Moções E Práxis Docente Contribuições Da Sicologia À Formação Continuada
Moções E Práxis Docente Contribuições Da Sicologia À Formação Continuada
Moções E Práxis Docente Contribuições Da Sicologia À Formação Continuada
ARTIGO ESPECIAL
e práxis docente
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Souza VLT et al.
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Emoção e práxis docente
Reconhecemos, apesar disso, que a Educação Assim, as políticas públicas de educação passam
é essencial na formação do ser humano, dado a ter como centralidade características pedagó-
que possibilita não apenas romper com o cotidiano, gicas que se fundamentam na ideia de currí-
o imediato e o aparente para apreensão dos as- culos minimalistas e reducionistas, voltados à
pectos que balizam as relações humanas, como adaptação e sobrevivência daqueles que tomam
também permite a ampliação do modo de pensar, parte da escola, e não direcionados ao seu de-
sentir e agir de um povo, de uma comunidade, senvolvimento. Essas medidas corroboram a
de um grupo e de um sujeito. Nesse sentido, a manutenção de uma escola cindida, pautada na
escola é o espaço em que encontram-se os conhe- divisão de classes, em que se excluem as pessoas
cimentos científicos, sistematizados e validados economicamente menos favorecidas.
socialmente. Eis aí a necessidade e importância Fica evidente para nós que a escola e seu modo
da escola, instituição que visa apresentar ao su- de funcionamento no contexto público são in-
jeito os conhecimentos acumulados pelo homem compatíveis com o que lemos nos documentos
e que o ajuda na leitura da realidade objetiva norteadores da educação brasileira. Essa incom-
à luz de saberes que lhe oferecem elementos patibilidade favorece o aumento de conflitos e
culturais para tecer explicações sobre o mundo. tensões, esvaziando-a de seu objetivo central
No que tange à função exercida pela escola - mediar o conteúdo escolarizado, de modo a
no desenvolvimento dos sujeitos e disseminação promover o desenvolvimento do humano e o apri
do conhecimento científico, verificam-se os moramento das relações no e pelo coletivo16.
ideários de um sistema, como aponta Libâneo6, Tem-se, portanto, denunciada a incoerência
que é regido pela economia na qual o pilar é a entre o que se diz ser o objetivo da educação e
perpetuação de uma determinada classe. O autor o que ela de fato é. Por esse motivo, instalam-se
evidencia a existência de um dualismo perverso conflitos e tensões nas relações que se estabele-
da escola brasileira, visto que ela se volta para cem na escola, produto da maneira como a edu-
o acolhimento social dos pobres e para a trans- cação pública se constitui - tensionada e contra-
missão do conhecimento para os ricos. Para ele, ditória - que estão longe de serem resolvidos por
há um desacordo entre os moldes da educação um viés que atribui exclusivamente ao sujeito o
com o papel que a escola possui, uma vez que a sofrimento, o fracasso e/ou sucesso presentes nos
ineficácia das tentativas de resoluções de proble- processos de ensino-aprendizagem, visto que é
mas nesta área é realizada a partir de modelos preciso considerar a dimensão ideológica que
exportados, principalmente europeus, que não atravessa as instituições educativas.
condizem com a realidade do país. São frequentes nas mídias, na literatura e nas
Os documentos vigentes que regulamentam unidades educacionais as representações de que
a educação no Brasil como a Lei de Diretrizes e a escola não tem resultados positivos porque os
Bases7, o Plano Nacional de Educação8 e as Di- alunos não se interessam; os professores não en-
retrizes Curriculares Nacionais para a Educação sinam; os gestores não agem; as famílias são de-
Básica9 trazem em sua fundamentação princípios sestruturadas e os pais não colocam limites aos
que sugerem que a escola é um espaço que ob- filhos. Essas representações, por sua vez, passam
jetiva a emancipação, a cidadania, a equidade, a se constituir como “justificativa” da má qualidade
o desenvolvimento do humano na sua integra- do ensino público, cujo enfoque, ressalta Sou-
lidade, porém, as pesquisas10-15 evidenciam o su za17, recai sobre a memorização e reprodução
cateamento do ensino público, o enxugamento dos conteúdos e não em ações educativas que
dos conteúdos científicos vinculando-os à ideia possibilitem o desenvolvimento do pensamento
do utilitarismo, do imediatismo e, ao mesmo crítico como capacidade de compreensão de si,
tempo, à precarização da formação e condições do mundo e das relações. Nesse caso, a autora
de trabalho dos professores. nos evidencia o quanto o sujeito é impedido de
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Souza VLT et al.
acessar novos modos de pensar, sentir, e agir no materiais que acessam, uma vez que os elementos
mundo, tornando inacessíveis outros níveis de da cultura, produzidos pelo humano, contribuem
funcionamento do próprio psiquismo. Ou seja, para a ampliação da consciência sobre si e sobre
impossibilitando-o de se tornar autônomo no que a realidade; c) investir no desenvolvimento de
diz respeito ao aprendizado e domínio de novos ações educativas a favor das potencialidades que
conhecimentos. apresentam os alunos, professores, gestores e
Resultam dessa situação problemáticas e di- outros atores escolares, enfrentando-se os ideais
ficuldades que se manifestam nos fenômenos da neoliberais que estruturam a educação; d) investir
evasão escolar, interpretada, via de regra, como na valorização do trabalho docente e, consequen-
resultante do desinteresse do aluno em aprender temente, superar a precarização de sua formação
e não de uma escola onde a curiosidade, o gosto profissional; e) colocar o foco do ensino na pro
pelo aprendizado e a importância do saber para moção do desenvolvimento das Funções Psico
a vida são desconsiderados. Há, ainda, como lógicas Superiores (FPS), por meio da apropriação,
causa da má qualidade da educação oferecida, a por parte dos alunos, dos conteúdos escolarizados
presença de diferentes formas de violência entre mediados pela escola.
os sujeitos; a impossibilidade de se lidar com a Importa destacar que o psicólogo escolar é um
alteridade dentro da instituição escolar; o adoeci- dos profissionais que pode contribuir na supe-
mento e o afastamento docente das salas de aula ração destes desafios, por meio de desenvolvi-
que demonstram as escassas condições em que mento de práticas que favoreçam a construção
se encontra submetido tanto de ordem econômica da escola pública como um espaço que efeti-
quanto pedagógica e relacional; o analfabetismo vamente ofereça, para toda e qualquer pessoa,
funcional, dado que grande número de crianças e condições de acesso ao conhecimento acumulado
adolescentes não sabem ler e escrever5,18-20. socialmente e à cultura de modo geral, de maneira
Consequentemente, os sentidos atribuídos que possam entrar em contato com diversas e
às atividades de estudo e também às de ensino diferentes possibilidades de aprendizagem e de-
exaurem-se de significação, não havendo re- senvolvimento21. Para isso, é fundamental que se
flexões constantes acerca das funções a serem compreenda o processo de desenvolvimento das
desempenhadas pela escola, as possibilidades emoções e seu papel na constituição de novas
do conhecimento escolarizado e, sobretudo, os formas dos sujeitos pensarem, sentirem e agirem
papéis e responsabilidades que os integrantes do no e com o mundo.
contexto educativo possuem. Observa-se, assim,
que os processos de adoecimento e o sofrimento AS EMOÇÕES COMO FONTE DOS CON-
de alunos e educadores ganham predominância, FLITOS E ADOECIMENTO DOCENTE
cristalizando-se e produzindo modos de sentir, As emoções possuem papel fundamental na
pensar e agir enrijecidos que, nas palavras de constituição do sujeito, encontrando-se na base
Dugnani12 e Dugnani & Souza13, impossibilitam do desenvolvimento do psiquismo humano.
os indivíduos de se perceberem e tampouco se- Segundo Vygotsky2, assim como outras funções
rem percebidos na construção e transformação psicológicas, a emoção inicialmente tem o seu
de sua própria história, da história do outro e substrato no biológico e se qualifica como função
da cultura. superior na relação do sujeito com o mundo e na
Em meio a este cenário, emergem como princi- apropriação dos signos culturalmente constituí
pais desafios a serem enfrentados pelos formadores dos. O afetivo-volitivo é a força motriz de todo
de professores: a) superar a concepção de homem comportamento humano, dado que toda afecção
e desenvolvimento humano fragmentada da rea- convida o sujeito a uma ação, evidenciando que
lidade social e do contexto; b) reconhecer que os a emoção está na base da constituição dos modos
sujeitos se desenvolvem a partir das condições de sentir, pensar e agir dos sujeitos.
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Emoção e práxis docente
A partir das leituras dos textos de Spinoza¹, de si, do outro e do mundo, aportando-o em uma
entendemos afetividade como a capacidade realidade empobrecida cujas explicações sobre o
humana de afetar e ser afetado, o que, por sua que se experiencia nas relações humanas ocorrem
vez, nos auxilia na compreensão dos afetos e de forma alienada e perversa23.
motivos que formam e orientam as ações e os Nossos estudos evidenciam que a emoção é
comportamentos dos professores, os processos de senhora em diferentes momentos e situações no
adoecimento que acometem sua relação com o contexto escolar. Observamos que os docentes
trabalho, os conflitos e tensões que caracterizam diariamente são confrontados com situações
as relações escolares, dentre outras coisas. Po e problemáticas que, por vezes, não sabem ou
de-se dizer que “a afetividade constitui o sistema não estão preparados para lidar. As impossibi
psicológico que se mobiliza, como unidade, em lidades vivenciadas pelos educadores os fazem
cada ação ou pensamento do sujeito”17. sentirem-se como impotentes, desamparados,
No imbricamento da emoção e do pensamento, desgastados, frustrados, pois não conseguem
a conduta do sujeito se revela como produto de acessar seus alunos e tampouco mediar o conhe
um processo dialético, no qual o social é fonte cimento dentro de sala de aula10,11,14,15,24-26.
para significar o percebido, o sentido e o vivido, Segundo Andrada10, a condição de sofrimento
favorecendo a qualificação da emoção elementar e adoecimento aparece naturalizada no exercício
de docência. Em sua tese de doutorado, a autora
em emoção superior, auxiliando na superação da
apresenta as intervenções realizadas com dois
apreensão da realidade imediata, bem como a
grupos de professores, de duas escolas públicas,
ressignificação daquilo que nos afeta cotidia-
evidenciando sentimentos de solidão, desamparo
namente. Nessa direção, os modos instintivos e
e frustração, em virtude de que tinham que “se
primitivos objetivados pelo pensar, falar e agir
virar sozinhos, sem o apoio dos familiares dos
são transformados, possibilitando ações inten-
alunos, da gestão ou do poder público”, se per-
cionadas e a regulação da conduta²².
cebendo, assim, como únicos responsáveis pela
Porém, com fundamento em Spinoza1, pen-
educação e seus resultados21.
samos que a depender das relações que se esta-
Acrescentam Souza et al.27 que na tentativa
belecem entre o sujeito e seus pares e/ou com o
de darem conta das demandas e pressão viven
meio, as condições concretas que condicionam
ciadas na instituição escolar, os professores aca-
sua forma de se constituir enquanto homem bam construindo posturas defensivas e passam
podem apresentar reações mais primitivas, em a se posicionar como vítimas, em uma situação
que a emoção se torna senhora, isto é, enviesa-se em que não há culpados, de modo a conseguir
sua leitura sobre a realidade e sua capacidade lidar com a sensação de abandono, solidão, in-
de agir sobre ela encontra-se diminuída pelo do- justiça e revolta. Com isso, a depender do nível
mínio do que se sente e pelo desconhecimento do sofrimento, este pode limitar a perspectiva do
das causas do sentir. sujeito, mantendo-o refém do momento presente
Este modo de funcionamento, quando cristali- cuja cristalização de afetos negativos serve para
zado, traz em sua base o conhecimento cotidiano contornar os desafios impostos pela profissão.
para significação, o que impossibilita reconfigurar Percebe-se que se tornou cada vez mais re-
e ressignificar as emoções, resultando no esva- corrente o afastamento e o adoecimento docente,
ziamento das paixões alegres e avolumando as com problemáticas relacionadas tanto à saúde
paixões tristes que podem levar ao adoecimento1 física como mental deste trabalhador. Diariamente,
e, consequentemente, ao padecimento. As condi- são veiculadas nos meios de comunicação (te-
ções materiais e não materiais que não favorecem levisão, internet, jornais, etc) notícias que asse
uma leitura da vida na sua totalidade alijam o veram sobre o grande número de professores que
sujeito da oportunidade de ampliar a consciência se afastam da escola. Segundo Baião & Cunha28
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e Diehl & Marin18, os professores têm se afas- mobilização de si próprio e do outro em relação
tado da escola, principalmente pelas agressões às suas ações que dizem respeito ao ensino e à
sofridas de alunos, por doenças como Lesão aprendizagem. Cabe questionar, no entanto,
por Esforço Repetitivo (LER) e Distúrbio Osteo- como pode o psicólogo escolar contribuir para a
muscular Relacionado ao Trabalho (DORT), tais elaboração das emoções e superação dos confli-
como: disfunções musculares e distúrbios de tos escolares? As práticas de nosso grupo têm se
voz, ou, ainda, por manifestações de quadros de utilizado essencialmente de duas estratégias: a
depressão, ansiedade, estresse, fobias, exaustão primeira diz respeito ao uso de materialidades
emocional e também o distúrbio psíquico de ca- mediadoras - linguagens artísticas diversas,
ráter depressivo conhecido como burnout, que como: músicas, poemas, fotografias, dentre outras
se caracteriza pelo esgotamento físico e mental – com o intuito de promover afecções que possi-
intenso intimamente ligado à vida profissional. bilitem colocar em movimento as emoções dos
Essas constatações denotam o sofrimento na sujeitos; e, a segunda, que focaliza as relações de
turalizado como modo de viver a docência, tor parceria com os atores escolares, principalmente
nando-se condição para a sobrevivência na esco- os professores16,26,27,29.
la10,21. A realidade concreta promove nos docentes No que tange ao uso da arte, sustentamos
um comportamento fossilizado que os impede de nossas ações nos estudos de Vygotski2, especial-
imaginar um devir para as situações escolares. mente em sua obra, “Psicologia da Arte”, na qual
Compreendemos, a partir disso, que a Psicologia explicita que as obras artísticas produzidas histo-
pode contribuir na formação e na construção de ricamente pela cultura humana são uma técnica
espaços dentro da escola que favoreçam a ela- social que favorece a ressignificação das emo-
boração das emoções e dos conflitos escolares, ções. Dessa maneira, em nossas intervenções, a
pela via de reflexões pautadas no conhecimento arte tem se configurado como uma ferramenta
científico, na apropriação de novos signos, na propulsora das emoções dos professores e da
reconfiguração dos sentidos atribuídos às relações emersão das contradições que permeiam o sentir,
estabelecidas e vividas na escola. pensar e agir desses profissionais13,17,21,29-32.
Ao colocar as emoções em movimento, esse
CONHECIMENTO DA PSICOLOGIA E processo pode promover a ampliação da cons-
SUAS CONTRIBUIÇÕES À FORMAÇÃO DE ciência e outros modos de perceber e significar
PROFESSORES: ELABORAÇÃO DAS EMO- a realidade, potencializando a importância da
ÇÕES E SUPERAÇÃO DOS CONFLITOS fala e escuta através do pensar e refletir sobre
Consideramos que o psicólogo escolar pode, as relações como uma unidade dinâmica e em
como profissional que atua e intervém nas re- constante movimento, que incorpora o social.
lações, oferecer importantes contribuições aos Fazer uso da arte no trabalho com educadores,
professores, por meio de ações desenvolvidas nos a nosso ver, abre espaços para que ocorram mu-
momentos de formação continuada que ocorrem danças nas significações da realidade, por meio
na escola. Essas ações visam à reflexão sobre os de intervenções que objetivam transformar a
afetos que perpassam as interações e situações intensidade, o percurso e a qualidade das emo-
vividas no cotidiano escolar, favorecendo a res- ções que são expressas e favorecer a ampliação
significação e construção de outros modos de das formas de sentir, pensar e agir, consigo mesmo,
perceber a si mesmo e o outro, isto é, na relação com o outro e com e no mundo, o que pode po-
com os alunos, com seus colegas, com o conheci- tencializar as possibilidades de escolha e atua
mento, com a escola e com a própria Educação. ção do sujeito na realidade em que toma parte.
Souza17 afirma ser necessário considerar A arte, tal como defendemos, favorece a quebra
a afetividade como importante dimensão na dos discursos recorrentes e cristalizados, coloca
ação docente, devido à sua potencialidade de as emoções em movimento e nos aproxima dos
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Emoção e práxis docente
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transformação39,40. É desta perspectiva, tomando qualificado desta forma, o modo como me per
a realidade como misteriosa e o contexto como cebo e percebo o outro, a forma como sou tratado
constituinte do fenômeno investigado, que nos e trato o outro tendem ao individualismo e ao
dedicamos a compreender a formação continuada corporativismo, perpetuando-se discursos cris-
de professores. E os conhecimentos e práticas talizados no ambiente da escola, que colocam a
desenvolvidos pelos psicólogos escolares têm docência como missão e o professor como herói.
se revelado potentes para tal. Um herói cuja motivação é doar-se como missio-
nário. Então, não há necessidade de se valorizar
CONSIDERAÇÕES FINAIS a profissão, de se investir em melhores salários,
Dugnani12, ao citar Vygotski e Leontiev, afirma ou seja, de se investir na criação de condições ma-
que a consciência emerge da relação dialética teriais que estejam adequadas aos desafios que
entre os motivos, o objeto, a ação e apropriação se impõem à docência. Nesse contexto, poucos
dos resultados, que se constituem e derivam da conseguem o título de herói e muitos padecem
atividade humana, a cisão entre qualquer um e adoecem41,42.
destes elementos resulta em alienação. No Bra- Em consonância aos pressupostos da Psicolo-
sil, as bases neoliberais acabam por inviabilizar gia Histórico-Cultural, buscamos proporcionar
a compreensão da docência em sua totalidade, a outra leitura desses fenômenos ao colocá-los em
partir das dimensões históricas e culturais, o que movimento para assim apreender sua historici-
favorece a naturalização do sofrimento do pro- dade e evidenciando as condições materiais de
fessor como algo que é inerente à sua profissão. sua produção3. Por entendermos que o desenvol-
É essa concepção que está na base de expli- vimento é um processo permanente e que pode
cações individualizantes e culpabilizantes sobre atingir cada vez mais níveis elevados para a
os motivos que levam este profissional a adoecer, compreensão e leituras da realidade, claro quan-
e que o colocam em um lugar de isolamento, e do há condições sociais que favoreçam, acredi-
como único responsável por garantir a sua saúde tamos que os espaços de parceria na escola são
física e mental, revelando uma visão fragmen- necessários para uma atividade profissional que
tada da realidade. Tais distorções, que acabam o professor possa concretizar seu fazer e ser na
por balizar a significação e leitura do mundo e sociedade, e, nesse produto, reconhecer-se e ser
suas relações, denotam o sofrimento ético-político legitimado pelo outro. É por meio da atividade
dos professores, fazendo com que as emoções de que o indivíduo se humaniza e se desenvolve ao
nuances negativas assumam prevalência na longo de sua existência, porém ela está atrelada
orientação da conduta destes profissionais, di ao social que traz em si significações e valores
minuindo sua potência de ação. que balizam a atribuição do sentido da ação43.
Os espaços em que os conflitos e tensões não Se o desenvolvimento é dinâmico, recursivo e
são compreendidos como parte indissociável dos permanente, não há meios de potencializar a ação
processos de ensino-aprendizagem e do desen- dos docentes se não lhes forem proporcionadas
volvimento, e que são tomados como eventos que condições permanentes de reflexões e ressigni-
precisam, a todo custo, ser evitados e/ou contro- ficações do vivido, haja vista que à medida que
lados, não favorecem que o sujeito conheça de nos relacionamos com o social o transformamos
forma crítica a sua realidade, o que pode levá-los e somos transformados34,35. Ou seja, sempre ha-
à idealização dos modos de relação na escola, verá novas demandas do meio as quais podem
tendo em sua base a busca pela harmonia, o que desencadear uma crise, que para ser superada
pode promover o adoecimento coletivo dos pro- necessita de novas formas de vivenciar e se rela-
fissionais da escola. cionar no e com o contexto escolar. E os espaços
Acreditamos que, sobretudo nesta situação, de formação de professores são privilegiados no
o psicólogo pode contribuir. Quando o cotidiano é favorecimento desses novos modos.
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Emoção e práxis docente
SUMMARY
Emotions and praxis teacher: contributions of psychology
to continued training.
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Souza VLT et al.
17. Souza VLT. Contribuições da Psicologia à 29. Souza VLT, Dugnani LAC, Petroni AP, An
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