To Hate Adam Connor - (Edicao em - Ella Maise PDF
To Hate Adam Connor - (Edicao em - Ella Maise PDF
To Hate Adam Connor - (Edicao em - Ella Maise PDF
O filme foi incrível. Eu tinha sido a primeira a ler o livro quando Olive
terminou o rascunho, e estar no cinema vendo tudo ganhar vida foi algo
de que nunca me esqueceria.
Quando acabou, me levantei, abracei minha melhor amiga, e
choramos de novo. Em seguida, rimos. Jason beijou Olive na testa, e
eu chorei mais um pouco. E então, fomos para o after do filme, com
música, caras lindos e mais celebridades. Com certeza um deles teria
um pau de arrasar, certo?
Nem tive chance de sair à procura do meu pau de arrasar.
Logo depois de chegarmos ao loft industrial onde a festa estava
rolando, recebi uma mensagem de texto de Jameson.
Mas senti medo demais para lê-la no mesmo instante.
Apesar de eu fazer o melhor que podia para fingir que ele nunca
tinha existido quando estava perto de Olive, às vezes, ele surgia na
minha mente do nada e acabava com o meu dia. Aquela era a primeira
vez que ele entrava em contato desde sua partida.
Jogando o celular na bolsa, me afastei de Olive e Jason, deixando-os
conversando com um grupo de pessoas, e encontrei um canto onde
pudesse fechar os olhos e acalmar meus batimentos cardíacos.
Não é a pior coisa quando seu ex entra em contato quando você está
começando a seguir com sua vida? Não é falta de consideração?
Eu me recostei no muro de tijolos aparentes e me imaginei em uma
estrada vazia. Ignorei a música tocando e acalmei minha mente. Um dia
ensolarado, brisa fraca. Uma lufada de ar fresco. Eu me forcei a
imaginar Jameson de pé no fim da estrada. Eu ainda tinha sentimentos
por ele. Um pouco mais de um mês antes, pensei que ele fosse meu,
que eu fosse diferente da minha família. Que meu fim seria diferente do
deles. E eu queria isso para mim. Queria isso para mim porque
Jameson tinha me mostrado que era possível, que eu podia querer
aquilo.
Parada no meio daquela estrada imaginária, virei as costas para
Jameson e dei um passo depois do outro. Eu o deixei para trás.
Abri os olhos e voltei para a festa. Queria encontrar Olive e pedir
para que ela lesse a mensagem, mas mudei de ideia. Era a noite dela.
Ficaria brava comigo por não ter contado para ela, mas eu pediria
desculpas.
Respirei fundo, estava precisando, e desbloqueei o celular.
Jameson: Saudade, Lucy.
Eu seria capaz de arrebentar o celular na cabeça dele, se ele
estivesse por perto, mas, como não estava, para sua sorte, não pude.
Quem diabos envia um “saudade” para uma pessoa que largou? E por
que ele escreveria isso? Se era para me torturar, missão cumprida.
Com a mão tremendo, larguei o telefone dentro da bolsa e caminhei
em direção ao open bar.
Depois de tomar duas doses de tequila, chamei Olive e, com a ajuda
de Jason, a convenci a ir para o palco comigo para podermos cantar
umas músicas com a banda que o estúdio tinha contratado. Precisei
implorar muito, mas, assim que começamos a cantar nossa música de
sempre, Let’s, de Marvin Gaye, a canção que Jason admitiu que fez
com que ele começasse a se apaixonar, ela relaxou e conseguiu se
esquecer da plateia, formada por muitas celebridades e outras pessoas
do meio. Como sempre, cantamos uma para a outra, e dançamos como
bobas, nos divertindo demais. Depois de mais tequila, oferecida por
Jason Thorn, eu convenci Olive a cantar Lovefool, dos Cardigans. Não
foi uma surpresa o fato de Jason não conseguir se conter e de tê-la
beijado muito no palco. De novo.
Foi a melhor interrupção.
E eu estava finalmente me esquecendo de Jameson. De novo. Mais
ou menos.
Com Olive e Jason ao meu lado, falei com muita gente. Sorri, dei
risada. Nem mesmo Jameson conseguiu arruinar uma noite tão
importante.
Se você não andou vivendo numa caverna, já deve ter visto as fotos
de Jake Callum com o nariz quebrado e ensanguentado rodando a
internet. Mas não nos entenda mal, apesar de ele ser novato na
indústria, nós o recebemos de braços abertos e imediatamente nos
apaixonamos por seu sorriso encantador. Mesmo assim, temos que
admitir que um nariz quebrado não cai bem para o novo ator. Certo, ele
não estava ciente de que estava sendo fotografado enquanto as fotos o
mostravam se afastando do estacionamento do estúdio, onde deveria
estar começando a filmar esta semana, mas ainda assim…
Agora vamos ao que interessa. Na época em que as fotos
viralizaram, ninguém sabia como ele tinha aparecido com o nariz
quebrado, mas, depois de um pouco de investigação, descobrimos que
o novo ator se envolveu em uma briga violenta com ninguém menos do
que o recém-divorciado Adam Connor.
Infelizmente, neste momento, não temos ideia de como ou por que a
briga aconteceu entre os atores. O que sabemos é que Adam Connor
está filmando as últimas cenas de seu filme no mesmo local em que
Jake Callum.
Dizer que estamos chocados seria um eufemismo. Adam Connor
cresceu na frente das câmeras e, até onde sabemos, nunca esteve
envolvido em uma briga como essa antes. Se tivesse acontecido,
acreditem, nós saberíamos.
Uma testemunha que por acaso estava perto do trailer de Jake
afirmou que Adam já estava irado quando se aproximou do ator. “Não
houve nem tempo suficiente para a luta acelerar. Jake estava voltando
de um ensaio, e Adam o parou antes que ele conseguisse entrar em
seu trailer. Não consegui ouvir a conversa, mas, quando Adam se
aproximou o suficiente, ele deu o primeiro soco, o que deve ter
quebrado o nariz de Jake. Quando me dei conta, Adam pressionava
Jake contra a porta do trailer. Depois que trocaram palavras acaloradas,
Adam o soltou e foi embora. Foi muito estranho.”
O boato por aí é que a ex-esposa de Adam, Adeline, estava tendo
um caso com Jake, e Adam ficou muito bravo quando soube disso.
Vocês também devem saber que Adam foi fotografado tendo uma
conversa acalorada com Adeline na estreia de Dor na Alma um dia
antes. Embora isso pareça crível e ainda que não tenha sido a primeira
vez, não temos tanta certeza de que foi o caso aqui. Antes de mais
nada, desde o divórcio, Adam tem se mantido longe de tudo o que
envolve Adeline. Sem coletivas de imprensa, sem entrevistas, sem
fotos. Além disso, circulavam rumores sobre Adeline e seu
envolvimento com o treinador de celebridades Mike Trevor, e o único
comentário de Adam foi: “Desejo tudo de bom para ela”. Você acha que
isso é resposta de quem ainda quer a ex? Até onde sabemos, ele está
muito feliz com o divórcio.
Não, nós achamos que algo mais está acontecendo entre os dois
bonitões, e faremos o melhor que pudermos para descobrirmos mais
para você.
Como eu esperava, os policiais não puderam fazer muito sobre
minha pequena briga com Jake Callum. Verdade seja dita, eu já fui lá
sabendo disso, mas, porra, eu não esperava que eles sugerissem que
talvez eu também tivesse bebido além da conta e não me lembrasse
bem de tudo o que havia acontecido.
Você saberia se desse permissão a um imbecil que pensava ser o rei
do mundo para colocar a língua na sua boca depois de semanas sem
beijar ninguém, não é? De acordo com eles, eu não sabia.
Como se isso não bastasse, eles disseram que às vezes “festas
assim” poderiam fugir do controle.
Foi quando Dan, o Bambam, deu um passo à frente e assumiu as
coisas. No final, eles prometeram que ouviriam Adam e Jake, mas não
podiam prometer que isso daria em alguma coisa.
Embora não fosse o melhor resultado, pelo menos eles teriam um
registro policial sobre Jake Callum e, se ele tentasse passar dos limites
com outra pessoa ― embora eu torcesse para que isso não
acontecesse ―, eles poderiam consultar o registro policial e saber que
não tinha sido sua primeira agressão.
E sabe de uma coisa? Dan, o Bambam, não era o pior ser humano,
afinal. Ele até riu das minhas piadas algumas vezes, e quero dizer que
seus lábios se contraíram e ele balançou a cabeça, rindo mesmo. Para
mim, isso é dar risada.
— O que você está pensando? — Olive perguntou, tirando-me dos
meus pensamentos.
— Nada importante. — Girei meu copo de vinho e observei o líquido
vermelho rodar. — Não tenho certeza se sou muito fã de vinho. — Ela
me olhou por cima do laptop. — Essa é sua segunda taça; você é uma
grande fã de vinho.
Era uma noite de sexta-feira e estávamos trabalhando no próximo
romance de Olive, planejando e fazendo anotações. Era uma noite
glamorosa para nós, e me lembrou dos velhos tempos, como o nosso
segundo ano na faculdade, a primeira vez que ela me enviou um
capítulo e me fez implorar pelo próximo.
— Chega. Eu tomei duas taças, mas ainda não estou convencida.
Sei lá, é elegante, mas tem a ver comigo? E com certeza está me
dando um grau, mas e o gosto? Também não tenho certeza. Eu não
acho que estou me sentindo tão bem.
— Então pare de beber.
— Se parar, o que eu vou fazer? Acho que estamos sem cerveja.
Você escreveu a próxima cena? Deixe-me ver.
— Ainda não. Me deixa ler novamente e ver se está bom. Se você
quer cerveja, por que não pede ao nosso vizinho? — ela acrescentou
casualmente. — Talvez ele dê a você.
— Ah, as coisas que seu vizinho poderia me dar… — murmurei para
mim mesma, meus olhos ainda seguindo o vinho.
Olive se endireitou, mas manteve o rosto escondido atrás da tela.
— O quê? — Como se ela pudesse me enganar fingindo não ter
entendido.
— Catherine ligou de novo — comentei casualmente, ignorando sua
pergunta.
Como não continuei falando sobre Adam, ela recostou-se na cadeira.
— O que ela queria dessa vez? — ela murmurou.
— Eu não respondi. — Dei de ombros, cheirando minha taça e
depois tomando outro gole. — Ela provavelmente estava ligando para
perguntar por que eu não fui à entrevista de emprego que ela tão
generosamente marcou para mim.
— Você deveria ter respondido que é minha agente agora. — Ela se
levantou, colocou o laptop na mesa de centro e foi para a cozinha. —
Vou pegar água, você quer?
— Não quero água, e eu sou sua agente temporária — eu a corrigi.
— Ainda estou procurando emprego, mas não vou aceitar mais nada
dela. — Estendi a mão para o laptop. — E eu estou lendo a cena.
— Não! — ela gritou, batendo a porta da geladeira. — Ainda não
terminei!
Afastei minha mão e olhei para ela por cima do ombro.
— Você sabe quanto tempo faz que não leio alguma coisa que você
escreveu? Estou em crise de abstinência. Tenha piedade.
Ela voltou com uma garrafa de água na mão.
— O novo está quase pronto. Assim que Jasmine tiver terminado de
ler, vou mandar para você.
Lentamente, estiquei minhas pernas e me inclinei para a frente para
colocar a taça de vinho sobre a mesa.
Pigarreando, perguntei: — Como é? Você pode repetir isso pra mim?
Jasmine? Quem diabos é Jasmine e por que ela está lendo antes de
mim?
Depois de beber metade da água da garrafa, ela me lançou um olhar
presunçoso.
— Ela é minha leitora beta, ou talvez eu deva chamá-la de minha
alfa.
Deslizei para a frente no meu assento e dei toda a minha atenção a
ela.
— Ela é sua o quê?
— Você sabe, leitor beta, a pessoa adorável que lê o livro depois que
ele termina de ser escrito e aponta as coisas que a gente deve
consertar, ou que deixa notas de incentivo. Eu amo minhas notas de
incentivo.
Ela estava brincando comigo?
— Isso é uma piada? — Ela me lançou um olhar questionador. — Eu
sei o que é um leitor beta, Olive. Eu era sua primeira e única leitora
beta, lembra daqueles dias? Como você pôde me trair assim?
— Acho que você sabe o que é — disse ela como se isso não
significasse nada.
Foi a pior traição. Como ela pôde deixar alguém ler antes de mim?
— Fiquei sem palavras. Estou esperando para lê-lo há dois meses.
Como você ousa?
— Você também sabe o que é um melhor amigo? Irmão de outra
mãe?
Estreitei os olhos para ela.
— Eu poderia te fazer a mesma pergunta agora, minha pequena
Olive.
— A sensação não é tão boa assim, é? — ela perguntou, me
olhando de lado. — Presumo que não, porque é péssimo quando você
não me conta alguma coisa.
Eu bufei e me recostei no sofá. Então o problema era esse. Como foi
que a sorrateira Olive tinha conseguido voltar o assunto para mim de
novo? Ela pegou o laptop e continuou com seu discursinho.
— Primeiro, eu soube do seu rompimento uma semana depois,
quando não podia fazer nada a respeito.
— E o que exatamente você estava planejando fazer se soubesse
antes? Chorar pra caramba? — perguntei, mas ela me ignorou.
— E então um idiota filho da puta atacou você…
— Ele não me atacou, Olive. Não vamos exagerar.
— E você me conta sobre isso no dia seguinte. Depois de ter ido à
polícia. Polícia, Lucy! E ele te atacou. Eu não me importo com o que
aqueles policiais dizem, ele te atacou. — Ela começou a apertar a
garrafa, então eu cuidadosamente estendi a mão e a tirei de suas
garras assassinas.
— Vamos apenas dizer que ele estava muito ansioso, e eu dei um
soco nele. Então alguém poderia dizer que eu revidei e pronto. A única
razão pela qual eu não contei o que aconteceu foi porque eu queria que
você tivesse uma baita noite. Você estava se divertindo. Você estava
esperando há muito tempo por esse filme. Eu não queria estragar tudo.
Ela ergueu uma sobrancelha e me lançou um olhar sério.
— Deu tudo certo porque Adam cuidou disso.
Uma festa cheia de gente e tinha que ser justo ele a me salvar, não
tinha? Como eu tenho sorte! Não que eu não tenha ficado grata por ele
estar lá, mas não poderia ter sido outra pessoa?
O pau de arrasar que eu estava esperando encontrar, talvez?
— Cuidou disso? — eu respondi a ela. — De que lado você está,
afinal? Ele me mandou para a prisão, pelo amor de Deus, o mínimo que
ele podia fazer era me ajudar a acabar com Callum. E eu posso me
cuidar, muito obrigada.
— E ninguém deve ajudar você, certo?
— Eu não disse isso.
— Nem precisa.
Tentei me levantar, mas Olive pegou minha mão e me puxou para
baixo.
— Jesus! — exclamei, meio assustada e meio achando graça. — Eu
estava indo para a cozinha para me livrar da garrafa. — Você está meio
agitada hoje, não?
Ela me deu um olhar de “não venha com gracinha”, e eu fechei a
boca. Talvez ela estivesse certa… apenas um pouco. Eu cresci sem
esperar nada de Catherine, nem amor, nem gentileza, nem respeito,
apenas um monte de nada. Até minha própria mãe decidiu seguir em
frente com sua vida sem mim, então eu aprendi a me cuidar e a não
esperar nada dos outros.
— Eu perguntei se poderia vir morar com vocês por um tempo, não
é? Isso deve contar como pedir ajuda.
Olive era minha exceção. Às vezes eu não me importava de pedir
sua ajuda.
— Isso conta. — Ela assentiu e pegou a garrafa da minha mão para
colocá-la na mesa de café. — Mas não é o suficiente. E como não é,
você vai responder minhas perguntas agora. Depois disso eu te envio o
livro.
Isso chamou minha atenção.
— Então você mentiu? Você não o enviou para outra pessoa antes
de mim? — Era muito ruim que eu ainda tivesse esperança?
— Não, eu enviei para Jasmine, hoje cedo, e estava pensando em
enviar para você hoje à noite, depois de definirmos o próximo.
Revirei os olhos.
— Bem. Desde que essa tal Jasmine saiba que eu sou a leitora alfa-
beta ou sei lá como isso se chama, eu não acho ruim que ela também
esteja lendo.
— Obrigada pela permissão — disse ela, sarcasticamente.
Abri um sorrisão para ela.
— De nada, minha querida Olive. — Ela balançou a cabeça, mas vi a
leve contração de seus lábios. — Devemos nos abraçar? Seria bom
sentir a maciez dos seus peitos — comentei, já me inclinando para ela.
— Não, você não merece um abraço, ainda não.
— Credo.
— Vamos começar com Jameson.
Eu gemi e me inclinei para trás novamente.
— O que tem aquele idiota?
— Você respondeu à mensagem dele? Não, espera. Eu não confio
mais em você. Me dê seu celular, eu vou checar.
— Você deveria começar a escrever de novo, amiga — falei, mas
ainda assim me levantei para pegar meu celular para dar a ela. — Você
está começando a agir de maneira estranha.
— Não, eu estou agindo como uma boa amiga. — Ela pegou o
telefone das minhas mãos e verificou minhas mensagens e chamadas
recentes.
— Feliz agora? — perguntei, estendendo a mão aberta.
Ela colocou o telefone na minha mão e confirmou, balançando a
cabeça.
— Estou. Não envie mensagens para ele. Ele pode ir para o inferno.
— É o que eu acho. Certo, próxima pergunta.
Ela virou o corpo e me encarou.
— Me conte sobre Adam Connor. Você está dormindo com ele?
Dei uma risada.
— O quê? Eu nem gosto do cara. Do que você está falando?
— Você ficou na casa dele após o incidente com Jake.
— E? — Esperei ouvir o resto, mas ela não disse mais nada, apenas
esperou minha resposta. — Caso você tenha perdido a primeira vez, ou
a centésima vez que eu disse, vou repetir: eu nem gosto do cara. Ele
estava lá, então pedi uma carona, ou ele ofereceu, eu nem me lembro.
E então como vocês ainda estavam na festa e eu não tinha chave, ele
me convidou para ficar na casa dele. Não foi a primeira vez que dormi
lá.
— Mas desta vez Aiden não estava lá, estava?
— Não, mas o que uma coisa tem a ver com a outra?
— Tudo bem. — Ela suspirou. — Dê uma de difícil.
— Não estou sendo difícil. Estou te dizendo, ele colocou um pouco
de gelo na minha mão e eu fui para a cama.
— Ah! Ele colocou gelo na sua mão? Agora estamos chegando a
algum lugar. — Ela abraçou um travesseiro contra o peito e esperou
para ouvir mais detalhes. Infelizmente, eu não tinha mais nenhum.
Ia dizer exatamente isso, mas o telefone dela tocou e nos
interrompeu. Ela levantou um dedo e pediu que eu ficasse parada
enquanto ela falava com Jason.
É claro que eu me levantei e caminhei em direção às portas de
correr. Fazia uns 26°C lá fora e o tempo estava bonito.
— Ainda não comecei. Você queria algo específico? Espere um
segundo, eu vou perguntar a ela — disse Olive ao telefone e se virou
para mim.
— Jason vai pedir para Alvin comprar comida chinesa. O que você
quer?
Eu amava comida chinesa, mas, naquele momento, não conseguia
nem pensar em comer. Aparentemente, eu não me dava bem bebendo
vinho ou ainda estava me sentindo mal. Ela franziu a testa para mim e
continuou falando com Jason. Quando saiu do telefone, voltou a falar
comigo.
— Onde estávamos?
— Lugar nenhum, porque não há mais nada a dizer.
— Você gosta dele.
— Não gosto.
— Você gosta dele.
— Muda o fato de eu não gostar dele quando você diz duas vezes?
— Você gosta mais dele do que quer dormir com ele.
— Por favor — bufei, ofendida. — Eu transaria loucamente com ele,
mas nem gosto muito dele. Toda vez que ele fala, quero dar um tapa na
cabeça dele. — Na verdade, eu transaria com ele a qualquer hora de
qualquer dia. Se você ouvisse aquela voz doce, grossa e profunda,
você também pularia na cama dele ou em qualquer superfície, na
verdade. Eu poderia transar com ele em qualquer lugar.
Esqueça a voz; se ele calasse a boca e ficasse ali, parado, ainda
assim você também pularia na cama dele, implorando para ele te pegar.
Além disso, não era minha culpa o fato de eu ser mulher; não havia
nada que eu pudesse fazer sobre isso. O pênis dele se encaixaria
perfeitamente na minha vagina, e eu tinha chegado muito perto de tocá-
lo. Pensando bem, eu deveria ter tocado, mesmo que fosse apenas
para ver qual seria a reação dele. Pena que eu tinha ficado com medo
do que pudesse acontecer.
Para encurtar a história, Adam Connor ainda era um idiota, na minha
opinião, mas era um pai gostosão. Mas dormir com ele? Que nada, ele
era muito tentador, especialmente quando estava perto de Aiden.
Quando o observava interagindo com o filho, o jeito que ele sorria para
ele ou simplesmente o carregava para a cama para que ele dormisse…
cara, aquilo me fazia ronronar e derreter mais rápido que a neve. Pior
de tudo, isso fazia meu coração machucado bater forte, algo de que eu
não gostava nem um pouco.
Olive fechou os olhos e deu um suspiro feliz.
— Eu já posso visualizar vocês dois juntos. Vocês se beijando.
Apaixonadamente. É uma rapidinha, porque Aiden está perto. Mas você
está feliz. Muito feliz. E você ama Aiden tanto quanto ama Adam. Adam
claramente percebe e ama você ainda mais por isso.
— Ok, sua doida — eu disse, estalando os dedos para chamar sua
atenção. — Eu vou deixar você com seus sonhos e vou me afastar
devagar. — E eu fiz exatamente isso; abri as portas de correr e saí,
mas vi Olive me seguindo.
— Volte aqui, eu não terminei.
Fui em direção à escada.
— Aonde você vai? Lucy, você não pode fugir dos seus sonhos.
Eu a encarei, mas continuei me afastando.
— Meus sonhos? Esses sonhos são todos seus. Eu nunca sonhei
com o cara. Sonhei com ele transando comigo como um louco? Claro,
admito que sonhei com isso, mas tudo foi antes de conhecê-lo. —
Minhas costas bateram no infame arbusto, e eu me virei para poder
subir no muro. — E, para sua informação, vou lá para dizer oi para
Aiden.
Olive se inclinou contra a árvore e sorriu para mim, com todos os
dentes à mostra.
— Continue contando isso para si mesma, pequena Lucy.
Subi no muro e olhei para ela.
— Você realmente enlouqueceu. Vá escrever umas palavras para
que seu cérebro possa começar a funcionar novamente.
— Lucy, feche os olhos e imagine-se sentada ao lado de uma
cachoeira. Uma cachoeira onde Adam Connor aparece do nada. Nu.
Ou seminu. Você está calm…
Mostrei o dedo do meio para ela e desci o resto do muro.
Que feio que ela estivesse tirando sarro das minhas táticas
relaxantes.
— Devo esperar por você, ou está pensando em passar a noite na
cama do Adam? Porque se for, você sabe que terá que me contar os
detalhes. Eu quero as respostas pra tudo o que você perguntou sobre o
Jason. O tamanho. O tamanho é importante. Meça o pênis para que eu
possa imaginar tudo..
— Se você continuar chamando de pênis, não vou lhe dizer nada.
Tchau, Olive!
Era bom que Adam ainda não tivesse pensado em afastar a escada.
Enquanto ele não fizesse isso, eu poderia invadir sua privacidade numa
boa. Eu não ia visitá-lo nem nada assim. Sentia saudade do menininho
e estava esperando pegá-lo antes de dormir.
Quando cheguei perto o suficiente da casa, ouvi música. As portas
pareciam estar fechadas, mas o som estava vazando para fora.
Pessoas ricas e seu som potente…
Parei de me mover para poder ouvir e, alguns segundos depois,
reconheci a voz inconfundível de Frank Sinatra.
Ah, então meu idiota tinha bom gosto. Bem, não o meu idiota, é
claro, mas você entende o que quero dizer.
Fiquei do lado em que não podia ser vista e achei Adam perto do
carrinho de bebidas. Aiden já tinha ido para a cama? Pensei em bater
na janela para chamar sua atenção antes que ele ficasse todo bravinho
e me acusasse de invadir sua privacidade novamente, mas era difícil
parar de olhá-lo. Ele era muito bonito, o tipo de cara que fazia a gente
começar a ofegar como um cachorro quando olhava para ele por mais
de alguns segundos.
Então eu o vi silenciosamente se servir de uma bebida e ler os
papéis que estava segurando. Ele parecia ocupado ― não do jeito
estou lendo alguns documentos, mas do jeito tenho um milhão de
coisas na cabeça.
Fiquei tentando imaginar o que o estava fazendo parecer tão infeliz.
Verdade seja dita, desde que ele tinha pedido para eu cuidar de
Aiden por alguns dias, eu o estava vendo de um jeito novo. Claro, eu o
odiava.
Um pouco.
Tipo isso.
Não gostava nem um pouco dele.
Por causa da maneira como ele me tratou naquele dia e porque eu
ainda queria matá-lo pelo que fez comigo. Mas, tirando isso, meu
coração derretia um pouco toda vez que eu o via ― quando ele não
estava sendo um idiota, como tinha acontecido dia desses.
Quem dá às pessoas permissão para tocar suas partes íntimas? Se
você me perguntasse, eu diria que foi uma ótima ideia porque o fato de
ele ter falado no meu ouvido daquele jeito… e me dado permissão para
tocá-lo? Que bobo. Ele não sabia nada sobre mim. Se eu o tivesse
tocado, acabaria transando como louca com ele e, por razões
desconhecidas até para mim mesma, eu não queria isso.
Agora, não me venha com Lucy, como você consegue odiar um
espécime tão bonito da forma masculina… A principal razão pela qual
eu tinha que continuar odiando-o era por causa do jeito que me senti
quando ele me tocou naquela noite, quando quis colocar gelo na minha
mão. Eu senti aquele frio irritante na barriga que Olive disse que sentiu
quando viu Jason pela primeira vez, e isso me assustou. Apesar de eu
ter sentido muito frio nas partes íntimas quando estava indo atrás de
Jameson, nunca tinha sentido frio na barriga e isso foi de matar, tipo
uma alergia que pudesse me matar inesperadamente.
Depois de observá-lo por mais alguns minutos, dei um passo à frente
e bati no vidro. Ele parou de olhar para os papéis em sua mão e me viu.
Pareceu hesitar antes de se levantar do sofá e ir abrir as portas de
vidro.
— Oi — cumprimentei quando ele apareceu parado na minha frente
sem nada entre nós.
Ele diminuiu o volume de Frank Sinatra com a ajuda de um pequeno
controle remoto e disse: — Vejo que você está rastejando no meu
quintal novamente. — Ele esboçou um sorriso, então acho que não se
importava com isso.
— Se você não me quer rastejando, como disse com tanta grosseria,
deveria afastar a escada.
— Como posso te ajudar, Lucy?
— Estou bem, muito obrigada. E como vai você?
Ele suspirou e me convidou para entrar com um aceno.
— Que bom que você me convidou para entrar — comentei quando
ele fechou a porta.
— Existe algo que eu possa fazer, ou você acabou de chegar para
receber sua quantidade diária de…
Eu o interrompi antes que ele pudesse terminar sua frase.
— Antes de dizer alguma coisa pela qual vai ter que se desculpar
mais tarde, aviso que vim dizer oi para Aiden. Senti falta dele esta
semana.
Adam olhou para mim por um longo tempo como se estivesse
tentando descobrir se eu estava mentindo ou não. Quando ele ficou
satisfeito com o que viu nos meus olhos, passou a mão pelos cabelos e
fez um gesto para eu me sentar.
Pensando no que estava acontecendo, eu fiz o que ele pediu.
— Então? — perguntei quando ele não disse nada por vários
segundos.
— Adeline não o deixou aqui, então mandei Dan para ver o que
estava acontecendo. — Ele olhou para o relógio. — Ele deve chegar
logo. Você pode esperar, se quiser.
Escolhi as pernas e me sentei confortavelmente sobre elas no
assento.
— Você não vai me expulsar?
— Aiden me pergunta sobre você em todas as ligações. Acho que
ele vai ficar feliz em te ver aqui e assim não vou ter que responder a
todas as perguntas que ele faria se não te visse imediatamente.
Isso me fez sorrir.
— Ele me ama.
Adam sorriu de volta.
— Estranho, não é?
Fiz uma careta para ele.
— Você é estranho. Eu amo o carinha também. Ele é muito mais
legal do que o pai dele vai conseguir ser um dia.
Esboçando um sorriso, ele balançou a cabeça e se dirigiu ao
carrinho. Eu nunca o tinha visto beber antes.
— Alguma coisa está te preocupando? — perguntei, só para ter
assunto até Aiden chegar.
— Muitas.
Resmunguei e peguei meu celular quando o senti vibrar no bolso.
Jameson: Queria que você tivesse vindo comigo.
Você nem me chamou, seu merdinha!
Não era a primeira vez que Jameson mandava mensagem desde
que recebi aquela outra na estreia do filme, quando ele disse que
estava com saudade.
Ele andava enviando mensagens aleatórias a semana inteira.
Respirei fundo e estiquei as pernas.
— Acho que preciso ir — murmurei e me levantei.
Adam virou-se com duas bebidas nas mãos; uísque, pela aparência.
— O que aconteceu? — Ele ignorou minhas palavras e me entregou
o copo. Até o cheiro forte me deixou enjoada. Torci o nariz e balancei a
cabeça.
— Não, obrigada. Não estou me sentindo tão bem, então… vejo
Aiden outra hora. — Guardei meu celular de volta no bolso e coloquei o
uísque em um descanso de copos. Ele continuava olhando para mim.
— Sente-se — ele ordenou, sentando-se no canto mais distante do
sofá. — Ele vai chegar logo.
Olhei para fora e avaliei minhas opções: sentar e esperar por Aiden
ou voltar para a casa de Olive para que ela ficasse me perguntando
mais sobre meus sentimentos inexistentes por Adam.
Passar mais tempo com o inimigo, então.
— O que aconteceu? — ele perguntou pela segunda vez antes de
tomar um gole de uísque.
Eu me sentei e tive dificuldades para desviar o olhar de seus olhos
claros e atraentes.
— Nada específico, apenas estou me sentindo mal.
— Como está sua mão?
Levantei-a e verifiquei meus dedos. Ainda havia uma vermelhidão e
eles estavam meio doloridos. Mas era uma dor boa; saber que tinha
machucado aquele merda era uma dor boa. E isso fez com que eu
lembrasse de uma coisa…
— Eu deveria te fazer a mesma pergunta. — Abaixei a mão e inclinei
o queixo para ele. — O que aconteceu com você e Jake? Ele realmente
teve alguma coisa com a sua ex?
Ele ergueu uma sobrancelha, mas ficou em silêncio.
Estava curiosa sobre isso desde que tinha lido a história na internet.
O que eles estavam dizendo era verdade, ou será que ele tinha dado
um soco em Jake por causa do que havia acontecido na noite anterior?
De acordo com Olive, ele tinha ido atrás de Jake por mim, mas eu tinha
minhas dúvidas. Olive tinha um coração romântico e queria que eu me
apaixonasse de novo; claro que ela pensaria assim.
Sentindo-me toda quente e perturbada sob seu olhar examinador,
perguntei: — O que está acontecendo?
— O que você quer dizer? — Ele abaixou a bebida.
— Por que está olhando para mim assim?
Aquela sobrancelha irritante subiu novamente.
— Assim como?
— Sabe de uma coisa? Esqueça. — Desviei o olhar dele e fiz o meu
melhor para ignorá-lo pelos cinco minutos seguintes, mais ou menos,
até ele se levantar para pegar outra bebida.
Eu estava pensando em Jameson quando uma garrafa de água
apareceu na minha frente.
— Obrigada — agradeci sinceramente e a peguei.
— De nada. Você parece deprimida, talvez devesse consultar um
médico — sugeriu ele, sentando-se mais perto de onde eu estava.
— Estou bem.
— Se você está dizendo…
Abri a garrafa e tomei um grande gole de água fria. Então eu fechei
os olhos e me imaginei em algum outro lugar… talvez na floresta, ou
em uma casa no lago onde árvores e águas calmas me cercavam. Eu
podia me sentar no deque, perto da água, e ler o novo livro da Olive.
Sorri. Eu poderia me apaixonar por tantos homens quanto quisesse e a
maldição nem poderia me tocar. Havia algo especial em se apaixonar
por personagens fictícios através de palavras. Nesse deque, com os
pássaros voando e o vento soprando meu cabelo, eu ficaria feliz.
— O que você está fazendo? — Adam perguntou baixinho.
Não abri os olhos quando respondi: — Sonhando acordada.
Um longo momento se passou antes que ele falasse novamente.
— Onde você está?
— Casa do lago. Lendo o novo livro da Olive. Há um vento suave. Eu
gosto de vento; isso me deixa feliz por alguma razão. Sentir o toque
suave dele na minha pele, no meu cabelo. O sol está espreitando entre
as árvores, então não está frio. O lago é lindo. Calmo e pacífico.
— Existe uma cadeira vazia ao seu lado?
— Você me irritaria, então não. — Abri os olhos e olhei para ele. —
Sem ressentimentos.
Ele sorriu e pegou os papéis que havia largado quando entrei.
— Sem ressentimentos, Lucy.
Sentindo-me um pouco melhor, olhei em volta e suspirei. Estava se
aproximando da hora de Aiden dormir.
— Você faz muito isso? — Adam perguntou, olhando para os papéis
na mão.
— Muito o quê?
— Vai para outro lugar.
Dei de ombros.
— Você pode pensar que sou maluca.
— Eu não disse isso. Na verdade… — Ele parou de falar, jogou os
papéis na mesa de centro e passou a mão no nariz.
Curiosa, perguntei:
— Na verdade…? Na verdade o quê? Não seja uma pessoa assim,
termine a frase.
Ele fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás.
— Correndo o risco de parecer um idiota de Hollywood… eu
costumava deitar na minha cama e imaginar que eu tinha uma vida
mais simples. Na qual eu não era arrastado para festas onde drogas e
bebidas ficam dispostas em mesas de vidro, e eu tinha que cuidar da
Vicky, minha irmã, para que ela não brincasse acidentalmente com pó
branco pensando ser maquiagem ou farinha, e ela não pegasse uma
daquelas taças de vinho pensando que era o suco dela… eu costumava
desejar pais normais. Eu gostaria de poder receber amigos em casa
sem me preocupar com como meus pais agiriam dependendo do humor
deles. Não me olhe assim — ele avisou quando abriu os olhos e me viu
olhando-o.
Passei minhas mãos pelos braços e fiquei em silêncio.
— Eu sei o que você está pensando — ele continuou, entendendo
mal o meu olhar. — Eles me deram uma boa vida. Uma boa educação.
Oportunidades que talvez eu não tivesse se eles não fossem meus
pais. Não estou dizendo que minha vida era triste nem nada assim, mas
naquela época eu queria ser um adolescente normal. Com pais
normais. Apenas uma vida normal, você sabe, sem os paparazzi, sem
as besteiras de Hollywood. — Seus olhos ficaram sérios e ele
acrescentou: — Você pode pensar que sabe tudo sobre alguém, porque
essa pessoa tem uma vida pública, mas ninguém nunca sabe o que
acontece na privacidade.
— Eu entendo — falei num tom quase inaudível.
— Entende?
Desviei o olhar dele.
— Tenho que te contar a história de fundo primeiro. Eu não sei quem
é meu pai — comecei, me surpreendendo. Eu realmente ia contar a ele
sobre mim? As palavras queriam sair, então imaginei que sim. — De
acordo com Catherine, minha avó, minha mãe estava completamente
apaixonada por ele. Eles estavam morando juntos, mas quando
descobriu que ela estava grávida de mim, ele arrumou suas coisas e se
mandou. Ao que parece, ele já tinha dito a ela que nunca queria ter
filhos, então viu isso como uma traição. Depois que nasci,
aparentemente minha mãe decidiu que também não queria ficar comigo
e me largou com Catherine. E Catherine… bem, ela me criou, mas é
uma mulher muito difícil.
Olhei para Adam para ver se ele estava me ouvindo. Quando nossos
olhos se encontraram, ele baixou a cabeça.
— Continue.
Eu bufei; teria sido mais fácil parar de falar se ele estivesse me
ignorando.
— Catherine… Catherine nunca se casou, mas ela estava vivendo
com o amor da sua vida e eles tiveram minha mãe, então foi tudo ótimo
por um bom tempo, eu acho. Mas, quando minha mãe tinha dois anos,
o querido vovô começou a trair Catherine e depois a deixou para ficar
com outra mulher, e acabou se casando com ela um mês depois, mais
ou menos. Catherine voltou para casa, o que não era a melhor coisa,
aparentemente, porque seus pais, que não eram casados, aliás, a
tratavam muito mal.
“Ainda assim, ela criou minha mãe da melhor maneira que pôde, mas
ficou muito amarga com o passar do tempo. Quando minha mãe me
deixou, elas nem estavam conversando, então obviamente as mulheres
da nossa família são bem fodidas da cabeça e não há homens por
perto.”
Lancei-lhe outro olhar e o vi esperando que eu continuasse.
— Então nós somos amaldiçoadas. E Catherine… bem, ela cuidou
de mim quando minha mãe foi embora, mas, como eu disse, ela é muito
controladora e difícil. Para todos que olham de fora, parece que ela é
um anjo por me receber, mas não foi assim. Ela queria que eu fosse
uma versão dela. Nada do que eu fazia estava certo. Havia apenas o
jeito dela e, quando eu não seguia as regras dela nem fazia o que ela
queria que eu fizesse, ela sabia esfregar tudo o que já tinha feito por
mim na minha cara. Eu não acho que ela seja mentalmente estável, na
verdade, mas ela cuidou de mim em vez de me chutar para a rua, então
eu devo isso a ela, eu acho.
Houve um momento de silêncio.
— Amaldiçoadas? — ele repetiu o que eu tinha dito. — É por isso
que você falou outro dia que não se envolve com ninguém?
— Eu disse isso?
Ele assentiu.
Eu e minha boca grande.
E ele lembrava?
— Hum… eu não me lembro de dizer isso para você, mas sim. Eu
não quero acabar sendo uma mulher amarga. E parece que não temos
sorte com o amor na minha família, não é? Então, por que forçar?
Prefiro ser solteira e feliz a me apaixonar por alguém, criar uma
criança… e depois sofrer porque ele me traiu ou porque me deixou
quando as coisas ficaram difíceis e se casou com outra mulher. —
Balancei a cabeça e abracei meus joelhos. — As mulheres da nossa
família não recebem propostas de casamento. Então não, obrigada.
Fico muito mais feliz quando vejo outras pessoas se apaixonando, me
faz mais feliz sem toda a dor de cabeça.
— Você nunca se apaixonou por ninguém? — ele perguntou, como
se isso fosse a coisa mais ridícula que ele já tinha ouvido.
— Eu não te julguei por querer uma vida normal, não é?
Ele se inclinou para a frente e apoiou os cotovelos nas coxas,
balançando os antebraços sensuais na minha frente, com os olhos fixos
nos meus.
— Eu não estava te julgando, Lucy.
Por que eu ficava toda irritada quando ele me olhava assim? Peguei
a garrafa de água e dei outro gole para passar o tempo.
— Bem, parecia que estava. — Dei de ombros. — De qualquer
forma, com uma mulher como Catherine, eu precisava fugir. Quando eu
ia para a cama à noite, costumava fechar os olhos e imaginar estar em
outro lugar. — Olhei para ele rapidamente. — Eu não imaginava uma
vida diferente, nem que alguém ia em meu socorro, mas gostava de
fechar os olhos e ir para outro lugar bem distante. Isso me acalmava.
Ou às vezes eu imaginava estar em uma cachoeira, com vento, ou sol.
Essencialmente, sonhando, eu criava meu próprio raio de sol nos dias
em que precisava. Era a minha fuga. Sei que isso me faz parecer uma
pessoa louca, mas me ajuda a me acalmar, então foda-se se você acha
que sou louca.
Ele soltou uma risada alta, e eu lentamente me levantei. Olha, eu
tinha muitas razões para odiá-lo. Sei que isso me fazia parecer uma
pessoa louca, mas não significava que não doía vê-lo rindo de mim.
Joguei a garrafa de água em seu sofá e fui para as portas de vidro.
Talvez Olive me deixasse abraçá-la por um tempo. Eu estava me
sentindo um pouco mal, afinal. Ela não seria cruel a ponto de me
rejeitar.
Antes que eu pudesse abrir as portas e sair, Adam me pegou pelo
pulso novamente ― eu juro, o cara tinha algum tipo de fetiche. Olhei
para trás para olhar para ele e tentei afastá-lo, junto com os
formigamentos que sua proximidade e seu toque estavam causando na
minha espinha. Eu não estava brava nem nada, apenas cansada e,
bem, sim, talvez um pouco magoada.
— Estou feliz por ter sido sua diversão esta noite, mas acho que é
hora de eu ir embora.
— Não — ele disse, seu polegar movendo-se suavemente na pele
sensível do meu pulso. Minhas sobrancelhas se uniram, e olhei para
onde ele estava me tocando, mas seu dedo já havia parado de se
mover, como se o toque não tivesse ocorrido. — Eu não estava rindo de
você, Lucy — disse ele com um tom suave, e levantei cabeça.
Estávamos um pouco perto demais. Ele devia ter chegado à mesma
conclusão, porque me soltou e se afastou.
Eu não fiquei com vontade de encostar nele. Eu, não.
Ele colocou a mão nas minhas costas e, caramba, ele tinha mãos
grandes ― mãos boas para me segurar, eu acho ― e me direcionou de
volta para o sofá.
Sentei-me na beirada e o vi pegar o celular.
— Vou ligar para Dan e ver o que está havendo. — Ele olhou para
mim e acrescentou: — Você esperou tanto tempo, ele vai ficar triste se
souber que não te viu.
Ele parecia sincero, então decidi ficar.
— Tudo bem. — Recostei-me no assento e peguei uma almofada
para abraçar.
Dan não atendeu, e eu pude ver a frustração no rosto de Adam.
Andando na minha frente, ele tentou outro número. Também não deu
certo, e ele soltou um longo suspiro e levou a mão à nuca.
— Não estou gostando disso — disse ele finalmente, mexendo no
telefone.
— Você tentou sua ex?
— Ela não está atendendo. Dan também não. Adeline pode estar no
set, mas Aiden deveria estar em casa com a babá.
— Talvez eles estejam chegando — sugeri, com a voz um pouco
preocupada.
— Devem estar — ele murmurou, guardando o celular. — Vou
esperar mais um tempo. Às vezes, Aiden demora para se arrumar.
Ficamos em um silêncio tenso enquanto ouvíamos os murmúrios
suaves de Frank Sinatra. Quanto mais tempo se passava sem um
pequeno ser humano entrando pela porta da frente, mais raiva parecia
emanar de Adam. Quanto mais eu ficava, mais me sentia invadindo
outro momento da família, o que era estranho de sentir depois de já ter
invadido em várias ocasiões.
— Então, o que são esses papéis? — perguntei, apontando para
eles quando não consegui mais suportar o silêncio.
— Novos roteiros.
— Vamos lá, tenho certeza de que você pode fazer melhor do que
isso.
Ele olhou para a porta da frente mais uma vez, depois se virou para
pegar os papéis.
— Nova oferta. Eu tenho um contrato com o estúdio e devo a eles
mais um filme. Eles enviaram mais dois roteiros para eu escolher, mas
não tenho tanta certeza sobre nenhum deles.
— Posso ver? — Estendi a mão e esperei.
— Essa é uma daquelas coisas que você não pode mencionar em
nenhum outro lugar, Lucy.
Revirei os olhos e balancei os dedos.
— Me dê.
Ele os entregou, com relutância. Eu tinha coisas melhores para fazer
do que sair e espalhar boatos sobre o novo filme que Adam Connor
estrelaria.
— Como está indo o lance do agente? — ele perguntou enquanto eu
olhava o primeiro roteiro.
Respondi sem levantar os olhos das páginas nas minhas mãos: —
Estou quase lá. Filtrei e deixei apenas dois editores, e estou esperando
receber notícias deles. Eu também busquei outros negócios, audiolivro,
etc. Sobre o que é este?
Ele correu até estar sentado muito, repito, muito perto de mim. Eu
tentei fazer com que meu batimento cardíaco desacelerasse, porque,
que diabos, coração? O que você tem? Não devemos gostar do cara,
lembra? Não há necessidade de dar piruetas só porque ele está perto.
Seu braço roçou no meu ombro quando ele pegou o roteiro das
minhas mãos, e eu inspirei no mesmo momento. Que coincidência,
hein?
Respirei fundo e senti um formigamento no braço, onde sua pele fez
contato com a minha. Em primeiro lugar, pele idiota e formigamento
idiota. Segundo, ele cheirava a uísque e algo quente, selvagem e
deliciosamente masculino. Era o convite perfeito para acariciar seu
pescoço e me perder em seu perfume e no seu corpo… o que foi uma
ideia muito, muito ruim. Fechei os olhos para ignorá-lo, mas isso
apenas intensificou seu perfume e a proximidade dele de mim. Ele
cheirava bem o suficiente para eu o atacar naquele exato momento. Se
fosse outra pessoa, eu nem pensaria duas vezes, mas com Adam, eu
me forcei a ficar parada.
Você pode pensar que me afastar dele poderia ter resolvido o
problema, mas eu não era uma covarde; eu nunca me afastaria de um
cara só porque eu o queria. Dane-se isso. Se ele quisesse jogar
comigo, eu entraria no jogo.
Fazendo o meu melhor para respirar pela boca sem parecer
esquisita, inclinei-me para ele e deixei meu braço encostar no seu
enquanto ele lia o roteiro. Ele parecia bem relaxado, o que me irritou
ainda mais.
Lá estava eu tentando o meu melhor para não agir como se ele
estivesse me afetando, e ele nem percebeu que eu estava tendo um
colapso mental devido à proximidade. Inferno, eu estava a segundos de
deixar meu eu cantor se mostrar e cantar Pillowtalk, de Zayn.
Como seria divertido irritar os vizinhos com Adam Connor, de fato,
especialmente quando os vizinhos eram Olive e Jason.
Com a mente a milhões de quilômetros, nua em uma cama king size
com Adam, tive problemas para me concentrar nas suas palavras
quando ele começou a falar.
— Neste, eu seria um marido devotado de uma socialite, que
acabaria por matá-la e fugir enquanto um detetive obstinado tenta me
pegar.
— Chato — eu consegui dizer.
— Sim, esse também recebeu um não.
— Seu agente não deveria conseguir algo melhor para você?
— Sim, e é por isso que estou me livrando dele.
Ergui uma sobrancelha e olhei-o de lado.
— Pelo que sei, você está se livrando de muitas pessoas. É verdade
o que estão dizendo? Que você está atacando pessoas que trabalham
para você por causa do divórcio? — Cometi o erro de olhar nos olhos
dele, e ele sustentou meu olhar com uma expressão séria.
— Parece que espionar alguém não é suficiente, você também
acompanha os tabloides.
— Até parece. Por que eu acompanharia o que está acontecendo na
sua vida? Acabei lendo sobre isso quando estava vendo as fotos da
estreia da Olive e do Jason. Um link me levou para outro e depois
outro… eu não estava procurando saber sobre você, pode acreditar.
Morei na sua casa por uma semana, lembra? Não há nada sobre você
que seja emocionante. Caramba, até Dan tem uma vida mais
interessante do que a sua.
Ele jogou o roteiro de lado com força desnecessária e os papéis
caíram no chão. Olhei-o sem entender, mas ele praticamente me
ignorou, já focado no roteiro seguinte.
— Esse é o vencedor?
— Como você conheceu a vida interessante do Dan? — A pergunta
foi bem inofensiva, mas o modo como ele estava se mantendo imóvel
como se a resposta importasse foi estranho.
— Porque nós conversamos! Ele não me odeia tanto quanto odiava
quando me encontrou no seu quintal. Não posso dizer com certeza se
ele me ama ou não, mas pelo menos ele está conversando agora. Eu
até o fiz rir algumas vezes. Estamos nos tornando amigos, eu acho.
Estou ganhando a confiança dele.
— Quando vocês tiveram tempo para conversar assim?
— Quando você o mandou para a delegacia comigo. O que você
tem?
— Nada. — Ele deu de ombros para minha pergunta. — Este é sobre
um irmão e uma irmã. Eles são vigaristas e trabalham com um pequeno
grupo de pessoas. Meu personagem se apaixona pela pessoa em que
deveria aplicar o golpe e depois acaba matando a própria irmã quando
ela vai atrás do amor dele.
— Parece um pouco mais interessante — admiti.
Ele grunhiu e virou algumas páginas, entregando o roteiro para mim
quando terminou.
— O diálogo não é suficientemente intenso. A irmã deveria ser uma
personagem mais forte se ela está atrás do interesse amoroso dele. Ela
foi escrita para ser uma pessoa instável, o que não combina com o
personagem. Alguém tem que rever isso e mudar as coisas.
Olhei para ele e não consegui pensar em nada.
— Mudar o quê?
Ele se inclinou para mais perto de mim e nossas pernas se tocaram.
Bom Deus! Ele estava praticamente abusando de mim naquele
momento.
— Vamos fazer uma leitura, e você vai entender o que quero dizer.
— Leitura?
— Leia as falas pra mim, Lucy.
— Quem sou eu? Laurel? — Apontei o nome e olhei para Adam.
— Você é Laurel, minha irmã. E eu sou Damon.
— Ok. Você começa.
No topo do roteiro, estava escrito: CEMITÉRIO EXT NOITE. Depois
explicava que Laurel estava caminhando para se aproximar de Damon
com um olhar desconfiado enquanto ele esperava por ela ao lado do
túmulo do pai.
De repente, ele se levantou e me ofereceu sua mão.
— Vamos nos levantar para que você possa assumir seu papel.
Eu ri, mas ainda assim peguei sua mão estendida para me levantar.
— Eu não vou ser sua colega de cena. Eu não preciso entrar no meu
papel.
— Vamos lá, vamos nos divertir.
— Você quer que eu faça isso porque acha que eu também sou
instável, é isso? Vou deixar o personagem mais crível pra você?
— Não seja tão desconfiada, Lucy. Apenas leia as malditas falas.
A cena trazia apenas dois irmãos conversando. O que haveria de
mal, não é mesmo? Quem iria pular a chance de ler as falas com o
bendito Adam Connor ― ainda mais falas que podiam muito bem
acabar no cinema?
— O que você vai ler? — perguntei, olhando em volta para ver se
havia outra cópia.
— Eu li duas vezes. Já decorei essa cena. Apenas comece a ler.
Com o roteiro em uma das mãos, alisei minha camisa, endireitei os
ombros e li as benditas falas.
— Por que você me pediu para encontrá-lo aqui, Damon?
Adam estendeu a mão e levantou meu queixo com as pontas dos
dedos, causando um curto-circuito no meu cérebro.
Ao fundo, Frank Sinatra estava cantando Fly Me To The Moon.
— Você deve olhar para mim quando estiver falando. E coloque um
pouco mais de emoção nisso. A cena está definida; leia as falas para
ter uma ideia do que o roteiro oferece.
Tentei fazer com que meu coração e algumas partes femininas se
acalmassem e olhei diretamente para os olhos de um verde profundo
que ele tinha.
— Não sou atriz, dê-se por satisfeito com a emoção que estou
demonstrando.
Idiota ganancioso.
Olhei para o roteiro, memorizei as linhas seguintes e, dessa vez,
disse sem olhar para baixo.
— Por que você me pediu para encontrá-lo aqui, Damon?
— Pensei que seria apropriado — continuou Adam com sua atuação.
— Eles acharam que irmãos reunidos no cemitério seria algo
adequado? — perguntei, olhando sem acreditar para os papéis que
segurava. — E o que diabos isso significa? — Apontei para a escrita
nas entrelinhas.
— Pensei que seria apropriado — ele repetiu, olhando para mim com
atenção.
Jesus, qual é o seu problema, cara?
Revirei os olhos e continuei.
— Há quanto tempo nós viemos aqui pela última vez? Quinze anos?
Por que agora?
— Sentamos ao lado de sua lápide e fizemos uma promessa um
para o outro, lembra?
— Foi aqui que nossa vida começou; claro que me lembro, Damon.
Ele assentiu solenemente e, por fim, desviou o olhar do meu.
— E agora estamos no fim de outra estrada.
— Do que você está falando, Damon? — Olhei para o roteiro e
depois voltei para ele.
Adam respirou fundo, passou a mão pelo cabelo e deu um passo à
frente, voltando a ficar meio perto demais para o meu gosto.
— Não posso mais fazer isso, Laurel. Não posso ser um fantasma no
meio da noite, não posso fingir que sou outra pessoa. Eu quero mais
para nós.
Endureci a voz o máximo que pude e li as falas seguintes.
— Tem tudo a ver com ela, não é, Damon? Tem tudo a ver com a
Jessie. Ela não passa de um alvo, ou você já se esqueceu disso?
Adam pegou o roteiro das minhas mãos para dar uma rápida olhada
e depois o devolveu para mim. Abri a boca para fazer um comentário
sarcástico e dizer que ele era péssimo ator, mas ele pressionou um
dedo nos meus lábios.
Mais uma vez, o toque.
Frank Sinatra ainda estava arrebentando ao fundo.
Franzi a testa, mas fiquei quieta.
— Você não pode me dizer que não está cansada de todas as
mentiras, Laurel. Quando isso vai acabar?
Saindo do personagem, suspirei.
— Eles ficam conversando assim durante toda a cena? Cara a cara?
— Adam inclinou a cabeça, então entendi a mensagem e continuei
lendo.
— Ainda não, Damon. Não agora que estamos quase conseguindo
tudo o que queríamos, desde o começo.
Ele suspirou e desviou o olhar novamente.
— Ela está grávida, Laurel. Jessie está grávida.
E o enredo engrossa.
Eu li as falas seguintes e ri com ironia.
— Como você pode ter certeza de que o filho é seu? Você sabe que
ela estava namorando aquele tal de Jake até alguns meses atrás.
Quando Adam olhou para mim, seu rosto estava sério.
— É meu.
Eu arqueei uma sobrancelha.
— Resolva disso. Faça com que ela se livre dele. Você não pode
deixar isso arruinar o nosso plano. Nós esperamos muito tempo por
isso.
— Laurel é muito megera, aparentemente — murmurei baixinho
quando virei outra página do roteiro. De repente, as mãos de Adam
seguraram meu rosto, e ele deu um beijo na minha testa.
— Mas que porra? — murmurei, olhando-o enquanto tentava me
afastar.
Perigo! Perigo!
Abortar!
Ele apontou para o roteiro.
— Leia.
E é claro, bem ali no topo, estava escrito: Damon a beija na testa.
Voltando ao jogo, tentei ficar de boa.
Ele me beijou novamente, seus lábios surpreendentemente macios
na minha testa, e tentei ficar o mais imóvel possível com o rosto dele
tão perto do meu.
Então ele me forçou a olhar em seus olhos. Sim, ele me forçou… eu
tinha certeza de que havia algum tipo de mágica envolvida, porque eu
mal conseguia respirar com as mãos dele segurando meu rosto e seus
olhos puxando minha alma para mais perto dele.
Imbecil.
Engoli em seco e pigarreei, para disfarçar.
— Você é minha irmã, Laurel. Eu amo você — ele disse com um
sorriso suave. — Eu te amo, mas cansei. Não me faça escolher. Não
posso mais fazer isso; não tendo tanto a perder.
Olhei para o roteiro enquanto meu cérebro estava tendo dificuldades
para funcionar corretamente.
— E eu, Damon? O que você espera que eu faça? Que continue com
a minha vida? Como se a família dela nunca tivesse acabado com a
nossa?
O polegar de Adam acariciou minha bochecha, e meu corpo inteiro
começou a queimar. Isso estava na porra do roteiro? Então sua cabeça
passou a ir na minha direção e eu estava me preparando para um beijo
no nariz ou algo igualmente inocente assim.
Relacionamento estranho entre irmãos, mas vai saber, né?
Nossos olhos se encontraram e, sem quebrar o contato visual, seus
lábios tocaram os meus suavemente. Eu congelei.
Eu. Lucy Meyer, a garota que adoraria beijar Adam Connor um mês
antes, agora estava paralisada sendo beijada por Adam Connor. Meu
corpo traidor deu um passo em direção a ele para manter a conexão.
Definitivamente, irmãos estranhos.
Por alguns segundos perigosamente longos, ele me deixou sentir
seus lábios nos meus movendo-se muito lentamente. Então ele deu
uma mordidinha no meu lábio inferior e, quando me dei conta do que
estava acontecendo, ele estava me beijando de verdade, me levando a
abrir a boca.
Delicadamente.
Mas eu senti a língua dele. Eu juro que senti.
Inspirei profundamente e, antes que pudesse reagir de alguma
forma, ele estava se afastando.
Vamos esclarecer isso. Eu não segui seus lábios. Nem me inclinei
em sua direção como uma adolescente louca de amor. Não, eu não sou
essa garota. Foi só uma ilusão de ótica.
Assim que ele me soltou, baixei a cabeça e comecei a virar as
páginas como uma louca. Não consegui encontrar o que estava
procurando, então simplesmente levantei a mão e dei um tapa nele.
Com força.
Por um bom tempo, nenhum de nós se mexeu. Frank estava
terminando outra música como um mestre, e além da minha respiração
pesada, ele era a única coisa que podíamos ouvir.
Por fim, Adam perguntou: — Por que fez isso?
— O que você acha? — consegui dizer. Apesar de eu estar no
mesmo lugar nos últimos minutos, tinha a sensação de ter corrido uma
maratona, e isso por um beijinho que nem conseguir provar direito.
Pigarreei. — Você acabou de beijar sua irmã. — Eu apontei um dedo
para ele. — E não tente me dizer que foi um selinho também. Como
você acha que ela vai reagir?
O toca-discos começou a tocar It Was A Very Good Year, de Frank
Sinatra, minha favorita, e Adam segurou meu queixo com os dedos e
inclinou meu rosto para cima. Também não era um aperto suave no
queixo. Sua mão grande e quente praticamente envolveu a metade
inferior do meu rosto.
Era definitivamente um momento de derreter a calcinha. Quem não
ama um homem ― especialmente um homem como Adam Connor —
assumindo o controle do seu corpo, de uma maneira sexy, é claro.
— Eu não beijei minha irmã, Lucy — ele murmurou, inclinou-se e
depois me beijou. Novamente. Me beijou para valer. Seus dedos
seguraram meu rosto no lugar, ele inclinou a cabeça e enfiou a língua
dentro da minha boca.
Um beijo desses.
E ele tinha um gosto bom. De calor. De seda. De vício. Sexo. Perigo.
Loucura.
O roteiro na minha mão caiu no chão.
Meu cérebro estava uma bagunça completa, me dando todos os
tipos de alertas.
Ele inclinou a cabeça para a direita e praticamente acabou comigo
com aquele beijo.
Foi um beijo embrulhado em outro beijo.
Isso faz sentido? Não? Também não fez sentido para mim.
Sim, Lucy! Sim!
Não, Lucy! Não!
Era como se eu tivesse várias personalidades vivendo dentro da
minha cabeça todo aquele tempo e elas estivessem esperando para
sair do seu esconderijo apenas para aquela ocasião especial.
Mas Adam Connor estava me beijando… o que diabos uma garota
deveria fazer quando enfrentava esse problema? Com ódio ou sem,
você também beijaria. Você daria tudo de si e daria com vontade.
Com minhas mãos vazias, agarrei sua camisa e o puxei para mais
perto, retribuindo seu beijo com fervor. Eu poderia ter escrito um poema
sobre como era bom tê-lo em cima de mim, e eu nem era a roteirista.
Seu aperto no meu queixo aumentou a ponto de ficar perigosamente
perto de me machucar, mas eu estava amando isso. Eu o odiava, mas
eu estava amando o jeito como ele controlava o beijo. Me controlava.
Como era possível que o toque dele fosse tão diferente do toque do
imbecil de Jake Callum?
Eu estava amando o jeito como sua respiração começava a fugir do
controle ― assim como a minha. Eu estava amando que ele tinha
passado a mão esquerda ao redor da minha cintura e estava me
puxando em direção ao corpo dele.
Nossas línguas travavam uma batalha, e eu não me importava com
quem saísse por cima no final, desde que ele mantivesse seus lábios
nos meus.
Queria que ele ficasse sem camisa para eu poder sentir sua pele sob
o meu toque, mas para isso eu teria que me afastar dos lábios dele, e
eu não estava muito animada para fazer isso. O chão sob meus pés
poderia ter rachado, e eu ainda não o teria deixado se afastar. Ele virou
a cabeça para o outro lado e intensificou o beijo, me forçando a arquear
o corpo para me aproximar mais ainda.
Estava começando a pensar que não havia problema em não ser
beijada por mais de um mês se o beijo no fim da seca fosse como
aquele. Eu aceitaria qualquer coisa que aquele homem fizesse comigo.
E, minha nossa, ele estava me devorando como se estivesse
matando a sede. Eu estava a segundos de subir nele e fazer o melhor
que desse para transar com ele em pé. Isso exigiria muitas manobras,
mas eu poderia me esforçar ao máximo.
Incapaz de me conter por mais tempo, gemi, e ele foi mais devagar,
mordiscando meus lábios enquanto eu fazia o que dava para não ficar
sem ar na frente dele. Sua mão soltou meu rosto e delicadamente
prendeu meu cabelo curto atrás da orelha.
Justamente quando pensei que a tortura dos meus sentidos tinha
acabado, ele se inclinou e beijou minha bochecha, então um pouco
mais alto, indo em direção à minha orelha. Minha cabeça, agindo
sozinha, inclinou-se para o lado para lhe dar mais espaço para agir, e
ele escolheu aquele momento para passar a língua ao longo da concha
da minha orelha, me fazendo gemer ainda mais alto.
Eu só conseguia me agarrar a ele. Estava longe dali. Dá para
imaginar? Minha vagina, no entanto, estava muito feliz.
— Lucy — ele sussurrou, e todos os pelos do meu corpo se
arrepiaram. Por que meu nome tinha que soar tão gostoso quando ele o
pronunciava?
Com o nariz no meu pescoço, ele estava sentindo meu cheiro, e meu
corpo estava praticamente derretendo em suas mãos. Eu me sentia
ganhando vida. Ou flutuando para fora do meu corpo. Ou todas essas
coisas.
— Me chame de maluco, minha pequena perseguidora, mas acho
que gosto de você — ele murmurou contra a minha pele, sua
respiração quente me aquecendo da cabeça aos pés enquanto ele
mordiscava minha pele.
— E eu acho que não gosto de você — sussurrei de volta quando
consegui pensar o suficiente para formar palavras de novo.
— Hum — ele murmurou ao lado da minha orelha, fazendo meus
olhos se fecharem. O que ele estava jogando?
— Então você não vai me beijar de volta se eu tentar te beijar de
novo, imagino?
Foi uma declaração estúpida. Todos os tipos de beijos eram bem-
vindos, desde que envolvessem aqueles lábios tocando partes do meu
corpo, e o idiota sabia disso, claro.
Tentei me afastar, pensando que ele estava ansioso por outro tapa,
mas suas mãos grandes envolveram minha cintura e, antes que eu
soubesse o que ele estava planejando fazer ― não tenho vergonha de
dizer que estava esperando por outro daqueles beijos intensos ―, ele
começou a andar para trás e me levar com ele.
Ele caiu sentado no sofá e eu magicamente subi em seu colo. Mais
uma vez, eu não queria, é claro, então estava culpando suas mãos
grandes e fortes. Se ele não estivesse tocando minha cintura, eu teria
ido embora na hora. No entanto, como suas mãos ainda estavam em
mim, me pressionando para mais perto dele, em vez de ir embora, eu
comecei a me inclinar para ele para sentir aqueles lábios de novo.
Ou tudo ou nada, né?
Com uma das mãos dele ainda na minha cintura, ele deslizou a outra
pelas minhas costas e para dentro da minha camisa.
Segurei o encosto do sofá com uma das mãos e apoiei a outra em
seu peito. Fiquei tonta ao sentir o coração dele batendo forte sob o meu
toque. Eu não tinha o direito de me sentir tonta com o batimento
cardíaco dele. Eu deveria ter saído do seu colo e fugido.
Mas o que eu fiz? Eu fiquei mais tempo.
Ele descansou a mão entre minhas omoplatas. Pele sobre pele. Pele
quente em pele ardente. Mantendo-me de joelhos o tempo todo,
pressionei meus seios contra seu peito largo e mergulhei para outro
beijo de arrasar.
Ele soltou um gemido longo e satisfeito que mexeu ainda mais com
meu cérebro e arruinou minha calcinha. Então ele subiu mais a mão
para poder segurar meu pescoço e me puxar para seus lábios. Me
controlando. Aquilo foi sexy demais, e, de alguma forma, doce. Protetor.
Poderia ter sido ainda mais sexy se ele estivesse prestes a me
penetrar.
O visual me fez soltar um gemido ainda mais alto do que antes.
A fera em mim foi solta da coleira, e estava procurando devorar o
homem entre minhas pernas.
Ele me afastou dos seus lábios e apertou meu pescoço para chamar
minha atenção. Minhas pálpebras estavam pesadas, mas consegui
abri-las o suficiente para ver seus olhos expressivos olhando
diretamente dentro da minha alma.
— Você não é tão bom quanto pensei que seria. — As palavras
saíram da minha boca, me pegando de surpresa.
Seus lábios se entreabriram, mas não decifrei seu olhar. Antes que
ele pudesse falar, a porta da frente se abriu e alguém a fechou com
força.
Aiden.
Foi o suficiente para me colocar em ação. Eu me levantei e limpei a
boca com as costas da mão. Minha camisa desceu, cobrindo minhas
costas novamente, e eu silenciosamente xinguei Adam por fazer com
que eu me sentisse nua sem a mão dele em mim.
Ele ainda estava sentado no maldito sofá e olhando para mim como
se estivesse me vendo pela primeira vez.
— Adam, nós temos um problema. Você não vai gostar nada disso
— anunciou uma voz, e então Dan, o Bambam, apareceu no corredor.
— Eu vou para o meu quarto — murmurei antes de me afastar
rapidamente.
Dan estava franzindo a testa para mim quando passei por ele, mas
felizmente não disse uma palavra. No meio do caminho, percebi que eu
não estava mais dormindo ali. Eu podia ouvir Dan e Adam conversando
em voz baixa. Com a mão no rosto, gemi e voltei para a sala de estar.
— História engraçada — comecei, caminhando ao redor deles e
depois continuando para o quintal sem terminar minha frase.
Pulei o muro e parei em frente às portas de correr de Olive em
apenas alguns segundos. As portas estavam trancadas.
— Que diabos? — murmurei e comecei a bater. As luzes ainda
estavam acesas lá dentro, então eu sabia que eles estavam acordados.
— Olive! — gritei, aproximando-me do vidro para olhar para o
interior.
De repente, as finas cortinas bege se moveram e Olive apareceu do
nada.
— Puta merda — gritei, me afastando. — Pirou? Você me assustou
demais.
— Eu não vou deixar você entrar — disse ela, do outro lado das
portas de vidro. Eu notei o sorriso satisfeito em seus lábios.
— O quê? Por que não?
Ela cruzou os braços e levantou uma sobrancelha.
— Pode falar.
— Falar o quê?
Ela estreitou os olhos para mim e se inclinou para mais perto do
vidro, estudando meu rosto, imaginei. Então, seus olhos se arregalaram
e ela arfou.
— Você o beijou! Seus lábios estão inchados. Você o beijou e não ia
me contar!
— Como é? Estou bem aqui, tentando entrar, para poder te contar!
— Você está mentindo.
— Não estou, Olive.
— Então me diga o que você fez.
— Não fiz nada.
Ela me lançou um olhar incrédulo.
— Você realmente vai falar comigo através do vidro?
— Estou esperando.
— Bem. Jesus. Eu nunca te forcei a me dizer algo assim.
Ela soltou uma risada alta.
— Você tem certeza? Pense melhor. Você fez muito pior comigo. Eu
me lembro muito bem de quando você mandou uma mensagem para o
Jason em meu nome, dizendo que eu estava solteira. Cem por cento.
— Você deveria me agradecer. Você acabou se casando com o cara,
não é?
— Não mude de assunto, Lucy. Diga o que aconteceu lá ou não vou
deixar você entrar, nem te enviar uma cópia do meu livro. Você deve
ouvir o que Jasmine está dizendo. Ela está achando fantástico.
— Eu acho que você está saindo comigo há muito tempo; está
começando a agir como eu.
— Fala. Logo.
Levantei as mãos.
— Beleza. Beleza. Acalme a periquita, mulher. Pensei que Aiden
estaria lá, mas ele ainda não estava em casa, então Adam perguntou
se eu queria esperar.
— Você está indo bem, continue.
Apesar da situação, eu ri e me aproximei do vidro.
— Bem. Ele me beijou — sussurrei, alto o suficiente para que ela
pudesse me ouvir. — Então dei um tapa nele porque ele estava
beijando a irmã dele.
Olive arregalou os olhos.
— Então ele me beijou para caramba de novo. E eu retribuí. Então,
quando eu estava prestes a me sentar no colo dele e sentir o tamanho
do pau para não morrer de curiosidade, Dan, o Bambam, chegou.
— Você é péssima, Lucy. Não tenho ideia do que diabos isso
significa. Ele beijou você e a irmã dele, e você deu um tapa nele?
Fiz que sim, sentindo orgulho de mim mesma.
— Bem, quase isso. Ele me beijou depois que eu contei a ele sobre
Catherine e minha maldição.
Ela se aproximou, pressionando a testa contra o vidro, expressando
choque.
— Você contou a ele sobre a maldição?
Outro aceno rápido.
— Depois do tapa, ele me beijou de novo e, meh… — Fiz uma pausa
e depois encolhi os ombros. — Foi melhor, eu acho. Pelo menos ele
não foi delicado. O tapa deve ter ajudado.
— Eu te odeio — ela disse.
— E foi exatamente isso que eu falei pra ele. Ele disse que acha que
gosta de mim, então eu disse que o odeio.
Um grande sorriso se abriu nos lábios de Olive.
— Adam Connor te ama.
Lancei a ela um olhar entediado.
— Eu não disse isso, disse?
— E você está totalmente se apaixonando por ele.
Eu ri e balancei a cabeça.
— É você quem está dizendo, louca. Agora abra a porta, eu te contei
tudo.
Ela virou as costas para mim e se encostou na porta de vidro,
olhando para trás com timidez.
— Vou escrever um livro sobre o seu amor por Adam. Vai ser épico.
— Não estou me apaixonando por ele, pelo amor de Deus.
— Você vai se apaixonar. E eu vou amar cada segundo disso.
— Sou amaldiçoada, lembra, Olive? Pare de brincar e abra a porta,
está esfriando aqui fora.
— Por favor, estamos em Los Angeles, é setembro, será que vai
fazer frio? E tenho certeza de que Adam já aqueceu você. Talvez eu
devesse mandar uma mensagem para ele. Onde está o seu celular?
— Olive! Juro por Deus… — Bati no vidro. — Abra a maldita porta!
Você está se tornando uma “mini eu” e não estou gostando. Só pode
haver uma como eu entre nós. Você deve ser a pessoa calma, sensata,
não aquela que deixa sua amiga no frio para ser devorada por coiotes,
para que ela possa entender o que está acontecendo! É o que eu faria!
— Aprendi com a melhor.
Eu estava presa entre me sentir uma mãe orgulhosa e uma mãe
irritada.
Os olhos dela estavam brilhando de diversão.
— Estou pesquisando para o meu próximo livro. Como vou estar
escrevendo sobre você, é melhor eu entrar no personagem. — Então o
rosto dela ficou sério e ela suspirou. — Por que você faz isso consigo
mesma? Vá se divertir com ele. — Ela inclinou a cabeça, gesticulando
para a casa de Adam. — Você não é amaldiçoada, Lucy. Se ele te
beijou, significa que está interessado, mesmo depois de tudo que você
fez.
— Como é? Você não estava comigo naquele muro naquele primeiro
dia? Se eu sou uma perseguidora, você também é.
— Eu não fui pega, fui?
— Certo. Que ótima desculpa. Agora, abra a porta.
— Por quê?
— Por que o quê?
— Por que você não volta para lá e tenta? Veja no que dá.
Como ela não abriria as malditas portas, virei as costas para ela e
me sentei na frente da porta.
— Lucy? — ela chamou.
Olhei para o céu.
— Porque, se eu me apaixonar por ele, não vou sobreviver a essa
queda.
— Alô? Lucy?
— Oi, Jameson. Como você está?
Um suspiro profundo soou do outro lado.
— Eu não pensei que você me ligaria, não depois de ignorar minhas
mensagens.
Olive estava sentada ao meu lado no carro, e finalmente estávamos
ligando para Jameson. Olive pressionou a orelha do outro lado do
celular e me deu um sorriso inocente quando fiz uma careta para ela.
Suspirando, coloquei no viva-voz.
Mudei o celular para a outra mão e balancei a mão esquerda,
tentando controlar o tremor. Eu estava morrendo de medo.
— Não ignorei as mensagens — respondi quando Jameson disse
meu nome novamente.
— Você não respondeu, Lucy.
— Não havia mais nada a dizer.
— Você está errada. Ainda temos coisas a dizer. Eu sinto sua falta.
Olhei para Olive.
— Bem, sim. Agora temos coisas a dizer. Foi por isso que te liguei.
— Você também sentiu minha falta — ele falou naquele tom sedoso
e sedutor dele.
Fiquei em silêncio e ouvi meu coração apenas por um segundo… e
percebi que ele não bateu mais forte quando ouviu aquela voz familiar
da qual eu costumava gostar tanto. Não me parecia certo, não tinha
aquele tom de provocação que meu coração buscava aqueles dias.
— Sinto muito, Jameson, mas não foi por isso que liguei. Eu… ligo
de novo em breve.
Encerrei a ligação e encostei a cabeça no banco.
— O que você está fazendo? — Olive perguntou.
Liguei o rádio, pensando que talvez uma música ajudasse a acalmar
minha mente.
Olive o desligou.
— O que está acontecendo?
— Eu tenho que contar a ele? Quero dizer, agora? Eu tenho que
contar a ele agora mesmo? Estamos prestes a entrar no consultório
médico. Não podemos ligar pra ele depois de ter os resultados?
De alguma forma, Olive estava muito mais calma do que eu;
geralmente era o contrário. Ela pegou minha mão e a apertou.
— Respire, Lucy.
Respirei fundo.
— Você quer ser o vento hoje?
Sorri.
— O que você vai ser? Um pássaro voando comigo?
— Se você quiser, sim.
— Você seria um pássaro fofo. Sendo o vento, eu vou derrubá-la, e
Jason pode vir e resgatá-la, aí você pode fazer sexo com pássaros e…
— De novo. Respire, Lucy.
Soltei o ar.
— Ai, meu Deus, Olive — gemi e olhei em seus olhos
compreensivos. — O que eu fiz?
— Nada. Você não fez nada. Isso acabou de acontecer. E tudo bem.
Vai ficar tudo bem. Quaisquer que sejam os resultados, você vai passar
por essa. Então, vamos ter um bebê. Será a criança mais sortuda por
tê-la como mãe, e ela ou ele vai ter uma tia maravilhosa.
— Eu acho que não. A maldição deveria ter terminado comigo.
Agora…
— Agora nada. Você não é amaldiçoada, Lucy. — Ela apertou minha
mão de novo. — Ligue de novo para ele. Conte o que está acontecendo
e pronto. Vamos sair do carro e entrar no consultório juntas. Apenas um
passo de cada vez.
Ela estava certa. Eu sabia que ela estava certa e não havia motivo
para surtar, mas então por que meu coração batia tão forte? Era o
bebê?
— Ok, eu estou enlouquecendo — apontei o óbvio.
— Quer que eu conte a ele?
— Não. Não. — Respirei fundo algumas vezes e liguei para Jameson
de novo.
— Lucy? Você está bem?
Eu percebi ― e Olive também ― que ele não tinha me ligado de
volta assim que encerrei a ligação. Se ele sentisse minha falta, como
continuava dizendo, não teria ligado de volta? Jason teria ligado para
Olive num piscar de olhos só para ter certeza de que ela estava bem.
Então Jameson era meu erro.
— Sinto muito — eu disse ao telefone. — Me desculpe, eu surtei.
Seu tom estava mais incisivo quando ele exigiu saber o que estava
acontecendo.
Dei a ele as notícias da forma mais direta que pude.
— Achei que você gostaria de saber — comecei. — Fiz um teste de
gravidez. — Silêncio total. Fechei os olhos. — Deu positivo, mas esses
testes nem sempre são precisos, então eu tenho uma consulta com um
médico em alguns minutos e depois te conto o que ele me disser.
Ainda silêncio total.
— Jameson? Você está aí?
Olhei para Olive e vi que ela estava mordendo o lábio, esperando
ansiosamente Jameson dizer alguma coisa. Qualquer coisa. Ela ergueu
as sobrancelhas. Eu levei o telefone para mais perto dos meus lábios.
— James…
— Sim. Sim. Estou aqui. Me desculpa. Então você está grávida.
Esperando um bebê. Meu filho, para ser mais específico. Eu não estava
esperando por isso.
Escolhi acreditar que ele não estava tentando sugerir que o bebê
talvez não fosse dele.
— Sim. Nem eu.
— Você estava tomando pílula. — Não havia acusação em seu tom.
— Eu estava.
— Uau. Lucy… uau.
Esbocei um sorriso e levei a mão à barriga.
— Sim.
— O que você vai fazer? O que você decidiu fazer? Com o bebê,
quero dizer.
Legal, pensei. Muito legal. Isso praticamente arrancou o sorriso do
meu rosto. Uma rápida olhada em Olive e eu vi que ela estava a
segundos de falar.
— Certo — cortei rapidamente. — Eu te aviso depois dos resultados.
Tenho que ir agora. Tchau, Jameson.
— Que desgraçado — Olive xingou assim que encerrei a ligação.
— Não posso dizer que não concordo.
— Não pensei que pudesse odiá-lo mais. Me dê o celular, vou ligar
de novo.
Segurei meu celular com mais força e o afastei de Olive.
— E fazer o que, exatamente? — Balancei a cabeça e soltei o cinto
de segurança. — Vamos apenas subir e… e… fazer xixi em um copo ou
o que for.
— Decidi que, quando estiver escrevendo sua história, vou matar
Jameson. Eu vou fazer você se casar com Adam Connor e depois
matar Jameson.
Dei um tapinha no braço dela.
— É essa a ideia.
Nossa viagem a Paris não mudou nada. Todo ano, levávamos Aiden
conosco, apesar das objeções de Adeline, e todo ano eu fazia as
mesmas perguntas, com medo de que as respostas mudassem. Além
do fato de Adeline não ter nos acompanhado nessa viagem, nada havia
mudado. Nem as respostas. Nem a cidade. Nem as pessoas nela.
Nada.
— Papai? Posso ir ver meu amigo primeiro? Eu sei que eles sentiram
minha falta.
— Você conversou com Henry algumas horas atrás, Aiden. Tenho
certeza de que ele vai sobreviver por um dia até você encontrá-lo na
aula.
— Mas não são apenas Henry ou Isabel.
Isabel, certo. Como eu poderia ter esquecido de Isabel?
— Você falou com a Isabel ontem, pelo FaceTime.
— Sim, mas não são apenas eles. Eu tenho mais amigos, sabe. E a
Lucy? E a Olive? Até Jason deve ter sentido minha falta. Nós ficamos
fora durante dias. Diga a ele, Dan.
Olhei nos olhos de Dan pelo espelho retrovisor e ele balançou a
cabeça.
— Diga a ele — pressionou Aiden.
— Tenho certeza de que eles sentiram sua falta, amigo.
— Viu, papai? Até Dan sentiu minha falta por ter ficado um dia inteiro
sem me ver. Dan tem que me ver, eles também precisam me ver.
— Você não está esquecendo de outra pessoa?
Ele olhou para mim silenciosamente, os olhos ainda implorando.
— Sua mãe. Ela também sentiu sua falta, amigo.
— Sentiu?
Uma pergunta tão inocente.
Olhei nos olhos de Dan novamente quando ele virou à esquerda,
chegando mais perto da casa de Adeline.
— Claro, carinha.
Ele assentiu solenemente e virou a cabeça para olhar para fora,
abraçando o iPad contra o peito.
— Eu vou ficar com Aiden — Dan interrompeu meus pensamentos
sombrios. — Você pega o carro e vai à sua reunião com o agente. Levo
Adeline para onde ela quiser de carro.
— Obrigado. Tenho certeza de que ela vai gostar disso.
— Quando você vai voltar para me pegar? — Aiden perguntou, seus
dedos passando na tela do iPad, apesar de o dispositivo estar sem
bateria.
Baguncei seu cabelo.
— Sua mãe fica com você por uma semana, amigo, lembra? Aí
então eu vou te buscar pra te levar para casa.
Nada além de um meneio rápido.
Tudo estava encaminhado, mas levaria tempo para eu conseguir a
guarda total, e foi por isso que tive que aderir às regras que tínhamos
estabelecido antes, após o divórcio. Até que desse certo, até que Aiden
ficasse comigo em tempo integral, eu o visitava com mais frequência.
Se para isso eu acabasse vendo mais Adeline ou se tivesse que jantar
algumas vezes com ela, tudo bem.
Depois de deixar Aiden e Dan na casa de Adeline e vê-la dar um
abraço rápido em Aiden, não consegui entender por que ela não era
capaz de estabelecer um vínculo com ele de mãe e filho. Na gravidez,
ela o havia desejado mais do que eu. Ela lutou por ele mais do que eu.
Ele era o garoto perfeito.
Ele era perfeito e era meu.
Adam entrou com Aiden nos braços, e Dan logo atrás com uma
expressão feroz.
— Olha quem está aqui para vê-lo, grandão — Adam murmurou para
Aiden, cujo rosto estava enterrado em seu pescoço enquanto os
pequenos braços o abraçavam firmemente. O pijama que ele usava era
lindo, de estampa de carrinhos azuis.
— Oi, Aiden. — Fui até eles, sem saber o que estava acontecendo
exatamente ou a gravidade da situação. Pelo amor de Deus, que dia
difícil. Começou tão promissor, mas se transformou em uma completa
bagunça.
Aiden parou de se esconder e me deu um pequeno aceno.
— Olá, Lucy. Você veio por minha causa?
Meu rosto se iluminou.
— Vim. Seu pai me perguntou se eu queria ver você, e eu quis na
hora. Como você está?
— Tive um dia difícil. A mamãe estava bem triste. Eu não queria
deixar ela sozinha, mas ela disse que eu não podia fazer nada.
Ah, droga. Olhei para Adam e vi que ele mantinha a mandíbula
cerrada ― e que mandíbula sexy, ele tinha. Balancei a cabeça e me
concentrei no menininho ansioso.
— Todos temos dias difíceis, de vez em quando. Sabe o que eu faço
quando tenho um dia difícil? — Segurando a camisa do pai com a
mãozinha, ele só balançou a cabeça para indicar que não sabia. —
Tomo um pouco de sorvete e assisto O Rei Leão ou Zootopia com
minha melhor amiga. Eu adoro esses filmes.
— Você vê filmes com Olive?
— Vejo, ela adora esses filmes tanto quanto eu.
Ele hesitou um pouco, com os olhos já sonolentos. Dan deve tê-lo
tirado da cama.
— Eu também adoro. — Ele olhou para o pai. — Papai, posso ver
filmes com Lucy agora? Tive um dia bem difícil.
Adam se forçou a rir, apesar da tensão, e afastou os cabelos de
Aiden do rosto.
— Já passou da hora de dormir, Aiden.
— Só um pouquinho, papai. Por favor?
— O que acha de construirmos um forte bem aqui na sala de estar
para assistir filmes nele? Talvez, se convidarmos seu pai para assistir
com a gente, ele não diga não.
Os olhos de Aiden se arregalaram e ficaram cheios de esperança
quando ele se endireitou nos braços do pai. Pelo canto do olho, vi
Adam sorrir e Dan balançar a cabeça.
— Mas não sei construir um forte, Lucy. Nunca fiz isso antes. E
você?
— Claro que já, mas acho que não consigo construir sem sua ajuda.
Pode me ajudar?
— Sim, eu posso fazer isso. — Ele tocou o rosto do pai para chamar
sua atenção. — Podemos construir uma barraca, papai? Você pode
assistir com a gente. Se a Lucy começar a chorar de novo, você pode
me ajudar a abraçá-la e dizer que ela está sendo boba.
Adam riu e concordou.
— Certo. Faremos isso. — Ele colocou Aiden no chão e, assim que
seus pezinhos o tocaram, ele começou a ir para seu quarto.
— Vou pegar meu travesseiro preferido!
— Vou pegar os lençóis. — Enquanto eu passava por Adam, ele
segurou meu braço e me parou. Ergui a sobrancelha e olhei para ele.
— Seu fetiche de novo?
Ele se inclinou e me beijou. O toque suave dos seus lábios e o
agradecimento com intimidade me deixaram louca quando sua língua
entrou furtivamente na minha boca. Quando me dei conta do que
estava acontecendo, acabou.
— Obrigado por estar aqui, Lucy. Estar com a gente — ele disse com
uma voz rouca. Aiden chegou correndo com dois travesseiros na mão.
— Eu trouxe meu outro travesseiro favorito para você, Lucy.
— Obrigada, pequeno humano — eu disse baixinho. Ele
cuidadosamente colocou os travesseiros no sofá e pegou minha mão.
— Vamos lá, eu vou te mostrar onde estão os lençóis. — Ele me
puxou para longe do seu pai e parou na entrada do corredor. — Papai,
você vai nos ajudar?
— Eu tenho que falar com Dan antes que ele saia. Volto logo depois
disso.
— Você não quer assistir a um filme com a gente, Dan?
— Eu tenho que ir, grandão. Você vai cuidar do seu pai e de Lucy por
mim, não é?
Aiden estufou o peito e fez que sim.
— Sim. Eu vou fazer um bom trabalho.
Com essa promessa, ele me puxou para seu quarto para que
pudéssemos escolher entre seus lençóis favoritos.
Depois de vasculhar vários conjuntos, escolhemos dois azul-claros,
um verde que quase combinava com a cor dos seus olhos, um
vermelho e um branco com trens vermelhos e pretos. Também
roubamos alguns travesseiros da cama do seu pai.
Quando voltamos, nem Adam nem Dan estavam lá. Aiden jogou tudo
que estava segurando no chão e me ajudou com os meus.
— Você pode abaixar as almofadas? Vamos empilhar todas no sofá
para ficarmos mais altos. Vou ver onde seu pai está.
— Lucy… você acha que ele deixa a gente tomar sorvete?
— Hummm. — Estreitei os olhos para parecer que estava pensando
muito sobre aquilo. — Eu vou perguntar, mas acho ele diria que é um
pouco tarde para tomar sorvete.
Aiden cruzou os braços sobre o peito, imitando minha posição, e
inclinou a cabeça para o lado.
— Sim, eu acho que você está certa. Mas ele não diria não se a
gente pedisse amanhã! E talvez a mamãe possa ir também.
— Sim. Você está certo. Amanhã vamos perguntar a ele.
Ajudei-o a subir no sofá para que ele pudesse jogar as almofadas no
chão e segui em direção à porta da frente, onde eu ouvia a voz de
Adam.
— Ei — assobiei, chamando a atenção dos dois homens muito
zangados. — Ele já está preocupado; por que não falam mais baixo?
A carranca de Dan se aprofundou, mas ele não disse nada. Adam
estava no telefone e parecia prestes a perder a paciência.
— O que está acontecendo? — perguntei a Dan.
— Adeline — ele resmungou, seu tom deixando clara sua opinião
sobre a ex de Adam.
— Adeline, não vou fazer um acordo com você. Eu não me importo
com como isso afeta sua carreira. Você deveria ter pensado antes de
decidir que seria uma boa ideia me trair com um diretor para conseguir
um papel.
Olhei para Dan e engoli as palavras que ameaçavam sair.
Putz, cara.
No instante seguinte, o corpo inteiro de Adam ficou tenso. Eu
praticamente podia ver a veia pulsando em seu pescoço. Ele fechou os
olhos para respirar fundo, o que não pareceu relaxá-lo.
— Você não fará isso com Aiden. Você não vai fazer com que ele
passe por isso.
— Lucy! — Aiden gritou meu nome, e a cabeça de Adam se virou em
direção ao som.
— Desculpa. Já vou — murmurei, e seus olhos suavizaram quando
me viram. Eu corri de volta para Aiden sem dizer mais nada.
O que estava acontecendo, afinal?
— Ou você vem hoje à noite para que eles possam tirar uma foto sua
entrando na minha casa com um sorriso ou a declaração que eu fizer
amanhã será diferente, Adam.
Essas foram as últimas palavras de Adeline quando ela desligou na
minha cara.
— O que está acontecendo? — Dan perguntou, tentando manter a
voz baixa. Eu podia ouvir os murmúrios de Lucy para Aiden quando
começaram a construir o forte que Lucy prometera. Eu verifiquei a hora:
22h, já passava muito da hora de Aiden dormir.
— Ela quer que eu faça uma declaração com ela e basicamente
insinue que estamos reatando.
O rosto de Dan ficou sério.
— E se você não fizer?
— Ela vai falar sobre Aiden.
— Nem mesmo ela faria isso — Dan respondeu, uma carranca
aparecendo em seu rosto. — Por acaso ela acha que isso não teria
consequências negativas para ela?
Minha garganta apertou quando tentei engolir a raiva. A única coisa
que eu queria era jogar o celular contra a parede e ficar com meu filho e
Lucy.
Ouvi Lucy soltar um grunhido e a risada de Aiden encheu a casa.
— Eu tenho que ir — falei rispidamente, olhando nos olhos de Dan
quando as risadas de Lucy e Aiden ecoaram nos meus ouvidos. — Ela
está presa. Não está pensando com clareza, e não posso arriscar que
ela cometa um erro assim.
— Vou levá-lo até ela.
Balancei a cabeça quando Dan abriu a porta e saiu.
— Você liga o carro; eu estarei lá em instantes.
Encontrei Aiden em pé na frente da TV e rindo de Lucy enquanto ela
tentava se salvar do ataque do lençol sobre sua cabeça.
— Vou pegar você, pequeno humano — ela rosnou e se moveu em
direção a Aiden, e ele gritou e correu para se esconder atrás das
minhas pernas.
— Aiden, por que você não pega os travesseiros do meu quarto
também?
Ele inclinou a cabeça para olhar para mim.
— Podemos pegar todos eles?
— Claro. Se vamos fazer um forte, é melhor que seja confortável,
não acha?
Ele assentiu com entusiasmo e saiu correndo, e eu me virei e vi Lucy
me encarando com olhos firmes ao puxar o lençol de Aiden sobre os
ombros.
— Você precisa ir.
Percorri a distância entre nós e a puxei para meus braços, sentindo
seu perfume suave para me acalmar. O lençol deslizou por seus
ombros, caindo no chão quando ela passou as mãos sobre o meu peito,
entendendo instintivamente do que eu precisava dela.
— Eu tenho que falar com ela. Ela está… se eu não falar, ela vai
cometer um grande erro.
Ela se afastou e olhou nos meus olhos por alguns segundos.
— Compreendo.
Eu sorri. Ela não conseguia entender. Ela não conseguia entender
quanto Aiden se magoaria se Adeline dissesse algo idiota na frente das
câmeras apenas para tirar a atenção de si mesma.
— Você não pode entender, mas prometo explicar tudo um dia.
Assim que as palavras saíram da minha boca, eu sabia que tinha dito
a coisa errada, antes mesmo de ver o leve vacilo. Ela se afastou
completamente.
— Você disse que conversaríamos, não disse? Nós vamos fazer isso
um dia.
— Lucy, não. — Toquei seu rosto e me confortei com o fato de ela
não ter se afastado. — Isso… o que quer que esteja acontecendo na
vida de Adeline não muda nada para nós. Você não vai conseguir fugir
de mim.
Aiden voltou com dois travesseiros, ambos maiores do que seu
pequeno corpo, e eu tive que soltar Lucy.
Tirando os travesseiros de Aiden, eu o levantei em meus braços e
dei um beijo em sua testa.
— Eu tenho que ver como sua mãe está, mas volto assim que puder.
Tudo bem pra você?
— Lucy vai ficar? — Ele olhou para Lucy e para mim.
— Sim. Lucy fica com você. Vocês dois começam a ver o filme e
depois eu falo com vocês, tá?
— Você vai cuidar da mamãe para que ela não chore mais? Eu tentei
dar um abraço nela, mas ela não quis.
Eu o abracei um pouco mais forte.
— Eu vou cuidar da sua mãe. Você não precisa se preocupar com
nada, amigo. Combinado?
Ele abraçou meu pescoço e assentiu.
Agradeci a Lucy rapidamente e abaixei Aiden para que ele pudesse
voltar a construir o forte com sua amiga.
Antes que ela pudesse se virar, roubei um beijo rápido de Lucy, que
durou muito pouco, e saí.
— Bom dia.
— Arrgggh, nããão.
— Bom dia, Aiden.
— Não. Só mais um pouco, Lucy.
— Mas você tem que acordar.
— Por quê? Por quê? Estou com muito sono, Lucy. Ainda não sinto
que preciso acordar.
— Mas eu quero panquecas, Aiden. Eu perguntei ao seu pai, mas ele
não vai me ajudar. Eu pensei que você me ajudaria, mas…
Ele se virou e abriu aqueles olhos que eram exatamente iguais aos
do pai.
— Ele não vai ajudar?
Balancei a cabeça e tentei parecer muito triste.
— Você quer panquecas mesmo? Quer muito?
Assenti.
— Sim, sim. Eu quero panquecas com xarope de bordo. Muito
xarope de bordo.
Aiden soltou um suspiro e bateu na cama com a mãozinha. Ele tinha
feito seis anos um mês antes, mas ainda era muito pequeno aos meus
olhos. Não foi agradável receber Adeline quando fizemos a festa de
aniversário dele, mas ela era a mãe de Aiden, pelo menos até onde ele
sabia. Observar seu sorrisão quando viu os amigos, todos os balões e
os brinquedos, e o enorme pula-pula colorido no quintal… a alegria dele
fez valer a pena estar no mesmo lugar que ela.
Para ser justa, depois que Adam fez com que ela desse uma
declaração basicamente pedindo desculpas a mim, ela não fez nada
que me irritasse demais. Como Adam tinha comprado a gravação do
vídeo íntimo ― que eu estava curiosa para assistir, mas sabia que ele
já tinha destruído ―, ela não estava sendo tão megera. Ela até assinou
os papéis que davam a guarda exclusiva a Adam.
Ah, Aiden ainda passava um tempo com ela, algumas noites na casa
dela, mas sempre estava mais feliz quando seu pai estava por perto.
Assim como eu.
— O papai me paga. Pode apostar — ele murmurou enquanto
balançava as pernas e descia da cama.
— Você vai ajudar? — Eu sabia que ele iria. Ele adorava panquecas
tanto quanto Olive e eu.
— Você já me acordou, então acho que vou, para poder comer
panquecas. Você sempre come mais do que eu e o papai. Como você
faz isso, Lucy? Meninas não comem tanto.
— Ah, por favor. Isso aconteceu apenas uma vez e eu estava
morrendo de fome.
Indo em direção ao banheiro, ele olhou para mim por cima do ombro
e sorriu.
— Você está sempre morrendo de fome, Lucy.
Que pestinha.
Então, com meu ajudante ao meu lado, fizemos panquecas enquanto
o pai dele tomava banho e se preparava para um dia no set. A pedido
de Aiden, também convidamos os Thorn para o café da manhã. Como
Adam e Jason eram colegas de set, nós cinco passávamos muito
tempo juntos, no set e fora dele. Felizmente, eles só trabalhariam mais
tarde naquele dia.
Olive me ajudou a arrumar a mesa de jantar enquanto Aiden e Jason
protegiam as panquecas de nós. Pode acreditar, Olive ficou tão
enfurecida quanto eu quando Jason apoiou Aiden dizendo que
comíamos panquecas demais.
Jason foi esperto o suficiente para deslizar o braço em volta da
cintura dela e beijar Olive logo após a declaração, e ele teve sorte por
Olive não tê-lo visto cumprimentar Aiden.
Quando Adam saiu do banho, vestindo um elegante terno preto, eu
tive que olhar duas vezes.
— Qual é a ocasião especial? — perguntei baixinho enquanto ele
passava os dedos pelos cabelos úmidos.
— Algo especial. — Ele me abraçou e me beijou delicadamente. Eu
pousei na mesa o prato de frutas que estava segurando e me virei para
ele, surpresa.
— Para que tudo isso?
— Faz cinco meses hoje — ele declarou.
Eu sabia. Fazia cinco meses desde que eu me havia me mudado
para a casa dele e de Aiden. Não foi exatamente uma mudança, porque
não aluguei o apartamento no qual estava de olho. Um dia, todas as
minhas roupas estavam na casa de Olive e, no dia seguinte, não
estavam mais. Eu não tive muito poder de decisão, mas também não
estava reclamando. Como eu disse, o sexo sonolento acabou sendo o
meu tipo favorito de sexo.
E Aiden… a reação dele ao saber que seu pai e eu estávamos num
relacionamento sério foi abrir um sorriso meio doce, meio malicioso. Ele
era muito parecido com o pai.
— Isso significa que ele vai beijar você sempre que quiser? — ele
perguntou, ainda sorrindo.
— Sim, acho que isso significa que ele vai me beijar sempre que
quiser. Mas, se eu estiver com raiva dele, ele não vai poder me beijar.
Ele riu.
— O que mais isso significa?
Isso significava muitas coisas que seus pequenos ouvidos não
podiam ― não deveriam ― ouvir, mas eu não disse nada.
— Se você estiver de acordo, isso também significa que eu moraria
com vocês.
— Aqui?
— Sim.
— Aqui nesta casa? Você não vai mais morar na casa da Olive?
— Não, eu moraria aqui.
Os olhos dele se arregalaram.
— Você vai morar com a gente? Para sempre?
— Vamos devagar, pequeno humano. Se ele me irritar, não sei como
me sentiria ao ver o rosto do seu pai para sempre. Mas o seu… — Eu
toquei seu queixo com os nós dos dedos. — O seu eu gostaria de ver
para sempre.
Ele riu e saiu correndo para dizer a Adam que eu preferia o filho, não
o pai.
Eu tinha dito que ele era o pequeno humano perfeito antes, certo?
Adam deu outro beijo em mim, este mais forte, mais intenso, de
alguma forma ainda mais bonito e me puxou de volta ao presente.
— E este? — perguntei quando ele me deixou respirar.
— Este foi porque hoje é o dia do nosso casamento.
O sorriso que estava no meu rosto desapareceu em um instante, e
eu dei um passo para trás.
— O quê?
— É o dia do nosso casamento.
— Repito: o quê? De alguma forma viajei no tempo e perdi o pedido?
Ele se aproximou de mim e me impediu de me afastar ― eu nem
percebi que estava andando para trás.
— Eu tenho pedido a você todos os dias com todos os beijos, Lucy.
— É?
— Não é minha culpa que você demorou para me responder. Agora
você não pode esperar um pedido. É tarde demais para isso.
— É?
— Sim, Lucy. Eu sinto muito.
— Mas eu quero um pedido, Adam. Eu quero muito mesmo. Peça.
Por favor.
Ele se inclinou e deu um beijo suave nos meus lábios.
— Sinto muito, linda.
— Então não tem pedido? O que isso significa exatamente?
— Significa que vamos nos casar.
— Nós? Quando?
— Hoje.
— O quê? — Minha voz era quase inaudível.
Olive apareceu e eu congelei quando vi o que ela estava segurando.
Um vestido de noiva. Um maldito vestido de noiva, e eu tive que
admitir, um maldito e lindo vestido de noiva.
Levei as mãos à boca, e fiquei ali, absorvendo tudo.
Lágrimas escorriam pelo rosto dela, então, obviamente, algumas
escorriam pelo meu também.
— Eu-eu… — gaguejei.
Aiden se moveu, e o vi pegar a mão do seu pai enquanto sorria para
mim. Eu ainda não tinha palavras.
Então Olive se posicionou ao meu lado.
— Desejo a você toda a felicidade do mundo, Lucy. Desejo todos os
sorrisos, todas as risadas, todo o amor. — Ela riu e enxugou as
lágrimas. — Você merece muito, minha linda amiga. Você merece a
melhor história de amor, você merece o melhor final, e estou honrada
por estar de pé ao seu lado para ver você se casar com o amor da sua
vida.
Abaixei as mãos e dei uma risada ― mas não se preocupe, eu ainda
estava chorando.
— Quem disse que ele é o amor da minha vida? — Ele era,
totalmente. — E não me lembro de pedir para você ser minha dama de
honra também, minha pequena Olive.
Ela entregou o vestido delicado para Jason e se jogou nos meus
braços.
— Você não tem escolha. Tente me tirar do seu lado, eu te desafio.
Assim que ela terminou de falar, Jason se aproximou e a arrancou
dos meus braços, abraçando-a enquanto Olive relaxava contra ele.
Nenhum de nós estava muito bonito com os rostos vermelhos e cheios
de lágrimas.
— E eu acho que, como você nunca perguntou antes de começar a
me chamar de papai, eu não vou pedir sua permissão para levá-la até
esse cara — disse Jason antes de dar um beijo na minha bochecha.
Eu ri e olhei para seu rosto sorridente através das minhas lágrimas.
Aiden largou a mão do pai e correu para o meu lado. Ele ainda
estava com o pijama de Superman.
— Não chore, Lucy. Você não quer se casar com a gente?
— Amigo, você não pode perguntar isso a ela, lembra? — Adam o
recordou.
— Mas por quê? Eu não entendo.
— Sim, eu também não. Eu também não entendo. Por que não
podem me perguntar isso?
Ele foi até o meu lado e segurou meu rosto com uma das mãos. Eu
quase não reparei que Aiden soltou minha mão e foi para o lado de
Jason. Adam sempre fazia isso comigo, sempre me impedia de desviar
o olhar.
— Porque eu não quero que você pense. Porque eu não quero que
você tenha a opção de dizer não pra mim. Você é minha, Lucy. Quando
existe apenas uma resposta para uma pergunta e você já sabe o que é,
é inútil perguntar. Você vai se casar comigo hoje. Você se tornará minha
esposa e sempre será minha.
A esposa dele.
A esposa dele, porra.
Engoli em seco e assenti.
— Você está certo. Não faz sentido perguntar quando sabemos a
resposta.
A outra mão dele levantou e ele me segurou imóvel.
— Então é sim? Você vai fazer isso?
— Pensei que você tivesse dito que eu não tinha a opção de dizer
não.
— Você não tem — ele repetiu em voz baixa, seus olhos se movendo
sobre cada centímetro do meu rosto. — Mas nunca sei o que você fará.
— Compreendo. Então… ok. — Eu levantei as mãos trêmulas e as
coloquei sobre as dele. — Vamos nos casar. E por que não hoje, certo?
É um dia ótimo, e se todas as minhas pessoas favoritas estiverem
presentes, bem, será o melhor dia.
Ele sorriu lentamente, como se estivesse com medo de que eu
dissesse não, como se ele já não soubesse que eu não tinha como
dizer não.
Então, quando o sorriso dele aumentou, meus olhos se encheram
com mais lágrimas.
— Já chega, Lucy — ele murmurou, beijando meus olhos molhados.
— Já chega, minha linda guerreira.
Meu corpo estremeceu, e Adam me envolveu em seus braços antes
que eu pudesse escapar e cair no chão.
Seus sussurros eram as únicas coisas que estavam chegando até
mim.
— Você nunca será como elas, Lucy. Você não é amaldiçoada, linda.
Você nunca foi. Você estava apenas esperando que eu te encontrasse.
— Sua voz era tão terna, tão amorosa. — Quem eu quero enganar?
Você nem sequer pôde esperar que eu te encontrasse. Você caiu bem
no meu quintal, ficou bem na minha cara.
Ainda chorando em seus braços, eu o abracei mais forte.
Ele havia me encontrado.
Ele nunca reconheceria isso, mas sim, Adam me encontrou.
— Eu te amo — sussurrei contra sua camisa agora encharcada.
— E eu amo você, minha Lucy. — Senti seus lábios no topo da
minha cabeça e fechei os olhos.
Ele era perfeito. Ele era tudo que eu sempre tive medo de querer
para mim.
Erguendo a cabeça, olhei nos olhos dele e consegui dar um sorriso
trêmulo.
— Você é o herói da minha história, afinal, Adam Connor. Você é
meu príncipe inesperado que quebrou minha maldição. Quem poderia
imaginar, hein? Eu acho que estou feliz que é você, porque eu odiaria
começar do zero e ensinar outra pessoa a beijar direito.
Ele riu, seus olhos ternos.
— Receio que você nunca mais vai beijar ninguém além de mim. Vai
lidar bem com isso?
Assenti, meu coração ainda instável no meu peito.
— Eu posso viver com isso.
— Ótimo.
— Então, Lucy, você quer se casar com a gente ou não? — uma voz
entrou na conversa.
Soltei Adam e me inclinei para beijar as bochechas de Aiden.
— Obrigada por perguntar, meu principezinho. Minha resposta é sim,
com certeza.
— Boa. Agora podemos comer as panquecas? Estou com muita
fome e esperei com muita paciência.
Eu ri e me endireitei.
— Sim. Sim, podemos comer as panquecas.
Olive, que agora não chorava, me deu uma piscadela rápida e foi
ajudar Aiden e Jason com as panquecas. Adam me puxou de volta para
seus braços, e eu gostei de sentir seu calor e proximidade.
— Obrigado, Lucy.
— Pelo quê?
— Por me espionar. Por ser minha.
— Isso é muito para agradecer.
— E pretendo agradecer em todas as chances que tiver.
— Você deve fazer isso. Três vezes a cada vez, por favor.
Adam sorriu e eu me derreti.
Ele se inclinou e sussurrou no meu ouvido: — Obrigado por confiar a
mim seu lindo coração.
Então, no mesmo dia, depois das panquecas, eu disse sim a Adam
Connor com lágrimas bobas e felizes marejando os olhos.
Depois do nosso primeiro beijo surpreendentemente delicado, eu o
puxei para baixo e sussurrei um pequeno segredo em seu ouvido.
Eu nunca me esquecerei do olhar que ele me deu… aquele que dizia
que eu era o mundo dele.
Com a mão descansando na minha barriga, sobre nosso bebê, ele
me deu outro beijo perfeito, outro que eu poderia adicionar à lista.
Aquela garotinha que passara dias chorando, que se esforçara ao
máximo para descobrir por que a mãe não podia amá-la o suficiente
para mantê-la, que não conseguia entender por que sua avó nunca a
amaria como ela precisava ser amada… aquela mesma garotinha que
ao longo do caminho compreendeu e aceitou que nem todo mundo
consegue ser feliz para sempre neste mundo… aquela garota em
mim… aquela garotinha esperançosa em mim apenas sorriu naquele
dia.
Ela sorriu, sorriu, sorriu e sorriu.
Meus leitores… Há muito que está envolvido em escrever um livro,
uma história. Tantas pessoas que ajudam a torná-la possível para eu
alcançar tantos de vocês. Não tenho certeza se Adam e Lucy receberão
a mesma atenção que Olive e Jason receberam, mas posso dizer
sinceramente que acho que eles merecem e muito mais. Eu me diverti
muito escrevendo esses personagens e me apaixonei ainda mais por
Lucy. O coração dela foi machucado antes, mas, apesar de ser uma
personagem muito forte, ela merece todo o amor. Então, se você está
lendo isso agora, se gostou da história de Adam e Lucy, obrigada,
obrigada do fundo do meu coração. Seu apoio significa o mundo para
mim.
Obrigada a todos os maravilhosos blogueiros por darem uma chance
a mim e às minhas histórias. Muitos de vocês leram e amaram a
história de Jason e Olive e agora (espero) a de Lucy e Adam. Não faço
ideia de como mostrar como sou grata. Todas as belas críticas,
compartilhamentos, comentários, mensagens… tudo isso ― muito
obrigada.
Jasmine… Você é tudo. Eu acho que isso resume o que sinto.
Obrigada por me aguentar. Obrigada por não gritar comigo para ir
embora quando eu a incomodei sem parar. Obrigada por chutar minha
bunda quando eu precisava. Obrigada por colocar os maiores sorrisos
no meu rosto. Obrigada por receber minhas histórias e me ajudar a
suavizar tudo. Como eu disse, você é tudo, e nada do que eu disser
será suficiente. Você é incrível e tenho sorte de chamá-la de amiga.
Não seria possível sem você.
Caitlin… Devo ser sua pior autora de todos os tempos. Um dia, eu
vou conseguir entregar meu manuscrito para você a tempo. Prometo!
Muito obrigada por reservar um tempo para mim e transformar minhas
histórias em um livro. Você é uma editora incrível.
Erin Bailey… Obrigada por ler tudo o que escrevo, mesmo quando
você mal tem tempo para você e por estar sempre pronta para me
ajudar; seja para segurar minha mão quando estou enlouquecendo ou
para me animar.
Sanzana (aqueles áudios!), Natasha G., Suzette, Rita, Samantha,
Natasha M., Laura Gladden H., Amy ― se me esqueci de alguém, me
desculpem ―, obrigada a todas por lerem o ARC antes do lançamento.
Não sei dizer como fiquei feliz em ouvir seus comentários enquanto
você lia.
Erin Spencer… (Southern Belle Promotions), muito obrigada por me
ajudar a conseguir tudo. Amo você.
Kelley… (A RP incrível), muito obrigada por tudo que você faz por
mim. E por me acalmar num dia de lançamento. Mal posso esperar
para atualizar as coisas com você para Adam e Lucy. Vamos torcer
para eles se saírem bem.
Entre em nosso site e viaje no nosso mundo literário.
Lá você vai encontrar todos os nossos
títulos, autores, lançamentos e novidades.
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