Luciana Carvalho de Souza
Luciana Carvalho de Souza
Luciana Carvalho de Souza
INSTITUTO DE GEOGRAFIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
Uberlândia
2010
LUCIANA CARVALHO E SOUZA
Uberlândia
2010
Luciana Carvalho e Souza
Banca Examinadora
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para o aluno de graduação. É a partir desse momento que paramos para refletir sobre
todos os momentos difíceis e também felizes que passaram, vendo agora, de maneira tão
rápida. É nesse momento também que percebemos o quanto foi importante a presença
de pessoas queridas ao nosso redor, que nos auxiliaram, deram força e acreditaram no
nosso potencial, muitas vezes, mais do que nós mesmos. Para isso, agradeço aqueles
Primeiramente obrigada minha família querida. Mamãe, Tia Vera, Tia Fátima,
Tio Valdir, Roger e Joe. Sem vocês eu não sou ninguém. Para vocês meu amor
Meus queridos amigos da faculdade e com certeza amigos para a vida inteira.
Obrigada pelas conversas, pelos apoios, pelos trabalhos, pelas discussões proveitosas,
Aos meus amigos de longa data, que mesmo distantes geograficamente, pude
alegria e saudade.
importantes para minha vida. Obrigada João pelos livros, pela leitura e pela confiança.
Científica por três anos a qual me auxiliou a prosseguir com meus estudos.
Introdução.................................................................................................................. 14
Considerações Finais................................................................................................. 76
Referências................................................................................................................. 79
14
Introdução
Nova República, bem como a criação de assentamentos rurais na região, realizando uma
análise ampla da atual situação dos assentados frente a uma crescente expansão do
justiça social.
estado de Minas Gerais, projetos estes que vêm se desenvolvendo a partir de diferentes
de casos, porém ainda não existe uma série histórica de dados que permitam
sistematização dos dados, constatam-se divergências entre alguns dados referentes aos
anos de origem dos assentamentos, número de famílias, tipologia, área e até mesmo na
analisar, sistematizar e espacializar a luta pela terra no estado de Minas Gerais, através
agrária brasileira.
teórica presente neste estudo. Além disso, se fez necessário o trabalho de campo em
alguns assentamentos rurais criados na região sendo estes escolhidos pelo ano de
então presidente José Sarney; PA Nova Santa Inácio Ranchinho, instituído no período
pesquisa.
que o todo o processo de luta dos trabalhadores da terra envolve novas territorialidades.
Assim, o mesmo surge através de estudos realizados ao longo de três anos, por
Este trabalho está dividido em três capítulos, onde são colocadas as discussões e
Alto Paranaíba. Para tanto, foram analisados e discutidos conceitos como território,
buscando a partir da criação dos movimentos sociais de luta pela terra e com o
Por último, são apresentadas as considerações finais desta pesquisa, ao qual são
Minas Gerais.
Esperamos que esta pesquisa possa contribuir para uma melhor compreensão da
luta pela terra no estado de Minas Gerias e da atual conjuntura ao qual se encontra os
espacialização dos movimentos sociais de luta pela terra e a importância das políticas
agrária
Desde meados da década de 1980 o Brasil é regido por políticas neoliberais, cuja
principal característica se refere a uma intervenção cada vez menor do Estado nas
maneira direta o pequeno agricultor e a agricultura familiar que agora tem como seu
“um fenômeno social, que envolve indivíduos que fazem parte de grupos interagidos
entre si, mediados pelo território; mediações que mudam no tempo e no espaço”
tendem a se intensificar, tornando-se cada vez mais acelerada tendo desta forma o
que se faça um maior debate acerca das definições conceituais do mesmo. Segundo
Paulino (2008),
ganhando novas formas e funções sendo utilizado como controle social frente aos
por vários agentes modificadores, que através de tais políticas são sufocados e privados
Os camponeses são um desses grupos que por possuírem menor poder político
de decisão nas políticas públicas sofrem de maneira direta com as novas configurações
homem para um território que atenda os novos anseios do mercado configurando dessa
terra a materialização dessas conflitualidade. Desta forma, Fernandes (2007) afirma que,
caráter tanto conceitual quanto político e social que permeiam as relações entre
vez que as escalas de ação para o enfrentamento dos desafios impostos à segurança
alimentar passam por diversos atores tais como o Estado, os governos sub-nacionais,
Mesmo que possa parecer tênue a relação entre segurança alimentar e disputas
territoriais, tais disputas estão alicerçadas a uma política comumente chamada de “nova
Ademais, uma questão central tomada como referência nesta monografia é que
entendimento deve-se buscar além dos seus conceitos, fatores como a desigualdade
social, de modo que o enfoque sobre a temática seja dado por uma visão intersetorial,
(MALUF, 2007).
21
vez mais regiões, ecossistemas e pequenos agricultores que vêem suas propriedades
cercadas por extensas plantações de soja e cana-de-açúcar, não tendo alternativa se não
arrendar suas terras sendo assim, muitas vezes, privados de seus direitos de escolha
grandes empresas.
total cultivada no Brasil, a agricultura familiar responde por 38% do valor da produção
de alimentos, que abastecem o mercado interno e emprega quase 75% da mão de obra
compreensão das políticas de Reforma Agrária desenvolvidas nos últimos anos bem
população rural, em sua grande maioria, visto que campo-cidade estão altamente
relacionados.
Assim, cada vez mais, a população está vivendo com mais precariedade, sem
alimentação, visto que grande parte do que é produzido é destinado ao mercado externo,
meio a esse sistema, surgem à discussão sobre a Reforma Agrária, agricultura familiar e
questões, como quais são os fatores que permitem que tal configuração se estabeleça.
A proposta então levantada pelo autor sugere uma espécie de transição, ainda
mercado, o que o acaba por inserir e participar de maneira ampla e direta no sistema
familiar camponesa assume. Tal postura, tende a se diferenciar nos países centrais em
perspectivas que assume a agricultura familiar camponesa. Neste caso, vale ressaltar
que se diz respeito à sua representativa nas questões fundiárias. Os avanços dessas
Verifica-se que muitos agricultores, até mesmo assentados rurais, têm arrendado suas
terras e feito parcerias com tais empresas, pois esta seria uma das únicas formas de
rural são explorados pelo grande capital, o que o torna um operário na lógica marxista.
agronegócio através de formas de produção que não sejam tão agressivas ao meio
inclusive dá nome a uma de suas principais obras, surgem com a intenção de tratar a
Por mais que os agricultores familiares não assumam, muitas vezes, um discurso
recursos naturais. Isso tem sido reconhecido, sobretudo, a partir das convenções
Trabalhadores Rurais Sem-Terra) que declarou ser contra o cultivo de transgênicos, tem
move em torno também dos grupos que são afetados pela produção em larga escala, que
dicotomias.
às práticas de produção convencional, adotadas por grande parte dos países do mundo e
que encontram respaldo no sistema capitalista. O que se propõe a partir de então, entre
das empresas e até mesmo do poder público, o que tornará possível mensurar e corrigir
Além disso, torna-se de suma importância a discussão acerca de como e onde estão
países do Sul, como o Brasil, retomando assim os embates acerca da dívida ecológica
primários internacionalmente.
comunicação, nos remeteu durante algum tempo a noção de que havíamos alcançado a
produção vigente na sociedade. Neste sentido, estudiosos como José Eli da Veiga,
Amartya Sen e Celso Furtado, possuem pesquisas fundamentais para distinguir ambas
as idéias, o que nos auxilia “a nos defender dos falsos “consensos” que nos impingem as
país ou região, no qual envolve apenas o que se é produzido. Também é comum nos
depararmos com a noção de que o desenvolvimento é um mito ou até mesmo uma ilusão
autor entende que desenvolvimento não deve ser entendido apenas pelos aspectos
tempo e espaço.
não atinge a maior parte dos países do mundo, e assim fica clara a idéia de que o
crescimento econômico não deve ser considerado sinônimo deste processo, e sim uma
variante do mesmo.
complicada, visto que índices como o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), PIB
ação em busca de melhores condições de vida e até mesmo de felicidade, assim, tais
utopia, numa referência direta ao autor, uma vez que se trata de um conjunto de planos e
ressalta no início de seu livro “Em busca de novo modelo: reflexões sobre a crise
de produzir a noção de “potência emergente”. Nesse sentido, parte dos recursos que
um modelo clássico de industrialização, o que acaba por tornar tal processo ainda mais
forma, partindo do pressuposto que desenvolvimento não pode ser confundido com
poderá acontecer onde ocorrer atenção e projetos voltados a extinguir a exclusão social.
Desta maneira, uma das práticas possíveis para atingir uma menor exclusão
vimos em VEIGA (2005), a lógica do desenvolvimento deve ser pautada também nos
fatores sociais ao qual se insere os aspectos culturais. Entende-se que quanto mais
acesso uma população possui aos bens culturais, mais se aproxima do conceito de
pelas grandes potências mundiais, acabam por descaracterizar a cultura local e, portanto,
levar a uma crise de identidade. Então, pode-se afirmar que o Brasil se torna “frágil em
31
reprodução da vida.
Nota-se que a partir de uma leitura das obras, de Veiga como de Furtado, ambas
embasamento teórico torna-se claro à medida que vão sendo construídas as idéias de
cultura e sustentabilidade.
que melhor atende suas necessidades e perspectivas de vida, sem imposição do Estado
desenvolvidos.
escolher o que consideram importantes para sua existência, Sen (200) trabalha com o
conceito de funcionamentos, que nada mais é do que o conjunto daquilo que o indivíduo
considera fundamental a sua existência e como alcançar tais preciosidades, ou seja, sua
capacidade de ação.
32
[...] entender como uma ordem mundial compassiva pode incluir tanta
gente atormentada pela miséria extrema, pela fome persistente e por
vidas miseráveis e sem esperança, e por que a cada ano milhões de
crianças inocentes têm de morrer por falta de alimento, assistência
médica ou social (SEN, 2000, p.320).
que caracteriza muito o que foi buscado nas questões abordadas , e que enquanto não se
entendido a partir dos conceitos trabalhados até então, não será possível almejar uma
reprodução do campesinato
33
mineiro
Para entender melhor como se dá a luta pela terra no Brasil e o seu caráter
político atual, é necessário que se faça uma revisão histórica pela qual se possa
Com a chegada dos portugueses ao Brasil, a terra recebeu um caráter novo, isto
é, passou de algo essencialmente natural, sem valor, para um meio de produção. Mesmo
que não tivesse valor comercial até a Lei de Terras de 1850, ela conseguia transferir
valor para os produtos originados dela. Portanto, podemos dizer que já apresentava,
distribuição de terras aos sesmeiros (titulares das sesmarias) tornou-se uma prioridade,
pois foi a partir das sesmarias que a produção de açúcar, (plantations) se consolidou no
território. A partir deste momento, foi consolidada uma estrutura que passou a favorecer
brasileira foi marcada pela concentração tanto de terra quanto de renda tornando-se, um
dos países com maior concentração de terras do mundo, o que se torna necessária a
existência de uma política de reestruturação e redistribuição dessas terras faz com que o
Outro fator que colaborou com tal desdobramento no setor rural brasileiro foi a
no Brasil que é base legal até os dias atuais. Stédile (2005) afirma que:
O caminho que a luta pela terra trilhou até a década de 1930 foi bastante
sacrificante. Várias guerras foram travadas durante todo o período: Palmares, Canudos,
Contestado, greves nos cafezais paulistas enfim, tantas outras batalhas que
momento que a luta pela terra no Brasil passa a constituir-se politicamente. Elas foram
Partido Comunista Brasileiro (PCB). “Em 1947, o governo Dutra declarou o PBC ilegal
35
implicações negativas nos preços dos alimentos e na renda real dos trabalhadores rurais”
democracia e pelas incessantes repressões aos camponeses e suas lutas. Foi criado na
época pelo militares o Estatuto da Terra que tinha como função reter os conflitos
Todavia, não há opressão capaz de calar por muito tempo a população. Logo os
década de 1960 e início da de 1970, a luta pela terra emergiu. Como resultado nasceu
em 1975 a Comissão Pastoral da Terra, criada pela Igreja Católica com o compromisso
o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) onde foram articuladas as
Desde então, a luta pela terra se intensifica em todo país. Movimentos sociais,
campo vêm crescendo a cada dia e com isso a luta pela terra vem tomando um caráter
Gerais
sociais de luta pela terra no estado, sendo os mesmos os grandes responsáveis pela
Minas Gerais, devemos compreender, antes de tudo, que estes são formados por pessoas
respeito à realidade em que vivem, travando, muitas vezes, embates nas esferas
conflitualidade, sendo que os territórios se movimentam, também, pela mesma, uma vez
desfragmentação do espaço e do território. Pode-se, então, fazer uma leitura mais ampla
(2004) “ela sempre será uma leitura parcial, porque a totalidade da realidade é um
realidade. Porém, muitos deles, são formados para realizarem apenas uma ocupação, e
logo depois não há mais atuação. Também, existe o caso de movimentos que se
movimentos,
realizadas por movimentos nomeados, e 154 ocupações efetuadas por movimentos com
nomes não identificados ou por quilombolas e indígenas, visto que esta nomenclatura é
abrangente e pode ser designada a mais de um movimento que possui certa identificação
com os mesmos. Juntos, os movimentos sociais de luta pela terra foram responsáveis
1
O projeto é responsável por catalogar as ocupações de terras em Minas Gerais e, por
conseguinte, os movimentos que participam dessas ações.
38
Municípios
Movimentos Socioterritoriais Ocupações Famílias com
Ocupações
Quilombolas 6 637 3
Remanescentes de Quilombos
Índios 2 78 2
ASTT 1 5 1
Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST foi o mais atuante em Minas Gerais entre os
anos de 1988 a 2009, realizando 224 ocupações de terras (cerca de 35% do total) e
famílias que foram assentadas ou até mesmo que estão no movimento, mas sim o
Minas Gerais. Isto se explica pelo fato de que antes mesmo de conquistarem a terra,
muitos são aqueles que acabam por desistir de seus lotes pelas dificuldades encontradas
deslocarem para outros acampamentos para mobilizar mais força durante o período da
ocupação.
luta pela terra com mais de 10 ocupações no estado, verificamos as diferentes coberturas
espaciais que estes desenvolvem, são eles: MST, CONTAG, MLST, LCP, LOC, MTL e
Mapa 1 – Minas Gerais: Espacialização Municipal dos Principais Movimentos de Luta pela
Terra com Maior Número de Ocupações de 1988 a 2009.
41
territorializados.
Para isso, considerou-se que os movimentos isolados seriam aqueles com até
mais de seis municípios com registros de ocupações, entre os anos de 1988 a 2009
(Quadro 2). Para essa análise, foram excluídos os movimentos com nomes não
identificados, os movimentos Quilombolas e Indígenas, uma vez que seria errôneo tratá-
a espacialização da luta pela terra em Minas Gerais e como este estado, tem grande
socioterritoriais.
em todo o território. Por outro lado, elas ainda são marcadas pela exclusão, pela
Brasil, notadamente a partir da década de 1960, não apenas o debate, mas especialmente
a ação pública ficou bastante concentrada em uma visão produtivista, deixando ao largo
discussões sobre concentração fundiária, luta pela terra e Reforma Agrária continuam
É inegável o avanço agrícola pelo qual passou o país como um todo e mais
modernização agrícola não se estenderam à totalidade do meio rural. O país não contou
com políticas consistentes de Reforma Agrária que visasse uma distribuição mais justa
Agrária, no período principalmente no período pós ditatorial que foram criados grande
Itamar, Fernando Henrique Cardoso e Lula. Assim é possível a partir dos dados
44
como nos primeiros mandatos dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula.
Assim, a análise das políticas públicas de Reforma Agrária é fundamental para análise
estado.
45
(MIRAD) e também elaborou um plano pautado sobre o Estatuto da Terra que visava
conhecido como Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA). Segundo Stédile (2005),
estabelecia metas de longo, médio e curto prazo quanto à extensão das áreas a serem
governo Sarney (1990) não atingiu 10% da meta inicial” (RANIERI, 2003, p. 13).
assentamentos foi muito pequeno, quando comparado com a real demanda e com a
Jequitinhonha. Porém, vale ressaltar que mesmo com poucos assentamentos criados no
redistribuição de terras que não estavam exercendo seu papel social, de acordo com a
Constituição Federal.
47
de Reforma Agrária
órgão, a proposta de Reforma Agrária, visto que, durante o período, não foram
Valorização da Pequena Produção Rural – PROVAP, cujo objetivo era destinar créditos
com taxas mais baixas aos agricultores familiares. Porém, os recursos do Programa
eram concedidos pelo BNDES, o que dificultava, aos pequenos produtores, atenderem
Norte De
Urucuia PA Água Branca 20 1991 1992 Desapropriação
Minas
Bonfinópolis
Noroeste De
PA Assa Peixe 50 1989 1992 Desapropriação
Minas
De Minas
Metropolitana
De Belo Funilândia PA João Pinheiro 21 1991 1991 Doação
Horizonte
Sen. Modestino
Jequitinhonha PA Lagoa Bonita 53 1988 1991 Desapropriação
Gonçalves
Norte De
Jaíba PAMocambinho 176 1986 1992 Reconhecimento
Minas
Norte De
Januária PA Picos Januária 65 1989 1992 Desapropriação
Minas
Noroeste De
Pres. Olegário PA Prata Dos Netos 21 1988 1991 Desapropriação
Minas
PA Santa Rosa/
Vale Do
Itaípe 34 1992 1992 Desapropriação
Mucuri
Córr. das Posses
Noroeste De
Unaí PA São Pedro Cipó 80 1988 1992 Desapropriação
Minas
Norte De
Montalvânia PA Vaca Preta 85 1989 1991 Desapropriação
Minas
no período de 1990 a 1994, sendo que dois foram obtidos por compra, um por doação e
apenas legitimados no período, ou seja, já haviam sido obtidos pelo governo anterior.
na cidade de Campo Florido, o PA Nova Santo Inácio Ranchinho com capacidade para
118 famílias.
49
Durante o Governo Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002), foi adotada uma
política neoliberal que na área rural, que dentre suas características destaca-se a
abastecimento interno. Além disso, o fato do Estado não intervir de forma direta na
economia, fez com que a economia agrícola brasileira se subordinasse aos interesses dos
países mais ricos e das grandes transnacionais que monopolizam o setor de produção de
pelos movimentos sociais com a ampliação das ocupações nesse período pressionou o
-15 -15
-20 -20
LEGENDA
Mesorregiões
Nº de Assentamentos
0
1-4
5-8
9 - 12 50 0 50 Kilometers
13 - 17 Fonte: LAGEA, DATALUTA-MG, 2009.
Base: www.geominas .com.br, 2009.
Org.: GONZAGA, H. T.; SOUZA, L. C. 2009.
totais muito superiores a todas as taxas que aferem o processo inflacionário. Além disso,
foi atestado que o financiamento era destinado apenas aos produtores que eram
Fernandes (2001),
Mais uma vez atuação do Governo foi criticada, pois além de encarecer o preço
das elites locais e dificultando a pressão popular que reivindicava uma Reforma Agrária
2.3.4 O Governo Luiz Inácio da Silva (2003 a 2010): o apoio dos movimentos
Foi nesse cenário que Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência da
República no ano de 2003, com o apoio de grande parte das entidades populares de luta
pela terra. Tal apoio fez com que entidades, como o MST e a Contag, tivessem o poder
Lula, a bancada ruralista foi responsável por indicar o nome que assumiria o Ministério
52
Durante sua campanha, Lula apresentou um plano de metas para o setor agrário
para o meio rural; luz para todos; associativismo e cooperativismo entre tantas outras
que, como a maioria destas citadas, não conseguiu alcançar seu objetivo, pois,
Porém, dentre as políticas adotadas durante o período, a que mais teve destaque
foi à elaboração do o II Plano Nacional de Reforma Agrária (II PNRA), que retomava a
mais uma vez, as metas do programa não foram atingidas em sua totalidade,
COLLOR /
1990 - 1994 13 369 3,5
ITAMAR
Estes expressivos números explicam-se pelo fato de que Minas Gerais ainda ser
rurais uma necessidade. Tal fator justifica a alta concentração de assentamentos rurais,
fazendo, desta maneira, com que as ocupações de terra, nesses locais, sejam mais
pontuais e numerosas.
55
rurais têm sido implantadas a partir da concepção de mundo neoliberal exercida pelos
Além disso, grande parte dos assentamentos rurais mineiros ainda possuem
familiar sólida.
no estado de Minas Gerais ainda são muito inferiores a real necessidade e que a região
exige, o que torna a luta e a conquista pela terra um processo que demanda dos
3 CARACTERIZAÇÃO DE EXPERIÊNCIAS EM
PARANAÍBA
criação e histórico de luta. Para tanto, utilizou-se como base inicial de dados o projeto
assentadas.
campo, também como parte metodológica, se sustenta de maneira mais eficiente uma
análise comparativa.
mais aprofundada sobre o tema. Em uma etapa final foram realizados trabalhos de
campo onde foi possível vivenciar o cotidiano das famílias assentadas através de
da sede do distrito.
maneira, sua forma de obtenção foi bastante peculiar e diferenciada da maioria dos
muito tempo não produzia no local. Após laudos realizados pelo INCRA, em 1986, foi
dos Trabalhadores Rurais de Santa Vitória realizou uma ocupação relâmpago que,
ação, esta foi aconselhada pela INCRA, que cerca de 11 pessoas permaneceram
acampadas por 10 dias na área. Após o período, o INCRA realizou a ordem de despejo
do proprietário.
módulo rural da região é de 30 hectares, ou seja, alguns lotes possuem área inferior a
Mineiro/ Alto Paranaíba, todo o processo legal foi bastante rápido. Após um ano, os
emancipado.
significativa, para as famílias, de uma maneira geral, visto que, depois de emancipado,
O PA Cruz e Macaúbas também contou, por algum tempo, com uma escola no
escola foi deslocada para o PA Nova Jubran, também localizado em Santa Vitória,
(2010), a escola foi nomeada Escola Municipal Luiz Dib e atende um total de 100
ensino.
assentamento era a mandioca. Seguindo certa tendência da regional, todos os lotes têm,
como principal fonte de renda, a criação de gado de corte e também leiteiro. Porém, o
gado não é suficiente para o abastecimento das famílias; desta forma, também há
Além disso, grande parte dos produtores trabalham em uma usina de cana-de-
manutenção das famílias, visto que a falta de incentivos faz com que a produção seja
terceiros, sendo que dois destes foram arrendados para a produção de cana-de-açúcar.
fazenda e emancipação do assentamento ter acontecido de maneira ágil, isto não foi o
a CUT, FETAEMG, STR e CPT, ocuparam a Fazenda Colorado, de mais de 5000 ha,
pela Polícia Militar, respaldada pela União Democrática Ruralista – UDR. Desta
Porém, após conflitos com a polícia e também com algumas entidades públicas,
(2002, p. 73), “desta forma, o acampamento nas margens de uma rodovia federal
tornou as lutas dos trabalhadores visíveis para a sociedade local, constituindo-se como
encontrava improdutiva. Porém, desta vez, a reação dos membros da UDR e da Polícia
terra não desistiu de lutar e fazer valer seus direitos. Voltaram para o acampamento na
Agrária.
É nesse momento que a Fazenda Nova Santo Inácio Ranchinho, de 3.890 ha,
em Campo Florido, foi indicada como área passível de desapropriação, para fins de
Reforma Agrária. Foi por meio de muita luta e, principalmente, de pressão exercida
pós-conquista da terra. O parcelamento dos lotes foi realizado com 107 famílias por
fato de algumas ações serem questionadas e não acordadas de maneira única pelo
grupo. Assim, os assentados, principalmente após a definição dos lotes, decidiram por
trabalhadores.
vem arrendando suas propriedades para usinas de cana-de-açúcar. Silva (2007) ressalta
que:
Mesmo indo, muitas vezes, contra seus valores e identidade de luta, a maioria
dos assentados do PA Nova Santo Inácio Ranchinho não vislumbra uma alternativa
incentivos. Porém, ainda vale destacar que, mesmo grande parte dos assentados tendo
62
aderido ao arrendamento, muitos acreditam e esperam que tal situação seja temporária
Reintegração de Posse, que foi concedida ainda no mês de abril e estipulou um prazo
prazo para a desocupação da área. Durante esse período, o MLST entrou com um
propriedade de 1900 hectares, foi considerada improdutiva, pois apenas 20% dela eram
utilizados, para o cultivo de soja. Segundo definições do órgão em questão, para não
foram assentadas, cerca de um ano e meio após a ocupação, período no qual ficaram
MLST, as famílias foram selecionadas e organizadas, cada uma em lotes com cerca de
época e hoje, mais ainda, imensas áreas para a prática da pecuária extensiva e para o
subsistência, como arroz, feijão, milho, mandioca e hortaliças, mas tal prática não teve
e veredas como locais de pastagem. O pisoteamento do solo por estes animais destrói a
gramíneas e leguminosas. Essas áreas vêm sofrendo intenso impacto antrópico, que
assentamento.
Outro fator que afeta os recursos hídricos são os desvios dos cursos d’água,
realizados para disponibilizar água para as áreas de plantações. Quase que em sua
totalidade, os rios e córregos da região não dispõem de água própria para o consumo
64
humano, pois se encontram contaminados por esgoto e por agrotóxicos utilizados nas
grandes lavouras das fazendas vizinhas. As fontes de água boa para o consumo ficam,
então, por conta das cisternas e poços artesianos espalhados por todo o assentamento.
encontrarmos nos lotes valas em que o lixo é jogado e, posteriormente, queimado sem
apesar de não se configurar como uma atividade comercial. O modo de criação dos
porcos é bastante interessante, pois reflete a técnica adquirida pelo trabalhador rural
mangueiro, no qual geralmente são colocados um macho e uma fêmea, com o intuito
espécies que servem de alimento para a criação, como cana, o milho entre outros.
Outro aspecto relevante é que tais plantações não são feitas de forma coletiva, assim
como todo cultivo de hortaliças é feito de forma individual. Desta maneira nota-se que,
se como uma propriedade particular, em que cada proprietário produz, sozinho, aquilo
que necessita.
O PA Rio das Pedras possui uma área comunitária onde se localiza a sede, além
vários institutos e faculdades. Durante o projeto (de 2001 a 2006), foram elaborados e
viveiro de mudas, que seria utilizado por toda a comunidade assentada, porém, apesar
de a estrutura ter sido montada, ela não está sendo utilizada, o que demonstra grande
praticamente completa, com todo o maquinário instalado e pronto para ser utilizado.
Não há, contudo, incentivos públicos financeiros ou técnicos para que se possa iniciar
famílias no campo.
assentamentos do Triângulo Mineiro, e até mesmo do Brasil, mediante a luta pela terra,
66
ou seja, em que a ocupação “é tida como principal forma de acesso ‘a terra’” (GOMES,
2004). Nesse sentido, Fernandes destaca que “para os sem-terra a ocupação como
2001).
que tange à não ocupação da propriedade, posto que, foi através de uma solicitação de
MG, no ano de 1997, reivindicada pelo Movimento de Libertação dos Sem Terras –
da fazenda, esta não atendendo sua função social, como destacado pelo Estatuto da
quando a terra, não atingir os índices de produtividade de cultura por área, bem como
não cumprir sua função social, esta pode ser desapropriada, com fins para Reforma
Agrária.
encerrado naquele momento, mediante o INCRA não concordar em pagar mais do que
os preços tabelados para a compra de terras, esse fator sugere que o valor cobrado para
que a terra não fosse desapropriada foi planejado, possivelmente pelo proprietário de
Durante alguns anos a área deixou de ser foco dos movimentos sociais para a
MLST, ocupou a Fazenda São Domingos com cerca de 400 pessoas. Mas, pouco tempo
Mesmo assim, os manifestantes voltaram a ocupar a área, sendo muitas vezes forçados a
manifestantes deixaram as mediações da fazenda, uma vez que estes foram levados para
prefeitura local. Esta ação foi aceita como alternativa para famílias se instalarem até que
o INCRA encontrasse uma localidade para alojá-las. Outro fator reside que, naquele
enviado para ocupar a Fazenda Água Viva enquanto o segundo grupo foi direcionado
para ocupar a Fazenda Taperão. É importante salientar que nessa última ocupação
foram deslocados, juntamente com outros militantes do MTL da região, para uma nova
Tanto que o MTL apresentou junto ao Ministério Público Federal e a Justiça Federal,
movimento.
Porém, estes são criados e auto-geridos pelos assentados, cuja posse da terra é atribuída
MTL e implantada no assentamento São Domingos desde sua criação foge a essas
da terra, esta fica ao MTL, pois “não há divisão de lotes entre as famílias e os lucros são
COERCO, são locados numa área de uso individual de cerca de 2ha de terras, na qual
podem construir sua moradia e fazer a escolha de uso de produção nesse pequena área,
cooperativa.
destinada à cooperativa onde o uso e o tipo de produção que serão realizados no local
igualitária, respeitando o trabalho desenvolvido por cada um. Porém, um fator que
também, todavia deve-se destacar que às mulheres e as crianças são atribuídas funções
menos penosas do que o trabalho braçal do campo, como a debulha de milho, além de
70
Outro fator, que de certa forma acaba sendo um pouco contraditório e que ocorre
que ocupava. Somente as benfeitorias que o assentado realizou na área individual, é que
são pagas pela cooperativa ao ex-associado, verificando-se assim que o “assentado” não
Devemos deixar claro que a maioria dos assentados da Fazenda São Domingos,
não são mais, os mesmo que participaram da ocupação inicial e final da terra, mas
(INCRA) que teriam assento no projeto apenas famílias quem concordasse com o
Com isso, esperam-se mudar a atual realidade para com o acesso à terra e os
assentados, onde estes são individualmente postos na terra, porém dificilmente recebem
uma área de 2144 hectares. A expectativa e limite máximo a serem assentadas são de
COERCO.
conseqüentemente os seus meios, são realizados manualmente, com quase nenhum uso
europeus.
350 mil, de acordo com a COERCO. Essa produção foi a primeira safra comercializada
72
pela cooperativa. De acordo com Sousa (2007), nessas áreas de produção apresentadas,
foram colhidas 1,2 mil sacas de arroz, 40 sacas de feijão preto, 34 sacas de feijão
Distribuição de Alimentos. Deve ser observado que, uma pequena parte desta produção
inicialmente para suprir as demandas do assentamento, que passará da área atual para
3ha. Isso ocorrerá mediante o fornecimento de alface, couve, agrião, cebolinha, jiló e
chuchu, para canteiro de obras da pequena central hidrelétrica (PCH) de Malagone, que
trabalhadores da usina.
assim sua força. Isso pode também ser constatado mediante o não abandono das
Domingos, observamos que grande dos entrevistados, possuem pouca instrução, tanto
Porém, isso não impediu que estes assentados desenvolvessem suas atividades
dependências do Projeto Assentamento São Domingos - Escola Família Rural, que está
situada na antiga sede da fazenda e oferece aulas de ensino médio com técnico agrícola,
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porém ainda não acessível aos cooperados da COERCO ou aos filhos dos associados
escolar estão matriculados nas escolas em Tupaciguara–MG, estes vão para a cidade de
2004, com alunos que cursavam o ensino médio concomitante ao técnico, voltado às
Dessa maneira, apoiado pelo MTL, decidiu-se mudar a sede da escola para a
assentamento rural que se instalava na São Domingos e que o apoio que a Escola
Família Rural poderia dar a COERCO, gerariam pontos fundamentais para a mudança
Rural não pertencem ao assentamento, e sim são advindos de cidades próximas e em sua
Domingos, visto que esta foi trazida para atender a demanda de estudantes do
fortalecerem o movimento.
desenvolveu diretamente, aos assentados dos PA’s em que ela se instalou ações que
visassem unir as atividades educativas da escola para com estes no que tange a falta de
assentamento rural gerido por uma cooperativa e por um movimento de luta pela terra.
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Considerações Finais
A partir de uma análise temporal das políticas de Reforma Agrária nos últimos
com a formação dos principais movimentos sociais de luta pela terra, é possível
importância ao surgimento da luta por acesso à terra, que aparece como uma das
de luta pela terra e das famílias assentadas, alcançam outro patamar de negociação, e
entre as diversas regiões do estado, o fator humano ainda é decisivo para o sucesso e a
constituem o elementos principais de sucesso, mas sim a história dos beneficiários e sua
real relação com a terra, bem como suas perspectivas de vida para aquilo que os levaram
e até mesmo ausência de políticas públicas compatíveis com a real necessidade do Sem-
Paranaíba, de maneira que foi possível através dos dados do DATALUTA, apresentar
monopolizadora.
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Referências
LEITE, S. et al. Impactos dos assentamentos: um estudo sobre o meio rural brasileiro.
São Paulo: Unesp, 2004.
SANTOS, M. O retorno do território. In: Santos, Milton; Souza, Maria Adélia; Silveira,
Maria Laura (org.). Território – globalização e fragmentação. São Paulo:
Hucitec/Anpur, 1996.
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SEN, A. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.