Resenha Do Engels
Resenha Do Engels
Resenha Do Engels
marxista
ARTIGOS
Reler Engels:
sua resenha
de Para a crítica da
economia política,
de Marx*
MICHAEL HEINRICH **
Por muito tempo, Marx e Engels foram considerados como uma unidade
indissolúvel, tanto no sentido político quanto no científico. Seja lá o que um
deles declarasse, isso deveria possuir, de modo equânime, validade para ambos.
Essa concepção dominou não apenas o “marxismo-leninismo” do partido oficial
da União Soviética; era algo amplamente disseminado, mesmo entre os muitos
autores marxistas que não compartilhavam com esse marxismo. As primeiras
dúvidas sobre essa unidade foram expressas por Georg Lukács, que constatou
diferenças entre Marx e Engels em suas concepções de dialética e, em especial,
criticou a tentativa de Engels de estender a dialética também à natureza (Lukács,
1970 [1923], p.63, nota 6). Desde os anos 1970, o conjunto da obra tardia desse
autor, sobretudo Anti-Dühring,1 foi colocado crescentemente sob a suspeita não
apenas de ter popularizado as análises marxianas, mas também de falsificá-las.
Engels foi concebido, por isso, como o inaugurador de um “marxismo” visto como
problemático, que não tinha mais muito a ver com a crítica marxiana. Contra
isso, os defensores de uma unidade intelectual entre Marx e Engels sustentaram
que ambos cultivaram por anos um diálogo intenso sobre todo tipo de questão
e que nunca ocorreu entre eles diferenças fundamentais. Muito pelo contrário,
Marx não apenas conhecia o Anti-Dühring, mas também auxiliou Engels nesse
* Tradução do artigo “Engels wieder gelesen: Seine Rezension von Marx‘Zur Kritik der politischen
Ökonomie’” por Laura Luedy e Hyury Pinheiro.
** Professor de Economia na Universidade de Ciências Aplicadas de Berlim. E-mail: [email protected]
1 Cf. Friedrich Engels, A revolução da ciência segundo o senhor Eugen Dühring. Trad. Nélio Schneider.
São Paulo: Boitempo, 2015. (N. T.)
2 O autor se refere a Michael Heinrich, Karl Marx e o Nascimento da Sociedade Moderna. São Paulo:
Boitempo, 2018. (N. T.)
3 Cf. Karl Marx, Para a crítica da economia política. In: Manuscritos econômico-filosóficos e outros
textos escolhidos. Trad. José Arthur Giannotti e Edgar Malagodi. São Paulo: Abril Cultural, 1985,
p.101-257. (N. T.)
4 Zeleny (1968) e Rosental (1973) realizaram as mais diferenciadas contribuições partindo dessa
mesma orientação.
5 Karl Marx, O capital: crítica da economia política. Livro I. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo:
Boitempo, 2017. (N. T.)
6 Karl Marx, Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857-1858. Trad. Mario Duayer, Nélio Schneider
(colaboração de Alice Helga Werner e Rudiger Hoffman). São Paulo: Boitempo; Rio de Janeiro: Ed.
UFRJ, 2011. (N. T.)
7 Karl Marx, O capital. Livro I. Capítulo VI (inédito). Trad. do castelhano por Eduardo Sucupira Filho
e corrigido e cotejado com a edição alemã por Célia Regina de Andrade Bruni. São Paulo: Livraria
Editora Ciências Humanas, 1978. (N. T.)
8 A análise mais extensa e diferenciada sobre a resenha de Engels no espaço germanófono foi oferecida
por Kittsteiner (1977), que também investiga as causas das concepções de Marx e Engels. Concordo
com sua argumentação em vários pontos. Vejo, no entanto, como questionável a fundamentação
de sua tentativa de atribuir as diferenças entre os autores a um conceito distinto de ciência, pois,
para isso, Kittsteiner precisaria conciliar as declarações de Engels presentes na resenha com um
escrito seu surgido 25 anos mais tarde, o Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã,
como se os escritos de Engels constituíssem uma obra unificada e coerente. Não temos, de fato,
nenhum documento a partir do qual se depreenderia a concepção de ciência que Engels tinha no
fim dos anos 1850. Das contribuições anglófonas sobre a resenha de Engels, deve ser destacado,
em especial, Arthur (1996, p.179-188) que, no entanto, não pôde tomar ciência do intenso debate
alemão dos anos 1970, pois os respectivos textos não estavam traduzidos.
9 Friedrich Engels, Esboço de uma crítica da economia política. In: Friedrich Engels: política. Org. e
trad. José Paulo Netto. São Paulo: Ática, 1981, p.53-81. (N. T.)
Isso não deve ter se alterado quando Marx pediu a ele, mais de um ano depois,
em 19 de julho de 1859, uma resenha da Primeira brochura que fora publicada
nesse meio tempo e que precisaria estar pronta, no mais tardar, na semana seguin-
te. Inicialmente, Engels nem mesmo reagiu, de modo que Marx novamente lhe
solicitou a resenha em 22 de julho. Um tanto relutante, Engels respondeu em 25
Aqui está o início do art.[igo] sobre teu livro. Revise-o cuidadosamente e, caso
não te agrade in toto,14 rasga-o e escreva a mim tua opinião. Estou tão desacos-
tumado com essa espécie de escrita devido à falta de prática que tua mulher irá
rir muito da minha falta de jeito. Se podes deixá-lo pronto, então o faça. Alguns
exemplos convincentes da visão materialista seriam apropriados... (MEGA III/9,
p.534; MEW 29, p.468)
Dado que não se encontram os exemplos sugeridos por Engels e que não há
na correspondência nenhuma evidência de alterações textuais realizadas, Marx
provavelmente admitiu o texto no jornal tal como o recebera de Engels. Como se
depreende de sua carta, Engels estava tão pouco convencido de seu texto, quanto
muitos de seus receptores no século XX.
II.
A resenha de Engels deveria ser publicada em três partes no Das Volk,15 jornal
da associação alemã para a formação dos trabalhadores em Londres. Naquele tem-
po, Das Volk foi dirigido por Marx, não formalmente, mas na prática. A primeira
parte, que trata da concepção materialista de história esboçada no prefácio do
escrito de Marx, foi publicada em 6 de agosto de 1859; a segunda parte, que lida
sobretudo com o método, em 20 de agosto. A terceira parte, que deveria tratar da
mercadoria e do dinheiro, não veio a público, pois o jornal precisou interromper
sua publicação por motivos financeiros. É provável que Engels sequer tenha
escrito essa terceira parte.
Na primeira parte da resenha, Engels, de início, posiciona historicamente o
escrito marxiano. Por conta do atraso econômico, a burguesia alemã, diferente-
mente da inglesa, não teria gerado até então nenhuma literatura econômica. O
caso do “partido proletário alemão” foi, no entanto, distinto: “Toda sua teoria
resultou do estudo da economia política e também data do instante do surgimento
desse partido a economia alemã, científica e independente” (MEGA II/2, p.247;
MEW 13, p.469). Ao falar aqui de “partido proletário alemão”, Engels não tem
em mente nenhum partido em seu sentido hodierno enquanto forma fixa de or-
ganização com estatuto de partido, com membros e com funcionários eleitos – à
época não havia esse tipo de partido –, mas sim todos aqueles que representam
13 Aviso. (N. T)
14 Em sua totalidade (N. T.)
15 O povo (N. T.)
16 Karl Marx; Friedrich Engels, Manifesto comunista. Trad. Álvaro Pina. São Paulo: Boitempo, 2002.
(N. T.)
17 Liberdade, igualdade, fraternidade (N. T.)
18 A expressão “Emigrantengezänk”, traduzida aqui como “rixa entre emigrantes”, é usualmente
empregada de maneira pejorativa para se referir a situações de disputa em torno de questões au-
tointeressadas e menores travadas entre militantes políticos em exílio. O caso específico referido
por Engels nessa ocasião diz respeito, sobretudo, às disputas travadas em Londres entre os círculos
formados em torno de Gottfried Kinkel e Arnold Ruge. (N. T.)
Percebo a partir dessa nota [uma anotação no livro de Lassalle sobre Heráclito que
se referia à análise do dinheiro, M. H.] que o sujeito pretende, em seu segundo
grande opus,21 expor a eco.[nomia] polít.[ica] de modo hegeliano. Para seu azar,
ele aprenderá que uma coisa é levar uma ciência, por meio da crítica, precisamente
ao ponto de se poder apresentá-la dialeticamente, e outra bem diferente é aplicar
um sistema de lógica pronto e abstrato a noções desse mesmo sistema. (MEGA
III/9, p.59; MEW 29, p.275)
19 Karl Marx; Friedrich Engels, A sagrada família ou a crítica da Crítica crítica contra Bruno Bauer e
consortes. Trad. org. e notas de Marcelo Backes. São Paulo: Boitempo, 2011. (N. T.)
20 Por mero acaso (N. T.)
21 Obra (N. T.)
22 Três semanas mais tarde, em carta endereçada a Lassalle em 22 de fevereiro de 1858, Marx caracterizou
seu projeto como segue: “O trabalho em que estou envolvido no momento é a crítica das categorias
econ.[ômicas], ou if you like [se preferir], o sistema da economia burguesa criticamente apresentado.
Ele é, ao mesmo tempo, apresentação do sistema e crítica do sistema por meio da apresentação”
(MEGA III/9, p.72; MEW 29, p.550). Essa declaração marxiana – que é frequentemente citada hoje
em dia e que denomina o dimensionamento da crítica por meio da apresentação de modo muito
mais claro do que o trecho anteriormente referido – não era, contudo, conhecida por Engels.
23 Tradução do professor Marcos Lutz Müller, a ser publicada em breve pela Editora 34. (N. T.)
24 Otto Wigand foi o editor de muitos escritos jovem-hegelianos, incluindo “A Situação da Classe
Trabalhadora na Inglaterra”, de Engels.
25 Vale notar nesse verbete que, para Wigand (1848), o “verdadeiro criador do Idealismo é Berkeley, que
afirmava que Deus, o espírito infinito, cria imediatamente, em cada espírito finito, a representação
do corpóreo, do mundo. Esse Idealismo foi chamado de dogmático e até mesmo de místico”. Em
face dele, o Idealismo kantiano, chamado de “crítico, transcendental e formal”, não é entendido
aqui propriamente como “Idealismo”, dado que Kant “não duvidava do ser-aí efetivo das coisas, mas
apenas da sua correta representação”. Fichte, por sua vez, ensinava que “o mundo é um produto
do eu”, pelo que seu Idealismo “costuma ser chamado de autoteísta”. Já “Schelling – que buscou
afinar o ideal com o real enquanto dissolveu o ser e o saber, a natureza e o espírito, o um e o todo
no ser infinito de Deus – e Hegel – que igualmente assumia a unidade do conceito e do ser – não
podem, por isso, ser chamados de idealistas”. Portanto, supondo a visão de Wigand como expres-
siva de seu tempo, classificar uma filosofia como “idealista” nos anos 1840 significava reconhecer
nela a ideia ou o sujeito ocupando uma posição de autonomia e domínio em relação à existência
sensível ou ao objeto, sendo, assim, a unidade entre ambos um indício “não-idealista”. (N. T.)
V
A pergunta interessante é, no entanto, como Engels chegou de resto à sua
concepção de paralelismo entre o desenvolvimento lógico e o (literário-)histórico
das categorias. Um motivo importante para isso me parece ser a comunicação
insuficiente entre Marx e Engels. Eles certamente trocaram opiniões sobre pro-
blemas políticos, sobre ações de amigos e de opositores em um grande número
de cartas. No entanto, uma discussão efetiva de questões teóricas da crítica da
economia política mal ocorreu. Marx deu apenas indicações muito escassas sobre
seu trabalho. Engels não pôs os olhos nem sobre os Grundrisse nem sobre os
manuscritos da Primeira brochura. Mesmo mais tarde, esse continuou sendo o
caso. Engels viu pela primeira vez o texto do livro primeiro de O capital quando
Marx lhe enviou as provas de impressão. Na correspondência dos anos 1850 e
1860 há ainda muito mais exemplos de que Marx recorre aos conhecimentos es-
pecializados de Engels sobre comércio, sem que, contudo, sejam travados debates
teóricos efetivos entre ambos. A consequência disso foi que Engels, à ocasião da
morte de Marx, não sabia em absoluto em que estado de elaboração estavam os
livros dois e três de O capital. Ele tomou conhecimento disso apenas durante a
revisão dos manuscritos póstumos.27
O primeiro e único relato algo detalhado sobre o plano da Primeira brochura
consta na já referida carta de Marx a Engels de 2 de abril de 1858. Marx começa
com o plano de seis livros (sobre o capital, a propriedade da terra, o trabalho as-
salariado, o Estado, o comércio internacional e o mercado mundial) e adiciona,
como explicação:
26 O adjetivo “naturgemäß”, que traduzimos, aqui, por “natural” é originalmente formado por uma
associação do radical Natur (natureza) e do sufixo -gemäß, que significa “de acordo com”, “na
medida de”. Em contraste com “naturell” (natural) ou “natürlich” (naturalmente, natural), a expressão
“naturgemäß” pode ser entendida como indicando uma associação menos imediata com o que se
entenda, nesse contexto, “natureza”. (N. T.)
27 Ver suas cartas a Lawrow do dia 2 de abril de 1883 (MEW 36, p.3), a Nieuwenhuis, do dia 11 de
abril de 1883, (MEW 36, p.7) e a Bernstein, do dia 14 de abril de 1883 (MEW 36, p.9).
Caso se conheça, como Engels, apenas essa carta, pode-se, então, chegar
definitivamente ao pensamento de que Marx parte de um paralelismo sistemático
entre o desenvolvimento “lógico” (dialético-conceitual) das categorias e a con-
sumação histórica das relações econômicas correspondentes a essas categorias.
Como, porém, se depreende da “Introdução” de 1857, Marx não partiu precisa-
mente de um paralelismo consistente: às vezes o desenvolvimento histórico pode
corresponder à ordem das categorias no desenvolvimento conceitual, às vezes ele
pode transcorrer de maneira exatamente inversa. As observações citadas a respeito
das passagens “históricas” não tinham para Marx nenhum sentido sistemático e
constitutivo da apresentação, precisamente; tratava-se de observações, por assim
dizer, suplementares, o que, porém, não poderia se tornar claro de maneira alguma
para Engels apenas com base nessa carta.
A questão a respeito do paralelismo ou do não-paralelismo entre o desenvolvi-
mento histórico e o desenvolvimento conceitual das categorias não era, de modo
algum, uma questão central para Marx. Como, no mais tardar, o Urtext de 185828
torna nítido, para ele a relação entre o desenvolvimento histórico e o conceitual
diz respeito a uma questão completamente diferente. Por volta do fim desse texto
28 Para a crítica da economia política: texto originário (MEGA II/2, p.17-94) consiste em escritos
fragmentários produzidos durante a elaboração de Para a crítica da economia política: primeira
brochura (1859). Neles, Marx chega a esboçar a passagem do dinheiro ao capital, a qual acaba
excluída da versão publicada. Sob o título de Urtext zur Kritik der politischen Ökonomie, esses
fragmentos foram publicados pela primeira vez em 1941 junto aos Grundrisse. Ver Heinrich (2014,
p.160). (N. T.)
29 Esse livro nunca foi escrito. Dado que as Teorias sobre o mais-valor surgiram graças ao conceito
superado de uma história das categorias singulares, elas também não poderiam – em contraste com
a opinião geral – ser consideradas como rascunho para esse livro IV de O capital.
30 Friedrich Engels, A situação da classe trabalhadora na Inglaterra: segundo as observações do autor
e fontes autênticas. Trad. B. A. Schumann. São Paulo: Boitempo, 2010. (N. T.)
HW
HEGEL, Georg Friedrich Wilhelm. Werke in 20 Bänden. Frankfurt/M.: Suhrkamp 1970.
MEGA
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Gesamtausgabe. Berlin: Walter de Gruyter.
MEW
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Resumo
O artigo analisa a resenha de Engels sobre Para a crítica da economia política,
discordando tanto dos defensores de uma unidade científica e política completa
entre Marx e Engels, quanto daqueles que apresentam Engels como um falsifi-
cador e simplificador da obra de Marx. O argumento do autor é que os erros e
insuficiências presentes na resenha se devem às condições em que foi escrita, bem
como às declarações do próprio Marx.
Palavras-chave: economia política, método, desenvolvimento lógico, desenvol-
vimento histórico.
Abstract
This article analyses the abstract in reference to Marx’s Critique of Political
Economy, written by Frederic Engels. The author disagrees with those that present
Engels as having a complete accordance, scientific and political, with Marx, but
also with those that accuse him of faking and simplifying his thought. Instead,
the author arguments that Engel’s abstract fails because of the poor conditions in
which he wrote, as well as Marx’s statements.
Keywords: political economy; method; logical process; historical process.