SILVESTRE - Influência Dos Sistemas Construtivos Nas Modificações Promovidas Pelo Usuário em Unidades de HIS PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 262

ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Departamento de Engenharia de Construção Civil – PCC

MICHELLI GARRIDO SILVESTRE

INFLUÊNCIA DOS SISTEMAS CONSTRUTIVOS NAS


MODIFICAÇÕES PROMOVIDAS PELO USUÁRIO
EM UNIDADES DE HIS: ESTUDOS DE CASO
NA REGIÃO DO VALE DO PARAÍBA/ SP

São Paulo
2013
MICHELLI GARRIDO SILVESTRE

INFLUÊNCIA DOS SISTEMAS CONSTRUTIVOS NAS


MODIFICAÇÕES PROMOVIDAS PELO USUÁRIO
EM UNIDADES DE HIS: ESTUDOS DE CASO
NA REGIÃO DO VALE DO PARAÍBA/ SP

Dissertação apresentada à Escola


Politécnica da Universidade de São Paulo
para obtenção do título de Mestre em
Ciências.

São Paulo
2013
MICHELLI GARRIDO SILVESTRE

INFLUÊNCIA DOS SISTEMAS CONSTRUTIVOS NAS


MODIFICAÇÕES PROMOVIDAS PELO USUÁRIO
EM UNIDADES DE HIS: ESTUDOS DE CASO
NA REGIÃO DO VALE DO PARAÍBA/ SP

Dissertação apresentada à Escola


Politécnica da Universidade de São Paulo
para obtenção do título de Mestre em
Ciências.

Área de concentração:
Engenharia de Construção Civil e Urbana

Orientador:
Prof. Dr. Luiz Reynaldo de Azevedo Cardoso

São Paulo
2013
FICHA CATALOGRÁFICA

Silvestre, Michelli Garrido


Influência dos sistemas construtivos nas modificações
promovidas pelo usuário em unidades de HIS: estudos de caso
na região do Vale do Paraíba/ SP / M.G. Silvestre. -- São Paulo,
2013.
259 p.

Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica da Universidade


de São Paulo. Departamento de Engenharia de Construção Civil.

1.Habitação popular 2.Sistemas e processos construtivos


3.Avaliação de desempenho I.Universidade de São Paulo. Escola
Politécnica. Departamento de Engenharia de Construção Civil
II.t.
A Clara, Maria do Socorro e Geoniza (in memoriam),
as mulheres que me guiaram e me inspiraram a chegar até aqui.
AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Luiz Reynaldo de Azevedo Cardoso por aceitar o desafio de me orientar
neste trabalho.
Ao Prof. Dr. Francisco Cardoso e ao Prof. Dr. Francisco Comaru pelas preciosas
contribuições no exame de qualificação.
À Eng. Graciana Nascimento pelo incentivo e pela preciosa ajuda sem a qual este
trabalho não teria sido realizado.
À Msc. Eng. Patrícia Mendes Silva por me atender prontamente e por me fornecer as
informações necessárias e ao Eng. Heros José Vieira por abrir as portas da CDHU –
Regional Vale do Paraíba para a realização desta pesquisa.
Ao Arq. Tiago Ferrari e ao Arq. Carlos Chaves pelas informações prestadas e pela
paciência em atender prontamente aos meus questionamentos.
Aos companheiros da ABCP – Associação Brasileira de Cimento Portland e à própria
instituição pela oportunidade de realizar este trabalho, pelo incentivo, paciência e
pelas valorosas contribuições.
À Prof.ª Miriam Gellert Paris, da Escola de Engenharia Mauá, a primeira a me
mostrar como a engenharia civil pode contribuir para as questões urbanas.
À minha família e amigos pelo apoio e por entenderem a minha ausência nos últimos
meses.
Ao Makao, pelos momentos de relaxamento, paz e alegria.
Aos meus irmãos, Mario e Marília, pelo apoio, incentivo e pela ajuda com as
traduções e revisões durante esse período.
Aos meus pais, Clara e Mario, pela compreensão, paciência, pelo apoio
incondicional e por me darem o suporte necessário para superar mais essa fase.
E a Deus, por colocar seres tão especiais em meu caminho, orientar minhas
escolhas e guiar minha vida.
Se não houver frutos,
valeu a beleza das flores.
Se não houver flores,
valeu a sombra das folhas.
Se não houver folhas,
valeu a intenção da semente.

Autor desconhecido, citado por Henfil


RESUMO

Nas últimas décadas, a qualidade dos empreendimentos de habitação de interesse


social (EHIS) vem sendo muito discutida por pesquisadores brasileiros em virtude
dos diversos problemas de ordem técnica e funcional relatados por seus moradores
após a ocupação. Para identificar esses problemas e suas causas, utiliza-se de
processos de avaliação pós-ocupação (APO), que têm mostrado, ao longo dos anos,
a insatisfação dos moradores com diversos aspectos das construções e a
consequente realização de modificações na casa, muitas vezes sem qualidade,
comprometendo ainda mais o seu estado. Visando à melhoria da qualidade dessas
modificações, é possível adotar alguns procedimentos. Entretanto, ainda há um
grande desconhecimento dos profissionais em relação ao que ocorre no ambiente
construído no decorrer do uso, sendo ainda necessário aprofundar os estudos nesse
sentido. Assim, a pesquisa aqui apresentada tem como objetivo identificar as
principais modificações realizadas pelos moradores de empreendimentos horizontais
de HIS, suas causas e possíveis mecanismos para diminuir, controlar ou planejar
essas alterações. Para o desenvolvimento do estudo proposto, foram realizadas
pesquisas bibliográficas e avaliações pós-ocupação em três empreendimentos de
HIS. Assim, analisando as experiências passadas e presentes, foi possível gerar
conteúdo suficiente para embasar propostas de melhorias nos programas
habitacionais voltados a HIS.

Palavras-chave: Habitação de interesse social. Sistemas construtivos. Avaliação


pós-ocupação.
ABSTRACT

In recent decades, the quality of the housing projects of social interest has been
largely discussed by Brazilian researchers due to several technical and functional
matters reported by dwellers after occupation. To identify these problems and their
causes, post-occupancy evaluation processes are applied, which have shown over
the years, a lot of dissatisfaction with various aspects of constructions, resulting in
house modifications, oftenly without quality, further compromising their state. In order
to improve the quality of these changes, it is possible to adopt some procedures.
However, there is still a great lack of knowhow from professionals about what
happens in the built environment during its use, them, being still necessary to
sharpen the studies in this direction. Thus, the post-occupancy evaluation research
presented here aims at identifying the main changes made by the dwellers of
horizontal housing enterprises, its causes and possible mechanisms to reduce,
control or plan these changes. For the development of the proposed study literature
research was conducted and post-occupancy evaluations was made in three housing
enterprises. Thus, making an analysis of past and present experiences, it was
possible to generate enough content to support proposals for improvements in
housing programs.

Key words: Social Housing. Construction systems. Post-occupancy evaluation.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Ciclo de execução das habitações incluindo a APO ................................ 53


Figura 2 – Mapa de localização das cidades escolhidas ........................................... 77
Figura 3 – Vista da cidade de São Luiz do Paraitinga ............................................... 81
Figura 4 – Imóveis tombados pelo patrimônio histórico ............................................ 82
Figura 5 – Enchente atinge São Luiz do Paraitinga .................................................. 83
Figura 6 – Obras de reconstrução da Igreja Matriz e de casarão histórico ............... 84
Figura 7 – Implantação do Conjunto Habitacional São Luiz do Paraitinga “C” .......... 85
Figura 8 – Vista geral do Conjunto Habitacional São Luiz do Paraitinga “C” ............ 86
Figura 9 – Planta da tipologia TG33A modulada no sistema RBS ............................ 87
Figura 10 – Corte longitudinal da tipologia TG33A modulada no sistema RBS......... 88
Figura 11 – Tipologia de fachada das casas em São Luiz do Paraitinga .................. 88
Figura 12 – Estudo de cores para fachadas das unidades ....................................... 89
Figura 13 – Fotos da execução das obras em São Luiz do Paraitinga ..................... 90
Figura 14 – Casa entregue em São Luiz do Paraitinga ............................................. 92
Figura 15 – Interior de uma das casas logo após a entrega ..................................... 92
Figura 16 – Sistema Construtivo RBS ....................................................................... 96
Figura 17 – Detalhamento dos painéis e conectores do sistema RBS ...................... 97
Figura 18 – Componentes do sistema RBS 100 ....................................................... 97
Figura 19 – Comparação de etapas entre os sistemas convencional e RBS ............ 98
Figura 20 – Perfis separados na obra para utilização no dia .................................. 100
Figura 21 – Execução do radier .............................................................................. 100
Figura 22 – Marcação dos eixos de referência no radier ........................................ 101
Figura 23 – Montagem dos painéis de PVC ............................................................ 101
Figura 24 – Serviço de embutimento das instalações nos painéis .......................... 102
Figura 25 – Vista dos painéis de PVC escorados ................................................... 102
Figura 26 – Etapas de concretagem do Sistema RBS ............................................ 103
Figura 27 – Concretagem dos painéis de PVC ainda escorados ............................ 104
Figura 28 – Concretagem da laje pré-moldada ....................................................... 104
Figura 29 – Montagem da estrutura da cobertura ................................................... 105
Figura 30 – Piso cerâmico recém-aplicado ............................................................. 105
Figura 31 – Execução do telhamento ...................................................................... 105
Figura 32 – Instalação das esquadrias .................................................................... 106
Figura 33 – Exemplos de muros e portões executados pelos moradores ............... 117
Figura 34 – Trincas no muro de divisa da SLP02.................................................... 117
Figura 35 – Trecho do terreno da SLP10 que apresenta empoçamento de água ... 118
Figura 36 – Horta na SLP01 e gramado na SLP02 ................................................. 118
Figura 37 – Trechos cimentados no quintal da SLP02 e da SLP08 ........................ 119
Figura 38 – Pisos aplicados nos quintais das casas SLP08 e SLP12 ..................... 119
Figura 39 – Sinais de umidade no teto do banheiro da casa SLP02 ....................... 120
Figura 40 – Sinais de infiltração no teto e paredes do dormitório 1 da SLP06 ........ 120
Figura 41 – Cômodo e banheiro novos executados na SLP04. .............................. 121
Figura 42 – Cozinha nova construída na frente do lote da SLP07 .......................... 122
Figura 43 – Detalhe da nova residência executada no lote da casa SLP11 ........... 122
Figura 44 – Extensão da cozinha na SLP01 ........................................................... 123
Figura 45 – Nova área de serviço e extensão da cozinha na SLP12 ...................... 123
Figura 46 – Fechamento da área de serviço nas casas SLP01, SLP10 e SLP12 ... 124
Figura 47 – Sistema de persiana e moldura de PVC danificados na SLP02 ........... 124
Figura 48 – Vista da cobertura da garagem da SLP01 ........................................... 125
Figura 49 – Cobertura no corredor lateral da SLP04 ............................................... 125
Figura 50 – Adesivos nas paredes e novo piso cerâmico na SLP01 ....................... 126
Figura 51 – Fiação da campainha danificada na SLP03 ......................................... 126
Figura 52 – Vistas gerais das unidades assobradadas ........................................... 128
Figura 53 – Detalhe de ampliações realizadas nas unidades assobradadas .......... 128
Figura 54 – a) Portal da cidade de Cunha; b) Vista geral da cidade de Cunha. ...... 130
Figura 55 – Parque Estadual da Serra do Mar – Divisão Cunha ............................. 131
Figura 56 – Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição ......................................... 131
Figura 57 – Implantação do Conjunto Habitacional Cunha “B” ............................... 133
Figura 58 – Vista geral do Conjunto Habitacional Cunha “B” .................................. 134
Figura 59 – Vista geral do Conjunto Habitacional Cunha “B” .................................. 134
Figura 60 – Tipologia TG23A adaptada ao sistema construtivo .............................. 135
Figura 61 – Corte BB da tipologia TG23A padrão ................................................... 136
Figura 62 – Fotos da execução das obras em Cunha ............................................. 137
Figura 63 – Casa entregue em Cunha .................................................................... 140
Figura 64 – Interior de casa entregue em Cunha .................................................... 140
Figura 65 – Comparativo entre concreto convencional e concreto celular .............. 141
Figura 66 – Execução dos radiers em Cunha ......................................................... 149
Figura 67 – Montagem dos painéis internos............................................................ 149
Figura 68 – Fixação das armaduras e elementos de esquadrias ............................ 150
Figura 69 – Montagem das instalações ................................................................... 150
Figura 70 – Fechamento dos painéis de fôrmas ..................................................... 151
Figura 71 – Concretagem das paredes ................................................................... 151
Figura 72 – Desforma das paredes ......................................................................... 152
Figura 73 – Acabamento do concreto após a desforma .......................................... 152
Figura 74 – Preparação para execução dos oitões em alvenaria............................ 153
Figura 75 – Cobertura com estrutura de madeira e telhas cerâmicas ..................... 153
Figura 76 – Revestimento externo com textura ....................................................... 154
Figura 77 – Revestimento dos oitões com argamassa ............................................ 154
Figura 78 – Exemplos de fachadas de casas com muros e portões ....................... 164
Figura 79 – Fachada da casa que executou apenas o muro .................................. 164
Figura 80 – Frente da CNH05 com piso e cobertura ............................................... 164
Figura 81 – Desbarrancamento do terreno nos fundos da CNH06 ......................... 165
Figura 82 – Trincas no muro da CNH01 .................................................................. 165
Figura 83 – Reparo na CNH01 e trinca na CNH10 ................................................. 166
Figura 84 – Infiltração na CNH04 e reparo com rufo na CNH08 ............................. 166
Figura 85 – Cozinha nova na CNH05 ...................................................................... 167
Figura 86 – Sinais de umidade na alvenaria da CNH09 .......................................... 167
Figura 87 – Infiltração na laje da cozinha nova da CNH10 ..................................... 168
Figura 88 – Balcão na CNH01 e muretas de alvenaria na CNH04.......................... 168
Figura 89 – Trinca na ligação da parede nova com a antiga na CNH05 ................. 169
Figura 90 – Área de serviço da CNH04 e CNH07, respectivamente. ...................... 169
Figura 91 – Forro de madeira na CNH09 e de PVC na CNH07 .............................. 170
Figura 92 – Área de serviço e varanda com forno a lenha na CNH09 .................... 170
Figura 93 – Face externa de alvenarias sem revestimento na CNH03 e CNH05.... 171
Figura 94 – Muro do corredor da CNH04 com infiltração ........................................ 172
Figura 95 – Vista aérea da cidade de Lagoinha ...................................................... 173
Figura 96 – Igreja Matriz de Lagoinha ..................................................................... 174
Figura 97 – Vista aérea da Cachoeira Grande ........................................................ 175
Figura 98 – Implantação do Conjunto Habitacional Lagoinha “A” ........................... 176
Figura 99 – Vista geral do Conjunto Habitacional Lagoinha “A” .............................. 177
Figura 100 – Vista geral do Conjunto Habitacional Lagoinha “A” ............................ 177
Figura 101 – Detalhe da tipologia TG23A na fase inicial com 2 dormitórios ........... 178
Figura 102 – Tipologia TG23A em alvenaria estrutural, com 3 dormitórios ............. 179
Figura 103 – Corte CC da tipologia TG23A ............................................................. 180
Figura 104 – Fotos da execução das obras em Lagoinha ....................................... 180
Figura 105 – Casas nos três sistemas construtivos entregues em Lagoinha .......... 182
Figura 106 – Interior de uma das casas logo após a entrega ................................. 183
Figura 107 – Modulação utilizando a família 29 ...................................................... 193
Figura 108 – Modulação utilizando a família 39 ...................................................... 194
Figura 109 – Execução do radier ............................................................................ 200
Figura 110 – Conferência das diagonais do pavimento .......................................... 200
Figura 111 – Marcação das paredes com o “cordex” .............................................. 201
Figura 112 – Instalação dos escantilhões ............................................................... 201
Figura 113 – Marcação das referências das fiadas ................................................. 202
Figura 114 – Execução da 1ª fiada da alvenaria ..................................................... 203
Figura 115 – Utilização de palheta e bisnaga na elevação da alvenaria ................. 204
Figura 116 – Passagem de instalações no interior das alvenarias em Lagoinha .... 204
Figura 117 – Grauteamento vertical da alvenaria.................................................... 205
Figura 118 – Laje maciça moldada in loco em casa de Lagoinha ........................... 205
Figura 119 – Execução cobertura nas casas de Lagoinha ...................................... 206
Figura 120 – Execução do revestimento das casas de Lagoinha ........................... 206
Figura 121 – Vista de fachadas com muros e portões ............................................ 217
Figura 122 – Vista de fachadas só com portões ..................................................... 217
Figura 123 – Lotes com trechos cimentados na LGN07 e LGN14 .......................... 217
Figura 124 – Trincas e afundamento no piso do quintal da LGN11 ........................ 218
Figura 125 – Detalhe de radier com empoçamento na LGN11 ............................... 219
Figura 126 – Sinais de infiltração e trincas nas alvenarias da LGN01 .................... 219
Figura 127 – Trinca horizontal e infiltração nas alvenarias da LGN06 .................... 220
Figura 128 – Detalhes das falhas na superfície das lajes da LGN01 ...................... 220
Figura 129 – Detalhe de falhas em laje da LGN06.................................................. 221
Figura 130 – Cozinha e dormitório executados na LGN01 ...................................... 221
Figura 131 – Cozinha com fechamento de madeira e telhas mistas na LGN03 ...... 222
Figura 132 – Dormitório executado na LGN06, separado da casa original ............. 222
Figura 133 – Cozinha e dormitório em execução na LGN07 ................................... 223
Figura 134 – Garagem e varanda executadas na LGN10 ....................................... 223
Figura 135 – Sinais de infiltração na parede do dormitório da LGN11 .................... 224
Figura 136 – Sinais de infiltração nas paredes da cozinha da LGN12 .................... 224
Figura 137 – Sinais de infiltração na alvenaria da cozinha da LGN14 .................... 225
Figura 138 – Reutilização da estrutura metálica da cobertura da LGN12 ............... 225
Figura 139 – Telhas de fibrocimento na cobertura da área de serviço da LGN01 .. 226
Figura 140 – Cobertura com telhas cerâmicas na garagem da LGN11 .................. 226
Figura 141 – Porta de aço da LGN07com início de corrosão na base .................... 227
Figura 142 – Banheiro da LGN01 com azulejos até o teto ...................................... 228
Figura 143 – Modificações típicas nas unidades da tipologia TG23A ..................... 233
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Estudo de Caso 1: Bens de consumo das famílias ............................... 108


Gráfico 2 – Estudo de Caso 1: Avaliação da casa recebida .................................... 109
Gráfico 3 – Estudo de Caso 1: Atendimento às necessidades ................................ 109
Gráfico 4 – Estudo de Caso 1: Problemas com umidade e infiltração ..................... 110
Gráfico 5 – Estudo de Caso 1: Avaliação da iluminação ......................................... 110
Gráfico 6 – Estudo de Caso 1: Avaliação da ventilação .......................................... 110
Gráfico 7 – Estudo de Caso 1: Porcentagem de casas modificadas ....................... 111
Gráfico 8 – Estudo de Caso 1: Uso de projeto para realizar modificações ............. 111
Gráfico 9 – Estudo de Caso 1: Agente realizador das modificações ....................... 112
Gráfico 10 – Estudo de Caso 1: Data da última modificação .................................. 112
Gráfico 11 – Estudo de Caso 1: Local de realização das modificações .................. 112
Gráfico 12 – Estudo de Caso 1: Itens modificados .................................................. 113
Gráfico 13 – Estudo de Caso 1: Intenção de modificar o imóvel ............................. 114
Gráfico 14 – Estudo de Caso 1: Urgência das modificações .................................. 114
Gráfico 15 – Estudo de Caso 1: Local que pretende modificar ............................... 115
Gráfico 16 – Estudo de Caso 1: Serviço que pretende realizar ............................... 115
Gráfico 17 – Estudo de Caso 1: Benefício das modificações .................................. 116
Gráfico 18 – Estudo de Caso 1: Avaliação técnica da iluminação........................... 127
Gráfico 19 – Estudo de Caso 1: Avaliação técnica da ventilação............................ 127
Gráfico 20 – Estudo de Caso 1: Avaliação das modificações realizadas ................ 127
Gráfico 21 – Estudo de Caso 2: Bens de consumo das famílias ............................. 156
Gráfico 22 – Estudo de Caso 2: Avaliação da casa recebida .................................. 157
Gráfico 23 – Estudo de Caso 2: Problemas com umidade e infiltração................... 157
Gráfico 24 – Estudo de Caso 2: Avaliação da iluminação ....................................... 158
Gráfico 25 – Estudo de Caso 2: Avaliação da ventilação ........................................ 158
Gráfico 26 – Estudo de Caso 2: Agente realizador das modificações ..................... 158
Gráfico 27 – Estudo de Caso 2: Data da última modificação .................................. 159
Gráfico 28 – Estudo de Caso 2: Local de realização das modificações .................. 159
Gráfico 29 – Estudo de Caso 2: Itens modificados .................................................. 160
Gráfico 30 – Estudo de Caso 2: Dificuldades para realizar modificações ............... 160
Gráfico 31 – Estudo de Caso 2: Intenção de modificar o imóvel ............................. 161
Gráfico 32 – Estudo de Caso 2: Urgência das modificações .................................. 161
Gráfico 33 – Estudo de Caso 2: Local que pretende modificar ............................... 162
Gráfico 34 – Estudo de Caso 2: Serviços que pretende realizar ............................. 162
Gráfico 35 – Estudo de Caso 2: Benefício das modificações .................................. 163
Gráfico 36 – Estudo de Caso 2: Avaliação técnica da iluminação........................... 171
Gráfico 37 – Estudo de Caso 2: Avaliação técnica da ventilação............................ 171
Gráfico 38 – Estudo de Caso 2: Avaliação das modificações realizadas ................ 172
Gráfico 39 – Estudo de Caso 3: Bens de consumo das famílias ............................. 209
Gráfico 40 – Estudo de Caso 3: Avaliação da casa recebida .................................. 210
Gráfico 41 – Estudo de Caso 3: Problemas com umidade e infiltração................... 210
Gráfico 42 – Estudo de Caso 3: Avaliação da iluminação ....................................... 211
Gráfico 43 – Estudo de Caso 3: Avaliação da ventilação ........................................ 211
Gráfico 44 – Estudo de Caso 3: Agente realizador das modificações ..................... 211
Gráfico 45 – Estudo de Caso 3: Data da última modificação .................................. 212
Gráfico 46 – Estudo de Caso 3: Local de realização das modificações .................. 212
Gráfico 47 – Estudo de Caso 3: Itens modificados .................................................. 213
Gráfico 48 – Estudo de Caso 3: Dificuldades para realizar modificações ............... 213
Gráfico 49 – Estudo de Caso 3: Intenção de modificar o imóvel ............................. 214
Gráfico 50 – Estudo de Caso 3: Urgência das modificações .................................. 214
Gráfico 51 – Estudo de Caso 3: Locais que pretende modificar.............................. 215
Gráfico 52 – Estudo de Caso 3: Serviços que pretende realizar ............................. 215
Gráfico 53 – Estudo de Caso 3: Benefício das modificações .................................. 216
Gráfico 54 – Estudo de Caso 3: Avaliação técnica da iluminação........................... 226
Gráfico 55 – Estudo de Caso 3: Avaliação técnica da ventilação............................ 226
Gráfico 56 – Estudo de Caso 3: Avaliação das modificações realizadas ................ 228
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Descrição das unidades do Conjunto São Luiz do Paraitinga “C” ........... 91
Tabela 2 – Síntese da avaliação de satisfação realizada pela ONG InterAção......... 93
Tabela 3 – Resumo do relatório de análise das anomalias nas casas de Cunha ... 138
Tabela 4 – Descrição das unidades habitacionais do Conjunto Cunha “B” ............. 139
Tabela 5 – Descrição das unidades habitacionais do Conjunto Lagoinha “A” ......... 182
Tabela 6 – Comparativo entre as famílias de blocos de concreto ........................... 185
Tabela 7 – Famílias de blocos................................................................................. 186
Tabela 8 – Tipologias e prováveis causas de fissuras verticais .............................. 197
Tabela 9 – Tipologias e prováveis causas de fissuras inclinadas ........................... 197
Tabela 10 – Tipologias e prováveis causas de fissuras horizontais ........................ 198
LISTA DE SIGLAS

ABCP Associação Brasileira de Cimento Portland


ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
APO Avaliação pós-ocupação
AU Avaliação de uso
BNH Banco Nacional de Habitação
BPRU Building Performance Research Unit
CCMC Canadian Construction Materials Centre
CDHU Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do
Estado de São Paulo
CEF Caixa Econômica Federal
COHAB Companhias de Habitação
CONDEPHAAT Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico,
Artístico e Turístico
CREA Conselho Regional de Engenharia e Agronomia
CSN Companhia Siderúrgica Nacional
CSTB Centre Scientifique et Technique du Bâtiment
CTE Centro de Tecnologia de Edificações
EDRA Environmental Design Research Association
EHIS Empreendimentos de habitação de interesse social
FAU Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
FCP Fundação da Casa Popular
FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
GEPA Grupo de Estudos Pessoa-Ambiente
HIS Habitação de interesse social
IAP Institutos de Aposentadoria e Pensão
IBH Instituto Brasileiro de Habitação
INOCOOP Institutos de Orientação a Cooperativas Habitacionais
IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas
NBR Norma Brasileira
NORIE Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação
NUTAU Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo
PAH Plano de Assistência Habitacional
PIB Produto Interno Bruto
PLANHAB Plano de Habitação do Governo Federal
PVC Policloreto de polivinila, cloreto de vinila ou policloreto de vinil
RAC Relações Ambiente & Comportamento
RBS Royal Building Systems
SBPE Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo
SFH Sistema Financeiro da Habitação
SINAT Sistema Nacional de Aprovações Técnicas
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 20
1.1 Contextualização......................................................................................... 20
1.2 Justificativa ................................................................................................. 24
1.3 Objetivo ....................................................................................................... 25
1.4 Hipóteses .................................................................................................... 25
1.5 Estrutura da dissertação ............................................................................. 26
2. HABITAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE SISTEMAS CONSTRUTIVOS NO
BRASIL ........................................................................................................... 28
2.1 Conceituação .............................................................................................. 28
2.1.1 Casa, moradia e habitação .................................................................. 28
2.1.2 Técnicas, métodos, processos e sistemas construtivos ...................... 29
2.1.3 Racionalização, industrialização e inovação tecnológica..................... 30
2.2 A habitação no Brasil a partir do final do século XIX................................... 32
2.2.1 Políticas Habitacionais das últimas décadas no Estado de São Paulo 39
2.3 A etapa de projeto na construção civil ........................................................ 41
2.4 Adoção de sistemas construtivos inovadores ............................................. 43
3. AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO ..................................................................... 47
3.1 Conceituação .............................................................................................. 47
3.2 Histórico ...................................................................................................... 54
3.3 Tipos de avaliação pós-ocupação ............................................................... 57
3.3.1 Avaliação dos aspectos funcionais ...................................................... 57
3.3.2 Avaliação dos aspectos construtivos ................................................... 57
3.3.3 Avaliação do conforto ambiental .......................................................... 57
3.3.4 Avaliação econômica ........................................................................... 58
3.4 Métodos e técnicas de avaliação pós-ocupação ......................................... 58
4. MODIFICAÇÕES REALIZADAS PELOS MORADORES EM UNIDADES
DE HIS ............................................................................................................ 65
4.1 Flexibilidade de projeto ............................................................................... 69
4.2 Assistência técnica para melhoria habitacional ........................................... 73
5. METODOLOGIA DA PESQUISA .................................................................... 75
5.1 Revisão Bibliográfica................................................................................... 75
5.2 Estudos de Caso ......................................................................................... 75
5.2.1 Definição da região e empreendimentos estudados ............................ 75
5.2.2 Preparação e Realização da Pesquisa de Campo............................... 77
5.3 Análise e Considerações ............................................................................ 79
6. O CASO DE SÃO LUIZ DO PARAITINGA...................................................... 81
6.1 O Empreendimento ..................................................................................... 81
6.1.1 Cenário ................................................................................................ 81
6.1.1 Descrição e histórico ............................................................................ 84
6.1.2 Sistema Construtivo: Concreto PVC - Royal Building Systems (RBS). 93
6.2 O Estudo de Caso ..................................................................................... 107
6.2.1 Apresentação e Análise dos Resultados das Entrevistas .................. 108
6.2.1 Apresentação e Análise dos Resultados da Avaliação Técnica ........ 116
7. O CASO DE CUNHA .................................................................................... 129
7.1 O Empreendimento ................................................................................... 129
7.1.1 Cenário .............................................................................................. 129
7.1.2 Descrição e histórico .......................................................................... 132
7.1.3 Sistema Construtivo: paredes de concreto celular moldadas in loco . 140
7.2 O Estudo de caso...................................................................................... 155
7.2.1 Apresentação e Análise dos Resultados das Entrevistas .................. 155
7.2.2 Apresentação e Análise dos Resultados da Avaliação Técnica ........ 163
8. O CASO DE LAGOINHA .............................................................................. 173
8.1 O Empreendimento ................................................................................... 173
8.1.1 Cenário .............................................................................................. 173
8.1.2 Descrição e histórico .......................................................................... 176
8.1.3 Sistema Construtivo: Alvenaria estrutural com blocos de concreto ... 183
8.2 O Estudo de caso...................................................................................... 207
8.2.1 Apresentação e Análise dos Resultados das Entrevistas .................. 208
8.2.2 Apresentação e Análise dos Resultados da Avaliação Técnica ........ 216
9. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS GLOBAIS........................... 229
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 234
11. REFERÊNCIAS ............................................................................................ 237
APÊNDICE A – Diretrizes e roteiro para entrevistas em campo .............................244
APÊNDICE B – Formulário de caracterização dos empreendimentos ....................245
APÊNDICE C – Formulário de visita e entrevista com moradores ..........................250
ANEXO A – Quadro resumo do perfil dos municípios visitados ..............................258
20

1. INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização

O setor habitacional em países em desenvolvimento tem dois grandes


problemas, afirmam Mohit et al. (2010). O primeiro é que a quantidade de casas
produzidas não atende à demanda da população de baixa renda e o segundo é que
o tipo de habitação ofertada não atende satisfatoriamente às necessidades sociais,
culturais, religiosas e de conforto das famílias, o que influencia na qualidade de vida
e em aspectos psicossociais dos moradores, afirmam os autores.
De acordo com Ferguson e Navarrete (2003), os programas e políticas de
habitação nestes países muitas vezes tentam replicar o modo dominante em países
desenvolvidos, que consiste na produção de novas unidades habitacionais
completas para serem vendidas através de hipotecas ou financiamentos. Esta
abordagem de produto, no entanto, exige grandes subsídios por unidade, resulta no
setor formal satisfazendo apenas uma fração da demanda das famílias e não
consegue gerar os mecanismos necessários para converter a casa própria em uma
economia de mercado, bem como em um bem social, asseguram os autores. Eles
afirmam, ainda, que esta abordagem do produto aplicada à habitação falhou em todo
o mundo em desenvolvimento, no entanto, os governos continuam a financiar
unidades completas e de alto custo como a principal forma de provisão habitacional.
Ainda segundo Ferguson e Navarrete (2003), nos países em desenvolvimento
a casa própria tem um grande valor devido às diversas incertezas com relação à
saúde, estabilidade de emprego e outras situações de emergência que as famílias
de baixa e média renda enfrentam frequentemente.
Segundo Van Gelder (2007), as atuais políticas habitacionais visam garantir a
posse de terra urbana baseando-se na ideia de que as pessoas precisam de um
título legal para consolidar a sua utilização, pois este é uma fonte de segurança e
um incentivo para que os moradores realizem melhorias em suas habitações.
Werna et al. (2001) explicam, ainda, que em países em desenvolvimento, a
provisão de habitação para baixa renda envolve uma rede intrincada e complexa de
relações entre vários agentes e o Estado, o que torna a solução para esses
21

problemas ainda mais complicada. Segundo os autores, nestes países, as políticas


públicas de provisão habitacional devem levar em consideração o contexto social,
cultural e político, a dimensão da oferta de terra e habitação e as interações entre os
grupos de interesse relevantes. Eles defendem que, nessas situações, ações como
o relaxamento do cumprimento das leis de uso do solo e a grande provisão
governamental de serviços básicos de infraestrutura podem contribuir de forma
significativa para que a população de baixa renda tenha acesso à moradia digna.
No Brasil, segundo estudo do Ministério das Cidades, o déficit habitacional é
estimado em 6,3 milhões de domicílios, entretanto, o déficit qualitativo chega a 10,5
milhões (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2009). Isso significa que, além das famílias
que não têm um domicílio, uma grande parcela da população vive em habitações
inadequadas, com alta densidade demográfica, sem banheiro ou compartilhando o
banheiro com outras residências. Outras inadequações, como ambientes sem
iluminação ou ventilação não são consideradas nessa conta, o que indica que esse
número poderia ser muito maior. Isso significa que há um imenso mercado para
novas habitações, principalmente nos segmentos de interesse social e econômico.
Estima-se, ainda, que o país ganhe entre 1 e 1,5 milhão de novas residências
por ano. Além disso, algo em torno de 14 milhões de operações de reforma e
ampliação são realizadas anualmente, sendo que mais de 75% das habitações
brasileiras necessitam de reformas (ANAMACO & LATIN PANEL, 2008).
Para atender a toda essa demanda habitacional, diversas formas de provisão
podem ser adotadas, de acordo com a população a ser atendida. Assim, Abiko et al.
(2005), propõem uma segmentação do setor de construção civil de acordo com uma
associação do tipo de gestão, tipo do produto e a clientela atendida:
• produção própria/ preço de custo: individualizada, alto padrão,
construção por administração, venda a preço de custo ou mercado;
• produção privada imobiliária: condomínio, incorporação, construção e
venda a preço fechado, no mercado imobiliário;
• produção e gestão estatal: o estado é o gestor da produção ou gestor do
financiamento à produção ou aquisição, com objetivos sociais;
• autoconstrução/ autogestão: construção de baixa renda para a própria
família ou para venda; a construção é feita pela própria família, familiares
ou mão de obra pouco capacitada.
22

Esta pesquisa trata especificamente do terceiro segmento, a produção e


gestão estatal, que visa fornecer habitação digna e legalizada à população de baixa
renda, muitas vezes removida de áreas de risco ou de assentamentos precários.
Dentro dessa categoria, diversas formas de provisão habitacional têm sido
empregadas no Brasil, sendo a grande maioria baseada na construção de
empreendimentos de habitação de interesse social (EHIS), também chamados de
conjuntos habitacionais.
Entende-se por empreendimentos de habitação de interesse social (EHIS) os
empreendimentos desenvolvidos, de forma integral ou parcial, com subsídios do
poder público a partir de programas habitacionais para atendimento de famílias com
renda mensal na faixa de 0 a 10 salários mínimos (BONATTO et al., 2011).
Em geral, o que diferencia esses empreendimentos são:
• a tipologia, que pode ser horizontal (casas e sobrados) ou vertical
(edifícios);
• a forma de construção, que pode ser realizada por uma ou mais empresas
contratadas através de licitação ou pelo sistema de mutirão, onde os
moradores trabalham na construção das próprias casas sob orientação de
profissionais experientes;
• a forma de pagamento, que pode ser totalmente subsidiado, parcialmente
subsidiado, totalmente pago ou por meio de arrendamento;
• a titulação de posse dos moradores, que pode ser concedida no momento
da entrega da casa, após o pagamento de uma parte do imóvel ou somente
ao término do pagamento.
Nas últimas décadas, muito esforço tem sido despendido na construção
desses empreendimentos, que concentram a maior parte das tentativas de adoção
de processos construtivos racionalizados e inovadores. No entanto, ao longo dos
anos, a adoção indiscriminada desses processos inovadores gerou também uma
série de problemas de ordem técnica e funcional que na maioria das vezes só veio a
se manifestar após a ocupação dos imóveis.
Diante dessa situação, os pesquisadores brasileiros passaram a adotar a
avaliação pós-ocupação (APO) como um instrumento não só de avaliação desses
empreendimentos, mas também de retroalimentação dos projetos habitacionais
voltados à população de baixa renda.
23

Segundo Romero e Ornstein (2003), no caso de programas de interesse


social, a APO passa a ser ainda mais relevante, pois aí se têm adotado no Brasil,
nas últimas décadas, soluções urbanísticas, arquitetônicas e construtivas repetitivas
em larga escala para atender a uma população, em geral, muito heterogênea, cujo
repertório cultural, hábitos, atitudes e crenças são bastante distintos já no próprio
conjunto, e mais ainda em relação aos projetistas.
Segundo Bonatto et al. (2011), os empreendimentos habitacionais de
interesse social (EHIS) têm sido alvo de diversos estudos realizados no meio
acadêmico, pois entende-se que a busca de melhores resultados em relação a
esses empreendimentos gera benefícios aos seus usuários e melhorias para a
sociedade, desde que haja bons resultados na relação entre o usuário e o produto
oferecido no âmbito dos programas habitacionais pelos diferentes agentes
envolvidos. Assim, considerando os recursos investidos em programas
habitacionais, eles salientam a importância da formação da satisfação e da geração
de valor para a população atendida, a fim de que realmente esses benefícios
ocorram de forma duradoura.
No entanto, no contexto de EHIS e analisando avaliações pós-ocupação
realizadas no meio acadêmico, é possível perceber, através da repetição dos
problemas identificados ao longo dos anos, que as informações e oportunidades
para melhorias não são devidamente consideradas na realização de novos
empreendimentos (BONATTO et al., 2011).
Segundo Reis (1995 apud BRANDÃO 2011), avaliações pós-ocupação em
conjuntos habitacionais mostram, normalmente, a insatisfação com o tamanho da
casa e com a adequação dos cômodos. Além disso, o autor declara que, em geral, o
morador expressa o desejo de fornecer à sua residência, dentro do que é possível,
uma característica individual tanto por dentro como por fora. Apesar disso, os
empreendimentos habitacionais, sejam de promoção pública ou privada, são
oferecidos, quase sempre, com plantas recorrentes por anos e anos, afirma o autor.
Ainda de acordo com Brandão (2011), a falta de flexibilidade de projeto é uma
das principais causas de intervenções, demolição parcial e, até mesmo, a demolição
completa de uma edificação. Por essa razão, vários autores defendem a importância
da flexibilidade, tanto na ocupação inicial dos espaços, como ao longo de sua
utilização.
24

Da mesma forma, Concílio e Abiko (1998), falando sobre mutirões


habitacionais, afirmam que “a flexibilidade dos processos e sistemas construtivos
utilizados para este fim deve ser garantida para acompanhar a natureza evolutiva
das construções”.
Verifica-se, no entanto, que a grande maioria das avaliações pós-ocupação é
feita no campo da arquitetura, levando em consideração mais os aspectos de projeto
do que as questões construtivas. Mesmo os estudos que avaliam o processo
construtivo, o fazem mais com foco nas patologias identificadas e no conforto
ambiental, desconsiderando a influência desses processos na funcionalidade do
ambiente construído.
Roméro e Ornstein (2003) reconhecem que há um grande desconhecimento,
por parte dos profissionais brasileiros, do que ocorre no ambiente construído no
decorrer do uso, tanto no que se refere ao desempenho físico quanto à satisfação do
usuário, ou, ainda, no que se refere ao atendimento das suas necessidades. Assim,
verifica-se a necessidade de se aprofundar os estudos nesse sentido, buscando
compreender melhor essa realidade.

1.2 Justificativa

Assim, a pesquisa aqui apresentada se justifica, primeiramente, pela


possibilidade de contribuição no aprimoramento de normas e manuais e de
alimentação de bancos de dados para retroalimentação de projetos de
empreendimentos de HIS, conforme defendido por diversos autores.
Identificou-se, também, a necessidade de se entender melhor o que ocorre no
ambiente construído no decorrer do uso, buscando informações sobre o
desempenho da edificação e a satisfação do usuário. Por isso, entende-se que é
preciso identificar e compreender as modificações realizadas pelos usuários nos
empreendimento de HIS, levantando as possíveis causas e as dificuldades para a
sua realização.
Outro fator ainda pouco explorado é a influência do processo construtivo na
realização dessas modificações, seja por estimular o desejo de mudança ou pela
maior ou menor facilidade em permitir as modificações desejadas pelos usuários.
Verificou-se, também, que há muitos estudos sobre flexibilidade de projeto em EHIS,
mas não se tem estudado como construir essas casas flexíveis, ou seja, é preciso
25

entender como os processos construtivos devem se comportar para atender a essa


flexibilidade proposta em projeto.
Além disso, entende-se que um estudo mais detalhado dessa relação entre
necessidades do usuário, processo construtivo e modificações nas unidades
habitacionais em HIS pode servir de base para a elaboração de orientações para
futuros empreendimentos.
Assim, esta pesquisa pretende levantar essa questão e abrir caminho para o
estudo mais aprofundado dos procedimentos de execução de modificações,
principalmente as ampliações, em unidades de HIS. Espera-se, portanto, que este
estudo possa contribuir para a elaboração de orientações mais precisas de
execução dessas modificações de forma que o resultado final não comprometa a
segurança, durabilidade e conforto da habitação.

1.3 Objetivo

Com base nesses argumentos, esta pesquisa tem o objetivo de identificar as


principais modificações realizadas pelos moradores de empreendimentos horizontais
de habitação de interesse social e a sua relação com o processo construtivo utilizado
no projeto original.
No intuito de alcançar esse objetivo principal, alguns objetivos secundários
foram buscados, conforme especificado a seguir:
• Identificar as principais reclamações dos moradores com relação às
unidades de empreendimentos de HIS horizontais;
• Identificar as principais modificações realizadas ou intencionadas pelos
moradores nas unidades habitacionais e as possíveis motivações para tal;
• Identificar diferenças nas modificações realizadas em empreendimentos
executados com diferentes processos construtivos, buscando identificar a
influência desses processos na realização.

1.4 Hipóteses

• Os conjuntos habitacionais têm apresentado, ao longo dos anos, diversos


problemas técnicos e funcionais;
26

• O produto habitacional ofertado à população de baixa renda não atende a


todas as necessidades das famílias;
• Os usuários de unidades de HIS demonstram insatisfação com aspectos
físicos e funcionais das unidades;
• Os moradores de EHIS modificam as unidades habitacionais para adaptá-
las às suas necessidades;
• Há muitos estudos sobre a flexibilidade de projeto, mas não se tem
estudado como construir essas casas flexíveis.

1.5 Estrutura da dissertação

Este trabalho está dividido em dez capítulos, estruturados da seguinte forma:

Capítulo 1: Introdução
Apresenta a contextualização do problema, as hipóteses, o objetivo, a justificativa e
a estrutura da dissertação.

Capítulo 2: Habitação e utilização de sistemas construtivos no Brasil


Exibe um breve histórico das políticas habitacionais do país e da adoção de
sistemas construtivos desde o início do século XX, comentando também os
desdobramentos dessas políticas no Estado de São Paulo e a utilização de sistemas
construtivos inovadores.

Capítulo 3: Avaliação Pós-Ocupação


Discorre sobre os conceitos, métodos e técnicas de avaliação pós-ocupação.
Discute, ainda, os tipos de avaliação e questões relacionadas aos projetos de HIS
no Brasil.

Capítulo 4: Modificações realizadas pelos moradores em unidades de HIS


Apresenta resumidamente uma revisão da bibliografia existente sobre o assunto no
Brasil e apresenta duas opções para minimizar os efeitos das modificações mal
realizadas.
27

Capítulo 5: Metodologia da Pesquisa


Esclarece os procedimentos metodológicos adotados para a realização da pesquisa.

Capítulo 6: O Caso de São Luiz do Paraitinga


Apresenta o estudo de caso realizado no Conjunto Habitacional São Luiz do
Paraitinga “C”, focando no cenário, na descrição e histórico do empreendimento, no
sistema construtivo utilizado e nos resultados encontrados.

Capítulo 7: O Caso de Cunha


Apresenta o estudo de caso realizado no Conjunto Habitacional Cunha “B”, focando
no cenário, na descrição e histórico do empreendimento, no sistema construtivo
utilizado e nos resultados encontrados.

Capítulo 8: O Caso de Lagoinha


Apresenta o estudo de caso realizado no Conjunto Habitacional Lagoinha “A”,
focando no cenário, na descrição e histórico do empreendimento, no sistema
construtivo utilizado e nos resultados encontrados.

Capítulo 9: Análise Global dos Resultados


Discute os resultados obtidos nos três estudos de caso, comparando-os e
analisando estes resultados de forma global.

Capítulo 10: Considerações Finais


Apresenta as considerações finais da autora sobre esta pesquisa e sugestões para
estudos futuros.
28

2. HABITAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE SISTEMAS CONSTRUTIVOS


NO BRASIL

2.1 Conceituação

2.1.1 Casa, moradia e habitação

Para Martucci e Basso (2002), os conceitos de casa, moradia e habitação são


diferentes, embora na sabedoria popular possam parecer o mesmo. Para eles, estes
conceitos são os seguintes:

Casa: é o ente físico, a casca protetora, o invólucro que divide espaços


internos e espaços externos. Para a construção da casa são utilizados os
processos construtivos, com suas técnicas e tecnologias, materiais de
construção, componentes, subsistemas e sistemas construtivos. Portanto, é
aqui que aparecem as inovações tecnológicas e organizacionais do ponto de
vista dos projetos e produção do produto casa.

Moradia: para que a casa se caracterize como moradia, ela precisa se


identificar com o “modo de vida” dos usuários nos seus aspectos mais
amplos, ou seja, a moradia leva em consideração os “hábitos de uso da
casa”. Ao longo do tempo, uma casa pode ser utilizada por diferentes pessoas
e famílias, transformando-se em moradias diferentes de acordo com os
hábitos de seus usuários.

Habitação: está ligada diretamente à estrutura urbana através da


infraestrutura urbana instalada e da rede de serviços urbanos. É o resultado
da casa e da moradia integradas ao espaço urbano com todos os elementos
que este possa oferecer, ou seja, o valor do produto habitação está
diretamente relacionado com a estrutura urbana na qual esta inserida.
29

Assim, Martucci e Basso (2002) sintetizam a relação entre os conceitos


apresentados da seguinte maneira:
CASA + MORADIA + ESTRUTURA URBANA = HABITAÇÃO

2.1.2 Técnicas, métodos, processos e sistemas construtivos

Os conceitos de técnicas, métodos, processos e sistemas construtivos muitas


vezes são utilizados de forma incorreta até mesmo no meio técnico, sendo
confundidos e muitas vezes tratados como sinônimos. Assim, considera-se
importante a definição de cada um deles.
Barros (1996) define técnica construtiva como “o conjunto das habilidades de
um determinado profissional, no caso presente, operário da construção, para realizar
uma determinada operação”, ou seja, é o “saber fazer” (CONCÍLIO; ABIKO, 1998).
Segundo Sabbatini (1989), nestes conceitos “não estão implícitas noções de
sequência, precedência, organização, mas tão somente a noção de coleção”.
Já o método construtivo é definido por Sabbatini (1989) como “um conjunto de
técnicas construtivas interdependentes e adequadamente organizadas, empregado
na construção de uma parte (subsistema ou elemento) de uma edificação”. Assim,
esse conceito engloba as técnicas utilizadas para a construção de um subsistema,
como a fundação, vedação ou cobertura, por exemplo.
Se o conceito de método construtivo se refere à construção de um elemento
da construção, o conceito de processo construtivo vai mais além e engloba a
construção da edificação. Dessa forma, processo construtivo pode ser entendido
como um conjunto de métodos construtivos pré-determinados ou como a
organização do processo de produção (BARROS, 1996).
Para Sabbatini (1989), processo construtivo é “um organizado e bem definido
modo de se construir um edifício. Um específico processo construtivo caracteriza-se
pelo seu particular conjunto de métodos utilizados na construção da estrutura e das
vedações do edifício (invólucro)”.
Segundo Martucci e Basso (2002), os processos construtivos viabilizam,
através da tecnologia e da técnica, a materialização das unidades habitacionais e
nada mais são do que os processos que definem as formas e as capacidades
técnicas e econômicas de se construir. Portanto, do ponto de vista histórico, os
processos construtivos estabelecem tipologicamente as tecnologias a serem
30

aplicadas, fazendo com que, por sua vez, nos projetos surjam os sistemas
construtivos.
Os conceitos de processos e sistemas construtivos são muito próximos, mas
apresentam uma relação de subordinação, sendo que a definição de sistemas
construtivos apresenta um caráter mais complexo, afirmam Concílio e Abiko (1998).
Martucci e Basso (2002) explicam que os sistemas construtivos representam
um determinado estágio tecnológico indutor da forma de se projetar e executar os
edifícios, ou seja, sintetizam o conjunto de conhecimentos técnicos e organizacionais
referentes aos materiais de construção, componentes, subsistemas construtivos,
máquinas, equipamentos, ferramentas e instrumentos produzidos para o setor da
construção civil.
Já Sabbatini (1989) define sistema construtivo como “um processo construtivo
de elevados níveis de industrialização e de organização, constituído por um conjunto
de elementos e componentes inter-relacionados e completamente integrados pelo
processo”.
Concílio e Abiko (1998) lembram que as definições de Sabbatini (1989) têm
sido utilizadas em todos os trabalhos desenvolvidos na Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo (EPUSP). Dessa forma, adotaremos aqui também essas
definições a fim de manter a mesma linha de raciocínio já adotada em trabalhos
anteriores.
Martucci e Basso (2002) lembram, ainda, que os sistemas construtivos podem
ser subdivididos em vários subsistemas e, nesse sentido, ao iniciar-se a elaboração
dos projetos de uma edificação habitacional, tem-se uma infinidade de situações
possíveis de serem propostas. Assim, os autores afirmam que praticamente tudo é
possível, entretanto, questionam: “será que tudo que é possível no plano projetual
será viável do ponto de vista da execução propriamente dita, ou seja, do ponto de
vista da produção?”.

2.1.3 Racionalização, industrialização e inovação tecnológica

Segundo Franco (1996), diversos autores procuraram conceituar a


racionalização construtiva. Neste trabalho, utilizamos a definição clássica de
Sabbatini (1989):
31

"RACIONALIZAÇÃO CONSTRUTIVA é um processo composto pelo


conjunto de todas as ações que tenham por objetivo otimizar o uso dos
recursos materiais, humanos, organizacionais, energéticos, tecnológicos,
temporais e financeiros disponíveis na construção em todas as suas
fases."
Para Franco (1996), essa definição mostra que o conceito de racionalização
construtiva implica na aplicação dos princípios de racionalização de uma forma mais
ampla e não pode ser encarado apenas como a melhoria ou alteração de
determinados procedimentos construtivos. Segundo o autor, a racionalização deve
abranger todos os recursos envolvidos e todas as fases do empreendimento e, “por
suas características, é uma alternativa mais próxima à realidade da indústria da
construção civil que outras intervenções mais radicais como a industrialização”.
Por sua vez, a industrialização é definida por Sabbatini (1989) da seguinte forma:
"INDUSTRIALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO é um processo evolutivo que,
através de ações organizacionais e da implementação de inovações
tecnológicas, métodos de trabalho e técnicas de planejamento e controle,
objetiva incrementar a produtividade e o nível de produção e aprimorar o
desempenho da atividade construtiva."
Para este autor, deve-se conduzir os esforços no sentido de industrializar a
construção civil de forma a construir quantidade igual ou superior de edificações com
qualidade igual ou superior a um custo menor.
Sabbatini (1989) apresenta, ainda, uma definição do conceito de inovação
tecnológica específica para o campo da tecnologia de construção de edifícios:
“Um novo produto, método processo ou sistema construtivo introduzido no
mercado, constitui-se em uma INOVAÇÃO TECNOLÓGICA na construção
de edifícios quando incorporar uma nova idéia e representar um sensível
avanço na tecnologia existente em termos de: desempenho, qualidade ou
custo do edifício, ou de uma sua parte.”
Franco (1996) defende que a adoção dos princípios de racionalização da
construção leva à busca de melhores soluções e, consequentemente, permite o
aprimoramento contínuo dos processos construtivos, o que pode ser estendido
também à aplicação da industrialização na construção.
O autor argumenta, ainda, que “a implementação de inovações tecnológicas
deve estar baseada em análises feitas através de metodologias científicas,
fundamentadas em critérios como construtibilidade e desempenho”. Assim, é
32

possível obter melhorias de produtividade e custo, mas garantindo o funcionamento


adequado e o atendimento das expectativas dos usuários das habitações.

2.2 A habitação no Brasil a partir do final do século XIX

A expansão das atividades industriais nas cidades no final do século XIX


resultou na migração da população para essas regiões e trouxe também a
necessidade de gerar habitações nos grandes centros urbanos, lembra Lima (2008).
Segundo o autor, a grande maioria das moradias era construída de forma artesanal
por meio da autoconstrução. Próximo à virada do século, no entanto, o aumento do
proletariado, os cortiços lotados e o surgimento das primeiras favelas gerou uma
pressão pela provisão de habitação de baixo custo e muitos empresários passaram
a construir vilas operárias para abrigar seus funcionários em troca de redução de
taxas e impostos por parte do governo, afirma.
No entanto, segundo Palhares (2001), no início do século XX, grande parte
da população brasileira ainda vivia em casas de aluguel e tinha grande parte do
salário absorvida pelas mensalidades. De acordo com o autor, o Estado Novo, de
1930 a 1945, marcou um período de nova reflexão sobre as habitações de massa
para a classe operária e de formação de uma nova cultura de morar.
Segundo Palhares (2001), o Estado assumiu a responsabilidade pelo
problema habitacional e passou a intervir na produção das moradias, provocando
grandes transformações no setor habitacional. A aquisição da casa própria passou a
ser o objetivo principal a e política habitacional priorizava o barateamento do custo
de produção, sem comprometer as condições de conforto e higiene para os
moradores, tomadas como condições mínimas de habitabilidade.
Palhares (2001) relata que foi nessa época que surgiram os Institutos de
Aposentadoria e Pensão (IAP’s) e a Fundação da Casa Popular (FCP), os primeiros
órgãos federais de atuação voltada ao suporte à produção de habitação social,
introduzindo novos arranjos e tipologias e criando tendências urbanísticas
inovadoras. Segundo o autor, o modelo adotado inicialmente buscava
prioritariamente a melhoria da qualidade de vida dos moradores, entretanto, o fator
econômico prevalece, estabelecendo a construção com custo mínimo e predomínio
de moradia em edifícios coletivos para os associados. Ocorre, então, a busca pelo
33

melhor aproveitamento dos recursos a serem disponibilizados, com a padronização


dos materiais de construção, reprodução em série e industrialização.
Na década de 40, a residência unifamiliar isolada continuava sendo a
preferência, entretanto, foram adotados programas inovadores para construção de
edifícios de moradia com apartamentos duplex, teto jardim e pilotis, associados a
equipamentos sociais e recreativos, áreas verdes e de lazer etc. A partir de 1945,
com a adoção de valores estritamente econômicos, tais modelos perderam parte dos
conteúdos modernistas e levaram à racionalidade da planta através da redução dos
espaços internos, mas tentando preservar as condições de conforto e higiene dos
moradores. Ainda assim, passaram a sofrer grande rejeição (PALHARES, 2001).
Segundo Palhares (2001), o período de pós-guerra foi marcado pela crise
habitacional provocada pelo fim da guerra e pela Lei do Inquilinato, que congelou o
valor dos aluguéis. Mesmo assim, continuou a produção de habitação popular de
massa no período, baseada nas tipologias de casas unifamiliares térreas, sobrados
geminados e blocos laminares de apartamentos, sobretudo nas periferias, onde os
lotes apresentavam custos mais baixos.
O processo colocado em prática com maior frequência neste período tinha
como foco a industrialização das partes e não do todo. Acreditava-se que as
vantagens da industrialização seriam vistas na exatidão das medidas e no encaixe
perfeito das partes no canteiro de obras, acelerando a montagem e reduzindo o
tempo de execução e o custo da mão de obra (FOLZ, 2008).
Nas décadas de 50 e 60, os IAP’s entraram em declínio e passaram a
funcionar com subsídios da União, afirma Lima (2008). Além disso, o processo de
favelização continuou acelerado e a autoconstrução se manteve como principal
forma de produção habitacional, completa. Também nessa época, tentou-se
implantar o Plano de Assistência Habitacional (PAH) para substituir a Fundação da
Casa Popular (FCP) e o Instituto Brasileiro de Habitação (IBH), que não foram bem
sucedidos, revela o autor.
Com a instituição do governo militar, teve fim o congelamento dos aluguéis e
foi criado, em 1964, o Banco Nacional de Habitação (BNH), que assumiu o desafio
da provisão de moradia e também de desenvolvimento urbano, sendo responsável
por elevar o nível de coordenação e sistematização da intervenção do Estado na
provisão da habitação popular (MARROQUIM; BARBIRATO, 2007; PALHARES,
34

2001; LIMA, 2008). De acordo com Lima (2008), nos dois primeiros anos, os
recursos do BNH vinham do percentual de 1% das folhas de pagamento e, a partir
de 1966, o banco passou a operar por meio do Sistema Financeiro da Habitação
(SFH), composto pelo Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e pelo
Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE).
Assim, foi adotado um plano de construção intensiva de unidades para venda
por meio do financiamento da habitação popular, crescendo o estímulo à obtenção
da casa própria. Se por um lado o objetivo era incentivar a obtenção da casa própria,
por outro, pretendia-se criar condições favoráveis ao desenvolvimento da indústria
da construção civil e gerar mais empregos (PALHARES, 2001; LIMA, 2008).
Pouco antes dos anos 70, o país experimentou um período de grande
crescimento denominado “Milagre Econômico”. O país crescia rapidamente na área
econômica e a expansão industrial, aliada à melhora dos índices salariais e à
repressão política, incitou uma explosão consumista entre os setores médios da
população. O período foi marcado pela execução de grandes obras da iniciativa
pública e significativa expansão do crédito.
Segundo Lima (2008), os agentes designados para implantar esse programa
foram as Companhias de Habitação (COHAB’s), que atendiam famílias com renda
na faixa de 1 a 3 salários mínimos, e os Institutos de Orientação a Cooperativas
Habitacionais (INOCOOP’s), que atendiam famílias com renda na faixa de 3 a 5
salários mínimos. Segundo o autor, as propostas arquitetônicas adotavam a prática
de maior quantidade possível de habitações em espaços menores e em larga
escala, utilizando-se dos superblocos.
Também nesse período, questionou-se a competência da indústria da
construção e intensificaram-se as discussões quanto ao “atraso tecnológico” do setor
e questões como o aumento da produtividade e redução de custos passaram a ter
maior importância devido à produção de bens de consumo em massa (HOLANDA,
2003). Gonçalves et al. (2003) descrevem que, a partir dos questionamentos,
verificou-se a oportunidade da utilização de novos sistemas construtivos (como
alternativas aos produtos e processos tradicionais até então utilizados) visando,
principalmente, a racionalização e industrialização da construção.
Segundo Farah (1996 apud HOLANDA, 2003), a introdução de “sistemas
construtivos inovadores” ou ainda “sistemas industrializados”, baseados na pré-
35

fabricação, na maioria trazidos de outros países, foi a resposta dada pelas empresas
construtoras de edifícios aos questionamentos e discussões sobre o atraso do setor.
HOLANDA (2003) conta que, do final da década de 60 até o início da década de 80,
a construção de grandes conjuntos habitacionais também marcou uma etapa
importante da história da construção de edifícios no Brasil, com alterações
tecnológicas voltadas para a industrialização da construção.
O otimismo tecnológico que existia até então entrou em crise no final da
década de 70 e as propostas, baseadas na repetição de elementos e espaços pré-
fabricados e em sistemas construtivos fechados, não tiveram continuidade devido ao
seu alto custo. Neste momento, Folz (2008) descreve o surgimento de uma nova
visão para se produzir edifícios: a visão sistêmica, onde não se separa o edifício
como um todo e sua interação com o usuário e o meio.
De acordo com Marroquim e Barbirato (2007), grande parte dos
empreendimentos construídos entre as décadas de 60 e 80, financiados pelo BNH,
custava caro e não atendia às necessidades de seus proprietários, com destaque
para as dimensões reduzidas. De acordo com Palhares (2001), as propostas
tipológicas do BNH estavam longe das articulações dos IAP’s, mas mantinham o
padrão de casas térreas, sobrados e blocos de apartamentos. O autor caracteriza a
atuação do BNH pela busca pela economia e priorização do atendimento de
demanda quantitativa, resultando na redução progressiva da área construída das
habitações e da qualidade de seus materiais de acabamento.
Segundo Bonduki (2008), é necessário enfatizar, ainda, o desastre, do ponto
de vista arquitetônico e urbanístico, da intervenção realizada. Para o autor, dentre os
erros praticados se destacam a opção por grandes conjuntos na periferia, a
desarticulação entre os projetos habitacionais e a política urbana e o absoluto
desprezo pela qualidade do projeto. O resultado foram soluções padronizadas e sem
nenhuma preocupação com a qualidade da moradia, com a inserção urbana, com o
respeito ao meio físico e com as peculiaridades de cada região do país, afirma.
O BNH foi extinto em 1986 e, segundo Palhares (2001), durante 22 anos, o
banco financiou casas para a população de todas as faixas de renda através da
promoção pública e, principalmente, pela promoção privada da incorporação
imobiliária. De acordo com o autor, o BNH financiou praticamente 25% do
incremento de moradias construídas no Brasil neste período, sendo que menos de
36

20% deste total se destinou à concessão de financiamento de habitação às famílias


de baixa renda.
Apesar das críticas ao BNH e ao seu sistema, Bonduki (2008) acredita que
sua importância é indiscutível, pois foi neste período (1964-86) que o país teve, pela
primeira vez, uma Política Nacional de Habitação.
Com a extinção do BNH no final da década de 80, a Caixa Econômica Federal
(CEF) assumiu a gestão do FGTS, com uma articulação insatisfatória, e cresceu a
expansão desordenada das periferias e favelas nas médias e grandes cidades
(LIMA, 2008).
Segundo Palhares (2001), o desmonte da estrutura operacional comandada
pelo BNH e a desarticulação do SFH alertaram para a necessidade de formulação e
execução de uma nova política habitacional de interesse social. Assim, a partir da
segunda metade da década de 80, principalmente com a Constituição de 1988, é
reduzida a centralização das decisões do Governo Federal na alocação de recursos
em favor do fortalecimento do papel dos Estados e Municípios na execução da
política habitacional, o que só se consolida no início da década de 90, relatam
Palhares (2001) e Lima (2008).
Segundo Bonduki (2008), a fase denominada de pós-BNH foi marcada pela
transição entre a existência de uma política nacional de habitação e a atuação
fragmentada, mas criativa, dos Estados e municípios. Assim, segundo o autor, a
intervenção governamental passou a ser realizada com recursos oriundos de outras
fontes e em parceria com a sociedade organizada.
Werna et al. (2001; 2004 apud LIMA et al., 2011) afirmam que observou-se,
no Brasil e em outros países em desenvolvimento, uma tendência de reduzir a
intervenção direta dos agentes públicos no processo de provisão e de estimular a
participação de agentes não públicos. Segundo os autores, esta prática estabeleceu
uma rede intrincada e complexa de relações entre vários agentes e o Estado, que
passaram a operar de maneira fragmentada, resultando em uma ampla gama de
influências políticas, sociais e culturais.
Começa, então, a entrada de empresas de construção pesada no setor de
edifícios, promovida pela redução de investimentos governamentais. Estes fatores
desencadearam o aumento da concorrência na área e, como estratégia para
enfrentá-la, as empresas buscaram, mais uma vez, a racionalização na produção de
37

edifícios (BARROS, 1998). A partir daí, entretanto, a década foi bastante estagnada.
Nos anos 90 não havia pressa para se construir. De acordo com Holanda (2003),
nesse período o setor de edificações passou por diversas mudanças, consolidando-
se a partir daí uma nova situação de mercado, provavelmente em consequência da
menor intervenção do Estado.
Ainda de acordo com Bonduki (2008), emerge nessa época um amplo
conjunto de experiências municipais de habitação de interesse social, realizadas a
partir da redemocratização do país, marcando uma fase de diversidade de
iniciativas, mas pouco articulada em decorrência da ausência de uma política
nacional. Segundo ao autor, nesta fase, surgem, além das intervenções tradicionais,
programas que adotam pressupostos inovadores como desenvolvimento
sustentável, diversidade de tipologias, estímulo a processos participativos e
autogestionários, parceria com a sociedade organizada, reconhecimento da cidade
real, projetos integrados e a articulação com a política urbana.
Em 1995, com o início do governo Fernando Henrique Cardoso, ocorre uma
retomada nos financiamentos de habitação e saneamento com base nos recursos do
FGTS, interrompidos no governo Collor, entre 1991 e 1995 (BONDUKI, 2008).
Embora não tenha sido criada, de fato, uma política habitacional, Bonduki
(2008) acredita que os pressupostos gerais que presidiram a formulação dos
programas habitacionais incorporaram princípios como flexibilidade,
descentralização, diversidade, reconhecimento da cidade real, entre outros,
rejeitando os programas convencionais, baseados no financiamento direto à
produção de grandes conjuntos habitacionais e em processos centralizados de
gestão.
No decorrer dos anos descritos, a partir da atuação do BNH e até o início dos
anos 2000, é possível perceber que a busca por processos racionalizados de
construção levou à implantação de tecnologias ainda não suficientemente
desenvolvidas ou adaptadas às necessidades do país, gerando, na maioria dos
casos, experiências desastrosas. Os resultados geraram prejuízos para todos os
agentes intervenientes no processo de construção. Para os usuários, foram
transferidos os problemas de patologia e os altos custos de manutenção e reposição
provocados. E, para o setor da Construção Civil, as experiências negativas tornaram
38

o setor menos receptivo às inovações tecnológicas, com progressiva desatualização


tecnológica em relação aos demais setores produtivos (GONÇALVES et al., 2003).
Gonçalves et al. (2003) avaliam que, simultaneamente a todas estas
propostas de soluções inovadoras, surgiu a necessidade de avaliá-las tecnicamente,
com base em critérios que permitissem prever o comportamento do edifício durante
sua vida útil esperada. Ficam mais fortes, então, a partir dos anos 60 e 70, os apelos
pela avaliação pós-ocupação (APO), com o surgimento de estudos focamos
principalmente na avaliação de desempenho dos sistemas construtivos.
Roméro e Ornstein (2003) relatam que, com o passar dos anos, houve uma
mudança na maneira de encarar a questão habitacional e os poderes públicos
passaram a respeitar muito mais o assentamento existente, procedendo ao que se
tem chamado de reurbanização de favelas e cortiços. Entretanto, a construção de
conjuntos habitacionais continuou sendo uma prática muito adotada no combate ao
déficit habitacional.
Em 2003, o recém-iniciado governo Lula criou o Ministério das Cidades, que é
hoje um dos principais responsáveis pela política habitacional do país. Através dele,
o governo introduziu algumas medidas, como a redução da taxa de juros, criação de
subsídios para aquisição de imóveis novos e para construções, dilatação de prazos
de financiamentos, simplificação e agilidade dos processos de contratação e uma
forte publicidade (NOAL; JANCZURA, 2011).
Com essas medidas, a construção civil voltou a crescer, atingindo o auge em
2007, até que, em 2008, uma crise econômica internacional ameaçou fortemente as
empresas do setor, gerando desconfiança nos investidores. Em 2009, o Governo
Federal lançou o Programa Minha Casa, Minha Vida com o objetivo de incentivar a
produção e aquisição de unidades habitacionais e, ao mesmo tempo, combater a
crise através da criação de empregos e investimentos no setor da construção civil. A
estratégia deu certo e, novamente, o país passa por um período de grande
crescimento do crédito para a habitação e construção de grandes empreendimentos,
em sua maioria de caráter privado, impulsionando mais uma vez a busca por
sistemas racionalizados (SILVESTRE; CARDOSO, 2012b).
Várias críticas surgiram, no entanto, com relação ao programa, sendo que
muito se tem falado dos baixos padrões de qualidade e desempenho das novas
edificações, independentemente do sistema construtivo adotado. Para minimizar
39

esses problemas, foram criados o Sistema Nacional de Aprovações Técnicas


(SINAT) e a Norma de Desempenho para Edifícios Habitacionais (KISS, 2011).

2.2.1 Políticas Habitacionais das últimas décadas no Estado de São Paulo

A responsável pela condução da política habitacional do Governo do Estado


de São Paulo é a Secretaria da Habitação, que traça diretrizes, estabelece metas,
planeja e desenvolve programas específicos através da Companhia de
Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), empresa
do Governo Estadual, vinculada à Secretaria da Habitação, que é o maior agente
promotor de moradia popular no Brasil (SILVA, 2012).
De acordo com Silva (2012), o objetivo da CDHU é executar programas
habitacionais em todo o território do Estado, voltados para o atendimento exclusivo
da população de baixa renda, atendendo famílias com renda na faixa de 1 a 10
salários mínimos. A autora afirma que o desafio macro da empresa “é manter a
produção de habitações em grande escala, a preços de custo, visando combater o
déficit habitacional do Estado”. Além disso, a CDHU também intervém no
desenvolvimento urbano das cidades.
A CDHU foi fundada em 1949 e já teve diversos nomes, recebendo a atual
denominação em 1989.
Segundo Namur (2004), a CDHU vem realizando um grande esforço de
superação do déficit de novas unidades habitacionais no Estado de São Paulo
desde os anos 80. A autora afirma que, desde 1987, vários programas foram
implantados, entre os quais os Programas SH1, SH2, SH3 e SH4, através de obras
por empreitada, realizadas em parceria com a iniciativa privada e com as prefeituras,
e programas de mutirão, em parceria com movimentos populares organizados em
associações.
Desde 1990, em função do fluxo ininterrupto de recursos financeiros gerados
pela destinação de 1% do ICMS para a produção habitacional, houve um aumento
da produção, principalmente em municípios do interior do Estado. Com isso, iniciou-
se a instalação de Escritórios Regionais, numa tentativa de iniciar um processo de
descentralização das ações da CDHU (SILVA, 2012).
Segundo Silva (2012), a partir de 1995, com a mudança de comando no
Governo do Estado de São Paulo, a CDHU expandiu e diversificou ainda mais sua
40

produção, tornando-se um importante agente indutor de desenvolvimento econômico


e urbano.
Namur (2004) destaca, entre os programas recentes da CDHU, o Programa
Habiteto ou Cesta de Materiais de Construção, criado em 1995 pelo governador
Mário Covas. Ela explica que tratava-se de um programa de financiamento de
recursos para a construção de unidades habitacionais em regime de autoconstrução
ou mutirão, voltado ao atendimento prioritário de famílias com renda de até três
salários mínimos. As casas seguiam projetos padronizados da CDHU e continham
um ou dois dormitórios, sala, cozinha e banheiro, com áreas de 36m² a 40m², afirma
a autora.
A participação dos municípios se dava através da doação de áreas para a
implantação dos empreendimentos habitacionais e da execução das obras de
infraestrutura, afirma a autora (NAMUR, 2004).
Visando enfrentar a carência habitacional e urbana que atinge a população
paulista, a Secretaria de Estado da Habitação e a CDHU estabeleceram, entre os
anos de 2007 e 2008, novas diretrizes e ações estratégicas para minimizar as
necessidades mais urgentes e encontrar soluções habitacionais inovadoras e
duráveis (TRANI et al., 2008).
Assim, Trani et al. (2008) afirmam que houve uma otimização do aparato
administrativo e institucional no setor de HIS, o que “promoveu importantes
mudanças no padrão de produção das moradias e núcleos urbanos”. Ainda de
acordo com estes autores, essas modificações envolvem a composição do público
atendido, o padrão das moradias e do espaço urbano e a regularização fundiária. As
principais modificações citadas por estes autores são:
• Regularização fundiária: os empreendimentos construídos com verba
pública não podem ser entregues antes da regularização e averbação e
os empreendimentos ainda irregulares tiveram seus processos de
regularização acelerados.
• Novos modelos de projetos habitacionais: a área útil das unidades foi
ampliada de 42m² para 64m² e passaram a ser ofertadas casas com três
dormitórios.
• Aperfeiçoamento nas moradias e no espaço urbano: melhoria nos
acabamentos, aumento do pé-direito de 2,40m para 2,60m, casas
41

entregues com muros divisórios e valorização da paisagem urbana


através de projetos que se preocupam em evitar o excesso de
padronização das paisagens.
• Desenho universal: casas projetadas de acordo com os conceitos de
desenho universal, que permitem a adaptação para pessoas com
deficiências, idosos, gestantes e crianças.
• Cuidado com o meio ambiente: alinhamento com as políticas ambientais,
otimização do uso de recursos naturais na construção e no uso das
edificações, medição individual de água, que garante redução do
desperdício, e instalação de sistemas de aquecimento solar.
• Ampliação do conceito de família: mudança nas regras de atendimento
das famílias para atender às mudanças da sociedade.

2.3 A etapa de projeto na construção civil

No Brasil, a falta de qualidade dos projetos tem sido apontada como uma das
principais barreiras para o avanço tecnológico e organizacional da indústria de
construção de edifícios (GRILO et al., 2003). Segundo Fabrício, Baía e Melhado
(1998), os projetos na construção de edifícios têm um papel fundamental na
qualidade dos produtos e na eficiência dos sistemas de produção, mas, apesar
disso, têm sido tratados como uma atividade secundária que é, via de regra,
delegada a projetistas independentes, contratados por critérios preponderantemente
de preço do serviço.
Os autores destacam, ainda, que os projetos no setor são orientados para a
definição do produto sem considerar adequadamente a forma e as implicações
quanto à produção das soluções adotadas. Eles afirmam, ainda, que as definições e
detalhamentos de produto são, muitas vezes, incompletos e falhos, sendo resolvidos
durante a obra, quando a equipe de produção acaba decidindo sobre determinadas
características do edifício não previstas em projeto.
Villa (2009) corrobora com essa opinião, afirmando que não é praxe no
mercado a busca pela tecnologia do projeto, que poderia ser melhorada com
incrementos no setor de coordenação desses projetos e com investimento em
42

pesquisas e avaliações pós-ocupações para formação de bancos retroalimentadores


de projetos.
Mas, embora uma parcela significativa das falhas ocorra na etapa de projeto,
ou seja, naquela de menor custo, Roméro e Ornstein (2003) destacam que os
programas de qualidade no Brasil ainda estão mais voltados à execução e à
fabricação de materiais e de componentes, visando ao aumento de produtividade da
mão de obra e à redução de desperdícios.
Segundo estes autores, são poucas as empresas de consultoria e
construtoras que conhecem ou já implantaram programas de controle de qualidade
da etapa de projeto, resultando em poucos profissionais com experiência no
assunto. Assim, o fator qualidade só é considerado quando se pretende atender ao
“contratante” e raramente se considera o usuário final (morador), o que gera um
impacto socioambiental ainda maior no caso de conjuntos habitacionais para a
população de baixa renda, afirmam.
Por outro lado, Palhares (2001) acredita que os interesses econômicos e os
compromissos eleitoreiros acabam por estabelecer um prazo político incompatível
com o prazo técnico mínimo necessário para investigação, concepção e
desenvolvimento do projeto dos empreendimentos de HIS. Da mesma forma, Gao e
Asami (2011) afirmam que, historicamente, a regulamentação do tamanho das
habitações tem sido uma questão política em muitos países, pois o tamanho e a
localização são grandes influenciadores do preço destas habitações, sendo
definidos sempre de modo que se obtenha o custo mínimo.
Segundo Palhares (2001), neste contexto, o trabalho do arquiteto fica
reduzido a um mero exercício de implantação de tipologias, onde, a partir de um
terreno escolhido, procede-se à determinação de adensamento máximo e
estabelecem-se quadras e lotes com dimensões mínimas e, na maioria das vezes,
adota-se uma tipologia única de habitação. Esta tipologia, afirma o autor, quase
sempre é definida através de programas de necessidades estabelecidos a partir de
parâmetros mínimos de habitabilidade impostos por agentes promotores da política
habitacional.
Além disso, há uma gama de pesquisadores que defendem que a
padronização dos conjuntos habitacionais brasileiros torna as habitações
impessoais, o que impossibilita o estabelecimento de relações entre o usuário e a
43

edificação (SZÜCS, 1998b; SILVEIRA; RAMOS, 2000 apud MARROQUIM;


BARBIRATO, 2007). De acordo com Palhares (2001), uma proposta tipológica sem
flexibilidade para futuras modificações dificilmente atenderia a todos os grupos
distintos sem conflitos.
Gao e Asami (2011) acreditam, ainda, que o tamanho das habitações está
diretamente associado ao benefício destas para as famílias. Eles afirmam que, se a
casa for muito pequena, a sua funcionalidade pode ser incompleta e o conforto e a
flexibilidade são reduzidos, tornando difícil para as famílias adaptá-la às mudanças
ao longo da vida. Por outro lado, se a casa for muito grande, os custos de
construção e os custos futuros com energia e manutenção podem ser
desnecessariamente altos, afirmam.
Assim, Palhares (2001) defende que as proposições de projeto devem
considerar as necessidades, atividades, valores, cultura e os modos de vida próprios
dos moradores para que possam efetivamente contribuir para a melhoria da
qualidade de vida e influenciar os agentes promotores das políticas habitacionais a
efetivarem mudanças. Ele conclui que é necessário questionar os conceitos que
orientam a prática destes projetos de natureza social, bem como o processo de
criação e produção.
Nesse contexto, Martucci e Basso (2002) apresentam três princípios básicos
para a elaboração do projeto do produto de edificações:
1. atendimento aos requisitos, condições e parâmetros dados pelas
características regionais e capacidade tecnológica instalada;
2. atendimento aos requisitos funcionais e ambientais; e
3. atendimento aos princípios de racionalização do produto quanto à sua
produção.

2.4 Adoção de sistemas construtivos inovadores

O setor da construção civil carece, há muito tempo, de investimentos em


tecnologia e processos racionalizados de produção. Segundo Abiko et al. (2005) “o
setor de construção de edifícios habitacionais no país tem apresentado,
historicamente, uma lenta evolução tecnológica, comparativamente a outros setores
industriais”. A falta de investimentos no desenvolvimento dos processos de
produção, a utilização de materiais muitas vezes sem qualidade, o desestímulo ao
44

uso de componentes industrializados devido à alta incidência de impostos, a falta de


capacitação técnica dos agentes da cadeia produtiva e a pouca capacitação da mão
de obra, dentre outros fatores, resultam em baixa produtividade e elevados índices
de desperdício de materiais e de mão de obra, caracterizando a construção civil
como um setor com baixo índice de industrialização.
Por outro lado, Andery et al. (2004) caracterizam o mercado de produção de
edificações como um segmento em busca da redução de prazos na elaboração dos
projetos e na execução das obras, com crescente competitividade e preocupado
com a integração da cadeia produtiva, contexto que pode ser estendido aos dias de
hoje. Diante desse cenário, nota-se nas empresas do setor uma maior busca por
processos de gestão e execução que auxiliem na racionalização e avaliação das
atividades desenvolvidas.
O setor como um todo carece de meios para aumentar a produtividade e
eficiência dos seus processos, mas, sobretudo nos segmentos voltados à população
de baixa renda, a racionalização e a industrialização da construção são de
fundamental importância para garantir o acesso dessa população a uma habitação
segura, salubre e confortável, que lhes ofereça uma boa qualidade de vida, porém, a
um custo compatível com as suas possibilidades financeiras.
De acordo com Salvador Filho (2007), “o desafio da inovação na construção
civil é o de permitir melhores construções em termos econômicos, produtivos e de
qualidade”. Para o autor, é possível atingir essa qualidade com a produção de
materiais e processos industrializados que permitam a produção de habitações de
diversos padrões com altíssima qualidade.
No entanto, segundo Kellett e Franco (1993), diversos estudos têm mostrado
a aceitação relutante e até mesmo a rejeição de certos materiais e sistemas
construtivos por parte dos moradores como uma limitação dos projetos.
Esse fato pode ser explicado porque, ao longo dos anos, a experimentação
de sistemas construtivos inovadores em empreendimentos de HIS gerou uma série
de problemas patológicos e funcionais de difícil solução. Em muitos casos, a
manutenção por parte dos moradores foi dificultada pela falta de conhecimento do
sistema construtivo ou pela falta de peças de reposição.
Para Martucci e Basso (2002), diante de um quadro amplo de possíveis
soluções tecnológicas e ambientais, “seria muito temerário que se pusesse à
45

disposição de usuários leigos tecnologias não testadas ou avaliadas, tanto do ponto


de vista laboratorial, quanto do ponto de vista do ‘design’”. Segundo os autores,
muitas dessas tecnologias ainda não tiveram o tempo necessário para uma
maturação teórico-conceitual do seu projeto do produto e do projeto da produção
que lhes desse as condições e características básicas para uso massivo. Outras
tecnologias, embora já tenham passado por testes de laboratório em seus
componentes básicos, em momento algum foram testadas e avaliadas
cientificamente de acordo com a sua estrutura conceitual de concepção e
desenvolvimento como casa/moradia, avaliam.
Hoje, diante do novo momento econômico do país, onde a construção civil
ganha força e os empreendimentos de HIS se multiplicam, ressurge a discussão
sobre a utilização de sistemas inovadores. Por um lado, as empresas buscam a
redução de prazos e custos através da melhoria de seus processos e de outro,
alguns pesquisadores e moradores rejeitam a adoção de novos sistemas
construtivos temendo a repetição dos erros do passado.
É importante deixar claro, no entanto, que não se pode “fechar as portas” para
as inovações, pois elas são necessárias ao setor e podem contribuir muito para a
garantia da provisão de habitações de baixo custo e alta qualidade para a população
de baixa renda.
Assim, Salvador Filho (2007) defende que a introdução de processos
inovadores deve ser precedida de uma adaptação às condições culturais, técnicas,
sociais, econômicas e políticas do país, pois estes processos terão que interagir
coerentemente com os já existentes para representarem uma solução construtiva
eficiente e eficaz.
Seguindo o mesmo raciocínio, Martucci e Basso (2002) defendem que é de
fundamental importância que sejam realizadas, dentro de programas que incentivem
as inovações tecnológicas, avaliações com amplitude suficiente para detectar os
impactos que estas novas tecnologias causam no meio ambiente. Eles acreditam
que essas avaliações devem detectar se realmente as inovações estão sendo
implantadas no sentido de beneficiar significativamente os usuários no que tange à
qualidade destes novos produtos.
Segundo Salvador Filho (2007), a Caixa Econômica Federal considera
oportuno o desenvolvimento de inovações tecnológicas para aumentar o acesso da
46

população de baixa renda à habitação, sendo este um elemento estratégico para o


desenvolvimento do setor e do próprio país. No entanto, o autor afirma que a adoção
da inovação na construção civil exige que a sua superioridade frente aos métodos
tradicionais seja comprovada. Para tanto, deve-se ter em mente que a comparação
de custos deve levar em conta a economia nos custos indiretos, pois a comparação
direta de valores de componentes inovadores com tradicionais pode acarretar em
custos mais elevados. Assim, é importante considerar os custos da adoção dos
sistemas e não de componentes isolados.
O fato é que, sem referência técnica ou norma, nenhum sistema construtivo
alcança os programas habitacionais e financiamentos que permitem a utilização em
larga escala. Conforme Kiss (2011), uma das saídas pode estar no recém-criado
SINAT que, embora tenha sido concebido em 2007 dentro do Programa Brasileiro de
Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H), só agora começa a tomar forma
com as primeiras deliberações dos comitês técnico e nacional. O autor declara que o
SINAT, juntamente com a Norma de Desempenho para Edifícios Habitacionais (NBR
15575), potencializará a inovação a fazer parte efetiva do setor da construção.
Ainda assim, entende-se que é necessária a criação de meios para que o
consumidor, ao adquirir produtos inovadores, tenha como avaliar a sua qualidade,
sabendo que a sua habitação não é fruto de experiências e que há estudos sérios e
precisos como suporte ao produto oferecido, como defende Salvador Filho (2007).
Kellett e Franco (1993) defendem que essa área de investigação merece
mais atenção e estudos e que não só os moradores precisam ser convencidos das
vantagens dos novos sistemas, mas também as autoridades e agências locais
responsáveis pela aceitação oficial de materiais e sistemas construtivos inovadores.
47

3. AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO

3.1 Conceituação

O conceito de qualidade vem se modificando ao longo do tempo,


incorporando aos conceitos iniciais, relacionados às conformidades normativas,
questões relativas à percepção do usuário (PICCHI, 1993 apud MORAES;
SANTANA, 2004).
Moraes e Santana (2004) salientam que questões referentes à qualidade têm
sido cada vez mais discutidas nos diferentes setores e contextos, desde a questão
dos padrões de qualidade na indústria até a questão da qualidade de vida no
contexto do desenvolvimento sustentável.
Segundo Lawrence (1995), a qualidade da habitação é um conceito complexo
e relativo, que pode variar entre os países e também entre grupos específicos de
pessoas em cada país, tanto em um ponto no tempo como por longos períodos. Ele
acredita que essa questão não deve ser considerada apenas do ponto de vista
técnico ou arquitetônico, estando também associada a questões econômicas e
políticas.
Roméro e Ornstein (2003) definem o termo “qualidade” como “os aspectos do
produto ou serviço que satisfazem as necessidades do usuário”, ou seja, está
associado claramente ao desempenho satisfatório dos ambientes e das relações
ambiente & comportamento (RAC).
Essa visão é reafirmada por Moraes e Santana (2004), que lembram que
cada vez mais, o conceito de qualidade vem sendo associado ao de satisfação do
usuário, o que o remete a questões subjetivas, em concordância com diversos
aspectos relacionados ao desenvolvimento sustentável em cidades, à qualidade de
vida, qualidade ambiental urbana e à qualidade das habitações.
A definição de qualidade aqui adotada é a mesma adotada por estes autores,
que leva em consideração tanto as análises técnicas sobre o produto quanto a
satisfação do usuário, seus sentimentos, vivência e expectativas:
“a qualidade é a resultante de fatores objetivos (projeto, qualidade dos
materiais e execução) e subjetivos (vivência, expectativas, apropriação e
48

identificação com o objeto), que interagem de forma a compor o cenário no


qual o produto ou serviço é avaliado” (MORAES; SANTANA, 2004).
Lawrence (1995) acredita que uma abordagem integrada para a qualidade da
habitação deve considerar explicitamente políticas ambientais urbanas e programas
de habitação a preços acessíveis que vão além da formulação de políticas baseadas
em medidas corretivas e de reparação. O autor afirma que é importante reconhecer
o papel crucial dos ambientes habitacionais e urbanos para a gestão de todos os
tipos de recursos.
Quando se fala em qualidade das habitações, Palhares (2001) considera que
“as propostas priorizam as qualidades técnico-construtivas, arquitetônicas e
urbanísticas das moradias e dos assentamentos”. O autor faz uma crítica aos
projetos habitacionais que adotam critérios puramente econômicos para determinar
a racionalidade dos espaços, resultando em uma redução excessiva das dimensões
dos cômodos, comprometendo sua funcionalidade e forçando os moradores a fazer
diversas modificações. Segundo este autor, apesar de ser inquestionável a
necessidade de se oferecer moradia a todos, a insatisfação demonstrada pelos
moradores confirma a necessidade de também serem avaliados os aspectos
qualitativos das unidades e dos assentamentos habitacionais.
Roméro e Ornstein (2003) apresentam algumas razões para explicar o porquê
de os padrões de qualidade das unidades habitacionais e dos assentamentos não
serem atingidos. As principais explicações dadas pelos autores referem-se à
utilização de materiais de baixo custo, o que tem levado a uma rápida deterioração
das obras, à ausência de manutenção da qualidade e à inexistência ou precariedade
da infraestrutura, embora haja leis específicas que determinam a sua
obrigatoriedade. Os autores salientam, ainda, a existência de deficiências no
processo de fiscalização da construção adotado pelas políticas públicas de apoio
financeiro aos mutuários, que deveria ser mais rigoroso para evitar que materiais
sejam alterados e para garantir que os procedimentos sejam realizados de forma
correta. Eles defendem, ainda, que a baixa qualidade da mão de obra implica em
percentuais ainda mais elevados de falhas na etapa de execução.
Considerando-se todas essas questões, fica claro que o processo de criação
e produção de habitações para a população de baixa renda precisa ser revisto,
sendo necessárias mudanças na cultura e práticas do processo, além do
desenvolvimento de instrumentos de apoio, defendem Bonatto et al. (2011).
49

Já Palhares (2001) defende que essa revisão deve ser fundamentada na


avaliação crítica das experiências já consolidadas, que deve ser realizada com base
na discussão das hipóteses adotadas pelos arquitetos na etapa de concepção do
projeto e nas diretrizes de produção estabelecidas pelas políticas habitacionais já
implantadas.
Segundo Penzim (2001 apud PALHARES, 2001), a ação de morar é
influenciada por diversos fatores de ordem histórica, cultural, social, demográfica,
psicológica, política, econômica, ética e estética que se inter-relacionam. Assim, ele
defende que “é ao longo da ocupação das unidades que percebemos se os espaços
das habitações têm sido capazes de atender minimamente às necessidades dos
moradores”.
A satisfação residencial pode ser definida como o sentimento de
contentamento quando se tem ou se consegue o atendimento às necessidades ou
desejos da família em uma casa, afirmam Mohit et al. (2010).
Mohit et al. (2010) acreditam que a satisfação com a habitação popular de
baixo custo é determinada por níveis de percepção dos entrevistados com
características objetivas, como as características da unidade habitacional, serviços
de apoio das unidades, equipamentos públicos, o ambiente social e elementos do
bairro, tais como o nível de criminalidade, a quantidade e qualidade dos espaços de
lazer ou a falta de postos de trabalho também podem influenciar na satisfação com a
habitação.
De acordo com Liu (1999), um baixo nível de satisfação residencial pode
resultar na mudança para outra moradia ou, nos casos em que tal não seja possível,
a adaptação da habitação às novas necessidades que possam surgir, como, por
exemplo, a realização de melhorias na casa.
Mohit et al. (2010) corroboram com essa opinião e afirmam que o não
atendimento a estas necessidades e aspirações pode levar à insatisfação,
resultando na migração da família para uma moradia que atenda aos seus anseios
ou no que os autores chamam de remodelação da moradia existente. Nos dois
casos, os autores afirmam que as famílias devem ter informações suficientes sobre
as oportunidades de adaptação alternativas e recursos financeiros condizentes.
Portanto, conforme defendem Moraes e Santana (2004), é de fundamental
importância a opinião do usuário na avaliação da qualidade das habitações. Os
50

autores lembram, entretanto, que a satisfação do usuário depende, além da vivência


e aspirações, da situação atual em que ele se encontra, ou seja, a satisfação
também varia com o tempo, podendo o momento da avaliação influenciar em sua
opinião. Da mesma forma, Mohit et al. (2010) afirmam que as famílias costumam
fazer seus julgamentos sobre as condições de habitação com base em suas
necessidades e aspirações, que podem mudar ao longo do seu ciclo de vida.
Mohit et al. (2010) acreditam que a satisfação residencial é um indicador
importante que pode ser utilizado por projetistas, arquitetos e formuladores de
políticas como um indicador de percepção da qualidade de vida dos usuários e da
mobilidade habitacional e como ferramenta de avaliação do sucesso dos
empreendimentos construídos pelos setores público e privado e das percepções dos
moradores de inadequações em seu ambiente de moradia atual.
De acordo com Lawrence (1995), uma das principais funções das edificações
é fornecer proteção contra as exigências e os perigos do "ambiente externo", por
isso, é pertinente avaliar a eficácia das unidades habitacionais nesta função,
garantindo também que esta proteção contra perigos externos não será
contrabalançada por perigos internos não previstos.
Diversos pesquisadores, como citam Bonatto et al. (2011), concordam que a
etapa de uso dos empreendimentos é a mais propícia em aprendizagem sobre como
atingir uma maior satisfação do consumidor. Assim, as avaliações se tornam uma
possibilidade para visualização de resultados diante dos objetivos de ações
realizadas e permitem que se possa aprender e retroalimentar futuros projetos,
sempre visando à melhoria.
Varady e Carrozza (2000 apud MOHIT et al., 2010) afirmam que a medida da
qualidade da habitação tornou-se uma ferramenta importante para os governos
como forma de garantir que as famílias estejam satisfeitas com a habitação e os
serviços fornecidos.
Segundo Liu (1999), existem diferentes abordagens de avaliação:
• Abordagem global para descobrir fatores, nos níveis físicos e sociais, que
afetam a satisfação dos moradores de habitação.
• Desenvolvimento de critérios de desempenho e ferramentas de
classificação.
51

• Relação de satisfação residencial com o risco de acidentes infantis, a


densidade espacial, a aglomeração e as características da vizinhança.
• Avaliação da qualidade do projeto de construção, em termos de função e
custo.
De acordo com este autor, dependendo da abordagem adotada para
satisfazer um propósito particular de investigação, a avaliação pode ser feita durante
a fase de projeto ou após a conclusão da construção através de avaliações pós-
ocupação.
Zimring e Reizenstein (1980 apud MARMOT, 1983) definem a avaliação pós-
ocupação como “a análise da eficácia para os usuários humanos dos ambientes
projetados ocupados”.
Já de acordo com Ornstein e Romero (1992 apud MORAES; SANTANA,
2004), a “avaliação pós-ocupação é uma área de conhecimento que combina
avaliação técnica e o ponto de vista do usuário, pretendendo se configurar como
uma avaliação global do meio a ser estudado”. Segundo os autores, as variáveis a
serem analisadas podem ser complementadas, reduzidas e/ou alteradas, de acordo
com a tipologia das edificações e com as características e objetivos da pesquisa.
Em um trabalho mais recente, os mesmos autores declaram que:
“a APO diz respeito a uma série de métodos e técnicas que diagnosticam
fatores positivos e negativos do ambiente no decorrer do uso, a partir da
análise de fatores socioeconômicos, de infraestrutura e superestrutura
urbanas dos sistemas construtivos, conforto ambiental, conservação de
energia, fatores estéticos, funcionais e comportamentais, levando em
consideração o ponto de vista dos próprios avaliadores, projetistas e
clientes, e também dos usuários” (ROMERO; ORNSTEIN, 2003).
Marmot (1983) afirma, que, embora seja difícil comparar as pessoas em
diferentes configurações de ambientes, um requisito essencial de toda APO é
informar sobre as características demográficas e sócio-econômicas das populações
estudadas, suas razões para mover-se, o porquê de terem escolhido as suas
habitações e quanto tempo residem nelas.
Lawrence (1995) destaca, ainda, como um grande problema o fato de a
avaliação sistemática não ser considerada uma responsabilidade dos
administradores públicos, agentes da política habitacional e projetistas, o que
52

poderia ser superado a partir do compromisso de todos no acompanhamento de


longo prazo dos programas e empreendimentos habitacionais.
Para Roméro e Ornstein (2003), a APO se distingue das “clássicas”
avaliações de desempenho realizadas pelos institutos de pesquisa porque tem como
objetivo fundamental também aferir o atendimento das necessidades ou o nível de
satisfação dos usuários, sem, no entanto, minimizar a importância da avaliação de
desempenho físico ou “clássica”. Nesse sentido, os autores defendem que “a APO
tem grande validade ‘ecológica’, pois faz análises, diagnósticos e recomendações a
partir dos objetos de uso, in loco, na escala e tempo reais”.
De acordo com Marmot (1983), a longo prazo a APO é necessária para ajudar
a construir a nossa compreensão sobre o desempenho das habitações ‘diferentes’ e
as interconexões entre a forma de habitação, os diferentes grupos de moradores e
as regras de manutenção e gestão, enriquecendo o nosso conhecimento sobre o
ambiente construído. Assim, o autor acredita que, munidos de uma base de
conhecimento mais sólida, os projetistas terão mais capacidade de prever as
consequências das formas de habitação já testadas e, possivelmente, ficarão mais
satisfeitos em repetir soluções bem sucedidas ao longo de muitas avaliações.
A APO resulta no levantamento de fatores positivos e negativos, sendo
importante o registro de ambos, lembram Roméro e Ornstein (2003). Segundo os
autores, os fatores positivos devem ser cadastrados e recomendados para futuros
projetos semelhantes. Já os fatores negativos devem gerar recomendações que
minimizem ou possibilitem a correção dos problemas detectados no ambiente
construído avaliado e que sirvam para retroalimentar o processo de produção e uso
de ambientes de futuros projetos com a formulação de diretrizes, contribuições para
normas existentes e outros.
Roméro e Ornstein (2003) defendem que o levantamento, a análise e as
recomendações extraídas das avaliações de desempenho físico e satisfação do
usuário visam realimentar o próprio estudo de caso, bem como futuros projetos,
constituindo-se em um instrumental de controle de qualidade que pode ser colocado
em prática por meio das metodologias de APO. A figura 1 apresenta o
posicionamento da APO, enquanto mecanismo de retroalimentação, dentro do ciclo
de execução das habitações:
53

APO

Uso, operação e
Planejamento
manutenção

Construção/
Projeto
Execução

Fabricação de
materiais e
componentes

Figura 1 – Ciclo de execução das habitações incluindo a APO


Fonte: adaptado de ROMERO; ORNSTEIN, 2003.

Liu (1999) afirma que o benefício a curto prazo do processo de APO é a


contribuição para resolver problemas imediatos no empreendimento analisado e o
benefício a médio prazo é a contribuição para o próximo ciclo de construção, ou
seja, para outros empreendimentos. De acordo com o autor, esta avaliação só tem
valor se for parte de algum processo de manutenção constante de equilíbrio entre os
ocupantes e o meio ambiente.
Roméro e Ornstein (2003) apontam alguns aspectos que podem ser
melhorados através dos processos de APO, como seguem:
• as normas descritivas são muito mais conhecidas do que as normas de
desempenho de edifícios;
• há poucas normas relativas às avaliações e perícias;
• elaboração do Manual do Usuário para edificações;
• pouca utilização do Código de Defesa do Consumidor e do Manual do
Profissional elaborado pelo Conselho Regional de Engenharia e
Agronomia (CREA);
• rara adoção da NBR 9050/05 – Acessibilidade de Pessoas Portadoras de
Deficiências a Edificações, Espaços, Mobiliário e Equipamentos Urbanos
em empreendimentos de habitação de interesse social.
Segundo Bonatto et al. (2011), os empreendimentos habitacionais de
interesse social (EHIS) têm sido alvo de diversos estudos realizados no meio
54

acadêmico e a busca de melhores resultados em relação a esses empreendimentos


gera benefícios aos seus usuários e melhorias para a sociedade, uma vez que os
EHIS têm importantes implicações no desenvolvimento das cidades e na qualidade
de vida que elas proporcionam aos seus cidadãos. No entanto, os autores destacam
que, para que haja os benefícios para a sociedade, são necessários bons resultados
na relação entre o usuário e o produto oferecido no âmbito dos programas
habitacionais pelos diferentes agentes envolvidos. Assim, considerando os recursos
investidos em programas habitacionais, eles salientam a importância da formação da
satisfação e da geração de valor para a população atendida, a fim de que realmente
esses benefícios ocorram de forma duradoura.
Verifica-se, portanto, a necessidade e a importância dos processos de
avaliação pós-ocupação (APO), que, através de uma série de métodos e processos
bem definidos, visa avaliar as edificações com base em critérios técnicos e na
satisfação dos usuários.

3.2 Histórico

Com base nos conceitos apresentados no item anterior, iniciam-se, na década


de 60, de forma sistemática, as pesquisas sobre o desempenho físico dos ambientes
voltadas para a qualidade destes, ou seja, para o atendimento às necessidades dos
usuários. Roméro e Ornstein (2003) destacam, em seu trabalho, alguns estudos
historicamente importantes nesta área:
• a atuação de Gerard Blachère, que publica em 1966 a obra “Savoir-Batir-
Habitabilité-Durabilité-Economie des Bâtiments” (Editions Eyrolles) junto
ao Centre Scientifique et Technique du Bâtiment (CSTB) ;
• a obra de BOUDON (1972), intitulada “Lived in Architecture”, que avalia o
conjunto habitacional Pessac, próximo a Bordeaux, França, projetado por
Corbusier na década de 20;
• a fundação, em 1967, do Building Performance Research Unit (BPRU), na
Grã-Bretanha, que objetivava o desenvolvimento sistemático de
procedimentos empíricos para a avaliação de edifícios como parte
integrante do processo projetual;
• a obra de David Canter, que em 1970 publica “Architectural Psychology”.
55

Ainda segundo esses autores, os estudos voltados às Relações Ambiente &


Comportamento (RAC) na Europa estão abrigados na International Association for
People – Environment Studies (IAPS). Nos EUA, a APO e os estudos das RAC’s
começam a se consolidar, em especial, a partir da fundação da Environmental
Design Research Association (EDRA), em 1969, que passa a congregar
pesquisadores de campos distintos, buscando o desenvolvimento de projetos
conjuntos e interdisciplinares. Entre os pesquisadores dessa associação, podem ser
destacados Robert B. Bechtel, Richard Wener, Wolfgang F. E. Preiser, Christopher
Alexander, Claire Cooper Marcus, Amos Rapoport, Robert Sommer e Denise
Lawrence. Destaca-se que ocorreu, no caso dos Estados Unidos, um boom das
avaliações dos programas sociais, e até 1978 Bechtel e Srivastrava contabilizaram
mais de 1.500 APO’s aplicadas em conjuntos habitacionais.
No campo internacional, segundo Roméro e Ornstein (2003), “os
multimétodos de APO vêm sendo adotados por psicólogos ambientais norte-
americanos há mais de 40 anos”, visando aferir em que medida o desempenho dos
ambientes influencia o comportamento humano e vice-versa. Tanto na Europa como
nos Estados Unidos, a partir do Pós-Guerra, sobretudo a partir da década de 60,
equipes interdisciplinares constituídas por arquitetos, engenheiros, geógrafos,
paisagistas, antropólogos, psicólogos e outros começam a avaliar os resultados da
arquitetura moderna de “massa”, especialmente no caso dos grandes conjuntos
habitacionais. Além dos aspectos específicos do desempenho físico das edificações,
iniciam-se os estudos sobre padrões culturais, privacidade, territorialidade,
personalização, apropriação, segurança e faixa etária com ênfase no usuário dos
ambientes.
No Brasil, a política habitacional adotada pelo governo a partir dos anos 30, e
intensificada nas décadas de 60 e 70, produziu uma série de conjuntos habitacionais
para a população de baixa renda. Entretanto, a baixa qualidade dessas habitações
atraiu o olhar dos pesquisadores para essa realidade e desencadeou a realização de
pesquisas de avaliação no país.
Para Malard et al. (2002), “produzir unidades e assentamentos habitacionais
populares de baixo custo e de boa qualidade é um problema sobre o qual muitos
pesquisadores brasileiros se têm debruçado desde os anos 60”.
56

Roméro e Ornstein (2003) expõem a necessidade de se avaliar a situação


desses conjuntos habitacionais na realidade atual, seu impacto em termos de
habitação social irradiando nas vizinhanças e na cidade, a satisfação de seus
usuários e as eventuais demandas latentes. Segundo os autores, na condição de
assentamento humano, o conjunto precisa oferecer condições de qualidade com as
quais a população possa cultivar e melhorar sua cultura urbana, ou seja, “seus
hábitos de viver em comunidade, exercendo seus direitos e respeitando os do
próximo”.
Portanto, desde a década de 60, conforme relatam Romero e Ornstein (2003),
começa-se a verificar a relevância da aplicação da Avaliação Pós-ocupação (APO)
como mecanismo de retroalimentação de processos de controle de qualidade e
desenvolvimento de projetos complexos voltados às populações especiais (ex.:
aeroportos, shopping centers, hospitais e parques) e/ou implantados em larga escala
e repetitivamente (ex.: conjuntos habitacionais, escolas, postos de saúde).
No Brasil, no período de 1972 a 1987, Roméro e Ornstein (2003) destacam o
desenvolvimento de pesquisas na linha da APO realizadas no Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT) do Estado de São Paulo e, mais recentemente, por grupos
emergentes, tais como aqueles existentes na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo;
no Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo da Universidade
de São Paulo (NUTAU/USP); no Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação
(NORIE), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; na Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco; no Grupo de
Estudos Pessoa-Ambiente (GEPA), da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte; na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de
Janeiro; e no Laboratório de Psicologia Ambiental da Universidade de Brasília, além
de algumas atividades nesse campo realizadas pela empresa particular Centro de
Tecnologia de Edificações (CTE), com sede na cidade de São Paulo.
Roméro e Ornstein (2003) relatam, ainda, que entre o final da década de 90 e
início dos anos 2000 houve um aumento considerável no número de estudos sobre
qualidade da construção, principalmente aqueles relacionados à Gestão da
Qualidade e à ISO 9000, visando a redução dos custos de qualidade e dos custos
das falhas durante a produção e uso. Essa tendência pode ser verificada ainda nos
dias de hoje.
57

3.3 Tipos de avaliação pós-ocupação

Roméro e Ornstein (2003) classificam, em sua pesquisa, subáreas de


avaliação, o que, segundo os autores, auxilia no tratamento das diversas variáveis e
da complexidade encontrada, bem como no desenvolvimento e aperfeiçoamento de
métodos e técnicas específicos para os problemas de cada subárea.
As subáreas de APO apresentadas por esses autores são descritas a seguir:

3.3.1 Avaliação dos aspectos funcionais

Enfoca, em níveis distintos de profundidade, a avaliação funcional dos


ambientes internos, alguns aspectos relevantes dos edifícios em seu conjunto,
passando pela avaliação das áreas externas, coletivas, e/ou condominiais até a
análise de aspectos das áreas livres e do desenho urbano do conjunto habitacional,
afirmam Roméro e Ornstein (2003). Segundo os autores, ainda são relativamente
reduzidos os estudos no Brasil que abordam a funcionalidade com detalhes, visando
realimentar futuros projetos, sendo que os trabalhos já concluídos sugerem a
necessidade de aprofundar e sistematizar esses dados.

3.3.2 Avaliação dos aspectos construtivos

Roméro e Ornstein (2003) definem a APO do sistema construtivo como “uma


avaliação técnica vinculada às patologias construtivas existentes nos edifícios”. Os
autores utilizam, como metodologia para essa APO, a abordagem dos dez órgãos
básicos constituintes do edifício, academicamente adotada pelos pesquisadores do
grupo de disciplinas da “Tecnologia da Construção” da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP). Segundo essa abordagem, os
dez órgãos básicos constituintes do edifício são: terrapleno, fundação, estrutura,
cobertura, vedos, vãos, paramentos, pavimentos, instalações hidrossanitárias e
eletromecânicas, complementadas pela infraestrutura urbana e por equipamentos
complementares.

3.3.3 Avaliação do conforto ambiental

Em sua pesquisa, Roméro e Ornstein (2003), subdividem os estudos relativos


ao conforto ambiental em cinco grandes áreas ou disciplinas com especificidades
58

distintas, denominadas de “subáreas”, a saber: Iluminação Natural, Insolação,


Conforto Higrotérmico, Ventilação Natural e Acústica. Segundo os autores, todas as
subáreas do Conforto Ambiental dependem de uma multiplicidade de variáveis, que
vão de um plano muito geral a um muito específico e que poderiam ser divididas em
três grandes classes:
a) variáveis climáticas e do entorno à edificação;
b) variáveis relativas às exigências humanas e funcionais; e
c) variáveis de projeto e construtivas.

3.3.4 Avaliação econômica

Para Roméro e Ornstein (2003), “a habitação popular e econômica é um


grande desafio tanto para a arquitetura como para a engenharia de custos”. A
necessidade de se obter o máximo de eficiência com o mínimo de investimento de
dinheiro, tempo e espaço tem servido como justificativa para a adoção de soluções
de projeto e construtivas que atendem apenas minimamente às necessidades e
expectativas dos moradores. Assim, não são considerados problemas com o uso,
manutenção e substituição precoce de seus elementos, que trazem um aumento de
custo justamente na etapa de uso das habitações, quando é o morador quem deve
manter a edificação. Segundo os autores, o objetivo desta “avaliação econômica”,
que também é funcional, é o de apontar algumas direções de solução que, acredita-
se, sejam absolutamente mínimas e necessárias para promover a habitação popular
a estágios suficientes de satisfação dos seus moradores.

3.4 Métodos e técnicas de avaliação pós-ocupação

Roméro e Ornstein (2003) afirmam que “a APO é um conjunto de métodos e


técnicas que são utilizados e combinados de acordo com os objetivos de cada
pesquisa e também dos recursos humanos e financeiros envolvidos”. Segundo os
autores, o cruzamento desses procedimentos, os diagnósticos e os produtos
resultantes podem gerar recomendações, bancos de dados, vídeo e relatórios.
Ao longo dos anos, diversos métodos e técnicas têm sido desenvolvidos para
a realização dos diversos tipos de APO, constituindo-se em um extenso “menu” de
59

opções para os pesquisadores que pretendem realizar estudos de avaliação pós-


ocupação.
Conforme lembram Roméro e Ornstein (2003), a aplicação de métodos e
técnicas de APO deve levar sempre em consideração o ponto de vista dos técnicos
(vistorias, medições e análises realizadas) e a aferição dos níveis de satisfação dos
usuários.
Villa (2009) destaca, ainda, cinco questões fundamentais que devem ser
consideradas em avaliações de espaços habitacionais:
1. Por se tratar de uma abordagem privada, necessita de procedimentos
específicos e cautelosos de pesquisa para que os moradores não se
sintam invadidos em sua privacidade e aceitem participar do processo.
2. É preciso garantir aos moradores sigilo nas informações obtidas.
3. É preciso saber lidar com aqueles entrevistados que se sentem
acanhados em responder questões íntimas ou privadas.
4. Em virtude dos altos índices de violência que se verificam atualmente,
alguns moradores podem ficar receosos em participar de pesquisas.
5. Os moradores nem sempre têm disponibilidade de tempo para responder
a questionários e entrevistas ou participar de reuniões em grupo.

Durante a realização da revisão bibliográfica, foi possível levantar os


principais métodos e técnicas de APO, conforme descritos a seguir:

Medidas para aferição do desempenho físico


Trata-se de um conjunto de medidas referentes à iluminação, acústica,
temperaturas, dimensões, correntes elétricas e tensões. Elas podem
confirmar ou não os pontos de vista dos usuários e as leituras de projeto,
entretanto, deve-se atentar para a interpretação dos resultados, calibração
dos equipamentos e cuidados na tabulação dos dados (ROMÉRO;
ORNSTEIN, 2003).

Entrevista
É um instrumento muito utilizado em diversas áreas e, segundo Rheingantz et
al. (2009), pode ser definida como “um relato verbal ou uma conversação
60

voltada para atender a um determinado objetivo, que resulta em um conjunto


de informações sobre os sentimentos, crenças, pensamentos e expectativas
das pessoas”. Proporcionam rapidez e confiabilidade, entretanto, necessitam
de um prazo maior de aplicação. O seu sucesso depende muito da
qualificação e da competência dos pesquisadores, além de sua sensibilidade
e capacidade de interação com o respondente. As entrevistas podem ser
estruturadas, quando seguem um roteiro pré-definido, semiestruturadas,
quando seguem um roteiro básico, ou não estruturas, quando não seguem
nenhum tipo de padronização das questões (RHEINGANTZ et al., 2009;
ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003).

Questionário
É um instrumento muito utilizado em avaliações de desempenho e de grande
utilidade quando se necessita obter informações sobre comportamentos,
atributos e atitudes de usuários e descobrir regularidades entre grupos de
pessoas por meio da comparação de respostas. Podem ser organizados por
categoria de usuário e possibilitam rápida aplicação e tabulação, com
resultados muito confiáveis se a quantidade de questionários tiver sido
estatisticamente calculada. As perguntas devem ser respondidas por escrito
sem a presença do pesquisador e não é recomendada a aplicação para
amostras inferiores a 30 pessoas. (RHEINGANTZ et al., 2009; ROMÉRO;
ORNSTEIN, 2003).

Mapa comportamental
Concebido por Ross Thorne e J. A. Turnbull, possibilita identificar a percepção
dos usuários em relação a um determinado ambiente, constituindo-se em
registros físicos das atividades realizadas de modo repetitivo e sistemático por
unidade de espaço, no decorrer de períodos pré-determinados. Podem ser
aplicados em ambientes internos e externos. Fornecem um retrato dos
comportamentos dos usuários e suas frequências, necessitando, por vezes,
de uma permanência prolongada dos pesquisadores no local analisado
(RHEINGANTZ et al., 2009; ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003).
61

Registros fotográficos
Permitem avaliações posteriores e são úteis nas avaliações de
comportamento físico, comportamento dos usuários e mapas
comportamentais. Apresentam baixo custo, rapidez e confiabilidade no
registro, sendo uma técnica complementar às demais (ROMÉRO; ORNSTEIN,
2003).

Registros em áudio vídeo


Permitem o registro sonoro de ruídos urbanos e de ruídos entre unidades
habitacionais. Permitem documentar comportamentos com precisão muito
maior do que a técnica de registro fotográfico, entretanto, seu custo é mais
alto. Também documentam outras técnicas de APO, tais como a realização
dos grupos focais, as entrevistas específicas e outros métodos e técnicas
utilizados na pesquisa. Os vídeos são úteis e versáteis, permitindo a produção
de um banco de dados de imagens para posterior análise por técnicos e
especialistas. É uma técnica complementar às demais (ROMÉRO;
ORNSTEIN, 2003).

Grupo focal
É um método de pesquisa e avaliação utilizado para fornecer dados
qualitativos para complementar dados quantitativos obtidos por meio de
outros métodos. Esse método propõe discussões informais, porém
organizadas sobre um tema específico de integração. Necessitam de um
moderador que formula as questões e conduz a discussão para uma conversa
informal e de um assistente para registrar as informações. Os grupos focais
devem ter entre 6 e 12 participantes (ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003; VILLA,
2009).

Walkthrough
Método originário da Psicologia Ambiental, consiste em uma caminhada pelos
ambientes em análise, onde o pesquisador conversa com os usuários e
analisa suas reações em relação ao ambiente, complementando as
informações com fotografias, croquis gerais e gravações de áudio e de vídeo.
62

Criado por Kevin Lynch, é um instrumento muito útil na APO e na


programação arquitetônica, pois possibilita a familiarização do pesquisador
em relação ao ambiente. Apresenta baixo custo e rapidez, sendo ideal para
casos em que o cronograma de execução da pesquisa é curto e a equipe é
pequena (RHEINGANTZ et al., 2009; ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003; VILLA,
2009).

Poema dos desejos


O poema dos desejos, ou wish poem, foi desenvolvido por Henry Sanoff e
consiste na declaração das necessidades, sentimentos e desejos dos
usuários de um determinado ambiente através de um texto ou de desenhos.
Baseia-se na espontaneidade das respostas e tem fácil elaboração e
aplicação, produzindo, de um modo geral, resultados ricos e representativos
das demandas e expectativas dos usuários (RHEINGANTZ et al., 2009 ).

Mapa mental ou Mapeamento cognitivo


Desenvolvido por Kevin Lynch nos anos 50, consiste na elaboração de
desenhos ou relatos de memória representativos das ideias e sentimentos
que uma pessoa ou um grupo de pessoas tem de um determinado ambiente.
Pode incorporar experiências pessoais ou experiências relatadas por outras
pessoas, pela imprensa falada e escrita ou pela literatura (RHEINGANTZ et
al., 2009 ).

Seleção visual ou Visual crues


Método desenvolvido por Henry Sanoff e adequado para identificar ideias,
valores, atitudes e significados agregados pelos usuários aos ambientes
analisados. Consiste em apresentar um conjunto de imagens referenciais pré-
selecionadas, permitindo incentivar também a análise crítica de um ambiente
pelos seus usuários. Possibilita avaliar o impacto causado por determinadas
tipologias arquitetônicas, organizações espaciais, cores e texturas sobre a
qualidade de vida e o bem-estar das pessoas (RHEINGANTZ et al., 2009;
VILLA, 2009).
63

Tarjeta reflexiva
Adotado por Villa (2009), este método é uma adaptação do método das
constelações de atributos. Consiste na indicação, por parte dos moradores,
de uma qualidade ou adjetivo para sua moradia e, posteriormente, a
característica principal que uma moradia deveria ter. Monta-se, então, um
mural com todas as respostas e os usuários são convidados a comentar suas
respostas, gerando discussões e reflexões das quais os pesquisadores
podem retirar informações valiosas.

Brincando de boneca
Apresentada por Villa (2009), essa técnica busca substituir o instrumento
“Poema dos Desejos”. Com base em um modelo físico (ou maquete) os
usuários são chamados a falar sobre sua moradia. Seu principal objetivo é
identificar os desejos dos moradores participantes, seus sonhos e
expectativas em relação à sua moradia.

Análise do uso (AU)


Trata-se de uma análise funcional mais específica relativa aos espaços
privados e a forma de uso destes pelos usuários. Os objetivos principais
dessa análise são: identificar atividades realizadas nos respectivos cômodos,
a presença de sobreposição de atividades e dos níveis de conforto e a
observação da relação entre atividades e mobiliário e o espaço utilizado para
o atendimento delas (VILLA, 2009).

Checklist técnico ou Roteiro técnico


Trata-se de um roteiro de atividades utilizado, principalmente, para orientar as
primeiras vistorias realizadas pelos técnicos, evitando falhas e discrepâncias
na coleta de informações (ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003).

Matriz de descobertas
Concebido por Helena Rodrigues e Isabelle Soares, é um instrumento de
análise que permite identificar e comunicar graficamente as descobertas
relacionadas com as adaptações e improvisações na habitação, assim como
64

aquelas relacionas à incompreensão e ao desconhecimento dos diversos


grupos de usuários, que dificultam a operacionalidade necessária no dia a dia
de um ambiente. Consiste em um resumo gráfico das principais descobertas
de uma avaliação de desempenho, facilitando a leitura e a compreensão dos
resultados (RHEINGANTZ et al., 2009).

Matriz de recomendações
É um desdobramento da Matriz de Descobertas e apresenta as
recomendações decorrentes dessas descobertas, hierarquizadas em função
do prazo de intervenção (curto e médio prazo) e pelo grau de importância
e/ou urgência de execução (RHEINGANTZ et al., 2009 ).

Diante de todos os métodos e técnicas apresentados aqui, é possível


perceber que a APO conta com um elevado número de instrumentos de apoio,
cabendo, portanto, aos pesquisadores, a definição daqueles mais adequados para
cada situação.
65

4. MODIFICAÇÕES REALIZADAS PELOS MORADORES EM


UNIDADES DE HIS

Diante da complexa rede de relações entre os vários agentes participantes da


provisão habitacional e o Estado citada por Werna et al. (2001), Lima et al. (2011)
afirmam que o gerenciamento de requisitos dos clientes adquire importância para
lidar com os conflitos entre esses requisitos, as pressões para redução de prazos e o
gerenciamento do processo de tomada de decisão.
Apesar disso, Roméro e Ornstein (2003) acreditam que as habitações
destinadas à população de baixa renda, independentemente do agente promotor,
dos mecanismos de produção e das formas de acesso à moradia, continuam
necessitando de realizações concretas que levem a melhorias do desempenho
funcional visando o atendimento às necessidades dos moradores e à satisfação
destes no contexto da qualidade de vida urbana.
Barlow e Ozaki (2003 apud LIMA et al., 2011) afirmam que os clientes finais
desse setor vêm tornando-se cada vez mais bem informados, mais exigentes e
menos tolerantes aos serviços precários e aos defeitos construtivos, demandando
maior atenção a informações relacionadas às necessidades e expectativas do cliente
final para superar os problemas básicos de qualidade do setor habitacional.
Além disso, segundo Tramontano (1993; 2000 apud PALHARES, 2001), as
características das famílias vêm se alterando profundamente nas últimas décadas,
tanto com relação ao tamanho quanto em relação à estrutura e à sua própria função.
Há algumas décadas, existe uma tendência crescente à composição de novos
grupos domésticos, diferentes da família nuclear tradicional, com mudanças nas
relações entre seus membros.
Para Palhares (2001), o processo de criação e produção das habitações para
população de baixa renda demanda interação entre grande grupo de profissionais,
que irão compor uma equipe multidisciplinar. De acordo com o autor, cabe a estes
profissionais estar atentos a todas as modificações e transformações, cada dia mais
rápidas e intensas, pelas quais passa a sociedade e que alimentarão as reflexões na
proposição dos espaços da habitação, pois “as variações demandarão espaços em
quantidade e dimensões diferenciados, que não podem ser desconsiderados”, o que
leva à necessidade de uma nova reflexão sobre os espaços.
66

Quando não há harmonia na relação ambiente-usuário, a tendência natural é


que o usuário modifique o ambiente, adaptando-o à sua proposta (MEIRA; SANTOS,
1998 apud MARROQUIM; BARBIRATO, 2007). Palhares (2001) afirma, ainda, que
as variadas formas de ocupação e uso dos espaços por parte dos diferentes grupos
provocam modificações que são empreendidas pelos moradores nas unidades
habitacionais ao longo da ocupação.
Van Gelder (2007) destaca, ainda, a segurança de posse da habitação como
um fator determinante da realização dessas modificações. Essa segurança de posse
pode ser dada pela existência de um título legal ou pela segurança percebida da
posse obtida através de uma declaração oficial ou um acordo de que não haverá
remoção das famílias, pela prestação de serviços públicos ou pela emissão de
certificados de uso, afirma o autor.
Ainda de acordo com Van Gelder (2007), a segurança percebida de posse é
uma variável psicológica que está relacionada com a melhoria da habitação em
assentamentos informais, pois o medo do despejo é o fator determinante da
realização ou não da melhoria habitacional nessas situações.
Por outro lado, de acordo com Gilbert (1994 apud VAN GELDER, 2007),
quando as pessoas estão confiantes de que não serão removidas pelas autoridades,
elas seguem a tendência natural de melhorar as suas habitações. Assim, quando as
famílias de baixa renda passam de um assentamento informal para um
empreendimento de HIS, essa segurança de posse fica quase que totalmente
garantida, dependendo apenas da quitação das pequenas parcelas de pagamento
impostas pelos programas habitacionais voltados a essa população, e as
modificações são realizadas com mais confiança por parte dos moradores.
Diversos autores confirmam que são frequentes as alterações realizadas por
moradores nas unidades habitacionais de Habitações de Interesse Social (HIS)
construídas no Brasil (PALHARES, 2001; MARROQUIM; BARBIRATO, 2007,
BRANDÃO, 2011).
As razões pelas quais o usuário deseja promover alterações em sua
habitação são várias, sendo forte a ligação com fatores simbólicos e estéticos,
afirma Brandão (2011). Estas alterações podem ser positivas ou negativas e podem
também refletir mudanças sociais e comportamentais dos usuários (padrão de vida
67

dos usuários, mudanças de mentalidade, mudanças simbólicas, nível educacional,


cultural etc.).
Para Marroquim e Barbirato (2007), essas modificações são realizadas, entre
outros aspectos, por motivos de caráter funcional, simbólico ou econômico e “quase
sempre evidenciam a falta de sintonia entre o projeto arquitetônico original e as
respostas às necessidades de seus usuários”.
Segundo Palhares (2001), estas modificações visam, sobretudo, “adequar o
uso de tais habitações às ilimitadas necessidades dos moradores, sujeitas a variada
gama de valores que as ampliam além das condições mínimas preestabelecidas”.
Assim, a organização de usos dos espaços e das atividades é redefinida ao longo da
ocupação.
Reis (1995 apud BRANDÃO, 2011), descreve mais detalhadamente estas
alterações, relacionando-as a: aspectos funcionais, como disposição e tamanho das
peças; tamanho da moradia; aspectos ligados à privacidade visual e auditiva;
aspectos ligados a questões estéticas; aspectos ligados a questões de
personalização e definição do território; alterações no tamanho da família, nível
econômico e educacional, dentre outros.
Brandão (2011) complementa relatando que essas modificações não seguem
uma regra geral, dependendo da maior ou menor adequação do projeto original,
porém, segundo o autor, ampliações de cozinhas e criação de novas dependências,
como dormitórios e edículas, são frequentes.
Buscando conhecer as diversas modificações realizadas pelos moradores e
identificar os códigos de uso que as geraram, Palhares (2001) apresenta uma
classificação das modificações segundo o tipo de intervenção físico-espacial-
tecnológica realizada, que chama de Variantes de Modificação. Em seu estudo, o
autor divide essas variantes em três grupos principais, de abrangência geral quanto
às especificidades das modificações levantadas em campo:
1. Físicas – Referem-se às modificações físicas dos arranjos e
redimensionamentos espaciais internos e externos. Redefinem os
limites da geometria construtiva do projeto original, pautados na
racionalidade construtiva. Referem-se ainda à retirada ou ao
acréscimo de elementos construtivos que alteram os aspectos
técnicos e compositivos originais da obra.
68

2. Novos Usos – Dizem respeito aos novos usos destinados aos espaços
das unidades habitacionais. Resultam de solicitações particulares, em
função de adequação a demandas diferenciadas, como variação na
composição e renda familiar, aumento do conforto, funcionalidade,
praticidade, etc.
3. Tecnologia dos Materiais – Dizem respeito às modificações que
alteram a tecnologia construtiva, a partir da mudança dos materiais
empregados, ou do acréscimo de novos materiais.
Outro aspecto importante do estudo de Palhares (2001), é que as
modificações inacabadas ou apenas desejadas também foram tabuladas, sendo
caracterizadas como modificações pretendidas.
Meira e Santos (1998 apud MARROQUIM; BARBIRATO, 2007), acreditam, no
entanto, que nem sempre é possível ao morador obter os resultados desejados, haja
vista questões de ordem técnica, econômica e outras, acarretando-lhe prejuízos em
diversos níveis.
Palhares (2001) afirma, ainda, que as modificações superam imposições de
padrões, leis, normas técnicas e restrições econômicas, originalmente reguladoras
do processo de criação e produção de tais unidades habitacionais. Já para
Marroquim e Barbirato (2007), o principal problema constatado em relação a essas
modificações é que na maioria dos casos elas impactam negativamente na
funcionalidade e na habitabilidade dessas habitações, principalmente no que diz
respeito ao conforto ambiental resultante.
Portanto, o resultado de tais modificações em relação aos projetos originais
acaba provocando insatisfação geral, atingindo os agentes da política habitacional,
os arquitetos e outros profissionais envolvidos no projeto e execução das unidades
e, sobretudo, os próprios moradores (PALHARES, 2001).
Em muitos casos, os novos códigos de uso do espaço geradores ou gerados
por essas modificações são estranhos ao arquiteto e aos agentes promotores da
política habitacional, refletindo a necessidade de profunda investigação e análise
crítica do que foi ofertado e de como está sendo realmente utilizado, defende
Palhares (2001).
De acordo com Marroquim e Barbirato (2007), o estudo das modificações do
espaço habitacional promovidas pelo usuário “permite compreender como os
moradores dos conjuntos habitacionais se relacionam com a casa e qual o
69

significado atribuído por eles aos espaços”, mesmo que tecnicamente a solução
utilizada seja inviável ou inadequada. Os autores defendem que o conhecimento
dessas questões por parte dos projetistas pode auxiliá-los na elaboração de projetos
de habitações flexíveis, que permitam ampliações e modificações sem diminuir o
conforto ambiental e a qualidade espacial original da habitação, além de propiciar
uma expansão condizente com as necessidades espaciais e culturais de seus
moradores.
Palhares (2001) vai mais além e afirma que o conhecimento dos códigos de
uso adotados pelos moradores é uma condição básica para o desenvolvimento dos
projetos de arquitetura e urbanismo e para a gestão dos programas de habitação de
interesse social.
Por sua vez, Reis (1995) afirma que “o conhecimento das necessidades de
alterações nos leva a uma maior capacidade de produção de projetos habitacionais
que estejam mais de acordo com as reais necessidades de seus usuários”.
Assim, entende-se que o estudo das modificações pode ajudar a
compreender também a relação entre essas modificações e os sistemas construtivos
empregados na construção das casas, seja como fator gerador, facilitador ou
dificultador da realização de tais modificações.
A bibliografia existente relata duas formas de se atuar visando a melhoria da
qualidade dessas modificações, a flexibilidade de projeto, adotada ainda na
concepção do empreendimento, e a assistência técnica para melhoria habitacional,
que fornece auxílio técnico aos moradores para a realização das modificações. A
seguir serão apresentadas as duas propostas.

4.1 Flexibilidade de projeto

Segundo Rodwin (1987 apud ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003), “as habitações


sociais não vêm mais sendo consideradas como problemas, mas sim soluções
extraordinariamente flexíveis e ajustáveis, o que representa uma mudança
fundamental nessa área”.
Diversos autores concordam que muitas decisões de projeto podem ser
tomadas mais eficientemente pelo próprio usuário, pois é possível encontrar
diferentes soluções para uma necessidade básica do homem em uma mesma
cultura. (BRANDÃO; HEINECK, 2003 apud MARROQUIM; BARBIRATO, 2007).
70

Nesse contexto, a construção de habitações de interesse social flexíveis é uma


solução para minimizar os problemas citados no item anterior.
Till e Schneider (2005) definem a habitação flexível como aquela que pode
adaptar-se às necessidades de mudança dos usuários, englobando tanto a
possibilidade de escolha entre diferentes layouts antes da ocupação quanto a
capacidade de ajuste da habitação ao longo do tempo.
A habitação flexível também pode ser definida como aquela que permite que
seus moradores a adaptem aos seus desejos e necessidades sem grandes obras ou
investimentos financeiros (SZÜCS, 1998a; DIGIACOMO; SZÜCS, 2003;
DIGIACOMO, 2004 apud MARROQUIM; BARBIRATO, 2007).
De acordo com Galfertti (1997 apud BRANDÃO, 2011), flexibilidade é o grau
de liberdade que torna possível a diversidade de modos de vida e consiste em um
mecanismo efetivo para compensar a lacuna na conexão entre o arquiteto e o
ocupante desconhecido.
Segundo Brandão (2011), a falta de flexibilidade de projeto é uma das causas
de intervenções, demolição parcial e, até mesmo, a demolição completa de uma
edificação. O autor lembra, ainda, que “a organização do espaço e o projeto devem
ser compatíveis com diferentes padrões de vida no decorrer do tempo, ou seja, com
multiplicidade de usos” e salienta que o conceito de habitação evolutiva exige
previsão e projeção no projeto.
Till e Schneider (2005) citam seis princípios de flexibilidade que podem ser
adotados como base para o projeto de habitações flexíveis. São eles:
1. Espaço: pouco espaço pode limitar a flexibilidade. Assim, alguns recentes
projetos têm se empenhado em fornecer mais espaço, porém, sem uma
definição de uso, deixando a cargo dos moradores a definição de como
utilizá-lo;
2. Construção: técnicas de construção muito especializadas podem limitar a
flexibilidade futura da habitação ao passo que exigem habilidades muito
específicas para a realização de qualquer adaptação;
3. Projeto para adaptação: o projeto deve considerar a possibilidade de
mudanças, sendo que o projetista deve visualizar as adaptações para o
cenário futuro e pensar em como elas poderão ser realizadas;
71

4. Camadas (layers): a identificação clara das camadas de construção


(estrutura, vedações externas, instalações, divisórias internas e
acabamentos) permite um melhor controle e flexibilidade destas camadas.
5. Plano típico: é possível desenvolver uma casca externa relativamente
inflexível e um núcleo que concentre o acesso e as instalações, deixando
o espaço entre eles indeterminado, com grandes vãos e planos abertos,
permitindo a colocação e retirada de divisórias à vontade.
6. Instalações: a disposição das instalações deve ser cuidadosamente
pensada para permitir futura mudança e modernização. Instalações
verticais podem passar por dutos de fácil acesso e as horizontais podem
passar sob pisos elevados ou sobre forros, permitindo infinitas
possibilidades de disposição dos pontos de atendimento.
Em seu estudo, Till e Schneider (2005) propõem, ainda, uma classificação
dos métodos pelos quais a flexibilidade pode ser alcançada em duas grandes
categorias: utilização e tecnologia. A primeira se refere à forma como o projeto afeta
a utilização da habitação ao longo do tempo e a segunda analisa ofertas de
tecnologia de construção e manutenção e como elas afetam o potencial para a
flexibilidade. Segundo os autores, cada uma dessas categorias apresenta técnicas
denominadas suaves (soft flexibility) e rígidas (hard flexibility).
Segundo os autores, a utilização suave geralmente exige mais espaço e
alguma redundância, mas permite que o usuário adapte o espaço de acordo com
suas necessidades através da definição das divisões e usos dos ambientes, sendo
que o projetista trabalha em segundo plano, apenas delimitando as unidades e
posicionando as instalações. Já a utilização rígida geralmente é utilizada quando o
espaço é limitado e deseja-se obter ambientes multifuncionais através de elementos
mais específicos, como paredes corrediças e camas dobráveis, que determinam o
modo como o espaço pode ser usado ao longo do tempo.
Outra forma de alcançar a flexibilidade na habitação é através da implantação
de tecnologias, que podem englobar técnicas de construção, soluções estruturais,
estratégias de manutenção ou uma combinação destes, podendo também ser
divididas em suaves e rígidas, afirmam Till e Schneider (2005). Para estes autores,
tecnologia suave é aquela que permite a flexibilidade da habitação sem ser
72

totalmente controlada pelas técnicas de construção, utilizando, por exemplo, um


sistema estrutural em grelha onde as divisórias internas não suportam cargas.
Já as tecnologias rígidas são definidas pelos autores como aquelas
desenvolvidas especificamente para atingir a flexibilidade, sendo a característica
determinante do projeto. Segundo os autores, a abordagem que tem sido mais
sistematicamente adotada nessa linha é a da construção aberta, que nasceu dos
estudos de John Habraken’s. O princípio básico dessa abordagem é de que a
habitação deve ser considerada como estrutura de suporte e enchimentos. A
estrutura de suporte deve fornecer a infraestrutura básica e ser concebida como uma
base permanente ao longo da vida. Os enchimentos têm vida mais curta e são
determinados e adaptados pelos usuários. Segundo os autores corre-se o risco,
neste caso, de que a tecnologia torne-se um fim e não um meio para se alcançar a
flexibilidade.
De acordo com Brandão (2011), vários autores defendem a importância da
flexibilidade, tanto na ocupação inicial dos espaços (flexibilidade inicial), como ao
longo de sua utilização (flexibilidade contínua, funcional ou permanente). O autor
destaca duas estratégias de projeto defendidas por Palermo et al. (2007 apud
BRANDÃO, 2011):
• a flexibilidade de execução, que permite a construção em etapas; e
• a flexibilidade de uso, que facilita a adequação dos espaços às
necessidades físicas específicas da família moradora, incluindo eventuais
necessidades especiais, com garantia da acessibilidade espacial a
pessoas com diferentes níveis de restrição.
Ornstein, Bruna e Romero (1995 apud MARROQUIM; BARBIRATO, 2007)
relatam que pesquisas feitas nos anos 70 mostraram que quanto maior a
capacidade do edifício em aceitar improvisações de seus usuários, maior será a
satisfação dos usuários. Em decorrência destas preferências, ressaltam a relevância
da flexibilidade nos arranjos espaciais dos projetos arquitetônicos.
Trabalhos realizados por Brandão (2002 apud MARROQUIM; BARBIRATO,
2007) constataram também que o próprio fato de os ocupantes de uma edificação
estarem cientes de que existem possibilidades de fácil modificação ou adaptação,
especialmente de layout, tem um efeito positivo sobre a satisfação dos mesmos.
73

A importância de promover diversidade e flexibilidade tem sido enfatizada no


Brasil em vários estudos recentes realizados sobre o mercado da construção civil
brasileira, comenta Brandão (2011). Apesar disso, o autor afirma que os
empreendimentos habitacionais, sejam de promoção pública ou privada, são
oferecidos, quase sempre, com plantas recorrentes por anos e anos e mesmo em
habitações de pequena área, o que se observa são plantas com excessiva
compartimentação e tripartição de setores.

4.2 Assistência técnica para melhoria habitacional

Outra proposta para minimizar os impactos negativos das modificações


realizadas pelos usuários é a disponibilização de assistência técnica para auxiliar a
execução dessas alterações. A proposta consiste na disponibilização de assistência
técnica de profissionais habilitados para apoio especializado aos moradores que
desejam fazer modificações em suas casas. Neste sistema, um engenheiro,
arquiteto ou técnico acompanha a obra e orienta os moradores e a mão de obra, de
forma individualizada, a modificar e ampliar as moradias, realizando projetos e
fornecendo listas de materiais e orçamentos.
No Brasil, algumas experiências com assistência técnica já foram
desenvolvidas em diferentes pontos do país, de caráter público ou social, destinadas
tanto a moradores de conjuntos habitacionais quanto a moradores de outros tipos de
assentamentos, como favelas reurbanizadas e de “bairros pobres”. Embora muitos
esforços já tenham sido empregados nesse sentido, a viabilização deste serviço no
Brasil ainda não foi obtida de forma satisfatória, ou seja, com resultados que sejam
possíveis de multiplicação em larga escala (SILVESTRE; CARDOSO, 2012a).
No intuito de viabilizar a assistência técnica pública para habitação, algumas
medidas já foram tomadas por parte do poder público. Em 2001, o Estatuto das
Cidades – Lei n° 10.257 de julho de 2001 contemplou pela primeira vez a assistência
técnica para habitações construídas em regime de mutirão (BRASIL, 2001). O Plano
de Habitação do Governo Federal, o PLANHAB, prevê, para a população de baixa
renda, o fornecimento de lotes, cesta de materiais e assistência técnica para a
construção, mas não especifica como isso vai acontecer.
O mais novo e específico instrumento nesse sentido, no entanto, é a Lei
Federal nº 11.888 – Lei de Assistência Técnica (BRASIL, 2008), que garante às
74

famílias com renda de até 3 salários mínimos assistência técnica gratuita para
legalização, construção, reformas e ampliações nas residências. Entretanto, muitas
dúvidas ainda cercam a sua implantação, pois as prefeituras, que seriam as
responsáveis pela operação de assistência técnica, ainda não encontraram uma
forma viável de colocar a lei em prática.
O fato é que cada vez mais a assistência técnica tem se mostrado importante
e há grandes esforços para que ela seja implantada em âmbito nacional.
Palhares (2001), ao relatar a experiência do conjunto habitacional Lagoa,
declara que a participação dos técnicos nos programas de assistência pode ser
muito eficiente na conscientização dos moradores sobre problemas diversos. Com
relação às modificações, ele relata certa resistência inicial dos técnicos à sua
realização, pois eles defendiam a manutenção do estilo e dos materiais originais das
casas. O autor rebate esse posicionamento afirmando que “edificação com o estilo e
materiais originais preservados, porém, em más condições de conservação, e sem
alternativas de manutenção, não confere nenhuma qualidade aos espaços da
habitação”.
Para Palhares (2001), todos os agentes do processo devem ter clareza das
consequências das modificações antes de aprová-las ou reprová-las. Os números
apurados na pesquisa apresentada pelo autor revelaram que as modificações
resolveram muitos problemas, melhorando a qualidade dos espaços e, por extensão,
a qualidade de vida dos moradores.
75

5. METODOLOGIA DA PESQUISA

Esta pesquisa foi dividida em três fases distintas: a revisão da bibliografia


existente, a realização dos três estudos de caso e a compilação dos dados e análise
dos resultados. Estas fases são detalhadas nos itens a seguir.

5.1 Revisão Bibliográfica

A primeira fase de desenvolvimento desta pesquisa foi a realização de uma


revisão da bibliografia sobre assuntos relacionados à habitação popular, conjuntos
habitacionais, avaliação pós-ocupação e sistemas construtivos. Para tanto, foram
levantados e analisados os principais autores e obras acerca dos temas, buscando-
se consultar diferentes linhas de pensamento, analisando teorias e propostas
tradicionais e inovadoras, de modo a confrontar as opiniões divergentes.
Outra atividade importante desta etapa foi a busca por experiências de
avaliação pós-ocupação já realizadas, com maior foco naquelas que abordaram os
sistemas construtivos e o estudo das modificações realizadas pelos moradores nas
unidades habitacionais.

5.2 Estudos de Caso

5.2.1 Definição da região e empreendimentos estudados

Para o cumprimento dos objetivos estabelecidos, foram realizados estudos de


caso em empreendimentos considerados interessantes e relevantes para a
elaboração desta pesquisa por utilizarem processos construtivos diferenciados.
Para a escolha dos empreendimentos estudados, foram definidos os
seguintes pré-requisitos:
• obra pública de HIS;
• empreendimento horizontal com unidades unifamiliares térreas (isoladas
ou geminadas);
76

• unidades habitacionais entregues há, no mínimo, 1 ano, tempo


considerado razoável para uma avaliação mais criteriosa por parte dos
usuários e para a realização de modificações nessas unidades;
• empreendimentos que utilizam processos construtivos racionalizados e/
ou industrializados a base de cimento e que foram acompanhados, de
alguma forma, pela Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP)
durante a fase de execução;
• apresentam maiores facilidades de acesso aos agentes da política pública
e, especialmente, aos moradores.
Outro importante fator considerado na escolha dos empreendimentos foi a
localização, uma vez que ela influi em muitos aspectos a serem estudados, tais
como: clima, relevo, situação econômica das famílias e do município, aspectos
culturais etc.
Por essa razão, buscou-se identificar empreendimentos de uma mesma
região, aumentando as chances de se ter condições climáticas e socioculturais
semelhantes ou aproximadas, o que tem grande influência e relevância para a
realização de comparações entre os casos.
Dessa forma, após a análise de alguns empreendimentos e regiões, optou-se
pela realização de três estudos de caso em empreendimentos da Companhia de
Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) em três
cidades distintas na região do Vale do Paraíba, conforme descrição a seguir:
1. Conjunto Habitacional São Luiz do Paraitinga “C” – sistema construtivo
RBS de concreto PVC.
2. Conjunto Habitacional Cunha “B” – sistema construtivo de paredes de
concreto celular moldadas in loco.
3. Conjunto Habitacional Lagoinha “A” – sistema construtivo de alvenaria
estrutural com blocos de concreto.

A escolha desta região para realização dos estudos de caso foi fundamentada
na facilidade de acesso da autora à região e dos laços de relacionamento já
existentes com agentes locais da política pública e entidades da região.
Entende-se, também, que a proximidade entre as três cidades e o fato de
pertencerem à mesma região confere maior homogeneidade entre as populações
77

pesquisadas, o que reverte em informações mais interessantes para a realização


desta pesquisa.

Figura 2 – Mapa de localização das cidades escolhidas


Fonte: Google Maps.

A fim de permitir uma maior compreensão sobre as cidades visitadas, o


ANEXO I apresenta um quadro resumo com o perfil de cada um dos três municípios
em comparação com a totalidade do Estado de São Paulo.

5.2.2 Preparação e Realização da Pesquisa de Campo

A realização desses estudos de caso tem como finalidade o cumprimento dos


objetivos secundários desta pesquisa, conforme mencionados no capítulo 1, e, para
sua realização, foram realizadas avaliações pós-ocupação nas unidades
habitacionais com foco em avaliações funcionais e dos sistemas construtivos,
utilizando alguns dos métodos e técnicas de avaliação pós-ocupação descritos no
item 3.4.
Para a avaliação dos sistemas construtivos, foi adotada a abordagem dos dez
órgãos básicos da edificação apresentada por Roméro e Ornstein (2003). A
avaliação funcional será realizada através e uma avaliação de uso (AU) executada a
partir de diversos instrumentos de APO.
78

Anteriormente à realização da pesquisa em campo, foi necessária a


realização de uma vasta pesquisa de documentos e projetos relativos aos
empreendimentos de forma que estes pudessem contribuir para a sua
caracterização e mesmo para a aplicação dos métodos e técnicas selecionados.
Como foram realizados 3 estudos de caso simultâneos e com uma equipe
extremamente reduzida, foi necessária a utilização de métodos e técnicas que
permitissem uma aplicação rápida e fácil em campo e, também, que permitissem
que as informações coletadas fossem facilmente consultadas e analisadas
posteriormente. Assim, para a realização dessas avaliações, foram utilizados os
seguintes instrumentos de APO, já descritos no item 3.4:
• aplicação de entrevistas não estruturadas com profissionais da CDHU e
demais entidades e empresas participantes do projeto e execução dos
empreendimentos;
• aplicação de entrevistas estruturadas com usuários dos imóveis;
• aplicação da técnica de Walkthrough;
• realização de registros de imagem (fotos e croquis) e vídeo.
Anteriormente à aplicação desses instrumentos, foi necessário o
desenvolvimento de fichas e formulários padronizados, focando a obtenção dos
dados através de uma linguagem simples e de fácil assimilação pelos entrevistados.
Também foi elaborado um roteiro técnico para que as avaliações seguissem
um mesmo padrão de coleta e armazenamento de informações para todas as
unidades e empreendimentos pesquisados, evitando distorções nos resultados
comparativos.
As entrevistas com profissionais não tinham um roteiro estruturado,
entretanto, procurou-se, com elas, obter as informações necessárias para completar
o Formulário de Caracterização do Empreendimento, preenchendo-se um
documento destes para cada um dos empreendimentos visitados. Esse formulário
está apresentado no Apêndice B.
Já as ferramentas de entrevistas com moradores e aplicação da técnica de
Walkthrough foram testadas através da realização de um pré-teste para avaliar a sua
eficácia e capacidade de fornecer as informações desejadas. Essa etapa foi
realizada no empreendimento São Luiz do Paraitinga “C” e, na ocasião, participaram
79

dois pesquisadores, a autora e uma auxiliar, sendo visitadas três casas, o que foi
suficiente para se observar algumas falhas neste material preliminar.
A primeira versão do formulário foi elaborada em 12 páginas e, de modo
geral, o pré-teste mostrou que estava muito extensa e cansativa para os moradores,
que no final já deixavam de responder com tanta atenção e preocupação com o
detalhamento e veracidade das informações prestadas. Também foi observado que
algumas questões referentes à caracterização das famílias, sobretudo aquelas
relacionadas à renda e bens de consumo, não eram bem recebidas pelos
moradores, o que causava certa rejeição em prestar outras informações mais
relevantes para os resultados da pesquisa.
Assim, esse formulário foi revisto e algumas questões foram eliminadas ou
condensadas para possibilitar maior facilidade na aplicação e menor rejeição por
parte dos moradores. A versão final do formulário de visita às moradias conta com 7
páginas, sendo as partes I a IV destinadas à entrevista com os moradores e as
partes V e VI destinadas à aplicação da técnica de Walkthrough, com informações
coletadas pelos técnicos. Esta versão final está apresentada no Apêndice C.
Após a realização do pré-teste e elaboração da versão final do formulário,
foram programadas as visitas aos empreendimentos, sempre realizadas pela autora
e uma acompanhante para auxiliar na coleta das informações.
Para a definição da amostra necessária em cada um dos empreendimentos, o
universo de casas foi considerado homogêneo, uma vez que se destina a uma
população bem específica.
A escolha das casas visitadas não atendeu a nenhum método estatístico,
sendo selecionadas aquelas casas em que havia moradores dispostos a responder
a pesquisa no momento da visita. Procurou-se, no entanto, obter-se uma amostra
mínima de 25% das unidades habitacionais em cada conjunto habitacional. Buscou-
se, também, obter uma variação quanto à posição das casas em relação ao Sol, ao
seu posicionamento na rua e no empreendimento e à realização de modificações
externas aparentes.

5.3 Análise e Considerações

Uma vez coletadas as informações, estas foram compiladas através de


planilhas e gráficos, de forma que fosse possível obter dados estatísticos
80

relacionados a cada um dos empreendimentos e com relação ao total do universo


pesquisado. A partir da compilação das informações foi possível realizar uma análise
crítica sobre os resultados obtidos.
Os capítulos 6, 7 e 8, a seguir, apresentam o detalhamento e os resultados
dos estudos de caso realizados nos conjuntos habitacionais São Luiz do Paraitinga
“C”, Cunha “B” e Lagoinha “A”, respectivamente.
O capítulo 9 faz uma discussão global dos resultados.
81

6. O CASO DE SÃO LUIZ DO PARAITINGA

Para realização do primeiro estudo de caso, optou-se pelo Conjunto


Habitacional São Luiz do Paraitinga “C”, que já havia sido alvo de estudos da autora
durante a realização do trabalho final da disciplina PCC 5017 – Processo de Projeto
na Construção Civil, cursada durante o mestrado. O empreendimento em questão
apresenta características muito marcantes que influenciaram na sua escolha, como
o cenário em que foi realizado e o sistema construtivo utilizado. Essas
características serão detalhadas a seguir.

6.1 O Empreendimento

6.1.1 Cenário

O município de São Luiz do Paraitinga está localizado no Vale do Paraíba, no


Estado de São Paulo, a cerca de 200 quilômetros da cidade de São Paulo, e faz
divisa com os municípios de Ubatuba, Taubaté, Lagoinha, Cunha, Natividade da
Serra e Redenção da Serra. Apresenta uma área de 617,15 km² e uma população
de 10.427 habitantes em 2010 (FUNDAÇÃO SEADE, 2012).
Seu clima, assim como o clima dos demais municípios da região, é temperado
com inverno seco e sua topografia é acidentada, com relevo montanhoso. É
banhado pelos rios Paraibuna, Paraíba e Paraitinga, sendo que o nome deste último,
que vem da palavra indígena parahytinga (águas claras), dá nome à cidade
(EMPLASA GEO, 2012).

Figura 3 – Vista da cidade de São Luiz do Paraitinga


Fonte: a autora.
82

As primeiras sesmarias nos sertões do Rio Paraitinga foram concedidas em


1688, mas somente em 2 de maio de 1769 ocorreu a fundação do povoado de São
Luiz e Santo Antônio do Paraitinga, que deu origem ao município de São Luís do
Paraitinga. A capela existente, construída em louvor a Nossa Senhora dos Prazeres,
mudou depois para São Luís de Tolosa. Em 1773, São Luiz recebeu o status de vila
e em 1857 uma lei provincial elevou-a à categoria de cidade. Bem mais tarde, em
2002, a cidade transformou-se em Estância Turística (EMPLASA GEO, 2012).
Durante um longo período, a economia do município permaneceu restrita à
cultura de cereais, até que se iniciaram as plantações de café e algodão. A partir da
década de 30, a pecuária leiteira começou a se sobressair, tornando-se a principal
atividade econômica, ao lado da agricultura de subsistência, que voltou a ganhar
importância com a queda da produção cafeeira. Hoje a cidade conta com um
Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 89,49 milhões (2010), sendo que mais de 70%
desse valor vem da prestação de serviços. (EMPLASA GEO, 2012; FUNDAÇÃO
SEADE, 2012).
A cidade de São Luiz do Paraitinga, berço do sanitarista Oswaldo Cruz (1872-
1917), também chama a atenção pelo casario de 437 imóveis dos séculos XVIII e
XIX tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico,
Artístico e Turístico (CONDEPHAAT), por ter um dos carnavais de rua mais
concorridos do estado e pela tradicional Festa do Divino (BERGAMO, 2010).

Figura 4 – Imóveis tombados pelo patrimônio histórico


Fonte: a autora.

Na virada de 2009 para 2010 a cidade foi destruída pela maior enchente já
registrada ali. O nível do Rio Paraitinga, que atravessa a cidade, subiu de 10 a 15
metros acima do normal e a água atingiu mais da metade dos imóveis, cobrindo os
83

telhados e danificando a estrutura de muitos deles, a maioria construída com taipa


de pilão e pau a pique. Estima-se que cerca de 300 edificações tenham sido total ou
parcialmente danificadas, entre elas edificações históricas, como a Igreja Matriz São
Luiz de Tolosa, de mais de 200 anos (BERGAMO, 2010; MARRA, 2010).

Figura 5 – Enchente atinge São Luiz do Paraitinga


Fontes: Sergio Neves/ Agência Estado; Rogério Marques/ Agência Estado/ Portal R7.com.

Tendo em vista o cenário desolador de toda a região, o Governo do Estado


anunciou um investimento de 10 milhões de reais em ações emergenciais para todo
o Vale do Paraíba, além da reconstrução e reforma de unidades de saúde e
liberação de crédito para a população (BERGAMO, 2010). Em poucos dias, os
trabalhos de reconstrução foram iniciados e, pouco a pouco, as ruas foram
desobstruídas, o entulho foi recolhido e o comércio reabriu suas portas, mas, ainda
assim, restavam muitas famílias vivendo em áreas de risco e muitos desabrigados,
todos necessitando com urgência de uma nova moradia.
Um plano emergencial foi montado para a construção de habitações de
interesse social, visando à rapidez de construção e à qualidade dessas edificações.
As primeiras moradias foram realizadas por ação da Companhia de
Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU). A
infraestrutura urbana, a pavimentação, a implantação urbana e as fundações das
edificações foram realizadas pela empresa Terracom e as casas foram erguidas pela
empresa Royal do Brasil Technologies com o sistema de paredes de concreto com
fôrmas fixas de PVC, com acompanhamento técnico da Associação Brasileira de
Cimento Portland (ABCP) e da Braskem durante a construção.
Após três anos da ocorrência da catástrofe, muitas obras já foram realizadas
e a vida da maioria dos moradores já voltou ao normal, entretanto, a cidade ainda
luta para minimizar os efeitos de novos desastres e finalizar a reconstrução de seu
84

patrimônio histórico. Obras de contenção de encostas ainda podem ser vistas em


alguns pontos da cidade e a Igreja do Rosário, a Igreja Matriz e alguns dos casarões
do centro histórico ainda estão em obras de reconstrução e restauração.

Figura 6 – Obras de reconstrução da Igreja Matriz e de casarão histórico


Fonte: A autora.

6.1.1 Descrição e histórico

O empreendimento São Luiz do Paraitinga “C”, nomeado como Conjunto


Habitacional Monsenhor Tarcísio de Castro Moura, ocupa uma área de 130.943,98
m² e é acessado exclusivamente pela Av. Celestino Campos Coelho, s/nº, a apenas
700 m do centro da cidade de São Luiz do Paraitinga.
A gleba apresenta declividade acentuada, com trechos superiores a 30%,
mas não há terrenos alagadiços e sujeitos a inundação. O terreno conta, também,
com uma extensa área verde, dividida em quatro partes, sendo que a maior delas
fica na região mais alta da gleba. Há, ainda, três áreas destinadas a equipamentos
de lazer e duas áreas institucionais.
A figura 8 a seguir apresenta a implantação do conjunto habitacional:
85

Figura 7 – Implantação do Conjunto Habitacional São Luiz do Paraitinga “C”


Fonte: CDHU, 2010.
86

As ruas apresentam pavimento intertravado de concreto e as calçadas têm a


faixa livre, ou passeio, em concreto e vegetação nas faixas de serviço e de acesso.
O conjunto habitacional conta, ainda, com iluminação das vias púbicas
através de postes com fiação aérea, rede de abastecimento de água, rede de coleta
de esgotos, rede de captação de águas pluviais e serviço de coleta de lixo.

Rede de
Iluminação
Aérea
Área
Verde 3

Calçadas
Área de verdes
Lazer 1

Pavimento
intertravado

Figura 8 – Vista geral do Conjunto Habitacional São Luiz do Paraitinga “C”


Fonte: Acervo ABCP.

Dada a urgência de início das obras, optou-se pela utilização de projetos-


padrão da CDHU, que possui uma série de modelos de unidades habitacionais já
com custo e detalhamento bem definidos.
Foram escolhidas, para o empreendimento em questão, duas tipologias
distintas, sendo 106 sobrados de 54,36 m², seguindo a tipologia SR23A, e 45 casas
térreas de 65,90 m² de área construída, de acordo com a tipologia TG33A. No total,
foram executadas 151 unidades habitacionais, totalizando 8.727,66 m² de área
construída.
A escolha das tipologias utilizadas se deu em virtude das características de
implantação, considerando as dimensões dos lotes e as necessidades das famílias
atendidas.
Para execução das casas e sobrados, entretanto, esses projetos tiveram que
ser adaptados ao sistema construtivo. Segundo Ferrari (2011), uma vez definidas as
87

tipologias das casas, toda a fase de adaptação e compatibilização do projeto foi


realizada pela empresa detentora da tecnologia construtiva, a Royal do Brasil
Technologies, e submetida à aprovação da CDHU.
Essa adaptação compreendeu, principalmente, a adequação da modulação
do projeto-padrão à modulação do sistema construtivo, o que acabou por requerer a
realização de alguns outros ajustes, como a realocação de instalações e esquadrias.
Como estratégia para a modulação do projeto, optou-se por utilizar os perfis
de PVC com 100 mm de espessura. Assim, foi possível manter a área útil projetada,
reduzindo a área construída em função da diferença de espessura existente entre os
painéis de PVC e a parede do projeto original. A diferença de área construída foi de
1,52 m2 a menos, com um ganho de área útil de quase 3 m2.
Segundo Ferrari (2011), também foram realizadas alterações na cobertura,
que inicialmente teria duas águas. Segundo o autor, durante a etapa de adequação
do projeto foi proposta uma cobertura de quatro águas, por motivos estéticos,
tomando como referência as coberturas encontradas na região (informação verbal)1.

Figura 9 – Planta da tipologia TG33A modulada no sistema RBS


Fonte: CDHU, 2010.

1
Informação fornecida pelo Arqº Tiago Ferrari em entrevista por telefone em 07/11/2011.
88

Figura 10 – Corte longitudinal da tipologia TG33A modulada no sistema RBS


Fonte: CDHU, 2010.

Não foi necessário o revestimento de nenhuma parede, pois os painéis já


possuem acabamento adequado para utilização sem revestimentos adicionais.
Foi realizado, ainda, um estudo de cores com referência na tipologia de
fachada das casas da região. Dessa forma, foi elaborada uma proposta de aplicação
de pintura ou textura remetendo aos detalhes típicos da região, sendo que as casas
foram entregues com as fachadas predominantemente brancas, com alguns
detalhes em cor (FERRARI, 2011).

Figura 11 – Tipologia de fachada das casas em São Luiz do Paraitinga


Fonte: A autora.
89

Figura 12 – Estudo de cores para fachadas das unidades


Fonte: Royal Technologies do Brasil.

As reuniões das equipes de projeto e execução foram constantes desde o


início do contato até a entrega definitiva das casas, período que durou 6 meses.
Segundo Ferrari (2011), as primeiras reuniões foram mais focadas no projeto
em si e, conforme a obra começou a ser executada, passou a ser avaliada a sua
evolução. Como o empreendimento foi realizado em caráter emergencial, as
reuniões eram realizadas quinzenalmente nos quatro primeiros meses e nos dois
últimos meses essas reuniões passaram a ser semanais (informação verbal)2.
Em geral, participavam dessas reuniões o diretor executivo da CDHU e
profissionais do departamento de projetos da CDHU, da empresa gerenciadora do
contrato, da empresa fiscalizadora do contrato, representantes da prefeitura e
técnicos das duas empresas responsáveis pela execução.
No caso da execução das unidades habitacionais, a mesma empresa fez a
adequação e compatibilização dos projetos e a execução da obra, o que contribuiu
muito para a redução de imprevistos e problemas na etapa de execução.

2
Informação fornecida pelo Arqº Tiago Ferrari em entrevista por telefone em 07/11/2011.
90

Logo no início dos serviços, foi realizada uma alteração no projeto de


implantação, o que impactou no projeto das edificações. Com essa mudança, as
unidades assobradadas, que antes eram geminadas apenas em grupos de seis
unidades, passaram a ser agrupadas em grupos de quatro e seis unidades.
Segundo o arquiteto Tiago Ferrari, da empresa Royal do Brasil Technologies,
a principal dificuldade encontrada na etapa de execução do empreendimento foi o
ajuste do ritmo de execução das duas empresas que trabalhavam no canteiro, pois o
ritmo de execução das obras de infraestrutura e arruamentos era menor do que o
ritmo de construção das casas, o que exigiu um remanejamento das equipes de
trabalho das duas empresas (informação verbal)3.

Figura 13 – Fotos da execução das obras em São Luiz do Paraitinga


Fonte: acervo ABCP.

Em parte, esse descompasso entre as equipes se deve às dificuldades


encontradas com o terreno, que é extremamente acidentado, e à falta de estrutura
da cidade naquele momento em que ainda estava se recuperando da tragédia
causada pelas enchentes. Essas dificuldades acabaram atrasando a equipe de
infraestrutura, que ficou defasada em relação à equipe de execução das edificações.
Outra característica muito particular desse empreendimento é que a equipe
que realizou a adaptação e compatibilização do projeto ficou residente em obra
durante toda a fase de execução, ajudando no controle da obra e resolvendo
eventuais divergências no momento em que elas aconteciam (FERRARI, 2011;
informação verbal)4.

3
Informação fornecida pelo Arqº Tiago Ferrari em entrevista por telefone em 07/11/2011.
4
Informação fornecida pelo Arqº Tiago Ferrari em entrevista por telefone em 07/11/2011.
91

As 151 casas foram entregues em setembro de 2010 e todos os moradores


receberam um manual do usuário com as instruções sobre a utilização das casas.
Esse manual foi elaborado pela empresa que elaborou o projeto e executou a obra,
sob orientação dos técnicos da CDHU, e traz informações sobre limpeza,
manutenção e ampliações (FERRARI, 2011).
As unidades habitacionais do Conjunto São Luiz do Paraitinga “C” foram
entregues já de acordo com as novas diretrizes da CDHU, incluindo toda a parte de
acabamento.
A tabela 1, a seguir, apresenta uma descrição das casas entregues baseada
nos 10 órgãos básicos do edifício apresentados por Roméro e Ornstein (2003):

Tabela 1 – Descrição das unidades do Conjunto São Luiz do Paraitinga “C”


Órgão do
Descrição
Edifício
Os lotes foram entregues demarcados, com muros laterais e de fundos.
Apenas uma pequena porção do terreno foi cimentado na faixa de acesso
Terrapleno de pedestres ao interior da unidade e nas faixas de acesso e
estacionamento de veículo na frente do lote. O restante do terreno foi
gramado ou coberto por pedrisco.
Fundação A fundação adotada é do tipo radier, com espessura de 10 cm.
A estrutura é composta de perfis de PVC preenchidos com concreto e
Estrutura
pré-laje.
Cobertura Estrutura de madeira e telhas cerâmicas.
A vedação é realizada pela própria estrutura de perfis de PVC
Vedações
preenchidos com concreto.
Esquadrias Portas e janelas de PVC, com persianas retráteis nos dormitórios.
Paramentos O acabamento das paredes é feito pelos próprios perfis de PVC.
Todo o interior da casa é revestido por piso cerâmico antiderrapante em
Pisos
tom de bege.
Instalação elétrica e hidráulica convencional, com eletrodutos plásticos,
Instalações
tubulação de PVC e fiação de cobre encapada.
92

Figura 14 – Casa entregue em São Luiz do Paraitinga


Fonte: acervo ABCP.

Figura 15 – Interior de uma das casas logo após a entrega


Fonte: acervo ABCP.

Os profissionais envolvidos no projeto e na execução visitaram as casas


antes e depois da entrega aos moradores e, com a ajuda da ONG InterAção, foi
realizada uma avaliação em alguns imóveis, que consistiu em rápidas entrevistas
com os moradores para avaliar o seu grau de satisfação com a moradia (FERRARI,
2011).
Durante as entrevistas, era solicitado aos moradores que classificassem em
ÓTIMO, BOM, REGULAR, RUIM ou PÉSSIMO alguns itens pré-determinados
referentes à qualidade da casa e ao seu conforto ambiental. A síntese dessa
avaliação foi apresentada por Ferrari (2011) e pode ser observada na tabela a
seguir:
93

Tabela 2 – Síntese da avaliação de satisfação realizada pela ONG InterAção

Fonte: FERRARI, 2011.

Durante essas visitas, os técnicos puderam observar outra particularidade


desse empreendimento, a heterogeneidade dos moradores, que apresentam uma
razoável diferença no nível sociocultural, o que não costuma acontecer em
empreendimentos de HIS. Isso se deve ao fato de a execução do empreendimento
ter sido motivada pela tragédia que atingiu praticamente toda a cidade,
desabrigando pessoas de diferentes níveis socioculturais (FERRARI, 2011).
Alguns meses após a entrega do empreendimento, os técnicos já
constatavam a realização de diversas alterações feitas pelos moradores nas casas,
seja para aumento da área de moradia ou para ter mais privacidade (FERRARI,
2011; informação verbal)5.

6.1.2 Sistema Construtivo: Concreto PVC - Royal Building Systems (RBS)

O “Concreto PVC”, como ficou popularmente conhecido o processo


construtivo de paredes de concreto com fôrmas fixas de PVC, foi escolhido para este
empreendimento por proporcionar a rapidez e qualidade necessárias naquele
momento, oferecendo uma cadeia de fornecedores pronta a ajudar na construção
das casas.

5
Informação fornecida pelo Arqº Tiago Ferrari em entrevista por telefone em 07/11/2011.
94

No caso de São Luiz do Paraitinga, especificamente, foi utilizado o sistema


RBS – Royal Building Systems, um dos sistemas de Concreto PVC existentes no
mercado.

6.1.2.1 Materiais

Como o próprio nome já diz, os principais materiais que constituem este


sistema são o concreto e o PVC. Em alguns casos, barras de aço também são
utilizadas, além daquelas que fazem a ancoragem da estrutura à fundação.
O PVC ou policloreto de polivinila (também conhecido como cloreto de vinila
ou policloreto de vinil) é um plástico não 100% originário do petróleo. Segundo a
empresa Royal Technologies (2006b), o material usado no sistema RBS de paredes
é o Royalloy™B, que é uma composição complexa de resina de cloreto polivinílico,
modificadores acrílicos, ceras, lubrificantes, estabilizadores de estanho
(estabilizadores de chumbo não são utilizados), protetor de raios ultravioleta e
supressores de chama. Ainda segundo a empresa, esse material foi desenvolvido
especificamente para produzir um conjunto único de propriedades adequadas para a
resistência às intempéries e desempenho do sistema. As suas propriedades físicas
foram estabelecidas com base nos requisitos especificados pelo Canadian
Construction Materials Centre (CCMC), tendo sido realizados diversos testes para
garantir o seu atendimento.
Chahrour et al. (2005) complementam essas informações afirmando que a
curva de tensão-deformação deste polímero não é linear, a sua resistência à tração
é de 40 MPa e o módulo de elasticidade é 2900 MPa.
O concreto compreende mais de 90% (em massa e volume) das paredes
construídas no sistema RBS e cabe ao engenheiro ou projetista especificar o traço
necessário para cada projeto específico (ROYAL TECHNOLOGIES, 2006b).
De acordo com Corsini (2011), pode ser utilizado qualquer tipo de concreto
para a execução do sistema RBS, entretanto, é necessário que este material atenda
a alguns requisitos para garantir o desempenho do sistema.
Para as paredes de RBS, o concreto recomendado deve ter resistência à
compressão mínima de 20 MPa (3000 psi) aos 28 dias ou 25 MPa (3500 psi) no
caso de utilização de concreto com ar incorporado, recomendado em casos de
congelamento e descongelamento. Além disso, deve-se garantir que este concreto
95

tenha um Slump entre 100 e 125 mm, que a relação água/ cimento não ultrapasse
0,55 em massa e que o agregado tenha um diâmetro máximo de 10 mm para
permitir o escoamento adequado do concreto em todas as células (ROYAL
TECHNOLOGIES, 2006b; CHAHROUR et al., 2005).
Segundo a Royal Technologies (2006), o concreto não segrega nas paredes
de RBS devido às teias internas dos componentes de PVC, que evitam a queda livre
dos agregados mais pesados. Assim, não haverá segregação do concreto se este
for lançado corretamente. Segundo recomendações da empresa, o concreto
normalmente não precisa ser vibrado, contudo, um martelo de borracha pode ser
usado para bater nos lados das paredes para assegurar que os componentes
estejam completamente preenchidos com concreto.
As barras de aço para reforço, quando utilizadas, devem ter uma tensão de
escoamento mínima de 400 MPa (60 psi). Essas barras devem ser fixadas com
arames para garantir que mantenham o posicionamento correto durante a
concretagem. Estes arames devem ser colocados no máximo a cada 3,0 m, sendo
no mínimo dois arames por barra (ROYAL TECHNOLOGIES, 2006b).

6.1.2.2 O Sistema

O sistema RBS – Royal Building Systems foi desenvolvido no Canadá pela


empresa Royal Tecnologies. Em 1998 foi construída a primeira obra com este
sistema e ele está presente no Brasil desde 2002, conta Ferrari (2011).
Ainda de acordo com Ferrari (2011), o sistema é formado por perfis leves de
PVC que se encaixam de maneira simples e rápida, formando paredes monolíticas
preenchidas com concreto e aço. Neste modelo, os painéis de PVC atuam como
fôrma, confinando o concreto que constitui a edificação e servindo de acabamento
interno e externo às paredes da moradia, sem necessidade de revestimentos como
pintura, cerâmica etc.
Embora o próprio PVC sirva como acabamento, Corsini (2011) lembra que
este material aceita qualquer tipo de pintura ou texturização e pode, ainda, receber
revestimentos cerâmicos e diversos tipos de acabamento para fachada.
Os perfis coextrudados de PVC são ocos, compostos de duas faces lisas e as
laterais destes elementos têm núcleos vazados ovais que permitem o fluxo do
96

concreto entre as células e proporcionam a transferência de cisalhamento nas


secções compostas, esclarecem Chahrour et al. (2005).

Figura 16 – Sistema Construtivo RBS


Fonte: FERRARI, 2011.

No Brasil, esses perfis são encontrados em três espessuras: 64 mm, 100 mm


e 150 mm, com as peles internas e externas das fôrmas de PVC com espessura
mínima de 1,8 mm (FERRARI, 2011), mas existem também os perfis de 200 mm e
250 mm, utilizados em regiões muito frias ou para a construção de bunkers
(informação pessoal)6. De acordo com Corsini (2011), a altura das peças é definida
na fabricação, de acordo com o pé-direito indicado no projeto. Assim, os perfis são
personalizados para cada obra e o kit da casa vai completo e etiquetado para a
montagem no canteiro.
Chahrour et al. (2005) explicam, ainda, que as paredes são formadas por dois
principais elementos estruturais, os painéis (panel) e os conectores (box connector).
Os painéis são componentes de uma, duas ou três células, com encaixe tipo
“fêmea”, e os conectores são componentes de uma célula, com encaixe tipo
“macho”. A figura 17, a seguir, ilustra esses elementos:

6
Informação fornecida pelo Arqº Tiago Ferrari via e-mail em 10/04/2013.
97

Figura 17 – Detalhamento dos painéis e conectores do sistema RBS


Fonte: CHAHROUR et al., 2005.

Além destes elementos, existem, ainda, outros componentes, como os


arranques (starters), conectores joiner, canais elétricos e marcos (ROYAL
TECHNOLOGIES, 2006a). A figura 18, a seguir, apresenta todos os componentes
para os perfis com modulação de 100 mm, utilizados no empreendimento em
questão:

Figura 18 – Componentes do sistema RBS 100


Fonte: FERRARI, 2011.
98

O sistema de montagem dos painéis é com duplo encaixe e apresenta


característica autoportante no momento da montagem, ou seja, pode ser montado
sem necessidade de estruturas adicionais de cimbramento (FERRARI, 2011).
Depois de montadas todas as peças, é realizada a concretagem dos perfis de
PVC, o que, de acordo com Chahrour et al. (2005), cria uma parede monolítica de
concreto com capacidade de cura melhorada devido ao aprisionamento de água do
concreto, o que evita a secagem prematura do concreto. Estes autores afirmam,
ainda, que o sistema resultante proporciona vantagens substanciais em termos de
resistência estrutural e ao impacto, melhoria de durabilidade, flexibilidade de design,
facilidade de construção, resistência à radiação ultravioleta e à infestação de pragas.
Ainda segundo Chahrour et al. (2005), uma das características únicas do RBS
é a contribuição da fôrma permanente de polímero para o reforço da capacidade
estrutural. Os autores afirmam que esta característica é validada pelo fato de que a
espessura de uma parede de RBS é geralmente menor do que a espessura utilizada
para uma parede convencional e, além disso, devido à sua ductibilidade e
significativa resistência à tração, o polímero controla a fissuração do concreto e
proporciona um reforço no caso de rompimento deste.
Outra vantagem do sistema, de acordo com Ferrari (2011), é a redução de
etapas de construção, conforme ilustra a figura 19, a seguir:

Figura 19 – Comparação de etapas entre os sistemas convencional e RBS


Fonte: FERRARI, 2011.
99

Os painéis, com ausência de chumbo na composição, apresentam proteção


contra a ação de raios ultravioleta, evitando a alteração da cor e resistência
mecânica. Esse material recebe uma garantia de 20 anos, respeitadas as condições
de manutenção especificadas pelo fabricante.
Ferrari (2011) atribui o alto desempenho do sistema às características do PVC
(estanqueidade, fácil limpeza, elevada durabilidade e resistência mecânica e
química) e à eficiência comprovada do concreto e suas constantes melhorias
técnicas.
Corsini (2011) destaca, ainda, que o PVC é resistente às intempéries e à
maresia, oferece fácil limpeza e manutenção e promove adequado isolamento
térmico e acústico por conta do tipo de preenchimento dos painéis e espessura das
paredes.
Entre as vantagens do sistema, Ferrari (2011) destaca a alta produtividade
com equipes reduzidas, que pode gerar um ganho de produtividade de até 40% no
tempo total da obra. O autor também destaca a economia de até 73% no consumo
de água e de até 75% no consumo de energia na obra. Somam-se a esses
benefícios, segundo o autor, a limpeza e organização da obra, redução significativa
do entulho e do desperdício, um melhor controle dos materiais e custos.
Cabe lembrar, porém, que se trata de um sistema inovador, ainda pouco
utilizado no país, motivo pelo qual se considera interessante e importante o seu
estudo, sobretudo através da avaliação pós-ocupação.

6.1.2.3 Procedimentos de execução

Ferrari (2011) enfatiza que, para que a construção das casas ocorra como em
uma linha de produção, deve-se trabalhar com a utilização de kits sistêmicos. Assim,
antes do início da montagem, os perfis de PVC são entregues na obra em kits já
cortados na medida das paredes e etiquetados com a paginação da montagem
descrita em planta. Em alguns casos podem ser entregues paredes pré-montadas.
Como os perfis são leves, é fácil manuseá-los e estocá-los na obra.
Corsini (2011) alerta, ainda, para a necessidade de fiscalização do sistema,
que, por ser industrializado, necessita de controle dos três itens principais: os painéis
de PVC, o concreto e o sistema de cobertura.
100

Figura 20 – Perfis separados na obra para utilização no dia


Fonte: Acervo ABCP.

Segundo Ferrari (2011), a montagem das casas em São Luiz do Paraitinga


seguiu as 10 etapas resumidamente descritas a seguir:

Etapa 1: Execução do radier


Execução de fundação tipo radier, deixando todas as esperas e tubulações
de água, esgoto, elétrica etc.

Figura 21 – Execução do radier


Fonte: Acervo ABCP.

Etapa 2: Fixação de ancoragens


Sobre o radier, marcam-se os eixos das paredes que servirão de referência
para a fixação de barras de aço para ancoragem das paredes. Podem ser
utilizados sarrafos de madeira para marcar o local de fixação dos perfis de
PVC.
101

Figura 22 – Marcação dos eixos de referência no radier


Fonte: Acervo ABCP.

Etapa 3: Montagem das paredes


Inicia-se, então, a montagem dos painéis de PVC, seguindo as guias de
piso fixadas ao radier.

Figura 23 – Montagem dos painéis de PVC


Fonte: Acervo ABCP.

Etapa 4: Instalações
Todas as tubulações hidráulicas e elétricas são embutidas nos painéis
antes da concretagem, processo que pode ser realizado com as paredes
deitadas sobre cavaletes ou com elas já montadas no local (CORSINI,
2011). Pontos elétricos também são embutidos nas lajes no momento de
sua montagem.
102

Figura 24 – Serviço de embutimento das instalações nos painéis


Fonte: Acervo ABCP.

Etapa 5: Escoramento e alinhamento


Após a montagem completa do kit de PVC, faz-se o escoramento interno e
externo das paredes com auxílio de sarrafos e escoras de madeira, o que
serve para definir o prumo e alinhamento dos painéis plásticos e mantê-los
posicionados durante a concretagem (CORSINI, 2011).

Figura 25 – Vista dos painéis de PVC escorados


Fonte: Acervo ABCP.

Etapa 6: Concretagem
Após a colocação do escoramento, as paredes são concretadas com
cautela e lentidão para que o material flua entre as fôrmas, evitando
estufamento, principalmente no acabamento das portas e janelas. Segundo
Corsini (2011), as fôrmas devem ser concretadas em camadas de 50 cm a
70 cm, conforme ilustra a figura 26, a seguir:
103

Figura 26 – Etapas de concretagem do Sistema RBS


Fonte: CORSINI, 2011.
104

Figura 27 – Concretagem dos painéis de PVC ainda escorados


Fonte: Acervo ABCP.

Etapa 7: Montagem da laje


Podem ser utilizadas lajes moldadas in loco ou pré-moldadas, que devem
ser apoiadas sobre as paredes já concretadas.

Figura 28 – Concretagem da laje pré-moldada


Fonte: Acervo ABCP.

Etapa 8: Estrutura da cobertura e piso


A estrutura da cobertura pode ser metálica ou em madeira, apoiada sobre a
laje ou sobre as paredes, sendo que no caso de São Luiz do Paraitinga foi
utilizada estrutura de madeira. Paralelamente, outra equipe executa os
pisos no interior da casa.
105

Figura 29 – Montagem da estrutura da cobertura Figura 30 – Piso cerâmico recém-aplicado


Fonte: Acervo ABCP.
Fonte: Acervo ABCP.

Etapa 9: Telhamento e kit solar


Uma vez terminada a estrutura, são instaladas as telhas, todo o
acabamento do telhado e o sistema de aquecimento solar.

Figura 31 – Execução do telhamento


Fonte: Acervo ABCP.

Etapa 10: Esquadrias e acabamentos


Por fim, são instaladas as esquadrias, louças, metais, fiação e arremates.
106

Figura 32 – Instalação das esquadrias


Fonte: Acervo ABCP.

Ainda de acordo com Ferrari (2011), a execução de cada uma das casas
térreas em São Luiz do Paraitinga, com 65 m² de área útil, foi executada em 11 dias.

6.1.2.1 Aplicação em moradia popular

De acordo com Ferrari (2011), o sistema RBS pode ser utilizado para
construção de residências e prédios de até 5 pavimentos em diversos padrões,
podendo ser utilizado na construção de casas e edifícios residenciais, industriais,
comerciais, escolas, hospitais etc. Corsini (2011) afirma, ainda, que a quantidade de
pavimentos pode variar bastante, mesmo em casas populares, pois o que determina
a quantidade de pavimentos é a resistência do concreto.
No Brasil, essa tecnologia está sendo aplicada principalmente na construção
de moradias populares, sendo utilizada já há alguns anos no Rio Grande do Sul.
Desde 2010, tem sido adotada pela CDHU, sendo o caso de São Luiz do Paraitinga,
até agora, o caso de maior aplicação em larga escala da tecnologia de concreto em
PVC no país (CORSINI, 2011).
A espessura dos painéis é um dos principais fatores que influencia o custo do
projeto. Segundo o arquiteto Tiago Ferrari, da Royal Technologies do Brasil, as
principais tipologias de projeto executadas no país são de casas de interesse social,
onde são utilizados perfis de 64 mm de espessura, que é o indicado para projetos de
moradias de até 50 m². Com essa espessura, há um ganho também em área útil,
sendo que em uma casa de 37 m², se ganha quase 2 m² de área útil (CORSINI,
2011). Além disso, Corsini (2011) salienta que, como o sistema quase não produz
resíduos no canteiro, não requer muitos equipamentos ou ferramentas, dispensa
107

custos com revestimentos das paredes e permite calcular com precisão o gasto com
concreto, o custo de construção das casas pode ser reduzido.
Além do custo competitivo, uma característica do sistema que favorece seu
uso na construção de casas populares é a velocidade de montagem, já que se trata
de um sistema construtivo industrializado. Segundo Ferrari, é possível se obter uma
produtividade de 42 min/m² para ter a parede pronta, já com concreto (CORSINI,
2011).

6.2 O Estudo de Caso

Embora já tenha sido realizada uma avaliação de satisfação neste


empreendimento, os dados apresentados por Ferrari (2011) levam em consideração
apenas a percepção dos usuários, sem nenhum tipo de avaliação técnica. Assim, em
virtude das características especiais deste empreendimento, com especial atenção à
utilização de um sistema construtivo inovador, considerou-se interessante e viável a
realização de uma APO mais detalhada.
Para a realização desta pesquisa, foram realizadas duas visitas ao
empreendimento São Luiz do Paraitinga “C” com o intuito de entrevistar os
moradores e colher informações sobre as casas e modificações realizadas após a
entrega destas pela CDHU, sendo que cada uma dessas visitas contou com a
participação de duas pessoas.
Durante as visitas, foi selecionada uma amostra de 12 casas, escolhidas de
acordo com os critérios já apresentados. Foram selecionadas casas nas três ruas do
empreendimento, em diferentes posições com relação ao Sol, à proximidade com os
taludes e em níveis de altitude diferentes. As 12 unidades habitacionais visitadas
foram nomeadas com a sigla SLP, que identifica o empreendimento, e os números
de 01 a 12. Assim, cada uma delas recebeu um nome de SLP01 a SLP12, seguindo
a ordem de realização das visitas.
As visitas foram realizadas em dois dias distintos, sendo que nas duas
ocasiões a temperatura estava elevada, com cerca de 33º e 31º, respectivamente. É
importante relatar, também, que não choveu nas datas das visitas e nem no dia
anterior à realização destas.
108

6.2.1 Apresentação e Análise dos Resultados das Entrevistas

As entrevistas com os moradores foram realizadas de acordo com o


formulário apresentado no Apêndice B.
Através delas foi possível verificar que o número de moradores varia entre 3 e
7 por residência, gerando uma média de 5,5 moradores por unidade nas casas
visitadas, sendo que todas elas ainda estão financiadas.
Além disso, verificou-se que todas as famílias entrevistadas moram no imóvel
desde a entrega, ou seja, todas são as primeiras donas dos imóveis.
Foi possível, também, observar que todas as residências contam com os bens
de consumo básicos, como fogão, geladeira, televisão e chuveiro elétrico. É
importante lembrar, no entanto, que todas as casas possuem sistema de aquecedor
solar de água, o que reduz ou dispensa a utilização de aquecimento por energia
elétrica. O gráfico abaixo apresenta a porcentagem de famílias que possui cada bem
de consumo:

Gráfico 1 – Estudo de Caso 1: Bens de consumo das famílias


109

No geral, a avaliação da casa entregue foi muito boa, sendo que 92% dos
entrevistados consideram que a casa foi entregue completa e 75% consideram que
a casa entregue atende a todas as necessidades da família. Dentre os que
consideram que a casa não foi entregue completa, contou muito o fato de a casa ter
sido entregue sem muro e portão. Já aqueles que afirmam que a casa não atende às
necessidades da família reclamam do tamanho da cozinha, que eles consideram
muito pequena e inadequada.
Os demais moradores afirmam gostar da casa por ter um bom tamanho, não
precisar de pintura, ser fácil de limpar e ter uma boa aparência interna e externa. A
grande maioria acredita que está morando muito melhor do que morava antes e
alguns demonstraram até certo constrangimento em apontar falhas nas casas.

A casa foi entregue A casa atende às


completa? necessidades da família?
8%
25%
Sim Sim
92% Não 75%
Não

Gráfico 2 – Estudo de Caso 1: Avaliação da Gráfico 3 – Estudo de Caso 1: Atendimento


casa recebida às necessidades

Com relação à ocorrência de problemas construtivos e patologias, 83% dos


moradores dizem ter tido algum tipo de problema com a casa, problemas estes que
vão desde coisas simples, como a falta de vedação dos vasos sanitários, até a
ocorrência de infiltração nas paredes e lajes.
Do total de casas visitadas, 58% apresentam problemas com umidade e
infiltração, no entanto, nenhum morador relatou a presença de mofo nas lajes e
paredes.
110

Problemas com umidade e


infiltração

42% Sim
58% Não

Gráfico 4 – Estudo de Caso 1: Problemas com umidade e infiltração

Dentre os moradores que relataram problemas com umidade e infiltração,


todos afirmam que o problema está nas lajes ou no topo das paredes.
Já com relação à iluminação e ventilação, as avaliações dos moradores foram
muito boas, chegando a 75% de avaliações ótimas nos dois quesitos, como mostram
os gráficos 5 e 6 a seguir:

Avaliação da iluminação Avaliação da ventilação


0%0% 0%
25% Ótima 8% Ótima
17%
Boa Boa
75% Regular 75% Regular
Ruim Ruim

Gráfico 5 – Estudo de Caso 1: Avaliação da Gráfico 6 – Estudo de Caso 1: Avaliação da


iluminação ventilação

Ainda assim, mesmo a avaliação da casa recebida tendo sido muito boa,
observou-se que a grande maioria das famílias fez algum tipo de modificação, sendo
que a maioria diz respeito a mudanças no lote e não na casa em si.
111

A casa sofreu modificações?

17%
Sim
83%
Não

Gráfico 7 – Estudo de Caso 1: Porcentagem de casas modificadas

Dentre os moradores que realizaram modificações na residência, 80%


afirmaram que seguiram um projeto fornecido pela CDHU e o restante declara não
ter utilizado projeto, como indica o gráfico 8:

Foi utilizado projeto?

0% 0% Sim, projeto próprio ou feito por


parente/ amigo COM formação técnica
0% 20% Sim, projeto próprio ou feito por
parente/ amigo SEM formação técnica
80% Sim, projeto fornecido pela prefeitura/
CDHU
Sim, projeto contratado

Não

Gráfico 8 – Estudo de Caso 1: Uso de projeto para realizar modificações

Há de se explicar, no entanto, que não foi fornecido um projeto para


realização das modificações, mas sim regras e orientações. A principal regra citada
pelos moradores diz respeito aos muros, que não devem ultrapassar os 2 metros de
altura, e os portões, que não podem ser totalmente fechados, ou seja, devem ter
elementos vazados. Outra orientação citada pelos moradores foi quanto à área que
pode ser ocupada nos fundos do lote, que, segundo eles, compreende toda a área
da casa até o muro de fundo.
Observou-se, também, que em 60% dos casos as modificações foram
realizadas por pedreiros contratados e que as modificações vêm acontecendo
espaçadamente ao longo do tempo, como mostram os gráficos 9 e 10 a seguir:
112

Quem executou a
modificação?
Contratou um
40% pedreiro
60%
Fez a reforma
sozinho ou com
ajuda de amigos
e parentes

Gráfico 9 – Estudo de Caso 1: Agente realizador das modificações

Data da última modificação


0%
20% 10% Em execução

Há menos de 2 meses
40%
30% De 2 a 6 meses atrás

De 6 a 12 meses atrás

Há mais de 1 ano

Gráfico 10 – Estudo de Caso 1: Data da última modificação

Metade dessas famílias fez modificações em pelo menos um dos dormitórios,


no banheiro, na área de serviço e na garagem e menos da metade modificou a sala
e a cozinha, como indica o gráfico 11, a seguir:

Local de realização da modificação

100% 100%

80%

60% 50% 50%


50% 50%
40% 30%
20%
20%

0%
0%
Sala

Cozinha

Dormitório

Banheiro

Quintal

Área de serviço

Garagem

Outros

Gráfico 11 – Estudo de Caso 1: Local de realização das modificações


113

Item modificado

100% 100%
80%
60%
60%
50%
40%
40% 40%
20% 10%
0% 0% 0% 0%
0% 0% 0% 0%
0%

Estrutura
Cobertura
Acabamento
Instalações Hidráulicas
0%

Forro
Reboco interno
Instalações Elétricas
Piso (colocação ou troca)
Reboco externo
Azulejo (colocação ou troca)
Pintura
Construção de cômodo novo
Muro e/ ou portão
Portas e janelas
Outros
Gráfico 12 – Estudo de Caso 1: Itens modificados

Dentre os moradores que afirmaram já ter realizado alguma modificação na


residência, todos eles garantiram que não enfrentaram dificuldades de ordem técnica
para a sua execução.
Quando perguntados se têm a intenção de realizar alguma modificação na
casa futuramente, 75% dos entrevistados afirmaram que SIM, sendo que os 25%
que responderam NÃO já realizaram modificações. É interessante observar,
também, que 58% dessas famílias já realizaram alguma modificação no imóvel, mas
ainda tem a intenção de modificá-lo ainda mais. Assim, percebe-se que 100% dos
entrevistados já realizaram ou pretendem realizar modificações nas casas recebidas
da CDHU, como mostra o gráfico 13.
114

Intenção de realizar modificações


Já reformou e quer
0% reformar mais
25% Não reformou, mas quer
reformar
17% 58%
Já reformou e não quer
reformar mais
Não reformou e não
quer reformar

Gráfico 13 – Estudo de Caso 1: Intenção de modificar o imóvel

Dos moradores que pretendem realizar modificações, 22% consideram que a


reforma é urgente.

A modificação é urgente?

22%
Sim
78%
Não

Gráfico 14 – Estudo de Caso 1: Urgência das modificações

A principal intenção dos moradores é a construção de um cômodo novo,


sendo citada por 50% dos entrevistados, que relataram o desejo de construir um
dormitório ou uma área de serviço nos fundos do lote. Alguns entrevistados
relataram também o desejo de trocar o piso da casa futuramente e fazer uma
cobertura para a garagem ou para estender roupas. Duas famílias relataram a
intenção de modificar os muros e portões. A primeira dessas famílias ainda não
construiu nenhum tipo de muro ou portão e tem a preocupação com a segurança
como principal motivador para a execução destes. A outra família já construiu o muro
da frente e pretende finalizar o portão, além de aumentar os muros laterais para dar
mais privacidade à família, uma vez que as janelas são alinhadas com as janelas da
casa vizinha.
115

Os gráficos 15 e 16 mostram as intenções dos moradores quanto às novas


modificações a serem realizadas, destacando os ambientes a serem modificados e o
tipo de serviço a ser executado, respectivamente.

Local onde pretende fazer


modificações
50%
50%
42%
40%
33%
30% 25% 25%
20% 17%

10%
8%
0%
0% 0%
Sala

Cozinha

Quarto

Banheiro

Cômodo…
Quintal

Lavanderia

Garagem

Outros
Gráfico 15 – Estudo de Caso 1: Local que pretende modificar

O que pretende modificar?


60%
50%
40%

25%
20% 17%

0% 17%
0%0%0%
0% 0%0%
0% 0% 0%
Estrutura
Cobertura

0% 0%
Acabamento
Instalações Hidráulicas
Forro
Reboco interno
Instalações Elétricas
Piso (colocação ou troca)
Reboco externo
Azulejo (colocação ou troca)
Pintura
Construção de cômodo novo
Portão e muro
Portas e janelas
Outros

Gráfico 16 – Estudo de Caso 1: Serviço que pretende realizar


116

Quando perguntados sobre os benefícios das modificações para a família,


realizadas ou intencionadas, a maioria dos entrevistados citou a ampliação da casa,
seguida pelo conforto e segurança, além dos outros itens indicados no gráfico a
seguir:

Qual o benefício das modificações


para a família?
100% 83%
80%
60%
40%
25% 33% 33%
20% 8%
0%
0%

Gráfico 17 – Estudo de Caso 1: Benefício das modificações

6.2.1 Apresentação e Análise dos Resultados da Avaliação Técnica

Além das entrevistas, foi realizada uma avaliação técnica dos imóveis através
de visita aos cômodos das casas, em companhia de um ou mais moradores.
Das famílias que realizaram modificações nas residências, todas construíram
muro e portão e algumas delas ainda fizeram alguma outra alteração no quintal.
117

Figura 33 – Exemplos de muros e portões executados pelos moradores


Fonte: a autora.

Com relação à avaliação do terrapleno, foram verificadas boas condições em


quase todas as unidades, com exceção da SLP02, que apresenta trincas no muro de
divisa, possivelmente devidas à acomodação do aterro.

Figura 34 – Trincas no muro de divisa da SLP02


Fonte: a autora.
118

Duas moradoras relataram, também, o empoçamento de água no quintal, em


trechos que são revestidos por pedrisco nos corredores laterais. Uma moradora
relatou que, quando chove, a água chega quase à altura da porta da área de
serviço, mas nunca aconteceu de a água invadir o interior da casa.

Figura 35 – Trecho do terreno da SLP10 que apresenta empoçamento de água


Fonte: a autora.

Com relação às modificações no quintal, notou-se que a maioria dos


moradores optou por executar um piso cimentado em algumas partes, deixando
alguns trechos gramados ou ajardinados, inclusive com pequenas hortas.

Figura 36 – Horta na SLP01 e gramado na SLP02


Fonte: a autora.
119

Figura 37 – Trechos cimentados no quintal da SLP02 e da SLP08


Fonte: a autora.

Duas famílias colocaram outros tipos de piso na área externa, mas apenas
em partes do lote. Na casa SLP08 foi aplicado piso de rochas ornamentais em um
trecho da frente do lote e na SLP12 foi utilizado piso cerâmico nos corredores e
fundos, conforme ilustra a figura 38.

Figura 38 – Pisos aplicados nos quintais das casas SLP08 e SLP12


Fonte: a autora.

As fundações tipo radier encontram-se parcial ou totalmente inacessíveis,


entretanto, não há sinais de patologias relacionadas a essas estruturas. Nos
cômodos novos, segundo relatos dos moradores, foram executadas fundações tipo
estacas moldadas in loco. Esses elementos também se encontram inacessíveis e
não foi possível confirmar essa informação, mas não foram verificados problemas
ligados a essas estruturas.
A estrutura e a vedação das unidades são compostas de paredes de perfis de
PVC preenchidos com concreto e laje pré-fabricada, como já foi apresentado no item
120

6.1.2, e apresentam boas condições. No entanto, quatro moradores relataram a


presença de umidade nesses elementos, sendo que alguns deles, todos da rua três,
relataram que no inverno a umidade é tanta que a água chega a escorrer pelas
paredes dos quartos. Em 7 das 12 casas visitadas os moradores relataram a
presença de umidade no teto do banheiro, independentemente da localização
dessas casas. A moradora da casa SLP06 relatou que passou um produto químico
no teto e paredes dos dormitórios e banheiro para reduzir o cheiro de umidade e não
criar mofo nessas regiões, entretanto, a moradora não soube informar que tipo de
produto era esse.

Figura 39 – Sinais de umidade no teto do banheiro da casa SLP02


Fonte: a autora.

Figura 40 – Sinais de infiltração no teto e paredes do dormitório 1 da SLP06


Fonte: a autora.

Verificou-se, também, que 4 famílias executaram cômodos novos dentro do


lote, o que corresponde a 40% das casas que sofreram alguma modificação.
121

Para a construção desses cômodos não pôde ser utilizado o mesmo sistema
construtivo e os moradores optaram pela execução de alvenarias com blocos de
concreto, com tijolos cerâmicos e tijolinhos maciços de barro, sendo que em alguns
casos esses tipos de materiais foram misturados em uma mesma parede. Em todos
os casos de construção de novos cômodos, esses ambientes não contam com laje
de cobertura e não há ligação direta com a estrutura da casa original, de forma que
esta não foi comprometida. Além disso, todos os cômodos possuem entradas
independentes, de forma que não foi necessário realizar aberturas nas paredes de
Concreto PVC para a instalação de portas. No geral, não foram observadas
patologias nessas novas estruturas e vedações.
Em dois desses casos, o cômodo novo foi destinado a receber um novo
dormitório nos fundos do lote, sendo que em um deles foi executado também um
banheiro, como mostra a figura 41.

Figura 41 – Cômodo e banheiro novos executados na SLP04.


Fonte: a autora.

No terceiro caso, foi construída uma cozinha na frente do lote, o que provocou
uma redução significativa da iluminação e deixou a cozinha nova muito escura e
pouco ventilada (figura 42).
122

Figura 42 – Cozinha nova construída na frente do lote da SLP07


Fonte: a autora.

Já no quarto caso, foi construída uma segunda casa nos fundos do lote,
composta por uma cozinha, um quarto e um banheiro onde habita uma segunda
família com parentesco de 1º grau com os moradores que receberam a casa original.

Figura 43 – Detalhe da nova residência executada no lote da casa SLP11


Fonte: a autora.

Embora nenhum morador tenha admitido, mostrou-se muito provável a


hipótese de esses dormitórios novos terem sido construídos para, além de aumentar
a casa e o conforto da família, fornecer uma renda extra no Carnaval. Durante essa
época, a cidade recebe muitos turistas e a rede hoteleira não suporta a demanda,
tornando comum a prática de alugar as próprias casas ou cômodos delas para os
turistas, o que gera uma renda extra à família em um período muito curto de tempo.
Essa hipótese se apoia, principalmente, no fato de na última visita ao
123

empreendimento, realizada no início de janeiro de 2013, terem sido observadas


placas de aluguel para o Carnaval em algumas das casas.
A execução de nova área de serviço também foi uma modificação bastante
realizada neste conjunto habitacional, uma vez que muitas famílias optaram por
utilizar o espaço originalmente destinado à área de serviço para ampliar o espaço
destinado às atividades da cozinha, como os moradores da casa SLP12, mostrada
na figura 45. Neste caso, muitas famílias optaram por instalar uma porta sanfonada
branca para fechar o espaço da área de serviço, que era aberto para o corredor
lateral, no entanto, o tamanho padrão dessas portas não permite vedar toda a altura
do vão. Assim, algumas famílias optaram por deixar um vão aberto na parte superior
dessa porta e apenas uma das famílias executou a vedação desse vão com perfis
de forro de PVC (figura 46).

Figura 44 – Extensão da cozinha na SLP01


Fonte: a autora.

Figura 45 – Nova área de serviço e extensão da cozinha na SLP12


Fonte: a autora.
124

Figura 46 – Fechamento da área de serviço nas casas SLP01, SLP10 e SLP12


Fonte: a autora.

A escolha dessas portas deve-se ao desejo dos moradores de manter o


mesmo padrão estético da casa original, que já conta com janelas e portas de PVC.
A avaliação técnica realizada nessas unidades habitacionais revelou a
ocorrência de alguns problemas nessas esquadrias. Em algumas casas as persianas
dos dormitórios tiveram seu sistema de abertura e fechamento danificado,
provavelmente por mau uso por parte dos moradores, que não estavam
acostumados a ele. Apenas em uma casa foi observada a quebra das molduras das
janelas, que a moradora atribuiu ao fato de as cortinas serem penduradas
diretamente nessas molduras, uma vez que ela e o marido não conseguiram instalar
os varões para sustentação dessas cortinas.

Figura 47 – Sistema de persiana e moldura de PVC danificados na SLP02


Fonte: a autora.

Com relação às coberturas, originalmente executadas com estrutura de


madeira e telhas cerâmicas, não foram observadas anomalias. O gráfico 9 indica
125

que 60% dessas famílias realizaram modificações na cobertura, entretanto, é


necessário esclarecer que nenhuma residência teve a sua cobertura original alterada
ou reformada, sendo que todas as modificações indicadas como cobertura referem-
se à execução de novas coberturas, seja na garagem ou no fundo do lote para
execução de nova área de serviço. Esses novos trechos de cobertura foram
executados também com estruturas de madeira e observou-se a utilização de telhas
cerâmicas, telhas de fibrocimento e telhas translúcidas de acrílico.

Figura 48 – Vista da cobertura da garagem da SLP01


Fonte: a autora.

Figura 49 – Cobertura no corredor lateral da SLP04


Fonte: a autora

Com relação ao paramento, ou revestimento, das paredes, os próprios perfis


de PVC cumprem esse papel e não foram observadas patologias além da umidade
já relatada. Já nos cômodos novos, foram executados reboco e pintura. A nova casa
construída no lote da SLP10 não tem qualquer tipo de revestimento externo, como é
possível verificar na figura 43. Na casa SLP01, os moradores colaram adesivos em
126

todas as paredes alegando que as paredes todas brancas lembram o interior de um


hospital (figura 50).
Todas as casas foram entregues com piso cerâmico, entretanto, duas famílias
trocaram todo o piso da casa por considerá-lo muito difícil de limpar ou por ter um
tom muito claro e sem desenhos. Todos os pisos cerâmicos avaliados apresentam
boas condições, sejam os originais ou os novos.

Figura 50 – Adesivos nas paredes e novo piso cerâmico na SLP01


Fonte: a autora.

De modo geral, as instalações elétricas, hidráulicas e de aquecimento solar


apresentam boas condições. Apenas na casa SLP03 os moradores relataram que a
fiação da campainha apresentou problemas e que houve um vazamento no boiler do
sistema de aquecimento, este último já solucionado.

Figura 51 – Fiação da campainha danificada na SLP03


Fonte: a autora.
127

Durante as visitas técnicas, foi possível observar que algumas das


modificações, em especial a execução de cobertura na garagem e nos corredores,
reduziram um pouco a iluminação na sala e dormitórios, mas essa redução não foi
significativa. Assim, a grande maioria das casas teve a iluminação e a ventilação
classificadas como adequadas, sendo que apenas uma residência teve esses
parâmetros classificados como inadequados devido à construção de um cômodo
novo.

Iluminação Ventilação

8% 8%

Adequada Adequada
92%
92% Inadequada Inadequada

Gráfico 18 – Estudo de Caso 1: Avaliação Gráfico 19 – Estudo de Caso 1: Avaliação


técnica da iluminação técnica da ventilação

Na maioria das casas, as modificações foram classificadas como boas, sendo


que em uma casa estas foram muito boas e em duas foram razoáveis, conforme
mostra o gráfico a seguir:

Resultado das Modificações


0%
0%
Muito bom
20% 10% Bom
Razoável
70% Ruim
Péssimo

Gráfico 20 – Estudo de Caso 1: Avaliação das modificações realizadas


128

O caso mais crítico de modificação realizada foi o da SLP07, conforme ilustra


a figura 42, pois a execução de uma nova cozinha na frente do lote promoveu um
espaço escuro e com ventilação limitada, além de ser esteticamente desagradável.
Embora não sejam objeto deste estudo, verificou-se, durante as visitas ao
empreendimento, que as unidades assobradadas também sofreram modificações e
ampliações. Em conversas informais com os moradores, estes relataram muitos
problemas nessas unidades, tais como o tamanho reduzido, a falta de privacidade e
o barulho pelo fato de serem geminadas, a distância dos estacionamentos e a
dificuldade de acesso e locomoção de alguns moradores em função da escada no
interior das unidades. Foram relatados, também, problemas de acomodação do
aterro que geraram trincas no piso de algumas unidades. Os moradores reclamaram
também da distribuição das unidades, pois, segundo eles, há famílias menores nas
casas maiores e vice versa.

Figura 52 – Vistas gerais das unidades assobradadas


Fonte: a autora.

Figura 53 – Detalhe de ampliações realizadas nas unidades assobradadas


Fonte: a autora.
129

7. O CASO DE CUNHA

O empreendimento escolhido para a realização do segundo estudo de caso


foi o conjunto habitacional Cunha “B”, localizado no Bairro Motor, no município de
Cunha. Esse empreendimento é composto por 21 casas geminadas construídas
através do sistema de mutirão com o sistema construtivo de paredes de concreto
celular moldadas in loco com fôrmas removíveis.

7.1 O Empreendimento

7.1.1 Cenário

O município de Cunha está localizado em um ponto privilegiado do Vale do


Paraíba, entre as serras do Mar, da Bocaina e Quebra-Cangalha, a uma distância de
aproximadamente 235 quilômetros da cidade de São Paulo. Faz divisa com os
municípios de Guaratinguetá, Lorena, Silveiras, São José do Barreiro, Areias,
Ubatuba, São Luiz do Paraitinga e Lagoinha, no Estado de São Paulo, e Paraty no
Estado do Rio de Janeiro. Apresenta uma extensão territorial de aproximadamente
1.407 km² de colinas e montanhas e uma população de 21.804 habitantes em 2012
(FUNDAÇÃO SEADE, 2012; EMPLASAGEO, 2012).
O clima é seco e temperado e a topografia acidentada e montanhosa. Possui
hidrografia abundante, formada pelos rios Paraitinga, Paraibuna e Jacuí e por
diversos ribeirões, tais como: Peixe, Cedro, Jacuizinho, Jacuí-Mirim, entre outros. A
altitude é muito diferente em toda a extensão do município, variando entre 760
metros junto à divisa com o município de Lagoinha e 1840 metros na Pedra da
Macela, no alto da Serra do Mar. Cunha se orgulha de ser o município que conserva
a maior reserva de Mata Atlântica do país e está dentro de áreas verdes protegidas
expressivas, o Parque Estadual da Serra do Mar e Parque Nacional da Serra da
Bocaina (EMPLASAGEO, 2012; TONUSSI, 2012).
130

Figura 54 – a) Portal da cidade de Cunha; b) Vista geral da cidade de Cunha.


Fonte: a autora.

O povoado teve início por volta de 1695, durante o ciclo do ouro, com a
construção de inúmeras fazendas no Caminho do Ouro, estrada que ligava Minas
Gerais ao porto de Paraty e ao Rio de Janeiro, para atender as tropas que
buscavam ouro em Minas Gerais. Em 1785, o povoado foi elevado à posição de vila
por ordem do capitão e general Sr. Francisco da Cunha Menezes e recebeu nome
de Nossa Senhora da Conceição de Cunha. Em 1858 foi declarado município e teve
sua denominação simplificada para Cunha. Imagina-se que o nome do município
seja uma homenagem ao seu fundador e sua família, os Cunha Menezes
(EMPLASAGEO, 2012; FUNDAÇÃO SEADE, 2012).
Em 1932 tornou-se palco de batalha durante a Revolução Constitucionalista
em combates que duraram três meses e revelaram o lavrador Paulo Virgínio como
líder e mártir na ocasião, assassinado por não revelar a localização das tropas
paulistas (EMPLASAGEO, 2012). Logo depois, em 1948, o município foi declarado
Estação Climática (TONUSSI, 2012).
Sua economia é baseada nas atividades relacionadas aos serviços, comércio,
turismo, pecuária leiteira e de corte, bem como no cultivo de milho, feijão, pinhão,
trutas, entre outros. Seu Produto Interno Bruto (PIB) foi de R$ 140,42 milhões em
2010 (EMPLASAGEO, 2012; FUNDAÇÃO SEADE, 2012).
Além dos atrativos turísticos de sua diversidade natural, com dezenas de
cachoeiras, nascentes, riachos e uma vegetação abundantemente rica, Cunha é
também um importante polo de cerâmica artística na América do Sul, contando com
diversos ateliês que contam com uma produção de alta qualidade e variedade
(TONUSSI, 2012).
131

Figura 55 – Parque Estadual da Serra do Mar – Divisão Cunha


Fonte: a autora.

Outro atrativo da cidade são as diversas festas religiosas e culturais, como a


Festa do Divino, a Festa de Nossa Senhora da Conceição, o Festival de Verão e
Fuscunha, o Carnaval de Rua, o Festival de Inverno “Acordes na Serra”, o Festival
de Cerâmica e o Natal Luz, entre outros (TONUSSI, 2012).

Figura 56 – Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição


Fonte: a autora.

Devido à sua topografia acidentada e farta hidrografia, o município apresenta


algumas áreas de risco povoadas. Dados da Fundação SEADE indicam que o
município contava com 6 áreas de risco ocupadas por moradias em 2003, mas sem
a presença de favelas e cortiços. Na tentativa de evitar acidentes e remover as
famílias dessas áreas, a CDHU implantou o Conjunto Habitacional Cunha “A”, no
distrito de Campos de Cunha, em 2002, e o Conjunto Habitacional Cunha “B” em
2005, na região central do município, no Bairro Motor, sendo este último o objeto do
segundo estudo de caso apresentado nesse trabalho.
132

7.1.2 Descrição e histórico

O Conjunto Habitacional Cunha “B” é integrado à malha urbana da cidade,


sendo acessado pela Rua Miguel M. da Silva e pela Rua Luiz da Silva, no limite da
área urbana ao sul da região central do município, a cerca de 1800 metros do centro
da cidade.
A gleba apresenta declividade moderada na região das unidades
habitacionais, não ultrapassando os 15%, a não ser no fundo dos lotes ao norte da
Rua Um, onde há um grande desnível do aterro em relação aos terrenos vizinhos. A
oeste das residências há uma área verde com declividade de até 50% em alguns
trechos. Ao sul, o terreno conta com uma área institucional onde hoje há uma
pequena área sendo ocupada por uma quadra coberta. Não há terrenos alagadiços
e sujeitos a inundação.
Originalmente, o projeto deste conjunto habitacional previa a construção de
26 casas, no entanto, foram construídas apenas 21 em virtude da nascente de água
encontrada no local. A figura 57 apresenta a implantação do conjunto, ainda com as
26 casas, sendo que as cinco casas circuladas em vermelho não chegaram a ser
construídas.
133

Figura 57 – Implantação do Conjunto Habitacional Cunha “B”


Fonte: CDHU, 2010.

As ruas apresentam pavimento asfáltico e as calçadas são cimentadas. O


conjunto habitacional conta, ainda, com iluminação nas vias púbicas através de
postes com fiação aérea, rede de abastecimento de água, rede de coleta de
esgotos, rede de captação de águas pluviais e serviço de coleta de lixo.
134

Área das casas


não construídas

Área Verde

Lotes

Quadra Coberta
Área
Institucional

Figura 58 – Vista geral do Conjunto Habitacional Cunha “B”


Fonte: GOOGLE MAPS.

Fiação aérea

Calçadas
cimentadas
Pavimento
asfáltico
Figura 59 – Vista geral do Conjunto Habitacional Cunha “B”
Fonte: EMPLASAGEO, 2012.

As 21 unidades habitacionais são térreas e geminadas duas a duas, seguindo


a tipologia TG23A da CDHU. Cada unidade tem 42,71 m² de área construída, onde
foram dispostos sala, cozinha, dois dormitórios e um banheiro, alojados em um lote
de aproximadamente 160 m² (8 m x 20 m) de área (SILVA, 2012).
135

Antes do início da construção foi realizado o serviço de adequação do projeto


padrão da CDHU para o sistema construtivo de paredes de concreto moldadas in
loco, onde foi preciso calcular as armaduras e definir o seu posicionamento em
projeto. Este serviço foi coordenado pela Associação Brasileira de cimento Portland
(ABCP).

Figura 60 – Tipologia TG23A adaptada ao sistema construtivo


Fonte: CDHU/ acervo ABCP.
136

Figura 61 – Corte BB da tipologia TG23A padrão


Fonte: CDHU.

As casas foram construídas em regime de mutirão, ou seja, os futuros


moradores, chamados de mutirantes, trabalharam na construção das mesmas.
Durante 14 meses esses moradores trabalharam de segunda a sexta-feira das 7h às
17h na construção de suas casas (SILVA, 2012), sendo obtida uma média de
participação de 12 mutirantes durante todo o período de construção.
Segundo o Arq. Carlos Chaves, consultor da ABCP na época e um dos
responsáveis por acompanhar a obra, a principal dificuldade encontrada durante a
execução foi justamente o uso de mão de obra não treinada e que não tinha o
compromisso de comparecer na obra todos os dias (informação pessoal)7. Ainda
assim, dados colhidos pelos profissionais da ABCP na época relatam uma
produtividade de 2 casas por semana ou 7hh/m², considerado um resultado melhor
do que os obtidos na mesma época em obras da CDHU que adotaram outros
sistemas construtivos.
As famílias que tiveram mais horas de trabalho ganharam itens de
acabamento a mais do que as demais, como forro e piso, e aquelas que não
ajudaram na construção pagam um valor maior pela casa na forma de um acréscimo
no valor das parcelas.

7
Informação fornecida pelo Arqº Carlos Chaves em entrevista por e-mail em 24/01/2013.
137

Figura 62 – Fotos da execução das obras em Cunha


Fonte: acervo ABCP.

As casas foram construídas sob supervisão de uma empresa gerenciadora, o


Consórcio Tecnosolo/ Cobrape, que manteve um mestre de obras e três pedreiros
em tempo integral no canteiro para orientar os moradores, além do
acompanhamento de um engenheiro. Por ter sido adotado um sistema construtivo
inovador para a época, houve um acompanhamento da ABCP também na fase de
execução das casas para treinamento das equipes, coordenação da execução das
paredes, coordenação dos parceiros e desenvolver a tecnologia do concreto celular.
Estiveram envolvidas na construção, ainda, as empresas Engemix, que
forneceu o concreto, a Pashal, fornecedora das fôrmas moduladas, a Forschaum,
que alugou o equipamento gerador de espuma e forneceu o espumígeno e a Otto
Baumgart, fornecedora do aditivo superfluidificante utilizado no concreto.
Ainda durante a construção, já era possível observar um quadro de fissuração
nas paredes logo após a desforma, sendo que com o decorrer do tempo as fissuras
aumentaram em abertura e extensão.
Assim, antes mesmo da entrega das casas, foi contratada a empresa de
consultoria Pacelli, Ragueb e Associados para fazer uma avaliação dessas fissuras.
Profissionais da empresa fizeram uma visita técnica ao local e elaboraram um
relatório técnico que destaca o fato de que as paredes ficaram muito tempo expostas
às intempéries antes da execução das coberturas. O conteúdo deste relatório está
resumido na tabela 3, a seguir:
138

Tabela 3 – Resumo do relatório de análise das anomalias nas casas de Cunha


Anomalia Causa Reparo

Fissuras A desforma prematura das paredes A retração inicial que provocou a


gerou esforços não previstos nas peças fissuração já não mais atua, e
- no sentido horizontal com idade de 12h e permitiu a perda da essas fissuras poderiam ser
só nas regiões que água do concreto celular, propiciando as consideradas passivas, porém,
não foram reforçadas retrações iniciais. as movimentações provocadas
com armadura e estão pela falta de proteção das
limitadas entre as As regiões reforçadas sofreram menor paredes (molhagem e secagem)
armaduras; influência dos esforços provocados pela tornam estas fissuras ativas.
desforma.
- no sentido vertical Assim, os reparos devem ser
nas regiões não A restrição à retração produzida pelas executados após a cobertura das
armadas e muito armaduras nas regiões reforçadas edificações e logo após a sua
próximas do limite com provavelmente ocasionou as fissuras execução e cura, as paredes
a região armada. (principalmente verticais) nas regiões devem ser protegidas por
não reforçadas. revestimento.
As telas metálicas de reforço evitaram a As fissuras devem ser reparadas
fissuração nas regiões em que foram com um revestimento
inseridas. impermeabilizante
As fissuras de retração nas regiões não monocomponente à base de
armadas foram interrompidas, não cimento, areia selecionada e
adentrando nas regiões reforçadas. resina acrílica e considerado
semi-flexível. No caso das trincas
O fato de as paredes ficarem expostas externas, devem-se aplicar duas
às intempéries sem proteção camadas do material,
(molhagem/ secagem) causou o intercaladas com uma tela têxtil
aumento das fissuras ao longo do com largura de 20 cm.
tempo.

Trincas verticais sobre Não foram colocadas as telas metálicas Refazer localizadamente esses
as aberturas de acordo com o projeto em alguns pontos posicionando a armadura
pontos localizados, caracterizando da forma especificada no projeto,
deficiência de execução. tomando todos os cuidados com
escoramento das vigas de
Em uma unidade foi executado um madeira e do telhado bem como
reparo por grampeamento, o que não das paredes.
corrigiu esta deficiência.

Deficiências na Existência de ar aprisionado entre a


superfície das paredes forma e a superfície do concreto, –
(pequenos buracos) causado por adensamento inadequado
do concreto celular.

Armaduras expostas Cobrimento insuficiente por deficiência Preenchimento com argamassa


com início de corrosão ou falta de espaçadores cimentícia aditivada com resina
por oxidação acrílica específica para execução
de reparos rasos, com
cobrimento mínimo de 1 cm
sobre a armadura.
Fonte: acervo ABCP.
139

Segundo o Arq. Carlos Chaves8, muitos dos problemas observados nas casas
podem estar ligados a falhas executivas de posicionamento das armaduras e não
utilização de espaçadores. O profissional garante que ele mesmo presenciou um
caso em que “o mutirante não colocou aço em uma verga de porta por conta
própria”. Chaves afirma, ainda, que todos os reparos sugeridos pela consultoria
foram realizados antes da entrega das casas, em parceria com a empresa Vedacit.
As 21 unidades habitacionais do Conjunto Habitacional Cunha “B” foram
entregues em 2005 sem o acabamento, como mostra a tabela a seguir, que
apresenta uma descrição das casas entregues baseada nos 10 órgãos básicos do
edifício apresentados por Roméro e Ornstein (2003):

Tabela 4 – Descrição das unidades habitacionais do Conjunto Cunha “B”

Órgão do
Descrição
Edifício

Os lotes foram entregues sem muros, com exceção das divisas de lotes
que tinham um desnível no terreno, onde foram feitos pequenos muros
Terrapleno de contenção apenas até o nível do lote mais alto. Os lotes foram
entregues com grama e um caminho formado de placas de concreto do
limite frontal até a entrada das unidades habitacionais.

Fundação A fundação adotada é do tipo radier.

Paredes de concreto celular moldadas in loco, com concreto de


Estrutura densidade 1.500 kgf/m³ e resistência média fck 5 MPa. Laje maciça de
concreto apenas no banheiro e no corredor.

Cobertura Estrutura de madeira e telhas cerâmicas tipo romana.

A vedação é realizada pelas próprias paredes de concreto celular


Vedações
moldadas in loco. Os oitões são de alvenaria de blocos de concreto.

Esquadrias Portas e janelas de aço com pintura em esmalte e vidros.

Pintura externa com textura acrílica hidrorrepelente e interna com látex


Paramentos
PVA sobre massa corrida. Os oitões são revestidos com argamassa.

Pisos As casas foram entregues apenas com o piso cimentado.

Instalação elétrica e hidráulica convencional, com eletrodutos plásticos,


Instalações tubulação de PVC e fiação de cobre encapada. Todas as instalações
foram embutidas nas paredes.

8
Informação fornecida pelo Arqº Carlos Chaves em entrevista por e-mail em 24/01/2013.
140

Figura 63 – Casa entregue em Cunha


Fonte: acervo ABCP.

Figura 64 – Interior de casa entregue em Cunha


Fonte: acervo ABCP.

7.1.3 Sistema Construtivo: paredes de concreto celular moldadas in loco

Neste estudo de caso, foi utilizado um sistema construtivo de paredes de


concreto celular moldadas in loco regido pelas seguintes normas técnicas brasileiras:
NBR 12644:1992 – Concreto celular espumoso – Determinação da
densidade de massa aparente no estado fresco.
NBR 12645:1992 – Execução de paredes de concreto celular espumoso
moldadas no local.
NBR 12646:1992 – Paredes de concreto celular espumoso moldadas no
local.

7.1.3.1 Materiais

O processo construtivo de paredes de concreto celular moldadas in loco é


formado, basicamente, por dois materiais, o concreto e as telas metálicas de reforço,
141

que são utilizados para preencher as fôrmas e formar paredes monolíticas de


concreto.

Concreto Celular
No caso do Conjunto Habitacional Cunha “B”, foi utilizado um concreto celular
espumoso, material composto por agregados convencionais (areia e brita), cimento
Portland, água, fibras de polipropileno e o agente espumígeno que gera minúsculas
bolhas de ar distribuídas uniformemente em sua massa, o que lhe confere a
propriedade de concreto leve, com massa específica menor que a dos concretos
convencionais, variando entre 1.300 e 1.900 kg/m³ (ABCP, 2007).
De acordo com a ABCP (2007), para habitações populares térreas os
melhores resultados têm sido obtidos com densidades de massa no estado fresco de
1.500 kg/ m³ para paredes com espessuras de 10 cm, que é justamente o valor
adotado no Conjunto Habitacional Cunha “B”. A entidade ressalta, porém, que a
definição da densidade mais adequada deve ser feita com base em uma análise das
propriedades mecânicas e do desempenho termo-acústico necessário.

Figura 65 – Comparativo entre concreto convencional e concreto celular


Fonte: ABCP, 2002.

A NBR 12645 (ABNT, 1992), determina que a resistência à compressão


simples do concreto deve ser maior do que 2,5 MPa aos 28 dias, sendo que neste
estudo de caso a resistência média foi de 5 MPa.
De acordo com a ABCP (2007), pode ser utilizado qualquer tipo de cimento
Portland, desde que respeitadas as recomendações e limitações apresentadas pelo
fornecedor do agente espumígeno. A entidade destaca, também, que o uso de
142

areias de granulometria média (módulo de finura entre 2,60 e 2,70) e de britas 0 e 1


em proporções de até 20% do volume produz resultados significativos no controle da
retração, sem comprometer o desempenho térmico das paredes.
Ainda segundo a ABCP (2007), a água utilizada na mistura deve ser limpa e
livre de impurezas que possam prejudicar as reações do cimento ou do agente
espumígeno, sendo consideradas satisfatórias as águas potáveis e as que tenham
pH entre 5 e 8.
De acordo com a NBR 12645 (ABNT, 1992), os concretos celulares
espumosos podem ser produzidos por dois processos distintos, sendo que para
cada um deles há uma sequência específica para o carregamento do misturador,
explica a ABCP (2007).
O método mais conhecido e aplicado é a incorporação artificial de ar no
interior do concreto convencional, onde um equipamento específico (gerador de
espuma) gera espuma com características controladas, que é introduzida no
misturador após o preparo da argamassa, sem limites para a incorporação de ar.
Outro método é a adição de um produto que, em contato com a água de
amassamento e por agitação mecânica do misturador, produz as bolhas de ar
necessárias para a expansão e consequente redução de massa. Neste último caso,
os aditivos disponíveis restringem a incorporação de ar a cerca de 25% do volume
(ABCP, 2007).
Outra forma de se obter o concreto celular é através de aeração química, que
consiste em adicionar um agente químico (pó de alumínio, água oxigenada ou cal
clorada) que reage com os componentes da argamassa e forma os poros
necessários à expansão do volume inicial. Porém, essa opção é inviabilizada devido
à alta velocidade da reação química, que acarreta na “pega” do concreto em menos
de 30 minutos (ABCP, 2007).
Os agentes espumígenos podem ser de origem proteica ou sintética, mas em
ambos os casos sua composição química deve ser capaz de produzir bolhas de ar
estáveis no concreto, pois elas deverão resistir aos esforços gerados pela mistura,
bombeamento e lançamento (ABCP, 2007).
As fibras incorporadas ao concreto celular minimizam os efeitos das tensões
geradas pelas variações volumétricas decorrentes da retração por perda de
umidade. Elas aumentam a resistência à tração do material, ajudam a evitar
143

microfissuras localizadas e, indiretamente, melhoram a capacidade da parede em


absorver esforços resultantes de impactos. As fibras mais indicadas neste caso são
as do tipo multifilamento, pois permitem melhor “ancoragem” nos vazios do concreto
celular (ABCP, 2007).
A dosagem do concreto celular, seja ele feito na obra ou em usina, deve ser
baseada na resistência característica fckest e na densidade de massa aparente no
estado fresco especificadas pelo projetista estrutural. É recomendável a realização
de testes em laboratório, utilizando os mesmos materiais e equipamentos da obra,
para definir a dosagem mais adequada (ABCP, 2007).
Não é recomendada a produção do concreto celular em centrais ou usinas de
concreto, pois o transporte em caminhão betoneira até o local de aplicação em
percursos superiores a 3 km pode provocar a destruição das bolhas de ar
incorporadas à mistura e o consequente aumento da massa específica do concreto
(ABCP, 2007).
A forma mais eficiente de produção de concretos celulares, segundo a ABCP
(2007), é a partir de concretos previamente usinados e fornecidos no canteiro em
caminhões betoneira para adição de bolhas de ar no local de aplicação. Neste caso,
deve ser montada uma pequena central no canteiro, dotada de geradores de
espuma, balança eletrônica, tambores de 200 litros, cronômetros, recipientes para
medidas e estoque dos materiais (agente espumígeno, fibras de polipropileno e
superfluidificante para concretos).
Sacht (2008) afirma que os concretos celulares possuem alta permeabilidade
e baixa durabilidade devido ao ar incorporado à mistura, que permite o rápido ataque
às armaduras por ação de íons de cloreto e carbonatação. Além disso, segundo a
autora, devido aos baixos valores de resistência à compressão, é normalmente
utilizado apenas em edificações térreas.

Armaduras
As armaduras, assim como as fibras, têm a função de resistir às tensões
iniciais devidas à retração do concreto nas primeiras idades. Além disso, as
armaduras também podem resistir a esforços ocasionais de flexo-torção nas paredes
por ações externas e esforços devidos à variação da temperatura externa (ABCP,
2007).
144

A ABCP (2002) recomenda a utilização de telas industrializadas de malha


quadrada de pequeno diâmetro (ø 3,4mm, malha de 15cm x 15cm) posicionadas no
eixo das paredes, além de algumas barras em pontos estratégicos (cinta superior
nas paredes, vergas, contra-vergas etc.) definidos em projeto. É imprescindível o
uso de espaçadores plásticos para garantir o posicionamento das armaduras e o
alinhamento e espessura das paredes.

7.1.3.2 O Sistema

De acordo com a ABCP (2002), o concreto celular foi desenvolvido


inicialmente em Estocolmo, Suécia, no início do século XIX, sendo utilizado na
produção de isolantes térmicos para a construção civil. Era composto de
argamassas de sílica e cal aeradas por um agente metálico e curado numa câmara a
vapor (autoclave).
A tecnologia foi aprimorada com o desenvolvimento dos concretos celulares
espumosos, que são mais leves devido à incorporação de ar. Inicialmente usado
para isolamento térmico, preenchimento de vãos de lajes e na proteção mecânica de
camadas impermeabilizantes, com o tempo foi ganhando outras aplicações. Hoje,
esses concretos são utilizados para a construção de paredes portantes de edifícios e
vedação de casas térreas e sobrados, sendo muito eficaz devido ao seu grau de
isolamento térmico. Além disso, esses concretos são autoadensáveis, dispensando
vibração e preservando a vida útil das fôrmas (ABCP, 2007).
O processo de paredes de concreto tradicional moldadas in loco foi utilizado
em 1980 pela COHAB, na cidade de Poços de Caldas e no início da década de 80
foram executadas as primeiras edificações com paredes de concreto celular
moldadas in loco no Brasil, tendo sido pioneiras as cidades de Natal/RN e
Manaus/AM (BOIN, 2003; SACHT, 2008). De acordo com Boin (2003), nas décadas
de 80 e 90 foram executadas cerca de 40.000 unidades habitacionais no país,
impulsionadas por vantagens como o grau de conforto térmico interno e a rapidez de
sua execução.
Essa experiência de 20 anos na construção de casas levou ao
desenvolvimento da técnica construtiva e da tecnologia do concreto celular. Boin
(2003) afirma, no entanto, que essa fase de experiências nem sempre gerou
resultados de melhor qualidade, devido ao desconhecimento, o que fez com que o
145

processo ficasse mal visto pelo mercado. O autor atribui esses maus resultados a
erros de execução e projeto, além da falta de controle tecnológico nos canteiros de
obras, mas afirma que a difusão do conceito de qualidade nos últimos anos pode
contribuir para a mudança desse cenário.
O fato é que, com seus erros e acertos, “a experiência obtida na construção
dessas casas levou a um aprimoramento da técnica, com o emprego de fôrmas
modulares racionalizadas, e a uma grande melhoria do produto final” (ABCP, 2002).
Este processo construtivo apresenta diversas vantagens, como facilidade e rapidez
de execução, controle tecnológico rigoroso, facilidade de treinamento da mão de
obra, possibilidade de redução da espessura do revestimento e de ampliação,
gerando uma significativa economia (ABCP, 2007).
Segundo Boin (2003), as paredes devem ser executadas de acordo com o
projeto, que deve detalhar o posicionamento das esquadrias, instalações elétricas e
hidrossanitárias de modo que não haja sobreposição e interferências que impeçam a
execução desses elementos.
De acordo com a ABCP (2007), podem ser adotados diversos tipos de
fundações nesse processo, sendo a escolha de responsabilidade do projetista. É
importante, porém, que as fundações apresentem, além de segurança e
durabilidade, o alinhamento e o nivelamento necessários para a produção das
paredes.
A ABCP (2007) recomenda que as fundações tenham um excedente de pelo
menos 5 cm além das faces da parede, permitindo o apoio e a montagem dos
painéis das fôrmas. De acordo com esta entidade, as fundações tipo radier têm a
vantagem de deixar as instalações posicionadas no piso e de proporcionar uma
base de trabalho apropriada para as equipes de montagem das fôrmas.
O sistema de fôrmas utilizado no empreendimento Cunha “B” era constituído
de painéis modulados de chapa de madeira compensada revestidos com filme de
grande resistência, reforçados com estrutura metálica tipo grelha. De acordo com
Boin (2003), a estrutura metálica garante a resistência mecânica necessária para
suportar as tensões geradas pelo concreto.
Esses painéis possuem modulação de 5 em 5 cm, com dimensões e peso que
permitem o fácil manuseio e transporte. Os módulos se encaixam de acordo com a
146

sequência determinada em projeto, por meio de grampos metálicos especiais que


conferem rigidez ao conjunto (ABCP, 2002).
Todo conjunto de fôrmas deve vir acompanhado de seu projeto, pois este
apresenta o posicionamento de cada painel e o detalhamento da montagem (ABCP,
2007). Boin (2003) afirma, ainda, que o projeto de fôrmas deve passar por uma
rigorosa análise crítica por parte do responsável pela obra e é indispensável para o
início dos serviços.
De acordo com a ABCP (2007), o concreto celular perde água rapidamente,
principalmente em regiões de grande variação de temperatura e umidade do ar, o
que gera o fenômeno de redução de volume do concreto, ou retração. A retração do
concreto gera esforços de tração que podem levar ao seu rompimento, criando
fissuras ao longo da superfície das paredes.
Para controlar esse fenômeno, a NBR 12645 (ABNT, 1992) estabelece o
emprego de armaduras contínuas (barras de aço, telas eletrossoldadas ou não) ou
descontínuas (fibras metálicas, sintéticas ou naturais). Outros cuidados, como
execução de juntas de construção e de controle de retração, podem ser tomados,
sendo sempre indicados no projeto (ABCP, 2007).
De acordo com Boin (2003), todas as paredes da habitação podem ser
moldadas em uma única etapa de concretagem, permitindo que, após a desforma, já
contenham em seu interior todos os elementos embutidos, tais como: esquadrias,
tubulações elétricas e hidráulicas, elementos de fixação para cobertura etc.
As instalações podem ser fornecidas em kits pré-montados e são
posicionadas e fixadas nas fôrmas e armaduras com auxílio de espaçadores para
impedir seu deslocamento durante a concretagem. Segundo a ABCP (2007), as
ligações de água devem ser testadas em bancadas dotadas de redes com pressão,
o que permite detectar falhas antes do seu embutimento nas paredes. Caixas ou
tubulações que apresentem espaços em que possa entrar concreto devem ser
preenchidas com papel ou pó de serra, impedindo a obstrução desses elementos
(ABCP, 2007). Cabe lembrar, no entanto, que este procedimento de embutimento de
instalações hidráulicas utilizado nas casas de Cunha não é mais recomendado, pois
a manutenção dessa tubulação exige a quebra das paredes estruturais.
A ABCP (2007) afirma que o concreto leve adota a forma do vaso que o
contém, dentro dos princípios clássicos da mecânica dos fluídos, portanto, o uso de
147

vibradores ou adensadores neste caso é inadequado, pois destrói as bolhas de ar,


internas à massa, provocando o aumento de sua densidade (ABCP, 2007).
Ainda de acordo com a ABCP (2007), o lançamento do concreto celular
obedece a um critério de escolha de pontos, de modo que este possa preencher
todos os vazios sem quaisquer dificuldades. Depois de realizada a mistura, o
concreto celular espumoso deve ser lançado em no máximo 30 minutos, não
excedendo a altura de 2 metros de queda livre do concreto.
A desforma é realizada após um período mínimo de 12 horas, que pode ser
maior de acordo com as condições térmicas do local (ABCP, 2007).
Após executadas, as paredes devem se apresentar niveladas, alinhadas e
aprumadas, sendo que o sistema de fôrmas deve garantir desvios inferiores a 3 mm
em relação ao plano da parede (BOIN, 2003).
O processo de cura, que é o conjunto de ações que visa evitar a evaporação
prematura da água necessária à hidratação do cimento e o consequente
aparecimento de fissuras devidas à retração, deve ser sempre realizado logo após a
desforma. A NBR 12645 (ABNT, 1992) especifica dois métodos de cura para as
paredes de concreto celular, a cura por molhagem, onde deve ser realizada a
molhagem do concreto com água e sacos úmidos por no mínimo três dias, e a cura
por aplicação de membranas impermeáveis, que devem ser removidas antes da
aplicação do revestimento.
De acordo com a ABCP (2007), a feltragem é uma operação realizada
algumas horas após a desforma das paredes e consiste na aplicação de uma
camada de nata de cimento Portland, com traço rico em cimento, por meio de
desempenadeiras de madeira revestidas com espuma. Essa operação visa retirar os
sinais superficiais da fôrma, reduzir a porosidade superficial, tamponar os pequenos
poros e bolhas de ar superficiais e melhorar o aspecto das paredes. No caso de as
paredes apresentarem uma superfície lisa e isenta de irregularidades, é possível
realizar uma feltragem parcial apenas nos pontos mais desfavoráveis.
Uma das grandes vantagens das paredes de concreto é a possibilidade de
redução da espessura das camadas de revestimento, sendo que não há restrições
quanto à utilização de qualquer tipo de revestimento, desde que seguidas as
especificações e restrições do fornecedor. Podem ser utilizados, por exemplo, tintas,
massa corrida, revestimentos cerâmicos, texturas e argamassas industrializadas
148

(ABCP, 2007). A fixação de elementos de acabamento ou decorativos deve ser


realizada através de fixação com buchas e parafusos (ABCP, 2002).
É importante salientar que ao longo destes 9 anos posteriores à realização
desse empreendimento, os processos de construção que utilizam paredes de
concreto moldadas in loco já sofreram grandes transformações. Neste período,
houve um grande desenvolvimento dos sistemas de fôrmas e da tecnologia do
concreto aplicada ao sistema, tanto do concreto celular quanto do concreto
tradicional. Assim, muitos procedimentos utilizados na execução do empreendimento
estudado, e relatados aqui, já obtiveram significativas melhorias.

7.1.3.3 Procedimentos de execução

Antes de iniciar a execução, é preciso verificar a compatibilidade entre o


cronograma geral de execução e a quantidade de conjuntos de fôrmas necessários,
além de planejar o reaproveitamento das fôrmas para a execução sequencial das
unidades. Durante o recebimento das fôrmas, é preciso conferir todas as peças
entregues e relacionadas no projeto executivo de montagem para que não falte nada
durante a execução, assim como as ferramentas e equipamentos necessários
(ABCP, 2007).
As unidades habitacionais do Conjunto Habitacional Cunha “B” foram
construídas de acordo com os procedimentos a seguir (ABCP, 2002; ABCP, 2007):

Etapa 1: Execução do radier


Execução de fundação tipo radier deixando todas as esperas e tubulações
de água, esgoto, elétrica etc. É importante que o piso esteja perfeitamente
nivelado para evitar diferenças de nível no topo dos painéis e,
consequentemente, a descontinuidade no alinhamento superior das
paredes.
149

Figura 66 – Execução dos radiers em Cunha


Fonte: acervo ABCP.

Etapa 2: Marcação das paredes e montagem das fôrmas internas


Inicialmente, marcam-se as linhas das faces internas e externas das
paredes na fundação e em seguida os módulos das fôrmas são encaixados
de acordo com a sequência determinada no projeto, mantendo as
aberturas de portas para permitir a circulação dos operários durante a
execução. É recomendável começar a montagem dos painéis pela parede
hidráulica, colocando-se primeiro os painéis de canto, formando um “L”, e
depois os painéis da face interna da parede hidráulica. Os painéis são
montados em sequência, de ambos os lados, e conectados com o uso de
grampos, sempre deixando uma face livre para as instalações das redes
elétrica e hidráulica. Ao longo da montagem, são posicionadas escoras
prumadoras para manter os painéis em pé e garantir o prumo das paredes.
Por fim, são colocadas as ancoragens metálicas responsáveis por absorver
as pressões do concreto e garantir que as fôrmas não se abram.

Figura 67 – Montagem dos painéis internos


Fonte: acervo ABCP.
150

Etapa 3: Fixação das armaduras e elementos de esquadrias


As armaduras e os elementos das esquadrias (batentes de portas,
contramarcos de janelas ou esquadrias completas) são embutidos nos
painéis das fôrmas simultaneamente à sua montagem. Todos os elementos
de esquadrias devem ter espessura igual ou inferior à largura das paredes.
As armaduras, constituídas de telas metálicas industrializadas no eixo das
paredes e de algumas barras em pontos estratégicos, são posicionadas
com a ajuda de espaçadores plásticos.

Figura 68 – Fixação das armaduras e elementos de esquadrias


Fonte: acervo ABCP.

Etapa 5: Montagem das instalações


No sistema adotado nas casas de Cunha, as instalações elétricas e
hidráulicas são embutidas nas paredes de concreto. Todas as instalações
são posicionadas e fixadas nas fôrmas e armaduras, sempre utilizando
espaçadores entre elas e a face dos painéis de fôrma.

Figura 69 – Montagem das instalações


Fonte: acervo ABCP.
151

Etapa 6: Fechamento das fôrmas


Uma vez posicionadas e fixadas as armaduras, esquadrias, e instalações,
as fôrmas são fechadas. Para tanto, é montado o outro plano dos painéis.

Figura 70 – Fechamento dos painéis de fôrmas


Fonte: acervo ABCP.

Etapa 7: Concretagem das paredes e lajes


Uma vez dosado e preparado o concreto celular, este deve ser
transportado até o local de aplicação. O lançamento deve começar por um
dos cantos da edificação até que grande parte das paredes mais próximas
esteja completamente preenchida. Depois, muda-se o lançamento para o
canto oposto e para os demais cantos até que os quatro cantos da casa
sejam concretados. Em seguida, é feito o posicionamento das armaduras e
instalações das lajes e a sua concretagem.

Figura 71 – Concretagem das paredes


Fonte: acervo ABCP.
152

Etapa 8: Desforma e acabamento do concreto


A desforma deve começar pelos painéis internos e depois são
desmontados os painéis externos. Em seguida, é feita a remoção de
rebarbas do concreto, além do preenchimento dos furos de ancoragem
com argamassa de cimento e areia e eventuais reparos necessários. Em
seguida, realiza-se a feltragem.

Figura 72 – Desforma das paredes


Fonte: acervo ABCP.

Figura 73 – Acabamento do concreto após a desforma


Fonte: acervo ABCP.

Etapa 9: Cura do concreto


A cura pode ser realizada por molhagem ou por aplicação de membranas
impermeáveis. No caso de Cunha, foi adotado o processo de molhagem.

Etapa 8: Execução dos oitões


No caso específico de Cunha, os oitões foram executados com blocos de
concreto.
153

Figura 74 – Preparação para execução dos oitões em alvenaria


Fonte: acervo ABCP.

Etapa 10: Execução da cobertura


Execução da estrutura de madeira e do telhamento com telhas cerâmicas.

Figura 75 – Cobertura com estrutura de madeira e telhas cerâmicas


Fonte: acervo ABCP.

Etapa 11: Revestimento e acabamentos


Aplicação de pintura externa com textura acrílica hidrorrepelente e interna
com látex PVA sobre massa corrida. Os oitões receberam revestimento
com argamassa.
154

Figura 76 – Revestimento externo com textura


Fonte: acervo ABCP.

Figura 77 – Revestimento dos oitões com argamassa


Fonte: acervo ABCP.

7.1.3.4 Aplicação em moradia popular

Este processo tem sido muito utilizado para a construção de unidades


habitacionais populares, sejam elas promovidas pelos órgãos públicos ou por
empresas privadas, por apresentar diversas vantagens, como a facilidade e rapidez
de execução, a facilidade de treinamento da mão de obra, o controle tecnológico
rigoroso e a consequente economia.
De acordo com a ABCP (2007), também é possível realizar a ampliação das
casas com procedimentos semelhantes aos de outros sistemas construtivos. Para
tanto, podem ser utilizados blocos de concreto ou tijolos cerâmicos assentados com
argamassa na construção de novas paredes. É recomendável, no entanto, que as
possíveis ampliações sejam previstas ainda na fase de projeto, de forma que sejam
incorporadas armaduras complementares para os vãos abertos posteriormente para
portas e janelas.
155

É importante, também, que os moradores recebam um manual do usuário


com as informações necessárias para a realização de ampliações, tais como uma
planta baixa, especificação de materiais, forma de ligação das paredes de concreto
com as paredes novas etc. (ABCP, 2007).

7.2 O Estudo de caso

Foram realizadas duas visitas ao empreendimento Cunha “B”, sempre


contando com dois pesquisadores, para entrevistar os moradores e colher
informações sobre as casas e modificações realizadas após a entrega destas pela
CDHU.
As 10 unidades habitacionais visitadas foram nomeadas com a sigla CNH,
que identifica o empreendimento, e os números de 01 a 10, sendo que cada uma
delas recebeu um nome de CNH01 a CNH10, na ordem de realização das visitas.
As visitas foram realizadas em dois dias distintos, sendo que na primeira
ocasião a temperatura estava elevada, em torno de 30º, e choveu no final da tarde,
porém, por um período curto e com baixa intensidade. A segunda visita foi realizada
apenas no período da manhã, com temperatura amena, mas é interessante
comentar que no final da tarde do dia anterior a região havia passado por uma forte
tempestade que durou cerca de uma hora.

7.2.1 Apresentação e Análise dos Resultados das Entrevistas

Para a realização de entrevistas com os moradores, foi utilizado um formulário


padrão, cujo modelo é apresentado no Apêndice B, entretanto, ressalta-se que a
planta apresentada nesse modelo não é do Conjunto Habitacional Cunha “B”.
As entrevistas mostraram que o número de moradores nas casas visitadas
varia de 2 a 5, com uma média 3,5 moradores por unidade habitacional.
A totalidade das casas visitadas ainda está financiada e 70% das famílias
entrevistadas moram no imóvel desde a entrega, sendo que 20% são a segunda
família a habitar o imóvel e 10% são a terceira família a fazê-lo.
Assim como no primeiro estudo de caso, observou-se que todas as
residências contam com os bens de consumo básicos, como fogão, geladeira,
156

televisão e chuveiro elétrico. O gráfico a seguir apresenta a porcentagem de famílias


que possui cada bem de consumo:

Bens de consumo das famílias


100% 100% 100% 100%
100% 100% 100% 100%

80%
80%

60%

40%
40%
30%
30%
20%
10%
20%
10%
0%
0% 0%

Gráfico 21 – Estudo de Caso 2: Bens de consumo das famílias

Quando perguntados se consideram que a casa foi entregue completa, 70%


dos moradores entrevistados consideram que não, 20% consideram que sim e uma
moradora não quis opinar porque a casa já estava bastante modificada quando ela
passou a morar lá. A grande porcentagem de moradores que responderam não se
deve, com certeza, ao fato de as casas terem sido entregues sem o acabamento
completo, sobretudo o piso e o forro. Alguns moradores afirmam, ainda, que
receberam as casas sem a pintura interna e sem os vidros das esquadrias. Poucos
moradores reclamaram de receber as casas sem muros.
Ainda assim, todos os entrevistados consideram que a casa entregue atende
a todas as necessidades da família e relatam gostar das casas e ter orgulho delas,
principalmente depois de feitas as modificações que eles consideravam
fundamentais. Apesar desse resultado, foram muitas as reclamações com relação ao
fato de a sala e a cozinha não serem separadas fisicamente, o que, segundo eles,
157

espalha gordura e cheiro de fritura por toda a casa. Outra reclamação recorrente foi
pelo fato de as casas serem geminadas, o que reduz a privacidade da família ao
passo que se pode ouvir o que se passa na casa vizinha, principalmente porque não
há laje em toda a casa.

A casa foi entregue


completa?

10% 20%
Sim

70% Não

Gráfico 22 – Estudo de Caso 2: Avaliação da casa recebida

Dentre os entrevistados, 90% relataram a ocorrência de algum tipo de


problema construtivo ou patologias, sobretudo trincas e infiltração nas paredes. Uma
moradora comentou que acredita que a ocorrência dessas patologias se deve ao
fato de os próprios moradores terem construído as casas e ela acha que deveria ter
sido contratada uma empresa especializada para a construção dos imóveis.
Do total de entrevistados, 60% afirmam ter problemas com umidade e
infiltração, mas sem presença de mofo.

Problemas com umidade e


infiltração

40% Sim
60%
Não

Gráfico 23 – Estudo de Caso 2: Problemas com umidade e infiltração

Dentre os moradores que relataram problemas com umidade e infiltração,


todos afirmam que o problema está no topo das paredes, sendo que destes, 20%
afirmam ter problemas também na região das paredes próximas ao piso.
158

Já com relação à iluminação e ventilação, as avaliações dos moradores foram


boas, chegando a 90% de avaliações boas no quesito iluminação e 100% no quesito
ventilação.

Avaliação da Iluminação Avaliação da ventilação

0%0% 0%
0%
0%
10% Ótima
Ótima
Boa 100% Boa
90% Regular Regular
Ruim Ruim

Gráfico 24 – Estudo de Caso 2: Avaliação Gráfico 25 – Estudo de Caso 2: Avaliação


da iluminação da ventilação

Verificou-se, também, que todas as casas sofreram algum tipo de modificação


após a entrega, o que pode ser facilmente explicado pelo fato de as casas terem
sido entregues sem o acabamento completo. Segundo os moradores, não foi
fornecido nenhum tipo de projeto ou orientação para a realização de reformas e
ampliações nas casas.
Essas modificações foram realizadas, em sua maioria, por pedreiros
contratados, sendo que apenas 10% dos entrevistados afirmaram que as
modificações foram feitas por algum membro da família, parentes ou amigos.
Constatou-se, também, que essas modificações foram sendo realizadas ao longo do
tempo e que em mais de 80% dos casos a última modificação foi realizada há mais
de um ano, como indicam os gráficos a seguir:

Quem executou a
modificação?
10% Contratou um
pedreiro

90%
Fez a reforma
sozinho ou com
ajuda de amigos
e parentes

Gráfico 26 – Estudo de Caso 2: Agente realizador das modificações


159

Data da última modificação


0%
0%
10% Em execução
10%
Há menos de 2 meses

80% De 2 a 6 meses atrás

De 6 a 12 meses atrás

Há mais de 1 ano

Gráfico 27 – Estudo de Caso 2: Data da última modificação

Todas as famílias entrevistadas fizeram modificações na sala, cozinha,


dormitórios e área de serviço, 90% fizeram modificações no banheiro e no quintal e
60% na garagem, como mostra o gráfico 28, a seguir:

Local de realização da modificação


100% 100% 100%
100% 100%
90% 90%
80%

60% 60%
40%

20%

0%
Sala

0%
Cozinha

Dormitório

Banheiro

Quintal

Área de
serviço

Garagem

Outros

Gráfico 28 – Estudo de Caso 2: Local de realização das modificações

A totalidade das famílias entrevistadas fez modificações na cobertura, piso e


azulejos, além de construir muros e portões. O gráfico 29, a seguir, apresenta todos
os itens modificados e a porcentagem de famílias que modificou cada um:
160

Item modificado
100%
100% 100% 100%
90% 90%
80%
80%

60%
60%

40% 40%
30%
20% 20%
20%

0%
0%
0% 10%
0%

Gráfico 29 – Estudo de Caso 2: Itens modificados

A maioria dos moradores afirmou não ter encontrado dificuldades técnicas


para a realização das modificações. Aqueles que afirmaram ter tido dificuldades,
citaram como empecilhos a necessidade de quebrar as paredes para consertar
instalações elétricas e hidráulicas e uma moradora comentou que as paredes da
casa eram “tortas” e que foi difícil regularizá-las.

Enfrentou dificuldades para


realizar as modificações?

30%
Sim
70%
Não

Gráfico 30 – Estudo de Caso 2: Dificuldades para realizar modificações

Quando perguntados se têm a intenção de realizar alguma modificação na


casa futuramente, 60% dos entrevistados afirmaram que SIM, como indicado no
gráfico a seguir:
161

Intenção de realizar modificações

0% Já reformou e quer
reformar mais
40% Não reformou, mas
quer reformar
60%
Já reformou e não
quer reformar mais

0% Não reformou e não


quer reformar

Gráfico 31 – Estudo de Caso 2: Intenção de modificar o imóvel

Ao ser interrogada sobre a intenção de realizar novas modificações na casa,


uma moradora comentou que não compensa investir muito nessa casa porque,
segundo ela, a localização dela é ruim, muito longe do centro, e esse investimento
não será recuperado no caso de venda do imóvel. Outra moradora comentou que o
bairro é ruim e violento e que a localização não é muito valorizada por ser longe do
centro, apesar de estar a menos de 2 km de lá.
Dos moradores que pretendem realizar modificações, 33% consideram que a
reforma é urgente.

A modificação é urgente?

33%
Sim
67%
Não

Gráfico 32 – Estudo de Caso 2: Urgência das modificações

Assim como no primeiro estudo de caso, o principal desejo dos moradores é a


construção de um cômodo novo, item citado por 50% dos entrevistados, que
relataram o desejo de construir um dormitório ou uma cozinha. Também foi citada a
intenção de fazer modificações na cobertura, piso, muros e portões. Dois
entrevistados comentaram, ainda, que desejam construir varandas na frente da
edificação. Uma moradora relatou a necessidade de construir um muro de arrimo
nos fundos do lote devido a um desbarrancamento e outra moradora diz ter a
162

intenção de fazer modificações na casa, mas ainda não sabe exatamente o que vai
modificar.
Os gráficos 33 e 34 mostram as intenções dos moradores quanto às novas
modificações a serem realizadas, destacando os ambientes a serem modificados e o
tipo de serviço a ser executado, respectivamente.

Local onde pretende fazer


modificações
60%
50% 50%
50%
40%

20%
17%
0% 0%
0% 0%
0%
0%

Gráfico 33 – Estudo de Caso 2: Local que pretende modificar

O que pretende modificar?


60%
50%
40% 33%

17% 33%
20% 17%
0% 17%
0%0%0%0%
0% 0% 0%0%
0%
Estrutura
Cobertura
Acabamento
Instalações Hidráulicas

Azulejo (colocação ou…


Forro
Reboco interno

Construção de cômodo…
Instalações Elétricas
Piso (colocação ou troca)
Reboco externo

Pintura

Portão e muro
Portas e janelas
Outros

Gráfico 34 – Estudo de Caso 2: Serviços que pretende realizar


163

Para os moradores, o maior benefício das modificações realizadas ou


intencionadas é a ampliação da casa, seguido pelo aumento da segurança e pela
melhoria da aparência da residência. O gráfico 35, a seguir, apresenta os resultados
completos dos benefícios das modificações citados pelos moradores:

Qual o benefício das modificações para


a família?
100% 90%

80%

60% 50%
50%
40%
20% 30% 30%
20%
0%

Gráfico 35 – Estudo de Caso 2: Benefício das modificações

7.2.2 Apresentação e Análise dos Resultados da Avaliação Técnica

Após as entrevistas, foi realizada uma avaliação técnica dos imóveis através
de visita aos cômodos das casas, em compania de um ou mais moradores.
Das famílias visitadas, todas construíram muro e apenas uma delas não
colocou portão na frente do lote.
164

Figura 78 – Exemplos de fachadas de casas com muros e portões


Fonte: a autora.

Figura 79 – Fachada da casa que executou apenas o muro


Fonte: a autora.

Verificou-se que algumas famílias ainda fizeram outras alterações no quintal.


Das 10 casas visitadas, 7 tiveram o lote totalmente cimentado, sendo que em uma
delas também foi aplicado piso cerâmico em toda a área externa do lote. Em uma
das casas foi feito piso cimentado apenas na frente do lote e em outras duas não foi
feito piso algum.

Figura 80 – Frente da CNH05 com piso e cobertura


Fonte: a autora.
165

No geral, o terrapleno apresenta boas condições, mas três lotes, localizados


ao norte da Rua Um, tiveram a parte dos fundos atingida por um pequeno
desbarrancamento, sendo a casa CNH06 a mais atingida.

Figura 81 – Desbarrancamento do terreno nos fundos da CNH06


Fonte: a autora.

O muro da casa CNH01 apresenta trincas que podem sugerir acomodação do


aterro. Segundo a moradora, essas trincas já foram reparadas com argamassa, mas
reapareceram.

Figura 82 – Trincas no muro da CNH01


Fonte: a autora.

As unidades têm fundação do tipo radier, porém, essas estruturas encontram-


se total ou parcialmente inacessíveis, sem sinais de anomalias.
A estrutura é composta por paredes de concreto celular moldadas in loco e
laje maciça apenas sobre o banheiro e o corredor de acesso aos dormitórios. Foram
encontradas trincas e fissuras nas paredes de todas as unidades, com exceção da
166

casa CNH07, que foi reformada recentemente e teve suas trincas e fissuras
reparadas com argamassa. Outros moradores também relataram já ter realizado
reparos com argamassa nas paredes, mas em todos os casos as trincas e fissuras
reapareceram parcial ou totalmente depois de algum tempo.

Figura 83 – Reparo na CNH01 e trinca na CNH10


Fonte: a autora.

Cinco das dez casas visitadas apresentam sinais de infiltração nas paredes,
sendo que todos esses moradores relatam a ocorrência de infiltração no mesmo
local, na parede entre a sala e o dormitório, próximo ao quadro de luz. Outros
moradores afirmam ter tido esse problema e dizem que ele foi resolvido após a
selagem das telhas com argamassa junto à parede e instalação de rufo no telhado.
Não foram observadas anomalias nas lajes dos banheiros e corredores.

Figura 84 – Infiltração na CNH04 e reparo com rufo na CNH08


Fonte: a autora.
167

Em seis das dez casas visitadas foram construídos cômodos adicionais após
a entrega. Dessas, quatro famílias construíram cozinhas novas nos fundos, duas
construíram um dormitório a mais e duas construíram cômodos destinados a
despensa e realização de atividades manuais, como costura e bordado.

Figura 85 – Cozinha nova na CNH05


Fonte: a autora.

As próprias paredes de concreto cumprem também a função de vedação,


sendo que nas seis casas onde foram construídos cômodos adicionais, foram
utilizados tijolos cerâmicos tipo “baiano” para a execução das novas vedações e
algumas dessas paredes apresentam sinais de infiltração.

Figura 86 – Sinais de umidade na alvenaria da CNH09


Fonte: a autora.

Em geral, esses novos cômodos construídos pelos moradores não têm


qualquer tipo de elemento estrutural, sendo que as alvenarias funcionam como
estrutura e vedação e não há laje. Em alguns casos, esses novos elementos
apresentam sinais de umidade. Apenas na casa CNH10, foi executada uma laje na
168

cozinha construída posteriormente pelos moradores, sendo que esta apresenta


sinais de infiltração, como é possível observar na figura 87.

Figura 87 – Infiltração na laje da cozinha nova da CNH10


Fonte: a autora.

Metade das casas visitadas conta com muretas ou balcões dividindo a sala e
a cozinha, constituídos de alvenaria de tijolinhos de barro maciços ou de tijolos
cerâmicos tipo “baiano”, conforme figura 88. Em uma residência foi construída uma
parede de tijolos cerâmicos tipo “baiano” separando esses ambientes, apresentando
trincas nas duas extremidades, na interface com a parede de concreto (figura 89).

Figura 88 – Balcão na CNH01 e muretas de alvenaria na CNH04


Fonte: a autora.
169

Figura 89 – Trinca na ligação da parede nova com a antiga na CNH05


Fonte: a autora.

Todas as casas visitadas fizeram cobertura na área de serviço, sendo que o


tamanho destinado às atividades de serviço varia bastante. Em duas casas foram
construídas muretas de alvenaria de tijolos cerâmicos tipo “baiano” para separar a
área de serviço do quintal e, nos dois casos, essas muretas apresentam sinais de
umidade.

Figura 90 – Área de serviço da CNH04 e CNH07, respectivamente.


Fonte: a autora.

A cobertura é composta de estrutura de madeira e telhas cerâmicas, em geral


em boas condições, sendo que apenas uma moradora reclamou de goteiras em um
ponto específico da casa. Em geral, as coberturas realizadas posteriormente pelos
moradores, seja para garagens ou para cômodos novos, foram feitas com estrutura
de madeira e telhas cerâmicas ou de fibrocimento. Algumas famílias instalaram forro
de madeira ou PVC em toda a casa.
170

Figura 91 – Forro de madeira na CNH09 e de PVC na CNH07


Fonte: a autora.

Observou-se, ainda, que seis famílias construíram varandas na frente do lote


e três as construíram também nos fundos, como uma extensão da área de serviço,
onde é possível observar a presença de fornos a lenha e moedores de café. Quatro
casas contam com garagem coberta e em uma casa foi construído um canil com
muros altos na frente do lote.

Figura 92 – Área de serviço e varanda com forno a lenha na CNH09


Fonte: a autora.

A realização destes novos cômodos e coberturas para garagens, varandas,


áreas de serviço e lazer muitas vezes acabou por afetar a iluminação dos ambientes.
Assim, a grande maioria das casas teve a iluminação classificada como inadequada,
sendo que a ventilação foi considerada inadequada apenas em uma das residências
visitadas, como indicam os gráficos 36 e 37 a seguir:
171

Iluminação Ventilação

10%
30%
Adequada Adequada
70% 90%
Inadequada
Inadequada

Gráfico 36 – Estudo de Caso 2: Avaliação Gráfico 37 – Estudo de Caso 2: Avaliação


técnica da iluminação técnica da ventilação

Em todas as casas foram mantidas as portas e janelas de aço e todas


apresentam boas condições. Nos cômodos novos, todas as janelas instaladas são
de aço e as portas são de aço ou madeira, todas em bom estado de conservação.
Todas as casas apresentam pintura interna e externa. As paredes novas
receberam chapisco e reboco antes da execução da pintura, mas em algumas casas
foi feito revestimento apenas na face interna dessas paredes e as faces externas
receberam apenas chapisco ou estão totalmente expostas.

Figura 93 – Face externa de alvenarias sem revestimento na CNH03 e CNH05


Fonte: a autora.

Todos os banheiros receberam azulejos, alguns na parede inteira e outros


apenas em meia altura. Apenas uma casa tem azulejo em toda a cozinha e as
demais têm duas ou três fiadas de azulejos sobre a pia da cozinha.
Todas as casas têm piso cerâmico no seu interior, sendo que em algumas
delas a área de serviço tem piso cimentado. Na casa CNH09, o piso é feito de cacos
de cerâmica, também chamado mosaico cerâmico, que segundo a moradora é mais
barato. Todos os pisos apresentam boas condições.
172

De maneira geral, as instalações elétricas e hidráulicas apresentam boas


condições, mas a moradora da casa CNH01 reclama que a tubulação hidráulica
apresenta entupimentos frequentes. Já a moradora da casa CNH02 afirma ter
problemas frequentes com a instalação elétrica, tais como queima da resistência do
chuveiro e queima de aparelhos elétricos, o que indica uma possível sobrecarga.
Os moradores da casa CNH09 também relatam ter tido muitos problemas
com as instalações, tanto elétrica quanto hidráulica. Segundo eles, a tubulação
hidráulica tinha um diâmetro muito pequeno e entupia muito. Já a instalação elétrica
gerava a queima da resistência do chuveiro e de aparelhos elétricos. Para sanar
esses problemas, os moradores acabaram por refazer completamente as duas
instalações, o que exigiu que muitas das paredes de concreto fossem quebradas.
A moradora da casa CNH04 reclama que a tubulação do esgoto do vizinho
está vazando e o muro do corredor dela está com infiltração e mau cheiro (figura 94).

Figura 94 – Muro do corredor da CNH04 com infiltração


Fonte: a autora.

Na maioria das residências, as modificações realizadas pelos moradores


foram consideradas boas, como indica o gráfico 38:

Resultado das Modificações


0%0%
20% 20% Muito bom
Bom
Razoável
60% Ruim
Péssimo

Gráfico 38 – Estudo de Caso 2: Avaliação das modificações realizadas


173

8. O CASO DE LAGOINHA

Para a realização deste estudo de caso, foi escolhido o Conjunto Habitacional


Lagoinha “A”, localizado na região central do município de Lagoinha.
O empreendimento é formado por 34 casas geminadas e o seu diferencial é o
fato de terem sido utilizados três sistemas construtivos diferentes para execução da
mesma tipologia de unidades habitacionais, a saber: alvenaria estrutural com blocos
de concreto, paredes de concreto celular moldadas in loco com fôrmas removíveis e
estrutura metálica com vedação em blocos de concreto.

8.1 O Empreendimento

8.1.1 Cenário

O município de Lagoinha está localizado no Alto Paraíba, na Região do Vale


do Paraíba, entre a Serra do Quebra-Cangalha e a Serra do Mar, a uma distância de
190 km da Capital do Estado de São Paulo (EMPLASAGEO, 2012). Faz divisa com
os municípios de Guaratinguetá, Aparecida, Roseira, São Luiz do Paraitinga, Cunha
e Taubaté (PORTAL LAGOINHA, 2012). Segundo dados da Fundação SEADE
(2012), sua extensão territorial é de 255,92 km², com uma população de 4.833
habitantes em 2012. O clima é seco e temperado e sua topografia é acidentada e
montanhosa, com uma altitude mínima de 915 metros, e seu território é cortado pelo
rio Paraitinga, afluente mais importante do rio Paraíba do Sul e alguns ribeirões
(EMPLASAGEO, 2012; PORTAL LAGOINHA, 2012).

Figura 95 – Vista aérea da cidade de Lagoinha


Fonte: PORTAL LAGOINHA, 2012.
174

Assim como muitas outras cidades do interior paulista, o município de


Lagoinha teve sua origem a partir de uma parada de tropeiros que levavam café do
sul de Minas Gerais e Vale do Paraíba para o litoral do Estado, em um local próximo
a uma pequena lagoa que veio a inspirar o nome do município. Sua fundação
ocorreu devido à doação de terras feita pela família portuguesa Antocas, onde foi
construída a Capela de Nossa Senhora da Conceição. Aos poucos o povoado ao
seu redor foi se estruturando, sendo oficialmente fundado em 20 de julho de 1803,
com o nome de Nossa Senhora da Conceição da Lagoinha. Em 1866 o povoado foi
declarado freguesia do município de São Luiz do Paraitinga e em 1880 foi elevado à
categoria de vila, recebendo, então, o nome de Lagoinha. Em 1934, no entanto,
retornou ao status de distrito, sendo incorporado ao município de Cunha, e em 1944
foi transferido novamente para São Luiz do Paraitinga. Apenas em 1953 conquistou
definitivamente a condição de município (EMPLASAGEO, 2012; FUNDAÇÃO
SEADE, 2012).

Figura 96 – Igreja Matriz de Lagoinha


Fonte: EMPLASAGEO, 2012.

Nas últimas décadas, assim como aconteceu em outros municípios


brasileiros, Lagoinha passou por grandes alterações na sua composição
populacional devido ao intenso deslocamento da população do campo para a área
urbana em busca de estudo e melhores condições de vida e trabalho, sendo que o
processo de urbanização do município começou a se intensificar a partir dos anos 70
(PORTAL LAGOINHA, 2012). Segundo dados da Fundação SEADE (2012), em
2010 o município já possuía 64,83% de sua população vivendo na área urbana e a
taxa de crescimento da população no período de 2010 a 2012 ficou negativa em
0,09% ao ano, o que confirma também o processo de mudança de moradores para
cidades maiores, em especial os mais jovens.
175

O PIB do município foi de 51,48 milhões em 2010, sendo que 18,91% desse
valor foi gerado pelo setor primário, 20,55% pelo setor secundário e 60,53% pelo
setor terciário. No setor primário destacam-se a pecuária, leiteira e de corte, e a
criação de aves, equinos e suínos. Já a produção agrícola do município conta com
plantações de mandioca, milho, feijão e arroz, porém, em pequena escala devido ao
relevo acidentado e técnicas inadequadas de plantio. Por outro lado, a produção
hortifrutigranjeira como cenoura, beterraba, couve-flor, pimentão, repolho e outros,
vem crescendo. No setor secundário, a cidade conta com cooperativas para
pasteurização e comercialização de leite e produção artesanal de queijo, manteiga e
requeijão, além de um alambique para produção artesanal de aguardente. O
comércio e a prestação de serviços são os maiores responsáveis pela geração de
empregos na área urbana e fazem a distribuição dos bens produzidos no município
(PORTAL LAGOINHA, 2012).
Por ser considerado um lugar tranquilo e pacífico, sem poluição e com
atrativos naturais, Lagoinha tem vocação para o turismo ecológico, rural e de
aventura, no entanto, este ainda é pouco explorado. Seu principal atrativo é a
Cachoeira Grande, que possui uma queda de 30m e é considerada uma das belezas
naturais do Vale do Paraíba, sendo muito frequentada no verão por turistas de
diversas regiões (PORTAL LAGOINHA, 2012).

Figura 97 – Vista aérea da Cachoeira Grande


Fonte: Portal LAGOINHA, 2012.

Apesar da sua topografia acidentada, o município não apresenta áreas de


risco povoadas. Dados da Fundação SEADE (2012) indicam que no ano 2000 cerca
de 8% dos domicílios do município não tinham espaço suficiente. Além disso, o
processo de migração da população para a cidade causou um déficit habitacional
176

urbano. Visando fornecer melhores condições de habitação para a população, a


CDHU implantou, no ano de 2002, o Conjunto Habitacional Lagoinha “A” na região
central do município, escolhido como objeto deste estudo de caso.

8.1.2 Descrição e histórico

O Conjunto Habitacional Lagoinha “A” está integrado à malha urbana da


cidade, no limite sul da região central do município, ao lado do Ginásio Municipal e a
cerca de 300 metros do centro da cidade. O acesso se faz pela Avenida Coronel
Manoel Antônio Domingues Castro e pela Rua Padre Valério Cardoso.
A gleba apresenta declividade moderada na região das unidades
habitacionais, não ultrapassando os 15%, e não há terrenos alagadiços e sujeitos a
inundação. Ao sul das residências há uma área destinada a lazer, porém este
espaço nunca foi provido de equipamentos para este fim, estando desocupada até o
momento. A oeste encontra-se o ginásio municipal, ao norte a Escola Estadual
Padre Chico. A figura 98, a seguir, apresenta a implantação do conjunto
habitacional:

Figura 98 – Implantação do Conjunto Habitacional Lagoinha “A”


Fonte: SILVA, 2012.
177

Escola Lotes

Ginásio

Área destinada
a lazer

Figura 99 – Vista geral do Conjunto Habitacional Lagoinha “A”


Fonte: GOOGLE MAPS.

As ruas possuem pavimento asfáltico e as calçadas são cimentadas. O


conjunto habitacional conta, ainda, com iluminação das vias púbicas através de
postes com fiação aérea, rede de abastecimento de água, rede de coleta de
esgotos, rede de captação de águas pluviais e serviço de coleta de lixo.

Fiação aérea

Pavimento
asfáltico Calçadas
cimentadas
Figura 100 – Vista geral do Conjunto Habitacional Lagoinha “A”
Fonte: EMPLASAGEO, 2012.
178

O Conjunto Habitacional Lagoinha “A” é composto por 34 unidades


habitacionais térreas e geminadas duas a duas, atendendo à tipologia TG23A da
CDHU na versão de 2 dormitórios com possibilidade de execução de mais um. Cada
unidade tem 42,71 m² de área construída e conta com sala, cozinha, dois dormitórios
e um banheiro dispostos em um lote de aproximadamente 160 m² (8 m x 20 m) de
área (SILVA, 2012), sendo que os lotes das extremidades são um pouco maiores.
Para a execução das casas, foram utilizados três sistemas construtivos
diferentes a título de experiência. Das 34 unidades construídas, 30 foram
executadas pelo processo de alvenaria estrutural com blocos de concreto, 2 pelo
processo de paredes de concreto moldadas in loco e duas pelo processo de
estruturas metálicas com vedação em blocos de concreto.

Figura 101 – Detalhe da tipologia TG23A na fase inicial com 2 dormitórios


Fonte: CDHU.
179

Figura 102 – Tipologia TG23A em alvenaria estrutural, com 3 dormitórios


Fonte: CDHU.
180

Figura 103 – Corte CC da tipologia TG23A


Fonte: CDHU.

Antes do início da construção foi realizado o serviço de adequação do projeto


padrão da CDHU para os sistemas construtivos de paredes de concreto celular
moldadas in loco e estruturas metálicas CSN com vedação em blocos de concreto.
Assim como no estudo de caso anterior, as casas foram construídas em
regime de mutirão e, no intuito de reduzir os custos, os blocos de concreto foram
fabricados no canteiro pelos próprios mutirantes. O tempo de execução das casas foi
excelente, sendo finalizadas num período de 12 meses, com o mutirão trabalhando
de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h, sendo que as mulheres representaram o
número maior de mutirantes (SILVA, 2012).
Ainda seguindo a metodologia do mutirão, as famílias que tiveram mais horas
de trabalho ganharam itens de acabamento a mais do que as demais e tiveram a
chance de escolher primeiro suas casas.

Figura 104 – Fotos da execução das obras em Lagoinha


Fonte: acervo ABCP.
181

As casas foram construídas sob supervisão de uma empresa gerenciadora,


que manteve um mestre de obras e um encarregado em tempo integral no canteiro
para orientar os mutirantes, além do acompanhamento de um engenheiro. A ABCP
foi convidada a acompanhar a construção das casas em paredes de concreto celular
moldadas in loco, viabilizadas e construídas pela empresa Tecnometa, fornecedora
do aditivo para execução do concreto aerado9. Ao acompanhar a execução dessas
casas, porém, os profissionais da ABCP tiveram também a oportunidade de observar
a construção das demais unidades deste conjunto habitacional.
Não há informações sobre patologias identificadas nas casas de alvenaria
estrutural ainda na fase de execução. No caso das casas em paredes de concreto
celular moldadas in loco, verificou-se que o concreto não atingiu a plasticidade
necessária e surgiu uma série de “bicheiras”, que foram corrigidas antes da entrega
e não comprometeram as unidades10. As casas de estrutura metálica foram
entregues com a estrutura e a laje prontas e coube aos mutirantes a execução da
alvenaria de vedação, instalações e acabamentos.
As 34 unidades habitacionais do Conjunto Habitacional Lagoinha “A” foram
entregues em 2002 sem o acabamento. A tabela a seguir apresenta uma descrição
das casas entregues baseada nos 10 órgãos básicos do edifício apresentados por
Roméro e Ornstein (2003):

9
Informação fornecida pelo Arqº Carlos Chaves em entrevista por e-mail em 24/01/2013.
10
Informação fornecida pelo Arqº Carlos Chaves em entrevista por e-mail em 24/01/2013.
182

Tabela 5 – Descrição das unidades habitacionais do Conjunto Lagoinha “A”

Órgão do
Descrição
Edifício

Os lotes foram entregues sem muros, com exceção das divisas de lotes
que tinham um desnível no terreno, onde foram feitos pequenos muros
Terrapleno de contenção apenas até o nível do lote mais alto. Os lotes foram
entregues com grama e um caminho formado de placas de concreto do
limite frontal do lote até a entrada das unidades habitacionais.

Fundação A fundação adotada é do tipo radier.

Alvenaria estrutural com blocos de concreto (30 U.H.), paredes de


Estrutura concreto celular moldadas in loco (2 U.H.) e estrutura metálica CSN (2
U.H.). Laje maciça de concreto na casa toda.

Cobertura Estrutura metálica e telhas cerâmicas tipo romana.

Alvenaria estrutural com blocos de concreto (30 U.H.), paredes de


Vedações
concreto celular moldadas in loco (2 U.H.) e blocos de concreto (2 U.H.).

Esquadrias Portas e janelas de aço com pintura em esmalte e vidros.

Chapisco e reboco nas alvenarias. Pintura externa com textura acrílica


Paramentos
hidrorrepelente e interna com látex PVA sobre massa corrida.

Pisos As casas foram entregues apenas com o piso cimentado.

Instalação elétrica e hidráulica convencional, com eletrodutos plásticos,


Instalações tubulação de PVC e fiação de cobre encapada. Todas as instalações
foram embutidas nas paredes.

Alvenaria Paredes de
Estrutura
estrutural concreto
metálica

Figura 105 – Casas nos três sistemas construtivos entregues em Lagoinha


Fonte: acervo ABCP.
183

Figura 106 – Interior de uma das casas logo após a entrega


Fonte: acervo ABCP.

8.1.3 Sistema Construtivo: Alvenaria estrutural com blocos de concreto

O principal processo construtivo utilizado no Conjunto Habitacional Lagoinha


“A” é a Alvenaria Estrutural com Blocos de Concreto, mas também foram adotados,
em caráter de experiência, os processos de paredes de concreto celular moldadas in
loco e o sistema de estruturas metálicas com vedações em blocos de concreto.
Neste estudo de caso, será analisado com mais ênfase o processo de
alvenaria estrutural com blocos de concreto, uma vez que o processo de paredes de
concreto celular moldadas in loco já foi analisado no caso anterior. Há de se
ressaltar, porém, que, o sistema utilizado nas casas de Lagoinha utilizou fôrmas
plásticas e a estrutura dos telhados é metálica.
Já o processo de estruturas metálicas com vedações em blocos de concreto
apresenta apenas dois exemplares para estudo, uma amostra considerada
insuficiente para se chegar a conclusões com a precisão exigida nesta pesquisa.
Assim, será detalhado, a partir de agora, o sistema de alvenaria estrutural
com blocos de concreto utilizado neste empreendimento.

8.1.3.1 Materiais

Para que a alvenaria estrutural cumpra as funções desejadas de desempenho


estrutural, conforto termo-acústico, vedação e durabilidade, é fundamental que os
materiais sejam especificados corretamente e a execução seja bem feita.
Em relação aos materiais, os principais componentes da alvenaria estrutural
são: os blocos estruturais de concreto, a argamassa de assentamento e o graute.
184

Blocos de Concreto
Segundo Salvador Filho (2007), os blocos de concreto são constituídos de
cimento Portland, agregados graúdo e miúdo e água, podendo, em função de
necessidades específicas, ter a adição de outros componentes, como adições
minerais, pigmentos, aditivos etc. Assim, esses componentes devem ser
especificados e utilizados de acordo com suas propriedades específicas para que o
produto final atenda às características especificadas.
Ainda de acordo com Salvador Filho (2007), o processo de fabricação é feito
através de vibro-prensagem, com máquinas capazes de produzir milhares de blocos
por dia e com controles automáticos para regular altura e densidade do bloco,
controlar matérias-primas, pesagem, mistura, colocação dos paletes e retirada do
bloco recém-moldados. O autor salienta, ainda, que o concreto utilizado para a
fabricação dos blocos deve ter consistência seca para permitir que estes sejam
desmoldados rapidamente após a compactação sem que sofram variações
dimensionais durante as operações de transporte, cura etc.
Prudêncio Jr. et al. (2003) ressaltam que a fabricação, cura e manipulação
dos blocos devem utilizar processos que garantam um concreto suficientemente
homogêneo e compacto.
A NBR 6136 (ABNT, 2007) classifica os blocos vazados de concreto em:
• Classe A (fbk > 6 MPa): Com função estrutural, para uso em elementos
de alvenaria acima ou abaixo do nível do solo.
• Classe B (fbk > 4 MPa): Com função estrutural, para uso em elementos
acima do nível do solo.
• Classe C (fbk > 3 MPa): Com função estrutural, para uso em elementos
acima do nível do solo.
• Classe D (fbk > 2 MPa): Sem função estrutural, para uso em elementos
de alvenaria acima do nível do solo.
Esses elementos são separados no que chamamos de “família de blocos”,
que é o conjunto de componentes de alvenaria que interagem modularmente entre si
e com outros elementos construtivos (COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, 2012). De
acordo com a NBR 6136 (ABNT, 2007), os blocos que compõem uma família,
segundo suas dimensões, são designados como: bloco inteiro (bloco predominante),
185

meio bloco, blocos de amarração L e T (blocos para encontros de paredes), blocos


compensadores A e B (blocos para ajustes de modulação) e blocos tipo canaleta.
Duas famílias de blocos de concreto são utilizadas no Brasil, a família 29 e a
família 39, apresentadas na tabela 6, a seguir:

Tabela 6 – Comparativo entre as famílias de blocos de concreto

Fonte: COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, 2012.

As dimensões reais dos blocos vazados de concreto, modulares e


submodulares, devem corresponder às dimensões constantes da tabela 7 a seguir:
186

Tabela 7 – Famílias de blocos


Nominal 20 15 12,5 10 7,5
Designação Módulo M-20 M-15 M-12,5 M-10 M-7,5
Amarração 1/2 1/2 1/2 1/2 1/2 1/3 1/2 1/2 1/3 1/2

Linha 20x40 15x40 15x30 12,5x40 12,5x25 12,5x37,5 10x40 10x30 10x30 7,5x40

Largura (mm) 190 140 140 115 115 115 90 90 90 65


Altura (mm) 190 190 190 190 190 190 190 190 190 190
Inteiro 390 390 290 390 240 365 390 190 290 390
Meio 190 190 140 190 115 - 190 90 - 190
Comprimento (mm)

2/3 - - - - - 240 - - 190 -


1/3 - - - - - 115 - - 90 -
Amarração L - 340 - - - - - - - -
Amarração T - 540 440 - 365 365 - 290 290 -
Compensador A 90 90 - 90 - - 90 - - 90
Compensador B 40 40 - 40 - - 40 - - 40
Fonte: NBR 6136 (ABNT, 2007).

Segundo Parsekian (2012), a espessura mínima para uma parede estrutural é


de 14 cm, sendo possível uma flexibilização para edificações com até dois
pavimentos. Nesse caso, o índice de esbeltez (L), que é a relação entre a altura
efetiva (hef) e a espessura efetiva (hef), para o caso de alvenaria não armada deve
respeitar os seguintes limites:
• (hef / tef) ≤ 24 para alvenaria não armada;
• (hef / tef) ≤ 30 para alvenaria armada.
Já a Comunidade da Construção (2012) recomenda que os blocos com
função estrutural classe C sejam empregados, conforme sua designação, da
seguinte forma:
• Blocos M10 – edificações de no máximo 1 pavimento
• Blocos M12,5 – edificações de no máximo 2 pavimentos
• Blocos M15 e M20 – edificações maiores
De acordo com Prudêncio Jr. et al. (2003), os blocos devem ter arestas vivas
e não devem apresentar trincas, fraturas ou outros defeitos que possam prejudicar o
seu assentamento ou afetar a resistência e durabilidade da construção, não sendo
permitida qualquer pintura que oculte defeitos eventualmente existentes no bloco.
Os autores alertam, ainda, que a textura do bloco deve apresentar rugosidade e
porosidade superficial adequadas para que haja aderência com a argamassa,
tornando o conjunto monolítico.
187

Para obter o máximo de vantagens oferecidas pelo sistema, é imprescindível


que os blocos de concreto tenham precisão e estabilidade dimensional. Para tanto,
os blocos devem ser fabricados com as dimensões corretas e a retração por
secagem, que é a redução do volume decorrente da evaporação da água excedente
do concreto, deve ser sempre inferior a 0,065 % (PRUDÊNCIO JR. et al., 2003). A
NBR 6136 (ABNT, 2007) determina a tolerância máxima de 2,0 mm para a largura e
3,0 mm para a altura e comprimento dos blocos.
Os blocos de concreto podem ser produzidos com resistências características
(fbk) variadas, de acordo com a necessidade estrutural da edificação. Os blocos
mais utilizados são aqueles com fbk entre 4,0 e 12,0 MPa, mas é possível encontrar
no mercado fabricantes que produzem blocos de até 25 MPa. O projetista é o
responsável por determinar a resistência característica à compressão dos blocos
(fbk), sendo que podem ser determinadas resistências diferentes em uma mesma
edificação.
A NBR 6136 (ABNT, 2007) determina que a absorção dos blocos de concreto
deve ser inferior a 10% quando utilizado agregado normal, sendo que quanto mais
denso o bloco, menor será a sua absorção. Valores superiores a este indicam blocos
porosos, com baixa resistência mecânica e tendência a absorver rapidamente a
água da argamassa de assentamento das alvenarias. Por outro lado, blocos com
absorção muito baixa (próxima a zero) praticamente não absorvem água da
argamassa, prejudicando a aderência da argamassa ao bloco e, consequentemente,
o enrijecimento das juntas. Uma absorção em torno de 6% é bastante adequada
(PRUDÊNCIO JR. et al., 2003).

Argamassa de Assentamento
Segundo Prudêncio Jr. et al. (2003), “a argamassa é prioritariamente um
adesivo que une as unidades de alvenaria e que serve para transferir esforços entre
elas, bem como para acomodar pequenas deformações inerentes à própria
alvenaria”.
Em uma parede de alvenaria, as juntas de argamassa têm as funções de unir
solidariamente os blocos e ajudá-los a resistir aos esforços laterais, distribuir
uniformemente as cargas por toda a área resistente dos blocos, absorver as
188

deformações naturais a que a alvenaria estiver sujeita e selar as juntas contra a


penetração de água (SABBATINI, 1984 apud PRUDÊNCIO JR. et al. 2003).
É incorreto pensar que a boa argamassa é aquela que atende aos mesmos
requisitos de um bom concreto, pois, diferentemente do concreto, a resistência à
compressão é secundária para a argamassa. Como a argamassa trabalha
absorvendo deformações, não pode ser muito rígida e, por ser assentada sobre
superfícies absorventes, é importante sua capacidade de retenção de água
(PRUDÊNCIO JR. et al., 2003).
Ainda de acordo com Prudêncio Jr. et al. (2003), a argamassa de
assentamento utilizada na alvenaria estrutural deve apresentar as seguintes
propriedades:
• No estado fresco
o trabalhabilidade suficiente para uma boa produção;
o capacidade de retenção de água para não ser alterada em caso de
elevada sucção;
o adquirir rapidamente a resistência para resistir aos esforços de
construção.
• No estado endurecido
o ter suficiente aderência aos blocos para garantir a resistência e
estanqueidade da alvenaria;
o ter resistência à compressão suficiente para não comprometer a
alvenaria, porém, sem nunca ser mais resistente do que os blocos;
o ter baixo módulo de deformação para acomodar as deformações
sem fissurar.
Ainda segundo os autores, essas características são fortemente dependentes
da composição da argamassa e das características dos blocos que irão interagir com
ela. Dessa forma, é importante a realização de ensaios não só para determinar as
características da argamassa, mas também para determinar as características do
conjunto.
As argamassas para assentamento de blocos de concreto podem ser
industrializadas ou “viradas” na obra. De qualquer forma, os principais componentes
da mistura são cimento Portland, cal, areia e água, podendo ser adicionados aditivos
específicos para alterar suas propriedades.
189

Seja qual for o tipo de argamassa utilizada, não é recomendado o preparo em


betoneiras comuns. O ideal é que a mistura seja realizada em misturadores
específicos para esse fim, as argamassadeiras, que dão maior homogeneidade à
argamassa. Quanto à sua aplicação, de modo geral, o tempo entre a mistura e o uso
da argamassa não deve exceder o prazo de duas horas e meia (COMUNIDADE DA
CONSTRUÇÃO, 2012). Todas as argamassas devem atender às especificações das
normas pertinentes.

Graute
O graute é um tipo especial de concreto, definido pela NBR 15961 (ABNT,
2011) como um “componente utilizado para preenchimento de espaços vazios de
blocos com a finalidade de solidarizar armaduras à alvenaria ou aumentar sua
capacidade resistente”. É composto por cimento, areia, pedrisco e água, podendo
ser adicionada cal com teor não superior a 10% do volume do cimento ou outra
adição que proporcione trabalhabilidade e retenção de água de hidratação à mistura
(ABNT, 2011; COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, 2012).
O graute influencia decisivamente na resistência à compressão das paredes
com vazios preenchidos, sendo inclusive utilizado como recurso dos calculistas para
aumentar a capacidade portante da parede sem aumentar a sua espessura. A
resistência do graute é definida pelo projetista de estruturas, mas a NBR 15961
(ABNT, 2011) determina uma resistência mínima de 15 MPa para alvenarias
estruturais.
É utilizado para preenchimento das canaletas, blocos J de apoio das lajes,
vergas e contravergas de janelas e nos furos verticais, podendo estar ou não
acompanhado de armadura (COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, 2012). Segundo
Prudêncio Jr. et al. (2003), o graute deve apresentar uma elevada fluidez para
preencher completamente os vazados dos blocos sem deixar espaços vazios.
A NBR 15961 (ABNT, 2011) determina, ainda, que o graute deve ser utilizado
dentro do prazo máximo de 2h30min após a adição de água à mistura. A única
exceção à essa regra é no caso de utilização de aditivo retardador de pega, sendo
que neste caso, devem ser seguidas as recomendações do fabricante.
190

Armaduras
As barras de aço utilizadas na alvenaria estrutural são as mesmas utilizadas
nas estruturas de concreto armado, sendo que devem ser envolvidas pelo graute
para que trabalhem em conjunto com o restante da alvenaria. Essas armaduras
podem ser utilizadas verticalmente em pontos determinados pelo projetista estrutural
e horizontalmente nas canaletas, blocos J, vergas e contravergas. Em edifícios onde
não ocorrem tensões de tração devido ao vento, a bitola mais utilizada é a de 10
mm, exceto pelas barras posicionadas nas juntas de argamassa, que devem ter um
diâmetro mínimo de 3,8mm ou metade da espessura da junta (COMUNIDADE DA
CONSTRUÇÃO, 2012).

Prismas de blocos de concreto


O prisma é um corpo de prova considerado a menor unidade representativa
de uma alvenaria e é obtido pela sobreposição de dois blocos unidos por uma junta
horizontal de argamassa, podendo ter os vazados ocos ou cheios com graute.
A NBR 15961 (ABNT, 2011) prescreve os métodos de preparo e ensaio de
prismas de blocos de concreto para alvenaria estrutural, que devem ser realizados
para caracterização prévia da alvenaria e para controle de obras com especificação
de resistência característica de bloco inferior a 12 MPa.

8.1.3.2 O Sistema

A alvenaria estrutural data de milhares de anos atrás, no entanto, com a


utilização de blocos de rochas, com diversos exemplos como as Pirâmides do Egito,
a Muralha da China e o Coliseu de Roma. Os blocos de concreto só foram criados e
patenteados por Gibbs em 1850 e a alvenaria estrutural propriamente dita,
concebida a partir de teorias de cálculo, só surgiu por volta de 1950 (PRUDÊNCIO
JR. et al., 2003).
Hoje, a alvenaria estrutural com blocos de concreto conta com diversas
normas voltadas à qualidade dos materiais e ao processo construtivo em todo o
mundo, sendo que as principais normas brasileiras em vigor são:
• NBR 6136 (2007) – Bloco vazado de concreto simples para alvenaria –
requisitos
191

• NBR 8949 (1985): Paredes de alvenaria estrutural – ensaio à compressão


simples – método de ensaio
• NBR 12118 (2011) – Blocos vazados de concreto simples para alvenaria –
métodos de ensaio
• NBR 13279/05 – Argamassa para assentamento e revestimento de
paredes e tetos – Determinação da resistência à tração na flexão e à
compressão
• NBR 13281/05 – Argamassa para assentamento e revestimento de
paredes e tetos – Requisitos
• NBR 14321 (1999): Paredes de alvenaria estrutural – determinação da
resistência ao cisalhamento
• NBR 14322 (1999): Paredes de alvenaria estrutural – verificação da
resistência à flexão simples ou à flexo-compressão
• NBR 15961-1: (2011) – Alvenaria estrutural – blocos de concreto. Parte 1:
Projeto
• NBR 15961-2: (2011) – Alvenaria estrutural – blocos de concreto. Parte 2:
Execução e controle de obra

A alvenaria estrutural com blocos de concreto é um sistema construtivo


racionalizado que possibilita a redução da mão de obra empregada, do tempo de
execução e dos custos da obra, quando comparada com o sistema tradicional de
concreto armado (PRUDÊNCIO JR. et al., 2003).
O sistema de alvenaria estrutural com blocos de concreto apresenta, ainda,
outras vantagens significativas (ABCP, 2002):
• redução de armaduras;
• redução de fôrmas;
• eliminação das etapas de moldagem dos pilares e vigas;
• facilidade na montagem da alvenaria; e
• redução de desperdícios e retrabalho.
De acordo com Prudêncio Jr. et al. (2003), neste sistema as paredes
funcionam como elementos portantes e transferem as cargas diretamente para as
fundações ou para a estrutura de transição.
192

Por cumprir as funções de estrutura e vedação ao mesmo tempo, não é


possível, nesse sistema, danificar ou modificar as paredes estruturais sem a
verificação do projetista, no entanto, pode-se prever as paredes que têm mais
probabilidade de serem alteradas e considerá-las não portantes para efeito de
cálculo. Por essa razão, é importante que os moradores sejam devidamente
informados e esclarecidos sobre essa questão.
De acordo com Parsekian (2012), os elementos da alvenaria são classificados
em NÃO ARMADOS, quando a armadura é desconsiderada para resistir aos
esforços solicitantes, ARMADOS, quando são utilizadas armaduras passivas que
são consideradas para resistência aos esforços solicitantes, e PROTENDIDOS,
quando são utilizadas armaduras ativas impondo uma pré-compressão antes do
carregamento.
Segundo Prudêncio Jr. et al. (2003), como os componentes básicos da
alvenaria, os blocos, possuem dimensões padronizadas, é possível utilizar a
modulação da edificação, evitando desperdício de tempo e de materiais. Assim,
estes autores afirmam que, antes de iniciar o projeto da alvenaria estrutural, é
preciso definir a família de blocos que será utilizada e a espessura desses blocos,
lembrando-se de definir também os elementos especiais pertencentes à família
escolhida, tais como: os blocos canaletas, os blocos tipo “J” e os blocos
compensadores.
Uma vez definida a família e a espessura dos blocos, é possível desenvolver
o projeto da alvenaria, que deve ser concebida de forma modulada já nas primeiras
etapas de projeto. De acordo com o Manual de Habitação 1.0, da ABCP (2002),
“Modular é dispor os blocos em fiadas alternadas, amarrando os elementos e as
paredes entre si com o mínimo possível de peças, sem quebras”.
De acordo com a Comunidade da Construção (2012), para realizar a
modulação, é utilizada uma unidade modular definida pelas medidas dos blocos,
podendo ou não ser múltiplas umas das outras. Se as medidas não são múltiplas, é
preciso utilizar elementos especiais pré-fabricados ou fabricados em canteiro para
fazer o ajuste das paredes tanto na direção horizontal quanto na vertical, os
chamados elementos compensadores.
Caso seja adotada a família 29, a unidade modular é 15 e múltiplos de 15,
onde 15 é a medida do bloco de 14 cm mais 1 cm de espessura das juntas. Assim, o
193

comprimento dos blocos é sempre múltiplo da largura, o que evita o uso de


elementos compensadores, exceto para ajuste de vãos de esquadrias
(COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, 2012).

Figura 107 – Modulação utilizando a família 29


Fonte: COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, 2012.

No caso de adoção da família 39, a unidade modular é 20 e múltiplos de 20,


sendo 20 a medida do bloco de 19 cm mais 1 cm de espessura das juntas. Se forem
adotados blocos com largura de 14 cm, serão necessários elementos
compensadores para ajuste de vãos de esquadrias para modulação em planta baixa,
sendo necessário o emprego do bloco especial B34 (34 x 19 x 14 cm) para ajuste
nos encontros em “L” e em “T” (COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, 2012).
194

Figura 108 – Modulação utilizando a família 39


Fonte: COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, 2012.

De acordo com Parsekian (2012), a norma NBR 15961-1 define dois tipos de
amarração entre as paredes de blocos de concreto, a direta e a indireta. A
amarração direta é sempre a mais recomendada e consiste na ligação de paredes
por intertravamento de blocos, sendo obtida com a interpenetração alternada de
50% das fiadas de uma parede na outra ao longo das interfaces comuns. Já a
amarração indireta é obtida através da ligação de paredes com junta vertical a
prumo com o plano da interface comum sendo atravessado por grampos metálicos
ancorados nos furos verticais adjacentes.
Assim, é importante que o projetista conheça bem o sistema construtivo
empregado para que o projeto seja o mais detalhado possível e tenha soluções que
visem reduzir ao máximo a quantidade de componentes utilizados na produção
(ABCP, 2002).
195

Prudêncio Jr. et al. (2003), salientam, ainda, que deve haver compatibilização
entre os projetos arquitetônico, estrutural e complementares para que todas essas
informações sejam compiladas em um projeto de produção. Esse projeto deve
conter plantas baixas e elevações das paredes com detalhes arquitetônicos,
estruturais, de instalações elétricas, hidráulicas e outras que sejam necessárias
(ABCP, 2002). Assim, esse projeto compatibilizado e de fácil execução será levado
ao canteiro para ser utilizado pelo mestre, encarregados e operários.
A NBR 15961-2 (ABNT, 2011) determina, também, os principais
procedimentos de execução e controle das alvenarias estruturais com blocos de
concreto. Uma destas determinações é a de que as juntas de assentamento
horizontais e verticais devem ter espessura de 10 mm ±3 mm, com exceção da junta
horizontal da primeira fiada, que pode variar entre 5 mm e 20 mm de acordo com o
desnível do pavimento. As juntas horizontais devem, preferencialmente, ser
colocadas nas paredes longitudinais e transversais dos blocos, a menos que o
projeto especifique o contrário. Já as juntas verticais devem ser preenchidas através
da aplicação de dois filetes de argamassa na parede lateral dos blocos, com largura
igual ou superior a 30 mm.
Parsekian (2012), afirma que, para edifícios de até 5 pavimentos, a junta
vertical pode ser preenchida 15 dias após a elevação total da parede utilizando
argamassa não retrátil aplicada com bisnaga com compressão suficiente para
garantir largura mínima do filete de argamassa vertical. Nos demais casos, o autor
ressalta que o preenchimento da junta deve ser feito durante a execução da parede.
Com relação às armaduras, tanto verticais quanto horizontais, Parsekian
(2012) recomenda que tenham um cobrimento mínimo de 15 cm, salvo se tiverem
alguma proteção contra corrosão, podendo ser utilizados espaçadores para garantir
essa condição.
Parsekian (2012), afirma, ainda, que a armadura de canto, nos encontros de
paredes, é necessária em algumas situações, apesar de ser de difícil execução. O
autor salienta que os cantos externos dos edifícios sempre devem ter uma armadura
construtiva, geralmente de 10 mm, independentemente da altura da construção. Em
edifícios com mais do que 5 pavimentos, é recomendável utilizar essa armadura
também nos encontros de paredes principais.
196

Segundo Parsekian (2012), as armaduras das vergas, quando executadas


com canaletas grauteadas, devem sempre ser dimensionadas e os apoios devem ter
no mínimo 15 cm para comprimento de até 1,0 m e 30 cm para comprimentos
superiores. Já na contraverga, a armadura é construtiva e geralmente constituída de
uma barra de 10 mm ou treliça TR08 com apoios de no mínimo 30 cm.
Os eletrodutos são embutidos na vertical dentro dos furos dos blocos e na
horizontal nas lajes ou nos forros. Já no tocante às instalações hidrossanitárias, é
recomendável que estas não sejam embutidas nas paredes para permitir a
manutenção sem a necessidade de quebrar a alvenaria (ABCP, 2002), entretanto,
nas casas de Lagoinha essas tubulações foram embutidas.
Deve ser prevista a execução de uma cinta de respaldo para amarrar o topo
das paredes e dar mais estabilidade à estrutura. Essa cinta é constituída de
canaletas grauteadas, com ou sem armação horizontal, e deve ser localizada,
preferencialmente, na última fiada de blocos (PARSEKIAN, 2012).
Segundo Parsekian (2012), a utilização de lajes maciças moldadas no local,
ou suas variações como uso de pré-laje com capa moldada no local, permite uma
boa distribuição das cargas verticais e comportamento como diafragma rígido na
maioria dos casos. Assim, o simples apoio da laje sobre a cinta de respaldo é
suficiente para transmitir, por atrito, os esforços verticais e horizontais sem a
necessidade de armadura vertical de ligação. Nesse caso, a cinta de respaldo deve
ser sempre posicionada na última fiada, e deve ser grauteada antes da concretagem
da laje. No caso de Lagoinha, foram executadas lajes maciças de concreto em toda
a casa.
Bauer (2006) lembra, ainda, que “cuidados no projeto e na execução das
obras evitam problemas nos edifícios construídos com alvenaria estrutural”. De
acordo com o autor, as fissuras são as patologias mais encontradas na alvenaria
estrutural com blocos de concreto e é importante conhecer suas causas para definir
o tratamento mais adequado. As tabelas a seguir apresentam as principais
configurações e causas das fissuras em alvenarias estruturais com blocos de
concreto:
197

Tabela 8 – Tipologias e prováveis causas de fissuras verticais

Resistência à tração do bloco vazado de concreto é superior à resistência


à tração da argamassa.

Resistência à tração do bloco vazado de concreto é igual ou inferior à


resistência à tração da argamassa.

Sob ação de cargas uniformemente distribuídas, em função principalmente


da deformação transversal da argamassa de assentamento e da eventual
fissuração de blocos ou tijolos por flexão local, as paredes em trechos
contínuos apresentam fissuras tipicamente verticais.

Sendo constituídas de materiais porosos, as alvenarias terão seu


comportamento influenciado pelas movimentações higroscópicas desses
materiais. A expansão das alvenarias por higroscopicidade ocorrerá com
maior intensidade nas regiões da obra mais sujeitas à ação da umidade
como, por exemplo, cantos desabrigados, platibandas, base das paredes
etc.
Fonte: Bauer, 2006.

Tabela 9 – Tipologias e prováveis causas de fissuras inclinadas

Em trechos com a presença de aberturas, haverá considerável


concentração de tensões no contorno dos vãos. No caso da inexistência
ou subdimensionamento de vergas e contravergas, as fissuras se
desenvolverão a partir dos vértices das aberturas.

Devido a cargas verticais concentradas, sempre que não houver uma


correta distribuição dos esforços através de coxins ou outros elementos,
poderão ocorrer esmagamentos localizados e formação de fissuras a
partir do ponto de transmissão da carga.

Recalques diferenciados, provenientes, por exemplo, de falhas de projeto,


rebaixamento do lençol, falta de homogeneidade do solo ao longo da
construção, compactação diferenciada de aterros e influência de
fundações vizinhas provocarão fissuras inclinadas em direção ao ponto
onde ocorreu o maior recalque.

Fonte: Bauer, 2006.


198

Tabela 10 – Tipologias e prováveis causas de fissuras horizontais

As fissuras horizontais nas alvenarias, causadas por sobrecargas


verticais atuando axialmente no plano da parede, não são frequentes;
poderão ocorrer, entretanto, pelo esmagamento da argamassa das juntas
de assentamento. Tais fissuras, contudo, não são muito raras em paredes
submetidas à flexocompressão.

Em alvenarias pouco carregadas, a expansão diferenciada entre fiadas


de blocos pode provocar, por exemplo, a ocorrência de fissuras
horizontais na base das paredes.

Na retração por secagem de grandes lajes de concreto armado sujeitas a


forte insolação poderá ocorrer fissuração, devido ao encurtamento da
laje, que provocará uma rotação nas fiadas de blocos próximos à laje.

Devido a movimentações térmicas, surgirão fissuras idênticas àquelas


relatadas para a movimentação higroscópica e retração por secagem.
Estas serão mais intensas nas lajes de cobertura e poderão ser evitadas
com um cintamento muito rígido ou sistema de apoio deslizante.
Fonte: Bauer, 2006.

Ainda de acordo com Bauer (2006), as manifestações mais comuns ligadas à


umidade em edificações são as manchas de umidade, corrosão, bolor, fungos,
algas, líquens, eflorescências, descolamentos de revestimentos, friabilidade da
argamassa por dissolução de compostos com propriedades cimentíceas, fissuras e
mudança de coloração dos revestimentos. Ele explica que diversos fatores podem
gerar umidade nos materiais de construção, como:
• absorção capilar de água do solo;
• absorção de água de infiltração ou de fluxo superficial de água;
• absorção higroscópica de água;
• absorção de água por condensação capilar;
• absorção de água por condensação (por exemplo: teto do banheiro);
• infiltração pelos componentes da alvenaria;
• infiltração pelas juntas de assentamento;
• geometria das fachadas desfavorável e superfícies horizontais sem
inclinação mínima de 1%;
199

• prumadas externas de águas pluviais mal posicionadas ou danificadas;


• falhas na isolação térmica e impermeabilização das lajes;
• infiltração de água pelas fissuras e trincas do revestimento ou alvenarias;
• problemas de estanqueidade nos caixilhos;
• infiltrações relacionadas a outros fatores, como falta ou deficiência das
pingadeiras, molduras, cimalhas, peitoris e frisos.

Outra patologia comum, segundo Bauer (2006), é o surgimento de


eflorescências. A eflorescência, segundo ele, é resultado de depósitos salinos na
superfície de alvenarias, provenientes da migração de sais solúveis nos materiais e
componentes da alvenaria, e ocorre quando outras duas condições aparecem
simultaneamente: presença de água e pressão hidrostática necessária para que a
solução migre para a superfície. Assim, pelo menos uma das três condições deve
ser eliminada para se evitar a sua presença.

8.1.3.3 Procedimentos de execução

Prudêncio Jr. et al. (2003), salientam que, para que sejam obtidas todas as
vantagens da alvenaria estrutural com blocos de concreto, é necessário o emprego
de técnicas construtivas adequadas para gerar aumento de produtividade e
economia.
Antes de iniciar a execução, é necessário definir os locais de armazenamento
dos materiais e produção dos componentes da alvenaria. Neste estudo de caso,
foram utilizados blocos de 9 x 19 x 39 fabricados no canteiro e argamassa feita na
obra, o que exigiu a definição e organização também dos locais de produção.
Também é necessário verificar a disponibilidade e organizar todas as
ferramentas e equipamentos necessários para a execução da obra.
As casas de alvenaria estrutural do Conjunto Habitacional Lagoinha “A” foram
construídas de acordo com os procedimentos básicos de execução do sistema
(ABCP, 2002; COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, 2011):

Etapa 1: Execução do radier


Execução de fundação tipo radier, deixando todas as esperas e tubulações
de água, esgoto, elétrica etc. Caso haja falhas inferiores a 30 mm no
200

nivelamento, estas devem ser corrigidas com enchimento na primeira fiada


da alvenaria. Caso o desnível seja superior a 30 mm, a correção deve ser
realizada com o mesmo concreto do radier.

Figura 109 – Execução do radier


Fonte: Acervo ABCP.

Etapa 2: Limpeza e verificação


O pavimento deve ser limpo e desobstruído. Em seguida, deve-se verificar
o posicionamento das instalações e armaduras de espera em relação ao
eixo para garantir que estas ficarão posicionadas dentro das paredes.

Etapa 3: Verificação do esquadro


Verificar o esquadro da obra. Se o pavimento for retangular, utilizar o
critério da igualdade entre as diagonais com uma tolerância de ± 5 mm a
cada 10 m.

Figura 110 – Conferência das diagonais do pavimento


Fonte: Acervo ABCP.
201

Etapa 4: Marcação das paredes


Marcar a direção das paredes, vãos de portas e shafts utilizando a linha
traçante (também chamado de “cordex”). Deve-se, também, conferir as
referências com o gabarito de marcação ou locação da obra. A marcação
das paredes perpendiculares pode ser feita usando as medidas 3, 4 e 5.
Com as paredes já marcadas, é recomendável verificar novamente o
posicionamento das tubulações e armaduras.

Figura 111 – Marcação das paredes com o “cordex”


Fonte: Acervo ABCP.

Etapa 5: Instalação dos escantilhões


Os escantilhões devem ser posicionados de acordo com o projeto e a sua
fixação é feita com uso de pregos de aço ou com bucha e parafuso. Em
seguida, deve-se colocar esses escantilhões no prumo com o auxílio de
uma régua prumo-nível ou de um fio de prumo convencional.
Os escantilhões podem ser de três tipos: industrializado com base fixa,
industrializado com base móvel e de madeira, produzido na obra.

Figura 112 – Instalação dos escantilhões


Fonte: Acervo ABCP.
202

Etapa 6: Criação das referências das fiadas


As hastes dos escantilhões devem possuir marcas para determinar a altura
das fiadas. Nos industrializados, essas marcas já vêm impressas e
naqueles produzidos em obra essas marcas devem ser riscadas com lápis.
No ponto mais alto do pavimento, marca-se 20 cm a partir do piso e, com a
ajuda de um nível alemão ou a laser, transfere-se esse nível para todos os
escantilhões, fazendo com que a primeira marca nas hastes coincida com
esse nível. Marcam-se, então, as referências das fiadas com o auxílio de
linhas de nylon ou barbante, interligando as marcas nos escantilhões.

Figura 113 – Marcação das referências das fiadas


Fonte: Acervo ABCP.

Etapa 7: Instalação dos gabaritos de portas


Ainda na fase de colocação dos escantilhões, instalam-se os gabaritos de
portas nos vãos já marcados no pavimento.

Etapa 8: Execução da 1ª fiada


Primeiramente, deve-se molhar a superfície do pavimento na direção da
parede e em seguida, com a colher de pedreiro, aplica-se a argamassa na
largura aproximada do bloco, criando um sulco com a extremidade da
colher. Assentam-se, então, os blocos de concreto, observando a
amarração conforme o projeto. É importante locar corretamente os blocos
com aberturas destinadas à limpeza dos pontos que serão grauteados.
203

Figura 114 – Execução da 1ª fiada da alvenaria


Fonte: Acervo ABCP.

Etapa 9: Execução das demais fiadas


Para o assentamento das demais fiadas de blocos, pode-se utilizar a
palheta, bisnaga ou meia-cana para a aplicação do cordão de argamassa
de assentamento nas paredes longitudinais dos blocos. Nas paredes
transversais dos blocos pode-se utilizar a bisnaga ou a colher de pedreiro.
Utilizar a colher para retirar o excesso de argamassa após o assentamento
de cada bloco e não deslocá-lo da posição depois de assentado. As juntas
verticais podem ser preenchidas durante o assentamento com colher de
pedreiro ou posteriormente com a bisnaga. Durante toda a execução da
alvenaria, devem ser verificados o nível e o alinhamento, garantindo a
precisão dimensional da parede.
O assentamento de blocos tipo “U” (canaleta), tipo “J” e tipo compensador
para a execução de cintas, vergas e contravergas e o posicionamento das
armaduras devem ser realizados de acordo com o projeto estrutural.
Juntamente com a elevação da alvenaria, passa-se a tubulação elétrica e
as armaduras verticais, que devem ser amarradas às armaduras de espera
do radier. No caso de Lagoinha, as instalações elétricas e hidráulicas foram
embutidas nas paredes através da realização de rasgos na alvenaria, o que
não é recomendado.
É importante ressaltar que, no caso de chuvas, as paredes deverão ser
protegidas.
204

Figura 115 – Utilização de palheta e bisnaga na elevação da alvenaria


Fonte: Acervo ABCP.

Figura 116 – Passagem de instalações no interior das alvenarias em Lagoinha


Fonte: Acervo ABCP.

Etapa 10: Grauteamento


Antes de realizar o grauteamento vertical, deve-se limpar o interior dos
furos dos blocos para retirar o excesso de argamassa de assentamento e
tampar os furos de inspeção com madeira. Em seguida, lança-se o graute a
uma altura máxima de 1,6 m, podendo ser utilizada uma barra de aço para
ajudar no adensamento.
O lançamento do graute nas cintas, vergas e contravergas deve ser
realizado de forma que as armaduras não saiam da posição.
205

Figura 117 – Grauteamento vertical da alvenaria


Fonte: Acervo ABCP.

Etapa 11: Execução da laje


Após o grauteamento da cinta de respaldo, é executada a laje maciça
moldada no local.

Figura 118 – Laje maciça moldada in loco em casa de Lagoinha


Fonte: Acervo ABCP.

Etapa 12: Execução da Cobertura


Em seguida, executa-se a estrutura do telhado, que no caso de Lagoinha é
metálica, e a colocação das telhas.
206

Figura 119 – Execução cobertura nas casas de Lagoinha


Fonte: Acervo ABCP.

Etapa 13: Colocação das esquadrias


São instaladas as portas e janelas.

Etapa 14: Revestimentos e acabamentos


Após a elevação, aplica-se o revestimento argamassado e massa corrida
nas paredes internas, com posterior pintura. Também são realizados outros
acabamentos, como instalação de louças e metais.

Figura 120 – Execução do revestimento das casas de Lagoinha


Fonte: Acervo ABCP.

Em função da forma de participação da ABCP neste empreendimento, já


mencionada no item 8.1.2, e do tempo decorrido desde a execução do
empreendimento, não foram localizadas fotos de todas as etapas de execução do
Conjunto Habitacional Lagoinha “A”. Assim, é importante destacar que foram
utilizadas fotos de outras obras para ilustrar algumas etapas de execução do
207

sistema, sendo que as fotos que ilustram a obra em questão estão claramente
identificadas nas legendas.

8.1.3.4 Aplicação em moradia popular

De acordo com a Comunidade da Construção (2012), a alvenaria estrutural é


um processo construtivo consolidado, que pode ser utilizado em qualquer tipo de
empreendimento com grande economia. Trata-se de um sistema de fácil execução
e, portanto, permite envolver a mão de obra local, além de permitir a ampliação das
unidades.
Segundo a Comunidade da Construção (2012), devido à precisão dimensional
e variedade de resistências dos blocos de concreto, pode ser empregada em
diversas tipologias habitacionais. Além disso, por ser um processo racionalizado,
permite rapidez na construção com um custo adequado aos padrões da habitação
popular. Além disso, destacam-se as seguintes vantagens do sistema:
• facilidade de controle – normas técnicas para projeto, materiais e
execução;
• técnica executiva simplificada – execução mais fácil, prática e produtiva.
• facilidade de treinamento – etapas de execução são similares às da
técnica tradicional de execução de paredes.
• redução do volume de revestimento – regularidade das paredes.
• redução do desperdício – compatibilização com outros subsistemas.
• otimização da mão de obra – menos funções na obra.

Por essas razões, a alvenaria estrutural tem sido amplamente utilizada em


empreendimentos de HIS no Brasil, sejam eles promovidos pela CDHU, COHAB ou
pelas prefeituras dos municípios em todas as regiões do país.

8.2 O Estudo de caso

Foi realizada uma visita ao empreendimento Lagoinha “A”, com a participação


de dois pesquisadores, para entrevistar os moradores e colher informações sobre as
casas e modificações realizadas após a entrega destas pela CDHU.
208

Nessa ocasião, foram visitadas 10 unidades habitacionais de alvenaria


estrutural, nomeadas com a sigla LGN, que identifica o empreendimento, e os
números de 01 a 10, sendo que cada uma delas recebeu um nome de LGN01 a
LGN10, na ordem de realização das visitas.
Foram realizadas, ainda, visitas às quatro unidades habitacionais construídas
com estrutura metálica e paredes de concreto, sendo duas com cada processo.
Essas casas receberam os nomes de LGN11 a LGN14, sendo as casas 11 e 12
construídas com estruturas metálicas e as casas 13 e 14 construídas com paredes
de concreto celular moldadas in loco.
No dia da realização das visitas a temperatura chegou a 31º no início da tarde
e no final do dia houve uma forte tempestade, que começou quando já estava sendo
realizada a última visita, que não foi comprometida pela chuva.

8.2.1 Apresentação e Análise dos Resultados das Entrevistas

Para a realização de entrevistas com os moradores, foi utilizado o formulário


padrão apresentado no Apêndice B, porém, com a planta da tipologia utilizada no
Conjunto Habitacional Lagoinha “A”. Os resultados apresentados neste item referem-
se às 14 casas visitadas, independentemente do sistema construtivo de cada uma
delas.
A média de moradores por residência é de 3,57, variando entre 2 e 6
moradores por unidade habitacional.
Das casas visitadas, apenas uma está quitada e as demais ainda então
financiadas, o que representa 86% dessas casas, sendo que destas, uma está
alugada para terceiros. Verificou-se, ainda, que 79% das famílias entrevistadas está
morando no imóvel desde a entrega.
Assim como nos estudos de caso anteriores, observou-se que todas as
residências contam com os bens de consumo básicos, como fogão, geladeira,
televisão e chuveiro elétrico. O gráfico a seguir apresenta a porcentagem de famílias
que possui cada bem de consumo:
209

Bens de consumo das famílias


100%
100% 100% 100%100%100%
100% 100% 100%

86%
80%

64%
60%
57%

40%

29%
20%
7%
0% 14%
7%
0%

Gráfico 39 – Estudo de Caso 3: Bens de consumo das famílias

Com relação à avaliação da casa entregue, 73% dos moradores entrevistados


consideram que a casa NÃO foi entregue completa, o que pode ser atribuído ao fato
de as casas terem sido entregues sem o acabamento completo e sem muros e
portões. Ainda assim, todos os moradores consideram que a casa entregue atende a
todas as necessidades da família. É facilmente perceptível, na fala dos moradores, o
amor e orgulho que têm pelas casas, sobretudo aqueles que participaram da
construção delas, principalmente depois das modificações e personificações
realizadas após a entrega destas.
Assim como no estudo de caso anterior, que apresenta a mesma tipologia
habitacional, foram muitas as reclamações pelo fato de as casas serem geminadas
e, também, porque a sala e a cozinha não são separadas fisicamente, sendo citados
os mesmos motivos relatados pelos moradores do Conjunto Habitacional Cunha “B”.
210

A casa foi entregue


completa?

27%
Sim
73%
Não

Gráfico 40 – Estudo de Caso 3: Avaliação da casa recebida

Com relação à ocorrência de problemas construtivos e patologias, 57% dos


entrevistados afirmaram ter tido algum tipo de problema, sendo que a totalidade
destes moradores afirma ter problemas com umidade e infiltração, mas sem
presença de mofo. Também foram feitas reclamações com relação à movimentação
do aterro e à presença de fissuras e trincas nas paredes e no piso do quintal.

Problemas com umidade e


infiltração

43% Sim
57%
Não

Gráfico 41 – Estudo de Caso 3: Problemas com umidade e infiltração

Dos moradores que relataram problemas com umidade e infiltração, 67%


afirmam que o problema está na região das paredes próximas ao piso e 33% dizem
ter problemas no topo das paredes e nas lajes.
Já com relação à iluminação e ventilação, as avaliações dos moradores foram
boas, chegando a 7% de avaliações ótimas, 79% de avaliações boas e 14% de
avaliações regulares no quesito iluminação. Já no quesito ventilação, 7% dos
entrevistados consideram-na ótima e 93% consideram-na boa.
211

Avaliação da iluminação Avaliação da ventilação


0% 0%
0%
14% 7% 7%
Ótima Ótima
Boa Boa
79% Regular 93% Regular
Ruim Ruim

Gráfico 42 – Estudo de Caso 3: Avaliação Gráfico 43 – Estudo de Caso 3: Avaliação


da iluminação da ventilação

Outra constatação importante foi a de que todas as casas sofreram algum tipo
de modificação após a entrega, fato facilmente explicável, uma vez que as casas
foram entregues sem o acabamento completo. Segundo os moradores, não foi
fornecido nenhum tipo de projeto para a realização de reformas e ampliações nas
casas, mas eles relatam que foi apresentada, nas reuniões com a CDHU, a
possibilidade de ampliação através da construção de um terceiro dormitório,
conforme apresentado na figura 102.
Essas modificações foram realizadas, parte por pedreiros contratados e parte
pelos próprios moradores ou algum membro da família, parentes ou amigos.
Verificou-se, ainda, que essas modificações foram sendo realizadas ao longo do
tempo e que em quase 80% dos casos a última modificação foi realizada há mais de
um ano, mas ainda há modificações em execução. Os gráficos a seguir detalham
estes números:

Quem executou a
modificação?
Contratou um
pedreiro
43%
57%
Fez a reforma
sozinho ou com
ajuda de amigos
e parentes

Gráfico 44 – Estudo de Caso 3: Agente realizador das modificações


212

Data da última modificação


0%
Em execução
7% 7%
7% Há menos de 2 meses

79% De 2 a 6 meses atrás

De 6 a 12 meses atrás

Há mais de 1 ano

Gráfico 45 – Estudo de Caso 3: Data da última modificação

Todas as famílias entrevistadas fizeram modificações na sala, cozinha,


dormitórios, banheiro e área de serviço; 93% fizeram modificações no quintal e 64%
na garagem, como mostra o gráfico a seguir:

Local de realização da modificação

100% 100% 100% 100%


100%
100% 93%

80%

60% 64%

40%

20%

0%
0%

Gráfico 46 – Estudo de Caso 3: Local de realização das modificações

Todas as famílias entrevistadas colocaram piso e 93% fizeram modificações


na cobertura, pintura e azulejos, além de construírem cômodos novos, muros e
portões. O gráfico 47, a seguir, apresenta todos os resultados dos itens modificados
e a porcentagem de famílias que modificou cada um:
213

Item modificado
100% 100%
93%
93% 93% 93% 93%

80%
71%

60% 57%

40%
21% 29%
20% 21%
14%
14% 21%
0%
7%

Gráfico 47 – Estudo de Caso 3: Itens modificados

Dentre os moradores entrevistados, apenas 14% afirmaram ter encontrado


dificuldades técnicas para a realização das modificações. Estes moradores alegaram
que as paredes eram “tortas”, o que, em linguagem técnica, significa que estas
paredes estavam desalinhadas e fora de prumo. Assim, eles dizem ter tido
problemas para alinhá-las com as novas paredes. É importante registrar que as duas
casas (14% do total) onde foram relatadas dificuldades para a realização das
modificações foram construídas pelo sistema de alvenaria estrutural com blocos de
concreto.

Enfrentou dificuldades para


realizar as modificações?

14%

Sim
86% Não

Gráfico 48 – Estudo de Caso 3: Dificuldades para realizar modificações


214

Como apresentado no gráfico 38, a seguir, 64% dos entrevistados afirmam


ainda ter a intenção de realizar alguma modificação na casa futuramente.

Intenção de realizar modificações

0% Já reformou e quer
reformar mais
36% Não reformou, mas
64% quer reformar
Já reformou e não
quer reformar mais
0%
Não reformou e não
quer reformar

Gráfico 49 – Estudo de Caso 3: Intenção de modificar o imóvel

Dos moradores que pretendem realizar modificações, 33% consideram que a


reforma é urgente, como mostra o gráfico 50:

A modificação é urgente?

33%
Sim
67%
Não

Gráfico 50 – Estudo de Caso 3: Urgência das modificações

O principal desejo dos moradores é a construção de um cômodo novo, item


citado por 56% dos entrevistados, sendo que todos relatam a intenção de construir
mais um dormitório. Também foi citada a intenção de fazer modificações na
estrutura, cobertura, forro, revestimentos em geral, muros e portões. Os gráficos 40
e 41 apresentam detalhadamente as intenções dos moradores quanto à realização
de novas modificações, destacando os ambientes a serem modificados e o tipo de
serviço a ser executado, respectivamente.
215

Local onde pretende fazer


modificações
60% 56%

40%
33%
33%

22%
20%
11%
11%
11%
0% 0%
0%

Gráfico 51 – Estudo de Caso 3: Locais que pretende modificar

O que pretende modificar?


60%
56%
44%
40%
33%
22% 22%
20% 22%
11% 11%
0% 11%
0% 0%
0%0%
0% 0%
Estrutura
Cobertura
Acabamento
Instalações Hidráulicas
Forro
Reboco interno

Construção de cômodo…
Instalações Elétricas
Piso (colocação ou troca)
Reboco externo
Azulejo (colocação ou troca)
Pintura

Portão e muro
Portas e janelas
Outros

Gráfico 52 – Estudo de Caso 3: Serviços que pretende realizar

Para os moradores, o maior benefício das modificações realizadas ou


intencionadas é a ampliação da casa, seguido pelo aumento da segurança e pela
melhoria da aparência da residência, exatamente a mesma ordem de importância
dada pelos moradores do Conjunto Habitacional Cunha “B”. O gráfico 53, a seguir,
216

apresenta os resultados completos dos benefícios das modificações citados pelos


moradores:

Qual o benefício das modificações


para a família?
80% 71%

60% 50%
50%
40%
29%
20% 14%

0% 0%

Gráfico 53 – Estudo de Caso 3: Benefício das modificações

8.2.2 Apresentação e Análise dos Resultados da Avaliação Técnica

A avaliação técnica dos imóveis foi realizada através de visita ao seu interior
em companhia de um ou mais moradores.
Observou-se que a grande maioria das casas do conjunto habitacional conta
com muros e portões, sendo que dentre as casas visitadas, apenas duas não têm
muros na frente do lote. No primeiro caso, a frente do lote conta com portão metálico
alto em quase toda a extensão e um pequeno trecho de muro no canto esquerdo,
elemento que também está presente nas laterais e fundo do lote.
Já a outra casa conta com os muros laterais e de fundo construídos pelos
vizinhos e com um portão de madeira baixo na frente do lote.
217

Figura 121 – Vista de fachadas com muros e portões


Fonte: a autora.

Figura 122 – Vista de fachadas só com portões


Fonte: a autora.

Dentre as 14 casas visitadas, 10 tiveram o lote totalmente cimentado, sendo


que em duas delas também foi aplicado piso cerâmico em toda a área externa do
lote. Outras três casas apresentam piso cimentado em parte do lote e as áreas
restantes destinadas a jardins e hortas. Apenas uma casa manteve o terreno todo
sem piso, apenas com terra, pedrisco e o caminho de placas de concreto do limite
do lote até a entrada da casa, como pode ser visto na Figura 122.

Figura 123 – Lotes com trechos cimentados na LGN07 e LGN14


Fonte: a autora.
218

Há um desnível grande no aterro entre a área de lazer ao sul do


empreendimento e as casas que fazem divisa de fundo com ela. Duas dessas casas
não possuem muro nos fundos do lote e o barranco está desprotegido, porém, sem
sinais aparentes de movimentação ou de riscos de desmoronamento.
Outra casa apresenta “afundamento” no piso cimentado do corredor na lateral
do lote, com trincas e fissuras, o que sugere um possível recalque por acomodação
do aterro. É importante salientar que existe um desnível entre este lote e o lote
vizinho, o que ajuda a suportar a hipótese levantada.

Figura 124 – Trincas e afundamento no piso do quintal da LGN11


Fonte: a autora.

Do outro lado da rua, uma das casas apresenta histórico de queda do muro e
desbarrancamento do aterro justamente nessa região de desnível entre os lotes no
corredor lateral, porém, este já foi reparado pelos moradores.
Uma moradora afirma que outra casa próxima também tem problemas de
acomodação do aterro e diz que isto está causando trincas em sua casa, que é
geminada a esta outra. Não foi possível visitar a casa com supostos problemas no
aterro porque os moradores estavam viajando na ocasião da visita.
A fundação das unidades habitacionais é do tipo radier e encontram-se total
ou parcialmente inacessíveis, sem sinais aparentes de anomalias. Em quatro das
casas visitadas verificou-se a ocorrência de empoçamento de água sobre essas
estruturas em alguns pontos, junto à base das paredes.
219

Figura 125 – Detalhe de radier com empoçamento na LGN11


Fonte: a autora.

Duas das casas visitadas apresentam, ainda, ampliações onde foram


executadas fundações do tipo estacas escavadas moldadas in loco com pequena
profundidade. Estas fundações estão inacessíveis, entretanto, não há sinais de
patologias associadas a elas.
Conforme mencionado anteriormente, das 14 casas visitadas, 10 foram
construídas através do processo construtivo de alvenaria estrutural com blocos de
concreto, sendo que destas, 3 casas apresentam trincas e fissuras verticais,
horizontais e mapeadas nas alvenarias. Duas dessas casas apresentam, ainda,
sinais de umidade e infiltração nestes elementos.

Figura 126 – Sinais de infiltração e trincas nas alvenarias da LGN01


Fonte: a autora.
220

Figura 127 – Trinca horizontal e infiltração nas alvenarias da LGN06


Fonte: a autora.

As casas possuem lajes maciças de concreto em todos os cômodos, sendo


que uma dessas casas apresenta sinais de umidade na laje e três delas apresentam
lajes com falhas e imperfeições devidas, provavelmente, a falhas na desforma. Um
dos moradores que trabalhou no mutirão afirmou que, na época da construção, as
fôrmas das lajes foram alugadas por um prazo específico e que, em algumas casas,
a desforma foi feita antes do tempo correto para atender ao prazo de devolução
dessas fôrmas. O morador não soube especificar em quais casas isso ocorreu.

Figura 128 – Detalhes das falhas na superfície das lajes da LGN01


Fonte: a autora.
221

Figura 129 – Detalhe de falhas em laje da LGN06


Fonte: a autora.

Ainda dentre as 10 casas de alvenaria estrutural, 6 sofreram apenas


ampliações horizontais, onde foram executadas alvenarias estruturais com blocos de
concreto. Nestes casos, foram executados dormitórios e cozinhas, em geral sem a
presença de laje. Em uma das casas, a cozinha teve seu fechamento realizado com
um estrado de madeira e em outra, o dormitório foi executado isolado da casa
original.

Figura 130 – Cozinha e dormitório executados na LGN01


Fonte: a autora.
222

Figura 131 – Cozinha com fechamento de madeira e telhas mistas na LGN03


Fonte: a autora.

Figura 132 – Dormitório executado na LGN06, separado da casa original


Fonte: a autora.

Outras 3 dessas casas sofreram ampliações verticais onde foram executadas


estruturas de concreto e vedações com blocos de concreto, todas apresentando
boas condições. Na casa LGN07, a ampliação ainda está em execução e o
pavimento superior ainda não foi construído, estando apenas a laje preparada para
recebê-lo. Já na LGN10, foi executada uma varanda sobre a garagem e a moradora
afirma ter a intenção de executar ainda um dormitório e um banheiro sobre a área
dos fundos do lote. No terceiro caso, o morador executou um dormitório e um
banheiro nos fundos do lote, sobre a área de serviço.
223

Figura 133 – Cozinha e dormitório em execução na LGN07


Fonte: a autora.

Figura 134 – Garagem e varanda executadas na LGN10


Fonte: a autora.

Outras 2 das 14 casas visitadas foram construídas pelo processo de


estruturas metálicas com vedação em blocos de concreto e laje maciça de concreto.
Em ambas as casas, as estruturas estão inacessíveis devido ao revestimento
argamassado executado sobre elas, porém, não há sinais de patologias associados
a elas.
Essas duas casas sofreram apenas ampliações horizontais, todas executadas
com alvenaria de blocos de concreto e sem laje. As lajes e as alvenarias, tanto
originais quanto novas, apresentam boas condições gerais, porém, há sinais de
umidade nas paredes dos dormitórios da LGN11 e na laje da sala e nas paredes da
cozinha nova da LGN12.
224

Figura 135 – Sinais de infiltração na parede do dormitório da LGN11


Fonte: a autora.

Figura 136 – Sinais de infiltração nas paredes da cozinha da LGN12


Fonte: a autora.

As duas casas restantes foram construídas pelo processo de paredes e lajes


de concreto celular moldadas in loco, sendo que neste caso as paredes também
cumprem as funções de estrutura e vedação. As paredes e lajes apresentam boas
condições gerais, entretanto, uma das casas apresenta leves sinais de umidade na
base das paredes voltadas para o corredor, o que pode ser atribuído ao
empoçamento de água na superfície do radier.
As duas casas sofreram ampliação para construção de uma nova cozinha nos
fundos da casa e em ambos os casos foi executada uma parede de blocos de
concreto para fechar o espaço onde antes funcionava a área de serviço e
transformá-lo na nova cozinha. Nas duas casas, há sinais de infiltração de água na
alvenaria que divide as duas cozinhas, porém, com pouca intensidade.
225

Figura 137 – Sinais de infiltração na alvenaria da cozinha da LGN14


Fonte: a autora.

Todas as casas, independentemente do sistema construtivo adotado para a


construção da estrutura e da vedação, apresentam cobertura executada com
estrutura metálica e telhas cerâmicas, sem sinais de anomalias. Uma das famílias
trocou parte da estrutura metálica por estrutura de madeira e utilizou a estrutura
retirada para fazer uma cobertura para a área de serviço e um banheiro novo no
fundo dos lotes.

Figura 138 – Reutilização da estrutura metálica da cobertura da LGN12


Fonte: a autora.

Em todas as casas houve a execução de novas coberturas, seja para cobrir


os cômodos novos, área de serviço, a garagem ou fazer uma varanda. Em geral,
essas coberturas novas foram executadas com estrutura de madeira e telhas
226

cerâmicas, sendo que em alguns lugares, de curta permanência e considerados


menos nobres pelos moradores, foram utilizadas telhas de fibrocimento, como em
áreas de serviço e garagens. Em uma das casas, a cobertura da nova cozinha foi
feita com telhas cerâmicas e depois a família decidiu ampliar ainda mais essa
cozinha e a nova cobertura foi feita com fibrocimento, sendo que a cozinha ficou com
dois tipos de telhas diferentes (figura 131). Todas as coberturas apresentam bom
estado de conservação.

Figura 139 – Telhas de fibrocimento na Figura 140 – Cobertura com telhas


cobertura da área de serviço da LGN01 cerâmicas na garagem da LGN11
Fonte: a autora. Fonte: a autora.

A execução de cômodos novos e coberturas de garagem, varandas e áreas


de serviço acabaram por comprometer a iluminação e a ventilação de alguns
ambientes, sendo que a metade das residências teve a iluminação classificada como
inadequada. Os gráficos 54 e 55 mostram os percentuais de casas com a iluminação
e ventilação consideradas inadequadas:

Iluminação Ventilação

14%
50% 50% Adequada Adequada
86%
Inadequada Inadequada

Gráfico 54 – Estudo de Caso 3: Avaliação Gráfico 55 – Estudo de Caso 3: Avaliação


técnica da iluminação técnica da ventilação
227

Em duas casas foram aplicados forros, de PVC e de madeira, nos cômodos


novos, que foram executados sem laje, e estes elementos apresentam boas
condições.
As portas e janelas são de aço, com pintura em esmalte e vidros, em boas
condições gerais. Apenas em uma casa a porta da sala apresenta princípio de
corrosão na base e, na mesma casa, uma janela foi substituída porque, segundo os
moradores, estava danificada. Nas ampliações foram utilizados tipos variados de
esquadrias, sendo observadas esquadrias de aço, alumínio e madeira.

Figura 141 – Porta de aço da LGN07com início de corrosão na base


Fonte: a autora.

As casas que possuem alvenaria de blocos de concreto, seja estrutural ou de


vedação, apresentam revestimento argamassado e pintura, tanto nas faces internas
quanto externas dessas paredes. As casas de paredes de concreto apresentam
apenas pintura ou textura nas duas faces. Todas as casas apresentam azulejo nos
banheiros, seja a meia altura ou até o teto. Algumas casas contam com duas ou três
fiadas de azulejo apenas sobre a pia da cozinha e apenas uma casa apresenta
azulejo na cozinha toda (figura 133). Os cômodos novos, em geral, apresentam
reboco e a maioria conta também com pintura. Todos os revestimentos apresentam
bom estado geral, porém, há pontos localizados danificados devido à presença de
trincas e infiltrações de água.
228

Figura 142 – Banheiro da LGN01 com azulejos até o teto


Fonte: a autora.

Todas as casas apresentam piso cerâmico nas áreas internas, sendo que
duas delas apresentam piso cerâmico também no quintal e garagem. Apenas em
uma das casas foi executado piso de cimento queimado na cozinha nova, mas a
moradora afirma que tem a intenção de trocá-lo por piso cerâmico, e outra casa tem
piso cimentado apenas na área de serviço. Todos os pisos apresentam boas
condições de conservação.
De maneira geral, as instalações elétricas e hidráulicas apresentam boas
condições. Em duas casas, uma de alvenaria estrutural e outra de parede de
concreto, a instalação elétrica apresentou problemas com falta de fiação nos
eletrodutos e caixas elétricas que não estavam corretamente fixadas às paredes. Em
outra casa, de alvenaria estrutural, foi a instalação hidráulica que apresentou
vazamentos e teve de ser reparada, exigindo a quebra das alvenarias.
A maioria das unidades teve as modificações classificadas como boas. O
gráfico 56 a seguir apresenta os percentuais de classificação das modificações:

Resultado das Modificações

0%0%
7% 7% Muito bom
Bom
86% Razoável
Ruim
Péssimo

Gráfico 56 – Estudo de Caso 3: Avaliação das modificações realizadas


229

9. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS GLOBAIS

A realização de três estudos de caso diferentes permite fazer comparações e


levantar discussões que vão além do sistema construtivo adotado. O trabalho de
pesquisa realizado possibilita, também, levantar hipóteses e fazer considerações
sobre o sistema de construção por mutirão, sobre a evolução das tipologias de
unidades habitacionais fornecidas pela CDHU e, principalmente, sobre as
modificações realizadas pelos usuários nessas unidades.
No primeiro estudo de caso, realizado no Conjunto Habitacional São Luiz do
Paraitinga “C”, foi analisado o sistema RBS de Concreto PVC. De modo geral, a
patologia mais significativa encontrada nas casas visitadas nesse empreendimento
foi a presença de umidade e infiltração em algumas casas, principalmente aquelas
situadas na parte mais baixa da gleba e nas paredes de fachadas sul e sudoeste,
onde se situam os dormitórios. Também foi observada umidade no teto dos
banheiros de algumas unidades, provavelmente decorrente da umidade proveniente
do vapor de água do chuveiro. Contribuiu, também, para essa situação o fato de
algumas dessas famílias terem o hábito de manter as esquadrias basculantes dos
banheiros fechadas todo o tempo, o que retém o vapor de água no interior do
ambiente e resulta na sua condensação no teto, formando as manchas de umidade.
Já o segundo estudo de caso, realizado no Conjunto Habitacional Cunha “B”,
analisou o sistema construtivo de paredes de concreto celular moldadas in loco.
Neste caso, o que mais chamou a atenção foi a presença de fissuras e trincas nas
paredes de concreto, atribuídas, em um relatório técnico realizado na época da
construção, à desforma inadequada e a falhas de posicionamento das armaduras.
Embora estas trincas e fissuras tenham sido reparadas antes e depois da entrega
para os moradores, verificou-se que elas reapareceram, total ou parcialmente.
O terceiro e último estudo de caso foi realizado no Conjunto Habitacional
Lagoinha “A”, onde o principal processo construtivo utilizado foi a alvenaria estrutural
com blocos de concreto. Neste empreendimento foram realizadas, ainda,
experiências com outros dois sistemas construtivos, o de paredes de concreto
celular moldadas in loco e o de estrutura metálica com vedação de blocos de
concreto. Algumas das casas de alvenaria estrutural apresentam fissuras e trincas,
provavelmente devidas a recalques do aterro. Também foi encontrada infiltração no
230

topo e base das paredes de algumas unidades. As casas de paredes de concreto


apresentaram apenas um pouco de infiltração na base das paredes. Já as casas de
estruturas metálicas e vedação com blocos de concreto apresentaram umidade nas
paredes novas.
É interessante observar, no caso das unidades construídas pelo sistema de
paredes de concreto celular moldadas in loco, que há uma grande diferença no
resultado final nos dois empreendimentos, mesmo tendo sido utilizada a mesma
tipologia habitacional. É visível que as casas de Lagoinha, construídas cerca de 2 a
3 anos antes, apresentam uma qualidade final superior à das casas de Cunha.
Primeiramente, é possível constatar visualmente que o acabamento superficial do
concreto é melhor. Além disso, o que mais chama a atenção é a ausência das
fissuras e trincas nas casas de Lagoinha.
Diversos fatores podem ter contribuído para essas diferenças. Em primeiro
lugar, foram utilizados sistemas de fôrmas diferentes, sendo que em Lagoinha foi
utilizado o sistema de fôrmas plásticas e em Cunha adotou-se o sistema de placas
compensadas de madeira reforçadas com estrutura metálica. Além disso, no caso de
Lagoinha, por ser um teste da tecnologia envolvendo apenas duas unidades, houve
um acompanhamento muito maior de todas as etapas e a participação de
profissionais na execução, além dos mutirantes.
A utilização do sistema de construção por mutirão também pode ter influência
sobre os resultados obtidos. Nessas condições, o treinamento da equipe é
fundamental para garantir a qualidade e é preciso ter um controle e planejamento de
obra muito eficazes para evitar falhas de execução. O que se viu no caso de Cunha,
segundo relatos, foi a baixa participação dos mutirantes, com muitas faltas. O fato de
ser utilizada uma tecnologia diferente da que seria habitual para eles também
dificultou o entendimento e, consequentemente, os resultados obtidos.
Já com relação às tipologias adotadas nos três empreendimentos, é
importante salientar que os conjuntos habitacionais de Cunha e Lagoinha
apresentam a mesma tipologia residencial, a TG23A da CDHU. Já em São Luiz do
Paraitinga, foi adotada a tipologia TI33B para as casas térreas, alvo deste estudo.
É notável a evolução dos projetos ao longo do tempo, uma vez que as casas
mais novas, de São Luiz do Paraitinga, são muito maiores e possuem uma série de
itens inexistentes nos outros dois empreendimentos. É facilmente perceptível a
231

melhoria na qualidade dos acabamentos dessas casas, além da presença de itens


como aquecedores solares e área de serviço coberta. Isso tudo é fruto da
reestruturação da política habitacional do Governo do Estado de São Paulo ocorrida
entre os anos de 2007 e 2008.
Ainda assim, as duas tipologias estudadas foram alvo de críticas por parte
dos moradores, sendo as principais delas referentes às cozinhas. No caso de São
Luiz do Paraitinga, a reclamação comum foi com relação ao tamanho desse
ambiente, considerado muito pequeno pelos moradores. A solução adotada pela
maioria deles foi a de construir uma nova área de serviço e utilizar o espaço
originalmente destinado a ela como uma extensão da cozinha. Do ponto de vista
funcional, essa solução não é a mais adequada, uma vez que a cozinha ficou
dividida por uma parede, o que dificulta a movimentação durante as atividades
diárias.
Já no caso da tipologia TG23A, adotada em Cunha e Lagoinha, a reclamação
se deve ao fato de não haver uma separação física entre a cozinha e a sala, o que
incomoda a grande maioria dos moradores.
De modo geral, é possível afirmar que as duas tipologias apresentam
cozinhas incompatíveis com os padrões culturais da região, que apresenta uma
culinária local bastante rica e baseada em pratos pesados e gordurosos, que exigem
um preparo mais demorado e cheio de etapas. A preparação desses alimentos
também gera fumaça e gordura que, segundo os moradores, se espalha pela casa
inteira, uma vez que não há divisões. Além disso, é costume na região, assim como
em outras regiões do interior, receber os amigos e familiares na cozinha para tomar
um café e conversar, o que não é possível com o tamanho reduzido desses
ambientes, principalmente nas casas de São Luiz do Paraitinga.
Observou-se, também, principalmente na cidade de Cunha, as tradições de
cozinhar em fogões a lenha e de torrar e moer o café em casa, observada em
algumas das casas visitadas. Nessas casas, as famílias construíram fogões à lenha
nos fundos da casa, onde também torram e moem o café em espaços divididos com
a área de serviço e área de lazer da família. A pluralidade de atividades distintas
sendo realizadas no mesmo espaço também gera dificuldades e riscos à saúde e
segurança dos moradores, em especial às crianças.
232

Com relação às modificações realizadas pelos moradores nos três estudos de


caso, percebe-se claramente a necessidade de aumentar a segurança e privacidade
através da construção de muros e portões, que não foram entregues com as casas
em nenhum dos empreendimentos. Essa atitude também demonstra, de forma não
tão explícita, a necessidade dessas famílias de demarcar o seu território. Antes
moradores de áreas de risco e de habitações inadequadas, na maioria dos casos
irregulares e sem garantias legais de propriedade, eles agora enxergam,
instintivamente, a necessidade de garantir a posse da casa própria e o fazem
através da demarcação do seu espaço.
Da mesma forma, observou-se em muitas casas, principalmente nos dois
empreendimentos mais antigos, a tendência e a vontade dos moradores em ocupar
todo o lote. É possível que essa atitude represente uma repetição de
comportamento, uma vez que em áreas invadidas, onde não há lotes definidos,
quanto mais área se ocupa, mais área se tem. Assim, essas pessoas repetem, sem
perceber, esse comportamento e fazem ampliações desnecessárias e acabam por
comprometer a funcionalidade dos ambientes.
Um exemplo disso foi a afirmação de uma moradora de Cunha que diz ter a
intenção de construir mais um cômodo no lote, já quase todo ocupado, sem saber
ainda qual será a utilidade desse novo ambiente. E ela não foi a única. Outros
moradores, nos três empreendimentos, afirmaram também ter a intenção de ampliar
a casa, mesmo tendo espaço suficiente para a família.
Também em Cunha, uma das famílias executou novos cômodos e coberturas
de forma que todo o lote ficou ocupado, cercado por paredes, muros altos e um
portão de ferro. Embora a família tenha utilizado telhas translúcidas no corredor, a
iluminação natural e a ventilação da casa como um todo ficaram bastante
prejudicadas.
Em Lagoinha, temos o caso de uma família composta de três pessoas, o
casal e uma criança, que construiu uma nova cozinha e outro dormitório, mesmo
afirmando não ter a intenção de ter mais filhos.
Nos empreendimentos de Cunha e Lagoinha, verificou-se, ainda, a realização
de ampliações verticais visando aproveitar ainda mais o terreno. Essas ampliações,
executadas com técnicas inadequadas e sem um olhar arquitetônico, muitas vezes
também comprometem a iluminação e ventilação de alguns ambientes, além de
233

representar um risco à durabilidade e resistência da estrutura, que não foi projetada


para suportar tais esforços.
De modo geral, a realização de modificações é tida como algo natural e a
maior ou menor facilidade de execução parece estar muito mais relacionada à
tipologia do que ao sistema construtivo empregado.
A tipologia TG23A, já projetada pensando em ampliações, se mostrou muito
mais propícia à realização de modificações do que a TI33B, primeiro porque a área
inicial é maior e em segundo lugar porque a localização e as dimensões das
ampliações são quase que intuitivas, como mostra a figura 143.

Figura 143 – Modificações típicas nas unidades da tipologia TG23A


Fonte: a autora.
234

10. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A questão da habitação de interesse social é ainda muito complexa e vem


sendo discutida há anos no Brasil. A relação entre custo da unidade habitacional e
satisfação dos moradores é algo difícil de equacionar, sendo que diversas
experiências já foram realizadas para tentar melhorar essa relação.
Para que os governos possam garantir o amplo atendimento no fornecimento
de habitações de interesse social, o custo desses imóveis não pode ser muito
elevado, correndo-se o risco de não atender a toda a população que necessita
deles. Não se pode, no entanto, reduzir esses custos de tal forma que a qualidade e
funcionalidade das habitações sejam afetadas. Assim, o uso de materiais sem
qualidade e a entrega de moradias incompletas não são soluções para esse
impasse, pois assim se estará gastando recursos à toa, uma vez que o morador terá
que arcar, futuramente, com os custos de finalização e manutenção do imóvel.
A satisfação do usuário é algo subjetivo, que pode mudar com o tempo e que
é difícil de ser classificada ou quantificada. Muitas vezes, a comparação com a
moradia anterior leva os usuários a uma avaliação superestimada da nova
residência, avaliação esta que pode ir mudando conforme ele passa a interagir com
o novo imóvel e vai esquecendo as dificuldades passadas anteriormente.
O uso de sistemas construtivos racionalizados e industrializados tem como
finalidade justamente a redução dos custos de forma que a qualidade não seja
prejudicada, fornecendo casas melhores por um custo menor ou pelo menos
equivalente ao custo das casas construídas com sistemas tradicionais.
O estudo aqui apresentado permite concluir que os três sistemas são viáveis
para habitações de interesse social, desde que, como em todos os sistemas
construtivos, sejam tomados alguns cuidados nas fases de projeto e execução.
De modo geral, as patologias encontradas são decorrentes de falhas
executivas e, tendo sido esses empreendimentos construídos já há algum tempo,
diversas melhorias já foram inseridas nesses processos construtivos.
No caso das paredes de concreto moldadas in loco, já foram desenvolvidos
novos sistemas de fôrmas, com materiais e sistemas de encaixe diferentes, e os
procedimentos de cálculo estrutural e posicionamento de armaduras já foram muito
discutidos e melhorados. Além disso, as instalações elétricas e hidráulicas ganharam
235

peças destinadas especificamente ao processo, o que evita, por exemplo, que as


caixas elétricas saiam da sua posição, que sofram deformações por pressão do
concreto ou que sejam preenchidas com ele durante a concretagem.
Além disso, tanto nos processos de alvenaria estrutural com blocos de
concreto quanto de paredes de concreto moldadas in loco, não se utiliza mais as
instalações hidráulicas embutidas nas paredes, sendo dada preferência às
instalações verticais aparentes ou protegidas por carenagens e a passagem de
tubulações horizontais sobre forros ou lajes. Dessa forma, reduz-se a criação de
pontos frágeis nas paredes estruturais e evita-se quebrar essas estruturas para
eventuais reparos.
Com relação às modificações promovidas pelos usuários, o estudo mostrou,
em uma população razoavelmente heterogênea, padrões de comportamento muito
semelhantes e independentes do sistema construtivo utilizado.
As modificações realizadas evidenciam a necessidade de aumentar a
segurança, privacidade e conforto da família, além de ampliar o espaço das
unidades habitacionais.
A principal influência do sistema construtivo na realização dessas
modificações é no caso da realização de ampliações, quando é preciso fazer a
ligação da estrutura original com a nova estrutura. Nesses casos, nem sempre é
possível utilizar o mesmo processo construtivo e, mesmo quando é possível, essa
tarefa não é de fácil execução.
Nestas situações, é comum que apareça uma trinca ou fissura na junta a
prumo vertical criada entre a parede nova e a parede antiga. No caso das paredes
executadas com alvenaria de blocos de concreto, por exemplo, mesmo as
ampliações tendo sido realizadas com o mesmo material, há a presença dessas
trincas, pois não há travamento das fiadas de blocos das duas paredes.
O ideal seria, portanto, que os moradores recebessem um manual e um
projeto para realização dessas ampliações indicando, principalmente, como se dá a
ligação entre as paredes executadas e os diversos sistemas possíveis para a
realização das ampliações, inclusive com especificação de materiais. Além disso,
esse manual deve conter as informações necessárias para manutenção do imóvel.
Nos empreendimentos mais novos, como o Conjunto Habitacional São Luiz
do Paraitinga “C”, a CDHU já está adotando, como parte das melhorias implantadas
236

com a reestruturação da política habitacional do Governo do Estado de São Paulo, a


entrega do Manual do Usuário como um padrão.
É preciso, no entanto, que este manual contenha não só orientações gerais,
mas a especificação clara dos materiais e procedimentos a serem adotados em caso
de realização de ampliações. Para tanto, é necessário que as tipologias adotadas já
apresentem as opções de ampliações.
Essas tipologias devem considerar que as pessoas e as famílias são
diferentes e têm necessidades e sonhos também diferentes. Assim, é preciso
implantar tipologias que tenham flexibilidade de uso e permitam maiores opções
para as famílias.
Entende-se, portanto, que a realização de pesquisas que levantem as
necessidades das famílias é de fundamental importância para a concepção dessas
tipologias, assim como o estudo e aprimoramento dos sistemas construtivos pode
gerar novas soluções para antigos problemas.
Esta pesquisa possibilitou alcançar um maior conhecimento sobre sistemas
construtivos para habitação de interesse social e sobre as modificações realizadas
pelos usuários dessas habitações. No entanto, o estudo apresentou algumas
limitações, como a dificuldade em se determinar exatamente todas as características
do sistema construtivo utilizado tanto na construção original quanto nas modificações
realizadas pelos moradores, principalmente no terceiro estudo de caso, devido ao
tempo decorrido desde a sua construção. Outra limitação foi quanto à amostra de
casas visitadas que, devido ao tempo e aos recursos disponíveis, não pôde
abranger todas as unidades habitacionais dos três empreendimentos.
Assim, embora os resultados obtidos sejam considerados bons, entende-se
que mais estudos são necessários para se chegar a resultados mais específicos.
Como sugestão para a realização de novos estudos, propõe-se o
acompanhamento de um ou mais empreendimentos, executados com diversos
sistemas construtivos, desde a fase de concepção até o pós-obra. Dessa forma,
entende-se que será possível obter todas as informações referentes ao sistema
construtivo utilizado e ao histórico de execução do empreendimento. Além disso,
seria interessante a realização de acompanhamentos anuais para compreender as
prioridades dos moradores e medir a progressão da realização de modificações.
237

11. REFERÊNCIAS

ABIKO, A. K.; CARDOSO, L. R. A.; GONÇALVES, O. M.; HAGA, H. C. R.; INOUYE,


K. P.; BARBOSA, A. L. S. F. O futuro da indústria da construção civil:
produção habitacional. Brasília: MDIC – Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior, 2005. v. 1. 122 p.

ANAMACO & LATIN PANEL. Tendências Latin Panel - Para onde caminha o
consumidor? 2008. Disponível em: <http://www.anamaco.com.br/resumo_
dados_materiais.ppt>. Acesso em: 18 mar 2010.

ANDERY, P. R. P.; ARANTES, E. M.; VIEIRA, M. P. C. Experiências em Torno à


Implementação de Sistemas de Gestão da Qualidade em Empresas de Projeto.
In: IV Workshop Brasileiro de Gestão do Processo de Projeto na Construção de
Edifícios, 2004. Anais..., Rio de Janeiro, 2004.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND (ABCP). Manual Técnico


para Implementação - Habitação 1.0 ® Bairro Saudável. População Saudável.
São Paulo, Associação Brasileira de Cimento Portland, São Paulo, 2002. 88 p.

_____Paredes de concreto celular moldadas in loco: Guia de Produção para


Edificações Térreas. FICEM (Federación Interamericana del Cemento), Cidade
do Panamá, 2007.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 12645:


Execução de paredes de concreto celular espumoso moldadas no local. Rio
de Janeiro, 1992.

_____NBR 15961: Alvenaria estrutural – Blocos de Concreto. Rio de Janeiro,


2011.

_____NBR 6136: Bloco vazado de concreto simples para alvenaria estrutural:


procedimento. Rio de Janeiro, 2007.

BARROS, M. M. S. B. Metodologia para implantação de tecnologia construtiva


racionalizada na produção de edifícios. São Paulo, 1996. Tese (Doutorado) –
Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.

BARROS, M. M. S. B. O processo de produção das alvenarias racionalizadas. In:


seminário de tecnologia e gestão da produção de edifícios: vedações verticais,
São Paulo, 1998. Anais. São Paulo: PCC/TGP, 1998. p. 21 – 48.
238

BAUER, R. J. F. Patologias em Alvenaria Estrutural de Blocos Vazados de


Concreto. Caderno técnico alvenaria estrutural, v. 5, p. 33-38, 2006. Disponível
em: http://www.mandarim.com.br/download.asp?arquivo=2052008144143.pdf.
Acesso em: 12 jan 2013.

BERGAMO, G. São Luiz do Paraitinga sofre com as chuvas do início de ano. Veja
SP. São Paulo, 13 Jan. 2010. Disponível em:
<http://vejasp.abril.com.br/revista/edicao-2147/sao-luiz-do-paraitinga-sofre-com-
as-chuvas-do-inicio-de-ano>. Acesso em: 08 nov 2011.

BOIN, A. C. Manual de edificações em concreto celular: Teoria e Prática. ABCP


– Associação Brasileira de Cimento Portland, São Paulo, 2003. (Não publicado)

BONATTO, F. S.; MIRON, L. I. G.; FORMOSO, C. T. Avaliação de


empreendimentos habitacionais de interesse social com base na hierarquia
de valor percebido pelo usuário. Ambiente Construído (Online), v. 11, p. 67-
83, 2011.

BONDUKI, N. G. Política habitacional e inclusão social no Brasil: revisão histórica e


novas perspectivas no governo Lula. Revista Eletrônica de Arquitetura e
Urbanismo, Rio de Janeiro, n. 1, p. 70-104, 2008. Disponível em:
<http://www.usjt.br/arq.urb/numero_01/artigo_05_180908.pdf>. Acesso em: 01
nov. 2011.

BRANDÃO, D. Q. Disposições técnicas e diretrizes para projeto de habitações


sociais evolutivas. Revista Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 2, p.
73-96, abr./jun. 2011.

BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Estatuto das Cidades.

_____Lei nº 11.888, de 24 de dezembro de 2008. Lei da Assistência Técnica.

CHAHROUR, A. H., SOUDKI, K. A., STRAUBE, J. RBS polymer encased concrete


wall part I: experimental study and theoretical provisions for flexure and shear.
Construction and Building Materials, v.19, p. 550 – 563, 2005.

COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO. Alvenaria Estrutural com Blocos de


Concreto – Passo a Passo. São Paulo, 2011.

_____Alvenaria Estrutural. São Paulo, 2012. Disponível em:


<http://www.comunidadedaconstrucao.com.br/sistemas-construtivos/1/alvenaria-
estrutural/>. Acesso em: 09 jan. 2013.
239

CONCÍLIO, V. P.; ABIKO, A. K. . Mutirão habitacional: adequação de processos


e sistemas construtivos. São Paulo: Escola Politécnica, 1998 (Boletim Técnico
do PCC).

CORSINI, R. Concreto e PVC para habitação popular: Perfis plásticos usados


como fôrma para o concreto no preenchimento de paredes são alternativas
para construção industrializada de moradias. Revista Infraestrutura Urbana.
V. 4. Jun/Jul 2011.

EMPLASAGEO. Unidades de Informações Territorializadas – UIT’s. Disponível


em: <http://200.144.28.150/emplasa_geo/SiteHighRes/uit.asp>. Acesso em: 14
jan. 2013.

FABRICIO, M. M.; BAÍA, J. L.; MELHADO, S. B. Estudo da seqüência de etapas


do projeto na construção de edifícios: cenário e perspectivas. In. Encontra
Nacional de Engenharia de Produção – ENEGEP’98: A engenharia de produção
e o futuro do trabalho. Anais(CD-ROM) UFF/ABEPRO, Niterói, 1998.

FERGUSON, B.; NAVARRETE, J. New approaches to progressive housing in Latin


America: A key to habitat programs and policy. Habitat International, v. 27, p.
309-323, 2003.

FERRARI, T. S. “Concreto – PVC” - A Utilização do Sistema Royal para


construção de casas populares. Seminário Habitação Econômica: Sistemas
Industrializados à Base de Cimento para Habitação. Concrete Show South
America 2011, São Paulo, Agosto 2011. Disponível em:
<http://www.comunidadedaconstrucao.com.br/ativos/63/concrete-show-2011-
concreto-pvc-sistema-royal.html>. Acesso em: 03 nov, 2011.

FOLZ, R. R. Projeto Tecnológico para produção de habitação mínima e seu


mobiliário. 2008. 371p. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) EESC/
Universidade de São Paulo.

FRANCO, L. S. Racionalização Construtiva, Inovação Tecnológica e Pesquisas. In:


Curso de Formação em Mutirão. EPUSP, São Paulo, 1996.

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Centro de Estatística e Informações. Déficit


habitacional no Brasil 2007. Ministério das Cidades, Secretaria Nacional de
Habitação. Brasília, 2009. 129p.

FUNDAÇÃO SEADE. Perfil Municipal. Fundação SEADE. São Paulo, 2012.


Disponível em: <http://www.seade.gov.br/produtos/perfil/perfilMunEstado.php>.
Acesso em: 14 jan. 2013.
240

GAO, X.; ASAMI, Y. Preferential size of housing in Beijing. Habitat International, v.


35, n. 2, p. 206-213, 2011.

GONÇALVES, O. M., JOHN, V. M., PICCHI, F. A., SATO, N. M. Normas Técnicas


para avaliação de sistemas construtivos inovadores. In: BONIN, C., ROMAN,
H. (editores). Normalização e certificação na Construção Habitacional. Porto
Alegre: ANTAC, 2003 (Coleção Habitare, v.3).

GRILO, L. M. et al. Implementação da gestão da qualidade em empresas de projeto.


Revista Ambiente Construído. Associação Brasileira de Tecnologia no
Ambiente Construído: Porto Alegre, v. 3, n. 1, p. 55-67, jan/mar 2003.

HOLANDA, É. P. T. Novas tecnologias construtivas para produção de vedações


verticais: diretrizes para o treinamento da mão de obra. 2003. 174p. Dissertação
(Mestrado em Engenharia). Universidade de São Paulo.

KELLETT, P.; FRANCO, F. Technology for social housing in Latin America. Habitat
International, v. 17, n. 4, p. 47-58, 1993.

KISS, P. Você sabe o que é SINAT? Revista Téchne, Ed. 170, 2011.

LAWRENCE, R. Housing Quality: An Agenda for Research. Urban Studies, vl. 32, n.
10, p. 1655-1664, 1995.

LIMA, L. P.; FORMOSO, C. T.; ECHEVESTE, M. E. S. Proposta de um protocolo


para o processamento de requisitos do cliente em empreendimentos
habitacionais de interesse social (EHIS). Revista Ambiente Construído
(Online), v. 11, p. 21-37, 2011.

LIMA, M. F. Provisão de HIS: benefícios da incorporação da flexibilidade ao


projeto padrão e da participação do usuário final no processo de produção.
2008. Dissertação (Mestrado em Habitação) – Instituto de Pesquisas
Tecnológicas, São Paulo, 2008.

LIU, A. M. M. Residential satisfaction in housing estates: a Hong Kong perspective.


Automation in Construction, v. 8, n. 4, p. 511-524, 1999.

MALARD, M. L.; CONTI, A.; CAMPOMORI, M. J. L.; SOUZA, R. C. F. Avaliação


pós-ocupação, participação de usuários e melhoria de qualidade de
projetos habitacionais: uma abordagem fenomenológica. In: Alex Kenya
Abiko; Sheila Walbe Ornstaein. (Org.). Inserção Urbana e Avaliação Pós-
Ocupação (APO) de Habitação de Interesse Social. 1 ed. Rio de Janeiro: FINEP,
2002, v. 1, p. 243-267.
241

MARMOT, A. Flats Fit for Families: an Evaluation of Post Occupancy Evaluation.


Design Studies, v. 4, n. 2, p. 92 – 99, 1983.

MARRA, L. Chuva isola São Luiz do Paraitinga (SP) e deixa quase toda população
fora de casa. Folha Online. São Paulo, 02 Jan. 2010. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u673855.shtml>.Acesso em:
08 nov, 2011.

MARROQUIM, F. M. G.; BARBIRATO, G. M. Flexibilidade Espacial em Projetos de


Habitações de Interesse Social. In: IV Congresso Acadêmico da UFAL, 2007,
Maceió. Anais... Maceió: Universidade Federal de Alagoas, 2007.

MARTUCCI, R.; BASSO, A. Uma visão integrada da análise e avaliação de


conjuntos habitacionais; aspectos metodológicos da pós ocupação e do
desempenho tecnológico. In: Alex Kenya Abiko; Sheila Walbe Ornstein. (Org.).
Inserção urbana e avaliação pós ocupação (APO) da habitação de interesse
social. 1 ed. São Paulo: FAUUSP-Coletânea Habitare, 2002, v. 1, p. 269-293.

MOHIT, M. A.; IBRAHIM, M.; RASHID, Y. R. Assessment of residential satisfaction in


newly designed public low-cost housing in Kuala Lumpur, Malaysia. Habitat
International, v. 34, n. 1, p. 18-27, 2010.

MORAES, O. B.; SANTANA, M. J. A. A satisfação do morador em habitações


populares de Salvador: processo formal x informal. In: I Conferência Latino-
Americana de Construção Sustentável - 10º Encontro Nacional de Tecnologia do
Ambiente Construído, 2004, São Paulo. Construção Sustentável. São Paulo,
2004.

NAMUR, M. A questão da localização no processo de produção pública habitacional


da CDHU no espaço urbano. Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 4, n. 1, p.
55-66, jan./mar. 2004.

NOAL, E. B.; JANCZURA, R. A política nacional de habitação e a oferta de


moradias. Textos & Contextos. Porto Alegre. v. 10, n. 1, p. 157-169, jan./jul.
2011

PALHARES, S. R. Variantes de modificação em habitação popular: do espaço


planejado ao espaço vivido. 2001. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) –
Escola de Arquitetura, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
2001.
242

PARSEKIAN, G. A. (Org.). Parâmetros de projeto de alvenaria estrutural com


blocos de concreto. Comunidade da Construção. 1. ed. São Carlos:
EdUFSCar, 2012. v.1. 85 p. Disponível em:
http://www.comunidadedaconstrucao.com.br/upload/ativos/286/anexo/manualpar
a.pdf. Acesso em: 30 jul. 2012.

PORTAL LAGOINHA. De Lagoinha para o mundo. Lagoinha, 2013. Disponível em:


<http://www.portallagoinhasp.com.br/>. Acesso em: 06 jan. 2013.

PRUDÊNCIO JR., L. R.; OLIVEIRA, A. L. de; BEDIN, C. A. Alvenaria estrutural de


blocos de concreto. Florianópolis: Associação Brasileira de Cimento Portland,
2002. 207 p.

REIS, A. T. L. Avaliação de Alterações Realizadas pelo Usuário no Projeto Original


da Habitação Popular. In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO
AMBIENTE CONSTRUÍDO, 6., 1995, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro:
ANTAC, 1995. v. 1, p. 319-324.

RHEINGANTZ, P. A.; AZEVEDO, G. A. N.; BRASILEIRO, A.; ALCANTARA, D.;


QUEIROZ, M. Observando a Qualidade do Lugar: procedimentos para a
avaliação pós-ocupação. 1. ed. Rio de Janeiro: Proarq/FAU-UFRJ, 2009. v. 1.
117 p.

ROMÉRO, M. A.; ORNSTEIN, S. W. Avaliação Pós Ocupação. Métodos e


Técnicas Aplicados à Habitação Social. 1. ed. Porto Alegre: Coleção
Habitare/FINEP/ANTAC, 2003. v. 1. 293 p.

ROYAL BUILDING TECHNOLOGIES. Royal Building Systems – Design Guide.


2006. Version 5.0: 21p.

_____Royal Building Systems – Technical Guide. 2006. Version 4.0: 20p.

SABBATINI, F. H. Desenvolvimento de métodos, processos e sistemas


construtivos: formulação e aplicação de uma metodologia. 336 p. Tese
(Doutorado) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo, 1989.

SACHT, H. M. Painéis de vedação de concreto moldados in loco: avaliação de


desempenho térmico e desenvolvimento de concretos. 2008. Dissertação
(Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Escola de Engenharia de São Carlos
da Universidade de São Paulo, São Carlos, 2008.

SALVADOR FILHO, J. A. A. Blocos de concreto para alvenaria em construções


industrializadas. 2007. Tese (Doutorado em Engenharia de Estruturas) - Escola
de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, São Carlos, 2007.
243

SILVA, P. M. Gerenciamento de Obras Construídas por Mutirão: Estudos de


Caso de Empreendimentos no Vale do Paraíba – SP. 2013. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Civil) – Escola Politécnica, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2012.

SILVESTRE, M. G.; CARDOSO, L. R. A. Assistência técnica para melhoria


habitacional. In: Congresso Luso-Brasileiro para o Planejamento Urbano,
Regional, Integrado e Sustentável, 5., 2012, Brasília. Anais... Brasília:
Universidade de Brasília, 2012a.

SILVESTRE, M. G.; CARDOSO, L. R. A. Influência dos sistemas construtivos nas


modificações promovidas pelo usuário em empreendimentos de HIS. In:
Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, 14., 2012, Juiz de
Fora. Anais... Juiz de Fora: Universidade Federal de Juiz de Fora, 2012b.

TILL, J.; SCHNEIDER, T. Flexible housing: the means to the end. Architectural
Research Quarterly, v. 9, n. 3-4, p. 287-296, 2005.

TONUSSI, A. M. S. Release. Site Oficial do Município de Cunha. Disponível em:


http://www.cunha.sp.gov.br. Acesso em: 19.12.2012

TRANI, E.; SOUZA, M. C. P.; RUDGE, M. S.; MORO, M. F. L. B., ROSSI, T. B.;
DENIZO, V. Panorama da habitação de interesse social. Governo do Estado
de São Paulo. Secretaria da Habitação / CDHU. São Paulo, 2008.

VAN GELDER, J. L. Feeling and thinking: quantifying the relationship between


perceived tenure security and housing improvement in an informal neighborhood
in Buenos Aires. Habitat International, v. 31, p. 219–231, 2007.

VILLA, S. B. Avaliando a habitação: relações entre qualidade, projeto e avaliação


pós-ocupação em apartamentos. Revista Ambiente Construído, v. 9, n. 2, p.
119-138, 2009.

WERNA, E.; ABIKO, A. K. COELHO, L. O.; SIMAS, R.; KEIVANI, R.;


HAMBURGUER, D. S.; ALMEIDA, M..A. P. Pluralismo na Habitação. São
Paulo: Annablume – FINEP, 2001. 300 p.
244

APÊNDICE A – Diretrizes e roteiro para entrevistas em campo

DIRETRIZES E ROTEIRO BÁSICO PARA ENTREVISTAS EM CAMPO

MÉTODOS UTILIZADOS
1. Entrevista estruturada
• Roteiro técnico (formulário)
• Registros em áudio

2. Walkthrough: consiste em uma caminhada pelos ambientes em análise, onde o


pesquisador conversa com os usuários e analisa suas reações em relação ao
ambiente, complementando as informações com fotografias, croquis gerais e
gravações de áudio e de vídeo.
• Roteiro técnico (formulário)
• Registros fotográficos
• Registros em vídeo
• Registros em áudio

ROTEIRO DE VISITA TÉCNICA

1. Apresentação – o entrevistador/ técnico deve se apresentar ao morador e explicar


as características e objetivos da visita:
a. Apresentação individual de cada entrevistador*;
b. Pesquisa científica visando obter informações sobre conjuntos habitacionais para
melhorar os programas de provisão habitacional;
c. Garantia de sigilo das informações: os dados serão tratados em conjunto e não
serão publicados endereços e identificação individual de cada morador ou
família;
2. Entrevista: realizar a entrevista com o morador (itens I a IV do formulário de visita).
Se possível e se o morador aceitar, gravar o áudio da entrevista.
3. Avaliação: visitar todos os cômodos da casa e fazer uma avaliação do imóvel (itens
V a VII do formulário de visita).
4. Imagens: registrar a visita através de imagens (fotos e/ ou vídeos). Essa etapa pode
ser realizada durante a avaliação ou depois.
5. Agradecimento e despedida: agradecer ao morador e fornecer contatos.
Deve-se tentar realizar a entrevista e visita no menor tempo possível para não
atrapalhar a rotina da família.

* O ideal é ter um profissional da prefeitura ou CDHU junto com o técnico. É recomendável que os
entrevistadores usem crachás de identificação para facilitar a recepção por parte do morador.
245

APÊNDICE B – Formulário de caracterização dos empreendimentos


246
247
248
249
250

APÊNDICE C – Formulário de visita e entrevista com moradores

O formulário a seguir foi utilizado para a coleta de informações durante as visitas às


residências e contempla tanto a etapa de entrevista com os moradores quanto a
fase de avaliação técnica através da técnica de Walkthrough.

A versão apresentada aqui é a que foi utilizada para o empreendimento São Luiz do
Paraitinga “C”, sendo que a única diferença entre esta versão e as versões utilizadas
para os demais empreendimentos é a planta utilizada nas etapas VI, de registro das
modificações realizadas e proposta de novas modificações.
251
252
253
254
255
256
257
258

ANEXO A – Quadro resumo do perfil dos municípios visitados


259

Você também pode gostar