Avaliação Do Programa Bolsa para Povos Indígenas
Avaliação Do Programa Bolsa para Povos Indígenas
Avaliação Do Programa Bolsa para Povos Indígenas
Introdução
Alba Figueroa 1
O Programa Bolsa Família (PBF), Além de visar a inclusão dos seg-
Júlio Borges2
Neida Pinheiro3 criado em outubro de 2003, é mentos da população com menor
Pedro Pires4 um programa federal de trans- renda, considerados indistinta-
ferência de renda com condicio- mente, cada vez mais o Programa
1 Mestre e Doutora em An-
tropologia Social, foi Técnica nalidades. O Programa é gerido
5
procura incluir populações com
da Secretaria de Avaliação e pela Secretaria Nacional de Ren- características socioculturais espe-
Gestão da Informação SAGI/
da de Cidadania (SENARC), do cíficas, como os povos indígenas.
MDS de 2011 a 2014.
Ministério do Desenvolvimento Segundo o Censo Demográfico de
2 Mestre e Doutor em Antropo- Social e Combate à Fome (MDS). 2010, no Brasil existiam 896,9 mil
logia Social pela Universidade
de Brasília, foi Técnico da Se-
O Bolsa Família possui três eixos índios à época, o que representaria
cretaria de Avaliação e Gestão principais: a transferência de 0,47% da população nacional.7 O
da Informação SAGI/MDS de
renda promove o alívio imediato mesmo Censo aponta a existência
2009 a 2014.
da pobreza; as condicionalidades de mais de trezentas sociedades
3 Diretora de pesquisa da reforçam o acesso a direitos so- indígenas que vivem em todo ter-
empresa NC Pinheiro.Fome
ciais básicos nas áreas de edu- ritório nacional, uma notória socio-
(SAGI/MDS).
cação, saúde e assistência social; diversidade.8 Tais grupos são fa-
4 Mestre e Doutorando em An- e as ações e programas comple- lantes de uma grande diversidade
tropologia Social na Universidade
mentares objetivam o desenvol- de línguas distribuídas nos troncos
de Brasília, é Analista Técnico de
Políticas Sociais em exercício na vimento das famílias, de modo Tupi, Macro-Jê e Aruak, e nas famí-
Secretaria de Avaliação e Gestão que os beneficiários consigam lias Karib, Pano, Maku, Yanoama,
da Informação – SAGI/MDS.
superar a situação de vulnerabi- Mura, Tukano, Katukina, Txapakura,
lidade.6 Nambikwara e Guaikuru, além de
5 A gestão do programa, instituído pela Lei 10.836/2004 e regulamentado pelo Decreto nº 5.209/2004, é descentra-
lizada e compartilhada entre a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios. Os entes federados trabalham em
conjunto para aperfeiçoar, ampliar e fiscalizar a execução.
6 Os programas complementares consistem em ações que promovem oportunidades e condições às famílias be-
neficiárias para superar a pobreza de forma sustentável. São exemplos dessas ações os programas para alfabetização
e aumento de escolaridade; qualificação e inserção profissional; formação de microempreendimentos; concessão de
microcrédito; estratégias de apoio à aquisição, construção ou reforma de unidade habitacional; produção e acesso à
cultura e emissão de documentos de identificação civil.
8 SANTOS, R. V. et al. Saúde dos Povos Indígenas e Políticas Públicas no Brasil. In: GIOVANELLA, L. et al. (Orgs.). Políti-
cas e Sistema de Saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2012. p. 33-55.
9 Trata-se de um marco importante na legislação sobre povos indígenas no Brasil justamente porque eliminou o
preceito da tutela e da integração. A Constituição Federal, assim, deu fundamento legal ao combate ao racismo e às
diversas formas de preconceito, ao prever que a diversidade étnica do país assume contornos específicos a partir de
critérios de adscrição, filiação e exclusão próprios a cada grupo étnico. Cf. também o Artigo 3º, inciso IV, e Artigo 215,
§1, da Constituição Federal.
SAÚDE
132
Conforme destaca um estu- tratégias apropriadas para a inclusão dos
do da Fundação Osvaldo Cruz, 12
povos indígenas no Cadastro Único para
a saúde dos povos indígenas passa por al- Programas Sociais do Governo Federal
terações profundas no Brasil nos últimos (CadÚnico), requisito para a concessão
anos, “que englobam desde aceleradas do benefício do PBF. Em seguida, foram
transformações em perfis epidemiológi- realizadas diversas reuniões entre técni-
cos até a reestruturação do modelo de cos do MDS e da Fundação Nacional de
atenção à saúde”. O acompanhamento Saúde (FUNASA), à época órgão gestor da
das condicionalidades de saúde associa- Política Nacional de Atenção à Saúde dos
das ao PBF figura como um dos indicado- Povos Indígenas, no sentido de se anali-
res da atenção básica à saúde, permitindo sar alternativas de inclusão dos indígenas
identificar situações de vulnerabilidade no Cadastro Único. Entre as possibilidades
social e dificuldades no acesso aos servi- de cadastramento, discutiu-se o aprovei-
ços da área da saúde. No caso dos povos tamento, pelo Cadastro, da base de dados
indígenas, algumas particularidades se do Sistema de Informações da Atenção à
agregam ao processo de acompanhamen- Saúde Indígena (SIASI), bem como a pos-
to das condicionalidades de saúde, em es- sibilidade de utilização das estruturas dos
pecial relacionadas aos diferentes fluxos Distritos Sanitários Especiais Indígenas
de atendimento e de gestão da saúde des- (DSEI) para a atividade de cadastramento.
ses povos, além de dificuldades relativas a
questões culturais, territoriais e de acesso Após essas discussões iniciais, foi publi-
às famílias. cada a Portaria MDS nº 321/2008, que,
ao abordar o acompanhamento das con-
Pensando nessas particularidades, em dicionalidades para os povos indígenas,
2005 um Relatório interno do MDS ex- em seu art. 17, prevê a possibilidade de
plicitou a necessidade de adoção de es- adoção de normas e procedimentos ade-
10 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Bolsa Família e Cadastro Único. Brasília: 2014.
Disponível em <http://www.mds.gov.br/bolsafamilia> Acesso em: 18 set. 2014.
11 Dados extraídos do Cadastro Único em 21/06/2014 e da Folha de pagamento do PBF em julho de 2014.
12 SANTOS, R. V. et al. Saúde dos Povos Indígenas e Políticas Públicas no Brasil. In: GIOVANELLA, L. et al. (Orgs.). Políti-
cas e Sistema de Saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2012. p. 33-55.
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ministrativo bem delimitado, cuja área de estados, em relação àqueles serviços com-
atuação pode abranger mais de um gru- plementares que não são executados nas
po étnico. O DSEI implementa, ainda, um aldeias, como exames e consultas especia-
conjunto de atividades técnicas visando a lizadas, além daqueles serviços de média
adoção de medidas racionalizadas e qua- e alta complexidade, construindo, dessa
lificadas de atenção à saúde, promovendo forma, um sistema de Rede de Atenção In-
a reordenação da rede de saúde e das prá- tegral à Saúde Indígena.
ticas sanitárias e desenvolvendo ativida-
des administrativo-gerenciais necessárias Os serviços prestados pelos DSEI, de forma
à prestação da assistência, com controle articulada com o Sistema Único de Saúde
social. Os distritos não foram divididos (SUS), preveem a integração e a hierar-
por estados ou municípios; mas, sim, ten- quização dos serviços com complexidade
do como referência a ocupação geográfica crescente, desde o nível das aldeias até as
dos povos indígenas e suas relações inte- redes de atenção à saúde do SUS, fora dos
rétnica). 16
territórios indígenas. O atendimento de
saúde no território do DSEI é feito pelas
Os DSEI foram criados com a finalidade de Equipes Multidisciplinares de Saúde Indí-
implementar a Política Nacional de Atenção gena (EMSI), que incluem médicos, enfer-
à Saúde dos Povos Indígenas nas aldeias, meiros, nutricionistas, técnicos em enfer-
com recursos próprios da União, executan- magem, odontólogos, agentes indígenas
do serviços de atenção integral à saúde in- de saúde e de saneamento, entre outros.
dígena, realizando ações básicas de saúde Essas equipes são contratadas e geridas
nas aldeias e articulando iniciativas com por entidades privadas sem fins lucrativos
as redes de referência dos municípios e conveniadas com o governo federal.
13 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Portaria n° 321, de 29 de setembro de 2008.
Regulamenta a gestão das condicionalidades do Programa Bolsa Família. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/pro-
gramabolsafamilia/menu_superior/legislacao_e_instrucoes/portarias-1/menu_superior/legislacao_e_instrucoes/por-
tarias-1/portaria-321_atualizada_final-1.pdf.pagespeed.ce.aRHoNagzwn.pdf> Acesso em: 18 set. 2014.
14 BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Decreto nº 5.051, de 19 de abril de 2004. Promulga a Convenção
nº 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT sobre Povos Indígenas e Tribais. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5051.htm> Acesso em: 18 set. 2014.
16 BRASIL. Ministério da Saúde. Política nacional de atenção à saúde dos povos indígenas. Disponível em: <http://
bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_saude_indigena.pdf> Acesso em: 18 set. 2014.
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-Geral de Alimentação e Nutrição do Minis- —— Compreender a dinâmica de acom-
tério da Saúde (CGAN/DAB/SAS/MS). panhamento das condicionalidades
de saúde dos beneficiários do PBF
com perfil saúde18 referentes a po-
Considerando essa estrutura, a pesquisa
vos indígenas por meio de entre-
foi desenhada para responder aos seguin-
vistas com as seguintes categorias
tes objetivos específicos:
de atores: (i) o chefe da Divisão de
Atenção à Saúde Indígena (DIASI);
—— Mapear os fluxos de informação e (ii) o coordenador das Equipes Mul-
identificar as dificuldades existentes tidisciplinares de Saúde Indígena
para o acompanhamento das condi- (EMSI) nos Distritos Sanitários Espe-
cionalidades de saúde das famílias ciais Indígenas (DSEI); (iii) o gestor
indígenas, tanto do ponto de vista do PBF, (iv) o coordenador municipal
dos arranjos institucionais e norma- do PBF na saúde; e (v) o secretário
tivos definidos pela gestão federal, municipal de saúde, nos municípios
como a partir das estratégias dos selecionados
municípios e distritos para localiza-
ção e acompanhamento das famílias, —— Identificar os principais sistemas de
registro nos mapas de acompanha- informação (informatizados ou não)
mento ou no formulário utilizado pe- – distritais, municipais, estaduais e
las equipes de saúde e inserção de federais – utilizados para o acom-
informações no Sistema de Gestão panhamento das famílias indígenas
do Programa Bolsa Família na Saúde; com perfil saúde,
17 O Polo Base, localizado, em geral, dentro do território indígena, é a primeira referência para o atendimento de saúde
desta população. Estas estruturas de atendimento são constituídas como Unidades Básicas de Saúde e contam com a
atuação da EMSI.
18 Famílias com “perfil saúde” são aquelas com crianças menores de sete anos e com mulheres entre 14 e 44 anos
(prováveis gestantes ou nutrizes). O perfil é determinado com base nos compromissos da área da saúde que se aplicam
às famílias beneficiárias, quais sejam: manter atualizado o calendário de vacinação das crianças e levá-las para serem
pesadas, medidas e examinadas, conforme o calendário estabelecido pelo Ministério da Saúde. As gestantes devem
comparecer ao pré-natal, realizando os exames e participando das consultas nas unidades básicas de saúde. Após o
parto, devem continuar o acompanhamento da própria saúde e do bebê, além de participar de atividades educativas
promovidas pelas equipes de saúde sobre aleitamento e alimentação saudável.
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■■ Quadro 2: Lista de municípios selecionados para compor a
amostra e número de famílias indígenas beneficiárias do PBF
nesses municípios, por DSE
Nº DE FAMÍLIAS INDÍGENAS BENEFICIÁRIAS DO
DSEI (Nº)* MUNICÍPIO
PBF19
Curitiba (sede) 50
Litoral Sul (28)
São Paulo 374
*Nota: Os números entre parênteses correspondem a cada DSEI no “Mapa 1 – Localização dos DSEI, Brasil”, apresentado a seguir.
19 Fonte: CadÚnico/janeiro 2012 e Folha de Pagamento de fevereiro de 2012. Mantivemos o número encontrado no
CadÚnico referente à época do início da realização da pesquisa de campo.
140
A escolha destes distritos procurou abar- saúde indígena em toda a área de abran-
car diferentes fatores sociais, culturais, gência do distrito, incluindo a aquisição
econômicos, demográficos e políticos re- e suprimento de todos os equipamentos
lacionados ao quadro da saúde indígena e medicamentos necessários à operacio-
no Brasil. Além dos critérios explicitados nalização das atividades dos Polos Base
acima, a seleção destes DSEI considerou e das EMSI; ii) pelos Polos Base do tipo II,
também as distintas situações da saúde localizados no município de referência e
pública dos povos indígenas, suas dife- que foram concebidos para executar fun-
renças étnicas e culturais, seu grau de mo- ções basicamente administrativas e de
bilização e organização política, distância apoio às EMSI; iii) pelos Polos Base do tipo
dos DSEI em relação às metrópoles e gran- I (Postos de Saúde), localizados dentro das
des centros urbanos, bem como sua locali- aldeias e que servem de base para ativida-
zação em regiões (ricas e pobres) do país e des das EMSI, que são itinerantes; e iv) pe-
o nível da oferta de serviços de saúde por las Casas de Saúde do Índio (CASAI), que
municípios de portes distintos. têm a função de abrigar as famílias indíge-
nas que estão em trânsito para tratamento
de saúde.
Principais Resultados
No que se refere às equipes multidiscipli-
Estrutura, organização e
nares, conforme os chefes das DIASIs, elas
abrangência dos serviços do
normalmente incluem médicos, enfermei-
DSEI
ros, técnicos de enfermagem, dentistas e
A atribuição dos Distritos Sanitários Es- técnicos de saúde bucal, para além dos
peciais Indígenas (DSEI) é prestar ações Agentes Indígenas de Saúde (AIS). A opi-
integrais de atenção básica de saúde às nião da maioria dos coordenadores de
populações indígenas aldeadas. A estru- EMSI é que a presença dos AIS nas aldeias
tura dos DSEI é composta: i) pela sede é fundamental para um atendimento mais
administrativa, a sua Divisão de Atenção eficiente das equipes de saúde. Cabe res-
à Saúde Indígena (DIASI) responsável pela saltar que, de acordo com alguns coorde-
146
dimento de saúde das famílias indígenas da Família (ESF), que já prevê as visitas
repercute diretamente nos resultados de domiciliares pelos ACS, em que as condi-
acompanhamento das condicionalidades cionalidades de saúde do PBF fazem parte
de saúde dessas famílias, onde, conside- das ações de rotinas destes profissionais.
rando apenas beneficiários indígenas, a Assim, os municípios que possuem uma
cobertura de acompanhamento das con- grande abrangência de cobertura por ACS
dicionalidades de saúde, na primeira vi- apresentam altos índices de cobertura de
gência de 2013, foi de noventa e três por acompanhamento; já aqueles que pos-
cento, dez pontos percentuais acima do suem baixa cobertura de ACS apresentam
observado entre a população em geral. baixos resultados no acompanhamento
das condicionalidades.
É importante ressaltar que em apenas um
município existe discussão entre as áreas As Equipes Multidisciplinares de Saúde
gestoras para que considerem especifica- Indígena do SASISUS foram criadas base-
mente o acompanhamento das condicio- adas no modelo de Estratégia de Saúde
nalidades de saúde das famílias indígenas da Família. Assim, da mesma forma que os
beneficiárias do PBF, o que demonstra não ACS, os Agentes Indígenas de Saúde (AIS)
haver uma sensibilização dos gestores realizam as ações de verificação do cartão
quanto à necessidade de considerar as es- vacinal, acompanham o desenvolvimen-
pecificidades deste público na gestão do to nutricional das crianças e gestantes,
Programa. entre outras atividades junto às famílias
indígenas. Desta forma, o trabalho do AIS
O que parece estar fortemente ligado ao dentro das Terras Indígenas é de grande
desempenho no acompanhamento das importância para a efetivação das ações
condicionalidades de saúde é o mode- de saúde e para um melhor resultado no
lo de organização dos serviços de saúde acompanhamento das condicionalidades
adotado pelo município. Nos municípios de saúde das famílias indígenas aldeadas
pesquisados observamos que há uma beneficiárias do PBF.
relação direta entre a proporção popula-
cional coberta por Agentes Comunitários
Impressões sobre o PBF para
de Saúde (ACS) presentes nas equipes de
Saúde da Família e o percentual de cober-
povos indígenas
tura de acompanhamento das condicio- Para os entrevistados, o recurso financeiro
nalidades de saúde do PBF. Em todos os proporcionado pelo Programa Bolsa Famí-
municípios pesquisados, o acompanha- lia é muito importante para as populações
mento das condicionalidades de saúde do indígenas, pois para a grande maioria o re-
PBF está vinculado à Estratégia de Saúde curso é a única fonte de renda monetária.
das famílias indígenas aos centros urbanos. com seus próprios recursos para desen-
Devido à distância da maioria das aldeias, volver suas atividades. Contudo, apesar
para longos períodos e em garantia de pa- falta de transporte para as EMSI, tem re-
tados, a dimensão deste problema assume uma grande área geográfica são os casos
148
principal entrave no diálogo entre as par- Especificamente nestes municípios onde
tes, nestes municípios, está relacionado à ainda não se estabeleceu uma parceria
falta de estrutura para realizar o acompa- entre a rede municipal de saúde e o SA-
nhamento das famílias. Enquanto a rede SISUS, o procedimento de acompanha-
de saúde indígena enfrenta dificuldades mento das condicionalidades de saúde
para realizar as suas atribuições básicas, do PBF das famílias indígenas aldeadas
os municípios não dispõem de recursos se resume a um processo para a execu-
para realizar o acompanhamento de for- ção de uma normativa voltada para o
ma adequada. Desta forma, principal- funcionamento da máquina administrati-
mente nestes municípios, a qualidade e va, sem que se concentre de forma eficaz
a cobertura de acompanhamento das fa- os efeitos a serem atingidos de garantir
mílias indígenas estão bastante compro- direitos, tal como concebido no desenho
metidas devido à dificuldade de acesso a da política pública. Por isso, é necessário
essas famílias. formular uma regulação conjunta entre
o MS e o MDS que melhore ou crie a ar-
É preciso lembrar que as condicionalida- ticulação entre os municípios e os DSEI
des de saúde do PBF foram estabelecidas como mecanismo indutivo para a solução
com o objetivo de dar acesso ao cidadão a do impasse entre os entes e para que se
seus direitos básicos de atenção à saúde obtenha um efetivo e competente acom-
e espera-se que o acesso à rede de saúde panhamento das condicionalidades de
por estas pessoas contribua, entre outros, saúde das famílias indígenas.
para uma menor taxa de mortalidade in-
fantil e materna. Especificamente nestes Por fim, destaca-se como uma boa práti-
municípios onde ainda não se estabele- ca, no âmbito municipal, a criação de uma
ceu uma parceria entre a rede municipal coordenação específica, com inserção de
de saúde e o SASISUS, o procedimento de profissionais indígenas na gestão, conselho
acompanhamento das condicionalidades ou grupo gestor atuante, que ofereçam a
de saúde do PBF das famílias indígenas interlocução entre os entes, principalmen-
aldeadas se resume a um processo para a te entre os municípios e DSEIs/SASISUS.
execução de uma normativa voltada para Assim, considera-se frutífero que os órgãos
o funcionamento da máquina administra- envolvidos com o acompanhamento da
tiva, sem enfocar de forma eficaz os efei- saúde indígena realizem um mapeamento
tos a serem atingidos de garantir direitos, de exemplos positivos de arranjos institu-
tal como concebido no desenho da políti- cionais como esse e estudem a possibilida-
ca pública. de de replicá-los em outros locais.