Ciclo 3

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Victor Henrique Fróis da Silva – 8132762

Claretiano – Centro Universitário

PORTFÓLIO – CICLO 3

Trabalho requerido pela disciplina de


Filosofia da Religião e Teodiceia do
curso de Filosofia, modalidade EAD,
do Centro Universitário Claretiano.

Prof. Me. André Costa Santos

Foz do Iguaçu
2021
Victor Henrique Fróis da Silva
RA: 8132762
Disciplina: Antropologia Filosófica
Prof. Tutor: André Costa Santos
Curso de Filosofia
Centro Universitário Claretiano – Polo de Foz do Iguaçu.

1) Como a Teologia lidou com a Filosofia sobre a “morte de Deus”, de


Nietzsche?
A afirmação de Nietzsche “Deus está morto”, pode soar como um grande problema
filosófico-teológico. No entanto, quando contextualizada perde grande parte de sua força
problemática, pois não é composta de argumentações filosóficas, lógicas e racionais sobre a
não existência de Deus, mas uma manifestação do desejo do filósofo alemão de que Deus não
exista. A teologia lidou com esta filosofia, sobretudo, contextualizando-a.
Faz-se necessário esclarecer qual é a filosofia nietzschiana sobre o tema. Nietzsche
deve ser considerado mais um antiteísta que um ateu, pois em suas reflexões se salienta mais
o combate a Deus e a “necessidade” de sua morte, do que afirma sua não existência. Mas, por
que alguém declararia guerra contra Deus? Penso que o filósofo prussiano travou esta guerra
por dois motivos: a princípio por haver recebido uma educação luterana puritana, rigorista e
pessimista em relação a Deus, formando uma imagem de um Deus controlador e inexorável,
ao mesmo tempo que deseja um povo servil e débil; em seguida, pelo desejo de viver entregue
às paixões carnais Consequentemente, surge a necessidade de combater o “ditador” das leis
que reprova sua conduta, pois, para Nietzsche, seguidor do espírito dionisíaco, o bem e a
justiça são valores que não existem, não são reais, mas fictícios e impedem o homem de viver
a realidade. Sem embargo, o deus que este pensador combate é um deus rigorista, com
inúmeros preceitos opressores e arbitrários. Me vejo no direito de considerar que este deus
que Nietzsche dizia ser o Deus dos cristãos está muito longe de ser Aquele que diz que seu
jugo é suave e seu fardo é leve (Cf. Mt. 11,30), mas sim o deus dos donatista, dos jansenistas,
dos montanistas, entre outros.
São nas obras “A Gaia Ciência” e “Assim Falou Zaratustra”, que Nietzsche mais
desenvolve suas reflexões sobre a necessidade de que Deus esteja morto, e se não estiver, que
é preciso matá-Lo, a fim de que cada pessoa possa viver sob seus instintos mais animalescos,
sem que tenha Alguém o reprovando, pois segundo o autor, a consciência que nos reprova não
é inata, mas uma construção cultural. Contudo, os argumentos são racionalmente fracos,
sendo motivados muito mais pelas paixões do que pela razão, e o próprio autor o reconhece ao
dizer que são os gostos que decidem contra Deus, e não os argumentos. No capítulo “Nas
Ilhas Bem-Aventuradas” do livro “Assim Falou Zaratustra”, o autor demonstra claramente
suas motivações de combater a Deus: “... se existissem deuses como poderia eu suportar não
ser um deus?! Por conseguinte, não há deuses.” Isto é uma falácia, não um argumento, ora, se
eu dissesse “se existissem reis, como suportaria eu não ser um rei?! Portanto não há reis.” Tal
argumento seria motivo de escárnio, por causa da facilidade de demonstrar a existência
daqueles, e de eu não ser soberano. Porém, como a existência de Deus não se demonstra a
priori, esta falácia é tomada como argumento por sua conveniência. Mas, para quem convém
a morte de Deus? E, por que a ideia de Nietzsche foi tão difundida e aceita? A morte de Deus
é conveniente para o Super-Homem, aquele que deseja estar além do bem e do mal, pois
desde Adão e Eva, este desejo está impresso nas entranhas de todos os seus descendentes.
Consequentemente, não se fez difícil encontrar adeptos ao pensamento nietzschiano, não,
porém, pela argumentação, mas pelo desejo irracional e visceral, uma clara ilustração da
tentação do Éden e da rebelião de Lúcifer: “Vós sereis como deuses, que conhecem o bem e o
mal”

2) O que você pensa sobre o ateísmo moderno?


O ateísmo moderno não é simplesmente uma negação de Deus, mas uma resposta a
existência do homem, ou seja, tem muito mais a ver com o homem do que com Deus, com
isso, diferencia-se das formas de ateísmo anterior, seria uma transferência de transcendência.
A negação de Deus ou de alguma deidade, que é o constitutivo do ateísmo formal, não
é uma novidade do modernismo, mas a forma massiva com que tem se propagado na
sociedade ocidental após a renascença e, sobretudo com a filosofia iluminista, além de suas
motivações são bem originais em relação com as formas de negação de Deus em tempos
posteriores. Por causa disto, poderíamos considerar este ateísmo uma falta de fé, ou um ato de
fé? Mas, o que seria a fé?
Penso que o ateísmo moderno não é uma falta de fé, mas um ato de fé, uma
transferência de credo. O que seria, então a fé? Fé é crer naquilo que não se pode comprovar
de maneira simples e imediata, pois não pode ser considerado um ato de fé quando o objeto
em questão é evidente. Esta palavra nos soa como um ato puramente religioso, no entanto,
existe a fé humana ou natural, e a fé sobrenatural. No tocante a fé natural, estamos praticando-
a constantemente: crer no diagnóstico do médico, crer nas existências microscópicas, no
movimento dos astros... ninguém pode, por experiência própria, comprovar tudo antes de
aderir a tal teoria, consequentemente necessitamos crer no testemunho de outrem. A fé
sobrenatural, relaciona-se às realidades metafísicas, isto é, a Deus ou outras realidades
imateriais, é dar crédito àqueles que afirmam conhecer ou haver experimentado realidades que
ultrapassam a esfera humana em sua amplitude. Alguns creem que Jesus é Deus, outros que
Maomé recebeu uma mensagem do Arcanjo Gabriel, ainda terceiros consideram que o
conjunto cósmico é o que forma um deus, etc. São crenças, pois não se pode verificá-las de
maneira sensível.
O período em questão está marcado por uma substituição de fé no Deus dos cristãos, a
qual havia predominado na Idade Média ocidental, pela fé no homem e nos conhecimentos
das ciências positivas. No entanto, de modo mais específico, os sujeitos que afirmam
abertamente não crer em Deus, geralmente é um grito de “Eu não quero que Deus exista!”, em
outras palavras, professam uma fé, na escolha de crer que Deus é uma ilusão que deve ser
combatida, por causa de uma ideia errônea do mesmo, ou por causa de um relativismo moral,
no qual baixo a luz de um ser perfeito se demonstra as minhas imperfeições, ainda que
indiretamente. Neste caso, a decisão de não crer em Deus precede o ateísmo em si, seria o
equivalente a dizer: “Decido não acreditar em Deus, ainda que racionalmente me inclinasse ao
contrário.” Os argumentos contra Deus são posteriores, ainda que sejam claramente passionais
e não racionais, como admite o próprio Nietzsche.

3) A razão é capaz de dar sentido pleno à vida humana?


A existência humana transpassa a realidade física e as explicações puramente
racionais. Todos nós, certamente, já nos questionamos se a vida é apenas o que
experimentamos pelos sentidos e que se consome totalmente com a morte física. Mas, por que
esta sede de eternidade em seres finitos? Penso que seja um índice da perpetuidade da alma
humana.
Ao tentar “matar Deus” a fim de construir um Super-Homem, que, guiado unicamente
pelas próprias razões, ditar sua moralidade, sobra somente a loucura, a frustrante desesperação
e, por fim, as superstições. Se as teorias de Nietzsche fossem verdadeiras, talvez hoje
estivéssemos nos tempos de pessoas mais felizes e realizadas da história, pois a “liberdade”
moral e/ou sexual é muito maior que um sua época. Mas o vazio existencial é enorme,
principalmente entre os jovens que não veem saciada sua ânsia realização como ser humano,
na complacência dos instintos. Ao contrário, a frustação existencial manifesta-se nos
crescentes índices de suicídios entre os jovens, principalmente em meio daqueles que não
creem numa existência suprassensível. No entanto, quem tem fé, ainda que haja uma grande
frustração de planos, não cai no vazio. Por exemplo o jovem trapista espanhol do século
passado, São Rafael Arnáiz, que reconheceu o desapontamento por não ver realizados seus
planos ao entrar na Trapa, pois, nem mesmo monge, no sentido canônico da palavra, pode ser,
mas não se considerava um frustrado existencial, o mesmo declarava em seus escritos
pessoais ser feliz em seu “nada”, porque possuía a Deus e nada mais.
Além do mais, quanto mais se cresce um ateísmo formal em nossa sociedade, mais se
busca respostas existenciais em doutrinas supersticiosas, que contradizem a própria razão,
como o horóscopo e outras práticas exotéricas. Isto nos demonstra a necessidade humana das
realidades transcendentes. Ao tentar eliminar Deus, necessariamente se “constrói” outros
deuses, os quais, por causa da inconsistência de seus criadores, somente reservam novas
frustrações aos mesmos.
Creio que Deus é, de fato, o Ser Necessário e infinito, o qual não pode ser limitado a
razão humana, mas tampouco a contradiz, e a contingência humana não pode subsistir sem
Ele. E esta tentativa é frustrante existencialmente.

REFERÊNCIAS

BASTOS, Jairo da Mota. Filosofia da religião. Batatais: Claretiano, 2013.


BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 1981.
CHAVES, Francisco Cerro. Silencio en los labios, cantares en el corazón: Vida y
espiritualidad del Hermano Rafael. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 2000.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. A gaia ciência. Trad. Jean Melville. São Paulo: Martin
Claret, 2005.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Assim falou Zaratustra. Trad. Alex Marins. São Paulo:
Martin Claret, 2005.
REZEK, Romano. Deus ou nada. São Paulo: Paulinas, 1975.

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