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ACÓRDÃO
Documento: 1616126 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/08/2017 Página 2 de 4
Superior Tribunal de Justiça
HABEAS CORPUS Nº 369.082 - SC (2016/0226409-3)
RELATÓRIO
Depreende-se dos autos que o paciente foi denunciado como incurso nas
sanções do art. 16, parágrafo único, IV, da Lei n. 10.826/03, bem como do art. 330 do
Código Penal, por condutas praticadas em 20/5/2015, quando, na condução de veículo
automotor, desobedeceu ordem de parada emanada de policiais militares e dispensou uma
arma de fogo ilegalmente portada, jogando-a pela janela do automóvel, conforme denúncia de
fls. 14-15.
Alega que "o próprio ordenamento jurídico não só tolera, mas erige ao
status de direito fundamental a conduta do indivíduo voltada a preservar a sua
liberdade, ainda que tenha praticado (ou esteja praticando) um ilícito. O direito ao
silêncio, previsto no art. 5.°, LXIII, da Constituição, e o direito de não produzir prova
contra si mesmo (nemo tenetur se detegere), previsto no art. 8.º, 2, g, da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos, são justamente a consagração do direito do
indivíduo de preservar seu status libertatis. Parece evidente que criminalizar a conduta
do indivíduo que não obedece à ordem policial e empreende fuga justamente por estar
praticando um ilícito – exigindo-se dele que pare, se entregue e produza prova contra si
mesmo – contrasta com as referidas garantias fundamentais" (fls. 6-7).
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Superior Tribunal de Justiça
Americana sobre Direitos Humanos torna imperativa a impossibilidade de subsumir o
não cumprimento à ordem de parada policial no trânsito para evitar sua prisão em
flagrante ao tipo penal previsto no art. 330 do Código Penal" (fl. 8).
Ressalta que a conduta também seria atípica por ausência de dolo, vez que se
trata de ação praticada de forma instintiva e no exercício do direito de autodefesa, não
havendo intenção específica de desprestigiar ou atentar contra a Administração Pública.
Por fim, quanto ao delito de porte ilegal de arma de fogo, aduz que o paciente
faria jus à compensação integral da agravante da reincidência com a atenuante da confissão
espontânea, nos termos da jurisprudência desta Corte Superior.
Requer, ao final, a concessão da ordem para que o paciente seja absolvido pelo
delito de desobediência e que seja integralmente compensada, no crime de porte ilegal de arma
de fogo, a agravante da reincidência com a atenuante da confissão espontânea.
É o relatório.
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Superior Tribunal de Justiça
HABEAS CORPUS Nº 369.082 - SC (2016/0226409-3)
EMENTA
VOTO
Documento: 1616126 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/08/2017 Página 9 de 4
Superior Tribunal de Justiça
"HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO.
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. DESOBEDIÊNCIA E TRÁFICO
DE DROGAS. PACIENTE CONDENADO, RESPECTIVAMENTE, ÀS
PENAS DE 15 DIAS DE DETENÇÃO, EM REGIME ABERTO, E 2 ANOS
E 6 MESES DE RECLUSÃO, EM REGIME SEMIABERTO. PLEITO DE
RECONHECIMENTO DA ATIPICIDADE DA CONDUTA
DESCRITA NO ART. 330 DO CP. ACOLHIMENTO. ATIPICIDADE
EVIDENCIADA. PEDIDO DE FIXAÇÃO DO REGIME ABERTO E
APLICAÇÃO DO ART. 44 DO CP. INVIABILIDADE.
FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. QUANTIDADE E NOCIVIDADE DA
DROGA APREENDIDA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM
CONCEDIDA DE OFÍCIO.
[...]
- Em atenção ao princípio de intervenção mínima do
Direito Penal - ultima ratio -, esta Corte tem entendido que, para
configurar o crime de desobediência (art. 330 do Código Penal), não
basta o descumprimento de ordem legal emanada por funcionário
público competente, é indispensável que inexista sanção
administrativa ou civil determinada em lei específica no caso de
descumprimento do ato.
- No caso, infere-se que o paciente não obedeceu à ordem
legal dos policiais rodoviários federais para que parasse, conduta
esta prevista pelo Código de Trânsito Brasileiro em seu art. 195. Assim,
havendo previsão, na seara administrativa, para a conduta do cidadão
que não obedece à ordem de parada do agente de trânsito, gênero do
qual é espécie o policial rodoviário federal, e não sendo cumulada a
possibilidade da infração administrativa com a de natureza penal, não
há que se falar na tipificação do delito descrito no art. 330 do CP.
Precedentes.
[...]
- Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de
ofício, apenas para absolver o paciente da conduta descrita no art. 330
do Código Penal, mantidos os demais termos da condenação" (HC n.
348.265/SC, Quinta Turma, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, DJe
de 26/8/2016, grifei).
"Pelo que se infere dos autos, em 20 de maio de 2015, por volta das 16h,
na Avenida 1° de maio, Lages, o apelante, na companhia de Aline Daniele Correa,
trafegava no veículo Fiat/Uno, placas LXF5059, oportunidade em que desobedeceu
ordem de parada emanada por policiais militares de dentro de viatura, na medida em
que empreendeu fuga.
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Superior Tribunal de Justiça
Em seguida, enquanto era perseguido pela polícia, na rua Artur da Costa e
Silva, dispensou através da janela do veículo 1 (um) revólver calibre .38, marca Rossi,
numeração suprimida, municiado com 6 (seis) cartuchos.
[...]
No que concerne ao objeto do recurso, durante a etapa administrativa, o
policial militar Leonardo Luis Pandolfo informou (fl. 8):
[...] que por volta das 16h30min foram acionados pela Agência de
Inteligência da Polícia Militar, para realizarem abordagem ao veículo Fiat/Uno, de
placas LXF 8059, o qual já estava sendo monitorado e estava em atitude suspeita; que
a abordagem foi realizada na Avenida 1º de maio, contudo, diante da ordem de
parada, o dito veículo evadiu-se do local; que então foi iniciado acompanhamento do
veículo, o qual estava ocupado por duas pessoas; que o veículo transitou por diversas
ruas, momento em que visualizou que foi dispensado da janela do carona um objeto de
cor escura, especificamente na Rua Artur da Costa e Silva; que foi repassado via rádio a
situação, tendo outra guarnição recolhido o objeto, se tratando de um revólver calibre
.38, municiado com seis cartuchos; que o veículo continuou em fuga, sendo finalmente
abordado na rua Guilherme de Almeida, bairro Caravágio; que o condutor foi
identificado como Glauco Robertson Pereira de Jesus e a carona, sua esposa, Aline
Daniele Correa, os quais negaram a respeito da arma de fogo; [...].
No mesmo sentido, o policial Mauro Orvides Poerner, na delegacia,
declarou que a abordagem ocorreu na Avenida 1º de maio, porém o apelado se evadiu
do local, razão pela qual iniciaram o acompanhamento (fl. 9).
Em juízo, foram colhidos os seguintes depoimentos, conforme excerto da
sentença que ora se colaciona (fl. 168):
O miliciano [Leonardo], sob o crivo do contraditório, igualmente
confirmou suas declarações, relatando novamente que o acusado dispensou o revolver
pela janela de seu veículo, antes de ser alcançado pela viatura (registro audiovisual de
fl. 161):
(omissis)
Do contexto fático-probatório apresentado, verifica-se que policiais
militares, no exercício da atividade ostensiva, isto é, na repressão de crimes,
acionados pela guarnição da inteligência, emitiram ordem de parada ao apelado, que,
no entanto, desobedeceu-a e empreendeu fuga no veículo que conduzia.
Com efeito, os relatos dos agentes públicos foram firmes e uníssonos
sobre a atitude de desrespeito ao comando policial e a negativa de autoria, além de
desacompanhada de qualquer elemento probatório, a despeito do ônus defensivo (art.
156 do Código de Processo Penal), não apresenta verossimilhança, uma vez que,
justamente por ter ciência que a polícia o perseguia após a determinação de parada, o
apelado decidiu se desfazer do artefato bélico; do contrário, não haveria motivos para
tanto.
Acerca da tipicidade, entende-se que a conduta do apelado não se
ampara no princípio da autodefesa, porque, como os demais, o direito a não
autoincriminação não é absoluto e encontra limite na prática de outros crimes.
Diferentemente das possibilidades de permanecer em silêncio, de não
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submissão a procedimentos investigatórios invasivos e de não comparecimento no ato de
interrogatório, a desobediência à ordem de parada não se justifica como manifestação
do direito de defesa.
Aliás, se um criminoso não devesse acatar a ordem de parada,
afigurar-se-ia dificultada ou inviabilizada a apuração da infração penal precedente e
não se revelaria isonômico e proporcional exigir tal postura e punir por desobediência
alguém que não cometeu qualquer delito anterior.
Desse modo, admitir que indivíduo investigado, condenado ou em
flagrante delito não deva se submeter à ordem de funcionário público por constituir
direito de defesa seria estimular a impunidade e dificultar ou impedir o exercício da
atividade policial e, consequentemente, da segurança pública.
Ressalta-se, nesse ponto, que a existência de infração administrativa para
o caso (art. 195 do Código de Trânsito Brasileiro) não impede a configuração do delito,
dada a independência entre as esferas punitivas.
Na hipótese, ademais, os policiais militares não agiam como agentes de
trânsito, mas na função da repressão criminal, tendo em vista que foram acionados
pela inteligência, circunstância que reforça a necessidade de sanção penal, sob pena
de não se impor qualquer uma delas" (fls. 257-260, grifei).
Desta forma, inviável sua apreciação diretamente por esta Corte Superior, sob
pena de indevida supressão de instância. Nesse diapasão o seguinte julgado:
É o voto.
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro FELIX FISCHER
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO AUGUSTO BRANDÃO DE ARAS
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL
AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
PACIENTE : GLAUCO ROBERTSON PEREIRA DE JESUS (PRESO)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, não conheceu do pedido."
Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Reynaldo Soares da Fonseca, Ribeiro Dantas e Joel Ilan
Paciornik votaram com o Sr. Ministro Relator.
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