargas” é dividida em três intervalos distintos: Numa delas, quatro jovens, Miragaia, Martins, Dráusio e
1 - um período provisório, quando assume o governo após Camargo (MMDC) foram mortos e se transformaram em
o movimento de 1930; mártires da luta paulista em nome da legalidade
2 - um período constitucional, quando eleito após a constitucional. Getúlio, por seu lado, aprovou outras
promulgação da Constituição de 1934, e; “concessões”: elaborou o código eleitoral (que previa o voto
3 - um autoritário, com o golpe de 1937, que deu início ao secreto e o voto feminino), mandou preparar o anteprojeto
período conhecido como Estado Novo. para a Constituição e marcou as eleições para 1933.
1 - A defesa de um Estado forte por parte dos cafeicultores, No período de 1937 a 1940, a ação econômica do Estado
que dependiam dele para manter os preços do café; objetivava racionalizar e incentivar atividades econômicas já
2 - Os industriais, que seguiam a mesma linha de defesa dos existentes no Brasil. A partir de 1940, com a instalação de
cafeicultores, já que o crescimento das indústrias dependia da grandes empresas estatais, o Estado alterou seu papel
proteção estatal; passando a ser um dos principais investidores do setor
3 - As oligarquias e classe média urbana, que assustavam- industrial.
se com a expansão da esquerda e julgavam que para “salvar a Os investimentos estatais concentravam-se na indústria
democracia” era necessário um governo forte. pesada, principalmente a siderurgia química, mecânica
pesada, metalurgia, mineração de ferro e geração de energia
Além disso Vargas tinha também o apoio dos militares, por hidroelétrica. Esses eram setores que exigiam grandes
alguns motivos: investimentos e garantiam retorno somente no longo prazo, o
que não despertou o interesse da burguesia brasileira.
- Por sua formação profissional, os militares possuíam uma Como saída, existiam duas opções para sua implantação: o
visão hierarquizada do Estado, com tendência a apoiar mais investimento do capital estrangeiro ou o investimento estatal.
um regime autoritário do que um regime liberal; O segundo foi o escolhido. A iniciativa teve êxito graças a um
- Os oficiais de tendência liberal haviam sido expurgados pequeno número de empresários e também do exército, que
do exército por Vargas e pela dupla Góis Monteiro-Gaspar associava a indústria de base com a produção de armamentos,
Dutra39; entendendo-a como assunto de segurança nacional.
- Entre os oficiais do exército estava se consolidando o A maior participação do Estado na economia gerou a
pensamento de que se deveria substituir a política no exército formação de novos órgãos oficiais de coordenação e
pela política do exército. A política do exército naquele planejamento econômico, destacando-se:
momento visava o próprio fortalecimento, resultado atingido CNP – Conselho Nacional do Petróleo (1938)
mais facilmente em uma ditadura. CNAEE – Conselho Nacional de Aguas e Energia Elétrica
(1939)
Com todos esses fatores a seu favor, não houveram CME – Coordenação da Mobilização Econômica (1942)
dificuldades para Getúlio instalar e manter por oito anos a CNPIC – Conselho Nacional de Política Industrial e
ditadura no país. Durante o período foi implacável o Comercial (1944)
autoritarismo, a censura, a repressão policial e política e a CPE – Comissão de Planejamento Econômico (1944)
perseguição daqueles que fossem considerados inimigos do
Estado. As principais empresas estatais criadas no período foram:
CSN – Companhia Siderúrgica Nacional (1940)
Política Econômica do Estado Novo40 CVRD – Companhia Vale do Rio Doce (1942)
Por meio de interventores, o governo passou a controlar a CNA – Companhia Nacional de Álcalis (1943)
política dos estados. Paralelamente a eles, foi criado em cada FNM – Fábrica Nacional de Motores (1943)
um dos estados um Departamento Administrativo, que era CHESF – Companhia Hidroelétrica do São Francisco (1945)
diretamente subordinado ao Ministério da Justiça com
membros nomeados pelo presidente da república. Desse modo, apesar da desaceleração do crescimento
Cada Departamento Administrativo estudava e aprovava industrial ocasionado pela Segunda Guerra Mundial devido à
as leis decretadas pelo interventor e fiscalizava seus atos, dificuldade para importar equipamentos e matéria-prima,
orçamentos, empréstimos, entre outros. Dessa forma os quando o Estado Novo se encerrou em 1945, a indústria
programas estaduais ficavam subordinados ao governo brasileira estava plenamente consolidada.
federal.
Na área federal foi criado o Departamento Administrativo Características Políticas do Estado Novo
do Serviço Público (DASP). Além de centralizar a reforma Pode até parecer estranho, mas a ditadura estadonovista
administrativa, o Departamento tinha poderes para elaborar o possuía uma constituição, que é uma característica das
orçamento dos órgãos públicos e controlar a execução ditaduras brasileiras, onde a constituição afirmava o poder
orçamentária deles. absoluto do ditador.
Com a criação do DASP e do Conselho Nacional de A nova constituição foi apelidada de “Polaca”, elaborada
Economia, não só a atuação administrativa e econômica do por Francisco Campos, o mesmo responsável por criar o AI-1
governo passou a ser muito mais eficiente, como também (Ato Institucional) em 1964, que deu origem à ditadura militar
aumentou consideravelmente o poder do Estado e do no Brasil. A constituição “Polaca” era extremamente
presidente da república, agora diretamente envolvido na autoritária e concedia poderes praticamente ilimitados ao
solução dos principais problemas econômicos do país, governo.
inclusive com a criação de órgãos especializados: o instituto do Em termos práticos, o governo do Estado Novo funcionou
Açúcar e Álcool, o Instituto do Mate, Instituto do Pinho, etc. da seguinte maneira:
Por meio dessas medidas, o governo conseguiu solucionar - O poder político concentrava-se todo nas mãos do
de maneira satisfatória os principais problemas econômicos presidente da república;
da época. A cafeicultura foi convenientemente defendida, a - O Congresso Nacional, as Assembleias Estaduais e as
exportação agrícola foi diversificada, a dívida externa foi Câmaras Municipais foram fechadas;
congelada, a indústria cresceu rapidamente, a mineração de - O sistema judiciário ficou subordinado ao poder
ferro e carvão expandiu-se e a legislação trabalhista foi executivo;
consolidada. - Os Estados eram governados por interventores
Com essas medidas, as elites enriqueceram, a classe média nomeados por Vargas, os quais, por sua vez, nomeavam os
melhorou seu padrão de vida e o operariado ganhou a prefeitos municipais;
proteção que lutou por anos para conseguir. Dessa forma, - A Polícia Especial (PE) e as polícias estaduais adquiriram
mesmo com a repressão e perseguição política em seu regime, total liberdade de ação, prendendo, torturando e assassinando
Vargas atingiu altos níveis de popularidade. qualquer pessoa suspeita de se opor ao governo;
- A propaganda pela imprensa e pelo rádio foi largamente Sem Terra), nascido nos encontros da CPT- Comissão Pastoral
usada pelo governo, por meio do Departamento de Imprensa e da Terra, em 1985, no Paraná.
Propaganda (DIP). Enquanto isso, a PE continuava agindo: prendia pessoas,
sendo que a maioria jamais foi julgada, ficando apenas presas
Os partidos políticos foram fechados (até mesmo o Partido e sendo torturadas durante anos a fio.
Integralista que mudou seu nome para Associação Brasileira Após o fim do Estado Novo foi formada uma comissão para
de Cultura.). Em 1938 os integralistas tentaram um golpe de investigar as barbaridades cometidas pela polícia durante o
governo que fracassou em poucas horas. Seus principais período de ditadura, chamada de “Comissão Parlamentar de
líderes foram presos, inclusive Plínio Salgado, que foi exilado Inquérito dos Atos Delituosos da Ditadura”. Mas os
para Portugal. levantamentos feitos pela comissão em 1946 e 1947, eram
Nesse meio tempo, o DIP e a PE prosseguiam seu trabalho. quase sempre abafados, fazendo-se o possível para que
Chefiado por Lourival Fontes, o DIP era incansável tanto na caíssem no esquecimento, por duas razões:
censura quanto na propaganda, voltada para todos os setores
da sociedade – operários, estudantes, classe média, crianças e 1 - A maioria dos torturadores e assassinos permaneciam
militares – abrangendo assuntos tão diversos quanto na polícia depois que a PE havia sido extinta, sendo apenas
siderurgia, carnaval e futebol. transferidos para outros órgãos e funções;
Procurava-se assim, formar uma ideologia estadonovista 2 - Muitos civis e militares envolvidos nas torturas e
que fosse aceita pelas diversas camadas sociais e grupos assassinatos fizeram mais tarde rápida carreira, chegando a
profissionais e intelectuais. Cabia também ao DIP o preparo ocupar postos importantes na administração e na política.
das gigantescas manifestações operárias, particularmente no
dia 1º de Maio, quando os trabalhadores, além de Também era comum durante o período a espionagem feita
comemorarem o Dia do Trabalho, prestavam uma homenagem por militares e civis, que eram conhecidos como “invisíveis”.
a Vargas, apelidado de “o pai dos pobres”41. Sua função poderia ser a de espiar alguém em específico ou
fazer uma espionagem generalizada em escolas,
Leis trabalhistas no Governo de Getúlio Vargas universidades, fábricas, estádios de futebol, transporte
As concessões garantidas por Getúlio criavam a imagem de público, cinemas, locais de lazer, unidades militares e
Estado disciplinando ao mercado de trabalho em benefício dos repartições públicas. Formaram-se milhares de arquivos
assalariados, porém também serviram para encobrir o caráter pessoais com informações minuciosas sobre as pessoas, que
controlador do Estado sobre os movimentos operários. seriam utilizadas novamente 19 anos após o fim do Estado
O relacionamento entre Getúlio e os trabalhadores era Novo, na Ditadura Militar.
muito interessante, temperado pelos famosos discursos do
governante nos quais sempre começavam pela frase Fim do Estado Novo
“trabalhadores do Brasil...”. Utilizando um modelo de política O início da Segunda Guerra Mundial em 1939, possibilitou
populista, Vargas, de um lado, eliminava qualquer liderança algumas variações ao Brasil.
operária que tentasse uma atuação autônoma em relação ao Permitiu ao governo de Vargas neutralidade para negociar
governo, acusando-a de “comunista”, enquanto por outro lado, tanto com os Aliados (Estados Unidos, Inglaterra, Rússia...)
concedia frequentes benefícios trabalhistas ao operariado. como com o Eixo (Itália, Alemanha e Japão). Conseguiu
Desse modo, por meio de uma inteligente mistura de financiamento dos Estados Unidos para a construção da usina
propaganda, repressão e concessões, Getúlio obteve um amplo siderúrgica de Volta Redonda, a compra de armamentos
apoio das camadas populares. alemães e fornecimento de material bélico norte-americano.
Apesar da neutralidade de Getúlio, que esperava o
A CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) entrou em desenrolar do conflito para determinar apoio ao provável
vigor em 1943, durante a típica comemoração do 1º de maio. vencedor, em seu governo haviam grupos divididos e definidos
Entre seus principais pontos estão: sobre quem apoiar:
- Regulamentação da jornada de trabalho – 8 horas diárias. Oswaldo Aranha, que era ministro das Relações
- Descanso de um dia semanal, remunerado. Exteriores era favorável aos Estados Unidos, enquanto os
- Regulamentação do trabalho e salário de menores. generais Gaspar Dutra e Góis Monteiro eram favoráveis ao
- Obrigatoriedade de salário mínimo como base de salário. nazismo. Com a entrada dos Estados Unidos na guerra em
- Direito a férias anuais. 1941 e o torpedeamento de vários navios mercantes
- Obrigatoriedade de registro do contrato de trabalho na brasileiros, o país entra em guerra ao lado dos aliados em
carteira do trabalhador. agosto de 1942.
Em 1944 foram mandados 25.000 soldados da Força
As deliberações da CLT priorizaram em 1943 as relações Expedicionária Brasileira (FEB) para a Itália, marcando a
do trabalhador urbano, praticamente ignorando o trabalhador participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial.
rural que ainda representava uma grande parcela da Mais do que a vitória contra as forças do Eixo na Europa, a
população. Segundo dados do IBGE, em 1940 Segunda Guerra Mundial teve um efeito na política brasileira.
aproximadamente 70% da população brasileira estava na zona Muitos dos que lutavam contra o Fascismo na Europa não
rural. aceitavam voltar para casa e viver em um regime autoritário.
Essas pessoas não foram beneficiadas com medidas O sentimento de revolta cresceu na população e muitas
trabalhistas específicas, nem com políticas que facilitassem o manifestações em prol da redemocratização foram realizadas,
acesso à terra e à propriedade. mesmo com a forte repressão da polícia. Pressionado pelas
Para organizar os trabalhadores rurais, a partir da década reivindicações, em 1945 Vargas assinou um Ato Adicional que
de 1950 surgiram movimentos sociais como as Ligas marcava eleições para o final daquele ano.
Camponesas, as Associações de Lavradores e Trabalhadores Foram formados vários partidos: UDN (União Democrática
Agrícolas, até o mais estruturado destes movimentos, o MST nacional), PSD (Partido Social Democrático), PTB (Partido
(Movimento dos Trabalhadores dos Trabalhadores Rurais Trabalhista Brasileiro), o PCB (Partido Comunista Brasileiro)
foi legalizado, além de outros menores.
41 Referência: <
http://pessoal.educacional.com.br/up/50240001/1411397/12_TERC_7_HIST_26
5a326%20(1)-%20AULA%2075.pdf>
Vitórias
Os militares brasileiros da FEB (também conhecidos como
2) Geografia do Brasil a) O
pracinhas) conseguiram, ao lado de soldados aliados, território nacional: a
importantes vitórias. Após duras batalhas, os militares construção do Estado e da
brasileiros ajudaram na tomada de Monte Castelo, Turim,
Montese e outras cidades.
Nação, a obra de fronteiras,
Apesar das vitórias, centenas de soldados brasileiros fusos-horários e a federação
morreram em combate. Na Batalha de Monte Castelo (a mais brasileira
difícil), cerca de 400 militares brasileiros foram mortos.
Coroa portuguesa decretou a reunificação da Colônia, que dispor de recursos que lhes permitem explorar, até a exaustão,
permaneceu assim até a sua independência. os cardumes que se deslocam em alto-mar.
A partir de 1709, o Brasil já estava dividido em sete Essa acelerada evolução tecnológica trouxe novas
estados. Onde hoje abrange parte da Amazônia, no Norte do perspectivas às nações, que passaram a considerar o mar não
país, localizava-se a província do Grão-Pará. Abaixo, na área só uma via de transportes ou fonte de alimentos, mas um
que pertence atualmente a Rondônia, Mato Grosso, Mato grande gerador de riquezas e matérias-primas. Assim, os
Grosso do Sul, Tocantins, Minas Gerais, Goiás, São Paulo e parte mares e oceanos tornaram-se estratégicos, e muitos países
do Paraná, era dominada pelo Estado de São Paulo. O estado passaram a tentar incorporar áreas marítimas aos seus
do Nordeste era ocupado apenas por Maranhão, Pernambuco territórios.
e Bahia. Na região Sul, apenas a província de São Pedro. A Depois da Segunda Guerra Mundial, a ONU patrocinou
Sudeste, o Rio de Janeiro. diversas reuniões sobre os limites marinhos. Elas ficaram
Em 1822, os limites do território brasileiro assemelhavam- conhecidas como Conferências das Nações Unidas sobre o
se aos atuais. Nesse caso, deve-se destacar a região da Direito do Mar. Nessa época, muitos defendiam que os
Cisplatina, que na época pertencia ao Brasil. Pouco tempo recursos dos fundos marinhos, situados além das jurisdições
depois, a Cisplatina tornou-se independente do Brasil e passou nacionais, fossem considerados patrimônio comum da
a se chamar Uruguai. humanidade. Dessa maneira, passou a ser necessário
No ano de 1823, um ano após a Declaração da determinar os limites marítimos de cada Estado costeiro.
Independência, foram acrescentados ainda mais territórios. O Enquanto ocorriam essas negociações, o Brasil adotou, em
Brasil ganhou os estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco, 1970, para resguardar os interesses econômicos do país e por
Paraíba, Alagoas, Ceará e Piauí. No Sul, houve o acréscimo do razões de segurança nacional, o limite de 200 milhas náuticas
estado de Santa Catarina e da Província da Cisplatina, o atual (cerca de 370 quilômetros) para exploração das águas
Uruguai. territoriais brasileiras.
Na época da independência, a divisão político- Nessas águas – cerca de 2 milhões de quilômetros
administrativa brasileira era baseada em províncias, e não em quadrados de superfície aquática – somente navios brasileiros
estados, como hoje em dia. Repare como as diversas províncias e de empresas estrangeiras com autorização do governo
existentes em 1822, assim como suas fronteiras, deram origem brasileiro poderiam exercer alguma atividade. Navios
a muitos estados atuais. estrangeiros sem licença pagariam multas e seriam
Até o fim do Império e a formação da República, em 1889, apreendidos.
o território brasileiro sofreu algumas pequenas modificações. Em 1982, na Jamaica, foi assinada a Convenção das Nações
Da mesma forma, alguns territórios deixaram de pertencer a Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM). Foi nessa convenção
algumas províncias e foram incorporados a outras. que os limites marítimos dos países foram definidos, da
Com a instauração da República, a divisão político- seguinte forma:
administrativa brasileira, que antes compunha várias
províncias, passou a se basear em estados. Dessa forma, o * mar territorial: compreende a faixa de 12 milhas
Brasil tornou-se uma República Federativa, composta por marítimas (cerca de 22 quilômetros) de largura, medidas a
diferentes unidades. partir do litoral e das ilhas brasileiras. Nesse espaço marítimo,
Desde 1889 foram criados alguns estados novos, bem o Estado costeiro tem total controle sobre as águas, o espaço
como uma nova divisão político-administrativa: os territórios aéreo e o fundo do mar;
federais. Esses territórios integravam diretamente a União,
sem pertencer a nenhum estado. Em 1988, os territórios * zona contígua: delimitada por 12 milhas além do limite
federais existentes foram extintos e suas áreas foram do mar territorial. Essa faixa é importante, pois se trata de uma
incorporadas a estados vizinhos. área de segurança, onde os países podem fiscalizar todas as
embarcações que nela navegarem;
As Unidades Federativas do Brasil
* zona econômica exclusiva: área que se estende até 200
As unidades federativas são entidades político- milhas além do mar territorial. Pela convenção da ONU, os
administrativas e territoriais vinculadas ao Estado Nacional – Estados costeiros têm o direito de explorar e a obrigação de
no caso brasileiro, à República Federativa. conservar os recursos (sejam eles minerais ou pesqueiros) que
Elas possuem autonomia no que diz respeito à eleição de se encontram em toda essa região. Desde o início da década de
seus governantes, à criação de determinadas leis e à cobrança 1980, o Brasil vem realizando estudos para identificar o
de impostos. potencial de pesca no Oceano Atlântico e zelar pela
Atualmente, o Estado brasileiro é composto por 27 manutenção dele;
unidades federativas: 26 estados e o Distrito Federal, onde se
localiza Brasília, a capital do país. * plataforma continental: conforme a convenção de
O estado é composto por diversos municípios. Todos os 1982, corresponde ao leito e ao subsolo das áreas submarinas
estados possuem um governador e uma assembleia legislativa que se estendem além do seu mar territorial.
que são responsáveis por gerir e regular as políticas dentro de
seu território. Os países que tiverem intenção de ampliar sua atuação
para além das 200 milhas devem apresentar um relatório para
Fronteiras marítimas do Brasil a Convenção da ONU, provando que a plataforma continental
se prolonga para além de 200 milhas.
Nas últimas décadas do século XX, uma nova fronteira Para cumprir essa determinação, o governo brasileiro
chamou a atenção da sociedade e do governo brasileiro: e as criou, na década de 1980, o projeto Levantamento da
águas do Oceano Atlântico que banham nosso território. Plataforma Continental (Leplac). Cientistas, militares e
Isso tem um motivo: a tecnologia desenvolvida durante a técnicos da Petrobras participaram dessa empreitada, e o
Segunda Guerra Mundial criou navios mais rápidos que os relatório em 2013 já havia sido praticamente todo aprovado
anteriores e com maior capacidade de carga, que podem viajar pela comissão da ONU. Assim, o Brasil controlaria a área de 4,5
a grandes distâncias, explorando economicamente as águas milhões de quilômetros quadrados no mar, o que praticamente
longe de seus territórios de origem. Gigantescos navios equivale, em extensão territorial, a uma nova Amazônia. Foi
frigoríficos japoneses e europeus, por exemplo, passaram a
Lembre-se: Questões
Equinócio é a data em que o dia e a noite apresentam a
mesma duração; 01. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) Julgue
Solstício é a data em que o dia e a noite apresentam a (C ou E) o próximo item, relativo à formação histórica do
maior assimetria possível. O solstício de verão ocorre quando território brasileiro.
o período de insolação (dia) é o maior do ano. Por sua vez, o A formação histórica do território brasileiro iniciou-se com
solstício de inverno ocorre quando se registra a noite mais a assinatura do Tratado de Madri, que determinou, por meio
longa do ano. da criação de uma linha imaginária, o primeiro limite
territorial da colônia portuguesa nas Américas.
O Brasil, desde setembro de 2013, possui novamente (....) Certo (....) Errado
quatro fusos horários.
Veja abaixo, como ocorreu tal processo:43
43 http://brasilescola.uol.com.br/brasil/fuso-horario-brasileiro.htm>.
02. (TJ/SC – Analista Administrativo – TJ/SC) Sobre o áreas nas quais o processo de erosão é mais intenso do que o
território brasileiro, sua localização geográfica e sua de sedimentação foram chamadas de planaltos. As áreas em
organização política-territorial, todas as alternativas estão que o processo de sedimentação supera o de erosão foram
corretas, EXCETO: denominadas planícies.
(A) O Brasil é uma república federativa formada por 27 Nota-se, assim, que essa classificação não leva em conta as
unidades sendo, 26 estados e um Distrito Federal. cotas altimétricas do relevo, mas os aspectos de sua
(B) A divisão política do território brasileiro tem mudado modelagem, ou seja, a geomorfologia.
no decorrer do tempo, assim até a Constituição de 1988 existia
no Brasil a denominação de Território Federal. A classificação do relevo de Jurandyr Ross:
(C) Os Territórios Federais eram divisões internas do país Em 1989 o professor Jurandyr Ross elaborou uma outra
administradas diretamente pelo governo federal. classificação do relevo, dessa vez usando como critério três
(D) Na divisão política-administrativa do Brasil, em 1988 é importantes fatores geomorfológicos:
extinto o Território Federal de Fernando de Noronha, que * a morfoestrutura – origem geológica;
passa a fazer parte do Estado de Pernambuco. * o paleoclima – ação de antigos agentes climáticos;
(E) O Brasil ocupa a porção centro-ocidental da América do * o morfoclima – influência dos atuais agentes climáticos.
Sul, portanto, apresenta fronteiras com quase todos os países Trata-se de uma divisão inovadora, que conjuga o passado
sul-americanos exceto, o Chile e Equador. geológico e o passado climático com os atuais agentes
escultores do relevo.
03. (DPE/SP – Oficial de Defensoria Pública – FCC) O Com base nesses critérios, o professor Ross identifica três
Estado Brasileiro organiza-se, política e administrativamente, tipos de relevo:
sob a forma de * planaltos – porções residuais salientes do relevo, que
(A) confederação democrática. oferecem mais resistência ao processo erosivo;
(B) república parlamentarista. * planícies – superfícies essencialmente planas, nas quais
(C) república federativa. o processo de sedimentação supera o de erosão;
(D) federação parlamentarista. * depressões – áreas rebaixadas por erosão que
(E) confederação parlamentarista. circundam as bordas das bacias sedimentares, interpondo-se
entre estas e os maciços cristalinos.
04. (IF/PI – Assistente em Administração – FUNRIO) A
organização político-administrativa da República Federativa Classificação climática
do Brasil compreende Segundo Lísia Bernardes, existem no Brasil cinco tipos
(A) a União e os Estados, somente. climáticos principais:
(B) a União, os Estados e o Distrito Federal, somente.
(C) a União e o Distrito Federal, somente. Equatorial
(D) os Estado, o Distrito Federal e os Municípios, somente. Abrange a maior parte da Amazônia Brasileira. Apresenta
(E) a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. temperaturas elevadas o ano todo, pequena amplitude térmica
anual, chuvas abundantes e bem distribuídas durante o ano
Gabarito todo (2.000 – 3.000 mm/ano);
Domínio do cerrado: chapadões interiores com Subafluente é o rio que escoa suas águas para um afluente
cerrados e florestas-galerias do rio principal da bacia hidrográfica.
O cerrado ocupa o Brasil Central, área de atuação do clima
tropical típico (alternância de verões quentes e úmidos e Os limites entre as bacias hidrográficas encontram-se nas
invernos amenos e secos). Caracteriza-se por ser uma partes mais altas do relevo e são denominados divisores de
vegetação complexa, uma vez que reúne estratos arbóreos e água, pois separam as águas de bacias. O declive entre o
herbáceos ao lado do estrato dominante, o arbustivo. Este é divisor de água e o rio principal, por onde correm as águas dos
composto por espécies de caules tortuosos envolvidos por afluentes, chama-se vertente. As águas são depositadas no
cascas grossas. Possuem ainda raízes profundas, uma leito do rio que, em época de cheia, pode transbordar para as
adaptação à longa estação seca. margens baixas e planas que o acompanham, que constituem
A partir dos anos 1970, graças ao uso da calagem para a sua várzea.
corrigir a acidez de seu solo, passou a ser intensamente O Brasil dispõe de uma das mais densas redes
ocupado. Suas terras são muito valorizadas, estando ocupadas hidrográficas da Terra, que representam cerca de 14% das
principalmente pela soja. Por isso, foi recentemente reservas mundiais de água doce. No entanto, o abastecimento
considerado pela ONU como bioma seriamente ameaçado de das regiões mais desenvolvidas economicamente e mais
extinção. populosas muitas vezes fica comprometido, pois é cada vez
maior não só o consumo de água provocado pelo crescimento
Domínio das araucárias: planaltos subtropicais com populacional e urbano, como o de energia elétrica. Quando os
araucárias níveis dos reservatórios estão baixos, em decorrência da falta
As araucárias são ainda encontradas no Sul do País, de chuvas, as hidrelétricas limitam o fornecimento de água
precisamente entre o centro-sul do Paraná e norte do Rio para não faltar energia elétrica, o que tem provocado
Grande do Sul, locais dominados por altitudes acima dos 800 racionamentos de água e até mesmo de energia.
metros. O clima subtropical (grande amplitude térmica e Esses grandes centros urbanos também estão situados
chuvas regulares) é acentuado por essa altitude, o que resulta distantes dos rios de maior navegabilidade, nos quais o
frequentemente em nevascas e geadas durante o inverno. transporte fluvial poderia construir uma excelente alternativa
A vegetação marcante, a floresta aciculifoliada (composta de transporte. No Sudeste, na bacia do Paraná – que cobre boa
principalmente por araucárias), foi quase destruída. Esse fato parte dessa região – estão sendo feitos investimentos em obras
se deu não só devido à expansão da agricultura, mas também que viabilizem a navegação dos rios que cortam áreas
em decorrência da exploração de sua madeira pela indústria economicamente importantes.
da construção civil e pela indústria de papel e celulose. Assim, De acordo com a classificação de relevo de Jurandyr Ross,
resta atualmente menos de 5% da cobertura original. os principais dispersores de água das maiores bacias
brasileiras estão situados:
Domínio das pradarias: coxilhas subtropicais com * na Cordilheira dos Andes, onde nascem os formadores do
pradarias mistas rio Amazonas;
Esse domínio é formado por extensos campos que * nos Planaltos Norte-amazônicos, origem dos rios da
recobrem os baixos planaltos do centro-sul gaúcho. margem esquerda do rio Amazonas;
Denominada também campanha gaúcha e região dos pampas, * no Planalto e na Chapada dos Parecis, que separam a
essa vegetação atravessa fronteiras para recobrir todo o bacia Amazônica de rios da bacia Platina (rio Paraguai);
Uruguai e o centro-leste da Argentina. O relevo dessa área é * nos Planaltos e nas Serras de Goiás-Minas e nos Planaltos
levemente ondulado, e suas colinas são chamadas e nas Chapadas da Bacia do Parnaíba, que são divisores de
regionalmente de coxilhas. água das bacias do Tocantins e São Francisco;
Seja pelo relevo suave, seja pelas pastagens naturais, a * nos Planaltos e nas serras do Atlântico-Leste-Sudeste,
principal atividade econômica do domínio das pradarias é a onde nascem o rio São Francisco, os rios formadores do Paraná
pecuária, destacando-se a bovina e a ovina. (Paranaíba e Grande) e os seus afluentes da margem esquerda.
De modo geral, os rios brasileiros recebem águas das
Domínio dos mares de morros: áreas mamelonares chuvas. Por isso, em sua maioria, são caracterizados pelo
tropicais atlânticas florestadas regime pluvial.
Essa paisagem é constituída por maciços antigos que
datam do período Pré-Cambriano. Tais formações Regime de um rio é a variação de água de um rio durante
apresentam-se levemente onduladas, lembrando o aspecto de um ano, a qual está relacionada à origem das suas águas.
meia-laranja (mares de morros ou áreas mamelonares). Quando a variação do nível depende das chuvas, o regime é
Originalmente eram recobertos pela Mata Atlântica. Área de pluvial, como, por exemplo, ocorre em todos os rios brasileiros.
predominância do clima tropical de altitude, apresenta Quando a variação depende de degelo, o regime é nival. O
temperaturas amenas. Coincide com as terras altas do Sudeste, Amazonas é considerado um ri ode regime misto, pois as águas
segundo a classificação do relevo de Aziz Ab’Saber. Em parte, próximas à nascente dependem do degelo dos Andes, mas maior
a intensa degradação desse domínio deve-se ao fato de que parte é alimentada pelas chuvas abundantes da região
abriga grandes centros urbanos, como São Paulo e Belo equatorial.
Horizonte.
Também abriga em seu interior a agricultura comercial. As principais Bacias Brasileiras
Como acontece com o cerrado, a sua cobertura vegetal também
está sob séria ameaça de extinção, segundo a ONU. No estado As quatro maiores bacias – Amazônica, Tocantins-Araguaia,
de São Paulo, por exemplo, restam apenas 3% de sua cobertura São Francisco e Platina (Paraná, Paraguai e Uruguai) – cobrem
vegetal original. mais de 80% do território brasileiro.
foi recepcionada, visto que traçou toda a sistemática das desenvolveu tecnologias e novas formas de aproveitamento de
políticas públicas brasileiras para o meio ambiente. recursos naturais e intensificou a articulação entre os
Com o advento da Lei nº 6.938/81 o país passou a ter diferentes países num grande mercado mundial. Esse processo
formalmente uma Política Nacional do Meio Ambiente, uma pode ser considerado, junto com a Revolução Agrícola do
espécie de marco legal para todas as políticas públicas de meio Neolítico, a outra grande revolução pela qual passou a
ambiente a serem desenvolvidas pelos entes federativos. sociedade humana.
Antes disso, cada Estado ou Município tinha autonomia para Até o século XIX não houve um desenvolvimento autônomo
eleger as suas diretrizes políticas em relação ao meio ambiente do Brasil, pois o país estava atrelado aos interesses de
de forma independente, embora na prática poucos realmente Portugal. Dessa forma, a industrialização brasileira, assim
demonstrassem interesse pela temática. como a urbanização, chegou tardiamente por aqui em
comparação à Europa.
Código Florestal Embora no começo do século (mais precisamente em
1808, quando a família real portuguesa instalou-se no Rio de
O Código Florestal Brasileiro dispõe sobre a proteção da Janeiro – fugindo das Guerras Napoleônicas e tornando o
vegetação nativa e estabelece normas gerais sobre a proteção Brasil a sede do Império), D. João tenha começado a incentivar
da vegetação, áreas de Preservação Permanente e as áreas de a incipiente indústria brasileira, a concorrência com os
Reserva Legal. produtos ingleses e as barreiras impostas pelos proprietários
Trata também de temas acerca da normatização geral da de terras imobilizaram esse setor por mais um tempo.
proteção da vegetação do Brasil, com destaque à Áreas de Por isso, até o começo do século XX, o país caracterizou-se
preservação permanente; Áreas de reserva legal; Áreas de uso como um exportador de produtos primários. O café, além de
restrito; Áreas verdes urbanas; Uso sustentável dos apicuns e criar as condições econômicas necessárias para a indústria,
salgados; Exploração florestal; Suprimento de matéria-prima também forneceu as bases materiais para tal. Para exportar o
florestal; Controle da origem dos produtos florestais; Controle café, criou-se uma rede ferroviária importante, sobretudo nos
e prevenção de incêndios florestais; Programa de Apoio e estados de São Paulo e do Rio de Janeiro. Essa rede contribuiu
Incentivo à Preservação e Recuperação do Meio Ambiente; também para a expansão urbana. O café dominava o cenário
Instrumentos econômicos e financeiros para a proteção econômico, e as elites até então não tinham interesse ou não
florestal. possuíam condições econômicas suficientes para investir no
setor industrial.
Unidades de Conservação
A indústria só conseguiu desenvolver-se mais
Através da Constituição de 1988 adveio a Lei nº. 9.985 de efetivamente graças a três processos complementares:
18 de julho de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de → Acumulação de capital: a indústria é um setor
Unidades de Conservação, bem como regulamentou o § 1º, I, II, econômico que necessita de demanda de investimento inicial
III e VII, do art. 225 da Constituição Federal de 1988. para investimento em maquinarias, na construção do espaço a
A Lei nº. 9.985/2000 aduz objetivos que garantem a ser utilizado, entre outras coisas. O café foi o produto agrícola
sustentabilidade do espaço territorial destinado à proteção, que gerou esse capital necessário para a indústria se
bem como diretrizes que se voltam para a constituição e desenvolver, sobretudo no Sudeste, onde a cidade de São Paulo
funcionamento das unidades de conservação, busca-se, no já funcionava como um espaço de gestão do mercado cafeeiro
entanto, vislumbrar a identidade dos ecossistemas brasileiros. e onde se concentrou a maioria dos investidores;
Tanto os objetivos quanto as diretrizes, estão respectivamente
apresentados pelos artigos 4º e 5º da lei 9.985/2002. → Mudanças nas relações de trabalho: em 1888 o
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação trabalho escravo finalmente tornou-se ilegal no Brasil, um dos
(SNUC) é o conjunto de unidades de conservação (UC) últimos países no mundo a promover o fim da escravidão. A
federais, estaduais e municipais. É composto por 12 categorias partir desse momento a migração foi incentivada para suprir a
de UC, cujos objetivos específicos se diferenciam quanto à demanda de trabalhadores no estado de São Paulo;
forma de proteção e usos permitidos: aquelas que precisam de
maiores cuidados, pela sua fragilidade e particularidades, e → Aumento da capacidade de consumo interno: uma
aquelas que podem ser utilizadas de forma sustenta vez assalariados, os trabalhadores passaram a ter a capacidade
de consumir os produtos que começaram a ser
industrializados no Brasil.
d) Modelo econômico A crise mundial de abastecimento na primeira metade do
brasileiro: o processo de século XX, causada pelas Guerras Mundiais (a primeira entre
industrialização, o espaço 1914 e 1918, e a segunda entre 1939 e 1945), também para
que finalmente entrássemos na era industrial. Como os países
industrial, a energia e o meio industriais estavam envolvidos no conflito, coube ao Brasil
ambiente, os complexos começar a produzir produtos próprios. Foi dessa forma, para
agroindustriais e os eixos de substituir as importações, que o Brasil diminuiu
paulatinamente a vinda de produtos de fora para começar a
circulação e os custos de produção industrial em nosso território.
deslocamento O primeiro setor que se desenvolveu foi o de bens de
consumo não duráveis, produzidos em um tipo de indústria
que não necessita de uma tecnologia muito complexa,
Modelo econômico brasileiro: o processo de tampouco de grandes investimentos. Mas sua produção era
industrialização e o espaço industrial muito dependente de tecnologia e maquinaria produzidas
externamente.
O processo de industrialização intensificou e acelerou as O presidente Getúlio Vargas, que adotou uma política
mudanças na organização espacial do mundo e do Brasil. nacionalista em seus governos (1930-1945 e 1951-1954),
O processo de industrialização concentrou atividades criou as primeiras leis trabalhistas e buscou incentivar a
econômicas e população, acentuou processos poluidores, indústria brasileira, desistindo da busca de mão de obra
imigrante a fim de incentivar a contratação de brasileiros para recebem essas indústrias, por sua vez, oferecem vantagens
trabalhar nas indústrias do Brasil. Vargas criou indústrias de para atraí-las, que vão desde isenções de pagamento de
base, como a Companhia Siderúrgica Nacional (1941), impostos até a construção de obras de infraestrutura.
responsável pela produção de aço, a então chamada Porém, mesmo com esse movimento de desconcentração
Companhia Vale do Rio Doce (1942), de exploração de industrial, o Sudeste continua despontando como a região que
minérios, e a Petrobras (1953), que extrai petróleo e seus polariza esse setor.
derivados.
Posteriormente, no governo do presidente Juscelino Regiões Industriais do Brasil: regiões tradicionais e
Kubitschek (1956-1961), foi criado o Plano de Metas, que descentralização industrial
priorizou a indústria e o transporte em nível nacional, criando
uma malha rodoviária no país. Foi durante esse período que As indústrias, ao se instalarem em determinados lugares,
São Paulo se confirmou como a região industrial por excelência consideravam estrategicamente a presença ou proximidade
do país. Kubitschek orientou a maior parte dos projetos de dos seguintes elementos:
desenvolvimento industrial em São Paulo e também no Rio de * mercado consumidor;
Janeiro e em Minas Gerais. Naquele momento, estes eram os * disponibilidade de matérias-primas;
estados com as melhores condições nos setores elétrico e de * oferta de energia;
transportes e também que possuíam um mercado consumidor * custos com transportes;
promissor. * mão de obra.
Organização espacial das indústrias Esses elementos determinaram, durante muito tempo, a
localização espacial das indústrias. Desse modo, a presença
Por causa da própria experiência na economia cafeeira, desses elementos na região Sudeste, especialmente em São
que criou condições materiais para o processo de Paulo, favoreceu um processo de concentração espacial das
industrialização, a Região Sudeste, sobretudo o estado de São atividades industriais no Brasil, no entanto, deve-se
Paulo, concentrou desde o começo as atividades industriais e considerar que existem diversas regiões industriais no Brasil.
acabou polarizando economicamente o setor industrial e o de
serviços. Além disso, o Brasil não possuía até então uma Áreas industriais tradicionais
unidade territorial tão marcada, parecia mais uma espécie de
arquipélago, pois as regiões pouco se relacionavam Áreas industriais tradicionais são aquelas caracterizadas
economicamente entre si. por um processo mais antigo de industrialização, assentando
Ao longo do século XX, a indústria tornou-se o carro-chefe no padrão fordista-taylorista de produção.
de nossa economia em nível nacional, tendo a cidade como seu Esse modelo de produção na indústria pode ser
par espacial. A partir dos anos 1950, por causa da emergente caracterizado, de modo geral, por:
indústria automobilística, a rodovia substituiu a ferrovia como * economia de escala;
meio preponderante de circulação de mercadorias e pessoas. * produção estandardizada (padronizados);
Devido ao interesse das grandes empresas, e com o auxílio do * competição via preços;
Estado, expandiu-se a lógica do automóvel. * existência de um mercado de consumo de massas;
As rodovias foram direcionadas sobretudo para o interior, * combinação entre a utilização de equipamentos
mesma concepção de construção de Brasília, que era a de automatizados e trabalhadores não qualificados;
acabar com o cenário de “Brasil arquipélago”. As rodovias * divisão e especialização do trabalho;
tiveram um papel importante nesse movimento junto à * separação entre a concepção e a execução das tarefas.
indústria, a qual, embora concentrada no Sudeste, possuía o
mercado consumidor em todo território. A partir das mudanças e novas demandas do processo
Na metrópole de São Paulo, principalmente na região do produtivo, as áreas industriais baseadas nesse modelo
“ABCD paulista” (Santo André, São Bernardo, São Caetano e sofreram profundos impactos econômicos e sociais. Esse
Diadema), encontramos o paradigma dessa concentração processo, denominado genericamente desindustrialização,
industrial naquele estado do Sudeste. Ali estavam as maiores caracterizou-se pelo fechamento e/ou deslocamento das
indústrias automobilísticas de todo o país. Ao redor dessas indústrias para outras áreas, atraídas por maiores
indústrias, gravitam outras que se concentraram também ali possibilidades de realização de lucros. Um exemplo
para abastecê-las: borracha, plásticos, vidros, peças, etc. mundialmente conhecido desse processo é a cidade de Detroit,
O Sudeste, ao longo do século XX, exerceu uma posição de nos Estados Unidos, que, a partir da década de 1980, assistiu
dominância econômica pela capacidade de polarizar a ao fechamento de inúmeras empresas e ao aumento do
indústria e os serviços em torno dela. Por isso, passou a desemprego em massa.
abastecer o mercado das outras regiões brasileiras, que
também fornecem matéria-prima e mão-de-obra. Nos anos Região Sudeste
1970, durante a ditadura militar (1964-1958), foram criados
diversos órgãos de desenvolvimento econômico regional – A região Sudeste representa uma das regiões do Brasil de
Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam); mais antiga e intensa industrialização.
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene); Suas principais regiões industriais são centros
Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste polindustriais, na medida em que nessas cidades encontramos
(Sudeco); e Superintendência da Zona Franca de Manaus praticamente todos os ramos da indústria.
(Suframa), que tinham a intenção de diversificar a produção A partir das décadas de 1980-90, as indústrias localizadas
espacial industrial do país. na região metropolitana de São Paulo assistiram a um
Contudo, desde a década de 1990 vem ocorrendo um crescente deslocamento rumo ao interior do Estado, utilizando
processo chamado de “desconcentração industrial”, que se os principais eixos viários como os sistemas Anchieta-
refere ao deslocamento de empresas em direção a outros Imigrantes, Anhanguera-Bandeirantes e a Rodovia Dutra.
estados do país, motivadas pelo aumento dos preços do Historicamente, o estado de São Paulo também concentrou
terreno, congestionamento, impostos e outras características a indústria automobilística instalada no Brasil até a década de
que encarecem e dificultam a produção nas tradicionais 1970. A partir de então, essa indústria passou a se deslocar
cidades industriais brasileiras. As cidades e os estados que
O processo de industrialização dessa região associa-se à Desse modo, configura-se uma nova espacialização da
ação da SUDAM (Superintendência de Desenvolvimento da indústria brasileira dentro de um polígono que envolve as
Amazônia), e, sobretudo, da SUFRAMA (Superintendência da cidades de Belo Horizonte (MG), Uberlândia (MG), Maringá
Zona Franca de Manaus). (PR), Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC) e Curitiba (PR),
Nessa região, existem indústrias de produtos fechando-se novamente em Belo Horizonte (MG). Os processos
eletroeletrônicos, atraídas por benefícios como isenção de de concentração e desconcentração espacial (e industrial)
impostos, concessão de subsídios, doação de terrenos. Em demonstram o caráter seletivo dos investimentos industriais,
termos de áreas industriais, o destaque é para a Zona Franca que privilegiam alguns espaços específicos nas regiões
de Manaus no Amazonas e para o polo extrativo-mineral de brasileiras.
Carajás, no Pará, implantado para explorar as ricas jazidas Atualmente, a tendência é de que os investimentos mais
minerais dessa região. dinâmicos se concentrem nas regiões onde se iniciou e se
consolidou a atividade industrial brasileira (Sudeste e Sul).
Região Centro-Oeste As metrópoles globais (São Paulo e Rio de Janeiro) também
têm suas principais funções modificadas: de centros
Nessa região, predominam indústrias ligadas ao industriais, especializam-se cada vez mais em atividades do
beneficiamento da produção agropecuária, como empresas setor terciário (serviços), na área financeira e no
alimentícias, de bebidas, têxteis e calçadistas. As principais desenvolvimento de novas tecnologias. Desse modo, as
áreas industriais localizam-se próximas às cidades de Goiânia, indústrias estratégicas atuais continuam a concentrar-se
Brasília, Anápolis, Corumbá e Campo Grande. nessas metrópoles, assim como a sede das empresas, o
mercado financeiro e o setor de serviços.
Aquelas indústrias mais leves, que exigem menores
investimentos e utilizam muita mão de obra (em vez de muita
tecnologia), e que, portanto, apresentam um custo menor, (E) Uma das influências diretas da inserção do Brasil nos
tendem, por sua vez, a se concentrar em regiões de menor mercados globais é a disseminação no território brasileiro dos
nível de desenvolvimento e custo de mão de obra (como o polos tecnológicos próximos de centros universitários e de
Nordeste, o Norte e o Centro-Oeste). pesquisas.
Outra diferença desse processo em relação à concentração
anterior (das décadas de 1950 a 70) refere-se à atração 02. (Prefeitura de Nilópolis/RJ – Professor de
locacional exercida por cidades de porte médio (em torno de Geografia – FUNCEFET) A industrialização promove a
100 mil habitantes), especialmente por aquelas cidades concentração espacial da riqueza e dos recursos financeiros e
localizadas próximas a eixos de transportes (portanto, com produtivos. Em certo ponto do desenvolvimento econômico, a
boas condições de acesso), em vez da concentração industrial tendência de concentração espacial da indústria arrefece e dá
nas metrópoles. lugar a movimentos de desconcentração.
Além dessa reconcentração espacial da indústria, observa- Assinale a alternativa que indica os movimentos geradores
se, no Brasil, uma tendência à constituição de clusters (ou de desconcentração industrial no Brasil.
aglomerados industriais). (A) Evolução das tecnologias, infraestrutura de
Portanto, a formação de clusters parece ser uma outra transportes e comunicações
tendência da economia brasileira. Exemplos de clusters em (B) Escassez de mão de obra e poluição
alguns estados brasileiros: (C) Segregação espacial e ação dos movimentos sociais
* a indústria do mobiliário em Votuporanga, São Paulo; (D) Concentração de infraestrutura e poluição
* a indústria de joias em Limeira, São Paulo;
* a produção de artefatos de couros e calçados em Franca, 03. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) A partir
São Paulo; de meados da década de 90 do século passado, a denominada
* produção de móveis em Uberlândia, Minas Gerais; guerra fiscal entre os estados brasileiros intensificou-se. A
* indústrias de software em Campina Grande, Paraíba; abertura econômica atraía, então, novos fluxos externos de
* indústrias de software em Juiz de Fora, Minas Gerais, cuja investimentos industriais para o país e estimulava a guerra
especialização está nos aplicativos para o setor de dos lugares.
agronegócios; A respeito desse assunto, julgue (C ou E) o item que se
* indústrias de software em Fortaleza, Ceará; segue.
* indústrias de software em Petrópolis, Rio de Janeiro; O processo de desconcentração regional da indústria
* indústrias de software em Pato Branco, Paraná, em que se brasileira favorece o prolongamento da disputa entre as
destacam os produtos para apoio, avaliação e terapia de fala e unidades federativas com base na renúncia fiscal.
linguagem; gestão e avaliação de escolas de idiomas; software (....) Certo (....) Errado
educacionais multimídia;
* empresas de informática em Ilhéus, na Bahia. 04. (Petrobras – Profissional Júnior –
CESGRANRIO/2015) Como tantos outros países periféricos, o
Referências Bibliográficas Brasil era exportador de matérias-primas e importador de
produtos manufaturados. Há um momento em que o minério
FURQUIM Junior, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição. São de ferro do Brasil impressiona os técnicos das indústrias
Paulo: Editora AJS, 2015. siderúrgicas da Europa e dos Estados Unidos, mas o Brasil
MARTINI, Alice de. Geografia. Alice de Martini, Rogata importa até as grades de ferro que cercarão as árvores da
Soares Del Gaudio. 3ª edição. São Paulo: IBEP, 2013. recém-aberta Avenida Central, no Rio.
Nessas poucas palavras, sobre a coação da história a
Questões estrangular o futuro dos países como o Brasil, encerra-se toda
a política econômica da Revolução de 30, do presidente que a
01. (TJ/SC – Analista Jurídico – TJ/SC) Sobre o espaço levou ao poder e de toda a Era Vargas: fazer do Brasil um país
econômico brasileiro, suas características e o processo que transforme em aço o ferro de seu subsolo, que explore seu
industrial do Brasil, todas as alternativas abaixo estão petróleo e suas fontes de energia elétrica, que produza
corretas, EXCETO: tratores, caminhões, automóveis e até aviões, um país não
(A) Dentre os fatores responsáveis pela concentração mais vítima, mas protagonista e criador de seu futuro.
industrial na região Sudeste, podemos afirmar que a região foi RIBEIRO, José Augusto. A Era Vargas, o suicídio e o petróleo.
se organizando como área de atração da população e de Revista Caros Amigos, São Paulo, n.209, p.41, ago. 2014.
capital, tornando-se região concentradora de riquezas. O Com base no texto, é possível associar a realidade
mercado consumidor que aí se formou, o desenvolvimento do socioeconômica e a política brasileira da Era Vargas
sistema rodoviário, os recursos naturais favoráveis e a (A) à expansão da agroindústria
imigração contribuíram para a concentração industrial nesta (B) à opção pelo neoliberalismo
região. (C) ao modelo de substituição de importações
(B) São Paulo concentra a maior parte da produção (D) ao processo produtivo de acumulação flexível
industrial do país, cujas raízes encontram-se nas etapas (E) às privatizações no setor de produção de energia
iniciais do processo da industrialização do Brasil. Mas, nos
últimos anos, a participação relativa do Estado começa a Gabarito
diminuir, o que reflete o início do processo de dispersão
industrial espacial, no país. 01. D/02. A/03. Certo/04. C
(C) O processo industrial brasileiro se firmou nos anos 70,
os anos do “milagre brasileiro”, baseado em um tripé, Os recursos minerais, as fontes de energia e os impactos
representado pela forte participação do capital estatal, pelos ambientais
grandes conglomerados transnacionais e um mercado
consumidor em ascensão. Sobre a superfície da Terra, vamos encontrar basicamente
(D) Uma das características do processo industrial atual do dois tipos de minerais: os fósseis e os não-fósseis. Os minerais
Brasil, corresponde à forte dispersão financeira das empresas fósseis são aqueles originários da decomposição de restos de
e à grande concentração espacial. animais e vegetais que ficaram depositados em camadas de
rochas sedimentares como o carvão, o petróleo e o xisto. Já os
minerais não-fósseis são os compostos químicos metálicos e energia elétrica produzida no Brasil está sob a
não-metálicos que se consolidaram no interior das rochas, responsabilidade das grandes empresas do setor privado.
geralmente cristalinas, como, por exemplo, o ouro, o
manganês, o ferro, o silício, o caulim. Quem controla o setor elétrico no Brasil?
Isso significa que os diversos elementos vão surgir em uma Dentre os órgãos governamentais controlam o setor de
determinada região, de acordo com o tipo de formação produção de eletricidade no Brasil, destacam-se os pioneiros –
geológica do local. É evidente que, quanto maior for a área de a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e o ONS
um país, maior será a possibilidade desse país contar com (Operador Nacional do Sistema).
todos os tipos de rochas e assim possuir todos os tipos de A ANEEL foi criada em 1996. É responsável pela
minerais. regulamentação e fiscalização de todos os setores elétricos
Entretanto, mesmo para um país de enormes dimensões ligados à produção e distribuição de energia.
como o Brasil, que contém todos os tipos de rochas, os O ONS foi criado em agosto de 1998. Coordena e controla a
minerais não surgirão na quantidade que a nossa economia operação da geração e transmissão de energia elétrica entre as
exige. Assim, poderíamos classificar os minerais quanto à diversas usinas e sistemas de distribuição espalhados pelo
disponibilidade em três tipos: país.
a) abundantes: aqueles que surgem em enormes
quantidades, sendo usados tanto internamente quanto Referências Bibliográficas
exportados, como por exemplo, o ferro, o manganês, o
alumínio, o nióbio. ANGLO: GARCIA, Hélio Carlos; GARAVELLO, Tito Márcio. Geografia do Brasil.
São Paulo, 4ª edição: Anglo.
b) suficientes: os que existem em quantidade suficiente COLEÇÃO OBJETIVO – Sistema de Métodos de Aprendizagem – ANTUNES,
apenas para o abastecimento interno, não podendo ser Vera Lúcia da Costa. Geografia do Brasil: Quadro Natural e Humano.
exportados. LUCCI, Elian Alabi. Geografia Geral e do Brasil. Elian Alabi Lucci; Anselmo
c) carentes: aqueles cuja quantidade seja insuficiente para Lazaro Branco; Cláudio Mendonça. 3ª ed. São Paulo: Saraiva.
MARTINEZ, Rogério. Novo olhar: Geografia. Rogério Martinez, Wanessa
atender às necessidades internas como, por exemplo, o carvão Pires Garcia Vidal. 1ª edição. São Paulo: FTD, 2013.
mineral. MARTINI, Alice de. Geografia. Alice de Martini, Rogata Soares Del Gaudio. 3ª
edição. São Paulo: IBEP, 2013.
A importância dos Recursos Minerais
Questões
Os recursos minerais são vitais para o desenvolvimento de
um país, por sua importância como matéria-prima para a 01. (SEDUC/AL – Professor de Geografia –
indústria – em particular para os setores industriais de base, CESPE/2018) Com relação à exploração de recursos naturais
como a metalurgia e a química pesadas (assim qualificadas por pelos seres humanos, julgue o item subsecutivo.
utilizarem muita matéria-prima. Na primeira, destacam-se as O pau-brasil foi o primeiro elemento da rica natureza
unidades produtivas voltadas para a fabricação de metais brasileira explorado pelo mercantilismo europeu.
como aço, alumínio, cobre, chumbo e estanho. Na segunda, (....) Certo (....) Errado
aquelas voltadas para a fabricação de ácidos como o sulfúrico,
o nítrico e o clorídrico. 02. (SEDUC/AL – Professor de Geografia –
CESPE/2018) Com relação à exploração de recursos naturais
A Energia Hidrelétrica no Brasil: pelos seres humanos, julgue o item subsecutivo.
O Brasil possui cerca de 450 usinas hidrelétricas em Os processos de destruição ambiental no Brasil foram
funcionamento, entre as quais duas das dez maiores do denunciados ainda no início do processo de colonização
mundo. portuguesa.
De modo geral, as bacias dos principais rios que banham (....) Certo (....) Errado
estados do Nordeste e do Sudeste estão com o seu potencial
bastante aproveitado. Já as bacias do Uruguai, do Tocantins e 03. (ARTESP – Economia – FCC/2017) Ao considerar os
do Amazonas oferecem ainda muito potencial a ser explorado. recursos ambientais e naturais, é correto afirmar que
Na Amazônia, tanto as hidrelétricas em operação quanto as (A) a utilização de fontes de energia renovável afeta os
planejadas têm provocado muita polêmica. Embora a rendimentos imediatos dos recursos naturais sem afetar o
Eletronorte alegue que elas são uma opção para todo o Brasil, longo prazo desses mesmos recursos.
a transmissão dessa energia para o Centro-Sul tem um custo (B) a reciclagem pode gerar benefício econômico a curto
muito alto em razão das enormes distâncias. Na realidade, em prazo e exercer impacto nulo no estoque de capital natural.
parte, foram construídas na região para fornecer energia aos (C) se regeneram, e o consumo presente de recursos não
projetos mineradores de grandes empresas, principalmente as gera impacto de longo prazo no estoque de capital natural.
produtoras de alumínio, que consomem muita eletricidade (D) o extrativismo pode comprometer o estoque de
(eletrointensivas): cerca de um terço da energia elétrica recursos ambientais e naturais do planeta.
gerada por Tucuruí. No Rio Tocantins, no Pará, é consumido (E) na área ambiental não existe um dilema de decisão
pelas indústrias de alumínio que atuam na região amazônica. intertemporal quanto à utilização desses mesmos recursos, já
As usinas hidrelétricas são, em sua maioria, empresas que os recursos naturais se renovam.
estatais. A partir de 1995, o setor de geração de energia, antes
restrito à esfera governamental, foi aberto às empresas Gabarito
privadas, as quais poderiam adquirir as empresas estatais em
leilão. No entanto, apenas algumas estatais do setor 01. Certo/02. Errado/ 03. D
hidrelétrico foram vendidas e, a maior parte delas, pelo preço
mínimo. Os complexos agroindustriais, eixos de circulação e
Se, de um lado, as empresas privadas mostravam-se custos de deslocamento
desinteressadas em investir no setor de geração de energia,
por outro lado, havia grande interesse em outro setor – o de Agropecuária é a denominação dada para as atividades
distribuição de energia, o qual apresentava perspectivas de que usam o solo com fins econômicos e que são voltadas à
retorno mais rápido dos investimentos. Desde o final do século produção agrícola associada à criação de animais.
passado e início do século XXI, a distribuição da maior parte da
Esse conjunto de transformações tinha como objetivo (C) Redução do êxodo rural com o aumento da produção
aproximar a agricultura de um padrão industrial de produção. agrícola e, como consequência, a valorização do trabalhador
Portanto, uma das propostas da Revolução Verde era a adoção rural.
do mesmo padrão de cultivo em todos os lugares do mundo, (D) Desenvolvimento das pequenas e médias
desconsiderando as variações locais das condições naturais, propriedades, resultando em um modelo de produção
como o clima ou a fertilidade natural do solo, e as necessidades competitivo com os países europeus.
e possibilidades dos agricultores.
A adoção de monoculturas, largas propriedades de terra 03. (MPE/GO – Secretário – MPE/GO/2017) A
destinadas ao cultivo de uma única espécie, foi outra medida característica fundamental é que ele não é mais somente um
imposta pela Revolução Verde, já que a eficiência dos insumos agricultor ou um pecuarista: ele combina atividades
químicos e do maquinário dependia da uniformidade do agropecuárias com outras atividades não agrícolas dentro ou
cultivo. fora de seu estabelecimento, tanto nos ramos tradicionais
No Brasil, a implantação da Revolução Verde foi urbano-industriais como nas novas atividades que vêm se
estimulada por meio de políticas públicas que promoviam o desenvolvendo no meio rural, como lazer, turismo,
financiamento e a assistência técnica aos produtores rurais, conservação da natureza, moradia e prestação de serviços
oferecendo créditos e subsídios. Houve um significativo pessoais.
aumento na produção, maior até que o aumento na área Essa nova forma de organização social do trabalho é
plantada. Isso porque os cultivos tornaram-se mais denominada:
produtivos. (A) Terceirização.
No entanto, tal processo foi feito às custas de danos ao (B) Agroextrativismo coletivo.
meio ambiente e de aumento de desemprego no campo, já que (C) Grilhagem.
muitos trabalhadores foram substituídos por máquinas. (D) Agronegócio.
Esse processo de modernização da agricultura não se deu (E) Cooperativismo.
de forma uniforma e igualitária ao longo do território
brasileiro. Além disso, gerou desemprego e concentração de Gabarito
renda, beneficiando somente os grandes produtores.
01. B/02. A/03. D
Referências Bibliográficas
portuguesa não promoveu nenhuma política concreta de econômico e cultural ocorreu de modo diferente. Ao longo do
colonização do local até 1530. século XIX, portanto, a preocupação era promover a
Estima-se que, no final do século XVI, a população branca construção da identidade brasileira e do entendimento sobre
na Colônia era de cerca de 30 mil habitantes, concentrada no quem era o povo com o qual contávamos para construir o país.
litoral, especialmente na região correspondente ao atual Até 1888, a sociedade brasileira esteve estruturada com
Nordeste brasileiro, na época o centro econômico do país. base em relações escravocratas, nas quais os negros eram
Entre os imigrantes portugueses, estavam: nobres e pessoas considerados socialmente inferiores. Dessa forma, o fato de a
ricas ligadas à produção de açúcar ou à administração da população brasileira ser, em sua maioria, afrodescendentes
Colônia; membros do clero; aventureiros; e pessoas representava um incômodo para a elite local: branca e
condenadas por crimes em Portugal. culturalmente vinculada com a Europa.
Nesse mesmo século, parte da Colônia portuguesa foi Assim como em outros países vizinhos, o debate sobre a
ocupada por franceses que se estabeleceram na região do Rio construção da identidade nacional no Brasil envolveu um
de Janeiro. Mais tarde, a França também ocupou a região do embate ideológico: valorizar a cultura dos povos originários
Maranhão, entre os anos de 1594 e 1615 – enviando colonos ou adotar como referência a cultura europeia. No caso
para lá. brasileiro, devido aos vínculos culturais da elite local, o modelo
No período colonial, o número de mulheres brancas que cultural europeu foi adotado como ideal de civilização. Com
imigravam para a Colônia não era muito significativo – uma isso, no século XIX, o Estado brasileiro passou a promover
vez que as terras na América eram vistas como selvagens e gradualmente a imigração de colonos europeus, visando
perigosas pelos europeus. Dessa forma, a Coroa portuguesa “embranquecer” a sua população.
enviava garotas órfãs para se casarem com os brancos que Um dos primeiros fluxos migratórios foi o de colonos
aqui viviam. O pequeno número de mulheres brancas solteiras alemães para o Sul do país, nos estados do Rio Grande do Sul,
na Colônia foi um dos motivos que levaram à miscigenação dos Santa Catarina e Paraná. Em seguida, deu-se início a um
colonos europeus com mulheres indígenas ou negras – que, intenso processo de imigração de italianos nessas regiões e,
por serem escravas, muitas vezes eram forçadas a tal pelos principalmente, no estado de São Paulo.
homens brancos. Com isso, ao longo do período colonial, Devido ao seu grande desenvolvimento econômico a partir
ocorreu a formação de uma população mestiça na Colônia. da segunda metade do século XIX, São Paulo passou a receber
Durante o século XVII, deu-se continuidade ao processo de a maior parte do fluxo de imigrantes estrangeiros nesse
colonização portuguesa no Brasil, de modo que a ocupação de período.
territórios no continente avançou para as regiões do Pará e do Em um primeiro momento, a região recebeu um intenso
Maranhão (onde também ocorreu um intenso processo de fluxo de italianos, que foram trabalhar nas plantações de café
miscigenação). no interior do estado. Posteriormente, os imigrantes italianos
Porém, entre 1630 e 1654, a região de Pernambuco foi passaram a se dirigir para as zonas urbanas em busca de
ocupada por holandeses e também por judeus, que imigraram emprego. O principal destino foi a cidade de São Paulo que,
para lá por conta da liberdade religiosa que o governo local devido ao seu crescimento econômico, possuía maior oferta de
lhes propiciava (algo que na época não costumava acontecer trabalho.
em territórios católicos). A partir do final do século XIX e no início do século XX, São
Após a expulsão dos holandeses de Pernambuco, a Coroa Paulo recebeu diversos fluxos de imigrantes europeus (entre
portuguesa buscou retomar as políticas de povoamento, de eles espanhóis, portugueses e judeus), como também de sírios,
modo a proteger a Colônia de novas invasões estrangeiras. libaneses e japoneses. Mais tarde, ocorreria a migração de
Estima-se que no final do século XVI a população branca na nordestinos para a região. Essa população tinha como objetivo
Colônia era de cerca de 100 mil pessoas, o que representava trabalhar em diversas atividades econômicas, como
cerca de 30% da população local. O restante era composto por agricultura, comércio, indústria e construção civil.
negros, indígenas e mestiços.
Porém, com a descoberta de ouro em Minas Gerais e A população brasileira nos dias atuais
também nas atuais regiões de Goiás e Mato Grosso, houve um
grande aumento do fluxo migratório de europeus ao longo do Atualmente, a população estimada do Brasil é de um pouco
século XVIII. Esses imigrantes mudaram-se para o território mais de 200 milhões de habitantes, número que o classifica
brasileiro e povoaram as regiões das minas em busca de como o quinto país mais populoso do mundo.
metais preciosos e enriquecimento. Nesse período verificou-se Segundo dados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro
um aumento significativo da população da Colônia. A de Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao ano de 2014,
população local passou a ser de 3,2 milhões de habitantes no 51,3% da população brasileira à época, era feminina. Já os
final daquele século. homens representavam 48,7% do total de habitantes.
Em relação à distribuição dos habitantes no território
A composição da população brasileira brasileiro, pode-se dizer que é um reflexo do processo
histórico de povoamento durante o período colonial, uma vez
O brasileiro no período pós-independência que há maior concentração nas regiões onde historicamente
houve maior desenvolvimento econômico.
Com a independência brasileira em 1822, o recém-criado
Estado brasileiro tinha como difícil tarefa manter a sua O crescimento da população nos séculos XX e XXI
unidade territorial, combatendo movimentos separatistas.
Para isso, era de fundamental importância a criação de um O processo de desenvolvimento econômico e urbano
sentimento nacional – inexistente até então. Em outras ocorrido no Brasil no século XX trouxe avanços que resultaram
palavras, era necessário que os habitantes das diversas regiões no aumento significativo da expectativa de vida da população
do Brasil se sentissem pertencentes a uma mesma nação, com brasileira e na redução das taxas de mortalidade. Esses
os mesmos vínculos históricos e culturais. avanços estão relacionados tanto à medicina como às
Não devemos esquecer que, até a independência brasileira, infraestruturas urbanas, como saneamento básico e água
o sentimento de ser brasileiro não existia. O único vínculo tratada, à maior produção de alimentos e à redução da
histórico que os habitantes possuíam era a relação com a pobreza.
Coroa portuguesa. Além disso, em cada região do território, o A redução das taxas de mortalidade no Brasil, associada ao
processo de povoamento, miscigenação e desenvolvimento alto número de nascimentos ainda registrados no início do
século XX, provocou um grande aumento populacional. Porém, (TMI) de crianças entre 0 e 5 anos de idade era de 53,7 mortes
a partir das décadas de 1940 e 1950, a população brasileira por mil nascidos vivos em 1990 e passou para 17,7 em 2011.
passou a apresentar uma diminuição de suas taxas de O relatório mostra que a queda mais significativa registrada da
natalidade e de fecundidade, o que reduziu a sua taxa de mortalidade na infância ocorreu na faixa entre um e quatro
crescimento vegetativo. anos de idade.
A diminuição das taxas de natalidade observadas no Brasil A leitura do texto e os conhecimentos sobre a dinâmica
indica que a nossa população vem reduzindo o número de demográfica brasileira permitem afirmar que
filhos. Esse fenômeno, associado ao aumento da expectativa de (A) em 2011, o Brasil atingiu a meta de redução da TMI
vida, tem provocado um envelhecimento da população prevista pelos Objetivos do Milênio estabelecidos pela ONU.
brasileira – uma vez que o número de jovens diminui e o (B) a redução da TMI observada no período 1990-2011
número de idosos aumenta. teve grande influência no crescimento demográfico do país.
A queda das taxas de natalidade no Brasil está relacionada (C) ao longo do período 1990–2011 pôde-se constatar uma
a uma série de transformações culturais e econômicas. Entre relativa homogeneização das TMI em todas as regiões do país.
elas, pode-se destacar a inserção das mulheres no mercado de (D) a queda da TMI em duas décadas possibilitou ao Brasil
trabalho, o que fez que muitas delas optassem por ter filhos tornar-se o país com menores TMI em toda a América Latina.
mais tarde ou não tê-los. Da mesma forma, o elevado custo de (E) a diminuição da TMI produz inúmeras consequências,
vida nas cidades, onde vive a maioria dos brasileiros, também dentre as quais o aumento da base da pirâmide etária do
levou à queda na média de filhos por família. Brasil.
A dinâmica demográfica do Brasil torna-se mais 02. (IBGE – Recenseador – CESGRANRIO) Com relação à
compreensível a partir da análise de dois processos que a expectativa de vida dos brasileiros, os recenseamentos do
compõem: IBGE comprovam que, nos últimos anos, verificou-se
* Crescimento vertical, mais conhecido como (A) retrocesso significativo.
crescimento vegetativo; (B) estagnação relativa.
* Crescimento horizontal, resultante dos fluxos (C) desaceleração abrupta.
migratórios internacionais. (D) aumento progressivo.
O comportamento das populações muda ao longo do 03. (IF/SE – Analista – IF/SE) O Brasil já ultrapassou a
tempo, bem como o ritmo de sua dinâmica. Por isso, o estudo etapa de elevado crescimento vegetativo e, sob o impacto da
da população sempre acompanha as mudanças históricas. urbanização, apresenta redução contínua das taxas de
Geralmente, toma-se como ponto de partida o período natalidade. Essa dinâmica da sociedade brasileira tem
posterior à Segunda Guerra Mundial, quando profundas repercussões na estrutura etária e exerce influência sobre as
transformações socioeconômicas afetaram o Brasil, políticas públicas. A partir da reflexão sobre o texto e de seus
provocando grandes variações na dinâmica demográfica. conhecimentos sobre a sociedade brasileira, aponte a
afirmativa correta:
O Crescimento vegetativo de um país é o índice que (A) Atualmente, verifica-se na população brasileira um
resulta da diferença entre a taxa de natalidade e a de gradual aumento das taxas de natalidade.
mortalidade observadas num determinado período. Pode ser, (B) A população brasileira é, hoje, predominantemente
portanto, positivo ou negativo. urbana e a força de trabalho concentra-se no setor secundário
da economia.
O Crescimento horizontal de um país resulta da diferença (C) As habitações e o intenso favelamento das cidades
entre o total de imigrantes e o de emigrantes registrada num diminuíram em face das medidas governamentais preventivas
dado período. Pode ser, também, positivo ou negativo. e das políticas públicas que favorecem a população mais
precária.
Envelhecimento Populacional e Previdência Social no (D) Com relação às tendências do mercado de trabalho, no
Brasil Brasil, há uma redução expressiva do número de pessoas
ocupadas no mercado informal do trabalho.
No Brasil, o déficit da previdência aumenta a cada ano, (E) Umas das razões da mobilidade populacional brasileira
pois, se por um lado há um aumento da expectativa de vida da está na diferença de desenvolvimento econômico existente
população, por outro, há uma grande quantidade de entre as várias regiões do país.
trabalhadores que não são contribuintes do sistema
previdenciário – em 2001, os não – contribuintes perfaziam 04. (ANTT – Especialista em Regulação – CESPE) Julgue
50% da população ocupada em alguma atividade econômica. o seguinte item, relativo ao perfil da população brasileira,
Mas a mudança na dinâmica demográfica, por si só, não incluindo suas desigualdades.
explica os problemas da previdência social. Um novo padrão de ocupação do território revela
O sistema permite alguns milhares de aposentadorias acelerado processo de urbanização e de concentração da
extremamente elevadas ao lado de milhões de aposentadorias pobreza em áreas urbanas. A atual dinâmica demográfica
miseráveis. acentua a concentração populacional nas grandes cidades e em
Além disso, a previdência foi fraudada durante décadas e cidades de porte médio que compõem a rede urbana brasileira,
não são raros os casos de quadrilhas formadas no Brasil para com o consequente esvaziamento do campo e mudanças na
roubar o sistema previdenciário. natureza e na concentração da pobreza.
(....) Certo (....) Errado
Referências Bibliográficas
Gabarito
FURQUIM Junior, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição. São Paulo: Editora
AJS, 2015.
01. A/ 02. D/ 03. E /04. Certo
Questões
trabalho, exceto na condição de "aprendiz" (que não foi desenvolvimento posterior desse contingente populacional,
regulamentada nem esclarecida). Em 1990, com o Estatuto da afetando sua escolaridade e sua renda.
Criança e do Adolescente, a lei passou a prever proteção Mas segundo resultados do Censo 2010, a exploração do
integral às crianças e adolescentes, inclusive no caso daqueles trabalho infanto-juvenil diminuiu em várias regiões do Brasil.
que estavam ingressando no mercado de trabalho.
Recentemente, o Brasil ratificou acordo internacional junto à Trabalho, consumo e violência
OIT, prevendo como idade mínima para ingresso no mercado
de trabalho os 16 anos. Para compreendermos essa associação, é preciso
No entanto, por ser uma atividade "invisível", uma vez que considerar um pouco de sua historicidade. Na década de 1970,
a exploração do trabalho infanto-juvenil é ilegal, e no caso das no Brasil, havia quase uma associação imediata entre pobreza
meninas que trabalham, essa atividade pode ser realizada no e violência: as regiões e populações mais pobres eram
lar (o emprego doméstico), fora da ação de fiscais, os dados consideradas mais violentas, e esta violência era provocada
sobre trabalho infanto-juvenil não são exatos. principalmente pela necessidade de sobrevivência. Assim, a
Os dados apontam para um contingente de 3,8 milhões de violência era associada quase que somente a um problema
crianças e adolescentes com idades entre 5 e 16 anos estrutural do capitalismo: por ser concentrador de renda,
trabalhando no Brasil atualmente. Todavia, esses valores não impossibilitava o acesso a melhores condições de vida - em
são exatos e variam conforme as grandes regiões brasileiras e alguns casos, impedia inclusive a sobrevivência - e isto era a
entre o meio rural e urbano. causa maior das manifestações violentas. Valia aquela ideia de
O trabalho em idade precoce dificulta o pleno que, quanto maior a pobreza, maior a violência.
desenvolvimento do ser humano, incidindo sobre sua No entanto, a partir do final da década de 1980, essas ideias
escolaridade que, por sua vez, influenciará seus salários. passaram a ser muito criticadas, uma vez que, se por um lado
Quanto maior for o nível de escolaridade de uma pessoa, havia trabalhadores super explorados ou desempregados que
maiores serão suas chances de ingressar no mercado de se tornavam violentos, de outro centenas de trabalhadores nas
trabalho formal e obter bons ganhos salariais. Por sua vez, mesmas condições não apelavam para a violência como forma
crianças e jovens que começam a trabalhar muito cedo logo de sobrevivência. E mais: inúmeras pesquisas constataram a
abandonam a escola (em média, os jovens brasileiros possuem expansão da violência para áreas consideradas nobres,
7,4 anos de estudo) e recebem uma baixa remuneração por seu atingindo populações de maior poder aquisitivo.
trabalho (em torno de 1,46 salário mínimo).
Em razão desses problemas, a Unesco (Organização das Atualmente, acredita-se que as causas do aumento da
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) violência sejam múltiplas: pobreza; maiores dificuldades de
preparou e divulgou em 2007 um relatório sobre o índice de acesso aos bens públicos (saúde, educação, lazer); desemprego
Desenvolvimento da Juventude (IDJ - que considera jovens na e/ou trabalho precário; características pessoais como
faixa etária dos 15 aos 25 anos), semelhante ao IDH para os necessidade de autoafirmação (para integrar gangues, por
estados brasileiros. exemplo); necessidade de consumir drogas; problemas
O IDJ varia de O a 1. Próximo de zero (O) são encontrados psíquicos (como as psicoses e esquizofrenias); necessidade de
os piores resultados, ao passo que, quanto mais próximo de 1, atender às demandas do consumo (associado não
melhores são os indicadores sociais para a juventude. Os necessariamente à pobreza, mas à vaidade e à autoafirmação);
estados brasileiros foram classificados, portanto, de acordo participação em grupos ultrarradicais (caso dos skinheads, por
com sua melhor posição no ranking (Distrito Federal, Santa exemplo, que praticam violência gratuita contra grupos raciais
Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul, com os melhores ou sexuais).
indicadores - entre 0,673 e 0,622). Porém, uma constatação pode ser feita: a violência é, em
geral, maior nas áreas ocupadas por populações de menor
O tipo de atividade desenvolvida por crianças e poder aquisitivo e menor acesso aos bens públicos, apesar de
adolescentes também varia conforme a região. ocorrer em todas as classes sociais.
De acordo com o Unicef, o trabalho infanto-juvenil Outra constatação que pode ser feita, observando a
prejudica o desenvolvimento físico, intelectual e emocional realidade atual, é o aumento da violência associada aos
desses jovens trabalhadores. Desse contingente de crianças diversos tipos de tráfico: drogas, armas, pessoas, órgãos
trabalhando, estima-se que 20% não frequentem escolas e, humanos, Esse aumento do tráfico não é um fenômeno isolado,
entre os adolescentes que trabalham, somente 25,5% mas está presente em todo o globo. Assim, se falamos de
conseguiram concluir oito anos de escolaridade. globalização econômica, é preciso considerar que houve
No ano de 2007, o IBGE calculou um elevado índice de também uma globalização da violência, com difusão global das
exploração do trabalho infantil no território brasileiro, apesar máfias (italianas, japonesas, russas etc.).
de a legislação brasileira proibir qualquer tipo de trabalho Um exemplo de violência relacionada à baixa renda é
para menores de 14 anos. constatado em um estudo que mostra a chance de
A partir de ações associadas à geração de renda e sobrevivência de crianças carentes. As crianças que recebem
assistência às famílias mais pobres implantadas pelo Estado exclusivamente alimentação oferecida pelos pais de baixa
brasileiro, o IBGE também avaliou que houve uma queda do renda têm mais chance de desenvolver qualquer tipo de
trabalho infantil, de 4,5% em 2006, para 4% em 2007. A subnutrição do que aquelas que saem das suas casas quando
exploração do trabalho infantil também demonstra as os pais estão trabalhando e pedem esmolas ou alimentos nas
desigualdades do Brasil, pois o perfil médio do trabalhador ruas. Estas acabam ingerindo uma quantidade maior de
mirim é constituído principalmente por crianças oriundas de proteínas do que as que se mantiveram em casa.
famílias de baixa renda (até um salário mínimo). Em resumo, a precariedade dos baixos salários e o
Muitas dessas crianças e jovens que trabalham, enfrentam, desemprego impelem as crianças para a rua. Soma-se a isso a
além de irregularidades trabalhistas, atividades aviltantes: violência doméstica, e temos um contingente de crianças e
carvoarias, atividades potencialmente mutilantes como adolescentes vivendo à margem da sociedade, extremamente
quebra de pedras ou corte de sisal, entre outras, redes de suscetíveis ao aliciamento de grupos criminosos.
prostituição e tráfico de drogas, semi-escravidão ou O consumo também é um gerador de violência na medida
escravidão. E como observado pela análise do IDJ, a entrada em que ele demarca o “status” social do indivíduo. Quando o
precoce no mundo do trabalho pode ser prejudicial ao consumo ocorre frequentemente num ritmo além da
necessidade, ele sinaliza uma necessidade pessoal de
autoafirmação, de sublimação do ego, de relativizar carências colônia. As sesmarias vigoraram no Brasil até 1822, ano de sua
pessoais ou, ainda, da necessidade de se sentir aceito por um independência.
determinado grupo ou esfera social. A propaganda trabalha Obviamente, essa concessão de terras abrangia apenas as
com esses vínculos para produzir novos consumidores. pessoas nobres ou ricas – que possuíam algum tipo de relação
Dessa forma, existem violência e auto violência em nome com a Coroa portuguesa e teriam condições de desenvolver
do consumismo. economicamente suas propriedades. Nesse caso, as doações de
sesmarias correspondiam às áreas produtivas e já exploradas
A sujeição de jovens de todas as classes aos apelos do no litoral ou próximas dessa região.
consumo reflete o poder da mídia e a mudança de valores. Ao receber uma sesmaria na Colônia e produzir em suas
Quando as relações humanas são “coisificadas”, temos uma terras, o proprietário tinha o direito de posse por toda avida,
sociedade doente e insensível a qualquer tipo de repassando-as para seus herdeiros depois da sua morte. Nesse
responsabilidade, seja de natureza ambiental ou social. contexto, a Colônia assistia à formação de uma elite, composta
O grau de individualismo desemboca no "consumo por famílias que concentravam em suas mãos as maiores
alienado", em que se vislumbra apenas a satisfação pessoal, terras e, consequentemente, a riqueza local oriunda da
ainda que efêmera. Vive-se numa situação de isolamento exportação do açúcar que produziam.
social, em que nada do que ocorre fora do círculo individual de Apesar da necessidade de concessão por parte da Coroa ou
relacionamentos interessa. Essa alienação também se do governador-geral para obtenção de sesmarias, essa não era
constitui numa forma de violência. a única forma de se conseguir a posse de terras na Colônia.
O trabalho alienado, o consumo alienado são traços da Devido à abundância de áreas inexploradas no território e ao
globalização econômica, em que tudo é padronizado e baixo número de habitantes europeus na Colônia, as terras do
criteriosamente desenvolvido, para que as pessoas com interior não possuíam valor comercial. Outro aspecto
potencial de consumo se sintam especiais, usando artefatos de referente à propriedade de terras nesse período diz respeito à
massa, que mesmo assim, sejam diferenciadas da massa, não mão de obra disponível. Para produzir em grande escala, era
pelo estilo próprio ou ideias, mas pela marca. necessário o uso intenso de trabalhadores – os africanos
Os efeitos da padronização e da "necessidade" de consumo escravizados. Os maiores proprietários rurais eram aqueles
de bens, que definem o status quo, atingem todas as classes que possuíam maior número de escravos. Por isso, na condição
sociais. Eles são nocivos porque têm o poder de dividir e de de mais ricos da colônia, os maiores proprietários de terra
discriminar. E uma sociedade "apartada", com discriminação eram aqueles que podiam comprar mais escravos.
social, só poderá gerar todo tipo de violência. As pessoas que penetravam no interior do território e se
Logo, apesar de a violência não poder ser associada mostravam dispostas a enfrentar indígenas e a desbravar as
exclusivamente à pobreza ou à concentração de renda, o áreas virgens podiam ocupar um pedaço de terra, no qual
estímulo ao superconsumo nas sociedades atuais acaba por podiam produzir a fim de conseguir a sua posse. Mesmo assim,
estimulá-la, principalmente quando consideramos o aumento apesar de ter a posse não contestada da terra, esses colonos
global do desemprego. É preciso considerar que a violência não possuíam a propriedade legal, uma vez que ela só era
não se refere apenas à agressão física, mas a humilhações, obtida por meio de uma concessão oficial.
discriminação (racial, sexual), menosprezo do outro, A partir daí, surgiu no Brasil a figura do posseiro – pessoa
indiferença. Essas são consideradas formas "invisíveis" da que ocupa uma área territorial para obter a sua posse, mas sem
violência, por isso mesmo, as estatísticas sobre o tema ter a sua propriedade. Geralmente, os posseiros eram colonos
abordam sua manifestação material: assassinatos, roubos, que não possuíam capital para comprar escravos e, por isso,
estupros, sequestros. tinham uma produção de pequena escala voltada para a
A legislação atual tem procurado coibir ações violentas no subsistência ou para o abastecimento do mercado interno.
âmbito doméstico (violência familiar, geralmente envolta em Dessa forma, no período colonial, coexistiam grandes
um manto de silêncio) e mesmo no trabalho (assédio sexual latifúndios de famílias ricas ligadas ao poder local e pequenas
e/ou assédio moral). No entanto, essas formas de violência, propriedades pertencentes aos camponeses locais.
por serem "invisíveis" e constrangedoras, são, muitas vezes,
subdimensionadas. O surgimento do trabalho assalariado no Brasil e a Lei
de Terras
Referências Bibliográficas
No dia 4 de setembro de 1850 foi assinada a Lei Eusébio de
MARTINI, Alice de. Geografia. /Alice de Martini; Rogata Queirós, que proibia o tráfico de escravos no Brasil. Apesar de
Soares Del Gaudio. 3ª edição. São Paulo: IBEP, 2013. PNLD – não ter surtido efeito prático imediato, a Lei Eusébio de
2015 a 2017 – FNDE – Ministério da Educação. Queirós foi um marco no processo de abolição da escravidão
no país. Ao criar uma perspectiva de término desse tipo de
Questão agrária, pobreza e exclusão social relação de trabalho, ela estimulou o surgimento do trabalho
assalariado no território brasileiro.
A propriedade de terras é uma questão importante no Nesse contexto, a Lei de Terras foi assinada no mesmo mês.
Brasil desde o período colonial. Devido ao papel da agricultura Mesmo com a independência do Brasil e a formação do Estado
em nossa economia, é por meio da terra que historicamente se brasileiro, em 1822, não houve nenhuma política de
produziu e acumulou riquezas no país. Até hoje, é da regulamentação das propriedades rurais até a criação da Lei
agricultura e da pecuária que vem grande parte de nosso de Terras em 1850. Até então, deu-se continuidade ao
Produto Interno Bruto (PIB). processo de obtenção de terras por meio da posse, sem a sua
devida documentação.
As sesmarias no período colonial Além de propor a regularização das propriedades não
documentadas no país, a Lei de Terras buscou criar uma
O primeiro mecanismo oficial de distribuição de terras no política para regulamentar a apropriação das terras não
território brasileiro foi o sistema de doação de sesmarias, exploradas. Com ela, estabeleceu-se que as terras não
enormes parcelas de terra que eram concedidas pela Coroa exploradas passariam a pertencer ao Estado e só poderiam ser
Portuguesa ou pelo governador-geral, visando promover a adquiridas por meio da compra – e não mais pela ocupação e
colonização de terras e implantar o sistema de plantation na exploração do território.
Segundo a Lei de Terras, para realizar esse processo, os A primeira capital brasileira foi Salvador, escolhida para
posseiros deveriam legalizar as suas terras em cartórios ser a sede da Colônia. A baía de seu litoral, Baía de Todos os
localizados nas cidades, os quais, na época, eram de difícil Santos, facilitava a exportação de cana-de-açúcar e pau-brasil,
acesso para a população rural, pois não havia facilidades de que eram os principais produtos de interesse português
deslocamentos como hoje em dia. Além disso, a maioria deles naquele momento. A baía servia também como ponto de apoio
não possuía recursos para pagar taxas de registro e oficializar para navegações rumo à África e à Ásia, pois era
sua propriedade. estrategicamente um porto seguro para as embarcações
Os proprietários não legalizados (os posseiros) deveriam portuguesas.
registra-las em cartórios para regularizar a sua documentação. O modelo agroexportador foi predominante em todo o
Caso contrário, a propriedade da terra não seria reconhecida. período colonial e influenciou a configuração territorial, a
Ao definir a compra como a única forma de obtenção de terras, urbanização e a mentalidade da sociedade daquela época. A
o Estado excluiu a possibilidade de a população pobre, como lógica da plantation era tão forte que a burguesia brasileira
posseiros e ex escravos, tornar-se proprietário rural. Em naquela época era rural e morava junto a suas plantações.
contrapartida, favorecia a minoria rica do país, que se via em Embora tivesse negócios e propriedades nas cidades, seu
condições de adquirir as maiores e melhores terras. Isso poder político e econômico era baseado nesse modelo.
resultou no monopólio das terras nas mãos de uma minoria a Os poderes políticos eram dominados pela oligarquia
abundância de trabalhadores livres necessária para substituir agrária, que morava em suas fazendas (as casas grandes, os
futuramente os escravos. engenhos e as senzalas conformavam esses espaços), e as
Além de alto número de terras ocupadas sem registro legal, cidades eram habitadas, majoritariamente, por servidores
suas demarcações eram feitas de modo impreciso. Os limites públicos, artesãos, mercadores, etc.
das propriedades, eram, muitas vezes, vagamente definidos As cidades coloniais, de maneira geral, não foram
por elementos naturais como rios, quedas d’agua ou morros. planejadas, seus traçados não obedeciam a lógica alguma e seu
Esse cenário foi agravado pelo início de um intenso processo crescimento deu-se de maneira desordenada, ao ritmo da
de apropriação ilegal de terras no país denominado grilagem própria pulsação populacional, subindo os morros e descendo
de terra. as vertentes.
Muitos apropriaram-se das facilidades políticas e dos Embora já existisse uma relativa ocupação no interior do
conhecimentos legais que possuíam para registrar terras que país, somente com a crise do modelo agroexportador – por
não lhes pertenciam – fossem elas ocupadas por posseiros, causa da concorrência com a produção de cana-de-açúcar nas
indígenas ou de propriedade do Estado. Em um contexto no Antilhas (na América Central) – que a exploração de metais
qual a grade maioria da população era analfabeta, os únicos preciosos ganhou força para suprir a demanda financeira
aptos a produzir tais documentos eram os integrantes da exigida pela metrópole. Dessa forma, a exploração de ouro e
minoria letrada do país. prata tornou-se a principal fonte econômica lusitana na
Em muitos casos, essas terras não foram incorporadas com Colônia a partir do final do século XVII, o que motivou também
fins produtivos. Ao se apropriarem delas, os grileiros tinham a ocupação do interior. A ocupação, que era mais efetiva na
como objetivo esperar a sua valorização para, posteriormente, Zona da Mata e no Agreste baiano, onde ocorria a maior parte
vendê-las a um preço alto. Devido ao seu caráter excludente da produção de cana-de-açúcar, foi reorientada em direção ao
com relação à distribuição de terras, a Lei de Terras resultou interior, onde havia as maiores jazidas de pedras preciosas:
em uma estrutura fundiária extremamente desigual e que se Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.
perpetua até os dias de hoje no Brasil. As cidades criadas na época da mineração esbanjavam
riqueza em sua arquitetura. No século XVIII foram o epicentro
O espaço das cidades - A urbanização brasileira da vida social do país, motivando muitas migrações de gente
vinda de Portugal e de diversas localidades da atual região
De maneira geral, podemos afirmar que a cidade é um Nordeste. A predominância de morros em seu relevo
aglomerado de construções e pessoas, a sede do município e o dificultava a produção agrícola. O abastecimento de alimentos
lugar onde se localizam as casas do poder político. A era realizado por tropeiros que viajavam levando mercadorias
urbanização, por outro lado, refere-se ao surgimento de novas de uma cidade a outra. Esse comércio também foi motivador
cidades e à expansão física e em números demográficos das para a criação de cidades e vilas em torno dos corredores de
cidades existentes. passagem das tropas que vinham do Sul.
No Brasil, a migração, a industrialização e o crescimento O esgotamento das jazidas levou à decadência das cidades
populacional relacionam-se direta ou indiretamente com o que viviam dessa economia. De maneira geral, a ocupação
crescimento urbano, que, por sua vez, multiplica o fluxo de territorial na Colônia possuiu essa característica de
mercadorias, de pessoas e de informações. desenvolvimento econômico baseado na exploração até o
limite. Assim, quando os recursos naturais se esgotavam ou
As primeiras cidades brasileiras quando o mercado entrava em crise, tais regiões entravam em
decadência.
A origem das primeiras cidades está ligada às atividades As cidades que tiveram maior continuidade econômica,
relacionadas à exploração dos produtos das terras brasileiras portanto, foram aquelas cuja função estava ligada ao porto,
e ao envio destes para a metrópole europeia, Portugal. como Salvador e Rio de Janeiro. A última foi elevada à capital
Localizavam-se na faixa litorânea e tiveram, portanto, a função do Império em 1763, permanecendo até 1960, quando a
de posto comercial e de defesa militar. capital da República foi transferida para Brasília.
Além disso, as características naturais também foram um Com o esgotamento da economia mineradora, o café
ponto de extrema importância para escolher onde ficaria o despontou como a base da economia brasileira até o século XX,
sítio urbano a ser desenvolvido. O acesso à água, por exemplo, quando a indústria começou a deslanchar. Nesse período,
funcionou como um fator de decisão de onde se instalaria a concomitante ao ciclo do café, a exploração da borracha
cidade. destacou-se economicamente, incentivando a relativa
São Vicente (SP), foi a primeira vila a ser formada, na costa ocupação e urbanização das maiores cidades amazônicas:
do que hoje é o Estado de São Paulo. Foi criada por Martim Belém do Pará (PA) e Manaus (AM).
Afonso de Souza em 1532, que lá construiu um pelourinho, A predominância da população nas áreas rurais até
uma câmara e uma igreja, e em 22 de agosto do mesmo ano, durante o século XIX no Brasil pode ser explicada pela
realizou as primeiras eleições de toda América Latina. economia baseada nas produções agrícolas, que fixava os
trabalhadores (escravos até 1888 e imigrantes livres) no significativa importância política e econômica nacional como
campo, junto à área produtiva. A economia cafeeira do início também global, pois garantem boa parte das relações
do século XX propiciou o suficiente acúmulo econômico para internacionais e alianças de cooperação.
gerar a industrialização em nosso país. Essa nova economia,
por concentrar-se na cidade, foi responsável por uma virada Problemas urbano-ambientais
populacional. Dessa forma, a urbanização brasileira é recente,
tendo sido mais incentivada e desenvolvida ao longo do século A indústria e os avanços tecnológicos representaram não
XX. apenas mudanças na produção de mercadorias, mas
influenciaram o modo como a sociedade brasileira passou a
O crescimento das cidades organizar sua vida. A modernização do campo brasileiro
resultou em um rápido movimento populacional das áreas
Foi somente no século XX que o crescimento urbano se rurais para as cidades, onde as indústrias se instalavam. Os
intensificou no Brasil. Motivada pela crescente indústria no trabalhadores dessas indústrias tinham a possibilidade de
começo do século, sobretudo no eixo Rio-São Paulo, a receber salários e garantir um nível de consumo necessário
população urbana superou a rural na década de 1970. A cidade para sua sobrevivência.
que mais representou esse processo no país é São Paulo, pois No entanto, o avanço do sistema capitalista não se deu
foi a que mais migrantes recebeu e a que mais cresceu, sendo apenas com a contratação de mão de obra, mas também graças
hoje a maior do país. ao consumo dessas pessoas. O acesso a produtos tornava-se
Esse aumento da população urbana deve-se muito às cada vez mais possível conforme a propaganda e marketing
migrações de pessoas que viviam no campo em direção à das empresas estimulavam a compra, garantindo assim a
cidade, em busca de oportunidades. Por conta do histórico venda e o aumento do próprio lucro.
agroexportador brasileiro, da concentração fundiária e da As novas tecnologias possibilitaram ao sistema capitalista
mecanização, a vida no campo se tornou difícil para os oferecer maior quantidade de mercadorias em circulação no
trabalhadores que não tiveram acesso à propriedade privada comércio. Com isso, a concorrência entre produtos aumentou,
da terra, que se generalizou sobretudo com a Lei de Terras de o que obrigou as empresas a regular seus preços para não
1850. perderem espaço no mercado. Assim, os produtos passaram a
O crescimento das cidades no século XX não foi ser mais acessíveis aos indivíduos que atingiram altíssimos
acompanhado por um planejamento eficiente por parte do níveis de consumo que até hoje estão presentes em nosso
Estado, o que resultou em diversos problemas de organização cotidiano.
urbana nas grandes cidades brasileiras. Você já parou para pensar sobre a quantidade de matéria-
prima necessária para a produção daquilo que compramos? O
As metrópoles brasileiras meio ambiente possui um ritmo próprio de renovação daquilo
que lhe é extraído, o que significa que a retirada de matéria-
O que caracteriza as metrópoles brasileiras é, antes de prima deve ser cautelosa. Caso contrário, rapidamente ela
mais nada, seu processo histórico de formação. Desde o estará em falta. Essa reflexão serve para nosso consumo de
período da colonização até hoje, as principais cidades água, de produtos derivados do petróleo, da madeira, etc.
cresceram em regiões próximas ao litoral, locais por onde as No entanto, não devemos preocupar-nos apenas com o que
mercadorias produzidas eram exportadas e as mercadorias retiramos do meio ambiente, mas também com o que
estrangeiras chegavam ao Brasil. Nestas cidades de devolvemos a ele. Será que todo o lixo que criamos retorna
concentravam as funções administrativas e políticas. para a natureza sem trazer danos a ela? Esse questionamento
O desenvolvimento econômico e político do país reforçou é válido para pensarmos em tudo o que consumimos e na
essa configuração territorial, ainda que a ocupação tenha se quantidade de lixo que produzimos.
expandido para o interior. A maioria das metrópoles Os lixões e os aterros sanitários têm sido tema de
brasileiras se localiza na faixa a menos de 200 quilômetros do importantes discussões sobre o descarte dos resíduos sólidos
litoral, como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Porto no meio ambiente. Os lixões a céu aberto que recebem a maior
Alegre, etc. parte do lixo no país não possuem estrutura adequada, pois
O conceito que utilizaremos para definir o que é uma não protegem ou tratam os resíduos, deixando-os expostos ao
metrópole refere-se a cidades que são centros de decisão calor e à chuva. O líquido produzido pela decomposição do lixo,
política e econômica, em constante relação e interdependência o chorume, infiltra-se no solo e muitas vezes atinge os lençóis
com as regiões em seu entorno. As metrópoles garantem uma freáticos.
articulação desde a escala regional até a global e, de acordo A intoxicação de lençóis freáticos é muitas vezes
com sua área de influência e redes urbanas estabelecidas, desencadeada pela instalação de tais lixões. O aterro sanitário,
essas cidades podem apresentar diferentes funções no cenário por sua vez, também traz esse tipo de problema, porém segue
nacional. uma regulamentação específica criada pelo governo, que tenta
Vejamos a cidade de Goiânia. Ela é considerada uma minimizar os efeitos do acúmulo de lixo no meio ambiente.
metrópole regional que interfere na organização socioespacial Em áreas pobres das cidades, onde o governo não oferece
do Centro-Oeste brasileiro por ser polo de decisões a coleta de lixo regular, as populações lidam como podem com
administrativas e econômicas regionais e por atrair pessoas os resíduos. Com isso, muitas vezes jogam o lixo nos rios e na
em busca tanto de melhores salários e qualidade de vida beira de rodovias. Porém, a poluição das águas também é
quanto de serviços especializados. ocasionada pelo descarte de esgoto e de líquidos tóxicos por
Enquanto isso, Porto Alegre, além de abarcas as parte de grandes empresas, como costumava ocorrer
características de uma metrópole regional, oferece uma antigamente com muita frequência no Rio Tietê, em São Paulo.
estrutura mais complexa de equipamentos públicos, serviços e Logo, a poluição das águas e a do próprio solo oferecem
universidades, o que permite caracteriza-la como metrópole risco de enchentes quando os bueiros entopem ou quando os
nacional. rios não conseguem escoar a quantidade de água necessária,
Já São Paulo e Rio de Janeiro são metrópoles globais que transbordando.
possuem uma dinâmica socioespacial capaz de concentrar
grande número de sedes de empresas multinacionais e de
grandes bancos, além de universidades e os principais polos
tecnológicos industriais do país. Assim, não só possuem
disputam a posse da terra valorizada pela presença das coronéis do sertão (nome pelo qual ficaram conhecidos os
estradas. proprietários das grandes fazendas sertanejas), passaram a
O eixo da Belém-Brasília se estende até a Serra dos Carajás, dominar a paisagem. Em meados do século XIX, o cultivo de
onde se encontra a maior reserva de minério de ferro do algodão tornou-se uma atividade econômica de importância
mundo. O ferro de Carajás, em exploração desde a década de significativa no Sertão, em grande parte devido à crise na
1970 pela Companhia Vale do Rio Doce (privatizada em produção algodoeira dos Estados Unidos decorrente da
1997), é escoado pela Estrada de Ferro Carajás, até o Complexo Guerra de Secessão. Durante muito tempo, o gado e o algodão
Portuário de São Luís, no Maranhão. Nas margens da rodovia iriam dividir o espaço sertanejo;
e da ferrovia, a floresta equatorial já foi quase toda derrubada.
Em seu lugar, surgiram núcleos urbanos e os mais diversos O Meio-Norte, situado na transição entre o Sertão
empreendimentos. semiárido e a Amazônia equatorial, foi durante a maior parte
No outro extremo da Amazônia, o principal eixo de de sua história uma sub-região praticamente marginal no
ocupação foi a Rodovia Brasília-Acre. O estado de Rondônia, contexto da economia nordestina. A pecuária extensiva,
atravessado por esse eixo, foi alvo de um grande projeto de prolongamento da criação de gado sertaneja, e o extrativismo,
colonização e recebeu milhares de migrantes, vindos em especial das palmeiras babaçu e carnaúba, eram as
especialmente das regiões Nordeste e Sul. Atualmente, atividades de maior destaque no Meio-Norte.
Rondônia figura entre os estados mais devastados da região. Em momentos históricos diferentes, duas sub-regiões
A herança da Sudam permanece na realidade amazônica: nordestinas - Sertão e Zona da Mata - já haviam sido objeto de
está presente tanto na destruição do modo de vida tradicional programas governamentais de ajuda e de incentivo econômico
das populações ribeirinhas e indígenas quanto na grande muito antes da existência da Sudene. Em ambos os casos,
mancha de devastação ambiental produzida pelos porém, as elites sub-regionais foram as principais
empreendimentos aprovados pelo órgão. Definitivamente, beneficiadas.
esse modo predatório de ocupação está em descompasso com Programas pioneiros: Sertão
os parâmetros atuais de valorização do patrimônio ambiental
amazônico, sobretudo no que se refere à enorme No caso do Sertão, desde o período imperial existiram
biodiversidade da formação florestal e à presença de imensos políticas de combate à seca e, principalmente, aos seus efeitos.
reservatórios de água doce. Em 1881, após um período de estiagem que causou a morte de
milhares de pessoas e de uma parcela considerável do gado, o
Planejamento estatal e a economia nordestina imperador mandou construir um grande açude em Quixadá, no
Ceará, visando reservar água e evitar futuras catástrofes.
As políticas públicas para o desenvolvimento do Nordeste, Nos primeiros decênios da República, essas políticas
implantadas pela Sudene, consideraram o seu conjunto e não cresceram e tornaram-se institucionais. Em 1909, foi criada
suas sub-regiões separadamente. uma Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (Ifocs),
Garantiram a disponibilidade de energia e realizaram com o objetivo de espalhar açudes em todo o Sertão, além de
investimentos industriais, em especial no setor petroquímico. construir estradas para facilitar o escoamento e a
comercialização dos produtos sertanejos.
• As sub-regiões nordestinas Em 1945, a Ifocs passou a se chamar Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), mas sua linha
O Nordeste pode ser dividido em quatro sub-regiões: a de atuação continuou a mesma. Entretanto, além dos açudes,
Zona da Mata, o Agreste, o Sertão e o Meio-Norte. Cada uma das barragens e das estradas, o Dnocs passou a organizar
delas apresenta características naturais e econômicas também frentes de trabalho. Quando ocorriam as secas, a
particulares. população carente era recrutada para trabalhar nas obras
A Zona da Mata, quente e úmida, foi transformada pela federais, e, assim, ganhava um meio de sobrevivência, mesmo
implantação de grandes propriedades produtoras de cana-de- que muito precário.
açúcar, ainda nos primeiros tempos de colonização. Os Na maior parte dos casos, os açudes e as estradas
senhores de engenho, também conhecidos como barões do construídos pelos sertanejos pobres acabavam por tornar
açúcar, continuaram a dominar a economia e a política após a ainda mais valiosas as terras dos coronéis, nas quais (ou nas
independência. Em meados do século XIX, a economia proximidades delas) as obras eram realizadas. Além disso, os
açucareira entrou em crise, devido à concorrência exercida coronéis não precisavam se preocupar com a sobrevivência de
pelo açúcar produzido nas Antilhas. Mais tarde, a produção de seus trabalhadores durante a estiagem, já que o Estado
açúcar com técnicas mais modernas na Região Sudeste, em cuidava disso. Quando as chuvas voltavam, era só aproveitar
especial no estado de São Paulo, deu continuidade ao longo as melhorias de suas terras e recrutar de volta os
período de crise econômica no Nordeste. Atualmente, a Zona trabalhadores. Desse modo, o governo ajudava a enriquecer os
da Mata é uma região de economia dinâmica, concentrando que já eram ricos e mantinha os pobres - a maioria da
grande parte da população e os maiores polos industriais do população - no limite da sobrevivência.
Nordeste;
Programas pioneiros: Zona da Mata
O Agreste, situado entre a Zona da Mata úmida e o Sertão
semiárido, é tradicionalmente ocupado por pequenas Os “barões do açúcar” da Zona da Mata também receberam
propriedades, dedicadas ao cultivo de subsistência e ao auxílio do governo, ainda que de forma indireta. Na década de
abastecimento alimentar dos engenhos e cidades da Zona da 1930, a agricultura canavieira paulista começou a se
Mata. Nessa sub-região, o padrão técnico rudimentar que modernizar, ampliando sua base técnica, e passou a ameaçar a
caracteriza a maior parte dos estabelecimentos agrícolas economia açucareira nordestina.
resulta em baixa produtividade e em expressiva pobreza rural; Nesse contexto, o governo criou o Instituto do Açúcar e
do Álcool (IAA), com o objetivo de estabelecer cotas de
O Sertão, dominado pelo clima semiárido, conheceu um produção de açúcar entre os estados brasileiros e garantir um
primeiro movimento de valorização ainda durante a preço mínimo para o produto. Assim, o IAA reservava uma
colonização, quando se transformou em espaço da pecuária parcela do mercado açucareiro aos produtores da Zona da
extensiva, produzindo carne para os mercados da Zona da Mata nordestina, além de garantir preços compatíveis com
Mata. Depois, grandes latifúndios, de propriedade dos seus custos de produção relativamente elevados.
Durante longos decênios, o IAA ajudou a garantir a Geoeconomia e geopolítica da América do Sul
presença do açúcar nordestino no mercado brasileiro,
fornecendo-lhe condições de sobrevivência. Em longo prazo, A integração da América do Sul
porém, a estratégia revelou-se ineficiente: protegidos pelas Os países que compõem a América do Sul formam um
cotas e pelos preços governamentais, os produtores arquipélago caracterizado historicamente pelo
nordestinos investiram pouco em modernização, e desde distanciamento. Podemos observar, entre outras coisas, a
1990, quando o IAA foi extinto, vêm perdendo parcelas inexistência de interligação entre os sistemas de transporte,
crescentes do mercado para os produtores paulistas. energia e comunicação, isso sem contar com o
desconhecimento cultural e histórico que temos dos nossos
A Sudene e a industrialização do Nordeste vizinhos.
Isso ocorre por diversos motivos, desde um passado
A criação da Sudene modificou inteiramente a direção das colonial em que a integração não fazia parte dos objetivos das
políticas públicas de desenvolvimento do Nordeste. Em potências colonizadoras (Portugal e Espanha), até a presença
primeiro lugar, essas políticas ganharam uma nova dimensão: de fatores naturais que propiciam o isolamento,
não era uma ou outra sub-região, mas o conjunto do Nordeste principalmente a Floresta Amazônica e a Cordilheira dos
que seria alvo do planejamento estatal. A lei que criou a Andes. Nem o processo de independência dos países da região
Sudene delimitou também a área de atuação do órgão, que não ou mesmo os ideais de Simon Bolívar, que pregava a união da
coincide exatamente com a Região Nordeste definida pelo América Latina, acabaram gerando resultados significativos.
IBGE, já que incluiu o norte de Minas Gerais. Em 1998, parte do A partir da segunda metade do século XX, porém, governos
Espírito Santo também entrou para essa “região de sul-americanos passaram a, gradualmente, colocar em prática
planejamento”. iniciativas que visavam unir os países da região. Entre
Em segundo lugar, por estarem baseados em uma nova sucessos e falhas, a integração da América do Sul começou a
visão acerca dos problemas regionais, os planos da Sudene ser levada mais a sério, tanto sob o ponto de vista econômico
foram orientados para outra direção. como também político, social e cultural.
Já estudamos que, até então, a intervenção governamental
nos assuntos nordestinos tinha se destinado, sobretudo, a Organizações intergovernamentais
solucionar os problemas do campo, beneficiando os grandes As organizações intergovernamentais são organizações
proprietários da terra e reforçando a concentração fundiária internacionais compostas por governos para diferentes fins,
tanto no Sertão quanto na Zona da Mata. A Sudene trouxe uma entre eles a integração regional. Um exemplo claro desse tipo
nova prioridade: de acordo com o diagnóstico de seus de organização são os blocos econômicos, que possibilitam a
fundadores, o maior problema do Nordeste não era a falta de realização de acordos comerciais visando à redução de tarifas
chuvas ou a baixa competitividade da produção açucareira, alfandegárias e ao fluxo livre de mercadorias, entre outros
mas a falta de indústrias modernas, capazes de dinamizar a objetivos.
economia como um todo. A solução, portanto, estava no A formação dos blocos econômicos e de outras
incentivo à industrialização. organizações intergovernamentais no subcontinente sul-
Para tanto, era preciso primeiro garantir a disponibilidade americano se deu a partir da segunda metade do século XX, em
de energia. Essa tarefa ficou a cargo das Centrais uma tentativa de impulsionar a industrialização e o
Hidrelétricas do Rio São Francisco (Chesf), que crescimento econômico dos países da região.
transformou a Bacia do São Francisco em uma importante Durante os anos de 1980 e 1990 houve a criação da maioria
produtora de energia de origem hídrica. dos blocos atualmente existentes na América do Sul, sendo
O governo federal também tomou para si a tarefa de que, no século XXI, o viés ideológico vem ganhando cada vez
realizar investimentos industriais, em especial no setor mais destaque nas relações entre os países membros desses
petroquímico. A criação do Polo Petroquímico de Camaçari, grupos, após vários governos de esquerda terem ascendido ao
o principal complexo industrial nordestino, nasceu das poder, incluindo a Venezuela.
políticas levadas a efeito pela Sudene. A Refinaria Landulfo
Alves, de propriedade da Petrobras, abastece as empresas Associação Latino-Americana de Integração (Aladi)
públicas e privadas que operam no polo. Na década de 1960 foi formada a Associação Latino-
Além disso, foram concedidos financiamentos públicos e Americana de Livre-Comércio (Alalc), que, no entanto, não
incentivos fiscais aos conglomerados industriais que durou nem sequer um ano, pois a Argentina e o Brasil
implantassem fábricas na região. O setor de bens ganhavam vantagens em relação a outros países. A Guerra Fria
intermediários (tais como produtos químicos e também colaborou para que os EUA intervissem no
metalúrgicos) foi o principal beneficiário, pois acreditava-se continente, manipulando governos da região de acordo com
que ele seria capaz de dinamizar a economia regional e gerar seus interesses, entre os quais não estava a integração sul-
mercado para o setor de bens de consumo (tais como americana.
alimentos e vestuário). Desse modo, esse setor também Em 1980 a Alalc transformou-se na Associação Latino-
acabaria por implantar-se no Nordeste. Devido aos incentivos, Americana de Integração (Aladi), cujo objetivo era
diversos grupos empresariais inauguraram unidades impulsionar economicamente a região e desenvolver um
produtivas no Nordeste. mercado comum latino-americano por meio de acordos
Com a Sudene, a economia industrial chegou às capitais comerciais. Atualmente compõem o bloco países de toda a
nordestinas, em especial a Recife e Salvador. Mas sabe-se hoje América Latina: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia,
que isso não bastou para eliminar as desigualdades entre o Cuba, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela,
Nordeste e o Sudeste e/ou para melhorar a qualidade de vida Cuba, Panamá e Nicarágua.
da população regional. O Nordeste brasileiro ainda espera por
políticas capazes de gerar crescimento econômico com Aliança do Pacífico
inclusão social. Com o objetivo de estabelecer relações mais diretas com
áreas estratégicas do comércio internacional, sobretudo a Ásia
(que é atualmente um gigante comercial), alguns países latino-
americanos com acesso ao Oceano Pacífico (Peru, México,
Colômbia e Chile) formaram a Aliança do Pacífico, que ainda
pode ganhar como membros Costa Rica e Panamá nos Comunidade Andina de Nações (CAN)
próximos anos. Organização que tem origem no Pacto Andino, firmado em
Acordos já foram firmados entre os países-membros na 1969 por países que compartilham a Cordilheira dos Andes
área comercial e também relacionados à cooperação científica, (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Chile e Venezuela), a
por meio do intercâmbio entre pesquisadores de diferentes Comunidade Andina de Nações (CAN) ganhou seu nome
universidades. atual em 1996 e hoje inclui como membros apenas os quatro
Atualmente, os países que compõem esse bloco são primeiros países citados, pois o Chile e a Venezuela saíram do
caracterizados por governos neoliberais, alinhados aos EUA e bloco original.
que possuem economias de poder semelhante, ao contrário do Essa organização caracteriza-se também por possuir
Mercosul, por exemplo, no qual o Brasil representa uma tarifas alfandegárias comuns, assim como uma área de livre-
economia muito superior em relação a outros países- comércio entre os países-membros. Além disso, possui uma
membros. estreita relação comercial com o Mercosul, bloco comercial
que pode ser considerado um parceiro econômico.
Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba) Atualmente a CAN tem tido suas relações marcadas por
Inicialmente proposta pelo ex-presidente venezuelano embates ideológicos entre os países-membros, em função
Hugo Chávez (1954-2013) durante a Cúpula da Associação de principalmente da oposição entre a Colômbia e os demais
Estados do Caribe, realizada em Cuba no ano de 2001 e criada integrantes do bloco.
oficialmente em 2004, a Alternativa Bolivariana para as Isso ocorre porque a Bolívia, o Equador e o Peru elegeram,
Américas (Alba) é a organização com maior viés ideológico nos últimos anos, governo considerados de esquerda e
entre as apresentadas, uma vez que se coloca claramente em representados respectivamente pelos presidentes Evo
oposição à política econômica dos EUA para a região e evoca Morales, Rafael Correa e Ollanta Humala, deixando o
os ideais de Simon Bolívar. presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos (considerado de
Formada por Venezuela, Bolívia, Cuba e Nicarágua, a Alba direita) isolado.
difere de outras iniciativas que visam à relação com o comércio União de Nações Sul-Americanas (Unasul)
exterior, à exportação de commodities e às alianças com outros Organização que agrega todos os países sul-americanos,
blocos, focalizando seus esforços na diminuição das com exceção da Guiana Francesa (por se tratar de um
desigualdades sociais, na priorização dos pequenos e médios território ainda dependente da França), a União de Nações
empresários, além do desenvolvimento de uma economia Sul-Americanas (Unasul) surgiu para substituir a
solidária. Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa) e foi criada em
2008 na cidade de Brasília.
Mercado Comum do Sul (Mercosul) Ao contrário dos outros blocos, a Unasul não visa a um
Formado inicialmente pelos países que compõem o Cone- mercado comum, pois entende as diferenças existentes entre
Sul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), o Mercado os países que conformam a região, e tem como objetivo
Comum do Sul (Mercosul) foi fundado em 1991 através do principal criar um espaço de interlocução. Ela busca, por
Tratado de Assunção, realizado na cidade de mesmo nome, exemplo, fazer uma ponte entre o Mercosul e a Aliança do
capital do Paraguai. Pacífico, que possuem políticas e estratégias econômicas
Em 2012 o grupo ganhou um novo integrante, a Venezuela, muitas vezes antagônicas.
e além dos países-membros ainda há a categoria de países Anualmente são organizadas conferências diplomáticas
associados (Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru). O com todos os presidentes dos países membros. Chamada de
Paraguai chegou a ser suspenso do bloco nesse mesmo ano, em Cúpula Sul-Americana, tal conferência discute as estratégias
função da destituição do então presidente do país, Fernando de integração comercial do grupo.
Lugo (considerada antidemocrática pelos países-membros), Ocasionalmente também são realizados encontros
mas a decisão foi revogada em 2013. especiais, como um março de 2015, quando o grupo se reuniu
Já a Bolívia está em processo de se tornar um novo para discutir as sanções econômicas dos EUA sobre a
membro; o México e a Nova Zelândia, por sua vez, atuam como Venezuela e para denunciar uma tentativa de desestabilização
países observadores, tendo como função fiscalizar as relações do governo do presidente Nicolás Maduro.
internacionais entre os estados participantes e associados. A criação do Conselho de Defesa Sul-Americano, que se
Como uma organização intergovernamental de livre- configura como uma alternativa regional por tratar de
comércio, os países associados compartilham tarifas conflitos geopolíticos, surgiu como uma forma de preservar a
alfandegárias em comum e possuem acordos firmados em paz e a soberania dos países envolvidos e se destaca como uma
diversas áreas, permitindo a livre circulação de pessoas, bens das iniciativas mais importantes da Unasul, assim como a
e serviços. Esses acordos, além de facilitarem o comércio, iniciativa de integração da Infraestrutura Regional Sul-
ajudam a promover o turismo e a cooperação científica. Americana (lirsa), que tem como objetivo uma série projetos
Além de incrementar as relações entre os países-membros, de integração física entre os países sul-americanos.
também é objetivo da associação estreitar as relações
comerciais em conjunto com outros países e blocos, por meio Referências Bibliográficas
de acordos com a União Europeia, o Egito, Israel e Paquistão,
por exemplo. Em 2014, Dilma Rousseff assumiu a presidência FURQUIM JUNIOR, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição. São Paulo: AJS,
2015.
da entidade, que realiza encontros de chefes de Estado com MARTINEZ, Rogério. Novo olhar: geografia.1ª edição. São Paulo: FTD, 2013.
frequência para tratar de questões políticas, econômicas e MARTINI, Alice de. Geografia. Alice de Martini, Rogata Soares Del Gaudio. 3ª
sociais. edição. São Paulo: IBEP, 2013.
Embora a sede da organização se localize em Montevidéu, TERRA, Lygia. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil – Lygia
Terra; Regina Araújo; Raul Borges Guimarães. 2ª edição. São Paulo: Moderna.
no Uruguai, o Brasil responde por cerca de 80% do PIB somado
dos países do bloco e também pela maior parte das
Questões
exportações do Mercosul para o mundo.
A disparidade de poder entre as economias do Brasil e dos
01. (SEDF – Professor de Geografia – CESPE/2017) No
outros países que integram o Mercosul intensificou-se ainda
atual período histórico, caracterizado pela forte
mais em função da crise econômica vivida pela Argentina nos
internacionalização do modo de produção capitalista,
últimos anos e configura um desafio às negociações comerciais
importantes transformações de ordem técnica, política e
entre os membros do bloco.
econômica têm promovido intensa reestruturação produtiva e
Gabarito
Anotações
História do Prata
As origens da fundação do Município de Prata prendem-se às primeiras entradas de
bandeirantes e aventureiros na região do Sertão da Farinha Podre, hoje denominada
Triângulo Mineiro, no Estado de Minas Gerais, com o objetivo de encontrar terras
propícias a agricultura e criação de gado.
O distrito de paz foi criado em 13 de março de 1839, pela Lei n° 125, com a
denominação de Nossa Senhora do Carmo dos Morrinhos. No ano seguinte, a
Resolução n° 164, de 1° de março, criou a freguesia. O Município, criado pela Lei n°
363, de 30 de setembro de 1848, e supresso pela de n. 472, de 31 de maio de 1850, foi
restaurado com o nome de Prata e território desmembrado do município de Uberaba,
por força da Lei n° 668, de 27 de abril de 1854.
2
Conhecimentos Gerais - Prata MG
Foi o terceiro núcleo urbano a se formar no Triângulo Mineiro (Araxá e Uberaba foram
os primeiros). De Prata surgiram todas as cidades do Pontal do Triângulo (Ituiutaba,
Frutal, Campina Verde, Santa Vitória, Iturama, Monte Alegre e outras).
Historiadores asseguram que em Prata, por volta do ano de 1857, pela primeira vez,
houve um movimento pela emancipação do Triângulo Mineiro do Estado de Minas
Gerais, sob o argumento de que o governo mineiro pouco fazia pelo desenvolvimento
da região, pois não investia em estradas, saúde e educação, relegando a região ao
esquecimento.
3
Conhecimentos Gerais - Prata MG
História
As origens da fundação do Município do Prata prendem-
se às primeiras entradas de bandeirantes e aventureiros na
região do Sertão da Farinha Podre, hoje denominada
Triângulo Mineiro, no Estado de Minas Gerais, com o
objetivo de encontrar terras propícias a agricultura e
criação de gado.
Símbolos
Entre os anos de 1810 e 1813, o sargento-mor Antônio
Eustáquio da Silva e Oliveira, fundador de Uberaba, fez
várias incursões no território do atual Município de Prata,
demarcando sesmarias para si e seus companheiros.
Posteriormente, Antônio Eustáquio e outros sesmeiros
Brasão de armas
doaram o terreno para a construção do arraial que, em Bandeira
1839, foi elevado à categoria de distrito de paz, com a
Hino
denominação de Nossa Senhora do Carmo dos
Morrinhos. Lema Trabalha e confia
Gentílico pratense
Desenvolvendo-se rapidamente, o povoado recebeu foros
de vila em 1848. Localização
4
Conhecimentos Gerais - Prata MG
n.° 663, de 18 de setembro de 1903. A reinstalação
realizou-se no dia 18 de outubro de 1918, de acordo com
o Decreto n.° 5 095, de 3 de setembro desse ano.
Historiadores asseguram que em Prata, por volta do ano Localização de Prata no Brasil
de 1857, pela primeira vez, houve um movimento pela
emancipação do Triângulo Mineiro do Estado de Minas
Gerais, sob o argumento de que o governo mineiro pouco
fazia pelo desenvolvimento da região, pois não investia
em estradas, saúde e educação, relegando a região ao
esquecimento.
Geografia
Mapa de Prata
O município do Prata é o maior em extensão territorial do
Triângulo Mineiro. A cidade do Prata está situada às Coordenadas 19° 18' 25" S 48° 55' 26" O
margens da BR-153 (TransBrasiliana), no centro País Brasil
geográfico da região. Com a latitude de 19°18'27" sul e Unidade Minas Gerais
longitude de 48°55'22" oeste, estando a uma altitude de federativa
631 metros.
Municípios Uberlândia, Ituiutaba, Monte
limítrofes Alegre de Minas, Campina
O município é dividido em três distritos (Prata, Jardinésia Verde, Comendador
e Patrimônio) e um povoado (Monjolinho)[6]. A sede do Gomes, Campo Florido e
distrito de Jardinésia fica numa região de chapada, com Verissímo
predomínio da pecuária extensiva moderna e também Distância até 640 km
com muitas granjas de aves e suínos, com proprietários a capital
originados de Uberlândia-MG. O distrito de Patrimônio História
fica às margens do Rio do Peixe, um dos formadores do
Fundação 15 de novembro de 1873
Rio da Prata, e a silvicultura com produção de grãos, são (149 anos)
as principais atividades econômicas. Monjolinho é o
Administração
único povoado localizado no município, pertence ao
distrito sede (Prata), e fica numa das regiões mais bonitas Prefeito(a) Marcel Vieira Rodrigues da
Cunha (PP, 2021 – 2024)
do Pontal do Triângulo Mineiro, a Boa Vista, no limite
com Campina Verde. Características geográficas
Área total [2] 4 847,544 km²
5
Conhecimentos Gerais - Prata MG
cidade é de 24 °C, mínimas absolutas de 7 °C no inverno Fuso horário Hora de Brasília (UTC−3)
e máximas absolutas de 40 °C na primavera. A CEP 38140-000 a 38149-999[1]
pluviosidade média anual fica entorno de 1.450 mm.
Indicadores
Conforme [7] e [8], o Tipo Climático em que o município IDH 0,695 — médio
de Prata está inserido é o Tropical Semisseco Meridional, (PNUD/2010
[4])
com influência das Zonas de Convergência de Umidade
(ZCOU) e do Atlântico Sul (ZCAS) no período úmido PIB R$ 751,918,000 mil
(novembro a março), e da Alta Subtropical do Atlântico (IBGE/2013[5])
Sul (ASAS) no período seco que atinge de seis a sete PIB per R$ 27 736,86
meses (abril a setembro/outubro). Os Subtipos Climáticos capita
são delimitados pela configuração do relevo regional (IBGE/2013[5])
(geomorfologia) e também pela quantidade demeses Sítio www.prata.mg.gov.br (http://
secos (precipitação < evapotranspiração potencial) são em www.prata.mg.gov.br)
número de três, seguindo a metodologia de [9]: Tropical (Prefeitura)
www.camaraprata.mg.gov.br
semisseco meridional, do Planalto Rio Grande-Paranaíba; (http://www.camaraprata.m
Tropical semisseco meridional, dos Patamares do g.gov.br) (Câmara)
chapadão
Gráfico climático para Prata (MG)
Uberlândia-
(2002 - 2010)
Uberaba; e
J F M A M J J A S O N D
Tropical
32 34
35 semisseco
31 33 32 31 33 32
29 28 29 meridional, dos
Relevos
22 22 21 Residuais do
20 21 21 22
15 14 15 16
19 Triângulo
Mineiro.
Relevo e vegetação
O relevo é Planalto sedimentar medianamente dissecado na maior parte, relevos residuais a oeste e planície
fluvial a leste. Altitude máxima: 866 m - local: Chapadão do Prata (extremo leste do município na divisa
com Veríssimo). Altitude mínima: 492 m - local: Rio Verde ou Feio (divisa com Campina Verde). A
vegetação é o Cerrado (predominantemente) e a Floresta Estacional Semi-decídua (Mata Atlântica) no vale
dos principais rios.
6
Conhecimentos Gerais - Prata MG
Hidrografia
O município está inserido na bacia platina, a segunda maior bacia hidrográfica do continente sul americano,
e dividido em duas sub-bacias: Rio Grande (Rio Verde ou Feio, Ribeirão Boa Vista) e Rio Paranaíba (Rio
Conhecimentos Gerais
Tijuco, Rio da Prata, Rio Douradinho, Riode Sete
Cocal, Lagoas
Ribeirão MG
São José, Rio das Pedras, Rio do Peixe).
Economia
Atividades econômicas: Pecuária (bovinos-352.984 cabeças, suínos-6.766 cabeças),
Agricultura (cana de açúcar-2.830 ha, laranja-3.230 ha, milho-1.290 ha, soja-6.000 ha),
Indústria (laticínios, alimentícia, química, madeira para fabricação de lápis, transformação),
reflorestamento (pinus, eucalipto e seringueira).
Principais Indústrias: Faber-Castell, COOPRATA, JF Citrus, Cutrale, DocisBell, iGUi,
DUPrata Alimentos, Espinosa Madeiras.
Principais rodovias
BR-153 (TransBrasiliana) - ligação com Goiânia ao norte, e São Paulo ao sul.
MGC-497 - ligação com Paranaíba e Três Lagoas (MS) a sudoeste, e Uberlândia a
nordeste.
BR-455 - ligação do Distrito de Patrimônio com Uberlândia e Campo Florido.
Atrações turísticas
A principal atração turística do município fica na região da Serra da Boa Vista, as Pinturas Rupestres
datadas de mais de 10.000 anos situadas em um paredão da serra na fazenda do Sr. Ideon. É preciso fazer
uma caminhada de 30 min até o local por uma trilha de médio esforço. Na região também fica um sítio
paleontológico com fósseis de dinossauros saurópodes, além de vários mirantes, o principal em cima da
serra da Boa Vista onde a vista é exuberante.
Outra atração turística é o Morrinho, situado na Serra Seio de Moça a 4 km do centro da cidade, onde a
estátua de Nossa Senhora do Carmo foi erguida em 1995. No mirante do Morrinho o visitante tem uma
vista de toda a cidade.
Os rios da Prata e Tijuco possuem áreas de lazer para banho e descanso. Os afluentes do Tijuco possuem
cachoeiras sobre rochas de basalto, as principais são: Corumbá, no córrego Corumbá a 26 km da cidade
sentido Trevão e a do Salto no Hotel Fazenda Solar dos Ipês, a 28 km da cidade sentido Uberlândia.
Paleontologia
Neste Município foram localizados fósseis do maior dinossauro
encontrado no Brasil, que viveu há mais de 80 milhões de anos na
região da Serra da Boa Vista, distante cerca de 40 km da cidade de
Prata, cujo nome científico foi denominado de Maxakalisaurus
topai, e popularmente escolhido de DINOPRATA, após votação
popular, valendo destacar que a réplica do titanossauro (montada
em resina), com cerca de 13 metros de comprimento, está exposta
no Museu Nacional no Rio de Janeiro, desde 28 de agosto de Maxakalisaurus
2006.[10]
7
Conhecimentos
Específicos
Professor I
Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
Processo de desenvolvimento
ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL Conhecer a criança e o adolescente implica em identificar o
processo do seu desenvolvimento nos vários aspectos de sua evo-
Vamos aqui analisar e compreender como os aspectos psicológi- lução: biológicos, psicológicos, sociais. Entender como se dá o cres-
cos refletem nas crianças ao longo de seu desenvolvimento. cimento e amadurecimento físico, de que maneira acontece o de-
senvolvimento cognitivo, mental, de que forma as emoções atuam
A Infância e dirigem a vida do indivíduo, e como o homem se desenvolve no
A infância é uma fase da vida onde se fazem grandes aprendiza- aspecto social, bem como as formas de interação desses aspectos
gens e se adquirem diversas competências quer ao nível pessoal quer e forças do desenvolvimento, levando-se em consideração os as-
na relação com os outros e com o mundo em redor. Por estas razões, é pectos herdados e os assimilados são postulados e tratados pela
uma fase muito importante no desenvolvimento de uma pessoa mas Psicologia do Desenvolvimento.
também muito sensível. A criança e o adolescente são seres que estão por vir a ser. Não
Acontecimentos traumáticos e perdas significativas, carências completaram a sua formação, não atingiram a maturidade dos seus
afetivas, grandes mudanças, problemas de saúde, são alguns exem- órgãos e nem das suas funções. Necessitam de tempo, de oportuni-
plos de situações que podem comprometer o desenvolvimento sau- dade e de adequada estimulação para efetivar tais tarefas. Enquan-
dável da criança. to isso, precisam de proteção, afeição e cuidados especiais.
Por vezes, a criança tem dificuldade em manifestar ao adulto A Psicologia do Desenvolvimento como ramo da ciência psico-
aquilo que sente e chorar, gritar e fazer birras são as formas que esta lógica constitui-se no estado sistemático da personalidade humana,
encontra para expressar e exteriorizar os seus pensamentos, senti- desde a formação do indivíduo, no ato da fecundação até o estágio
mentos e desejos. terminal da vida, ou seja, a velhice.
É importante estar-se atento aos sinais de alerta. Alguns sinais Como ciência comportamental, a psicologia do desenvolvimen-
de alerta podem ser: a criança recusar-se a comer, não brincar, não to ocupa-se de todos os aspectos do desenvolvimento e estuda
querer ir para a escola, ter dificuldade em dormir ou terrores notur- homem como um todo, e não como segmentos isolados de dada
nos, isolar-se das outras crianças, ter uma relação exclusiva com a realidade biopsicológica. De modo integrado, portanto, a psicolo-
mãe ou outro membro da família, entre outros. gia do desenvolvimento estuda os aspectos cognitivos, emocionais,
Quando alguma destas situações está presente, normalmente, sociais e morais da evolução da personalidade, bem como os fato-
a criança está a tentar comunicar-nos algo e é importante que con- res determinantes de todos esses aspectos do comportamento do
sigamos perceber o seu pedido de ajuda, caso contrário, a proble- indivíduo.
mática poderá agravar-se e persistir durante a adolescência e idade Como área de especialização no campo das ciências comporta-
adulta. Por vezes, pode ser necessário um acompanhamento mais mentais, argumenta Charles Woorth (1972), a psicologia do desen-
específico de forma a ultrapassar com êxito qualquer problemática volvimento se encarrega de salientar o fato de que o comportamen-
que possa existir. to ocorre num contexto histórico, isto é, ela procura demonstrar
a integração entre fatores passados e presentes, entre disposições
A Adolescência hereditárias incorporadas às estruturas e funções neurofisiológicas,
A adolescência é um período de grandes transformações a ní- as experiências de aprendizagem do organismo e os estímulos atu-
vel biológico, psicológico e social. É o período de transição para a ais que condicionam e determinam seu comportamento.
vida adulta de consolidação da identidade e comporta vários e no-
vos desafios como a autonomia em relação aos pais, alterações no Processos básicos no Desenvolvimento Humano
desenvolvimento sexual, o relacionamento com o grupo de pares e Muitos autores usam indiferentemente as palavras desenvol-
com o sexo oposto, a preparação para uma profissão, entre outras. vimento e crescimento. Entre estes encontram-se Mouly (1979) e
É um período de procura, de grandes escolhas, e por isso, tam- Sawrey e Telford (1971). Outros, porém, como Rosa, Nerval (1985) e
bém um período de grandes dúvidas. Por estas razões a adolescên- Bee (1984-1986), preferem designar como crescimento as mudan-
cia é uma altura de grandes conflitos pessoais e interpessoais que ças em tamanho, e como desenvolvimento as mudanças em com-
terão influência na formação da personalidade do indivíduo. plexidade, ou o plano geral das mudanças do organismo como um
Por vezes, pelas exigências que este período de vida comporta, todo.
os adolescentes podem desenvolver alguns problemas ou dificulda- Mussen (1979), associa a palavra desenvolvimento a mudanças
des, tendo uma maior propensão para o desenvolvimento de per- resultantes de influências ambientais ou de aprendizagem, e o cres-
turbações do comportamento alimentar, comportamentos disrrup- cimento às modificações que dependem da maturação.
tivos e/ou delinquentes, abuso de substâncias, depressão, etc. Por Diante dos estudos e leituras realizados, torna-se evidente e
esta razão, pode-se agir de forma preventiva, fazendo-se um acom- necessário o estabelecimento de uma diferenciação conceitual des-
panhamento psicológico de forma a ajudar o adolescente a lidar ses termos, vez que, constantemente encontramos os estudiosos
com os conflitos internos e com as dificuldades que vão surgindo ao dessa área referindo-se a um outro termo, de acordo com a situa-
longo deste período crucial para a sua formação enquanto pessoa.1 ção focalizada. Desta forma, preferimos conceituar o crescimento
como sendo o processo responsável pelas mudanças em tamanho
1 Fonte: www.psicologosassociados.net
245
2
Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
e sujeito às modificações que dependem da maturação, e o desen- Em 1958, surgiu uma proposta de solução à questão, por Anne
volvimento como as mudanças em complexidade ou o plano geral Anastasi, que publicou um artigo no Psychological Review, sobre o
das mudanças do organismo como um todo, e que sofrem, além da problema da hereditariedade e meio na determinação do compor-
influência do processo maturacional, a ação maciça das influências tamento humano.
ambientais, ou da aprendizagem (experiência, treino). O trabalho de Anastasi lançou considerável luz sobre o proble-
Através da representação gráfica, que se segue, ilustramos o ma, tanto do ponto de vista teórico como nos seus aspectos meto-
conceito de crescimento e desenvolvimento, evidenciando a inter- dológicos. Isso não significa que o problema tenha sido resolvido
veniência dos fatores que o determinam: Hereditariedade, meio ou mas, pelo menos, ajudou os estudiosos a formularem a pergunta
ambiente, maturação e aprendizagem (experiência, treino). adequada pois, como se sabe, fazer a pergunta certa é fundamental
a qualquer pesquisa científica relevante.
Exemplificando o uso do conceito de crescimento e desenvol- Faremos, a seguir, uma breve exposição da solução proposta
vimento: por Anne Anastasi (1958), contando com o auxílio de outras fontes
É evidente que a mão de uma criança é bem menor do que a de informação.
mão de um adulto normal. Pelo processo normal do crescimento, A discussão do problema hereditariedade versus meio encon-
a mão da criança atinge o tamanho normal da mão do adulto na tra-se, hoje, num estágio em que ordinariamente se admite que
medida em que ela cresce fisicamente. Dizemos, portanto, que, no tanto os fatores hereditários como os fatores do meio são impor-
caso, houve crescimento dessa parte do corpo. A mão de um adulto tantes na determinação do comportamento do indivíduo. A heran-
normal é diferente da mão de uma criancinha, não somente por ça genética representa o potencial hereditário do organismo que
causa do seu tamanho. Ela é diferente, sobretudo, por causa de sua poderá ser desenvolvido dependendo do processo de interação
maior capacidade de coordenação de movimentos e de uso. Neste com o meio, mas que determina os limites da ação deste.
caso, podemos fazer alusão ao processo de desenvolvimento, que Anastasi afirmou que mesmo reconhecendo que determinado
se refere mais ao aspecto qualitativo (coordenação dos movimen- traço de personalidade resulte da influência conjunta de fatores
tos da mão, desempenho), sem excluir, todavia, alguns aspectos hereditários e mesológicos, uma diferença específica nesse traço
quantitativos (aumento do tamanho da mão). Nota-se, entretanto, entre indivíduos ou entre grupos pode resultar de um dos fatores
que essa distinção entre crescimento e desenvolvimento nem sem- apenas, seja o genético seja o ambiente. Determinar exatamente
pre pode ser rigorosamente mantida, porque em determinadas fa- qual dos dois ocasiona tal diferença ainda é um problema na meto-
ses da vida os dois processos são, praticamente, inseparáveis. dologia da pesquisa.
Segundo Anastasi, a pergunta a ser feita, hoje, não mais deve
A questão da hereditariedade e do meio no desenvolvimento ser qual o fator mais importante para o desenvolvimento, ou quan-
humano to pode ser atribuído à hereditariedade e quanto pode ser atribuído
A controvérsia hereditariedade e meio como influências ge- ao meio, mas como cada um desses fatores opera em cada circuns-
radoras e propulsoras do desenvolvimento humano tem ocupado, tância. É, pois, portanto, mais preocupada com a questão de como
através dos anos, lugar de relevância no contexto geral da psicolo- os fatores hereditários e ambientais interagem do que propriamen-
gia do desenvolvimento. te com o problema de qual deles é o mais importante, ou de quanto
A princípio, o problema foi estudado mais do ponto de vista entra de cada um na composição do comportamento do indivíduo.
filosófico, salientando-se, de um lado, teorias nativistas, como a de Anastasi procurou demonstrar que os mecanismos de intera-
Rousseau, que advogava a existência de ideias inatas, e, de outro ção variam de acordo com as diferentes condições e, com respeito
lado, as teorias baseadas no empirismo de Locke, segundo o qual aos fatores hereditários, ela usa vários exemplos ilustrativos desse
todo conhecimento da realidade objetiva resulta da experiência, processo interativo.
através dos órgãos sensoriais, dando, assim, mais ênfase aos fato- O primeiro exemplo é o da oligofrenia fenilpirúvica e a idiotia
res do meio. amurótica. Em ambos os casos o desenvolvimento intelectual do
Particularmente, no contexto da psicologia do desenvolvimen- indivíduo será prejudicado como resultado de desordens metabóli-
to, o problema da hereditariedade e do meio tem aparecido em cos hereditárias. Até onde se sabe, não há qualquer fator ambiental
relação a vários tópicos. Por exemplo, no estudo dos processos que possa contrabalançar essa deficiência genética. Portanto, o in-
perceptivos, os psicólogos da Gestalt advogaram que os fatores divíduo que sofreu essa desordem metabólica no seu processo de
genéticos são mais importantes à percepção do que os fatores do formação será mentalmente retardado, por mais rico e estimulante
meio. Por outro lado, cientistas como Hebb (1949) defendem a po- que seja o meio em que viva.
sição empirista, segundo a qual os fatores da aprendizagem são de
essencial importância ao processo perceptivo. Na área de estudo Princípios Gerais do Desenvolvimento Humano
da personalidade encontramos teorias constitucionais como as de O desenvolvimento é um processo contínuo que começa com a
Kretschmer e Sheldon que advogam a existência de fatores inatos vida, isto é, na concepção, e a acompanha, sendo agente de modi-
determinantes do comportamento do indivíduo, enquanto outros, ficações e aquisições.
como Bandura, em sua teoria da aprendizagem social, afirmam que A sequência do desenvolvimento no período pré-natal, isto é,
os fatores de meio é que, de fato, modelam a personalidade huma- antes do nascimento, é fixa e invariável. A cabeça, os olhos, o tron-
na. Na pesquisa sobre o desenvolvimento verbal, alguns psicólogos co, os braços, as pernas, os órgãos genitais e os órgãos internos de-
como Gesell e Thompson (1941) se preocupam mais com o pro- senvolvem-se na mesma ordem, e aproximadamente nas mesmas
cesso da maturação como fato biológico, enquanto outros se preo- idades pré-natais em todos os fatos.
cupam, mais, com o processo de aprendizagem, como é o caso de Embora os processos subjacentes ao crescimento sejam muito
Gagné (1977), Deese e Hulse (1967) e tantos outros. Com relação ao complexos, tanto antes quanto após o nascimento, o desenvolvi-
estudo da inteligência, o problema é o mesmo: uns dão maior ênfa- mento humano ocorre de acordo com certo número de princípios
se aos fatores genéticos, como é o caso de Jensen (1969), enquanto gerais, os quais veremos a seguir.
outros salientam mais os fatores do meio, como o faz Kagan (1969).
246
7
Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Primeiro: O crescimento e as mudanças no comportamento são Esse resultado é o produto de sua herança de um potencial alto ou
ordenados e, na maior parte das vezes, ocorrem em sequências in- de um ambiente mais estimulante no lar? Muito provavelmente, é
variáveis. Todos os fetos podem mover a cabeça antes de poderem o resultado da interação dos dois fatores.
abrir as mãos. Após o nascimento, há padrões definidos de cresci- Podemos considerar as influências genéticas sobre caracterís-
mento físico e de aumentos nas capacidades motoras e cognitivas. ticas específicas como altura, inteligência ou agressividade, mas,
Toda criança consegue sentar-se antes de ficar de pé, fica de pé an- na maior parte dos casos de funções psicológicas as contribuições
tes de andar e desenha um círculo antes de poder desenhar um exatas dos fatores hereditários são desconhecidas. Para tais carac-
quadrado. Todos os bebês passam pela mesma sequência de está- terísticas, as perguntas relevantes são: quais das potencialidades
gios no desenvolvimento da fala: balbuciam antes de falar, pronun- genéticas do indivíduo serão realizadas no ambiente físico, social e
ciam certos sons antes de outros e formam sentenças simples antes cultural em que ele ou ela se desenvolve? Que limites para o desen-
de pronunciar sentenças complexas. Certas capacidades cognitivas volvimento das funções psicológicas são determinados pela consti-
precedem outras, invariavelmente. Todas as crianças podem classi- tuição genética do indivíduo?
ficar objetos ou colocá-los em série, levando em consideração o ta- Muitos aspectos do físico e da aparência são fortemente in-
manho, antes de poder pensar logicamente, ou formular hipóteses. fluenciados por fatores genéticos - sexo, cor dos olhos e da pele,
A natureza ordenada do desenvolvimento físico e motor inicial forma do rosto, altura e peso. No entanto, fatores ambientais po-
está ilustrada pelas tendências .direcionais.. Uma dessas tendên- dem exercer forte influência mesmo em algumas dessas caracte-
cias é chamada cefalocaudal ou da cabeça aos pés, isto é, a direção rísticas que são basicamente determinadas pela hereditariedade.
do desenvolvimento de qualquer forma e função vai da cabeça para Por exemplo, os filhos de judeus, nascidos na América do Norte,
os pés. Por exemplo, os botões dos braços do feto surgem antes dos de pais que para lá imigraram há duas gerações, tornaram-se mais
botões das pernas, e a cabeça já está bem desenvolvida antes que altos e mais pesados do que seus pais, irmãos e irmãs nascidos no
as pernas estejam bem formadas. estrangeiro. As crianças da atual geração, nos Estados Unidos e em
No instante, a fixação visual e a coordenação olho-mão estão outros países do Ocidente, são mais altas e pesadas e crescem mais
desenvolvidas muito antes que os braços e as mãos possam ser rapidamente do que as crianças de gerações anteriores.
usadas com eficiência para tentar alcançar e agarrar objetos. A di- Evidentemente, os fatores ambientais, especialmente a ali-
reção seguinte do desenvolvimento é chamada próximo-distal, ou mentação e as condições de vida afetam o físico e a rapidez do cres-
de dentro para fora. Isso significa que as partes centrais do corpo cimento.
amadurecem mais cedo e se tornam funcionais antes das partes Fatores genéticos influenciam características do temperamen-
que se situam na periferia. Movimentos eficientes do braço e ante- to, tais como tendência para ser calmo e relaxado ou tenso e pron-
braço precedem os movimentos dos pulsos, mãos e dedos. O braço to a reagir. A hereditariedade pode também estabelecer os limites
e a coxa são controlados voluntariamente antes do antebraço, da superiores, além dos quais a inteligência não pode se desenvolver.
perna, das mãos e dos pés. Os primeiros atos do infante são difusos Como e sob que condições as características temperamentais ou
grosseiros e indiferenciados, envolvendo o corpo todo ou grandes de inteligência se manifestarão, depende, não obstante de muitos
segmentos do mesmo. Pouco a pouco, no entanto, esses movimen- fatores do ambiente. Crianças com bom potencial intelectual, ge-
tos são substituídos por outros, mais refinados, diferenciados e neticamente determinado, não parecem muito inteligentes se são
precisos - uma tendência evolutiva do maciço para o específico dos educadas em ambientes monótonos e não estimulantes, ou se não
grandes para os pequenos músculos. As tentativas iniciais do bebê tiverem motivação para usar seu potencial.
para agarrar um cubo, por exemplo, são muito desajeitadas quando Em suma, as contribuições relativas das forças hereditárias e
comparadas aos movimentos refinados do polegar e do indicador ambientais variam de características para características. Quando
que ele poderá executar alguns meses depois. Seus primeiros pas- se pergunta sobre as possíveis influências genéticas no comporta-
sos no andar são indecisos e implicam movimentos excessivos. No mento, devemos sempre estar atentos às condições nas quais as
entanto, pouco a pouco, começa a andar de modo mais gracioso e características se manifestam. No que diz respeito à maior parte
preciso. das características comportamentais, as contribuições dos fatores
hereditários são desconhecidas e indiretas.
Segundo: O desenvolvimento é padronizado e contínuo mas
nem sempre uniforme e gradual. Quarto: Todas as características e capacidades do indivíduo, as-
Há períodos de crescimento físico muito rápido - nos chama- sim como as mudanças de desenvolvimento, são produtos de dois
dos surtos do crescimento - e de incrementos extraordinários nas processos básicos, embora complexos, que são os seguintes: ma-
capacidades psicológicas. Por exemplo, a altura do bebê e seu peso turação (mudanças orgânicas neurofisiológicas e bioquímicas que
aumentam enormemente durante o primeiro ano, e os pré-adoles- ocorrem no corpo do indivíduo e que são relativamente indepen-
centes e adolescentes também crescem de modo extremamente dentes de condições ambientais externas, de experiências ou de
rápido. Os órgãos genitais desenvolve-se muito lentamente duran- práticas) e experiência (aprendizagem e treino).
te a infância, mas de modo muito rápido durante a adolescência. Como a aprendizagem e a maturação quase sempre interagem
Durante o período pré-escolar, ocorrem rápidos aumentos no vo- é difícil separar seus efeitos ou especificar suas contribuições rela-
cabulário e nas habilidades motoras e, por volta da adolescência, tivas ao desenvolvimento psicológico. Com certeza, o crescimento
a capacidade individual para resolver problemas lógicos apresenta pré-natal e as mudanças na proporção do corpo e na estrutura do
um progresso notável. sistema nervoso são antes produtos de processos de maturação
que de experiências. Em contraste, o desenvolvimento das habilida-
Terceiro: Interações complexas entre a hereditariedade, isto é, des motoras e das funções cognitivas depende da maturação, de ex-
fatores genéticos, e o ambiente (a experiência) regulam o curso do periência e da interação entre os dois processos. Por exemplo, são
desenvolvimento humano. É, portanto, extremamente difícil distin- as forças de maturação entre os dois processos que determinam,
guir os efeitos dos dois conjuntos de determinantes sobre caracte- em grande parte, quando a criança está pronta para andar. Restri-
rísticas específicas observadas. Considere-se, por exemplo, o caso ções ao exercício da locomoção não adiam seu começo, a nãos ser
da filha de um bem sucedido homem de negócios e de uma advo- que sejam extremas. Muitos infantes dos índios bopis são mantidos
gada. O quociente intelectual da menina é 140, o que é muito alto. em berços durante a maior parte do tempo de seus primeiros três
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
meses de vida, e mesmo durante parte do dia, após esse período repreensão. Dentro de muito pouco tempo, houve aumentos no-
inicial. Portanto, têm muito pouca experiência ou oportunidade de táveis no número de respostas dirigidos aos colegas, de respostas
exercitar os músculos utilizados habitualmente no andar. No entan- agressivas declinou rapidamente. Do mesmo modo, diversas carac-
to, começam a andar com a mesma idade que as outras crianças. terísticas de personalidade, muitos motivos e respostas sociais são
Reciprocamente, nãos e pode ensinar recém-nascidos e ficar de pé aprendidos através do contato direto com um ambiente que reforça
ou andar antes que ser equipamento neural e muscular tenha ama- certas respostas e pune ou ignora outras.
durecido o suficiente. Quando essas habilidades motoras básicas Respostas complexas podem, também, ser aprendidas de
forem adquiridas, no entanto, elas melhoram com a experiência e outro modo pela observação dos outros. O repertório comporta-
prática. O andar torna-se mais coordenado e mais gracioso à medi- mental de uma criança expande-se consideravelmente, através da
da que os movimentos inúteis são eliminados; os passos mais lon- aprendizagem por observação. Esse fato tem sido muitas vezes de-
gos, coordenados e rápidos. monstrado em experimentos envolvendo grande variedade de res-
A aquisição da linguagem e o desenvolvimento das habilida- postas. Nesses experimentos, as crianças são expostas a um modelo
des cognitivas são, também, resultados da interação entre as forças que executa diversos tipos de ações, simples ou complexas, verbais
de experiência e da maturação. Assim, embora as crianças não co- ou motoras, agressivas, dependentes ou altruísticas. As crianças
mecem a falar ou juntar palavras antes de atingirem certo nível de do grupo de controle não observam o modelo. Posteriormente, as
maturidade física, pouco importando quanto ensinamento lhes for crianças são observadas para se determinar até que ponto copiam
ministrado, obviamente a linguagem que vierem a adquirir depen- e imitam o comportamento mostrado pelo modelo. Os resultados
de de suas experiências, isto é, da linguagem que ouvem os outros demonstram que aprendizagem por observação é muito eficiente.
falar. Sua facilidade verbal será, pelo menos parcialmente, função As crianças do grupo experimental geralmente imitam as respostas
do apoio e das recompensas que recebem quando expressam ver- do modelo, ao passo que as do grupo de controle não exibem essas
balmente. respostas. Note-se que não foi necessário o reforço para adquirir ou
Qualogamente, as crianças não adquirirão certas habilidades para provocar respostas imitativas.
intelectuais ou cognitivos, enquanto não tiverem atingido determi- Obviamente, a criança não tem de aprender como responder a
nado grau de maturidade. Por exemplo, até o estágio o que Piaget cada situação nova. Depois de uma resposta ter-se associado a um
denomina operacional - aproximadamente entre seis e sete anos estímulo ou arranjo ambiental, ela têm probabilidade de ser trans-
as crianças só conseguem lidar com objetos, eventos e represen- ferida a situações similares. Esse é o princípio da generalização do
tações desses. Mas não conseguem lidar com ideias ou conceitos. estímulo. Se a criança aprendeu a acariciar seu próprio cão, poderá
Antes de atingirem o estágio operacional não dispõem do concei- acariciar outros cães, especialmente os semelhantes ao seu.
to de conservação a ideia de que a qualidade de uma substância,
como a argila não muda simplesmente porque sua forma mudou Sexto: Há períodos críticos ou sensíveis ao desenvolvimento a
de esférica, digamos a cilíndrica. Uma vez atingido o estágio das certos órgãos do corpo e de certas funções psicológicas. Se ocorrem
operações concretas e tendo acumulado mais experiências ligadas interferências no desenvolvimento normal durante esses períodos,
à noção de conservação, podem, agora aplicá-la a outras qualida- é possível que surjam deficiências, ou disfunções permanentes.
des. Podem compreender que o comprimento, a massa, o número Por exemplo, há períodos críticos no desenvolvimento do coração,
e o peso permanecem constantes, apesar de certas mudanças na olhos, rins e pulmões do feto. Se o curso do desenvolvimento nor-
aparência externa. mal for interrompido em um desses períodos por exemplo, em con-
Quinto: características de personalidade e respostas social, sequência de rubéola ou de infecção causada por algum vírus da
incluindo-se motivos, respostas emocionais e modos habituais de mãe, a criança pode sofrer um dano orgânico permanente.
reagir, são em grande proporção aprendidos, isto é, são o resultado Erick Erikson, psicanalista eminente de crianças, além de teóri-
de experiência e prática ou exercício. Com isso, não se pretende co, considera que o primeiro ano de vida é um período crítico para
negar o princípio de que fatores genéticos e de maturação desem- o desenvolvimento de confiança nos outros. O infante que não for
penham importante papel na determinação do que e como o indi- objeto de calor humano e de amor, e que não for satisfeito em suas
víduo aprende. necessidades durante esse período, corre o risco de não desenvol-
A aprendizagem vem sendo, desde há muito, uma das áreas ver um sentido de confiança, por conseguinte, de não ser sucedido
centrais de pesquisa e teoria em psicologia e muitos princípios im- posteriormente na formação de relações sociais satisfatórias: De
portantes de aprendizagem foram estabelecidos. Há três tipos de modo análogo, parece haver um período crítico ou de .prontidão.
aprendizagem que são de importantes critica no desenvolvimento para a aprendizagem de várias tarefas, como ler ou andar de bici-
da personalidade e no desenvolvimento social. cleta. A criança que não aprende tais tarefas durante esses períodos
A primeira e mais tradicional abordagem da aprendizagem é pode ter grandes dificuldades em aprendê-las posteriormente.
c condicionamento operante ou instrumental, uma resposta que
já está no repertório da criança é recompensada ou reforçada por Sétimo: As experiências das crianças, em qualquer etapa do
alimento, prazer, aprovação ou alguma outra recompensa material. desenvolvimento, afetam ser desenvolvimento posterior. Se uma
Torne-se, em consequência, fortalecida, isto é, há maior probabili- mulher grávida sofrer problemas severos de desnutrição, a criança
dade de que essa resposta se repita. Por exemplo, ao reforçarmos em formação pode não desenvolver o número normal de células ce-
ou recompensarmos crianças de três meses cada vez que elas voca- rebrais e, portanto, nasce com deficiência mental. Os infantes que
lizem (sorrindo-lhes ou tocando-lhes levemente na barriga), ocorre passam os primeiros meses em ambientes muitos monótonos e não
um aumento marcante na frequência de vocalização das crianças. estimulantes parecem ser deficientes em atividades cognitivas e
Muitas das respostas das crianças são modificadas ou modela- apresentam desempenho muito fraco em testes de funcionamento
das através do condicionamento operante. Num estudo, cada crian- intelectual em idades posteriores.
ça de uma classe pré-escolar foi recompensada pela aprovação do A criança que recebe pouco afeto, amor e atenção no primeiro
professor por toda resposta social que desse e outras crianças e ano de vida não desenvolve a autoconfiança nem a confiança nos
cada vez que manifestasse um comportamento de cooperação ou outros no início da vida e, provavelmente, será, na adolescência,
de ajuda a outras crianças. Respostas agressivas, como bater, im- desajustada e emocionalmente instável.
portunar, gritar e quebrar objetos, foram ignoradas ou punidas por
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Estágios evolutivos e tarefas evolutivas a aquisição dessas habilidades se der no tempo próprio, os ajus-
Embora criticado por algumas teorias, o conceito de estágios tamento delas dependentes serão feitos naturalmente, através de
evolutivos é uma ideia constante nos estudos atuais da psicologia todo o processo evolutivo. Caso contrário, haverá, sempre, déficits
do desenvolvimento. Enquanto aquelas teorias interpretam o de- em todo tipo de ajustamento que requer tais habilidades como con-
senvolvimento humano como algo contínuo, desenvolvendo-se o dição fundamental. Em termos gerais do organismo, podemos dizer
comportamento humano de maneira gradual, na direção de sua que se uma tarefa evolutiva for realizada na fase crítica adequada,
maturidade, as teorias que preconizam a existência de estágios evo- as fases subsequentes da evolução do indivíduo serão mais facil-
lutivos (de Freud, Erickson, Sullivan, Piaget e muitos outros) tendem mente alcançadas em termos do seu ajustamento pessoal. Se, por
a ver o desenvolvimento humano como algo descontínuo. Segundo outro lado, o organismo deixar de realizar uma tarefa evolutiva, ou
essas teorias, o curso do desenvolvimento humano se dá por meio se houver falhas no processo em qualquer das suas partes, os ajus-
de mudanças mais ou menos bruscas, na história do organismo. tamentos nas fases subsequentes serão mais difíceis e, em alguns
Mussem et ali (1974), afirmam que cada estágio do desenvolvi- casos, podem até deixar de ocorrer. As tarefas evolutivas abrangem
mento humano, segundo essas teorias, representam um padrão de vários aspectos do processo evolutivo, incluindo o crescimento físi-
características inter-relacionadas. Cada estágio de desenvolvimento co, o desempenho intelectual, ajustamento emocionais e sociais, as
representa uma evolução de estágio anterior, mas, ao mesmo tem- atitudes com relação ao próprio eu, é realidade objetiva, bem como
po, cada um deles se caracteriza por funções qualitativamente dife- a formação dos padrões típicos de comportamento e a elaboração
rentes. De acordo com essas teorias o desenvolvimento psicológico de um sistema de valores.
do indivíduo ocorrem de maneira progressiva através de estágios
fixos e invariáveis, cada indivíduo tendo que atravessar os mesmos Segundo Havighurst, há três aspectos principais da tarefa evo-
estágios, na mesma sequência. Conforme Jean Piaget (1973) existe lutiva.
fundamento biológico para a teoria de estágios evolutivos, em ou- O primeiro se refere à maturação biológica, tal como aprender
tro contexto (1997), considerando as estruturas principais, diz que e andar, a falar, etc.
os estágios cognitivos tem uma propriedade sequencial, isto é, apa- O segundo se refere às pressões sociais, tais como aprender a
recem em ordem fixa de sucessão, pois cada um deles é necessário ler, a comportar-se como cidadão responsável e várias outras for-
para a formação do seguinte. mas do comportamento social.
Os embriologistas dão evidências em favor da teoria dos es- O terceiro aspecto se refere aos valores pessoais que consti-
tágios evolutivos. Falam da existência de períodos críticos para o tuem a personalidade de cada indivíduo, que resulta de processos
desenvolvimento do zigoto, ou seja .fases críticas. em que se deter- de interação das forças orgânicas e ambientais.
minadas mudanças não ocorrem na célula dentro de cada intervalo Para cada estágio da vida humana, há certas tarefas evolutivas
e em dada sequência, o desenvolvimento do organismo pode so- que devem ser incorporadas aos padrões de experiências e de com-
frer danos permanentes. Os estágios do desenvolvimento humano portamento do indivíduo.
se caracterizam pela organização dos comportamentos típicos que
ocorrem simultaneamente em determinado estádio evolutivo. Há, Teorias do desenvolvimento humano
portanto, certos padrões de comportamento que caracterizam cada A complexidade do desenvolvimento humano de certo modo
estágio da evolução psicológica do indivíduo, sem, contudo, impli- exige uma complexa metodologia para seu estudo. Dentre as es-
car que tais comportamentos sejam de natureza estática. tratégias para o estudo de desenvolvimento da personalidade sa-
Os estágios evolutivos se caracterizam, também por mudan- lientam-se a teoria dos estágios evolutivos, as teorias diferenciais,
ças qualitativas, com relação a estágios anteriores. Pode acontecer, ipsativas e da aprendizagem social. A teoria dos estágios evolutivos
também, que num determinado estágio evolutivo várias mudanças procura estabelecer leis gerais do desenvolvimento humano.
ocorram simultaneamente. É o caso, por exemplo, da adolescên- Advogando a existência de diferentes níveis qualitativos da or-
cia. Num período relativamente curto, o indivíduo muda em muitas ganização, através dos quais, invariavelmente, passam todos os in-
significativas maneiras. Nesta fase da vida o adolescente se torna divíduos de determinada espécie. As teorias diferenciais, por outro
biologicamente capaz de reproduzir a espécie, experimenta acele- lado, procuram estabelecer leis que permitem predizer os fatores
rado crescimento físico, seguido, logo depois , por uma quase para- determinados das diferenças individuais de subgrupos no processo
lisação nesse processo, e seu desenvolvimento mental atinge prati- evolutivo. Para os adeptos das teorias ipsativas o que interessa é ve-
camente o ponto culminantes, em termos de suas potencialidades rificar o que muda e o que permanece constante através da história
para o raciocínio abstrato. evolutiva de cada indivíduo. As teorias da aprendizagem social pro-
Outro conceito de fundamental importância para o estudo da curam explicar o processo evolutivo do ser humano em temos das
psicologia do desenvolvimento é a noção de tarefa evolutiva. De- técnicas de condicionamento, e tentam explicar o comportamento
senvolvido, principalmente, por Havighurst (1953), esse conceito como simples relação estímulo-resposta.
tem sido de grande utilidade para o estudo da evolução do compor- Dentre as muitas teorias do desenvolvimento humano salien-
tamento humano. tamos quatro que evidenciam como de maior importância: a teoria
A pressuposição fundamental desse conceito é a de que .viver psicanalítica de Freud, a teoria interpessoal de Sullivan, a teoria psi-
é aprender, e crescer ou desenvolver-se é, também, aprender.. Há cossocial de Erickson, e a teoria cognitiva de Jean Piaget.
certas tarefas ou habilidades que o indivíduo tem que aprender para Teoria Psicanalítica de Freud - Existem críticas a essa teoria pelo
poder ser considerado como pessoa de desenvolvimento adequado fato de não haver Freud, para estabelecer suas conclusões, feito
e satisfatoriamente ajustado, conforme as expectativas da socieda- seus estudos com crianças, e sim, com adultos psicologicamente
de. Segundo essa teoria, à semelhança do que acontece nas teorias doentes. E há sérias restrições à teoria freudiana da personalida-
de estágios evolutivos, há fases críticas no processo do desenvolvi- de, especialmente por ela baseada, exclusivamente, no método de
mento humano, isto é, período em que tais tipos de aprendizagem observação clínica e fundamentada na psicopatologia. Reconhece-
ou ajustamento devem acontecer. O organismo, por assim dizer, mos, entretanto, a grande intuição de Freud e sua notável contribui-
encontra-se em condições ótimas para que tal ajustamento ocorra. ção para o estudo do comportamento humano. Convém salientar
Por exemplo, há um momento em que o organismo da criança está que mais recentemente tem havido sérias tentativas no sentido
maturacionalmente pronto para aprender a falar, a andar, etc. Se de testar, experimentalmente, algumas das hipóteses levantadas
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por Freud, como atestam o trabalho de Lindzey e Hall, Silvermam Sullivan é psicanalista, mas dá muita ênfase aos fatores sociais
e outros. Segundo Hall e Lindzey (1970), Freud foi o primeiro a re- do comportamento humano. As relações interpessoais constitui a
conhecer a estrita relação existente sobre o processo evolutivo e a base da personalidade. Na infância, a experiência básica é o medo
personalidade humana. ou ansiedade, resultante da inter-relação com a figura materna.
Embora hoje a influência da teoria psicanalítica não seja tão Através da empatia a criança incorpora personificações positivas e
grande como antes, no campo da psicologia do desenvolvimento, negativas. Nesse período ela forma, também, diferentes autoima-
ela perdura através de reformulações que procuram operacionali- gens: o .bom-eu., o .mau-eu. e o .não-eu.. A idade juvenil é a grande
zar, para fins de pesquisa experimental, alguns dos conceitos funda- fase do processo de socialização. A criança aprende a subordinação
mentais elaborados pelo criador da Psicanálise. e a acomodação social bem como a lidar com o conceito de auto-
Parece razoável dizer-se que, de todas as teorias de personali- ridade.
dade até hoje formuladas, a teoria de Freud é a que mais se apro- A pré-adolescência se caracteriza pela necessidade de com-
xima daquilo que chamam os autores de paradigma na história das panheirismo com pessoas do mesmo sexo e pela capacidade de
ciências. apreciar as necessidades e sentimentos do outro. Na primeira ado-
É verdade que podemos fazer restrições à teoria freudiana do lescência o indivíduo se torna cônscio de três necessidade básicas:
desenvolvimento da personalidade, mas há certos pontos que mes- paixão, intimidade e segurança pessoal, e procura meios de inte-
mo os que não concordam com Freud têm dificuldade em negar. grá-los adequadamente. A segunda adolescência marca o início das
Por exemplo, a tese de que existe uma relação de causa e efeito no relações interpessoais amadurecidas. Na fase adulta o eu se apre-
processo evolutivo, partindo da infância até a vida adulta, parece senta estável e idealmente livre da excessiva ansiedade.
indiscutível à luz das evidências disponíveis. Se bem que o determi- Erickson salienta os aspectos culturais do processo evolutivo
nismo absoluto do passado, implícito na teoria freudiana, mereça da personalidade. Há oito estágios nesse processo, cada um deles
restrições, não se pode negar que experiências prévias são impor- apresenta duas alternativas: quando o estágio evolutivo é satisfato-
tantes na determinação de futuros padrões de comportamento. riamente alcançado, o produto será uma personalidade saudável;
A grande ênfase da teoria freudiana, quanto ao processo da quando não é atingido, o resultado será uma personalidade emo-
evolução psicológica do homem, concentra-se nos primeiros anos cionalmente imatura ou desajustada. Na infância o indivíduo adqui-
de vida. Daí o fato de que, até recentemente os estudos da psi- re confiança básica ou desconfiança básica. Na meninice ele pode
cologia do desenvolvimento, que sofreram durante muito tempo adquirir o senso de autonomia ou, então, o sentimento de vergo-
grande influência da psicanálise, limitavam-se à infância e à adoles- nha e dúvida. Na fase lúdica a criança pode desenvolver a atitude
cência. A rigor, a psicanálise clássica não tem muito a dizer sobre o de iniciativa ou, quando lhe falta o estímulo do meio, pode desen-
desenvolvimento da personalidade após a adolescência, pois o es- volver o sentimento de culpa e de inadequação. Na idade escolar
tágio genital representa, praticamente, o ponto final e até mesmo, o indivíduo se identifica com o ethos tecnológico de sua cultura
ideal da evolução psicossexual do ser humano. Mais tarde, Freud adquirindo o senso de indústria ou, na ausência dessas condições,
tentou ampliar a extensão desse processo evolutivo, ao elaborar a pode desenvolver o sentimento de inferioridade. Na adolescência a
teoria do impulso para a morte, ou, mais especificamente, a teoria crise psicossocial é o encontro da identidade do indivíduo. Quando
do comportamento agressivo. Não chegou a deixar marcas signifi- isso não ocorre, dá-se a difusão da identidade com repercussões
cativas às demais fases da evolução psicológica do homem, além negativas através de toda a vida.
da infância e da adolescência. Coube a outros psicanalistas a tarefa A vida adulta compreende três fases: adulto jovem, caracteriza-
de ampliar a teoria freudiana quanto a esse aspecto. É o caso, por da por intimidade e solidariedade, do ângulo positivo, e isolamento,
exemplo, de Harry Sullivan e especialmente o de Erik Erikson. do lado negativo; adultícia que se caracteriza ou pela geratividade
A teoria freudiana salienta os conceitos de energia psíquica e ou pela estagnação; e a maturidade que apresenta a integridade ou
de fatores inconscientes de comportamento como ponto de parti- desespero como alternativas.
da. Os impulsos básicos são eros - impulso para a vida, e agressão A teoria cognitiva de Jean Piaget exerce hoje relevante papel
- impulso para a morte. A estrutura da personalidade concebida em todas as áreas da psicologia e, principalmente, nos campos
originalmente, em termos topográficos como consciente, pré-cons- aplicados da educação e da psicoterapia. Abandonando a ideia de
ciente e inconsciente, é substituída pelo conceito dinâmico do id, avaliar o nível de inteligência de um indivíduo por meio de suas res-
que representa as forças biológicas, instintivas da personalidade; postas aos itens de determinados testes, Piaget adotou um método
e ego, que representa o princípio da realidade, e o superego, que clínico através do qual procura acompanhar o processo do pensa-
representa as forças repressivas da sociedade. Há cinco estágios mento da criança para daí chegar ao conceito de inteligência como
da evolução psicossexual: a fase oral, período da vida em que, pra- capacidade geral de adaptação do organismo.
ticamente, a única fonte de prazer é a zona oral do corpo, e que Os conceitos fundamentais da teoria de Piaget são: esquema,
apresenta como principal característica psicológica a dependência ou estrutura, que é a unidade estrutural do desenvolvimento cogni-
emocional. tivo; assimilação, processo pelo qual novos objetos são incorporado
A fase anal, caracterizada pela retentividade, a fase fálica, na aos esquemas; acomodação, que ocorre quando novas experiên-
qual surge o Complexo de Édipo, e o que se caracteriza pelo exi- cias modificam esquemas; equilibração, resolução de tensão entre
bicionismo. A fase latente, em que a energia libidinosa é canaliza- assimilação e acomodação; operação, rotina mental caracterizada
da para outros fins e a fase genital, que representa o alvo ideal do por sua reversibilidade e que representa o elemento principal do
desenvolvimento humano. No processo evolutivo o indivíduo pode processo do desenvolvimento cognitivo. O desenvolvimento cogni-
parar numa fase imatura. Nesse caso se diz que houve uma fixação. tivo se dá em quatro período: o período sensório-motor, caracteri-
O indivíduo pode, também, voltar a formas imaturas do comporta- zado pelas atividades reflexas; o período pré-operacional, em que
mento, em cujo caso se diz que houve uma regressão. Mecanismos a criança pode lidar simbolicamente com certos aspectos da reali-
de defesas são formas pelas quais o eu procura manter sua integri- dade, mas seu pensamento ainda se caracteriza pela responsabili-
dade. Dentro de certos limites são considerados normais. Quando, dade; o período das operações concretas, em que a criança adquire
porém, ultrapassam esses limites, tornam-se patogênicos. o esquema de conservação; e o período das operações formais,
caracterizado pelo pensamento proposicional e que representa o
ideal da evolução cognitiva do ser humano.
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Estágio ou períodos de desenvolvimento da vida humana O mecanismo de transmissão hereditária é altamente com-
Os psicólogos do desenvolvimento humano são unânimes em plexo, mas ao nível do presente texto ele consiste essencialmente
estabelecerem fases, períodos para determinar nas várias etapas da no encontro de uma célula germinal masculina e uma feminina. Os
vida do indivíduo. genes, unidades genéticas que fornecem a base do desenvolvimen-
São assim circunscritas por apresentarem características e pa- to, são diretamente responsáveis pela transmissão do patrimônio
drões de si mesmas semelhantes. hereditário.
Sucedem-se, naturalmente, uma a outra, desde o momento da Existe uma diferença fundamental entre fatores genéticos e fa-
concepção até à velhice. tores congênitos no processo de desenvolvimento. Genético só é
Para atender aos objetivos do trabalho, focalizaremos as pri- aquilo que o indivíduo recebe através dos genes. Congênito é tudo
meiras fases de vida até à adolescência. aquilo que influencia desenvolvimento do indivíduo, e que foi ad-
Tomando por base a classificação dos estágios evolutivos se- quirido durante a vida intrauterina, mas não é transmitido através
gundo Jean Piaget, o grande estudioso da gênese e desenvolvimen- dos genes. Ex.: a sífilis é uma doença congênita, porque pode ser
to dos processos cognitivos da criança, existem quatro períodos no adquirida durante a vida intrauterina, mas não é transmitida atra-
desenvolvimento humano: vés dos genes. Logo, a sífilis não é hereditária.
1 - Período sensório-motor: de 0 a 2 anos Durante a vida intrauterina, o indivíduo pode receber a influ-
2 - Período pré-operacional: de 2 a 7 anos ência de vários fatores que determinarão o curso do seu desenvol-
2.1. Pensamento simbólico pré-conceitual: 2 a 4 anos vimento. Dentre esses fatores, salientam-se a idade e a dieta da
2.2. Pensamento intuitivo: 4 a 7 anos gestante e o uso abusivo de tóxicos, infecções e da própria irradia-
3 - Período das operações intelectuais concretas: 7 a 12 anos ção. Enfermidades que podem ser transmitidas ao indivíduo na vida
4 - Período das operações intelectuais abstratas: dos 12 anos intrauterina, como a sífilis, a rubéola e a diabete, prejudicam o de-
em diante. senvolvimento normal do ser humano.
Analisaremos, a seguir, de maneira muito sucinta, os períodos
Além de serem observados os períodos ou estágios acima, os do desenvolvimento humano, a partir do nascimento, focalizando
estudiosos da psicologia do desenvolvimento humano estabelece- as áreas ou aspectos em cada um deles.
ram áreas ou aspectos para esse estudo. Embora o ser humano seja Segundo Piaget, cada período é caracterizado pelo que de
um todo, integrado, sabemos que existem setores ou áreas para melhor o indivíduo consegue fazer nessas faixas etárias. Todos os
as quais são dirigidas as atividades e o comportamento humanos, indivíduos passam por todas essas fases ou períodos, nessa sequ-
ainda que sejam profundamente interligados. Desta forma, para ência, porém o início e o término de cada uma delas dependem das
estudo e análise apropriados, o desenvolvimento é estudado nos características biológicas do indivíduo e de fatores educacionais,
aspectos físico, mental/cognitivo, emocional/ afetivo, social. Muitas sociais. Portanto, a divisão nessas faixas etárias é uma referência, e
vezes empregam-se outras divisões, agrupando diferentemente as não uma norma rígida.
áreas: psicofísica, sócio-emocional, psicossocial, psicomotora, etc.
Período sensório-motor - 0 a 2 anos
As tarefas evolutivas do processo de desenvolvimento humano Esse período diz respeito ao desenvolvimento do recém-nasci-
são, sobretudo: do e do latente.
a) ter um corpo sadio, forte, residente, desenvolvido; É a fase em que predomina o desenvolvimento das percepções
b) usá-lo como instrumento de expressão e de comunicação e dos movimentos.
social, como meio de participar da vida social, de colaborar com os O desenvolvimento físico é acelerado, pois constitui-se no su-
outros na responsabilidade de fazer sua vida e de melhorar sua qua- porte para o aparecimento de novas habilidades. O desenvolvimen-
lidade e, enfim, uma base consistente sobre a qual a pessoa possa to ósseo, muscular e neurológico permite a emergência e novos
desenvolver o seu espírito; comportamentos, como sentar-se, engatinhar, andar, o que propi-
c) formar o intelecto até alcançar a etapa do pensamento abs- ciará um domínio maior do ambiente.
trato, imprescindível para se compreender com mais profundidade Essa fase do processo é caracterizada por uma série de ajusta-
e realidade humana; mentos que o organismo tem de fazer, em função das demandas
d) alcançar o equilíbrio emocional; do meio. É evidente que o processo de adaptação do organismo
e) a integração social; não se limita a essa fase da vida, mas o que acontece ao indivíduo
f) a consciência moral; nessa fase é crucial na importância para todo o processo do desen-
g) compreender o seu papel, em seu tempo, na comunidade volvimento.
em que vive e ter condições de assumi-lo, decisão e capacidade de Em termos do conceito de tarefas evolutivas, Havighurst as-
realizá-lo. sinala como sendo as principais dessa fase da vida as seguintes:
Para iniciar o estudo das fases do desenvolvimento humano, é aprender a andar e a tomar alimentos sólidos. Aprender a falar e a
necessário que seja focalizado o período que antecede o nascimen- controlar o processo de eliminação de produtos excretórios. Apren-
to, tão importante e decisivo que é para o desenvolvimento, ante- der a diferença básica entre os sexos e a alcançar estabilidade fisio-
rior ao período pré-natal. A vida começa, a rigor, no momento em lógica. Formar conceitos sobre a realidade física e social, aprender
que as células germinais procedentes de seus pais se encontram. as formas básicas do relacionamento emocional e a adquirir as ba-
Modernamente, o desenvolvimento pré-natal tem sido focalizado ses de um sistema de valores.
sob três perspectivas, a saber: do ponto de vista dos fatores heredi- Segundo Piaget, nessa etapa inicial o indivíduo se encontra na
tários, da influência do ambiente durante a vida intrauterina, e do fase sensório-motora do seu desenvolvimento cognitivo. Essa fase
efeito das atitudes das pessoas que constituem o mundo significa- compreende seis sub-fases, a saber: o uso dos reflexos, as reações
tivo da criança. circulares primárias e secundárias, reações circulares, terciárias, e a
O estudo da inter-relação entre esses fatores revela a impor- invenção de novos significados para as coisas através de combina-
tância do desenvolvimento pré-natal sobre as fases subsequentes ções mentais.
do processo evolutivo do ser humano.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Apesar da importância dos aspectos biológicos do desenvolvi- de outros cuidados, mas por sua própria sobrevivência. Nesta fase
mento humano nessa fase, os aspectos psicossociais dessa evolução da vida, a mãe é praticamente a única fonte de prazer da criança e
são os de maior interesse para a psicologia do desenvolvimento. a atitude básica da mãe para com ela determinará a sua atitude bá-
Dentre os aspectos mais importantes do desenvolvimento sica perante a vida. A essa fase oral corresponde uma característica
psicossocial salientam-se os seguintes: a aquisição da linguagem psicológica chamada caráter oral. O indivíduo é dependente emo-
articulada, cujo processo se completará no período pré-operacio- cionalmente de outros. Aparece aglutonomia, o alcoolismo.
nal, é que constitui elementos de fundamental importância para os
outros aspectos do desenvolvimento humano; o desenvolvimento Período pré-operacional - 2 a 7 anos
emocional, através do qual o indivíduo deixa de funcionar a ní- É grande o interesse dos estudiosos sobre a fase da vida huma-
vel puramente biológico e passa ao processo de socialização dos na. Corresponde ao período pre-escolar, considerado a idade áurea
seus próprios atributos fisiológicos e a aquisição do senso moral, da vida, pois é nesse período que o organismo se torna estrutural-
que permite ao indivíduo a formulação de um sistema de valores mente capacitado para o exercício de atividades psicológicas mais
no qual, em muitas circunstâncias, as necessidades secundárias se complexas, como o uso da linguagem articulada. Quase todas as
tornam mais salientes e decisivas do que as próprias necessidades teorias do desenvolvimento humano admitem que a idade de es-
psicológicas ou primárias. tudo é de fundamental importância na vida humana, por ser esse o
Na fase do nascimento aos dois anos de vida as estruturas bá- período em que os fundamentos da personalidade do indivíduo lan-
sicas da personalidade são lançadas. çados na fase anterior começam a tomar formas claras e definidas.
A figura materna, ou substituta, é muito importante para essa Existe um enorme volume de trabalho científico sobre esse pe-
formação, bem como a forma ou a maneira como o indivíduo rece- ríodo, que em termos de pesquisa, em consequente formulação de
be o alimento da figura materna tem profundas repercussões sobre teorias sobre esta fase do desenvolvimento.
seu futuro comportamento em termos da modelagem de sua per- O período pré-operacional é caracterizado por consideráveis
sonalidade. O contato físico é, também, de vital importância para o mudanças físicas, as quais são um desafio para os pais e educado-
desenvolvimento emocional do indivíduo. res, como para as próprias crianças. A terminologia período pre-
Com relação à aquisição do senso moral, sabemos que o mes- -operacional foi dada por Piaget e se refere ao desenvolvimento
mo vai ser incorporado através da aprendizagem social dos valores. cognitivo. No mundo moderno Piaget é, talvez, a figura de maior
Ela é relativa ao meio que o produziu. A princípio o comportamen- relevo no estudo do desenvolvimento dos processos cognitivos do
to moral da criança é de caráter imitativo e mais ou menos guiado ser humano. De acordo com esse cientista, o período pré-operacio-
pelos impulsos. O conceito de certo ou errado para a criança é uma nal é dividido em dois estágios: de dois a quatro anos de idade, em
função de prazer ou de sofrimento que sua ação é capaz de produ- que a criança se caracteriza pelo pensamento egocêntrico, e dos
zir. Esse conceito ainda não é concebido em termos do bem ou do quatro aos sete anos, em que ela se caracteriza pelo pensamento
mal que a criança fez aos outros. Nessa idade a criança ainda não intuitivo. As operações mentais da criança nessa idade se limitam
tem a capacidade intelectual de considerar os efeitos de sua ação aos significados imediatos do mundo infantil.
sobre outras pessoas. Consequentemente ela não sente a necessi- Enquanto no período anterior ao pensamento e raciocínio da
dade de modificar seu comportamento, a não ser quando sua ação criança são limitados a objetos e acontecimentos imediatamente
lhe produz algum desconforto. Isto quer dizer que a criança nessa presentes e diretamente percebidos, no período pré-operacional,
idade ainda não tem propriamente uma consciência moral; ela ain- ao contrário a criança começa a usar símbolos mentais _ imagens
da não tem a capacidade de sentir-se .culpada.. ou palavras que representam objetos que não estão presentes. São
Segundo a teoria psicanalítica, o período de treinamento de características dessa fase o egocentrismo infantil, o animismo, o ar-
toalete desempenha importante papel na formação dos conceitos tificialismo e o finalismo. Também inexiste o conceito de invariância
morais do indivíduo. Aqui pela primeira vez, o indivíduo se defronta e a noção de reversibilidade.
com os conceitos do certo e do errado. Daí, segundo a teoria, o É adquirida a linguagem articulada, e passa por uma sequência
começo de um superego ou de uma consciência moral. Do ponto de de aquisições. A criança nesta fase precisa aprender novas maneiras
vista do desenvolvimento da personalidade, a natureza desse treino de se comportar em seus relacionamentos. Freud descreve os anos
de toalete é de grande significação. pré-escolares como sendo o tempo do conflito de Édipo (para os
Se o indivíduo foi educado com excessivo rigor nesse particular, meninos) e do complexo de Eletra (para as meninas). Segundo Erik-
ele poderá tornar-se uma pessoa extremamente meticulosa e su- son, a tarefa primordial da criança nessa idade é resolver o conflito
persensível, sempre perseguido pelo sentimento de culpa. entre a iniciativa e a culpa. Quando os pais são capazes de tratar os
Se, por outro lado, não houve qualquer restrição ao seu com- filhos aplicando a dosagem certa da permissividade e de autorida-
portamento nesse período, ele pode se tornar um tipo humano de- de, as crianças acham mais fácil desenvolver um senso de autono-
sorganizado e com tendências absolutistas prejudiciais a si mesmo mia pessoal.
e à sociedade. O ideal, portanto, seria uma atitude comedida para Nesse estágio, a criança aprende a assumir os papéis sexuais
que se possa antecipar um desenvolvimento normal da personali- considerados aceitáveis pelos pais e pela sociedade.
dade do indivíduo. Os relacionamentos sociais e as atividades lúdicas preparam a
De acordo com Freud, ao primeiro ano de vida o indivíduo está criança para lidar com um mundo mais vasto, fora do círculo fami-
na fase ORAL da evolução psicossexual, ou seja, todo o senso de liar.
prazer que o indivíduo experimenta provem das zonas orais do seu
corpo. A primeira ou única sensação de prazer que a criança expe- Os aspectos mais importantes do desenvolvimento psicossexu-
rimenta é através da boca, pela ingestão de alimentos. O alimento al da idade pré-operacional abrangem os seguintes pontos:
não se refere a simples incorporação de material nutritivo, mas in- 1) a formação de um conceito do .eu., facilitado pela aquisição
clui uma gama de relações humanas e de afetos implícitos no pro- da linguagem articulada;
cesso da alimentação. Uma das características mais óbvias de uma 2) a definição da identidade sexual do indivíduo através da qual
criança nessa idade é sua dependência do mundo adulto, especial- ele aprende a se comportar de acordo com as expectações da so-
mente da figura materna. A criança depende dos outros não só para ciedade;
lhe fornecer o senso do prazer e conforto através da alimentação e
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3) a aquisição de sua consciência moral que vai além da simples ça era inteiramente heteronômica, segundo Piaget, agora ela tende
limitação do comportamento do mundo adulto e que é capaz de a ser autonômica. Uma das melhores evidências dessa mudança de
levar o indivíduo a se sentir culpado em face da violação das regras orientação é a capacidade de sentir-se culpada, e não somente com
de conduta do seu meio social; medo de ser apanhada em falta e castigada.
4) o desenvolvimento dos padrões de agressão que resulta de Os padrões de agressão da criança de idade escolar são influen-
vários fatores dentre os quais se salientam: a severa punição física, ciados por três fatores principais, a saber: pelos pais, pelos com-
identificação com o agressor e a frustração; panheiros e pelos meios de comunicação de massa. Quanto aos
5) as motivações básicas do senso de competência e a neces- pais, os fatores que mais afetam esses padrões de agressão são a
sidade de realização, ambas muito dependentes das condições do rejeição e o castigo físico demasiado severo. Os grupos de parceria
meio e da fundamental importância para o desenvolvimento ade- modificam esses padrões criando rivalidade intergrupal e reduzindo
quado do ser humano. a cooperação entre grupos competitivos. Os meios de comunicação
de massa oferecem modelos de violência, que tendem a aumentar
Período das operações concretas - 7 a 12 anos a agressão dos indivíduos que já possuem certo grau de revolta con-
É a fase escolar, também chamada de período das operações tra as instituições sociais.
concretas. Nesta fase da vida, o crescimento físico é mais lento do
que em fases anteriores, as diferenças resultantes do fator sexo co- Período das operações formais - 12 anos aos 21 anos
meçam a se acentuar mais nitidamente. Corresponde ao período chamado adolescência, que significa
Do ponto de vista do desenvolvimento cognitivo o indivíduo crescer ou desenvolver-se até a maturidade.
se encontra, na idade escolar, no estágio das operações concretas, Durante muitos séculos, o termo adolescência foi definido qua-
segundo a teoria de Piaget. O pensamento da criança nessa idade se que exclusivamente, em função dos seus aspectos biológicos.
apresenta as características de reversibilidade e de associação que Adolescência e puberdade eram usadas como palavras sinônimas.
lhe permitem interpretar eventos independentemente do seu ar- Modernamente, entretanto, a adolescência deixou de ser um
ranjo atual. Nesse estágio, entretanto, a criança ainda se limita, em conceito puramente biológico e passou a ter, sobretudo, uma co-
termos cognitivos, ao seu mundo imediato e concretamente real. notação psicossocial. É baseado neste conceito que Munuss (1971),
Este período, ou idade escolar, segundo a teoria freudiana, define adolescência em termos sociológicos, psicológicos e crono-
corresponde ao estágio latente, assim designado por que nela a li- lógicos.
bido não exerce grande influência no comportamento observável Cronologicamente, a adolescência, ao menos nas culturas oci-
do indivíduo, visto que praticamente toda a sua energia é utilizada dentais, é o período da vida humana que vai dos doze ou treze anos
no sentido de adquirir as competências básicas para a vida em so- até mais ou menos aos vinte dois ou vinte e quatro anos de idade,
ciedade. O ponto mais importante a salientar nesta fase da vida, admitindo-se consideráveis variações. Tanto de ordem individual e,
no contexto da teoria psicanalítica, é o conceito de mecanismo de sobretudo, de ordem cultural.
defesa, dos quais se distinguem a negação, a identificação com o Sociologicamente, adolescência seria o período de transição
agressor, a repressão a sublimação, o deslocamento, a regressão, a em que o indivíduo passa de um estado de dependência do seu
racionalização e a projeção. mundo maior para uma condição de autonomia e, sobretudo, em
Segundo a teoria de Erickson, a crise psicossocial da idade es- que o indivíduo começa a assumir determinadas funções e respon-
colar se encontra nos pólos industriais versus inferioridade. Depen- sabilidades características do mundo adulto.
dendo do resultado da solução dessa crise evolutiva, o indivíduo Do ponto de vista psicológico, a adolescência é o período crí-
pode emergir como ser capaz e produtivo, ou como alguém com tico de definição da identidade do .eu., cujas repercussões podem
um profundo e persistente sentimento de incompetência e de in- ser de graves consequências para o indivíduo e a sociedade.
ferioridade. Vale ressaltar a diferença entre os termos puberdade, pubes-
Nessa idade, de acordo com Sullivan, o indivíduo adquire os cência e adolescência. A puberdade é o estágio evolutivo em que
conceitos de “subordinação social” que podem ajudá-lo a ajustar-se o indivíduo alcança a sua maturidade sexual. A data exata em que
à vida em sociedade. Nesta idade, os “padrões supervisores” contri- ocorre o amadurecimento sexual do ser humano, diz Munuss, varia
buem para a formação de uma autoimagem através das expectati- de acordo com fatores de ordem sócioeconômica e geográfica. Por
vas do mundo social do indivíduo. Mas, sobretudo, a idade escolar é exemplo, a maturidade sexual tende a ocorrer mais cedo em indiví-
importante porque nela a criança adquire o conceito de “orientação duos que vivem em climas temperados e que pertencem a classes
na vida”, através do qual ela realiza a integração dos vários fatores sociais mais elevadas. Em zonas tropicais, e também por influência
sócioemocionais do processo de desenvolvimento. de fatores nutricionais, esse amadurecimento sexual tende a ocor-
No ajustamento psicossocial os grupos de parceria e a esco- rer um pouco mais tarde. Pubescência seria o período, também
la representam relevante papel. Os grupos de parceria oferecem à chamado de pré-adolescência, caracterizado pelas mudanças bio-
criança nessa idade certo apoio social, modelos humanos a imitar, lógicas associadas com a maturação sexual. É o período de desen-
a noção fundamental dos diferentes papéis que os indivíduos exer- volvimento fisiológico durante o qual as funções reprodutoras ama-
cem na sociedade, e certos padrões de autoavaliação. Por sua vez, durecem; é filogenético e inclui o aparecimento de características
a escola oferece à criança a oportunidade de lidar com figuras que sexuais secundárias e a maturidade fisiológica dos órgãos sexuais
representam autoridade fora do ambiente do lar. primários. Estas mudanças ocorrem num período de aproximada-
No período das operações concretas, ou seja, época deno- mente dois anos. Adolescência é um conceito mais amplo e inclui
minada fase escolar, o autoconceito assume forma mais definida, mudanças consideráveis nas estruturas da personalidade e nas fun-
especialmente porque aqui a criança aprende que é um indivíduo ções que o indivíduo exerce na sociedade. Em síntese, o conceito
diferente dos demais. É assim que ela é tratada por seus profes- moderno de adolescência não se confunde com puberdade, como
sores e colegas. Esse tratamento recebido e também dispensado fato biológico, nem tampouco com pubescência, como estágio de
aos outros contribui para acentuar a identidade sexual da criança transição marcada por grandes mudanças fisiológicas. Adolescência
de idade escolar. Quanto ao conceito de moralidade nessa fase é um conceito psicossocial. Representa uma fase crítica no processo
da vida, talvez o ponto mais importante seja a mudança quanto à evolutivo me que o indivíduo é chamado a fazer importantes ajusta-
orientação ou ponto de referência. Antes, a decisão moral da crian- mentos de ordem pessoal e de ordem social. Entre estes ajustamen-
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tos, temos a luta pela independência financeira e emocional, a es- As principais tarefas evolutivas da adolescência, segundo Havi-
colha de uma vocação e a própria identidade sexual. Como conceito ghurst, são as seguintes: aceitar e aproveitar ao máximo o próprio
psicossocial, a adolescência não está necessariamente limitada corpo; estabelecer relações sociais mais adultas com companheiros
aos fatores cronológicos. Em determinadas sociedades primitivas, de ambos os sexos; chegar a ser independente dos pais e de outros
a adolescência é bastante curta e termina com os ritos de passa- adultos, dos pontos de vista emocional e pessoal; escolha de uma
gem em que os indivíduos, principalmente os de sexo masculino, ocupação e preparação para a mesma; preparação para o noivado
são admitidos no mundo adulto. Na maioria das culturas ocidentais, e o matrimônio; desenvolvimento de civismo; conquista de uma
entretanto, a adolescência se prolonga por mais tempo e pode-se identidade pessoal, uma escala de valores e uma filosofia de vida.
dizer que a ausência de ritos de passagem torna essa fase de transi- Do ponto de vista cognitivo e segundo Jean Piaget, o adolescen-
ção um período ambíguo da vida humana. Portanto, diz Munuss, só te está no estágio das operações formais. Segundo Piaget, o amadu-
se pode falar sobre o término da adolescência em termos de idade recimento biológico do adolescente torna possível a aquisição das
cronológica à luz do contexto sóciocultural do indivíduo. O que, de operações formais, que representam o ponto máximo do processo
fato, marca o fim da adolescência são os ajustamentos normais do do desenvolvimento cognitivo. As operações formais, entretanto,
indivíduo aos padrões de expectativas da sociedade com relação às não são um dado a priori, mas dependem da interação do organis-
populações adultas. mo com o meio. A aquisição das operações formais é de fundamen-
Do ponto de vista de um conceito psicossocial da adolescên- tal importância, especialmente em face do enorme progresso das
cia, podemos dizer, como observa Hurlock (1975), que ela é um ciências naturais em nosso século. Elas são, também, necessárias a
período de transição na vida humana. O adolescente não é mais todo o processo de ajustamento social do adolescente.2
criança, porém, ainda não é adulto. Esta condição ambígua tende a
gerar confusão na mente do adolescente, que não sabe exatamente
qual o papel que tem na sociedade. Esta confusão começa a de- APRENDENDO A APRENDER
saparecer na medida em que o adolescente define sua identidade
psicológica. A adolescência é, também, um período de mudanças Quando entendida na perspectiva do senso comum, a relação
significativas na vida humana. Hurlock fala de quatro mudanças de ensino-aprendizagem é linear; assim, quando há ensino, deve ne-
profunda repercussão nessa fase. A primeira delas é a elevação do cessariamente haver aprendizagem.
tônus emocional, cuja intensidade depende da rapidez com que as Ao inverso, quando não houve aprendizagem, não houve en-
mudanças físicas e psicológicas ocorrem na experiência do indiví- sino. Desse modo, o ensino é subordinado à aprendizagem. Essa
duo. A segunda mudança significativa dessa fase da vida é decor- subordinação é expressa em concepções que compreendem o pro-
rente do amadurecimento sexual que ocorre quando o adolescente fessor como facilitador da aprendizagem, ou ainda como mediador
se encontra inseguro com relação a si mesmo, a suas habilidades do conhecimento.
e seus interesses. O adolescente experimenta nesta fase da vida o Aqui a proposta é discutir referências teóricas e metodológicas
sentimento de instabilidade, especialmente em face do tratamen- que possam revelar uma concepção não linear da relação em foco,
to muito ambíguo que recebe do seu mundo exterior. Em terceiro bem como criticar as concepções de professor facilitador e profes-
lugar, as mudanças que ocorrem no seu corpo, nos seus interesses sor mediador.
e nas suas funções sociais, criam problemas para o adolescente por- A mediação no campo educacional é geralmente considerada
que, muitas vezes, ele não sabe o que o grupo espera dele. E, final- como o produto de uma relação entre dois termos distintos que,
mente, há mudanças consideráveis na vida do adolescente quanto por meio dela podem ser homogeneizados. Essa homogeneização
ao sistema de valores. Muitas coisas que antes eram importantes, elimina a diferença entre eles e, por conseguinte, a possibilidade de
para ele, passam a ser consideradas como algo de ordem secun- conflito entre ambos. Portanto, quando se compreende a mediação
dária, a capacidade intelectual do adolescente lhe dá condição de como o resultado, como um produto, a necessária relação entre
analisar de modo crítico o sistema de valores a que foi exposto e dois termos se reduz à sua soma, o que resulta na sua anulação mú-
a que, até então, respondem de modo mais ou menos automáti- tua, levando-os ao equilíbrio. Essa ideia concebe a mediação como
co. Porém, agora o adolescente está em busca de algo que lhe seja o resultado da aproximação entre dois termos que, embora distin-
próprio, algo pelo qual ele possa assumir responsabilidade pessoal. tos no início, quando totalmente separados, tendem a igualar-se à
Daí, então, as lutas por que passa o ser humano nessa fase da vida, medida que se aproximam um do outro.
no sentido da vida, no sentido de definir seu próprio sistema de Em estudos desse contexto discute-se o conceito de mediação
valores, seus próprios padrões de comportamento moral. local, indicando que mediar implica solucionar conflitos por meio
A adolescência é, também, um período em que o indivíduo tem de ações educativas. Assim, a mediação restringe-se a uma ação
que lutar contra o estereótipo social e contra uma autoimagem dis- pragmática, circunscrita a uma situação de conflito. Este entendi-
torcida dele decorrente. A cultura tende a ver o adolescente como mento da mediação não é muito distante daquele em que ela é
um indivíduo desajeitado, irresponsável e inclinado às mais varia- compreendida na situação da sala de aula.
das formas de comportamento antissocial. A mediação na sala de aula é também pragmática, pois preten-
Por sua vez, o adolescente vai desenvolvendo uma autoima- de que o aluno aprenda de modo imediato. Nos dois casos, em que
gem que reflete, de alguma forma, esse estereótipo da sociedade. mediar é agir de modo pragmático, todo conflito pode ser “solucio-
Essa condição indesejável ordinariamente cria conflitos entre pais nado”, e o aluno pode “aprender”.
e filhos, entre o adolescente e a escola, entre o adolescente e a Para compreendermos a mediação na sala de aula, é preciso,
sociedade em geral. em primeiro lugar, estabelecermos que o estudante está sempre
A adolescência é o período de grandes sonhos e aspirações, no plano do imediato, e o professor está, ou deveria estar, no pla-
mesmo que não sejam sempre, realistas. De acordo com o próprio no do mediato. Assim, entre eles se estabelece uma mediação que
Piaget, nessa fase da vida a possibilidade é mais importante do que visa, como já o dissemos, a superação do imediato no mediato. Em
a realidade. Com o amadurecimento normal do ser humano é que outras palavras, o estudante deve superar a sua compreensão ime-
ele vai aprendendo a discriminar entre o possível e o desejável. diata e ascender a outra que é mediata. E isso só pode ocorrer pela
Na adolescência, como nas demais fases da vida, o indivíduo ação do professor que medeia com o aluno, estabelecendo com ele
tem que cumprir tarefas evolutivas.
2 Fonte: www.cedeca.org.br
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uma tensão que implica negar o seu cotidiano. Por outro lado, o alu- Quando se compreende a relação ensino-aprendizagem na
no tentará trazer o professor para o cotidiano vivido por ele, aluno, sala de aula como mediação, o ensino e aprendizagem são opostos
negando, assim, o conhecimento veiculado pelo professor. Nessa entre si e se relacionam por meio de uma tensão dialética. Desse
luta de contrários – professor e aluno, conhecimento sistematizado modo, esses termos, apesar de negarem-se mutuamente, se com-
pela humanidade e experiência cotidiana – é que se dá a media- pletam, mas, como já o dissemos, essa unidade não se estabelece
ção; e ela ocorre nos dois sentidos, tanto do professor para o aluno de modo linear.
quanto do a É uma luta de contrários. Neste artigo, conceituaremos primeiro o ensino e, pela sua
Esse modo de compreender a mediação não aceita a ideia do negação, conceituaremos aprendizagem. Sabemos da dificuldade
professor mediador do conhecimento, tampouco a noção de pro- de conceituar esses dois termos, pois de modo geral os estudiosos
fessor facilitador da aprendizagem. da área de educação e os professores, talvez por influência das pe-
Essas duas acepções são equivocadas, porque, em primeiro dagogias contemporâneas, não o fazem; pois preocupam-se quase
lugar, o professor não é o único mediador, pois o aluno também exclusivamente com o “como ensinar”, ou mais precisamente como
medeia, e, em segundo lugar, a mediação não se estabelece com facilitar a aprendizagem dos alunos.
o conhecimento e sim entre o aluno e o professor. Trata-se de uma A ideia principal que informa o nosso conceito de ensino é a
automediação no segundo sentido atribuído por Mészáros; ou seja, de que ele expressa a relação que o professor estabelece com o
a mediação entre o homem e os outros homens: aluno para o pro- conhecimento produzido e sistematizado pela humanidade. Assim,
fessor. Em outros termos, a mediação, na escola, é um processo que o ensino constitui-se de três atividades distintas a serem desenvol-
ocorre a sala de aula e promove a superação do imediato no media- vidas pelo professor.
to por meio de uma tensão dialética entre pólos opostos. A primeira consiste em, diante de um tema, selecionar o que
deve ser apresentado aos alunos; por exemplo, no tema “Revolução
A relação entre o homem e a natureza é ‘automediadora’ Francesa”, próprio da História, selecionar o que é mais importante
num duplo sentido. Primeiro, porque é a natureza que propicia a ensinar aos alunos da 5ª série (nomenclatura brasileira). Já o pro-
mediação entre si mesma e o homem; segundo, porque a própria fessor do 1º ano do Ensino Médio deve defrontar-se com a mesma
atividade mediadora é apenas um atributo do homem, localizado pergunta; a mesma situação se coloca ao professor universitário
numa parte específica da natureza. Assim,na atividade produtiva, encarregado de abordá-lo. Dessa forma, o docente deve preocu-
sob o primeiro desses dois aspectos ontológicos a natureza faz a par-se em compatibilizar a seleção do conhecimento a ser ensina-
mediação entre si mesma e a natureza; e, sob o segundo aspecto do com a possibilidade de aprendizagem dos alunos. Nos dias de
ontológico - em virtude do fato de ser a atividade produtiva ine- hoje, é bastante comum que a seleção seja abrangente; e isso pode
rentemente social - o homem faz a mediação ente si mesmo e os levar os professores a apresentarem aos seus alunos informações
demais homens. (Mészáros, 1981, p.77-78) supérfluas, que, quando confundidas com conhecimento, não lhes
Sendo a mediação na sala de aula uma automediação, não po- permitem fazer as sínteses necessárias para a superação do cotidia-
demos abrir mão da relação direta entre professor e aluno. Desse no, produzindo neles uma “erudição balofa” que pode ao contrário
modo, não podemos substituí-la por falsos mediadores, como por encerrá-los na vida cotidiana. Esse equívoco ocorre, por exemplo,
exemplo, a exibição de filmes quando a temática não corresponde quando o professor de História, ao abordar a Revolução francesa,
àquela tratada pelo professor, ou a execução aleatório de atividades preocupa-se com detalhes da vida privada de Maria Antonieta ou
de ensino. Os professores que se utilizam com frequência desses com a moda ditada por Luís XV. Ainda exemplificando, o mesmo
recursos nutrem a esperança de que essas práticas sejam capazes pode ocorrer com o professor de Literatura que expõe aos alunos
de estabelecer mediações que eles, os professores, talvez não se os períodos literários e seus principais expoentes sem apresentar as
sintam seguros para desenvolver. Alguns professores precisam ser relações entre os autores, bem como entre os períodos literários,
lembrados de que sala de aula não é sala de cinema nem oficina de ocultando assim a historicidade inerente à literatura.
terapia ocupacional. A erudição balofa pode também estar presente nas disciplinas
Os professores que se utilizam desses artifícios o fazem muitas ligadas às ciências naturais; ela tem levado os professores a acredi-
vezes no intuito de facilitar a aprendizagem; porém, sendo a rela- tar que quanto maior a quantidade de informações mais os alunos
ção entre o ensino e a aprendizagem uma luta de contrários, não sabem.
há como facilitá-la. Ao inverso, o professor deve dificultar a vida A segunda atividade desenvolvida pelo professor é a organiza-
cotidiana do aluno inserindo nela o conhecimento, e, dessa forma, ção, ou seja, diante da seleção feita a partir de um tema é preciso
negando-a. Pois, na vida cotidiana não há conhecimento e sim ex- organizar esta seleção para apresentá-la aos alunos. Desde o mo-
periência. Desse modo, não há como facilitar o que é difícil. Apren- mento em que fazemos a seleção já não podemos falar mais em te-
der é difícil. mas; devemos preocupar-nos com os conceitos que os constituem.
será sempre necessário que ela [criança] se fatigue a fim de Agora o que o professor deve fazer é organizar os conceitos e as
aprender e que se obrigue a privações e limitações de movimento relações entre eles. Esse processo, de acordo com Lefebvre (1983),
físico isto é que se submeta a um tirocínio psicofísico. Deve-se con- implica dois movimentos: a retrospecção e a prospecção.
vencer a muita gente que o estudo é também um trabalho e muito A retrospecção permite que o estudante compreenda o pro-
fatigante com um tirocínio particular próprio, não só muscular-ner- cesso de formação e desenvolvimento do conceito abordado e a
voso mas intelectual: é um processo de adaptação, é um hábito ad- prospecção possibilita o entendimento do estado atual do conceito
quirido com esforço, aborrecimento e mesmo sofrimento. (Gramsci, a partir das relações que o conceito estudado estabelece com ou-
1985, p. 89) tros, tanto com aqueles que o corroboram quanto com os que a
Como assinala Gramsci, a aprendizagem depende do esforço ele se opõem. A prospecção do conceito permite o estabelecimento
pessoal de cada estudante. É claro que o professor sempre pode- de relações interdisciplinares, a que temos chamado de interdisci-
rá intervir, de modo direto, neste processo, auxiliando o aluno. Ele plinaridade conceitual para distingui-la daquela que é corrente na
deve esforçar-se para que os estudantes aprendam, mas não pode escola, a interdisciplinaridade temática. Não podemos ensinar por
minimizar nem esconder as dificuldades inerentes à aprendizagem. meio do tema, devemos fazê-lo por meio do conceito. Evitamos o
uso da expressão conteúdo de ensino em virtude da sua impreci-
são. Quando a organização do ensino é baseada nos processos de
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retrospecção e prospecção de conceitos, o fundamental são as re- mento dos demais momentos da organização didática do processo,
lações que se estabelecem nos dois processos. No primeiro, elas apenas responde a uma questão metodológica para seu melhor
dizem respeito ao desenvolvimento do conceito, à oposição entre a tratamento.
sua origem e o estado atual, no segundo, elas tratam dos vínculos No universo da educação, especialmente no ambiente esco-
entre conceitos. Assim, podemos afirmar que ensinar é fazer rela- lar a palavra didática está presente de forma imperativa, afinal são
ções. Por isso, ensinar é tão difícil quanto aprender. componentes fundamentais do cotidiano escolar os materiais didá-
A terceira tarefa do professor é transmitir aos alunos aqui- ticos, livros didáticos, projetos didáticos e a própria didática como
lo que foi previamente selecionado e organizado. Dessa forma, a um instrumento qualificador do trabalho do professor em sala de
transmissão é a única etapa do processo de ensino que ocorre efeti- aula. Afinal, a partir do significado atribuído à didática no campo
vamente na sala de aula. Em que pese o preconceito sobre a palavra educacional, é comum ouvir que o professor x ou y é um bom pro-
transmissão, não abrimos mão dela, porque é isso o que o professor fessor porque tem didática.
faz na sala de aula. É na transmissão do conhecimento que ocorrem Para as teorias da educação, porém, a didática é mais do que
as mediações entre professores e alunos. um termo utilizado para representar a dicotomia entre o bom e o
Se o ensino é a relação que o professor estabelece com o co- mal professor ou para designar os materiais utilizados no ambiente
nhecimento, a aprendizagem ao contrário é a relação que o estu- escolar. Termo de origem grega (didaktiké), a didática foi instituída
dante estabelece com o conhecimento e, portanto, é nela que a no século XVI como ciência reguladora doensino.
mediação se efetiva: pela superação do imediato no mediato. Mais tarde Comenius atribuiu seu caráter pedagógico ao defini-
Não é possível discutir a aprendizagem como fizemos com o -la como a arte de ensinar.
ensino, porque ela é de cunho singular e, dessa forma, ocorre de
modo diverso em cada estudante. A discussão da aprendizagem Nos dias atuais, a definição de didática ganhou contornos mais
na perspectiva deste texto, ou seja, em oposição ao ensino, ainda amplos e deve ser compreendida enquanto um campo de estudo
deve ser elaborada e, certamente, não poderá sê-lo pela psicologia, que discute as questões que envolvem os processos de ensino.
mas sim pela filosofia. A única possibilidade, ainda que remota no Nessa perspectiva a didática pode ser definida como um ramo da
âmbito da psicologia, estaria no desenvolvimento do pensamento ciência pedagógica voltada para a formação do aluno em função de
de Vigotski, desde que compreendido numa perspectiva filosófica, finalidades educativas e que tem como objeto de estudo os proces-
pois a psicologia como ciência tem por objeto o comportamento, e sos de ensino e aprendizageme as relações que se estabelecem en-
aprender não é o mesmo que comportar-se, em que pese o esforço tre o ato de ensinar (professor) e o ato de aprender (aluno). Nesta
das pedagogias contemporâneas em desenvolver esta associação. perspectiva a didática passa a abordar o ensino ou a arte de ensinar
Do nosso ponto de vista, o que a psicologia, no seu estado atual, como um trabalho de mediação de ações pré-definidas destinadas
pode fazer é controlar a aprendizagem, o que é diferente de com- à aprendizagem, criando condições e estratégias que assegurem a
preendê-la. Quando a relação ensino-aprendizagem é tomada na construção do conhecimento.
perspectiva da mediação no seu sentido original, ao mesmo tempo Nesse contexto, a Didática enquanto campo de estudo visa pro-
em que não há uma relação direta entre ensino e aprendizagem, por princípios, formas e diretrizes que são comuns ao ensino de
não há também uma desvinculação desses dois processos. Ou seja, todas as áreas de conhecimento. Não se restringe a uma prática de
para haver aprendizagem, necessariamente deve haver ensino. ensino, mas se propõe a compreender a relação que se estabelece
Porém, eles não ocorrem de modo simultâneo. Dessa forma, o entre três elementos: professor, aluno e a matéria a ser ensinada.
professor pode desenvolver o ensino – selecionar, organizar e trans- Ao investigar as relações entre o ensino e a aprendizagem media-
mitir o conhecimento – e o aluno pode não aprender. das por um ato didático, procura compreender também as relações
Para que o aluno aprenda, ele precisa desenvolver sua síntese que o aluno estabelece com os objetos do conhecimento. Para isso
singular do conhecimento transmitido, e isso se dá pelo confron- privilegia a análise das condições de ensino e suas relações com os
to, por meio da negação mútua, desse conhecimento com a vida objetivos, conteúdos, métodos e procedimentos de ensino.
cotidiana do aluno. Como cada aluno tem um cotidiano, e o co- Entretanto, postular que o campo de estudo da Didática é res-
nhecimento é aprendido por meio da síntese já explicitada, o co- ponsável por produzir conhecimentos sobre modos de transmissão
nhecimento não pode ser aprendido igualmente por todos os alu- de conteúdos curriculares através de métodos e conhecimentos
nos, embora aquele transmitido pelo professor seja único. Assim, não deve reduzir a Didática a visão de estudo meramente tecnicis-
a relação ensino-aprendizagem na perspectiva aqui apresentada ta. Ao contrário, a produção de conhecimentos sobre as técnicas de
expressa o vínculo dialético entre unidade e diversidade. Por isso, ensino oriundos desse campo de estudo tem por objetivo tornar
o conhecimento transmitido pelo professor pode ser uno e aquele a pratica docente reflexiva, para que a ação do professor não seja
aprendido pelo aluno pode ser diverso. A unidade e a diversidade uma mera reprodução de estratégias presentes em livros didáticos
são opostos que se completam, ou e é próprio do humano. ou manuais de ensino. Não basta ao professor reproduzir pressu-
postos teóricos ou programas disciplinares pré-estabelecidos, as
A organização didática do processo de ensino-aprendizagem informações acumuladas na prática ao longo do processo ensino-
Passa por três momentos importantes: o planejamento, a -aprendizagem devem despertar a capacidade crítica capaz de pro-
execução e a avaliação. Como processo, esses momentos sempre porcionar questionamentos e reflexões sobre essas informações a
se apresentam inacabados, incompletos, imperfeitos, flexíveis e fim de garantir uma transformação na prática. Como um processo
abertos a novas reformulações e contribuições dos professores e em constante transformação, a formação do educador exige esta
dos próprios alunos, com a finalidade de aperfeiçoá-los de manei- interligação entre a teoria e a prática como forma de desenvolvi-
ra continua e permanente à luz das teorias mais contemporâneas. mento da capacidade crítica profissional.3
Como processo, esses momentos também se apresentam interliga-
dos uns ao outros, sendo difícil identificarem onde termina um para Ensino e conteúdo escolar: a importância da mediação
dar lugar ao outro e vice-versa. Há execução e avaliação enquanto Uma observação atenta às práticas pedagógicas, revela a exis-
se planeja; há planejamento e avaliação enquanto se executa; há tência, na escola, de um encaminhamento metodológico há muito
planejamento e execução enquanto se avalia. No texto pretende- consagrado. É priorizada uma forma de ensino em que a introdução
mos estudar o Planejamento, deixando claro que separar o planeja-
3 Fonte: www.infoescola.com
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
de novos conceitos segue sempre a mesma estrutura: um peque- e valendo-se da observação ou manipulação, os conceitos espon-
no texto, às vezes, com apenas uma frase, acompanhado de vários tâneos são, essencialmente, empíricos e vinculados a traços sen-
exemplos. Após a apresentação do conceito, surgem os exercícios soriais, dados diretamente pelo objeto, por isto nem sempre este
que, normalmente, exigem a reprodução das mesmas palavras e saber contextualiza os fatos, nem sempre se constitui numa via de
exemplos citados. Na sequência, um novo texto apresenta um novo compreensão das próprias experiências vividas. Espera-se, portan-
conceito e a dinâmica se repete. Pode-se constatar que, apesar de to, que a escola trabalhe com conhecimentos que ultrapassem as
o ensino centrar-se em conceitos, não há preocupação com a aqui- impressões/explicações imediatas.
sição ou formação destes, isto é, com a elaboração de novos signi- Possibilidade esta propiciada pela aprendizagem de conceitos
ficados. científicos, organizados em um sistema de inter-relações. Tal apren-
Os textos, exemplos e exercícios levam, tão somente, à identifi- dizagem exige operações mentais complexas que dirigem a cons-
cação de conceitos. Solicita-se a classificação de objetos em deter- ciência ao próprio conceito, ao ato do pensamento. O conhecimen-
minadas categorias e não a formação de categorias. Um exemplo to desvincula-se, desta forma, do objeto particular, evidenciando,
disto está, inclusive, explícito nos objetivos propostos por muitos em primeiro plano, as relações de generalidade.
planejamentos: identificar, reconhecer, nomear, classificar, citar... Conforme Davydov (1988), quanto mais alto o nível de genera-
Ao aluno resta a tarefa de “fixar” ou reconhecer atributos num âm- lização, mais abstrato e teórico será o pensamento, sendo a capa-
bito previamente definido. Esta forma escolar de ensino tem como cidade de pensar abstratamente, interpretada por ele, como índice
representante maior o livro didático. E, embora, após várias críti- de um elevado nível de desenvolvimento do pensamento.
cas dirigidas a esses manuais, algumas escolas tenham deixado de Sobre esta questão, Kostiuk (1977, p. 53) explica: “...o que a
adotá-los, não raro, mantêm o modelo de apresentação, fixação e criança adquire nas relações com os adultos e com os seus coetâ-
avaliação dos conteúdos, tradicionalmente incorporado como sen- neos a leva sucessivamente à organização da sua própria ativida-
do a forma de ensinar e aprender. Diante desse ensino é importante de, ao aparecimento de novas características psico-intelectuais”.
perguntar: tal sistema assegura o desenvolvimento no aluno, das O autor prossegue: promover o desenvolvimento no âmbito da
capacidades necessárias ao homem na sociedade atual? educação escolar significa organizar essa interação, dar à criança
Para que o saber escolar e, junto com ele, as capacidades pos- elementos — de conteúdo e método — para que ela, por meio do
sam ser apreendidos pelo aluno e reconstruídos internamente, em saber científico, conheça a realidade sócio-cultural da qual é parte;
pensamento, é preciso que, antes, estejam claros e devidamente forme concepções, conceitos; adquira habilidade para abstrair, ge-
articulados na relação entre professor, conhecimento, aluno. Em neralizar, relacionar e deduzir; enfim, que esse saber mediatizado
função de ser, ainda, bastante presente a concepção de que o de- gere a curiosidade, a iniciativa, a independência na assimilação de
senvolvimento precede a aprendizagem, o ensino, na maioria das novos conhecimentos.
escolas, não é organizado com a intenção de promover o desen-
volvimento cognitivo dos alunos. Note-se que as funções psicointe- Do potencial de desenvolvimento no processo ensino/apren-
lectuais, para se tornarem propriedades individuais, elaboram-se, dizagem
necessariamente, primeiro no plano externo, das interações. Não Há uma relação íntima e complexa entre aprendizagem, de-
se trata de uma construção isolada do sujeito, ao contrário, ela é senvolvimento e ensino. A este último compete criar condições
sócio-individual. Como escreve Kostiuk (1977, p. 68-9): “O desen- necessárias para que o desenvolvimento se realize: “O processo
volvimento psíquico não é uma simples réplica das influências edu- educativo, ao colocar a criança perante novos fins e novas tarefas,
cativas a que a criança está sujeita, não é uma simples acumulação ao colocar novas perguntas e procurar os meios necessários, con-
quantitativa estratificada daquilo que a criança adquire nos diferen- duz o desenvolvimento” (Kostiuk, 1977, p. 67). No entanto, essa
tes atos da atividade escolar ou de outro gênero. Há uma seleção, dependência não é unilateral. A educação, por sua vez, serve-se do
uma transformação interna, uma reorganização, uma amálgama, desenvolvimento da criança, do que ela já dispõe em termos de
uma interação, em conseqüência do que uma característica pode conhecimentos e capacidades. Assim, fica configurada uma relação
desaparecer quando aparece e se desenvolve outra”. de cumplicidade mútua entre ensino, aprendizagem e desenvolvi-
A educação interfere diretamente na atividade cognoscitiva e mento, destacando-se que, no início, o primeiro tem a incumbência
afetiva da criança, na passagem do senso comum para o pensamen- de provocar os demais.
to mais elaborado, científico. Na idade pré-escolar, a aprendizagem As noções adquiridas socialmente, sobretudo por meio da lin-
não é sistematicamente planejada, as regulações provenientes da- guagem, não resultam apenas numa acumulação quantitativa de
queles com quem a criança convive são menos intensas e criterio- sistemas de associações que refletem a ação no mundo exterior. Es-
sas. Já no período de escolarização, ela é submetida a um processo sas aquisições modificam qualitativamente as formas de atividade
intencional de elaboração do conhecimento, isto é, previamente cognitiva, favorecendo o desenvolvimento de múltiplas capacida-
planejado. Aqui, as funções cognitivas se complexificam, aumen- des. Além do que, produzem constantes reorganizações no sistema
tando, por decorrência, a responsabilidade do professor, que par- nervoso central, as quais refletem-se, principalmente, na qualidade
ticipa próxima e intensamente desse processo. Os alunos, de um do pensamento. Bogoyavlensky e Menchinskaya (1977) postulam
modo ou de outro, estão à mercê de seus desígnios. Os conteúdos que o conteúdo escolar exerce uma influência extremamente sig-
escolares, os mecanismos de raciocínio e de análise, empregados nificativa na formação dos processos cognoscitivos e nos modos de
pelo professor, se apreendidos pelos alunos, tornam-se instrumen- pensamento. Esclarecem, ainda, que nem toda aprendizagem de
tos do pensamento também destes últimos. conteúdo resulta em desenvolvimento de capacidades e operações
Segundo Vygotsky (1989), a criança não inicia sua aprendi- mentais.
zagem na escola, ao contrário, quando ingressa nesta instituição, A aprendizagem resulta em desenvolvimento quando a criança
traz consigo inúmeros e variados conteúdos aprendidos com seus aplica as operações mentais, apreendidas em uma dada situação,
familiares, em outras instituições, enfim em seu dia-a-dia. Estes em outras diferentes, e o faz com desenvoltura. O professor pode e
conhecimentos prévios, espontâneos, são transmitidos informal- deve atuar nesse processo formativo, mantendo com o aluno uma
mente nas interações firmadas diariamente com as pessoas de seu interação pautada na consciência da co-responsabilidade.
grupo imediato e/ou por intermédio dos meios de comunicação.
Por serem formados em situações cotidianas, de maneira imediata
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Ao se discutir as imbricações entre aprendizagem, desenvolvi- vem a percepção, a memória, o raciocínio e que e transformam,
mento e ensino, é preciso considerar, também, os dois níveis de aos poucos, em ações intra-individuais, constituindo-se no ponto
desenvolvimento descritos por Vygotsky (1988): o nível real, que de apoio para uma próxima aprendizagem.
equivale a conceitos, valores, regras e funções já estabelecidos e o Quando um conteúdo é ensinado, o objetivo não é que o aluno
nível potencial, que diz respeito a esses mesmos processos, porém, simplesmente repita palavras sem compreender o que está dizen-
em formação. Lembrando que, no primeiro nível, o sujeito é auto- do. A finalidade é levá-lo a reelaborar, a atribuir significados com
-suficiente em seu desempenho, enquanto no segundo ele requer diferentes palavras e com um vocabulário que lhe pertença, sem
apoio, orientação. Pois bem, um ensino que apenas se utiliza de deixar de expressar os significados essenciais, de modo coerente
capacidades e conceitos já formados não faz sentido. O ensino só se com a realidade e cientificamente aceitos. Com isso, não se está
justifica se for capaz de produzir a formação de novas capacidades, dizendo que basta o aluno ampliar seu vocabulário ou suas defini-
principalmente, de análise (abstração) e síntese (generalização) ções. A aprendizagem requer o estabelecimento de relações entre
junto à aprendizagem de novos conceitos, incidindo, assim, sobre a os termos, reconhecendo-os em diferentes contextos e situações.
forma e conteúdo do pensamento do aluno. Em outras palavras, se Implica expor e confrontar idéias e explicações sobre determinados
provocar e levar a efeito níveis mais plásticos de desenvolvimento fenômenos, percebendo as limitações e a necessidade de transfor-
psíquico em geral e intelectivo em particular. “O único bom ensino mar informações em conhecimentos que auxiliem na elaboração de
é o que se adianta ao desenvolvimento” (Vygotsky, 1998, p. 114). E, projetos e em simulações e comparações que ultrapassem as ativi-
isto pode ser tanto no sentido de completar processos em forma- dades escolares. A aprendizagem vai além da apropriação de um
ção, como no sentido de desencadear outros. conteúdo específico e significa, também, o desenvolvimento de ca-
O que deve desafiar e ocupar os professores não são as ativida- pacidades cognitivas que possibilitem a ação sobre o conhecimento
des nas quais os alunos desempenham-se sozinhos com declarada reelaborado.
competência, pois essas pouco ou nada acrescentam ao desen- Quando uma palavra nova é aprendida pela criança, o seu de-
volvimento. Cabe a eles, isto sim, preocuparem-se e ocuparem-se senvolvimento mal começou: a palavra é primeiramente uma gene-
com os conteúdos, as atividades, nos quais o desempenho do alu- ralização do tipo mais primitivo; à medida que o intelecto da criança
no depende de mediação, de ensino. Para Vygotsky (1988), se bem se desenvolve, é substituída por generalizações de um tipo cada vez
organizado e conduzido, o ensino ativa todo um grupo de funções mais elevado — processo este que acaba por levar à formação dos
mentais. Uma ativação que, evidentemente, não se efetiva sem a verdadeiros conceitos. O desenvolvimento dos conceitos, ou dos sig-
aprendizagem, quer dizer, sem a reapropriação interna do expe- nificados das palavras, pressupõe o desenvolvimento de muitas fun-
rienciado no plano interativo. Por isso, o ensino e a aprendizagem ções intelectuais: atenção deliberada, memória lógica, abstração,
constituem um momento intrinsecamente necessário ao desenvol- capacidade para comparar e diferenciar. (...) A experiência prática
vimento, na criança, das características psíquicas humanas. Não um mostra também que o ensino direto de conceitos é impossível e in-
ensino mecanicista, naturalizado e enciclopédico. Está-se falando frutífera. Um professor que tenta fazer isso geralmente não obtém
do ensino que promove a reflexão, a análise, a síntese. qualquer resultado, exceto o verbalismo vazio, uma repetição de pa-
Parafraseando Kostiuk (1977), uma das grandes responsabilida- lavras pela criança, semelhante à de um papagaio, que simula um
des do ensino escolar é a formação do pensamento abstrato, lógico. conhecimento dos conceitos correspondentes, mas que na realidade
O valor, a importância, desse raciocínio não está na sua formação oculta um vácuo (Vygotsky, 1991, p. 71-2).
em si, mas no que ele pode possibilitar em termos de reflexões que Na escola, normalmente, a aprendizagem e, consequentemen-
transcendam o imediato, o aparente; em termos de entendimento te, a eficiência do ensino, são atestadas pela capacidade do aluno
da realidade social, do que somos e do que podemos ser. Quando repetir os conceitos tal como lhe foram ensinados. Completar, citar
a preocupação vai além da forma pela forma e toma como objeto o exemplos, ligar, responder a perguntas objetivas, identificar, são ati-
conteúdo — que, a um só tempo, a constitui e é por ela veiculado vidades geralmente solicitadas. Em exercícios propostos logo após
— então, não é qualquer referencial metodológico que fundamenta um texto, espera-se a reprodução das mesmas palavras e frases
o conteúdo escolar no sentido de permitir essa espécie de desen- com as quais o conceito foi definido, sendo comuns questões em
volvimento. que uma única palavra as responde.
O autor chama atenção para a necessidade de os conteúdos se- Exemplos do que ora se afirma pode ser encontrado no livro
rem trabalhados com vistas a desvendar o modo como a sociedade didático “Ciências”, quando diz: “Durante a fotossíntese as folhas
se organiza, suas contradições, avanços e retrocessos, em resumo, produzem ................., um açúcar que é usado pela planta para pro-
o movimento de transformação social e, nele, a origem e mudança duzir seus ..................”. Se a exigência é uma frase completa, basta
dos conteúdos, dos conceitos científicos, dos valores, etc. que o aluno transcreva os dizeres do texto: “Com o que começa a
A educação exerce uma expressiva influência sobre a atividade fecundação das flores? ..................................................................”.
autônoma da criança, na aquisição de experiências sociais, particu- (Barros, 1998, p. 13-4). Em atividades desta natureza não há espaço
larmente contribuindo para que sejam construídas novas modalida- para o aluno falar, argumentar, posicionar-se, enfim. Em outras pa-
des de ações. Isto leva a solidificar a idéia de que a aprendizagem lavras, não são criadas condições para que o aluno pense e escreva
produz condições necessárias ao desenvolvimento psico-intelectual cientificamente, realizando análises e sínteses. Com isso, no ensino,
da criança. À medida que ela interage com o ambiente social, este desvincula-se a aprendizagem de conteúdos da possibilidade de de-
social cada vez mais se transforma em propriedade individual. O senvolvimento das capacidades de abstração e generalização que
conteúdo que a criança adquire nas interações, contraídas com o próprio conceito científico pemitiria realizar. A repetição de pa-
adultos ou outras crianças, faz com que ela o utilize para organizar lavras — visando a fixação — artificializa a linguagem, sem que ela
ou reorganizar suas ações, bem como contribui para que surjam e/ seja incorporada como elemento de comunicação e instrumento de
ou se completem novas características psicológicas. Exemplo disso compreensão do real.
são as ações mentais que se formam na criança por meio das ativi- Dependendo da qualidade do ensino, os conteúdos escolares
dades cognitivas interindividuais entre crianças e adulto, que se dão não se apresentam como um elenco de informações para ser re-
pelas comunicações verbais, isto é, pelas situações que envolvem tido na memória até a primeira avaliação, mas como elementos
diálogos com perguntas e respostas em que o aluno precisa unir que elevam a condição cognitiva da criança. Por exemplo, quando
palavras, reelaborando seu sentido, e pelas atividades que envol- a criança assimila um determinado conteúdo, espera-se que este
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
proporcione o desenvolvimento da capacidade de compreender, Diante da necessidade de um pensamento reflexivo, da análise
analisar, estabelecer relações entre diferentes situações, sintetizar. dos fenômenos em suas dimensões social, científica e política, as
É importante, pois, que o professor organize o ensino, articulando disciplinas precisam comunicar entre si, a partir de “...um objeto
o conteúdo escolar à realidade concreta, de modo a que se perceba comum diante do qual os objetos particulares de cada uma delas
como esteconteúdo se traduz na vida real de todos e, logicamente, constituem subobjetos” (Machado, 1996, p. 193). Se o conteúdo for
na vida de cada um. tratado cientificamente, de forma a que ajude a interpretar a reali-
Esta reflexão permite inferir que o significado das atividades dade, o pensamento e os argumentos serão formados neste senti-
desenvolvidas na escola é dado pelo conteúdo propagado nas in- do; se for um conteúdo descontextualizado, que limita a análise aos
terações, ou seja, nas regulações que o interlocutor — professor e/ aspectos externos do objeto, do fenômeno, o saber adquirido não
ou outras crianças — exerce no ensino. Permite, ainda, dizer que será um saber com significado para a vivência em sociedade, nem
ensinar não se limita à transmissão de definições, fórmulas, dados, para o desenvolvimento cognitivo do aluno.
regras, etc. Quando, na escola, é concebido nesta perspectiva, o en- Quando o aluno participa de interações em que o conteúdo é
sino se confunde com “quadro cheio” de conteúdos, na maioria das ampliado e expressa a realidade atual, em que vários textos e for-
vezes fragmentados em diferentes disciplinas, organizados em uni- mas de leitura são contemplados, certamente sua capacidade de
dades e subunidades, na medida exata para uma aula, que, juntas, argumentar diante de um texto/fenômeno, a partir de reflexões que
não formam um todo articulado. envolvem a negociação com outros significados presentes, transfor-
Hoje, o conhecimento se multiplica e se renova num espaço mar-se-á qualitativamente, ultrapassando os aspectos aparentes ou
de tempo tão curto, como jamais foi imaginado. As informações que dizem respeito apenas à organização interna de um conteúdo.
estão disponíveis sob as mais variadas fontes e formas. Portanto, Amplia-se o pensamento interpretativo e reflexivo, diante de afir-
está criada a necessidade de repensar o que se ensina, como se mações e situações vivenciadas posteriormente. Em conseqüência
ensina e para que se ensina, numa época em que fica cada vez mais dessa espécie de ensino, por certo, o aluno será capaz de modificar
evidente que os indivíduos precisam pensar — capacidade que se ou dar melhor organicidade a seus conceitos, dialogar ou refletir
acredita ser caracteristicamente humana. Porém, o conteúdo do sobre dados obtidos em atividades empíricas, tendo fundamentos
pensamento é uma construção social. Assume contornos delinea- teóricos que explicitem o imediato e, ainda, dialogar consigo mes-
dos nas experiências conjuntas. O ensino deve considerar os de- mo, numa atividade que busque conferir consistência/coerência
safios, as necessidades postas pelas mudanças sociais que se veri- a seus próprios argumentos. Neste processo, percebesse que os
ficam em função das transformações no trabalho, promovendo as conceitos vão sendo formados em decorrência das ligações entre
capacidades que a reconversão produtiva está solicitando. Todavia, diferentes pontos, antes em processo embrionário e sem sentido.
para além dessas necessidades imediatas, o ensino precisa tomar Um ensino que pretende desenvolver o pensamento analítico,
como parâmetro a reflexão, o questionamento, a compreensão da discute o saber científico no movimento de transformação da socie-
realidade social, das leis que a regulam. Assim, o grande desafio do dade. Faz a leitura dos valores, das múltiplas relações entre socie-
ensino é contribuir para o desenvolvimento da capacidade de lidar dade e cultura, entre sociedade, ciência e tecnologia; interpreta os
com as informações, saber interpretá-las, e, mais que isso, formar mecanismos dos quais a “indústria cultural”, como a definem Ador-
para a abstração reflexiva. no e Horkheimer (1985), se utiliza para, (de)formar o indivíduo, com
Concordando com Sampaio (1998, p. 8), o que se busca “... não características oriundas da sociedade do consumo, da competitivi-
é o domínio de uma lista de conteúdos, de programas fragmenta- dade e, ao mesmo tempo, levá-lo a pensar que sua consciência é
dos em anos e séries lineares e cumulativos, mas sim o domínio de livre e individual. Cabe, então, à escola organizar sua ação educativa
‘chaves de leitura’ desse mundo, traduzidos por eixos ou núcleos or- com vistas à formação político-social, que se caracteriza por uma
ganizadores (...), capaz de abrigar e dar sentido às novas afirmações consciência esclarecida, capaz de exercer a cidadania. “A domina-
que os alunos venham a obter de diferentes fontes”. ção progressiva da técnica pode ser entendida como um engodo,
Um ensino que persegue as finalidades acima mencionadas, se ela, ao invés do esclarecimento, criar um obstáculo à formação
evidentemente prioriza conteúdos/conhecimentos interdisciplina- dos indivíduos autônomos, independentes e capazes de julgar e de
res, explora vários aspectos que envolvem um tema e promove a decidir conscientemente” (Costa, 1994, p. 183).
compreensão destes conteúdos sem perder o sentido social que lhe A análise das múltiplas e profundas imbricações entre aprendi-
são peculiar. O ensino de partes isoladas, na esperança de que o zagem, desenvolvimento e ensino não se esgota aqui. Nesse deba-
aluno consiga, sozinho, estabelecer as relações necessárias, revela te, desencadeado e mantido principalmente pela reconfiguração no
uma concepção de aprendizagem como acúmulo de informações mundo do trabalho — que atinge todos os campos da sociedade e,
desconexas, desconsiderando que fora da escola o saber aparece por conseguinte, da vida dos homens — os educadores ainda têm
materializado em situações que entrelaçam diferentes áreas. muito a dizer. A questão das relações entre esses três processos,
Essa necessidade de romper com a fragmentação, percebida que na verdade compõem uma única unidade, dado que são indis-
também por Monteiro Lobato, aparece explicitamente na fala de solúveis, vem sendo abordada na academia e no interior de em-
alguns de seus personagens: presas, como demonstram os estudos feitos por Machado (1995).
— Outra coisa que não entendo — disse Narizinho, é esse negó- Sabe-se que a educação disputa a direção ético-política do conheci-
cio de várias Ciências. Se a ciência é o estudo das coisas do mundo mento, da formação do indivíduo, com o poder de mercado instituí-
ela deveria ser uma só, porque o mundo é um só. Mas vejo Física, do. Nesse sentido, não é demais repetir que aos educadores com-
Geografia, Química, Geometria, Biologia, um bando enorme. Eu pete apreender as necessidades de sobrevivência sócio-individuais
quero uma ciência só. e ensinar objetivando a adaptação imediata. O ensino regular não
— Essa divisão da Ciência em várias ciências — explicou D. pode negar-se às demandas da produção, sob pena de sucatear as
Benta, os sábios fizeram para comodidade nossa. Mas quando forças criadas até aqui. Contudo, a educação estará sendo medíocre
você toma um objeto qualquer, nele encontra matéria para todas e cerceadora se ignorar a necessidade de se ultrapassar os limites
as Ciências. Este livro aqui, por exemplo. Para estudá-lo sob todos postos pelo mercado. Não se pode tomar as exigências econômicas
os aspectos, temos de recorrer à Física, à Química, à Geometria, à como referência máxima, isto é, como ponto de partida e de che-
História, à Biologia, a todas as Ciências, inclusive o que nele está gada na formação do sujeito. O ensino há que ter como finalidade
escrito, são coisas do espírito (Monteiro Lobato, s/d, p. 407). maior a educação com vistas às necessidades sociais, que, qualita-
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
tivamente, transcendem em muito a informação e/ou a formação - O planejador é visto como o principal agente de mudança,
almejada pelo capital. A educação não pode mudar a sociedade, desconsiderando-se os fatores sociais, políticos, culturais que en-
até porque é parte dela, mas pode gerar um clima favorável à trans- gendram a ação, o que se traduz numa visão messiânica daquele
formação. Para tanto, é preciso ter clareza sobre as capacidades a que planeja. Essa visão do planejador geralmente conduz a certo
serem perseguidas na escola, sobre a identidade da aprendizagem voluntarismo utópico.
e do desenvolvimento que se busca promover e, a partir daí, a es- - Ao mesmo tempo em que, por um lado, há uma secundari-
pécie de ensino a ser empreendida.4 zação das dimensões social, política, cultural da realidade, por ou-
tro lado, prevalece a tendência de se explicar essa realidade e as
mudanças que nela acontecem como resultantes, basicamente, da
PLANEJAMENTO CURRICULAR CENTRADO NA dimensão econômica que a permeia.
CRIANÇA
O planejamento estratégico
Planejamento: concepções O planejamento estratégico, por sua vez, se desenvolveu den-
O planejamento não deve ser tomado apenas como mais um tro de uma concepção de administração estratégica que se articula
procedimento administrativo de natureza burocrática, decorrente aos modelos e padrões de organização da produção, construídos
de alguma exigência superior ou mesmo de alguma instância ex- no contexto das mudanças do mundo do trabalho e da acumulação
terna à instituição. Ao contrário, ele deve ser compreendido como flexível, a partir da segunda metade do século XX. Essa concepção
mecanismo de mobilização e articulação dos diferentes sujeitos, de administração e de planejamento procura definir a direção a ser
segmentos e setores que constituem essa instituição e participam seguida por determinada organização, especialmente no que se
da mesma. refere ao âmbito de atuação, às macropolíticas e às políticas fun-
A preocupação com o planejamento se desenvolveu, principal- cionais, à filosofia de atuação, aos macroobjetivos e aos objetivos
mente, no mundo do trabalho, no contexto das teorias administra- funcionais, sempre com vistas a um maior grau de interação dessa
tivas do campo empresarial. organização com o ambiente.
Essas teorias foram se constituindo nas chamadas escolas de Essa interação com o ambiente, no entanto, é compreendida
administração, que têm influenciado o campo da administração como a análise das oportunidades e ameaças do meio ambiente, de
escolar. Para muitos teóricos e profissionais, os princípios por elas forma a estabelecer objetivos, estratégias e ações que possibilitem
defendidos seriam aplicáveis em qualquer campo da vida social e um aumento da competitividade da empresa ou da organização.
ou do setor produtivo, inclusive na gestão da educação e da escola. Em síntese, o planejamento estratégico concebe e realiza o pla-
Essa influência deixa suas marcas também no que se refere ao nejamento dentro um modelo de decisão unificado e homogeneiza-
planejamento, à medida que o mesmo assumiu uma centralidade dor, que pressupõe os seguintes elementos básicos:
cada vez maior, a partir dos princípios e métodos definidos por - determinação do propósito organizacional em termos de va-
Taylor e os demais teóricos que o seguiram. Isso porque, a partir do lores, missão, objetivos, estratégias, metas e ações, com foco em
taylorismo, assim como das teorias administrativas que o tomaram priorizar a alocação de recursos
como referência, uma das principais tarefas atribuídas à gerência - análise sistemática dos pontos fortes e fracos da organização,
foram o planejamento e o controle do processo de trabalho. inclusive com a descrição das condições internas de resposta ao
Na verdade, o formalismo e a burocratização do processo de ambiente externo e à forma de modificá-las, com vistas ao fortale-
planejamento no campo educacional decorrem, em boa medida, cimento dessa organização
das marcas deixadas pelos modelos de organização do trabalho - delimitação dos campos de atuação da organização
voltados, essencialmente, para a busca de uma maior produtivida- - engajamento de todos os níveis da organização para a conse-
de, eficiência e eficácia da gestão e do funcionamento da escola. cução dos fins maiores.
Isso secundariza os processos participativos, de trabalho coletivo e
do compromisso social, requeridos pela perspectiva da gestão de- Em contraposição a esses modelos de planejamento, a pers-
mocrática da educação. É o caso, por exemplo, dos modelos e das pectiva da gestão democrática da educação e da escola pressupõe
concepções de planejamento orientadas pelo horizonte do plane- o planejamento participativo como concepção e modelo de plane-
jamento tradicional ou normativo e do planejamento estratégico. jamento. O planejamento participativo deve, pois, enquanto me-
Mas, em contraposição a esses modelos, se construiu a pers- todologia de trabalho, constituir a base para a construção e para a
pectiva do planejamento participativo. realização do Projeto Políticopedagógico da escola.
O planejamento participativo não possui um caráter meramen-
O planejamento tradicional ou normativo te técnico e instrumental, à medida que parte de uma leitura de
O planejamento tradicional ou normativo trabalha em uma mundo crítica, que apreende e denuncia o caráter excludente e de
perspectiva em que o planejamento é definido como mecanismo injustiça presente em nossa realidade. As características de tal rea-
por meio do qual se obteria o controle dos fatores e das variáveis lidade, por sua vez, decorrem, dentre outros fatores, da falta ou da
que interferem no alcance dos objetivos e resultados almejados. impossibilidade de participação e do fato de a atividade humana
Nesse sentido, ele assume um caráter determinista em que o objeto acontecer em todos os níveis e aspectos. Nessa perspectiva, a parti-
do plano, a realidade, é tomada de forma estática, passiva, pois, em cipação se coloca como requisito fundamental para uma nova edu-
tese, tende a se submeter às mudanças planejadas. cação, uma nova escola, uma nova ordem social, uma participação
Ao lado dessas características, outros elementos marcam o pla- que pressupõe e aponta para a construção coletiva da escola e da
nejamento normativo: própria sociedade.
- Há uma ênfase nos procedimentos, nos modelos já estrutura- O planejamento participativo na educação e na escola traz con-
dos, na estrutura organizacional da instituição, no preenchimento sigo, ainda, duas dimensões fundamentais: o trabalho coletivo e o
de fichas e formulários, o que reduz o processo de planejamento a compromisso com a transformação social.
um mero formalismo. O trabalho coletivo implica uma compreensão mais ampla da
escola. É preciso que os diferentes segmentos e atores que cons-
troem e reconstroem a escola apreendam suas várias dimensões
4 Fonte: www.core.ac.uk
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
e significados. Isso porque o caráter educativo da escola não resi- Dentro do planejamento de ensino, deve-se desenvolver um
de apenas no espaço da sala de aula, nos processos de ensino e processo de decisão sobre a atuação concreta por parte dos pro-
aprendizagem, mas se realiza, também, nas práticas e relações que fessores, na sua ação pedagógica, envolvendo ações e situações
aí se desenvolvem. A escola educa não apenas nos conteúdos que do cotidiano que acontecem através de interações entre alunos e
transmite, à medida que o processo de formação humana que ali se professores.
desenvolve acontece também nos momentos e espaços de diálogo, O professor que deseja realizar uma boa atuação docente sabe
de lazer, nas reuniões pedagógicas, na postura de seus atores, nas que deve participar, elaborar e organizar planos em diferentes ní-
práticas e modelos de gestão vivenciados. veis de complexidade para atender, em classe, seus alunos. Pelo en-
De outra parte, o compromisso com a transformação social volvimento no processo ensino-aprendizagem, ele deve estimular a
coloca como horizonte a construção de uma sociedade mais justa, participação do aluno, a fim de que este possa, realmente, efetuar
solidária e igualitária, e uma das tarefas da educação e da escola é uma aprendizagem tão significativa quanto o permitam suas possi-
contribuir para essa transformação. bilidades e necessidades.
Por certo, como já analisamos em outros momentos neste cur- O planejamento, neste caso, envolve a previsão de resultados
so, a escola pode desempenhar o papel de instrumento de repro- desejáveis, assim como também os meios necessários para os al-
dução do modelo de sociedade dominante, à medida que reproduz cançar. A responsabilidade do mestre é imensa. Grande parte da
no seu interior o individualismo, a fragmentação social e uma com- eficácia de seu ensino depende da organicidade, coerência e flexibi-
preensão ingênua e pragmática da realidade, do conhecimento e lidade de seu planejamento.
do próprio homem. O planejamento de ensino é que vai nortear o trabalho do pro-
Em contrapartida, a educação e a escola articuladas com a fessor e é sobre ele que far-se-á uma reflexão maior neste texto.
transformação social implicam uma nova compreensão do conhe-
cimento, tomado agora como saber social, construção histórica, Fases do planejamento de ensino e sua importância no pro-
instrumento para compreensão e intervenção crítica na realidade. cesso de ensino-aprendizagem
Concebem o homem na sua totalidade e, portanto, visam a sua for- O planejamento faz parte de um processo constante através
mação integral: biológica, material, social, afetiva, lúdica, estética, do qual a preparação, a realização e o acompanhamento estão inti-
cultural, política, entre outras. mamente ligados. Quando se revisa uma ação realizada, prepara-se
uma nova ação num processo contínuo e sem cortes. No caso do
A partir dos aspectos aqui destacados, é possível definir os se- planejamento de ensino, uma previsão bem-feita do que será reali-
guintes elementos básicos que definem e caracterizam o planeja- zado em classe, melhora muito o aprendizado dos alunos e aperfei-
mento participativo: çoa a prática pedagógica do professor. Por isso é que o planejamen-
- Distanciam-se daqueles modelos de organização do traba- to deve estar “recheado” de intenções e objetivos, para que não se
lho que separa, no tempo e no espaço, quem toma as decisões de torne um ato meramente burocrático, como acontece em muitas
quem as executa, escolas. A maneira de se planejar não deve ser mecânica, repetitiva,
- Conduzem à práxis (ver conceito na Sala Ambiente Projeto pelo contrário, na realização do planejamento devem ser considera-
Vivencial) enquanto ação de forma refletida, pensada, dos, combinados entre si, os seguintes aspectos:
- Pressupõem a unidade entre pensamento e ação, 1) Considerar os alunos não como uma turma homogênea, mas
- O poder é exercido de forma coletiva, a forma singular de apreender de cada um, seu processo, suas hipó-
- Implicam a atuação permanente e organizada de todos os teses, suas perguntas a partir do que já aprenderam e a partir das
segmentos envolvidos com o trabalho educativo, suas histórias;
- Constituem-se num avanço, na perspectiva da superação da 2) Considerar o que é importante e significativo para aquela
organização burocrática do trabalho pedagógico escolar, assentado turma. Ter claro onde se quer chegar, que recorte deve ser feito na
na separação entre teoria e prática. História para escolher temáticas e que atividades deverão ser im-
plementadas, considerando os interesses do grupo como um todo.
O trabalho coletivo e o compromisso com a transformação so-
cial colocam, pois, o planejamento participativo como perspectiva Para considerar os conhecimentos dos alunos é necessário pro-
fundamental quando se pretende pensar e realizar a gestão demo- por situações em que possam mostrar os seus conhecimentos, suas
crática da escola. Ao mesmo tempo, essa concepção e esse modelo hipóteses durante as atividades implementadas, para que assim
de planejamento se constituem como a base para a construção do forneçam pistas para a continuidade do trabalho e para o planeja-
Projeto Políticopedagógico da escola. mento das ações futuras.
O planejamento participativo implica, ainda, o aprofundamen- É preciso pensar constantemente para quem serve o planeja-
to crescente, a discussão e a reflexão sobre o tema da participação. mento, o que se está planejando e para quê vão servir as suas ações.
Sobre essa temática, na Sala Ambiente Projeto Vivencial, importan- Algumas indagações auxiliam quando se está construindo um
tes elementos são destacados também. planejamento. Seguem alguns exemplos:
- O que pretende-se fazer, por quê e para quem?
Referência: - Que objetivos pretendem-se alcançar?
SILVA, M. S. P. Planejamento e Práticas da Gestão Escolar. Planejamen- - Que meios/estratégias são utilizados para alcançar tais obje-
to: concepções. Escola de gestores. MEC. tivos?
- Quanto tempo será necessário para alcançar os objetivos?
PLANEJAMENTO DE ENSINO - Como avaliar se os resultados estão sendo alcançados?
Em se tratando da prática docente, faz- se necessário ainda
mais desenvolver um planejamento. Neste caso, o ensino, tem É a partir destas perguntas e respectivas respostas que são de-
como principal função garantir a coerência entre as atividades que terminadas algumas fases dentro do planejamento:
o professor faz com seus alunos e, além disso, as aprendizagens que - Diagnóstico da realidade;
pretende proporcionar a eles. Então, pode-se dizer que a forma de - Definição do tema e Fase de preparação;
planejar deve focar a relação entre o ensinar e o aprender. - Avaliação.
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Dentro desta perspectiva, Planejar é: elaborar – decidir que Nesta fase, ainda, serão determinados, primeiramente os ob-
tipo de sociedade e de homem se quer e que tipo de ação educacio- jetivos gerais e, em seguida, os objetivos específicos. Também são
nal é necessária para isso; verificar a que distância se está deste tipo selecionados e organizados os conteúdos, os procedimentos de en-
de ação e até que ponto se está contribuindo para o resultado final sino, as estratégias a serem utilizadas, bem como os recursos, sejam
que se pretende; propor uma série orgânica de ações para diminuir eles materiais e/ou humanos.
essa distância e para contribuir mais para o resultado final estabe-
lecido; executar – agir em conformidade com o que foi proposto; e Avaliação
avaliar – revisar sempre cada um desses momentos e cada uma das É por meio da avaliação que, segundo Lück, poder-se-á:
ações, bem como cada um dos documentos deles derivados”(GAN- a) demonstrar que a ação produz alguma diferença quanto ao
DIN, 2005, p.23). desenvolvimento dos alunos;
b) promover o aprimoramento da ação como consequência
Fases do Planejamento de sugestões resultantes da avaliação. Além disso, toda avaliação
deve estar intimamente ligada ao processo de preparação do plane-
Diagnóstico da Realidade: jamento, principalmente com seus objetivos. Não se espera que a
Para que o professor possa planejar suas aulas, a fim de aten- avaliação seja simplesmente um resultado final, mas acima de tudo,
der as necessidades dos seus alunos, a primeira atitude a fazer, é seja analisada durante todo o processo; é por isso que se deve pla-
“sondar o ambiente”. O médico antes de dizer com certeza o que nejar todas as ações antes de iniciá-las, definindo cada objetivo em
seu paciente tem, examina-o, fazendo um “diagnóstico” do seu pro- termos dos resultados que se esperam alcançar, e que de fato possa
blema. E, da mesma forma, deve acontecer com a prática de ensi- ser atingível pelo aluno. As atividades devem ser coerentes com os
no: o professor deve fazer uma sondagem sobre a realidade que se objetivos propostos, para facilitar o processo avaliativo e devem ser
encontram os seus alunos, qual é o nível de aprendizagem em que elaborados instrumentos e estratégias apropriadas para a verifica-
estão e quais as dificuldades existentes. Antes de começar o seu ção dos resultados.
trabalho, o professor deve considerar, segundo Turra et alii, alguns
aspectos, tais como: A avaliação é algo mais complexo ainda, pois está ligada à práti-
- as reais possibilidades do seu grupo de alunos, a fim de me- ca do professor, o que faz com que aumente a responsabilidade em
lhor orientar suas realizações e sua integração à comunidade; bem planejar. Dalmás fala sobre avaliação dizendo que:
- a realidade de cada aluno em particular, objetivando oferecer Assumindo conscientemente a avaliação, vive-se um processo
condições para o desenvolvimento harmônico de cada um, satisfa- de ação-reflexão-ação. Em outras palavras, parte-se do planeja-
zendo exigências e necessidades biopsicossociais; mento para agir na realidade sobre a qual se planejou, analisam-se
- os pontos de referência comuns, envolvendo o ambiente es- os resultados, corrige-se o planejado e retorna-se à ação para pos-
colar e o ambiente comunitário; teriormente ser esta novamente avaliada.
- suas próprias condições, não só como pessoa, mas como pro- Como se pode perceber, a avaliação só vem auxiliar o planeja-
fissional responsável pela orientação adequada do trabalho escolar. mento de ensino, pois é através dela que se percebem os progres-
sos dos alunos, descobrem-se os aspectos positivos e negativos que
A partir da análise da realidade, o professor tem condições de surgem durante o processo e busca-se, através dela, uma constante
elaborar seu plano de ensino, fundamentado em fatos reais e signi- melhoria na elaboração do planejamento, melhorando consequen-
ficativos dentro do contexto escolar. temente a prática do professor e a aprendizagem do aluno. Portan-
to, ela passa a ser um “norte” na prática docente, pois, “faz com que
Definição do tema e preparação: o grupo ou pessoa localize, confronte os resultados e determine a
Feito um diagnóstico da realidade, o professor pode iniciar o continuidade do processo, com ou sem modificações no conteúdo
seu trabalho a partir de um tema, que tanto pode ser escolhido ou na programação”.
pelo professor, através do julgamento da necessidade de aplicação
do mesmo, ou decidido juntamente com os alunos, a partir do in- Importância do planejamento no processo de ensino-apren-
teresse deles. Planejar dentro de uma temática, denota uma preo- dizagem
cupação em não fragmentar os conhecimentos, tornando-os mais Nos últimos anos, a questão de como se ensina tem se desloca-
significativos. do para a questão de como se aprende. Frequentemente ouvia-se
Na fase de preparação do planejamento são previstos todos os por parte dos professores, a seguinte expressão: “ensinei bem de
passos que farão parte da execução do trabalho, a fim de alcançar a acordo com o planejado, o aluno é que não aprendeu”. Esta expres-
concretização e o desenvolvimento dos objetivos propostos, a par- são era muito comum na época da corrente tecnicista, em que se
tir da análise do contexto da realidade. Em outras palavras, pode-se privilegiava o ensino. Mas quando, ao passar do tempo, foi-se refle-
dizer que esta é a fase da decisão e da concretização das ideias. tindo sobre a questão da construção do conhecimento, o questiona-
A tomada de decisão é que respalda a construção do futuro mento foi maior, no sentido da preocupação com a aprendizagem.
segundo uma visão daquilo que se espera obter [...] A tomada de No entanto, não se quer dizer aqui que só se deve pensar na
decisão corresponde, antes de tudo, ao estabelecimento de um questão do aprendizado. Se realmente há a preocupação com a
compromisso de ação sem a qual o que se espera não se conver- aprendizagem, deve-se questionar se a forma como se planeja tem
terá em realidade. Cabe ressaltar que esse compromisso será tanto em mente também o ensino, ou seja, deve haver uma correlação
mais sólido, quanto mais seja fundamentado em uma visão crítica entre ensino-aprendizagem.
da realidade na qual nos incluímos. A tomada de decisão implica, A aprendizagem na atualidade é entendida dentro de uma vi-
portanto, nossa objetiva e determinada ação para tornar concretas são construtivista como um resultado do esforço de encontrar sig-
as situações vislumbradas no plano das ideias. nificado ao que se está aprendendo. E esse esforço é obtido através
da construção do conhecimento que acontece com a assimilação,
a acomodação dos conteúdos e que são relacionados com antigos
conhecimentos que constantemente vão sendo reformulados e/ou
“reesquematizados” na mente humana.
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Numa perspectiva construtivista, há que se levar em conta a permanente interação entre os educadores e entre os próprios
os conhecimentos prévios dos alunos, a aprendizagem a partir da educandos” (Fusari, 1989, p.10). Assim, ele requer o conhecimento
necessidade, do conflito, da inquietação e do desequilíbrio tão fa- da realidade escolar, tanto quanto espaço inserido na sociedade lo-
lado na teoria de Piaget. E é aí que o professor, como mediador cal, quanto a realidade dos estudantes de uma determinada classe.
do processo de ensino-aprendizagem, precisa definir objetivos e os Como etapa do planejamento de ensino se tem, ainda, a própria
rumos da ação pedagógica, responsabilizando-se pela qualidade do elaboração do plano, a execução, a avaliação e o aperfeiçoamento
ensino. do mesmo.
Por sua vez, o plano de ensino é um documento mais elabora-
Essa forma de planejar considera a processualidade da apren- do, contendo a(s) proposta(s) de trabalho, os objetivos e as tarefas
dizagem cujo avanço no processo se dá a partir de desafios e pro- do trabalho docente para um ano ou semestre letivo em torno da
blematizações. Para tanto, é necessário, além de considerar os disciplina e dos conteúdos previstos em currículo. Como documen-
conhecimentos prévios, compreender o seu pensamento sobre as to, o plano de ensino é dividido por unidades seqüências, no qual se
questões propostas em sala de aula. situam: a justificativa e os pressupostos da disciplina, os objetivos
O ato de aprender acontece quando o indivíduo atualiza seus gerais e específicos, os conteúdos, o desenvolvimento metodológi-
esquemas de conhecimento, quando os compara com o que é novo, co e a bibliografia.
quando estabelece relações entre o que está aprendendo com o O currículo não se traduz apenas em um documento oficial que
que já sabe. E, isso exige que o professor proponha atividades que delimita diretrizes àquilo que deve ser ensinando nas escolas. Ele é
instiguem a curiosidade, o questionamento e a reflexão frente aos um processo que se dá na confluência entre as práticas docentes e
conteúdos. Além disso, ao propiciar essas condições, ele exerce um as demandas sociais. Por isso, para além de se considerar as neces-
papel ativo de mediador no processo de aprendizagem do aluno, sidades de formação na elaboração de um currículo, este deve ser
intervindo pedagogicamente na construção que o mesmo realiza. analisado em todo o processo, pois faz surgir o currículo moldado
Para que de fato, isso aconteça, o professor deve usar o plane- pelos professores, o currículo em ação, o currículo realizado e o cur-
jamento como ferramenta básica e eficaz, a fim de fazer suas inter- rículo avaliado.
venções na aprendizagem do aluno. É através do planejamento que Planejar as atividades de ensino é o meio pelo qual se procura
são definidos e articulados os conteúdos, objetivos e metodologias otimizar o tempo e garantir os objetivos que se pretende atingir. Por
são propostas e maneiras eficazes de avaliar são definidas. O plane- isso, o planejamento, o plano de ensino e o plano de aula se consti-
jamento de ensino, portanto, é de suma importância para uma prá- tuem como ferramentas para auxiliar o trabalho docente na busca
tica eficaz e consequentemente para a concretização dessa prática, dos objetivos de ensino e de aprendizagem.5
que acontece com a aprendizagem do aluno.
Se de fato o objetivo do professor é que o aluno aprenda, atra- Plano de Ensino e Plano de Aula
vés de uma boa intervenção de ensino, planejar aulas é um compro- Anastasiou e Alves (2009) explicam que durante muito tempo
misso com a qualidade de suas ações e a garantia do cumprimento as ações dos professores eram organizadas a partir dos planos de
de seus objetivos. ensino que “tinham como centro do pensar docente o ato de en-
sinar; portanto, a ação docente era o foco do plano” (2009, p. 64).
Referência: Atualmente as propostas ressaltam a importância da construção de
KLOSOUSKI, S. S.; REALI, K. M. Planejamento de Ensino como Ferra- um processo de parceria em sala de aula com o aluno deslocando
menta Básica do Processo Ensino-Aprendizagem. UNICENTRO - Revista o foco da ação docente e do ensino para a aprendizagem, ou seja,
Eletrônica Lato Sensu, 2008 o protagonista para a ser o aluno conforme defendem as teorias
construtivistas e sociointeracionistas.
Planejamento de Aula Dentro desse contexto, o planejamento assume tamanha im-
Planejar as atividades é o meio pelo qual se procura otimizar portância a ponto de se constituir como objeto de teorização e se
o tempo e garantir os objetivos que se pretende atingir. Na área da desenvolve a partir da ação do professor que envolve: “decidir a
educação o planejamento adquire fundamental importância uma cerca dos objetivos a ser alcançados pelos alunos, conteúdo pro-
vez que se tem como intenção maior o processo de aprendizagem gramático adequado para o alcance dos objetivos, estratégias e
dos educandos. Nesse sentido é preciso seguir às seguintes pergun- recursos que vai adotar para facilitar a aprendizagem, critérios de
tas: avaliação, etc.” (GIL, 2012, p. 34).
. quais os objetivos de aprendizagem que se pretende alcançar? O plano de ensino ou programa da disciplina deve conter os
. em quanto tempo é preciso para executar as atividades de dados de identificação da disciplina, ementa, objetivos, conteúdo
ensino? programático, metodologia, avaliação e bibliografia básica e com-
. de que modo, ou como, executar as atividades de ensino? plementar da disciplina.
. quais recursos didáticos serão necessários? Entretanto, Gandim (1994), Barros (2007?), Gil (2012), Anasta-
. o que e como analisar o processo de ensino e de aprendiza- siou e Alaves (2009) afirmam que não há um modelo fixo a ser se-
gem a fim de avaliar se os objetivos estão sendo alcançados? guido. Devem apresentar uma sequência coerente e os elementos
necessários para o processo de ensino e de aprendizagem.
As perguntas acima circulam o trabalho docente em todas as Será o plano de ensino que norteará o trabalho docente e faci-
etapas do planejamento do processo de ensino. O planejamento se litará o desenvolvimento da disciplina pelos alunos. Além disso, ao
dá por várias formas. Entre elas destacamos o plano de ensino e o elaborar o plano de ensino, o professor deve se questionar: O que
plano de aula. eu quero que meu aluno aprenda? Para isso, o plano de ensino deve
Os termos planejamento de ensino e plano de ensino são to- ser norteado pelo perfil do aluno que o curso vai formar e também
mados, normalmente, na linguagem corrente da escola, como sinô- de acordo com as concepções do projeto pedagógico de um curso.
nimos. No entanto, eles não querem dizer a mesma coisa. O plane-
jamento de ensino é o processo que envolve “a atuação concreta
dos educadores no cotidiano do seu trabalho pedagógico, envol-
vendo todas as suas ações e situações, o tempo todo, envolvendo
5 Fonte: www.mtm.ufsc.br
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
É importante destacar que o plano é um tipo de planejamen- O plano de ensino poderá ser alterado ao longo do período
to que busca a previsão mais global para as atividades de uma de- conforme transcorrer o processo de ensino e aprendizagem. O mes-
terminada disciplina durante o período do curso (período letivo ou mo difere do plano de aula que será um roteiro para o professor
semestral) e que pode sofrer mudanças ao longo do período letivo ministrar cada uma das aulas elencadas no plano de ensino.
por diversos fatores internos e externos. O plano de aula é um instrumento que sistematiza todos os co-
Para sua elaboração, os professores precisam considerar o co- nhecimentos, atividades e procedimentos que se pretende realizar
nhecimento do mundo, o perfil dos alunos e o projeto pedagógico numa determinada aula, tendo em vista o que se espera alcançar
da instituição, para então tratar de seus elementos que constituem como objetivos junto aos alunos segundo Libâneo (1993).
o plano de ensino. O plano de aula trata de um detalhamento do plano de curso/
Dessa forma, o plano de ensino inicia com um cabeçalho para ensino, devido à sistematização que faz das unidades deste plano,
identificar a instituição, curso, disciplina, código da disciplina, carga criando uma situação didática concreta de aula. Gil (2012, p. 39)
horária, dia e horário da aula, nome e contato do professor. Logo explica que “o que difere o plano de ensino do plano de aula é a
em seguida, devem vir os seguintes itens: especificidade com conteúdos pormenorizados e objetivos mais
- Ementa da disciplina – A ementa deve ser composta por um operacionais”.
parágrafo que declare quais os tópicos que farão parte do conteúdo Para elaborar o plano de aula, é necessário que seja construí-
da disciplina limitando sua abrangência dentro da carga horária mi- do o plano de ensino levando em consideração as suas fases: “pre-
nistrada. Deve ser escrita de forma sucinta e objetiva e deve estar paração e apresentação de objetivos, conteúdos e tarefas; desen-
de acordo com o projeto político pedagógico do curso. O professor volvimento da matéria nova; consolidação (fixação de exercícios,
não pode alterar a ementa e uma disciplina sem antes ser aprovada recapitulação, sistematização); aplicação e avaliação” (LIBÂNEO,
pelo Núcleo Docente Estruturante (NDE) de cada curso. 1993, p.241). Além disso, o controle do tempo ajuda o professor a
- Objetivos da disciplina – De acordo com Gil (2012, p. 37) “re- se orientar sobre quais etapas ele poderá se detiver mais.
presentam o elemento central do plano e de onde derivam os de- Com base no plano de ensino, o professor ao preparar suas au-
mais elementos”. Deve ser redigido em forma de tópicos devem ser las, vai organizar um cronograma separando o conteúdo programá-
escolhidos entre dois e cinco objetivos para se atingir a ementa. tico em módulos para cada aula contemplando atividades e leituras
Podem ser divididos em objetivo geral e específico. Iniciam com para serem feitas e discutidas em aula ou em casa. Para cada aula,
verbos escritos na voz ativa e são parágrafos curtos apenas indi- é necessário ter um plano de aula para facilitar a sistematização das
cando a ação (não colocar a metodologia). Os objetivos englobam atividades e atingir os objetivos propostos.
o que os alunos deverão conhecer, compreender, analisar e avaliar O plano de aula segundo Libâneo (1993) é um instrumento que
ao longo da disciplina. Por isso devem ser construídos em forma de sistematiza todos os conhecimentos, atividades e procedimentos
frases que iniciam com verbos indicando a ação. Podem ser divi- que se pretende realizar numa determinada aula, tendo em vista o
didos em objetivo geral e específicos. Exemplos de verbos usados que se espera alcançar como objetivos junto aos alunos.
nos objetivos: Conhecer, apontar, criar, identificar, descrever, clas- Ele é um detalhamento do plano de curso, devido à sistemati-
sificar, definir, reconhecer, compreender, concluir, demonstrar, de- zação que faz das unidades deste plano, criando uma situação di-
terminar, diferenciar, discutir, deduzir, localizar, aplicar, desenvolver, dática concreta de aula. Para seu melhor aproveitamento, “os pro-
empregar, estruturar, operar, organizar, praticar, selecionar, traçar, fessores devem levar em consideração as suas fases: preparação e
analisar, comparar, criticar, debater, diferenciar, discriminar, inves- apresentação de objetivos, conteúdos e tarefas; desenvolvimento
tigar, provar, sintetizar, compor, construir, documentar, especificar, da matéria nova; consolidação (fixação de exercícios, recapitulação,
esquematizar, formular, propor, reunir, voltar, avaliar, argumentar, sistematização); aplicação; avaliação” (LIBÂNEO, 1993, p.241). Além
contratar, decidir, escolher, estimar, julgar, medir, selecionar. disso, o controle do tempo ajuda o professor a se orientar sobre
- Conteúdo programático – o conteúdo programático deve ser quais etapas ele poderá se deter mais.
a descrição dos conteúdos elencados na ementa. É importante es- Um plano de aula deve conter as seguintes etapas:
clarecer que o conteúdo programático difere do eixo temático pois 1 – O tema abordado: o assunto, o conteúdo a ser trabalhado;
o conteúdo programático cobre a totalidade da disciplina e o eixo 2 – Os objetivos gerais a serem alcançados: o que os alunos
temático se aplica a uma parte ou capítulo do conteúdo. Deve estar irão conseguir atingir com esse trabalho; com o estudo desse tema.
estruturado em seções (ou módulos) detalhando os assuntos gerais Os objetivos específicos: relacionados a cada uma das etapas de
e específicos que serão abordados ao longo da disciplina contem- desenvolvimento do trabalho;
plados dentro da ementa. 3 – As etapas previstas: mais precisamente uma previsão de
- Avaliação – É importante que o professor deixe claro no plano tempo, onde o professor organiza tudo que for trabalhado em pe-
de ensino como ocorrerá a avaliação (preferencialmente formativa, quenas etapas;
sistemática e periódica), indicando claramente os critérios usados, 4 – A metodologia que o professor usará: a forma como irá tra-
pesos, formas de avaliação, entre outras informações pertinentes balhar, os recursos didáticos que auxiliarão a promover o aprendiza-
para que o professor tenha esse instrumento para tomada de deci- do e a circulação do conhecimento no plano da sala de aula;
são e o aluno saiba como será avaliado. A avaliação compreende to- 5 – A avaliação: a forma como o professor irá avaliar, se em
dos os instrumentos e mecanismos que o professor verificará se os prova escrita, participação do aluno, trabalhos, pesquisas, tarefas
objetivos estão sendo atingidos ao longo da disciplina. Dessa forma, de casa, etc.
deve ser uma avaliação processual e registrada constantemente 6 – A bibliografia: todo o material que o professor utilizou para
acerca da aprendizagem do aluno com base nas metodologias pro- fazer o seu planejamento. É importante tê-los em mãos, pois caso
postas que podem verificadas por meio da aplicação de exercícios, os alunos precisem ou apresentem interesse, terá como passar as
provas, atividades individuais e/ou grupais, pesquisas de campo e informações. Cada um desses aspectos irá depender das intenções
observação periódicas registrada em diários de classe. do professor, sendo que este poderá fazer combinados prévios com
os alunos, sobre cada um deles.6
6 Fonte: www2.unirio.br
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Seguindo a mesma trajetória dos países desenvolvidos, o final
PROCESSOS DE APRENDIZAGEM DA LEITURA A DA do século XX impôs a praticamente todos os povos a exigência da
ESCRITA língua escrita não mais como meta de conhecimento desejável, mas
como verdadeira condição para a sobrevivência e a conquista da
A alfabetização é um termo muito conhecido para quem não cidadania. Foi no contexto das grandes transformações culturais,
é da área da educação: todos sabem instintivamente que, quando sociais, políticas, econômicas e tecnológicas que o termo “letra-
falamos sobre alguém ser alfabetizado, quer dizer que essa pessoa mento” surgiu, ampliando o sentido do que tradicionalmente se
aprendeu a ler e a escrever. conhecia por alfabetização (Soares, 2003).
No entanto, o termo alfabetização científica não é tão familiar, Hoje, tão importante quanto conhecer o funcionamento do
inclusive entre as pessoas que trabalham com educação. Em meio sistema de escrita é poder se engajar em práticas sociais letradas,
a tantas definições confusas e até a um uso excessivo do termo em respondendo aos inevitáveis apelos de uma cultura grafocêntrica.
contextos não tão apropriados, a alfabetização científica perman- Assim,
ece sendo um tema muito falado, mas pouco aplicado. Enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por
Se, no início da década de 80, os estudos acerca da psicogê- um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza os
nese da língua escrita trouxeram aos educadores o entendimento aspectos sócio-históricos da aquisição de uma sociedade (Tfouni,
de que a alfabetização, longe de ser a apropriação de um código, 1995, p. 20).
envolve um complexo processo de elaboração de hipóteses sobre Com a mesma preocupação em diferenciar as práticas escola-
a representação linguística; os anos que se seguiram, com a emer- res de ensino da língua escrita e a dimensão social das várias ma-
gência dos estudos sobre o letramento, foram igualmente férteis na nifestações escritas em cada comunidade, Kleiman, apoiada nos
compreensão da dimensão sócio-cultural da língua escrita e de seu estudos de Scribner e Cole, define o letramento como
aprendizado. Em estreita sintonia, ambos os movimentos, nas suas ... um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto
vertentes teórico-conceituais, romperam definitivamente com a se- sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos.
gregação dicotômica entre o sujeito que aprende e o professor que As práticas específicas da escola, que forneciam o parâmetro de
ensina. Romperam também com o reducionismo que delimitava a prática social segundo a qual o letramento era definido, e segundo
sala de aula como o único espaço de aprendizagem. a qual os sujeitos eram classificados ao longo da dicotomia alfabeti-
Reforçando os princípios antes propalados por Vygotsky e Pia- zado ou não-alfabetizado, passam a ser, em função dessa definição,
get, a aprendizagem se processa em uma relação interativa entre o apenas um tipo de prática – de fato, dominante – que desenvolve
sujeito e a cultura em que vive. Isso quer dizer que, ao lado dos pro- alguns tipos de habilidades mas não outros, e que determina uma
cessos cognitivos de elaboração absolutamente pessoal (ninguém forma de utilizar o conhecimento sobre a escrita. (1995, p. 19)
aprende pelo outro), há um contexto que, não só fornece informa- Mais do que expor a oposição entre os conceitos de “alfabe-
ções específicas ao aprendiz, como também motiva, dá sentido e tização” e “letramento”, Soares valoriza o impacto qualitativo que
“concretude” ao aprendido, e ainda condiciona suas possibilidades este conjunto de práticas sociais representa para o sujeito, extrapo-
efetivas de aplicação e uso nas situações vividas. Entre o homem e lando a dimensão técnica e instrumental do puro domínio do siste-
o saberes próprios de sua cultura, há que se valorizar os inúmeros ma de escrita:
agentes mediadores da aprendizagem (não só o professor, nem só Alfabetização é o processo pelo qual se adquire o domínio de
a escola, embora estes sejam agentes privilegiados pela sistemática um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja:
pedagogicamente planejada, objetivos e intencionalidade assumi- o domínio da tecnologia – do conjunto de técnicas – para exercer
da). a arte e ciência da escrita. Ao exercício efetivo e competente da
O objetivo do presente artigo é apresentar o impacto dos estu- tecnologia da escrita denomina-se Letramento que implica habili-
dos sobre o letramento para as práticas alfabetizadoras. dades várias, tais como: capacidade de ler ou escrever para atingir
Capitaneada pelas publicações de Angela Kleiman, (95) Magda diferentes objetivos (In Ribeiro, 2003, p. 91).
Soares (95, 98) e Tfouni (95), a concepção de letramento contribuiu Ao permitir que o sujeito interprete, divirta-se, seduza, siste-
para redimensionar a compreensão que hoje temos sobre: a) as di- matize, confronte, induza, documente, informe, oriente-se, reivin-
mensões do aprender a ler e a escrever; b) o desafio de ensinar a ler dique, e garanta a sua memória, o efetivo uso da escrita garante-lhe
e a escrever; c) o significado do aprender a ler e a escrever, c) o qua- uma condição diferenciada na sua relação com o mundo, um estado
dro da sociedade leitora no Brasil d) os motivos pelos quais tantos não necessariamente conquistado por aquele que apenas domina o
deixam de aprender a ler e a escrever, e e) as próprias perspectivas código (Soares, 1998). Por isso, aprender a ler e a escrever implica
das pesquisas sobre letramento. não apenas o conhecimento das letras e do modo de decodificá-las
(ou de associá-las), mas a possibilidade de usar esse conhecimento
As dimensões do aprender a ler e a escrever em benefício de formas de expressão e comunicação, possíveis, re-
Durante muito tempo a alfabetização foi entendida como mera conhecidas, necessárias e legítimas em um determinado contexto
sistematização do “B + A = BA”, isto é, como a aquisição de um có- cultural. Em função disso,
digo fundado na relação entre fonemas e grafemas. Em uma socie- Talvez a diretriz pedagógica mais importante no trabalho (...dos
dade constituída em grande parte por analfabetos e marcada por professores), tanto na pré-escola quanto no ensino médio, seja a
reduzidas práticas de leitura e escrita, a simples consciência fonoló- utilização da escrita verdadeira nas diversas atividades pedagógi-
gica que permitia aos sujeitos associar sons e letras para produzir/ cas, isto é, a utilização da escrita, em sala, correspondendo às for-
interpretar palavras (ou frases curtas) parecia ser suficiente para mas pelas quais ela é utilizada verdadeiramente nas práticas sociais.
diferenciar o alfabetizado do analfabeto. Nesta perspectiva, assume-se que o ponto de partida e de chegada
Com o tempo, a superação do analfabetismo em massa e a do processo de alfabetização escolar é o texto: trecho falado ou
crescente complexidade de nossas sociedades fazem surgir maiores escrito, caracterizado pela unidade de sentido que se estabelece
e mais variadas práticas de uso da língua escrita. Tão fortes são os numa determinada situação discursiva. (Leite, p. 25)
apelos que o mundo letrado exerce sobre as pessoas que já não
lhes basta a capacidade de desenhar letras ou decifrar o código da
leitura.
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
O desafio de ensinar a ler e a escrever Assim como a autora, é preciso reconhecer o mérito teórico e
Partindo da concepção da língua escrita como sistema formal conceitual de ambos os termos. Balizando o movimento pendular
(de regras, convenções e normas de funcionamento) que se legiti- das propostas pedagógicas (não raro transformadas em modismos
ma pela possibilidade de uso efetivo nas mais diversas situações e banais e mal assimilados), a compreensão que hoje temos do fenô-
para diferentes fins, somos levados a admitir o paradoxo inerente meno do letramento presta-se tanto para banir definitivamente as
à própria língua: por um lado, uma estrutura suficientemente fe- práticas mecânicas de ensino instrumental, como para se repensar
chada que não admite transgressões sob pena de perder a dupla na especificidade da alfabetização. Na ambivalência dessa revolu-
condição de inteligibilidade e comunicação; por outro, um recurso ção conceitual, encontra-se o desafio dos educadores em face do
suficientemente aberto que permite dizer tudo, isto é, um sistema ensino da língua escrita: o alfabetizar letrando.
permanentemente disponível ao poder humano de criação (Geral-
di, 93). 2) O embate ideológico
Como conciliar essas duas vertentes da língua em um único sis- Mais severo do que o embate conceitual, a oposição entre os
tema de ensino? Na análise dessa questão, dois embates merecem dois modelos descritos por Street (1984) representa um posiciona-
destaque: o conceitual e o ideológico. mento radicalmente diferente, tanto no que diz respeito às concep-
ções implícita ou explicitamente assumidas quanto no que tange à
1) O embate conceitual pratica pedagógica por elas sustentadas.
Tendo em vista a independência e a interdependência entre al- O “Modelo Autônomo”, predominante em nossa sociedade,
fabetização e letramento (processos paralelos, simultâneos ou não, parte do princípio de que, independentemente do contexto de pro-
mas que indiscutivelmente se complementam), alguns autores con- dução, a língua tem uma autonomia (resultado de uma lógica intrín-
testam a distinção de ambos os conceitos, defendendo um único e seca) que só pode ser apreendida por um processo único, normal-
indissociável processo de aprendizagem (incluindo a compreensão mente associado ao sucesso e desenvolvimento próprios de grupos
do sistema e sua possibilidade de uso). Em uma concepção progres- “mais civilizados”.
sista de “alfabetização” (nascida em oposição às práticas tradicio- Contagiada pela concepção de que o uso da escrita só é legiti-
nais, a partir dos estudos psicogenéticos dos anos 80), o processo mo se atrelada ao padrão elitista da “norma culta” e que esta, por
de alfabetização incorpora a experiência do letramento e este não sua vez, pressupõe a compreensão de um inflexível funcionamento
passa de uma redundância em função de como o ensino da língua lingüístico, a escola tradicional sempre pautou o ensino pela pro-
escrita já é concebido. Questionada formalmente sobre a “novida- gressão ordenada de conhecimentos: aprender a falar a língua do-
de conceitual” da palavra “letramento”, Emilia Ferreiro explicita as- minante, assimilar as normas do sistema de escrita para, um dia
sim a sua rejeição ao uso do termo: (talvez nunca) fazer uso desse sistema em formas de manifestação
Há algum tempo, descobriram no Brasil que se poderia usar previsíveis e valorizadas pela sociedade. Em síntese, uma prática
a expressão letramento. E o que aconteceu com a alfabetização? reducionista pelo viés lingüístico e autoritária pelo significado polí-
Virou sinônimo de decodificação. Letramento passou a ser o estar tico; uma metodologia etnocêntrica que, pela desconsideração do
em contato com distintos tipos de texto, o compreender o que se aluno, mais se presta a alimentar o quadro do fracasso escolar.
lê. Isso é um retrocesso. Eu me nego a aceitar um período de deco- Em oposição, o “Modelo Ideológico” admite a pluralidade das
dificação prévio àquele em que se passa a perceber a função social práticas letradas, valorizando o seu significado cultural e contexto
do texto. Acreditar nisso é dar razão à velha consciência fonológica. de produção. Rompendo definitivamente com a divisão entre o
(2003, p. 30) “momento de aprender” e o “momento de fazer uso da aprendiza-
Note-se, contudo, que a oposição da referida autora circuns- gem”, os estudos lingüísticos propõem a articulação dinâmica e re-
creve-se estritamente ao perigo da dissociação entre o aprender a versível entre “descobrir a escrita” (conhecimento de suas funções
escrever e o usar a escrita (“retrocesso” porque representa a volta e formas de manifestação), “aprender a escrita” (compreensão das
da tradicional compreensão instrumental da escrita). Como árdua regras e modos de funcionamento) e “usar a escrita” (cultivo de
defensora de práticas pedagógicas contextualizadas e signifcativas suas práticas a partir de um referencial culturalmente significativo
para o sujeito, o trabalho de Emília Ferreiro, tal como o dos estudio- para o sujeito).
sos do letramento, apela para o resgate das efetivas práticas sociais O esquema abaixo pretende ilustrar a integração das várias di-
de língua escrita o que faz da oposição entre eles um mero embate mensões do aprender a ler e escrever no processo de alfabetizar
conceitual. letrando:
Tomando os dois extremos como ênfases nefastas à aprendi-
zagem da língua escrita (priorizando a aprendizagem do sistema ou
privilegiando apenas as práticas sociais de aproximação do aluno
com os textos), Soares defende a complementaridade e o equilíbrio
entre ambos e chama a atenção para o valor da distinção termino-
lógica:
Porque alfabetização e letramento são conceitos freqüente-
mente confundidos ou sobrepostos, é importante distingui-los, ao
mesmo tempo que é importante também aproximá-los: a distinção
é necessária porque a introdução, no campo da educação, do con-
ceito de letramento tem ameaçado perigosamente a especificidade
do processo de alfabetização; por outro lado, a aproximação é ne-
cessária porque não só o processo de alfabetização, embora distin-
to e específico, altera-se e reconfigura-se no quadro do conceito
de letramento, como também este é dependente daquele. (2003,
p. 90)
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Ao permitir que as pessoas cultivem os hábitos de leitura e es- auxiliar no processo ensino-aprendizagem da alfabetização, poden-
crita e respondam aos apelos da cultura grafocêntrica, podendo in- do seus estudos serem melhor aplicados para o desenvolvimento
serir-se criticamente na sociedade, a aprendizagem da língua escri- da alfabetização com efeitos mais eficientes.
ta deixa de ser uma questão estritamente pedagógica para alçar-se Podem-se perceber alguns avanços nos próprios materiais
à esfera política, evidentemente pelo que representa o investimen- didáticos atuais, onde contém algumas citações e referências a
to na formação humana. Nas palavras de Emilia Ferreiro, livros e pesquisas linguísticas, porém, através de novas pesqui-
A escrita é importante na escola, porque é importante fora dela sas e análise da realidade, poderia haver uma utilização maior e
e não o contrário. (2001) melhor desses conhecimentos para o progresso do ensino e da
Retomando a tese defendida por Paulo Freire, os estudos sobre aprendizagem no processo de Alfabetização.
o letramento reconfiguraram a conotação política de uma conquis- No entanto, muito pouco se conhece sobre a aplicação da Lin-
ta – a alfabetização - que não necessariamente se coloca a serviço guística na Alfabetização. Cagliari (2004, p.8) afirma que “só recen-
da libertação humana. Muito pelo contrário, a história do ensino no temente tem havido a participação significativa de linguistas em
Brasil, a despeito de eventuais boas intenções e das “ilhas de ex- projetos educacionais” o que está auxiliando nas novas propostas
celência”, tem deixado rastros de um índice sempre inaceitável de didáticas para a alfabetização, mas ainda é muito pouco, pois, como
analfabetismo agravado pelo quadro nacional de baixo letramento. esse mesmo autor afirma, a maioria dos professores colabora com
o fracasso escolar por não identificarem a função da Linguística na
Perspectivas das pesquisas sobre letramento Alfabetização ou nem saberem o que é a Linguística.
Embora o termo “letramento” remeta a uma dimensão com- Cabe ressaltar ainda as contribuições de grande relevância que
plexa e plural das práticas sociais de uso da escrita, a apreensão de a Linguística vem fazendo nos estudos sobre a aprendizagem da lei-
uma dada realidade, seja ela de um determinado grupo social ou tura e da escrita, renovando as práticas educativas desse processo,
de um campo específico de conhecimento (ou prática profissional) na tentativa de facilitá-lo. Muitos são os estudos feitos nessas áre-
motivou a emergência de inúmeros estudos a respeito de suas es- as: de um lado os pedagogos buscando novas alternativas para a
pecificidades. É por isso que, nos meios educacionais e acadêmicos, alfabetização e, de outro, os linguistas apresentando novos e não
vemos surgir a referência no plural “letramentos”. menos importantes estudos sobre a aprendizagem e funcionamen-
Mesmo correndo o risco de inadequação terminológica, ganha- to da língua. Vale lembrar, que as duas ciências ? a Pedagogia e a
mos a possibilidade de repensar o trânsito do homem na diversidade Linguística - são essenciais e complementam-se.
dos “mundos letrados”, cada um deles marcado pela especificidade Ressignificando a alfabetização
de um universo. Desta forma, é possível confrontar diferentes reali- A alfabetização tem sido repensada constantemente para
dades, como por exemplo o “letramento social” com o “letramento acompanhar as mudanças culturais que vêm acontecendo através
escolar”; analisar particularidades culturais, como por exemplo o da rapidez da comunicação, com meios como a TV e, principal-
“letramento das comunidades operárias da periferia de São Paulo”, mente a Internet. A Linguística tem auxiliado nessa estruturação,
ou ainda compreender as exigências de aprendizagem em uma área embora recente como afirma Cagliari (2004), mas como considera
específica, como é o caso do “letramento científico”, “letramento Josefi (2002, p.8) “Percebe-se, hoje, a expressiva (e indispensável)
musical” o “letramento da informática ou dos internautas”. Em cada presença dos linguistas nos eventos em que se discute a alfabet-
um desses universos, é possível delinear práticas (comportamentos ização.” Observa-se, através dos livros didáticos, a grande tendên-
exercidos por um grupo de sujeitos e concepções assumidas que cia à valorização do uso da linguagem feita pelas crianças e a ex-
dão sentido a essas manifestações) e eventos (situações compar- ploração que pode ser feita das variações que ela apresenta.
tilhadas de usos da escrita) como focos interdependentes de uma
mesma realidade (Soares, 2003). A aproximação com as especifici- Essa variação se dá por vários motivos, entre eles os region-
dades permite não só identificar a realidade de um grupo ou cam- ais, mas o que mais distingue as crianças é a vivência familiar e as
po em particular (suas necessidades, características, dificuldades, condições financeiras em que ela vive. A maior dificuldade encon-
modos de valoração da escrita), como também ajustar medidas de trada é que a criança que chega à escola pública é diferente das que
intervenção pedagógica, avaliando suas consequências. No caso de o professor ou os livros didáticos idealizam, pois ela é da periferia
programas de alfabetização, a relevância de tais pesquisas é assim das grandes cidades. Como diz Golbert (1988, p. 10):
defendida por Kleiman: Essa, representante legítima da maior parcela da população
Se por meio das grandes pesquisas quantitativas, podemos co- infantil brasileira, é filha de operários que, na melhor das hipóteses
nhecer onde e quando intervir em nível global, os estudos acadêmi- têm o 1º grau completo. Dispõe de poucos materiais de escrita em
cos qualitativos, geralmente de tipo etnográfico, permitem conhe- sua casa, talvez um jornal que chega eventualmente [...] seus pais
cer as perspectivas específicas dos usuários e os contextos de uso não têm tempo e disposição para ler ou contar histórias, as quais
e apropriação da escrita, permitindo, portanto, avaliar o impacto poderiam abrir-lhes as portas para o mundo abstrato da linguagem.
das intervenções e até, de forma semelhante à das macro análises, Além de ter a criança não freqüentou a pré-escola, desconhece o
procurar tendências gerais capazes de subsidiar as políticas de im- que seja uma sala de aula ou convívio organizado com outras cri-
plementação de programas. (2001, p. 269)7 anças, teve poucos contatos significativos com lápis, papel, tintas
e lápis de cor.
Aspectos linguísticos da alfabetização.
De acordo com os estudos realizados, serão descritos em cin- Há também outras realidades muito mais precárias, como colo-
co seções alguns aspectos relevantes, explicando algumas carac- ca a mesma autora, que fazem com que a variação linguística e o
terísticas da alfabetização embasada na Linguística, considerando tempo de aprendizagem da leitura e da escrita sejam diferentes e
as práticas atuais e algumas práticas possíveis nesse sentido. para alguns, considerado mais demorado.
Considerando as muitas mudanças ocorridas na cultura edu-
cacional, e o avanço científico da Linguística, observa-se, segundo É pelo confronto com essas realidades e diferentes característi-
alguns autores como Cagliari (2004), Tasca (1990), Josefi (2002), cas que não é mais possível pensar em uma alfabetização uniforme,
Golbert (1988), Brito (2009), entre outros, que essa ciência poderá em que não se leve em conta as especificidades de cada um. Gol-
bert (1988, p.14) afirma ainda que:
7 Por Silvia M. Gasparian Colello
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Não é mais admissível que a alfabetização seja concebida como assim, o dia-a-dia do processo ensino-aprendizagem da leitura e da
um processo existente dentro das paredes da sala de aula, desen- escrita com planejamentos mais dinâmicos e apropriados às expec-
cadeando a partir da utilização de um método de ensino (no qual tativas das crianças.
os elementos de escrita são representados numa seqüência prees- Pode-se afirmar, então, como Josefi (2002, p.3) que “os conhe-
tabelecida e rígida), num tempo, espaço e ritmo controlado pelo cimentos lingüísticos são, portanto, imprescindíveis para o profes-
professor. sor, em uma tarefa tão complexa como a de alfabetizar». A partir
disso, não há mais como duvidar da introdução da Linguística na
É nesse sentido que a Linguística vem contribuindo para esse Alfabetização, no entanto, alguns professores ainda não têm con-
processo, como constata Josefi (2002, p.2) dizendo que “Tal fato, hecimento das características didáticas indicadas nos estudos dessa
talvez, constitua-se na principal contribuição para a ressignificação ciência, o que faz com que ainda tenhamos algumas dificuldades de
da alfabetização na escola, onde a compreensão de teorias sobre modernização da metodologia dessa etapa da escolarização.
os processos de aquisição da leitura e da escrita passa a ser mais
importante do que a escolha de uma determinada metodologia.” A prática linguística na alfabetização
Entre as mudanças ocorridas com a introdução da Linguística na
Alfabetização está a troca do método fônico (criado pelo linguis- No início da alfabetização
ta Bloomfield, que consiste em aprender a escrever decorando os Todas as oito professoras entrevistadas preocupam-se com a
sons das letras, num processo mecânico) para a concepção constru- bagagem de conhecimentos, de coordenação motora e/ou a re-
tivista que se dá muito mais pelos aspectos sociais ? características alidade em que vive a clientela que recebem no início da Alfabet-
dos educandos ? do que pela livre escolha dos professores, já que a ização, porém apenas uma citou a preocupação com as expectati-
comunicação mundial está muito mais ágil e as pessoas estão cada vas que essas crianças teriam em relação à escrita.
vez mais informadas e, talvez conscientes da sua linguagem. Con- Cagliari (2004) diz sobre isso que se deveria perguntar às cri-
sequentemente elas estão indo para a escola sabendo muito mais anças o que elas acham da escrita, para que serve na comunidade
coisas do mundo e podendo contribuir muito mais com as infor- em que vivem e o que pretendem fazer com esse conhecimento.
mações trabalhadas em aula, gerando, assim, um certo desconforto Essa preocupação é, talvez, a mais importante, pois, além de
em quem acredita que o professor é o dono do saber, pois os alunos proporcionar um planejamento de atividades de acordo com o que
demonstram mais agitação e descontentamento com o que é dis- os alunos esperam, tornando, assim, a aprendizagem muito mais
cutido em aula. atraente, para a Linguística, são essas informações que vão emba-
Essas informações devem ser bem aproveitadas para que o sar o trabalho, pois o foco é a linguagem usada no momento, já
processo de desvendamento da leitura e da escrita seja mais in- que essa ciência estuda o que e como está sendo falado, ouvido,
teressante. O que a Linguística coloca é a necessidade de, além do escrito, para, a partir daí, detectar as variações, as dificuldades e
processo fônico, levar os alunos a entender como se dá a formação as patologias.
da escrita e o desenvolvimento da leitura, pensar sobre isso e criar
suas próprias hipóteses para apropriar-se desses instrumentos co- No final da alfabetização
municativos de forma completa e bem estruturada. Já sobre o que as professoras esperam dos alunos no final da
primeira série, tivemos respostas que indicam variações dos obje-
Considerações sobre a linguística tivos do 1º ano de Alfabetização. Umas esperam que eles estejam
A Linguística, como ciência que estuda a linguagem verbal, alfabetizados, já sendo leitores, outras que estejam motivados
oral ou escrita humana, sem interesse em ditar regras, segundo a aprender a ler e/ou tenham conhecimentos básicos como os
Orlandi (1999), começou no início do século XX e, desde então, números e as letras e duas citam a prontidão da coordenação mo-
está integrando-se à Alfabetização, naturalmente, por esta ser a tora.
aprendizagem do objeto de estudo daquela. Segundo Tasca (1990), De acordo com a Revista Nova Escola (2009), algumas expecta-
a Linguística auxilia a professora alfabetizadora na escolha de ativ- tivas para o 1º ano seria inferir o conteúdo de um texto com base
idades mais apropriadas para a dificuldade do aluno. Também diz no título, ler textos de memória, confrontar idéias, opiniões e in-
que compete à Linguística aplicada munir a professora de instru- terpretações, conhecer as representações das letras maiúsculas im-
mentos para diagnosticar desvios de leitura e escrita, além de ex- prensa, produzir textos de memória de acordo com a sua hipótese
ercícios terapêuticos e de reeducação da linguagem, ajudando, de escrita, escrever usando a hipótese silábica, reescrever histórias
além disso, na construção de medidas de avaliação. ditando ou de próprio punho, produzir escritos de sua autoria ? bil-
Os estudos feitos pela Linguística ajudaram na elaboração de hetes, cartas [...].
novos conceitos para a Alfabetização, novas crenças e consequen- Como vimos, a Linguística, em seus diversos ramos, tem ex-
temente novas práticas, dando conta de que, como afirma Cagliari pandido seus estudos e contribuído de forma consistente sobre a
(2004), a criança, para aprender a falar, não precisou de ditados, prática da alfabetização. Seus estudos propiciaram ajudar alguns
memorização de regras, repetição de fonemas e sílabas, que nen- professores na busca de soluções para as dificuldades dos alunos,
huma mãe preocupa-se em ensinar a seu filho a ordem das palavras com atividades que possibilitam diversificar o pensamento linguísti-
nas frases e, no entanto, toda criança sabe qual ordem é possível co da criança, fazendo-a explorar seus conhecimentos e ampliá-los.
ou não usar. Sendo assim, o ensino das sílabas simples para de- A proposta linguística para a Alfabetização, que se iniciou com
pois as mais complexas, na Alfabetização é inapropriado e limita o o método fônico, foi adquirindo novas propostas, para métodos que
aprendizado do alfabetizando. contemplam mais o pensamento, a criação de hipóteses, o uso de
A partir dessas construções, constata-se que “o educador, variações da fala, fazendo a leitura e escritas mais próximas da real-
lançando mão de conhecimentos da Linguística, passou a ver a cri- idade das crianças e não algo distante, repetitivo e cansativo.
ança como sujeito do processo de aquisição da leitura e da escrita: Por essas dificuldades e fatores relativos à Alfabetização é que
um sujeito que, ao chegar à escola, já traz uma representação do se torna imperativo ter em mãos materiais didáticos que facilitem
que seja ler e escrever”, como afirma Josefi (2002), transformando, a vida do professor e do aluno. Devem ser materiais práticos, com
atividades contextualizadas e próximas das realidades das crianças,
abrangendo conhecimentos apropriados e permitindo a ação da cri-
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ança como sujeito da aprendizagem sem repetições desnecessárias. A linguagem escrita é usada em…
Além disso, não se pode abrir mão de jogos, brincadeiras, músicas, - cartas;
parlendas, entre outros materiais que possibilitam a ampliação lin- - e-mails;
guística e o pensamento sobre o seu uso pelas crianças. - bilhetes;
Enfim, podemos constatar as muitas contribuições da Linguísti- - jornais;
ca na Alfabetização, que podem ser ampliados e com certeza serão, - revistas;
pois os linguistas e pedagogos estão constantemente buscando no- - sites;
vas propostas para adequar o ensino da leitura e da escrita à atu- - livros;
alidade.8 -…
A linguagem oral e a linguagem escritas são duas manifesta- Apesar das diferenças existentes entre a linguagem oral e a lin-
ções da linguagem verbal, ou seja, da linguagem feita através de guagem escrita, não podemos considerar uma mais complexa ou
palavras. Tanto a linguagem oral como a linguagem escrita visam importante do que a outra, uma vez que existem vários níveis de
estabelecer comunicação. formalidade e informalidade na oralidade e na escrita.
Há momentos que exigem uma linguagem falada extremamen-
Características da linguagem oral te cuidada, como entrevistas de emprego, discursos, apresentações
- Há uma maior aproximação entre emissor e receptor. públicas,… Há também situações em que uma linguagem escrita
- Estabelece um contato direto com o destinatário. mais descontraída e próxima da oralidade é aceitável, como em
- É mais espontânea e informal, usufruindo de maior liberdade. chats, fóruns, mensagens do celular,…
- Há uma maior tolerância relativamente ao cumprimento da
norma culta. Reflexões sobre o ensino da leitura e da escrita
- É passageira e encontra-se em permanente renovação, não Livro baseado em documentos produzidos pelos professores da
deixando qualquer registro. Escola Municipal Casas de Barcelona, Espanha, que desenvolvem há
- Não requer escolarização, sendo um processo aprendido so- algum tempo um trabalho bastante inovador junto aos seus alunos.
cialmente. Têm obtido grandes resultados no que diz respeito ao interesse dos
- Usa recursos extralinguísticos como entonação, gestos, postu- mesmos em aprender. Além de apresentar as bases psicopedagógi-
ra e expressões faciais que facilitam a compreensão da mensagem. cas que fundamentam o trabalho com a leitura e a escrita, o texto
- Não ocorre sempre linearidade de pensamento, sendo possív- traz toda a emoção dos relatos dos professores diante do espantoso
el a existência de rupturas e desvios no raciocínio. interesse e consequente progresso de seus alunos. A sua publicação
- Apresenta repetições e erros que não podem ser corrigidos. no Brasil é de grande importância num momento em que tanto se
- Apresenta maioritariamente um vocabulário reduzido e con- discute a qualidade da formação dos nossos professores.
struções frásicas mais simples.
A produção da escrita
Características de linguagem escrita As crianças têm ideias próprias sobre como se escreve o que
- Há um maior distanciamento entre emissor e receptor. pensam e formulam hipóteses de como isso ocorre ao expressar-se
- Estabelece um contato indireto com o destinatário. por meio da escrita, essas hipóteses vão sendo progressivamente
- É mais formal, sendo mais pensada e planejada. testadas pelas crianças até estas se tornarem alfabetizadas. A com-
- Há um maior rigor gramatical e exigência de cumprimento da preensão da natureza alfabética do sistema de escrita e o desen-
norma culta. volvimento da consciência fonológica estimulam desenvolvimento
- Tem duração no tempo e pode ser relida inúmeras vezes infantil à medida que promovem a competência simbólica da cri-
porque tem registro escrito. ança. “A produção escrita, o trabalho com produção de textos tem
- Requer escolarização e uma aprendizagem formal da escrita. como finalidade formar escritores competentes, capazes de pro-
- Todas as indicações necessárias para a compreensão da men- duzir textos coerentes, coesos e eficazes”. (PCN‟S, 1997, p. 65).
sagem são feitas através de pontuação e das próprias palavras. É importante que no início a crianças tenha bastante contato
- Exige linearidade, ou seja, a existência de uma sequência de com a linguagem escrita diversificada no seu ambiente. Esses con-
pensamento clara e estruturada. tatos permitiram descobrir, instigar a curiosidade fazendo pergun-
- Possibilita a revisão do conteúdo e a correção dos erros. tas ou deduções e assim vão aprendendo o significado da escrita. A
- Deve apresentar um vocabulário variado e construções frási- criança passa por diferentes hipóteses provisórias para chegar ao
cas mais elaboradas. resultado dessas primeiras “escritas” infantis pode aparecer desde
o um rabisco, ou desenhos até se apropriar de toda a complexidade
Quando usar a linguagem oral e a linguagem escrita? do sistema da escrita.
Essas duas formas de linguagem são usadas diariamente pelos A relação com que o sujeito quer representar e os meios que
falantes. emprega para criar diferenciações entre as representações são os
A linguagem oral é usada em… chamados aspectos construtivos. E quando estamos na presença
- conversas; dos mesmos é que constamos que houve uma produção escrita.
- diálogos; Nessa visão, as investigações feitas por Teberosky; Cardoso (1991)
- apresentações; mostram que a escrita infantil segue uma linha regular de evolução,
- telefonemas; independente da procedência dos sujeitos quanto a meios cul-
- aulas; turais, situações educativas, língua etc.
- entrevistas; De acordo com os aspectos centrais da linha da evolução psico-
-… genética da língua escrita, identificam-se três grandes períodos en-
tre si, dentro dos quais cabem múltiplas subdivisões.
Primeiro período: caracteriza-se pela distinção entre modo de
representação irônico e não irônico.
8 Fonte: www.webartigos.com – Por Lisiane Raupp da Costa
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Segundo período: ocorre à construção de formas de diferen- la e o meio social. Ao atribuir novos significados ao ler e ao escrever,
ciação, o aprendiz busca exercer um controle progressivo das var- a escola assume uma função educativa digna e os de professores
iações sobre os eixos qualitativos e quantitativos. querem ser reconhecidos como produtores de cidadania, que
Terceiro período: marcado pela fonetização da escrita, que se ofereça as novas gerações possibilidades efetivas de compreensão
inicia com um período silábico e culmina em um período alfabético. e transformação da sua realidade social e pessoal.
(TEBEROSKY; CARDOSO, 1991, p. 64). Torna-se, então um referencial, ocupando o ponto principal de
Assim, os aspectos conceituais presentes na evolução psi- um processo compreensivo que orienta aos alunos frente a uma
cológica da escrita se iniciam a partir da relação de semelhanças sociedade pluralista, com permanentes mudanças. Consciente de
com objetivos, o que permitirá as crianças desenvolver outras que o acesso ao mundo da escrita é, em parte, responsabilidade da
possibilidades de aprendizagem. E nesse processo, cabe à escola escola, é importante que o professor conceba a alfabetização e o le-
aprimorar esses conhecimentos, permitindo melhor desenvolvi- tramento como fenômenos complexos e perceba que são múltiplas
mento, linguagem e consciência da criança para adquirir saberes e as possibilidades de uso da leitura e da escrita na sociedade. Assim,
habilidades, respeitando cada nível de desenvolvimento desta. Ao as práticas em sala de aula devem estar orientadas de modo que se
trabalhar com a linguagem escrita, o professor deve compreender provoca a alfabetização na perspectiva do letramento.
que o aluno se relaciona de modo concreto com as condições de
sua produção. Nesse sentido, é preciso considerar que a produção Fonte
do discurso (oral e escrito) ocorre em um determinado contexto SILVA, A. B. da. Alfabetizar letrando: desafios e possibilidades na esco-
histórico social e que se delineia de formas diversificadas segundo la normal. Princesa Isabel – PB, 2014
o contexto e as intenções do produtor do discurso.
Vale dizer, então que tudo aquilo que a criança escreve merece Referência
ser respeitado e valorizado. Trata-se, pois, de tomar essas con- TEBEROSKY, Ana e CARDOSO, Beatriz (Org.). Reflexões sobre o ensino
struções como ponto de partida para o ensino. Ao preparar os es- da leitura e da escrita. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.
tímulos para a escrita das crianças, o professor deve estar atento
para que seus alunos tenham uma atitude participativa, de forma Desenvolvimento linguístico e desenvolvimento cognitivo
que não sejam apenas ouvintes, mas produtores de texto. Esse es- Aprendizagem é toda mudança de comportamento em res-
tímulo começa quando o professor escreve para os alunos a histori- posta a experiências anteriores porque envolve o sujeito como
as dos desenhos que eles fizeram, auxilia na escrita de um relatório um todo, considerando todos os seus aspectos, sendo eles psico-
das atividades realizadas em um passeio ou excursão, auxilia o reg- lógicos, biológicos e sociais. Se algum desses aspectos estiver em
istro das tarefas realizadas em grupo, enfim, participa diretamente desequilíbrio haverá a dificuldade de aprendizagem.
de toda de toda a escrita inicial, na fase em que as crianças ainda Segundo Piaget (1973) , a aprendizagem só se dá com a de-
não têm a independência necessária para realizar isso sozinha. sordem e ordem daquilo que já existe dentro de cada sujeito.
É importante que os professores envolvam simultaneamente, a É necessário obter contato com o difícil, com o incomodo para
aprendizagem na direção da alfabetização e letramento, porque es- desestruturar o já existente e em seguida estruturá-lo novamen-
tes requerem habilidade motora, perspectiva e cognitiva no traçado te, com a pesquisa e também motivações tanto intrínseca como
das letras e reflexão sobre o sistema de escrita e suscitam questões extrínseca para obter a aprendizagem, ressaltando que a motiva-
sobre a grafia das palavras, ao mesmo tempo em que são oportuni- ção intrínseca é mais importante porque o sujeito tem que estar
dades às crianças de vivenciarem importantes funções da escrita. interessado em aprender, sendo que a junção dos dois (intrín-
Essa capacidade de uso da escrita também podem ser ensi- seca e extrínseca) formam importantes aliados para a melhor
nadas e aprendidas nas escolas desde cedo no trabalho que alia aprendizagem do sujeito.
alfabetização e letramento. Produzir um texto não é copiar um es- O processo do conhecimento se dá na interação entre sujeito
crito. Esse movimento deve ser sempre ressaltado, mesmo que se e objeto, esta interação Piaget (1973) chama de assimilação e
ofereçam às crianças alguns textos para interpretação, é importante acomodação.
que elas sejam alertadas que textos têm donos e nós devemos usar Assimilação para Piaget (1973) é“(...) uma integração a es-
nossas próprias palavras para interpretar o que o autor quis regis- truturas prévias, que podem permanecer invariáveis ou são mais
trar. Cada tipo de texto exige um procedimento diferenciado a cada ou menos modificadas por esta própria integração, mas sem des-
genro discursivo tem uma estrutura própria e uma função. Essa var- continuidade com o estado precedente, isto é, sem serem destruí-
iedade deve ser explorada na sala de aula. das, mas simplesmente acomodando-se à nova situação”. Sim-
Enfim, ensinar a escrever é uma tarefa de uma escola disposta plificando, o processo de assimilação é a articulação das idéias
a olhar de frente as dificuldades, não apontando a penas os erros já existentes com as que estão sendo aprendidas de forma que
do passado, mas lançar desafios, pois temos uma nova clientela adapta o novo conhecimento com as estruturas cognitivas exis-
inserida numa nova realidade. Trabalhar com o texto implica tra- tentes.
balhar com as dúvidas, com os erros, e acertos porque escrever não Acomodação é toda mudança de comportamento, alteração
é produzir velhas copias, pois as copias são apenas repetições. do sujeito, este só acontece quando o sujeito se transforma, am-
Nesse sentido, a prática de ler e escrever desenvolve-se através plia ou muda os seus esquemas. Esquema é a estrutura da ação,
de responsabilidades partilhadas entre professores e alunos, nas ou seja, nós vamos integrando uma determinada coisa com outra
quais o primeiro atua como guia, apoio, mediador de cultura, e o se- coisa que já entramos em contato anteriormente, assim vamos
gundo como sujeito ativo da aprendizagem. Em consequência disso articulando o já conhecido com o que está sendo apresentado,
à sala de aula se torna um lugar de pensar, de reflexão compartilha- mudando ou ampliando o esquema já existente.
da, de participação e de diálogo. Constituindo-se em um ambiente Não há assimilação sem acomodação e vice-versa, mas pode
de aprendizagem, que gera e possibilita múltiplas situações de lei- acontecer o predomínio de uma ou de outra, para ocorrer este
tura e escrita como atividade relevante e comprometidas. processo é preciso que o sujeito tenha situações problemas que
O professor parte dos conhecimentos prévios e experiências desafiem sua inteligência.
dos alunos e oferece atividades significativas, favorecendo a com-
preensão do que está sendo feito através das relações entre a esco-
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Para Piaget (1973) o desenvolvimento cognitivo é dividido As operações lógicas é a ocorrência mais importante neste
em quatro estágios. O estágio Sensório motor vai aproximada- estágio porque as ações cognitivas internalizadas permitem que
mente entre 0 à 24 meses. Aqui a criança vai percebendo aos a criança chegue a conclusões lógicas, sendo elas controladas
pouco o seu meio e age sobre ele, o bebê age puramente através pela atividade cognitiva e não mais pela percepção e construídas
de reflexos, com o tempo ele percebe que certos movimentos e a partir das estruturas anteriores como uma função de assimila-
atitudes movem o seu externo, por exemplo, o choro, ela perce- ção e acomodação.
be que ao chorar vai vir alguém acudi-la, neste período há várias O estágio do Pensamento formal acontece após os 12 anos,
assimilações e acomodações que criam esquemas de ação. Há a criança ou adolescente começa ter um pensamento hipotéti-
algumas características neste estágio: a primeira é o reflexo, na co – dedutivo, ou seja, começa a levantar hipóteses e deduzir
qual ela não se diferencia do mundo exterior; a segunda são as conclusões. O adolescente usa esquemas aprendidos dos está-
primeiras diferenciações, existe uma coordenação entre mão e gios anteriores para fortalecer as hipóteses deste estágio, assim
boca, uma diferenciação entre pegar e sugar, surgem os primei- ele vai aprimorando cada vez mais os estágios anteriores. Deste
ros sentimentos como a alegria, a tristeza, o prazer e desprazer, estágio em diante o que ocorre é o aperfeiçoamento dos estágios
que estão ligados a ação; a terceira é a reprodução de eventos in- passados.
teressantes; a quarta é a coordenação de esquemas, ou seja, ela Para Pain (1985), o processo de aprendizagem se inscreve
começa a usar um esquema em outras coisas para ver se obtém o na dinâmica da transmissão da cultura, que constitui a definição
mesmo resultado, por exemplo, a criança balança um chocalho e mais ampla da palavra educação, atribuindo quatro funções in-
vê que aquilo faz barulho, ao pegar outro objeto ela vai balançar terdependentes:
para ver se aquilo também fará barulho; a quinta é a experimen- a) Função mantenedora da educação: garante a continuida-
tação, invenção de novos meios, a criança passa a inventar novos de da espécie humana por meio da aprendizagem de normas que
comportamentos, ações a partir da tentativa e erro, consegue regem a ação.
a inteligência quando consegue solucionar problemas; a sexta é b) Função socializadora da educação: através da linguagem,
a representação, ela começa a ter um sentimento de escolha, o do habitat transforma o indivíduo em sujeito social.
que quer ou não fazer. c) Função repressora da educação: um instrumento de con-
O estágio Pré – operatório vai aproximadamente entre 2 à trole que tem por objetivo conservar.
6 anos. Aqui a criança possui uma capacidade simbólica, uso de d) Função transformadora da educação: transforma o sujei-
símbolos mentais como a linguagem e imagens, nesta fase há to, de formas peculiares de expressão revolucionária a partir de
uma explosão da lingüística, algumas características deste está- mobilizações primariamente emotivas advindas das contradições
gio são: primeira – a imitação diferida ou imitação de objetos dis- do sistema.
tantes; segunda – jogo simbólico é também imitativo, a criança
não se preocupa se o outro irá entendê-la, ela se preocupa com o Na tentativa de uma definição da patologia da aprendiza-
seu entendimento, é uma forma de se auto-expressar; terceira – gem, ela a define como um sintoma, no sentido de que o não
desenho, é a sua forma de deixar uma marca, ela desenha o que - aprender não configura um quadro permanente, mas ingressa
quer, sendo ou não real; quarta – imagem mental, as imagens são em uma constelação peculiar de comportamentos, assim, o seu
estáticas, são imagens que representa o interno, algo que já foi diagnóstico está constituído pelo seu significado.
passado; quinta – linguagem falada, a criança começa a falar uma A aprendizagem possui dois tipos de condições: as externas,
palavra como se fosse uma frase, aos pouco ela vai aumentando na qual é comum a criança com problema de aprendizagem apre-
o seu repertório vocábulo. sentar algum déficit real do meio devido a confusão dos estímu-
Neste estágio há também as características do pensamento los, a falta de ritmo ou a velocidade com que são brindados ou
infantil, que são: egocentrismo – é a incapacidade de se colocar a pobreza ou carência dos mesmos e, em seu tratamento, se vê
no ponto de vista do outro (por volta dos 4 ou 5 anos), a criança rapidamente favorecida mediante um material discriminado com
acha que todo mundo pensa como ela, então ela não questio- clareza, fácil de manipular, diretamente associado à instrução de
na ninguém, por volta dos 6 ou 7 anos ela começa a ceder as trabalho e de acordo com um ritmo apropriado para cada aquisi-
pressões das pessoas que vivem a seu redor, ela começa a se ção e as internas que estão ligadas a três aspectos: o corpo como
questionar porque gera um conflito, assim ela começa a perceber organismo que favorece ou atrasa os processos cognitivos, sendo
que cada um pensa de um jeito; raciocínio transformacional – é a mediador da ação; a cognição, ou seja, à presença de estruturas
incapacidade para raciocinar com sucesso sobre transformações, capazes de organizar os estímulos do conhecimento; condições
a criança não focaliza a transformação; centração – a criança cen- internas que estão ligadas à dinâmica de comportamento.
tra alguma coisa limitadamente, não a vê como um todo, ela é in- A aprendizagem será cada vez mais rápida quando o sujeito
capaz de explorar todos os aspectos, ela leva em consideração a sentir a necessidade e urgência na compreensão daquilo que está
percepção e não o raciocínio. Após os 6 ou 7 anos o pensamento sendo apresentado.
da criança toma uma posição apropriada. Segundo Fernández (2001), é importante levar em conside-
O estágio Operatório concreto vai aproximadamente entre ração as estruturas cognitivas e a estrutura desejante do sujeito,
7 à 11anos. Aqui a criança desenvolve processos de pensamento porque um depende do outro, é necessário que o sujeito tenha
lógico, não apresenta dificuldades na solução de problemas de desejo, pois este impulsiona o sujeito a querer aprender e este
conservação e apresenta argumentos corretos para suas respos- querer faz com que o sujeito tenha uma relação com o objeto de
tas, a criança descentra suas percepções e acompanha as trans- conhecimento. Para ter essa relação o sujeito precisa ter uma
formações, ela também começa a ser mais social saindo da sua organização lógica, que depende dos fatores cognitivos. No lado
fase egocêntrica ao fazer o uso da linguagem, a fala é usada com do objeto de conhecimento ocorre a significação simbólica que
a intenção de se comunicar, ela percebe que as pessoas podem depende dos fatores emocionais. Todo sujeito tem a sua moda-
pensar e chegar a diferentes conclusões, sendo elas diferentes lidade de aprendizagem e os seus meios de construir o próprio
das suas, ela interage mais com as pessoas, quando aparece um conhecimento, e isto depende de cada um para construir o seu
conflito ela usa o raciocínio para resolver. saber.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
O sujeito constrói esse saber a partir do momento que ele des produzidas no ambiente humano em que a criança se de-
tem uma relação com o conhecimento, com quem oferece e com senvolve e permite-lhe apropriar-se da experiência das gerações
a sua história. Para que o conhecimento seja assimilado, é preci- precedentes.
so que o sujeito seja ativo, transforme e incorpore o seu saber, A capacidade de adquirir a língua de seu grupo é uma carac-
esquecendo de conhecimentos prévios que já não servem mais, terística específica da espécie humana e supõe um equipamento
é importante também que o ensinante dê significado para este anatômico e neurofisiológico adaptado, particularmente órgãos
novo conhecimento, despertando o desejo de querer saber do periféricos e sistema nervoso central apropriado e em adequado
aprendente. O modo como uma pessoa relaciona-se com o co- estado de funcionamento. Contudo, a aquisição de linguagem é
nhecimento se repete e muda ao longo de sua vida nas diferentes um processo sócio-histórico.
áreas. A formação de neurônios e sua migração para regiões apro-
O conhecimento acontece quando alguns esquemas opera- priadas do cérebro são efetuadas quase que inteiramente duran-
ram e utilizam diferentes situações de aprendizagem, é um mol- te o período de desenvolvimento pré-natal. Entretanto, as fases
de relacional e móvel que se transforma com o uso, é a orga- neurais da linguagem não se restringem definitivamente ao mo-
nização do conjunto de aspectos (conscientes, inconscientes e mento do nascimento.
pré-conscientes) da ordem da significação, da lógica, da simbóli- O córtex cerebral é dotado de grande plasticidade funcional
ca, da corporeidade e da estética, tal organização ocorre espon- durante os primeiros anos de vida. A especialização do hemis-
taneamente, isto se chama modalidade de aprendizagem, segun- fério esquerdo para a linguagem, mesmo que dependa de uma
do Fernández, sendo que o problema de aprendizagem ocorre disposição pré-formada, só se estabelece progressivamente,
quando essa modalidade se enrijece, congela. graças às interações da criança com parceiros linguísticos de seu
Cada pessoa tem uma modalidade singular de aprendiza- ambiente O desenvolvimento da linguagem apoia-se em forte
gem, que se organiza a partir dos ensinante (família e escola), motivação para se comunicar verbalmente com outra pessoa,
considerando a criança como um ser aprendente e que tem capa- motivação parcialmente inata, mas enriquecida durante o pri-
cidade para pensar; do espaço saudável, ou seja, onde seja pos- meiro ano de vida nas experiências interpessoais com a mãe, pai,
sível fazer perguntas; das experiências vividas com satisfação em irmãos e outros educadores.
relação ao aprender; do reconhecimento de si mesmo como au- As crianças engajam-se, desde o primeiro momento, em um
tor; dos espaços objetivos e subjetivos, onde o jogar seja aceito; processo de comunicação no qual são estimuladas a desenvolver
de uma possível relação com sujeitos da mesma idade; do modo procedimentos que lhes permitem questionar o mundo e apro-
de circulação do conhecimento nos grupos de pertencimento: fa- priar-se dele. Desde cedo o entorno humano empreende uma di-
mília, escola, contexto comunitário ligência ativa de integração do bebê em Formas pré-construídas
É importante ressaltar que o sujeito é sempre ativo, é autor da língua: nas atividades conjuntas, parceiros mais experientes
do seu conhecimento, ele constrói sua modalidade de aprendi- apresentam-lhe normas relativas tanto aos comportamentos e às
zagem e a sua inteligência que marcará uma forma particular de formas de relações interpessoais, quanto às palavras da língua e
relacionar-se, buscar e construir conhecimentos, um posiciona- suas condições de uso.
mento de sujeito diante de si mesmo como autor de seu pensa- Com base nisso, as crianças se apropriam progressivamen-
mento. te das regras de ação e de comunicação que surgem em seu
O aprender significa também “perder” algo velho, mas utili- entorno, pondo-as em prática em sua atividade e em suas pri-
zando-o para construir o novo, é o reconhecimento da passagem meiras produções verbais. Em seguida, interiorizam tais regras
do tempo, do processo construtivo, o qual remete necessaria- e elaboram uma linguagem interior constituída de significações
mente, à autoria. Aprender é historiar-se, pois, sem esse sujeito verbais contextualizadas e organizada de acordo com uma lógica
ativo e autor que significa o mundo, aprendizagem será apenas da ação, ou lógica implicativa. Cada descoberta provoca novas
uma tentativa de cópia. interrogações.
Para aprender precisamos entender e analisar a relação en- O desenvolvimento da capacidade de perceber e produzir
tre futuro e passado, assim entenderemos todo o processo de sons da fala são o precursor mais direto da linguagem. Os be-
aprendizagem, ou seja, o sujeito tem que ser biógrafo de sua his- bês logo discriminam sons, são sensíveis a entonações, passam
tória. seletivamente a reagir a sons próprios de sua língua materna en-
Concluímos que a aprendizagem é uma mudança de com- quanto esquecem outros.
portamento, assimilações e informações nas quais o sentido Tal desenvolvimento vai se enriquecer com a formação da
de aprender não é impor barreiras e limites para a criatividade capacidade tanto de categorização de objetos, que será à base da
e disponibilidade de cada ser. O desenvolvimento de uma boa denominação e da referência, como de imitação e memória, ne-
aprendizagem é a integração de aspectos: afetivo, físico, emocio- cessárias para reproduzir padrões vocais e gestuais. Esse traba-
nal, social e intelectual do aprendiz, ocasionando uma motivação lho formativo se prolongará por toda a vida, especialmente por
interna e construindo o conhecimento a todo o momento. meio da educação escolar, e garantirá a aquisição, reprodução e
transformação das significações sociais culturalmente construí-
O desenvolvimento linguístico da criança das.
Os recursos de que as crianças dispõem, contudo, não consti- Durante o primeiro ano de vida, diferentes capacidades co-
tuem apenas atos motores, mas são instrumentos para a realiza- municativas e cognitivas convergem para formar, em torno dos
ção de atividades simbólicas, como, por exemplo, marchar para oito aos dez meses, um conjunto de habilidades necessárias à
ser um soldado ou arrastar-se com cuidado para ser um explora- emergência da competência linguística propriamente dita. Nessa
dor de tesouros, simbolismos que aprende de sua cultura. fase, há um início de compreensão, quando a criança dá respos-
Além disso, a criança nasce em um mundo onde estão pre- tas apropriadas a certos pedidos ou proibições. Logo se observa
sentes sistemas simbólicos diversos socialmente elaborados, uma etapa de produção das primeiras palavras (em torno dos
particularmente o sistema linguístico. Este perpassa as ativida- onze aos treze meses) e uma de explosão do vocabulário (entre
dezoito e vinte meses), quando a criança experimenta a possibi-
lidade de generalizar os vocábulos que domina.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
A emergência da capacidade de combinar palavras, ainda Silábica:
que de modo telegráfico, é detectada em torno dos vinte meses,
sendo seguida de um período de gramaticalização (com início va-
riado), quando a criança se preocupa em dominar a estrutura da
língua, embora com criações próprias (ex: “Eu bebi e fazi”).
O sistema linguístico é operável em torno dos quatro aos cin-
co anos, época em que a criança domina o essencial do sistema
fonológico, conhece o sentido e as condições de uso de muitas
palavras em sua cultura e utiliza corretamente a maior parte das
formas morfológicas e sintáticas de sua língua.
A partir dos cinco anos, ocorrem novos progressos: o domí-
nio de certas estruturas linguísticas mais complexas (o modo con-
dicional e a voz passiva), a reorganização semântica progressiva
dos subsistemas linguísticos (a criança emprega um mesmo ter-
mo em um sentido diferente do sentido do adulto), o desenvol-
vimento de artigos e pronomes que asseguram coesão aos seus
discursos e o desenvolvimento da capacidade de ajustar sua fala
ao seu interlocutor (por exemplo, à idade ou ao papel social dele),
além da preocupação com a correção das palavras e frases e da Nessa fase a escrita já representa uma relação entre os ter-
brincadeira com a linguagem, quando a criança, com frequência mos,entre a grafia e a parte falada. Para cada parte falada (sílaba
e de modo proposital, rompe algumas regras e convenções. oral ) a criança atribui uma grafia, ou seja, uma letra escrita.
Tal sistema continua a se reorganizar e aperfeiçoar até a pré- Por exemplo, quando escreve a palavra ‘’MÃO’’, pode uti-
-adolescência, enriquecido pelas experiências culturais das crian- lizar apenas uma letra, pautando-se na hipótese silábica, onde
ças, particularmente por sua vivência escolar.9 vai corresponder o número de letras com a quantidade de vezes
que ela abriu a boca para falar, ou pode ainda utilizar dois ou três
As etapas do processo de alfabetização símbolos, pois não acredita que possa se escrever apenas com
Analisando os estudos de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky uma letra.
sobre a psicogênese da língua escrita, compreende-se uma outra Nessa fase, pode também ser dividida em dois níveis: o pri-
meneira de ver a aquisição do código escrito que é realizado pe- meiro, silábico sem valor sonoro, onde a crianças representa
las crianças.“A leitura e a escrita não dependem exclusivamente cada sílaba por uma letra qualquer, sem nenhuma relação com o
da habilidade que o alfabetizando apresenta de ‘somar pedaços som que ela representa. O segundo é o silábico com valor sonoro
de escrita’, e sim, antes disso, de compreender como funciona onde em cada sílaba é representada por uma vogal ou consoante
a estrutura da língua e a forma como é utilizada na sociedade”. que expressa o som correspondente.
Ferreiro e Teberosky pbservam que tentando compreender
a escrita, as crianças criam teorias que se desenvolvem como: a Silábico-alfabética:
pré-silábica, a silábica, a silábico-alfabética e a alfabética. São as
chamadas hipóteses.
Pré silábica:
9 Fonte: www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br/www.portaleducacao.com.br
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
São exemplos de escritas silábico-alfabéticas: A segunda refere-se às segmentações, das posições se é no
- CAVLU (cavalo) inicio, se é o meio ou no fim, podem obter tamanhos diferencia-
- JABUTCAA (jabuticaba) dos, compostos por fonemas, sílabas, intrassílabas e rimas.
- MNINO (menino)
- CADRA (cadeira) As relações entre consciência fonológica e alfabetização
Existem muitos processos cognitivos que precisam ser de-
Nível Alfabético: senvolvidos para que a alfabetização seja garantida: uma dessas
habilidades essenciais é a consciência fonológica.
Pra começo de conversa, vamos visitar brevemente o con-
ceito de metacognição. Trata-se de uma habilidade de aprender
como nós mesmos aprendemos e tornar isso um processo cons-
ciente. Esta é uma capacidade que pode ser desenvolvida, sim,
pelo educador – e daí a importância de nós, professores, conhe-
cermos os processos de neurocognição, a fim de melhor auxiliar-
mos nossos alunos a entenderem como eles aprendem.
A partir desse conceito, partimos para consciência metalin-
guística, ou seja, a capacidade de refletir e analisar intencional-
mente sobre a língua. Por exemplo, uma criança aprende a falar
sem conhecer as unidades linguísticas, mas com a escrita ocorre
de modo diferente: é importante conhecer e refletir sobre a lin-
guagem para estar consciente e aprender de forma mais eficien-
te.
Consciência fonológica não se resume a ficar segmentando e
repentindo palavras – não é sinônimo de método fônico. Abrange
muitas outras habilidades que não são restritas à repetição de
Nessa fase a criança conhece o valor sonoro de algumas ou fonemas.
todas as letras e consegue agrupá-las formando sílabas. Estando “Para aprender a ler e escrever é necessário que a criança
nesse nível não quer dizer que a criança já saiba ler e escrever tome consciência das relações entre os sons da fala e a sua repre-
corretamente .Ainda escrevem: Xinelo, Coziha, caza, etc. sentação gráfica” – Magda Soares
É importante ressaltar que cada criança tem seu ritmo. Espe- Dicas importantes:
ra-se que aos 7 anos ela já domine de maneira razoável a leitura e - Dissociar do conteúdo semântico das palavras
escrita. Claro que esse processo começa muito antes, pois desde - Ter sensibilidade para manipular as unidades linguísticas
muito pequenas as crianças já fazem a leitura de sua própria ma- - Trabalhar desde a Educação Infantil
neira: lê placas nas ruas, gravuras nos livros etc. - Fazer atividades com consciência de:
Uma criança que convive com o estímulo da leitura, com cer- - Rimas e aliterações
teza, terá mais interesse, e provavelmente, o processo de alfabe- - Sílabas
tização será mais fácil.10 - Palavras
- Fonemas
A importância da consciência fonológica na alfabetização
Segundo Morais (2012), a consciência fonológica é um con- Como trabalhar com estas diferentes consciências?
junto de habilidades no qual se caracterizam os segmentos sono- Em relação àsrimas, é importante trabalhar com as con-
ros das palavras. sonantes (palavras que terminam com as mesmas letras, por
A capacidade de refletir sobre as unidades sonoras de forma exemplo, café e boné) e as assonantes (coincidência na vogal,
consciente, compreendido mais especificamente como habilida- mas consoantes diferentes, por exemplo, cachimbo e domingo).
des metafonológicas. Portanto, devemos evitar falar para as crianças que as rimas só
Trabalhar essas segmentações na alfabetização ampliara o aparecem quando escrevemos palavras com o mesmo final.
campo de possibilidades cognitivas do aluno, e não reduzirá a - Jogo com rimas (pode ser oral, escrito e com desenhos):
processos tradicionais, repetitivos, que enfatizam a memoriza- “Coloquei o meu pião na minha _____”, “Lavo minha mão com
ção de silabas, pelo contrário, trabalhar a consciência fonológica água e ____”…;
exige um processo de sistema de ensino alfabético que enfatiza - Charadas: “Dica: todas terminarão com ão” – “Nome de fru-
o letramento, descaracterizando um processo sem intervenções ta laranja por dentro”, “Onde esquentamos a comida”…
pedagógicas mais sistemáticas. As aliterações são as repetições de sílabas ou fonemas ini-
Ou seja, a consciência fonológica não significa treinos fonê- ciais, muito trabalhadas a partir de trava-linguas e parlendas (por
micos exaustivos como requisitos para alfabetização, como a re- exemplo, “O rato roeu a roupa do rei de Roma”).
lação do fonema (som) e grafema (letra).
Segundo Morais (2012), existem duas fontes de variações, a Consciência silábica não é ficar repentindo mecanicamente
primeira é um processo cognitivo sobre as partes das palavras, as sílabas canônicas (ba, be, bi, bo, bu), mas tornar consciente o
separando os pedaços, juntando, contando, comparando, iden- conhecimento da pauta sonora e saber que aquelas sílabas re-
tificando semelhanças e falar palavras parecidas com segmentos presentam uma sonoridade.
sonoros iguais. - Marcar sílaba com os dedos, adesivos, tampinhas de gar-
rafa ou outro material concreto para identificar quantas vezes
foram faladas;
10Fonte: www.alfabetizandoeletrando10.blogspot.com
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
- Trabalhar com as diferentes formatações de sílabas (V+V, De acordo com Perrenoud (2000, p. 26) “durante muito tem-
C+V, C+C+V…); po a tarefa do professor era assimilada à aula magistral seguida
- Jogo de dicas, sempre com a mesma sílaba inicial (por de exercícios”. Com as novas tecnologias essa concepção de en-
exemplo, “BA”): “O macaco come muito!”, “A mamãe usa na sino mudou. As novas tecnologias se tornaram então excelentes
boca”, “Parte no corpo”; ferramentas de apoio ao processo educacional. E para essa ade-
- Sequência de palavras dentro de um campo semântico: rência às novas tecnologias faz-se necessária competência por
“leão, gato, elefante e ca…”, “régua, borracha, lápis e ca…”; parte do docente. “A noção de competência designará aqui uma
- Subtração e adição de sílabas em palavras (o que acontece capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos para en-
se eu tirar o “sa” de “sapato”?); frentar um tipo de situações. (PERRENOUD, 2000, p. 26).
O professor que utiliza em sala de aula, de mídias como: ví-
- Dividir as palavras em sílabas e contar quantas divisões fo- deos, slides de apresentações em powerpoint, áudios, computa-
ram feitas; dores ou tablets percebem que estas são excelentes ferramentas
- Link do material “As letras falam”. deensino- aprendizagem, e dizem, consequentemente à novas
formas de conhecimento, que conforme nos aponta Edgar Morin
Consciência fonêmicaé o processo mais complexo, pois tra- em “Sete saberes necessários à educação do futuro”, diz respeito
ta-se da menor das unidades linguísticas. É o dar-se conta de que à “uma tradução, seguida de uma reconstrução. Mesmo no fenô-
cada letra representa um som. meno da percepção em que os olhos recebem estímulos lumino-
- Subtrair ou adicionar fonemas; sos que são transformados, decodificados, transportados a um
- Palavras iguais apenas com o primeiro fonema diferente outro código” (MORIN, 2002, p. 20).
(mola, bola, cola, gola…);
- Leitura de frases onde os fonemas se repetem e pedir que Tecnologia para alfabetizar e letrar no século XXI
os alunos identifiquem qual é; A competência é a base para a formação da cidadania que,
- Ditado fonético: a professora faz os sons os alunos escre- por conseguinte, diz respeito àquilo que buscamos dentro do
vem a letra correspondente; processo educacional. Cada vez mais novas demandas são exi-
- Contar o número de sons de cada sílaba gidas do cidadão. Isso implica numa revisão do processo educa-
cional. Implica também numa evolução que remete a sairmos
A tecnologia a favor da alfabetização do modelo tradicional, do quadro e do giz para o quadro branco
Para viver em sociedade o homem precisa se comunicar. em que não há mais giz, para a lousa virtual e para os sistemas
Pode ser por meio de uma simples mensagem escrita, uma con- interativos de comunicação. Estamos falando da informática na
versa ao telefone, um e-mail, um assovio, uma discussão olho educação, da tecnologia na informação. E também da evolução
no olho. Pode ainda ser numa aula, numa palestra, por meio de no processo educacional que necessitam evoluir. Logo, é impor-
uma notícia de jornal, um programa de rádio, um livro publicado. tante levarmos em consideração que “… o conhecimento deve
Não há nada de novo nisso. O homem sempre buscou formas se referir ao global. O global sendo, bem entendido, a situação
de se comunicar. Contudo, por que, então, falamos, atualmen- de nosso planeta, onde, evidentemente, os acidentes locais têm
te, em era da comunicação? Responder a este questionamento repercussão sobre o conjunto e as ações do conjunto sobre os
no leva a ponderarmos que a internet aproxima as pessoas de acidentes locais…” (MORIN, p. 04).
tal forma que podemos nos comunicar sincronicamente com Para Morin, esse fenômeno que estamos vivendo hoje em que
alguém do outro lado do mundo. Situações que demandavam tudo está conectado” (MORIN, p. 09). Ou seja, os paradigmas anti-
meses para que as pessoas interagissem. Nesta perspectiva po- gos devem ser quebrados. É isso que se propõe à nova conjuntura
demos arrazoar ainda que cada pessoa hoje é ‘repórter’ do seu social: a informática e a tecnologia de informação na educação.
próprio mundo. Isso implica dizer que as pessoas, atualmente, Neste sentido, a escola sempre ficou um pouco para traz.
podem se posicionar sobre qualquer fato, publicar no seu blog, Deste modo, na hora em que se muda um paradigma tem-se
entrar no jornal e fazer um comentário sobre um fato que acabou que mudar a forma de tratar isso porque a escola faz parte de
de acontecer. Logo, a internet possibilita uma comunicação em uma sociedade, a mídia faz parte de uma sociedade. A sociedade
rede, uma divulgação da realidade instantaneamente e em rede, é midiatizada, ou seja, pensa de acordo com a lógica de mídia.
o que converge para a educação do futuro, explicitada por Edgar Logo, a escola também terá de pensar no mesmo sentido a fim de
Morin, que afirma que: “a educação do futuro deverá ser o ensi- que cumpra o seu papel. A informática nada mais é do que o pro-
no primeiro e universal centrado na condição humana” (MORIN, cesso de gerar informações de forma automática. E a informática
2002, p. 47). é proporcionada hoje em sala de aula, principalmente através do
A internet faz parte de um processo contemporâneo, é um uso do computador. Nós temos o notebook, o desktop, o note-
processo de comunicação de massa unilateral. A possibilidade de book, temos hoje os tablets, e pagerem geral, além dos celulares.
democratização que ela nos coloca é real. É na parte de transmissão de informações que reside a gran-
Através da internet começamos a perceber que não somente de importância desse processo porque enquanto tínhamos com-
o universo escolar, mas todos os espaços necessitam do seu uso. putadores isolados, capazes de armazenar e processar informa-
Ela tem um impacto na forma como as pessoas trabalham, se ções isso não despertava muito interesse do educando. Mas a
divertem, e é claro, aprendem. partir do momento que estamos conectados em rede e somos
Mas como incorporar as tecnologias como abordagem comu- capazes de transmitir informações o educando passou a ter mais
nicativa? Como criar condições para os estudantes exercitarem interesse pela questão da informática na sala de aula.
a capacidade de selecionar a informação, resolver problemas e No que tange às aplicações de um computador, eles são usa-
transformar informação em conhecimento? Quais os desafios dos nos negócios, na medicina e na saúde pública, na educação, na
que viemos enfrentando? Porque adotar uso de novas tecnolo- engenharia, manufatura, política, entretenimento, etc. Ora, então
gias em sala de aula? porque não ter o computador na sala de aula, se ele é utilizado em
todos os segmentos da sociedade moderna em que vivemos hoje.
É óbvio que ele também terá que ser usado em sala de aula.
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
O computador é uma máquina programável, capaz de rea- A influência do computador no processo de alfabetização e
lizar uma grande variedade de tarefas. Quando mostramos que letramento não pode ser deixado de lado e neste sentido é im-
estas tarefas envolvem atividades do cotidiano do educando ele portante salientar as atividades realizadas para o desenvolvimen-
passa a ter maior interesse nas tarefas. to das habilidades referentes ao uso do computador. Conhecer
Vídeo, áudio, imagem, tudo isso é extremamente sedutor e saber utilizar essa mídia é fundamental, principalmente para
para o jovem de hoje. Os textos e os números nem sempre o são. crianças que já nasceram em uma época onde o computador é
Porém, vídeos, imagens e sons envolvem o jovem e o adolescen- utilizado para realizar inúmeras tarefas simples do cotidiano.
te numa proporção que a maioria de nós não é capaz ainda de E diante de toda essa conjuntura Moran (2005) nos lembra
mensurar. que o novo profissional deverá, portanto, “integrará melhor as
Assim sendo, a sala de aula deve preparar o indivíduo para tecnologias com a afetividade, o humanismo e a ética. Será um
o mundo. Se o mundo é permeado de informática e de compu- professor mais criativo, experimentador, orientador de proces-
tadores, a sala de aula também deve fazer uso do computador e sos de aprendizagem […] ”Assim utilizar a tecnologia com crian-
da informática e de forma interligada à internet para preparar o ças traz benefícios para o desenvolvimento da alfabetização e do
educando para o mundo. letramento e também pelo simples fato de ensinar aos alunos a
utilizá-la para melhorar a vida.
Convivemos com o desafio de educar numa sociedade que E nesta ótica, podemos compreender o que nos traz a au-
se transforma aceleradamente, que se faz e desfaz com uma im- tora Magda Soares no que tange ao letramento, pois conforme
pressionante rapidez. entendimento da autora, a criança quando vem à escola, dá con-
A informática no contexto educacional torna-se uma impor- tinuidade a um trabalho de letramento que ela já vinha desenvol-
tante ferramenta que visa proporcionar o aprendizado de modo vendo dentro do seio da família e da sociedade como um todo, e,
mais dinamizado, até mesmo pelo fato do computador, a infor- em contato, com outros textos, com outros gêneros, com ativida-
mática e a conexão em rede estarem presentes em todos os as- des que o professor estimula, como por exemplo, ouvir cantigas,
pectos da vida social e da vida cultural do ser humano hoje que cantar músicas de roda, declamar poemas, produzir poemas, ter
vive na área urbana na nossa sociedade moderna. contato com brincadeiras, com jogos, ler e escutar fábulas, con-
Há algum tempo que se diz que o ensino de línguas, por tos maravilhosos. Esse trabalho tem continuidade e dentro dele
exemplo, é o ensino para a comunicação. No entanto esse ensino é perfeitamente possível empreender também um trabalho de
ficava dentro da sala de aula ‘didatizado’, simulado. alfabetização.
Hoje os professores ao utilizarem a internet, colocarem seus Perrenould nos aponta para os saberes necessários à educa-
alunos para utilizarem as ferramentas da internet, há possibili- ção do futuro, e convergente a isso, podemos ainda apreender
dade de se fazer práticas sociais da linguagem reais. Quando nos que é muito importante, durante a fase escolar da criança e da
referimos às práticas sociais está se refere ao sentido do aluno vida dela, não deixarmos de lado o espírito lúdico, o espírito da
poder não apenas simular que está escrevendo uma carta para brincadeira. É importante também que os professores fiquem,
alguém, criticando algo, mas de fazer essa crítica em um blog, portanto, atentos a essa questão, de modo que turmas inseridas,
por exemplo, onde outras pessoas podem entrar, interagir com por exemplo, no 1º ou 2º ano, que são os anos voltados para
ele e comunicar. a alfabetização tenham a leveza necessária para que a criança
As ferramentas que nós dispomos atualmente, como o pró- não se sinta numa escola presa naquele sentido tradicional de
prio celular, as máquinas fotográficas são de uso muito fácil. estudar, como Paulo Freire em seus textos nos chama a atenção,
Muitas pessoas são capazes de fazerem um vídeo, de fotografar, mas para que, o trabalho de letramento e de alfabetização tenha
editar fotografias e publicar na internet fazendo com que outras a mesma leveza, assim como essa criança brinca com os amigos
pessoas vejam e interajam com o autor desses produtos. na hora do intervalo, na rua, com a família em casa, portanto,
A tecnologia tornou-se um dos componentes para uma edu- poderíamos usar o termo “educação libertadora” no sentido frei-
cação de qualidade. Contudo, a educação de qualidade tem um riano, de modo que, a criança brincando com jogos, ouvindo mú-
espectro muito maior do que somente o uso das tecnologias. sicas, cantando músicas, sendo feitas, a partir daí atividades de
Portanto, ela contribui, mas não é o único elemento. A forma- reflexão em torno do sistema alfabético da língua de forma que
ção dos professores, gestores e da própria escola, o trabalho co- a criança levante hipóteses da escrita de algumas palavras, sobre
laborativo em torno de um projeto pedagógico consistente e a o seu próprio nome, sobre os nomes dos colegas, de forma que
participação de todos faz parte dessa educação maior que é a tudo isso seja levando também para uma produção de texto que
educação que procuramos, uma educação democrática, inclusiva resulte em alguns projetos.11
e uma educação que promove o processo de ensino e aprendiza-
gem ao longo da vida. A perspectiva infantil na fase da alfabetização
Portanto, as tecnologias são importantes como apoio, haja Acima nós já abordamos as fases da alfabetização, de forma
vista que a educação de qualidade pode ser feita até sem uso que faremos agora uma pequena abordagem sobre o assunto.
das tecnologias, mas no mundo atual, no mundo já conectado, Atualmente fala-se muito de uma escolarização precoce. Isto
em rede, ficaria inadequado trabalhar todos esses conteúdos é, a criança passa pelo processo de alfabetização antes dos seis
sem essa mediação que usamos no cotidiano, no dia a dia, no anos de idade, saindo da Educação Infantil alfabetizada. No en-
trabalho. tanto, quando isso acontece, os pequenos acabam passando o
Como nos expõe Moran (2000, p. 50), “é preciso educar para maior tempo do dia dentro da sala de aula. Embora isso possa pa-
usos democráticos, mais progressistas e participativos das tecno- recer positivo inicialmente, também faz com que tenham menos
logias, que facilitem a evolução dos indivíduos”, pois, conforme o tempo para realizaratividades ao ar livre, que tanto auxiliam no
autor, quando a criança chega à escola os processos fundamen- seu desenvolvimento físico, no amadurecimento do cérebro, na-
tais de aprendizagens já estão desenvolvidos de forma significati- socialização afetivae também em seuprocesso de aprendizagem.
va. E por esta via, concomitantemente, urge também a educação
para as mídias, para compreendê-las, criticá-las e utilizá-las de
forma mais abrangente possível.
11 Fonte: www.nucleodoconhecimento.com.br
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Qual o momento ideal para iniciar o processo de alfa- Tipos de Textos
betização? Antes de mais nada, para produzir um bom texto é muito
Sobre o período ideal paraalfabetização infantil, há especia- importante conhecer os diversos tipos de textos existentes, para
listas que defendem que na primeira infância, a criança precisa que seja coerente com a proposta.
ser criança. Ou seja, preencher seu tempo com brincadeiras e
atividades ao ar livre. Por outro lado, alguns profissionais acre- Assim, os principais tipos de textos são:
ditam que a antecipação do processo de alfabetização beneficia - Dissertação: texto argumentativo e opinativo, por exem-
o avanço cognitivo dos pequenos. É preciso que exista um equi- plo, artigos, resenhas, ensaios, monografias, etc.
líbrio entre a etapa inicial da alfabetização e o estímulo motor, - Narração: narra fatos, acontecimentos ou ações de perso-
considerando que os pré-escolares estão em idade propícia para nagens num determinado tempo e espaço, por exemplo, crôni-
o desenvolvimento de uma série dehabilidadespessoais e inter- cas, novelas, romances, lendas, etc.
pessoais que são vitais para fomentar acriatividade. - Descrição: descreve objetos, pessoas, animais, lugares ou
Acredita-se que o exercício que mais se adapta ao processo acontecimentos, por exemplo, diários, relatos, biografias, currí-
de aprendizagem na Educação Infantil, consiste em apresentar culos, etc.
uma didática que estimula a curiosidade dos pequenos através
de atividades lúdicas e sensoriais. Além disso, é recomendável Psicomotricidade
que nesta didática contenham materiais que apresentem infor- Segundo o portal da Associação Brasileira de Psicomotri-
malmente o início da escrita – letras e palavras, levando em con- cidade a Psicomotricidade é uma ciência que estuda o homem
sideração a não obrigação do aprendizado formal nesta etapa. através do seu corpo em movimento, em relação ao seu mundo
Refletindo sobre aimportância do brincarpara o desenvol- interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber,
vimento infantil nos primeiros anos de vida, acreditamos que o atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo.Den-
ideal é que o processo de alfabetização não aconteça de maneira tre outras habilidades que a criança pode desenvolver através
precoce. Mas isso não significa que não seja possível apresen- das atividades em sala de aula estão a aprendizagem da leitura e
tar as letras e palavras aos pequenos antes disso. Pelo contrário! da escrita que exige boa coordenação óculo-manual para acom-
Existem diferentes formas de estimular e preparar a criança para panhar as linhas de uma página com os olhos ou os dedos, boa
o momento da alfabetização. Confira algumas dicas que prepa- percepção auditiva para perceber os diferentes sons das letras
ramos para ajudar você a iniciar este processo em casa com seu e boa percepção visual para reconhecer as diferenças entre as
filho. Lembrando que é importante que este seja um momento consoantes. A função do psicomotricista é interagir com a crian-
prazeroso, leve e sem obrigatoriedade alguma! ça e identificar suas dificuldades e potenciais para poder criar
estratégias que contribuam para o seu desenvolvimento motor,
1. Contação de histórias afetivo e psicológico. Dentre suas funções estão a avaliação, a
A leitura é imprescindível neste processo, pois é ela que ofe- prevenção, o cuidado com a criança na relação com o ambiente
rece à criança um universo mágico e ilimitado de palavras, unin- e processos de desenvolvimento, tendo por objetivo atuar nas
do diferentes significados que fazem sentido no universo infantil. dimensões do esquema e da imagem corporal em conformidade
com o movimento, a afetividade e a cognição.
2.Ouvir e Cantar
O universo infantil é repleto decantigasque já fazem parte do O indivíduo vive imerso em um espaço em que tanto ele
repertório da criança ainda na barriga da mãe. Inseri-las na rotina quanto os objetos que o rodeiam formam um conjunto de re-
do seu pequeno é muito bom para auxiliar o desenvolvimento da lações que se estruturam com grande complexidade: daí a ne-
musicalidade. Cante-as para ele, assim as palavras já vão sendo cessidade de percebe-las e representá-las mentalmente. O de-
assimiladas, facilitando o processo de alfabetização infantil. senvolvimento dele dar-se-á pela apropriação de linguagens e de
formas cognitivas mais complexas existentes em seu contorno
3.Apresente diversos materiais cultural, a qual ocorre nos inúmeros em que ele estabelece e per-
Neste processo é interessante que você apresente diferentes cebe relações com elementos de sua cultua e as avalia.
tipos de leituras. Tais como, revistas, jornais, panfletos, receitas, Desde o nascimento, graças à maturação do sistema nervoso
etc. Não se esqueça de fazer a leitura destes materiais de manei- e à realização de tarefas variadas com diferentes parceiros em
ra pausada para que o pequeno leitor consiga assimilar todo o situações cotidianas, a criança desenvolve seu corpo e os movi-
conteúdo apresentado a ele.12 mentos que com ele pode realizar. Os mecanismos que usa para
orientar o tronco e as mãos em relação a um estímulo visual, por
PRODUÇÃO DE TEXTOS exemplo, são complexos e acionados à medida que ela manipu-
A produção de textos é o ato de expor por meio de palavras la e encaixa objetos, lança-os longe e os recupera, os empurra,
as ideias, sendo uma ação deveras importante. puxa, prende e solta. Locomove-se, assume posturas e expressa-
Saber produzir um texto pode ser um pré-requisito para con- -se por gestos, que são cada vez mais ampliados.
seguir um emprego, uma vaga na faculdade, dentre outros. De início o recém-nascido pode apenas diferenciar seu
Pessoas que escrevem bons textos conseguem se expressar próprio corpo do mundo que o rodeia. Depois toma a si mes-
melhor. A leitura, intimamente ligada à escrita, é um ato essen- mo como referência para perceber o entorno. Ao movimentar
cial para se produzir um bom texto. o corpo no espaço, recebe informações próprio- perceptivas (ci-
Enquanto lemos estamos ampliamos nosso vocabulário e, nestésicas, labirínticas) e externo- perceptivas (especialmente vi-
consequentemente, nosso universo interpretativo. Ou seja, com suais) necessárias para interpretar e organizações relações entre
o ato da leitura estamos aumentando nossa capacidade de en- os elementos, formulando uma representação daquele espaço.
tender melhor tudo que nos rodeia. A motricidade também se desenvolve por meio da manipulação
Assim, é muito importante saber escrever bons textos, e so- de objetos de diferentes formas, cores, volumes, pesos e textu-
bretudo, ter o hábito da leitura. ras. Ao alterar sua colocação postural conforme lida com esses
12 Fonte: www.leiturinha.com.br
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
objetos, variando as superfícies de contato com eles, a criança ciais que trabalham diferentes competências ou instituem ritos
trabalha diversos segmentos corporais com contrações muscula- de formação de habilidades e atitudes julgadas básicas para o
res de diferentes intensidades. Nesse esforço, ela se desenvolve. desenvolvimento social das novas gerações.
Se, até aproximadamente os 6 anos, a criança tem uma pers- De início, pensamento e linguagem têm origens diversas. Há
pectiva egocêntrica na sua percepção das relações que estabele- o pensar sensório-motor e a linguagem não cognitiva, por exem-
ce com elementos do espaço- proximidade e distância, ordem e plo, os balbucios. No entanto, ambos os elementos convergem
inclusão, continuidade e ruptura, etc.- a partir daquela idade vai no desenvolvimento para a formação do pensamento discursivo.
assumir cada vez mais pontos de vista externos a si mesma para A habilidade da criança para refletir sobre a definição de uma
compreender o mundo. palavra é uma capacidade multifacetada e de lento desenvolvi-
Os recursos de que as crianças dispõem, contudo, não cons- mento, com precursores cognitivos e linguísticos. Incapaz de de-
tituem apenas atos motores, mas são instrumentos para a reali- finir uma impressão, a criança simplesmente a exprime, usando
zação de atividades simbólicas, como por exemplo, marchar para uma linguagem exclamativa. Incapaz de “pensar” um fenômeno,
ser um soldado ou arrastar-se com cuidado para ser um explora- fixando suas características essenciais e descartando as acessó-
dor de tesouros, simbolismos que aprende de sua cultura. Além rias, ela verbaliza apenas seus elementos mais notáveis.
disso, a criança nasce em um mundo onde estão presentes siste- O relato infantil de determinado caso ou evento não busca o
mas simbólicos diversos socialmente elaborados, particularmen- equilíbrio entre causas e efeitos, a proporcionalidade entre ação
te o sistema linguístico. Este perpassa as atividades produzidas e resultado, a coerência entre as partes. É formado pelo enca-
no ambiente humano em que a criança se desenvolve e permite- deamento de circunstâncias. A descrição de algo pela criança re-
-lhe apropriar-se da experiência das gerações precedentes. quer- lhe coordenar as próprias impressões e processos mentais.
A capacidade de adquirir a língua de seu grupo é uma carac- Implica processo gestual, ideomotor, ou identificação do objeto
terística específica da espécie humana e supõe um equipamento consigo mesmo, estabilizando-o. Por sua vez, as tarefas de definir
anatômico e neurofisiológico adaptado, particularmente órgãos e de explicar supõem um movimento de isolamento de palavras
periféricos e sistema nervoso central apropriados e em adequa- dentro de um universo e sua reintegração em um todo, trazendo
do estado de funcionamento. Contudo, a aquisição da linguagem elementos perceptivos, linguísticos e cognitivos de modo forte-
é um processo sócio- histórico. O desenvolvimento da linguagem mente indissociável.
apoia-se em forte motivação para se comunicar verbalmente As respostas infantis parecem indicar a dificuldade do pen-
com outra pessoa, motivação parcialmente inata, mas enriqueci- samento de identificar, diferenciar e relacionar sucessão, causa-
da durante o primeiro ano de vida nas experiências interpessoais lidade e pertinência de elementos, de estabelecer relações como
com a mãe, pai, irmãos e outros educadores. as de lugar, tempo, movimento e causalidade. Os discursos dos
As crianças engajam-se, desde o primeiro momento, em um professores, dos pais e da mídia interagem com as condições
processo de comunicação no qual são estimuladas a desenvolver psicológicas das crianças em cada idade, produzindo importante
procedimentos que lhes permitem questionar o mundo e apro- combinação de processos pelos quais signos culturais são pes-
priar-se dele. Desde cedo o entorno humano empreende uma di- soalmente interpretados e apropriados por elas.
ligência ativa de integração do bebê em formas pré-construídas A capacidade da criança de recombinar sinais e sentidos, res-
da língua: nas atividades conjuntas, parceiros mais experientes pondendo de forma sempre nova a cada situação, interage com
apresentam-lhe normas relativas tanto aos comportamentos e às a tentativa sistemática das instituições educacionais de controlar
formas de relações interpessoais como às palavras da língua e suas respostas.
suas condições de uso. Devemos transformar as formas como práticas educativas sã
O desenvolvimento da capacidade de perceber e produzir pensadas e considerar a interação social como o elemento mais
sons da fala é o precursor mais direto da linguagem. Os bebês importante para promover oportunidades de aprendizagem e
logo discriminam sons, são sensíveis a entonações, passam se- desenvolvimento
letivamente a reagir a sons próprios de sua língua materna en-
quanto esquecem outros. Tal desenvolvimento vai se enriquecer O papel da educação psicomotora na escola
com a formação da capacidade tanto de categorização de obje- É por meio do corpo que a criança realiza as suas primeiras
tos, que será a base da denominação e da referência, como de trocas com o mundo e se forma psicologicamente. O desenvolvi-
imitação e memória, necessárias para reproduzir padrões vocais mento da Psicomotricidade na criança envolve várias áreas que
e gestuais. Esse trabalho formativo se prolongará por toda a vida, vão desde a maturação do sistema nervoso, processos neuro-
especialmente por meio da educação escolar, e garantirá a aqui- motores, pré-requisitos, coordenação, chegando até mesmo ao
sição, reprodução e transformação das significações sociais cul- corpo e a emoção.
turalmente construídas. A psicomotricidade é um termo empregado para a concep-
O sistema linguístico é operável em torno dos 4 a 5anos, épo- ção de um movimento organizado, integrado, por meio de expe-
ca em que a criança domina o essencial do sistema fonológico, riências vividas pelo indivíduo e cuja ação é o resultado de sua
conhece o sentido e as condições de uso de muitas palavras em individualidade, linguagem e sua socialização. Assim, o desenvol-
sua cultura e utiliza corretamente a maior parte das formas mor- vimento psicomotor da criança é sem dúvida um fator indispen-
fológicas e sintáticas de sua língua. A partir dos5anos ocorrem sável para a sua aprendizagem, pois se a aquisição for precoce
novos progressos. Tal sistema continua a se reorganizar e aper- pode ser compensada mais tarde por um atraso. Isto significa que
feiçoar até a pré-adolescência, enriquecido pelas experiências o ideal é que a criança possa integrar cada um de seus processos
culturais das crianças, particularmente por sua vivência escolar. antes de incorporar um novo. Todo desenvolvimento psicomotor
A construção social dos conhecimentos em ambientes socio- é realizado por meio de uma adaptação a estímulos externos, ou
culturais específicos dependem assim da comunidade de inter- seja, organismo e meio ambiente são dependentes um do outro,
câmbio à qual pertence o aprendiz e dos ambientes de apren- surgindo o raciocínio e a socialização dos desejos.
dizagem criados como recurso para a aprendizagem. Nesses A psicomotricidade não é algo como uma técnica nova ou
ambientes, tempos, espaços e atividades definem práticas so- até mesmo uma corrente de pensamento, mas sim, uma ciência
com fins educativos e que emprega o movimento humano. O que
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
se pretende esclarecer é que este movimento do corpo trás be- A teoria de Piaget: Conheça as fases do desenvolvimento
nefícios à criança em desenvolvimento e no processo de apren- infantil
dizagem, tornando o ensinar e aprender algo mais tranquilo e O que as crianças são capazes de aprender em cada estágio
prazeroso, frente aos desafios que a criança enfrenta ao adentrar de seu desenvolvimento? Como suas habilidades para reagir e
a escola. E isto faz com que a sua alfabetização seja mais aprovei- interagir com o ambiente se desenvolvem e em que ordem?
tada e prazerosa, evitando futuros problemas de aprendizagem. Essas foram algumas das perguntas que o psicólogo francês
Jean Piaget respondeu em 1952, quando publicou sua teoria so-
Piaget e o Desenvolvimento da Inteligência bre o desenvolvimento cognitivo em crianças.
Estudar Piaget é laborioso uma vez que a amplitude de sua A pesquisa de Piaget começou com seu interesse sobre como
obra atinge vários pontos de observação. as crianças reagiam aos ambientes. Acontece que suas observa-
Seria irreal articular que sintetizo Piaget aqui em poucas li- ções começaram a divergir do pensamento da época, o levando
nhas, já que dedicar se a entenderPiaget é devotaranos de envol- a criar uma nova teoria sobre desenvolvimento cognitivo que se
vimento comsua obra. tornou a mais conhecida e influente até hoje.
Jean Piaget investigou através da Psicologia da Inteligência
como se desdobra a gênese do pensamento humano. Os quatro estágios cognitivos do desenvolvimento infantil
Destaco alguns pontos importantes de sua teoria que são A teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget suge-
notáveis. re que as crianças passam por quatro estágios diferentes de de-
A Epistemologia genética é uma junção do que é natural, senvolvimento mental. Sua teoria se concentra não apenas na
inerente ao ser humano, com o meio que o cerca, diz respeito compreensão de como as crianças adquirem conhecimento, mas
ao desenvolvimento (gênese) da inteligência , demonstra comoo também na própria natureza da inteligência.
homem constrói a inteligência.
O crescimento da inteligência surge muito mais por reorgani- Fase sensório-motora: Nascimento até cerca de 2 anos
zações mentais, para se obtermais possibilidade de assimilação. Durante este estágio, as crianças aprendem sobre o mundo
Esse desenvolvimento ocorre empírico e reflexivo, é o processo por meio dos seus sentidos e da manipulação de objetos. A prin-
da criança pensar sobre o mundo e pensar sobre sua ação sobre cipal conquista durante este estágio é a permanência do objeto,
o mundo. ou seja, saber que um objeto ainda existe, mesmo que você não
A criança muito pequena age como um cientista, ela conse- possa vê-lo.
gue pesquisar as causas de um fenômeno, daí parte-se da ideia Isso requer a capacidade de formar uma representação men-
de que o ser humano busca conhecimento. A criança tem essa tal dos objetos.
necessidade de construir tudo, mesmo o que pareça mais eviden-
te, é a percepção do universo que a cerca. Fase pré-operacional: De 2 a 7 anos
Durante esse estágio, as crianças desenvolvem a imaginação
Os conceitos de Piaget acerca do desenvolvimento são: e a memória. Elas também são capazes de entender a ideia de
Assimilação- quando o sujeito entra em contato com o meio, passado e futuro, e interpretar as coisas simbolicamente.
retira a informação dele, se organiza à sua maneira e interpreta. O pensamento nessa fase ainda é egocêntrico, desse modo,
Acomodação- conceito contrário ao senso comum, as estru- a criança tem dificuldade em ver o ponto de vista dos outros.
turas mentais se modificam para dar conta da singularidade do
objeto. Estágio operacional concreto: 7 a 11 anos
Equilibração- o sujeito entra em contato com o objeto novo e Durante esse estágio, as crianças se tornam mais conscientes
fica em conflito, acomoda-se (modifica-se para dar conta). do sentimento dos outros e dos eventos externos. Elas vão se
Piaget afirma que infância é marcada por etapas de adap- tornando menos egocêntricas, começando a entender que nem
tação aos meios físico e social. Nela são formadas as estruturas todos compartilham seus pensamentos, crenças ou sentimentos.
cognitivas e o desenvolvimento da inteligência , um desenvolvi- Para Piaget, esse estágio é um grande ponto de virada no
mento não linear, mas em saltos, intermitente. Em uma lógica desenvolvimento cognitivo da criança, pois marca o início do
que sempre será substituída por outra mais avançada. pensamento lógico ou operacional. Isso significa que a criança
pode resolver as coisas internamente em sua cabeça, em vez de
São três os estágios mais relevantes do desenvolvimento apenas fisicamente.
da inteligência:
1- Sensório motor (0 a 24 meses) Estágio operacional formal: 11 anos ou mais
2- Pré operatório (02 a 07 anos) O estágio operacional formal começa aproximadamente aos
3- Operatório (7 anos em diante) onze anos e dura até a idade adulta. Durante esse estágio, as
crianças são capazes de usar a lógica para resolver problemas,
De 7 a 12 anos Operatório concreto. planejar seu futuro e ver o mundo ao seu redor.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Deste modo, o desenvolvimento cognitivo seria uma reorga- cação. Seria, talvez, desnecessário dizer que não fogem à regra as
nização progressiva dos processos mentais, que evolui de acordo ações que se envolvem diretamente com o corpo, como é o caso da
com a maturação biológica e a experiência ambiental. Educação Física.
Em sua teoria, Piaget descreve alguns componentes básicos Torna-se bastante difícil falar do corpo, pois esquecemos ou fo-
para esse processo: mos levados a nos esquecer que somos corpo, de que nossas comu-
nicações cotidianas com o mundo ocorrem através dele e com ele.
Esquemas: os blocos de construção do conhecimento Mas é fundamental que se pense a questão do corpo na educação,
Os esquemas são os conjuntos de representações mentais procurando desvelar as concepções e valores, bem como os reais
que relacionamos com o mundo, que permitem que possamos significados que estão implícitos nas ações escolares, visto que,
entender e responder a situações. Ou seja, eles são a maneira de como fala Paulo Freire que:
organizar o conhecimento que temos do mundo.
Esse conhecimento fica armazenado em blocos, cada um “A conscientização não pode existir fora da ‘práxis’, ou melhor,
relacionado a um aspecto do mundo, incluindo objetos, ações sem o ato ação-reflexão. Esta unidade dialética constitui, de ma-
e conceitos abstratos. Esses esquemas podem ser considerados neira permanente, o modo de ser ou de transformar o mundo que
como um manual para o cérebro, dizendo ao indivíduo como rea- caracteriza os homens”.
gir a certos estímulos ou informações recebidos.
Como estamos sempre recebendo novas informações e estí- Observando o cotidiano das práticas pedagógicas, começamos
mulos, esses esquemas estão em constante processo de transi- a nos interrogar sobre os porquês de determinados procedimentos,
ção e reorganização. atitudes, posturas assumidas, pelos professores, alunos e pais. Nas
conversas, olhares, reuniões ou comportamentos diante de situa-
Os processos de transição: assimilação e acomodação ções concretas, pode perceber que o corpo faz parte daquilo que
Jean Piaget via o crescimento intelectual como um processo Paulo Freire denominou cultura do silêncio, onde o corpo segue
de adaptação ao mundo, que poderia ocorrer por meio dos se- ordens de cima. Pensar é difícil; dizer a palavra, proibido. A esco-
guintes modos: la silencia a ação corporal-verbal que não esteja de acordo com as
normas estabelecidas. Assim procedendo, está criando um homem,
Assimilação uma mulher para a passividade, para a submissão, para aceitar as
Durante a assimilação, a criança utiliza um esquema já exis- regras do jogo”.
tente para lidar com um novo objeto ou situação. Por exemplo, As atividades propostas pelos professores não despertam a
uma criança de dois anos vê uma maçã, mas anteriormente ela criatividade, a curiosidade, o interesse pelas descobertas; não é es-
apenas conhecia o que era uma laranja. Por ver uma fruta com timulado o gosto pela pergunta.
formato parecido, a criança ira pensar que a maçã também é uma Os alunos são induzidos a responderem aquilo que o profes-
laranja. sor quer ouvir, geralmente uma resposta que ele já sabe. Duvidar,
criticar as atividades tidas como corretas é visto até como um ato
Acomodação de indisciplina e, muitas vezes, aqueles que se atrevem a resistir e
A acomodação acontece quando a criança não consegue as- contestar são punidos, discriminados e rotulados de maus alunos.
similar a informação em um esquema já existente, então ela pre- Além disso, assim como na família, o corpo é envolto de mis-
cisa alterá-lo, ou criar um novo esquema. térios: muitas coisas que dizem respeito a eles são proibidas; não
Continuando com o exemplo acima, quando a mãe da crian- se fala e quase não se toca em determinadas partes do corpo. Re-
ça explicar que apesar do formato aquela é uma fruta diferente, forçam-se os tabus que têm passado de geração em geração, sem
a criança irá reorganizar o seu esquema sobre “laranja”, sabendo que as maiorias dos educadores se preocupem em questioná-los
da existência de outras frutas. em profundidade.
Freire, com procedência, diz que os educandos são transforma-
O conceito de equilíbrio dos em seres passivos, que recebem os conteúdos, os conhecimen-
Quando os esquemas existentes de uma criança são capazes tos, de forma autoritária: muitas vezes impostos pelas Secretarias
de explicar o que ela percebe ao redor, diz-se que ela está em um de Educação às escolas, que, por sua vez, os impõem aos professo-
estado de equilíbrio. No entanto, quando novas informações não res, e estes aos alunos, de maneira completamente desvinculada da
podem ser encaixadas em esquemas existentes, ela entra em um realidade daqueles a quem se destinam.
incômodo estado de desequilíbrio. Essa passividade se expressa, regularmente, também a nível
Como não gostamos de estar frustrados, procuraremos res- corporal. É com o corpo que entramos em contato com o mundo,
taurar o equilíbrio dominando o novo desafio. Deste modo, po- o experienciamos, conhecendo seus detalhes, possibilidades e li-
demos dizer que o equilíbrio é a força que impulsiona o processo mites. A escola, por meio do cerceamento das ações corporais e
de aprendizagem. espontâneas e do desenvolvimento de atividades repetidas e roti-
Esses conceitos criados por Piaget revolucionaram o enten- neiras, busca o disciplinamento e controle, impondo pensamentos,
dimento sobre o desenvolvimento infantil, fazendo com que a ritmos, posturas e movimentos padronizados.
teoria piagetiana se tornasse a mais importante na área, guiando Segundo Silva na escola para a transformação, terá que existir
professores e especialistas até a atualidade. liberdade de movimentos, de expressão, de exploração de mate-
rial concreto, de convívio grupal, de vivência do corpo. Além disso,
A CORPOREIDADE NA ESCOLA acreditamos que, assim como Freire propõe que o alfabetizador
A educação desenvolvida nas escolas públicas está a merecer tome como ponto de partida o universo vocabular da população
uma reflexão, um repensar das ações em busca de novos caminhos. com que ele trabalha, o educador transformador deve partir do co-
Tem-se verificado, de forma generalizada nas diversas áreas de nhecimento corporal concreto de seus alunos.
conhecimento, que os professores que ali trabalham não se inter- Leal em suas experiências com alfabetização em uma escola na
rogam sobre o que fazem, para que e a quem interessa essa edu- favela da Rocinha/RJ observou que as brincadeiras das crianças são
uma de suas principais manifestações espontâneas. Através delas,
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
articulam todo o seu universo: os seus desejos, a sua sexualidade, Durante o feudalismo, quando a classe explorada tinha como
o seu desespero, a vida e a morte. Constatou ainda que, enquanto propriedade o sujeito que ela explorava, os trabalhadores estavam
na favela elas conseguiam se organizar para brincar e jogar, mas na presos a terra. Já no capitalismo o processo foi alterado: os traba-
escola não conseguiam fazer o mesmo. lhadores foram libertos da terra, mas isto implicou dupla dependên-
De nossa parte, também observamos que, no recreio, elas são cia do capital - são livres para vender a força de trabalho e subor-
capazes de se organizar, seguindo, por exemplo, nas brincadeiras e dinados ao comércio de produtos necessários à sua sobrevivência.
jogos, as regras por elas estabelecidas de comum acordo. Entende- O homem, em última instância, ao vender a sua força de trabalho,
mos que as crianças, na sala de aula, não conseguem se organizar vende o seu corpo ao capitalista, que paga uma quantidade mínima
como no recreio porque o professor centraliza todas as decisões, para repor as energias gastar e continuar no processo de produção.
não permitindo que elas exercitem seus conhecimentos, decidam A sociedade capitalista moderna, para atingir as finalidades, di-
e se organizem. rige a energia dos homens para o trabalho em proporções sem pre-
Soma-se a isso o fato de que as representações e os significa- cedentes, levando-os a tornarem-se alheios ao seu mundo, à natu-
dos que a escola e os adultos em geral têm sobre as brincadeiras e reza, às coisas e às pessoas que rodeiam, bem como a si próprios. O
jogos são diferentes daqueles das crianças. Segundo Oliveira, en- que interessa à organização industrial é um corpo com movimentos
quanto para o adulto brincar significa entreter-se com coisas ame- eficientes, úteis, funcionais, treinados e ritmados para a produção.
nas, esquecer, ainda que de maneira passageira, as desilusões e É desinteressante como mostra, que o corpo fale e que se expresse,
momentos de tensão, a criança, através do brinquedo, fazem sua que se comunique, mas interessa que produza, obedeça aos ritmos
incursão no mundo, trava contato com os desafios e busca saciar que são impostos, adaptando-se às necessidades da produção, sem
sua curiosidade de tudo conhecer. Esse autor afirma ainda que, no questioná-las.
brinquedo infantil, práticas e interpretações sociais estão represen- A sociedade em que vivemos é gestada em longo processo de
tadas, e sua análise nos propicia uma incursão nos problemas eco- instituições que moldam o indivíduo articulando-o ideologicamente
nômicos, socioculturais e políticos existentes em nossa sociedade. à ordem, reprimindo as suas manifestações anormais e recompen-
sando as normais. A escola, como parte da sociedade onde se inse-
Na medida em que estamos cientes de que para qualquer re, está marcada por essas ações.
transformação social é preciso ir além do senso comum, buscamos
neste estudo fazer uma reflexão crítica sobre nossas constatações O corpo na escola capitalista
do cotidiano escolar. É neste sentido que, a seguir, procuramos con- Alves afirma que Marx, em seus escritos, dizia que o capitalis-
textualizar historicamente as ações que se exercem sobre e no cor- mo é uma educação do corpo, que é ensinado a se esquecer de to-
po, a forma como têm sido interpretados as brincadeiras e jogos na dos os seus sentidos eróticos, sendo transformado apenas no local
educação e, conhecendo seus reais significados e sua importância de um sentido - sentido da posse - onde a sociedade transforma o
para o desenvolvimento das crianças, descobrirem como podemos desejo de ter e de usar na principal preocupação do homem.
resgatar a corporeidade. A escola utiliza-se de uma variedade de situações em seu co-
tidiano para fazer tal educação. Podem-se notar, através dos pro-
Algumas concepções de corpo gramas, conteúdos, dos horários, dos deslocamentos em filas, uma
Medida fazendo um relato histórico de como o corpo tem sido infinidade de modelos de ações que devem ser seguidos e cumpri-
visto através dos tempos, propõe algumas interrogações: o que é dos por todos. Nesse sentido, Foucault e Guimarães afirmam que
verdadeiramente o corpo? Como a humanidade o concebeu através um dos objetivos da escola é controlar o corpo, através de atitudes
dos tempos? de submissão e docilidade que ocorrem nos exercícios que esqua-
A partir dessas interrogações expõe o pensamento dos gran- drinham o tempo, o espaço, os movimentos, gestos e atitudes dos
des filósofos da Antiguidade e medievais, que viam o corpo como alunos. As ocupações ocorrem de maneira determinada, por meio
instrumento da alma (doutrina da instrumentação do corpo). Essa de ritmos coletivos e obrigatórios: aquisição dos mesmos conhe-
concepção conforme Medina foi abandonada com Descartes, que cimentos, os mesmos tipos de provas e exames. O professor, que
desenvolveu uma forma de dualismo “onde o corpo e a alma são possui um poder aparente nas decisões, exerce na sala de aula um
substâncias diferentes e independentes”. Para ele, o homem é fun- poder concreto ao nível do corpo dos alunos. Ao determinar que
damentalmente espírito, o que fica expresso na afirmação: Penso, eles executem as ações definidas por ele, influi também na criação
logo existo. O pensamento cartesiano continua a vigorar em nossa de um homem disciplinado, cumpridor de ordens que, ao chegar ao
sociedade, o que pode ser percebido em determinadas atividades sistema de produção, como trabalhador, possa cumprir o que este
através da valorização a elas dada, como é o caso do trabalho ma- lhe reserva: produção com o máximo rendimento, de preferência
nual e intelectual, sendo este mais valorizado. sem interrogações.
Já em nosso século, o filósofo Merleau Ponty vai se contrapuser Medina afirma que na determinação de nossa corporeidade há
a essa posição, com a afirmação “Eu sou meu corpo” - existo, logo marcada influência da infraestrutura socioeconômica.
penso. E, ainda, Cruz mostra que: Se vivemos num sistema capitalista, dependente, altamente
Merleau Ponty considera que a alma e o corpo, que ingenua- hierarquizado em níveis sociais, não só a escola como também o
mente Descartes separou e cuja separação influenciou o pensamen- homem, o corpo e suas manifestações culturais, serão produto ou
to universal, não podem ser novamente reunidos por um simples subproduto das estruturas que caracterizam este sistema.
decreto exterior que faça um, objeto do outros. Esta união na ver- No entanto, o autor chama a atenção para o fato de que as
dade se expressa em cada um dos movimentos ao longo de nossa relações ocorrem de forma dialética e jamais descontextualizada
existência. historicamente. É preciso que se veja em que níveis os fenômenos
acontecem, quais são os determinantes e quais são os determina-
Mas foi a partir de Marx que o corpo pôde ser visto com outras dos nessas relações.
dimensões, passando a revelar determinados dramas da existência
humana. Através de sua análise sobre as relações de trabalho, ele
trouxe à tona, de maneira indireta, a questão do corpo.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Brincar e jogar: o resgate da corporeidade É através do corpo que a criança, desde os primeiros dias de
Ao falarmos sobre brincadeiras, brinquedos e jogos, procura- vida, realiza brincadeiras que são fundamentais para o seu desen-
remos estabelecer algumas diferenças entre estes termos para que volvimento e crescimento. Bandet & Sarazanas afirmam que o cor-
se possa compreender os seus significados no contexto deste tra- po é o primeiro brinquedo que a criança utiliza para brincar.
balho.
Bettelhem e Oliveira são dois dos autores que se preocupam “O primeiro brinquedo da criança, objeto de sua atenção e es-
com esses conceitos, porém têm posições não totalmente conver- panto, é realmente o corpo humano, quer se trate do seu próprio
gentes. O primeiro estabelece uma distinção entre brincadeira e corpo, quer se trate do corpo de sua mãe”.
jogo: brincadeira não é pautada por regras, a não ser aquelas que a
própria criança impõe às atividades podendo alterá-las a qualquer Se observarmos a criança num berço, notaremos que ela não
momento; os jogos possuem regras e estrutura definidas e aspec- vê os brinquedos que lhe são oferecidos prematuramente. Ela brin-
tos competitivos que se aproximam mais do jeito do adulto passar ca com os dedos, mexendo uns após os outros, cruza, puxa os da
o tempo. Este autor afirma ainda que, ao brincar, a criança busca mão esquerda com a mão direita, olha para a mão. Aproximada-
um equilíbrio dentro de si mesmo, enquanto, no jogo, ela procura mente até os três meses, ela brinca quase exclusivamente com os
harmonizar-se em conformidade com a estratégia de seu oponen- dedos, cabelos, orelhas. A partir daí começa a ter interesse pelo
te. A criança na brincadeira estabelece uma ordem interna e no mundo exterior, descobre agora o corpo da mãe, passa-lhe a mão
jogo aceita e trabalha com a ordem externa, a fim de atingir seus pelo rosto, puxa-lhe os cabelos, enfia-lhe os dedos nos olhos e na-
objetivos. Já Oliveira entende que tanto as brincadeiras quanto os riz. Os acessórios da roupa da mãe despertam-lhe a curiosidade.
jogos são prática coletiva, que exigem uma série de conhecimen- À medida que a criança amplia suas experiências, o seu corpo
tos e regras que estabelecem uma diferença entre o brinquedo e a já não lhe basta, e aparece, então, o primeiro brinquedo. Através
brincadeira. das brincadeiras e jogos, constrói esquemas motores, exercita-se
Trata-se, primeiramente, de um objeto palpável, finito e ma- os repetindo, integra-os a novos tipos de comportamentos, avança
terialmente construído, podendo-se construir segundo formar em novas descobertas. No entanto, como nos lembra Chateau que:
variadas de criação, desde aquelas artesanais até as inteiramente (...) barbante, vara, traço são símbolos menos carregados de
industrializadas, sendo que o brinquedo separa-se da brincadeira e sentido do que o corpo: com o seu corpo a criança pode representar
do jogo, de vez que ambos se expressam muito mais por uma ação um mundo de objetos. Em primeiro lugar, seres humanos, eviden-
do que propriamente por um objeto. Nunca será demais insistir que temente; também seres vivos, coelhos, ursos, etc. Até objetos ina-
essa associação do brinquedo ao objeto e do jogo e da brincadeira nimados (...).
à ação não é mutuamente excludente, tanto a manipulação de um Os adultos, na maioria das vezes, não reconhecem a importân-
brinquedo qualquer implica necessariamente uma ação, enquanto cia da brincadeira infantil, que é vista como um mero passatem-
um jogo ou brincadeira socorre-se de objetos, suportes materiais po, destituída de significação. No entanto, na Carta dos Direitos da
para se realizarem. Criança, está escrito O direito de brincar, justamente porque, como
Por outro lado, Piaget não estabelece tais distinções, denomi- nos demonstram vários especialistas, é através das brincadeiras
nando jogo toda a atividade lúdica infantil. Porém ele realiza uma que ela busca entender o mundo: por exemplo, Bettelheim nos
classificação dos jogos, de acordo com a complexidade de suas es- lembra que ao brincar imitando os adultos, a criança tenta com-
truturas: o jogo de exercício, que é o que não supõe qualquer téc- preendê-los.
nica particular; o jogo simbólico, que implica a representação de
um objeto ausente, e o jogo de regra, que supõe relações sociais ou Através de uma brincadeira de criança, podemos compreender
interindividuais. como ela vê e constrói o mundo - o que ela gostaria que ele fosse
De nossa parte, neste estudo, nos inclinamos pelos estudos quais as suas preocupações e que problemas a estão assediando.
estabelecido por Piaget, mas entendemos que as brincadeiras pos- Pela brincadeira, ela expressa o que teria dificuldade de colocar em
suem regras definidas pelas próprias crianças, enquanto o jogo tem palavras. Nenhuma criança brinca espontaneamente só para pas-
regras definidas “oficialmente”, mas do jeito do adulto de jogar. sar o tempo, se bem que os adultos que a observam possam pen-
sar assim. Mesmo quando entre numa brincadeira, em parte para
As brincadeiras e jogos no desenvolvimento da criança preencher momentos vazios, sua escolha é motivada por processos
Huizinga teorizando sobre os jogos, afirma que, além das fun- íntimos, desejos, problemas, ansiedades. O que está acontecendo
ções de homo sapiens, que é raciocinar, e a do homo faber, que é com a mente da criança determina suas atividades lúdicas; brincar
de fabricar objetos, há nos homens e animais uma terceira, a do é sua linguagem secreta, que devemos respeitar mesmo se não a
homo ludens, onde o jogo é quem propicia a sua realização e se entendemos.
caracteriza como: Como exemplo dessa linguagem secreta, vários autores escla-
recem a importância que as repetições das brincadeiras têm para
...uma atividade livre, conscientemente tomada como ‘não se- as crianças. Enquanto para os adultos estas ações são percebidas
ria’ e exterior à vida habitual, mas ao mesmo tempo capaz de ab- como coisa chata e irritante, para ela executar mais uma vez a sua
sorver o jogador intensa e totalmente. É uma atividade desligada brincadeira expressa que ela está procurando compreender o que
de todo e qualquer interesse material, com a qual não se pode obter está fazendo. Bettelheim apresenta como significado:
lucro, praticada dentro de limites especiais e temporais próprios, A repetição verdadeira nos padrões de brinquedo é um sinal
segundo uma certa ordem e certas regras. Promove a formação de de que a criança está lutando com questões de grande importância
grupos sociais com a tendência a rodearem-se de segredos e a sub- para ela, e de que, embora ainda não tenha sido capaz de encontrar
linharem sua diferença em relação ao resto do mundo por meio dos uma solução do problema que explora através da brincadeira, con-
disfarces em outros meios semelhantes. tinua a procurá-lo.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Já Benjamim afirma ser esta uma lei fundamental desenvolvida Este mesmo autor relata que, em uma pesquisa realizada em
pela criança antes das leis particulares e regras que regem a totali- escolas elementares de Viena, foi constatado que 80% das crianças
dade de seus brinquedos: da 1ª série fracassaram porque não tinham desenvolvido a atitude
(...) para a criança ela é a alma do jogo; nada a alegra mais do de trabalho em seus jogos antes de ingressar na escola.
que ‘mais uma vez’. O ímpeto obscuro pela repetição não é aqui no Mas cabe aqui uma pergunta: Por que, mesmo tendo vários
jogo menos poderosos, menos manhoso do que o impulso sexual no autores escritos sobre a importância dos jogos e brincadeiras na
amor(...) A criança volta a criar para si o fato vivido, começa mais vida das crianças, a escola quase concretiza a hipótese de Chateau
uma vez do início (...). A essência do brincar não é ‘fazer como se’, fazendo com que elas parem de brincar de uma hora para outra,
mas ‘fazer sempre de novo’, transformação da experiência mais co- deixando os seus pátios e suas salas de aula silenciosa?
movente em hábito.
Como já vimos, a escola capitalista mais que propiciar o desen-
Chateu vê a repetição no jogo como um esboço de ordem: volvimento das crianças da classe trabalhadora tem como objetivo
Alguns jogos tornam-se verdadeira obsessão, uma criança de discipliná-las para tornar o seu trabalho cada vez mais produtivo e
oito anos bate até cem vezes as teclas de um piano, sem se cansar, lucrativo. É neste sentido que concordamos plenamente com Tho-
outra não para de abrir uma caixa (...). Um aluno da escola mater- maz (1986, p. 6) e outros quando afirmam que:
nal é ainda muito voltado para a repetição, podendo, por exemplo, Seria ilusão pensar que bastaria recomendar que os professo-
subir cem vezes seguidas os três degraus de uma escada (...). Os rit- res propusessem jogos e exercícios diferentes. A questão exige a for-
mos são uma repetição ainda mais precoce. Pode-se falar de ritmos mação de novos conteúdos práticos, exige também a veiculação de
vitais como o ritmo do sono, o da febre (...). Não é de se espantar compromissos por todos os canais que conduzem para onde possa
que também os jogos das crianças sejam sempre comandados por agir como força de pressão.
esse amor ao ritmo e à repetição. Os autores apontam os papéis que um jogo pode estabelecer
quando proposto pelo professor às crianças como um pacote, com
É por tudo isso que não podemos conceber a criança sem ri- regras, técnicas, táticas, organização, materiais prontos. À criança
sos e sem brincadeiras. Como disse Chateau se as crianças de uma ficara como alternativa jogar, exercitando-se segundo as determi-
hora para outra parassem de brincar, os pátios das escolas ficassem nações do professor, em habilidades mais desenvolvidas, até atingir
silenciosos, as vozes, os gritos fossem desajeitados, silenciosos e as determinações do professor, em habilidades mais desenvolvidas,
sem inteligência. Aquelas crianças que não brincam podem sofrer até atingir uma performance julgada satisfatória também pelo pro-
interrupções intelectuais, pois deixam de exercitar processos men- fessor. Quando o apito soa, é sinal que não está havendo atuação
tais importantes para o seu desenvolvimento. conforme o estabelecido pelo sistema. As recompensas e punições
Se para a própria criança, ela brinca apenas porque isso lhe dá são maneiras de estabelecer o condicionamento das crianças, bus-
prazer, na verdade, como nos esclarece Bettelheim a atividade lúdi- cando a disciplina, a ordem e a hierarquia que devem ser obede-
ca é uma necessidade que tem sua fonte na pressão de problemas cidas, ocultando as relações de poder que se expressam nestas
não resolvidos. ações. Aqui ocorre o desenvolvimento à subserviência, mas não a
(...) brincar é uma atividade com conteúdos simbólicos que as inteligência: desenvolve-se a obediência às regras, mas não a com-
crianças usam para resolver, num nível inconsciente, problemas que preensão de normas de respeito individual e social. Procura-se cer-
não têm condições de resolver na realidade; através da brincadeira ta habilidade motora, mas não a criatividade.
adquirem um sentimento de controle que no momento estão longe
de possuir. No entanto, vejamos: se a alternativa fosse jogar, seguindo uma
orientação geral, trabalhando com as crianças a elaboração de re-
É assim que, representando as suas fantasias no mundo do faz gras, das técnicas, os resultados seriam completamente diferentes.
de conta, a criança vai construindo uma ponte entre a sua subjeti- Frei Betto, por exemplo, quando na prisão, percebendo o poder
vidade e o mundo exterior, ao mesmo tempo em que aprende a ter que esta instituição exerce sobre o corpo, desenvolveu um trabalho
respeito pelas limitações que a realidade lhe impõe. com os presidiários, tendo como princípio pedagógico de sempre
fazer um trabalho a partir dos elementos fornecidos pelas experiên-
Da “morte” para a vida do brincar e jogar na escola cias vitais anteriores. Realiza exercícios, expressão corporal e tea-
A criança, ao ingressar na escola, enfrenta uma série de impo- tro. A partir da boca, utilizada como órgão de expressão - trabalho
sições dos adultos que levam a uma grande quebra no ritmo de sua de descontração da palavra -, levava os presos a tomarem consciên-
atividade lúdica. Ela, que passa a maior parte do tempo a brincar e cia de como o sistema age sobre o corpo, tornando-o um objeto.
jogar passa, agora, várias horas imobilizadas e presas às cadeiras, Assim procedendo, o educador tem como principal objetivo fa-
executando tarefas que não exigem quase nenhum movimento. Na zer com que os indivíduos desenvolvam elementos fundamentais à
maioria das vezes, o brincar passa a ser condicionado à realização sua cidadania, onde as diferenças sociais, os preconceitos, as inabi-
das tarefas escolares: Só brinca se realizar os deveres. As atividades lidades não fiquem escamoteados e camuflados. Simbolicamente,
da escola são vistas como “coisa séria”, enquanto que brincar e jo- o jogo representa o indivíduo e sua vida em sociedade. Tendo o
gar ficam em um plano secundário. jogo tais características, é preciso que essas representações ocor-
No entanto, Chateau afirma que dos jogos origina-se outra ati- ram em liberdade, que as condições se explicitem claramente. De-
vidade: o trabalho. Para ele, jogar é uma tarefa que exige um deter- nunciá-las, refletir sobre elas, aprendê-las e superá-las é o papel da
minado esforço e se impõe como um trabalho. Ao aceitar participar educação transformadora.
de um grupo de jogo, a criança também aceita um determinado
código lúdico, como um contrato social implícito, diz que: Questões a serem articuladas pela leitura do cotidiano
Para o grande, o jogo é cumprir uma função, ter lugar na equi- A partir de nossa prática com trabalhos que envolvem dire-
pe; o jogo, como o trabalho, é, por conseguinte, social. Por ele, a tamente o corpo, observamos que nas escolas os conhecimentos
criança toma contato com as outras - se habitua a considerar o pon- que os alunos têm de seus ritmos e movimentos e suas formas de
to de vista de outrem, e sair de seu egocentrismo original. O jogo é expressão não são valorizados. O fato constatado por outros auto-
a atividade do grupo.
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res de que a escola impõe, de forma autoritária, uma variedade de tejam divididas especialmente em grupos, o trabalho coletivo não
atividades estranhas à realidade concreta deles, atinge também a existe. Até mesmo a ajuda mútua entre as crianças não é permitida,
corporeidade. como fica evidenciado no exemplo abaixo:
A ação pedagógica da escola, baseando-se no princípio de
que as crianças da periferia não têm conhecimentos, lhes impõe Cuida do teu nariz, senão ele cresce.
atitudes corporais - as boas maneiras no falar, caminhar, sentar-se, Quando as crianças saem dos seus lugares, a professora, às ve-
alimentar-se, brincar, etc. -, que são completamente diferentes de zes de maneira sutil, outras, veemente, chama a atenção para que
suas experiências vivenciadas fora da escola. Aquelas que não acei- elas permaneçam sentadas. Um das formas de controle observadas
tam as imposições da escola, que não se deixam levar pela passi- se constata pelo seguinte episódio:
vidade e submissão, que resistem em defesa de sua corporeidade, “Uma criança está caminhando pela sala. A professora pergun-
são discriminadas de muitas maneiras: são rotuladas como maus ta elevando a voz: “Já fizeste o tema” ?!” Se a criança responder que
alunos, bagunceiros; recebem notas baixas; assinam caderninhos; fez, ela então diz: “Me traz aqui para eu ver”. Se responder que não,
seus pais são chamados, sofrem suspensões e até mesmo são ex- ela diz: “Então senta para fazer”.
pulsos da escola. Olhem aqui é outra maneira utilizada para chamar a atenção
Enquanto educadores preocupados e comprometidos com a das crianças que estão se distraindo com atividade como: brincar,
transformação real e efetiva do sistema escolar, entendemos que movimentar-se pela sala, conversar. A corporeidade da professora
é necessário que se articulem todos os caminhos possíveis para a altera-se: seu olhar torna-se insistente, o rosto contrai-se, a voz pas-
sua concretização. E, nesse sentido, podemos afirmar que a corpo- sa da fala clama para os gritos:
reidade na educação sistemática e nas brincadeiras e jogos estão a
merecer uma compreensão de uma dimensão mais ampla. “Olha aqui! Não grita!”.
Neste estudo, abordaremos a problemática da corporeidade na Na sala de aula, a mesa da professora está em uma posição
escola envolvendo as seguintes questões: espacial, de tal forma que, através de um único olhar, ela possa
- Como a escola, através da educação sistemática, tem cons- manter o controle de todas as crianças. Este é o olhar do aparelho
truído uma corporeidade (gestos, movimentos, ritmos, pensamen- disciplinar, descrito por Foucault que diz:
tos, etc.)?
- Que corporeidade as crianças constroem e/ou expressam “(...) olho perfeito a que nada escapa e centro aos quais todos
através de brincadeiras e jogos? os olhares convergem”.
- Como a corporeidade construída e expressada nas brincadei-
ras e jogos das crianças poderá contribuir para a transformação da Outra expressão, também muito usada pela professora para
escola? controlar a espontaneidade das crianças, é: Agora não, só depois.
O depois, geralmente, não acontece, porque não há tempo. O pre-
A Sala de Aula: Espaço de Controle da Corporeidade das sente é sempre jogado para o futuro. A prioridade é sempre dada
Crianças às tarefas escolares, e aquilo que as crianças querem realizar é per-
Agora, convidamos o leitor a entrar conosco neste estranho manentemente postergado:
espaço - lugar das coisas sérias, do não, do só depois... - que o coti-
diano inevitável nos faz parecer corriqueiro, sem novidades, e que “Gente! Olhem aqui! Primeiro façam o tema para depois con-
é, para as crianças, um lugar onde é sempre a mesma coisa ou tem versar”.
que cópia do quadro e fazer os trabalhos. Sem pretensão de esgo-
tar a análise dessa realidade que, como bem nos lembra Morais, A escola leva as crianças a controlarem seus desejos, impon-
contém muitas realidades, abordaremos como e porque o controle do-lhes outros, que nunca é o presente, o agora, mas alguma coisa
da espontaneidade das crianças recai principalmente sobre os seus que acontecerá no futuro, o depois. Existirá forma mais eficaz de
corpos. transformar crianças “impulsivas” em alunos dóceis e obedientes?
A sineta anuncia um novo momento. Filas se formam: de um
lado, meninos; de outro, meninas. Corpo de sexos diferente não Escrevo para poder passar.
pode ficar perto. Novo portão, este no interior da escola, se abre. Estudo para quando crescer ensinar de professor.
Enfileiradas, as crianças sobem as escadas, acompanhadas pelas Aprendo para passar, para quando ser grande, ser alguém.
advertências da professora: Não corram! Não saiam do lugar! Não
falem! Mas quais seriam os genuínos desejos das crianças?
O último cadeado é aberto e eis a sala de aula. As crianças, na sala de aula, enquanto realizam as tarefas esco-
Assim como Freitas, encontramos na sala de aula vários meca- lares, falam de seu cotidiano, de suas brincadeiras. Poucas vezes se
nismos do controle disciplinar analisados por Foucault: a divisão do referem ao que estão fazendo; pelo contrário, geralmente, contam
tempo, o quadriculamento do espaço, a distribuição dos corpos em o que fez no dia anterior ou planejam o que farão após saírem da
fila, a constante vigilância, as sanções normatizadoras. escola. O brincar está no centro de seus desejos. Sempre que po-
A organização da sala de aula foi aparentemente modificada, dem, transformam uma situação da sala de aula em brincadeira. Nas
passando das filas de carteiras a classes aglutinadas, de tal forma sacolas e nos bolsos carregam pequenos brinquedos... Além disso,
que, sentando-se em círculo, as crianças se dispõem como se tra- elas criam comportamentos de resistência ao controle da profes-
balhassem em grupo. No entanto, a ideia de que algo mudou não sora. Um deles é pedir para ir ao banheiro ainda que sob reclamos
resiste além da primeira impressão, pois as relações sociais estabe- dela: Por que não foram antes? É lógico que as crianças querem se
lecidas na sala de aula não se alterariam em sua essência. Cada alu- levantar, caminhar, brincar. Quando saem da sala de aula eles ficam
no possui um lugar e um grupo fixos, determinados pela professora. brincando de escorregar no corrimão da escada. Em outras pala-
Os critérios de disposição das crianças prolongam as discriminações vras, podemos dizer que o brincar é a atividade que, para a criança,
existentes em nossa sociedade: as brancas separadas das pretas; as tem significação, a tal ponto que um menino chegou a dizer:
crianças do morro não andam com as da vila. Embora as crianças es-
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
“Na escola fico sem fazê nada, só escrevo. Para ser melhor te- Da para imaginar o que representa para uma criança, que
ria que escrever e brincar de escrever em aula, depois eu ia para o passou sete anos se movimentando, ser subitamente ‘amarrada’ e
recreio”. ‘amordaçada’ para, como se diz, ‘aprender’ o que é, para ela, uma
linguagem, às vezes, totalmente estranha? A linguagem da imobi-
Assim, o ato de escrever está tão distante de seu mundo in- lidade e do silêncio? Seria o mesmo que pegar um professor idoso,
fantil que equivale a nada fazer. Com isso não estamos querendo que há muito deixou de praticar atividades físicas, a não ser as mais
dizer que a escola não deva ensinar as crianças a escrever e dei- triviais, e obrigá-los a correr por alguns quilômetros em ritmo ace-
xá-las em seu mundo do faz-de-conta. O que estranhamos - e nos lerado. A violência seria idêntica. O interessante é que nós, profes-
perguntamos por quê - é a forma como a escola introduz as tarefas sores, não suportamos a mobilidade da criança, mas queremos que
escolares na vida da criança. Nas salas de aula, a brincadeira não ela suporte nossa imobilidade.
entra; é o lugar das coisas sérias. No que diz respeito especialmente
à escrita, vemos a criança, quando fora da escola, rabiscando no A escola detém a mobilidade espontânea dos alunos para ra-
papel, riscando o chão com gravetos, pedras, etc. - riscos e rabis- cionalizar os seus movimentos, enfatizando a produção de gestos
cos cheios de significados; na sala em que são propostos exercícios mecânicos e estereotipados. Nesse sentido, concordamos com Silva
mecânicos e repetitivos de traçar sobre linhas pontilhadas que não quando diz que a escola faz um treinamento de iniciação ao taylo-
lhe dizem nada. São os chamados exercícios preparatórios. Mas rismo:
preparatórios para que? Certamente não é para aprender a ler e Fragmenta-se inicialmente, ao máximo, o processo de trabalho
escrever, sobretudo tendo em vista as páginas e páginas escritas a fim de torná-lo mais rentável para no fim recompô-lo. Assim, por
por diversos autores a respeito do assunto, onde afirmam que não exemplo, fragmentam-se a escrita em suas unidades mínimas, os
é o treinamento de habilidades que levam as crianças a assimilarem traços, verticais, horizontais... que compõem as letras. Treinam-se
esse objeto social, que é a língua escrita. Ferreiro é uma das autoras mesmos até seu perfeito domínio, para depois recompô-lo nas le-
que defende que: tras.
A partir dessa análise fica evidente que a educação vigente na
(...) as crianças devem resolver sérios problemas conceituais sala de aula tem como base não o prazer, a alegria e as emoções da
para chegarem a compreender quais são as características da língua descoberta, mas sim o sofrimento e a dor com que o trabalhador
que a escrita alfabética representa e de que maneira apresenta es- deve se acostumar para produzir. Com o passar do tempo, essa dor
tas características. A repetição e memorização têm pouco ou nada e sofrimento são vistos como naturais. Assim, por exemplo, vimos
a ver com a superação destas dificuldades. crianças que censuravam as brincadeiras, considerando preguiço-
sos aqueles que só querem brincar. Eis aqui a origem da representa-
Pelo contrário, autores como Vigotsky, por exemplo, nos relata ção ideológica - que permanece ao longo de séculos de que a crian-
brincadeiras onde os objetos são transformados em símbolos de ça aprende através do castigo. O diálogo entre a professora e o avô
outras crianças, atividade fundamental para aquisição da língua es- de um aluno ilustra a atualidade disso:
crita. - Como está o Rodrigo?
Num outro jogo, pegamos o relógio e, de acordo com novos - Impossível! Só quer brincar e brigar. Não faz nada!
procedimentos, explicamos: ‘Agora isto é uma padaria’. Uma crian- - A Senhora pode fazer qualquer coisa para ele aprender, pois,
ça imediatamente pegou uma caneta e, colocando-a atravessada quando eu estava na escola, ficava de castigo ajoelhado em grãos
sobre o relógio, dividindo-o em duas metades, disse: ‘Tudo bem, de milho.
esta é a farmácia e esta é a padaria’. O velho significado tornou- - O senhor sabe, eu não posso bater nas crianças. Mas o seu
-se assim independente e funcionou como uma condição para o neto teve por que puxar?
novo(...) Assim, um objeto adquire uma função de signo, com uma - É. Eu era terrível na escola, aprontava em aula. Mas não diga
história própria ao longo do desenvolvimento, tornando-se, dessa nada. Ele não sabe disso.
fase, independente dos gestos das crianças. Isso representa um
simbolismo de segunda ordem e, como ele se desenvolve no brin- A partir das constatações acima, faz-se necessário que todas
quedo, consideramos a brincadeira do faz-de-conta como um dos aquelas práticas desenvolvidas nas escolas, sobretudo, aquelas que
grandes contribuidores para o desenvolvimento da linguagem escri- trabalham diretamente com o corpo - a educação física -, que aque-
ta - que é um sistema de simbolismo de segunda ordem. les educadores comprometidos com uma práxis transformadora,
As observações na sala de aula respaldam a opinião desses au- partem do conhecimento e da organização das próprias crianças.
tores: Um processo educativo que gere contradições na busca de cons-
cientização. Neste caso, já não há lugar para os conhecimentos em
“Um dia as crianças se opunham à ‘escrever’ e copiar do qua- forma de pacotes, onde o poder de decisão fica centrado no pro-
dro, ao passo que, quando foram para o pátio, com pedaços de giz, fessor, sendo o aluno um ser passivo que executa ordens, aonde as
escreveram e desenharam durante longo tempo as mais variadas regras, técnicas, táticas, organização e outros materiais vêm todos
formas de mensagens”. elaborados. Às crianças resta como alternativa, jogar, brincar, de-
Conforme vimos anteriormente, segundo Foucault e Guima- senhar, obedecendo às determinações do professor, conforme as
rães a escola, na sociedade capitalista, possui como um dos obje- exigências por ele julgadas pertinentes.
tivos controlarem o corpo das crianças da classe trabalhadora, de Aqui está se desenvolvendo uma criança para submeter-se às
maneira sistemática, impondo-lhes uma variedade de comporta- regras e não para compreendê-las como necessárias ao convívio so-
mentos que futuramente servirão de sustentáculo ao sistema de cial. Neste processo a ser instaurado, o professor terá que possuir a
produção. Assim, ao chegarem à escola, as crianças são condiciona- sensibilidade para estar atento às iniciativas das crianças e, sempre
das a obedecerem ao toque da sineta. É hora de iniciar a produção. que possível, desenvolver um processo de desequilíbrio para que
Na sala de aula, os seus corpos passam a ser imobilizados, ficando elas avancem na aquisição de novos conhecimentos. Terá que in-
longo tempo presos às cadeiras, tal qual o operário fica preso à sua tervir nas discussões, fazer perguntar, fornecer pistas que ajudem
máquina. Freire com muita prioridade nos dá a exata dimensão da no encaminhamento de soluções para os problemas surgidos, mas
violência que isso significa: sempre, como propõe João Batista Freire, o ponto de partida deve
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ser o conhecimento das crianças. Porém, para partir do conheci- de colaboração coletiva que tem a capacidade de harmonizar as di-
mento das crianças, o professor deverá mudar a sua forma de re- ferenças entre os grupos e fazer valer o que é melhor para todos,
lação com as crianças e com o conhecimento; já não mais será o especialmente para os alunos.
detentor de um saber pronto e acabado, mas agora o conhecimento Afinal, toda e qualquer proposta está voltada ao desenvolvi-
e as relações serão construídos coletivamente pelo grupo. mento e aprimoramento intelectual, social e educacional dos alu-
nos, levando em consideração suas necessidades.
Fonte Uma proposta pedagógica que preveja aulas de algum idioma
FIGUEIREDO, M. X. B. A corporeidade na escola: brincadeiras, jogos e estrangeiro fora do horário escolar pode revelar-se uma excelente
desenhos - Pelotas: Editora Universitária-UFPEL, 2009. estratégia em instituições com alunos predominantemente perten-
centes a classes mais baixas e que não possuem condições finan-
ceiras de arcar com cursos de línguas, por exemplo. Por outro lado,
PROPOSTA PEDAGÓGICA. EIXOS NORTEADORES E essa mesma proposta pode não render frutos em escolas com alu-
PRÁTICA PEDAGÓGICA nos de classe média ou alta.
Esses exemplos demonstram, na prática, a importância extre-
A proposta pedagógica da escola está prevista na Lei de Dire- ma de inserir todos na discussão e formulação da proposta pedagó-
trizes e Bases da Educação de 1996 e tem como objetivo principal gica. Ela deve estar, acima de tudo, alinhada ao local, comunidade
garantir a autonomia das instituições de ensino no que se refere à e público-alvo que atende para que gere os resultados esperados.
gestão de suas questões pedagógicas. Na prática, trata-se de um Também é essencial que a proposta pedagógica esteja em cons-
documento que define a linha orientadora de todas as ações da es- tante revisão, realinhamento e replanejamento. De nada adianta
cola, desde sua estrutura curricular até suas práticas de gestão. convocar os esforços de todos na elaboração desse documento se
A proposta pedagógica geralmente está baseada em uma linha ele ficar engavetado e só for revisto ao final de cada ano.
educacional proposta e descrita em determinada teoria pedagógi-
ca, como o Construtivismo, por exemplo, que tem ganhado muita Qual sua importância?
força ultimamente. Porém, independentemente da linha teórica A proposta pedagógica da escola é o documento que define a
que determinada escola deseja seguir, é necessário esclarecer que sua identidade e determina como ela irá se relacionar com todos os
cada uma delas possui seus próprios valores, dificuldades, vanta- envolvidos na comunidade escolar.
gens e desvantagens, que podem ser adaptados a diferentes reali- Uma instituição de ensino que possui uma proposta pedagógi-
dades escolares. ca bem elaborada e eficiente poderá observar impactos muito signi-
Contudo, a Lei de Diretrizes e Bases não se constitui em um ficativos na captação e retenção de alunos, na qualidade do ensino
conjunto de normas rígidas, que devem ser seguidas literalmente. por ela promovido e nos níveis de satisfação e contentamento do
Dessa maneira, essa flexibilidade permite que cada escola esteja corpo docente, dos alunos e de suas respectivas famílias.
livre para elaborar sua proposta pedagógica de acordo com seus Entretanto, para que se possa obter resultados consistentes,
interesses, de seus alunos e da comunidade onde está inserida. é crucial que se consiga alinhar teoria e prática. Um planejamento
Entretanto, apesar de poder adaptar os conteúdos e disciplinas meticuloso e que conte com a participação de todos, a preparação
com certa liberdade, as instituições de ensino devem estar aten- dos materiais adequados à proposta, a organização do currículo e,
tas às orientações contidas nas diretrizes curriculares elaboradas principalmente, uma excelente formação continuada do corpo do-
pelo Conselho Nacional de Educação e nos Parâmetros Curricula- cente são itens essenciais quando se fala em uma proposta pedagó-
res Nacionais (PCN). Além disso, a Base Nacional Comum Curricular gica realmente eficiente.13
(BNCC) estabelece uma série de aprendizagens que devem ser le-
cionadas, assim como dez competências gerais que os alunos de-
vem desenvolver ao longo da Educação Básica. FUNÇÃO SÓCIO-POLÍTICA E PEDAGÓGICA
Um ponto importante para se ter em mente é que a proposta
pedagógica é um dos pilares do Projeto Político Pedagógico (PPP) A escola tem como função criar uma forte ligação entre o for-
das escolas. Ainda assim, vale ressaltar que o PPP vai além, ao con- mal e teórico, ao cotidiano e prático. Reúne os conhecimentos com-
templar também as diretrizes sobre a formação dos professores e provados pela ciência ao conhecimento que o aluno adquire em sua
para a gestão administrativa. rotina, o chamado senso comum. Já o professor, é o agente que
possibilita o intermédio entre escola e vida, e o seu papel principal
Quem participa e o que deve conter a proposta pedagógica é ministrar a vivência do aluno ao meio em que vive.
da escola?
Independentemente da teoria que sirva como base para a es- Função social da escola
truturação de uma proposta pedagógica, a questão mais importan- A escola, principalmente a pública, é espaço democrático
te e que funciona como uma garantia de sua real efetividade é a dentro da sociedade contemporânea. Servindo para discutir suas
participação e contribuição de todos os envolvidos na comunidade questões, possibilitar o desenvolvimento do pensamento crítico,
escolar. trazer as informações, contextualizá-las e dar caminhos para o alu-
Professores, alunos, coordenação, pais e comunidade devem no buscar mais conhecimento. Além disso, é o lugar de sociabili-
opinar, comentar e apresentar tópicos que sejam relevantes e ade- dade de jovens, adolescentes e também de difusão sóciocultural.
quados à realidade da instituição e ao local onde está inserida. Mas é preciso considerar alguns aspectos no que se refere a sua
função social e a realidade vivida por grande parte dos estudantes
Como fazer isso? brasileiros.
A melhor opção, sem dúvida, está na promoção de espaços
para que cada parte envolvida no processo educacional possa ex-
por seus argumentos e interesses. Dessa forma, cria-se um espaço
13 Fonte: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/www.proesc.com/www.infoescola.
com/www.somospar.com.br
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Na atualidade alguns discursos tenham ganhado força na teoria sair do estado de oprimido, de miserável. Perde-se em valores e
da educação. Estes discursos e teorias, centrados na problemática valorações, não consegue discernir situações e atitudes, vive para
educacional e na contradição existente entre teoria e prática pro- o trabalho e trabalha para sobreviver. Sendo levado a esquecer de
duzem certas conformações e acomodações entre os educadores. que é um ser humano, um integrante do meio social em que vive,
Muitos atribuem a problemática da educação às situações as- um cidadão capaz de transformar a realidade que o aliena, o exclui.
sociadas aos valores humanos, como a ausência e/ou ruptura de Há uma contribuição de Saviani (2000, p.36) que a respeito do
valores essenciais ao convívio humano. Assim, como alegam de- homem considera “(...) existindo num meio que se define pelas co-
spreparo profissional dos educadores, salas de aula superlotadas, ordenadas de espaço e tempo. Este meio condiciona-o, determi-
cursos de formação acelerados, salários baixos, falta de recursos, na-o em todas as suas manifestações.” Vê-se a relação da escola
currículos e programas pré-elaborados pelo governo, dentre tantos na formação do homem e na forma como ela reproduz o sistema
outros fatores, tudo em busca da redução de custos. de classes.
Todas essas questões contribuem de fato para a crise educa- Para Duarte (2003) assim como para Saviani (1997) o trabalho
cional, mas é preciso ir além e buscar compreender o núcleo dessa educativo produz nos indivíduos a humanidade, alcançando sua
problemática, encontrar a raiz desses fatores, entendendo de onde finalidade quando os indivíduos se apropriam dos elementos cul-
eles surgem. A grande questão é: qual a origem desses fatores que turais necessários a sua humanização.
impedem a qualidade na educação? O essencial do trabalho educativo é garantir a possibilidade do
Certamente a resposta para uma discussão tão atual como essa homem tornar-se livre, consciente, responsável a fim de concre-
surja com o estudo sobre as bases que compõem a sociedade atual. tizar sua humanização. E para issotanto a escola como as demais
Pois, ao analisar o sistema capitalista nas suas mais amplas esferas, esferas sociaisdevem proporcionar a procura, a investigação, a re-
descobre-se que todas essas problemáticas surgem da forma como flexão, buscando razões para a explicação da realidade, uma vez
a sociedade está organizada com bases na propriedade privada, lu- que é através da reflexão e do diálogo que surgem respostas aos
cro, exploração do ser humano e da natureza e se manifestam na problemas.
ideologia do sistema. Saviani (2000, p.35) questiona “(...) a educação visa o homem;
Um sistema que prega a acumulação privada de bens de pro- na verdade, que sentido terá a educação se ela não estiver voltada
dução, formando uma concepção de mundo e de poder baseada para a promoção do homem?” E continua sua indagação ao refle-
no acumular sempre para consumir mais, onde quanto mais bens tir “(...) uma visão histórica da educação mostra como esta esteve
possuir, maior será o poder que exercerá sobre a sociedade, acaba sempre preocupada em formar determinado tipo de homem. Os
por provocar diversos problemas para a população, principalmente tipos variam de acordo com as diferentes exigências das diferentes
para as classes menos favorecidas, como: falta de qualidade na ed- épocas. Mas a preocupação com o homem é uma constante.”
ucação, ineficiência na saúde, aumento da violência, tornando os Os espaços educativos, principalmente aqueles de formação de
sistemas públicos, muitas vezes, caóticos. educadores devem orientar para a necessidade da relação subje-
Independentemente do discurso sobre a educação, ele sempre tividade-objetividade, buscando compreender as relações, uma vez
terá uma base numa determinada visão de homem, dentro e em que, os homens se constroem na convivência, na troca de experiên-
função de uma realidade histórica e social específica. Acredita-se cias. É função daqueles que educam levar os alunos a romperem
que a educação baseia-se em significações políticas, de classe. Fre- com a superficialidade de uma relação onde muitos se relacionam
itag (1980) ressalta a frequente aceitação por parte de muitos estu- protegidos por máscaras sociais, rótulos.
diosos de que toda doutrina pedagógica, de um modo ou de outro, A educação, vista de um outro paradigma, enquanto mecanis-
sempre terá como base uma filosofia de vida, uma concepção de mo de socialização e de inserção social aponta-se como o caminho
homem e, portanto, de sociedade. para construção da ética. Não usando-a para cumprir funções ou
Ainda segundo Freitag (1980, p.17) a educação é responsável realizar papéis sociais, mas para difundir e exercitar a capacidade de
pela manutenção, integração, preservação da ordem e do equilíbrio, reflexão, de criticidade e de trabalho não-alienado.
e conservação dos limites do sistema social. E reforça “para que o (...) sem ingenuidade, cabe reconhecer os limites impostos pela
sistema sobreviva, os novos indivíduos que nele ingressam precis- exploração, pela exclusão social e pela renovada força da violência,
am assimilar e internalizar os valores e as normas que regem o seu da competição e do individualismo. Assim, se a educação e a ética
funcionamento.” não são as únicas instâncias fundamentais, é inegável reconhecer
A educação em geral, designa-se com esse termo a trans- que, sem a palavra, a participação, a criatividade e apolítica, muito
missão e o aprendizado das técnicas culturais, que são as técnicas pouco, ou quase nada, podemos fazer para interferir nos contextos
de uso, produção e comportamento, mediante as quais um grupo complexos do mundo contemporâneo. Esse é o desafio que diz res-
de homens é capaz de satisfazer suas necessidades, proteger-se peito a todos nós. (RIBEIRO; MARQUES; RIBEIRO 2003, p.93)
contra a hostilidade do ambiente físico e biológico e trabalhar em A escola não pode continuar a desenvolver o papel de agência
conjunto, de modo mais ou menos ordenado e pacífico. Como o produtora de mão de obra. Seu objetivo principal deve ser formar o
conjunto dessas técnicas se chama cultura, uma sociedade humana educando como homem humanizado e não apenas prepará-lo para
não pode sobreviver se sua cultura não é transmitida de geração o exercício de funções produtivas, para ser consumidor de produ-
para geração; as modalidades ou formas de realizar ou garantir essa tos, logo, esvaziados, alienados, deprimidos, fetichizados.14
transmissão chama-se educação. (ABBAGNANO, 2000, p. 305-306)
Assim a educação não alienada deve ter como finalidade a for-
mação do homem para que este possa realizar as transformações
sociais necessárias à sua humanização, buscando romper com o os
sistemas que impedem seu livre desenvolvimento.
A alienação toma as diretrizes do mundo do trabalho no seio
da sociedade capitalista e no modo como esse modelo de produção
nega o homem enquanto ser, pois a maioria das pessoas vive ap-
enas para o trabalho alienado, não se completa enquanto ser, tem
como objetivo atingir a classe mais alta da sociedade ou, ao menos,
14 Fonte: www.webartigos.com
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
A quarta e última dimensão é a relacional, que se refere às di-
ESPAÇO E TEMPO ferentes relações que se estabelecem dentro da sala de aula. Tais
relações são influenciadas pelos diferentes arranjos instituídos,
Segundo os estudos de Zabalza, Forneiro, Barbosa e Vascon- tais como: a distribuição dos alunos por faixa etária; a forma como
cellos o desenvolvimento do conceito de espaço pode ser analisado se constitui a construção de regras na relação professor/criança; a
a partir de três dimensões. A primeira vincula-se aos aspectos es- divisão do trabalho que acontece no pequeno ou grande grupo; a
téticos – acolhedor, belo, proporcional; a segunda, aos funcionais interação do professor durante o desenvolvimento das atividades
– adequados, com recursos disponíveis, exercendo sua finalidade propostas. Todas essas questões e muitas outras configuram uma
educativa; e a terceira, por fim, aos ambientais – o frio, o calor, a determinada dimensão relacional do ambiente. O ambiente, nessa
luminosidade, a segurança. Essas três dimensões estão implicadas, perspectiva, é visto como movimento, e não como algo estático –
segundo os autores, no trabalho pedagógico dos professores e na um ambiente vivo, que existe à medida que os elementos que o
aprendizagem e no desenvolvimento das crianças na educação in- compõem possam interagir entre si.
fantil. Em outras palavras, o espaço é pedagógico e o tempo é múl- Para Barbosa, “[...] um ambiente é um espaço construído, que
tiplo – biológico, institucional, coletivo, simbólico. se define nas relações com os seres humanos por ser organizado
Para Zabalza, a educação infantil tem características muito par- simbolicamente pelas pessoas responsáveis pelo seu funcionamen-
ticulares no que se refere à organização dos espaços. O autor sinali- to e também pelos seus usuários.” O espaço físico, por sua vez, é o
za que a infância precisa de espaços amplos, bem diferenciados, de lugar de desenvolvimento de “[...] múltiplas habilidades e sensa-
fácil acesso e especializados, em que as crianças possam movimen- ções e, a partir da sua riqueza e diversidade, ele desafia permanen-
tar-se, interagir, viver e conviver, desenvolvendo-se integralmente. temente aqueles que o ocupam”.
Salienta a necessidade de os espaços oferecerem oportunidades “Esse desafio constrói-se pelos símbolos e pelas linguagens que
diversas de interação e de aprendizagem, sejam elas coletivas, en- o transformam e o recriam continuamente.” (BARBOSA).
volvendo grupos de crianças e adultos, ou mesmo individualizadas, Segundo Vasconcellos, “as organizações do ambiente da creche
nas quais os objetos dispostos sejam o foco da atenção. transmitem mensagens sobre a criança e os modos e jeitos de lidar
Forneiro estabelece, conceitualmente, uma distinção impor- com ela, pois carregam consigo marcas simbólicas e históricas”. As-
tante entre espaço e ambiente. Refere-se aos espaços como “[...] sim, quando analisamos ambientes construídos por educadores é
locais para a atividade caracterizada pelos objetos, pelos materiais necessário, sobretudo, considera-los não como um produto, pronto
didáticos, pelo mobiliário e pela decoração.” Os espaços, com seus e acabado, mas um processo.
qualificativos físicos, constituem locais de aprendizagem e desen- Ambiente e espaço são definidos nas suas especificidades e
volvimento. O ambiente, por sua vez, corresponde ao conjunto do compreendidos pelos autores, e também por nós, como aspectos
espaço físico e das relações que nele se estabelecem (FORNEIRO). importantes a serem considerados nos processos de aprendizagem
O termo ambiente, procedente do latim, significa “ao que cerca ou e desenvolvimento, necessitando de estudo e planejamento para as
envolve”; dito de outra forma poderia ser assim definido como sen- dimensões que os envolvem.
do uma estrutura física na qual se encontram objetos, pessoas, rela- Assim sendo, deve-se considerar a organização do espaço na
ções, formas, cores, sons entre outros estímulos que se relacionam educação infantil para que ela se volte ao real interesse do grupo
dentro de uma estrutura física que os contem ao mesmo tempo em de crianças, observando sempre as características e as preferências
que é contido por eles. dessas crianças como, por exemplo, o espaço em que preferem
Essa autora estabelece quatro dimensões claramente defini- estar, o que gostam de brincar, o que atrai sua atenção, como se
das, mas inter-relacionadas para caracterizar o ambiente sendo elas comunicam e interagem entre si e com o educador. Desta forma
a dimensão física, a funcional, a temporal e a relacional. é necessário que as atividades sejam planejadas de forma a pro-
A dimensão Física refere-se ao aspecto material do ambiente, porcionar experiências significativas para a criança possibilitando a
ou seja, o espaço físico, suas condições estruturais, objetos e toda aprendizagem e as interações sociais.
sua organização. Trata-se da arquitetura, da decoração, da forma Pensar o espaço é, portanto, compreender as questões físico-
como estão estruturadas as disposições de materiais e divisórias, -materiais como os elementos de cor, texturas, piso, altura de jane-
o pátio, o parque infantil, as possibilidades de arranjos espaciais e las, altura das maçanetas das portas, os móveis, a louça do banheiro
físicos do que se denomina instituição de educação infantil. (torneira, cuba, vaso sanitário, porta toalhas, entre outros), a di-
A segunda dimensão, a funcional, relaciona-se com a forma de mensão métrica das salas, corredores, refeitórios, banheiros, hall
utilização dos espaços, sua polivalência e o tipo de atividade ao qual de entrada; a interligação entre estes espaços; o desenho arquite-
se destinam. Os espaços multifuncionais podem ser usados autono- tônico e suas formas. Além das possibilidades de interação entre
mamente pela criança, mas com a orientação do professor. Nesse crianças e adultos, o espaço exige cuidados e especificidades que
sentido, um mesmo espaço pode assumir diferentes funções. Por podem promover a interação da criança com o mundo externo, per-
exemplo, ao mesmo tempo em que um espaço no fundo da sala de mitindo a visualização do que se passa lá fora: olhar a chuva, o sol,
aula serve para que as crianças sentem com o professor, para contar a neblina, os transeuntes, os animais; isto, e muito mais pode ser
historias, pode também se utilizados para fins diversos, como corte considerado parte da organização, da rotina e processo educativo
e colagem de figuras, brincadeiras com massinha de modelar entre que se desencadeia na educação infantil.
outras. Segundo Maévi Anabel Nono, convém ressaltar que a organi-
A terceira dimensão, a temporal, diz respeito à organização do zação do espaço deve ter como objetivo a promoção do desenvol-
tempo para cada atividade a ser desenvolvida, portanto dos mo- vimento integral da criança que é o objetivo da Educação Infantil.
mentos em que serão utilizados os diferentes espaços. O tempo As pesquisas de Maria da Graça Souza Horn apontam que a for-
de cada atividade esta diretamente relacionada ao espaço em que ma como é organizado o material, os móveis, a utilização das cores,
se realiza cada uma delas com o tempo de brincar nos cantos, de aromas entre outros estímulos, bem como esse espaço é ocupado
contar histórias, de utilizar os brinquedos, o tempo do lanche, do tanto pelos adultos quanto pelas crianças, bem como a interação
parque entre outros. Sendo assim, a dimensão temporal pode ser entre todos esses elementos, revelam a concepção pedagógica. As-
entendida também como relacionada à organização da rotina de
uma instituição de educação infantil.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
sim, quanto mais bem organizado esse espaço a ser utilizado pelas As educadoras trazem ainda algumas sugestões para pensar-
crianças, quanto maior a apresentação de estímulos e desafios, me- mos acerca do espaço para os bebês nas creches. Segundo elas, a
lhor ele favorecerá o desenvolvimento integral desta criança. partir da observação de sua própria prática, perceberam que [...]
Sendo assim, as escolas de educação infantil devem considerar existe uma boa forma de arrumar o berçário, organizando-o com
a organização dos ambientes como sendo parte importante de sua colchonetes, caixas vazadas, móveis baixos, que permitem ao edu-
proposta pedagógica. cador observar todo o movimento da sala e o bebê também. Dessa
Ela traduz as concepções de criança, de educação, de ensino e forma, o bebê pode tranquilamente ir à busca de um objeto que
aprendizagem, bem como uma visão de mundo e de ser humano tenha despertado sua curiosidade, pois ele está vendo que o educa-
do educador que atua nesse cenário. Portanto, qualquer profes- dor continua na sala. Isso possibilita a ele interagir mais com outros
sor tem, na realidade, uma concepção pedagógica explicitada no bebês. O educador fica então disponível para aqueles que estão exi-
modo como planeja suas aulas, na maneira como se relaciona com gindo sua atenção naquele momento. (ROSSETTI-FERREIRA).
as crianças, na forma como organiza seus espaços na sala de aula. Carvalho e Meneghini enfatizam que “O educador organiza o
Por exemplo, se o educador planeja as atividades de acordo com espaço de acordo com suas ideias sobre desenvolvimento infantil
a ideia de que as crianças aprendem através da memorização de e de acordo com seus objetivos, mesmo sem perceber”. Quando o
conceitos; se mantém uma atitude autoritária sem discutir com as educador ou a educadora de Educação Infantil organiza sua sala em
crianças as regras do convívio em grupo; se privilegia a ocupação espaços vazios, com poucos móveis, objetos e equipamentos, ele se
dos espaços nobres das salas de aula com armários (onde somente vale, conforme escrevem as educadoras na obra de Rossetti-Ferrei-
ele tem acesso), mesas e cadeiras, a concepção que revela é emi- ra et al. de um arranjo espacial aberto.
nentemente fundamentada em uma prática pedagógica tradicional. Para as educadoras Mara e Renata, nesse tipo de arranjo acon-
Conforme Farias, a pedagogia se faz no espaço realidade e o espaço, tece aquilo que descrevemos no parágrafo anterior, ou seja, a maio-
por sua vez, consolida a pedagogia. Na realidade, ele é o retrato da ria das crianças fica em volta do educador, solicitando sua atenção,
relação pedagógica estabelecida entre crianças e professor. Ainda sem ter outra atividade a fazer. Dessa forma, “O educador acaba
exemplificando, em uma concepção educacional que compreende não tendo muita chance de manter um contato mais prolongado
o ensinar e o aprender em uma relação de mão única, ou seja, o com nenhuma criança. Às vezes nem pode atender a todas, mesmo
professor ensina e o aluno aprende, toda a organização do espa- que rapidamente” (ROSSETTI-FERREIRA et al.).
ço girará em torno da figura do professor. As mesas e as cadeiras Afim de contribuir para que professores e professoras pensem
ocuparão espaços privilegiados na sala de aula, e todas as ações sobre o espaço que oferecem para as crianças em creches e pré-es-
das crianças dependerão de seu comando, de sua concordância e colas, a educadora Mara Campos de Carvalho (ROSSETTI-FERREIRA
aquiescência. (HORN). et al.) faz algumas análises dos ambientes infantis e conclui que eles
Alguns educadores e pesquisadores têm voltado sua atenção devem estar organizados de modo a promover o desenvolvimento
para a organização dos espaços para o cuidado e educação de be- da identidade pessoal de cada criança, o desenvolvimento de diver-
bês. Cândida Bertolini e Ivanira B. Cruz enfatizam que “Os espaços sas competências como, por exemplo, poder tomar água sozinha
e objetos de uma creche devem estar a favor do desenvolvimento e alcançar o interruptor de luz, oportunidades para movimentos
sadio dos bebês, propiciando-lhes experiências novas e diversifica- corporais diversos, a estimulação dos sentidos, a sensação de segu-
das” (ROSSETTI-FERREIRA). rança e confiança e, finalmente ,oportunidades para contato social
Maria A. S. Martins, Cândida Bertolini, Marta A. M. Rodriguez e privacidade.
e Francisca F. Silva, no capítulo intitulado “Um lugar gostoso para o Paulo de Camargo analisa os “Desencontros entre Arquitetura
bebê”, publicado na obra de Rossetti-Ferreira et al, (2007) obser- e Pedagogia” em reportagem na qual conversa com arquitetos e
vam que, normalmente, o espaço destinado aos bebês na grande educadores sobre os espaços nas escolas de Educação Infantil. Os
parte das creches é tomado por berços, restando poucas possibili- arquitetos entrevistados por Paulo de Camargo ressaltam a necessi-
dades para que os pequenos explorem o ambiente e se locomovam dade de que as creches e pré-escolas sejam construídas levando-se
por toda parte, com segurança. As educadoras pensaram em uma em conta que elas serão ocupadas e utilizadas por crianças.
organização espacial diferente desta, na tentativa de proporcionar Um dos arquitetos entrevistados, Paulo Sophia, esclarece que,
aos bebês um espaço atraente para seu desenvolvimento. para conceber uma escola, tenta se colocar no lugar da criança, pro-
Para elas, “O berçário deve ter espaços programados para dar curando notar como ela irá olhar ou perceber o espaço. Para esse
à criança oportunidade de se movimentar, interagindo tanto com arquiteto, as crianças têm uma relação própria com o espaço, bas-
objetos como com outros bebês. Deve oferecer ao bebê situações tante diferente daquela dos adultos.
desafiadoras, possibilitando o desenvolvimento de suas capacida- Outra arquiteta entrevistada por Paulo de Camargo é Ana Bea-
des.” (ROSSETTI-FERREIRA et al). triz Goulart de Faria, envolvida com diversos projetos de arquitetura
As educadoras Maria, Cândida, Marta e Francisca pensaram educativa. Ana Beatriz observa que na maioria dos municípios bra-
o espaço de seu berçário, levando em conta três partes da sala: o sileiros, os espaços de Educação Infantil seguem modelos-padrão
chão, o teto e as paredes. Em cada uma dessas partes, elas enxer- elaborados muito longe daqueles territórios, desconsiderando sua
garam possibilidades de garantir experiências interessantes e de- geografia, sua história, sua cultura, suas políticas para a infância.
safios para as crianças, por meio do uso de divisórias de diversos Para ela, “São projetos-modelo elaborados para uma infância sem
tamanhos e em diversas alturas, caixas de papelão recortadas e fala” (CAMARGO).
transformadas, brinquedos, canaletas para os bebês passarem por Paulo de Camargo também entrevista a arquiteta Adriana
dentro, muretas para impedi-los de seguir em frente e obrigá-los a Freyberger, segundo a qual é preciso que se dê mais atenção aos
experimentar outros trajetos, cortinas, espelhos, móbiles etc. espaços da escola de Educação Infantil que vão além da sala de ati-
Ainda a respeito do espaço para os bebês, as educadoras aler- vidades. Pátios e refeitórios devem ser cuidadosamente organiza-
tam: “Os espaços devem ser sempre atraentes e estimulantes para dos, já que são espaços de aprendizagem.
os bebês. Portanto, eles devem ser observados, avaliados e muda- Para Adriana, pensar o espaço significa pensar além da estru-
dos pelos educadores na medida em que eles se desenvolvem e se tura física. É preciso, segundo ela, planejar os materiais, jogos e
interessam por coisas novas.” (ROSSETTI-FERREIRA). brinquedos adequados ao projeto pedagógico da instituição. A ar-
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
quiteta ressalta a importância do uso de materiais de qualidade nas É por essa razão que a esta discussão cabe focalizar o termo
creches e pré-escolas e da atenção ao número adequado de crian- disciplinamento como categoria central de análise e também como
ças para cada espaço, evitando-se o excesso de crianças por sala. parte integrante da educação das crianças em idade de educação
infantil. Sobretudo no espaço, o disciplinamento é imprescindível.
Outras considerações sobre a organização do espaço físico e Ele permitirá atingir o objetivo de compreender quais são as estra-
do tempo na educação infantil tégias de disciplinamento, pois é através da disciplina que podere-
De acordo com o sentido semântico apresentado por Fornei- mos observar as ações possíveis de autorregulação da criança no
ro sobre o conceito de espaço, compreendemos que ele significa espaço educativo e seus mecanismos para essa ação. Logicamen-
“[...] extensão indefinida, meio sem limites que contém todas as te que não se pode descartar o contexto como influente, porém a
extensões finitas. Parte dessa extensão que ocupa cada corpo”. De estrutura social e político-educacional estão de tal forma posta e
acordo com esse conceito de espaço pressupõe-se o espaço como desenvolvida ao longo da história que “autoriza” a educadora, por
sendo algo físico que pode ser preenchido por objetos. Uma “caixa” meio dos próprios elementos constitutivos de sala (carteiras, ma-
que pode ser ocupada, esta é uma forma abstrata de ver extrema- teriais didáticos, disciplinas, regras de convivência e obediência), a
mente comum entre os adultos; no entanto, a percepção da criança práticas de disciplinamento. Isso pressupõe pensar que desde os
sobre o espaço é diferente, tendo em vista que ela ainda não desen- primórdios da modernidade o homem se preocupa com a questão
volveu a capacidade de abstração do adulto. da disciplina.
O espaço pode ser compreendido, ainda, dentro da noção de
ambiente apontada por Forneiro que postula que o ambiente é o O espaço educativo e as práticas de disciplinamento
conjunto do espaço físico e mais a relação que se estabelece nele. Pensar em disciplinamento implica pensar em tecnologias de
Estas relações são descritas como afetos, relações interpessoais en- individualização e de normatização do corpo infantil, na produção
tre as crianças, entre crianças e adultos, crianças e sociedade em de sujeito dócil e útil. Estas tecnologias enfatizam como a escola e
seu conjunto. O espaço não é neutro. Ele permeia as relações esta- o Centro de Educação Infantil produzem e controlam através da or-
belecidas e as influencia, na medida em que chega até o sujeito e ganização do espaço físico o disciplinamento na criança. Kant no sé-
propõe suas mensagens, implicitamente. Espaço é tudo e é indisso- culo XVII já preconizava que “[...] a falta de disciplina é um mal pior
ciado da noção de ambiente. que a falta de cultura, pois esta pode ser remediada mais tarde, ao
Indo um pouco além desta visão formal e utilitária do espa- passo que não se pode abolir o estado selvagem e corrigir um de-
ço, podemos percebê-lo também como um “[...]espaço de vida, no feito da disciplina”. Não há pretensão de afirmar se autor está cor-
qual a vida acontece e se desenvolve: é um conjunto completo”. reto ou não, porém Kant, com esta ideia, permite que se promova
Esta visão pode ser considerada vitalista porque se adapta à forma um debate sobre a disciplina na escola. Kant foi o primeiro filósofo
como a criança vê o espaço, pois ela o sente e o vê; portanto, “[...] a caracterizar a escola moderna como responsável pelo disciplina-
é grande, pequeno, claro, escuro, é poder correr ou ficar quieto, mento dos corpos infantis nos espaços da instituição e concebe que
é silêncio, é barulho” (BATTINI apud FORNEIRO), a criança não o a disciplina impede o homem de desviar do seu caminho, tendo
concebe abstratamente, pois ainda não tem desenvolvida esta ca- como dever estreitá-lo, contê-lo, e através da educação instrumen-
pacidade. O que a criança pode ver restringe-se ao concreto, ao talizá-lo para que retorne ao seu estado humano, ou seja, todo e
palpável. A criança vê o espaço da escola, da sua casa como algo qualquer manifestação de indisciplinamento às normas o homem
concreto, e a partir do seu imaginário infantil o lugar para ela só é se torna selvagem, animal. A disciplina submete o homem às leis da
atrativo se puder interagir e vivenciar o ato de brincar. A partir disso humanidade e o faz sentir a sua força, mas todo este processo de
podemos dizer que a infância é uma etapa diferenciada do mundo disciplinamento deve acontecer bem cedo; sendo assim, as crianças
adulto; portanto, o seu modo de ver a vida é baseado no poder de devem ser mandadas ainda pequenas à escola para que a disciplina
manipular os objetos e criar formas lúdicas com eles. tenha seu efeito sobre o seu corpo.
Tonucci faz uma leitura crítica a partir de imagens sobre a influ- A criança desde cedo é adaptada ao modelo escolar na edu-
ência que a escola e a família exercem sobre a criança procurando cação infantil, pois na hora de fazer atividade deve ficar sentada e
organizar o mundo dela com bases na noção de mundo do adulto. atenta ao que a professora está explicando, e a criança que foge às
Sabe-se que a forma como a criança percebe o espaço é dife- regras é considerada sem limites e é preciso garantir mecanismos
rente da lógica do adulto. O adulto o organiza, muitas vezes, não que a façam ter disciplina com o espaço e tempo da sala. A partir
considerando a relevância da participação da criança na construção disso é possível pensar que a criança se torna criança, homem, mu-
dele. Cabe aos professores o olhar atento para as especificidades lher pela educação e ela é aquilo que a educação faz dela (KANT).
do sujeito infantil e organizar o espaço de maneira que contemple Para Assmann e Nunes, a arte das distribuições como uma ca-
o jogo, o brincar e o despertar do imaginário infantil. O espaço edu- tegoria foucaultiana sobre as práticas disciplinares pressupõe que
cativo deve ser prazeroso e voltado às necessidades de cada faixa “[...] a disciplina é um tipo de organização do espaço”. Ela é uma dis-
etária na primeira infância. tribuição dos sujeitos nos espaços escolares. No espaço educativo
Ao falar de um espaço educativo não se pode deixar de men- da educação infantil, trata-se de fechar, esquadrinhar e, por vezes,
cionar a intrínseca relação entre espaço e organização. Nesse caso, cercar estes lugares geometricamente para que não ocorra difusão
percebemos a presença da geometria cartesiana como forma bas- das crianças. Para Duclós, a geometria cartesiana se pauta na im-
tante marcante para organizar espaços. Ele é um lugar geralmente portância da ordem e da medida. Para Descartes, na geometria não
retangular, planejado, medido, ordenado, estabelecendo de manei- há dúvidas, ela é universal e simples. Assim, constituem-se a mo-
ra disciplinada os móveis e objetos; cada objeto em seu lugar de- dernidade e as formas da organização do espaço educativo como
terminado. Em se tratando de sala de aula há o espaço do brincar e verdades únicas, obtendo-se através das disposições dos materiais
contar histórias, o espaço para as atividades e para o lanche. Cabe e objetos pedagógicos uma lógica capitalista, moderna, geométrica,
salientar que juntamente com a forma disciplinada dos equipamen- lógico-matemática produzindo assim a infância.
tos da sala de aula há a disciplina do tempo. A organização do tem- Portanto, analisa-se como a constituição do espaço, juntamen-
po em determinada atividade e espaço para cada momento da aula. te com a organização colabora na não difusão das crianças pelo es-
paço educativo. Cada espaço tem sua função e seu tempo de ser
utilizado. Foucault, dentro da categoria arte das distribuições, de-
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
nomina uma subdivisão intitulada localização funcional, que tem pela professora, destinados a funções específicas, como o cantinho
como pressuposto compreender os espaços disciplinares como es- do brincar, das atividades pedagógicas e da leitura, propiciando, as-
paços úteis. sim, o disciplinamento da criança.
A organização do espaço colabora na criação de espaço útil,
pois em determinado momento as crianças se dirigem aos canti- O tempo na educação infantil
nhos e deles é possível abstrair o máximo de proveito para que Outro aspecto a ser considerado no contexto da educação
assim a professora possa realizar seu trabalho com rapidez e efici- infantil é a questão do tempo. Segundo Horn, Zabalza e Barbosa
ência. Além disso, ajuda a professora a vigiar e visualizar todas as na educação infantil sempre se deve considerar a rotina, uma vez
crianças ao mesmo tempo. Para exemplificar ainda mais, no espaço que ela que irá nortear o trabalho do educador. Por rotina deve-
de atividades as crianças recortam, pintam, desenham, aprendem mos compreender a distribuição das atividades no tempo em que a
várias coisas. No espaço do brincar as crianças montam jogos, re- criança fica na instituição, tanto no aspecto do cuidado quanto nas
presentam e imitam papéis sociais, pode-se averiguar que cada es- brincadeiras e atividades didáticas. De acordo com o Referencial
paço tem sua função e ele deve colaborar na utilidade econômica Curricular Nacional para a Educação Infantil “A rotina representa,
do corpo e torná-lo docilizado em relação ao ambiente. também, a estrutura sobre a qual será organizado o tempo didático,
Para Foucault quadriculamento “[...] é o princípio de localiza- ou seja, o tempo de trabalho educativo realizado com as crianças. A
ção imediata. [...] cada indivíduo no seu lugar e cada lugar um in- rotina deve envolver os cuidados, as brincadeiras e as situações de
divíduo. O espaço disciplinar tende a se dividir em tantas parcelas aprendizagens orientadas” (RCNEI).
quando corpos ou elementos há repartir”. O quadriculamento exi- A partir da organização do tempo e das atividades, as crianças
ge, portanto, para a eficácia do poder disciplinar uma repartição, e educadores ficam mais seguros, diminuem-se os níveis de ansie-
um enquadramento das crianças no espaço. Quanto mais houver dade frente às novas situações e também se torna possível otimizar
criação de espaços e organização do tempo em cada espaço, maior o tempo escolar, possibilitando uma melhor estruturação do tra-
é a eficácia do poder disciplinar. balho a ser realizado pelo educador. Convém ressaltar aqui que o
educador deve ser flexível para alterar a rotina sempre que se fizer
Algumas considerações necessário.
É central dizer aqui que a escola é um espaço que não é neutro. A organização da rotina nas instituições infantis é importante
Do mesmo modo ocorre com as instituições de educação infantil. A para a construção da noção de tempo nas crianças, possibilitando a
não neutralidade é comprovada quando se verifica que, por meio percepção do tempo das atividades e a antecipação, pelas crianças,
da organização e ocupação deste, planeja-se e propostas de traba- dos momentos que virão. Essa percepção, é importante também
lho são desenvolvidas. A criança que integra algum espaço educati- para auxiliar os educadores a situarem-se na sequencia das ações
vo passa a ser “educada” e a relacionar-se com os objetos e mate- que realizarão ao longo do dia.
riais ali presentes e também terá seu comportamento modificado, O tempo deve ser organizado pelo educador de acordo com
ou seja, disciplinado. as necessidades dos educandos, adaptando a rotina conforme às
Quando se aborda a questão do disciplinamento, a primeira demandas das crianças.
impressão é a do sentido pejorativo a que esta palavra nos remete, A padronização e a regulação da rotina podem desrespeitar
porém esta categoria contribuiu significativamente na elaboração os diferentes ritmos dos pequenos, limitando em um único ritmo
das análises, pois não possui conotação negativa. Foucault ajuda a o tempo institucional. A rotina estruturada deve regular os educa-
compreender esta questão quando postula que a disciplina é um dores, mas não deve ser regra absoluta, deve considerar os ritmos
tipo de organização. Acrescenta que a disciplina é um conjunto de variados das crianças, que aos poucos devem incorporá-la.
técnicas de distribuição dos corpos infantis nos espaços escolares e Podemos entender que há dois tempos na escola: um tempo
que tem como objetivos espaços individualizados, classificatórios e da criança e um tempo da instituição. Deste modo, Oliveira afirma
combinatórios, a fim de que as práticas disciplinares se incorporem que “há dois lados na consideração do tempo na Educação Infantil.
nos sujeitos. Um deles focaliza a rotina diária da instituição, que orienta em es-
A educação infantil é um tempo diferente do tempo do ensino pecial o trabalho dos profissionais que nela trabalham. O outro foco
fundamental, portanto, precisam-se projetar espaços físicos que está na jornada das crianças, a sequencia das atividades e experiên-
atendam ao ritmo de “ser criança” e deve-se considerar a neces- cias que elas vivenciam a cada dia”.
sidade de que elas participem da organização do espaço e tempo, Segundo Janaína S. S. Ramos a esse respeito, Batista ressalta
estabelecendo com os profissionais que atuam com ela, momentos que “na creche há indícios de que as atividades são propostas para
de interação decisórios na produção destes espaços e tempos. A o grupo de crianças independente da diversidade de ritmos cultu-
criança precisa encontrar no espaço educativo algo que não seja rais das mesmas. Todas as crianças são levadas a desenvolver ao
uma pré- escolarização, mas sim um ambiente que prime pela cul- mesmo tempo e no mesmo espaço uma mesma atividade propos-
tura infantil, seus valores e ansiedades. A infância é produzida por ta pela professora. Trabalha-se com uma suposta homogeneidade
meio de subjetivações e não se evidencia o estabelecimento da e uniformidade dos comportamentos das crianças. Parece que há
existência de uma única e correta ideia sobre a criança, mas sim ela uma busca constante pela uniformização das ações das crianças em
na sua relação com os familiares, professores(as) e amigos(as). A torno de um suposto padrão de comportamento. Se espera que a
infância é algo de nossos saberes, de nossas tecnologias (LARROSA). criança comporte-se como aluno: aluno obediente, aluno ordeiro,
O espaço escolar é estabelecido dentro da lógica moderna de aluno disciplinado, entre outras”.
espaço fixo, sendo constituído e organizado por meio de discursos Nesse caso, não só ocorre a padronização de atividades como
pedagógicos permeados de subjetividades. Evidenciam-se à luz das o tempo destinado a elas. Barbosa acrescenta, ainda, que em al-
leituras que nos Centros de Educação Infantil as salas de aula têm gumas escolas existe uma sequência fixa de atividades que ocor-
fortes marcas “escolarizantes” (carteiras e cadeiras, quadro de giz rem ao longo do expediente escolar, que geralmente são nomeadas
e atividades pedagógicas). Os espaços podem, muitas vezes, serem como a “hora de”. Estas atividades são cronometradas e subdividi-
organizados em espaços funcionais, ou seja, espaços construídos das em atividades pedagógicas e atividades de socialização. Além
disso, o tempo parece preso a amarras de pressupostos e ideias
pré-concebidas que promovem uma prática sem autocrítica, empo-
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
brecendo a compreensão da dinâmica das relações sociais. Ainda da, ou ainda ter problemas de saúde. Por isso, Piotto et al. apontam
segundo Batista “A lógica da rotina da creche também parece ser que, ao auxiliar a criança na alimentação, desde que se possibilite a
fragmentada, pois separa o tempo de educar, do tempo de cuidar, autonomia, é possível uma relação satisfatória entre aluno e profes-
do tempo de brincar, do tempo de aprender, do tempo de ensinar, sor. No que se diz respeito a jogos e brincadeiras, é necessário que
entre outras. O tempo na creche parece ser recortado minuciosa- o educador tenha ciência da necessidade dessa atividade no coti-
mente: há um tempo pré-determinado para “todos” comer na mes- diano infantil, como é proposto no RCNEI “Para que o faz-de-conta
ma hora, banhar na mesma hora, dormir na mesma hora, brincar torne-se de fato, uma prática cotidiana entre as crianças é preciso
e aprender. Parece ser possível dizer que esta organização, antes que se organize na sala um espaço para essa atividade, separado
de estar centrada nas necessidades das crianças, obedece a uma por uma cortina, biombo ou recurso qualquer, no qual as crianças
lógica temporal regida basicamente pela sequenciação hierárquica poderão se esconder, fantasiar-se, brincar, sozinhas ou em grupos,
e burocrática da rotina”. de casinha, construir uma nave espacial ou um trem etc”. (BRASIL)
Assim, o educador deve perceber, ainda, em quais momen- Sendo assim, o educador deve procurar trazer à sala de aula a
tos as atividades permanentes são viáveis e necessárias, sempre possibilidade do jogo e da brincadeira em um espaço reservado de
considerando o contexto sociocultural da proposta pedagógica da preferência claro e com materiais dispostos para as crianças, ter um
instituição, pois as atividades permanentes promovem o desenvol- tempo disponível para essa atividade, tendo consciência de suas
vimento da autonomia e construção da identidade das crianças, e três funções no momento do faz-de-conta. Santos mostra que o
cada atividade propõe diversas situações seja de cuidado, higiene educador exerce várias funções: A primeira delas é a função de “ob-
ou prazer. servador”, na qual o professor procura intervir o mínimo possível,
Considerando alguns momentos importantes na rotina na Edu- de maneira a garantir a segurança e o direito à livre manifestação de
cação Infantil, a roda de conversa, por exemplo, é uma atividade todos. A segunda função é a de “catalisador”, procurando, através
permanente que possibilita a exteriorização dos sentimentos e da observação, descobrir necessidades, e os desejos implícitos na
emoções dos alunos, como também de suas preferências e desejos, brincadeira para poder enriquecer o desenrolar de tal atividade. E,
essa ação também pode ser utilizada para a contação de histórias finalmente, de “participante ativo” nas brincadeiras, atuando como
em que os alunos, a partir de sua imaginação, podem reinventar um mediador das relações que se estabelecem e das situações sur-
personagens e reviver situações que o faz-de-conta promove. A esse gidas, em proveito do desenvolvimento saudável e prazeroso da
respeito Amorim acrescenta: “É na rodinha da conversa que, entre criança. Além disso, ele deve propor às crianças uma conversa so-
outros assuntos, planejamos os nossos momentos; inicialmente é bre suas brincadeiras, pois, de acordo com Dornelles, essa atividade
realizado por nós e apresentado ao grupo, mas gradativamente vai “Proporciona a troca de pontos de vista diferentes, ajuda a perce-
sendo feito junto com as crianças”. ber como os outros o veem, auxilia na criação de interesses comum,
A atividade de higiene, outra atividade da rotina, é uma opor- uma razão para que se possa interagir com o outro”. Estabelecendo,
tunidade de promover a autonomia dos infantes, levando em consi- ainda, situações de aprendizagens e enriquecimento cultural a par-
deração que deve ser proporcionada a eles a possibilidade de faze- tir da intervenção do educador. O educador tem à sua disposição,
rem sozinhos, ou com pouca intervenção do adulto. O momento do um universo de possibilidades de jogos e brincadeiras que, segundo
banho, atividade relaxante, refrescante e que promove a limpeza da Barbosa e Horn, podem ser individuais, em grupo, nos mais diferen-
pele, deve ser cuidadosamente preparado pelos educadores para tes espaços, com os mais diversos materiais, podendo, ainda, dis-
que seja realizado com segurança, provendo condições materiais por de jogos sensoriais, naturais ou musicais. Nos ateliês ou oficinas
e respeitando regras sanitárias. Além disso, deve-se possibilitar, na de artes visuais ou musicais, é preciso que o educador possa não
organização dessa ação, que ela se torne uma atividade lúdica e de apenas estabelecer relações de cuidado com as crianças pequenas
aprendizagem para as crianças. Segundo Mello e Vitória: “O banho como também de aprendizagem. Gomes indica o trabalho artístico
pode ser facilitado e enriquecido, oferecendo brinquedos, potes de como importante para que as crianças possam explorar o mundo à
diversos tamanhos, buchas variadas. Podem ser organizadas algu- sua volta. No entanto, por muito tempo a arte foi entendida super-
mas brincadeiras com bolhinhas de sabão, livros de plástico, reta- ficialmente e de modo arbitrário. Melo afirma que “As Artes Visu-
lhos de tecido etc.”. É necessário também que durante o momento ais foram apresentadas por muito tempo aos alunos de Educação
do banho, o faz-de-conta esteja presente através das interações da Infantil como meros passatempos, voltada para a recreação, sem
imaginação da criança com o ambiente e objetos disponíveis, pois, conter articulação com o conteúdo acumulado do campo da Arte, a
de acordo com Guimarães “O banheiro se transforma em floresta, cultura e a estética. O Ensino de Arte era visto como uma forma de
castelo encantado, piscina, quadra de esportes para competições auto expressão da criança, onde o educador não se fazia influente”.
na hora de se trocar, salão de cabeleireiro, lojas de roupas... mas é Por essa razão, o trabalho com Artes na Educação Infantil deve
claro que nem sempre são usados esses recursos de faz de conta. transcender o caráter de mero passatempo para o de linguagem.
Muitas vezes o banho fica mais gostoso só com músicas, com todo A fim de que a criança tenha contato com a linguagem artística,
mundo falando baixinho para ouvir uma história enquanto se tro- é necessário o planejamento deste início de relação. Além disso,
cam, lendo gibis, ou nos chuveiros externos durante o verão, apeli- segundo Vasconcelos e Rosseti-Ferreira, a iniciação dos temas artís-
dados aqui de cachoeiras”. ticos a serem trabalhados podem ser sugeridos a partir de passeios
Durante a organização das atividades cabe ao educador avaliar variados, visitas a exposições, museus e artistas ou, melhor ainda,
as características do seu grupo de alunos e transformar o banho em artista e artesãos vindo visitar a instituição para compartilhar com
uma atividade prazerosa. Segundo Mello e Vitória, para o momento as crianças a sua arte. É imprescindível nessa organização de ateliês
do banho deve se pensar em espaços que facilitem o processo de e oficinas, a oferta de materiais e superfícies para maior liberda-
independência das crianças. Já no momento da alimentação, que de criativa da criança e, sua experimentação resultará num melhor
também deve ser prazeroso e agradável, o educador pode organizar aprimoramento sensorial ao lidar com diversos tipos de materiais.
outra oportunidade de socialização das crianças através das conver- As atividades diversificadas podem estar envolvidas em um projeto
sas informais, também promovendo a autonomia na hora da esco- em que se possa trabalhar os mais diversos assuntos, o importante
lha dos alimentos e da quantidade a ser ingerida, pois em certos é que as atividades tenham um objetivo e não sejam descontextu-
momentos algumas crianças se recusam a alimentar-se, seja para alizadas. Pelo contrário, devem integrar-se de forma a levar ao alu-
gerar tensão ou chamar a atenção dos adultos, ou por estar distraí- no a uma totalidade. Vários projetos relacionados ao faz-de-conta
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
podem ser desenvolvidos, tais como a construção de um cenário Desmatamento na Amazônia: de acordo com o Ministério do
para uma viagem intergaláctica; a confecção de fantasias para brin- Meio Ambiente, grande parte da extração de madeira ocorre em
car de bumba-meu-boi; construir castelos de reis e rainhas; cenas áreas públicas, em unidades de preservação e em territórios indí-
de histórias e contos de fadas etc. Pode-se planejar um projeto de genas, sendo, portanto, de procedência predatória e ilegal. Sendo
realização de um circo, por exemplo, com todas as crianças da Ins- a Floresta Amazônica importante agente de controle das alterações
tituição, envolvendo cada grupo em função da idade e das capaci- climáticas, detém aproximadamente de 35% de todo o carbono
dades (BRASIL). (CO2) existente nas florestas tropicais do planeta. Especialistas es-
timam que chega a 40% a redução de carbono provocada pelo des-
As atividades devem, portanto, estimular a curiosidade e o in- matamento na Amazônia (LETRAS AMBIENTAIS, 2018)16.
teresse das crianças. Agassi et al mostram um exemplo interessante
em que, a partir da curiosidade dos alunos ao saberem que o pai de 2) Queimadas
um deles criava minhocas, foi construído na escola um minhocário, Apesar de ocorrerem também pelas causas naturais, os incên-
para saber onde as minhocas viviam, o que comiam, como respi- dios florestais provocados por ações socioeconômicas, diretamente
ravam etc. Criaram também um minhoscópio, pois transportaram relacionadas ao desmatamento, são umas das principais causas da
o minhocário para um aquário e puderam, a partir daí, observar o devastação dos biomas. Dentre os principais danos causados pelas
que as minhocas fazem debaixo da terra. Como uma pesquisa puxa queimadas, estão:
a outra, as crianças também quiseram cultivar plantas medicinais, • a emissão de quantidades elevadas de carbono por matas
promovendo, assim, diversos saberes a partir da própria curiosida- nativas, que, reforçadas por longos períodos de estiagem intensas,
de delas. Por isso, a organização das atividades permanentes exige estimulam as alterações climáticas
uma observação e compreensão do professor das necessidades e • a combustão do manto vegetal extrai os nutrientes da terra,
gostos da criança, para que o dia-a-dia na instituição seja envolven- que, com isso, fica desprotegida dos agentes erosivos, especialmen-
te e proveitoso. te os eólicos e os hídricos, antecipando desertificação na Caatinga
e em outros biomas
Fonte • oferece ameaça à diversidade biológica dos biomas
Maria Ghisleny de Paiva Brasil disponível em http://www.estudosda- • provoca a salinização das águas e seca nascentes
crianca.com.br/resources/anais/1/1407100683_ARQUIVO_MariaGhis-
lenyBrasil-CongressoLusoBrasileiro_1_.pdf Queimadas no Pantanal: realizadas para colheita da cana-de-
Maévi Anabel Nono disponível em http://www.acervodigital.unesp.br/ -açúcar e da limpeza dos pastos, as queimadas no Pantanal emitem
bitstream/123456789/297/1/01d13t08.pdf gases de efeito estufa, prejudiciais ao meio ambiente.
Dorcas Tussi e Alexandra F. L. de Souza disponível em Queimadas na Caatinga: nesse bioma, onde a agricultura é ba-
http://www.partes.com.br/educacao/espacotempodisciplinamento. seada no corte e nas queimadas, os danos afetam diretamente a
asp extinção de espécies da flora e da fauna e na produtividade do solo.
Manuela A. Crosera e Maria Paula Zurawski, disponível em http://ve- Queimadas na Amazônia: as queimadas são praticadas ampla-
racruz.edu.br/doc/ise_tcc_manuela_assuncao_crosera.pdf mente, pois beneficiam o crescimento agropecuário.
Janaína S. S. Ramos disponível em http://periodicos.ufrn.br/saberes/ Queimadas no Cerrado: bioma onde são comuns os incêndios
article/view/1076/923 naturais, mesmo assim, essa proporção é pequena. As queimadas
antrópicas, ante técnicas agrícolas que ignoram a sustentabilidade,
constituem a princípio da atividade econômica local.
MEIO AMBIENTE. CONVIVÊNCIA E INTERAÇÃO SOCIAL
3) Desertificação
A relação entre crescimento econômico e a preservação am- Processo de deterioração dos solos causado por longos perí-
biental tem sido uma grande preocupação dos governos e até odos de seca extrema e pela perda acelerada de nutrientes, o que
mesmo das indústrias, por dois motivos principais: 1) a prática de transforma o local em um cenário desértico.
qualquer atividade econômica somente é possível se os aspectos do Desertificação na caatinga: além de ser o bioma mais degra-
ambiente provedor da energia e dos meios materiais não tiverem dado do território brasileiro, é o mais susceptível à desertificação,
sofrido danos; 2) além dos lucros com a produtividade, o cresci- conforme o Programa de Ação Nacional de Combate à Desertifica-
mento econômico está diretamente relacionado com o âmbito so- ção e Mitigação dos Efeitos da Seca. As ações humanas que mais in-
cial, assim, deve-se levar em conta a qualidade de vida e a própria tensificam a degradação da caatinga e sua paisagem desértica são:
vida, que é a maior das riquezas (FARIAS, 2019)15. • queimadas para criação de plantações e pastos
• falta de técnicas apropriadas para o manuseio do solo, junta-
1) Desmatamento mente às práticas da pecuária extensiva
Atividade econômica que ameaça a maioria dos biomas brasi- • extração da floresta primitiva para a produzir carvão vegetal e
leiros, em geral, para atender às distintas finalidades relacionadas lenha, utilizados na produção de gesso e na siderurgia
ao crescimento econômico. Os impactos mais sérios do desmata-
mento são: 4) Atividade mineradora
• maior risco de extinção de animais selvagem A contaminação das águas e dos solos é o principal impacto
• perda da biodiversidade ambiental causado pela mineração.
• prejuízo do ciclo hidrológico e da manutenção do clima, entre Impactos da mineração no Cerrado: bioma mais afetado pela
outras serventias ecológicas proporcionadas pela floresta intensa e irregular prática mineradora, tem as águas de seus rios
• degradação dos ecossistemas dos biomas contaminadas com mercúrio e, consequentemente, a erosão dos
solos e a obstrução dos cursos dos rios.
15 FARIAS, Talden. A proteção do meio ambiente e a garantia do desenvol-
vimento econômico. Conjur, 2019. Disponível em: <https://www.conjur.com.
br/2019-mai-04/ambiente-juridico-protecao-meio-ambiente-desenvolvimento- 16 Letras Ambientais. Biomas do Brasil, 2018. Disponível em: <https://www.
-economico>. Acesso em 17 Fev 2021 letrasambientais.org.br/posts/biomas-do-brasil>. Acesso em 17 Fev 2021
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Casos de grandes proporções: o Programa das Nações Unidas A atitude é um processo dinâmico que vai se desenvolvendo no
para o Meio Ambiente (PNUMA) aponta vários pisodios de conta- decorrer da vida mediante situações que estão em sua volta como
minação ambiental, decorrentes das atividades extrativistas e mi- escola, família, trabalho. Trillo(2000) relata que “atitude é mas uma
neradoras: condição adaptável as circunstâncias: surgem e mantém-se inter-
• despejo de resíduos tóxicos em córregos na Floresta Amazô- ação que individuo tem com os que o rodeiam”.
nica A escola é fator importante no desenvolvimento da atitude,
• vazamentos de petróleo em Loreto pois no decorrer de nossa vida se passa boa parte do tempo numa
• Rompimentos das barragems de rejeitos Fundão, em Mariana unidade de ensino, o que proporciona uma inserção de conheci-
(MG), em 2015, do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG). O pri- mento.
meiro caro foi levantado pela Agência da Organização das Nações Segundo Trillo (2000, p.28) a escola através ações educati-
Unidas (ONU) como advertência de ameaça relacionada à atividade vas, proporciona os estímulos necessários na natureza para a con-
mineradora para os ecossistemas naturais do Brasil. O segundo, ou- strução de valores.
tro episódio devastador de despejo de substâncias nocivas no meio [...] Do ponto de vista da teoria das atitudes, pelo nos casos em
ambiente. Em ambas as tragédias, a devastação ambiental e o saldo que se acedeu ao seu estudo a partir de casos de delineamentos
de mortos e desaparecidos constituem as mais graves consequên- vinculados a educação, não surgem controvérsias importantes no
cias da atividade econômica no Brasil. que se refere ao facto de se tratar ou não natureza humana sus-
ceptíveis de serem estimulados através da ação educativa. Ou seja,
5) Grandes projetos de Infraestrutura parece existir um acordo geral segundo o qual as atitudes e os va-
Aberturas de rodovias, construções de usinas hidrelétricas e lores poderiam se ensinados na escola [...]
suas barragens, enfim, o desenvolvimento de extensas obras de in- As ações das atitudes começam a se desenvolver logo na cri-
fraestrutura causam graves prejuízos ao meio ambiente em todos ança quando ela esta rodeada de exemplos de família, amigos e
os biomas do Brasil, deteriorando sua vegetação nativa e contami- principalmente pelos ensinamentos da escola. É interessante que
nando os rios. quando se tem um ambiente favorável e principalmente dos pais,
Grandes projetos na Amazônia: obras para geração de energia acompanhando e orientando a criança, percebe-se a construção de
elétrica emitem volumes prejudiciais de dióxido de carbono e me- boas atitudes.
tano estimulam as mudanças climáticas. De acordo com Trillo (200, p.35) as crianças imitam os compor-
tamentos em sua volta, de maneira que são estimuladas através de
exemplos de atitudes positivas, o que proporciona a autoestima.
O PROFESSOR COMO MEDIADOR [...] Nesta perspectiva, os mecanismos básicos da aquisição
são a imitação e o esforço. As crianças pequenas vão imitando os
Função social do educador comportamentos que observam a sua volta e, desta forma, esses
Quando se fala na função social do professor, observa-se que comportamentos vão se fixando ou desaparecendo, como conse-
existe um conjunto de situações relacionadas como atitudes, va- quência do reforço positivo ou negativo que recebem (em forma de
lores, éticas, que formam itens fundamentais para o seu desenvolvi- aprovação e reconhecimento dos outros ou em forma de autograti-
mento no papel da educação. No primeiro momento ira se fazer um ficação: sentir-se bem, reforçar a própria autoestima, etc [...]
análise sobre as atitudes e valores de ensino, e em seguida sobre o Um ponto importante no processo de construção das atitudes
papel da educação no desenvolvimento de competências éticas e esta o papel do professor. Ele tem a função de criar um processo de
de valores. aprendizagem dinâmico entendendo a necessidade e diversidade
Percebe-se que existe uma série de fatores que se relacionam do aluno, mostrando os caminhos corretos para o desenvolvimento
com o processo de aprendizagem, que envolvem professor, aluno das atitudes.
e escola. Esses fatores são: Atitudes e valores vão se formando ao Segundo Trillo ( 2000, p.44) o professor tem que ter a habili-
longo da vida, através de influências sociais; A escola tem papel fun- dade de estimular os alunos através de trabalhos dinâmicos de ex-
damental no desenvolvimento das atitudes e valores através de um pressão pessoal, em meio a diversidade e perspectivas diferentes,
modelo pedagógico eficiente; O ensino e a aprendizagem estão rel- acompanhando e valorizando os pontos dos trabalhos, de modo a
acionados num processo de desenvolvimento das atitudes e valores enriquecer as atitudes dos aluno.
de acordo com a diversidade cultural; O Professor como ponte de [...] O professor /a que procura nos trabalhos a expressão pes-
ligação entre a escola e o aluno, proporcionando o desenvolvimen- soal dos seus estudantes, e que os adverte valorará a originalidade
to das atitudes no processo de aprendizagem. como um dos pontos importantes dos seus trabalhos, esta a estabe-
Quando se fala em atitude, é comum escutar frases como: ela lecer as bases de uma atitude de expressão livre. E se isto ampliar,
é uma pessoa de atitude, ou não vejo que ela tenha atitude. Mas no sentido em que, numa fase posterior do processo, cada um de-
afinal o que é atitude. verá ir expondo e justificando as suas conclusões pessoais, parece
De acordo com Trilo (2000, p.26) atitude é algo interno que provável que a atitude de trabalho pessoal será enriquecida com
se manifesta através de um estado mental e emocional, e que não a componente de reflexão e a que diz respeito a diversidade e as
tem como ser realizadas medições para avaliação de desempenho e diferentes perspectivas sobre as coisas [...]
não esta exposto de forma que possam ser visualizados de maneira As atitudes de valores de ensino é um processo dinâmico e
clara. construtivo, e cada vez mais necessita da presença da escola, pro-
[...] Que se trata de uma dimensão ou de um processo interi- fessor, aluno e demais ambientes sociais, visto que o processo de
or das pessoas, uma espécie de substrato que orienta e predispõe aprendizagem se torna eficiente e eficaz, quando todos os envolvi-
atuar de uma determinada maneira. Caso se trate de um estado dos tenham discernimento de trabalhar o conhecimento tomando
mental e emocional interior, não estará acessível diretamente (não atitudes corretas de acordo com os valores éticos, morais e sociais.
será visível de fora e nem se poderá medir) se não através de suas
manifestações internas. [...]
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
O Papel da Educação no Desenvolvimento de Competências Éti- A utilização de recursos de ensino diminui o nível de abstração
cas e de Valores dos alunos, pois eles vêem na prática o que estão aprendendo na
Desenvolver a educação alinhada a ferramentas como ética e escola, e podem relacionar a matéria aprendida com fatos reais do
valores não é tarefa fácil quando se depara com uma diversidade de seu cotidiano. Desta forma é mais fácil eles absolverem os conteú-
situações que se encontra na sociedade do mundo de hoje. dos escolares.
A educação não é a única alternativa para todas as dificuldades Dale (1966) criou uma classificação de recursos de ensino que
que se encontra no mundo atual. Mas, a educação significa um im- é bastante utilizada. Ele nos trouxe o “cone de experiências”, que
portante caminho para que o conhecimento, seja uma semente de mostra que o ensino verbalizado, uso de palavras sem experiência,
uma nova era para ser plantada e que cresça para dar bons frutos não deve mais ser usado pelo professor, pois os alunos aprendem
para sociedade. mais quanto mais pratica experiências em torno do que está sendo
De acordo com Johann (2009, p.19) a ética é um fator primor- ensinado.
dial na educação, pois já é parte do principio da existência humana.
[...] Se a educação inclui a ética como uma condição para que Segundo Dale (1966), os objetivos do uso dos recursos de en-
ela se construa de acordo com a sua tarefa primordial, antes de sino são:
tudo, buscaremos compreender o que se entende por educar e de • motivar e despertar o interesse dos alunos;
que tarefa se trata aqui. Para explicitar o conceito de educação que • favorecer o desenvolvimento da capacidade de observação;
assumimos ao relacioná-la com a ética, começaremos por contex- • aproximar o aluno da realidade;
tualizar a existência humana, razão da emergência do fenômeno • visualizar ou concretizar os conteúdos da aprendizagem;
educativo e das exigências éticas [...] • oferecer informações e dados;
Percebe-se a importância da ética no processo de aprendizagem, • permitir a fixação da aprendizagem;
onde alunos professores e escolas, devem selar este principio na • ilustrar noções mais abstratas;
troca de informações para o crescimento do conhecimento. • desenvolver a experimentação concreta.
Os valores a serem desenvolvidos como uma competência ed-
ucacional, é um desafio para escolas, professores e alunos devido a Para utilização dos recursos de ensino é preciso estar atento
diversidade social, em que tem que ter um alinhamento flexível do aos seus objetivos, eficácia e função em relação à matéria ensinada.
modelo pedagógico das escolas e da didática do professor. Todos esses objetivos podem ser alcançados através de recursos de
Segundo Araujo e Puig ( 2007, p.35) os valores mundo educa- ensino, midiáticos, como, por exemplo, computador, internet, em
cional devem ser construídos com base num envolto de ferramen- que o aluno além de conhecer novas tecnologias, faz também inte-
tas como democracia, cidadania e direitos humanos, de modo que ração com o mundo e novas informações. O aluno busca algo novo,
estes valores a todo instante se relacionam com a diversidade social algo atrativo, e a educação deve acompanhar essa busca. Mas não
no ambiente interno e externo da escola. basta apenas usar a tecnologia, no ambiente de ensino/aprendiza-
[...] Assim o universo educacional em que os sujeitos vivem de- gem temos que rever o uso que fazemos de diferentes tecnologias
vem estar permeados por possibilidades de convivência cotidiana enquanto estratégias, tendo clareza quanto à função do que esta-
com valores éticos e instrumentos que facilitem as relações inter- mos utilizando, não basta trocar o livro por um computador se na
pessoais pautadas em valores vinculados a democracia, a cidada- prática não promovemos a inclusão do aluno, no que se refere aos
nia e aos direitos humanos. Com isso, fugimos de um modelo de processos de aprendizagem.
educação em valores baseado exclusivamente baseado em aulas O computador é conhecido como uma tecnologia da informa-
de religião, moral ou ética e compreendemos que a construção de ção devido a sua grande capacidade na solução de problemas rela-
valores se da a todo instante, dentro e fora da escola. Se a escola e a cionados a armazenamento, organização e produção de informa-
sociedade propiciarem possibilidades constantes e significativas de ção de várias áreas do conhecimento. A utilização dessa tecnologia
convívio com temáticas éticas, haverá maior probabilidade de que pode ser usada de varias formas, como programas de exercício-e-
tais valores sejam construídos pelo sujeitos [...] -prática, jogos educacionais, programas de simulação, linguagem de
Contudo, a função social do professor é um ambiente bem programação entre outros, despertando assim um grande interesse
complexo de se analisar, visto que ela esta relacionada a situações do aluno.
como atitudes, valores e éticas, estes itens de grande importân- Conforme observado por Valente (1993), o computador não é
cia para o desenvolvimento além do professor, mas para escolas e mais o instrumento que ensina o aprendiz, mas a ferramenta com
alunos, pois a sociedade em que se vive, é cada vez mais diversifi- a qual o aluno desenvolve algo, e, portanto, o aprendizado ocorre
cada, exigindo do professor flexibilidade de métodos de ensino, e pelo fato de estar executando uma tarefa por intermédio do com-
das escolas modelos pedagógicos mais dinâmicos, para satisfazer a putador. O processo de interação se torna mais agradável com a
necessidade dos alunos diversificados a fim de construir uma socie- presença da multimídia na aprendizagem, pois naquele momento o
dade com conhecimento.17 aluno está descobrindo o novo, o contemporâneo.
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Afirma-se que a Educomunicação apresenta-se, hoje, como É raro ver qualquer tipo de interação entre professor e alunos
um paradigma, um conceito orientador de caráter sociopolítico e em sala de aula que ignore completamente as novas tecnologias.
educacional a partir da interface Comunicação/Educação. Mais do Mesmo em uma sala de aula desprovida de equipamentos de últi-
que como uma metodologia, no âmbito da didática, o neologismo ma geração, com o professor mais tradicional, a interação é sempre
tem sido visto como um parâmetro capaz de mobilizar consciências permeada por ela. E não poderia deixar de ser: além dos avanços
em torno de metas a serem alcanças coletivamente nas diferentes tecnológicos que conquistaram as gerações X e Y (você se lembra
esferas da leitura e da construção do mundo, como propunha Paulo como enviava mensagens e fazia planos com os amigos antes do
Freire. smartphone?), os estudantes das novas gerações são nativos digi-
O fato permite e facilita um diálogo permanente entre os que tais. Isso significa que a maioria deles nunca conheceu um mundo
buscam dar respostas tanto às questões vitais anunciadas e des- sem internet, celular, Google ou redes sociais, dessa forma, o uso
critas nas diretrizes propostas pelo poder público quanto às “ex- de tecnologias educacionais se tornou fundamental para potencia-
periências escolares” inovadoras e multidisciplinares, previstas na lizar o ensino e principalmente, gerar maior interesse e interação
reforma do ensino dos alunos.
Trata-se de um percurso que leva em conta a sociedade da in- A Tecnologia Educacional é um conceito que diz respeito à utili-
formação e o papel da mídia na geração de conteúdos, mensagens zação de recursos tecnológicos para fins pedagógicos. Seu objetivo
e apelos comportamentais. é trazer para a educação – seja dentro ou fora de sala de aula – prá-
Segundo a justificativa do CNE que embasa o documento, se, ticas inovadoras, que facilitem e potencializem o processo de en-
de um lado, “é importante a escola valer-se dos recursos midiáti- sino e aprendizagem. O uso da TE tem sido amplamente discutido
cos é, igualmente, fundamental submetê-los aos seus propósitos no meio acadêmico, na mídia e nos círculos sociais, espaços onde
educativos”. Nesse sentido, o texto propõe que valores — presen- nem sempre é bem recebido. As maiores críticas dizem respeito à
tes muitas vezes de forma conflituosa no convívio social e assim sua relação com o papel da escola e do professor e à dificuldade de
reproduzidos pela mídia — sejam identificados e revisitados pela acesso à tecnologia, especialmente nas escolas da rede pública e
educação. É o caso, por exemplo, do consumismo e de uma pouco entre estudantes com menor renda familiar.
disfarçada indiferença com relação aos desequilíbrios que ocorrem Mas, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, o foco
no mundo; indiferença essa que leva, com certa naturalidade, à ba- principal da Tecnologia Educacional não está sobre os dispositivos
nalização dos acontecimentos por parte significativa dos meios de tecnológicos (a escola não precisa, obrigatoriamente, contar com
informação. os equipamentos mais modernos para trabalhar a TE), e sim sobre
Em relação ao universo da comunicação, a Resolução CNE/CEB as práticas que o seu uso possibilita. Em outras palavras: ter bem
nº. 7, de 14/12/2010, que estipula as diretrizes para o ensino de definida a finalidade do uso da tecnologia em sala de aula é mais
nove anos, não permanece, contudo, apenas num denuncismo inó- importante que os meios e recursos tecnológicos que serão empre-
cuo. Ao contrário, estabelece metas a serem cumpridas. gados para tal prática.
É necessário, por exemplo, que a escola contribua para trans- E é aí que entra o papel fundamental do professor e do profis-
formar os alunos em consumidores críticos dos produtos midiáticos sional da educação no emprego da Tecnologia Educacional: definir
(meta número 1), ao mesmo tempo em que passem a usar os re- quais são os recursos e ferramentas mais adequados para a realida-
cursos tecnológicos como instrumentos relevantes no processo de de de seus alunos, e também a forma mais relevante de os utilizar
aprendizagem (meta número 2). É dessa criticidade do olhar e da em suas práticas pedagógicas. Ainda assim, pode surgir a dúvida:
criatividade no uso dos recursos midiáticos que pode surgir uma com que objetivo um profissional da educação deveria inserir a tec-
nova aliança entre o aluno e o professor (meta número 3), favore- nologia nas práticas pedagógicas e no dia a dia da sua instituição
cida justamente pelo diálogo que a produção cultural na escola é de ensino?
capaz de propiciar.
No caso do docente, o parecer que justificou o documento do Tecnologia Educacional: por que usar?
CNE entende que “muitas vezes terá que se colocar na situação de Ao longo das últimas décadas praticamente todas as áreas da
aprendiz e buscar junto com os alunos as respostas para as ques- sociedade têm experimentado uma grande evolução tecnológica.
tões suscitadas”. Surge, aqui, a meta número 4: reconhecer o aluno Toda evolução compreende uma mudança na comunicação, nas re-
como partícipe e corresponsável por sua própria educação, sujeito lações sociais e, é claro, no processo de ensino e aprendizagem.
que é de um direito muito especial: o de expressar-se numa socie- Mas, como dissemos no tópico acima, a utilização da Tecnologia
dade plural. Educacional nem sempre é bem recebida – inclusive por educado-
Assim como a tecnologia, a comunicação envolvida no proces- res. A raiz dessa resistência talvez esteja na desinformação sobre as
so de ensino e aprendizagem também está em constante transfor- diferentes possibilidades que ela oferece à educação.
mação. Por esse motivo, não é mais possível estar diante de uma Listamos aqui alguns dos motivos para utilizar a Tecnologia
sala de aula com a expectativa de captar a atenção de toda uma Educacional em sua escola.
turma de crianças e adolescentes e utilizando uma linguagem do - Ampliar o acesso à informação.
século passado. Hoje, não é mais possível falar sobre ecologia, sem - Facilitar a comunicação escola – aluno – família.
falar sobre sustentabilidade e tecnologias limpas. Ou falar sobre - Automatizar processos de gestão escolar.
linguagens, sem mencionar os memes e as fake news. E esses são - Estimular a troca de experiências.
apenas alguns dos exemplos possíveis. - Aproximar o diálogo entre professor e aluno.
Para estabelecer uma comunicação verdadeira com a realidade - Possibilitar novas formas de interação.
dos estudantes das novas gerações, o processo de ensino e apren- - Melhorar o desempenho dos estudantes.
dizagem necessita, invariavelmente, levar em conta e valer-se da
tecnologia. Dessa necessidade emergiu a Tecnologia Educacional. Vamos analisar alguns motivos por que o uso da tecnologia di-
Pensada especificamente para trazer inovação e facilitar o processo gital em sala de aula pode melhorar o desempenho dos seus alunos.
de ensino e aprendizagem, ela aparece nas salas de aula de diversas
maneiras: em novos dispositivos ou gadgets, softwares e soluções
educacionais.
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
1. A tecnologia digital desperta maior interesse e prende equívocos enquanto o conteúdo continua “fresco” na memória, em
a atenção dos alunos. vez de descobrir dias depois (ou apenas no final do bimestre) que,
O uso da tecnologia digital na educação contribui enorme- durante todo o tempo, seu desempenho esteve abaixo do espera-
mente para o engajamento dos estudantes na dinâmica de aula. A do. Além disso, professores e responsáveis acompanham de perto a
mente humana é apaixonada por novidades. Por isso, é importante evolução de cada estudante, intervindo e direcionando os estudos
variar a rotina de estudos, fazer pequenas mudanças no local e, es- conforme necessário.
pecialmente, experimentar diferentes ferramentas e recursos tec-
nológicos. Quando se buscam novas formas de ensinar e aprender, 7. A tecnologia digital permite traçar um plano de ensino
coloca-se uma aura de novidade sobre a rotina de estudos, tornan- adequado a cada aluno.
do-a mais interessante e prazerosa. Consequentemente, crescem a A tecnologia digital permite gerar uma grande quantidade de
atenção e o interesse dos alunos pelo assunto em pauta. dados educacionais. É possível identificar temas e conceitos nos
quais os estudantes apresentam maior facilidade ou dificuldade de
2. A tecnologia digital auxilia na percepção e na resolu- compreensão, bem como verificar o desempenho da turma e de
ção de problemas reais. cada aluno, individualmente. A análise desses dados dá autonomia
Grande parte dos artigos e discussões recentes na área da edu- para que professores, pais e alunos tracem um plano de ensino per-
cação (inclusive a recém-aprovada Base Nacional Comum Curricu- sonalizado, mais adequado a cada turma e estudante. Também pos-
lar) diz que é preciso aproximar o conteúdo estudado da realidade sibilita que o próprio aluno, nas etapas mais avançadas da educação
dos alunos. Experimente dar um sentido mais prático à sua discipli- básica, direcione seu aprendizado para suas áreas de interesse e da
na, seja por meio da contextualização da informação (aplicação em formação que pretende seguir.
situações reais, apresentação de casos locais) ou dos meios utiliza-
dos para transmiti-la (tecnologias digitais, canais frequentemente Exemplos de usos da Tecnologia Educacional
utilizados pelas novas gerações). Isso auxilia não apenas na com- A Tecnologia Educacional pode estar presente na educação de
preensão do conteúdo, mas também na visualização e na resolução diversas maneiras, algumas delas são:
de problemas reais que se apresentam no dia a dia do estudante. - em gadgets (dispositivos), como a lousa digital, os tablets e as
mesas educacionais;
3. A tecnologia digital insere os jovens no debate social e - em softwares, como os aplicativos, os jogos e os livros digitais;
contribui para a formação do senso crítico. - e em outras soluções educacionais, como a realidade aumen-
Uma das principais vantagens da aplicação da tecnologia digital tada, os ambientes virtuais de aprendizagem e as plataformas de
na educação é a possibilidade de acessar informações atualizadas, vídeo.
em tempo real. Não é mais preciso aguardar pela atualização do
livro didático impresso para ter acesso a temas contemporâneos, Diversas práticas e iniciativas educacionais apenas tornaram-se
questões recentes de vestibulares, dados atualizados e debates so- realidade com o uso da TE. A seguir, vamos falar um pouco sobre
ciais relevantes. Trabalhar com informações hiperatualizadas con- as possibilidades do uso da Tecnologia Educacional e as diferentes
tribui para inserir o estudante no debate social e desenvolver seu formas de como ela vem transformando a educação.
senso crítico e de argumentação, preparando-o simultaneamente
para os desafios da vida social e acadêmica. Ensino híbrido
A prática de combinar o estudo on e offline, conhecido como
4. A tecnologia digital trabalha a responsabilidade na ensino híbrido, é uma grande tendência possibilitada pela Tecnolo-
utilização da internet e dos recursos digitais. gia Educacional. Ela confere maior autonomia aos estudantes, para
A tecnologia digital está presente na vida das novas gerações que trilhem seus próprios roteiros de estudo, desenvolvam proje-
desde muito cedo. É extremamente comum ver crianças em idade tos ou atividades de sistematização e de reforço. Também é uma
pré-escolar utilizando tablets e smartphones, por exemplo. A inser- prática que incentiva e facilita que o aluno desenvolva o hábito do
ção da tecnologia no ambiente escolar ajuda a estabelecer regras estudo diário, fora do ambiente escolar.
de convivência e segurança nos ambientes virtuais. Também é uma
boa oportunidade para trabalhar a responsabilidade no manuseio e Sala de aula invertida
na conservação dos equipamentos digitais. Na sala de aula invertida, o aluno traz para a aula o conhecimen-
to prévio sobre o tema que será estudado, adquirido a partir de tex-
5. A tecnologia digital contribui para democratizar o tos, vídeos, jogos e outros formatos de conteúdo recomendados pelo
acesso ao ensino. professor – quase sempre no meio digital. A construção e significação
Hoje existem diversas ferramentas e metodologias desenvolvi- deste conhecimento, no entanto, acontecem em conjunto, na sala de
das com o objetivo de ajudar os profissionais da educação a promo- aula. Assim como o ensino híbrido, a proposta da sala de aula inverti-
ver a democratização do acesso ao ensino e a trabalhar a favor de da tem como objetivo colocar o estudante no papel de protagonista
uma educação mais inclusiva. O uso da tecnologia digital em sala de de seu processo de aprendizagem e da sua própria evolução, enga-
aula (na forma de recursos sonoros, visuais e de escrita, por exem- jando também os outros membros do seu núcleo familiar.
plo) pode dar mais autonomia aos estudantes portadores de defi-
ciência, transtornos ou problemas de aprendizagem, ajudando-os a Gamificação
superar limitações e a desenvolver ao máximo seu potencial. A gamificação, assunto muito comentado no meio educacional
nos últimos anos, consiste em utilizar elementos de jogos digitais
6. A tecnologia digital oferece feedback imediato e cons- (como avatares, desafios, rankings, prêmios etc.) em contextos que
tante a professores, alunos e responsáveis. diferem da sua proposta original – como na educação. A principal
Nas escolas que utilizam um ambiente virtual de aprendizagem vantagem apontada pelos profissionais da educação no uso da ga-
(AVA), transferir as tarefas e avaliações para o meio digital é uma mificação é o aumento no interesse, na atenção e no engajamento
maneira de gerar dados de desempenho imediatos para professo- dos alunos com o conteúdo e as práticas propostas.
res, alunos e responsáveis. Dessa maneira, o aluno pode corrigir
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Personalização do ensino Atualização
A geração de dados educacionais é extremamente beneficiada A partir do momento em que o professor identifica uma prática
pelo uso da TE, pois simplifica a aferição do desempenho e dos re- ou rotina que poderia ser inovada com o uso da tecnologia, tam-
sultados de avaliações objetivas. A partir desses dados, é possível bém é importante pensar na atualização dos planos de aula que
criar modelos de ensino personalizados, que estejam em sintonia irão nortear essas práticas.
com o momento real de aprendizagem de cada estudante. Assim, o
professor tem uma noção mais clara do panorama da turma e pode Plano de Aula X tecnologia
agir individualmente e de forma personalizada sobre os pontos po- A partir da modernização de espaços, ferramentas e práticas
tenciais e de maior dificuldade de cada estudante. educacionais, profissionais da educação em todo o mundo estão
trabalhando por uma transformação cada vez mais profunda e efe-
Microlearning tiva no processo de ensino e aprendizagem. Essa transformação
Tanto para as novas gerações quanto para as anteriores, a enor- é um processo nascido e desenvolvido dentro de cada espaço de
me quantidade de informações com as quais temos contato diaria- aprendizagem, baseado em uma mudança de hábitos e paradig-
mente ocasionou uma transformação na forma como consumimos mas estabelecidos nas relações diárias entre alunos e professores.
conteúdo. Para que a atenção não seja desviada de pronto, este Não basta esperar que a transformação chegue até a sala de aula,
conteúdo aparece em nosso dia a dia de forma muito mais frag- ela precisa ter um ponto de partida dentro do ambiente escolar.
mentada, em vídeos e mensagens breves. Daí surge a expressão Que tal ser um agente dessa mudança na sua escola, começando
microlearning, que consiste na fragmentação de conteúdo educa- pelo plano de aula?
cional para que este seja melhor assimilado pelos alunos. O meio A chegada da Base Nacional Comum Curricular deixa ainda
digital favorece este tipo de interação, por meio de vídeos, jogos, mais evidente a necessidade de trazer a tecnologia para dentro da
animações, apresentações interativas etc. realidade das escolas. Segundo a BNCC, os estudantes devem de-
senvolver ao longo da Educação Básica a competência para:
Como inserir a tecnologia na minha escola? Compreender e utilizar tecnologias digitais de informação e
Existem medidas essenciais para inserir a Tecnologia Educacio- comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas di-
nal de maneira relevante no dia a dia de sua instituição de ensino. versas práticas sociais (incluindo as escolares), para se comunicar
Elencamos algumas delas a seguir: por meio das diferentes linguagens e mídias, produzir conhecimen-
tos, resolver problemas e desenvolver projetos autorais e coletivos.
Diagnóstico (BNCC)
Antes de mais nada, é preciso entender os alunos e professores
da sua escola. Em que momentos eles estão conectados? A partir A seguir, apresentamos 6 ideias para atualizar seu plano de
de quais dispositivos? Quais são as redes sociais em que estão pre- aula e trabalhar a tecnologia de maneira relevante e integrada ao
sentes e os sites que acessam? Essa investigação é essencial caso dia a dia da turma.
sua instituição pretenda estabelecer uma conexão verdadeira com
os seus públicos e propor usos significativos para a Tecnologia Edu- 1. Interação em ambientes virtuais
cacional. Desde a primeira infância, os estudantes da Geração Z estão
navegando em ambientes virtuais. Eles comunicam-se com desen-
Documentos normativos voltura no meio digital, às vezes mais do que seus pais e professo-
As possibilidades para o uso da TE, bem como o destaque da res. Incentivar e orientar a interação nesses espaços tem muito a
sua importância, devem estar previstas dentro do PPP e em outros acrescentar à prática pedagógica. Procure identificar as tarefas que
documentos normativos da instituição de ensino. podem ser transpostas, facilitadas ou repensadas para o meio di-
gital.
Investimento As ferramentas para isso são abundantes: é possível criar gru-
É importante relacionar tudo aquilo que a escola possui de su- pos e comunidades nas redes sociais; fóruns de discussão com te-
porte para o uso da tecnologia, para daí desenvolver planos reais máticas específicas relacionadas ao conteúdo que está sendo estu-
sobre as práticas que podem ser adotadas. Essa relação também dado; ou mesmo utilizar um ambiente virtual de aprendizagem,
deixa claro aquilo que é preciso melhorar e o investimento que caso a sua escola ou sistema de ensino disponha de um.
pode ser feito com esta finalidade.
2. Textos em formato digital
Capacitação O consumo de textos em formato digital é baseado na lingua-
De nada adiantam os recursos tecnológicos sem uma equipe de gem hipertextual e em uma forma de leitura não linear. O texto em
professores e profissionais capacitados para extrair deles as melho- formato digital permite ampliar o conhecimento acerca de uma te-
res práticas pedagógicas. Por isso, a formação dos educadores para mática, elucidar e ilustrar conceitos, contextualizar momentos his-
a tecnologia é primordial. tóricos, esclarecer vocabulários específicos, entre diversas outras
possibilidades. A leitura deixa de ser apenas receptiva para tornar-
Diálogo -se um processo interativo.
Uma ação importante é estimular o diálogo e a troca de expe- Muitos materiais didáticos já possuem uma versão digital que
riências entre as equipes. Os professores sentem-se mais seguros, pode ser aproveitada como recurso em sala de aula ou em casa.
dispostos e motivados a utilizar a tecnologia quando compartilham Explore também as funcionalidades oferecidas por portais de no-
das experiências de seus pares. tícia online, e-books, PDFs interativos etc. O hipertexto permite
adicionar links, imagens, vídeos, referências e diversos formatos de
Segurança conteúdo adicional ao corpo do texto, transformando a forma como
É preciso estimular o uso consciente e seguro dos recursos digi- lemos e aprendemos. Quando se transforma a forma de ler, modifi-
tais, por parte tanto das equipes da escola quanto dos estudantes. ca-se também a forma de produzir conteúdo.
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
O hipertexto, pela sua natureza não sequencial e não linear, 5. Diferentes formatos de avaliação
afeta não só a maneira como lemos, possibilitando múltiplas entra- A tecnologia também pode convergir para o plano de aula no
das e múltiplas formas de prosseguir, mas também afeta o modo modo de avaliação. Por mais que a prova em papel e caneta – com
como escrevemos, proporcionando a distribuição da inteligência e os alunos em fila e vigiados pelo professor – continue sendo o mé-
cognição. De um lado, diminui a fronteira entre leitor e escritor, tor- todo de avaliação mais comum, existem formas diferentes de verifi-
nando-os parte do mesmo processo; do outro, faz com que a escrita car a aprendizagem dos estudantes.
seja uma tarefa menos individual para se tornar uma atividade mais Caso a sua escola utilize um sistema de ensino, uma dica é veri-
coletiva e colaborativa. O poder e a autoridade ficam distribuídos ficar se ele disponibiliza avaliações em formato digital, como ativi-
pelas imensas redes digitais, facilitando a construção social do co- dades de fixação e reforço, provas e simulados. Você também pode
nhecimento.(MARCUSCHI, Luiz A. O hipertexto como um novo espa- desenvolver suas próprias avaliações, pesquisas e questionários uti-
ço de escrita em sala de aula. Linguagem e Ensino, Rio Grande do lizando ferramentas gratuitas como o Google Forms.
Sul, 2001. v.4, n. 1, p. 79-111.)
6. Aplicativos e softwares educacionais
A BNCC e os gêneros digitais Utilizar elementos lúdicos para facilitar o entendimento de
A tecnologia está presente ao longo de todo o texto da Base conceitos, além de estimular e engajar os estudantes para a realiza-
Nacional Comum Curricular. Ela aparece especialmente na leitura, ção de tarefas, das mais simples as mais complexas, não é nenhu-
interpretação e produção dos novos gêneros digitais, como: ma novidade na área da educação. No entanto, o desenvolvimento
- Blogs; tecnológico ocorrido nos últimos anos possibilitou que essa prática
- Tweets; fosse transportada para o meio digital e amplamente difundida nas
- Mensagens instantâneas; salas de aula em diferentes partes do mundo. Nas pautas mais re-
- Memes; centes, esse fenômeno é conhecido como gamificação.
- GIFs; Ao buscar no App Store ou Play Store, na categoria “Educação”,
- Vlogs; é possível encontrar inúmeros jogos e aplicativos – muitos deles
- Fanfics; gratuitos – que podem ser aproveitados dentro do contexto edu-
- Entre diversos outros. cacional.
Se engana quem pensa que os novos gêneros digitais devem O que inserir em seu plano
ser trabalhados apenas pelo professor de Língua Portuguesa. O tra- … e como?
de aula…
balho com esses gêneros pode ser explorado em diferentes áreas
do conhecimento, valorizando também o trabalho interdisciplinar - Grupos e comunidades nas
– como sugere, inclusive, a própria BNCC. redes sociais;
1. Interação em ambientes - Fóruns de discussão;
3. Métodos colaborativos de produção de conteúdo virtuais - Ambiente virtual de
Uma maneira de engajar os estudantes com o plano de aula aprendizagem;
da sua disciplina é torná-los parte da construção do conhecimento. - Etc.
Mobilize a criação de um blog para a turma e estimule a interação - Portais de notícia;
por meio dos comentários; organize e deixe disponível para con- - E-books;
sulta um banco de textos e artigos com as produções dos alunos; 2. Textos em formato digital
- PDFs interativos;
desenvolva projetos interdisciplinares. - Etc.
O Google Docs, por exemplo, é uma ferramenta gratuita, que per-
mite construir textos de maneira colaborativa, editando, adicionando - Blog/vlog;
3. Métodos colaborativos de
comentários e enviando feedback em tempo real. No entanto, existem - Banco de textos e artigos;
produção de conteúdo
diversas outras ferramentas disponíveis. Procure pelas melhores solu- - Etc.
ções que conversem com a realidade e as necessidades da turma. - Vídeos;
4. Apresentações em - Slides;
4. Apresentações em formatos multimídia formatos multimídia - Mapas mentais;
É importante empregar recursos tecnológicos ao seu plano - Etc.
de aula, uma vez que o uso de materiais em diferentes formatos
- Avaliações online;
(como vídeos, apresentações em slides, mapas mentais etc.) co-
5. Diferentes formatos de - Atividades de fixação e reforço;
labora para o engajamento da turma. Além disso, pode servir para
avaliação - Simulados;
enriquecer tanto a aula do professor quanto as apresentações dos
- Etc.
próprios alunos.
Algumas ferramentas que apresentam essas funcionalidades - Jogos
6. Aplicativos e softwares
são o YouTube (edição e compartilhamento de vídeos), o Google Sli- - Aplicativos educacionais;
educacionais
des e o Prezi (apresentação de slides e construção de mapas men- - Etc.
tais), o PowToon (construção de vídeos e animações – em inglês),
entre outras. Busque também compartilhar experiências e conhe- Pensar novas formas de utilização da tecnologia a favor da edu-
cer as ferramentas utilizadas por outros professores. cação é uma missão de todo profissional que atua hoje nessa área.
Procure manter-se atualizado sobre as tendências em tecnologia
educacional, acompanhando blogs, revistas e portais de notícia so-
bre o assunto. Troque experiências com outros profissionais e des-
cubra novas práticas, soluções e ferramentas que estão surgindo a
cada dia.18
18 Fonte: www.blog.sae.digital/www.revistas.usp.br/www.administradores.
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
No entanto, embora muitos dos conceitos que fundamentam
A CRIANÇA E O NÚMERO tais aprendizagens se manifestem no uso cotidiano dos números,
de medidas ou mesmo no trato de formas geométricas, isso não sig-
Apesar da crença que aflora do senso comum de que, para nifica, necessariamente, a aprendizagem dos conceitos. Não é pelo
aprender Matemática, o sujeito primeiro precisa ser alfabetizado, fato de uma criança utilizar estratégias de contagem em determina-
e apesar do esforço de estudiosos da área para desmistificá-la, a da prática social (na feira, por exemplo) que ela se apropriou teori-
compreensão de que processos de apropriação dos conhecimentos camente do número ou tenha consciência da estrutura do sistema
matemáticos ocorrem associados aos de alfabetização e letramento de numeração decimal. Mas, se ela “usa” o número, isso não é su-
não chega, ainda, a ser facilmente constatada nas práticas de esco- ficiente? Qual é o problema? O problema é que o uso não garante
larização das crianças das escolas brasileiras. a apropriação do conceito e, sem ele, é impossível avançar com
Se compreendermos que as crianças não precisam, primeira- consistência na aprendizagem. No exemplo, a criança que apenas
mente, aprender as letras para só depois aprenderem números, “usa” o número provavelmente terá dificuldades para compreender
formas e outros entes matemáticos, é possível pensarmos em pro- o sentido das operações aritméticas e sua generalização algébrica.
cessos de organização do ensino que, ao mesmo tempo que consid- Por outro lado, nas práticas sociais os conceitos podem ser ap-
erem a especificidade da infância, favoreçam e potencializem difer- ropriados de forma socialmente significada, além de favorecerem
entes aprendizagens. Como afirma Vigostki (2010, p. 325), que o sujeito possa externar e materializar a sua aprendizagem. A
[...] o desenvolvimento intelectual da criança não é distribuí- discussão sobre a relevância das práticas sociais na aprendizagem
do nem realizado pelo sistema de matérias. Não se verifica que a tem se refletido nas pesquisas sobre a alfabetização e o letramen-
aritmética desenvolve isolada e independentemente umas funções to, ao indicarem inicialmente a alfabetização com o processo de
enquanto a escrita desenvolve outras. aquisição do código da escrita e o letramento como o uso da escrita
Uma vez que a criança não aprende por “fatias” separadas por em práticas e situações sociais (Kleiman, 1995).
áreas do conhecimento, também a prática escolar para crianças No entanto, segundo Soares (2004, p. 14), não se trata de optar
pequenas deve priorizar situações de ensino nas quais diferentes por um ou outro caminho, mas de compreender a interdependên-
conhecimentos possam se integrar. cia desses processos, uma vez que
No desenvolvimento dessas situações de ensino intencional- [...] a alfabetização desenvolve-se no contexto de e por meio de
mente selecionadas, os conteúdos específicos manifestam- se de práticas sociais de leitura e de escrita, isto é, através de atividades
forma mediada pela ação dos professores e socialmente significada de letramento, e este, por sua vez, só se pode desenvolver no con-
na atividade infantil. texto da e por meio da aprendizagem das relações fonemagrafema,
Alguns recursos teóricos e metodológicos podem auxiliar os isto é, em dependência da alfabetização.
professores a planejar uma prática pautada nessa integração. A De forma semelhante, alguns pesquisadores da área da edu-
importância da mediação e das situações lúdicas, por exemplo, cação matemática têm proposto o uso das expressões “alfabet-
não pode ser ignorada na busca dessa prática para o ensino da ização matemática” e “letramento matemático” (ou numeramen-
Matemática nas séries iniciais do Ensino Fundamental. to), associando a primeira à “aquisição da linguagem matemática
Nesse sentido, propomos estabelecer aqui, com aqueles que formal e de registro escrito” (Fonseca, 2007), e a segunda expressão
se dedicam ao ensino nesta etapa da formação infantil, um diálogo a processos de uso de conceitos matemáticos em práticas sociais.
sobre alguns elementos que possam fundamentar as práticas ped- Há ainda, segundo a autora, uma vertente da educação matemática
agógicas voltadas para o ensino da Matemática, no intuito de pro- que relaciona o numeramento a uma noção mais ampla de letra-
porcionar às crianças a apropriação do conhecimento matemático mento, a qual incluiria tanto as práticas sociais quanto as condições
de maneira lúdica e repleta de significado. do sujeito para se inserir e atender às demandas dessas práticas
permeadas pela linguagem escrita.
Alfabetização matemática ou letramento em matemática? Compreendida a noção de letramento dessa forma mais
Assim como na língua materna, a aprendizagem de noções abrangente, também a noção de numeramento assumiria outra
básicas de diferentes áreas do conhecimento constitui- se como dimensão. Assim, segundo Fonseca (2007), “não se trataria, por-
condição essencial para a construção de uma cidadania crítica, por tanto, de um fenômeno de letramento matemático, paralelo ao do
meio da qual os sujeitos não apenas se integrem passivamente à so- letramento, mas de numeramento como uma das dimensões do le-
ciedade, mas tenham condições e instrumentos simbólicos para in- tramento” (grifos do autor). Segundo Mendes (2005), compreender
tervir ativamente na busca da transformação dessa realidade social. o numeramento como uma dimensão do letramento implica rever
A escrita traz consigo uma história atrelada às necessidades do a própria visão de escrita, ampliando-a de modo que envolva
homem em comunicar de modo eficaz suas descobertas, nos mais também outros códigos de representação para além do alfabético,
diversos campos do conhecimento, para atender variados interess- por exemplo, o numérico e o simbólico.
es sociais. Na sua evolução, civilizações tais como a dos babilônios, Na dimensão histórico-cultural do conhecimento os
egípcios, fenícios, gregos e romanos se destacaram, tanto para a conceitos trazem em si encarnados processos de significação
evolução da escrita que comunica descobertas no amplo sentido, gestados nas relações humanas historicamente estabelecidas en-
como na escrita que se refere à linguagem matemática especifica- tre os sujeitos que, segundo Moura (2013a), “participaram de sua
mente. criação ao resolverem um problema que requereu partilhar ações
No caso do ensino da Matemática, a aprendizagem dos númer- em que a linguagem foi necessária.”.
os e suas operações; de instrumentos para a leitura e análise de A escola é o espaço privilegiado no qual, de modo intencional,
dados em listas, gráficos e tabelas; de estratégias de medição de os conteúdos constituem-se como “objetos de uma atividade que
grandezas, uso de unidades de medidas e produção de estimativas; tem como finalidade fazer com que os sujeitos que dela participam
de noções geométricas básicas, constituem, de forma geral, o foco se apropriem tanto desses objetos como do modo de lidar com
do trabalho pedagógico esperado para as primeiras séries do Ensino eles” (p. 88-89).
Fundamental (Brasil, 1997; 2012). Embora os termos “numeramento”, “alfabetização matemática”
e “letramento matemático” apareçam em diferentes publicações e
documentos, seu uso e o sentido que lhes é atribuído não é con-
com.br
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
senso. Concordamos com Moura (2013, p. 131-132) quando afirma da criação de unidade, a comparação entre a unidade e a gran-
que, para além dos termos utilizados na aprendizagem matemática, deza a ser medida, a quantificação dessa comparação ), então esse
é fundamental a compreensão acerca dos processos humanos de processo pode tornar-se consciente para a criança e possibilitar a
significação dos conhecimentos matemáticos básicos, seus signos apropriação do conceito científico de modo que esse “possa ser
e o que representam, de modo a garantir “a aprendizagem de um conscientizado pelos alunos na condição de um instrumento de
modo geral de lidar com os símbolos de forma a permitir o perma- generalização” (Sforni, 2006, p. 6).
nente acesso a outros conhecimentos nos quais a matemática se A apropriação de conceitos científicos dá-se dessa forma, por
faz presente”. meio de uma atividade humana consciente, na qual as ações real-
izadas pelo sujeito são repletas de sentido, de modo que “a inte-
Educação matemática, apropriação de conceitos e desenvolvi- riorização não é resultado mecânico da atividade externa em det-
mento do pensamento teórico rimento de seus componentes psíquicos internos” (Martins, 2007,
O entendimento de que a apropriação de conceitos matemáti- p.70). Portanto, em qualquer idade, ou fase, ou etapa do processo
cos pode se dar de forma mais efetiva, de forma significada, em sua de aprendizagem do homem, estar em atividade é condição para a
relação com as práticas sociais não significa que o uso de noções aprendizagem, o que vem a ocorrer se o aprendiz for movido por
matemáticas diluídas nas práticas sociais seja suficiente para a alguma necessidade e por motivos que o levem a se aproximar do
aprendizagem dos conceitos matemáticos. Tais distorções esva- conhecimento que os professores pretendem ensinar (Leontiev,
ziam o papel social da escola de socialização dos conhecimentos 1983).
humanos historicamente produzidos e considerados relevantes de Uma vez que a aprendizagem dos conceitos científicos não se
serem aprendidos pelas novas gerações. Segundo Moura (2013), dá de maneira espontânea, cabe à escola organizar situações de en-
As visões culturalistas podem levar à falsa ideia de que as cri- sino que coloquem as crianças diante de situações cuja resolução
anças estão impregnadas pela visão dos números no seu meio e necessite do conceito que se deseja ensinar e, ao mesmo tempo,
que já têm o motivo necessário para buscar compreendê-los. Não, de forma mediada pelos professores, possibilitem a superação da
isto não corresponde à verdade. Apropriar-se de um conceito, como superficialidade do contexto e a exploração de características es-
é para todo o processo de apropriação de significado, deve ser re- senciais dos conceitos, em direção à abstração.
sultado de uma atividade do sujeito, motivado, que se apropria das De forma geral, podemos dizer que educar pressupõe uma
significações a partir de suas potencialidades e de um motivo pes- mediação entre a cultura e os educandos, de tal modo que, nesse
soal (Moura, 2013, p. 134). processo, o sujeito interioriza, transforma e garante a continuidade
A distinção entre a utilização de conceitos em situações cotid- desta cultura. Nos ambientes escolares, elementos da cultura tor-
ianas e a apropriação conceitual voltada para generalização tem nam-se objeto de ensino ao serem intencionalmente selecionados
como fundamento a distinção proposta por Vigotski (2009) en- e socialmente validados como conteúdos escolares (Moura, 1996a).
tre conceitos cotidianos (ou espontâneos) e conceitos científicos. Em um sentido histórico-cultural, o conhecimento matemáti-
Sforni (2006) destaca que uma das principais distinções entre am- co que se torna objeto de ensino traz em si, nos elementos que o
bos se refere à tomada de consciência pelo sujeito, uma vez que, constituem, a história de sua produção e de seu desenvolvimento e
no processo de apropriação de conceitos cotidianos, a consciência suas formas de organização.
está focada no contexto de utilização; por sua vez, no caso da apro- Segundo Leontiev (1978), tais elementos estão impregnados
priação de conceitos científicos, é necessária a consciência voltada nos objetos porque são produtos de transformações realizadas pe-
intencionalmente para o conceito. los seres humanos ao longo de um processo histórico de produção
Nas palavras de Vigotski (2009, p. 243), temos que “no campo material e intelectual que foi culturalmente estruturado, constituin-
dos conceitos científicos ocorrem níveis mais elevados de tomada do a sua significação ou significado social.
de consciência do que nos conceitos espontâneos”. No ensino da Matemática, o conhecimento sobre a história
[...] apesar de na sua origem histórica a matemática apresentar da produção do conceito (as necessidades que o motivaram, as
vínculos diretos com as necessidades práticas, mais tarde evoluiu soluções encontradas para responder a essa necessidade, suas con-
sobre proposições abstratas que, com ajuda da lógica formal, culm- tradições e seus impasses) permite que os professores proponham
inaram em sistemas dedutivos, como ocorre, por exemplo, com os situações de ensino que coloquem para as crianças necessidades
conceitos geométricos euclidianos que, segundo Sánchez Vázquez análogas, o que não significa reproduzir o seu contexto histórico de
(2007), “têm sua origem nos objetos reais sobre os quais se exercia produção.
sua atividade prática, objetos cujas propriedades reais foram sub- As mediações feitas pelos educadores no sentido da explic-
metidas a um processo de generalização e abstração” (p. 246). itação do conceito matemático para a criança precisam considerar
Podemos verificar essa diferenciação entre a apropriação de que cada conhecimento “tem uma história, um desenvolvimento
conceitos cotidianos e de conceitos científicos analisando uma situ- que se fez dentro de certas lógicas
ação bastante comum no ensino de medidas e grandezas nas séries [...] o modo de se conhecer certos conteúdos é quase que
iniciais que é o seu uso em receitas culinárias. Em geral, é proposto perseguir o modo de construí-los” (Moura, 2001, p. 159).
às crianças o uso de diferentes unidades de medida (colher, xícara, A educação escolar diferencia-se de outras instâncias educati-
copo etc.). vas pela intencionalidade de ensinar conceitos científicos e favore-
O fato de a criança utilizar essas medidas possui o mérito de cer o desenvolvimento do pensamento teórico dos estudantes; ou
favorecer uma aproximação com diferentes unidades de medida seja, é o pensamento que se utiliza dos próprios conceitos, e não de
não padronizadas, porém não permite a apropriação do conceito situações particulares que os representem (Davídov, 1982).
de medida. Se a proposta se reduz a esse uso, sendo o preparo da Pensando desse modo, os processos de apropriação dos con-
receita o foco da ação da criança, podemos dizer que sua abord- ceitos matemáticos básicos relacionam-se com processos mais ge-
agem é o conceito cotidiano. rais de letramento, quando se considera um indivíduo letrado como
Por outro lado, se, tomando como situação desencadeadora aquele que aprende não somente determinadas técnicas para ler,
a receita, os professores estabelecerem mediações com o objeti- escrever e contar, mas sim a usá-las de forma consciente em dif-
vo de tornar explícito para as crianças o conceito de medição (a erentes contextos e práticas sociais. Isso porque apenas a apro-
diferenciação entre grandezas discretas e contínuas, a necessidade priação conceitual que compreende as relações internas e externas
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62
Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
do próprio conceito permite ao sujeito tal autonomia em seu uso. volvimento. Compreendida dessa forma, a atividade principal da
De acordo com Leontiev (1983, p. 193), para se apropriar de um criança “pré-escolar” é a atividade lúdica, o jogo ou a brincadeira
conceito, (Leontiev, 1988). No entendimento de Vigotski (1991), a relação
[...] não basta memorizar as palavras, não basta compreender brinquedo-desenvolvimento pode, em muitos sentidos, ser com-
inclusive as ideias e os sentimentos nelas contidos, é necessário parada com a relação instrução- -desenvolvimento. Uma de suas
ademais que essas ideias e sentimentos se tornem determinantes principais características é que, em ambos os contextos, as crianças
internos da personalidade. A relação entre a matemática e as ne- elaboram e desenvolvem habilidades e conhecimentos socialmente
cessidades práticas é por vezes mais direta. É indiscutível a con- disponíveis, os quais internalizará.
tribuição dos grandes descobrimentos marítimos da Idade Mod- Para Leontiev (1988), isso se dá pelo fato de que o mundo obje-
erna no desenvolvimento da trigonometria. Segundo Sánchez tivo do qual a criança é consciente está continuamente se expandin-
Vázquez (2007), “[...] o cálculo probabilístico converteu-se [...], em do, pois, além dos objetos que constituem seu ambiente próximo
uma necessidade na medida em que se estendia o comércio exte- (com os quais ela vinha até então operando em suas atividades),
rior inglês em relação com o crescimento do poderio colonial da esse mundo inclui também os objetos com os quais os adultos op-
Inglaterra, o que elevava as perdas e riscos comerciais” (p. 247). eram, mas a criança não consegue operar, por estarem ainda além
Contudo, tem-se que considerar a autonomia da teoria “para con- de sua capacidade física. O domínio desses objetos desafia a cri-
stituir-se em relação direta, seja como prolongamento ou negação ança, que, pelas ações com eles realizadas, expande o domínio do
dela, com uma teoria já existente” (p. 247). Deve-se então destacar seu mundo. No brincar, ela amplia sua possiblidade real de realizar
a importância de se considerar que em seu desenvolvimento a atividades como cozinhar, dirigir um carro, ser professor ou mecâni-
Matemática se estrutura para atender exigências teóricas de co, por exemplo. Assim, podemos entender que as “brincadeiras
outras ciências e necessidades da própria técnica. das crianças não são instintivas e o que determina seu conteúdo
Do ponto de vista das tarefas atribuídas aos professores, or- é a percepção que a criança tem do mundo dos objetos humanos”
ganizar o ensino para o desenvolvimento dos conceitos científi- (Facci, 2004, p. 69).
cos nas crianças é um importante compromisso de sua prática Da discrepância entre o motivo da criança e a sua ação, nasce a
pedagógica, o que demanda a organização intencional das ações. situação imaginária. Porém, a ação no brinquedo não é imaginária.
Assim sendo, o processo de ensino pode ser considerado como a Ao contrário, há uma ação real, uma operação real e imagens reais
passagem da atividade espontânea da criança para “a atividade or- de objetos reais enquanto que a criança cria uma situação imag-
ganizada e dirigida para o objetivo” (Talizina, 2009). Uma vez que a inária para o desenvolvimento da ação. Assim é que, por exemplo,
aprendizagem ocorre em atividade, o desafio da organiza ção do um pedaço de madeira assume a função de uma colher ou uma ar-
ensino é planejar situações educativas que sejam desafiadoras e gola assume a função do volante de um carro. Para Vigotski (1991),
lúdicas e, ao mesmo tempo, coloquem para as crianças a necessi- a ação em uma situação imaginária ensina a criança a dirigir seu
dade do conceito que se quer ensinar. comportamento não somente pela percepção imediata dos objetos
Assim, se o objetivo é ensinar as primeiras noções de fração, a ou pela situação que a afeta de imediato, mas também pelo sig-
criança precisa se deparar com a necessidade de representar partes nificado dessa situação, em que as ações surgem das ideias e não
de um todo contínuo; por exemplo, em situações de medição, o que das coisas. Ao brincar, a criança passa a entender o que na vida
se relaciona com a necessidade histórica que levou à criação dessa real passou despercebido, experimentando e transformando as re-
representação de partes pelos egípcios. gras de comportamento às situações imaginárias criadas na ação
A resolução dessas situações deve dar-se sempre de modo de brincar.
mediado e compartilhado entre as crianças. Os professores devem Ao brincar ou jogar, a criança potencializa sua possibilidade
explorar também a relação entre os conceitos e seus usos sociais, de aprender e de se apropriar de novos conhecimentos. Isso se dá
além do interesse e a curiosidade da criança no compartilhamento porque, segundo Vigotski (1991), ao brincar, a criança se coloca um
de experiências, interpretações e descobertas sobre as característi- nível acima da sua atual situação de aprendizagem, do que real-
cas essenciais dos fenômenos inerentes aos conteúdos a serem es- iza fora do jogo. Assim, o jogo cria uma “zona de desenvolvimento
tudados. A mediação dos docentes durante todo o processo de res- próximo”, permitindo que a criança atue acima de seu “nível de de-
olução é condição fundamental para explicitar o conceito presente senvolvimento real”.
no contexto explorado, superando a atividade apenas empírica e Segundo Vigotski (1991), o nível de desenvolvimento real é
favorecendo o desenvolvimento do pensamento teórico. determinado pela capacidade de solucionar problemas de modo
independente, e o nível de desenvolvimento potencial é determi-
O jogo no ensino e a atividade principal da criança nado pela capacidade de solucionar problemas com a orientação,
No decorrer da vida, diferentes atividades têm a possibilidade ou ajuda de adultos e, ainda, com a colaboração de parceiros mais
de potencializar a aprendizagem. Isso porque se relacionam com os capazes.
interesses e motivos de os sujeitos realizarem-nas. Para Leontiev Relacionando a atividade lúdica com a aprendizagem, temos
(1988), elas são denominadas “atividades principais”, não porque que “as maiores aquisições de uma criança são conseguidas no
ocorram com maior frequência ou porque sejam predominantes brinquedo, aquisições que no futuro tornar- -se-ão seu nível básico
no tempo que o sujeito lhe dedica, mas porque são aquelas nas de ação real e moralidade” (Vigotski, 1991, p. 131).
quais ocorre mais intensamente a apropriação uma vez que se con- No desenvolvimento de jogos com regras, a atividade lúdica
stituem como a principal forma de relacionamento do sujeito com a subordina-se a certas condições atreladas à realização de certo
realidade (Facci, 2004, p. 66). objetivo. A partir dos jogos com regras ocorre, segundo Leontiev
Assim, a atividade principal não se trata daquela frequente- (1988), um momento essencial para o desenvolvimento da psique
mente encontrada em certo nível de desenvolvimento, mas, segun- da criança, quando ela introduz em sua atividade um elemento
do Leontiev (1988, p. 122), é aquela moral manifesto pela obediência à regra. Para o autor, a relevân-
[...] em conexão com a qual ocorrem as mais importantes mu- cia desse acontecimento está no fato de que este elemento moral
danças do desenvolvimento psíquico da criança e dentro da qual surge da própria atividade da criança e não sob a forma de “uma
se desenvolvem processos psíquicos que preparam o caminho da máxima moral abstrata que ela tenha ouvido” (p. 139).
transição da criança para um novo e mais elevado nível de desen-
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assim, o jogo ou a brincadeira pode constituir-se como im- Durante o estágio operacional concreto, a criança atinge o uso
portante recurso metodológico nos processos de ensino e de das operações completamente lógicas pela primeira vez. O pensa-
aprendizagem, se considerado de forma intencional e em relação mento deixa de ser dominado pelas percepções e a criança torna-se
com o conceito que se pretende ensinar. No por meio da brincadei- capaz de resolver problemas que existem ou existiram (são concre-
ra desencadeada por jogos ou por histórias, as crianças se deparem tos) em sua experiência.
com as necessidades de contar, registrar contagens, socializar esses No que diz respeito à percepção e a resolução de problemas,
registros, organizar dados. Piaget (1990) escreveu:
Por meio dos jogos e na ação compartilhada entre as crianças
sob a mediação dos professores, tais necessidades passam a ser ne- “O exemplo da seriação é particularmente claro a esse respeito.
cessidades para as crianças em atividade lúdica, explorando a im- Quando se trata de ordenar uma dezena de varetas pouco diferen-
aginação e a criatividade. A atividade lúdica pode ser explorada no tes entre si (de maneira a necessitar de comparações duas a duas),
ensino da Matemática por favorecer aprendizagens de “estruturas os sujeitos do primeiro nível pré-operatório procedem por pares
matemáticas, muitas vezes de difícil assimilação”, desenvolvendo (uma pequena e uma grande, etc.) ou por trios (uma pequena, uma
“sua capacidade de pensar, refletir, analisar, compreender concei- média e uma grande, etc.), mas sem poder em seguida coordená-las
tos matemáticos, levantar hipóteses, testá-las e avaliá-las” (Grando, numa série única.
2008, p. 26).
Algumas ações desenvolvidas pelas crianças ao jogar podem Os sujeitos do segundo nível chegam à série correta, mas por
ser comparadas com as ações adequadas ao processo de resolução tentativa e erro. No presente nível, em contrapartida, eles utilizam
de problemas. Além disso, é possível estabelecermos paralelos en- com frequência um método exaustivo que consiste em procurar pri-
tre as etapas do jogo e as etapas da resolução de problemas (Mou- meiro o menor dos elementos, depois o menor dos que restam, e
ra, 1991; 1996; Grando, 2008). Em ambos, parte-se de uma situação assim por diante. Ora vê-se que tal método equivale a admitir de
desencadeadora (jogo ou problema), há uma exploração inicial do antemão que um elemento E qualquer serão, ao mesmo tempo,
conceito presente na situação, levantamento de hipóteses ou es- maior do que as varetas já colocadas, ou seja, E > D, C, B, A, e me-
tratégias, verificação de hipótese ou testagem de estratégias, aval- nor que aqueles que ainda faltam colocar, ou seja, E<F, G, H, etc. A
iação, reelaboração na direção de atingir o objetivo (vencer o jogo novidade consiste, portanto, em utilizar as relações > e <, não com
ou resolver o problema). exclusão de uma pela outra ou por alternâncias assistemáticas no
Para exemplificar essa possibilidade de articulação entre jogo e decorrer de tentativas, mas simultaneamente”. (p. 29)
resolução de problema, Moura (1991, p. 52) apresenta uma propos- A criança operacional concreta não é egocêntrica em pensa-
ta de organização do ensino para favorecer a aprendizagem do si- mento como são as crianças pré-operacionais. A criança no estágio
gno numérico: operacional concreto pode assumir o ponto de vista dos outros e a
Algumas formas de levar as crianças à compreensão do signo sua linguagem é comunicativa e social
numérico podem ser, por exemplo, contando-lhes uma história, Tais crianças podem descentrar a percepção e atentar para as
fazendo-as viver uma situação na qual seja necessário o controle transformações. A reversibilidade do pensamento é desenvolvida.
de quantidades ou ainda sugerindo- lhes um jogo em que se deve As duas operações intelectuais importantes que se desenvolvem
marcar a quantidade de pontos a ser comunicada à classe vizinha são as seriações e as classificações; logo adiante tratar-se deste as-
através de um símbolo criado pelos jogadores. Isto deve ser feito sunto de uma maneira mais detalhada.
de forma que vá ficando claro o sentido da representação, o caráter
histórico-social do signo e como se pode melhorar os processos de Fonte
comunicações humanas. http://pedagogiaaopedaletra.com/formacao-pensamento-logico-ma-
Esse autor defende ainda que, nos anos iniciais, é possível ex- tematico/
plorar mais intensamente a perspectiva da resolução de problemas
como um jogo para a criança uma vez que o que os aproxima é o A estrutura das operações infralógicas: a construção do Espa-
lúdico. Ele propõe que situações- problema possam ser trabalhadas ço e do tempo
pedagogicamente com a estrutura do jogo, em situações coletivas Segundo Coutinho (1992), no decorrer deste estágio (opera-
e por meio de um “problema em movimento”, como exposto na tório concreto), o indivíduo adquire vários conhecimentos, como
proposta apresentada pelo autor. a capacidade de consolidar as conservações de número, ou as ope-
rações infralógicas que são referentes à conservação física: peso,
Fonte volume e substância. Há também a constituição do espaço, que se
MORETTI Vanessa Dias, Neusa Maria Marques de Souza. Educação trata da conservação de comprimento, superfície, perímetros, ho-
matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental: princípios e rizontais e verticais e a constituição do tempo e do movimento (co-
práticas pedagógicas. Editora Cortez. 2015 ordenação entre tempo e velocidade). As operações infralógicas e
lógicas aparecem neste período de desenvolvimento, sempre com
O pensamento operatório concreto base em algo concreto, pois ainda não está formada a capacidade
PENSAMENTO OPERATÓRIO CONCRETO: 7 AOS 10 ANOS de abstração, que acontece apenas no período operatório formal
Piaget verificou que o estágio das operações concretas é um (sujeitos de 11 ou 12 anos em diante).
período de transição entre o pensamento pré-operacional e o pen- Assim, o período operatório concreto é o penúltimo estágio
samento formal. Com relação a isto, Piaget (1990) escreve: “… ja- para se chegar ao nível mais elevado de raciocínio: a abstração. Ten-
mais se observam começos absolutos no decorrer do desenvolvi- do-se em vista a ideia de Piaget e Inhelder (2002, p.90), “a constru-
mento, e o que é novo decorre ou de diferenciações progressivas ou ção dos números inteiros efetua-se, na criança, em estreita conexão
de coordenações graduais, ou das duas coisas ao mesmo tempo.” com a das seriações e inclusões de classes”. O indivíduo, neste perí-
(p. 29). odo, compreende os números operatórios, não se tratando de ape-
nas contá-los verbalmente, mas também de conservar os conjuntos
numéricos, não levam em consideração os arranjos espaciais. Nesse
período operatório concreto, a criança pensa de forma lógica e con-
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
creta, ou seja, se baseando no que é perceptivo. Segundo Goulart tação o que já havia construído no plano da ação. Assim, a criança
(2005) neste estágio, as operações lógico-matemáticas partem dos vai evoluindo, pois antes tudo estava centrado em suas próprias
objetos como “tentando reuni-los em classes, ordená-los, multipli- ações, e agora passa para um estado de descentração, que implica
cá-los, etc., mas não ocupam o objeto de maneira interna” (p. 67). em relações objetivas com os acontecimentos, objetos e pessoas. A
Também já estão desenvolvidos vários esquemas de conserva- descentração que se precisa para alcançar as operações se baseia
ção: quantidade, peso, volume e espacial, formados com base em também no universo social e não apenas no físico (GOULART, 2005).
uma estruturação lógico matemática. “As noções de conservação se Do ponto de vista das relações interindividuais, a criança segundo
constituem paralelamente à elaboração das estruturas lógicas ma- Piaget (2003, p. 41) “depois dos sete anos, torna-se capaz de coo-
temáticas de classes, relações e número” (p. 68). Um exemplo de perar, porque não confunde mais seu próprio ponto de vista com o
conservação de peso é a experiência realizada por Piaget em apre- dos outros, dissociando-os para coordená-lo”.
sentar à criança duas bolas de massas de modelar (do mesmo tama- Neste estágio as crianças discutem os diferentes pontos de vis-
nho e quantidade) e transformar na frente da criança uma massa de tas podendo respeitar e compreender a opinião do colega e justifi-
modelar em formato de bola e outra massa em formato de salsicha. car e defender a própria, assim o egocentrismo desaparece quase
Em estágios anteriores, a criança poderia dizer que a massa de totalmente. Baseado em Goulart (2005). Neste período, a organi-
modelar em formato de salsicha possui mais massa que a outra, zação social passa a ser de grupos, ou seja, começa-se a formar
pois é maior. Já agora, no estágio das operações concretas, a crian- grupos de amigos fixos, ao invés do sujeito ficar trocando de amiza-
ça diz que se trata da mesma quantidade e apenas o formato foi des o tempo todo. Com isso, a criança passa a participar de grupos
alterado. maiores, no papel de líder do grupo ou admitindo outro líder. O
Tendo em vista o que foi discutido por Chiarottino (1972), no sujeito conversa com mais pessoas, porém nem sempre tem a ca-
momento em que a criança diz que não muda a massa, pois não co- pacidade de discutir ideias diferentes para alcançar uma conclusão
locamos nada e nem retiramos, se tem a conservação de quantida- conjunta final.
de, volume ou peso. Ou então no momento em que a criança pensa Assim sendo, no início deste estágio, os sujeitos possuem difi-
que se pode refazer a massa em bolinha ou a massa em salsicha se culdades em estabelecer um diálogo crítico de modo que possam
tem a reversibilidade simples e, segundo Chiarottino (1972, p. 22), chegar a um acordo em conjunto. Outro progresso alcançado nes-
“faz apelo a uma reversibilidade por “reciprocidade” fundada na te estágio é que a criança já estabelece compromissos com outros
compensação: o objeto B é mais longo, mas é mais fino”. sujeitos. A afetividade nas relações sociais aumenta neste período,
Agora todos os argumentos dos sujeitos são coordenados, dife- relacionando-se com o desenvolvimento cognitivo. “Vale a pena
rente do nível pré-operatório anteriormente descrito. Afirma Gou- lembrar que as relações interindividuais têm uma importância sig-
lart (2005) neste estágio a criança também já desenvolve noções de nificativa no desenvolvimento das operações lógicas, que são acima
tempo, espaço, velocidade, ordem e causalidade. A reversibilidade de tudo cooperações” (p. 64).
também é algo adquirido neste período, ou seja, a capacidade de Desta forma, considera-se que o desenvolvimento cognitivo
representação de uma ação no sentido inverso de uma anterior, possui relação com o afetivo. Conforme discute Piaget (2003), na
anulando a transformação observada. Segundo Goulart (2005, p. fase de nove anos ocorre uma evolução na afetividade, pois a co-
63), é “uma ação pode voltar ao ponto de partida ou ser anulada operação entre os sujeitos passa a coordenar os pontos de vista
através de uma operação mental”. Um exemplo: coloca-se suco em em uma reciprocidade, com autonomia e coesão. As brincadeiras
dois copos e depois se despeja o mesmo suco em outros copos, começam a ser substituídas pelos jogos e competições, apesar das
de formatos diferentes, para que o sujeito deste período diga se as crianças apresentarem dificuldades nos estabelecimentos das re-
quantidades continuam iguais. gras.
A resposta é afirmativa, pois a criança já tem a capacidade de Os sujeitos desta fase privilegiam as regras e excluem a trapaça,
diferenciar aspectos e é capaz de “refazer” a ação; entretanto, se porém não consideram a mesma proibida, violando o acordo que
a criança tivesse menos de seis anos, a mesma poderia negar tal realizou entre os colegas sobre o jogo, se necessário. Em relação à
afirmação, pois ainda não raciocinaria de modo reversível. A criança “mentira”, a mesma já é bem compreendida, porém na maioria dos
neste período está apta para resolver os cálculos matemáticos in- sujeitos desta idade privilegia o sentimento de justiça. Estes jogos
terligados, pois com base na subtração se tem a adição e na divisão são importantes para o desenvolvimento integral da criança, pois
se tem a multiplicação. E percebe que para se chegar a um deter- estimulam a socialização, o desenvolvimento moral e o intelectual.
minado resultado matemático, poderá ir por vários caminhos, não Tendo em vista o que foi discutido por La Taille (1992), a inteligência
tendo um único e acabado. do indivíduo somente se desenvolve com interações sociais. Assim,
Assim sendo, o pensamento é livre para resolver estes proble- neste estágio de desenvolvimento, os sujeitos atingem uma forma
mas (PIAGET; INHELDER, 2002). Neste estágio, de acordo com Pia- de equilíbrio nas relações sociais, ou seja, já expressam um equilí-
get (2003), o indivíduo inicia o processo de reflexão, ou seja, pensa brio nas trocas intelectuais.
antes de agir, diferente do estágio pré-operatório, em que o sujeito Neste estágio, o sujeito atinge o grau máximo da socialização
agia por intuição. do pensamento, havendo um interesse maior em participar de brin-
De acordo com Piaget (2003), o sujeito tem a capacidade de cadeiras coletivas e com regras. Porém, o sujeito ainda é heterôno-
organizar o mundo de forma lógica ou operatória, não se limitan- mo (regras impostas), ou seja, acredita que as regras de todas as
do mais a uma representação imediata, mas ainda dependendo do coisas vêm de alguém superior, pensando que não tem autonomia
mundo concreto para desenvolver a abstração. Assim, este período para modificar algo com base em sua vontade, de acordo com Cou-
é caracterizado por uma lógica interna consistente e pela habilidade tinho (1992) entre oito e nove anos, no entanto, o sujeito já começa
de solucionar problemas concretos. Nesta fase, já começa também a oscilar entre a heteronomia e autonomia.
a compreender a conservação de volume, massa e comprimento.
A criança já não é mais tão egocêntrica, ou seja, não está mais
tão centrada em si mesma e já consegue se colocar abstratamen-
te no lugar do outro, dando-se um aumento da empatia com os
sentimentos e as atitudes com os outros. É a partir deste estágio
que o sujeito se torna capaz de reconstruir no plano da represen-
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Em seguida, com a sua inserção na fase de autonomia, o sujeito A autora elaborou seis princípios de ensino, sob três títulos
atinge a consciência moral, e a partir daí as suas atitudes e deveres que servem para orientar o trabalho com matemática, e assim ser à
são guiados com base em sua significação e necessidade. Mesmo base da prática pedagógica com as crianças.
na ausência de uma pessoa adulta, o indivíduo se comporta da mes- O primeiro título é encorajar a criança a estar alerta e colocar
ma maneira, pois já possui consciência dos fins éticos e morais. todos os tipos de objetos, eventos e ações em todas as espécies de
relações, e, portanto considera-se este o objetivo mais importante
Fonte para os educadores, pois a criança que pensa ativamente na sua
SOUZA, N. M. de; WECHSLER, A. M. Reflexões sobre a teoria piage- vida diária, pensa sobre muitas coisas simultaneamente, e o profes-
tiana: o estágio operatório concreto. Cadernos de Educação: Ensino e sor têm um papel crucial de indiretamente encorajar a autonomia
Sociedade, Bebedouro/SP, 1 (1): 134-150, 2014. de pensamento, principalmente quando há uma situação de con-
flitos, onde a criança pode desenvolver a mobilidade e coerência
A estrutura das operações concretas e o pensamento lógico do pensamento, ou seja, raciocinar logicamente, inventar argumen-
matemático: a construção do número; tos que façam sentido e sejam convincentes, no entanto existem
crianças que não são de alguma forma envolvidas em situação com
A CRIANÇA E O NÚMERO DE CONSTANCE KAMII enorme quantidade de relações ou situações, agem passivamente,
No livro “A Criança e o Número de Constance Kamii”, ela nos pois são forçadas a se submeterem a obediência, mas com a inter-
convida a compreender o significado dos conceitos matemáticos venção do professor ele pode promover ou impedir o pensamento
com fundamentos nas teorias de Jean Piaget, apresentando de ma- da criança.
neira bem simples e abrangente como a criança começa o proces- O segundo princípio focaliza em encorajar a criança a pensar
so de construção dos números. Esta compreensão poderá ajudar o sobre número e a quantificação dos objetos, e do ponto de vista do
professor a entender onde o aluno tem mais dificuldade na apren- desenvolvimento da criança em relação à matemática, nessa idade
dizagem da matemática. Ela nos esclarece que as crianças de quatro entre quatro e seis anos elas se interessam por contar e compa-
anos acreditam que uma determinada quantidade de objetos se al- rar quantidades, e quando observamos isso ficamos convencidos
tera em função da disposição destes numa superfície. Por exemplo, que o pensamento numérico pode desenvolver naturalmente sem
se uma professora coloca oito pedaços de isopor enfileirados e en- nenhum tipo de lições artificiais, nas aulas de matemáticas que
tregam outros oito pedaços para a criança enfileirar, a tendência é seguem métodos tradicionalistas. Quando a professora encora-
que a criança os disponha de forma mais espaçada e que, por causa ja a criança a quantificar logicamente, a fazer conjuntos com ob-
desse espaçamento, acredite ter enfileirado mais pedaços. jetos móveis, há uma diferença em ter a contagem mecânica e a
O sucesso escolar depende muito da habilidade de pensar au- contagem escolhida pela criança para resolver um problema real
tônomo e criticamente da perspectiva de vida em grupo. Assim, o na sua própria maneira, uma vez que a criança constrói a lógica da
objetivo para ensinar o número é o da construção que a criança correspondência um-a-um por abstração reflexiva, dessa forma as
faz à sua maneira, incluindo a quantificação de objetos e inevitavel- atividades ou exercícios tradicionais como as cartilhas, são comple-
mente ela consegue construir o número. Kamii diz que o meio am- tamente supérfluas.
biente pode indiretamente facilitar o desenvolvimento do raciocí- O terceiro princípio é a interação social com os colegas e pro-
nio-lógico, ou pode retardar, isso se dá nas diferenças interculturais fessores, onde Piaget, em suas pesquisas afirma ser importante a
e socioeconômicas. Na teoria piagetiana, há uma diferença entre os troca de ideias entre os colegas, e comprovado que o choque de
símbolos e os signos. opiniões que surgem e os esforços para resolver certas situações
De acordo com Piaget, o conhecimento se dá em três níveis: entre eles envolve a autonomia, a confiança e habilidades matemá-
o conhecimento físico, conhecimento lógico matemático e conhe- ticas. Nos jogos, por exemplo, principalmente em grupo as crian-
cimento social. O conhecimento físico é aquele ligado ao mundo ças estão mentalmente muito mais ativas e críticas e conseguem
concreto, ou observável dos objetos, desse modo o professor deve aprender a depender delas mesmas para saber se o seu raciocínio
explorar as atividades matemáticas que trabalham com as proprie- está correto ou não. Ao afirmar isso, não significa que o professor
dades físicas como o peso e a cor. O conhecimento lógico-mate- não interfira na construção do conhecimento, ou se ausentar, mas
mático se desenvolve através das relações mentais com o objeto. permitir a autonomia intelectual. Na sala de aula, o professor deve
As noções de igualdade, comparação, quantidade, classificação induzir o aluno a pensar numericamente não com respostas pron-
são exemplos de conhecimento lógico matemático. Desse modo, a tas, mas que o aluno reflita e faça sua própria construção, assim
criança progride no desenvolvimento do conhecimento e começa a encorajar a autonomia da criança, a criação de um ambiente ma-
construir individualmente a noção de número, a partir dos tipos de terial e escolar que encoraje a autonomia e o pensamento, já que
relações dela com os objetos. as relações são criadas interiormente e instruídas por outra pessoa.
Para Piaget, o desenvolvimento da autonomia deve estar no Ele precisa criar condições para relacionar objetos, relacionando-
centro de qualquer proposta educativa. Autonomia é o ato de ser -os, quantificando-os e interagindo socialmente. O educador deve
governado por si próprio, o oposto de heteronomia que significa pensar sobre as contribuições pedagógicas dentro do âmbito do
ser governado por outra pessoa. É muito importante destacar que a número. O professor através da observação do comportamento da
autonomia é indissociavelmente social, moral e intelectual. Portan- criança deve estar atento não para corrigir a resposta, mas de des-
do o conceito de números não pode ser “ensinado” às crianças pela cobrir como foi que a criança fez o erro, assim ele pode corrigir o
via da apresentação e repetição desse conceito pelo professor. Elas processo de raciocino.
precisam construir estruturas mentais para abarcar esse conceito
e a melhor forma de fazer isso é estimulando-as a colocar todas as Há inúmeras situações em sala de aula, para estimular o pen-
coisas em todos os tipos de relações. samento numérico das crianças. O conhecimento matemático, é
O conceito de número ainda está se formando nas crianças, construído pelas crianças dentro do contexto da mesma, então não
e estes conceitos não podem ser ensinados, mas sim construído, adianta “ensinar” o conceito matemático se não for através de si-
elas devem ser encorajadas a pensar sobre os números, relacionar tuações que conduzam à quantificação de objetos, de forma lúdica,
e interagir com autonomia utilizando os conceitos já trazidos da sua como os jogos em grupo e a vida diária. A quantificação constitui
vida para dentro do ambiente escolar e fazendo novas relações. uma parte inevitável da vida diária, e no trabalho com criança pe-
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
quena essa tarefa de quantificação deve acontecer de maneira na- pedagógico na área do ensino da matemática são os interesses da
tural e significativa. Alguns exemplos a ser citados que auxilia na criança e as demandas de conteúdos que ela apresenta que deve
aprendizagem é a distribuição de materiais (divisão), na divisão e estar dentro de nossa pratica pedagógica.
coletas dos objetos (composição aditiva), no registro de informa-
ções, na arrumação da sala (quantificação numérica). Os jogos FONTE:
também proporcionam condições de desenvolver o pensamento http://metodologiadamatematica.blogspot.com.br
lógico-matemático e começa a fazer representações, desenvolve as
estruturas mentais indispensáveis para a construção e conservação Referência
de números. KAMII, Constance. A Criança e o Número. Campinas: Papirus, 1993.
Com relação ao jogo como recurso para auxiliar a aprendiza-
gem, Kamii traz que a criança precisa ser encorajada na troca de O Sistema de Numeração: Um Problema Didático
ideias sobre como querem jogar e mostra diversos modelos de jo-
gos e brincadeiras que podem ser aproveitados na aprendizagem Delia Lerner e Patrícia Sadovsky
da criança: dança das cadeiras, jogos com tabuleiros, jogos de bara-
lho, jogos com bolinha de gude, jogos da memória, etc. A relação entre os grupamentos e a escrita numérica tem sido
O jogo com alvos, como bolinhas de gude e o de boliche, é bom um problema para as crianças nas experiências escolares o que tem
para a contagem de objetos e a comparação de quantidades, o jogo levado pesquisadores e educadores realizarem esforços, com expe-
de esconder envolve divisão de conjuntos, adição e subtração, as rimentos de recursos didáticos diversos, para tornar real a noção de
corridas e brincadeiras de pegar, envolve quantificação e ordenação agrupamentos numéricos às crianças nas series iniciais. A gravidade
de objetos. do problema foi detectada através de entrevistas com crianças que
Então se percebe que a inteligência se desenvolve ao ser usa- não eram trabalhadas nos programas que usavam estes recursos.
do ativamente e deve assim ser encorajado o pensamento, pois há Elas utilizavam métodos convencionais nas operações de adição e
inúmeras maneiras naturais e indiretas para o professor estimular subtração (vai um) sem entenderem os conceitos de unidades, de-
a criação de todos os tipos de relações em ter espécies e eventos, zenas e centenas. Mesmo naquelas que pareciam acertar, não de-
e dentro de um quadro de referência piagetiana, que pela abstra- monstravam entender os algarismos convencionais na organização
ção reflexiva se dá a construção de uma estrutura numérica pela de nosso sistema de numeração. (Lerner, D 1992). As dificuldades
criança. foram detectadas e analisadas em crianças de vários países. Cha-
mou a atenção dos pesquisadores o fato das crianças não entende-
Deve-se ainda respeitar os níveis de aprendizagem pela qual a rem os princípios do sistema numérico. Foi verificado que as práti-
criança passa. cas pedagógicas não consideravam os aspectos sociais e históricos
-No nível I a criança não consegue fazer um conjunto que tenha vividos pelas crianças, ou seja, o dia-dia que traziam para escola
o mesmo número que outro; não era importante quando os alunos chegavam à escola, e mesmo
-No nível II ela já consegue fazer um conjunto com o mesmo no decorrer do ano letivo; a preocupação estava centrada apenas
número, no entanto não consegue conservar a igualdade numérica na fixação da representação gráfica. Era necessário compreender
de dois conjuntos; o caminho mental que essas crianças percorriam para adquirirem
-No nível III ela já consegue conservar os números. Já construiu este conhecimento. Para tornar claro esse fenômeno, iniciaram
uma estrutura numérica que se tornou forte o suficiente para tor- pela elaboração de situações didáticas. Assim foi necessário testá-
ná-la apta a ver objetos numericamente, em vez de espacialmente. -las em aula para descobrir os aspectos relevantes para as crianças
no sistema de numeração, tais como: as ideias elaboradas sobre os
Por ser uma colocação construtivista do pensamento pigeatia- números, formulação de problemas e conflitos existentes. Foi por
no este livro é importante nas salas de aula podendo fazer grandes meio de entrevistas com as crianças de 5 a 8 anos que se esclare-
mudanças na forma de ensinar o número para crianças. Kamii fez ceu o caminho que percorrem, de forma significativa, na construção
uma grande reflexão sobre a criança e o número, com um grande de conceito de número. Através das ideias, justificações e conflitos
conteúdo didático que irão ajudar os educadores nesta tarefa de demonstrados nas respostas foi possível traçar novas linhas de tra-
transmitir da melhor forma as aulas de matemática de um modo balho didático.
mais atual.
Piaget mostra que a criança não constrói o número, aprenden- - História dos conhecimentos que as crianças elaboram a res-
do a contar, memorizando, repetindo e exercitando, pois, a estrutu- peito da numeração escrita
ra lógica matemática do número não pode ser ensinada, ela é cons- A pergunta levantada pelos pesquisadores é: como as crianças
truída pela própria criança, dentro de seu contexto do dia-a-dia de compreendem e interpretam os conhecimentos vivenciados no seu
maneira natural e significativa, através de estímulos do professor, cotidiano no meio social familiar de utilização da numeração escri-
resolvendo situações problemas, enfrentando situações de confli- ta? A hipótese era que as crianças elaboram critérios próprios para
tos que envolva diversos tipos de relações. produzir representações numéricas e que a construção da notação
O professor precisa levar em conta que a importância das pro- convencional não segue a ordem da sequência numérica. Para bus-
postas de atividades numéricas para encorajar as crianças a pensar car a resposta às hipóteses levantadas, situações experimentais,
sobre os números, interagir com seus colegas e criar condições do através de jogos foram projetadas e relacionadas à comparação de
sujeito fazer uso social da matemática, também faz parte do apren- números. Através das respostas das crianças entrevistadas chegou-
dizado. Sabemos então que o que vai orientar o nosso trabalho -se a suposição que elas elaboram uma hipótese de “quanto maior
a quantidade de algarismos de um número, maior é o número”, ou
“primeiro número é quem manda”.
As crianças usam como critério de comparação de números
maiores ou menores elaborando a partir da interação com a nu-
meração escrita, quando ainda não conhecem a denominação oral
dos números que comparam. Ao generalizarem estes critérios, ou-
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
tras crianças mostraram dificuldades com afirmações contraditó- lificação e não quantificação. Desta forma as crianças apropriam-se
rias quando afirmavam que “o numeral 112 é maior que 89, por progressivamente da escrita convencional dos números a partir da
que tem mais números, mas logo muda apontando para o 89 como vinculação com a numeração falada. Mas pergunta-se, como fazem
maior por que - 8 mais 9 é 17 -, então é mais.” Assim concluiu-se isto? Elas supõem que a numeração escrita se vincula estritamente
que a elaboração de critério de comparação é importante para a à numeração falada, e sabem também que em nosso sistema de nu-
compreensão da numeração escrita. (p. 81). A posição dos algaris- meração a quantidade de algarismos está relacionada à magnitude
mos como critério de comparação ou “o primeiro é quem manda” do número representado.
Um dos argumentos usados pelas crianças respondentes é que ao
comparar os números com a mesma quantidade de algarismos, di- - Do conflito à notação convencional
ziam que, a posição dos algarismos é determinada pela função no Há momentos em que a criança manipula a contradição entre
sistema de números (por exemplo: que 31 é maior que 13 por que o suas conceitualizações sem conflito. Às vezes centram-se exclusiva-
3 vem primeiro). Assim elas descobrem que além da quantidade de mente na quantidade de algarismos das suas escritas que produzi-
algarismos, a magnitude do número é outra característica específi- ram, e parece ignorar qualquer outra consideração a respeito do
ca dos sistemas posicionais. valor dos números representados. Assim também parece claro que
Tais respostas não são precedidas de conhecimentos das razões não é suficiente conhecer o valor dos números para tomar cons-
que originaram as variações. Para as crianças da 1a série que ainda ciência do conflito entre quantidade de número e a numeração fa-
não conhecem as dezenas, mas conseguem ver a magnitude do nú- lada. Em outros momentos a criança parece alternar os sistemas
mero, fazem a seguinte comparação: o 31 é maior porque o 3 de 31 de conceitualizações dos números. Em outro momento, o conflito
é maior que o 2 do 25. Assim “os dados sugerem que as crianças se aparece, pois ao vincular a criança a numeração falada na produção
apropriam primeiro da escrita convencional da potência de base.” da escrita, mostra-se insatisfeita achando que é muito algarismo.
Exemplo: Ao pedir-se para escreverem seis mil trezentos e quarenta
- Papel da numeração falada e cinco, fazem 600030045. Ao mesmo tempo escrevem 63045. Isto
Os conceitos elaborados pelas crianças a respeito dos números mostra que nesse momento encontra-se em conflito pela aproxi-
são baseados na numeração falada e em seu conhecimento descri- mação da escrita convencional e a falada. O conflito é percebido
ta convencional dos “nós”. “Para produzir os números cuja escrita após compararem e corrigirem a escrita numérica feita por eles
convencional ainda não haviam adquirido, as crianças misturavam mostrando uma solução mais ou menos satisfatória. É percebido
os símbolos que conheciam colocando-os de maneira tal, que se que pouco a pouco a criança vai tomando consciência das contra-
correspondiam com a ordenação dos termos na numeração fala- dições procurando superar o conflito, mas sem saber como; pou-
da” (p.92). Sendo assim, ao fazerem comparações de sua escrita, o co a pouco através da ressignificação da relação entre a escrita e
fazem como resultado de uma correspondência com a numeração a numeração falada elaboram ferramentas para superar o conflito.
falada, e por ser esta não posicional. “Na numeração falada a jus- Essa parece ser uma importante etapa para progredir na escrita nu-
taposição de palavras supõe sempre uma operação aritmética de mérica convencional. Portanto, as crianças produzem e interpretam
soma ou de multiplicação - elas escrevem um número e pensam escritas convencionais antes de poder justificá-las através da “lei
no valor total desse número. Como exemplo: duzentos e cinquen- de agrupamento recursivo”. Sendo assim torna-se importante no
ta e quatro - escrevem somando 200+ 50+ 4 ou 200504 e quatro ensino da matemática considerar a natureza do objeto de conhe-
mil escrevem 41000- dando a ideia de multiplicação”. A numeração cimento como valorizar as conceitualizações das crianças à luz das
escrita regular é mais fechada que a numeração falada. É regular propriedades desse objeto.
porque a soma e a multiplicação, são utilizadas sempre pela multi-
plicação de cada algarismo pela potência da base correspondente, - Relações entre o que as Crianças sabem e a organização posi-
e se somam aos produtos que resultam dessas multiplicações.” É cional do sistema de numeração.
fechada porque não existe nenhum vestígio das operações aritmé- Devido a convivência com a linguagem numérica não perce-
ticas racionais envolvidas, sendo deduzidas a partir da posição que bemos a distinção entre a propriedade dos números e a proprie-
ocupam os algarismos. Ex: 4815 = 4x 103 + 8x102 + 1x 101 + 5x10. dade da notação numérica, ou seja, das propriedades do sistema
Através destes insipientes resultados acima citados, é possí- que usamos para representá-lo. As propriedades dos números são
vel deduzir “uma possível progressão nas correspondências entre universais, enquanto que as leis que regem os diferentes sistemas
o nome e a notação do número até a compreensão das relações de numeração não o são. Por exemplo: oito é menor que dez é um
aditivas e multiplicativas envolvidas na numeração falada”. As crian- conceito universal, pois em qualquer lugar, tempo ou cultura será
ças que realizam a escrita não-convencional o fazem a semelhança assim. O que muda é a justificativa para esta afirmação, pois varia
da numeração falada, pois demonstraram em suas escritas numé- de acordo com os sistemas qualitativos e quantitativos dos núme-
ricas que as diferentes modalidades de produção coexistem para ros ou posicionai dos algarismos.
os números posicionados em diferentes intervalos da sequência ao
escreverem qualquer número convencionalmente com dois ou três - A posicionalidade é responsável pela relação quantidade de
algarismos em correspondência com a forma oral. Exemplo: podem algarismos e valor dos números.
escrever cento e trinta e cinco em forma convencional (135), mas A criança começa pela detecção daquilo que é observável no
representam mil e vinte e cinco da seguinte forma: 100025. Mesmo contexto da interação social e a partir deste ponto os números são
aquelas crianças que escrevem convencionalmente os números en- baseados na numeração falada e em seu conhecimento da escrita
tre cem e duzentos, podem não generalizar esta modalidade a ou- convencional (“dos nós”).
tras centenas. Por exemplo, escrevem 80094 (oitocentos e noventa
e quatro). Assim é que a relação numeração fala/numeração escrita - Questionamento do enfoque usualmente adotado para o sis-
não é unidirecional. Observa-se também que a numeração falada tema de numeração
intervém na conceitualização da escrita numérica. O que parece é O ensino da notação numérica pode ter modalidade diversa
que algumas crianças demonstram que utilizam um critério para como: trabalhar passo a passo através da administração de conhe-
elaborar a numeração escrita. Assim acham que mil e cem e cem cimento de forma “cômoda quotas anuais” - metas definidas por
mil sejam a mesma coisa, pois elaboram o elemento símbolo, qua- série - ou através do saber socialmente estabelecido. Pergunta-se:
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
é compatível trabalhar com a graduação do conhecimento? Ou seja, processo de construção do conhecimento. No trabalho de ensinar
traçar um caminho de início e fim, determinado pelo saber oficial? e aprender um sistema de representação será necessário criar si-
E qual é o saber oficial? E o que se estar administrando de conheci- tuações que permitam mostrar a organização do sistema, como ele
mento numérico nas aulas? O processo passo a passo e aperfeiçoa- funciona e quais suas propriedades, pois o sistema de numeração é
damente, não parece compatível com a natureza da criança, pois carregado de significados numéricos como, os números, a relação
elas pensam em milhões e milhares, elaboram critérios de compara- de ordem e as operações aritméticas. Portanto comparar e operar,
ção fundamentados em categorias. Podem conhecer números gran- ordenar, produzir e interpretar, são os eixos principais para a orga-
des e não saber lidar com os números menores. Os procedimentos nização das situações didáticas propostas.
que as crianças utilizam para resolver as operações tem vantagens
que não podem ser depreciadas se comparadas com procedimen- - Situações didáticas vinculadas à relação de ordem
tos usuais da escola. No esforço para alcançar a compreensão das O entendimento do sistema decimal posicionai está diretamen-
crianças no sistema de numeração e não a simples memorização é te ligada a relação de ordem. Por isto as atividades devem estar
que muitos educadores leem utilizado diferentes recursos para ma- centradas na comparação, vinculada à ordenação do sistema. Al-
terializar o grupamento numérico. Alguns utilizam sistemas de có- guns exemplos podem melhorar o entendimento dessas relações,
digos para traduzir símbolos dando a cada grupamento uma figura são elas: simulação de uma loja para vender balas, em pacotes de
diferente como, triângulo para potências de 10, quadradinho para diferentes quantidades. Ao sugerir que as crianças decidam qual
potências de 100, ou a semelhança do sistema egípcio para traba- o preço de cada tipo de pacote, estarão fazendo comparações em
lhar a posicionalidade de um número ou empregam o ábaco como conjunto com os colegas, notações, comparam as divergências, ar-
estratégia para as noções de agrupar e reagrupar a fim de levar a gumentam e discutem as ideias, orientadas por uma lógica. Assim
compreensão da posicionalidade. No entanto todos estes pressu- os critérios de comparação podem não ser colocados imediatamen-
postos não são viáveis por razões próprias da natureza da criança, te em ação por todas as crianças, pois algumas irão realizar com
como também considerando o ambiente social, no qual convivem maior ou menor esforço o ordenamento, outras ordenam parcial-
com os números. As crianças buscam desde cedo a notação numé- mente alguns números, e os demais se limitam a copiar a que os
rica. Querem saber o mais cedo possível, como funciona, para que outros colegas fizeram. Todos nesta atividade se interagem.
serve, como e quando se usa. Inicialmente, não se interessam pela Os primeiros têm a oportunidade de fundamentar sua produ-
compreensão dos mesmos e sim pela sua utilidade. Dessa forma, ção e conceitualizar os recursos que já utilizavam. As crianças que
a compreensão passa a ser o ponto de chegada e não de partida. ordenam parcialmente aprendem ao longo da situação, levantam
Outro problema com as aulas de aritmética é que os professores perguntas e confirmam as ideias que não tinham conseguido asso-
oferecem respostas para aquilo que as crianças não perguntam e ciar. As crianças que não exteriorizaram nenhuma resposta, também
ainda ignoram as suas perguntas e respostas. se indagam e podem obter respostas que não tinham encontrado.
As crianças que se limitam copiar, é importante que o professor as
- Mostrando a vida numérica da aula estimule com intervenções orientadas para desenvolver nelas o tra-
O ensino do sistema de numeração como objeto de estudo pas- balho autônomo. Também devem ser estimuladas a perguntarem a
sa por diversas etapas, definições e redefinições, para então, ser de- si mesmas antes de ir aos outros, recorrer ao que sabem e desco-
vidamente compreendida. Usar a numeração escrita envolve pro- brir seus próprios conhecimentos, e que são capazes de resolver os
dução e interpretação das escritas numéricas, estabelecimento de problemas. Enfim, deve ser incentivada a autonomia. Uma segunda
comparações como apoio para resolver ou representar operações. experiência é aquela que pode usar materiais com numeração se-
Inicialmente o aprendiz, ao utilizar a numeração escrita encontra quencial com fita métrica, régua, paginação de livros, numeração
problemas que podem favorecer a melhor compreensão do siste- das casas de uma rua. Todas estas atividades ajudam as crianças
ma, pois através da busca de soluções torna possível estabelecer buscarem por si mesmas as informações que precisam. No trabalho
novas relações; leva às reflexões, argumentações, a validação dos conjunto todas as crianças leem oportunidade de aprender, mesmo
conhecimentos adquiridos, e ao início da compreensão das regula- que em ritmos diferentes, aprendem com o trabalho cooperativo na
ridades do sistema. construção do conhecimento.
Outra proposta de atividade pode ser direcionada a interpre-
- O sistema de numeração na aula. tação da escrita numérica no contexto de uso social do cotidiano
A seguir serão discutidas algumas ideias sobre os princípios que de cada uma. Pode ser realizado através de: comparação de suas
orientam o trabalho didático através da reflexão da regularidade no idades, de preços, datas, medidas e outras. Experiências como: for-
uso da numeração escrita. As regularidades aparecem como justifi- mar lista de preços, fazer notas fiscais, inventariar mercadorias, etc.
cação das respostas e dos procedimentos utilizados pelas crianças Através de experiências semelhantes, é possível levar as crianças
ou como descobertas, necessários para tornar possível a generaliza- considerar a relevância da relação de ordem numérica. As ativida-
ção, ou a elaboração de procedimentos mais econômicos. P.117 As- des desenvolvidas produzem efeito no sentido de modificar a es-
sim, a análise das regularidades da numeração escrita é uma fonte crita, ou da interpretação originalmente realizada. A longe prazo,
de insubstituível no progresso da compreensão das leis do sistema. devem ser capazes de montar e utilizar estratégias de relação de
O uso da numeração escrita como ponto de partida para a reflexão ordem para resolver problemas de produção e interpretação. Se
deve, desde o início ser trabalhada com os diferentes intervalos da nas atividades a professora detecta que determinado número leem
sequência numérica, através de trabalho com problemas, com a diferentes notações na turma, deve trabalhar com argumentações
numeração escrita desafiadora para a condução de resoluções, de até que cheguem a interpretação correta. Percebe-se através dos
forma que cada escrita se construa em função das relações signifi- argumentos utilizados pelas crianças a busca pela relação de or-
cativas que mantem com as outras. Os desafios e argumentações dem, mesmo naquelas que utilizaram anotações não convencio-
levam as crianças serem capazes de resolver situações-problema nais, a ponto de transformarem a partir de sucessivas discussões e
que ainda não foram trabalhadas e à socialização do conhecimento objeções que elas fazem a si próprias.
do grupo. As experiências nas aulas são de caráter provisório, às A relação numeração falada/numeração escrita é um cami-
vezes complexas, mas são inevitáveis, porque no trabalho didático nho que as crianças transitam em duas direções: da sequência oral
é obrigado a considerar a natureza do sistema de numeração como como recurso para compreensão da escrita numérica e como se-
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
quência da escrita como recurso para reconstruir o nome do núme- razões das regularidades de forma significativa. Busca resposta para
ro. Para isso é importante desenvolver atividades que favoreçam a organizar os sistemas, para novas descobertas da numeração es-
aplicação de regularidade podendo ser observado nas situações de crita.
comparação, de produção ou interpretação. Mas pergunta-se: quais
as regularidades necessárias trabalhar na contagem dos números? Fonte:
Estabelecer as regularidades tem o objetivo de tornar possível a http://novaescola.org.br/biblioteca-virtual/didatica-matematica-refle-
formulação de problemas dirigidos às crianças, mas também para xoes-psicopedagogicas-brousseau-584736.shtml
que adquiriram ferramentas para autocriticar as escritas baseadas http://www.professorefetivo.com.br/resumos/O-Sistema-de-Numera-
na correspondência com a numeração falada e na contagem dos cao-Um-Problema-Didatico.html
números. Exemplo: as dezenas com dois algarismos, as centenas
com três algarismos. Depois do nove vem o zero e passa-se para o A aprendizagem significativa:
número seguinte.
Atividades espontâneas e exploratórias;
Como intervir para que as crianças avancem na manipulação Construção do objeto matemático: da operação física à ope-
da sequência oral? ração mental;
Pode-se sugerir as crianças que procurem um material que te-
nha sequência correspondente e descubra-se por si mesma a re- Atividade lúdica: os jogos, seus significados, seus valores e
gularidade. Buscar nos números de um a cem quais os que termi- suas finalidades.
nam em nove, identificar e nomear os números seguintes do nove.
Esta é uma atividade de interpretação e tão importante quanto a Aprendizagem significativa
produção na contagem dos números. Exemplo: Como descobrir as Por teorias de aprendizagem podemos observar três modalida-
semelhanças e diferenças entre os números de um a quarenta. Lo- des gerais: cognitiva, afetiva e psicomotora.
calizar em todos os números de dois dígitos que terminam em nove A primeira, cognitiva, pode ser entendida como aquela resul-
e anotar qual é o seguinte de cada um deles. Esta atividade pode ser tante do armazenamento organizado na mente do ser que aprende.
encontrada em materiais como calendário, régua e fita métrica. Um A segunda, afetiva, resulta de experiências e sinais internos, tais
critério importante para trabalhar é estabelecer primeiro as regu- como, prazer, satisfação, dor e ansiedade. Já a terceira, psicomo-
laridades para um determinado intervalo. A partir daí passar a sua tora, envolve respostas musculares adquiridas por meio de treino
generalização através do uso de materiais que contenham números e prática.
maiores. A teoria de David Ausubel foca a aprendizagem cognitiva e,
Só então o indivíduo começa a questionar o seu significado. As como tal, propõe uma explicação teórica do processo de aprendi-
crianças são capazes de inventar algarismos próprios e colocam em zagem.
jogo as propriedades das operações como conhecimento implícito Ausubel baseia-se na premissa de que existe uma estrutura na
sobre o sistema de numeração, importante para descobrir as leis qual organização e integração de aprendizagem se processam. Para
que regem o sistema. Ao estudar o que acontece quando se rea- ele, o fator que mais influencia a aprendizagem é aquilo que o aluno
lizam as somas é possível estabelecer regularidades referentes ao já sabe ou o que pode funcionar como ponto de ancoragem para as
que muda e ao que se conserva. As atividades como colocar preços novas ideias.
em artigos de lojas, contar notas de dez em dez, fazer lista de pre- “A aprendizagem significativa, conceito central da teoria de Au-
ço, colocar novos preços aos que já tem, contar livros das prate- subel, envolve a interação da nova informação com uma estrutura
leiras das estantes de uma biblioteca, e ao comparar a numeração de conhecimento específica, a qual define como conceito subsun-
das páginas de um jornal, é possível analisar o que transforma nos çor”.
números quando lhes soma dez, utilizar dados nos aspectos multi- As informações no cérebro humano, segundo Ausubel, se orga-
plicativos em que cada ponto do dado vale dez e vão anotando a nizam e formam uma hierarquia conceitual, na qual os elementos
pontuação de cada um dos participantes do grupo. A partir desta mais específicos de conhecimento são ligados e assimilados a con-
atividade são levadas a refletir sobre o que fizeram e sobre a função ceitos mais gerais.
multiplicativa e relacioná-la com a interpretação aditiva. Desta for- Uma hierarquia de conceitos representativos de experiências
ma, levá-los a uma maior compreensão do valor posicional. Através sensoriais de um indivíduo significa, para ele, uma estrutura cog-
de diferentes comparações estabelecem regularidades numéricas nitiva.
para os dezes e os cens e refletir sobre a organização do sistema. Ausubel considera que a assimilação de conhecimentos ocorre
sempre que uma nova informação interage com outra existente na
As crianças têm oportunidade de formular regras e leis para estrutura cognitiva, mas não com ela como um todo; o processo
as operações com números e concentram nas representações nu- contínuo da aprendizagem significativa acontece apenas com a in-
méricas. tegração de conceitos relevantes.
Para contrapor essa teoria, Piaget não considera o progresso
Na segunda série a calculadora pode ser introduzida, desde cognitivo consequência da soma de pequenas aprendizagens pon-
que de forma adequada, pois leva as crianças aprofundarem suas tuais, mas sim um processo de equilibração desses conhecimentos.
reflexões, tomarem consciência das operações numéricas e torna Assim, a aprendizagem seria produzida quando ocorresse um dese-
possível que cada um detecte por si mesma quando é que estão quilíbrio ou um conflito cognitivo.
corretas e o que não está certo, autocorrija os erros e formule re- No entanto, Piaget não enfatiza o conceito de aprendizagem.
gras que permitam antecipar a operação que levará ao resultado Sua teoria é de desenvolvimento cognitivo, não de aprendizagem.
procurado. Assim, refletir sobre o sistema de numeração e sobre Nesta perspectiva, Piaget considera que só há aprendizagem (au-
as operações aritméticas levam as crianças a formularem leis para mento de conhecimento) quando o esquema de assimilação sofre
acharem procedimentos mais econômicos. Leva a indagações das acomodação.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
A aprendizagem significativa desenvolvida por Ausubel propõe- Neste texto queremos chamar a atenção para mais uma possi-
-se a explicar o processo de assimilação que ocorre com a criança na bilidade de colocar os alunos em um cenário propício para fazer ma-
construção do conhecimento a partir do seu conhecimento prévio. temática, no qual eles poderão criar estratégias, fazer suposições
Dessa forma, para que ocorra uma aprendizagem significativa de respostas, o que em Matemática costumamos chamar de “fazer
é necessário: disposição do sujeito para relacionar o conhecimento; conjecturas”. Quando nós introduzimos novas expressões, mesmo
material a ser assimilado com “potencial significativo”; e existência nos anos iniciais, as crianças começam a ampliar seu vocabulário,
de um conteúdo mínimo na estrutura cognitiva do indivíduo, com gostam de utilizar tais expressões até mesmo em contextos que não
subsunçores em suficiência para suprir as necessidades relaciona- são da Matemática. Além de fazerem suposições, precisam testar
das. a resposta obtida para se certificarem de que ela está de acordo
Na teoria de Ausubel, o processo de assimilação é fundamental com a solicitação feita. Nesse processo, elas estarão verificando se
para a compreensão do processo de aquisição e organização de sig- as suas conjecturas são “plausíveis”, isto é, se elas se confirmaram,
nificados na estrutura cognitiva. ou não.
Basta o educador primeiramente sondar o repertório do aluno Fazer a verificação do resultado de uma conta ou do resultado
para provocar na criança uma aprendizagem significativa. As assi- obtido para um problema é parte integrante do trabalho com a ma-
milações podem ser simples, como dosar os ingredientes para fazer temática e precisa ser incentivada constantemente. Experimente
um bolo e utilizar essa mesma experiência com os conceitos de cál- propor a divisão de 157 por 15. Não raro os alunos respondem: “o
culos, grandezas e medidas da matemática. resultado é 1 e o resto 7”. Nesse caso o procedimento do algoritmo
Com isso, os modos de ensinar desconectados dos alunos po- prevaleceu. Se nós professores apenas corrigirmos a conta, pode
dem ser modificados para a articulação de seus conhecimentos, no não se ter garantida a compreensão do aluno. Nesse sentido, seria
uso de linguagens diferenciadas, significativas, com a finalidade de importante construir uma tarefa na qual uma das ideias da divisão
compreender e relacionar os fenômenos estudados. pudesse ser acionada. Por exemplo, a ideia de medição está intrín-
seca ao problema (quantas vezes uma quantidade cabe em outra):
Fonte “Os 157 alunos da escola participarão do estudo do meio no zooló-
Texto adaptado BRUINI, E. C. gico. A Prefeitura do Município será a responsável pelo transporte
de todos esses estudantes, utilizando as Vans de transporte escolar,
Atividades espontâneas e exploratórias que têm capacidade para 15 pessoas. Quantas Vans serão neces-
Neste texto nos referimos às investigações matemáticas por sárias para que todos os estudantes desta escola participem desse
meio de aulas exploratório/investigativas. A proposta é apresentar estudo?”. É bem provável que a ocorrência da resposta equivocada,
a investigação matemática e seu uso em sala de aula com vistas à “o resultado é 1 e o resto 7” seja consideravelmente menor.
possibilidade de construção de conhecimentos. É necessário esclarecer o nosso entendimento por tarefa
O ponto de partida para que a sala de aula possa ser um am- no contexto das aulas de investigação/exploração matemática.
biente de aprendizagem, no qual as crianças se envolvam em “criar, Conforme apresentado em Lamonato e Passos (2011), a palavra
inventar modos diferentes de se fazer matemática”, deveria ser o tarefa, tem origem na palavra inglesa task, que significa uma
desafio. A criança se interessa por tarefas desafiantes. Para que isso proposta de trabalho feita pelo professor aos alunos, os quais se
ocorra, nós, professores, precisamos criar tarefas ou situações-pro- envolvem em atividade matemática para poder resolvê-la. Assim
blema de tal forma que a solução não possa ser obtida rapidamen- sendo, tarefa não está sendo utilizada como sinônimo de lição de
te, por meio de uma conta. Será necessário envolver a criança de casa, como comumente ocorre nas escolas brasileiras. A tarefa,
modo que ela se sinta desafiada a descobrir o que precisaria fazer portanto, será utilizada neste texto como uma proposta, oral ou
quando a proposta é aberta. escrita, que o professor faz para seus alunos.
Normalmente, aos alunos cabe resolver problemas que lhes No processo de resolução de uma tarefa, é importante obser-
são solicitados; raramente lhes é proposta a elaboração de proble- var que tanto os alunos quanto os professores se envolvem na ati-
mas. A investigação/exploração matemática em turmas dos anos vidade. Em determinados momentos os papéis são diferenciados.
iniciais pode ser uma maneira de possibilitar aos alunos a proposi- Será o professor o responsável pelas mediações e intervenções
ção de problemas, partindo-se de uma situação ou questão aberta. para que os alunos aceitem o desafio de encontrar a resposta para
A investigação matemática permite ao aluno pensar a partir de uma a proposta colocada. Nós, professores, temos a intencionalidade na
situação na qual se prevê que ele fará observações e descobertas; proposta da tarefa, diferente da do aluno.
cometerá erros e acertos e, fundamentalmente, deverá tomar deci- Como explicam Nacarato, Mengali e Passos (2009, p. 84), na
sões. Em síntese, esta é a essência da investigação matemática que sala de aula onde ocorre investigação matemática poderá haver ne-
entendemos para a Educação Básica: questões ou situações abertas gociação de significados. Nesse contexto, professor e alunos têm
que promovam a tomada de decisões sobre o percurso a ser per- experiências e conhecimentos diferentes: o professor detém o co-
corrido. nhecimento a ser ensinado, consegue estabelecer relações com ou-
Quando a criança se sente desafiada frente a uma situação-pro- tros conceitos e já tem uma expectativa e uma intencionalidade, ao
blema para a qual não tem a resposta e nem um caminho inicial, ela propor uma situação a ser resolvida. O aluno é o aprendiz, aquele
precisa traçar um plano. Esse plano pode vir a partir de questões para quem, muitas vezes, o conceito matemático não tem significa-
postas por ela própria. Ao fazer isso, ela se coloca em um movi- do algum. No entanto, numa atividade autêntica, ambos – profes-
mento de resolução de problema. Vale lembrar que em qualquer sor e aluno – estão interessados na ocorrência de aprendizagens e,
nível de ensino os problemas precisam fazer sentido para quem os no processo de negociação, cada um assume seu papel.
resolve, , que trata dos saberes matemáticos e outros campos do Os questionamentos que o professor pode fazer a seus alunos
saber e que foram estudados na formação de 2014. Apresenta-se são decisivos para o desenvolvimento da atividade pretendida. Há
como um dos objetivos do currículo das escolas “levar os alunos a que se considerar que em aulas com investigações/explorações ma-
desenvolverem a capacidade para enfrentar e resolver problemas temáticas os tempos disponibilizados são diferentes das aulas con-
de variados tipos e finalidades” (BRASIL, 2014, p. 12). sideradas tradicionais. As tarefas de características exploratório/
investigativas demandam uma organização da turma, geralmente
em grupo, para que os alunos possam trocar ideias e discutir estra-
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
tégias. A proposta do pesquisador norte-americano Van de Walle
(2009) para a dinâmica de resolução de problemas pode ser consi-
derada nas aulas de investigações matemáticas. O autor explica que
não basta o professor apresentar um problema, sentar e esperar
que os alunos resolvam. Como mencionamos, o professor tem um
papel fundamental: ele será o responsável pela criação e manuten-
ção de um ambiente matemático motivador e estimulante para que
a aula aconteça. Van de Walle (2009) propõe que a aula tenha três
momentos: antes, durante e depois. No primeiro momento, o pro-
fessor deverá se certificar de que os alunos estão preparados para
a tarefa proposta, assegurando-se de que os problemas estejam no Os estudantes foram divididos em trios e cada um dos trios re-
nível cognitivo deles. Durante a resolução, os alunos trabalham e o cebeu uma folha com a tarefa. O critério utilizado para a formação
professor acompanha, observa, certifica-se de que todos estão en- dos grupos foi a proximidade de saberes na resolução de problemas
volvidos na tarefa. Depois será o momento de socialização – o pro- diários.
fessor ouve todos os grupos, sem avaliações, deixando aos próprios Este critério teve como objetivo possibilitar a participação de
alunos a discussão das estratégias apresentadas. Somente ao final todos nos grupos. Seria possível questionar se grupos com maior
de todo esse processo o professor formaliza os novos conceitos e heterogeneidade não seriam mais adequados, porém eu preferi uti-
conteúdos construídos. lizar a atividade para conhecer o que cada grupo conseguiria produ-
Em uma investigação/exploração matemática, o professor é zir, sendo uma nova experiência para mim também.
quem escolhe um ponto de partida e os alunos é que definem os Logo que receberam a tabela de números, os grupos iniciaram
problemas dentro da situação e tentam resolvê-los por seus pró- a observação. Todos encontraram ao menos uma relação. Até mes-
prios caminhos. É diferente, portanto, da perspectiva de resolução mo os grupos formados por estudantes que apresentam menor au-
de problemas. Uma investigação/exploração matemática é uma ta- tonomia em outros tipos de atividades, como pode ser observado
refa aberta, que possui um grau de indeterminação no que é dado, na figura a seguir.
no que é pedido ou em ambos. Podemos dizer então que tarefas
investigativas são aquelas que apresentam um caráter aberto, pos-
sibilitando aos alunos trilharem diferentes caminhos ao resolvê-las
e possivelmente poderão chegar em diferentes resultados, de acor-
do com o caminho escolhido.
Naquele contexto, verificamos que é necessário construir uma
estratégia para resolver o problema proposto e que nem sempre a
estratégia escolhida é bem-sucedida, necessitando de ajustes. Tal
procedimento tem certa semelhança com a investigação/explora-
ção matemática.
Lamonato e Passos (2011), entendem a exploração-investiga-
ção matemática como:
[...] um meio pelo qual pode ocorrer a aprendizagem da Ma-
temática em um processo que busca possibilitar ao estudante mo-
mentos de produção/criação de seus conhecimentos matemáticos,
respeitando o nível de desenvolvimento em que ele se encontra.
Investigar é procurar o que ainda não se conhece; investigar é ques-
tionar e procurar responder. Para investigar, é necessário querer Durante a discussão, os estudantes desse grupo observaram a
saber; para investigar, é preciso estar curioso. sequência de uma linha e de uma coluna. Após a minha interven-
Trazemos a seguir a narrativa da Professora Nacir, exemplifi- ção, questionando se “isto acontece apenas com uma das linhas e
cando o caráter aberto de uma tarefa. Podemos observar que os com uma das colunas?”, eles perceberam que esta era uma regula-
dilemas de uma professora dos anos iniciais, que não é especialista ridade válida para todas as linhas e colunas da tabela.
em Matemática, faz parte do fazer docente.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Porém, os grupos formados por estudantes que sempre bus- Nesse tipo de tarefa, não temos o controle do que os alunos
cavam resolver os problemas que eram propostos de formas “tra- responderão, descobrirão, enfim, não há um roteiro de respostas
dicionais”, não conseguiram estabelecer alguma relação entre os corretas. Dá insegurança? Sim, isso causa insegurança no início!
números apresentados na tabela, contudo escreveram o que obser- Propor uma tarefa sem saber o que os estudantes farão é um de-
varam, como indicado a seguir. safio.
Antes de iniciar as atividades, pensei muito sobre como seria:
Será que as crianças conseguirão perceber alguma relação? E se
elas não encontrarem nenhuma relação, o que farei? E se elas en-
contrarem alguma relação que eu não consiga discutir? Será que
conseguirei fazer as intervenções adequadas para que elas consi-
gam compreender?
Tantas dúvidas e inseguranças foram possíveis de ser supera-
das com muito estudo e observação prática. Porém, todas as vezes
que essas atividades são realizadas, algo inusitado acontece, o que
é ótimo!
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
cumento descritivo de situações escolares reais, ou não, que com- que a bolinha era “circular” e a caixa, “quadrada”, não daria certo.
põe uma história com começo, meio e fim, apresenta um incidente Guilhermina aproveitou a ocasião e apresentou para a turma fi-
crítico, o contexto de ocorrência da situação, os personagens en- guras planas, representadas em uma cartolina. Pediu para os alunos
volvidos, as atitudes – ou falta de atitudes – do docente diante do identificassem entre os retângulos, aqueles que seriam quadrados.
incidente, assim como descreve os pensamentos, os sentimentos Conversou com os alunos se poderiam chamar a abertura da cai-
e os motivos do professor. Além disso, o texto pode apresentar a xa de sabonete de quadrado. Eles diziam que a forma da caixa de
solução da situação crítica e todo o processo vivido pelo professor sabonete tinha lados “mais compridos”, mas Guilhermina não os
é narrado: o problema, as hipóteses, as reflexões sobre o problema, corrigiu, considerou que para crianças de 6 anos, essa observação
os meios pensados para resolvê-lo e o desfecho da situação. estava adequada.
Os alunos experimentaram em qual embalagem seria mais
O CASO DA PROFESSORA GUILHERMINA adequado “encaixar” a bolinha e concluíram que o rolinho (suporte
A professora Guilhermina leciona em uma turma de 1o ano do do papel higiênico) era a mais adequada, pois também era redon-
Ensino Fundamental e participa de um grupo de estudos a respeito do. A professora percebeu que as crianças utilizavam vocabulário
das investigações matemáticas. As discussões no grupo motivaram- próximo ao matemático para expressar o conhecimento que tinham
-na a colocar em ação uma proposta de construir um brinquedo a das formas geométricas e, à medida que mencionavam as formas,
partir de sucatas. Ela pretendia trabalhar com as crianças algumas ela questionava se realmente correspondia à forma existente no
noções de geometria, assim, decidiu construir com as crianças um objeto, fazendo as intervenções adequadas. Os alunos compararam
brinquedo: um bilboquê. Escolheu esse jogo porque seria possível a forma prismática da caixa de sabonete com o formato esférico da
aproveitar uma brincadeira infantil para explorar conceitos geomé- bolinha de isopor e confirmaram que a caixa de sabonete deveria
tricos. Além disso, seria possível que seu aluno que tem baixa visão ser excluída.
pudesse participar plenamente. A análise do rolinho suporte do papel higiênico foi um caso à
Guilhermina pesquisou sobre o jogo, que consiste em uma bola parte: a bolinha ficava equilibrada no que seria a “base” do cilindro.
(ou conoide) de madeira, furada e presa a um cordão e que, após Os alunos compararam com o tamanho da abertura do copo feito
atirada para o ar deve, ao cair, encaixar em um bastonete a que está de garrafa PET.
amarrada. O aluno com baixa visão manuseava os objetos e verificava o
tamanho das “bocas” do copo feito com a garrafa PET e do rolinho
suporte do papel higiênico, comparando com o tamanho da bolinha
de isopor. Ele percebeu que o encaixe para esse jogo seria melhor
com o uso do rolinho.
Assim como esse aluno, os demais comparavam as embala-
gens: a bolinha entrava no copo feito com garrafa PET. Eles decidi-
ram pelo rolinho suporte do papel higiênico. Os elementos geomé-
tricos do cilindro e da esfera não foram discutidos por Guilhermina.
Mais uma exploração/investigação matemática ocorreu: de-
terminar qual a medida do comprimento do barbante para que o
jogo pudesse ser jogado. Guilhermina e os alunos precisaram ex-
perimentar vários comprimentos para o barbante de modo que o
jogo fosse possível.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
que na ocasião ainda não estavam alfabetizadas, discutiram pos- de tudo que descobrir. Mesmo assim, no momento em que a tarefa
sibilidades, testaram a funcionalidade de objetos para que o jogo for proposta, outras questões poderão ser colocadas pelos alunos.
pudesse ser realizado. A brincadeira deu o tom da atividade! A riqueza de ideias que poderão surgir deverá ser encarada como o
desafio do novo. E mais que isso, confirmando que nós estamos em
Para nos auxiliar a refletir sobre o relato, podemos nos pautar um movimento constante de aprendizagem, principalmente com
em algumas questões: nossos alunos.
1. Que momentos críticos poderiam ser identificados no Caso
da professora Guilhermina? Fonte
2. Considerando que os elementos geométricos do cilindro e da BRASIL (MEC/SEB/DAGE). Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade
esfera não foram discutidos por Guilhermina, o que poderia ter sido Certa: Alfabetização matemática na perspectiva do letramento. Cader-
feito nessa situação? no 07. Brasília: MEC, SEB, 2015.
3. Se a turma fosse de 3o ano, como a aula poderia ter sido
conduzida? Construção do objeto matemático: da operação física à ope-
ração mental; atividade lúdica: os jogos, seus significados, seus
Momentos como esses podem gerar perguntas não previstas valores e suas finalidades
pelo professor e provocar dúvidas, mas também podem revelar
êxitos para que o professor confie e permaneça no caminho que A Contextualização na Formação Matemática
escolheu. Caso esses êxitos não apareçam de imediato, o professor
precisará de alguém que lhe garanta que está no caminho certo, Articulação entre o novo e o já adquirido
como sugerem Freire e Shor (1986). Nesse sentido é que sugerimos Os conhecimentos e habilidades não correspondem a capaci-
que propostas dessa natureza sejam socializadas no interior das es- dades prontas, acabadas, guardadas em gavetas para serem usadas
colas, com os demais professores, de modo que no grupo ocorram quando for preciso. Eles estão feitos e se fazem, constantemente,
reflexões a respeito de acertos e equívocos. Um trabalho com par- na experiência de cada situação, quando são mobilizados conheci-
cerias contribui para manter a confiança na busca de mudanças. mentos e habilidades já adquiridos, ao mesmo tempo em que se
Em um ambiente de resolução de problemas, o professor pode constroem o que ainda não se sabe e aquilo que é necessário saber.
dirigir a discussão de natureza argumentativa em Matemática, na Uma das ideias mais destacadas nas novas tendências educa-
direção das tarefas exploratório/ investigativas. Em grupo, os alunos cionais é a de que a criança, ao chegar à escola, traz muitos conheci-
dialogam, apresentam hipóteses, argumentam para defender seu mentos e habilidades matemáticas adquiridos em suas experiências
ponto de vista. As aulas nessa perspectiva fazem com que as crian- nos diversos meios sociais em que circula. É indispensável que a
ças incorporem ao vocabulário questionamentos que começam a escola, em particular o professor, possa estabelecer as articulações
se fazer presentes no estudo de outros componentes curriculares, apropriadas entre esses conhecimentos e as habilidades já adquiri-
como assinalado pela Professora Nacir. Eles passam a indagar “e dos e aqueles que serão vivenciados pela criança. É o difícil diálo-
se?” nas mais diversas situações, tornando a aula um ambiente in- go entre o que provém, de um lado, do senso comum, da intuição,
tenso de comunicação de ideias. das informações vagas, das estratégias pessoais e, do outro, dos
O processo de ensinar em uma aula de investigação/exploração conhecimentos e das habilidades mais sistematizadas e universais
matemática rompe com a cultura comumente existente na esco- que fazem parte do ensino escolar. Esse diálogo é particularmente
la de que os problemas deveriam ser propostos para confirmar se desafiador quando se trata da criança nos primeiros anos da esco-
o aluno aprendeu determinado conteúdo. Criar uma cultura e um laridade.
ambiente de sala de aula em que os alunos estejam encorajados Os educadores matemáticos têm defendido a ideia de que os
a questionar, experimentar, avaliar, explorar e sugerir explicações conceitos relevantes para a formação matemática atual devem ser
é possível, embora não seja simples. Além disso, não pode ser co- abordados desde o início da formação escolar. Isso vale mesmo
locada em ação sem um planejamento cuidadoso. Já discutimos a para conceitos que podem atingir níveis elevados de complexidade,
importância da organização do trabalho pedagógico da Matemática como os de número racional, probabilidade, semelhança, simetria,
no ciclo da alfabetização no Caderno 1 (BRASIL, 2014) e verificamos entre muitos outros. Tal ponto de vista apoia-se na concepção de
que o planejamento e replanejamento faz parte de nossas ações que a construção de um conceito pelas pessoas processa-se no de-
profissionais. correr de um longo período, de estágios mais intuitivos aos mais
Propor que as crianças descubram padrões e regularidades é formais. Além disso, um conceito nunca é isolado, mas se integra a
um tipo de tarefa que possibilita esse ambiente de aprendizagem. um conjunto de outros por meio de relações, das mais simples às
Van de Walle (2009, p. 32), propõe, por exemplo, uma exploração mais complexas. Dessa maneira, não se deve esperar que a aprendi-
numérica do tipo: “Alguma vez você notou que 6 + 7 é igual a 5 + 8 zagem de conceitos e procedimentos se realize de forma completa
e a 4 + 9?” Qual o padrão que existe? Quais as relações que podem e num período curto de tempo. Por isso, ela é mais efetiva quan-
ser expressas? As crianças podem explorar essa soma e investigar do os conteúdos são revisitados, de forma progressiva, ampliada e
outras, descobrindo padrões. Ao apresentar tarefas como essas, o aprofundada, durante todo o percurso escolar. Convém lembrar, no
professor estará proporcionando um ambiente de investigação ma- entanto, que esses vários momentos devem ser sempre bem arti-
temática, sua mediação será no sentido de possibilitar a circulação culados, em especial, evitando-se a fragmentação ou as retomadas
de ideias e discussões coletivas. repetitivas.
Outra situação de investigação matemática proposta pelo au-
tor citado também possibilita um rico ambiente de aprendizagem: Conexões internas à Matemática escolar
Quando dois números ímpares são multiplicados, o resultado é ím- Ao longo de sua evolução, o conhecimento matemático foi
par; mas se os mesmos números forem somados ou subtraídos, o sendo organizado em disciplinas e subdisciplinas, como Aritmética,
que acontece? Álgebra, Geometria, Estatística, probabilidade, entre outras. Essas
Experimente propor essa tarefa para seus alunos, mas, antes divisões, paralelamente, foram repercutindo na matemática esco-
disso, planeje como a tarefa poderá ser executada. Coloque-se no lar. Na seção “Os campos de conteúdos da matemática escolar”, vis-
lugar de seus alunos e preveja o que poderá ocorrer. Faça registro ta anteriormente, foi mencionada uma possibilidade de organizar
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
o conhecimento em campos de conteúdos da Matemática para o As práticas sociais como fonte de contextualizações
Ensino Fundamental que pode ser associado às disciplinas acima A Matemática, como todo conhecimento, é produzida pelos
referidas. homens em sua interação com os outros homens e com o mundo.
Entretanto, nem a Matemática, nem a sua vertente escolar Assim, o conhecimento matemático liga-se, sempre, a algum con-
devem ser encaradas como uma justaposição de subdisciplinas es- texto. No entanto, essas ligações não são, em geral, explícitas e nem
tanques, mas como um conjunto de conhecimentos bem articula- fáceis de serem desvendadas. Um dos sinais dessa dificuldade pode
dos entre si. O conceito de número e as operações numéricas, por ser identificado nos legítimos reclamos dos estudantes: Por que é
exemplo, permeiam todas as áreas da Matemática, e a resolução preciso estudar isso? Prá que serve a Matemática que nos tentam
de equações algébricas repousa em propriedades dos sistemas nu- ensinar?
méricos. Uma razão da inclusão das grandezas e medidas como um Cabe, então, aos responsáveis pela formação escolar, um im-
campo específico entre os que compõem a Matemática escolar re- portante papel: buscar conexões que deem significado aos conteú-
side na riqueza de suas conexões com outros campos da Matemá- dos matemáticos. Nesse sentido, já foram mencionadas, em seções
tica. Por exemplo, a origem dos números decimais e das frações é anteriores deste trabalho, conexões entre os subcampos da própria.
inseparável do problema da medida de grandezas.
Outra articulação desejada é a que se deve estabelecer entre Matemática e também as várias ligações dela com outros sa-
os vários significados de um mesmo conceito no interior da pró- beres.
pria Matemática escolar. Por exemplo, a operação de adição está Contudo, devem ser buscadas contextualizações que incluam
associada às ideias de juntar, comparar e acrescentar. Além disso, um leque mais variado de vivências dos estudantes. Quando se tra-
também é importante buscar conexões entre as diversas represen- ta, em particular, das crianças dos anos iniciais do Ensino Funda-
tações de um mesmo conteúdo. É o caso das figuras geométricas, mental, uma excelente fonte de contextualizações pode ser encon-
que podem ser associadas a objetos do mundo físico, a desenhos trada no universo infantil: vida doméstica; esportes; brincadeiras e
ou a entes abstratos definidos com base em princípios lógicos. jogos, histórias, músicas e em tantas outras atividades.
É um desafio fascinante tentar o diálogo do saber matemático
Ligações entre a Matemática e outras disciplinas: a interdisci- – para muitos, tido como árido e pouco acessível – com a riqueza
plinaridade do imaginário das crianças e com a simplicidade dos seus jogos e de
Em anos recentes, têm se multiplicado as análises sobre a ma- suas brincadeiras, sempre marcados pelo “faz de conta”.
neira como as disciplinas escolares estão organizadas e o papel que Outras contextualizações podem ser construídas com base em
desempenham no ensino e na aprendizagem, com destaque para atividades de compra e venda, reais ou fictícias, que contribuem
a necessária incorporação da perspectiva da interdisciplinaridade. para a atribuição de significado às operações básicas. Lidar com
Nesse debate, critica-se a fragmentação do saber ensinado nas es- preços de mercadorias em diversas embalagens ou com contas de
colas, alimentada pela organização do currículo em disciplinas jus- água, luz e telefone, por exemplo, permite um contato importante
tapostas e estanques, que competem por seu espaço e seus objeti- com os conceitos de grandezas e de medidas, além de propiciar dis-
vos particulares, distanciando-se do diálogo com outras disciplinas. cussões de natureza socioeconômica, desde que compatíveis com o
A prática da interdisciplinaridade ainda é rara. Para ser efeti- mundo da criança.
vamente praticada e ampliada, ela requer transformações amplas, Mas, é preciso cuidado com contextualizações artificiais, em
que se estendam a todo o sistema educacional: os currículos, as que as situações apresentadas são apenas pretexto para a obtenção
modalidades de avaliação, a organização do tempo e dos espaços de números a serem usados em operações matemáticas. Por exem-
na escola, o livro didático, entre outros. Essa prática exige, em espe- plo, recorrer-se às alturas dos montes Everest (8 844 m) e Aconcá-
cial, mudanças nas formações inicial e continuada dos educadores, gua (6 959 m), exibidos em belas imagens, para “contextualizar” a
que exercem inegável papel na moldagem de suas concepções. multiplicação de 8 844 por 6 959.
Convém observar, no entanto, que interdisciplinaridade não Também é preciso cautela no uso de desenhos ou de imagens
deve implicar uma diminuição da importância das áreas específicas para “tornar mais concreta” a medição ou a comparação entre com-
do conhecimento. Ao contrário, uma perspectiva interdisciplinar primentos. Por exemplo, no desenho em perspectiva de um dado
adequada nutre-se do aprofundamento nas várias áreas do saber. de jogar, suas arestas não possuem, em geral, o mesmo compri-
Para o diálogo interdisciplinar, é necessário que cada área es- mento, como têm na realidade.
pecífica contribua com saberes consistentes e aprofundados, que
não sejam meras justaposições de conhecimentos superficiais, mas O aluno e o saber matemático
que ―de fato ― favoreçam conexões significativas entre esses co- As necessidades cotidianas fazem com que os alunos desenvol-
nhecimentos. vam uma inteligência essencialmente prática, que permite reconhe-
Para tanto, é necessário um duplo movimento: em um senti- cer problemas, buscar e selecionar informações, tomar decisões e,
do, procurar interligar vários saberes; buscar temas comuns a di- portanto, desenvolver uma ampla capacidade para lidar com a ati-
ferentes campos do conhecimento; tentar construir modelos para vidade matemática. Quando essa capacidade é potencializada pela
situações complexas presentes na realidade; em outro, buscar escola, a aprendizagem apresenta melhor resultado.
aprofundar o conhecimento disciplinar; construir modelos para um No entanto, apesar dessa evidência, tem-se buscado, sem su-
recorte específico da realidade. Encontrar a organização e o tempo cesso, uma aprendizagem em Matemática pelo caminho da repro-
pedagógicos para garantir esse conjunto de ações constitui em um dução de procedimentos e da acumulação de informações; nem
dos maiores desafios para a concretização da perspectiva interdis- mesmo a exploração de materiais didáticos tem contribuído para
ciplinar na escola atual. uma aprendizagem mais eficaz, por ser realizada em contextos pou-
Convém mencionar que várias experiências têm sido propostas co significativos e de forma muitas vezes artificial.
para incorporar a interdisciplinaridade na escola, como a pedago- É fundamental não subestimar a capacidade dos alunos,
gia de projetos, o trabalho com temas integradores e com temas reconhecendo que resolvem problemas, mesmo que razoavelmente
transversais. complexos, lançando mão de seus conhecimentos sobre o assunto
e buscando estabelecer relações entre o já conhecido e o novo.
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
O significado da atividade matemática para o aluno também Numa perspectiva de trabalho em que se considere a criança
resulta das conexões que ele estabelece entre ela e as demais dis- como protagonista da construção de sua aprendizagem, o papel
ciplinas, entre ela e seu cotidiano e das conexões que ele percebe do professor ganha novas dimensões. Uma faceta desse papel é
entre os diferentes temas matemáticos. a de organizador da aprendizagem; para desempenhá-la, além de
Ao relacionar ideias matemáticas entre si, podem reconhecer conhecer as condições socioculturais, expectativas e competência
princípios gerais, como proporcionalidade, igualdade, composição cognitiva dos alunos, precisará escolher o(s) problema(s) que pos-
e inclusão e perceber que processos como o estabelecimento de sibilita(m) a construção de conceitos/procedimentos e alimentar o
analogias, indução e dedução estão presentes tanto no trabalho processo de resolução, sempre tendo em vista os objetivos a que se
com números e operações como em espaço, forma e medidas. propõe atingir.
O estabelecimento de relações é tão importante quanto a ex- Além de organizador, o professor também é consultor nesse
ploração dos conteúdos matemáticos, pois, abordados de forma processo. Não mais aquele que expõe todo o conteúdo aos alunos,
isolada, os conteúdos podem acabar representando muito pouco mas aquele que fornece as informações necessárias, que o aluno
para a formação do aluno, particularmente para a formação da ci- não tem condições de obter sozinho. Nessa função, faz explana-
dadania. ções, oferece materiais, textos, etc.
Outra de suas funções é como mediador, ao promover a con-
O professor e o saber matemático frontação das propostas dos alunos, ao disciplinar as condições em
O conhecimento da história dos conceitos matemáticos preci- que cada aluno pode intervir para expor sua solução, questionar,
sa fazer parte da formação dos professores para que tenham ele- contestar. Nesse papel, o professor é responsável por arrolar os
mentos que lhes permitam mostrar aos alunos a Matemática como procedimentos empregados e as diferenças encontradas, promover
ciência que não trata de verdades eternas, infalíveis e imutáveis, o debate sobre resultados e métodos, orientar as reformulações e
mas como ciência dinâmica, sempre aberta à incorporação de no- valorizar as soluções mais adequadas. Ele também decide se é ne-
vos conhecimentos. cessário prosseguir o trabalho de pesquisa de um dado tema ou se
Além disso, conhecer os obstáculos envolvidos no processo de é o momento de elaborar uma síntese, em função das expectativas
construção de conceitos é de grande utilidade para que o professor de aprendizagem previamente estabelecidas em seu planejamento.
compreenda melhor alguns aspectos da aprendizagem dos alunos. Atua como controlador ao estabelecer as condições para a rea-
O conhecimento matemático formalizado precisa, necessaria- lização das atividades e fixar prazos, sem esquecer-se de dar o tem-
mente, ser transformado para se tornar passível de ser ensinado/ po necessário aos alunos.
aprendido; ou seja, a obra e o pensamento do matemático teórico Como um incentivador da aprendizagem, o professor estimu-
não são passíveis de comunicação direta aos alunos. Essa conside- la a cooperação entre os alunos, tão importante quanto a própria
ração implica rever a ideia, que persiste na escola, de ver nos obje- interação adulto/criança. A confrontação daquilo que cada criança
tos de ensino cópias fiéis dos objetos da ciência. pensa com o que pensam seus colegas, seu professor e demais pes-
Esse processo de transformação do saber científico em saber soas com quem convive é uma forma de aprendizagem significativa,
escolar não passa apenas por mudanças de natureza epistemoló- principalmente por pressupor a necessidade de formulação de ar-
gica, mas é influenciado por condições de ordem social e cultural gumentos (dizendo, descrevendo, expressando) e a de comprová-
que resultam na elaboração de saberes intermediários, como apro- -los (convencendo, questionando).
ximações provisórias, necessárias e intelectualmente formadoras. É Além da interação entre professor e aluno, a interação entre
o que se pode chamar de contextualização do saber. alunos desempenha papel fundamental na formação das capacida-
Por outro lado, um conhecimento só é pleno se for mobilizado des cognitivas e afetivas. Em geral, explora-se mais o aspecto afe-
em situações diferentes daquelas que serviram para lhe dar origem. tivo dessas interações e menos sua potencialidade em termos de
Para que sejam transferíveis a novas situações e generalizados, os construção de conhecimento.
conhecimentos devem ser descontextualizados, para serem con-
textualizados novamente em outras situações. Mesmo no ensino Trabalhar coletivamente, por sua vez, supõe uma série de
fundamental, espera-se que o conhecimento aprendido não fique aprendizagens, como:
indissoluvelmente vinculado a um contexto concreto e único, mas • perceber que além de buscar a solução para uma situação
que possa ser generalizado, transferido a outros contextos. proposta devem cooperar para resolvê-la e chegar a um consenso;
• saber explicitar o próprio pensamento e tentar compreender
As relações professor-aluno e aluno-aluno o pensamento do outro;
Tradicionalmente, a prática mais frequente no ensino de Ma- • discutir as dúvidas, assumir que as soluções dos outros fazem
temática era aquela em que o professor apresentava o conteúdo sentido e persistir na tentativa de construir suas próprias ideias;
oralmente, partindo de definições, exemplos, demonstração de • incorporar soluções alternativas, reestruturar e ampliar a
propriedades, seguidos de exercícios de aprendizagem, fixação e compreensão acerca dos conceitos envolvidos nas situações e, des-
aplicação, e pressupunha que o aluno aprendia pela reprodução. se modo, aprender.
Considerava-se que uma reprodução correta era evidência de que Essas aprendizagens só serão possíveis na medida em que o
ocorrera a aprendizagem. professor proporcionar um ambiente de trabalho que estimule o
Essa prática de ensino mostrou-se ineficaz, pois a reprodução aluno a criar, comparar, discutir, rever, perguntar e ampliar ideias.
correta poderia ser apenas uma simples indicação de que o aluno É importante atentar para o fato de que as interações que
aprendeu a reproduzir mas não apreendeu o conteúdo. ocorrem na sala de aula — entre professor e aluno ou entre alunos
É relativamente recente, na história da Didática, a atenção ao — devem ser regulamentadas por um “contrato didático” no qual,
fato de que o aluno é agente da construção do seu conhecimento, para cada uma das partes, sejam explicitados claramente seu papel
pelas conexões que estabelece com seu conhecimento prévio num e suas responsabilidades diante do outro.
contexto de resolução de problemas.
Naturalmente, à medida que se redefine o papel do aluno pe-
rante o saber, é preciso redimensionar também o papel do profes-
sor que ensina Matemática no ensino fundamental.
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Alguns caminhos para “fazer Matemática” na sala de aula Considerados esses princípios, convém precisar algumas carac-
É consensual a ideia de que não existe um caminho que possa terísticas das situações que podem ser entendidas como problemas.
ser identificado como único e melhor para o ensino de qualquer Um problema matemático é uma situação que demanda a rea-
disciplina, em particular, da Matemática. No entanto, conhecer lização de uma sequência de ações ou operações para obter um re-
diversas possibilidades de trabalho em sala de aula é fundamental sultado. Ou seja, a solução não está disponível de início, no entanto
para que o professor construa sua prática. Dentre elas, destacam- é possível construí-la.
se algumas. Em muitos casos, os problemas usualmente apresentados aos
alunos não constituem verdadeiros problemas, porque, via de re-
O Recurso à Resolução de Problemas gra, não existe um real desafio nem a necessidade de verificação
Resolução de problemas é um caminho para o ensino de Mate- para validar o processo de solução.
mática que vem sendo discutido ao longo dos últimos anos. O que é problema para um aluno pode não ser para outro, em
A História da Matemática mostra que ela foi construída como função do seu nível de desenvolvimento intelectual e dos conheci-
resposta a perguntas provenientes de diferentes origens e contex- mentos de que dispõe.
tos, motivadas por problemas de ordem prática (divisão de terras,
cálculo de créditos), por problemas vinculados a outras ciências (Fí- Resolver um problema pressupõe que o aluno:
sica, Astronomia), bem como por problemas relacionados a investi- • elabore um ou vários procedimentos de resolução (como, por
gações internas à própria Matemática. exemplo, realizar simulações, fazer tentativas, formular hipóteses);
Todavia, tradicionalmente, os problemas não têm desempe- • compare seus resultados com os de outros alunos;
nhado seu verdadeiro papel no ensino, pois, na melhor das hipóte- • valide seus procedimentos.
ses, são utilizados apenas como forma de aplicação de conhecimen- Resolver um problema não se resume em compreender o que
tos adquiridos anteriormente pelos alunos. foi proposto e em dar respostas aplicando procedimentos adequa-
A prática mais frequente consiste em ensinar um conceito, pro- dos. Aprender a dar uma resposta correta, que tenha sentido, pode
cedimento ou técnica e depois apresentar um problema para ava- ser suficiente para que ela seja aceita e até seja convincente, mas
liar se os alunos são capazes de empregar o que lhes foi ensinado. não é garantia de apropriação do conhecimento envolvido.
Para a grande maioria dos alunos, resolver um problema significa Além disso, é necessário desenvolver habilidades que permi-
fazer cálculos com os números do enunciado ou aplicar algo que tam pôr à prova os resultados, testar seus efeitos, comparar dife-
aprenderam nas aulas. rentes caminhos, para obter a solução. Nessa forma de trabalho, o
Desse modo, o que o professor explora na atividade matemáti- valor da resposta correta cede lugar ao valor do processo de reso-
ca não é mais a atividade, ela mesma, mas seus resultados, defini- lução.
ções, técnicas e demonstrações. O fato de o aluno ser estimulado a questionar sua própria res-
Consequentemente, o saber matemático não se apresenta ao posta, a questionar o problema, a transformar um dado problema
aluno como um sistema de conceitos, que lhe permite resolver um numa fonte de novos problemas, evidencia uma concepção de en-
conjunto de problemas, mas como um interminável discurso simbó- sino e aprendizagem não pela mera reprodução de conhecimentos,
lico, abstrato e incompreensível. mas pela via da ação refletida que constrói conhecimentos.
Nesse caso, a concepção de ensino e aprendizagem subjacente
é a de que o aluno aprende por reprodução/imitação. O Recurso à História da Matemática
A História da Matemática, mediante um processo de transposi-
Ao colocar o foco na resolução de problemas, o que se defende ção didática e juntamente com outros recursos didáticos e metodo-
é uma proposta que poderia ser resumida nos seguintes princípios: lógicos, pode oferecer uma importante contribuição ao processo de
• o ponto de partida da atividade matemática não é a definição, ensino e aprendizagem em Matemática.
mas o problema. No processo de ensino e aprendizagem, conceitos, Ao revelar a Matemática como uma criação humana, ao mos-
ideias e métodos matemáticos devem ser abordados mediante a trar necessidades e preocupações de diferentes culturas, em di-
exploração de problemas, ou seja, de situações em que os alunos ferentes momentos históricos, ao estabelecer comparações entre
precisem desenvolver algum tipo de estratégia para resolvê-las; os conceitos e processos matemáticos do passado e do presente,
• o problema certamente não é um exercício em que o alu- o professor tem a possibilidade de desenvolver atitudes e valores
no aplica, de forma quase mecânica, uma fórmula ou um processo mais favoráveis do aluno diante do conhecimento matemático.
operatório. Só há problema se o aluno for levado a interpretar o Além disso, conceitos abordados em conexão com sua história
enunciado da questão que lhe é posta e a estruturar a situação que constituem-se veículos de informação cultural, sociológica e an-
lhe é apresentada; tropológica de grande valor formativo. A História da Matemática
• aproximações sucessivas ao conceito são construídas para re- é, nesse sentido, um instrumento de resgate da própria identidade
solver certo tipo de problema; num outro momento, o aluno utiliza cultural.
o que aprendeu para resolver outros, o que exige transferências, re- Em muitas situações, o recurso à História da Matemática pode
tificações, rupturas, segundo um processo análogo ao que se pode esclarecer ideias matemáticas que estão sendo construídas pelo
observar na história da Matemática; aluno, especialmente para dar respostas a alguns “porquês” e, des-
• o aluno não constrói um conceito em resposta a um proble- se modo, contribuir para a constituição de um olhar mais crítico
ma, mas constrói um campo de conceitos que tomam sentido num sobre os objetos de conhecimento.
campo de problemas. Um conceito matemático se constrói articu-
lado com outros conceitos, por meio de uma série de retificações e O Recurso às Tecnologias da Informação
generalizações; As técnicas, em suas diferentes formas e usos, constituem um
• a resolução de problemas não é uma atividade para ser de- dos principais agentes de transformação da sociedade, pelas impli-
senvolvida em paralelo ou como aplicação da aprendizagem, mas cações que exercem no cotidiano das pessoas.
uma orientação para a aprendizagem, pois proporciona o contex-
to em que se pode apreender conceitos, procedimentos e atitudes
matemáticas.
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Estudiosos do tema mostram que escrita, leitura, visão, audi- No jogo, mediante a articulação entre o conhecido e o imagina-
ção, criação e aprendizagem são capturados por uma informática do, desenvolve-se o autoconhecimento — até onde se pode chegar
cada vez mais avançada. Nesse cenário, insere-se mais um desafio — e o conhecimento dos outros — o que se pode esperar e em que
para a escola, ou seja, o de como incorporar ao seu trabalho, apoia- circunstâncias.
do na oralidade e na escrita, novas formas de comunicar e conhecer. Para crianças pequenas, os jogos são as ações que elas repetem
Por outro lado, também é fato que o acesso a calculadoras, sistematicamente mas que possuem um sentido funcional (jogos de
computadores e outros elementos tecnológicos já é uma realidade exercício), isto é, são fonte de significados e, portanto, possibilitam
para parte significativa da população. compreensão, geram satisfação, formam hábitos que se estruturam
Estudos e experiências evidenciam que a calculadora é um ins- num sistema. Essa repetição funcional também deve estar presente
trumento que pode contribuir para a melhoria do ensino da Ma- na atividade escolar, pois é importante no sentido de ajudar a crian-
temática. A justificativa para essa visão é o fato de que ela pode ça a perceber regularidades.
ser usada como um instrumento motivador na realização de tarefas Por meio dos jogos as crianças não apenas vivenciam situações
exploratórias e de investigação. que se repetem, mas aprendem a lidar com símbolos e a pensar por
Além disso, ela abre novas possibilidades educativas, como a analogia (jogos simbólicos): os significados das coisas passam a ser
de levar o aluno a perceber a importância do uso dos meios tec- imaginados por elas. Ao criarem essas analogias, tornam-se produ-
nológicos disponíveis na sociedade contemporânea. A calculadora toras de linguagens, criadoras de convenções, capacitando-se para
é também um recurso para verificação de resultados, correção de se submeterem a regras e dar explicações.
erros, podendo ser um valioso instrumento de auto avaliação. Além disso, passam a compreender e a utilizar convenções e
Como exemplo de uma situação exploratória e de investigação regras que serão empregadas no processo de ensino e aprendiza-
que se tornaria imprópria sem o uso de calculadora, poder-se-ia gem. Essa compreensão favorece sua integração num mundo social
imaginar um aluno sendo desafiado a descobrir e a interpretar os bastante complexo e proporciona as primeiras aproximações com
resultados que obtém quando divide um número sucessivamen- futuras teorizações.
te por dois (se começar pelo 1, obterá 0,5; 0,25; 0,125; 0,0625; Em estágio mais avançado, as crianças aprendem a lidar com
0,03125; 0,015625). Usando a calculadora, terá muito mais condi- situações mais complexas (jogos com regras) e passam a compreen-
ções de prestar atenção no que está acontecendo com os resulta- der que as regras podem ser combinações arbitrárias que os joga-
dos e de construir o significado desses números. dores definem; percebem também que só podem jogar em função
O fato de, neste final de século, estar emergindo um conheci- da jogada do outro (ou da jogada anterior, se o jogo for solitário). Os
mento por simulação, típico da cultura informática, faz com que o jogos com regras têm um aspecto importante, pois neles o fazer e o
computador seja também visto como um recurso didático cada dia compreender constituem faces de uma mesma moeda.
mais indispensável. A participação em jogos de grupo também representa uma
Ele é apontado como um instrumento que traz versáteis pos- conquista cognitiva, emocional, moral e social para a criança e um
sibilidades ao processo de ensino e aprendizagem de Matemática, estímulo para o desenvolvimento do seu raciocínio lógico.
seja pela sua destacada presença na sociedade moderna, seja pelas Finalmente, um aspecto relevante nos jogos é o desafio genuí-
possibilidades de sua aplicação nesse processo. no que eles provocam no aluno, que gera interesse e prazer. Por
Tudo indica que seu caráter lógico-matemático pode ser um isso, é importante que os jogos façam parte da cultura escolar, ca-
grande aliado do desenvolvimento cognitivo dos alunos, principal- bendo ao professor analisar e avaliar a potencialidade educativa dos
mente na medida em que ele permite um trabalho que obedece a diferentes jogos e o aspecto curricular que se deseja desenvolver.
distintos ritmos de aprendizagem.
Embora os computadores ainda não estejam amplamente dis- Fonte
poníveis para a maioria das escolas, eles já começam a integrar mui- SANTOS, M. C. dos; LIMA, P. F. Considerações sobre a Matemática no
tas experiências educacionais, prevendo-se sua utilização em maior Ensino Fundamental. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.
escala em curto prazo. Isso traz como necessidade a incorporação php?option=com_docman&task=doc_download&gid=7166&Itemid=
de estudos nessa área, tanto na formação inicial como na formação PCN – Matemática
continuada do professor do ensino fundamental, seja para poder
usar amplamente suas possibilidades ou para conhecer e analisar Conhecimentos básicos de matemática indispensáveis a um
softwares educacionais. professor
Quanto aos softwares educacionais é fundamental que o pro- Dentre outros Conhecimentos Básicos já estudados neste
fessor aprenda a escolhê-los em função dos objetivos que pretende material, segue os conteúdos abaixo para complementar seus
atingir e de sua própria concepção de conhecimento e de aprendi- estudos.
zagem, distinguindo os que se prestam mais a um trabalho dirigido
para testar conhecimentos dos que procuram levar o aluno a intera- Alfabetização matemática ou letramento em matemática?
gir com o programa de forma a construir conhecimento. Assim como na língua materna, a aprendizagem de noções bá-
O computador pode ser usado como elemento de apoio para sicas de diferentes áreas do conhecimento constitui-se como condi-
o ensino (banco de dados, elementos visuais), mas também como ção essencial para a construção de uma cidadania crítica, por meio
fonte de aprendizagem e como ferramenta para o desenvolvimento da qual os sujeitos não apenas se integrem passivamente à socieda-
de habilidades. O trabalho com o computador pode ensinar o aluno de, mas tenham condições e instrumentos simbólicos para intervir
a aprender com seus erros e a aprender junto com seus colegas, ativamente na busca da transformação dessa realidade social.
trocando suas produções e comparando-as. A escrita traz consigo uma história atrelada às necessidades do
homem em comunicar de modo eficaz suas descobertas, nos mais
O Recurso aos Jogos diversos campos do conhecimento, para atender variados interes-
Além de ser um objeto sociocultural em que a Matemática está ses sociais. Na sua evolução, civilizações tais como a dos babilônios,
presente, o jogo é uma atividade natural no desenvolvimento dos egípcios, fenícios, gregos e romanos se destacaram, tanto para a
processos psicológicos básicos; supõe um “fazer sem obrigação ex-
terna e imposta”, embora demande exigências, normas e controle.
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
evolução da escrita que comunica descobertas no amplo sentido, Na dimensão histórico-cultural do conhecimento os conceitos
como na escrita que se refere à linguagem matemática especifica- trazem em si encarnados processos de significação gestados nas re-
mente. lações humanas historicamente estabelecidas entre os sujeitos que,
No caso do ensino da Matemática, a aprendizagem dos núme- segundo Moura (2013a), “participaram de sua criação ao resolve-
ros e suas operações; de instrumentos para a leitura e análise de rem um problema que requereu partilhar ações em que a lingua-
dados em listas, gráficos e tabelas; de estratégias de medição de gem foi necessária.”. A escola é o espaço privilegiado no qual, de
grandezas, uso de unidades de medidas e produção de estimativas; modo intencional, os conteúdos constituem-se como “objetos de
de noções geométricas básicas, constituem, de forma geral, o foco uma atividade que tem como finalidade fazer com que os sujeitos
do trabalho pedagógico esperado para as primeiras séries do Ensino que dela participam se apropriem tanto desses objetos como do
Fundamental (Brasil, 1997; 2012). modo de lidar com eles” (p. 88-89).
No entanto, embora muitos dos conceitos que fundamentam Embora os termos “numeramento”, “alfabetização matemáti-
tais aprendizagens se manifestem no uso cotidiano dos números, ca” e “letramento matemático” apareçam em diferentes publica-
de medidas ou mesmo no trato de formas geométricas, isso não ções e documentos, seu uso e o sentido que lhes é atribuído não
significa, necessariamente, a aprendizagem dos conceitos. Não é é consenso. Concordamos com Moura (2013, p. 131-132) quan-
pelo fato de uma criança utilizar estratégias de contagem em deter- do afirma que, para além dos termos utilizados na aprendizagem
minada prática social (na feira, por exemplo) que ela se apropriou matemática, é fundamental a compreensão acerca dos processos
teoricamente do número ou tenha consciência da estrutura do sis- humanos de significação dos conhecimentos matemáticos básicos,
tema de numeração decimal. Mas, se ela “usa” o número, isso não é seus signos e o que representam, de modo a garantir “a apren-
suficiente? Qual é o problema? O problema é que o uso não garan- dizagem de um modo geral de lidar com os símbolos de forma a
te a apropriação do conceito e, sem ele, é impossível avançar com permitir o permanente acesso a outros conhecimentos nos quais a
consistência na aprendizagem. No exemplo, a criança que apenas matemática se faz presente”.
“usa” o número provavelmente terá dificuldades para compreender
o sentido das operações aritméticas e sua generalização algébrica. Educação matemática, apropriação de conceitos e desenvolvi-
Por outro lado, nas práticas sociais os conceitos podem ser mento do pensamento teórico
apropriados de forma socialmente significada, além de favorecerem O entendimento de que a apropriação de conceitos matemá-
que o sujeito possa externar e materializar a sua aprendizagem. A ticos pode se dar de forma mais efetiva, de forma significada, em
discussão sobre a relevância das práticas sociais na aprendizagem sua relação com as práticas sociais não significa que o uso de no-
tem se refletido nas pesquisas sobre a alfabetização e o letramento, ções matemáticas diluídas nas práticas sociais seja suficiente para a
ao indicarem inicialmente a alfabetização com o processo de aqui- aprendizagem dos conceitos matemáticos. Tais distorções esvaziam
sição do código da escrita e o letramento como o uso da escrita em o papel social da escola de socialização dos conhecimentos huma-
práticas e situações sociais (Kleiman, 1995). nos historicamente produzidos e considerados relevantes de serem
No entanto, segundo Soares (2004, p. 14), não se trata de optar aprendidos pelas novas gerações. Segundo Moura (2013),
por um ou outro caminho, mas de compreender a interdependên- As visões culturalistas podem levar à falsa ideia de que as crian-
cia desses processos, uma vez que ças estão impregnadas pela visão dos números no seu meio e que
[...] a alfabetização desenvolve-se no contexto de e por meio de já têm o motivo necessário para buscar compreendê-los. Não, isto
práticas sociais de leitura e de escrita, isto é, através de atividades não corresponde à verdade. Apropriar-se de um conceito, como é
de letramento, e este, por sua vez, só se pode desenvolver no con- para todo o processo de apropriação de significado, deve ser resul-
texto da e por meio da aprendizagem das relações fonemagrafema, tado de uma atividade do sujeito, motivado, que se apropria das
isto é, em dependência da alfabetização. significações a partir de suas potencialidades e de um motivo pes-
soal (Moura, 2013, p. 134).
De forma semelhante, alguns pesquisadores da área da edu- A distinção entre a utilização de conceitos em situações coti-
cação matemática têm proposto o uso das expressões “alfabetiza- dianas e a apropriação conceitual voltada para generalização tem
ção matemática” e “letramento matemático” (ou numeramento), como fundamento a distinção proposta por Vigotski (2009) entre
associando a primeira à “aquisição da linguagem matemática for- conceitos cotidianos (ou espontâneos) e conceitos científicos. Sfor-
mal e de registro escrito” (Fonseca, 2007), e a segunda expressão ni (2006) destaca que uma das principais distinções entre ambos
a processos de uso de conceitos matemáticos em práticas sociais. se refere à tomada de consciência pelo sujeito, uma vez que, no
Há ainda, segundo a autora, uma vertente da educação matemática processo de apropriação de conceitos cotidianos, a consciência
que relaciona o numeramento a uma noção mais ampla de letra- está focada no contexto de utilização; por sua vez, no caso da apro-
mento, a qual incluiria tanto as práticas sociais quanto as condições priação de conceitos científicos, é necessária a consciência voltada
do sujeito para se inserir e atender às demandas dessas práticas intencionalmente para o conceito. Nas palavras de Vigotski (2009,
permeadas pela linguagem escrita. p. 243), temos que “no campo dos conceitos científicos ocorrem ní-
Compreendida a noção de letramento dessa forma mais abran- veis mais elevados de tomada de consciência do que nos conceitos
gente, também a noção de numeramento assumiria outra dimen- espontâneos”.
são. Assim, segundo Fonseca (2007), “não se trataria, portanto, de [...] apesar de na sua origem histórica a matemática apresentar
um fenômeno de letramento matemático, paralelo ao do letramen- vínculos diretos com as necessidades práticas, mais tarde evoluiu
to, mas de numeramento como uma das dimensões do letramento” sobre proposições abstratas que, com ajuda da lógica formal, culmi-
(grifos do autor). naram em sistemas dedutivos, como ocorre, por exemplo, com os
Segundo Mendes (2005), compreender o numeramento como conceitos geométricos euclidianos que, segundo Sánchez Vázquez
uma dimensão do letramento implica rever a própria visão de escri- (2007), “têm sua origem nos objetos reais sobre os quais se exercia
ta, ampliando-a de modo que envolva também outros códigos de sua atividade prática, objetos cujas propriedades reais foram sub-
representação para além do alfabético, por exemplo, o numérico e metidas a um processo de generalização e abstração” (p. 246).
o simbólico. Podemos verificar essa diferenciação entre a apropriação de
conceitos cotidianos e de conceitos científicos analisando uma si-
tuação bastante comum no ensino de medidas e grandezas nas sé-
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ries iniciais que é o seu uso em receitas culinárias. Em geral, é pro- A educação escolar diferencia-se de outras instâncias educati-
posto às crianças o uso de diferentes unidades de medida (colher, vas pela intencionalidade de ensinar conceitos científicos e favore-
xícara, copo etc.). O fato de a criança utilizar essas medidas possui cer o desenvolvimento do pensamento teórico dos estudantes; ou
o mérito de favorecer uma aproximação com diferentes unidades seja, é o pensamento que se utiliza dos próprios conceitos, e não de
de medida não padronizadas, porém não permite a apropriação do situações particulares que os representem (Davídov, 1982).
conceito de medida. Se a proposta se reduz a esse uso, sendo o Pensando desse modo, os processos de apropriação dos con-
preparo da receita o foco da ação da criança, podemos dizer que ceitos matemáticos básicos relacionam-se com processos mais ge-
sua abordagem é o conceito cotidiano. rais de letramento, quando se considera um indivíduo letrado como
Por outro lado, se, tomando como situação desencadeadora a aquele que aprende não somente determinadas técnicas para ler,
receita, os professores estabelecerem mediações com o objetivo de escrever e contar, mas sim a usá-las de forma consciente em di-
tornar explícito para as crianças o conceito de medição (a diferen- ferentes contextos e práticas sociais. Isso porque apenas a apro-
ciação entre grandezas discretas e contínuas, a necessidade da cria- priação conceitual que compreende as relações internas e externas
ção de unidade, a comparação entre a unidade e a grandeza a ser do próprio conceito permite ao sujeito tal autonomia em seu uso.
medida, a quantificação dessa comparação ), então esse processo De acordo com Leontiev (1983, p. 193), para se apropriar de um
pode tornar-se consciente para a criança e possibilitar a apropria- conceito,
ção do conceito científico de modo que esse “possa ser conscien- [...] não basta memorizar as palavras, não basta compreender
tizado pelos alunos na condição de um instrumento de generaliza- inclusive as ideias e os sentimentos nelas contidos, é necessário
ção” (Sforni, 2006, p. 6). ademais que essas ideias e sentimentos se tornem determinantes
A apropriação de conceitos científicos dá-se dessa forma, por internos da personalidade.
meio de uma atividade humana consciente, na qual as ações rea-
lizadas pelo sujeito são repletas de sentido, de modo que “a inte- A relação entre a matemática e as necessidades práticas é por
riorização não é resultado mecânico da atividade externa em de- vezes mais direta. É indiscutível a contribuição dos grandes desco-
trimento de seus componentes psíquicos internos” (Martins, 2007, brimentos marítimos da Idade Moderna no desenvolvimento da
p.70). Portanto, em qualquer idade, ou fase, ou etapa do processo trigonometria. Segundo Sánchez Vázquez (2007), “[...] o cálculo
de aprendizagem do homem, estar em atividade é condição para a probabilístico converteu-se [...], em uma necessidade na medida
aprendizagem, o que vem a ocorrer se o aprendiz for movido por em que se estendia o comércio exterior inglês em relação com o
alguma necessidade e por motivos que o levem a se aproximar do crescimento do poderio colonial da Inglaterra, o que elevava as per-
conhecimento que os professores pretendem ensinar (Leontiev, das e riscos comerciais” (p. 247). Contudo, tem-se que considerar
1983). a autonomia da teoria “para constituir-se em relação direta, seja
como prolongamento ou negação dela, com uma teoria já existen-
Uma vez que a aprendizagem dos conceitos científicos não se te” (p. 247). Deve-se então destacar a importância de se considerar
dá de maneira espontânea, cabe à escola organizar situações de en- que em seu desenvolvimento a Matemática se estrutura para aten-
sino que coloquem as crianças diante de situações cuja resolução der exigências teóricas de outras ciências e necessidades da própria
necessite do conceito que se deseja ensinar e, ao mesmo tempo, técnica.
de forma mediada pelos professores, possibilitem a superação da Do ponto de vista das tarefas atribuídas aos professores, orga-
superficialidade do contexto e a exploração de características es- nizar o ensino para o desenvolvimento dos conceitos científicos nas
senciais dos conceitos, em direção à abstração. crianças é um importante compromisso de sua prática pedagógica,
De forma geral, podemos dizer que educar pressupõe uma o que demanda a organização intencional das ações. Assim sendo,
mediação entre a cultura e os educandos, de tal modo que, nesse o processo de ensino pode ser considerado como a passagem da
processo, o sujeito interioriza, transforma e garante a continuidade atividade espontânea da criança para “a atividade organizada e diri-
desta cultura. Nos ambientes escolares, elementos da cultura tor- gida para o objetivo” (Talizina, 2009). Uma vez que a aprendizagem
nam-se objeto de ensino ao serem intencionalmente selecionados ocorre em atividade, o desafio da organização do ensino é planejar
e socialmente validados como conteúdos escolares (Moura, 1996a). situações educativas que sejam desafiadoras e lúdicas e, ao mesmo
Em um sentido histórico-cultural, o conhecimento matemático tempo, coloquem para as crianças a necessidade do conceito que
que se torna objeto de ensino traz em si, nos elementos que o cons- se quer ensinar. Assim, se o objetivo é ensinar as primeiras noções
tituem, a história de sua produção e de seu desenvolvimento e suas de fração, a criança precisa se deparar com a necessidade de repre-
formas de organização. Segundo Leontiev (1978), tais elementos sentar partes de um todo contínuo; por exemplo, em situações de
estão impregnados nos objetos porque são produtos de transfor- medição, o que se relaciona com a necessidade histórica que levou
mações realizadas pelos seres humanos ao longo de um processo à criação dessa representação de partes pelos egípcios.
histórico de produção material e intelectual que foi culturalmente A resolução dessas situações deve dar-se sempre de modo
estruturado, constituindo a sua significação ou significado social. mediado e compartilhado entre as crianças. Os professores devem
No ensino da Matemática, o conhecimento sobre a história da explorar também a relação entre os conceitos e seus usos sociais,
produção do conceito (as necessidades que o motivaram, as solu- além do interesse e a curiosidade da criança no compartilhamento
ções encontradas para responder a essa necessidade, suas contra- de experiências, interpretações e descobertas sobre as característi-
dições e seus impasses) permite que os professores proponham cas essenciais dos fenômenos inerentes aos conteúdos a serem es-
situações de ensino que coloquem para as crianças necessidades tudados. A mediação dos docentes durante todo o processo de re-
análogas, o que não significa reproduzir o seu contexto histórico de solução é condição fundamental para explicitar o conceito presente
produção. As mediações feitas pelos educadores no sentido da ex- no contexto explorado, superando a atividade apenas empírica e
plicitação do conceito matemático para a criança precisam conside- favorecendo o desenvolvimento do pensamento teórico.
rar que cada conhecimento “tem uma história, um desenvolvimen-
to que se fez dentro de certas lógicas [...] o modo de se conhecer O jogo no ensino e a atividade principal da criança
certos conteúdos é quase que perseguir o modo de construí-los” No decorrer da vida, diferentes atividades têm a possibilidade
(Moura, 2001, p. 159). de potencializar a aprendizagem. Isso porque se relacionam com os
interesses e motivos de os sujeitos realizarem-nas. Para Leontiev
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
(1988), elas são denominadas “atividades principais”, não porque Relacionando a atividade lúdica com a aprendizagem, temos
ocorram com maior frequência ou porque sejam predominantes no que “as maiores aquisições de uma criança são conseguidas no
tempo que o sujeito lhe dedica, mas porque são aquelas nas quais brinquedo, aquisições que no futuro tornar-se-ão seu nível básico
ocorre mais intensamente a apropriação uma vez que se consti- de ação real e moralidade” (Vigotski, 1991, p. 131).
tuem como a principal forma de relacionamento do sujeito com a No desenvolvimento de jogos com regras, a atividade lúdica
realidade (Facci, 2004, p. 66). subordina-se a certas condições atreladas à realização de certo
Assim, a atividade principal não se trata daquela frequente- objetivo. A partir dos jogos com regras ocorre, segundo Leontiev
mente encontrada em certo nível de desenvolvimento, mas, segun- (1988), um momento essencial para o desenvolvimento da psique
do Leontiev (1988, p. 122), é aquela da criança, quando ela introduz em sua atividade um elemento mo-
[...] em conexão com a qual ocorrem as mais importantes mu- ral manifesto pela obediência à regra. Para o autor, a relevância des-
danças do desenvolvimento psíquico da criança e dentro da qual se acontecimento está no fato de que este elemento moral surge
se desenvolvem processos psíquicos que preparam o caminho da da própria atividade da criança e não sob a forma de “uma máxima
transição da criança para um novo e mais elevado nível de desen- moral abstrata que ela tenha ouvido” (p. 139).
volvimento.
Compreendida dessa forma, a atividade principal da criança Assim, o jogo ou a brincadeira pode constituir-se como impor-
“pré-escolar” é a atividade lúdica, o jogo ou a brincadeira (Leontiev, tante recurso metodológico nos processos de ensino e de apren-
1988). No entendimento de Vigotski (1991), a relação brinquedo- dizagem, se considerado de forma intencional e em relação com o
-desenvolvimento pode, em muitos sentidos, ser comparada com a conceito que se pretende ensinar. No caso da Matemática, é pos-
relação instrução-desenvolvimento. Uma de suas principais carac- sível planejar situações nas quais, por meio da brincadeira desen-
terísticas é que, em ambos os contextos, as crianças elaboram e de- cadeada por jogos ou por histórias, as crianças se deparem com as
senvolvem habilidades e conhecimentos socialmente disponíveis, necessidades de contar, registrar contagens, socializar esses regis-
os quais internalizará. tros, organizar dados. Por meio dos jogos e na ação compartilhada
Para Leontiev (1988), isso se dá pelo fato de que o mundo obje- entre as crianças sob a mediação dos professores, tais necessidades
tivo do qual a criança é consciente está continuamente se expandin- passam a ser necessidades para as crianças em atividade lúdica, ex-
do, pois, além dos objetos que constituem seu ambiente próximo plorando a imaginação e a criatividade. A atividade lúdica pode ser
(com os quais ela vinha até então operando em suas atividades), explorada no ensino da Matemática por favorecer aprendizagens
esse mundo inclui também os objetos com os quais os adultos ope- de “estruturas matemáticas, muitas vezes de difícil assimilação”,
ram, mas a criança não consegue operar, por estarem ainda além de desenvolvendo “sua capacidade de pensar, refletir, analisar, com-
sua capacidade física. O domínio desses objetos desafia a criança, preender conceitos matemáticos, levantar hipóteses, testá-las e
que, pelas ações com eles realizadas, expande o domínio do seu avaliá-las” (Grando, 2008, p. 26).
mundo. No brincar, ela amplia sua possiblidade real de realizar ati- Algumas ações desenvolvidas pelas crianças ao jogar podem
vidades como cozinhar, dirigir um carro, ser professor ou mecânico, ser comparadas com as ações adequadas ao processo de resolu-
por exemplo. Assim, podemos entender que as “brincadeiras das ção de problemas. Além disso, é possível estabelecermos parale-
crianças não são instintivas e o que determina seu conteúdo é a los entre as etapas do jogo e as etapas da resolução de problemas
percepção que a criança tem do mundo dos objetos humanos” (Fac- (Moura, 1991; 1996; Grando, 2008). Em ambos, parte-se de uma
ci, 2004, p. 69). situação desencadeadora (jogo ou problema), há uma exploração
Da discrepância entre o motivo da criança e a sua ação, nasce a inicial do conceito presente na situação, levantamento de hipóteses
situação imaginária. Porém, a ação no brinquedo não é imaginária. ou estratégias, verificação de hipótese ou testagem de estratégias,
Ao contrário, há uma ação real, uma operação real e imagens reais avaliação, reelaboração na direção de atingir o objetivo (vencer o
de objetos reais enquanto que a criança cria uma situação imaginá- jogo ou resolver o problema).
ria para o desenvolvimento da ação. Assim é que, por exemplo, um Para exemplificar essa possibilidade de articulação entre jogo
pedaço de madeira assume a função de uma colher ou uma argola e resolução de problema, Moura (1991, p. 52) apresenta uma pro-
assume a função do volante de um carro. Para Vigotski (1991), a posta de organização do ensino para favorecer a aprendizagem do
ação em uma situação imaginária ensina a criança a dirigir seu com- signo numérico:
portamento não somente pela percepção imediata dos objetos ou Algumas formas de levar as crianças à compreensão do signo
pela situação que a afeta de imediato, mas também pelo significado numérico podem ser, por exemplo, contando-lhes uma história,
dessa situação, em que as ações surgem das ideias e não das coisas. fazendo-as viver uma situação na qual seja necessário o controle
Ao brincar, a criança passa a entender o que na vida real passou de quantidades ou ainda sugerindo-lhes um jogo em que se deve
despercebido, experimentando e transformando as regras de com- marcar a quantidade de pontos a ser comunicada à classe vizinha
portamento às situações imaginárias criadas na ação de brincar. através de um símbolo criado pelos jogadores. Isto deve ser feito
Ao brincar ou jogar, a criança potencializa sua possibilidade de de forma que vá ficando claro o sentido da representação, o caráter
aprender e de se apropriar de novos conhecimentos. Isso se dá por- histórico-social do signo e como se pode melhorar os processos de
que, segundo Vigotski (1991), ao brincar, a criança se coloca um comunicações humanas.
nível acima da sua atual situação de aprendizagem, do que realiza
fora do jogo. Assim, o jogo cria uma “zona de desenvolvimento pró-
ximo”, permitindo que a criança atue acima de seu “nível de desen-
volvimento real”.
Segundo Vigotski (1991), o nível de desenvolvimento real é
determinado pela capacidade de solucionar problemas de modo
independente, e o nível de desenvolvimento potencial é determi-
nado pela capacidade de solucionar problemas com a orientação,
ou ajuda de adultos e, ainda, com a colaboração de parceiros mais
capazes.
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Esse autor defende ainda que, nos anos iniciais, é possível ex- alunos, que podem desenvolver formas de registros e estratégias
plorar mais intensamente a perspectiva da resolução de problemas próprias. Estes são validados para, somente depois, serem discuti-
como um jogo para a criança uma vez que o que os aproxima é o dos e sistematizados, com o auxílio do professor. Ao docente cabe,
lúdico. Ele propõe que situações-problema possam ser trabalhadas por fim, ajudar o aluno a aproximar o conhecimento gerado por ele
pedagogicamente com a estrutura do jogo, em situações coletivas do que é estabelecido na Matemática.
e por meio de um “problema em movimento”, como exposto na
proposta apresentada pelo autor. A concretização de algumas linhas metodológicas
Há obras didáticas de Matemática que adotam, de forma mais
Fonte consistente, uma ou outra das duas metodologias esboçadas. O
MORETTI Vanessa Dias, Neusa Maria Marques de Souza. Educação mais frequente, no entanto, são as que optam por mesclar esses
matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental: princípios e dois modelos. Forma-se, assim, uma gama complexa de metodolo-
práticas pedagógicas. Editora Cortez. 2015 gias que caminham para a resolução de problemas, mas ainda car-
regam muitos aspectos do “ensino tradicional”.
A METODOLOGIA DE ENSINO E APRENDIZAGEM NOS LIVROS Em geral, é comum o uso da condução do trabalho por meio
DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA de sequências de atividades propostas ao aluno, em que há uma
variação no modo como o conteúdo é sistematizado ou apresen-
Verônica Gitirana tado. No entanto, a existência dessas sequências de atividades não
João Bosco Pitombeira de Carvalho caracteriza uma genuína metodologia de resolução de problemas.
Algumas vezes, em um processo bem próximo a uma metodo-
Neste capítulo, são discutidas várias metodologias de ensino e logia “tradicional”, a introdução de ideias ou procedimentos é fei-
aprendizagem, identificadas na análise dos livros didáticos de Ma- ta com o uso de vários gêneros textuais, como quadrinhos, textos
temática destinados aos cinco primeiros anos do Ensino Fundamen- explicativos, protocolos de alunos. Alguns são bastante atraentes,
tal. Nosso objetivo é refletir sobre como a escolha de uma deter- mas seguidos das “tradicionais” sequências de atividades em que
minada proposta metodológica traz consequências para o trabalho os conhecimentos introduzidos são aplicados.
docente em sala de aula. Há diversas outras variações em torno dessa proposta meto-
A elaboração de uma obra didática envolve concepções sobre dológica. Uma delas insere textos entre as atividades, ou mesmo
educação e a respeito da Matemática e sua aprendizagem. São es- no próprio enunciado delas, os quais apresentam, pouco a pouco,
sas concepções que também devem orientar a escolha de uma obra os conteúdos relevantes, antes de serem aplicados. Nesses casos,
didática e a condução do trabalho docente por linhas metodológi- a ênfase está na aprendizagem por aplicação do conhecimento
cas próprias, visto que a maioria dessas obras não usa metodologias transmitido, em que se busca dirigir o aluno bem rapidamente a
bem definidas. Ao contrário, elas podem empregar uma diversidade uma conclusão. A Matemática aí é vista como uma ciência estan-
delas, como a chamada metodologia de “ensino tradicional”, a de que, acabada, sendo que a aprendizagem do aluno se dará por re-
resolução de problemas, ou a de modelagem matemática, entre petição; ou seja, quanto mais ele repetir os procedimentos mais e
outras. melhor aprenderá.
Entre as várias metodologias propostas, destacam-se as do Dessa forma, o aluno é, muitas vezes, levado a acreditar que
“ensino tradicional” e a metodologia de resolução de problemas, não é capaz de construir um raciocínio matemático sem repetir pro-
por serem contraditórias em quase todos os aspectos. Porém, não cedimentos convencionais. Também pode pensar que só é válido o
se pretende aqui aprofundar o debate a respeito desta polaridade, tipo de Matemática que se encontra no livro, ou que é exposto pelo
mas apenas tentar descrever as duas linhas metodológicas, mesmo professor. E isso termina por tolher a sua coragem de pensar livre-
que resumidamente. Salientamos que, nos próprios livros didáticos mente. Professor, em casos assim, é importante, que você procure
analisados, não há uma distinção clara entre elas. Além disso, temos complementar as atividades de maneira que seu aluno possa explo-
observado que os professores de Matemática têm incorporado, às rar as ideias matemáticas antes de ter os procedimentos conven-
suas concepções sobre o ensino e a aprendizagem de Matemáti- cionais e os conceitos matemáticos formalizados. Essas atividades
ca, metodologias que vão da “tradicional” à de resolução de pro- precisam ser valorizadas, permitindo que os alunos, ao resolvê-las,
blemas, passando por diversos estágios intermediários. Notamos, cheguem às ideias matemáticas, desenvolvam estratégias próprias
ainda, que em sua prática de sala de aula, muitas vezes, o professor e participem da construção do seu próprio conhecimento. Para isso,
mobiliza alternadamente essas várias metodologias. antes de chegar aos procedimentos e enunciados formalizados, o
A metodologia de “ensino tradicional” caracteriza-se pela aluno precisa mobilizar estratégias e representações próprias, que
transmissão de conteúdos matemáticos por meio da apresentação o auxiliem a pensar e a estruturar o seu raciocínio. São elas que
de conceitos, procedimentos e propriedades, seguida de atividades servem, além disso, de suporte para a aquisição das estratégias e
nas quais o aluno deve aplicar o conhecimento que foi exposto. representações convencionais que são indispensáveis para a comu-
Muitas vezes, essa transmissão de conteúdos é feita com apoio de nicação matemática.
exercícios resolvidos. Segundo a concepção de aprendizagem que
está por trás dessa metodologia, é por meio do treinamento de pro- Vários estudos e pesquisas constatam que, por não haver va-
cedimentos e da repetição de noções que o aluno irá interiorizar o lorização das estratégias próprias, muitos alunos apagam as suas
conhecimento matemático. Nesse caso, porém, não há espaço para contas e procedimentos, deixando para o professor apenas a res-
a autonomia do aluno, para que ele desenvolva estratégias próprias posta final.
e possa criar e aplicar procedimentos diferentes daqueles já expla- Por outro lado, na metodologia de resolução de problemas
nados. cabe ao docente, com o auxílio do livro didático, inclusive do ma-
Uma escolha metodológica bem distinta é a que se pauta, nual do professor: planejar as atividades que propiciem as situações
essencialmente, na participação do aluno nas resoluções de pro- adequadas para que os conhecimentos matemáticos “aflorem” do
blemas, os quais devem ser planejados e organizados de forma a ato de resolver problemas; mediar o trabalho dos alunos; e, por
favorecer que os conhecimentos visados “aflorem”. Nesse caso, os fim, auxiliá-los na aproximação entre o conhecimento construído e
conhecimentos resultam da construção coletiva ou individual dos o conhecimento formal matemático (a sistematização).
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Algumas obras didáticas incluem essas sistematizações nas se- • Marcam pontos as duplas que encontrarem o tesouro em um
quências de atividades, às vezes em seções destacadas, indicadas tempo determinado pelo professor.
por ícones, e há aquelas que só apresentam as orientações sobre • Em seguida, o professor reserva um pequeno tempo para
como o docente pode fazer as sistematizações no manual do pro- que, nas duplas, os alunos discutam suas representações.
fessor. Também há coleções que trazem apenas sequências de ati- • Os pontos são computados e inicia-se uma segunda rodada;
vidades, sem uma proposta de sistematização. Nestes casos, cabe a o segundo aluno da dupla tem de esconder o tesouro novamente.
você, professor, decidir quando e como os conteúdos matemáticos Ao final, ganha o jogo a dupla que fizer mais pontos.
precisarão ser sintetizados. Em geral, a leitura do manual do profes- Neste jogo, as crianças trabalham a representação do espaço
sor é um bom apoio nesse sentido. no plano. Ao trocarem as plantas, a necessidade de um colega co-
No processo de sistematização, lembre-se de que o nível em municar ao outro onde está o tesouro escondido, auxilia a criança
que essa sistematização deve ser feita dependerá, basicamente, do que desenhou a validar a sua representação ou, revê-la, caso seja
desenvolvimento do aluno. Por exemplo: se uma criança não conse- necessário. E vice-versa. Ao final do jogo, ou em aulas seguintes,
gue perceber que o total de bombons que estão em dois saquinhos, é importante buscar sistematizar as evoluções dos desenhos das
um com 4 bombons e outro com 3, pode ser obtido a partir da con- crianças, discutindo, por exemplo, a lateralidade da posição dos
tagem de bombons do primeiro saquinho somado com a quantida- objetos, os pontos de referências utilizados, a proporcionalidade,
de obtida por contagem no outro, mas precisa juntar os conteúdos dentre outros aspectos, que dependem do desenvolvimento dos
dos dois saquinhos e contá-los, ela não entenderá a adição 4 + 3 alunos.
como forma e processo sistematizado para a solução de problemas
de composição de duas quantidades discretas. Para esta criança, a
solução ainda é juntar os objetos e contá-los.
Caça ao Tesouro
Jogadores: duplas de alunos. Assim como os jogos, várias outras atividades propiciam que o
aluno desenvolva a atitude de buscar validar suas construções, um
Material: papel e lápis; um objeto por dupla Regras: conteúdo atitudinal importante para o desenvolvimento do conhe-
• O professor determina um ambiente da escola no qual os cimento matemático. Muitas vezes, a validação é feita pelo profes-
tesouros serão escondidos. sor, por meio da correção. No entanto, diversas metodologias apre-
• Cada dupla escolhe um aluno que esconderá o tesouro. sentam esse aspecto como elemento inerente, ou que faz parte da
• O aluno escolhido esconde o tesouro sem que o colega realização da atividade, como no caso do jogo citado.
veja. Os materiais concretos são outro recurso didático muito uti-
• Após esconder o tesouro, faz uma planta-baixa do ambiente lizado no ensino da Matemática, graças ao suporte que fornecem
marcando um x no local em que o tesouro foi escondido. para a execução de procedimentos e operações matemáticos. Por
(Não é permitido escrever palavras na planta-baixa). exemplo, utiliza-se muito o material dourado para trabalhar com o
• A planta-baixa é, então, entregue ao colega da dupla que tem aluno a troca de dezenas por unidades ou de centenas por dezenas.
de usá-la para encontrar o tesouro. Esse uso o ajuda a perceber, mais facilmente, os agrupamentos e
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
as trocas próprios das operações com os números no sistema de número abaixo do traço ( ), aparecem com outras notações no
numeração decimal. O ábaco também é muito empregado para au- cotidiano. Esta mesma fração, em textos correntes, costuma
xiliar a criança a perceber, concretamente, os agrupamentos que se aparecer representada como ½, ou ser identificada pelos termos
realizam quando operamos com o sistema decimal de numeração. meio, metade. Aplicar o conhecimento matemático à vida
Cada vez mais, os livros didáticos vêm incorporando esses ma- cotidiana também exige que saibamos identificar essas diversas
teriais. Neles encontramos representados o ábaco, o material dou- notações como referentes a um mesmo elemento matemático.
rado, fichas, réguas de cuisinaire, cédulas e moedas, dobraduras, É nesse sentido que o uso de vários tipos de textos, o resgate do
dentre outros. Mas é preciso estar atento para assegurar a manipu- conhecimento cultural e dos conhecimentos prévios auxiliará o
lação desses materiais por parte da criança, mesmo que o livro não aluno a ampliar o seu conhecimento matemático.
dê orientações nesse sentido.
Fazer atividades apenas com desenhos do material concreto Aspectos gráfico-editoriais do material para manuseio
não substitui de forma alguma o seu manuseio. Ao contrário, mui- Em sua grande maioria, os livros didáticos oferecem moldes
tas vezes, essas atividades tornam-se desmotivadoras, como pode para recorte ou reprodução, como apoio ao professor na elabora-
acontecer ao solicitarmos ao aluno que desenhe placas de material ção dos materiais necessários ao desenvolvimento das atividades.
dourado, com 100 cubinhos cada uma, para somar. Alguns livros Ao utilizar esses recursos, é preciso levar em conta o aluno, em
utilizam o desenho dos materiais concretos, muitas vezes, apenas particular, o seu nível de desenvolvimento motor. Uma criança pe-
para orientar a sua utilização. Nesse caso, professor, o ideal é cuidar, quena tem dificuldade para recortar peças muito reduzidas, curvas
com antecedência, da preparação do material a ser trabalhado na ou cheias de detalhes. Assim, antes de solicitar que ela corte todo
sala, criando condições para que os alunos o manuseiem efetiva- o material, avalie sua capacidade motora. De posse dessas infor-
mente. Você será mais bem-sucedido se evitar o uso dos materiais mações, aproveite também para estimular o desenvolvimento das
desenhados. habilidades motoras de seus alunos.
Os materiais concretos foram concebidos para serem manipu- É bem complicado montar sólidos por meio de planificações
lados pelos alunos. Só assim eles propiciam o início da construção com papéis de espessura muito reduzida, como a de uma folha de
dos conceitos e procedimentos básicos da Matemática. papel ofício. Mesmo para adultos, a montagem de um cubo nessas
Entre os diversos materiais concretos utilizados no ensino e condições é tarefa árdua. Para facilitar esse trabalho, é possível colar
aprendizagem da matemática escolar, você pode e deve adaptar os moldes para recortes em cartolinas, por exemplo. Da mesma
aqueles que são propostos no livro didático, de forma a adequá-los maneira, os moldes das peças do tangram serão manipulados
aos alunos, respeitando os seus conhecimentos prévios e, principal- mais facilmente se forem colados sobre pedaços de papelão ou de
mente, valorizando sua cultura. isopor, todos provenientes da reciclagem de material. Isto facilitará
Os seus alunos, com certeza, usam o dinheiro desde muito à criança ter o material manipulável em condições de uso durante
cedo e conhecem o seu valor. Assim, a utilização de cédulas e moe- todo o ano.
das é uma excelente oportunidade para trabalhar grupamentos É importante que você, professor, procure reproduzir, em
e o uso de “números com vírgula”, os números decimais. Ao usar papel ou papelão, os moldes que de fato dão suporte ao trabalho
materiais concretos já conhecidos da criança, você pode aproveitar de manuseio. O emprego de materiais de reciclagem é sempre uma
conhecimentos socialmente construídos, e tornar os conteúdos ma- ótima opção. Por exemplo, é possível construir-se um ábaco com
temáticos mais próximos de seu cotidiano. O uso de nosso sistema palitos de churrasco, tampas de refrigerantes e uma caixa de pasta
monetário é uma ótima contextualização para estudar números e de dente como suporte.
operações.
Lembre-se: caso a sua escola não disponha de materiais con- Fonte
cretos caros, você mesmo, com seus alunos, pode construir muitos CARVALHO, João Bosco Pitombeira F. de. (coord.). Matemática: Ensino
deles, usando material de sucata. Não hesite. Envolva a turma na Fundamental. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação
construção e utilização desses materiais. Básica, 2010. (Coleção Explorando o Ensino; v. 17)
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Com relação às operações, o trabalho a ser realizado se con- Com relação à probabilidade, a principal finalidade é a de que
centrará na compreensão dos diferentes significados de cada uma o aluno compreenda que grande parte dos acontecimentos do co-
delas, nas relações existentes entre elas e no estudo reflexivo do tidiano são de natureza aleatória e é possível identificar prováveis
cálculo, contemplando diferentes tipos — exato e aproximado, resultados desses acontecimentos. As noções de acaso e incerteza,
mental e escrito. que se manifestam intuitivamente, podem ser exploradas na esco-
Embora nas séries iniciais já se possa desenvolver uma pré-ál- la, em situações nas quais o aluno realiza experimentos e observa
gebra, é especialmente nas séries finais do ensino fundamental que eventos (em espaços equiprováveis).
os trabalhos algébricos serão ampliados; trabalhando com situa-
ções-problema, o aluno reconhecerá diferentes funções da álgebra
(como modelizar, resolver problemas aritmeticamente insolúveis, JOGOS E BRINCADEIRAS
demonstrar), representando problemas por meio de equações
(identificando parâmetros, variáveis e relações e tomando conta- O lúdico é importante na educação infantil é através dele que
to com fórmulas, equações, variáveis e incógnitas) e conhecendo a a criança vem a desenvolver habilidades para a aprendizagem se
“sintaxe” (regras para resolução) de uma equação. efetivar.
A educação lúdica sempre esteve presente em todas as épocas
Espaço e Forma entre os povos e estudiosos, sendo de grande importância no de-
Os conceitos geométricos constituem parte importante do senvolvimento do ser humano na educação infantil e na sociedade.
currículo de Matemática no ensino fundamental, porque, por meio Os jogos e brinquedos sempre estiveram presentes no ser hu-
deles, o aluno desenvolve um tipo especial de pensamento que lhe mano desde a antiguidade, mas nos dias de hoje a visão sobre o lú-
permite compreender, descrever e representar, de forma organiza- dico é diferente. Implicam-se o seu uso e em diferentes estratégias
da, o mundo em que vive. em torno da pratica no cotidiano.
A Geometria é um campo fértil para se trabalhar com situa- Para que o lúdico contribua na construção do conhecimento
ções-problema e é um tema pelo qual os alunos costumam se in- faz-se necessário que o educador direcione toda a atividade estabe-
teressar naturalmente. O trabalho com noções geométricas contri- leça os objetivos fazendo com que a brincadeira tenha um caráter
bui para a aprendizagem de números e medidas, pois estimula a pedagógico e não uma mera brincadeira, promovendo assim, inte-
criança a observar, perceber semelhanças e diferenças, identificar ração social e o desenvolvimento de habilidades intelectivas.
regularidades e vice-versa.
Além disso, se esse trabalho for feito a partir da exploração dos Contexto Histórico da Ludicidade
objetos do mundo físico, de obras de arte, pinturas, desenhos, es- A história da humanidade a partir da Idade Média mostra que
culturas e artesanato, ele permitirá ao aluno estabelecer conexões os jogos, embora sempre presentes nas atividades sócio educa-
entre a Matemática e outras áreas do conhecimento. cionais, não eram vistos como um recurso pedagógico capaz de
promover a aprendizagem, mas tendo como foco as atividades
Grandezas e Medidas recreativas
Este bloco caracteriza-se por sua forte relevância social, com Ariés (1981) afirma que:
evidente caráter prático e utilitário. Na vida em sociedade, as gran- Na Idade Média, os jogos eram basicamente destinados aos
dezas e as medidas estão presentes em quase todas as atividades homens, visto que as mulheres e as crianças não eram considera-
realizadas. Desse modo, desempenham papel importante no currí- das cidadãos e, por conseguinte, estando sempre à margem, não
culo, pois mostram claramente ao aluno a utilidade do conhecimen- participavam de todas as atividades organizadas pela sociedade.
to matemático no cotidiano. Porém, em algumas ocasiões nas quais eram realizadas as festas
As atividades em que as noções de grandezas e medidas são da comunidade, o jogo funcionava como um grande elemento de
exploradas proporcionam melhor compreensão de conceitos relati- união entre as pessoas.
vos ao espaço e às formas. São contextos muito ricos para o traba- Ariès, relata que apenas os homens tinham o privilegio de
lho com os significados dos números e das operações, da ideia de participar dos jogos, pois nesse período as mulheres e as crianças
proporcionalidade e escala, e um campo fértil para uma abordagem não exerciam esse direito, por não serem considerados cidadãos.
histórica. Na Idade Média as crianças eram vista como adultos em miniaturas
e tinham que trabalhar, raramente os meninos eram inseridos nas
Tratamento da Informação brincadeiras.
A demanda social é que leva a destacar este tema como um Apesar de todas essas restrições, nos momentos festivos os jo-
bloco de conteúdo, embora pudesse ser incorporado aos anterio- gos eram considerados um instrumento de união e integração entre
res. A finalidade do destaque é evidenciar sua importância, em fun- a comunidade.
ção de seu uso atual na sociedade. No Renascimento, inicia-se o período no qual uma nova con-
Integrarão este bloco estudos relativos a noções de estatística, cepção de infância desponta e tem como características o desen-
de probabilidade e de combinatória. Evidentemente, o que se pre- volvimento da inteligência mediante o brincar, alterando a ideia
tende não é o desenvolvimento de um trabalho baseado na defini- anterior de que o jogo era somente uma distração.
ção de termos ou de fórmulas envolvendo tais assuntos. Sobre isto, Kishimoto (2002, p. 62) afirma que:
Com relação à estatística, a finalidade é fazer com que o aluno O renascimento vê a brincadeira como conduta livre que favo-
venha a construir procedimentos para coletar, organizar, comunicar rece o desenvolvimento da inteligência e facilita o estudo. Por isso,
e interpretar dados, utilizando tabelas, gráficos e representações foi adotada como instrumento de aprendizagem de conteúdos es-
que aparecem frequentemente em seu dia-a-dia. colares. Para se contrapor aos processos verbalistas de ensino, à
Relativamente à combinatória, o objetivo é levar o aluno a lidar palmatória vigente, o pedagogo deveria dar forma lúdica aos con-
com situações-problema que envolvam combinações, arranjos, per- teúdos.
mutações e, especialmente, o princípio multiplicativo da contagem. A autora confirma a informação de que durante o Renascimen-
to o jogo serviu para divulgar princípios de moral, ética e conteúdos
de áreas como história e geografia, com base de que o lúdico era
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
uma conduta livre que favorecia o desenvolvimento da inteligên- lidade pela permanência do aluno na escola, para adquirir valores,
cia, facilitando o estudo. Iniciando um processo de entendimento melhorar os relacionamentos entre os colegas na sociedade que é
por parte das sociedades, com relação a algumas especificidades um direito de todos.
infantis, mudando a concepção de que as crianças eram adultas em O sentido real, verdadeiro, funcional da educação lúdica estará
miniatura. garantindo se o educador estiver preparado para realizá-lo. Nada
No Romantismo o jogo aparece como conduta típica e espon- será feito se ele não tiver um profundo conhecimento sobre os fun-
tânea da criança, que com sua consciência poética do mundo, re- damentos essenciais da educação lúdica, condições suficientes para
conhece a mesma como uma natureza boa, mais que um ser em socializar o conhecimento e predisposição para levar isso adiante
desenvolvimento com características próprias, embora passageiras, (ALMEIDA, 2000, p.63)
a criança é vista como um ser que imita e brinca dotada de espon- Encontra-se nos dias de hoje, lugares que ainda não colocaram
taneidade e liberdade, semelhante à alma do poeta. em seu cotidiano, atividades lúdicas para enriquecer as ferramen-
Froebel 1913, foi influenciado pelo grande movimento de seu tas para o processo de ensino e aprendizagem. A educação lúdica
tempo em favor do jogo. Ao elaborar sua teoria da lei da conexão sempre esteve presente em todas as épocas, é ainda desvalorizado
interna, percebe que o jogo resulta em benefícios intelectuais, mo- em algumas instituições defasando o processo de construção de co-
rais e físicos e o constitui como elemento importante no desenvol- nhecimento.
vimento integral da criança.
Nesse contexto, o lúdico torna-se uma das formas adequadas Os Vários Olhares Sobre a Ludicidade
para a aprendizagem dos conteúdos escolares, em que o professor Existem muitos olhares, e muitos contares de pessoas que vi-
deverá usá-lo como uma ferramenta fundamental na prática peda- vem, pensam e escrevem sobre a ludicidade, nos possibilitando ter
gógica. ideias do papel e da importância deste termo tão discutido e utiliza-
O lúdico no contexto histórico do Brasil surgiu por meio de raí- do na educação infantil.
zes folclóricas nos quais diversos estudos clássicos apontam que as Evoluímos muito no discurso a cerca do brincar e reconhece-
origens brasileiras são provenientes da mistura de três raças, ne- mos cada vez mais seu significado para a criança e suas possibilida-
gros, índios e portugueses durante o processo de sua colonização. des nas áreas da educação, cultura e lazer. Abordaremos aqui três
Em virtude da ampla miscigenação étnica a partir do primeiro Teorias: a Sociantropológica, Filosófica e Psicológica, como exem-
grupo de colonização, fica difícil precisar a contribuição especifica plos desta vastidão de “olhares’ sobre a ludicidade”.
de brancos, negros e índios nos jogos tradicionais infantis atuais no Nesses “vários olhares sobre a ludicidade” percebe-se que
Brasil. não há uma concordância entre suas ideias, muito pelo contrário
É bastante conhecida a influencia portuguesa através de ver- as dissonâncias foram fundamentais para que houvesse diferentes
sos, advinhas e parlendas. embasamentos teórico-metodológico que sustentaram suas obras.
Sobre isso Kishimoto (2002, p.22), afirma que: Nas teorias Socioantropológicas verifica-se o ato de brincar
Desde os primórdios da colonização a criança brasileira vem como uma ação psicológico onde o brincar seria oposto a realidade.
sendo ninada com cantigas de origem portuguesas. E grande parte Sobre isto Brougère afirma:
dos jogos tradicionais popularizados no mundo inteiro como, jogo Brincar é visto como um mecanismo psicológico que garante ao
o de saquinho (ossinho), amarelinha, bolinha de gude, jogo de bo- sujeito manter certa distância em relação ao real, fiel na concepção
tão, pião e outros, chegou ao Brasil, sem dúvida por intermédio dos de Freud, que vê no brincar o modelo do princípio de prazer oposto
primeiros portugueses. Posteriormente, no Brasil receberam novas ao princípio da realidade. Brincar torna-se o arquétipo de toda ativi-
influencias aglutinando-se com outros elementos folclóricos como, dade cultural que, como a arte, não se limita a uma relação simples
o do povo negro e do índio. como o real. (O Brincar e suas teorias, 2002, p.19)
Kishimoto relata que as brincadeiras e as cantigas que fazem Essa concepção traduz a psicologização contemporânea do
parte da cultura brasileira, receberam fortes influencias dos portu- brincar, ou seja, tenta justificar a necessidade de um individuo de
gueses, não descartando a contribuição de outras culturas de po- se isolar das influências do mundo, durante uma brincadeira.
vos, como a do negro e do índio. Ainda sobre esta concepção Brougère afirma:
Muitos pesquisadores denominam o século XXI como o sécu- Concepções como essas apresentam o defeito de não levar em
lo da ludicidade. Periodo que a diversão, lazer e entretenimento, conta a dimensão social da atividade humana que o jogo, tanto
apresentam-se como condições muito pesquisadas pela sociedade. quanto outros comportamentos não podem descartar. Brincar não
E por tornar-se a dimensão lúdica alvo de tantas atenções e desejos, é uma dinâmica interna do indivíduo, mas uma atividade dotada
faz-se necessário e fundamental resgatar sua essência, dedicando de uma significação social precisa que, como outras, necessitam de
estudos e pesquisas no sentido de evocar seu real significado. aprendizagem. (O Brincar e suas teorias, 2002, p.20)
Dalla Valle, (2010, p.22) relata que: A concepção socioantropológica, também garante que o pro-
independente do tempo historico; o ato de brincar possibilita cesso de aprendizagem é que torna possível o ato de brincar, pois
uma ordenação da realidade, uma oportunidade de lidar com re- afirma que antes que a criança brinque ela tem que aprender a
gras e manifestações culturais, além de lidar com outro, seus an- brincar, reconhecendo assim certas características essenciais do
seios, experimentando sensações de perda e vitória. jogo como o aspecto fictício que possui alguns deles. A respeito dis-
Dalla Valle, considera que a importância do brincar não depen- to, Brougère, afirma:
de do espaço e nem do tempo o qual está inserido, em qualquer Há, portanto, estruturas preexistentes que definem a ativida-
contexto desempenha muito bem seu papel de oportunizar a crian- de lúdica em geral, e cada brincadeira em particular, e a criança
ça à compreensão de regras, de estar em grupo e poder absorver as aprende antes de utiliza-la em novos contextos, sozinha, ou em
para sua vida manifestações culturais e emoções novas por meio brincadeiras solitárias, ou então com outras crianças. (O Brincar e
das brincadeiras infantis. suas teorias, 2002, p.22)
Após essa rápida análise da teoria Socioantropológica perce-
É por isso que a proposta de incluir as atividades lúdicas na be-se que para ela o jogo é antes de tudo um lugar de construção
educação infantil vem sendo discutida por muitos pensadores e de uma cultura lúdica e que para o jogo existir tem que haver uma
educadores, que a formação do educador seja de total responsabi- cultura pré-existente a ele.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
É dentro do quadro do Romantismo que o jogo aparece como Esta concepção afirma que o jogo tem o fator decisivo para as-
conduta típica e espontânea da criança. Nascendo neste período segurar o desenvolvimento natural da criança, pós relata que todos
as Teorias filosóficas onde podemos citar como um dos maiores os povos em todos os tempos contaram com os jogos como parte
contribuintes desta teoria o Filósofo Froebel reconhecido como o importante da educação de crianças, especialmente de crianças pe-
“psicólogo da infância”, ele acreditou na criança, enalteceu sua per- quenas.
feição, valorizou sua liberdade e desejou a expressão na natureza
infantil por meio de brincadeiras livres e espontâneas. Brinquedoteca: Um Espaço de Construção do Lúdico.
Sobre isto Kishimoto afirma que Froebel: As brinquedotecas no Brasil começaram a surgir nos anos 80.
Sustenta que a repreensão e a ausência de liberdade à criança Como toda ideia nova, apesar do encantamento que desperta, tem
impedem a ação estimuladora da atividade espontânea, considera- que enfrentar dificuldades não somente para conseguir sobreviver
da elemento essencial no desenvolvimento físico, intelectual e mo- economicamente, mas também para se impor como instituição re-
ral. (O Brincar e suas teorias, p.60) conhecida e valorizada a nível educacional.
De acordo com a afirmação acima se percebe o quanto é im- A incorporação do jogo como recurso para desenvolver e edu-
portante para a criança que esta em fase de desenvolvimento a li- car a criança, especialmente da faixa pré-escolar, cresce paralela-
berdade de brincar, de experimentar, e de ter a oportunidade de mente à expansão de creches, estimulada por movimentos sociais
criar e recriar, possibilitando-a desenvolver suas habilidades físicas, de reivindicações populares.
intelectuais e morais. Cunha (2009, p.13) afirma que:
Sobre esta teoria e sobre a prática froebeliana há quem afirme Dento do contexto social brasileiro, a oportunização do brincar
que teria havido uma ruptura da prática à passagem a prática, pós assumiu, através da brinquedoteca, características próprias, volta-
haveria jardineiras comandando a cultura infantil a partir de orien- das para a necessidade de melhor atender as crianças e as famí-
tações minuciosas, destinadas à aquisição de conteúdos escolares. lias brasileiras. Como consequência deste fato, seu papel dentro do
E por fim, as Teorias Psicológicas, essa teoria contempla a con- campo da educação cresceu e hoje podemos afirmar, com seguran-
cepção de que toda a atividade é lúdica desde que ela exerça por ça, que ela é um agente de mudança do ponto de vista educacional.
si mesma (pela criança), sem que seja pressionada por outro indi- Cunha relata que, no Brasil as Brinquedotecas vêm ganhando
viduo. espaço no contexto educacional melhorando significativamente o
Segundo Dantas, Esta teoria é marcada pela dialética Wallonia- aprendizado, com características específicas, como o brincar livre-
na, que afirma-se simultaneamente um estado atual e uma tendên- mente com finalidade educativa, atendendo as necessidades da co-
cia futura: as atividades surgem liberadas, livres, exercendo-se pelo munidade escolar.
simples prazer que encontram em fazê-lo.( O Brincar e suas teorias, A mesma tem como objetivo proporcionar estímulos para que
2002, p.113). a criança possa brincar livremente e por ser um local onde as crian-
Como exemplo de uma ação que esta dentro desta concepção ças permanecem por algumas horas, é um espaço onde acontece
é o ato do andar de um bebê, como afirma Heloysa Dantas: Em cer- uma interação educacional. E as pessoas que trabalham na brin-
to sentido, pode-se dizer que toda a motricidade infantil é lúdica, quedoteca são educadores preocupados com a felicidade e com o
marcada por uma expressividade que supera de longe a instrumen- desenvolvimento emocional, social e intelectual das crianças.
talidade. (O Brincar e suas teorias, 2002, p. 114) FROEBEL (1912, p.) concebe o brincar como “atividade livre e
O que compreende a revolução do brincar esta teoria afirma espontânea, responsável pelo desenvolvimento físico, moral, cogni-
que não somente durante a fase de se guando é um bebê que ocor- tivo. E os dons e brinquedos como objetos que subsidiam as ativi-
re o mesmo padrão lúdico, mas se repete mais tarde em novos pa- dades infantis.”
tamares do desenvolvimento. como afirma Heloysa Dantas, O gra- De acordo com Froebel, por meio da atividade livre, que as
fismo é um bom exemplo de anterioridade do gesto em relação à brinquedotecas podem proporcionar, a criança desenvolve sua es-
intenção: a criança de três a quatro anos dirá que ainda não sabe o trutura física e psíquica, permitindo que a mesma cresça livremen-
que esta desenhando, por que ainda não acabou.(O Brincar e suas te. Já os brinquedos irão ajudar na realização das atividades que
teorias, 2002, p.116) serão aplicadas. E assim a criança aprende com aquilo que lhe é
Esta concepção também busca justificar o porquê de que as natural, o brincar.
crianças têm facilidades em aprender a manusear certos objetos, Segundo Nylse Helena da Silva Cunha, Presidente da Associa-
o qual os adultos encontram dificuldades. De acordo com Dantas, ção Brasileira de Brinquedotecas (ABB): a Brinquedoteca é um es-
Brincar com palavras, com letras, com o computador: manuseá-los paço preparado para estimular a criança a brincar, possibilitando
livremente, ludicamente, antes de dar a este manuseio um caráter o acesso a uma grande variedade de brinquedos, dentro de um
instrumental.[...] as crianças aprendem informática mais depressa ambiente especialmente lúdico. É um lugar onde tudo convida a
do que os adultos brincam com o computador, antes de tentar “usa- explorar, a sentir, a experimentar.
-lo para”. (O Brincar e suas teorias, 2002, p.116) De acordo com Cunha a brinquedoteca proporciona a criança
Nesta teoria reforça-se a ideia de que o brincar aproxima-se de estímulos para que ela possa desenvolver suas capacidades, permi-
fazer arte, como afirma Heloysa Dantas. tindo que mesma tenha acesso a brinquedos diversificados em um
Pela reiteração do termo brincar quero sublinhar o caráter ca- ambiente apropriado e cheio de atrativos, onde ela possa explorar
prichoso e gratuito destas atividades, em que o adulto propõe mas e se desenvolver cognitivamente.
não impõe, convida mas não obriga, mantém a liberdade através Ressalta-se então, a importância da brinquedoteca no meio
da oferta de possibilidades alternativas. (O Brincar e suas teorias, educacional como espaço que propicia diversos estímulos num mo-
p. 117) mento tão decisivo como a infância, pois é nesta fase que ocorre
Dentro desta concepção também estão envolvidos relações en- o desenvolvimento harmonioso e consciente do educando, o que
tre o jogo e o trabalho, sobre isso, Heloysa Dantas afirma que, para permite ampliar suas habilidades e capacidades de forma global.
Dewey o trabalho aparece como objetivação do pensamento, como
aquela atividade que pode adicionar ao prazer do processo o bene-
ficio do produto. (O Brincar e suas teorias, p.118)
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Pode-se dizer que a Brinquedoteca é um espaço que permite Portanto, é fundamental a importância no que diz respeito a
na contemporaneidade, o resgate em vivenciar o lúdico esquecido utilização das brincadeiras e dos jogos no processo ensino peda-
pelas pessoas, e negado às crianças. Mas, acima de tudo como des- gógico, diante dos conteúdos que podem ser ensinados por inter-
taca CUNHA (2001, p. 16), ela tem a função de «fazer as crianças médio de atividades lúdicas em que a criança fica em contato com
felizes, este é o objetivo mais importante». em diferentes atividades manipulando vários materiais, tais como
Cunha afirma que, a Brinquedoteca proporciona à criança a fe- jogos educativos, os didáticos, os jogos de construção e os apoios
licidade do brincar de forma livre e muito significativa para o desen- de expressão.
volvimento físico e cognitivo da criança. Considerando esses fatores, o desenvolvimento da diversidade
A principal implicação educacional da brinquedoteca é a valo- de materiais obriga a necessidade de adequar os mesmos, quanto
rização da atividade lúdica, que tem como consequência o respeito ao espaço da brincadeira contribui para o desenvolvimento cogni-
às necessidades afetivas da criança. Promovendo o respeito à crian- tivo, físico, emocional, social e moral, sem que se perca a caracte-
ça, contribui para diminuir a opressão dos sistemas educacionais rística do brincar como ação livre, iniciada e mantida pela criança.
extremamente rígidos. A importância do espaço lúdico na construção do conhecimen-
Além de resgatar o direito à infância, a brinquedoteca tenta to é oportunizar a criança observar o mundo imaginado por ela, e
salvar a criatividade e a espontaneidade da criança tão ameaçada quando ela vê esta realidade de maneira muito distorcida, procura-
pela tecnologia educacional de massa. Nos últimos anos, a tecnolo- mos conversar com a mesma, esclarecendo as coisas, fazendo com
gia e a ciência obtiveram avanços significativos sob todos os âmbi- que a criança fique mais perto da nossa realidade.
tos, refletidos na sociedade atual. Mas, no que tange à infância e o Esta é uma das formas de brincar mais saudáveis para o de-
desenvolvimento da criança, houve progressos e regressos. senvolvimento da criança, razão pelo qual o “faz-de-conta” infantil
O brincar, por exemplo, faz parte e interfere no desenvolvimen- deve ser tratado e subsidiado com seriedade, atribuindo o papel re-
to das crianças, e progressivamente, estudiosos da área da Psicolo- levante no ato de brincar e na constituição do pensamento infantil.
gia, da Pedagogia e outras ciências, reconheceram a relevância do É brincando e jogando, que a criança revela seu estado cognitivo,
brincar para o desenvolvimento global das crianças. visual, auditivo, tátil, motor, modo de aprender e entrar em uma
Todavia, ocorreram regressos quanto ao espaço, tempo, obje- relação cognitiva com o mundo.
tos, condições de segurança, de liberdade e o convívio social que Para melhor compreensão é interessante o que Pinto (2003,
comprometeram as brincadeiras na fase infantil devido ao surgi- p.65) nos diz:
mento da modernidade e avanços tecnológicos. O espaço lúdico não precisa ficar restrito a quatro paredes, ao
Santos (2009, p.55) relata que: brinquedo industrializado é contrario, deve fluir por todo o ambiente, dentro e fora das classes.
projetado pelo adulto para a criança, conforme concepção que o Um dos objetivos desse espaço é favorecer o encontro de crianças,
adulto possui, não cabendo a criança criar ou acrescentar nada e, para brincar, jogar, fazer amigos, propiciar a convivência alegre e
em muitos momentos, devido ao alto custo do objeto, nem mesmo descontraída dos frequentadores.
brincar com liberdade. Quando o brinquedo é oferecido como pro- Seguindo o pensamento da autora, esse espaço a criança inte-
va de status, para satisfazer a vaidade do adulto, as recomendações rage com o meio físico, com outras crianças e com adultos, cons-
quanto ao uso são tantas, que restringem a atividade lúdica. truindo assim, regras de convivência e competência, treina suas ha-
Segundo Santos muitos brinquedos tecnológicos, que geral- bilidades e capacidades de ganhar ou perder, saber respeitar suas
mente vem com muitas funções que só um adulto consegue ma- diferenças dos outros, aprender a lutar por seus direitos, defender
nipular, inibindo o desenvolvimento da criança, pois limitam a cria- seu espaço, mas respeitar o do amigo. Parecem coisas tão simples e
tividade e a liberdade da mesma. E pelo fato de muitas vezes este tão óbvias, mas são muito difíceis de fazer na prática.
brinquedo ter um alto custo, o adulto acaba fazendo muitas reco- Essas atividades lúdicas têm objetivos diversos, usadas para di-
mendações restringindo o ato de brincar. vertir, outras vezes para socializar, promover a união de grupos e,
num enfoque pedagógico serve como instrumento para transmitir
As Brincadeiras e as Novas Tecnologias conhecimentos. É fato que nossa cultura e, talvez, mais ainda a das
As brincadeiras despertam nas crianças várias ações ao concre- crianças, absorveu a mídia e, de um modo privilegiado, a televisão.
tizar as regras do jogo, seja ela qual for, as mesmas procuram se en- A televisão transformou a vida e a cultura da criança. Ela influenciou
volver nessa brincadeira, e em relação ao lúdico os brinquedos e as particularmente na cultura ludicidade.
brincadeiras relacionam-se diretamente com a criança, porém, não Essa cultura lúdica não está fechada em torno de si mesma; ela
se confundem com o jogo, que aparece com significações opostas integra elementos externos que influenciam a brincadeira: atitudes
e contraditórias, visto que a brincadeira se destaca como uma ação e capacidades, cultura e meio social. Ela está imersa na cultura geral
livre e sendo supervisionada pelo adulto. à qual a criança pertence. A cultura retira elementos do repertório
de imagens que representa a sociedade no seu conjunto, é preciso
Diante disto Pinto (2003, p.27) afirma que: que se pense na importância da imitação na brincadeira. A mesma
Brinquedos e brincadeiras aparecem com significações opos- incorpora, também, elementos presentes na televisão, fornecedora
tas e contraditórias: a brincadeira é vista como uma ação livre, já generosa de imagens variadas.
o brinquedo expressa qualquer objeto que serve de suporte para as Pelas ficções, pelas diversas imagens que mostra, a televisão
brincadeiras livre ou fica atrelado ao ensino de conteúdos escolares. fornece às crianças conteúdo para suas brincadeiras. Elas se trans-
Para a autora esse elementos que constituem o brinquedo e a formam, por meio das brincadeiras, em personagens vistos na te-
brincadeira são definidas como regras preestabelecidas que exigem levisão. De qualquer modo, a televisão tornou-se uma fornecedora
certas habilidades das crianças. Entretanto, a brincadeira é uma essencial, senão exclusiva, dos suportes de brincadeira, o que só
ação que não exige um objeto-brinquedo para acontecer, é jogando pode reforçar sua presença junto à criança.
que a elas constroem conhecimentos que ajudará no seu desempe- Numa sociedade que fragmenta os contextos culturais, a tele-
nho escolar. Ao brincar a criança faz uma releitura do seu contexto visão oferece uma referência comum, um suporte de comunicação.
sociocultural, em que a mesma amplia, modifica, cria e recria por A mesma não se opõe à brincadeira, mas alimenta-a, influencia-a,
meio dos papeis que irão representar. estrutura-a na medida em que a brincadeira não nasceu do nada,
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
mas sim daquilo com o que a criança é confrontada, reciprocamen- A capacidade de brincar possibilita às crianças um espaço para
te, a brincadeira permite à criança apropriar-se de certos conteúdos resolução dos problemas que as rodeiam. A criança, por meio da
da televisão. brincadeira, reproduz o discurso externo e o internaliza, construin-
A televisão tem influência sobre a imagem do brinquedo e so- do seu próprio pensamento.
bre seu uso e, é claro, estimula o consumo de alguns deles. Seja De acordo com Vigotsky (1984, p.97): a brincadeira cria para as
diretamente por intermédio das emissões dos programas ou indire- crianças uma “zona de desenvolvimento proximal” que não é outra
tamente através dos brinquedos que se adaptaram à sua lógica, a coisa senão a distância entre o nível de desenvolvimento real, deter-
televisão intervém muito profundamente na brincadeira da criança, minado pela capacidade de resolver independentemente um pro-
na sua cultura lúdica. blema, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através
Quando o aluno se volta para a sociedade atual, por meio da da resolução de um problema sob a orientação de um adulto ou
informática, não está apenas frente a um novo instrumento de con- com a colaboração de um companheiro mais capaz.
sumo ou brinquedo. O computador estrutura um novo recorte da Vigotsky afirma que, por meio do brincar origina-se na criança
realidade. Um recorte que possibilita ao usuário recriar uma parte a zona de desenvolvimento proximal que se define por funções que
da realidade. Este fato nunca antes tinha acontecido nas dimensões ainda não amadureceram, mas que estão em processo de matura-
atuais. ção, funções que estão presente nas crianças em estado embrio-
Pesquisas apontam que computador, videogames, filme e pro- nário.
grama de TV com conteúdo adequado estimulam a seleção de infor- Por meio das atividades lúdicas, a criança reproduz muitas si-
mação, a capacidade de dedução e a lógica. tuações vividas em seu cotidiano, as quais, pela imaginação e pelo
Entretanto, com o desenvolvimento das sociedades e das trans- faz-de-conta, são reelaboradas.
formações tecnológicas tudo isso se altera. As produções gradativa- Esta representação do cotidiano se dá por meio da combina-
mente se tornaram mais sofisticadas intelectualmente. O capitalis- ção entre experiências passadas e novas possibilidades de interpre-
mo criou um novo modelo de saber, onde a tecnologia assume uma tações e reproduções do real, de acordo com suas afeições, neces-
dinâmica cada vez maior. sidades, desejos e paixões. Estas ações são fundamentais para a
Com a criação da rede de computadores, e principalmente da atividade criadora do homem.
internet, não basta apenas o sujeito aprender a lidar com as infor- Negrine (1994), em estudos realizados sobre aprendizagem e
mações mais gerais. É preciso aprofundá-las, decodificando-as em desenvolvimento infantil, afirma que “quando a criança chega à es-
toda a sua complexidade. Isto porque agora o sujeito está sozinho cola, traz consigo toda uma pré-história, construída a partir de suas
frente ao processo de transmissão e produção/reprodução das in- vivências, grande parte delas através da atividade lúdica”.
formações. De acordo com Negrine é fundamental que os professores te-
A base de informações maiores não virá dos professores, mas nham conhecimento do saber que a criança construiu na interação
dos próprios computadores que poderão ser acionados nos lares, com o ambiente familiar e sociocultural, para formular sua proposta
nas bibliotecas ou na própria escola. O professor se tornará então pedagógica. E por meio de investigações, brincadeiras o educador
um orientador de formas de estudo mais adaptadas as necessida- consegue conhecer a realidade e o conhecimento prévio que cada
des dos alunos. (Santos, Santa Marli. p.80.) criança traz consigo.
Cabe aos professores, se quiserem participar deste processo A criança por muito tempo foi considerada um adulto em mi-
de transformação social e uma constante reciclagem. Um professor niatura. Ela tem características próprias e para se tornar um adulto,
atualizado é aquele que tem olhos no futuro e a ação no presente, ela precisa percorrer todas as etapas de seu desenvolvimento físico,
para não perder as possibilidades que o momento atual continua- cognitivo, social e emocional. Seu primeiro apoio nesse desenvol-
mente lhe apresenta. (Santos, Santa Marli. p.80.) vimento é a família, posteriormente, esse grupo se amplia com os
As Contribuições do Lúdico na Construção do Conhecimento colegas de brincadeiras e a escola.
O brincar é uma atividade constante na vida de toda criança, A brincadeira lúdica vem ampliando sua importância, deixando
algo que lhe é natural e muito importante para o seu desenvolvi- de ser um simples divertimento e tornando-se uma ponte entre a
mento. As brincadeiras, para a criança, constituem atividades pri- infância e a vida adulta.
márias que trazem grandes benefícios do ponto de vista físico, inte-
lectual e social e a maneira como a mesma brinca reflete sua forma A Brincadeira Despertando a Criatividade
de pensar e agir. O jogo simbólico ou de faz-de-conta, particularmente, é ferra-
Negrine (1994, p.19) afirma que: as contribuições das ativida- menta para a criação da fantasia, necessária a leituras não conven-
des lúdicas no desenvolvimento integral indicam que elas contri- cionais do mundo. Abre caminho para autonomia, a criatividade,
buem poderosamente no desenvolvimento global da criança e que a exploração de significados e sentidos. Atua também sobra a ca-
todas as dimensões estão intrinsecamente vinculadas: a inteligên- pacidade da criança de imaginar e representar outras formas de
cia, a afetividade, a motricidade e a sociabilidade são inseparáveis, expressão.. .
sendo a afetividade a que constitui a energia necessária para a pro- Trata-se de oferecer à criança os brinquedos que, por sua for-
gressão psíquica, moral, intelectual e motriz da criança. ma, sentido e manipulação, criarão possibilidades de desenvolver o
Negrine relata que o lúdico é uma atividade de grande eficá- raciocínio através do jogo.
cia na construção do desenvolvimento infantil, pois o brincar gera A brincadeira favorece o equilíbrio afetivo da criança e contri-
um espaço para pensar, e que por meio deste a criança avança no bui para o processo de apropriação de signos sociais. Cria condições
raciocínio, desenvolve o pensamento, estabelece contatos sociais, para uma transformação significativa da consciência infantil, por
compreende o meio, satisfaz desejos, desenvolve habilidades, co- exigir das crianças formas mais complexa de relacionamentos com
nhecimentos e criatividade. As interações que o brincar e o jogo o mundo. Isso ocorre em virtude das características da brincadeira.
oportunizam favorecem a superação do egocentrismo, que é natu- Os objetos manipulados na brincadeira, especialmente, são
ral em toda criança, desenvolvendo a solidariedade e a socialização. usados de modo simbólico, como um substituto para os outros,
por intermédio de gestos imitativos reprodutores das posturas, ex-
pressões e verbalizações que ocorrem no ambiente da criança. Na
verdade, só o fato de colocarmos o material a disposição da criança
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permite que ela desenvolva sua atividade real. Com o material a te, tudo de uma maneira envolvente, em que ela desprende ener-
criança age, e nessa idade toda a aprendizagem ocorre por meio gia, imagina, constrói suas normas e cria alternativas para resolver
da ação. imprevistos que surgem no ato de brincar.
É através da apercepção criativa, mais do qualquer outra coisa, Por essa razão, Callois apud Ferreira (199?) afirma que:
que o individuo sente que a vida é digna de ser vivida. O brinquedo não se constitui numa aprendizagem do trabalho.
Muitos indivíduos experimentaram suficientemente o viver Ele não prepara um ofício definido, mas admite que pode introduzir
criativo para reconhecer, de maneira tantalizante, a forma não cria- na vida em seu conjunto geral fazendo crescer as capacidades de
tiva pela qual estão vivendo, como se estivessem presos à criativi- superar os obstáculos ou de enfrentar dificuldades.
dade de outrem, ou de uma máquina. Portanto, o brinquedo facilita a compreensão da realidade, é
Viver de maneira criativa ou viver de maneira não criativa cons- muito mais um processo do que um produto, não é o fim de uma
tituem alternativas que podem ser nitidamente contrastadas. atividade ou o resultado de uma experiência, por ser essencial-
A criatividade que estamos estudando relaciona-se com abor- mente dinâmico. O brinquedo possibilita a emergência de com-
dagem do individuo a realidade externa. Supondo-se uma capaci- portamentos espontâneos e improvisados, exigindo movimenta-
dade cerebral razoável, inteligência suficiente para capacitar o in- ção física, emocional, além de provocar desafio mental. E neste
divíduo a tornar-se uma pessoa ativa e a tomar parte na vida da contexto, a criança só ou com companheiros integra-se ou volta-
comunidade, tudo o que acontece é criativo. -se contra o ambiente em que está.
Segundo Marzollo e Lloyd ( 1972, p.162): “a criatividade é basi- Por outro lado, o padrão do desempenho e normas cabe aos
camente uma atitude, que ocorrem facilmente entre as crianças pe- participantes criar; há liberdade para tomar decisões. A direção
quenas, mas que precisa ser mantida e reforçada para não ser sacri- que o brinquedo segue é determinada pelas variáveis de persona-
ficada no nosso mundo excessivamente lógico”. Assim, brincando, a lidade da criança, do grupo e do contexto social em que as mes-
criança vai, pouco a pouco, organizando suas relações emocionais; mas vivem. O brinquedo é a essência da infância; é o veículo do
isso vai dando a ela condições para desenvolver relações sociais, crescimento, o caminho que dá à criança condições para explorar
aprendendo a se conhecer melhor e a conhecer e a aceitar a exis- o mundo, tanto quanto o adulto, possibilitando descobrir e enten-
tência dos outros. der seus sentimentos, as suas ideias e sua forma de reagir. Assim,
A criatividade também está situada no domínio cognitivo, mas uma criança, ao se apropriar de uma boneca, poderá denominá-la
exerce um influencia mais forte sobre o domino afetivo, e tem rela- de mãe ou de qualquer outra pessoa, dependendo do momento
ção com a expressão pessoal e a interpretação de emoções, pensa- em que se passar a brincadeira. Nesse instante, é liberada a criati-
mentos e ideias: Moyles, 2002, p.82) considera que “é um processo vidade, a imaginação, o significado, a especificidade.
mais importante do que qualquer produto especifico para a criança Ao término desse estudo conclui-se que o lúdico é uma forma
pequena, como podemos constatar”. As crianças criam e recriam facilitadora de aprendizado. Com ele a criança desenvolve aspec-
constantemente ideias e imagens que lhes permitem representar tos afetivos, cognitivos, motores e sociais., podendo assim inte-
e entender a si mesmas e suas ideias sobre a realidade. As ativida- ragir com o meio em que vive de forma dinâmica e prazerosa. O
des expressivas das crianças de quatro anos inicialmente vão re- jogo, a brincadeira e o brinquedo não podem ser ignorados nas
presentar aquilo que as impressionou em situações de vida real, fases iniciais da vida da criança e, infelizmente, é o que aconte-
mas dentro de um ano ou dois as crianças rapidamente se tornam ce quando muito professores, em função de não terem acesso a
mais imaginativas e criativas, na medida em que sua capacidade de informações mais precisas sobre o lúdico, acabam agindo de ma-
simbolizar aumenta. neira tradicional, deixando de utilizar esse elemento facilitador no
Meek, (1985, p. 41) afirma que: processo de formação de um cidadão crítico e reflexivo.
A criatividade e a imaginação estão enraizadas no brincar de Precisamos incentivar os professores para trabalharem de
todas as crianças pequenas e, portanto, são partes do repertório de forma dinamizadora, criando atividades que possam chamar a
todas as crianças, não de minorias talentosas. Ela diz enfaticamente atenção da criança no ambiente escolar, possibilitando a constru-
que elas constituem a base da verdadeira educação. ção de ideias e conceitos que contribuam na sua vida como seres
Poderíamos dizer que o brincar leva naturalmente à criativida- que vivem, lutam e participam em uma sociedade que precisa lu-
de, porque em todos os níveis do brincar as crianças precisam usar tar pelos direitos humanos. O bom êxito de toda atividade lúdica
habilidades e processos que proporcionam oportunidades de ser pedagógica depende exclusivamente do adequado preparo e lide-
criativo. rança do professor.
Para ser criativo é preciso ousar ser diferente, requer tempo e Brougére (2000) tem razão em afirmar que: Encontramo-nos
imaginação, o que está disponível para a maioria das crianças, re- frente a uma brincadeira que sujeita a conteúdos definidos social-
quer autoconfiança, algum conhecimento, receptividade, senso de mente, não é mais brincadeira, transformou-se em uma atividade
absurdo e a capacidade de brincar. Tudo isso faz parte da infância e, controlada pela mestra que se utiliza na educação para manter os
muito disso precisa ser estimulado com mais vigor no contexto da alunos interessados em sua proposta.
escola e da educação. Portanto, a realidade observada dessa prática na pesquisa mos-
tra que, com o passar do tempo, esta dificuldade também estará su-
A Função do Brinquedo para o Desenvolvimento Integral do perada. Mas, na educação, o agora é mais importante que o ontem,
Ser Humano devendo servir de base para as decisões do amanhã e um estudo
Através do brinquedo, a criança inicia sua integração social; detalhado de todas as questões permitirá mudanças gradativas que
aprende a conviver com os outros, a situar-se frente ao mundo que não devem servir apenas para a escola em questão, mas também
a cerca, pois brincar não é perda de tempo, nem simplesmente uma para professores e administradores escolares que, assim, oferece-
maneira de preencher o tempo, pois a criança que não tem a opor- rão melhores condições de crescimento e aproveitamento na esco-
tunidade para brincar é como um peixe fora da água. Portanto, o la. Ao estabelecermos uma proposta de relações educativas demo-
brinquedo possibilita o desenvolvimento integral da criança, já que cráticas, voltadas para a participação societária, engajamo-nos nas
se envolve afetivamente, convive socialmente e opera mentalmen-
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distintas estruturas de apresentação para o exercício da cidadania. sua capacidade de brincar, tornando-se, assim, mais disponíveis
Afinal, educar o ser humano é prepará-lo para a vida, independente para as crianças enquanto parceiros e incentivadores de brincadei-
dos desafios que possamos encontrar.19 ras.20
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com pedras dentro para atrair a atenção. Possuíam, também, ani- É importante salientar que embora, à primeira vista os roma-
mais de madeira com a cabeça articulada e os olhos de vidro, além nos parecem ter criado muitas atividades lúdicas, a história mos-
de bonecas confeccionadas com diversos materiais, inclusive ouro. trou que a maioria delas não passou de atividades já conhecidas e
Embora a presença de bonecas entre diversos grupos humanos praticadas pelos egípcios e gregos.
parece estar mais ligada à religião, com o tempo elas acabaram por Além dos romanos, os chineses também tiveram importantes
representar a figura feminina, quer através da maternagem, quer contribuições do ponto de vista lúdico. Da China parece ter vindo
como mensageiras da moda. o jogo de palitos ou de varetas de bambu, cuja prática era comum
Os gregos tiveram grandes contribuições no universo lúdico especialmente entre os adultos. Através dele os oráculos consulta-
infantil. Entre eles, as crianças comumente se divertiam com brin- vam as divindades.
quedos de cerâmica e com o aro, um arco que rolava pelo chão. As pipas ou papagaios, como são chamados entre nós, também
Em 400 a. C., Hipócrates, o “Pai da Medicina”, como era conhecido, tiveram sua origem no Oriente o os registros de seu uso antecedem
já recomendava sua prática como um excelente exercício para as ao nascimento de Cristo, quando um general chinês utilizou-os para
pessoas de fraca constituição física. Sua popularização, entretanto, enviar mensagens à tropas sitiadas.
acabou ocorrendo somente no século XIX. Mas não foram só os antigos que deixaram suas heranças cul-
Dada a sua forma cúbica, os astrágalos dos carneiros (ossos do turais mantidas através das práticas lúdicas infantis. Também os
joelho), parecem ter sido os ancestrais dos dados. Na Grécia eram indígenas Mesoamericanos e brasileiros tiveram importantes con-
usados como uma forma de consulta aos deuses, por essa razão, tribuições nessa área.
uma vez lançados ao ar e dependendo da posição em que caiam Entre os indígenas mexicanos (olmecas, astecas e maias) o jogo
tinham um significado. era mais do que uma diversão. Tinha um caráter religioso. O mais
Naquele país os dados confeccionados com ossos, conchas e conhecido e praticado era o jogo da pelota (bola) A bola feita de lá-
varetas parecem ter sido usados pelo herói Palamedes para distrair tex, pesava entre 3 e 4 quilos. A quadra em forma de I representava
suas tropas durante a guerra de Tróia. Também na Odisséia de Ho- o universo, a bola o sol em sua viagem diária pelo céu e as regras do
mero há uma passagem em que os pretendentes da rainha Pené- jogo indicavam a luta do bem contra o mal.
lope jogavam dados sobre peles de boi, diante do palácio real de As crianças dessas civilizações aprendiam no convívio com os
Ítaca. adultos, o que nos leva a deduzir que as atividades dos pequenos
Mas não só os mesopotâmios, egípcios e gregos nos deixaram confundiam-se com as dos mais velhos, uma vez que meninos e me-
algumas brincadeiras como herança, os romanos, os chineses, os ninas tinham os tinham como modelos a serem seguidos.
indígenas mesoamericanos e brasileiros também. Apesar da violência de algumas práticas lúdicas, sabe-se que,
Os romanos, graças a algumas ruínas encontradas em várias entre aqueles indígenas, os pais tinham muito afeto e consideração
partes da Europa, tiveram importantes contribuições na área lúdi- pelas suas crianças.
ca.As ruínas de Conímbriga, em Portugal, ou de Tarragona, na Es- Os indígenas brasileiros também nos deixaram um importante
panha, guardam importantes testemunhos da infância de nossos legado no plano dos brinquedos e brincadeiras .Ao tratar do assun-
antepassados. to, Altmann (1999) mostrou que a princípio a criança é seu próprio
No que diz respeito a Conímbriga, segundo Namora (2000) en- brinquedo. A exploração do seu corpo e do corpo materno torna-
contramos nas suas coleções até o presente momento, um interes- ram-se interessantes brincadeiras. A observação da natureza e a
sante e precioso conjunto de jogos e brinquedos que chegaram até utilização de folhas, troncos e sementes, acabam transformando-se
nós cuja origem remonta à antiguidade clássica. Dentre eles está o em objetos-brinquedos dando asas à imaginação infantil.
Labirinto de Creta, conhecido também como Labirinto do Minotau- Folhas e cascas de árvores servem como fôrma para os objetos
ro, usado para decorar os pisos dos quartos das crianças. de barro, utilizados durante as brincadeiras.
Flautas e apitos de ossos, dados e objetos miniaturizados do O barro, colhido pelas mães na beira dos rios, triturado, mo-
mundo adulto faziam parte da cultura infantil romana. delado e seco, recebe inúmeros adornos de sementes ou penas,
No Museu de Tarragona pode-se observar a existência de uma dando origem às mais diferentes figuras.
boneca de marfim, com braços e pernas articulados, que testemu- Assim, mesmo que as bonecas indígenas não tenham sido
nha o papel que tal objeto representou na vida das crianças roma- transmitidas à cultura brasileira pela cultura europeia, elas surgem
nas. como a representação da maternagem e são geralmente de barro,
Historicamente é possível perceber que, entre os romanos, apresentando seios fartos, nádegas grandes, tentando imitar mu-
não apenas as crianças possuíam atividades lúdicas, mas os jovens lher grávida .
e adultos também. Assim, os labirintos, o jogo de damas, o jogo do Também é com o barro que as crianças xavantes, por exem-
soldado e inúmeras outras atividades eram praticadas por aquele plo, ainda hoje constroem suas casas. Primeiro espetam os paus
povo. Tais exemplos mostram que algumas atividades lúdicas eram no chão e como essa atividade é mais difícil de fazer, costumam a
comuns a todas as pessoas, não sendo, portanto reservadas apenas reaproveitar casas construídas pelas maiores que já as abandona-
às crianças. ram. Usam, ainda para a decoração os materiais encontrados na
Conta-se que a amarelinha pode ter sido criada pelos soldados natureza.
romanos como forma de entreter as crianças pelos locais por onde Além do barro, as crianças indígenas usam a madeira para con-
passavam. Como as estradas eram pavimentadas com pedras, a su- feccionar seus brinquedos. É com os troncos de árvores que elas
perfície tornava-se ideal para a prática da atividade, difundindo-se, constroem o bodoque _ arma manejada por elas_ para abater ca-
posteriormente, por toda a Europa. ças, aves e lagartixas.
Sabe-se, ainda, que as crianças romanas jogavam bolinhas de É, ainda, com madeira e barro que os indígenas confeccionam
gude, cuja origem não se pode precisar. Inicialmente, usavam no- piões que fazem girar eximiamente, num movimento ágil das mãos.
zes, pedras e grãos de cereais. Das cabaças surgem os chocalhos utilizados para espantar os
É interessante notar, por exemplo, que no Líbano hoje, o jogo maus espíritos, transformando-se, também, em instrumentos de
de bolinhas de gude é realizado na época da Páscoa, quando são festividades ou cerimônias religiosas. Com fios entrelaçados entre
utilizados ovos no lugar das bolinhas sendo posteriormente ingeri- os dedos das mãos, constroem inúmeras figuras dando asas à ima-
dos pelas crianças e adultos. ginação, que é o caso da cama-de-gato.
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Espetam penas no sabugo do milho, que atiram ao ar. Confec- Por outro, como as famílias atualmente estão menores, há um
cionam petecas com base de palha de milho ou de couro. Divertem- grande número de crianças que brincam sozinhas e, por vezes, ape-
-se em atividades lúdicas coletivas imitando os animais. Garantem nas com um animal de estimação. Logo, a falta de relacionamento
sua cultura. com os outros tanto dificulta a construção de um repertório de brin-
Muitas das brincadeiras realizadas pelas crianças, ainda hoje, cadeiras quanto favorece ao empobrecimento cultural.
são produtos de diferentes culturas e deveriam ser preservadas. Outro obstáculo para o desenvolvimento do brincar e a preser-
Em sua pesquisa, a estudiosa Renata Meirelles (2007) inves- vação da cultura da infância é questão do espaço físico. Por todas as
tigou os brinquedos e brincadeiras que ainda persistem entre as partes vive-se o problema da insegurança e isso tem afetado parti-
crianças brasileiras. Estão entre elas as brincadeiras de roda, o pião cularmente as crianças.
feito com diferentes materiais, inclusive com tampas dos frascos de Embora a maior parte dos pais entrevistados tivesse colocado
detergente, a amarelinha também chamada de macaca, o caracol, que o local onde os pequenos mais brincam ainda é o quintal, so-
as brincadeiras de mão, os currupios, os brinquedos que reprodu- bretudo em cidades do Norte, Nordeste e Centro Oeste, o espaço
zem o meio adulto feitos de materiais naturais ou de sucata, as cin- comum, mencionado pelos pais das diferentes regiões brasileiras
co marias, a cama de gato, as pernas de pau, o cavalo de pau, a para a prática das atividades lúdicas é a escola .
casinha, a bolinha de gude e o elástico. Tal escolha não está associada à garantia da cultura, mas à exis-
No entanto, as transformações que vimos sofrendo produto de tência de uma segurança maior, a grande preocupação da famílias
um mundo globalizado, caracterizado pelo crescimento da urbani- atualmente Outro entrave em relação à brincadeira é a falta de tem-
zação, da industrialização e aumento no consumo, têm ameaçado po das próprias crianças. O trabalho infantil e as atividades domés-
a infância, sua cultura e seu direito à brincadeira. A infância está ticas por um lado e o excesso de atividades extra-curriculares, por
desaparecendo, porque as crianças estão se transformando em outro, têm se constituído em grandes impedimentos à realização
adultas antes do tempo. A cultura, porque uma vez distantes do do brincar. Especialmente as atividades extra-curriculares têm sido
repertório infantil, muitas brincadeiras desaparecerão carregando impostas às crianças dada a grande ansiedade dos pais por conta de
consigo saberes milenares. Quanto ao direito à brincadeira, ele só fornecer elementos para que os filhos entrem rapidamente no mer-
parece existir no papel, pois, na prática a realidade é bem outra. cado de trabalho. Embora participar de atividades extra-curricula-
Diante desse quadro surgem algumas questões que merecem res seja um privilégio das crianças de classes mais altas, os pais das
ser analisadas Do que brincam, hoje, as crianças brasileiras? Como classes baixas têm as mesmas preocupações, mas como dependem
e onde realizam suas brincadeiras, quais os seus parceiros? Até que muitas vezes da mão de obra infantil para aumentar o orçamento
ponto elas ainda possuem o direito à infância? familiar, não têm condições de oferecer outras atividades aos filhos.
Uma investigação realizada por Dodge e Carneiro (2007) com De qualquer forma as crianças estão privadas do brincar, da
pais, de crianças entre 6 e 12 anos, dos diversos segmentos sociais, cultura lúdica e de viver a sua infância.
em 77 municípios brasileiros das diversas regiões do país , obser- Aí vem a última questão. Como ficam os profissionais da educa-
vou-se que além de se modificarem, as atividades lúdicas realizadas ção diante desta nova realidade?
antigamente estão desaparecendo. As brincadeiras mais comuns, Recentemente vem sendo manchete dos jornais o fato de que
ou seja, realizadas por seus filhos pelo menos três vezes na semana as mazelas da educação são consequências do despreparo dos seus
eram assistir TV, vídeos e DVDs, brincar com animal de estimação, profissionais. Evidentemente que não será possível esgotar o deba-
cantar e ouvir música, desenhar, andar de bicicleta, patins, patine- te à questão.
tes, carrinhos de rolimã, jogar bola, brincar de pega-pega, polícia-e- Penso que nós profissionais da educação temos que engrossar
-ladrão, esconde-esconde, brincar de boneca, brincar com coleções cada vez mais, a luta pelo direito ao brincar na infância, o direito
e ficar no computador. de a criança viver essa etapa tão importante da sua vida e a escola
A TV e os demais equipamentos tecnológicos, vídeo-games, foi apontada como o lócus onde a brincadeira pode se realizar com
jogos de internet, vêm crescendo assustadoramente entre os pe- segurança e também onde os pequenos dispõem de parceiros para
quenos. Enquanto os últimos ainda, constituem o universo de uma isso.
pequena camada da população, a primeira tem sido um movimento Falta a nós, professores, nos apropriarmos desse tipo de co-
universal. Isso não significa negar a sua existência, mas analisá-la de nhecimento, aumentarmos nossos repertórios, observarmos e re-
forma mais criteriosa de modo que não traga tantas consequências gistrarmos os avanços proporcionados pelo brincar, utilizando-o
funestas às nossas crianças. não apenas como uma metodologia de trabalho, mas como uma
Quanto ao computador e os vídeos embora se constituam em forma de possibilitar à criança a descoberta do mundo que a cerca
equipamentos reservados, no Brasil, ainda, a uma classe social mais e resgatar a cultura.
privilegiada, são aspirados pelas crianças e pais com condições eco- Os países desenvolvidos estão atentos para isso. Por que o Bra-
nômicas inferiores. E isso nos parece uma viagem sem volta. sil não pode perseguir esta meta?
Tais alterações, contudo, não ocorreram somente no plano das Diante de todas as reflexões concordo com a educadora britâ-
escolhas das brincadeiras, mas puderam ser observadas também no nica Catty Nutbrown para quem “ Parar para ouvir um avião no céu,
que tange aos companheiros, aos espaços e aos tempos de brincar. agachar-se para observar uma joaninha numa folha, sentar numa
A atividade lúdica para ser aprendida necessita de parceiros, rocha para ver as ondas se espatifarem contra o cais _ as crianças
pais, amigos, irmãos, professores... Eis a grande dificuldade. têm sua própria agenda e noção de tempo. Conforme descobrem
Por um lado, a falta de disponibilidade de tempo dos pais e das mais sobre o mundo e seu ligar nele, esforçam-se para não ser
gerações mais velhas de estarem com seus filhos, facilita o desco- apressadas pelos adultos. Precisamos ouvir suas vozes”. (Relatório
nhecimento de repertórios de brincadeiras. O brincar se aprende Global:2007,p.1)21
num processo de imitação, portanto os pequenos só podem apren-
der com seus pares, sejam eles adultos ou crianças.
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O jogos e sua importância na educação Dinello indica que “pelo jogo, a psicomotricidade da criança se
Atualmente, nossa sociedade vive inserida num contexto de desenvolve num processo prático de maturação e de descobrimento
diversidade de formas e meios de comunicação, no qual é essen- do mundo circundante.”
cial ser competente na leitura e compreensão das diferentes lin- Dessa maneira, pode-se dizer que no jogo há uma importância
guagens. do desenvolvimento psicomotor para aquisições mais elaboradas,
Embora se reconheça facilmente essas diferentes modalidades como as intelectuais. Oliveira valida esse entendimento, ao afirmar
de comunicação (expressões gestuais ou corporais; formas visuais; que: Muitas das dificuldades apresentadas pelos alunos podem ser
formas gráficas e verbais), o que se tem visto na realidade, de forma facilmente sanadas no âmbito da sala de aula, bastando para isto
geral, é somente o uso da leitura e escrita como representações que o professor esteja mais atento e mais consciente de sua respon-
convencionais nas atividades escolares. Compreendendo a inevitá- sabilidade como educador e despenda mais esforço e energia para
vel incorporação das outras formas de comunicação nas instituições ajudar a aumentar o potencial motor, cognitivo e afetivo do aluno.
escolares, o presente artigo pretende falar da inclusão do jogo nas Assim sendo, devemos estimular os jogos como fonte de aprendi-
diferentes modalidades de comunicação que permeiam nossa so- zagem.
ciedade. Em educação, a utilização de um programa que estimule a ati-
O jogo como instrumento de aprendizagem é um recurso de vidade psicomotora, especialmente por meio do jogo, permite que
extremo interesse aos educadores, uma vez que sua importância o desempenho psicomotor da criança enquanto joga alcance níveis
está diretamente ligada ao desenvolvimento do ser humano em que só mesmo a motivação intrínseca consegue. Ao mesmo tempo,
uma perspectiva social, criativa, afetiva, histórica e cultural. favorece a concentração, a atenção, o engajamento e a imaginação.
O jogo é uma oportunidade de desenvolvimento. Jogando a Como consequência a criança fica mais calma, relaxada, e aprende
criança experimenta, inventa, descobre, aprende e confere habili- a pensar, estimulando sua inteligência.
dades. Sua inteligência e sua sensibilidade estão sendo desenvolvi- Segundo Bettelhein; os jogos mudam à medida que as crianças
das. A qualidade de oportunidades que são oferecidas à criança por crescem. Então, muda-se a compreensão em relação aos proble-
meio de jogos garante que suas potencialidades e sua afetividade mas diversos que começam a ocupar suas mentes. É jogando que
se harmonizem. Dessa maneira, pode-se dizer que o jogo é impor- as crianças descobrem o que está a sua volta, começando a se rela-
tante, não somente para incentivar a imaginação nas crianças, mas cionar com a vida, percebendo os objetos e o espaço que seu corpo
também para auxiliar no desenvolvimento de habilidades sociais e ocupa no mundo em que vivem. Por meio de brincadeiras, como
cognitivas. o faz de conta, o jogo simbólico, a vivência de papeis, criando e
A palavra “jogo” se origina do vocábulo latino ludus, que sig- recriando situações agradáveis ou não; a criança pode realizar ativi-
nifica diversão, brincadeira e que é tido como um recurso capaz de dades próprias do mundo adulto.
promover um ambiente planejado, motivador, agradável e enrique- Para Vygotsky, “... é na brincadeira que a criança se comporta
cido, possibilitando a aprendizagem de várias habilidades. Dessa além do comportamento habitual de sua idade, além de seu com-
maneira, alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem portamento diário. A criança vivencia uma experiência no brinque-
podem aproveitar-se do jogo como recurso facilitador na compre- do como se ela fosse maior do que é na realidade... o brinquedo
ensão dos diferentes conteúdos pedagógicos. fornece estrutura básica para mudanças das necessidades e da
Piaget afirma: “O jogo é, portanto, sob as suas formas essen- consciência da criança”.
ciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação Assim que as crianças vão crescendo e se desenvolvendo emo-
do real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento neces- cional e cognitivamente, elas começam a colocar outras pessoas em
sário e transformando o real em função das necessidades múltiplas suas brincadeiras, e é percebendo a presença do outro que come-
do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem çam a ser respeitadas as regras e os limites. Os jogos com regras
que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, exigem raciocínio e estratégia.
jogando elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, Dessa maneira, quando uma criança se mostra capaz de seguir
sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil” uma regra, nota-se que seu relacionamento com outras crianças e
Hoje o jogo representa uma ferramenta ideal da aprendizagem, até mesmo com adultos melhora, reforçando a ideia de que os jo-
na medida em que propõe estímulo ao interesse do aluno. O jogo gos influenciam no processo de aprendizagem das crianças, respei-
ajuda-o a construir suas novas descobertas, desenvolve e enriquece tando seu tempo e ritmo de assimilação e aprendizado.
sua personalidade. Jogando, as crianças podem colocar desafios e questões para
Em educação, a utilização de um programa que estimule a ati- serem por elas mesmas resolvidas, dando margem para que criem
vidade psicomotora, especialmente por meio do jogo, permite que hipóteses de soluções para os problemas colocados.
o desempenho psicomotor da criança enquanto joga alcance níveis Isso acontece porque o pensamento da criança evolui a partir
que só mesmo a motivação intrínseca consegue. Ao mesmo tempo de suas ações. Assim, por meio do jogo o indivíduo pode brincar na-
favorece a concentração, a atenção, o engajamento e a imaginação. turalmente, testar hipóteses, explorar toda a sua espontaneidade
Como consequência, a criança fica mais calma, relaxada e aprende criativa. Os jogos não são apenas uma forma de divertimento: são
a pensar, estimulando sua inteligência. Nesse contexto, precisa- meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectu-
mos elucidar os pontos de contato com a realidade, a fim de que al. Para manter seu equilíbrio com o mundo, a criança precisa brin-
o jogo seja significativo para a criança. Por meio da observação do car, criar e inventar. Com jogos e brincadeiras, a criança desenvolve
desempenho das crianças com seus jogos podemos avaliar o nível o seu raciocínio e conduz o seu conhecimento de forma descontraí-
de seu desenvolvimento motor e cognitivo. No lúdico, manifestam- da e espontânea: no jogar, ela constrói um espaço de experimenta-
-se suas potencialidades e, ao observá-las, poderemos enriquecer ção, de transição entre o mundo interno e externo.
sua aprendizagem, fornecendo por meio dos jogos os “nutrientes”
do seu desenvolvimento. Ou seja, brincando e jogando a criança
terá oportunidade de desenvolver capacidades indispensáveis à sua
futura formação e atuação profissional, tais como: atenção, afetivi-
dade, concentração e outras habilidades perceptuais psicomotoras.
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Jogos e brincadeiras nos pedem uma posição desses profissionais sobre os problemas
Quando abordamos assuntos relacionados à Educação Infantil, sociais, mas como alguém que tem opinião formada sobre os assun-
sabemos que se trata da faixa etária de zero a cinco anos de idade, tos mais emergentes e que está disposto ao diálogo, ao conflito, à
conforme recente definição da Lei n.11.114, de 16 de maio de 2005, problematização do seu saber. (RUIZ, 2003, s/p).
e que essa faixa etária compreende a primeira etapa da educação O professor pode ser sim um agente de transformação, princi-
básica palmente em situações que exigem um posicionamento firme de
A inserção da criança na instituição da Educação Infantil repre- sua parte. Não apenas na sala de aula, mas na sociedade, no am-
senta uma das oportunidades dela ampliar os seus conhecimentos biente escolar ou universitário e estar atento ás discussões no que
na sua nova fase de vida, ela vivência aprendizagens inéditas que se refere ao mundo à sua volta. É importante, participar de grupos
passam a compor seu universo, que envolve uma diversidade de de estudos, envolverem-se em pesquisas, incentivar seus alunos a
relações e de atitudes; maneiras alternativas de comunicação entre buscarem sempre a conhecer mais.
as pessoas; o estabelecimento de regras e de limites e um conjunto O professor, em vez de ser um agente de transformação nos
de valores culturais e morais que são transmitidos a elas. processos de ensino e aprendizagem, é utilizado como instrumento
A aceitação e a utilização de jogos e brincadeiras como uma a serviço de interesses que regem os modelos educacionais instituí-
estratégia no processo de ensinar e do aprender têm ganhado força dos nas escolas e nas universidades. Com isso, aqueles profissionais
entre os educadores e pesquisadores nesses últimos anos, por con- preocupados com a melhoria do ensino e com a educação, são tidos
siderarem, em sua grande maioria uma forma de trabalho pedagó- como problema, tendo em vista à concepção conservadora predo-
gico que estimula o raciocínio e favorece a vivência de conteúdos e minante ainda na sociedade
a relação com situações do cotidiano O professor tem que partir de experiências e conhecimentos
O jogo como estratégia de ensino e de aprendizagem em sala dos alunos e oferecer atividades significativas, favorecendo-as com-
de aula deve favorecer a criança a construção do conhecimento preensão do que está sendo feito por intermédio do estabeleci-
científico, proporcionando a vivência de situações reais ou imaginá- mento de relações entre escola e o meio social.
rias, propondo à criança desafios e instigando-a a buscar soluções
para as situações que se apresentam durante o jogo, levando-a a ALGUMAS FUNÇÕES DO PROFESSOR FRENTE AOS JOGOS
raciocinar, trocar ideias e tomar decisões. Uma das responsabilidades do educador é promover a socia-
O brincar é, portanto, uma atividade natural, espontânea e lização entre os alunos, auxiliando-os, dentro da sua faixa etária e
necessária para criança, constituindo-se em uma peça importan- potencialidades, a conviver com seus grupos, enfatizando o grupo
tíssima a sua formação seu papel transcende o mero controle de escolar. Independentemente do nível de educação, as ações peda-
habilidades. É muito mais abrangente. Sua importância é notável, gógicas visam, de certa maneira, promover a boa convivência social,
já que, por meio dessas atividades, a criança constrói o seu próprio o conhecimento do outro e o respeito pela diferença.
mundo. (SANTOS, 1995, p.4) As atividades lúdicas escolhidas pelos educadores, além de
Em sua visão é pela brincadeira que a criança aprende sobre a oportunizarem diversão e aprendizado como própria função peda-
natureza, os eventos sociais, a dinâmica interna e a estrutura de seu gógica, devem considerar, também, o desenvolvimento das pessoas
corpo. A criança que brinca livremente, no seu nível, à sua maneira, envolvidas.
não está apenas explorando o mundo ao seu redor, mas também O trabalho pedagógico com o conhecimento pode adquirir
comunicando sentimentos, ideias, fantasias, intercambiando o real maior significado na medida em que é desenvolvido por meio de
e o imaginário. diferentes abordagens metodológicas.
O brincar está relacionado ao prazer. Uma brincadeira criativa O jogo, atividades lúdicas, brincadeiras, se usados adequada-
ou não deve sempre proporcionar prazer à criança. mente, contribuem significativamente na construção e compre-
Além disso, enquanto estimula o desenvolvimento intelectual ensão do conhecimento, é uma atividade essencial no desenvolvi-
da criança, também ensina, sem que ela perceba, os hábitos mais mento e na aprendizagem da criança, é importante que o professor
necessários ao seu crescimento, como persistência, perseverança, conheça cada tipo e seu objetivo, para promover um trabalho de
raciocínio, companheirismo, entre outros qualidade nesse aspecto A brincadeira ou o jogo somente tem va-
Dessa forma, o brincar e o jogar, na Educação Infantil, devem lidade se usado na hora certa, e essa hora é determinada pelo pro-
ser visto como uma estratégia utilizada pelo educador e deve pri- fessor, ele é quem determina para o aluno qual o objetivo do jogo,
vilegiar o ensino dos conteúdos da realidade, tendo o brincar um das regras e do tempo Durante todo o processo de desenvolvimen-
lugar de destaque no planejamento pedagógico. to físico, moral e social da criança, os ambientes em que elas estão
inseridas e as brincadeiras espontâneas ou dirigidas podem contri-
O PAPEL DO PROFESSOR COMO AGENTE DE TRANSFORMA- buir de forma significativa na sua formação integral. É importante à
ÇÃO criança brincar, pois ela irá se desenvolver permeada por relações
Uma vez que o professor é responsável pela orientação, seja cotidianas e, assim, vai construindo sua identidade, a imagem de si
teórica, metodológica e técnica, pode-se considerar que, nesse sen- e do mundo que a cerca.
tido, ele é um agente transformador, tendo em vista que contribui A criança é um ser sociável que se relaciona com o mundo que
para a transformação dos seus alunos. a cerca. De acordo com sua compreensão e potencialidades, ela
Tal realidade exige, portanto consciência crítica de todos os brinca espontaneamente e independentemente de seu ambiente e
que trabalham com a educação. O importante é saber que ainda contexto. Por isso, quanto maior o número de brincadeiras infantis
hoje não se pode esquecer essa consciência crítica, de questionar inseridas nas atividades pedagógicas, maior será o desenvolvimen-
diante das políticas educacionais existentes. Para Ruiz (2003, s/p), to da criança. Mas, por isso, deve-se respeitar cada uma das fases
o profissional da educação precisa ter uma posição muito clara, isto de seu desenvolvimento, a fim de que os objetivos sejam atingidos
é, primar pela mudança. Para autora:
Os papéis dos profissionais de educação necessitam ser repen-
sado. Esses não podem mais agir de forma neutra nessa sociedade
de conflito, não pode ser ausente apoiando-se apenas nos conte-
údos, métodos e técnicas, não pode mais ser omisso, pois os alu-
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Para ter essa disposição para acolher, importa estar atento a
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ela. Não nascemos naturalmente com ela, mas sim a construímos,
a desenvolvemos, estando atentos ao modo como recebemos as
A avaliação da aprendizagem escolar se faz presente na vida de coisas. Se antes de ouvirmos ou vermos alguma coisa já estamos
todos nós que, de alguma forma, estamos comprometidos com atos julgando, positiva ou negativamente, com certeza, não somos capa-
e práticas educativas. Pais, educadores, educandos, gestores das zes de acolher. A avaliação só nos propiciará condições para a ob-
atividades educativas públicas e particulares, administradores da tenção de uma melhor qualidade de vida se estiver assentada sobre
educação, todos, estamos comprometidos com esse fenômeno que a disposição para acolher, pois é a partir daí que podemos construir
cada vez mais ocupa espaço em nossas preocupações educativas. qualquer coisa que seja.
O que desejamos é uma melhor qualidade de vida. No caso
deste texto, compreendo e exponho a avaliação da aprendizagem Por uma compreensão do ato de avaliar
como um recurso pedagógico útil e necessário para auxiliar cada Assentado no ponto de partida acima estabelecido, o ato de
educador e cada educando na busca e na construção de si mesmo e avaliar implica dois processos articulados e indissociáveis: diagnos-
do seu melhor modo de ser na vida. ticar e decidir. Não é possível uma decisão sem um diagnóstico, e
A avaliação da aprendizagem não é e não pode continuar sendo um diagnóstico, sem uma decisão é um processo abortado.
a tirana da prática educativa, que ameaça e submete a todos. Chega Em primeiro lugar, vem o processo de diagnosticar, que consti-
de confundir avaliação da aprendizagem com exames. A avaliação tui-se de uma constatação e de uma qualificação do objeto da ava-
da aprendizagem, por ser avaliação, é amorosa, inclusiva, dinâmi- liação. Antes de mais nada, portanto, é preciso constatar o estado
ca e construtiva, diversa dos exames, que não são amorosos, são de alguma coisa (um objeto, um espaço, um projeto, uma ação, a
excludentes, não são construtivos, mas classificatórios. A avaliação aprendizagem, uma pessoa...), tendo por base suas propriedades
inclui, traz para dentro; os exames selecionam, excluem, margina- específicas. Por exemplo, constato a existência de uma cadeira e seu
lizam. estado, a partir de suas propriedades ‘físicas’ (suas características):
No que se segue, apresento aos leitores alguns entendimentos ela é de madeira, com quatro pernas, tem o assento estofado, de
básicos para compreender e praticar a avaliação da aprendizagem cor verde... A constatação sustenta a configuração do ‘objeto’,ten-
como avaliação e não, equivocadamente, como exames. do por base suas propriedades, como estão no momento. O ato de
avaliar, como todo e qualquer ato de conhecer, inicia-se pela cons-
Antes de mais nada, uma disposição psicológica necessária ao tatação, que nos dá a garantia de que o objeto é como é. Não há
avaliador possibilidade de avaliação sem a constatação.
O ato de avaliar, devido a estar a serviço da obtenção do me- A constatação oferece a ‘base material’ para a segunda parte
lhor resultado possível, antes de mais nada, implica a disposição do ato de diagnosticar, que é qualificar, ou seja, atribuir uma qua-
de acolher. Isso significa a possibilidade de tomar uma situação da lidade, positiva ou negativa, ao objeto que está sendo avaliado. No
forma como se apresenta, seja ela satisfatória ou insatisfatória agra- exemplo acima, qualifico a cadeira como satisfatória ou insatisfa-
dável ou desagradável, bonita ou feia. Ela é assim, nada mais. Aco- tória, tendo por base as suas propriedades atuais. Só a partir da
lhê-la como está é o ponto de partida para se fazer qualquer coisa constatação, é que qualificamos o objeto de avaliação. A partir dos
que possa ser feita com ela. Avaliar um educando implica, antes de dados constatados é que atribuímos-lhe uma qualidade.
mais nada, acolhe-lo no seu ser e no seu modo de ser, como está, Entretanto, essa qualificação não se dá no vazio. Ela é esta-
para, a partir daí, decidir o que fazer. belecida a partir de um determinado padrão, de um determinado
A disposição de acolher está no sujeito do avaliador, e não no critério de qualidade que temos, ou que estabelecemos, para este
objeto da avaliação. O avaliador é o adulto da relação de avaliação, objeto. No caso da cadeira, ela está sendo qualificada de satisfató-
por isso ele deve possuir a disposição de acolher. Ele é o detentor ria ou insatisfatória em função do quê? Ela, no caso, será satisfa-
dessa disposição. E, sem ela, não há avaliação. Não é possível ava- tória ou insatisfatória em função da finalidade à qual vai servir. Ou
liar um objeto, uma pessoa ou uma ação, caso ela seja recusada ou seja, o objeto da avaliação está envolvido em uma tessitura cultu-
excluída, desde o início, ou mesmo julgada previamente. Que mais ral (teórica), compreensiva, que o envolve. Mantendo o exemplo
se pode fazer com um objeto, ação ou pessoa que foram recusados, acima, a depender das circunstâncias onde esteja a cadeira, com
desde o primeiro momento? Nada, com certeza! suas propriedades específicas, ela será qualificada de positiva ou de
Imaginemos um médico que não tenha a disposição para aco- negativa. Assim sendo, uma mesma cadeira poderá ser qualificada
lher o seu cliente, no estado em que está; um empresário que não como satisfatória para um determinado ambiente, mas insatisfa-
tenha a disposição para acolher a sua empresa na situação em que tória para um outro ambiente, possuindo as mesmas propriedades
está; um pai ou uma mãe que não tenha a disposição para acolher específicas. Desde que diagnosticado um objeto de avaliação, ou
um filho ou uma filha em alguma situação embaraçosa em que se seja, configurado e qualificado, há algo, obrigatoriamente, a ser
encontra. Ou imaginemos cada um de nós, sem disposição para nos feito, uma tomada de decisão sobre ele. O ato de qualificar, por
acolhermos a nós mesmos no estado em que estamos. As doenças, si, implica uma tomada de posição – positiva ou negativa –, que,
muitas vezes, não podem mais sofrer qualquer intervenção curativa por sua vez, conduz a uma tomada de decisão. Caso um objeto seja
adequada devido ao fato de que a pessoa, por vergonha, por medo qualificado como satisfatório, o que fazer com ele? Caso seja qua-
social ou por qualquer outra razão, não pode acolher o seu próprio lificado como insatisfatório, o que fazer com ele? O ato de avaliar
estado pessoal, protelando o momento de procurar ajuda, chegan- não é um ato neutro que se encerra na constatação. Ele é um ato
do ao extremo de ‘já não ter muito mais o que fazer!’. dinâmico, que implica na decisão de ‘o que fazer’. Sem este ato de
A disposição para acolher é, pois, o ponto de partida para qual- decidir, o ato de avaliar não se completa. Ele não se realiza. Chegar
quer prática de avaliação. É um estado psicológico oposto ao estado ao diagnóstico é uma parte do ato de avaliar. A situação de ‘diagnos-
de exclusão, que tem na sua base o julgamento prévio. O julgamen- ticar sem tomar uma decisão’ assemelha-se à situação do náufrago
to prévio está sempre na defesa ou no ataque, nunca no acolhimen- que, após o naufrágio, nada com todas as suas forças para salvar-se
to. A disposição para julgar previamente não serve a uma prática de e, chegando às margens, morre, antes de usufruir do seu esforço.
avaliação, porque exclui. Diagnóstico sem tomada de decisão é um curso de ação avaliativa
que não se completou.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Como a qualificação, a tomada de decisão também não se faz Assentados no acolhimento do nosso educando, podemos pra-
num vazio teórico. Toma-se decisão em função de um objetivo que ticar todos os atos educativos, inclusive a avaliação. E, para avaliar,
se tem a alcançar. Um médico toma decisões a respeito da saúde o primeiro ato básico é o de diagnosticar, que implica, como seu
de seu cliente em função de melhorar sua qualidade de vida; um primeiro passo, coletar dados relevantes, que configurem o estado
empresário toma decisões a respeito de sua empresa em função de de aprendizagem do educando ou dos educandos. Para tanto, ne-
melhorar seu desempenho; um cozinheiro toma decisões a respeito cessitamos instrumentos. Aqui, temos três pontos básicos a levar
do alimento que prepara em função de dar-lhe o melhor sabor pos- em consideração: 1)dados relevantes; 2) instrumentos; 3) utilização
sível, e assim por diante. dos instrumentos.
Em síntese, avaliar é um ato pelo qual, através de uma dispo- Cada um desses pontos merece atenção.
sição acolhedora, qualificamos alguma coisa (um objeto, ação ou Os dados coletados para a prática da avaliação da aprendiza-
pessoa), tendo em vista, de alguma forma, tomar uma decisão so- gem não podem ser quaisquer. Deverão ser coletados os dados es-
bre ela. senciais para avaliar aquilo que estamos pretendendo avaliar. São
Quando atuamos junto a pessoas, a qualificação e a decisão o dados que caracterizam especificamente o objeto em pauta de
necessitam ser dialogadas. O ato de avaliar não é um ato impositi- avaliação. Ou seja, a avaliação não pode assentar-se sobre dados
vo, mas sim um ato dialógico, amoroso e construtivo. Desse modo, secundários do ensino-aprendizagem, mas, sim, sobre os que efeti-
a avaliação é uma auxiliar de uma vida melhor, mais rica e mais vamente configuram a conduta ensinada e aprendida pelo educan-
plena, em qualquer de seus setores, desde que constata, qualifica do. Caso esteja avaliando aprendizagens específicas de matemática,
e orienta possibilidades novas e, certamente, mais adequadas, por- dados sobre essa aprendizagem devem ser coletados e não outros;
que assentadas nos dados do presente. e, assim, de qualquer outra área do conhecimento. Dados essen-
ciais são aqueles que estão definidos nos planejamentos de ensino,
Avaliação da aprendizagem escolar a partir de uma teoria pedagógica, e que foram traduzidos em prá-
Vamos transpor esse conceito da avaliação para a compreen- ticas educativas nas aulas.
são da avaliação da aprendizagem escolar. Tomando as elucidações Isso implica que o planejamento de ensino necessita ser pro-
conceituais anteriores, vamos aplicar, passo a passo, cada um dos duzido de forma consciente e qualitativamente satisfatória, tanto
elementos à avaliação da aprendizagem escolar. do ponto de vista científico como do ponto de vista político-peda-
Iniciemos pela disposição de acolher. Para se processar a ava- gógico.
liação da aprendizagem, o educador necessita dispor-se a acolher o Por outro lado, os instrumentos de avaliação da aprendizagem,
que está acontecendo. Certamente o educador poderá ter alguma também, não podem ser quaisquer instrumentos, mas sim os ade-
expectativa em relação a possíveis resultados de sua atividade, mas quados para coletar os dados que estamos necessitando para con-
necessita estar disponível para acolher seja lá o que for que estiver figurar o estado de aprendizagem do nosso educando. Isso implica
acontecendo. Isso não quer dizer que ‘o que está acontecendo’ seja que os instrumentos:
o melhor estado da situação avaliada. Importa estar disponível para a) sejam adequados ao tipo de conduta e de habilidade que
acolhê-la do jeito em que se encontra, pois só a partir daí é que se estamos avaliando (informação, compreensão, análise, síntese,
pode fazer alguma coisa. aplicação...);
Mais: no caso da aprendizagem, como estamos trabalhando b) sejam adequados aos conteúdos essenciais planejados e,
com uma pessoa – o educando –, importa acolhê-lo como ser hu- de fato, realizados no processo de ensino (o instrumento necessita
mano, na sua totalidade e não só na aprendizagem específica que cobrir todos os conteúdos que são considerados essenciais numa
estejamos avaliando, tais como língua portuguesa, matemática, determinada unidade de ensino-aprendizagem;
geografia.... c) adequados na linguagem, na clareza e na precisão da comu-
Acolher o educando, eis o ponto básico para proceder ativida- nicação (importa que o educando compreenda exatamente o que
des de avaliação, assim como para proceder toda e qualquer prática se está pedindo dele); adequados ao processo de aprendizagem do
educativa. Sem acolhimento, temos a recusa. E a recusa significa a educando (um instrumento não deve dificultar a aprendizagem do
impossibilidade de estabelecer um vínculo de trabalho educativo educando, mas, ao contrário, servir-lhe de reforço do que já apren-
com quem está sendo recusado. deu. Responder as questões significativas significa aprofundar as
A recusa pode se manifestar de muitos modos, desde os mais aprendizagens já realizadas.).
explícitos até os mais sutis. A recusa explícita se dá quando deixa-
mos claro que estamos recusando alguém. Porém, existem modos Um instrumento de coleta de dados pode ser desastroso, do
sutis de recusar, tal como no exemplo seguinte. só para nós, em ponto de vista da avaliação da aprendizagem, como em qualquer
nosso interior, sem dizer nada para ninguém, julgamos que um alu- avaliação, na medida em que não colete, com qualidade, os dados
no X ‘é do tipo que dá trabalho e que não vai mudar’. Esse juízo, por necessários ao processo de avaliação em curso. Um instrumento
mais silencioso que seja em nosso ser, está lá colocando esse edu- inadequado ou defeituoso pode distorcer completamente a reali-
cando de fora. E, por mais que pareça que não, estará interferindo dade e, por isso, oferecer base inadequada para a qualificação do
em nossa relação com ele. Ele sempre estará fora do nosso círculo objeto da avaliação e, consequentemente, conduzir a uma decisão
de relações. Acolhê-lo significa estar aberto para recebê-lo como é. também distorcida.
E só vendo a situação como é podemos compreendê-la para, dialo- Será que nossos instrumentos de avaliação da aprendizagem,
gicamente, ajudá-lo. utilizados no cotidiano da escola, são suficientemente adequados
Isso não quer dizer aceitar como certo tudo que vem do edu- para caracterizar nossos educandos? Será que eles coletam os da-
cando. Acolher, neste caso, significa a possibilidade de abrir espaço dos que devem ser coletados? Será que eles não distorcem a rea-
para a relação, que, por si mesma, terá confrontos, que poderão ser lidade da conduta de nossos educandos, nos conduzindo a juízos
de aceitação, de negociação, de redirecionamento. Por isso, a recu- distorcidos?
sa consequentemente impede as possibilidades de qualquer rela- Quaisquer que sejam os instrumentos – prova, teste, redação,
ção dialógica, ou seja, as possibilidades da prática educativa. O ato monografia, dramatização, exposição oral, arguição, etc. – neces-
de acolher é um ato amoroso, que traz ‘para dentro’, para depois (e sitam manifestar qualidade satisfatória como instrumento para
só depois) verificar as possibilidades do que fazer. ser utilizado na avaliação da aprendizagem escolar, sob pena de
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
estarmos qualificando inadequadamente nossos educandos e, Temos, pois, uma situação qualificada, um diagnóstico. O que
consequentemente, praticando injustiças. Muitas vezes, nossos fazer com ela? O ato avaliativo, só se completará, como dissemos
educandos são competentes em suas habilidades, mas nossos ins- nos preliminares deste estudo, com a tomada de decisão do que
trumentos de coleta de dados são inadequados e, por isso, os jul- fazer com a situação diagnosticada.
gamos, incorretamente, como incompetentes. Na verdade, o defei- Caso a situação de aprendizagem diagnosticada seja satisfató-
to está em nossos instrumentos, e não no seu desempenho. Bons ria, que vamos fazer com ela? Caso seja insatisfatória, que vamos
instrumentos de avaliação da aprendizagem são condições de uma fazer com ela? A situação diagnosticada, seja ela positiva ou ne-
prática satisfatória de avaliação na escola. gativa, e o ato de avaliar, para se completar, necessita da tomada
Ainda uma palavra sobre o uso dos instrumentos. Como nós nos de decisão A decisão do que fazer se impõe no ato de avaliar, pois,
utilizamos dos instrumentos de avaliação, no caso da avaliação da em si mesmo, ele contém essa possibilidade e essa necessidade. A
aprendizagem? Eles são utilizados, verdadeiramente, como recur- avaliação não se encerra com a qualificação do estado em que está
sos de coleta de dados sobre a aprendizagem de nossos educandos, o educando ou os educandos Ela obriga a decisão, não é neutra. A
ou são utilizados como recursos de controle disciplinar, de ameaça avaliação só se completa com a possibilidade de indicar caminhos
e submissão de nossos educandos aos nossos desejos? Podemos mais adequados e mais satisfatórios para uma ação, que está em
utilizar um instrumento de avaliação junto aos nossos educandos, curso. O ato de avaliar implica a busca do melhor e mais satisfatório
simplesmente, como um recurso de coletar dados sobre suas con- estado daquilo que está sendo avaliado.
dutas aprendidas ou podemos utilizar esse mesmo instrumento A avaliação da aprendizagem, deste modo, nos possibilita levar
como recurso de disciplinamento externo e aversivo, através da à frente uma ação que foi planejada dentro de um arcabouço teóri-
ameaça da reprovação, da geração do estado de medo, da submis- co, assim como político. Não será qualquer resultado que satisfará,
são, e outros. Afinal, aplicamos os instrumentos com disposição de mas sim um resultado compatível com a teoria e com a prática pe-
acolhimento ou de recusa dos nossos educandos? Ao aplicarmos dagógica que estejamos utilizando.
os instrumentos de avaliação, criamos um clima leve entre nossos Em síntese, avaliar a aprendizagem escolar implica estar dis-
educandos ou pesaroso e ameaçador? Aplicar instrumentos de ava- ponível para acolher nossos educandos no estado em que estejam,
liação exige muitos cuidados para que não distorçam a realidade, para, a partir daí, poder auxiliá-los em sua trajetória de vida. Para
desde que nossos educandos são seres humanos e, nessa condição, tanto, necessitamos de cuidados com a teoria que orienta nossas
estão submetidos às múltiplas variáveis intervenientes em nossas práticas educativas, assim como de cuidados específicos com os
experiências de vida. atos de avaliar que, por si, implicam em diagnosticar e renegociar
Coletados os dados através dos instrumentos, como nós os uti- permanentemente o melhor caminho para o desenvolvimento, o
lizamos? Os dados coletados devem retratar o estado de aprendi- melhor caminho para a vida. Por conseguinte, a avaliação da apren-
zagem em que o educando se encontra. Isto feito, importa saber dizagem escolar não implica aprovação ou reprovação do educan-
se este estado é satisfatório ou não. Daí, então, a necessidade que do, mas sim orientação permanente para o seu desenvolvimento,
temos de qualificar a aprendizagem, manifestada através dos da- tendo em vista tornar-se o que o seu SER pede.
dos coletados. Para isso, necessitamos utilizar-nos de um padrão de
qualificação. O padrão, ao qual vamos comparar o estado de apren- Diante do exposto, é possível desenvolver a avaliação para
dizagem do educando, é estabelecido no planejamento de ensino, propiciar a aprendizagem?
que, por sua vez, está sustentado em uma teoria do ensino. Assim, Pensar na avaliação como instrumento que propicia a aprendi-
importa, para a prática da qualificação dos dados de aprendizagem zagem é assumir uma concepção de que essa atividade não tem fim
dos educandos, tanto a teoria pedagógica que a sustenta, como o em si mesmo, mas que possa propiciar ao educando a possibilidade
planejamento de ensino que fizemos. de confrontar seus conhecimentos e (re) construí-los.
A teoria pedagógica dá o norte da prática educativa e o pla- Sendo assim, a avaliação da aprendizagem passa a ser um
nejamento do ensino faz a mediação entre a teoria pedagógica e a instrumento que auxiliará o educador a atingir seus objetivos pro-
prática de ensino na aula. Sem eles, a prática da avaliação escolar postos em sua prática educativa. A avaliação sob essa ótica deve
não tem sustentação. ser tomada na perspectiva diagnóstica, servindo como mecanismo
Deste modo, caso utilizemos uma teoria pedagógica que con- para detectar as dificuldades e possibilidades de desenvolvimento
sidera que a retenção da informação basta para o desenvolvimento do educando.
do educando, os dados serão qualificados diante desse entendi- A avaliação precisa ser concebida como feedback para que o
mento. Porém, caso a teoria pedagógica utilizada tenha em conta professor possa redimensionar sua prática pedagógica, propiciando
que, para o desenvolvimento do educando, importa a formação assim, a melhoria do processo ensino-aprendizagem.
de suas habilidades de compreender, analisar, sintetizar, aplicar..., Sabe-se que no atual processo educacional a avaliação é usada
os dados coletados serão qualificados, positiva ou negativamente, simplesmente para classificar os alunos, o que não tem contribuído
diante dessa exigência teórica. para melhorar a aprendizagem.
Assim, para qualificar a aprendizagem de nossos educandos, Portanto, ela pode possibilitar ao educador o entendimento de
importa, de um lado, ter clara a teoria que utilizamos como suporte como o aluno está reagindo frente ao conhecimento explorado.
de nossa prática pedagógica, e, de outro, o planejamento de ensi- É preciso lembrar que cada aluno reage diferentemente um
no, que estabelecemos como guia para nossa prática de ensinar no do outro frente à construção conhecimento. Sendo assim, não se
decorrer das unidades de ensino do ano letivo. Sem uma clara e pode exigir que todo educando se desenvolva igualmente em todos
consistente teoria pedagógica e sem um satisfatório planejamento os componentes curriculares. Nesse sentido, é preciso diversificar
de ensino, com sua consequente execução, os atos avaliativos serão mais as atividades avaliativas e explorar mais os trabalhos em gru-
praticados aleatoriamente, de forma mais arbitrária do que o são po, em parceria, para que os alunos possam estar contribuindo uns
em sua própria constituição. Serão praticados sem vínculos com a com os outros nos conhecimentos que apreenderam.
realidade educativa dos educandos.
Realizados os passos anteriores, chegamos ao diagnóstico. Ele
é a expressão qualificada da situação, pessoa ou ação que estamos
avaliando.
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Conclui-se então que, a reflexão da ação pedagógica assim Também Noizet e Caverni (1985) e Cardinet (1993) se referem
como a busca da fundamentação teórica e prática devem ser uma à avaliação como um processo de verificação de objetivos, em que
constante no trabalho do educador, para que o mesmo possa redi- a produção escolar dos alunos é comparada a um modelo. Para o
mensionar a sua atuação na mira da melhoria do processo ensino- último autor, o processo de avaliação contribui para a eficácia do
-aprendizagem. ensino, porque consiste na observação e interpretação dos seus
A qualidade de vida deve estar sempre posta à nossa frente. efeitos. No limite, permite orientar as decisões necessárias ao bom
Ela é o objetivo. Não vale a pena o uso de tantos atalhos e tantos funcionamento da escola.
recursos, caso a vida não seja alimentada tendo em vista o seu flo- De Ketele (1993) referencia, também, a avaliação ao processo
rescimento livre, espontâneo e criativo. A prática da avaliação da de verificação de objetivos previamente definidos. Segundo este
aprendizagem, para manifestar-se como tal, deve apontar para a autor, é no próprio processo de ensino-aprendizagem que surge a
busca do melhor de todos os educandos, por isso é diagnóstica, e avaliação, funcionando como um mecanismo que verifica se os ob-
não voltada para a seleção de uns poucos, como se comportam os jetivos pretendidos são efetivamente atingidos.
exames. Por si, a avaliação, como dissemos, é inclusiva e, por isso Atribuindo à descrição do processo um papel importante na
mesmo, democrática e amorosa. Por ela, por onde quer que se pas- avaliação, Stufflebeam (1985) refere que é preciso, primeiro, identi-
se, não há exclusão, mas sim diagnóstico e construção. Não há sub- ficar as necessidades educacionais e só depois elaborar programas
missão, mas sim liberdade. Não há medo, mas sim espontaneidade de avaliação centrados no processo educativo, para que seja possí-
e busca. Não há chegada definitiva, mas sim travessia permanente, vel aperfeiçoar este processo. O modelo C.I.P.P., sugerido por este
em busca do melhor. Sempre!22 autor, procura definir a avaliação como um processo racional onde
existe um contexto (C), uma entrada ou input (I), um processo (P)
Uma das tarefas que mais realizamos na nossa vida cotidiana é e um produto (P). A informação recolhida com a avaliação permite
a tarefa de avaliar, nos seus mais variados sentidos, que pode ir des- aos agentes educativos reunirem dados para tomarem decisões,
de a análise simples de “que roupa usar para sair”, avaliando se está subsequentemente.
frio ou calor, ou até mesmo que atividades desenvolveremos hoje. Comparar a avaliação a um sistema de comunicação é a pers-
No nosso dia-a-dia, de acordo com as necessidades, possibilidades pectiva apresentada por outros autores, como Cardinet (1993), que
e desejos, estamos fazendo escolhas ou tomando decisões, carac- considera a avaliação como um sistema de comunicação entre pro-
terizando o que denominamos de uma avaliação informal. Esta é fessores e alunos, por meio de um processo sistemático de coleta
a avaliação que fazemos, quase que automaticamente, mas existe de informação.
outro tipo de avaliação - avaliação formal ou sistemática - que é re- Para além da verificação de objetivos, Scriven (1967) considera
gulamentada por outros dados. Ela exige objetivos bem definidos, que na avaliação há uma descrição com um julgamento, ou seja,
critérios selecionados e está direcionada para um processo ou um são apreciados os objetivos de ensino. Este autor foi o primeiro a
resultado de uma situação, atividade ou um dado específico, e deve definir os conceitos de avaliação formativa e somativa, que serão
levar em consideração o contexto onde ela se realiza. É neste tipo abordados mais adiante.
de avaliação que se insere a avaliação educacional. Perrenoud (1978, 1982), por seu lado, considera que a ava-
No sistema educacional, a avaliação é usada para a coleta de liação participa na gênese da desigualdade existente ao nível da
informação, necessária aos diversos componentes do sistema (os aprendizagem e do êxito dos alunos. Segundo ele, avaliação escolar,
responsáveis pela determinação das políticas educacionais; os di- na sua forma corrente, é uma avaliação de referência normativa. A
retores de escolas; os professores; os alunos) em sua tomada de função reprodutora da escola, para o autor, concretiza-se através
decisões. de práticas avaliativas de referência normativa que reproduzem as
A avaliação educacional pode ser considerada como um dos desigualdades sociais.
temas que, ao serem abordados, sempre requerem um exercício Entende-se, hoje, que a avaliação é uma atividade subjetiva,
de “olhar para o passado” para entender o que reserva o futuro. envolvendo mais do que medir, a atribuição de um valor de acordo
“Enfim, terá de ser o instrumento do reconhecimento dos caminhos com critérios que envolvem diversos problemas técnicos e éticos.
percorridos e da identificação dos caminhos a serem perseguidos”
(Luckesi, 1995, p. 43). Características e funções da avaliação
A avaliação caracteriza-se de acordo com vários aspectos:
Os diversos conceitos de avaliação Quanto à forma pode ser:
Começou-se a falar na avaliação aplicada à educação com Ty- (i) escrita, com respostas curtas (as que requerem a marcação
ler (1949), considerado como o pai da avaliação educacional. Ele a de alternativas de respostas) ou discursivas (aquelas em que os alu-
encara como a comparação constante entre os resultados dos alu- nos constroem e redigem uma resposta);
nos, ou o seu desempenho e objetivos, previamente definidos. A (ii) oral;
avaliação é, assim compreendida, o processo de determinação da (iii) por observação e anotações sobre o objeto;
extensão com que os objetivos educacionais se realizam. (iv) por análise documental;
Outros autores - Bloom, Hastings e Madaus (1971) - também (v) por monitoramento do objeto de estudo, estando ele sob
relacionam a avaliação com a verificação de objetivos educacionais. influência da inserção ou retirada de um fator ambiental.
Em função da finalidade da avaliação, consideram três tipos de
avaliação: uma preparação inicial para a aprendizagem, uma veri- Quanto às funções:
ficação da existência de dificuldades por parte do aluno durante a De acordo com a sua finalidade, pode-se identificar os seguin-
aprendizagem e o controle sobre se os alunos atingiram os objetivos tes tipos de avaliação:
fixados previamente. Os tipos de avaliação referidos representam, • somativa - realizada em uma única oportunidade, relativa
respectivamente, a avaliação diagnóstica, a avaliação formativa e a aos processos ocorridos num período de tempo passado; por isso
avaliação certificativa. também é uma avaliação final, cujas funções se destinam a verificar
se os objetivos inicialmente estabelecidos são os resultados alcan-
çados ao término de um processo, sendo que sua aplicação está
geralmente voltada para a certificação, promoção ou seleção;
22 Fonte: www.institucional.educacao.ba.gov.br – Por Cipriano Carlos Luckesi
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
• formativa - é contínua pois se realiza ao longo de todo o processo educacional e tem como finalidade permitir o acompanhamen-
to e análise dos pontos fortes e fracos desse processo, para que se possa aperfeiçoá-lo quando ainda estiver ocorrendo.
• diagnóstica - é inicial, quando aplicada no início do processo que se quer avaliar, tendo, por exemplo, a função de identificar o
estágio de aprendizagem ou desenvolvimento em que os alunos se encontram, esclarecendo aquilo que eles já detêm dos pré-requisitos
necessários ao ingresso numa nova etapa de ensino. Também pode ocorrer num momento durante o processo de ensino e aprendizagem
quando, por exemplo, buscam-se as causas do fracasso que possa ocorrer na aprendizagem.
Quanto a quem avalia: de acordo com quem a realiza, existem três tipos de avaliação: a autoavaliação, a heteroavaliação e a avalia-
ção mista ou coavaliação:
Autoavaliação: neste caso, quem emite o juízo de valor sobre o que é examinado é o próprio objeto da avaliação, ou seja, o avaliador
é o próprio avaliado.
A autoavaliação tem um enorme potencial formativo e permite que as pessoas e as organizações conheçam suas potencialidades e
limitações, além de permitir a reflexão sobre a própria realidade, que é um passo essencial no processo de sua transformação.
Por exemplo, a autoavaliação docente é um bom ponto de partida para a melhora dos processos de ensino-aprendizagem; a avaliação
da aprendizagem pelos próprios alunos permite que eles descubram seus erros, o que gera mais facilmente o conflito cognitivo necessário
para toda aprendizagem.
A heteroavaliação: ao contrário da autoavaliação, a heteroavaliação é realizada por uma outra pessoa ou por uma equipe. Pode ser
executada, por exemplo, pelo professor ao avaliar seus alunos, pelo diretor de uma escola ao avaliar o trabalho docente, por uma Secreta-
ria Municipal ou Estadual de Educação ou mesmo pelo Ministério da Educação, ao avaliarem escolas ou redes.
É muito útil para conhecimento de aspectos do processo com os quais os avaliadores e os avaliados estão muito envolvidos, pois o
avaliador lança um olhar externo sobre o objeto da avaliação, podendo assim contribuir com visões diferentes das do avaliado sobre a
função da educação, os padrões de desempenho desejável e os métodos de avaliação.
Como exemplo de heteroavaliações podem ser citadas as avaliações feitas pelos professores em sala de aula, os vestibulares, as ava-
liações dos sistemas nacionais de educação ou as de programas educacionais, entre outras.
A coavaliação: neste processo participam tanto agentes externos (como os gestores e financiadores) quanto aqueles que executam
quotidianamente a educação formal. Este tipo de avaliação possibilita a formulação de diferentes pontos de vista sobre a valoração do
objeto avaliado e o contraste de resultados.
A avaliação dos sistemas de ensino, por exemplo, deve se basear também na avaliação das escolas por si próprias. Neste caso, além
de ser avaliada por agentes externos, cada escola deve se autoavaliar em função de seus programas, projetos, materiais pedagógicos,
recursos, professores, gestão, pessoal de apoio, alunos e infraestrutura. “A avaliação deve passar de um discurso de descrição e julgamen-
to para um discurso de diálogo” (Nevo, 1988). Toda a comunidade da escola deve ser preparada para poder combinar os produtos das
heteroavaliações e autoavaliações.
Principais Avaliação com foco em objetos dimensionais Avaliação com foco em objetos dimensionais em
características no âmbito da escola âmbitos extraescolares
Na maioria das vezes é aplicada na forma de testes
Geralmente realizada por meio de testes
escritos e questionários socioeconômicos, mas também
Quanto à forma escritos ou orais, podendo ser utilizadas outras
pode ser realizada de outras formas, como a investigação
formas
documental
Geralmente a função somativa tem sido en-
Quanto à fatizada, mas acredita-se que o ideal é a aplicação Pode apresentar quaisquer funções inclusive reunin-
função das outras duas funções (diagnóstica e formativa) do as duas ou as três numa única avaliação
em complementação a esta
Quanto à rela- Pode-se concretizar como autoavaliação, Assim como a avaliação no âmbito escolar, pode
ção sujeito-objeto heteroavaliação ou coavaliação apresentar as três relações entre sujeito e objeto
Quanto ao foco Os processos e resultados das ações de ensi- Os processos e resultados da educação enquanto
de interesse no-aprendizagem fenômeno social
Investiga e atende aos interesses da comu- O universo que investiga e os interesses a que
Quanto à ampli-
nicade escolar imediata (pais, alunos, diretores, atende amiúde são muito extensos, voltando-se para a
tude/extensão
professores, corpo de funcionários da escola) sociedade como um todo ou para parcelas da mesma
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
A existência deste leque tão grande de interesses e possibili- a obrigação de atribuir uma nota para cada aluno e que esta nota
dades na área da avaliação educacional torna imprescindível, em seja a responsável pela aprovação ou reprovação e em sua forma-
qualquer projeto de avaliação, a delimitação e a definição precisa ção pouco se ouviu falar em avaliação.
do objeto a ser avaliado. A precisão e qualidade da resposta à per- Segundo VASCONCELLOS (1998) a resistência a mudanças pode
gunta o que avaliar definem o nível e a abrangência da avaliação, ter diferentes origens, falta de conhecimento, falta de segurança
assim como os indicadores a serem considerados, os dados a serem em fazer o novo, defesa natural diante de situações novas, entre
coletados e como todas as informações serão analisadas. outros.
Assim, o processo de avaliação pode abranger o sistema edu- Para HOFFMANN (2000) alcançar a qualidade de ensino signifi-
cacional de um país, ou uma rede de ensino, ou um grupo de es- ca desenvolver o máximo de seus alunos, tornando a aprendizagem
colas, ou uma escola, ou uma turma de alunos, ou até mesmo um possível no seu sentido amplo, alcançada pela criança a partir das
único aluno. oportunidades que o meio oferece.
O entendimento de que todo processo educacional é compos- De acordo com HOFFMANN (2000), em uma perspectiva cons-
to por diferentes aspectos e sofre influências de fatores externos a trutivista uma educação de qualidade oferece oportunidades amplas
ele faz com que os projetos de avaliação sejam abrangentes e te- e desafiadoras para a construção do conhecimento, é responsável por
nham diversos objetos de interesse, para os quais existem instru- tornar a aprendizagem possível, já em uma perspectiva tradicional a
mentos específicos de avaliação, como por exemplo: a aprendiza- qualidade de ensino se dá através de padrões pré-estabelecidos, pa-
gem dos alunos, os condicionantes socioeconômicos e culturais dos drões comparativos e critérios de promoção, neste sentido a qualidade
alunos, o perfil do professorado, a prática docente, as condições de passa a ser confundida com quantidade.
funcionamento das escolas, as características da gestão escolar e o Ainda segundo a mesma autora em uma perspectiva mediado-
clima organizacional, entre outros. ra a qualidade de ensino é desenvolver o aluno no máximo de seu
Por isso, é tendência atual da avaliação educacional o desenvol- potencial, não há limites e nem critérios pré-estabelecidos, porém
vimento de projetos que buscam articular, compatibilizar e utilizar objetivos bem definidos e planejados, sem que haja uma padroni-
distintos modelos, ferramentas e instrumentos, de modo a melhor zação de notas e valores.
apreender os multifacetados aspectos do processo educacional, ob- Ao definir objetivos o professor deve delinear as ações educati-
jeto da avaliação.23 vas e este processo deve ocorrer respeitando a realidade escolar do
aluno, sua história e a comunidade em que está inserido, devendo
A avaliação mediadora considerar as possibilidades e limites que este cenário educativo
A avaliação mediadora propõe um modelo baseado no dialo- lhe oferece.
go e aproximação do professor com o seu aluno de forma que as O critério essencial e necessário para a avaliação mediadora é
práticas de ensino sejam repensadas e modificadas de acordo com que o professor conheça seu aluno, ou seja, o professor deve co-
a realidade sócio-cultural de seus alunos, nesta perspectiva de ava- nhecer sua realidade, compreender sua cultura, seu modo de falar,
liação o erro é considerado como parte do processo na construção e pensar, e isto se dá “através de perguntas, fazendo-lhe novas e de-
do conhecimento e não como algo passível de punição, na visão safiadoras questões, na busca de alternativas para uma ação edu-
mediadora o professor é capaz de criar situações desafiadoras que cativa voltada para a autonomia moral e intelectual”, HOFFMANN
tornem capaz a reflexão e ação tornando a aprendizagem mais sig- (2000, p. 34).
nificativa. A avaliação mediadora propõe uma ação reflexiva da aprendi-
A avaliação mediadora possibilita ao aluno construir seu co- zagem, ao invés de uma avaliação classificatória, de julgamento de
nhecimento, respeitando e valorizando suas idéias, ou seja, faz com resultados.
que o aluno coloque em prática toda sua vivência. A avaliação mediadora destina-se a conhecer, não apenas para
O processo de aprendizagem torna-se continuo através da ava- compreender, mas também para promover ações em benefícios aos
liação mediadora, uma vez que o professor possui ferramentas de educandos, o professor tem como papel participar do sucesso ou
intervenção adequadas para que os alunos se apropriem de conhe- do fracasso dos alunos, ou seja, o professor tem a responsabilidade
cimentos significativos, sem o sentimento de obrigação, ou seja, o de através de uma prática reflexiva conhecer o seu aluno e iden-
aprendizado ocorre de maneira natural com mais facilidade de in- tificar a maneira adequada de promover a aprendizagem levando
ternalização do conteúdo aplicado em sala de aula. em conta seus conhecimentos anteriores, o professor terá que pos-
Partindo deste pressuposto é possível indagar se de fato as for- suir uma postura reflexiva e uma formação continuada para saber
mas tradicionais de avaliação são eficientes ou é necessário mudar avaliar o aluno, avaliar a si mesmo e avaliar a avaliação que deverá
esta prática para que realmente seja possível uma aprendizagem ser permanente, pois se o aluno fracassar não será apenas sua res-
significativa e não apenas estudar para tira boas notas. ponsabilidade, mas também do professor que ao avaliar seu aluno
s práticas avaliativas são questionadas principalmente devido à constantemente deve realizar as devidas interferências buscando
questão da melhoria da qualidade de ensino, ou seja, que só é pos- novos caminhos e alternativas para que a aprendizagem ocorra.
sível modificar as formas de se avaliar nas escolas se a qualidade da Para HOFFMANN (2000) é responsabilidade do educador tra-
educação melhorar, segundo HOFFMANN (2000, p. 11) “as escolas balhar a individualidade do seu aluno, respeitando suas diferenças
justificam os seus temores em realizar mudanças em decorrência com o intuito de formar jovens autônomos, críticos e cooperativos.
de sérias resistências das famílias com relação a inovações”. Na avaliação mediadora o professor ao propor uma tarefa de-
fine suas intenções, pois sua prática é uma ação que deve ser pla-
A sociedade como um todo acredita que a avaliação quando é nejada, sistemática e intuitiva, e parte de duas premissas básicas:
realizada no sistema tradicional torna-se mais eficiente e responsá- confiança na possibilidade dos alunos construírem suas próprias
vel por uma escola mais competente. verdades e valorização de suas manifestações e interesses, ou seja,
Há também certa resistência por parte dos professores em mo- o aluno passa a ser o centro do processo de ensino, deixando de
dificar suas práticas avaliativas, pois segundo HOFFMAN (2005), sua lado a educação bancária onde o aluno é apenas um depósito de
formação e educação foi toda pautada no sistema tradicional, com ideias e não agente atuante na aprendizagem.
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
A mediação é aproximação, diálogo, que assume um papel de É necessário que o professor acompanhe seu aluno, no sentido
grande relevância na educação, é o acompanhamento do jeito de de estar junto dele e caminhar junto dele para que seja possível
ser de cada aluno, bem como da sua história pessoal e familiar, nela a observação passo a passo de seus resultados individuais, porém
o tempo do aluno deve ser respeitado, pois ele é sujeito e produtor segundo HOFFMANN (2000), acompanhamento e diálogo por si só
de seu conhecimento, exemplificando, em uma mesma atividade os não conduzem a uma avaliação mediadora, pois nesta prática o diá-
alunos apresentarão reações diferentes de entendimento, riqueza logo é muito mais que uma conversa e o acompanhamento é muito
em suas respostas e até mesmo nas manifestações. mais que observar os alunos realizarem uma tarefa, na mediação
Um professor mediador preocupa-se com a aprendizagem de dialogar é refletir em conjunto e acompanhar é favorecer o vir a
seu aluno e tem a observação como um aliado na construção do ser, realizando ações educativas que possibilitem novas descober-
conhecimento, ao observar seu aluno o mesmo é capaz de iden- tas, proporcionando vivências enriquecedoras e favorecedoras à
tificar suas habilidades e trabalhá-las plenamente e também suas ampliação do saber.
dificuldades procurando alternativas junto ao aluno para transfor-
mar a aprendizagem em um momento prazeroso e levar o aluno a Ao utilizar a avaliação mediadora o professor é capaz de co-
perceber sua importância para a construção de seu próprio conhe- nhecer cada um de seus alunos e utilizar a prática da observação
cimento. e acompanhamento para que possa adequar o ensino a cada um
Através da avaliação mediadora o professor deve utilizar a pro- como um processo individualizado.
va para pensar em novas estratégias pedagógicas que ele deverá Avaliar vai além de atribuir uma nota ou um valor, ao estudar
utilizar para interagir com seus alunos, e para que isto aconteça a avaliação mediadora, foi possível entender que para a aprendi-
de forma eficaz e significativa o professor deve levar em conta os zagem tornar-se efetiva é necessário integrar a avaliação a todo o
conhecimentos prévios de seus alunos, estes devem ser explora- processo de ensino-aprendizagem e não a um momento isolado,
dos e trabalhados, pois são necessários para que o professor possa pois desta forma o aluno é avaliado por tudo o que produziu e o
abordar novos temas e como uma fonte confiável para detectar as que apreendeu.
dificuldades de aprendizagens, bem como para indicar novos rumos A visão mediadora oferece tanto ao professor quanto ao alu-
e estratégias a serem utilizadas. no momentos de reflexão e diálogo, para que juntos possam traçar
Na avaliação mediadora é importante que o professor seja novos objetivos, através de uma visão menos centralizada do saber,
reflexivo e que tome decisões coerentes, coloque-as em prática nesta perspectiva o aluno tem sua devida importância no processo
avaliando-as e ajustando-as progressivamente, conforme suas ex- de ensino que deve estar inserido em sua realidade e planejado
periências e as necessidades de seus alunos, pois estes estão sem- para que seja objeto de interesse e participação coletiva.
pre evoluindo, em diferentes ritmos à medida que o professor os A construção de um diálogo também é essencial para que a
provoca a prosseguir sempre. avaliação mediadora alcance seus objetivos, pois o professor ao
Para que o aluno seja orientado a uma prática reflexiva de aná- aproximar-se de seus alunos, ao conhecê-los é capaz de dar signifi-
lise de suas aprendizagens é necessário que o professor mobilize cados ao que o aluno precisa conhecer, ou seja, integrar a aprendi-
este aluno a partir de ações do cotidiano tais como: comentários, zagem aos conhecimentos prévios de seus alunos.24
novas perguntas e orientações para a continuidade de seus estudos
traçando metas pessoais e coletivas de enfrentamento de dificulda-
des e de avanços em determinadas áreas. DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA
A visão tradicional é aquela em que o professor primeiro ensina EDUCAÇÃO INFANTIL (RESOLUÇÃO Nº 5 DE 17/12/09)
e depois pergunta, na visão mediadora, as perguntas assumem um
caráter permanente de mobilização, ou seja, professores e alunos DCN – Educação Infantil
questionam-se, buscam informações pertinentes para construir No Brasil, durante o estado novo até a década 50, as crianças
conceitos e resolver problemas, as condições de aprendizagem foram consideradas cidadãos do futuro; mas só a partir promulga-
definem as condições de avaliação, pois se cria um ambiente de ção da Constituição Federal de 1988, é que passaram a ser reconhe-
investigação e intervenção, adequadas à observação de cada aluno. cidas como cidadãos portadores de direitos, um deles é o acesso à
Segundo HOFFMANN (2000) a aprendizagem acontece em educação infantil. A partir de então, o campo da Educação Infantil
tempos diferentes para cada aluno, pois é um processo de natureza passou a receber fortalecimento nas práticas pedagógicas objeti-
individual, o importante é apontar rumos do caminho e torná-lo tão vando o desenvolvimento das crianças, assim, articulada às Diretri-
sedutor a ponto de aguçar a curiosidade do aluno para o que ainda zes Curriculares Nacionais da Educação Básica, esta resolução nº 5,
está por vir. de 17 de dezembro de 2009 foi elaborada para orientar tais práticas
A avaliação deve ser organizada de forma a favorecer a apren- pedagógicas.
dizagem dos alunos, promovendo a evolução dos alunos, mas aci- Para iniciar a discussão sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-
ma de tudo respeitando o tempo de cada um. nais para a Educação Infantil é necessário inicialmente, esclarecer
De acordo com HOFFMANN (2000) é o aluno quem determina alguns termos:
o seu próprio tempo de aprendizagem e é no cotidiano escolar que Educação Infantil: Se refere à primeira etapa da educação
estas condições se revelam, uma tarefa igual não é cumprida por básica oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam
todos ao mesmo tempo, desta forma ao desenvolver um projeto como espaços institucionais não domésticos que constituem esta-
o professor deve ter um planejamento flexível, pois este pode ou belecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cui-
não acabar dentro do tempo esperado, por isso é importante que o dam de crianças de 0 a 5 anos de idade.
professor avalie todo tempo os objetivos esperados e os rumos to- Criança: Atualmente considerado um sujeito de direitos
mados pelo grupo de alunos, diversificando o seu fazer pedagógico. que, constrói sua identidade pessoal e coletiva produzindo cultura.
Um fator muito importante na avaliação mediadora é o diálo- Currículo: Atividades que relacionam as práticas diárias
go, que nesta concepção é entendido como uma conversa como com o conhecimento prévio de cada aluno, objetivando o desenvol-
o aluno, pois é através dele que o professor vai se aproximar de vimento de crianças de 0 a 5 anos de idade;
seu aluno e despertar o interesse e a atenção pelo conteúdo a ser
transmitido.
24 Por Giovana Gomes de Macedo Luz/Fabio Pestana Ramos
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Proposta Pedagógica:É um documento de base norteado- MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
ra da aprendizagem e desenvolvimento das crianças de que se trata. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
É elaborado num processo coletivo, com a participação da direção,
dos professores e da comunidade escolar. CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
RESOLUÇÃO Nº 5, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2009 (*)
Quanto à matrícula da criança, esta deve ocorrer na idade en-
tre 0 e 5 anos nas creches e pré-escolas próximas às residências, Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil
onde ficarão em tempo parcial (de 0 à 4h diárias) ou integral (igual O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Na-
ou > 7h diárias). cional de Educação, no uso de suas atribuições legais, com funda-
mento no art. 9º, § 1º, alínea “c” da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro
As propostas pedagógicas de Educação Infantil deverão ainda: de 1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131, de 25 de novembro
respeitar os princípios éticos, políticos e estéticos das crianças en- de 1995, e tendo em vista o Parecer CNE/CEB nº 20/2009, homo-
volvidas; ampliar os diferentes conhecimentos infantis; promover logado por Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação,
educação e cuidado, além de igualdade e sociabilidade entre as publicado no DOU de 9 de dezembro de 2009, resolve:
crianças. Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Curriculares
A articulação da proposta pedagógica objetiva garantir à crian- Nacionais para a Educação Infantil a serem observadas na organiza-
ça apropriação de diferentes linguagens, proteção, direito à saúde, ção de propostas pedagógicas na Educação Infantil.
à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação In-
convivência e à interação com outras crianças. fantil articulam-se com as Diretrizes Curriculares Nacionais da Edu-
Quanto à organização do espaço, tempo e materiais, estes deve- cação Básica e reúnem princípios, fundamentos e procedimentos
rão atingir os objetivos lançados na proposta pedagógica, enfatizando definidos pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional
a brincadeira como eixo global de atuação e respeitando à pluralidade de Educação, para orientar as políticas públicas na área e a elabora-
cultural: culturas africanas; afro-brasileiras; combate ao racismo e à ção, planejamento, execução e avaliação de propostas pedagógicas
discriminação; valorização da criança como ser humano. e curriculares.
Quanto ao processo de avaliação, as instituições de Educação Art. 3º O currículo da Educação Infantil é concebido como um
Infantil devem criar procedimentos para acompanhamento do tra- conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os sa-
balho a fim de verificar o desenvolvimento das crianças, sem objeti- beres das crianças com os conhecimentos que fazem parte do pa-
vo de seleção, promoção ou classificação, garantindo: a observação trimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de
crítica; continuidade dos processos de aprendizagem; explanação modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5
dos objetivos atingidos. anos de idade.
Para organizar as diretrizes das quais se trata neste artigo, a Art. 4º As propostas pedagógicas da Educação Infantil deverão
Coordenação Geral de Educação Infantil do MEC estabeleceu víncu- considerar que a criança, centro do planejamento curricular, é su-
lo com diferentes autoridades na área da educação em vários can- jeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas
tos do Brasil, incluindo: Universidades Federais e Estaduais, grupos cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva,
de pesquisas, conselheiros tutelares, ministério público, sindicatos, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta,
secretários e conselheiros, especialistas e muito mais, desta forma, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade,
a elaboração de orientações para a implementação das diretrizes produzindo cultura.
supracitadas é dever do Ministério da Educação, e a Secretaria de Art. 5º A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Bási-
Educação Básica, por meio da Coordenação Geral de Educação In- ca, é oferecida em creches e pré-escolas, as quais se caracterizam
fantil continuará elaborando estratégias em caráter de debate de- como espaços institucionais não domésticos que constituem es-
mocrático, a fim de atender as exigências que melhor representem tabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e
a qualidade da formação e preparação infantil.25 cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em
jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão
Síntese: competente do sistema de ensino e submetidos a controle social.
O atendimento em creches e pré-escolas como direito social § 1º É dever do Estado garantir a oferta de Educação Infantil
das crianças se afirma na Constituição de 1988, com o reconheci- pública, gratuita e de qualidade, sem requisito de seleção.
mento da Educação Infantil como dever do Estado com a Educação. § 2° É obrigatória a matrícula na Educação Infantil de crianças
O processo que resultou nessa conquista teve ampla participação que completam 4 ou 5 anos até o dia 31 de março do ano em que
dos movimentos comunitários, dos movimentos de mulheres, dos ocorrer a matrícula.
movimentos de trabalhadores, dos movimentos de redemocratiza- § 3º As crianças que completam 6 anos após o dia 31 de março
ção do país, além, evidentemente, das lutas dos próprios profissio- devem ser matriculadas na Educação Infantil.
nais da educação. § 4º A frequência na Educação Infantil não é pré-requisito para
Desde então, o campo da Educação Infantil vive um intenso a matrícula no Ensino Fundamental.
processo de revisão de concepções sobre educação de crianças em § 5º As vagas em creches e pré-escolas devem ser oferecidas
espaços coletivos, e de seleção e fortalecimento de práticas peda- próximas às residências das crianças.
gógicas mediadoras de aprendizagens e do desenvolvimento das § 6º É considerada Educação Infantil em tempo parcial, a jor-
crianças. Em especial, têm se mostrado prioritárias as discussões nada de, no mínimo, quatro horas diárias e, em tempo integral, a
sobre como orientar o trabalho junto às crianças de até três anos jornada com duração igual ou superior a sete horas diárias, com-
em creches e como assegurar práticas junto às crianças de quatro preendendo o tempo total que a criança permanece na instituição.
e cinco anos que prevejam formas de garantir a continuidade no Art. 6º As propostas pedagógicas de Educação Infantil devem
processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, sem respeitar os seguintes princípios:
antecipação de conteúdos que serão trabalhados no Ensino Fun- I – Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade
damental. e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes
culturas, identidades e singularidades.
25Fonte: www.psicoativo.com - Por André Pontes Silva.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
II – Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da criticida- § 2º Garantida a autonomia dos povos indígenas na escolha dos
de e do respeito à ordem democrática. modos de educação de suas crianças de 0 a 5 anos de idade, as
III – Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e propostas pedagógicas para os povos que optarem pela Educação
da liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas Infantil devem:
e culturais. I - proporcionar uma relação viva com os conhecimentos, cren-
Art. 7º Na observância destas Diretrizes, a proposta pedagógica ças, valores, concepções de mundo e as memórias de seu povo;
das instituições de Educação Infantil deve garantir que elas cum- II - reafirmar a identidade étnica e a língua materna como ele-
pram plenamente sua função sociopolítica e pedagógica: mentos de constituição das crianças;
I - oferecendo condições e recursos para que as crianças usu- III - dar continuidade à educação tradicional oferecida na famí-
fruam seus direitos civis, humanos e sociais; lia e articular-se às práticas sócio-culturais de educação e cuidado
II - assumindo a responsabilidade de compartilhar e comple- coletivos da comunidade;
mentar a educação e cuidado das crianças com as famílias; IV - adequar calendário, agrupamentos etários e organização
III - possibilitando tanto a convivência entre crianças e entre de tempos, atividades e ambientes de modo a atender as deman-
adultos e crianças quanto a ampliação de saberes e conhecimentos das de cada povo indígena.
de diferentes naturezas; § 3º - As propostas pedagógicas da Educação Infantil das crian-
IV - promovendo a igualdade de oportunidades educacionais ças filhas de agricultores familiares, extrativistas, pescadores arte-
entre as crianças de diferentes classes sociais no que se refere ao sanais, ribeirinhos, assentados e acampados da reforma agrária,
acesso a bens culturais e às possibilidades de vivência da infância; quilombolas, caiçaras, povos da floresta, devem:
V - construindo novas formas de sociabilidade e de subjetivi- I - reconhecer os modos próprios de vida no campo como fun-
dade comprometidas com a ludicidade, a democracia, a sustentabi- damentais para a constituição da identidade das crianças morado-
lidade do planeta e com o rompimento de relações de dominação ras em territórios rurais;
etária, socioeconômica, étnico-racial, de gênero, regional, linguísti- II - ter vinculação inerente à realidade dessas populações, suas
ca e religiosa. culturas, tradições e identidades, assim como a práticas ambiental-
Art. 8º A proposta pedagógica das instituições de Educação In- mente sustentáveis;
fantil deve ter como objetivo garantir à criança acesso a processos III - flexibilizar, se necessário, calendário, rotinas e atividades
de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e apren- respeitando as diferenças quanto à atividade econômica dessas po-
dizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, pulações;
à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brinca- IV - valorizar e evidenciar os saberes e o papel dessas popu-
deira, à convivência e à interação com outras crianças. lações na produção de conhecimentos sobre o mundo e sobre o
§ 1º Na efetivação desse objetivo, as propostas pedagógicas ambiente natural;
das instituições de Educação Infantil deverão prever condições para V - prever a oferta de brinquedos e equipamentos que respei-
o trabalho coletivo e para a organização de materiais, espaços e tem as características ambientais e socioculturais da comunidade.
tempos que assegurem: Art. 9º As práticas pedagógicas que compõem a proposta cur-
I - a educação em sua integralidade, entendendo o cuidado ricular da Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as
como algo indissociável ao processo educativo; interações e a brincadeira, garantindo experiências que:
II - a indivisibilidade das dimensões expressivo-motora, afetiva, I - promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da
cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural da criança; ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que
III - a participação, o diálogo e a escuta cotidiana das famílias, o possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e
respeito e a valorização de suas formas de organização; respeito pelos ritmos e desejos da criança;
IV - o estabelecimento de uma relação efetiva com a comuni- II - favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens
dade local e de mecanismos que garantam a gestão democrática e e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de ex-
a consideração dos saberes da comunidade; pressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical;
V - o reconhecimento das especificidades etárias, das singula- III - possibilitem às crianças experiências de narrativas, de apre-
ridades individuais e coletivas das crianças, promovendo interações ciação e interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com
entre crianças de mesma idade e crianças de diferentes idades; diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos;
VI - os deslocamentos e os movimentos amplos das crianças IV - recriem, em contextos significativos para as crianças, re-
nos espaços internos e externos às salas de referência das turmas lações quantitativas, medidas, formas e orientações espaçotempo-
e à instituição; rais;
VII - a acessibilidade de espaços, materiais, objetos, brinque- V - ampliem a confiança e a participação das crianças nas ativi-
dos e instruções para as crianças com deficiência, transtornos glo- dades individuais e coletivas;
bais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação; VI - possibilitem situações de aprendizagem mediadas para a
VIII - a apropriação pelas crianças das contribuições histórico- elaboração da autonomia das crianças nas ações de cuidado pes-
-culturais dos povos indígenas, afrodescendentes, asiáticos, euro- soal, auto-organização, saúde e bem-estar;
peus e de outros países da América; VII - possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crian-
IX - o reconhecimento, a valorização, o respeito e a interação ças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de referência e
das crianças com as histórias e as culturas africanas, afro-brasilei- de identidades no diálogo e reconhecimento da diversidade;
ras, bem como o combate ao racismo e à discriminação; VIII - incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento,
X - a dignidade da criança como pessoa humana e a proteção o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em
contra qualquer forma de violência – física ou simbólica – e negli- relação ao mundo físico e social, ao tempo e à natureza;
gência no interior da instituição ou praticadas pela família, preven- IX - promovam o relacionamento e a interação das crianças
do os encaminhamentos de violações para instâncias competentes. com diversificadas manifestações de música, artes plásticas e gráfi-
cas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura;
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Conhecimentos Específicos - Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
X - promovam a interação, o cuidado, a preservação e o conhe- (A) Planejar, observar, corrigir e documentar
cimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra, (B) Observar, registar, planejar e executar
assim como o não desperdício dos recursos naturais; (C) Planejar, observar, registrar e documentar
XI - propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças das (D) Observar, planejar, registrar e excutar
manifestações e tradições culturais brasileiras;
XII - possibilitem a utilização de gravadores, projetores, com- 2- Segundo Vygotsky: “o ser humano cresce num ambiente
putadores, máquinas fotográficas, e outros recursos tecnológicos e social e a interação com outras pessoas é essencial ao seu desen-
midiáticos. volvimento”. (apud DAVIS e OLIVEIRA, 1993, p. 56). Um ambiente
Parágrafo único - As creches e pré-escolas, na elaboração da que permite que o educador perceba a maneira como a criança
proposta curricular, de acordo com suas características, identidade transpõe a sua realidade, seus anseios, suas fantasias. Os ambien-
institucional, escolhas coletivas e particularidades pedagógicas, es- tes devem ser ______________________________.
tabelecerão modos de integração dessas experiências. (A) estabelecidos de acordo com os objetivos dos educadores
Art. 10. As instituições de Educação Infantil devem criar pro- (B) planejados de forma a satisfazer as necessidades da criança
cedimentos para acompanhamento do trabalho pedagógico e para (C) estritamente voltados às praticas curriculares
avaliação do desenvolvimento das crianças, sem objetivo de sele- (D) de acordo com a faixa etária das crianças
ção, promoção ou classificação, garantindo:
I - a observação crítica e criativa das atividades, das brincadei- 3- _________________________________________ é uma
ras e interações das crianças no cotidiano; metodologia de trabalho educacional que tem por objetivo orga-
II - utilização de múltiplos registros realizados por adultos e nizar a construção dos conhecimentos em torno de metas previa-
crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.); mente definidas, de forma coletiva, entre alunos e professores.
III - a continuidade dos processos de aprendizagens por meio No trecho acima estamos nos referindoà:
da criação de estratégias adequadas aos diferentes momentos de (A) Análise Pedagógica
transição vividos pela criança (transição casa/instituição de Educa- (B) Análise Curricular
ção Infantil, transições no interior da instituição, transição creche/ (C) Pedagogia Plena
pré-escola e transição pré-escola/Ensino Fundamental); (D) Pedagogia de Projetos
IV - documentação específica que permita às famílias conhecer
o trabalho da instituição junto às crianças e os processos de desen- 4- O papel do educador, em suas intervenções, é o de esti-
volvimento e aprendizagem da criança na Educação Infantil; mular, observar e mediar, criando situações de aprendizagem sig-
V - a não retenção das crianças na Educação Infantil. nificativa. É fundamental que este saiba produzir perguntas perti-
Art. 11. Na transição para o Ensino Fundamental a proposta pe- nentes que façam os alunos pensarem a respeito do conhecimento
dagógica deve prever formas para garantir a continuidade no pro- que se espera construir, pois uma das tarefas do educador é, não só
cesso de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, respeitan- fazer o aluno pensar, mas acima de tudo, ensiná-lo a pensar certo.
do as especificidades etárias, sem antecipação de conteúdos que Podemos afirmar que:
serão trabalhados no Ensino Fundamental. (A) As duas frases estão corretas
Art. 12. Cabe ao Ministério da Educação elaborar orientações (B) A primeira frase está correta e a segunda incorreta
para a implementação dessas Diretrizes. (C) As duas frases estão incorretas
Art. 13. A presente Resolução entrará em vigor na data de sua (D) A primeira frase esta incorreta e a segunda correta
publicação, revogando-se as disposições em contrário, especial-
mente a Resolução CNE/CEB nº 1/99. 5- Segundo Vygotsky (1991), a “brincadeira possui três carac-
terísticas: a imaginação, a imitação e a regra. Elas estão presentes
em todos os tipos de brincadeiras infantis, tanto nas tradicionais,
DIRETRIZES EDUCACIONAIS DO MUNICÍPIO DE naquelas de faz-de-conta, como nas que exigem regras.”. Podemos
PETRÓPOLIS então afirmar que:
(A) Os jogos e as brincadeiras aumentam os laços de amizade
Prezado candidato, as “Diretrizes educacionais do Município (B) Os jogos e as brincadeiras têm como objetivo desenvolver a
de PETRÓPOLIS” não foram disponibilizadas para editora, entre- aprendizagem pela compreensão do mundo e do saber.
tanto, para auxiliar em seus estudos o conteúdo do “Documento (C) Apenas os jogos tem sentido real de aprendizagem
Orientador Curricular 2020” está disponível na “Área do cliente” (D) nenhuma das alternativas acima
em nosso site.
Disponibilizamos o passo a passo no índice da apostila. 6- _______________________é um grande campo a ser de-
senvolvido para o desenvolvimento integral da criança, pois através
EXERCÍCIOS das brincadeiras que a criança descobre a si mesma e o outro e
também um elemento significativo e indispensável que leva a crian-
ça a aprender com prazer e ao mesmo tempo interando-a com o
1- A concretização da avaliação de contexto na Educação In- mundo em que vive. Estamos nos referindo a:
fantil sugere, além do aprofundamento das temáticas emergidas (A) interação
da prática pedagógica, na relação direta com as crianças, sujeitos (B) sociabilidade
principais do processo educativo, a promoção de uma “consciên- (C) ludicidade
cia pedagógica”, nos(as) professores(as), na busca de práticas que (D) experimentação
garantam umconceito de qualidade. Significa dizer que a avaliação
precisa estar vinculada aos demais processos educativos:
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
7- De um modo mais abrangente, a alfabetização é definida (C) São usadas para substituir as técnicas e metodologias con-
como um processo no qual o indivíduo: vencionais, como, por exemplo, o livro, o quadro de giz e o mi-
(A) constrói a gramática e em suas variações, sendo chamada meógrafo.
de alfabetismo a capacidade de ler, compreender, e escrever (D) Os resultados serão favoráveis graças ao grande preparo da
textos, e operar números. equipe docente para qualquer eventualidade, ao longo do pro-
(B) constrói a gramatica e saber decifrar os numeros cesso ensino-aprendizagem.
(C) constrói a gramática e apenas lê e escreve (E) A obtenção de resultados qualitativos no processo educa-
(D) constrói a gramática sabe e operar números. cional escolar com o uso dessas tecnologias depende da forma
como elas são introduzidas e utilizadas nesse processo.
8- O desenvolvimento da linguagem se divide em dois está-
dios: 12. (ICAP). A contribuição da escola é a de:
(A) pré – lingüístico, quando o bebê usa de modo comunicativo (A) Não eleger a cidadania como eixo vertebrador da educação
os sons, sem palavras ou gramática; e o lingüístico, quando usa escolar.
palavras. (B) Colocar-se contra valores e práticas sociais.
(B) balbucio, quando o bebê usa de modo comunicativo os (C) Desenvolver um projeto de educação comprometida com
sons, sem palavras ou gramática; e o lingüístico, quando usa o desenvolvimento de capacidades que permitam intervir na
palavras. realidade para transformá-la.
(C) pré – lingüístico, quando o bebê usa de modo comunicativo (D) Desrespeitar princípios e descomprometer-se com as pers-
os sons, sem palavras ou gramática; e o silabico, quando usa pectivas e decisões que as favoreçam.
palavras. (E) Não valorizar conhecimentos que permitam desenvolver as
(D) pré – balbucio, quando o bebê usa de modo comunicativo capacidades necessárias para a participação efetiva.
os sons, sem palavras ou gramática; e o lingüístico, quando usa
palavras. 13. Acerca da função sociocultural da escola, assinale a opção
correta.
9- “Expressam, comunicam e atribuem sentido a sensações, (A) Os conteúdos escolares devem ser transmitidos aos estu-
sentimentos, pensamentos e realidade por meio da organização dantes para que eles aprendam a se comportar em sociedade.
de linhas, formas, pontos, tanto bidimensional como tridimensio- (B) A escola deve focar especificamente o desenvolvimento in-
nal, além de volume, espaço, cor e luz na pintura, no desenho, na telectual de seus alunos, enfatizando a assimilação de conteú-
escultura, na gravura, na arquitetura, nos brinquedos, bordados, dos científicos.
entalhes etc.” (C) A escola deve estar vinculada às questões sociais e aos valo-
Na frase acima se refere às: res democráticos, visando à construção da cidadania.
(A) Artes do Movimento (D) A escola deve desempenhar seu papel independentemen-
(B) Artes Visuais te do momento histórico e das questões sociais vividas pelo
(C) Artes Sensoriais aluno.
(D) Artes do Aprendizado
14. (ESAF/MF) A respeito da Formação Continuada dos Profis-
10. (ICAP) Um projeto pedagógico poderá ser orientado por sionais da Educação, assinale a opção correta.
três grandes diretrizes: (A) A preparação de docentes para todas as etapas da educação
I. Posicionar-se em relação às questões sociais e interpretar a básica é compromisso público de Estado e exige que se tenha
tarefa educativa como uma intervenção na realidade no momento uma articulação entre formação inicial nos diferentes níveis de
presente; ensino e o sistema de avaliação.
II. Não tratar os valores apenas como conceitos ideais; (B) A Lei n.11.502, de julho de 2010, atribui ao Inep a respon-
III. Incluir essa perspectiva no ensino dos conteúdos das áreas sabilidade pela formação de professores da educação básica –
de conhecimento escolar. uma prioridade do Ministério da Educação.
(C) A Política Nacional de Formação de Professores tem como
Assinale a alternativa correta: objetivo manter a oferta e melhorar a qualidade nos cursos de
(A) Apenas o item I está correto. formação dos docentes.
(B) Apenas o item II está correto. (D) O tema é de tamanha relevância que foi criado um grupo de
(C) Apenas o item III está correto. trabalho nacional para resolver as questões e propor mudanças
(D) Apenas os itens I e III estão corretos. na formação dos professores.
(E) Todos os itens estão corretos. (E) O MEC criou a Rede Nacional de Formação Continuada de
Professores em 2004 com o objetivo de contribuir para a me-
11. (FUNCAB/MPE/RO) As Novas Tecnologias em Educação, lhoria da formação dos professores e alunos.
tais como o uso da informática, a utilização da internet, da mul-
timídia e de outros recursos ligados às linguagens digitais de que 15. (IF-SC) A avaliação constitui tarefa complexa que não se re-
atualmente se dispõe, estão cada vez mais presentes nas escolas sume à realização de provas e atribuição de notas. Nessa perspec-
para qualificar o processo educativo. Sobre elas, é correto afirmar: tiva autores como Haydt (2000), Sant’anna (2001), Luckesi (2002)
(A) Em nada ou muito pouco vêm colaborar para tornar o pro- caracterizam três modalidades de avaliação: diagnóstica, formativa
cesso ensino-aprendizagem mais prazeroso, eficiente e de qua- e somativa. Em relação às modalidades de avaliação associe corre-
lidade. tamente a coluna da direita com a coluna da esquerda.
(B) A integração das novas tecnologias à educação deverá ocor- (1) Diagnóstica
rer de forma aleatória, sem o estabelecimento de objetivos es- (2) Formativa
pecíficos ou projetos próprios, pois o que importa é oferecer (3) Somativa
aos alunos o acesso ao computador.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
( ) Provoca o distanciamento dos autores que participam do 18. (UPENET/IAUPE– UPE) Na educação contemporânea, a or-
processo ensino e aprendizagem. ganização curricular tem como foco
( ) Identifica as aptidões iniciais, necessidades e interesses dos (A) a organização sequencial de disciplinas de um curso.
estudantes com o objetivo de determinar os conteúdos e as estra- (B) o conjunto de atividades planejadas para um curso.
tégias de ensino mais adequadas. (C) o processo dinâmico de organização e construção do conhe-
( ) Constitui uma importante fonte de informações para o aten- cimento pelo estudante.
dimento às diferenças culturais, sociais e psicológicas dos alunos. (D) o percurso da vida educacional e profissional de uma pes-
( ) Fundamenta-se na verificação do desempenho dos alunos, soa.
perante os objetivos de ensino previamente estabelecidos no pla- (E) as normas e orientações dadas durante um programa ou
nejamento. ( ) Realizada durante o processo de ensino e aprendiza- curso.
gem, com a finalidade de melhorar as aprendizagens em curso, por
meio de um processo de regulação permanente.
( ) Subsidia o planejamento e permite estabelecer o nível de GABARITO
necessidades iniciais para a realização de um planejamento ade-
quado.
1 C
( ) Possibilita localizar as dificuldades encontradas no processo
de assimilação e produção do conhecimento. 2 B
3 D
Assinale a alternativa que contém a ordem CORRETA de asso-
ciação, de cima para baixo. 4 A
(A) 3, 2, 1, 1, 1, 3, 2 5 B
(B) 3, 1, 2, 3, 2, 1, 2
6 C
(C) 3,1, 2,1, 2,1, 3,1
(D) 1, 3, 2, 3, 1, 2, 2 7 A
(E) 2, 1, 3, 1, 1, 2, 3 8 A
16. (IBADE/SEE/PB) O processo de ensino pelo qual a matéria 9 C
(conteúdos, conhecimentos sobre determinado fato, aconteci- 10 E
mento ou fenômeno natural) é estudada no seu relacionamento
11 E
com fatos sociais a ela conexos é denominado:
(A) conversação didática. 12 C
(B) trabalho em grupo. 13 C
(C) trabalho independente.
(D) estudo do meio. 14 C
(E) elaboração conjunta. 15 B
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