Apostila - Planejamento & Estratégia - Fabricio Stocker
Apostila - Planejamento & Estratégia - Fabricio Stocker
Apostila - Planejamento & Estratégia - Fabricio Stocker
Introdução
As mudanças contínuas do ambiente de negócios atual desencadeiam pressões pela criação de
um novo tipo de organização. As organizações que desejam ser bem-sucedidas em um ambiente de
negócios marcado pelos avanços da inteligência artificial, da conectividade global, das experiências
compartilhadas nas redes sociais, da globalização da cultura, pela indústria 4.0 e outras grandes
tendências precisam saber utilizar dos conceitos fundamentais e atemporais presentes no arcabouço
conceitual da Gestão Estratégica. Esses conceitos guiaram as organizações ao longo de séculos da
história da humanidade.
A Gestão Estratégica é fundamentada em conceitos intuitivos e de fácil compreensão. A
utilização dos conceitos da gestão estratégica tem como objetivo garantir que as organizações
estejam capacitadas a atingir os níveis de desempenho demandados por um ambiente de negócios
cada vez mais competitivo e globalizado.
Nesse sentido, nosso estudo começa com a compreensão do que é estratégia e como
identificar as motivações por trás da execução das estratégias.
O que é estratégia?
Vamos iniciar a nossa jornada abordando uma das questões fundamentais do nosso curso:
afinal de contas, o que é estratégia? Entender como funciona o processo de gestão estratégica é
fundamental não apenas para aqueles que têm a responsabilidade de elaborar estratégias e gerenciar
as organizações. Na verdade, é um conhecimento tão interessante e envolvente que acaba por ser útil
para qualquer pessoa, nas mais diversas situações.
No entanto, essa é uma questão complexa, pois a estratégia contempla vários conjuntos de
conceitos que são provenientes dos mais diferentes campos de estudo das ciências sociais. Além de
entendermos o que é estratégia, temos de compreender o processo de formulação e implementação
da estratégia, que é chamado de gestão estratégica. Fundamentalmente, a gestão estratégica lida com
a criação de vantagens competitivas sustentáveis, as quais permitem que as empresas criem valor, ao
longo do tempo e de maneira sustentável, para os seus stakeholders.
Vários autores do campo da estratégia analisaram a fundo o que é a gestão estratégica. De
maneira bastante detalhada e compreensiva, Kenneth Andrews, no livro The Concept of Corporate
Strategy (1971), define a estratégia corporativa como o padrão de decisões que estabelece os
objetivos e propósitos de uma organização, orientando as principais políticas e os planos para
alcançar os seus objetivos e as suas metas, definindo o escopo dos negócios em que a empresa atua,
o tipo de organização econômica e humana que a empresa deseja ser, e a natureza das contribuições
econômicas e não econômicas que a empresa pretende realizar para os seus acionistas, empregados,
clientes e as comunidades de interesse.
Teece (1994) define a gestão estratégica como a formulação, implementação e avaliação das
ações gerenciais que incrementam o valor da organização. Rumelt, Schendel e Teece (1994)
consideram que a gestão estratégica aborda a determinação da direção que as organizações
pretendem seguir. A gestão estratégica aborda os assuntos que são de interesse fundamental para os
gestores, ou para qualquer pessoa que esteja interessada em identificar as razões para o sucesso ou o
fracasso de uma organização.
Mintzberg e Waters (1985) definem que a formulação da estratégia se preocupa com o
desenvolvimento e a escolha de um curso específico de ação, enquanto a implementação da estratégia
compreende os passos seguintes, relacionados à comunicação, interpretação, avaliação e ação
propriamente dita. Desse modo, a gestão estratégica é desenvolvida por meio de um processo de
aprendizado continuo e interativo, do qual fazem parte todos os gestores da organização. Para uma
implementação eficaz das ações, os líderes e gestores precisam desenvolver o conjunto de habilidades
e conhecimentos que serão utilizados para alcançar os objetivos de longo prazo da organização.
Baseado nessas definições, podemos perceber que a formulação e a implementação da
estratégia é a prioridade máxima dos gestores. A estratégia é o que nos leva a alcançar os objetivos.
Quando você estiver conversando sobre a estratégia da sua empresa você avaliando o ambiente de
negócios a partir da perspectiva dos gestores de topo. Você precisará desenvolver uma visão holística
da organização, e isso será bastante útil, mesmo que não esteja em uma posição de liderança. Os
CEO’s e diretores precisam que os seus funcionários tenham uma clara compreensão da estratégia
e uma perspectiva maior da organização, e não apenas uma visão operacional do que está sendo
feito e das decisões que são demandadas no dia-a-dia das atividades e processos de trabalho.
Provavelmente, você já percebeu que os gestores precisam realizar escolhas e tomar decisões
continuamente. De modo geral, tais decisões estão relacionadas àquilo que a organização deve fazer,
assim como àquilo que a organização não deve fazer. Foco é um atributo essencial de qualquer
processo de gestão estratégica.
Resumindo, ao conversar sobre a estratégia, você estará utilizando a linguagem dos gestores
de topo e estará desenvolvendo uma compreensão profundar sobre o que significa desenvolver uma
estratégia eficaz para a sua organização. Finalmente, perceba que conversar sobre estratégia também
é avaliar o papel dos líderes nas organizações.
No tópico seguinte, vamos entender que, ao definir o que significa estratégia, uma das
principais preocupações é entender o que é e o que não é estratégia. Para tanto, vamos conhecer os
5 P’s da estratégia, propostos por Minztberg (1979).
Os 5 P’s da estratégia
Estratégia é aquilo que pode levar a sua empresa ao sucesso ou ao fracasso. Estratégia é ação,
significa o que vamos fazer para alcançar os nossos objetivos. O problema é que a palavra estratégia
é utilizada de muitas maneiras diferentes, e ficamos confusos tentando entender o que é a estratégia!
Boa parte desse problema provém do fato de que não existe apenas uma definição para o que é
estratégia no mundo das organizações, já que o ambiente de negócios é bastante complexo e requer
uma análise mais aprofundada das diferentes concepções sobre o que significa estratégia.
Dessa forma, vamos explorar o que pode significar, exatamente, a palavra estratégia no
mundo das organizações, analisando um dos principais trabalhos na área, realizado por Mintzberg et
al. no livro Safari da estratégia (1998).
Mintzberg (1978) criou a abordagem dos 5 P’s da estratégia para facilitar a nossa compreensão
acerca do assunto e sugerir formas de utilizar a estratégia. Para Mintzberg, apesar de ser da natureza
humana buscarmos uma definição específica para cada conceito, a palavra estratégia acaba sendo
utilizada em diferentes contextos e situações. Sumariamente, a definição de estratégia pode significar
um plano, padrão, pretexto (ou trama, de acordo com a acepção original, estratégia como ploy), uma
posição e perspectiva. Posteriormente, veremos como essas definições estão inter-relacionadas.
Estratégia como plano (plan)
A primeira definição de estratégia que vamos abordar é da estratégia como um plano. Um
plano contempla a execução de um curso de ação conscientemente elaborado a ser aplicado em um
contexto ou uma situação. Você pode ter um plano para perder peso, por exemplo, ou para passar
em um concurso. Uma empresa pode ter um plano para conquistar maior participação de mercado.
O que há de comum nessas situações? Quais são as condições necessárias para definirmos a estratégia
como um plano? Primeiro, veja que as ações ocorrem em um momento posterior à criação da
estratégia. Desse modo, há uma intenção formalmente estabelecida, consciente e com propósito,
por trás da elaboração da estratégia. A estratégia é entendida como um plano, o que pressupõe que
pensamos antes de agir e que nossas ações são as consequências da elaboração da estratégia. O
exemplo do Dia D.
Introdução
A parte filosófica do planejamento estratégico compreende o processo de definição de
negócio, de elaboração da visão, a concepção da missão e a identificação dos valores fundamentais,
os quais guiarão as decisões do dia a dia da organização. Podemos dizer que construiremos os
referenciais estratégicos da organização a partir desses conceitos. Nos parágrafos seguintes, vamos
apresentar o arcabouço conceitual, as metodologias para aplicação dos conceitos apresentados e os
exemplos de negócio, visão, missão e valores.
Definição do negócio
Uma das principais atribuições dos estrategistas é a definição do negócio da organização. Para
definirmos o negócio, temos de responder a três questões: em qual negócio nós estamos, quem são
os nossos clientes e por que o cliente faz negócios conosco. Precisamos desenvolver uma visão
acurada dos benefícios que o nosso modelo de negócios, ou da nossa estratégia para competir no
mercado, entrega para os nossos clientes. A geração de valor para os clientes, por meio da geração
de benefícios, é a pedra angular da criação de uma estratégia competitiva vencedora. Para o processo
de gestão estratégia, é fundamental pesquisar, identificar e entender as necessidades atuais e futuras
dos nossos clientes, bem como quais são os benefícios necessários aos atendimentos das necessidades
e dos desejos desses clientes e daqueles que ainda não são nossos clientes, mas podem vir a ser.
Perceba como as organizações estruturam as suas operações em torno da criação de uma cadeia de
valor focada na geração de benefícios para os clientes.
Vamos desenvolver um exemplo para interpretar o nosso negócio, ao mesmo tempo em que
analisamos quem é o cliente e respondemos à pergunta relacionada à questão “por que o cliente faz
negócios conosco”. Veja o exemplo da Smart Fit (www.smartfit.com.br): estrutura operacional
baseada em salas muito grandes e uma grande oferta de aparelhagem moderna, poucos instrutores,
muitas unidades e o foco em preço baixo. Uma estratégia desenhada para gerar benefícios orientados
à preço baixo, conveniência pela proximidade e muita disponibilidade de aparelhos para que os
clientes se exercitem e alcancem os benefícios relacionados a uma melhor forma física e uma vida
mais saudável. A Smart Fit alcançou um faturamento de R$ 1 bilhão em 2017 e possui mais de 1,6
milhões de clientes, tendo alcançado, no início de 2018, o posto de quarta maior academia de
ginastica, em número de clientes, do mundo. No entanto, veja como os desafios das organizações
mudam ao longo do tempo: apesar do sólido faturamento, a empresa ainda não reportou lucro.
Inspire-se no exemplo da Smart Fit e perceba que o seu cliente avaliará você em função dos
benefícios que ele quer receber, considerando aquilo que ele considera prioritário. Repare que é
importante perceber o que é prioritário tanto para o cliente como para a organização, para que você
tenha uma noção do desdobramento da sua estratégia. No momento em que você conjuga a definição
do negócio com uma resposta coerente sobre quem é o cliente e quais os benefícios que o cliente
espera receber da sua organização, você estará criando os referenciais que orientarão a formulação da
sua estratégia. Perceba que, no fundo, você está definindo aquilo que o cliente mais valoriza e que
quer receber do modelo de negócios. Dependendo da estratégia de competição, você priorizará os
atributos que considerar mais relevantes para o grupo de clientes-alvo que você escolheu.
Veja que os benefícios advindos da definição de Negócio são amplos, e fazem a diferença
entre organizações bem-sucedidas e aquelas organizações que não alcançam uma posição de
destaque no mundo dos negócios. Os principais benefícios estão relacionados à concentração dos
esforços na criação de um diferencial competitivo no seu âmbito de atuação, à orientação do
Posicionamento Estratégico visando à conquista do mercado existente e de futuros, e à criação de
uma visão estratégica do negócio que evite a miopia. Ao colocar a atenção nos benefícios, as
organizações são levadas a se atualizar constantemente, para gerar manter a geração de benefícios
em um nível adequado à competitividade do mercado.
Visões restritas do negócio impedem que as organizações se tornem reféns dos benefícios
gerados pelo portfólio existente de produtos e serviços. A Fedex percebeu que não estava apenas no
negócio de entregas. Os benefícios, em uma visão ampliada, estavam relacionados à criação de uma
sensação de paz de espírito para os clientes. A Fedex criou uma estrutura que entrega vários
benefícios para os seus clientes, desde a entrega das encomendas no lugar certo (condição necessária, mas
não suficiente para o sucesso do negócio), da rapidez e da integridade da entrega, até o alcanceglobal
da sua rede de distribuição e a capacidade de entregar uma gama bastante variada de
encomendas. Outro caso interessante é a evolução do modelo de negócios das grandes empresas
produtoras de petróleo do século XX. Empresas como a Shell estão desenvolvendo fontes renováveis
de energia, como a eólica e a solar.
Após definirmos o negócio, vamos colocar a nossa preocupação com a criação da visão de
futuro da organização. Como será a organização daqui a 10 ou 15 anos? Qual será o cenário em
que atuaremos? Estaremos atuando no mesmo negócio? As receitas, o lucro bruto, o lucro líquido
e a geração de caixa serão maiores ou menores? Nosso negócio caberá em um aplicativo para
smartphones? Seremos líderes no nosso mercado? Teremos uma atuação global? É preciso construir
o futuro, desenvolvendo as respostas às perguntas sobre as inúmeras incertezas com relação ao
porvir. Vamos conhecer o conceito que nos ajudará a desenvolver essas respostas.
Valores da organização
Por fim, precisamos falar sobre os valores, os princípios que devemos estar preparados para
defender durante os próximos cem anos, valores por meio dos quais educaremos os nossos filhos e
estaremos preparados para seguir com eles mesmo que a empresa, por algum tempo, não esteja
dando lucro. Sim, é uma questão de valores! Vamos entender as principais características dos valores
e o que eles representam para as organizações.
Os valores são um guia de princípios ou um código de ética que baliza a tomada de decisão da
organização e dos seus colaboradores. Os valores fornecem os critérios que nos ajudam a
entender o que é um comportamento aceitável ou inaceitável. Como os valores, em geral, são
palavras vagas, eles precisam ser esclarecidos com exemplos ou contraexemplos, devem ser
transformados em comportamentos específicos e necessitam ser realísticos, ou seja, indicar aquilo
que podemos praticar.
Os valores devem ser consistentes com a história e a cultura da organização. Consulte, por
exemplo, os valores da Petrobrás e perceba a preocupação com a sustentabilidade dos negócios e o
compromisso com a obtenção de resultados com superação e confiança.
Um exemplo detalhado de valores é oferecido pelo Google. Sergey Bin e Larry Page
escreveram os valores logo após fundarem a empresa. Um dos valores mais famosos explicita que a
empresa ganhará dinheiro sem fazer o mal.
Agora, veja o exemplo do McDonalds. O seu conjunto de valores inclui a liderança
responsável, a inclusão, a progressividade e integração local. Esses valores inspiram as ações da
empresa. A liderança responsável exercida pela maior cadeia de restaurantes do mundo, com
milhões de empregados, envolve fazer o bem para as pessoas, a sociedade e o planeta, minimizando
desperdícios e o impacto da escala de negócios da empresa no meio ambiente. A inclusão é
representada pelo fato de que McDonalds é uma das empresas mais universal e multicultural do
planeta, sendo formada e atendendo toda uma diversidade de pessoas das mais diferentes culturas,
idades e estória de vida. Progressividade significa que a empresa é incansável na busca pela inovação,
sempre se movendo para o futuro e tentando realizar as suas tarefas no dia de amanhã melhor do
que fizeram no dia de hoje. Finalmente, a integração local é essencial para a empresa, já que ela
opera localmente, atendendo as pessoas da região por meio das pessoas que vivem na região.
Busque sempre avaliar se as declarações de visão, missão e valores realmente influenciam a
maneira como as organizações conduzem os seus negócios. Esse é o verdadeiro teste da
importância relativa dessas declarações para as organizações. No fundo, um dos principais papéis da
liderança é comunicar e disseminar a cultura corporativa que está representada pela sua visão, missão
e pelos seus valores. É muito fácil ter declarações formais de conceitos que nunca são colocadas
em prática. São os líderes que podem modelar, exemplificar e encorajar os comportamentos
mais adequados à organização.
Após entender esses conceitos, nosso próximo passo é tentar entender o que o futuro reserva
para a nossa organização. Vamos estudar o ambiente de negócios.
EXTERNO
Introdução
Neste tópico, vamos introduzir um dos conceitos fundamentais da visão estratégica: a análise
do ambiente de negócios.
A análise do ambiente de negócios ajudará a entender quais são as tendências mais relevantes
do ambiente em que a sua organização opera e como essas tendências podem impactar a sua
organização. Precisamos avaliar quais são os cenários mais prováveis para o ambiente de negócios.
Por exemplo, que tipo de mudança tecnológica disruptiva pode acontecer no ambiente de negócios
em que a organização atua, que tipo de mudança política pode acontecer e impactar a nossa
organização, como uma mudança cultural, com adoção maior de redes sociais, pode impactar o
modelo de negócios atual e a estratégia para competir no mercado. Para encontrar respostas a essas
questões, você precisa identificar as grandes tendências no ambiente de negócios.
A análise do ambiente de negócios contempla dois tipos de ambiente: por um lado, o
macroambiente de negócios. Nessa abordagem, bastante compreensiva, iremos avaliar tendências
econômicas, demográficas, político-legais, culturais, tecnológicas, ecológicas, sociais. Com base na
análise das tendências, poderemos identificar os cenários mais prováveis para a organização, bem
como analisar as oportunidades e ameaças existentes em cada cenário. Em seguida, realizaremos a
análise do microambiente de negócios, na qual você estudará o padrão da competição no mercado
em que a organização opera. Para avaliarmos o microambiente de negócios, iremos utilizar o modelo
das 5 forças competitivas, proposto por Porter (1980), um dos modelos mais famosos do campo de
estudo da gestão estratégica.
Oportunidades e ameaças
Nosso próximo passo consiste em identificar as situações externas sobre as quais a organização tem
pouco ou nenhum controle, que se apresentam como possíveis alavancadoras do negócio da
organização ou como possíveis entraves ao seu desenvolvimento. Essas situações são definidas como
oportunidades ou ameaças, mas como podemos definir oportunidades e ameaças? Vejamos:
Introdução
Esse capítulo tem como objetivo auxiliar no desenvolvimento da análise do ambiente interno
da organização. O ajuste estratégico entre o ambiente interno e o ambiente externo é uma ideia
fundamental no mundo da gestão estratégica. O capítulo anterior abordou os principais conceitos e
ferramentas analíticas que permitem ao gestor entender as tendências e cenários, a dinâmica
competitiva e as oportunidades e ameaças com as quais a organização tem de lidar. Agora, vamos
conhecer quais são os principais conceitos e arcabouços conceituais que nos auxiliam a desenvolver
a análise do ambiente interno, bem como e a proceder com o ajuste entre as potencialidades que o
ambiente externo nos oferece e a capacidade que a organização possui para alavancar as suas
estratégias e alcançar os seus objetivos.
recursos tangíveis
equipamentos da empresa
acesso a matérias-primas
confiança
inovação ideias
capacidade de inovar
A Netflix não gerou problemas regulatórios, como a Uber, ou reações populares como a
Amazon. No entanto, a empresa está mudando definitivamente a indústria audiovisual, e reações
das partes interessadas no setor são esperadas. Quais são os desafios atuais para a empresa? Quais
devem ser os seus próximos movimentos estratégicos?
Após realizamos o diagnóstico estratégico por meio da matriz SWOT, podemos entender
como que as tendências, oportunidades e ameaças provenientes do ambiente externo podem ser
relacionada ao ambiente interno da organização. A partir desse momento, passamos a analisar as
estratégias passíveis de implementação para o negócio sob análise.
MÓDULO V – FORMULAÇÃO DA
Neste módulo, vamos entender como utilizar o conjunto de ferramentas analíticas que nos
ajudam a identificar as estratégias mais adequadas para competir no mercado, além de nos levar a
repensar o nosso modelo de negócios atual, em função da evolução do ambiente de negócios.
Introdução
A formulação da estratégia competitiva da organização é uma das principais atividades dos
estrategistas. As organizações precisam desenvolver as suas competências para desenvolverem as
vantagens competitivas e se aproveitarem das oportunidades existentes no ambiente de negócio.
A estratégia competitiva selecionada pela organização orienta o desenvolvimento das
competências organizacionais e a escolha de um posicionamento estratégico que maximize o
aproveitamento das oportunidades. Para formular a estratégia competitiva, utilizamos um conjunto
de ferramentas analíticas que permite a avaliação dos diferentes ângulos e das perspectivas das nossas
decisões estratégicas. Após elaborarmos os referenciais estratégicos, analisarmos e avaliarmos os
ambientes internos e externos, vamos identificar qual é a estratégia competitiva mais adequada para
a organização. Dessa forma, poderemos buscar a criação de vantagens competitivas que sejam
sustentáveis ao longo do tempo.
Posicionamento estratégico
Vamos entender como escolher um posicionamento estratégico para a organização. Para tal,
iremos identificar e selecionar dimensões estratégicas que nos ajudam a escolher o posicionamento
da organização no mercado. A seleção dessas dimensões estratégicas nos ajuda a entender como a
competição está organizada em determinados mercados. Em seguida, vamos identificar os grupos
estratégicos, para entendermos quem são os nossos competidores diretos. O primeiro conceito que
vamos abordar é o de grupo estratégico.
Grupo estratégico
Um grupo estratégico é um conjunto de empresas em um setor que segue estratégias idênticas
ou semelhantes, relativamente a determinadas dimensões estratégicas. O número de grupos estratégicos
varia em função do grau em que as empresas têm ou não estratégias diferenciadas com relação a dada
dimensão estratégica. Se todas as empresas em um setor seguirem a mesma estratégia, haverá um único
grupo estratégico. Se todas as empresas apresentarem estratégias diferentes, cada uma constituirá um
grupo estratégico. Um grupo estratégico é formado por empresas dentro do mesmo setor que adotam
comportamento estratégico semelhante e têm acesso a recurso semelhantes. Por exemplo, Bobs é um
concorrente direto do Mc Donald. Eles apresentam uma série de semelhanças como clientes-alvo
política de precificação, cardápios, formulação dos combos das refeições, formatos dos restaurantes, os
quais se localizam basicamente em shoppings, entre outras semelhanças. Veja que, ao analisar os grupos
estratégicos, estamos identificando não apenas os posicionamentos, mas também as orientações, os
interesses e compromissos estratégicos das organizações.
Quando analisamos a indústria como um todo, acabamos identificando o mapa estratégico
da indústria. Dentro do mapa estratégico, encontramos os grupos estratégicos. Para interpretar os
mapas estratégicos, deve-se avaliar as implicações para a estratégia da empresa estudada, os grupos
estratégicos mais bem ou malsucedidos no setor e os movimentos estratégicos de cada concorrente.
Deve-se trabalhar com as dimensões mais importantes para o setor, sejam elas de ordem qualitativa
ou quantitativa. E como podemos proceder essa análise? Por meio da análise de grupos estratégicos,
que é composta pelas 6 etapas a seguir:
1. definição dos concorrentes;
2. definição de uma lista de dimensões estratégicas relevantes para atuação no setor;
3. seleção, da lista anterior, das dimensões estratégicas que afetam mais fortemente a posição
competitiva das empresas na indústria de computadores;
4. plotagem de um mapa estratégico com duas dimensões;
5. definição quais os grupos estratégicos no setor e
6. interpretação do mapa estratégico.
Após realizado o exercício, pode-se buscar a escolha de uma posição estratégica que garanta a
geração de vantagens competitivas sustentáveis ao longo do tempo.
Dimensões estratégicas
As dimensões estratégicas são as variáveis que nos ajudam a identificar as semelhanças e
diferenças entre as estratégias escolhidas pelas organizações. Para melhorar nossa análise, listamos
dimensões estratégicas identificadas por Porter (1980), geralmente utilizadas no exercício de
posicionamento estratégico. Vejamos:
a) Seleção de mercados e canais de distribuição
▪ Especialização – grau no qual a empresa se concentra em determinados segmentos de
mercado e determinados produtos.
▪ Internacionalização – posição da empresa nos mercados internacionais.
▪ Foco no canal de distribuição ou na demanda final.
▪ Escolha do canal de distribuição – utilização de intensiva ou seletiva dos canais de
distribuição, propriedade dos canais.
c) Estrutura de custos
▪ Liderança em custos – posição comparativa da empresa com relação aos concorrentes.
▪ Política de preços – nível de preços praticado pela empresa com relação aos
concorrentes.
▪ Integração vertical – grau em que a empresa está integrada verticalmente para frente
ou para trás.
Podemos segmentar o espaço do mercado por meio das dimensões estratégicas e, comisso,
compreender como a concorrência está estruturada. Precisamos identificar quem são os nossos
concorrentes diretos, quem são aquelas empresas que estão dentro do nosso mesmo grupo estratégico.
Será que a Fiat é concorrente direta da Lamborghini? A Porsche da Mercedes? A BMW da Mercedes
e da Audi? A Netshoes é uma concorrente direta da Centauro? O Maduro é um concorrente do
Outback? E a Ipanema, da Grendene, é uma concorrente direta da Havaianas, da Alpargatas?
São esses pontos que buscamos responder quando fazemos a análise do posicionamento
estratégico dentro de uma determinada indústria.
Vamos aprofundar nossa visão das dimensões estratégicas. Podemos considerar o
balanceamento do mix qualidade preço, por exemplo. É um mix qualidade preço com uma
abordagem de alto ou baixo valor agregado? A cobertura geográfica é local, regional, nacional ou
global. Coca-Cola, por exemplo é global. Já o Suco DoBem (www.dobem.com) começou com uma
distribuição regional, alcançou alguns estados brasileiros e, atualmente, está expandindo a
distribuição dos sucos para Portugal, França e Espanha.
O grau de integração vertical diz respeito a que tipo de atividade as empresas trazem para
dentro do seu modelo de negócios. Por exemplo, uma siderúrgica pode aumentar o seu grau de
integração vertical ao adquirir minas de minério de ferro e passar a beneficiar o minério de ferro,
por exemplo.
A amplitude do portfólio também é uma dimensão bastante relevante. Qual é a melhor
estratégia: deter um portfólio mais restrito ou mais extenso? O portfólio do McDonald’s tende a
ser mais restrito e semelhante ao do Bob’s. Uma churrascaria como a Fogo de Chão tende a ter uma
amplitude de portfólio mais extensa, assim como o Madero (www.restaurantemadero.com.br) tem
uma extensão de portfólio maior do que a do McDonald’s ou Bob’s.
O nível de atendimento ao cliente também gera diferenciais competitivos e nos ajuda a
entender a formação dos grupos estratégicos. Por exemplo, o nível de atendimento ao cliente de
uma livraria especializada em um tipo de literatura, por exemplo, livros técnicos, tende a ser superior
ao de livrarias que seguem um modelo de megastore, como a Saraiva e a Cultura. Se você pesquisar
um pouco mais a dinâmica dos grupos estratégicos das megastores, perceberá que é um segmento
que está sofrendo bastante com a ruptura tecnológica que gerou o surgimento das livrarias on-line,
das quais a Amazon é o grande paradigma. O nível de serviço pós-venda também é uma variável
relevante. Veja o caso da Dell Computer, que escolheu não ter distribuição física dos seus produtos,
mas que construiu uma forte reputação na área de pós-venda e assistência técnica.
Você também pode avaliar o nível de especialização no qual uma organização se concentra
em determinados segmentos de mercado. A Mont Blanc, por exemplo, concentra-se em produtos
de alto luxo. Uma empresa como a Coca-Cola se concentra em bebidas bicabornatadas e não
alcoólicas. Veja que essas empresas, ao longo do tempo, realizaram movimentos adjacentes, na
direção de novos mercados, mas mantendo uma identidade estratégica. Mont Blanc passou a contar
com óculos e relógios no seu portfólio, mas sempre focada em produtos de alta qualidade e
sofisticação. A Coca-Cola não se movimenta na direção dos mercados formados pela oferta de
bebidas alcoólicas.
A identidade da marca, um alto grau de reconhecimento da marca, como você vê no caso da
Nestle ou a utilização de uma marca branca como é muito usual em produtos de limpeza de grandes
supermercados e também a escolha do canal de distribuição. Vamos ter uma escolha intensiva de
canais de distribuição, como é o caso das canetas Bic, ou será que eu terei uma utilização seletiva
dos canais de distribuição, como é o caso da Mont Blanc ou da H. Stern com o seu próprio conjunto
de lojas. Uma distribuição exclusiva ou especializada?
E o nível de investimento em pesquisa de desenvolvimento alto, médio ou baixo? A IBM
altíssimo nível de investimento em pesquisa de desenvolvimento o nível, Dell Computer um
baixo investimento.
Abordagem das disciplinas dos líderes de mercado
Treacy e Wiersena (1995) apresentaram uma tipologia de estratégias competitivas inspiradas
nas características das propostas de valor que buscamos entregar aos nossos clientes. Os autores
identificam três disciplinas fundamentais para a geração de valor para os clientes: a excelência
operacional (1), da liderança em produtos (2) ou da intimidade com o cliente (3). Cada uma dessas
dimensões ou disciplinas traz uma abordagem de geração de valor para o cliente.
Treacy e Wirsema sugerem que as estratégias competitivas devem estar calcadas nas disciplinas
de valor. Para os autores, existiriam três disciplinas de valor, e as empresas deveriam escolher apenas
uma delas e ser superiores em termos de desempenho na disciplina que escolheram, entregando um
valor superior aos seus clientes. Veja que nenhuma empresa consegue ser tudo para todos. Os
estrategistas têm de fazer uma opção clara e consciente das disciplinas que devem enfatizadas. A
entrega da proposição de valor, ou seja, o porquê de os clientes fazerem negócio conosco, ditará o
nível de sucesso da empresa junto aos clientes. As três disciplinas de valor seriam a excelência
operacional, a liderança em produto e a intimidade com o cliente. Vamos analisá-las a seguir.
Excelência operacional
As empresas orientadas a excelência operacional buscam criar valor para os seus clientes por
meio de preços muito acessíveis, muita conveniência, serviços baratos, rápidos, muita confiabilidade
e boa qualidade percebida. Na verdade, essas empresas buscam excelência operacional com grande
foco no gerenciamento dos seus processos de trabalho e também em uma padronização acentuada
daquilo que ela tenha a oferecer aos seus clientes. Organizações orientadas a excelência operacional
oferecem valor superior ofertando preços acessíveis e conveniência. Elas atendem a clientes que
desejam serviços baratos, rápidos e confiáveis, de boa qualidade. Exemplos: McDonald’s, empresas
de transporte urbano como metro do Rio e SP, Fedex, DHL e Gol. Veja como essas empresas
dependem de um excelente desempenho em processos operacionais, baixos custos de produção,
processos eficazes de produção e uma logística just in time.
Liderança em produto
As empresas orientadas à liderança em produto focam na inovação, no gerenciamento da
marca e em todos os processos relacionados ao marketing. A empresa oferece valor superior
disponibilizando produtos e serviços cada vez mais atuais, tornando os produtos dos concorrentes
e os seus próprios produtos obsoletos. Serve a clientes que desejam qualidade, inovação, soluções
atuais. O foco está na entrega de um valor superior aos clientes, seja via desempenho superior de
produtos, design mais atraente, marca com nível de reconhecimento no mercado, inovação maior –
é o caso da Apple, que lidera o seu mercado em termos de grande oferta ao cliente que está disposto
a pagar mais pelos produtos. Também é o caso da HP, Nike ou Mont Blanc. Exemplos de liderança
em produtos: 3M, Nike, Disney, Swatch, Microsoft, Sony, HP, Intel e Motorola.
A qualidade do produto está em uma posição central. Desenvolver produtos inovadores é o
ponto de partida da organização. A divisão de P&D é muito importante e, muitas vezes, busca-se
atender a novos mercados ou mercados em fase de expansão.
Introdução
Estamos chegando ao final da nossa jornada, de forma que chegou o momento de mapearmos
a estratégia para monitorar e controlar a sua execução. Para entender como controlar e monitorar a
estratégia, vamos utilizar o modelo desenvolvido por Kaplan e Norton (1992), o Balanced Scorecard
(BSC). O objetivo do BSC é garantir que as estratégias entrem em ação e, com isso, possamos
controlar a eficiência e a eficácia da estratégia de competição da organização. O BSC é um sistema
de medição de desempenho, traduzindo a estratégia da empresa em um conjunto “balanceado” de
indicadores financeiros e não financeiros, usados para:
▪ mobilizar para a mudança por meio da gestão executiva;
▪ traduzir a estratégia em termos operacionais;
▪ alinhar a organização com a estratégia;
▪ motivar, fazendo da estratégia um trabalho de todos e
▪ governar e gerir, fazendo da estratégia um processo contínuo.
Nesta seção, vamos conhecer o que é o Balanced Scorecard (BSC), aprofundando nossos
conhecimentos sobre o que são objetivos, mapas estratégicos e painéis de indicadores.
Adicionalmente, vamos abordar o conceito de planos de ação.
Objetivos estratégicos
Um objetivo é um resultado quantitativo ou qualitativo que uma organização espera alcançar
ao longo do tempo. Os objetivos devem ser inspirados na visão e precisam ser desdobrados por
todos os níveis hierárquicos da organização, do topo aos níveis mais básicos. O BSC trabalha com o
conceito de objetivo estratégico.
Os objetivos estratégicos são os pilares da estratégia, ou seja, são os componentes que vão
orientar na decomposição da estratégia em termos operacionais. Eles devem ser definidos como uma
declaração concisa e quantificável que descreve o que a organização tem de fazer bem para
implementar a sua estratégia. Inicie por um verbo e motive uma ação. Como exemplos, temos:
▪ manter a rentabilidade;
▪ melhorar a relação com clientes;
▪ desenvolver novos produtos e
▪ desenvolver competências estratégicas.
Os objetivos devem ser claros e bem divulgados, de forma que haja um entendimento do que
se deve alcançar e uma aceitação de que essa é a melhor escolha. Uma boa dose de estímulo e desafio
deve ser colocada nos objetivos. É preciso cuidado, no entanto, para que não se descole da realidade,
sonhando muito alto. Um objetivo deve ser acompanhado e cumprido. Desse modo, precisa ser,
desde a sua definição, entendido e aceito como factível. Cada objetivo deve ser priorizado em relação
ao tempo e aos recursos demandados para a sua viabilização. Em resumo, os objetivos devem ser:
▪ coerentes com a missão e a visão de futuro da organização, e com os resultados da avaliação
estratégica;
▪ claros, amplamente divulgados, entendidos e aceitos;
▪ realísticos, mas desafiantes, e estimuladores de ações concretas, e
▪ priorizados e ter um sistema adequado de avaliação e controle do seu alcance.
Agora, analise a estruturação dos objetivos definidos acima e reflita: o que esses objetivos
possuem em comum?
Em primeiro lugar, os objetivos precisam ser específicos. Desse modo, possuem um escopo
bem-definido. Os objetivos exemplificados acima possuem escopos bem-definidos: market-share,
satisfação dos clientes, margem bruta, retorno sobre os ativos, tempo de entrega dos produtos nos
clientes finais e custos fixos.
Em segundo lugar, conseguimos quantificar os resultados a serem alcançados. Veja que
conseguimos quantificar de maneira acurada os objetivos, já que o escopo está bem-definido.
Existem também aqueles objetivos que são de natureza subjetiva, como a avaliação que fazemos
sobre um sabor. No entanto, perceba que, mesmo nesses casos, podemos estruturar mensurações,
como escalas de preferências, e definir um resultado a ser alcançado.
Em terceiro lugar, vejamos a importância de definir uma meta. Como conseguimos
quantificar os objetivos, podemos definir uma meta a ser alcançada. A meta é a quantificação do
objetivo. Nos exemplos apresentados, temos, respectivamente, as metas 10%, 7%, 40%, 72 horas
e 6%. Veja que essas quantificações não possuem ambiguidades. Um objetivo deve deixar claro se
já o alcançamos ou não. A meta cumpre esse papel. Veja que a meta, em geral, deve ser quantificada
previamente. Estamos trabalhando com a ideia do planejamento, ou seja, definimos objetivos e, em
seguida, identificamos as ações para alcançar os objetivos. Nesse momento, não estamos
trabalhando com a ideia de que, quando alcançarmos algum resultado, poderemos definir as metas.
Metas devem ser definidas, sempre que possível, a priori, e não a posteriori. Pode ser que, em um
primeiro momento, ao realizar uma atividade que nunca tenha realizado, você tenha dificuldades
em avaliar o impacto nos objetivos dos esforços que realiza. Nesse caso, tenha especial atenção com
a mensuração do resultado gerado pelos esforços dispendidos nas ações. Mensure e avalie os
impactos das ações, pois isso irá melhorar a sua capacidade de controlar a implementação da
estratégia.
Em quarto lugar, os objetivos devem ser alcançáveis. Enquanto a visão de futuro deve ser
desafiadora e inspiradora, defina metas que sejam alcançáveis. Coloque o grau de desafio adequado
às disponibilidades de recursos tangíveis e intangíveis, para que as pessoas possam acreditar na
viabilidade de alcançar as metas previstas na estrutura dos objetivos. Metas audaciosas demais geram
frustrações, dada a incapacidade de alcançá-las. Busque objetivos alcançáveis, senão você pode gerar
desânimo na sua organização. No entanto, por outro lado, metas fáceis de serem alcançadas geram
acomodação. Evite essas duas armadilhas.
Em quinto lugar, os objetivos têm de ser relevantes. Coloque o foco naquilo que é prioritário
para a organização. Evite trabalhar com muitos objetivos, sintetize-os, crie índices que combinem
vários indicadores. Temos de trabalhar com poucos objetivos, mas que sejam bastante significativos,
ou seja, que obedeçam a um senso de priorização.
Finalmente, objetivos bem construídos possuem um horizonte temporal bem definido, o que
significa que conseguimos prever, adequadamente, o tempo necessário à implementação das ações.
A lógica intrínseca aos objetivos deve considerar a coerência entre as variáveis tempo, esforço e
resultado. Temos de ter a visão do espaço temporal plenamente definido.
Para terminar, sumarizando tudo o que vimos até agora, quando você definir um objetivo,
lembre-se de que os objetivos devem ser SMART:
▪ S: o objetivo tem de ser bastante específico;
▪ M: mensurável;
▪ A: alcançável;
▪ R: relevante e
▪ T: temporal.
Vejamos um exemplo. Suponha que temos um objetivo relacionado à satisfação dos clientes:
aumentar a satisfação dos clientes em 10% no próximo ano. Esse objetivo está relacionado à
diminuição da taxa de defeitos dos nossos produtos. Quando diminuo a taxa de defeitos, temos um
aumento da satisfação. A diminuição do prazo médio de envio dos produtos também incrementa a
satisfação dos clientes. Para aumentar a satisfação dos clientes, precisamos alcançar outros objetivos,
que também estão entrelaçados.
Em geral, todas as organizações possuem múltiplos objetivos dentro de estrutura organizacional.
O desdobramento dos objetivos estratégicos deve obedecer a lógica do alinhamento e da geração de
sinergias organizacionais. Alinhamento e sinergia são as qualidades de um desdobramento coerente dos
objetivos estratégicos em cada área de negócio ou unidade organizacional, para as suas subunidades e
para todas as atividades que são desempenhadas em cada subunidade.
Nosso próximo passo consiste em desenvolver os objetivos estratégicos dentro das
perspectivas do BSC. Desse modo, vamos entender o conceito de perspectivas para podermos
desenvolver objetivos estratégicos focados nas diferentes áreas da organização.
Perspectiva do cliente
Essa perspectiva contempla os atributos dos produtos e serviços que os clientes necessitam
e que demandam da organização. A principal questão a ser respondida é: como os nossos clientes
nos veem?
A escolha de uma estratégia de competição deve ser, mandatoriamente, inspirada naquilo que
nossos clientes consideram como as suas prioridades em termos de necessidades e desejos. A
definição da missão nos fornecerá um guia para priorizarmos determinadas necessidades ou desejos
dos nossos clientes. Nessa perspectiva, os principais temas estratégicos estão relacionados às
estruturas de relacionamento com os clientes e a imagem da organização perante os consumidores,
o mercado e demais stakeholders, como a sociedade, por exemplo.
A perspectiva do cliente possui indicadores que sinalizam o que, provavelmente, acontecerá
com a nossa organização no futuro. São indicadores de tendência. Se estivermos nos saindo bem,
se os clientes estiverem satisfeitos, provavelmente teremos margens e rentabilidade adequadas à
perpetuidade no negócio. No entanto, se a avaliação dos clientes não está indo bem, isso alerta para
problemas futuros, pois um desempenho ruim nos indicadores relacionados aos clientes sinaliza
resultados financeiros futuros ruins, mesmo que, no momento corrente, a empresa apresente bons
resultados. Preste bastante atenção no desenvolvimento desses indicadores e busque relacionar com
precisão os processos internos aos benefícios gerados a cada grupo de clientes da sua organização.
Perspectiva financeira
A perspectiva financeira deve responder a uma pergunta específica: como devemos ser vistos
pelos nossos acionistas?
Kaplan e Norton consideram que as organizações colocam muita relevância nos resultados
econômicos financeiros. Desse modo, os gestores precisam balancear a maneira como enxergam as
organizações, ampliando a compreensão relacionada a outras áreas da organização. Enxergar apenas
a perspectiva financeira tolhe o desenvolvimento da habilidade de entender como esses resultados
estão sendo construídos. Temos de olhar o mercado como se tivéssemos faróis de milha, e não
apenas retrovisores. Os resultados financeiros são a consequência de uma operacionalização
consistente e adequada dos processos presentes nas demais perspectivas da organização: aprendizado
e crescimento, processos internos e clientes.
As perspectivas explicitam o que é prioritário para a organização. Agora, você pode pensar
um pouco mais sobre os objetivos estratégicos, já que eles devem ser conectados às perspectivas dos
BSC. Identifique os objetivos estratégicos dentro das perspectivas do BSC, descreva o propósito de
cada objetivo estratégico e não defina mais do que 10 objetivos estratégicos, para manter o foco no
que é prioritário.
A partir da análise do que é mais relevante para a organização, pode-se iniciar a construção do
mapa estratégico da organização, estabelecendo as relações causa e efeito entre as ações e os
objetivos que pretendemos alcançar.
Construção do BSC
Para construirmos o BSC, precisamos entender o conceito de mapa estratégico, uma vez que
o mapa estratégico é a representação da estratégia da organização, demonstrando como a
organização pretende gerar valor para os seus clientes.
Relações causa e efeito
O mapa estratégico apresenta as relações de causa e efeito entre os objetivos estratégicos de cada
uma das perspectivas, especificando essas relações dentro das perspectivas, em uma visão vertical,
tornando-as explícitas e passíveis de monitoramento e controle. As relações de causa e efeito existem
dentro de cada perspectiva e entre as diversas perspectivas. Temos de juntar os temas estratégicos em
temáticas comuns e identificar as relações de causa e efeito entre eles, para que entendamos as
consequências de cada uma das ações que desenvolvemos dentro da nossa organização.
Vejamos um exemplo das relações causa e efeito entre as perspectivas. A melhoria de
desempenho nos objetivos estratégicos da perspectiva de aprendizado e crescimento possibilita à
organização a operar melhor seus processos internos. Ao melhorarmos a nossa compreensão do que
fazer, como fazer e por que fazer, impactaremos a execução dos processos internos. Ao operarmos
esses processos de uma maneira superior, conseguiremos concorrer no mercado oferecendo um nível
superior de desempenho por meio do portfólio de produtos e serviços, desenvolvendo os canais mais
adequados para o relacionamento com cliente e gerenciando de maneira eficaz a imagem da marca.
Desse modo, atenderemos de uma forma cada vez melhor aos clientes, gerando valor de longo prazo
de maneira sustentável não apenas para os nossos clientes, mas também para os nossos acionistas. A
visão das perspectivas nos ajuda a compreender quão bem a estratégia está sendo executada.
Para poder lidar melhor com os efeitos dessas decisões para organização, precisamos de
indicadores financeiros e de indicadores representativos do desempenho futuro da organização.
Vamos voltar à discussão dos indicadores, já abordados anteriormente.
Indicadores de desempenho
Os indicadores de desempenho apresentam a evolução dos resultados dos objetivos
estratégicos. Temos dois tipos de indicadores: resultado e ação.
Os indicadores de resultado traduzem a consequência de ações previamente realizadas. Eles
são a componente histórica do modelo de gestão de desempenho. São as métricas focadas nos
resultados no final de um período temporal. Como são de natureza história, carecem de poder
preditivo. Por exemplo, a evolução das receitas e da participação de mercado, custo e volume de
produção, satisfação de clientes e funcionários. Nesse caso, estamos analisando o que já aconteceu.
São indicadores mais fáceis de identificar e capturar.
Já os indicadores de ação (performance drivers) são aqueles que sinalizam os resultados futuros.
São a componente de previsão do modelo de gestão. São as métricas que induzem (lead ou drive) o
desempenho dos indicadores de resultado (lag). Normalmente, medem processos e atividades
intermédias, como o número de horas passadas em clientes, o número de propostas de trabalho
enviados para os potenciais clientes e o absenteísmo dos funcionários. Esses indicadores possuem
uma natureza preditiva e permitem que a organização efetue ajustes em função dos resultados
encontrados. Podem ser difíceis de identificar e capturar. Muitas vezes, são métricas sem histórico
na organização
As metas (targets) dos indicadores de desempenho são os resultados quantitativos que deverão
ser alcançados. Seguido a lógica da construção dos objetivos, as metas precisam ser realistas e
motivadoras, quantificadas e relacionadas com um intervalo temporal. Deve-se descrever o
propósito da meta e o enquadramento temporal, identificando as fontes de informação para
obtenção dos valores e estabelecer uma meta por cada indicador de desempenho.
Iniciativas
As iniciativas são as ações a desenvolver para alcançar as metas propostas. Podem ser
estruturadas, conforme exposto anteriormente, em programas, projetos e atividades. As iniciativas
são uma componente estratégica do BSC. Deve-se detalhar cada iniciativa, relacionando-as aos
objetivos estratégicos. Busque identificar e detalhar, exaustivamente, todas as iniciativas
consideradas prioritárias. Agora, vamos a um exemplo de mapa estratégico e de um painel de
indicadores de desempenho.
aumentar lucro
2. lucro líquido após IR 35% 2020
líquido
aumentar fluxo de
Perspectiva 3. EBITDA 20% 2020
caixa
Financeira
reduzir custo de custo unitário de
4. produtividade 10% 2020
produção produção
Agora, para avaliar se o BSC ficou bem construído, analise os seguintes critérios:
▪ Número razoável de indicadores – menos do que 20, bom entre 12 e 16, mas muitas
correntes preconizam até 40 indicadores. Alguns autores preconizam cerca de 10
indicadores.
▪ A mensuração está focada nas perspectivas de tempo passado, presente e futuro.
▪ Todos os fatores críticos de sucesso ou estratégias de negócio devem estar cobertos por,
pelo menos, um indicador.
▪ Os indicadores são ponderados de acordo com a sua relevância ou prioridade.
▪ Utilização de índices que simplifiquem a necessidade de dados e a análise.
▪ Ausência de indicadores focados no curto prazo (principalmente, os indicadores
financeiros – podem causar problemas futuros).
▪ Estabelecimento de correlações entre as métricas (satisfação do cliente ou empregado versus
desempenho financeiro).
▪ O desempenho dos indicadores é analisado visando à detecção de tendências, para que as
ações corretivas sejam tomadas em tempo hábil para reverter maus resultados.
Desdobramento das iniciativas: construção do plano de ação
Chegamos ao final do nosso processo de gestão estratégica e temos de entender como iremos
alcançar os objetivos que detalhamos anteriormente. Vamos entender como estruturar o plano de ação.
Os planos de ação auxiliam a estabelecer períodos para observação e acompanhamento das
atividades, e os resultados requeridos para atingir um objetivo específico e a implementação de
uma solução.
A implementação dos planos de ação é suportada pela metodologia do 5W e 2H. Os planos de
ação identificam o “suporte para” e o “compromisso com” essas atividades. Os principais
predicados do plano de ação são o alinhamento com a cultura e o estilo gerencial da organização, e
a compreensão de que o plano de ação é um método ou uma ferramenta, um meio, e não um fim.
O plano de ação deve ser orientado para resultados: o plano é expresso em termos de uma série de
atividades e resultados específicos.
O plano de ação é dinâmico e mutável, flexível, deve ser ajustado conforme as dificuldades
de percurso ou as mudanças de condições, mas deve continuar focalizando os resultados desejados.
O plano de ação é mensurável e gerenciável: os resultados têm de ser medidos. Vejamos os
exemplos do formulário do plano de ação e das perguntas fundamentais presentes na metodologia
do 5W e 2H. A primeira coisa que devemos trabalhar é a identificação do quê? Coloque no lugar
de O QUE os nossos objetivos.
Depois, vem a palavra COMO. A partir do momento que especificou os objetivos, pode
detalhar as ações sempre começando com um verbo. As ações devem ter um sentido orientado à
realização, o que precisamos fazer para alcançar nossos objetivos. Depois, detalhe as ações
exaustivamente mesmo porque, dependendo das áreas, vamos ter de desenvolver o desdobramento
de um plano de ação, ou seja, realizarmos vários outros planos de ação para trabalhar de maneira
exaustiva e colocar a empresa na direção dos nossos objetivos.
O terceiro item é o POR QUE. Você tem de trabalhar as razões pelas quais devemos realizar
determinadas ações e as razões pelas quais devemos buscar alcançar determinados objetivos. Por que
é uma ideia fundamental dentro do nosso plano de ação.
Na sequência, vem o QUEM? Temos de gerar as responsabilidades pela implementação,
listando as pessoas responsáveis e os cargos responsáveis pelas ações.
Finalmente, coloque as datas de início e fim de cada uma das ações. É a ideia do QUANDO.
Depois de determinar respostas para as ideias, pode realizar um exemplo de plano de ação.
Quadro 3 – Formulário do plano de ação
Plano de ação
número:
objetivo:
estratégia:
atividade who why how where when how much
10
Who
Quem executará a atividade?
Quem depende da execução dessa atividade?
Essa atividade depende de quem para ser executada?
What
Quais os resultados dessa atividade?
Quais atividades são dependentes desta?
Quais atividades são necessárias para o início desta?
Quais os insumos necessários?
How
Como essa atividade será executada?
Como acompanhar o desenvolvimento dessa atividade?
Como A, B e C vão interagir para executar a atividade?
Why
Por que essa atividade é necessária?
Por que A, B e C foram escolhidos para realizar essa atividade?
Where
Onde a atividade será realizada?
When
Quando será o início das atividades?
Quando será o término das atividades?
Quando serão as reuniões de acompanhamento?
How much
Quando custará essa atividade?
Quanto tempo está previsto para a atividade?
Bons estudos!
BIBLIOGRAFIA COMENTADA
HITT, Michael A.; IRELAND, R. Duane; HOSKISSON, Robert E. Administração estratégica. Rio
de Janeiro: Cengage Learning, 2010.
Um consagrado manual de administração estratégica, que tem como pontos fortes a
integração das abordagens dos modelos de organização industrial e da visão baseada em
recursos, bem como exemplos de como as empresas utilizam os conceitos de administração
estratégia para criar vantagens competitivas.
KIM, W. Chan; MAUBORGNE, Renée. A estratégia do oceano azul – como criar novos mercados
e tornar a concorrência irrelevante. Rio de Janeiro: Campos, 2016.
O livro aborda uma maneira inovadora de desenvolver uma estratégia competitiva. Baseados
em estudos de caso que contemplaram os movimentos estratégicos de 150 empresas durante
mais de 100 anos, em 30 diferentes setores da economia, Kim e Mauborgne propõem que
a identificação de “oceanos azuis” – espaços inexplorados do mercado com forte potencial
de crescimento – e a construção de propostas de valor diferenciadas são os fatores que levam
à potencialização do sucesso das organizações, que conseguem evitar os “oceanos
vermelhos”, os espaços de mercado tomados pela intensa competição.