Aacadmico, O RESÍDUO DE PESCADO E O USO SUSTENTÁVEL NA ELABORAÇÃO DE COPRODUTOS
Aacadmico, O RESÍDUO DE PESCADO E O USO SUSTENTÁVEL NA ELABORAÇÃO DE COPRODUTOS
Aacadmico, O RESÍDUO DE PESCADO E O USO SUSTENTÁVEL NA ELABORAÇÃO DE COPRODUTOS
ELABORAÇÃO DE COPRODUTOS
THE RESIDUE OF FISH AND SUSTAINABLE USE IN THE
PROCESSING OF COPRODUCTS
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-1
A destinação dos resíduos não comestíveis (cabeça, vísceras, escamas e pele) para
alimentação animal tem sido proposta para a fabricação de farinha, silagem e óleo de pescado,
surgindo como opção de baixo custo. Quanto aos resíduos comestíveis do pescado
(espinhaço, aparas da filetagem, pescado de baixo valor econômico), esses têm a opção de
serem empregados na fabricação de formatados, embutidos e reestruturados de pescado. Na
elaboração desses produtos, a Carne Mecanicamente Separada (CMS) e a Carne Triturada de
Pescado (CTP), obtida a partir dos resíduos comestíveis, têm sido usadas como matéria-prima
de baixo custo e elevado valor nutricional. Apesar das tecnologias disponíveis para
aproveitamento dos resíduos, uma parte ainda é descartada de forma inadequada pelas
indústrias. Seu aproveitamento para alimentação animal ou humana mostra-se viável pela
possibilidade de agregação de valor aos resíduos e redução do descarte.
Abstract: The production and consumption of fish has grown significantly in recent years.
However, there are problems related to the disposal of solid waste produced in fish processing.
It is estimated that 50% of the raw material processed is responsible for the generation of
waste. Improper disposal results in serious environmental impacts. The use of emerging and
innovative technologies emerges as an alternative to aggregate value to the waste that is
discarded, reducing environmental pollution problems. The objective of this study was to review
the literature on waste generation in the fish industry and the options for the correct use of this
material, contributing to the sustainability of fisheries and aquaculture. For the selection of
references, the databases ScienceDirect, SCOPUS, Scielo.org, FAO Fisheries and Aquaculture
and Wiley Online Library were used, using the descriptors fish residue and fish co-products. We
selected and included original articles and documents indexed in the period between 2005 and
2017, whose objective and central theme was fish waste. The destination of inedible wastes
(head, viscera, scales and skin) for animal feed has been proposed for the manufacture of flour,
silage and fish oil, appearing as a low cost option. As for edible fish waste (spine, fillets, fish of
low economic value), these have the option of being used in the manufacture of formatted,
embedded and restructured fish. In the elaboration of these products, mechanically separated
meat and minced fish meat, obtained from edible waste, has been used as raw material of low
cost and high nutritional value. Despite the technologies available for the recovery of waste, a
part is still inappropriately discarded by industries. Its use for animal or human feeding is
feasible for the possibility of adding value to the waste and reducing the disposal.
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-2
1 INTRODUÇÃO
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-3
Mesmo com pesquisas sendo desenvolvidas para otimizar o
gerenciamento dos resíduos de pescado, grande parte dessa cadeia,
principalmente a da pesca artesanal e de indústrias de beneficiamento de
pequeno porte continuam realizando o descarte inadequado dos resíduos,
ocasionado sérios problemas ambientais.
Considerando o crescimento da produção de pescado, a importância
socioeconômica da cadeia produtiva, assim como a problemática da geração
de resíduos sólidos, objetivou-se realizar uma revisão de literatura acerca da
geração de resíduos na indústria do pescado e as opções para o correto
aproveitamento deste material, contribuindo para a sustentabilidade da pesca e
aquicultura.
2 METODOLOGIA
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-4
3 PANORAMA MUNDIAL E NACIONAL DA PRODUÇÃO DE
PESCADO
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-5
respectivamente. Em 2014 e 2015, a União Europeia manteve-se como o maior
mercado importador de pescado. (FAO, 2012; FAO, 2014; FAO, 2016)
No Brasil, a produção de pescado é pouco expressiva em relação à
produção mundial. Enquanto a produção mundial atingiu 158 milhões de
toneladas em 2012, no Brasil, em 2011, a produção foi cerca de 1,4 milhões de
toneladas (aumento de 13,2 % em relação a 2010), o que equivale a menos de
0,8% da produção mundial de 2011. Desse modo, o Brasil ocupa a 19ª posição
no ranking da produção mundial de pescado (BRASIL, 2011; FAO, 2014). Na
pesca extrativa o Brasil representa aproximadamente 0,9% da produção
mundial e a produção aquícola equivaleu a 1,1% da produção mundial,
ocupando a 12ª posição mundial (BRASIL, 2014). Em 2014 a aquicultura
brasileira produziu 562.5 toneladas de pescado, ocupando o 14º lugar no
ranking dos maiores produtores (FAO, 2016).
Apesar do crescimento na produção de pescado, o aproveitamento
racional dos resíduos sólidos oriundos do beneficiamento/processamento ainda
é deficiente, pois o setor não emprega as tecnologias emergentes e/ou
inovadoras, que visam o aproveitamento desses resíduos para obtenção de
produtos derivados com qualidade microbiológica, nutricional e sensorial
(SUCASAS, 2011).
Nesse contexto, o desenvolvimento de práticas sustentáveis que
permitam o correto gerenciamento dos resíduos de pescado, e a aplicação de
tecnologias viáveis e aplicáveis podem contribuir para uma maior oferta e
diversificação de produtos derivados de pescado no mercado, incremento na
geração de emprego e renda, além da sustentabilidade da cadeia produtiva
(GODOY et al., 2010; GONÇALVES, 2011).
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-6
que não apresenta valor de uso ou mercado, podendo resultar em danos ao
meio ambiente quando não manejado de forma adequada (SUCASAS, 2011;
REBOUÇAS et al., 2012; PIRES et al., 2014).
Resíduos do pescado, em geral, possuem grande concentração de
material orgânico, e o seu lançamento em corpos hídricos pode proporcionar
decréscimo na concentração de oxigênio dissolvido nesse meio, cuja
magnitude depende da concentração da carga orgânica e da quantidade
lançada, além da vazão do curso d`água receptor (SUCASAS, 2011). Por isso,
a questão ambiental vem sendo destacada como uma das principais
preocupações da sociedade e, desse modo, a população em geral e as
organizações governamentais e não governamentais têm se mostrado mais
conscientes em relação aos danos ambientais causados por atividades
exploratórias não sustentáveis (LIMONGI et al., 2013).
Os entrepostos e as indústrias de beneficiamento de pescado
constituem-se em uma das principais atividades econômicas em nível mundial
(BRASIL, 2014). Em 2012, 136,2 milhões de toneladas (86%) foram destinadas
ao consumo humano direto e 21,7 milhões de toneladas tiveram uso não
alimentício para a fabricação de farinha e óleo de pescado (FAO, 2014). Em
2013 e 2014, 21,4 e 20,9 milhões de toneladas tiveram seu uso não
empregado na alimentação humana respectivamente. A maior parte desse
pescado não aproveitado na alimentação humana, cerca de 76%, foi reduzido
na forma de farinha de peixe e óleo de peixe (FAO, 2016).
A Figura 1 apresenta a relação entre o pescado destinado e não
destinado ao consumo humano. Observa-se ao longo dos anos que essa
relação do pescado destinado ao consumo humano e o não destinado a
consumo humano vem aumentando.
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-7
Figura 1 – Comparação entre o pescado destinado e não destinado ao consumo humano
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-8
crescente da indústria do pescado para a utilização dos coprodutos como
matéria-prima, e como consequência a diminuição do desperdício desse
alimento. Segundo Moreira (2005), a indústria de pescado não tem sido
inovadora, quando comparada às indústrias de carnes e aves, que fazem
melhor uso da matéria-prima e desenvolvem outra via de incorporação da
mesma, na forma de diferentes produtos alimentícios.
O beneficiamento do pescado se inicia com a seleção dos peixes por
tamanho, em seguida são lavados e sofrem congelamento, ou são destinados
à industrialização. Sua comercialização pode ser feita com produtos inteiros,
eviscerados com cabeça, fracionados em filés, postas ou industrializados
(FELTES et al., 2010).
Os resíduos de pescado podem ser divididos em dois grupos, sendo um
destinado à produção animal e o outro para uso na alimentação humana. Os
destinados à produção animal são compostos por vísceras, escamas,
nadadeiras, pele e esqueleto, incluindo a cabeça, os quais são descartados ou
utilizados na produção de farinhas, óleos, silagens e compostagem de peixes
e/ou como fertilizantes. Os resíduos destinados à alimentação humana incluem
a carcaça com carne aderida, chamada espinhaço, após a retirada do filé,
aparas obtidas durante a toalete dos filés, além de espécies da fauna
acompanhante ou de refugos que são descartados na linha de processamento.
Eles são processados e destinados à elaboração de empanados, formatados,
embutidos e reestruturados (VIDOTTI, 2011; PIRES et al., 2014).
A quantidade de resíduos e o rendimento de carcaça do pescado podem
variar de acordo com: a espécie, tipo de corte, tamanho da cabeça, peso do
peixe, sistema de criação, entres outros (VIDOTTI, 2011). A Tabela 1 mostra os
resíduos gerados durante a filetagem da tilápia (Oreochromis niloticus,
Linnaeus 1758). Nesse caso, são gerados em torno de 68% de resíduos em
relação ao peso médio de abate.
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-9
Tabela 1 – Características quantitativas dos filés e dos diferentes resíduos da filetagem de
tilápia (Oreochromis niloticus) em relação ao peso médio de abate
Produtos Peso médio Peso médio
(901 g) (703 g)
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-10
podem corresponder até 60 a 80% do peso total destes animais
(GONÇALVES, 2011). A deposição de conchas que restam após a retirada dos
moluscos em locais inapropriados, causa grave impacto ambiental e econômico
(PIRES et al., 2014), devido ao problema da decomposição da matéria
orgânica com liberação de odores indesejáveis (GONÇALVES, 2011).
Nas empresas do sul do Brasil são gerados 68% de resíduos que são
encaminhados para indústria de farinha de pescado, 23% são destinados para
aterros sanitários e 9% são lançados em rios causando poluição ambiental
(REBOUÇAS et al., 2012). O descarte inadequdo dos resíduos de pescado em
corpos hídricos pode provocar diminuição na concentração de oxigênio
dissolvido no meio, pois, na maioria das vezes, possuem grande concentração
de material orgânico. (SUCASAS, 2011).
O órgão responsável pela normatização dos resíduos sólidos no Brasil é
o Ministério do Meio Ambiente, através do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA). Em 2002, o CONAMA publicou a Resolução nº 313 de
29 de outubro, que dispõe sobre o Inventário Nacional de Resíduos Sólidos
Industriais. Essa resolução traz como finalidade fomentar a política de gestão
dos resíduos, de modo a considerar que todo resíduo sólido industrial existente
ou gerado pela indústria seja objeto específico de controle, sendo parte
integrante no processo de licenciamento ambiental (BRASIL, 2002).
A Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010, institui a política nacional de
resíduos sólidos, integrando-se à política Nacional do Meio Ambiente em
consonância com a Política Nacional de Educação Ambiental e com a Política
Federal de Saneamento Básico. O objetivo principal da política nacional de
resíduos sólidos é a proteção da saúde pública e da qualidade ambiental, como
incentivo a práticas sustentáveis voltados à não geração e/ou redução de
resíduos, reciclagem, reutilização e tratamento, além da destinação
ambientalmente correta dos resíduos (BRASIL, 2010).
Portanto, o setor pesqueiro deve estar enganjado nas propostas de
emissão zero de resíduos (ZERI, “Zeri Emission Research Initiative”), devendo
ainda, dispor de alternativas para o gerenciamento dos resíduos que venham a
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-11
ser gerados, tornando-se um fator diferencial para as empresas, garantindo a
diversificação da linha de produtos, o crescimento sustentável e a
responsabilidade sócio-ambiental, além de realizar ações que contemplem as
etapas de coleta, transporte, transbordo e tratamento de seus resíduos
(BRASIL, 2010; PIRES et al., 2014).
5.1 SUSTENTABILIDADE
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-12
resíduos para desenvolvimento de produtos destinados à alimentação humana,
bem como para alimentação animal (GONÇALVES, 2011).
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-13
prensagem e secagem, sendo essas etapas independentes e consecutivas. Na
“redução seca”, indicado para resíduos de crustáceos (teor de gordura < 3%),
os resíduos sofrem cozimento e secagem em operação conjunta, no digestor,
procedendo-se a evaporação da maioria da água presente, e em seguida
triturado em moinho, ensacado e armazenado (NUNES, 2011).
Embora a farinha de peixe seja extensamente obtida a partir dos
resíduos, ela apresenta baixa qualidade (ARRUDA et al., 2007), principalmente
pelo acúmulo da matéria-prima nas plantas beneficiadoras, o que diminui a
qualidade dos compostos nutricionais. Isso porque, a composição química das
farinhas varia conforme o estado sanitário dos resíduos (NUNES, 2011).
Quando se compara a produção de silagem de pescado com a de
farinha de pescado, observa-se que a elaboração de silagem apresenta
vantagens em relação à fabricação de farinha, pois a obtenção da silagem é
um processo simples, prático, que independe de escala, necessitando de
pouco investimento. Além disso, a emissão de efluentes e odores é menor
(ARRUDA et al., 2007).
Ademais, a silagem possui vantagens nutricionais em relação à farinha
de pescado, uma vez que possibilita melhorias no valor nutritivo pelo aumento
da digestibilidade proteica e pela presença de lisina, metionina e outros
aminoácidos essenciais. No entanto, essas são deficientes em triptofano,
devido à sua instabilidade em meio ácido, quando se apresentam na forma livre
(MORALLES-ULLOA e OETTERER, 1997)
A produção de fertilizantes orgânicos é outra alternativa sustentável para
o uso de resíduos sólidos do pescado. Sanes et al. (2015) avaliaram a
produção de compostos orgânicos e fertilizantes orgânicos líquidos através da
compostagem e fermentação respectivamente. Concluiu-se que, tanto o
composto orgânico como o fertilizante orgânico, a partir do resíduo de pescado,
apresentaram-se como boa fonte de nutrientes, sendo indicados para sistemas
de produção de base ecológica.
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-14
5.3 APROVEITAMENTO PARA ALIMENTAÇÃO HUMANA
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-15
Outra alternativa para o aproveitamento dos resíduos de pescado para
consumo humano é a destinação para obtenção da carne mecanicamente
separada (CMS) para a produção de formatados, embutidos e reestruturados
de pescado. A CMS de pescado é obtida pela passagem do pescado
eviscerado e descabeçado ou de seus resíduos por uma máquina separadora
de carne e ossos, podendo ser lavado com água ou não, drenado, ajustado à
umidade, acondicionado em bloco e congelado (NEIVA e GONÇALVES, 2011).
No Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem
animal (RIISPOA) (BRASIL, 2017), o artigo 338 menciona a denominação CMS
de pescado, definindo-se como o produto congelado obtido de pescado,
envolvendo o descabeçamento, a evisceração, a limpeza destes e a separação
mecânica da carne das demais estruturas inerentes à espécie, como espinhas,
ossos e pele.
No entanto, o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Carne
Mecanicamente Separada (anexo I da Instrução Normativa nº 04 de 31 de
março de 2000) não referencia a CMS de pescado, abordando e estabelecendo
padrões apenas para aves, bovinos e suínos (BRASIL, 2000).
Estudos relacionados aos componentes da CMS de tilápia (Oreochromis
niloticus, Linnaeus 1758) são mostrados na Tabela 2. Observa-se que a
composição química da CMS de tilápia possui semelhança com a do filé,
exceto para o teor de lipídeos (OLIVEIRA FILHO et al., 2010), cuja variação
está relacionada a diversos fatores como: forma de obtenção e processamento
da CMS, época do ano, dieta, idade e sexo (GONÇALVES, 2011).
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-16
Bordignon et al. (2010) elaboraram croquete de tilápia do Nilo a partir de
CMS e aparas do corte em ‘V’ do filé e verificaram uma aceitação moderada, e
concluíram que o produto pode ser uma forma de agregação de valor aos
resíduos da filetagem, tendo boa aceitação pelos consumidores e atendendo
aos padrões de qualidade da legislação. Marengoni et al. (2009)
desenvolveram fishburgers com CMS de tilápia e observaram que todas as
formulações propostas no estudo foram aceitas pelos consumidores.
Neiva et al. (2011) desenvolveram biscoitos à base de CMS de pescado
subutilizado de baixo valor comercial, utilizando-se as espécies Menticirrhus
americanos e Umbrina coroides. Os resultados demonstraram excelente
aceitação do produto pelos consumidores (acima de 90%) e além disso os
biscoitos apresentaram elevado teor de proteínas e aminoácidos essenciais.
A elaboração de patê a partir da CMS de espinhaços de tilápia do Nilo
(Oreochromis niloticus) constitui opção viável para reduzir o descarte
inadequado, uma vez que o produto apresenta boa aceitabilidade sensorial
(média de 7,40), além de qualidade nutricional satisfatória, apresentando entre
8 a 9% de proteínas (MINOZZO et al., 2008).
A partir da CMS ainda pode ser elaborado um extrato de proteínas
miofibrilares com alta capacidade de formar gel, denominado surimi, com
propriedades funcionais que permite a indústria criar produtos com formas e
texturas diferenciadas. Os produtos elaborados a partir de surimi podem ser
classificados em três grupos principais: produtos tradicionais japoneses, novos
produtos e análogos de pescado e embutidos, e produtos extrusados e
moldados. Os produtos tradicionais japoneses incluem o “Kamaboko”,
“chikuwa”, “hanpen” e “satsumaage”. Em relação aos análogos de crustáceos,
podemos citar imitações de caranguejo, denominado “kanikama”, camarão e
lagosta (GODOY et al., 2010; NEIVA e GONÇALVES, 2011).
Mello et al. (2012) produziram hambúrguer de tilápia a partir de polpa e
surimi obtidos do espinhaço residual da filetagem da tilápia (Oreochromis
niloticus, Linnaeus 1758). Os autores concluíram que o produto elaborado
obteve bons resultados, tanto na composição nutricional como na aceitação
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-17
pelos consumidores. Fogaça et al. (2015) desenvolveram hambúrguer de peixe
a partir de surimi elaborado de tilápias do Nilo e concluíram que o produto
apresentou elevado teor proteico, estabilidade lipídica e boa aceitação
sensorial. Em outro estudo conduzido por Santana et al. (2012), os autores
elaboraram pó de surimi e constaram que sua adição em snack de peixe
incrementou nutricionalmente o produto.
Pescado subutilizados de baixo valor econômico, espécies pelágicas de
pequeno tamanho, além de aparas provenientes da filetagem de peixes podem
ser aproveitados para a obtenção da Carne Triturada de Pescado (CTP). O
produto é obtido através da passagem do filé sem pele e/ou aparas por um
moinho elétrico comercial. A CTP é empregada na elaboração de
hambúrgueres, nuggets, almôndegas, sticks, linguiças, salsichas, patês e etc.,
podendo ser adquirida a partir de uma única espécie ou de uma mistura de
espécies com características sensoriais similares. Espécies subutilizadas com
potencial para explotação são as mais indicadas para a obtenção da CTP.
(NEIVA e GONÇALVES, 2011; PIRES et al., 2014).
Fernandes et al. (2011) elaboraram empanados a partir de resíduos da
filetagem de tilápia do Nilo utilizando o resíduo denominado “costelinha”, obtido
das regiões hipoaxial e abdominal. Concluiu-se que a massa de “costelinha”
triturada pode ser empregada como matéria-prima de baixo custo para
elaboração de produtos derivados com valor agregado. Oliveira et al. (2012)
elaboraram um reestruturado, tipo almôndega, com polpa de tilápia e proteína
texturizada de soja. A aceitabilidade do produto foi superior a 70% para todos
os atributos avaliados e a intenção de compra superou os 50% sendo viável a
utilização da polpa de tilápia.
A produção de hidrolisados proteicos de pescado (HPP) a partir dos
resíduos do beneficiamento tem crescido nos últimos anos e constitui grande
potencial para otimização do uso dos resíduos, devido sua qualidade
nutricional. São definidos como produtos constituídos por aminoácidos livres e
peptídeos que apresentam uma vasta gama de massas moleculares
resultantes do maior grau de hidrólise das proteínas. São obtidos por hidrólise
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-18
química (ácida ou alcalina) ou enzimática das proteínas. A modificação da
estrutura proteica é utilizada para melhorar as propriedades funcionais
(BATISTA, 2011).
As propriedades funcionais dos HPP (capacidade de retenção de água,
solubilidade, emulsificação, formação de espuma e absorção de gordura)
permitem sua utilização como ingredientes para produtos alimentares, tanto na
alimentação humana quanto animal (CHAMALAIAH et al., 2012). Kristinsson e
Rasco (2000) testaram a incorporação em diferentes alimentos, como cereais,
peixes, produtos de pecado, produtos cárneos e biscoitos, e tiveram sucesso
nos experimentos.
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-19
Outra alternativa para o aproveitamento do óleo de peixe seria para a
produção de biodiesel. Gomes et al. (2015) extraíram lipídeos das vísceras de
sardinha-verdadeira para produção de biodiesel. O óleo extraído apresentou
um bom rendimento (18,75%) para a produção de biodiesel. Porém, deve-se
atentar para o problema da sobrexplotação de espécies de importância
econômica, como ocorreu com a sardinha-verdadeira na década de 1970 e
1980, que foi quase dizimada do litoral brasileiro. A produção sustentável dos
recursos pesqueiros não compromete as gerações futuras e garante a
segurança alimentar do planeta (BRASIL, 2011; FAO, 2014).
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-20
REFERÊNCIAS
ARRUDA, L. F; BORGHESI, R; OETTERER, M. Use of fish waste as silage– a
review. Brazilian Archives of Biology and Technology, v.50, n.5, p.879-
886, 2007.
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-21
BRASIL FOOD TRENDS 2020. São Paulo: FIESP, ITAL, 2010. 173 p.
Disponível em:
http://www.brasilfoodtrends.com.br/Brasil_Food_Trends/index.htm. Acesso
em: 10 ago. 2015
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-22
http://www.fao.org/3/d1eaa9a1-5a71-4e42-86c0-f2111f07de16/i3720e.pdf
Acesso em: 25 Set. 2015.
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-23
Caracterização microbiológica, sensorial e centesimal de fishburgers de
carne de tilápia mecanicamente separada. Revista Brasileira de Saúde e
Produção Animal, v.10, n.1, p.168-176, 2009.
NEIVA, C.R.P; MACHADO, T.M; TOMITA, R.Y; FURLAN, E.F; LEMOS NETO,
M.J; BASTOS, D. H. M. Fish crackers development from minced fish and
starch: an innovative approach to a traditional product. Ciência e
Tecnologia de Alimentos, v. 31, n.4, p. 973-979, 2011.
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-24
OLIVEIRA, M. C.; CRUZ, G. R. B.; ALMEIDA, N. M. Características
Microbiológicas, Físico-Químicas e Sensoriais de “Almôndegas” à Base de
Polpa de Tilápia (Oreochromis niloticus). Revista Unopar Científica
Ciências Biológicas e da Saúde, v.14, n.1, p.37-44, 2012.
VEIT, J. C.; FREITAS, M. B.; REIS, E. S.; MOORE, O. Q.; FINKLER, J. K.;
BOSCOLO, W. R.; FEIDEN, A. Desenvolvimento e caracterização de bolos
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-25
de chocolate e de cenoura com filé de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus).
Alimentos e Nutrição, v.23, n.3, p.427-433, 2012.
Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.2, n.2, 15, jul./dez., 2017.
15-26