O Praticar e Compreender em Alternância: Desafios Às Casas Familiares Rurais No Cenário Da Liquidez
O Praticar e Compreender em Alternância: Desafios Às Casas Familiares Rurais No Cenário Da Liquidez
O Praticar e Compreender em Alternância: Desafios Às Casas Familiares Rurais No Cenário Da Liquidez
C232p
Livro em PDF
ISBN 978-65-5939-441-8
DOI 10.31560/pimentacultural/2023.94418
CDD: 370
PIMENTA CULTURAL
São Paulo . SP
Telefone: +55 (11) 96766 2200
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www.pimentacultural.com 2 0 2 3
CONSELHO EDITORIAL CIENTÍFICO
Doutores e Doutoras
Prefácio........................................................................................... 10
Roberto Rafael Dias da Silva
Introdução....................................................................................... 13
Capítulo 1
Caracterização da pedagogia
da alternância, seu percurso histórico
e pressupostos teóricos e metodológicos.................................... 21
Contexto de origem e caracterização
da pedagogia da alternância............................................................... 22
Pressupostos teórico-metodológicos
da pedagogia da alternância............................................................... 33
Instrumentos e atividades de pesquisa......................................................49
Instrumentos e atividades de comunicação/relação..................................50
Instrumentos didáticos................................................................................51
Instrumentos de avaliação..........................................................................53
Capítulo 2
Apresentação e discussão
dos resultados ............................................................................... 76
Aproximações com a realidade
empírica................................................................................................ 82
A sociedade na perspectiva
dos entrevistados ................................................................................ 88
O perfil de jovem das CFRs
brasileiras e francesas....................................................................... 100
A prática da pedagogia da alternância
como elemento central da formação
nas CFRs brasileiras e francesas...................................................... 105
A realidade como princípio formador
nas CFRs brasileiras e francesas.............................................................113
Desafios postos às CFRs brasileiras
e francesas......................................................................................... 115
A perspectiva de futuro segundo gestores,
diretores e jovens das CFRs brasileiras e francesas........................ 122
Conclusão..................................................................................... 126
10
os grandes conceitos estruturantes da Modernidade ingressaram em
processo de liquefação. Emancipação, individualidade, comunidade,
trabalho, tempo e espaço, por exemplo, são noções que foram meta-
morfoseadas na forma atual da Modernidade.
Hoje, os padrões e configurações não são mais “dados” e me-
nos ainda “autoevidentes”; eles são muitos, chocando-se entre
si e contradizendo-se em seus comandos flutuantes, de tal for-
ma que todos e cada um foi desprovidos de boa parte de seus
poderes de coercitivamente compelir e restringir. E eles muda-
ram de natureza e foram reclassificados de acordo: como itens
no inventário das tarefas individuais (BAUMAN, 2001, p. 14).
11
calor aconchegante de pertencer a uma comunidade de sentido
(BRAYNER, 2014, p. 562).
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro/RJ:
sumário Editora Zahar, 2001.
BRAYNER, Flávio. O clichê: notas para uma derrota do pensamento.
Educação e Realidade, v. 39, n. 2, p. 557-572, 2014.
SILVA, Roberto Rafael Dias da. Entre a compulsão modernizadora e a melan-
colia pedagógica: a escolarização juvenil em tempos de pandemia no Brasil.
Práxis Educativa, v. 15, p. 1-13, 2020.
12
INTRODUÇÃO
13
diferentes formatos e nomenclaturas de acordo com o contexto de
atuação. Nelas é desenvolvida a pedagogia da alternância, formação
que alterna momentos na escola e momentos no meio socioprofissio-
nal e comunidade. O objetivo das CFRs é o desenvolvimento do meio e
a formação integral do jovem. Diante dos diferentes contextos de atua-
ção, transformações ocorreram e o que parece permanecer, descrito
em pesquisas já realizadas, é a alternância de tempos e espaços como
característica instituída desde o princípio. Neste sentido, esta obra se
propõe a pesquisar a seguinte problemática: O praticar e compreender
em alternância responde aos desafios da sociedade líquida?
14
Para colaborar com a pesquisa, a construção do estado do co-
nhecimento2 foi muito importante, ao passo que trouxe à luz teses e
dissertações já elaboradas a partir da temática da pedagogia da alter-
nância. Destacam-se os dois estudos baseados em estados da arte
da pedagogia da alternância já elaborados, o de Teixeira, Bernartt e
Trindade (2008), que fizeram o estado da arte da pedagogia da alter-
nância no período entre 1969 e 2006; e também o estudo de Ferrari e
Ferreira (2016), que complementaram a pesquisa abordando as pro-
duções acadêmicas brasileiras sobre a pedagogia da alternância no
período entre 2007 e 2013.
15
históricos a partir da experiência brasileira e francesa. Sobre a expe-
riência brasileira, Mocelin (2016) apresenta o caso do Paraná e conclui
que o que se mantém da proposta original é a alternância de tempos e
espaços. A iniciativa, tanto brasileira quanto francesa, das CFRs sofreu
modificações, mas ainda conseguem manter sólidos os princípios da
pedagogia da alternância em sua atuação em diferentes contextos.
16
de dados da pesquisa em tela. A caracterização destes contextos se
deu principalmente pelo espaço rural, no qual a agricultura familiar
tem destaque na região.
17
e se aproximar da temática proposta, com vistas a refletir acerca de
questões necessárias ao cenário atual.
18
(1994) concorda que existe ambição na afirmativa de transformar a
sociedade pela prática, porém, entende-se que ao ingressar na dis-
cussão do atual cenário de liquidez e se propor a entender como a
pedagogia da alternância responde aos seus desafios, não é pos-
sível se esquivar das leituras que contradizem o sistema capitalista.
Afirmar a transformação a partir de pequenos círculos em que o pro-
blema desta pesquisa será investigado, de fato é audacioso, mas
existe a possibilidade de provocar a reflexão do cenário, com vistas
a prática educativa em uma interpretação que será conduzida pela
motivação individual.
19
A pesquisa faz a releitura da história de surgimento da peda-
gogia da alternância e busca compreender seus fundamentos teóri-
co-metodológicos no primeiro capítulo, com o objetivo de retomar a
proposta educativa em sua história e pressupostos teórico-metodo-
lógicos. Na sequência, o segundo capítulo tem como objetivo discutir
o cenário de liquidez e os desafios postos à educação. O último capí-
tulo é dedicado a descrever e situar as CFRs, brasileiras e francesas,
junto análise dos dados coletados.
sumário
20
1
Capítulo 1
CARACTERIZAÇÃO DA PEDAGOGIA
DA ALTERNÂNCIA, SEU PERCURSO
HISTÓRICO E PRESSUPOSTOS
TEÓRICOS E METODOLÓGICOS
Caracterização
da pedagogia
da alternância,
seu percurso histórico
e pressupostos teóricos
e metodológicos
O primeiro movimento a ser feito é retornar ao princípio histórico
da pedagogia da alternância, na intenção de conhecer seus elementos
constitutivos, desde a ideia de uma educação diferenciada aos jovens
do campo, como retrata a literatura, até a institucionalização de uma
concepção educativa baseada na alternância de tempos e espaços,
com vistas ao desenvolvimento local e formação integral do jovem. Nes-
te sentido, o capítulo retoma as ideias iniciais na França até a contextua-
lização atual das CFRs no Brasil, com a pretensão de compreender o
movimento histórico e o contexto de origem da proposta em alternância.
CONTEXTO DE ORIGEM
E CARACTERIZAÇÃO
DA PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA
22
proposta educativa diferente. Construída por lideranças comunitárias da
época, a proposta foi se desenhando conforme as expectativas da co-
munidade para uma formação voltada ao meio rural e o desenvolvimen-
to deste espaço. “Foi a ideia de uma escola realmente para o meio rural
e do meio rural; uma escola que rompesse radicalmente com o modelo
urbano, não nascida de um estudo teórico, nem de uma tese pedagó-
gica, nem de um levantamento sociológico” (NOSELLA, 2012, p. 45).
23
formação da sociedade francesa; discutir a organização profissional
e os problemas enfrentados no meio rural; organizar os agricultores
por meio de sindicatos e cooperativas; transformar as mentalidades
através de um processo educativo permanente. Os princípios e objeti-
vos do Movimento Sillon continuaram a partir das ações da Secretaria
Central de Iniciativas Rurais (SCIR), ligada aos Sindicatos da classe
agrícola. Conforme o autor:
[...] Historicamente, a sua criação se dá em torno de 1920. Estas
secretarias acopladas aos sindicatos tinham como finalidades:
cuidar exclusivamente dos processos de formação, da orga-
nização e profissionalização dos agricultores para melhorar a
produção; reconstruir a agricultura e o campo, empoderar os
agricultores para o paulatino protagonismo na direção de suas
próprias organizações cooperativas, sindicais e etc. Acredita-
va-se que o fortalecimento econômico e cultural das classes
camponesas passava pela aquisição de novas tecnologias de
produção agrícola e pela mudança de mentalidades. Outra es-
tratégia da SCIR era investir em uma formação adaptada aos
jovens rurais. Esta estratégia vai desaguar, entre outras ações,
na Maison Familiale Rurale (MFR) (BEGNAMI, 2003, p. 22).
24
profissionais no campo, desempenhou uma forte influência na criação
da primeira MFR e no seu processo de ensino e formação.
25
deveriam, em tese, estudar, mas havia também a necessidade de
ajudar nas tarefas diárias de casa. Sendo assim, a alternância de
tempos e espaços parece ter contribuído para fortalecer o campo e
seus agentes de desenvolvimento, ou seja, as próprias pessoas que
moravam e dependiam dele para sobreviver.
26
Em 1942, no período da Segunda Guerra Mundial, ocorre a cria-
ção da União Nacional das Maisons Familiales Rurales (UNMFR) e o
Centro de Formação de Monitores. As entidades só ganham força com
o fim da guerra, em 1945, consegue-se intensificar uma ação pela unifi-
cação e construção de identidade, atualizada e revitalizada, a partir das
suas origens. Haja vista, alguns problemas que vinham sendo enfren-
tados quando novas escolas eram abertas, cada uma a sua maneira, o
padre já não conseguia atender todas as atividades sozinho e a expan-
são da proposta exigia uma disciplina administrativa (NOSELLA, 2012).
27
- Finalidades: - de um lado, a educação, a formação profissio-
nal e geral associadas e a orientação dos adolescentes e, de
outro lado, a contribuição para o desenvolvimento do meio;
-um contexto de implantação e de ação: o meio rural; -uma
estrutura, ao mesmo tempo jurídica e de participação e res-
ponsabilização das famílias e associação; -um método peda-
gógico: a alternância com suas implicações quanto ao papel
educativo dos pais e mestres de estágio profissionais e suas
técnicas e instrumentos pedagógicos; -uma estrutura educa-
tiva: o internato e o pequeno grupo; -uma equipe educativa
animadora do conjunto (GIMONET, 2007, p. 14).
28
No Brasil, a proposta teve seu início em 1968, no Estado do Es-
pírito Santo, constituindo-se sob a influência da Escola Família Agríco-
la (EFA) italiana, liderada pelo padre jesuíta Humberto Pietrogrande e
pelo Movimento Educacional e Promocional do Espírito Santo (MEPES).
O projeto promocional da EFA tinha como finalidades a melhoria da
produção agrícola e da qualidade de vida no campo, tendo em vista
o abandono da agricultura familiar e a supervalorização das empresas
agrícolas modernas (NOSELLA, 2012).
4 Hoje, Educação de Jovens e Adultos (EJA), conforme a nova LDB, Lei n. 9.394/96
(BEGNAMI, 2003).
29
blico era, na maioria, adolescentes acima de 14 anos de idade, filhos
de agricultores familiares. Mais tarde, são oferecidos também Cursos
de Ensino Médio Profissionalizante em Agropecuária para os egressos
do Ensino Fundamental. A expansão do trabalho das EFA continuou
acontecendo por outros estados brasileiros, iniciando na Bahia.
30
bem aceita e estatizada, contando com assessoria direta de Pierre Gilly
por meio da UNMFRs e no ano de 2000 já eram 37 as CFRs no esta-
do. Os programas de incentivo a abertura de mais Casas continuaram,
novos convênios e parcerias foram buscados para a viabilidade da pro-
posta. Em 1991, ocorreu a fundação da Associação Regional das Casas
Familiares Rurais no Sul do Brasil (ARCAFAR/SUL5), o que envolve os
três estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. A partir de
1995, Pierre Gilly, tendo seu convênio renovado, permanece ainda no
Brasil com a missão de implantar a ARCAFAR/NORTE (ESTEVAM, 2001).
5 Na análise dos dados, a entidade é apresentada por Estado, pois houve uma divisão
na Associação, não compreendendo mais os três estados do sul brasileiro. Atualmente
existe a ARCAFAR RS, ARCAFAR SC e ARCAFAR PR. Essa informação não foi encontrada
na literatura, mas sim, no relato dos entrevistados.
31
Estevam (2001) escreve sobre a história e atuação das CFRs
em Santa Catarina. O autor aponta para três fases: 1ª) processo de
divulgação e implantação das primeiras experiências com apoio do
Centro de Estudos e Promoção de Agricultura de Grupo (CEPAGRO);
2ª) caracterizada pela criação da ARCAFAR, que possibilitou a ex-
pansão e o desenvolvimento do projeto em todo o Estado; 3ª) é mar-
cada pela luta do movimento pela oficialização do processo, pelo
reconhecimento do projeto junto ao Conselho Estadual de Educação
(CEE/SC). Estevam (2001) acrescenta que poderia ser incluído um
quarto momento, a busca pela consolidação.
32
rie de reuniões internacionais aconteceu, tais como Royan/França, em
1969, Brenes/Espanha, em 1971, Verona/Itália, em 1972, Lyon/França,
em 1972, Valladolid/Espanha, em 1973 e Bolonha/Itália, em 1974. A
Associação, com sede em Barcelona, na Espanha, representa as dife-
rentes instituições que promovem uma formação por alternância para
jovens do meio rural. Essas instituições estão localizadas em 40 países
pela África, América, Ásia, Europa e Oceania (AIMFR, 2019).
PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
DA PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA
33
rural francês, em um período de guerras, que influenciava cada vez
mais o êxodo rural. Formar jovens de maneira diferente, na época da
primeira MFR, foi a resposta encontrada para um problema que vinha
sendo recorrente na sociedade francesa.
34
experiências, valoriza a diversidade do campo, tornando suas
práticas pedagógicas mais motivadoras, quando possibilitam
aos seus alunos a oportunidade de serem os sujeitos constru-
tores dos seus próprios conhecimentos partindo da realidade
em que vivem (NAWROSKI, 2010, p. 144).
35
Mocelin (2016), discorre acerca da finalidade, princípios e fun-
damentos teórico-metodológicos da pedagogia da alternância. Ao ci-
tar Gimonet (2007), afirma que existe a primazia pela experiência, que
representa um caminhar entre a vida e a escola. É a saída da experiên-
cia para a busca de um saber mais teórico, que quando consolidado
se volta para a experiência. Esse ciclo estabelece uma dupla relação:
o trabalho e a produção com seus saberes, a vida social, econômi-
ca, cultural e ambiental de um lado e, do outro, o lugar escolar com
suas atividades e saberes. A experiência deve, assim, ser considerada
como um suporte de formação e um reservatório de saberes.
36
A Pedagogia da Alternância se aproxima do Método de Paulo
Freire, porque entende que, se o sujeito continua passivo às im-
posições dos opressores, nada mudará. Ao construir, por meio de
suas experiências e de sua realidade, novos conhecimentos, ele
será capaz de atuar em seu contexto e modificá-lo. Suas capaci-
dades se tornam mais amplas e, consequentemente, aumentam
seu poder de libertação. A educação como uma forma de inves-
tigação e problematização da realidade se torna um instrumento
que leva os “oprimidos” a liberdade (MOCELIN, 2016, p. 49).
37
Figura 1 – Aproximação entre a pedagogia da
alternância e tendências pedagógicas
38
O funcionamento dos CEFFA se baseia na associação e na al-
ternância, considerados meios para alcançar as finalidades, que são
o desenvolvimento do meio e a formação integral. Podem ser associa-
dos à Carta de Identidade, citada anteriormente, quando havia uma
preocupação com a perda do real sentido da pedagogia da alternân-
cia, desenvolvida nas Maisons Familiales Rurales, da França. Entende-
-se que uma proposta diferenciada de educação para e com o campo
chama a atenção de muitos segmentos sociais e que será adaptada
conforme a realidade dos diferentes contextos em que for implantada.
Para tanto, é preciso preservar seus princípios basilares.
sumário
39
O primeiro pilar é a constituição de uma associação local, que
representa uma entidade jurídica, o que lhe confere direitos, poderes e
deveres, conforme o estatuto definir, o que significa o princípio básico
para a manutenção do sistema educacional responsável pelo CEFFA
nos diferentes aspectos: morais, administrativos e financeiros (BEGNA-
MI, 2009). A associação participa de maneira contínua da formação dos
jovens, contribuindo na condução da alternância, nos conteúdos dos
planos de estudo, na relação do Centro com os pais e a comunidade
em geral, além de se preocupar com a profissionalização dos jovens,
visando o desenvolvimento do meio. A associação também auxilia na
organização interna do CEFFA, bem como, na avaliação do mesmo,
envolvendo todas as pessoas que participam do processo de formação.
A associação representa, para os CEFFAs, a estrutura indisso-
ciável da alternância. Ela se torna um meio de implicação na
vida global do CEFFA, através de uma participação em comis-
sões ou grupos de trabalho, manifestações diversas ou, ainda,
em tarefas materiais. A associação ajuda os pais e os mestres
de estágio no aprimoramento de seus papéis educativos e de
formação de seus filhos, dando-lhes a oportunidade de se en-
contrar, de se informar em reuniões. A associação, neste título,
é o corolário da alternância (GIMONET, 2007, p. 85).
40
rio. Para tanto, este pilar é de extrema importância e se constitui como
a base do funcionamento, em termos de aspectos administrativos e
de recursos humanos, de um CEFFA. Na associação as famílias têm
papel fundamental, como os autores explicam:
[...] quem quer que sejam os promotores dos CEFFAs, as famí-
lias formam sempre a maioria nas suas Associações e, também,
nas suas estruturas administrativas, a exemplo da Assembleia
Geral, do Conselho de Administração e da Diretoria Executiva.
Os educadores, chamados de monitores e monitoras, são os
animadores da Associação CEFFA, sem, todavia, assumir as
responsabilidades das famílias, nem substituir estas nas funções
dirigentes (BEGNAMI; HILLESHEIM; BURGHGRAVE, 2011, p. 4).
41
Quadro 1 – Processo educativo a partir da alternância
Formalização-estruturação;
Experiência; Aplicação-ação;
Conceitualização;
Observações, investigações, análise; Experimentação;
(Saberes teóri-
(Saberes experienciais) (Saberes-ações)
cos e formais)
Fonte: Gimonet (2007, p. 30).
42
O itinerário da alternância se apresenta como uma metodolo-
gia que está ao alcance dos jovens, bem como das suas respectivas
famílias, visto que, ambos se constroem juntos, de maneira recíproca
e o resultado disso será o desenvolvimento do meio. O modelo de
formação permite a escolarização dos jovens em conjunto com o de-
senvolvimento das atividades agropecuárias das famílias. O terreno
social e profissional do jovem se transforma em objeto de estudo, em
campo de observação, análise e aplicação, haja vista que sua estadia
no CEFFA é de uma semana e duas na propriedade/comunidade.
43
sejam seguidos e respeitados para que as atividades de rotina aconte-
çam plenamente. Zonta (2014) afirma de modo mais específico, que a
vivência grupal e a construção do Projeto Profissional de Vida do Jovem
(PPVJ) contribuem de forma significativa para a formação integral.
44
O quarto pilar tem por finalidade o desenvolvimento do meio,
tanto social como econômico, tendo em vista sempre a sustentabi-
lidade. A interação entre os atores envolvidos no CEFFA é concreti-
zada dentro de dimensões humanas, econômicas, sociais, culturais
e ambientais, em uma perspectiva global. Sendo assim, a partir da
interação dos sujeitos, quando eles têm interesses individuais em co-
mum, são conduzidas ações de desenvolvimento de competências, de
atitudes e de comportamentos para um bem-estar econômico e social
melhor para todos que vivem nesse meio.
45
Diante da organização dos pilares dos CEFFAs, sendo a peda-
gogia da alternância, a associação “pilares meio”, a formação integral
e o desenvolvimento do meio os “pilares fins”, salienta-se que, na prá-
tica, as atividades acontecem sob orientação de instrumentos pedagó-
gicos que se configuram em ferramentas específicas da proposta. Tais
ferramentas objetivam manter o diálogo entre família e escola, apro-
ximar teoria da prática e dinamizar, de forma criativa e significativa, o
itinerário que implica na alternância de tempos e espaços. Destarte, os
instrumentos pedagógicos estão organizados no Plano de Formação
que, segundo Begnami (2003, p. 15):
[...] é a organização geral da formação em um CEFFA. Ele repre-
senta uma estratégia de organização das alternâncias. É através
dele que se articula, de forma mais coerente, os espaços e tem-
pos de estudo na escola com os espaços e tempos na família,
comunidade, enfim, no meio socioprofissional. Ou seja, o plano
de formação organiza as atividades para cada espaço e tem-
po. Consequentemente proporciona integração desses espaços,
permite a realização de uma alternância integrativa, verdadeira,
evitando a dissociação da prática com a teoria, do trabalho e das
experiências da vida com o estudo e a reflexão na escola.
46
Figura 4 – Exemplo de um Plano de Formação
Economia rural
Colocação em
Construções e
Colaborações
gestão amb. .
Agroindústria
retorno meio
Eixo gerador
Legislação e
Matemática
instalações
Alternância
Atividades/
Agricultura
Língua ext.
Português
Zootecnia
Visitas de
Geografia
Química
Biologia
externas
Comum
História
Período
Estágio
estudo
Física
Artes
PLANO DE ESTUDO
1º 1 História da minha família
2 A divisão do trabalho
3 Alimentação animal
4 A propriedade e sua organização
5 Manejo do solo e restos culturais
6 Agricultura orgânica
7 Manutenção e condução do pomar
8 Preparar o solo
9 A família e o trabalho Seleção de sementes
10 Adubação e plantio
11 Manejo de pragas e doenças
12 Tratos culturais
13 Colheita e armazenagem
2º 1 Alimentação e saúde humana
2 Água e sua conservação
3 O clima na região
4 O meio ambiente
5 As terras
Os fatores e meios de produção
47
Em relação ao percurso metodológico com vistas à elaboração
de um Plano de Formação, este compreende várias etapas a serem
delineadas, especialmente os conteúdos que serão problematizados
e mobilizados e os atores envolvidos de forma participativa no pro-
cesso até a obtenção final da proposta a ser implementada no CEF-
FA. Destaca-se que o Plano de Formação organiza as atividades e
os instrumentos, a fim de unificar a prática e a teoria, promovendo a
interação entre a escola e o meio, de modo a desenvolver uma alter-
nância integrativa e mais comprometida com as transformações da
realidade (ARBOIT; DAL CANTON; PACHECO, 2015).
Classificação Instrumentos/Atividades
• Plano de Estudo;
Instrumentos e atividades de pesquisa. • Folha de Observação;
• Estágios.
• Colocação em Comum;
Instrumentos e atividades de • Tutoria;
comunicação/relação. • Caderno de acompanhamento da alternância;
• Visita à família e comunidade.
• Visitas e viagens de estudo;
• Serão de estudo;
• Intervenções externas;
Instrumentos didáticos.
• Cadernos didáticos;
• Atividades retorno experiências;
• Projeto profissional.
sumário • Avaliação semanal;
Instrumentos de avaliação.
• Avaliação formativa.
Fonte: UNEFAB (2003).
48
Estes, por sua vez, orientam a prática durante o itinerário da alternân-
cia. A seguir, apresenta-se com mais detalhes cada um dos instru-
mentos conforme suas finalidades.
Instrumentos
e atividades de pesquisa
49
Instrumentos e atividades
de comunicação/relação
50
ocorreram no CEFFA, tendo também a possibilidade de informar sobre
a vida na propriedade, comprometendo mais o jovem na realização de
suas tarefas comunitárias (UNEFAB, 2003).
Instrumentos didáticos
51
O serão de estudo é uma atividade mais livres, realizadas sem-
pre à noite. Pode ser em forma de palestras e/ou relatos de pessoas
externas ao CEFFA, atividades relacionadas aos Planos de Estudo ou
não, jogral, júri simulado, teatro, programa de rádio ou de televisão,
entre outras que os próprios jovens preparam de acordo com seus
interesses. Cabe destaque à dimensão integradora do grupo e a com-
plementaridade que esta atividade representa na animação da vida no
internato e na formação integral dos jovens (UNEFAB, 2003).
52
Para o Projeto Profissional, já ao iniciar os estudos no CEFFA, o
jovem é orientado a construir o seu Projeto de Vida. É um meio de o jo-
vem concretizar as pesquisas dos Planos de Estudo e começar a pensar
no futuro como profissional, buscando a inserção no mundo do trabalho,
ou seja, de implementar um empreendimento que gere emprego e renda
para o jovem e sua família. Com este instrumento, o CEFFA pretende
proporcionar aos jovens uma alternativa de futuro para o campo, garan-
tindo a permanência do jovem nesse espaço (UNEFAB, 2003).
Instrumentos de avaliação
53
2
Capítulo 2
O cenário
atual de liquidez
segundo bauman
Fluidez ou liquidez são as metáforas utilizadas por Bauman
(2001) para caracterizar a presente fase, “nova” de várias maneiras,
na história da modernidade. A principal característica que marca o
início da modernidade, conforme seu livro “Modernidade Líquida”,
é quando espaço e tempo são separados da prática da vida e entre
si constituem categorias diferentes, independentes da estratégia e
da ação que agora podem ser teorizadas. A flexibilidade possibilitou
que o tempo se tornasse a arma na conquista do espaço. Assim
como o autor se dedica a escrever sobre a relação tempo/espaço,
debruça-se também a descrever a emancipação, a individualidade,
o trabalho e a comunidade. Estas são categorias que o autor aborda
ao longo da obra e que são trazidas, neste capítulo, como forma de
abrir o leque de descrição e reflexão sobre a sociedade em que se
movimenta diariamente. Além destas categorias frisadas por Bauman
(2001), é feita a relação de sua obra com a educação, dialogando
com demais autores que escrevem a partir ou sobre Bauman, pois,
esse é o cenário em que se vai discutir a pedagogia da alternância.
55
Legislar em favor dos seus propósitos repassando à educação
a responsabilidade de formar sujeitos que atendam às expectativas,
implica relações de poder e ordem, que marcam espaço e tempo. Na
obra de Bauman (1997 apud ALMEIDA; GOMES; BRACHT, 2016), “Le-
gisladores e intérpretes: sobre la modernidad, la posmodernidad y los
intelectuales”, legisladores operam em função da razão e a prática do
poder estatal. Neste sentido, o autor construiu sua crítica da sociedade
moderna como o império da ordem. A modernidade é compreendida
pelo sociólogo polonês como o período iniciado na Europa, de gran-
des transformações sociais, estruturais e intelectuais culminando com
o Iluminismo e com o desenvolvimento da sociedade industrial (AL-
MEIDA; GOMES; BRACHT, 2016). Para melhor compreensão do termo
ordem nesse contexto, os autores explicam:
Em Bauman, ordem é o resultado da função nomeadora e clas-
sificadora desempenhada por toda e qualquer linguagem. Or-
denar consistiria nos atos de incluir e excluir, separar e segregar,
discriminando o “joio do trigo” para estruturar e dividir o mundo
entre aqueles que pertencem ao quadro linguístico criado, re-
presentando sua limpeza e beleza, e aqueles que distorcem tal
paisagem, evidenciando suas ambiguidades, sujeiras e ambiva-
lências (ALMEIDA; GOMES; BRACHT, 2016, p. 16 – grifo meu).
56
A emancipação, uma das categorias descritas por Bauman
(2001), passa pela liberdade que pode ser associada ao fato de atingir
o equilíbrio entre os desejos, a imaginação e a capacidade de agir.
Muitas pessoas imaginam ser livres e não conseguem se dar conta da
manipulação das intenções, nas quais elas mesmas são objetos de
interesse. No entanto, se tivessem, de fato, a oportunidade de serem
livres e fossem, gradativamente, preparadas para tal pela educação,
ainda assim haveria a preocupação de quem as prepara, pois as pes-
soas podem simplesmente rejeitar essa posição social pelas exigên-
cias empreendidas no exercício da liberdade.
57
como também gera e transmite um quadro de valores que legitima os
interesses dominantes. Há uma totalidade reguladora sistêmica incor-
rigível e irreformável no capitalismo. Os efeitos alienantes e desumani-
zantes do poder do dinheiro e da busca do lucro são transportados à
educação com a finalidade de formar, cada vez mais, indivíduos que
sigam esta linha de pensamento e ação.
58
São muitas as opiniões. Poucos argumentos convincentes ba-
seados em conhecimento verdadeiro e rigoroso. A respeito da cons-
trução deste conhecimento, chama a atenção o que Young (2007,
p. 1294) fala do conhecimento poderoso, o qual “refere-se ao que
o conhecimento pode fazer, como, por exemplo, fornecer explica-
ções confiáveis ou novas formas de se pensar a respeito do mundo”.
O autor cita as escolas como lugar especial na construção de tal co-
nhecimento: “elas capacitam ou podem capacitar jovens a adquirir o
conhecimento que, para a maioria deles, não pode ser adquirido em
casa ou em sua comunidade, e para adultos, em seus locais de traba-
lho”. De ordem prática, o que a escola ensina pode se relacionar com
a resolução dos problemas cotidianos dos alunos e, portanto, pode se
articular o conhecimento com o contexto de vida.
59
não é qualquer ser humano que tende a ganhar valor no século XXI.
A época exige um perfil criativo, inventivo, capaz de se movimentar
gerando fluxos de investimento e se adaptando às exigências de cada
momento. Para isso, não são necessários vários títulos, ou seja, para
ter este perfil não necessariamente são exigidas titulações de cursos,
graduação ou pós-graduação. Há lugar para pessoas que sabem ler o
contexto, conseguem lidar com os conflitos, trabalhar em grupo e acei-
tam desafios sendo provocadas por estes para buscar as soluções.
Entretanto, destaca Mosé (2013), é um momento de falta de líderes.
60
mais do discurso público. O que os leva a ocupar o palco público não é
o fato de se preocuparem com questões comuns, mas a necessidade
desesperadora de “integrar a rede”, sentir-se parte, não ficar de fora.
Este é mais um exemplo que pode ser observado na prática diária com
relação ao conteúdo que é veiculado em canais abertos de televisão.
Os noticiários revelam problemas individuais que comovem a popu-
lação, na maioria das vezes, pela semelhança que se aproxima dos
problemas dos telespectadores. O espaço que poderia ser ocupado
por questões de ordem pública que leve a pensar e agir coletivamente,
ameniza a dor de quem assiste e o acalenta de que tudo poderá ficar
bem, afinal, outros passam por situações muito parecidas, o sentimento
de infelicidade parece ser mais comum do que o de felicidade, que tam-
bém é um conceito vago. Para os indivíduos, o espaço público é uma
grande tela em que são projetadas suas aflições privadas diariamente,
sem cessar, ou seja, há um encolhimento do espaço público.
61
experiência vivida [...]. Foi sem dúvida a maior realização até hoje da
engenharia social orientada pela ordem”. Diante disso, a academia não
teve, por muito tempo, outro mundo para envolver suas tramas concei-
tuais se não o capitalismo. Academia (os que pensam e interpretam) e
empresas (os que fazem) pareciam manter distância, mas mantinham
contato e o lugar de encontro era sempre ditado pelas empresas.
Em seu estágio pesado, o capital estava tão fixado ao solo
quanto os trabalhadores que empregava. Hoje o capital viaja
leve – apenas com a bagagem de mão, que inclui nada mais
que pasta, telefone celular e computador portátil. Pode saltar
em quase qualquer ponto do caminho, e não precisa demorar-
-se em nenhum lugar além do tempo que durar sua satisfação.
O trabalho, porém, permanece tão imobilizado quanto no passa-
do – mas o lugar em que ele imaginava estar fixado de uma vez
por todas perdeu sua solidez de outrora; buscando rochas, as
âncoras encontram areias movediças (BAUMAN, 2001, p. 76-77).
62
escolher diante das vastas possibilidades traz ao indivíduo o doce sa-
bor da liberdade. O indivíduo, em meio a este cenário, é responsabi-
lizado por qualquer decisão que tomar. Cabe a ele descobrir o que é
capaz de fazer, dedicar-se ao máximo nesta capacidade com os me-
lhores meios e fins a que deseja chegar. Este parece ser um momento
que envolve muito tempo por se tratar de decisões que impactam na
vida humana, porém são tempos relativamente muito curtos, efêmeros,
causam ansiedade e podem fazer com que o indivíduo se sinta culpa-
do por não ter tentado de outra forma. As possibilidades têm data de
validade na sociedade líquida. Sendo assim, a busca por ser alguém
está carregada de incertezas e sentimento de inacabamento e se não
fosse assim, a liberdade não teria lugar neste cenário.
63
muito mais habilidosos em fazer com que ‘chegue suas mensagens’
e estão mais em harmonia com os anseios e temores dos consumido-
res contemporâneos” (ALMEIDA; GOMES; BRACHT, 2016, p. 68-69).
A sociedade interligada tem muito mais acesso às informações, por
consequência está dotada de poder que a faz questionar estruturas
tradicionais e propor novos cenários.
64
Afirma Bauman (2001, p. 94): “Na corrida dos consumidores, a linha
de chegada sempre se move mais veloz que o mais veloz dos cor-
redores; mas a maioria dos corredores na pista tem músculos muito
flácidos e pulmões muito pequenos para correr velozmente”. A corrida
está presente na vida das pessoas e o desejo é o propósito aparen-
temente não questionado. Na corrida, entretanto, mantém-se aqueles
que se caracterizarem por consumidores e para isso é preciso com-
prar. Os bens de consumo são variados, conforme explica o autor:
Não se compra apenas comida, sapatos, automóveis ou itens
de mobiliário. A busca ávida e sem fim por novos exemplos
aperfeiçoados e por receitas de vida é também uma variedade
do comprar, e uma variedade da máxima importância, segu-
ramente, à luz das lições gêmeas de que nossa felicidade de-
pende apenas de nossa competência pessoal, mas que somos
(como diz Michael Parenti) pessoalmente incompetentes, ou
não tão competentes como deveríamos, e poderíamos, ser se
nos esforçássemos mais. Há muitas áreas em que precisamos
ser mais competentes, e cada uma delas requer uma “compra”.
[...] A lista de compras não tem fim. Porém por mais longa que
seja a lista, a opção de não ir às compras não figura nela. E a
competência mais necessária em nosso mundo de fins osten-
sivamente infinitos é a de quem vai às compras hábil e infatiga-
velmente (BAUMAN, 2001, p. 95-96).
65
escolha. A corrida pelas escolhas é feita de muitos e diferentes mo-
dos pelos indivíduos, porém a pista é a mesma.
66
Um não-lugar pode ser associado a um determinado local em que
as pessoas se encontram, todas aparentemente bem, seguras e alegres,
mas que não conseguem estabelecer relação alguma entre si. Conforme
Bauman (2001), dentro dos templos, os consumidores podem encontrar
o sentimento de pertencimento e viver plenamente o sentido da palavra
“comunidade”. Estar dentro simboliza criar uma comunidade de crentes
unificados pelos meios e fins, todos são iguais, não existem diferenças.
O que “aproxima” as pessoas que se encontram nesses templos de con-
sumo é a intenção/objetivo de estar ali. O autor alerta para a dificuldade
de conviver com a diferença. É difícil entender, por um lado, o encontro
de inúmeras pessoas que não se conhecem e que transitam leves por
templos de consumo que as aproximam; por outro lado, a incapacidade
de conversar com qualquer que seja o indivíduo deste espaço.
A capacidade de conviver com a diferença, sem falar na ca-
pacidade de gostar dessa vida e beneficiar-se dela, não é fácil
de adquirir e não se faz sozinha. Essa capacidade é uma arte
que, como toda arte, requer estudo e exercício. A incapacidade
de enfrentar a pluralidade de seres humanos e a ambivalência
de todas as decisões classificatórias, ao contrário, se autoper-
petuam e reforçam: quanto mais eficazes a tendência à homo-
geneidade e o esforço para eliminar a diferença, tanto mais di-
fícil sentir-se à vontade em presença de estranhos, tanto mais
ameaçadora a diferença e tanto mais intensa a ansiedade que
ela gera [...] (BAUMAN, 2001, p. 135).
67
Já o tempo, diferente do espaço, pode ser mudado e manipulado. “A his-
tória do tempo começou com a modernidade. De fato, a modernidade é,
talvez mais que qualquer outra coisa, a história do tempo: a modernidade
é o tempo em que o tempo tem uma história” (BAUMAN, 2001, p. 140).
O início da era moderna, como afirma o autor, tem seu marco na emanci-
pação do tempo em relação ao espaço, sua subordinação à inventivida-
de e à capacidade humana. Tempo é dinheiro, um instrumento utilizado,
principalmente, para vencer a resistência do espaço, encurtar as distân-
cias e superar os obstáculos que impedem a ação humana.
68
No entanto, a volatilidade do tempo não é para todos na era
moderna, pois os que mandam continuam sendo aqueles que man-
têm suas ações livres, ao mesmo tempo em que regulam normati-
vamente as ações de outros. A falta de liberdade de outros é o que
determina a ação dos primeiros que comandam e se mantêm no
poder. Há uma parcela da população que não consegue transitar
levemente na era moderna que configura a instantaneidade como
principal aspecto regulador da relação entre os que mandam e os
que obedecem. Estes últimos são aqueles que não conseguem se
mover tão rápido e não podem deixar seu lugar quando quiserem.
69
de manobra no momento em que articula intensas transformações,
mantém o trabalho sob controle e com capacidade ainda de não lidar
com as consequências de tamanha dominação.
70
consumidor. Compra-se logo outro. Além disso, a “consumização” tem
uma ligação com a desintegração dos laços humanos. Ao contrário
da produção, o consumo é uma atividade solitária, irremediavelmente
solitária, mesmo que na companhia dos outros. “É a cooperação que
transforma os esforços diversos e dispersos em esforços produtivos.
No caso do consumo, porém, a cooperação não só é desnecessária
como é inteiramente supérflua” (BAUMAN, 2001, p. 207).
71
facilidade com que podem ser usados pela manhã e despidos
à noite (ou vice-versa). As comunidades vêm em várias cores
e tamanhos, mas se colocadas em um eixo weberiano que vai
de ‘leve manto’ a ‘gaiola de ferro’, aparecerão todas notavel-
mente próximas do primeiro polo.
72
pensar que as transformações que ocorreram e ocorrem, indepen-
dem do desejo da maioria das pessoas e é necessário pensar o rumo
a ser tomado quando as mudanças acontecem. Na velocidade em
que informações circulam entre os indivíduos, há também elementos
que são importantes e devem ser mantidos pela escola que se ocupa
da formação de pessoas. Entretanto, é necessário refletir sobre a rea-
lidade circundante e os objetivos que se têm para planejar a direção
a ser seguida, bem como, as estratégias de ação.
73
racionalidade que imperar naquele momento, podendo permanecer
a tradição de conhecimentos e saberes já legitimados.
74
ridas com suas dificuldades e possibilidades de superação; a relação
deste contexto local com a sociedade globalizada. Trata-se de uma
aprendizagem conectada com a realidade, competências e modelos
conceituais que sintetizam um conhecimento importante aos alunos.
sumário
75
3
Capítulo 3
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS
Apresentação
e discussão
dos resultados
Este capítulo se destina a relatar o contexto em que a pes-
quisa se desenvolveu, tanto no Brasil quanto na França. Apresenta
e discute aquilo que foi observado e percebido a partir dos instru-
mentos da coleta de dados, com vistas a relacionar com a teoria
e responder ao problema de pesquisa: O praticar e compreender
em alternância responde aos desafios da sociedade líquida? Será
apresentado o contexto das MFRs na França e o cenário das CFRs
no Brasil, seguido da discussão e análise dos dados. Cabe ressaltar
que não é propósito deste estudo comparar as realidades brasileira
e francesa no contexto das Casas Familiares Rurais, mas sim apre-
sentar o contexto em que a pesquisa se desenvolveu para melhor
compreensão dos seus objetivos e análise dos seus resultados.
77
os relatos e depoimentos dos visitantes motivaram o desejo por co-
nhecer o funcionamento das mesmas.
78
gestores identificados como Gestor B1, Gestor B2, Gestor B3 e Ges-
tor F4, com o objetivo de saber de que forma a Associação tem
conduzido os trabalhos em suas regiões com a pedagogia da alter-
nância diante dos desafios da sociedade líquida. Os coordenadores
regionais representam as Associações Regionais das CFRs do sul
do Brasil e da França, cada gestor coordena um Território8.
79
O grupo focal com alunos franceses foi realizado de forma pre-
sencial, mas o grupo focal com alunos brasileiros não foi possível
de forma presencial devido à pandemia da COVID-199. As aulas fo-
ram suspensas no mês de março, quando tinham iniciado recente-
mente e, para que a pesquisa não fosse prejudicada, o diálogo com
os alunos aconteceu por meio de um grupo criado no WhatsApp pelo
diretor da CFR, especificamente para participação na pesquisa.
80
Salienta-se ainda que todos os entrevistados receberam o
TCLEs e puderam escolher em participar da pesquisa, ficando livres
para prosseguir ou não na mesma. Suas imagens serão preservadas,
mantendo-se o sigilo da pesquisa.
81
descritas, analisadas e discutidas de acordo com a manifestação dos
sujeitos e da teoria que as fundamenta.
82
Assim como o surgimento da MFR francesa esteve ligado à su-
peração de dificuldades enfrentadas pelos agricultores, no Brasil, a
partir da década de 60 se observa o incentivo à modernização agrícola,
o que gera uma crise da agricultura familiar. Para tanto, a implantação
da primeira Escola Família Agrícola (1968) ocorre quando a Revolução
Verde11 já apresentava consequências aos agricultores familiares12.
11 A Revolução Verde, como afirmam Conterato e Fillipi (2009), contou com o grande esforço
da pesquisa em desenvolver sistemas de produção mais especializados com métodos
padronizados resultando na “venda indiscriminada” dos pacotes tecnológicos. Ainda, con-
sumário forme os autores, esse movimento de modernização agrícola potencializou quatro fenô-
menos: o crescimento da mecanização nas atividades primárias, a exacerbada utilização
de fertilizantes químicos, a divulgação de modernas técnicas agrícolas feita por entidades
públicas (pesquisa e extensão) e a degradação ambiental que provocou muitos problemas.
12 Conforme a Lei n. 11.326, de 24 de julho de 2006, considera-se agricultor familiar quem: não
possui área maior que 4 módulos fiscais; utiliza predominantemente mão de obra familiar;
possui renda prioritária do empreendimento familiar e faz a gestão do mesmo com sua família.
13 Conheça mais sobre os cursos ofertados pelas CFRs do Paraná no site da Secretaria da
Educação: <http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.
php?conteudo=186>. Acesso em: 17 out. 2020.
83
Figura 5 – Instituições que trabalham a pedagogia da alternância no Brasil
UF Nº INSTITUIÇÕES
AL 0
BA 38
CE 2
MA 33
PB 0
PE 1
PI 21
RN 0 Nordeste
SE 2 97
AC 1
AM 1
AP 5
PA 24
RO 5
RR 0 Norte
TO 10 46
DF 0
GO 4
MS 3 Centro-Oeste
MT 1 8
ES 28
MG 18
RJ 4 Sudeste
SP 4 54
PR 33
RS 4 Sul
SC 23 60
sumário BRASIL 265
Fonte: MEC/SECAD/CGEC, abril 2007.
Fonte: RedLER (2019).
84
Chama atenção a diferença dos números citados pelos entre-
vistados e os números expressos na figura. A isso pode ser atribuí-
da a data de elaboração da Figura, que é de 2007, e a modificação
dos números atuais devido ao fechamento de instituições. Ou ainda,
a existência de outras instituições que trabalham com a pedagogia da
alternância que não sejam CFRs.
85
No contexto francês, as MFRs totalizam 430 instituições e es-
tão organizadas em três Regiões e doze Departamentos, a saber: Re-
giões – Bourgogne Franche-Comté, Auvergne Rhône-Alpes e Centre
Loire; Departamentos: Ain, Allier, Cher, Isère, Haute-Loire, Haute-Sa-
voie, Loire, Nièvre, Puy-de-Dôme, Rhône, Saône-et-Loire e Savoie.
A região e departamento visitados foram Auvergne Rhône-Alpes e Rhô-
ne, respectivamente. A Região de Auvergne Rhône-Alpes possui 74
MFRs14 com formações15 diferentes. Dentre as formações, destaca-se:
agricultura, trabalho com madeira, turismo, paisagismo, gastronomia,
serviço a pessoas, horticultura, serviços de manutenção (de máquinas
agrícolas, automobilística, industrial), entre outras.
sumário
86
As instituições que trabalham com a pedagogia da alternância,
dentre elas, as CFRs e as Escolas Famílias Agrícolas (EFAs) se reúnem
formando os CEFFAs, que fazem parte da AIMFR. Com sede em Barce-
lona, na Espanha, a AIMFR representa as diferentes instituições que pro-
movem uma formação por alternância para jovens do meio rural. Essas
instituições estão localizadas em 40 países, pela África, América, Ásia,
Europa e Oceania (AIMFR, 2019).
87
a expansão da proposta continua acontecendo. Neste contexto
da representação que as CFRs têm, principalmente na região sul
do Brasil, apresenta-se, a partir de agora, os registros da pesquisa
de acordo com os discursos e observações da vivência no universo
prático, conforme cada categoria emergente.
A SOCIEDADE NA PERSPECTIVA
DOS ENTREVISTADOS
88
Ele via a sociedade como o conjunto das interações sociais. A “ação
social”, objeto de estudo weberiano, toma este significado quando
seu sentido é orientado pelo conjunto de pessoas que constituem a
sociedade. Karl Marx (1818-1883), filósofo alemão, dedicou sua vida
e obra à crítica do modelo capitalista, tendo escrito seus textos em
período anterior à Durkheim e a Weber (MIRANDA, 2019).
89
de pensar não se desenvolve sem entrar em conflito com modos mais
velhos e comuns. Isso exige reorganização da percepção e pensamen-
to de todas as pessoas interdependentes.
90
principalmente no entendimento de tempo e espaço e o que a eles
está relacionado. Como afirmam Almeida, Gomes e Bracht (2016,
p. 33): “Tanto ontem como hoje, o que caracteriza o modo de vida
moderno é a vontade de estar sempre à frente de si mesmo, a in-
capacidade de ficar parado, o constante estado de transgressão
(modernizadora) em nome do novo e do melhor”. Para melhor com-
preensão, utiliza-se, como já mencionado, a marcante presença
dos indivíduos na sociedade em rede, que se relaciona globalmente
de modo mais democratizado quanto ao acesso à informação. Esta
é uma mudança, sem dúvida, é o que muito diferencia o estágio
líquido do estágio sólido, no qual, o poder do conhecimento estava
em apenas algumas pessoas ou entidades.
91
não se ocupam de nada, não são todos”. Por este motivo, preparar
pessoas para dar continuidade ao trabalho da MFR fica mais difícil.
Conforme o Diretor: “é muito mais duro de preparar gente para entrar
no Conselho de Administração das MFRs. Não tem muita gente que
trabalha no Conselho de Administração, como você pode ver essa
semana. A gente prepara, depois...”
92
do Conselho. Conforme relato do Diretor F2, a MFR em que atua
funciona desde os anos de 1961 e até agora só teve três diretores.
93
passou por dificuldades nas décadas de 70 e 80 quanto à manuten-
ção e ampliação das MFRs. No Brasil, neste período, as primeiras
CFRs estavam sendo implantadas na região sul. Ou seja, poder-se-
-ia perguntar se no Brasil, ainda não foram formadas pessoas nestas
instituições que podem atuar junto a Associação, ampliando os de-
bates e colaborando na consolidação desta proposta educativa. Ao
mesmo tempo, percebem-se ações tímidas de pessoas formadas
na CFR que já atuam como monitores e na gestão da mesma. Isto
significa que está sendo formada uma geração que pode colaborar
na manutenção e consolidação das instituições no sul do Brasil.
94
colega de lado, debochando de alguém, colocamos o preconceito
como uma atividade no dia a dia, atitudes como essa que afetam
na sociedade e seu desenvolvimento. É difícil atribuir característica
para algo que se tem tão pouco conhecimento, mas que se vive
todo dia, mas de certa forma não se pode generalizar (JOVEM B6).
95
o atrativo para o consumo não é mais o produto, mas o que ele
diz, os valores e conceitos que agrega. [...] De um modo inusitado,
o ser humano ganhou valor no século XXI e passou a ser o centro
do sistema e a razão dos maiores investimentos financeiros [...]
96
O indivíduo é o centro do sistema capitalista atual. O perfil deste
indivíduo é caracterizado por Mosé (2013) como: criativo, inventivo, ca-
paz de se movimentar, gerando fluxos de investimento e se adaptando
às exigências de cada momento. Para isso, não são necessários vários
títulos, ou seja, para ter este perfil não necessariamente são exigidas
titulações de cursos de graduação ou pós-graduação. Há lugar para
pessoas que sabem ler o contexto, conseguem lidar com os conflitos,
trabalhar em grupo e aceitam desafios sendo provocadas por estes
para buscar as soluções. Assim, há lugar na sociedade para indivíduos
que se movimentem rapidamente no enfrentamento das dificuldades
diárias, principalmente aquelas que o mercado impõe, com destaque
às ações amistosas de relacionamento.
97
Na sequência, o empirismo tenta explicar a forma de o sujeito conhecer
o objeto por meio da experiência. Teoria que apresenta uma ciência
empírica, baseada em experimentação e observação. Immanuel Kant
(1724-1804) inaugura a teoria do conhecimento do criticismo apontan-
do para os limites da razão com uma crítica à metafísica (MOSÉ, 2013).
98
e quem compartilha. É em torno do saber que as pessoas se co-
locam, especialmente em torno das pessoas que produzem saber”
(MOSÉ, 2013 p. 26-27). Uma das principais ferramentas que suscitou
mudanças na sociedade foi a internet. Com ela, a democratização do
acesso à informação tem colocado às pessoas lado a lado com as
mesmas condições de uso. A sociedade em rede permite este aces-
so democratizado à informação e ao conhecimento.
99
Por mais dificuldades que os jovens franceses apresentaram inicial-
mente ao questionamento acerca da “sociedade”, o desenvolvimento
do diálogo proporcionou falas contextualizadas a partir do “eu”, da per-
cepção de cada um inserido em contextos de relações interpessoais.
100
em sua profissão, o que é diferente de hoje. Na França, as MFRs
podem oferecer formação de nível médio, formação técnica e profis-
sional, tida por eles como o ensino superior, porém, 60% dos jovens
se formam tecnicamente e apenas 40% buscam as universidades,
conforme relato do mesmo gestor. Ao se formar na MFR, o jovem
poderá a partir para a pesquisa e mais estudos, alcançar outros hori-
zontes como é afirmado. Assim, percebe-se na fala do gestor que há
uma instrumentação por parte da entidade para preparar este jovem
ao mundo do trabalho, porém, nem todos aproveitam tudo àquilo que
é oferecido. Entende-se que os anseios pessoais são diferentes e
nem todos os indivíduos têm o desejo de empreender, ser donos do
seu próprio negócio, alguns gostariam apenas de possuir a formação
básica e ter um trabalho que garanta o seu sustento.
101
Isso é dito por Bauman (2001), Veiga Neto (2007) e também por Mosé
(2013). Veiga Neto (2007, p. 102) reitera que “[...] é no descompas-
so entre as práticas escolares e as rápidas modificações espaciais e
temporais que estão acontecendo no mundo atual que está boa parte
daquilo que se costuma denominar ‘crise da escola’”.
102
isso relaciona o comprometimento e participação também das famí-
lias na formação do jovem. O outro perfil se refere à origem de outras
regiões francesas e também às desestruturações familiares destes jo-
vens, como por exemplo, pais divorciados que têm mais dificuldades
de acompanhar a formação dos filhos. Como as CFRs trabalham em
regime de internato, os jovens podem permanecer por uma semana na
escola, na qual são criados vínculos afetivos que aproximam os mes-
mos de forma a configurá-los como sendo uma família. Este segundo
perfil é semelhante ao perfil descrito pelo Gestor F4 quando fala do
jovem que não aproveita todos os projetos oferecidos na escola, seu
propósito maior é ter a formação básica.
103
das CFRs no sul do Brasil é a formação voltada à agricultura familiar.
Por fim, o Gestor sinaliza a necessidade de mudança cautelosa, no
sentido de diversificar as formações sem perder a formação diferen-
ciada que a pedagogia da alternância oferece desde muitos anos.
104
sobre aspectos que influenciam na construção de um perfil de jovem,
que aqui foi mencionado pelos entrevistados e se buscou entender
melhor, a partir da contextualização histórica. “Jovens excluídos” de
sistemas convencionais escolares, também compõem o quadro de jo-
vens das CFRs, conforme dito pelo Diretor B1. Diante disso, além de
frisar a diferença de perfis de jovens, muito associado à origem (urbana
ou rural), reitera a procura pela formação nestas instituições pelo dife-
rencial que oferece, destacado como “formação humana.”
A PRÁTICA DA PEDAGOGIA
DA ALTERNÂNCIA COMO ELEMENTO
CENTRAL DA FORMAÇÃO NAS CFRs
BRASILEIRAS E FRANCESAS
105
torna objeto de estudo quando é observada, analisada e campo de
aplicação. O itinerário da alternância compreende uma semana na
CFR e duas semanas na propriedade rural ou urbana.
106
[...] é a organização geral da formação em um CEFFA. Ele repre-
senta uma estratégia de organização das alternâncias. É através
dele que se articula, de forma mais coerente, os espaços e tem-
pos de estudo na escola com os espaços e tempos na família,
comunidade, enfim, no meio socioprofissional. Ou seja, o plano
de formação organiza as atividades para cada espaço e tempo.
Consequentemente, proporciona integração desses espaços,
permite a realização de uma alternância integrativa, verdadeira,
evitando a dissociação da prática com a teoria, do trabalho e das
experiências da vida com o estudo e a reflexão na escola.
107
famílias como ação importante na formação, as visitas que oportu-
nizam ver outras realidades, bem como a abertura para uma nova
ideia. Também destaca o trabalho feito a partir da agroecologia, afir-
mando que “é preciso trabalhar mais forte” como uma das alternativas
que se destacam dentre as práticas desenvolvidas na agricultura
quanto à produção de alimentos mais limpos e nutritivos. Para tanto,
enfatiza que compartilhar espaços orienta para um comprometimento
com a sociedade por parte dos envolvidos.
108
individualizado. Esta convivência faz com o que o jovem saia prepara-
do da CFR para atuar em qualquer que seja a profissão.
Ao que diz o Diretor F2, pode ser melhor visualizado com o relato
sumário da visita feita, durante estadia na França, ao Sindicato da Construção
Civil, cuja responsabilidade estava nos contratos de aprendizagem en-
tre jovens e empresas. O Sindicato estava organizado em três Câmaras,
sendo elas: da Agricultura, do Artesanato e do Comércio. O mesmo faz
a sensibilização e orientação aos jovens para com as formações de-
fendidas por cada uma das Câmaras, assim como incentivam a orga-
nização cooperativa entre os trabalhadores. Outro exemplo é a relação
109
da MFR de Cormaranche, que oferece formação em marcenaria, com
empresas locais e do Território. A relação existe desde que a MFR foi
fundada neste local, pois, só se instalou nesta cidade devido à mesma
produzir muita madeira. A partir disso, a própria madeira utilizada nas
aulas práticas advém de uma empresa que fornece a matéria-prima,
depois os estágios remunerados são realizados em empresas. Além
disso, os alunos desenvolvem projetos em marcenaria para outros paí-
ses e participam de feiras e exposições divulgando seu trabalho.
O Jovem B8 comenta:
[...] na escola os conteúdos são mais voltados para agrárias,
mas o que eu vejo é que na CFR o ensino é mais voltado para
a vida. Na CFR a gente acaba se tornando família e na família a
110
gente se torna meio professor. Já levei muito conhecimento da
CFR para minha casa. Isso é a diferença das outras escolas.
111
práticas como as visitas de estudo que oportunizam ver outra realida-
de, o compartilhamento de experiências que pode motivar os jovens
para algumas mudanças, o projeto profissional de vida e a organização
por setores das tarefas na CFR em semana de aula. A organização por
setores de tarefas se configura na divisão de atividades semelhantes à
de uma casa, o que por sua vez, pode colaborar no fortalecimento da
responsabilidade, da independência e do respeito ao próximo, já que
os setores são organizados por grupos de alunos.
112
o estágio ocorre na propriedade do próprio jovem, pois, é neste es-
paço que desenvolve seu PPV, na grande maioria.
113
jovem e família entram na MFR, se dão conta de certa moderni-
dade, pois, não estamos fazendo um ensino tradicional, não é o
que o jovem procura (GESTOR F4).
114
nhecer as realidades uns dos outros e poder aprender com elas a partir
do diálogo e até mesmo por uma análise do que é observado, contribui
na construção do conhecimento segundo o Jovem B1. O Jovem B3,
ao falar da pedagogia da alternância de modo geral, reforça a ideia de
importância da “troca de conhecimentos da realidade uns dos outros”.
115
no Brasil e na França, porém, em tempos diferentes. Os diretores entre-
vistados mencionam que a instituição não é bem vista pela sociedade,
há um entendimento generalizado de que os jovens que estudam nas
CFRs são aqueles que têm dificuldades para se manter na escola tra-
dicional. Embora o relato do Diretor F2 é de que a França tenha encon-
trado esse tipo de dificuldade no início da implantação das MFRs no
Território, no Brasil, há evidências de que esta mentalidade permanece
devido ao relato do Diretor B1.
17 Cada família paga entre 2 e 3 mil euros para manter seu filho na MFR.
116
da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação
(FUNDEB), mas em grande parte se busca por meio de convênios com
Prefeituras Municipais e/ou outras entidades que apoiam as CFRs, além
de projetos que podem ser desenvolvidos em parcerias ou submetidos
para conseguir mais recursos. Há também uma colaboração por parte
das famílias, que é gerida conforme a realidade de cada instituição.
117
liderança, a proposta da CFR é a mais adequada e “é por isso que a
proposta veio para o estado” (GESTOR B1).
118
O Gestor B1 menciona, mais do que uma vez, a importância da
formação na mudança das pessoas. Como visto anteriormente, cita a
formação dos jovens para ter escolhas conscientes, principalmente no
que se refere à produção de alimentos saudáveis. Em outro momento,
fala da formação dos monitores, especialmente àqueles que não tra-
balham exclusivamente na CFR e podem não entender sua proposta
de ação na sua íntegra. A formação, sem dúvida é um elemento funda-
mental na constituição do ser humano, ela pode acontecer em espaços
formais, como a escola ou, em espaços não formais, como por exemplo,
na comunidade, na propriedade, no espaço público, qual seja ele, des-
de que tenha um propósito de diálogo entre os envolvidos. Poder-se-ia
associar a formação em espaços não formais da educação para cons-
truir um diálogo com a sociedade acerca da “responsabilidade” posta à
CFR de fazer a sucessão familiar. Ou também, construir um diálogo com
a comunidade local acerca do consumo de alimentos agroecológicos,
a fim de criar cadeias curtas, em um primeiro momento. São hipóteses.
119
Ainda sobre a fala do Diretor B1, acrescenta-se que ele chama
a atenção, considerado um desafio a “falta de valorização pelo go-
verno dos produtos agropecuários e do próprio agricultor”. Segundo
ele, isso é desmotivante e prejudica os jovens no sentido de que “o
jovem ainda tem vergonha de dizer que é agricultor, embora apresente
melhores condições de vida do que muitos outros jovens”. Como cita
o diretor, a CFR tenta trabalhar constantemente uma posição reflexi-
va e crítica para que os jovens possam perceber a atuação de uma
sociedade que não prestigia de forma geral, a figura do agricultor.
Diante disso, a instituição espera que os jovens possam se valorizar
em primeiro lugar, sem esperar que outros os valorizem, mas que te-
nham condições de se expressar e buscar ter voz e vez neste cenário.
120
pois percebem que não há outra saída devido às mudanças que já
ocorreram no Território. O Gestor F4 ainda complementa que está em
uma região da França com 75 MFRs, “uma das mais fortes. Há outros
territórios que não são tão fortes”.
121
Para tanto, algumas alternativas já foram citadas pelos entrevistados e
são apresentadas na sequência em uma perspectiva de futuro.
122
O elemento “futuro” surgiu na pesquisa sob a conotação de
gestores, diretores e sob a conotação dos jovens. Os gestores des-
tacaram, tanto no Brasil quanto na França, que cada CFR trabalha “a
sua maneira”, “do jeito que entende ser o melhor”, “uma faz uma coisa
e a outra faz diferente”. Para alguns gestores, isso pareceu ser preo-
cupante, especialmente o Gestor B1 que afirmou: “A gente observa
ações dentro das CFRs e pensa que precisa tomar algumas atitudes,
justamente pelo fato de que uma faz uma coisa e outra faz outra, per-
dendo o significado da CFR e da pedagogia da alternância”. Nota-se
essa preocupação no cenário brasileiro quando não existem muitas
CFRs como na França, ou seja, em um contexto de muitas institui-
ções, existem elementos norteadores, porém, poder-se-ia dizer que
é mais difícil manter a unidade, a “essência” como destacado pelo
Gestor B1 em outro momento.
123
apresentam-se alguns discursos que explicitam sua condição neste
cenário de incertezas, conforme o que diz o Jovem B8: “Eu, hoje, não
sei o que eu quero do futuro. Às vezes parece que tá tudo certo e daí
bate uma dúvida na gente e daí ficam muitas dúvidas. Uma coisa é
certa, teremos que ser responsável por nós, mas não sei como vai ser”.
Questionado sobre “a dúvida que bate” respondeu:
[...] às vezes a gente afirma que quer ser um tipo de profissio-
nal no futuro, por exemplo, eu queria muito ser biólogo, mas aí
quando você tem mais conhecimento sobre isso, você fica em
dúvida. Hoje eu não quero isso e ainda não sei o que estudar
para o futuro. Que profissão seguir. Acho uma escolha muito di-
fícil. É o nosso futuro em jogo. E o mundo está muito acelerado.
124
estudando em uma MFR, afirmam ter mais dificuldades de acessar o
mercado de trabalho e citam os estudos gerais como característica de
outras escolas. O Jovem F1 afirma que “tinha muitas dificuldades an-
tes. Aqui (MFR) tive mais confiança e aumentaram as notas”. O Jovem
F2 complementa: “É uma maneira de mobilizar, motivar, porque se não
estivesse aqui estaria em estudos gerais que não apresentam propósi-
to. Estudos gerais são sem sentido”. O Jovem F3 finaliza dizendo que
não sabia a profissão ao ingressar na MFR, “as práticas mostram os
caminhos para seguir a profissão”.
sumário
125
CONCLUSÃO
126
os jovens filhos de agricultores, a fim de que permanecessem em suas
propriedades e as desenvolvessem, a partir de uma formação alinhada
com a realidade da época. Ela surge como uma resposta aos proble-
mas do meio rural francês, a partir da mobilização de sindicatos, movi-
mentos da Igreja e das famílias de agricultores. A proposta foi desen-
volvida sem uma teoria ou métodos pré-estabelecidos. Pode-se dizer
que a formação acontecia a partir de um acordo estabelecido entre os
interessados, tido como o correto e adequado para aquela realidade.
127
das instituições. É o berço do qual surge a proposta educativa da alter-
nância e é o carro chefe que está conduzindo a proposta ainda hoje.
128
Neste sentido e principalmente na questão que envolve o reco-
nhecimento das CFRs é que se diferem os desafios das instituições
francesas e brasileiras. Portanto, quando se pergunta “o praticar e
compreender em alternância responde aos desafios da sociedade lí-
quida?” a resposta é sim, responde, porém, em perspectivas diferen-
tes. As instituições de ambos os países nasceram da mesma propos-
ta e estão asseguradas pelos mesmos pilares. Porém, nasceram em
tempos diferentes. A França possui MFRs desde o final da década
de 1930 e o Brasil desde a década de 1980. Isso demonstra uma tra-
jetória mais longa no país europeu, que já se consolidou em termos
de proposta educativa. No Brasil, por sua trajetória mais recente, a
consolidação da proposta ainda é buscada.
129
A formação integral é referenciada pelos jovens brasileiros que
confirmam a diferença da formação na CFR ao comparar com escolas
convencionais. Este elemento parece ser o grande diferencial das ins-
tituições brasileiras, o que também é afirmado pelo diretor e gestores.
Há uma preocupação em “preparar o jovem para a vida” e valores que
orientam este trabalho diferenciado na formação são: autonomia, res-
ponsabilidade, criticidade, comprometimento e protagonismo. No en-
tanto, jovens brasileiros não têm clareza de sua atuação no mundo do
trabalho, nem mesmo do que pretendem depois de formados na CFR.
O que difere dos jovens franceses, que afirmam a certeza da inserção
no mundo do trabalho porque estudam em uma MFR.
130
de sociedade se dá principalmente por características como: imediatista,
individualista, egoísta, influenciadora, padronizadora, consumista e etc.,
os jovens confirmam suas posições de responsabilidade em uma posição
ativa de mudança, confirma-se o questionamento inicial da pesquisa.
131
como foi percebido nos discursos, algumas instituições trabalhar
com mais evidência esta relação da educação e trabalho, enquan-
to outras enfocam a formação humana. Talvez, possa-se pensar no
equilíbrio desta relação se essa for uma necessidade entendida pelos
atores participantes do processo decisivo.
132
o conhecimento e os professores não são os donos do saber. A socie-
dade em rede democratizou o acesso à informação e ao conhecimen-
to, portanto, práticas educativas desenvolvidas na modernidade sólida
não obtém sucesso na modernidade líquida (MOSÉ, 2013).
133
Não cabe aqui dizer se a diversificação é um caminho viável ou não
no contexto brasileiro. Existem vários passos que poderiam ser dados
na intenção de viabilizar uma segunda oferta de formação ou mais,
conforme demanda. Alguns destes aspectos já foram mencionados
na pesquisa, como por exemplo, a ampliação dos atores envolvidos
no diálogo com vistas ao fortalecimento e reconhecimento das CFRs.
sumário
134
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139
SOBRE AS AUTORAS
Vanessa Dal Canton
Bolsista CAPES e Doutoranda em Educação pelo Pro-
grama de Pós-Graduação em Educação (PPGEDU)
- Mestrado e Doutorado em Educação, da Universida-
de Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões
– URI/Câmpus de Frederico Westphalen. Mestre em
Educação. Graduada em Pedagogia (URI) e Licen-
ciada em Educação do Campo pela Universidade Fe-
deral de Santa Maria (UFSM/Polo UAB de Seberi/RS).
Especialista em Desenvolvimento Rural e Agricultura
Familiar (URI). Membro do Grupo de Pesquisa: Rede
Iberoamericana de Estudos em Docência, Emancipa-
ção e Direito Educativo – RIEDEDE.
sumário
140