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2. Revisão Bibliográfica
Um dos aspetos mais importantes ligados aos estudos de terrenos para fins de engenharia
civil, é o da respetiva classificação, nomeadamente no que se refere à definição dos
parâmetros que melhor caracterizam uma formação do ponto de vista de Geologia de
[7]
Engenharia . Embora a importância desses parâmetros varie de caso para caso, consoante o
tipo de estrutura a projetar, há que basear a classificação, para ser universal, sempre nos
mesmos parâmetros e procurar quantificar as designações respetivas a partir de observações
e ensaios simples e expeditos.
Segundo Clerici et. al. (1990), a descrição litológica do maciço rochoso deve incluir, de forma
sintética, a cor, composição mineralógica básica, a presença de dobras, falhas (estruturas
importantes) na escala do levantamento, a presença de estratificação e xistosidade. Devem
ter-se claros, o grupo genético, estruturas principais e textura.
É importante destacar que nem sempre a classificação litológica expressa a variabilidade, que
uma rocha apresenta num mesmo local. É necessário, em certos casos, discriminar variedades
de um mesmo litotipo, com o objetivo de melhor expressar o comportamento do meio
rochoso, para fins de engenharia.
Solos
Os solos são materiais que resultam do intemperismo das rochas, por desintegração mecânica
ou decomposição química. A alteração mecânica resulta da ação de agentes como a água,
congelação da água nos poros e fendas das rochas, temperatura, vegetação (ação das raízes e
dos troncos das plantas em via de crescimento), vento e gravidade; a alteração mecânica
deixa os minerais da rocha de origem inalterados e identificáveis com esta. A decomposição
química entende-se como o processo em que há modificação química ou mineralógica dos
minerais da rocha de origem; é devida principalmente ao oxigénio, ao CO 2 e aos ácidos
orgânicos em dissolução na água e os mais importantes mecanismos de ataque são a oxidação,
hidratação, carbonatação e os efeitos químicos da vegetação. As argilas representam o
produto último do processo de decomposição. Os minerais argilosos são um grupo de minerais
[17]
cristalinos complexos, constituídos principalmente de silicatos de alumínio .
[16]
De entre os principais tipos de solos podemos citar :
Rocha
Rocha alterada é a que apresenta, pelo exame macro ou microscópico, indícios de alteração
de um ou vários de seus elementos mineralógicos constituintes, tendo geralmente diminuídas
as características originais de resistência.
[17]
Quanto à sua génese as rochas podem ser classificadas em :
Uma rocha, classificada sob o ponto de vista geológico, poderá apresentar diferentes
resistências ao desmonte, segundo o grau de alteração que já sofreu. Mesmo conservando
bem nítida a estrutura da rocha matriz, a sua resistência mecânica poderá ser bastante
reduzida, devido à alteração sofrida pelos seus minerais constituintes. A mesma observação
pode ser feita com relação às classificações da Mecânica dos Solos, pois um solo caracterizado
como argiloso poderá, apenas pela variação do teor de humidade, apresentar
[20]
comportamentos diferentes com relação à resistência oferecida ao desmonte .
A maioria da superfície da terra, e parte do fundo dos mares, estão cobertos por uma camada
de sedimentos granulares, que resultaram, principalmente, da desintegração mecânica e da
decomposição química das rochas, onde tais sedimentos se encontram numa forma solta ou
ligados por um cimento fraco que não mude a sua forma de um agregado de partículas,
classificando-se como solos. É esta forma granular que distingue os solos (numa forma geral
[17]
para a engenharia) de rochas .
Quando se pretende fazer o estudo de uma dada formação interessada num problema de
engenharia civil é corrente iniciá-lo por uma classificação geológica. Reconhece-se que esta
[7]
classificação não é absoluta para fins de engenharia, mas atribui-se-lhe utilidade .
Embora certos autores (cada vez mais raros) menosprezem o seu papel, chegando ao ponto de
propor o seu abandono, o certo é que continua a utilizar-se sistematicamente em trabalhos
de Geologia de Engenharia a classificação geológica dos terrenos, em virtude da sua
informação implícita. Como exemplo do que se afirma, poder-se-á referir o caso de maciços
calcários, ou constituídos por outras rochas solúveis, em que a simples designação alerta para
a possibilidade de ocorrência de situações, tais como fenómenos de dissolução ou outros
problemas idênticos e o caso de terrenos argilosos montmoriloníticos em que a designação
deixa desde logo prever a possibilidade de fenómenos de expansibilidade e retração
relevantes que poderão ser de muita importância em determinadas obras de construção civil
[7]
. Conforme é conhecido, estes fenómenos poderão estar na origem da formação de vazios
nos maciços, por vezes de grandes dimensões (cavernas), que estão na origem de fenómenos
de subsidência e de colapsos da superfície dos terrenos, ou ditar comportamentos hidráulicos
típicos (Figura 2.1) associados à permeabilidade em grande que se processa através da rede
[33]
de descontinuidades .
Figura 2.1 – Hidrogeologia de um maciço sedimentar. (A) zona de recarga; (B) zona de cavidades
[33]
saturadas; (C) zona de transferência .
É notório que é insuficiente dizer-se que um dado maciço é granítico, xistoso ou basáltico,
quando se pretende informar um projetista de uma barragem ou de uma ponte das
características do respetivo maciço de fundação. O estado de alteração do material, o seu
estado de fracturação, a presença ou ausência de material de enchimento das
descontinuidades e sua qualidade, são fatores que fazem variar extraordinariamente as
[7]
características do maciço .
___________________________
1
Utiliza-se o termo “geológico-geomecânica” por considerar-se mais geral, na prática de Geologia de
Engenharia, Mecânica de Solos e de Rochas e Engenharia de Solos e de Rochas. O termo “Geotecnia”
refere-se, num número muito grande de casos, a trabalhos relacionados a solos.
A ISRM (1983) considera que a meteorização ou alteração afeta, geralmente, as paredes das
descontinuidades mais do que o interior do maciço, e produz tanto a desintegração mecânica
quanto a decomposição química do mesmo. Vulgarmente, os dois efeitos atuam em conjunto,
mas dependendo do regime climático, um dos efeitos pode ser dominante. A desintegração
mecânica causa a abertura de descontinuidades e a formação de fissuras pelo fraturamento
da rocha. A decomposição química causa a descoloração da rocha e pode levar a eventual
decomposição de minerais silicáticos em minerais argilosos.
Recuperação
RQD (%) Permeabilidade Resistência
Zonas Descrição Provável (%)
(Ø=Nx) Relativa Relativa
(Ø=Nx)
Solo superficial com raizes e
IA matéria orgânica; zona de
- 0 Média a alta Baixa a média
Horiz. A lixiviação e eluviação; Pode ser
porosa
Zona tipicamente rica em
argila; concentrações de Fe, Al
IB Baixa (alta se
e Si; possibilidade de - 0 Baixa
I Horiz. B cimentado)
cimentação; ausência de
Solo Residual
estruturas reliquiares
Presença de estruturas
reliquiares; graduação para Baixa a média
IC materiais siltosos e arenosos; 0 ou não (influência
0 a 10 Média
Horiz. C menos de 10% de matacões; aplicável das estruturas
frequentemente macáceo; reliquiares)
formação do saporlito
Média a baixa
Altamente diversificada, desde
(se estruturas
materiais terrosos e rochosos;
II IIA variável de Alta (perdas de reliquiares
areia comumente fina a 0 a 50
Rocha Transição 10 a 90 água comuns) forem de
grossa; 10 a 95% de matacões;
Alterada baixa
alteração esferoidal presente
(solo residual resistência)
até rocha IIB Material rochoso, rocha branda
parcialmente Rocha a dura; descontinuidades em
50 a 75 > 90
alterada) parcial- diversos graus de alteração; Média a alta Média a alta*
em geral em geral
mente feldspatos e micas
alterada parcialmente alterados
Descontinuidades sem
> 75
III alteração e peliculas de óxido 100
- (> 90 em Baixa a média Muito alta*
Rocha Sã de ferro; feldspatos e micas em geral
geral)
inalteradas
* Considerando apenas o maciço intacto, sem estruturas geológicas com atitudes desfavoráveis.
Figura 2.2 – Características principais dos horizontes de um perfil de alteração de rochas ígneas e
metamórficas (adaptado de Deere & Patton, 1971).
Segundo a Figura 2.2, num perfil de solo, geralmente pode acompanhar-se o perfil de
evolução da desagregação da rocha sã, até à sua formação final como solo residual.
Normalmente, em encostas formadas por rochas graníticas temos os horizontes de alteração
bem definidos, sendo que a transição entre rocha sã e solo propriamente dito dá-se pela
formação do saprolito, que é o grau máximo de decomposição da rocha, onde ainda se
observa algum vestígio de estrutura da rocha, notando-se uma estrutura intermediária entre
solo e rocha.
Medianamente
W3 Alteração visível em todo o maciço rochoso, mas a rocha não é friável
alterado
a) b)
c) d)
Figura 2.3 – Diferentes graus de alteração em maciços rochosos. a) rocha xistosa desintegrada e
bastante alterada, perdendo alguma da sua estrutura original (maciço rochoso, Mértola); b) rocha
granítica ligeiramente descolorada, apresentando grau de alteração médio, mantendo a sua estrutura
original (talude na VICEG, Guarda); c) rocha granitica em bom estado de alteração com fraturas de
descompressão paralelas à superficie (talude na VICEG, Guarda); d) Talude de rocha granitica de vários
graus de alteração, com presença de um filão de quartzo (VICEG, Guarda).
De acordo com Vallejo (2002), o número de famílias e a orientação determinam a forma dos
blocos de rocha, que podem ter a aparência de cubos, paralelepípedos, romboedros, prismas,
etc.. Contudo as formas geométricas regulares são mais a exceção do que a regra, uma vez
que as descontinuidades de qualquer família são raramente paralelas de um modo
consistente. É nos maciços sedimentares que ocorrem normalmente blocos com formas mais
regulares.
[3]
Atendendo à sua origem distinguem-se os vários tipos :
[3]
Tabela 2.2 – Tipos de descontinuidades .
Este índice, que tem vindo a ser muito utilizado internacionalmente, é definido como a
percentagem determinada pelo quociente entre o somatório dos troços de amostra com
comprimento superior a 10 cm e o comprimento total furado em cada manobra. Em função
dos valores de RQD obtidos, o autor apresenta a classificação representando a qualidade do
[17]
maciço rochoso segundo mostra a Tabela 2.3 .
[3]
Tabela 2.3 – Classificação da qualidade dos maciços com base no RQD .
apenas em sondagens que utilizam amostradores de parede dupla ou tripla, com diâmetro
[23]
(NX) de pelo menos 54,7 mm .
Figura 2.4 – Procedimento para medição e cálculo de RQD (adaptado de Deere, 1989).
No caso de não existir amostragem obtida por sondagens, mas que sejam identificáveis os
traços das descontinuidades em afloramentos rochosos ou em escavações, poder-se-á estimar
o valor do RQD recorrendo à relação proposta por Palmstrom, 1975 (ISRM 1981):
Para exemplo, num maciço com três famílias de descontinuidades (J1, J2 e J3):
⁄ ⁄ ⁄
De acordo com os valores de JV, são normalmente utilizadas as seguintes designações para
descrever as dimensões dos blocos:
Tabela 2.4 – descrição do tamanho dos blocos em função do número de descontinuidades, (ISRM, 1981).
Descrição Jv (descontinuidades/m3)
blocos pequenos 10 a 30
blocos muito pequenos > 30
Quando JV é superior a 60, considera-se que o maciço rochoso está bastante esmagado.
Outra forma, menos precisa mas mais facilmente executável de estimar o valor de JV é contar
o número total de descontinuidades que intercetam um comprimento L, em qualquer direção,
[3]
correspondendo este valor à frequência das descontinuidades, λ .
⁄ [ ]
ou
⁄ [ ]
A determinação do RQD pode assim ser feita a partir da frequência das descontinuidades,
obtendo-se um valor teórico mínimo para o RQD:
[ ]
volumétrico, para estimar o valor do RQD, pode apresentar-se como benéfico por reduzir tal
[8]
dependência .
O parâmetro RQD deve representar a qualidade do maciço rochoso “in situ”. Quando se
realizam sondagens em maciços com forte anisotropia, nos quais se incluem muitas das
formações xistentas que ocorrem em Portugal, é frequente o desenvolvimento de novas
fraturas no material das amostras, segundo os planos de fraqueza, resultantes da
descompressão que se regista em consequência da sua retirada do maciço. Quando da
observação de amostras obtidas por furação, deve haver cuidado de distinguir as fraturas
naturais, das decorrentes do processo de furação ou daquelas que foram causadas quer pelo
manuseamento do equipamento, devendo estas últimas ser ignoradas na determinação do
[9]
RQD .
A classificação dos maciços rochosos, baseada nos valores do RQD, embora útil, é bastante
limitada. De facto, além das fraturas, outras descontinuidades que caracterizam a estrutura
geológica das formações, podem, de forma idêntica, imprimir um dado comportamento a um
[3]
maciço. Estão neste caso, por exemplo, as superfícies de estratificação e de xistosidade .
Figura 2.5 – Relação entre tensão de corte e normal em superfície deslizante para três tipos de
[44]
descontinuidades em diferentes condições geológicas .
A condição (3) mostra que numa descontinuidade com superfícies rugosas, a coesão é nula e o
ângulo de atrito é composto por duas componentes: o ângulo de atrito da superfície da rocha
(Øb) e uma componente (i) relacionada com a rugosidade (asperezas) da superfície e a razão
entre a resistência da rocha e a tensão normal aplicada. Com o aumento da tensão normal, as
asperezas são progressivamente aplanadas e o ângulo de atrito total diminui.
Vários critérios de resistência (rotura) para descontinuidades têm sido formulados nas últimas
décadas, porém o primeiro entendimento sobre o comportamento das descontinuidades das
rochas foi estabelecido pelo critério de Patton (1966) a respeito da influência da rugosidade
na resistência das descontinuidades. Este autor realizou ensaios de corte direto sobre
amostras com descontinuidades artificiais e constatou que a resistência ao corte depende do
[3]
ângulo de atrito do material e da inclinação das rugosidades . Esta resistência foi definida
por:
Onde:
( ( ) )
Onde:
Figura 2.6 – Envolvente bilinear de rotura de pico obtida a partir de ensaios de corte direto (adaptado
de Patton, 1966).
O JRC pode ser obtido através da fórmula em baixo (8) proposta por Barton et al. (1985) e
derivados a partir dos ensaios de rampa inclinada (tilt test), onde blocos de rochas
intercetados por juntas são retirados do maciço rochoso e inclinados até que a parte superior
do bloco deslize em relação à parte inferior (Figura 2.7).
( ⁄ )
Onde:
Figura 2.7 – Esquema de ensaios de rampa inclinada: (a) Simulação de uma descontinuidade a deslizar
em blocos retangulares; (b) Testemunhos de sondagem; (c) Simulação de descontinuidade longitudinal
em corpo de prova cilíndrico (adaptado de Montoya, 2002).
Como no tilt test esquematizado na Figura 2.7(b), obtém-se o ângulo de atrito básico do
material ( ) e em razão dos efeitos de intemperismo, foi proposta por Barton e Choubey
(1977) a formula (9) que utiliza o Martelo de Schmidt para obter o ângulo de atrito residual
( ). Salienta-se ainda que, no caso da parede da descontinuidade se encontrar sã, pode
considerar-se que Ør = Øb. Sabe-se que os valores típicos do Øb para as rochas ígneas em
descontinuidades planas sem que haja desgaste ou meteorização andam na ordem dos 29° a
[3]
38° .
Onde:
[3]
Figura 2.8 – Perfis tipo para estimar o coeficiente de rugosidade (JRC) (Barton e Choubey, 1977) .
[ ]
[ ]
Onde:
Segundo Hoek (2000), o ângulo de atrito interno básico da rocha (Øb), é fundamental para o
entendimento da resistência ao corte da superfície das descontinuidades. O valor do ângulo é
aproximadamente igual ao valor do ângulo de atrito residual (Ør), porém, como descrito
anteriormente, ele é geralmente obtido por meio de testes em amostras, previamente
cortadas e retificadas.
No que respeita ao ângulo de atrito determinado pelo ensaio “tilt test”, para os diferentes
tipos de rocha, geralmente as de grão fino e com elevado teor em mica, tendem a possuir
baixo ângulo de atrito, enquanto rochas de grão grosseiro e rochas de elevada resistência têm
elevado ângulo de atrito. Em seguida indicam-se gamas de valores de referência de ângulos
[3]
de atrito em função de tipos de rocha :
Rochas de baixo atrito, metamórficas, (ângulo de atrito entre cerca de 21º a 30º):
xisto micáceo, argila xistosa, marga;
Rochas de médio atrito, sedimentares, (ângulo de atrito entre cerca de 25º a 37º):
arenito, siltito, cré, gneisse, ardósia;
Rochas de elevado atrito ígneas, (ângulo de atrito entre cerca de 29º a 38º): basalto,
granito, calcário, conglomerado.
Os valores indicados deverão ser usados unicamente como um guia, já que os valores reais
podem assumir ampla variação em função das condições locais.
Quando no maciço rochoso existe água sob pressão, as superfícies das descontinuidades são
compelidas a afastar-se e a tensão normal ( ) sofre uma redução de valor. Em condições de
estabilidade, isto é, quando decorre um período de tempo suficientemente longo para que as
pressões da água tenham atingido o equilíbrio, a tensão normal reduzida será dada segundo a
[34]
expressão :
Onde u representa a pressão da água, correntemente designada por pressão neutra. A tensão
normal reduzida ( ) é usualmente conhecida por tensão normal efetiva, e deve ser esta
utilizada em vez da tensão normal nas equações anteriormente apresentadas.
[3]
características e propriedades dos planos de descontinuidade . Neste ponto são descritos os
critérios de descontinuidades e são definidos parâmetros físicos e geométricos que
condicionam as suas propriedades e o seu comportamento mecânico. A descrição e medida
destes parâmetros para cada família, devem ser realizadas segundo a orientação,
espaçamento, persistência, rugosidade, resistência das paredes, abertura, preenchimento e
infiltrações.
2.2.1. Orientação
[3]
Figura 2.9 – Influencia da orientação de descontinuidades no que respeita a obras de engenharia .
A orientação de uma descontinuidade no espaço é definida pela sua direção (direção da linha
de máxima pendente do plano de descontinuidade em relação ao Norte, “strike”) e pelo seu
mergulho do plano (inclinação em relação à horizontal da respetiva linha, “dip”) como mostra
a Figura 2.10. A orientação da descontinuidade é feita no campo através de bússola de
geólogo. No capítulo Metodologias, no ponto 3.1.2, descreve-se o processo usado na
determinação da atitude das descontinuidades do presente estudo.
Figura 2.11 – Representação dos dados de orientação segundo dois métodos (ISRM, 1981).
[9]
Figura 2.12 – Influência do desenvolvimento e orientação das descontinuidades numa fundação .
Quanto à estabilidade global da fundação registe-se que uma rocha intensamente fraturada
pode ser suficientemente indentada para evitar o movimento do conjunto da fundação num
tipo de rotura em bloco como o mostrado na Figura 2.12(b). Por outro lado, o destaque de
blocos de pequena dimensão pode gerar-se como resultado da ação do gelo ou da ação
erosiva de um rio e, em consequência poderá dar-se o descalce da fundação (Figura 2.12(a)).
possíveis visualizações de curvas de frequência para cada família, do respetivo valor modal e
[8], [9]
dispersões .
A determinação, no campo, dos valores de espaçamento pode ser feita utilizando-se a técnica
designada “scanline”, ou através de medidas efetuadas com o auxílio de uma fita métrica e
que consideram apenas as descontinuidades adjacentes que compõem famílias, num intervalo
nunca menor do que 3 m, em cada afloramento estudado (ISRM, 1983).
Onde:
– espaçamento real;
– distância media medida com a fita métrica;
– ângulo entre a linha de medição e a direção da família.
Figura 2.13 – Medição do espaçamento de uma face exposta de um afloramento (ISRM, 1981).
Extremamente fechado ˂ 20
F5
M uito fechado 20 a 60
F4 Fechado 60 a 200
a) b)
Nos trabalhos práticos, uma linha presa na superfície da rocha através de pequenos pedaços
de arame, fixos por pregos martelados na própria rocha é considerada uma “scanline” para
levantamento de dados. Os pregos devem estar espaçados em intervalos de aproximadamente
3 m ao longo da linha, que deve ser mantida tão esticada e tão reta quanto possível. É ideal
que cada localização da scanline seja fotografada com seu número ou posição
adequadamente identificado.
Uma vez que a scanline esteja instalada, é feita a recolha de dados, anotando as
características em baixo descritas, para cada descontinuidade que a intercete (Figura 2.15):
Figura 2.15 – Conjunto de dados do espaçamento utilizando a técnica de “scanline” (adaptado de Brady
& Brown, 1985).
Onde:
Obtém-se o espaçamento real medido, apenas quando = 0°. Em casos extremos, quando a
descontinuidade e a scanline são paralelas ( = 90°), nenhuma interseção será observada. No
entanto, para que se execute essa medição, é necessário que se “levante” scanline na
respetiva face e que seja efetuada em duas direções ortogonais, nomeadamente na horizontal
e na vertical [15].
A dificuldade desta avaliação leva a que muitas vezes se recorra à representação gráfica,
através de blocos-diagrama obtidos por visualizações de campo (Figura 2.16), com os quais se
pretende representar a importância relativa das várias famílias de descontinuidades em
termos da persistência. De facto, através destas representações, é possível perceber que as
descontinuidades de uma dada família são mais extensas do que as de outras, tendendo as de
[8]
menor área a terminar contra as principais, ou até no seio da própria rocha .
Pequena 1a3
M édia 3 a 10
Elevada 10 a 20
M uito elevada > 20
Figura 2.17 – Ondulação e tipos de rugosidade de uma superfície de descontinuidade (ISRM, 1981).
Regista-se que, para uma mesma descontinuidade, a rugosidade pode apresentar-se com
valores perfeitamente distintos consoante a direção, pelo que, quando se pretende estudar
um problema que envolva a análise ao escorregamento, importa antever qual a direção
[7]
provável do movimento .
Figura 2.18 – Método para determinação da rugosidade de descontinuidades ao longo de uma direção de
potencial deslizamento (ISRM, 1981).
Classe Descrição
O termo “espelhado” (slickensided) só deverá ser usado quando existirem sinais evidentes de
deslizamento prévio ao longo da descontinuidade.
Figura 2.19 – Perfis típicos de rugosidade. O comprimento dos perfis está no intervalo entre 1 e 10
metros (ISRM, 1981).
A partir dos perfis de rugosidade, obtidos por técnicas análogas, Barton e Choubey
propuseram, em 1977, uma correlação com o parâmetro JRC anteriormente referido, que
permite estimar a resistência de pico duma descontinuidade em relação ao deslizamento
(Figura 2.8).
O estado de alteração da rocha junto às paredes das descontinuidades tem, não só forte
influência na resistência ao corte dos maciços rochosos, principalmente se as
descontinuidades estiverem fechadas, isto é, se houver contacto entre os dois bordos, como
[8]
também condiciona a sua deformabilidade .
Terminação Descrição
Então neste caso, a resistência da parede pode estimar-se (no campo) com o Martelo
(esclerómetro de Schmidt), aplicado diretamente sobre a descontinuidade, seguindo o
procedimento descrito no ponto 3.3 do capítulo da Metodologia, ou a partir dos índices de
campo (Tabela 2.9), onde geralmente, a resistência da parede rochosa está compreendida
entre as classes R0 a R6.
Tabela 2.9 – Estimação aproximada e classificação da resistência à compressão uniaxial de solos e rochas
(ISRM, 1981).
Aproximação da variação da
Grau Descrição Identificação de campo resistência à compressão
uniaxial (MPa)
S1 Solo muito mole O punho penetra facilmente vários cm. < 0,025
S2 Solo mole O dedo penetra facilmente vários cm. 0,025 - 0,05
Necessário uma pequena pressão para
S3 Solo firme 0,05 - 0,10
afundar o dedo.
Necessário uma forte pressão para
S4 Solo rígido 0,10 - 0,25
afundar o dedo.
Com certa pressão pode marcar-se com
S5 Solo muito rijo 0,25 - 0,50
a unha.
M arca-se com dificuldade ao pressionar
S6 Solo duro > 0,50
com a unha.
Rocha extremamente
R0 Pode-se marcar com a unha. 0,25 - 1,0
fraca
A rocha esmigalha-se sob o impacto da
R1 Rocha muito fraca ponta do martelo de geólogo. Corta-se 1,0 - 5,0
facilmente com navalha.
Corta-se com dificuldade com navalha.
R2 Rocha fraca Ao golpear com a ponta do martelo 5,0 - 25
produz pequenas marcas.
Não pode ser cortada com navalha.
Rocha medianamente
R3 Amostras podem fraturar-se com golpe 25 - 50
resistente
forte do martelo.
Amostras requerem mais que um golpe
R4 Rocha resistente 50 - 100
de martelo para fraturar.
Rocha muito Amostras requerem muitos golpes de
R5 100 - 250
resistente martelo para fraturar.
Rocha extremamente Amostras podem apenas ser lascadas
R6 > 250
resistente com martelo.
A abertura define-se como sendo o espaço vazio ou preenchido, que separa as paredes
adjacentes das descontinuidades (Figura 2.20). Pode considerar-se o preenchimento como
qualquer material que ocorre entre os planos das descontinuidades e que possui propriedades
distintas do material da rocha (calcite, quartzo, argila, silte, milonito de falha, brecha,
etc..). É importante porque pode modificar ou controlar completamente a resistência ao
corte e a condutividade hidráulica das descontinuidades. As paredes opostas não se tocam e o
preenchimento ocupa todo o espaço vazio entre as mesmas, a resistência, a deformabilidade
e a permeabilidade do material que preenche a descontinuidade condicionam o
[25]
comportamento do maciço rochoso .
material de enchimento das respetivas caixas corresponde muitas vezes ao material rochoso
adjacente esmagado pelo processo de tectonização que afetou o maciço, podendo encontrar-
se em fases mais ou menos avançadas de esmagamento e alteração, desde as brechas de falha
[7]
(milonitos) às argilas de falha .
a) b)
c) d)
De entre os aspetos citados, o efeito mais importante da presença da água, nos maciços
rochosos reside normalmente na redução das condições de estabilidade resultante da pressão
exercida pela água nas paredes das descontinuidades.
De acordo com Hoek & Bray (1981), há dois modos de se obterem os dados relativos às
distribuições de pressão da água dentro de um maciço rochoso:
Terzaghi (1950) afirma que a água que percola no interior de um talude exerce, em virtude
da sua viscosidade, uma pressão sobre as partículas de solo, conhecida como pressão de
Segundo Fiori & Carmignani (1995), existem dois extremos no comportamento da água
subterrânea nos maciços, um ocorre em solos porosos, conglomerados ou em rochas
intensamente fraturadas, e o outro extremo, em maciços rochosos muito pouco fraturados.
No maciço rochoso, com famílias de descontinuidades numerosas e muito pouco espaçadas, a
água comporta-se como em solos porosos. O grau de conectividade entre os vazios é elevado
e as variações do nível freático são graduais, ocorrendo somente em grandes áreas. Por outro
lado, em maciços rochosos pouco fraturados, com poucas famílias de descontinuidades e,
especialmente, onde o espaçamento das descontinuidades é grande, a pressão da água varia,
consideravelmente, de uma descontinuidade a outra ou de local para local. Os níveis freáticos
erráticos podem surgir onde diques, falhas ou camadas com ângulo de mergulho elevado,
atuam como aquicludes (barreiras geológicas). A percolação de água por meio dos maciços
rochosos resulta do fluxo através das descontinuidades.
Detalhes geológicos aparentemente pouco significativos podem ter efeitos apreciáveis sobre a
distribuição de pressões da água nas descontinuidades e, consequentemente, sobre a
[30]
estabilidade do talude . A determinação do nível do lençol freático, do caminho
preferencial de percolação e da pressão da água, pelo menos de forma aproximada pode
prever problemas de estabilidade ou dificuldades na construção.
Pode dizer-se que as hipóteses clássicas para a análise do fluxo de água subterrânea em
[19]
taludes de rocha são :
Segundo Louis (1976), têm-se cinco grupos de maciços rochosos, classificados segundo sua
textura, estrutura e imperfeições (Figura 2.22).
[32]
Figura 2.22 – Grupos de maciços rochosos . (a) Meio poroso intergranular; (b) Meio poroso fraturado;
(c) Meio poroso com barreiras impermeáveis; (d) Meio poroso contendo canais; (e) Meio cárstico.
É importante destacar, que a definição de um maciço rochoso como sendo um meio contínuo
ou descontínuo depende ainda da escala relativa em que se avalia o talude, e de
características das famílias de descontinuidades presentes, tais como o espaçamento e
persistência (Figura 2.23).
Considera-se um meio fraturado como sendo um meio contínuo, quando os tamanhos dos
blocos unitários são desprezíveis com relação à escala do fenómeno examinado (Figura
2.23b). Neste caso, os métodos de análise para meios porosos podem ser adotados. Nos casos
em que o tamanho unitário dos blocos é da mesma ordem de grandeza, com referência à
escala relativa do talude e das descontinuidades abertas, os métodos de análise do fluxo de
água através das descontinuidades devem ser usados. As propriedades hidráulicas de um
maciço rochoso fraturado dependem da condutividade hidráulica das famílias de
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descontinuidades presentes .
Figura 2.23 – Meios contínuos (a) e (b) e descontínuos (c) e (d) na avaliação dos problemas relacionados
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com o fluxo de água subterrânea .
Estas situações podem, muitas vezes, ser facilmente identificadas através duma simples
análise dos diagramas com a representação dos polos das descontinuidades e das respetivas
curvas de isodensidades (Figura 2.24) [8].
Diferenciam-se quatro potenciais tipos de rotura cujas características são função das
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orientações relativas da face do talude e das descontinuidades . Para cada um dos
potenciais tipos de rotura, existe um método específico de análise da estabilidade, o qual
tem em consideração a forma e dimensões dos blocos, a resistência ao deslizamento das
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superfícies de escorregamento, as pressões da água e outras forças aplicadas .
Os primeiros três tipos de instabilidade de blocos – planar, cunha e “toppling”- têm formas
distintas, determinadas pela estrutura geológica. No caso de os blocos planares e cunhas
(Figura 2.24a e 2.24b) a estrutura tem mergulho concordante com a face do talude e emerge
nesta, pelo que na representação hemisférica, os polos das descontinuidades localizam-se na
parte oposta do círculo maior representativo do plano da face do talude. No caso do
“toppling” de blocos (Figura 2.24c) a estrutura mergulha no sentido contrário para o interior
da face do talude, pelo que na representação hemisférica os polos e o círculo maior do plano
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da face situam-se do mesmo lado da área de projeção .
O quarto tipo de instabilidade, rotura circular, ocorre em solos, enrocamentos ou rochas com
fraturas muito próximas e com descontinuidades não persistentes, mergulhando para fora da
face do talude (Figura 2.24d). Para cortes de escavação, em maciços com rocha fraturada, a
superfície de escorregamento forma-se seguindo em parte do traçado as descontinuidades
com orientação aproximadamente paralela a esta superfície e na parte restante do traçado
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intersetando a rocha intacta .
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Figura 2.24 – Principais tipos de rotura de taludes e condições estruturais que lhes dão origem .
Por uma questão de clareza, nos diagramas apresentados na Figura 2.24 aparecem apenas
representados casos mais frequentes. Nas situações correntes podem verificar-se outras
No nosso estudo de caso, este fator é de relativa importância, já que existem blocos
potencialmente instáveis, que devido à meteorização e tipo de preenchimento de
descontinuidades, podem gerar essas forças favorecendo o escorregamento, também no caso
de ocorrem movimentos do solo podem dar origem ao desmoronamento de blocos (Figura
2.25).
a) b)
c)
Figura 2.25 – Rotura em taludes. Imagens a) e b) blocos do maciço rochoso propícios a desmoronamento;
c) bloco do maciço sujeito a rotura plana. (Maciço da Torre de Menagem do Castelo de Marialva).