Teste 3 - Direito Internacional Privado

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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE DIREITO

Curso: Licenciatura em Direito


Cadeira: Direito Internacional Privado
Ano de frequência: 4º ano

Tema:

O CONFLITO ENTRE TRATADO


INTERNACIONAL E NORMA DE
DIREITO INTERNO NO ESTADO

MOÇAMBICANO

Felicidade Amância Felizardo Monte Alfredo

Nampula, 03 de Março de 2023


ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 1

1.1 Objectivos .......................................................................................................... 1

1.1.1 Geral ............................................................................................................... 1

1.1.2 Específicos ..................................................................................................... 1

2 GENERALIDADE .................................................................................................. 2

3 CONCEITO DE TRATADO INTERNACIONAL .............................................. 3

4 O DIREITO INTERNACIONAL NA ORDEM JURÍDICA MOÇAMBICANA


4

4.1 Plano constitucional/legislativo ......................................................................... 4

4.1.1 Incorporação do direito internacional na ordem jurídica interna ............... 4

5 POSIÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL NA HIERARQUIA DE


FONTES DE DIREITO INTERNO.............................................................................. 7

5.1 Força é atribuída ao direito internacional na interpretação do direito nacional . 9

5.2 Os juízes (constitucionais ou ordinários, dependendo do sistema de


fiscalização da constitucionalidade) utilizam o Direito Internacional dos Direitos
Humanos como parâmetro para declarar a inconstitucionalidade de normas
legislativas .................................................................................................................... 9

6 PLANO DOUTRINAL ......................................................................................... 10

6.1 Doutrina sobre a inserção do direito público na hierarquia de fontes de direito


interno ......................................................................................................................... 10

7 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 11

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 12


1 INTRODUÇÃO

O conflito entre norma é um assunto que é e foi bem discutido nos últimos tempos. Para
entendermos melhor vamos definir o Direito Interno como as normas que cada país
regula a sua sociedade, ou seja, a sociedade de seu Estado e, o Direito Internacional, por
sua vez, regulam as relações internacionais, ou as relações entre Estados. Assim, o
Estado que tem sua ordem jurídica interna estruturada e estabelecida, é o mesmo Estado
que se obriga no âmbito internacional quando celebra Tratados Internacionais.

Com o conflito em tela e questões não resolvidas pelas leis, foram adotadas algumas
teorias para tentar resolver esses problemas de hierarquia entre normas para a
aplicabilidade em cada caso concreto, assim, foi definida as teorias monista e dualista,
defendidas por grandes doutrinadores do direito.

1.1 Objectivos
1.1.1 Geral
O trabalho tem como objectivo geral, retratar o entendimento sobre o conflito entre
tratado internacional e norma de direito interno no Estado Moçambicano.

1.1.2 Específicos
➢ Detalhar sobre o conflito entre tratado internacional e norma de direito interno
no Estado Moçambicano;
➢ Identificar os conceitos e direito internacional na ordem jurídica em
Moçambique;
➢ Descrever sobre Posição Do Direito Internacional Na Hierarquia De Fontes De
Direito Interno e o plano doutrinal.

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2 GENERALIDADE

A teorias monista vem a explicar que o direito internacional é uno com o direito interno
sendo dois ramos do direito, mas dentro de uma só ordem jurídica. Já a teoria dualista
tem um entendimento totalmente diferente da primeira teoria, esta entende que os dois
sistemas, que são o direito internacional e o direito interno, são rigorosamente
independentes e distintos, fazendo assim uma separação de ordem jurídica. Para
explicar melhor essas teorias serão estudadas mais afundo esse assunto, pois, as teorias,
além de sua di visão, também tem suas subdivisões que explicaram melhor cada
entendimento. Como sabemos os Tratados Internacionais são considerados por vários
autores como a principal fonte do Direito Internacional Público contemporâneo, pois,
traz segurança e certeza que as relações internacionais serão obedecidas. Evidenciando,
assim uma maior segurança jurídica entre as relações internacionais. No passado o
Direito Internacional Público tinha como principal fonte os costumes, mas agora tem
suas próprias regras que estão reguladas na Convenção de Viena sobre Direito dos
Tratados, de 23.05. 1969, que começou a vigorar internacionalmente em 27. 01.1980.
Sendo este, um resultado de um grande esforço para regularização do Direito
Internacional Público.

O direito internacional já vem fazendo tratados a décadas, o doutor Sidney Guerra (apud
MELLO, 1996, pag. 43) registra os seguintes dados: “desde 1500 a.C. até 1860 haviam
sido concluídos cerca de 8.000 t ratados de paz enquanto só desde 1947 até 1984 foram
coletados entre 30.000 e 40.000 tratados e, se prolongarmos essa pesquisa até 1992, esse
montante deverá ter subido para perto dos 50.000 tratados”. Ou seja, desde muito tempo
são feitos tratados e, como vimos na pesquisa acima, os Estados são regulados por estes
tratados a tempo, só que não tinha uma regra a ser seguida como atualmente tem, as
suas regras eram os costumes da época até pouco tempo. O conflito entre normas foi e é
motivo de muitas discussões entre doutrinadores até hoje, assim, temos teorias
doutrinárias como a monista e dualista que foram criadas para explicar o porquê da
aplicação ou não das normas jurídicas internacionais ou normas internas do Estado.
Será, também, analisado como o Brasil soluciona esses conflitos, a partir do estudo da
legislação brasileira, doutrinas e jurisprudências, contribuir com o pensamento crítico
sobre a teoria monista de Kelsen, que tem influenciado na doutrina em grande escala.
Ademais, analisaremos os conflitos entre tratados e norma interna e a supremacia da
Constituição em caso de conflito de normas.

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3 CONCEITO DE TRATADO INTERNACIONAL

O Tratado Internacional é considerado por vários autores do Direito Internacional


Público como a fonte mais importante para o Direito Internacional.

Entende-se, assim, que o tratado é o acto jurídico que se manifesta de acordo com a
vontade entre os sujeitos de direito internacional. Já na doutrina moderna, renomados
autores como Hidelbrando Accioly entende tratado como: “Por tratado entende-se o acto
jurídico por meio do qual se manifesta o acordo de vontades entre dois ou mais sujeitos
de direito internacional.” (ACCIOLY, 2015, P. 156).

Para José Francisco Rezek:

“Tratado é todo acordo formal concluído entre pessoas jurídicas de direito


internacional público.” (REZEK, 2011, P. 38).

Já a Convenção de Viena de 1969 no seu artigo 2º explica com sua redação o que é
considerado tratado com seu artigo exemplificativo:

‘Tratado’ significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados


e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer
de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação
específica.

Como alguns autores explicam, a denominação de ‘tratado’ é genérica, pois, de acordo


com seu conteúdo, objecto, forma e seu fim, podem ser vistas algumas outras
denominações como, por exemplo, convenção, protocolo, declaração, convênio, acordo
etc.

Como acentua Sidney Guerra que:

“Tratado é um termo genérico que pode servir para designar um acordo entre
dois ou mais Estados para regular um assunto, determinar seus direitos e
obrigações, assim como as regras de conduta que devem seguir, mas em
nenhum caso é aplicável a um acordo entre um estado e uma pessoa privada.”
(GUERRA, 2013, P. 84).

Os tratados, apenas poderão ser aplicados aos Estados que consentirem entre si,
expressamente com sua adoção, ou seja, os tratados não criam obrigações aos Estados
que com eles não consentiram. Os tratados são, portando, a expressão do consenso.

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Neste caso, Sidney ainda frisa a questão de não poder, em hipótese alguma, um tratado
em que trata de assunto entre um Estado de direito e uma pessoa privada, completando
assim o raciocínio de outros autores.

As normas de direito internacional integram a ordem jurídica moçambicana e tornam


inaplicáveis de pleno direito, desde o momento da sua entrada em vigor, quaisquer
normas constantes de atos legislativos anteriores que lhes sejam contrárias. O problema
é que o inverso também ocorre: normas previstas em atos legislativos afastam, desde o
momento da sua entrada em vigor, a aplicação de normas internacionais anteriores que
lhe sejam contrárias.

Ao final dessa análise entende-se que tratado é um termo genérico que pode servir para
designar um acordo entre dois ou mais Estados para regular um assunto e determinar
seus direito e obrigações a serem seguidos.

4 O DIREITO INTERNACIONAL NA ORDEM JURÍDICA MOÇAMBICANA

4.1 Plano constitucional/legislativo


4.1.1 Incorporação do direito internacional na ordem jurídica interna
I. As fontes de direito internacional são incorporadas na ordem jurídica
moçambicana sem perderem a sua natureza jus internacional. A Constituição da
República de Moçambique (CRM) adotou um sistema monista que prevê a
receção condicionada dos tratados e acordos internacionais (art. 18.º, n.º 1, da
CRM) e a receção automática das restantes fontes do direito internacional (art.
18.º, n.º 2, da CRM).

II. A vigência de tratados e acordos internacionais na ordem jurídica moçambicana


depende do preenchimento cumulativo de três condições: i) terem sido
validamente aprovados e ratificados; ii) estarem publicados no Boletim da
República; iii) vincularem internacionalmente o Estado moçambicano (art. 18.º,
n.º 1, da CRM).

1) A aplicabilidade interna de tratados e acordos internacionais depende, em


primeiro lugar, da conformidade constitucional do procedimento adotado para a
sua conclusão. É este o sentido que deve ser atribuído à expressão “validamente
aprovados e ratificados” incluída no art. 18.º, n.º 1, da CRM.

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A constituição moçambicana prevê um regime diferenciado para a conclusão de tratados
e acordos. Estas são as duas espécies da fonte convencional, ou dos tratados em sentido
amplo, que se distinguem por os tratados (em sentido estrito ou solenes) exigirem um
acto interno posterior à sua assinatura, em regra um instrumento de ratificação, em que é
confirmada a vontade do Estado em se vincular aos mesmos. Nos acordos (em forma
simplificada), a vinculação internacional dos Estados ocorre imediatamente no
momento da assinatura.

A sequência procedimental prevista para a conclusão de tratados solenes exige a


intervenção dos três órgãos de soberania políticos previstos na constituição. A
negociação é dirigida pelo Governo, através do Conselho de Ministros, a quem é
atribuída a missão de “preparar a celebração de tratados internacionais”. O texto do
tratado é depois assinado pelo Presidente da República. A vinculação internacional do
Estado moçambicano depende de ratificação pela Assembleia da República.

No procedimento de conclusão dos acordos em forma simplificada intervém apenas o


Governo: ao Conselho de Ministros compete celebrar, ratificar e aderir a acordos
internacionais (arts. 18.º, n.º 1, e art. 210.º, n.º 4, da CRM). Sendo o Conselho de
Ministros um órgão colegial, a assinatura (“celebração”) do acordo pode ser delegada
em qualquer um dos seus membros. Esta assinatura, salvo se feita ad referendum (art.
10.º, al. b), da Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados), marca o momento da
vinculação internacional do Estado moçambicano. Para vigorarem internamente os
acordos têm depois de ser aprovados através de resolução do Conselho de Ministros.

A decisão sobre a espécie de convenção internacional a adotar é tomada pelos Estados


durante a fase negocial. A CRM vem, contudo, limitar a escolha da forma de acordo em
forma simplificada às convenções internacionais que tenham por objecto “matérias (…)
da competência governativa do Governo (art. 204.º, n.º 1, al. g), 2.ª parte). Este constitui
um constrangimento competencial muito relevante, pois a CRM atribui competência
legislativa primária exclusiva à Assembleia da República (art. 179.º, n.º 1).

O Governo pode apenas legislar, sob a forma de decreto-lei, com a expressa autorização
da Assembleia da República (art. 179.º, n.º 3, e art. 180.º, da CRM). Devem assim
seguir a forma de tratado as convenções internacionais que incluam matérias incluídas
no âmbito da competência legislativa da Assembleia da República e a forma de acordo
as convenções internacionais que versem exclusivamente sobre matérias compreendidas

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no âmbito da competência administrativa do Governo. A CRM não prevê qualquer
mecanismo pelo qual a Assembleia da República possa autorizar o Governo a vincular-
se a acordos internacionais em domínios que relevem da sua competência legislativa.

São assim organicamente inconstitucionais e, consequentemente, inaplicáveis na ordem


jurídica moçambicana, os acordos internacionais concluídos pelo Governo que incluam
matérias compreendidas no âmbito da competência legislativa da Assembleia da
República. Um exemplo, entre tantos outros, é o “Acordo sobre Princípios e
Disposições Jurídicas para o Relacionamento entre a República de Moçambique e a
Santa Sé”, assinado em 7 de dezembro de 2011, e ratificado pelo Governo através da
Resolução n.º 12/2012, de 13 de Abril. Esta convenção, mais conhecida como
“Concordata”, seguiu a forma de acordo em forma simplificada, não obstante incluir
matérias sujeitas a reserva de lei, como são inequivocamente a criação de benefícios e
isenções fiscais (v. art. 127.º, n.º 2, CRM e art. 20.º da Concordata), o regime do
casamento (v. art. 119.º, n.º 1, CRM e art. 14.º da Concordata) ou o adiamento do
serviço militar (v. art. 267.º, n.º 2, CRM e art. 13.º, n.º 1, da Concordata).

2) A segunda condição que os tratados e acordos devem cumprir para poderem ser
aplicados na ordem jurídica moçambicana é a publicação das resoluções que os
ratificam e aprovam (art. 18.º, n.º 1, in fine, e art. 144.º, al. f), da CRM). Estas
são publicadas na I Série do Boletim da República e devem incluir, em anexo, a
versão portuguesa integral dos textos dos instrumentos internacionais aos quais a
República de Moçambique se vinculou. A falta de publicação tem como
consequência a impossibilidade de aplicação interna do tratado ou do acordo.

3) Por último, os tratados e acordos internacionais só podem ser aplicados na


ordem jurídica moçambicana “enquanto vincularem internacionalmente o Estado
de Moçambique” (art. 18.º, n.º 1, in fine, da CRM).

A CRM impede a aplicação interna de convenções internacionais que ainda não


vigorem externamente. O início de produção de efeitos das convenções internacionais
depende do que ficar estabelecido nos respetivos articulados, sendo comum a definição
de uma data ou, em alternativa, a exigência da manifestação do consentimento em ficar
vinculado por todos os Estados que participaram nas negociações (convenções
bilaterais) ou apenas por alguns deles (convenções multilaterais).

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Da exigência de conexão de vigência internacional e da publicação no Boletim da
República decorrem um conjunto variado de possilidades de início de vigência interna
das convenções internacionais, a qual será:

a) a data prevista no tratado ou no acordo, caso esta data seja posterior ao momento
da publicação;
b) a data de publicação, caso esta seja posterior à data prevista no tratado ou no
acordo;
c) a data de produção de efeitos da notificação ao outro Estado (convenção
bilateral) ou depósito (convenções multilaterais) do instrumento de vinculação
de Moçambique a tratado ou acordo que já vigoram internacionalmente, caso
essa data seja posterior à publicação;
d) a data de publicação, caso esta seja posterior à produção de efeitos da
notificação ou depósito do instrumento de vinculação de Moçambique a tratado
ou acordo que já vigora internacionalmente;
e) a data em que Moçambique foi notificado da vinculação que perfaz o número
exigido para a entrada em vigor do tratado ou o acordo, caso esta notificação
ocorra em momento posterior à publicação;
f) na eventualidade de ser de Moçambique a vinculação que permite a entrada em
vigor do tratado ou do acordo, a data relevante será a da publicação ou a da
notificação ou depósito do instrumento de vinculação, dependendo da que
ocorrer em último lugar.

5 POSIÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL NA HIERARQUIA DE

FONTES DE DIREITO INTERNO

I. As normas de direito internacional têm, em Moçambique, “o mesmo valor que


assumem os atos normativos infraconstitucionais emanados da Assembleia da
República e do Governo” (art. 18.º, n.º 2, da CRM).

A localização do direito internacional no patamar infraconstitucional constitui um


corolário do princípio da constitucionalidade, do qual decorre que as “normas
constitucionais prevalecem sobre todas as restantes normas do ordenamento jurídico”
(art. 2.º, n.º 4, CRM).

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A supremacia das normas constitucionais permanecerá meramente teórica se não
existirem mecanismos efetivos de fiscalização da constitucionalidade do direito
internacional. Ora, em Moçambique, a fiscalização abstrata da constitucionalidade
circunscreve a intervenção do Conselho Constitucional ao controlo da
constitucionalidade de normas de direito interno: i) a fiscalização preventiva versa
somente sobre leis da Assembleia da República que tenham sido enviadas ao Presidente

da República para promulgação (art. 163.º, n.º 1, e art. 246.º, n.º 1, da CRM); ii) a
fiscalização sucessiva apenas “pode ter por objeto quaisquer normas vigentes na ordem
jurídica interna, desde que emanadas de órgãos do Estado”

II. A afirmação de superioridade normativa da Constituição face ao direito


internacional não é – nem podia ser – absoluta. Um dos efeitos do processo de
globalização observado nas últimas décadas é a importação para as constituições
nacionais de princípios estruturantes de uma ordem jurídica internacional que
deixou de estar exclusivamente centrada no paradigma vestefaliano da igualdade
soberana entre Estados. A legitimidade internacional das comunidades políticas
estaduais está hoje dependente do reconhecimento constitucional interno dos
princípios democrático e da protecção dos direitos humanos. Estes princípios
constituem manifestações de um constitucionalismo internacional em gestação
que se materializa nas chamadas normas imperativas de direito internacional
geral ou de ius cogens, as quais funcionam como limites heterónomos ao próprio
poder constituinte interno.

A CRM reconhece as obrigações provenientes do ius cogens, ao declarar genericamente


que o Estado moçambicano “aceita, observa e aplica os princípios da Carta da
Organização das Nações Unidas e da Carta da União Africana” (art. 17.º, n.º 2, CRM).
Ao longo do seu texto são feitas alusões a princípios como o do respeito pela soberania
e integridade territorial, da não ingerência em assuntos internos e igualdade soberana
(art. 17.º CRM), da autodeterminação dos povos (art. 19.º e 20.º CRM) ou da proibição
do uso da força e da resolução pacífica de conflitos (art. 22.º CRM). O direito
internacional dos direitos humanos encontra acolhimento expresso por via da afirmação
de que a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Carta Africana dos Direitos
Humanos e dos Povos devem funcionar como parâmetro de interpretação e integração
dos direitos fundamentais consagrados na Constituição (art. 43.º CRM).

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III. O direito internacional foi colocado pela CRM no mesmo patamar hierárquico
dos atos normativos da Assembleia da República ou do Governo. Estes, de
acordo com o art. 143.º da CRM, incluem atos legislativos (leis da Assembleia
da República e decretos leis do Governo), regulamentares (decretos do Governo)
e políticos (moções e resoluções da Assembleia da República).

5.1 Força é atribuída ao direito internacional na interpretação do direito


nacional
O direito internacional tem sido utilizado como um argumento adicional para
fundamentar uma determinada orientação interpretativa do direito nacional. As
referências têm surgido quando os juízes fazem considerações genéricas sobre o
enquadramento normativo das questões de fundo que pretendem tratar: i) em acórdão de
26 de março de 1999 (Processo n.º 151/98-C), o Tribunal Supremo referiu que no
processo estava em causa o direito à liberdade, “um dos direitos fundamentais da pessoa
humana, consagrado nas Constituições de quase todos os países (v., no nosso caso, o art.
98.º) e em várias convenções internacionais, algumas já ratificadas por Moçambique e
adotadas como direito interno”; ii) em acórdão de 23 de fevereiro de 2000 (Processo n.º
214/99-C), o Tribunal Supremo concluiu que a prisão preventiva constitui uma medida
de coação “estritamente excecional, não obrigatória e subsidiária”, com base no
preceituado nos “arts. 98.º e 101.º da Constituição, bem como das disposições
subordinadas da legislação comum (v. g. os arts. 286.º e 291.º do Código Penal e o n.º 3
do art. 9.º do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, de 16 de dezembro de
1966, recebido no direito interno através da Resolução n.º 5/91, de 12 de dezembro, da
Assembleia da República”. Nenhuma das referências feitas ao direito internacional
nestes casos teve um impacto decisivo na interpretação das normas nacionais.

5.2 Os juízes (constitucionais ou ordinários, dependendo do sistema de


fiscalização da constitucionalidade) utilizam o Direito Internacional dos
Direitos Humanos como parâmetro para declarar a inconstitucionalidade de
normas legislativas
Os juízes moçambicanos devem recorrer à Declaração Universal dos Direitos Humanos
e da Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos como parâmetro interpretativo e
integrador das normas constitucionais sobre direitos fundamentais. Estes dois
instrumentos cardeais do direito internacional dos direitos humanos podem assim ser
utilizados, ainda que indiretamente, para afastar a aplicação de normas legislativas com

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fundamento na sua inconstitucionalidade (art. 43.º CRM). Não há, todavia, qualquer
registo de uma decisão judicial em que tal tenha acontecido.

6 PLANO DOUTRINAL

6.1 Doutrina sobre a inserção do direito público na hierarquia de fontes de


direito interno
A inclusão em 2004 de uma disposição na CRM dedicada ao posicionamento
hierárquico do direito internacional resolveu qualquer querela doutrinal que pudesse
existir sobre esta questão.

Ao direito internacional sempre foi pacificamente reconhecida uma posição


infraconstitucional. Fernando Loureiro Bastos considera esta opção “criticável” e
“surpreendente”, “na medida em que é incompatível com as características do direito
internacional e inadequada à inserção da República de Moçambique na comunidade
internacional”. Apelida-a também de “incongruente” por o próprio texto constitucional
reconhecer no art. 43.º a importância de instrumentos internacionais na interpretação de
direitos fundamentais.

A atribuição de uma posição infraconstitucional ao direito internacional não pode ser


tida como surpreendente, pois esta continua a constituir a regra no direito comparado. A
afirmação do primado constitucional é matizada pelo alcandorar para o plano
supraconstitucional da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Carta Africana
dos Direitos Humanos e dos Povos (art. 43.º da CRM) e para o nível constitucional de
várias normas e princípios de ius cogens (arts. 17.º, 19.º, 20.º e 22.º da CRM). O que
verdadeiramente surpreende, se tomarmos como termo de comparação constituições
adotadas recentemente, é a não atribuição ao direito internacional de natureza
supralegal. À luz do número crescente de obrigações internacionais assumidas por via
convencional pelos Estados, a equiparação hierárquica das convenções internacionais
aos atos legislativos e regulamentares potencia o risco de violação de obrigações
assumidas internacionalmente pelo Estado moçambicano.

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7 CONCLUSÃO

Conclui se que para resolver um pouco o problema de conflito entre os tratados


internacionais e normas internas os legisladores resolveram criar uma regra para que
alguns, específicos, tratados passassem a ser considerados como emendas
constitucionais. Essa Emenda Constitucional é de suma importância para a resolução de
alguns conflitos pertinentes entre os tratados e as normas internas.

A regularização dos tratados somente para relações internacionais vem a ser reforçada
em outro artigo constitucional, artigo este que trata sobre os princípios constitucionais
nas relações internacionais com o Moçambique.

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8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Abass, Ademola, “Calibrating the Conceptual Contours of Article 4(h)”, in Dan
Kuwali e Frans Viljoen, Africa and the Responsibility to Protect: Article 4(h) of the
African Union Constitutive Act, Routledge, 2014, 38-53

[2] ACCIOLY, Hil debrando. Manual de direito internacional público. 21ª ed. São
Paulo: Sarai va, 2014.

[3] Bacelar Gouveia, Jorge, Manual de Direito Internacional Público, 4ª Edição,


Almedina, 2013

[4] __________________ , Direito Constitucional de Moçambique, Instituto do Direito


de Língua Portuguesa, 2015

[5]__________________ , Jorge Bacelar Gouveia, Direito Internacional Público, 4ª


Edição, Almedina, 2013

[6] Chuva, António Armindo Longo, “A eficácia jurídico-constitucional das normas


provenientes da Organização Mundial do Comércio (O.M.C.) no direito constitucional
moçambicano”, in António Chuva et al., Estudos de direito constitucional moçambicano
: contributos para reflexão, CFJJ, 2012, 165-226

[7] GUERRA, Sidney. Curso de Direito Internacional Público. 7ª ed. São Paulo: Sarai
va, 2013.

[8] REZEK, José Francisco. Direito internacional público. 13ª ed. São Paulo: Sarai va,
2011. Outras referencias

[9] VIENA. Convenção (1969). Convenção de Viena Sobre o Di reito dos tratados.
Disponível em: http://www.pl analto.gov.br/cci vil
_03/_ato20072010/2009/decreto/d7030.htm

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