Desenvolvimento de Software Livre No Brasil: Estudo Sobre A Percepção Dos Envolvidos em Relação Às Motivações Ideológicas e de Negócios.
Desenvolvimento de Software Livre No Brasil: Estudo Sobre A Percepção Dos Envolvidos em Relação Às Motivações Ideológicas e de Negócios.
Desenvolvimento de Software Livre No Brasil: Estudo Sobre A Percepção Dos Envolvidos em Relação Às Motivações Ideológicas e de Negócios.
São Paulo
2007
Prof. Dr. Adolpho José Melf
Reitor da Universidade de São Paulo
São Paulo
2007
Tese defendida e aprovada no Departamento de Administração da
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da
Universidade de São Paulo – Programa de Pós-Graduação em
Administração, pela seguinte banca examinadora:
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Seção de Processamento Técnico do SBD/FEA/USP
CDD – 658.4038
iii
RESUMO
O conceito de software livre é tão antigo quanto a própria história da indústria de software.
Entender a dinâmica da formação, composição, organização, interesses e limites de uma
comunidade de software livre não é uma tarefa fácil. Pelo contrário, é um cenário confuso e
complexo que, aparentemente, passa uma idéia de “caos organizacional.” A importância das
comunidades de software livre cresce a cada ano, seja pela adoção do uso de desse tipo de
software pelas esferas governamentais ou pela sua utilização cada vez mais, pelas corporações
privadas. Isso aponta para possíveis mudanças na dinâmica do desenvolvimento de software
livre no Brasil. O presente trabalho tem como objetivo constatar, sob a ótica de participantes
nas comunidades de software livre, em que medida o modelo de desenvolvimento de software
livre no Brasil está deixando de ser motivado por ideologia, passando a ser feito em função de
oportunidades de negócios. Para tal, discutem-se aspectos relacionados às comunidades de
software livre e sua inter-relação com o mercado de tecnologia da informação.
vii
ABSTRAC
The concept of free software is almost as old as the software industry. Understanding the
dynamics of formation, composition, organization, interests and limits of a free software
community is not an easy task. It's a fuzzy and complex scene that resembles an
organizational chaos. The importance of free software communities grows up every year, be it
due to its adoption by the government or by the private market. These points to possible
changes in the dynamics of free software development in Brazil. The following work has the
objective of evidencing, by the optics of the free software communities, how much the free
software development model in Brazil is leaving its ideological focus and instead being made
due to business opportunities. As such free software communities related aspects are
presented and its possible relation with the information technology market.
1
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 9
2 JUSTIFICATIVA PARA A PESQUISA .......................................................................... 13
3 OBJETIVOS DA PESQUISA ........................................................................................... 17
3.1 Objetivo geral ............................................................................................................... 17
3.2 Objetivos específicos.................................................................................................... 17
4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................... 19
4.1 Teorias sociológicas de constituição de comunidades ................................................. 19
4.2 Tecnologia da informação como meio de comunicação .............................................. 22
4.3 Comunidades virtuais e colaborativas.......................................................................... 25
4.4 Software livre e comunidades de software livre .......................................................... 30
4.4.1 Software e software livre...................................................................................... 30
4.4.2 As comunidades de software livre ....................................................................... 32
4.4.3 Modelos de colaboração nas comunidades de software livre .............................. 35
4.4.4 Aspectos motivadores da participação na comunidade de software livre ............ 44
4.4.5 A Comunidade de software livre no Brasil .......................................................... 46
4.5 Diretrizes e políticas de incentivo e adoção de software livre pelo governo ............... 47
4.6 Software livre e motivações ......................................................................................... 49
4.7 Modelos de negócios com software livre ................................................................. 54
5 MÉTODO DE PESQUISA................................................................................................ 59
5.1 Desenho e etapas da pesquisa....................................................................................... 59
5.2 Método da pesquisa...................................................................................................... 60
5.3 Procedimentos de amostragem e coleta dos dados....................................................... 61
5.4 Estabelecimento da hipótese e proposições do estudo ................................................. 63
5.4.1 P1 – O modelo de desenvolvimento de software livre no Brasil está deixando de
ser baseado em ideologia e transformando-se em um modelo de desenvolvimento baseado
em negócios. ...................................................................................................................... 64
5.4.2 P2 – Benefícios pecuniários motivam novos desenvolvedores a trabalhar com
software livre. .................................................................................................................... 65
5.4.3 P3 – A adoção de software livre pela esfera governamental fomenta a criação de
comunidades de desenvolvimento de software livre voltadas para os negócios. .............. 66
5.4.4 P4 – A criação de novas comunidades de software livre se dá a partir das
demandas de mercado........................................................................................................ 66
5.4.5 P5 – A continuidade de uma comunidade de software livre está relacionada à
adoção, pelo mercado, dos softwares produzidos por ela.................................................. 67
5.4.6 P6 – As comunidades de desenvolvedores de software livre possuem fontes de
financiamento em seus projetos......................................................................................... 68
5.5 Instrumento de coleta de dados, estudo piloto e estudo completo ............................... 69
5.5.1 Instrumento de coleta de dados e estudo piloto................................................... 69
5.5.2 O estudo completo................................................................................................ 71
6 ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS DADOS ........................................................................ 73
6.1 Perfil dos respondentes da pesquisa ............................................................................. 73
6.1.1 Análise complementar e resumo do perfil dos pesquisados................................. 78
6.2 Análise dos resultados em função de cada proposição do estudo ................................ 79
6.2.1 Resultados para a Proposição 1 (P1: Variáveis: Q_09 a Q_15 – O Modelo de
desenvolvimento de software livre no Brasil está deixando de ser baseado em ideologia e
transformando-se em um modelo de desenvolvimento baseado em negócios)................. 81
6.2.1.1. Médias dos escores........................................................................................... 81
2
LISTA DE TABELAS
Tabela 33: Variável que apresentou diferença nos escores médios na correlação com a
variável renda .................................................................................................................. 100
Tabela 34: Variáveis que apresentaram diferenças nos escores médios na correlação com a
variável escolaridade ....................................................................................................... 101
Tabela 35: Correlação entre a variável Q_16 (expectativa de retorno financeiro) e ocupação
......................................................................................................................................... 102
Tabela 36: Correlação entre a variável Q16 (expectativa de retorno financeiro) e contato com
software livre ................................................................................................................... 103
Tabela 37: Correlação entre a variável Q16 (expectativa de retorno financeiro) e papel dentro
da comunidade................................................................................................................. 104
Tabela 38: Correlação entre a variável Q16 (expectativa de retorno financeiro) e o tempo de
atuação com software livre .............................................................................................. 104
Tabela 39: Importância em capacitar servidores públicos no uso de software livre.............. 108
Tabela 40: Importância de ampliar os serviços prestados ao cidadão por meio de software
livre.................................................................................................................................. 108
Tabela 41: Importância de utilizar o software livre como base dos programas de inclusão
digital ............................................................................................................................... 109
Tabela 42: Importância de priorizar a aquisição de hardware compatível com as plataformas
livres ................................................................................................................................ 109
Tabela 43: Garantir a livre distribuição de sistemas livres de forma colaborativa e voluntária
......................................................................................................................................... 110
Tabela 44: Promover as condições para a mudança da cultura organizacional para adoção de
software livre. .................................................................................................................. 110
Tabela 45: Variável que apresentou diferença nos escores médios na correlação com a
variável renda .................................................................................................................. 111
Tabela 46: Correlação entre a variável Q29 (adoção governamental) e ocupação ................ 111
Tabela 47: Correlação entre a variável Q29 (adoção governamental) e contato com software
livre.................................................................................................................................. 112
Tabela 48: Correlação entre a variável Q29 (adoção governamental) e papel dentro da
comunidade...................................................................................................................... 113
Tabela 49: Correlação entre a variável Q29 (adoção governamental) e tempo de contato com
software livre ................................................................................................................... 114
Tabela 50: Variáveis que apresentaram diferenças nos escores médios na correlação com a
variável renda .................................................................................................................. 117
Tabela 51: Variáveis que apresentaram diferenças nos escores médios na correlação com a
variável escolaridade ....................................................................................................... 118
Tabela 52: Correlação entre a variável Q33 (adoção de software livre pelas empresas) e
ocupação .......................................................................................................................... 119
Tabela 53: Correlação entre a variável Q33 (adoção de software livre pelas empresas) e
contato com software livre .............................................................................................. 120
Tabela 54: Correlação entre a variável Q33 (adoção de software livre pelas empresas) e papel
dentro da comunidade...................................................................................................... 121
Tabela 55: Correlação entre a variável Q33 (adoção de software livre pelas empresas) e tempo
de atuação com software livre ......................................................................................... 122
Tabela 56: Importância de novas necessidades de mercado na continuidade de uma
comunidade de software livre.......................................................................................... 125
Tabela 57: Importância da criação de oportunidades de trabalho em serviços agregados na
continuidade de uma comunidade de software livre ....................................................... 125
Tabela 58: Importância do crescimento do número de membros na continuidade de uma
comunidade de software livre.......................................................................................... 126
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
1 INTRODUÇÃO
O conceito de software livre é tão antigo quanto a própria história da indústria de software.
Entretanto, somente nos últimos anos houve um aumento no interesse acadêmico e comercial
sobre esse tema (NETO e AUGUSTO, 2004). Quando o assunto é software livre, deve-se
pensar em oferecer liberdade aos usuários para executarem, copiarem, distribuírem,
estudarem, modificarem e aperfeiçoarem um software livremente (EILOLA, 2002; FSF,
2000). Vale ressaltar que software livre é uma questão de liberdade e não de preço (FSF,
2001).
Ao discutir sobre Software Livre é necessário falar sobre colaboração, e não apenas sobre
licenciamento de software. O mais importante no desenvolvimento de software livre é a
colaboração entre os envolvidos. Existem inúmeros mitos sobre software livre. Sendo que o
sistema operacional Linux foi a primeira grande história de sucesso de softwares de código
fonte1 aberto (O'REILLY, 2000).
A maioria dos sistemas de software livre começa com uma pessoa que necessitava resolver
um problema particular. Ao desenvolver a solução (software) para esse problema, opta por
deixá-lo disponível livremente para que outras pessoas possam utilizar, copiar, distribuir,
estudar, modificar e aperfeiçoar o produto (NAKAKOJIL et al, 2002 ; WANG, 2005).
1
Ver a definição de Código Fonte no item 4.4.
10
Cada comunidade de software livre tem uma estrutura original, dependendo da natureza do
sistema e de sua população. Com isso, existem modelos de colaboração que resultam em
padrões diferentes de evolução dos sistemas e dessas comunidades. (NAKAKOJIL et al,
2002). Entender a dinâmica da formação, composição, organização e limites de uma
comunidade de software livre não é simples. Pelo contrário, é um cenário confuso e
complexo, que, aparentemente passa uma idéia de “caos organizacional.” Em princípio,
estudar o fenômeno do software livre não é uma tarefa fácil (TAURION, 2004).
Segundo Neto e Augusto (2004), os softwares livres normalmente são desenvolvidos por um
grupo de desenvolvedores, que utilizam a Internet como meio de comunicação e interação.
Geralmente, a participação é voluntária, não há contrapartida pecuniária pelo trabalho
desenvolvido e o código-fonte, resultado final do trabalho, fica disponível livremente ao
público por intermédio de licenças de uso específicas, que garantem a utilização, modificação
e posterior redistribuição do software sem encargo algum (YE e KISHIDA, 2003 apud
WANG, 2005).
Taurion (2004) complementa que o software livre já faz parte da agenda política e estratégica
de empresas privadas e públicas. E é um negócio sério e profissional. As discussões dos
méritos e desafios dos softwares livres versus softwares proprietários têm sido uma constante.
O tema também está entrando na agenda política dos governantes dos diversos países e blocos
econômicos.
Para Asay (2005), é preciso mover-se para além da questão ideológica. O pensamento
ideológico (altruísmo, valores emocionais) pode ser importante em estágios iniciais de um
movimento, porém os sistemas baseados em códigos abertos não necessitam mais de
11
Software livre já é um modelo de negócios. Como tal, propõe ruptura com os modelos
tradicionais e gera, em seus primeiros momentos, uma crise de transição, amplificando a
emotividade. Surgem defensores pró e contra, em uma discussão sobre se o mercado adotará
ou não o novo modelo (TAURION, 2004).
Nesse cenário, a importância das comunidades de software livre cresce a cada ano, seja pela
adoção desse tipo de programa pelos governos municipais, estaduais e federal, ou pela
utilização cada vez maior pelas corporações privadas.
No Brasil não existem muitas pesquisas nessa área e as que existem são normalmente
baseadas em dados históricos de projetos (NETO e AUGUSTO 2004). A carência de
pesquisas sobre o tema “Comunidades de Software Livre” é ainda mais evidente quando a
abordagem é voltada para a área da administração. Esse é um dos principais fatores
motivacionais para a realização desta pesquisa.
São pessoas que desenvolvem sistemas colaborando para uma “causa” chamada software
livre. Ou, ainda, como aponta Butker (2002), que coloca o desenvolvimento ideológico como
sendo o não-comercial. Ao produzir um software livre por ideologia, o desenvolvedor
trabalha sem remuneração financeira correspondente a suas contribuições (STEWART e
GOSAIN, 2005). Trabalha sem as exigências formais que tendem a ser usadas para guiar e
avaliar esforços comerciais no desenvolvimento de software (SCACCHI, 2002 apud
STEWART e GOSAIN, 2005).
Já, oportunidade de negócios significa que o trabalho como desenvolvedor de software será
com o propósito de obter benefícios, diretos ou de outros tipos, mesmo que indiretos ou
secundários, mas que podem render dividendos financeiros futuros. Segundo Hars e Ou
(2001), Wang (2005), Hann et al (2004), SOFTEX (2005), Lerner e Tirole (2000) apud
Mishra et al (2002), existem fortes indícios de que o fator benefício financeiro seja uma
motivação para os desenvolvedores colaborarem com as comunidades de desenvolvimento de
software livre.
Nesse sentido, os estudos de SOFTEX (2005), Taurion (2004) e Lima (2005) indicam uma
profissionalização do movimento de software livre, e que as grandes corporações não estão
alheias aos novos modelos de negócios que estão se delineando em torno dele.
Mais de duas décadas depois que Richard M. Stallman2, no início dos anos 80, introduziu uma
nova filosofia relacionada ao desenvolvimento e uso de software para computadores,
denominada de software livre, esta começa a despertar interesse e acarretar reflexões nos mais
diversos setores nacionais como governo, academia, empresas etc. (TAURION, 2004). Valim
(2005), complementa que o software livre já é uma realidade e passa a ser considerado cada
vez mais como opção para soluções corporativas relacionadas à Tecnologia da Informação
(TI).
2
Fundador da Free Software Fundation (FSF) www.fsf.org
14
Valim (2005), acrescenta que o software livre é visto pelo governo federal brasileiro como
uma ótima oportunidade de inserir o Brasil no mercado mundial, aproveitando o
conhecimento relacionado a software livre que se desenvolve no país. O autor cita ainda que o
que falta é a criação de modelos mais claros de ganhos financeiros e a criação de
oportunidades com software livre. Já no âmbito corporativo, com o passar do tempo, diversas
empresas demonstraram interesse em atuar no mercado de software livre. Neste sentido a
indústria de software não pode ficar indiferente às mudanças acarretadas pelo impacto do uso
do software livre (TAURION, 2004).
A tabela 1 mostra alguns fatos que evidenciam possíveis movimentos de grandes corporações
em direção ao mercado de software livre.
Outro exemplo deste movimento é apresentado por Terra (2006), em que se anuncia o que
poderá possibilitar a mudança no padrão de desenvolvimento e uso de software no Brasil.
Trata-se da Rede de Usuários de Tecnologias Abertas, denominada de OTUN (Open
Technology Users Network), criada pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal. É
uma ONG cujo objetivo é fomentar o desenvolvimento dentro do modelo colaborativo, junto
às comunidades de software livre, de uma série de soluções para atender às demandas do
mercado corporativo. A ONG já conta com aproximadamente 50 empresas associadas, entre
elas grandes empresas como: Casas Bahia, Carrefour do Brasil, Novell, Sun Microsystems e
IBM.
organizadas e a maneira como atuam e desenvolvem seus projetos. Um destes impactos pode
ser o próprio modelo de desenvolvimento que é, segundo Taurion (2004) e Neto e Augusto
(2004), conhecido tradicionalmente como um movimento voluntário baseado em questões
muitas vezes ideológicas dos participantes. Só que por interesses comerciais das empresas
pode estar transformando-se em um modelo de desenvolvimento em que as comunidades
tenham uma perspectiva de atuação mais focada em negócios.
3 OBJETIVOS DA PESQUISA
4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para Gomes (1999), o termo comunidade tem recebido uma conotação cada vez mais
20
abrangente, já que pode ser empregado para cobrir diversos “habitats” sociais. Uma
comunidade pode ser bastante abrangente, sendo possível incluir em seu escopo elementos
que vão desde pequenos grupos sociais (bairro, vila, escola, hospital, sindicato, associação de
moradores, etc.) até indivíduos interagindo em uma cidade, estado ou país inteiro.
Já Schilling (1974) define comunidade como sendo qualquer corpo social, tais como
matrimônio, família, parentesco, tribo, povo, estado, associação, igreja, ou mesmo uma
empresa. Porém, somente quando os vínculos estabelecidos entre seus membros, uns em
relação aos outros, são de tal forma primordiais e sólidos, que qualquer litígio que possa
ocorrer entre seus membros nunca coloque em dúvida o vínculo entre eles.
Para Nisbet (1978) apud Foracchi e Martins (1994), a comunidade forma o elemento
denotativo da legitimidade em associações variadas como o estado, os movimentos
revolucionários, a profissão e a cooperativa. MacIver (1931) apud Koenig (1970) afirma que
comunidade é um grupo de pessoas que vivem juntas, relacionando-se umas com as outras, de
modo a compartilhar interesses pessoais e também diversos outros interesses mais amplos e
completos. Nessa linha, Koenig (1970) coloca que comunidade é um grupo de pessoas que
ocupa um “território” definido, com o qual se identificam, e em que há um determinado grau
de solidariedade. A comunidade gira em função do indivíduo humano em sua teia de relações
sociais. Nisbet (1978) apud Foracchi e Martins (1994) coloca a comunidade como algo muito
mais amplo que uma comunidade local. Para o autor, o termo abrange todas as formas de
relacionamento caracterizadas por um grau de intimidade pessoal elevado, de profundeza
emocional, de engajamento moral, de coerção social e também de continuidade temporal. A
formação da comunidade encontra-se baseada no homem, visto pela sua totalidade e não
analisado separadamente em eventuais papéis da ordem social que ele possa ocupar.
Sanchez e Wiesenfeld (1983) apud Gomes (1999) elencam alguns critérios para definir
comunidade em uma abordagem da Psicologia Social e da interação humana:
a) Ser um grupo de pessoas, não somente um agregado social, com determinado grau de
interação social;
b) Repartir interesses, sentimentos, crenças, atitudes;
c) Residir em um território específico;
d) Possuir um determinado grau de organização.
21
As definições apresentadas apontam para a comunidade como sendo um grupo social com
certo grau de organização, que compartilha o mesmo espaço físico e psicológico, bem como
objetivos comuns derivados de crenças, valores e atitudes compartilhados e mantém um
sistema de interação duradouro no tempo e no espaço. Nessa mesma linha de pensamento, em
que a existência de uma comunidade está mais relacionada a aspectos emocionais e culturais,
Primo (1997), citando Ávila (1975), aponta as seguintes características para uma comunidade:
- Uma certa contigüidade espacial, que permita contatos diretos entre seus membros;
- A consciência de interesses comuns, que permite aos seus membros atingirem objetivos
que não poderiam alcançar sozinhos;
- A participação em uma obra comum, que é a realização desses objetivos e a força de
coesão interna da comunidade.
Para Recuero (2002), historicamente o ser humano sempre foi um animal gregário que para
sobreviver e conseguir reproduzir-se, trabalhava em grupos. Esses agrupamentos humanos
evoluíram até serem chamados de comunidades. Ao abordar sobre a criação de uma
comunidade, vale citar, preliminarmente, Schilling (1974). Esse autor relata que, em sua
origem, certas associações de relações mais sólidas e profundas (igreja, casamento, estado,
etc.) formam os verdadeiros laços de comunidade, enquanto as empresas econômicas e seus
contratos de trabalho, operações de compra e venda, tendem a ser somente laços de sociedade.
Uma relação deixa de ter uma conotação societária, passando a ser uma comunidade, quando
as relações entre as partes passam a ser mais estreitas e se transformam em uma relação de
responsabilidade mútua. Para a criação de uma comunidade autêntica, é necessário que seus
membros superem suas individualidades. Onde não existe uma verdadeira comunidade, o
indivíduo é constrangido a garantir sua existência contra os outros, aos quais estivera até
então ligado.
Para Marchi (2004), o destino da Internet será tornar-se cada vez mais universal, heterogênea
e aberta, graças a suas peculiaridades tecnológicas. O desenvolvimento tecnológico
caracterizou também, nas últimas décadas, o progresso econômico das sociedades ocidentais,
transformando o que era conhecido como “cidade industrial” em uma espécie de “cidade da
informação” (MORAES, 2004).
Essas mudanças influenciam a compreensão que os indivíduos têm da vida social e exigem
mudanças nas percepções e explicações de inúmeros fenômenos sociais. A comunicação na
sociedade contemporânea na medida em que se embute à tecnologia da informação, tem se
mostrado cada vez mais complexa (BANDEIRA, 2004). Especialmente para aspectos
relacionados à comunicação interpessoal feita a distância, mais especificamente por
intermédio da Internet.
A Internet, vista como um ambiente propício para comunicação, desenvolve as relações entre
os elementos participantes, aumentando o grau de liberdade e opções relacionadas à
comunicação. Segundo Stonier (1990), além de ela ampliar a formação de campos para a
comunicação social, é capaz de propiciar o surgimento de novas e inéditas relações culturais
e sociais. Um papel que pode ser atribuído a ela é o de possibilitar a transformação de
diferentes informações em novidade, que são disponibilizadas em um sistema altamente
comunicativo. A comunicação que cresce por intermédio da Internet está diretamente
relacionada à livre expressão em todas as suas formas (CASTELLS, 2003). Ela não pode ser
encarada simplesmente como uma tecnologia estanque, mas sim como um novo meio de
comunicação que constitui outra forma organizadora das sociedades atuais. É o equivalente ao
que foi a fábrica ou a grande corporação na era industrial. A Internet é o centro de um novo
modelo socio-técnico, que constitui a base das formas de relação, de trabalho e de
comunicação do mundo atual (CASTELLS, 2003 apud PIZZI, 2003). A digitalização de
24
Muitas atividades deslocam-se para os ambientes ditos virtuais, onde as transformações se dão
a uma velocidade que ultrapassa a capacidade humana. Tradicionalmente, o surgimento de
novos meios e tecnologias de comunicação afetam diretamente os indivíduos, pois produzem
novas formas de encurtar distâncias, possibilitando diferentes formas de armazenamento e
disseminação da produção de conhecimento, interferindo no modo como os indivíduos
vivenciam a experiência de espaço (OLIVEIRA, 2004).
Se por um lado a infra-estrutura digital tornou possíveis as trocas econômicas e sociais entre
os vários lugares, de maneira mais rápida e ampla (MORAES, 2004), por outro possibilitou
que certas atividades fossem deslocadas para os ambientes virtuais. A disponibilidade de
informação livre e em grande escala possibilitou também deslocamentos de culturas, pela
divulgação de dados sobre outros povos e estilos de vida diferentes, e aumentou
vertiginosamente a capacidade de socializar-se à distância, virtualmente, através das novas
culturas tecnológicas que foram incorporadas à vida das pessoas (SILVA, 2005). Vale
ressaltar que a estrutura comunicativa que a Internet oferece não representa algo que regule
diretamente o pensamento e as ações humanas (STOCKINGER, 2005). Ao contrário, propicia
um ambiente espontâneo e “natural” para as pessoas se relacionarem socialmente, já que as
regras de comunicação devem ser negociadas, pois tais relacionamentos são democráticos e
sua forma deve ser estabelecida pelos próprios participantes (GONÇALVES, 2003). Afinal,
como produto de seu ambiente social, a tecnologia é construída em função das necessidades e
dos desejos sociais do homem (PIZZI, 2003). A idéia de que ela é democrática e de que serve
à coletividade e ao progresso não é nova (COMASSETTO, 2003).
Uma vez concebida como um espaço livre e comunitário de comunicação interativa, a Internet
torna-se um instrumento mundial de inteligência coletiva. Quanto maior a interação entre
grupos e indivíduos, maior o intercâmbio de idéias, o desenvolvimento de sistemas de
aprendizagem cooperativa e a apropriação do conhecimento e das alterações técnicas que
oportunizam o acesso a ele (COMASSETTO, 2003). A instantaneidade da comunicação, a
flexibilidade dos fluxos de informação e a sua descentralização estão caracterizando, de forma
distinta e singular, as redes globais de comunicação (BRETON e PROULX, 2002). Isso
possibilita a formação de novos modelos de grupos sociais intermediados por computador, tal
25
como as denominadas “comunidades virtuais” (esse tema será tratado no item seguinte deste
trabalho).
Por fim, para Bandeira (2004), a inscrição no mundo digital depende de aspectos econômicos
e socioculturais, do domínio dos recursos e equipamentos. Integrar-se ao meio digital
pressupõe, também, uma ampla capacidade de assimilação, seleção e poder de processamento
da informação e do conhecimento pelos indivíduos e grupos sociais. Não se esquecendo de
que a utilização de um lugar físico para a atividade humana não irá desaparecer, mas evoluirá
dentro do contexto de atividades digitais e tecnologias, apontando a complementaridade como
ingrediente chave para o sucesso do modelo de comunicação da nova sociedade digital
(HORAN, 2000 apud MORAES, 2003).
Bellini (2001) apresenta uma nova terminologia para as comunidades formadas com base na
Internet, chamada de Comunidades Mediadas pela Internet - CMIs, constituídas por
indivíduos que, durante algum tempo, compartilham interesses e recursos da Internet para
trocarem informações uns com os outros, relativamente a esses interesses em comum. Essas
Comunidades Mediadas pela Internet possibilitam o surgimento das denominadas
Comunidades Virtuais, que seguem os conceitos já tratados neste trabalho sobre
comunidades, porém funcionam sem a necessidade de limitações geográficas ou contato físico
entre os membros.
26
Bellini (2001) complementa que algumas expressões são eventualmente utilizadas por
diversos autores em referência a grupos de pessoas que formam estruturas comunitárias na
Internet. Com relação às diferentes interpretações sobre a expressão “Comunidade Virtual”,
inicialmente defende a escolha de “Comunidade Mediada pela Internet.” O autor justifica a
sua opção por essa expressão e não por “Comunidade Virtual”, “Comunidade Online” ou
“Comunidade Mediada por Computador”, da seguinte maneira:
Jacoski e Abreu (2004) referem que, com o advento da Internet e da utilização cada vez maior
de redes de computadores, as comunidades virtuais surgem como uma nova forma de
comunidade. Os autores apresentam ainda as condições elencadas por Jones (1997), para que
uma comunidade virtual tenha existência. Deve haver:
a) Um mínimo de interatividade;
b) Uma variedade de comunicadores (participantes);
c) Um nível mínimo sustentado pelos membros;
d) Um espaço virtual, público, onde seja possível estabelecer interatividade.
Complementarmente Lazar e Preece (2002) apresentam alguns atributos que poderiam definir
melhor uma comunidade virtual:
27
a) Compartilha do objetivo ou do interesse comum que fornece a razão para ser uma parte
da comunidade;
b) Proporciona interações intensas e laços emocionais fortes;
c) Promove atividades compartilhadas entre membros de comunidade;
d) Possibilitar o alcance aos recursos compartilhados;
e) Proporciona sustentação entre membros de comunidade;
f) Necessita de convenções, língua, ou protocolos sociais.
Jacoski e Abreu (2004) ainda colocam que somente com interatividade, grande número de
participantes, assuntos comuns no espaço virtual é possível o surgimento de comunidades
virtuais. E que as comunidades virtuais são agregações sociais que emergem da Internet,
quando diversos povos têm o acesso às redes de computador ou ainda quando diversas
pessoas se agrupam em discussões públicas, com envolvimento suficiente para formar uma
relação pessoal [(RHEINGOLD (1994); RECUERO (2002); LAZAR e PREECE (2002)].
Comunidade virtual pode ser denominada como um conjunto de pessoas que se reúne e
interage através de conferências eletrônicas e concentram características equivalentes às
citadas por Ávila (1997) - ver item 4.1 deste trabalho-, com a pequena diferença de que o
local de contato é o ciberespaço (PRIMO, 1997).
Para Fernback e Thompson (1995), o significado do termo comunidade virtual ainda é amorfo
devido à falta de modelos mentais compartilhados sobre o que constitui exatamente a
comunidade no ciberespaço. Mas os autores colocam uma definição para comunidade virtual
como sendo relacionamentos sociais forjados no ciberespaço pelo contato repetido dentro de
um limite ou de um lugar especificado, como, por exemplo, numa conferência ou numa sala
de bate-papo. Ou seja, lugares que sejam delineados simbolicamente por algum assunto de
28
interesse comum. Nessa linha, Recuero (2002) relata que comunidade virtual é um conceito
um tanto o quanto confuso, com várias acepções. Que, por ser um sistema constituído por
trocas entre indivíduos, não é um sistema estável, mas caótico. Para ele, as novas tecnologias
de comunicação têm sido utilizadas de modo a reconfigurar a estrutura da sociedade e os
espaços como são conhecidos. E o uso do termo “comunidade virtual” não se apresenta
necessariamente errado. Trata-se de um deslocamento na maneira como uma comunidade era
conhecida. Essa nova comunidade está em um espaço simbólico, mediado pela Internet. A
questão territorial deixa de ser de cunho geográfico e passa a ser simbólico. Muitos dos
críticos da idéia de comunidade virtual explicam seu posicionamento dizendo que as
comunidades virtuais não são nada mais do que comunidades tradicionais mantidas através da
Internet. Elas podem contribuir para uma nova maneira de as pessoas encararem a Internet,
em que indivíduos de um grupo definido se reúnem para debater e ter acesso à informação em
torno de um interesse comum (JACOSKI e ABREU, 2004).
Recuero (2002) complementa ainda que a comunidade tradicional está apenas utilizando-se de
outros suportes, como a Internet, por exemplo, para estabelecer e manter laços sociais. Estes
precisam permanecer por certo tempo para se estabelecerem e se desenvolverem, de maneira
que dêem origem a um grupo social que pode ser denominado de comunidade virtual.
Portanto, trata-se de um grupo de pessoas que estabelecem relações sociais entre si, e a
mantêm por um tempo suficiente que possa constituir-se em um corpo organizado, através da
comunicação mediada por computador. São caracterizadas por oferecer recursos
compartilhados aos indivíduos, que dão forma a relacionamentos e têm um sentido da
sociedade de grupo e de pertencer a algo (TOOMEY, 1998).
Os ambientes virtuais e reais têm convenções sociais similares, porém refletem ambientes
específicos. Para Schwartz (1994) apud Fernback e Thompson (1995), a comunidade global,
ligada por computadores, substitui a comunidade em que as pessoas vivem. Porém,
Kauppinen e Robinson (1998), em uma visão mais pragmática, colocam que as comunidades
virtuais envolvem convenções sociais, todavia disponíveis em poucos canais alternativos de
comunicação. Isso deixa dúvidas de que seja possível, por exemplo, a criação de uma
sociedade virtual.
ARMSTRONG, 1997). A tecnologia usada pela comunidade pode revelar muito sobre sua
natureza e suas limitações, fazendo com que as dimensões econômicas, políticas, sociais e
culturais da comunidade estejam subordinadas ao tipo de tecnologia utilizada. Com isso, as
comunidades virtuais podem ser avaliadas em função de como são configuradas nas diversas
estruturas de comunicação mediada por computador. Controlando a tecnologia utilizada, os
colaboradores da comunidade podem manter o controle sobre o que lhe é disponibilizado,
bem como o desenvolvimento social da comunidade (FERNBACK e THOMPSON, 1995). As
tecnologias de software que suportam a comunicação dentro de uma comunidade podem
ajudar a criar os limites dessa comunidade virtual [(WILBUR (1997) apud LAZAR e
PREECE (2002)].
Fernback e Thompson (1995) colocam que a proximidade intelectual é outro fator que pode
atrair participantes e, conseqüentemente, formar comunidades baseadas nela. A capacidade
dos indivíduos de ler e compreender como funcionam as dinâmicas de uma comunidade
virtual induz à formação delas, cujos componentes serão os de melhor acesso à educação e à
cultura. Assim, a falta de acesso às redes de computadores, seja pela limitação econômica ou
pela falta de habilidade sobre o uso dos recursos de um computador, é um obstáculo à criação
de novas comunidades virtuais.
Não existe nenhum "modelo do ciclo vida" das comunidades virtuais que poderia ajudar a
mostrar como esses critérios contribuem para o seu desenvolvimento e sucesso. Tal modelo
poderia ser útil para determinar as necessidades de uma comunidade virtual, baseando-se no
30
estágio de ciclo de vida em que ela está. Por fim, um outro atributo importante de uma
comunidade virtual é o tamanho da população. Uma comunidade virtual torna-se mais valiosa
quanto mais integrantes juntaram-se a ela (LAZAR e PREECE, 2002).
Por fim, os principais conceitos apresentados neste iten podem ser resumidos da seguinte
maneira:
Comunidades Mediadas pela Internet (CMIs) são constituídas por pessoas que, durante algum
tempo, por intemédio da Internet compartilham recursos e informações de interesse comum.
As comunidades mediadas pela Internet viabilizam o surgimento das denominadas
Comunidades Virtuais, que seguem os conceitos tradicionais relacionados ao termo
comunidade, entretanto funcionam sem limitações geográficas ou a necessidade de contato
físico entre os participantes. Uma comunidade virtual para existir e ter sucesso deve ter:
interatividade, variedade de participantes, número grande de membros, espaço virtual que seja
público que possibilite a interatividade, assuntos de interesse comum e colaboração entre os
participantes.
Este item trata de fundamentos teóricos relacionados aos conceitos de software e software
livre, bem como sobre as comunidades de software livre, que é o objeto de estudo do presente
trabalho.
No texto dessa mesma lei encontram-se enunciados que classificam o software não como um
produto, mas sim como uma propriedade intelectual. O regime de proteção ao desenvolvedor
de um software é o mesmo aplicado às obras literárias pela legislação de direitos autorais do
31
Brasil. Essa proteção assegura a tutela dos direitos relativos a programa de computador pelo
prazo de 50 anos, contados a partir de primeiro de janeiro do ano subseqüente ao da sua
publicação ou da criação do software, e independe do registro do mesmo.
Por ser um elemento lógico e não físico (PRESSMAN, 1995), as questões relacionadas ao
direito sobre a criação de um software está diretamente relacionada ao componente do
software chamado código-fonte. O código-fonte de um software é, de certa maneira, o próprio
software. É uma estrutura lógica com uma seqüência de comandos, escrito em uma linguagem
de programação, que estrutura e descreve as tarefas que o software realizará ao ser utilizado
(VIANNA, 2002). Chalmers (1999) e Hexsel (2002) definem o código-fonte como o próprio
projeto do software, como um conjunto de palavras que as pessoas podem ler, entender e usar
para controlar os computadores. Tendo acesso ao código-fonte, um programador pode
modificar o software, corrigindo erros, acrescentando ou melhorando suas funcionalidades.
Apresentando uma definição mais completa, Hippel e Krogh (2003) citam que o código de
fonte é uma seqüência de instruções para ser executada por um computador para realizar um
objetivo qualquer de um programa. Os programadores escrevem o software em um formulário
e documentam esse código-fonte com breves explanações escritas sobre a finalidade de cada
seção dele. Para converter um software em algo que possa realmente operar um computador,
o código-fonte é traduzido para um formato denominado de código de máquina, usando uma
ferramenta (software) conhecida como compilador. O processo de compilar o código-fonte
remove a documentação do software e cria uma versão chamada de "binária”, instruções de
computador que consistem somente de zero ou um. O código binário torna muito difícil a
leitura e interpretação de como foi feito o software. Com isso, dificulta a ação de terceiros em
compreender e modificá-lo, já que é liberada para o mercado somente a versão binária do
software. Caso os programadores ou as empresas desejarem permitir a outras pessoas
compreender, atualizar e modificar seu software, podem fornecê-lo juntamente com seu
código-fonte.
interesses dos fabricantes em alterar o software adquirido. Por outro lado, existem os
chamados softwares livres, em que outros indivíduos terão acesso ao código-fonte e estarão
livres para conhecer, adaptar, corrigir, modificar, executar, copiar, estudar, melhorar e
redistribuí-lo. Essa liberdade conferida pelos autores é efetivada através da distribuição do
código-fonte dos softwares. Ao disponibilizar um software como sendo livre, os respectivos
autores determinam o grau de liberdade em que as modificações e redistribuições poderão ser
feitas. Isso o transforma em uma espécie de bem público, disponível para utilização por toda a
comunidade e da maneira que seja mais conveniente a cada indivíduo. Assim, quando se diz
que o código-fonte de um programa é livre, não se está falando de preços, mas sim de
liberdade de acesso. Evidentemente, o livre acesso ao código-fonte é essencial para que essas
liberdades possam acontecer (VIANNA, 2002; HEXSEL, 2002).
Um software livre é qualquer software que seja distribuído livremente por qualquer meio.
Para ser considerado livre, o software deve ter execução liberada para qualquer fim, dar
acesso ao código-fonte para qualquer que seja a alteração desejada, estar disponível para
redistribuição e aperfeiçoamento, sendo essas melhorias repassadas a todos os interessados.
Stallman (1985) apud Khalak (2000) aponta que o equilíbrio econômico dos desenvolvedores
do software livre seria por intermédio das oportunidades de negócios em áreas
complementares ao programa produzido, tais como a manutenção, suporte e a própria
evolução do software. Hexsel (2002) evidencia que os softwares livres podem ser financiados
indiretamente por vários segmentos da sociedade, como governo, meios acadêmicos e
corporações, e de diversas maneiras como por exemplo:
Embora o desenvolvimento de um software livre possa até partir de um projeto, e este ter um
líder (freqüentemente é quem inicia o projeto), normalmente esse líder não tem um projeto
para começar o desenvolvimento do software, nem dita a evolução do mesmo. É a
comunidade inteira que dirige colaborativamente, com usuários e colaboradores, a evolução
do software (NAKAKOJI, 2002 ; HIPPEL e KROGH, 2003).
Partindo da idéia de que a Internet permite a uma comunidade uma maior colaboração em
comparação ao que pode ser feito em um projeto de sistema corporativo tradicional, pode-se
inferir que, com os usuários trabalhando como colaboradores, é possível apressar a correção
de erros, melhorar a qualidade e adicionar novas características especializadas que
normalmente as empresas produtoras de softwares comerciais ignorariam (O’REILLY, 2000).
Estima-se que fazem parte dessa comunidade mais de dez milhões de usuários regulares de
sistemas operacionais e aplicativos distribuídos como software livre e cem mil programadores
e projetistas, a grande maioria trabalhando voluntariamente. Devido a esses números
expressivos, o desenvolvimento de software livre passa a representar um novo componente da
economia moderna (HEXSEL, 2002).
Orientadas à Exploração: é representado pelo software de GNU Wingnet (Ilustração 1). Busca
trabalhar com o estado da arte do desenvolvimento coletivo de software livre, compartilhando
livremente com a comunidade as inovações obtidas. Isso é muito similar à cultura da
comunidade de pesquisa científica, em que os resultados científicos obtidos são
compartilhados com outros cientistas em conferências, revistas e jornais, dentre outros meios.
Já, no mundo do software livre, o código de fonte seria o resultado científico a ser
compartilhado com os demais. Devido a seu acesso ser livre, pode despertar novas idéias em
outros desenvolvedores, possibilitando que algo novo possa ser criado. Permite, ainda, com o
reúso do código-fonte, a outros desenvolvedores aperfeiçoar os softwares, baseando-se nas
contribuições do desenvolvedor precedente. Nesse sentido, Hexsel (2000) observa que o
código-fonte torna-se um bem público, estando á disposição de toda a sociedade. Assim, o
software livre assemelha-se ao conhecimento científico, que, uma vez difundido, pode ser
livremente utilizado por todos, e possibilita o próprio avanço da ciência.
36
Orientadas a Serviço: é representado pelo sistema PostgreSQL (Ilustração 2). Visa fornecer
serviços estáveis e robustos a todos os stakeholders ou envolvidos (membros da comunidade
que usam o sistema; o usuário final cujo trabalho depende do projeto desenvolvido pelos
membros da comunidade) em sistemas de software livre. Em um sistema orientado a serviço a
população dos envolvidos no sistema, é muito maior do que a comunidade de
desenvolvimento.
Todas as mudanças feitas no sistema devem ser feitas e consideradas de modo que não
quebrem a confiança dos usuários finais nos serviços fornecidos pela comunidade.
Conseqüentemente, os projetos orientados a serviço são geralmente muito conservadores em
relação a mudanças evolucionárias e rápidas. O trabalho é freqüentemente controlado por um
líder de projeto, cujas idéias inovadoras e criativas não podem se sobrepor aos interesses dos
envolvidos com o sistema. Esse tipo de projeto também pode freqüentemente ser controlado
37
coletivamente por um grupo de membros do núcleo, e não por um único líder de projeto.
Todas as mudanças são debatidas e somente as que obtiverem a aprovação da maioria do
grupo é incorporada ao sistema.
Orientadas a Utilidade: é representado pelo sistema operacional Linux (Ilustração 3). Busca
preencher um vácuo na funcionalidade de dispositivos. A maioria desses projetos de software
livre consiste em muitos softwares relativamente independentes, tais como os controladores
(drivers) de dispositivos para sistemas operacionais, como, por exemplo, drivers de hardware
para o sistema operacional Linux. Ao contrário de se esperar que alguém desenvolva um
controlador específico que resolva um problema pessoal, os desenvolvedores decidem
desenvolver seus próprios controladores e disponibilizá-los na Internet, para que outra pessoa
possa acessá-los e contribuir para melhorá-lo.
38
Os projetos orientados a utilidade são desenvolvidos completamente sob risco. A maioria dos
desenvolvedores vai à Internet na busca por uma solução parcial e, ao encontrá-la, modificam-
na, então, às suas próprias necessidades.
O interesse preliminar dos desenvolvedores que buscam esse tipo de software livre não é usar
o código-fonte para exploração científica ou aprendizado, tal como os colaboradores
orientados a exploração, mas em criar um software que possa simplesmente resolver suas
necessidades pessoais.
Nesse tipo de desenvolvimento de software livre não existe controle centralizado, pois os
programas são criados a partir de necessidades pessoais e evoluem a partir da melhoria dos já
existentes.
Nakakoji et al (2002) também apresenta uma proposição sobre um possível teste para a
evolução de projetos de software livre (Ilustração 4).
39
Sistemas
existentes
Maturidade
Orientado a Maturidade
Orientado a
serviço serviço
Novas
Orientado a necessidades Orientado a
utilidade
utilidade
Para Hexsel (2002), um projeto de software livre de sucesso tem um ciclo de vida em que o
processo de desenvolvimento se inicia quando o desenvolvedor escreve uma versão inicial do
software e publica o código-fonte dessa versão incompleta. Caso seja interessante ou útil,
outros desenvolvedores instalam e experimentam-no. Erros são descobertos e corrigidos, e
melhorias são propostas ou introduzidas ao programa. Essas correções e melhorias são
submetidas ao desenvolvedor inicial, que as incorpora e publica a nova versão de seu
software. A versão melhorada atrai mais usuários, que descobrem outros erros e introduzem
novas melhorias, o que leva a uma nova versão. Esse ciclo se repete e, após algumas
interações, o software atinge estabilidade e passa a contar com um grupo razoavelmente
grande de usuários. Nessas condições, a comunidade de suporte atinge uma massa crítica e
40
Hexsel (2002) afirma que, em geral, o desenvolvimento e evolução de um software livre tende
a estagnar quando não consegue atrair interesse de uma comunidade de usuários
suficientemente numerosa e de programadores dispostos a suportá-lo. Também, quando o
iniciador do projeto ou os principais desenvolvedores envolvidos perdem o interesse ou a
disponibilidade de atuar no projeto. Com isso, existe uma tendência de diminuírem-se a
disponibilidade e a qualidade do suporte prestado, comprometendo a evolução do software.
Nakakoji et al (2002) também apresentam um modelo que evidencia os papéis dos membros
de uma comunidade de software livre. Numa comparação com o desenvolvimento comercial
de sistemas, na comunidade de software livre os próprios membros é que supõem
determinados papéis dentro da estrutura, de acordo com seus interesses pessoais no projeto a
ser desenvolvido, podendo ser um dos oito papéis abaixo, conforme ilustrado na ilustração 5.
Líder
de Projeto
Mebros do Núcleo
Colaborador Ativo
Colaborador Periférico
Reparadores de Erro
Repórteres de Erro
Leitor
Usuário Passivo
O trabalho de Nakakoji et al (2002) ressalta que a evolução das comunidades e dos sistemas
de software livre forma “arcos” (ilustração 1) mutuamente dependentes. Também, deixa claro
que não é obrigatória a presença dos oito tipos de papéis em todas as comunidades de
sistemas de software livre, variando o percentual de presença de cada tipo. Vale destacar
ainda que, para cada comunidade de software livre diferente, os nomes para cada um dos os
42
papéis descritos acima podem sofrer variações. Já que cada comunidade tem uma estrutura
original que depende da natureza do sistema, do perfil e da quantidade de colaboradores
(normalmente pequeno) e da sua população.
A evolução de uma comunidade de software livre é determinada por dois fatores: a existência
de membros motivados que aspiram conseguir posições de destaque e com maior influência
na comunidade e o mecanismo social da comunidade, que incentiva e permite ao membro
mudar seu papel individual dentro da comunidade. Uma grande base de membros
voluntariamente contribuindo é um dos mais importantes fatores de sucesso das comunidades
de software livre. A evolução de uma comunidade é feita com as contribuições de seus
membros motivados.
Os principais conceitos apresentados neste iten podem ser resumidos da seguinte maneira:
A evolução dos projetos, segundo os três modelos, se dá de maneira rápida com os projetos
orientados a exploração e utilidade. No modelo orientado a serviço os projetos ganham
consistência e a velocidade da evolução diminui (crescimento estável). Em função de novas
idéias e exigências que surgem, inicia-se um novo ciclo de evolução rápida, dando origem a
um novo modelo orientado a exploração ou utilidade. Vale destacar que para Hexsel (2002) a
evolução de um software livre tende a estagnar quando não atrai interesse de um número
grande de usuários e programadores.
Os dois trabalhos citados apresentam que um projeto numa comunidade de software livre
dificilmente terá sucesso se não houver uma plataforma tecnológica que possibilite aos
colaboradores e usuários meios de comunicação para trabalharem colaborativamente. E que
voluntários motivados a participar e contribuir com a comunidade é fator essencial ao sucesso
dos projetos.
Uma das principais forças motivadoras apontadas para constituição e crescimento de uma
comunidade de software livre é a busca pelo aprendizado. Muitos colaboradores são atraídos
aos projetos de software livre simplesmente porque querem aprender algo. E, quanto mais
ricos e profundos forem os sistemas desenvolvidos pela comunidade, mais membros
motivados se incorporarão, pois estes buscam um aprendizado contínuo.
Outro fator que motiva colaboradores a juntarem-se em torno de uma comunidade de software
livre, segundo esses estudos, é a transformação do papel de cada membro nas comunidades,
que, juntamente com a aprendizagem, oferece um forte fator motivador. Esse tipo de
motivação é reforçado e amplificado quando a estrutura social e as convenções da
comunidade reconhecem e recompensam as contribuições de seus membros. Nesse sentido,
os colaboradores necessitam ganhar status e reconhecimento dentro da comunidade,
gradualmente fazendo contribuições, que inicialmente podem ser pouco significativas.
um líder de projeto influencia e afeta mais membros da comunidade do que a atividade feita
por um membro do núcleo, que, por sua vez, tem uma influência maior na comunidade do que
um colaborador ativo, e assim sucessivamente. Vale ressaltar que os denominados usuários
passivos, no modelo de Nakakoji et al (2002), embora tenham menor influência, são muito
importantes para a comunidade. Ainda que não contribuam diretamente e tecnicamente no
desenvolvimento do sistema, sua existência como uma população significativamente grande
contribui em muito no aspecto social e psicológico como fator motivador aos outros
membros mais ativos da comunidade. Seria um pensamento similar ao de dizer que uma
torcida incentiva o seu time durante uma competição esportiva.
Finalmente, o estudo de Hertel et al (2003) aponta também como aspectos motivadores para
um desenvolvedor participar de uma comunidade de software livre as possíveis vantagens na
carreira, devido às experiências adquiridas, troca pessoal de conhecimento com outros
46
O PSL está presente em diversos estados do país (ex. São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul,
Santa Catarina), por intermédio dos PSLs estaduais, os quais são partes integrantes do Projeto
de Software Livre nacional (PSL-Brasil). O PSL-Brasil possui em seu site uma base de dados
denominada de “Profissionais Livres”, onde estão cadastradas pessoas que atuam com
software livre pelo Brasil todo. Essa base de dados cadastral será mais bem descrita no
capítulo que trata do método de estudo e servirá como ponto de partida para a presente
pesquisa.
47
Além desse portal, estão disponíveis outros sites governamentais, nele indexados, cujo
objetivo é fomentar o desenvolvimento de software livre no país:
3
O Instituto Nacional de Tecnologia da Informação - ITI é uma autarquia federal vinculada à Casa Civil da
Presidência da República. Como Autoridade Certificadora Raiz, é a primeira autoridade da cadeia de
certificação, executora das Políticas de Certificados e normas técnicas e operacionais aprovadas pelo Comitê
Gestor da ICP-Brasil. O ITI integra o Comitê Executivo do Governo Eletrônico, no qual coordena o Comitê
Técnico de Implementação do Software Livre no Governo Federal. Fonte: http://www.iti.br.
48
De forma geral, pode-se dizer que existem várias dúvidas sobre quem são as pessoas e
instituições responsáveis pelo fenômeno do software livre e suas motivações, em parte devido
à sua origem contestatória. Para compreender esse fenômeno, é preciso notar que o perfil dos
desenvolvedores mudou nos últimos cinco anos. No início do movimento de software livre, o
perfil típico do desenvolvedor era o de uma pessoa amadora desenvolvendo “puramente por
amor”, mas nos últimos anos, existe uma tendência de profissionalização dos envolvidos
(SOFTEX, 2005). Isso evidencia que, em função de uma perspectiva de trabalho mais
profissionalizado para os desenvolvedores, o modelo de desenvolvimento de software livre
pode estar migrando para um posicionamento mais focado em negócios ou nas necessidades
de mercado, como refere Lima (2005).
O estudo SOFTEX (2005) aponta ainda que é possível perceber um movimento de busca de
profissionalização relacionado a software livre e que há uma preocupação acentuada dos
desenvolvedores com certificação profissional. O estudo aponta ainda que 19,71% dos
50
Já, para Taurion (2004), as competências técnicas dos colaboradores são muito diversas, tanto
quanto os motivos que os levam a participar do desenvolvimento de software livre, que vão
desde o ideológico e messiânico até o financeiro, em busca de projeção e novas oportunidades
profissionais. O autor complementa que existem pesquisas demonstrando que os
colaboradores remunerados (direta ou indiretamente) pela sua colaboração tendem a dedicar
mais horas e energia ao projeto de software livre do que aqueles que contribuem apenas por
prazer e diversão.
Para Hann et al (2004), a viabilidade dos projetos de software livre depende basicamente dos
indivíduos que atuam nos projetos. Os autores ressaltam também que a viabilidade das
comunidades de software livre constituídas por colaboradores voluntários pode ter problemas,
pois as empresas com interesses comerciais estão contribuindo significativamente com os
projetos livres. E tal contribuição "paga" pode reduzir a motivação não-econômica (ex.
aumento no status ou reputação) em relação à motivação econômica (Ex. salário, interesse de
carreira). Hann et al (2004) questionam os reais motivos pelos quais os programadores de
software livre contribuem voluntariamente com tempo e trabalho, sem remuneração direta,
sendo que poderiam gastar esse tempo desenvolvendo um projeto comercial do software.
Estudos como SOFTEX (2005) e o próprio trabalho de Hann et al (2004) apontam para uma
possível resposta a essa questão e também a uma mudança na motivação para atuar com
software livre. Hann et al (2004) apresentam em seu estudo cinco aspectos motivadores para o
desenvolvedor participar das comunidades de software livre: normativo (para ganhar o
respeito de outros membros importantes), valor de uso (porque compartilha de valores
pessoais como o de que o software deve ser livre), compreensão (familiarizar-se com uma
tecnologia e também pela curiosidade intelectual), interesses de carreira (adquirir habilidades
relacionadas à carreira profissional ou para a manutenção de habilidades existentes) e realce
do ego (similar à compreensão, envolve o desejo sentir-se “o melhor” em relação aos outros
membros da comunidade).
51
Percebe-se que a maioria dos cinco aspectos não possui apelo pecuniário, porém um deles
(interesses de carreira) já evidencia uma conotação econômica, ou seja, a busca por benefícios
futuros ao se trabalhar com software livre.
A pesquisa de Hars e Ou (2001) apud Wang (2005) apresenta categorias diferentes das
motivações apresentadas por Hann et al (2004), porém uma análise mais detalhada revela que
as diferenças se encontram na categorização. As três categorias de motivação propostas em
Hars e Ou (2001) abrangem os cinco aspectos de motivação propostos por Hann et al (2004).
Taurion (2004), seguindo uma categorização semelhante à de Hars e Ou (2001) apud Wang
(2005), coloca que as motivações em participar de uma comunidade de desenvolvimento de
software livre podem ser divididas em duas: motivação intrínseca, quando o desenvolvedor
trabalha com atividades que considera agradável. Ou seja, trabalhar com software livre torna-
se uma atividade agradável. E motivação extrínseca, que se reflete em compensações como
evolução profissional, evolução técnica e novas oportunidades de melhor empregabilidade.
Também, a compensação financeira pela oportunidade de explorar serviços em torno do
software livre, como treinamento e serviços.
O estudo SOFTEX (2005) aponta que existem indícios, no âmbito internacional, de grandes
empresas buscando aproximar-se e adaptar-se à dinâmica do desenvolvimento do software
livre. Esse movimento aproxima o software livre do mundo empresarial e dos grandes
capitais. Para Lerner e Tirole (2000) apud Mishra et al (2002), os desenvolvedores de
software livre não são necessariamente altruístas; os programadores contribuem com a
52
Para Kornilovicz (2005), atualmente o Brasil é apontado como o novo foco de atenção
mundial no setor de serviços de TI, contando com cerca de 5.400 empresas produtoras de
software. O mercado brasileiro de TI, o maior da américa latina e o décimo do mundo, gerou
em 2004, um volume de negócios superior a US$ 10 bilhões. O Brasil também se destaca
como um importante comprador de tecnologia, estando entre os dez primeiros mercados de
software do mundo. Ainda segundo Kornilovicz (2005), a esfera governamental é a maior
compradora do país, ressaltando que, atualmente, também contempla em suas licitações as
empresas de pequeno e médio porte. Isso abre novas oportunidades para as pequenas
empresas desenvolvedoras de software livre.
Segundo Wang (2005), o sucesso dos projetos de software livre e a sustentabilidade das
comunidades variam de projeto para projeto. Esse sucesso por sua vez depende das
contribuições constantes dos colaboradores individuais ao projeto e à participação na
comunidade, ou seja, as contribuições dos colaboradores em uma comunidade de software
livre são relacionadas positivamente ao sucesso dos projetos.
53
À exceção de alguns muitos bem sucedidos (Ex. Linux, Apache, Mozila, Openoffice), a
maioria dos projetos de software livre não tem a mesma sorte ou o mesmo brilho, com pouca
ou nenhuma atividade e divulgação e adoção. Muitos morrem já no inicio enquanto outros
sobrevivem, mas por pouco tempo [THOMAS e HUNT (2004); HEALY e SCHUSSMAN
(2003)].
Esses estudos apontam para a necessidade de verificar a importância da adoção pelo mercado
dos softwares livres produzidos. Essa adoção pode ser fator decisivo para a continuidade de
uma comunidade de desenvolvimento.
Abordando ainda a questão levantada por Hann et al (2004) sobre por que desenvolvedores de
software livre contribuem voluntariamente com tempo e trabalho a esses projetos sem
remuneração direta, o estudo de Long e Yuan (2005), cita que a maioria dos projetos de
software livre confiam inteiramente em esforços voluntários de uma comunidade de
colaboradores, mesmo que alguns projetos sejam coordenados e conduzidos por entidades
comerciais. Por ser voluntário, o custo de desenvolvimento e teste mantém-se baixo. Mesmo
baixos, os custos existem, assim não fica claro como as comunidades de desenvolvedores de
software livre financiam seus projetos.
Os principais conceitos apresentados neste iten, pelos autores citados, são resumidos da
seguinte maneira:
Segundo Softex (2005), o perfil dos desenvolvedores de softwares livres mudou nos últimos
cinco anos. No início o perfil era de amadorismo, mas atualmente a tendência é de
profissionalização dos envolvidos. Para Taurion (2004), os motivos para participar do
desenvolvimento de software livre, vão desde o ideológico até o financeiro (busca de projeção
e novas oportunidades profissionais). Segundo Hann et al (2004), a viabilidade dos projetos
de software livre depende excessivamente dos indivíduos que atuam nos projetos (o que pode
comprometer a viabilidade dos projetos). Para Hann et al (2004) existem cinco aspectos
motivadores para o desenvolvedor participar das comunidades de software livre: ganhar
respeito de outros membros importantes, compartilhar valores pessoais (ex. software deve ser
livre), familiarizar-se com tecnologias e até curiosidade intelectual, adquirir habilidades
relacionadas à carreira profissional e finalmente, desejo sentir-se “o melhor” em relação aos
outros membros da comunidade. Estes aspectos podem melhorar o potencial de retorno
54
Segundo Tait (2004), ainda não existe um modelo consolidado sobre como obter lucro
trabalhando com software livre. O caminho para isso ainda está sendo trilhado em um
ambiente onde surgem novas alternativas constantemente.
Existem dificuldades para se estabelecer um modelo de negócios com software, que não seja
pela exploração da propriedade ou da compra de um produto. Mesmo assim, os negócios
baseados em software livre já são uma realidade e as empresas que focam seus negócios nele
estão buscando seus lucros na oferta de serviços, na manutenção do produto ou ainda no
desenvolvimento de novos softwares feitos sob encomenda (TAIT, 2004).
Para Hecker (2000), existem diversos modelos do negócio já testados cuja base é o software
livre. Alguns desses modelos são possíveis na teoria e podem ser futuramente trabalhados na
prática. Vale destacar que todos os modelos pressupõem a ausência das taxas de
licenciamento do software tradicional.
A seguir, são apresentados cinco modelos de negócios com software livre apresentados por
Hecker (2000). As definições básicas desses modelos foram retiradas, segundo Hecker
(2000), do site www.opensource.org e são as seguintes:
- Support Sellers (vendedor de suporte): nesse modelo de negócio com software livre, o
rendimento vem da distribuição de mídia, treinamento, consultoria, desenvolvimento feito sob
encomenda, em vez das taxas de licenciando de software comercial. É o modelo pregado por
Richard Stallman no documento denominado Manifesto GNU. Nele, a fonte de rendimento
pode ser dividida em duas categorias: bens físicos (mídias, documentação e serviços) e
suporte técnico;
55
- Service Enabler (habilitador de serviço): nesse modelo, uma companhia cria e distribui
o software livre primeiramente para suportar o acesso aos serviços on-line gerados, quando os
56
serviços podem gerar o rendimento, por exemplo, com taxas da subscrição ou anúncios. Um
exemplo seria uma companhia que fornece um serviço on-line baseado em alguma taxa. Para
alcançar o serviço, o cliente necessita de um software, que pode ser livre. O cliente poderia
não só baixar o programa, mas também fazer modificações, por exemplo, para customizá-lo
para seu uso ou para suportar dispositivos especiais de entrada ou saída.
Hecker (2000) apresenta ainda outros três possíveis modelos de negócios, sendo que os
modelos de negócio com softwares livres propostos a seguir são colocados pelo autor como
mais teóricos, no sentido de que nenhuma companhia parece usá-los efetivamente na
atualidade. Entretanto, parecem ser, para o autor, ao menos teoricamente praticáveis. Os
modelos de negócios com software livre propostos por Hecker (2000) são os seguintes:
a) Sell It, Free It (venda e libere): segundo o autor, esse é essencialmente o modelo do
líder de perda, repetido e estendido ao longo do tempo. Nesse modelo, uma empresa
estruturaria deliberadamente seu desenvolvimento e práticas de licenciando para liberar
primeiramente produtos (software) como comerciais tradicionais e os converteria a
software livre quando alcançarem um ponto apropriado em seu ciclo de vida, quando os
benefícios de desenvolvê-los em um ambiente de software livre compensariam o
rendimento que o direito de licença do software produz. Assim, os produtos
recentemente transformados em livres adicionariam ainda o valor aos produtos
proprietários restantes;
- Distribuição Linux: o linux por si gera um próprio negócio. Uma distribuidora Linux
empacota e comercializa uma versão do Kernel do Linux, agregando a ele documentação e
centenas de outros softwares como ferramentas de administração, compiladores, aplicações
desktop e utilitários de instalação. De maneira geral, a distribuidora obtem a versão mais atual
do kernel, agrega a ele os demais softwares, testa todo conjunto e agrega utilitários de
instalação. Mantem a documentação atualizada. As distribuidoras, em sua maioria, retornam à
comunidade Linux o trabalho resultante do esforço e empregam diversos desenvolvedores
para escrever código para a comunidade. Algumas, entretanto, apesar de se declararem
aderentes ao licenciamento GPL, não entregam sequer a fonte dos produtos de software
adicionados ao pacote;
- Distribuição de outros softwares livres: existem também distribuidores para outros
softwares livres, como a distribuição e suporte do servidor Apache, Zope, Sendmail Inc e
Mysql. Estas organizações vivem simbioticamente com softwares livres que distribuem. Seu
papel é coordenar evoluções dos softwares, empacotá-los, adicionando outros produtos
complementares e oferecer suporte técnico especializado. Como grande parte deste trabalho
também pode ser feito pelos distribuidores Linux, o mercado potencial para estes negócios é
bem mais restrito. Suporte técnico tende a ser maior fonte de receitas;
- Produtos e serviços complementares: existem organizações que atuam no ecossistema do
software livre com oferta de serviços e produtos complementares como venda de livros
especializados (O’Reilly & Associates), documentação, treinamento e eventos. Existem
também muitas empresas criadas especialmente para oferecer suporte técnico especializado
em alguns softwares livres. No Brasil, estas empresas são de pequeno porte e focadas
principalmente no mercado de pequenas e médias empresas;
- Centros de homologação: muitas vezes é importante obter garantias de usabilidade,
confiabilidade, segurança, documentação e mesmo conflitos de propriedade, devido aos
inúmeros modelos de licenciamento existentes. O fato de estar disponível o código fonte nem
sempre é uma garantia. Uma empresa comercial não deve estar interessada em alocar seus
58
caros profissionais para vasculhar algumas dezenas de milhões de linhas de código para
identificar eventuais problemas potenciais. Nesse novo negócio, entidades homologadoras de
software livre seriam então as responsáveis pelas avaliações e publicações de seus resultados.
As receitas seriam oriundas da venda desses serviços através de assinaturas, consultoria ou
por projetos customizados.
Ao analisar esses modelos de negócios com software livre propostos por Hecker (2000) e
Taurion (2004), percebem-se algumas similaridades entre eles. Por exemplo, o modelo de
Support Sellers proposto por Hecker (2000) e o modelo de distribuição de outros softwares
livres proposto por Taurion (2004). Ambos reforçam a possibilidade de receitas por
intermédio do suporte técnico. Também entre o modelo Accessorizing proposto por Hecker
(2000) e o modelo produtos e serviços complementares de Taurion (2004), cuja receita seria
por intermédio da oferta de serviços e produtos complementares ao software livre principal.
Por fim, para Mariano (2004), no modelo de negócio de software livre, as receitas podem ser
geradas pelas seguintes atividades:
a) Suporte;
b) Consultoria e treinamento;
c) Melhorias implementadas no pacote;
d) Customização.
Vale ressaltar que as proposições de Mariano (2004) não se diferenciam do que foi
apresentado anteriormente por Hecker (2000) e Taurion (2004).
Este capítulo apresentou, com base na literatura, aspectos relacionados a software livre e as
possíveis motivações em se atuar com ele e, ainda, modelos de negócios relacionados a
software livre encontrados na literatura. Na seqüência, apresenta-se o capítulo que trata do
método e procedimentos do presente estudo.
59
5 MÉTODO DE PESQUISA
Teste /
Validação do
Elaboração e Instrumento
modelagem da Elaboração do
(Estudo Piloto)
base de dados Instrumento
quantitativa de pesquisa Conclusões
(Estudo piloto) (Versão
Preliminar)
Revisão
da
Literatura Aplicação do Elaboração do
Instrumento Relatório com
(estudo Resultados.
Completo)
Definição da
hipótese da Revisão da
pesquisa e literatura Tabulação,
das montagem do tratamento
proposições referencial estatístico e
teórico quantitativo Análise dos
dos dados. dados
Etapa um: Teórica – Etapa dois: Etapa três: Prática Etapa quatro:
Conceitual Teórica – Exploratória – Qualitativa – Exploratória Analítica –
Conceitual
a) Etapa Um: Teórica – Conceitual: revisão da literatura sobre o tema proposto, para
60
Pesquisa é uma atividade voltada para a solução de problemas, por meio do emprego de
processos científicos. Ela parte de uma dúvida ou problema e, com o uso do método
científico, busca uma resposta ou solução (CERVO e BERVIAN, 1996). Para Mattar (1996),
as pesquisas são classificadas em: pesquisas exploratórias, pesquisas conclusivas, pesquisas
descritivas e pesquisas causais. Cooper e Schindler (2003) apresentam alguns métodos de
pesquisa aplicados à área de administração, salientando que esse tipo de pesquisa ainda é
recente e é baseada em atitudes humanas, comportamento e desempenho.
Para o desenvolvimento desta tese é feito o uso de um método múltiplo, conhecido como
triangulação que, segundo Njeru (2004) e Trivinos (1995), envolve a aplicação tanto do
método qualitativo como do quantitativo, permitindo um melhor aprofundamento sobre o
tema pesquisado de um dado fenômeno social. O método quantitativo é uma investigação
empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real,
especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente
definidos (YIN, 2001). O método qualitativo permite ao investigador ganhar compreensão de
61
Com o intuito de expor e testar a hipótese levantada sobre as comunidades de software livre
no Brasil, neste trabalho foi utilizado o método qualitativo para a elaboração do instrumento
de coleta dos dados e o quantitativo para as demais etapas do desenvolvimento da
investigação. Partindo-se de uma pesquisa exploratória, que segundo Dencker (1998) e
Malhotra (2001) deve ser feita de forma não estruturada e em pequenas amostras, para melhor
compreensão do problema. Foi subseqüentemente, para a elaboração e refinamento do
questionário que serviu como instrumento de coleta dos dados, utilizado o método
quantitativo denominado survey, que para Malhotra (2001), é um questionário estruturado
aplicado em uma amostra de uma população e destinado a provocar informações específicas
dos pesquisados. É uma maneira de se coletarem dados sobre determinadas características,
ações e opiniões em determinada população ou amostra por intermédio de questionário
(PINSONNEAULT e KRAEMER,1993). Uma pesquisa survey apresenta diversas vantagens,
tais como, aplicação simples e confiabilidade das respostas coletadas, pois são limitadas às
alternativas mencionadas O uso de respostas fixas reduz a variabilidade nos resultados
(MALHOTRA, 2001).
Para este estudo, será utilizado o método classificado por Malhotra (2001) como: entrevista
eletrônica (e-mail e site na Internet).
A população deste estudo são os envolvidos com software livre que se consideram
participantes de comunidades de software livre no Brasil.
Dessa forma, os pesquisados foram pessoas que de alguma forma estavam envolvidas com
software livre, independentemente da área de atuação do pesquisado.
A amostra deste estudo enquadra-se em uma amostra não-probabilística, pois não se utiliza
uma seleção aleatória, já que são considerados para o estudo somente os questionários
respondidos e considerados válidos (MALHOTRA, 2001; COOPER e SCHINDLER, 2003;
COORAR e THEÓPHILO et al, 2004; MATTAR, 1999; MARCONI e LAKATOS, 2002;
SAMARA e BARROS, 2002).
63
Dois aspectos são importantes nas pesquisas sociais: a formulação e o teste de hipótese
(RICHARDSON, 1999). Hipóteses são freqüentemente utilizadas para pesquisas acadêmicas
na área de negócios e administração (ALBRIGHT, WINSTON e ZAPE, 1999), constituindo
um importante recurso da investigação científica (TRIVINOS, 1995). Estudos do tipo
explicativo, que tentam determinar os fatores ou motivos que influem determinados
acontecimentos, em que se pretende analisar relações entre fenômenos ou que, simplesmente,
procuram determinar a existência de certa característica necessitam de hipóteses
(RICHARDSON, 1999).
A elaboração da hipótese deste estudo foi feita com base em revisão da literatura sobre
comunidades de software livre, outros estudos acadêmicos já realizados sobre o tema, análise
de casos de desenvolvimento e uso de software livre e entrevistas informais com profissionais
atuantes na área e especialistas no assunto.
para a elaboração do instrumento de coleta de dados, que será descrito com mais detalhes no
item 5.5.1 (instrumento de coleta de dados e estudo piloto).
Para Lima (2005), é realmente possível construir um negócio rentável com o chamado
software livre. A consolidação do seu uso na sociedade brasileira é real, tanto pela utilização
em grandes empresas quanto pelos incentivos governamentais. Isso traz oportunidades de
negócios nas mais diversas áreas, e principalmente na computação. Com isso, surge a
necessidade de um profissional que não só entenda de negócios como conheça as soluções de
software livre aplicável a eles.
ganhar deixando de lado aspectos ideológicos e entendendo que estão vivendo em um cenário de
economia capitalista, onde os produtos custam dinheiro. [...] Software livre é um modelo de
negócios. E como modelo de negócios, que propõe ruptura com modelos tradicionais, gera em seus
primeiros momentos, uma crise de transição, histerizando a emotividade. Defensores pró e contra
digladiam-se buscando conquistar corações e mentes da maioria silenciosa, o mercado, que adotará
ou não o novo modelo, dependendo do quão bem sucedida será a argumentação de seus defensores
ou detratores.
O autor aponta ainda que existem três fontes principais de receita aos desenvolvedores,
relacionadas a software livre: vendas do software, suporte ao software e aumento indireto de
vendas de hardware pela utilização do software.
Por fim, Taurion (2004) relata que, no movimento de software livre, a motivação de uma
comunidade é diretamente relacionada com a visibilidade e a popularidade do projeto por ela
desenvolvido, pois isso gera inúmeras oportunidades de negócios para o ecossistema criado
em volta do projeto. Um subproduto do ecossistema econômico do software livre é obter
lucros com serviços de suporte e educação.
66
Com base no exposto, procura-se evidenciar como as ações de fomento e adoção pela esfera
governamental no uso de software livre impactam na definição do modelo de
desenvolvimento de software livre predominante no Brasil.
Porém, o mesmo autor coloca que “os projetos de software livre tendem a adotar padrões
abertos porque dependem de comunidades as mais amplas possíveis. Os softwares livres não
podem viver isolados e, para serem úteis e interoperarem com produtos já existentes, tem
obrigatoriamente que incorporar padrões abertos.”
67
Aparentemente, são duas posições conflitantes, pois ao mesmo tempo em que o autor sustenta
que as comunidades não sofrem influências de demandas de mercado, afirma que os padrões
do software produzido devem ser o mais próximo dos adotados pelo mercado para que o
produto produzido não fique isolado. E que existe um movimento de profissionalização dos
desenvolvedores de software livre (SOFTEX, 2005; LIMA, 2005; TAURION, 2004).
Complementarmente, segundo Tait (2004), a opção por negócios baseados em ferramentas
livres é mais uma questão de demanda do mercado.
Com base no exposto, procura-se evidenciar até que ponto as demandas de mercado impactam
na definição do modelo de desenvolvimento de software livre predominante no Brasil.
Para Taurion (2004), um empreendimento de software livre, para obter sucesso, precisa
entender o cenário de negócios onde está inserido. E nem todo projeto de software livre terá
sucesso. Muitos não atraem interesse da comunidade e tendem a desaparecer. Para cada
projeto de sucesso existem milhares que fracassam. Os trabalhos de Healy e Schussman
(2003) e Thomas e Hunt, (2004), assim como os trabalhos de Hann et al (2004) e Crowston et
al (2003) tratam de questões relacionadas ao sucesso e continuidade de comunidades de
software livre. Os trabalhos não enfatizam que a adoção pelo mercado é um fator de sucesso
dos projetos de software livre, porém associam o sucesso ao crescimento do número de
colaboradores. Nessa linha Taurion (2004) coloca que,
68
em muitas vezes um software livre pode atrair desenvolvedores pelo seu desafio tecnológico, mas
não existe garantia de aceitação de suas funcionalidades pelos usuários. Em conseqüência, com o
tempo, pela falta de usuários, a própria comunidade desenvolvedora sente-se desmotivada e
abandona o projeto. O modelo de desenvolvimento em comunidade depende de alguns fatores para
deslanchar. Um deles é a atratividade do projeto. Quanto mais popular e atrativo o projeto, maior a
comunidade envolvida. Para o sucesso de um projeto de software livre, é importante que os
usuários finais estejam engajados. Se um determinado software não despertar interesse suficiente,
e a comunidade não se engajar ativamente, o software simplesmente não evoluirá.
Com isso, percebe-se que, se para uma comunidade crescer ela necessita de aumento do
número de participantes, por outro lado para aumentar o número de participantes é necessária
a aceitação pelos usuários (mercado) do software produzido (popularidade). Têm-se, então,
indícios de que uma comunidade, para ter sucesso e continuidade, necessita que o software
seja aceito pelo mercado (usuários) para que, com o sucesso, o número de membros cresça e,
conseqüentemente, os participantes da comunidade continuem motivados.
Taurion (2004) coloca ainda que, sem apoio e comprometimento da indústria de software, os
softwares livres dificilmente terão espaço no mercado corporativo, ficando restritos a meios
acadêmicos e de pesquisa, e a camadas menos sofisticadas do mercado.
Com base no exposto, procura-se evidenciar até que ponto a adoção de software livre pelo
mercado corporativo impacta na definição do modelo de desenvolvimento de software livre
predominante no Brasil.
O modelo de software livre dilui os custos pelo trabalho voluntário de dezenas de milhares de
colaboradores. Os dispêndios fixos de pesquisa e desenvolvimento não são alocados a
nenhum centro de custo ou a uma empresa (TAURION, 2004).
Um exemplo é o que foi exposto na Semana de Software Livre promovida pelo Serviço
Federal de Processamento de Dados (Serpro), em sua sede regional do Rio de Janeiro, quando
o Coordenador do Comitê Técnico de Implementação do Software Livre, explica que, para
receber mais apoio direto do governo, os grupos de usuários solidários, de desenvolvedores,
de movimentos de distribuição, enfim, os vários grupos relacionados ao software livre
precisariam transformar-se em ONGs, OCIPs, fundações e até microempresas (LUCA, 2005).
Assim, esta proposição torna-se importante para a verificação da hipótese do trabalho, pois, a
identificação e a constatação de possíveis e principais fontes de financiamento de
desenvolvimento de software livre utilizadas pelos pesquisados podem ajudar a evidenciar
qual o modelo de desenvolvimento utilizado (ideológico ou de negócios).
Com base no exposto, procura-se evidenciar até que ponto as fontes de financiamento de
projetos de software livre impactam na definição do modelo de desenvolvimento de software
livre predominante no Brasil.
Com base no instrumento de coleta de dados (apêndice 1) formado por questões fechadas e
abertas, foi realizada a coleta das respostas dos pesquisados.
70
Para o estudo piloto, foi utilizado um cadastro de profissionais e empresas atuantes com
software livre no Brasil, que é mantido pelo Programa de Software Livre Brasil (PSL) em seu
site na Internet - www.softwarelivre.org.
Segundo informações fornecidas pelo próprio PSL, trata-se de uma iniciativa não
governamental que reúne instituições públicas e privadas do Brasil: poder público,
universidades, empresários, grupos de usuários, hackers, ONGs, cujo principal objetivo é a
promoção do uso e do desenvolvimento de software livre como uma alternativa econômica e
tecnológica (PSL, 2004).
Para obter essa base cadastral, os procedimentos adotados foram os seguintes: primeiramente,
foi gravado individualmente cada cadastro presente no site, em arquivos no formato de
71
páginas HTML. Após isso, os dados foram extraídos e planilhados, com a utilização de um
software auxiliar. Por fim, foram devidamente analisadas e retiradas as redundâncias e
inconsistências do cadastro. A obtenção dessa base cadastral foi realizada em março de 2006.
A taxa de resposta e aceite ao convite foi de 25% (dez respostas positivas), na seqüência, com
um intervalo de duas semanas, foi refeito o convite a outros 40 profissionais cadastrados na
base do PSL. Desta vez, a taxa de resposta foi de 27,5% (11 respostas positivas), o que faz
uma média de 26% de taxa de resposta ao convite em participar do estudo piloto da pesquisa.
Na análise dos dados coletados pelo estudo piloto constataram-se vinte problemas na
interpretação do questionário pelos pesquisados. Tais questões foram revisadas e reescritas.
Os problemas percebidos no questionário estão detalhados no apêndice 2 deste trabalho.
A chamada aos pesquisados foi feita por e-mails nominais enviados a cerca de dois mil e
oitocentos potenciais participantes da pesquisa, seguindo os procedimentos descritos no item
5.3 (procedimentos de amostragem e coleta dos dados).
72
Vale ressaltar ainda que houve uma significativa divulgação indireta desta pesquisa, feita por
intermédio de anúncios nos principais sites especializados em software livre no Brasil, bem
como também foi solicitado aos pesquisados que divulgassem a pesquisa em suas respectivas
redes de contatos de pessoas atuantes com software livre. Tais procedimentos podem ter
influenciado no número de respostas coletadas.
Ao final, obtiveram-se 1.013 questionários respondidos, dos quais foram considerados válidos
956.
Neste capítulo apresentam-se as análises dos dados coletados para esta pesquisa. Inicialmente
são apresentados os resultados referentes ao perfil dos pesquisados e é feita uma análise
comparativa com os resultados do estudo SOFTEX (2005). Na seqüência, para propciar um
melhor entendimento das analises em função dos objetivos propostos, os resultados
apresentados estão divididos respectivamente em função de cada proposição do estudo. Os
resultados das análises foram obtidos utilizando-se as seguintes técnicas estatisticas: Médias
dos Escores, Análise de Correlação e Análise Fatorial.
Para as análises foram consideradas as 956 respostas válidas. Para as variáveis em escala
Likert utilizou-se uma escala de 5 pontos variando de 5 a 1, em que 5 significava concordo
totalmente e 1 discordo totalmente.
Preliminarmente (tabela 3), apresenta-se o perfil das pessoas que responderam ao questionário
eletrônico, em seu aspecto socioeconômico, cultural, geográfico, técnico e profissional
relacionados ao contato com software livre. Vale ressaltar que 93,9% dos pesquisados
declararam atuar diretamente com software livre, contra 5,9% que declararam não trabalhar
com software livre.
Fica claro que atuar com software livre, não é uma atividade recente, já que houveram
pesquisados que afirmaram atuar com software livre há, pelo menos, 20 anos. Da mesma
maneira percebe-se que a atuação com software livre teve um crescimento recente. Do total
74
dos pesquisados 60% atuam com software livre entre dois e 6 anos, conforme evidenciado na
tabela 4.
Os resultados (tabela 5) mostram que 93,3 % dos pesquisados são do sexo masculino e 6,5%
do sexo feminino. Em relação à idade, 65% dos pesquisados possuem entre 20 e 30 anos.
Sendo que a idade de 23 e 24 anos é a mais freqüente com 16,3% do total de pesquisados.
Percebe-se que a maioria do pesquisados é formada por pessoas jovens que estão em início de
carreira profissional.
O fato do perfil dos pesquisados ser formado por pessoas jovens pode explicar a questão da
renda (tabela 6), sendo que 45,6% dos entrevistados ganham remuneração de até dois mil
75
reais. Já a faixa que é mais bem remunerada (entre 2 e 4 mil reais) totalizou 28,6% e, apenas,
6,9% declararam ser remunerados em mais de 6 mil reais. Um fato que chama a atenção é que
apenas 8,4% dos pesquisados declararam não possuir renda, ou seja, a maioria atua com
software livre e são remunerados de alguma maneira pelo seu trabalho.
O perfil dos pesquisados em relação à escolaridade (tabela 7) mostra que 44,8% não possuem
o curso superior completo, contra 35,5% que possuem, destes 13,1% já contam com algum
curso de especialização.
O item “Outros” aparece com quase 20% de citações, e as ocupações que mais se destacaram
foram: administrador de redes, analista de suporte/sistemas, consultoria e suporte ti,
funcionário público, programador e técnico de hardware/redes/suporte.
Também foi perguntado sobre qual é o “Contato” dos pesquisados com o software livre,
foram apresentadas sete opções em que o pesquisado poderia responder mais de uma opção
dentre as disponíveis. Em função disso a análise foi feita por item da questão individualmente
(tabela 9), mostrando quantas vezes cada item foi assinalado pelos pesquisados, por isso os
resultados são cumulativos e os resultados quanto à questão de contato com software livre por
parte dos pesquisados são os seguintes:
Tabela 9: Divisão dos pesquisados em função do tipo de contato com software livre
Contato como Freqüência Percentual
Estudante 408 42,7
Empresário 145 15,2
Desenvolvedor Individual 417 43,6
Professor 171 17,9
Usuário de sistemas 678 70,9
Gerente de TI 189 19,8
Outros 138 14,4
O maior percentual encontrado para qual o tipo de contato que os pesquisados têm com
software livre foi de usuários de sistemas 70,9% das respostas, depois aparece desenvolvedor
individual com 43,6% de presença nas respostas e estudante com 42,7%. Outras opções
tiveram percentuais significativamente menores, 15,2% (empresário) e 19,8% (gerente de TI).
Já o item “outros” aparece com 14,4% de citações, e apontou com destaque as seguintes
opções de contato com software livre: administrador de redes, consultor, desenvolvedor,
entusiasta, pesquisador, suporte técnico e usuário.
77
Em relação à distribuição geográfica dos pesquisados (tabela 10), os estados com maior
freqüência foram: São Paulo com 19,8% dos pesquisados, Rio Grande do Sul com 12,8%,
Paraná com 8,8% e Distrito Federal com 8,7%.
Nakakoji et al (2002) acredita que na comunidade de software livre existem papéis ou funções
a serem desempenhadas pelos próprios membros dentro da estrutura da comunidade. Isso de
acordo com interesses pessoais no projeto a ser desenvolvido. Com base no modelo proposto
por Nakakoji et al (2002), que mostra oito papéis dos membros de uma comunidade de
software livre, buscou-se descobrir como os pesquisados se situam nos diversos papéis dentro
de uma comunidade de software livre. Que na pesquisa mostraram-se divididos da seguinte
maneira (tabela 11):
Tabela 11: Divisão dos pesquisados em função do papel desempenhado dentro das comunidades
Freqüência Percentual
Líder de Projeto 38 4,0
Membros do Núcleo 390 40,8
Colaborador Ativo 21 2,2
Colaborador Periférico 22 2,3
Reparador de Erros 8 0,8
Reporter de erro 175 18,3
Leitor / Revisor 127 13,3
Usuário 64 6,7
Outra 97 10,1
99 14 1,5
Total 956 100,0
FONTE: NAKAKOJI et al, 2002.
Esta pesquisa mostrou que 93,3% dos pesquisados são do sexo masculino contra 6,5% do
sexo feminino. Estes números diferem da pesquisa SOFTEX que apontou um público
masculino de 97%. Já em relação à questão de idade e renda tanto esta pesquisa, quanto a
SOFTEX (2005), mostraram que os pesquisados são em sua maioria jovens, prevalecendo a
idade entre 20 e 30 anos (65% na presente pesquisa).
Quanto à questão da renda, ambas pesquisas apresentaram resultados parecidos. Pela presente
pesquisa, 45,6% ganham até dois mil reais e na pesquisa SOFTEX (2005), apenas 44%
recebiam menos que cinco salários mínimos. Já em relação à escolaridade, houve uma
diferença, sendo que a pesquisa SOFTEX apontou que 42% (20% pós-graduado) possuíam
curso superior completo, já nesta pesquisa o percentual subiu para 48% (25,6% pós-
graduado).
Ao verificar a questão de atuação profissional dos pesquisados a ocupação mais presente foi
desenvolvedor de Tecnologia da Informação (TI) (40%), estudante (34%) e outros (20%),
nesse item as ocupações que mais se destacaram foram: administrador de redes, analista de
suporte/sistemas, consultoria e suporte ti, funcionário publico, programador e técnico de
hardware/redes/suporte. Já no estudo SOFTEX (2005), mostra que a maior parte dos
respondentes classificou-se como administrador de sistemas ou técnico de redes básico (65%).
Em relação à distribuição geográfica dos pesquisados houve uma significativa diferença nos
resultados, pois no presente estudo a região sudeste somou 33,2% dos pesquisados e a região
sul 29,2%, contra 52% e 26% respectivamente do estudo SOFTEX. Já em relação aos estados,
os mais freqüentes foram: São Paulo com 19,8%, Rio Grande do Sul com 12,8%, Paraná com
8,8% e Distrito Federal com 8,7%. Sendo que no estudo SOFTEX os resultados apontaram
São Paulo (32%), Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul com 10% cada.
O perfil encontrato nesta pesquisa, em geral, mostrou-se semelhante aos resultados do estudo
SOFTEX (2005). O resultado do perfil dos pesquisados mostrou-se compatível com os
esperados para responder aos objetivos deste estudo, ou seja, de pessoas que se relacionam de
alguma maneira com as comunidades de software livre no Brasil.
Para estas análises foram utilizadas médias de escores e a análise de correlação que para Lira
e Neto (2003), é um método estatístico que permite conhecer um número que resume o grau
de relacionamento entre variáveis. Sendo utilizada quando existe interesse em analisar o grau
de associação entre dois conjuntos de escores referentes a um grupo de indivíduos.
Primeiramente foi elaborada uma matriz de correlação (apêndice 3) que serviu de base para as
análises deste trabalho onde se utilizou a análise de correlação. A matriz foi criada a partir das
variáveis que seguiam a escala de pontos Likert (Q_9 a Q_24, Q_29, Q_33 a Q_35).
Foi utilizado o teste de Mann-Whitney que, segundo Bisquerra et al (2004), serve para provar
se dois grupos independentes procedem da mesma população, sendo uma das principais
provas para se comparar grupos de dados independentes. O teste mostra se as diferenças entre
as médias dos escores observadas em dois grupos independentes são estatisticamente
significativas. E também o teste de Kruskal-Wallis que segundo Bisquerra et al (2004), tem o
mesmo objetivo que o teste de Mann-Whitney, porém é utlizado quando necessita-se
comparar mais de dois grupos independentes.
Vale ressaltar que o grupo de variáveis utilizadas na matriz contempla todas as proposições
apresentadas e descritas no capítulo 5.
80
b) Correlação entre pares de variáveis: foi escolhida uma variável (a exceção da P6 em que
foram selecionadas três variáveis) que melhor representava, respectivamente, cada
proposição do trabalho, a saber:
O objetivo foi investigar se as respostas das variáveis que melhor representam as proposições
sofrem variação em seus escores médios em função das variáveis: ocupação, contato com
software livre, papel dentro das comunidades, tempo de contato com software livre e
percentual de ganho salarial com software livre.
Esta tendência é confirmada pelas médias das questões em que era perguntado se é possível
construir um modelo de negócio rentável a partir do desenvolvimento de software livre e se
isso pode ser considerado um negócio. Percebeu-se uma concordância muito alta para ambos
os casos, para a pergunta sobre a possibilidade de se construir um modelo de negócio baseado
em software livre a média foi de 4,6, e sobre se software livre pode ser considerado um
negócio foi de 4,28.
Esta visão é ainda corroborada pelo resultado da média dos escores da questão em que fora
perguntado se atuar com software livre está deixando de ser por motivos ideológicos, o
resultado foi uma média de 3,60, evidenciando uma concordância dos pesquisados.
Pelos resultados apresentados trabalhar com software livre, se já foi não é mais motivado por
um pensamento “anti-Microsoft”, pois o resultado da média dos escores quando perguntado se
o pesquisado trabalhava com software livre para combater a Microsoft ficou em 2,13. Esta
média significa que os entrevistados discordam significativamente que trabalhar com software
livre é uma forma de combater a empresa Microsoft.
Por fim destaca-se o resultado obtido ao se verificar qual a percepção dos pesquisados sobre
as formas de se obter rendimentos atuando com software livre (tabela 12), cada pesquisado
podia apresentar cinco maneiras de se obter rendimentos com software livre, as mais
freqüentes foram:
Tabela 13: Variáveis que apresentaram diferenças nos escores médios na correlação com a variável sexo
SEXO Estatística Q10 Q11 Q13
n 805 805 805
Média 4,61 4,30 2,10
Masculino
Mediana 5,00 5,00 2,00
Desvio padrão 0,70 0,99 1,22
n 50 50 50
Média 4,40 4,02 2,66
Feminino
Mediana 5,00 4,00 3,00
Desvio Padrão 0,78 1,13 1,44
O resultado das correlações (tabela 13), mostra que os homens apresentaram um nível de
concordância maior sobre a possibilidade de se construir um modelo de negócio rentável com
base no desenvolvimento de software livre (Q_10). Nesta mesma linha de pensamento, para
os homens é mais evidente que o software livre pode ser considerado como um negócio
(Q_11).
A correlação com a questão Q_13 (eu trabalho com software livre para combater a Microsoft -
pensamento anti-Microsoft), mostra que a média dos escores para as mulheres claramente foi
maior que para os homens no sentido da concordância, ou seja, para as mulheres atuar com
software livre tem conotação menor de negócio.
Tabela 14: Variáveis com diferenças nos escores médios na correlação com a variável renda
Renda Estatística Q11 Q13 Q14 Q15
n 74 74 74 74
Média 3,95 2,39 2,61 2,05
Não tenho renda
Mediana 4,00 2,50 3,00 2,00
Desvio Padrão 1,11 1,34 0,98 1,16
84
O resultado das correlações acima (tabela 14), mostra a percepção sobre software livre poder
ser considerado um negócio (Q_11), a visão dos pesquisados com renda acima de seis mil
reais mensais é significativamente diferente, tendendo para a concordância, em relação aos
que responderam não possuir renda.
Vale ressaltar que a visão daqueles que não possuem renda é destoante de todas as outras
categorias de renda, sendo que a diferença maior é em relação aos que são melhores
remunerados. Ou seja, a percepção de que software livre é um negócio está diretamente
relacionada ao aumento da renda dos pesquisados.
Da mesma maneira, quando perguntado se o pesquisado trabalha com software livre para
combater a Microsoft (pensamento anti-Microsoft), em geral percebe-se que os pesquisados
não tendem a atuar com software livre para combater a empresa Microsoft (escores médios
baixos). Os pesquisados com maior renda são os que menos concordam que atuar com
software livre é combater o domínio da Microsoft.
Este padrão nas respostas continua na questão Q_14 (em que medida a sua participação nas
comunidades de software livre é motivada pelo pensamento ideológico em contraposição ao
pensamento focado em oportunidades de negócios), a análise de correlação mostrou
claramente que cresce no nível de concordância (média dos escores) à medida que a faixa
salarial cresce. Ou seja, a visão de que software livre é negócio está diretamente associada ao
85
nível salarial dos pesquisados, quanto melhor o nível salarial maior a visão de software livre
como negócio.
Tabela 15: Variáveis com diferenças nos escores médios na correlação com a variável escolaridade
Escolaridade Estatística Q13 Q14 Q15
n 57 57 57
Média 2,18 2,89 2,09
Ensino Médio
Mediana 2,00 3,00 2,00
Desvio Padrão 1,26 0,72 1,09
n 383 383 383
Média 2,24 2,90 2,24
Superior Incompleto
Mediana 2,00 3,00 2,00
Desvio Padrão 1,27 0,81 1,16
n 191 191 191
Média 1,88 3,08 2,55
Superior
Mediana 1,00 3,00 3,00
Desvio Padrão 1,18 0,89 1,13
n 115 115 115
Média 2,17 3,16 2,33
Especialização
Mediana 2,00 3,00 2,00
Desvio Padrão 1,22 0,82 1,21
n 83 83 83
Média 2,13 2,89 2,48
Mestrado
Mediana 2,00 3,00 2,00
Desvio Padrão 1,22 0,94 1,26
n 25 25 25
Média 2,20 2,72 2,56
Doutorado
Mediana 2,00 3,00 2,00
Desvio Padrão 1,32 1,21 1,33
Ao verificar as correlações acima (tabela 15), percebe-se que os pesquisados com nível
superior se destacaram dos demais não concordando que trabalhar com software livre
significa combater a Microsoft, ou seja, os pesquisados com nível superior são os que menos
atuam com software livre por questões ideológicas, na perspectiva de um pensamento anti-
Microsoft.
86
Embora a análise de correlação aponte a faixa de escolaridade que apresentou maior nível de
concordância ou discordância, deve-se levar em consideração o valor da média em relação à
escala. Por exemplo, quando foi colocado que os pesquisados de nível superior são os que
discordam de que atuar com software livre é uma maneira de combater a Microsoft, deve-se
levar em consideração que o escore médio geral da questão foi 2,13, ou seja, nitidamente já
existe uma discordância com a afirmação, porém, a correlação mostra que esta discordância é
mais forte entre os pesquisados de nível superior.
A correlação entre a escolaridade e a questão Q_15, mostrou uma diferença significativa entre
as médias dos pesquisados com escolaridade de nível médio e superior incompleto dos demais
pesquisados com maior escolaridade. A diferença mais significativa é notada entre quem tem
ensino médio e doutorado, exatamente as duas faixas de escolaridade extremas da escala. Os
pesquisados com ensino médio posicionaram-se mais que os demais, de que o modelo de
desenvolvimento baseado em ideologia não desaparecerá, mas manter-se-á como é
atualmente.
87
O que ficou constatado (tabela 16), é que dentre as ocupações pesquisadas a que mais teve
concordância que o modelo de desenvolvimento de software livre tende a ser de negócios
foram as ocupações empresários e gestores de TI. Por outro lado os que menos concordaram
com a afirmação de que o modelo de desenvolvimento de software livre irá ser de negócios
foram os Estudantes.
Tabela 17: Correlação entre a variável Q9 (modelo de desenvolvimento) e contato com software livre
Tipo de Contato com Software Livre n Média Desvio Padrão
Estudante 408 3,50 0,99
Empresário 145 3,69 0,95
Desenvolvedor individual 417 3,54 1,01
Professor 171 3,44 1,03
Usuário de sistemas 678 3,51 1,00
Gerente TI 189 3,65 0,95
Outro 138 3,46 1,01
O objetivo desta análise (tabela 17), é verificar a relação entre cada tipo de opções de contato
com software livre apresentadas e a variável Q_09 (modelo de desenvolvimento de software
livre). A meta é constatar possíveis diferenças de percepção entre cada tipo de ocupação em
relação ao modelo de desenvolvimento de software livre. Isto se faz medindo eventuais
diferenças nas médias dos escores nas correlações.
Percebe-se que o nível de concordância foi elevado para todas as opções de contato com
software livre (escores médios elevados). Também o teste de Kruskal-Wallis, não evidenciou
diferenças estatísticas significativas (a um nível de significância de 5%), entre os escores
88
individuais de cada opção de contato com software livre em relação às respostas da variável
Q_09.
Porém, vale destacar que os tipos de contato com software livre que mais concordam que o
modelo de desenvolvimento de software livre tende a ser de negócios, são os empresários e
gerentes de TI, já os que menos concordam são os professores.
Tabela 18: Correlação entre a variável Q9 (modelo de desenvolvimento) e papel dentro da comunidade
Q06 n Média Desvio Padrão
Líder do Projeto 38 3,61 1,00
Membros de Núcleo 390 3,51 1,00
Colaborador Ativo 21 3,43 0,75
Colaborador Periférico (esporádico) 22 3,59 0,96
Reparador de Erros 8 3,13 1,46
Repórter de Erro (testador) 175 3,65 1,02
Leitor (revisor) 127 3,56 0,98
Usuário 64 3,48 0,89
Outra 97 3,43 1,03
Total 942 3,53 0,99
Porém vale destacar que os papéis desempenhados dentro das comunidades que apresentaram
as maiores médias nos escores de que o modelo de desenvolvimento de software livre tende a
ser de negócios, foram repórter de erro, líder de projeto e colaborador periférico, já os
reparadores de erros foram os que apresentaram a menor concordância.
Tabela 19: Correlação entre a variável Q9 (modelo de desenvolvimento) e percentual de remuneração com
software livre.
Q54 n Média Desvio Padrão
0% 263 3,33 1,03
10% 60 3,57 0,98
20% 49 3,51 0,84
30% 47 3,61 0,95
40% 36 3,78 0,87
50% 66 3,58 0,98
60% 25 3,80 0,87
89
O resultado apresentado na tabela acima (tabela 19), tem como objetivo evidenciar possíveis
relações entre a faixa de remuneração financeira mensal que os pesquisados possuem
provenientes da atuação com software livre e a percepção dos mesmos sobre se software livre
pode ser visto como negócio ou ideologia.
O que se percebe nas respostas é que os pesquisados que alegam ter 80% de seus rendimentos
advindos de trabalhos relacionados a software livre são os que mais concordam que o modelo
de desenvolvimento de software livre no Brasil deverá consolidar-se como um modelo de
negócios, neste caso a média dos escores dos pesquisados foi muito alta tendendo à
concordância.
Em seguida os pesquisados que respectivamente alegam ter 70% e 60% do seu ganho mensal
com trabalhos relacionados a software livre também possuem um nível de concordância
elevado sobre a tendência de um modelo de desenvolvimento de software livre baseado em
negócios para o Brasil.
Destacadamente, com uma média dos escores bem abaixo dos demais, os pesquisados que
alegam não possuir nenhum rendimento mensal, proveniente de trabalho com software livre,
são os que menos acreditam ou concordam que o modelo de desenvolvimento de software
livre no Brasil será focado em negócio.
Fica claro uma relação direta entre o percentual de renda advindo de trabalho com software
livre e a visão sobre o modelo de desenvolvimento, sendo que quanto maior o rendimento em
90
Tabela 20: Correlação entre a variável Q9 (modelo de desenvolvimento) e tempo de atuação com software
livre.
Número de Anos n Média Desvio Padrão
1 a 5 anos 542 3,52 0,99
6 a 10 anos 311 3,62 1,01
11 ou mais 33 3,45 1,12
Não respondeu 14 3,36 0,74
Não trabalha com software 56 3,27 0,88
Total 956 3,53 1,00
Para esta correlação foi feita uma categorização da questão Q_07 (tabela 20), na opção em
que o pesquisado assinalou há quantos anos trabalha com software livre. Foram criadas três
categorias (intervalos) para facilitar a análise. O objetivo é verificar se existe alguma relação
entre o tempo de atuação com software livre e a percepção de software livre visto como
negócio ou ideologia.
Em geral os escores médios para esta correlação foram relativamente elevados para a
concordância.
Dentre os pesquisados, os que responderam ter entre seis e dez anos de atuação com software
livre, são os que mais concordam que o modelo de desenvolvimento de software livre no
Brasil é um modelo de negócios.
Os estudos SOFTEX (2005) ; Assay (2005) ; Taurion (2004) e Lima (2005), colocam que
desenvolvimento de software livre deve ir além da questão ideológica, que o mesmo pode ser
considerado como um negócio e que é possível fazer do software livre um negócio rentável.
Embora Long e Yuan (2005), coloquem que a maioria dos projetos de software livre é
desenvolvida por voluntários. Os resultados desta pesquisa mostram que para os pesquisados
existe um movimento no sentido de profissionalização de quem atua com software livre.
Nesse sentido o estudo SOFTEX (2005), já havia apontado uma tendência de
profissionalização dos desenvolvedores de software livre em que os envolvidos estão saindo
de uma posição mais periférica em direção ao centro da indústria do software.
Percebe-se neste estudo que é possível construir modelos de negócios rentáveis para software
livre, tanto quanto já foi apontado pelo estudo SOFTEX (2005) e por Lima (2005) e Taurion
(2004), esse último complementa ainda que além de rentável o desenvolvimento de software
livre é complementar ao modelo tradicional.
Nesse sentido Taid (2004); Hecker (2000); Taurion (2004) e Mariano (2004), apresentam
alguns modelos de negócios com software livre, ou seja, maneiras em que se poderia obter
rendimentos atuando com software livre. Para este estudo os resultados mostram que na visão
dos pesquisados existem quatro principais maneiras de obter rendimentos com software livre:
suporte (22%), desenvolvimento (15%), treinamento (13%) e consultoria (7%).
Segundo o estudo SOFTEX (2005), ao nascer de uma contestação dos mercados proprietários
mais poderosos da indústria, trabalhar com software livre revelou um lado político,
institucional e emocional, que muitos chamam de pensamento ideológico. E atuar com
software livre era para alguns uma oportunidade de derrubar o maior e mais conhecido
gigante da indústria de software, a empresa Microsoft. Porém o presente estudo desmistifica
esta questão, pois quando perguntado sobre a relação entre motivação em atuar com software
92
livre e movimentos anti-Microsoft ficou claro que os pesquisados discordam quase que
totalmente que trabalhar com software livre é uma forma de combater a empresa Microsoft.
Destaca-se ainda que os pesquisados com nível superior e os com a renda maior, são os que
menos concordam que desenvolver software livre seja uma forma de concorrência com a
Microsoft.
Em relação aos resultados das correlações destaca-se que os homens apresentaram um nível
de concordância maior que as mulheres sobre a possibilidade de se construir um modelo de
negócio rentável com base no desenvolvimento de software livre. Os resultados apontam que
os pesquisados do sexo feminino têm uma visão mais ideológica sobre o assunto.
Sobre software livre ser considerado um negócio, a visão dos pesquisados com renda acima
de 6 mil reais mensais é significativamente diferente dos demais no sentido da concordância.
Ainda sobre a renda, as correlações mostram que a visão que software livre é negócio está
relacionada ao nível salarial dos pesquisados, quanto melhor o nível salarial maior a visão de
software livre como negócio.
Em relação aos que mais concordaram que o modelo de desenvolvimento de software livre
tende a ser de negócios, destacam-se:
- Ocupações: estudantes;
- Contatos com software livres: professores;
- Papéis nas comunidades: reparadores de erros.
Os resultados mostram também que existe uma relação direta entre o percentual de renda
advindo de trabalho com software livre e a visão sobre o modelo de desenvolvimento. Em que
93
quanto maior o rendimento proveniente da atuação com software livre maior a aceitação de
um modelo de desenvolvimento de software livre como negócio.
Por fim, percebe-se que os pesquisados que atuam com software livre entre seis e dez anos
são os que mais concordam de que o modelo de desenvolvimento de software livre no Brasil é
um modelo de negócios.
Quando perguntado se o pesquisado se motiva a trabalhar com software livre pela expectativa
de retorno financeiro, o resultado não apresenta tendência entre concordar e discordar, mas
sim resultou em uma média central na escala utilizada (2,97).
Na busca por indícios sobre a influência da expectativa de ganho pecuniário para atuar com
software livre, foi perguntado se o pesquisado participaria de uma comunidade de software
livre que esteja desenvolvendo um projeto não "comercializável", ou seja, se ele trabalharia
em um projeto sem expectativas de retorno financeiro, o resultado foi muito forte para o
concordo totalmente, com uma média de 4,10, isto significa que os pesquisados, a princípio,
não vêem os benefícios pecuniários como o maior motivador a participar do desenvolvimento
de software livre.
Por outro lado, na questão Q_18, verificou-se a percepção dos pesquisados sobre se atuar
com software livre melhora a empregabilidade junto ao mercado de trabalho, o resultado foi a
média de escore de 4,18, ou seja, muito próximo à concordância plena. Complementarmente
94
a essa questão (Q_18) na questão Q_23 foi perguntado se ter maior empregabilidade significa
melhores salários no futuro, as respostas tiveram uma média de 3,78, o que significa uma
tendência em concordar com a afirmativa.
A análise é feita individualmente sobre cada um dos oito fatores da questão, em que é possível
verificar o percentual de importância, variando de zero a dez, atribuído pelos pesquisados a
cada um dos oito fatores.
Tabela 21: Importância da expectativa de ganho financeiro na motivação em atuar com software livre
Grau de importância Freqüência Percentual
0 (menos importante) 83 8,7
1 18 1,9
2 40 4,2
3 56 5,9
4 57 6,0
5 174 18,2
6 70 7,3
7 131 13,7
95
8 165 17,3
9 48 5,0
10 (mais importante) 108 11,3
Não respondeu 6 0,6
Total 956 100,0
Verifica-se que para os pesquisados o fator status não é determinante para atuar com software
livre como os demais já citados (tabela 24), os percentuais ficaram bem dispersos, desde nota
zero até nota oito e com poucos pesquisados atribuindo as notas máximas a status.
Observa-se que para os pesquisados o fator ideologia é importante, porém não parece ser
determinante para atuar com software livre como os demais já citados (tabela 25). Os
97
percentuais ficaram bem dispersos, desde nota zero até nota oito e com poucos pesquisados
atribuindo as notas máximas à ideologia.
Tabela 26: Importância do contato com colaboradores experientes na motivação em atuar com software
livre
Grau de importância Freqüência Percentual
0 (menos importante) 7 0,7
1 1 0,1
2 6 0,6
3 10 1,0
4 12 1,3
5 62 6,5
6 47 4,9
7 88 9,2
8 174 18,2
9 139 14,5
10 (mais importante) 405 42,4
Não respondeu 5 0,5
Total 956 100,0
Tabela 27: Importância da troca de conhecimento na motivação em atuar com software livre
Grau de importância Freqüência Percentual
0 (menos importante) 1 0,1
2 5 0,5
3 6 0,6
4 4 0,4
5 27 2,8
6 21 2,2
7 44 4,6
8 134 14,0
9 124 13,0
10 (mais importante) 583 61,0
Não respondeu 7 0,7
Total 956 100,0
Tabela 28: Importância do contato com novas tecnologias na motivação em atuar com software livre
Grau de importância Freqüência Percentual
0 (menos importante) 3 0,3
1 2 0,2
2 5 0,5
3 7 0,7
4 6 0,6
5 31 3,2
6 29 3,0
7 71 7,4
8 124 13,0
9 119 12,4
10 (mais importante) 551 57,6
Não respondeu 8 0,8
Total 956 100,0
Os fatores que mais apareceram na resposta “outros” da motivação em atuar com software
livre foram:
Nota-se que o percentual de pesquisados que atuam com desenvolvimento de software como
atividade fim é relativamente pequeno em relação aos demais, apenas 34,9% do total.
Na questão Q_28 foi apresentada uma série de benefícios (tabela 31), considerados não
financeiros, ou seja, que não têm conotação pecuniária direta e quando perguntado qual destes
benefícios, não financeiros, que lhe motivam a atuar com software livre.
Tabela 31: Benefícios não financeiros que motivam os pesquisados a atuar com software livre
Benefícios não Financeiros Freqüência Percentual
Aprendizado 41 4,3
Status (Efeito Vitrine) 5 0,5
Projeção Profissional 212 22,2
Passatempo (hobby) 7 0,7
Contato com Novas Tecnologias 14 1,5
Interação 130 13,6
Competição 31 3,2
Troca de Conhecimento 104 10,9
Destaque na Comunidade 7 0,7
Outros 402 42,1
Não respondeu 3 0,3
Total 956 100,0
O benefício não pecuniário para trabalhar com software livre que foi apontado com maior
destaque foi “projeção profissional” com 22,2%. Em se tratando de um aspecto profissional,
percebe-se que por trás disto há existência da busca por um retorno pecuniário, já que uma
melhor projeção profissional pressupõe-se melhores rendimentos e salários futuros.
100
Em quase metade das respostas apareceu a opção de resposta “outros”, os benefícios não
financeiros mais freqüentes foram: todas as opções acima, aprendizado, curiosidade, novas
relações sociais e de negócios e liberdade.
Tabela 32: Variáveis que apresentaram diferenças nos escores médios na correlação com a variável sexo
SEXO Estatística Q16 Q20
n 805 805
Média 2,99 3,61
Masculino
Mediana 3,00 4,00
Desvio padrão 1,22 1,06
n 50 50
Média 2,60 3,30
Feminino
Mediana 3,00 3,00
Desvio Padrão 1,12 1,11
A posição mais focada em ideologia das mulheres que atuam com software livre é reforçada
pelas correlações das questões (tabela 32), em que perguntava-se se o pesquisado motiva-se
pela expectativa de retorno financeiro ao participar do desenvolvimento de software livre
(Q_16), a média dos escores das pesquisadas é menor que dos homens, ou seja, as mulheres
se motivam menos que os homens em trabalhar com software livre pela expectativa
financeira.
No mesmo sentido a questão Q_20 (atuar com software livre está deixando de ser por motivos
ideológicos), o escore médio feminino ficou bem abaixo ao dos homens, isto significa maior
grau de discordância em relação ao modelo de desenvolvimento baseado em negócio.
Tabela 33: Variável que apresentou diferença nos escores médios na correlação com a variável renda
Renda Estatística Q24
Não tenho renda n 74
Média 3,85
101
Mediana 4,00
Desvio Padrão 0,82
n 377
Média 4,14
Até R$ 2000,00
Mediana 4,00
Desvio Padrão 0,67
n 253
Média 4,11
De 2 a 4 mil
Mediana 4,00
Desvio Padrão 0,67
n 92
Média 4,02
De R$ 4 a 6 mil
Mediana 4,00
Desvio Padrão 0,68
n 59
Média 4,05
Mais de R$ 6000,00
Mediana 4,00
Desvio Padrão 0,84
Tabela 34: Variáveis que apresentaram diferenças nos escores médios na correlação com a variável
escolaridade
Escolaridade Estatística Q16 Q18 Q21
n 57 57 57
Média 3,12 4,42 3,60
Ensino Médio
Mediana 3,00 5,00 3,00
Desvio Padrão 1,17 0,84 1,08
n 383 383 383
Média 3,02 4,26 3,31
Superior Incompleto
Mediana 3,00 5,00 3,00
Desvio Padrão 1,20 0,92 1,13
n 191 191 191
Média 2,91 4,05 3,13
Superior
Mediana 3,00 4,00 3,00
Desvio Padrão 1,21 1,10 1,12
n 115 115 115
Média 3,14 4,24 3,12
Especialização
Mediana 3,00 5,00 3,00
Desvio Padrão 1,20 1,01 1,12
Mestrado n 83 83 83
Média 2,66 4,08 2,92
Mediana 3,00 4,00 3,00
102
Na questão Q_16 (tabela 34), pergunta-se ao pesquisado se ele motiva-se pela expectativa de
retorno financeiro para participar do desenvolvimento de software livre, as respostas com
menores escores foram dos pesquisados com maior nível de escolaridade (doutorado), seguido
dos pesquisados com mestrado. Isto significa que a motivação financeira para se trabalhar
com software livre não está relacionada diretamente com o aumento do nível de escolaridade.
Parece que é justamente o contrário, quanto menor o nível de escolaridade, maior a
motivação financeira em se trabalhar com software livre.
A questão Q_18 perguntava se atuar com software livre melhora a empregabilidade junto ao
mercado de trabalho, para esta questão a análise de correlação apontou que o nível de
concordância foi inversamente proporcional ao nível de escolaridade, ou seja, quanto menor é
o nível de escolaridade dos pesquisados, mais eles concordam de que trabalhar com software
livre possibilita melhores oportunidades de trabalho no futuro.
Da mesma maneira na questão Q_21, em que se perguntava se trabalhar com software livre
proporciona melhores rendimentos em relação a trabalhar com softwares comerciais, a
correlação mostrou que o nível de concordância dos pesquisados com menor renda foi muito
superior que das demais faixas de escolaridade. Inclusive a correlação mostra que a média dos
escores diminuiu à medida que a escolaridade aumentou.
Para esta correlação buscou-se verificar possíveis relações entre a percepção dos pesquisados
sobre a expectativa de retorno financeiro ao participar do desenvolvimento de software livre
(tabela 35), e cada tipo de ocupação presente na questão Q_04. Da mesma maneira que nas
análises anteriores, a análise de correlação se faz pela verificação de eventuais diferenças nos
escores médios dos itens da questão Q_04 em relação às respostas apresentadas para a questão
Q_16.
O que ficou constatado é que dentre as ocupações pesquisadas a que mais teve concordância
que o modelo de desenvolvimento de software livre tende a ser de negócios foram os
empresários e gestores de TI. Do lado contrário, os que menos concordam com a afirmação
que o modelo de desenvolvimento de software livre será de negócios são os estudantes.
Tabela 36: Correlação entre a variável Q16 (expectativa de retorno financeiro) e contato com software
livre
Tipo de Contato n Média Desvio Padrão
Estudante 408 2,89 1,19
Empresário 145 3,37 1,19
Desenvolvedor individual 417 2,96 1,18
Professor 171 2,83 1,27
Usuário de sistemas 678 2,92 1,19
Gerente TI 189 3,09 1,19
Outro 138 2,81 1,20
O objetivo desta análise é verificar detalhadamente possíveis relações entre cada tipo de
opções de contato com software livre apresentadas na questão Q_05 e a questão Q_16 (tabela
36), que verificou sobre a expectativa de retorno financeiro ao participar do desenvolvimento
de software livre.
Vale destacar que os tipos de contato com software livre que mais tiveram destaque em
relação à concordância de que o modelo de desenvolvimento de software livre tende a ser de
negócios, foram os empresários seguidos pelos gerentes de TI. Já a menor concordância foram
os que possuem contato com software livre, como estudantes.
Tabela 37: Correlação entre a variável Q16 (expectativa de retorno financeiro) e papel dentro da
comunidade
Papel na Comunidade n Média Desvio Padrão
Líder do Projeto 38 3,11 1,20
Membros de Núcleo 390 2,92 1,23
Colaborador Ativo 21 2,95 1,12
Colaborador Periférico 22 2,73 1,03
Reparador de Erros 8 2,50 1,69
Repórter de Erro (testador) 175 2,98 1,14
Leitor (revisor) 127 3,03 1,12
Usuário 64 3,08 1,21
Outra 97 3,08 1,37
Total 942 2,97 1,21
Esta correlação (tabela 37) objetiva evidenciar se existe alguma diferença de percepção
dentre os papéis desempenhados pelos membros dentro das comunidades, apresentados por
Nakakoji et al (2002), em relação à expectativa de retorno financeiro ao participar do
desenvolvimento de software livre. Isto se faz relacionando individualmente as médias dos
escores de cada um dos papéis da questão Q_06 com a questão Q_16.
Dos papéis desempenhados dentro das comunidades, os que mais se motivam a atuar com
software livre pela expectativa de retorno financeiro, foram os líderes de projeto e os usuários.
Já os reparadores de erros foram os que apresentaram a menor concordância em atuar com
software livre com objetivo de retorno financeiro.
Tabela 38: Correlação entre a variável Q16 (expectativa de retorno financeiro) e o tempo de atuação com
software livre
Número de Anos n Média Desvio Padrão
1 a 5 anos 542 3,04 1,18
6 a 10 anos 311 2,92 1,27
11 ou mais 33 2,85 1,30
Não respondeu 14 2,57 1,16
105
O teste de Kruskal-Wallis, não apontou fortes diferenças estatísticas entre os escores das
opções da questão Q_07 em relação à questão número Q_16 (a um nível de significância de
5%).
Os escores médios para esta relação foram próximos ao ponto médio da escala Likert (5
pontos) utilizada, tendendo levemente para a concordância.
O resultado da correlação aponta que dentre os pesquisados, os que possuem entre um e seis
anos de atuação com software livre, são os que mais se motivam a atuar com software livre
pela expectativa de retorno financeiro.
de que o fator benefício financeiro seja uma motivação para atuar nas comunidades de
desenvolvimento de software livre.
Percebe-se que mesmo não admitindo explicitamente o interesse financeiro em atuar com
software livre, os pesquisados admitem que existe uma motivação pecuniária, relacionada a
melhor empregabilidade e salários. Seguindo o que citam Hann et al (2004), Lerner e Tirole
(2000) apud Mishra et al (2002). Outra evidência disto é que quando verificado sobre a
utilização profissional do conhecimento adquirido junto às comunidades de software livre, a
resposta ficou posicionada na escala entre as opções “tudo” e “muito”.
Em relação à sondagem sobre aspectos motivacionais para atuar com software livre,
destacaram-se as motivações relacionadas ao aprendizado decorrente da troca de experiência
com colaboradores experientes, empregabilidade e ganho financeiro. Por fim aparecem
ideologia e status.
Isto confirma duas das classes de motivações apontadas por Hertel et al (2003), sendo elas
troca de experiências e busca pelo conhecimento. Porém mostra um resultado diferente ao
que foi apontado pelo mesmo Hertel et al (2003), e outros autores como Neto e Augusto
(2004), Hippel e Krogh (2003) e Ye e Kishida (2003), já que para esses autores a questão
financeira não aparece como fator motivador para um desenvolvedor participar de uma
comunidade de software livre.
A posição mais ideológica das mulheres que atuam com software livre apresentada nos
resultados da proposição 1, foi reforçada pelas correlações com a questão que verificava se o
pesquisado se motiva pela expectativa de retorno financeiro ao participar do desenvolvimento
de software livre. A média dos escores das mulheres ficou abaixo ao dos homens. No mesmo
sentido a questão que media se atuar com software livre está deixando de ser por motivos
ideológicos, o escore médio feminino ficou bem abaixo que dos homens, isto significa maior
grau de discordância feminina em relação ao modelo de desenvolvimento baseado em
negócio.
Ficou claro também que os pesquisados mais profissionalizados são melhores remunerados e
os que mais contribuem com suas produções para com a comunidade de desenvolvimento.
Destaca-se também que a motivação financeira para trabalhar com software livre não está
107
Na questão Q_29 foi perguntado se a adoção de software livre pelo governo fortalece o
modelo de desenvolvimento focado em negócios. A média de 4,18 nas respostas aponta para
um grau de concordância muito elevado, o que em termos práticos significa uma
concordância quase que total.
Na questão Q_30, foi solicitado aos pesquisados que enumerassem por ordem crescente de
importância a influência de cada uma das diretrizes governamental na criação de novas
comunidades de desenvolvimento de software livre. (0 = menos importante; 10 = mais
importante). Sendo que os resultados foram os seguintes:
A análise apresentada aqui (tabela 39), é feita individualmente sobre cada um dos oito fatores
da questão, sendo possível verificar o percentual de importância, variando de zero a 10,
atribuído pelos pesquisados a cada um destes oito fatores.
108
Tabela 40: Importância de ampliar os serviços prestados ao cidadão por meio de software livre
Freqüência Percentual
0 (menos importante) 1 0,1
1 56 5,9
2 87 9,1
3 110 11,5
4 113 11,8
5 172 18,0
6 335 35,0
7 7 0,7
8 18 1,9
9 20 2,1
10 (mais importante) 31 3,2
99 6 0,6
Total 956 100,0
Percebe-se (tabela 40) que os pesquisados consideraram que “ampliar a malha de serviços
prestados ao cidadão por meio de software livre” mediamente importante para o surgimento
de novas comunidades de desenvolvimento, já que 53% dos pesquisados atribuíram notas 5
ou 6 para este item.
109
Tabela 41: Importância de utilizar o software livre como base dos programas de inclusão digital
Freqüência Percentual
0 (menos importante) 1 0,1
1 37 3,9
2 43 4,5
3 72 7,5
4 100 10,5
5 156 16,3
6 462 48,3
7 3 0,3
8 7 0,7
9 20 2,1
10 (mais importante) 50 5,2
99 5 0,5
Total 956 100,0
Os pesquisados consideraram que “utilizar o software livre como base dos programas de
inclusão digital” mediamente importante para o surgimento de novas comunidades de
desenvolvimento (tabela 41), já que 64,6% dos pesquisados atribuíram notas 5 ou 6 para este
item.
Tabela 42: Importância de priorizar a aquisição de hardware compatível com as plataformas livres
Freqüência Percentual
0 (menos importante) 1 0,1
1 187 19,6
2 102 10,7
3 102 10,7
4 117 12,2
5 125 13,1
6 247 25,8
7 12 1,3
8 18 1,9
9 8 0,8
10 (mais importante) 31 3,2
99 6 0,6
Total 956 100,0
Tabela 43: Garantir a livre distribuição de sistemas livres de forma colaborativa e voluntária
Freqüência Percentual
0 (menos importante) 4 0,4
1 102 10,7
2 100 10,5
3 122 12,8
4 107 11,2
5 144 15,1
6 303 31,7
7 10 1,0
8 10 1,0
9 17 1,8
10 (mais importante) 32 3,3
99 5 0,5
Total 956 100,0
Da mesma maneira que o item anterior, os pesquisados consideraram que “garantir a livre
distribuição de sistemas baseados em software livre de forma colaborativa e voluntária”
pouco para mediamente importante para o surgimento de novas comunidades de
desenvolvimento de software livre (tabela 43), já que 91,9 % dos pesquisados atribuíram
notas entre 1 e 6 para este item.
Tabela 44: Promover as condições para a mudança da cultura organizacional para adoção de software
livre.
Freqüência Percentual
0 (menos importante) 3 0,3
1 65 6,8
2 60 6,3
3 93 9,7
4 107 11,2
5 141 14,7
6 405 42,4
7 10 1,0
8 15 1,6
9 15 1,6
10 (mais importante) 35 3,7
99 7 0,7
Total 956 100,0
Tabela 45: Variável que apresentou diferença nos escores médios na correlação com a variável renda
Renda Estatística Q29
n 74
Média 4,09
Não tenho renda
Mediana 4,00
Desvio Padrão 0,92
n 377
Média 4,27
Até R$ 2000,00
Mediana 5,00
Desvio Padrão 0,91
n 253
Média 4,12
De 2 a 4 mil
Mediana 4,00
Desvio Padrão 1,05
n 92
Média 4,29
De R$ 4 a 6 mil
Mediana 5,00
Desvio Padrão 1,01
n 59
Média 3,85
Mais de R$ 6000,00
Mediana 4,00
Desvio Padrão 1,30
Para a variável renda foi feita a correlação com a questão (Q_29), que perguntava se a adoção
de software livre pelo governo fortalece o modelo de desenvolvimento focado em negócios
(tabela 45), a correlação mostrou uma ordem crescente e diretamente proporcional ao
aumento da faixa salarial de concordância que o uso de software livre pelo governo fomenta o
modelo de desenvolvimento focado em negócios.
Neste caso (tabela 46), buscou-se verificar possíveis relações entre a percepção dos
pesquisados sobre os impactos da adoção de software livre pelo governo com suas
conseqüências sobre o modelo de desenvolvimento focado em negócios e cada tipo de
ocupação enumerada na questão Q_04.
Da mesma maneira que nas análises anteriores, a análise de correlação se faz pela verificação
de eventuais diferenças nos escores médios dos itens da questão Q_04 em relação às respostas
apresentadas para a questão Q_29.
O resultado da correlação mostra que os escores médios ficaram muito próximos entre si, o
que denota uma homogeneidade nas respostas. Bem como que os escores médios foram bem
altos, muito próximos à concordância plena. Destaca-se que a opinião dos desenvolvedores,
gestores e estudantes são as mais homogêneas entre si. E são as ocupações que mais
concordam que a adoção de software livre pelo governo fortalece o modelo de
desenvolvimento focado em negócios.
Tabela 47: Correlação entre a variável Q29 (adoção governamental) e contato com software livre
Tipo de contato n Média Desvio Padrão
Estudante 408 4,22 0,92
Empresário 145 4,25 1,14
Desenvolvedor individual 417 4,17 0,97
Professor 171 4,14 1,02
Usuário de sistemas 678 4,21 0,96
Gerente TI 189 4,27 0,97
Outro 138 4,15 1,02
Esta correlação foi feita com o intuito de verificar possíveis relações entre cada tipo de
“contato com software livre”, apresentadas na questão Q_05 e as médias dos escores para a
questão Q_29 (tabela 47), que verificou sobre os impactos da adoção de software livre pelo
governo no modelo de desenvolvimento de software livre focado em negócios.
Ao verificar eventuais diferenças entre as médias dos escores, busca-se possíveis diferenças
de percepção em relação ao uso de software livre pelo governo sobre cada tipo de contato
com software livre apresentada na questão Q_05.
113
O nível de concordância de que impactos da adoção de software livre pelo governo no modelo
de desenvolvimento de software livre focado em negócios é elevado para todas as opções de
tipos de contato com software livre. Também fica evidente que para esta correlação os escores
médios ficaram muito próximos entre si, foram altos, e muito perto da concordância plena.
Destaque para a opinião dos empresários e gerentes que mais concordam que o uso de
software livre pelo governo fomenta o crescimento do modelo de desenvolvimento de
software livre focado em negócios.
Tabela 48: Correlação entre a variável Q29 (adoção governamental) e papel dentro da comunidade
Papel desempenhado n Média Desvio Padrão
Líder do Projeto 38 3,92 1,16
Membros de Núcleo 390 4,24 0,94
Colaborador Ativo 21 4,15 0,81
Colaborador Periférico 22 4,55 0,60
Reparador de Erros 8 4,25 1,04
Repórter de Erro (testador) 175 4,26 0,91
Leitor (revisor) 127 4,26 0,98
Usuário 64 3,91 1,22
Outra 97 4,03 1,11
Total 942 4,19 0,98
Dos papéis desempenhados dentro das comunidades, os que mais se motivam a atuar com
software livre pela expectativa de retorno financeiro, são os líderes de projeto e os usuários. Já
os reparadores de erros foram os que apresentaram a menor concordância em atuar com
software livre com objetivo de retorno financeiro.
114
Tabela 49: Correlação entre a variável Q29 (adoção governamental) e tempo de contato com software
livre
Número de Anos n Média Desvio Padrão
1 a 5 anos 542 4,18 0,98
6 a 10 anos 311 4,24 0,97
11 ou mais 33 3,73 1,40
Não respondeu 14 4,21 1,05
Não trabalha com software 56 4,27 0,90
Total 956 4,19 0,99
Para esta correlação foi criada preliminarmente uma categorização (tabela 49), na opção em
que o pesquisado respondia há quantos anos trabalha com software livre. Criaram-se três
categorias (intervalos) com intuito de facilitar a análise. O objetivo é verificar se existe
alguma relação entre o tempo de atuação com software livre e a percepção sobre se a adoção
de software livre pelo governo fortalece o modelo de desenvolvimento focado em negócios. O
teste de Kruskal-Wallis não apontou fortes diferenças estatísticas entre os escores (a um nível
de significância de 5%).
Os escores médios das três categorias criadas na relação com a questão Q_29 foram próximos
à concordância. Sendo que a categoria que mais demonstrou concordância em relação à
influência para um modelo de software livre baseado em negócio na adoção de software livre
pelo governo foram os que já atuam com software livre, entre 6 e 10 anos.
Como um dos maiores usuários de software livre no país o governo acaba gerando muitas
oportunidades de negócios periféricos, o que fomenta o surgimento de empresas fornecedoras
de soluções em plataformas livres. Conforme coloca Tait (2004), as empresas que focam seus
negócios em software livre, estão buscando seus lucros na oferta de serviços.
Para tal é apresentada e comentada a seguir a média dos escores, em que se utilizou uma
escala Likert, com uma escala de cinco pontos, sendo que 5 significava concordo totalmente e
1 discordo totalmente.
Já a questão Q_32 procurou verificar se a adoção do software livre pelas empresas privadas
muda o foco do desenvolvimento de um modelo ideológico para um modelo baseado em
negócios. O resultado foi uma média de 3,79, seguindo o mesmo raciocínio apresentado na
questão anterior, o resultado mostra que para os pesquisados o sucesso comercial é
importante. Isto também fortalece a visão de que o desenvolvimento de software livre é
influenciado pelas necessidades de mercado e, portanto, é visto como negócio.
Esta afirmação é reforçada pelo resultado da questão Q_33 que perguntava se a adoção do
software livre pelas empresas privadas favorece a criação de novas comunidades de
desenvolvimento de software livre, o resultado da média dos escores desta questão foi muito
alto tendendo para “concordo totalmente” com uma média de 4,15.
117
Outras quatro questões (Q_34, Q_35, Q_36 e Q_37), reforçam a percepção que o
desenvolvimento de software livre é influenciado pelo mercado e, portanto, segue um modelo
de desenvolvimento focado em negócios. Com uma média de 4,52 nos escores da questão
Q_34, fica claro que os pesquisados praticamente concordam plenamente que a adoção de
software livre pelo mercado corporativo e/ou pelo governo gera oportunidades de ganhos com
a prestação de serviços agregados aos sistemas principais. Tanto quanto a questão Q_35
mostra pela média dos escores (3,70) uma tendência dos pesquisados no sentido de que para
obter sucesso, uma comunidade de software livre deve seguir os padrões tecnológicos
determinados e aceitos pelo mercado no qual ela está inserida, ou seja, respeitar as exigências
do mercado.
Ainda foi perguntado aos pesquisados, sobre a questão de profissionalização dos membros
das comunidades de software livre, o resultado foi uma média de 3,62 nos escores, mostrando
que no futuro atuar com software livre tende a ser uma atividade para profissionais
especializados.
Tabela 50: Variáveis que apresentaram diferenças nos escores médios na correlação com a variável renda
Renda Estatística Q36 Q37
n 74 74
Média 3,11 3,26
Não tenho renda
Mediana 3,00 3,00
Desvio Padrão 1,28 1,22
n 377 377
Média 3,42 3,69
Até R$ 2000,00
Mediana 3,00 4,00
Desvio Padrão 1,25 1,22
De 2 a 4 mil n 253 253
Média 3,32 3,63
Mediana 3,00 4,00
118
A correlação com a questão Q_36 segue evidenciando que a visão de negócios sobre o
software livre cresce na mesma direção à faixa salarial (tabela 50). Já que, quando
perguntado se o pesquisado participaria preferencialmente de comunidades que atendam
demandas claras de mercado, a média dos escores cresceu conforme cresciam as faixas
salariais. Desde a menor média para os que alegaram não ter rendimentos até a maior média
para os que declararam ganhar os maiores salários.
Tabela 51: Variáveis que apresentaram diferenças nos escores médios na correlação com a variável
escolaridade
Escolaridade Estatística Q36 Q37
n 57 57
Média 3,30 3,98
Ensino Médio
Mediana 4,00 4,00
Desvio Padrão 1,31 1,08
n 383 383
Média 3,33 3,50
Superior Incompleto
Mediana 3,00 4,00
Desvio Padrão 1,27 1,22
n 191 191
Média 3,49 3,68
Superior
Mediana 4,00 4,00
Desvio Padrão 1,20 1,23
Especialização n 115 115
Média 3,72 3,92
Mediana 4,00 4,00
119
Já para a questão Q_37 a correlação com a variável escolaridade mostrou que quem mais
acredita que o futuro das comunidades de desenvolvimento de software livre é a
profissionalização de seus membros, foram os pesquisados de menor faixa educacional. E os
que menos acreditam que a profissionalização seja uma tendência dentro das comunidades são
os pesquisados com mestrado e doutorado.
Buscou-se aqui verificar possíveis relações entre a percepção dos pesquisados, detalhada por
ocupação, sobre se adoção de software livre pelas empresas privadas favorece a criação de
novas comunidades de desenvolvimento de software livre (tabela 52). Pois sendo o resultado
de concordância mostra que as comunidades são influenciadas pelas necessidades do mercado
corporativo e, portanto, estão trabalhando com uma visão de negócios.
120
Da mesma maneira que em outras análises anteriores, a análise de correlação se faz pela
verificação de eventuais diferenças nos escores médios dos itens da questão Q_04 em relação
às respostas apresentadas para a Q_33.
O resultado desta correlação mostra que os escores médios ficaram muito próximos entre si,
evidenciando homogeneidade nas respostas. E também foram significativamente altos, muito
próximos à concordância plena. Destaca-se a opinião dos empresários e gestores que mais
concordam que a adoção de software livre pelo mercado favorece a criação de novas
comunidades de desenvolvimento.
Tabela 53: Correlação entre a variável Q33 (adoção de software livre pelas empresas) e contato com
software livre
Tipo de Contato n Média Desvio Padrão
Estudante 408 4,15 0,93
Empresário 145 4,25 0,93
Desenvolvedor individual 417 4,10 0,95
Professor 171 4,24 0,93
Usuário de sistemas 678 4,16 0,94
Gerente TI 189 4,10 1,05
Outro 138 4,14 0,96
Esta correlação foi feita com o intuito de verificar possíveis relações entre cada maneira de
“contato com software livre”, apresentadas na questão Q_05 com as médias dos escores
obtidos para a questão Q_33, que coletou dados sobre se a adoção do software livre pelas
empresas privadas favorece a criação de novas comunidades de desenvolvimento de software
livre (tabela 53).
O nível de concordância que a adoção do software livre pelas empresas privadas favorece a
criação de novas comunidades de desenvolvimento de software livre é elevado para
praticamente todas as opções de tipos de contato com software livre.
Da mesma maneira fica evidente que para esta correlação os escores médios ficaram muito
próximos entre si, muito próximos à concordância plena.
121
Destaca-se a opinião dos empresários e professores que mais concordam que a adoção do
software livre pelas empresas privadas favorece a criação de novas comunidades de
desenvolvimento.
Tabela 54: Correlação entre a variável Q33 (adoção de software livre pelas empresas) e papel dentro da
comunidade
Papel na Comunidade n Média Desvio Padrão
Líder do Projeto 38 3,76 1,24
Membros de Núcleo 390 4,14 0,96
Colaborador Ativo 21 4,10 1,00
Colaborador Periférico 22 4,18 0,73
Reparador de Erros 8 4,50 0,53
Repórter de Erro (testador) 175 4,24 0,88
Leitor (revisor) 127 4,19 0,91
Usuário 64 3,95 1,09
Outra 97 4,31 0,86
Total 942 4,16 0,95
Dos papéis desempenhados dentro das comunidades, os que mais concordaram que a adoção
de software livre pelas empresas privadas influencia na criação de novas comunidades de
desenvolvimento de software livre, são o reparador de erros e o colaborador periférico.
Tabela 55: Correlação entre a variável Q33 (adoção de software livre pelas empresas) e tempo de atuação
com software livre
Número de Anos n Média Desvio Padrão
1 a 5 anos 542 4,19 0,93
6 a 10 anos 311 4,12 0,99
11 ou mais 33 4,12 0,93
Não respondeu 14 4,14 1,03
Não trabalha com software 56 4,20 0,92
Total 956 4,16 0,95
Para esta correlação foi criada preliminarmente uma categorização, na opção em que o
pesquisado respondia há quantos anos trabalha com software livre. Criaram-se três categorias
(intervalos) com intuito de possibilitar uma melhor análise (tabela 55). O objetivo é verificar
se existe alguma relação entre o tempo de atuação com software livre e a percepção sobre a
influência da adoção de software livre pelas empresas privadas na criação de novas
comunidades de desenvolvimento.
Os escores médios das três categorias criadas na relação com a questão Q_33 foram muito
próximos à concordância. A categoria que mais concordou que a adoção de software livre
pelas empresas influencia a criação de novas comunidades de desenvolvimento, foram os
pesquisados que atuam com software livre há menos tempo, faixa entre 1 e 5 anos.
O resultado desta pesquisa mostra que uma comunidade para ter sucesso deve respeitar as
exigências do mercado em relação aos padrões tecnológicos adotados. E também aponta
levemente uma preferência pela participação em comunidades de software livre que atendam
demandas claras de mercado. O que demonstra preocupação com a aceitação pelo mercado
dos projetos desenvolvidos.
A literatura consultada sobre esse assunto sugere ser polêmica. O resultado desta pesquisa
mostra, mesmo que de maneira tênue, que o desenvolvimento de software livre é influenciado
pelo mercado de Tecnologia da Informação (TI). Também que a adoção de Software livre
pelo mercado corporativo e/ou pelo governo gera oportunidades de ganhos com a prestação de
serviços agregados aos sistemas principais, o que é afirmado por Mariano (2004), Tait (2004)
e Lima (2005).
Para tal é apresentada e comentada a seguir a média dos escores, em que se utilizou uma
escala Likert, sendo que 5 significava concordo totalmente e 1 discordo totalmente, esta
escala foi utilizada para as questões de número Q_38 a Q_41, sendo que na questão Q_42 foi
solicitado ao pesquisado que enumerasse, por grau de importância, sobre a influência de cada
um dos itens para a continuidade das comunidades de desenvolvimento de software livre. (0 =
menos importante; 10 = mais importante).
dos projetos/sistemas criados por ela, a média das respostas ficou em 3,68. O que demonstra
uma concordância significativa.
Na questão Q_42 foi solicitado aos pesquisados que atribuíssem uma nota aos fatores citados,
por grau de importância da influência de cada um para a continuidade das comunidades de
desenvolvimento de Software livre (0 = menos importante; 10 = mais importante).
Tabela 60: Importância da adoção, pelo mercado corporativo, dos softwares produzidos na continuidade
de uma comunidade de software livre
Grau de importância Freqüência Percentual
0 (menos importante) 15 1,6
1 12 1,3
2 21 2,2
3 31 3,2
4 37 3,9
5 90 9,4
6 99 10,4
7 100 10,5
8 210 22,0
9 129 13,5
10 (mais importante) 189 19,8
99 23 2,4
Total 956 100,0
Nota-se que os pesquisados consideraram a adoção, pelo mercado corporativo, dos softwares
produzidos pela comunidade um fator muito importante para a continuidade de uma
comunidade de software livre (tabela 60), pois em torno de 80% dos pesquisados atribuíram
nota 5 ou superior a este item.
Tabela 61: Importância da adoção, pelo governo dos softwares produzidos na continuidade de uma
comunidade de software livre
Grau de importância Freqüência Percentual
0 (menos importante) 20 2,1
1 16 1,7
2 16 1,7
3 31 3,2
4 34 3,6
5 99 10,4
6 72 7,5
7 114 11,9
8 180 18,8
9 132 13,8
10 (mais importante) 219 22,9
99 23 2,4
Total 956 100,0
128
Tabela 62: A variável que apresentou diferença nos escores médios na correlação com a variável renda
Renda Estatística Q39
n 74
Média 3,54
Não tenho renda
Mediana 4,00
Desvio Padrão 1,08
n 377
Média 3,80
Até R$ 2000,00
Mediana 4,00
Desvio Padrão 1,13
n 253
Média 3,64
De 2 a 4 mil
Mediana 4,00
Desvio Padrão 1,16
n 92
Média 3,76
De R$ 4 a 6 mil
Mediana 4,00
Desvio Padrão 1,15
n 59
Média 4,05
Mais de R$ 6000,00
Mediana 4,00
Desvio Padrão 1,14
129
Buscou-se verificar possíveis relações entre a percepção dos pesquisados, segmentada pela
ocupação sobre se a continuidade de uma comunidade de software livre depende da adoção
pelo mercado corporativo dos softwares por ela produzidos.
Da mesma maneira, que em outras análises anteriores, a análise de correlação se faz pela
verificação de eventuais diferenças nos escores médios dos itens da questão Q_04 em relação
às respostas apresentadas para a questão Q_38.
O resultado desta correlação (tabela 63), mostra que os pesquisados com a ocupação de
empresário e gestor de negócios são os que mais concordam que a continuidade de uma
comunidade de software livre depende da adoção pelo mercado corporativo dos softwares por
ela produzidos. Em sentido contrário os estudantes são os que menos acreditam nisso.
Tabela 64: Correlação entre a variável Q38 (continuidade da comunidade) e contato com software livre
Tipos de Contato n Média Desvio Padrão
Estudante 408 2,66 1,28
Empresário 145 3,01 1,29
Desenvolvedor individual 417 2,61 1,29
Professor 171 2,91 1,34
Usuário de sistemas 678 2,73 1,26
Gerente TI 189 2,87 1,29
Outro 138 2,75 1,19
130
O intuito de verificar esta correlação é constatar possíveis relações entre cada maneira de
“contato com software livre”, apresentadas na questão Q_05 com as médias dos escores
obtidos para a questão Q_38. Que coletou dados sobre se a continuidade de uma comunidade
de software livre depende da adoção pelo mercado corporativo dos softwares por ela
produzidos (tabela 64).
Tabela 65: Correlação entre a variável Q38 (continuidade da comunidade) e papel dentro da comunidade
Papel na Comunidade n Média Desvio Padrão
Líder do Projeto 38 2,71 1,39
Membros de Núcleo 390 2,95 1,24
Colaborador Ativo 21 3,29 1,06
Colaborador Periférico 22 2,38 1,40
Reparador de Erros 8 2,50 1,60
Repórter de Erro (testador) 175 2,75 1,25
Leitor (revisor) 127 2,70 1,29
Usuário 64 2,48 1,22
Outra 97 2,90 1,38
Total 942 2,82 1,28
Dos papéis desempenhados dentro das comunidades, o que mais concordou que a adoção de
software livre pelas empresas privadas influencia na criação de novas comunidades de
desenvolvimento de software livre, foi o de colaborador ativo da comunidade. Por outro lado
os que menos concordaram foram os colaboradores periféricos e os usuários.
Tabela 66: Correlação entre a variável Q38 (continuidade da comunidade) e tempo de atuação com
software livre
Número de Anos n Média Desvio Padrão
1 a 5 anos 542 2,89 1,29
6 a 10 anos 311 2,73 1,25
11 ou mais 33 2,48 1,30
Não respondeu 14 2,29 1,38
Não trabalha com software 56 3,06 1,24
Total 956 2,82 1,28
Como já apresentado anteriormente, nas correlações com a questão Q_07 foi criada
preliminarmente uma categorização, na opção em que o pesquisado respondia há quantos anos
trabalha com software livre.
Criaram-se as três categorias (intervalos) com intuito de possibilitar uma melhor análise
(tabela 66). O objetivo é verificar se existe alguma relação entre o tempo de atuação com
software livre e a percepção sobre se a continuidade de uma comunidade de software livre
está ligada à adoção dos softwares que elas produzem, pelas empresas.
Os pesquisados que atuam com software livre há menos tempo, faixa dos que atuam entre um
e cinco anos, foram os que mais concordaram que continuidade de uma comunidade de
software livre está ligada à adoção pelas empresas dos softwares que elas produzem.
132
Por outro lado os resultados mostram que a sobrevivência de uma comunidade está ligada ao
crescimento do número de usuários, seguindo o que foi colocado por Nakakoji et al (2002),
Toomey (1998), Lazar e Preece (2002) e Taurion (2004). E ao crescimento do número de
colaboradores conforme colocado por Hexsel (2002), O’Reilly (2000), Hippel e Krogh (2003)
e Blanchard e Markus (2004). Bem como de se entender o cenário de negócios em que ela
está inserida, o que está de acordo com Taurion (2004).
Dos itens relacionados à continuidade de uma comunidade de software livre, todos foram
considerados importantes, sendo que os que receberam os mais elevados percentuais de notas
entre cinco e dez, 80%, dos itens foram:
Por fim aparecem as necessidades de mercado com 70%, o que vai ao encontro dos trabalhos
de Healy e Schussman (2003), Thomas e Hunt (2004), Hann et al (2004) e Crowston et al
(2003), que estudam questões relacionadas ao sucesso e continuidade de comunidades de
software livre, e não colocam a adoção pelo mercado como um forte fator de sucesso das
comunidades.
Os resultados mostraram que existe uma correlação diretamente proporcional entre a faixa
salarial e a concordância que a continuidade de uma comunidade de software livre depende do
crescimento do número de usuários.
133
Os colaboradores ativos foram os que mais concodaram que a adoção de software livre pelas
empresas privadas influência na criação de novas comunidades de desenvolvimento de
software livre. E os colaboradores periféricos e usuários os que menos concordaram. Os
pesquisados que atuam com software livre na faixa entre um e cinco anos, foram os que mais
concordaram que a continuidade de uma comunidade está ligada à adoção dos softwares que
elas produzem pelas empresas.
É utilizada novamente uma escala Likert, com uma escala de 5 pontos, em que 5 significava
concordo totalmente e 1 discordo totalmente. É apresentada e comentada a seguir a média dos
escores para as questões de número Q_43 a Q_45.
As demais questões (Q_46 a Q_54) são comentadas de acordo com a maneira como cada uma
foi elaborada.
134
Quando perguntado aos pesquisados se o pesquisado atua com software livre por passatempo
(hobby), a média dos escores constatada foi de 2,9, praticamente central sem tendência para
concordância ou não.
O resultado da questão evidencia que os pesquisados atuam com software livre em serviços
de alto valor (tabela 67), 30,4%, seguido por “outros” com 18,6%, sendo que esse item
apresentou os seguintes tipos de atuações mais freqüentes, pela ordem:
- Usuário;
- Documentação;
- Ensino;
- Pesquisa.
Na questão número Q_48 apresentou-se uma lista de possíveis locais de trabalho aos
pesquisados e perguntando em qual das opções apresentadas o mesmo se enquadrava.
135
- Autônomo;
- Freelancer;
- Consultor Independente;
- ONG's.
Quando perguntado como os projetos de software livre que o pesquisado atua são financiados,
apresentando-se uma lista fechada de opções, o resultado foi o seguinte:
Destacaram-se nos resultados (tabela 69), duas fontes principais de financiamentos dos
projetos primeiramente projetos públicos (financiamento público) com 26,4% das respostas,
136
seguido por recursos próprios com 12,4%. O item “outros” aparece destacamente com 21,9%,
sendo que as fontes de financiamento mais presentes são: “recursos próprios” e em seguida
“nenhuma fonte”, em menor número aparecem “doações” e “todas as fontes citadas.”
Na questão Q_50, foi perguntado sobre a certificação profissional, para verificar a percepção
dos pesquisados sobre este assunto:
Outro resultado interessante é o fato de somente 2,2% dos pesquisados não saberem do que se
trata uma certificação profissional na área de software livre.
Já na questão Q_51 foi perguntado quantas horas por semana os pesquisados dedicam ao
trabalho com software livre (tabela 71), sendo que os resultados apresentaram em destaque
três “números” de horas semanais trabalhadas com software livre pelos pesquisados.
O maior percentual (11,1%) constatado foi em relação aos que trabalham 20 horas semanais
com software livre, em segundo com 10% dos pesquisados ficou os que trabalham 40 horas
semanais com software livre. Por fim o terceiro número de horas semanais trabalhadas (10
horas) com software livre foi 9,5% dos pesquisados.
137
Tabela 71: Quantidade de horas por semana dedicada ao trabalho com software livre
Número de horas semanais
trabalhadas com software livre Freqüência Percentual
1 20 2,1
2 42 4,4
3 23 2,4
4 48 5,0
5 41 4,3
6 25 2,6
7 1 0,1
8 43 4,5
9 2 0,2
10 91 9,5
12 17 1,8
14 1 0,1
15 27 2,8
16 11 1,2
19 1 0,1
20 106 11,1
21 1 0,1
22 2 0,2
23 1 0,1
24 3 0,3
25 12 1,3
26 1 0,1
28 3 0,3
30 58 6,1
32 1 0,1
34 1 0,1
35 4 0,4
36 6 0,6
40 96 10,0
A Q_52 perguntou, dentre uma lista fechada de setores da sociedade, para qual setor da
economia o pesquisado desenvolve software livre (tabela 72), apresentando os seguintes
resultados:
O setor de educação foi o que mais se destacou com 17,7% dos pesquisados, seguido por
comércio com 15,8% e comunicação e informação com 14,9%. O setor que menos apresentou
destaque de envolvimento com software livre foi o setor financeiro.
O resultado mostra que 31,8% dos pesquisados trabalham somente com software livre
(assinalaram 10 na escala). Praticamente metade dos pesquisados disponibilizam entre 70% e
100% do seu tempo com software livre.
Tabela 74: Percentual da remuneração financeira mensal resultante de trabalho com software livre
Percentual de renda proveniente de
trabalho com software livre Freqüência Percentual
0 (0 %) 263 27,5
1 60 6,3
2 49 5,1
3 47 4,9
4 36 3,8
5 66 6,9
6 25 2,6
7 32 3,3
8 50 5,2
9 47 4,9
10 (100 %) 204 21,3
Não respondeu 77 8,1
O resultado mostra números extremos em que 27,3% dos pesquisados não possuem nenhuma
fonte de renda relacionada a software livre e, por outro lado, 21,3% colocam ter sua renda
mensal totalmente relacionada ao trabalho com software livre.
Tabela 75: A variável que apresentou diferença nos escores médios na correlação com a variável renda
Renda Estatística Q43
n 74
Média 3,22
Não tenho renda
Mediana 3,00
Desvio Padrão 1,47
n 377
Média 3,13
Até R$ 2000,00
Mediana 3,00
Desvio Padrão 1,36
n 253
Média 2,75
De 2 a 4 mil
Mediana 3,00
Desvio Padrão 1,45
n 92
Média 2,58
De R$ 4 a 6 mil
Mediana 2,00
Desvio Padrão 1,48
n 59
Média 2,19
Mais de R$ 6000,00
Mediana 2,00
Desvio Padrão 1,28
140
A análise mostra por intermédio da questão Q_43 (você atua com software livre por
passatempo), que quanto mais profissionalizado o pesquisado, maior é seu ganho financeiro e
também maior é sua visão de software livre como negócio (tabela 75).
Tabela 76: A variável que apresentou diferença nos escores médios na correlação com a variável
escolaridade
Escolaridade Estatística Q43
n 57
Média 2,84
Ensino Médio
Mediana 3,00
Desvio Padrão 1,31
n 383
Média 3,06
Superior Incompleto
Mediana 3,00
Desvio Padrão 1,42
n 191
Média 2,93
Superior
Mediana 3,00
Desvio Padrão 1,42
n 115
Média 2,54
Especialização
Mediana 2,00
Desvio Padrão 1,45
n 83
Média 2,63
Mestrado
Mediana 3,00
Desvio Padrão 1,38
n 25
Média 3,00
Doutorado
Mediana 3,00
Desvio Padrão 1,68
Para as correlações entre a variável escolaridade e as demais de escala Likert foi constatado
uma significativa diferença de médias entre as faixas de escolaridade para a questão Q_43,
onde foi perguntado se o pesquisado atua com software livre por passatempo (hobby). O
resultado mostrou que quem menos atua com software livre por diversão são os pesquisados
com especialização e os que mais atuam com software livre por passatempo são os que
possuem superior incompleto, ou seja, os pesquisados que são universitários (tabela 76).
141
O objetivo desta análise é verificar se existe alguma relação entre a faixa de renda do
pesquisado e o fato dele ser remunerado mais ou menos com trabalho desenvolvido com
software livre.
Embora as médias salariais dos pesquisados que atuam mais com software livre (90 e 100%)
são levemente maiores do que os que menos tem sua renda proveniente de software livre (0 a
10%), esta correlação não deixa claro que existe correlação entre atuar mais com software
livre e melhores níveis salariais (tabela 77). Ou seja, atuar mais ou menos com software livre
não significa ter melhores ou piores salários no mercado.
Tabela 78: Correlação entre a variável Q43 (atuação por hobby) e ocupação
Q04 n Média Desvio Padrão
Empresário 145 2,39 1,32
Gestor de Negócios 36 2,28 1,32
Desenvolvedor de TI 382 3,05 1,40
Gestor de TI 166 2,36 1,39
Docente/Pesquisador 145 2,83 1,43
Estudante 329 3,39 1,37
Outros 184 2,91 1,36
Nesta análise procurou-se verificar as possíveis relações entre a percepção dos pesquisados,
segmentada pela ocupação em relação à possibilidade do pesquisado atuar com software livre
por passatempo/diversão (tabela 78).
142
Assim como nas análises anteriores, a correlação se fez com a verificação de eventuais
diferenças nos escores médios de cada um dos itens da questão Q_04 em relação às respostas
apresentadas para a questão Q_43.
Os resultados das médias dos escores da questão Q_43 para as ocupações presentes na
questão Q_04 mantiveram uma tendência central em relação à escala de cinco pontos
utilizada, tendendo levemente à discordância. Ou seja, evidenciando que a atuação com
software livre não é feita com fins de passatempo.
Tabela 79: Correlação entre a variável Q43 (atuação por hobby) e contato com software livre
Q05 n Média Desvio Padrão
Estudante 408 3,35 1,33
Empresário 145 2,36 1,32
Desenvolvedor individual 417 3,16 1,41
Professor 171 2,83 1,39
Usuário de sistemas 678 3,07 1,40
Gerente TI 189 2,51 1,43
Outro 138 2,76 1,44
Esta correlação tem o intuito de constatar possíveis relacionamentos entre cada maneira de
“contato com software livre”, apresentadas na questão Q_05 com a possibilidade de atuação
pelos pesquisados com software livre por diversão ou passatempo (tabela 79).
Fica evidente que houve significativas diferenças entre os escores das diversas maneiras de
contato com software livre em relação à questão Q_43.
143
Destacam-se os estudantes e desenvolvedor individual como os que mais atuam com software
livre por passatempo/diversão, ou seja, com menor conotação de negócios. Já os empresários
e gerentes de TI são os que menos atuam com software livre por passatempo.
Tabela 80: Correlação entre a variável Q43 (atuação por hobby) e papel na comunidade
Papel na comunidade n Média Desvio Padrão
Líder do Projeto 38 2,81 1,65
Membros de Núcleo 390 2,86 1,43
Colaborador Ativo 21 2,95 1,20
Colaborador Periférico 22 3,38 1,40
Reparador de Erros 8 3,00 1,93
Repórter de Erro (testador) 175 2,95 1,37
Leitor (revisor) 127 2,87 1,38
Usuário 64 3,14 1,41
Outra 97 2,79 1,58
Total 942 2,90 1,43
Sendo que o teste de Kruskal-Wallis, para esta correlação não evidenciou diferenças
estatísticas significativas entre os escores (a um nível de significância de 5%).
Dos papéis desempenhados dentro das comunidades, o que mais atua com software livre por
diversão são os colaboradores periféricos. Por outro lado os lideres de projeto são os que
menos atuam com software livre por diversão.
Tabela 81: Correlação entre a variável Q49 (fontes de financiamento das comunidades) e ocupação
Gestor Desenvol
Fontes Empresário Gestor TI Pesquisador Estudante Outros
Negócios vedor TI
Contagem 3 1 22 8 17 24 15
Financiamento
% com Q49 4,5% 1,5% 32,8% 11,9% 25,4% 35,8% 22,4%
Privado
% com Q04_1 2,3% 2,9% 6,3% 5,2% 12,8% 8,3% 9,0%
Contagem 51 9 112 37 32 94 42
Financiamento
% com Q49 20,2% 3,6% 44,4% 14,7% 12,7% 37,3% 16,7%
Público
% com Q04_1 39,2% 26,5% 31,8% 24,0% 24,1% 32,4% 25,1%
Contagem 8 2 29 15 9 19 23
Universidade
% com Q49 10,7% 2,7% 38,7% 20,0% 12,0% 25,3% 30,7%
Pública
% com Q04_1 6,2% 5,9% 8,2% 9,7% 6,8% 6,6% 13,8%
Universidade Contagem 4 2 21 7 9 18 8
144
Privada % com Q49 8,3% 4,2% 43,8% 14,6% 18,8% 37,5% 16,7%
% com Q04_1 3,1% 5,9% 6,0% 4,5% 6,8% 6,2% 4,8%
Contagem 1 1 5 1 1 3 2
Investidores % com Q49 9,1% 9,1% 45,5% 9,1% 9,1% 27,3% 18,2%
% com Q04_1 0,8% 2,9% 1,4% 0,6% 0,8% 1,0% 1,2%
Contagem 1 0 9 1 6 19 9
Ong’s % com Q49 3,4% 0,0% 31,0% 3,4% 20,7% 65,5% 31,0%
% com Q04_1 0,8% 0,0% 2,6% 0,6% 4,5% 6,6% 5,4%
Contagem 3 2 8 5 16 38 2
Recursos da
% com Q49 5,3% 3,5% 14,0% 8,8% 28,1% 66,7% 3,5%
Comunidade
% com Q04_1 2,3% 5,9% 2,3% 3,2% 12,0% 13,1% 1,2%
Contagem 9 4 49 27 17 29 28
Recursos
% com Q49 7,6% 3,4% 41,2% 22,7% 14,3% 24,4% 23,5%
Próprios
% com Q04_1 6,9% 11,8% 13,9% 17,5% 12,8% 10,0% 16,8%
Contagem 50 13 97 53 26 46 38
Outros % com Q49 23,9% 6,2% 46,4% 25,4% 12,4% 22,0% 18,2%
% com Q04_1 38,5% 38,2% 27,6% 34,4% 19,5% 15,9% 22,8%
Esta correlação busca traçar possíveis relações entre as fontes de financiamento dos projetos
de software livre em que os pesquisados atuam e suas respectivas ocupações profissionais.
O que se percebe é que a grande fonte financiadora dos projetos de software livre são os
recursos públicos, já que todas as opções de ocupações estudadas o financiamento público
destacou-se dos demais tipos de financiamentos (tabela 81). Outro aspecto interessante é que
a fonte de financiamento que teve o menor percentual foi “investidor.”
Tabela 82: Correlação entre a variável Q49 (fontes de financiamento das comunidades) e e papel dentro
da comunidade
líder de membros colaborador colaborador reparador repórter leitor
usuário outros
projeto do núcleo ativo periférico de erros de erro (revisor)
Contagem 5 30 2 1 0 10 6 3 10
14,9
Financ. % com Q49 7,5% 44,8% 3,0% 1,5% 0,0% 14,9% 9,0% 4,5%
Privado
%
10,8
% com Q06 15,2% 8,9% 10,5% 5,0% 0,0% 5,9% 5,0% 4,8%
%
Contagem 11 90 2 7 3 48 38 14 38
15,1
Financ. % com Q49 4,4% 35,9% 0,8% 2,8% 1,2% 19,1% 15,1% 5,6%
Público
%
40,9
% com Q06 33,3% 26,6% 10,5% 35,0% 37,5% 28,4% 31,7% 22,6%
%
Contagem 1 29 2 1 0 26 5 6 5
Univ.
Pública
% com Q49 1,3% 38,7% 2,7% 1,3% 0,0% 34,7% 6,7% 8,0% 6,7%
% com Q06 3,0% 8,6% 10,5% 5,0% 0,0% 15,4% 4,2% 9,7% 5,4%
Contagem 2 20 0 1 2 10 6 4 3
Univ.
Privada
% com Q49 4,2% 41,7% 0,0% 2,1% 4,2% 20,8% 12,5% 8,3% 6,3%
% com Q06 6,1% 5,9% 0,0% 5,0% 25,0% 5,9% 5,0% 6,5% 3,2%
Contagem 2 5 1 1 0 0 1 1 0
Investidores % com Q49 18,2% 45,5% 9,1% 9,1% 0,0% 0,0% 9,1% 9,1% 0,0%
% com Q06 6,1% 1,5% 5,3% 5,0% 0,0% 0,0% 0,8% 1,6% 0,0%
145
Contagem 1 10 1 2 0 5 6 1 1
Ong’s % com Q49 3,7% 37,0% 3,7% 7,4% 0,0% 18,5% 22,2% 3,7% 3,7%
% com Q06 3,0% 3,0% 5,3% 10,0% 0,0% 3,0% 5,0% 1,6% 1,1%
Recursos Contagem 2 27 0 1 2 10 6 4 5
da % com Q49 3,5% 47,4% 0,0% 1,8% 3,5% 17,5% 10,5% 7,0% 8,8%
Comunidade % com Q06 6,1% 8,0% 0,0% 5,0% 25,0% 5,9% 5,0% 6,5% 5,4%
Contagem 3 46 6 4 1 18 17 10 13
11,0
Recursos % com Q49 2,5% 39,0% 5,1% 3,4% 0,8% 15,3% 14,4% 8,5%
Próprios
%
14,0
% com Q06 9,1% 13,6% 31,6% 20,0% 12,5% 10,7% 14,2% 16,1%
%
Contagem 6 81 5 2 0 42 35 19 18
% com Q49 2,9% 38,9% 2,4% 1,0% 0,0% 20,2% 16,8% 9,1% 8,7%
Outros
19,4
% com Q06 18,2% 24,0% 26,3% 10,0% 0,0% 24,9% 29,2% 30,6%
%
Esta correlação busca traçar possíveis relacionamentos entre as fontes de financiamento dos
projetos de software livre estudadas neste trabalho e os papéis desempenhados dentro das
comunidades segundo Nakakoji et al (2002).
O objetivo é verificar se existe alguma relação entre os papéis dentro das comunidades e as
fontes de financiamento dos projetos em que os pesquisados atuam.
Novamente fica claro que a fonte financiadora dos projetos de software livre são os recursos
públicos (tabela 82), seguindo o mesmo padrão da correlação anterior. O financiamento
público destacou-se em quase todos os tipos de papéis desempenhados dentro das
comunidades. Os colaboradores ativos foram os únicos que assinalaram com maior percentual
recursos próprios como principal fonte de financiamento dos projetos em que atuam.
Novamente, tanto quanto na correlação anterior, a fonte de financiamento que teve o menor
percentual foi “investidor.”
“outros” com 18,6%. No item “outros” as atuações mais freqüentes, pela ordem são: usuário,
documentação, ensino e pesquisa.
Para Long e Yuan (2005), existem custos para se desenvolver software livre. Essa pesquisa
evidenciou que o financiamento dos projetos de software livre são destacadamente feitos por
financiamento público (26,4%), seguido por recursos próprios com 12,4%. Este resultado
complementa o proposto por Hexsel (2002), de que os softwares livres podem ser financiados
indiretamente por vários segmentos da sociedade, como governo, empresas e meio
acadêmico.
Em Luca (2005) percebe-se que para receber mais apoio do governo, os grupos de software
livre necessitam transformar-se em ONGs, fundações e microempresas. Nesta linha, os
resultados do presente estudo mostram que 40% das atividades profissionais desempenhadas
pelos pesquisados encontram-se no item “outros”, sendo que os locais de trabalho mais
freqüentes, pela ordem são: autônomo, freelancer, consultor independente e ONG's.
Para essa pesquisa encontrou-se que a maioria (52,2%) dos pesquisados trabalha até 20 horas
semanais com software livre. Entre 20 e 40 horas são praticamente 20% dos pesquisados.
Somente 25,6% trabalham menos que 10 horas semanais com software livre, o que demonstra
uma forte diferença com o resultado da pesquisa SOFTEX (2005) em que este percentual foi
de 62% dos pesquisados.
O tempo disponibilizado com software livre mostra que 31,8% dos pesquisados trabalham
somente com software livre. Para 27,3% dos pesquisados a renda pessoal não é proveniente
de trabalhos com software livre contra 40% do estudo SOFTEX (2005). Já para 21,3% a renda
mensal vem totalmente do trabalho com software livre.
Foi solicitado que cada pesquisado apresentasse três comunidades em que atuem com os
respectivos números de participantes, ao todo foram enumeradas 1.436 comunidades pelos
questionários válidos. O estudo SOFTEX (2003) mostra que a pesquisa de Reis (2003)
identifica algumas características referentes às comunidades brasileiras de desenvolvimento
de software livre. O perfil das comunidades brasileiras avaliadas é o de pequenos grupos, com
cinco indivíduos em média.
Porém a presente pesquisa evidenciou que os números apresentados pelos pesquisados sobre
as comunidades em que atuam é muito diferente. Do total de comunidades apontadas pelos
pesquisados (1.436), em 804 constavam o número de indivíduos participantes de cada
comunidade, destes somente 11,4% foram apontadas como tendo 5 ou menos componentes.
O que fica claro é que o número de participantes nas comunidades citadas pelos pesquisados
mostraram-se muito diferentes entre si, com variações signifcativas. O que evidencia um
desconhecimento dos pesquisados sobre o real número de participantes nas comunidades em
que atuam.
As comunidades4 mais citadas respectivamente foram: Debian, Projeto Software Livre, Linux
Brasil, Openoffice, PHP-Brasil, Viva o Linux e Ubuntu.
A análise mostra, por intermédio da pergunta, se o pesquisado atua com software livre por
passatempo, que quanto mais profissionalizado o pesquisado, maior é seu ganho financeiro e
também maior é sua visão de software livre como um negócio. Também fica evidente que
quem menos atua com software livre por diversão são os pesquisados com especialização e os
que mais atuam com software livre por passatempo são os que possuem curso superior
incompleto (universitários). Em relação à ocupação os gestores de negócios, gestores de TI e
os empresários, são os que menos atuam com software livre por passatempo.
Dos papéis desempenhados dentro das comunidades, os que mais atuam com software livre
por diversão são os colaboradores periféricos. Por outro lado os lideres de projeto são os que
menos atuam com software livre por diversão.
4
As explicações de cada comunidade encontram-se no Glossário do presente trabalho
148
Busca-se neste item verificar das variaveis em escala Likert, aquelas que estão mais
correlacionadas entre si. Para isto usa-se da análise fatorial, que segundo Hair et al (2005), é
um conjunto de métodos estatísticos que tem o objetivo de definir uma estrutura subjacente à
matriz de dados. A análise fatorial é utilizada para analisar a estrutura de inter-relações
(correlações) entre um grande número de variáveis, reduzindo a um conjunto menor de
dimensões latentes comuns, chamadas fatores.
Para realizar esta análise fatorial foi utilizada a matriz de correlação de Pearson que está
aposta no apêndice 3 deste documento.
Tabela 83: Matriz Fatorial
Variável Fator 1 Fator 2 Fator 3 Fator 4 Fator 5 Fator 6 Fator 7
Q09 0,001448296 0,158834577 0,690474913 0,178308013 -0,04625 0,105232 0,092349
Q10 -0,299890902 0,273867988 0,031793331 0,545688463 -0,02967 0,323214 0,083294
Q11 0,019090028 0,098084424 0,19981525 0,459119281 -0,05228 0,465406 0,017817
Q13 -0,03093288 0,090297767 -0,116574742 0,026497052 -0,00791 -0,2332 0,587347
Q14 0,30134593 -0,123883007 0,329605649 -0,035463757 0,036562 0,570723 -0,18292
Q15 0,086868702 -0,192773849 0,485064877 -0,080078858 0,032869 0,111651 -0,2439
Q16 0,267062127 0,180510117 0,213142779 -0,010272466 0,048344 0,590313 0,083612
Q17 -0,141183058 0,396823432 -0,234358831 0,269291289 -0,10072 -0,12864 -0,13033
Q18 0,141246044 0,704004666 0,072871041 0,065648211 -0,12652 0,012146 0,110457
Q19 0,199095964 0,474485388 0,272031018 0,068930637 -0,09088 -0,09388 0,164336
Q20 0,138657844 0,054222924 0,744591699 -0,020493723 0,119739 0,110354 -0,10888
Q21 -0,047607317 0,402974994 0,033746901 0,104191953 -0,0255 0,186804 0,53789
Q22 -0,012125415 0,512108706 0,013476643 0,093791945 0,11846 -0,13016 0,033939
Q23 0,324356794 0,50866168 0,160876829 -0,082636001 0,010947 -0,00691 0,273529
Q24 -0,080649428 0,575042343 -0,113836701 0,114174632 0,085428 0,147539 -0,15247
Q29 0,068740123 0,173562047 0,21431253 0,483646077 0,022435 -0,08722 0,3031
Q31 0,589547057 -0,002950433 0,07790518 0,248817253 0,131143 0,006388 0,091798
Q32 0,207547893 -0,09611431 0,598287592 0,308066698 0,171984 0,014014 0,026334
Q33 0,444562999 0,011050645 0,033059505 0,555927568 0,111624 -0,07651 -0,03499
Q34 0,177749201 0,131965019 0,019390397 0,667302456 0,032501 -0,08853 -0,02022
Q35 0,632771624 0,073159157 0,011344655 0,041063212 0,069553 0,054114 -0,13751
Q36 0,679737137 -0,05664172 0,180489334 0,002325409 0,051491 0,3216 -0,02983
Q37 0,612479162 0,048065302 0,138236001 0,04228095 0,156474 0,195339 0,093531
149
Este fator evidencia que os pesquisados acreditam que atuar com software livre melhora a
empregabilidade em relação ao mercado de trabalho e também que existe uma associação
entre o ganho de empregabilidade e uma melhoria salarial futura. Ou seja, fica evidente que
para os pesquisados atuar com software livre tem uma conotação financeira indireta por
intermédio de melhores salários futuros.
150
Tanto os escores médios apresentados pelas questões acima (já discutidos anteriormente)
quanto o resultado da análise fatorial mostram que o desenvolvimento de software livre já não
é mais um movimento ideológico, composto por pessoas que disponibilizam seu tempo para
desenvolver soluções tecnológicas baseadas na plataforma livre por simples voluntariado.
Ao verificar o resultado das médias dos escores destas questões, somadas ao resultado da
análise fatorial, percebe-se que ao mesmo tempo em que os pesquisados responderam que é
151
Neste sentido, esta análise, mostra uma relação entre o exposto anteriormente e a geração de
oportunidades de ganhos financeiros com o surgimento de demandas periféricas em relação
aos sistemas adotados pelas empresas e pelo governo.
Este fator mostra que os pesquisados percebem que a continuidade de uma comunidade de
software livre depende do crescimento do número de usuário dos sistemas produzidos por ela,
tanto quanto dos colaboradores atuantes na comunidade. O que explica a maior correlação
destas questões com as questões que mensuravam a dependência da continuidade de uma
comunidade de desenvolvimento de software livre, com a adoção pelo mercado dos projetos
desenvolvidos por ela e ainda a necessidade de se entender o cenário de negócios em que a
comunidade está inserida.
Este resultado mostra uma correlação negativa entre atuar com software livre por passatempo
e as demais questões.
Na medida em que os pesquisados aceitam que software livre pode ser considerado um
negócio (ver escore médio), suas motivações para atuar com software livre são maiores pela
visão de negócios e expectativa de retorno financeiro e menos por passatempo.
6.3.1 Resumo dos resultados da análise descritiva dos dados e da análise fatorial
A seguir apresenta-se uma síntese dos resultados gerais da pesquisa, os mesmos estão
organizados em função das proposições estabelecidas para o presente estudo.
154
155
Neste capítulo são apresentados de maneira resumida os destaques das análises da presente
pesquisa.
- Para os pesquisados trabalhar com software livre tem uma conotação financeira indireta,
pois acreditam que atuar com software livre melhora a empregabilidade em relação ao
mercado de trabalho e também os resultados apontaram para uma correlação entre melhor
empregabilidade e melhoria salarial futura;
- Percebe-se uma tendência de profissionalização dos desenvolvedores que atuam com
Software livre no Brasil;
- Para os pesquisados quase todo o conhecimento adquirido junto às comunidades de
software livre é usado na vida profissional;
- Quanto menor o nível de escolaridade é maior a motivação financeira em se trabalhar
com software livre e mais os pesquisados concordam que trabalhar com software livre
possibilita melhores oportunidades de trabalho no futuro;
- Para todas as opções de tipos de contato com software livre foi alto o nível de
concordância que a expectativa de retorno financeiro é um fator motivador em atuar com
software livre;
- Dos papéis desempenhados dentro das comunidades, os que mais se motivam a atuar
com software livre pela expectativa de retorno financeiro, são os líderes de projeto e os
usuários. Já os reparadores de erros foram os que apresentaram a menor concordância em
atuar com software livre com objetivo de retorno financeiro;
- Os pesquisados que possuem entre um e seis anos de atuação com software livre, são os
que mais se motivam a atuar com software livre pela expectativa de retorno financeiro.
Para a proposição 2 destaca-se, em resumo, que existe nos pesquisados uma expectativa de
ganho pecuniário ao atuar com software livre, porém essa expectativa é indireta por
intermédio da melhoria da empregabilidade. O aumento da empregabilidade representa
melhores oportunidades de trabalhos e empregos no futuro e isso é interpretado, pelos
pesquisados, como um retorno financeiro da atuação com software livre. Os pesquisados que
mais se motivam pela expectativa de retorno financeiro, são aqueles que atuam mais
recentemente com software livre.
158
juntamente como os pesquisados que atuam ha menos tempo com software livre, são os que
mais concordam que as necessidades de mercado exercem influência no surgimento de novos
projetos e comunidades de desenvolvimento de software livre.
negócios, gestores de TI e empresários, são os que menos atuam com software livre por
passatempo;
- Dos papéis desempenhados dentro das comunidades, o que mais atua com software livre
por diversão é o colaborador periférico. Por outro lado o líder de projeto é o que menos atua
com software livre por diversão.
8 CONCLUSÃO
financeira associada ao trabalho com software livre, mas de forma indireta. Busca-se, por
intermédio do trabalho com software livre, uma melhoria na empregabilidade perante o
mercado de trabalho e isto, na percepção dos pesquisados, possibilitará auferir lucros futuros
com melhores empregos e salários. Outra evidência é que existe uma expectativa dos
pesquisados com o surgimento de oportunidades de negócios periféricas aos grandes
consumidores e compradores de Tecnologia da Informação baseada em plataforma livre. Por
fim, percebeu-se que a motivação em atuar com software livre por expectativa de um
benefício financeiro tem uma relação inversa ao aumento do nível de escolaridade.
Outro objetivo dessa pesquisa foi verificar a influência da adoção de software livre pela esfera
governamental no modelo de desenvolvimento de software livre no Brasil. O que os
resultados apresentaram foi que, confirmando a literatura, o governo mostrou-se um grande
consumidor e que pode criar e influenciar o mercado de software livre. Seja pela adoção de
plataformas de sistemas livres ou pela possibilidade de criação de demandas por serviços
periféricas aos sistemas centrais. Mas ao mesmo tempo em que os pesquisados acreditam que
o governo tem um papel importante no fomento e crescimento do desenvolvimeto de software
livre visto como negócio, não acreditam que as diretrizes governamentais para fomento do
desenvolvimento e uso de software livre no Brasil estejam surtindo efeito.
- A amostra utilizada para a presente pesquisa eventualmente não reflete a real população
de envolvidos com software livre do Brasil.
- Em função da natureza exploratória da pesquisa nenhum modelo teórico foi adotado.
- A caracterização dos indivíduos pesquisados poderia ter sido mais aprofundada em
termos de sua relação com software livre.
- A extensão do questionário.
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175
GLOSSÁRIO
APACHE: É um servidor Web, desenvolvido por uma equipe de voluntários (conhecida como
Apache Group) e com código fonte disponível gratuitamente via Internet.
GNU WINGNUT: Projeto padrão GNU desenvolvido por uma empresa japonesa.
LINUX: É um sistema operacional para o padrão de computadores IBM-PC, que foi criado a
partir de outro sistema operacional para Mainframe denominado Unix. Foi desenvolvido por
centenas de programadores espalhados pelo mundo.
LINUX BRASIL: É um site na Internet criado em 1996 da comunidade Linux brasileira. Traz
notícias sobre temas que interessam e permite a livre discussão entre seus participantes
(http://br-linux.org/).
PROJETO SOFTWARE LIVRE: É uma iniciativa não governamental que reune instituições
públicas e privadas do Brasil com objetivo de promover o uso e o desenvolvimento de
software livre (www.softwarelivre.org/).
UBUNTU: Ubuntu é uma distribuição do Linux feita com o objetivo de ser amigável ao
usuário (www.ubuntu.com).
VIVA O LINUX: É um site na Internet que traz notícias sobre temas relacionados a software
livre, principalmente o sistema operacional Linux, com livre discussão entre seus
participantes (www.vivaolinux.com.br).
APÊNDICES
Q_6. Nas comunidades de desenvolvimento de Software Livre das quais você é membro sua atuação é como:
0 = Líder do Projeto
1 = Membros de Núcleo
2 = Colaborador Ativo
3 = Colaborador Periférico (esporádico)
4 = Reparador de Erros
5 = Repórter de Erro (testador)
6 = Leitor (revisor)
7 = Usuário
8 = Outra:
Q_14. Em que medida a sua participação nas comunidades de Software Livre é motivada pelo pensamento
ideológico em contraposição ao pensamento focado em oportunidades de negócios?
5 4 3 2 1
igualmente
exclusivamente de predominantemente de predominantemente exclusivamente
ideológico e de
negócios negócios ideológico ideológico
negócios
Q_15. Você acredita que o modelo de desenvolvimento de Software Livre baseado na ideologia dos seus
participantes tende futuramente a:
5 4 3 2 1
desaparecer por manter-se como é crescer ainda
reduzir-se muito reduzir-se um pouco
completo atualmente mais
Q_24. Do conhecimento que adquiro junto às comunidades de Software Livre eu utilizo profissionalmente:
5 4 3 2 1
Tudo Muito Pouco Quase Nada Nada
Q_25. Atribua uma nota aos fatores abaixo, por grau de importância em sua motivação ao participar de
comunidades de desenvolvimento de Software Livre. (0 = menos importante; 10 = mais importante)
Q_27. Esta empresa é uma softwarehouse, isto é, o negócio da empresa é desenvolver soluções de TI?
1 = Sim 0 = Não
Q_28. Qual destes benefícios, não financeiros, que lhe motivam a atuar com Software Livre.
0 =Aprendizado
1 =Status (efeito vitrine)
2 =Projeção profissional
3 =Passatempo (Hobby)
4 =Contato com novas Tecnologias
5 =Interação
6 =Competição
7 =Troca de conhecimento
8 =Destaque na comunidade
9 =Outros:(Especifique)
Q_30. Enumere as diretrizes governamentais abaixo, por ordem de importância da influência de cada uma para o
surgimento de novas comunidades de desenvolvimento de Software Livre. (1 = menos importante; 6 = mais
importante).
Q_30_1Capacitar servidores publicos no uso de software livre. = 1
Q_30_2 Ampliar a malha de serviços prestados ao cidadão através de software livre. = 2
Q_30_3Utilizar o software livre como base dos programas de inclusão digital. = 3
Q_30_4 Priorizar a aquisição de hardware compatível com as plataformas livres. = 4
Q_30_5 Garantir a livre distribuição de sistemas baseados em Software Livre de forma colaborativa e voluntária.
181
=5
Q_30_6 Promover as condições para a mudança da cultura organizacional para adoção de software livre. = 6
Q_45. Você compartilha os códigos desenvolvidos por você, com as comunidades de software livre?
5 4 3 2 1
sempre freqüentemente às vezes raramente nunca
Q_47. Você atua com Software Livre em:
0 =Produto pacote.
1 =Componente(embarcado).
2 =Produto customizável.
3 =Serviços de alto valor.
4 =Serviços de baixo valor.
5 =Outros.
0 =Empresa privada.
1 =Empresa própria.
2 =Empresa pública.
3 =Administração pública federal.
4 =Administração pública estadual.
5 =Administração pública municipal.
6 =Não trabalho.
7 =Universidade pública.
8 =Universidade privada.
9 =Outros.
Q_49. Os projetos de software livre em que você atua são financiados por:
Q_51. Quantas horas por semana você se dedica ao trabalho com software livre?
0 = Não trabalho com software livre.
183
0 =Comércio.
1 =Comunicação e Informação.
2 =Financeiro.
3 =Saúde.
4 =Governo.
5 =Serviços.
6 =Cultura e Entretenimento.
7 =Transporte, logística e armazenamento.
8 =Educação.
9 =Outros setores.
Q_53. O percentual de dedicação de seu tempo no desenvolvimento de sistemas de software livre em relação ao
desenvolvimento de software proprietário é:
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Q_54. O percentual da sua remuneração financeira mensal resultante de trabalho relacionado a software livre
corresponde a:
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
184
1. O estudo piloto evidenciou que as respostas de preencher tipo "outros: ___" é assinalada,
porém não é preenchida, em nenhum caso apresentado no questionário foi preenchida.
4. Na Questão 13 fica clara a tendência dos respondentes em assinalar a opção "Ambos" o que
evidencia uma necessidade de reformulação da questão ou a retirada da mesma do
questionário. Pois pouca contribuição ela trás a pesquisa a não ser uma evidência de que o
modelo de desenvolvimento atual não é nem ideológico nem de negócios, ou seja,
possivelmente é um modelo de transição.
10. A Questão 30 tanto quanto a Questão 13, mostrou pouca contribuição ao estudo, pelo
padrão das respostas. Propôs-se a retirada da mesma do questionário.
11. As questões 32, 33 e 34, apresentaram um resultado muito obvio, com TODAS as respostas
iguais, ou seja, além de pouco contribuir com o estudo pelo padrão de respostas as respostas
confirmam o esperado (obvio). Propôs-se retirá-las do questionário final.
12. Igualmente à Questão 27, a Questão 35 não trouxe o resultado esperado, as respostas
deveriam ser enumeradas em ordem crescente de importância, o que ocorreu é que os
respondentes utilizaram o intervalo de 1 a 6 como uma escala de importância repetindo a
numeração pela importância dada ao item da pergunta. O texto enunciado deve ser alterado e
feito uma consistência na questão para que os respondentes respondam utilizando uma ordem
crescente de importância e não como uma escala de importância.
também pelo padrão central as respostas. A questão deve ser reformulada ou até retirada da
pesquisa pois, mostrou-se pouca contribuição de análise.
15. A Questão 47 mostrou-se com pouca contribuição de análise, as respostas são centrais, com
uma tendência para a concordância, o que também pode ser encarado como um resultado
obvio que pode ser tirado com base no resultado das questões Questão 44 e Questão 45.
16. Igualmente à Questão 27 e Questão 35, a Questão 48 não trouxe o resultado esperado, as
respostas deveriam ser enumeradas em ordem crescente de importância, o que ocorreu é que
os respondentes utilizaram o intervalo de 1 a 7 como uma escala de importância repetindo a
numeração pela importância dada ao item da pergunta. O texto enunciado deve ser alterado e
feito uma consistência na questão para que os respondentes respondam utilizando uma ordem
crescente de importância e não como uma escala de importância.
17. A Questão 50 mostrou um padrão nas respostas, evidenciando que para os entrevistados
existe diferença entre softwarelivre e código aberto. A questão pode ser mantida embora o
resultado esperado pareça obvio.
18. A Questão 53 mostra uma aparente contradição com as respostas da Questão 50, nesta 88%
dos respondentes afirmam que Softwarelivre é diferente de software de código aberto, já na
Questão 53 os respondentes ou se posicionam como participantes de "ambas" ou das
comunidades de Software Livre, nenhum se coloca como somente participante de
comunidades de código aberto.
Variá Q09 Q10 Q11 Q13 Q14 Q15 Q16 Q17 Q18 Q19 Q20 Q21 Q22 Q23 Q24 Q29 Q31 Q32 Q33 Q34 Q35 Q36 Q37 Q38 Q39 Q40 Q41 Q43 Q44 Q45
vel
Q09 1,000 0,188 0,233 -0,027 0,211 0,115 0,179 -0,048 0,152 0,227 0,394 0,132 0,040 0,164 0,085 0,224 0,112 0,347 0,125 0,119 0,093 0,191 0,146 0,106 0,031 0,102 -0,002 -0,038 0,025 -0,054
Q10 0,188 1,000 0,323 0,019 -0,027 -0,089 0,130 0,169 0,216 0,154 0,002 0,217 0,169 0,047 0,184 0,179 0,020 0,073 0,107 0,207 -0,079 -0,042 -0,049 -0,108 -0,009 0,043 -0,007 0,055 0,000 0,201
Q11 0,233 0,323 1,000 -0,023 0,245 0,098 0,226 0,027 0,115 0,157 0,176 0,104 0,053 0,094 0,085 0,199 0,113 0,188 0,159 0,170 0,107 0,176 0,211 0,053 0,024 0,175 0,012 -0,045 0,000 0,030
Q13 -0,027 0,019 -0,023 1,000 -0,232 -0,120 -0,058 0,070 0,095 0,040 -0,139 0,210 0,133 0,077 0,012 0,063 -0,021 -0,073 -0,011 0,061 -0,072 -0,084 -0,018 -0,055 -0,046 -0,055 0,083 0,124 -0,049 0,090
Q14 0,211 -0,027 0,245 -0,232 1,000 0,284 0,405 -0,218 -0,028 0,002 0,331 -0,066 -0,093 0,055 -0,004 -0,015 0,189 0,231 0,146 0,032 0,184 0,376 0,255 0,286 0,094 0,215 0,035 -0,239 -0,028 -0,260
Q15 0,115 -0,089 0,098 -0,120 0,284 1,000 0,147 -0,164 -0,089 -0,054 0,297 -0,133 -0,090 0,011 -0,134 -0,050 0,033 0,230 0,049 0,018 0,100 0,184 0,128 0,133 0,053 0,115 -0,033 -0,098 0,008 -0,141
Q16 0,179 0,130 0,226 -0,058 0,405 0,147 1,000 -0,055 0,148 0,110 0,254 0,164 0,042 0,186 0,046 0,100 0,161 0,204 0,116 0,083 0,182 0,362 0,252 0,240 0,090 0,208 0,094 -0,130 -0,042 -0,058
Q17 -0,048 0,169 0,027 0,070 -0,218 -0,164 -0,055 1,000 0,206 0,076 -0,103 0,109 0,160 0,049 0,168 0,118 -0,039 -0,117 0,011 0,119 -0,082 -0,186 -0,098 -0,213 -0,086 -0,076 -0,020 0,125 0,082 0,245
Q18 0,152 0,216 0,115 0,095 -0,028 -0,089 0,148 0,206 1,000 0,375 0,037 0,303 0,246 0,353 0,278 0,182 0,090 0,033 0,109 0,189 0,077 0,019 0,043 -0,083 -0,024 0,033 0,056 0,077 0,060 0,180
Q19 0,227 0,154 0,157 0,040 0,002 -0,054 0,110 0,076 0,375 1,000 0,145 0,152 0,144 0,252 0,140 0,222 0,134 0,083 0,130 0,130 0,070 0,088 0,162 0,022 0,010 0,065 0,068 0,084 -0,015 0,072
Q20 0,394 0,002 0,176 -0,139 0,331 0,297 0,254 -0,103 0,037 0,145 1,000 0,027 0,029 0,140 -0,012 0,078 0,147 0,402 0,141 0,055 0,153 0,277 0,220 0,235 0,115 0,204 0,033 -0,069 -0,013 -0,121
Q21 0,132 0,217 0,104 0,210 -0,066 -0,133 0,164 0,109 0,303 0,152 0,027 1,000 0,155 0,238 0,164 0,227 0,053 0,077 0,045 0,126 0,013 -0,003 0,065 -0,029 -0,007 -0,012 0,088 -0,008 -0,048 0,192
Q22 0,040 0,169 0,053 0,133 -0,093 -0,090 0,042 0,160 0,246 0,144 0,029 0,155 1,000 0,210 0,188 0,111 0,044 0,043 0,128 0,099 0,007 -0,055 0,033 -0,087 0,044 -0,006 0,089 0,076 0,020 0,224
Q23 0,164 0,047 0,094 0,077 0,055 0,011 0,186 0,049 0,353 0,252 0,140 0,238 0,210 1,000 0,141 0,180 0,194 0,055 0,144 0,166 0,110 0,156 0,182 0,065 0,070 0,085 0,127 0,019 -0,081 0,086
Q24 0,085 0,184 0,085 0,012 -0,004 -0,134 0,046 0,168 0,278 0,140 -0,012 0,164 0,188 0,141 1,000 0,113 0,021 -0,034 0,051 0,143 0,011 -0,083 0,035 -0,069 0,050 -0,024 0,035 0,027 0,035 0,276
Q29 0,224 0,179 0,199 0,063 -0,015 -0,050 0,100 0,118 0,182 0,222 0,078 0,227 0,111 0,180 0,113 1,000 0,172 0,209 0,162 0,277 0,074 0,045 0,121 0,031 0,049 0,066 0,102 0,052 -0,033 0,060
Q31 0,112 0,020 0,113 -0,021 0,189 0,033 0,161 -0,039 0,090 0,134 0,147 0,053 0,044 0,194 0,021 0,172 1,000 0,321 0,314 0,116 0,231 0,338 0,315 0,325 0,112 0,277 0,101 -0,077 -0,063 -0,105
Q32 0,347 0,073 0,188 -0,073 0,231 0,230 0,204 -0,117 0,033 0,083 0,402 0,077 0,043 0,055 -0,034 0,209 0,321 1,000 0,244 0,165 0,177 0,260 0,264 0,250 0,135 0,212 0,077 -0,090 -0,018 -0,110
Q33 0,125 0,107 0,159 -0,011 0,146 0,049 0,116 0,011 0,109 0,130 0,141 0,045 0,128 0,144 0,051 0,162 0,314 0,244 1,000 0,370 0,210 0,223 0,237 0,153 0,101 0,188 0,137 -0,031 -0,066 -0,030
Q34 0,119 0,207 0,170 0,061 0,032 0,018 0,083 0,119 0,189 0,130 0,055 0,126 0,099 0,166 0,143 0,277 0,116 0,165 0,370 1,000 0,121 0,094 0,076 -0,012 0,091 0,124 0,060 0,038 0,015 0,051
Q35 0,093 -0,079 0,107 -0,072 0,184 0,100 0,182 -0,082 0,077 0,070 0,153 0,013 0,007 0,110 0,011 0,074 0,231 0,177 0,210 0,121 1,000 0,405 0,300 0,269 0,105 0,180 0,117 -0,047 -0,018 -0,053
Q36 0,191 -0,042 0,176 -0,084 0,376 0,184 0,362 -0,186 0,019 0,088 0,277 -0,003 -0,055 0,156 -0,083 0,045 0,338 0,260 0,223 0,094 0,405 1,000 0,472 0,365 0,122 0,289 0,092 -0,181 -0,014 -0,196
Q37 0,146 -0,049 0,211 -0,018 0,255 0,128 0,252 -0,098 0,043 0,162 0,220 0,065 0,033 0,182 0,035 0,121 0,315 0,264 0,237 0,076 0,300 0,472 1,000 0,368 0,145 0,269 0,149 -0,100 -0,085 -0,104
Q38 0,106 -0,108 0,053 -0,055 0,286 0,133 0,240 -0,213 -0,083 0,022 0,235 -0,029 -0,087 0,065 -0,069 0,031 0,325 0,250 0,153 -0,012 0,269 0,365 0,368 1,000 0,384 0,337 0,213 -0,161 -0,079 -0,179
Q39 0,031 -0,009 0,024 -0,046 0,094 0,053 0,090 -0,086 -0,024 0,010 0,115 -0,007 0,044 0,070 0,050 0,049 0,112 0,135 0,101 0,091 0,105 0,122 0,145 0,384 1,000 0,294 0,322 -0,059 -0,078 -0,007
Q40 0,102 0,043 0,175 -0,055 0,215 0,115 0,208 -0,076 0,033 0,065 0,204 -0,012 -0,006 0,085 -0,024 0,066 0,277 0,212 0,188 0,124 0,180 0,289 0,269 0,337 0,294 1,000 0,200 -0,138 -0,038 -0,044
Q41 -0,002 -0,007 0,012 0,083 0,035 -0,033 0,094 -0,020 0,056 0,068 0,033 0,088 0,089 0,127 0,035 0,102 0,101 0,077 0,137 0,060 0,117 0,092 0,149 0,213 0,322 0,200 1,000 -0,026 -0,079 0,061
Q43 -0,038 0,055 -0,045 0,124 -0,239 -0,098 -0,130 0,125 0,077 0,084 -0,069 -0,008 0,076 0,019 0,027 0,052 -0,077 -0,090 -0,031 0,038 -0,047 -0,181 -0,100 -0,161 -0,059 -0,138 -0,026 1,000 0,057 0,101
Q44 0,025 0,000 0,000 -0,049 -0,028 0,008 -0,042 0,082 0,060 -0,015 -0,013 -0,048 0,020 -0,081 0,035 -0,033 -0,063 -0,018 -0,066 0,015 -0,018 -0,014 -0,085 -0,079 -0,078 -0,038 -0,079 0,057 1,000 0,047
Q45 -0,054 0,201 0,030 0,090 -0,260 -0,141 -0,058 0,245 0,180 0,072 -0,121 0,192 0,224 0,086 0,276 0,060 -0,105 -0,110 -0,030 0,051 -0,053 -0,196 -0,104 -0,179 -0,007 -0,044 0,061 0,101 0,047 1,000