To Hate Adam Connor - (Edicao em - Ella Maise PDF

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Copyright © 2016 To Hate Adam Connor by Ella Maise.

Direitos autorais de tradução© 2019 Editora Charme.


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breves citações consubstanciadas em resenhas críticas e outros usos não
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permitido pela lei de direitos autorais.
Este livro é um trabalho de ficção.
Todos os nomes, personagens, locais e incidentes são produtos da
imaginação da autora.
Qualquer semelhança com pessoas reais, coisas, vivas ou mortas, locais ou
eventos é mera coincidência.
1ª Impressão 2020
Produção Editorial - Editora Charme Adaptação da capa e Produção Gráfica -
Verônica Góes Tradução - Carolina Caires Coelho Adaptação e Preparação -
Monique D’Orazio Revisão - Equipe Charme Imagem - iStockphoto Esta obra
foi negociada por Bookcase Literary Agency.
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA POR
Bibliotecária: Priscila Gomes Cruz CRB-8/8207
M231t Maise, Ella
To Hate Adam Connor / Ella Maise; Tradutor: Carolina Caires Coelho;
Adaptação: Monique D’Orazio; Adaptação da capa e Produção Gráfica:
Verônica Góes – Campinas, SP: Editora Charme, 2020.
368 p. il.
Título Original: To Hate Adam Connor ISBN: 978-65-5056-005-8

1. Ficção norte-americana, 2. Romance Estrangeiro -


I. Maise, Ella. II. Coelho, Carolina Caires. III D’Orazio, Monique.
VI. Góes, Verônica . VI. Título.
CDD - 813
Este livro é para todo mundo que, em algum momento da vida,
teve problema em acreditar que valia a pena o esforço.
Eu acredito no amor. Do fundo do meu coração.
É sério, não balance a cabeça desse jeito. Eu acredito, sim.
Consigo imaginar as pessoas que me conhecem dando risadinha.
Pois bem, não façam isso.
Não tem a menor necessidade e, sinceramente, é meio grosseiro,
não acham?
Vou dizer de novo: acredito de verdade no amor. Sei tudo sobre sua
magia. O lado bom e o ruim. Sei que o mundo parece maior quando
estamos embriagados de amor. Sei que ele cura corações partidos,
deixa a pessoa delirante de tão feliz, animada, esperançosa…
assustada, com medo… uma lista enorme de coisas que transformam
este mundo complicado em que vivemos em um lugar melhor.
Por exemplo, minha melhor amiga Olive. Ela ama o marido desde
quando era criancinha. Ela até pediu o Jason em casamento quando
tinha sete anos. Ela tinha sete anos, gente… sete! Não é a coisa mais
fofa que você já ouviu? Então, quando eles se encontraram, anos
depois, ele, como estrela de cinema, roubou o coração de Olive. O
amor funciona muito para ela, e cai bem nela também. Ela merece todo
o amor do mundo.
Eu? Em mim, o amor fica meio largo. Essencialmente, não me cai
muito bem.
Então… o que estou dizendo é que o amor pode fazer tudo e
qualquer coisa… desde que você não tenha uma maldição te
assombrando como eu. Ah, e você tem que estar disposta a deixar o
amor entrar na sua vida, abrir essa porta pesada que leva o coitado
para dentro do labirinto que é seu coração, por assim dizer.
Essa é a parte complicada, não é? Você tem que deixar o amor
entrar. Tem que se abrir, mostrar sua parte menos amável, os cantos
mais escuros e profundos da sua alma. É a única maneira de viver o
amor real. Todo mundo nos diz isso o mais cedo possível, pelo que
fiquei sabendo. Nossos ambientes são um comercial constante para o
amor. Divida-se com alguém, seja verdadeiro, seja honesto, e, se essa
pessoa te amar por quem você é, então você tem valor.
Aproveite a chuva de confetes que jogaram no seu rosto.
Você encontrou o amor verdadeiro. Que bom para você.
Ruim para o resto de nós.
Mas… eu deixo o amor entrar? Não. Eu me esforço ao máximo para
não deixar acontecer, obrigada. Já passei por isso, sei como é. Se você
está me perguntando qual é o meu problema, se eu realmente acredito
no amor… bem, se você está tão curiosa em relação a isso, meu
problema é que meu caro e velho amigo “amor” não me ama. Nunca
me amou. E provavelmente nunca vai amar.
Eu diria que é bem grosseiro da parte dele, mas… sempre fiz as
pazes com essa situação ― ou pelo menos pensava que tinha feito, até
acabar me apaixonando por Jameson.
Entra aí o bad boy gostoso cheio de tatuagens. Amor de faculdade.
Se você ainda não entendeu, tenho muitos problemas relacionados à
figura materna e paterna. E como se essas coisas não bastassem para
acabar com a minha vida, ainda por cima eu também tenho problemas
com a minha avó.
Blá, blá, blá…
Agora você deve estar pensando que sou chata, mas não podemos
aceitar isso.
Vamos falar, então, de noites de sexo casual. São divertidas, não? A
gente está se aproximando do amor, trocando sorrisos, nos sentindo
zonzos e animados com a expectativa de dar uma muito boa, aproveitar
a sensação de ter a pele do outro na sua, o hálito quente, o calor, a
alegria exacerbada que a gente sente por alguns segundos quando ele
consegue chegar àquele ponto gostoso ― se ele chegar a esse ponto.
São todas coisas incríveis, concordo. Sério, eu incentivo você a sentir
tudo isso, principalmente se ele tiver uns bons centímetros.
Não seja chata; flua como uma cachoeira, calma e feliz.
Ruja para a vida. Na vida.
Não se feche; seja livre como uma gota de chuva.
E o mais importante de tudo: viva.
Meu maior conselho para todos vocês é, independentemente do que
faça, não volte para aquele cara com quem você passou uma noite
espetacular de sexo há pouco apenas para satisfazer as necessidades
do seu corpo traíra, se estiver tentando se manter longe do amor, se
divertir, viver um pouco, amar alguém por uma noite e seguir em frente.
Porque, se você ficar voltando para o mesmo cara, ah, não sei… cerca
de cem vezes… em algum momento, o que vai acontecer é que você
vai começar a ter sentimentos por esse cara.
Olha só… eu tenho um coração, quem diria? Você não estava
contando com isso, não é? Então, você começa a se apaixonar, como
eu. Lentamente. No começo, pode ser que sinta uma pontada de algo
que não sabe o que é porque ele sabe usar aquele pauzão enorme que
tem (por acaso, isso se chama orgasmo, não amor). Ele vai te envolver
em muitos sentimentos quando estiver usando o pauzão com você. E
sim, ele vai ser bom, mesmo; os caras que arrasam corações
costumam ser bons na cama.
Mais motivos pelos quais você vai chorar quando ele se cansar de
você. Bom pra caramba, né?
Mas, com o passar do tempo, você, bobinha, vai começar a colocar
mais significado no baita orgasmo que vai alcançar sempre que ele
chegar perto de você com aquele pau enorme. E então, o sorriso dele
vai começar a deixar tudo complicado, ou talvez o modo como ele toca
seu rosto deixe tudo complicado, ou o modo como te olha enquanto
você tira a camiseta na frente dele ― pegando fogo e tal. Então,
aquelas palavras perversas dele entrarão no seu coração e no seu
cérebro. E talvez, quem sabe?, você comece a se sentir segura porque
ele de fato parece se importar com você. E, de alguma forma, antes
que você consiga se afastar… antes de sequer perceber o que seu
coração está fazendo pelas suas costas…
Pronto!
Você se apaixona.
Parabéns. E porra, vá se foder, querido coração!
Agora você pode se deliciar completamente com a tristeza que virá
em seguida.
Claro, não posso falar por todo mundo, mas pelo menos foi o que
aconteceu entre mim e Jameson, meu primeiro e único amor de
faculdade, então você pode julgá-lo por essa melação.
Fazia exatamente seis dias e vinte e uma horas que ele tinha
deixado Los Angeles e se mudado para Pittsburgh, pois ia começar
num emprego idiota em uma empresa nova e idiota, me deixando para
trás, um pouco arrasada, e desabrigada, essencialmente.
Se você está querendo entender como eu consegui me apaixonar
por esse tal de Jameson, que arrasou meu coração… preciso voltar um
pouco. Conheci Jameson em um grupo de estudos da aula de
Economia. Ao contrário da crença popular, eu não corria para a cama
com alguém que tinha acabado de conhecer ― e não foi o que fiz. No
começo, só aproveitei a vista e decidi ficar babando por ele… porque
isso é sempre bem divertido, né? Ah, a ansiedade, os olhares furtivos,
todos aqueles lances bonitinhos. Então, algumas semanas depois, nós
simplesmente caímos em uma cama que ficava ali perto. E foi simples
assim, eu juro.
Totalmente por acaso, pode acreditar.
Eu me lembro de ter visto umas tatuagens no peito e nos antebraços
dele, e então, ele se virou e eu vi a bunda durinha. De repente,
estávamos na cama, e ele estava proporcionando a mim e à minha
querida vagina o melhor momento da minha vida. Já contei como é bom
transar com caras de pauzão, né? Eu não teria reclamado se ele fosse
um pouco mais grosso, mas beleza… acho que não se pode ter tudo.
Então, eu quis repetir. Lembro de ter dito para mim mesma: Só mais
uma vez, Lucy, e acabou. Eu sinceramente acreditava que seria um
crime não viver aquela excitação de novo, e não sou criminosa. O que
poderia dar errado, não é…?
E aí, acabamos com algumas noites de sexo casual por semana.
Então, teoricamente, ele não foi um lance de uma noite e nada mais,
mas eu ainda gostaria de dizer que sim, ele foi só isso. Ele também
provou ser osso duro de roer quando começou a adormecer na minha
cama antes de o meu cérebro recomeçar a funcionar direito o suficiente
para que eu me lembrasse por que precisava mandar ele ir embora.
Mas o engraçado é que foi assim que acabei indo dormir nos peitos
da minha melhor amiga Olive. Dormir e se aconchegar com o cara com
quem você divide uma noite de sexo casual é um grande erro. A melhor
parte: os peitos de Olive eram simplesmente o melhor travesseiro do
mundo inteiro! Pode acreditar. Tão macios, mas tão firmes. Eram
mágicos, basicamente, mas isso é história para outra hora.
Resumo da ópera: eu estava me apaixonando pelo Jameson. Pensei
que talvez fosse a hora de eu dar uma chance ao velho amor para ver
se eu ainda andava amaldiçoada ou não. É verdade, eu não estava
esperando um felizes para sempre na primeira tentativa,
necessariamente, porque a vida real raramente é cheia de unicórnios
voadores peidando arco-íris nas nuvens, mas, caramba, eu também
não pensei que seria só um lance fugaz. Eu só estava colocando a
ponta dos dedos na água, não estava tentando me eletrocutar.
Então, sim, ainda estava amaldiçoada.
Nada de amor para esta mulher. Eba… acho.
— Oi? Lucy? Ah, você está aí. Tem algum motivo pra você estar
falando sozinha? — Olive perguntou quando apareceu no fim do
corredor, onde eu estava largando um saco de lixo cheio de roupas do
Jameson.
Eu me endireitei e suspirei quando a vi. A calça de yoga e a camiseta
branca folgada que ela estava usando eram praticamente seu uniforme
quando ela não queria pensar no que vestir. E, folgada ou não, seus
peitos ainda assim ficavam bonitos. Os cabelos loiros estavam presos
em um coque despenteado no topo da cabeça e pareciam não ser
lavados há muitos dias. Eu achava que ela tinha saído direto do local
onde escrevia.
— Não tem motivo. Só estou me divertindo — respondi, limpando o
suor invisível da testa com as costas da mão. — O que você está
fazendo tão cedo aqui? Pensei que viria mais tarde. E tem motivo para
parecer que não toma banho há uma semana?
Ela estava vasculhando os sacos de lixo que eu tinha encostado na
parede, dentro dos quais estavam as roupas que Jameson havia
decidido doar. Ao ouvir minha pergunta, Olive levantou a cabeça e abriu
um sorrisão.
— Não uma semana, mas talvez dois dias? Tenho que escrever só
mais alguns capítulos da história até chegar ao fim, oficialmente. — Ela
deu de ombros e voltou a mexer nos sacos, e só Deus sabia o que ela
estava procurando. — E, de qualquer modo, quem tem tempo pra tomar
banho?
Não era uma pergunta, mas eu respondi mesmo assim ― baixinho,
claro: — As pessoas que gostam de ficar limpas e não fedorentas como
você, talvez?
— E, respondendo à sua pergunta ingrata — ela continuou —,
cheguei cedo porque sou a melhor amiga que alguém poderia ter. Por
que temos que mexer nas roupas dele? Por que o safado não as levou?
— Nós não vamos mexer nas roupas dele, quem vai mexer é você.
Eu já mexi. Vou deixá-las do lado de fora. Jameson enviou uma
mensagem para dizer que o amigo dele vem cuidar disso. Pra mim
tanto faz.
— Também poderíamos queimá-las para passar uma mensagem
clara. — Ela empurrou um dos sacos na direção da porta e levantou
minha bolsa amarelo neon pequena, de fim de semana.
— E que mensagem seria, exatamente?
— Não sei… para mostrar que somos uma frente unida contra ele? E
seria terapêutico pra você também.
— Certo. O que acha de nos concentrarmos em me tirar daqui o
mais rápido possível, então?
Ela deu de ombros e pegou a bolsa que eu estendia para ela.
— Olha, tenho certeza de que o Jason teria dito algo se eu cheirasse
mal. E olha quem está falando: você tem cara de morte requentada.
Seus belos olhos azuis estão praticamente mortos. Até seus cabelos
escuros parecem… mais escuros.
Levei as mãos ao coração e pisquei, ofendida.
— Aaah, obrigada, minha Olive. Você também está linda, com os
cabelos oleosos e os olhos sonolentos. Juntos, tudo isso faz maravilhas
para sua pele.
Com um sorrisinho, ela balançou a cabeça e levou os sacos até seu
carro. Abri a porta do banheiro e conferi o armário de remédios para ter
certeza de que não tinha deixado nada para trás. Então, só pra garantir,
conferi o quarto de novo. Quando eu tive certeza de que tudo estava
empacotado e pronto, levei minha última mala para a sala de estar,
onde Olive estava à minha espera, com uma garrafa cheia de tequila.
— Comprei isto — ela disse, usando as mãos para me mostrar a
garrafa, como se aquela belezinha precisasse de mais apresentações.
Dei uns passos para chegar ao lado dela, arranquei a garrafa de
suas mãos, ignorei o fato de ela ter se assustado e sentei com tudo no
sofá cor de cocô, como eu gostava de dizer. Enquanto eu me ocupava
tentando abrir a garrafa, Olive se sentou ao meu lado. Tomei um gole e
fiz uma careta quando o líquido desceu queimando minha garganta. Em
seguida, devolvi a garrafa para ela, que esperava.
Olive era minha amiga há três anos e meio, e eu duvidava que
alguém me conhecesse melhor do que ela.
Ela era escritora ― uma escritora de muito sucesso que tinha ido
para a lista de mais vendidos com seu primeiro romance. Minha parte
preferida era o fato de ela ser a esposa sortuda do ator mais gato de
Hollywood, que era seu amor de infância. Seria de se pensar que esse
tipo de coisa só acontecesse nos livros, mas não; aconteceu de
verdade com ela. Ela conquistou o cara mais gostoso. Eu gostava de
pensar que tinha dado um incentivo para que ela seguisse na direção
certa, para que fosse atrás do que queria, mas a química dela com o
cara era coisa de outro mundo, por isso eu sabia que, com ou sem
minha influência, eles teriam acabado juntos. E, bem, apesar de ser
uma celebridade, Jason Thorn também era um dos bons. Era
completamente apaixonado por Olive ― caso contrário, eu teria
planejado uma maneira de atacá-lo para tirar as patas dele de cima da
minha melhor amiga.
— E então… — Olive começou a falar depois de tomar um gole de
tequila e tossir algumas vezes. — Qual era o tema da conversa que
você estava tendo consigo mesma quando entrei?
Tomei mais um gole, um grande. E definitivamente desceu mais fácil.
— Na verdade, eu estava pensando sobre seus belos peitos e em
como você é muito egoísta com essas belezinhas.
Ela ergueu uma sobrancelha para mim e puxou as pernas para cima
do assento, querendo ficar mais à vontade.
— Quem disse que sou egoísta? Eu os compartilho muito com meu
marido.
Abri um sorriso para ela.
— Está pronta para compartilhar como, exatamente? Quero
detalhes. Tipo, qual é a posição preferida dele? De quatro? Ele cuida
dos seus peitos? Ele é cuidadoso com eles? — Eu sabia que ela não
contaria, porque eu já tinha tentado; não entendia por que, e isso nunca
me impediu de tentar conseguir respostas. Além disso, era divertido
observá-la incomodada. Era isso que os amigos ganhavam por darem
detalhes importantes como aquele.
— Desculpa, não vai rolar.
Eu me esforcei para olhar para ela com cara de má e ofereci um
pouco de álcool, mas ela recusou, o que foi bom por dois motivos.
Primeiro, porque sobrava mais ― eba! ― e, segundo, bem, porque ela
perdia as estribeiras quando ficava bêbada.
— Não quero dar uma de amiga mal-agradecida, mas achei que
você tinha dito que viria às duas da tarde, não às dez da manhã. E você
chegou com presentes também. Está sendo legal comigo porque sou
uma coitada?
Ela olhou para mim com cara de quem não tinha entendido nada.
— Coitada? Coitada por quê?
— Por causa do amor, claro — respondi, falando como se estivesse
abismada. — Fui usada e abusada, mas não no bom sentido.
Ela revirou os olhos e focou no telefone, que vibrava dentro da bolsa.
Conferiu a tela e suspirou: — Desculpa, minha coitadinha, preciso
atender essa ligação. Estou agendando reuniões com possíveis
agentes.
— Pode fazer isso, eu vou continuar aqui bebendo tequila.
Assim que ela saiu da sala, fechei os olhos e encostei a cabeça no
sofá.
Então, Jameson tinha partido. Eu não estava mais em um
relacionamento. Mas e daí, né? Para começo de conversa, eu nunca
pretendi ter um relacionamento. Deveria estar feliz. Deveria me sentir
melhor sabendo que estava certa por achar que existia uma maldição
na nossa família.
Se eu sentia algo parecido com felicidade naquele momento? Nem
de longe. Mas eu sabia que iria sobreviver, por isso não havia motivo
para agir como se a vida tivesse terminado. Graças à minha família, eu
tinha passado por coisas piores. Jameson era um santo comparado
com eles.
Quando Olive voltou, tentei desviar o olhar para que ela não pudesse
ver meus olhos marejados.
Ah, pare. Eu não estava chorando baixinho por nada, só era alérgica
ao bendito apartamento.
— O que acha de sairmos daqui? — Olive perguntou, sussurrando.
Aparentemente, eu não tinha desviado o olhar depressa o suficiente.
Sequei uma única lágrima e tomei o último gole da garrafa. Por mais
que eu quisesse encher a cara com minha melhor amiga,
possivelmente iniciar um incêndio e fazer bonecas de vodu bem
dotadas, eu não podia. A vida adulta é um saco.
— Sim. Deveríamos fazer isso — concordei.
Olive esticou o braço para pegar a garrafa que eu segurava, e eu,
logicamente, relutei antes de deixar que ela a pegasse.
— Vou cuidar disso, e continuamos depois.
— Promete?
— Prometo. — Ela estreitou os olhos para mim. — Olha, quer saber?
Até deixo você se aconchegar em mim.
Eu me animei e ergui as sobrancelhas para ela.
— E enquanto eu me aconchego em você, você vai se aconchegar
no seu lindo marido? — Eu me endireitei. — Olive Thorn, você está me
oferecendo uma sessão de chamego a três porque estou sofrendo por
amor? Se for isso, estou totalmente a fim.
— Não, sua pervertida, o Jason tem gravação hoje. Vou fazer
carinho até você dormir. Depois, vou sair do seu quarto na ponta dos
pés e dormir com meu lindo marido.
— Ah, agora você está girando a faca que já está fincada no meu
coração.
— Ótimo, porque ainda estou brava com você, sabia?
Fiz cara de triste.
— Comigo? O que eu fiz? Sou a coitada aqui.
— E eu sou sua amiga. Você esperou seis dias para me contar o que
aquele idiota fez. Você desrespeitou meus direitos de amiga.
— Ah, pare com isso. Você não pode ficar brava por esse motivo. Só
não queria que você ficasse triste comigo. Eu me dei uma semana para
chorar até cansar, e foi o que fiz. Não demorou nem uma semana.
Agora acabou. Chega. Já foi. Esta noite vamos comemorar a solteirice.
Guardei pra você a melhor parte: as comemorações. Vamos fazer uma
festa do Tinder e passar todo mundo para a direita. Na minha opinião,
sou uma baita amiga.
Ela me estendeu a mão e me puxou para me levantar.
— Não. Você roubou meu direito, simples assim. Não pude chorar
com você nem xingar o Jameson por ter te deixado. Agora, como vou
fazer a transição da tristeza para a raiva e ir direto para a
comemoração? Ainda estou brava. E estou triste também, porque
minhas emoções estão todas bagunçadas. Enchi a cabeça do Jason
durante toda a noite depois que você me ligou. Ele concorda totalmente
comigo. Você violou meus direitos, sim, senhora.
Inclinei a cabeça e dei um tapinha em seu braço.
— Ah, você me ama. Eu te abraçaria, Olive, minha linda, mas seu
cheiro de perto fica pior ainda.
Ela me empurrou com força. Rindo, caí sentada no sofá.
— Não precisa ser uma cachoeira nervosa, Olive. Seja um lago.
Como eu. Veja como estou calma. Ótimo — acrescentei quando ela
permaneceu à minha frente erguendo uma sobrancelha. — Se fizer
você se sentir melhor, provavelmente vou chorar um pouco mais hoje à
noite, por isso você ainda tem a chance de ficar mal comigo.
— Agora estamos falando a mesma língua. Obrigada. Nem pense
em chorar no começo das comemorações, tá?
Balançando a cabeça, sem acreditar, eu me levantei quando
começamos uma discussão lógica a respeito do tempo que eu deveria
passar chorando antes de dar início às comemorações.
Depois que Olive me ajudou a levar a última mala para o carro, eu a
deixei com as sacolas e subi para dar uma última olhada, e foi assim
que me vi sozinha na sala de estar, só observando. Lembrando.
Quando Jameson sofreu o acidente de moto alguns meses atrás,
Olive e eu corremos para ficar com ele no hospital. Aquela foi a primeira
vez que admiti que o amava.
Quando ficou óbvio que ele não conseguiria cuidar de si com todos
aqueles ossos quebrados, perguntei se ele queria que eu me mudasse
para a casa dele para poder ajudá-lo. Quando ele abriu aquele sorriso
sexy e confiante ― aquele que incentiva nosso cérebro a fazer coisas
idiotas ― e disse ter pensado que eu nunca perguntaria, fiquei aliviada
por dois motivos.
Primeiro, porque eu nem teria que surrá-lo até ele notar que
precisaria de mim enquanto ainda estivesse em uma cama de hospital.
Porque, francamente, isso não pegaria bem para mim, e, sim, eu
gostava da cara dele um pouco demais para estragá-la. Segundo, eu
poderia sair de um apartamento que estava dividindo com duas
pessoas bem idiotas ― ex-amigos idiotas, para falar a verdade, tanto
para Olive quanto para mim.
Por causa da mudança repentina, eu não tinha levado muitas coisas.
Não tinha muitas coisas, de qualquer modo, e, aos 22 anos, beirando
os 23, ter só algumas malas cheias de coisas era meio deprimente.
Pensando bem, notei que agora eu era a orgulhosa dona de novas
lembranças. Lembranças que não desapareceriam do nada.
Lembranças que eu gostaria que não fossem minhas, porque nenhuma
delas, nenhum dos “eu te amo” ditos pelo Jameson, me aqueceria à
noite.
Não. Aquelas lembranças tomariam minha mente e me fariam
lembrar do que eu nunca teria na vida. Porque, sim, isso mesmo… a
porra da maldição.
— Cara, essas escadas estão me deixando destruída. Já acabamos?
— Olive perguntou quando se posicionou ao meu lado.
— Parece que sim — respondi, secando as mãos suadas na legging.
— Está pronta para sair daqui?
— Não era pra eu te perguntar isso?
— Não sei. Será?
Ela me olhou por alguns segundos, provavelmente tentando
entender se eu estava zombando dela.
— Que nada — ela disse, por fim, entrelaçando o braço no meu. —
Não precisa perguntar. Você está pronta para fechar essa porta. Isso já
é história velha, não é?
Respirei fundo e encostei a cabeça no ombro de Olive.
— Gostaria de ter a mesma certeza que você tem, minha Olive
querida.
— Está querendo me dizer que Jameson ainda não é passado? —
Ela começou a falar com mais jeitinho: — Tudo bem se ele não for,
Lucy, você sabe disso, não sabe?
— Ah, o imbecil que arrasou meu coração é passado, com certeza,
mas não tenho certeza de que nossas lembranças e de que todos os
“eu te amo” que ele sussurrou pra mim aqui dentro são passado. E não
é assim que as coisas são? A gente esquece o cara muito antes de
esquecer as lembranças.
Ela apoiou a cabeça na minha e perguntou: — Tem certeza de que
você está bem, Lucy? Adoro saber que você vem morar com a gente…
— Temporariamente — digo, mas ela meio que me ignora.
— … porque eu odiaria que saísse da cidade, e o que mais você
faria? Jameson foi o primeiro cara que, em quatro anos, conseguiu abrir
um buraco nesses muros que você ergueu para proteger seu coração.
Sei que o amava. Eu via.
— Eu o amava, sim — concordei depois de um momento de silêncio.
Eu já tinha feito a mesma pergunta para mim mesma diversas vezes
depois da partida dele. — Mas eu já te disse, ele não me chamou para
ir com ele, Olive. Ele nunca se sentou comigo e me explicou seus
planos, nunca perguntou quais eram os meus. Só me informou que
tinha recebido uma proposta de emprego e que tinha que ir embora. Ah,
e acrescentou que sentiria muito a minha falta. E só. Foi tudo o que ele
fez. Não vou sair correndo atrás de alguém que não me quer por perto.
— Você teria ido com ele, se ele tivesse pedido?
— Nunca saberemos disso, não é? É uma merda, sabe, foi tudo
muito civilizado. Nem sequer pude jogar um vaso na cabeça dele nem
nada assim. Não tive a chance de fazer sexo selvagem com ele para
fazer as pazes. Eu me sinto roubada por não ter tido isso. Ele
simplesmente me comunicou dos planos dele e disse que o aluguel do
apartamento venceria no fim do mês. Foi tudo muito… nem sei o que
foi. A única coisa que sei é que ele nunca me chamou para ir com ele, e
nem se eu aceitaria ir. Eu não estava nos planos dele, por isso quero
que ele se foda. Não é porque o cara me fazia gozar gostoso que eu
imploraria para ele, pode ter certeza. — Eu me endireitei e virei para
voltar à sala de estar. — Sim, ele que se foda, ele e tudo sobre ele. Vou
ficar com vocês até encontrar um emprego, depois vou parar de te
perturbar.
— Você vai ligar para a sua avó…
— Ela é a última pessoa para quem pretendo ligar. Terminei um
namoro; acontece todo dia. Eu preferiria ligar para o Jameson a ligar
para Catherine. Não sou louca.
Ela olhou para mim com cara feia e abriu a boca para dizer alguma
coisa, mas agarrei seu braço e a levei em direção à porta.
— Está terminado, Olive. Claro que Jameson não era a pessoa certa
para mim. Nem todo mundo tem um final feliz, o que está ótimo
também. Estou totalmente à vontade com isso. Agora, será que
podemos continuar essa conversa desnecessária na sua casa? De
preferência quando eu estiver com mais álcool no sangue?
Ela riu, mas saiu do apartamento sem que eu precisasse empurrá-la
até o carro. Peguei a chave enquanto saíamos e dei uma última olhada
ao redor.
— Só para você saber — falei para Olive, que estava de pé atrás de
mim, provavelmente para que pudesse me pegar se eu decidisse me
jogar no chão arrancando meus olhos. Acho que ela estava ansiosa
para se sentir péssima comigo. — Nunca mais vou dizer “eu te amo”
para nenhum cara. Pode escrever o que estou dizendo. Assim que
dizemos “eu te amo”, a coisa desmorona. Estou de saco cheio disso.
Não me importa se ele for um deus na cama, nem se tiver um pauzão
de trinta centímetros. Chega de falar “eu te amo”.
Ela conteve uma risada, então olhei para trás.
— Um pauzão de trinta centímetros? Caramba, Lucy.
Abri um sorriso malicioso para ela.
— Nada de “caramba”, é uma coisa que vou aproveitar, se acontecer,
mas nem um cara com um pau de trinta centímetros vai me ouvir dizer
“eu te amo”. Posso me declarar para o pau dele, não para ele. Se um
dia cometer esse erro, pode me beliscar ou virar um balde de água fria
na minha cabeça, qualquer coisa que me faça acordar.
Tranquei a porta, olhei para Olive e esperei sua resposta.
— Tudo bem. — Ela suspirou e me afastou da porta. — Vou te
machucar, se acontecer.
— Ótimo. Agora que isso está resolvido, você pensou no que eu
disse antes?
— A respeito do quê?
— A respeito de você e seu marido me adotarem. Olha… passei um
tempo pensando nisso, e acho que pode ser bom para todos os
envolvidos.
— É mesmo? Por favor, me conte sobre esses benefícios.
— Primeiro benefício: você sabe como eu babo quando vejo seu
marido sem camisa no cinema? Então, vou parar de encarar quando
ele aparecer sem camisa no cinema.
— Um bom começo, eu diria. Conta mais.
— Segundo benefício: você vai ter que me aconchegar com mais
frequência, porque, olha, vou ser sua filha. Você vai ter que demonstrar
amor me aconchegando.
— Interessante. Alguém além de você se beneficia com essa
adoção? Porque você acabou de dizer…
— Ah, ainda não pensei tão à frente assim. Meu Deus, Olive. Sou
uma coitada, lembra?
— Certo…

Há dois meses, demos a triste notícia do fim do casamento de Adam


Connor (28) e Adeline Connor (26), e não foi à toa que isso chocou
todos do meio. Na verdade, algumas pessoas pensaram se tratar de
uma mentirinha para promover o último filme de Adeline, mas,
infelizmente, hoje recebemos a notícia de que o casal assinou a
papelada do divórcio para pôr fim à história de amor de quase seis
anos.
Depois de todas essas semanas, ainda não sabemos o que
aconteceu entre os astros. Fontes próximas do casal divergem a
respeito do que pode ter levado ao fim da relação, mas até agora não
pudemos confirmar nada. Só há uma coisa com a qual todos
concordam: não houve traição. Nesse aspecto, ao longo do casamento
de curta duração, nem Adeline nem Adam foram flagrados com outra
pessoa pelo bando de paparazzi que sempre os segue por aí.
Para quem não se lembra, o casal apaixonado se casou depois de
namorar por mais de um ano. Adeline Young tinha só 21 anos quando
disse “sim” e se casou com o galã em uma cerimônia discreta em Paris,
com a presença de somente alguns familiares, e apenas sete meses
depois, ela deu à luz seu filho, que agora tem cinco anos, Aiden. Como
todos sabem, Adam Connor é filho de Helena Connor e Nathan Connor,
o lendário casal de Hollywood. Apesar de a filha deles, Victoria Connor,
não ter seguido os passos dos pais tornando-se atriz, Adam Connor
está no mundo da interpretação desde os 14 anos e seu primeiro filme,
O Veneno de Família, foi um sucesso de bilheteria.
Apesar de todo o drama que devem estar vivendo, Adam prefere se
calar quando perguntam a respeito de seu casamento. No entanto, uma
fonte nos disse: “Depois de passar meses amargando o término,
Adeline finalmente está pronta para seguir em frente. Para isso, ela
está se preparando para uma coletiva de imprensa na qual responderá
a todas as perguntas da mídia a respeito de seu casamento com Adam
e por que ele chegou ao fim”.
Por outro lado, quando tentamos falar com os representantes de
Adam Connor, não recebemos resposta sobre nada relacionado ao
casamento dele com Adeline. Só conseguimos obter a informação, com
o amigo de longa data e agente de Adam, de que o ator quis se
concentrar no filho do casal, Aiden, durante e depois do divórcio. O
casal tem guarda compartilhada do filho, mas pelo que temos ouvido a
respeito disso, não sabemos ao certo se essa situação se manterá por
muito tempo.
Quem quer a guarda exclusiva e por quê? Esta parece ser a
pergunta mais importante. Se o casal realmente terminou o casamento
numa boa, por que se preparariam para brigar pela guarda do único
filho?
Algo bom nisso tudo é que acabamos de confirmar que Adam
Connor recentemente comprou a propriedade vizinha à do nosso casal
recém-casado preferido, Jason e Olive Thorn. O galã taciturno foi
fotografado ontem deixando a nova residência com seu filho.
Se você tiver um bom dinheiro guardado, sugerimos que procure
comprar uma casa, um abrigo, qualquer coisa que puder em Bel Air.
Dois dos mais gatos astros de Hollywood morando lado a lado com
apenas um muro separando-os? Certo, um deles pode não estar mais
disponível, mas Adam Connor está livre para voar, garotas. Vocês não
dariam todas as suas economias para serem vizinhas dele? Nós
certamente faríamos isso!
— Shhh, silêncio — sussurrei depressa.
— Shhh, você! Não fiz nada.
— Eu não disse que você fez alguma coisa. Eu pedi silêncio. Você
vai estragar tudo antes de conseguirmos ver alguma coisa — sibilei
para Olive.
Ela resmungou, provavelmente irritada comigo, mas ficou quieta
enquanto levávamos a enorme escada em direção ao muro de pedra da
propriedade deles.
Muitas horas haviam se passado desde que tínhamos deixado o
apartamento de Jameson, e que eu tinha oficialmente me mudado para
a sala de visita da minha amiga. Como prometido, já tínhamos
comemorado a mudança e o rompimento com muitas doses de tequila
e várias margaritas cada. Talvez também já tivéssemos usado a sala de
projeção como nosso karaokê e assassinado umas músicas pelo
caminho, mas atribuímos a péssima performance ao tempo ruim porque
normalmente arrasávamos cantando todas as canções.
Enquanto estávamos deitadas olhando para o teto, Olive recebeu
uma mensagem de texto de Jason dizendo que se atrasaria para a
nossa fossa, e foi exatamente quando me lembrei de que não era uma
boa ideia deixar Olive beber mais do que quatro doses de tequila.
Depois que a consolei, já que ela estava chorando porque Jason se
atrasaria, ela decidiu que seria ótimo pegar a escada que tínhamos
visto os jardineiros usarem mais cedo e conferir o lado do muro de
Adam Connor ― o astro bonitão de cinema que tinha se mudado para
lá alguns meses antes. Como eu poderia dizer “não” a um plano tão
bom? Nosso plano não incluía espiá-lo nem nada assim. Bom, claro
que não éramos de perseguir, só queríamos ver como era a casa dele,
sabe? Afinal, casas são muito importantes. É sempre uma conquista na
vida ter um teto sobre a cabeça da gente.
E se por pura sorte o víssemos andando meio pelado pela casa ―
ou, quem sabe?, totalmente pelado ―, bom, não seria nossa culpa
estarmos olhando, né? A culpa seria única e exclusivamente dele.
Então, esse foi o motivo de termos ido parar no quintal de Olive,
levando aquela maldita escada.
— E se ele estiver pelado, Lucy? O que a gente vai fazer?
— Hum… ver se ele está nu por vontade própria? É praticamente
atentado ao pudor, mas não vamos chamar a polícia, eu acho.
— Está falando sério?
— Claro que não! Cuidado por onde anda, tem uma árvore atrás de
você.
Depois de me olhar de cara feia, ela olhou para trás e quase bateu
no tronco da árvore.
— Ah, valeu.
Sorri e balancei a cabeça. Jason se surpreenderia muito quando
encontrasse a esposa caindo de bêbada.
Quando já estávamos bem perto, lentamente abaixei a ponta da
escada que eu estava segurando.
— Não solte, tá? Precisamos apoiá-la no muro.
— Sei o que precisamos fazer, pare de me dar ordens. E, por favor,
pare de bater no meu arbusto!
— Meu Deus, Olive, estou sendo arranhada nesse arbusto idiota
aqui, e você não está nem um pouco preocupada com a possibilidade
de eu morrer de hemorragia.
— Não se preocupe, você não vai morrer por causa de uns
arranhões. Sem contar que isso tudo foi ideia sua. Vou ficar repetindo
isso quando o Jason chegar em casa e nos pegar aqui. — Ela
cantarolou a última frase enquanto eu fazia o melhor que podia para me
afastar do arbusto mortal.
— Ideia minha?
Resmungando, eu a ajudei a encostar aquela porcaria pesada no
muro. Quando ouvi um barulho alto de batida, fiz uma careta e caí
sentada no chão entre o arbusto e o muro de pedra.
— Merda — Olive sussurrou e abraçou a escada. — Você acha que
ele escutou?
— Quem?
— Adam Connor.
— Acho que a vizinhança toda escutou isso, mas vamos torcer para
Adam ter problemas auditivos.
— Então vamos, levante-se. Quero dar uma olhada. — Ela deu a
ordem enquanto pulava com uma perna só e depois com a outra e
tentava alcançar além do muro. — Vamos só dar uma olhadinha, tá?
— Tá, tá. Você já falou. E não vamos fazer disso uma rotina. Vamos
olhar só uma vez e pronto.
— Sim, e pronto, Lucy. Fico aliviada por você ter dito isso.
Aquele não era exatamente o muro mais alto que existia, o que era
uma pena para o muro, mas também algo esquisito, levando em conta
a obsessão que os ricos têm com segurança. Mas, pensando bem,
acho que quando dois astros de cinema, igualmente gostosos e bem-
sucedidos, se tornam vizinhos, um não tem motivos para desconfiar do
outro.
Rapidamente prendi meus cabelos, na altura dos ombros, em um
rabo de cavalo. Segurando a escada, eu me levantei do chão.
— Então, como faremos isso? — perguntei enquanto batia a poeira
da calça jeans. Os degraus eram bem largos, possivelmente largos o
bastante para acomodar nós duas, mas subirmos ao mesmo tempo
seria impossível, levando em conta que nós duas estávamos bêbadas.
Era possível que acabássemos mortas.
Quando olhei nos olhos verdes de Olive, ela deu de ombros e fez um
sinal para que eu fosse primeiro, então fui.
— Quando eu estiver lá em cima, você também pode ir. Você é mais
alta do que eu, por isso fique num degrau abaixo, tá? — Ela não
respondeu e só ficou pulando por ali, e eu fiz uma careta e sussurrei: —
O que você tem?
— Preciso fazer xixi, mas estou segurando. Vamos, vamos logo com
isso.
— Vou te lembrar que você disse isso se for preciso, e tente não
mijar em mim enquanto estiver aí.
Segurei os dois lados da escada e apoiei o pé enquanto Olive
colocava as mãos no meu traseiro para tentar me empurrar para cima.
— Não sou uma molenga.
— Do que você está falando, Olive?
— Vamos, vai mais rápido!
— Meu Deus! Tudo bem! — exclamei, olhando para ela. — Acalme-
se, mulher.
Quando minha cabeça ultrapassou a altura do muro, parei e olhei
para Olive, que já estava subindo.
— Vá um pouco para a esquerda — ela demandou, bufando, antes
de se segurar no meu tornozelo e se equilibrar.
— Tem certeza de que você está bem…
— Tenho certeza. Suba mais um degrau. Não consigo ver nada.
— Você está vendo quem é a mandona, né? — murmurei, subindo
mais um degrau para poder olhar por cima do muro. Apesar de as luzes
da casa estarem acesas, pelo que pude ver, não havia ninguém no
quintal. Ainda assim, eu quis fazer as coisas com segurança e não
parecer uma intrometida espionando por cima do muro para tentar olhar
dentro da casa.
— O que você está vendo? — Olive perguntou quando finalmente
conseguiu subir.
— Eu estou vendo um quintal vazio e o que parece ser uma casa
igualmente vazia. O que você está vendo?
— Acho que estou vendo a mesma coisa. Droga, não conte ao
Jason, mas eu só queria vê-lo uma vezinha, sabe? Claro que nós
ficamos babando quando vemos os filmes dele. — Ela balançou a
cabeça e se ergueu um pouco mais, tentando se equilibrar. — Faz
meses que ele se mudou para cá, mas nunca nos encontramos. Além
do mais, Jason não está colaborando muito em relação a isso. Eu já
pedi para ele me apresentar ao…
Lancei um olhar de reprovação para ela.
— Você pediu para ele nos apresentar, não é? Não só você.
— Nós, isso mesmo. É claro que eu disse nós. Quem ama,
compartilha. Ah! Lucy, olha!
Ela apoiou o queixo no muro, então fiz a mesma coisa para ver o que
ela estava vendo.
— O quê? Cadê ele? Não estou vendo.
— Não é ele — ela sussurrou desesperada.
— Quem você viu, então? Fala!
— Eu acho… espera, olha lá! Olhe para a janela atrás daquela planta
enorme à direita.
Estiquei ainda mais o pescoço, expondo meu rosto todo.
— Ah, é o filho dele?
— Deve ser. Own, ele é uma gracinha, Lucy. — Ela ficou toda
derretida ao meu lado, com a voz melosa.
— Ai, meu Deus, por favor, não comece a chorar de novo, não
enquanto estivermos correndo risco aqui.
— Eu te disse que não sou molenga. Não vou chorar.
Na quietude da noite, observamos o menininho apoiar as mãos na
janela e olhar para fora com o rostinho bem triste. Depois de alguns
segundos, ele se virou abruptamente e olhou para cima como se
conversasse com alguém. Por mais que tentássemos, não
conseguimos ver quem estava atrás dele.
— Não se encoste demais em mim — falei com urgência, quando o
ombro de Olive pressionou o meu numa tentativa de ver para quem o
menino estava olhando.
— Acho que é ele — ela gritou, ignorando meu aviso.
Enquanto eu fazia o melhor que podia para não cair da escada, a
pessoa misteriosa deu um passo à frente e se ajoelhou.
— É ele — sussurrei para Olive.
Observamos Adam Connor acariciar os cabelos loiro-escuros do filho
e erguer seu queixo com os nós dos dedos.
Eu estaria mentindo se dissesse que meu coração não começou a
bater mais forte. Afinal, o safado era bem bonito, e eu não tinha culpa
se meu coração era fraco. Não conseguíamos ver o rosto deles com
clareza, mas vimos os lábios de Adam se articulando, e então o filho se
jogando nos braços do pai, abraçando-o pelo pescoço.
— Parece que estamos fazendo algo ruim — falei quando o menino
repentinamente se afastou do pai e saiu correndo para fora do alcance
dos nossos olhos.
— Sim, nós estamos fazendo algo ruim, Lucy. O que vimos pareceu
ser um momento de intimidade. É melhor descermos.
— Sim, é melhor.
Apesar de concordarmos que não era legal ficarmos olhando,
nenhuma de nós se mexeu. Não conseguíamos.
Adam baixou a cabeça por um instante quando o filho saiu dali, e
então se levantou, aproximando-se da janela.
Olive e eu ficamos tensas, prontas para desaparecer se ele decidisse
sair, mas ele só ficou parado ali, com as mãos nos bolsos, o olhar
parado nas luzes fracas que vinham da piscina.
— Puta merda — Olive disse baixinho, e de repente eu me lembrei
que não estava sozinha.
Estremeci e olhei para minha amiga.
— O que foi?
Ela olhou para mim e depois para Adam Connor.
— Nada. — Ela balançou a cabeça. — Não podemos vê-lo, de
verdade, mas ele é bonito daqui. E… também parece estar triste. O
divórcio deve ter sido difícil para ele e para o menino.
— Li que os dois quiseram o divórcio. Você acha que ele ainda a
ama?
— Depois de tudo o que escreveram sobre Jason e mim, você já
deveria saber que não se deve acreditar no que lê na internet. Eles têm
um filho juntos; nunca é simples quando tem criança envolvida. Tenho
certeza de que não sabemos o que está acontecendo na vida deles.
— Verdade. Nesse caso, eu poderia oferecer meu ombro amigo pra
ele. — Parei para pensar nessa declaração por um segundo. — Ou,
melhor ainda, meus peitos amigos. — Olive se virou para mim de
repente. — Não faça essa cara. É só para ele poder chorar, sabe?
Meus adoráveis peitos não são tão confortáveis quanto os seus, mas
ainda assim uso sutiã 44, e eu seria bem delicada com ele. Faria
carinho na cabeça dele, acomodaria ele na cama, talvez o aquecesse
se ele sentisse frio depois de chorar. Compartilhar calor corporal é um
processo muito importante. Poderíamos nos aconchegar embaixo das
cobertas… brincar de esconder o pepino para deixá-lo animado.
— Pensei que você tivesse dito que não queria mais saber de
homens.
— Falei que não vou mais me apaixonar, e mesmo que me apaixone,
com certeza não vou contar isso a eles. Não falei que nunca mais vou
me jogar em cima de certas partes do corpo. Os homens têm muitas
utilidades que não exigem que eu esteja apaixonada. — Ignorando o
olhar de Olive, dei de ombros e continuei observando Adam. — Sabe
como é: para superar alguém, você precisa se submeter a outro
alguém. Podemos nos submeter um ao outro. Eu não sou nem um
pouco exigente.
— Tá, vamos descer daqui antes que você pule o muro para pegar o
coitado. Não estou gostando da sua cara.
— Que cara? — perguntei, lançando à minha melhor amiga um olhar
inocente e um sorriso meigo. — Sou um anjo.
Ela riu e deu um tapinha na minha cabeça.
— Está mais para diaba.
— Epa! Isso é ofensa.
Enquanto discutíamos, Adam Connor levou a mão à gravata para
afrouxá-la, o que fez com que eu dissesse um palavrão.
— O que foi? — perguntou Olive.
— Acho extremamente sexy quando um cara tira as roupas em
câmera lenta.
Em silêncio, observamos enquanto ele tirava o blazer e o jogava em
um lugar que não conseguimos ver direito.
— Está esquentando um pouco? — Olive murmurou.
— Shhh — sussurrei, totalmente concentrada para ver o que o
bonitão de quase 1,90m e ombros largos faria em seguida.
Quando ele começou a desabotoar a manga esquerda da camisa,
mantendo os olhos no horizonte com uma expressão indecifrável,
engoli em seco tentando fazer descer o nó na minha garganta.
Devagar, mas com destreza, ele começou a enrolá-la, expondo os
antebraços ― antebraços que eu teria feito qualquer coisa para ver de
perto. Então, começou a fazer a mesma coisa com a manga direita,
repetindo o processo enquanto Olive e eu observávamos tudo sem
dizer nada.
— Minha nossa — Olive finalmente sussurrou quando Adam
começou a massagear as têmporas com os dedos, a cabeça abaixada,
os braços musculosos ainda maiores sob nosso olhar.
— Acho que acabei de me molhar — admiti.
— Como assim… ai, meu Deus, Lucy! — ela gritou alto o suficiente
para acordar o bairro todo, depois começou a dar risada.
Evidentemente, explodir meus tímpanos não era suficiente, então ela
também me deu um tapa no braço, quase fazendo com que eu me
desequilibrasse.
— Ei! — gritei em resposta, rindo baixinho. Para não cair, eu me
segurei no muro.
— Minha nossa, te odeio! — ela disse entre os dentes quando se
acalmou o suficiente para conseguir falar. — Por que você disse aquilo?
Olhando para ela com cara de magoada, passei a mão onde ela me
bateu.
— Como assim? O cara quase tirou a camisa, afrouxou a gravata e
enrolou as mangas. Só acho que isso tudo foi sensual. Tem uma coisa
chamada fetiche por antebraços. Sabia, né? Além disso, não tenho
culpa se meu corpo reagiu ao cara.
— Você é impossível.
— Obrigada, eu tento me destacar. E relaxe, eu estava só brincando
com você. Se eu estivesse mais perto dele, talvez ficasse molhada,
mas não; a distância entre nós e o fato de eu não conseguir escutar a
respiração dele estragaram tudo. Mas ainda quero pular nele.
— A respiração dele? Você acha que conseguiria…
Escutamos um clique e o som de algo sendo deslizado. Olive parou
de falar e agarrou meu braço. Nós duas estávamos com aquela cara de
“deu merda”, se querem saber, e a carapuça servia muito bem.
— Dan? É você aí?
Olive guinchou e levou a mão à boca para abafar o som para que
não nos fodêssemos totalmente. O que nos salvava era o fato de o
nosso lado do muro estar totalmente escuro e, por isso, não havia como
Adam Connor nos ver. Fiz um gesto para que Olive baixasse a cabeça,
e ela obedeceu sem questionar.
— É melhor que você seja um guaxinim, porque não estou a fim de
chamar a polícia — a voz disse do outro lado do muro.
Olive olhou para mim, assustada, mas balancei a cabeça e
pressionei o dedo indicador nos lábios para que ela não falasse nada.
Sabíamos que não tinha como Adam saber que havia duas mulheres
penduradas no muro do outro lado, mas ouvir os passos dele se
aproximando na nossa direção não me ajudava a relaxar nem um
pouco.
O silêncio recaiu de novo. Mais alguns segundos se passaram, e
então os passos começaram a se afastar. Quando ouvimos o barulho
da porta se fechando, Olive soltou a respiração que estava prendendo.
— Não vamos mais fazer isso — ela sussurrou, descendo da
escada. Não concordei na hora, então ela puxou minha camisa para
chamar minha atenção. — Você escutou o que acabei de dizer?
— Sim, sim, não vamos mais fazer isso.
— Estou falando sério, Lucy.
— Espere aí, sra. Thorn, não foi a senhora a primeira a dizer que
podíamos dar uma olhada por cima do muro?
— Não te ouvi discordar. Pelo contrário, na verdade. Lembro que
você me parabenizou pela boa ideia. Vamos, desça.
Senti meu tornozelo ser puxado de novo enquanto ela descia.
Levantei a cabeça lentamente para ver se o belo exemplar de
homem tinha saído dali e, para minha tristeza, não havia nem sinal
dele. As luzes ainda estavam acesas, mas nada do colírio. Olhei para
baixo e vi que Olive me olhava com cara de reprovação.
— O que foi?
— Você se lembra da mulher que se escondeu no nosso quarto no
hotel em Londres, né?
— Não se preocupe, querida Olive, não pretendo invadir a casa dele.
Não que isso não tivesse me ocorrido, mas eu não me permitiria
invadir nem entrar; não era tão louca assim. Tinha pensado em espiar
por uma daquelas janelas enormes, mas, como eu disse, tinha que
haver um limite, e olhar por cima do muro era o meu. Não me julgue. O
que você faria se por acaso se tornasse vizinho de um de seus atores
preferidos? É lógico que você espiaria o cara… ou, pelo menos,
tentaria. Não tente negar.
Apesar de seus pais serem lendários, Adam Connor era um livro
fechado. Claro que todo mundo sabia a respeito dele ― antes mesmo
de estrear seu primeiro filme ―, mas ainda era meio misterioso. E
quem não adora um cara misterioso? Eu sim, com certeza.
Ele era um cara calado, um daqueles atores que sorriem para as
câmeras quando não querem responder a uma pergunta, um daqueles
caras gostosos que só fala quando tem algo de bom para falar,
absurdamente bem-sucedido no trabalho, casado aos vinte e três anos,
aparentemente um bom pai, dono de um corpo de outro mundo… E
esses eram apenas alguns dos atributos de Adam Connor. Claro, não
dá para saber muito sobre uma figura pública apenas dando uma
olhada no que está sendo dito sobre ela de vez em quando…
— Lucy, você não pode invadir a casa dele.
— Eu não acabei de dizer que não planejo fazer isso? — perguntei a
Olive baixinho enquanto descia.
— Só de você falar isso já me assusta. Quer dizer que isso te
ocorreu em algum momento.
Quando finalmente pisei no chão, voltei toda a minha atenção para
Olive.
— Não vou passar para o outro lado do muro. Prometo. Está bem?
Ela estreitou os olhos para mim e abriu um sorriso confiante, fazendo
sinal positivo. Eu realmente não pretendia pular o muro, então não
estava mentindo para a minha amiga, mas se eu acabasse subindo a
escada de novo… bem, não via problema nenhum nisso.
Depois de aguentar o olhar intenso de Olive, estiquei os braços e
forcei os lábios dela para cima, com os dedos, para que ela sorrisse.
— Sorria, Olive. Mostre os dentes. — Para ajudá-la, eu abri um
sorrisão. — Vamos, você consegue. Sei que consegue. Já vi você
sorrindo.
Quando ela riu e começou a sorrir sozinha, dei um passo para trás e
quase caí em cima de outro arbusto.
— Para que você cercou a casa com essas coisas? Para me matar?
— Você vai ter que fazer essa pergunta ao Jason — ela disse, me
puxando para longe da moita. — Estou me sentindo meio zonza, acho.
Vamos só nos sentar um pouco.
Caminhando em direção à piscina, nós nos sentamos na grama
quando ela encontrou um lugar satisfatório.
— Você vai ligar pro Jameson? — Olive quis saber enquanto
observávamos as estrelas por um momento.
— Por que eu faria isso?
— Sei lá. Foi uma pergunta idiota, deixa pra lá.
Olhei-a pelo canto do olho e me senti inquieta quando vi sua
expressão.
— Olive, você está bem?
— Não, ainda estou com raiva.
— Raiva? De mim?
— Não. Do Jameson. — Ela virou a cabeça e franziu a testa. — Por
que eu estaria brava com você? Está me escondendo mais alguma
coisa?
— Não. Não tem motivo. — Suspirei e voltei a olhar para as estrelas,
as poucas que conseguimos ver acima das luzes da cidade. — Sinto
muito por não ter contado antes. Não queria te incomodar, já que sabia
que o prazo estava chegando ao fim. E talvez… talvez eu não tenha
gostado de não conseguir ignorar esse assunto e de não seguir em
frente como se não significasse nada para mim.
— Sei o que você quer dizer, mas não precisa fazer nada sozinha. E,
Lucy? — Ela esperou um pouco até que eu olhasse para ela de novo.
— Sou sua amiga. Somos como irmãs. Não tem nada mais importante
do que você. Não me importa se estou afogada em palavras, você
sempre vem em primeiro lugar. E agora que sabe, não pode usar isso
contra mim de novo. — Ela virou a cabeça para o céu e acrescentou: —
Isso quer dizer que, se você me privar dos meus direitos como amiga
de novo, vou ter que acabar com você.
Dei uma risadinha e também desviei o olhar.
— Minha nossa, Olive, eu não fazia ideia de que você estava ansiosa
para se sentir mal. Eu prometo que da próxima vez que alguém me
deixar mal, o que provavelmente não vai acontecer, já que não vou
mais me apaixonar, você vai ser a primeira pessoa a saber.
— Ótimo.
— Você sabe que te adoro, né? — ela perguntou um minuto depois.
Esbocei um sorriso.
— Grey’s Anatomy? Tipo Christina e Meredith?
— Sim.
— Isso, eu também te adoro, Olive querida.
E adoraria para sempre.
— Ótimo. Lucy?
Olhei para ela.
— Olive?
— Não conte ao Jason que eu disse isso, mas acho o Adam gostoso
pra cacete.
— É mesmo? — alguém perguntou atrás de nós. Olive e eu demos
um grito que ecoou pela noite. Se os vizinhos próximos não tinham
ouvido o primeiro grito de Olive, certamente ouviram o segundo.
— Jason! — Olive gritou enquanto se esforçava para se levantar.
Levei a mão ao peito.
— Você queria me matar do coração só por eu estar passando uns
dias na sua casa? — perguntei enquanto ajudava Olive a se levantar.
— Por que você nos assustou desse jeito?
— Eu não assustei ninguém. Simplesmente entrei em casa e escutei
minha esposa admitir… — ele parou, olhando para ela — … que acha
um cara “gostoso pra cacete”… um cara que não é o marido dela.
— Jason — Olive disse em um tom totalmente diferente enquanto
começava a caminhar em direção a ele. Estava bêbada demais e seus
olhos brilhavam como estrelinhas.
Jason deu uns passos para a frente com a intenção de segurar a
esposa para que ela pudesse cair em seus braços, e não de cara no
chão. Ele olhou para mim e disse: — Imagino que as comemorações
tenham sido boas.
— Ela está brava comigo por não ter enviado um convite para ela
participar da minha fossa, mas superou essa frustração na segunda
dose de tequila.
Ele segurou Olive e deixou que ela puxasse a cabeça dele para
baixo para poder beijá-lo. Vendo os dois tão apaixonados, eu me
peguei sorrindo e notei mais uma vez que eu adorava muito ver minha
amiga tomada pelo amor. Comigo, nunca tinha sido daquele jeito.
— Senti saudade — Olive sussurrou ou pelo menos pensou ter
sussurrado, porque ainda estava gritando.
— E você perdeu nosso show improvisado. Nós nos saímos muito
bem, Jason.
Afastando os cabelos dela do rosto, com delicadeza, ele abriu um
sorriso caloroso, como se dissesse como a amava, e a beijou de novo.
— Desculpa, amor, tivemos que ficar até mais tarde para finalizar as
coisas no set.
— Acho que está na hora de sua esposa dormir, Jason — falei,
interrompendo o momento íntimo, e os dois olharam para mim. —
Pretendo acordá-la bem cedo, e eu sei bem que ela vai odiar, então…
Eu não estava tentando me livrar deles, não necessariamente, mas
não queria que se sentissem pouco à vontade perto de mim, nem que
sentissem a necessidade de me fazer companhia, sendo que eu sabia
que eles tinham coisas muito melhores para fazer ― como mandar ver
no quarto deles antes que eu fosse para o meu, que ficava na frente do
deles. Além disso, não seria nada ruim ficar sozinha um pouco.
Olive se afastou de Jason, caminhou até onde eu estava e me deu
um abraço.
— Eu te amo, Lucy Meyer — ela disse, ainda me abraçando. — E
prometo que você vai se apaixonar de novo. — Dando um passo para
trás, ela olhou nos meus olhos e acrescentou: — E sabe de uma coisa?
Quando isso acontecer, vai ser épico, e não só como você pensa, mas
vai ser incrivelmente épico.
Sorri para ela, que assentiu com seriedade.
— Não vá dormir muito tarde, e vamos falar mais sobre isso amanhã
cedo.
— Está bem, mamãe — gritei enquanto observava os dois entrarem
na casa, de mãos dadas. — Gente, muito obrigada por me adotarem!
— Meu Deus, não — Jason lamentou um pouco antes de fechar a
porta. — Não vamos adotar você, Lucy.
— Então, estão pensando nisso? Ótimo! Mal posso esperar para
poder te chamar de “papai”, Jason!
Esboçando um sorriso, ele balançou a cabeça e deslizou a porta de
vidro.
Rindo sozinha, eu me deitei na grama, fechei os olhos e respirei
fundo. A noite estava linda ― não muito quente, nem muito fria, com
temperatura perfeita para o mês de setembro. Mantive os olhos
fechados e me imaginei à beira de um penhasco, com os braços bem
abertos enquanto o vento acariciava minha pele e soprava meus
cabelos, e abri um sorrisão.
— Desculpa, Lucy.
— Vocês dois podem, por favor, parar de pedir desculpas? Já disse
que está tudo bem. Meu Deus, vocês estão me deixando em um
palácio. Tenho certeza de que vou sobreviver sem vocês dois — garanti
a Olive pela décima vez, enquanto me sentava de pernas cruzadas no
meio da cama deles.
Olive me lançou um olhar penalizado e olhou para Jason enquanto
continuava a enfiar roupas dentro de uma mala grande, aleatoriamente.
Ir para Londres para a divulgação não estava nos planos daquela
semana. Por que eles mudaram a programação em cima da hora desse
jeito?
Bem… vocês se lembram que eu disse que minha amiga talentosa
tinha escrito um livro que foi parar na lista de mais vendidos num piscar
de olhos? Bem, esse livro, Dor na Alma, também virou filme. O
protagonista? Jason Thorn, claro. Como vocês acham que eles
voltaram a se encontrar depois de tantos anos? Ela escreveu um
bendito livro inspirado nele e voilà! Ela conseguiu o cara dos sonhos
com seu emprego dos sonhos.
— Não precisa ter pressa, Olive — Jason disse ao interrompê-la,
segurando e beijando sua mão. — Ainda temos duas horas até eles
virem nos buscar.
— Você acha que duas horas é tempo suficiente para decidir o que
levar na mala para uma viagem de uma semana? Eles vão nos seguir o
tempo todo; não quero que escrevam uma matéria inteira dizendo que
ando desleixada ao seu lado, e que talvez eu devesse largar um pouco
os livros se não quiser perder você.
— Eles já escreveram isso, Olive — eu me intrometi, só tentando
ajudar.
— É exatamente o que estou dizendo! — ela exclamou quando
começou a tirar as roupas da mala. — Não quero ler isso de novo.
Jason chamou a atenção dela enquanto fechava a pequena mala de
viagem, que tinha feito em dez minutos.
— Adoro quando você anda desleixada. Faz com que eu me lembre
de como você fica linda depois de eu te amar um pouco.
— Ah… — resmunguei, tentando esconder meu sorriso, sem
sucesso. — A filha de vocês está no quarto. Que nojo.
Ele beijou os cabelos de Olive, e notei que ela ficou um pouco mais
relaxada.
— Mas — ele continuou — acho que vou esperar você na sala de
estar. Preciso ligar para o Tom.
Tom era o agente dele, e apesar de provavelmente precisar mesmo
falar com ele, eu apostaria mil dólares que ele estava mais interessado
em fugir dali do que em discutir seu possível próximo projeto com o
agente.
— Medroso — murmurei. Ele piscou para mim antes de sair do
quarto.
— Me ajuda? — Olive perguntou, olhando para mim com esperança.
— Ah, acho que posso ajudar — respondi. — Mas você não vai levar
esse vestido preto. Não vai a um enterro. É seu filme, mais do que dele,
na verdade. E não é a estreia, certo? — Saí da cama e fui até o closet
gigantesco. Olive estava bem atrás de mim.
— A estreia em Londres vai acontecer, mas só depois das estreias
em Los Angeles e em Nova York. Essa viagem para Londres é apenas
para algumas entrevistas e participações em programas de TV.
— Você também vai participar dos programas?
Ela balançou a cabeça.
— Por mais que Megan fosse adorar, eu disse não aos programas ao
vivo. Vamos fazer algumas das entrevistas gravadas juntos, mas só.
Não quero ser tão vista. É o trabalho dele, e eu não sei lidar com muita
emoção.
— Bem, certo. Então você não precisa desse vestido longo — falei,
pescando outro vestido preto do qual ela não precisaria para nada.
Meia hora depois, saímos do quarto dela com roupas em quantidade
suficiente na mala para mais de um mês, pelo menos.
— O carro chegou — Jason avisou assim que nos viu puxando duas
malas de rodinha em direção à porta da frente.
— Já? — Olive e eu perguntamos ao mesmo tempo.
— Sim — Jason disse, esticando o braço para pegar a mala de
Olive. — Houve uma mudança na programação.
— Ah, vou sentir saudades de você. — Ela me deu um abraço
apertado e saiu com Jason. — Sinto muito por te deixar desse jeito.
Juro que assim que voltar…
— Você vai compensar essa ausência — falei, terminando a frase
antes que ela começasse a se desculpar de novo. — É só uma
semana, Olive. Enquanto estiver lá, reze para que eu consiga um
emprego antes de vocês voltarem.
— Em relação a isso — ela murmurou quando se sentou no banco
ao lado da porta para calçar os sapatos —, eu te enviei um e-mail com
alguns contatos. Enquanto estivermos indo para o aeroporto, vou te
encaminhar uns e-mails também.
— E o que você quer que eu faça com esses e-mails, mesmo?
— Nada de mais. Quero que você banque minha agente.
Depois de calçar os sapatos, ela se levantou e parou à minha frente.
— Bancar sua agente? — perguntei, confusa.
— Olha, você não quer ser administradora. Pronto, falei. Você pode
ser boa com números, mas não é sua vocação. E antes que diga não…
— Olive? — Jason chamou, segurando a porta do passageiro aberta
para ela. Olive olhou para trás. — Precisamos ir. Você pode telefonar
para a Lucy a caminho do aeroporto.
— Estou indo, só um segundo.
Quando ela se virou para mim de novo, eu estava franzindo a testa.
— Olive…
— Não estou fazendo isso por você, Lucy. Estou pedindo sua ajuda.
Você me deixou na mão quando eu precisei conversar com o estúdio na
primeira vez, então não pode dizer não agora. Conversei com muitos
agentes, e não conseguimos chegar a um acordo. Duvido que eles
sequer tenham lido meu livro. Você absorveu cada linha daquele livro;
se alguém tem que vendê-lo, quero que seja você. E antes que diga
alguma coisa, se eu começar a negociar futuros acordos para livros e
audiolivros, não terei nem um minuto para escrever. Você vai ajudar sua
amiga, não vai? Porque você é a melhor amiga entre todas as melhores
amigas, não é? — Ela ergueu a sobrancelha, esperando uma resposta.
— Olive, sou formada em Administração. Não sei nada sobre ser
agente literária.
Ela começou a se afastar de mim e ergueu as mãos.
— Faça umas somas e multiplicações, o que quer que você faça com
números, e descubra que acordo é melhor para mim. Preciso tomar
uma decisão antes que desista de escrever.
— Acho que os números não deveriam ser sua única preocupação,
Olive! — gritei enquanto ela caminhava em direção ao carro preto. — O
que eles estão oferecendo a você em termos de marketing? Estão
planejando algo que você não poderia fazer sozinha se fosse se
autopublicar de novo?
Ao alcançar Jason, ela gritou respondendo: — Está vendo? Você já
sabe as perguntas certas a fazer. Converse com eles, tá? Vou te ligar
quando pousarmos. — Com essas palavras, ela entrou no carro.
— Não gosto muito da sua esposa, neste momento — resmunguei
alto o suficiente para que Jason pudesse ouvir. Seus olhos encontraram
os meus e ele sorriu. Ele olhou dentro do carro e voltou a olhar para
mim com um sorriso ainda maior.
— Ela disse que também te ama.
Revirei os olhos e acenei para Jason, pronta para voltar para dentro.
— Lucy? — Jason me chamou.
— Oi? — respondi, espiando lá fora.
— Cuide-se, tá? Ligue para o Tom se precisar de alguma coisa.
— Ah, você também me ama. — Levei as mãos ao peito e suspirei
de modo exagerado. — Eu sabia que, no fundo, no fundo, você queria
me adotar. Sou a filha que você não sabia que queria, não sou? —
perguntei, piscando.
Jason balançou a cabeça e se sentou ao lado de Olive.

Os dias seguintes à ida de Olive para Londres passaram como seria


de se esperar: sem grandes acontecimentos.
Quantas entrevistas de emprego eu tive: duas.
Quantas ligações eu tinha recebido de Olive: inúmeras.
Quantas ligações eu tinha recebido de minha avó Catherine: três.
E vou te contar, foram três ligações que eu não queria. Por mais que
desejasse querer, não poderia evitá-la para sempre, mas posterguei
falar com ela o máximo que pude. E hum… quantas vezes subi na
escada? Oito vezes. Nada de revirar os olhos, por favor. O que você
teria feito? Não me diga que não teria sentido curiosidade. Não tem
como dar de ombros e dizer “vou fingir que ele não existe” ― não se
seu vizinho fosse Adam Connor.
Enfim, só vi o cara no quarto dia, então esperem para me julgar.
Eu tinha acabado de sair com uma caneca de café em uma das
mãos e uma cópia impressa de uma das ofertas que Olive tinha
recebido de uma das cinco grandes editoras na outra quando escutei o
som inconfundível da risada de criança. Obviamente, tive que deixar
tudo o que estava fazendo e ver do que se tratava, porque é isso que
fazemos quando estamos cuidando da casa de alguém. E se eu não
tivesse ouvido a risada de uma criança, mas de assaltantes? Coisas
assim acontecem o tempo todo, e como sou uma boa amiga,
investiguei. Obviamente minha única intenção era proteger a casa da
minha melhor amiga.
Tentei ser bem discreta quando me aproximei do muro e comecei a
subir. Levantando a cabeça o suficiente para conseguir enxergar o que
estava acontecendo do outro lado, avistei minha presa saindo no
quintal.
— Puta que pa…
Tentando não perder o equilíbrio, peguei meu celular ― que eu, é
claro, tinha escondido dentro do sutiã ―, procurei o nome da Olive e
toquei para ligar.
— Alô?
— Estou apaixonada — admiti de uma só vez.
— Que rápida. Pensei que você nunca mais diria isso a um homem.
— Esse pode pegar tudo o que quiser de mim.
— Quem é o sortudo? E você tinha que encontrá-lo justamente
quando eu não estou aí para aprovar?
Ignorei o que ela disse e continuei: — Tenho uma pergunta para o
Jason. Pode, por favor, fazer a gentileza de perguntar por mim?
Com um tom de voz descontraído, ela disse: — Vou tentar. Manda.
— Onde se reproduzem essas pessoas de Hollywood? Tipo, tem
uma fazenda que podemos visitar para escolher aqueles de que mais
gostamos? Gostaria de dar uma olhada. Se existir um lugar assim e
você não tiver me contado… não sei se vou conseguir continuar sendo
sua amiga.
Olive deu risada.
— Não sei bem se existe, mas vou perguntar. Você estava pensando
em alguém específico?
— Na verdade, sim. Muita gentileza sua perguntar, minha linda
amiga inteligente. E antes que fique brava comigo, dê uma olhada nisso
— falei e rapidamente tirei uma foto do que estava acontecendo na
minha frente.
— O quê? O que você fez, Lucy?
— Nada. Confie um pouco na sua amiga. Só mandei uma foto. Pode
abrir.
— Tá, espere um pouco.
Abaixei o celular e mantive os olhos na dupla à minha frente. Ah,
você quer saber o que eu estava olhando? Eu estava olhando para
Adam Connor seminu. Ele estava usando um short largo perigosamente
curto, e exibia seus braços e ombros musculosos para mim enquanto
fazia flexões de braço com um menino risonho sentado em suas costas.
Foi um espetáculo particular apenas para mim.
Ele é muito generoso, eu sei.
— Pode ser que eu tenha dado uma babada. Meu Deus, olha esses
braços — gemi.
— Do que você está falando? — Olive perguntou. — Estou tentando
abrir a foto… merda.
— Dei um zoom nos músculos. Pode me agradecer depois.
— Lucy… — Ela suspirou.
— O que foi?
— Você não deveria estar aí em cima.
— Não sem você, né?
Ela fez silêncio por um instante, depois disse: — É, e isso é só
porque uma melhor amiga não deixa a outra fazer idiotices sozinha.
— Certo, vou deixar passar dessa vez.
O menino saiu das costas dele e gritou: — Você conseguiu, papai! —
Ele bateu palmas, animado. O papai dele tinha feito uma coisa na
minha calcinha, com certeza. Adam Connor, aquele homem enorme, se
levantou do chão e olhou para o menino, sorrindo e acariciando seus
cabelos. O menino deu um salto e eles bateram as mãos espalmadas.
Em seguida, ele disse alguma coisa ao gostosão do pai dele e correu
para dentro. Adam se abaixou, pegou uma toalha de uma das
espreguiçadeiras e começou a secar o suor de seu peito e abdome.
— Minha nossa, morri — sussurrei ao telefone.
— O que ele está fazendo? Me conta — Olive sussurrou em
resposta.
— Quero lamber esse homem, Olive. Quero muito. Quero descascá-
lo como uma banana e…
— Me conta!
— Meu Deus, não grite — falei baixinho antes de começar a
descrever o que estava acontecendo do lado do quintal dela. — O filho
dele correu para dentro, mas ele está secando o abdome com uma
toalha nesse instante. Está muito suado. Olive… ele tem uma barriga
perfeita. Que perfeito.
— É mesmo?
— É mesmo. A barriga dele, Olive, os ombros… acho que morri e
acabei de entrar no paraíso. Até o cabelo dele dá tesão. Isso faz
sentido? Não sou muito fã de loiros, mas os cabelos cor de mel dele
estão mexendo comigo. E é quase escuro, de qualquer modo. Meu
Deus, quero deitar embaixo dele, me segurar nesses ombros e deixar
que ele me…
— Lucy, acalme-se e não ouse terminar essa frase — Olive brigou,
mas era tarde demais.
— Preciso falar — continuei, gemendo um pouco. — Preciso dizer
para que se torne realidade. Me coma. Quero me segurar nele e deixar
que ele me coma.
— Você é… nem sei o que você é. — Ela riu.
— E tem volume, Olive — resmunguei enquanto Adam se mantinha
à minha frente e começava a alongar os braços com os olhos fechados
e a cabeça jogada para trás. — Meu Deus do céu, até o pescoço dele é
sensual. E tem um baita volume, Olive.
— Ele está duro?
— Não… porra, não sei, mas não poderia ser grande assim estando
mole.
Ah, Senhor, não permita que ele tenha bolas grandes e pinto
pequeno…
Fiquei me perguntando se poderia ser presa se simplesmente
pulasse o muro, corresse até ele enquanto mantivesse os olhos
fechados e puxasse seu short para baixo. Não poderia ser considerado
crime um caso de curiosidade extrema, poderia?
Bem, talvez o que houvesse dentro do short valeria a pena o que eu
cumpriria na cadeia, sonhando com o pau dele.
O filho dele saiu correndo da casa, e eu balancei a cabeça para
afastar aqueles pensamentos. O menino usava um short igualzinho ao
do pai, mas também vestia uma camiseta branca, provavelmente para
se proteger do frio repentino. Sem parar de sorrir, ele entregou uma
garrafa de água para o pai delicioso dele, e eu observei enquanto ele
bebia tudo de uma vez.
Eu precisava de um pouco de água fria, mas quem se importava
comigo? Ninguém.
Então, observei Adam se abaixar lentamente de novo, dessa vez
para se sentar com aquela bunda boa de morder na espreguiçadeira.
— Lucy? Ainda está aí?
— Sim. Noooosssa, olha isso.
— O quê?
— Ele está fazendo abdominais e o menino está segurando os
joelhos dele e contando.
— Aaaaah, quero foto. Quero foto.
— Tá, um segundo.
Tirei outra foto e mandei.
— Tem volume mesmo — acrescentei enquanto me ajeitava para ver
melhor. — Ele tem volume, com certeza.
— O filho dele está aí, Lucy.
— E daí? Como você acha que ele fez esse filho? Vamos ter que
falar de novo sobre como os bebês são feitos?
Olive riu e eu sorri, imaginando-a me reprovando.
— Ah, droga. Jason está vindo, preciso ir.
— Vindo? Onde você está?
— Na cama. Havia alguns fãs acampados na frente do hotel quando
voltamos do jantar, e ele desceu para dar uns autógrafos para que eles
não passassem a noite ali.
— Entendi. Bem, vou te deixar em paz, divirta-se com os fãs
malucos.
— Você também. Ah, ele chegou. Vou desligar. Desça daí.
E a linha ficou muda.
Passei mais alguns minutos observando a perfeição que era um pai
e seu filho passando um tempo juntos, e então, relutantemente, desci e
entrei para mexer nas ofertas recebidas mais um pouco.
Depois do que vi, passava a maior parte do tempo na escada,
observando. Estava feliz comigo mesma? Bem, talvez não muito. Mas
sabe o que é melhor do que observar Adam Connor fazendo exercícios
em seu quintal todos os dias? Observá-lo com seu filho. Motivo
suficiente para querer agarrá-lo. Mais do que suficiente. Ele estava
praticamente pendurado na minha frente, me provocando.
Certamente não era minha culpa o fato de eu ser uma humana fraca,
e desde que não ferisse ninguém, não seria tão errado, não é?
Então era meu último dia sozinha e eu estava na escada de novo,
observando meus vizinhos temporários da maneira mais discreta
possível enquanto Adam mergulhava na piscina. A versão miniatura
dele estava nas espreguiçadeiras brincando com seu iPad, balançando
as perninhas de vez em quando. Segurando a escada, apoiei o queixo
no muro e permaneci atenta. Repetindo o processo todos os dias até o
fim da semana.
Porque nunca se sabe, não é?
Nadei até a outra ponta da piscina e subi para respirar. Os músculos
do meu braço estavam queimando, e minha dor de cabeça piorava com
o passar das horas. Tirei a água dos olhos e vi Aiden sentado
exatamente no mesmo lugar onde ele estava há trinta minutos, com os
olhos focados em seu iPad e o rosto feliz.
Olhei além de onde ele estava e vi sua babá, Anne, sentada perto da
porta da casa. Tínhamos duas babás. A outra era Marta. Ela ficava com
Adeline, meio babá e meio assistente de Adeline, e Anne permanecia
conosco quando era minha semana com Aiden.
Ela abriu um sorriso tímido para mim, e eu assenti para ela. Era bom
saber que ela estava de olho em Aiden.
Tranquilamente, voltei nadando até meu filho, fazendo questão de
espirrar um pouco de água perto de onde ele estava antes de sair da
piscina. Ele estava olhando para trás e rindo de alguma coisa. Quando
me notou, tirou os fones de ouvido e sorriu para mim.
Só de olhar para ele, senti um aperto no peito.
— E aí, amigão? — perguntei, aproximando-me dele.
— Estou tomando sol, como a mamãe faz.
Ri.
— Ótimo.
— Está pronto para fazer flexões agora, pai?
— Hoje não, amigo — respondi quando cheguei ao lado dele e
peguei minha toalha.
Ele parou de sorrir e deixou o iPad de lado.
— Não sou um bom professor?
— Não é professor, é treinador — eu disse a ele.
— Você encontrou um novo treinador? Posso melhorar. Posso
mesmo, papai. Posso me esforçar mais como seu treinamento.
Dei risada e me sentei ao lado dele.
— Por que eu procuraria alguém novo se tenho você? Você está
sendo intenso no meu treinamento, carinha. Mal consigo acompanhar.
A preocupação em seu olhar desapareceu, e ele me deu um tapinha
no braço.
— Certo, você pode descansar hoje. Faremos flexões amanhã, se
você descansar hoje?
— Preciso te levar de volta para a sua mãe hoje, lembra?
Ele me imitou, sentou-se endireitando as costas e apoiou os
cotovelos nos joelhos. Seus pés nem sequer alcançavam o chão.
Depois de olhar para mim depressa, ele bateu a mão no joelho.
— Ah, não. Amanhã? Pode me buscar amanhã para podermos fazer
flexões?
— Você tem aula amanhã, Aiden.
— Ah — ele sussurrou, olhando para o chão. — Você acha que a
mamãe vai me deixar voltar para cá depois da aula pra te ajudar com
as flexões?
— O que acha de treinarmos juntos quando você voltar semana que
vem?
— Posso dizer aos meus amigos que sou seu profe… treinador?
— Claro.
Ele saiu da cadeira e começou a dar pulinhos de novo, tudo de volta
ao normal em seu mundinho.
— Todo mundo vai morrer de inveja quando vir meus músculos! —
Ele levantou o braço e o flexionou, mostrando os músculos pequenos,
pressionando e cutucando com o dedo indicador.
Quanto mais olhava para ele, mais insistente se tornava a dor no
meu peito.
Meu Deus!
Por que Adeline fazia isso comigo? Por que me machucar limitando
meu tempo com o meu filho se não tinha interesse em passar tempo
com ele?
Quase seis meses atrás, ela havia se sentado comigo em um quarto
de hotel para dizer que precisava se divorciar de mim. Foi totalmente
inesperado; porra, eu tinha transado com ela de um jeito intenso e
rápido vinte minutos antes. Pensando que ela estava tirando sarro da
minha cara, fui idiota a ponto de rir, levantar e beijar sua testa. Eu me
lembro de ter dito em tom de brincadeira: — Você está acabando
comigo, linda. — Mas em seguida, ela se levantou e me encarou com
seriedade, aquele olhar e aquele silêncio que duravam até pessoa
entender o que ela queria, o que precisava e concordasse com ela, e
eu soube que ela estava falando sério.
Conversamos até o sol nascer, e ela me disse que tornar-se mãe tão
jovem tinha acabado com sua criatividade. Ela disse que não estava
mais apaixonada por sua carreira como antes e que isso era culpa de
Aiden, que ele estava dominando a vida dela. Explicou que queria voltar
à época em que não tinha nem que fazer testes para os filmes nos
quais queria trabalhar; queria receber o papel sem testes. Explicou em
poucas palavras que estava começando a se arrepender da decisão
tomada cinco anos antes, que tinha tomado a decisão errada, que não
conseguia estabelecer um vínculo com Aiden. E então ela me lembrou,
de novo em poucas palavras, que, apesar de estar feliz por nosso
casamento aparentemente não ter um efeito negativo na minha
carreira, estava na hora de ela voltar a ser a atriz mais requisitada de
Hollywood.
Aiden não tinha sido planejado, pois estávamos no ápice das nossas
carreiras. Éramos jovens, bem-sucedidos e apaixonados. O mundo era
nosso playground, mas uma gravidez tinha vindo para mudar tudo. A
própria Adeline cuidou para que mudasse. Antes que eu pudesse me
acostumar com a ideia de ser pai, estava casado. Claro, eu estava
apaixonado por ela, que era meu mundo e todas as coisas em que
acreditamos aos vinte e três anos, mas, quando a vi caminhando em
direção ao altar no dia do nosso casamento, não me pareceu a coisa
mais certa, como deveria ter parecido.
Era cedo.
Eu me senti aprisionado.
Foi um acordo, e foi necessário.
Mas aprendi a ignorar a intuição daquele breve momento e disse a
mim mesmo que não havia motivo para esperarmos até nos amarmos o
suficiente. Alguns anos mais para a frente, eu teria me casado com ela,
de qualquer modo, não?
Então, eu me casei com uma mulher por causa de um bebê ainda
sendo gerado porque não poderíamos lidar com um escândalo tão
grande quanto um filho. Foi isso que minha própria família me disse.
Meu rosto deve ter ficado tenso, porque senti dedinhos tocando-o e
dando tapinhas em minhas bochechas.
— Podemos nadar agora, papai? — Aiden perguntou, olhando nos
meus olhos.
— Pensei que você não quisesse nadar.
— Não queria, mas agora quero. Acabou o desenho do Bob Esponja,
podemos nadar agora.
— Temos que voltar para a casa da sua mãe em três horas, Aiden.
Vai ter que ser um mergulho rápido, tá? Depois, você vai ajudar a Anne
a separar os brinquedos que vai querer levar.
Ele concordou animado e me deu um beijinho, fazendo meu coração
derreter.
— Pegue suas boias de braço — falei com a voz embargada, e ele
saiu correndo aos gritos.
Para Aiden, nadar era ficar sentado no segundo degrau mais alto,
espirrando água, brincando com seus brinquedos e fingindo estar
nadando por cerca de dez segundos, dando chutes e socos dentro da
água.
Nossa antiga casa ― a que agora era de Adeline ― não tinha
piscina, por isso, na primeira vez que ele veio ficar comigo e viu a
piscina, ficou em êxtase. Agora, aprender a nadar… disso ele não
gostava nem um pouco.
Depois de cinco minutos na piscina, Dan saiu da casa.
— Dan, olha pra mim! Olha! — Aiden gritou, batendo os braços com
força enquanto exibia suas habilidades para nosso guarda-costas e
amigo de longa data. Pelo menos, no divórcio, eu havia conseguido
mantê-lo trabalhando comigo.
— Olha só você, grandão — disse Dan e parou perto de nós.
— Mais devagar, Aiden — falei, ajudando-o a se sentar nos degraus
antes que ele batesse o queixo. Ele olhou para Dan e sorriu.
— Você viu? Viu como eu me saí bem?
— Vi, sim, muito bem, grandão.
— Mas viu como nadei rápido?
Dan assentiu.
— Você mais parece um peixe.
Aiden inclinou o corpo para a frente e riu, com os olhos arregalados e
felizes.
— Não sou um peixe, Dan. — Ele se levantou e ergueu os braços. —
Sou um menino, olha!
Ele parou de rir, concentrou-se em seus brinquedos e ficou fazendo
barulhos enquanto mergulhava e tirava o avião de dentro da água.
Deixei Aiden brincando e me aproximei de Dan.
— Aconteceu alguma coisa?
Ele franziu a testa, olhou para trás e voltou a falar comigo.
— Não. Michel está te ligando há uma hora. Achei melhor te contar.
— Droga — resmunguei. — Eu me esqueci dele.
— Quer que eu cuide disso?
— Não precisa. Tenho que perguntar uma coisa pra ele. — Dando as
costas para Dan, arrastei Aiden, que reclamou, para fora da piscina, e
tirei suas boias de braço. — Seque-se, depois vá ajudar a Anne.
— Mas eu acabei de entrar, papai. Por favor! Mais cinco minutos.
Eu me abaixei na frente dele e o envolvi em uma grande toalha.
— Você vai ter mais tempo semana que vem, está bem? Vou te
ensinar a nadar sem as boias de braço.
Quanto mais se aproximava o momento de deixar Aiden na casa de
Adeline, mais irritado eu ficava. Eu havia passado a manhã toda
trancado no meu estúdio, fazendo algumas gravações de voz que meu
diretor queria que eu refizesse.
Assim que Matthew disse que já tinha o que precisava, corri para
casa para passar mais algumas horas com Aiden. Desde que meu
divórcio tinha sido finalizado, eu não parava quieto, tentando conseguir
tempo suficiente para Aiden e, ao mesmo tempo, lidando com as
gravações e as divulgações. Felizmente, estávamos finalizando as
filmagens do A única hora, e eu estava ansioso para ter um intervalo e
poder passar um tempo com meu filho. Primeiro, eu tinha que fazer
algo em relação à questão da custódia, algo em que já vinha pensando.
Aiden era um bom menino. Sempre tinha sido, mesmo antes do
divórcio, mas, ultimamente, a confusão que tínhamos feito começava a
atingi-lo. Ele não demonstrava, não fazia birra como outras crianças
teriam feito, mas, sempre que eu o deixava na casa de Adeline, ele
fazia cara de assustado, como se eu o estivesse deixando ali para
sempre e aquela fosse a última vez que me veria. Toda noite, eu fazia
questão de telefonar para ele escutar minha voz antes de dormir, e
todas as vezes ele deixava meu coração apertado perguntando se eu
prometia que o buscaria logo.
Ouvir essas palavras inquietas, pensar que ainda tinha a semana
toda até conseguir vê-lo… porra, isso estava começando a acabar
comigo.
Achando que Aiden me daria ouvidos e nos seguiria, entrei em casa
com Dan.
Quando vi Anne na cozinha com o telefone na mão, eu disse a ela
que teríamos que partir logo. Ela assentiu e passou por mim em direção
ao quintal.
— Me dê cinco minutos. Vou conferir o portão para ver se há
paparazzi escondidos ali. Driblei três hoje cedo. Depois, vou preparar o
carro — Dan disse e saiu.
Concordei balançando a cabeça e retornei os telefonemas de Michel.
— Onde você estava? Estou tentando falar com você desde cedo,
Adam.
— Do que você precisa, Michel?
— Falei com seus pais e eles acham melhor seguir em frente com a
coletiva de imprensa para acabar com os rumores sobre o problema da
guarda, Adam. Precisamos negar, e precisamos fazer isso hoje. Você
deveria considerar fazer isso do jeito deles.
Michel era o chefe da equipe de assessoria que cuidava das
questões da família Connor há dez anos, mas nosso tempo juntos tinha
terminado. Teria sido melhor se eu tivesse tido tempo de lidar com as
coisas de frente, mas eu não tinha como ir ao escritório dele despedi-lo
pessoalmente. Cerrei os dentes e escutei enquanto ele explicava o que
tinham conversado.
— Michel, cansei de fazer o que meus pais querem. Já te disse isso
mil vezes. Veja o que ganhei seguindo os planos deles.
— Entendo o que quer dizer, Adam. Mesmo assim, pense bem e
volte a falar comigo. — Ou ele estava ignorando minhas palavras ou
simplesmente desconsiderava todas elas. — Se acha que uma coletiva
de imprensa não será íntima o suficiente, vamos dar entrevistas para
alguns programas de sua escolha. Com os pedidos que temos
recebido, você pode escolher. Vou ver quem seria o melhor nesta
situação.
— Michel…
— Um segundo. O que acha de James Holden? Ele acabou de
assumir o programa da noite e os quadros dele são bem interessantes.
Podemos escolher as perguntas que ele fará para que as coisas não
saiam do controle.
— Michel… — tentei de novo enquanto ele falava mais nomes. Abri a
geladeira e peguei uma garrafa de água. Michel era um amigo da
família desde antes de se tornar o líder da equipe de assessoria, e por
isso meus pais não tinham problema com o fato de ele saber quase
todos os segredos que tentavam esconder da imprensa. Não que o
cara não fosse bom no que fazia; na verdade, ele era um dos melhores
da área. Ele já tinha uma longa lista de clientes à espera para contratar
seus serviços, e eu estava prestes a alegrar o dia de alguém, abrindo
uma vaga na agenda dele. — Com tudo que está acontecendo, eu me
esqueci de perguntar: você ainda está representando a Adeline?
Ele fez silêncio por um segundo.
— Como assim, ainda representando a sua esposa?
Cerrei a mandíbula.
— Ex-esposa.
— Desculpa, Adam. Demora um pouco para nos acostumarmos.
Bem, claro que ainda representamos a Adeline. Na verdade, conversei
com Helena mais cedo, e ela acha que é mais inteligente para vocês
aparecerem juntos na frente das câmeras e mostrar ao mundo que são
unidos, que sempre farão o que é melhor para o Aiden e que
continuarão sendo amigos, mas imaginei que você não quisesse fazer
tudo isso. Esse é o motivo da pergunta?
— Não.
O fato de ele ter usado a palavra “mundo” me irritou de novo, como
se eu me importasse com o que o mundo pensava do meu
relacionamento com Adeline. Mas consegui controlar minha raiva e
continuei: — Não será preciso agendar entrevistas, Michel. — Bati os
nós dos dedos no balcão depois de pousar a garrafa de água. — Sei
que você é bom no que faz, e eu adoraria ter tempo de tratar disso
pessoalmente, mas decidi contratar outra equipe de assessoria.
— Me dê um segundo, meu escritório está cheio demais agora. —
Ouvi a porta sendo trancada. — O que está dizendo? Foi por isso que
perguntou sobre Adeline? Posso montar outra equipe para assessorá-
la, se for esse o problema.
— Não precisa. Pode mantê-la. Só acho que está na hora de nos
separarmos. Você faz um ótimo trabalho com meus pais, e, pelo que
consigo ver na imprensa, com a Adeline também, mas acho que nós
não damos mais certo.
— Adam, por que não vem ao meu escritório para podermos falar
sobre o que você quer? Não é a hora certa de fazer grandes mudanças
assim ou de ser irresponsável com sua vida. Você precisa se
concentrar em sua imagem e deixar que a equipe cuide do resto. Sugiro
fortemente criarmos uma oportunidade para que possam tirar fotos de
você e Adeline com Aiden.
Dei uma risada longa, mesmo sem achar graça, e balancei a cabeça.
— Você sabe mesmo quais são suas prioridades, não é?
Infelizmente, você não é prioridade na minha lista, Michel. Sim, tive que
fazer grandes mudanças ultimamente, mas esta não é uma delas. Vou
pedir para meus advogados entrarem em contato para discutir nosso
contrato, e pronto. Você é uma fera, Michel, um guru da assessoria,
mas não está mais dando certo.
Ignorando suas palavras, encerrei a ligação e senti que um peso
enorme estava sendo retirado dos meus ombros. Aquele era o passo
fácil. Encontrar outra empresa de assessoria seria um outro pesadelo,
que eu não queria enfrentar, mas precisava.
Quando notei que Dan estava entrando, fui para o meu quarto tomar
uma ducha e me trocar.
Como meus pés estavam me matando por ter ficado na escada por
quase uma hora, quando vi Adam entrando, eu estava prestes a descer
e entrar para fazer uns cookies com gotas de chocolate para Olive e
Jason antes de eles chegarem ― ou pelo menos tentar ―, como um
agradecimento por terem me permitido ficar com eles.
Mas em vez de seguir o pai, a criança ficou para trás, então imaginei
que Adam voltaria também. No entanto, isso não aconteceu. No lugar
de Adam, a moça que eu tinha visto algumas vezes ― supostamente a
babá ― chamou o menino e voltou a entrar.
Certa de que as emoções do dia tinham terminado, desci um degrau.
Quando vi o menino olhando para a casa e depois de volta para a
piscina, hesitei. Por que eles o deixaram ali sozinho?
Pensando que mais alguns minutos não faria mal algum ao processo
de fazer cookies, decidi esperar. De repente, o menino sorriu e pegou
as boias de braço que Adam tinha tirado dele.
Por falar em tirar coisas, posso ter imaginado Adam tirando algo ―
qualquer coisa ― de mim algumas vezes aqui e ali. Sou sem-vergonha,
eu sei. Não tenho como evitar; o cara parecia lambível demais para o
meu gosto quando o vi seminu.
Depois de algumas tentativas, o menino conseguiu colocar uma
delas, deixando-a ao redor do cotovelo. Mas a segunda… apesar de
muito tentar, não conseguiu vesti-la. Então, como qualquer criança de
sua idade teria feito, ele desistiu e a jogou longe. Quando deu o
primeiro passo na piscina, na parte rasa, comecei a ficar nervosa. Com
certeza ele sabe nadar, certo? Sei lá, ele estava usando boias de braço
sempre que o vi entrando na água, mas eles deviam ter ensinado o
menino a nadar, não é? Provavelmente tinham uma piscina olímpica na
casa deles ― aquela na qual a esposa dele vivia agora ―, não que eu
estivesse me mantendo informada a respeito.
Quando a água chegou à altura do peito dele, comecei a entrar em
pânico de verdade. Aquela boia não parecia nada presa ao braço, e se
ele não soubesse nadar, uma só boia de braço o manteria acima da
água? Para piorar, o menino não parecia saber muito bem o que estava
fazendo.
Correndo o risco de ser flagrada, tentei chamar a atenção dele.
— Psssiu! Ei, menino! Oi!
Por fim, ele me escutou e olhou para mim.
Será que ele sabia que eu tinha passado dias pendurada no muro?
Sorrindo, ele acenou para mim.
Merda!
Antes que eu tivesse tempo de entrar em pânico e descer da maldita
escada, o menino foi com tudo e pulou, de cara, batendo os braços e as
pernas. Pelo que eu tinha visto nos últimos dias, era esse o estilo dele,
mas quando a boia escorregou do seu braço por causa dos
movimentos… meu coração meio que parou.
A princípio, ele parecia estar bem e eu consegui voltar a respirar;
afinal, ele sabia nadar… mas depois, tudo deu errado. Ele entrou em
pânico, sua cabeça foi encoberta pela água, e tudo ficou em silêncio
por um segundo… um silêncio que foi demais para mim. Então, ele
emergiu, ou melhor, a cabeça dele emergiu enquanto ele batia os
braços, com os olhos arregalados de medo.
— Merda. — Xingando, subi os últimos dois degraus e olhei ao redor.
Não, ninguém estava saindo da casa. Porra, ninguém nem sequer
sabia que havia algo ruim acontecendo.
— Porra! Merda! Porra! — Fazendo questão de xingar sem parar,
porque, acredite, a situação exigia isso, eu subi no muro o mais
depressa que pude e basicamente me joguei dele.
Caí de quatro, com o celular a poucos metros de mim, meu rosto a
centímetros do chão, e antes que conseguisse me levantar, o menino
desapareceu dentro da água de novo.
— Jesus — gemi antes de me levantar e sair correndo na direção
dele, sem pensar duas vezes. Gritei: — Onde vocês estão, porra? —
Mas não vi ninguém saindo da bendita casa. Quando entrei na água, a
cabeça dele apareceu de novo, batendo os braços e tentando respirar.
Se ele tivesse mantido a calma, teria notado que era capaz de boiar,
mas como esperar que um menino de cinco anos não entrasse em
pânico por não conseguir ficar de pé na piscina?
Entrei e nadei na direção dele. Tudo provavelmente aconteceu em
quinze segundos, talvez, vinte, no máximo, e quando eu o peguei pelos
braços e o ergui acima da água para que ele respirasse, meu coração
estava prestes a escapar do peito.
Aqueles poucos segundos tinham levado pelo menos dez anos da
minha vida. Porra, minha juventude praticamente tinha desaparecido.
Eu estava totalmente no meu direito se exigisse orgasmos como
recompensa do pai gostosão dele.
Finalmente, cheguei aos degraus e o aconcheguei no meu colo. O
menino, provavelmente morrendo de medo, envolveu meu pescoço
com os braços e se agarrou com tudo enquanto tossia e respirava
fundo entre uma tossida e outra. Fora da piscina, eu me ajoelhei para
que ele se sentisse mais seguro quando seus pés tocassem o chão,
mas nem mesmo assim ele me largou.
— Está tudo bem — falei, acalmando-o. Tive que desenrolar os
braços dele do meu pescoço para poder olhar em seu rosto e ter
certeza de que ele estava bem. — Tudo bem, você está bem.
Ele deu um passo para trás, olhou para mim com os olhos verdes e
grandes, e então assentiu, com os lábios tremendo. Apoiei a mão em
seu peito e me sentei.
— Menino, você quase me matou do coração.
Seu rostinho se enrugou e as lágrimas começaram a escorrer. E ele
fez um barulho forte, já que ainda estava tentando respirar.
Sem saber o que mais fazer, eu o abracei e ele encostou o rosto no
meu pescoço.
— Ah, não chore, menino, você está bem agora.
Então, escutei gritos e Adam Connor correu em nossa direção. Aiden
escutou a voz dele e me soltou, jogando-se nos braços do pai e
chorando mais alto. Em seguida, o guarda-costas e a babá vieram
correndo também. Eu me levantei e tentei abrir um sorriso, mas não
estava nem um pouco a fim de sorrir.
Eu não sabia bem se deveria começar a gritar com a tonta da babá
ou com o papai que eu queria pegar.
Adam segurou Aiden contra o peito, e o menino envolveu seu corpo
com as pernas, enquanto o pai mantinha a mão espalmada na nuca
dele. A criança parecia ainda menor nos braços do pai, com o corpo
trêmulo e tomado pelos soluços. Adam olhou nos meus olhos, e eu,
uma tonta, pensei que ele estivesse grato, então abri um sorriso um
pouco maior. E… olha, não me matem, mas o cara era, sem
brincadeira, um dos homens mais lindos que eu já tinha visto, então
talvez também estivesse rolando um formigamento nas minhas partes
baixas.
Mas o fato de ter sorrido… foi errado.
— Dan. — Adam cerrou os dentes, e o guarda-costas parou na
frente deles como um ursão protegendo os filhotes. — Como ela entrou
aqui?
Assustada, magoada e ainda por cima pingando, eu disse: — Ela
está bem aqui, e de nada.
Ele olhou para mim com raiva como se eu fosse um rato indesejado
em sua casa ― e, bem, pensando bem, talvez eu fosse, mas eu não
tinha entrado no quintal dele para me divertir; eu tinha acabado de
salvar a vida do filho dele.
Com Aiden ainda no colo, ele se virou para a babá atordoada e deu a
ordem: — Chame a polícia, Anne. Diga a eles que temos um problema
com uma invasora.
— Uma invasora? — gritei, saindo do meu transe.
Adam estreitou os olhos para mim e então gritou para Anne: —
Agora!
— S-sim, sim, sr. Connor. Me desculpe.
— Você deveria se envergonhar — falei, dando um passo à frente.
Ela olhou nos meus olhos, mas rapidamente desviou o olhar e foi ligar
para a maldita polícia. Dar um passo na direção deles aparentemente
foi a atitude errada. Nem sequer consegui dar meu passinho porque o
gigante pousou a mão no meu ombro e me empurrou.
— Ei! — gritei quando tombei para trás, passando a mão onde ele
tinha me agredido. — Você está maluco?
— Afaste-se.
Enquanto eu lutava pela minha vida, Anne finalmente fez algo certo e
convidou os policiais para a nossa festinha. Eu queria que eles
chegassem e prendessem alguém. Adam se virou e entregou o menino
aos prantos e disse ― de um jeito não muito simpático ― para ela levá-
lo para dentro. Pode acreditar, a cena toda mais parecia coisa de um
filme de terror, e de algum modo, acabei sendo a vilã.
— Acabei de salvar seu filho, seu idiota, e é assim que você me
agradece? Chamando a polícia?
— Não fale nada — disse o gigante, de pé como um muro na minha
frente, com os braços cruzados, encobrindo minha visão de Adam.
— Como assim “não fale nada”? — perguntei, minha voz se
alterando. — Vocês todos simplesmente o deixaram aqui, e ele ia
morrer afogado. Olhem pra mim! — gritei, abrindo os braços e olhando
para o meu corpo. — Não decidi simplesmente invadir para dar um
mergulho na piscina. Eu estava tentando salvar o filho dele.
— Então você admite que invadiu. — O guarda-costas balançou a
cabeça enquanto me olhava como se eu fosse o inseto mais
repugnante que ele já tinha visto.
Inferno!
— Cansei de vocês — disse Adam, por fim, parando ao lado do
guarda-costas. Ele era tão imponente quanto o cara enorme.
Hormônios imbecis.
— Olha — comecei, tentando acalmar a situação. — Por que não
entra e pergunta ao seu filho? Tenho certeza de que ele vai contar
exatamente o que houve.
— Até parece que vou fazer isso. Você faz ideia de como ele se
assusta quando coisas assim acontecem? Tolero essas merdas quando
são comigo, mas você foi longe demais quando se aproximou dele,
quando o tocou.
— Ai, meu Deus, eu o toquei? Do jeito que você fala, parece que eu
fiz algum mal a ele! Estão todos loucos? Ele estava todo molhado, não
viram? Ele foi pra piscina quando vocês entraram na casa. Eu só
escalei um maldito muro para pegá-lo porque vocês, seus idiotas, o
deixaram sozinho.
Adam balançou a cabeça e olhou para mim com nojo.
— Conte sua história ao seu advogado quando ele for te ver na
delegacia.
Resmunguei e passei as mãos pelos cabelos molhados e
embaraçados.
— Vocês não estão me ouvindo — falei entre dentes, com a raiva
tomando conta do meu corpo. — Seu filho estava se afogando. Eu vi
que ele estava em pânico e submergindo.
— Você o viu? Então você estava espiando. Que ótimo. — Ele virou
a cabeça e disse: — Dan, encontre a câmera dela. Não quero que fotos
de Aiden vazem.
O guarda-costas obedeceu, e eu saí batendo os pés com força. A
outra opção seria fazer algo que causaria danos físicos, e eu imaginei
que não me daria bem contra o imbecil e o gigante.
— Foi isso que você entendeu do que acabei de dizer? Além de
tudo, você também é surdo?
Algo mudou, deixando o rosto de Adam diferente, e eu fechei minha
boca.
— Encontrei o celular dela, chefe.
Levei a mão ao peito e notei que meu celular não estava mais
acomodado ali. Adam estreitou os olhos.
— Confira as fotos.
Evitei olhar nos olhos dele e parti para pegar meu celular. Adam
segurou meu braço no meio do movimento, torcendo-o entre nossos
corpos. Assim que tentei me afastar, seus dedos apertaram meu braço,
e ele me puxou contra o corpo dele, mantendo seu rosto a poucos
centímetros do meu.
— Se eu fosse você, não faria isso.
Respire fundo, Lucy. Acalme-se.
Cerrando o punho, respirei fundo e soltei o ar antes de falar.
— Você não tem esse direito.
Ele ergueu uma sobrancelha e olhou dentro dos meus olhos. Merda!
Ele não tinha direito a ter olhos tão verdes. Que absurdo. Celebridade
mais linda porra nenhuma.
— Direito? Você está querendo me ensinar quais são meus direitos e
quais não são?
Certo, talvez esse não fosse o melhor argumento, mas ainda assim
ele não tinha direito de vasculhar meu celular. Certo?
Lancei a ele um olhar de nojo, o mais intenso que já tinha dado a
qualquer criatura viva ou morta e falei baixinho: — Vá se foder.
Um músculo saltou no seu rosto. — É por isso que você está aqui,
não é? Você faria qualquer coisa para dar uma trepada.
Fiquei boquiaberta. Quanta audácia! Antes que eu pudesse dizer
alguma coisa, o guarda-costas veio e se colocou ao nosso lado.
— Parece que há algumas fotos suas com Aiden, e não são todas de
hoje.
Adam segurou meu braço com mais força e me encarou.
Ergui o queixo e não dei nenhuma explicação.
— Os policiais chegaram. — A voz de Anne veio de dentro da casa,
interrompendo nosso olhar. Que vaca. O idiota deveria jogar a imbecil
nas mãos dos policiais, não a mim.
— Não quero que eles passem por dentro da casa com ela. Peça
para entrarem pela lateral.
Adam deu a instrução, e Anne saiu correndo.
— Pode soltá-la, Adam. Vá contar a eles o que está havendo.
Cuidarei para que ela não saia daqui.
Ele olhou nos meus olhos de novo, mas disse ao guarda-costas: —
Não, eu vou segurá-la. — Eu o odiava por me fazer tremer. Pensando
que eu estava tentando me livrar, ele me puxou contra seu peito. —
Você pode ir.
Mamilos eriçados!
Desviei o olhar dos olhos acusadores de Adam e observei o gigante
ir embora.
A coisa toda estava se transformando em pesadelo.
— Veja. — Suspirei e olhei para cima, para seus olhos absurdamente
verdes. — Não estou perseguindo você. — Ele abriu a boca, mas
continuei falando. — Eu sei. Eu sei o que parece, mas estou dizendo a
verdade. Meu nome é Lucy. Lucy Meyer. Moro na casa ao lado. Ali. —
Apontei em direção à casa de Olive com o dedo indicador trêmulo. A
expressão dele não mudou nada, aquele infeliz lindo, mas, pelo menos,
estava ouvindo, por isso continuei explicando. — Jason Thorn? Já
ouviu falar dele? Ele é ator, como você, só que ele é bem mais bonito
do que você e tem um bom coração. Sabe quem é?
Nenhuma resposta, nenhuma confirmação. Aparentemente, ele não
achou graça.
— Ele se casou este ano. Com a Olive. Ela é minha melhor amiga.
Sou amiga deles. Estou morando lá. Pode perguntar pra eles.
— E onde estão esses melhores amigos, Lucy Meyer?
— Jason teve que viajar para fazer divulgação, e eles estão em
Londres há alguns dias.
— Conveniente para você, não?
Tentei afastar o braço, mas ele ainda me segurava. Lancei a ele um
olhar irritado.
— Me solta.
— Não.
— Eles vão chegar hoje. Pode perguntar pra eles.
— Você vai ser processada. Não vai se safar disso com tanta
facilidade.
— Pelo amor de Deus, você está me ouvindo?
— Já vi o que precisava ver.
Minha respiração acelerou, então baixei a cabeça e tentei me manter
calma, fechando os olhos e contando até dez.
Os dedos dele apertaram meu pulso a ponto de doer, então arfei e
olhei para ele com raiva.
— Nem pense em chorar. Não vai funcionar.
Eu não estava prestes a chorar; isso nem tinha passado pela minha
cabeça, mas, quando vi os policiais se aproximando de nós, meus
olhos começaram a ficar marejados.
— Bem na hora — Adam murmurou quando viu meus olhos
marejados, e algo despertou em mim.
— Seu idiota — falei baixinho. — Vá em frente, me acuse. Também
vou te processar. Você não deveria ser pai. Se não sabia, negligência
infantil é crime. Se eu me ferrar, você se ferra comigo! O menino
merece um pai melhor, um pai que zele pela segurança dele, seu…
filho da puta esnobe!
Ele quase quebrou meu pulso, mas parou e soltou minha mão
quando fiz uma careta. Talvez vocês estejam pensando que fui muito
exagerada, mas posso garantir que não estava fazendo drama. Ele
praticamente tinha deixado o filho morrer ali. Era eu quem tinha que ter
chamado a polícia, não eles.
— Sr. Connor — disse um dos policiais quando se aproximou de nós.
Quando Adam explicou o que estava acontecendo e disse que me
processaria, eles nem quiseram ouvir o que eu estava dizendo,
simplesmente me algemaram.
Eles me algemaram!
Cinco minutos depois, eu estava sentada no banco de trás de uma
viatura, indo para a delegacia. Eu estava pronta para matar o infeliz. Se
conseguisse sair da prisão na qual estavam prestes a me enfiar, eu
mataria aquele cara, com certeza.

Cinco horas depois ― cinco! ―, Jason e Olive chegaram para me


soltar. Fizemos silêncio no carro, e eu ainda estava espumando de
raiva.
— Lucy — Olive disse quando virou o corpo para olhar para trás e
falar comigo.
— Eu odeio ele — repeti pela décima vez desde que tinha entrado no
carro. — Quero matar ele. Vou processá-lo para que ele perca a guarda
daquele menino e, depois, vou matá-lo.
— Isso é contagioso, Olive? Devo me preocupar? — Jason
perguntou do banco do motorista. Nossos olhos se encontraram no
espelho retrovisor, e eu franzi a testa para ele. Jason esboçou um
sorriso.
— Do que ele está falando? — Quando olhei para Olive, ela também
estava disfarçando um sorriso. — Por que você está sorrindo? — gritei.
— Beleza, talvez eu tenha passado cinco horas na cadeia, porra, mas
duvido que tenha uma doença infecciosa.
O sorriso de Olive ficou ainda maior.
— Claro que não. Ele está falando de outra coisa. Não dê atenção a
ele.
— O quê? Não me esconda nada, Olive. Estou muito vulnerável
neste momento.
— Não estou escondendo nada de você, Lucy. Eu prometi que
mataria você quando ele estava me trazendo do escritório dos
executivos do estúdio. Sabe o dia em que eu tinha a reunião? O dia em
que você me deixou sozinha? Ele acha que a gente gosta de sair
matando.
Olhei para Jason.
— Parem de piadinha interna agora. Seja bonzinho com sua esposa
na hora certa. Ela é exclusivamente minha no momento. Eu fui presa.
Preciso da minha amiga.
— Imagino que vamos ficar ouvindo você falar que esteve em uma
sala de custódia, sozinha, por muito tempo.
— O que acha de manter os olhos na estrada para que a gente não
morra e eu possa matar aquele filho da puta?
Pousando a mão na perna de Olive, ele disse: — Ela é toda sua,
amor.
— Obrigada — falei de modo sarcástico e então repeti: — Odeio ele.
Olive pousou a mão sobre a de Jason, e um instante se passou entre
eles. Muito bonitinhos, por isso eu não disse nada.
— Acho que já entendemos isso — ela concluiu. — E não arranque
minha cabeça porque detesto dizer que te avisei, mas…
— Tudo bem, eu admito — falei com relutância. — Foi errado da
minha parte espiá-lo. Mas eu não estava correndo atrás dele. Tem uma
diferença nisso. Só subia na droga de uma escada, e quando, por
acaso, ele estava no quintal, eu o observava por alguns minutos. Só
isso.
— A privacidade é algo muito importante para nós, Lucy. Você já
deveria saber disso — Jason comentou, metendo-se na nossa
conversa.
— Não estou dizendo que não errei, mas, se eu não estivesse de
olho, o menino teria morrido. Isso não vale para nada?
Ele ficou em silêncio.
Percebendo outra coisa, eu me sentei na beira do assento.
— Vocês acreditam em mim, não é? Por favor, digam que acreditam
quando falo que só pulei o muro para salvar o menino que estava se
afogando.
— Claro que acreditamos — Olive disse.
— Jason? Você acredita em mim, não é?
Ele encontrou meus olhos e suspirou.
— Acredito, Lucy, mas isso não é importante.
— Como pode não ser importante? O imbecil deveria ter caído de
joelhos e beijado meus pés por eu estar ali.
Beijar outras partes também teria sido aceitável, mas não mais. Não
permitiria que ele se aproximasse das minhas partes, muito menos que
ele as beijasse.
— Quero dizer que não importa o que eu acho. O problema é que
Adam acha que você o estava perseguindo.
Eu odeio ele. Odeio, odeio de verdade. Eu me recostei no assento e
cruzei os braços.
— O que vai acontecer agora? — perguntei quando o silêncio se
tornou insuportável.
— Vou falar com ele e pedir para que retire a acusação — Olive
respondeu.
— E como você acha que vai conseguir isso? — Jason perguntou,
olhando de lado para Olive.
— Vou explicar que Lucy só estava tentando ajudar. Não sei, ser
testemunha dela, de alguma maneira.
— Não — ele determinou, de maneira mais firme dessa vez.
— Não vou me oferecer a ele para que retire as acusações contra
Lucy, Jason.
— Que bom — Jason respondeu.
Finalmente chegamos em casa ― bem, a casa deles ― e
atravessamos os portões. Estava muito escuro, assim como meu
coração cheio de ódio. Jason desligou o carro, mas não saímos.
— Vou falar com ele — Jason disse depois de alguns instantes. —
Cuido disso, Lucy, mas você não pode subir para espiá-lo de novo.
Entendido?
— Se estamos entendidos? — perguntei, esboçando um sorriso. —
Estamos mais do que entendidos, meu novo papai. Prometo que não
vou espiar caras idiotas de novo. Agora quero saber: estou de castigo
ou não?
Já fazia quase uma semana desde aquilo que tínhamos começado a
chamar de incidente, e eu ainda estava irritado. Irritado por Aiden não
ter me ouvido. Irritado por Dan não ter cuidado da nossa segurança.
Droga, eu tinha demitido a Anne naquela noite depois de conseguir tirar
toda a história de Aiden, mas ainda estava irritado com ela.
Porém, mais do que com qualquer pessoa, eu estava irritado comigo
mesmo. Por ter sido tão descuidado a ponto de tirar os olhos de cima
do meu filho; por mais que ele fosse uma boa criança, eu era
responsável por ele. Tinha que ter cuidado dele. Deveria ter… acho que
deveria ter agido melhor.
Os portões se abriram, e eu caminhei de mãos dadas com meu filho.
Seus dedinhos apertaram minha mão, então olhei para ele.
— Está pronto, papai?
Esbocei um sorriso e assenti.
— Você está?
Ele assentiu com seriedade e olhou para mim depressa.
— Você acha que ela me odeia?
— Por que ela odiaria você? — perguntei, distraído, quando nos
aproximamos da casa.
— Porque causei um problemão, então acho que ela me odeia. Acho
que ela não quer me ver de novo.
— Duvido, amigão, mas pergunte você mesmo para ter certeza, está
bem?
— Ela era bem bonita — acrescentou baixinho. — Espero que ela
não me odeie.
Fiquei em silêncio. Não queria nem um pouco ir me desculpar com
aquela mulher enfurecida, mas pelo que Aiden tinha me contado e,
depois, Jason Thorn, ela havia salvado meu filho. Mas se Aiden não
tivesse insistido em vê-la de novo, eu nunca teria pisado naquela casa
onde ela estava hospedada.
Retirar a acusação seria mais do que suficiente para a tal invasora.
Meu Deus, pensar nela estava me deixando maluco. Sempre que
alguém falava do nome dela ― e Aiden falava muito dela ―, eu voltava
àquele dia no quintal, morrendo de medo de que um invasor ou
jornalista estivesse machucando Aiden. Eu ainda me lembrava dos
olhos acinzentados dela arregalados para mim enquanto eu segurava
seu pulso com força. Lembro que senti vontade de apertar o
pescocinho dela com minhas próprias mãos sempre que ela abria a
boca para falar.
Percebendo como minha pulsação aumentava, vê-la de novo não
seria tão fácil quanto pensei.
Antes que eu pudesse bater, Jason abriu a porta.
— E aí? O que os dois cavalheiros vieram fazer aqui?
— Você é um astro do cinema? — Aiden perguntou antes que eu
pudesse explicar o que estávamos fazendo na casa dele.
O rosto de Jason suavizou, e ele se ajoelhou na frente de Aiden.
— Sou um ator, igual ao seu pai. E você deve ser o Aiden.
Aiden arregalou os olhos e olhou para mim.
— Ele sabe quem eu sou, papai — sussurrou.
Jason riu e estendeu a mão.
— Ouvi muito sobre você, Aiden, que bom que finalmente te conheci.
Aiden olhou para a mão estendida e para mim: — Posso, papai?
— Pode, amigão.
Ele abriu um sorrisão e apertou a mão de Jason.
— Prazer em conhecê-lo, senhor. Meu pai é um grande astro de
cinema. Ele assina muitas coisas. Você também participou de muitos
filmes?
— Participei. E pode me chamar de Jason.
— Você é meu amigo?
— Gostaria que eu fosse?
Outro olhar para mim.
— Posso ser amigo do Jason, papai? Gosto dele, e ele mora muito
perto da gente, então podemos brincar.
Assenti para ele.
— Por que não conta ao seu novo amigo por que está aqui antes de
fazer planos para brincar?
— Quer brincar comigo, Jason? Às vezes, meu pai não pode.
Ah, Aiden…
— Aiden…
Por fim, olhando para os pés, ele murmurou: — Viemos ver a Lucy
porque eu não quero que ela me odeie.
Jason se endireitou, abriu mais a porta e nos convidou a entrar.
Enquanto passávamos pelo corredor estreito, os olhos de Aiden
absorviam tudo ao nosso redor e eu tive que arrastá-lo comigo.
— Lucy, você tem visita — Jason anunciou.
— O quê?
— Quem?
Duas vozes diferentes de mulheres responderam ao mesmo tempo.
E então, a invasora apareceu com uma colher de madeira na mão.
Ela me viu e ficou séria, franzindo um pouco a testa.
A outra, que eu imaginava ser a esposa de Jason, apareceu atrás
dela, e sorriu para mim, disfarçando bem a surpresa.
— O que você está fazendo aqui? — Lucy perguntou de modo hostil.
Meus sentimentos eram recíprocos; a única diferença era que eu não
conseguia agir de modo hostil com ela, não com Aiden comigo, meu
Deus! Mas eu ainda queria matá-la. Cerrei os dentes para me conter.
— Pode acreditar, também não estou super feliz de te ver — admiti.
Isso fez com que ela erguesse uma sobrancelha para mim.
— Então, por favor, saia — ela respondeu, fazendo um gesto em
direção à porta, balançando a mão.
Jason e Olive estavam acompanhando nossa conversa com atenção,
mas permaneciam em silêncio e observavam a interação entre nós. Eu
gostaria que eles tivessem interferido de alguma forma; eu teria
preferido bem mais falar com eles e não com essa maluca que
conseguia despertar algo dentro de mim. Estreitei os olhos para ela e
senti alguém puxando o bolso da minha calça.
Aiden. Certo.
— Meu filho tem algo a te dizer — falei de modo direto para que ela
percebesse que a visita não era nada que eu julgasse divertido.
Quando Aiden decidiu ficar tímido e se esconder atrás de mim, fui
forçado a dar um passo para o lado para que a srta. Invasora pudesse
ver a pessoa responsável por nossa presença ali.
— Ah, oi. Olá — Lucy disse, com a expressão mais suave quando
finalmente viu Aiden. Dessa vez, ele não se escondeu atrás de mim,
mas estava agarrado à minha perna para impedir que eu fosse longe
demais. Aiden normalmente não era um menino tímido, mas não estava
habituado a ficar perto de pessoas desconhecidas. Com toda a
imprensa dando atenção a nós, tentávamos manter nossa vida em
família o mais privada possível, o que significava que Aiden não estava
acostumado a ver muitos adultos, já que cuidávamos muito de sua
segurança.
— Oi — ele cumprimentou com uma vozinha, acenando para ela um
pouco antes de segurar minha perna e esconder o rosto.
Lucy deu um passinho à frente, mas, quando nossos olhos se
encontraram, ela parou. Eu teria preferido pegar meu filho e dar o fora
dali, mas era tarde demais para isso.
— Aiden — comecei, para que pudéssemos acabar logo e ir embora.
— O que você queria dizer à srta. Lucy?
Ele não parava de falar que queria ver a srta. Invasora de novo
desde que eu o havia buscado na casa da mãe dele no dia anterior.
— Quero perguntar uma coisa para ela — ele sussurrou.
— Pergunte, então.
— Pode perguntar por mim?
— Eu faria isso, amigão, mas não faço ideia do que você quer
perguntar a ela.
— Mas eu acabei de te falar, papai. Estávamos vindo pra cá quando
te contei, lembra?
— Aiden, eu te disse…
— Por favor, papai. Por favoooor.
Meus lábios estremeceram enquanto ele não parava de mexer a
cabeça e arregalar aqueles olhos verdes brilhantes.
Sem olhar nos olhos de Lucy de novo, eu disse: — Ele queria saber
se você o odeia por ter te colocado em apuros.
Ela olhou para mim cheia de ódio, um olhar que, admito, eu não
estava acostumado a receber. Só acentuava aqueles olhos
acinzentados e meio azulados dela, que eu nem deveria ter notado.
Ela balançou a cabeça como se estivesse decepcionada comigo.
— Foi isso que você disse a ele?
Enquanto eu tentava entender o que ela estava querendo dizer, ela
entregou a colher de pau à amiga, que claramente se divertia, e
começou a caminhar em nossa direção.
— Seja boazinha, Lucy — Jason murmurou enquanto se recostava
na parede e nos observava.
Em vez de responder a ele, ela me lançou um olhar arisco que dizia:
Com licença, mas sem esperar uma resposta, e se abaixou e se sentou
com as pernas cruzadas na minha frente.
— Oi — ela disse a Aiden de novo.
— E então, você me odeia? — ele perguntou, segurando minha
perna com força enquanto esperava a resposta dela.
— Não.
— Nem um pouco?
— Nem um pouco. Na verdade, estou feliz de te ver de novo.
Feliz com as respostas que estava recebendo, Aiden soltou minha
perna e parou na frente de Lucy.
— Está?
— Estou. Fiquei preocupada com você depois que fui embora, então
é bom te ver aqui, forte.
Sentindo-se confiante, Aiden a abraçou pelo pescoço, um pouco sem
jeito.
— Eu também não odeio você. Juro. Não como meu pai odeia.
Isso fez com que ela me lançasse outro olhar.
Ah, as alegrias de ter um filho de cinco anos muito sincero.
— Tudo bem — ela garantiu a ele, com um tapinha nas costas. —
Juro que não odeio você como eu odeio seu pai.
Como se eu me importasse. Girei o pescoço para me livrar da tensão
repentina.
— Sou seu amigo agora? — Aiden perguntou enquanto olhava para
ela com a expressão séria. — Jason acabou de concordar em ser meu
amigo, então, se você for minha amiga também, pode ir me visitar com
ele.
— Vamos, Aiden, já chega — falei, apoiando a mão no ombro dele.
Olhando para mim, ele perguntou: — É sua vez agora, papai?
Droga!
Ele olhava para mim com olhos tão esperançosos que eu não
poderia negar nada, nem mesmo um pedido de desculpa à pessoa que
eu tinha detestado desde o primeiro momento que vi.
Quando Aiden olhou para mim, o olhar de Lucy também encontrou o
meu. Olhei nos olhos dela. Olhei nos olhos dela e… não consegui
pensar em nada para dizer.
— Papai, você prometeu que faríamos isso juntos.
Eu não havia feito promessa nenhuma a respeito de nada, mas já
que estávamos afundados nisso… respirei fundo e soltei o ar quando
Lucy se levantou e deu uns passos para trás.
— Aiden me disse o que você fez e o que aconteceu depois —
comecei a falar com a voz rouca. Saber que ele tinha sentido medo
depois de perder a boia de braço e de ter começado a engolir água
tinha sido muito difícil para mim. — Não gosto do que você fez. Não
gosto nem um pouco. — Estreitando os olhos para mim, ela levantou o
queixo levemente e cruzou os braços, erguendo os seios ainda mais.
Desvie o olhar, Adam.
— Exceto o fato de que o que você fez provavelmente salvou a vida
do meu filho. Por isso e apenas por isso, sou grato.
De repente, os olhos dela ficaram mais calmos e ela abaixou os
braços. Olhou para trás e suspirou.
— Você tem razão — ela admitiu. — Apesar de eu não ter intenção
ruim, foi errado da minha parte observar vocês. Mas fico feliz por ter
estado ali na hora certa.
Pelo menos, ela foi honesta o suficiente para aceitar o fato de que o
que tinha feito era errado. Relaxei um pouco e fiz que sim.
— Obrigado. — Olhei para o rosto sorridente de Aiden. — Vamos?
— Mais um minuto? Por favor?
Fiquei curioso para saber por que ele precisava de mais tempo, e
disse que tudo bem, e ele saiu correndo em direção a Jason, parou a
poucos centímetros e inclinou a cabeça para trás. Sussurrou algo que
não consegui entender, e Jason riu.
— Sim, eu a conheço. Gostaria que apresentasse vocês dois? —
Jason perguntou enquanto acariciava os cabelos dele.
Olhando rapidamente para a esposa de Jason, Aiden assentiu.
Jason riu e eles caminharam na direção da esposa dele, que sorria.
— Parece que você tem um fã — ele disse à esposa.
— Oi, Aiden — ela cumprimentou e se inclinou para ficar na altura
dele. — Sou a Olive.
Aiden arregalou os olhos e deixou uma risada escapar.
— Olive?
— Sim, Olive.
Ele riu de novo e relaxou mais, soltando o ar que estava prendendo.
Fiquei feliz ao ver que ele se divertia, mas teríamos que ir embora logo
para que eu pudesse chegar mais cedo e fazer umas mudanças de
última hora no roteiro.
Lucy olhou para trás com um sorriso, mas, quando nossos olhares se
encontraram, o seu se tornou frio. Não teríamos uma trégua. Como eu
não pretendia vê-la de novo, para mim não havia problema algum
nisso.
— Quer tomar café? — ela perguntou. — Eles têm uma máquina de
café espresso complicada; tenho certeza de que você tem uma
parecida, então vai gostar.
O que aquilo significava? Inclinei a cabeça para o lado e a observei
um pouco. O que ela via, exatamente, quando olhava para mim com
aqueles olhos firmes? Ela não parecia uma mulher louca por gente
famosa, com certeza. Ela não agia como todas as outras mulheres
quando chegavam tão perto de mim. Não, ela não. Ela me olhava de
frente, nem sequer hesitava diante do meu olhar frio. Então, por que
diabos me observava por cima do muro?
— Não — respondi rapidamente e notei Jason se inclinar para que
Aiden pudesse sussurrar em seu ouvido.
— Ah, amiguinho, está tentando roubá-la de mim? — ele perguntou,
agindo como se estivesse magoado depois de Aiden terminar de dizer o
que queria.
O menino balançou a cabeça, negando, e olhou para Olive com
timidez. Não acredito que ele estava jogando charme para a esposa do
cara.
Jason o levantou e o sentou no balcão da cozinha.
— Diga isso a ela. Tenho certeza de que ela vai adorar ouvir.
— Sério? Tem certeza? — Aiden perguntou num sussurro.
— Pode acreditar, as moças adoram ouvir isso.
Aiden assentiu e fez cara de pensativo, refletindo sobre o que tinha
acabado de ficar sabendo. Eu não consegui não rir enquanto o
observava se deliciar com toda a atenção que estava recebendo.
— O que foi? Pode me dizer — Olive perguntou, aproximando-se
deles com um sorriso duvidoso.
— Você é muito bonita — meu filho elogiou, e eu resmunguei.
— Aiden…
— Ela não é bonita, papai?
— Claro que é, amigão, mas está na hora de irmos. Tenho certeza
de que seus novos amigos estão ocupados.
Ignorando o que eu disse, ele continuou olhando para Olive.
— Quer que meu pai assine uma foto pra você? — Ele olhou para
Jason. — As moças também adoram isso.
Lucy começou a rir com Olive. Animado, Aiden começou a rir
também. Jason olhava para a esposa, e ele sorria para ela.
Balancei a cabeça. Bobo.
— Pelo visto, você está criando um galanteador — Lucy disse
quando parou de rir e os Thorn estavam ocupados falando com Aiden.
Olhando para Lucy, ergui uma sobrancelha.
Ela murmurou algo inaudível, e eu poderia jurar que seus lábios
rosados articularam a palavra “idiota”.
— O que aconteceu com a babá atenta? — ela perguntou antes que
eu conseguisse pensar no que dizer em resposta àquele comentário
inesperado.
Desviei os olhos de seus lábios.
— Foi demitida.
— Pelo menos você fez uma coisa certa — murmurou.
— Ela deveria estar com ele. Ao contrário do que você pensa, eu não
o deixei sozinho lá fora.
— Ah, sim, a babá. Ela também limpa a sua preciosa bunda?
— Qual é o seu problema comigo? — perguntei, dando um passo na
direção dela. Em comparação comigo, ela era baixa.
Ela se afastou como teria feito qualquer mulher de bom senso? Claro
que não. Essa aqui não fez isso.
— Eu poderia te fazer a mesma pergunta. Qual é o problema que
você tem comigo? Até te ofereci café depois de você me mandar para a
cadeia. O que mais eu deveria fazer?
— Você só ficou numa sala de custódia. Por mais que queira ser
dramática, não chegou a esse ponto. Você nem sequer foi processada.
— E tenho certeza de que você fez o que pôde para conseguir isso.
Passei cinco horas atrás das grades, graças a você. E foi o que ganhei
por ter salvado a vida do seu filho!
Travando os dentes, eu me aproximei dela.
— Eu te disse que não sabia que Aiden estava em apuros. — Fiquei
olhando para ela, que me encarou de volta. Ah, que vontade de agarrá-
la pelo braço e chacoalhá-la. Talvez, assim, sua presença não me
irritasse mais tanto.
Ela olhou para os meus lábios por um instante, e eu notei como
minha respiração estava ofegante.
Notando o silêncio, olhei por cima da cabeça dela e vi Aiden
observando nós dois com muita atenção.
— As coisas fugiram do controle depressa — Olive disse a ninguém
em especial.
Lancei um olhar para Lucy, franzi a testa quando percebi que
estávamos muito próximos um do outro, e então falei com Jason: —
Sinto muito por interromper seu dia, Jason, mas acho que está na hora
de irmos.
Passando bem longe de Lucy, fui até Aiden e o ajudei a descer.
— Tchau, Olive — ele se despediu com timidez e acenou para ela.
Quando Olive se inclinou para beijá-lo no rosto e convidá-lo para voltar
mais vezes, ele a abraçou com força e agradeceu.
— Eles querem que eu fique, papai. Posso ficar?
— Eles não disseram isso, Aiden. Convidaram você para voltar mais
vezes. Preciso ir trabalhar, então precisamos ir.
— Mas você disse que a Anne não trabalha mais com a gente, então
quem vai ficar comigo?
— Tenho que deixar você na casa da sua mãe. Nós já falamos sobre
isso hoje cedo, lembra? Ela vai encontrar os pais dela em casa, então
vai cuidar de você hoje.
Tínhamos quase chegado à porta enquanto Aiden conversava
comigo, mas, quando eu falei da mãe, ele parou.
— Por favor, papai, por favor.
Olhei para todas as pessoas atrás de nós e me ajoelhei na frente
dele.
— O que está acontecendo, Aiden? — Apesar de estar claro que ele
gostava de todo mundo, estava agindo de um jeito incomum. Não era
um menino mimado; havia algo de errado.
Assim que me abaixei, ele me abraçou e me segurou.
— Não quero me afastar de você. Por favor. O Dan não pode ficar
comigo?
— O Dan está de folga. — Tirei os braços dele do meu pescoço e
olhei em seus olhos vermelhos. Droga. — Não faça isso comigo, Aiden.
Não tem ninguém para cuidar de você quando eu estiver gravando. Vou
encontrar alguém, carinha.
Ele passou as mãos nos olhos e assentiu.
— Vou sentir sua falta de novo.
Lucy interrompeu nossa conversa e disse: — Meu coração está
despedaçado.
Claro, como se eu me importasse com o coração dela. Travei a
mandíbula.
— Podem nos dar um momento?
Ela falou mais alto do que eu: — Como seu coração provavelmente é
de pedra, você não entende o que isso significa, mas só queria te dizer
que muitos corações estão despedaçados neste momento. Não que
você pareça se importar com isso.
— Lucy! — Olive sussurrou irritada atrás dela.
— O que foi? — ela perguntou à amiga como se fosse inocente
como um anjo. Aos meus olhos, ela mais parecia o diabo reencarnado.
— Só estou falando a verdade. Olha — ela começou, aproximando-se.
— Olive e Jason têm que ir a uma reunião em uma hora, mais ou
menos, mas eu não tenho nenhuma entrevista de emprego hoje. Por
que não deixa Aiden comigo aqui? Você pode buscá-lo assim que
terminar o que tem que fazer, e como estabelecemos que não quero
fazer mal ao seu filho, já que eu salvei a vida dele uma vez…
Não. Essa foi minha resposta imediata, mas, antes que pudesse
expressar minha opinião, Aiden correu até Lucy e a abraçou ― ou
melhor, abraçou as pernas delas. Suas pernas macias e torneadas.
Olhei para cima e encontrei seus olhos, mas eu já balançava a cabeça,
negando.
— Quero ficar — Aiden respondeu pela décima vez.
— Ela está certa, Adam — Jason concordou. — Olive e eu
voltaremos para casa no máximo em duas horas. Vai ser divertido.
Cuidaremos dele até você voltar, não se preocupe.
Suspirei e esfreguei os olhos.
— Não gosto disso, Aiden. Você não pode conseguir fazer com que
tudo seja do seu jeito sempre.
— Mas eu gosto daqui, papai, e se eu ficar aqui, posso ficar com
você. Você vai ter que voltar para me buscar.
— Eu sempre volto pra te buscar, Aiden. E você está aqui há dez
minutos.
Como o que ele dizia não estava dando certo, tentou uma tática
diferente: — Eu gosto da Lucy.
— E a Lucy gosta de você, ser humaninho — respondeu Lucy, e
apontou algo que eu não consegui ver do outro lado da cozinha ao
sussurrar alguma coisa no ouvido dele. Quando Aiden saiu correndo
para ver o que era, Lucy caminhou na minha direção.
— Está na cara que ele não quer ir.
— Na cara.
Fechando os olhos, ela respirou fundo, e eu observei seus lábios se
contraírem.
— Sinto muito por ter te observado, está bem? — ela resmungou. —
Foi o maior erro da minha vida. Você nem é tão gostoso assim de perto.
Se eu pudesse voltar atrás, pode acreditar que o faria. Você não é
como pensei que seria.
— Obrigado — falei. — E eu aqui pensando que você estivesse
apaixonada por mim.
Mais um sorriso falso.
— Não me apaixono, e você não é meu tipo, desculpa.
Como se eu fosse acreditar nisso depois das fotos que vi que ela
havia tirado de mim, seminu.
— Meu coração está super despedaçado, linda.
— Como deve ser, e não me chame de “linda”.
Ri e balancei a cabeça. Ela era muito atrevida.
— Bem — ela continuou —, quanto tempo vai ficar fora?
Passei a mão pelos cabelos, pensando.
— Pelo menos seis horas.
— E você não pode buscá-lo na mãe dele?
— Ela vai estar fora da cidade hoje. Já conversamos. Se eu deixá-lo
lá, ela não vai esperar até eu chegar para buscá-lo. — E por que eu
estava tão disposto a dar a ela toda essa informação de novo?
— Sem problemas, ele fica aqui até seu retorno.
Olhei nos olhos de Aiden, e o vi mostrando os músculos do braço a
Jason. Sorri. Eu não poderia deixá-lo aqui, poderia? Eu conhecia Jason
das poucas vezes que tínhamos conversado, e definitivamente não
conhecia aquela mulher maluca que estava de pé à minha frente com
cara de impaciente. Mas, se eu o devolvesse à mãe dele, ficaria mais
uma semana inteira sem vê-lo. Já estava com saudades dele, e mandá-
lo de volta para Adeline para que ele faltasse à aula e ficasse dormindo
em trailers… bem, não parecia a melhor opção no momento.
— Aiden, venha me dar um abraço — falei.
Ele virou a cabeça para mim e sorriu.
— Vou poder ficar?
— Vai poder ficar. Só dessa vez.
Ele veio correndo.
— Obrigado. Obrigado. Obrigado.
— Te amo, amigão. Seja bonzinho, está bem?
— Te amo, papai, pode ir.
Assim, ele se afastou, virou de costas e segurou a mão de Lucy,
puxando-a para longe de mim.
Quando ela olhou para mim com um sorriso… por um momento,
achei que ela era bonita.

Quando se tem um filho, tudo muda. Sua vida social, a vida no


trabalho, até mesmo a dinâmica familiar se altera. Houve um tempo em
que eu passava dias sem dormir para fazer as filmagens necessárias;
mas, ultimamente, ainda mais depois do divórcio, eu tinha que planejar
tudo de acordo com Aiden. Fazer dele minha prioridade. Ser um bom
pai. Estar em todos os lugares. Ser tudo. Porra!
Demorei sete horas para terminar tudo no estúdio. Nosso diretor,
Matthew, queria que eu ficasse mais dez horas para que pudéssemos
fazer algumas das cenas noturnas com Jamie Wilson, mas, devido à
situação de Aiden, tive que reagendá-las. A última coisa que eu queria
era que ele passasse a noite na casa de estranhos.
— Sinto muito. Tenho certeza de que vocês tinham outros planos
para hoje — disse ao entrar na casa de Jason.
— Tudo bem, cara. Olive e eu chegamos há poucas horas. Seu
carinha já estava dormindo.
— Ele dormiu?
— Acordou quando nos ouviu chegando, ou melhor, quando ouviu a
voz da Olive, mas voltou a dormir há pouco.
Entramos na área de estar, e meus olhos começaram a procurar
Aiden quando notei Olive chegando do quintal. Ela envolveu a cintura
de Jason ao me cumprimentar.
— Oi, Adam.
— Oi. Espero que Aiden não tenha dado muito trabalho.
— Ah, não deu. Praticamente estamos apaixonados um pelo outro.
Pode ser até que eu dispense este aqui se ele não parar de me enrolar
— ela disse com um sorriso enquanto dava um tapinha no peito do
marido.
Jason a abraçou e puxou para mais perto dele.
— Vou ter que ficar esperto com seu filho, Adam. Do jeito que ele
anda flertando com a Olive, acho que não tenho muita chance.
Dei risada e pisquei para Olive.
— Bom saber que ele tem bom gosto para mulheres.
Ela corou um pouco e olhou para Jason com um sorrisão. Jason
resmungou e balançou a cabeça.
— Pode ir lá fora, ele está lá com a Lucy. Acho que vou manter
minha esposa longe dos Connor hoje.
Quanto tempo fazia que Adeline tinha parado de olhar para mim
como Olive estava olhando para Jason? Anos? Quando foi que as
coisas mudaram a ponto de ela mal olhar para mim? Com esses
pensamentos nada bem-vindos, saí no quintal e vi meu filho dormindo
em uma espreguiçadeira, braços e pernas esticados à vista por baixo
de um cobertor macio de cor clara.
Franzindo a testa, olhei ao redor. Jason não havia dito que Lucy
estava com ele? Escutei uma voz baixa vindo de algum ponto ali perto,
então a segui até a lateral da casa.
— Eu te disse que ficaria na casa da Olive, Catherine. Não. Bem,
então eu disse ao seu correio de voz que ficaria na casa da Olive. Não.
Como eu poderia saber que você queria fazer algo na minha formatura?
Tem razão. Sinto muito.
O tom de sua voz e o modo como seus ombros estavam curvados
eram bem diferentes da mulher que até aquele momento tinha me feito
parar. Claramente era um telefonema pessoal, e eu quis dar
privacidade a ela. Deveria ter feito isso, mas, na minha opinião, retribuir
não seria errado. Em vez de sair, eu me recostei na árvore mais
próxima e fiquei escutando o lado dela na conversa.
— Na verdade, estou ajudando Olive, Catherine. Eu não disse isso.
Eu sei. Eu sei. — Ela começou a andar de um lado a outro, e se tivesse
virado a cabeça um pouco, teria me visto, mas a noite escondia minha
presença. — É esse o problema, acho que não quero ser
administradora. Sim, sei disso, mas só escolhi estudar isso porque você
quis. Eu me lembro com clareza do dia em que você disse que pararia
de pagar minha faculdade se eu pensasse em mudar de curso. Sim, eu
sei.
Ela parou, e eu prendi a respiração.
— Sinto muito por todo o trabalho que causei, Catherine, mas eu
tinha só cinco anos quando ela me deixou com você. Não tive como
escolher. Nunca tive escolha. Queria que você sentisse orgulho de mim.
— Fez uma pausa comprida. — Compreendo.
Ela virou o corpo e, graças à luz da lua, consegui ver seu rosto com
mais clareza. Ela era bonita, ainda mais à luz da lua. Infelizmente,
também era uma bela de uma lunática ― uma lunática bonita, é
verdade, mas ainda assim uma lunática. Prendeu os cabelos curtos
atrás das orelhas e fechou os olhos.
Por um breve instante, fiquei tentando imaginar como seria tocá-la.
Será que seus lábios eram macios? Será que ela sorriria para mim
como tinha sorrido para o meu filho? Eu me lembrei do dia em que a
encontrei no quintal toda encharcada e com ódio. Para ser sincero,
gostei de sentir o corpo dela contra o meu, sua respiração ofegante, os
olhos irados. Por uma fração de segundo, eu a achei muito sensual. Se
a tivesse encontrado na rua, em uma cafeteria ou mesmo em um
estúdio, poderia ter transado com ela loucamente. Balançando a
cabeça, afastei esses pensamentos inconvenientes. Ela era a última
pessoa com quem eu pensaria em ficar; não era maluco. Havia milhões
de mulheres lindas por aí.
— Desculpe se acabei me tornando parecida com minha mãe,
Catherine — ela disse depois de mais uma pausa comprida. — Olive
quer que eu seja a agente dela, mas ainda assim vou procurar um
emprego. Tá. Tá. Talvez eu vá falar com a empresa que você
mencionou.
Alguns segundos depois, ela encerrou a ligação e encostou a cabeça
na parede. Apesar de eu não ver problema em escutar a conversa dela,
já que ela tinha feito exatamente a mesma coisa comigo, de certa
forma, não me pareceu certo. Mesmo assim, não consegui me afastar.
Cruzei os braços e esperei que ela me notasse observando.
Para minha surpresa, não demorou muito para que ela se
esquecesse dos efeitos que a ligação havia causado nela. Assim que
me viu, fez cara de irônica de novo ― e com isso eu quero dizer que
ela parecia prestes a soltar fogo pelas ventas.
— O que você está fazendo aqui? — perguntou, caminhando na
minha direção.
— Vai ficar fazendo a mesma pergunta sempre que me vir?
— Se você estiver em um lugar onde não deveria estar, sim, acho
que vou.
— Você gosta disso, não é?
— Do quê?
— De deixar as pessoas se sentindo mal — expliquei. — Já que
você é tão boa nisso, imagino que não sou a única vítima.
Ela manteve os olhos calculistas em mim por um momento, então a
observei passar por mim sem nem olhar de novo.
— Todo mundo me ama, obrigada.
Tive que rir disso. Ela virou a cabeça para me olhar e franziu a testa
ainda mais.
— Em vez de vir me espiar, você deveria ter ficado com seu filho.
— Ele está dormindo — eu disse. — Sem falar que, quando ele
dorme, não acorda por nada, a não ser que já esteja descansado. Devo
lembrar que foi você quem o deixou sozinho?
— Eu o deixei com a Olive, e não importa o que você diga, ele
poderia acordar e entrar na piscina. Você deveria cuidar melhor dele.
Eu saí de onde estava e me aproximei antes que ela pudesse chegar
onde Aiden estava dormindo. Segurei seu braço e a virei para mim.
— É a segunda vez que você ofende minhas habilidades como pai —
falei entre dentes enquanto baixava a cabeça para encará-la. — Não
vamos ter uma terceira vez. — Como era possível que ela conseguisse
me irritar toda vez que abria a boca?
— Veremos. — Ela estreitou os olhos para mim e chacoalhou o
braço para me afastar. — Tire sua mão de mim.
Fiquei envergonhado em admitir que tive que me forçar a soltá-la.
Dei um passo para trás. Meu Deus, ela me deixava muito puto. Até
então, toda tentativa de ter uma conversa civilizada com ela me levava
para onde tínhamos começado.
— E pensar que eu estava considerando te oferecer um emprego.
Ela franziu a testa e inclinou a cabeça.
— Que emprego?
— Com quem você estava falando?
— Que emprego?
— Com quem você estava falando, Lucy?
— Que emprego, Adam?
— Alguém já te disse que você é insuportável?
— Não sei o que dizer… você traz o pior de mim à tona.
Nos entreolhamos e ficamos parados. Decidido a ignorar o fato de
ela ter olhado para os meus lábios duas vezes, dei um passo para trás.
Tinha a sensação de que, se ficássemos muito perto por mais do que
alguns segundos, ela me faria pegar fogo.
Ficamos nos encarando. Era inevitável quando nos víamos.
Em seguida, ela bufou e esfregou os olhos.
— Realmente, você desperta o pior que há em mim. Acho que não
gosto de você.
Que sincera.
— Também acho que não gosto muito de você, então não precisa se
sentir mal por isso.
— Eu não estava me sentindo mal, mas obrigada.
Jesus, ela era difícil.
Ela respirou fundo e visivelmente se endireitou, aparentemente para
relaxar os músculos.
— Eu estava falando com a minha avó. Não nos falamos muito,
então acho que estou… tensa.
— Percebi isso. Então você está procurando emprego?
— Acho que sim.
— Não sabe?
— Estou procurando. Tenho procurado. Também tenho trabalhado
como agente de Olive temporariamente, tentando fechar um contrato
para o próximo livro ou para os próximos livros dela, dependendo do
contrato, claro. Por enquanto, não tem me impressionado muito o que
eles têm oferecido. — Ela deu de ombros. — Não sei bem o que estou
fazendo, mas parece que ela confia em mim, por isso não poderia dizer
não. Estou só tentando ajudar, e espero que eu não esteja estragando
as coisas.
Como ela estava se comportando como uma pessoa razoavelmente
normal, relaxei na conversa.
— Parece que você está fazendo tudo o que uma boa agente faria.
Mais um erguer de ombros.
— Talvez. Eu sou formada em Administração, não sei se seria muito
boa como agente dela. De qualquer modo, eu aceito — disse ela, e
esperou com expectativa.
— Aceita o quê? — perguntei, confuso.
— Pensei em facilitar as coisas para você.
— Do que está falando?
— Não vai me pedir para cuidar do seu filho enquanto estiver
gravando amanhã ou seja lá o que vocês fazem? Jason passa a maior
parte do tempo no set. Então pensei que você…
Ergui a mão para interrompê-la.
— Como você… olha, quer saber? Não importa. Na verdade, eu
planejava perguntar se você poderia cuidar dele por mais alguns dias.
Não sei por que, mas ele parece gostar de você. — Eu havia telefonado
duas vezes para falar com Aiden durante o dia, e ele não parou de falar
que Lucy era muito legal, e nem ouvia o que eu dizia. Na minha frente,
Lucy abriu um sorriso super falso, e eu poderia apostar milhões que ela
me xingava demais em sua mente, ou talvez estivesse planejando
minha morte. De qualquer modo, eu estava começando a gostar de
irritá-la. — Só estou perguntando, porque não consegui encontrar
ninguém que gostaria de contratar para período integral. — Depois do
divórcio, Adeline havia ficado com nossa assistente, e eu ainda não
tinha tido tempo de encontrar alguém. — Apesar de achar irônico pedir
para uma pessoa que me espiou cuidar do meu filho, tenho que admitir
que você já salvou a vida dele uma vez, então sei que vai ficar atenta.
Isso é o básico da cartilha de quem persegue alguém, não? Além disso,
não tenho outras opções no momento, não com a mãe dele fora da
cidade.
— Antes de mais nada — ela começou, com os olhos cheios de
raiva. — Por que tenho a sensação de que você está esperando um
agradecimento meu? Já me desculpei por ter sido curiosa.
— Ah, invasão mudou de nome agora?
Duvido que ela tenha me escutado, porque continuou falando.
— Não vou ficar me desculpando sem parar, então pare de me
chamar de espiã e serei babá do seu filho por uma semana, sem
problema. É o que tenho sido ultimamente. Temporária. — Ela se virou
e começou a andar depressa. — Desde que você não esteja por perto,
claro. Não vou com a sua cara.
Eu a segui.
— Você já teve namorado? Porque estou tendo dificuldade para
imaginar que alguém consiga te suportar. — Enquanto eu a insultava de
novo, acabei olhando para sua bunda grande e vi como a calça jeans a
envolvia. Não tinha nada pequeno nela: nem a bunda, nem a
personalidade, com certeza.
Ela parou e eu quase trombei nela. Por pouco não toquei seu quadril,
mas podemos pular essa parte.
— E consigo entender totalmente por que sua esposa pediu o
divórcio, sr. Connor — ela disse, sem saber em que eu estava
pensando. — Não tive tanta dificuldade para entender isso. Quando
puder, por favor, me dê o telefone dela para eu poder ligar e dar os
parabéns pela sábia decisão.
Por que meu pau latejou quando ela me chamou de sr. Connor? Por
que reparei na bunda dela, para começo de conversa? De qualquer
modo, trocamos olhares hostis e continuamos andando como se não
tivéssemos acabado de nos insultar enquanto eu olhava para o traseiro
dela.
— Claro que vou pagar a você pelo trabalho — continuei.
— Uma babá valorizada. Que incrível. Quanto vai me pagar?
Gostaria de lembrar que fiquei emocionalmente abalada com aquelas
cinco horas na prisão.
Ignorei a provocação.
— Dan, o chefe de segurança, ou guarda-costas,
independentemente de como quiser chamá-lo, o busca na escola e o
deixa em casa, então você não vai ter que ficar com ele o dia todo.
— Posso buscá-lo também se você precisar que seu guarda-costas
te proteja das fãs animadas. Que Deus não permita que elas te vejam.
O que você vai fazer sem ele?
Vi Aiden dormindo e, não muito longe, Olive sentada no colo de
Jason. Como estavam de olho nele, puxei o braço de Lucy para pará-la.
Disse a mim mesmo que estava fazendo isso só por não querer que
Aiden ouvisse minha voz e acordasse. Foi quase só por isso.
Quando toquei sua pele, eu a senti fria. Ela era fria. Soltei antes que
ela pudesse me afastar.
— Você vai precisar assinar um acordo de confidencialidade.
Ela abriu a boca para reclamar, como eu esperava, mas a fechou
sem nada dizer. Ela me observou e permaneceu em silêncio enquanto
passava as mãos pelos braços. Eu já conseguia ver a pele arrepiada.
— Vamos entrar, você está com frio.
Por que pensei que ela me daria ouvidos? Ela manteve a pose e
suspirou.
— Vou assinar. Não pretendo falar com ninguém sobre você.
— Não é só sobre mim. Você não pode falar sobre nada que escutar
enquanto estiver com Aiden. Nem mesmo com seus amigos.
Ela olhou para os amigos e algo mudou em sua expressão. Não
gostei, menos ainda dos seus olhos calculistas. Nada de bom sairia
dali.
— Vou cuidar de Aiden e vou assinar seu acordo de
confidencialidade idiota, mas tenho um pedido a fazer — ela disse por
fim, olhando nos meus olhos.
— Não estou te contratando para que você seja babá em tempo
integral. Você não faz pedidos.
— Faço. E peço para dormir na sua casa durante a semana. Vou
ficar com a Olive depois que você chegar, então você não vai me ver,
mas volto para dormir.
Verdadeiramente confuso, franzi a testa para ela e perguntei: — Por
quê?
Jason não a queria na casa?
Sei lá, eu entenderia se fosse o caso, mas por tudo o que ele tinha
dito a respeito dela quando foi falar comigo para retirar a acusação,
pensei que ela fosse importante para ele, de alguma forma.
— Olhe para eles — Lucy disse, meneando a cabeça para Jason e
Olive. Olhei e vi o que já tinha visto um minuto antes: Olive sentada
entre as pernas de Jason, e ambos sorrindo e conversando.
— E daí?
Ela suspirou e revirou os olhos.
— Eles se amam.
Como se isso explicasse tudo.
— Gostaria de entender a sua língua, porque estou achando que
assim muitas coisas passariam a fazer sentido. Mas eu não entendo,
então você vai ter que ser clara. Por que você dormiria na minha casa
por eles se amarem?
Os arrepios voltaram e ela enfiou as mãos nos bolsos de trás,
fazendo com que seus seios subissem, mas ela não notou.
Olhei para eles.
— Eu estava namorando um cara e fomos morar juntos, mas, depois
que nos formamos, ele foi embora da cidade.
— Você está dizendo que ele te deixou. Esperto.
Ela demonstrou raiva nos olhos, e contraiu os lábios.
Sorri.
— Desculpa, não precisava disso. Continue.
— Meu nome não estava no contrato da casa, por isso quiseram que
eu saísse. Como você é um cara super esperto, tenho certeza de que já
sabe que não sou muito próxima da minha avó. Se eu fosse morar com
ela… não quero nem pensar nisso. Digamos que ela me tira a vida, o
positivismo, tudo. Então, claro, Olive me recebeu, e eu estou aqui há
mais de duas semanas.
— Ainda não entendi aonde você quer chegar com isso, linda.
— Não me chame de linda. Já estou avisando pela segunda vez.
Detesto quando as pessoas usam essa palavra com esse tom.
Ela me observava enquanto se apoiava em um pé e depois no outro,
com as mãos ainda nos bolsos, os ombros tensos e erguidos.
Antes de cruzar os braços, fiz um gesto pedindo para que ela
prosseguisse.
— Como eu disse, estou aqui há mais de duas semanas, e esta é a
casa deles. Tudo bem, eles passaram a primeira semana em Londres,
mas mesmo assim. E se Jason quiser transar loucamente com ela na
cozinha?
Abaixei os braços.
— Bom, ele não vai poder — ela continuou. — Não vai poder porque
eu estou na casa. Não que eu fique tentando ouvir o que estão fazendo,
mas não escuto nem um gemido à noite e, pode acreditar, a Olive
geme. Bom, a Olive esperou muito tempo por esse cara, e ela merece
fazer sexo barulhento e de tirar o fôlego, por isso vou dormir na sua
casa. Assim, eles terão uma semana para fazer o que quiserem onde
quiserem. E também espero poder alugar um apartamento assim que
conseguir um emprego.
Paralisado, só consegui erguer uma sobrancelha para ela. Será que
eu tinha enlouquecido, pensando que Aiden poderia passar alguns dias
com ela? Claramente satisfeita com minha reação, ela assentiu, virou-
se e foi até os amigos, mas tropeçou em alguma coisa e não teve
tempo de soltar as mãos para se equilibrar. Eu a segurei pelo braço um
segundo antes de ela cair de cara em um vaso.
Ela me agradeceu, por acaso? Teria sido pedir demais.
— Minha nossa, Olive! — ela gritou. — Vou ter que cortar todas
essas plantas com minhas próprias mãos! — Em seguida, ela se virou
para mim e deu de ombros antes que eu pudesse me afastar. — E por
que você fica me segurando, Deus do céu? Sempre que pode, você me
segura. É fetiche ou coisa assim?
Não me lembro de ter dito “sim” ao seu pedido, mas ela tinha
conseguido se convidar a ficar na minha casa.
A cada dia que passava, eu detestava Adam Connor ainda mais; não
sei nem como era possível… não me pergunte. Isso havia, de alguma
forma, começado a se tornar um assunto importante para mim. Por
quê? Porque ele era… um idiota, porque ele fazia exercícios físicos
sem camiseta no quintal, porque ele fazia o filho rir, porque seus braços
eram musculosos, sensuais e cheios de pelos, porque havia algo
chamado tesão por braços, porque a voz dele tinha a capacidade de
causar pequenos orgasmos, orgasmos minúsculos e irritantes que me
forçavam a cruzar as pernas ou aplicar um tipo de pressão. Detestava
esses orgasmos; eles me deixavam insatisfeita e só me faziam lembrar
que eu não transava há semanas. Semanas, eu disse! Sem falar de
sexo em si, eu estava até sem beijos. Um simples beijo inocente. Dá
para imaginar o que isso causa numa mulher? Seu corpo reage de
modo diferente a todos os tipos de coisas.
Adam Connor era uma delas.
Arrepios.
Em todas as partes.
Compridos.
Curtos.
Dolorosos.
Arrepios cheios de prazer.
Você já teve um orgasminho só porque um cara disse ― não,
sussurrou, eu te amo, carinha para o filho dele enquanto o colocava
para dormir? Não? É só comigo? Bom, me desculpe pra caramba,
então. Você deveria ir ao médico para ver se está tudo funcionando
bem se não sente arrepios quando escuta Adam Connor dizer ao filho
que o ama. Então, sim, Adam Connor era um idiota por me deixar
arrepiada ― e estou pegando leve para não falar baixarias.
Consegue me entender ou precisa que eu continue com a lista de
motivos pelos quais eu detestava tanto Adam Connor?
De modo geral, a voz dele era um saco. Independentemente de ele
estar professando amor ao seu filho ou conversando com a ex em
sussurros, a voz dele era péssima assim como ele.
Mas o primeiro dia no emprego inesperado de babá não foi tão ruim;
eu ainda não tinha causado o efeito total nele naquele momento. Eu
havia passado a maior parte do dia grudada no telefone conversando e
enviando e-mails para editoras, tentando conseguir o melhor contrato
para os livros da Olive. E sabe de uma coisa? Por mais que eu tenha
pensado que não seria útil para ela, estava começando a perceber que
não era muito ruim nisso, então, minha Olive querida estava certa,
afinal. Os acordos que estavam em discussão ― eu tinha quatro, até o
momento ― já eram melhores do que os que outros agentes tinham
prometido conseguir. Ou seja, eu estava fazendo um ótimo trabalho
como agente temporária.
Então, perto das três horas, o grande e malvado guarda-costas
deixou Aiden e disse, com grosseria, para eu mantê-lo em segurança e
dentro do perímetro da casa, como se estivesse entregando o
presidente aos meus cuidados ― não que eu não fosse protegê-lo, mas
ele era um menino de cinco anos, pelo amor de Deus. Mas o resto do
dia e da noite passaram bem. Nós nos divertimos e falamos sobre
várias coisas, desde amigos, estudos e as meninas com quem ele
gostava de se sentar na escola até por que ele não gostava de dormir
em trailers. Em determinado momento, Olive saiu de onde estava
escrevendo, dando uma pausa em seu mais recente livro para tomar
sorvete conosco.
Vocês deveriam ter visto como Aiden ficou tímido perto da Olive,
olhando para ela sem parar. Ele seria um destruidor de corações, disso
eu tinha certeza. Assim como o idiota do pai dele, mas Aiden não seria
um idiota; ele era lindinho demais para isso. Era divertido. O pequeno
ser humano era divertido, bonitinho e esperto ― tudo o que o pai dele
não era, e talvez eu estivesse um pouco apaixonada por ele. Pelo filho,
não pelo pai.
Com certeza não pelo pai.
Porque quem se apaixonaria por um idiota que tinha uma voz que
causava orgasmos, não é?
Pois é.
Bem, eu tinha desistido totalmente do amor, não é? Era melhor ficar
longe da peste a qualquer custo.
Então, foi tudo ótimo até ele buscar o Aiden, que estava dormindo.
Trocamos duas palavras, no máximo, mas ele me fez assinar o contrato
de confidencialidade idiota e me disse que tinha um quarto pronto para
me acomodar. Disse que no dia seguinte, eu deveria ficar com Aiden na
casa deles e não na de Olive. Só concordei sem dizer nada e
desapareci da sua frente enquanto ele, aos sussurros, conversava com
Jason, e Aiden logo adormeceu no ombro dele.
No segundo dia, recebi uma ligação de um número desconhecido
enquanto enviava um e-mail para Tom, o agente de Jason, para saber a
opinião dele a respeito de algo. Era Dan, o Bambam, bem grosseiro,
me mandando ir à casa ao lado. Irritada por ele ter desligado na minha
cara antes que eu pudesse responder, fui até a casa, mas vi que ele já
tinha saído. Deixei quieto. Mais ou menos.
Ver o rosto feliz de Aiden também ajudou. Seria o primeiro dia que eu
passaria a noite na casa dele e, quando lhe disse isso, Aiden pareceu a
pessoa mais feliz porque, de acordo com ele, eu seria a primeira amiga
a dormir na sua casa, e nós nos divertiríamos muito.
Mais uma vez, tudo estava perfeito até Adam aparecer. Enquanto
escutava o filho falar sobre seu dia, ele levou o pequeno ser humano
para a cama. Eu pensei que não voltaria logo, mas ele me encontrou
quando eu estava subindo a escada que tinha apoiado em seu muro
mais cedo.
— O que diabos você está fazendo? — perguntou, quase me
fazendo cair.
— Cantando Hakuna Matata — respondi sem olhá-lo. Nunca se deve
olhar nos olhos do demônio. Eu consegui senti-lo balançando a cabeça
em reprovação, mesmo assim. Imbecil que gostava de julgar os outros.
— Você não acha que vou passar pelo portão toda vez que quiser ir
para a outra casa, né?
— Seria o que uma pessoa normal faria.
— Ser normal é chato. Você pode fazer isso. Assim… — Cheguei ao
topo, montei no muro e finalmente olhei para ele, não para os olhos
dele; seria demais — … é mais rápido e mais fácil.
— Se quiser quebrar o pescoço, fique à vontade — ele disse,
cruzando os braços. Parecia imponente, o feioso.
Abri um sorrisão falso, mostrando todos os dentes.
— Que atencioso. Estou emocionada. — Quando estava prestes a
descer, ele chamou meu nome, então olhei de novo.
— Pelo menos, tenha o cuidado de quebrar o pescoço quando
estiver do outro lado do muro.
Mostrei o dedo do meio para ele com um sorriso meigo e ignorei o
fato de ele ter esboçado um sorriso em resposta.
Quando pisei do outro lado do muro e o arbusto idiota arranhou meu
braço de novo, escutei a voz dele.
— Se quiser dormir aqui, volte em uma hora ou vou ativar o alarme.
— Me dê o código — falei mais alto para que ele pudesse me
escutar.
— Não.
Então, escutei seus passos no caminho de pedra. Quando voltei a
subir para dizer não sei o quê ― talvez para gritar com ele por um
motivo que eu ainda estava por definir ―, ele já tinha entrado na casa.
Falei mal dele para Olive durante uma hora inteira, jantei com ela e
com seu marido engraçadinho e voltei a pular o muro.
Quando bati à porta de vidro, Dan me deixou entrar com uma
carranca contida. Entrei na sala, fui direto para o quarto onde a última
babá tinha dormido e peguei no sono resmungando. Dizer que eu não
era bem-vinda era pouco. Ele também não era bem-vindo ao meu
coração… não que ele tivesse interesse no meu coração, mas…
Vamos esquecer isso.
O terceiro dia era uma quarta-feira, e foi um dia feliz. Adam não
voltaria do estúdio, e o guarda-costas usou frases completas para falar
comigo. Exatamente três frases, mas quem estava contando, não é?
Poderia jurar ter visto um sorriso também, mas talvez tenha sido ilusão
minha. Aiden soube que o pai não voltaria para casa e começou a
chorar. Deve ter sido o dia incomum ou algo assim, porque quando eu o
vi chorar sentido sem emitir nenhum som, senti meu coração partido, e
chorei um pouco com ele.
Pois é, Adam Connor não voltaria para casa… isso não era um dia
feliz. Era um dia triste, bem triste.
O quarto dia foi tranquilo. Olive ficou conosco de novo, e eu
mencionei por alto os acordos que tinha conseguido, sem entrar em
detalhes. No resto do dia, passei muito tempo assistindo Bob Esponja e
cuidando para que Aiden sorrisse.
Fugir dos telefonemas de Catherine também foi um dos pontos altos
do dia.
Dormi enquanto estávamos assistindo a O Rei Leão na sala de estar.
Quando acordei, Aiden não estava mais no chão, com as pernas para
cima enquanto olhava para a tela plana gigante. Eu estava
confortavelmente acomodada sob um cobertor fino que não estava ali
quando cochilei. Levantei e fui para a cama, dizendo para mim mesma
que Adam Connor não tinha consideração nem gentileza suficientes
para me cobrir.
Não o vi naquele dia.
Foi um dia meio triste.
Idiota.
No quinto dia…
No quinto dia, Adeline Young, a ex de Adam, mãe de Aiden, pegou o
menino na escola. Adam me ligou para dizer que eu não teria que
cuidar dele naquele dia. Ele parecia irritado, então não fiz perguntas.
No sexto dia, não vi nem o pai nem o filho. Eu deveria cuidar de
Aiden apenas por uma semana, então foi meu último dia com ele. Com
eles. E foi… ah, foi um dia normal, eu acho.
Apesar de Dan se opor, eu sentia que havia tomado a decisão certa
pedindo a ajuda de Lucy. Sim, até onde sabíamos, ela não tinha
experiência com crianças, mas eu a havia observado com Aiden, e
ouvido Aiden falar muito sobre ela. Ele ficava feliz com ela, e eu queria
que ele ficasse feliz. Tirando isso, eu sabia que ela o manteria
protegido. Ela já tinha feito isso uma vez. Além disso, Dan fizera uma
investigação assim que ela saiu da nossa casa com os policiais naquele
dia.
Ela tinha a ficha bem limpa.
No primeiro dia que ela cuidaria de Aiden, Dan havia insistido para
que colocássemos um pequeno dispositivo de escuta em um dos
brinquedos do Aiden para ter certeza de que tudo correria bem ao longo
do dia. Eu não fui contra; era a segurança do meu filho. Exagero? E
daí? Me deixou tranquilo.
Quando fui à casa de Jason para buscar Aiden, eu tinha dormido
apenas três horas. Pedi para que Lucy, a reclamona, assinasse o
maldito termo de confidencialidade, e ela reclamou mais, e então saí de
lá o mais rápido possível.
No segundo dia, depois de passar um tempo com Aiden, vi Lucy,
com aquele traseiro bem firme, subir o muro que separava a
propriedade de Jason da minha.
Apesar de ser um pé no saco, ela estava fazendo o melhor que podia
para não atrapalhar, o que me surpreendia, já que ela tinha espiado
meu filho e eu por sabe Deus quanto tempo.
Seria a primeira noite que ela passaria na minha casa, e eu preferia
manter o máximo de distância possível dela. Eu havia aceitado seu
pedido só por não ter opções. Aiden tinha a tendência de se fechar
quando não estava feliz, e levá-lo para as gravações estava fora de
cogitação. Eu nunca me esqueceria de como odiava quando meus pais
levavam Vicky e eu com eles, e se esqueciam de nós por horas
enquanto se fechavam em seu próprio mundo. Claro, mandavam seus
assistentes verem se ainda estávamos vivos e comportados, mas, em
alguns dias, nós mal os víamos. Mas éramos bons troféus. Vicky, com
cabelos loiros e grandes olhos verdes, era o acessório preferido da
minha mãe. Ela a vestia bem e cuidava para que chamasse atenção,
para que os paparazzi tirassem fotos dela e falassem sobre suas
roupas da moda.
Era parecido comigo e com meu pai. Claro, não surgíamos nas
capas das revistas por causa das nossas roupas, mas não era esse o
objetivo, certo? A família Connor era uma marca e pronto.
Nossas melhores lembranças eram dos meses que passávamos sem
ver nossos pais quando eles tinham que viajar para gravar. Não seria
assim com Aiden. Era esse meu maior objetivo.
O terceiro dia foi bem comprido. Entre tentar encontrar uma nova
relações públicas e gravar as cenas extras do filme, fiquei assoberbado.
E, no meio, aconteceu uma discussão com Adeline sobre Aiden, e mais
uma discussão no estúdio a respeito do meu contrato… e meu dia ficou
uma merda.
Já amanhecia quando cheguei em casa. Apesar de estar acordado
há mais de trinta e seis horas, fiz questão de passar um tempo com
Aiden antes de Dan levá-lo para a escola.
Nesse dia, não vi o rosto sorridente de Lucy Meyer.
No quarto dia, quando cheguei em casa, eu os encontrei dormindo,
um de cada lado do sofá, enquanto Simba rolava com Nala na
televisão.
Não me aproximei deles, só fiquei observando em silêncio.
Aiden estava dormindo com a boca aberta, como sempre, com as
mãos embaixo da cabeça. Murmurava algo e chutou as pernas de Lucy
sem muita força quando se virou de lado. Desviei o olhar para o rosto
de Lucy. Ela estava encolhida, com os joelhos flexionados.
Os cabelos dela, na altura dos ombros, estavam presos em um
coque, me dando uma visão clara do seu rosto. Consegui ver parte do
seu ombro por uma abertura da camiseta. Ela parecia muito inocente, o
oposto completo de como costumava agir. Se não tivesse escutado a
interação entre ela e Aiden, acho que não teria me sentido seguro para
deixá-lo com ela, mas como eu sabia exatamente como passavam o
dia, porque Dan me contava, eu me conformei com minha decisão
apressada.
A porta atrás de mim abriu e fechou, e Lucy se remexeu. Mantive os
olhos nela, esperando que despertasse e me acusasse de alguma
coisa, mas, exceto pela remexida, ela continuou adormecida.
— Eles já dormiram? — Dan perguntou, parando ao meu lado.
— Parece que sim.
— Ela é boa com ele — disse Dan num tom suave enquanto os
olhava. — Está ensinando como cantar com a amiga dela, e ele está
ensinando as duas a interpretar. Ele é bem exigente.
— Parece que você se divertiu ouvindo a conversa deles.
— É verdade — respondeu, e eu sorri ao notar seu tom.
— Ela é osso duro de roer — comentei, sem conseguir parar de olhá-
la.
Dan resmungou, então me forcei a olhá-lo. Notei que ele também
olhava para ela.
Pigarreei e caminhei em direção à cozinha. Depois de hesitar por um
segundo, Dan me seguiu.
Abri a geladeira para pegar um pouco de água.
— Parece que tudo está bem. Não havia ninguém à espera hoje.
— Que bom. Eles estão mais em cima de Adeline do que de mim.
— Como foi sua conversa com ela? Acha que vai conseguir
convencê-la sem precisar da justiça?
Suspirando, me recostei na geladeira.
— Quer beber alguma coisa? — perguntei, pegando uma garrafa de
água.
— Fica pra próxima.
— Não, ela não está me levando a sério. Não sei o que está
aprontando, mas não vai ser tão fácil quanto pensamos. Pensei que ela
aceitaria tudo, já que ele é o motivo pelo qual ela pediu o divórcio, mas
talvez não fosse só isso. Não faço ideia do que pode estar passando
pela cabeça dela.
— Talvez ela precise de tempo. Talvez se preocupe com o que o
público vai pensar se ela não brigar pela guarda do filho — Dan
sugeriu, recostando-se casualmente na porta aberta.
— Talvez — falei, e tomei uns goles de água. — Pode ser isso.
Talvez ela ceda.
Só Deus sabia que o que o público pensava dela. O que os amigos
diziam por trás eram coisas que importavam demais para Adeline. Ela
não conseguiria explicar a repentina ausência de Aiden em sua vida.
— Não se preocupe, ela vai ceder. Além disso, não seria ruim para
Aiden se ele só a visse nos fins de semana.
— Quero que ele fique comigo, Dan — disse. Dan era uma das
pessoas que sabiam quase tudo sobre a família Connor, as coisas boas
e as ruins.
— Sei que quer, chefe, mas essas coisas levam tempo. Deixe-a em
paz por enquanto. Vamos ver o que ela vai fazer agora que está livre de
tudo o que a prendia.
Palavras de Adeline, não dele.
Fiz que sim e me calei.
Dan se endireitou e olhou para trás, para a sala de estar.
— Se você está com tudo sob controle aqui, vou me retirar.
— Claro, eu te ligo mais tarde, mas você não precisa levar Aiden
amanhã. Prometi que vou levá-lo para a aula. Depois, tenho a reunião
com a nova empresa de relações públicas. — Olhei para o relógio na
parede: 23h. — Tire a manhã para descansar, se quiser. Vou gravar
depois da reunião, de qualquer modo.
— Pensei que fosse finalizar as coisas esta semana. Ainda está
gravando?
— Sim, Matthew, o diretor, quer testar um outro final e estendê-lo
com algumas cenas a mais.
— Certo, conversaremos antes de eu buscar o Aiden — Dan disse, e
então parou na entrada da sala de estar.
— Precisa de ajuda para levar um deles para a cama? — Ele ergueu
uma sobrancelha e esperou uma resposta. Acho que sei a quem ele se
referia, e não gostei da insinuação.
Joguei a garrafa de água no cesto de lixo e caminhei até ele. Eles
ainda estavam dormindo.
— Não. Ela provavelmente faria um escândalo e nos acusaria de ter
abusado dela enquanto dormia.
Dan riu.
— Verdade, verdade. — Virando-se de costas para aquela cena, ele
apoiou a mão no meu ombro e me olhou com seriedade. — Tome
cuidado, Adam. Ela pode ser boa com o Aiden. Mas isso não quer dizer
que seria boa com você.
— O que está querendo dizer?
— Só te alertando.
— A respeito do quê? — perguntei com a voz mais séria.
Ele ergueu as mãos espalmadas e saiu depois de dizer: — Eu vejo
como você a observa. Aceite esse conselho de um amigo, só isso.
Eu não tinha certeza se ele estava me alertando por estar
interessado na moça ou por um motivo totalmente diferente. Deixei isso
para lá e peguei Aiden nos braços com o máximo de delicadeza.
Ele abriu os olhos levemente enquanto eu o aconchegava na cama.
— Papai?
— Shhh — murmurei, acariciando seus cabelos com os dedos.
Com os olhos entreabertos, perguntou: — Você não vai morrer
ainda, não é?
Os efeitos do Rei Leão…
— Não, carinha. Agora está na hora de dormir.
— Tá. — Ele assentiu e se cobriu até o pescoço. — Lucy chorou
quando Mufasa morreu, então eu a abracei e disse que foi tudo
inventado e que ela estava sendo boba. Eu estava certo, não estava?
— Ela chorou?
— Sim, chorou de verdade, com lágrimas e tudo, não um choro falso
como o da Penny da minha sala. Eu a abracei, dei um tapinha nas
costas dela e ela riu.
— Bom trabalho, cara — falei, sorrindo. — Agora, volte a dormir.
— Mas eu estava certo, não estava? Fiz bem?
— Você fez bem, Aiden.
— Te amo, papai.
Dei um beijo na testa dele.
— Também te amo, Aiden.
Em segundos, ele dormiu.
Assim que apaguei as luzes do quarto, meus pés me levaram para
onde Lucy estava.
Então ela chorou por causa de Mufasa… apesar de todas as vezes
que disse me odiar, ela tinha coração, afinal.
Me ajoelhei na frente dela e esperei que despertasse e gritasse
comigo. Ela não fez isso, então surpreendi a mim mesmo tocando seu
pulso exposto. Talvez eu quisesse que ela acordasse e gritasse comigo.
Talvez eu me divertisse vendo aqueles olhos nervosos, aquele brilho de
algo que eu não sabia exatamente o que era. Pensei em Adeline, na
calma dela… na delicadeza, por falta de uma palavra melhor. Como ela
tinha mudado em poucos anos… eu estava com saudade dela? Da
antiga Adeline? Era isso?
Não me entenda mal, Lucy parecia delicada no que importava, mas
havia algo nela que era firme. Apesar de maluca, ela também era
normal, e eu a invejava por essa liberdade.
Ela sabia quem era, e não tinha problemas em se mostrar para o
mundo.
Quando ela emitiu um som baixo enquanto dormia, eu me levantei, a
cobri com um cobertor e a deixei em paz.
Por mais que eu gostasse de discutir com ela, tive que me controlar
para chegar perto. Curto ou longo, importante ou sem importância,
qualquer tipo de relacionamento com uma fã era uma má ideia, e Lucy
Meyer era o pior tipo de fã, daquele que não tinha medo de aparecer e
forçar o ídolo a reconhecê-la. Meu único foco era conseguir a guarda de
Aiden e dar a ele uma nova normalidade, e tinha que me lembrar disso
o tempo todo. Nada disso importava, de qualquer modo; eu encontraria
alguém para cuidar de Aiden enquanto ele passasse a semana com
Adeline, e ele não voltaria a ver Lucy.
Eu não estava procurando uma transa fácil ― já tinha vivido o
suficiente delas para uma vida toda ― e não estava procurando um
relacionamento. Eu estava procurando minha cama. Estava cansado e
sem dormir. Precisava dormir pelo menos por algumas horas antes de
outro dia começar e nós termos que fazer todas as mesmas coisas de
novo.
— Olive, está 100% certa disso?
— Por quê? Saia para eu poder ver.
— Tem certeza de que você deu para ela o meu número certo de
vestido e não o de uma garota imaginária que você criou na sua
mente? — Olhei para mim, de novo, e tentei tomar uma decisão. —
Quando você vir isto, não vai poder desver. Não diga que não te avisei.
— Lucy, vamos, saia daí.
— Como quiser, minha querida Olive. — Dei de ombros, tentei
respirar fundo e saí do banheiro.
Eram quase 10h da manhã e estávamos no quarto de Olive, onde ela
fazia coisas más, bem más, com o marido bonito dela, mas que não
compartilhava com a amiga ― compartilhava no sentido de contava ―,
provando vestidos para o baile de gala de Los Angeles de Dor na Alma
ao qual iríamos naquela noite.
Um pouco antes, o estilista de Jason tinha deixado dez opções
diferentes para Olive e para mim, e nós as provamos até encontrarmos
as certas.
— Minha nossa — Olive disse quando levantou a cabeça, desviando
os olhos do celular e grudando-os no meu peito. — Minha nossa. O que
está acontecendo com seus seios?
Franzi a testa para ela e levei as mãos aos seios, olhando para baixo
por um instante.
— Este vestido está acontecendo com meus peitos. Como está?
— Ah, está… está, sabe. Demais.
— Bom, te avisei. Não pode dizer que não avisei. — Enquanto eu
caminhava para o espelho de corpo inteiro, enfiei os polegares entre o
tecido grosso e meus seios e tentei puxá-lo mais para cima. O único
problema era que nada resolvia. Olhei meu reflexo no espelho e então
olhei para trás, para Olive.
— Olha, acho que posso atravessar um rio, como um bote inflável,
com este vestido. Não seria divertido?
— Lucy — ela resmungou e se ajoelhou na cama. — Venha aqui.
Vou ver se consigo puxá-lo para cima.
— Já tentei— falei, mas mesmo assim me virei para me aproximar
dela. — Acho que isso é o mais alto que vai. Meus pobres seios não
conseguem nem respirar direito. Como você consegue andar com seus
filhotes por aí? Sim, eles são bons para encostar e dormir, mas isso…
— levantei os seios ainda mais com as mãos — … isso é absurdo. Eles
estão quase tocando meu queixo, pelo amor de Deus! Me ajude a sair
daqui antes que eu exploda.
— Mas o tomara que caia fica ótimo por causa do seu cabelo curto.
— Tente, Olive — falei, desistindo e soltando os seios ao parar na
frente dela. — Tente fazer dar certo, então.
Ela mordeu o lábio inferior e ficou olhando para os meus seios.
Estalei os dedos na frente do rosto dela.
— Com licença! Não sou só um pedaço de carne.
— Desculpa. — Ela riu. — Desculpa, não consigo parar de olhar. —
Ainda me olhando, ela começou a puxar o tecido.
— Ah, obrigada — disse eu, quando ela conseguiu piorar as coisas.
— Sempre quis saber como seria se meu queixo desaparecesse entre
os seios.
Ela riu e soltou o vestido, observando meus seios saltarem logo
depois. Então, esticou um dedo e tocou meu seio.
— É bom, não é? — perguntei, pressionando meu dedo no outro
seio. — Parece uma nuvem fofinha. É por isso que adoro dormir
acomodada nos seus.
Ela assentiu, distraída.
— Acho que você usa 46.
— Não uso 46. No máximo, 44.
— Bem, o vestido faz você parecer usar 46. — Ela afastou a mão e
olhou para o meu rosto, e de novo para os meus seios. — Hum.
— Hum o quê?
— Na verdade, seu rosto parece menor do que seus peitos. É
esquisito. Espero que eu não fique assim ao usar um vestido tomara
que caia. Se ficar e você nunca tiver me dito nada…
— Com certeza vou te contar se seu rosto parecer dez vezes menor
do que seus seios. — Caminhei de volta para o espelho para poder ver
se havia uma pequena possibilidade de eu usá-lo naquela noite. O
vestido era lindo; o modo como envolvia meu corpo fazia maravilhas
para minha cintura e quadril, mas não havia como eu sair em público e
possivelmente aparecer na frente das câmeras como se estivesse
prestes a comer meus próprios peitos. — Se eu não tivesse cabelos
curtos, talvez até pensasse em usá-lo só para chamar a atenção das
pessoas; e quando digo pessoas, me refiro a homens gostosos. Não
rapazes gostosos, mas homens gostosos. — Soltei um suspiro. —
Porque garotos gostosos são um saco. Jameson era um garoto gostoso
de pau grande e tatuagens, mas quero homens gostosos com, espero,
paus grandes. — Pensei nisso por um momento, e então olhei para
Olive. — Certo, não é justo. Vou dividir com o resto das mulheres do
mundo. Sossego com um só cara gostoso. Não vou amá-lo, mas vou
usá-lo para fazer sexo. E ele tem que ter pau grande. Tipo, um pau que
saiba o que fazer, sabe? Coisas que nem todo pau sabe.
— Acho que entendo — ela respondeu, interrompendo meu falatório.
— Você quer um pauzão.
— Ah — suspirei levemente, com a mão no peito. — Você tem ideia
de como meu coração fica feliz quando você diz “pauzão”? Tenho a
sensação de que você cresceu muito. E eu não quero só um pauzão,
Olive, quero um pau de arrasar. Tem diferença. Gostaria que fosse um
pau grosso, não muito comprido, porque não quero exageros nos
lugares errados. Minha vagina amada precisa conseguir acomodá-lo e
envolvê-lo todo. Quero um pau de arrasar, do tipo que me deixa
desacordada depois do sexo. Ela riu e saiu da cama.
— Entendi. Vamos comprar um pau de arrasar para você pela
internet. Cor-de-rosa. E do que você está falando? Você leu meu livro,
por acaso? Uso as palavras “pau” e “pinto” muitas vezes. Digo ainda
mais… coisas.
— Mas escrever e dizer são duas coisas muito diferentes. Aposto
que Jason fica duro sempre que você diz “pau”. — Sorri. — Você testa
as cenas com ele? Tipo, quando você fica com tesão enquanto está
escrevendo, você liga para ele e diz: “Venha pra casa me comer,
Jason”? Ele tem um pau de arrasar, Olive?
Tentando fazer o melhor que podia para me ignorar, ela saiu de perto
da cama para ver os outros vestidos pendurados na arara que o
estilista tinha deixado ali, como se pudesse escapar de mim.
— E este? — ela perguntou, mostrando outro bem lindo que era cor-
de-rosa com alcinhas fininhas e um baita decotão.
— Em primeiro lugar, você é péssima mudando de assunto;
precisamos melhorar isso.
Ela bufou e deu as costas para mim de novo enquanto mexia nos
outros vestidos.
— Em segundo lugar, não tem nada de errado em querer um pau
grande que possa satisfazer minha vagina. E por último, mas não
menos importante, por que você está tão focada em colocar meus
peitos pra jogo hoje?
— Porque não quero me destacar.
— Ah, acho que agora está meio tarde para isso. Você escreveu o
livro que foi transformado em filme. Não se destacar não é a questão,
acredito, e não sei se meus seios ajudariam nisso, de qualquer modo.
Você acha que eles são mágicos ou coisa assim?
— Tá. Experimente este — ela ordenou, colocando o vestido cor-de-
rosa nas minhas mãos.
— Tudo bem — falei, dando a volta por ela para chegar à arara. —
Então você vai provar este.
Olive olhou para o vestido branco que eu segurava: tinha uma
abertura profunda nas costas. No corpo dela, iria até o chão. Ela ficaria
maravilhosa.
— Branco?
— Sim, branco. Vá provar. — Eu a empurrei e dei um tapinha em sua
bunda, e ela entrou no banheiro.
Só não ficávamos nuas uma na frente da outra porque queríamos
fazer uma entrada triunfal sempre que provássemos um vestido novo,
para aumentar a animação.
— Então… ela gritou do banheiro assim que sentei na cama deles.
— Então?
— Então… como foram as coisas com Adam Connor? Sempre que
começo a falar dele, você diz que o odeia e muda de assunto, e
infelizmente para mim, você é boa nisso.
— E o que te faz achar que não vou mudar de assunto agora?
— Porque vai sentir pena de mim? Porque você disse, quando pulou
o muro de volta depois que Aiden adormeceu, que detesta Adam, e isso
não é justo. Porque como é possível que você não fale sobre ele
comigo depois de passar… o quê? Quatro, cinco noites na casa dele?
Aliás, não sei como você conseguiu fazer com que ele concordasse
com isso, levando em conta o modo como vocês se conheceram.
— Talvez eu não esteja falando sobre ele porque assinei um termo
de confidencialidade?
— Não me venha com essa, Lucy. Você sabe que não estou
perguntando sobre nenhuma conversa particular que você possa ter
ouvido. Só quero saber como ele é. Tipo, sobre o que vocês
conversaram? Ele sorriu para você? Você acordou à noite e espiou o
quarto dele? Ele dorme nu? Seminu?
Ri e peguei o celular de Olive.
— Queria saber quem aqui parece uma psicopata.
— Só estou perguntando porque são as coisas que eu esperaria que
você fizesse.
— Obrigada, Olive. Posso responder a uma das perguntas que você
fez.
— Por favor, diga que ele anda nu.
— Acho que preciso bater um papo com Jason. Não me parece que
você esteja fazendo isso com frequência. — Abri o navegador no
celular dela.
— Estou fazendo todos os dias, muito obrigada.
Fiz uma careta. Adorava provocar a Olive.
— Só estou curiosa. Pode chamar de pesquisa, se preferir.
— Claro. Só pesquisa — falei, rindo. — O que diabos você está
fazendo aí? — gritei. — Saia daí para eu poder ver.
Ela abriu a porta e saiu.
— Tive que fazer xixi primeiro.
— Nossa! — falei, com os olhos arregalados. — Minha nossa, ficou
lindo em você. — Ela olhou para baixo e contraiu os lábios, como se
não tivesse certeza. — Não precisa provar mais nada, Olive. Acredite
em mim, esse é o vestido certo.
— Você acha? — Ela caminhou até o espelho, olhando para trás
para ver as costas. — Adoro que ele seja tão leve na minha pele, mas é
bem profundo esse decote.
— É perfeito. Não vou deixar você vestir mais nada. Jason vai pirar.
Ela esboçou um sorriso e alisou o vestido enquanto se olhava no
espelho.
— Acho que também gostei.
— Pode acreditar, ele vai ficar maluco sempre que colocar a mãos
nas suas costas.
— Tá, estou convencida.
— E... — falei, esperando até ela olhar para mim. — Ficou bonito em
você. Vai ser uma noite incrível, Olive. Não precisa se preocupar com
nada.
Ela respirou fundo e soltou o ar, perguntando: — Como você sabe
que estou me preocupando?
Ergui uma sobrancelha para ela e dei um tapinha na cama, ao meu
lado.
— Porque eu, por acaso, te conheço muito bem.
Ela sorriu meio trêmula e se sentou.
— Está tão óbvio que não gosto muito dessa parte? Eu preferiria ver
o filme pela primeira vez apenas com Jason e você, não com todas as
câmeras e as outras pessoas que nem conheço. É algo muito especial
para mim e eles nem me conhecem.
— Pode ignorar todo mundo, Olive. Esta é sua noite com Jason,
tente pensar nela assim. Independentemente do que aconteça, será
uma bela noite. Todo mundo vai falar sobre você. Você deve se
orgulhar.
— Gostaria que meus pais pudessem vir, mas eles não querem ter
todas as luzes e as câmeras em cima deles. Vamos com Jason na
semana que vem e assistiremos com eles. O fato de você estar aqui
comigo me ajuda a me acalmar um pouco, o que me choca, mas ainda
estou toda agitada.
— Você que está me dizendo. — Balancei a cabeça. — Detesta
quando eu acordo cedo, mas hoje de manhã você me acordou às cinco
da manhã. Acho que esse foi meu primeiro indício de como você estava
nervosa.
Ela abriu um sorriso tímido e se deitou de barriga para cima.
— Ir a outras festas com Jason era bom, mas isso é diferente. Não
quero o foco em mim, mas Megan disse que eu teria que dar
entrevistas com Jason. Vou me ferrar.
Megan era a assessora de Jason, e ela era demais.
— Você vai se dar bem. Estarei lá. Jason também. Depois que você
passar pela primeira parte, pelas entrevistas e por todas as câmeras,
será incrível. O filme será incrível.
Ela assentiu e fechou os olhos.
— Certo.
Peguei o celular dela e me deitei ao seu lado.
— Olha, vou te mostrar uma coisa. Estou com vontade de gritar e
pular sem parar, mas estou com medo de te assustar ainda mais.
— Isso é ruim? Se for, deixe pra lá, não quero saber.
Desbloqueei o telefone e abri o site da Amazon.
— Por acaso eu saio pulando quando é alguma coisa ruim?
— Não dá para saber o que você faz.
— Ha ha. Olha isso. — Segurei o telefone entre nós para que ela
pudesse ver.
— Oh.
— Sim, oh. — Ela tinha voltado ao primeiro lugar nas listas da
Amazon, e possivelmente em todas as outras plataformas também.
Deixei o telefone na cama, e nós ficamos olhando para o teto em
silêncio.
— Você é uma escritora de arrasar, Olive, e sinto orgulho de você.
— Tipo um pau de arrasar? — ela perguntou, com a diversão clara
na voz.
— Exatamente.
— Certo, posso viver com isso. Podemos falar um pouco sobre
Adam Connor? Por favor. Tenho certeza de que isso vai me acalmar.
— Você não está enganando ninguém, Olive — comentei. — E não
gosto do cara, o que mais posso dizer? Mas adoro o menino. Ele é
maravilhoso.
— E você passou dias espiando por cima do muro porque não
gostava do cara, é isso?
— Isso foi antes, mas o menino é agora. O pai pode ter um corpão
incrível e um belo volume…
— Não se esqueça do sorriso de matar — ela me lembrou.
— Ele nunca sorri para mim, então não tenho como saber, mas…
— Mas o quê?
— Mas… nada. Ele é um idiota que manda pessoas inocentes para a
cadeia, e eu odeio ele.
— Lá vamos nós de novo — Olive murmurou.
Você está pensando a mesma coisa, não está? Talvez esteja
revirando os olhos. Não faça isso. Não me leve a mal, o cara era
lambível, uma árvore na qual eu gostaria de ter trepado. Afinal, como
eu poderia não pensar nisso depois de vê-lo tão perto? Mas isso foi
antes de eu notar sua natureza.
Eu detestava ele e pronto.
— Então… — Olive começou depois de um momento. — Você quer
falar sobre Jameson?
Resmunguei.

Chegamos inteiras à estreia, e eu estava usando o vestido rosado


com o decote fundo e meus seios diziam “oi” a todos que se viravam
para mim. Eu não estava reclamando, não mesmo, estava bonita, afinal
de contas. Mas Olive… Olive estava fenomenal nos braços de Jason.
Ela não era a protagonista do filme, mas era assim que a imprensa a
apresentava, e ela com certeza chamou mais atenção do que a
verdadeira protagonista. Eram Jason e Olive. A noite era deles. Eu
estava muito feliz por ela, feliz demais por ela ter encontrado o que
procurava.
Eu? Ainda não havia sinal do meu pau de arrasar, mas eu estava
esperançosa. Continuaria procurando.
Parei na ponta do tapete vermelho onde Olive e Jason estavam
respondendo a perguntas dos repórteres. Assim que saímos do carro,
Jason pegou a mão dela e, pelo que pude ver, ele ainda não a havia
soltado. Eu sorri e estava pensando em entrar sorrateiramente onde
tinham me dito que eu encontraria um open bar, quando alguém falou
atrás de mim.
— O que você está fazendo aqui?
Aquela voz. Fiquei tensa, mas infelizmente não podia impedir que os
arrepios aparecessem. Lentamente, me virei.
O imbecil do Adam Connor.
Deus meu…
Ele era lindo o suficiente para que eu trepasse com ele ao ar livre. Eu
poderia ter me divertido muito com ele se Adam não fosse um imbecil.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei em vez de responder.
Ele olhou para os meus seios e franziu a testa. Eu também franzi a
testa e olhei para baixo para ter certeza de que não havia nada de
errado. Quando não vi nada fora de lugar, levei as mãos aos seios e
olhei para ele de novo. Ele continuava olhando.
Sorrindo de um jeito meigo, inclinei a cabeça e perguntei: — Quer
tocar neles?
Ele olhou nos meus olhos na hora, ainda de testa franzida.
— O quê? — Balançou a cabeça. — Deixa para lá. O que você está
fazendo aqui?
— O que você acha que estou fazendo aqui? — perguntei, deixando
de abrir o sorriso falso. Seria de se pensar que ele fosse pelo menos
um pouco mais legal depois de eu ter cuidado do filho dele, não é? Mas
não, ele não foi. Ele fechou os olhos e suspirou.
— Ah, sim, você veio com Jason e Olive.
— Bingo. Você merece o prêmio de cara mais esperto — retruquei.
— Desculpa, quando te vi aqui, pensei…
— Não me diga que você pensou que eu estava perseguindo você.
Ele permaneceu em silêncio, então me forcei a suavizar a encarada,
me inclinei para a frente e sussurrei: — Vá se foder, tá? — Ele ficou
mais sério e eu voltei a inclinar o corpo para trás. — Você é gostoso e
tal, vou admitir, mas não gosto de você o suficiente para te perseguir.
Mas se você fosse o Henry Cavill… as coisas seriam outras.
— Bom saber que você parou de me perseguir e passou agora para
o Henry.
E voltamos para o começo…
— Quem você pensa que é? Eu não estava te perseguindo — falei
entre dentes, quando alguém se chocou comigo. Adam me segurou
pelos braços antes que eu me desequilibrasse e caísse em cima dele.
Fiquei congelada. Pode ser que minhas mãos tenham se apoiado
espalmadas no peito dele, mas eu não admitiria ter sentido nada.
— Você está bem? — perguntou ele, baixando a cabeça para olhar
meu rosto.
Se eu estava bem? Vejamos, ele tinha um perfume gostoso, então
isso era bom. Senti o peito duro dele com as mãos também.
— Não, graças a você — murmurei, evitando seus olhos.
Exatamente naquele momento, Jason e Olive decidiram se
aproximar.
— Oi, pessoal — Jason cumprimentou quando nos separamos.
— Oi — Olive acrescentou, abrindo um sorrisão para Adam. Jason a
puxou para mais perto ao seu lado.
— Não estava esperando ver você hoje — Jason disse para Adam
quando Olive lançou um olhar de dúvida para mim. Desviei os olhos. A
noite estava linda.
O Gigante ― o guarda-costas de Adam ― apareceu do nada.
— Adam, ela está posando. Você vai ter que pegá-la antes que ela
entre.
Adam fez que sim e olhou para Jason.
— Foi uma decisão de última hora. Com licença. Preciso falar com
Adeline. — Ele deu um passo para longe de nós e então olhou para
Olive com um sorriso. — Você está linda, Olive, parabéns pelo sucesso.
Olive corou e Adam saiu. Eu revirei os olhos e falei baixinho: —
Idiota.
— Nem parece que sou o protagonista. — Jason olhou para Olive. —
Você está roubando a cena, pequena. Devo me preocupar? — Olive
sorriu para ele, e Jason deve ter entendido isso como um convite,
porque se inclinou e a beijou na boca. Eu me inclinei um pouco para
trás e, como esperava, a mão dele estava apoiada na parte inferior das
costas dela. O vestido era um sucesso.
Quando a assessora de imprensa de Jason apareceu com o
segurança particular contratado pelo estúdio, os dois pombinhos
tiveram que se separar. Megan levou Jason para longe para que ele
pudesse fazer as últimas entrevistas com sua coestrela do filme
enquanto Olive e eu esperávamos por ele num canto.
— O que Adam Connor queria com você? — Olive perguntou assim
que Jason saiu.
— Nada — falei distraidamente enquanto observava os paparazzi e a
massa de fãs enfileirados atrás das cordas vermelhas. — Acho que
quero entrar. Estou começando a me sentir ansiosa com todas essas
pessoas ao redor.
— Nem pense em mudar de assunto agora. Como assim “nada”?
Sobre o que vocês estavam falando?
Olhei para Olive e notei o segurança caminhando em nossa direção.
— Ele pensou que eu o estava perseguindo, então mandei ele se
foder. Foi isso. Está feliz agora?
— Por que você não tenta ser boazinha com ele para vocês dois
poderem se casar e se tornar meus vizinhos?
Ri.
— Por favor, eu preferiria a morte a me casar com aquele cara.
— Sra. Thorn — o segurança loiro chamou quando parou ao nosso
lado. Ele não era nada feio. Braços grandes, uma camisa branca de
botões, calça preta, um volume levemente perceptível… eu não era
muito de ir atrás de loiros, mas aquele era um ótimo momento para
mudar as coisas, né? — Precisamos que a senhora entre — ele disse,
levando a mão ao ponto em seu ouvido. Bom, aquilo era sexy.
— Como é? Por quê? — Olive perguntou imediatamente, procurando
Jason com os olhos.
— O que houve? — questionei, e o cara me deu atenção. Tentei abrir
meu melhor sorriso.
— Senhora, precisamos sair daqui para que…
Ele ainda estava falando, mas eu deixei de ouvir. Senhora?
Está de brincadeira?!
Está de brincadeira?!
Olive me puxou pelo braço em direção à entrada do prédio.
— Você escutou aquilo? — reclamei para ela com a voz alta
enquanto continuava olhando para trás. — Ele me chamou de senhora,
porra! Você escutou? Escutou o que ele disse?
— Escutei — ela respondeu, rindo baixinho.
— Não ria! Não tem graça, Olive. Isso é tudo por causa dele —
acusei. — Ele fez isso!
— De quem você está falando? Do Jameson?
— O quê? — Olhei para ela e balancei a cabeça. — Não. Adam
Connor. Ele é azar. Não importa onde esteja, algo de ruim acontece. Eu
odeio ele.
— E lá vamos nós…

O filme foi incrível. Eu tinha sido a primeira a ler o livro quando Olive
terminou o rascunho, e estar no cinema vendo tudo ganhar vida foi algo
de que nunca me esqueceria.
Quando acabou, me levantei, abracei minha melhor amiga, e
choramos de novo. Em seguida, rimos. Jason beijou Olive na testa, e
eu chorei mais um pouco. E então, fomos para o after do filme, com
música, caras lindos e mais celebridades. Com certeza um deles teria
um pau de arrasar, certo?
Nem tive chance de sair à procura do meu pau de arrasar.
Logo depois de chegarmos ao loft industrial onde a festa estava
rolando, recebi uma mensagem de texto de Jameson.
Mas senti medo demais para lê-la no mesmo instante.
Apesar de eu fazer o melhor que podia para fingir que ele nunca
tinha existido quando estava perto de Olive, às vezes, ele surgia na
minha mente do nada e acabava com o meu dia. Aquela era a primeira
vez que ele entrava em contato desde sua partida.
Jogando o celular na bolsa, me afastei de Olive e Jason, deixando-os
conversando com um grupo de pessoas, e encontrei um canto onde
pudesse fechar os olhos e acalmar meus batimentos cardíacos.
Não é a pior coisa quando seu ex entra em contato quando você está
começando a seguir com sua vida? Não é falta de consideração?
Eu me recostei no muro de tijolos aparentes e me imaginei em uma
estrada vazia. Ignorei a música tocando e acalmei minha mente. Um dia
ensolarado, brisa fraca. Uma lufada de ar fresco. Eu me forcei a
imaginar Jameson de pé no fim da estrada. Eu ainda tinha sentimentos
por ele. Um pouco mais de um mês antes, pensei que ele fosse meu,
que eu fosse diferente da minha família. Que meu fim seria diferente do
deles. E eu queria isso para mim. Queria isso para mim porque
Jameson tinha me mostrado que era possível, que eu podia querer
aquilo.
Parada no meio daquela estrada imaginária, virei as costas para
Jameson e dei um passo depois do outro. Eu o deixei para trás.
Abri os olhos e voltei para a festa. Queria encontrar Olive e pedir
para que ela lesse a mensagem, mas mudei de ideia. Era a noite dela.
Ficaria brava comigo por não ter contado para ela, mas eu pediria
desculpas.
Respirei fundo, estava precisando, e desbloqueei o celular.
Jameson: Saudade, Lucy.
Eu seria capaz de arrebentar o celular na cabeça dele, se ele
estivesse por perto, mas, como não estava, para sua sorte, não pude.
Quem diabos envia um “saudade” para uma pessoa que largou? E por
que ele escreveria isso? Se era para me torturar, missão cumprida.
Com a mão tremendo, larguei o telefone dentro da bolsa e caminhei
em direção ao open bar.
Depois de tomar duas doses de tequila, chamei Olive e, com a ajuda
de Jason, a convenci a ir para o palco comigo para podermos cantar
umas músicas com a banda que o estúdio tinha contratado. Precisei
implorar muito, mas, assim que começamos a cantar nossa música de
sempre, Let’s, de Marvin Gaye, a canção que Jason admitiu que fez
com que ele começasse a se apaixonar, ela relaxou e conseguiu se
esquecer da plateia, formada por muitas celebridades e outras pessoas
do meio. Como sempre, cantamos uma para a outra, e dançamos como
bobas, nos divertindo demais. Depois de mais tequila, oferecida por
Jason Thorn, eu convenci Olive a cantar Lovefool, dos Cardigans. Não
foi uma surpresa o fato de Jason não conseguir se conter e de tê-la
beijado muito no palco. De novo.
Foi a melhor interrupção.
E eu estava finalmente me esquecendo de Jameson. De novo. Mais
ou menos.
Com Olive e Jason ao meu lado, falei com muita gente. Sorri, dei
risada. Nem mesmo Jameson conseguiu arruinar uma noite tão
importante.

Algumas horas depois ― ou talvez apenas uma hora ―, eu me vi


perto de outro cara depois de ter saído do banheiro, onde lavei o rosto.
Eu estava bêbada? Talvez um pouco. Pisquei algumas vezes e tentei
me lembrar de onde estava.
Na festa da Olive.
Eu havia saído de perto dela para usar o banheiro.
Certo.
— Ei — murmurei, tentando afastá-lo pelo ombro.
O cara misterioso lambeu meu pescoço, e eu estremeci.
Merda.
Aquilo meio que foi gostoso.
Eu o conhecia? Será que ele tinha me dito seu nome antes de me
atacar com a língua? Eu não conseguia lembrar de jeito nenhum.
Enquanto ele se ocupava no meu pescoço, estreitei os olhos e olhei ao
redor ― pelo menos o quanto conseguia no escuro. Fui empurrada
contra um muro alto em um corredor estreito, ao lado dos banheiros
unissex. Eu me lembrava de ter conversado com um grupo de pessoas
junto com Jason e Olive, mas não conseguia me lembrar se esse cara
estava entre elas. Ele usava uma camisa cinza-escura de botões e,
pelo que notei, era grande como uma parede.
Ele sabia bem o que estava fazendo com a boca, mas eu queria
colocar uma cara naquela língua, por isso tentei empurrá-lo de novo.
— Hum, oi — repeti quando empurrar não deu certo.
Em vez de responder ou de pelo menos demonstrar que me ouvia,
as mãos do cara agarraram minha cintura, e ele me empurrou em
direção a uma pequena sala.
— Nossa — murmurei, com a cabeça rodando. As costas dele
acertaram algo com um baque, então ele se virou e, dessa vez, foram
as minhas costas contra a parede de aço, o que me tirou o ar. Fiz uma
careta, mas ele não pareceu notar.
— Ei! Afaste-se! — falei, arrastando as palavras só um pouquinho.
— Shh. Vai ficar tudo bem — o cara sussurrou no meu ouvido,
esfregando meus ombros. Então, de repente, suas mãos começaram a
descer, a apertar minha carne.
— O que… o que você está fazendo? Ergui um joelho para acertá-lo,
mas meu vestido descia até abaixo dos joelhos, por isso foi inútil. Era
como se eu estivesse me mexendo dentro da água. Falei mais alto: —
Mandei você se afastar!
De repente, uma mão pegou minha bunda e me pressionou contra a
porta. Eu estava tendo dificuldade para respirar.
— Eu mandei se calar — ele sussurrou no meu ouvido e mordiscou
minha orelha.
Se ele não estivesse me machucando a ponto de eu ter certeza de
que os dedos dele deixariam marcas no meu rosto, teria sido sensual.
Ou talvez não.
Mas ele estava me machucando, e eu tinha deixado totalmente claro
que não estava curtindo o que ele estava fazendo.
Uma das mãos dele encontrou a barra do meu vestido e começou a
erguê-la.
— Mandei parar! — gritei o máximo que pude, com os dedos dele
apertando minhas nádegas. O baixo da música abafava minha voz.
Ele mordeu meu pescoço, e seus dedos encontraram os meus.
Fechei os olhos e tentei virar o rosto para longe das mãos dele.
— Adoro quando mulheres como você se fazem de difícil. Adoro um
desafio.
Ai, inferno, não.
Tentei acalmar meu batimento cardíaco e ergui o joelho. Como ele
tinha levantado meu vestido, foi mais fácil dessa vez e eu acertei o alvo.
Ele gemeu e soltou meu rosto, dobrando o corpo na minha frente, com
as mãos cobrindo suas joias inutilizadas. Afastei os cabelos do rosto,
abri e fechei a boca para aliviar a dor.
— Seu filho da puta, o que pensa que está fazendo? — sibilei.
Quando ele se endireitou, notei que parecia familiar, mas não consegui
identificar. Eu tinha dado permissão para que ele me tocasse? Não me
lembrava de ter feito algo assim, muito menos numa noite tão especial
para Olive. Assim, eu me lembrava de ter flertado um com alguns
caras, mas tudo na base da brincadeira. Depois da mensagem de texto
de Jameson, eu só tinha precisado elevar a autoestima. Não estava a
fim de ir para a cama.
Rapidamente desci o vestido e olhei para o cara. O rosto dele estava
vermelho, mas ele mantinha um sorriso estampado.
Ótimo…
— Olha — falei lentamente. — Sinto muito por suas bolas. —
Suspirei e continuei. — Na verdade, retiro isso. Não sinto nada. Você
mereceu. E vou sair, está bem?
Ele ergueu uma sobrancelha e continuou sorrindo de modo
assustador. Eu comecei a me afastar e ergui mãos, as palmas viradas.
— Tô indo. Está tudo bem.
Ele passou a língua pelo lábio inferior e partiu na minha direção.
Tentei passar correndo por ele, mas ele era forte demais e me prensou
contra a porta de novo. Dessa vez, me manteve no lugar com os
ombros. Com mãos rápidas, ele ergueu meu vestido quase até a cintura
e eu comecei a gritar no ouvido dele.
É assustador como a gente fica sóbria com rapidez.
E a facilidade com que podemos nos tornar assassinos.
A música estava muito alta, mas eu tinha certeza de que alguém me
escutaria. Eu me remexi, chutei e gritei, mas ele ainda assim conseguiu
enfiar a mão dentro do meu vestido e não parava de apertar meu seio.
Eu acabaria com hematomas, com certeza. Mas levando em conta o
que estava acontecendo, um ou outro hematoma eram a menor das
minhas preocupações.
— Lute — disse ele. — Torne tudo difícil pra mim.
Foi quando comecei a entrar em pânico.
Ele era louco.
Quando meus gritos ficaram altos demais, ele cobriu minha boca
com a mão e continuou a atacar meu corpo. Eu ainda achava que ele
pararia.
Ainda achava que era um pesadelo.
Ainda gritava embaixo da mão dele.
Quando seus dedos agarraram minha roupa íntima, eu parei.
Totalmente. Parei de respirar.
Meus olhos ficaram marejados, e eu engoli em seco.
Lágrimas idiotas, idiotas.
Ah, ele certamente morreria assim que…
— Ah, você gosta, não gosta? — ele sussurrou quando as pontas
dos seus dedos passaram por cima da minha calcinha.
O mundo parou de girar.
Ele afastou a mão da minha boca, e eu gritei com todas as forças
que ainda tinha.
Após minha discussão com Adeline, fui em direção à porta dos
fundos do local para que eu pudesse escapar e ir para casa. Sabia que
ter vindo não mudaria nada, mas eu ainda precisava falar com ela.
Levá-la ao tribunal para brigar pela guarda de Aiden era a última coisa
que eu queria fazer, mas Adeline… ela estava me forçando a isso. Ela
não tinha como ser mãe de Aiden.
Os paparazzi estavam esperando na porta principal, então sair por ali
estava fora de cogitação. Já era ruim que eles tivessem tirado fotos de
mim e Adeline em uma conversa acalorada ― só Deus sabia que
história eles escreveriam para acompanhar essas imagens ―, e a
última coisa que eu queria era que me fotografassem saindo do lugar.
Fui em direção à parte de trás do loft, virei em um corredor e
encontrei um casal se pegando. Mantendo a cabeça baixa, passei por
eles. Virando à direita, abri as portas de aço e senti o ar fresco no meu
rosto. Bem quando dei o primeiro passo, ouvi alguém gritar.
Olhei para trás e vi outro casal em uma posição comprometedora. Do
jeito que o cara estava em cima da garota, eu não conseguia ver nada,
mas pensei ter visto alguma coisa…
Olhei para fora. Talvez eu tivesse acabado de interpretar mal o grito?
Adeline não era de gritar na cama; ela mal se mexia embaixo de mim.
Talvez eu tivesse esquecido como era um grito cheio de prazer?
Ainda assim, meus pés me levaram em direção ao casal, e quanto
mais perto eu chegava do seu pequeno e acolhedor local de
esconderijo, mais eu me sentia um esquisito me intrometendo em
alguma coisa.
Eu vi um lampejo de tecido rosado, semelhante ao que Lucy usava
quando a vi pela última vez, e depois outro grito abafado, e meus
passos aceleraram.
— Ei! — gritei para que pudesse ser ouvido acima da música, e o
cara olhou para mim por cima do ombro, me lançando um olhar vidrado.
Fiz uma careta e meu olhar desviou para a garota presa entre ele e a
porta. A primeira coisa que notei foram as lágrimas; então percebi que
era Lucy com seus olhos cinzentos tempestuosos, o azul desaparecido
completamente. Seus olhos cheios de medo se voltaram para os meus
e algo afrouxou dentro de mim.
Chame isso de liberação de raiva; era de se esperar depois da noite
que tive.
— Adam Connor — disse o cara com um grande sorriso. — Bem-
vindo à nossa festinha particular. Quer participar da diversão? — Era
Jake Callum, um ator promissor, um idiota que pensava que era o
bonzão só porque um de seus filmes tinha se dado bem nas bilheterias.
Notei Lucy tentando empurrá-lo, e minha carranca se aprofundou.
Erguendo-o de cima dela ao segurar a parte de trás de sua camisa,
eu o joguei contra a parede.
— Calma, cara. — Ele riu, levantando as mãos entre nós. Eu tenho
um contrato. Se acalme.
Olhei para a calça dele e suspirei aliviado quando vi que ele estava
todo abotoado, mas então notei Lucy tentando enxugar as lágrimas ao
mesmo tempo em que puxava o vestido para baixo. Minha raiva voltou
dez vezes maior.
— Quer me dizer o que estava acontecendo aqui? — perguntei,
encarando e empurrando o cara.
Jake deu de ombros com um sorriso.
— Apenas me divertindo com a dama, cara. Relaxe. — Seus olhos
deslizaram para Lucy, e eu agarrei a camisa dele para chamar sua
atenção.
— Não olhe pra ela! Eu perguntei a você…
Não tive tempo de terminar a frase porque a pequena insuportável,
que estava vestida como as mulheres mais maravilhosas dos sonhos
mais selvagens de qualquer cara, estava me empurrando para eu me
afastar. Não me afastei, e ela ficou mais brava e tentou outra vez.
— O que você está fazendo, porra? — perguntei, arregalando os
olhos para ela.
Ela parou de tentar me afastar.
— Saia da minha frente — ela rosnou.
— Estou tentando ajudar você, pelo amor de Deus!
— Eu disse — ela rosnou de novo. — Saia. Da. Minha. Frente.
Bem, pensei, ela já provou que é uma lunática, então talvez eu tenha
entendido mal a situação. Talvez eles estivessem no meio de uma briga
de namorados. Aparentemente, eu não sabia de mais nada.
Soltei Jake e dei um passo para trás.
— Errei, então. Me desculpa por interromper. — Os olhos de Lucy se
estreitaram para mim, mas assim que eu saí do seu caminho, ela foi
para cima de Jake. Rapidamente olhei para seu peito e vi como ela
estava ofegante.
Assenti para ela, passei a mão pelo cabelo e, relutante, dei um passo
para trás enquanto ela se inclinava em direção a Jake e mexia o dedo
para ele como se estivesse prestes a chamá-lo para sussurrar algo em
seu ouvido. Por que aquele simples movimento me deixou ainda mais
irritado? Eu estava prestes a me virar e sair quando ela fechou a mão e
deu um soco bem no nariz dele. Segurando o nariz, ele gemeu de dor.
— Sua puta!
Sem pausar, Lucy deu um chute nas bolas dele.
Estremeci. Ai.
Ela estava prestes a dar outro soco quando segurei sua mão antes
que ela pudesse agir.
— Calma, calma.
Foi uma atitude idiota da minha parte. Nunca atrapalhe Lucy Meyer.
Nunca. Ela pisou no meu pé.
Com o salto.
Muito forte.
— Meu Deus, mulher! — exclamei, momentaneamente soltando o
braço dela.
— Seu merdinha! — ela gritou para Jake antes de dar outro soco no
nariz dele.
— Sua puta louca — Jake sussurrou de volta, soltando o nariz para
poder segurar o pulso dela. Lucy parou seu discurso, e ele começou a
torcer a mão dela. Sem palavras, meti a mão na garganta de Jake
enquanto tentava manter Lucy longe com a outra.
— Largue — ordenei a ele com o máximo de calma que pude. Em
que eu me havia me metido?
Os olhos de Jake ficaram mais sérios, e ele torceu o pulso dela ainda
mais, fazendo-a arfar e girar o corpo para diminuir a dor. Apertei sua
garganta com a mão e empurrei sua cabeça contra a parede até que
seu rosto começasse a ficar vermelho e ele tivesse problemas para
respirar.
— Não vou repetir, Callum. Deixe ela em paz!
Ele afastou a mão dela e, um segundo depois, Lucy estava de novo
em cima dele, gritando obscenidades, dizendo para ele ir para o
inferno. Soltei Jake e dei as costas, enquanto ele continuava tossindo.
— Pare com isso — eu disse para Lucy e levei um soco leve no meu
ombro, apesar de tudo.
Minha nossa.
A mulher me ouviu? Claro que não. Eu duvidava que ela ouvia
alguém.
— Eu vou matá-lo! — ela continuou gritando enquanto tentava bater
em Jake, se esforçando para passar por mim.
Olhei para o final do corredor para ver se encontrava Jason, mas não
havia ninguém perto de nós, nem mesmo o casal que estava se
agarrando alguns minutos antes.
Seus olhos estavam focados em Jake.
— Quem você pensa que é? — ela gritou novamente, empurrando e
me puxando para chegar até ele. — Seu idiota! Como você ousa?
— Ou você a tira da minha frente ou vamos ter um problema aqui,
Connor — Jake resmungou atrás de mim, com a voz esganiçada.
Talvez eu tivesse apertado um pouco mais do que o necessário; não
que eu sentisse pena do cara.
— Cale a boca — rosnei para ele e finalmente peguei os braços
agitados de Lucy.
— Me solta, Adam! — ela gritou e levantou o pé novamente. Deve ter
ficado exausta porque estava começando a se mover muito mais
devagar, e eu conhecia o jogo dela, então consegui afastar o pé antes
que ela pudesse encontrar seu alvo. Virei o corpo dela delicadamente e
a segurei contra o meu peito, prendendo os braços.
Como ninguém tinha ouvido a bagunça toda, eu não fazia ideia.
Apoiei o queixo no ombro dela e sussurrei: — Acalme-se, Lucy.
Acalme-se.
Ela cheirava a rosas e um toque sutil de algo cítrico, suave e forte ao
mesmo tempo. balancei a cabeça para limpar a mente.
Depois de uma ligeira hesitação, ela começou a se contorcer contra
mim.
— Não me diga para me acalmar, droga! Eu vou matá-lo. Me solta.
— Não. Preciso que você se acalme por mim, Lucy. Você pode fazer
isso? Por favor, linda. Acalme-se e me diga o que estava acontecendo
aqui.
Com a respiração ofegante, ela segurou meu braço. Eu estava
esperando que ela tentasse algo contra mim, ou simplesmente me
afastasse, mas ela me surpreendeu apenas me segurando.
— Eu já te avisei… — ela disse lentamente — … para não me
chamar de linda.
— Se você prometer se acalmar, nunca mais te chamo de linda. Isso
vai deixar você feliz?
Ela respirou fundo com dificuldade e assentiu. Suas mãos ainda
seguravam meus braços, mas não acho que ela teria gostado se eu
tivesse apontado esse fato.
Jake escolheu esse momento para se afastar da parede e de nós.
Ele nos encarou e foi andando para trás. Quando lançou a Lucy uma
rápida saudação e sorriso… Lucy ficou rígida em meus braços por um
segundo, soltou um grito frustrado e tentou ir atrás dele.
Suspirei e a ergui do chão.
— É isso aí. Estamos indo embora. — Carregando Lucy, que dava
chutes e gritos, eu saí.
No momento em que a soltei, ela tentou passar por mim e voltar para
dentro. Eu a impedi antes que ela conseguisse.
— Por que você fez isso? — ela gritou, seu peito ofegante.
Aparentemente, era hora de me atacar de novo.
— Eu te salvo e é assim que me agradece? — perguntei,
bloqueando a porta para que ela não tentasse nada.
Um segurança veio correndo em nossa direção.
— Está tudo bem aqui?
Lucy virou o olhar assassino para o cara e rosnou: — Está!
O cara a ignorou e se virou para mim.
— Tudo bem, sr. Connor?
Ela parou na frente dele e acenou com as mãos.
— Oi? Por que você está perguntando a ele? Talvez eu esteja tendo
problemas com ele?
Ignorando Lucy mais uma vez, ele esperou por uma resposta.
Esfreguei meu pescoço e confirmei balançando a cabeça. O que eu
deveria dizer? Assim que ele saiu, Lucy girou e olhou para mim.
Levantei a mão para detê-la antes que ela pudesse começar tudo de
novo.
— Cale a boca. — Eu estava a segundos de ficar na cara dela e
gritar, mas cometi o erro de notar suas mãos trêmulas, e toda a raiva
que estava dentro de mim se esvaiu.
— Olha. — Fechei os olhos e tentei encontrar as palavras certas
para dizer. — Parece que não estamos tendo a melhor noite hoje. Só
estou tentando ver se você está bem, nada mais. Então eu vou embora,
e você pode matar quem quiser, tá? — Respirei fundo para dar um
tempo a ela. — Se não quer minha ajuda, tudo bem. Apenas se acalme
um pouco para que a gente possa ir cada um para o seu lado.
Surpreendentemente, ela assentiu e virou de costas para mim. Não
vou mentir, era tentador esperar mais um pouco em silêncio e depois
sair quando ela estivesse se sentindo mais calma, mas, quando ela
segurou os cotovelos para esconder que seu corpo estava começando
a tremer incontrolavelmente, eu soube que não podia deixá-la ali.
Merda!
Pensei em apoiar as mãos em seus ombros e… consolá-la? Aquecê-
la? Somente algo para acalmá-la, mas eu achava que ela não ia gostar,
então virei de frente para ela e inclinei seu queixo com a ponta dos
dedos.
— Lucy?
Ela abriu os olhos e o que eu vi machucou meu coração: uma única
lágrima descendo quase em linha reta até o queixo. Instintivamente, eu
a sequei. Eu não sabia nada sobre essa mulher, sobre quem ela
realmente era por dentro, mas, pelo que eu tinha visto até agora, sabia
que havia algo muito errado.
— Eu não estou chorando — ela anunciou.
— Claro que não — eu disse suavemente.
— Eu não estou. — Ela enxugou as bochechas com as costas da
mão e olhou para mim. — São apenas lágrimas de raiva.
— Claro — repeti. — Eu não esperaria mais nada de alguém como
você.
Seu rosto ficou vermelho e sua postura, ainda mais tensa.
— E o que isso quer dizer? Alguém como eu?
Claro que ela entenderia mal minhas palavras. De que outra forma
ela poderia começar uma briga? Se eu não entendesse a situação, diria
que ela gostava de acabar comigo.
Balancei a cabeça.
— Eu não vou começar uma discussão com você. Boa noite e divirta-
se, Lucy. — Virei para sair, mas ela colocou a mão no meu braço e me
parou.
— Espere só um minuto. O que…
— Eu quis dizer alguém tão teimoso, forte e voluntarioso quanto
você, Lucy — expliquei, interrompendo-a. — Não estou querendo brigar
com você. Não hoje.
Ela tirou a mão do meu braço.
— Oh.
— É.
— Bem, então, me desculpe.
— Que inesperado da sua parte. Foi a primeira vez que essas
palavras saíram da sua boca?
— Não me provoque.
Olhei para o meu braço, especificamente para a mão dela que
estava me impedindo de me mover.
— Eu gostaria de ir embora agora, se você não se incomodar.
Ela seguiu meu olhar e pareceu surpresa ao ver a mão em mim.
Dando alguns passos para trás, ela disse: — Claro. Eu não pretendia te
tocar. Espero que você não chame a polícia para me prender.
O jeito com que ela disse isso… Deus, ela me enfurecia.
— Como eu disse, tenha uma boa noite, Lucy.
Eu me afastei dela. Eu me afastei e não pareceu certo.
Você realmente deve estar ansioso por uma briga, Adam, pensei
comigo mesmo enquanto meus passos diminuíam. Como se a primeira
rodada com Adeline não tivesse sido suficiente, eu ia passar mais
tempo com essa louca. Em um carro. De onde eu não poderia escapar.
Quando olhei para trás, Lucy estava exatamente onde eu a tinha
deixado. Seu rosto estava virado para cima; seus olhos, fechados. O
luar lhe caía bem. Suas feições pareciam suaves; os lábios ligeiramente
rosados, convidativos. Meus pés me levaram de volta para ela.
— Você quer que eu vá buscar seus amigos?
Ela abriu um olho e me lançou um olhar desafiador.
— Não.
Inclinei a cabeça e esperei por uma explicação, que não veio.
— Está bem, então. Você…
— Você pode ir, eu estou bem.
— Quer ir comigo?
Os dois olhos dela se abriram e ela pareceu considerar minha oferta
por um momento.
— Sim — ela disse por fim. — Sim, por favor.
— Você gostaria que eu te deixasse na casa de Jason ou em outro
lugar?
— No Jason. Se não for demais para você, eu agradeceria. — A
raiva parecia ter desaparecido e seus ombros caíram um pouco. Senti
vontade de passar meus braços em volta dela… fechar os olhos,
abraçá-la, e só respirar.
Balancei a cabeça.
— Quer que eu espere enquanto você avisa seus amigos que está
indo embora?
— Não quero incomodá-los. Vou mandar uma mensagem para Olive
no caminho.
— Meu carro está por aqui — eu disse, apontando com a cabeça
para a fila de carros. Ela me seguiu sem dizer nada.
O trajeto foi inesperadamente silencioso. Fiquei olhando para Lucy,
mas ela manteve o foco na estrada. Notei que ela esfregava as costas
da mão no vestido, então estendi a mão e segurei a dela para dar uma
olhada.
— Ei! — ela protestou, tentando puxar a mão. — O que você está
fazendo?
— Fique quieta por um segundo. — Suas juntas estavam todas
vermelhas. — Você precisa colocar gelo aí. — Paramos em um sinal
fechado. Inconscientemente, passei o polegar sobre a parte
machucada. — Onde você aprendeu a bater assim?
Ela resmungou.
— Não foi um bom soco. Eu nem quebrei o nariz dele.
— Ah, então era isso o que você pretendia.
— Bem, era. Por que mais eu bateria em alguém? Eu queria ver um
pouco de sangue.
Além de tudo, ela também gostava de sangue. Estranhamente, isso
combinava com ela.
Soltei sua mão e me forcei a pegar de volta o volante.
— Você está pronta para me dizer o que estava acontecendo lá? —
perguntei. — As coisas perderam o controle com Jake?
— Jake? O nome dele é Jake? Você o conhece?
— Jake Callum. — Franzi a testa e olhei para ela quando a luz ficou
verde. — Você não o conhece?
— Ah, sim, eu deixei ele me agarrar porque era Jake Callum. Parecia
que eu o conhecia? — Ela alisou o vestido com raiva e murmurou para
si mesma: — Eu sabia que já tinha visto ele em algum lugar.
— Como vou saber se você tem costume ou não de perguntar o
nome antes de começar a se agarrar com um cara?
Ela olhou para mim e eu senti seus olhos na lateral do meu rosto.
Suspirei.
— Desculpe, foi errado dizer isso. — Sua resposta tinha me irritado,
mas não deveria.
— Desculpas não aceitas. — Ela olhou para a rua novamente.
Estavam vazias àquela hora. Após alguns momentos de silêncio, ela
falou: — Não que você precise saber, mas, para sua informação, eu
nem me lembro de ter falado com o cara. Quando saí do banheiro, ele
simplesmente estava lá e pulou em mim.
Tirei o pé do acelerador.
— O que você está dizendo?
— Você tem problemas de audição?
Parei o carro no acostamento e me virei para encará-la.
— Como assim “ele pulou em você”?
— Se você não vai me levar para casa, eu posso me virar. — Antes
que ela pudesse tocar na maçaneta, tranquei as portas.
— Você está dizendo que ele te agarrou? — perguntei entre dentes.
O rosto dela estava vermelho de raiva quando ela olhou para mim.
— O que você achou que estava acontecendo?
Processei aquilo por um segundo, depois assenti para ela.
— Podemos ir agora?
— Não — respondi de forma sucinta. Depois de verificar os
espelhos, dei meia-volta.
— Ei! — ela arfou, segurando-se na janela e no assento. — Aonde
você vai?
Não respondi.
— Adam?
Estaríamos de volta ao loft em dez minutos.
Ela gritou mais.
— Adam!
Eu olhei para ela rapidamente.
— Vamos voltar para encontrar Callum.
— Não, não vamos — argumentou ela, franzindo a testa.
Eu a ignorei.
— Ei. — Ela bateu no meu braço, tentando chamar minha atenção.
— Eu já chutei e bati nele, o que mais você poderia fazer? Ou o quê?
Você vai voltar lá para agradecer a ele por me colocar no meu lugar?
Apenas quando eu acho que não posso te odiar mais do que já…
Pisei no freio com tanta força que Lucy voou para a frente, batendo a
mão no painel para se segurar.
— Prenda a porra do cinto de segurança — falei para ela.
— Você está louco, porra? — Ela olhou para mim como se eu tivesse
perdido a cabeça, mas os gritos funcionaram, e ela obedientemente fez
o que pedi sem dar mais nem um pio. Graças a Deus não havia carros
atrás de nós.
— Se você me disser algo assim de novo, vou fazer você se
arrepender, Lucy. Eu nem vou me importar por você não saber nada
sobre mim.
— O que você vai fazer? Bater na minha bunda?
— Não me dê nenhuma ideia agora.
Ela ergueu as sobrancelhas e abriu e fechou a boca algumas vezes.
— O que você achou que estava acontecendo lá? — ela perguntou
com uma voz mais calma quando comecei a dirigir de novo.
Contraí a mandíbula.
— Pensei que você queria que ele fosse mais devagar. Não achei
que ele estivesse tentando estuprar você, pelo amor de Deus!
Com a velocidade que eu estava, voltaria ao loft em apenas alguns
minutos. Então eu poderia esmagar a cabeça do desgraçado. Se
tivesse percebido o que ele estava fazendo com ela, a gravidade
daquilo, eu não a teria contido.
Eu mal ouvi Lucy murmurando ao meu lado.
— Ok. Ok. Adam, preciso que você me leve para casa agora.
— Não.
— Adam? — Alguma coisa havia mudado em sua voz, então olhei
para ela depressa.
Ela empalideceu e estava olhando para mim com aqueles grandes
olhos cinzentos.
Porra.
Porra!
— Eu quero ir para casa agora — ela repetiu, mantendo os olhos em
mim. — Por favor.
Diminuí a velocidade e parei com cuidado.
— Por favor — ela disse de novo.
Olhei para a rua e depois para ela.
— Estamos quase chegando, Lucy.
— Você não está me ouvindo. Me leve para casa ou destranque as
portas para que eu possa ir embora sozinha.
Lancei-lhe um olhar demorado e estudei cada pequena expressão
em seu rosto. O jeito como seus lábios estavam contraídos, e ela se
esforçava ao máximo para não piscar muitas vezes. Aquela veia que
aparecia na lateral da testa quando ela estava com raiva, frustrada ou
ansiosa. Não gostei de saber daquela veia.
Eu não deveria ter notado.
Eu deveria ter ignorado.
Enquanto nossos desejos estavam em conflito, ela ergueu o queixo
levemente e ordenou que eu abrisse as portas.
Não fiz isso, e ela começou a me incomodar, tentando ver minhas
reações.
— Ok. Tudo bem. — Peguei a mão dela e a toquei, curvando minha
mão sobre a dela, que estava fria. Ela não me deu um soco, e eu a
coloquei de volta em sua coxa. — Nós estamos indo para casa. Vou te
levar pra casa.
O resto do trajeto foi… longo. Longo, silencioso e doloroso. A cidade
estava surpreendentemente tranquila naquela noite. Eu ainda mantive a
mão na dela, esperando que ela esquentasse logo e parasse de tremer.
O fato de ela não ter me empurrado…
Parei o carro em frente ao portão de Jason e hesitei antes de abrir as
portas.
Lucy esperou com a mão na maçaneta, pronta para fugir.
— Há algo que eu possa fazer? — perguntei no pesado silêncio.
— Eu gostaria de sair agora.
Eu conseguia entender isso. Abri as portas e a observei descer do
carro. Antes de fechar a porta, ela murmurou um agradecimento e foi
embora.
Como uma noite fora podia dar tão errado?
Esperei ela entrar. Só para ter certeza, eu disse a mim mesmo, nada
mais. Em vez de inserir o código do portão, ela subiu um pouco o
vestido e sentou no meio-fio.
O que eu deveria ter feito era desviar o olhar e ir para casa. Ela
ligaria para a amiga, pegaria o código e iria esperar no quintal ou fazer
o que diabos ela quisesse. Ela só havia me dado problemas desde o
dia em que eu a encontrara encharcada no meu quintal. Ela era a
última coisa de que eu precisava na vida. Bem ciente de tudo isso,
desliguei o motor para me sentar com ela no meio-fio.
Nenhum de nós falou por alguns minutos enquanto permanecíamos
um ao lado do outro. Era uma noite fria, quase sem nuvens no céu
escuro.
— Vamos para casa colocar um pouco de gelo nessa mão — eu
disse, cansado.
Ela parecia igualmente cansada, ou até mais, quando disse: — Eu
não tenho casa.
— Hoje você tem.

Acordei com o som de risadas ecoando pela casa. O riso de uma


mulher e o de uma criança ― meu garoto, para ser mais específico.
Mas Aiden deveria estar com Adeline; era o fim de semana dela. Ela o
havia trazido de volta? Franzindo a testa, me levantei para descobrir o
que estava acontecendo.
A noite anterior havia terminado abruptamente depois que eu ajudei
Lucy a pôr gelo na mão. Em um segundo, eu estava segurando sua
mão frágil na palma da minha, acostumando-me com seu peso
enquanto estávamos quase nariz com nariz e, no outro, ela estava se
afastando de mim. No momento que pôde, ela fugiu para seu quarto.
Sabendo que não havia mais nada que eu pudesse fazer, também fui
para a cama, mas não consegui dormir. Além de estar preocupado
pensando no que faria a respeito de Adeline, eu também estava
preocupado com Lucy, porque ela tinha conseguido entrar na minha
vida de alguma maneira.
Ao sair da cama, passei algum tempo na cozinha, pensando que
talvez ela se juntasse a mim. Eu tinha visto a luz por baixo da porta,
então sabia que ela também estava tendo problemas para dormir.
Ela não tinha saído, então depois de um tempo eu voltei para a
cama, e pensei que era o melhor a fazer.
Cheguei na sala e vi Dan observando Lucy e Aiden com um sorriso
fugaz no rosto.
Aiden e Lucy? Eles estavam rindo incontrolavelmente,
completamente alheios ao que acontecia ao redor.
Eles nem me notaram andando até Dan.
— O que está acontecendo aqui? — perguntei.
Seus lábios se curvaram ainda mais e, para escondê-lo, ele tomou
um gole da xícara de café que tinha na mão.
— Eles estão praticando a risada. Lucy achou que Aiden precisava
de um pouco mais de vigor.
— É mesmo?
— Sim. — Ele me deu uma rápida olhada. — Ele estava triste, então
ela disse que também não estava se sentindo muito bem e achou que
seria o momento perfeito para praticar como rir melhor.
Eu sorri. Aquilo era exatamente algo que Lucy faria.
— E o que Aiden está fazendo aqui?
— O danadinho me enganou.
Não tive tempo de perguntar como ele havia sido enganado porque
Aiden finalmente me notou e pulou do sofá, correndo na minha direção.
— Papai!
— Te peguei — falei, levantando-o em meus braços.
— Senti sua falta demais. Você sentiu minha falta também? — ele
perguntou, encostando a cabeça no meu pescoço, seus braços finos
segurando firme. Eu o abracei ainda mais forte e dei um beijo em sua
cabeça.
— Eu também senti sua falta, carinha. O que você está fazendo
aqui?
Sua cabeça saiu do meu pescoço e ele segurou meu rosto entre as
mãos.
— Dando uma olhada nas coisas. Você não fez a barba?
Eu ri.
— Em que você está dando uma olhada exatamente?
— Você!
— Eu?
— Não gosto de você ficar sozinho aqui. Penso tanto nisso que às
vezes não consigo dormir à noite. Sei que você sente minha falta, então
vim dar uma olhada nas coisas. Como eu me preocupo tanto com você,
talvez eu não devesse te deixar sozinho aqui.
— Pensei que você tivesse esquecido de levar seu livro favorito e foi
por isso que voltou aqui, carinha — disse Dan, chamando a atenção de
Aiden.
Enquanto ele tecia mais histórias para Dan, olhei para Lucy, que
estava longe do sofá, nos observando silenciosamente. Tentei descobrir
como estava o humor dela, mas ela era boa em não revelar muito. Ela
ainda mantinha o sorriso, mas, fora isso, eu não conseguia nem
começar a adivinhar o que ela estava pensando.
— E então eu disse para mim mesmo: Dan está protegendo o papai,
então ele deve querer dar uma olhada nas coisas também. — Aiden
ainda estava falando.
— Ah, então foi o que você disse para si mesmo.
— Isso. Eu sabia que você não diria isso porque você é um cara
grande, e os caras grandes não se preocupam, então eu disse por
você. E agora que Lucy mora aqui, temos que proteger os dois. — Ele
colocou a mão na minha bochecha novamente e virou meu rosto para
que eu olhasse para ele. — Você queria me ver também, não queria?
Diga ao Dan que fiz bem.
— Você não fez bem, Aiden — eu o corrigi, tentando manter uma
cara séria. — Você não pode mentir para fazer as coisas do seu jeito.
— Mas eu não menti. Eu vim pra dar uma olhada nas coisas!
O celular de Dan tocou com uma nova mensagem.
— Ok, mentirosinho, sua mãe mandou uma mensagem. Pegue suas
coisas, precisamos ir.
— Mas, Dan, precisamos…
— Você não precisa fazer nada, amigo — eu disse, interrompendo-o.
— Você não quer preocupar sua mãe, não é?
Ele aparentou tristeza.
— Não, mas…
— Sem “mas”, Aiden. Você não pode mentir para o Dan, tá?
— Vou ficar de castigo, papai? — Ele desviou os olhos, e sua mão
começou a desenhar formas na minha pele, um novo hábito nervoso
que ele tinha adquirido.
— Não dessa vez.
Ele levantou os olhos e abriu um sorriso largo e radiante.
— Você está feliz que eu vim dar uma olhada nas coisas, não é?
Você não está com raiva de mim.
Eu sorri de volta para ele.
— Fico sempre feliz em te ver, amigo.
Ele olhou para Lucy por cima do ombro e depois para mim
novamente.
— Lucy disse que também ficou feliz em me ver.
Lancei a ela um olhar rápido e depois abaixei Aiden lentamente.
— Parecia que ela estava muito feliz por te ver.
Ele assentiu.
— Eu acho que ela gosta de mim.
Apesar de ele estar tentando ser muito cuidadoso e conversar
baixinho, eu sabia que Lucy conseguia ouvir tudo. Eu pude ver o sorriso
dela aumentar lentamente, e fiquei feliz ao ver que ela ainda podia
sorrir depois do dia anterior. Fiquei feliz que Aiden estivesse ali para
fazê-la rir. Eu só queria ter acordado mais cedo para ver mais disso.
— Concordo — eu disse. — Eu acho que ela gosta muito de você.
— Você pode protegê-la para mim? Ela não está se sentindo bem, e
eu quero que ela fique bem.
Meus olhos se voltaram para Lucy. Ela tinha contado algo para
Aiden?
— Claro — respondi a Aiden. Ele estava crescendo, e era
preocupado com os outros. Então eu olhei para Lucy para que ela
pudesse ver que eu estava sendo sincero. — Também quero que ela
fique bem.
Eu a vi revirar os olhos e sabia que ela ficaria bem.
No fim, Aiden realmente tinha se esquecido de levar seu livro
favorito, então depois que correu para pegá-lo em seu quarto, ele saiu
com Dan, me deixando sozinho com Lucy.
Fui em direção à cozinha para fazer um café e ela me seguiu. Eu
sabia que ela tinha algo a dizer.
— Eu consigo me proteger, sabe. Você não tinha que prometer ao
seu filho que me protegeria.
— Claro que você consegue. Apenas pensei que seria mais fácil dar
a ele minha palavra do que explicar que você não iria querer minha
ajuda porque me odeia.
— Sim, eu te odeio. — Ela assentiu como se estivesse se
convencendo. Seus olhos percorreram meu peito e depois ela desviou
o olhar. Ela estava do outro lado da ilha da cozinha, batendo no
mármore com os dedos.
Adicionei água à máquina de café, apertei o botão Iniciar e esperei
calmamente que ela dissesse o que a estava perturbando.
— Você deveria vestir uma camisa — disse ela finalmente.
Decidi provocá-la para fazê-la sorrir. Ela riu com meu filho, então era
justo que ela me desse alguns sorrisos também.
— O quê? — eu perguntei, olhando para mim mesmo. — Você não
gosta de mim nu tão perto? As fotos no seu celular eram de mim nu,
com zoom.
— Isso foi antes. Agora — ela me deu outro olhar, e eu a peguei
engolindo em seco —, não é mais tão atraente, eu acho.
— Ah, certo. Não depois que eu te mandei para a prisão, né?
Ela olhou para mim.
— Você está tirando sarro da minha cara?
— Claro que não. Eu não ousaria.
Satisfeita, ela assentiu.
— Que bom. Tenha medo de mim. Seria inteligente da sua parte.
Balancei a cabeça e contornei a ilha da cozinha para ficar na frente
dela. Ela me seguiu com os olhos.
— O que você está fazendo?
— Suponho que haja algo que você queira me dizer, então estou
chegando mais perto para poder ouvir melhor.
— E você não podia me ouvir de lá porque…?
— Porque eu quero que você saiba que estou te levando muito a
sério.
— Vá me levar a sério lá longe, amigo.
Ela colocou a mão no meu peito para me impedir de me aproximar.
Eu parei e olhei para a mão pequena plantada no meu peito. Gostei de
senti-la em mim, sua pele na minha. Ela olhou também e pareceu
surpresa. Eu nem tentei esconder meu sorriso.
— E eu queria agradecer — expliquei. Ela pareceu confusa, e eu
continuei. — Por fazer Aiden rir daquele jeito. Como tenho certeza de
que você já notou, ele está tendo dificuldades com o divórcio. —
Coloquei minha mão sobre a dela, o que a fez franzir a testa. — Então,
obrigado.
Ela afastou a mão e a esfregou na coxa.
— Bem, alguém tem que fazê-lo rir. Como você não está fazendo
isso… — Ela encolheu os ombros e eu ri.
— Obrigado por isso também.
— De nada. Agora vá vestir uma camisa. — Ela acenou para mim
com a mão. — Eu não deveria ter que olhar no seu peito nu… nu…
despido… musculoso. Você está arruinando minha visão.
Inclinei a cabeça para o lado um pouco para capturar seus olhos.
— Estou na minha casa. Você pode desviar o olhar se quiser, Lucy
— sugeri suavemente. Quando ela encontrou meu olhar, seus olhos se
iluminaram.
Ela colocou a mão na ilha e se inclinou um pouco para a frente.
— Estamos jogando um jogo, Adam Connor? Porque eu amo jogos.
Ergui uma sobrancelha, mas fiquei em silêncio.
— Oh, pobre Adam. — Ela fez uma cara triste e meus lábios
tremeram. — Você não me conhece, não é? — Ela deu um passo à
frente e colocou a mão no meu peito novamente, fazendo um gesto
exagerado.
Danadinha.
Eu não fiz objeção, e ela começou a mover um dedo para baixo, seu
toque tão leve quanto uma pena.
Nossos olhares se fixaram um no outro.
Dessa vez, eu dei um passo em sua direção, aumentando os riscos.
Eu queria ver onde aquilo ia dar.
— Isso é bom?
Ela franziu a testa com a minha pergunta e sua mão parou no meu
abdômen.
— É exatamente como você imaginou ou melhor? Muito mole? —
Flexionei os músculos e me inclinei mais perto dela. — Muito duro?
Ela flexionou os dedos e roçou levemente minha pele com as unhas.
Eu não tinha certeza se era involuntário ou se ela ainda estava
brincando, mas, notando sua respiração ofegante, podia ver que a
estava afetando.
Ela piscou. Duas vezes. Fora isso, sua expressão não vacilou. Então
ela lambeu o lábio inferior e gentilmente passou as pontas dos dedos
para cima e para baixo na minha barriga, traçando meus músculos,
parando quando chegou ao cós da minha calça de moletom.
Baixei os olhos para a mão dela, apenas por um breve segundo, e
perdi o momento em que ela decidiu ficar na ponta dos pés para
sussurrar no meu ouvido. Mantive a cabeça baixa e esperei ouvir o que
ela diria.
— Você está certo — ela sussurrou, um pouco perto demais do meu
ouvido para ser acidental. Ah, ela era boa. Não tão boa na interpretação
quanto eu, mas ela estava se saindo bem. — Passei algum tempo
sozinha, imaginando como seria te tocar. — Ela descansou a palma da
mão no meu peito, e eu fechei meus olhos para poder me concentrar na
voz dela, em como ela era boa quando não estava gritando comigo. —
Te sentir entre as minhas pernas. — Esbocei um sorriso, e meu pau
pulsou de desejo. Gostei muito mais dessa Lucy.
— Você acha que… — Ela fez uma pausa. — Posso tocar em você?
— Outra breve pausa. — Para ver se está duro? E se é grande…
Abri os olhos. Se ela pensou que eu fugiria da raia, estava
completamente enganada.
Ela se inclinou para trás, olhos aquecidos encontrando os meus.
Agarrei sua mão e a desci para ela, cuidando para que a palma dela
tocasse minha pele por todo o caminho.
Quando nossas mãos unidas alcançaram minha calça de moletom,
eu parei.
Com um olhar ansioso, ela esperou para ver o que eu faria. Ela
pensou que tinha me ganhado.
Não é tão fácil assim, minha querida perseguidora.
Eu me aproximei mais dela e a forcei contra a ilha. Ela não estava
esperando isso, então não teve escolha e precisou acompanhar meu
movimento. Larguei a mão dela e coloquei meus braços no balcão,
prendendo-a ali. Ela poderia escapar se quisesse, nossos corpos não
estavam se tocando, mas ela não parecia tão confiante como estava
alguns segundos antes.
Baixei a cabeça, usei do próprio veneno dela e sussurrei em seu
ouvido: — É grande, Lucy. E duro. — Toquei gentilmente sua pele com
a ponta do meu nariz e inalei seu perfume fresco. Ela era toda macia,
não havia nada áspero. — Pode me tocar.
Enquanto esperava seu próximo passo, senti vontade de tocar seu
peito, de desacelerar seus batimentos cardíacos frenéticos, de senti-
la… e talvez provar o pulso convidativo em seu pescoço.
Um belo rubor rosa tomou conta de sua pele e eu sorri. Certo, eu não
tinha certeza se ela tomaria a atitude de mergulhar na minha calça de
moletom, mas, mesmo se ela fosse bem ousada, encontraria
exatamente o que eu disse que encontraria.
Um momento se passou. E outro.
Me recostei e olhei em seus olhos. Ela estava brava. Eu podia ver
nos olhos dela. Ela estava planejando um assassinato em sua mente.
Um sangrento. Lembrei-me por que achei tão sexy quando ela estava
toda irritada.
Tentando ao máximo parecer indiferente, ela encolheu os ombros
tensos.
— Duvido que seja algo tão grande, então vou manter minhas
ilusões, muito obrigada.
Eu não disse nada, e ela não desviou o olhar.
A máquina de café vibrou, quebrando o silêncio.
— E agora você nunca vai saber — eu disse, me afastando. Me servi
de uma xícara de café e a observei pelo canto do olho. Ela ainda estava
colada na ilha.
— Café?
Ela se virou para olhar para mim.
— O quê?
Ergui uma sobrancelha, quase sem conter o sorriso.
— Gostaria de beber um café? — repeti, levantando minha caneca.
— Não. — Seus olhos desceram para o meu peito por um segundo,
então ela balançou a cabeça. — Queria dizer uma coisa.
— Antes que isso avance, eu devo lhe dizer uma coisa.
Dissemos ao mesmo tempo.
Ela bufou.
— Você primeiro. A propósito, isso não vai avançar.
Ela podia tentar acreditar nisso tanto quanto quisesse.
— Lembra dos primeiros dias que você cuidou de Aiden depois da
escola?
— Sim. O que tem?
— Havia um dispositivo de escuta em um brinquedo para que Dan
pudesse ouvir o que estava acontecendo.
Ela pareceu processar a informação por um tempo. Os olhos dela se
estreitaram um pouco.
— Porque…
— Porque você era uma desconhecida. Você não esperava que eu
não fizesse nada, não é? Por mais que eu confiasse em Jason para
cuidar dele, tudo o que eu sabia a seu respeito era que você gostava de
escalar paredes para espiar outras pessoas. — Tomei um gole do café,
mantendo meus olhos nos dela. — Dan se divertia imensamente
durante as partes em que vocês cantavam.
Os olhos dela pareceram se estreitar ainda mais.
— Sabe de uma coisa? Eu deveria estar chateada. Inferno, eu estou
chateada, mas consigo te entender. Acho que faria o mesmo se
estivesse no seu lugar. Você não é o pior pai, afinal. Então, tudo bem.
Você pode parar de se sentir culpado por ter desconfiado de mim.
— Eu não disse que estava me sentindo culpado. Eu só queria que
você soubesse.
— Agora eu sei.
Nós nos encaramos um pouco mais, então Lucy foi a primeira a
desviar o olhar.
— Sua vez. Estou ouvindo.
— Agora você consegue me ouvir daí?
— Você gostaria que eu chegasse mais perto? Porque eu posso
fazer isso.
Os olhos dela brilharam.
— Não.
— Foi o que pensei.
— Sabe de uma coisa? Esqueça.
Ela saiu da cozinha.
Coloquei minha caneca no balcão e a alcancei quando ela saiu para
o quintal.
Meu tom saiu suave quando perguntei: — O que é, Lucy?
Não pensei que ela pararia ou que responderia, mas ela fez as duas
coisas.
— Quero apresentar queixa.
Eu parei. Ela queria apresentar queixa contra mim?
— Você sabe, por agressão. Eu sei que isso não vai dar em nada e
ele não vai dar a mínima, e que a polícia vai achar que sou apenas uma
das fãs dele ou algo assim, mas pelo menos… — A testa dela franziu.
— Por que você está me olhando desse jeito?
— Ele? — eu consegui perguntar.
— Jake Callum. Sua expressão ficou mais séria. — Não me diga que
ele é seu amigo e você não quer que eu o denuncie à polícia.
Como ela poderia pensar isso?
— Parecia que eu era amigo dele quando apertei a garganta do
cara? — rosnei.
— Eu acho que não, mas… nunca se sabe.
— Não sou amigo dele, Lucy. E sim, preste queixa. Eu sou sua
testemunha.
Ela enfiou as mãos nos bolsos e olhou para o meu rosto, não
exatamente nos meus olhos.
— Você faria isso?
Eu queria agarrá-la, abraçá-la, mas me contive.
— É claro que sim — respondi, áspero. — Na verdade, vou chamar
Dan e você vai para a delegacia com ele. Se quiserem que eu dê meu
depoimento também… — Chequei meu relógio. — Tenho que estar no
set em duas horas, mas posso ir à delegacia antes de voltar para casa.
É o nosso último dia de filmagem, caso contrário, eu iria com você,
mas…
— Tudo bem — ela me interrompeu. — Eu não estava pedindo para
você ir comigo e também não preciso do seu guarda-costas, mas…
mas obrigada. E eu sei que eles não farão nada sobre isso, nada
aconteceu, afinal de contas e… e talvez eu tivesse bebido demais. Eles
vão pensar que estou mentindo. — Ela ficou na ponta dos pés e
desviou o olhar do meu. — Eu só quero que eles tenham um registro ou
algo assim. Caso ele realmente faça alguma coisa com outra pessoa.
Então eles verão que não é a primeira tentativa.
Naquele momento, com essas palavras, eu me apaixonei um pouco
por ela.
— E — ela começou, com a mão tocando seu peito delicadamente.
— Ele meio que me machucou, então talvez isso ajude.
Fiquei surpreso ao ver como era difícil para mim realmente
permanecer no lugar e não abraçá-la para ver se ela estava bem.
— Ele deixou hematoma? — perguntei, mais como um rosnado.
Minhas palavras eram quase inaudíveis.
Ela deu de ombros como se não fosse grande coisa, sua expressão
se fechando.
— Estou bem. — Ela olhou para trás, em direção à casa de Jason.
— Você contou a eles? — perguntei, quase certo de que ela não
tinha dito nada.
— Ainda não. — Ela levantou o queixo, mostrando determinação. —
E você também não vai contar.
— Só se você levar Dan com você. Acredite, ele vai ajudar.
— Eles vão me levar mais a sério, você quer dizer.
Eu não respondi, mas ela já sabia a resposta de qualquer maneira.
Ela pareceu pensar nisso por um minuto e soltou um longo suspiro,
desviando os olhos dos meus.
— Ótimo.

Se você não andou vivendo numa caverna, já deve ter visto as fotos
de Jake Callum com o nariz quebrado e ensanguentado rodando a
internet. Mas não nos entenda mal, apesar de ele ser novato na
indústria, nós o recebemos de braços abertos e imediatamente nos
apaixonamos por seu sorriso encantador. Mesmo assim, temos que
admitir que um nariz quebrado não cai bem para o novo ator. Certo, ele
não estava ciente de que estava sendo fotografado enquanto as fotos o
mostravam se afastando do estacionamento do estúdio, onde deveria
estar começando a filmar esta semana, mas ainda assim…
Agora vamos ao que interessa. Na época em que as fotos
viralizaram, ninguém sabia como ele tinha aparecido com o nariz
quebrado, mas, depois de um pouco de investigação, descobrimos que
o novo ator se envolveu em uma briga violenta com ninguém menos do
que o recém-divorciado Adam Connor.
Infelizmente, neste momento, não temos ideia de como ou por que a
briga aconteceu entre os atores. O que sabemos é que Adam Connor
está filmando as últimas cenas de seu filme no mesmo local em que
Jake Callum.
Dizer que estamos chocados seria um eufemismo. Adam Connor
cresceu na frente das câmeras e, até onde sabemos, nunca esteve
envolvido em uma briga como essa antes. Se tivesse acontecido,
acreditem, nós saberíamos.
Uma testemunha que por acaso estava perto do trailer de Jake
afirmou que Adam já estava irado quando se aproximou do ator. “Não
houve nem tempo suficiente para a luta acelerar. Jake estava voltando
de um ensaio, e Adam o parou antes que ele conseguisse entrar em
seu trailer. Não consegui ouvir a conversa, mas, quando Adam se
aproximou o suficiente, ele deu o primeiro soco, o que deve ter
quebrado o nariz de Jake. Quando me dei conta, Adam pressionava
Jake contra a porta do trailer. Depois que trocaram palavras acaloradas,
Adam o soltou e foi embora. Foi muito estranho.”
O boato por aí é que a ex-esposa de Adam, Adeline, estava tendo
um caso com Jake, e Adam ficou muito bravo quando soube disso.
Vocês também devem saber que Adam foi fotografado tendo uma
conversa acalorada com Adeline na estreia de Dor na Alma um dia
antes. Embora isso pareça crível e ainda que não tenha sido a primeira
vez, não temos tanta certeza de que foi o caso aqui. Antes de mais
nada, desde o divórcio, Adam tem se mantido longe de tudo o que
envolve Adeline. Sem coletivas de imprensa, sem entrevistas, sem
fotos. Além disso, circulavam rumores sobre Adeline e seu
envolvimento com o treinador de celebridades Mike Trevor, e o único
comentário de Adam foi: “Desejo tudo de bom para ela”. Você acha que
isso é resposta de quem ainda quer a ex? Até onde sabemos, ele está
muito feliz com o divórcio.
Não, nós achamos que algo mais está acontecendo entre os dois
bonitões, e faremos o melhor que pudermos para descobrirmos mais
para você.
Como eu esperava, os policiais não puderam fazer muito sobre
minha pequena briga com Jake Callum. Verdade seja dita, eu já fui lá
sabendo disso, mas, porra, eu não esperava que eles sugerissem que
talvez eu também tivesse bebido além da conta e não me lembrasse
bem de tudo o que havia acontecido.
Você saberia se desse permissão a um imbecil que pensava ser o rei
do mundo para colocar a língua na sua boca depois de semanas sem
beijar ninguém, não é? De acordo com eles, eu não sabia.
Como se isso não bastasse, eles disseram que às vezes “festas
assim” poderiam fugir do controle.
Foi quando Dan, o Bambam, deu um passo à frente e assumiu as
coisas. No final, eles prometeram que ouviriam Adam e Jake, mas não
podiam prometer que isso daria em alguma coisa.
Embora não fosse o melhor resultado, pelo menos eles teriam um
registro policial sobre Jake Callum e, se ele tentasse passar dos limites
com outra pessoa ― embora eu torcesse para que isso não
acontecesse ―, eles poderiam consultar o registro policial e saber que
não tinha sido sua primeira agressão.
E sabe de uma coisa? Dan, o Bambam, não era o pior ser humano,
afinal. Ele até riu das minhas piadas algumas vezes, e quero dizer que
seus lábios se contraíram e ele balançou a cabeça, rindo mesmo. Para
mim, isso é dar risada.
— O que você está pensando? — Olive perguntou, tirando-me dos
meus pensamentos.
— Nada importante. — Girei meu copo de vinho e observei o líquido
vermelho rodar. — Não tenho certeza se sou muito fã de vinho. — Ela
me olhou por cima do laptop. — Essa é sua segunda taça; você é uma
grande fã de vinho.
Era uma noite de sexta-feira e estávamos trabalhando no próximo
romance de Olive, planejando e fazendo anotações. Era uma noite
glamorosa para nós, e me lembrou dos velhos tempos, como o nosso
segundo ano na faculdade, a primeira vez que ela me enviou um
capítulo e me fez implorar pelo próximo.
— Chega. Eu tomei duas taças, mas ainda não estou convencida.
Sei lá, é elegante, mas tem a ver comigo? E com certeza está me
dando um grau, mas e o gosto? Também não tenho certeza. Eu não
acho que estou me sentindo tão bem.
— Então pare de beber.
— Se parar, o que eu vou fazer? Acho que estamos sem cerveja.
Você escreveu a próxima cena? Deixe-me ver.
— Ainda não. Me deixa ler novamente e ver se está bom. Se você
quer cerveja, por que não pede ao nosso vizinho? — ela acrescentou
casualmente. — Talvez ele dê a você.
— Ah, as coisas que seu vizinho poderia me dar… — murmurei para
mim mesma, meus olhos ainda seguindo o vinho.
Olive se endireitou, mas manteve o rosto escondido atrás da tela.
— O quê? — Como se ela pudesse me enganar fingindo não ter
entendido.
— Catherine ligou de novo — comentei casualmente, ignorando sua
pergunta.
Como não continuei falando sobre Adam, ela recostou-se na cadeira.
— O que ela queria dessa vez? — ela murmurou.
— Eu não respondi. — Dei de ombros, cheirando minha taça e
depois tomando outro gole. — Ela provavelmente estava ligando para
perguntar por que eu não fui à entrevista de emprego que ela tão
generosamente marcou para mim.
— Você deveria ter respondido que é minha agente agora. — Ela se
levantou, colocou o laptop na mesa de centro e foi para a cozinha. —
Vou pegar água, você quer?
— Não quero água, e eu sou sua agente temporária — eu a corrigi.
— Ainda estou procurando emprego, mas não vou aceitar mais nada
dela. — Estendi a mão para o laptop. — E eu estou lendo a cena.
— Não! — ela gritou, batendo a porta da geladeira. — Ainda não
terminei!
Afastei minha mão e olhei para ela por cima do ombro.
— Você sabe quanto tempo faz que não leio alguma coisa que você
escreveu? Estou em crise de abstinência. Tenha piedade.
Ela voltou com uma garrafa de água na mão.
— O novo está quase pronto. Assim que Jasmine tiver terminado de
ler, vou mandar para você.
Lentamente, estiquei minhas pernas e me inclinei para a frente para
colocar a taça de vinho sobre a mesa.
Pigarreando, perguntei: — Como é? Você pode repetir isso pra mim?
Jasmine? Quem diabos é Jasmine e por que ela está lendo antes de
mim?
Depois de beber metade da água da garrafa, ela me lançou um olhar
presunçoso.
— Ela é minha leitora beta, ou talvez eu deva chamá-la de minha
alfa.
Deslizei para a frente no meu assento e dei toda a minha atenção a
ela.
— Ela é sua o quê?
— Você sabe, leitor beta, a pessoa adorável que lê o livro depois que
ele termina de ser escrito e aponta as coisas que a gente deve
consertar, ou que deixa notas de incentivo. Eu amo minhas notas de
incentivo.
Ela estava brincando comigo?
— Isso é uma piada? — Ela me lançou um olhar questionador. — Eu
sei o que é um leitor beta, Olive. Eu era sua primeira e única leitora
beta, lembra daqueles dias? Como você pôde me trair assim?
— Acho que você sabe o que é — disse ela como se isso não
significasse nada.
Foi a pior traição. Como ela pôde deixar alguém ler antes de mim?
— Fiquei sem palavras. Estou esperando para lê-lo há dois meses.
Como você ousa?
— Você também sabe o que é um melhor amigo? Irmão de outra
mãe?
Estreitei os olhos para ela.
— Eu poderia te fazer a mesma pergunta agora, minha pequena
Olive.
— A sensação não é tão boa assim, é? — ela perguntou, me
olhando de lado. — Presumo que não, porque é péssimo quando você
não me conta alguma coisa.
Eu bufei e me recostei no sofá. Então o problema era esse. Como foi
que a sorrateira Olive tinha conseguido voltar o assunto para mim de
novo? Ela pegou o laptop e continuou com seu discursinho.
— Primeiro, eu soube do seu rompimento uma semana depois,
quando não podia fazer nada a respeito.
— E o que exatamente você estava planejando fazer se soubesse
antes? Chorar pra caramba? — perguntei, mas ela me ignorou.
— E então um idiota filho da puta atacou você…
— Ele não me atacou, Olive. Não vamos exagerar.
— E você me conta sobre isso no dia seguinte. Depois de ter ido à
polícia. Polícia, Lucy! E ele te atacou. Eu não me importo com o que
aqueles policiais dizem, ele te atacou. — Ela começou a apertar a
garrafa, então eu cuidadosamente estendi a mão e a tirei de suas
garras assassinas.
— Vamos apenas dizer que ele estava muito ansioso, e eu dei um
soco nele. Então alguém poderia dizer que eu revidei e pronto. A única
razão pela qual eu não contei o que aconteceu foi porque eu queria que
você tivesse uma baita noite. Você estava se divertindo. Você estava
esperando há muito tempo por esse filme. Eu não queria estragar tudo.
Ela ergueu uma sobrancelha e me lançou um olhar sério.
— Deu tudo certo porque Adam cuidou disso.
Uma festa cheia de gente e tinha que ser justo ele a me salvar, não
tinha? Como eu tenho sorte! Não que eu não tenha ficado grata por ele
estar lá, mas não poderia ter sido outra pessoa?
O pau de arrasar que eu estava esperando encontrar, talvez?
— Cuidou disso? — eu respondi a ela. — De que lado você está,
afinal? Ele me mandou para a prisão, pelo amor de Deus, o mínimo que
ele podia fazer era me ajudar a acabar com Callum. E eu posso me
cuidar, muito obrigada.
— E ninguém deve ajudar você, certo?
— Eu não disse isso.
— Nem precisa.
Tentei me levantar, mas Olive pegou minha mão e me puxou para
baixo.
— Jesus! — exclamei, meio assustada e meio achando graça. — Eu
estava indo para a cozinha para me livrar da garrafa. — Você está meio
agitada hoje, não?
Ela me deu um olhar de “não venha com gracinha”, e eu fechei a
boca. Talvez ela estivesse certa… apenas um pouco. Eu cresci sem
esperar nada de Catherine, nem amor, nem gentileza, nem respeito,
apenas um monte de nada. Até minha própria mãe decidiu seguir em
frente com sua vida sem mim, então eu aprendi a me cuidar e a não
esperar nada dos outros.
— Eu perguntei se poderia vir morar com vocês por um tempo, não
é? Isso deve contar como pedir ajuda.
Olive era minha exceção. Às vezes eu não me importava de pedir
sua ajuda.
— Isso conta. — Ela assentiu e pegou a garrafa da minha mão para
colocá-la na mesa de café. — Mas não é o suficiente. E como não é,
você vai responder minhas perguntas agora. Depois disso eu te envio o
livro.
Isso chamou minha atenção.
— Então você mentiu? Você não o enviou para outra pessoa antes
de mim? — Era muito ruim que eu ainda tivesse esperança?
— Não, eu enviei para Jasmine, hoje cedo, e estava pensando em
enviar para você hoje à noite, depois de definirmos o próximo.
Revirei os olhos.
— Bem. Desde que essa tal Jasmine saiba que eu sou a leitora alfa-
beta ou sei lá como isso se chama, eu não acho ruim que ela também
esteja lendo.
— Obrigada pela permissão — disse ela, sarcasticamente.
Abri um sorrisão para ela.
— De nada, minha querida Olive. — Ela balançou a cabeça, mas vi a
leve contração de seus lábios. — Devemos nos abraçar? Seria bom
sentir a maciez dos seus peitos — comentei, já me inclinando para ela.
— Não, você não merece um abraço, ainda não.
— Credo.
— Vamos começar com Jameson.
Eu gemi e me inclinei para trás novamente.
— O que tem aquele idiota?
— Você respondeu à mensagem dele? Não, espera. Eu não confio
mais em você. Me dê seu celular, eu vou checar.
— Você deveria começar a escrever de novo, amiga — falei, mas
ainda assim me levantei para pegar meu celular para dar a ela. — Você
está começando a agir de maneira estranha.
— Não, eu estou agindo como uma boa amiga. — Ela pegou o
telefone das minhas mãos e verificou minhas mensagens e chamadas
recentes.
— Feliz agora? — perguntei, estendendo a mão aberta.
Ela colocou o telefone na minha mão e confirmou, balançando a
cabeça.
— Estou. Não envie mensagens para ele. Ele pode ir para o inferno.
— É o que eu acho. Certo, próxima pergunta.
Ela virou o corpo e me encarou.
— Me conte sobre Adam Connor. Você está dormindo com ele?
Dei uma risada.
— O quê? Eu nem gosto do cara. Do que você está falando?
— Você ficou na casa dele após o incidente com Jake.
— E? — Esperei ouvir o resto, mas ela não disse mais nada, apenas
esperou minha resposta. — Caso você tenha perdido a primeira vez, ou
a centésima vez que eu disse, vou repetir: eu nem gosto do cara. Ele
estava lá, então pedi uma carona, ou ele ofereceu, eu nem me lembro.
E então como vocês ainda estavam na festa e eu não tinha chave, ele
me convidou para ficar na casa dele. Não foi a primeira vez que dormi
lá.
— Mas desta vez Aiden não estava lá, estava?
— Não, mas o que uma coisa tem a ver com a outra?
— Tudo bem. — Ela suspirou. — Dê uma de difícil.
— Não estou sendo difícil. Estou te dizendo, ele colocou um pouco
de gelo na minha mão e eu fui para a cama.
— Ah! Ele colocou gelo na sua mão? Agora estamos chegando a
algum lugar. — Ela abraçou um travesseiro contra o peito e esperou
para ouvir mais detalhes. Infelizmente, eu não tinha mais nenhum.
Ia dizer exatamente isso, mas o telefone dela tocou e nos
interrompeu. Ela levantou um dedo e pediu que eu ficasse parada
enquanto ela falava com Jason.
É claro que eu me levantei e caminhei em direção às portas de
correr. Fazia uns 26°C lá fora e o tempo estava bonito.
— Ainda não comecei. Você queria algo específico? Espere um
segundo, eu vou perguntar a ela — disse Olive ao telefone e se virou
para mim.
— Jason vai pedir para Alvin comprar comida chinesa. O que você
quer?
Eu amava comida chinesa, mas, naquele momento, não conseguia
nem pensar em comer. Aparentemente, eu não me dava bem bebendo
vinho ou ainda estava me sentindo mal. Ela franziu a testa para mim e
continuou falando com Jason. Quando saiu do telefone, voltou a falar
comigo.
— Onde estávamos?
— Lugar nenhum, porque não há mais nada a dizer.
— Você gosta dele.
— Não gosto.
— Você gosta dele.
— Muda o fato de eu não gostar dele quando você diz duas vezes?
— Você gosta mais dele do que quer dormir com ele.
— Por favor — bufei, ofendida. — Eu transaria loucamente com ele,
mas nem gosto muito dele. Toda vez que ele fala, quero dar um tapa na
cabeça dele. — Na verdade, eu transaria com ele a qualquer hora de
qualquer dia. Se você ouvisse aquela voz doce, grossa e profunda,
você também pularia na cama dele ou em qualquer superfície, na
verdade. Eu poderia transar com ele em qualquer lugar.
Esqueça a voz; se ele calasse a boca e ficasse ali, parado, ainda
assim você também pularia na cama dele, implorando para ele te pegar.
Além disso, não era minha culpa o fato de eu ser mulher; não havia
nada que eu pudesse fazer sobre isso. O pênis dele se encaixaria
perfeitamente na minha vagina, e eu tinha chegado muito perto de tocá-
lo. Pensando bem, eu deveria ter tocado, mesmo que fosse apenas
para ver qual seria a reação dele. Pena que eu tinha ficado com medo
do que pudesse acontecer.
Para encurtar a história, Adam Connor ainda era um idiota, na minha
opinião, mas era um pai gostosão. Mas dormir com ele? Que nada, ele
era muito tentador, especialmente quando estava perto de Aiden.
Quando o observava interagindo com o filho, o jeito que ele sorria para
ele ou simplesmente o carregava para a cama para que ele dormisse…
cara, aquilo me fazia ronronar e derreter mais rápido que a neve. Pior
de tudo, isso fazia meu coração machucado bater forte, algo de que eu
não gostava nem um pouco.
Olive fechou os olhos e deu um suspiro feliz.
— Eu já posso visualizar vocês dois juntos. Vocês se beijando.
Apaixonadamente. É uma rapidinha, porque Aiden está perto. Mas você
está feliz. Muito feliz. E você ama Aiden tanto quanto ama Adam. Adam
claramente percebe e ama você ainda mais por isso.
— Ok, sua doida — eu disse, estalando os dedos para chamar sua
atenção. — Eu vou deixar você com seus sonhos e vou me afastar
devagar. — E eu fiz exatamente isso; abri as portas de correr e saí,
mas vi Olive me seguindo.
— Volte aqui, eu não terminei.
Fui em direção à escada.
— Aonde você vai? Lucy, você não pode fugir dos seus sonhos.
Eu a encarei, mas continuei me afastando.
— Meus sonhos? Esses sonhos são todos seus. Eu nunca sonhei
com o cara. Sonhei com ele transando comigo como um louco? Claro,
admito que sonhei com isso, mas tudo foi antes de conhecê-lo. —
Minhas costas bateram no infame arbusto, e eu me virei para poder
subir no muro. — E, para sua informação, vou lá para dizer oi para
Aiden.
Olive se inclinou contra a árvore e sorriu para mim, com todos os
dentes à mostra.
— Continue contando isso para si mesma, pequena Lucy.
Subi no muro e olhei para ela.
— Você realmente enlouqueceu. Vá escrever umas palavras para
que seu cérebro possa começar a funcionar novamente.
— Lucy, feche os olhos e imagine-se sentada ao lado de uma
cachoeira. Uma cachoeira onde Adam Connor aparece do nada. Nu.
Ou seminu. Você está calm…
Mostrei o dedo do meio para ela e desci o resto do muro.
Que feio que ela estivesse tirando sarro das minhas táticas
relaxantes.
— Devo esperar por você, ou está pensando em passar a noite na
cama do Adam? Porque se for, você sabe que terá que me contar os
detalhes. Eu quero as respostas pra tudo o que você perguntou sobre o
Jason. O tamanho. O tamanho é importante. Meça o pênis para que eu
possa imaginar tudo..
— Se você continuar chamando de pênis, não vou lhe dizer nada.
Tchau, Olive!
Era bom que Adam ainda não tivesse pensado em afastar a escada.
Enquanto ele não fizesse isso, eu poderia invadir sua privacidade numa
boa. Eu não ia visitá-lo nem nada assim. Sentia saudade do menininho
e estava esperando pegá-lo antes de dormir.
Quando cheguei perto o suficiente da casa, ouvi música. As portas
pareciam estar fechadas, mas o som estava vazando para fora.
Pessoas ricas e seu som potente…
Parei de me mover para poder ouvir e, alguns segundos depois,
reconheci a voz inconfundível de Frank Sinatra.
Ah, então meu idiota tinha bom gosto. Bem, não o meu idiota, é
claro, mas você entende o que quero dizer.
Fiquei do lado em que não podia ser vista e achei Adam perto do
carrinho de bebidas. Aiden já tinha ido para a cama? Pensei em bater
na janela para chamar sua atenção antes que ele ficasse todo bravinho
e me acusasse de invadir sua privacidade novamente, mas era difícil
parar de olhá-lo. Ele era muito bonito, o tipo de cara que fazia a gente
começar a ofegar como um cachorro quando olhava para ele por mais
de alguns segundos.
Então eu o vi silenciosamente se servir de uma bebida e ler os
papéis que estava segurando. Ele parecia ocupado ― não do jeito
estou lendo alguns documentos, mas do jeito tenho um milhão de
coisas na cabeça.
Fiquei tentando imaginar o que o estava fazendo parecer tão infeliz.
Verdade seja dita, desde que ele tinha pedido para eu cuidar de
Aiden por alguns dias, eu o estava vendo de um jeito novo. Claro, eu o
odiava.
Um pouco.
Tipo isso.
Não gostava nem um pouco dele.
Por causa da maneira como ele me tratou naquele dia e porque eu
ainda queria matá-lo pelo que fez comigo. Mas, tirando isso, meu
coração derretia um pouco toda vez que eu o via ― quando ele não
estava sendo um idiota, como tinha acontecido dia desses.
Quem dá às pessoas permissão para tocar suas partes íntimas? Se
você me perguntasse, eu diria que foi uma ótima ideia porque o fato de
ele ter falado no meu ouvido daquele jeito… e me dado permissão para
tocá-lo? Que bobo. Ele não sabia nada sobre mim. Se eu o tivesse
tocado, acabaria transando como louca com ele e, por razões
desconhecidas até para mim mesma, eu não queria isso.
Agora, não me venha com Lucy, como você consegue odiar um
espécime tão bonito da forma masculina… A principal razão pela qual
eu tinha que continuar odiando-o era por causa do jeito que me senti
quando ele me tocou naquela noite, quando quis colocar gelo na minha
mão. Eu senti aquele frio irritante na barriga que Olive disse que sentiu
quando viu Jason pela primeira vez, e isso me assustou. Apesar de eu
ter sentido muito frio nas partes íntimas quando estava indo atrás de
Jameson, nunca tinha sentido frio na barriga e isso foi de matar, tipo
uma alergia que pudesse me matar inesperadamente.
Depois de observá-lo por mais alguns minutos, dei um passo à frente
e bati no vidro. Ele parou de olhar para os papéis em sua mão e me viu.
Pareceu hesitar antes de se levantar do sofá e ir abrir as portas de
vidro.
— Oi — cumprimentei quando ele apareceu parado na minha frente
sem nada entre nós.
Ele diminuiu o volume de Frank Sinatra com a ajuda de um pequeno
controle remoto e disse: — Vejo que você está rastejando no meu
quintal novamente. — Ele esboçou um sorriso, então acho que não se
importava com isso.
— Se você não me quer rastejando, como disse com tanta grosseria,
deveria afastar a escada.
— Como posso te ajudar, Lucy?
— Estou bem, muito obrigada. E como vai você?
Ele suspirou e me convidou para entrar com um aceno.
— Que bom que você me convidou para entrar — comentei quando
ele fechou a porta.
— Existe algo que eu possa fazer, ou você acabou de chegar para
receber sua quantidade diária de…
Eu o interrompi antes que ele pudesse terminar sua frase.
— Antes de dizer alguma coisa pela qual vai ter que se desculpar
mais tarde, aviso que vim dizer oi para Aiden. Senti falta dele esta
semana.
Adam olhou para mim por um longo tempo como se estivesse
tentando descobrir se eu estava mentindo ou não. Quando ele ficou
satisfeito com o que viu nos meus olhos, passou a mão pelos cabelos e
fez um gesto para eu me sentar.
Pensando no que estava acontecendo, eu fiz o que ele pediu.
— Então? — perguntei quando ele não disse nada por vários
segundos.
— Adeline não o deixou aqui, então mandei Dan para ver o que
estava acontecendo. — Ele olhou para o relógio. — Ele deve chegar
logo. Você pode esperar, se quiser.
Escolhi as pernas e me sentei confortavelmente sobre elas no
assento.
— Você não vai me expulsar?
— Aiden me pergunta sobre você em todas as ligações. Acho que
ele vai ficar feliz em te ver aqui e assim não vou ter que responder a
todas as perguntas que ele faria se não te visse imediatamente.
Isso me fez sorrir.
— Ele me ama.
Adam sorriu de volta.
— Estranho, não é?
Fiz uma careta para ele.
— Você é estranho. Eu amo o carinha também. Ele é muito mais
legal do que o pai dele vai conseguir ser um dia.
Esboçando um sorriso, ele balançou a cabeça e se dirigiu ao
carrinho. Eu nunca o tinha visto beber antes.
— Alguma coisa está te preocupando? — perguntei, só para ter
assunto até Aiden chegar.
— Muitas.
Resmunguei e peguei meu celular quando o senti vibrar no bolso.
Jameson: Queria que você tivesse vindo comigo.
Você nem me chamou, seu merdinha!
Não era a primeira vez que Jameson mandava mensagem desde
que recebi aquela outra na estreia do filme, quando ele disse que
estava com saudade.
Ele andava enviando mensagens aleatórias a semana inteira.
Respirei fundo e estiquei as pernas.
— Acho que preciso ir — murmurei e me levantei.
Adam virou-se com duas bebidas nas mãos; uísque, pela aparência.
— O que aconteceu? — Ele ignorou minhas palavras e me entregou
o copo. Até o cheiro forte me deixou enjoada. Torci o nariz e balancei a
cabeça.
— Não, obrigada. Não estou me sentindo tão bem, então… vejo
Aiden outra hora. — Guardei meu celular de volta no bolso e coloquei o
uísque em um descanso de copos. Ele continuava olhando para mim.
— Sente-se — ele ordenou, sentando-se no canto mais distante do
sofá. — Ele vai chegar logo.
Olhei para fora e avaliei minhas opções: sentar e esperar por Aiden
ou voltar para a casa de Olive para que ela ficasse me perguntando
mais sobre meus sentimentos inexistentes por Adam.
Passar mais tempo com o inimigo, então.
— O que aconteceu? — ele perguntou pela segunda vez antes de
tomar um gole de uísque.
Eu me sentei e tive dificuldades para desviar o olhar de seus olhos
claros e atraentes.
— Nada específico, apenas estou me sentindo mal.
— Como está sua mão?
Levantei-a e verifiquei meus dedos. Ainda havia uma vermelhidão e
eles estavam meio doloridos. Mas era uma dor boa; saber que tinha
machucado aquele merda era uma dor boa. E isso fez com que eu
lembrasse de uma coisa…
— Eu deveria te fazer a mesma pergunta. — Abaixei a mão e inclinei
o queixo para ele. — O que aconteceu com você e Jake? Ele realmente
teve alguma coisa com a sua ex?
Ele ergueu uma sobrancelha, mas ficou em silêncio.
Estava curiosa sobre isso desde que tinha lido a história na internet.
O que eles estavam dizendo era verdade, ou será que ele tinha dado
um soco em Jake por causa do que havia acontecido na noite anterior?
De acordo com Olive, ele tinha ido atrás de Jake por mim, mas eu tinha
minhas dúvidas. Olive tinha um coração romântico e queria que eu me
apaixonasse de novo; claro que ela pensaria assim.
Sentindo-me toda quente e perturbada sob seu olhar examinador,
perguntei: — O que está acontecendo?
— O que você quer dizer? — Ele abaixou a bebida.
— Por que está olhando para mim assim?
Aquela sobrancelha irritante subiu novamente.
— Assim como?
— Sabe de uma coisa? Esqueça. — Desviei o olhar dele e fiz o meu
melhor para ignorá-lo pelos cinco minutos seguintes, mais ou menos,
até ele se levantar para pegar outra bebida.
Eu estava pensando em Jameson quando uma garrafa de água
apareceu na minha frente.
— Obrigada — agradeci sinceramente e a peguei.
— De nada. Você parece deprimida, talvez devesse consultar um
médico — sugeriu ele, sentando-se mais perto de onde eu estava.
— Estou bem.
— Se você está dizendo…
Abri a garrafa e tomei um grande gole de água fria. Então eu fechei
os olhos e me imaginei em algum outro lugar… talvez na floresta, ou
em uma casa no lago onde árvores e águas calmas me cercavam. Eu
podia me sentar no deque, perto da água, e ler o novo livro da Olive.
Sorri. Eu poderia me apaixonar por tantos homens quanto quisesse e a
maldição nem poderia me tocar. Havia algo especial em se apaixonar
por personagens fictícios através de palavras. Nesse deque, com os
pássaros voando e o vento soprando meu cabelo, eu ficaria feliz.
— O que você está fazendo? — Adam perguntou baixinho.
Não abri os olhos quando respondi: — Sonhando acordada.
Um longo momento se passou antes que ele falasse novamente.
— Onde você está?
— Casa do lago. Lendo o novo livro da Olive. Há um vento suave. Eu
gosto de vento; isso me deixa feliz por alguma razão. Sentir o toque
suave dele na minha pele, no meu cabelo. O sol está espreitando entre
as árvores, então não está frio. O lago é lindo. Calmo e pacífico.
— Existe uma cadeira vazia ao seu lado?
— Você me irritaria, então não. — Abri os olhos e olhei para ele. —
Sem ressentimentos.
Ele sorriu e pegou os papéis que havia largado quando entrei.
— Sem ressentimentos, Lucy.
Sentindo-me um pouco melhor, olhei em volta e suspirei. Estava se
aproximando da hora de Aiden dormir.
— Você faz muito isso? — Adam perguntou, olhando para os papéis
na mão.
— Muito o quê?
— Vai para outro lugar.
Dei de ombros.
— Você pode pensar que sou maluca.
— Eu não disse isso. Na verdade… — Ele parou de falar, jogou os
papéis na mesa de centro e passou a mão no nariz.
Curiosa, perguntei:
— Na verdade…? Na verdade o quê? Não seja uma pessoa assim,
termine a frase.
Ele fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás.
— Correndo o risco de parecer um idiota de Hollywood… eu
costumava deitar na minha cama e imaginar que eu tinha uma vida
mais simples. Na qual eu não era arrastado para festas onde drogas e
bebidas ficam dispostas em mesas de vidro, e eu tinha que cuidar da
Vicky, minha irmã, para que ela não brincasse acidentalmente com pó
branco pensando ser maquiagem ou farinha, e ela não pegasse uma
daquelas taças de vinho pensando que era o suco dela… eu costumava
desejar pais normais. Eu gostaria de poder receber amigos em casa
sem me preocupar com como meus pais agiriam dependendo do humor
deles. Não me olhe assim — ele avisou quando abriu os olhos e me viu
olhando-o.
Passei minhas mãos pelos braços e fiquei em silêncio.
— Eu sei o que você está pensando — ele continuou, entendendo
mal o meu olhar. — Eles me deram uma boa vida. Uma boa educação.
Oportunidades que talvez eu não tivesse se eles não fossem meus
pais. Não estou dizendo que minha vida era triste nem nada assim, mas
naquela época eu queria ser um adolescente normal. Com pais
normais. Apenas uma vida normal, você sabe, sem os paparazzi, sem
as besteiras de Hollywood. — Seus olhos ficaram sérios e ele
acrescentou: — Você pode pensar que sabe tudo sobre alguém, porque
essa pessoa tem uma vida pública, mas ninguém nunca sabe o que
acontece na privacidade.
— Eu entendo — falei num tom quase inaudível.
— Entende?
Desviei o olhar dele.
— Tenho que te contar a história de fundo primeiro. Eu não sei quem
é meu pai — comecei, me surpreendendo. Eu realmente ia contar a ele
sobre mim? As palavras queriam sair, então imaginei que sim. — De
acordo com Catherine, minha avó, minha mãe estava completamente
apaixonada por ele. Eles estavam morando juntos, mas quando
descobriu que ela estava grávida de mim, ele arrumou suas coisas e se
mandou. Ao que parece, ele já tinha dito a ela que nunca queria ter
filhos, então viu isso como uma traição. Depois que nasci,
aparentemente minha mãe decidiu que também não queria ficar comigo
e me largou com Catherine. E Catherine… bem, ela me criou, mas é
uma mulher muito difícil.
Olhei para Adam para ver se ele estava me ouvindo. Quando nossos
olhos se encontraram, ele baixou a cabeça.
— Continue.
Eu bufei; teria sido mais fácil parar de falar se ele estivesse me
ignorando.
— Catherine… Catherine nunca se casou, mas ela estava vivendo
com o amor da sua vida e eles tiveram minha mãe, então foi tudo ótimo
por um bom tempo, eu acho. Mas, quando minha mãe tinha dois anos,
o querido vovô começou a trair Catherine e depois a deixou para ficar
com outra mulher, e acabou se casando com ela um mês depois, mais
ou menos. Catherine voltou para casa, o que não era a melhor coisa,
aparentemente, porque seus pais, que não eram casados, aliás, a
tratavam muito mal.
“Ainda assim, ela criou minha mãe da melhor maneira que pôde, mas
ficou muito amarga com o passar do tempo. Quando minha mãe me
deixou, elas nem estavam conversando, então obviamente as mulheres
da nossa família são bem fodidas da cabeça e não há homens por
perto.”
Lancei-lhe outro olhar e o vi esperando que eu continuasse.
— Então nós somos amaldiçoadas. E Catherine… bem, ela cuidou
de mim quando minha mãe foi embora, mas, como eu disse, ela é muito
controladora e difícil. Para todos que olham de fora, parece que ela é
um anjo por me receber, mas não foi assim. Ela queria que eu fosse
uma versão dela. Nada do que eu fazia estava certo. Havia apenas o
jeito dela e, quando eu não seguia as regras dela nem fazia o que ela
queria que eu fizesse, ela sabia esfregar tudo o que já tinha feito por
mim na minha cara. Eu não acho que ela seja mentalmente estável, na
verdade, mas ela cuidou de mim em vez de me chutar para a rua, então
eu devo isso a ela, eu acho.
Houve um momento de silêncio.
— Amaldiçoadas? — ele repetiu o que eu tinha dito. — É por isso
que você falou outro dia que não se envolve com ninguém?
— Eu disse isso?
Ele assentiu.
Eu e minha boca grande.
E ele lembrava?
— Hum… eu não me lembro de dizer isso para você, mas sim. Eu
não quero acabar sendo uma mulher amarga. E parece que não temos
sorte com o amor na minha família, não é? Então, por que forçar?
Prefiro ser solteira e feliz a me apaixonar por alguém, criar uma
criança… e depois sofrer porque ele me traiu ou porque me deixou
quando as coisas ficaram difíceis e se casou com outra mulher. —
Balancei a cabeça e abracei meus joelhos. — As mulheres da nossa
família não recebem propostas de casamento. Então não, obrigada.
Fico muito mais feliz quando vejo outras pessoas se apaixonando, me
faz mais feliz sem toda a dor de cabeça.
— Você nunca se apaixonou por ninguém? — ele perguntou, como
se isso fosse a coisa mais ridícula que ele já tinha ouvido.
— Eu não te julguei por querer uma vida normal, não é?
Ele se inclinou para a frente e apoiou os cotovelos nas coxas,
balançando os antebraços sensuais na minha frente, com os olhos fixos
nos meus.
— Eu não estava te julgando, Lucy.
Por que eu ficava toda irritada quando ele me olhava assim? Peguei
a garrafa de água e dei outro gole para passar o tempo.
— Bem, parecia que estava. — Dei de ombros. — De qualquer
forma, com uma mulher como Catherine, eu precisava fugir. Quando eu
ia para a cama à noite, costumava fechar os olhos e imaginar estar em
outro lugar. — Olhei para ele rapidamente. — Eu não imaginava uma
vida diferente, nem que alguém ia em meu socorro, mas gostava de
fechar os olhos e ir para outro lugar bem distante. Isso me acalmava.
Ou às vezes eu imaginava estar em uma cachoeira, com vento, ou sol.
Essencialmente, sonhando, eu criava meu próprio raio de sol nos dias
em que precisava. Era a minha fuga. Sei que isso me faz parecer uma
pessoa louca, mas me ajuda a me acalmar, então foda-se se você acha
que sou louca.
Ele soltou uma risada alta, e eu lentamente me levantei. Olha, eu
tinha muitas razões para odiá-lo. Sei que isso me fazia parecer uma
pessoa louca, mas não significava que não doía vê-lo rindo de mim.
Joguei a garrafa de água em seu sofá e fui para as portas de vidro.
Talvez Olive me deixasse abraçá-la por um tempo. Eu estava me
sentindo um pouco mal, afinal. Ela não seria cruel a ponto de me
rejeitar.
Antes que eu pudesse abrir as portas e sair, Adam me pegou pelo
pulso novamente ― eu juro, o cara tinha algum tipo de fetiche. Olhei
para trás para olhar para ele e tentei afastá-lo, junto com os
formigamentos que sua proximidade e seu toque estavam causando na
minha espinha. Eu não estava brava nem nada, apenas cansada e,
bem, sim, talvez um pouco magoada.
— Estou feliz por ter sido sua diversão esta noite, mas acho que é
hora de eu ir embora.
— Não — ele disse, seu polegar movendo-se suavemente na pele
sensível do meu pulso. Minhas sobrancelhas se uniram, e olhei para
onde ele estava me tocando, mas seu dedo já havia parado de se
mover, como se o toque não tivesse ocorrido. — Eu não estava rindo de
você, Lucy — disse ele com um tom suave, e levantei cabeça.
Estávamos um pouco perto demais. Ele devia ter chegado à mesma
conclusão, porque me soltou e se afastou.
Eu não fiquei com vontade de encostar nele. Eu, não.
Ele colocou a mão nas minhas costas e, caramba, ele tinha mãos
grandes ― mãos boas para me segurar, eu acho ― e me direcionou de
volta para o sofá.
Sentei-me na beirada e o vi pegar o celular.
— Vou ligar para Dan e ver o que está havendo. — Ele olhou para
mim e acrescentou: — Você esperou tanto tempo, ele vai ficar triste se
souber que não te viu.
Ele parecia sincero, então decidi ficar.
— Tudo bem. — Recostei-me no assento e peguei uma almofada
para abraçar.
Dan não atendeu, e eu pude ver a frustração no rosto de Adam.
Andando na minha frente, ele tentou outro número. Também não deu
certo, e ele soltou um longo suspiro e levou a mão à nuca.
— Não estou gostando disso — disse ele finalmente, mexendo no
telefone.
— Você tentou sua ex?
— Ela não está atendendo. Dan também não. Adeline pode estar no
set, mas Aiden deveria estar em casa com a babá.
— Talvez eles estejam chegando — sugeri, com a voz um pouco
preocupada.
— Devem estar — ele murmurou, guardando o celular. — Vou
esperar mais um tempo. Às vezes, Aiden demora para se arrumar.
Ficamos em um silêncio tenso enquanto ouvíamos os murmúrios
suaves de Frank Sinatra. Quanto mais tempo se passava sem um
pequeno ser humano entrando pela porta da frente, mais raiva parecia
emanar de Adam. Quanto mais eu ficava, mais me sentia invadindo
outro momento da família, o que era estranho de sentir depois de já ter
invadido em várias ocasiões.
— Então, o que são esses papéis? — perguntei, apontando para
eles quando não consegui mais suportar o silêncio.
— Novos roteiros.
— Vamos lá, tenho certeza de que você pode fazer melhor do que
isso.
Ele olhou para a porta da frente mais uma vez, depois se virou para
pegar os papéis.
— Nova oferta. Eu tenho um contrato com o estúdio e devo a eles
mais um filme. Eles enviaram mais dois roteiros para eu escolher, mas
não tenho tanta certeza sobre nenhum deles.
— Posso ver? — Estendi a mão e esperei.
— Essa é uma daquelas coisas que você não pode mencionar em
nenhum outro lugar, Lucy.
Revirei os olhos e balancei os dedos.
— Me dê.
Ele os entregou, com relutância. Eu tinha coisas melhores para fazer
do que sair e espalhar boatos sobre o novo filme que Adam Connor
estrelaria.
— Como está indo o lance do agente? — ele perguntou enquanto eu
olhava o primeiro roteiro.
Respondi sem levantar os olhos das páginas nas minhas mãos: —
Estou quase lá. Filtrei e deixei apenas dois editores, e estou esperando
receber notícias deles. Eu também busquei outros negócios, audiolivro,
etc. Sobre o que é este?
Ele correu até estar sentado muito, repito, muito perto de mim. Eu
tentei fazer com que meu batimento cardíaco desacelerasse, porque,
que diabos, coração? O que você tem? Não devemos gostar do cara,
lembra? Não há necessidade de dar piruetas só porque ele está perto.
Seu braço roçou no meu ombro quando ele pegou o roteiro das
minhas mãos, e eu inspirei no mesmo momento. Que coincidência,
hein?
Respirei fundo e senti um formigamento no braço, onde sua pele fez
contato com a minha. Em primeiro lugar, pele idiota e formigamento
idiota. Segundo, ele cheirava a uísque e algo quente, selvagem e
deliciosamente masculino. Era o convite perfeito para acariciar seu
pescoço e me perder em seu perfume e no seu corpo… o que foi uma
ideia muito, muito ruim. Fechei os olhos para ignorá-lo, mas isso
apenas intensificou seu perfume e a proximidade dele de mim. Ele
cheirava bem o suficiente para eu o atacar naquele exato momento. Se
fosse outra pessoa, eu nem pensaria duas vezes, mas com Adam, eu
me forcei a ficar parada.
Você pode pensar que me afastar dele poderia ter resolvido o
problema, mas eu não era uma covarde; eu nunca me afastaria de um
cara só porque eu o queria. Dane-se isso. Se ele quisesse jogar
comigo, eu entraria no jogo.
Fazendo o meu melhor para respirar pela boca sem parecer
esquisita, inclinei-me para ele e deixei meu braço encostar no seu
enquanto ele lia o roteiro. Ele parecia bem relaxado, o que me irritou
ainda mais.
Lá estava eu tentando o meu melhor para não agir como se ele
estivesse me afetando, e ele nem percebeu que eu estava tendo um
colapso mental devido à proximidade. Inferno, eu estava a segundos de
deixar meu eu cantor se mostrar e cantar Pillowtalk, de Zayn.
Como seria divertido irritar os vizinhos com Adam Connor, de fato,
especialmente quando os vizinhos eram Olive e Jason.
Com a mente a milhões de quilômetros, nua em uma cama king size
com Adam, tive problemas para me concentrar nas suas palavras
quando ele começou a falar.
— Neste, eu seria um marido devotado de uma socialite, que
acabaria por matá-la e fugir enquanto um detetive obstinado tenta me
pegar.
— Chato — eu consegui dizer.
— Sim, esse também recebeu um não.
— Seu agente não deveria conseguir algo melhor para você?
— Sim, e é por isso que estou me livrando dele.
Ergui uma sobrancelha e olhei-o de lado.
— Pelo que sei, você está se livrando de muitas pessoas. É verdade
o que estão dizendo? Que você está atacando pessoas que trabalham
para você por causa do divórcio? — Cometi o erro de olhar nos olhos
dele, e ele sustentou meu olhar com uma expressão séria.
— Parece que espionar alguém não é suficiente, você também
acompanha os tabloides.
— Até parece. Por que eu acompanharia o que está acontecendo na
sua vida? Acabei lendo sobre isso quando estava vendo as fotos da
estreia da Olive e do Jason. Um link me levou para outro e depois
outro… eu não estava procurando saber sobre você, pode acreditar.
Morei na sua casa por uma semana, lembra? Não há nada sobre você
que seja emocionante. Caramba, até Dan tem uma vida mais
interessante do que a sua.
Ele jogou o roteiro de lado com força desnecessária e os papéis
caíram no chão. Olhei-o sem entender, mas ele praticamente me
ignorou, já focado no roteiro seguinte.
— Esse é o vencedor?
— Como você conheceu a vida interessante do Dan? — A pergunta
foi bem inofensiva, mas o modo como ele estava se mantendo imóvel
como se a resposta importasse foi estranho.
— Porque nós conversamos! Ele não me odeia tanto quanto odiava
quando me encontrou no seu quintal. Não posso dizer com certeza se
ele me ama ou não, mas pelo menos ele está conversando agora. Eu
até o fiz rir algumas vezes. Estamos nos tornando amigos, eu acho.
Estou ganhando a confiança dele.
— Quando vocês tiveram tempo para conversar assim?
— Quando você o mandou para a delegacia comigo. O que você
tem?
— Nada. — Ele deu de ombros para minha pergunta. — Este é sobre
um irmão e uma irmã. Eles são vigaristas e trabalham com um pequeno
grupo de pessoas. Meu personagem se apaixona pela pessoa em que
deveria aplicar o golpe e depois acaba matando a própria irmã quando
ela vai atrás do amor dele.
— Parece um pouco mais interessante — admiti.
Ele grunhiu e virou algumas páginas, entregando o roteiro para mim
quando terminou.
— O diálogo não é suficientemente intenso. A irmã deveria ser uma
personagem mais forte se ela está atrás do interesse amoroso dele. Ela
foi escrita para ser uma pessoa instável, o que não combina com o
personagem. Alguém tem que rever isso e mudar as coisas.
Olhei para ele e não consegui pensar em nada.
— Mudar o quê?
Ele se inclinou para mais perto de mim e nossas pernas se tocaram.
Bom Deus! Ele estava praticamente abusando de mim naquele
momento.
— Vamos fazer uma leitura, e você vai entender o que quero dizer.
— Leitura?
— Leia as falas pra mim, Lucy.
— Quem sou eu? Laurel? — Apontei o nome e olhei para Adam.
— Você é Laurel, minha irmã. E eu sou Damon.
— Ok. Você começa.
No topo do roteiro, estava escrito: CEMITÉRIO EXT NOITE. Depois
explicava que Laurel estava caminhando para se aproximar de Damon
com um olhar desconfiado enquanto ele esperava por ela ao lado do
túmulo do pai.
De repente, ele se levantou e me ofereceu sua mão.
— Vamos nos levantar para que você possa assumir seu papel.
Eu ri, mas ainda assim peguei sua mão estendida para me levantar.
— Eu não vou ser sua colega de cena. Eu não preciso entrar no meu
papel.
— Vamos lá, vamos nos divertir.
— Você quer que eu faça isso porque acha que eu também sou
instável, é isso? Vou deixar o personagem mais crível pra você?
— Não seja tão desconfiada, Lucy. Apenas leia as malditas falas.
A cena trazia apenas dois irmãos conversando. O que haveria de
mal, não é mesmo? Quem iria pular a chance de ler as falas com o
bendito Adam Connor ― ainda mais falas que podiam muito bem
acabar no cinema?
— O que você vai ler? — perguntei, olhando em volta para ver se
havia outra cópia.
— Eu li duas vezes. Já decorei essa cena. Apenas comece a ler.
Com o roteiro em uma das mãos, alisei minha camisa, endireitei os
ombros e li as benditas falas.
— Por que você me pediu para encontrá-lo aqui, Damon?
Adam estendeu a mão e levantou meu queixo com as pontas dos
dedos, causando um curto-circuito no meu cérebro.
Ao fundo, Frank Sinatra estava cantando Fly Me To The Moon.
— Você deve olhar para mim quando estiver falando. E coloque um
pouco mais de emoção nisso. A cena está definida; leia as falas para
ter uma ideia do que o roteiro oferece.
Tentei fazer com que meu coração e algumas partes femininas se
acalmassem e olhei diretamente para os olhos de um verde profundo
que ele tinha.
— Não sou atriz, dê-se por satisfeito com a emoção que estou
demonstrando.
Idiota ganancioso.
Olhei para o roteiro, memorizei as linhas seguintes e, dessa vez,
disse sem olhar para baixo.
— Por que você me pediu para encontrá-lo aqui, Damon?
— Pensei que seria apropriado — continuou Adam com sua atuação.
— Eles acharam que irmãos reunidos no cemitério seria algo
adequado? — perguntei, olhando sem acreditar para os papéis que
segurava. — E o que diabos isso significa? — Apontei para a escrita
nas entrelinhas.
— Pensei que seria apropriado — ele repetiu, olhando para mim com
atenção.
Jesus, qual é o seu problema, cara?
Revirei os olhos e continuei.
— Há quanto tempo nós viemos aqui pela última vez? Quinze anos?
Por que agora?
— Sentamos ao lado de sua lápide e fizemos uma promessa um
para o outro, lembra?
— Foi aqui que nossa vida começou; claro que me lembro, Damon.
Ele assentiu solenemente e, por fim, desviou o olhar do meu.
— E agora estamos no fim de outra estrada.
— Do que você está falando, Damon? — Olhei para o roteiro e
depois voltei para ele.
Adam respirou fundo, passou a mão pelo cabelo e deu um passo à
frente, voltando a ficar meio perto demais para o meu gosto.
— Não posso mais fazer isso, Laurel. Não posso ser um fantasma no
meio da noite, não posso fingir que sou outra pessoa. Eu quero mais
para nós.
Endureci a voz o máximo que pude e li as falas seguintes.
— Tem tudo a ver com ela, não é, Damon? Tem tudo a ver com a
Jessie. Ela não passa de um alvo, ou você já se esqueceu disso?
Adam pegou o roteiro das minhas mãos para dar uma rápida olhada
e depois o devolveu para mim. Abri a boca para fazer um comentário
sarcástico e dizer que ele era péssimo ator, mas ele pressionou um
dedo nos meus lábios.
Mais uma vez, o toque.
Frank Sinatra ainda estava arrebentando ao fundo.
Franzi a testa, mas fiquei quieta.
— Você não pode me dizer que não está cansada de todas as
mentiras, Laurel. Quando isso vai acabar?
Saindo do personagem, suspirei.
— Eles ficam conversando assim durante toda a cena? Cara a cara?
— Adam inclinou a cabeça, então entendi a mensagem e continuei
lendo.
— Ainda não, Damon. Não agora que estamos quase conseguindo
tudo o que queríamos, desde o começo.
Ele suspirou e desviou o olhar novamente.
— Ela está grávida, Laurel. Jessie está grávida.
E o enredo engrossa.
Eu li as falas seguintes e ri com ironia.
— Como você pode ter certeza de que o filho é seu? Você sabe que
ela estava namorando aquele tal de Jake até alguns meses atrás.
Quando Adam olhou para mim, seu rosto estava sério.
— É meu.
Eu arqueei uma sobrancelha.
— Resolva disso. Faça com que ela se livre dele. Você não pode
deixar isso arruinar o nosso plano. Nós esperamos muito tempo por
isso.
— Laurel é muito megera, aparentemente — murmurei baixinho
quando virei outra página do roteiro. De repente, as mãos de Adam
seguraram meu rosto, e ele deu um beijo na minha testa.
— Mas que porra? — murmurei, olhando-o enquanto tentava me
afastar.
Perigo! Perigo!
Abortar!
Ele apontou para o roteiro.
— Leia.
E é claro, bem ali no topo, estava escrito: Damon a beija na testa.
Voltando ao jogo, tentei ficar de boa.
Ele me beijou novamente, seus lábios surpreendentemente macios
na minha testa, e tentei ficar o mais imóvel possível com o rosto dele
tão perto do meu.
Então ele me forçou a olhar em seus olhos. Sim, ele me forçou… eu
tinha certeza de que havia algum tipo de mágica envolvida, porque eu
mal conseguia respirar com as mãos dele segurando meu rosto e seus
olhos puxando minha alma para mais perto dele.
Imbecil.
Engoli em seco e pigarreei, para disfarçar.
— Você é minha irmã, Laurel. Eu amo você — ele disse com um
sorriso suave. — Eu te amo, mas cansei. Não me faça escolher. Não
posso mais fazer isso; não tendo tanto a perder.
Olhei para o roteiro enquanto meu cérebro estava tendo dificuldades
para funcionar corretamente.
— E eu, Damon? O que você espera que eu faça? Que continue com
a minha vida? Como se a família dela nunca tivesse acabado com a
nossa?
O polegar de Adam acariciou minha bochecha, e meu corpo inteiro
começou a queimar. Isso estava na porra do roteiro? Então sua cabeça
passou a ir na minha direção e eu estava me preparando para um beijo
no nariz ou algo igualmente inocente assim.
Relacionamento estranho entre irmãos, mas vai saber, né?
Nossos olhos se encontraram e, sem quebrar o contato visual, seus
lábios tocaram os meus suavemente. Eu congelei.
Eu. Lucy Meyer, a garota que adoraria beijar Adam Connor um mês
antes, agora estava paralisada sendo beijada por Adam Connor. Meu
corpo traidor deu um passo em direção a ele para manter a conexão.
Definitivamente, irmãos estranhos.
Por alguns segundos perigosamente longos, ele me deixou sentir
seus lábios nos meus movendo-se muito lentamente. Então ele deu
uma mordidinha no meu lábio inferior e, quando me dei conta do que
estava acontecendo, ele estava me beijando de verdade, me levando a
abrir a boca.
Delicadamente.
Mas eu senti a língua dele. Eu juro que senti.
Inspirei profundamente e, antes que pudesse reagir de alguma
forma, ele estava se afastando.
Vamos esclarecer isso. Eu não segui seus lábios. Nem me inclinei
em sua direção como uma adolescente louca de amor. Não, eu não sou
essa garota. Foi só uma ilusão de ótica.
Assim que ele me soltou, baixei a cabeça e comecei a virar as
páginas como uma louca. Não consegui encontrar o que estava
procurando, então simplesmente levantei a mão e dei um tapa nele.
Com força.
Por um bom tempo, nenhum de nós se mexeu. Frank estava
terminando outra música como um mestre, e além da minha respiração
pesada, ele era a única coisa que podíamos ouvir.
Por fim, Adam perguntou: — Por que fez isso?
— O que você acha? — consegui dizer. Apesar de eu estar no
mesmo lugar nos últimos minutos, tinha a sensação de ter corrido uma
maratona, e isso por um beijinho que nem conseguir provar direito.
Pigarreei. — Você acabou de beijar sua irmã. — Eu apontei um dedo
para ele. — E não tente me dizer que foi um selinho também. Como
você acha que ela vai reagir?
O toca-discos começou a tocar It Was A Very Good Year, de Frank
Sinatra, minha favorita, e Adam segurou meu queixo com os dedos e
inclinou meu rosto para cima. Também não era um aperto suave no
queixo. Sua mão grande e quente praticamente envolveu a metade
inferior do meu rosto.
Era definitivamente um momento de derreter a calcinha. Quem não
ama um homem ― especialmente um homem como Adam Connor —
assumindo o controle do seu corpo, de uma maneira sexy, é claro.
— Eu não beijei minha irmã, Lucy — ele murmurou, inclinou-se e
depois me beijou. Novamente. Me beijou para valer. Seus dedos
seguraram meu rosto no lugar, ele inclinou a cabeça e enfiou a língua
dentro da minha boca.
Um beijo desses.
E ele tinha um gosto bom. De calor. De seda. De vício. Sexo. Perigo.
Loucura.
O roteiro na minha mão caiu no chão.
Meu cérebro estava uma bagunça completa, me dando todos os
tipos de alertas.
Ele inclinou a cabeça para a direita e praticamente acabou comigo
com aquele beijo.
Foi um beijo embrulhado em outro beijo.
Isso faz sentido? Não? Também não fez sentido para mim.
Sim, Lucy! Sim!
Não, Lucy! Não!
Era como se eu tivesse várias personalidades vivendo dentro da
minha cabeça todo aquele tempo e elas estivessem esperando para
sair do seu esconderijo apenas para aquela ocasião especial.
Mas Adam Connor estava me beijando… o que diabos uma garota
deveria fazer quando enfrentava esse problema? Com ódio ou sem,
você também beijaria. Você daria tudo de si e daria com vontade.
Com minhas mãos vazias, agarrei sua camisa e o puxei para mais
perto, retribuindo seu beijo com fervor. Eu poderia ter escrito um poema
sobre como era bom tê-lo em cima de mim, e eu nem era a roteirista.
Seu aperto no meu queixo aumentou a ponto de ficar perigosamente
perto de me machucar, mas eu estava amando isso. Eu o odiava, mas
eu estava amando o jeito como ele controlava o beijo. Me controlava.
Como era possível que o toque dele fosse tão diferente do toque do
imbecil de Jake Callum?
Eu estava amando o jeito como sua respiração começava a fugir do
controle ― assim como a minha. Eu estava amando que ele tinha
passado a mão esquerda ao redor da minha cintura e estava me
puxando em direção ao corpo dele.
Nossas línguas travavam uma batalha, e eu não me importava com
quem saísse por cima no final, desde que ele mantivesse seus lábios
nos meus.
Queria que ele ficasse sem camisa para eu poder sentir sua pele sob
o meu toque, mas para isso eu teria que me afastar dos lábios dele, e
eu não estava muito animada para fazer isso. O chão sob meus pés
poderia ter rachado, e eu ainda não o teria deixado se afastar. Ele virou
a cabeça para o outro lado e intensificou o beijo, me forçando a arquear
o corpo para me aproximar mais ainda.
Estava começando a pensar que não havia problema em não ser
beijada por mais de um mês se o beijo no fim da seca fosse como
aquele. Eu aceitaria qualquer coisa que aquele homem fizesse comigo.
E, minha nossa, ele estava me devorando como se estivesse
matando a sede. Eu estava a segundos de subir nele e fazer o melhor
que desse para transar com ele em pé. Isso exigiria muitas manobras,
mas eu poderia me esforçar ao máximo.
Incapaz de me conter por mais tempo, gemi, e ele foi mais devagar,
mordiscando meus lábios enquanto eu fazia o que dava para não ficar
sem ar na frente dele. Sua mão soltou meu rosto e delicadamente
prendeu meu cabelo curto atrás da orelha.
Justamente quando pensei que a tortura dos meus sentidos tinha
acabado, ele se inclinou e beijou minha bochecha, então um pouco
mais alto, indo em direção à minha orelha. Minha cabeça, agindo
sozinha, inclinou-se para o lado para lhe dar mais espaço para agir, e
ele escolheu aquele momento para passar a língua ao longo da concha
da minha orelha, me fazendo gemer ainda mais alto.
Eu só conseguia me agarrar a ele. Estava longe dali. Dá para
imaginar? Minha vagina, no entanto, estava muito feliz.
— Lucy — ele sussurrou, e todos os pelos do meu corpo se
arrepiaram. Por que meu nome tinha que soar tão gostoso quando ele o
pronunciava?
Com o nariz no meu pescoço, ele estava sentindo meu cheiro, e meu
corpo estava praticamente derretendo em suas mãos. Eu me sentia
ganhando vida. Ou flutuando para fora do meu corpo. Ou todas essas
coisas.
— Me chame de maluco, minha pequena perseguidora, mas acho
que gosto de você — ele murmurou contra a minha pele, sua
respiração quente me aquecendo da cabeça aos pés enquanto ele
mordiscava minha pele.
— E eu acho que não gosto de você — sussurrei de volta quando
consegui pensar o suficiente para formar palavras de novo.
— Hum — ele murmurou ao lado da minha orelha, fazendo meus
olhos se fecharem. O que ele estava jogando?
— Então você não vai me beijar de volta se eu tentar te beijar de
novo, imagino?
Foi uma declaração estúpida. Todos os tipos de beijos eram bem-
vindos, desde que envolvessem aqueles lábios tocando partes do meu
corpo, e o idiota sabia disso, claro.
Tentei me afastar, pensando que ele estava ansioso por outro tapa,
mas suas mãos grandes envolveram minha cintura e, antes que eu
soubesse o que ele estava planejando fazer ― não tenho vergonha de
dizer que estava esperando por outro daqueles beijos intensos ―, ele
começou a andar para trás e me levar com ele.
Ele caiu sentado no sofá e eu magicamente subi em seu colo. Mais
uma vez, eu não queria, é claro, então estava culpando suas mãos
grandes e fortes. Se ele não estivesse tocando minha cintura, eu teria
ido embora na hora. No entanto, como suas mãos ainda estavam em
mim, me pressionando para mais perto dele, em vez de ir embora, eu
comecei a me inclinar para ele para sentir aqueles lábios de novo.
Ou tudo ou nada, né?
Com uma das mãos dele ainda na minha cintura, ele deslizou a outra
pelas minhas costas e para dentro da minha camisa.
Segurei o encosto do sofá com uma das mãos e apoiei a outra em
seu peito. Fiquei tonta ao sentir o coração dele batendo forte sob o meu
toque. Eu não tinha o direito de me sentir tonta com o batimento
cardíaco dele. Eu deveria ter saído do seu colo e fugido.
Mas o que eu fiz? Eu fiquei mais tempo.
Ele descansou a mão entre minhas omoplatas. Pele sobre pele. Pele
quente em pele ardente. Mantendo-me de joelhos o tempo todo,
pressionei meus seios contra seu peito largo e mergulhei para outro
beijo de arrasar.
Ele soltou um gemido longo e satisfeito que mexeu ainda mais com
meu cérebro e arruinou minha calcinha. Então ele subiu mais a mão
para poder segurar meu pescoço e me puxar para seus lábios. Me
controlando. Aquilo foi sexy demais, e, de alguma forma, doce. Protetor.
Poderia ter sido ainda mais sexy se ele estivesse prestes a me
penetrar.
O visual me fez soltar um gemido ainda mais alto do que antes.
A fera em mim foi solta da coleira, e estava procurando devorar o
homem entre minhas pernas.
Ele me afastou dos seus lábios e apertou meu pescoço para chamar
minha atenção. Minhas pálpebras estavam pesadas, mas consegui
abri-las o suficiente para ver seus olhos expressivos olhando
diretamente dentro da minha alma.
— Você não é tão bom quanto pensei que seria. — As palavras
saíram da minha boca, me pegando de surpresa.
Seus lábios se entreabriram, mas não decifrei seu olhar. Antes que
ele pudesse falar, a porta da frente se abriu e alguém a fechou com
força.
Aiden.
Foi o suficiente para me colocar em ação. Eu me levantei e limpei a
boca com as costas da mão. Minha camisa desceu, cobrindo minhas
costas novamente, e eu silenciosamente xinguei Adam por fazer com
que eu me sentisse nua sem a mão dele em mim.
Ele ainda estava sentado no maldito sofá e olhando para mim como
se estivesse me vendo pela primeira vez.
— Adam, nós temos um problema. Você não vai gostar nada disso
— anunciou uma voz, e então Dan, o Bambam, apareceu no corredor.
— Eu vou para o meu quarto — murmurei antes de me afastar
rapidamente.
Dan estava franzindo a testa para mim quando passei por ele, mas
felizmente não disse uma palavra. No meio do caminho, percebi que eu
não estava mais dormindo ali. Eu podia ouvir Dan e Adam conversando
em voz baixa. Com a mão no rosto, gemi e voltei para a sala de estar.
— História engraçada — comecei, caminhando ao redor deles e
depois continuando para o quintal sem terminar minha frase.
Pulei o muro e parei em frente às portas de correr de Olive em
apenas alguns segundos. As portas estavam trancadas.
— Que diabos? — murmurei e comecei a bater. As luzes ainda
estavam acesas lá dentro, então eu sabia que eles estavam acordados.
— Olive! — gritei, aproximando-me do vidro para olhar para o
interior.
De repente, as finas cortinas bege se moveram e Olive apareceu do
nada.
— Puta merda — gritei, me afastando. — Pirou? Você me assustou
demais.
— Eu não vou deixar você entrar — disse ela, do outro lado das
portas de vidro. Eu notei o sorriso satisfeito em seus lábios.
— O quê? Por que não?
Ela cruzou os braços e levantou uma sobrancelha.
— Pode falar.
— Falar o quê?
Ela estreitou os olhos para mim e se inclinou para mais perto do
vidro, estudando meu rosto, imaginei. Então, seus olhos se arregalaram
e ela arfou.
— Você o beijou! Seus lábios estão inchados. Você o beijou e não ia
me contar!
— Como é? Estou bem aqui, tentando entrar, para poder te contar!
— Você está mentindo.
— Não estou, Olive.
— Então me diga o que você fez.
— Não fiz nada.
Ela me lançou um olhar incrédulo.
— Você realmente vai falar comigo através do vidro?
— Estou esperando.
— Bem. Jesus. Eu nunca te forcei a me dizer algo assim.
Ela soltou uma risada alta.
— Você tem certeza? Pense melhor. Você fez muito pior comigo. Eu
me lembro muito bem de quando você mandou uma mensagem para o
Jason em meu nome, dizendo que eu estava solteira. Cem por cento.
— Você deveria me agradecer. Você acabou se casando com o cara,
não é?
— Não mude de assunto, Lucy. Diga o que aconteceu lá ou não vou
deixar você entrar, nem te enviar uma cópia do meu livro. Você deve
ouvir o que Jasmine está dizendo. Ela está achando fantástico.
— Eu acho que você está saindo comigo há muito tempo; está
começando a agir como eu.
— Fala. Logo.
Levantei as mãos.
— Beleza. Beleza. Acalme a periquita, mulher. Pensei que Aiden
estaria lá, mas ele ainda não estava em casa, então Adam perguntou
se eu queria esperar.
— Você está indo bem, continue.
Apesar da situação, eu ri e me aproximei do vidro.
— Bem. Ele me beijou — sussurrei, alto o suficiente para que ela
pudesse me ouvir. — Então dei um tapa nele porque ele estava
beijando a irmã dele.
Olive arregalou os olhos.
— Então ele me beijou para caramba de novo. E eu retribuí. Então,
quando eu estava prestes a me sentar no colo dele e sentir o tamanho
do pau para não morrer de curiosidade, Dan, o Bambam, chegou.
— Você é péssima, Lucy. Não tenho ideia do que diabos isso
significa. Ele beijou você e a irmã dele, e você deu um tapa nele?
Fiz que sim, sentindo orgulho de mim mesma.
— Bem, quase isso. Ele me beijou depois que eu contei a ele sobre
Catherine e minha maldição.
Ela se aproximou, pressionando a testa contra o vidro, expressando
choque.
— Você contou a ele sobre a maldição?
Outro aceno rápido.
— Depois do tapa, ele me beijou de novo e, meh… — Fiz uma pausa
e depois encolhi os ombros. — Foi melhor, eu acho. Pelo menos ele
não foi delicado. O tapa deve ter ajudado.
— Eu te odeio — ela disse.
— E foi exatamente isso que eu falei pra ele. Ele disse que acha que
gosta de mim, então eu disse que o odeio.
Um grande sorriso se abriu nos lábios de Olive.
— Adam Connor te ama.
Lancei a ela um olhar entediado.
— Eu não disse isso, disse?
— E você está totalmente se apaixonando por ele.
Eu ri e balancei a cabeça.
— É você quem está dizendo, louca. Agora abra a porta, eu te contei
tudo.
Ela virou as costas para mim e se encostou na porta de vidro,
olhando para trás com timidez.
— Vou escrever um livro sobre o seu amor por Adam. Vai ser épico.
— Não estou me apaixonando por ele, pelo amor de Deus.
— Você vai se apaixonar. E eu vou amar cada segundo disso.
— Sou amaldiçoada, lembra, Olive? Pare de brincar e abra a porta,
está esfriando aqui fora.
— Por favor, estamos em Los Angeles, é setembro, será que vai
fazer frio? E tenho certeza de que Adam já aqueceu você. Talvez eu
devesse mandar uma mensagem para ele. Onde está o seu celular?
— Olive! Juro por Deus… — Bati no vidro. — Abra a maldita porta!
Você está se tornando uma “mini eu” e não estou gostando. Só pode
haver uma como eu entre nós. Você deve ser a pessoa calma, sensata,
não aquela que deixa sua amiga no frio para ser devorada por coiotes,
para que ela possa entender o que está acontecendo! É o que eu faria!
— Aprendi com a melhor.
Eu estava presa entre me sentir uma mãe orgulhosa e uma mãe
irritada.
Os olhos dela estavam brilhando de diversão.
— Estou pesquisando para o meu próximo livro. Como vou estar
escrevendo sobre você, é melhor eu entrar no personagem. — Então o
rosto dela ficou sério e ela suspirou. — Por que você faz isso consigo
mesma? Vá se divertir com ele. — Ela inclinou a cabeça, gesticulando
para a casa de Adam. — Você não é amaldiçoada, Lucy. Se ele te
beijou, significa que está interessado, mesmo depois de tudo que você
fez.
— Como é? Você não estava comigo naquele muro naquele primeiro
dia? Se eu sou uma perseguidora, você também é.
— Eu não fui pega, fui?
— Certo. Que ótima desculpa. Agora, abra a porta.
— Por quê?
— Por que o quê?
— Por que você não volta para lá e tenta? Veja no que dá.
Como ela não abriria as malditas portas, virei as costas para ela e
me sentei na frente da porta.
— Lucy? — ela chamou.
Olhei para o céu.
— Porque, se eu me apaixonar por ele, não vou sobreviver a essa
queda.

Essas fotos exclusivas de Aiden Connor (5) chorando no aeroporto


cercado por paparazzi viralizaram em pouco tempo. Adeline Young
chegou ao aeroporto de Los Angeles por volta das seis da tarde e,
assim que saiu do carro com a equipe, correu para o aeroporto, como
você pode ver claramente com seus próprios olhos nas fotos.
Até agora, isso parece só mais um flagra de uma celebridade, certo?
Errado. Antes de prosseguirmos com a história, queremos que você
saiba que, como equipe, tivemos uma discussão sobre essas fotos,
sobre se deveríamos ou não compartilhá-las com você e, no final,
mesmo achando que elas são de partir o coração, pensamos que como
todos os outros veículos de notícias estavam acompanhando a história
e vocês poderiam vê-las na internet em qualquer lugar, não mudaria
nada se simplesmente deixássemos de publicá-las. Então, após esse
aviso, devemos também dizer que não manteremos essas fotos aqui
por muito tempo, porque o que você vê nelas não é bom. Enfiar uma
câmera gigantesca no rosto de uma criança enquanto gritamos para
chamar sua atenção e assustá-lo muito nunca é certo. Não importa de
quem a criança seja filha.
Depois de tudo isso, os paparazzi que tiraram as fotos são a única
parte culpada aqui? A resposta é não.
Quando Adeline Young chegou ao aeroporto de Los Angeles para
embarcar no voo para Nova York, ela estava com seu assessor de
imprensa, Neil Germont, o braço direito de Michel Lewis e dois de seus
assistentes. Enquanto o grupo corria pelo aeroporto para pegar o voo,
dá para ver outro assistente saindo do carro e correndo atrás deles. É
aí que as coisas dão errado. A próxima foto mostra Aiden Connor
saindo do SUV sozinho, claramente procurando sua mãe. O pânico em
seu rosto diz muita coisa, na nossa opinião.
Seria de se pensar que alguém sairia para pegá-lo, certo? Era o que
estávamos esperando, porque, como é possível esquecer uma criança
no carro com tantos assistentes por perto?
A próxima foto de Aiden foi a que viralizou ontem à noite. Você pode
vê-lo chorando enquanto os paparazzi o cercam, e não estamos
falando de duas ou três pessoas tirando fotos longe dele. Se você olhar
para o fundo da foto, vai ter uma ideia do número de pessoas ao seu
redor com câmeras grandes na cara dele. Agora, se fosse algum de
nós na mesma situação, até nós mesmos começaríamos a entrar em
pânico, mas, no caso de uma criança de cinco anos, não podemos nem
imaginar que experiência assustadora deve ter sido ter um grande
grupo de pessoas que você nunca viu na vida gritando seu nome na
sua cara enquanto você procura sua mãe.
Estamos ainda mais tristes em dizer que nenhum dos fotógrafos
ajudou Aiden a encontrar a mãe. Segundo nossa fonte, a assistente de
Adeline voltou para buscá-lo quando perceberam que ele não estava
com eles, e a confusão toda durou apenas cerca de um minuto ou dois,
mas, para uma criança dessa idade, deve ter sido uma eternidade. O
que nos incomoda ― além de outras coisas ― é o fato de não ter nem
sequer sido sua mãe, Adeline, quem foi buscar o pequeno Aiden. Foi
uma assistente.
Todos sabemos que, desde o divórcio, Adeline Young tem sido uma
mulher muito ocupada, pois está fazendo o melhor que pode para voltar
aos holofotes e assinar um contrato de filme enquanto todos estão
prestando atenção nela, mas, ocupados ou não, temos certeza de que
ela receberá muitas reações devido a esse incidente.
Ainda estamos tentando entrar em contato com a nova equipe de
relações públicas de Adam Connor para comentar. Não é provável que
consigamos algum comentário neste momento, mas nós mal podemos
esperar para ver qual será o próximo passo dele.
— Entre com o processo hoje. Eu não me importo com o que você
tenha que fazer, quero que faça até o final do dia.
Do outro lado da linha, estava minha advogada, Laura Corey.
— Me dê um segundo, Adam.
Fechei os olhos e esperei.
— Ok. Estamos solicitando a guarda total de Aiden, então. Não vai
ser um processo fácil. Você está pronto para isso?
— Eu quero meu filho, Laura. — Não havia mais dúvida sobre isso;
não havia razão para dar tempo à Adeline para pôr a mão na
consciência.
— Ok, Adam. Começaremos o processo hoje. Você quer que eu
entre em contato com sua nova equipe de relações públicas para
discutir como avançar com esse novo momento? Eu tenho que ser
sincera, eu recomendaria que você conversasse com uma agência de
notícias em quem confie ou, pelo menos, divulgasse uma declaração na
imprensa. É melhor que você fique à frente de tudo e dê uma breve
explicação em vez de deixá-los criando as coisas que eles querem.
— Não pretendo causar uma comoção com isso, Laura.
— E eu não estou dizendo que você deveria. Apenas pense nisso.
Nessas situações, é melhor dar uma explicação em vez de ficar em
silêncio e deixar a imprensa correr solta com o que inventar. E, depois
das fotos da noite passada, confie em mim, eles devem estar
enlouquecidos.
— E isso me lembra... — comecei, sentindo um peso no estômago.
— Eu quero as fotos de Aiden fora da internet e preciso dos nomes
desses fotógrafos. Eles sabiam que o que estavam fazendo era ilegal.
Não deveria ter acontecido.
Ela suspirou, o som me deixando ainda mais agitado.
— Você está certo, é ilegal, mas é difícil fazer valer a lei. Vou pedir
ao meu investigador que procure os nomes dos fotógrafos, mas você
sabe que eles se protegem. Vai ser um tiro no escuro.
— Eu ainda quero que você tente.
— Claro que vou tentar. Conversamos depois.
Ela encerrou a ligação. Com o telefone ainda na mão, saí para o
pátio e liguei para Adeline. De novo. Na noite anterior, quando Dan
voltou da casa de Adeline sem Aiden e me contou que ela havia
deixado a cidade com ele, sem me avisar, mesmo sabendo que era o
meu dia de ficar com ele, eu liguei várias vezes até ela atender ao
telefone. Não foi um papo divertido. Quando ela tentou me explicar por
que o tinha levado com ela, fiquei sem palavras.
Ela atendeu a ligação no quinto toque.
— Adam. Olá.
— Adeline. Onde você está?
— Acabamos de pousar no aeroporto de Los Angeles.
— Você está indo pra casa? Vou mandar Dan pegar Aiden. Depois
você e eu… precisamos conversar.
— Adam. — Ela suspirou. — Eu sei que errei. Você tem todo o direito
de ficar bravo comigo, mas sou perfeitamente capaz de levar Aiden até
a sua casa.
— E eu estou lhe dizendo que você não precisa.
— Eu quero, Adam. Por favor, me dê uma chance de me explicar.
Quero pedir desculpas a você cara a cara, e acho que vai ser bom para
o Aiden nos ver juntos.
Eu não queria o pedido de desculpas dela e não queria vê-la,
especialmente depois das fotos de Aiden chorando no meio de um
frenesi de paparazzi. Para mim, já não tínhamos o que falar. Sobre
nenhum assunto.
Depois que encerrei minha conversa com Adeline, tive outra com
minha nova equipe de relações públicas e determinei o que precisava
ser tratado. Por mais que eu quisesse manter tudo privado e não
concordasse com a minha advogada, eu sabia que aquilo vazaria; pelo
menos, assim, eu teria controle de quanto e do que vazaria.
Uma hora depois, Adeline entrou segurando a mão de Aiden. Na
noite anterior, quando liguei, ela disse que ele estava dormindo, então
eu não podia falar com ele sobre o que tinha acontecido nem saber
como ele estava.
Toda vez que eu o deixava na casa de Adeline, ele ficava quieto e
olhava para mim como se eu o estivesse traindo. O olhar que ele me
deu quando entrou foi exatamente o mesmo e foi uma apunhalada no
meu peito.
Sem saber com o que estava lidando, me ajoelhei na frente dele para
receber um abraço. Ele não quis. Ficou completamente imóvel contra
mim enquanto eu o abraçava. Ainda abraçando meu filho, olhei para
Adeline. Ela contraiu os lábios e murmurou um rápido “me desculpe”.
Suspirei e larguei meu filho.
— Ei, amigão. Senti sua falta.
Ele murmurou um “oi” em voz baixa.
— Você se divertiu em Nova York com a sua mãe?
Outra não resposta na forma de um murmúrio.
— Aiden — Adeline murmurou gentilmente quando soltou sua mão e
ajeitou seu cabelo. — Pode dar uns minutos para o papai e para mim?
— Tudo bem.
Sem olhar nos meus olhos, ele se virou e foi em direção ao seu
quarto, mas parou no meio do caminho.
Seus olhos encontraram os meus rapidamente quando me levantei
devagar.
— Fui bonzinho, então posso pedir uma coisa?
— Claro — respondi. Ele receberia praticamente o que quisesse de
mim naquele momento, se isso fizesse com que ele me olhasse nos
olhos.
— Posso chamar a Lucy?
— Ele está pedindo por ela desde que chegamos — acrescentou
Adeline.
Óbvio que ele queria a Lucy. Eu a desejaria também se fosse ele. Na
verdade, eu também a queria. Aquela era outra questão que eu não
tivera tempo de resolver… não que fosse fácil resolver alguma coisa
com Lucy, mas precisávamos conversar sobre aquele beijo. Por mais
que me fizesse parecer um imbecil, depois da noite passada…
precisávamos conversar, e após isso, eu precisava beijá-la de novo…
provavelmente para calá-la.
— Podemos ligar para ela, amigão, mas não sei se ela está ocupada.
— Podemos ligar para ela agora? Aí podemos perguntar se ela
sentiu minha falta. Porque se ela sentiu, ela vai vir me ver, eu sei.
Olhei para Adeline.
— Você pode esperar enquanto eu ligo para ela?
— Claro, Adam — ela respondeu com um sorriso gentil, tocando meu
braço por um breve momento, e foi em direção à sala de estar
enquanto eu pegava meu telefone.
Aiden deu alguns pequenos passos na minha direção, mas ainda
estava distante. Eu esperava que Lucy ajudasse a melhorar isso. Teclei
o número, e ela atendeu no terceiro toque, perguntando: — Você está
ligando para obter algumas dicas?
Como saber do que ela estava falando?
— Dicas sobre o quê?
— Sobre beijar, é claro. Bom, você não foi o pior, eu acho, mas… eu
não sei, acho que você precisa de umas dicas e, se penso assim,
significa que você de fato precisa de umas dicas.
Apesar de Adeline estar sentada a poucos metros e Aiden estar
olhando para mim com esperança nos olhos, esbocei um sorriso.
— Porque você acha que arrasou na tarefa?
Houve um breve momento de silêncio.
— Como assim?
— Só estou dizendo que acho que você também precisa de algumas
dicas. Eu não quero te entristecer, mas…
Quando ela falou, sua voz saiu aguda.
— Mas…? Mas o quê?
— Receio que este não seja um bom momento. Teremos que discutir
isso outra hora.
Ela rosnou.
— Eu sou a mulher que melhor te beijou, seu imbecil.
— Se você está dizendo, Lucy.
— Como assim? Quem você pensa que é?
Nessa hora, abri um sorriso largo. Se ela estivesse ao meu lado, eu
adoraria mostrar quem eu era, mas, infelizmente para nós, ela não
estava. Em vez disso, meu filho estava puxando minha camisa,
tentando chamar minha atenção.
— Posso falar com ela? Eu acho que ela sentiu minha falta. Acho
que devo falar com ela.
Balancei a cabeça para Aiden e levantei o dedo.
— Tem alguém aqui que quer falar com você, Lucy. Você tem um
momento?
— Agora você me pergunta se eu tenho um momento? Depois que
você arruinou minha tarde? E quem quer conversar? É o Dan? Falei
com ele hoje cedo.
Ela estava conversando com Dan? A pergunta chegou à ponta da
minha língua, mas a segurei.
— Não, não é Dan — eu disse secamente. Sem mais explicações,
entreguei o telefone a Aiden.
— Não insista, tá? — falei gentilmente. — Se ela estiver ocupada,
você pode vê-la depois.
— Alô? Lucy? É você? — Ele segurou o telefone com as duas mãos
e focou o olhar nos sapatos.
— É o Aiden. Você se lembra de mim?
Olhei para Adeline para ver o que ela estava fazendo e vi que ela
olhava para nós. Ela deu um pequeno aceno de cabeça e desviou o
olhar. Tê-la em minha casa era estranho, como se ela não pertencesse
à minha vida. Muita coisa tinha mudado em tão pouco tempo.
— Você está com saudades de mim? Se você sentiu minha falta,
pode me ver agora.
— Aiden, não insista — falei calmamente, chamando sua atenção.
Ele nem me olhou.
— Tá. Você pode trazer a Olive? Ela deve ter sentido minha falta
também. Hum. Quando ela vem, então? Tá. Estou esperando por você,
então não se atrase.
O que quer que ela tenha dito do outro lado da linha, Aiden sorriu e
assentiu.
— Cinco minutos, Lucy. Não se atrase, tá?
Rapidamente ele devolveu o telefone para mim e correu para seu
quarto.
— Aiden, tenha cuidado — gritei, mas continuei sendo ignorado.
Depois de checar se Lucy ainda estava na linha, guardei o celular e
me virei para Adeline. No meio do caminho, lembrei-me de como Lucy
gostava daquele muro e, em vez disso, decidi ficar perto das portas de
vidro para poder destrancar quando ela aparecesse. Inclinei-me contra
o vidro e encontrei os olhos de Adeline.
Por um momento, nós dois nos observamos em silêncio e nada mais.
— Como você está? — ela perguntou.
— Até ontem, eu estava indo bem, Adeline.
— Você não pode estar me culpando, Adam.
— E quem devo culpar, Adeline? Devo culpar Aiden por sair do carro
sozinho?
Adeline suspirou e prendeu seus longos cabelos loiros atrás da
orelha.
— Ele não deveria ter saído do carro sozinho, mas você está certo,
ele não é o culpado.
— Que gentileza sua concordar comigo em alguma coisa.
A mágoa brilhou em seus olhos, mas ela disfarçou rapidamente.
Ela se levantou do sofá. Seus jeans claros eram justos em suas
longas pernas enquanto a camisa cinza era relativamente larga nos
seios. Ainda assim, pude ver que ela não estava usando nada por
baixo. Se era uma tática ou não, eu não fazia ideia, mas não estava me
fazendo cair nessa ― e eu nem pensava em ir para a cama com ela.
Quando ela começou a se aproximar de mim, seu telefone tocou na
bolsa e ela olhou para ele. Então ela voltou ao sofá para atender a
ligação.
— Estou esperando uma ligação do diretor de Nova York, Adam.
Você se importa se eu atender?
Ela não esperou minha resposta.
Naquele exato momento, alguém bateu nas portas de vidro e me
tirou dos meus pensamentos sobre quanto eu deveria contar a Adeline
sobre meus planos. Virei a cabeça e encontrei os olhos zangados de
Lucy. Eu sorri. Estava começando a reconhecer o fato de que adorava
vê-la toda exaltada e pronta para cuspir fogo em mim.
Minha pequena guerreira.
Ela levantou a mão e, antes que pudesse quebrar o vidro batendo,
destranquei a porta para ela poder entrar.
— Idiota — ela murmurou enquanto passava atrás de mim.
— O que disse? — eu perguntei quando levantei uma sobrancelha
para ela.
— I-di-o-ta — ela repetiu, mais alto desta vez. — Quando foi a última
vez que você beijou alguém? — Ela olhou para mim. — Aquilo foi
horrível. Que decepção enorme.
Inclinei-me e segurei um sorriso quando vi seu corpo balançar um
pouco na minha direção. Meus lábios roçaram em sua orelha e
sussurrei: — Está tentando me fazer te beijar de novo, Lucy? Esta é
sua maneira de pedir sem ter que pedir? Você acha que eu vou cair?
Ela deu um grunhido baixo e desta vez eu não fiz nada para
esconder meu sorriso.
— Porque se for, está funcionando. Eu adoraria poder te beijar como
um louco e te deixar sem rumo de novo.
Notei o arrepio que percorreu seu corpo, a leve curva do seu
pescoço que aproximou meus lábios da pele dela. Era muito sexy e
muito tentador. Ao ver o reflexo de Adeline em seu telefone, de costas
para nós, cuidei para passar o nariz suavemente em sua pele e respirei
fundo.
— Mas, dessa vez… desta vez, eu gostaria de terminar o que você
começou. Eu gostaria de tirar suas roupas. Tocar em você. — Dei um
beijo breve e rápido em seu pescoço. — Beijar você… e beijar você… e
beijar você… eu vou beijar você quanto você quiser, querida. E eu
ainda vou te beijar enquanto você estiver gozando nos meus dedos. —
Inclinei-me um pouco mais, deixando meus lábios bem perto da sua
orelha. Pelo canto do olho, notei a língua saindo da boca enquanto ela
disfarçadamente tentava lamber o lábio inferior. — E no meu pau —
acrescentei, minha voz saindo mais rouca do que eu queria. — Vou
olhar nos seus olhos e te beijar até seus lábios ficarem vermelhos e
inchados. Aposto que você amaria isso.
Quando me inclinei para trás, seu corpo ficou completamente imóvel,
mas seus olhos… ah, aqueles olhos cinzentos estavam derretendo.
Eles estavam derretendo para mim de uma maneira que eu adoraria
observar se ela estivesse debaixo de mim, em cima de mim, ou
enrolada em mim.
— Eu… eu…
— Sim, Lucy? — incitei.
Seus olhos se estreitaram lentamente. Quando ela torceu o dedo
para que eu me aproximasse e abriu a boca para falar novamente, eu
estava fazendo o melhor que podia para disfarçar sua reação a mim
com palavras afiadas.
— Eu não tocaria seus lábios nem com uma vara de três metros,
Adam Connor — ela sussurrou, sua respiração acelerando. — E eu
duvido seriamente que você possa me foder como eu gosto com um
pau de dez centímetros.
Eu me inclinei para trás e sorri para ela.
— Você acha que eu tenho dez centímetros?
— Adam? — Adeline chamou. Eu vi o corpo de Lucy ficar ainda mais
tenso.
Dei um passo para trás e virei meu corpo em direção a Adeline.
— Esta é a nossa famosa Lucy — falei para ela.
Seus olhos encontraram Lucy e um sorriso se abriu quando ela se
aproximou para cumprimentar aquele furacão.
Ela era nossa Lucy, do Aiden e minha.
Olhei nos olhos de Lucy quando ela olhou para mim e Adeline, mas
ela não disse nada. Quando Adeline a alcançou, eu recuei e a vi beijar
Lucy na bochecha.
— É tão bom finalmente conhecê-la — disse Adeline com
sinceridade.
— Ah. — Lucy olhou para mim, seus olhos sondando, mas, como
não pôde perceber o que eu estava pensando, concentrou-se em
Adeline. — Oi. Também é um prazer te conhecer.
— Você tinha que ver como os olhos de Aiden brilham sempre que
ele fala de você.
— Ele falou de mim? — Lucy perguntou, abrindo um sorriso
naqueles lábios pelos quais eu me interessava cada vez mais.
Adeline balançou a cabeça e tocou o braço dela.
— Ele fala sobre você sem parar. Você é a coisa preferida dele.
Estou muito feliz por ter te conhecido hoje. Eu estava querendo dizer a
Adam para trazê-la um dia, para que nós pudéssemos nos ver.
A nova coisa favorita dele… Adeline e as palavras que dizia. E por
que diabos ela queria que eu trouxesse Lucy aqui?
— É? — Lucy perguntou, tão confusa quanto eu.
Adeline olhou para trás, para mim.
— Adam mencionou que teve que despedir a babá de Aiden antes
de você. — Ela olhou para Lucy antes que eu pudesse interromper. —
Ele não explicou o porquê, é claro, mas Anne estava um pouco
interessada demais no que estava acontecendo por aqui, na minha
opinião, então estou feliz por ele ter encontrado outra babá.
— Hã? Isso é estranho — disse Lucy, olhando para mim por cima do
ombro de Adeline. Eu balancei a cabeça e continuei calado.
— Lucy não é uma babá — eu a corrigi.
Adeline voltou-se para mim novamente.
— Mas Aiden disse que ela está cuidando dele.
— Ela está, mas não é a babá dele. Ela fez a gentileza de passar um
tempo com ele na semana passada porque eu não consegui encontrar
ninguém.
Adeline ficou olhando para Lucy e para mim.
— Eu moro ao lado — Lucy explicou. — Temporariamente —
acrescentou. — Sou amiga de Olive. Olive Thorn. A esposa de Jason
Thorn. Tenho certeza de que você já ouviu falar dela. — Os olhos de
Lucy deslizaram para mim.
Você está por sua conta, linda.
O rosto de Adeline se iluminou enquanto eu observava a interação
estranha entre elas. Eu poderia ter ajudado, imaginei, mas que graça
teria?
— A escritora? Essa é a Olive de quem Aiden fica falando? —
Adeline virou-se para mim. — Eu sabia que eles eram seus vizinhos,
mas não sabia que eram tão seus vizinhos assim.
— Que diferença faz?
Adeline revirou os olhos e puxou Lucy ainda mais para a sala de
estar.
— Vamos, precisamos nos sentar para falar sobre isso.
Os olhos confusos de Lucy encontraram os meus quando elas
passaram por mim, e eu sorri para ela.
— Adorei o livro dela e ouvi que a bilheteria de estreia do filme foi
impressionante. Eu adoraria conhecê-la — Adeline continuou assim que
se sentaram.
— Ela ficará feliz em saber disso — respondeu Lucy.
— Espero que não ache isso estranho, Lucy. Como você está
passando um tempo com Aiden, eu gostaria de te conhecer um pouco
mais. Eu sei que ele te ama, mas…
Eu balancei a cabeça. Então era aí que ela queria chegar.
— Aiden! — gritei, e alguns segundos depois, todos ouvimos seus
pés correndo, vindo em nossa direção. Quando ele viu Lucy, mudou o
rumo e correu na direção dela. Lucy se levantou e Aiden se jogou nela
e abraçou suas pernas. Ela grunhiu com a força, e a risada que veio
depois do grunhido foi linda.
— Ei, ser humaninho — disse ela carinhosamente.
Aiden inclinou a cabeça para trás e olhou para ela com muito prazer.
— Você veio!
— Claro que sim. Como eu poderia lidar com a saudade de você?
— Você quase se atrasou, então você vai ter que ficar mais tempo.
Aiden abaixou os braços e esperou pela resposta dela com os olhos
intrigados.
Vê-lo tão feliz aliviou a preocupação no meu peito. Talvez ele não
estivesse mais tão assustado, agora que estava com sua Lucy. Por um
breve segundo, imaginei o que Lucy teria feito se estivesse naquele
carro com ele. Ela o deixaria para trás e confiaria nos assistentes para
cuidar dele? Ela o esqueceria?
Eu realmente duvidava disso.
Lucy fez uma pose exagerada para checar seu relógio inexistente.
— Ah, eu não sei dizer, eu me atrasei muito?
Aiden agarrou seu pulso e o encarou por um tempo.
— Você chegou uma hora atrasada, Lucy! Agora você vai ter que
ficar uma hora a mais.
— Huh, olha isso. E eu pensando que tinham sido apenas cinco
minutos. Acho que vou ficar por uma hora, então.
Aiden deu um salto e levantou o punho.
— Isso!
— Aiden — chamei e ele olhou para mim. Ele ostentava aquele
sorriso doce que só uma criança tem quando engana sua pessoa
favorita para passar um tempo com ela. — Eu ainda tenho que
conversar com sua mãe, então talvez você possa levar Lucy para o
quintal e contar a ela o que fez em Nova York.
— Tá — ele respondeu prontamente, seus olhos ainda brilhando de
emoção. Agarrando a mão de Lucy, ele a arrastou para o quintal.
— Ah, Adam — Lucy murmurou antes que eu pudesse deslizar a
porta para fechá-la. Aiden soltou sua mão e correu em direção à
piscina.
— Aiden, mais devagar! — gritei.
Depois de lançar um rápido olhar para Adeline, Lucy sorriu e
sussurrou: — Ela não sabe por que você demitiu a babá?
— Sabe.
— Então ela não sabe que você fez com que eu fosse presa?
— Ela sabe disso também.
Suas sobrancelhas se uniram, e ela me lançou um longo olhar antes
de ir embora com Aiden, mas murmurou, a voz muito baixa para eu
ouvir.
Os olhos de Adeline os estavam seguindo quando Aiden correu para
buscar Lucy, para que ele pudesse arrastá-la novamente.
— Ela está cuidando dele?
— Quando não está ocupada, ela vem e fica por algumas horas até
eu voltar. Ou Dan cuida dele.
— Você confia nela depois do incidente com a Anne?
— Você quer dizer o incidente em que nosso filho quase se afogou?
Adeline sabia do incidente da “piscina”, mas, não
surpreendentemente, ela não demonstrou se preocupar com Aiden.
Ela revirou os olhos.
— Você não precisa falar assim. Não queremos que ninguém saiba o
que aconteceu.
Claro que ela não queria. Eu balancei a cabeça e tentei esquecer.
— Então você confia nela? E em Jason e Olive?
Eu nem precisava pensar na resposta para essa pergunta.
— Eu não o deixaria com ela se não confiasse. Além disso, ele gosta
de passar tempo com Jason e Olive também. — Olhei para fora e vi a
dupla sentada nas espreguiçadeiras enquanto Aiden conversava
animadamente. — Pelo que posso ver e ouvir de Jason, eles também.
— Ela não estava perguntando sobre Jason e Olive pelo bem de Aiden.
Eu não senti a necessidade de contar a ela que tínhamos colocado
um dispositivo de escuta no brinquedo de Aiden para ter certeza de que
estava tudo bem. Pensando bem, não sentia necessidade de explicar
nada a Adeline, não mais.
Sentado na frente dela, eu me afastei um pouco mais. Me afastei um
pouco mais do que ela representava para mim. Do que ela tinha sido
para mim.
— Como você está? — ela perguntou quando fiquei em silêncio.
— Bem, Adeline.
— Você tem certeza? Eu sei que você deu um tempo com Michel
também. Estou aqui se você quiser conversar, Adam.
Ergui as sobrancelhas, e ela teve a decência de desviar o olhar.
— Eu nunca quis estragar sua vida, Adam.
— Minha vida não está estragada, Adeline. Na verdade, estou muito
feliz com o resultado e não dei um tempo com Michel, eu o demiti. Você
e eu… não estamos indo na mesma direção, não mais. Não fazia
sentido mantê-lo.
— Não precisa ser assim, você sabe disso.
Balancei a cabeça e relaxei.
— Não tenho problema com as coisas entre mim e você, Adeline.
Você fez sua escolha, e estou bem com isso. Eu segui em frente. Você
seguiu em frente. Nosso problema agora, e sobre o que eu gostaria de
falar, é o Aiden.
— Eu não o vejo como um problema, Adam.
— Ah, vê, sim, Adeline. Ele foi o motivo de você querer se divorciar,
lembra?
Ela suspirou e levantou-se da cadeira para olhar para o quintal onde
Lucy e Aiden estavam à vista.
— Você acha que cometemos um erro?
— Um erro? — questionei, sem entender.
Ela se virou para mim, apoiou as mãos nas costas e encostou-se na
janela. Olhando para ela, procurei os sentimentos que havia sentido por
uma garota que não era nada além de pura doçura, mas não consegui
encontrar o que estava procurando. Estava mesmo tudo terminado
entre nós. E Adeline, a Adeline que eu conhecia, também não estava
mais ali em nenhum lugar. Claro, ela ainda era doce e atenciosa
quando queria, mas não era a mesma moça que eu tinha conhecido no
set e por quem eu tinha me apaixonado.
Talvez ela tenha se adaptado a Hollywood, e eu tenha mudado
drasticamente.
— Com Aiden. Você acha que foi um erro?
Chocado com a pergunta, eu apenas olhei para ela.
— Como você pode dizer isso, Adeline? — Consegui forçar as
palavras depois de algum tempo. Pensando bem, acho que aquele foi o
momento que definiu minha decisão de tirar Aiden dela.
— Não estou dizendo que tê-lo foi um erro, Adam. Não entenda
assim. Eu o amo.
Eu senti que estava vindo um “mas”, e ela não decepcionou.
— Mas você acha que nossa decisão foi um erro?
Para mim, parecia que ela estava fazendo a mesma pergunta.
— Depois que soube da gravidez, você fez todos os planos, Adeline.
A decisão foi sua.
— Mas não foi.
— Sim. — Eu balancei a cabeça, concordando.
— Depois que o vi, a decisão foi nossa.
Ela saiu de perto da janela e sentou-se ao meu lado. Perto.
— As coisas teriam sido diferentes para nós, você acha? Se Aiden
não tivesse acontecido. Você acha que ainda estaríamos aqui ou
tomado decisões diferentes ao longo do caminho?
Olhei nos olhos dela e vi que ela estava sendo sincera. Suspirei.
— Eu não sei, Adeline. Eu não tenho como saber. Se você está
perguntando se acabaríamos nos casando de qualquer maneira… acho
que sim. Eu amei você. Talvez não tivesse acontecido tão rápido, mas
sim, acho que ainda teríamos terminado juntos.
— Eu também te amei, Adam — ela sussurrou. — Tanto que não
conseguia imaginar acordar sem você dormindo ao meu lado…
— Mas agora você pode — terminei para ela.
Ela desviou o olhar.
— Acho que cometi um erro forçando Aiden e eu para cima de você.
E ele mudou você. Ele mudou nós dois.
— Claro que ele me mudou. O problema é que ele não conseguiu
mudar você, e foi isso que acabou nos mudando. Não entendo por que
estamos tendo essa conversa novamente, Adeline. Nós falamos tudo
isso quando você me deu o seu discurso de “eu quero o divórcio”. Eu
tenho outras coisas para conversar com você. Não tenho tempo para
ouvir você dizer que nosso filho foi um erro pra você.
— Nosso filho — ela repetiu, encontrando meus olhos. — Eu sinto
muito. Ultimamente as coisas estão difíceis para mim.
— O quê? Você não recebeu a luz verde do diretor?
— Na verdade, não, eu não recebi a luz verde. Eu já te disse que tive
que levar Aiden comigo porque o diretor queria me ver perto de Aiden.
O papel é de uma mãe que tenta proteger seu filho de um marido
abusivo, então quando os tabloides contaram a história de que eu
esqueci Aiden no carro… deve ter afetado a decisão dele.
— Deve ter… — Balancei a cabeça. — Ele não é uma bolsa que
você pode levar para onde quiser e exibi-lo, Adeline. O fato de você
estar passando tempo com minha mãe não significa que tenha que agir
como ela. — Ela contraiu os lábios. — Eu queria que conversássemos
para dizer que estou pedindo a guarda exclusiva de Aiden. Eu não
queria que você ouvisse em um comunicado de imprensa ou nos
tabloides.
Ela pousou a mão no meu braço e se inclinou para mim.
— Você sabia que isso estava para acontecer, e acho que depois do
que aconteceu ontem, é hora de fazer isso mesmo — eu disse antes
que ela pudesse protestar.
— Adam, você não pode fazer isso comigo. Agora não, não depois
do que aconteceu. E você tem que pensar em Aiden também. Nós já
falamos sobre isso. Esqueça sobre mim, você sabe o que ele vai
pensar? O que todo mundo vai pensar?
Torci meu corpo para poder olhar no rosto dela. Sua mão gentilmente
apertou meu braço.
— O que ele vai pensar, Adeline?
Ela soltou um longo suspiro.
— Ele acha que eu não o quero, e todo mundo também acha isso.
— Você o quer?
— Sim, Adam. Claro. Desse jeito está funcionando muito bem para
ele. Uma semana comigo, uma semana com você. E assim, tenho
tempo para me concentrar na minha carreira. Finalmente estou
voltando a fazer o que amo.
— Eu nunca te impedi de fazer o que ama, Adeline. Como todo o
resto, fazer uma pausa foi sua decisão também. Você pensou que, se o
deixasse com babás e voltasse a atuar, as pessoas te julgariam. No
final, você sempre fez o que queria, então nem tente jogar isso em mim.
— Adam — ela começou novamente e eu fiquei irritado. Levantei-me
e olhei para o rosto triste dela.
— O que aconteceu ontem, Adeline? Você esqueceu que ele estava
no carro com você?
Ela fez uma careta para mim.
— Claro que não.
— Então o que aconteceu? — repeti a pergunta entre os dentes.
— Rita deveria ter cuidado dele. Foi culpa dela.
— Rita, sua assistente. Você vai ficar aí e culpar uma assistente por
não cuidar do seu filho?
Ela permaneceu calada.
O celular tocou no sofá em frente a ela, e seus olhos deslizaram para
lá. Para minha surpresa, ela não o pegou.
— Vi as fotos — expliquei. — Vi as fotos e não vi você voltar para
resgatá-lo. Ele ficou lá, Adeline. Ele ficou lá e chorou até um dos seus
assistentes sair para levá-lo para dentro.
Ela se levantou e encontrou meus olhos, falando mais alto.
— Ele deveria ter esperado no carro, Adam.
— Ele tem cinco anos, Adeline. Ele estava indo atrás da mãe.
O celular parou de tocar e começou novamente.
— Atenda — eu disse. — Vou enviar Aiden para que ele possa se
despedir, se você tiver tempo para isso, é claro. E se não, eu vou
passar um tempo com ele para que ele possa começar a olhar no meu
rosto novamente e não para os meus pés, e depois vou me encontrar
com a minha advogada. Eu sugiro que você faça o mesmo. Você ainda
terá suas semanas com ele até o juiz tomar uma decisão.
Eu me afastei dela, mas sua voz me parou antes que eu pudesse
sair.
— Eu não vou desistir dele tão facilmente, Adam — disse ela, sua
voz mais dura do que estava segundos antes. — Eu não vou deixar
todo mundo pensar que estou tranquila com o fato de você tirá-lo da
mãe dele.
— Claro que você não vai, Adeline — concordei com ela. — Como
isso faria com que sua imagem ficasse para o público? Uma mulher que
não se importa com o filho … — Eu balancei a cabeça. — Você vai ter
muito mais dificuldade para fazer testes assim, imagino, com os
tabloides e tudo mais. Você lutará por isso, eu sei. Eu, por outro lado…
não ligo para o que eles pensam. Tudo o que me importa agora é o que
aquele menino… — fiz um gesto apontando para trás com o polegar —
… pensa de mim. E se eu nunca mais ouvi-lo me implorar para não
mandá-lo embora, acho que vai ser o suficiente para me fazer feliz.
— Você é um cachorro — eu disse para Aiden, e ele riu, cobrindo a
boca com a mão.
— Eu não sou um cachorro, Lucy — ele conseguiu engasgar entre
risadinhas. Sorri para ele.
Estávamos sentados no quintal, descansando, enquanto seu pai
falava com sua mãe. Minha nossa, eu agi de um jeito muito esquisito
quando a vi. Quero dizer, ela era atriz, mesmo que não tivesse atuado
em muitos filmes, mas, mesmo assim, ela era. Mais do que tudo, ela
era conhecida como a esposa de Adam Connor.
Então, depois das coisas que o idiota inteligente murmurou no meu
ouvido, levantar a cabeça e ver a esposa dele ― ex-esposa ― mexeu
com a minha mente por um segundo.
— Ok — cedi. — Você é mais como um filhote de cachorro bonito.
— Se eu sou um filhote de cachorro, o que você é? Um gato? — ele
perguntou, seus olhos muito travessos.
— Por que todo mundo acha que eu sou um gato? Não, hoje eu vou
ser um pássaro. Agora feche os olhos.
— Mas eu quero ser um pássaro também.
— Você quer? — Olhei para ele com um olho meio aberto. — Ok,
então nós dois somos pássaros hoje.
Ele assentiu com entusiasmo e fechou os olhos.
— Agora, o que você faria se fosse um pássaro?
— Eu voaria para longe!
— Para onde você quer voar?
— Você é estranha, Lucy — anunciou Aiden.
— Estranha de um jeito bom ou ruim?
Ele hesitou um pouco.
— Bom. Eu gosto de você.
— Isso é bom — eu disse com um sorriso. — Eu também gosto de
você.
— Aiden — Adam chamou. Olhei para ele por cima da cadeira.
Idiota bonito.
Ele caminhou em nossa direção com passos suaves e meus olhos
observaram Adam Connor por inteiro. Ele olhou para mim, então é claro
que eu desviei o olhar, mas malditos eram aqueles olhos dele.
Ele se ajoelhou entre as espreguiçadeiras, os dedos segurando a
cadeira a meros centímetros de distância do meu rosto, e se
concentrou em Aiden.
— Dan está vindo. Tudo bem se eu deixar você com ele por algumas
horas?
Aiden deu de ombros.
Bem, bem, bem… isso não é interessante?
— Eu preciso que você olhe para mim, Aiden — pediu Adam com um
suspiro.
Os olhos de Aiden ergueram-se para o pai, mas pude ver que era a
última coisa que ele queria fazer.
— Eu preciso encontrar minha advogada. Você vai ficar bem com o
Dan?
— Por que não posso ficar com Lucy? — Aiden perguntou.
O olhar de Adam encontrou o meu.
Ergui uma sobrancelha para ele.
— Porque — ele começou, olhando para Aiden novamente — tenho
certeza de que a Lucy tem outras coisas para fazer. Vou voltar assim
que puder. Quero falar com você sobre o que aconteceu e que isso
nunca mais vai acontecer, tá?
Ah, era por isso que o pequeno humano estava dando um gelo nele.
Aiden deu de ombros novamente.
— Sobre o que vamos conversar? Você não me queria, então a
mamãe me levou para viajar com ela.
Meus olhos foram diretamente para Adam, e vi seu corpo inteiro ficar
tenso de uma maneira assustadora.
— Foi isso que sua mãe te disse, Aiden?
A resposta de Aiden saiu relutante.
— Não.
— Levante-se — Adam ordenou, e percebi que estava me
intrometendo em outro momento privado, mas, caramba, àquela altura,
já não era mais minha culpa. Eles deveriam parar de tratar de coisas
pessoais perto de mim. Então eu fiquei.
Aiden saiu da espreguiçadeira e ficou na frente do pai. Ele olhou
para os sapatos enquanto torcia e retorcia os dedinhos.
Adam levantou gentilmente o queixo do menino para poder olhar nos
olhos dele.
— Eu sei que você está confuso com tudo o que está acontecendo
entre sua mãe e…
Aiden enrugou o rosto.
— Não estou confuso. Você não quer mais beijar e abraçar a
mamãe, então se divorciou.
Meus lábios tremeram, mas os mantive sob controle. Adam, por
outro lado… Adam não parecia estar se divertindo, Deus, ele ficava
sexy com essa carranca.
— Nós dois queríamos o divórcio, Aiden. Não fui só eu.
Outro encolher de ombros.
— Então você ainda quer beijar e abraçar a mamãe?
— Eu não disse isso.
Meu Deus, ele estava estragando tudo.
— Eu acho que seu pai te ama muito, Aiden — me intrometi. Não era
meu dever dizer nada, mas o pai sexy estava demorando muito para
chegar ao ponto. Os olhares do pai e do filho se voltaram para mim e foi
a minha vez de dar de ombros. — Eu sei como ele fica chateado
quando você vai para a casa da sua mãe. Eu mesma vi. Ele senta e
chora o dia todo. — Franzi o nariz. — É patético, na verdade.
— Não, ele não faz isso — disse Aiden com um sorriso radiante.
— Ah, ele faz, pequeno inseto. Eu já vi.
Ele inclinou a cabeça.
— Você o observou por cima do muro de novo, Lucy?
— Sim.
Ele se virou para o pai e passou os braços em volta do pescoço dele.
— Eu não quero que você chore, papai. Não vou deixar você e viajar
de novo. Eu prometo.
Adam encontrou meus olhos enquanto segurava o filho.
— Não, você não vai me deixar. Eu não vou deixar você ir. Não, não
mais.
Eu não vou desmaiar.
Eu não vou desmaiar.
Eu não vou desmaiar.

— Você colocou o recado na porta? — Aiden sussurrou do seu


esconderijo debaixo da mesa de madeira.
Eu estava me escondendo atrás do sofá.
— Coloquei. Não se preocupe, ele vai ver.
— Você colocou a arma onde ele também pode vê-la?
— Sim.
Ele riu.
— Você acha que ele vai ficar bravo?
— Bravo? Que nada, vai ser a melhor diversão da vida dele. Ele vai
nos agradecer, confie em mim.
Depois que Adam saiu, fiquei com Aiden. Uma hora depois, quando
Dan, o Bambam, se juntou a nós, nós o convencemos a sair numa
caçada. Tipo, para que ele pudesse comprar as coisas necessárias
para uma noite divertida de filmes: pizza, doces, guloseimas, M&M’s,
hambúrgueres… uma lista sem fim. Assim que ele saiu pela porta ― e
juro que vi que ele esboçava um sorriso ―, traçamos um plano para
nos vingar de Adam por ele ter deixado Adeline levar Aiden para Nova
York. Eu sabia que ele não tinha nada a ver com isso, mas, ainda
assim, estávamos em busca de vingança ― e um pouco de diversão.
Por isso, para nós, aquele motivo bastava. Mais importante: Aiden abriu
um sorrisão quando tive a ideia.
Ligamos para descobrir quando Adam chegaria e deixamos um
bilhete na porta.
Logo abaixo da nota, havia a menor arma Nerf Super Soaker que
existe. Aiden e eu ficamos com as maiores. Na verdade, elas eram tão
grandes que Aiden tinha dificuldade para segurar a dele.
Ouvimos a porta se abrir e a voz de Adam surgiu.
— Aiden?
Pus meu dedo sobre a boca e avisei Aiden para ficar quieto. Ele
assentiu, mas não conseguiu segurar a risadinha que escapou de seus
lábios. Ele parecia muito feliz. Sorri para ele e me preparei para atacar
Adam com água gelada.
Inclinei a cabeça levemente para cima, apenas o suficiente para que
meus olhos e testa ficassem visíveis e o vi andar na grande abertura
entre a cozinha e a sala, onde estávamos escondidos no máximo
silêncio.
— Dan? Alguém em casa?
Outra risadinha de Aiden.
Voltei a verificar e vi que ele não tinha levado a brincadeira a sério:
ele estava segurando a arma com o bilhete que tínhamos prendido à
porta. Que fosse assim. Nós tínhamos alertado.
Ele caminhou mais para dentro da sala, para mais para perto de nós.
Chamei a atenção de Aiden e levantei um dedo ― nosso sinal. Então
eu abri minha mão e articulei “Vai!” sem emitir som. Nós nos
levantamos ao mesmo tempo, exatamente quando Adam estava entre
nós, e o atacamos com água de ambos os lados. Quando o primeiro
jato de água fria atingiu sua camisa, ele abriu a boca, chocado. Eu
comecei a rir e a atirar.
As risadinhas de Aiden estavam incontroláveis quando ele atingiu o
estômago do pai com mais água.
Os olhos chocados de Adam saltaram entre mim e seu filho, então
ele levantou a pequena arma ― sem trocadilhos ― e começou a atirar
água no filho enquanto ele avançava. Aiden gritou quando foi atingido
pela primeira vez e correu para fora. Havia outra arma carregada
esperando por ele perto das espreguiçadeiras. Nesse momento, fiquei
sozinha com seu pai.
Ele abaixou a arma e se virou para mim.
Grande erro.
— O que é isso? — ele perguntou, sua mão alisando a camiseta
molhada. Ele levantou a mão e sacudiu um pouco da água. Nós o
havíamos acertado. Meus olhos seguiram a mão dele porque, ai,
Senhor, eu podia ver o contorno do seu abdômen e aquele peitoral…
Jesus. Que visão gloriosa. Ele deu um passo à frente e eu dei um para
trás.
— Não chegue mais perto. — Levantei a arma.
Ele parou, sua expressão fazendo minhas partes íntimas
ronronarem. Aqueles olhos… caramba, aqueles olhos!
— Estamos animando Aiden — expliquei, me afastando dele, pois
não parecia que ele queria parar.
— Nós? Parece que sou eu quem está fazendo todo o trabalho.
— Bem, foi você quem o deixou triste, afinal. É só um pouco de
água, sr. Galã Gostosão, você não vai derreter.
— Eu acho que você vai.
Não o deixei terminar e o acertei com mais água, bem na virilha.
Ele parou de falar e olhou para as calças agora molhadas. Quando
olhou para mim, erguendo a sobrancelha, segurei a arma no meu
quadril e dei de ombros.
— Corra, Lucy. Corra por sua vida — ele murmurou e depois se
lançou na minha direção. Eu o vi jogar fora sua arma e, antes que ele
pudesse chegar até mim, eu me virei e corri.
— Ele está vindo! — gritei para avisar Aiden. Outra explosão de água
atingiu o rosto de Adam antes que ele pudesse me pegar. Seus dedos
tocaram meu braço, mas, com minhas habilidades ninjas, gritei e
consegui escapar dele e dos formigamentos que sua mão causava
cada vez que me tocava.
Como minha arma estava vazia, peguei a quinta arma que havíamos
escondido no quintal e acertei Adam do outro lado.
Adam avançou em direção a Aiden, e ele pulou e fugiu, rindo e
gritando.
— Papai, você não pode nos pegar!
— Ah, pode acreditar que eu vou pegar vocês.
— Você está todo molhado agora! Nós pegamos você!
— Quando eu colocar minhas mãos em vocês dois, a história vai ser
diferente.
Adam fingiu pegar Aiden, mas depois o deixou se afastar.
— Você não está pegando a Lucy! Pegue a Lucy! — Aiden gritou
quando olhou na direção do pai para adivinhar para onde ele correria
em seguida.
— Ei! — gritei, mas era tarde demais, minha pistola de água estava
emperrada, que droga. Antes que eu pudesse descobrir o que havia de
errado com ela e a consertasse rapidamente, Adam acelerou o passo e
quase me pegou.
Soltando a arma, me afastei dele, mas fui muito lenta. Seu braço
passou pela minha cintura, e ele me pegou assim que comecei a fugir.
Seu peito amorteceu minha queda e eu resmunguei com a força que
ele fez ao me puxar. Ele me agarrou e sussurrou no meu ouvido.
— Obrigado por fazer Aiden rir, Lucy. Mas…
Não derreti, nem meu coração acelerou. Nem um pouco. Nadinha.
Afinal, eu não gostava muito dele.
— Acho que vou ter que derrubar você. Aiden! — ele gritou, e Aiden
apareceu na nossa frente, segurando a arma no alto.
— Aiden! Homem abatido! Me ajude, pequeno humano! — gritei.
— Solte a Lucy, papai!
— Venha buscá-la, se a quer tanto — respondeu Adam, e seus
braços me deram um aperto leve quando ele se inclinou e
discretamente pressionou os lábios no meu pescoço.
Filho da puta!
— Eu vou te salvar, Lucy!
Sentindo-me livre, segura e feliz, deixei a cabeça cair no ombro de
Adam e nossos olhos se encontraram. O sorriso que eu estava
começando a abrir desapareceu lentamente quando vi o olhar dele.
Merda.
Merda.
Merda!
— Você não pode me olhar assim — sussurrei quando ele
lentamente nos levou para trás. Apesar de toda a água fria que atirei
nele, seu corpo estava surpreendentemente quente contra as minhas
costas. E firme. E de dar água na boca. E de acelerar o coração.
— Por que não?
— Porque eu não devo gostar de você.
O sorriso que ele me deu foi suave e, de repente, seus dedos
estavam entrelaçados aos meus contra meu peito.
— Mas eu gosto muito de você, Lucy.
E assim, antes mesmo de poder xingá-lo, recebi jatos de água fria na
cara.
— Aiden! — cuspi enquanto o peito de Adam tremia de tanto rir.
— Eu estou atirando nele, Lucy! Você está na frente!
— Mire na cara dele! — gritei de volta.
— Ele pegou você!
— Ele está certo — Adam repetiu as palavras do filho: — Eu acho
que peguei você.
— Não sei, não — murmurei e o empurrei com o cotovelo. E mais
uma vez. Acho que machuquei a mim mais do que a ele. Patético, eu
sei…
Ele me puxou e estávamos caindo para trás, e que droga, mas eu
ainda estava em seus braços e não consegui reclamar.
Caímos dentro da piscina espirrando água e Adam me soltou. Nadei
de volta à superfície e puxei o ar. Assim que a cabeça de Adam
emergiu, Aiden começou a borrifá-lo com mais água. Eu me uni ao
menino e joguei água nele o máximo que pude.
Adam levantou o braço e afastou a água dos olhos. Depois de um
resmungo, ele gritou: — Estou indo atrás de você, Aiden.
Olhei para trás e vi Aiden gritando e correndo para dentro da casa.
Que bom que ele estava seco. Eu tinha certeza de que o piso de
madeira e todos aqueles tapetes macios tinham custado a Adam um
bom dinheiro. Quando virei a cabeça para trás e o vi nadando
lentamente em minha direção, entrei em pânico e fiz o melhor que pude
para me afastar dele até minhas costas baterem na beira da piscina.
Adam se abaixou um pouco na água até eu só conseguir ver aqueles
olhos verdes brilhantes. Então, antes que eu pudesse controlar minha
respiração pesada e o coração acelerado para me recompor, ele estava
perto de mim. Seus braços se estenderam até a borda e me prenderam
entre seu corpo e o azulejo da parede da piscina.
— Primeiro você — ele disse e olhei para sua boca. Ele não estava
respirando tão forte quanto eu, mas também não parecia muito calmo.
— Você tem algo a dizer? Talvez um pedido de desculpas, para eu não
te castigar tanto? — perguntou e meus olhos saltaram para os dele.
— Por que eu iria pedir desculpas?
— Por me emboscar.
Inclinei a cabeça e bati nos lábios algumas vezes com o dedo
indicador.
— Não.
— Ótimo.
E, de repente, seus lábios estavam nos meus. Resmunguei e tentei
empurrá-lo para longe de mim, mas suas mãos agarraram uma das
minhas e entrelaçaram nossos dedos de novo Maldito.
Maldito seja ele e sua língua hábil que havia acabado de entrar na
minha boca.
Parei de lutar e o beijei com força. Afinal, quem eu queria enganar?
Ele beijava bem pra caramba. Adam rosnou profundamente como se o
contato não fosse suficiente e ele estivesse morrendo de vontade de
beijar mais. Soltando minha mão, ele me agarrou pela parte de trás das
minhas coxas e segurou minhas pernas em volta da sua cintura. Meus
braços envolveram seu pescoço quando aprofundei o beijo e então…
Então eu senti seu pau.
Puta merda!
O pau dele definitivamente não era uma arma pequena. Na verdade,
tinha muito mais do que dez centímetros. Ele era grosso; um pau que
fosse tão grosso não poderia ser curto. Seria mais do que
decepcionante se esse fosse o caso; seria mentira! Não que eu
realmente tivesse pensado que tivesse dez centímetros, mas, se
tivesse, minha vida seria muito mais fácil.
Quando contraí minhas pernas ao redor do corpo dele ― sabe como
é, para tentar medir a extensão me esfregando nele ―, ele empurrou
minhas pernas e parou de me beijar.
Eu já comentei ultimamente como ele era idiota?
Abri lentamente os olhos e encontrei os dele, hipnotizadores, verdes,
algo muito difícil de enfrentar, já que eu estava me sentindo zonza. A
única coisa que me deixou feliz foi ver que ele estava tão ofegante
quanto eu.
Nós dois ouvimos a voz animada de Aiden ao mesmo tempo, e eu
olhei para trás em direção à casa. Ele não estava à vista, e eu torci
para que ele tivesse se lembrado da minha ordem para que se
escondesse dentro de um dos armários se as coisas dessem errado.
— Papai, você não vai me encontrar! Eu sou muito bom em me
esconder!
Olhei de volta para Adam.
Ele hesitou por um segundo, mas seus olhos se afastaram dos meus
e eu engoli em seco.
Ufa! Foi por um triz. O fato de eu não ter arrancado suas roupas
molhadas nem lambido qualquer parte do seu corpo ― especialmente
uma parte específica ― foi uma grande vitória pessoal para mim.
— Se você não ficar aqui esta noite, Lucy, vou invadir a casa do
Jason — ele me avisou, seus olhos encontrando os meus novamente.
Minha coluna formigou. Inferno, meu corpo inteiro formigava…
principalmente meu coração.
Respirei fundo e finalmente falei: — Adoraria ver você tentar.
Ele se inclinou e pressionou a boca na minha pele, na curva do
ombro com o pescoço. Senti o suave toque dos seus lábios, seu hálito
quente enquanto ele exalava suavemente na minha pele úmida.
Perigo, Lucy. Corra. Esconda seu coração.
Alguém já soprou sua pele molhada com o hálito quente? Não?
Experimente, vai causar uma coisa incrível nos seus ovários.
— Fique aqui esta noite, e eu prometo que vou te dar coisas
melhores pra você cuidar.
Ele se afastou da beira da piscina e de mim e saiu da água para ir
atrás do filho.
Ela não me ouviu. Claro que não.
Abri a porta e entrei no quarto de Lucy. Ela estava sentada de pernas
cruzadas bem no meio da cama. Para ser sincero, não fiquei tão
surpreso ao vê-la me esperando; seria típico dela me esperar e ver se
eu realmente faria o que eu disse que faria. Quando ela me viu, seus
olhos se arregalaram, e um pequeno sorriso brincou em seus lábios.
— Seu filho da puta! — ela sussurrou, surpresa. — Você fez isso.
Você realmente invadiu a casa deles!
Eu não tinha invadido. No entanto, não vi a necessidade de corrigi-la.
Liguei para Jason e perguntei se ele poderia me deixar entrar para que
eu pudesse falar com a Lucy, e ele fez a gentileza de não questionar
meu estranho pedido, embora tenha dito “Boa sorte”, depois de indicar
qual era o quarto dela.
Em vez de mencionar meu encontro com Jason, apoiei as costas na
porta e perguntei: — Por que você escapou quando fui colocar Aiden
na cama?
Tínhamos assistido Happy Feet a pedido de Aiden e comemos
algumas fatias de pizza, e ele passou o tempo todo do filme
conversando com Lucy, até adormecer no sofá.
— Dan disse que iria embora logo, então eu pensei que você
quisesse passar um tempo sozinho com seu guarda-costas e seu filho.
— Ela encolheu os ombros e respirou fundo. — Não fique aí parado,
entre, então.
— Você sabe muito bem que Aiden já estava dormindo quando o
carreguei, Lucy. E eu especificamente disse para você passar a noite
conosco quando estávamos na piscina.
— A piscina, certo.
Nós olhamos nos olhos um do outro por um segundo, então ela caiu
de costas, esticou as pernas e abriu os braços como se estivesse se
preparando para ser amarrada.
— Você conseguiu — disse com um suspiro de sofrimento.
Confuso, perguntei:
— Eu consegui o quê?
— Bem — ela começou, seus olhos voltados para o teto. — Você
invadiu, então agora eu tenho que dormir com você. Quero dizer, se eu
não fizesse isso, seria cruel da minha parte. Afinal, você merece.
Eu não disse nada, porque estava tentando muito seguir sua lógica.
Ela então se apoiou nos cotovelos e olhou para mim.
— Você não veio aqui para me foder? O que você está esperando?
Entre e me pegue. Vou suportar enquanto durar.
Tive que conter uma risada.
— Para foder você? Você vai suportar?
Ela soltou um suspiro dramático e eu sorri antes que ela pudesse me
pegar.
— Você sabe, transar, trocar o óleo, dar meia horinha, afogar o
ganso, enfiar sua espada de dez centímetros, enterrar as bolas… Se
bem que, com um instrumento de dez centímetros, não sei se vai ser
bom, mas… estou curiosa e pronto, então vamos lá.
Entrei mais no quarto e me sentei na beira da cama, bem ao lado do
quadril dela.
Ela seguiu meus movimentos. Por mais que estivesse se esforçando
para parecer uma virgem se sacrificando, sabe-se lá Deus sabe por
que, eu havia percebido o jeito como ela me olhava várias vezes. Mais
do que isso, ela deve ter esquecido de que eu já sabia que seu corpo
praticamente vibrava toda vez que eu a tocava, que ela não conseguia
parar de pressionar seu corpo contra o meu sempre que eu a beijava.
Se acabássemos transando, não seria sacrifício para ela.
— Você gosta mesmo de paus de dez centímetros, não é?
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Prefiro os maiores, mas tenho certeza de que o seu te cai bem.
Sorri.
Ela me deu um sorriso hesitante de volta.
— Então você quer que eu trepe com você, hein?
As sobrancelhas dela se uniram.
— Foi por isso que você disse para eu ficar na sua casa, não é? Foi
por isso que você invadiu esta casa.
— Na verdade, eu pedi para você ficar para podermos conversar e
eu poder agradecer pelo que fez por Aiden. O que você tem feito por
mim e por Aiden. Nós, ele e eu, realmente precisávamos muito disso
hoje. Não posso dizer que ser atacado com água gelada teria sido
minha primeira escolha, mas…
Por um breve momento, a decepção brilhou em suas belas feições,
mas ela foi rápida em disfarçar.
Minha mentirosa linda.
— Ah — ela murmurou. — Quando você me beijou daquele jeito na
piscina, pensei que você quisesse que eu ficasse pra poder me comer.
E de nada, eu adoro ver o carinha rir.
— Você está me deixando tonto com toda essa conversa romântica.
— Eu não sou romântica, Adam Connor.
— A maldição, não é?
Ela fez que sim, seus olhos me desafiando a tirar sarro dela.
Meus olhos se voltaram para seus lábios entreabertos, e eu não
pude evitar. Estendi a mão e gentilmente passei um dedo por seu lábio
inferior. Ela parou de respirar.
— Você gosta de como eu te beijo?
— Você beija muito mal — ela disse isso em um sussurro,
balançando a cabeça.
— Tão mal assim?
— Péssimo.
— Você nunca me beijaria de novo, então?
— Nunca.
Inclinei-me e beijei suavemente seus lábios… primeiro, o de cima,
depois, o de baixo. Os olhos dela se fecharam e eu vi suas mãos
agarrarem os lençóis. Mantendo os olhos em seu rosto, eu me afastei e
passei a língua por meu lábio inferior.
— Até isso é ruim?
— O pior de todos — ela sussurrou, seus olhos se abrindo.
— Não quero ser seu pior, Lucy.
Ela lambeu os lábios e ficou quieta.
— Você quer que eu coma você? — perguntei, deixando meus olhos
vagarem por seu corpo.
Ela se remexeu. Ainda estava com as mesmas roupas: legging preta
e camiseta do Super-Homem. A camiseta cinza não escondia o fato de
ela não estar usando sutiã.
— Não. Eu não quero isso porque…
— Porque você não gosta de mim — adivinhei, forçando meus olhos
a desviarem dos mamilos dela.
Ela fez que sim.
— Mas já que você invadiu aqui, sinto-me obrigada, como se tivesse
feito por merecer para me comer. Pense nisso como seu prêmio por ser
aventureiro, por tentar ousar e por ter invadido uma casa.
Desviei o olhar e tentei dar a impressão de que estava pensando no
que ela disse. Estiquei as pernas na cama e me recostei na cabeceira.
— Oi? O que você está fazendo? — ela perguntou, franzindo a testa.
— Ficando confortável. Vamos, deite-se.
— Estou bem, obrigada. Por que você não vai se sentir confortável
na sua própria cama, na sua própria casa? — De repente, ela se
endireitou, me lançando um olhar severo. — Você não fez isso.
Eu arqueei uma sobrancelha.
— Eu não fiz o quê?
— Você não deixou Aiden sozinho em casa.
— Isso é uma pergunta ou uma afirmativa?
— Uma pergunta.
Encostei a cabeça na cabeceira da cama e fechei os olhos.
— É por isso que eu gosto de você, Lucy Meyer. É claro que não o
deixei sozinho. Dan está lá.
Ela resmungou.
— O que exatamente você está fazendo aqui se não vamos transar?
— Como eu disse, vim para agradecer, e talvez roube outro beijo
enquanto estiver aqui. — Abri os olhos e virei o rosto para ela. — Como
você não para de dizer que eu beijo mal, estou tentando me
aperfeiçoar.
— E eu sou sua cobaia?
— Como você é a única que reclama…
— Bem, teste seus movimentos com outra pessoa. Eu não quero
mais beijar você.
— Vou pensar sobre isso.
— Você veio aqui para me irritar?
Fechei os olhos novamente.
— Você viu as matérias que andam espalhadas por aí? As fotos do
Aiden?
Percebi sua hesitação, depois senti a cama afundar. Quando olhei
para baixo, a vi deitada novamente, com a cabeça na altura da minha
cintura.
— Sim. Difícil conseguir não ver.
— Estou entrando com um pedido de guarda exclusiva. Não quero
que isso volte a acontecer e sei que, enquanto ele estiver com ela, vai
acontecer de novo. Talvez não no próximo mês nem no seguinte, mas
em algum momento isso vai acontecer de novo. Eu ainda tenho que
enviá-lo para ela até o juiz decidir, mas acho que eles vão ficar do meu
lado.
— E Aiden? Você já pensou no Aiden?
— O que tem ele?
Ela se virou para mim e olhou nos meus olhos.
— É a mãe dele, sabe. Ele a ama. Nós conversamos e ele disse que
só saiu do carro, mesmo sabendo que não deveria, porque pensou que
ela tinha se esquecido dele e ficaria triste se ela não pudesse mais vê-
lo. Você acha que ele vai ficar bem se a vir apenas de vez em quando?
Ele é apenas uma criança, Adam. Precisa da mãe.
— Você acha, mesmo por um segundo, que ela passa algum tempo
com ele? Que ela é uma boa mãe? Ela já foi. No começo, Aiden era
seu mundo, mas aí a magia desapareceu. Ela disse que não conseguia
se relacionar com ele como pensava que conseguiria. Ela percebeu que
não era o que queria, não era quem ela queria. A única razão pela qual
ela estava naquele avião para Nova York com Aiden era porque
precisava exibi-lo para um diretor para que pudesse conseguir um
papel, Lucy, o que ela não conseguiu, a propósito. Eu não vou deixar
que ela use meu filho.
Meu filho.
Ele era apenas meu.
Ele sempre foi apenas meu.
— Não ter mãe é uma merda — Lucy disse baixinho, invadindo meus
pensamentos. — Não cabe a mim dizer nada, eu sei. Sei que não
posso dizer nada, mas… antes de fazer alguma coisa, certifique-se de
estar fazendo a coisa certa por Aiden, não por si mesmo.
— Ele vai continuar podendo ver a mãe quando quiser. Não estou
tentando impedi-lo de estar com ela. Eu só quero ter certeza de que ele
estará seguro.
— Você deveria falar sobre isso com Aiden, não comigo. Pergunte o
que ele acha de ficar com você o tempo todo.
— Ele tem cinco anos, não doze. — Eu precisava mudar de assunto.
— Encontrei alguém para cuidar dele. Meredith Shay. Ela tem 42 anos,
boas referências e parece ser uma pessoa feliz. Ela sorri muito, e eu
gosto disso. Acho que vai funcionar desta vez, mas eu sei que Aiden
vai sempre querer te ver.
Ela esboçou um sorriso enquanto olhava para o teto.
— Então, eu estou sendo demitida do trabalho de babá.
— Você nunca aceitou dinheiro, então teoricamente não era um
trabalho.
Ela grunhiu e voltou a se deitar na cama.
— Se não for problema para você, eu também quero continuar vendo
Aiden.
— Você o ama — comentei. — Eu vejo como fica perto dele. Eu
observo você, e não consigo desviar os olhos dessa mulher, Lucy. Fico
feliz que não esteja preocupada com sua maldição perto dele.
— Agora quem é que persegue quem, sr. Connor?
Esperei que ela fizesse um comentário sarcástico sobre o que eu
tinha acabado de dizer, mas, em vez disso, apenas fizemos um pesado
silêncio.
— Eu o amo — ela confirmou sem hesitar. — Ele é apenas uma
criança. Merece todo o amor que puder ter. E a maldição não funciona
dessa maneira. Posso amar meus amigos e ser amada por eles, e
Aiden é meu melhor amigo no momento porque Olive está me irritando.
Mais ou menos. Mas, na verdade, não. — Ela suspirou. — Eu só não
posso me apaixonar por alguém que tenha um pau. Contanto que eu
não me importe muito com um cara, tudo bem. Eu vou ser diferente
delas. Não vou ser como elas. A maldição vai terminar em mim.
Elas eram sua avó e sua mãe. Bobagem, pensei comigo mesmo.
Lucy era única e, a cada dia que passava, com todo sorriso e risada
descarada, todo sorriso e carranca lançados a mim, eu estava
começando a gostar dela ainda mais.
— Acho que seu coração está partido, Lucy — eu disse, algo que eu
tinha certeza de que ela já sabia e fazia o máximo que podia para
esconder de todos ao seu redor. Ou talvez ela nem estivesse ciente
disso depois de todo esse tempo.
Ela não olhou para mim, mas peguei a súbita rigidez em seu corpo.
Eu tinha atingido um nervo; isso era bom.
— Acho que partiram seu coração há muito tempo e você andou por
aí, sem saber o que fazer com isso, sem saber em quem pode confiar
para cuidar dele, desde que você era criança.
Com muito cuidado, ela levou os braços à barriga e juntou as mãos
com força.
— E eu acho que é hora de você dar o fora.
Ela tinha uma marquinha logo abaixo do olho direito, bem perto dos
cílios. Eu tinha visto no primeiro dia que agarrei seu pulso e a segurei
perto do meu corpo. Como tudo nela, até mesmo aquele ponto
imperceptível me intrigou. Meus olhos o encontraram, e eu sufoquei o
desejo de estender a mão e senti-lo com a ponta do dedo.
— Não estou dizendo isso para deixá-la chateada, Lucy — eu disse
suavemente.
— Você não está me deixando chateada, Adam — ela respondeu.
— Isso é bom, então — falei quando ficou claro que ela estava me
afastando.
Eu me levantei, pronto para deixá-la com seus pensamentos e voltar
para Aiden, para que Dan pudesse ir embora. Então meus olhos
focaram nos dela, e eu mudei de ideia. Entenda, ela não estava
olhando para mim nem nada. Seus olhos ainda estavam focados no
teto, e eu percebi que não gostava disso. Não gostava de ter causado
aquela rigidez no corpo dela sendo que só queria fazer aquele corpo
derreter nas minhas mãos. Mas ela não estava pronta para isso. Ainda
não. Ela ficaria pronta. Mas ainda não estava.
Então, em vez de me levantar e sair, virei o corpo para me aproximar
dela, coloquei a mão ao lado do seu ombro, me inclinei e parei quando
meus lábios estavam perto o suficiente para que ela pudesse facilmente
sentir meu hálito quente contra sua pele. Ela não moveu um músculo,
mas, mais importante, ela não me deteve.
Suspirei e estendi a mão para tocar a marca sob seu olho. Ela tinha
mais como aquela, uma na ponta do nariz, uma perto do lábio, uma
logo abaixo, escondida pela sombra que o lábio lançava… exatamente
como ela estava escondendo seu coração.
— O que você envolveu em seu coração para se proteger, menina
bonita? — perguntei, deixando a ponta dos dedos descerem da
bochecha até o queixo. Seus olhos se fixaram nos meus, e eu sabia
que tinha conseguido a atenção dela. — Eu vejo você desembrulhá-lo,
seja o que for que tenha ao redor dele, então sei que ele existe. Você
muda quando está com seus amigos, com Aiden, mas, assim que pode,
o fecha novamente. Espero que não seja uma gaiola de aço, Lucy.
Espero que você esteja sendo gentil com seu coração, cuidando dele
para mim.
Ela se levantou apoiada nas mãos, empurrando-me com sucesso
para longe do seu rosto.
Sua carranca derreteu-se em um sorriso, mas seus olhos pareciam
vulneráveis.
— Essa frase foi de um dos seus filmes?
— Você é apenas uma personagem, Lucy? Uma personagem que é
escrita por outros? — perguntei. — Ou você é uma pessoa de verdade?
A carranca voltou.
— Claro que sou real.
— Então não me faça perguntas estúpidas. Não preciso usar falas de
filme para impressionar alguém com quem estou começando a me
importar.
— Então você acha que me impressionou? Você acha que eu sou
aquele tipo de garota que se derrete a seus pés só porque você disse
algo que alguém escreveu?
Em vez de responder, continuei olhando para ela.
— Sou um cara bem direto, Lucy. Eu não brinco. Não que não possa
brincar ou não que não goste de alguns, mas esse tipo de jogo… —
Gesticulei entre nós. — Eu não quero jogar. Temos só uma vida, então
não vou perder meu tempo jogando com ninguém. Eu não sou assim. O
que você vê é como eu sou, e quanto mais olho para você, mais fico
perto de você, mais gosto do que vejo. Não é apenas o seu rosto, seu
sorriso ou seus lindos olhos que contam todos os tipos de histórias toda
vez que olho para eles por um tempo. Eu gosto de como você trata meu
filho, de como realmente gosta de passar tempo com ele, de como você
gosta das brincadeiras entre nós. Eu gosto de como você está tentando
ao máximo proteger seu coração de mim ao mesmo tempo em que
tenta não mostrar como é difícil fazer isso. Estou te dizendo que vou te
dar o que você quer de mim, o que você queria de mim naquele
primeiro dia em que me observou por cima daquele maldito muro. Eu
vou dormir com você, Lucy Meyer, e vou te beijar, minha perseguidora
inesperada. Vou te beijar sem ter que enganar você — anunciei. Seus
olhos confusos se voltaram para mim. — Eu só estou te dizendo isso
porque sei que você precisa se preparar.
— Eu não durmo com caras. Eu os fodo ou deixo eles me foderem e
então peço que eles saiam. E obrigada pela oferta de sexo por pena,
mas não estou mais interessada.
— Isso é bom, porque eu não estava falando sobre agora. Eu não
estou pensando em dormir com você enquanto não admitir que gosta
de mim também. Eu não estou esperando uma declaração de amor da
sua parte, mas seria bom ouvir algo diferente de “eu te odeio” saindo
dos seus lábios.
Ela abriu a boca para falar, mas a interrompi antes.
— Sim, Lucy, mesmo que eu tenha enviado você para a “prisão”,
você ainda gosta de mim. Tenho certeza de que isso está te corroendo
também. — Eu sorri um pouco quando a raiva brilhou naqueles lindos
olhos.
Estendi a mão para tocar a marca mais próxima do seu lábio, e ela
deu um tapa na minha mão. Eu ri. Não foi um tapa forte. Com a gente,
àquela altura, aquilo praticamente fazia parte das preliminares.
— Mas quando isso acontecer… quando você reconhecer que gosta
de mim, eu preciso que você tire esse escudo protetor do seu coração.
Eu não vou… trepar com você enquanto você estiver tão ocupada
protegendo o coração a ponto de estar perdendo o que está
acontecendo ao seu redor.
— Nada está acontecendo, Adam. Mesmo que você afogue o ganso,
nada vai acontecer. Eu acho que nem quero mais trepar com você.
Sinto que teria mais sorte se encontrasse alguém no Tinder. Se você
acha que pode fazer com que eu me apaixone por você, pode se
surpreender. Eu sugiro que você saia dessa.
Ela virou o rosto e tentou se levantar da cama, mas peguei seu
queixo entre o polegar e o indicador, e ela parou, metade do corpo
voltado para longe de mim.
— Eu tenho um filho — eu disse a ela, afirmando algo que ela
obviamente já sabia. — Eu não brinco. Se nós formos para a cama, não
será uma coisa para só uma vez. Eu não sou assim. Se algo acontecer
entre nós, eu vou ser um cara diferente pra você.
— Você era casado; ainda não teve tempo suficiente para brincar por
aí. E brincar é divertido. Aja como os homens, vá se divertir.
— Faz um tempo desde que me separei de Adeline, Lucy. — Soltei
seu queixo, e ela se acalmou. — Eu tive bastante tempo e muitas
oportunidades. Mas, como eu disse, tenho um filho. Não estou
pensando em passar com uma fila de mulheres na frente dele. Não vou
ser aquele pai que o deixa com assistentes e babás enquanto estou
gravando um filme, para me divertir em outro país. E mesmo se não
houvesse Aiden, eu nunca fui assim. Não sou o cara arroz de festa;
isso nunca me interessou. Você não é a única que não quer acabar
como seus pais.
— O que você quer dizer? — Demorou um segundo para ela
entender o que eu quis dizer e, quando entendeu, seus olhos se
arregalaram. — Seu pai traiu sua mãe? O grande Nathan Connor traiu
sua Helena? E você sabia disso?
— Os dois faziam sexo com outras pessoas, Lucy. Eu não acho que
eles chamariam isso de traição. A ideia deles de amor e de casamento
é diferente da ideia das outras pessoas. Eles trabalhavam muito e
acreditavam que tinham o direito de se divertir muito também. — Dei de
ombros. — A escolha foi deles. Não significa que eu queira seguir os
passos deles. Se eu quisesse fazer isso, não teria me casado com
Adeline.
— Então eles tinham um casamento aberto.
— Mais ou menos isso.
— Hã. Não imaginava. Estou surpresa.
Eu relaxei.
— Você quer saber o que um diretor me disse um dia?
— Acho que tenho tempo.
Eu sorri e balancei a cabeça. Ela era engraçada.
— Era a minha primeira vez trabalhando com ele. Douglas Trent. —
Deitei-me ao lado dela e nossos braços se tocaram. Ela não se afastou.
— Acho que eu tinha dezoito anos quando começamos a filmar. Foi um
dos maiores papéis que eu tinha conseguido até então, e eu estava
trabalhando muito para provar a todos no set que tinha feito o teste e
conseguido aquele papel porque merecia, não por causa dos meus
pais.
— Você está falando sobre o filme O primeiro dia?
— Estou. Ótimo elenco. Grandes nomes. No meu primeiro dia, eu
estava atrasado para a gravação. Minha irmã… teve um problema, e eu
não podia deixá-la sozinha em casa. Quando finalmente cheguei,
Douglas se encontrou comigo no meu trailer e deixou tudo claro pra
mim. Lembro bem que ele foi direto ao ponto e isso me impressionou.
Antes dele, todo mundo se esforçava para me agradar por causa dos
meus pais e sua influência na indústria, então ninguém teria se
importado se eu estivesse atrasado uma hora para minhas cenas. Ele
me disse que, antes de eu pisar no set, tinha que decidir o que
importava para mim, o que importaria para mim em dez anos. Eu queria
me tornar um Connor, ou eu queria me tornar Adam Connor? Há uma
grande distinção entre os dois, e eu fiquei chocado, em silêncio, por ele
ter visto isso depois de se encontrar comigo apenas duas vezes. Fiquei
impressionado porque é importante para mim as pessoas enxergarem a
diferença entre essas duas coisas. Não me entenda mal, meus pais
eram ótimos atores, eles ainda são, mas… isso é outra história, para
outro momento.
— O que mais o diretor disse? — ela perguntou.
— Ele me contou muitas coisas. Havia um grande nome entre os
atores que não achava que eu fosse capaz de assumir o papel e
acompanhá-los. Fizemos muitas cenas juntos, e ele não achava que eu
era a escolha certa, e quando cheguei atrasado, apenas provei que ele
estava certo. Então Douglas perguntou se eu poderia lidar com isso:
com os horários, o trabalho, tudo. Ele me perguntou o que importava
para mim. Eram as entrevistas, os fãs, a atenção do público, as
mulheres, o dinheiro? Eu disse a ele que era a energia que me tomava
conta de mim quando eu ouvia a palavra ação, era a câmera, o diretor,
o elenco, o roteiro. Era a equipe, a preparação para um papel. Essas
eram as coisas que importavam para mim. Claro, eu gostava do
dinheiro, dos fãs e das entrevistas. Tudo isso vinha no pacote de ser
ator, mas é exatamente isso: são todas essas coisas que têm a ver com
ser ator. Elas não são o que importa. Elas não são a razão de eu fazer
o que eu faço. Eu faço isso por mim mesmo, porque parece que eu
tenho talento e é o que eu quero fazer. Então — eu disse finalmente
quando virei a cabeça para olhar para ela —, o que importa para você,
Lucy? Onde você se vê daqui a dez anos? Você vai estar ocupada
cuidando para que ninguém toque seu coração novamente, apenas
para que não acabe como sua mãe e sua avó? Ou estará vivendo sua
própria vida em seus próprios termos? Sua vida gira em torno de não
ser como ela ou é sua própria história?
— Você sabe que acabei de terminar com alguém, não sabe? Não é
que eu não seja capaz de amar. Eu apenas sou prática. Eu sei o que
vai acontecer, então por que sair do penhasco se sei que vou cair no
oceano? E, como acabei de dizer, saí daquele penhasco há apenas
alguns meses e veja o que aconteceu.
— Eu nunca disse que você não é capaz de amar. E o que
aconteceu, exatamente? Você pulou do penhasco e disse ao cara que o
amava. Aí você caiu no oceano, e o quê? Você o amava tanto a ponto
de nunca mais se apaixonar?
Ela soltou um suspiro frustrado e me lançou um olhar irritado.
— Não é isso. Claro que saí no oceano. Só porque um cara me deixa
de lado não significa que eu vou me afundar em lágrimas e
secretamente amá-lo pelo resto da minha vida.
Puxei-a para baixo de mim, fazendo-a emitir um som entre um
suspiro e um chiado.
— O que você acha que está fazendo? — ela perguntou.
— Eu gosto muito de você, Lucy Meyer. Então, estou pensando um
pouco — respondi, mantendo o olhar fixo no rosto dela.
— Sobre o quê?
— Quanto tempo vou ter que esperar até você superar esses seus
namorinhos e eu poder te tocar como eu quero.
Ela me deu um sorriso preguiçoso e, antes que eu pudesse tirar
meus olhos dos seus lábios sorridentes, ela de alguma forma conseguiu
me surpreender e me empurrou para que eu ficasse de barriga para
cima. Quando me dei conta, ela estava montada em cima de mim. Não
com o corpo todo, ela tomou o cuidado de não deixar que nossos
corpos se tocassem, mas estava perto. Nós estávamos perto. Eu fiquei
assim, completamente chocado, completamente duro, e totalmente
satisfeito com ela. Eu deixaria que ela fizesse o que estivesse
planejando até decidir interrompê-la. Eu não estava interessado em
brincar com ela, não como ela queria. Ou talvez isso estivesse errado.
Eu estava muito interessado em brincar com ela, exatamente como ela
queria, mas não nos termos dela. Não uma foda rápida. Não quando
cada palavra que ela dizia me excitava além da conta.
Ela apoiou as mãos na cama, inclinou o corpo, deixando seus seios
pressionados contra o meu peito, e parou quando seus lábios estavam
a poucos centímetros dos meus. Minhas mãos encontraram seu quadril,
e eu a segurei levemente acima de mim.
— Você é muito confiante, não é? — ela sussurrou. —
Provavelmente sempre teve garotas se jogando em cima de você
desde que tinha catorze, quinze anos? Bom, olha só, pai gostosão, eu
não sou sua fã, não sou mais.
Ela levantou os peitos, baixou os olhos e olhou para o espaço entre
os nossos corpos. Eu não tive que seguir os olhos dela para ver que
meu tesão era perceptível. Ela não tinha ideia da encrenca em que
estava se metendo.
Ergui meu quadril e a puxei um pouco para a frente. Ela olhou nos
meus olhos de novo, e eu vi quando engoliu em seco. Ela deve ter
percebido que estava pressionando seus seios contra o meu peito,
porque de repente empurrou o corpo para cima e fez o possível para
evitar tocar no meu.
— Por que você não se senta, Lucy? — sugeri, lutando contra o
desejo de arrancar sua roupa e penetrá-la. — Fique à vontade.
Ela contraiu os lábios e ficou pairando sobre mim.
Quando pensei que ela estava prestes a sair de cima de mim, ela
falou: — Você sabe do que eu gosto, Adam Connor? — perguntou e
continuou falando em vez de esperar por uma resposta. — Eu gosto de
tatuagens. Acho que elas ficam muito sexy nos homens. Gosto quando
arrancam minha roupa e transam comigo onde estivermos. Também
gosto de um pau grande, porque é incrível quando um cara sabe usá-lo.
— Ela se aproximou mais. — Você não tem ideia… nenhuma ideia do
quanto eu amo um pau grande e duro que possa me foder com força,
Adam. Gosto de senti-los dentro de mim, de gozar neles… como se
fosse muito, mas, ao mesmo tempo, não o suficiente. — Seus lábios
pararam perto da minha orelha e ela soltou um pequeno gemido que
veio do fundo da garganta e chegou até o meu pau. — E acredite, eles
me fazem gozar muito forte — acrescentou.
Fechei os olhos e sorri antes que ela pudesse ver. Ela levantou a
cabeça e continuou falando, não percebendo que se aproximava mais
de mim. Não havia nada, nada que pudesse ser mais sexy do que uma
mulher que sabia o que queria de um homem na cama, que não tinha
problemas em dizer como sentia prazer, ou como ela queria sentir. E
Lucy Meyer era sexy demais, na minha opinião.
Naquele momento, Lucy Meyer estava se enfiando sob minha pele
sem nem perceber. Eu estava prestes a me entregar, mais do que
nunca.
— Gosto de um homem que sabe o que pode fazer com a língua, as
mãos e o pau. Eu gosto de homens que me façam implorar por mais,
que me fazem arder, muitas vezes — ela continuou. — Ele tem que
saber como tirar tudo de mim. — Ela bateu no meu peito com a mão e
seu tom mudou quando ela recuou. — Você não é esse cara, Adam
Connor. Parece que você poderia ser esse cara, mas não é.
— Você acha mesmo que eu não sou esse homem?
Ela balançou a cabeça em sinal afirmativo.
— Eu até vou te dar uma explicação gratuita. Primeiro de tudo, você
não beija bem. Você não me faz sentir nada. Nós aprendemos isso da
maneira mais difícil. E também estabelecemos o fato de que você tem
um pau pequeno. Pequeno pra mim — ela corrigiu apressadamente. —
Tenho certeza de que algumas garotas topariam estar com você por
você ser um astro do cinema e tudo. E mãos… — Ela lambeu os lábios.
— Ok. Você tem grandes mãos. Vou admitir. Mas duvido que saiba usá-
las direito. — De joelhos, ela se endireitou. — Então, como você pode
ver, nós não combinamos. Você é um bom ator e tudo, mas eu preciso
de mais do que uma boa atuação na cama.
Ela levantou o joelho para sair de cima de mim, e eu aproveitei o
momento para recuperar o pouco de controle que havia dado a ela.
Ela caiu de costas arfando e desta vez eu fiquei em cima dela, a
centímetros dos seus lábios.
— Você quer ouvir o que eu gostaria de fazer com você, Lucy? O
que vou fazer quando você parar com toda essa encenação?
— Nossa. Mal posso esperar para saber. — Suas palavras saíram
sem fôlego.
Encostei meu nariz no dela e gentilmente a forcei a me mostrar o
pescoço. Então, com calma e sem pressa, contra a garganta dela, eu
disse: — Primeiro, vou te beijar até você esquecer o seu próprio nome,
Lucy Meyer. Eu não me importo se vai levar horas para provar cada
centímetro dessa boca linda, eu não vou parar de te beijar enquanto
você não estiver muito excitada e com o coração acelerado de desejo.
— Passei a mão por baixo do pescoço dela e deixei meu polegar
gentilmente acariciar a pele macia. Os olhos dela ficaram vidrados de
desejo. — Enquanto eu ainda estiver te beijando, Lucy… — sussurrei,
mantendo meus lábios acima dos dela.
Seus lábios se separaram, e eu percebi que seus olhos já estavam
fechados. Você não é esse cara… até parece.
— Vou te despir para poder tocar cada centímetro do seu corpo.
Com meus lábios, minhas mãos… — Desci deixando beijos por um
caminho que foi da borda dos seus lábios até o decote da camiseta e
deixei minha mão descer até a cintura dela. Quando cheguei à bainha,
ordenei que meu pau ignorasse sua respiração ofegante e enfiei a mão
por baixo da blusa para tocar sua pele. — Tão macia — murmurei
enquanto pressionei meus lábios logo embaixo da sua orelha e deixei
minha palma subir, lentamente indo em direção aos seus seios.
Sua respiração acelerou e ela abriu os olhos.
Tempestades. Duas belas tempestades olhando diretamente para
minha alma.
Ela estava com raiva, eu pude ver, mas também parecia faminta,
então eu cedi e beijei gentilmente seus lábios. Minha mão apertou sua
cintura quando ela começou a mexer o quadril embaixo de mim. Sua
língua saiu para molhar o lábio inferior, e eu o mordi suavemente,
arrancando dela um gemido baixo.
— Apenas um gostinho — eu disse. — Só para segurar você. — Sua
carranca voltou com força total. — Talvez eu coloque meu pau aqui e
deixe você provar antes de fazer qualquer outra coisa. Ou talvez não.
Talvez eu não resista a ir fundo dentro de você antes de despejar na
sua boca e observar você engolir tudo.
— Quem disse que eu engoliria? — ela perguntou, cerrando as mãos
em punhos.
Eu sorri ― não pude evitar ― e vi seus olhos passarem para a minha
boca.
— Oh, você mal pode esperar para engolir tudo, não é, Lucy? Assim
como eu mal posso esperar para lamber cada centímetro da sua
boceta.
Segundos se passaram enquanto nos encarávamos.
Finalmente, ela engoliu em seco.
— O que mais você faria? Não que você tenha uma chance, estou
apenas curiosa…
— Ah, eu vou fazer muitas coisas com você, Lucy. Definitivamente
vou te deixar fazer um monte de coisas comigo também, porque sei que
você vai gostar de me pegar. — Olhei para o corpo dela, para o ponto
onde minha mão havia puxado a camiseta dela para cima, e pude ver a
pele nua de sua barriga. Não me pergunte como eu consegui fazer
minha mão ir mais alto, mas eu fiz, e a cobri de novo.
— Pena que eu não posso simplesmente arrancar suas roupas e
mostrar quantas coisas eu posso fazer você sentir, se me der
permissão, fazer você gritar enquanto te deixo maluca, com sua boceta
se contraindo no meu pau — murmurei, olhando em seus olhos. —
Aposto que você tem uma boceta faminta. Aposto que você me
imploraria para te dar mais. — Pensei que ver e tocar sua pele nua era
muita tentação, mas seu olhar foi o golpe mortal. — Pena que eu
preciso sair e não posso ter você pra mim a noite toda.
Ela inclinou a cabeça e se apoiou nos cotovelos, e eu me inclinei
para longe dela. E então ela estava se apoiando sobre o meu peito e
subindo em mim novamente.
— Você deveria parar de fazer isso — murmurei quando estendi a
mão para afastar o cabelo dela do rosto, longe daqueles lindos olhos
para os quais eu não conseguia parar de olhar. Ver suas bochechas
corarem levemente e seu peito subir e descer com respirações
profundas fez meu pau já duro pular.
— Você está pronta para admitir o quanto gosta de mim?
Ela balançou a cabeça.
— Toda vez que digo para mim mesma que talvez não te odeie, você
faz algo para me mostrar que eu realmente te odeio muito.
Surpreso, perguntei:
— O que eu fiz agora para ganhar seu ódio?
— Você está falando. E me tocando. E sussurrando. E inclinando-se
muito pra mim. E olhando nos meus olhos. Você está fazendo sua voz
ficar toda rouca. Pare com isso. Quando digo que não podemos fazer
sexo, você fala sobre meu coração e todas essas coisas que não são
da sua conta.
Soltei o cabelo dela e levantei as mãos em sinal de rendição.
— Eu não sabia que você queria tanto transar comigo, Lucy.
Ela gemeu.
— Eu não quero! Esse é meu argumento. Mas você me fez falar
sobre paus grandes que sabem o que estão fazendo e… —
Inesperadamente, ela agarrou meu pulso e puxou minha mão para
dentro da sua calça.
Eu poderia tê-la parado. Eu poderia tê-la puxado para se sentar no
meu corpo e dito para ela se comportar antes de beijá-la loucamente.
Eu poderia ter feito muitas coisas em vez de curvar meus dedos e
deixar que eles escorregassem em seu calor e umidade, mas ela era
intrigante demais, e eu estava muito curioso para ver como ela
explicaria que estava encharcada daquele jeito, se insistia não sentir
nada quando eu colocava minhas mãos e lábios nela.
— Então isso aconteceu — ela explicou sem força, com uma voz
ofegante.
— Olhe para isso — murmurei, brincando suavemente com seus
lábios e clitóris, espalhando toda a sua umidade nela. — Isso
aconteceu porque eu fiz você falar sobre paus?
Ela assentiu ansiosamente, e meu olhar foi para suas mãos, que
ainda estavam segurando meu pulso em um esforço para manter minha
mão no lugar.
— Acho que devo me desculpar por isso — cedi, empurrando meu
dedo médio um pouco mais fundo até passar por seus músculos
tensos. — Por deixá-la molhada, quero dizer.
Ela inclinou a cabeça para trás, apenas um pouco, e seus quadris se
mexeram, empurrando meu dedo mais fundo.
— Você não me deixou molhada — ela sussurrou, soltando um
pequeno gemido quando girei meu dedo por dentro dela e depois
empurrei até o fim. A maneira como seu corpo ganhou vida bem na
frente dos meus olhos, o jeito como ela mordeu o lábio inferior quando
um pequeno suspiro escapou de seus lábios… cada coisinha que ela
fazia estava me levando ao limite da loucura.
— Eu não deixei? — Puxei o dedo para fora de sua vagina apertada
e passei-o por cima e ao redor do clitóris sensível. — Isso é muito ruim,
então. — Antes que eu pudesse tirar minha mão da sua calcinha, ela
me parou.
— Espere! Espere!
— Sim?
Ela fez uma careta para mim e soltou um suspiro frustrado.
— É por isso que eu não gosto de você.
Puxei minha mão para fora.
— Espere! Droga! — Determinada, ela agarrou meu pulso e o
empurrou de volta. Deus, seus olhos realmente me causaram arrepios,
aquele olhar determinado, mas sem foco, combinado com aquela cor
tempestuosa... Ela era uma tempestade por si só. Inferno, ela tinha sido
um furacão desde que havia entrado na minha vida.
— Bem. Tudo bem, sua voz me excitou — ela admitiu finalmente.
— Hummm — murmurei, gentilmente enfiando o dedo de novo em
sua vagina. — Você gosta da minha voz e da minha mão. Para uma
garota que afirma que me odeia, você parece gostar muito de mim.
— Apenas da sua mão e da sua voz. Todo o resto em você… eu
odeio.
Pressionando minha mão livre contra suas costas, eu a virei para
deixá-la embaixo de mim de novo.
— O ódio é uma emoção muito forte, Lucy. E você sabe o que dizem
sobre amor e ódio: seria muito fácil você pender para o amor, do outro
lado.
Ela abriu as pernas para mim por vontade própria e depois disse
bem perto do meu rosto.
— Vai sonhando.
Eu sorri para ela.
— Veremos.
Abrindo as pernas um pouco mais, empurrei outro dedo dentro do
seu calor ardente e observei seus olhos perderem o foco novamente.
— Eu acho…
Enfiando minha mão livre sob seu pescoço, segurei sua boca na
minha e a deixei sem palavras enquanto aproveitava sua excitação
encharcando meus dedos. Toda vez que eu a beijava, conseguia ouvir
o sangue zumbindo nas minhas veias. E mais do que isso, podia senti-
la tremendo sob mim, seu corpo vibrando com o desejo que ela estava
tentando ocultar.
Embora eu soubesse que isso a irritaria, tive que pegar minha raiva e
ir embora. Então puxei meus dedos para fora de sua vagina, agarrei
seu queixo e aprofundei o beijo gentil que eu estava dando nela pouco
antes de soltar seus lábios e de me levantar da cama para ir até a
porta.
— O quê? — ela murmurou, olhando para mim, confusa. — O que
você está fazendo?
Aqueles malditos peitos lindos. A maneira como eu podia ver aqueles
mamilos perfeitos subindo e descendo enquanto seu peito se movia
com suas respirações difíceis era de levar ao limite a paciência do meu
pau.
— Boa noite, Lucy.
O rosto dela ficou sério e ela me deu um olhar vazio.
— Você está indo? Agora?
— Eu adoraria ouvir você gemer sob o meu corpo a noite toda
enquanto enterro meu pau em uma certa parte do seu corpo, mas você
nem gosta de mim, lembra? Quando disser que gosta de mim, talvez eu
mude de ideia.
— Não gosto de você.
Assenti.
— Foi o que pensei. Além disso, preciso voltar para ficar com o
Aiden.
Quando ela ouviu o nome de Aiden, seus ombros pareceram relaxar
um pouco e ela encolheu os joelhos e os abraçou contra o peito.
— Então você não estava pensando em ficar, mesmo que eu
mentisse e dissesse gostar de você. Legal. Que bacana.
Dei de ombros e abri a porta.
— Talvez não. Mas eu com certeza teria te levado comigo.
— Eu não iria.
Saindo do quarto, olhei para ela e sorri.
— Eu acho que você iria, minha querida perseguidora. Na verdade,
acho que você teria gozado demais, como não gozou com nenhum
outro cara antes.
Os olhos dela se estreitaram e ela parou como se não tivesse
certeza se deveria falar as próximas palavras, mas não demorou muito
para se decidir. Eu me peguei me perguntando se em algum momento
ela deixava de falar o que pensava.
— Obrigada por parar antes que eu pudesse cometer um grande
erro.
Droga, mas com cada palavra da sua boca ela emitia um novo
desafio que eu simplesmente não podia deixar de aceitar. E essa era a
maior excitação para mim ― depois do seu lindo rosto, aqueles olhos
tempestuosos e os mamilos, é claro… e acho que não seria justo deixar
de fora sua bunda perfeita.
— De nada — concordei prontamente. — Você pode estar certa. Eu
não tinha certeza se você poderia acompanhar meu ritmo ou me
satisfazer o suficiente, de qualquer maneira. Eu odiaria tentar fingir
apenas para proteger seus sentimentos delicados.
Eu a ouvi rosnar e fechei a porta antes que o travesseiro que ela
jogou pudesse acertar meu rosto. Eu mal podia esperar para ver
aqueles lindos olhos dela se revirando.
— Olive.
— Olive, acorde.
Nada. Nem mesmo um gemido.
— Olive. Olive. Olive.
Finalmente um gemido.
— Vá embora, Lucy.
— Você tem que acordar — eu disse quando comecei a afundar
minhas duas mãos na cama para fazê-la balançar no colchão.
— Me dê uma boa razão e eu vou pensar se devo abrir os olhos —
ela murmurou, se afastando de mim e abraçando o travesseiro com
mais força.
— Porque eu acordei.
— Sei. Acho que não. Boa tentativa, agora vá embora.
— Olive.
— Lucy.
Suspirei e subi na cama.
— Olive, acorde.
— Lucy, vá embora.
Dessa vez, fui eu quem gemeu.
— Não é assim que se joga, Olive. Eu venho ao seu quarto para te
acordar e você acorda. E eu não posso nem deitar nos seus peitos e
me sentir confortável porque você está deitada em cima deles.
Apertando os dois. Matando os dois. Tenha piedade, mulher!
— O que você fez com o Jason?
— O que eu fiz com ele? Você estava sonhando que fazíamos sexo
a três? — Dei um tapinha nela e me sentei ao seu lado. — Estou
lisonjeada por você ter me escolhido para desempenhar um papel nas
suas fantasias, minha Olive querida. Me dê todos os detalhes.
Ela soltou um longo suspiro.
— Você não vai embora, não é?
— Umm… — Puxei um dos travesseiros de debaixo da cabeça dela.
— Não.
— Foi o que eu pensei. Tá. — Ela aceitou o inevitável e caiu de
costas, deitando nas colchas um pouco entusiasmada demais para o
meu gosto. — Que horas são?
— Nove e alguma coisa.
— Sério? Bem, isso é novidade. Você geralmente me acorda mais
cedo.
— Viu? — Bati no ombro dela com o meu. — Eu posso ser legal. Sou
uma boa amiga.
— Ok. Agora que estou acordada… por que estou acordada mesmo?
— Porque eu tenho notícias.
— Boas ou más? — Olive perguntou enquanto levantava as cobertas
para que eu pudesse entrar debaixo delas. Apesar de ela agir como me
odiasse por eu tê-la acordado cedo, eu sabia que ela adorava minhas
visitas ao quarto dela tanto quanto eu.
Ok, talvez não tanto quanto eu, claramente, mas ela amava mesmo
assim.
Pensei nas coisas que queria compartilhar com ela e não consegui
decidir se eram más ou boas notícias. Definitivamente algumas boas,
mas talvez uma muito ruim que estragaria a boa? Eu não pensaria
nisso até ser forçada a pensar.
— Algumas boas, talvez algumas ruins também — comecei.
— Ok. Pode mandar.
— Qual você quer primeiro?
— Quero todas as boas primeiro.
Balancei a cabeça em sinal afirmativo. Boa escolha.
— A melhor de todas é que consegui para você… — Pausei apenas
para criar mais tensão.
— Sim… você conseguiu para mim…?
— Eu consegui para você… um contrato para fazer um
AUDIOLIVRO de Dor na Alma!
Ela se sentou na cama e olhou para mim com olhos arregalados.
— Nós conseguimos um contrato?
— Sim. Nós conseguimos. E essa nem é a melhor parte. — Tendo
problemas para conter minha energia, eu me sentei e cruzei as pernas.
— Conta logo!
— Você vai ser a narradora!
Ela pareceu desanimada.
— O quê? A narradora? Por que eu seria a narradora?
— Porque quem leria seu livro melhor que você?
— Lucy. Não.
Eu empurrei seu ombro, e ela tombou para trás.
— Olive. Sim.
Balançando a cabeça, ela saiu da cama.
— De jeito nenhum. Eu não vou fazer isso.
Eu a observei andar ao lado da cama e soltei um longo suspiro.
— Sim, você vai. E quer saber por que você vai fazer isso com o
maior sorriso no rosto, minha Olive querida?
— Ah, por favor, me esclareça.
— Porque seu marido é o seu conarrador.
Ela parou de andar e eu tive problemas para conter meu sorriso
tonto.
— Jason? Ele vai ler comigo? Você falou com ele sobre isso?
— Claro que sim. Por mais que ache que eu deveria ter o direito de
decidir, já que praticamente te dei a ele embrulhada para presente, não
posso tomar decisões assim em seu nome. Então falei com ele alguns
dias atrás, e considerando o tamanho do sorriso que me deu, ele
realmente, e quero dizer, realmente, gostou da ideia. A editora adorou
também, então… vai rolar!
Ela subiu na cama novamente, se agachou e abriu o sorriso mais
fofo.
— Você é um gênio, Lucy. Eu amo essa ideia. Não gosto do fato de
ler, mas eu e o Jason… eu adoro.
Sorri de volta para ela.
— De nada, minha pequena Olive. No começo, eles estavam
preocupados com o pagamento do Jason, mas ele não quer nada,
então o acordo é apenas pelos direitos de áudio de Dor na Alma. Você
vai receber um bom adiantamento por isso. Eu cuidei para que fosse
assim.
— Então isso significa que você também receberá uma boa parte do
adiantamento. Eu me certifiquei de que fosse assim.
Franzi as sobrancelhas.
— Ah, não. Só vou ajudar você. E eu realmente gosto de ficar com o
título de agente temporária, então vou usá-lo, mas não, não quero seu
dinheiro.
— Sim, você quer. Por que mais você gastaria esse tempo todo
conversando com tantas editoras?
— Porque eu estou ajudando você.
— Sim. Porque você é boa nisso. Com números, com pessoas
fazendo o que você quer que elas façam. E você se importa com o meu
trabalho. Você se importa com meus personagens e quer o melhor para
mim. Eu não acho que exista uma agente melhor do que você para
mim, então fico com você e mantenho sua comissão.
Estreitei os olhos para ela e considerei suas palavras. Bem, eu
precisava de um emprego, isso já era sabido, mas receber dinheiro da
minha melhor amiga… eu não ligava muito para essa ideia. Ela era
minha melhor amiga, minha irmã de mãe diferente. Eu a ajudaria o
máximo que pudesse e gostava muito de ajudá-la sempre que ela
precisava, mas quando…
Olive estalou os dedos na minha cara, invadindo meus pensamentos.
— Não há nada para você pensar. Eu pedi para você ser minha
agente. Os agentes recebem. Você tem um acordo comigo, o que faz
de você minha agente oficialmente. Não é temporário. Eu nem pedi que
você conseguisse um contrato de audiolivro, mas você conseguiu. Você
é minha agente, Lucy. E ganha 25%.
— Vinte e cinco por cento? Você é louca? Você sabe quanto vai
receber de adiantamento?
Eu estava realmente pensando em pegar dinheiro da minha amiga?
E essa quantidade de dinheiro? Acho que não.
— Isso é o que os agentes levam. De todas as transações de livros,
transações de áudio, vendas de direitos para o exterior ou o que você
colocar na minha frente para assinar, você receberá 25%, tanto do
adiantamento quanto dos royalties.
Sentindo-me desconfortável, balancei a cabeça e mudei de lugar.
— De jeito nenhum. — De jeito nenhum, seria muito dinheiro. —
Vinte e cinco é demais. Não dê tanto dinheiro a ninguém.
Ela deu de ombros como se eu estivesse falando bobagem.
— Você é minha agente. Você procura e me traz as melhores ofertas
possíveis. Você já fez isso. Não sei por que ainda estamos falando
disso. Eu nunca pensaria em sugerir que eu poderia narrar o livro com
Jason. Mesmo se tivesse essa ideia, não saberia o que fazer para que
eles dissessem sim. Além disso, Jason já interpretou Isaac. Você tem
certeza de que o contrato dele não seria um problema?
— Já verifiquei isso. Eu já falei com o agente dele. Tom disse que
seria uma boa promoção para o filme quando sair em DVD. E ele
verificou o contrato para ter certeza também. Está tudo bem nesse
aspecto.
— Viu? — Ela empurrou meu ombro com o dedo indicador, um
pouco forte demais. — Você já pensou em tudo. Você é minha agente.
— Sim — cedi e esfreguei o local que ela tinha acabado de cutucar.
— Eu sou uma agente e nem tenho um rascunho do seu próximo livro.
Que bela agente. Talvez você devesse pedir à Jasmine para ser sua
agente.
Eu ainda estava com um pouco de ciúme disso? Sim, talvez. E daí?
Olive estendeu a mão e gesticulou com o queixo para eu apertá-la.
Então eu apertei.
— Vinte e cinco por cento.
— Dez por cento.
Ela me deu um olhar entediado.
— Vinte e quatro por cento.
Acho que você pode adivinhar quanto tempo levamos para concordar
com um número, mas caso não tenha certeza, demorou muito tempo,
muito tempo mesmo. Houve muito aperto de mão, aceno com a cabeça
e mais um pouco de discussão. No final, concordamos em quinze por
cento e foi isso.
— Agora podemos ir dormir? — ela perguntou com um olhar
esperançoso. — Talvez uma soneca curta?
Eu a abracei e caímos nos travesseiros.
— Estamos trabalhando juntas.
Ela riu.
— Sim. Já posso ouvir o som distante do seu chicote estalando.
Soltei outro suspiro longo.
— Sempre pensando o pior de mim. Estou sendo muito gentil com
todos os editores.
— Adoro quando você estala o chicote, então está tudo bem. Não
gostaria que mais ninguém fosse minha agente. Sabe o que você
deveria fazer?
— O quê?
— Ligar para Catherine e contar que você conseguiu um emprego.
Olhei para o teto, meu estômago revirando.
— Eu não acho que ela ficaria feliz em saber disso. Ela queria que
eu aceitasse um trabalho de administração.
Sentindo os olhos de Olive em mim, fiz o possível para não parecer
afetada, mas ela me conhecia bem o suficiente para saber como eu me
sentia.
— Ok. Eu nem deveria ter dito isso. Foi mal.
Soltei um resmungo indicando que aquilo não tinha importância e
tentei não pensar em nada ruim.
— Tudo bem, você está pronta para a segunda notícia boa?
— Não vamos cochilar, então? Tá. Pode mandar.
— Não vamos cochilar porque vamos sair para celebrar o acordo de
audiolivro.
— Mimosas?
Álcool… eu não tinha certeza se poderia beber. Eu queria beber todo
o álcool, toda a tequila que eu conseguisse arranjar, mas tinha muito
medo de não conseguir fazer isso por um bom tempo. Concordei, de
qualquer maneira, e agradeci a todas as minhas estrelas por Olive não
ter questionado meu silêncio e deixado as coisas como estavam.
— Mas antes de um café da manhã comemorativo, a segunda boa
notícia é que tenho um negócio maior, muito maior, que estou tentando
finalizar antes de dizer o que é, e a terceira boa notícia é que encontrei
um apartamento!
Olive se apoiou no cotovelo e olhou para mim com um beicinho,
parecendo triste e com o coração partido.
— O quê? Você vai embora?
Virei de lado para encará-la.
— Você ouviu o que eu disse sobre esse grande negócio? Não?
Ela ficou me encarando, então revirei os olhos.
— Estou aqui há semanas, Olive, e procuro um apartamento
pequeno desde o dia em que cheguei, mas eu simplesmente não tinha
encontrado nada.
— E agora você encontrou. Onde?
— Mais perto do nosso apartamento antigo. Você se lembra da loja
de chá que fechou? Aquele em que você jogou uma xícara de chá na
minha cabeça e a gente acabou sendo expulsa? É a dois quarteirões
dali. Ainda fica perto da USC, então eu acho que vou procurar alguém
para dividir o apartamento comigo.
Ela me olhou com seriedade.
— Eu não joguei na sua cabeça. Eu tropecei e caí.
— Sim. Você caiu em cima de mim. Com uma xícara de chá quente
na mão.
— Não estava quente. Havia leite frio. Enfim, você sobreviveu. E
você não deve sair agora. Não quando está se aproximando de Adam e
Aiden.
Eu bufei e soltei uma risada não muito feminina.
— Me aproximando de Adam Connor? Você está de brincadeira
comigo? Eu o odeio ainda mais do que há alguns dias.
— Por quê? Por que ele não está mais fazendo flexões?
Jesus! Até minha própria amiga estava do lado daquele imbecil
egoísta. Afundei de volta na cama.
— Estou muito decepcionada com você agora, minha Olive. Aposto
que não vai ficar toda engraçadinha quando souber que ele invadiu sua
casa ontem à noite.
Hum, talvez eu pudesse convencer Olive a apresentar queixa contra
a Galã Gostoso. Seria uma baita reviravolta na trama! E uma grande
vingança também. No entanto, Olive foi rápida e matou esses lindos
sonhos.
— Ele não invadiu. Ele ligou para o Jason, que o deixou entrar. E eu
fiquei escutando atrás da porta depois que ele entrou furtivamente no
seu quarto porque eu tinha que ouvir e saber por que ele estava aqui,
mas Jason me afastou e eu não consegui ouvir nada. Então pode ir
falando. Ele te deixou abalada?
— Nós não transamos — murmurei baixinho.
— Não por falta de tentativa da sua parte, presumo.
Ignorando Olive, peguei o celular dela na mesa de cabeceira e
verifiquei a hora.
— Olha só, precisamos sair. Não quero ficar presa no trânsito até a
hora do almoço. Meu estômago está resmungando. Preciso de comida,
talvez waffles, talvez ovos, talvez croissants, talvez todos os itens
acima. Eu também preciso de café. Depois provavelmente vou precisar
de sobremesa. Vamos, preguiçosa. — Eu pulei da cama e bati nela com
um dos travesseiros. — Vamos sair pra comemorar.
— Eu nunca vou entender seu entusiasmo com as manhãs, Lucy. —
Ela puxou o travesseiro da minha mão quando eu estava prestes a
bater nela, levemente, é claro, de novo e afastou os cabelos do rosto.
Quando ela estava saindo da cama, parou e se virou para mim com
uma careta.
— Você disse que tinha boas e más notícias. Você não me contou as
más notícias.
Evitei o contato visual e brinquei com a borda das cobertas para ter
algo com que me ocupar.
— Vamos apenas dizer que temos que passar na Target para
comprar uma coisa. Vou te contar tudo depois do café da manhã
comemorativo. Estou morrendo de fome, venha. — Joguei as cobertas
no rosto dela. — Pare de me torturar e levante-se.
— Meu Deus. Tudo bem. Ela jogou as cobertas para trás e pulou da
cama depois de um longo alongamento e de um bocejo. — Que horas
são?
— Talvez oito… oito e pouco — eu disse, olhando para trás enquanto
caminhava em direção à porta com passos rápidos. Todo mundo
precisa de uma vantagem quando está fugindo de uma mulher com
raiva.
Quando cheguei ao batente da porta, ela abaixou as mãos muito
lentamente e me olhou com cara de raiva. Então, obviamente, eu sorri
para ela. Um sorrisão.
— Se chama café da manhã por um motivo, tem que acontecer muito
cedo, Olive. Não fique brava comigo.
— Se eu fosse você, começaria a correr.
UM PAI LUTANDO POR SEU FILHO:

Você se lembra da última vez que mencionamos rumores sobre a


possibilidade de uma briga na justiça entre Adam Connor e Adeline
Young? Bem, chegou o dia, pessoal. A batalha começou.
Geralmente, quando um casal de celebridades passa por uma
disputa de guarda, contamos com fontes próximas ao casal para falar
sobre o que ocorre a portas fechadas. Afinal, quem não gosta de uma
dose saudável de drama quando se trata da vida de suas celebridades
preferidas? Mas, neste caso, achamos que a razão por trás desse novo
desenvolvimento é bastante óbvia, você concorda?
Ontem, Adam Connor divulgou um comunicado dizendo que não
tinha nada contra a mãe do seu filho, mas, para garantir a segurança do
menino Aiden Connor, à luz de eventos recentes, Adam estava
reunindo documentos para solicitar a guarda exclusiva. O único
comentário relacionado aos paparazzi na declaração foi feito em uma
única frase: “Compreensivelmente, Aiden ainda está desconfortável
com o que aconteceu, mas ele está melhorando”.
O pai mais cobiçado de Hollywood também apontou que não estava
tentando romper o relacionamento entre mãe e filho, que garante a
Adeline Young os direitos de visita. Ainda por cima, apesar de Adam
Connor enfatizar que não estava fazendo isso para machucar Adeline e
que estava pensando no que seu filho precisa neste momento de sua
vida, achamos que Adeline ficará muito chateada quando receber a
ligação de seu advogado.
O que vocês pensam sobre isso? Depois que Adeline foi massacrada
pelos meios de comunicação e pelos fãs fervorosos de Connor devido à
maneira como ela lidou com tudo após o incidente, estamos pensando
que esse pode não ter sido o primeiro confronto com Adam sobre a
forma como ela vem cuidando do filho ― ou não cuidando, nesse caso.
Você acha que ela vai lutar contra isso?
Se você fosse fã do casal e estivesse torcendo para que eles
voltassem a ficar juntos… diríamos que é hora de dizer adeus a esses
sonhos. Quando tentamos entrar em contato com os representantes de
Adeline para comentar a declaração de Adam, não recebemos
resposta. Sem dúvida, eles publicarão uma declaração por conta
quando tiverem tempo suficiente para organizar o assunto, então
manteremos todos informados a respeito de futuras atualizações.
Vamos deixar você com a melhor parte da declaração de Adam.
“Meu filho significa tudo para mim. Eu tenho que saber que ele está
seguro. Tenho que ter certeza de que ele não está se preocupando com
coisas em que nem deveria pensar nem saber na idade dele, como
temer que um homem com uma câmera saia de trás de arbustos
quando ele estiver brincando no próprio quintal. A única maneira de
fazer isso é se ele estiver sob meus cuidados e eu souber onde ele está
e com quem ele está o tempo todo. Mais uma vez, digo que não tenho
nada contra Adeline. Nós ainda conversamos, ainda passamos tempo
juntos, e eu desejo a ela somente o melhor. Isso não tem a ver com nós
dois. Tem a ver com o que é melhor para Aiden. Embora eu entenda
que isso pode ser uma notícia de primeira página para algumas
pessoas, peço que respeitem nossa privacidade daqui para a frente.
Por favor, não façam isso parecer algo que não é. Não se trata de
Adam Connor brigando com Adeline Young. Trata-se de um pai que luta
pelo que é melhor para o filho.”
Às vezes, leva anos para que sua vida mude. Em alguns casos, uma
vida. Você acorda certa manhã, olha em volta e de repente percebe que
tudo mudou. As pessoas que você pensou que eram seus amigos,
entes queridos… eles se foram há muito tempo. Sua vida não é a
mesma. O tempo passou e você nem percebeu nada.
No entanto, às vezes… às vezes, pode mudar bem na frente dos
seus olhos.
Só é preciso um piscar de olhos.
Em um momento, você acha que pode lidar com qualquer coisa que
a vida apresentar a você… e no seguinte… bem, para falar de um jeito
bonitinho… você está ferrado.
Enquanto eu estava sentada sozinha no quintal da Olive, esses eram
os pensamentos que tomavam minha mente. Que eu estava ferrada.
Que eu tinha ferrado com tudo.
De verdade.
Deixei Olive e Jason dentro de casa depois de lhes contar as notícias
e saí porque “a noite estava linda e eu tinha que observar as estrelas”…
o que na realidade significava que eu precisava tomar um ar fresco e
fazer o melhor que pudesse para garantir a mim mesma que tudo ficaria
bem e que eu deveria apenas respirar. Quando Olive se levantou para
se juntar a mim, pelo canto do olho, vi Jason segurando a mão dela
com delicadeza e balançando a cabeça.
Não achei que ele fosse capaz de mantê-la ali dentro por muito
tempo, mas valorizava o fato de ele estar tentando, de qualquer forma.
Tendo respirado com sucesso por pelo menos alguns minutos sem
ter um ataque cardíaco repentino, olhei para trás para ver se Olive e
Jason ainda estavam de pé.
Eles estavam. E estavam dançando.
Sem música.
Ainda não sei o que naquela cena atingiu meu coração com tanta
força, mas me lembro da forte dor que senti no peito.
Não me interpretem mal, não era ciúme. Eu não queria nada além de
felicidade para eles, mas talvez fosse a primeira vez que eu tivesse
desejado que alguém me abraçasse, me olhasse como Jason estava
olhando para Olive. Os dedos dele estavam brincando com o cabelo
dela enquanto a cabeça de Olive descansava em seu peito. Olhos
fechados.
Não havia música.
Nada além dos dois no mundo.
Então, por um breve momento, eu quis o mesmo para mim.
A sensação de segurança de que havia alguém ali para segurá-lo
quando a gravidade fosse demais para aguentar por conta própria, que
havia alguém em quem confiar o suficiente para se soltar.
Só por um momento, eu queria que alguém me segurasse e me
dissesse que tudo ficaria bem, que meus medos eram desnecessários.
Quando ouvi música vindo de perto, hesitei apenas por um momento
antes de me levantar do chão e subir cuidadosamente o muro que
ficava entre mim e Adam Connor.
Ao seguir o caminho de pedra, parei de me mover quando o vi em pé
na frente das portas de vidro me observando. Era uma versão
ligeiramente diferente do Adam Connor que eu tinha visto naquela
primeira noite com Olive: camisa de botões, mangas arregaçadas, calça
preta… a única diferença era que ele não parecia estar tentando
entender alguma coisa. O oposto, na verdade. Enquanto nos
encarávamos, parecia que ele tinha entendido tudo.
Ele era tudo o que uma garota poderia querer.
Sem falar que ele era o papai mais gostoso.
Sentindo um calafrio repentino nos ossos, envolvi meus braços com
as mãos e continuei caminhando em direção a ele.
Ele não desviou o olhar do meu quando abriu a porta para mim.
Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, dei um passo à frente,
me inclinei e o beijei. Não foi um beijo do tipo “eu quero trepar com
você loucamente”, mesmo que não me importasse em fazer
exatamente isso. Foi um… tipo diferente. Um tipo que eu não queria
citar.
Ah, inferno. Bem. Foi um beijo doce. O tipo de beijo que eu evitava.
Ele não me parou. Ficou lá, seus lábios se movendo muito
suavemente contra os meus quando fiz o meu melhor para acalmar
meu coração aos berros.
Quando o braço dele tocou minha cintura com delicadeza, para me
afastar ou me puxar ― eu não poderia arriscar ―, me afastei dos seus
lábios e comecei a ouvir a música novamente.
— Lucy… — Adam murmurou, seu hálito quente contra os meus
lábios molhados.
— Eu não conheço essa música — murmurei de volta e finalmente
olhei em seus olhos. — Eu sei que é George Michael, mas não a
conheço.
Ele ficou em silêncio por um momento enquanto procurava algo nos
meus olhos.
— Se chama Jesus to A Child — disse ele após um silêncio
constrangedor.
Assenti, mas não disse mais nada.
— Você veio perguntar sobre a música?
— Eu nunca ouvi. É uma música linda.
— É velha e é uma música linda.
Aqueles olhos verdes vívidos que estavam me olhando com muita
intensidade também eram gentis. Ele podia ver o que eu precisava
mesmo que não tivesse mais ideia do que precisava? Forcei um
sorriso, tentando não demonstrar o quanto eu estava tremendo por
dentro, parada na frente dele.
Você não deveria ter escalado o muro para chegar até ele, meu
cérebro gritou. Você não deveria ter ouvido o tolo do seu coração.
— Você gosta de dançar? — perguntei, ignorando o bom senso.
— Não.
— Ah — eu disse, surpresa. — Tudo bem.
— Pode perguntar assim mesmo — ele respondeu.
Eu hesitei.
— Quer dançar comigo?
— Quero.
Ele pegou minha mão na dele, quente e grande, e me puxou para
dentro. Assim que fechou a porta e virou-se para mim, fui até ele,
coloquei minha mão em seu coração e descansei a cabeça ao lado. O
corpo dele congelou por um momento, mas então ele envolveu minha
cintura com um dos braços e puxou meu corpo para mais perto do dele.
Soltei a respiração que estava segurando e algo aliviou meu
coração.
Algo foi aliviado no meu coração idiota, devo dizer.
Ele não me perguntou o que estava acontecendo, embora eu
soubesse que ele acabaria fazendo isso. Ele só prendeu meu cabelo
atrás da orelha com delicadeza e descansou o queixo no topo da minha
cabeça.
Meu maldito coração idiota estremeceu.
Então ele levantou a mão esquerda e puxou minha mão para longe
do seu coração. Isso foi um pouco decepcionante, mas eu sabia que
estava levando as coisas longe demais.
Quando abaixei minha mão, ele a pegou no meio do caminho e
começou a entrelaçar nossos dedos. Meus olhos se abriram, e eu vi
seu polegar acariciar levemente a pele sensível entre o polegar e o
indicador enquanto meus dedos se encaixavam perfeitamente entre os
dele.
Segurei sua mão e assim me mantive.
Sem tirar minha cabeça do seu peito, olhei para ele através dos
meus cílios, e vi que ele olhava para as nossas mãos. Ele parecia… ele
estava diferente. Pensativo. Preocupado? Então ele piscou e de novo
segurou minha mão em seu peito, sua mão cobrindo a minha.
Que ousado… eu sei.
Era eu quem estava tentando seduzi-lo para fazer com que perdesse
o controle; ele não tinha o direito, direito nenhum, de tentar seduzir meu
coração.
Mas… eu o deixei segurar minha mão de qualquer maneira. Foi
confortável.
Ficar assim com ele era confortável. Ouvir seu batimento cardíaco
constante. Seu calor contra o meu corpo.
A mão espalmada nas minhas costas era tão reconfortante quanto a
mão dele segurando a minha. Isso me ligava ao mundo.
Ou talvez apenas a ele.
Foi tudo bem tranquilo para o meu coração.
E foi tudo muito assustador.
Ainda assim, eu permiti. Não me julgue. Se você fosse eu, teria
derretido; pelo menos eu ainda estava de pé. Eu ganho, você perde.
Então o deixei segurar meu coração nas mãos. Foi apenas por um
momento, de qualquer maneira.
De repente, a música terminou e o silêncio que preencheu a sala
ficou mais alto que George Michael. Durou apenas alguns segundos
quando a mesma música começou de novo.
Mas… por alguns segundos, Adam nos manteve em um movimento
suave e eu realizei meu desejo. Eu havia dançado sem música. Mesmo
que fosse por um momento fugaz, eu tivera o que Olive e Jason tinham.
E isso deveria ter me assustado demais… mas não assustou.
Por acaso já mencionei que meu coração era bem idiota?
Fechei os olhos novamente e deixei Adam ditar nossos movimentos
enquanto eu absorvia as palavras dolorosas. Mas não eram só as
palavras. Dava para perceber que ele estava sofrendo também ― o
George Michael, eu quero dizer.
Ele estava sofrendo pelo amor que havia perdido, e eu estava
perdida procurando o amor que sabia que nunca poderia ter.
— É verdade? O que ele está dizendo? — perguntei com a voz
baixa.
— Qual parte?
— O amor realmente traz felicidade?
— Você pode me dizer. Teve um namorado.
— E você teve uma esposa. Com Jameson… eu o amava… mas não
era assim. Eu nunca tive isso.
— Como assim?
— Ele era… nós éramos… éramos ótimos na cama, eu vou te
confessar, mas fora isso… eu não sei, nunca confiei nele como Olive
confia no Jason. Ele era mulherengo. Ele dizia que era brincadeira, mas
ainda assim doía ver que ele não tratava outras pessoas tão diferente
assim de como me tratava. Quando eu pego Jason olhando para Olive,
mesmo quando ela está fazendo algo comum como beber água ou
fazendo umas coisas de gente louca, eu vejo que ele esboça um
sorriso. Se eu estiver me sentindo muito piegas e prestar atenção,
consigo ver o amor dele por ela. Novamente, piegas, eu sei, mas
parece bonito entre eles. O amor cai bem para eles. Parece certo.
Antes de eu vir para cá… — Hesitei, sem saber se deveria compartilhar
ou não. — Eles estavam dançando sem música. No meio da sala de
estar, eles dançavam sem música.
— Ah — ele murmurou, sua mão se movendo alguns centímetros
para cima e para baixo nas minhas costas: uma suave acariciar que eu
não estava esperando. — Foi daí que veio o convite para a dança.
— Não — neguei rapidamente… um pouco rápido demais, talvez. —
Não. Eu não estava com inveja deles nem nada assim — repeti. — A
música. Eu gostei da música. Eu vim por causa da… música.
— Eu também gosto da música, Lucy — ele murmurou tão baixinho
que quase não entendi.
Estávamos conversando sobre a música? Não parecia que ele
estava falando sobre a música.
Ele não continuou, então fechei os olhos e me concentrei na maldita
música e na letra novamente. Eu tinha gostado da música. Caramba,
acho que eu tinha amado a música. Porém, não gostava de Adam
Connor. Ele não era o motivo de eu estar ali. Eu certamente não estava
me apaixonando por ele nem nada estúpido assim. Independentemente
do que meu coração dissesse, independentemente de como meu corpo
se iluminava toda vez que sua pele encostava na minha. Eu não estava
me apaixonando.
Talvez.
— Relaxe, Lucy — Adam murmurou, e notei que tínhamos parado de
nos mover. Respirei fundo e soltei todo o ar.
A música terminou e começou de novo.
Era uma música muito boa.
Alguns minutos depois do início da música… ou talvez apenas
alguns segundos depois, respirei fundo. Nos braços de Adam, sentindo-
me desapegada, mas conectada a algo cujo nome eu não sabia, eu
tinha perdido a noção do tempo, do mundo e da situação em que me
meti. De repente, Adam soltou meu braço e pensei em segurar sua
mão, para mantê-la ali por mais alguns segundos, apenas até a música
terminar, só até… mas eu não queria ser aquela garota que pedia algo
que sabia que não iria receber.
Saia dessa, Lucy!
As pontas dos seus dedos tocaram meu queixo e ele inclinou minha
cabeça para trás e para longe do seu peito.
Olhei profundamente em seus olhos verdes e descobri que não
queria desviar o olhar. Eu não queria interromper o que ele estava
fazendo no meu coração.
Bruxaria talvez?
Seus lábios se entreabriram quando suas sobrancelhas franziram.
Era raiva o que vi nos olhos dele?
— Por que você está chorando? — ele perguntou com uma voz dura.
— O que aconteceu?
Eu fiz uma careta para ele e toquei meu rosto. Quando olhei para
baixo, pude ver umidade nos meus dedos. Eu estava chorando?
Quando? Como?
— Eu… — comecei, mas não consegui encontrar as palavras, não
sabia como terminar o pensamento enquanto as lágrimas continuavam
a descer. Devia ser o que chamavam de hormônios. Eu já não gostava.
— Lucy…
Ele inclinou minha cabeça novamente e seu polegar enxugou minhas
lágrimas.
As lágrimas não pararam de rolar. Ele pressionou a mão nas minhas
costas, e eu me entreguei um pouco mais; senti que me deixava levar
um pouco mais. Apesar de ter o corpo firme dele pressionado contra o
meu, sua mão me segurava no lugar, e eu podia sentir meu corpo
tremer, a desesperança do dia finalmente me alcançando.
Apoiei as mãos no peito dele e tentei afastá-lo, mas era como tentar
afastar um leão que não queria se mexer. Ele, de alguma forma,
conseguiu me puxar para mais perto, e eu deixei.
— Lucy — ele disse, sua voz grave. — Me diga o que está
acontecendo.
Nós olhamos nos olhos um do outro por muito tempo.
— Estou grávida — admiti com a voz embargada. Adam me soltou.
Foi o pior momento da minha vida. Não que estar grávida fosse algo
ruim, porque para alguém, alguém que queria ter um bebê, uma pessoa
que estava ansiosa para ter um bebê… era tudo. Para mim… estar
grávida foi a confirmação que eu nunca quis receber.
Eu realmente era amaldiçoada.
— Eu fiz — falei, enrolando meus braços em volta da barriga. — Eu
sou igual a elas. Eu serei como elas. Amarga. Infeliz. Com raiva. —
Levantei os olhos para encontrar os dele. — Não do bebê. Nunca do
bebê. Eu sempre vou sentir raiva de mim mesma, e vou acabar ficando
com raiva do mundo. Eu nunca deveria ter dito “eu te amo” para o
Jameson. Ele era um mulherengo, mas eu ainda assim disse que o
amava. Eu sabia que aquilo nunca daria certo, mas eu ainda assim
disse essas palavras idiotas. E agora estou sendo punida. Eu deveria…
eu não deveria…
Por que diabos eu ainda estava chorando?
— Não estou chorando porque estou triste — tentei explicar, minha
voz mais alta. Eu era uma vergonha de mulher. — Estou com raiva. São
lágrimas idiotas de raiva. Ou lágrimas provocadas pelos hormônios, eu
não sei! Eu não quero chorar!
Então, seus lábios grudaram nos meus e minhas palavras se
perderam entre nós com meu suspiro. Seus dedos se enroscaram no
meu cabelo quando eu me levantei na ponta dos pés para envolver seu
pescoço com os braços e puxá-lo para baixo ao meu encontro. Aquele
não foi um beijo doce nem preguiçoso. Foi cheio de vida, cheio de dor,
prazer, ódio, raiva, até um pouco de esperança e amor.
Respirei fundo pelo nariz.
Merda! O cheiro. O cheiro da pele dele.
Não respire, Lucy. Não respire. Ele é tóxico. Não faça isso.
Que diabos! Eu gemi e respirei seu perfume. Seus dedos se
apertaram no meu cabelo, e deixei sua língua envolver a minha,
lambendo, chupando, puxando, empurrando enquanto ele inclinava a
cabeça em todos os ângulos possíveis.
Eu estava entregue.
Aquele era o meu fim.
Com um gemido gutural, ele inclinou minha cabeça com as mãos e
foi mais fundo, tirou mais de mim. Eu agarrei seu colarinho, arranhei
seu pescoço, enfiei meus dedos em seus cabelos, puxando-os. Com
força. O sibilo de dor que ele sussurrou na minha boca foi mais do que
satisfatório de ouvir, de sentir pelo meu corpo.
Ele inclinou a cabeça para o outro lado e me beijou sem parar. Seu
corpo estava se elevando sobre mim, me forçando a dar alguns passos
para trás. Foi perfeito. Acho que foi o melhor momento da minha vida.
No mínimo, um dos cinco primeiros.
Droga, foi o único beijo que realmente mereceu ser chamado de
beijo. A maneira como sua mão se moveu, seus dedos entrando no
meu cabelo, a palma da sua mão apoiando minha nuca com delicadeza
e pressão perfeitas, me segurando exatamente onde ele me queria…
eu quase ouvindo seus batimentos cardíacos acelerados… eu puxando
seus cabelos, arranhando seu pescoço para aproximá-lo para que eu
pudesse me afogar nele…
O jeito como meu corpo inteiro estava implorando por ele, tremendo
ao sentir sua pele quente na minha, cada um dos nossos movimentos
bruscos e frenéticos.
Foi uma confusão linda.
Foi uma confusão perfeita.
Meu coração… meu próprio batimento cardíaco frenético abafando
todos os outros ruídos, menos ele.
Tudo, menos ele, era apenas ruído branco.
Minha nossa!
Com meu corpo queimando mais e tremendo mais forte em seus
braços, soltei um protesto silencioso quando ele tirou seus lábios dos
meus. Com os olhos ainda fechados, inclinei-me para tomá-los de volta,
mas as palavras sussurradas dele me forçaram a voltar à Terra.
— Pare, Lucy. Pare.
Ele não estava querendo tanto quanto eu? Ele não me queria?
Eu o queria. Eu o desejava dentro de mim.
Ah, meu Deus, eu queria ter o pau dele dentro de mim. Eu queria
que ele nunca parasse de me beijar. Eu não queria que aquela conexão
que eu acabara de sentir se desfizesse. Aquele calor. Aquele tremor
que ele me causava. Aquela adrenalina que eu sentia quando os lábios
dele faziam meu mundo parar.
— Olhe para mim — ele sussurrou em voz baixa, e eu tive que forçar
meus olhos a se abrirem para que eu pudesse realmente vê-lo.
Deus, ele era tão lindo. Aqueles malditos olhos dele estavam me
matando. Eu nunca olharia para aquele tom de verde da mesma
maneira novamente. Ainda sem fôlego e inquieta, soltei o cabelo dele e
descansei minhas mãos sobre seus ombros. Meu Deus, olhando para
os cabelos dele, parecia que ele tinha acabado de ter a melhor foda da
sua vida. Eu vivia para beijos como aqueles; os que nos davam a
sensação de termos transado loucamente sem nem ter ocorrido uma
penetração.
— Esse foi… caramba, foi um bom beijo, Adam Connor. — Pigarreei
e dei um tapinha em seu ombro. — Você está aprendendo. Fico feliz
em ajudar.
— Foi a única maneira de fazer com que você parasse de chorar e
de dizer besteiras.
Parei de respirar e meu corpo ficou rígido em seus braços.
— O quê? Você me beijou para eu poder parar de chorar? Seu… seu
idiota! — Eu me afastei dele, mas ele pegou meu pulso no ar e me
puxou contra seu peito.
— Me solta — eu disse entre dentes.
— Cale a boca — respondeu ele com voz rouca, seus dedos se
soltando ao redor do meu pulso. — Por favor, cale a boca por um
segundo.
Não me mexi.
— Como? — ele perguntou depois de quase um minuto inteiro que
passamos um olhando nos olhos do outro, respirando um ao outro. —
Lucy, como você está grávida?
Ah, pronto…
Eu fiz o meu melhor para controlar minha respiração e afastei os
cabelos do rosto com a mão livre. Era perturbador ter toda a atenção
dele em mim, aqueles olhos derrubando tão rapidamente os muros
fortes que eu havia construído. Eu também conseguia sentir o cheiro da
sua maldita colônia, o que causou efeitos na minha pobre boceta
carente… e talvez no meu coração.
— Quando um pênis entra na vagina e depois…
Com os olhos ainda abertos, ele inclinou seus lábios sobre os meus
e me beijou até meus ombros relaxarem, e eu derreti em seus braços
novamente. Então ele me soltou.
Quantas vezes eu já te disse que ele era um cretino?
— Por um segundo, seja sincera comigo, Lucy. Seja você mesma e
me diga o que está acontecendo.
— O que você acha que estou fazendo?
Ele começou a baixar a cabeça novamente.
— Está bem. Pare. Chega, já basta. Já basta. Me conte o que está
acontecendo e seja direta. Você me disse que Callum não tinha…
Callum? Jake Callum? Do que diabos ele estava falando?
— Jake Callum? O que ele tem a ver com isso?
Ele visivelmente relaxou na frente dos meus olhos.
— Então não é ele?
— Eu não tenho ideia do que você está falando. — Eu balancei a
cabeça. — O bebê é… — Toquei minha barriga novamente, olhando
para ele como se pudesse realmente ver a vida crescendo dentro de
mim. — Do Jameson. Meu ex.
— Você tem certeza? Tem certeza de que está grávida, então? Você
foi a um médico?
— Fiz um teste de gravidez hoje. Essas coisas são bem precisas,
pelo que ouvi.
Agora era ele quem balançava a cabeça.
— Você tem que ir ao médico. Já contou a ele? Ao seu ex?
— Ainda não. E eu sei. Claro que tenho que ir a um médico, mas
minha menstruação não veio e eu estava me sentindo meio mal
ultimamente, então fiz o teste e… — Abri os braços. — Tcharam… um
bebê. — Minha garganta estava seca, e não demonstrei alegria. — A
maçã não cai longe da árvore, né? E você tirou sarro de mim quando
disse que minha família era amaldiçoada. — Eu ri depressa, mas parei
com a mesma rapidez. — Quem vai rir agora?
Ele não riu. Nem deu um sorriso. Eu estava perdendo minha
vantagem.
Respirei fundo e me afastei dele. Baixando a cabeça nas mãos, eu
massageei as têmporas.
Por que eu estava ali de novo? Ah! Sim. Eu pensei que pudesse
seduzir Adam Connor porque ele me devia isso depois de me provocar
na noite anterior.
Bom trabalho, Lucy. Trabalho incrível…
— Você vai ligar pra ele… seu ex? Ele vai voltar para cá? — A voz
de Adam era suave, como se ele estivesse falando com um cavalo
arisco.
Olhei para ele e suspirei.
— Descobri hoje, algumas horas atrás. Eu realmente não pensei no
que vou querer fazer.
As sobrancelhas dele se ergueram.
— Você não vai contar a ele.
Aquilo era uma pergunta?
Eu me alterei e resmunguei: — O que você pensa de mim? — Olhei
para trás para ter certeza de que o sofá estava lá e sentei antes que
minhas pernas decidissem que era hora de brincar de donzela em
perigo. — Isso não é um livro nem um filme. Não há história romântica
aqui, nem reviravolta, nem final feliz. Eu não vou esconder a gravidez e
depois voltar à vida dele quando não aguentar a culpa e dizer
“surpresa” quando a criança já tiver alguns anos. Claro que vou ligar;
ele não vai sair disso facilmente, e é melhor ele me ajudar.
Senti o sofá afundar quando Adam sentou-se ao meu lado, nossos
braços se tocando. Ele tinha que se sentar tão perto? Sério?
E eu ainda estava interessada em seduzi-lo?
Depois daquele beijo? Inferno. Sim, eu estava.
— Decidi que você vai fazer amor comigo — anunciei, olhando para
a frente.
— Como é?
— Você me ouviu.
— Não, acho que não. Pode repetir?
— Você vai fazer amor comigo.
— Isso é uma ordem?
— Não, apenas um… fato. Você foi casado, então deve saber como
fazer amor. E se não souber, você é um bom ator. Atue.
— E você não sabe?
— Como você pode imaginar, eu sei trepar, foder e todas essas
coisas. Eu… — Virei a cabeça e olhei para ele. — Acho que nunca fiz
amor com ninguém.
— Seu ex? — ele perguntou, seus olhos incrédulos em mim. — Eu
pensei que você tivesse dito que o amava.
— Eu pensei que o amasse. Quero dizer, eu amei. Mas ele tinha uma
coisa gigante entre as pernas e, como eu já te disse, eu tenho uma
queda por isso, pois gosto de boas fodas. — Dei de ombros e desviei o
olhar. Meu rosto estava corado e ardendo?
O que é isso, Lucy?
— E como você acha que fazer amor funciona, exatamente?
Olhei para ele rapidamente e vi que seus lábios estavam tremendo.
Eu sabia lidar com a diversão. Eu virei o corpo, puxei minha perna para
cima no sofá e o encarei.
— Acredito que haja muita troca de olhares. Uma penetração lenta.
Uma arfada e um gemido aqui e ali. Vamos pular os sussurros e os “eu
te amo”, é claro. Fora isso, acredito que seja uma coisa lenta. Talvez
um orgasmo? Se der para acontecer, mas sem pressão, é claro. Só
porque seu beijo melhorou, eu não vou achar…
— E por que você quer que eu faça amor com você? Você não acha
que eu posso te foder?
— Não sei. Tenho certeza de que você tem as suas jogadas, mas
quero que faça amor comigo porque eu imagino que, por ser ator e tudo
mais, você possa ter um bom desempenho, para eu poder ter isso pelo
menos uma vez na vida.
Ele inclinou a cabeça, parecendo todo confuso e sexy.
— Uma vez na vida?
— A maldição — expliquei. — Vou ter um bebê. Eu fiz exatamente o
que minha mãe fez. Nunca mais vou dizer “eu te amo” para mais
ninguém; portanto, provavelmente não vou fazer amor com ninguém…
Seus olhos percorreram meu rosto, e ele balançou a cabeça como se
eu estivesse sendo ridícula e ele não soubesse o que fazer comigo.
— Lucy… eu…
Prendi a respiração e esperei suas palavras. No mínimo, eu queria
seus lábios nos meus novamente. Eu me contentaria com isso também,
se esse pedido não desse certo.
Ele tocou meu rosto com as costas da mão, depois tocou meus
lábios ainda inchados com as pontas dos dedos.
— Você se lembra do que eu te perguntei ontem à noite? Nada
mudou. Admita que você gosta de mim e eu vou te mostrar como fazer
amor.
— Estou reduzida a barganhar por um “talvez” orgasmo.
— Eu não acho que estou pedindo muito, você acha?
— Ok. Vou te dar trinta e dois.
— E isso significa…?
— De cem, vou te dar trinta e dois. É o quanto eu gosto de você.
Ele pareceu pensar nisso por alguns instantes e depois sorriu para
mim.
— Eu posso viver com isso. Você tem quarenta e nove comigo.
Aturdida, arregalei os olhos e, sem nem mesmo perceber o que
estava fazendo, fugi dele.
— Não.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Não?
Com o coração batendo forte no peito, eu disse: — Cinquenta é
como se aproximar do amor. Afaste-se. Me dê trinta e cinco ou algo
assim. — As pontas dos dedos dele me tocaram de novo, e eu me
afastei o máximo que pude. — Afaste-se.
Não poderíamos falar de amor; eu não cairia nessa de novo, como
tinha feito com Jameson.
Depois de me observar pelo que pareceu uma hora, ele se levantou
e se inclinou para encostar os lábios na minha orelha.
— Eu sempre vou ser honesto com você, Lucy. Meu filho está
apaixonado por você. Quem sabe, talvez eu esteja me apaixonando
também? É muito difícil acreditar que gosto do que vejo quando olho
para você? Que eu gosto de conversar com você, discutir com você,
ver você rir com meu filho, ver você sorrir? Talvez, depois de fazer amor
com você, eu me apaixone um pouco mais. Então, acho que quarenta e
nove é um bom número. Me pergunte novamente amanhã. Vou te
contar como você se saiu.
Eu me inclinei, minhas costas se arqueando contra o braço do sofá.
Ele estava se tornando perigoso. Sua boca, seus olhos, seu corpo…
tudo nele estava ficando muito perigoso para eu ficar perto. Bastaria
impedir que ele me penetrasse? Bem, na verdade, não. Ainda não.
Como eu disse antes, de uma vez por todas, eu estava pronta para
fazer amor, e minha vagina parecia tê-lo escolhido como vítima. Eu
estava conformada com essa escolha.
— Sem resposta? Nenhuma objeção?
Dei de ombros e tentei relaxar no sofá.
— Eu não acredito em você, então está tudo bem. Você é livre para
dizer o que quiser dizer. Não sou alguém que se apaixona por palavras
bonitinhas.
Seus olhos cravaram nos meus e eu engoli o nó na minha garganta.
Mesmo não acreditando nele, não significava que aquilo não estava me
afetando.
Ele se endireitou e ajeitou os punhos da camisa, atraindo meus olhos
para suas mãos.
— Fique exatamente onde está — ele ordenou e começou a se
afastar.
Por um breve segundo, a névoa no meu cérebro se dispersou o
suficiente para eu me lembrar de Aiden. Erguendo-me do sofá, eu
disse: — Onde está Aiden?
Adam parou indo em direção ao corredor.
— Vamos partir para Paris amanhã, Dan, Aiden e eu. Ele está
passando a noite na casa do melhor amigo. — Ele fez uma pausa, seus
lábios se abrindo em um inesperado sorriso. — Um dos melhores
amigos dele. Ele está em uma festa do pijama, Lucy. Você é toda
minha.
— Ele está com Henry? O filho daquela atriz britânica?
— Você sabe o nome do melhor amigo dele?
— Claro que eu sei o nome do menino.
— Não fique tão surpresa, Lucy. Nem todo mundo se importa com
essas coisas.
Com isso, ele foi embora.
O que significava? E quanto a fazer amor?
— E o sexo? — gritei atrás dele, já que não havia mais ninguém
além de nós em casa. Jogando-me no sofá, levantei as pernas, deitei a
cabeça no braço do sofá e murmurei para mim mesma: — Não vamos
fazer amor?
Hesitante, levantei minha mão e a coloquei sobre a barriga. Por que
não me sentia diferente? Eu não deveria me sentir diferente? Fechando
os olhos, respirei fundo e fiquei quieta.
Antes que eu pudesse deixar meus pensamentos me levarem a um
lugar aonde eu não queria ir, ouvi os passos de Adam. Um segundo
depois, as pontas dos dedos dele deslizaram sobre meus lábios e eu
abri a boca.
Abri os olhos e o vi em pé na minha frente. Ele era igualmente
gostoso quando estava de cabeça para baixo.
— Vamos fazer ou não? — perguntei, mantendo o tom neutro. Meus
olhos perceberam que sua camisa não estava mais enfiada na calça, e
eu quase, quase me contorci no sofá. Eu estava prestes a fazer sexo
com Adam Connor. Não podia mostrar a ele que estava louca para tirar
a roupa. — E se não, eu tenho um…
— Sempre romântica — ele murmurou, quase para si mesmo.
Quando o vi baixando a cabeça, fechei a boca e deixei que ele me
beijasse de cabeça para baixo. Por mais que eu adorasse aquela cena
no Homem-Aranha, era estranho ser beijada de cabeça para baixo.
Nossos dentes bateram, ele mordeu meu lábio inferior e deslizou a
língua para dentro da minha boca, e o jeito como ele estava me
beijando me deixou louca. Quando ele estava prestes a se afastar, eu
gemi baixinho, coloquei as mãos em suas bochechas e arqueei as
costas.
Só um pouco mais.
Surpreendentemente, ele não parou o beijo, mas diminuiu a
velocidade. Imaginei que estávamos entrando na parte de fazer amor.
Agradável e fácil era praticamente o slogan para isso, não era? Eu senti
a mão dele na minha barriga e meus olhos se abriram. Ele deve ter
percebido, ou meu corpo deixou evidente que eu fiquei surpresa por
sentir suas mãos em mim, porque seus lábios pararam de se mover e
ele se afastou para encontrar meus olhos. Sem fôlego, eu esperei para
ver o que ele ia fazer.
A mão dele deslizou para mais longe. Intrigada, ergui uma
sobrancelha para ele e olhei para baixo, vendo sua mão grande e
bonita. E aquele antebraço… estava bem na minha frente, implorando
para ser acariciado.
Droga!
Por que você gosta de antebraços, Lucy?
Graças à maneira como eu estava deitada no sofá, tive uma visão
perfeita da mão dele. Agarrei a almofada que estava embaixo do meu
corpo e observei as pontas dos dedos dele levantarem minha camisa e
irem direto para dentro da minha calça.
Aquele… aquele território era o que eu conhecia.
Eu me contorci e senti a respiração de Adam bem perto do meu
ouvido. Então sua mão tocou minha boceta, e ele enfiou dois dedos
grossos dentro de mim sem nem hesitar.
— Tão molhada e pronta pra mim, Lucy — ele murmurou, sua língua
saindo e deixando um rastro molhado no meu pescoço.
Soltei um gemido suave enquanto arqueava o pescoço. Quase
tremendo de emoção, eu remexi os quadris, conseguindo fazer com
que aqueles dedos hábeis me penetrassem mais fundo.
— Você está encharcada, Lucy. Meu pau vai deslizar direto dentro de
você.
— É exatamente isso que eu quero — falei com tesão.
Ele puxou os dedos e soltei as almofadas para agarrar seu braço.
Ele parou sobre mim, e eu esperei para ver o que ele faria. Claro, eu
queria o pau dele, mas, se por acaso ele não conseguisse me fazer
gozar, eu queria que seus dedos fizessem o trabalho. Ele começou a
me acariciar. No início, suavemente, quase sem me tocar, seus dedos
escorregadios ao redor do meu clitóris. Então, ele mergulhou os dedos
dentro de mim, realizando alguns movimentos profundos enquanto eu
praticamente abraçava seu braço como um coala.
Então ele os tirou e repetiu a tortura.
— Você está brincando comigo — disse eu, ofegante quando ele
retirou os dedos pela quinta vez. — Eu não gosto disso.
Senti seus dentes no meu pescoço, no lóbulo da orelha.
— Ah, é? Pensei que você quisesse que eu brincasse com você. —
Outro toque ao redor do meu clitóris e depois três dedos me
penetraram.
Eu gemi e deixei minhas pernas se abrirem.
— A tortura faz parte de fazer amor? Então me faça gozar ou vamos
pular para a parte boa.
— Você não pode criar todas as regras, Lucy. Ou fazemos isso do
meu jeito ou não fazemos nada.
— E você diz isso depois de me deixar assim?
— Você escolhe.
Ele era doido; era a única explicação, e era por isso que eu não
gostava dele. Eu o queria, no entanto, e parecia que eu o queria mais
do que jamais desejei algo na minha vida. Droga, até minha vagina
havia se preparado como se fosse transar com Henry Cavill.
— Tudo bem. — Suspirei e gemi alto quando ele pressionou meu
clitóris e fez meus olhos revirarem.
Aquele braço incrivelmente sexy? Ainda estava nas minhas mãos, e
eu o estava acariciando para cima e para baixo, tentando excitá-lo tanto
quanto ele estava me excitando, passando meus dedos suavemente
nos pelos dele, agarrando-o quando ele me levou ao limite.
— Por favor, me faça gozar — implorei, mais do que maluca de
vontade de sentir a liberação quente e pesada que estava bem na
ponta dos dedos dele.
Apesar de todas as minhas objeções, ele tirou os dedos de mim e
passou minha umidade pela barriga, subindo minha blusa até parar
embaixo dos meus peitos. Então ele puxou o braço para longe do meu
corpo e ficou do meu lado.
Meus olhos seguiram todos os seus movimentos, e eu fiz o melhor
que pude para não olhar para o pau dele.
Sem palavras, ele me puxou do sofá e tirou minha camisa. Meu
coração batendo loucamente, eu deixei que ele me despisse por
completo. Quando eu estava totalmente nua, seu olhar se moveu sobre
mim e todo o meu corpo tremia por dentro só de ver a expressão dele.
— Você tem um minuto.
Sem esperar outra oferta, dei os dois passos que nos separavam e
comecei a desabotoar sua camisa. Era exatamente o que eu queria
fazer quando o espionei pela primeira vez.
Ele levantou os braços para mim e eu tirei as peças, camada por
camada. Um calafrio percorreu minha espinha.
Tão irritantemente bonito. Faminto. Forte.
Então passei as mãos sobre seu peito largo e os ombros fortes.
— Você deveria se exercitar mais. Ainda não chegou lá — falei,
esboçando um sorriso. Ele não precisava malhar mais. Ele era perfeito
do jeito que era, e era irritante como o inferno.
— Cada palavra da sua boca… — Ele balançou a cabeça.
Ele estendeu a mão e torceu meu mamilo como resposta, me
fazendo gemer. Quando aqueles lábios incríveis foram para o meu
pescoço, chupando e mordendo enquanto ele brincava com meus
peitos, eu finalmente fui para a calça dele e abri o botão. Minhas mãos
já estavam tremendo, muito animadas com o que eu encontraria lá.
Desci a ponta do dedo pelo zíper e senti algo duro. Mas só tive esse
tempo para sentir porque ele me levantou e me jogou no sofá.
— O tempo acabou — disse ele com os dentes cerrados.
Nem pensei em fazer beicinho; estava mais interessada em colocá-lo
dentro de mim.
Fiz questão de fechar os olhos e não olhar para seu corpo enquanto
ele tirava a calça e subia no sofá. Suas mãos grandes abriram minhas
pernas.
— Dá pra fazer amor em um sofá? — perguntei, um pouco sem
fôlego. — Isso não é contra as regras?
Eu provavelmente morreria antes que tudo acabasse. Agora que
estávamos realmente nus, assim como eu vinha querendo há algum
tempo, eu estava começando a surtar sem motivo aparente.
— Onde você gostaria de fazer amor? — ele perguntou, as mãos
descendo das minhas coxas em direção à vagina, que estava muito
animada.
— Não sei. — Eu me contorci quando ele puxou meus lábios
vaginais com os dedos. — Não deveria ser na cama?
— Eu tive algumas fantasias de transar com você aqui; pode ser no
sofá.
De repente, fui puxada para baixo e gritei, arrepios subindo por todo
o meu corpo. Eu estava com medo de abrir os olhos e olhar para baixo.
— Você não vai abrir os olhos? — Ele pegou meu peito com a boca,
sua língua girando ao redor do mamilo duro, depois chupando e
mordendo.
— Droga!
Arqueei meu pescoço, praticamente derretendo sob o ataque da sua
boca. A outra mão segurou o outro seio e brincou com o mamilo.
— Me responda.
— Ainda não quero me decepcionar.
— De novo pensando nos dez centímetros? — Uma mordida não tão
gentil me fez sibilar e quase derreter embaixo dele.
— Sim.
— Abra os olhos, Lucy.
Não hesitei.
Nossa.
Meus olhos encontraram os dele e foi tudo o que consegui ver.
Aquele rosto determinado. Aqueles ombros fortes.
Eu estava deitada embaixo de Adam Connor, e não me importei nem
um pouco de dar o controle a ele.
— Eu te disse que não brinco, Lucy. Tem certeza de que está tudo
bem?
O que isso significava?
— Parece que eu não estou bem, por acaso? Vamos. — Arqueei as
costas e estendi a mão, gemendo quando ele atacou meus lábios com
a mesma vontade de antes. Falei mais baixo: — Eu quero seu pau
dentro de mim, Adam.
— Você quer?
— Quero. — Sorri. — Todos os dez centímetros.
Ele riu, um som baixo e gutural que vibrou através do meu corpo. Eu
sorri para ele.
— Certo, Lucy. Feche os olhos.
Obedeci e, em seguida, segurei o braço do sofá. Eu tremia sem
parar quando senti seus lábios perto do meu ouvido.
— Eu vou consertar seu coração, Lucy — ele prometeu em voz
baixa.
Eu não conseguia fazer meu corpo parar de tremer.
— Meu coração não está quebrado, Adam — sussurrei de volta bem
baixo.
Ele tirou a mão do meu peito.
Mais baixo.
Mais baixo.
Deixando um caminho ardente em seu rastro.
Um dedo brincando na abertura.
— Está — ele sussurrou, beijando meu pescoço.
Isso era fazer amor? Torturar um ao outro até um dos dois perder a
cabeça?
— Está — ele repetiu antes de pegar meu mamilo entre os dentes e
puxá-lo. Eu queria fechar as pernas, ou me tocar, ou inferno, montar no
sofá. — E eu vou deixá-lo inteiro de novo. Vou curá-lo para que você
possa sentir o que faz comigo.
Eu nunca estive tão pronta, tão escorregadia, tão assustada.
Então o senti se afastar de mim e ouvi o som do plástico rasgando.
Eu contei. Levou cerca de sete segundos para colocá-lo. Isso era um
bom sinal? Eu tinha contado certo?
Eu estava respirando com dificuldade e ainda segurando a almofada
embaixo do corpo, como se minha vida dependesse disso.
— Está dentro?
Quero dizer, eu pensei que estava sentindo os dedos entrando e
saindo de mim, mas talvez fosse o pau dele? Talvez a vida fosse cruel?
— Lucy… só por causa desse comentário, vou cuidar para que no
seu coração nunca mais haja espaço para nenhum outro homem.
Esbocei um sorriso.
— Ah, é? Você queria que eu mentisse e dissesse que seu pau é o
maior presente para a humanidade?
— Vamos ver se sua boca espertinha será capaz de fazer qualquer
coisa além de gritar e gemer em alguns segundos.
Não demorou alguns segundos para eu soltar meu primeiro gemido.
Ele empurrou seu pau em mim, alargando minha abertura. Quando
meus quadris começaram a deslizar para cima, suas mãos agarraram
minhas pernas e as prenderam nas costas dele.
— Ah, puta merda — xinguei quando o movimento fez com que ele
entrasse mais fundo. — Ah, puta merda.
Abri os olhos e o encontrei olhando diretamente nos meus. Engoli em
seco e mantive os olhos nos dele. Ele puxou o corpo para trás, as mãos
ainda segurando minhas coxas, e deu um pouco mais de si.
Segurei um gemido.
— Mais?
Concordei com a cabeça.
Sim, sim!
Ele olhou para onde estávamos conectados e viu seu pau sair de
mim, o que fez meu cérebro ficar confuso. Então com o polegar
acariciando meu clitóris, empurrando, circulando, pressionando, ele
empurrou mais fundo.
— Você está me melando todo, Lucy. Parece que você gosta do meu
pau, hein?
Posso ter choramingado. Ele pode ter gemido. Não me lembro de
alguns segundos.
Deixei uma das minhas pernas descer das costas dele e levantei a
outra para que eu conseguisse apoiá-la em cima do sofá.
— Essa é sua maneira de dizer que quer mais?
Eu não consegui rir; algo estava alojado no meu coração, dificultando
a realização de qualquer movimento.
— Eu duvido que você tenha mais pra dar.
Minha resposta foi uma penetrada mais profunda que fez meus
dedos se curvarem.
Eu ofeguei e sorri. Soltei a almofada para poder passar a mão por
todo o peito e coçar a pele ardente, e deixei uma marca, minha marca.
— Ah, Lucy — ele murmurou. — Ah, o que eu vou fazer com você?
Ele colocou uma das mãos ao lado da minha cintura, e a outra no
braço do sofá.
Ele tirou o pênis enorme e voltou a me penetrar quando se ajeitou
sobre mim.
Eu estava perdida. Louca. Completa e totalmente abalada.
Ele estava bem dentro mim, me tomando por inteiro. Eu fazia o
melhor que conseguia para ficar parada e me acostumar com seu
tamanho e não acabar gozando em dois segundos. Eu queria vê-lo em
ação. Eu queria ver como ele fazia amor.
— Preparada? — ele perguntou, seu corpo muito firme.
— Acabe comigo.
E ele acabou. Ah, sim. O impulso… o delicioso impulso profundo em
mim.
— Puta merda — murmurei, meus olhos revirando.
Seu próximo impulso me fez me esforçar para segurá-lo. Toda vez
que ele me penetrava, abalando meu corpo com prazer, eu me
agarrava a ele. Não sabia se para afastá-lo ou para puxá-lo mais fundo;
eu não tinha ideia.
Eu tinha que admitir, ele era grande demais. Tá, eu admito, ele era
absolutamente enorme. Mas, inferno, a espessura, era o que estava me
matando da maneira mais perfeita.
— Jesus, Lucy — ele murmurou, voltando a fazer movimentos mais
leves. Seu corpo ainda cobria o meu, movendo-se contra o meu como
um líquido quente, e ele olhou para mim. Havia algo acontecendo no
fundo dos seus olhos, mas, antes que eu conseguisse decifrar, ele
voltou a me beijar.
Corri as mãos pelas costas dele e passei os dedos pelos seus
cabelos, gemendo de prazer enquanto o beijava.
— Grande o suficiente para você? — perguntou quando nos
separamos para podermos respirar.
— Do tamanho certo — respondi, meu corpo muito abalado
tremendo debaixo dele.
Seus lábios pegaram meu mamilo e senti uma fisgada entre as
pernas. Meus músculos apertaram Adam e ele gemeu.
— Você sente meu pau? — ele murmurou, seus olhos tão escuros
quanto a noite lá fora.
— Sinto — gemi, tentando abrir mais as pernas para poder levá-lo
mais fundo em mim.
Ele empurrou a mão entre a almofada do sofá e a minha cintura e
levantou seu corpo do meu.
— Está bom?
Mordi o lábio e confirmei. Ele estava me penetrando tão lentamente,
mexendo muito comigo.
Seus lábios se entreabriram e ele sussurrou: — Ótimo. Agora você
nunca vai esquecer como é me sentir dentro de você.
Eu não estava pronta para o jeito como ele começou a me penetrar,
sua mão segurando minha cintura enquanto ele me penetrava e seguia
fazendo os movimentos.
Ele estava chegando tão fundo, tão forte que não havia como eu
controlar meus gritos e gemidos, e eu nem queria fazer isso.
Comecei a segurá-lo com força, seus próprios gemidos e suspiros
um som distante para os meus ouvidos. Meus dedos dos pés se
contraíram e algo começou a crescer dentro de mim, me tomando
inteira. Adam manteve os movimentos sem parar, mexendo o quadril a
cada penetração… e fui ouvindo o som das nossas coxas batendo
juntas, minha umidade…
— É isso, Lucy. É isso aí.
Agarrei o bíceps duro como pedra de Adam e comecei a tremer, pois
estava gozando. Ah, quando terminasse, eu acabaria com ele.
— Vamos, Lucy — ele murmurou entre dentes. — Isso é o melhor
que você faz? Quero mais. Me dê tudo o que você pode.
Quando pensei que o prazer que tomava meu corpo estava prestes a
parar, ele mudou de ângulo e atingiu um lugar diferente em mim e tudo
começou de novo.
— Puta merda! Puta merda! Puta merda! — continuei falando e
levantei a mão na esperança de agarrar o braço do sofá. O que minha
mão achou não foi o sofá, mas o abajur da mesa ao lado do sofá.
Meu corpo queimava devido ao orgasmo, e eu ignorei o som do
estrondo e tentei me acalmar. Ele não ia me causar um ataque
cardíaco! Meu corpo ainda tremia, e eu puxei o cabelo de Adam.
— Você tem que parar — eu disse, ofegante, minhas palavras quase
sem fazer sentido. — Tenho alguma coisa errada. Adam, pare.
Ele diminuiu seus movimentos, mas ainda assim eram muito
profundos, fazendo meus seios saltarem a cada impulso.
A ponta do seu pênis ainda estava tocando aquele local perfeito. Eu
estava sentindo demais.
Minhas pernas ainda tremiam, meu corpo ainda estava em chamas.
— Seu idiota — eu consegui dizer. — Você disse que iria fazer amor
comigo, não me fazer perder a cabeça.
Seus olhos seguiram os meus e viram que eu estava tentando
manter as pernas firmes com a mão. Inclinando-se para trás, ele
passou o braço sob uma das minhas pernas, segurando-a contra o
peito.
— Não há regras, Lucy. É assim que faço amor com você.
— Oh, seu idiota, seu idiota lindo. Você acabou comigo.
Ele se afastou até deixar somente a cabeça do pênis dentro de mim,
curvou minha perna atrás das costas e depois me penetrou lentamente
de novo, até o fim. Passei segundos gemendo.
— Sua boceta é deliciosamente perfeita para mim — ele murmurou e
tomou meus lábios novamente.
Ele estava me penetrando devagar, brincando com meus nervos.
Como eu havia perdido o controle, segurei seu rosto e olhei para ele.
— Me faça gozar de novo, Adam. Eu quero gozar no seu pau de
novo. — Se aquela era minha única noite com ele, eu queria gozar o
máximo possível.
— Porra, Lucy, você ainda está pulsando no meu pau. Não se
preocupe, eu vou fazer você gozar a noite toda.
Soltei seu rosto e arqueei as costas, puxando-o para dentro de mim
novamente. Ele lambeu meu mamilo, e a umidade e o calor da sua
língua fizeram meu corpo inteiro estremecer debaixo dele.
— Adoro ver você tremer sob o meu corpo.
Arqueei uma sobrancelha e fiquei quieta. Todo o meu foco estava em
arquear as costas e mover o quadril para poder acompanhá-lo e levar
seu pênis mais fundo em mim, onde precisava estar.
— E essa boceta… — Ele se afastou completamente, olhando para
seu pau duro e grosso enquanto o segurava.
Deus! Gostei muito do pau dele. Muito, muito mesmo.
Então dois de seus dedos estavam me penetrando, e ele espalhava
minha umidade por toda a minha barriga.
— Olha como ela está molhada pra mim. Olha como ela ama meu
pau.
Ah, ele não fazia ideia.
Enquanto seus olhos absorviam cada centímetro do meu corpo e me
viam brilhando de suor, meus olhos se focaram em seu pau e naquela
veia grossa que eu podia ver através da camisinha.
Prometi a mim mesma que o tomaria na boca antes que a noite
terminasse, com o único objetivo de deixá-lo tão louco como ele estava
fazendo comigo.
Meu coração batia forte, meu pau estava tão duro quanto uma pedra
na minha mão, e eu vi a expressão dela. Quando deixei Aiden na casa
do seu amigo, não estava esperando uma visita de Lucy. Eu não
achava que ela chegaria perto de mim, pelo menos não por alguns dias
enquanto estivesse com raiva.
Mas ela foi. Ela conseguiu afastar as preocupações da minha cabeça
e jogou uma bomba bem aos meus pés.
Grávida. Ela estava grávida.
E ordenou que eu fizesse amor com ela.
Como alguém poderia dizer não a isso? Mais importante, como
alguém diria não para ela? Eu certamente não era capaz, não quando
ela olhava para mim como se seu mundo fosse desmoronar se eu a
rejeitasse. Ainda mais importante, eu não quis dizer não.
A gravidez… não mudou o que eu sentia por ela. Não mudou o fato
de que eu ainda a desejava. Mas onde isso me colocava? O que
significava para ela? Ela voltaria com o ex? Decidiria se afastar?
Em vez de obter respostas para essas perguntas, decidi lhe dar algo
de que ela não se esqueceria, algo que ela não poderia simplesmente
afastar como quisesse.
De pé à frente dela com meu pau na mão, fiz alguns movimentos
preguiçosos enquanto ela me observava com atenção.
Depois de provar sua boceta apertada, minha mão não estava sendo
suficiente. Mas para ela, pelo olhar dela de satisfação, eu não me
importei de fazer um pequeno show.
Soltei meu pau e deixei que ele descansasse por um momento.
Levantando, peguei a mão de Lucy e a puxei para cima.
— Segure na parte de trás do sofá.
Ela arqueou uma sobrancelha, mas não me questionou. Em
segundos, ela estava de joelhos, arqueando as costas e me dando uma
bela visão da bunda dela.
— Que diabos é isso? — ela perguntou. Eu segui os olhos dela até a
almofada do sofá.
Alcançando aquele traseiro perfeito, fiz um carinho e o abri com
delicadeza para poder ver aquela boceta molhada e rosada. Enfiei a
mão entre suas pernas e a ouvi choramingar quando dois dos meus
dedos a penetraram.
— Está doendo? — perguntei.
— Estou bem. Você não me respondeu. Você gozou?
Olhei para a mancha molhada no sofá e me aproximei dela para
poder empurrar meu pau contra a pele macia de sua bunda perfeita.
— Você achou que eu gozei? Essa mancha é sua.
Ela jogou a cabeça para trás e me deu um olhar chocado.
— O quê? — ela sussurrou.
Eu a penetrei com mais força e suas costas se arquearam para levar
mais. Eu não conseguia desviar o olhar dos seus lábios vermelhos,
aqueles dentes puxando a pele inchada.
Puxando meus dedos para fora dela, encontrei seu clitóris e fiz uma
pressão suave.
— É sua, Lucy — repeti. — Eu te disse, sua boceta está muito feliz
com meu pau de dez centímetros.
Ela me deu um pequeno sorriso por cima do ombro, os dedos
brancos enquanto ela se segurava ao sofá.
— Graças a Deus você não tem dez centímetros. Seria muito
decepcionante e eu sentiria muito por você.
Empurrei meu pau entre suas pernas e dei um impulso suave para
que ela pudesse senti-lo deslizar contra seu clitóris sensível.
Isso tirou o sorriso do rosto dela, e fiquei fascinado com a pequena
carranca que o substituiu.
Segurei seu quadril com firmeza e perguntei: — Pronta para o seu
terceiro orgasmo?
— Segundo.
— Lucy. — Eu meneei a cabeça em direção ao ponto molhado. —
Você quase esguichou por mim. Você gozou pela segunda vez antes
mesmo de o primeiro acabar. Foram dois.
Ela contraiu os lábios e ficou quieta.
Descansei o corpo em seu traseiro e puxei seus cabelos até que
suas costas encostassem no meu peito.
— Eu perguntei se você está pronta.
Sua mão pequena encontrou meu pau, e ela apertou a cabeça. Meu
corpo estremeceu de prazer e eu mordi seu pescoço, bebendo seus
gemidos.
— Vou entender isso como um sim.
Empurrei seu corpo para baixo, agarrei meu pau e, depois de
acariciá-lo com vigor algumas vezes, lentamente a penetrei com um
movimento lento, e só parei quando senti toda a minha extensão dentro
dela.
Ouvi-la suspirar e vê-la abrir as pernas enrijeceu meu pau ainda mais
dentro dela, então, quando ela tentou se mover para a frente e para
trás, apertei sua bunda como uma forma de mandar que ela ficasse
quieta e dei um passo mais para perto dela.
— Merda — ela gemeu quando eu fiz isso. — Você vai tão fundo —
murmurou quase para si mesma, com a cabeça baixa.
— Olhe pra sua bunda — sussurrei com a voz rouca, muito grossa
para meus próprios ouvidos. Eu massageei sua carne, acariciando,
admirando. — Olhe para essa bunda linda.
Como meu pau latejava dentro dela, eu não consegui não tocar sua
entrada pequena e apertada. Ela me deixaria entrar?
Com meus dedos ainda escorregadios devido à umidade dela, eu
delicadamente penetrei um dedo, e ela gemeu, baixando a cabeça, seu
corpo tentando se afastar da intrusão.
— Talvez não hoje — eu disse, ainda assim penetrando mais até ela
virar a cabeça para olhar para mim.
— Você não tem tanta sorte, Connor.
Eu me afastei e penetrei novamente com o dedo, sem parar de
penetrá-la com meu pau em sua boceta também. A cabeça dela baixou
novamente e ela soltou outro gemido.
— Talvez não hoje — cedi. Agarrei seu quadril e a penetrei por um
minuto inteiro. Movimentos rasos misturados a outros mais profundos.
— Sim, sim, Adam, assim, bem assim.
Seus gritos de prazer me incentivaram a dar-lhe mais enquanto
minhas mãos apertavam seu quadril. Puxando, empurrando…
penetrando com força.
Deixei uma das minhas mãos deslizar pelas costas dela, acariciando
a pele quente entre as omoplatas. Ela era linda, tão aberta naquele
momento. Para o meu pau. Para mim. Mas ela estava muito longe,
seus lábios, sua pele… eu queria os olhos dela nos meus.
Envolvi sua garganta com a mão e a puxei de volta contra meu peito.
Eu vi arrepios nos braços, o pulso irregular no pescoço, a respiração
trêmula.
Eu poderia tê-la assim todos os dias, pensei comigo mesmo. Eu
poderia tê-la assim todos os dias e ainda não seria suficiente.
— Olhe para você — sussurrei ao lado de sua orelha, minha mão
ainda em torno de sua garganta, meu pau ainda se movendo para
dentro e para fora dela.
Ela empurrou a bunda para trás, e eu fechei os olhos.
— Tão linda — eu disse com reverência. — Linda pra caralho. Está
gostoso sentir meu pau, Lucy? — perguntei e senti seu corpo tremer.
Eu me afastei e a penetrei. Com força.
Ela estava ofegante, sua mão subindo para descansar na minha mão
que segurava seu pescoço, os dedos ao redor do meu pulso.
— Delicioso demais — ela sussurrou com a voz rouca. — Você vai
me foder? Vai fazer doer?
Tirei a mão do seu quadril e apalpei seu peito.
— Você quer que eu te machuque?
— Dói gostoso quando você…
Abrindo mais minhas pernas atrás dela, empurrei e gemi quando
seus músculos se contraíram no meu pau.
Sua respiração ficou dura, e ela abriu um sorriso preguiçoso.
Eu podia ver meu suor pingando em sua pele enquanto ela melava
meu pau.
Agarrando o queixo com força, eu virei a cabeça para que ela
pudesse olhar nos meus olhos, nada além de puro prazer e muito
desejo naqueles olhos tempestuosos.
— Você quer que eu vá fundo em você. — Não era uma pergunta. —
Foi gostoso gozar forte no meu pau, Lucy? Você gostou do que sentiu,
não é?
Mordendo o lábio, ela fez que sim.
Segurando seu corpo contra o meu, comecei a bombear nela, nossa
pele em contato.
Ela fechou os olhos e a leve carranca apareceu novamente.
— Me beija — pedi. — Me beija e eu vou dar tudo de novo.
Para minha surpresa, seus olhos pareciam perplexos quando ela os
abriu. Ela não viu o que estava acontecendo? Comigo?
— Me beija, Lucy — eu disse, mais gentil desta vez. Agarrei seus
braços e os coloquei ao redor do meu pescoço. Mordi seu queixo, meu
quadril se movendo muito devagar para nós perdermos o controle e
gozar. — Me beija, linda, para que eu possa fazer você gozar em todo o
meu pau novamente. Você não quer isso, Lucy? Eu quero muito sentir
sua boceta apertando meu pau. Você vai me dar isso? Você vai me
deixar penetrar você?
Encontrei seu clitóris com as pontas dos dedos e o acariciei com
ternura, fazendo seus músculos se contraírem.
Ela gemeu e deixou que eu a beijasse. Segurando o queixo em uma
das mãos e o quadril na outra, eu a penetrei com movimentos
constantes e rápidos. Por um segundo, sua boca se separou da minha
e ela gemeu profundamente quando sua cabeça caiu contra o meu
peito.
Eu a beijei e engoli todos os sons que ela emitiu quando acelerei o
ritmo. As mãos dela apertaram meu pescoço, seus dedos agarraram
meu cabelo, puxando sem parar até eu ter que fechar os olhos e focar
em algo além do fato de ela estar me enlouquecendo. Eu gemi em sua
boca, chupando sua língua doce.
Ela se separou dos meus lábios e se inclinou sobre o sofá, deixando-
me ver sua bunda indo para trás para que ela pudesse me sentir
melhor.
— Ai, meu Deus, Adam. Ai, meu Deus.
Sequei o suor da minha testa e agarrei seu quadril para poder
penetrar mais.
— Sim. Sim. Mais forte. Assim, Adam. Sim!
— Abra as pernas, Lucy.
Eu podia ver suas pernas tremendo, os braços sem força, mas, ainda
assim, ela abriu mais as pernas.
— Você é tão grosso. E vai tão fundo. Eu amo isso — ela murmurou,
e precisei me conter enquanto a ouvia gemer de prazer. — Por favor,
não pare. Estou perto, Adam. Tão perto.
Minhas mãos seguraram sua cintura fina, e eu dei tudo o que tinha.
Eu nunca tinha visto meu pau tão inchado em toda a minha vida
enquanto observava sua boceta me segurando, minhas bolas batendo
contra sua pele. Eu nunca me senti tão completo e certo do que fazia.
Muito certo.
Um par perfeito.
— Fale comigo, Adam. Estou muito perto, por favor, fale comigo.
Respirei fundo, quase sem conseguir manter a sanidade. Ela estava
no limite, e me levava com ela.
Ela era uma bola de prazer esperando para estourar bem debaixo
nas minhas mãos, bem ao redor do meu pau.
— Vamos, Lucy — sussurrei sem fôlego, passando a mão nas costas
dela e acariciando suavemente.
— Aperta. Você sente o quanto estou duro por você? — Eu me
inclinei sobre o corpo dela, mudando levemente o ângulo, e isso a
atingiu. — É isso, Lucy. É isso aí. Goze no meu pau, linda.
Ela respirou fundo e silenciosamente gozou bem na frente dos meus
olhos. Suas costas inteiras entraram em erupção com arrepios, sua
boceta apertando meu pau, seu corpo tremendo. Não querendo
machucá-la com meus movimentos ― sem querer ser mais incisivo do
que já tinha sido ―, eu continuei bombeando, quase sem conseguir
segurar o meu próprio clímax.
Quando ela se empurrou contra o meu pau e soltou um gemido alto,
foi a minha ruína. Eu fui mais fundo nela e me soltei enquanto ela
continuava tremendo à minha frente. Seus braços fraquejaram e ela
descansou o rosto contra o sofá, deixando-me penetrá-la
profundamente, gozando com fortes pulsações dentro dela.
Enquanto as paredes da vagina dela continuavam me ordenhando,
quase desmaiei sobre seu corpo. Mas respirei fundo e tentei
desacelerar meus batimentos cardíacos descontrolados. Ela não fugiria
de mim, não depois daquela noite, não depois do que tinha acontecido.
— Lucy — murmurei. Minhas mãos tremiam, eu acariciava suas
costas, e ela se encolheu, sua pele também sensível. Ela estava
encharcada de suor tanto quanto eu. Eu corri a mão para cima e para
baixo em sua pele quente, massageando suavemente a base do
pescoço enquanto lentamente saía de dentro dela para tirar a
camisinha.
— Eu tenho que… — comecei, mas o resto não veio porque prestei
atenção à respiração ofegante dela quando me afastei. Amarrei a ponta
e joguei o preservativo no chão.
Ainda de joelhos, Lucy se endireitou e vi a mão dela desaparecer
entre as pernas.
— Droga.
— O quê? — eu perguntei, de pé atrás dela novamente.
— Nada, não.
Ignorando seus protestos, mergulhei minha mão entre as dobras e
acariciei sua carne inchada. Ela se contraiu nos meus braços.
— O que foi?
— Molhada demais — respondeu ela, parecendo quase irritada.
— Não existe isso. — Mergulhei meus dedos dentro dela, só a
pontinha, e depois os lambi enquanto ela me observava por cima do
ombro com a boca entreaberta.
— Eu te odeio tanto — ela sussurrou, seus olhos focados nos meus
lábios.
Eu a beijei. Não havia nada além disso que eu pudesse fazer quando
ela estava tão perto, tão nua. Tão minha.
Agarrei seu queixo e a beijei com mais força.
— Eu preciso ir.
Claro que ela iria querer isso.
— Você não vai sair dessa casa esta noite.
— Tente me impedir.
— Ainda não provamos um ao outro, Lucy. — Eu agarrei a mão dela
e a coloquei ao redor do meu pau meio duro.
Ela me acariciou e parou na base, apertando.
— Devagar — sussurrei, beijando seu pescoço.
— Eu acabei de ver você me provar.
— Isso não é suficiente. Eu quero te comer inteira. E você ainda não
me provou.
—- Você está sugerindo um 69, Adam Connor?
— Estou sugerindo tudo — falei, encostando o nariz logo atrás da
orelha dela.
Ela parou de respirar por alguns segundos, e eu temi ter que
carregá-la até meu quarto e trancar a porta, mas então ela disse: — Um
69 é uma boa ideia, e eu quero sentir esse pau maravilhoso na minha
boca.
— Que bom — murmurei, passando a mão em sua barriga.
Ajudei-a a sair do sofá e peguei sua mão relutante. Ela olhou para as
roupas e abaixou-se para pegá-las.
Abraçando-a por trás, eu a puxei para cima.
— Não — sussurrei perto da sua orelha. — Não. Quero te ver na
minha cama, com as pernas bem abertas.
Ela achava que eu não sentia seu corpo tremer contra o meu?
Quanto tempo ela pensou que poderia se esconder de mim?
Ela riu baixinho.
— Não vai me fazer te odiar menos.
— Acredito que seja tarde demais para isso, Lucy. Você já gosta
muito de mim — eu disse com uma voz grossa. — Talvez ainda mais do
que gostou de sentir meu pau no seu corpo.
Enterrei os dedos na pele macia ao redor do seu quadril, desejando
marcá-la para que ela se lembrasse, para saber quem a havia tocado,
quem a segurara tremendo, com o corpo em súplicas quando ela
precisava ser tocada por alguém que se importasse.
Não me surpreendia que eu quisesse ser isso para ela, embora eu
soubesse que ela brigaria comigo por eu sequer sugerir que ela
precisava de alguém para segurá-la. Acho que foi isso que me atraiu
nela naquele primeiro dia em que eu segurei seu corpo contra o meu,
nossos olhos mostrando nada além de ódio um pelo outro minutos
antes de os policiais a levarem para fora da minha propriedade.
Quanto mais eu a observava, mais a ouvia ― ouvia o que ela estava
dizendo sem sequer mexer seus lábios ―, mais eu era atraído por ela.
As fotos abaixo mostram Adam Connor carregando seu filho de cinco
anos pelo aeroporto de Los Angeles, enquanto corre para pegar um voo
para a França. O fato de Aiden Connor estar escondendo o rosto no
pescoço do pai enquanto as câmeras tiram fotos deles correndo pelos
portões mostra o quanto ele foi afetado pelo que aconteceu na última
vez em que esteve no mesmo aeroporto. Pai e filho voaram para Paris
com o objetivo de participar da festa de aniversário de Victoria Connor,
que mora na França há quase seis anos. Helena e Nathan Connor
deixaram a cidade de mãos dadas apenas alguns dias antes para
participar da mesma festa de aniversário. Não temos certeza se a mãe
de Aiden foi convidada ou não, mas sabemos que ela não deixou a
cidade desde que voltou de Nova York.
Além de se sentir mal por causa do ocorrido com o pequeno Aiden
Connor, haveria como o discreto galã ficar mais bonito? Não sabemos
sua opinião, mas o lance do pai protetor está mexendo conosco no
momento. Se você não acha que as fotos que capturam pai e filho
bastam como resposta, não temos ideia do que bastaria. Desde que as
notícias sobre Adam Connor entrar na justiça para pedir a guarda
exclusiva de Aiden Connor chegaram à mídia, é a primeira vez que o
par é visto em público. Adeline Young, no entanto, permaneceu quieta,
até onde sabemos. E pode acreditar, nós sabemos muito sobre esses
dois.
Quase conseguimos ouvir vocês perguntando o que mais podemos
compartilhar sobre Adam Connor e Adeline Young. Sabemos que
existem rumores circulando dizendo que Adam Connor começou a
namorar novamente (sim, ficamos igualmente chocados) e que esse
novo romance foi um dos principais motivos (além do incidente no
aeroporto, é claro) pelos quais ele decidiu pedir a guarda do filho. Pelo
que ouvimos de várias fontes próximas ao astro de cinema, sua nova
mulher não está feliz por Adam ter contato constante com a ex-esposa,
seja para falar sobre seu filho ou qualquer outro assunto.
Aparentemente, ela foi uma grande influência para o astro ganhador do
Oscar quando ele decidiu ir em frente na questão da guarda.
Do outro lado do ringue, Adeline Young foi vista com o famoso diretor
Jonathan Cameron deixando um restaurante esta semana. Embora eles
pudessem ter feito uma reunião sobre um projeto futuro, temos
declarações de várias fontes dizendo que Adeline demonstrava sinais
de angústia enquanto Jonathan tentava acalmá-la. Poderia ser esse o
novo namorado de Adeline Young? Para sermos sinceros com vocês,
não nos surpreenderia; nós sabíamos que isso aconteceria. O casal
deixou o prédio junto e foi embora no carro de Jonathan, e nenhum dos
dois respondeu às perguntas feitas na saída.
Você acha que os dois estão seguindo em frente com suas vidas?
Conhecendo outras pessoas?
Ainda estamos esperando que as notícias sobre o namoro de Adam
Connor não sejam verdadeiras, para que possamos continuar
sonhando em ser o novo amor do famoso ator. Poderia acontecer.
Nunca se sabe.
Acordei nos braços de Adam Connor antes do nascer do sol, antes
que as estrelas pudessem desaparecer completamente. Ele me fez
gozar mais vezes do que nunca em uma única noite. Ele acabou
comigo, e eu não consegui ficar com raiva dele. Não me lembrava de
ter dormido segurando a mão dele, mas, assim que me dei conta de
onde estava, soltei-a imediatamente.
Movi os dedos, abrindo e fechando a mão para me livrar da
sensação estranha. Do calor. Do súbito vazio.
Estava me sentindo deliciosamente dolorida, algo que eu teria
comemorado deixando Olive constrangida se fosse em qualquer outro
momento, mas eu estava com muita raiva de mim mesma por
adormecer na cama de Adam para sequer pensar em correr até Olive
para acordá-la.
Saindo da cama, me permiti olhar pela última vez para a quase
perfeição que estava deitada ali.
Aquele peitoral.
Aquele pau.
Aqueles dedos.
Ah, aqueles lábios.
Aqueles lábios maliciosos que sussurraram coisas ainda mais
maliciosas para mim a noite toda.
Sem fazer barulho, voltei para a sala, vesti a roupa e saí da casa
dele.

— Bom dia, Lucy — Jason me cumprimentou enquanto aparecia


atrás de Olive.
Olive estava quieta, e seus olhos se voltaram para mim muito
concentrados.
— Bom dia. Fiz panquecas. — Empurrei o prato com uma pilha de
vinte panquecas para a frente e virei outra na frigideira.
— Dormiu bem?
— Você não me acordou.
Olhei para trás, para Olive, e abri a geladeira para pegar o suco de
maçã.
— Bom dia pra você também, raio de sol. E de nada.
— Por que não me acordou?
— Porque você bate em quem tenta te acordar.
— Você faz isso mesmo — Jason murmurou, beijando a têmpora de
Olive e pegando uma panqueca.
Com a ajuda de Jason, Olive se sentou em uma das banquetas e
ficou de olho em mim.
Entreguei a Jason o xarope de bordo e peguei o prato de frutas que
eu havia cortado antes de começar a fazer as panquecas.
Deslizando a panqueca quente para o prato de Olive, comecei a
fazer outra.
— Vou dar uma olhada no apartamento sobre o qual te falei. Você vai
comigo?
— Porque essa é a coisa mais importante que devemos fazer agora,
certo? Encontrar um apartamento pra você.
A mão de Jason parou no ar quando ele estava prestes a pegar um
pedaço de banana.
Suspirei e virei a panqueca.
— Vou deixar vocês em paz para conversar — Jason murmurou
antes de dar um beijo no pescoço de Olive.
Dando a volta no balcão, ele pegou uma garrafa de água da
geladeira e me surpreendeu ao segurar meu braço e me puxar contra
seu peito.
— Seja legal com nossa filha adotiva, Olive — disse ele com
cuidado, sua mão acariciando meu braço.
Eu sorri e ergui as sobrancelhas para Olive.
Como resposta, ela lançou a Jason um olhar maligno e me
perguntou: — Por que você está andando esquisito?
Meu sorriso ficou maior.
— Porque Adam Connor me fodeu por horas.
— Então tááá. Vou tomar um banho antes de me encontrar com Tom.
Fiquem boazinhas — Jason nos lembrou enquanto saía da cozinha.
— Você não voltou para casa ontem à noite.
Desliguei o fogão e me inclinei no balcão.
— É verdade, mãe.
Ela assentiu e começou a brincar com a caneca de café à sua frente.
— Você quer café?
— Não.
— Suco de maçã?
Uma ligeira hesitação… então: — Sim.
Servi dois copos de suco de maçã e entreguei a ela. Era o nosso
preferido.
— Você falou com Jameson?
— Ainda não. Queria que você estivesse ao meu lado quando eu
fizesse essa ligação.
Seus ombros relaxaram, e eu sabia que tinha dado a resposta certa.
Ela tomou um gole de suco e pegou um pedaço de manga. Eu fiz o
mesmo e então peguei minha primeira panqueca.
— Nós vamos ter um bebê, Lucy?
Derramei uma boa quantidade de xarope de bordo na minha
panqueca e dei algumas garfadas antes de responder.
— Vamos ter um bebê.
Olive colocou outra panqueca e alguns pedaços de frutas no prato.
— Devemos marcar uma consulta com um médico. Para ter certeza.
— Sim. Você se lembra da Karla?
Ela confirmou balançando a cabeça.
— Entrei em contato com ela outro dia para ver se ela gostaria de ser
minha colega de quarto porque sabia que ela estava tendo problemas
com os colegas de quarto dela. — Os ombros de Olive ficaram tensos
novamente. — Bom, o pai dela é médico, então eu pensei que
poderíamos marcar com ele.
— Você vai ligar para o Jameson antes ou depois do médico?
Dei de ombros e terminei minha panqueca.
— Você está bem?
— Não posso fazer mais nada agora, minha querida Olive.
Por um tempo, comemos em silêncio. Não conseguimos terminar
todas as panquecas, mas com certeza diminuímos a pilha.
— E Adam?
Como responder a essa pergunta pesada?
— Você está sorrindo — comentou Olive, desviando o olhar quando
levantei a cabeça. — Apesar de ser teimosa demais para admitir, posso
ver que você gosta dele.
Abri os lábios para fazer uma piada, mas ela me interrompeu.
— Estou feliz, Lucy. Estou feliz por tudo ter sido bom com ele ontem.
Você merece ser feliz, mesmo que seja apenas por uma noite, apesar
de eu achar que pode ser por muito mais tempo.
Ela terminou o suco de maçã e saiu da banqueta.
— Ah, e sim, eu gostaria de ir ver seu apartamento… se você ainda
estiver pensando em alugar um, é claro.
Com essas últimas palavras enigmáticas, ela me deixou em pé na
cozinha.
Alguns minutos depois, Jason voltou.
— Você está bem, minha filha?
— Ela está brava comigo?
Ele suspirou.
— Não está brava com você. É só que… ontem à noite, ela percebeu
que você pode se mudar para Pittsburgh.
— Oh, pelo amor de Deus! Me mudar para Pittsburgh? Ficar com
Jameson?
— Por causa do bebê…
Empurrei as panquecas restantes na direção de Jason e despejei um
pouco de xarope de bordo nelas.
— Eu tenho uma reunião com Tom, Lucy. Não tenho tempo…
— Coma — ordenei. — Eu sou uma senhora grávida agora. Não me
chateie. Eu fiquei como escrava na frente do fogão para alimentar
vocês dois. Coma.
Obediente, ele deu uma garfada.
Deixando-o na cozinha, gritei: — Olive! Minha querida Olive! Você
ainda não perguntou sobre o tamanho do pau do Adam. Acho que ele é
mais grosso do que o do Jason!
Ouvi Jason engasgando com as panquecas enquanto eu ia para o
quarto de Olive.
— E eu tenho que te dizer sobre o que ele fez comigo com aquele
pau no sofá, contra a parede e na cama!

Adam: Atenda seu telefone, Lucy.


Lucy: Me deixe em paz.
Adam: Você não pode mais sair da minha cama assim.
Lucy: Não vou voltar para a sua cama.
Adam: Retorno de Paris em dois dias com Aiden. Não se engane, Lucy. Nós
vamos conversar. E acredite… você vai voltar pra minha cama.
Lucy: Nos seus sonhos.
Adam: E nos seus.
Imbecil.

— Alô? Lucy?
— Oi, Jameson. Como você está?
Um suspiro profundo soou do outro lado.
— Eu não pensei que você me ligaria, não depois de ignorar minhas
mensagens.
Olive estava sentada ao meu lado no carro, e finalmente estávamos
ligando para Jameson. Olive pressionou a orelha do outro lado do
celular e me deu um sorriso inocente quando fiz uma careta para ela.
Suspirando, coloquei no viva-voz.
Mudei o celular para a outra mão e balancei a mão esquerda,
tentando controlar o tremor. Eu estava morrendo de medo.
— Não ignorei as mensagens — respondi quando Jameson disse
meu nome novamente.
— Você não respondeu, Lucy.
— Não havia mais nada a dizer.
— Você está errada. Ainda temos coisas a dizer. Eu sinto sua falta.
Olhei para Olive.
— Bem, sim. Agora temos coisas a dizer. Foi por isso que te liguei.
— Você também sentiu minha falta — ele falou naquele tom sedoso
e sedutor dele.
Fiquei em silêncio e ouvi meu coração apenas por um segundo… e
percebi que ele não bateu mais forte quando ouviu aquela voz familiar
da qual eu costumava gostar tanto. Não me parecia certo, não tinha
aquele tom de provocação que meu coração buscava aqueles dias.
— Sinto muito, Jameson, mas não foi por isso que liguei. Eu… ligo
de novo em breve.
Encerrei a ligação e encostei a cabeça no banco.
— O que você está fazendo? — Olive perguntou.
Liguei o rádio, pensando que talvez uma música ajudasse a acalmar
minha mente.
Olive o desligou.
— O que está acontecendo?
— Eu tenho que contar a ele? Quero dizer, agora? Eu tenho que
contar a ele agora mesmo? Estamos prestes a entrar no consultório
médico. Não podemos ligar pra ele depois de ter os resultados?
De alguma forma, Olive estava muito mais calma do que eu;
geralmente era o contrário. Ela pegou minha mão e a apertou.
— Respire, Lucy.
Respirei fundo.
— Você quer ser o vento hoje?
Sorri.
— O que você vai ser? Um pássaro voando comigo?
— Se você quiser, sim.
— Você seria um pássaro fofo. Sendo o vento, eu vou derrubá-la, e
Jason pode vir e resgatá-la, aí você pode fazer sexo com pássaros e…
— De novo. Respire, Lucy.
Soltei o ar.
— Ai, meu Deus, Olive — gemi e olhei em seus olhos
compreensivos. — O que eu fiz?
— Nada. Você não fez nada. Isso acabou de acontecer. E tudo bem.
Vai ficar tudo bem. Quaisquer que sejam os resultados, você vai passar
por essa. Então, vamos ter um bebê. Será a criança mais sortuda por
tê-la como mãe, e ela ou ele vai ter uma tia maravilhosa.
— Eu acho que não. A maldição deveria ter terminado comigo.
Agora…
— Agora nada. Você não é amaldiçoada, Lucy. — Ela apertou minha
mão de novo. — Ligue de novo para ele. Conte o que está acontecendo
e pronto. Vamos sair do carro e entrar no consultório juntas. Apenas um
passo de cada vez.
Ela estava certa. Eu sabia que ela estava certa e não havia motivo
para surtar, mas então por que meu coração batia tão forte? Era o
bebê?
— Ok, eu estou enlouquecendo — apontei o óbvio.
— Quer que eu conte a ele?
— Não. Não. — Respirei fundo algumas vezes e liguei para Jameson
de novo.
— Lucy? Você está bem?
Eu percebi ― e Olive também ― que ele não tinha me ligado de
volta assim que encerrei a ligação. Se ele sentisse minha falta, como
continuava dizendo, não teria ligado de volta? Jason teria ligado para
Olive num piscar de olhos só para ter certeza de que ela estava bem.
Então Jameson era meu erro.
— Sinto muito — eu disse ao telefone. — Me desculpe, eu surtei.
Seu tom estava mais incisivo quando ele exigiu saber o que estava
acontecendo.
Dei a ele as notícias da forma mais direta que pude.
— Achei que você gostaria de saber — comecei. — Fiz um teste de
gravidez. — Silêncio total. Fechei os olhos. — Deu positivo, mas esses
testes nem sempre são precisos, então eu tenho uma consulta com um
médico em alguns minutos e depois te conto o que ele me disser.
Ainda silêncio total.
— Jameson? Você está aí?
Olhei para Olive e vi que ela estava mordendo o lábio, esperando
ansiosamente Jameson dizer alguma coisa. Qualquer coisa. Ela ergueu
as sobrancelhas. Eu levei o telefone para mais perto dos meus lábios.
— James…
— Sim. Sim. Estou aqui. Me desculpa. Então você está grávida.
Esperando um bebê. Meu filho, para ser mais específico. Eu não estava
esperando por isso.
Escolhi acreditar que ele não estava tentando sugerir que o bebê
talvez não fosse dele.
— Sim. Nem eu.
— Você estava tomando pílula. — Não havia acusação em seu tom.
— Eu estava.
— Uau. Lucy… uau.
Esbocei um sorriso e levei a mão à barriga.
— Sim.
— O que você vai fazer? O que você decidiu fazer? Com o bebê,
quero dizer.
Legal, pensei. Muito legal. Isso praticamente arrancou o sorriso do
meu rosto. Uma rápida olhada em Olive e eu vi que ela estava a
segundos de falar.
— Certo — cortei rapidamente. — Eu te aviso depois dos resultados.
Tenho que ir agora. Tchau, Jameson.
— Que desgraçado — Olive xingou assim que encerrei a ligação.
— Não posso dizer que não concordo.
— Não pensei que pudesse odiá-lo mais. Me dê o celular, vou ligar
de novo.
Segurei meu celular com mais força e o afastei de Olive.
— E fazer o que, exatamente? — Balancei a cabeça e soltei o cinto
de segurança. — Vamos apenas subir e… e… fazer xixi em um copo ou
o que for.
— Decidi que, quando estiver escrevendo sua história, vou matar
Jameson. Eu vou fazer você se casar com Adam Connor e depois
matar Jameson.
Dei um tapinha no braço dela.
— É essa a ideia.
Nossa viagem a Paris não mudou nada. Todo ano, levávamos Aiden
conosco, apesar das objeções de Adeline, e todo ano eu fazia as
mesmas perguntas, com medo de que as respostas mudassem. Além
do fato de Adeline não ter nos acompanhado nessa viagem, nada havia
mudado. Nem as respostas. Nem a cidade. Nem as pessoas nela.
Nada.
— Papai? Posso ir ver meu amigo primeiro? Eu sei que eles sentiram
minha falta.
— Você conversou com Henry algumas horas atrás, Aiden. Tenho
certeza de que ele vai sobreviver por um dia até você encontrá-lo na
aula.
— Mas não são apenas Henry ou Isabel.
Isabel, certo. Como eu poderia ter esquecido de Isabel?
— Você falou com a Isabel ontem, pelo FaceTime.
— Sim, mas não são apenas eles. Eu tenho mais amigos, sabe. E a
Lucy? E a Olive? Até Jason deve ter sentido minha falta. Nós ficamos
fora durante dias. Diga a ele, Dan.
Olhei nos olhos de Dan pelo espelho retrovisor e ele balançou a
cabeça.
— Diga a ele — pressionou Aiden.
— Tenho certeza de que eles sentiram sua falta, amigo.
— Viu, papai? Até Dan sentiu minha falta por ter ficado um dia inteiro
sem me ver. Dan tem que me ver, eles também precisam me ver.
— Você não está esquecendo de outra pessoa?
Ele olhou para mim silenciosamente, os olhos ainda implorando.
— Sua mãe. Ela também sentiu sua falta, amigo.
— Sentiu?
Uma pergunta tão inocente.
Olhei nos olhos de Dan novamente quando ele virou à esquerda,
chegando mais perto da casa de Adeline.
— Claro, carinha.
Ele assentiu solenemente e virou a cabeça para olhar para fora,
abraçando o iPad contra o peito.
— Eu vou ficar com Aiden — Dan interrompeu meus pensamentos
sombrios. — Você pega o carro e vai à sua reunião com o agente. Levo
Adeline para onde ela quiser de carro.
— Obrigado. Tenho certeza de que ela vai gostar disso.
— Quando você vai voltar para me pegar? — Aiden perguntou, seus
dedos passando na tela do iPad, apesar de o dispositivo estar sem
bateria.
Baguncei seu cabelo.
— Sua mãe fica com você por uma semana, amigo, lembra? Aí
então eu vou te buscar pra te levar para casa.
Nada além de um meneio rápido.
Tudo estava encaminhado, mas levaria tempo para eu conseguir a
guarda total, e foi por isso que tive que aderir às regras que tínhamos
estabelecido antes, após o divórcio. Até que desse certo, até que Aiden
ficasse comigo em tempo integral, eu o visitava com mais frequência.
Se para isso eu acabasse vendo mais Adeline ou se tivesse que jantar
algumas vezes com ela, tudo bem.
Depois de deixar Aiden e Dan na casa de Adeline e vê-la dar um
abraço rápido em Aiden, não consegui entender por que ela não era
capaz de estabelecer um vínculo com ele de mãe e filho. Na gravidez,
ela o havia desejado mais do que eu. Ela lutou por ele mais do que eu.
Ele era o garoto perfeito.
Ele era perfeito e era meu.

Adam: Por que você está se escondendo de mim?


Lucy: Quem disse que estou me escondendo?
Adam: Você não atende minhas ligações.
Lucy: Estou respondendo sua mensagem, não estou? Talvez eu não queira
ouvir sua voz. Talvez eu não goste dela. Seja um pouco humilde.
Adam: Você ama minha voz, Lucy. Você amou quando estava me implorando
para eu falar pra você gozar no meu pau. E você gozou demais.
Lucy: Eu te odeio.
Adam: Precisamos conversar.

— Como ela está? — perguntei a Jason quando ele me encontrou no


quintal. Era tarde da noite, as luzes na piscina eram fracas, e a casa
estava completamente escura.
— Ela está bem — disse ele depois de um momento de hesitação. —
Está lidando bem com tudo, mas a Lucy é assim. Não vai chorar e gritar
por causa disso.
Eu estava começando a perceber a mesma coisa.
— Ela está dormindo?
Ele fez que sim e cruzou os braços.
— Ouvi dizer que você estava conversando com Tom. Está
abandonando o barco?
— O último filme está em produção e estou ansioso para começar
algo novo. Bob Dunham tem sido bom para mim, mas acho que não
estamos mais concordando.
— Ouvi dizer que você foi contratado para mais um filme com a Sun
Down Pictures. Como está indo?
Balancei a cabeça e olhei para a casa deles.
— Eu não estou gostando. Esse foi o primeiro erro dele. Eles mudam
demais os atores. Não sou muito fã dos roteiristas que eles têm agora.
Ainda tenho tempo até o final de 2018. Vou decidir alguma coisa. Até lá,
acho que vai dar certo com o Tom.
— Você está em boas mãos. Ele está animado para aceitar você.
Como você é do tipo família, ele está muito feliz porque não terá
problemas com você na imprensa.
Eu ri.
— Não tenho muita família para eu ser um cara família.
— Questão de tempo. Não acredito que você tenha algum tipo de
vídeo íntimo escondido, não é? — Jason arqueou a sobrancelha
enquanto esperava uma resposta.
— Acho que não.
— Então está no lucro. Depois dos sustos que dei nele por anos, não
acho que ele possa passar por isso tudo de novo. Além desse frenesi
de notícias mais recentes sobre seu divórcio e sua ex-esposa,
raramente vejo você na capa dos tabloides, a menos que seja numa
foto de família. Você é o ator dos sonhos do Tom. Ele vai achar
divertido trabalhar com você.
Cansado, levei a mão à nuca.
— Tivemos uma boa reunião dia desses. Ele disse que poderia ter
algo em que eu estaria interessado. Vamos ver como vai ser. —
Pensando ter ouvido uma porta se abrir, olhei para trás.
Jason riu, um som baixo e caloroso.
— É um pouco tarde para visitá-la, não acha? Mas se você quiser
ver se ela está bem com seus próprios olhos, não posso julgá-lo por
isso.
— Se não for incômodo, eu quero.
Ainda esboçando um sorriso, ele abaixou os braços e fez um gesto
para eu andar à frente dele.
— Se ela te atacar, não posso fazer nada.
— Eu vou me arriscar — murmurei. Achei que ela provavelmente
faria um escândalo, mas talvez eu tivesse sorte e saísse do quarto sem
acordá-la.
Parando em frente ao quarto de Lucy, Jason sussurrou: — Nós nos
preocupamos com ela, Connor. Espero que você saiba o que está
fazendo.
Sem fazer mais comentários, baixei a cabeça e entrei no quarto de
Lucy.
Assim como sua personalidade, ela dormia selvagem e livre: pernas
emaranhadas nos lençóis, rosto enterrado nos travesseiros, o corpo
esparramado bem no meio da cama. Estava escuro demais para notar
outra coisa senão sua bela silhueta.
De onde eu estava, ela parecia pacífica, mas meus pés mesmo
assim me levaram mais perto para ter certeza. Afastei algumas mechas
de cabelo do seu rosto e a observei dormir.
Ela soluçou.
Eu sorri e me peguei subindo na cama com ela. Eu havia passado a
noite toda fora. Correndo para uma reunião com meus advogados.
Jantando com o diretor enquanto discutíamos o processo de produção
do filme. Conversando com meu novo agente. Negociando com a
produtora para decidir em quais programas eu precisaria aparecer para
a promoção do novo filme. Eu conversei muito.
Agora eu só queria ouvir Lucy respirar.
Pousei a mão em sua barriga e lentamente empurrei minha mão por
baixo de sua camiseta, acariciando a pele macia e quente.
Ela soltou um gemido suave e senti meu pau ganhar vida.
Suspirei contra sua pele, descansando o nariz no seu pescoço.
Minha mão parou em sua barriga, e eu ouviu sua respiração suave.
Ela soluçou novamente.
Eu ri e corri as mãos pelos braços dela o mais suavemente possível.
Ela se mexeu enquanto dormia.
— Olive?
— Shhh, sou eu — murmurei, beijando seu pescoço.
Ela estremeceu sob meus lábios.
— Adam?
Inclinando-se para a frente, ela quase alcançou a luz.
— Não faça isso.
— O que está acontecendo? — ela perguntou em voz baixa ainda
sonolenta. Estava sexy demais. — Invadindo de novo?
Peguei sua mão e beijei seu pulso quando ela se virou para mim.
— Não se esconda de mim, Lucy — eu disse, surpreendendo a mim
mesmo. Eu não tinha entrado no quarto dela para dizer isso. — Não me
ignore.
— Não faço ideia do que você está falando, Adam. Que horas são?
— Passa da meia-noite.
Por um momento, ficamos deitados em silêncio de lado, sem fazer
nada além de nos encarar. A luz vinda de baixo da porta não era
suficiente para me deixar ver sua marca no rosto ou aqueles olhos
tempestuosos que causavam uma pontada no meu peito, mas eu
estava contente; o que pude ver dela foi o suficiente para acalmar meu
coração.
— E o médico?
— Eu tenho uma consulta amanhã.
— Seu ex?
Ela balançou a cabeça, olhando para o teto.
— Conversei com ele, mas não quero falar sobre isso.
Não pressionei. Eu também não estava ansioso para falar sobre o ex
dela.
— Como foram suas férias?
— Não foram férias. Eu… eu tenho que ir a Paris todos os anos.
Ela se mexeu um pouco, acomodando-se.
— Aniversário da sua irmã, certo?
Sorri um pouco.
— Me perseguindo online novamente, hein?
Ela bufou.
— Se continua me chamando de perseguidora, melhor me chamar
tendo motivo.
Eu compartilharia meus segredos com ela um dia?
— Você não está tentando me expulsar ou me dar um tapa por ter
deitado na cama com você… tem certeza de que está bem?
Acomodando as mãos sob a cabeça, ela respirou fundo.
— Estou com medo, Adam.
O fato de ela admitir isso para mim, alguém tão forte quanto ela, era
importante. A preocupação no meu peito diminuiu. Ela estava me
deixando ter um pedaço do seu coração sem nem mesmo saber o que
estava fazendo.
— Venha aqui — murmurei e a puxei para mais perto. Ela não lutou.
Não perguntou o que eu estava fazendo ou por que estava fazendo
aquilo. Ela simplesmente levantou a cabeça e me deixou deslizar o
braço por baixo do seu pescoço para que ela pudesse descansar mais
confortavelmente.
Brincando com seu cabelo, fechei os olhos e deixei minha testa
descansar contra a dela.
— Vai ficar tudo bem, Lucy.
— Não vai. Não pode ser. E estou com medo porque não estou
pronta para ter um bebê sozinha, Adam. Não sei nada sobre bebês.
— Eu sei. Vamos nos virar bem, Lucy. Estou aqui por você. Não
tenho intenção de deixar você se esconder de mim.
— Você não entende — ela insistiu, seu corpo se afastando.
Coloquei a mão nas costas dela e a puxei contra o meu peito, nossos
narizes a centímetros de distância, a respiração dela se tornando a
minha.
— Não se esconda de mim, Lucy. Não se afaste.
— Estou tão cansada — ela sussurrou, seu corpo ainda alerta, ainda
pronto para colocar distância entre nós. — Estou tão cansada de tentar
segurar tudo e apenas estragar as coisas ainda mais. Eu falei com
Catherine. — Ela suspirou e encostou a testa no meu queixo, as mãos
se curvando no peito entre nós. — Eu nem sei por que fiz isso. Isso não
é verdade, eu sei por que fiz isso. Eu pensei… talvez, você sabe.
Talvez ela me apoiasse. Talvez ela fizesse algo e tudo ficasse bem. Ela
é minha família, afinal; é isso o que a família faz. É isso que a Olive faz
por mim.
— Imagino que não tenha corrido bem.
Ela soltou uma risada sem humor.
— Sim, bem por aí. Toda vez que eu falo com ela, feliz ou triste, ela
tem um jeito de matar algo dentro de mim.
— Vou te apoiar, Lucy. Você pode confiar em mim. Eu vejo quem
você é. Vejo quem você é e quero que você me escolha. Quero que
você abra seus olhos e olhe para mim para que possa ver que eu tenho
o que é preciso, que eu posso cuidar do seu coração para você.
— Eu não te odeio mais. — Seus dedos se moveram no meu queixo,
no meu pescoço, seu toque uma marca abrasadora no meu coração.
Eu queria essa garota… essa garota forte e bonita. Eu queria que ela
fosse minha. Segurar a mão dela e andar na rua. Sorrir com ela. Fazer
coisas simples. Coisas que outras pessoas não valorizavam. Eu queria
rir com ela.
Eu queria entrar furtivamente em seu coração, assim como tinha
entrado furtivamente em seu quarto.
— Não te odeio mais, Adam Connor, mas não posso te amar. Eu não
posso me apaixonar por você assim. Eu não quero me destruir como
elas.
— Lucy — murmurei. — Você acha que, por um segundo que fosse,
você deixaria alguém te destruir? Você não se enxerga quando se olha
no espelho? Se houver um coração machucado, terá sido você quem o
machucou.
— Você poderia me destruir. Você e seu filho me destruiriam.
— Aiden ama você.
— E eu o amo. Mas quando você partir meu coração, eu também
vou perdê-lo. Por você… ser um imbecil — ela disse com sinais de bom
humor. — Eu perderia vocês dois.
— Então você tem certeza de que seria minha culpa. Algo que eu
causaria.
— Você olhou pra mim? Eu sou um anjo.
Inclinei a cabeça dela para trás e dei um beijo suave e rápido em
seus lábios.
— Não vamos jogar, Lucy. Eu quero seu coração, e eu terei. Não
vamos jogar, vamos pular essa parte.
— Humm. — Seus lábios se moveram contra os meus, e ela segurou
meu queixo. — Mimado. — Vindo dos lábios dela, não doeu. — Só
porque você é quem é, acha que pode ter o que quiser?
Seu dedo separou meus lábios e entrou na minha boca. Eu rocei sua
pele com os dentes, e suguei delicadamente em seguida. Ela se
aproximou.
— Não quero muito, Lucy. Você já deveria ter percebido isso agora.
— No entanto, você ainda quer meu coração.
— Quero uma chance de ter seu coração. Eu cuido do resto. Apenas
esqueça sua maldição estúpida e confie em mim. Só quero isso.
Com a palma da mão na minha bochecha, seus lábios pressionaram
os meus.
O tempo parou quando ela me beijou como se nunca tivesse me
beijado antes.
— Você não seria bom para o meu coração, Adam Connor — ela
sussurrou contra os meus lábios. — Você já está fazendo doer.
Enfiei a mão no meio aos cabelos dela e segurei sua cabeça
enquanto tomava seus lábios. Ela deixou. Gemeu tão docemente que
me deixou pronto.
Ela sabia que sua mão tremia na minha bochecha? Que ela estava
se apaixonando por mim, assim como eu a beijava como se ela já fosse
minha? Ela sabia o quanto estava acabando comigo?
Movi os lábios sobre os dela com mais firmeza. Movi o braço debaixo
dela e mantive seu rosto em minhas mãos. A cada gemido, a cada
suspiro, eu levava um pouco mais dela. Colocava tudo dentro de mim e
dizia para mim mesmo que seria assim. Que minhas noites e dias e
tudo entre uma coisa e outra seria preenchido por aquela mulher. Que
eu não a deixaria ir. Eu seria a casa dela. Eu daria a ela uma família. Eu
seria a família dela. O coração dela.
Naquela cama, seus lábios contra os meus, suas mãos segurando
meus pulsos, prometi a ela sem palavras que eu pegaria tudo o que
pudesse e, em troca, daria o mundo.
Eu seria o vento que ela adorava sentir em sua pele, o vento que
colocava aquele sorriso pacífico em seus lábios.
Eu seria o amor dela.
Aquele que quebraria a maldição em que ela tanto acreditava.
Se ela tivesse um bebê, eu daria o meu mundo a ele. Em troca, eu
só levaria o coração maltratado, mas ainda assim forte, de Lucy.
Ela soltou meu pulso e uma de suas mãos se moveu no meu peito,
deslizando cada vez mais. O quadril dela não parava de se mover, seu
corpo constantemente se movimentando contra o meu. Soltei seus
lábios e tirei a camisa para poder sentir suas mãos em mim.
Sem fôlego devido ao beijo, ela nem sequer hesitou antes de tirar a
roupa.
— Lucy — eu disse suavemente quando a peguei em meus braços
novamente, seus mamilos duros contra o meu peito.
— Eu quero você — ela sussurrou. — Quero seu pau dentro de mim
novamente. Me preencha, Adam.
Sua boca suja…
— Você pode ter o que quiser de mim, Lucy.
— Agora — ela sussurrou, sua mão esgueirando-se entre nós, as
pernas emaranhadas com as minhas como se ela quisesse ter certeza
de que eu ficaria.
Ela rapidamente abriu minha calça e sua mão tocou minha pele
quente, puxando meu pau para fora. Acariciando. Movimentando.
— Estou seriamente apaixonada pelo seu pau — ela murmurou, os
olhos fechados, os dentes mordendo o próprio lábio. — Você nem está
em cima de mim e minhas pernas já estão tremendo.
— Que bom — consegui dizer asperamente. — Meu pau é o único
que você terá por algum tempo, se depender de mim.
Ela riu, um som bonito.
— Sempre tão seguro de si. Você mal aprendeu a beijar. Eu não teria
tanta certeza se fosse você.
Meus quadris se moviam por conta própria, e deixei que ela
brincasse comigo, me acariciasse. Ela inclinou a cabeça para baixo e
observou sua mão se movendo em mim quando fechei os olhos. Estava
escuro, mas eu sabia que ela podia ver o suficiente. Meu pau pulsou
em suas mãos, crescendo e endurecendo. Quando ela passou o
polegar pela cabeça dele, sentiu minha lubrificação; eu estava mais do
que pronto para entrar em sua boceta apertada e molhada. Inclinei sua
cabeça para cima e a beijei até deixá-la sem fôlego novamente. Ela
segurou meu pau, seus dedos quase sem conseguir envolvê-lo por
completo, e eu a beijei com mais força.
Quando ela estava embriagada com meus beijos, eu me afastei e
mordi seu queixo.
— Achei que me quisesse dentro de você. Já terminou de brincar?
Ela me soltou e tirou a calcinha. Assim que terminou, procurei a
perna dela e a puxei sobre a minha coxa.
Apalpei a curva da sua bunda, fechando os olhos e memorizando
como era senti-la sob minhas mãos.
— Adam — ela gemeu impaciente.
Baixei a cabeça contra seu peito.
— Lucy. Eu não planejei isso. Eu não tenho camisinha.
Seu gemido fez meu pau tremer.
— Você está… limpo? — ela perguntou.
— Claro.
— Bem… eu também estou. Se você quiser… isso é… porque… eu
quero…
Com a testa descansando no seu peito, puxei seu quadril e empurrei
a cabeça do meu pau nela.
— Meu Deus — gemi, sentindo sua carne quente em torno do meu
pau sem nenhuma barreira entre nós.
— Sim… — ela gemeu, a cabeça caindo no travesseiro com um
baque suave. — Sim.
Ela era muito apertada. Uma das pernas dela ainda estava sobre a
minha coxa, então fiz questão de levantar a outra ainda mais para
deslizar mais facilmente. Fiquei tentado a deslizar outro dedo no ânus
dela novamente, assim como da última vez, mas não quis exagerar.
Isso… tê-la sem nada, pele com pele… era mais do que suficiente.
Engolindo em seco, penetrei mais fundo, centímetro por centímetro.
Antes que eu pudesse ir até o fim, ela puxou minha cabeça pelos
cabelos e me beijou em um frenesi.
Retribuindo seu beijo com fervor, saí de dentro da sua boceta úmida
e empurrei de volta, segurando sua bunda com força.
— Adam… — Eu era um sussurro em seus lábios. O sussurro mais
doce.
— Você não vai me perguntar se está dentro ou não de novo, vai?
Uma risada esganiçada escapou dos seus lábios.
— Não. Está bem dentro.
— Ótimo — murmurei e empurrei de volta. — Você quer tudo?
Ela assentiu e mordeu o lábio enquanto descansava a testa na
minha.
— Tudo.
Movi meus quadris ao mesmo tempo em que puxei os dela.
Ela gemeu, arqueando as costas, contraindo os músculos da vagina.
— Está dentro. Está dentro.
Eu ri, tentando não fazer barulho.
— E você está encharcada. De novo.
— Sim. — A mão dela se moveu para cima e para baixo no meu
braço, os dedos tremendo ao menor movimento do meu quadril.
Eu me afastei e voltei a penetrar, começando em um ritmo lento, mas
constante.
Fechando os olhos, ouvi sua respiração trêmula.
— Eu não vou durar muito — ela sussurrou como se estivesse com
dor.
Parei de me mover.
— Estou machucando você?
Ela riu baixinho.
— Sim, mas você faz doer gostoso. Eu sinto que estou voando. Nem
me importo se gozar ou não, é que… — Ela gemeu e engasgou quando
a penetrei algumas vezes e depois diminuí a velocidade de novo. —
Isto é perfeito. Estou fazendo o máximo para ficar quieta, mas… — A
respiração dela parou quando comecei a bombear mais e mais rápido.
— Você consegue aguentar — rosnei em seu ouvido.
— Sim. Sim. Eu consigo. Não se segure. — Ela segurou meus
ombros e arqueou o corpo.
Movimentando o quadril, eu a vi morder o lábio para se acalmar, e
meu pau ficou mais duro naquela boceta apertada enquanto seus
músculos tremiam ao meu redor. Seus dedos apertaram minha pele, e
eu fiquei totalmente encantado por ela.
— Devagar. Devagar, Adam. — A mão dela pressionava meu peito.
— Por quê? — gemi em seu pescoço. Eu estava tendo problemas
para me concentrar em tudo que não fosse a carne macia e firme ao
redor do meu pau. Ela era tão molhada, tão quente. Tão
inacreditavelmente minha.
— Se você continuar fazendo assim, vou gozar, e quero que você
fique dentro de mim um pouco mais. Só um pouco mais.
Eu a penetrei com movimentos preguiçosos, mas profundos, e
afastei seus cabelos do rosto. Ainda estávamos de lado, a bunda dela
ainda nas minhas mãos enquanto eu a usava como alavanca, puxando
e empurrando-a no meu pau.
— Ficarei dentro de você o tempo que você quiser, Lucy. Não se
segure. Eu não vou sair daqui.
Inclinando-me, lambi seu mamilo e gemi quando seus músculos me
apertaram ainda mais.
— Ah, Deus — ela gemeu. — Ah, droga!
Desesperada para lhe dar mais, eu a puxei sobre mim em um
movimento rápido e seus olhos se arregalaram, o choque claro em seu
rosto.
Ela arfou alto quando meu pau deslizou inteiro.
Obrigado, gravidade.
Agarrei seus pulsos e a puxei para baixo, no meu peito.
— Shhh — sussurrei, deslizando a mão em volta do pescoço dela. —
Você não quer acordar seus amigos, quer?
Em resposta, ela pressionou o quadril contra mim, movendo-o em
círculo, me deixando louco.
— Você ama isso, não é? Adora me deixar louco.
Ela colocou as mãos no meu peito, dando-me uma visão dos seus
belos seios inchados. Acariciei suas coxas, sua pele queimando
embaixo das minhas mãos.
— Você é o único que me deixa louca com esse seu pau — ela
sussurrou.
Minhas mãos subiram para sua bunda, e a fiz sentar. Antes que ela
pudesse deslizar sobre mim, levantei os joelhos e comecei a penetrá-la
subindo meu corpo.
Suas mãos no meu peito se cerraram em punhos quando dei a ela
cada centímetro do meu pau, penetrando até ela perder o controle, a
segundos de explodir. Tirei meu pau até ficar só a cabeça e, em
seguida, sentei-a de volta, entrando tão fundo quanto seu corpo me
permitia.
Acho que ela não estava esperando o orgasmo que tomou conta do
seu corpo. Aumentei meu ritmo e a penetrei com mais força enquanto
ela recebia. Eu estava implacável, observando seus seios moverem-se
com a força dos meus impulsos… Eu queria que ela me desse tudo,
que se soltasse.
Quando sua respiração foi interrompida, ela levou as mãos à boca e
soltou um gemido alto, a mão mal abafando o som. Eu me aprofundei
mais e mais até que seu corpo começou a balançar sobre mim, seus
olhos se revirando.
Minha mandíbula se contraiu. Soltei um suspiro e diminuí a
velocidade dos meus impulsos para que ela pudesse respirar e se
acalmar. Sua boceta estava me segurando com muita força, tornando
quase impossível um movimento dentro dela.
Quando ela abriu os olhos e me viu com aquele sorriso lindo, eu me
soltei.
Me dominando, ela se moveu no meu pau, seus músculos internos
ainda tremendo.
— Você acabou comigo — disse ela, aquele sorriso ainda presente.
— Eu amo isso. Amo como você me deixa maluca, Adam.
Com o coração batendo forte no peito, eu ri e deixei minhas mãos
vagarem sobre sua barriga, suas coxas, seus seios.
Eu não duraria muito.
— Onde você me quer pra sua segunda vez? — perguntei com uma
voz rouca. — Estou muito perto. Como você quer que eu te pegue?
Ela inclinou a cabeça e olhou para mim por alguns segundos
silenciosos.
— Na minha boca — ela falou finalmente e se afastou do meu pau.
Eu estava completamente encharcado com seus fluidos. Como ela se
posicionou entre minhas pernas, eu me acariciei, amando o fato de ser
a única pessoa que podia fazer com que ela gozasse tanto.
— Olhe essa bagunça — murmurei, vendo-a lamber os lábios ao me
observar. — Você vai limpar tudo isso?
Ela assentiu e rodeou as duas mãos em torno da base do meu pau
antes de puxar para cima. Lambendo os lábios, ela se aproximou e
passou a língua na lateral de cima para baixo.
— Venha aqui, Lucy.
Me soltando, ela se moveu e me deu os lábios antes que eu pudesse
pedir. Eu a beijei e chupei sua língua para dentro da minha boca,
amando seu gosto. Em pouco tempo, ela se afastou e voltou para o
meu pau.
Abri as pernas e a observei lentamente enquanto ela enfiava a
cabeça em sua boca, seus olhos travados nos meus quando
lentamente foi mais fundo.
Ela me chupou, me fazendo gemer e relaxar mais profundamente na
cama.
Com uma das mãos, juntei seus cabelos para que não encobrissem
minha visão enquanto eu a observasse.
— Você é perfeita, Lucy. Você é muito perfeita.
Ela gemeu enquanto eu ainda estava em sua boca e começou a me
chupar mais forte, movendo as mãos para cima e para baixo ao mesmo
tempo.
Eu adorava ver meu pau desaparecer na boceta dela, mas vê-la me
tomar na boca e fazer isso com tanto prazer… fez minha espinha se
arrepiar.
Não havia como eu deixá-la ir. Eu poderia passar a vida toda vendo
aqueles lábios me chupando, me beijando, sorrindo, mentindo enquanto
ela insistia em dizer que me odiava.
Quando ela teve ânsia de vômito devido ao movimento, eu a afastei
e acariciei sua bochecha.
— Calma, linda. Devagar.
Ela assentiu e girou a língua na cabeça dele.
Eu estava a segundos de perder o controle no rosto dela, não a
minutos.
— Chupe a cabeça — murmurei, quase sem força. Graças a Deus
ela ouviu. — Um pouco mais. É isso aí. É isso, querida. Tome mais de
mim.
Desesperado para gozar, tê-la em meus braços, para sentir seu
coração bater contra o meu, eu a agarrei sob seus braços e a puxei
para perto de mim.
— O que você está fazendo? Você foi tão…
Eu a beijei e coloquei sua mão no meu pau novamente, cobrindo a
mão dela com a minha.
— Quero você mais perto — eu disse com uma voz grossa. — Quero
você nos meus lábios quando eu gozar.
Dando-me um beijo suave como se ela entendesse o que eu queria
dizer, do que eu precisava, ela me deixou definir o ritmo e, em alguns
segundos, eu gozei em nossas mãos e na minha barriga, o líquido
quente saindo de mim em ondas.
Gemendo em sua boca, fechei os olhos e deixei sua mão
suavemente me acariciar.
Por alguns minutos, nenhum de nós disse nada enquanto nossos
corpos se acalmavam. Peguei o lençol e limpei a barriga e nossas
mãos. Quando minha frequência cardíaca voltou ao normal ― ou pelo
menos perto de normal ―, me virei para Lucy e suavemente a beijei.
Ela derreteu nos meus braços.
Quando ela acariciou minha bochecha, parei de beijá-la e apenas
respirei seu perfume.
— Eu quero você, Lucy.
— Você não vai chegar perto da minha vagina agora. Toda vez que
você entra lá, minhas pernas começam a tremer incontrolavelmente.
Eu ri baixinho.
— Lucy, você não sabe? Se suas pernas não ficam tremendo no
final, é sinal de que a transa não foi boa.
Ela deitou a cabeça no meu peito e eu acariciei seus cabelos.
— Obrigada — disse ela. — Eu não percebi o quanto precisava de
você hoje à noite. Obrigada por vir me ver.
Inclinando a cabeça e vendo seu olhar… Fechei a boca e a segurei
mais para perto de mim.
Ela era minha e pronto. Eu não precisava entender o que estava
acontecendo, só tinha que aceitar e estava tudo bem se ela não
estivesse pronta para essa compreensão ainda. Eu não me importava
de esperar. Ela valia a pena.
— Eu serei a pessoa a falar com o seu coração, Lucy Meyer, assim
como você parece falar com o meu — murmurei, meus lábios se
movendo sobre sua testa, e ela lentamente adormeceu em meus
braços.

Sim, você leu certo. Existem rumores e, bem… uma cópia de um


vídeo íntimo vazado de Adeline Young sendo distribuída. O que torna
essa notícia inesperada ainda mais chocante é que a pessoa que está
tentando vender o vídeo de vinte minutos para quem oferecer mais
dinheiro afirma que ele é de uma época em que Adeline ainda era
casada.
Nós já vimos esse suposto vídeo íntimo? Temos certeza de que
Adeline Young é a estrela dele? Sim e sim. Vimos algumas partes e
lamentamos dizer que, sim, Adeline Young é realmente a estrela desse
curta-metragem. E que filme é esse… se você não acredita em nós,
pode dar uma olhada nas fotos que apareceram na internet na noite de
ontem.
Durante o casamento, nem Adeline nem Adam foram vistos com
estranhos. Quando soubemos sobre o divórcio, ficamos repetindo esse
fato, mas, se a data informada nesse vídeo for verdadeira, significa que
Adeline Young realmente traiu o marido pelo menos uma vez, até onde
sabemos.
Ainda estamos esperando para saber sobre a identidade desse
homem misterioso e, assim que tivermos um nome, compartilharemos
com você. Mas isso realmente importa? Isso afetará Adam Connor
menos se for outro ator ou um cara aleatório da rua? Achamos que não.
Entramos em contato com os agentes de Adeline no início desta
manhã, e eles negaram veementemente a história sobre o vazamento
do vídeo, insistindo que as imagens retiradas das gravações foram
alteradas. Como a jovem atriz tem aproveitado todas as oportunidades
para ficar na frente das câmeras desde seu divórcio, esperamos que
ela envie um comunicado à imprensa ou apareça em uma entrevista ao
vivo para tentar explicar a história.
Os representantes de Adam Connor ainda não se manifestaram.
Gentilmente, coloquei o laptop sobre a cama onde eu havia
adormecido nos braços de Adam na noite anterior e me levantei.
Inspire e expire, Lucy.
Quando estava calma o suficiente para respirar como uma pessoa
normal novamente, entrei na sala de estar onde Olive estava
trabalhando em seu manuscrito.
— Olive — chamei, sem saber onde colocar as mãos enquanto
estivesse na frente dela.
Seus olhos se arregalaram quando ela viu que eu estava tremendo
como uma vara verde, e ela pulou do sofá onde estava afundada.
Ela correu para o meu lado.
— Gravidez. Bebê. Médico ligou. Resultados.
Balancei a cabeça e pulei na ponta dos pés, as mãos começando a
tremer.
— Você conseguiu — eu gritei e depois levei o punho cerrado à
boca.
Inspire e expire.
— Consegui o quê? — Ela colocou as mãos nos meus braços para
me impedir de me remexer. — Lucy, você está começando a me
assustar. O que eu consegui?
Borbulhando de emoção, agarrei suas mãos e me inclinei para mais
perto para que pudesse gritar na cara dela.
— Você conseguiu um contrato de dez milhões de dólares!
Seu rosto ficou lívido e ela sussurrou: — O quê? — E então veio o
grito, é claro. — O quê?!
Com o coração batendo na garganta, soltei uma respiração profunda.
— Olive — comecei a explicar com a calma que pude, mas não
muita. — Se você assinar o contrato que eles enviaram, você será a
orgulhosa dona de… dez milhões de dólares!
Bem quando ela começou a pular sem parar comigo, ela parou.
— Ah, espere. Lucy, não. O que você fez? Você ofereceu a eles meu
primogênito ou algo assim?
Eu ri, minhas bochechas doendo devido aos sorrisos se espalhando
pelo meu rosto.
— Não. Eles querem republicar Dor na Alma e querem mais três
livros seus. Você já terminou um, então precisa escrever mais dois.
Ela cobriu a boca com as mãos, claramente ainda em choque. Eu a
abracei com força e a ajudei a pular comigo.
— Ai, meu Deus, Lucy. Ai, meu Deus. Ai, meu Deus.
— Foi exatamente o que eu disse quando comecei a ler o contrato
uma hora atrás.
Seus olhos ainda estavam arregalados quando a soltei, e seu olhar
encontrou o meu.
— Foi por isso que você foi para seu quarto? Eu pensei que você
fosse… ah, droga. Você disse dez milhões de dólares?
— Sim — confirmei balançando a cabeça, mal conseguindo manter a
calma.
Dessa vez, foi Olive quem me esmagou em seus abraços.
— Você conseguiu. Você se tornou oficialmente minha agente, Lucy.
Estamos trabalhando juntas. Oh, meu Deus! — Ela se afastou e sorriu
ainda mais. — Você está rica também! Você nunca mais precisa ligar
para Catherine! Nós vamos ter um bebê e estamos ganhando dinheiro
e estamos vendendo livros!
Nós rimos pelo que pareceram horas e choramos como as idiotas
que éramos.
— Eu tenho que ligar para o Jason — Olive resmungou. — E pra
minha mãe.
Quando começamos a busca pelo telefone dela, o meu começou a
tocar. Como se fosse um monstro ofegante que arrancaria minha
cabeça se eu chegasse muito perto, escondi as mãos atrás das costas
e me inclinei sobre a mesa de centro para ver quem estava ligando.
— Consultório médico — sussurrei, olhando para Olive com olhos
assustados, certamente. — É do consultório médico. O que eu faço?
— Quer que eu atenda?
Engoli o nó na garganta e peguei o telefone.
— Vai ficar tudo bem — consegui dizer antes de deslizar o dedo na
tela e dizer alô para quem estava esperando para falar comigo do outro
lado.
Deus, por favor, não me deixe ter um ataque cardíaco. Eu prometo
que vou ser boazinha a partir de agora.
— Oi. Sim, sou Lucy Meyer.
Cegamente, peguei a mão de Olive e ela a segurou com força.
— Sim. Sim, eu gostaria de saber, por favor.
Ouvi as palavras. Agradeci a ela. Encerrei a ligação. Gentilmente,
desliguei o telefone e fiquei lá.
— Lucy?
Começando a sentir náuseas, fui até o sofá e me sentei. Olive correu
para a cozinha e voltou com um copo de água. Imaginei que eu devia
ter sussurrado algo sobre estar enjoada.
Ajoelhada na minha frente, ela esperou que eu falasse.
Engoli em seco, pigarreei e finalmente falei enquanto olhava nos
olhos preocupados da minha amiga.
— Eu não estou grávida. Eu… — Apoiei as palmas das mãos na
barriga. — Nós não vamos ter um bebê.
— Mas a sua menstruação…
— Eu não sei. Talvez tenha decidido tirar férias?
— Pode ser. Você estava estressada e triste com a separação.
Segundos se passaram em silêncio, então Olive levantou do chão e
sentou ao meu lado.
— O que significa eu estar aliviada, Olive? Isso faz de mim uma
pessoa má?
— Ah, Lucy. — Ela me abraçou, e nós caímos contra o sofá. — Claro
que não.
— Ainda me sinto uma pessoa má.
— Bem, você não é, então pare de pensar assim.
— Só não queria cometer os mesmos erros que elas. Esse era o
ponto principal.
— Eu sei, Lucy, e tudo bem. Não há problema em querer ser
diferente, mesmo que você já não seja nada parecida com elas.
Ansiando mudar de assunto, eu disse: — Não estou grávida e você é
rica. — Deixei a informação assentar por um tempo enquanto olhava
para minha melhor amiga, me permitindo um sorriso. — Eu acho que
isso pede uma comemoração.
— Festa dançante?
— Com cantoria e tudo.
— Jason vai se encontrar com Tom e… Adam, então acho que
devemos convidar seu futuro interesse amoroso e seu adorável filho
também.
Eu gemi e me levantei do sofá. Espere um minuto…
— Por que ele vai se encontrar com Jason e Tom?
— Tom tem um roteiro para os dois. Eles podem acabar sendo
coestrelas em um filme. Então, veja só, agora você tem que se casar
com ele para que possamos viajar juntas enquanto eles estiverem
filmando e até dando entrevistas. Seremos como Kristen Bell e Mila
Kunis.
— Só que elas são atrizes e nós não — apontei.
— Bem, sim, mas elas são casadas com atores e todos são amigos.
Pensei sobre isso ― não a parte de Kristen Bell/Mila Kunis, é claro, e
nem mesmo a parte do casamento louco, mas a parte do simples
convite de Adam e Aiden. Eu sentia falta do pequeno humano, afinal,
e… e também não faria mal ter Adam Connor por perto; ele era um bom
colírio para os olhos.
Principalmente agora que meu pequeno coração idiota tamborilava
feliz quando ele estava por perto.
— Tudo bem — resmunguei. — Certo. Vamos ligar para ele também.
Olive gritou e deu um salto, procurando o celular entre as almofadas.
Será que eu estava baixando a guarda? Meu coração estava
cometendo outro erro ao começar a me sentir feliz e leve em torno
desse homem incrível, lindo de morrer, que eu achava que estava se
apaixonando por mim?
Meu encontro com Tom foi bom. Na verdade, tinha sido ainda melhor
do que só bom. Depois de discutirmos minha situação atual com a Sun
Down Pictures, Jason se juntou a nós e discutimos a possibilidade de
trabalharmos juntos em um novo projeto. Tom estava muito animado
com a ideia, e eu achava que Jason também estava. Depois de
percorrer as páginas do roteiro, prometi a eles que terminaria de lê-lo o
mais rápido possível, e, pelo que pude ver, era bom.
Infelizmente, o que aconteceu após a reunião me assustou
completamente. Saímos do café onde havíamos nos encontrado e nos
separamos de Tom. Depois que concordamos em nos encontrar na
casa de Jason e de ver a surpresa de Olive, Jason recebeu outra
ligação enquanto esperávamos nossos carros serem trazidos.
Terminando a ligação, ele se virou para mim.
— Ok. O lance é o seguinte... — Ele passou a mão pelos cabelos.
Intrigado, esperei que ele continuasse. Estava prestes a ser
desconvidado depois de ser convidado por Olive? Eu não ficaria
surpreso, especialmente se fosse a decisão de Lucy.
— Não vou fingir que não sei o que está acontecendo entre você e a
Lucy, mas estou imaginando que há alguma coisa.
Ele fez uma pausa, esperando por uma resposta minha. Balancei a
cabeça para ele continuar.
— Você sabe que ela está grávida e ainda assim passou a noite com
ela ontem. Mais uma vez, por causa disso, vou imaginar que há algo
sério acontecendo e ela é, de alguma forma, importante para você.
— Onde você está querendo chegar exatamente, Jason? Era Lucy
no telefone?
— Não. E, para ser sincero, realmente não quero me intrometer,
mas, se Lucy for embora, Olive vai…
O manobrista trouxe nossos carros e ficamos distraídos por um
minuto ou mais. Antes que Jason pudesse continuar, meu celular
começou a tocar.
— O que você quer dizer com Lucy ir embora? — Distraído, verifiquei
a tela: minha advogada.
— Se ela partir para Pittsburgh.
Lentamente, levantei os olhos e encontrei o olhar desconfortável de
Jason.
— Pittsburgh? Lucy não disse nada sobre ir embora para Pittsburgh.
— Por alguma razão, eu não achava que ela mentiria para mim sobre
algo tão importante quanto se mudar. Ela não iria simplesmente
desaparecer.
— Não estou dizendo que ela vai embora, mas esse telefonema… —
Ele suspirou e balançou a cabeça. — Eu não tenho ideia se você vai
fazer alguma coisa com isso ou não, mas estou te dando um aviso, de
qualquer maneira. O ex dela está me esperando para buscá-lo. — Ele
levantou o celular. — Foi ele quem ligou.
— E…? — indaguei, minha mente de repente um lugar muito calmo
e perigoso para mim mesmo. — Eles vão voltar?
Ele balançou sua cabeça.
— Não tenho ideia do que está acontecendo entre eles, mas acho
que não. Ele está aqui por causa da gravidez. Acho que ele não lidou
bem com a notícia da Lucy, e imagino que esteja aqui para corrigir as
coisas. Vou levá-lo para casa.
— Ele a quer — palpitei.
Estremecendo, ele esfregou a ponta do nariz.
— Pelo que ouvi de Olive, sim. Sim, acho que ele quer que ela volte
para ele.
— Me dê uma vantagem — pedi imediatamente, dando a volta no
meu carro enquanto Jason permanecia parado. — Pegue o caminho
mais longo ou algo assim. Me dê uma vantagem.
Quando entrei no carro e fui embora, Jason estava sorrindo.

Depois que atravessei os portões, Olive me encontrou na porta.


— Ah — ela murmurou, parecendo confusa. — Oi. Pensei que fosse
o Jason. — Inclinando-se para a direita, ela olhou para trás. — E o
Aiden?
— Ainda está na escola e tenho medo de não conseguir tirá-lo da
Adeline, não hoje. — Não quando ela estava sendo o único assunto na
imprensa. Além disso, eu achava que ela não me deixaria ficar com
Aiden quando não fosse a minha vez depois que entrei com o pedido
de guarda exclusiva.
— Ah, isso é muito ruim. Entre, entre.
Fechando a porta depois de entrar, eu a segui para dentro.
— Posso falar com a Lucy?
— Claro. Estávamos no quarto dela. Quer que eu a chame?
— Você se importaria se eu a roubasse um pouco? Só preciso de
alguns minutos.
Lançando-me um olhar curioso, ela sorriu suavemente.
— Claro. Pode roubar.
Franzindo a testa para sua escolha de palavras, eu me afastei.
Quando cheguei ao quarto de Lucy, a porta estava aberta, então
entrei e a fechei.
— Adam? O que você está fazendo aqui? — Lucy perguntou quando
saiu do banheiro.
— Você não me convidou?
Ela se aproximou e sorriu maliciosamente.
— Sim, bem, foi a Olive, na verdade, mas eu também não fiz
objeções, então isso deve valer alguma coisa.
Assenti.
— Eu esperava isso.
— Vou mudar minha pergunta, então. Por que estamos escondidos
aqui? Pensei que você tivesse vindo para uma rapidinha da tarde, mas
seu rosto me diz que outra coisa está acontecendo.
— Precisamos conversar.
— Precisamos conversar sobre… — Ela cruzou os braços e esperou
que eu continuasse.
— Eu ia te dar um tempo, Lucy. Em vez de tentar derrubar suas
proteções, ia esperar que você estivesse pronta para derrubá-las
sozinha, mas o tempo acabou.
Ela abaixou os braços e se endireitou, e não fui capaz de entender
sua expressão.
Dei um passo em sua direção, mas ainda me mantive distante.
— Algo está acontecendo aqui. Há algo em relação a você, em
relação a nós… Não consigo descobrir exatamente o que é, mas quero
você na minha vida. Eu te conheço; pelo menos eu sinto que te
conheço e quero que você me dê mais de si. Eu te pedi para me dar
uma chance de cuidar do seu coração ontem à noite e receio precisar
de uma resposta agora.
Ela estava completamente parada na minha frente, seus olhos
ilegíveis. Como sempre, eu não tinha ideia do que ela ia dizer, e não
gostava disso. Não gostava que ela estivesse me mantendo afastada.
— O que está acontecendo aqui? — ela perguntou finalmente. —
Você acabou de dizer que não queria me pressionar, mas está aqui
fazendo exatamente isso.
Eu me aproximei dela, e ela se encostou na parede. Olhando em
seus olhos, encostei a testa na dela e inspirei seu perfume para tentar
acalmar meu coração, que batia subitamente acelerado. Ela não
conseguiria se livrar.
— Seu ex está aqui. Em Los Angeles. Jason está trazendo ele aqui.
Ela se afastou de mim, as sobrancelhas franzidas.
— Jameson? Ele está aqui?
Assenti.
— Só posso imaginar que ele esteja aqui pelo bebê… e por você.
— Adam, não há…
— Não. Preciso que você me dê uma resposta antes de vê-lo.
— Duvido que ele esteja aqui por mim, Adam. Você está sendo
ridículo. Quando eu disse que estava grávida, ele me perguntou o que
eu pretendia fazer com o bebê. Essa não é uma pergunta que alguém
que se importa faria.
— Lucy — eu disse suavemente, segurando seu queixo entre os
dedos. — Nenhum cara voaria para outra cidade por uma garota com
quem ele não se importasse.
Corri meu dedo por sua mandíbula e vi seus lábios se abrirem para
mim. Inclinando-me, roubei um beijo suave.
— Você vai fazer com que eu me prepare para a briga, não é?
— Não tenho ideia de qual briga você está falando, mas com certeza
vamos ver. Diga.
— Eu sou apenas um garoto… em pé na frente de uma garota,
pedindo para que ela o ame.
Um sorriso cauteloso surgiu em seus lábios.
— Citando Notting Hill, hein? Uma baita briga, você está certo. Você
acha que isso vai me afetar? Que ouvir você dizer isso pra mim vai
fazer meu coração bater mais rápido?
Ela pegou minha mão e pressionou a palma em seu coração, onde
pude sentir a rapidez com que ele estava batendo por mim.
Nós nos encaramos por um longo momento, parados assim.
Pele com pele.
Coração com coração.
— Ouvi que algumas garotas se derretem quando ouvem um cara
citando falas de filmes, então pensei em testar com essa garota.
Suas mãos se soltaram das minhas, então eu envolvi seu pescoço,
sentindo sua pulsação.
— Você me deixa louco, Lucy.
Lentamente, o sorriso dela desapareceu.
— Você está me assustando, Adam.
— Isso é bom. Não me importo de assustá-la se isso fizer você
aceitar que estamos sentindo algo um pelo outro.
— Eu não posso te amar — ela respondeu antes que as palavras
terminassem de sair da minha boca. — Não posso te dizer as palavras.
Você pode não acreditar em mim quando digo que sou amaldiçoada,
mas isso não muda o fato de eu ser amaldiçoada.
Puxei-a para mais perto de mim, seu peito contra o meu.
— Lucy, me diga que você me odeia. Eu não ligo. Prefiro que você
minta e diga que me odeia do que ouvir outra pessoa que mente
dizendo “eu te amo”.
— Se digo que te odeio, realmente significa que te odeio. Eu não
estou mentindo. E você me irrita, então eu te odeio de verdade.
— Tudo bem. — Enterrei o nariz em seu pescoço e sorri. — Você é
minha, então? Ele não vai te reconquistar?
A batida na porta nos interrompeu antes que Lucy pudesse me dar
uma resposta real.
— Lucy? Jameson está aqui. Ele está esperando por você.
Olhei para ela e a vi olhando para mim.
— Vou em um minuto. Obrigada, Olive.
A voz de Olive foi um murmúrio baixo do outro lado da porta.
— Claro.
Deixei meus lábios descansarem contra os dela e suspirei.
— Vou deixar você fazer o que quiser. Toda noite.
— Bem. Ok. Vou tentar.
— Eu sabia que falar de sexo te tocaria. Estou pensando se deveria
estar preocupado com o tamanho do seu amor pelo meu pau.
Ela soltou uma risadinha e descansou as duas mãos no meu peito
enquanto eu passava os braços em volta da sua cintura e a forçava a
ficar ainda mais perto de mim.
— Bem, eu amo mesmo. E você não é tão ruim assim. Beija mais ou
menos, mas não é tão ruim de cama.
Finalmente, soltei um longo suspiro e relaxei. Estava tudo bem,
aparentemente. Sorri contra seus lábios.
— Boa. Vou deixar você brincar com ele assim que estivermos a sós.
Afastei-me e, depois de me dar um sorriso, ela se moveu em direção
à porta.
— Eu acho que preciso ir lá.
Coloquei a mão dela na minha.
— Nós podemos fazer isso juntos. Se ele está interessado em
participar da vida do bebê, significa que vou vê-lo sempre.
Ela bufou e balançou a cabeça.
— Você tem muita certeza de que vou ficar com você por muito
tempo, hein?
— Planejo que seja assim e não se preocupe: não serei expulso tão
facilmente. Eu sei cuidar do que é meu. Você não vai querer me perder.
Com a mão ainda na maçaneta, ela me lançou um olhar demorado.
— Você quer a mim e ao bebê? Você nem está preocupado com o
fato de a minha barriga crescer e eu ficar enorme? Estou só
perguntando para ter a certeza.
— Com bebê ou não, você ainda é a mesma, e eu quero você. Eu
quero você e tudo o que vem com você, até sua pequena maldição.
Assim como prometi a ela na noite em que ela foi até mim, eu curaria
seu coração e seria a pessoa a quebrar sua maldição, se precisasse
disso para ela acreditar em mim.
Então eu disse “sim”. Então eu quebrei minhas próprias regras e cedi
a ele. Regras são feitas para serem quebradas, não são? E desta vez
eu não diria aquelas palavras. Eu não mostraria a ele o quanto eu me
importava, o quanto estava me apaixonando. Eu fingiria. Ele não veria,
então não poderia me machucar.
Eu estava namorando Adam Connor, dava para acreditar?
Com o coração inquieto e preso no meu peito, saí do quarto com
Adam logo atrás de mim.
Encontrei Jameson em pé na frente da porta aberta, olhando para
fora. Suas mãos estavam dentro dos bolsos, e seus ombros estavam
tensos.
Parei e o observei parado ali, mas não encontrei Olive e Jason. Olhei
para trás e vi Adam parado alguns passos atrás, me dando algum
espaço, imaginei. Ele abriu um sorriso tranquilizador e encostou-se na
parede, claramente me dizendo que não tinha intenção de sair da sala.
Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Jameson chamou meu
nome e tive que desviar dos olhos hipnotizadores de Adam.
— Lucy. — A voz de Jameson era suave, e eu pensei ter notado um
toque de… arrependimento? Ou talvez fosse cansaço da viagem e eu
estivesse imaginando coisas.
Respirei fundo e me aproximei dele.
Sentindo os olhos de Adam fixos atrás de mim, deixei Jameson dar
um beijo suave no meu pescoço, logo abaixo da orelha ― seu lugar
favorito, que também era meu lugar favorito até pouco tempo.
Por um breve momento, fechei os olhos e esperei me emocionar com
o toque, mas não aconteceu. Não senti nada.
Nem amor. Nem mesmo raiva.
Surpresa, dei um passo para trás.
— O que você está fazendo aqui, Jameson? — perguntei, minha voz
um pouco rouca.
— Sinto muito pelo que disse ao telefone, Lucy. — Ele soltou um
suspiro profundo e passou a mão pelo cabelo, parecendo perdido. —
Eu não sabia o que pensar e disse as palavras erradas.
— Tudo bem.
Talvez, se eu realmente estivesse grávida, ficaria chateada com ele
por suas palavras, mas como não estava, não vi necessidade de fingir.
— Não. — Ele agarrou minhas mãos e apertou. — Não, não está
tudo bem, e eu senti sua falta, Lucy.
— Eu sei…
Os olhos de Jameson se moveram sobre o meu ombro e ele parou
de falar.
— Você poderia nos dar um minuto, por favor? — ele pediu a Adam.
— Acho que não posso.
Com minhas mãos ainda firmes nas dele, os olhos de Jameson se
voltaram para os meus e ele franziu a testa.
Então, senti a mão de Adam nas minhas costas e fiquei tensa.
— Você pode soltá-la agora — Adam demandou.
— Lucy?
Pigarreei e pensei em apresentá-los. Seria uma bobagem a se fazer,
pois um obviamente estava ciente sobre o outro, mas eu não conseguia
pensar em nada a dizer ou fazer.
Delicadamente, afastei as mãos das de Jameson.
— Jameson, este é Adam Connor. Ele é… vizinho da Olive e do
Jason.
Adam abaixou a mão, e a temperatura da sala caiu muito
rapidamente depois disso.
— Adam… — eu me arrisquei e olhei para cima e para trás, meio
esperando não encontrá-lo. Mas não, ele não tinha saído. Ele ainda
estava lá. Seu cheiro ainda estava em mim, mas não… seu toque. Não
havia calor.
Merda.
Como eu apresentaria Jameson a ele? “Meu ex” parecia tão…
estúpido.
— Adam, este é meu amigo Jameson.
Não houve aperto de mão, apenas meneios de cabeça.
Estranho.
— Vou perguntar novamente: você pode nos dar um minuto?
— E eu vou responder novamente: receio que não.
Ah, pelo amor de Deus…
Não dando a Jameson a chance de responder, agarrei seu braço
para chamar sua atenção.
Sua carranca se virou para mim assim que o toquei.
— Jameson, eu não estou grávida — despejei. Eu nunca fui de
gostar de drama.
Ciente de que isso também seria novidade para Adam, escolhi
manter meus olhos em Jameson. Eu não me importava de manter
Adam na sala conosco, mas aquilo era entre mim e Jameson. Mesmo
depois do jeito que ele havia me deixado, eu daria isso a ele.
A carranca ainda estava em seu rosto quando ele perguntou: —
Como assim? Mas você disse…
— Eu disse que avisaria depois que recebesse os resultados do
médico.
— Mas você disse que fez um desses testes caseiros.
— Fiz. Mas só fiz um. — Olhei para Adam antes de voltar a falar. —
Fiquei com medo de fazer mais de um. Aparentemente, até esses
testes podem dar resultado errado.
— Então você recebeu os resultados do médico e… eles são
conclusivos.
Assenti.
— Sim. Hoje. Algumas horas atrás. — Olhei para trás para avaliar a
expressão de Adam, mas ele não deixou transparecer nada. O fato de
ele não olhar nos meus olhos não era um bom sinal. — Eu ia ligar.
Embora, para ser sincera, achei que você não se importaria… é por
isso que estou tão surpresa em vê-lo aqui.
— Eu não voltei só por causa da… gravidez. Eu queria você.
O braço de Adam envolveu minha cintura, e eu relaxei em seu toque
enquanto ele falava.
— Lucy. — Eu me derretia por dentro toda vez que ele pronunciava
meu nome com aqueles lábios, e eu o odiava um pouco por isso. Só um
pouquinho, sério. — Não faz diferença para mim. Com bebê ou sem. Eu
só estou feliz porque agora você não vai gastar horas e horas temendo
acabar como as mulheres da sua adorável família. E…
Ele fez uma pausa e lançou um rápido olhar para Jameson, para dar
um pouco mais de força às suas palavras, imagino.
— E você merece o melhor. Você não merece entrar em pânico por
conta disso. Você não merece ficar sozinha. Você merece muito mais.
Com aquelas palavras, ele se inclinou e beijou meus lábios. Bem na
frente de Jameson. Não acho que tenha sido para causar ciúmes, mas
talvez fosse para deixar as coisas claras? Como eu ia saber? Ele
estava me beijando, e isso bastava.
Não achei que ele estivesse marcando o território, mas tão
suavemente como tinha começado ― uma tranquilidade delicada,
íntima, talvez ― terminou, e pareceu tão intenso como qualquer outro
de seus beijos avassaladores; ouso dizer que quase tão intenso quanto
aqueles beijos que ele me dava quando estava me penetrando, quando
estava ocupado cuidando para que eu me sentisse nas nuvens.
Com a voz grossa e grave, ele continuou: — Tenho que ir encontrar
minha advogada. Ela está me ligando há uma hora. Preciso ver se está
tudo bem.
Ainda um pouco delirante por seu beijo, assenti.
— Esteja pronto às oito. Vamos jantar e conversar, ok?
Eu não sabia sobre o que falaríamos.
— Eu… — Pigarreei. — Na verdade, temos algo para comemorar,
então usamos o nome de Jason e fizemos reservas para beber e jantar.
Vai ser especial.
— Eu estou convidado?
— Mudaria alguma coisa se eu dissesse não?
— Não mudaria.
Revirei os olhos, mas acho que ele viu meu sorriso discreto.
— Então, sendo assim, você também pode ir.
Ele me deu outro beijo na bochecha, exatamente na borda do meu
lábio, e meu coração ficou animado de novo.
— Então vamos para casa depois do jantar. Conversar.
— Casa, hein? — falei suavemente com um sorriso. Ele disse a
mesma coisa na noite em que me deu uma carona depois do desastre
de Jake Callum.
Ele assentiu e acariciou minha bochecha.
Sem saber bem o que eu estava tentando dizer, encontrei seu olhar
e admiti: — Não gosto de dizer isso, mas você tem quarenta e nove de
mim agora, Adam Connor.
E, neste momento, acima de tudo, eu tinha que começar a odiá-lo
por me dar a sensação de que ele pudesse ser meu lar um dia.
— Eu gosto de quarenta e nove. É um bom número.
Quando Adam lançou outro olhar para Jameson e saiu, eu sabia que
estava completamente ferrada. Com apenas um beijo, ele tinha
conseguido me fazer esquecer que não estávamos sozinhos na sala e
que meu ex estava olhando para nós com a expressão mais
terrivelmente triste.
— Quando isso aconteceu, Lucy? — ele perguntou baixinho.
Não havia sentido em mentir.
— Não tenho certeza. Cinco minutos atrás? Um mês atrás?
Ele se afastou de mim e se sentou no sofá. Me sentindo estranha, fiz
o mesmo e me sentei em frente a ele.
— Então você não está grávida.
— Não. — Era difícil avaliar o que ele estava pensando.
Ele uniu as mãos e se inclinou para a frente, os cotovelos apoiados
nas coxas. Depois de olhar rapidamente para mim, ele suspirou e
admitiu: — Eu queria que você fosse comigo, sabe? Antes de vir, eu
pensei em mil maneiras de perguntar, mil maneiras de encontrar o jeito
certo de perguntar para fazer com que você acabasse dizendo: “Sim,
Jameson. Eu quero ir com você”. Mas sabia que você nunca diria isso.
Você nunca correria um risco tão grande. Afinal, você se recusou a
dormir na mesma cama comigo por meses; como poderia aceitar morar
comigo? E então eu pensei que talvez não devesse ser tão difícil fazer
uma pergunta tão simples. Talvez, se fosse a pergunta certa, se você
quisesse ir comigo, você teria dito alguma coisa quando soube da
oferta de emprego. Mas você não fez isso. Então eu parti.
— Então você partiu — repeti suas palavras quando ficou óbvio que
ele não iria continuar. Talvez ele estivesse esperando que eu
confirmasse suas suspeitas. Eu não pude fazer isso. Mesmo sabendo
que isso teria feito com que ele se sentisse melhor com suas decisões,
eu não consegui. Não queria mentir para ele. — Se você tivesse
perguntado, eu teria ido com você, Jameson. — Dei a ele um sorriso
triste. — Mas talvez você esteja certo. Se foi tão difícil para você me
pedir para ir, se tinha dúvidas sobre meus sentimentos, sentimentos
que você sabia que eu tinha dificuldade de admitir, então não teria dado
certo, de qualquer modo.
— Eu não lidei bem quando soube que você estava grávida.
— Não mesmo.
Ele assentiu e olhou para fora. Para onde Olive e Jason tinham ido?
Então ele sorriu e se levantou.
— Não tenho certeza se estou triste por não ter um bebê ou aliviado.
Eu me levantei também.
— Talvez isso pareça insensível para você, mas estou aliviada.
Ele pareceu surpreso com minhas palavras.
— Nenhum de nós está pronto para ter um filho, Jameson. Eu nem
tenho certeza se algum dia estarei.
Nós compartilhamos um longo momento de silêncio, então Jameson
soltou uma risada sem humor e coçou o pescoço.
— Que bagunça. Eu pensei que, se você acabasse decidindo ter o
bebê, eu poderia convencê-la a ir para Pittsburgh comigo. Achei que
fosse um sinal para eu tentar perguntar novamente… não que eu tenha
feito um trabalho estrondoso na primeira vez. Por isso vim aqui, e além
de você não estar grávida, ainda está namorando.
— Eu não estou namorando — respondi, irritada.
— O que foi aquele show que eu vi, então? — Ele apontou para a
porta pela qual Adam havia saído.
Eu fiz uma careta.
— Não é assim. — Mas era? Com o que eu tinha concordado
exatamente? O que ele queria? Dormir na mesma cama? Porque até
isso era uma grande coisa para mim. Namorar? Ele era capaz de
namorar? Ser visto em público comigo? Sexo? O que “Você é minha”
significa? E era possível namorar uma estrela de cinema? Como?
— Entendo — murmurou Jameson, e lembrei que não estava
sozinha.
Andando até mim, ele colocou a mão no meu ombro, os olhos fixos
nos meus. Foi quando senti uma gota de emoção, algo de que eu
conseguia lembrar. Então, sem qualquer hesitação, ele enfiou os dedos
no meu cabelo e deu um beijo firme nos meus lábios. Sem língua,
apenas um último beijo cheio de dúvidas e desculpas. Foi um
movimento tão inesperado que eu não soube como reagir. Ele se
afastou dos meus lábios apenas o suficiente para que as pontas dos
nossos narizes ficassem quase se tocando, então fechou os olhos e me
segurou contra si.
— Jameson… — sussurrei, colocando a mão em seu pulso tatuado.
Ele soltou meu cabelo, mas não recuou.
— Quando você disse que me amava, foi como ter escalado
montanhas. Ele é um filho da puta de sorte. Faça-o se esforçar mais;
ele está certo, você merece melhor.
Depois de um beijo rápido na minha bochecha, ele se foi.
Naquela noite, enquanto eu dirigia pela cidade cheia de cores até o
restaurante depois de receber uma mensagem de texto de Jason me
dizendo onde poderia encontrá-los, eu ainda estava repassando a
reunião que tivera com minha advogada na minha cabeça.
O vídeo íntimo vazado ― o suposto vídeo íntimo ― aparentemente
era real. Quem tinha a cópia da gravação estava tentando conseguir a
melhor oferta por ela e, para levar os interessados a fazer lances mais
altos, eles estavam liberando fotos do vídeo… fotos que mostravam
claramente Adeline seminua com um pau na mão e chupando, como se
ela tivesse sido capturada no meio do ato de engoli-lo. Não era a foto
mais perfeita do seu rosto bonito, mas deixou toda a imprensa em
polvorosa para saber quem tinha o vídeo completo.
— Podemos usar isso — disse Laura, minha advogada. Ela deve ter
visto minha cara porque nem sequer parou antes de continuar. — É um
golpe baixo, eu sei, mas, se você quer mesmo guarda exclusiva,
podemos usar isso a nosso favor. Veja os carimbos de data; se isso não
foi alterado, significa que ela estava te traindo. E se isso aconteceu
uma vez, provavelmente podemos encontrar outros indícios. Mesmo se
não houver outros vídeos, vamos encontrar outra coisa. Deveríamos
usar isso, Adam. Vai facilitar nosso trabalho, confie em mim.
— Não. Não quero arrastá-la na lama. Ela vai ter dificuldade para se
recuperar disso, muita dificuldade. Não quero cavar e encontrar mais
coisa. Não estou fazendo isso para destruí-la, Laura. Quero que você
tenha isso em mente ao prosseguir. Eu só quero meu filho. Encontre
outro caminho. Pesquise algo mais, converse com os advogados dela,
encontre outro caminho.
As fotos não foram alteradas. Ela me traiu enquanto ainda
estávamos casados. Eu sabia disso porque nas fotos dava para ver a
mão dela, e eu vi uma pequena erupção em seu pulso, uma
vermelhidão causada por uma irritação inesperada de uma pulseira de
cobre que ela usou durante uma gravação. A data correspondia a
quando ela teve aquela erupção cutânea.
Fiquei surpreso quando soube que havia um vídeo íntimo? Não
posso mentir; sim, fiquei. Adeline… Adeline, apesar de todos os
defeitos, tinha sido leal, ou assim eu pensava. Mas eu não sentia raiva
da existência da fita. Não poderia voltar e corrigir o passado, mudar os
erros que cometemos juntos. Aquilo não me afetava mais. Ela não tinha
mais importância na minha vida. Era um problema dela, e só dela. Eu já
tinha instruído minha equipe de relações públicas a fazer o melhor que
pudesse para me manter de fora disso. Não haveria comentários feitos
por mim. Nem citações.
Ainda assim, passei o dia inteiro ignorando todas as ligações de
Adeline e seus assistentes. Com a mente ocupada pensando em Aiden
e no que essa nova situação significaria para ele, deixei meu carro com
o manobrista e entrei no restaurante exatamente às 19h10. Eu estava
dez minutos atrasado graças ao trânsito de Los Angeles.
A princípio, quando não vi Lucy sentada ao lado de Olive, não pensei
em nada, mas, quanto mais me aproximava da mesa parcialmente
escondida nos fundos, a possibilidade de ela ainda estar com aquele
Jameson me ocorreu.
Eu havia cometido um erro ao deixá-la com ele?
Eu havia perdido minha chance?
A cabeça de Jason se afastou do pescoço de Olive e ele gesticulou
para mim. Olive me notou também e me deu um sorriso tímido. Meus
passos vacilaram antes que eu pudesse chegar à mesa deles e
perguntar onde Lucy estava porque ela surgiu no corredor um pouco à
direita de onde seus amigos estavam sentados. Ela abriu um sorriso
lindo e inseguro para mim.
Ela estava deslumbrante ― como sempre. Usava salto alto preto
com um vestido da mesma cor que descia até um pouco antes do
joelho, e o decote deixava que eu visse a deliciosa curva dos seus
seios. Foi tudo o que pude ver quando mudei de direção e fui até ela,
meus passos mais leves agora que sabia que ela estava lá.
Com um pequeno sorriso no rosto, ela esfregou as palmas das mãos
no vestido, puxando-o sutilmente para baixo, e andou na minha direção.
Uma garçonete veio até a mesa, que ficava bem entre nós, quase me
fazendo tropeçar Lucy sorriu.
Eu ri.
Segurando a garçonete, pedi desculpas a ela e rapidamente
contornei a mesa.
Assim que parei na frente de Lucy, segurei o rosto dela e soltei um
suspiro profundo.
— Você está aqui.
Ela bufou.
— Você achou que eu os deixaria comemorar sem mim? Acho que
não. — Os dedos dela seguraram meus pulsos. — Por que está
segurando meu rosto?
Entreabri seus lábios com os meus e a beijei até deixá-la sem fôlego
nos meus braços. Quando a soltei e passei o polegar sobre o lábio
inferior vermelho, ela estava segurando minha camisa.
Pigarreei e alisei seu cabelo para trás, só para poder continuar
tocando-a por mais um momento.
— Por um segundo, pensei que o idiota tivesse te convencido a ir
embora com ele.
Uma sobrancelha se ergueu de brincadeira.
— Você me acha fácil de enganar?
Eu ri e dei outro beijo em seus lábios.
— Não. Você é tudo, menos fácil de enganar, Lucy Meyer.
— Ótimo. Estou feliz por você saber disso. — Os olhos dela
brilhavam. — Já podemos nos sentar? As pessoas são olhando; é
estranho.
Eu não dava a mínima para o que as pessoas pensavam ― estava
tão acostumado a sentir olhos em mim o tempo todo que quase não
percebia mais ―, mas ainda assim a ouvi e segurei sua mão enquanto
caminhávamos de volta para a mesa.
Beijei a bochecha de Olive, ajudei Lucy a se sentar e cumprimentei
Jason.
— Acho que temos mais de uma coisa para comemorar esta noite —
disse Olive com um grande sorriso.
— Olive… — Jason suspirou.
— O quê? — Ela se virou para Jason com os olhos grandes e
inocentes. — Não estou fazendo nada.
Como ela estava ocupada olhando para Jason, passei as pontas dos
dedos sobre o pulso de Lucy, observando os pelinhos do seu braço se
erguerem sob o meu toque enquanto murmurei em seu ouvido.
— Tudo bem com o ex?
Ela me deu um pequeno sorriso e fez que sim.
— Acho que desta vez realmente acabou.
— Ainda não tinha acabado?
Sobre o que exatamente eles conversaram depois que eu saí?
Ela balançou a cabeça e pegou o copo de água.
— Tinha, mas acho que foi isso, sabe? A finalização. Acho que
nunca mais nos veremos.
— E você está bem com isso?
Ela tomou um pequeno gole de água e assentiu, os olhos voltando-
se para os amigos.
Decidi que poderia esperar mais algumas horas até ficarmos
sozinhos para podermos conversar.
— Soube que tem alguém que merece os parabéns! — interrompi a
conversa tranquila de Jason e Olive.
— Ah, obrigada — respondeu Olive, sorrindo para Lucy. — Mas acho
que parabenizar a Lucy seria mais apropriado. Eu não fiz
absolutamente nada. Afinal, foi ela quem conseguiu o contrato. — Ela
voltou a olhar para mim. — E, ao fazer isso, ela aceitou oficialmente o
fato de ser minha agente agora.
— Parabéns — repeti, pegando a mão de Lucy embaixo da mesa. —
Para vocês duas.
Ambas abriram sorrisos radiantes.
Depois disso, fizemos nossos pedidos e perguntei discretamente ao
garçom se ele poderia trazer uma garrafa de champanhe. Conversamos
animadamente enquanto a noite passava e descobri um lado diferente
de Lucy enquanto a via interagir com Olive. Ela parecia livre e feliz com
a amiga. Não parecia incomodada nem preocupada. Era exatamente
assim que eu queria que ela ficasse quando estivesse comigo.
Várias vezes, vi Jason olhando para sua esposa com amor enquanto
ela ria sem parar com Lucy. Apesar de tudo o que estava acontecendo
com Adeline, me peguei rindo com elas também.
Quando dois fãs que estavam jantando em uma mesa próxima se
aproximaram e pediram autógrafos, para Jason e para mim,
rapidamente assinamos seus guardanapos e, sem que pudéssemos
nos opor, eles tiraram uma foto rápida de nós quatro e apressadamente
se afastaram.
O corpo tenso de Lucy inclinou-se para mim e ela sussurrou: — Você
não vai atrás deles?
— Para fazer o quê?
— Pegar o telefone e apagar a foto.
— Lucy. — Suspirei e puxei sua cadeira um pouco mais perto da
minha. — Eles não foram os únicos a tirar fotos hoje. Confie em mim.
Pelo que vi, pessoas de pelo menos três outras mesas estavam nos
fotografando discretamente.
— Tudo bem? Sei lá, eu sei como essas coisas funcionam… e se
postarem na internet? Acho que é uma pergunta idiota, porque eles
provavelmente já postaram.
— E daí? — Observei-a atentamente, tentando entender o que a
preocupava tanto.
— E daí? — Ela engasgou. Ela se recostou e inclinou a cabeça,
pensando em algo. — Hã. Então é isso. Você estava falando sério
sobre o que disse antes.
— E você não estava?
— Eu não sabia…
— Você não sabia o quê? — perguntei quando ela parou.
— Eu não sabia exatamente o que você quis dizer. Achei que íamos
falar sobre o que você disse antes, hoje.
— Qual parte foi difícil de entender? Você é minha agora. Não sei
como explicar isso de um jeito mais claro.
— Ha-ha. — Riu ela, sem achar graça.
O garçom trouxe nossas sobremesas e outra garrafa de champanhe
para as moças, interrompendo o que Lucy dizia. Assim que ele saiu, ela
continuou: — Você sabe exatamente o que quero dizer.
— Na verdade não sei, mas deixe-me ser mais claro. “Você é minha”
significa que, a partir de agora, você é minha e só minha.
Ela deixou escapar um suspiro exasperado.
— É assim que você explica? Isso não explica nada. Isso quer dizer
que vamos fazer sexo, exclusivamente? Isso significa que estamos
namorando? E se for isso, você sabe namorar? Estamos em um
relacionamento agora? Eu tenho que dormir na mesma cama que você
a noite toda? Essas são perguntas importantes e não tenho as
respostas.
— Parece que você está pensando muito sobre isso.
— Gostaria de saber onde estou me enfiando.
— Que tal você parar de se preocupar?
— Que tal você me dar uma dica?
— Não foi uma boa dica eu dizer que estou me apaixonando por
você? Eu pensei que isso explicasse tudo.
Um leve arfar fez com que nos virássemos.
— Eu sinto muito. Eu sinto muito. Por favor, continuem — Olive
sussurrou, parecendo se divertir.
— Odeio interromper, mas acho que é hora de irmos — disse Jason,
olhando para a entrada.
Olhei para trás e vi o gerente conversando com algumas pessoas
que ficavam apontando em nossa direção; parecia haver um mar de
paparazzi esperando lá fora. Jason chamou nosso garçom e perguntou
se podíamos atravessar a cozinha e pegar a porta dos fundos, algo que
infelizmente não era novidade para nenhum de nós.
Assim que recebemos autorização, partimos, com Olive e Lucy
assumindo a liderança enquanto seguíamos em direção ao interior do
restaurante.
— Eu deveria ter chamado o Dan — murmurei para mim mesmo,
balançando a cabeça. — Com tudo o que tem acontecido com Adeline,
eles provavelmente também estão esperando na frente da casa.
Jason olhou para mim quando chegamos à porta dos fundos.
— Ligue agora para que ele possa vir aqui e cuidar do seu carro.
Meu motorista vai nos levar. Vocês vão pular o muro para que eles não
saibam que você está em casa.
— Obrigado. Eu acho que é uma boa ideia.
Enquanto esperávamos que o motorista de Jason chegasse, liguei
para Dan, pedindo a ele para pegar meu carro e depois verificar como
estavam Adeline e Aiden antes de voltar para casa. Por mais que eu
tivesse ignorado as ligações dela naquele dia, não significava que eu
não estivesse preocupado com o modo como ela podia estar tratando
Aiden em meio a tudo o que estava acontecendo. Era possível que ela
ainda sentisse raiva de mim por causa da briga pela guarda e pudesse
se recusar a me deixar ver Aiden quando quisesse porque aquela era a
semana dela, mas não significava que eu aceitaria isso numa boa.
— Posso fazer alguma coisa para ajudar? — Lucy perguntou assim
que eu desliguei o telefone com Dan.
— O carro chegou, pessoal. Vamos antes que eles pensem em dar a
volta e vir aqui também.
Dei a Lucy o que eu esperava que fosse um sorriso tranquilizador
para que ela soubesse que estava tudo bem ― ou pelo menos ficaria
― e a guiei para fora até o carro que nos esperava.
Depois que nos acomodamos no carro e nos afastamos da loucura
que estava se acumulando na entrada do restaurante, foi Lucy quem
pegou minha mão e fez com que eu me sentisse o dono do mundo.
Surpreendentemente, a quantidade de pessoas esperando na frente
do portão de Adam era ainda maior do que a que tínhamos visto no
centro da cidade. Por sorte, nem uma única alma podia ver através dos
vidros escuros das janelas de Jason, e Adam passou despercebido
enquanto atravessávamos os portões e ele entrava na casa de Jason e
Olive conosco.
Enquanto eu segurava o encosto do sofá para poder tirar meus
sapatos, eu o observei andar de um lado a outro como um animal
preso. Sem saber exatamente o que fazer ou o que dizer em uma
situação como aquela, fiquei quieta. Parte da raiva dele tinha sido
causada pela traição? Sentindo meus olhos, ele se virou para mim.
— Sinto muito, Lucy. Eu sei que disse que conversaríamos, mas
ainda não tive notícias de Dan e preciso saber como estão as coisas na
casa de Adeline.
Balançando a cabeça, deixei de me apoiar no sofá e caminhei até
ele.
— Você está louco? Nem estou pensando nisso agora. Também
estou preocupada com o carinha.
Ele suspirou e esfregou a testa.
Sem poder fazer nada, encontrei os olhos de Olive.
— Jason? — ela chamou quando o marido se juntou a nós na sala
de estar. — O motorista poderia levar Adam na casa de Adeline?
— Sim, ele ainda não foi embora, Adam. Se as coisas estão tão ruins
na sua casa, não podem estar melhores na casa de Adeline.
— É disso que tenho medo…
Finalmente, seu telefone começou a tocar.
— Dan? O que está acontecendo? — Ele cobriu os olhos com a mão
e soltou um suspiro sofrido. — Sim. Eles o viram sair? Ok. Ok. Tudo
bem, traga-o pelo portão. Estou na casa de Jason. Estarei aí em alguns
minutos.
Terminando a ligação, ele se virou para nós.
— Ele está trazendo Aiden. Aparentemente, as coisas estão ainda
piores na casa de Adeline e, quando ele se ofereceu para trazer Aiden
de volta para que ela pudesse cuidar de tudo, ela não relutou.
Fui até ele e toquei seu braço.
— Isso é bom, não é? Você quer que eu vá também, para que eu
possa distrair Aiden do que está acontecendo lá fora?
Ele tocou meu rosto, a palma quente contra minha bochecha.
— Só se você prometer me distrair também.
Eu não pude deixar de sorrir; ele andava conseguindo muita coisa de
mim ultimamente.
— Talvez possamos pensar em uma solução.

Adam entrou com Aiden nos braços, e Dan logo atrás com uma
expressão feroz.
— Olha quem está aqui para vê-lo, grandão — Adam murmurou para
Aiden, cujo rosto estava enterrado em seu pescoço enquanto os
pequenos braços o abraçavam firmemente. O pijama que ele usava era
lindo, de estampa de carrinhos azuis.
— Oi, Aiden. — Fui até eles, sem saber o que estava acontecendo
exatamente ou a gravidade da situação. Pelo amor de Deus, que dia
difícil. Começou tão promissor, mas se transformou em uma completa
bagunça.
Aiden parou de se esconder e me deu um pequeno aceno.
— Olá, Lucy. Você veio por minha causa?
Meu rosto se iluminou.
— Vim. Seu pai me perguntou se eu queria ver você, e eu quis na
hora. Como você está?
— Tive um dia difícil. A mamãe estava bem triste. Eu não queria
deixar ela sozinha, mas ela disse que eu não podia fazer nada.
Ah, droga. Olhei para Adam e vi que ele mantinha a mandíbula
cerrada ― e que mandíbula sexy, ele tinha. Balancei a cabeça e me
concentrei no menininho ansioso.
— Todos temos dias difíceis, de vez em quando. Sabe o que eu faço
quando tenho um dia difícil? — Segurando a camisa do pai com a
mãozinha, ele só balançou a cabeça para indicar que não sabia. —
Tomo um pouco de sorvete e assisto O Rei Leão ou Zootopia com
minha melhor amiga. Eu adoro esses filmes.
— Você vê filmes com Olive?
— Vejo, ela adora esses filmes tanto quanto eu.
Ele hesitou um pouco, com os olhos já sonolentos. Dan deve tê-lo
tirado da cama.
— Eu também adoro. — Ele olhou para o pai. — Papai, posso ver
filmes com Lucy agora? Tive um dia bem difícil.
Adam se forçou a rir, apesar da tensão, e afastou os cabelos de
Aiden do rosto.
— Já passou da hora de dormir, Aiden.
— Só um pouquinho, papai. Por favor?
— O que acha de construirmos um forte bem aqui na sala de estar
para assistir filmes nele? Talvez, se convidarmos seu pai para assistir
com a gente, ele não diga não.
Os olhos de Aiden se arregalaram e ficaram cheios de esperança
quando ele se endireitou nos braços do pai. Pelo canto do olho, vi
Adam sorrir e Dan balançar a cabeça.
— Mas não sei construir um forte, Lucy. Nunca fiz isso antes. E
você?
— Claro que já, mas acho que não consigo construir sem sua ajuda.
Pode me ajudar?
— Sim, eu posso fazer isso. — Ele tocou o rosto do pai para chamar
sua atenção. — Podemos construir uma barraca, papai? Você pode
assistir com a gente. Se a Lucy começar a chorar de novo, você pode
me ajudar a abraçá-la e dizer que ela está sendo boba.
Adam riu e concordou.
— Certo. Faremos isso. — Ele colocou Aiden no chão e, assim que
seus pezinhos o tocaram, ele começou a ir para seu quarto.
— Vou pegar meu travesseiro preferido!
— Vou pegar os lençóis. — Enquanto eu passava por Adam, ele
segurou meu braço e me parou. Ergui a sobrancelha e olhei para ele.
— Seu fetiche de novo?
Ele se inclinou e me beijou. O toque suave dos seus lábios e o
agradecimento com intimidade me deixaram louca quando sua língua
entrou furtivamente na minha boca. Quando me dei conta do que
estava acontecendo, acabou.
— Obrigado por estar aqui, Lucy. Estar com a gente — ele disse com
uma voz rouca. Aiden chegou correndo com dois travesseiros na mão.
— Eu trouxe meu outro travesseiro favorito para você, Lucy.
— Obrigada, pequeno humano — eu disse baixinho. Ele
cuidadosamente colocou os travesseiros no sofá e pegou minha mão.
— Vamos lá, eu vou te mostrar onde estão os lençóis. — Ele me
puxou para longe do seu pai e parou na entrada do corredor. — Papai,
você vai nos ajudar?
— Eu tenho que falar com Dan antes que ele saia. Volto logo depois
disso.
— Você não quer assistir a um filme com a gente, Dan?
— Eu tenho que ir, grandão. Você vai cuidar do seu pai e de Lucy por
mim, não é?
Aiden estufou o peito e fez que sim.
— Sim. Eu vou fazer um bom trabalho.
Com essa promessa, ele me puxou para seu quarto para que
pudéssemos escolher entre seus lençóis favoritos.
Depois de vasculhar vários conjuntos, escolhemos dois azul-claros,
um verde que quase combinava com a cor dos seus olhos, um
vermelho e um branco com trens vermelhos e pretos. Também
roubamos alguns travesseiros da cama do seu pai.
Quando voltamos, nem Adam nem Dan estavam lá. Aiden jogou tudo
que estava segurando no chão e me ajudou com os meus.
— Você pode abaixar as almofadas? Vamos empilhar todas no sofá
para ficarmos mais altos. Vou ver onde seu pai está.
— Lucy… você acha que ele deixa a gente tomar sorvete?
— Hummm. — Estreitei os olhos para parecer que estava pensando
muito sobre aquilo. — Eu vou perguntar, mas acho ele diria que é um
pouco tarde para tomar sorvete.
Aiden cruzou os braços sobre o peito, imitando minha posição, e
inclinou a cabeça para o lado.
— Sim, eu acho que você está certa. Mas ele não diria não se a
gente pedisse amanhã! E talvez a mamãe possa ir também.
— Sim. Você está certo. Amanhã vamos perguntar a ele.
Ajudei-o a subir no sofá para que ele pudesse jogar as almofadas no
chão e segui em direção à porta da frente, onde eu ouvia a voz de
Adam.
— Ei — assobiei, chamando a atenção dos dois homens muito
zangados. — Ele já está preocupado; por que não falam mais baixo?
A carranca de Dan se aprofundou, mas ele não disse nada. Adam
estava no telefone e parecia prestes a perder a paciência.
— O que está acontecendo? — perguntei a Dan.
— Adeline — ele resmungou, seu tom deixando clara sua opinião
sobre a ex de Adam.
— Adeline, não vou fazer um acordo com você. Eu não me importo
com como isso afeta sua carreira. Você deveria ter pensado antes de
decidir que seria uma boa ideia me trair com um diretor para conseguir
um papel.
Olhei para Dan e engoli as palavras que ameaçavam sair.
Putz, cara.
No instante seguinte, o corpo inteiro de Adam ficou tenso. Eu
praticamente podia ver a veia pulsando em seu pescoço. Ele fechou os
olhos para respirar fundo, o que não pareceu relaxá-lo.
— Você não fará isso com Aiden. Você não vai fazer com que ele
passe por isso.
— Lucy! — Aiden gritou meu nome, e a cabeça de Adam se virou em
direção ao som.
— Desculpa. Já vou — murmurei, e seus olhos suavizaram quando
me viram. Eu corri de volta para Aiden sem dizer mais nada.
O que estava acontecendo, afinal?
— Ou você vem hoje à noite para que eles possam tirar uma foto sua
entrando na minha casa com um sorriso ou a declaração que eu fizer
amanhã será diferente, Adam.
Essas foram as últimas palavras de Adeline quando ela desligou na
minha cara.
— O que está acontecendo? — Dan perguntou, tentando manter a
voz baixa. Eu podia ouvir os murmúrios de Lucy para Aiden quando
começaram a construir o forte que Lucy prometera. Eu verifiquei a hora:
22h, já passava muito da hora de Aiden dormir.
— Ela quer que eu faça uma declaração com ela e basicamente
insinue que estamos reatando.
O rosto de Dan ficou sério.
— E se você não fizer?
— Ela vai falar sobre Aiden.
— Nem mesmo ela faria isso — Dan respondeu, uma carranca
aparecendo em seu rosto. — Por acaso ela acha que isso não teria
consequências negativas para ela?
Minha garganta apertou quando tentei engolir a raiva. A única coisa
que eu queria era jogar o celular contra a parede e ficar com meu filho e
Lucy.
Ouvi Lucy soltar um grunhido e a risada de Aiden encheu a casa.
— Eu tenho que ir — falei rispidamente, olhando nos olhos de Dan
quando as risadas de Lucy e Aiden ecoaram nos meus ouvidos. — Ela
está presa. Não está pensando com clareza, e não posso arriscar que
ela cometa um erro assim.
— Vou levá-lo até ela.
Balancei a cabeça quando Dan abriu a porta e saiu.
— Você liga o carro; eu estarei lá em instantes.
Encontrei Aiden em pé na frente da TV e rindo de Lucy enquanto ela
tentava se salvar do ataque do lençol sobre sua cabeça.
— Vou pegar você, pequeno humano — ela rosnou e se moveu em
direção a Aiden, e ele gritou e correu para se esconder atrás das
minhas pernas.
— Aiden, por que você não pega os travesseiros do meu quarto
também?
Ele inclinou a cabeça para olhar para mim.
— Podemos pegar todos eles?
— Claro. Se vamos fazer um forte, é melhor que seja confortável,
não acha?
Ele assentiu com entusiasmo e saiu correndo, e eu me virei e vi Lucy
me encarando com olhos firmes ao puxar o lençol de Aiden sobre os
ombros.
— Você precisa ir.
Percorri a distância entre nós e a puxei para meus braços, sentindo
seu perfume suave para me acalmar. O lençol deslizou por seus
ombros, caindo no chão quando ela passou as mãos sobre o meu peito,
entendendo instintivamente do que eu precisava dela.
— Eu tenho que falar com ela. Ela está… se eu não falar, ela vai
cometer um grande erro.
Ela se afastou e olhou nos meus olhos por alguns segundos.
— Compreendo.
Eu sorri. Ela não conseguia entender. Ela não conseguia entender
quanto Aiden se magoaria se Adeline dissesse algo idiota na frente das
câmeras apenas para tirar a atenção de si mesma.
— Você não pode entender, mas prometo explicar tudo um dia.
Assim que as palavras saíram da minha boca, eu sabia que tinha dito
a coisa errada, antes mesmo de ver o leve vacilo. Ela se afastou
completamente.
— Você disse que conversaríamos, não disse? Nós vamos fazer isso
um dia.
— Lucy, não. — Toquei seu rosto e me confortei com o fato de ela
não ter se afastado. — Isso… o que quer que esteja acontecendo na
vida de Adeline não muda nada para nós. Você não vai conseguir fugir
de mim.
Aiden voltou com dois travesseiros, ambos maiores do que seu
pequeno corpo, e eu tive que soltar Lucy.
Tirando os travesseiros de Aiden, eu o levantei em meus braços e
dei um beijo em sua testa.
— Eu tenho que ver como sua mãe está, mas volto assim que puder.
Tudo bem pra você?
— Lucy vai ficar? — Ele olhou para Lucy e para mim.
— Sim. Lucy fica com você. Vocês dois começam a ver o filme e
depois eu falo com vocês, tá?
— Você vai cuidar da mamãe para que ela não chore mais? Eu tentei
dar um abraço nela, mas ela não quis.
Eu o abracei um pouco mais forte.
— Eu vou cuidar da sua mãe. Você não precisa se preocupar com
nada, amigo. Combinado?
Ele abraçou meu pescoço e assentiu.
Agradeci a Lucy rapidamente e abaixei Aiden para que ele pudesse
voltar a construir o forte com sua amiga.
Antes que ela pudesse se virar, roubei um beijo rápido de Lucy, que
durou muito pouco, e saí.

Adeline estava andando de um lado a outro na sala de estar, onde


todas as cortinas estavam fechadas, e sua assistente nos deixou entrar
pela porta da frente. Eu tinha razão: a rua estava cheia de paparazzi
que voltaram a aparecer quando viram meu carro virar a esquina.
— Deixe-nos a sós — Adeline deu a ordem para a sua assistente e
para Dan.
Apesar de Dan já saber tudo o que havia para saber sobre nós, eu
preferia ter aquela conversa com Adeline a sós.
— Temos que fazer uma declaração — começou Adeline enquanto
acendia um cigarro. — Não me olhe assim — ela disse antes que eu
pudesse fazer qualquer tipo de comentário. — É apenas estresse. Não
estou começando a fumar de novo.
Fiquei calado. Eu não me importava se ela fumasse até morrer.
— Temos que fazer uma declaração — repetiu. — Juntos. Eu não sei
o que diremos exatamente, pelo menos ainda não, mas você tem que
estar na frente das câmeras comigo, segurando minha mão. Neil e sua
mãe concordam com essa ideia.
— Minha mãe? Você ainda está falando com ela?
Ela soltou um pouco da fumaça e eu me peguei tentando identificar
exatamente quando tudo tinha começado a dar errado entre nós.
Alguma vez tinha dado certo?
— Ela disse que você não está atendendo às ligações dela. Isso…
isso também os afeta. Eles não querem que o nome da família esteja
envolvido em algo assim.
— Eles esqueceram que você não é mais da família?
Ela apertou o cigarro em um cinzeiro com movimentos bruscos e
pegou outro, inclinando a cabeça para mim.
— Eu não sou a mãe de Aiden, Adam? Isso não faz com que eu seja
da família para sempre? E você pode preferir não falar com eles, mas
eu ainda os considero minha família.
Claro que sim. Ela combinava bem com eles.
Cerrei os punhos e me virei para as janelas que davam para uma
pequena casa de hóspedes e para o quintal.
— Concordo. Neil acha que a única razão pela qual eles não
mencionaram com quem eu estou no vídeo é porque o rosto dele
estava cortado. Das fotos que estão vazando, aparentemente, eles não
têm nenhuma de um ângulo melhor, e podemos usar isso. Podemos
divulgar uma declaração ou pedir que Neil nos entreviste em relação a
isso, ou mais alguém, se você quiser. Ele acha que a melhor maneira
de fazer isso é dizer que fomos filmados sem nosso conhecimento, que
não sabíamos nada a respeito.
Em algum momento no meio, eu perdi a linha de raciocínio.
— Desculpe? O que você quer dizer com nosso conhecimento?
— Temos que dizer que é um vídeo nosso. A data corresponde. A
única razão pela qual todos estão tão obcecados é por acharem que eu
estava traindo você e que por isso que nosso casamento acabou. Se
dissermos que é você, todo mundo vai perder o interesse. Você veio
aqui hoje… — Ela gesticulou para fora com o cigarro entre os dedos. —
Eles tiraram uma foto quando você chegou, isso vai ajudar. Afinal, se eu
tivesse te traído, você não teria vindo.
— Mas não é por isso que estou aqui, é?
Ela deu uma tragada profunda no cigarro e soprou a fumaça em
direção ao teto.
— Não, não é. E como eu disse a você no telefone, eu não quero
fazer uma declaração sobre Aiden, mas, se você me pressionar, farei
isso para salvar minha carreira. Após o divórcio, é tudo o que eu tenho,
Adam. Se você não tivesse entrado com o pedido de guarda, talvez
isso tivesse acabado, mas tudo voltou à tona. Não posso deixar um
vídeo íntimo estragar tudo.
Nós nos encaramos no silêncio que seguiu suas palavras.
Forcei um sorriso e aplaudi sua performance.
— E quando você nos jogar para os leões, vai dizer que foi sua ideia
desde o início?
Ela sorriu, a tensão desaparecendo de suas feições e fazendo-a
parecer calma e doce.
— Claro que vou. Você não queria o Aiden, afinal. Eu tive que te
convencer. Você não pode negar isso, pode?
— O que aconteceu, Adeline? O que aconteceu com você? —
perguntei, já superando o choque e o nojo.
Apagando o cigarro, ela caminhou até mim.
— Eu amo o Aiden. Eu o amo, Adam. Por favor, não me faça
machucá-lo. Nada saiu como eu desejava, mas fiz o meu melhor. Eu fiz
o meu melhor como sua esposa, e eu não mereço isso. Tudo o que
estou pedindo é sua ajuda. Nada mais. Podemos agir como se
estivéssemos pensando em reatar. Vamos fingir que isso nos uniu
novamente e, quando as águas se acalmarem de novo e eu começar a
filmar regularmente, vou deixar você ter a guarda exclusiva…
A porta da sua sala se abriu, e nós dois nos sobressaltamos.
— Dan, o que está…
— Nós precisamos ir. Precisamos ir agora.
Deitada ao lado de Aiden enquanto ele dormia, meus olhos
começaram a se fechar enquanto eu esperava por Adam. Eu não sabia
exatamente se falaríamos sobre nós quando ele voltasse e,
sinceramente, essa devia ser a última coisa em que ele estava
pensando, mas, ainda assim, falando ou não, eu sabia que me sentiria
muito melhor quando ele voltasse para perto de nós.
Aiden adormeceu dez minutos depois de construirmos nosso forte
improvisado, que era grande o suficiente para acomodar nós dois. Ele
se aconchegou mais perto de mim enquanto dormia, e eu sorri olhando
para ele.
Ele era a criança perfeita.
— Você pode guardar um segredo, Lucy? — ele me perguntou
momentos antes de seus olhos perderem a luta contra o sono.
— Claro. Eu amo segredos. Pode me contar.
Ele desviou o olhar da TV e brincou com a calça do pijama.
— Eu chorei hoje.
— O que aconteceu? — sussurrei tão baixinho quanto ele.
Ele olhou nos meus olhos, seus dedos ainda torcendo e puxando o
tecido.
— Mas você não pode contar ao meu pai, está bem?
Concordando com a cabeça, esperei que ele continuasse.
— Minha mãe estava ao telefone hoje e estava chorando, então eu
pensei que poderia dar um abraço nela e deixar tudo bem, como fiz
com você quando você chorou assistindo a O Rei Leão, mas, quando
tentei chamar a atenção dela, ela gritou comigo e me disse para voltar
para o meu quarto. Minha babá correu atrás de mim e disse que minha
mãe estava triste e não queria gritar comigo, mas eu ainda chorei um
pouco porque não quero que ela fique triste. Eu só queria dar um
abraço nela.
Que vaca!
— Tenho certeza de que ela não quis gritar com você, Aiden. Eu
acho que ela estava tendo um dia ruim hoje, por isso seu pai saiu para
poder ajudá-la. Ela vai ficar bem.
— Eu sei — ele murmurou. — Mas isso me fez chorar, de qualquer
maneira. Eu sempre sinto falta do meu pai quando ela grita comigo
porque ela nunca grita quando o papai está lá.
Tentei encontrar algo para dizer, mas não encontrei nada.
Merda.
— Amo você, Lucy — Aiden murmurou, seus olhos já fechados.
Meu coração derreteu no peito, e eu secretamente planejei maneiras
de matar a cadela tão cheia de pose. Talvez uma câmera pesada
pudesse cair na cabeça dela. Isso seria divertido. Quem gritaria com
uma criança que oferecia um abraço só para fazer você se sentir
melhor? Quem, porra?
— Eu também te amo, pequeno humano — murmurei em resposta e
dei um leve beijo em sua bochecha.
Senti meus olhos lentamente começarem a se fechar, então me
acomodei e fiquei um pouco mais confortável sem acordar Aiden.
Não sei se aconteceu segundos ou minutos depois, mas algo me
acordou. Grogue e sem saber o que estava acontecendo, olhei em volta
e prestei atenção para tentar ouvir Adam.
A porta não se abriu. Não ouvi barulho de carro. Não vi Adam.
Eu tinha silenciado a TV antes de fechar os olhos, mas a luz do filme
era suficiente para que eu pudesse ver ao redor claramente.
Quando a sensação estranha não desapareceu, esfreguei os olhos e
me sentei lentamente.
Foi então que ouvi o som agudo de um galho quebrando. Meu
coração bateu forte, eu puxei os lençóis e espiei do nosso pequeno
esconderijo o quintal. Estava escuro lá fora e, mais do que isso, o sofá
em frente às janelas tornava impossível ver o lado de fora, de onde eu
estava.
De joelhos, saí do forte e esperei.
Prestei atenção.
Nada.
Mas então, alguma coisa surgiu.
Eu vi alguém passando pela janela quando a sombra dele se
estendeu sobre o piso de madeira à minha frente.
Prendendo a respiração, eu me arrastei para trás e comecei a
sacudir Aiden.
— Aiden. Aiden, você precisa acordar. — Minha voz era quase
inaudível.
Ele gemeu e piscou, abrindo os olhos.
— Aiden, você tem que se levantar por mim, tá?
— Papai voltou?
— Ainda não, querido, mas eu preciso que você se levante agora,
tá?
— Tudo bem — ele murmurou, deixando-me colocá-lo sentado.
Ouvi um clique que parecia alguém tentando abrir a porta, mas um
segundo depois tudo ficou em silêncio novamente.
Aiden continuou esfregando os olhos, mas puxei suas mãos para
baixo para chamar sua atenção novamente.
— Aiden, ouça. Eu preciso que você…
Puta merda! Percebi que tinha deixado meu celular no quarto de
Adam quando estávamos pegando mais travesseiros dele.
— Aiden, assim que eu disser, nós correremos para o quarto do seu
pai, tá? Você pode fazer isso por mim?
— Mas por quê?
— Porque precisamos nos esconder, entende?
— Isso é uma emergência?
— Sim. Sim, é. Precisamos nos esconder para que eu possa ligar
para o seu pai e pedir que ele volte, tá?
Ele coçou a cabeça e me lançou um olhar adoravelmente confuso, o
que teria sido fofo se a possibilidade de perigo não fosse tão iminente.
— Mas, se houver uma emergência, devemos ligar para a polícia e
para o Dan. Papai me disse isso.
— Você está totalmente certo, mas primeiro precisamos chegar ao
quarto do seu pai para que eu possa pegar meu celular, está bem?
Ele fez que sim quando o ajudei a ficar de pé e eu fiquei de joelhos.
Ele era pequeno o suficiente para não ser visto por cima do sofá.
Respirando fundo, eu me arrastei para longe de Aiden por um
segundo. Segurando o braço do sofá, olhei para fora e, quando tinha
certeza de que não havia ninguém à espreita na frente das janelas,
levantei e mandei Aiden correr.
Não sei explicar como me senti grata por ele não ter hesitado e por
ter corrido diretamente para o quarto do pai dele.
Eu estava logo atrás.
Com as mãos tremendo, peguei meu celular em cima da cômoda e
mal consegui encontrar o número de Dan na minha lista de contatos.
— Está tudo bem, Lucy?
— Dan — sussurrei, e o alívio me tomou assim que ouvi sua voz. —
Dan, tem alguém no quintal. Acho que eles estão tentando entrar. Você
precisa voltar agora.
— Lucy. — Sua voz estava firme como sempre, mas infelizmente não
acalmou meu coração acelerado.
— Eu preciso que você pegue Aiden e se esconda. Você pode fazer
isso? Pode pegar Aiden e se esconder em um dos quartos?
— Olha, pode não ser nada — eu disse quando ele terminou de me
assustar ainda mais. — Talvez tenha sido só…
Alguém bateu na janela, o barulho tão claro quanto um sino, e eu me
sobressaltei, com o coração na garganta.
— Fale comigo — Dan ordenou com uma voz mais nervosa.
— Certo, certo, precisamos nos esconder e você precisa voltar
agora, Dan. Eles acabaram de bater na janela. Volte para cá agora!
Encerrei a ligação e percebi que estava sem fôlego como se tivesse
acabado de correr uma maratona só por ter falado ao telefone. Então
eu encontrei os olhos assustados de uma criança de cinco anos que
tinha ouvido tudo que eu tinha acabado de dizer. Xingando a mim
mesma, me ajoelhei na frente dele e, antes que eu pudesse dizer
alguma coisa, ele se jogou nos meus braços.
— Estou com medo, Lucy.
— Está tudo bem — falei no que eu esperava que fosse uma voz
forte. — Vai ficar tudo bem, Aiden. Estou bem aqui com você, e seu pai
e Dan chegarão o mais rápido possível.
Então meu pior pesadelo aconteceu: ouvimos o som inconfundível de
alguém quebrando uma janela.
Assim que Aiden começou a gritar, coloquei a mão sobre sua boca e
abafei seus gritos. Seus olhos marejados encontraram os meus e eu
balancei a cabeça. Ele envolveu minha cintura com as pernas e eu me
levantei do chão e corri em direção ao closet de Adam.
Era o pior lugar para se esconder ou o melhor. Depois de olhar em
volta para encontrar o melhor local, afastei as calças, caí de joelhos e
pedi a Aiden para rastejar de volta para o estreito espaço vazio entre as
roupas e a parede, esperando que ficássemos escondidos. Eu me
arrastei logo atrás dele e o puxei para meus braços.
Eu já podia sentir suas lágrimas silenciosas molhando minha camisa.
Prendendo a respiração, tentei ouvir passos, mas não consegui ouvir
nada. Ligando depressa para a polícia, eu disse ao atendente o que
estava acontecendo em um sussurro abafado, dei o endereço e avisei
que estávamos nos escondendo.
Ele me disse para ficar na linha e que os policiais tinham sido
mandados, mas eu só conseguia ouvir um homem sussurrando o nome
de Aiden enquanto seus passos se aproximavam.
— Eu ouço passos. Eu não sei. Eu ouço os passos dele — murmurei
para o cara que estava se esforçando ao máximo para me deixar
calma. Tremendo como uma vara verde, desliguei o telefone e
gesticulei para Aiden ficar quieto. Só para garantir, coloquei minha mão
sobre sua boca e sussurrei para ele fechar os olhos. Não tenho
vergonha de admitir que fiz o mesmo.
A casa e o nosso esconderijo estavam completamente escuros, mas
o simples ato de fechar meus olhos me deu uma sensação idiota de
segurança que não significava nada se o cara nos encontrasse.
Se fosse apenas eu, se Aiden não estivesse se agarrando a mim
como se sua vida dependesse disso ― e talvez dependesse ―, eu teria
pegado algo afiado ou pesado e… inferno, eu não sei, talvez eu o
tivesse atacado. Eu mesma. Eu sabia que não podia fazer isso, não
podia colocar Aiden em risco.
Os passos pararam em frente ao quarto de Adam, ou talvez ele
estivesse no quarto. Eu estava a segundos de desmaiar e a única coisa
que me impedia era o garotinho nos meus braços, que tremia ainda
mais do que eu. Então um calafrio percorreu minha espinha quando
outro sussurro surgiu chamando o nome de Aiden de novo.
— Aiden. Estou aqui pra te levar para casa. Você pode sair, sua mãe
mandou eu vir te buscar.
Segurei o garoto com mais força e descansei a cabeça contra a dele,
minha mão ainda tapando sua boca. A quantidade de pressão que eu
estava colocando no meu corpo para nos manter imóveis era colossal.
No entanto, se ele entrasse no cômodo, eu tinha certeza de que nos
veria em um piscar de olhos.
Os passos recuaram sem nenhum outro som, e eu contive meu grito.
Nós podíamos ouvi-lo sussurrar o nome de Aiden enquanto
procurava em todos os quartos.
Então, ouvi os sons das sirenes da polícia e deixei as primeiras
lágrimas escorrerem.
Havia um mar de pessoas na frente da nossa casa. Eu vi três
viaturas policiais com luzes azuis e vermelhas piscando, e inúmeras
câmeras tentando conseguir um vislumbre de dentro dos portões
abertos com dois oficiais tentando contê-los.
Ligamos para a polícia no caminho para casa e descobrimos que
Lucy estava na linha com outro operador. Quando eles me pediram os
códigos dos portões, já que Lucy havia parado de responder, pensei
que meu coração tivesse parado de bater.
Nada, nada mesmo, poderia ter me preparado para a confusão que
vi quando cheguei em casa.
— Você precisa manter a calma — Dan me instruiu. — Há câmeras
por toda parte, Adam. Se o cara ainda estiver aqui, você precisa manter
a calma.
Nenhuma de suas palavras conseguiu adentrar minha mente
confusa, e eu vi as câmeras se afastarem do portão assim que
reconheceram o carro. Eles se aglomeraram ao nosso redor, tornando
impossível que nos afastássemos.
Ignorando os gritos de Dan, abri a porta, derrubando algumas
câmeras, e corri até os portões.
A primeira coisa que vi foi meu filho nos braços de Jason Thorn, do
lado de fora da casa, com outro policial. Senti algo quebrar dentro de
mim ― ou talvez algo ser consertado… talvez ambos. Não sei quanto
tempo demorei para passar pelos policiais que tentaram me bloquear e
chegar ao lado deles.
— Ele adormeceu — Jason murmurou enquanto gentilmente
passava meu filho para os meus braços. Corri a mão por cada
centímetro do seu corpo para me certificar de que ele estava bem, que
nenhum dano lhe havia acontecido, e o apertei contra o peito quando
suspirei aliviado. Todo o tumulto acontecendo a poucos metros não me
distraiu quando ele apoiou a cabeça no meu ombro e suas mãos
minúsculas instintivamente seguraram minha camisa.
Encostei a testa em seu ombro e respirei fundo, calmamente.
Quando levantei a cabeça, tudo o que importava era encontrar
Lucy… e ela estava ali, ao lado de Olive, segurando a mão da amiga
com força, as lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Eu te amo — eu disse em um rosnado, indo até ela. — Eu te amo,
Lucy.
Ela me abraçou tão forte quanto eu a abracei.
Seu corpo tremia contra o meu, e eu ouvi a respiração dela. Se
pudesse, se fosse possível, eu a teria segurado mais perto, eu a teria
puxado mais.
— Eu te amo — sussurrei em seu pescoço antes de dar um beijo em
sua pele. — Eu te amo. Eu te amo.
Fechei os olhos e ignorei todos os gritos e flashes.
Beijei seus lábios inúmeras vezes enquanto provava suas lágrimas.
Beijei seu pescoço, sua garganta, seu nariz. Todas as partes. Cada
centímetro.
Agradeci várias vezes por ela estar ali pelo meu filho pela segunda
vez.
Eu a segurei em meus braços por muitos minutos.
Ignorei o mundo inteiro ao nosso redor.
Foi naquele momento, naquele momento específico em que todos ao
nosso redor desapareceram e ficamos apenas nós três, quando ela
confiou em mim o suficiente para me deixar abraçá-la, confiou em mim
o suficiente para me deixar sussurrar que eu a amava, que tive certeza
de que faria tudo ao meu alcance ― mesmo que isso significasse brigar
com ela ― para fazê-la entender que eu a faria feliz para sempre, que
eu já havia quebrado sua maldição.

Que dia, pessoal. Que dia maluco…


O dia começou com Adeline Young se recusando a comentar ou
responder às perguntas sobre os rumores do vazamento do vídeo
íntimo. Em seguida, de alguma forma, o dia se tornou um pesadelo
quando um suposto perseguidor de Adeline invadiu a casa de Adam
Connor, em Bel Air. No entanto, não foi assim que a noite terminou para
o ator vencedor do Oscar. O grande final da noite foi ele sendo
fotografado com outra mulher em seus braços enquanto eles se
beijavam na frente das câmeras. Demorou algum tempo, mas
finalmente identificamos a mulher de sorte como a agente literária de
Olive Thorn, Lucy Meyer. O casal também foi fotografado jantando com
Jason e Olive Thorn na noite anterior.
Antes de chorarmos rios por termos perdido nossa oportunidade com
Adam Connor, vamos voltar à noite aterrorizante que seu filho e sua
nova namorada viveram.
O suposto perseguidor, J.D., é, aparentemente, um dos fãs número
um de Adeline Young que levou as coisas mais do que um pouco longe
demais. Depois que ele foi preso na casa do ator por perseguição e
invasão de propriedade, J.D. admitiu que vinha perseguindo Adeline há
dias. Ele admitiu ter invadido a casa e disse que “não pretendia
prejudicar Adam Connor nem perturbar Adeline”, que ele acreditava que
seria sua futura esposa. “Eu não aguentei vê-la chorar enquanto Adam
Connor levou o filho dela.”
No vídeo abaixo, você pode ouvir a chamada amedrontada da nova
namorada à polícia, e isso deixa ainda mais assustadora a noite fria
que eles viveram enquanto se escondiam no closet até a polícia entrar
na casa e prender o intruso. Até onde sabemos, J.D. não estava
armado quando foi preso, mas não queremos nem imaginar como ele
teria reagido se tivesse encontrado Aiden Connor e Lucy Meyer no
esconderijo, pois ele acreditava que estava ali para salvar o menino de
seu pai e devolvê-lo à mãe.
Uma hora antes da ligação de emergência, Adam Connor havia sido
fotografado entrando na casa de sua ex-esposa. Pelo que dizem
nossas fontes, ele correu para casa assim que soube que alguma coisa
estava acontecendo. As fotos abaixo mostram Adam correndo até sua
casa, pegando o filho adormecido dos braços do vizinho, Jason Thorn,
e abraçado com a namorada, aos prantos.
Estamos muito aliviados porque ninguém foi ferido e por Aiden
Connor estar a salvo nos braços de seu pai.
Também estamos trabalhando incansavelmente para descobrir mais
sobre a nova namorada.
Depois que os policiais saíram com o intruso algemado, Jason e
Olive voltaram para casa prometendo retornar pela manhã e ajudar com
o que fosse necessário. Depois de tudo resolvido, ficamos apenas nós
quatro.
Com Aiden ainda dormindo em meus braços, peguei a mão de Lucy,
fomos para o meu quarto e eu fechei a porta. Eu precisava ficar sozinho
com eles durante a noite, sabendo que Dan estaria ocupado fazendo
ligações e cuidando das coisas para mim. A manhã não demoraria a
chegar, de qualquer maneira. Eu lidaria com tudo em apenas algumas
horas. Mas, naquela noite, pelo menos nas horas restantes, eu estava
onde queria estar.
Lucy me ajudou a colocar Aiden na cama e sentou-se comigo por
alguns minutos em silêncio enquanto eu observava meu filho dormir
pacificamente, as mãos enfiadas embaixo da cabeça, a boca
ligeiramente aberta. Afastei o cabelo dele da testa e sorri quando ele
chutou minha perna. Se eu não soubesse que ele dormia pesado, teria
me preocupado pensando que ele não conseguiria dormir durante toda
a comoção. Quando tive certeza de que ele estava bem e seguro, puxei
Lucy para o banheiro comigo, ignorando seu olhar confuso.
Ouvi o clique suave indicando que a porta estava trancada e
simplesmente apoiei a testa contra a porta até minha cabeça parar de
girar.
Senti a mão de Lucy no meu ombro e costas, acariciando.
— Ele está bem, Adam. Ele está seguro agora.
Eu me virei e segurei seus pulsos, não forte o suficiente para
machucá-la, mas não leve o suficiente para que ela pensasse que
poderia escapar com facilidade.
— Você também está segura. É isso, Lucy — falei com seriedade. —
É só isso que tenho a dizer. Me dê as razões pelas quais não podemos
ficar juntos, e eu vou provar que cada uma delas está errada. É isso.
Você não terá outra chance. Eu não vou deixar você fugir.
Forcei meu corpo a fazer exatamente o oposto e soltei seus pulsos.
Esperei, ainda de pé na frente da porta, bloqueando-a. Não achei que
ela fosse fugir de mim, mas as coisas eram imprevisíveis com Lucy; ela
sempre dava um jeito de surpreender, e eu não estava disposto a correr
o risco.
— Tudo bem — disse ela com um suspiro. — Ok, Adam. Você
ganhou.
Deslizei a mão em volta da cintura dela e a puxei para mais perto.
— Eu ganhei exatamente o quê?
— Aparentemente, você me venceu. — Ela me deu um sorriso
hesitante e ergueu o punho no ar. — Vai comemorar? Parabéns! Você
ganhou um relacionamento. Aproveite.
— Estou confuso com seu entusiasmo.
— De nada.
Uma risada inesperada borbulhou dentro de mim, e me inclinei para
beijá-la, mas ela me parou antes que eu pudesse prová-la, antes que
eu pudesse fazer seus olhos perderem o foco.
— Antes que você me dê o que eu tenho certeza de que será um
beijo horrível, eu quero que saiba que sei que isso não vai dar em nada.
Balancei a cabeça e suspirei.
— Você tem que se entusiasmar, Lucy.
— Estou falando sério. Preciso que você saiba que está tudo bem.
Quando chegar a hora e isso acabar…
— Por causa da maldição, certo?
— Isso. Tire sarro de mim o quanto quiser, mas quando chegar ao
fim…
Tirei sua blusa, conseguindo fazer com que ela parasse de falar.
— O que você está fazendo? — ela perguntou calmamente.
— A hora de conversar acabou.
— Eu só queria te dizer que está tudo bem.
Abaixei suas calças, levantando seus pés, um de cada vez, para
libertá-los. Então fiz o mesmo com sua calcinha enquanto ela segurava
meus ombros, e então tirei seu sutiã. Tirei o elástico dos seus cabelos e
vi as mechas caírem sobre os ombros nus.
— Ok, Adam. Ok.
Então foi a vez dela de deslizar as mãos debaixo da minha camisa e
sentir minha pele quente sob as pontas dos dedos. Eu era rígido, ela
era macia. Quando ela puxou minha camisa, eu a tirei.
Observei-a desabotoar minha calça e puxá-la para baixo com minha
cueca boxer.
Eu estava pronto para ela. Completamente. Corpo e alma.
Sua mão segurou meu pau duro e quente, e eu fechei os olhos para
apreciar a sensação da sua pele na minha, me deixando louco.
Prendendo seus olhos com os meus, eu admirei sua beleza e a beijei.
Deixando minhas mãos descerem por seu corpo, eu a abracei
quando ela soltou um pequeno suspiro e passei seus braços em volta
do meu pescoço, suas pernas em volta da minha cintura e a sentei no
balcão.
Não precisávamos de palavras para isso.
Inclinei-me e respirei o perfume único dela que eu tanto amava. Ela
jogou a cabeça para trás e gemeu docemente. Eu amei poder fazer isso
com ela, aparar suas arestas, acalmar seu coração. Segurando seu
peito na minha boca, circulei a língua em torno do mamilo e a acariciei
até sua respiração ficar pesada.
Eu a beijei quando ela me pediu, então parei quando ela gemeu e
jogou a cabeça para trás enquanto meus dedos a penetravam. Eu
absorvi cada respiração, cada gemido, cada apelo que saía dos seus
lábios. Quando tudo ficou insustentável, penetrei sua boceta molhada e
recebi seu gemido quando nós dois observávamos eu me tornar um
com ela.
— Só você e eu a partir de agora, Lucy — sussurrei em sua pele. —
Só você e eu.
Apoiando a testa no ombro dela, deslizei para fora quando estava
com a metade dentro e dei a ela um pouco mais quando soube que ela
estava pronta para aguentar tudo. Seus dedos se agarraram aos meus
ombros, suas costas arqueando, os seios pressionando o meu peito. Eu
a observei morder o lábio inferior e franzir a testa.
Fiz amor com ela e não foi diferente do que tínhamos feito antes. Foi
o melhor sexo com ela desde a primeira vez. Eu me deliciava com cada
suspiro enquanto a penetrava e ela implorava por mais, e eu lhe dei
mais.
Eu a amei mais.
Eu a beijei mais.
Eu a segurei mais apertado para poder dar mais e mais e mais.
— Eu quero tudo, Adam. — ela disse ofegante no meu ouvido
quando meus impulsos sacudiram seu corpo e a levaram para trás.
Apoiei uma das mãos na parte inferior das costas para mantê-la no
lugar e deslizei o braço sob seu joelho para abri-la mais, para ir mais
fundo.
— Você não quer apenas meu pau, não é? Não é só isso. Você me
quer também.
Seus dedos cavaram mais fundo na minha pele, e ela assentiu.
— Eu quero você e seu pau. Quero tudo com você.
— Você vai ter tudo — sussurrei quando seus músculos começaram
a se contrair ao redor do meu pau e ela ficou tensa em meus braços.
Ela mordeu meu ombro para abafar o som, e eu aumentei o ritmo,
dando tudo como ela pedia sempre que eu estava dentro dela.
Continuei até ela relaxar em meus braços e então foi a minha vez de
perder o controle. Eu gozei dentro dela gemendo quando ela segurou
meu rosto e me beijou por muito tempo.
Mesmo depois de lhe dar tudo o que tinha, continuei oscilando dentro
dela delicadamente. Eu poderia tomá-la por horas, se tivéssemos
tempo. Eu ainda estava duro o suficiente para continuar, mas sabia que
precisava abraçar meu filho tanto quanto queria estar dentro da mulher
que amava.
Esperei mais alguns minutos, penetrei nela devagar, mergulhando
em seu calor, apenas até recuperarmos o fôlego. Eu disse a mim
mesmo, apenas mais um minuto… quando ela surpreendeu a nós dois
gozando no meu pau de novo, um arrepio percorreu minha espinha e
gozei com ela.
A única coisa nos meus lábios era o sussurro do nome dela e a
promessa de nós dois.
Ontem, apenas alguns dias depois do que aconteceu na casa de
Adam Connor, Adeline Young sentou-se com a Vanity Fair para falar
sobre o casamento dela e o que realmente aconteceu entre o casal que
já foi muito feliz.
Em meio aos supostos boatos sobre vazamento de vídeos íntimos ―
ainda estamos esperando ansiosos para que o vídeo seja lançado ao
mundo, a propósito ―, Adeline Young fez uma declaração inesperada,
e ainda não sabemos o que pensar dela.
“Eu nunca quis falar sobre isso, mas, depois de ver as fotos deles
juntos, não quis que o assunto fosse varrido para debaixo do tapete”,
disse a atriz de Hollywood, quando viu as fotos de Adam Connor
abraçando Lucy Meyer, com o filho nos braços. “Ninguém me ligou para
me informar o que estava acontecendo, que meu filho estava em
perigo. Eu li sobre isso no dia seguinte e soube dos detalhes quando
respondi às perguntas dos policiais que bateram à minha porta. Eu fui
pega de surpresa. Não deveria haver uma babá cuidando do meu filho
em uma situação como aquela. Ele precisava da mãe, e eu não tive a
chance de protegê-lo naquele momento.”
De acordo com a bela atriz, Lucy Meyer começou a trabalhar para
Adam Connor como babá de Aiden antes de se tornar agente literária
de Olive Thorn. Apesar de isso ter acontecido quando o casal já estava
divorciado, Adeline Young afirma que eles estavam falando sobre
reatar, sobre tentar de novo. “Eu a conheci. Eu a observei brincar com o
meu filho. Eu estava tão cega pelo amor e pela confiança que tinha por
meu marido, que não vi o que ela estava tentando fazer. Eu não percebi
quem ela era. Eu nunca vou deixar de lutar pelo meu filho.”
Ela continua alegando que o vídeo íntimo foi gravado com ninguém
menos que o belo ator, seu ex-marido. “Nós éramos jovens. Nós
erramos. Receio que a única razão pela qual isso ressurgiu
recentemente foi porque Adam não queria que eu dissesse ao mundo
que ele me traiu com ela em uma época em que eu estava muito
vulnerável e ainda muito apaixonada por ele.”
A entrevista continua no mesmo tom, e não sabemos exatamente em
quem acreditar neste momento.
Inesperadamente, assim que a entrevista foi ao ar, os representantes
de Adam divulgaram uma declaração curta, alegando que nunca houve
um momento em que Adeline e Adam discutiram a possibilidade de
reatar e que o relacionamento entre Adam Connor e Lucy Meyer
começou recentemente. Eles também acrescentaram que Lucy Meyer
nunca trabalhou como babá para Adam Connor, que eles só tiveram
uma amizade que se tornou algo mais à medida que foram passando
tempo juntos.
Nós avisamos que vocês tinham que ter agido depressa e comprado
uma casa perto da propriedade de Adam Connor para poderem
oferecer quitutes ou, quem sabe?, pedir uma xícara de açúcar. Agora
parece que é tarde demais.
Eu li a entrevista. Eu li a entrevista várias vezes, tentando entender o
sentido, mas não; meu nome ainda estava lá e fui acusada ― sem
rodeios ― de ter sido a pivô do fim de um casamento.
Como eu poderia ter destruído algo que nem existia? Será que as
pessoas eram tão idiotas assim?
Quando comecei a ler pela quinta vez, Olive teve que puxar o tablet
das minhas mãos, que o seguravam com força.
— Mas que merda é essa? — gritei, mas depois baixei a voz quando
as outras pessoas se viraram para me olhar feio. Eu me inclinei para a
frente na cadeira e agarrei as bordas da mesa para me segurar. Então,
meu telefone começou a tocar e minha raiva atingiu outro nível. —
Como eles conseguiram meu número?
Olive suspirou.
— É uma confusão.
— É mais do que uma confusão. O que diabos eu fiz pra ela?
— Você não fez nada, Lucy. Eu suspeito que isso seja apenas para
tirar os holofotes dela e de Adam… ou ela está tentando se vingar dele.
Quem sabe? Desde o divórcio, ela tem feito de tudo. Você conhece o
ditado: não existe publicidade ruim… acho que ela levou isso muito a
sério.
Estávamos no centro da cidade, em nosso café favorito, esperando a
chegada da nova equipe editorial de Olive para podermos repassar
seus planos para o próximo romance. Mais do que isso, era uma
comemoração pelo contrato. Nós soubemos da entrevista por Megan, a
agente de Jason, quando ela ligou para avisar Olive que havia todo um
frenesi da mídia em torno dele e que provavelmente eu seria
incomodada por telefonemas.
Se eu soubesse que seria assim mesmo, nunca teria saído de casa
naquela manhã. Assim que passamos pelos portões, fomos seguidos
por paparazzi.
— Talvez ela estivesse esperando voltar com ele. Sei lá,
aparentemente ela estava, segundo ela mesma. Talvez, se eu não
tivesse escalado aquele maldito muro, eles já estariam juntos
novamente. Adam nunca disse nada sobre uma reconciliação, mas o
que eu sei sobre o relacionamento deles, não é? Eles foram casados
por anos e não só isso, eles também têm um filho juntos.
— Não pense assim, Lucy. Se o destino deles fosse estarem juntos,
não importaria quantos muros você pulasse.
Respirei fundo e soltei o ar.
— Podemos sair, sabe? Tenho certeza de que, se ligássemos para
Jason ou Adam, eles viriam nos buscar.
— Por que eu tenho que fugir? Eu não fiz nada. E quero estar nesta
reunião, caramba. Não fiz nada de errado que exija que eu enfie o rabo
entre as pernas e fuja desses urubus.
A mesa começou a vibrar novamente, então peguei meu celular e o
desliguei; era isso ou enfiá-lo no copo de água na minha frente.
Antes que Olive pudesse falar, seu celular tocou. Rosnei e levei as
mãos à cabeça, frustrada.
— Não, espere, é Adam. Você quer atender?
Pensei no que responderia. Eu não deveria sentir a necessidade,
mas infelizmente senti.
— Acho que não quero fazer isso agora — admiti, por fim.
Quando Olive se retraiu e olhou para o aparelho, acrescentei: — Não
é nada com ele, Olive. Só não quero falar sobre isso agora. Eu quero
agir como se nunca tivesse acontecido por, pelo menos, mais algumas
horas e me concentrar na reunião.
— Ok, então não vamos atender. Você está certa. Ele sabe onde
você mora, então você não pode fugir.
— Nesses últimos dias, eu tenho me perguntado de que lado você
está, e isso meio que me responde, acho.
Ela me deu um sorriso bobo.
— O que posso dizer? Eu amo o fato de ele ter feito você se
apaixonar por ele tão facilmente, e acho que vocês combinam; ele não
vai te deixar partir com facilidade, não importa o que você faça ou diga.
Acho que você está livre da maldição, Lucy Meyer, e não sabe o que
fazer consigo mesma.
— Por favor. — Eu bufei. — Ficarei livre de maldições no dia em que
me casar com alguém, usando um vestido branco. Esse é o ponto de
inflexão na nossa família. Ninguém chegou lá ainda. E mesmo assim…
O olhar de Olive mudou, e ela pegou o copo de água para esconder
um sorriso ainda maior atrás dele.
— O que você tem? Por que está rindo?
Ela fez um gesto indicando um ponto atrás de mim, erguendo
levemente o queixo, e eu me virei e vi Adam Connor em pânico,
correndo em nossa direção com passos rápidos e zangados.
— Por que seu celular está desligado? — ele perguntou em vez de
me cumprimentar.
— O que você está fazendo aqui?
Ele agarrou meu cotovelo e me puxou para cima.
— Venha comigo. Temos coisas a discutir.
Por mais irritado que parecesse, seu aperto no meu braço não era
firme, então eu me livrei dele depressa.
— Embora todos pareçam pensar que sou babá hoje em dia, na
verdade, sou agente e tenho uma reunião. Não vou a lugar nenhum
agora.
Sua carranca se aprofundou e ele se virou para Olive.
— Tudo bem se ela não participar desta reunião?
Olive estava ouvindo nossa conversa e parecia fascinada.
— Oh, por favor — ela disse. — Pode levá-la daqui.
Quando me dei conta, estava sendo conduzida pela porta dos fundos
para dentro de um SUV que nos aguardava.

O caminho de volta para a casa de Adam foi feito totalmente em


silêncio.
Assim que passamos pela porta, eu me virei para ele.
— Essa reunião era importante pra mim, Adam.
— E você é importante pra mim. Por que ignorou minhas ligações?
— Ignorei todas as ligações, não apenas a sua. E como eu disse,
estava ocupada.
— Não vou deixar você guardar algo assim para si. Não se eu puder
evitar.
— Ok, então fale. — Cruzei os braços e esperei que ele continuasse.
Depois que ele me observou por um instante, me ofereceu um
assento, que eu rejeitei.
— Ok, Lucy. Ok. Vamos fazer do seu jeito, desde que não fuja de
mim. A entrevista… ela diz que sou eu naquele vídeo vazado, que
somos nós; não é verdade.
— Você me trouxe aqui apenas para dizer isso? Você era casado,
Adam. Então você fez sexo e gravou. E daí? Você acha que é por isso
que os paparazzi estão me perseguindo? Para perguntar o que eu
penso sobre isso?
Eu nem estava pensando no vídeo vazado. Eu o teria assistido?
Claro que não, mas essa parte da entrevista não era o problema. Ele se
aproximou de mim e eu abaixei meus braços, pronta para fugir.
— Eu comprei a gravação.
Ele deu um passo à frente e eu recuei com uma careta.
— O quê?
— Hoje de manhã, paguei um milhão de dólares pelo vídeo íntimo
que prova que minha ex-esposa me traiu com um diretor enquanto
estávamos casados… provavelmente para conseguir um papel no filme
dele, o que ela não conseguiu.
— Por que você fez isso?
— Porque ela está me pressionando. Eu não vou aparecer na frente
das câmeras nem dar entrevistas para alimentar essa bobagem que ela
começou, mas poderia fazer isso. Então eu fiz. Agora, se ela insistir em
vir atrás de mim, ou de você, ela vai saber que posso provar que cada
palavra dela é mentira.
Estava na hora de me sentar.
— Você vai chantageá-la?
— Não é exatamente chantagem. Em teoria, é, mas ela não pode se
arriscar, então eu vou acabar não usando a gravação de qualquer
maneira. Mas agora não é disso que preciso falar com você. Eu só
queria que você soubesse que a entrevista é a única vez que ela dirá
seu nome. Se ela continuar com essa história de traição, ela vai ter que
lidar com as consequências.
— Se não é isso, então o que você quer falar comigo? — Eu me
inclinei para trás e me preparei.
— Vou contar uma história. Vicky, minha irmã… tinha dezoito anos
quando se mudou para Paris. Suas amigas aqui não eram exatamente
a melhor influência, e ela se drogou… não coisas pesadas, mas ainda
assim ela se drogou. Como discutimos antes, meus pais davam muitas
festas e, por mais que eu tentasse mantê-la longe de tudo quando era
mais jovem… depois de atingir certa idade, minha ajuda não era
necessária. Para encurtar a história, ela se meteu com as pessoas
erradas e… engravidou.
Eu fiz uma careta, sem saber aonde ele queria chegar, mas ouvi
atentamente. Adam sentou-se do outro lado do sofá e cerrou as mãos
em punhos.
— Meu pai e minha mãe combinaram que ela iria a Paris para ficar
com minha tia que mora lá. Eles não podiam arriscar que um escândalo
como esse viesse à tona. Ela estava grávida de um mês e meio quando
a mandaram embora. E Vicky… ela era tão jovem, Lucy. — Ele olhou
para mim com um pequeno sorriso e desviou o olhar. — Eu tentei o
meu melhor para protegê-la dos meus pais, mas no final ela fez suas
próprias escolhas. Acho que, às vezes, por mais que a gente queira
salvar alguém, temos que aceitar o fato de que não conseguimos se
essa pessoa não deixar. — Ele me lançou outro olhar, então se
levantou e começou a andar de um lado para o outro.
Não gostei de aonde sua história estava indo. Não gostei nem um
pouco.
— Ela não queria criar o bebê, mas também não queria fazer um
aborto. E, bem… — Ele passou os dedos pelos cabelos e soltou uma
risada seca. — Eu nunca disse isso para ninguém antes. É estranho.
Ele caminhou até a janela e ficou parado em silêncio, de costas para
mim. Mantinha a mesma expressão que eu tinha visto na primeira noite
que o espionamos. A única diferença agora era que não havia barreira
entre nós, nem paredes, nem janelas de vidro. Ele estava a poucos
metros de distância de mim.
— Meus pais não estavam muito interessados na ideia de dar o bebê
para adoção — continuou. — Eles tinham certeza de que essa história
acabaria sendo relacionada a eles. Enquanto isso acontecia, eu estava
com Adeline. Ela ia a Paris comigo quando visitávamos Vicky. Ela só
soube sobre a gravidez porque estava junto quando recebi a notícia. Eu
estava apaixonado por ela e devemos confiar em quem amamos,
certo?
Diante de mim, ele esperou um pouco, ou talvez estivesse se
preparando.
— Aiden não é seu filho — eu disse, apontando o óbvio para facilitar
as coisas para ele, caso estivesse esperando isso.
— Ele é meu filho, Lucy — ele me corrigiu imediatamente. — No
momento em que Vicky deu à luz e eu o segurei nos meus braços, ele
se tornou meu, e ele sempre será meu.
— Mas como? — perguntei. — Quero dizer… eu não entendo.
— A ideia foi de Adeline. Veja bem, ela não compartilhou comigo
primeiro. Ela disse aos meus pais, e eles agarraram a chance.
— Mas como? — repeti. Eu me senti idiota por perguntar a mesma
coisa de novo. Claro… mas eu queria muito a resposta. — Lembro de
ver as fotos dela, da Adeline… quero dizer… ela estava grávida.
— Ela não estava. Ela passou muito tempo em Paris, com Vicky. A
casa não ficava na cidade, então, a possibilidade de serem
fotografadas era praticamente nula. Quando ela estava aqui, quando
voltava a Los Angeles, usava uma daquelas barrigas falsas. O mesmo
quando ela postava nas mídias sociais. Confie em mim, parece
assustadoramente real, e eu estava filmando, então nenhum de nós
passava muito tempo na cidade, de qualquer maneira. Apenas algumas
pessoas sabiam sobre a gravidez de Vicky. Dan era um desses poucos,
então não havia ninguém que pudesse relacionar tudo.
— Nossa. — O que mais eu poderia dizer?
— Adeline queria se casar, e que melhor época para fazer isso do
que durante a gravidez?
— Mais uma vez, nossa!
E ele continuou:
— Meus pais pensaram que era a solução perfeita para tudo. Vicky
lidou bem com isso. Para ser sincero, ela não se importava tanto. Todos
estavam felizes.
— E você? Você estava bem com tudo isso? Você ficou feliz com
isso? Eu entendo, sua irmã tinha apenas dezoito anos e isso é jovem
demais para ter um bebê sozinha. A propósito, quem era o pai?
Outro sorriso forçado.
— Ela não tem certeza. Conveniente, não é?
— Sim, bem, o que eu estava tentando dizer é que ela era jovem,
tudo bem, mas você não era tão velho assim. Você tinha quantos?
Vinte e dois?
Ele assentiu rapidamente.
— Um bebê teria sido um grande escândalo quando a mãe tinha
apenas dezoito anos, era a filha do casal perfeito de Hollywood, sem
falar que o pai era desconhecido. Poderia ser um dos amigos de Vicky,
ou inferno, talvez um amigo dos meus pais. Do jeito que Vicky era, era
impossível saber. Mas Adeline Young tendo um filho meu e nós nos
casando… isso seria boa notícia. Ótima notícia. E eu amava Adeline. E
eu amava minha irmã. Eu pensei que talvez ela tivesse concordado
porque, se eu ficasse com o bebê, ela poderia vê-lo.
— Ela ainda vive em Paris, não é?
— Sim. Ela está limpa desde que soube da gravidez, mas não quer
voltar para cá. Então eu vou até ela. Levo Aiden comigo e vou até lá
todos os anos no aniversário dela.
— Para que ela possa ver o filho dela — adivinhei em voz baixa.
Adam assentiu.
— Para que ela possa ver que filho lindo ela tem, mas ela não quer
nada com ele.
— Adam… eu nem sei o que fazer… — Eu queria ir até ele, mas
também queria ouvir tudo o que ele queria dizer, então fiquei parada e
esperei a hora certa.
— Ela não quer que Aiden saiba sobre ela, então Aiden só
conhecerá Adeline e a mim como seus pais. Eu não me importo mais
com isso. Da última vez… quando estávamos em Paris no aniversário
da Vicky, nem meus pais nem Vicky passaram mais de alguns minutos
sozinhos com Aiden. Eu não quero que ele se sinta indesejado, não
quero que ele tenha que se esforçar para atrair a atenção de alguém,
então acho que não voltaremos a Paris tão cedo.
Eu também não queria que Aiden se sentisse indesejado. Eu nunca
desejaria isso para ninguém, muito menos para uma criança.
— Bem, eles que se fodam. Se não conseguem ver o garoto lindo e
inteligente que ele é… me desculpe, sei que são sua família, mas eles
que se fodam.
— Até antes de segurá-lo em meus braços, eu não tinha certeza de
que conseguiria. Claro, não achei ruim me casar com Adeline porque
eu a amava, mas um bebê? Como você disse, eu tinha apenas vinte e
dois anos. O que diabos eu sabia sobre criar um bebê? Mas ele foi
dado a mim, e eu…
Ele se levantou e se afastou. Dessa vez, fui atrás dele, mas parei
antes de chegar muito perto.
De costas para mim, ele continuou explicando.
— Eu toquei seu rosto, aqueles dedinhos, aquelas bochechas. —
Seu tom era alegre. — Ele nasceu prematuro; era tão pequeno, mas
tão perfeito. Como era possível que alguém quisesse dá-lo para
adoção?
Ele se virou e pareceu surpreso ao me encontrar em pé tão perto
dele.
— Mas e os jornais? A certidão de nascimento?
Ele levantou a mão e prendeu uma mecha de cabelo atrás da minha
orelha.
— Você não tem ideia do que pessoas com muito dinheiro e poder
como meus pais podem fazer… podem comprar. Nosso assessor de
imprensa, Michel, tinha um faz-tudo; é um dos motivos pelos quais ele
consegue fazer o trabalho dele.
Eu balancei a cabeça.
— Tudo parece muito louco.
— E é.
— Então, por que você me contou tudo isso?
— Há mais de uma razão.
— Que é...?
— Eu queria que você soubesse tudo porque você me assusta, Lucy
Meyer.
Como assim?
Lançando a ele um olhar incrédulo, perguntei: — Te assusto?
Assenti.
— A outra razão é porque eu quero que você saiba tudo. Eu quero
que você saiba que confio em você. Eu quero que saiba que na noite
em que tive que deixar você sozinha com Aiden, ela estava ameaçando
falar com a imprensa e que eles saberiam que Aiden não era nosso
filho. Ela pensou que seria o suficiente para fazerem esquecer a história
do vazamento do vídeo íntimo. Por isso saí com pressa.
— Por que ela faria isso?
— Para salvar o que resta de sua carreira. Para me fazer parecer
mal. Ela está cometendo um erro após o outro. Até você e eu sermos
fotografados com Aiden, ela era a vilã da nossa história. Agora que
você está literalmente presente…
— Ela quer me fazer parecer a vilã, para ela parecer boazinha e se
safar.
— Exatamente. Mas agora ela não pode. Se ela falar sobre Aiden
para alguém, vou soltar o vídeo. Se ela disser mais uma palavra que
seja sobre você, eu vou soltar o vídeo. Um boquete não foi a única
coisa ali, e embora ela acredite que o rosto do outro cara não aparece,
ela está errada em relação a isso. Se o vídeo não fizer o trabalho para
ela, vou começar a dar minhas próprias entrevistas e ela realmente não
vai querer isso.
— Diga-me que tudo isso não está acontecendo por minha causa,
Adam.
Ele segurou meu rosto.
— Isso não está acontecendo por sua causa, Lucy. Se não houvesse
aquelas fotos nossas juntos, ela encontraria outra coisa para conseguir
o que queria. Ela não tem vínculos com Aiden. Foi por isso que ela quis
se divorciar, e é por isso que sempre planejei obter a guarda exclusiva.
Nada disso está acontecendo por sua causa.
— Por que te assusto? — Eu queria voltar a isso porque não
entendia. Eu não entendia como podia assustá-lo, justo a ele. Mas ele
estava me assustando naquele momento e, para ser sincera, eu estava
cansada de falar sobre a bruxa malvada.
— Porque eu disse que te amo e você não disse nada. — Seu
polegar acariciou minha bochecha, e ele manteve os olhos firmes nos
meus. — Eu não esperava ouvir o mesmo de você, pelo menos ainda
não, e tudo bem em relação a isso, mas você agiu como se eu nunca
tivesse dito nada.
— Não respondi nada a respeito porque era a adrenalina falando,
não você.
— Ah? É isso?
A maneira como seus olhos estavam percorrendo meu rosto… era
muito terna, e um nó se formou na minha garganta.
— Você tem nove marquinhas no rosto. Sabia disso?
O quê?
— Hum… não, eu nunca contei.
— Eu contei. Minha favorita é esta. — Com a ponta do dedo, ele
tocou minha pele, logo abaixo do olho, e depois deixou o dedo descer
até o meu queixo.
Eu não fiz nada além de observar seus olhos seguirem seu dedo
quando ele parou no meu queixo e inclinou meu rosto para o dele.
Prendendo a respiração, esperei o beijo, esperei, mas ele não me
deu. Então seus olhos encontraram os meus.
— Eu te amo, Lucy Meyer.
Ele queria muito de mim… mas ao mesmo tempo não queria nada.
Primeiro, ele havia pressionado pelo relacionamento e, quando eu
estava me acostumando com essa ideia, ele queria mais. Talvez não
fosse nada para alguns, mas era tudo para mim.
Fechando a distância entre nós, ele sussurrou: — Eu sei que você
também está com medo, Lucy, e quer saber? Se há uma coisa que
aprendi sobre o amor é que isso deve te assustar. Um pouco ou muito,
não importa quanto, mas deve fazer você sentir. E você, minha linda e
teimosa Lucy… — Ele roçou os lábios nos meus, apenas um toque
rápido, e se afastou. — Você me assusta. Não, eu prometi ser honesto
com você: você me aterroriza, Lucy, e eu adoro isso. Eu nunca vou te
desvalorizar, e saber que você não vai me deixar… você é quem eu
quero, Lucy Meyer. Você é a pessoa por quem me apaixonei.
Cada palavra era uma flecha no meu coração, e eu apenas fiquei lá,
meu corpo tremendo um pouco, minha respiração presa na garganta.
Eu simplesmente o observei me olhando. Ele segurou meu rosto
suavemente com as duas mãos fortes e beijou meus lábios. Fiquei
trêmula. Eu estava com muitos problemas. Recuando, ele beijou meu
nariz, meus olhos, minha testa e meus lábios novamente.
— Agora você vai me beijar, Lucy. Eu sei que não vai me dar as
palavras, mas preciso que me dê seu melhor beijo — ele sussurrou,
seus lábios se movendo nos meus. — E então você vai me dar uma
chance, a mesma chance que você deu a Jameson. Eu mereço e você
me merece.
Ah, que idiota. Ele ia receber mais do que um beijo.
Quando abri a boca e o convidei para me beijar, ele não hesitou e me
tomou toda. Foi um beijo lento, nossas cabeças se movendo em
sincronia, nossas línguas gentis. Quando entendi o que estava
acontecendo, por que eu estava me sentindo à beira das lágrimas,
segurei seus braços e deixei que ele assumisse a situação. Ele deu
outro passo para perto de mim, nossos corpos descansando um contra
o outro.
Seguros um com o outro.
Eu sabia que me lembraria daquele momento durante anos; sabia
que, quando olhasse para trás, quando pensasse em Adam, eu sentiria
suas mãos quentes e fortes tomando meu rosto. Eu sabia que me
lembraria da verdade de suas palavras ecoando no meu ouvido, quer
ele estivesse ali ou não.
Quando acabou, ele simplesmente descansou a testa na minha e
nós apenas respiramos o ar um do outro. Eu esperava que tivesse sido
o seu melhor beijo. Eu esperava que ninguém nunca mais o beijasse
daquele jeito, que eu seria a melhor, que meus lábios seriam os
melhores.
— Diga que beijo bem, Lucy — ele murmurou, com os olhos
fechados. — Diga que sou o seu melhor.
Uma risada suave escapou dos meus lábios. Deslizei meus braços
em volta do pescoço dele e o segurei um pouco mais apertado, ficando
na ponta dos pés para passar meu nariz no pescoço dele e me
embriagar mais dele.
— Eu te ensinei bem; claro que você beija bem agora.
Ele riu e passou os braços em volta da minha cintura, seus
batimentos cardíacos constantes contra o meu peito.
Respirei fundo, fechei os olhos e fiquei imóvel na segurança dos
seus braços.
— Eu não quero que você seja tirado de mim, Adam.
Ele pressionou a palma da mão nas minhas costas, me abraçando
tão forte e tão perto quanto eu o abraçava.
— Não vou deixar ninguém te tirar de mim, Lucy. Você pode acreditar
nisso.
Uma lágrima deslizou pelo meu rosto, e eu me enterrei em seu
pescoço.
Quando me dei conta, suas mãos estavam se movendo pelo meu
corpo, e eu fui levada. Com o rosto ainda em seu pescoço, deixei que
ele me carregasse para seu quarto.
Ele me deitou com gentileza em sua cama, e se sentou em cima de
mim, seu corpo nem perto de tocar o meu. Seus braços estavam
apoiados na cama, seu rosto a centímetros do meu.
— Perco a noção do tempo quando beijo você — murmurei,
acariciando seu rosto. — Você me faz perder o controle quando olha
nos meus olhos com tanta intensidade, Adam Connor. Você faz com
que eu me sinta única.
Ele suspirou e fechou os olhos quando encostou a cabeça na minha
mão.
— Você vai dizer que me ama. Diga e me dê seu coração, e eu
prometo a você, Lucy… eu prometo que vou cuidar dele.
— Você roubou meu coração, seu idiota.
— Não são exatamente as palavras certas, tente novamente.
Eu ri baixinho.
— Acho que me apaixonei por você, Adam Connor.
Ele começou a dizer algo, mas pus o dedo sobre seus lábios.
— Eu te amo — admiti suavemente. — Você está certo, eu te amo, e
isso me assusta demais também.
Seus lábios lentamente se esticaram em um sorriso e meu coração
se iluminou com a beleza daquilo.
Há bastante tempo não digo que ele é um cretino, certo?
— Vou cuidar de você.
— Sim, você diz muito isso.
— Porque é verdade. Você nunca terá que proteger seu coração
novamente. Sempre estará segura comigo, Lucy. Você sempre estará
segura comigo.
Engoli o nó na garganta e ignorei o modo como meu coração
palpitava no peito, como se o espaço não fosse suficiente, como se
estivesse pronto, ansioso e disposto a descansar nas mãos de Adam
Connor.
Coração idiota, idiota.
Fechando os olhos, tentei lembrar de como formar palavras e apenas
respirar. Adam esperou pacientemente.
— Adam… quando digo que sou amaldiçoada, não estou tentando
ser fofa. Eu quero que você saiba que não importa quando ou como
isso termine entre nós, eu vou guardar seus segredos. — Balancei a
cabeça com espanto e olhei diretamente nos olhos dele. — O que você
fez… você é uma pessoa incrível, um pai incrível, embora obviamente
tenha um gosto duvidoso para mulheres. — De novo, ele esboçou um
sorriso, e me deu outro beijo, deixando meu coração todo animado
novamente.
— Obrigado, linda.
— Esse último comentário não foi um elogio — esclareci.
Ele roubou outro beijo, que acabou me fazendo puxá-lo para baixo
para que eu pudesse sentir seu peso sobre mim.
— Espere. Espere.
Ele parou, a respiração já pesada, junto com a minha.
— Estou torcendo por você — sussurrei. — Eu nunca desejei que um
príncipe me salvasse, porque eu posso salvar a mim mesma, muito
obrigada… mas estou desejando isso agora, Adam Connor. Eu espero,
e espero muito, que seu beijo quebre a maldição. Espero que seja
você, Adam. Espero que você seja o herói da minha história, porque eu
mereço ser amada, caramba. Eu mereço ter alguém dançando comigo
sem música. — Parei para poder respirar e observei os olhos de Adam
ficarem intensos. — Eu mereço ter você para mim. Eu mereço amar
você.
Ele me observou, apenas observou por alguns segundos silenciosos
enquanto eu tentava acalmar meu coração, que berrava. Então, sem
dizer uma única palavra, ele ergueu os braços e tirou a camisa, dando-
me uma visão da parte superior do seu corpo absurdamente sexy. E
pegou minha camisa, lentamente, como se tivéssemos todo o tempo do
mundo. Eu o ajudei levantando meus braços, e, quando ele foi para o
meu jeans, levantei o quadril também. Quando todas as roupas foram
tiradas e eu fiquei completamente nua na frente dele ― de várias
maneiras ―, ele se livrou do resto de suas roupas, se apossou de mim
novamente e me penetrou sem me dizer nenhuma palavra bonita. Eu
não precisava de nada; eu só precisava dele.
Ele já estava duro, pronto para me preencher.
Respirei fundo e abri as pernas enquanto ele me penetrava e se
acomodava profundamente dentro de mim, nos unindo da maneira mais
mágica; todo orgasmo com Adam tinha sido mágico até agora.
Dessa vez, fui eu quem segurou seu rosto e olhou para as
profundezas verdes de seus olhos.
— Não me machuque, Adam. Não me decepcione.
— Nunca, Lucy.
Ele me tomou com movimentos lentos e constantes, ajustando seu
pau a mim, fazendo meu corpo inteiro desejá-lo, querendo o orgasmo
que ele era capaz de me dar. Então ele me fez gozar, sem nada além
de sussurros e promessas na minha pele e, claro, aquele pau grande e
bonito que ele tinha. Quando foi a vez dele, ele escondeu o rosto no
meu pescoço, me penetrou o mais fundo que podia, e soltou um
gemido. Ele me deixou abraçá-lo até nossos batimentos cardíacos
voltarem ao normal.
Levantando a cabeça, ele me pediu para dizer as palavras
novamente, então eu as disse.
— Estou muito apaixonada por você, Adam.
Que palavras bonitas. Estar na mesma cama que ele, olhando nos
olhos dele e admitindo que estava apaixonada por ele me fizeram torcer
ainda mais para que ele fosse o homem a quebrar minha maldição.
Eu acredito em sexo. Do fundo do meu coração.
Eu acredito que quando se está fazendo sexo com quem se ama ―
principalmente se ele tiver um pau grande ―, a sensação é de algo fora
deste mundo. É difícil de explicar. Não é o mesmo que fazer sexo com
alguém que você só terá por uma noite, mesmo que ele seja um deus
na cama. Não me entenda mal, sexo assim também é bom porque
orgasmos geralmente são coisas muito mágicas, mas o que estou
dizendo é diferente.
Olha só.
Amar alguém, fazer sexo com alguém que te ama de todo o coração,
que confia em você mais do que em qualquer pessoa no mundo… é
bonito, transformador e, para ser sincera, um pouco louco.
Mas sim, sexo casual versus sexo com Adam… digamos que Adam
conseguia me surpreender todas as vezes.
Quer saber que tipo de sexo eu mais amo? Você sabe quase tudo
sobre mim, então é justo que também saiba disso.
Sexo com sono. Eu amo sexo sonolento. Eu poderia fazer sexo com
o sexo sonolento, de tanto que amo.
Especificamente, devo dizer, adoro sexo sonolento com Adam
Connor. Acordar com a boca de Adam em mim, respirar ofegante e ele
tapar minha boca com a mão na tentativa de me manter quieta para
que meus gemidos e suspiros não sejam ouvidos pelo pequeno ser
humano perfeito que tem um quarto no final do corredor… ser acordada
com um pau mágico me penetrando… o pau mágico de Adam, se você
não entendeu… Eu aprovo esse tipo de sexo todas as vezes.
Então, por eu amar tanto sexo com sono, foi o despertar perfeito no
melhor dia da minha vida. Eu acordei com uma mão grande em volta do
meu seio, apertando e puxando meu mamilo. Eu gemi, e ele me calou
delicadamente. Seus lábios estavam no meu pescoço, beijando,
lambendo e mordendo.
— O que você está fazendo? — perguntei atordoada, um pequeno
arrepio percorrendo meu corpo enquanto ele mordia minha pele. Eu
ainda estava em algum lugar entre o mundo dos sonhos e o mundo
real.
Sua mão viajou do meu peito até a coxa, e ele puxou minha perna
para cima da coxa dele. Eu sorri, os olhos ainda fechados, e o ajudei
deslizando para trás até minha bunda muito nua descansar contra seu
abdômen muito duro.
Com minha perna sobre sua coxa, sua mão cobriu meu quadril e ele
me puxou um pouco para baixo.
— Adam — murmurei sonolenta quando senti seu pênis duro entre
as minhas pernas. Meu corpo já estava formigando com a emoção de
ter aquilo tão perto.
Mexi o quadril o máximo que consegui com ele atrás de mim, e virei
a cabeça para trás para poder ganhar meu beijo de bom-dia.
Assim que meus lábios estavam perto o suficiente, ele tomou minha
boca em um beijo lento e sedutor. Eu gemi e simplesmente deixei meu
corpo amolecer em seus braços quando o calor dele adentrou meus
ossos. Lentamente tudo desapareceu, e eu não senti nada além do
amor entre nós.
Sem que seus lábios saíssem dos meus, senti sua mão me abrir e
percebi que ele estava conferindo se eu estava pronta para ele. Então,
ele se posicionou lentamente, mexendo o quadril muito devagar.
Quando ficou demais para aguentar, eu parei de beijá-lo e prendi a
respiração. Um último centímetro e ele estava totalmente dentro de
mim.
Totalmente meu.
Ele deslizou o braço embaixo do meu e segurou meu ombro, para
dar seus impulsos preguiçosos.
— Bom dia, Lucy — ele sussurrou quando soltei a respiração o mais
silenciosamente que pude.
Eu não estava completamente pronta para dizer alguma coisa.
— Hummm. — Foi tudo o que consegui dizer.
Ele saiu, não deixando nada além da cabeça grande dentro de mim,
e depois me penetrou lentamente de novo enquanto eu me esforçava
para segurar seu bíceps com a mão direita.
— Ahhhh — murmurei, muito longe de conseguir articular palavras.
— Eu amo acordar você assim — ele sussurrou no meu ouvido, de
alguma forma conseguindo manter seus movimentos profundos. —
Você é tão macia, tão disposta a fazer tudo o que eu digo quando
acorda de manhã. — Ele deu um beijo no meu ombro e deu um impulso
perfeitamente calculado.
Jesus!
— Quando é que não estive disposta a ficar na cama com você? —
perguntei.
— Nunca, mas há algo diferente em você quando transamos logo
cedo. Eu acho que você também ama.
Eu amava tudo com ele, ponto final, mas sim, eu amava vê-lo fazer
todo o trabalho enquanto ele me segurava em seus braços e me
deixava observá-lo com meus olhos sonolentos. Algumas manhãs eu
acordava antes dele, e se e quando isso acontecia, cuidava para que
ele tivesse um bom começo de manhã… um começo muito bom e
relaxante.
— Eu amo seu pau, ponto final — admiti. — Não importa que horas
sejam, eu amo tê-lo dentro de mim a qualquer hora do dia.
Consegui abrir mais as pernas e comecei a movimentar o quadril,
pedindo que ele fosse mais rápido.
— Sempre tão gulosa e impaciente — ele murmurou antes de
morder a ponta da minha orelha. — Eu te amo, Lucy.
Com suas palavras, eu me contraí e sorri enquanto gemia.
— Eu te amo, Adam. — Não havia mais um momento de hesitação.
— Eu amo ainda mais quando você goza comigo logo cedo.
— Você ama? Quer gozar no meu pau? Ontem à noite não foi
suficiente?
— Ontem à noite foram apenas duas vezes. Você estava cansado,
então eu não quis pressionar. — Virei o rosto para ele. — A culpa é sua
— sussurrei, meus olhos finalmente fixos nos dele. — Eu não me sinto
satisfeita enquanto não gozo três vezes. Parece que falta algo.
— Hummm, então eu tenho que fazer você gozar três vezes agora?
Sorri para ele e um pequeno gemido saiu da minha boca quando ele
mudou de ângulo e atingiu meu ponto fraco. Ele conhecia todos os
meus ângulos, todos os meus cantos agora.
— Shhh — ele me acalmou enquanto continuava me penetrando, me
levando para um espaço para o qual eu não estava preparada. — Você
não quer que Aiden ouça e venha te socorrer, não é?
Balancei a cabeça negando e agarrei seu antebraço, o que eu
pudesse alcançar. Os movimentos preguiçosos já tinham passado;
agora ele estava determinado a me fazer gozar, e sabia exatamente
como poderia conseguir isso. Eu amava Aiden com todo o meu
coração, mas ele vir me resgatar do seu pai era a última coisa que eu
queria. Eu queria que o pai dele acabasse comigo, ainda que já tivesse
feito isso, na realidade.
Ele me levou exatamente aonde queria se enterrando profundamente
em mim, sempre mais fundo e mais fundo. Ah, maravilhoso. Agarrei sua
mão e a levei à boca enquanto gozava, e ele continuou se
movimentando até minhas pernas tremerem, e ele teve que puxá-las
para baixo para mantê-las imóveis.
Mesmo depois disso, ele me colocou de bruços e posicionou as
pernas dos dois lados do meu quadril.
Um novo ângulo, um ajuste mais firme, impulsos ainda lentos e mais
profundos. Ele me deu tudo naquela manhã e tomou tudo.
— Você me deixa louco por você, Lucy — ele murmurou no meu
ouvido em algum momento enquanto eu tentava não desmaiar devido a
todas as sensações. — Você me faz feliz.
Se você acha que essas palavras não tocaram um canto profundo e
escuro do meu coração, você se engana.
Ele me fez gozar quatro vezes naquela manhã e eu fiz com que ele
gozasse duas ― porque sim, eu também era boa.
Com aquele orgasmo extra, eu deveria saber que algo estava
acontecendo.

— Bom dia.
— Arrgggh, nããão.
— Bom dia, Aiden.
— Não. Só mais um pouco, Lucy.
— Mas você tem que acordar.
— Por quê? Por quê? Estou com muito sono, Lucy. Ainda não sinto
que preciso acordar.
— Mas eu quero panquecas, Aiden. Eu perguntei ao seu pai, mas ele
não vai me ajudar. Eu pensei que você me ajudaria, mas…
Ele se virou e abriu aqueles olhos que eram exatamente iguais aos
do pai.
— Ele não vai ajudar?
Balancei a cabeça e tentei parecer muito triste.
— Você quer panquecas mesmo? Quer muito?
Assenti.
— Sim, sim. Eu quero panquecas com xarope de bordo. Muito
xarope de bordo.
Aiden soltou um suspiro e bateu na cama com a mãozinha. Ele tinha
feito seis anos um mês antes, mas ainda era muito pequeno aos meus
olhos. Não foi agradável receber Adeline quando fizemos a festa de
aniversário dele, mas ela era a mãe de Aiden, pelo menos até onde ele
sabia. Observar seu sorrisão quando viu os amigos, todos os balões e
os brinquedos, e o enorme pula-pula colorido no quintal… a alegria dele
fez valer a pena estar no mesmo lugar que ela.
Para ser justa, depois que Adam fez com que ela desse uma
declaração basicamente pedindo desculpas a mim, ela não fez nada
que me irritasse demais. Como Adam tinha comprado a gravação do
vídeo íntimo ― que eu estava curiosa para assistir, mas sabia que ele
já tinha destruído ―, ela não estava sendo tão megera. Ela até assinou
os papéis que davam a guarda exclusiva a Adam.
Ah, Aiden ainda passava um tempo com ela, algumas noites na casa
dela, mas sempre estava mais feliz quando seu pai estava por perto.
Assim como eu.
— O papai me paga. Pode apostar — ele murmurou enquanto
balançava as pernas e descia da cama.
— Você vai ajudar? — Eu sabia que ele iria. Ele adorava panquecas
tanto quanto Olive e eu.
— Você já me acordou, então acho que vou, para poder comer
panquecas. Você sempre come mais do que eu e o papai. Como você
faz isso, Lucy? Meninas não comem tanto.
— Ah, por favor. Isso aconteceu apenas uma vez e eu estava
morrendo de fome.
Indo em direção ao banheiro, ele olhou para mim por cima do ombro
e sorriu.
— Você está sempre morrendo de fome, Lucy.
Que pestinha.
Então, com meu ajudante ao meu lado, fizemos panquecas enquanto
o pai dele tomava banho e se preparava para um dia no set. A pedido
de Aiden, também convidamos os Thorn para o café da manhã. Como
Adam e Jason eram colegas de set, nós cinco passávamos muito
tempo juntos, no set e fora dele. Felizmente, eles só trabalhariam mais
tarde naquele dia.
Olive me ajudou a arrumar a mesa de jantar enquanto Aiden e Jason
protegiam as panquecas de nós. Pode acreditar, Olive ficou tão
enfurecida quanto eu quando Jason apoiou Aiden dizendo que
comíamos panquecas demais.
Jason foi esperto o suficiente para deslizar o braço em volta da
cintura dela e beijar Olive logo após a declaração, e ele teve sorte por
Olive não tê-lo visto cumprimentar Aiden.
Quando Adam saiu do banho, vestindo um elegante terno preto, eu
tive que olhar duas vezes.
— Qual é a ocasião especial? — perguntei baixinho enquanto ele
passava os dedos pelos cabelos úmidos.
— Algo especial. — Ele me abraçou e me beijou delicadamente. Eu
pousei na mesa o prato de frutas que estava segurando e me virei para
ele, surpresa.
— Para que tudo isso?
— Faz cinco meses hoje — ele declarou.
Eu sabia. Fazia cinco meses desde que eu me havia me mudado
para a casa dele e de Aiden. Não foi exatamente uma mudança, porque
não aluguei o apartamento no qual estava de olho. Um dia, todas as
minhas roupas estavam na casa de Olive e, no dia seguinte, não
estavam mais. Eu não tive muito poder de decisão, mas também não
estava reclamando. Como eu disse, o sexo sonolento acabou sendo o
meu tipo favorito de sexo.
E Aiden… a reação dele ao saber que seu pai e eu estávamos num
relacionamento sério foi abrir um sorriso meio doce, meio malicioso. Ele
era muito parecido com o pai.
— Isso significa que ele vai beijar você sempre que quiser? — ele
perguntou, ainda sorrindo.
— Sim, acho que isso significa que ele vai me beijar sempre que
quiser. Mas, se eu estiver com raiva dele, ele não vai poder me beijar.
Ele riu.
— O que mais isso significa?
Isso significava muitas coisas que seus pequenos ouvidos não
podiam ― não deveriam ― ouvir, mas eu não disse nada.
— Se você estiver de acordo, isso também significa que eu moraria
com vocês.
— Aqui?
— Sim.
— Aqui nesta casa? Você não vai mais morar na casa da Olive?
— Não, eu moraria aqui.
Os olhos dele se arregalaram.
— Você vai morar com a gente? Para sempre?
— Vamos devagar, pequeno humano. Se ele me irritar, não sei como
me sentiria ao ver o rosto do seu pai para sempre. Mas o seu… — Eu
toquei seu queixo com os nós dos dedos. — O seu eu gostaria de ver
para sempre.
Ele riu e saiu correndo para dizer a Adam que eu preferia o filho, não
o pai.
Eu tinha dito que ele era o pequeno humano perfeito antes, certo?
Adam deu outro beijo em mim, este mais forte, mais intenso, de
alguma forma ainda mais bonito e me puxou de volta ao presente.
— E este? — perguntei quando ele me deixou respirar.
— Este foi porque hoje é o dia do nosso casamento.
O sorriso que estava no meu rosto desapareceu em um instante, e
eu dei um passo para trás.
— O quê?
— É o dia do nosso casamento.
— Repito: o quê? De alguma forma viajei no tempo e perdi o pedido?
Ele se aproximou de mim e me impediu de me afastar ― eu nem
percebi que estava andando para trás.
— Eu tenho pedido a você todos os dias com todos os beijos, Lucy.
— É?
— Não é minha culpa que você demorou para me responder. Agora
você não pode esperar um pedido. É tarde demais para isso.
— É?
— Sim, Lucy. Eu sinto muito.
— Mas eu quero um pedido, Adam. Eu quero muito mesmo. Peça.
Por favor.
Ele se inclinou e deu um beijo suave nos meus lábios.
— Sinto muito, linda.
— Então não tem pedido? O que isso significa exatamente?
— Significa que vamos nos casar.
— Nós? Quando?
— Hoje.
— O quê? — Minha voz era quase inaudível.
Olive apareceu e eu congelei quando vi o que ela estava segurando.
Um vestido de noiva. Um maldito vestido de noiva, e eu tive que
admitir, um maldito e lindo vestido de noiva.
Levei as mãos à boca, e fiquei ali, absorvendo tudo.
Lágrimas escorriam pelo rosto dela, então, obviamente, algumas
escorriam pelo meu também.
— Eu-eu… — gaguejei.
Aiden se moveu, e o vi pegar a mão do seu pai enquanto sorria para
mim. Eu ainda não tinha palavras.
Então Olive se posicionou ao meu lado.
— Desejo a você toda a felicidade do mundo, Lucy. Desejo todos os
sorrisos, todas as risadas, todo o amor. — Ela riu e enxugou as
lágrimas. — Você merece muito, minha linda amiga. Você merece a
melhor história de amor, você merece o melhor final, e estou honrada
por estar de pé ao seu lado para ver você se casar com o amor da sua
vida.
Abaixei as mãos e dei uma risada ― mas não se preocupe, eu ainda
estava chorando.
— Quem disse que ele é o amor da minha vida? — Ele era,
totalmente. — E não me lembro de pedir para você ser minha dama de
honra também, minha pequena Olive.
Ela entregou o vestido delicado para Jason e se jogou nos meus
braços.
— Você não tem escolha. Tente me tirar do seu lado, eu te desafio.
Assim que ela terminou de falar, Jason se aproximou e a arrancou
dos meus braços, abraçando-a enquanto Olive relaxava contra ele.
Nenhum de nós estava muito bonito com os rostos vermelhos e cheios
de lágrimas.
— E eu acho que, como você nunca perguntou antes de começar a
me chamar de papai, eu não vou pedir sua permissão para levá-la até
esse cara — disse Jason antes de dar um beijo na minha bochecha.
Eu ri e olhei para seu rosto sorridente através das minhas lágrimas.
Aiden largou a mão do pai e correu para o meu lado. Ele ainda
estava com o pijama de Superman.
— Não chore, Lucy. Você não quer se casar com a gente?
— Amigo, você não pode perguntar isso a ela, lembra? — Adam o
recordou.
— Mas por quê? Eu não entendo.
— Sim, eu também não. Eu também não entendo. Por que não
podem me perguntar isso?
Ele foi até o meu lado e segurou meu rosto com uma das mãos. Eu
quase não reparei que Aiden soltou minha mão e foi para o lado de
Jason. Adam sempre fazia isso comigo, sempre me impedia de desviar
o olhar.
— Porque eu não quero que você pense. Porque eu não quero que
você tenha a opção de dizer não pra mim. Você é minha, Lucy. Quando
existe apenas uma resposta para uma pergunta e você já sabe o que é,
é inútil perguntar. Você vai se casar comigo hoje. Você se tornará minha
esposa e sempre será minha.
A esposa dele.
A esposa dele, porra.
Engoli em seco e assenti.
— Você está certo. Não faz sentido perguntar quando sabemos a
resposta.
A outra mão dele levantou e ele me segurou imóvel.
— Então é sim? Você vai fazer isso?
— Pensei que você tivesse dito que eu não tinha a opção de dizer
não.
— Você não tem — ele repetiu em voz baixa, seus olhos se movendo
sobre cada centímetro do meu rosto. — Mas nunca sei o que você fará.
— Compreendo. Então… ok. — Eu levantei as mãos trêmulas e as
coloquei sobre as dele. — Vamos nos casar. E por que não hoje, certo?
É um dia ótimo, e se todas as minhas pessoas favoritas estiverem
presentes, bem, será o melhor dia.
Ele sorriu lentamente, como se estivesse com medo de que eu
dissesse não, como se ele já não soubesse que eu não tinha como
dizer não.
Então, quando o sorriso dele aumentou, meus olhos se encheram
com mais lágrimas.
— Já chega, Lucy — ele murmurou, beijando meus olhos molhados.
— Já chega, minha linda guerreira.
Meu corpo estremeceu, e Adam me envolveu em seus braços antes
que eu pudesse escapar e cair no chão.
Seus sussurros eram as únicas coisas que estavam chegando até
mim.
— Você nunca será como elas, Lucy. Você não é amaldiçoada, linda.
Você nunca foi. Você estava apenas esperando que eu te encontrasse.
— Sua voz era tão terna, tão amorosa. — Quem eu quero enganar?
Você nem sequer pôde esperar que eu te encontrasse. Você caiu bem
no meu quintal, ficou bem na minha cara.
Ainda chorando em seus braços, eu o abracei mais forte.
Ele havia me encontrado.
Ele nunca reconheceria isso, mas sim, Adam me encontrou.
— Eu te amo — sussurrei contra sua camisa agora encharcada.
— E eu amo você, minha Lucy. — Senti seus lábios no topo da
minha cabeça e fechei os olhos.
Ele era perfeito. Ele era tudo que eu sempre tive medo de querer
para mim.
Erguendo a cabeça, olhei nos olhos dele e consegui dar um sorriso
trêmulo.
— Você é o herói da minha história, afinal, Adam Connor. Você é
meu príncipe inesperado que quebrou minha maldição. Quem poderia
imaginar, hein? Eu acho que estou feliz que é você, porque eu odiaria
começar do zero e ensinar outra pessoa a beijar direito.
Ele riu, seus olhos ternos.
— Receio que você nunca mais vai beijar ninguém além de mim. Vai
lidar bem com isso?
Assenti, meu coração ainda instável no meu peito.
— Eu posso viver com isso.
— Ótimo.
— Então, Lucy, você quer se casar com a gente ou não? — uma voz
entrou na conversa.
Soltei Adam e me inclinei para beijar as bochechas de Aiden.
— Obrigada por perguntar, meu principezinho. Minha resposta é sim,
com certeza.
— Boa. Agora podemos comer as panquecas? Estou com muita
fome e esperei com muita paciência.
Eu ri e me endireitei.
— Sim. Sim, podemos comer as panquecas.
Olive, que agora não chorava, me deu uma piscadela rápida e foi
ajudar Aiden e Jason com as panquecas. Adam me puxou de volta para
seus braços, e eu gostei de sentir seu calor e proximidade.
— Obrigado, Lucy.
— Pelo quê?
— Por me espionar. Por ser minha.
— Isso é muito para agradecer.
— E pretendo agradecer em todas as chances que tiver.
— Você deve fazer isso. Três vezes a cada vez, por favor.
Adam sorriu e eu me derreti.
Ele se inclinou e sussurrou no meu ouvido: — Obrigado por confiar a
mim seu lindo coração.
Então, no mesmo dia, depois das panquecas, eu disse sim a Adam
Connor com lágrimas bobas e felizes marejando os olhos.
Depois do nosso primeiro beijo surpreendentemente delicado, eu o
puxei para baixo e sussurrei um pequeno segredo em seu ouvido.
Eu nunca me esquecerei do olhar que ele me deu… aquele que dizia
que eu era o mundo dele.
Com a mão descansando na minha barriga, sobre nosso bebê, ele
me deu outro beijo perfeito, outro que eu poderia adicionar à lista.
Aquela garotinha que passara dias chorando, que se esforçara ao
máximo para descobrir por que a mãe não podia amá-la o suficiente
para mantê-la, que não conseguia entender por que sua avó nunca a
amaria como ela precisava ser amada… aquela mesma garotinha que
ao longo do caminho compreendeu e aceitou que nem todo mundo
consegue ser feliz para sempre neste mundo… aquela garota em
mim… aquela garotinha esperançosa em mim apenas sorriu naquele
dia.
Ela sorriu, sorriu, sorriu e sorriu.
Meus leitores… Há muito que está envolvido em escrever um livro,
uma história. Tantas pessoas que ajudam a torná-la possível para eu
alcançar tantos de vocês. Não tenho certeza se Adam e Lucy receberão
a mesma atenção que Olive e Jason receberam, mas posso dizer
sinceramente que acho que eles merecem e muito mais. Eu me diverti
muito escrevendo esses personagens e me apaixonei ainda mais por
Lucy. O coração dela foi machucado antes, mas, apesar de ser uma
personagem muito forte, ela merece todo o amor. Então, se você está
lendo isso agora, se gostou da história de Adam e Lucy, obrigada,
obrigada do fundo do meu coração. Seu apoio significa o mundo para
mim.
Obrigada a todos os maravilhosos blogueiros por darem uma chance
a mim e às minhas histórias. Muitos de vocês leram e amaram a
história de Jason e Olive e agora (espero) a de Lucy e Adam. Não faço
ideia de como mostrar como sou grata. Todas as belas críticas,
compartilhamentos, comentários, mensagens… tudo isso ― muito
obrigada.
Jasmine… Você é tudo. Eu acho que isso resume o que sinto.
Obrigada por me aguentar. Obrigada por não gritar comigo para ir
embora quando eu a incomodei sem parar. Obrigada por chutar minha
bunda quando eu precisava. Obrigada por colocar os maiores sorrisos
no meu rosto. Obrigada por receber minhas histórias e me ajudar a
suavizar tudo. Como eu disse, você é tudo, e nada do que eu disser
será suficiente. Você é incrível e tenho sorte de chamá-la de amiga.
Não seria possível sem você.
Caitlin… Devo ser sua pior autora de todos os tempos. Um dia, eu
vou conseguir entregar meu manuscrito para você a tempo. Prometo!
Muito obrigada por reservar um tempo para mim e transformar minhas
histórias em um livro. Você é uma editora incrível.
Erin Bailey… Obrigada por ler tudo o que escrevo, mesmo quando
você mal tem tempo para você e por estar sempre pronta para me
ajudar; seja para segurar minha mão quando estou enlouquecendo ou
para me animar.
Sanzana (aqueles áudios!), Natasha G., Suzette, Rita, Samantha,
Natasha M., Laura Gladden H., Amy ― se me esqueci de alguém, me
desculpem ―, obrigada a todas por lerem o ARC antes do lançamento.
Não sei dizer como fiquei feliz em ouvir seus comentários enquanto
você lia.
Erin Spencer… (Southern Belle Promotions), muito obrigada por me
ajudar a conseguir tudo. Amo você.
Kelley… (A RP incrível), muito obrigada por tudo que você faz por
mim. E por me acalmar num dia de lançamento. Mal posso esperar
para atualizar as coisas com você para Adam e Lucy. Vamos torcer
para eles se saírem bem.
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