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2.1. Classificação/Descrição de Maciços Rochosos

Neste capítulo, são estudados os parâmetros, geralmente usados, para caracterização


geomecânica de maciços rochosos.

Um dos aspetos mais importantes ligados aos estudos de terrenos para fins de engenharia
civil, é o da respetiva classificação, nomeadamente no que se refere à definição dos
parâmetros que melhor caracterizam uma formação do ponto de vista de Geologia de
[7]
Engenharia . Embora a importância desses parâmetros varie de caso para caso, consoante o
tipo de estrutura a projetar, há que basear a classificação, para ser universal, sempre nos
mesmos parâmetros e procurar quantificar as designações respetivas a partir de observações
e ensaios simples e expeditos.

Uma primeira classificação dos materiais geológicos do ponto de vista da Geologia de


Engenharia, bem como da engenharia civil, é em solos e em rochas. Às formações constituídas
por solos é atribuída a designação genérica de maciços terrosos, enquanto as que são
[7]
essencialmente constituídas por material rocha se designam por maciços rochosos .

Pode definir-se um maciço rochoso como um conjunto de blocos de rocha justapostos e


[22]
articulados . A rocha intacta constitui a matriz do maciço rochoso, sendo ela o material
que forma os blocos. As superfícies que os delimitam são denominadas de descontinuidades.

A porção do maciço analisado, relativamente à obra considerada, define a validade de se


admitir o meio homogéneo ou heterogéneo, isotrópico ou anisotrópico, contínuo ou
descontínuo. Não se pode dizer que os maciços rochosos são essencialmente heterogéneos,
[3]
anisotrópicos e descontínuos .

2.1.1. Classificação Litológica

Segundo Clerici et. al. (1990), a descrição litológica do maciço rochoso deve incluir, de forma
sintética, a cor, composição mineralógica básica, a presença de dobras, falhas (estruturas
importantes) na escala do levantamento, a presença de estratificação e xistosidade. Devem
ter-se claros, o grupo genético, estruturas principais e textura.

Uma descrição litológica ou petrográfica para aplicação em engenharia deve-se apoiar-se em


conceitos petrográficos de uso corrente na geologia, porém deve ser simplificada e objetiva,
[22]
evitando-se nomenclaturas complexas cujo emprego não proporcione resultados práticos .

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É importante destacar que nem sempre a classificação litológica expressa a variabilidade, que
uma rocha apresenta num mesmo local. É necessário, em certos casos, discriminar variedades
de um mesmo litotipo, com o objetivo de melhor expressar o comportamento do meio
rochoso, para fins de engenharia.

 Solos

Os solos são materiais que resultam do intemperismo das rochas, por desintegração mecânica
ou decomposição química. A alteração mecânica resulta da ação de agentes como a água,
congelação da água nos poros e fendas das rochas, temperatura, vegetação (ação das raízes e
dos troncos das plantas em via de crescimento), vento e gravidade; a alteração mecânica
deixa os minerais da rocha de origem inalterados e identificáveis com esta. A decomposição
química entende-se como o processo em que há modificação química ou mineralógica dos
minerais da rocha de origem; é devida principalmente ao oxigénio, ao CO 2 e aos ácidos
orgânicos em dissolução na água e os mais importantes mecanismos de ataque são a oxidação,
hidratação, carbonatação e os efeitos químicos da vegetação. As argilas representam o
produto último do processo de decomposição. Os minerais argilosos são um grupo de minerais
[17]
cristalinos complexos, constituídos principalmente de silicatos de alumínio .

[16]
De entre os principais tipos de solos podemos citar :

a) Solos Residuais – são os que permanecem no local da rocha de origem, observando-se


uma gradual transição do solo até a rocha.

b) Solos Sedimentares – são os que sofrem a ação de agentes transportadores, podendo


ser aluvionares (transportados pela água), eólicos (pelo vento), coluvionares (pela
ação da gravidade) e glaciares (pelas geleiras).

c) Solos de Formação Orgânica – são os de origem essencialmente orgânica, seja de


natureza vegetal (plantas, raízes), seja animal (conchas).

 Rocha

Material constituinte da crosta terrestre, proveniente da solidificação do magma ou de lavas


vulcânicas, ou da consolidação de depósitos sedimentares, tendo ou não sofrido
transformações metamórficas. Esses materiais apresentam elevada resistência, somente
modificável por contatos com o ar ou a água, em casos muito especiais. Em relação às suas
dimensões, classificam-se em bloco de rocha quando com diâmetro médio superior a 1 m,

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matacão quando entre 1 m e 25 cm e pedra entre 25 cm e 76 mm. Ao material não


[19]
consolidado que recobre as rochas e destas provêm por intemperismo, denomina-se solo .

Rocha alterada é a que apresenta, pelo exame macro ou microscópico, indícios de alteração
de um ou vários de seus elementos mineralógicos constituintes, tendo geralmente diminuídas
as características originais de resistência.

[17]
Quanto à sua génese as rochas podem ser classificadas em :

a) Rochas ígneas – são as resultantes do arrefecimento e consolidação de material


fundido ou “magma”. Se formadas a grandes profundidades são chamadas de
intrusivas, e de extrusivas quando se formam na superfície através do arrefecimento
da “lava”; granito, basalto, gabro, andesito, diorito, sienito.

b) Rochas Sedimentares – formadas pela deposição de detritos oriundos da desagregação


de rochas preexistentes; siltito, argilito, grés, conglomerados, calcário, xisto.

c) Rochas Metamórficas – provêm da transformação ou metamorfismo das rochas ígneas


ou sedimentares (elevadas temperaturas, elevadas pressões); mármore, quartzito,
gnaisse, xisto cristalino, ardósia.

Uma rocha, classificada sob o ponto de vista geológico, poderá apresentar diferentes
resistências ao desmonte, segundo o grau de alteração que já sofreu. Mesmo conservando
bem nítida a estrutura da rocha matriz, a sua resistência mecânica poderá ser bastante
reduzida, devido à alteração sofrida pelos seus minerais constituintes. A mesma observação
pode ser feita com relação às classificações da Mecânica dos Solos, pois um solo caracterizado
como argiloso poderá, apenas pela variação do teor de humidade, apresentar
[20]
comportamentos diferentes com relação à resistência oferecida ao desmonte .

2.1.2. Classificação Geológica/Geomecânica

A maioria da superfície da terra, e parte do fundo dos mares, estão cobertos por uma camada
de sedimentos granulares, que resultaram, principalmente, da desintegração mecânica e da
decomposição química das rochas, onde tais sedimentos se encontram numa forma solta ou
ligados por um cimento fraco que não mude a sua forma de um agregado de partículas,
classificando-se como solos. É esta forma granular que distingue os solos (numa forma geral
[17]
para a engenharia) de rochas .

Relativamente aos solos existem já critérios de classificação universalmente aceites. Quanto


às rochas (sobretudo aos maciços rochosos, já que é o comportamento destes e não do

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material rocha que interessa na generalidade dos problemas do âmbito da Geologia de


Engenharia) não há ainda nenhuma classificação universal, embora existam propostas de
vários autores com muitos pontos semelhantes. Essa circunstância levou a que fossem criados
respetivamente em 1972 e em 1975 dois grupos de trabalho, o primeiro no âmbito da
Sociedade Internacional de Mecânica das Rochas (ISRM) e o segundo da Associação
Internacional de Geologia de Engenharia (IAEG), com a preocupação de estabelecerem
[7]
sistemas de classificação que pudessem vir a ser aceites internacionalmente .

A aceitação das classificações de solos e rochas e o grau de desenvolvimento diferencia-se, já


que a classificação dos solos é, em si, mais simples e, por outro lado, à diferença de idades
entre a Mecânica dos Solos e a Mecânica das Rochas.

Quando se pretende fazer o estudo de uma dada formação interessada num problema de
engenharia civil é corrente iniciá-lo por uma classificação geológica. Reconhece-se que esta
[7]
classificação não é absoluta para fins de engenharia, mas atribui-se-lhe utilidade .

Embora certos autores (cada vez mais raros) menosprezem o seu papel, chegando ao ponto de
propor o seu abandono, o certo é que continua a utilizar-se sistematicamente em trabalhos
de Geologia de Engenharia a classificação geológica dos terrenos, em virtude da sua
informação implícita. Como exemplo do que se afirma, poder-se-á referir o caso de maciços
calcários, ou constituídos por outras rochas solúveis, em que a simples designação alerta para
a possibilidade de ocorrência de situações, tais como fenómenos de dissolução ou outros
problemas idênticos e o caso de terrenos argilosos montmoriloníticos em que a designação
deixa desde logo prever a possibilidade de fenómenos de expansibilidade e retração
relevantes que poderão ser de muita importância em determinadas obras de construção civil
[7]
. Conforme é conhecido, estes fenómenos poderão estar na origem da formação de vazios
nos maciços, por vezes de grandes dimensões (cavernas), que estão na origem de fenómenos
de subsidência e de colapsos da superfície dos terrenos, ou ditar comportamentos hidráulicos
típicos (Figura 2.1) associados à permeabilidade em grande que se processa através da rede
[33]
de descontinuidades .

Figura 2.1 – Hidrogeologia de um maciço sedimentar. (A) zona de recarga; (B) zona de cavidades
[33]
saturadas; (C) zona de transferência .

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É notório que é insuficiente dizer-se que um dado maciço é granítico, xistoso ou basáltico,
quando se pretende informar um projetista de uma barragem ou de uma ponte das
características do respetivo maciço de fundação. O estado de alteração do material, o seu
estado de fracturação, a presença ou ausência de material de enchimento das
descontinuidades e sua qualidade, são fatores que fazem variar extraordinariamente as
[7]
características do maciço .

A caracterização geológico-geomecânica1 de um maciço rochoso, constitui-se do


levantamento de “atributos” do meio rochoso que, isolada ou conjuntamente, condicionam o
seu comportamento. A natureza das suas características varia de local para local, em função
[19]
da história geológica da região estudada .

Neste estudo, são considerados a litologia, o grau de alteração, o grau de fracturação e


propriedades relativas às descontinuidades, de entre outros atributos, para caracterizar o
maciço na área de pesquiza.

2.1.2.1. Grau de alteração dos maciços rochosos

A alteração da rocha é o resultado de um processo evolutivo causado pela ação de diversos


agentes, designadamente; água, gelo, vento, oxigénio e anidrido carbónico. Este efeito não
se limita apenas à superfície, também se estende em profundidade, dependendo da
existência ou não de canais que permitam a percolação de água e a comunicação com a
atmosfera. Como consequência desta alteração, dá-se um decréscimo da sua resistência,
[6], [8]
permeabilidade, aumento da porosidade, deformabilidade e da respetiva estabilidade .
As características de qualidade de maciços rochosos são pois, fundamentalmente
consequência do seu estado de alteração.

___________________________
1
Utiliza-se o termo “geológico-geomecânica” por considerar-se mais geral, na prática de Geologia de
Engenharia, Mecânica de Solos e de Rochas e Engenharia de Solos e de Rochas. O termo “Geotecnia”
refere-se, num número muito grande de casos, a trabalhos relacionados a solos.

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Caracterização do estado de alteração

A avaliação do estado de alteração dos maciços é normalmente composta, usando critérios


definidos a partir da predominância de processos naturais da formação de solos ou de
meteorização, nos horizontes de solo; de graus de alteração mineralógica, nos horizontes de
[19]
rocha e das percentagens relativas de solo e rocha para definir horizontes de transição .
Segundo Vaz (1996), os perfis de intemperismo disponíveis seguem dois modelos: o
americano, de Deere & Patton (1971), onde o perfil de intemperismo é constituído por dois
horizontes com subdivisões, resultando em três horizontes de solo e três de rocha, com
diferentes propriedades físicas e que permanecem recobrindo o maciço rochoso (Figura 2.2);
e o europeu, de Dearman (1976), cujo perfil de intemperismo possui seis horizontes (dois de
solo e quatro de rocha), sendo aplicado para todos os tipos de rocha, apesar de ter sido
desenvolvido para rochas graníticas.

A ISRM (1983) considera que a meteorização ou alteração afeta, geralmente, as paredes das
descontinuidades mais do que o interior do maciço, e produz tanto a desintegração mecânica
quanto a decomposição química do mesmo. Vulgarmente, os dois efeitos atuam em conjunto,
mas dependendo do regime climático, um dos efeitos pode ser dominante. A desintegração
mecânica causa a abertura de descontinuidades e a formação de fissuras pelo fraturamento
da rocha. A decomposição química causa a descoloração da rocha e pode levar a eventual
decomposição de minerais silicáticos em minerais argilosos.

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Recuperação
RQD (%) Permeabilidade Resistência
Zonas Descrição Provável (%)
(Ø=Nx) Relativa Relativa
(Ø=Nx)
Solo superficial com raizes e
IA matéria orgânica; zona de
- 0 Média a alta Baixa a média
Horiz. A lixiviação e eluviação; Pode ser
porosa
Zona tipicamente rica em
argila; concentrações de Fe, Al
IB Baixa (alta se
e Si; possibilidade de - 0 Baixa
I Horiz. B cimentado)
cimentação; ausência de
Solo Residual
estruturas reliquiares
Presença de estruturas
reliquiares; graduação para Baixa a média
IC materiais siltosos e arenosos; 0 ou não (influência
0 a 10 Média
Horiz. C menos de 10% de matacões; aplicável das estruturas
frequentemente macáceo; reliquiares)
formação do saporlito
Média a baixa
Altamente diversificada, desde
(se estruturas
materiais terrosos e rochosos;
II IIA variável de Alta (perdas de reliquiares
areia comumente fina a 0 a 50
Rocha Transição 10 a 90 água comuns) forem de
grossa; 10 a 95% de matacões;
Alterada baixa
alteração esferoidal presente
(solo residual resistência)
até rocha IIB Material rochoso, rocha branda
parcialmente Rocha a dura; descontinuidades em
50 a 75 > 90
alterada) parcial- diversos graus de alteração; Média a alta Média a alta*
em geral em geral
mente feldspatos e micas
alterada parcialmente alterados
Descontinuidades sem
> 75
III alteração e peliculas de óxido 100
- (> 90 em Baixa a média Muito alta*
Rocha Sã de ferro; feldspatos e micas em geral
geral)
inalteradas
* Considerando apenas o maciço intacto, sem estruturas geológicas com atitudes desfavoráveis.

Figura 2.2 – Características principais dos horizontes de um perfil de alteração de rochas ígneas e
metamórficas (adaptado de Deere & Patton, 1971).

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Segundo a Figura 2.2, num perfil de solo, geralmente pode acompanhar-se o perfil de
evolução da desagregação da rocha sã, até à sua formação final como solo residual.
Normalmente, em encostas formadas por rochas graníticas temos os horizontes de alteração
bem definidos, sendo que a transição entre rocha sã e solo propriamente dito dá-se pela
formação do saprolito, que é o grau máximo de decomposição da rocha, onde ainda se
observa algum vestígio de estrutura da rocha, notando-se uma estrutura intermediária entre
solo e rocha.

O estado de alteração pode ser caracterizado tátil-visualmente, baseando-se em variações do


brilho e cor dos minerais da rocha, e também na friabilidade da mesma. Destaca-se que os
critérios de avaliação são relativos, devendo comparar-se variedades de um mesmo tipo
[3]
litológico .

Classificação considerando o estado de alteração de maciços rochosos

As características de qualidade de maciços rochosos, são fundamentalmente consequência do


seu estado de alteração e de fracturação. A percolação de água nos maciços, atua também,
com frequência, na respetiva estabilidade.

Importa desde já referir os dois primeiros parâmetros considerados, estado de alteração e


grau de fracturação e fazer considerações sobre os critérios de classificação de maciços neles
[7]
baseados .

Segundo Oliveira (1980), o estado de alteração é vulgarmente indicado à custa da sua


descrição, baseada em métodos expeditos de observação. Em solos, por exemplo, é de grande
utilidade a indicação da facilidade com que se desmonta o material com determinados tipos
de ferramentas. Em rochas, é costume referir-se a maior ou menor facilidade com que se
parte o material, utilizando um martelo de mão, ou a sua coloração e brilho como
consequência da alteração de certos minerais, como feldspatos e ferromagnesianos.

O número de graus a considerar, em relação ao estado de alteração de uma dada formação


varia necessariamente com o tipo de problema e, consequentemente, com a necessidade de
pormenorizar a informação respetiva. Na maioria dos casos parece adequado considerarem-se
cinco graus de alteração dos maciços rochosos (rochas) conforme se esquematiza na Tabela
[7]
2.1 .

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Tabela 2.1 – Graus de alteração de maciços rochosos (ISRM,1981).

Símbolos Designações Descrição

W1 São Sem quaisquer sinais de alteração

W2 Pouco alterado Sinais de alteração, apenas nas imediações das descontinuidades

Medianamente
W3 Alteração visível em todo o maciço rochoso, mas a rocha não é friável
alterado

W4 Muito alterado Alteração visível em todo o maciço e a rocha é parcialmente friável

Decomposto O maciço apresenta-se completamente friável com comportamento de


W5
(saibro) solo

No caso da realização de sondagens com recuperação contínua de amostra, um indicador


muito utilizado para informar quanto ao estado de alteração das rochas atravessadas, mas
também influenciado pelo estado de fracturação destas, é o da percentagem de recuperação
resultante das operações de furação. A percentagem de recuperação obtém-se multiplicando
por 100, o quociente entre a soma dos comprimentos de todos os tarolos obtidos numa
[7]
manobra e o comprimento do trecho furado nessa mesma manobra . Este processo é
descrito com maior enfase no ponto 2.1.2.4.

Embora se desconheça qualquer tabela de classificação de rochas em face de percentagem de


recuperação, e apesar de se ter em conta que este valor pode ser altamente influenciado
pela qualidade do equipamento de furação, pela competência do operador e por
particularidades litológicas ou estruturais das formações geológicas, é vulgar considerar que
um maciço rochoso é pouco alterado (logo, em princípio, de boa qualidade) quando se obtêm
percentagens superiores a 80%, muito alterado (logo de má qualidade) para percentagens
[7]
inferiores a 50% e medianamente alterado para valores intermédios .

A avaliação do grau de alteração/meteorização do maciço rochoso realiza-se através da


observação direta do afloramento e comparação com os índices standards visualizados na
Tabela 2.1. A Figura 2.3 apresenta exemplos de maciços rochosos afetados por diferentes
graus de alteração.

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a) b)

c) d)

Figura 2.3 – Diferentes graus de alteração em maciços rochosos. a) rocha xistosa desintegrada e
bastante alterada, perdendo alguma da sua estrutura original (maciço rochoso, Mértola); b) rocha
granítica ligeiramente descolorada, apresentando grau de alteração médio, mantendo a sua estrutura
original (talude na VICEG, Guarda); c) rocha granitica em bom estado de alteração com fraturas de
descompressão paralelas à superficie (talude na VICEG, Guarda); d) Talude de rocha granitica de vários
graus de alteração, com presença de um filão de quartzo (VICEG, Guarda).

O estado de fracturação de maciços rochosos é um indicador extremamente importante no


que respeita ao seu comportamento, abrangendo vários critérios razoavelmente semelhantes
entre si, que caracterizam, em regra, o espaçamento entre diaclases. Este espaçamento pode
[19]
ser medido ao longo de uma linha de observação, a partir de uma face exposta .

2.1.2.2. Volumetria dos blocos

A volumetria dos blocos é um indicador bastante relevante no comportamento dos maciços


rochosos, em que as dimensões dos blocos são determinadas pelo espaçamento das
descontinuidades, pelo número de famílias e pela persistência das descontinuidades que
delimitam os potenciais blocos.

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De acordo com Vallejo (2002), o número de famílias e a orientação determinam a forma dos
blocos de rocha, que podem ter a aparência de cubos, paralelepípedos, romboedros, prismas,
etc.. Contudo as formas geométricas regulares são mais a exceção do que a regra, uma vez
que as descontinuidades de qualquer família são raramente paralelas de um modo
consistente. É nos maciços sedimentares que ocorrem normalmente blocos com formas mais
regulares.

2.1.2.3. Tipos de Descontinuidades

O termo descontinuidade faz referência a qualquer plano de separação no maciço rochoso,


podendo ter origem sedimentar, como as superfícies de estratificação ou laminação,
diagenético ou tectónico, como as diaclases ou falhas. Na Tabela 2.2 estão agrupados os
diferentes tipos de descontinuidades, em sistemáticas, quando aparecem em famílias, e
singulares, quando aparece um único plano que atravessa o maciço rochoso. Este último pode
ser mais contínuo e persistente que as descontinuidades sistemáticas, podendo chegar, como
no caso das falhas, a dimensões de vários quilómetros. Enquanto que, as famílias são
caracterizadas por uma orientação estatística pelas suas características gerais, as
descontinuidades singulares requerem uma descrição e um tratamento individualizado.
Podem chegar a controlar o comportamento mecânico do maciço tendo maior influência que
[3]
as descontinuidades sistemáticas .

As diaclases são os planos de descontinuidade mais frequentes nos maciços rochosos e


correspondem à superfície de fracturação ou rotura da rocha, afetando qualquer tipo de
rocha.

[3]
Atendendo à sua origem distinguem-se os vários tipos :

 Diaclases de origem tectónica associadas a dobras e falhas. As diaclases associadas a


falhas dispõem-se paralelamente à superfície da falha e com uma frequência que
diminui ao aumentar a distância da mesma;
 Diaclases em rochas ígneas formadas por contração durante e depois do deslocamento
do corpo ígneo. Geralmente apresentam uma disposição característica em três
famílias ortogonais entre si;
 Diaclases de relaxamento devida a uma redução da carga litostática. Dispõem-se
subparalelamente à superfície topográfica e a sua frequência diminui em
profundidade.

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[3]
Tabela 2.2 – Tipos de descontinuidades .

Descontinuidades Sistemáticas Singulares


Planos de estratificação. Falhas.
Planos de laminação. Diques.
Planares
Diaclases ou juntas. Discordâncias.
Planos de xistosidade.
Interseção de Eixos de dobras.
Lineares descontinuidades planares.
Lineações.

2.1.2.4. Classificação da qualidade do maciço rochoso segundo o índice


RQD

Relacionando os dois critérios já apresentados, estados de alteração e fracturação, Deere


(1967) desenvolveu um sistema de classificação baseado num índice que designou por RQD
(“Rock Quality Designation”), indicativo da qualidade de maciços rochosos, definido a partir
de testemunhos de sondagens realizadas com recuperação contínua da amostra.

Este índice, que tem vindo a ser muito utilizado internacionalmente, é definido como a
percentagem determinada pelo quociente entre o somatório dos troços de amostra com
comprimento superior a 10 cm e o comprimento total furado em cada manobra. Em função
dos valores de RQD obtidos, o autor apresenta a classificação representando a qualidade do
[17]
maciço rochoso segundo mostra a Tabela 2.3 .

[3]
Tabela 2.3 – Classificação da qualidade dos maciços com base no RQD .

RQD Qualidade Maciço Rochoso

0 - 25% Muito fraco


25 - 50% Fraco
50 - 75% Razoável
75 - 90% Bom
90 - 100% Excelente

Para estimar o RQD, apenas se consideram os fragmentos ou pedaços de testemunhos de


material são, excluindo aqueles com um grau significativo de alteração (a partir de grau W4
inclusive), para o qual se considera um RQD = 0%. O cálculo do RQD deve ser realizado a cada
manobra de sondagem ou sempre que ocorra uma mudança litológica, sendo recomendável
[3]
que cada manobra não exceda 1,5 m . Em princípio, a determinação do RQD deve ser feita

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apenas em sondagens que utilizam amostradores de parede dupla ou tripla, com diâmetro
[23]
(NX) de pelo menos 54,7 mm .

Na figura 2.4 mostra-se um exemplo, de forma esquemática, como se obtém a percentagem


de RQD.

Figura 2.4 – Procedimento para medição e cálculo de RQD (adaptado de Deere, 1989).

No caso de não existir amostragem obtida por sondagens, mas que sejam identificáveis os
traços das descontinuidades em afloramentos rochosos ou em escavações, poder-se-á estimar
o valor do RQD recorrendo à relação proposta por Palmstrom, 1975 (ISRM 1981):

RQD = 115 – 3,3 JV para JV > 4,5

RQD = 100 para JV ≤ 4,5

O parâmetro JV representa o número total de descontinuidades que intercetam por unidade


de volume (1 m3) o maciço rochoso. Uma vez que nem sempre é fácil ter a perceção
tridimensional do afloramento, o valor de JV pode ser determinado, contando as
descontinuidades de cada família que intercetam o maciço rochoso, ao longo de um certo
[3]
comprimento, medido perpendicularmente à direção de cada uma das famílias presentes .

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Para exemplo, num maciço com três famílias de descontinuidades (J1, J2 e J3):

⁄ ⁄ ⁄

O comprimento a medir dependerá do espaçamento de cada família, variando normalmente


entre 5 e 10 metros.

De acordo com os valores de JV, são normalmente utilizadas as seguintes designações para
descrever as dimensões dos blocos:

Tabela 2.4 – descrição do tamanho dos blocos em função do número de descontinuidades, (ISRM, 1981).

Descrição Jv (descontinuidades/m3)

blocos muito grandes <1

blocos grandes 1a3

blocos tamanho médio 3 a 10

blocos pequenos 10 a 30
blocos muito pequenos > 30

Quando JV é superior a 60, considera-se que o maciço rochoso está bastante esmagado.

Outra forma, menos precisa mas mais facilmente executável de estimar o valor de JV é contar
o número total de descontinuidades que intercetam um comprimento L, em qualquer direção,
[3]
correspondendo este valor à frequência das descontinuidades, λ .

⁄ [ ]
ou

⁄ [ ]

A determinação do RQD pode assim ser feita a partir da frequência das descontinuidades,
obtendo-se um valor teórico mínimo para o RQD:

[ ]

É de notar que o RQD é um parâmetro dependente da direção de amostragem, podendo o seu


valor variar significativamente em função da orientação das sondagens. O uso deste índice

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volumétrico, para estimar o valor do RQD, pode apresentar-se como benéfico por reduzir tal
[8]
dependência .

O parâmetro RQD deve representar a qualidade do maciço rochoso “in situ”. Quando se
realizam sondagens em maciços com forte anisotropia, nos quais se incluem muitas das
formações xistentas que ocorrem em Portugal, é frequente o desenvolvimento de novas
fraturas no material das amostras, segundo os planos de fraqueza, resultantes da
descompressão que se regista em consequência da sua retirada do maciço. Quando da
observação de amostras obtidas por furação, deve haver cuidado de distinguir as fraturas
naturais, das decorrentes do processo de furação ou daquelas que foram causadas quer pelo
manuseamento do equipamento, devendo estas últimas ser ignoradas na determinação do
[9]
RQD .

A classificação dos maciços rochosos, baseada nos valores do RQD, embora útil, é bastante
limitada. De facto, além das fraturas, outras descontinuidades que caracterizam a estrutura
geológica das formações, podem, de forma idêntica, imprimir um dado comportamento a um
[3]
maciço. Estão neste caso, por exemplo, as superfícies de estratificação e de xistosidade .

2.1.2.5. Resistência ao Deslizamento

A resistência de um maciço rochoso é função da resistência da rocha intacta e das


descontinuidades presentes nele. Segundo o grau de fracturação, o comportamento e
[3]
propriedades resistentes de um maciço rochoso podem ser definidas pela :

 Resistência da rocha intacta (isótropa ou anisótropa);


 Resistência ao corte de uma família ou famílias de descontinuidades, de acordo com
a escala do problema a analisar (famílias representativas do maciço rochoso);
 Resistência global de um sistema de blocos rochosos com comportamento isótropo.

Em análises da estabilidade, geralmente, assume-se que a rocha se comporta como um


material que segue a teoria de rotura de Mohr-Coulomb, no qual a resistência ao corte da
[44]
superfície deslizante é expressa em termos de coesão (c) e do ângulo de atrito (Ø) . Os
valores destes dois parâmetros de resistência, relacionam-se intimamente com as condições
geológicas de cada local. Ilustra-se na Figura 2.5 a sua aplicação para três condições diferentes,
apresentando as rectas de Mohr-Coulomb, ilustrando os possíveis comportamentos da
resistência ao corte para três tipos de descontinuidades.

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19
Revisão Bibliográfica

Figura 2.5 – Relação entre tensão de corte e normal em superfície deslizante para três tipos de
[44]
descontinuidades em diferentes condições geológicas .

A Figura 2.5 regista que [44]:

Na condição (1), numa descontinuidade com preenchimento, é necessário ter em conta a


natureza desse mesmo preenchimento. Se este é uma argila de má qualidade ou farinha de
falha, é provável que o ângulo de atrito seja baixo, embora possa ser observada alguma
coesão no caso do preenchimento se encontrar intacto. No caso de o preenchimento ser um
material mais resistente, provocando a selagem das paredes da descontinuidade, então a
coesão poderá ser significativa e deverá ser considerada para análises de estabilidade.

Na condição (2), numa descontinuidade sem qualquer preenchimento e de paredes lisas, a


coesão é nula e o ângulo de atrito (Øb) está relacionado com o tamanho do grão da rocha,
sendo geralmente menor nas rochas de grão fino, que nas de grão grosseiro.

A condição (3) mostra que numa descontinuidade com superfícies rugosas, a coesão é nula e o
ângulo de atrito é composto por duas componentes: o ângulo de atrito da superfície da rocha
(Øb) e uma componente (i) relacionada com a rugosidade (asperezas) da superfície e a razão
entre a resistência da rocha e a tensão normal aplicada. Com o aumento da tensão normal, as
asperezas são progressivamente aplanadas e o ângulo de atrito total diminui.

Comportamento das Descontinuidades

Vários critérios de resistência (rotura) para descontinuidades têm sido formulados nas últimas
décadas, porém o primeiro entendimento sobre o comportamento das descontinuidades das
rochas foi estabelecido pelo critério de Patton (1966) a respeito da influência da rugosidade
na resistência das descontinuidades. Este autor realizou ensaios de corte direto sobre
amostras com descontinuidades artificiais e constatou que a resistência ao corte depende do
[3]
ângulo de atrito do material e da inclinação das rugosidades . Esta resistência foi definida
por:

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20
Revisão Bibliográfica

Onde:

– tensão de corte ao longo da descontinuidade;


– tensão normal no plano da descontinuidade;
– ângulo de atrito básico da superfície:
– ângulo de inclinação da rugosidade.

Posteriormente Barton (1971) descreveu a resistência ao corte de juntas artificiais, com


base em dados experimentais e observou evidências físicas da influência das propriedades das
superfícies das juntas, através da resistência à compressão e rugosidades das paredes, no
comportamento geomecânico. Com base em inúmeros estudos experimentais em juntas
naturais e artificiais, chegou-se a uma equação empírica para a resistência ao corte das
juntas, definida pelo critério de Barton e Bandis (1983), mostrando que:

( ( ) )

Onde:

– tensão de corte ao longo da descontinuidade (Figura 2.6);


– tensão normal no plano da descontinuidade (Figura 2.6);
JCS – resistência à compressão uniaxial da rocha na parede da descontinuidade;
JRC – coeficiente de rugosidade da descontinuidade que varia no intervalo de 0 – 20.

Figura 2.6 – Envolvente bilinear de rotura de pico obtida a partir de ensaios de corte direto (adaptado
de Patton, 1966).

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21
Revisão Bibliográfica

O JRC pode ser obtido através da fórmula em baixo (8) proposta por Barton et al. (1985) e
derivados a partir dos ensaios de rampa inclinada (tilt test), onde blocos de rochas
intercetados por juntas são retirados do maciço rochoso e inclinados até que a parte superior
do bloco deslize em relação à parte inferior (Figura 2.7).

O coeficiente de rugosidade de descontinuidades (JRC) também pode ser obtido por


comparação do perfil de rugosidades típicas, apresentado por Barton e Choubey (1977),
conforme mostra a Figura 2.8, variando de 0 para descontinuidades lisas até 20 para
descontinuidades para alta rugosidade.

( ⁄ )

Onde:

– ângulo no qual se dá o deslizamento do bloco superior;


– tensão normal no plano da descontinuidade;
– resistência à compressão uniaxial da rocha na parede da descontinuidade;
– ângulo de atrito residual.

Figura 2.7 – Esquema de ensaios de rampa inclinada: (a) Simulação de uma descontinuidade a deslizar
em blocos retangulares; (b) Testemunhos de sondagem; (c) Simulação de descontinuidade longitudinal
em corpo de prova cilíndrico (adaptado de Montoya, 2002).

Como no tilt test esquematizado na Figura 2.7(b), obtém-se o ângulo de atrito básico do
material ( ) e em razão dos efeitos de intemperismo, foi proposta por Barton e Choubey
(1977) a formula (9) que utiliza o Martelo de Schmidt para obter o ângulo de atrito residual
( ). Salienta-se ainda que, no caso da parede da descontinuidade se encontrar sã, pode

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22
Revisão Bibliográfica

considerar-se que Ør = Øb. Sabe-se que os valores típicos do Øb para as rochas ígneas em
descontinuidades planas sem que haja desgaste ou meteorização andam na ordem dos 29° a
[3]
38° .

Onde:

– ângulo de atrito básico obtido do tilt test (Figura 2.7b);


– valor de ressalto (obtido com o esclerómetro de Schmidt L) para descontinuidades
alteradas, húmidas ou secas;
– valor de ressalto (obtido com o esclerómetro de Schmidt L) para descontinuidades sãs e
secas.

[3]
Figura 2.8 – Perfis tipo para estimar o coeficiente de rugosidade (JRC) (Barton e Choubey, 1977) .

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23
Revisão Bibliográfica

Resultados experimentais comprovaram a dependência da escala de valores de JRC e JCS.


Barton et al. (1985) apresentaram uma formulação na qual correlacionam o índice de
rugosidade e a resistência à compressão uniaxial da parede da descontinuidade, obtidos em
ensaios de laboratório com aqueles da descontinuidade “in situ”:

[ ]

[ ]

Onde:

– coeficiente de rugosidade da descontinuidade “in situ”;


– coeficiente de rugosidade da descontinuidade em laboratório;
– resistência à compressão uniaxial não confinada da rocha das paredes da
descontinuidade “in situ”;
– resistência à compressão uniaxial não confinada da rocha das paredes da
descontinuidade em laboratório;
– dimensão da resistência à compressão uniaxial não confinada da rocha das paredes da
descontinuidade e corpo de prova considerado “in situ”, limitado ao espaçamento de juntas
transversais, delimitando os blocos do maciço;
– dimensão do corpo de prova considerado em laboratório.

Segundo Hoek (2000), o ângulo de atrito interno básico da rocha (Øb), é fundamental para o
entendimento da resistência ao corte da superfície das descontinuidades. O valor do ângulo é
aproximadamente igual ao valor do ângulo de atrito residual (Ør), porém, como descrito
anteriormente, ele é geralmente obtido por meio de testes em amostras, previamente
cortadas e retificadas.

A determinação do ângulo de atrito das descontinuidades nos maciços rochosos, segundo Hu e


Cruden (1992), é essencial na avaliação da estabilidade dos taludes desses maciços. No
entanto, como o ensaio de corte direto para determinação do ângulo de atrito interno, requer
um transporte mais cuidadoso das amostras do campo para o laboratório, corte da amostra na
forma específica para a realização do ensaio e posterior retificação das suas superfícies, às
vezes são necessários diversos dias, apenas para que uma amostra seja ensaiada. Desde que
foi sugerido por Hoek e Bray (1974) que o ângulo de atrito poderia ser obtido pelo referido e
simples ensaio de “tilt test”, quando claramente há uma fratura existente na superfície da
rocha. Outros autores como Cawsey e Farrar (1976) e Barton e Choubey (1977) têm estimado
[26]
o ângulo de atrito interno de descontinuidades artificiais de acordo com este ensaio .

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24
Revisão Bibliográfica

No que respeita ao ângulo de atrito determinado pelo ensaio “tilt test”, para os diferentes
tipos de rocha, geralmente as de grão fino e com elevado teor em mica, tendem a possuir
baixo ângulo de atrito, enquanto rochas de grão grosseiro e rochas de elevada resistência têm
elevado ângulo de atrito. Em seguida indicam-se gamas de valores de referência de ângulos
[3]
de atrito em função de tipos de rocha :

 Rochas de baixo atrito, metamórficas, (ângulo de atrito entre cerca de 21º a 30º):
xisto micáceo, argila xistosa, marga;

 Rochas de médio atrito, sedimentares, (ângulo de atrito entre cerca de 25º a 37º):
arenito, siltito, cré, gneisse, ardósia;

 Rochas de elevado atrito ígneas, (ângulo de atrito entre cerca de 29º a 38º): basalto,
granito, calcário, conglomerado.

Os valores indicados deverão ser usados unicamente como um guia, já que os valores reais
podem assumir ampla variação em função das condições locais.

Influência da pressão de água

Quando no maciço rochoso existe água sob pressão, as superfícies das descontinuidades são
compelidas a afastar-se e a tensão normal ( ) sofre uma redução de valor. Em condições de
estabilidade, isto é, quando decorre um período de tempo suficientemente longo para que as
pressões da água tenham atingido o equilíbrio, a tensão normal reduzida será dada segundo a
[34]
expressão :

Onde u representa a pressão da água, correntemente designada por pressão neutra. A tensão
normal reduzida ( ) é usualmente conhecida por tensão normal efetiva, e deve ser esta
utilizada em vez da tensão normal nas equações anteriormente apresentadas.

2.2. Descrição das Descontinuidades

As descontinuidades condicionam de uma forma definitiva as propriedades e o


comportamento resistente, deformacional e hidráulico dos maciços rochosos. A resistência ao
corte das descontinuidades é o aspeto mais importante na determinação da resistência dos
maciços rochosos duros fraturados e para criar uma estimativa é necessário definir as

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25
Revisão Bibliográfica

[3]
características e propriedades dos planos de descontinuidade . Neste ponto são descritos os
critérios de descontinuidades e são definidos parâmetros físicos e geométricos que
condicionam as suas propriedades e o seu comportamento mecânico. A descrição e medida
destes parâmetros para cada família, devem ser realizadas segundo a orientação,
espaçamento, persistência, rugosidade, resistência das paredes, abertura, preenchimento e
infiltrações.

Alguns destes parâmetros, como a rugosidade, resistência das paredes, abertura e


preenchimento, determinam o comportamento mecânico e a resistência ao corte das
descontinuidades.

Além das características mencionadas, pode citar-se ainda, o número de famílias de


descontinuidades. O comportamento geomecânico do maciço rochoso é influenciado pelo
número de famílias de descontinuidades, que por sua vez determina a extensão do maciço
que se pode deformar sem envolver a rotura da rocha intacta.

2.2.1. Orientação

As descontinuidades sistemáticas apresentam-se em famílias com orientação e características


[3]
mais ou menos homogéneas . A orientação relativa e o espaçamento de diferentes famílias
de um maciço rochoso, definem a configuração dos blocos que formam o maciço. A
orientação das descontinuidades no que respeita a estruturas e obras de engenharia, é
[8]
condicionada pela presença de instabilidades e roturas a seu favor . Na Figura 2.9
apresentam-se exemplos da influência da orientação dos planos de fraqueza em obras como
taludes, barragens e tuneis.

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26
Revisão Bibliográfica

[3]
Figura 2.9 – Influencia da orientação de descontinuidades no que respeita a obras de engenharia .

A orientação de uma descontinuidade no espaço é definida pela sua direção (direção da linha
de máxima pendente do plano de descontinuidade em relação ao Norte, “strike”) e pelo seu
mergulho do plano (inclinação em relação à horizontal da respetiva linha, “dip”) como mostra
a Figura 2.10. A orientação da descontinuidade é feita no campo através de bússola de
geólogo. No capítulo Metodologias, no ponto 3.1.2, descreve-se o processo usado na
determinação da atitude das descontinuidades do presente estudo.

Figura 2.10 – Esquema representativo da orientação de descontinuidades (adaptado de Vallejo, 2002).

É aconselhável medir um número suficiente de orientações de descontinuidades para definir


adequadamente cada família. O número de medidas dependerá da dimensão da zona

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27
Revisão Bibliográfica

estudada, da aleatoriedade das orientações dos planos e do detalhe de análises. No caso de


[3]
as orientações serem constantes, pode reduzir-se o número de medidas .

A representação gráfica da orientação das diferentes famílias de descontinuidades pode


realizar-se segundo, projeções estereográficas, representando os polos ou planos com valores
médios das diferentes famílias; diagramas de rosetas permitem representar um grande
número de medidas de orientação de forma quantitativa (Figura 2.11); blocos diagrama,
permitindo uma visão geral das famílias e respetivas orientações, como mostra a Figura 2.13;
símbolos em mapas geológicos, que indicam a direção e a direção de mergulho para os
[3]
diferentes tipos de descontinuidades .

Figura 2.11 – Representação dos dados de orientação segundo dois métodos (ISRM, 1981).

2.2.1.1. Compartimentação dos Maciços Rochosos

Como já referido anteriormente, os parâmetros relativos às descontinuidades que


determinam a forma e dimensão dos blocos que compartimentam os maciços rochosos, são a
orientação e número de famílias, o desenvolvimento e o espaçamento.

Os desenhos da Figura 2.12 ilustram como estas propriedades podem influenciar a


estabilidade da fundação. Em ambos os casos existem duas famílias de descontinuidades: a
família A (set A) mergulha cerca de 40º no sentido da face do talude e a família B (set B)
[9]
mergulha para o interior com uma pendente elevada .

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28
Revisão Bibliográfica

[9]
Figura 2.12 – Influência do desenvolvimento e orientação das descontinuidades numa fundação .

(a) Descontinuidades contínuas mergulhando para o interior do talude – fundação estável;


(b) Descontinuidades contínuas mergulhando para fora da face do talude – fundação instável.

No caso da Figura 2.12(a) as descontinuidades da família A são descontínuas (pouco


persistentes) e mais espaçadas que as da família B. Esta fundação deverá ser estável porque
as descontinuidades aflorando na face do talude não são contínuas e apenas um pequeno
bloco instável se forma junto da face. Pelo contrário, na Figura 2.12(b) as descontinuidades
mergulhando no mesmo sentido da face do talude são extensas e possibilitam o movimento do
conjunto da fundação sobre aquelas, constituindo as descontinuidades da família B fraturas
de tração (tension cracks). Um exemplo típico da situação referida, pode corresponder ao de
uma formação de arenito estratificado contendo uma família conjugada de descontinuidades
pouco persistentes. Se as camadas mergulham para o interior do talude a fundação pode ser
estável, e se mergulham para fora da face com um ângulo de 40º, que é frequentemente
maior que o ângulo de atrito das superfícies de estratificação do arenito, é provável que a
[9]
fundação venha a escorregar sobre estas descontinuidades .

As condições mostradas na Figura 2.12 ilustram também a influência do espaçamento das


descontinuidades nos assentamentos. Neste exemplo, o espaçamento das descontinuidades é
tal que a sapata assenta predominantemente na rocha intacta. Consequentemente é pouco
provável a ocorrência do fecho das descontinuidades e o assentamento será função do módulo
de deformabilidade da rocha intacta. Contudo, no caso duma rocha muito fraturada, o
assentamento pode ocorrer como resultado do fecho das descontinuidades, particularmente
se o preenchimento incluir um material compressível, tal como argila, sendo neste caso o
assentamento função do módulo de deformabilidade do maciço rochoso que constitui o
conjunto da fundação.

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29
Revisão Bibliográfica

Quanto à estabilidade global da fundação registe-se que uma rocha intensamente fraturada
pode ser suficientemente indentada para evitar o movimento do conjunto da fundação num
tipo de rotura em bloco como o mostrado na Figura 2.12(b). Por outro lado, o destaque de
blocos de pequena dimensão pode gerar-se como resultado da ação do gelo ou da ação
erosiva de um rio e, em consequência poderá dar-se o descalce da fundação (Figura 2.12(a)).

2.2.2. Espaçamento entre Descontinuidades

O espaçamento de descontinuidades (espaçamento médio ou modal de cada família de


descontinuidades) condiciona o tamanho dos blocos individuais que compõem um maciço
rochoso. Como a resistência ao corte de um maciço rochoso e os mecanismos de rotura e
deformação atuantes dependem do tamanho dos blocos, os modos de rotura de taludes em
rocha estão diretamente relacionados à presença de descontinuidades.

Segundo Vallejo (2002), o espaçamento entre os planos de descontinuidades condiciona o


tamanho dos blocos da matriz rochosa e, por tanto, define o papel que terá sobre o
comportamento mecânico do maciço rochoso, e a sua importância em relação à influência das
descontinuidades. Em maciços rochosos com grandes espaçamentos, de vários metros, nos
processos de deformação e rotura prevalecerão as propriedades da matriz rochosa ou dos
planos de descontinuidade de acordo com a escala de trabalho considerada e com a situação
da obra de engenharia relativamente às descontinuidades; se os espaçamentos forem
menores, de vários decímetros a 1 ou 2 metros, o comportamento do maciço é determinado
pelos planos de fraqueza; por último, se o espaçamento for muito pequeno o maciço estará
muito fraturado apresentando um comportamento isotrópico, controlado pelas propriedades
do conjunto de blocos mais ou menos uniformes.

Se os espaçamentos são extremamente pequenos, a orientação das descontinuidades é,


segundo a ISRM (1983), de pequena importância. A rotura pode ocorrer tanto por rotação,
como por queda de pequenos pedaços de rocha. Se o maciço rochoso apresenta várias famílias
de descontinuidades que podem contribuir para que ocorram deslizamentos, e a sua
resistência ao corte é baixa, a importância do espaçamento aumenta (ISRM, 1983). As
características de percolação também são diretamente afetadas pela frequência das
descontinuidades no maciço.

Quando se procede ao estudo do espaçamento de descontinuidades, é conveniente realizar


uma análise da distribuição dos valores medidos por cada família, já que algumas
características dos maciços assumem resultados com alguma dispersão. Para tal, estes valores
representam-se em histogramas, permitindo determinar de maneira rápida, várias estatísticas
de interesse, designadamente; a moda (s), o mínimo (Smin) e o máximo (Smáx) de campo obtido
das observações do espaçamento, para cada conjunto de descontinuidades. São também

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30
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possíveis visualizações de curvas de frequência para cada família, do respetivo valor modal e
[8], [9]
dispersões .

A determinação, no campo, dos valores de espaçamento pode ser feita utilizando-se a técnica
designada “scanline”, ou através de medidas efetuadas com o auxílio de uma fita métrica e
que consideram apenas as descontinuidades adjacentes que compõem famílias, num intervalo
nunca menor do que 3 m, em cada afloramento estudado (ISRM, 1983).

Geralmente, as superfícies expostas dos afloramentos rochosos, não permitem a realização


das medidas do espaçamento na direção perpendicular às superfícies. O que se mede são
espaçamentos aparentes, sendo necessário aplicar as correções necessárias de forma a obter
o espaçamento real. A Figura 2.13 representa a face de um afloramento em que apenas se
podem medir os espaçamentos aparentes de três famílias de descontinuidades. Colocando a
fita perpendicular ao traço dos planos de cada família, mede-se a distância (d), que deverá
[3]
ser corrigida para calcular o espaçamento real :

Onde:

– espaçamento real;
– distância media medida com a fita métrica;
– ângulo entre a linha de medição e a direção da família.

Figura 2.13 – Medição do espaçamento de uma face exposta de um afloramento (ISRM, 1981).

O intervalo de espaçamento descreve-se segundo os termos apresentados na Tabela 2.5


conforme sugere a ISRM (1981):

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31
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Tabela 2.5 – Descrição do espaçamento de diaclases segundo (ISRM, 1981).

Designação Espaçamento (mm)

Extremamente fechado ˂ 20
F5
M uito fechado 20 a 60

F4 Fechado 60 a 200

F3 M oderadamente largo 200 a 600

F2 Largo 600 a 2000

M uito largo 2000 a 6000


F1
Extremamente largo ˃ 6000

A Figura 2.14 apresenta exemplos de descontinuidades com diferentes espaçamentos.

a) b)

Figura 2.14 – Exemplos de espaçamentos de diaclases em afloramentos. a) Maciço rochoso de boa


qualidade com diaclases diagonais com espaçamentos na ordem de 0,5 - 1,5 m (maciço Castelo de
Marialva); b) Maciço rochoso com família de diaclases na diagonal com continuidade alta e espaçamento
moderado (Mértola).

2.2.2.1. Técnica “Scanline”

Um método semelhante ao anterior como forma a determinar o espaçamento das


[15]
descontinuidades é a técnica “scanline” (Figura 2.15). É compreendida pela introdução de
uma linha na superfície do maciço rochoso. O levantamento de dados consiste na anotação
dos valores de espaçamento para todas as descontinuidades, que intercetam a scanline ao
longo do seu comprimento.

Nos trabalhos práticos, uma linha presa na superfície da rocha através de pequenos pedaços
de arame, fixos por pregos martelados na própria rocha é considerada uma “scanline” para
levantamento de dados. Os pregos devem estar espaçados em intervalos de aproximadamente

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32
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3 m ao longo da linha, que deve ser mantida tão esticada e tão reta quanto possível. É ideal
que cada localização da scanline seja fotografada com seu número ou posição
adequadamente identificado.

Uma vez que a scanline esteja instalada, é feita a recolha de dados, anotando as
características em baixo descritas, para cada descontinuidade que a intercete (Figura 2.15):

Figura 2.15 – Conjunto de dados do espaçamento utilizando a técnica de “scanline” (adaptado de Brady
& Brown, 1985).

Onde:

D – distância ao longo da scanline, desde o seu início até ao ponto em que a


descontinuidade interceta a linha:
L – comprimento da descontinuidade, medido acima da scanline;
Xi0 – espaçamento real;
Xi – espaçamento entre duas descontinuidades;
– ângulo entre a normal à descontinuidade e a scanline.

Como mostrado na Figura 2.15, o espaçamento aparente entre duas descontinuidades é Xi e o


ângulo entre a normal à descontinuidade e a scanline é , o espaçamento real Xi0 pode ser
[19]
calculado da seguinte forma :

Obtém-se o espaçamento real medido, apenas quando = 0°. Em casos extremos, quando a
descontinuidade e a scanline são paralelas ( = 90°), nenhuma interseção será observada. No
entanto, para que se execute essa medição, é necessário que se “levante” scanline na

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33
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respetiva face e que seja efetuada em duas direções ortogonais, nomeadamente na horizontal
e na vertical [15].

2.2.3. Persistência das descontinuidades

A persistência ou continuidade define-se como a extensão em área de uma descontinuidade. É


um dos parâmetros que maior influência tem no comportamento dos maciços rochosos, mas
também é um dos mais difíceis de determinar, dada a exiguidade de acessos à medição de
[7]
tais áreas .

A persistência de um plano de descontinuidade é a sua área de superfície medida pelo


comprimento segundo a direção do plano e segundo o seu mergulho. É um parâmetro de
grande importância, mas difícil de quantificar a partir da observação de afloramentos, em
que normalmente se veem os traços dos planos de descontinuidade, de acordo com um
[3]
mergulho aparente .

A dificuldade desta avaliação leva a que muitas vezes se recorra à representação gráfica,
através de blocos-diagrama obtidos por visualizações de campo (Figura 2.16), com os quais se
pretende representar a importância relativa das várias famílias de descontinuidades em
termos da persistência. De facto, através destas representações, é possível perceber que as
descontinuidades de uma dada família são mais extensas do que as de outras, tendendo as de
[8]
menor área a terminar contra as principais, ou até no seio da própria rocha .

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34
Revisão Bibliográfica

Figura 2.16 – Representação de diagramas, sob diferentes modelos de persistência ou continuidade de


várias famílias de descontinuidades (ISRM, 1981).

Uma quantificação da persistência poderá fazer-se através da medida do comprimento do


traço da superfície das descontinuidades, em superfícies expostas do maciço e, a partir destas
medições, estimar as áreas médias das diversas famílias de descontinuidades. De acordo com
o valor modal do comprimento do traço das descontinuidades pertencentes a uma mesma
família, é usual utilizar a terminologia seguinte (Tabela 2.6) para descrever a continuidade ou
[8]
persistência das descontinuidades :

Tabela 2.6 – Descrição da persistência ou continuidade (ISRM, 1981).

Continuidade Comprimento (m)

M uito pequena <1

Pequena 1a3

M édia 3 a 10

Elevada 10 a 20
M uito elevada > 20

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35
Revisão Bibliográfica

2.2.4. Caracterização da Rugosidade

A rugosidade é um fator que tem especial incidência na resistência ao deslizamento duma


descontinuidade, principalmente se esta se apresentar fechada e sem prévios movimentos. A
sua importância como fator favorável à resistência diminui com os aumentos da abertura, da
espessura, do enchimento ou do valor do deslocamento devido a anteriores movimentos de
[8]
escorregamento .

De uma maneira geral a rugosidade pode ser caracterizada (Figura 2.17):

 pela curvatura – ondulações em grande escala que se as paredes juntas e em


contacto, provocam dilatância positiva durante o movimento de deslizamento uma
vez que são demasiado grandes para que sejam “cortadas”. Estas ondulações não são
manifestáveis à escala das amostras ensaiadas em laboratório ou "in situ” e
determinam, na prática, a direção do deslizamento em relação ao plano médio da
descontinuidade definido pelo ângulo de incidência i.

 pelas asperidades - irregularidades de superfície, detetáveis a pequena escala, que


tendem a ser danificadas durante os deslocamentos por corte, salvo se as paredes
apresentarem elevada resistência e/ou as tensões de compressão serem baixas, casos
em que a dilatância pode também ocorrer, embora à escala das irregularidades; estas
últimas determinam, então, o aumento da resistência ao deslizamento da
descontinuidade em função dos ângulos de incidência e da relação entre a resistência
da matriz rochosa e as tensões normais aplicadas sobre a descontinuidade.

Figura 2.17 – Ondulação e tipos de rugosidade de uma superfície de descontinuidade (ISRM, 1981).

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36
Revisão Bibliográfica

Regista-se que, para uma mesma descontinuidade, a rugosidade pode apresentar-se com
valores perfeitamente distintos consoante a direção, pelo que, quando se pretende estudar
um problema que envolva a análise ao escorregamento, importa antever qual a direção
[7]
provável do movimento .

Se a direção dum potencial escorregamento é conhecida, a rugosidade poderá ser amostrada


através de perfis lineares paralelos a essa direção (Figura 2.18). Em muitos casos, a direção
relevante será a da reta de maior declive (escorregamentos planares), mas noutros, quando o
escorregamento é controlado pela intersecção de duas descontinuidades planas, a direção do
potencial escorregamento será paralela à linha de intersecção daqueles planos. Se a direção
do potencial escorregamento é desconhecida, a rugosidade deverá ser amostrada nas três
[8]
dimensões do espaço .

Figura 2.18 – Método para determinação da rugosidade de descontinuidades ao longo de uma direção de
potencial deslizamento (ISRM, 1981).

Sempre que em estádios preliminares dos estudos de caracterização geotécnica, haja


limitações que impeçam as determinações antes referidas, a descrição da rugosidade poderá
limitar-se à utilização de termos descritivos baseados em duas escalas de observação:
pequena (alguns centímetros) e intermédia (vários metros). A escala intermédia da
rugosidade é dividida em três graus (em patamar, ondulada e planar) e sobreposta à
rugosidade de pequena escala, esta também dividida em três graus (rugosa, lisa e espelhada),
resultando por combinação nove classes (Tabela 2.7 e Figura 2.19). Também é possível
acrescentar a cada uma destas classes a informação relativa à curvatura (rugosidade a uma
grande escala de observação), indicando o comprimento de onda e amplitude das ondulações.

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Tabela 2.7 – Escalas de caracterização de rugosidade (baseado de ISRM, 1981).

Classe Descrição

I Rugosa ou irregular, em patamares (rough or irregular, stepped)


II Lisa, em patamares (smooth, stepped)
III Espelhada (*), em patamares (slickensided (*), stepped)
IV Rugosa ou irregular, ondulada (rough or irregular, undulating)
V Lisa, ondulada (smooth, undulating) (smooth, undulating)
VI Espelhada (*), ondulada (slickensided (*), undulating)
VII Rugosa ou irregular, planar (rough or irregular, planar)
VIII Lisa, planar (smooth, planar)
IX Espelhada (*), planar (slickensided (*), planar)

O termo “espelhado” (slickensided) só deverá ser usado quando existirem sinais evidentes de
deslizamento prévio ao longo da descontinuidade.

Figura 2.19 – Perfis típicos de rugosidade. O comprimento dos perfis está no intervalo entre 1 e 10
metros (ISRM, 1981).

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38
Revisão Bibliográfica

A partir dos perfis de rugosidade, obtidos por técnicas análogas, Barton e Choubey
propuseram, em 1977, uma correlação com o parâmetro JRC anteriormente referido, que
permite estimar a resistência de pico duma descontinuidade em relação ao deslizamento
(Figura 2.8).

2.2.5. Resistência das Paredes

De acordo com Vallejo (2002), a resistência da parede de uma descontinuidade influência a


sua resistência ao corte e a sua deformabilidade, dependendo do tipo de matriz rochosa, do
grau de alteração e da existência ou não de preenchimento. No caso de descontinuidades sãs
e limpas, a resistência seria a mesma da matriz rochosa, mas na maior parte dos casos é
menor devido à meteorização das paredes, ou seja, os processos de alteração afetam em
maior grau os planos de descontinuidade em relação à matriz rochosa. Por este motivo, para
a resistência das paredes de descontinuidade deve ser estimado o grau de meteorização da
matriz rochosa, segundo a Tabela 2.8.

O estado de alteração da rocha junto às paredes das descontinuidades tem, não só forte
influência na resistência ao corte dos maciços rochosos, principalmente se as
descontinuidades estiverem fechadas, isto é, se houver contacto entre os dois bordos, como
[8]
também condiciona a sua deformabilidade .

A ocorrência de pequenos deslizamentos segundo as descontinuidades, causados por tensões


de corte desenvolvidas no interior dos maciços, pode originar áreas de contacto muito
pequenas das asperidades, levando a que localmente seja excedida a resistência à
compressão da rocha junto à parede, e, em consequência, a esmagamentos pontuais com
[8]
redução da rugosidade .

Os maciços rochosos apresentam-se, frequentemente, alterados perto da superfície por ação


dos agentes de desgaste e, algumas vezes estão também alterados por processos
hidrotermais. Processo de alteração que geralmente afeta mais a rocha junto às paredes das
descontinuidades do que no interior dos blocos que constituem os maciços rochosos. Em
resultado disso, a resistência da parede é apenas uma fração daquela que se regista no
[8]
interior dos blocos de rocha .

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Tabela 2.8 – Descrição do grau de meteorização (Vallejo, 2002).

Terminação Descrição

Não se observam sinais de meteorização na matriz


Fresca (Sã)
rochosa.
Observam-se mudanças de cor original na matriz
rochosa. É conveniente o grau de mudança. Deve ser
Descolorada
mencionado se a observação da mudança de cor se
restringe a um ou alguns minerais.
A rocha alterou-se para estado de solo, mantendo-se
Desintegrada a estrutura original. A rocha é friavel, mas os grãos
minerais não estão decompostos.

A rocha alterou-se para estado de solo, alguns ou


Decomposta
todos os minerais estão decompostos.

Enquanto a resistência da rocha pode ser avaliada em ensaios de compressão uniaxial ou


triaxial, a camada relativamente fina da rocha mais alterada junto à parede, que mais afeta a
resistência ao corte e deformabilidade, só pode ser estimada por via indireta recorrendo a
testes ou ensaios simples cujos resultados possam ser correlacionados com a resistência à
compressão simples.

Então neste caso, a resistência da parede pode estimar-se (no campo) com o Martelo
(esclerómetro de Schmidt), aplicado diretamente sobre a descontinuidade, seguindo o
procedimento descrito no ponto 3.3 do capítulo da Metodologia, ou a partir dos índices de
campo (Tabela 2.9), onde geralmente, a resistência da parede rochosa está compreendida
entre as classes R0 a R6.

Em ambos os casos as medidas devem realizar-se sobre paredes representativas do estado de


alteração das descontinuidades, considerando também as descontinuidades mais frequentes
[3]
ou mais significativas no maciço rochoso .

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Tabela 2.9 – Estimação aproximada e classificação da resistência à compressão uniaxial de solos e rochas
(ISRM, 1981).

Aproximação da variação da
Grau Descrição Identificação de campo resistência à compressão
uniaxial (MPa)
S1 Solo muito mole O punho penetra facilmente vários cm. < 0,025
S2 Solo mole O dedo penetra facilmente vários cm. 0,025 - 0,05
Necessário uma pequena pressão para
S3 Solo firme 0,05 - 0,10
afundar o dedo.
Necessário uma forte pressão para
S4 Solo rígido 0,10 - 0,25
afundar o dedo.
Com certa pressão pode marcar-se com
S5 Solo muito rijo 0,25 - 0,50
a unha.
M arca-se com dificuldade ao pressionar
S6 Solo duro > 0,50
com a unha.
Rocha extremamente
R0 Pode-se marcar com a unha. 0,25 - 1,0
fraca
A rocha esmigalha-se sob o impacto da
R1 Rocha muito fraca ponta do martelo de geólogo. Corta-se 1,0 - 5,0
facilmente com navalha.
Corta-se com dificuldade com navalha.
R2 Rocha fraca Ao golpear com a ponta do martelo 5,0 - 25
produz pequenas marcas.
Não pode ser cortada com navalha.
Rocha medianamente
R3 Amostras podem fraturar-se com golpe 25 - 50
resistente
forte do martelo.
Amostras requerem mais que um golpe
R4 Rocha resistente 50 - 100
de martelo para fraturar.
Rocha muito Amostras requerem muitos golpes de
R5 100 - 250
resistente martelo para fraturar.
Rocha extremamente Amostras podem apenas ser lascadas
R6 > 250
resistente com martelo.

2.2.6. Abertura e Preenchimento

A abertura define-se como sendo o espaço vazio ou preenchido, que separa as paredes
adjacentes das descontinuidades (Figura 2.20). Pode considerar-se o preenchimento como
qualquer material que ocorre entre os planos das descontinuidades e que possui propriedades
distintas do material da rocha (calcite, quartzo, argila, silte, milonito de falha, brecha,
etc..). É importante porque pode modificar ou controlar completamente a resistência ao
corte e a condutividade hidráulica das descontinuidades. As paredes opostas não se tocam e o
preenchimento ocupa todo o espaço vazio entre as mesmas, a resistência, a deformabilidade
e a permeabilidade do material que preenche a descontinuidade condicionam o
[25]
comportamento do maciço rochoso .

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Figura 2.20 – Representação esquemática de definições sugeridas da abertura de descontinuidades


abertas e largura de descontinuidades preenchidas, (ISRM, 1981).

As grandes aberturas podem resultar de anteriores deslizamentos de descontinuidades com


rugosidade apreciável, de movimentos gerados por tensões de tração, do arrastamento de
materiais de enchimento (argila, por exemplo) ou de fenómenos de solução. As
descontinuidades verticais ou muito inclinadas, que abriram em resultado de trações
associadas à erosão dos vales ou retraimento glaciário podem atingir grandes aberturas.
Naturalmente que a abertura das descontinuidades varia bastante ao longo da sua extensão, o
[8]
que dificulta, ou mesmo impossibilita, a sua medida .

Em função do valor da abertura podem classificar-se as descontinuidades de acordo com as


designações da Tabela 2.10.

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Tabela 2.10 – Descrição da abertura, (ISRM, 1981).

Descrição Abertura (mm)

M uito fechadas < 0,1


Fechadas 0,1 - 0,25
Parcialmente fechadas 0,25 - 0,5

Abertas 0,5 - 2,5


Largas 2,5 - 10
M uito largas 10 - 100

Extremamente largas 100 - 1000

Cavernosas > 1000

Como já referido, a abertura e o tipo de enchimento das descontinuidades faz-se sentir, de


modo notável, em todos os parâmetros geotécnicos de um maciço: resistência,
deformabilidade e permeabilidade. Segundo ISRM, a abertura e a sua variação têm influência
na resistência ao deslizamento, já que a uma maior abertura corresponde uma diminuição de
contactos entre as paredes da descontinuidade, podendo daí resultar concentrações de
tensões conduzindo a esmagamentos pontuais das asperidades das paredes da
descontinuidade.

Por sua vez, é evidente a diferença de comportamento em termos de resistência ao corte


entre descontinuidades preenchida por um material pétreo, por vezes mais resistente e
menos deformável do que o restante material que constitui o maciço, e o de uma
descontinuidade preenchida, por um material argiloso brando, de elevada deformabilidade e
baixa resistência ao corte. Devido à enorme variedade de ocorrências possíveis, ditando
comportamentos extremamente diferenciados, importa para cada situação proceder a um
estudo cuidadoso das características do enchimento das descontinuidades, sendo de
particular importância analisar os aspetos relacionados com a geometria (espessuras médias e
sua variação), o tipo de material de enchimento (mineralogia, dimensão das partículas, grau
de alteração, potencial expansivo) e as respetivas resistências ao corte (tal como as
[8]
características de deformabilidade e permeabilidade) .

Relativamente ao tipo de enchimento, faz-se sentir de modo notável em todos os parâmetros


geotécnicos de uma dada formação geológica. É evidente a diferença de comportamento, em
termos de resistência ao corte e deformabilidade, entre uma descontinuidade preenchida por
um material argiloso brando e por um material pétreo, por vezes mais resistente e menos
deformável do que o próprio material que constitui o maciço. Como é, também, evidente a
diferença de comportamento em termos hidráulicos de uma descontinuidade preenchida por
um material poroso e permeável de uma outra preenchida por um impermeável. Nas falhas, o

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material de enchimento das respetivas caixas corresponde muitas vezes ao material rochoso
adjacente esmagado pelo processo de tectonização que afetou o maciço, podendo encontrar-
se em fases mais ou menos avançadas de esmagamento e alteração, desde as brechas de falha
[7]
(milonitos) às argilas de falha .

A Figura 2.21 apresenta exemplos de aberturas em diaclases com e sem preenchimento.

a) b)

c) d)

Figura 2.21 – Exemplos de aberturas em descontinuidades. a) Duas famílias de diaclases em rocha


granítica, com abertura “larga” preenchidas com vegetação; b) Diaclase “lisa-ondulada”, de abertura
“muito larga” sem preenchimento; c) Diaclase “lisa”, de abertura “muito larga” com preenchimento
argiloso e matéria orgânica; d) Diaclase em rocha xistosa, com abertura “larga” sem preenchimento.

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2.2.7. Água nas descontinuidades e percolação

O fluxo de água subterrânea altera, geralmente, a condição de estabilidade dos taludes


[31]
dando origem a diversos efeitos nefastos, sendo de salientar :

 A pressão da água reduz a estabilidade dos taludes, por diminuição da resistência ao


deslizamento, ao longo das potenciais superfícies de rotura;
 As variações do teor em água de certas rochas, particularmente nos xistos argilosos,
podem causar uma acelerada alteração da rocha com um correspondente decréscimo
da resistência ao deslizamento das descontinuidades;
 A água que preenche as descontinuidades ao gelar aumenta de volume, podendo
provocar a fracturação da rocha, originando o aparecimento de blocos de menores
dimensões. Por sua vez, a formação de gelo junto da superfície, pode obturar os
caminhos de drenagem resultando daí um incremento das pressões da água no interior
do talude, o que contribui para o decréscimo das condições de estabilidade;
 A erosão dos solos da superfície e do preenchimento das descontinuidades, que ocorre
como resultado da circulação da água, pode levar ao aumento da abertura e,
consequentemente, à diminuição das condições de estabilidade.

De entre os aspetos citados, o efeito mais importante da presença da água, nos maciços
rochosos reside normalmente na redução das condições de estabilidade resultante da pressão
exercida pela água nas paredes das descontinuidades.

De acordo com Hoek & Bray (1981), há dois modos de se obterem os dados relativos às
distribuições de pressão da água dentro de um maciço rochoso:

 A dedução do padrão de fluxo de água subterrânea a partir da avaliação da


permeabilidade do maciço rochoso e da avaliação das fontes de água;
 Medida direta dos níveis de água em furos de sonda ou poços, ou a medida da pressão
de água através de piezómetros instalados nos furos de sonda.

As pressões da água subterrânea são geralmente o principal fator em problemas de


[26]
estabilidade de taludes . A compreensão do papel da água subterrânea é, portanto uma
exigência essencial para qualquer geometria de talude. De acordo com Brown (1982), o
monitoramento das pressões da água subterrânea, por meio de piezómetros, é uma forma
segura de estabelecer a contribuição da água subterrânea e para conferir efetivamente as
medidas de drenagem.

Terzaghi (1950) afirma que a água que percola no interior de um talude exerce, em virtude
da sua viscosidade, uma pressão sobre as partículas de solo, conhecida como pressão de

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percolação. Esta pressão atua na direção do fluxo e a sua intensidade cresce,


proporcionalmente, influenciando a velocidade de percolação. A presença de água pode
reduzir a resistência das rochas intactas, bem como das descontinuidades causadas por
processos de alteração, saturação e erosão do material de preenchimento.

Resumindo, a pressão da água pode agir no sentido de destabilizar as vertentes ao reduzir as


forças resistentes aos escorregamentos e ao aumentar as tensões desencadeadoras do
movimento.

Segundo Fiori & Carmignani (1995), existem dois extremos no comportamento da água
subterrânea nos maciços, um ocorre em solos porosos, conglomerados ou em rochas
intensamente fraturadas, e o outro extremo, em maciços rochosos muito pouco fraturados.
No maciço rochoso, com famílias de descontinuidades numerosas e muito pouco espaçadas, a
água comporta-se como em solos porosos. O grau de conectividade entre os vazios é elevado
e as variações do nível freático são graduais, ocorrendo somente em grandes áreas. Por outro
lado, em maciços rochosos pouco fraturados, com poucas famílias de descontinuidades e,
especialmente, onde o espaçamento das descontinuidades é grande, a pressão da água varia,
consideravelmente, de uma descontinuidade a outra ou de local para local. Os níveis freáticos
erráticos podem surgir onde diques, falhas ou camadas com ângulo de mergulho elevado,
atuam como aquicludes (barreiras geológicas). A percolação de água por meio dos maciços
rochosos resulta do fluxo através das descontinuidades.

Detalhes geológicos aparentemente pouco significativos podem ter efeitos apreciáveis sobre a
distribuição de pressões da água nas descontinuidades e, consequentemente, sobre a
[30]
estabilidade do talude . A determinação do nível do lençol freático, do caminho
preferencial de percolação e da pressão da água, pelo menos de forma aproximada pode
prever problemas de estabilidade ou dificuldades na construção.

Assinala-se que, no caso das obras de retenção de água, é frequente proceder-se a


intervenções no sentido de melhorar as características de permeabilidade do terreno de
fundação, consistindo aquelas quer na injeção de caldas de cimento através de furos abertos
no terreno com o objetivo do preenchimento de vazios (como sejam as descontinuidades
abertas), quer na abertura de furos de drenagem para alívio da pressão da água no interior do
maciço. Já no que respeita à melhoria das condições de estabilidade em escavações, como
sejam os casos de taludes e túneis, é frequente proceder-se à realização de furos de
[3]
drenagem igualmente para alívio das pressões da água no maciço .

Pode dizer-se que as hipóteses clássicas para a análise do fluxo de água subterrânea em
[19]
taludes de rocha são :

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46
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 O fluxo ocorre somente através de fissuras ou descontinuidades, e a permeabilidade


da rocha é considerada insignificante, como primeira aproximação.
 O movimento do fluxo é laminar. Condições de fluxo turbulento apenas ocorrem
quando existem valores muito grandes, em relação à abertura das descontinuidades e
gradientes hidráulicos mais altos do que os normais.

O fluxo de água através de microfraturas da rocha e o fluxo turbulento em fissuras com


superfícies rugosas são dois fenómenos que podem também ocorrer, quando existem
problemas de estabilidade de taludes em rocha.

2.2.7.1. Modelos de fluxo em maciços rochosos

Segundo Louis (1976), têm-se cinco grupos de maciços rochosos, classificados segundo sua
textura, estrutura e imperfeições (Figura 2.22).

 Meio poroso, predominantemente homogéneo, contendo somente pequenos poros;


 Meio fraturado poroso, onde as fissuras determinam o comportamento hidráulico do
maciço rochoso;
 Meio poroso contendo barreiras impermeáveis, onde as descontinuidades são
preenchidas por material composto de partículas impermeáveis;
 Meio poroso com pequenos vias em que descontinuidades preenchidas por material
impermeável contêm canais através dos quais a água pode fluir;
 Meio cárstico contendo passagens largas e cavernas de várias formas geométricas,
criadas pela dissolução e remoção da rocha pelo fluxo de água subterrânea.

[32]
Figura 2.22 – Grupos de maciços rochosos . (a) Meio poroso intergranular; (b) Meio poroso fraturado;
(c) Meio poroso com barreiras impermeáveis; (d) Meio poroso contendo canais; (e) Meio cárstico.

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É importante destacar, que a definição de um maciço rochoso como sendo um meio contínuo
ou descontínuo depende ainda da escala relativa em que se avalia o talude, e de
características das famílias de descontinuidades presentes, tais como o espaçamento e
persistência (Figura 2.23).

Considera-se um meio fraturado como sendo um meio contínuo, quando os tamanhos dos
blocos unitários são desprezíveis com relação à escala do fenómeno examinado (Figura
2.23b). Neste caso, os métodos de análise para meios porosos podem ser adotados. Nos casos
em que o tamanho unitário dos blocos é da mesma ordem de grandeza, com referência à
escala relativa do talude e das descontinuidades abertas, os métodos de análise do fluxo de
água através das descontinuidades devem ser usados. As propriedades hidráulicas de um
maciço rochoso fraturado dependem da condutividade hidráulica das famílias de
[31]
descontinuidades presentes .

Figura 2.23 – Meios contínuos (a) e (b) e descontínuos (c) e (d) na avaliação dos problemas relacionados
[31]
com o fluxo de água subterrânea .

2.3. Instabilidade em Taludes

2.3.1. Causas de Instabilização

Os principais fatores que favorecem a instabilização de uma encosta são os condicionantes


geológicos, os tipos e as características do solo, águas superficiais e subterrâneas e o tipo de
vegetação.

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2.3.2. Tipos de Instabilidade em Taludes

Os diferentes tipos de instabilidade possíveis em taludes rochosos estão intimamente ligados


ao tipo de estruturas geológicas pelo que é importante, logo numa fase preliminar dos
estudos, identificar quais as potenciais situações de instabilidade que tais estruturas podem
ocasionar.

Estas situações podem, muitas vezes, ser facilmente identificadas através duma simples
análise dos diagramas com a representação dos polos das descontinuidades e das respetivas
curvas de isodensidades (Figura 2.24) [8].

Diferenciam-se quatro potenciais tipos de rotura cujas características são função das
[27]
orientações relativas da face do talude e das descontinuidades . Para cada um dos
potenciais tipos de rotura, existe um método específico de análise da estabilidade, o qual
tem em consideração a forma e dimensões dos blocos, a resistência ao deslizamento das
[9]
superfícies de escorregamento, as pressões da água e outras forças aplicadas .

Os primeiros três tipos de instabilidade de blocos – planar, cunha e “toppling”- têm formas
distintas, determinadas pela estrutura geológica. No caso de os blocos planares e cunhas
(Figura 2.24a e 2.24b) a estrutura tem mergulho concordante com a face do talude e emerge
nesta, pelo que na representação hemisférica, os polos das descontinuidades localizam-se na
parte oposta do círculo maior representativo do plano da face do talude. No caso do
“toppling” de blocos (Figura 2.24c) a estrutura mergulha no sentido contrário para o interior
da face do talude, pelo que na representação hemisférica os polos e o círculo maior do plano
[9]
da face situam-se do mesmo lado da área de projeção .

O quarto tipo de instabilidade, rotura circular, ocorre em solos, enrocamentos ou rochas com
fraturas muito próximas e com descontinuidades não persistentes, mergulhando para fora da
face do talude (Figura 2.24d). Para cortes de escavação, em maciços com rocha fraturada, a
superfície de escorregamento forma-se seguindo em parte do traçado as descontinuidades
com orientação aproximadamente paralela a esta superfície e na parte restante do traçado
[9]
intersetando a rocha intacta .

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[27]
Figura 2.24 – Principais tipos de rotura de taludes e condições estruturais que lhes dão origem .

Devido à relativamente elevada resistência ao corte da rocha, quando comparada com a


resistência ao deslizamento das descontinuidades, este tipo de rotura (circular) somente
ocorre em maciços rochosos com fraturas muito próximas, onde a maior parte da superfície
de deslizamento coincide com as descontinuidades. Em consequência, quando a rotura ocorre
sob estas condições, a superfície de escorregamento aproxima-se de um arco circular de
grande raio, determinando uma superfície de rotura pouco profunda. Análises de estabilidade
deste tipo de rotura em maciços rochosos podem ser conduzidas de modo idêntico aos de
[9]
estabilidade de solos, utilizando parâmetros apropriados de resistência .

Por uma questão de clareza, nos diagramas apresentados na Figura 2.24 aparecem apenas
representados casos mais frequentes. Nas situações correntes podem verificar-se outras

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combinações de estruturas geológicas que conduzem a diferentes figuras de rotura. Por


exemplo, num maciço em que as descontinuidades conduzam à formação de blocos
prismáticos suscetíveis de escorregar sobre duas descontinuidades, a ocorrência de uma
terceira família de descontinuidades que normalmente origina a instabilidade por “toppling”,
pode potenciar o aparecimento de fendas de tração dando origem a blocos instáveis com a
forma de troncos de pirâmide. Estas fendas de tração são um fator importante a ter em conta
nas análises de estabilidade dos maciços, já que frequentes vezes constituem o local
privilegiado para a infiltração de escorrências superficiais da água das chuvas, que podem
[3]
gerar forças que favorecem o escorregamento .

No nosso estudo de caso, este fator é de relativa importância, já que existem blocos
potencialmente instáveis, que devido à meteorização e tipo de preenchimento de
descontinuidades, podem gerar essas forças favorecendo o escorregamento, também no caso
de ocorrem movimentos do solo podem dar origem ao desmoronamento de blocos (Figura
2.25).

a) b)

c)
Figura 2.25 – Rotura em taludes. Imagens a) e b) blocos do maciço rochoso propícios a desmoronamento;
c) bloco do maciço sujeito a rotura plana. (Maciço da Torre de Menagem do Castelo de Marialva).

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