Livro-Antipsicticos-Atipicos - Cópia 3 PDF
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Common mental disorders and subjective well-being in medical students: a preventive intervention based on positive psychology View project
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autores
Dr. Amaury Cantilino
Dr. Odeilton Tadeu Soares
Dra. Sheila C. Caetano
ANTIPSICÓTICOS
ATÍPICOS
Farmacologia baseada em casos clínicos
EDITOR
FREDERICO NAVAS DEMETRIO
AUTORES
AMAURY CANTILINO
FREDERICO NAVAS DEMETRIO
ODEILTON TADEU SOARES
SHEILA C. CAETANO
© 2020 Editora OMNIFARMA Ltda. - Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610
de 19/02/98. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, sem autorização prévia,
por escrito da Editora OMNIFARMA Ltda., sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos,
mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Código da Publicação: 158.2020. O conteúdo
deste material é de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es) e não reflete, necessariamente, o
posicionamento do Aché, que apenas patrocina sua divulgação à classe médica.
CDD-615.7882
19-26853 NLM-QV 779
AUTORES
AMAURY CANTILINO
CRM/PE: 13.128. Professor adjunto de Psiquiatria da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE), doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento pela UFPE, preceptor da
Residência Médica em Psiquiatria do Hospital das Clínicas da UFPE.
SHEILA C. CAETANO
CRM/SP: 95.770. Psiquiatra da Infância e da Adolescência, professora adjunta do
Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp).
PREFÁCIO
O
uso de antipsicóticos atípicos, também chamados de “antipsicóticos de nova
geração”, vem se tornando recurso terapêutico importante não só no manejo
das psicoses, mas também no tratamento dos transtornos de humor (tanto
transtorno afetivo bipolar [TAB] quanto depressão unipolar) e nas chamadas “popula-
ções especiais” (crianças, adolescentes e gestantes). Na verdade, a terminologia “antip-
sicóticos” esconde a real natureza dessas moléculas, potentes na modulação dos sis-
temas dopaminérgico e serotoninérgico, com resultante eficácia clínica em diversos
transtornos. A iniciativa do European College of Neuropsychopharmacology (ECNP)
em implementar uma nomenclatura dos psicofármacos baseada em seu mecanismo
de ação — Neuroscience Based Nomenclature (NbN) — deverá modificar essa situação,
facilitando o entendimento de sua utilidade clínica e sua prescrição (até mesmo do
ponto de vista social, pois pacientes não psicóticos podem se recusar a ser medicados
com antipsicóticos).
Neste trabalho, procuramos abordar a psicofarmacologia (tanto básica, com des-
taque no mecanismo de ação das medicações, quanto clínica, com repercussão em
seu uso diário pelo médico) de maneira diferenciada: o ponto de partida é o paciente,
sua sintomatologia e seu diagnóstico, e a partir daí é discutida a medicação; é assim
que ocorre no dia a dia do psiquiatra, e é assim que optamos por descrever a psicofar-
macologia dos atípicos. Aborda-se a utilidade das diversas moléculas no tratamento
do TAB, incluindo resultados de troca de medicações e dificuldades com seus efeitos
colaterais, sem deixar de lado as questões de segurança no uso desses fármacos. As
particularidades do uso dessas medicações na gestação e lactação são objeto de uma
seção inteira do livro, pois dúvidas a respeito são comuns e angustiantes para os
médicos (psiquiatra, ginecologista-obstetra e pediatra) em sua prática clínica. A uti-
lidade dos antipsicóticos de nova geração e as particularidades de sua farmacologia
na infância e na adolescência também são abordadas numa seção do livro, pois são
comuns as dúvidas sobre sua indicação clínica e os limites nessa população; tanto o
psiquiatra especialista quanto o psiquiatra geral de adultos além de pediatras e neuro-
logistas poderão aproveitar este conteúdo.
A intenção do nosso trabalho não é (nem poderia ser) uma abordagem detalhada
e completa da psicofarmacologia dos atípicos, mas uma visão prática e de utilidade
imediata no trabalho diário com os pacientes. A leitura pode ser feita de forma direta,
já que o foco em casos clínicos facilita a fluidez do texto, sem prejuízo do conteúdo
científico, ou na forma de consulta, a partir da busca pelo nome do medicamento ou
de sua utilização. Toda literatura revisada é atual e reflete a melhor evidência dispo-
nível no momento da elaboração do texto, e a consulta às referências citadas (muitas
de acesso livre) pode aprofundar o aproveitamento do leitor interessado.
Esperamos ter atingido nosso objetivo, proporcionando uma leitura agradável e de
conteúdo científico válido e atualizado, com repercussões positivas na prática clínica
diária e na recuperação plena dos pacientes.
O
s antipsicóticos de segunda geração (ASG), conhecidos também como “antip-
sicóticos atípicos”, se tornaram o padrão para essa categoria de medicamento.
Tendo como primeiro protótipo a clozapina (início de comercialização em
1972), passaram gradualmente a predominar sobre os antipsicóticos típicos a partir
da aprovação da risperidona nos Estados Unidos (1993). Inicialmente utilizados para o
tratamento agudo e a prevenção de recaídas da esquizofrenia, mostraram vantagens
também em outras situações clínicas em que os antipsicóticos típicos eram prescritos,
como depressão psicótica e mania. A olanzapina foi aprovada para o tratamento da
mania em 2000 (seguida pela risperidona em 2003) e a partir daí diversos outros ASG
seguiram continuamente aprovados para o manejo das diversas fases do TAB.
No século XXI, não só em ocasiões em que uma “medicação antipsicótica” é reque-
rida, mas também e até como monoterapia, os ASG predominam no tratamento psico-
farmacológico do TAB, muitas vezes combinados a lítio ou divalproato. Na verdade, a
farmacologia dos atípicos é complexa, e o termo “antipsicótico” não reflete seu meca-
nismo de ação, que envolve modulações dopaminérgica e serotoninérgica, mas pode
interferir também em outros circuitos e neurotransmissores.
Assim, há alguns ASG aprovados (em monoterapia ou em combinação) para o tra-
tamento da depressão bipolar, e mesmo para a potencialização do tratamento com
antidepressivos na depressão unipolar resistente. Outros usos estão aprovados para
algumas moléculas, como manejo da agitação aguda (em geral), manejo do distúrbio
comportamental do autismo e controle do transtorno de ansiedade generalizada; há
diferenças entre os ASG também quanto à aprovação formal para uso em crianças e
adolescentes (sem dúvida, uma área de grande interesse). Outros usos (independente-
mente de aprovação formal) incluem tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo
(potencialização), síndrome de Tourette, transtornos de personalidade (especialmente
borderline), transtornos de controle de impulsos, transtornos do comportamento
sexual, transtornos de ansiedade (estresse pós-traumático, ansiedade generalizada),
transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, abuso de substâncias, entre outros.
Mesmo o uso dos ASG no controle da agitação em pacientes demenciados está des-
crito como útil, apesar da contraindicação para o uso em população idosa (aumento da
mortalidade nesses pacientes).
Os atípicos formam um grupo heterogêneo de moléculas, com mecanismos de
ação distintos e usos (aprovados formalmente ou não) bastante diversificados. Não há,
portanto, um “efeito de classe” tão nítido, com cada molécula apresentando peculia-
ridades e utilidades distintas (assim como perfis de tolerabilidade e segurança igual-
mente diversos).
O estudo formal de sua psicofarmacologia está bastante difundido, e a intenção
desta obra é tentar abordar sua utilização a partir de casos clínicos, como o médico
faz em seu dia a dia. A opção foi pelo foco no TAB, em seu uso na gravidez, na lactação
e na infância, tratando-se de situações clínicas frequentes e que causam dúvidas na
lide diária do psiquiatra. Vantagens e problemas das diversas opções terapêuticas são
descritos dentro da utilização prática dos atípicos, em situações clínicas em que o uso,
isolado ou combinado, pode ser vantajoso ou deve ser descontinuado, substituído por
ASG diverso. A psicofarmacologia básica é abordada de forma leve e dentro do con-
texto dos casos, sendo a psicofarmacologia clínica mais bem detalhada, conforme o
andamento e a evolução dos pacientes descritos.
Embora baseados na prática dos autores, os casos clínicos mantêm total sigilo da
identidade dos pacientes. Dessa maneira, procurou-se deixar a leitura agradável e
fluída, tornando a obra um recurso para consulta ou mesmo um tomo para leitura
direta, capa a capa. Bom estudo!
REFERÊNCIAS. 1. Christian R, Saavedra L, Gaynes BN, Sheitman B, Wines RCM, Jonas DE, et al. Future Research
Needs for First- and Second-Generation Antipsychotics for Children and Young Adults [Internet]. Rockville (MD):
Agency for Healthcare Research and Quality (US); 2012 Feb. (Future Research Needs Papers, No. 13. Disponível
em: <www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK84660/>. Acesso em: 22 abr. 2019. 2. López-Muñoz F, Shen WW, D’Ocon P,
Romero A, Álamo C. A History of the Pharmacological Treatment of Bipolar Disorder. Int J Mol Sci. 2018;19(7):2143.
ÍNDICE
Capítulo 1
Capítulo 2
Introdução ..................................................................................................................................................38
Gestação.....................................................................................................................................................40
– 1º caso clínico .............................................................................................................................40
Aumento de prescrições de psicofármacos e problemas
relacionados à esquizofrenia não tratada na gestação .................................................41
– 2º caso clínico..............................................................................................................................41
Transtorno afetivo bipolar, estabilizadores e antipsicóticos na gravidez ...............43
– 3º caso clínico.............................................................................................................................43
– 4º caso clínico ............................................................................................................................ 45
Malformações congênitas...................................................................................................... 45
Dificuldades de adaptação neonatal...................................................................................46
– 5º caso clínico............................................................................................................................. 47
Aripiprazol ............................................................................................................................. 47
Olanzapina ............................................................................................................................48
Quetiapina ............................................................................................................................48
Risperidona ..........................................................................................................................49
Paliperidona .........................................................................................................................49
Clozapina............................................................................................................................... 50
Síntese para a avaliação do 5º caso clínico ............................................................... 50
Neurodesenvolvimento ............................................................................................................51
– 6º caso clínico .............................................................................................................................51
Problemas metabólicos........................................................................................................... 52
– 7º caso clínico ............................................................................................................................. 52
Passagem pela placenta ......................................................................................................... 54
Doses e metabolismo durante a gravidez ......................................................................... 55
– 8º caso clínico............................................................................................................................. 55
Síntese da avaliação de risco ................................................................................................ 56
Lactação ......................................................................................................................................................57
– 9º caso clínico .............................................................................................................................57
Aripiprazol ............................................................................................................................. 59
Clozapina...............................................................................................................................60
Olanzapina ............................................................................................................................60
Quetiapina ............................................................................................................................ 62
Risperidona .......................................................................................................................... 62
Paliperidona .........................................................................................................................63
Síntese dos dados na lactação .............................................................................................64
Conclusões gerais ...................................................................................................................................64
Referências................................................................................................................................................65
Capítulo 3
Introdução .................................................................................................................................................. 67
Transtornos psiquiátricos na infância e na adolescência
e uso de antipsicóticos atípicos..........................................................................................................69
Esquizofrenia ..............................................................................................................................69
Transtorno afetivo bipolar tipo I ............................................................................................ 70
– Transtorno afetivo bipolar tipo I em episódio de mania ou misto .............................. 70
– Transtorno afetivo bipolar tipo I em depressão ................................................................ 71
Síndrome de Tourette ............................................................................................................... 71
Irritabilidade no transtorno do espectro autista .............................................................. 71
Efeitos colaterais dos antipsicóticos atípicos ................................................................................ 71
1º caso clínico ........................................................................................................................................... 73
2º caso clínico ............................................................................................................................................74
3º caso clínico ............................................................................................................................................75
4º caso clínico — Autismo ..................................................................................................................... 76
5ª caso clínico ........................................................................................................................................... 76
Conclusão....................................................................................................................................................77
Referências................................................................................................................................................ 78
CAPÍTULO 1
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS
NO MANEJO DO TRANSTORNO
AFETIVO BIPOLAR
FREDERICO NAVAS DEMETRIO E ODEILTON TADEU SOARES
1º CASO CLÍNICO
ARIPIPRAZOL NO MANEJO
DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
APRESENTAÇÃO DO CASO
1
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
de luxo, de valor elevado, e depois um conversível “para usar nos dias de sol”. Com-
prava muitas roupas, sempre muito “justas” e inadequadas à sua idade. Dizia que “tor-
rava” seus ganhos porque o dinheiro era dela. Seus gastos cresciam de maneira des-
proporcional aos ganhos, que aliás minguavam e rapidamente se transformaram em
prejuízos crescentes (investimentos tolos) e dilapidação do pouco que sobrou da inde-
nização. Um dos novos amigos de SHB procurou uma de suas filhas para avisar que a
mãe andava se insinuando para muitos garotos bem mais novos que ela, e que o grupo
já não conseguia mais trazê-la à realidade. Na última semana, SHB não dormia e pas-
sava noites nas baladas, porque “sentia vontade”, ou então com vários computadores
ligados, cuidando de seus “negócios”, mas na verdade só perdia dinheiro com “amigos”
e em compras desenfreadas. Certos de que SHB estava definitivamente fora de seu
juízo, seu marido contatou um psiquiatra que o atendera anos atrás, o qual conseguiu
conversar por telefone e depois pessoalmente com SHB, conseguindo, com muito
custo, levá-la para uma avaliação hospitalar.
• ANTECEDENTES PESSOAIS — Dois episódios depressivos no passado, o pri-
meiro aos 26 anos de idade, tratado com antidepressivo tricíclico, e o último há dois
anos, logo depois de sua demissão, tratado com sertralina, até 100 mg ao dia, com
remissão completa dos sintomas. A sertralina foi mantida durante seis meses depois
da remissão, e então retirada lentamente. Antes do início do quadro atual, a paciente
estava sem medicação antidepressiva havia seis meses. Sem nenhuma evidência de
episódios maníacos ou hipomaníacos, mesmo que leves, em seu histórico.
• ANTECEDENTES FAMILIARES — A mãe apresentava “altos e baixos”, sendo
considerada “temperamental”; no final da vida permanecia trancafiada por semanas
a fio em seu quarto, para depois passar por períodos de agressividade e intolerância
com todos à sua volta; morreu “esclerosada” (sic). Tio materno alcoólatra e primo do
lado materno suicida aos 18 anos de idade.
• INTERROGATÓRIO SOBRE OS DIVERSOS APARELHOS (ISDA) — Hipertensa,
em controle com 50 mg ao dia de losartana.
• HÁBITOS — Era etilista ocasional, mas aparentemente vinha abusando de
álcool nos últimos tempos. Não apresenta histórico de uso de drogas, mas vinha
fazendo uso de Cannabis, especialmente nas últimas semanas.
• EXAME PSÍQUICO — Paciente vígil, orientada, vestida de forma exuberante,
com peças de cores fortes e muito justas, pouco combinadas entre si, hipervigilante,
fala rápida, porém coerente, ríspida, denotando desconfiança contra todos: “só vim
porque confiava muito em você, mas agora já vi que todos estão com inveja de mim
e querendo me prejudicar”; “eu preciso, preciso, voltar a fazer meus negócios, eu con-
sigo trabalhar a noite toda sem dormir, faço negócios com a China, entenderam, com
a China, estou vendendo milhões para eles e estou perdendo negócios por causa de
2
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NO MANEJO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
vocês”; “eu vou fazer uma apresentação para vocês de minha teoria, vocês vão aca-
bar entendendo, mesmo tendo uma inteligência inferior” (sua “teoria revolucionária”
consistia em quatro slides de Power Point com gráficos sem sentido). “Meu marido
está brocha, por isso tem inveja dos meus amigos”, e relata jocosamente seus casos
extraconjugais. Juízo claramente prejudicado, com delírios congruentes com o humor
(superioridade, grandiosidade) e persecutoriedade relacionada à não aceitação de seus
“negócios”. Crítica ausente.
• HIPÓTESE DIAGNÓSTICA (HD) — Episódio maníaco (etiologia a ser investigada).
• EVOLUÇÃO — Investigação inicial (exames gerais) não revelou alterações signi-
ficativas. Quando a paciente foi informada sobre a realização de ressonância nuclear
magnética (RNM) do encéfalo, se evadiu da emergência, sendo atropelada alguns
quarteirões adiante. Foi feita correção cirúrgica de fraturas em ambos os membros
inferiores e em membro superior esquerdo. Já na recuperação pós-anestésica (RPA),
a paciente passou a ficar agitada, necessitando de sedação. Na enfermaria de ortope-
dia, o psiquiatra optou pelo uso de 15 mg/dia de aripiprazol. A paciente se recusava
a deglutir a medicação, e foi utilizada sonda nasogástrica. Sedação com midazolam
intramuscular (IM) foi necessária no início do tratamento, tendo a dose de aripipra-
zol sido aumentada para 30 mg/dia no quinto dia de tratamento. A partir do sexto
dia, a paciente ficou mais tranquila, sem grande sedação. Tomografia computado-
rizada (TC) de crânio/encéfalo não demonstrou alterações significativas. Foi feita
investigação completa, com o descarte de possíveis alterações metabólicas, infeccio-
sas ou por uso de substâncias relacionadas ao surgimento de sintomas maniformes.
Pesquisa de doenças sexualmente transmissíveis (DST) devido à desinibição sexual.
Uma semana depois do início do tratamento com aripiprazol, a paciente já perma-
necia calma durante o dia (sem necessidade de medicação injetável), mas mantinha
discurso com conteúdo de superioridade e arrogância. Surgiram queixas de inquie-
tação e ansiedade, “não consigo parar quieta”. Foi cogitada a hipótese de surgimento
de acatisia como efeito colateral da medicação, e propranolol foi introduzido na dose
de 10 mg, três vezes ao dia, com melhora parcial da acatisia. Depois de mais dez dias,
SHB já tinha alguma crítica do ocorrido, culpando-se pelo atropelamento (mas ainda
reticente em admitir as outras tolices). Não se queixava mais de “inquietação”. A dose
de propranolol foi reduzida para 10 mg, duas vezes ao dia, visando à retirada gradual.
Depois da alta (ortopedia), a dose de aripiprazol foi modificada para 20 mg/dia; após
um mês, crítica refeita e presença de “arrependimento” intenso, mas sem fechar diag-
nóstico de depressão. Foi indicada psicoterapia (domiciliar) para manejo dos sintomas
de desmoralização pós-mania. Sem queixas de efeitos colaterais, já sem propranolol.
• DISCUSSÃO — Somente 10% dos diagnósticos de transtorno afetivo bipolar
(TAB) são realizados depois dos 50 anos de idade. Um primeiro episódio de mania,
3
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
ARIPIPRAZOL
PSICOFARMACOLOGIA
O aripiprazol (uma quinolinona) é um antipsicótico atípico, ou antipsicótico de
segunda geração (ASG), que possui mecanismo de ação diferenciado em relação aos
demais atípicos e típicos comercializados no Brasil (por isso chamado também de antip-
sicótico de “3ª geração”). Possui agonismo parcial dos receptores D2, agonismo sobre
receptores dopaminérgicos, agonismo parcial dos receptores 5HT1A e antagonismo dos
4
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NO MANEJO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
Parâmetro Valor
Tmáx 3 a 5 horas
5
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
6
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NO MANEJO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
Monoterapia Acatisia 13 4
para mania
Sedação 8 3
Tremor 6 3
Inquietação 6 3
Distúrbios extrapiramidais 5 2
Tratamento Acatisia 19 5
adjuvante da mania
Insônia 8 4
Distúrbios extrapiramidais 5 1
Tratamento de Tremor 9 1
manutenção
Acatisia 8 1
Boca seca 8 1
Hipertensão 8 4
Aumento de peso 6 0
Vaginite 6 0
Síndrome flu-like 5 0
Faringite 5 2
Pensamento anormal 5 2
O aripiprazol não eleva a prolactina acima dos níveis máximos previstos, embora
aumentos acima do limite máximo estejam descritos para um pequeno número
de mulheres apenas, no início do tratamento e com normalização posterior. Parâ-
metros clínicos (pressão arterial, frequência cardíaca) e laboratoriais (glicemia em
jejum, colesterol, triglicérides) não apresentam alterações diferentes daquelas com
placebo. O aripiprazol não se associa ao desencadeamento ou à piora de síndrome
metabólica.8,9,14
7
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
DESFECHO DO CASO
8
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NO MANEJO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
2º CASO CLÍNICO
APRESENTAÇÃO DO CASO
9
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
10
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NO MANEJO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
thyroid stimulating hormone (TSH), sem melhora clínica. Com introdução de divalproato
de sódio até 1.500 mg/dia, o paciente apresentou melhora progressiva da agitação e de
parte dos sintomas psicóticos, mesmo em uso concomitante de apenas 5 mg de olan-
zapina. O psiquiatra da ocasião alertou para a possibilidade de se tratar de um trans-
torno esquizoafetivo de difícil manejo, devido à sensibilidade do paciente aos efeitos dos
antipsicóticos. Um terceiro psiquiatra descartou essa hipótese e iniciou o tratamento de
esquizofrenia paranoide com clozapina (sem retirar o divalproato de sódio, pelo risco de
convulsão), devido ao histórico de resistência e intolerância aos antipsicóticos. Foi feita
a introdução lenta e padronizada de clozapina, sem emergência de leucopenia. Houve
manejo da eventual agitação e da agressividade com haloperidol (apesar dos efeitos
extrapiramidais) e bromazepam. Doses de clozapina foram progressivamente eleva-
das até 500 mg/dia, apesar das queixas de sialorreia e desconforto devido à sonolência
excessiva. O comportamento do paciente ainda oscilava bastante, alternando período
de dias sem sair do quarto com períodos de agitação e intolerância à frustração, que-
rendo fazer as coisas de seu modo e discutindo com familiares (mas sem agressividade
verbal ou física). Nessas fases de agitação o haloperidol tinha sua dose elevada, com uso
concomitante de biperideno para controle de efeitos colaterais. Foi numa dessas oca-
siões que o paciente apresentou as convulsões descritas.
• ANTECEDENTES PESSOAIS — Criança com tendência à introspecção e ao iso-
lamento, mas conseguia ter alguns amigos mais próximos. Desempenho mediano na
escola, sem brilhantismo, mas sem repetências. Uso eventual de Cannabis na adoles-
cência, o qual abandonou, pois “não curtiu”. Antes do primeiro episódio aos 17 anos de
idade vinha com perda importante do rendimento escolar, sendo os pais avisados que
ele não prestava atenção nas aulas nem entregava tarefas.
• ANTECEDENTES FAMILIARES — Irmão do meio, uma irmã mais velha e um
irmão caçula sem problemas. Mãe tratada de câncer de mama e depressão, ambos em
remissão. Pais separados desde quando o paciente tinha dez anos de idade. Seu pai
era presente, embora o paciente morasse com a mãe e irmãos. Alguns primos do lado
paterno com histórico de uso eventual de substâncias. Tio paterno internado diversas
vezes em crises depressivas, numa delas se matou.
• INTERROGATÓRIO SOBRE OS DIVERSOS APARELHOS (ISDA) — Paciente
sedado em ventilação espontânea, pneumonia bilateral e pós-convulsivo. Mãe nega
outros problemas além dos já descritos.
• HÁBITOS — Uso ocasional de Cannabis na adolescência. Tabagista, fuma dez
cigarros ao dia há dez anos.
• EXAME PSÍQUICO — Não realizado no primeiro atendimento (paciente sedado).
• HIPÓTESE DIAGNÓSTICA (HD) — Esquizofrenia paranoide? Transtorno esqui-
zoafetivo?
11
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
EVOLUÇÃO DO CASO
12
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NO MANEJO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
13
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
Quadro 1. O nível sérico de clozapina pode ser elevado por inibidores de isoenzimas CYP5,6
Quadro 2. O nível sérico de clozapina pode ser reduzido por indutores de isoenzimas CYP5,6
Com a redução da clozapina para 200 mg/dia, o paciente pareceu mais acelerado em
suas ideias e também mais persecutório, acreditando que o neurologista que o inves-
tigava estava envolvido no complô e poderia prescrever medicações contaminadas.
14
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NO MANEJO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
A dose de divalproato foi elevada para 2.000 mg/dia (nível sérico de ácido val-
proico: 88 mcg/mL) e foi introduzida a lurasidona na dose de 20 mg/dia. Com a eleva-
ção a lurasidona para 40 mg/dia e a redução da clozapina para 150 mg/dia, o paciente
passou a se queixar de inquietação e necessidade de se movimentar (acatisia), sendo
introduzido propranolol na dose de 10 mg, três vezes ao dia, com melhora parcial.
Houve leve melhora da aceleração de pensamentos, sem redução da persecutoriedade.
Com 80 mg/dia de lurasidona e 100 mg/dia de clozapina, foi perceptível a melhora
da aceleração e de delírios paranoides, e percebeu-se alguma crítica sobre o ocorrido.
Depois de mais quatro semanas, o paciente estava sem clozapina, com 80 mg/dia
de lurasidona, 2.000 mg/dia de divalproato, 5 mg/dia de haloperidol, 6 mg/dia de bipe-
rideno, 30 mg/dia de propranolol, e ocorreu uma mudança radical do quadro clínico:
lentificação psicomotora, preferência por seu quarto, inapetência, anergia, falta de
vontade de passear com o cachorro ou de ouvir rock, mas ainda referindo descon-
fiança sobre possível “envenenamento da água”.
HD de TAB, episódio depressivo grave com sintomas psicóticos, incongruentes
com o humor (paranoides), dentro de um TAB do humor, não mais de um transtorno
esquizoafetivo. Foram retirados o haloperidol e o biperideno, e não houve melhora.
Como o paciente (aparentemente) não apresentara virada maníaca associada ao
uso de antidepressivos no passado e também apresentara estabilização parcial do qua-
dro com o uso de clozapina, optou-se pela combinação de 10 mg/dia de vortioxetina,
pois seu mecanismo de ação, de certa forma, “complementa” o da lurasidona no sen-
tido de lembrar o perfil farmacológico da clozapina, sem os riscos desta última (con-
vulsões, leucopenia, agranulocitose) — além do mecanismo de ação antidepressivo.
O paciente “saiu da cama” com o acréscimo da vortioxetina, e com a elevação da
dose para 15 mg/dia pareceu restabelecer um comportamento próximo do usual
quando fora de fase, com vontade e energia para suas atividades, mas ainda um pouco
insistente sobre suas “teorias”, sem se tornar francamente inadequado.
Como permanecia ainda muito “desconfiado”, querendo beber somente água
mineral em embalagens lacradas e que ele mesmo abrisse, a dose de lurasidona foi
elevada para 120 mg/dia. Embora surgissem novamente algumas queixas compatíveis
com efeitos extrapiramidais leves (sensação de rigidez muscular, alguma hipomimia
facial), a reintrodução de 4 mg/dia de biperideno deixou o paciente confortável.
Ele não “atuava” mais em relação aos delírios de envenenamento, mas mantinha
desconfiança sobre a segurança da água de torneira de sua casa. Foram mantidos 120
mg/dia de lurasidona, 15 mg/dia de vortioxetina, 2.000 mg/dia de divalproato, 30 mg/
dia de propranolol e 4 mg/dia de biperideno.
O paciente permaneceu estabilizado por mais de quatro meses consecutivos, algo
há muito tempo não observado pelos familiares. Recomendou-se psicoterapia visando
15
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
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ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NO MANEJO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
seus níveis séricos aumentados por inibidores do CYP3A4 (como amiodarona, cloran-
fenicol, cimetidina, claritromicina, eritromicina, fluconazol, fluvoxamina, indinavir,
itraconazol, cetoconazol, nelfinavir, norfloxacino, ritonavir) e reduzidos por induto-
res do CYP3A4 (como fenobarbital, carbamazepina, oxcarbazepina, topiramato, feni-
toína, glicocorticoides, rifampicina, ritonavir, erva-de-são-joão).13
A lurasidona possui grande afinidade no bloqueio dos receptores serotoninérgicos
5HT2A e 5HT7, e dopaminérgicos D2. A baixa ocorrência de efeitos extrapiramidais
(exceto acatisia) se deve ao balanço favorável de bloqueio D2/5HT2A, já que a lura-
sidona apresenta afinidade quase nula por receptores histaminérgicos H1 e colinér-
gicos muscarínicos (ganho de peso e sonolência muito infrequentes, sendo segura
quanto ao desenvolvimento de síndrome metabólica). O agonismo parcial em 5HT1A
pode explicar o efeito antidepressivo no TAB, e o antagonismo 5HT7 está relacionado
a ações pró-cognitivas. Discreta ação antagonista em D3 e D4 e antagonismo noradre-
nérgico alfa-2C também podem contribuir para as ações antidepressivas e pró-cogni-
tivas da lurasidona. Ações 5HT2C e 5HT3 são mínimas ou nulas.8,14
17
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
18
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NO MANEJO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
tina, e para pacientes que anteriormente apresentaram tal fenômeno (com o uso de
inibidores seletivos da recaptura de serotonina), a adição de antidepressivo estaria
contraindicada.1,15
3º CASO CLÍNICO
INTRODUÇÃO
APRESENTAÇÃO DO CASO
19
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
OLANZAPINA
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ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NO MANEJO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
pais queixas com seu uso terapêutico: a sonolência e o ganho de peso).8,9 Por via oral,
possui elevado metabolismo de primeira passagem, resultando numa biodisponibili-
dade de 60%. Sua meia-vida gira em torno de 33 horas, com pico sérico depois de seis
horas da ingestão. É biotransformada principalmente pela isoenzima CYP1A2, sendo
o CYP2D6 uma via bem menos importante (Tabela 1). O tabagismo induz CYP1A2 e
está relacionado à queda dos níveis séricos de olanzapina, que não induz nem inibe
qualquer isoenzima hepática. Níveis mais elevados de olanzapina podem ocorrer com
o uso concomitante de fluvoxamina (inibe CYP1A2), e níveis reduzidos, com o uso
concomitante de carbamazepina e tabaco.8
Parâmetro Valor
Tmáx 6 horas
21
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
EVOLUÇÃO DO CASO
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ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NO MANEJO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
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ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
QUETIAPINA
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ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NO MANEJO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
Parâmetro Valor
Metabolização CYP3A4
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ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
cluir que trocar a olanzapina por aripiprazol ou quetiapina resulta em perda de peso e
diminuição da glicemia em jejum.21
Em guideline publicado pela World Federation of Societies of Biological Psychiatry
(WFSBP), a respeito de tratamento a longo prazo e manejo dos efeitos adversos indu-
zidos pelos antipsicóticos, as conclusões foram semelhantes (troca de olanzapina
para aripiprazol ou quetiapina).24 A troca mostrou-se uma alternativa eficaz quando
há alterações significativas do peso e dos parâmetros metabólicos durante o uso da
olanzapina.
4º CASO CLÍNICO
INTRODUÇÃO
APRESENTAÇÃO DO CASO
A paciente EKF, de 31 anos de idade, atriz, teve início de seu quadro aos 15 anos de
idade, quando estava cursando o ensino médio. Nessa época, começou a sair com um
garoto, que era o sonho de todos as meninas de sua classe, e logo se tornou “popular”,
com muito assédio de suas colegas. Elas queriam saber como EKF conseguiu conquis-
tar o menino mais desejado da escola, e EKF resolveu, junto com uma colega de sala,
escrever um manual de como conquistar garotos. Sentia-se muito poderosa e logo
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ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NO MANEJO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
estava aplicando seus dotes e conhecimentos com vários garotos. Ao mesmo tempo,
começou a achar que não necessitava estudar, pois tinha uma técnica para acertar os
testes de múltiplas alternativas, mesmo sem conhecer a matéria. Vendeu sua bicicleta
e seu celular, pois tinha um plano de como ganhar muito dinheiro, sem trabalhar, com
somente um blog, onde divulgaria seus planos e venderia seus manuais, conseguindo
assim muita fama e dinheiro. Passava a noite em claro, diante do computador.
Como a paciente passou a tirar notas baixas e não estudava mais como antes, seus
pais perceberam que algo estava errado e a levaram a um psiquiatra. Foi introduzido
o valproato na dose de 500 mg/dia, e marcou-se o retorno para uma semana depois.
Entretanto não houve tempo; EKF estava tão eufórica com suas ideias que teve um
ímpeto de viajar para Brasília, certa de que seria facilmente reconhecida pelas pes-
soas e logo poderia conversar com o presidente para expor suas ideias.
No caminho, com suas “investidas” sobre os rapazes que viajavam no ônibus,
inclusive casados, arrumou confusão com os passageiros, que avisaram o motorista
e chamaram a polícia. Estava desorientada, muito agitada e foi levada pela polícia
para um pronto-socorro da prefeitura local, onde conseguiram localizar seus pais; os
médicos que a atenderam fizeram o encaminhamento para internação em hospital
psiquiátrico.
No hospital foi feito o diagnóstico de TAB tipo I, fase maníaca, e se reintroduziu
o valproato na dose de 750 mg/dia, associado a risperidona, 4 mg/dia. Houve rápida
melhora do quadro, com retorno à normalidade em algumas semanas e a paciente
tendo alta e retornando gradativamente às suas atividades.
EKF permaneceu bem por dois anos, quando seus pais perceberam que nova-
mente passava noites em claro, no computador, e já estava com algumas ideias mira-
bolantes, como abrir um negócio com doações dos internautas, com o qual ganharia
muito dinheiro e ficaria rica.
Antes de confirmar uma crise, como a que resultou em sua primeira internação,
seus pais a levaram novamente ao psiquiatra, que diante do nível sérico de valproato,
considerado na parte mais alta da faixa terapêutica (96 mcg/mL), optou por aumentar
a risperidona, inicialmente para 6 mg/dia e depois para 7 mg/dia.
A paciente apresentou melhora do quadro, porém sentia as pernas enrijecidas,
com dificuldade para deambular, além de salivação excessiva. Diagnosticada a sín-
drome extrapiramidal, a popular “impregnação neuroléptica”, prescreveu-se biperi-
deno na dose de 6 mg/dia, com melhora em poucos dias. Entretanto, depois de algu-
mas semanas, persistia hipomimia facial, além de dor na região mamária e secreção
de leite.
O psiquiatra solicitou dosagem de prolactina que resultou 148 ng/mL, e optou
então por reduzir a dose da risperidona para 4 mg/dia. Porém a paciente apresentou
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ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
piora do quadro e passou a ficar irritada e agressiva com os familiares. Nos dias que se
seguiram, a EKF apresentou alguns sinais de tristeza, desânimo, que se alternavam
com períodos nos quais ficava agitada, com sensação de que seus pensamentos esta-
vam acelerados.
RISPERIDONA
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ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NO MANEJO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
Parâmetro Valor
A risperidona tem afinidade 10 a 20 vezes maior por 5HT2 do que por D2, pos-
suindo efeitos anticolinérgicos. Estudos com positron emission tomography (PET)
revelam que a dose de 1 mg de risperidona leva a 60% de ocupação 5HT2 e 50% de
D2, e doses de 3 mg, a 65%-70% de ocupação. Estima-se que sejam necessários 70%
de ocupação D2 para a resposta antipsicótica, logo a grande atividade serotoninérgica
parece não influir na atividade antipsicótica. Acima de 6 mg/dia, comporta-se como
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ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
um “típico” em 60% a 70% dos pacientes (com possível surgimento de sintomas extra-
piramidais, hiperprolactinemia, galactorreia e amenorreia).
PALIPERIDONA
EVOLUÇÃO DO CASO
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ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NO MANEJO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
ZIPRASIDONA
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ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
ria.14 Ao contrário da maioria dos antipsicóticos, não está relacionada a ganho de peso
nem a aumento da glicemia.13
É um antagonista das atividades dopaminérgica D2, serotoninérgica (5HT1D e
5HT2C) e agonista de receptores 5HT1A.1 É o mais potente antagonista de 5HT2A dentre
os antipsicóticos atípicos, sendo também relativamente potente inibidor da recaptura
de serotonina e noradrenalina, o único entre os atípicos que apresenta essa proprie-
dade in vitro.15 Se esse efeito ocorre in vivo, ainda é objeto de estudos, mas é interes-
sante, pois divide essa propriedade com vários antidepressivos clinicamente efetivos.
Sua biodisponibilidade por via oral é de 60% em voluntários normais, quando
ingerida com alimentação, o que aumenta sua absorção em mais de 50%. O pico de
concentração plasmática ocorre em 3,7 a 4,7 horas. A meia-vida de eliminação em
doses de 80 a 120 mg/dia é de aproximadamente 10 horas, por isso se recomenda seu
uso em duas tomadas ao dia. Em doses elevadas, sua meia-vida é maior, e graças à sua
propriedade sedativa tem sido mais usada em dose única noturna, próxima de uma
refeição, quando em doses superiores a 120 mg/dia (Tabela 2).16
Parâmetro Valor
Metabolização CYP3A4
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ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NO MANEJO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR
temente pela isoenzima CYP3A4, responsável por duas vias de oxidação, formando
sulfóxido de ziprasidona e o benzotiazolpiperazina.18 O único metabólito ativo (zipra-
sidona sulfona) também é formado pela ação de CYP3A4. A ziprasidona é um inibidor
de CYP2D6, mas não altera o metabolismo de outros fármacos que utilizam essa via.19
Dois estudos duplo-cegos, controlados com placebo, determinaram a eficácia e
a tolerabilidade da ziprasidona em pacientes com mania aguda. Um deles, multi-
cêntrico, realizado em 21 centros norte-americanos e três brasileiros, avaliou 210
pacientes em mania aguda como diagnóstico primário do TAB I, e o grupo tratado
com ziprasidona apresentou melhora significativa em todas as escalas de gravidade
de mania aplicadas.20 No outro estudo, 206 pacientes foram randomizados, sendo a
dose média de 126 mg/dia. Uma diferença significativa foi encontrada nos escores de
mania (MRS, do inglês mania rating scale) já no segundo dia, o que se manteve no 21o
dia de tratamento.21 A ziprasidona foi então aprovada pela FDA para o tratamento da
mania aguda. Pacientes com mania mista ou mania psicótica também apresentaram
melhora significativa com uso da ziprasidona.22 A associação de ziprasidona ao lítio
também levaria à redução do tempo de melhora,23 com início da melhora já no quarto
dia de tratamento.
Posteriormente, a ziprasidona foi aprovada para o tratamento de manutenção do
TAB, quando associada a lítio ou valproato. Duzentos e trinta e oito pacientes em fase
maníaca ou mista do TAB foram randomizados para receber ziprasidona (n = 127) ou
placebo (n = 111) associados a lítio ou valproato. A ziprasidona foi superior ao placebo,
aumentando o tempo para recorrência durante os seis meses do estudo duplo-cego.
Os efeitos mais robustos foram observados na combinação de ziprasidona com lítio,
evitando episódios maníacos ou mistos.24
CONCLUSÃO
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ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
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37
CAPÍTULO 2
ANTIPSICÓTICOS NA
GRAVIDEZ E NA LACTAÇÃO
AMAURY CANTILINO
INTRODUÇÃO
Embora muitas mulheres tratadas com psicofármacos engravidem ou planejem a
gravidez, essas medicações não foram licenciadas para uso durante a gestação. Isso
deixa as mulheres e os profissionais de saúde em um dilema de tratamento, pois é
necessário ponderar entre a saúde das mulheres e a do feto.
O aconselhamento sobre o tratamento varia entre os diversos países e, em alguns
casos, o aconselhamento psiquiátrico geral é o de que as mulheres devem manter o
tratamento farmacológico durante o período perinatal; no entanto, alguns psicofár-
macos são conhecidos por ter efeitos teratogênicos e adversos ao desenvolvimento
neuropsicomotor. A título de exemplo, as diretrizes do National Institute for Health
and Care Excellence (NICE) para a saúde mental pré-natal e pós-natal afirmam clara-
mente que o valproato não deve ser oferecido para tratamento agudo ou a longo prazo
de transtorno psiquiátrico em mulheres com potencial para engravidar. Da mesma
forma, as diretrizes sugerem que o lítio não deve ser prescrito a mulheres que estejam
planejando engravidar ou que estejam grávidas, a menos que tenha havido uma res-
posta insatisfatória ao medicamento antipsicótico.1
A base de evidências para efeitos adversos de outros medicamentos é esparsa.
Embora os antipsicóticos sejam frequentemente usados no tratamento da esquizofre-
nia e do transtorno afetivo bipolar (TAB) na gravidez, algumas revisões concluem que
há uma escassez de informações sobre os riscos e benefícios do tratamento farmaco-
lógico das psicoses na gravidez na ausência de grandes e bem planejados estudos.2
Talvez por isso as mulheres grávidas fiquem mais propensas a descontinuar antip-
sicóticos atípicos (também chamados “antipsicóticos de segunda geração” ou “ASG”)
38
ANTIPSICÓTICOS NA GRAVIDEZ E NA LACTAÇÃO
39
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
O objetivo deste texto é prover informações a respeito dos riscos e benefícios das
medicações antipsicóticas em mulheres grávidas e lactantes com transtornos psicó-
ticos diversos. Além disso, sugerir recomendações para apoio à decisão com base em
dados de segurança e considerações clínicas apropriadas.
GESTAÇÃO
1º CASO CLÍNICO
40
ANTIPSICÓTICOS NA GRAVIDEZ E NA LACTAÇÃO
2º CASO CLÍNICO
41
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
uma prevalência de 0,1 para 2,1 durante o período do estudo. A prevalência de antip-
sicóticos e antiepilépticos estabilizadores do humor foi quase duas vezes maior para
as gravidezes que terminaram em aborto espontâneo ou eletivo em comparação com
as gestações que terminaram no parto. Um aumento acentuado na prevalência do
uso de antidepressivos durante a gravidez foi visto a partir de 2000-2011 (de 6 para
41 por mil gravidezes).9 Outro estudo calculou a prevalência do uso pré-natal de antip-
sicóticos atípicos e típicos de acordo com o ano do parto, o trimestre da gravidez e o
diagnóstico psiquiátrico. Entre 585.615 partos, 4.223 (0,72%) foram de mulheres que
receberam um antipsicótico atípico e 548 (0,09%) de mulheres que receberam um
antipsicótico típico a qualquer momento a partir de 60 dias antes da gravidez até o
parto. Houve um aumento de 2,5 vezes no uso de antipsicóticos atípicos durante o
período do estudo, de 0,33% em 2001 para 0,82% em 2007, enquanto o uso de antipsi-
cóticos típicos permaneceu estável. A depressão foi o diagnóstico mais comum entre
partos em mulheres com uso de antipsicóticos atípicos (63%), seguida por TAB (43%)
e esquizofrenia (13%). O número e a proporção de grávidas expostas a antipsicóticos
atípicos aumentaram significativamente nos últimos anos.8
• SEGUNDO ASPECTO — A esquizofrenia, por si só, está associada a maior risco
de pré-eclâmpsia, tromboembolismo venoso, parto prematuro, recém-nascidos peque-
nos para a idade gestacional (PIG) e grandes para a idade gestacional (GIG). Mulheres
portadoras de esquizofrenia também necessitam de recursos hospitalares mais inten-
sivos, incluindo o parto cirúrgico e admissão mais frequente em unidade de terapia
intensiva materna, paralelamente à maior morbidade neonatal.10 Gestantes com
esquizofrenia apresentam risco aumentado de complicações obstétricas, incluindo pré-
-eclâmpsia, baixo crescimento fetal, parto prematuro, bebês com baixo peso ao nascer,
baixo índice de Apgar, anomalias congênitas, natimortos e subsequentes óbitos neo-
natais, e síndrome da morte súbita infantil. Muitos fatores de risco para complicações
obstétricas também são mais frequentes em portadoras de esquizofrenia, como taba-
gismo, abuso de álcool e substâncias, dificuldades financeiras, violência doméstica,
deficiências nutricionais, obesidade e diabetes, e diminuição do acesso a cuidados pré-
natais. O tabagismo é a principal causa evitável de morbidade e mortalidade fetal em
países de alta renda e está associado a um risco aumentado de pré-eclâmpsia, aborto
espontâneo, malformações congênitas, baixo peso ao nascer, prematuridade, nati-
mortos, síndrome da morte súbita infantil e distúrbios físicos e mentais na infância.7
Dr. Alexandre também precisará ficar alerta para o fato de que a psicose aguda e
não tratada é bem reconhecida por estar associada a sofrimento psicológico e proble-
mas de comportamento que podem colocar a mãe e o feto em risco, além de afetar a
capacidade da mãe de cuidar de seu bebê, caso a recaída aguda persista no pós-parto.
A psicose aguda está associada à ativação significativa do eixo hipotálamo-hipófi-
42
ANTIPSICÓTICOS NA GRAVIDEZ E NA LACTAÇÃO
3º CASO CLÍNICO
Num grupo fechado para médicos em uma rede social, um colega solicitou suges-
tões quanto ao manejo clínico para uma paciente de 36 anos de idade, portadora de
TAB tipo I com predomínio de fases depressivas, estabilizada com 900 mg/dia de lítio
e 200 mg/dia de quetiapina. Uma das respostas mais emblemáticas veio da Dra. EB: “Já
que o feto foi exposto ao lítio e à quetiapina, eu pensaria em não iniciar outras medi-
cações a menos que fosse necessário. Se a paciente estiver estável, pode-se pensar em
suspender o lítio e manter a quetiapina em monoterapia mesmo que precise aumen-
tar a dose. A quetiapina passa menos pela placenta e é uma medicação que pode ser
mantida no pós-parto”. Será que, para o tratamento do TAB na gravidez, há uma ten-
dência recente de os médicos preferirem os antipsicóticos atípicos ao lítio e aos anti-
convulsivantes? Há um racional para isso?
Inicialmente, é preciso saber que, em comparação com mulheres sem TAB, as por-
tadoras de TAB apresentam um risco aumentado de parto prematuro (10,68% versus
6,12%, respectivamente), de terem bebês com anomalias congênitas (4,34% versus
43
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
44
ANTIPSICÓTICOS NA GRAVIDEZ E NA LACTAÇÃO
gravidez aumentou de 6,3% em 2001 para 16,8% em 2007 em uma amostra dos Esta-
dos Unidos (n = 4.223), sendo a quetiapina prescrita com mais frequência.8 Autores já
chamam a atenção para o fato de que mulheres que tomam carbamazepina ou ácido
valproico podem se beneficiar da mudança para outro estabilizador de humor, como
lamotrigina ou medicamentos antipsicóticos atípicos.11
4º CASO CLÍNICO
MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS
No artigo “What Do We Know and How Should We Treat Pregnant Women with
Depression”,13 são apresentados alguns estudos que nos ajudam a ter um panorama
geral dos riscos associados aos antipsicóticos como um grupo. Inicialmente eles descre-
vem um estudo de registro de gravidezes em Massachusetts14 que avaliou a segurança
reprodutiva de antipsicóticos de segunda geração. Nele, 3 de 214 crianças do grupo de
tratamento e 1 de 89 crianças do grupo de controle tiveram malformações congênitas.
Os medicamentos incluíam aripiprazol, asenapina, clozapina, iloperidona, lurasidona,
olanzapina, paliperidona, quetiapina, risperidona e ziprasidona. A OR foi de 1,25, e o
intervalo de confiança (IC) foi de 95%, 0,15-12,19. A diferença não foi estatisticamente
significativa.13,14 Globalmente, os achados para malformações cardíacas entre os ASG
foram semelhantes.13 Na avaliação de agentes individuais, um pequeno risco aumen-
45
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
tado de malformações globais (risco relativo [RR] de 1,26; IC de 95%, 1,02-1,56) e malfor-
mações cardíacas (RR de 1,26; IC de 95%, 0,88-1,81) foi encontrado para a risperidona,
que era independente de confundidores em um estudo.15 Um ligeiro aumento similar
na taxa de anomalias congênitas após a risperidona pré-natal também foi observado
em outros estudos muito menores, com um total de 79 gestações.15-17
Em uma coorte de mulheres grávidas do Reino Unido de 1995 a 2012, um total de
416 mulheres que receberam prescrição de medicamentos antipsicóticos durante a
gravidez não apresentou risco maior de dar à luz a uma criança com malformações
congênitas graves, comparadas a mulheres sem antipsicóticos prescritos. Esse estudo
incluiu 670 mulheres com tratamento psicotrópico antes da gravidez e 318.434 con-
troles. Das 290 mulheres para as quais foram prescritos antipsicóticos até o dia 105 da
gravidez, dez (3,4%) deram à luz uma criança com uma malformação congênita maior,
em comparação com 11 de 492 (2,2%) na coorte de mulheres que descontinuaram o
tratamento antes da gravidez e 4.162 de 210.966 (2,0%) nos controles. As diferenças
não foram significativas após ajustes para outras medicações, saúde e características
de estilo de vida concomitantes.2
46
ANTIPSICÓTICOS NA GRAVIDEZ E NA LACTAÇÃO
5º CASO CLÍNICO
A Dra. Luciana percebe que, para uma melhor tomada de decisão, terá que aces-
sar os dados dos antipsicóticos atípicos individualmente. A maior preocupação dela
diz respeito à possibilidade de malformações congênitas. Assim, estão apresenta-
das a seguir algumas informações referentes a alguns dos principais antipsicóticos
atípicos comercializados em nosso meio para a finalidade de consulta. A tabela 1
mostra um resumo sobre os dados públicos até então, segundo recente revisão de
literatura.19
ARIPIPRAZOL
Na observação dos dados disponíveis de 1.932 crianças expostas no primeiro tri-
mestre ao aripiprazol, encontra-se um total de 81 malformações; utilizando apenas
fármacos identificáveis e dados específicos de malformação, há um produto final de
81 malformações em 1.860 crianças nascidas expostas, ou uma frequência agregada
bruta de 4,4%, que está dentro da faixa habitual de malformações reportadas nesse
tipo de revisão. A maioria desses dados é proveniente de um estudo epidemiológico
americano, muito grande, relatando um RR ajustado de 0,95 (IC de 95%, 0,76-1,19)
entre 1.756 crianças nascidas vivas expostas.19
47
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
A partir do banco de dados do fabricante, foi relatado que dentre 188 casos expos-
tos com resultado de partos de nascidos vivos, 15 crianças tiveram malformações.
Também foram relatados os dados coletados dos centros franceses de farmacovigilân-
cia com 86 mulheres expostas (56 expostas ao primeiro trimestre),19 em comparação
com um grupo de mulheres grávidas expostas a medicamentos não teratogênicos, a
estimativa de OR para malformações resultou em um valor impreciso de 2,30 (IC de
95%, 0,32-16,7). Nenhum controle foi estabelecido na análise estatística. Do centro de
informação teratológica de Berlim, foram relatadas três malformações entre 44 crian-
ças nascidas expostas e nascidas vivas, e do programa Motherisk em Toronto, dois
casos expostos resultaram em crianças saudáveis nascidas vivas.19
OLANZAPINA
A citada revisão sobre ASG19 também relata uma série de pesquisas sobre olanza-
pina e malformações congênitas; um total de cem malformações congênitas entre 2.764
crianças expostas à olanzapina não sugere aumento do risco de malformações. Utili-
zando apenas dados identificáveis de informações específicas do medicamento, isso gera
cem malformações de 2.449 crianças nascidas vivas expostas, correspondendo a uma
frequência combinada bruta de 4,1%, que está dentro da frequência habitual relatada.19
Nessa revisão, os autores citam estimativas específicas de olanzapina em um
grande estudo norte-americano que produziram um RR ajustado de 1,09 (IC de 95%,
0,85-1,41) entre quase 1.400 crianças nascidas vivas. Um estudo com 610 casos cole-
tados em um banco de dados prospectivo de farmacovigilância de manufaturadores
teve 27 malformações relatadas. Os autores citam também um estudo farmacêutico
coepidemiológico canadense que incluiu 166 crianças nascidas vivas, expostas à
olanzapina, mas a informação sobre os tipos específicos de malformações não estava
disponível. Do centro de informação de teratologia de Berlim, seis malformações
entre 125 crianças nascidas expostas foram relatadas, enquanto o conjunto de dados
Motherisk relatou uma malformação (também exposta à quetiapina) entre 60 crian-
ças nascidas expostas. Num outro conjunto de dados combinados de três diferentes
centros de informação teratogênica, observou-se uma malformação entre 23 crianças
nascidas vivas expostas. Um conjunto de dados australiano observou uma malforma-
ção entre 24 crianças nascidas vivas expostas.19
QUETIAPINA
Foram contabilizadas 196 malformações em 5.382 exposições relatadas; usando
apenas dados de malformação específica da quetiapina, são 196 malformações de
4.580 crianças expostas nascidas vivas, ou frequência combinada de acréscimo de
4,3%, que está dentro da faixa habitual de malformações relatadas.19
48
ANTIPSICÓTICOS NA GRAVIDEZ E NA LACTAÇÃO
RISPERIDONA
Com base na revisão de 2018,19 dentre 2.177 crianças nascidas vivas expostas à ris-
peridona, cem malformações foram relatadas; utilizando apenas dados identificáveis
de informações específicas, cem malformações foram identificadas entre 1.901 expo-
sições. A frequência combinada bruta foi de 5,3%, o que é ligeiramente superior à inci-
dência habitual de malformações congênitas relatadas.19
A mesma revisão cita que estimativas específicas controladas para risperidona de
um grande estudo norte-americano produziram um RR ajustado de 1,26 (IC de 95% 1,02-
1,41) entre 1.566 crianças nascidas vivas expostas; o RR para malformações cardíacas
foi de 1,26 (IC de 95%, 0,88-1,81). O centro de informação teratológica de Berlim relatou
três malformações entre 48 crianças nascidas vivas expostas, enquanto o conjunto de
dados Motherisk não relatou malformações entre os 49 nascidos vivos. No conjunto
combinado de três centros de informação teratogênicos diferentes, nenhuma malfor-
mação entre as 16 crianças nascidas vivas expostas foi observada. O conjunto de dados
australiano continha duas malformações entre 15 crianças nascidas vivas expostas.19
Um estudo epidemiológico dinamarquês encontrou um RR bruto (ajuste não
possível) para o aborto espontâneo de 1,59 (IC de 95%, 1,12-2,25) entre 45 gravidezes
expostas à risperidona. Um RR geral para natimorto de 2,27 (IC de 95%, 1,45-3,55)
foi encontrado entre 1.474 nascidos vivos expostos a um fármaco antipsicótico,
incluindo risperidona.20
PALIPERIDONA
Das 17 gestações avaliadas prospectivamente, 14 resultaram em 15 crianças nas-
cidas vivas (incluindo um par de gêmeos). Nenhum dos lactentes apresentou malfor-
49
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
mações congênitas maiores. Houve dois abortos espontâneos nas 6a e 11a semanas ges-
tacionais, respectivamente, e uma interrupção eletiva por motivos pessoais. Sessenta
e cinco por cento das mulheres grávidas fumaram cigarros durante a gravidez, 17%
consumiram álcool. Cinco crianças nasceram prematuramente (menos de 37 semanas
de gestação) e quatro eram pequenas para a idade gestacional, cada grupo incluindo
os gêmeos. O aumento da taxa de prematuridade e de crianças pequenas para a idade
gestacional pode, pelo menos em parte, ser explicado por outros fatores de risco.21
CLOZAPINA
A clozapina é um ASG usado principalmente no tratamento da esquizofrenia
resistente ao tratamento. Numa revisão que abrangeu 21 estudos que examinaram
o uso de clozapina durante a gravidez e lactação, os dados limitados disponíveis não
suportaram a hipótese de um risco aumentado de malformações congênitas em fetos
expostos à clozapina, embora as taxas de diabetes gestacional sejam duas vezes mais
altas em mulheres grávidas que usam clozapina. O acúmulo de clozapina no soro fetal
possivelmente contribui para o aumento das taxas de síndrome de floppy baby no
parto, diminuição da variabilidade da frequência cardíaca fetal e convulsões. A cloza-
pina atravessa a placenta e também se acumula no leite materno, o que pode aumen-
tar o risco de agranulocitose em lactentes e pode fazer com que exames hematológi-
cos sejam necessários em bebês expostos. A maioria desses dados vem de relatos de
casos e séries de casos, tornando pouco claro se os riscos são devidos a doença psiquiá-
trica, fatores de estilo de vida ou cotratratamento com outras medicações. Embora a
literatura disponível sobre o uso de clozapina durante o período perinatal seja muito
limitada, os riscos do uso de clozapina durante a gravidez e no período pós-parto
devem ser discutidos com as mulheres e pesados contra aqueles associados a outros
tratamentos e à esquizofrenia não tratada.22
50
ANTIPSICÓTICOS NA GRAVIDEZ E NA LACTAÇÃO
expostos) indica ausência de toxicidade malformativa, tanto fetal quanto neonatal. O(a)
{quetiapina, olanzapina, aripiprazol} pode ser usado(a) se clinicamente necessário”.19
A avaliação clínica da risperidona/paliperidona exige mais ponderação. No geral,
os dados sugeriram um risco absoluto de malformações congênitas de aproximada-
mente 5,3%, o que é um pouco maior do que a faixa usual de malformações relatadas.
É provável que esse pequeno excesso de risco não justifique que um tratamento eficaz
e bem tolerado seja substituído no caso de uma gravidez não planejada. A quantidade
e a qualidade dos dados de segurança para a clozapina permanecem pouco expres-
sivos, e um risco clinicamente importante de aumento de malformações congênitas
não pode ser excluído com razoável confiança. As informações sobre outros antipsi-
cóticos permanecem insuficientes para uma avaliação de risco adequada.
Outro item a ser ressaltado é o fato de que idade, tabagismo, obesidade e status
social foram geralmente associados a aumento do uso de psicofármacos, e qualquer
estudo que pesquise o risco de problemas relacionados a esses medicamentos deveria
controlar esses fatores, embora nem todos o façam.19
NEURODESENVOLVIMENTO
6º CASO CLÍNICO
51
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
PROBLEMAS METABÓLICOS
7º CASO CLÍNICO
52
ANTIPSICÓTICOS NA GRAVIDEZ E NA LACTAÇÃO
[2] A substituição pelo aripiprazol seria uma alternativa para resolver o quadro?
Abaixo estão expostos alguns dados a respeito de eventuais problemas metabólicos
relacionados aos antipsicóticos atípicos.
A obesidade durante a gravidez é a condição obstétrica de alto risco mais comum,
resultando no aumento das taxas de resultados maternos e neonatais adversos. Um
estudo avaliou os pesos pré-gestacionais e o ganho de peso gestacional em mulheres
que foram expostas a ASG (atípicos) durante a gravidez em comparação com con-
troles. Ambos os grupos experimentavam uma morbidade psiquiátrica semelhante.
Um total de 403 participantes tiveram dados avaliáveis para essas análises (n = 279
expostos a ASG; n = 124 controles). O peso médio pré-gestacional, o IMC e a proba-
bilidade de início da gravidez com IMC obeso foram significativamente maiores no
grupo exposto em relação aos controles, assim como o peso médio e IMC no parto. No
entanto, o ganho de peso médio não diferiu significativamente entre os grupos. Entre
as categorias de IMC pré-gravidez, ambos os grupos ganharam mais do que a quanti-
dade recomendada de peso durante a gravidez.26
A conclusão foi de que as mulheres expostas aos ASG começaram a gravidez com
IMC mais elevado do que as do grupo controle, mas os grupos expostos e não expostos
experimentaram ganho de peso semelhante durante a gravidez. Assim, estratégias
são necessárias para evitar ganho de peso gestacional excessivo e reduzir a obesidade
pré-gestacional em mulheres com transtornos psiquiátricos, especialmente aquelas
tratadas com ASG.26
Uma revisão sistemática publicada em 2019 teve como objetivo examinar uma
relação potencial entre o uso de antipsicóticos (típicos e atípicos) durante a gravidez e o
diabetes mellitus gestacional (DMG). Um total de dez estudos relevantes que preenche-
ram os critérios de revisão foram examinados. Os dados desses estudos indicaram que
as taxas de prevalência de DMG em gestantes usuárias de medicações antipsicóticas
e no grupo sem medicação foram de 2,6% a 22% e de 0,95% a 10,7%, respectivamente.
A maioria dos estudos comparativos relatou que os antipsicóticos, como um grupo,
durante a gravidez não foram significativamente associados ao aumento do risco de
DMG. Os autores do estudo também sugeriram que as psicopatologias maternas subja-
centes poderiam afetar o risco de DMG.27
Em um grande estudo que averiguou mais de 1,5 milhão de gestações, algumas
mulheres estavam recebendo tratamento com aripiprazol (n = 1.924), ziprasidona (n
= 673), quetiapina (n = 4.533), risperidona (n = 1.824) ou olanzapina (n = 1.425). O risco
bruto de desenvolvimento de DMG entre mulheres que mantiveram o antipsicótico
em comparação com as que descontinuaram está expresso na tabela 2.28
Ou seja, em comparação com mulheres que interromperam o uso de um medi-
camento antipsicótico atípico antes do início da gravidez, as mulheres que conti-
53
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
0,82
Aripiprazol 4,8 4,5
(IC de 95% = 0,50-1,33)
0,76
Ziprasidona 4,2 3,8
(IC de 95% = 0,29-2,00)
1,28
Quetiapina 7,1 4,1
(IC de 95% = 1,01-1,62)
1,09
Risperidona 6,4 4,1
(IC de 95% = 0,70-1,70)
1,61
Olanzapina 12,0 4,7
(IC de 95% = 1,13-2,29)
54
ANTIPSICÓTICOS NA GRAVIDEZ E NA LACTAÇÃO
sagem da placenta foi mais alta para olanzapina (média = 72,1%, DP = 42,0%), seguida
de haloperidol (média = 65,5%, DP = 40,3%), risperidona (média = 49,2%, DP = 33,9%) e
quetiapina (média = 23,8%, DP = 11,0%). Isso parece ter impactado nos resultados obs-
tétricos, uma vez que houve tendências para maiores taxas de baixo peso ao nascer
(30,8%) e admissão neonatal na unidade de terapia intensiva (30,8%) entre neonatos
expostos à olanzapina.29 A extensão da transferência placentária de aripiprazol (razão
média de 56,2%) é comparável à de outros ASG.30
8º CASO CLÍNICO
55
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
res e 512 mensurações das mesmas mulheres antes e depois da gravidez. As concen-
trações séricas no terceiro trimestre foram significativamente menores do que as da
linha de base para quetiapina (–76%; IC, –83%, –66%; p < 0,001) e aripiprazol (–52%; IC,
–62%, –39%; p < 0,001), mas não para olanzapina (–9%; IC, –28%, +14%; p = 0,40). Para
os antipsicóticos remanescentes (perfenazina, haloperidol, ziprasidona, risperidona e
clozapina), o conjunto de dados foi limitado, mas indica que as concentrações podem
diminuir pelo menos para a perfenazina e possivelmente também para o haloperidol.
Mesmo que a consequência clínica do declínio das concentrações séricas precise ser
ainda mais bem elucidada, esses resultados justificam um acompanhamento clínico
rigoroso durante toda a gestação, sobretudo no terceiro trimestre.32
56
ANTIPSICÓTICOS NA GRAVIDEZ E NA LACTAÇÃO
LACTAÇÃO
9º CASO CLÍNICO
57
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
materna é 10 mg/kg/dia e o bebê está exposto através do leite materno a uma dose
de 1 mg/kg/dia, então a dose relativa para ele será de 10%. Como regra geral, se a dose
relativa para o lactente for menor do que 10%, a medicação tende a ser considerada
relativamente segura por haver uma exposição pequena.34 A maioria dos antipsicó-
ticos apresenta doses relativas nos lactentes muito baixas (menos que 1%) (Tabela 3).33
58
ANTIPSICÓTICOS NA GRAVIDEZ E NA LACTAÇÃO
ARIPIPRAZOL38
Informações limitadas indicam que doses maternas de aripiprazol até 15 mg por
dia produzem níveis baixos no leite, mas, até que mais dados estejam disponíveis, um
medicamento alternativo pode ser preferido, especialmente durante a amamenta-
ção de um recém-nascido ou prematuro. O aripiprazol tende a reduzir a prolactina
sérica de maneira dose-relacionada, apesar disso, há alguns relatos de ginecomastia
e galactorreia.
• NÍVEIS MATERNOS — Há alguns poucos relatos de casos que fizeram estima-
tivas da dose ajustada ao peso materno. A menor estimativa foi de 0,7% e a maior foi
de 8,3%. Por esse parâmetro, o aripiprazol pareceu relativamente seguro. No entanto,
mais dados precisam aparecer na literatura para conclusões mais definitivas.
• NÍVEIS INFANTIS — Uma mulher estava tomando 18 mg/dia de aripiprazol
durante a gravidez e o pós-parto. No sexto dia, a criança amamentada ao peito tinha
uma concentração sérica de 7,6 mcg/L, no entanto parte da concentração pode ter
sido residual da transmissão transplacentária devido à meia-vida do fármaco.
• EFEITOS EM BEBÊS AMAMENTADOS — Há poucos relatos sobre os efeitos em
bebês. Os existentes, apontam para um desenvolvimento psicomotor e comporta-
mental normal. As crianças expostas atingiram os marcos esperados para sua idade.
Mas precisaríamos de mais dados para afirmar segurança.
CLOZAPINA39
Há pouca experiência publicada com a clozapina durante a amamentação. Seda-
ção e efeitos hematológicos adversos foram relatados em crianças amamentadas.
59
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
OLANZAPINA40
Doses maternas de olanzapina até 20 mg/dia produzem níveis baixos no leite e
níveis indetectáveis no soro de crianças amamentadas. Na maioria dos casos, os efei-
tos colaterais a curto prazo não foram relatados, mas é importante que se fique atento
à possibilidade de sedação. O acompanhamento a longo prazo de crianças expostas
à olanzapina indica que as elas geralmente se desenvolvem normalmente. Revisões
sistemáticas de ASG concluíram que a olanzapina parece ser um agente de primeira
linha durante a amamentação. De qualquer modo, é importante monitorar a criança
em busca de sonolência e marcos de desenvolvimento, especialmente se outros antip-
sicóticos forem usados concomitantemente.
60
ANTIPSICÓTICOS NA GRAVIDEZ E NA LACTAÇÃO
QUETIAPINA41
As doses maternas de quetiapina até 400 mg por dia produzem níveis baixos no
leite. O acompanhamento a longo prazo de crianças expostas à quetiapina indica que
as crianças geralmente se desenvolvem normalmente. Revisões sistemáticas de antip-
61
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
RISPERIDONA42
Informações limitadas indicam que doses maternas de risperidona de até 6 mg/dia
produzem baixos níveis no leite, porém maiores do que os níveis de olanzapina e quetia-
pina. A medicação não é detectada no soro do recém-nascido amamentado (< 1 mcg/L).
Como há pouca experiência publicada com risperidona durante a amamentação e
poucos dados de acompanhamento a longo prazo, outros agentes podem ser preferi-
dos, especialmente durante a amamentação de um recém-nascido prematuro. Revi-
sões sistemáticas de ASG concluíram que a risperidona parecia ser um agente de
segunda linha durante a amamentação, devido aos dados limitados disponíveis e a
alguns resultados de níveis relativamente altos no leite.
• NÍVEIS MATERNOS — Uma quantidade relativamente pequena de dados
aponta que uma criança amamentada exclusivamente receberia entre 0,84% a 4,7%
62
ANTIPSICÓTICOS NA GRAVIDEZ E NA LACTAÇÃO
PALIPERIDONA43
Embora não haja dados disponíveis para o uso da paliperidona durante a ama-
mentação, ela é o metabólito ativo da risperidona. Os dados da risperidona indicam
que as concentrações de paliperidona (9-hidroxirrisperidona) no leite materno são
baixas e as quantidades ingeridas pelo lactente são pequenas. Como não há experiên-
cia publicada com paliperidona durante a amamentação e poucos dados de acompa-
nhamento a longo prazo, outros agentes podem ser preferidos, especialmente durante
a amamentação de um recém-nascido ou prematuro.
• NÍVEIS MATERNOS — A paliperidona é a 9-hidroxirrisperidona, o metabólito
ativo da risperidona. Nenhum estudo mediu a paliperidona no leite materno após a
administração de paliperidona. No entanto, a 9-hidroxirrisperidona foi medida no leite
e no plasma após a administração de risperidona. Utilizando a relação leite/plasma
média de 9-hidroxirrisperidona de 0,3 de três relatos de uso de risperidona durante a
amamentação, a concentração média de leite seria de aproximadamente 11 mcg/L ou
uma dose de 1,7 mcg/kg por dia. Um lactente amamentado exclusivamente recebe-
ria em média menos de 1% da dose ajustada ao peso materno com essa dose materna.
• NÍVEIS INFANTIS — [1] Em dois lactentes amamentados (seis semanas e 3,3
meses) cujas mães estavam tomando 2 mg de risperidona duas vezes ao dia e 1,5 mg/
dia em duas doses divididas, respectivamente, risperidona e 9-hidroxirrisperidona
foram indetectáveis ( 1 mcg/L) no soro dos bebês. [2] Outro lactente foi amamentado
seis vezes ao dia durante a terapia materna com 2 mg/dia de risperidona. Quinze
horas depois da última dose da mãe, os níveis de risperidona no plasma da criança
eram indetectáveis e a 9-hidroxirrisperidona era de 0,1 mcg/L.
• EFEITOS EM BEBÊS AMAMENTADOS — Não foi encontrada informação publi-
cada sobre paliperidona até a data da revisão. No entanto, dados limitados do uso de
seu fármaco parental, a risperidona, durante a amamentação não indicam efeitos
adversos a curto ou a longo prazo na criança.
63
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
CONCLUSÕES GERAIS
Conforme muito bem observado na revisão de Uriarte et al.:44
• Existe mais informações a respeito dos antipsicóticos atípicos do que sobre os
antipsicóticos tradicionais.
• Os dados de segurança reprodutiva são maiores para a olanzapina, a quetia-
pina e a risperidona. Os dados são limitados para a clozapina e o aripiprazol.
• Uma vez que sejam levados em conta os fatores de confusão e vieses, há pouca
evidência de risco significativo para a mãe e o bebê resultante da exposição aos antip-
sicóticos durante a gravidez. Foi detectado um possível aumento do risco de malfor-
mações após a exposição à risperidona, embora seja um dado que precise de maior
estudo e confirmação.
• O risco de DMG pode ser aumentado pelo tratamento com antipsicóticos; é
necessário estabelecer mecanismos de detecção, incluindo teste de tolerância à glicose.
• Os antipsicóticos atípicos na gravidez parecem estar associados a um maior
peso ao nascer.
• A exposição a antipsicóticos no útero pode estar associada a atrasos no desen-
volvimento neuromotor que tendem a desaparecer ao final do primeiro ano de vida.
• Em geral, não se recomenda mudar a medicação se ela está sendo eficaz e bem
tolerada; os riscos de uma recaída provavelmente superam os possíveis riscos do tra-
tamento; o mais indicado é manter a medicação que melhor está funcionando.
• É importante monitorar qualquer recém-nascido que tenha sido exposto a
antipsicóticos durante a gravidez ou durante a lactação.
• A lactação deveria ser contraindicada em caso de tratamento com a clozapina.
64
ANTIPSICÓTICOS NA GRAVIDEZ E NA LACTAÇÃO
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66
CAPÍTULO 3
USO ATÍPICO DE
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS
NA INFÂNCIA E NA
ADOLESCÊNCIA
SHEILA C. CAETANO
INTRODUÇÃO
O uso de antipsicóticos atípicos (AA, também chamados de “antipsicóticos de
segunda geração”, ou ASG) aumentou consideravelmente nos últimos anos, principal-
mente por sua eficácia clínica e melhor perfil de efeitos colaterais. De fato, em com-
paração com os antipsicóticos típicos, os AA causam menos efeitos extrapiramidais.
Em crianças e adolescentes, o uso de antipsicóticos dobrou de 2001 para 2007, sendo
prescritos por psiquiatras e médicos não psiquiatras.1 Na Coreia, um estudo epidemio-
lógico entre 2010 e 2014 relatou a prevalência anual de uso de AA de 417 por 100 mil
crianças e adolescentes, mostrando um aumento de 40% de 2010 para 2014.2
Muitas das prescrições de antipsicóticos para crianças e adolescentes não têm
nível de evidência científica suficiente para ter indicação clínica da US Food and Drug
Administration (FDA). Na tabela 1 há a descrição dos AA aprovados pela FDA para
cada transtorno psiquiátrico da infância e da adolescência.1
Ressalta-se que a maioria dos AA prescritos é off-label, ou seja, sem aprovação
clínica formal da FDA. Na Dinamarca, foram analisadas 404 prescrições de AA para
150 pacientes entre 7 e 18 anos de idade. Quase a totalidade dos AA (90%) foram pres-
critos off-label, sendo 63% por estarem fora da faixa etária aprovada, e 26% por indi-
cação não licenciada para o diagnóstico.3 Na Turquia, também a imensa maioria das
prescrições de AA foi off-label.4. Deve-se considerar também que a literatura de AA
67
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
68
USO ATÍPICO DE ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA
AA Doses (mg/dia)
Risperidona 0,5-2,25
Olanzapina 3-12
Quetiapina 150-800
Aripiprazol 2-30
Asenapina 2,5-10
Lurasidona 20-160
TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS NA
INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA E USO DE
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS
ESQUIZOFRENIA
69
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
Estudos a longo prazo também mostram que AA são eficazes na manutenção. Ari-
piprazol em manutenção em doses de 10 a 30 mg/dia em 146 pacientes com esqui-
zofrenia por 52 semanas apresentou tempo significativamente maior até recaída de
sintomas psicóticos, teve menor taxa de descontinuação e perfil de efeitos colate-
rais similar quando comparado ao placebo.5 A paliperidona por dois anos mostrou
melhora dos sintomas psicóticos em 220 pacientes com média de idade de 15,4 anos,
sendo que 41,7% atingiram remissão.6
Estudos comparando AA entre si são raros. A quetiapina de liberação estendida
(ER, do inglês extended release) até 600 mg/dia foi comparada ao aripiprazol até 20 mg/
dia em 113 adolescentes de 12 a 17 anos de idade com diagnóstico de transtorno do
espectro de esquizofrenia, ou de espectro afetivo, ou sintomas psicóticos (escore total
da positive and negative syndrome scale [PANSS] maior de 60). A melhora no escore da
PANSS não diferiu entre os grupos depois de 12 semanas. O ganho de peso (média de
3,3 kg) foi mais rápido com quetiapina ER. A acatisia foi mais frequente com o aripi-
prazol apenas na segunda semana, mas a sedação foi maior para o aripiprazol em toda
a avaliação. Em resumo, não houve nenhuma diferença significativa na melhora dos
sintomas psicóticos entre quetiapina ER e aripiprazol depois de 12 semanas. A que-
tiapina ER foi associada a mais eventos adversos metabólicos e o aripiprazol, a mais
acatisia inicial e, inesperadamente, mais sedação.7
70
USO ATÍPICO DE ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA
SÍNDROME DE TOURETTE
71
ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
Tabela 3. Efeitos colaterais nos ensaios clínicos com antipsicóticos atípicos em crianças e
adolescentes
AA Efeitos colaterais
72
USO ATÍPICO DE ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA
1º CASO CLÍNICO
GV, 13 anos de idade, sexo masculino. Seus pais tinham se separado fazia dois
anos. Em seguida ao divórcio, GV apresentou episódio de 15 dias de heteroagressi-
vidade, irritabilidade, aumento de energia e diminuição da necessidade de sono. Foi
advertido na sala de aula por estar falando muito, e foi suspenso três vezes por xin-
gar colegas e iniciar briga física. Antecedente familiar relevante: mãe com TAB tipo
I com boa resposta a lítio e quetiapina. Os pais procuraram psicoterapeuta, o qual
indicou também tratamento psiquiátrico. Foi iniciada a risperidona com aumento
de dose gradual até 6 mg/dia. Houve resposta parcial, pois GV apresentou melhora
do sono e de comportamentos de oposição e desafio, mas mantinha irritabilidade
e agitação leves com padrão de oscilação. Seu rendimento escolar caiu considera-
velmente, e ele não tinha mais amigos. Um mês antes do novo casamento do pai,
o paciente estava muito irritado, agressivo, choroso, com fala acelerada e ideias de
menos-valia e ruína. GV tentou suicídio (intensão de pular de sua janela no terceiro
andar do prédio), mas sua mãe conseguiu segurá-lo. Foi associado lítio em nível
terapêutico, mas GV não tolerou bem, sentia muita náusea e vômito. Foi tentada
a lamotrigina, mas GV apresentou piora importante da irritabilidade e começou a
ter diminuição da necessidade de sono na segunda semana de uso. Optou-se pela
substituição da risperidona por quetiapina até 300 mg/dia, com boa resposta ini-
cial, mas importante sonolência, a qual foi melhorando ao longo das semanas. Em
seguimento regular, com adesão à medicação e psicoterapia, depois de seis meses GV
apresentou novo episódio depressivo, com tristeza, choro, desesperança e ideação
suicida. O ambiente familiar estava estável e melhor com as orientações aos pais.
Foi aumentada a quetiapina até 400 mg/dia, com boa resposta.
GV apresenta TAB tipo I. No TAB, o pior prognóstico está associado à idade de iní-
cio precoce (antes dos 18 anos de idade), gravidade do episódio de humor, número de
sintomas subsindrômicos, tentativas de suicídio e presença de antecedentes familia-
res para TAB.19 GV apresenta múltiplos fatores associados a pior prognóstico.
Em seu primeiro episódio de mania, o paciente recebeu prescrição de risperidona
que está aprovada pela FDA como tratamento com eficácia para mania em adoles-
centes. Isto está de acordo com a prática mundial de que 31,3% dos atendimentos
ambulatoriais para tratamento de transtornos do humor em crianças e adolescentes
resulta em prescrição de um AA. Risperidona foi o primeiro AA a ser estudado em
crianças e adolescentes e apresenta o menor custo, e esses fatores podem explicar o
motivo de esse AA ser o mais prescrito nessa faixa etária.1 Não há dados suficientes de
seguimento em crianças com TAB, mas sugere-se que após a remissão completa seja
feita a manutenção da medicação por pelo menos 24 meses. Mesmo com adesão ao
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ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
2º CASO CLÍNICO
BM, sexo masculino, aos sete anos de idade apresentava sintomas graves de
desatenção e hiperatividade que prejudicavam sua alfabetização. Realizava tera-
pia fazia um ano, sem melhora significativa. Antecedentes familiares: avó materna
com TAB e mãe com depressão psicótica. A família o levou para avaliação neu-
ropsicológica, que mostrou coeficiente de inteligência (QI) na média para a idade e
desatenção. O psiquiatra fez diagnóstico de TDAH e iniciou metilfenidato, mas o
paciente apresentou piora muito importante da agitação e começou a ficar agres-
sivo, sem necessidade de sono, com muita energia. Foi introduzido o divalproato
de sódio, mas na quarta semana o paciente continuava agitado e agressivo, tendo
sido suspenso da escola e agredido fisicamente a mãe. Foi então associado o lítio,
entretanto não houve melhora significativa até a sexta semana. Fez-se a substitui-
ção por risperidona na dose de até 3 mg/dia, e houve remissão do quadro de agita-
ção e agressividade. A partir do segundo mês de uso da risperidona, observaram-se
importante ganho de peso, aumento da prolactina e acatisia. Não houve melhora
do rendimento escolar. Devido ao perfil de efeitos colaterais, foi feita a substitui-
ção gradual por aripiprazol em dose de até 15 mg/dia, mantendo-se a remissão do
quadro de agitação e agressividade, e melhora dos efeitos colaterais. Também houve
melhora da hiperatividade e progressivamente do desempenho escolar e da intera-
ção com os amigos na escola.
O metilfenidato é a primeira linha de tratamento para crianças com mais de sete
anos de idade com diagnóstico de TDAH. No entanto, deve ser prescrito com cautela,
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USO ATÍPICO DE ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA
3º CASO CLÍNICO
MC, sexo feminino, sete anos de idade, foi adotada aos dois anos de idade e apre-
sentava atraso global do desenvolvimento neuropsicomotor. Antecedente familiar
relevante: mãe biológica fez uso de drogas durante a gravidez. Os pais participavam
de treinamento parental para estimulação havia seis meses. MC não estava conse-
guindo ser alfabetizada e não acompanhava a maioria das atividades didáticas da sua
turma do primeiro ano do ensino fundamental, como montar quebra-cabeças. Havia
dois meses tinha começado acompanhamento com fonoaudiólogo e pedagogo por
atraso de linguagem oral e escrita e matemática. Apresentava irritabilidade impor-
tante com choro alto e agitação quando frustrada, mas rapidamente se acalmava e
nunca tinha machucado ninguém. Havia três semanas que começou a se irritar por
pequenas situações, como não conseguir usar a tesoura como as outras crianças.
Desde então, apresentou piora progressiva da irritabilidade e havia uma semana que
começou a bater nos colegas da sala de aula. Quando muito agitada, ela se arranhava
e tentava bater a cabeça na parede. Foi introduzida a risperidona na dose de 0,5 mg/
dia com aumento até 1,5 mg/dia, com remissão dos comportamentos disruptivos.
MC apresentava diagnóstico de déficit intelectual (DI). Em episódio de comporta-
mentos disruptivos com autoagressividade e heteroagressividade em crianças com DI
que não responderam à psicoterapia, a risperidona tem sido estudada.
Mais recentemente, o uso da risperidona para reduzir a agressão em comporta-
mentos disruptivos tem sido explorado no tratamento do estudo de agressão grave na
infância. No estudo TOSCA (Clinical Implications From the Treatment of Severe Chil-
dhood Aggression), os pesquisadores realizaram diagnóstico de transtorno disrup-
tivo em crianças de 6 a 12 anos de idade com agressão severa, incluindo o dano físico.
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ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
Foram realizados ensaios com uso de metilfenidato combinado com intervenção com-
portamental parental. Para aqueles que não responderam a esses dois tratamentos em
combinação, os participantes foram elegíveis para entrar num estudo duplo-cego con-
trolado com placebo de seis semanas, no qual os doentes foram randomizados para
receber tratamento adjuvante com risperidona ou placebo. A dose final média de ris-
peridona foi de 1,7-0,75 mg/dia, com boa resposta.21,22
5ª CASO CLÍNICO
RV, sexo masculino, aos 11 anos de idade começou apresentar episódios de irri-
tabilidade e agressividade na escola e com a família. O paciente dizia sentir muita
raiva e começava a esmurrar paredes até sua mão sangrar. Foi avaliado por equipe
multiprofissional, recebeu diagnóstico de transtorno disruptivo, transtorno oposi-
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USO ATÍPICO DE ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA
CONCLUSÃO
Evidências sobre a eficácia e a tolerabilidade de AA para transtornos psiquiátricos
em crianças e adolescentes têm se expandido exponencialmente nos últimos anos.
Contudo, ainda são necessários estudos que permitam comparar os AA entre si,1 e
principalmente estudos de seguimento a longo prazo, por exemplo, dois anos, em que
se possa observar se a remissão permanece e o perfil de efeitos colaterais.
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ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: FARMACOLOGIA BASEADA EM CASOS CLÍNICOS
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USO ATÍPICO DE ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA
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79
Contraindicação: pacientes com hipersensibilidade conhecida a qualquer
componente de sua fórmula. Interação medicamentosa: devido aos efeitos
primários da quetiapina sobre o SNC, Quetros deve ser usado com cuidado em
combinação com outros fármacos de ação central e com álcool.
Quetros: hemifumarato de quetiapina USO ORAL Comprimido revestido 25 mg, 100 mg, 200 mg USO ADULTO E PEDIÁTRICO ACIMA DE 10
ANOS (vide Indicações) Indicações: tratamento da esquizofrenia; monoterapia ou terapia adjuvante no tratamento dos episódios de mania e de
depressão associados ao transtorno afetivo bipolar; monoterapia ou terapia combinada aos estabilizadores de humor lítio ou valproato no
tratamento de manutenção do transtorno afetivo bipolar I (episódios maníaco, misto ou depressivo) em adultos; tratamento da esquizofrenia em
adolescentes (13 a 17 anos), e monoterapia ou adjuvante no tratamento dos episódios de mania associados ao transtorno afetivo bipolar, em
crianças e adolescentes (10 a 17 anos). Contraindicações: pacientes com hipersensibilidade conhecida a qualquer componente de sua fórmula.
Cuidados e advertências: pacientes com histórico de comportamento suicida ou aqueles que apresentavam um grau significativo de ideação
suicida devem ser cuidadosamente monitorados durante o tratamento. Há relatos de neutropenia e agranulocitose relacionados a terapia com
quetiapina. Este medicamento deve ser descontinuado em pacientes com contagem de neutrófilos <1,0 X 109/L. Esses pacientes devem ser
observados quanto aos sinais e sintomas de infecção e contagem de neutrófilos (até 1,5 X 109/L). Aumentos de glicose no sangue, hiperglicemia,
relatos ocasionais de diabetes, aumentos de triglicérides, colesterol e diminuição de HDL foram observados com quetiapina. Pacientes que
apresentem risco para desenvolver diabetes e pacientes diabéticos devem ser monitorados e as mudanças no perfil lipídico, assim como as
alterações nos parâmetros metabólicos de peso, glicemia devem ser clinicamente controladas. Quetros deve ser usado com precaução em
pacientes com doença cardiovascular conhecida, doença vascular cerebral ou outras condições que predisponham à hipotensão, histórico ou em
risco para apneia do sono, que estão fazendo de depressivos do sistema nervoso central, e com risco de pneumonia por aspiração. Síndrome
Neuroléptica Maligna tem sido relatada em associação com a administração de fármacos antipsicóticos, incluindo hemifumarato de quetiapina.
Uma síndrome de movimentos discinéticos involuntários potencialmente irreversível pode se desenvolver em pacientes tratados com
medicamentos antipsicóticos, incluindo quetiapina. Se os sinais e sintomas de discinesia tardia se apresentarem em um paciente em tratamento
com hemifumarato de quetiapina, a descontinuação do medicamento deve ser considerada. No entanto, alguns pacientes podem necessitar do
tratamento com hemifumarato de quetiapina, apesar da presença da síndrome. Quetiapina deve ser usada com precaução em pacientes com
histórico de convulsões ou com condições que potencialmente diminuam o limiar convulsivo e em pacientes com distúrbios cardiovasculares ou
histórico familiar de prolongamento de intervalo QT. A quetiapina também deve ser prescrita com cautela tanto com medicamentos conhecidos por
aumentar o intervalo QT como em concomitância com neurolépticos, especialmente para pacientes com risco aumentado de prolongamento do
intervalo QT. O tratamento com quetiapina, para pacientes com suspeita de cardiomiopatia ou miocardites, deve ser reavaliado. Reações Adversas
Cutâneas Graves, incluindo síndrome de Stevens-Johnsons, Necrólise Epidérmica Tóxica e reações ao medicamento com eosinofilia e sintomas
sistêmicos são reações adversas potencialmente fatais que foram reportadas durante a exposição à quetiapina. Descontinue o uso de quetiapina
caso ocorram Reações Adversas Cutâneas Graves. Casos de uso indevido e abuso têm sido reportados. É necessário cuidado ao prescrever
quetiapina para pacientes com histórico de abuso de drogas ou álcool. Quetros deve ser utilizado com cautela em pacientes com diagnóstico atual
ou histórico de retenção urinária, hipertrofia prostática clinicamente significativa, obstrução intestinal ou condições relacionadas, pressão
intraocular elevada ou glaucoma de ângulo fechado. Quetros não está aprovado para o tratamento de pacientes idosos com psicose relacionada à
demência. Gravidez e lactação - Categoria de risco na gravidez: C. Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação
médica ou do cirurgião-dentista. Quetros só deve ser usado durante a gravidez se os benefícios justificarem os riscos potenciais. Foram publicados
relatos sobre a excreção de quetiapina durante a amamentação, no entanto, o nível de excreção não foi consistente. As mulheres que estiverem
amamentando devem ser aconselhadas a evitar a amamentação enquanto fazem uso de quetiapina. Interações medicamentosas: devido aos
efeitos primários da quetiapina sobre o SNC, Quetros deve ser usado com cuidado em combinação com outros fármacos de ação central e com
álcool. O uso de quetiapina concomitante com outros fármacos conhecidos por causar desequilíbrio eletrolítico ou por aumentar o intervalo QT deve
ser feito com cautela. Quetros deve ser utilizado com cautela em pacientes recebendo outras medicações com efeitos anticolinérgicos
(muscarínicos), tioridazina, carbamazepina, fenitoína, cetoconazol e potentes inibidores da CYP3A4 (como antifúngicos do tipo azois, antibióticos
macrolídeos e inibidores da protease). Reações adversas: boca seca, sintomas de abstinência por descontinuação, elevações dos níveis de
triglicérides séricos, elevações do colesterol total, diminuição de HDL colesterol, ganho de peso, diminuição da hemoglobina, tontura, sonolência,
sintomas extrapiramidais, leucopenia, taquicardia, palpitações, visão borrada, constipação, dispepsia, vômito, astenia leve, edema periférico,
irritabilidade, pirexia, elevações das alaninas aminotransaminases séricas (ALT), elevações nos níveis de gama GT, redução da contagem de
neutrófilos, aumento de eosinófilos, aumento da glicose no sangue para níveis hiperglicêmicos, elevações da prolactina sérica, diminuição do T4
total, diminuição do T4 livre, diminuição do T3 total, aumento do TSH, disartria, aumento do apetite, dispneia, hipotensão ortostática, sonhos
anormais e pesadelos, , aumento na pressão arterial, vômito, rinite e síncope. Efeitos sobre a capacidade de dirigir veículos e operar máquinas:
durante o tratamento, o paciente não deve dirigir veículos ou operar máquinas, pois sua habilidade e atenção podem estar prejudicadas. Posologia
- Esquizofrenia, episódios de mania associados ao transtorno afetivo bipolar - crianças e adolescentes: três vezes ao dia; adultos: duas vezes ao
dia. Manutenção do transtorno afetivo bipolar I em combinação com os estabilizadores de humor lítio ou valproato: duas vezes ao dia. Episódios de
depressão associados ao transtorno afetivo bipolar: à noite em dose única diária. Esquizofrenia - Adolescentes (13 a 17 anos de idade): 400 a
800 mg/dia, dependendo da resposta clínica e da tolerabilidade de cada paciente. Adultos: 300 a 450 mg/dia. Entretanto, dependendo da resposta
clínica e da tolerabilidade de cada paciente, a dose pode ser ajustada na faixa de dose de 150 a 750 mg/dia. Episódios de mania associados ao
transtorno afetivo bipolar - Crianças e adolescentes (10 a 17 anos de idade): 400 a 600 mg/dia, dependendo da resposta clínica e da tolerabilidade
de cada paciente. Adultos: 400 a 800 mg/dia. Episódios de depressão associados ao transtorno afetivo bipolar: 300 mg a 600 mg/dia. VENDA
SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA - SÓ PODE SER VENDIDO COM RETENÇÃO DA RECEITA MS - 1.0573.0404 Farmacêutica Responsável: Gabriela
Mallmann - CRF-SP nº 30.138 “Material técnico científico de distribuição exclusiva a profissionais de saúde habilitados à prescrição e/ou
dispensação de medicamentos. ” “Para informações completas, consultar a bula/folheto na íntegra através da Central de Atendimento ao Cliente
no site www.ache.com.br ou pelo telefone: 0800 701 69 00.” MB 07 SAP 4385028 12/18
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CM
MY
CY
CMY
informações completas, consultar a bula/folheto na íntegra através da Central de Atendimento ao Cliente no site www.ache.com.br ou pelo telefone: 0800 701 69 00.
Mar/2020
7025847 – MAIO 2020