Corpos Críticos 02 - Catálogo Digital PDF
Corpos Críticos 02 - Catálogo Digital PDF
Corpos Críticos 02 - Catálogo Digital PDF
FICHA CATALOGRÁFICA:
Mulher do Trocadinho
Mana Lobato
Dinheiro não traz felicidade, porque felicidade
tem começo e fim. O dinheiro não para de
circular entre os acontecimentos. Contudo,
ele não tem força criativa, uma vez que está
CORPOS CRÍTICOS.
subordinado ao uso. Ele afeta diretamente a
É um festival.
existência, mas isso não basta para torná-lo
Um desejo de criar comunidade.
vital. Há sempre uma instauração coextensiva
Um fluxo de acontecimentos.
aos processos de criação. A arte não precisa
Uma exposição de performance.
exaltá-lo ou rejeitá-lo. Ao contrário, tem nele
um subordinado.
Corpo é um conjunto de órgãos.
foto : Wagner Lima Crítico é o ponto limite, quando algo está prestes a mudar.
Festa é a maneira hoje possível de reunir corpos livres no exercício da alegria.
Desejo é a força que o mundo tem.
É a maneira do todo mostrar a cada órgão para onde ir.
Comunidade é o conjunto de corpos
que se reconhecem dentro de um limite, de um fluxo.
Expor é mais que mostrar.
Performar é dar vida à forma.
4 5
CORPOS CRÍTICOS CORPOS CRÍTICOS
por Paula Borghi por Raphael Couto
Este exercício de fruição e relação que materializo aqui se inspira na obra 10 seconds movies na qual a artista
Judith Barry sugere que o tempo que o cérebro humano leva para interpretar um acontecimento é de 10
segundos. Por meio de uma sequência de vídeos que são interrompidos, portanto, aos 10 segundos, Judith nos
faz exercitar o tempo e mapear o vivido. Esta obra me inspira das mais diversas formas, tanto quando estou
criando quanto quando estou assistindo.
Tenho observado e experimentado de forma intensa a interação entre pessoas e conteúdos por meio das redes
sociais. Esta interação materializa relações das mais diversas. Para além de um dispositivo especular para a
afirmação narcísica - o que elas também são – as redes sociais podem configurar um instigante locus de troca
e acompanhamento mútuo. Tudo depende do modo como lidamos com elas: se fazemos uma curadoria do
que compartilhamos e acompanhamos ou não; se de fato focamos nas pessoas cujo conteúdo nos interessa ou
se interagimos apenas por convenção social, entre outros aspectos que podemos destrinchar na continuidade
desta conversa. Por meio das redes, tenho tido a possibilidade de acompanhar processos criativos, debater,
criar, trocar referências, compartilhar impressões, divulgar artistas e ideias, de fazer crítica, curadoria, de
conhecer novos artistas, novas músicas, novos lugares, dar e ter feedback.
Mediando o tempo da interpretação de Judith Barry e os tempos múltiplos das redes, me propus uma escrita
instantânea e o registro em vídeos de 15 segundos pelo celular enquanto assistia as performances ao vivo
para, em um momento posterior, me relacionar com as memórias produzidas por estes arquivos e re-estruturar
a escrita a partir do compartilhamento das imagens e de uma produção sobre elas nos stories do Instagram.
Porque é esta a sensação que sinto ao vê-los: no desafio de lidar com um tempo de interpretação da imagem
que se divide em sucessivos cortes lacanianos. No desafio de lidar com a efemeridade que é própria da
performance, da vida.
Assim como quando assistimos uma performance de forma presencial, as reações e feedbacks dos públicos
em relação ao que está vendo também pode ser imediata no campo virtual. Ao longo desse processo de
elaboração e re-elaboração, à medida que fui postando os stories, fui recebendo retornos dos mais diversos
com relação ao festival e aos trabalhos, mesmo que dispostos numa produção sensível que dura apenas 15
segundos. Interessante também perceber as diferenças entre os dispositivos de apresentação de dança e
performance que os espaços onde elas acontecem provocam. Num espaço que não é o teatro, o público tem
liberdade de optar como, quando, onde e o quê assistir. Assim como quando optamos o quê, quando, onde e
como vamos acompanhar um conteúdo na internet.
Longe do desejo de hierarquizar o que quer que seja - o tempo, o lugar, o formato – ou de equalizar
experiências que são diferentes, o que proponho é que reflitamos mais sobre o que liga e une as coisas
do mundo do que sobre o que as separa. O modo como tais coisas se relacionam dependem da nossa co-
responsabilidade para com elas, claro, sem descuidar das questões e tensões que essas coisas trazem consigo,
sempre.
Outro aspecto que exercito aqui é a percepção de como os modos de transmitir e elaborar a memória de um
acontecimento é uma obra (de mediação) em si. As perguntas, são para manter abertas as vias de conversa
numa tentativa de seguir dilatando os encontros com os artistas e os públicos que juntes compartilhamos a
experiência deste dia. Para manter abertas as vias de conversa no desdobrar desta tentativa de elaborar o que
foi visto pela via do sensível e não pela via da escrita racional, como sempre tendo a fazer e da qual é difícil
8 fugir (vide este texto – explicação aqui). imagens dos stories instagram @ mari_pimentel__ 9
CORPOS CRÍTICOS O estrume da vida... Gigante
por Pedro Menezes São sinais de que o futuro também prolonga Roça
O que não interessa. Em quem perde
como observador todos os dias : o poder de agir.
As migalhas formam banquetes. E, então, agora imóvel
Performance quer dizer carne aberta, mesmo se a carne apodrece, mesmo sendo água, vidro, metal ou pedra. Indisposição: No mesmo lugar
A performance é exatamente o meio do caminho, onde um corpo se confunde com outros corpos, a indecisão É sintoma de saúde. Ronrona quem sente as próprias garras
arrebata os movimentos e o silêncio se transforma em berro. A arte é anterior ao homem. No corpo, ela Saindo & voltando pro corpo...
trabalha infatigavelmente e ignora os obstáculos. A morte é uma transformação da vida. A vida não é gerada, Como um parasita
ela gera a si mesma incluindo em si o não vivo. Por isso ela é artística, ela só compõe algo ao se compor com AGUAR Que ensaia a sua própria fuga.
algo indefinido e indeterminado, começando sempre do zero. O corpo é a consistência necessária para que
a arte atravesse o infinito. Pode ser uma micropartícula, um pulmão, um planeta, um desejo, uma palavra... Deslocando-se no ar,
Performar é transitar na criação de um corpo. Entre células, HIGIENE
Numa jarra,
Atravessando canos, Quem se preserva demais
AUSENTAR-SE Labaredas tostando a terra sem nenhuma explicação... Cheia de bactérias, Encontra em si
Mosquitos desviando Escorrendo na cara, Alguém que dita como as coisas são
Nem fora. Das correntes de ar... Saindo por qualquer buraco, Por medo de ser esquecido
Nem dentro. Ninguém dança porque quer, Trazendo perfumes, No instante seguinte.
Muito menos entre os dois. Todos dançam Incorporando tudo o que toca... Às vezes
A expressão acontece Sem saber. A água se expande É preciso fazer o que não se sabe
Independente de gente. A Natureza não exige equilíbrio. Cruzando mundos. Para perceber que os riscos
São puros delírios.
A rua, a noite,
O medo, a morte, PRÓTESES A GARGANTA E OS PÉS
Uma direção sem trajetória...
A névoa fica mais espessa pelas bordas. O olhar é uma invenção necessária Entre todos os nomes dados,
De repente tudo some À vida que dele faz uso. Mal dá pra notar o que não o tem.
E começa a fazer sentido. Assim como perceber, Mas há sempre um vislumbre ou uma revelação
Voar, mergulhar, De uma sensação que transborda os tamanhos
Ejacular, camuflar-se, dançar, E inesperadamente apaga
A LEVEZA DO AR Ovular, falar, sentir... A consciência.
As ações – por mais diferentes que sejam – Como se a espada
Ninguém interfere na inocência. Nascem de um desejo infinito Que rasga o mundo
Pode-se ludibriá-la Que a vida tem Alargasse também
Provocá-la de maneira espalhafatosa De experimentar. O vazio...
Construir milhares de artifícios que simbolizam algo, Livre E através desse corte contínuo
Lugares e momentos certos para os acontecimentos... De razões e pretensões. A voz que dá nome às coisas vagasse...
Para ela, tudo não passa de brincadeira. Abandonada.
Em seu território, não há nada nem ninguém. ... Como um cachorro sem dono
Apenas uma eterna brincadeira. Pequenas manchas sobre a terra Que quando encontra um
Compõem uma paisagem extensa, Está pronto para o outro.
Sem paredes Pois o que conta não é a sucessão
INSETOS Imoldurável. Mas o quanto se suporta do silêncio
Um quadro aberto E da solidão.
Impulsos dizem muito mais sobre a gente Que começa de fora
Do que nós mesmos. E não representa nada.
Decidir ANTENA
É uma flutuação do tempo. O que sobrou do esforço de toda uma vida,
Uma onda, Os frutos dos inumeráveis diálogos, Lá.
Um punhado de óleo deslizando, O sentimento mesquinho de que estamos de acordo Logo ali.
Uma bolha estourando, Como se precisássemos disso, Ou aqui.
Nuvens se formando & se dissipando, O significado que não resiste assassinar outros possíveis, Uma alma felina
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Nadar em líquidos, mover em círculos
por Luana Aguiar
Contágio, contenção e vazamentos são encenados no terceiro dia do Festival Corpos Críticos no Espaço Apis,
no Centro do Rio de Janeiro.
Em “De lá pra cá”, o corpo esbranquiçado que se movimenta diante do público, contamina sua própria pele, e
o espaço, com a matéria negra de círculos pintados ao chão.
Em “Motim Lunar”, enche-se com água um pequeno aquário de vidro que se encontra sobre objeto de
cerâmica a imitar o chão da lua, após ritual com velas, fogo, louro e cristais.
Em “gotejar: experiências em medidas”, a mulher dançante ao chão transfere água por diferentes receptáculos
de vidro, uns fálicos, outros uterinos.
“Retomada” é a ação de um corpo que nasce de tecidos coloridos para, então, rodopiar em círculos,
cambalhotas e bananeira pelo espaço, até a exaustão.
As “Tarefas sagradas” contagiam compulsivamente uma dupla de moças com vestidos floridos por meio da
ação repetitiva da colagem de post-its sobre suas faces, sob o som de vozes femininas que fazem lembrar dos
excessos do autocuidado.
Certo trio em “disparo Nº 3”, incorpora fossos com água em suas gargantas que chega a transbordar por conta
dos movimentos corporais circulares e intensos, até o esgotamento, pelo espaço sombrio.
E “Quadro vivo”, por sua vez, propõe a contaminação de ações que acontecem em simultâneo, por um longo
tempo: corpo-face da loucura, corpo nu com pedregulho de ametista, dupla de corpos que desabam ao chão,
corpo a se mover quase que imperceptível por entre outros, corpo que parece desejar voltar à terra, corpo que
transforma ar em canto, corpo persona. E o contágio da rua ali, em frente, com seus seres e surpresas.
Em muitas das ações descritas, vê-se a dinâmica cíclica de corpos ofegantes, corpos-espelhos do cosmo; vê-se
o esgotamento em forma de água que vaza pela pele: suor.
Sempre que sonho com água alguém diz: “é teu inconsciente que te engole”. Se ela fura pedra dura, paro pra
beber um bom gole e desejar que nossos corpos-pedra sejam contaminados por sua fluidez.
É bom lembrar que a arte, as artes do corpo em específico, propõe relação, lucidez por contágio, alívio por
transgressão. Grata sou a essxs artistas que moveram seus corpos para moverem grandes águas, da mente e
do mundo. Um dia, no fundo do mar, que era sertão, nos encontraremos.
coisas mais
importantes que a verdade
Lara Fuke
Uma performance que investiga a dualidade, os conceitos opostos
e os paradoxos. Tentativa e erro, a insistência, o sim e o não, o
controle e o descontrole, abrir e fechar, a verdade e a mentira,
acende e apaga, o certo e errado. Suas movimentações sugerem
uma lógica de continuidade, como uma espécie de engrenagem.
Cotidiano, efêmero e vertiginoso.
foto : Christina Almeida
14 vídeo : Michel Chettert 15
gata esportiva
Pulsa e ressoa ritmo de dentro do corpo no ritmo fora do corpo.
Pulsa a carne.
Sua o corpo.
Pulsa. Vibra. Sua.
O som que entra no corpo, mexe as tripas, vira rimo,
Wallace Ferreira
suado, pulsado, vibrado. Desejo de mover, as estruturas, o mundo, as verdades,
Atmosfera sonora que pulsa o corpo, que pulsa o espaço, as vontades. emburaco nas possibilidades de um
que molha o espaço. Escorre. corpo que se recusa a permanecer. um par de tênis.
Loiríssima. deboche. uma inquietação que não dissolve.
que tudo se acabe dentro de mim, antes que qualquer
Observadora : Ruth Torralba
movimento faça algum sentido.
som em loop
movimentos sincopados
corpo que dança sobre um pedestal
mesmo fragmento de som
mesmo fragmento de movimento
esforço repetição suor
esforço como desejo
desce para o chão
movimentos se tornam mais abrasivos
mãos erguidas
mesmo que agora estejamos na mesma altura
esse é um movimento ainda não convidativo
movimentos se tornam estacados
contidos
tão logo lentos
represam certa urgência
agora, novamente mais rápidos
de alguma maneira ainda contidos
me remetem aos movimentos que
observo naqueles que dançam
– movimentos clubber
o transe
deita-se
momento de contorção
movimentos sinuosos
observo a marca de suor no chão
rastro e movimento do corpo
finalmente imóvel
sentado, apenas respira
observa-nos
sorri
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Adentrar o espaço quadrado. Restringir o espaço com o quadrado.
O corpo se restringe ou se recria no quadrado do espaço?
O quadrado cria linhas no espaço.
Espaço partilhado por um corpo que se ‘regua’, se resguarda e guarda o espaço,
criando tantas outras linhas no espaço.
Corpo-espaço: geometria afetiva.
O cheiro bom do pó de café. ao cubo
O pó desenha círculos no quadrado do espaço, mancha a pele, o tecido branco,
a roupa e o corpo manchados pelo escuro do pó. Invadem o espaço outras linhas, Bia Vinzon
outras sensorialidades, outras intensidades.
Criar espaço dentro do espaço restrito do quadrado. Multiplicar o espaço.
Investiga o espaço enclausurado da vida
urbana feminina. O corpo é cercado por
obediência. Será possível ultrapassar o
perímetro que nos aparta da liberdade?
Observadora : Ruth Torralba
18 foto : Juliana Wähner 19
uma que veste uma roupa na outra Proposição para vestir uma roupa que protege
prende na mesma facas um corpo de mulher da rua, do violador,
esta agora posa do mundo dos machos.
uma espécie fabulada de porco espinho A faca que aponta e protege
irreparavelmente cortante é cravada na carne.
que sorri Como suportar a dor de ter que se proteger
e dança para viver e sair às ruas e mover o mundo?
atravessa a rua Corpo armadura. Corpo arma.
“se fosse andar até a central Corpo que ama a rua.
já ia protegida”
junto aos homens acena
“vem mexer”
Observadora : Ruth Torralba
Observadora : Ana Clara Simões Lopes
Aguardar o tempo.
Guardar o tempo.
Resguardar-se no tempo.
Encontrar no tempo de hoje
um tempo de outrora.
Encontrar no tempo, tatear o tempo.
Encontrar no tempo um templo para estar:
estado de contemplação
e criação de outros tempos.
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Uma dança toca repetidas vezes.
Um corpo dança incessantemente.
As luzes coloridas de boate fazem dançar
o espaço, criar fluxos luminosos e nos levam
para outro lugar, outra língua, outra cidade.
Tão longe e tão próximo.
Ela dá longos tragos de pinga
e nos oferece também a cana.
A letra da música ressoa na pele da espaço,
a letra da música rasga o espaço:
“Matá-la. Matá-la. Matá-la”.
“Si um hombre está triste sólo pueder
ser por maldad de uma mala mujer”.
E ela dança. E ela sua. Ela bebe.
E ela enlouquece.
“Matá-la. Matá-la. Matá-la”.
E ela bebe. E ela dança. E ela sua.
E Ela provoca. E ela vive. E ela insiste.
Não morre. Não aqui. Não agora.
mala mujer
Isabel Llaguno
Este performance que descontextualiza dos canciones populares que
han sido coreadas, bailadas y disfrutadas por varias generaciones
latinoamericanas. Esta obra investiga los sistemas de naturalización de la
misoginia en la representación del amor, el deseo y la seducción.
Sai a mascara
Saem as espadas
A mão segue agindo
O peso segue conectado
com o chão ancestral
O corpo no centro do espaço
O fim não é apoteótico.
Tudo é apoteótico
urubu
Partilha partes de si com o público. O peso do quadril e dos pés
Há uma projeção atrás, analógica, de formas no chão levam ao centro da Terra
Alan Athayde geométricas que interagem com o corpo, com o som Potes pinturas (rupestres?)
e criam um ambiente instigante, místico, misterioso. Desenhos ancestrais
É uma performance no olho do céu, luz preta, mar que Entra outra figura. Outra persona. Ela sai do público. Geometrias do espaço
é som, estelar. Madrugada é a pele da noite, o tempo Uma Orixá. Maria Padilha. Oxum. Ouro. Solidez do gesto - Solitude
trocado. Jardim América, Itaipuaçu, bairro do Rocha, Lapa. Ela lacra. Ela fecha. Ela está de preto. Ela é. Elexs Máscaras
A dança de Alan Athayde é acompanhada pela música são. Corpo translúcido que
de Antonio Brito e Flavia Goa com direção de arte de Aline deixa ver outros corpos.
qual a relação entre estas duas figuras? Máscaras animais
Besouro.. quais os mundos elas criam juntas? demônios não humanos...
aráyé
Ivy Brum
Aos corpos moventes partilhando do profundo
prazer de ser/estar em corpo. Corpo feito das
raízes da terra, atravessado por oceanos de
histórias. Transformado a fogo e levado pelo
vento. Corpo feito e refeito, desejoso. Arayé se
faz no corpo habitado de si em diálogo com as
forças materiais que o ocupa. Corpo encontrado
nos caminhos cruzados de Exú, que ao corpo e
pelo corpo se compartilha, multiplica-se, mistura,
se funde, cruza-se e se constrói.
Integrantes : Victor Garcia e Nathalia Leite
Uma teia
Uma rede
Interlúdio
Minhoca
Uma rede antropofágica
Espelhos
O que se vê, o que reflete,
o que me vê, o reflexivo, o visível.
Cabeça no chão.
Mãos espasmódicas.
Saudar,
reverenciar,
respeitar,
entregar.
Confiar
transitoriedade
Pergunto a eles o que acham disso
e se são do Centro.
Eles dizem que acham importante,
apesar de não conhecerem muito
Valter Lano
do assunto.
É uma performance inspirada em um dos textos Não são do bairro. Estão
do neurologista Sigmund Freud (1856-1939). O trabalhando.
personagem diante da dificuldade de aceitar Convido-os para ficar.
as leis naturais que regem a nossa existência, Não podem.
Precisam trabalhar.
mergulha no luto da mente para investigar sua
Convido-os para voltar.
negação.
O quê (te) queima?
Corpo vulnerável.
Corpo violável.
Corpo de parir.
Parto
um drama classico
de coração
Ämarcél Amar
Trajeto humano-social para pertencer e merecer
o Amor. Ela.
A sensação de impotência e fracasso, o deboche
triste ao dramalhão da vida. Veias conectadas ao
chão e nos pés o coração. A imaginação é guia
para „Um Drama Clássico do Coração“.
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meditação
performativa \
performance
meditativa
Eduarda Senise
Ação crítica sobre o hábito do movimento-
pensamento; clareza mental diante da
superestrutura da atividade cognitiva; ato de
concentração de espírito para a execução de uma
tarefa; A artista se propõe a meditar em estado
performativo\ performar em estado meditativo
no alto de uma escada para o nada até quando
se fizer necessário; manipulando alguns objetos
como provas de realidade e memória do lugar
precário \ de pertencimento que a corpa ocupa.
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motim lunar
Jamile Ratter
Motim Lunar é uma instalação viva que remete ao
ambiente lunar e busca estimular a memória humana
para o encontro com saberes de nossos antepassados
que relacionam a vida na Terra com nosso satélite
natural. A proposta é convocar novos campos de
expressão revisitando conhecimentos ancestrais,
a partir do experimento de diferentes materiais e o
estudo da natureza terrestre e dos astros.
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gotejar : experiências
em medidas
Taís Baía
O corpo em causa é o de uma mulher. Corpo que em sua
busca por espaço acaba por construí-lo de forma mútua.
Corpo, espaço e imagem. A ação sustenta os afetos dessa
construção em cada movimento, troca, respiração. O fio que
liga é a água, este líquido que conecta sem ser passível de
apreensão: liberdade.
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As “Tarefas sagradas” contagiam
compulsivamente uma dupla de moças
com vestidos floridos por meio da
ação repetitiva da colagem de post-its
sobre suas faces, sob o som de vozes
femininas que fazem lembrar dos
excessos do autocuidado.
tarefas sagradas
Juliana Liconti e Ed SigoViva
Dois corpos femininos escutam mensagens de viés
terapêutico. A medida que as ouvem grudam pequenos
lembretes que vão cobrindo completamente os rostos
provocando um excesso de atarefamento que sufoca
ao invés de libertar, como um infinito check-list que
nunca é alcançado.
disparo Nº 1
Tais Almeida, João Rios,
Victor Oliveira Um cavalo jovem, Nicole Gomes
Provocação: Taís Almeida
Zonas de perturbação. Urgências em um tempo onde as coisas não tem paz. Masturbação de
práticas para devorar e ser devoradx. Zonas instáveis produzem espaços selvagens de ataque e
recepção mútua com o mundo. Uma ânsia desejante e necessária para pôr-se entre as relações
possíveis e não se ausentar delas.
64 65
quadro vivo #03
A concepção de Juliana Wähner reúne obras de Caio Picarelli, Davi Pereira & Isabella
Barpp, Herika Reis Kohlrausch, José Lucas Dutra, Maria Hermeto, Nina Terra,
Salomão Aguiar e da própria Juliana.
Performance instalada, que também pode ser chamada de obra duracional, onde não
importa em que momento o público chega para ter contato com a obra. Serão 3 horas
com 8 trabalhos de artistas/corpos acontecendo no mesmo espaço ao mesmo tempo.
Imersos e entregues com suas próprias pesquisas a essas condições. Tempo, espaço e a
alquimia entre corpos. Nesses estudos, cada um dentro da sua matéria vivem um nascer
e acordar de suas essências individuais e
ao mesmo tempo são os elementos que
compõem o quadro “vivo”. Os visitantes
são convidados a desenhar, circular pelo
espaço entre os Artistas, questionando
seus limites, além de testemunhar a intensa
experiência do Performer de perto.
E “Quadro vivo”, por sua vez, propõe a contaminação de ações que acontecem em simultâneo,
por um longo tempo: corpo-face da loucura, corpo nu com pedregulho de ametista, dupla de
corpos que desabam ao chão, corpo a se mover quase que imperceptível por entre outros,
corpo que parece desejar voltar à terra, corpo que transforma ar em canto, corpo persona.
E o contágio da rua ali, em frente, com seus seres e surpresas.
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levante
Davi Pereira & Isabella Barpp
O corpo como combustível para fazer emergir a
esperança e as utopias nas frestas da barbárie.
Levantar, de novo, quantas vezes for preciso.
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devir nuvem
Herika Reis Kohlrausch
Devir nuvem vem da descoberta de
um corpo que se forma e se deforma
na difícil possibilidade de ser um
pouco de tudo, se transpassando
por si e pelos afetos deixados por e
em cada outrx.
76 77
contorno
Maria Hermeto
Existem algumas maneiras possíveis de entender nossos
limites. Ou nos de-limitar. Nem tudo o que delimita, precisa
limitar. Volto para mim mesma, e para me libertar de mim.
E a pele aparece como esse contato entre os dois mundos,
interno e externo. Como será o encontro a partir da pausa? O
contato sem o toque?
78 79
ressonÂncias
Nina Terra
Trabalha o estado de fluxo como premissa, o ar como
matéria prima, o corpo como caminho e canal, a voz
e a dança como deságue que plasma no espaço as
ressonâncias do encontro e das relações no agora
presente. Corpo-voz como uno total que em som e
movimento ecoa as ressonâncias dentro-fora-entre.
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transmutações
em pedra e pele
Salomão Aguiar
Como construir um portal através da
minha pele para o lugar que ocupo? O
estado de presença pela transmutação
em pedra e pele possibilita a
comunicação da ideia com quem vem.
Se a terra que no centro apodrece
em meu peito cristaliza-se num longo
processo entre o tempo não tempo. Em
busca de onde residir no chão de forma
desnivelada, constituindo o processo do
molde pela corpa de forma magnética.
A ausência de partes pertence ao
surgimento de outras que no agora
existem como urgentes. Abdicando do
olhar da espera cistemática pela trapaça
da carne escondida. Da presença da
corpa cristalina que aloca-se no quadro
em busca de sensações para suas
memórias.
82 83
tempo
Violeta Vilas Boas
Tempo é a busca do corpo pelo seu
próprio tempo, é a busca do tempo
pelo seu próprio corpo. Movimento
e palavra compõem o corpo de
Tempo. A palavra, por sua vez, é
falada por mais de uma voz, é falada
pelas vozes de outras mulheres que
também lutam para demarcar seus Da malha preta o movimento surge, numa dança com vinte
espaços e contar seus tempos, respirações por segundo, três segundo por gesto, treze
arrepios a cada minuto. Uma equação matemática que só
neste tempo de tempos e espaços Cronos saberia calcular. Uma escultura passa a ter corpo de
tão escassos. gente e o tempo do mundo.
tanto ontem
Carolina Cony
Nas fissuras da linguagem, penetrar-se. Explodir os sentidos.
Adentrar em suas estruturas desnudas, arruinadas Envolver-
se e viver no corpo o desmoronamento da permanência.
Tanto Ontem, uma experiência cênica.
DEScolônia
Ismael Queiroz
Um experimento cuja a investigação e o trabalho corporal transpassam os ciclos geracionais
pautados sob os domínios em prol da ética, moral, evolução social e comportamental.
O anti-colapso da colonização racional e física.
Uma obra no caráter da performance. Iniciada ainda empiricamente durante a passagem do
artista por uma das mais importantes companhias teatrais do Brasil, ganhando praticidade e
pesquisa concreta após, já durante a graduação acadêmica, e seguindo para uma incursão com
tentativas de maior profundidade em um festival internacional de artes cênicas. O agora é uma
92 unidade da eternidade, em luta seletiva, antropofágica, com outras formas de tempo. foto : Edu Monteiro 93
Com dedos de cristais manuseia
objetos que pertencem ao
matriarcado. Agora, esse
objetos são dele. Bebe da água
como se fosse um passarinho.
Um suave delírio. Tradições
não são esquecidas, são
reinventadas.
L3N1R4
Rastros de Diógenes
Código ritual indiofágico / investigações do corpo que foge luta e festeja.
96 97
homoselfi
Clemens von Brentano
O artista nu diante do espelho, com um celular
na mão, convida o público a tirar selfies e nudes
com ele. A solidão tediosa e a sedução narcisista,
presentes na cultura do envio de nudes nas redes
digitais, dão lugar a um ato de compartilhamento,
cuidado e afeto nesta performance. A interação
entre público e artista procura apaziguar a busca
de semelhanças e padrões que se equivalem aos
modelos impostos na cultura atual. As fotos serão
compartilhadas em tempo real no instagram do
artista.
98 99
descamada
Carol Azevedo
O gesto da costura, o corpo, um colchão.
Uma investigação do que se revela e do que se esconde nas camadas
entre o publico e o privado, o social e o politico, na relação entre
dois corpos que a costura sustenta. Que memória é guardada nessa
costura dormitório que espreme tempo de vida?
102 103
Uma dupla de homens briga
contra sua natureza. Se
degladeiam, golpeiam uns
outros. Fazem um pacto de
silencio, alternam o castigo.
Veste a roupa, tira a roupa.
Bota máscara, tira a máscara. A
tensão do desejo, a vergonha do
desejo.
terror barato
João Rios, Daniel Passi e Vidi Descaves
Não há pessoas desaparecidas neste lugar. Não há perigo neste
lugar. Nenhum céu. Nenhuma dor. Nenhuma vodka. Ninguém se
desapaixona neste lugar. Ninguém se repete neste lugar. Ninguém
esquece neste lugar. Não há razão para ficar neste lugar. “Terror
Barato“ tem como ponto de partida a reação química proveniente
da combustão do lítio, substância usada no tratamento de patologias
presentes na contemporaneidade tais como transtornos bipolores e
depressão nervosa.
Vinícius Davi
Na materialidade do corpo, na interlocução entre os atravessamentos,
da sexualidade, do desejo. Para muito além de apenas defecar,
o cu como fala potente, o cu como diálogo dos afetos, uma
conversa. A investigação de 2015 aos dias de hoje, propõe
instaurações compartilhadas da experiência íntima. Transfigura
cartografias, do interior ao público. A ação reflete relações afetivas
através de linhas, que permeiam o corpo construindo uma rede
com a espacialidade ao redor. A costura como plataforma de
agenciamento. Potencialidades e forças propulsoras no ânus
para além de questões identitárias. A imagem se desdobra em
diversas mídias, seja em vídeo, fotografia, performance, texto, fala,
instalação. Foi executado em paisagens nacionais, internacionais,
dentro e fora do circuito artístico. Transbordar as estruturas pelo
centro do cu, presenciar isso com o corpo e o corpo da natureza, o
ânus e os outros ânus.
106 107
Joanna saúde Agatha
Vídeo
Carol Brito
No Brasil o mecenas valoriza muito mais a arte
enquanto produto do que a arte enquanto
processo. O processo liberta, o produto é lucro
e divide.
Na mídia hoje vejo um vírus que toma conta
do planeta e congela o viver da arte, nas
comunidades Brasil sempre mataram o nosso
povo, porém isso nunca paralisou o planeta.
No vídeo Joanna aprendendo a andar no
Macba em Barcelona saúda Agatha menina
assassinada em uma comunidade do Rio de
Janeiro, que um dia o mundo pare por essas
mortes, que um dia parem as mortes das
meninas e mulheres nas nossas comunidades.
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Dr.
Verystablegeniuslove
or: How I learned to
stop worrying, started
dancing and push the
button
Vídeo
Bernardo Stumpf
A finalidade da máquina do juízo final estará
perdida... se for mantida em segredo! – Por que
vocês não contaram ao mundo todo? (Punk-
Dance-Your-Pants-Off remix)
Alexis Zelensky
Os corpos lutam, se esforçam
para existir, para ocupar um
espaço onde eles não se
sentem bem-vindos. Eles
se confrontam com olhares
externos, incomodam e
tiram o outro de sua zona
de conforto. Esses corpos
„proibidos“ tentam existir a
qualquer custo, como um grito
de alarme e uma reivindicação
de ser.
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obrigada!