SILVESTRE - Influência Dos Sistemas Construtivos Nas Modificações Promovidas Pelo Usuário em Unidades de HIS PDF
SILVESTRE - Influência Dos Sistemas Construtivos Nas Modificações Promovidas Pelo Usuário em Unidades de HIS PDF
SILVESTRE - Influência Dos Sistemas Construtivos Nas Modificações Promovidas Pelo Usuário em Unidades de HIS PDF
São Paulo
2013
MICHELLI GARRIDO SILVESTRE
São Paulo
2013
MICHELLI GARRIDO SILVESTRE
Área de concentração:
Engenharia de Construção Civil e Urbana
Orientador:
Prof. Dr. Luiz Reynaldo de Azevedo Cardoso
São Paulo
2013
FICHA CATALOGRÁFICA
Ao Prof. Dr. Luiz Reynaldo de Azevedo Cardoso por aceitar o desafio de me orientar
neste trabalho.
Ao Prof. Dr. Francisco Cardoso e ao Prof. Dr. Francisco Comaru pelas preciosas
contribuições no exame de qualificação.
À Eng. Graciana Nascimento pelo incentivo e pela preciosa ajuda sem a qual este
trabalho não teria sido realizado.
À Msc. Eng. Patrícia Mendes Silva por me atender prontamente e por me fornecer as
informações necessárias e ao Eng. Heros José Vieira por abrir as portas da CDHU –
Regional Vale do Paraíba para a realização desta pesquisa.
Ao Arq. Tiago Ferrari e ao Arq. Carlos Chaves pelas informações prestadas e pela
paciência em atender prontamente aos meus questionamentos.
Aos companheiros da ABCP – Associação Brasileira de Cimento Portland e à própria
instituição pela oportunidade de realizar este trabalho, pelo incentivo, paciência e
pelas valorosas contribuições.
À Prof.ª Miriam Gellert Paris, da Escola de Engenharia Mauá, a primeira a me
mostrar como a engenharia civil pode contribuir para as questões urbanas.
À minha família e amigos pelo apoio e por entenderem a minha ausência nos últimos
meses.
Ao Makao, pelos momentos de relaxamento, paz e alegria.
Aos meus irmãos, Mario e Marília, pelo apoio, incentivo e pela ajuda com as
traduções e revisões durante esse período.
Aos meus pais, Clara e Mario, pela compreensão, paciência, pelo apoio
incondicional e por me darem o suporte necessário para superar mais essa fase.
E a Deus, por colocar seres tão especiais em meu caminho, orientar minhas
escolhas e guiar minha vida.
Se não houver frutos,
valeu a beleza das flores.
Se não houver flores,
valeu a sombra das folhas.
Se não houver folhas,
valeu a intenção da semente.
In recent decades, the quality of the housing projects of social interest has been
largely discussed by Brazilian researchers due to several technical and functional
matters reported by dwellers after occupation. To identify these problems and their
causes, post-occupancy evaluation processes are applied, which have shown over
the years, a lot of dissatisfaction with various aspects of constructions, resulting in
house modifications, oftenly without quality, further compromising their state. In order
to improve the quality of these changes, it is possible to adopt some procedures.
However, there is still a great lack of knowhow from professionals about what
happens in the built environment during its use, them, being still necessary to
sharpen the studies in this direction. Thus, the post-occupancy evaluation research
presented here aims at identifying the main changes made by the dwellers of
horizontal housing enterprises, its causes and possible mechanisms to reduce,
control or plan these changes. For the development of the proposed study literature
research was conducted and post-occupancy evaluations was made in three housing
enterprises. Thus, making an analysis of past and present experiences, it was
possible to generate enough content to support proposals for improvements in
housing programs.
Tabela 1 – Descrição das unidades do Conjunto São Luiz do Paraitinga “C” ........... 91
Tabela 2 – Síntese da avaliação de satisfação realizada pela ONG InterAção......... 93
Tabela 3 – Resumo do relatório de análise das anomalias nas casas de Cunha ... 138
Tabela 4 – Descrição das unidades habitacionais do Conjunto Cunha “B” ............. 139
Tabela 5 – Descrição das unidades habitacionais do Conjunto Lagoinha “A” ......... 182
Tabela 6 – Comparativo entre as famílias de blocos de concreto ........................... 185
Tabela 7 – Famílias de blocos................................................................................. 186
Tabela 8 – Tipologias e prováveis causas de fissuras verticais .............................. 197
Tabela 9 – Tipologias e prováveis causas de fissuras inclinadas ........................... 197
Tabela 10 – Tipologias e prováveis causas de fissuras horizontais ........................ 198
LISTA DE SIGLAS
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 20
1.1 Contextualização......................................................................................... 20
1.2 Justificativa ................................................................................................. 24
1.3 Objetivo ....................................................................................................... 25
1.4 Hipóteses .................................................................................................... 25
1.5 Estrutura da dissertação ............................................................................. 26
2. HABITAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE SISTEMAS CONSTRUTIVOS NO
BRASIL ........................................................................................................... 28
2.1 Conceituação .............................................................................................. 28
2.1.1 Casa, moradia e habitação .................................................................. 28
2.1.2 Técnicas, métodos, processos e sistemas construtivos ...................... 29
2.1.3 Racionalização, industrialização e inovação tecnológica..................... 30
2.2 A habitação no Brasil a partir do final do século XIX................................... 32
2.2.1 Políticas Habitacionais das últimas décadas no Estado de São Paulo 39
2.3 A etapa de projeto na construção civil ........................................................ 41
2.4 Adoção de sistemas construtivos inovadores ............................................. 43
3. AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO ..................................................................... 47
3.1 Conceituação .............................................................................................. 47
3.2 Histórico ...................................................................................................... 54
3.3 Tipos de avaliação pós-ocupação ............................................................... 57
3.3.1 Avaliação dos aspectos funcionais ...................................................... 57
3.3.2 Avaliação dos aspectos construtivos ................................................... 57
3.3.3 Avaliação do conforto ambiental .......................................................... 57
3.3.4 Avaliação econômica ........................................................................... 58
3.4 Métodos e técnicas de avaliação pós-ocupação ......................................... 58
4. MODIFICAÇÕES REALIZADAS PELOS MORADORES EM UNIDADES
DE HIS ............................................................................................................ 65
4.1 Flexibilidade de projeto ............................................................................... 69
4.2 Assistência técnica para melhoria habitacional ........................................... 73
5. METODOLOGIA DA PESQUISA .................................................................... 75
5.1 Revisão Bibliográfica................................................................................... 75
5.2 Estudos de Caso ......................................................................................... 75
5.2.1 Definição da região e empreendimentos estudados ............................ 75
5.2.2 Preparação e Realização da Pesquisa de Campo............................... 77
5.3 Análise e Considerações ............................................................................ 79
6. O CASO DE SÃO LUIZ DO PARAITINGA...................................................... 81
6.1 O Empreendimento ..................................................................................... 81
6.1.1 Cenário ................................................................................................ 81
6.1.1 Descrição e histórico ............................................................................ 84
6.1.2 Sistema Construtivo: Concreto PVC - Royal Building Systems (RBS). 93
6.2 O Estudo de Caso ..................................................................................... 107
6.2.1 Apresentação e Análise dos Resultados das Entrevistas .................. 108
6.2.1 Apresentação e Análise dos Resultados da Avaliação Técnica ........ 116
7. O CASO DE CUNHA .................................................................................... 129
7.1 O Empreendimento ................................................................................... 129
7.1.1 Cenário .............................................................................................. 129
7.1.2 Descrição e histórico .......................................................................... 132
7.1.3 Sistema Construtivo: paredes de concreto celular moldadas in loco . 140
7.2 O Estudo de caso...................................................................................... 155
7.2.1 Apresentação e Análise dos Resultados das Entrevistas .................. 155
7.2.2 Apresentação e Análise dos Resultados da Avaliação Técnica ........ 163
8. O CASO DE LAGOINHA .............................................................................. 173
8.1 O Empreendimento ................................................................................... 173
8.1.1 Cenário .............................................................................................. 173
8.1.2 Descrição e histórico .......................................................................... 176
8.1.3 Sistema Construtivo: Alvenaria estrutural com blocos de concreto ... 183
8.2 O Estudo de caso...................................................................................... 207
8.2.1 Apresentação e Análise dos Resultados das Entrevistas .................. 208
8.2.2 Apresentação e Análise dos Resultados da Avaliação Técnica ........ 216
9. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS GLOBAIS........................... 229
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 234
11. REFERÊNCIAS ............................................................................................ 237
APÊNDICE A – Diretrizes e roteiro para entrevistas em campo .............................244
APÊNDICE B – Formulário de caracterização dos empreendimentos ....................245
APÊNDICE C – Formulário de visita e entrevista com moradores ..........................250
ANEXO A – Quadro resumo do perfil dos municípios visitados ..............................258
20
1. INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização
1.2 Justificativa
1.3 Objetivo
1.4 Hipóteses
Capítulo 1: Introdução
Apresenta a contextualização do problema, as hipóteses, o objetivo, a justificativa e
a estrutura da dissertação.
2.1 Conceituação
aplicadas, fazendo com que, por sua vez, nos projetos surjam os sistemas
construtivos.
Os conceitos de processos e sistemas construtivos são muito próximos, mas
apresentam uma relação de subordinação, sendo que a definição de sistemas
construtivos apresenta um caráter mais complexo, afirmam Concílio e Abiko (1998).
Martucci e Basso (2002) explicam que os sistemas construtivos representam
um determinado estágio tecnológico indutor da forma de se projetar e executar os
edifícios, ou seja, sintetizam o conjunto de conhecimentos técnicos e organizacionais
referentes aos materiais de construção, componentes, subsistemas construtivos,
máquinas, equipamentos, ferramentas e instrumentos produzidos para o setor da
construção civil.
Já Sabbatini (1989) define sistema construtivo como “um processo construtivo
de elevados níveis de industrialização e de organização, constituído por um conjunto
de elementos e componentes inter-relacionados e completamente integrados pelo
processo”.
Concílio e Abiko (1998) lembram que as definições de Sabbatini (1989) têm
sido utilizadas em todos os trabalhos desenvolvidos na Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo (EPUSP). Dessa forma, adotaremos aqui também essas
definições a fim de manter a mesma linha de raciocínio já adotada em trabalhos
anteriores.
Martucci e Basso (2002) lembram, ainda, que os sistemas construtivos podem
ser subdivididos em vários subsistemas e, nesse sentido, ao iniciar-se a elaboração
dos projetos de uma edificação habitacional, tem-se uma infinidade de situações
possíveis de serem propostas. Assim, os autores afirmam que praticamente tudo é
possível, entretanto, questionam: “será que tudo que é possível no plano projetual
será viável do ponto de vista da execução propriamente dita, ou seja, do ponto de
vista da produção?”.
2001; LIMA, 2008). De acordo com Lima (2008), nos dois primeiros anos, os
recursos do BNH vinham do percentual de 1% das folhas de pagamento e, a partir
de 1966, o banco passou a operar por meio do Sistema Financeiro da Habitação
(SFH), composto pelo Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e pelo
Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE).
Assim, foi adotado um plano de construção intensiva de unidades para venda
por meio do financiamento da habitação popular, crescendo o estímulo à obtenção
da casa própria. Se por um lado o objetivo era incentivar a obtenção da casa própria,
por outro, pretendia-se criar condições favoráveis ao desenvolvimento da indústria
da construção civil e gerar mais empregos (PALHARES, 2001; LIMA, 2008).
Pouco antes dos anos 70, o país experimentou um período de grande
crescimento denominado “Milagre Econômico”. O país crescia rapidamente na área
econômica e a expansão industrial, aliada à melhora dos índices salariais e à
repressão política, incitou uma explosão consumista entre os setores médios da
população. O período foi marcado pela execução de grandes obras da iniciativa
pública e significativa expansão do crédito.
Segundo Lima (2008), os agentes designados para implantar esse programa
foram as Companhias de Habitação (COHAB’s), que atendiam famílias com renda
na faixa de 1 a 3 salários mínimos, e os Institutos de Orientação a Cooperativas
Habitacionais (INOCOOP’s), que atendiam famílias com renda na faixa de 3 a 5
salários mínimos. Segundo o autor, as propostas arquitetônicas adotavam a prática
de maior quantidade possível de habitações em espaços menores e em larga
escala, utilizando-se dos superblocos.
Também nesse período, questionou-se a competência da indústria da
construção e intensificaram-se as discussões quanto ao “atraso tecnológico” do setor
e questões como o aumento da produtividade e redução de custos passaram a ter
maior importância devido à produção de bens de consumo em massa (HOLANDA,
2003). Gonçalves et al. (2003) descrevem que, a partir dos questionamentos,
verificou-se a oportunidade da utilização de novos sistemas construtivos (como
alternativas aos produtos e processos tradicionais até então utilizados) visando,
principalmente, a racionalização e industrialização da construção.
Segundo Farah (1996 apud HOLANDA, 2003), a introdução de “sistemas
construtivos inovadores” ou ainda “sistemas industrializados”, baseados na pré-
35
fabricação, na maioria trazidos de outros países, foi a resposta dada pelas empresas
construtoras de edifícios aos questionamentos e discussões sobre o atraso do setor.
HOLANDA (2003) conta que, do final da década de 60 até o início da década de 80,
a construção de grandes conjuntos habitacionais também marcou uma etapa
importante da história da construção de edifícios no Brasil, com alterações
tecnológicas voltadas para a industrialização da construção.
O otimismo tecnológico que existia até então entrou em crise no final da
década de 70 e as propostas, baseadas na repetição de elementos e espaços pré-
fabricados e em sistemas construtivos fechados, não tiveram continuidade devido ao
seu alto custo. Neste momento, Folz (2008) descreve o surgimento de uma nova
visão para se produzir edifícios: a visão sistêmica, onde não se separa o edifício
como um todo e sua interação com o usuário e o meio.
De acordo com Marroquim e Barbirato (2007), grande parte dos
empreendimentos construídos entre as décadas de 60 e 80, financiados pelo BNH,
custava caro e não atendia às necessidades de seus proprietários, com destaque
para as dimensões reduzidas. De acordo com Palhares (2001), as propostas
tipológicas do BNH estavam longe das articulações dos IAP’s, mas mantinham o
padrão de casas térreas, sobrados e blocos de apartamentos. O autor caracteriza a
atuação do BNH pela busca pela economia e priorização do atendimento de
demanda quantitativa, resultando na redução progressiva da área construída das
habitações e da qualidade de seus materiais de acabamento.
Segundo Bonduki (2008), é necessário enfatizar, ainda, o desastre, do ponto
de vista arquitetônico e urbanístico, da intervenção realizada. Para o autor, dentre os
erros praticados se destacam a opção por grandes conjuntos na periferia, a
desarticulação entre os projetos habitacionais e a política urbana e o absoluto
desprezo pela qualidade do projeto. O resultado foram soluções padronizadas e sem
nenhuma preocupação com a qualidade da moradia, com a inserção urbana, com o
respeito ao meio físico e com as peculiaridades de cada região do país, afirma.
O BNH foi extinto em 1986 e, segundo Palhares (2001), durante 22 anos, o
banco financiou casas para a população de todas as faixas de renda através da
promoção pública e, principalmente, pela promoção privada da incorporação
imobiliária. De acordo com o autor, o BNH financiou praticamente 25% do
incremento de moradias construídas no Brasil neste período, sendo que menos de
36
edifícios (BARROS, 1998). A partir daí, entretanto, a década foi bastante estagnada.
Nos anos 90 não havia pressa para se construir. De acordo com Holanda (2003),
nesse período o setor de edificações passou por diversas mudanças, consolidando-
se a partir daí uma nova situação de mercado, provavelmente em consequência da
menor intervenção do Estado.
Ainda de acordo com Bonduki (2008), emerge nessa época um amplo
conjunto de experiências municipais de habitação de interesse social, realizadas a
partir da redemocratização do país, marcando uma fase de diversidade de
iniciativas, mas pouco articulada em decorrência da ausência de uma política
nacional. Segundo ao autor, nesta fase, surgem, além das intervenções tradicionais,
programas que adotam pressupostos inovadores como desenvolvimento
sustentável, diversidade de tipologias, estímulo a processos participativos e
autogestionários, parceria com a sociedade organizada, reconhecimento da cidade
real, projetos integrados e a articulação com a política urbana.
Em 1995, com o início do governo Fernando Henrique Cardoso, ocorre uma
retomada nos financiamentos de habitação e saneamento com base nos recursos do
FGTS, interrompidos no governo Collor, entre 1991 e 1995 (BONDUKI, 2008).
Embora não tenha sido criada, de fato, uma política habitacional, Bonduki
(2008) acredita que os pressupostos gerais que presidiram a formulação dos
programas habitacionais incorporaram princípios como flexibilidade,
descentralização, diversidade, reconhecimento da cidade real, entre outros,
rejeitando os programas convencionais, baseados no financiamento direto à
produção de grandes conjuntos habitacionais e em processos centralizados de
gestão.
No decorrer dos anos descritos, a partir da atuação do BNH e até o início dos
anos 2000, é possível perceber que a busca por processos racionalizados de
construção levou à implantação de tecnologias ainda não suficientemente
desenvolvidas ou adaptadas às necessidades do país, gerando, na maioria dos
casos, experiências desastrosas. Os resultados geraram prejuízos para todos os
agentes intervenientes no processo de construção. Para os usuários, foram
transferidos os problemas de patologia e os altos custos de manutenção e reposição
provocados. E, para o setor da Construção Civil, as experiências negativas tornaram
38
No Brasil, a falta de qualidade dos projetos tem sido apontada como uma das
principais barreiras para o avanço tecnológico e organizacional da indústria de
construção de edifícios (GRILO et al., 2003). Segundo Fabrício, Baía e Melhado
(1998), os projetos na construção de edifícios têm um papel fundamental na
qualidade dos produtos e na eficiência dos sistemas de produção, mas, apesar
disso, têm sido tratados como uma atividade secundária que é, via de regra,
delegada a projetistas independentes, contratados por critérios preponderantemente
de preço do serviço.
Os autores destacam, ainda, que os projetos no setor são orientados para a
definição do produto sem considerar adequadamente a forma e as implicações
quanto à produção das soluções adotadas. Eles afirmam, ainda, que as definições e
detalhamentos de produto são, muitas vezes, incompletos e falhos, sendo resolvidos
durante a obra, quando a equipe de produção acaba decidindo sobre determinadas
características do edifício não previstas em projeto.
Villa (2009) corrobora com essa opinião, afirmando que não é praxe no
mercado a busca pela tecnologia do projeto, que poderia ser melhorada com
incrementos no setor de coordenação desses projetos e com investimento em
42
3. AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO
3.1 Conceituação
APO
Uso, operação e
Planejamento
manutenção
Construção/
Projeto
Execução
Fabricação de
materiais e
componentes
3.2 Histórico
Entrevista
É um instrumento muito utilizado em diversas áreas e, segundo Rheingantz et
al. (2009), pode ser definida como “um relato verbal ou uma conversação
60
Questionário
É um instrumento muito utilizado em avaliações de desempenho e de grande
utilidade quando se necessita obter informações sobre comportamentos,
atributos e atitudes de usuários e descobrir regularidades entre grupos de
pessoas por meio da comparação de respostas. Podem ser organizados por
categoria de usuário e possibilitam rápida aplicação e tabulação, com
resultados muito confiáveis se a quantidade de questionários tiver sido
estatisticamente calculada. As perguntas devem ser respondidas por escrito
sem a presença do pesquisador e não é recomendada a aplicação para
amostras inferiores a 30 pessoas. (RHEINGANTZ et al., 2009; ROMÉRO;
ORNSTEIN, 2003).
Mapa comportamental
Concebido por Ross Thorne e J. A. Turnbull, possibilita identificar a percepção
dos usuários em relação a um determinado ambiente, constituindo-se em
registros físicos das atividades realizadas de modo repetitivo e sistemático por
unidade de espaço, no decorrer de períodos pré-determinados. Podem ser
aplicados em ambientes internos e externos. Fornecem um retrato dos
comportamentos dos usuários e suas frequências, necessitando, por vezes,
de uma permanência prolongada dos pesquisadores no local analisado
(RHEINGANTZ et al., 2009; ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003).
61
Registros fotográficos
Permitem avaliações posteriores e são úteis nas avaliações de
comportamento físico, comportamento dos usuários e mapas
comportamentais. Apresentam baixo custo, rapidez e confiabilidade no
registro, sendo uma técnica complementar às demais (ROMÉRO; ORNSTEIN,
2003).
Grupo focal
É um método de pesquisa e avaliação utilizado para fornecer dados
qualitativos para complementar dados quantitativos obtidos por meio de
outros métodos. Esse método propõe discussões informais, porém
organizadas sobre um tema específico de integração. Necessitam de um
moderador que formula as questões e conduz a discussão para uma conversa
informal e de um assistente para registrar as informações. Os grupos focais
devem ter entre 6 e 12 participantes (ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003; VILLA,
2009).
Walkthrough
Método originário da Psicologia Ambiental, consiste em uma caminhada pelos
ambientes em análise, onde o pesquisador conversa com os usuários e
analisa suas reações em relação ao ambiente, complementando as
informações com fotografias, croquis gerais e gravações de áudio e de vídeo.
62
Tarjeta reflexiva
Adotado por Villa (2009), este método é uma adaptação do método das
constelações de atributos. Consiste na indicação, por parte dos moradores,
de uma qualidade ou adjetivo para sua moradia e, posteriormente, a
característica principal que uma moradia deveria ter. Monta-se, então, um
mural com todas as respostas e os usuários são convidados a comentar suas
respostas, gerando discussões e reflexões das quais os pesquisadores
podem retirar informações valiosas.
Brincando de boneca
Apresentada por Villa (2009), essa técnica busca substituir o instrumento
“Poema dos Desejos”. Com base em um modelo físico (ou maquete) os
usuários são chamados a falar sobre sua moradia. Seu principal objetivo é
identificar os desejos dos moradores participantes, seus sonhos e
expectativas em relação à sua moradia.
Matriz de descobertas
Concebido por Helena Rodrigues e Isabelle Soares, é um instrumento de
análise que permite identificar e comunicar graficamente as descobertas
relacionadas com as adaptações e improvisações na habitação, assim como
64
Matriz de recomendações
É um desdobramento da Matriz de Descobertas e apresenta as
recomendações decorrentes dessas descobertas, hierarquizadas em função
do prazo de intervenção (curto e médio prazo) e pelo grau de importância
e/ou urgência de execução (RHEINGANTZ et al., 2009 ).
2. Novos Usos – Dizem respeito aos novos usos destinados aos espaços
das unidades habitacionais. Resultam de solicitações particulares, em
função de adequação a demandas diferenciadas, como variação na
composição e renda familiar, aumento do conforto, funcionalidade,
praticidade, etc.
3. Tecnologia dos Materiais – Dizem respeito às modificações que
alteram a tecnologia construtiva, a partir da mudança dos materiais
empregados, ou do acréscimo de novos materiais.
Outro aspecto importante do estudo de Palhares (2001), é que as
modificações inacabadas ou apenas desejadas também foram tabuladas, sendo
caracterizadas como modificações pretendidas.
Meira e Santos (1998 apud MARROQUIM; BARBIRATO, 2007), acreditam, no
entanto, que nem sempre é possível ao morador obter os resultados desejados, haja
vista questões de ordem técnica, econômica e outras, acarretando-lhe prejuízos em
diversos níveis.
Palhares (2001) afirma, ainda, que as modificações superam imposições de
padrões, leis, normas técnicas e restrições econômicas, originalmente reguladoras
do processo de criação e produção de tais unidades habitacionais. Já para
Marroquim e Barbirato (2007), o principal problema constatado em relação a essas
modificações é que na maioria dos casos elas impactam negativamente na
funcionalidade e na habitabilidade dessas habitações, principalmente no que diz
respeito ao conforto ambiental resultante.
Portanto, o resultado de tais modificações em relação aos projetos originais
acaba provocando insatisfação geral, atingindo os agentes da política habitacional,
os arquitetos e outros profissionais envolvidos no projeto e execução das unidades
e, sobretudo, os próprios moradores (PALHARES, 2001).
Em muitos casos, os novos códigos de uso do espaço geradores ou gerados
por essas modificações são estranhos ao arquiteto e aos agentes promotores da
política habitacional, refletindo a necessidade de profunda investigação e análise
crítica do que foi ofertado e de como está sendo realmente utilizado, defende
Palhares (2001).
De acordo com Marroquim e Barbirato (2007), o estudo das modificações do
espaço habitacional promovidas pelo usuário “permite compreender como os
moradores dos conjuntos habitacionais se relacionam com a casa e qual o
69
significado atribuído por eles aos espaços”, mesmo que tecnicamente a solução
utilizada seja inviável ou inadequada. Os autores defendem que o conhecimento
dessas questões por parte dos projetistas pode auxiliá-los na elaboração de projetos
de habitações flexíveis, que permitam ampliações e modificações sem diminuir o
conforto ambiental e a qualidade espacial original da habitação, além de propiciar
uma expansão condizente com as necessidades espaciais e culturais de seus
moradores.
Palhares (2001) vai mais além e afirma que o conhecimento dos códigos de
uso adotados pelos moradores é uma condição básica para o desenvolvimento dos
projetos de arquitetura e urbanismo e para a gestão dos programas de habitação de
interesse social.
Por sua vez, Reis (1995) afirma que “o conhecimento das necessidades de
alterações nos leva a uma maior capacidade de produção de projetos habitacionais
que estejam mais de acordo com as reais necessidades de seus usuários”.
Assim, entende-se que o estudo das modificações pode ajudar a
compreender também a relação entre essas modificações e os sistemas construtivos
empregados na construção das casas, seja como fator gerador, facilitador ou
dificultador da realização de tais modificações.
A bibliografia existente relata duas formas de se atuar visando a melhoria da
qualidade dessas modificações, a flexibilidade de projeto, adotada ainda na
concepção do empreendimento, e a assistência técnica para melhoria habitacional,
que fornece auxílio técnico aos moradores para a realização das modificações. A
seguir serão apresentadas as duas propostas.
famílias com renda de até 3 salários mínimos assistência técnica gratuita para
legalização, construção, reformas e ampliações nas residências. Entretanto, muitas
dúvidas ainda cercam a sua implantação, pois as prefeituras, que seriam as
responsáveis pela operação de assistência técnica, ainda não encontraram uma
forma viável de colocar a lei em prática.
O fato é que cada vez mais a assistência técnica tem se mostrado importante
e há grandes esforços para que ela seja implantada em âmbito nacional.
Palhares (2001), ao relatar a experiência do conjunto habitacional Lagoa,
declara que a participação dos técnicos nos programas de assistência pode ser
muito eficiente na conscientização dos moradores sobre problemas diversos. Com
relação às modificações, ele relata certa resistência inicial dos técnicos à sua
realização, pois eles defendiam a manutenção do estilo e dos materiais originais das
casas. O autor rebate esse posicionamento afirmando que “edificação com o estilo e
materiais originais preservados, porém, em más condições de conservação, e sem
alternativas de manutenção, não confere nenhuma qualidade aos espaços da
habitação”.
Para Palhares (2001), todos os agentes do processo devem ter clareza das
consequências das modificações antes de aprová-las ou reprová-las. Os números
apurados na pesquisa apresentada pelo autor revelaram que as modificações
resolveram muitos problemas, melhorando a qualidade dos espaços e, por extensão,
a qualidade de vida dos moradores.
75
5. METODOLOGIA DA PESQUISA
A escolha desta região para realização dos estudos de caso foi fundamentada
na facilidade de acesso da autora à região e dos laços de relacionamento já
existentes com agentes locais da política pública e entidades da região.
Entende-se, também, que a proximidade entre as três cidades e o fato de
pertencerem à mesma região confere maior homogeneidade entre as populações
77
dois pesquisadores, a autora e uma auxiliar, sendo visitadas três casas, o que foi
suficiente para se observar algumas falhas neste material preliminar.
A primeira versão do formulário foi elaborada em 12 páginas e, de modo
geral, o pré-teste mostrou que estava muito extensa e cansativa para os moradores,
que no final já deixavam de responder com tanta atenção e preocupação com o
detalhamento e veracidade das informações prestadas. Também foi observado que
algumas questões referentes à caracterização das famílias, sobretudo aquelas
relacionadas à renda e bens de consumo, não eram bem recebidas pelos
moradores, o que causava certa rejeição em prestar outras informações mais
relevantes para os resultados da pesquisa.
Assim, esse formulário foi revisto e algumas questões foram eliminadas ou
condensadas para possibilitar maior facilidade na aplicação e menor rejeição por
parte dos moradores. A versão final do formulário de visita às moradias conta com 7
páginas, sendo as partes I a IV destinadas à entrevista com os moradores e as
partes V e VI destinadas à aplicação da técnica de Walkthrough, com informações
coletadas pelos técnicos. Esta versão final está apresentada no Apêndice C.
Após a realização do pré-teste e elaboração da versão final do formulário,
foram programadas as visitas aos empreendimentos, sempre realizadas pela autora
e uma acompanhante para auxiliar na coleta das informações.
Para a definição da amostra necessária em cada um dos empreendimentos, o
universo de casas foi considerado homogêneo, uma vez que se destina a uma
população bem específica.
A escolha das casas visitadas não atendeu a nenhum método estatístico,
sendo selecionadas aquelas casas em que havia moradores dispostos a responder
a pesquisa no momento da visita. Procurou-se, no entanto, obter-se uma amostra
mínima de 25% das unidades habitacionais em cada conjunto habitacional. Buscou-
se, também, obter uma variação quanto à posição das casas em relação ao Sol, ao
seu posicionamento na rua e no empreendimento e à realização de modificações
externas aparentes.
6.1 O Empreendimento
6.1.1 Cenário
Na virada de 2009 para 2010 a cidade foi destruída pela maior enchente já
registrada ali. O nível do Rio Paraitinga, que atravessa a cidade, subiu de 10 a 15
metros acima do normal e a água atingiu mais da metade dos imóveis, cobrindo os
83
Rede de
Iluminação
Aérea
Área
Verde 3
Calçadas
Área de verdes
Lazer 1
Pavimento
intertravado
1
Informação fornecida pelo Arqº Tiago Ferrari em entrevista por telefone em 07/11/2011.
88
2
Informação fornecida pelo Arqº Tiago Ferrari em entrevista por telefone em 07/11/2011.
90
3
Informação fornecida pelo Arqº Tiago Ferrari em entrevista por telefone em 07/11/2011.
4
Informação fornecida pelo Arqº Tiago Ferrari em entrevista por telefone em 07/11/2011.
91
5
Informação fornecida pelo Arqº Tiago Ferrari em entrevista por telefone em 07/11/2011.
94
6.1.2.1 Materiais
tenha um Slump entre 100 e 125 mm, que a relação água/ cimento não ultrapasse
0,55 em massa e que o agregado tenha um diâmetro máximo de 10 mm para
permitir o escoamento adequado do concreto em todas as células (ROYAL
TECHNOLOGIES, 2006b; CHAHROUR et al., 2005).
Segundo a Royal Technologies (2006), o concreto não segrega nas paredes
de RBS devido às teias internas dos componentes de PVC, que evitam a queda livre
dos agregados mais pesados. Assim, não haverá segregação do concreto se este
for lançado corretamente. Segundo recomendações da empresa, o concreto
normalmente não precisa ser vibrado, contudo, um martelo de borracha pode ser
usado para bater nos lados das paredes para assegurar que os componentes
estejam completamente preenchidos com concreto.
As barras de aço para reforço, quando utilizadas, devem ter uma tensão de
escoamento mínima de 400 MPa (60 psi). Essas barras devem ser fixadas com
arames para garantir que mantenham o posicionamento correto durante a
concretagem. Estes arames devem ser colocados no máximo a cada 3,0 m, sendo
no mínimo dois arames por barra (ROYAL TECHNOLOGIES, 2006b).
6.1.2.2 O Sistema
6
Informação fornecida pelo Arqº Tiago Ferrari via e-mail em 10/04/2013.
97
Ferrari (2011) enfatiza que, para que a construção das casas ocorra como em
uma linha de produção, deve-se trabalhar com a utilização de kits sistêmicos. Assim,
antes do início da montagem, os perfis de PVC são entregues na obra em kits já
cortados na medida das paredes e etiquetados com a paginação da montagem
descrita em planta. Em alguns casos podem ser entregues paredes pré-montadas.
Como os perfis são leves, é fácil manuseá-los e estocá-los na obra.
Corsini (2011) alerta, ainda, para a necessidade de fiscalização do sistema,
que, por ser industrializado, necessita de controle dos três itens principais: os painéis
de PVC, o concreto e o sistema de cobertura.
100
Etapa 4: Instalações
Todas as tubulações hidráulicas e elétricas são embutidas nos painéis
antes da concretagem, processo que pode ser realizado com as paredes
deitadas sobre cavaletes ou com elas já montadas no local (CORSINI,
2011). Pontos elétricos também são embutidos nas lajes no momento de
sua montagem.
102
Etapa 6: Concretagem
Após a colocação do escoramento, as paredes são concretadas com
cautela e lentidão para que o material flua entre as fôrmas, evitando
estufamento, principalmente no acabamento das portas e janelas. Segundo
Corsini (2011), as fôrmas devem ser concretadas em camadas de 50 cm a
70 cm, conforme ilustra a figura 26, a seguir:
103
Ainda de acordo com Ferrari (2011), a execução de cada uma das casas
térreas em São Luiz do Paraitinga, com 65 m² de área útil, foi executada em 11 dias.
De acordo com Ferrari (2011), o sistema RBS pode ser utilizado para
construção de residências e prédios de até 5 pavimentos em diversos padrões,
podendo ser utilizado na construção de casas e edifícios residenciais, industriais,
comerciais, escolas, hospitais etc. Corsini (2011) afirma, ainda, que a quantidade de
pavimentos pode variar bastante, mesmo em casas populares, pois o que determina
a quantidade de pavimentos é a resistência do concreto.
No Brasil, essa tecnologia está sendo aplicada principalmente na construção
de moradias populares, sendo utilizada já há alguns anos no Rio Grande do Sul.
Desde 2010, tem sido adotada pela CDHU, sendo o caso de São Luiz do Paraitinga,
até agora, o caso de maior aplicação em larga escala da tecnologia de concreto em
PVC no país (CORSINI, 2011).
A espessura dos painéis é um dos principais fatores que influencia o custo do
projeto. Segundo o arquiteto Tiago Ferrari, da Royal Technologies do Brasil, as
principais tipologias de projeto executadas no país são de casas de interesse social,
onde são utilizados perfis de 64 mm de espessura, que é o indicado para projetos de
moradias de até 50 m². Com essa espessura, há um ganho também em área útil,
sendo que em uma casa de 37 m², se ganha quase 2 m² de área útil (CORSINI,
2011). Além disso, Corsini (2011) salienta que, como o sistema quase não produz
resíduos no canteiro, não requer muitos equipamentos ou ferramentas, dispensa
107
custos com revestimentos das paredes e permite calcular com precisão o gasto com
concreto, o custo de construção das casas pode ser reduzido.
Além do custo competitivo, uma característica do sistema que favorece seu
uso na construção de casas populares é a velocidade de montagem, já que se trata
de um sistema construtivo industrializado. Segundo Ferrari, é possível se obter uma
produtividade de 42 min/m² para ter a parede pronta, já com concreto (CORSINI,
2011).
No geral, a avaliação da casa entregue foi muito boa, sendo que 92% dos
entrevistados consideram que a casa foi entregue completa e 75% consideram que
a casa entregue atende a todas as necessidades da família. Dentre os que
consideram que a casa não foi entregue completa, contou muito o fato de a casa ter
sido entregue sem muro e portão. Já aqueles que afirmam que a casa não atende às
necessidades da família reclamam do tamanho da cozinha, que eles consideram
muito pequena e inadequada.
Os demais moradores afirmam gostar da casa por ter um bom tamanho, não
precisar de pintura, ser fácil de limpar e ter uma boa aparência interna e externa. A
grande maioria acredita que está morando muito melhor do que morava antes e
alguns demonstraram até certo constrangimento em apontar falhas nas casas.
42% Sim
58% Não
Ainda assim, mesmo a avaliação da casa recebida tendo sido muito boa,
observou-se que a grande maioria das famílias fez algum tipo de modificação, sendo
que a maioria diz respeito a mudanças no lote e não na casa em si.
111
17%
Sim
83%
Não
Não
Quem executou a
modificação?
Contratou um
40% pedreiro
60%
Fez a reforma
sozinho ou com
ajuda de amigos
e parentes
Há menos de 2 meses
40%
30% De 2 a 6 meses atrás
De 6 a 12 meses atrás
Há mais de 1 ano
100% 100%
80%
0%
0%
Sala
Cozinha
Dormitório
Banheiro
Quintal
Área de serviço
Garagem
Outros
Item modificado
100% 100%
80%
60%
60%
50%
40%
40% 40%
20% 10%
0% 0% 0% 0%
0% 0% 0% 0%
0%
Estrutura
Cobertura
Acabamento
Instalações Hidráulicas
0%
Forro
Reboco interno
Instalações Elétricas
Piso (colocação ou troca)
Reboco externo
Azulejo (colocação ou troca)
Pintura
Construção de cômodo novo
Muro e/ ou portão
Portas e janelas
Outros
Gráfico 12 – Estudo de Caso 1: Itens modificados
A modificação é urgente?
22%
Sim
78%
Não
10%
8%
0%
0% 0%
Sala
Cozinha
Quarto
Banheiro
Cômodo…
Quintal
Lavanderia
Garagem
Outros
Gráfico 15 – Estudo de Caso 1: Local que pretende modificar
25%
20% 17%
0% 17%
0%0%0%
0% 0%0%
0% 0% 0%
Estrutura
Cobertura
0% 0%
Acabamento
Instalações Hidráulicas
Forro
Reboco interno
Instalações Elétricas
Piso (colocação ou troca)
Reboco externo
Azulejo (colocação ou troca)
Pintura
Construção de cômodo novo
Portão e muro
Portas e janelas
Outros
Além das entrevistas, foi realizada uma avaliação técnica dos imóveis através
de visita aos cômodos das casas, em companhia de um ou mais moradores.
Das famílias que realizaram modificações nas residências, todas construíram
muro e portão e algumas delas ainda fizeram alguma outra alteração no quintal.
117
Duas famílias colocaram outros tipos de piso na área externa, mas apenas
em partes do lote. Na casa SLP08 foi aplicado piso de rochas ornamentais em um
trecho da frente do lote e na SLP12 foi utilizado piso cerâmico nos corredores e
fundos, conforme ilustra a figura 38.
Para a construção desses cômodos não pôde ser utilizado o mesmo sistema
construtivo e os moradores optaram pela execução de alvenarias com blocos de
concreto, com tijolos cerâmicos e tijolinhos maciços de barro, sendo que em alguns
casos esses tipos de materiais foram misturados em uma mesma parede. Em todos
os casos de construção de novos cômodos, esses ambientes não contam com laje
de cobertura e não há ligação direta com a estrutura da casa original, de forma que
esta não foi comprometida. Além disso, todos os cômodos possuem entradas
independentes, de forma que não foi necessário realizar aberturas nas paredes de
Concreto PVC para a instalação de portas. No geral, não foram observadas
patologias nessas novas estruturas e vedações.
Em dois desses casos, o cômodo novo foi destinado a receber um novo
dormitório nos fundos do lote, sendo que em um deles foi executado também um
banheiro, como mostra a figura 41.
No terceiro caso, foi construída uma cozinha na frente do lote, o que provocou
uma redução significativa da iluminação e deixou a cozinha nova muito escura e
pouco ventilada (figura 42).
122
Já no quarto caso, foi construída uma segunda casa nos fundos do lote,
composta por uma cozinha, um quarto e um banheiro onde habita uma segunda
família com parentesco de 1º grau com os moradores que receberam a casa original.
Iluminação Ventilação
8% 8%
Adequada Adequada
92%
92% Inadequada Inadequada
7. O CASO DE CUNHA
7.1 O Empreendimento
7.1.1 Cenário
O povoado teve início por volta de 1695, durante o ciclo do ouro, com a
construção de inúmeras fazendas no Caminho do Ouro, estrada que ligava Minas
Gerais ao porto de Paraty e ao Rio de Janeiro, para atender as tropas que
buscavam ouro em Minas Gerais. Em 1785, o povoado foi elevado à posição de vila
por ordem do capitão e general Sr. Francisco da Cunha Menezes e recebeu nome
de Nossa Senhora da Conceição de Cunha. Em 1858 foi declarado município e teve
sua denominação simplificada para Cunha. Imagina-se que o nome do município
seja uma homenagem ao seu fundador e sua família, os Cunha Menezes
(EMPLASAGEO, 2012; FUNDAÇÃO SEADE, 2012).
Em 1932 tornou-se palco de batalha durante a Revolução Constitucionalista
em combates que duraram três meses e revelaram o lavrador Paulo Virgínio como
líder e mártir na ocasião, assassinado por não revelar a localização das tropas
paulistas (EMPLASAGEO, 2012). Logo depois, em 1948, o município foi declarado
Estação Climática (TONUSSI, 2012).
Sua economia é baseada nas atividades relacionadas aos serviços, comércio,
turismo, pecuária leiteira e de corte, bem como no cultivo de milho, feijão, pinhão,
trutas, entre outros. Seu Produto Interno Bruto (PIB) foi de R$ 140,42 milhões em
2010 (EMPLASAGEO, 2012; FUNDAÇÃO SEADE, 2012).
Além dos atrativos turísticos de sua diversidade natural, com dezenas de
cachoeiras, nascentes, riachos e uma vegetação abundantemente rica, Cunha é
também um importante polo de cerâmica artística na América do Sul, contando com
diversos ateliês que contam com uma produção de alta qualidade e variedade
(TONUSSI, 2012).
131
Área Verde
Lotes
Quadra Coberta
Área
Institucional
Fiação aérea
Calçadas
cimentadas
Pavimento
asfáltico
Figura 59 – Vista geral do Conjunto Habitacional Cunha “B”
Fonte: EMPLASAGEO, 2012.
7
Informação fornecida pelo Arqº Carlos Chaves em entrevista por e-mail em 24/01/2013.
137
Trincas verticais sobre Não foram colocadas as telas metálicas Refazer localizadamente esses
as aberturas de acordo com o projeto em alguns pontos posicionando a armadura
pontos localizados, caracterizando da forma especificada no projeto,
deficiência de execução. tomando todos os cuidados com
escoramento das vigas de
Em uma unidade foi executado um madeira e do telhado bem como
reparo por grampeamento, o que não das paredes.
corrigiu esta deficiência.
Segundo o Arq. Carlos Chaves8, muitos dos problemas observados nas casas
podem estar ligados a falhas executivas de posicionamento das armaduras e não
utilização de espaçadores. O profissional garante que ele mesmo presenciou um
caso em que “o mutirante não colocou aço em uma verga de porta por conta
própria”. Chaves afirma, ainda, que todos os reparos sugeridos pela consultoria
foram realizados antes da entrega das casas, em parceria com a empresa Vedacit.
As 21 unidades habitacionais do Conjunto Habitacional Cunha “B” foram
entregues em 2005 sem o acabamento, como mostra a tabela a seguir, que
apresenta uma descrição das casas entregues baseada nos 10 órgãos básicos do
edifício apresentados por Roméro e Ornstein (2003):
Órgão do
Descrição
Edifício
Os lotes foram entregues sem muros, com exceção das divisas de lotes
que tinham um desnível no terreno, onde foram feitos pequenos muros
Terrapleno de contenção apenas até o nível do lote mais alto. Os lotes foram
entregues com grama e um caminho formado de placas de concreto do
limite frontal até a entrada das unidades habitacionais.
8
Informação fornecida pelo Arqº Carlos Chaves em entrevista por e-mail em 24/01/2013.
140
7.1.3.1 Materiais
Concreto Celular
No caso do Conjunto Habitacional Cunha “B”, foi utilizado um concreto celular
espumoso, material composto por agregados convencionais (areia e brita), cimento
Portland, água, fibras de polipropileno e o agente espumígeno que gera minúsculas
bolhas de ar distribuídas uniformemente em sua massa, o que lhe confere a
propriedade de concreto leve, com massa específica menor que a dos concretos
convencionais, variando entre 1.300 e 1.900 kg/m³ (ABCP, 2007).
De acordo com a ABCP (2007), para habitações populares térreas os
melhores resultados têm sido obtidos com densidades de massa no estado fresco de
1.500 kg/ m³ para paredes com espessuras de 10 cm, que é justamente o valor
adotado no Conjunto Habitacional Cunha “B”. A entidade ressalta, porém, que a
definição da densidade mais adequada deve ser feita com base em uma análise das
propriedades mecânicas e do desempenho termo-acústico necessário.
Armaduras
As armaduras, assim como as fibras, têm a função de resistir às tensões
iniciais devidas à retração do concreto nas primeiras idades. Além disso, as
armaduras também podem resistir a esforços ocasionais de flexo-torção nas paredes
por ações externas e esforços devidos à variação da temperatura externa (ABCP,
2007).
144
7.1.3.2 O Sistema
processo ficasse mal visto pelo mercado. O autor atribui esses maus resultados a
erros de execução e projeto, além da falta de controle tecnológico nos canteiros de
obras, mas afirma que a difusão do conceito de qualidade nos últimos anos pode
contribuir para a mudança desse cenário.
O fato é que, com seus erros e acertos, “a experiência obtida na construção
dessas casas levou a um aprimoramento da técnica, com o emprego de fôrmas
modulares racionalizadas, e a uma grande melhoria do produto final” (ABCP, 2002).
Este processo construtivo apresenta diversas vantagens, como facilidade e rapidez
de execução, controle tecnológico rigoroso, facilidade de treinamento da mão de
obra, possibilidade de redução da espessura do revestimento e de ampliação,
gerando uma significativa economia (ABCP, 2007).
Segundo Boin (2003), as paredes devem ser executadas de acordo com o
projeto, que deve detalhar o posicionamento das esquadrias, instalações elétricas e
hidrossanitárias de modo que não haja sobreposição e interferências que impeçam a
execução desses elementos.
De acordo com a ABCP (2007), podem ser adotados diversos tipos de
fundações nesse processo, sendo a escolha de responsabilidade do projetista. É
importante, porém, que as fundações apresentem, além de segurança e
durabilidade, o alinhamento e o nivelamento necessários para a produção das
paredes.
A ABCP (2007) recomenda que as fundações tenham um excedente de pelo
menos 5 cm além das faces da parede, permitindo o apoio e a montagem dos
painéis das fôrmas. De acordo com esta entidade, as fundações tipo radier têm a
vantagem de deixar as instalações posicionadas no piso e de proporcionar uma
base de trabalho apropriada para as equipes de montagem das fôrmas.
O sistema de fôrmas utilizado no empreendimento Cunha “B” era constituído
de painéis modulados de chapa de madeira compensada revestidos com filme de
grande resistência, reforçados com estrutura metálica tipo grelha. De acordo com
Boin (2003), a estrutura metálica garante a resistência mecânica necessária para
suportar as tensões geradas pelo concreto.
Esses painéis possuem modulação de 5 em 5 cm, com dimensões e peso que
permitem o fácil manuseio e transporte. Os módulos se encaixam de acordo com a
146
80%
80%
60%
40%
40%
30%
30%
20%
10%
20%
10%
0%
0% 0%
espalha gordura e cheiro de fritura por toda a casa. Outra reclamação recorrente foi
pelo fato de as casas serem geminadas, o que reduz a privacidade da família ao
passo que se pode ouvir o que se passa na casa vizinha, principalmente porque não
há laje em toda a casa.
10% 20%
Sim
70% Não
40% Sim
60%
Não
0%0% 0%
0%
0%
10% Ótima
Ótima
Boa 100% Boa
90% Regular Regular
Ruim Ruim
Quem executou a
modificação?
10% Contratou um
pedreiro
90%
Fez a reforma
sozinho ou com
ajuda de amigos
e parentes
De 6 a 12 meses atrás
Há mais de 1 ano
60% 60%
40%
20%
0%
Sala
0%
Cozinha
Dormitório
Banheiro
Quintal
Área de
serviço
Garagem
Outros
Item modificado
100%
100% 100% 100%
90% 90%
80%
80%
60%
60%
40% 40%
30%
20% 20%
20%
0%
0%
0% 10%
0%
30%
Sim
70%
Não
0% Já reformou e quer
reformar mais
40% Não reformou, mas
quer reformar
60%
Já reformou e não
quer reformar mais
A modificação é urgente?
33%
Sim
67%
Não
intenção de fazer modificações na casa, mas ainda não sabe exatamente o que vai
modificar.
Os gráficos 33 e 34 mostram as intenções dos moradores quanto às novas
modificações a serem realizadas, destacando os ambientes a serem modificados e o
tipo de serviço a ser executado, respectivamente.
20%
17%
0% 0%
0% 0%
0%
0%
17% 33%
20% 17%
0% 17%
0%0%0%0%
0% 0% 0%0%
0%
Estrutura
Cobertura
Acabamento
Instalações Hidráulicas
Construção de cômodo…
Instalações Elétricas
Piso (colocação ou troca)
Reboco externo
Pintura
Portão e muro
Portas e janelas
Outros
80%
60% 50%
50%
40%
20% 30% 30%
20%
0%
Após as entrevistas, foi realizada uma avaliação técnica dos imóveis através
de visita aos cômodos das casas, em compania de um ou mais moradores.
Das famílias visitadas, todas construíram muro e apenas uma delas não
colocou portão na frente do lote.
164
casa CNH07, que foi reformada recentemente e teve suas trincas e fissuras
reparadas com argamassa. Outros moradores também relataram já ter realizado
reparos com argamassa nas paredes, mas em todos os casos as trincas e fissuras
reapareceram parcial ou totalmente depois de algum tempo.
Cinco das dez casas visitadas apresentam sinais de infiltração nas paredes,
sendo que todos esses moradores relatam a ocorrência de infiltração no mesmo
local, na parede entre a sala e o dormitório, próximo ao quadro de luz. Outros
moradores afirmam ter tido esse problema e dizem que ele foi resolvido após a
selagem das telhas com argamassa junto à parede e instalação de rufo no telhado.
Não foram observadas anomalias nas lajes dos banheiros e corredores.
Em seis das dez casas visitadas foram construídos cômodos adicionais após
a entrega. Dessas, quatro famílias construíram cozinhas novas nos fundos, duas
construíram um dormitório a mais e duas construíram cômodos destinados a
despensa e realização de atividades manuais, como costura e bordado.
Metade das casas visitadas conta com muretas ou balcões dividindo a sala e
a cozinha, constituídos de alvenaria de tijolinhos de barro maciços ou de tijolos
cerâmicos tipo “baiano”, conforme figura 88. Em uma residência foi construída uma
parede de tijolos cerâmicos tipo “baiano” separando esses ambientes, apresentando
trincas nas duas extremidades, na interface com a parede de concreto (figura 89).
Iluminação Ventilação
10%
30%
Adequada Adequada
70% 90%
Inadequada
Inadequada
8. O CASO DE LAGOINHA
8.1 O Empreendimento
8.1.1 Cenário
O PIB do município foi de 51,48 milhões em 2010, sendo que 18,91% desse
valor foi gerado pelo setor primário, 20,55% pelo setor secundário e 60,53% pelo
setor terciário. No setor primário destacam-se a pecuária, leiteira e de corte, e a
criação de aves, equinos e suínos. Já a produção agrícola do município conta com
plantações de mandioca, milho, feijão e arroz, porém, em pequena escala devido ao
relevo acidentado e técnicas inadequadas de plantio. Por outro lado, a produção
hortifrutigranjeira como cenoura, beterraba, couve-flor, pimentão, repolho e outros,
vem crescendo. No setor secundário, a cidade conta com cooperativas para
pasteurização e comercialização de leite e produção artesanal de queijo, manteiga e
requeijão, além de um alambique para produção artesanal de aguardente. O
comércio e a prestação de serviços são os maiores responsáveis pela geração de
empregos na área urbana e fazem a distribuição dos bens produzidos no município
(PORTAL LAGOINHA, 2012).
Por ser considerado um lugar tranquilo e pacífico, sem poluição e com
atrativos naturais, Lagoinha tem vocação para o turismo ecológico, rural e de
aventura, no entanto, este ainda é pouco explorado. Seu principal atrativo é a
Cachoeira Grande, que possui uma queda de 30m e é considerada uma das belezas
naturais do Vale do Paraíba, sendo muito frequentada no verão por turistas de
diversas regiões (PORTAL LAGOINHA, 2012).
Escola Lotes
Ginásio
Área destinada
a lazer
Fiação aérea
Pavimento
asfáltico Calçadas
cimentadas
Figura 100 – Vista geral do Conjunto Habitacional Lagoinha “A”
Fonte: EMPLASAGEO, 2012.
178
9
Informação fornecida pelo Arqº Carlos Chaves em entrevista por e-mail em 24/01/2013.
10
Informação fornecida pelo Arqº Carlos Chaves em entrevista por e-mail em 24/01/2013.
182
Órgão do
Descrição
Edifício
Os lotes foram entregues sem muros, com exceção das divisas de lotes
que tinham um desnível no terreno, onde foram feitos pequenos muros
Terrapleno de contenção apenas até o nível do lote mais alto. Os lotes foram
entregues com grama e um caminho formado de placas de concreto do
limite frontal do lote até a entrada das unidades habitacionais.
Alvenaria Paredes de
Estrutura
estrutural concreto
metálica
8.1.3.1 Materiais
Blocos de Concreto
Segundo Salvador Filho (2007), os blocos de concreto são constituídos de
cimento Portland, agregados graúdo e miúdo e água, podendo, em função de
necessidades específicas, ter a adição de outros componentes, como adições
minerais, pigmentos, aditivos etc. Assim, esses componentes devem ser
especificados e utilizados de acordo com suas propriedades específicas para que o
produto final atenda às características especificadas.
Ainda de acordo com Salvador Filho (2007), o processo de fabricação é feito
através de vibro-prensagem, com máquinas capazes de produzir milhares de blocos
por dia e com controles automáticos para regular altura e densidade do bloco,
controlar matérias-primas, pesagem, mistura, colocação dos paletes e retirada do
bloco recém-moldados. O autor salienta, ainda, que o concreto utilizado para a
fabricação dos blocos deve ter consistência seca para permitir que estes sejam
desmoldados rapidamente após a compactação sem que sofram variações
dimensionais durante as operações de transporte, cura etc.
Prudêncio Jr. et al. (2003) ressaltam que a fabricação, cura e manipulação
dos blocos devem utilizar processos que garantam um concreto suficientemente
homogêneo e compacto.
A NBR 6136 (ABNT, 2007) classifica os blocos vazados de concreto em:
• Classe A (fbk > 6 MPa): Com função estrutural, para uso em elementos
de alvenaria acima ou abaixo do nível do solo.
• Classe B (fbk > 4 MPa): Com função estrutural, para uso em elementos
acima do nível do solo.
• Classe C (fbk > 3 MPa): Com função estrutural, para uso em elementos
acima do nível do solo.
• Classe D (fbk > 2 MPa): Sem função estrutural, para uso em elementos
de alvenaria acima do nível do solo.
Esses elementos são separados no que chamamos de “família de blocos”,
que é o conjunto de componentes de alvenaria que interagem modularmente entre si
e com outros elementos construtivos (COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, 2012). De
acordo com a NBR 6136 (ABNT, 2007), os blocos que compõem uma família,
segundo suas dimensões, são designados como: bloco inteiro (bloco predominante),
185
Linha 20x40 15x40 15x30 12,5x40 12,5x25 12,5x37,5 10x40 10x30 10x30 7,5x40
Argamassa de Assentamento
Segundo Prudêncio Jr. et al. (2003), “a argamassa é prioritariamente um
adesivo que une as unidades de alvenaria e que serve para transferir esforços entre
elas, bem como para acomodar pequenas deformações inerentes à própria
alvenaria”.
Em uma parede de alvenaria, as juntas de argamassa têm as funções de unir
solidariamente os blocos e ajudá-los a resistir aos esforços laterais, distribuir
uniformemente as cargas por toda a área resistente dos blocos, absorver as
188
Graute
O graute é um tipo especial de concreto, definido pela NBR 15961 (ABNT,
2011) como um “componente utilizado para preenchimento de espaços vazios de
blocos com a finalidade de solidarizar armaduras à alvenaria ou aumentar sua
capacidade resistente”. É composto por cimento, areia, pedrisco e água, podendo
ser adicionada cal com teor não superior a 10% do volume do cimento ou outra
adição que proporcione trabalhabilidade e retenção de água de hidratação à mistura
(ABNT, 2011; COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, 2012).
O graute influencia decisivamente na resistência à compressão das paredes
com vazios preenchidos, sendo inclusive utilizado como recurso dos calculistas para
aumentar a capacidade portante da parede sem aumentar a sua espessura. A
resistência do graute é definida pelo projetista de estruturas, mas a NBR 15961
(ABNT, 2011) determina uma resistência mínima de 15 MPa para alvenarias
estruturais.
É utilizado para preenchimento das canaletas, blocos J de apoio das lajes,
vergas e contravergas de janelas e nos furos verticais, podendo estar ou não
acompanhado de armadura (COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, 2012). Segundo
Prudêncio Jr. et al. (2003), o graute deve apresentar uma elevada fluidez para
preencher completamente os vazados dos blocos sem deixar espaços vazios.
A NBR 15961 (ABNT, 2011) determina, ainda, que o graute deve ser utilizado
dentro do prazo máximo de 2h30min após a adição de água à mistura. A única
exceção à essa regra é no caso de utilização de aditivo retardador de pega, sendo
que neste caso, devem ser seguidas as recomendações do fabricante.
190
Armaduras
As barras de aço utilizadas na alvenaria estrutural são as mesmas utilizadas
nas estruturas de concreto armado, sendo que devem ser envolvidas pelo graute
para que trabalhem em conjunto com o restante da alvenaria. Essas armaduras
podem ser utilizadas verticalmente em pontos determinados pelo projetista estrutural
e horizontalmente nas canaletas, blocos J, vergas e contravergas. Em edifícios onde
não ocorrem tensões de tração devido ao vento, a bitola mais utilizada é a de 10
mm, exceto pelas barras posicionadas nas juntas de argamassa, que devem ter um
diâmetro mínimo de 3,8mm ou metade da espessura da junta (COMUNIDADE DA
CONSTRUÇÃO, 2012).
8.1.3.2 O Sistema
De acordo com Parsekian (2012), a norma NBR 15961-1 define dois tipos de
amarração entre as paredes de blocos de concreto, a direta e a indireta. A
amarração direta é sempre a mais recomendada e consiste na ligação de paredes
por intertravamento de blocos, sendo obtida com a interpenetração alternada de
50% das fiadas de uma parede na outra ao longo das interfaces comuns. Já a
amarração indireta é obtida através da ligação de paredes com junta vertical a
prumo com o plano da interface comum sendo atravessado por grampos metálicos
ancorados nos furos verticais adjacentes.
Assim, é importante que o projetista conheça bem o sistema construtivo
empregado para que o projeto seja o mais detalhado possível e tenha soluções que
visem reduzir ao máximo a quantidade de componentes utilizados na produção
(ABCP, 2002).
195
Prudêncio Jr. et al. (2003), salientam, ainda, que deve haver compatibilização
entre os projetos arquitetônico, estrutural e complementares para que todas essas
informações sejam compiladas em um projeto de produção. Esse projeto deve
conter plantas baixas e elevações das paredes com detalhes arquitetônicos,
estruturais, de instalações elétricas, hidráulicas e outras que sejam necessárias
(ABCP, 2002). Assim, esse projeto compatibilizado e de fácil execução será levado
ao canteiro para ser utilizado pelo mestre, encarregados e operários.
A NBR 15961-2 (ABNT, 2011) determina, também, os principais
procedimentos de execução e controle das alvenarias estruturais com blocos de
concreto. Uma destas determinações é a de que as juntas de assentamento
horizontais e verticais devem ter espessura de 10 mm ±3 mm, com exceção da junta
horizontal da primeira fiada, que pode variar entre 5 mm e 20 mm de acordo com o
desnível do pavimento. As juntas horizontais devem, preferencialmente, ser
colocadas nas paredes longitudinais e transversais dos blocos, a menos que o
projeto especifique o contrário. Já as juntas verticais devem ser preenchidas através
da aplicação de dois filetes de argamassa na parede lateral dos blocos, com largura
igual ou superior a 30 mm.
Parsekian (2012), afirma que, para edifícios de até 5 pavimentos, a junta
vertical pode ser preenchida 15 dias após a elevação total da parede utilizando
argamassa não retrátil aplicada com bisnaga com compressão suficiente para
garantir largura mínima do filete de argamassa vertical. Nos demais casos, o autor
ressalta que o preenchimento da junta deve ser feito durante a execução da parede.
Com relação às armaduras, tanto verticais quanto horizontais, Parsekian
(2012) recomenda que tenham um cobrimento mínimo de 15 cm, salvo se tiverem
alguma proteção contra corrosão, podendo ser utilizados espaçadores para garantir
essa condição.
Parsekian (2012), afirma, ainda, que a armadura de canto, nos encontros de
paredes, é necessária em algumas situações, apesar de ser de difícil execução. O
autor salienta que os cantos externos dos edifícios sempre devem ter uma armadura
construtiva, geralmente de 10 mm, independentemente da altura da construção. Em
edifícios com mais do que 5 pavimentos, é recomendável utilizar essa armadura
também nos encontros de paredes principais.
196
Prudêncio Jr. et al. (2003), salientam que, para que sejam obtidas todas as
vantagens da alvenaria estrutural com blocos de concreto, é necessário o emprego
de técnicas construtivas adequadas para gerar aumento de produtividade e
economia.
Antes de iniciar a execução, é necessário definir os locais de armazenamento
dos materiais e produção dos componentes da alvenaria. Neste estudo de caso,
foram utilizados blocos de 9 x 19 x 39 fabricados no canteiro e argamassa feita na
obra, o que exigiu a definição e organização também dos locais de produção.
Também é necessário verificar a disponibilidade e organizar todas as
ferramentas e equipamentos necessários para a execução da obra.
As casas de alvenaria estrutural do Conjunto Habitacional Lagoinha “A” foram
construídas de acordo com os procedimentos básicos de execução do sistema
(ABCP, 2002; COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, 2011):
sistema, sendo que as fotos que ilustram a obra em questão estão claramente
identificadas nas legendas.
86%
80%
64%
60%
57%
40%
29%
20%
7%
0% 14%
7%
0%
27%
Sim
73%
Não
43% Sim
57%
Não
Outra constatação importante foi a de que todas as casas sofreram algum tipo
de modificação após a entrega, fato facilmente explicável, uma vez que as casas
foram entregues sem o acabamento completo. Segundo os moradores, não foi
fornecido nenhum tipo de projeto para a realização de reformas e ampliações nas
casas, mas eles relatam que foi apresentada, nas reuniões com a CDHU, a
possibilidade de ampliação através da construção de um terceiro dormitório,
conforme apresentado na figura 102.
Essas modificações foram realizadas, parte por pedreiros contratados e parte
pelos próprios moradores ou algum membro da família, parentes ou amigos.
Verificou-se, ainda, que essas modificações foram sendo realizadas ao longo do
tempo e que em quase 80% dos casos a última modificação foi realizada há mais de
um ano, mas ainda há modificações em execução. Os gráficos a seguir detalham
estes números:
Quem executou a
modificação?
Contratou um
pedreiro
43%
57%
Fez a reforma
sozinho ou com
ajuda de amigos
e parentes
De 6 a 12 meses atrás
Há mais de 1 ano
80%
60% 64%
40%
20%
0%
0%
Item modificado
100% 100%
93%
93% 93% 93% 93%
80%
71%
60% 57%
40%
21% 29%
20% 21%
14%
14% 21%
0%
7%
14%
Sim
86% Não
0% Já reformou e quer
reformar mais
36% Não reformou, mas
64% quer reformar
Já reformou e não
quer reformar mais
0%
Não reformou e não
quer reformar
A modificação é urgente?
33%
Sim
67%
Não
40%
33%
33%
22%
20%
11%
11%
11%
0% 0%
0%
Construção de cômodo…
Instalações Elétricas
Piso (colocação ou troca)
Reboco externo
Azulejo (colocação ou troca)
Pintura
Portão e muro
Portas e janelas
Outros
60% 50%
50%
40%
29%
20% 14%
0% 0%
A avaliação técnica dos imóveis foi realizada através de visita ao seu interior
em companhia de um ou mais moradores.
Observou-se que a grande maioria das casas do conjunto habitacional conta
com muros e portões, sendo que dentre as casas visitadas, apenas duas não têm
muros na frente do lote. No primeiro caso, a frente do lote conta com portão metálico
alto em quase toda a extensão e um pequeno trecho de muro no canto esquerdo,
elemento que também está presente nas laterais e fundo do lote.
Já a outra casa conta com os muros laterais e de fundo construídos pelos
vizinhos e com um portão de madeira baixo na frente do lote.
217
Do outro lado da rua, uma das casas apresenta histórico de queda do muro e
desbarrancamento do aterro justamente nessa região de desnível entre os lotes no
corredor lateral, porém, este já foi reparado pelos moradores.
Uma moradora afirma que outra casa próxima também tem problemas de
acomodação do aterro e diz que isto está causando trincas em sua casa, que é
geminada a esta outra. Não foi possível visitar a casa com supostos problemas no
aterro porque os moradores estavam viajando na ocasião da visita.
A fundação das unidades habitacionais é do tipo radier e encontram-se total
ou parcialmente inacessíveis, sem sinais aparentes de anomalias. Em quatro das
casas visitadas verificou-se a ocorrência de empoçamento de água sobre essas
estruturas em alguns pontos, junto à base das paredes.
219
Iluminação Ventilação
14%
50% 50% Adequada Adequada
86%
Inadequada Inadequada
Todas as casas apresentam piso cerâmico nas áreas internas, sendo que
duas delas apresentam piso cerâmico também no quintal e garagem. Apenas em
uma das casas foi executado piso de cimento queimado na cozinha nova, mas a
moradora afirma que tem a intenção de trocá-lo por piso cerâmico, e outra casa tem
piso cimentado apenas na área de serviço. Todos os pisos apresentam boas
condições de conservação.
De maneira geral, as instalações elétricas e hidráulicas apresentam boas
condições. Em duas casas, uma de alvenaria estrutural e outra de parede de
concreto, a instalação elétrica apresentou problemas com falta de fiação nos
eletrodutos e caixas elétricas que não estavam corretamente fixadas às paredes. Em
outra casa, de alvenaria estrutural, foi a instalação hidráulica que apresentou
vazamentos e teve de ser reparada, exigindo a quebra das alvenarias.
A maioria das unidades teve as modificações classificadas como boas. O
gráfico 56 a seguir apresenta os percentuais de classificação das modificações:
0%0%
7% 7% Muito bom
Bom
86% Razoável
Ruim
Péssimo
11. REFERÊNCIAS
ANAMACO & LATIN PANEL. Tendências Latin Panel - Para onde caminha o
consumidor? 2008. Disponível em: <http://www.anamaco.com.br/resumo_
dados_materiais.ppt>. Acesso em: 18 mar 2010.
BERGAMO, G. São Luiz do Paraitinga sofre com as chuvas do início de ano. Veja
SP. São Paulo, 13 Jan. 2010. Disponível em:
<http://vejasp.abril.com.br/revista/edicao-2147/sao-luiz-do-paraitinga-sofre-com-
as-chuvas-do-inicio-de-ano>. Acesso em: 08 nov 2011.
KELLETT, P.; FRANCO, F. Technology for social housing in Latin America. Habitat
International, v. 17, n. 4, p. 47-58, 1993.
KISS, P. Você sabe o que é SINAT? Revista Téchne, Ed. 170, 2011.
LAWRENCE, R. Housing Quality: An Agenda for Research. Urban Studies, vl. 32, n.
10, p. 1655-1664, 1995.
MARRA, L. Chuva isola São Luiz do Paraitinga (SP) e deixa quase toda população
fora de casa. Folha Online. São Paulo, 02 Jan. 2010. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u673855.shtml>.Acesso em:
08 nov, 2011.
TILL, J.; SCHNEIDER, T. Flexible housing: the means to the end. Architectural
Research Quarterly, v. 9, n. 3-4, p. 287-296, 2005.
TRANI, E.; SOUZA, M. C. P.; RUDGE, M. S.; MORO, M. F. L. B., ROSSI, T. B.;
DENIZO, V. Panorama da habitação de interesse social. Governo do Estado
de São Paulo. Secretaria da Habitação / CDHU. São Paulo, 2008.
MÉTODOS UTILIZADOS
1. Entrevista estruturada
• Roteiro técnico (formulário)
• Registros em áudio
* O ideal é ter um profissional da prefeitura ou CDHU junto com o técnico. É recomendável que os
entrevistadores usem crachás de identificação para facilitar a recepção por parte do morador.
245
A versão apresentada aqui é a que foi utilizada para o empreendimento São Luiz do
Paraitinga “C”, sendo que a única diferença entre esta versão e as versões utilizadas
para os demais empreendimentos é a planta utilizada nas etapas VI, de registro das
modificações realizadas e proposta de novas modificações.
251
252
253
254
255
256
257
258