Mecânica Dos Fluidos ARAÚJO 2022 PDF

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Camila Pacelly Brandão de Araújo

MECÂNICA DOS FLUIDOS


uma abordagem voltada ao ensino
e aprendizagem em nível universitário
Mecânica dos Fluídos
uma abordagem voltada ao ensino e
aprendizagem em nível universitário
Reitor
José Daniel Diniz Melo
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Design editorial
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Marcos Paulo do Nascimento Pereira (Projeto gráfico)
Fotografias
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Camila Pacelly Brandão de Araújo

Mecânica dos Fluídos


uma abordagem voltada ao ensino e
aprendizagem em nível universitário

Natal, 2022
Fundada em 1962, a Editora da UFRN
(EDUFRN) permanece até hoje dedicada à sua
principal missão: produzir livros com o fim
de divulgar o conhecimento técnico-científico
produzido na Universidade, além de promover
expressões culturais do Rio Grande do Norte.
Com esse objetivo, a EDUFRN demonstra o
desafio de aliar uma tradição de seis décadas
ao espírito renovador que guia suas ações
rumo ao futuro.

Publicação digital financiada com recursos do Fundo Editorial da


UFRN. A seleção da obra foi realizada pelo Conselho Editorial
da EDUFRN, com base em avaliação cega por pares, a partir dos
critérios definidos no Edital n°04/2019, para a linha editorial
Recursos didático-pedagógicos.

Coordenadoria de Processos Técnicos


Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede

Araújo, Camila Pacelly Brandão de.


Mecânica dos fluidos [recurso eletrônico] : uma abordagem voltada ao
ensino e aprendizagem em nível universitário / Camila Pacelly Brandão de
Araújo. – Dados eletrônicos (1 arquivo : 30 Mb). – Natal, RN : EDUFRN, 2022.
285 p.

Modo de acesso: World Wide Web


<http://repositorio.ufrn.br>.
Título fornecido pelo criador do recurso
ISBN 978-65-5569-274-7

1. Mecânica dos fluidos. 2. I. Título.

CDD 532
RN/UF/BCZM 2021/22 CDU 532

Elaborado por Gersoneide de Souza Venceslau – CRB-15/311

Todos os direitos desta edição reservados à EDUFRN – Editora da UFRN


Av. Senador Salgado Filho, 3000 | Campus Universitário
Lagoa Nova | 59.078-970 | Natal/RN | Brasil
e-mail: [email protected] | www.editora.ufrn.br
Telefone: 84 3342 222
A todos os meus alunos,
passados, presentes e futuros.

Essa obra foi feita


pensando em vocês.
Agradecimentos

A Deus;
A TODOS os meus colegas de trabalho, em especial ao Prof.
Dr. Carlson Pereira de Souza, pelo aprendizado ao longo de toda
a minha jornada discente e docente, e ao Prof. Dr. Douglas do
Nascimento Silva, pelo apoio durante o desenvolvimento dessa obra;
À minha família, em especial aos meus pais e meus irmãos,
meu esposo, Breno, e ao nosso maravilhoso filho, Davi, pelo apoio,
pelo carinho, pela compreensão e pela paciência durante essa jornada;
Aos meus professores, que me trouxeram até aqui com suas
orientações.
Aos meus amigos, que me acompanham de perto ou à dis-
tância. Sou muito feliz por tê-los na minha vida.
A todos que contribuíram para que essa experiência literária
se concretizasse.
Apresentação

O presente livro foi concebido na premissa de fornecer ao


aluno de um curso de nível superior, que necessite dos conheci-
mentos de Mecânica dos Fluidos, uma base sólida de conteúdos
e elucidações.
Por vezes, o aluno se depara com textos em linguagem
que não lhe é familiar, ou que não se aproxima de sua reali-
dade durante os seus estudos. O presente texto foi elaborado na
perspectiva de contornar essas dificuldades, transportando os
conteúdos dos livros para o dia a dia.
No capítulo 1, é fornecida uma visão global da Mecânica
dos Fluidos, apresentando conceitos iniciais e fundamentais ao
desenvolvimento e ao aprofundamento das análises.
O capítulo 2 se volta ao tratamento da condição estática
dos fluidos, enquanto o capítulo 3 apresenta a ferramenta do
Teorema de Transporte de Reynolds e o início do tratamento do
escoamento de fluidos, na perspectiva integral. Já o capítulo 4
continua o desenvolvimento do escoamento de fluidos, porém,
com uso da perspectiva diferencial.
No capítulo 5, a ferramenta de análise dimensional é apre-
sentada, e no capítulo 6, ela é aplicada ao escoamento viscoso
de fluidos.
Sumário

1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais 11

1.1 Por que estudar a Mecânica dos Fluidos? 12


1.2 O que é um fluido? 13
1.3 Equações básicas 16
1.4 Métodos de análise 19
1.5 Fluido como contínuo 20
1.6 Propriedades dos fluidos e seus campos 22
1.7 Classificação dos escoamentos de fluidos 44

2 Estática 61

2.1 Estática dos fluidos – o que é? 62


2.2 Condição estática 63
2.3 Isotropia da pressão 64
2.4 Equação Geral da Estática 67
2.5 Aplicações da Equação Geral da Estática 78

3 Análise integral do escoamento de fluidos 110

3.1 Escoamento de fluidos 111


3.2 Alguns conceitos necessários 112
3.3 Leis básicas 116
3.4 Teorema de Transporte de Reynolds 124
3.5 Equações para um volume de controle 130
3.6 Equação de Bernoulli 145
4 Análise diferencial do escoamento de fluidos 157

4.1 Análise diferencial versus análise integral 158


4.2 Conservação da massa – equação da continuidade 160
4.3 Cinemática da partícula fluida 168
4.4 Conservação do momento linear 184
4.5 Equações de Navier-Stokes 191
4.6 Equação de Euler 193

5 Análise dimensional 198

5.1 Introdução 199


5.2 Homogeneidade dimensional 200
5.3 Análise dimensional 203
5.4 Teorema dos π’s de Buckingham 206
5.5 Semelhança entre modelos 209
5.6 Grupos adimensionais importantes 212

6 Escoamento viscoso 222

6.1 Introdução 223


6.2 Uma breve retomada 224
6.3 Camada-limite 226
6.4 Escoamento viscoso interno 228
6.5 Considerações de energia no escoamento interno viscoso 247
6.6 Perda de Carga 250
6.7 Bombas 261
6.8 Escoamento viscoso externo 265
6.9 Escoamento Fluido em torno de corpos submersos 269

Lista de figuras 277


Lista de símbolos 282
Referências 283
Sobre a autora 284
1
Introdução à Mecânica dos
Fluidos e conceitos fundamentais
1 Introdução à Mecânica dos
Fluidos e conceitos fundamentais

1.1 Por que estudar a Mecânica dos Fluidos?

A primeira grande pergunta que a maioria dos estudantes


tem quando entra na sala de aula de Mecânica dos Fluidos é:
“por que é que eu devo estudar isso?”, a qual geralmente encontra
um olhar de exasperação por parte do professor. Imagine só! O
estudante está em contato com a Mecânica dos Fluidos desde
antes do seu nascimento e não se dá conta! Quando falamos em
líquido embrionário, em respiração, em fluxo sanguíneo, todos
são fenômenos relacionados ao escoamento de fluidos no interior
do corpo humano. Porém, não só de fluidos corporais se faz a
Mecânica dos Fluidos!
Enquanto ciência, a Mecânica dos Fluidos passou a se desen-
volver a partir da necessidade de conhecimento sobre fenômenos
do cotidiano (abastecimento de água, navegação e construção de
hidrelétricas) e permeou a evolução da civilização e as buscas por
novos continentes. Imagine que a escavação de poços, a constru-
ção de canais para distribuição de água, o uso de rodas d’água
como fonte de potência para moagem de grãos e a instalação dos
famosos aquedutos em Roma são todos exemplos de aplicações
dos conhecimentos que iremos desenvolver juntos. A partir de
Roma até os dias atuais, temos o desenvolvimento da navegação, da
aeronáutica, da indústria aeroespacial e de automóveis, que encontra
na Mecânica dos Fluidos a base para sua evolução. Na Figura 1,
Camila Pacelly Brandão de Araújo

você vai encontrar algumas das aplicações mais recorrentes da


Mecânica dos Fluidos na área de Engenharia.

Figura 1 – Escopo da Mecânica dos Fluidos


Fonte: autoria própria

1.2 O que é um fluido?

Já vimos que a Mecânica dos Fluidos é uma ciência plural e


que abrange diversos aspectos da nossa vida cotidiana; portanto,
podemos passar para a segunda grande questão que os alunos
sofrem quando chegam à componente de Mecânica dos Fluidos:
“o que é esse tal de fluido?”.
Então, vamos tentar responder? Quando falamos sobre os
estados da matéria, é costume se identificar o estado da matéria

13
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

que um determinado corpo apresenta com base na força de coesão


entre as moléculas que o constituem. É dessa forma que atribuímos
as designações de estado sólido, líquido ou gasoso aos materiais. A
Figura 2 ilustra isso. As forças de coesão destes estados decrescem
do sólido ao líquido e deste ao gasoso (Sólido > Líquido > Gás).

Figura 2 – Estados físicos da matéria e forças intermoleculares


Fonte: autoria própria

A questão é: do ponto de vista da mecânica dos fluidos, esta


classificação não é boa o suficiente. Veremos que o comportamento
de um dado material frente à aplicação de esforços mecânicos será
a base para sua classificação como sólido ou fluido.
Vamos ver o que acontece quando aplicamos esforços mecâ-
nicos a sólidos? A Figura 3 ilustra um material submetido à tração,
à compressão e ao esforço tangencial (ou cisalhante).

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Camila Pacelly Brandão de Araújo

Figura 3 – Alguns tipos de esforços mecânicos aplicados a um material


Fonte: autoria própria

Quando um sólido é submetido a um esforço de tração a


níveis abaixo de seu limite de ruptura e acima do limite elástico,
por exemplo, observa-se que, mesmo cessado o esforço, o corpo
deforma-se de maneira permanente, não readquirindo seu formato
original. Diferentemente, líquidos e gases, em função da baixa força
de coesão molecular, não resistem a esse tipo de movimento, por
menor que ele seja, e escoam.
A compressão de sólidos também lhe impõe deformações
permanentes, ao passo que, nos líquidos e gases, esse esforço é mais
ou menos resistido de acordo com a compressibilidade do fluido.
Neste aspecto, os líquidos apresentam capacidade de compressão
bem menor do que os gases.
Porém, quando sujeitos a esforços cisalhantes ou tangenciais,
observam-se grandes diferenças de comportamento entre sólidos
e líquidos. O sólido deforma-se, escoando até um novo estado,
em que volta a se comportar como sólido rígido, não permitindo
a continuidade da deformação. Já os fluidos (gases, líquidos e
pastosos), por sua vez, não apresentam limitação na deformação e,
enquanto o esforço permanecer, mantém-se o escoamento fluido.
A Figura 4 ilustra essa diferença em comportamento.

15
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

Desta forma, define-se fluido como todo material


que se deforma continuamente quando submetido
a esforços tangenciais.

Figura 4 – Comportamento de sólidos e fluidos frente a


um esforço cisalhante
Fonte: adaptado de Fox, Mcdonald e Pritchard (2011)

1.3 Equações básicas

Excelente! Agora que já sabemos o que é um fluido, podemos


começar a entender melhor o que a Mecânica dos Fluidos faz.
Vamos por partes? A palavra Mecânica diz respeito ao ramo
da Física responsável pelo estudo do movimento dos corpos. Assim
sendo, é responsável pela análise do movimento e do repouso dos
corpos, bem como a evolução desse movimento ao longo do tempo,
ou o deslocamento de corpos sob a ação de forças. Fluidos, em
adição, se referem a uma parcela da matéria cujo comportamento
segue a definição que já postulamos.
Então, podemos entender a Mecânica dos Fluidos como
o estudo do movimento e do repouso de fluidos, mediante a
ação de forças.

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Camila Pacelly Brandão de Araújo

Assim, para que possamos evoluir nesse estudo, se faz neces-


sário verificar se todos os seguintes termos e equações já fazem
parte do seu vocabulário pregresso.

Equações básicas Formulação tradicional

“Na natureza nada se cria, nada


Conservação da massa se perde, tudo se transforma”
massasistema  0

“A força resultante (soma vetorial de todas as forças


aplicadas) é diretamente proporcional ao produto da
2ª Lei de Newton aceleração de um corpo pela sua massa”
 
FR = m.a

“A energia total transferida para um sistema na


forma de calor ou trabalho é igual à variação de
sua energia interna, ou seja, em todo processo
1ª Lei da Termodinâmica
natural, a energia do universo se conserva”

U  Q  W

“O momento angular total do sistema é conservado


Princípio da quantidade de se o torque total externo que age sobre ele é nulo”
movimento angular   
H = r �� xVm

“A variação da entropia total de um sistema em


um processo termodinâmico será sempre maior
ou igual a zero”
2ª Lei da Termodinâmica
dS 
≥Q
dT

Quadro 1 – Equações básicas para a Mecânica dos Fluidos


Fonte: autoria própria

17
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

É óbvio que as leis básicas com as quais lidaremos são as


mesmas usadas na mecânica e na termodinâmica. A nossa tarefa
será formular essas leis de modo adequado para resolver proble-
mas de escoamento de fluidos e, então, aplicá-las a uma grande
variedade de situações.
Na forma tradicionalmente abordada dessas equações, você
provavelmente utilizou o conceito de sistema fechado para chegar
a uma ou outra delas.
Vamos retomar esse conceito?

Sistema é uma quantidade de massa fixa e


identificável, separada do ambiente por suas
fronteiras, que se escolhe como objeto de estudo.

Não existem fluxos de massa pelas fronteiras que deli-


mitam o sistema. As fronteiras que o definem podem ser físicas
ou imaginárias. Tudo que for externo ao sistema é chamado de
vizinhança e, a depender do tipo de sistema, existe um tipo de
interação entre eles.
Sistemas isolados não permitem a troca nem de quantidades
de energia, nem de massa, por meio de suas fronteiras. Já sistemas
fechados permitem a transferência de energia, mas não de massa,
entre as fronteiras. Os sistemas ditos abertos permitem a transfe-
rência de energia e de massa pelas suas fronteiras e são chamados
de volumes de controle.

Volume de controle é um volume arbitrário no


espaço que se deseja observar. Podem existir
fluxos mássicos através de suas fronteiras.

A sua superfície pode ser imaginária ou física e é delimitada


pela superfície de controle.

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Camila Pacelly Brandão de Araújo

1.4 Métodos de análise

Agora que já sabemos que ferramentas teremos à mão para


utilizar ao longo do nosso curso, podemos nos debruçar sobre
o problema de como adaptar esse equacionamento para nossas
necessidades analíticas em cada caso.
A mecânica lida quase que exclusivamente com sistemas.
Você já deve ter usado intensivamente as equações básicas apli-
cadas a uma quantidade de massa identificável e fixa. Já deve
ter, por exemplo, calculado a força necessária para que uma bola
de 5kg adquira uma dada aceleração. Por outro lado, ao tentar
analisar dispositivos termodinâmicos, como bombas, válvulas,
ou outros, você pode ter achado necessário usar um volume de
controle (sistema aberto) para descrever seu problema.
Claramente, o tipo de análise depende do problema em
questão. Quando os elementos de massa identificáveis (ou a
partícula fluida de interesse) são facilmente acompanhados,
lançamos mão de um método de descrição que acompanha a
partícula. Referimos a isso, usualmente, como o método de
descrição Lagrangeano.
Quando, porém, é difícil de acompanhar as partículas
individuais, a formulação em termos de volume de controle
é a alternativa mais conveniente e dizemos estar usando um
método de descrição Euleriana, no qual as propriedades do fluido
são descritas na forma de campo, ou seja, possuem um valor
determinado em cada ponto do espaço a cada instante de tempo.
Você pode verificar a Figura 5, que esclarece essas diferenças.

19
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

Figura 5 – Métodos de descrição do escoamento de fluidos


Fonte: autoria própria

1.5 Fluido como contínuo

Imagine só como uma coisa leva a outra, e a outra e a mais


uma, em seguida! Dissemos que a perspectiva Euleriana descrevia
as propriedades do fluido seguindo um campo, de tal maneira
que essas propriedades possuíam um valor determinado em cada
ponto do espaço e a cada instante de tempo. Assim, propriedades,
como temperatura, massa específica, velocidade etc. são funções
da posição e do tempo.

20
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Se essas propriedades devem ser descritas a cada ponto,


precisamos saber de que tamanho seria um ponto para os fins
necessários aos nossos estudos, e isso nos leva diretamente à hipó-
tese do fluido como um meio contínuo.
Sabemos claramente que a estrutura molecular dos fluidos
não está distribuída de forma contínua no espaço, mas concentrada
em moléculas que estão separadas por regiões relativamente grandes
de espaço. Isso é fácil de imaginar quando pensamos em uma massa
de gás, por exemplo. Apesar disso, tratamos os fluidos (para os fins
deste curso) como sendo suaves, ou seja, um meio contínuo. Nós
não estamos interessados na natureza estatística e molecular do
fluido e tratamos suas propriedades como funções matemáticas
contínuas que variam suavemente de um ponto a outro.
Tomemos, para efeito de exemplificação, a forma pela qual
determinamos a massa específica de um dado fluido.
A massa específica é a relação entre a massa contida em
um dado volume do espaço. Se tomarmos uma região do espaço
preenchida por um fluido estacionário (por exemplo, o ar em uma
garrafa, tratado como um único gás), ele parecerá um meio contínuo,
mas, se ampliarmos um pequeno cubo da região, poderemos ver que
a maior parte do espaço é vazia, com moléculas de gás espalhadas
ao redor, se movendo em alta velocidade. Assim, qual deverá ser o
mínimo volume que um ponto C deve ter, de modo a podermos falar
sobre propriedades de fluido contínuo tal como a massa específica?
A Figura 6 apresenta essa relação. Podemos observar que
diminuições excessivas do volume considerado para a determi-
nação poderão levar a oscilações imprevisíveis da relação massa/
volume, indicando a entrada ou a saída de moléculas individuais
de maneira discreta no nosso volume de controle. Nesse ponto,
podemos perceber o limite da hipótese do contínuo.

21
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

Para o ar nas condições padrões de temperatura e pressão,


esse volume mínimo do volume de controle é aproximadamente
de 0,001mm³ (aproximadamente o tamanho de um grão de areia).

Figura 6 – A hipótese do contínuo e a determinação da massa específica


Fonte: adaptado de Fox (2008)

1.6 Propriedades dos fluidos e seus campos

Para caracterizar o estado de um fluido, segundo uma


perspectiva Euleriana, portanto, é importante a definição de um
número de campos de propriedades que o caracterize a cada ins-
tante de tempo dentro do domínio em estudo.
Dentre os mais importantes para a mecânica dos fluidos,
podem ser citados os campos de massa específica (e suas relações),
o campo de velocidade e o estado de tensões do fluido. O campo
de massa específica relaciona-se diretamente com a propriedade de
massa específica. Já o estado de tensões do fluido relaciona-se com
a composição de tensões cisalhantes e viscosas, sendo uma relação
tanto da pressão quanto da propriedade de viscosidade. O campo
de velocidades, por sua vez, não se relaciona diretamente a uma
propriedade específica do fluido, mas será também elencado nessa
seção por afinidade temática.
22
Camila Pacelly Brandão de Araújo

1.6.1 Campo de massa específica

A propriedade massa específica representa a relação entre a


quantidade de massa ou matéria do fluido por unidade de volume
e, para um volume ∀ que contém uma massa m de fluido, pode
ser definida como:

m



que pode diferir da massa específica do fluido em cada ponto do


volume ∀.

    x, y , z , t 

Como todas as quantidades envolvidas são escalares, o


campo de massa específica também o é. Assim, não se faz necessária
a informação de direção para o campo ser completamente descrito,
apenas o valor da massa específica do fluido em cada ponto.
Essa constatação de que podem existir valores diferentes
de massa específica em cada ponto de um domínio pode parecer
estranha a princípio, mas podemos esclarecer rapidamente com
o seguinte exemplo.
Imagine uma sala de aula com 30 alunos (que saudade das
aglomerações!), dotada de um sistema de condicionamento de ar,
conforme a figura a seguir. A razão pela qual os equipamentos de
ar-condicionado são instalados nas regiões mais altas das salas é
devido ao fato de que o ar mais frio tem massa específica maior
que o ar mais quente (podemos considerá-lo como um gás ideal):

23
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

P

RT

Dessa forma, se tomarmos essa sala hipotética, ilustrada


na Figura 7, por exemplo, podemos observar várias regiões com
massas específicas do ar distintas, a depender da distribuição de
temperatura do ambiente. Próximo às janelas, o calor irradiado
do sol pode aquecer o ar local, mudando sua massa específica.
Próximo à saída de ar-condicionado, o ar com temperatura menor
apresentará massa específica maior.
Além disso, como tanto a irradiação solar que entra no
ambiente pela janela quanto o funcionamento do ar-condicionado
apresentam variações ao longo de um dia, podemos entender esse
campo de massa específica como dependente do tempo, também.

Figura 7 – Sala de aula hipotética e regiões de massa específica


distintas no domínio
Fonte: autoria própria

Outras propriedades também interessantes ao estudo de


Mecânica dos Fluidos e relacionadas com a massa específica são:

24
Camila Pacelly Brandão de Araújo

• Densidade relativa (DR): é a razão entre a massa específica


de um fluido qualquer e a densidade da água a 4°C (1000kg/m³
ou 1g/cm³). Também pode ser encontrada como SG ou Specific
Gravity, do inglês. Notem que, por ser uma relação entre massas
específicas, a densidade relativa é adimensional.

 FLUIDO
DR 
 H 20 4C 

• Peso específico (γ): representa a relação entre o peso


de um dado fluido em relação ao volume por ele ocupado. Pode
ser compreendido como o resultado da ação da gravidade sobre a
massa fluida por unidade de volume ou, simplesmente, o produto
entre a massa específica do fluido e a aceleração da gravidade.

W


Ou

mg


Ou

  g

• Volume específico (v): representa o volume ocupado por


cada unidade de massa do fluido. É a relação inversa da massa
específica do fluido:

 1
v 
m 

25
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

Vamos exercitar esses conceitos?


Ao final do capítulo, vocês vão encontrar algumas questões
relacionadas ao que vimos até agora.

1.6.2 Viscosidade

Agora que já sabemos como podemos expressar a proprie-


dade da massa específica do fluido e como podemos descrever o
campo de massa específica como uma função temporal e espacial,
vamos começar a entender outra propriedade fundamental para o
estudo de Mecânica dos Fluidos: a viscosidade. Essa propriedade
estará diretamente relacionada com o campo de tensões ao qual
um fluido está sujeito. Esse estado de tensões vai ser definido
ainda neste capítulo, certo?

Todos sabemos que gases são muito diferentes de líquidos, e


que, mesmo entre os líquidos, existem fluidos com comportamentos
muito distintos. O mel de abelha, por exemplo, é um líquido,
mas é muito mais difícil de escoar do que a água, não é mesmo?
Podemos fazer esse mesmo tipo de comparação entre vários fluidos
e veremos que dificilmente encontraremos fluidos com a mesma
“dificuldade para escoar”. Chamamos isso de comportamento
reológico do fluido, e o comportamento reológico de cada fluido
depende da sua própria natureza.

O vídeo deste link mostra um experimento bastante simples


para podermos observar essa natureza viscosa de vários fluidos.

Viscosidade é a propriedade do material que mede


sua resistência ao escoamento ou à deformação
associada à ação de tensões cisalhantes.

26
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Já pensaram o que seriam essas tensões cisalhantes? Nós


já definimos o que seriam esforços cisalhantes no início dessa
unidade, lembram?
Tensões são relações entre força aplicada e uma área de
atuação. A pressão é um tipo de tensão da qual você provavelmente
já ouviu falar antes, não é mesmo?
Existem dois tipos de forças que podem atuar sobre um meio
fluido: forças de superfície e forças de campo. Forças de superfície
são geradas pela ação de forças de superfície (pressão, atrito) que
atuam pelo contato com outras partículas ou com superfícies
sólidas. Por outro lado, forças de campo (tais como forças de
gravidade e eletromagnética) agem por meio das partículas.
A força de campo gravitacional atuando sobre um elemento
de volume, d∀ , é dada por  gd , no qual ρ é a massa específica
(massa por unidade de volume) e g é a aceleração local da gravidade.
Portanto, a força de campo gravitacional por unidade de volume é:
 
FB   g

E por unidade de massa é:


 
FB = g
Forças de superfície agindo sobre uma partícula fluida
geram tensões. O conceito de tensão é útil para descrever como
é que forças, agindo sobre as fronteiras de um meio (fluido ou
sólido), são transmitidas através do meio.
Imagine um meio contínuo como o mostrado na Figura

8, no qual uma força resultante infinitesimal δ F atua sobre um

dado ponto C de área infinitesimal δ A , cuja direção normal

27
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

^
(perpendicular) é representada pelo vetor unitário n. Se decompu-
sermos essa força resultante em duas direções, normal e tangencial
à área δ A , teremos duas componentes da força, que poderemos
denominar de δ FN com relação à componente na direção normal
e δ Ft com respeito à componente na direção tangencial.

Figura 8 – Forças atuantes sobre um meio contínuo


Fonte: autoria própria

Então, podemos definir dois tipos fundamentais de tensão


como sendo:

 Ftangencial
 cisalhante �
A

 Fnormal
 normal �
A
Assim, tensões cisalhantes correspondem à ação de forças
cisalhantes sobre um elemento fluido, enquanto tensões normais
correspondem à ação de forças normais sobre um elemento fluido.
Ainda de acordo com a Figura 8, poderíamos notar que a ten-
são cisalhante discriminada está relacionada com a força cisalhante,

28
Camila Pacelly Brandão de Araújo

e que não foi feita qualquer menção sobre o fato de este componente
estar orientado de acordo com qualquer dos eixos coordenados.
Se fizermos isso (orientarmos o elemento fluido com respeito
aos eixos coordenados x, y, z) conforme a Figura 9, veremos que
podemos ter mais de uma componente para a tensão cisalhante
(τ): uma orientada segundo o eixo y, uma orientada segundo o
eixo z e uma única tensão normal (σ).
Além disso, convém destacar, na Figura 9, a indicação da
direção normal (em vermelho). O vetor unitário normal represen-
tante da área sempre aponta na direção para fora da superfície de
controle a qual se refere.

Figura 9 – Componentes da força e das tensões sobre o elemento de


área orientado conforme os eixos coordenados x, y, z
Fonte: autoria própria

Percebemos, portanto, a necessidade de expressar o campo


de tensões, ou o estado de tensão de um fluido por um tensor,
um elemento matricial que representará todas essas componentes
para uma partícula fluida tridimensional, conforme mostrado
na Figura 10.

29
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

Figura 10 – Estado de tensões de uma partícula fluida e tensor de tensões


Fonte: adaptado de Fox, McDonald e Pritchard (2011)

Perceba que o tensor de tensões emprega uma notação em


índice duplo para identificar tanto a área em relação a qual a tensão
é definida, como também a direção em que ela atua. Um primeiro
índice indica a direção normal à área considerada, e um segundo
encarrega-se de definir a direção segundo a qual a tensão atua. Desta
forma, a tensão τxy é a tensão tangencial que atua numa superfície
cuja normal é paralela à direção x orientada segundo a direção y.
A necessidade de que a tensão esteja correlacionada a uma
área faz surgir uma nova entidade matemática, denominada de
tensor. Enquanto os vetores são completamente especificados pelo
módulo, pela direção e pelo sentido, os tensores necessitam, ainda,
da área em relação à qual estão definidos, para complementar
sua informação.

30
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Ótimo! Agora sabemos que forças geram tensões e que estas


podem ser normais ou cisalhantes, a depender da orientação com
respeito à área. Porém, e quanto à relação com a característica
viscosa? Calma! Vamos chegar lá!

Comportamento reológico de fluidos


Dissemos anteriormente que o critério de definição sobre
a natureza fluida de um determinado material se baseia no seu
comportamento quando submetido a esforços tangenciais. Esse tipo
de esforço impõe ao material deformações angulares que ocorrem
de forma diferenciada para cada tipo de fluido.
Imagine o seguinte experimento descrito pela Figura 11
ilustrativamente: duas placas planas paralelas têm o espaço entre
elas preenchido por um fluido. A placa inferior permanece fixa,
enquanto a superior move-se com velocidade constante. Para que
este movimento ocorra, uma força deve ser aplicada nessa placa,
de modo a vencer a resistência viscosa que o fluido impõe ao seu
movimento. Essa força, portanto, agirá sobre uma área de atuação,
gerando uma tensão cisalhante correspondente.

Figura 11 – Escoamento de um fluido entre duas placas planas paralelas


Fonte: adaptado de Fox, McDonald e Pritchard (2011)

Uma característica importante do comportamento de fluidos


é que o fluido é solidário ao contorno que o limita. Como assim?

31
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

Foi verificado experimentalmente que a camada fluida imedia-


tamente em contato com a superfície sólida encontra-se agregada a ela
e movimenta-se com a mesma velocidade desta superfície. Diz-se que
o fluido obedece à condição de não escorregamento nesse ponto.
Essa condição tem sido confirmada experimentalmente em todas
as situações nas quais a hipótese do contínuo pode ser admitida.
Assim, podemos dizer que o fluido, em contato com a placa
superior, desloca-se solidário à mesma, enquanto a camada fluida
sobreposta à placa inferior permanece imóvel (também de maneira
solidária a esse contorno sólido).
Queremos avaliar como essa força aplicada para mover a
placa se relaciona com a característica viscosa do fluido. Vamos lá?
Sabemos que a força se relaciona com a tensão cisalhante por:

 Fx dFx
 yx  � �
 Ay dAy

transferida pela placa superior para cada uma das camadas de fluido.
.
A cada intervalo dt, o fluido deforma-se de um ângulo dα
pelo fato de cada camada de fluido ser puxada na direção da força
aplicada para movê-lo. A razão entre o quanto o fluido se deformou
angularmente e o intervalo de tempo considerado é o que chama-
mos de taxa de deformação angular. Obviamente, a velocidade de
deformação verificada depende das características constitutivas do
fluido entre as placas. Matematicamente, podemos expressá-la como:

 d
  �
 t dt
Pela geometria podemos também afirmar que, para ângulos
pequenos:

32
Camila Pacelly Brandão de Araújo

l
tg  d   d 
y

Sabendo que o deslocamento infinitesimal δ l ocorreu em


um intervalo dt, podemos calcular a velocidade relativa para ser:

l
du 
dt
Podemos obter a taxa de deformação angular para ser:

d du

dt dy
Esse resultado nos informa que, para determinar a taxa
instantânea de deformação angular em qualquer ponto entre as
duas placas, basta conhecer a maneira pela qual a velocidade varia
ao longo da distância entre as placas, ou seja, a derivada do perfil
de velocidades com respeito à espessura y.
Quer tentar uma outra forma de visualizar esse conteúdo?
Assista ao vídeo deste link.
Formuladas a tensão e a deformação sofrida pelo fluido, resta
conhecer qual a relação que existe entre elas.
A reologia é o estudo de como se dá o comportamento viscoso
de materiais e tem como objetivo estabelecer suas relações consti-
tutivas onde as deformações angulares sofridas são associadas às
tensões aplicadas.

Fluidos newtonianos
A relação mais simples entre a tensão cisalhante e a taxa de
deformação é a que se verifica para os chamados fluidos newto-
nianos, que são aqueles cuja relação é proporcional, ou seja:

33
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

du
yx
dy
E a constante de proporcionalidade é a viscosidade absoluta
do fluido.

du
 yx  
dy

Nesse caso, a relação é linear e o fluido se deforma, por menor


que seja a tensão aplicada. Os fluidos incluídos nessa classificação (ar,
água, glicerina, melaço, por exemplo) apresentam relação de propor-
cionalidade entre as tensões aplicadas e as deformações observadas.
Observa-se, no entanto, que, quando diferentes fluidos são
submetidos a um mesmo esforço tangencial, taxas de deformação
de valores distintos são verificadas. Esse comportamento particular
de cada fluido é associado, portanto, a uma propriedade física deles,
denominada de viscosidade absoluta ou dinâmica.

 xy

du
dy
A viscosidade absoluta, no S.I., tem unidades de Pa.s,
enquanto no CGS, a unidade é P (Poise). Usualmente, sua subdi-
visão, o centipoise, é a unidade mais utilizada para representação
da viscosidade absoluta.
Para converter esses valores, basta atentar-se que:

Ou

34
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Fluidos não newtonianos


Qualquer fluido cujo comportamento reológico seja distinto
daquele verificado para os fluidos newtonianos é dito fluido não
newtoniano. Os hidrocarbonetos de cadeias longas (derivados de
petróleo, por exemplo), em sua maioria, são exemplos desse tipo
de fluido. Fluidos de perfuração de petróleo, pasta de dente, enfim,
vários outros, são fluidos não newtonianos.
Em boa parte dos casos, a relação entre tensão e taxa de
deformação não segue a linearidade, e as equações constitutivas
apresentam-se da seguinte forma:

n
 du 
 yx k 
 dy 
Para que essa equação fique expressa de maneira semelhante
àquela dos fluidos newtonianos, podemos definir a viscosidade
aparente para ser:

n 1
 du 
 k 
 dy 
tal que:

du
 yx  
dy

Assim, a viscosidade aparente, diferentemente da viscosi-


dade absoluta, representa uma propriedade dependente não somente
da constituição física do fluido, mas também das características
do escoamento (taxa de deformação).

35
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

Dentre os fluidos não newtonianos podemos destacar os


fluidos Plásticos de Bingham, cujo comportamento se assemelha
ao apresentado pelos fluidos newtonianos, uma vez que um deter-
minado nível de tensão (mínima de escoamento) seja superado.
Sua relação constitutiva pode ser expressa por:

du
  0  
dy

É o caso da pasta de dentes, de suspensões de argila, de


tintas a óleo e de fluidos de perfuração de poços. Nesse último
caso, em particular, essa característica é fundamental para que
os sólidos removidos durante a perfuração permaneçam em sus-
pensão na coluna de perfuração, sem sedimentar. Dessa maneira,
é possível realizar operações de subida/descida de elementos da
coluna de perfuração.
Além desse tipo de comportamento, outros fluidos do nosso
cotidiano também são não newtonianos. Fluidos pseudoplásticos,
por exemplo, apresentam diminuição da viscosidade aparente
mediante o aumento da taxa de deformação. Se formos tentar
traduzir esse comportamento, poderíamos imaginá-los tornan-
do-se sucessivamente mais finos, na medida em que se aumenta a
taxa de deformação. Dessa maneira, se observarmos a expressão
para a viscosidade aparente, podemos verificar que o expoente
n (ou índice de comportamento do fluido) deve ser menor que
a unidade, gerando um valor de expoente negativo sobre a taxa
de deformação. Como exemplos de pseudoplásticos, podem ser
citadas as soluções polímeras, como graxa, tinta de impressão e
BPF, soluções coloidais e a polpa de papel diluída em água.

36
Camila Pacelly Brandão de Araújo

n 1
 du 
 k   n 1
 dy 

Fluidos ditos dilatantes apresentam comportamento análogo


e inverso aos fluidos pseudoplásticos. Assim, os fluidos dilatantes
aumentam a resistência ao escoamento à medida que este ocorre, ou
seja, sua viscosidade aparente cresce com a deformação. Dessa forma,
a equação constitutiva de tais fluidos apresenta expoente (n) maior
que a unidade, justificando o comportamento desse fluido se tornar
aparentemente mais viscoso. Exemplos de fluidos dilatantes são as
suspensões de amido e de areia, bem como o silicato de potássio.

n 1
 du 
 k   n 1
 dy 

O comportamento reológico desses fluidos pode ser visu-


alizado nos gráficos apresentados na Figura 12.

Figura 12 – Comportamento reológico de fluidos newtonianos e


não newtonianos
Fonte: autoria própria

37
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

Outros fluidos apresentam, também, comportamento reo-


lógico dependente do tempo. Fluidos tixotrópicos apresentam
diminuição da viscosidade aparente com o aumento do tempo
sob um determinado nível de tensão. Fluidos reopéticos apre-
sentam comportamento oposto. Algumas tintas são classificadas
no primeiro grupo e os materiais que contêm solventes voláteis
(como colas e vernizes) constituem exemplos do segundo. Esses
comportamentos, contudo, estão além do escopo do nosso texto.

Fatores que alteram a viscosidade de um fluido


Agora que já sabemos como relacionar a ação de uma tensão
cisalhante com a resposta do fluido, podemos trabalhar com alguns
conhecimentos empíricos que já temos.
O que acontece com a viscosidade de um fluido se o aque-
cermos? E se exercermos pressão sobre ele? Vamos verificar?
Provavelmente você já aqueceu mel, por exemplo, e viu que
ele passou a escoar bem mais facilmente, não? É quase intuitivo da
nossa parte esperar que, mediante um aumento de temperatura, a
viscosidade de um fluido diminua, porque estamos acostumados
a ver isso no comportamento de vários líquidos. Porém, isso não
é verdade para todos os fluidos! Cuidado!
Quando falamos de líquidos, de fato, o efeito de um aumento
de temperatura é o de diminuir a viscosidade. Isso ocorre porque, ao
ceder energia para as moléculas do líquido, elas passam a se agitar
mais, enfraquecendo as interações intermoleculares existentes.
Para gases, porém, o efeito é inverso. Aumentando a temperatura,
verifica-se, também, um aumento da energia cinética das moléculas;
porém, mediante esse aumento de energia cinética, também ocorre
um aumento do número de choques das moléculas na fase gasosa.

38
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Isso leva a um efeito líquido de aumento da viscosidade dos gases.


A Figura 13 retrata esse fenômeno graficamente.
Se tratarmos agora da segunda outra grande variável de
processos e seu efeito sobre a viscosidade, verificaremos que a
pressão, na realidade, não exerce qualquer mudança significativa
na viscosidade absoluta de fluidos, sejam eles gases ou líquidos.
Porém, se tomarmos a razão entre a viscosidade absoluta e a massa
específica, denominada viscosidade cinemática dos fluidos, veremos
a dependência com a pressão surgir para o caso de gases.




Essa dependência surge na medida em que a massa específica
de uma massa gasosa depende da pressão à qual ela está sujeita.
Podemos nos recordar na equação dos gases ideais para
verificarmos isso:

P

RT

Figura 13 – Comportamento da viscosidade de fluidos em função da


temperatura
Fonte: autoria própria

39
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

1.6.3 Tensão superficial

Você já deve ter se perguntado, em algum momento da sua


vida, uma das seguintes questões: por que as gotas são esféricas?
Por que insetos conseguem andar por sobre as águas?
A propriedade dos fluidos que explica esses fenômenos é a
tensão superficial, e a Figura 14 ilustra alguns desses exemplos.

Figura 14 – Alguns exemplos de efeitos da tensão superficial


Fonte: Pixabay

A tensão superficial, diferentemente das tensões normais


ou cisalhantes, representa a força por unidade de comprimento
na superfície livre de um líquido em função do desbalanceamento
de forças intermoleculares observada nessa região.

F
 superficial 
l

40
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Sempre que um líquido está em contato com outros líqui-


dos ou gases, ou com uma superfície gás/sólido, uma interface
se desenvolve agindo como uma membrana elástica esticada e
criando tensão superficial.
O surgimento dessa tensão superficial diz respeito às
interações entre as moléculas do fluido e do outro meio com o
qual ele se relaciona.
Imagine só, uma molécula no seio da fase líquida tem a
totalidade de suas interações intermoleculares satisfeitas por
suas vizinhas mais próximas. Na superfície (ou na interface do
líquido com o outro meio), as forças intermoleculares de uma
molécula nessa posição não estão completamente satisfeitas. A
Figura 15 ilustra essa situação.

Figura 15 – Forças não balanceadas na superfície de um líquido


Fonte: autoria própria

Esse desequilíbrio de forças intermoleculares entre as cama-


das acima e abaixo de uma molécula na superfície do líquido faz
surgir uma força de atração desta para o interior da massa fluida.
Essa atração faz com que as moléculas se aglutinem umas em
relação às outras, formando uma espécie de membrana superficial.
Essa membrana exibe duas características: o ângulo de
contato θ e o módulo da tensão superficial σ (N/m). Ambas

41
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

dependem do tipo de líquido e do tipo da superfície sólida (ou do


outro líquido ou gás) com a qual ele compartilha uma interface.
A Figura 16 indica o ângulo de contato para uma superfície
molhada e não molhada pelo fluido.

Figura 16 – Ângulo de contato para avaliação da molhabilidade de um


fluido sobre uma superfície
Fonte: adaptado de Fox, McDonald e Pritchard (2011)

Em engenharia, o efeito provavelmente mais importante


da tensão superficial é o surgimento de um menisco curvo nos
tubos de leitura de manômetros ou de barômetros, causando a
(normalmente indesejável) ascensão (ou depressão) capilar. Esse
fenômeno é particularmente importante na execução de expe-
rimentos químicos e sempre que tubos de pequenos diâmetros
são utilizados, tais como no caso da administração de drogas
intravenosas, por exemplo.
Na Figura 17, é mostrado como podemos estimar a altura
de um menisco quando um dado fluido se encontra em um tubo
fino. Para tanto, a componente vertical da tensão superficial é
igualada ao peso do fluido na coluna do menisco.
Na Figura 18, é mostrado o efeito da capilaridade para
tubos com água e com mercúrio. Pode ser observado que, à
medida que o diâmetro da tubulação aumenta, se torna menos
importante esse efeito.

42
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Figura 17 – Estimativa da altura de um menisco de um dado fluido


Fonte: autoria própria

Figura 18 – Efeito capilar para água e para o mercúrio


Fonte: adaptado de Fox, McDonald e Pritchard (2011)

Obviamente, essas não são todas as propriedades que os


fluidos apresentam, mas, com essas que apresentamos até aqui,
podemos dar seguimento com qualidade à nossa aventura na
Mecânica dos Fluidos. Outras propriedades serão apresentadas à
medida que formos necessitando do seu conhecimento.

43
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

1.7 Classificação dos escoamentos de fluidos

Agora que já entendemos como algumas das propriedades


dos fluidos se relacionam para produzir campos de interesse ao
nosso estudo, é importante que sejamos capazes de distinguir um
tipo de situação de outra no universo da Mecânica dos Fluidos.
Inicialmente, temos que fazer distinção entre os casos de
estudo de fluidos em repouso (Estática, que será nosso próximo
tópico de interesse) e escoando. Se um fluido está escoando, obvia-
mente, ele tem uma velocidade, ou, de maneira mais completa,
uma distribuição espacial e temporal de velocidades.
Isso nos leva diretamente ao conceito de campo de velo-
cidade. Um fluido que escoa, por exemplo, entre as duas placas
planas usadas no caso da explicação da viscosidade, apresenta
uma distribuição espacial de velocidades.
Como assim? Cada camada de fluido foi considerada como
dona de um dado valor de velocidade tal que, ao longo da espes-
sura da camada fluida, a velocidade variava desde zero (na placa
parada) até o valor máximo de U (na placa que se movia). Podemos
perceber, portanto, que a velocidade do fluido num dado domínio
do escoamento pode variar de um ponto a outro; sendo assim, é
uma função das coordenadas espaciais.
Para além da dependência espacial, há de se considerar que,
num instante inicial, as placas estavam paradas e, em seguida, uma
delas inicia o seu movimento. Assim, a distribuição de velocidades
também é uma função do tempo.
Assim, podemos dizer:
 
V  V  x, y , z , t 

44
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Ou seja, o campo de velocidades é um campo vetorial, o


qual requer tanto a informação do seu módulo, quanto da sua
direção, para sua completa descrição. Há de se notar que ele se
refere à velocidade da partícula que passa através do ponto de
coordenadas x, y e z no instante de tempo t. Isso quer dizer que o
ponto x, y, z não é a posição em curso de uma partícula individual,
mas um ponto do domínio do escoamento que escolhemos olhar.
O campo de velocidades pode ser descrito também em
termos de seus componentes nas direções x, y, z, quais sejam u,
v, w, respectivamente.
Assim:

V = u iˆ + v j + wk

Onde cada componente pode ser uma função das coorde-


nadas espaciais x, y, z e temporais.

V = u iˆ + v j + wk → u = u ( x, y, z , t ) v = v ( x, y, z , t ) w = w ( x, y, z , t )

V = u iˆ + v j + wk → u = u ( x, y, z , t ) v = v ( x, y, z , t ) w = w ( x, y, z , t )

v j + wk → u = u ( x, y, z , t ) v = v ( x, y, z , t ) w = w ( x, y, z , t )

Excelente! De posse da informação do que seja um campo de


velocidade, podemos, agora, iniciar a classificação do escoamento
de fluidos.
A configuração de um escoamento depende de uma série
de parâmetros. Podemos destacar, por exemplo, a geometria do
escoamento, o nível de velocidade, se o escoamento depende
fortemente dos efeitos da viscosidade ou não, entre outras.
De forma geral, os escoamentos podem ser classificados
de acordo com os seguintes parâmetros:

45
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

1. Número de coordenadas do problema


Unidimensional: se somente uma única coordenada espacial
é necessária para a descrição do campo de velocidades, o esco-
amento é dito unidimensional. Pode ser observado esse tipo de
escoamento em tubos retilíneos de seção constante, por exemplo.
Bidimensional: são necessárias duas coordenadas espaciais
para a completa descrição do campo de velocidades. Em tubula-
ções nas quais se observam diferenças de diâmetros, entre seções
subsequentes, é possível verificar esse tipo de escoamento.
Tridimensional: todas as três coordenadas espaciais são
necessárias para a descrição do campo de velocidades. Esse tipo
de escoamento é o mais comum na realidade.
A Figura 19 apresenta essas três classificações.

Figura 19 – Dependência do campo de velocidades e classificação


com respeito às coordenadas espaciais
Fonte: autoria própria

46
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Observação!
Coordenada espacial ≠ Componente do campo de velocidade
Coordenadas espaciais → x, y, z, r, θ, α...
Componente do campo de velocidade → u, v, w...

2. Dependência temporal
Escoamento em regime permanente: caracteriza-se pelo
fato de todas as propriedades do fluido e do escoamento perma-
necerem constantes com relação ao tempo:


0
t

Onde ø pode representar qualquer propriedade (ρ, V , T, P
etc.) Essas propriedades podem, no entanto, apresentar variação
no domínio espacial do problema, ou seja, podem permanecer
funções espaciais.

    x, y , z 

Escoamento transiente: refere-se ao escoamento cujas pro-


priedades apresentam variações temporais, sejam elas de massa
específica, de velocidade, de pressão ou de temperatura. Assim,
haverá uma dependência desses campos em termos da variável tempo.

3. Efeitos viscosos
Escoamento invíscido ou de fluido perfeito ou ideal:
Apesar de não existir fluido sem viscosidade, admite-se a hipótese
de fluido invíscido ou de viscosidade nula nesse tipo de escoamento.
Apesar de não corresponder fielmente à realidade, esse tipo de
análise permitiu importantes conclusões a respeito da natureza
dos escoamentos fluidos.

47
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

Escoamento viscoso: quando os efeitos de viscosidade são


percebidos e representam importante efeito no escoamento, estes
são chamados de viscosos.
4. Regime de escoamento

Verificou-se experimentalmente que existiam formas dife-


rentes de um fluido escoar dentro de uma mesma tubulação. A
essas formas distintas, deu-se o nome de regimes de escoamento,
representados na Figura 20. O número de Reynolds, usado como
parâmetro para avaliação dos regimes de escoamento, é dado
pela razão entre forças inerciais e viscosas e pode ser represen-
tado conforme abaixo. Os limites apresentados na Figura 20 são
relativos a escoamentos internos e diferem dos valores referentes
aos escoamentos externos.

VD
Re 


Figura 20 – Regimes de escoamento interno de fluidos


Fonte: adaptado de Alé (2001)

Escoamento laminar: o fluido escoa em camadas sobre-


postas, deslizando umas sobre as outras, sem a ocorrência de
qualquer tipo de mistura entre as partículas fluidas. Ocorre a
baixos números de Reynolds.

48
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Escoamento turbulento: caracteriza-se pelo movimento


aleatório de partículas que apresentam, no entanto, uma deter-
minada orientação de escoamento. Ocorre a elevados números de
Reynolds. Um dos modelos de turbulência mais difundidos tem
por base a subdivisão do campo de velocidade (u, por exemplo)
em uma parcela responsável pelo movimento global na direção
preferencial ( u ) e uma parcela relacionada às flutuações e efeitos
de vórtices e aleatoriedade do escoamento (u’), ou seja, u = u + u’.
A maioria dos escoamentos reais acontecem de forma turbulenta.
A Figura 21 ilustra essa diferença.

Figura 21 – Trajetórias de partículas em escoamentos laminar e


turbulento unidimensionais
Fonte: adaptado de Fox, McDonald e Pritchard (2011)

5. Efeitos de compressibilidade
Escoamento compressível: Escoamentos compressíveis se
caracterizam pelas alterações na massa específica do fluido, seja
ele um líquido ou um gás. Um parâmetro usado para avaliar se
um escoamento é ou não incompressível é o número adimensional
de Mach.

v
Ma =
s

49
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

Onde v representa a velocidade do escoamento e s representa


a velocidade do som. Podemos observar, do gráfico apresentado
na Figura 22, que variações significativas (>7%) de massa espe-
cífica (ou peso específico conforme o eixo coordenado plotado)
ocorrem para Ma≥0,3.
Esse critério geralmente é empregado como limite entre os
escoamentos compressível e incompressível. Em função de suas
constituições, tais efeitos são mais frequentes em gases do que
em líquidos.
Escoamento incompressível: as variações de massa especí-
fica do fluido podem ser desprezadas, sendo admitida constante
em todo o domínio do problema.

Figura 22 – Razão de pesos específicos inicial e final com respeito ao Ma


Fonte: adaptado de Alé (2001)

6. Existência de superfície limitante


Escoamento interno: existe um contorno sólido que limita a
região através da qual o fluido escoa. Na maior parte dos casos, esse
contorno sólido é impermeável. Escoamentos no interior de tubos,
de dutos, de bocais e de difusores são exemplos desta categoria.

50
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Escoamento externo: o fluido escoa livremente, sem limi-


tação nem orientação imposta pela existência de paredes sólidas.
Massas fluidas não limitadas interagindo com contornos sólidos são
observadas, por exemplo, na análise da placa plana, de aerofólios
e de outros corpos completamente imersos.
Escoamento em canal: algumas características dos escoa-
mentos interno e externo são percebidas quando um fluido escoa
dentro de uma tubulação ou um canal aberto, não preenchendo
completamente a seção disponível para tal. O fluido, além de
interagir com uma parede sólida, mantém interface com um outro
fluido em sua superfície livre. Tubos não preenchidos e canais de
uma forma geral estão incluídos neste item. A Figura 23 ilustra
essas diferentes configurações do escoamento.

Figura 23 – Configurações espaciais do escoamento


Fonte: autoria própria, Pixabay e Ben Frantz Dale

51
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

1.7.1 Visualização dos escoamentos de fluidos

É melhor ver para crer, não é mesmo? Essa última seção está
voltada simplesmente para a visualização do escoamento. Às vezes,
observar as equações que descrevem um campo de velocidades
pode não ser suficiente para compreendermos completamente a
forma pela qual as variáveis se relacionam.
Então, diversas formas de se observar o escoamento de
fluidos foram desenvolvidas. Cada uma delas dá origem a uma linha
de visualização que caracteriza a forma pela qual o experimento
foi conduzido.
Modelos de escoamentos podem ser visualizados usando
linhas de tempo, trajetórias, linhas de emissão ou linhas de corrente.
Se, em um campo de escoamento, várias partículas fluidas
adjacentes forem marcadas em um dado instante, formarão uma
linha no fluido naquele instante; esta linha é chamada linha de
tempo. Observações subsequentes da linha podem fornecer infor-
mações a respeito do campo de escoamento. A Figura 24 ilustra
linhas de tempo para visualização de um escoamento.

Figura 24 – Linhas de tempo como forma de visualização de um


escoamento
Fonte: autoria própria

52
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Linhas de trajetória são formadas quando observamos o


percurso ou o caminho percorrido por uma única partícula fluida
em movimento dentro do campo de escoamento. Para torná-la
visível, a partícula fluida deve ser identificada por alguma marcação
(de cor, por exemplo) em um dado instante e, em seguida, tiramos
uma fotografia de exposição prolongada do seu movimento. A
linha traçada pela partícula é sua linha de trajetória. Na Figura
25, é possível observar linhas de trajetória para partículas de ar
marcadas com fumaça de um cigarro, bem como as linhas de
trajetória de diversos carros passando por uma avenida.


Figura 25 – Linhas de trajetória
Fonte: Pixabay

De maneira ligeiramente similar ao realizado para se obser-


var linhas de trajetória, linhas de emissão são formadas pela
marcação de todas as partículas que passam por um local fixo
do escoamento. Após um curto período, teríamos certo número
de partículas fluidas identificáveis no escoamento, e todas elas,
em algum momento, passaram pelo mesmo local fixo no espaço.
Na Figura 26, pode-se visualizar linhas de emissão em um túnel
de vento para teste aerodinâmico de um veículo e de maneira
didaticamente ilustrada em uma seção convergente.

53
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

Figura 26 – Linhas de emissão


Fonte: adaptado de divulgação/Mercedes-Benz

Linhas de corrente são aquelas desenhadas no campo de


escoamento de modo que, em um dado instante, são tangentes à
direção do escoamento em cada ponto do campo. Como as linhas de
corrente são tangentes ao vetor velocidade em cada ponto do campo
de escoamento, não pode haver fluxo de matéria através delas. O uso
de linhas de corrente é uma das técnicas de visualização mais comu-
mente utilizadas. Elas são utilizadas, por exemplo, para estudar o
escoamento sobre um automóvel em uma simulação computacional.
A Figura 27 ilustra as linhas de corrente e os vetores de velocidade
em cada ponto. Pode-se observar a direção do escoamento em cada
ponto, bem como a intensidade da velocidade.

Figura 27 – Linhas de corrente para uma região de um escoamento


Fonte: adaptado de Çengel (2002)

54
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Como pode ser observado na Figura 28, os componentes


da velocidade nas direções x e y, respectivamente, u e v formam
entre si triângulos semelhantes.

Figura 28 – Ilustração de uma linha de corrente e sua relação com os


componentes do campo de velocidades
Fonte: adaptado de Çengel (2002)

Assim, é possível escrever a seguinte relação:

Desta maneira é possível a determinação da equação da


linha de corrente por integração simples.

55
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

Resumo
Neste capítulo, respondemos a quatro perguntas funda-
mentais: qual o escopo do estudo da mecânica dos fluidos, o que
é um fluido, como podemos analisá-los e que propriedades os
caracterizam. Desse modo, descrevemos os fluidos por meio de
algumas de suas principais propriedades, relacionadas à sua massa
específica (densidade relativa, volume específico, peso específico), à
velocidade e às tensões atuantes. Para tanto, descrevemos o campo
de velocidades e classificamos o escoamento e, além disso, des-
crevemos as forças que atuam em meios fluidos, as características
reológicas e como visualizar um escoamento.

✓ Definição de fluidos e
propriedades fundamentais;

✓ Descrição das forças atuantes em fluidos;

✓ Avaliação das características reológicas de


fluidos (newtonianos e não newtonianos);

✓ Classificação e visualização dos


escoamentos de fluidos.

Exercícios
1. A massa específica de um fluido é uma relação que depende
de sua massa e do volume ocupado pelo fluido. Sabendo que
a massa específica do mercúrio é 26,3 slug/ft³, determine
seu volume específico em m³/kg e estime seu peso específico
em lbf/ft³ na Terra e na Lua. Considere que a aceleração da
gravidade na Lua seja de 5,47 ft/s².

56
Camila Pacelly Brandão de Araújo

2. Os campos de velocidade indicam as equações que explicam


como a velocidade muda de um ponto a outro e ao longo
do tempo em uma dada região de estudo. Para os campos
de velocidade abaixo, determine se o escoamento é uni, bi
ou tridimensional e por quê. Quais escoamentos podem ser
considerados em regime permanente?

a) V ax t eby ^i

b) V ax by ^i

axi^ ebx j
^
c) V

d)V axi by 2 j axk

e) V axi ebt j ayk

f) V axi eb j azk

3. O campo de velocidade para um dado escoamento é assim


especificado:

V axyiˆ + by ² ˆj
=

Onde a= 4m-1s-1 e b=-7m-1s-1 e as coordenadas são medidas


em metros. O campo de escoamento é uni, bi ou tridimen-
sional? Por quê? Calcule as componentes da velocidade no
ponto (1, 1/2), no ponto (2, 1) e no ponto (2, 4). Deduza
a equação para a linha de corrente que passa pelo ponto
(2,1). Trace algumas linhas de corrente para esse campo
de escoamento.

57
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

4. A distribuição de velocidade para o escoamento laminar


desenvolvido entre placas paralelas é dada por:

u  2y 
2

 1  
umax  h 

onde h é a distância separando as placas; a origem está


situada na linha mediana entre as placas. Considere
um escoamento de água a 15°C (viscosidade dinâmica
= 10-3 N.s/m²) com umax = 0,60 m/s e h = 0,15 mm. Calcule
o módulo da tensão de cisalhamento na placa superior.

5. O comportamento reológico de fluidos é muito importante


na determinação de diversos parâmetros de escoamento. O
parâmetro perda de carga, inclusive, é uma medida da perda
da energia fornecida para colocar o fluido em movimento,
devido ao atrito dele com os diversos obstáculos que existem
ao longo do seu caminho de escoamento. Diferencie fluidos
newtonianos e não newtonianos, apresentando as relações
entre as tensões cisalhantes desenvolvidas e as respectivas
taxas de deformação. Apresente as características de alguns
fluidos não newtonianos e exemplifique.

6. A viscosidade é uma propriedade do fluido que representa


a resistência apresentada por ele ao escoamento. Alguns
fluidos resistem mais ou menos ao escoamento, e a visco-
sidade é a propriedade que descreve esse comportamento.
De que maneira a viscosidade dos líquidos e dos gases é
afetada por variáveis do escoamento como a temperatura
e a pressão? Por quê?

58
Camila Pacelly Brandão de Araújo

7. Um pistão cai dentro de um cilindro com velocidade


constante de 3,5m/s. Entre o pistão e o cilindro, existe
uma película de óleo de viscosidade cinemática de
10-3 m²/s e de peso específico 8850 N/m³. Sendo o diâmetro
do pistão 12cm, seu comprimento 5cm e o diâmetro do
cilindro 12,3cm, determine o peso do pistão. Use g = 10m/s².

8. Um fluido newtoniano de densidade relativa e viscosidade


cinemática respectivamente iguais a 0.92 e 4.10-4m²/s escoa
sobre uma superfície imóvel. O perfil de velocidade desse
escoamento, na região próxima à superfície, é o descrito
pela equação:

u 3 y 1 y
3

    
U 2  2 

Determine o valor, a direção e o sentido da tensão de cisa-


lhamento que atua na placa. Expresse seu resultado em
função de U e delta (δ).

9. A respeito do comportamento reológico e da classificação dos


escoamentos dos fluidos, leia as afirmativas abaixo e indique
se são verdadeiras ou falsas, justificando em cada caso.

a) A viscosidade cinemática (ν = m²/s) é a relação entre a visco-


sidade dinâmica (µ = Kg/m.s) e o peso específico (γ = N/m³).
b) O número de Reynolds é um número adimensional
definido como uma relação entre forças inerciais e forças
viscosas, sendo: Re = ρvd/µ

59
1 Introdução à Mecânica dos Fluidos e conceitos fundamentais

Onde: ρ = massa específica (Kg/m³) / v = velocidade de


escoamento do fluido (m/s) / d = diâmetro da tubulação
(m) / µ = viscosidade absoluta (Pa.s).
c) Para fluidos newtonianos, a relação entre tensão de cisa-
lhamento e taxa de deformação é não linear.
d) Um fluido plástico de Bingham resiste a baixas tensões
de cisalhamento e, assim, comporta-se inicialmente como
um sólido, mas se deforma continuamente quando a ten-
são de cisalhamento excede o limite de carga, passando a
comportar-se como um fluido novamente.

10. Considere o escoamento de um fluido com viscosidade


µ através de um tubo circular. O perfil de velocidade no
tubo é mostrado na figura abaixo, onde umax é a velocidade
máxima de escoamento, a qual ocorre no eixo central; r é
a distância radial do eixo central e u(r) é a velocidade do
escoamento em qualquer posição r. Desenvolva uma relação
para a força de cisalhamento exercida sobre a parede do
tubo no sentido do escoamento.

60
Camila Pacelly Brandão de Araújo

2
Estática

61
2 Estática

2.1 Estática dos fluidos – o que é?

Bem-vindos ao nosso segundo grande bloco de conteúdos


da primeira unidade de Mecânica dos Fluidos! Começaremos,
agora, a estudar a condição estática dos fluidos. No início dos
nossos estudos, comentamos que a Mecânica dos Fluidos era
responsável pelo estudo do movimento e do repouso de fluidos,
mediante a ação de forças.
Assim sendo, a fluidostática representa justamente o repouso
desses fluidos. Essa importante seção da Mecânica dos Fluidos é
responsável por inúmeros benefícios ao desenvolvimento humano,
tendo sido estudada desde os primórdios dessa ciência.

A notícia neste link reporta o fato de uma das


maiores barragens do estado do Rio Grande do
Norte ter atingido seu maior nível desde 2012.
Isso é notícia boa para todo lado que
se olhe, não é mesmo?
A próxima notícia já não é tão animadora, mas,
com certeza, todos nós a sentimos profundamente
quando do seu acontecimento. Quem não se
lembra do caso do rompimento da Barragem do
Feijó em Brumadinho?
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Será que podemos aplicar nossos conhecimentos de Mecânica


dos Fluidos, em especial os de estática de fluidos, nesse caso?
Nós desenvolveremos, ao longo dessa aula, ferramentas para
permitir tratar de problemas como estes, e como tantos outros
relacionados à Estática de Fluidos. Alguns exemplos, como os
princípios de funcionamento de prensas hidráulicas, o dimensio-
namento de reservatórios de líquidos, o projeto de comportas e
de paredes de barragens de armazenamento de fluidos e a deter-
minação de esforços sobre corpos submersos em massas fluidas
estagnadas, demonstram a importância de aplicação dessa área
de conhecimento.
Vamos trabalhar, então?

2.2 Condição estática

Na aula anterior, quando começamos a falar sobre o tipo


de forças que atuavam sobre massas fluidas, dividimos as forças
de superfície em duas componentes (normal e cisalhante), as
quais eram responsáveis por gerar, por sua vez, tensões normal
e tangencial.
Dissemos também que o fluido, quando sujeito à ação de
esforços cisalhantes, escoa, se deformando continuamente. De tal
modo, podemos inferir que, na ausência de tensões cisalhantes,
não haverá movimento do fluido e, portanto, ele estará na sua
condição estática.
Os esforços normais são verificados tanto para um fluido
que escoa, como para massas fluidas estagnadas. Nesta condição,
o fluido encontra-se unicamente submetido a uma das parcelas
da tensão normal - que é a pressão - e às forças originárias da
existência de campos magnético ou gravitacional.

63
2 Estática

2.3 Isotropia da pressão

Isotropia da pressão é um termo feio, não é?


Mas não é de se assustar!
“ISO” se refere a tudo que é igual. Assim, nos fluidos está-
ticos, a isotropia da pressão diz respeito ao fato de que se observa
um único valor de pressão em um ponto do fluido e que a pressão
não depende da direção considerada.
Para comprovar essa característica isotrópica da pressão,
podemos tomar um elemento triangular e realizar o balanço de
forças sobre ele. A Figura 29 apresenta esse elemento prismático
triangular e as forças atuantes sobre ele. Para efeitos de simplificação
da figura, a força gravitacional foi omitida, porém, a consideraremos
atuante na direção do y negativo.

Figura 29 – Elemento prismático triangular e forças sobre ele atuantes


Fonte: adaptado de Duarte (1997)

Considerando que o fluido se encontra em repouso, podemos


usar a primeira condição de equilíbrio, qual seja a de que o soma-
tório de forças atuantes sobre o elemento é nulo, para determinar
a relação entre as pressões Ps, Px e Py.

64
Camila Pacelly Brandão de Araújo


 F 0

Na direção x, temos:

Px y z  PSX  z s  0
Pela geometria do problema, podemos inferir que:

y
sen   
s
E que:

x
cos   
s
Assim,

Px y z  PS sen    z z  0
Px y z  PS  y z  0

Px = PS
Na direção y, temos:

1
Py x z  PSy z s   g x y z  0
2
1
Onde o termo  g x y z corresponde ao produto do peso
2
específico do fluido pelo volume ( ∀ ) do elemento:

x y
Atriangulo z z
2

65
2 Estática

Assim, utilizando as identidades trigonométricas:

1
Py x z  PS  z scos     g x y z  0
2
1
Py x z  PS  z x   g x y z  0
2
1
Py  PS   g y  0
2
Tomando o limite em que o elemento se torna um ponto, ou seja,
quando y tende a zero, temos:

Py = PS
Desse modo, podemos verificar que

P=
y P=
x PS
Isso nos comprova que o valor da pressão em um ponto é
único e independe da direção. Essa relação é conhecida como o
Princípio de Pascal, e pode ser enunciada como:

“A pressão exercida num ponto no interior


de um fluido transmite-se com a mesma
intensidade em todas as direções”.
Em outras palavras:
“A pressão aplicada em um ponto de um fluido
incompressível em repouso é transmitida
integralmente a todos os pontos do fluido.”

Essa é uma informação importante e que é muito usada


no nosso cotidiano. Quem nunca viu um carro em uma oficina
mecânica, sendo facilmente levantado pelos elevadores mecânicos?

66
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Provavelmente você já conhece essa relação de algum momento


anterior dos seus estudos em nível médio, e deve ter trabalhado com
ela em sistemas como os indicados pela Figura 30, na qual se ilustra
a ação de uma força de pequena magnitude (F1) em uma pequena
área (A1), gerando uma pressão, que se transmite integralmente
em todo o meio fluido e realiza uma força de grande magnitude
(F2) em uma área maior (A2).

Figura 30 – Aplicação do Princípio de Pascal em um elevador mecânico


Fonte: autoria própria

2.4 Equação Geral da Estática

Nosso objetivo principal nesse momento será o de obter


uma equação que represente o campo de pressão para um fluido
que esteja na condição estática.
Vamos, portanto, deduzir o que já sabemos da experiência
do dia a dia: a pressão aumenta com a profundidade. Para isso,
vamos aplicar a segunda lei de Newton a um elemento de fluido
diferencial infinitesimal, de massa dm   d  com lados dx, dy
e dz, conforme a Figura 31.

67
2 Estática

Figura 31 – Elemento fluido infinitesimal em um sistema de


coordenadas cartesianas
Fonte: adaptado de Fox, McDonald e Pritchard (2011)

Estando o elemento fluido em repouso em relação ao sistema


inercial de coordenadas retangulares mostrado, podemos usar a
primeira condição de equilíbrio estático para avaliar a relação
entre a pressão e a profundidade.


 Fr  0

Sendo a força resultante o resultado da ação da força de


campo gravitacional e da força de superfície, devido à pressão em
cada uma das faces do elemento.
Teríamos, portanto, algo como:
 
FB   gd 
e, em relação aos esforços que agem na superfície do ele-
mento, precisaríamos, primeiro, saber o valor da pressão em cada
uma das faces do elemento.

68
Camila Pacelly Brandão de Araújo

A função expansão em série de Taylor serve com o propósito


de fazer justamente isso: extrapolar o valor que já se conhece de
uma função contínua em um ponto, para as suas vizinhanças.
Considerando que x seja o ponto no qual se deseja determinar
o valor da função, e A seja o ponto no qual esse valor já se conhece,
a expansão em série de Taylor estabelece que:

1 2
f A x a f A x a
f x f A
1! 2!

Ou seja, para determinar o valor da função do ponto x, basta


termos a informação do valor da função no ponto A, sua derivada
(primeira e segunda, se for o caso), e a distância entre os pontos (x-A).

Se você precisar dar uma revisada nisso, olhe o


material disponível neste link para lhe auxiliar, ok?

Considerando que saibamos o valor da pressão no ponto O


no centro da nossa partícula fluida infinitesimal, podemos aplicar
a expansão em série de Taylor para a face direita da partícula fluida
para obtermos a força nessa face, como:

p y ^
p y x z j
y 2

Onde o produto δ xδ z representa a área na qual a pressão


atua. Como consideramos que a pressão atua sobre o elemento
fluido, a força resultante nessa face aponta para a direção de -y,
^
ou seja -j, tal que:

69
2 Estática

p y ^
p x z j
y 2
O mesmo pode ser feito para a face esquerda, resultando em:

p y ^
p x z j
y 2

p y
p x z j^
y 2
Para essa direção, portanto, a força líquida, devido à pressão,
pode ser calculada como o somatório dessas duas para ser:

p y p y
sy x z x z j
y 2 dy 2

p
Fsy y x z j^
y

Esse mesmo raciocínio pode ser replicado para as direções x


e z, produzindo a força resultante de superfície conforme descrito:

p x p x
s z y z y i
x 2 x 2

p y p y
p x z x z j
y 2 y 2

p z p z
p x y x y k
z 2 z 2

70
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Assim:

p p p
Fs z x y i x y z j x z y k
x y z

Sendo o gradiente de uma quantidade escalar dado por:



i j k
x y z
Podemos escrever:
 
 Fs  P.� z x y
Dessa forma, a força resultante total reduz-se a:
 
 FB   Fs  0
 
gd P z x y 0
 
P   g  0

que representa a Equação Geral da Estática dos Fluidos.


Note que essa equação é vetorial e pode ser representada
de forma escalar, para cada uma das componentes nas direções
x, y e z, para ser:

P
   gx  0
x
P
  gy  0
y

71
2 Estática

P
   gz  0
z
Ufa! Ainda bem que acabou!
Essas três formas representam a Equação Geral da Estática, a
qual nos fornece justamente essa relação entre o campo de pressão
e o campo gravitacional ao qual uma massa fluida está sujeita. A
depender da forma pela qual o sistema esteja arranjado espacial-
mente, uma ou mais dessas componentes podem ser nulas.
Analisando esse conjunto de equações, podemos verificar que:

As pressões em um mesmo plano horizontal não


variam em um fluido em repouso.

Essa é uma das maneiras de enunciarmos o Princípio de


Stevin, o qual está ilustrado na Figura 32.

Figura 32 – Princípio de Stevin


Fonte: autoria própria

Vamos resumir o que fizemos até aqui?


O quadro da Figura 33 representa as considerações que fize-
mos e faz as devidas simplificações para o caso em que se oriente o
eixo Z para cima (no sentido oposto ao da aceleração gravitacional),
de tal maneira que g= x g=
y 0 e gz  g .

72
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Para a maioria das aplicações, podemos considerar que a


aceleração da gravidade local é constante com valor de 9,81m/s²;
porém, para cálculos mais robustos em que se considere que haja
variação dessa variável, ela deve ser considerada. Isso pode acontecer
no caso em que se deseje realizar cálculos para veículos aeroespaciais,
por exemplo.

Figura 33 – Considerações na obtenção da Equação Geral da Estática


Fonte: autoria própria

Como se pode verificar na Figura 33, são indicadas duas condi-


ções que devemos observar quando formos usar essa equação e ambas
dizem respeito à mesma propriedade do fluido: a massa específica.

2.4.1 Fluidos incompressíveis

Para fluidos incompressíveis, a integração da expressão da


Equação Geral da Estática é trivial e podemos realizá-la conforme
demonstrado a seguir para determinar a maneira pela qual a
pressão varia no interior de um fluido. A Figura 34 ilustra dois
planos de referência dentro de uma massa fluida, distantes entre
si de uma cota h.

73
2 Estática

Figura 34 – Variação de pressão no interior de uma massa fluida


Fonte: autoria própria

Separando as variáveis da Equação Geral da Estática e rea-


lizando a integração entre os limites de 1 1 2 P2 temos:
P2 z2
 P1
dP     gdz
z1

Assim:

P2  P1    g  z2  z1 

Chamando de h a diferença entre as cotas z2 e z1, temos:

P2  P1    gh
Como sabemos que a pressão aumenta com a profundidade,
a quantidade P2 − P1 produz um resultado negativo, indicando
que, no nível mais profundo, a pressão é maior. Assim, podemos
reescrever para obtermos:

P1  P2   gh

74
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Vocês provavelmente já tiveram a oportunidade de conhecer


essa expressão em algum momento anterior – no Ensino Médio,
por exemplo.
Podemos observar que a pressão cresce linearmente com a
profundidade a partir da superfície livre a uma taxa determinada
pelo peso específico do fluido. A Figura 35 apresenta essa relação.

Figura 35 – Relação linear da pressão com a profundidade em uma


massa de fluido incompressível
Fonte: adaptado de Duarte (1997)

Podemos, convenientemente, aplicar esses conhecimentos a


situações em que P0 é conhecida, bem como a diferença de cotas h
entre os pontos considerados. Em muitas destas situações, a massa
fluida apresenta uma superfície livre aberta para a atmosfera,
onde a pressão atuante é a pressão atmosférica local. Para estes
casos, costuma-se escolher, como referência, esta superfície onde
P0 = Patm.
Nas próximas seções, iremos aplicar esses conhecimentos
para determinar o valor da pressão atmosférica local no uso de
diversos instrumentos de medição, entre outros.

75
2 Estática

2.4.2 Fluidos compressíveis

A variação da pressão estática é diferente em líquidos e


gases. Os gases são fluidos compressíveis, já que apresentam uma
variação significativa da massa específica em função da pressão
e da temperatura.
Contudo, a variação de pressão em uma coluna de ar com
centenas de metros pode ser considerada desprezível, como vere-
mos a seguir. Basta termos em mente que, enquanto a massa
específica da água é de 1000 kg/m³, a massa específica do ar é da
ordem de 1,2 kg/m³, o que representa uma significativa mudança
de ordem de grandeza.
Nas aplicações de Engenharia, as alturas verticais das
tubulações que trabalham com líquidos representam desníveis
energéticos significativos que devem ser vencidos pelas bombas.
No caso de sistemas que trabalham com gases, como, por exemplo,
os sistemas de ventilação industrial, a variação de pressão devido
às alturas verticais dos dutos considera-se desprezível.
Quando a variação da altura é da ordem de milhares de
metros, devemos considerar a variação da massa específica nos
cálculos da variação de pressão. No caso de um gás perfeito, é
válida a equação:

P

R*T
onde ρ é a pressão absoluta (Pa), a massa específica é medida
em kg/m³, T é a temperatura absoluta (K) e R*, a constante de cada
gás. Para o ar, R*=287 J/kg. K. Não confundir R* com a constante
universal dos gases, R, pois R* corresponde à relação da constante
universal R pela massa molar do gás considerado.

76
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Assim, novamente separando as variáveis da Equação Geral


da Estática, temos:
P2 z2
 P1
dP     gdz
z1

E:

P2 z2 P
 P1
dP   
z1 R*T
gdz

Tal que:

P2 dP z2 gdz
 P1 P
 
z1 R*T

Admitindo que a temperatura seja constante no intervalo


considerado, temos:

P2 g
ln ln z2 z1
P1 R*T

Se, por outro lado, não for possível considerar que haja um
valor único de temperatura para o intervalo de elevação conside-
rado, há de se inserir uma relação funcional dessa variável com
respeito à elevação. A Figura 36 mostra o comportamento da
temperatura a diferentes níveis de elevação na atmosfera terrestre.
É possível observar que existem intervalos de valor constante de
temperatura, bem como intervalos em que o comportamento é
linear, seja com incremento ou com diminuição da temperatura
no trecho considerado.

77
2 Estática

Figura 36 – Variação de temperatura com a altitude na atmosfera-


padrão nos Estados Unidos
Fonte: adaptado de Fox (2008)

2.5 Aplicações da Equação Geral da Estática

Ficou clara a importância das pressões no estudo de Mecânica


dos Fluidos? Por esse motivo, muitas técnicas e instrumentos foram
desenvolvidos para a medição desta propriedade em uma massa
fluida. A esta ciência, convencionou-se chamar de manometria.
Para além das medições de pressão, a determinação das
forças oriundas da ação da pressão de um fluido também é de
grande interesse prático e de engenharia. Nesta seção analisaremos
alguns desses casos.

78
Camila Pacelly Brandão de Araújo

2.5.1 Níveis de pressão

Qualquer que seja o valor da pressão observada em um fluido,


ele deverá ser expresso em relação a um nível de referência. Esta
característica relativa da pressão introduz o conceito dos níveis de
pressão e das pressões absoluta e efetiva. A Figura 37 ilustra essa situ-
ação, indicando os níveis 1, atmosférico e 2, e as respectivas leituras
de pressão em escala absoluta (verde) e manométrica (vermelha).

Figura 37 – Níveis de pressão


Fonte: adaptado de Vilanova (2011)

A propriedade de pressão do fluido pode ser, ainda, expressa


na forma de pressões absolutas e de pressões manométricas. A
pressão absoluta é medida tendo como referência a pressão de
zero absoluto, enquanto a pressão manométrica é medida tendo
como referência a pressão atmosférica.
Perceba que, quando a pressão manométrica tem valor
nulo (0), a pressão absoluta mede aproximadamente 101 KPa. Esse
valor corresponde ao valor da pressão atmosférica local. Podemos
expressar essa relação da seguinte forma:

Pabsoluta  Patmosférica  Pmanométrica

79
2 Estática

Quando a pressão é expressa pela diferença entre o seu


valor e a pressão atmosférica local, ela é associada ao conceito
de pressão efetiva. Vamos agora usar esses conhecimentos para
obter informações importantes sobre fluidos estáticos?

2.5.2 Medição de pressão

As medições de pressão podem ser realizadas através de


instrumentos simples. Abaixo, encontraremos exemplos de como
alguns deles funcionam.
i. Barômetro
A pressão atmosférica em um determinado local é medida por
um instrumento chamado barômetro, cuja configuração mais simples
constitui-se simplesmente de um tubo de vidro cheio de mercúrio.
O extremo aberto é submerso na superfície de um reservatório
cheio de mercúrio e ali permanece até que alcance o equilíbrio, como
se observa na Figura 38. Na parte superior do tubo, produz-se um
vácuo muito próximo do vácuo perfeito, contendo vapor de mercúrio
a uma pressão (Pvapor) de somente 0,17 Pa a 20°C.

Figura 38 – Barômetro
Fonte: autoria própria

80
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Escrevendo a Equação Geral da Estática para um fluido incom-


pressível, como o mercúrio, na base da coluna de fluido, se verifica:

Patm   gh  Pvapor

Como o termo referente à pressão de vapor do mercúrio é


muito pequeno à temperatura ambiente, considera-se desprezível
e desta forma:

Patm   ghHg

Determina-se, assim, a pressão atmosférica diretamente em


função da coluna de mercúrio.
Como o peso específico do mercúrio é aproximadamente
constante, uma mudança na pressão atmosférica ocasionará uma
mudança na altura da coluna de mercúrio. Esta altura representa a
pressão atmosférica. Você já ouviu falar que a pressão atmosférica
é de 760mm de mercúrio? É exatamente esse o valor da altura da
coluna de mercúrio medida por um barômetro. No presente material,
utilizaremos o peso específico do mercúrio igual a 132.8 kN/m³.
Vamos testar nossos conhecimentos?
Qual seria a altura da coluna se o fluido usado fosse água?
E se fosse gasolina gasolina 840 m³?

ii. Tubo piezométrico


O tubo piezométrico é o manômetro mais simples para
medição de pressão em um reservatório contendo um líquido
pressurizado. Consiste em um tubo graduado conectado a um
reservatório cuja altura de líquido indica o valor da pressão dentro
do reservatório. A Figura 39 ilustra esse instrumento.

81
2 Estática

Figura 39 – Tubo piezométrico


Fonte: adaptado de Vilanova (2011)

Note que, por sua configuração intrínseca, o tubo piezo-


métrico não permitiria a medição de pressão de um reservatório
de gases, pois ele escaparia. Além disso, o uso desse dispositivo
não é conveniente quando se deseja medir níveis elevados de
pressão, porque produziria colunas de grande altura de fluido.
Em adição, esse instrumento não se presta à medição de pressões
mais baixas que a atmosférica, porque, nesse caso, o reservatório
estaria puxando ar atmosférico para seu interior.
Aplicando a Equação Geral da Estática para um fluido
incompressível entre a extremidade aberta e o nível 1, temos:

PA  P0   gh

iii. Manômetro em U
Claramente, alguns pontos precisavam ser contornados
na configuração dos tubos piezométricos para que sua aplicação
fosse aumentada.

82
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Nesse intuito, surgiram os manômetros em U, os quais,


mediante o uso de um fluido manométrico de massa específica
diferente da massa específica do fluido contido no reservatório,
podem medir valores de pressão mais elevados. Esse arranjo é
mostrado na Figura 40.
O problema da medição da pressão em recipientes contendo
gases pode ser eliminado utilizando-se o manômetro de tubo
em U, podendo, neste caso, a pressão no recipiente ser negativa
ou positiva, porém, dentro de parâmetros que permitam alturas
razoáveis de colunas de líquido para serem construídos.
Alguns requerimentos são de que o fluido cuja pressão
se deseja medir deva ter uma massa específica menor que a do
fluido manométrico e que os fluidos de medição e manométrico
não se misturem.

Figura 40 – Tubo em U
Fonte: elaborado a partir de Vilanova (2011)

83
2 Estática

Para avaliar a pressão no reservatório A, devemos percorrer


o caminho do fluido, desde uma das extremidades até o ponto
desejado. Assim, poderíamos, partindo da superfície livre, descer
a coluna de fluido manométrico (verde-claro) de profundidade
h2 até o ponto 2, o qual se encontra no mesmo nível do ponto 1
do mesmo fluido.

P2  P0   2 gh2
Pelo Princípio de Pascal enunciado anteriormente, sabemos
que as pressões em um mesmo plano horizontal não variam em
um fluido em repouso. Assim:

P1 = P2
Estando o ponto A acima do ponto 1, a pressão deverá ser
menor naquele do que neste, tal que:

PA  P1  1 gh1
Combinando as equações, temos, portanto:

PA   P0   2 gh2   1 gh1
Alternativamente, o manômetro em tubo em U pode ser
conectado a um vaso pressurizado em dois pontos, ou entre dois
reservatórios, ou ser anexado a uma tubulação em que um fluido
escoa, permitindo a medição da diferença de pressão entre eles.

84
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Seguindo o mesmo procedimento realizado acima, se esco-


lhermos partir do ponto B até o ponto A da Figura 41a, teríamos,
por exemplo:

PB = P5
P4  P5  3 gh3
P3  P4   2 gh2
P2 = P3
PA  P1  P2   A gh1
As quais, combinadas, resultam em:

PA   PB  3 gh3    2 gh2    A gh1


Ou:

PA  PB  3 gh3   2 gh2   A gh1


Um procedimento similar poderia ser realizado para o
arranjo mostrado na Figura 41b.

Figura 41a – Medição de diferenças de pressão usando um tubo em U


Fonte: adaptado de Vilanova (2011)

85
2 Estática

Figura 41b – Medição de diferenças de pressão usando um tubo em U


Fonte: adaptado de Vilanova (2011)

iv. Manômetro inclinado


Apesar da versatilidade alcançada com o arranjo em U
mostrado anteriormente, ainda algumas dificuldades surgiam
quando do uso desse instrumento para medições de pequenas
variações de pressão, como no caso de gases.
Observando-se a última equação, podemos ver que, se o
fluido de medição for um gás, ou seja, possuir massa específica
bastante inferior à do fluido manométrico, a equação se reduz a:

PA  PB   man gh
Assim, para pequenas variações de pressão, as variações na
altura da coluna h também seriam pequenas.
No intuito de contornar esse tipo de situação, foram desen-
volvidos os manômetros de tubo inclinado, ilustrados na Figura
42. Uma perna do manômetro é inclinada, formando um ângulo

86
Camila Pacelly Brandão de Araújo

θ com a horizontal, e a leitura diferencial l2 é medida ao longo do


tubo inclinado. Mesmo que o diferencial de pressão seja pequeno,
a inclinação possibilita realizar uma leitura.

Figura 42 – Manômetro de tubo inclinado


Fonte: adaptado de Alé (2011)

p A  1 gh1   2 gl2 sen    3 gh3  pB


p A  pB   2 gl2 sen    3 gh3  1 gh1
p A  pB   2 gl2 sen  
p A  pB
l2 
 2 gsen  
Os manômetros apresentados até aqui são amplamente
utilizados, mas apresentam muitas desvantagens em relação à sua
aplicação quando comparados a outros dispositivos mecânicos
ou elétricos, como o medidor de pressão de Bourdon (Figura 43)
ou os transdutores piezoelétricos. Na prática, esses dispositivos
são mais ágeis e mais práticos para a realização da medição das
pressões do que os primeiros e, por isso, são os mais utilizados
em plantas industriais.
Vamos conhecer um pouco sobre eles?

87
2 Estática

v. Manômetro de Bourdon
O funcionamento desse tipo de manômetros é baseado
na alteração da curvatura originada num tubo de seção elíptica
pela pressão exercida no seu interior. A seção elíptica tende para
uma seção circular com o aumento da pressão no interior do
tubo levando a que o tubo se desenrole. Você já deve ter visto o
funcionamento do brinquedo de criança conhecido por língua de
sogra; se não viu, ele está indicado na Figura 43, juntamente com
um manômetro de Bourdon e com o seu mecanismo interno de
funcionamento.

Figura 43 – Língua de sogra (à esq.) e Manômetro de Bourdon (à dir.)


Fonte: Pixabay

A medida da pressão pelo uso desse instrumento é relativa,


uma vez que o exterior do tubo está sujeito à pressão atmosférica.
vi. Transdutores de pressão
Por sua vez, os transdutores de pressão são dispositivos
de medição que fornecem uma grandeza de saída, a qual tem
uma relação especificada com uma grandeza de entrada. Nesses
dispositivos, a pressão, que é um sinal mecânico, é convertida em
um sinal analógico elétrico.

88
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Nesse caso, a pressão aplicada ao transdutor de pressão


produz uma deflexão do diafragma, que causa deformação aos
sensores. Essa deformação, por sua vez, produzirá uma alteração
de resistência elétrica proporcional à pressão e essa informação
é enviada a um sistema de controle. A Figura 44 ilustra esse tipo
de dispositivo.

Figura 44 – Transdutor de pressão


Fonte: divulgação Honeywell

Agora que já sabemos como a pressão varia em uma massa


fluida podemos entender que, quando uma superfície qualquer
está submersa em uma massa fluida, forças oriundas do fluido
agem sobre essa superfície.
O estudo dessas forças é particularmente importante no
projeto de grandes tanques de armazenamento de fluidos, de
navios e de represas.
Lembra que comentamos no começo desse material a respeito
das barragens para armazenamento de água no sertão, na construção
de hidrelétricas e no armazenamento de rejeitos de mineração? É
nesse tipo de problema que iremos começar a trabalhar agora.

89
2 Estática

Para determinar completamente a resultante de força atu-


ando sobre uma superfície submersa, devemos especificar:
1. O módulo da força;
2. O sentido da força;
3. A linha de ação da força.
Consideraremos tanto superfícies submersas planas quanto curvas.
i. Superfícies planas
Vamos começar analisando superfícies planas?
Nas seções anteriores, vimos que a pressão em uma superfície
de referência varia linearmente com a profundidade ou com a dis-
tância dessa superfície submersa à superfície livre da massa fluida.
a) Horizontais
Em superfícies horizontais, como a apresentada na Figura
45, é fácil perceber que teremos um determinado nível de pressão
igualmente distribuído na totalidade da área da superfície, con-
forme mostrado a seguir.
Assim, a determinação da força resultante é direta e pode
ser realizada pela aplicação da Equação Geral da Estática na pro-
fundidade da superfície.
 
FR = P. A
Sendo

P  P0   gh

90
Camila Pacelly Brandão de Araújo

No caso em que a pressão atmosférica atue em ambos os


lados da placa, o termo referente a P0 pode ser omitido.

Figura 45 – Distribuição da pressão em uma superfície horizontal plana


Fonte: autoria própria

Por se tratar de uma distribuição uniforme da carga de


pressão em toda a superfície horizontal, podemos considerar que
a força resultante atua no centro geométrico da superfície e sua
direção é perpendicular à própria superfície.
b) Verticais ou inclinadas
Em se tratando de superfícies verticais ou inclinadas, a carga
de pressão, conforme vimos anteriormente, aumenta linearmente
com a profundidade. Assim, em superfícies planas verticais ou
inclinadas, não podemos simplesmente multiplicar a pressão
pela área da superfície para calcular uma força resultante, já que
a pressão, a cada novo nível, apresenta um novo valor. A Figura
46 retrata essa distribuição.

91
2 Estática

Figura 46 – Distribuição da carga de pressão hidrostática em uma


superfície plana vertical
Fonte: autoria própria

Módulo da força resultante:


Portanto, para determinar o módulo da força resultante, se
faz necessária a integração da expressão para a força atuante em
uma área infinitesimal da superfície, ao longo de toda a superfície
a ser considerada.

dF = pdA
Em um ponto a uma altura qualquer, a pressão poderá ser
calculada para ser:

pi  p0   ghi
E a força resultante deverá ser:

FR PdA ( p0 ghi )dA

92
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Analisando a Figura 47, verificamos que, para uma superfície


inclinada, haverá a formação de um ângulo θ qualquer entre a
superfície submersa e a superfície livre do líquido. Caso a superfície
seja vertical, esse ângulo assume o valor de 90°. Essa informação
é particularmente importante se levarmos em consideração que
o aumento da carga de pressão ocorre segundo a relação:

Figura 47 – Superfície plana inclinada e a composição de força


Fonte: adaptado de Çengel (2006)

Assim, a integração fica:

FR   pdA   [ p0   gysen  ]dA


A A

FR  p0  dA   gsen    ydA
A A

Se você se recordar bem, em outras disciplinas, você pode


já ter tido contato com a última integral apresentada na equação.
Quando desejamos determinar as coordenadas do centro
geométrico de uma superfície, usamos as relações da Figura 48
para tanto.

93
2 Estática

Figura 48 – Determinação do centro geométrico de uma superfície


Fonte: autoria própria

Podemos, então, reconhecer o termo:

 A
ydA  yc  dA
De tal maneira que:

FR  p0  dA   gsen   yc  dA
A A

FR  p0 A   gsen   yc A
Reconhecendo que o termo p0   gsen   yc  Pc cor-
responde à pressão que atua no centro geométrico da superfície,
podemos reescrever a equação acima para ser:

FR = Pc A
Não é ótimo isso?

Podemos calcular o módulo da força resultante


atuando sobre uma superfície submersa simplesmente
tomando o produto da pressão que atua sobre o centro
geométrico dela e multiplicando pela sua área.

94
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Linha de ação da força resultante:


Como dissemos anteriormente, determinar completamente a
força resultante não diz respeito somente ao cálculo do seu módulo,
mas também à indicação da sua linha de ação e à sua direção.
Apesar de podermos dizer que a força resultante pode ser
calculada usando-se as coordenadas do centro geométrico da
superfície, não podemos dizer o mesmo sobre a sua linha de ação, e
a razão disso é bastante simples: se a pressão aumenta linearmente
com a profundidade, evidentemente, a contribuição para a força
total das porções mais profundas é maior. Dessa forma, a linha de
atuação da força resultante se encontra deslocada para um ponto
mais abaixo que o centro geométrico, chamado de centro de pressão.
Para estabelecer as coordenadas do centro de pressão (y’, x’),
trabalharemos com a igualdade dos momentos da força resultante
e da carga de pressão distribuída.

yFR   ypdA
A

yFR   yp0 dA   y  gsen   ydA


A A

Vimos da dedução anterior que a quantidade:

 A
ydA  yc  dA

Assim, temos:

yFR  p0 yC A   gsen    y ² dA
A

95
2 Estática

O termo da integral refere-se ao momento de inércia da área


da superfície em relação ao eixo x. Se nos referirmos novamente à
Figura 47, veremos que o eixo x corresponde a um eixo que sai do
plano da página e tem sua localização no ponto em que a superfície
livre do líquido encontra a linha da superfície inclinada.
2
I xx y dA
A

Contudo, as tabelas de momentos de inércia de diversas


figuras geralmente apresentam essa informação quando o eixo
de rotação considerado é o que passa pelo centro geométrico dela.
O Teorema dos Eixos Paralelos permite transladar o
momento de inércia da área para um eixo que passe pelo seu
centro geométrico pela seguinte relação:

Ix I CG Ayc 2
Ao final dessa dedução, você vai encontrar uma tabela
com os momentos de inércia (ICG) de várias figuras geométricas
comuns (Figura 49).


yFR  p0 yC A   gsen   I CG  Ayc2 
Evidenciando os termos repetentes:

yFR  yC A( p0   gsen   yc )   gsen I CG


yFR  yC ( p0   ghc ) A   gsen I CG
Reconhecendo o termo entre parênteses como o módulo
da força resultante calculada no item anterior:

96
Camila Pacelly Brandão de Araújo

yFR  yc FR   gsen I CG

Isolando as coordenadas da linha de ação da força resultante:

 gsen I CG
y  yc 
FR

Essa relação nos apresenta a informação de que a linha de


ação da força resultante sempre estará em um ponto abaixo do
centro geométrico da superfície plana. Eu, particularmente, prefiro
utilizar essa expressão, em detrimento da expressão anterior:

I CG
y  yc 
yc A
A qual é obtida quando se considera a ação de uma pressão
externa de igual magnitude sobre ambos os lados da superfície.

Figura 49 – Coordenadas do centro geométrico e o momento de


inércia de algumas figuras
Fonte: adaptado de Çengel (2006)

97
2 Estática

ii. Superfícies curvas


Para superfícies curvas, deduziremos, novamente, expressões
para a força resultante por integração da distribuição de pressões
sobre a superfície. Contudo, diferentemente da superfície plana,
temos um problema mais complicado — a força de pressão é
normal à superfície em cada ponto; contudo, agora, os elementos
infinitesimais de área apontam em diversas direções, por causa
da curvatura da superfície. Isso significa que, em vez de integrar
sobre um elemento de área dA, nós devemos integrar sobre o

elemento vetorial � dA .
A forma mais simples de se determinar a força hidrostática
resultante que age sobre uma superfície curva bidimensional é
por meio da determinação dos componentes horizontal e vertical
FH e FV separadamente. Isso é feito considerando o diagrama de
corpo livre do bloco de líquido englobado pela superfície curva
e pelas duas superfícies planas, uma horizontal e outra vertical,
passando pelas duas extremidades da superfície curva. Isso fica mais
claramente explicado com o diagrama apresentado na Figura 50.

Figura 50 – Determinação da força hidrostática em superfícies


curvas submersas
Fonte: adaptado de Çengel (2006)

98
Camila Pacelly Brandão de Araújo

A superfície vertical do bloco de líquido pode ser conside-


rada, simplesmente, como a projeção da superfície curva em um
plano vertical. Já a superfície horizontal é a projeção da superfície
curva em um plano horizontal.
Assim, a força resultante que age sobre a superfície sólida
curva é igual e oposta à força que age sobre a superfície líquida
curva, de acordo com a terceira lei de Newton.
Para a horizontal, temos que:
A componente horizontal da força (FH) é igual à força FX na
parede imaginária vertical.

FH = FX
Para a vertical, podemos dizer que:
A componente vertical da força (FV) é igual à força Fy na
parede imaginária horizontal mais (ou menos) o peso do bloco
de fluido. Dizemos “mais (ou menos)” o peso do fluido, pois a
configuração espacial da superfície não necessariamente é a apre-
sentada na Figura 50, e pode apresentar configurações como a da
Figura 51, por exemplo.

Figura 51 – Determinação da força hidrostática em superfície está


acima do líquido
Fonte: adaptado de Çengel (2006)

99
2 Estática

Onde:

W   gdV
Somando-se as duas componentes vetorialmente, temos:
  
FR  FH  FV
Cujo módulo pode ser calculado para ser:

FR FH FV

a. Empuxo
Nosso próximo tema é bastante presente na vida de quem
mora no litoral ou nas proximidades de rios e lagoas. A Figura 52
ilustra várias situações em que o empuxo está presente.

Figura 52 – Exemplos de situações em que o empuxo pode ser verificado


Fonte: Unsplash

Sempre que um objeto está imerso em um líquido, ou flutu-


ando em sua superfície, surge uma força líquida vertical agindo sobre
ele, devido à pressão do líquido. Essa força é denominada empuxo.

100
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Provavelmente você tenha ouvido falar dessa força se relacio-


nando com Arquimedes e a história da determinação da quantidade
de ouro na coroa do rei. Vamos entender como essa força surge?
Considere um objeto totalmente imerso em um líquido
estático, conforme mostrado na Figura 53. Observa-se um desbalan-
ceamento das forças nas superfícies superior e inferior, produzindo
uma resultante para cima.

Fr  Finf  Fsup
Reconhecendo que a força na face inferior da superfície
submersa a pressão se refere à de uma coluna de líquido de pro-
fundidade (h+s) e que, na superfície superior, a coluna é de pro-
fundidade (h), temos:

Fr   f g  s  h  A   f gs
Fr   f ghA
Assim, podemos obter a expressão para o empuxo para ser:

FB   f gV

Figura 53 – Empuxo sofrido por um elemento submerso


Fonte: adaptado de Çengel (2006)

101
2 Estática

Esse resultado é bastante interessante, pois indica que:

A força de flutuação que age sobre um corpo é


igual ao peso do líquido deslocado por ele, e age
para cima no centroide do volume deslocado.

Esse é o enunciado do chamado Princípio de Arquimedes.


Essa relação foi usada por Arquimedes no ano 220 a.C. para
determinar o teor de ouro na coroa do rei Hiero II. Nas aplicações
técnicas mais correntes, a expressão para o empuxo é empregada
no projeto de embarcações, de peças flutuantes e de equipamentos
submersíveis.
Do que se lê da expressão para o empuxo, podemos verificar que:

✓ Não depende da distância entre o corpo e a superfície livre;


✓ Não depende da massa específica do corpo sólido;
✓ É válida para qualquer corpo, independente da sua forma.

Da equação para o empuxo, podemos predizer a força


líquida vertical decorrente da pressão sobre um corpo que está
totalmente submerso em um único fluido. Nos casos de imersão
parcial, um corpo flutuante desloca um volume de líquido com
peso igual ao peso do corpo.

FB = W
FB   f g sub
W  corpo g total

102
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Assim,

corpo g total   f g sub


Tal que,

sub corpo

total f
 sub 
 
Portanto, a fração de volume submersa  total  de um
corpo flutuante é igual à razão entre as massas específicas do
fluido e do corpo.

Você já ouviu falar que não se consegue afundar


no Mar Morto? Você conseguiria fornecer uma
explicação para isso agora?

A linha de ação da força de empuxo, que pode ser determi-


nada usando os métodos anteriormente descritos, age por meio
do centroide do volume deslocado. Como os corpos flutuantes
estão em equilíbrio sob a ação de forças de campo e de empuxo,
a localização da linha de ação da força de empuxo determina
a estabilidade. A Figura 54 ilustra a composição de forças de
empuxo e de peso e a formação de conjugados (pares de força)
que tendem a aprumar a embarcação na esquerda (A), enquanto,
na direita, a tendência é de rotacionar a embarcação.
Perceba que, em ambos os casos, o volume submerso da
embarcação é o mesmo e, portanto, gera o mesmo empuxo.
Porém, no item (b), a disposição da carga da embarcação promove
uma elevação do centro de gravidade, alterando o conjugado de
forças resultante.

103
2 Estática

Figura 54 – Empuxo sofrido por um elemento submerso


Fonte: adaptado de Fox (2008)

Resumo

Neste capítulo, construímos o conceito de estática de fluidos


e verificamos que, para um fluido estar nessa condição, é necessário
que não haja nenhum componente de força tangencial. Realizamos
um balanço de forças para obtermos a Equação Geral da Estática
e os demais princípios governantes do comportamento de fluidos
nessa condição. Utilizamos essas ferramentas para construir formas
de medição de pressão (manometria) e acessar o efeito da ação de
massas de fluidos estáticas sobre superfícies submersas.

✓ Dedução das equações básicas de estática de fluidos


(Princípio de Pascal, Stevin e Equação Geral da Estática);

✓ Aplicação destes princípios para o desenvolvimento


de dispositivos para medição de pressão (manometria);
✓ Aplicação destes princípios para avaliação das forças
resultantes da ação de massas de fluidos estáticas;
✓ Descrição e utilização da força e do empuxo
(Princípio de Arquimedes).

104
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Exercícios

1) Considerando g = 10m/s² e Patm = 105Pa, qual será a


profundidade associada ao valor da pressão manométrica atuante
nos ouvidos de um mergulhador na água (densidade relativa = 1,0),
correspondente a 6,5 vezes a pressão atmosférica?

2) Um fluido de viscosidade cinemática de 21mm²/s des-


loca-se por uma tubulação de 35mm de diâmetro. Para que esse
fluido não escoa em regime laminar, sua velocidade deve ser, no
mínimo, de:
a) 125cm/s
b) 1.125mm/s
c) 1,4m/s
d) 110cm/s
e) 13dm/s

3) O recipiente da figura ao lado contém água (densidade


relativa = 1,0), óleo (ρ = 800kg/m³) e ar (ρ = 1,2kg/m³). Sabendo-se
que a pressão atmosférica local é de 105Pa e que a aceleração da
gravidade local é de 10m/s², a pressão manométrica no fundo da
coluna de óleo será (em Pa):
a) 1400
b) 12000
c) 26000
d) 30000
e) 130000

105
2 Estática

4) Um líquido foi ensaiado em um reômetro de cilindros


concêntricos para avaliação do seu comportamento reológico. Foi
constatado que a sua viscosidade aparente diminuía quando a taxa
de cisalhamento aumentava, sem apresentar efeitos de histerese.
Esse fluido pode ser classificado como sendo, portanto:
A) De Bingham
B) Dilatante
C) Newtoniano
D) Pseudoplástico
E) Reopético

5) A figura abaixo representa um manômetro em U desti-


nado a medir a pressão no reservatório 1 (P1). Estime o valor de
P1 (em kPa), sabendo que a extremidade aberta está sujeita à ação
da pressão atmosférica (760mmHg) e que a cota d vale 90mm.

106
Camila Pacelly Brandão de Araújo

6) Na figura a seguir, ambas as extremidades do manômetro


estão abertas para a atmosfera. Sabe-se que a densidade do óleo
SAE 30 é igual a 0,8740. Calcule a densidade do fluido X.

7) Na figura a seguir, todos os fluidos estão a 20ºC. Determine


a diferença de pressão entre os pontos A e B.

107
2 Estática

8) Manômetros de Bourdon são colocados no sistema a


seguir. Sabendo que as pressões manométricas P’A, P’B e P’C são,
respectivamente, 4,0 atm; 1,8 atm e 2,2 atm, e considerando que
a pressão atmosférica seja de 1 atm, qual será a pressão absoluta
no recipiente A?

a) 2 atm
b) 5 atm
c) 6 atm
d) 8 atm
e) 9 atm

9) A porta mostrada na lateral do tanque é articulada ao


longo de sua borda inferior. Uma pressão de 5000Pa (manométrica)
é aplicada na superfície livre do líquido. Determine a força Ft
requerida para manter a porta fechada.

108
Camila Pacelly Brandão de Araújo

10) A superfície inclinada mostrada, articulada ao longo de


A, tem 5m de largura. Ela é uma vista lateral de uma barragem
para produção de energia elétrica a partir do movimento da água.
Determine a força resultante (FR) da água sobre a superfície incli-
nada para o caso em que o fluido está estático.

109
3
Análise integral do
escoamento de fluidos
3 Análise integral do escoamento de fluidos

3.1 Escoamento de fluidos

Bem-vindos à nossa segunda unidade de conteúdos de


Mecânica dos Fluidos! Começaremos, agora, a estudar a condição
de fluidos em escoamento.
No início dos nossos estudos, comentamos que a Mecânica
dos Fluidos era responsável pelo estudo do movimento e do repouso
de fluidos, mediante a ação de forças.
Assim sendo, a fluidodinâmica representa justamente o
caso do movimento desses fluidos. Essa importante seção da
Mecânica dos Fluidos é responsável por inúmeras situações do
nosso cotidiano, desde o abastecimento de água na nossa residência
ao escoamento de sangue em nossas veias e artérias e ao movimento
das massas de ar.

A notícia neste link reporta a construção de


um gasoduto para escoamento da produção do
pré-sal. Podemos ver claramente a importância
do escoamento de fluidos, portanto, para
diversos aspectos da nossa vida, desde o
abastecimento de gás para o funcionamento
das indústrias, até a produção de derivados e
petróleo, entre vários outros.
3 Análise integral do escoamento de fluidos

Nós desenvolveremos, ao longo dessa aula, ferramentas


para permitir tratar de problemas como esses e tantos outros
relacionados ao Escoamento de Fluidos.
Vamos trabalhar, então?

3.2 Alguns conceitos necessários

No início da nossa disciplina, quando começamos a falar


sobre o tipo de forças que atuavam sobre massas fluidas, dividimos
as forças de superfície em duas componentes (normal e cisalhante),
as quais eram responsáveis por gerar, por sua vez, tensões normais
e tangenciais.
Dissemos também que o fluido, quando sujeito à ação de
esforços cisalhantes, escoa, se deformando continuamente. De tal
modo, podemos inferir que, na ausência de tensões cisalhantes, não
haverá movimento do fluido e, portanto, ele estará na sua condição
estática; e que, na presença desses esforços, haverá o escoamento.
Os esforços normais são verificados tanto para um fluido
que escoa, como para massas fluidas estagnadas.
Quando trabalhamos na etapa introdutória desse curso,
dissemos que usaríamos ferramentas que vocês já conhecem para
modelar o escoamento de fluidos, mas que essas ferramentas de
equacionamento iriam precisar de modificações. É o que come-
çaremos a fazer agora. Para isso, vamos trabalhar em termos de
propriedades genéricas (quaisquer) do fluido.
Propriedades ditas intensivas são aquelas que indepen-
dem do tamanho do sistema que está sendo estudado. Podemos
enquadrar, nessa categoria, propriedades como: calor específico
(cp), massa específica (ρ), temperatura (T) e pressão (P). Imagine

112
Camila Pacelly Brandão de Araújo

uma massa de água de 300ml em um copo e uma massa de água


também de 1m³ em um tanque. Conseguem perceber que essas
propriedades serão as mesmas para ambos os casos?
Propriedades ditas extensivas são aquelas que dependem do
tamanho do sistema que se está estudando. Os valores totais das
propriedades extensivas podem ser obtidos somando-se os valores
em parcelas individuais do sistema. Assim, podemos pensar em
propriedades como a massa do sistema, o volume por ela ocupada,
sua energia total, entre outras.
De maneira geral, podemos dizer que uma dada propriedade
intensiva pode se relacionar com a sua propriedade extensiva
correspondente por:

P � EXTENSIVA
P � INTENSIVA� =
TAMANHO � DO� SISTEMA
Assim, podemos representar propriedades intensivas, como
energia interna específica, massa específica e entalpia específica,
para serem razões dos valores de energia interna total (U), de
entalpia total (H) ou de Volume total ( ∀ ).

U
u=
M
H
h=
M
M



113
3 Análise integral do escoamento de fluidos

Então, partindo dessas definições, chamaremos de N qual-


quer uma das propriedades extensivas do sistema, e as propriedades
intensivas, de η. Assim:

Quando falamos em estudar o comportamento dos fluidos


em movimentos, é convencional analisarmos uma região do espaço
que é o nosso objeto de estudo, o nosso volume de controle, ao
invés de uma massa fixa e definida do fluído (sistema). Porém, as
Leis Básicas que conhecemos dos nossos estudos pregressos em
outras disciplinas foram formuladas para sistemas.
Você se recorda dessas definições? Adiante, você pode
encontrar essas definições mais uma vez, enquanto, na Figura
55, se apresenta a diferença entre essas abordagens para o caso
simples de se considerar o escoamento de spray por meio de um
recipiente de aerossol.

Sistema é uma quantidade de massa fixa e


identificável, separada do ambiente por suas
fronteiras, que se escolhe como objeto de estudo.
E
Volume de controle é um volume arbitrário no
espaço que se deseja observar. Podem existir
fluxos mássicos através de suas fronteiras.

114
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Figura 55 – Abordagem por sistemas x abordagem por volume de controle


Fonte: adaptado de Çengel (2006).

Ainda a respeito de volumes de controle (VC), podemos


definir as fronteiras do volume de controle pelo uso de superfí-
cies de controle (SC), em meio às quais se dará o fluxo do fluido
(Vilanova, 2011). A Figura 56 representa tanto um volume de
controle estipulado, quanto a sua respectiva superfície de controle.

Figura 56 – Representação do volume de controles e superfície de


controle em uma tubulação
Fonte: autoria própria

115
3 Análise integral do escoamento de fluidos

No próximo tópico, apresentaremos as Leis Básicas que


governam o comportamento geral dos fluidos na sua formulação
original e destacaremos a maneira recorrente como elas podem ser
expressas. Em seguida, vamos conhecer o Teorema de Transporte
de Reynolds, que permitirá unificar as equações desenvolvidas
para sistemas, com a formulação de volume de controle. Por fim,
vamos aplicar esse conhecimento para três das Leis Básicas de maior
importância: conservação da massa, conservação da quantidade
do movimento linear e conservação da energia.

3.3 Leis básicas

Como dissemos no início das nossas tratativas, os princípios


e as leis básicas que vocês já conhecem e utilizam com frequência
nos estudos referentes a outras disciplinas também serão utilizados
aqui. São eles: o princípio da conservação da massa, o princípio da
conservação do momento linear, a primeira Lei da Termodinâmica,
o princípio da conservação do momento angular e a segunda Lei
da Termodinâmica. Aqui, eles serão descritos conforme o nosso
uso futuro.

3.3.1 Conservação da massa

O sistema, por definição, se constitui de uma quantidade


de massa fixa e identificável - assim, é composto pela mesma
quantidade de matéria em todos os instantes de tempo. Portanto,
o conceito de sistema já representa semanticamente o próprio
equacionamento deste princípio de conservação. Como o sistema
contém sempre as mesmas partículas fluidas, a massa identificada
pelo sistema não varia com o tempo, ou seja,

116
Camila Pacelly Brandão de Araújo

dM
|Sistema = 0
dt

Desse modo, a massa específica do fluido pode apresentar


variações no interior do sistema. À medida que o sistema se movi-
menta com o escoamento, a massa específica destas partículas
pode variar em função da geometria do problema ou do campo de
pressão observado. Para manter a sua massa, o sistema deforma-se,
encolhendo ou fazendo crescer o seu volume, na medida exata para
compensar estas expansões ou contrações do fluido.

3.3.2 Conservação do momento linear

Como vocês já sabem, o momento linear de um dado objeto


pode ser calculado pelo produto da sua velocidade pela sua massa.
É devido ao fato de o momento linear de um caminhão carregado
descendo uma serra ser maior que o de um carro (ambos à mesma
velocidade) que os motoristas daqueles precisam de cuidados
redobrados nesses momentos e contam com o auxílio de sistemas
de frenagem específicos:
 
.
P = mV
Se nos propusermos ao cálculo da taxa de variação do
momento linear de uma partícula, podemos fazer:

117
3 Análise integral do escoamento de fluidos

  
dP dV Vdm
m 
dt dt dt
Onde o termo dm/dt representaria a taxa de variação da
massa do sistema, que já vimos ser nulo no item acima. Assim,

dP 
= ma
dt
De tal maneira que podemos dizer que a taxa de variação
do momento linear de um sistema é igual ao somatório de forças
atuantes sobre ele, de acordo com a Segunda Lei de Newton:

dP 
= FR
dt
Dessa forma, podemos escrever (mantendo a formatação
usada para a conservação da massa):

dP 
| F
dt Sistema

3.3.3 Conservação da energia

A Primeira Lei da Termodinâmica, ou o Princípio de


Conservação da Energia, estabelece que as trocas energéticas entre
um sistema fechado e sua vizinhança somente podem ocorrer sob

118
Camila Pacelly Brandão de Araújo

as formas de trabalho ou calor. Define-se calor como toda forma


de energia em trânsito que surge em decorrência de diferenças de
temperatura, e trabalho como toda forma organizada de trans-
ferência de energia (cilindro-pistão, força eletromagnética etc.).
Sendo a energia total de um sistema a contabilização da
energia nas formas mecânica e interna, podemos dizer:

Etotal  EC  EP  U

mV 2
Etotal   mgz  U
2

Ou, por unidade de massa do sistema:

E V2
e   gz  u
m 2
Dessa maneira, podemos escrever esse princípio de con-
servação para ser:

dE
| Q W
dt Sistema

A convenção de sinais usados para o uso dessa equação é


a apresentada na Figura 57, na qual a realização de trabalho pelo
sistema e o recebimento de calor pelo sistema são contabilizados
com sinal positivo, enquanto o fornecimento de calor e a realização
de trabalho sobre o sistema são contabilizados com sinal negativo.

119
3 Análise integral do escoamento de fluidos

Figura 57 – Convenção de sinais para a Primeira Lei da Termodinâmica


Fonte: autoria própria

Além disso, podemos também dizer:

Sistema dm e d
M sistema sistema

3.3.4 Conservação do momento angular

Inúmeras são as máquinas em que um fluido rotaciona em


torno de um eixo cuja dinâmica do movimento deve ser formulada
por este princípio. Sendo o torque atuante sobre o sistema dado
pelo produto vetorial da força resultante e a distância ao eixo
considerado, temos:
  
T = r �� x FR
A qual pode ser expressa como:

Sendo a quantidade de momento angular dada por:

120
Camila Pacelly Brandão de Araújo

O princípio da conservação da quantidade de movimento


angular estabelece que a taxa de variação dessa quantidade é resul-
tado da ação dos torques observados em relação a um referencial
inercial que age sobre o sistema. Assim, escreve-se:

dH 
| T
dt Sistema

Note que, na equação supracitada, se recorre, mais uma vez,


à diferenciação do sistema em volumes elementares infinitesimais
para contabilizar tanto a variação das propriedades do fluido (r
e ), como o "braço" , segundo o qual a partícula rotaciona em
relação à origem do sistema de coordenadas.

3.3.5 Segunda Lei da Termodinâmica

O conceito de entropia diz respeito ao nível de desordem


de um sistema. Em qualquer processo termodinâmico, como a
deformação de um fluido, a transferência de calor ou a realização
de trabalho sobre um sistema, por exemplo, exige que haja uma
mudança de estado do sistema considerado.
Em processos de transferência de calor, o nível de desordem
do sistema pode variar desde aquele preconizado para processos
ditos reversíveis (usando diferenças de temperatura infinitesimais
entre as partes envolvidas) até valores maiores, que seriam carac-
terísticos dos processos reais nos quais ocorrem irreversibilidades.

121
3 Análise integral do escoamento de fluidos

Várias são as fontes de irreversibilidade na natureza.


Processos termodinâmicos que envolvem o atrito, a expansão
espontânea de um gás e a deformação plástica de um material
apresentam geração de irreversibilidades superiores ao processo
de transferência de calor de um processo reversível.
Assim, a Segunda Lei da Termodinâmica representa essa
relação na forma de inequação, indicando que a taxa de variação
de entropia de um sistema em que há um fluxo de calor a uma
dada temperatura deve ser maior ou igual àquele estipulado para
o processo reversível:

dS Q
| 
dt Sistema T
Onde

3.3.6 Leis básicas – formulação genérica

Do que foi exposto até agora, podemos dividir as proprie-


dades em intensivas e extensivas, como dissemos anteriormente.
Se as equações integrais que mensuram a quantidade de
cada uma das propriedades no interior do sistema descritas nos
itens anteriores forem comparadas entre si, será possível perceber
grande semelhança entre elas.
Desse modo, se chamarmos de N uma propriedade qualquer
do sistema (a qual pode representar a massa, a quantidade de
movimento, a quantidade de movimento de angular, a energia ou
a entropia) e sua forma específica por η, estas equações podem ser
representadas genericamente pela expressão:

122
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Assim, a Tabela 1 apresenta a relação entre as propriedades


extensivas e suas intensivas correspondentes:

Propriedade Propriedade
Extensiva Intensiva

M 1

E e
S s
Tabela 1 – Propriedades extensivas e suas correspondentes
propriedades intensivas
Fonte: autoria própria

Podemos, também, perceber que todos esses princípios


fundamentais podem ser expressos em termos de equações de
taxa de uma dada propriedade extensiva do sistema.
Dessa forma, para que se obtenha uma equação de conserva-
ção válida para volumes de controle, devem ser correlacionadas as
taxas de variação de cada uma destas propriedades no interior do
sistema e do volume de controle. Ou seja, empregando a propriedade
genérica N, busca-se estabelecer a seguinte relação:

dN dN

Sistema
 ⌋
volume de controle
dt dt

123
3 Análise integral do escoamento de fluidos

Logo, deve ser verificada a condição na qual os primeiros


membros dos princípios de conservação são os mesmos para
sistema e para volume de controle (VC). Note que isto pode ser
conseguido simplesmente selecionando sistema e volume de con-
trole coincidentes no instante de tempo considerado.
É o que faremos agora!

3.4 Teorema de Transporte de Reynolds

Vamos imaginar uma porção qualquer de fluido em esco-


amento num instante inicial t0 (Figura 58); essa forma inicial do
nosso sistema de fluído coincide, nesse instante, com o volume de
controle. Após um tempo infinitesimal ∆t, o sistema (de massa fixa
e identificável) terá se movimentado para um novo local (Figura
58b), enquanto o volume de controle permanecerá o mesmo que
o determinado no instante inicial.

Figura 58 – Porção de fluido em escoamento nos instantes t0 (a) e t0 + ∆t (b)


Fonte: adaptado de Fox (2008)

124
Camila Pacelly Brandão de Araújo

As leis que acabamos de discutir se aplicam a essa porção de


fluido; utilizando a conservação da massa, por exemplo, observa-
mos que a massa do fluido é constante. Além disso, examinando
a geometria do sistema/volume de controle em t = t0 e t = t0 + ∆t,
vamos ser capazes de obter formulações das leis para o volume
de controle (Fox, 2008).
É importante ressaltar, também, que no instante t0, o sistema
e o volume de controle estipulado são coincidentes; já no instante
t0 + Δt, podem ser identificadas 3 (três) regiões:
✓ I e II correspondem à região que chamamos de volume
de controle;
✓ II e III correspondem ao sistema (lembra que sistema se
refere a uma porção de massa fixa e identificável?).
Como nosso objetivo é correlacionar qualquer propriedade
extensiva do sistema com suas quantidades do volume de controle,
tomemos a taxa de variação temporal de uma propriedade N
qualquer do sistema para ser:

dN ⌋ ⌋ ∆

dt ∆t

Analisando a Figura 58, podemos identificar as regiões


correspondentes ao sistema nos instantes t e t0 como:

⌋ ⌋

125
3 Análise integral do escoamento de fluidos

Substituindo esses termos na definição de derivadas, temos:

Sabemos, também, que o limite da soma é a soma dos limites, então:

Analisando cada um dos termos isoladamente, podemos


identificar, para o primeiro termo, a expressão da taxa de variação
temporal da propriedade N no volume de controle conforme descrito:

Para avaliarmos tanto o segundo termo da equação, quanto


o terceiro, precisamos obter uma expressão para a propriedade que
sai do volume de controle na região III, N III ⌋ . Considere a
0 ∆
sub-região de III representada pela Figura 59.

Figura 59 – Vista ampliada da sub-região III


Fonte: adaptado de Fox (2008)

126
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Para essa sub-região, pode se afirmar que o elemento vetorial


de área dA tem o módulo do elemento de área dA da superfície
de controle, e o sentido de dA é normal à superfície para fora do
elemento. Em termos gerais, o vetor velocidade V fará um ângulo
qualquer α em relação a dA.

dNIII ⌋ ∆
d

0 0

Além disso, se considerarmos esse infinitesimal cilíndrico,


podemos expressar o seu volume como sendo:

dV  ∆ l . dA
isso se o relacionarmos com o caminho percorrido pelo
fluido desde a superfície de controle aos limites da região III. Ou
seja:

∆  ∆t
Teremos:

∆ ∆
Assim,

⌋ ∆
0 ∆

Dessa forma, podemos integrar toda a região III e obter,


para o segundo, o termo necessário da equação.

127
3 Análise integral do escoamento de fluidos

De forma semelhante para a sub-região I, podemos obter:


V dA
0 ∆

∆ SCI

Para a sub-região I, o vetor velocidade aponta para dentro


do volume de controle, mas o vetor normal que caracteriza a área
sempre aponta (por convenção) para fora do volume de controle
(α = π/2), de modo que o produto escalar entre esses dois vetores
na equação anterior é negativo. Podemos ilustrar o conceito do
produto escalar na Figura 60.

Figura 60 – Avaliação do produto escalar


Fonte: adaptado de Fox (2008)

Substituindo todos os termos individuais na equação de


taxa de variação inicial, temos:

128
Camila Pacelly Brandão de Araújo

As duas últimas integrais constituem a superfície de controle,


de tal maneira que podemos combiná-las em uma única integral
ao longo da totalidade da superfície de controle, obtendo, assim:

Essa é a equação que desejávamos obter desde o início:


uma equação que representa como relacionar uma propriedade
do sistema (expressa em termos da sua taxa de variação temporal)
com a sua variação dentro do volume de controle e com o seu fluxo
através da superfície de controle desse VC. Essa equação também
é conhecida como o Teorema de Transporte de Reynolds.

Podemos interpretar cada um dos termos como:

representa a taxa de variação temporal da pro-


priedade extensiva N do sistema.

representa a taxa de variação da quantidade


da propriedade N dentro do volume de controle. Se for M a pro-
priedade N, teremos η=1, de tal maneira que o termo dentro da
integral representará a massa contida no volume de controle, e a
sua derivada, com respeito ao tempo, representará o seu aumento
ou diminuição dentro do VC.

representa a taxa com a qual a propriedade N


flui pelo volume de controle (entradas e saídas de N) através da
superfície de controle.

129
3 Análise integral do escoamento de fluidos

3.5 Equações para um volume de controle

Agora que já aprendemos como relacionam-se as proprieda-


des do sistema com as propriedades do volume de controle, vamos
aplicar o TTR sobre as principais equações de conservação para
nosso estudo de Mecânica dos Fluidos. Faremos o uso do TTR
para avaliar a equação da conservação da massa, do momento
linear e da energia nesse texto.
Vamos começar?

3.5.1 Conservação da massa – Equação da continuidade

Conforme dissemos anteriormente, na equação para a con-


servação da massa para um sistema vale:

Sendo M a nossa propriedade extensiva N, e η=1, a ser subs-


tituída no TTR, temos:

Assim, podemos reescrever o TTR usando a equação da


taxa de variação para o sistema para ser:

130
Camila Pacelly Brandão de Araújo

O primeiro termo do segundo membro representa a taxa


de variação da massa do volume de controle, enquanto o segundo
termo representa o fluxo líquido de massa através da superfície.
Essa equação poderia ser reescrita na forma:

Se nós recuperarmos a definição de produto escalar e


verificarmos as relações geométricas entre o vetor velocidade
e o vetor elemento de área em seções de saída e de entrada de
fluido (tais como na Figura 60), poderemos observar que haverá
acúmulo de massa positivo no interior do volume de controle
somente quando o fluxo para seu interior for maior que o fluxo
de saída; no caso inverso, ocorre um esgotamento do conteúdo
do volume de controle.
A Figura 61 nos fornece uma representação gráfica bastante
simples e de fácil entendimento do que se trata a equação de
conservação da massa para um volume de controle. Imagine um
tanque como o mostrado na Figura 61. O volume de controle está
delimitado pela superfície de controle ali destacada. Suponha que
o volume de controle tenha um dado volume inicial de líquido,
de tal maneira que este apresente o nível L. O aumento do fluxo
na seção de entrada acarretará (se não se alterar o fluxo de saída
do líquido) em um aumento do nível do líquido, concordam?

131
3 Análise integral do escoamento de fluidos

Isso se reflete no termo do lado esquerdo da equação, no termo


representativo da taxa de variação da massa contida no volume de
controle. Como a região de entrada (pela Figura 60) é uma região
em que o produto escalar entre o vetor velocidade e a área gerará
um valor negativo, isso se reflete em um termo de acúmulo (taxa
de variação no volume de controle) positivo.
O oposto se verifica quando há um aumento no fluxo de
saída com a manutenção do mesmo fluxo de entrada. Essa situação
vai se caracterizar por uma diminuição da quantidade de massa
presente no volume de controle.

Figura 61 – Representação da conservação da massa para um V.C.


Fonte: autoria própria

Duas possibilidades de simplificação da equação da con-


servação da massa na forma integral para um volume de controle
podem ser facilmente aplicadas.
A admissão de fluido incompressível e de regime perma-
nente podem ser realizadas obtendo um equacionamento para a
conservação da massa nos seguintes formatos:

132
Camila Pacelly Brandão de Araújo

a) Fluido incompressível (ρ constante em todo o volume


de controle)

Caso o volume do volume de controle não varie com o tempo,

Note que o produto V.A tem dimensões de L³/t (unidades


SI de M³/s) e é denominado vazão volumétrica Q.

Para um escoamento incompressível, a vazão de entrada


deve ser igual à vazão de saída, ainda que não se trate de um
escoamento em regime permanente.
A velocidade média do escoamento em uma seção pode ser
estimada conhecendo-se a vazão volumétrica como:

133
3 Análise integral do escoamento de fluidos

b) Regime permanente
Para os escoamentos em regime permanente, não há variação
temporal de qualquer propriedade do fluido. Assim:

Note que o produto ρV.A tem dimensões de M/t (unidades


.
SI de kg/s) e é denominado vazão mássica (m). Desse modo, em
regime permanente, a vazão mássica (ρVA) que entra no volume
de controle é igual à vazão mássica que deixa o volume de controle.
c) Escoamento uniforme:
A consideração de escoamento uniforme implica em uma
velocidade constante ao longo de toda a área da seção transversal.
Se a massa específica também puder ser considerada uniforme na
seção, então:

E, ao invés de se realizar a integração de uma função que


represente o perfil de velocidades ao longo da seção do escoamento,
simplesmente se realiza a multiplicação dos referidos termos.

3.5.2 Conservação do momento linear

Aplicando o mesmo raciocínio que desenvolvemos para


chegar à expressão da equação da conservação da massa, podemos

134
Camila Pacelly Brandão de Araújo

determinar a equação para a conservação do momento linear de


um volume de controle por meio do TTR, sendo a propriedade
extensiva N e a correspondente propriedade intensiva:

Perceba que a coincidência entre sistema e volume de controle


garante que as forças que agem sobre o sistema sejam as mesmas
que atuam sobre o volume de controle no instante em que eles
envolvem a mesma porção fluida.
Assim, podemos escrever:

Se compreendermos que a força atuando sobre o volume


de controle pode ser dividida em forças de campo e forças de
superfície, a expressão fica mais claramente descrita por:

 
onde FS e FB representam as forças resultantes que atuam
sobre a superfície e sobre a massa do volume de controle, res-
pectivamente. As forças de superfície representam o somatório
da ação de tensões (normais e tangenciais) sobre a superfície de
controle, enquanto a força de campo geralmente é a força do campo
gravitacional atuando sobre a massa de fluido.

135
3 Análise integral do escoamento de fluidos

  
FB   Bdm   B  d 
vc

Como sabemos, as forças são quantidades vetoriais. Logo,


podemos descrever a expressão da conservação do momento
linear por meio das suas componentes em cada uma das direções
do sistema de coordenadas adequado à geometria do problema.
Para o sistema cartesiano, essas componentes resumem-se em:

A rigor, esta equação foi deduzida considerando-se que, em


um determinado instante, sistema e volume de controle envolvem
uma mesma porção fluida e apresentam fronteiras coincidentes.
Como estratégia didática, analisa-se o problema como se o
VC permanecesse fixo em relação à referência xyz da Figura 62,
apesar da equação permanecer válida para todas as situações em
que a velocidade representar a velocidade relativa entre o sistema
(ou seja, o fluido) e o volume de controle, não importando o tipo
de movimento descrito por este último.

136
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Figura 62 – Volume de controle fixo


Fonte: adaptado de Duarte (1997)

Essa consideração torna-se ainda mais clara se for observado


que é essa velocidade relativa que provoca os fluxos de entrada e
de saída da propriedade N através da superfície de controle. Na
condição em que o volume de controle esteja fixo em relação a
um referencial inercial, a equação de conservação da quantidade
de movimento linear assume o formato da expressão onde as
velocidades e derivadas são tomadas em relação ao sistema inercial
(por simplicidade, fixo) xyz.
Como ambos, sistema de referência e volume de controle,
não se movimentam, a velocidade do fluido medida em relação às
coordenadas xyz da ilustração é a própria velocidade relativa entre
o fluido e o VC. Poderia ter-se optado por representar a origem
deste sistema sobre o volume de controle sem ocorrer em qualquer
prejuízo à validade da equação (4-34) e, assim, concluir que, para
obter essa velocidade relativa, basta medir a velocidade do fluido em
relação a um sistema de coordenadas solidário ao volume de controle.
Lembre-se de que a escolha dessa posição é arbitrária, desde que se
garanta a característica inercial do sistema de referência.

137
3 Análise integral do escoamento de fluidos

Figura 63 – Volume de controle em movimento uniforme


Fonte: adaptado de Duarte (1997)

O volume de controle se movimenta agora, uniformemente,


em
 relação ao sistema xyz da ilustração seguinte, com velocidade
VVC . A velocidade do fluido também é medida  em relação a este
sistemae, para obter a velocidade relativa ( VXYZ ), basta subtrair

V de VVC , ou seja:

A equação da conservação do momento linear para um


volume de controle assume o formato, portanto, de:


onde a única alteração foi o uso das velocidades relativas Vxyz .

138
Camila Pacelly Brandão de Araújo

3.5.3 Conservação de energia

A conservação de energia é um dos princípios de grande


importância em Mecânica dos Fluidos por ter implicações prá-
ticas e diretas em atividades corriqueiras para engenheiros das
mais diversas áreas. O dimensionamento de equipamentos de
bombeamento e de compressão de gases, bem como a avaliação
da perda de energia do fluido em decorrência dos efeitos de atrito,
são diretamente atendidos por esse princípio.
Em qualquer situação em que agentes externos realizam
conversão de energia em trabalho e vice-versa, tais como o bom-
beamento de líquidos, a geração de potência mecânica com uma
turbina hidráulica ou a compressão de gases em reservatórios,
faz-se necessário empregar a equação da energia para, por exemplo,
determinar adequadamente as características destas unidades.
Se recorrermos novamente ao TTR,

Em conjunto com a equação para a Primeira Lei da


Termodinâmica:

Podemos escrever:

139
3 Análise integral do escoamento de fluidos

Substituindo os termos respectivos à taxa de variação da


energia do sistema e à energia específica, a qual reúne as parcelas
interna, cinética e potencial, temos:

Pela convenção de sinais, a taxa de transferência de calor


(sempre em decorrência de uma diferença de temperatura) é
positiva quando é adicionado ao VC, e negativa quando sai do VC.
Em contrapartida, a taxa de realização de trabalho, por qualquer
uma das diversas formas que iremos descrever adiante, é positiva
quando realizado pelo VC e negativa quando realizado sobre o VC.
Analisando a taxa de realização de trabalho sobre ou pelo
volume de controle , verifica-se que esse trabalho total é o
resultado da ação de vários agentes que transferem ou absorvem
trabalho por meio da superfície de controle. Esses agentes podem
ser resumidos nas forças que agem sobre essa superfície (normais e
tangenciais), fontes mecânicas externas (bombas, turbinas, ventila-
dores etc.) que interagem com o VC e com outras fontes de trabalho,
como aquele associado à ação do campo eletromagnético percebido
em equipamentos elétricos (transformadores, por exemplo). Assim,

a) Trabalho de eixo
Todo o trabalho é realizado por equipamentos como tur-
binas, bombas ou compressores que operam pelo movimento de
um eixo. Nas turbinas, ocorre a produção de trabalho (+) pela
desaceleração de um fluido que provoca o movimento de suas

140
Camila Pacelly Brandão de Araújo

partes internas móveis (giratórias). Nos compressores e bombas,


uma quantidade de trabalho ou potência é requerida (-) para que
seja imposto um aumento de pressão na corrente de fluido.

b) Trabalho exercido pelas tensões normais Wnormal


Podemos imaginar que o volume de controle, quando
sujeito a esforços decorrentes da ação de tensões normais, tende
a se comprimir ou expandir o seu volume V. Para determinar o
trabalho resultante da ação de tensões normais sobre a superfície
de controle, considere um elemento de área diferencial definido
sobre a superfície de controle, conforme a Figura 64.

Figura 64 – Trabalho realizado sobre o volume do controle


Fonte: adaptado de Duarte (1997)

Onde a força normal pode ser expressa por:

141
3 Análise integral do escoamento de fluidos

Assim,

Ou

Assim, podemos expressar o trabalho realizado pelas forças


normais para ser:

Como o trabalho realizado pelas forças normais é um tra-


balho de compressão e a tensão normal pode ser expressa em
termos da pressão termodinâmica do escoamento, ao longo de
toda a superfície de controle, ficamos com:

c) Trabalho realizado pelas tensões cisalhantes Wcisalhamento


Considere um elemento de área dA na superfície de controle
que é submetido à ação de esforços tangenciais que provocam uma
deformação ds representada no esquema anterior. Tal como no caso
dos esforços normais, esta deformação ocorre durante um intervalo
de tempo dt e é provocada pelo fluido que atua sobre a vizinhança
da superfície de controle com velocidade V.

142
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Sendo a força tangencial expressa por:

Podemos escrever:

E, similarmente ao realizado para o caso das tensões nor-


mais, temos:

Sempre que um dos termos do integrando ou o próprio


produto escalar for nulo, o trabalho associado aos esforços tan-
genciais deixará de existir. Essa condição é de interesse para nós
para simplificação da equação da conservação de energia.
Regiões de interface com contornos: contornos invaria-
velmente encontram-se estacionários e, pela condição do não
escorregamento, o fluido permanece fixo em relação à mesma.
Regiões de fluxo: se a superfície de controle for proposi-
tadamente selecionada segundo uma orientação normal ao vetor
velocidade em todas as áreas por onde ocorrem fluxos: tensão
tangencial perpendicular à velocidade em toda a área de escape.
Assim, o produto  se anulará nesta área e pode ser descon-
siderado da equação da energia.

143
3 Análise integral do escoamento de fluidos

Dessa maneira, fazemos, em geral, a opção por volumes de


controle que permitam que o produto escalar descrito há pouco
assuma o valor nulo, para que possamos desconsiderar esse termo
na equação da conservação de energia.

d) Outros tipos de trabalho outros

As outras formas de realização de trabalho, em geral, se


relacionam com a energia eletromagnética, elétrica etc. Esse tipo
de trabalho é, portanto, associado à ação do campo eletromag-
nético percebido em equipamentos elétricos (transformadores,
por exemplo).
Retornando à equação da conservação da energia, temos:

Substituindo os termos referentes ao trabalho, temos:

Assim:

Sendo a tensão normal tida como o negativo da pressão ter-


modinâmica (-p) e multiplicando o termo por 1 (sendo expresso pelo
produto do volume específico pela massa específica (   1/ v ), temos:

144
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Sendo essa uma integral em toda a superfície de controle,


pode ser adicionada ao termo da direita mais externa para ser:

Reconhecendo o termo referente a entalpia como sendo

temos:

3.6 Equação de Bernoulli

A Equação de Conservação de Energia descrita anterior-


mente, quando aplicada a escoamentos de fluidos invíscidos (ou
seja, escoamentos nos quais os efeitos da viscosidade podem ser
considerados desprezíveis) e dentro de alguns limites operacionais,
pode ser bastante simplificada.
Essas simplificações, apesar de, aparentemente, serem mui-
tas, retratam uma grande parcela do comportamento de fluidos
em escoamento.
Imagine que os efeitos viscosos e a ideia da existência de
uma camada-limite na qual esses efeitos são percebidos só foi
elaborada e aceita após muitos séculos com os estudos de Prandtl.
Antes disso, muito foi possível graças às equações aparentemente
simples das quais vamos tratar agora.

145
3 Análise integral do escoamento de fluidos

A Equação de Bernoulli é uma das mais importantes e


simples equações da Mecânica dos Fluidos, mas também uma
das mais mal utilizadas. O conjunto de restrições às quais ela
se aplica é fundamental para sua compreensão e boa utilização.
Apresentaremos duas formas de compreensão da Equação de
Bernoulli: uma partindo-se da perspectiva de energia, conforme a
análise integral, e uma avaliando-se as forças atuantes sobre uma
partícula fluida que escoa, segundo a análise diferencial. Cada
uma dessas será apresentada no tópico correspondente.
Para avaliação de um escoamento que atenda aos critérios

1. ocorra em regime permanente  t  0 ,
2. cujos efeitos viscosos sejam desprezíveis, ou seja, sem
efeitos de atrito, como a dissipação de calor ou o aumento
da energia interna do fluido ∆ ,
3. cujo fluido possa ser considerado incompressível   CTE ,
4. e na ausência de máquinas ou outras formas de realização
de trabalho ,
podemos verificar que a Equação da Conservação da Energia
assume a seguinte forma:

Tal que:

146
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Sabemos que, para um escoamento em regime permanente,


a equação da continuidade nos fornece a seguinte relação, a qual
nos indica que os fluxos mássicos de entrada e de saída do volume
de controle devem ser iguais:

Considerando um volume de controle com uma única seção


de entrada e uma única seção de saída, temos:

Também podemos expandir a equação para ser:

Assim, é possível escrever:

3.6.1 Interpretações

Alternativamente, essa relação pode ser expressa por:

Na qual a massa específica é utilizada, ao invés do volume


específico. Nessa forma, os termos da equação apresentam dimen-
são de (L/t)², a qual é um tipo de representação de energia por
unidade de massa. Em termos das unidades do SI, podemos verificar
isso para ser:

147
3 Análise integral do escoamento de fluidos

Se optarmos por expressar a equação de Bernoulli usando


o peso específico (dividindo a equação acima por g), temos:

Dessa forma, a equação de Bernoulli apresenta dimensão


de L (comprimento) representando cada um dos termos, portanto,
uma altura equivalente de coluna de fluido.
A Equação de Bernoulli é uma relação aproximada entre
pressão, velocidade e elevação e é válida em regiões de escoamento
incompressível e em regime permanente ao longo de uma linha de
corrente, na qual as forças de atrito resultantes são desprezíveis. A
Figura 65 apresenta uma representação do escoamento por sobre
um aerofólio. Podemos verificar que, nas proximidades do objeto,
os efeitos viscosos são pronunciados e, portanto, a Equação de
Bernoulli não é válida.

Figura 65 – Regiões de escoamento viscoso e não viscoso de


um escoamento sobre um aerofólio
Fonte: adaptado de Çengel (2008)

148
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Podemos interpretar a relação entre essas pressões expres-


sando a Equação de Bernoulli, ainda, de uma terceira maneira,
conforme demonstrado a seguir:

Algumas maneiras de se interpretar essa relação são for-


necidas no que segue:
A soma das energias cinética, potencial e de escoamento
de uma partícula de fluido é constante ao longo de uma linha de
corrente durante um escoamento em regime permanente quando
os efeitos da compressibilidade e do atrito são desprezíveis.
Sob a luz da Segunda Lei de Newton, a Equação de Bernoulli
também pode ser vista como o trabalho realizado pelas forças de
pressão e de gravidade sobre uma partícula de fluido sendo igual
ao aumento da energia cinética da partícula.

3.6.2 Aplicações

Quando a Equação de Bernoulli é escrita de maneira que


seus termos expressem dimensões de pressão, podemos designar
e atribuir, a cada um dos seus termos, interpretações pertinentes:

Pressão estática (P): corresponde à pressão exercida sobre


a partícula fluida em movimento e representa a pressão termodi-
nâmica real do fluido. Não incorpora nenhum efeito dinâmico.

149
3 Análise integral do escoamento de fluidos

Pressão hidrostática (ρgz): representa os efeitos de uma


possível mudança na pressão, devido à variação de energia poten-
cial do fluido como resultado na alteração de elevação. Seu valor
depende do nível de referência selecionado.
Pressão dinâmica (1/2 ρV2 ): representa o aumento de pres-
são quando o fluido em movimento é parado de forma isentrópica
(reversível e sem troca de calor). Surge da conversão da energia
cinética em pressão devido à sua desaceleração (de V=V para V=0).
Pressão total (Ptotal ): representa a soma das contribuições
dinâmica, estática e hidrostática ao aumento de pressão quando
o fluido em movimento é estacado de forma isentrópica. Assim,
a Equação de Bernoulli também diz que “a pressão total ao longo
de uma linha de corrente é constante” (para os escoamentos que
atendem às demais restrições).
Pressão de estagnação (Pestag ): representa a pressão em um
ponto no qual o fluido é parado totalmente de forma isentrópica.
Corresponde à soma das parcelas da pressão dinâmica e estática.

É fácil perceber a diferença de interpretação entre a pressão


dinâmica e a pressão de estagnação se você se atentar aos termos
que as descrevem individualmente. Enquanto a pressão dinâmica
diz respeito ao aumento da pressão em decorrência de se levar
o fluido ao repouso, a pressão de estagnação se refere ao valor
da pressão num ponto em que esse fenômeno ocorra. Caso não
haja qualquer valor de pressão termodinâmica (vácuo absoluto),
essas duas quantidades serão iguais; porém, em qualquer outra
situação, há de se acrescentar a parcela referente à pressão ter-
modinâmica local.

150
Camila Pacelly Brandão de Araújo

A informação da pressão de estagnação é útil para determi-


nação da velocidade do fluido em um dado local do escoamento.
Podemos rearranjar a expressão para ser:

O instrumento de medição de velocidade do escoamento,


conhecido como Tubo de Pitot, na realidade, é um dispositivo
de medição de pressão estática e de estagnação do fluido para
estimativa da velocidade.
A Figura 66 ilustra seu funcionamento de maneira didática,
ainda que os equipamentos mais modernos sejam capazes de
embutir e de diminuir os espaços necessários para tanto.

Figura 66 – Funcionamento de um dispositivo Tubo de Pitot para


medição de velocidades
Fonte: autoria própria

151
3 Análise integral do escoamento de fluidos

Resumo

Neste capítulo, descrevemos as leis básicas para um sistema:


conservação da massa, Segunda Lei de Newton, Primeira Lei da
Termodinâmica, conservação do momento angular e Segunda
Lei da Termodinâmica. Em seguida, desenvolvemos o Teorema
de Transporte de Reynolds para formular essas mesmas leis na
perspectiva da análise do escoamento de fluidos em um volume
de controle. Assim, descrevemos a equação da continuidade, a
conservação do momento linear e a conservação da energia para
um volume de controle. Finalmente, aplicamos a última para o
escoamento de um fluido invíscido e incompressível para obtermos
a Equação de Bernoulli.

Exercícios

1) Na condição de voo de cruzeiro, no qual não se observam


maiores variações no voo de um avião, a sua turbina consome
0,35kg/s de combustível e 29,5kg/s de ar. A velocidade média dos
produtos de combustão em relação à turbina é igual a 460m/s.
Estime a massa específica média dos gases produzidos na combustão,
sabendo que a área da seção de descarga da turbina é igual a 0,35m².

2) Ar é comprimido em um compressor, conforme a figura


abaixo. O equipamento é alimentado com 0,3m³/s de ar na con-
dição padrão. O ar é descarregado através de uma tubulação com
diâmetro de 30,5mm. A velocidade e a massa específica do ar que
escoa no tubo de descarga são, respectivamente, 215m/s e 1,80kg/m³.

152
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Determine a taxa de variação de massa de ar contido no


tanque em kg/s e a taxa média de variação da massa específica
do ar contido no tanque.

3) A figura abaixo mostra o escoamento de um fluido viscoso


na região próxima a uma placa plana. Note que a velocidade do
escoamento é nula na placa e que aumenta continuamente até atingir
um valor constante ao longe. Esta região que apresenta variação de
velocidade é denominada camada limite. O perfil de velocidade do
escoamento pode ser considerado uniforme no bordo de ataque da
placa e o valor da velocidade neste local é U. A velocidade também
é constante e igual a U na fronteira externa da camada limite. Se o
perfil de velocidade longitudinal na seção 2 é dado por

Desenvolva uma expressão para calcular a vazão em volume na


fronteira externa da camada limite de imitada entre o bordo de ataque
e a seção transversal que apresenta espessura de camada limite δ.

153
3 Análise integral do escoamento de fluidos

4) Um jato d'água com diâmetro de 10mm incide sobre


um bloco que pesa 6N, do modo indicado pela figura abaixo. A
espessura, a largura e a altura do bloco são, respectivamente, 15,
200 e 100mm. Determine a vazão de água do jato necessária para
tombar o bloco.

5) O bocal curvo mostrado na figura abaixo está instalado


num tubo vertical e descarrega água na atmosfera. Quando a vazão
é igual a 0,1m³/s, a pressão relativa no flange é de 40kPa. Determine
a componente vertical da força necessária para imobilizar o bocal. O
peso do bocal é de 200N e o volume interno do bocal é de 0,012m³.
O sentido da força vertical é para cima ou para baixo?

154
Camila Pacelly Brandão de Araújo

6) Jatos de água estão sendo usados cada vez com maior


frequência para operações de cortes de metais. Se uma bomba gera
uma vazão de 63 × 10–6 m3/s através de um orifício de diâmetro
0,254 mm, qual é a velocidade média do jato? Que força (N) o jato
produzirá por impacto, considerando como uma aproximação que
a água segue pelos lados depois do impacto?

7) Calcule a força requerida para manter o tampão fixo na saída


do tubo de água. A vazão é 1,5 m³/s e a pressão a montante é 5MPa.

8) Ar a 20ºC escoa em regime permanente e com baixa


velocidade através de um bocal horizontal (por definição, um
equipamento para acelerar um escoamento) que o descarrega para
a atmosfera. Na entrada do bocal, a área é de 0,1m2 e, na saída,
0,02m2. Determine a pressão manométrica necessária na entrada
do bocal para produzir uma velocidade de saída de 50m/s.

155
3 Análise integral do escoamento de fluidos

9) A figura mostra uma turbina a vapor. A velocidade e a


entalpia específica na seção de alimentação do equipamento valem,
respectivamente, 50m/s e 4850kJ/kg. O vapor deixa a turbina como
uma mistura líquido-vapor cuja entalpia específica vale 2520kJ/
kg. Sabendo que a velocidade na seção de descarga é de 80m/s,
determine o trabalho no eixo da turbina por unidade de massa de
fluido que escoa. Considere o escoamento adiabático.

10) Ar a 110kPa e 50ºC (ρ = 1,19kg/m3) escoa para cima


através de um duto inclinado com 6cm de diâmetro a uma vazão
de 45L/s. O diâmetro do duto é reduzido para 4cm por meio de
um redutor. A variação de pressão através do redutor é medida
por um manômetro de água. A diferença de elevação entre os dois
pontos do tubo onde os dois braços do manômetro estão ligados é
de 0,20m. Determine a altura diferencial entre os níveis de fluido
dos dois braços do manômetro.

156
Camila Pacelly Brandão de Araújo

4
Análise diferencial do
escoamento de fluidos

157
4 Análise diferencial doescoamento de fluidos

4.1 Análise diferencial versus análise integral

Olá, pessoal! Bem-vindos à nossa segunda etapa da análise


do escoamento de fluidos! Vamos começar essa segunda unidade
retomando algumas das principais conclusões que obtivemos da
análise integral dos escoamentos e, em seguida, iremos fazer um
comparativo das razões pelas quais escolhemos uma ou outra
abordagem de estudo do movimento dos fluidos.
A análise de fenômenos envolvendo escoamento fluido por
meio da ferramenta das equações integrais apresenta-se bastante
útil quando se deseja conhecer o comportamento global do fenô-
meno mediante parâmetros como vazão, esforços sobre superfícies,
variações de velocidades médias, entre outros (Figura 67).

Figura 67 – Análise integral para um VC


Fonte: adaptado de Çengel (2008)
Camila Pacelly Brandão de Araújo

A análise de volumes globais torna-se particularmente ade-


quada quando não há interesse em se conhecer, por exemplo, os campos
(velocidade, pressão, temperatura etc.) associados ao escoamento.
Em problemas nos quais os detalhes (vórtices, redemoinhos,
descolamento e transição da camada limite) do escoamento são
determinantes de seu comportamento, as equações integrais tor-
nam-se inadequadas, em função da grande diferença de ordem de
grandeza entre o espaço em que os mesmos ocorrem e as dimensões
do domínio do problema.
Assim, o escoamento deve ter o seu comportamento estu-
dado ponto a ponto, de forma a compreender, controlar e manipular
as variáveis geométricas e físicas que determinam o processo.
Enquanto, na abordagem integral, era possível calcular a força
atuante sobre qualquer elemento que estivesse dentro da caixa
preta que era o volume de controle (Figura 67), sem se preocupar
com o formato dele, na abordagem diferencial, é possível fazer
mudanças em cada detalhe de sua geometria que possa resultar
em melhorias de um ou outro parâmetro, como, por exemplo, a
formação de vórtices após o elemento (Figura 68).

Figura 68 – Análise diferencial


Fonte: adaptado de Çengel (2008)

159
4 Análise diferencial doescoamento de fluidos

Dessa forma, nosso objetivo é o de estabelecer as equações


que governam o escoamento do ponto de vista diferencial que,
após suas soluções (exatas ou numéricas), produzem uma descrição
mais detalhada do escoamento e dos fenômenos associados a ele
em todo domínio de interesse por meio dos campos de velocidade,
de pressão, de temperatura, de densidade, de tensões ou outros.

4.2 Conservação da massa – equação da continuidade

Quando tratamos da análise integral, aplicamos o TTR


a um volume de controle e obtivemos, para a representação da
conservação da massa, a seguinte equação:

dM
⎦ Sistema 1 d 1 V. dA
dt t VC SC

Usando a definição de sistema, podemos obter a equação a


seguir para representá-la:
 
0 d V. dA
t VC SC

A qual podemos escrever como sendo:


 
d V. dA
t VC SC

Ou, de maneira mais simples:

d m m
t VC entradas saídas

160
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Essa relação, deduzida para um volume de controle na pers-


pectiva integral, é válida também para qualquer volume de controle,
por menor que ele seja. Assim, podemos diminuir o volume de
controle até uma quantidade infinitesimal, de tal maneira que
tratemos de um ponto no campo de escoamento (Figura 69).

Figura 69 – Transformação das equações integrais para


a formulação diferencial
Fonte: adaptado de Çengel (2008)

Se considerarmos um volume de controle infinitesimal,


conforme a Figura 70, em coordenadas cartesianas de volume:

d   dx.dy.dz
Cujas propriedades tenham um valor definido no seu centro
geométrico, sejam elas velocidade, massa específica ou qualquer
outra, conforme ilustrado na Figura 70:

161
4 Análise diferencial doescoamento de fluidos

Figura 70 – Elemento infinitesimal e respectivas componentes da


velocidade e valores de massa específica e pressão
Fonte: adaptado de Çengel (2008)

Usando a expansão em série de Taylor para representar o


produto da massa específica pela componente da velocidade em
cada direção, que são quantidades que são expressas na equação da
conservação da massa (da mesma maneira que fizemos na primeira
unidade, lembram? Vocês podem consultar aquele material para
relembrar algum detalhe, se desejarem), temos:

   u  dx 1    u   dx 
2 2

  u direita    u     
x 2 2 ! x 2  2 
Desprezando termos de segunda ordem, temos:

   u  dx
  u direita    u  
x 2

162
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Estendendo esse procedimento para todas as faces do ele-


mento, podemos observar, na Figura 71, os valores relativos a cada
uma delas. Observe que alguns termos apresentam sinal positivo
(sendo relativos a seções de saída), enquanto outros apresentam
sinal positivo para os termos de derivação.

Figura 71 – Expansão em série de Taylor para o produto


componente da velocidade em cada direção
Fonte: adaptado de Çengel (2008)

Retomando a equação de conservação da massa desenvolvida


na perspectiva integral:

d m m
t VC entradas saídas

163
4 Análise diferencial doescoamento de fluidos

E substituindo os termos atualmente desenvolvidos na


perspectiva de diminuição do volume de controle para um VC
infinitesimal, temos o primeiro termo podendo ser expresso por:

 

t VC
d 
t
dx.dy.dz

O termo referente às seções de entrada:


u dx v dy w dz
 dydz v dxdz dydx
entradas x 2 y 2 z 2

E nas seções de saída:


u dx v dy w dz
 dydz v dxdz w dydx
saida x 2 y 2 z 2

De tal maneira que é possível perceber que os termos, sem


a presença de derivada parciais, são cancelados ao substituir na
equação inicial. Isso é ilustrado na Figura 72:

Figura 72 – Manipulação matemática para conservação da massa diferencial


Fonte: autoria própria

164
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Resultando em:

  u  v  w
dxdydz   dxdydz  � dxdydz  dxdydz
t x y z
Cancelando os termos referentes ao volume do volume de
controle infinitesimal, temos:

  u  v  w
   0
t x y z
Essa equação representa a equação da conservação da massa,
ou também chamada de equação da continuidade, em coordenadas
cartesianas.
Utilizando o operador del para esse sistema de coordenadas:

i j k
x y z
Podemos também expressar essa equação como sendo:

  
t
 
 . V  0

Similarmente ao feito no caso integral, em que consideramos


algumas hipóteses simplificadoras para avaliar o comportamento
da equação de conservação da massa, repetiremos o procedimento.
I) Escoamento incompressível: Sabemos que um escoa-
mento incompressível é caracterizado pela constância da massa
específica, não havendo qualquer variação dessa propriedade nem
com respeito às coordenadas espaciais, nem com ao tempo. Assim,
verificamos que a equação da continuidade pode ser expressa como:

165
4 Análise diferencial doescoamento de fluidos

u v w
  0
x y z
Ou
 
 
. V  0

Assim, para averiguar se um escoamento é incompressível,


basta avaliar se o campo de velocidade obedece à relação descrita.
Caso se verifique a igualdade, é possível afirmar que o escoamento
é incompressível.
II) Escoamento em regime permanente: Para escoamentos
em regime permanente, as propriedades são independentes do
tempo. Desse modo, o campo de massa específica, que é designado
normalmente como uma função   f  x, y, z ,� t  , se limita a apre-
sentar, no máximo, a dependência com as coordenadas espaciais,
tal que   f  x, y, z  ; assim:

 u  v  w  
x

y

z
 . V  0  
Similarmente ao realizado em coordenadas cartesianas,
podemos avaliar a conservação da massa em qualquer sistema de
coordenadas geométricas, cilíndricas ou polares, por exemplo.
No caso das coordenadas cilíndricas, usando o volume de
controle infinitesimal apresentado na Figura 73, podemos obter
a equação da continuidade de duas maneiras: ou realizando o
mesmo procedimento descrito anteriormente, o qual está compilado
na Tabela 2, ou simplesmente mudando o operador del para as
coordenadas adequadas, obtendo a equação:

166
Camila Pacelly Brandão de Araújo

  r Vr    V    Vz  


 r r 0
r  z t
Onde é importante observar a necessidade de aplicação da
regra da cadeia na derivação dos termos de derivadas de produtos.

Figura 73 – Volume de controle infinitesimal em coordenadas cilíndricas


Fonte: Adaptado de Fox (2008)

Figura 74 – Conservação da massa em coordenadas cilíndricas –


avaliação de termos
Fonte: adaptado de Fox (2008)

167
4 Análise diferencial doescoamento de fluidos

4.3 Cinemática da partícula fluida

As partículas fluidas estão inseridas em um campo de velo-


cidades que assume valores diferentes em diferentes posições e a
cada instante de tempo (regime transiente ou permanente). Nosso
objetivo agora é o de descrever o movimento das partículas fluidas
no campo de escoamento, para que possamos, em seguida, avaliar
a ação de forças, a relação delas com o campo de tensões etc.
Portanto, a nossa pergunta fundamental nesse momento é:
como se movimenta uma partícula fluida?
Veremos que a partícula fluida “se remexe muito”, estando
sujeita a diferentes valores de velocidade em cada ponto do campo
do escoamento, os quais podem ocasionar sua aceleração, sua
desaceleração, sua deformação linear ou angular e a sua rotação.
Trataremos de cada um desses movimentos isoladamente
agora, apesar de sabermos que todos podem ocorrer simultaneamente.
A Figura 75 ilustra esses componentes do movimento da partícula
fluida de maneira conjunta (esquerda) e isoladamente (direita da seta).

Figura 75 – Componentes do movimento de uma partícula fluida


Fonte: adaptado de Fox (2008)

168
Camila Pacelly Brandão de Araújo

4.3.1 Translação

A translação da partícula fluida diz respeito à sua mudança


de posição desde um instante inicial até um momento posterior, da
mesma maneira que a translação da Terra ao redor do Sol caracte-
riza o seu deslocamento. Então, a translação pode ser compreendida
como o puro deslocamento da partícula desde uma posição inicial
até um local mais adiante no campo de escoamento. A Figura 76
ilustra esse movimento.

Figura 76 – Componentes do movimento de uma partícula fluida


Fonte: adaptado de Duarte (1997)


No instante t inicial, a partícula fluida na posição r está
sujeita ao campo de velocidades naquele ponto, com velocidade
VP t V x, y, z , t . Num instante posterior (t+dt), ela deverá ter se
  
 r + dr , na qual o campo de veloci-
movimentado para uma posição
dade pode ser expresso por VP|t  dt  V  x  dx, y  dy, z  dz , t  dt .
Desse modo, podemos avaliar a variação infinitesimal da
velocidade da partícula fluida para ser:
   
 V V V V
dVP  dt  dx p  dy p  dz p
t x y z

169
4 Análise diferencial doescoamento de fluidos

Uma vez que o campo de velocidades é uma função das


coordenadas espaciais (x, y,z) e do tempo (t). Tomando a taxa de
variação da velocidade, podemos verificar que:

dVP V dt V dx V dy V dz p
dt t dt x dt y dt z dt
dx p dy p dz p
Compreendendo que os termos dt ,� dt ,� dt correspondem
às taxas de deslocamento da partícula fluida em cada uma das
direções, podemos escrever:
   
 V V V V
ap   u v w
t x y z
ou

 DV
ap =
Dt
Percebam que essa forma de derivação é um tanto diferente
da que usualmente estamos habituados a usar. Diz-se que a derivada
material (também chamada de derivada substancial) é uma derivada
tomada ao longo de um caminho movendo-se com velocidade
v. Ela é descrita como a taxa de variação em relação ao tempo
do valor de alguma propriedade (tal como calor ou momento)
de matéria/substância que está sendo transportada – ou seja, de
alguma matéria que está sujeita a um campo de velocidade que
varia no espaço e no tempo.
Podemos interpretar a aceleração de uma partícula fluida
desmembrando-a em dois grandes termos: aceleração convectiva
e aceleração local. A Figura 77 apresenta esquematicamente esses
termos de aceleração da partícula fluida.

170
Camila Pacelly Brandão de Araújo


 V 
O termo de aceleração local contabiliza, como o próprio
 
 t 
nome indica, as variações do campo de velocidades em um mesmo
local (em uma mesma posição) ao longo do tempo. Em escoamentos
em regime permanente, esse termo é nulo, e não existem variações
temporais no campo de velocidade que promovem o surgimento
de aceleração local.
Já o termo referente à aceleração convectiva contabiliza
as variações de velocidade devido às mudanças de posição da
partícula fluida. Em determinado local, o campo lhe atribui uma
velocidade mais baixa, porém, em um local mais adiante (por
qualquer mudança na geometria do escoamento, por exemplo), a
velocidade pode ser maior.

Figura 77 – Aceleração da partícula fluida


Fonte: adaptado de Duarte (1997)

A Figura 78 apresenta um escoamento em regime permanente,


no qual o campo de velocidades sofre variações do valor da compo-
nente u, desde a seção 1 até a seção 2. Perceba que a configuração
geométrica do sistema proporcionou esse aumento de velocidade
de uma seção para outra, ainda que o escoamento ocorresse em
regime permanente. Essa variação de velocidade em decorrência da
mudança de posição das partículas fluidas é contabilizada na forma
de aceleração convectiva.
171
4 Análise diferencial doescoamento de fluidos

Figura 78 – Aceleração convectiva em um escoamento em


regime permanente
Fonte: autoria própria

É importante perceber que a equação descrita para a repre-


sentação da aceleração de uma partícula fluida é uma equação
vetorial. Portanto, pode ser decomposta em suas componentes
nas direções x, y e z para ser:

u u u u
a px   u v w
t x y z

v v v v
a py   u v w
t x y z

w w w w
a pz   u v w
t x y z

Na qual tratamos, ao invés da totalidade do campo de veloci-



dades V , somente das componentes do campo em uma dada direção.

172
Camila Pacelly Brandão de Araújo

4.3.2 Deformação linear

Agora que já entendemos que o campo de velocidades pode


assumir valores distintos em cada ponto do escoamento, apre-
sentando componentes u, v e w em franca variação de valores,
podemos nos dedicar aos efeitos dessas variações. A partir de
agora, vamos trabalhar essencialmente com os efeitos que essas
diferenças nos valores da velocidade em pontos da partícula fluida
podem causar sobre ela.
A deformação linear de uma partícula fluida diz respeito
à taxa de elongação da partícula fluida em cada direção (alonga-
mento/compressão). Durante a deformação linear, não há nenhuma
distorção do elemento, permanecendo retos os ângulos entre os
lados do prisma que identifica a partícula. A Figura 79 ilustra
essa situação para um plano x, y da partícula fluida.

Figura 79 – Deformação linear pura de uma partícula fluida


Fonte: adaptado de Duarte (1997)

173
4 Análise diferencial doescoamento de fluidos

Considere a elongação de um dado segmento de partícula


fluida como a relação entre a variação de dimensão verificada em
relação ao tamanho original do segmento para ser:

t t t
x
xt xt
Tomando a taxa de elongação, temos:

x
x
lim
t t 0 . t

Onde o valor  só existe caso haja diferença entre os


valores da velocidade de pontos diferentes da partícula fluida.
Imagine dois pontos de uma mesma corda, distantes entre si

de um valor igual ao comprimento xt. Considere que ambos os
pontos se movimentam a uma dada velocidade u1. Se, por qualquer
razão, um dos pontos passar a se movimentar com uma velocidade
maior (u2>u1), você concorda que ele tenderá a se distanciar do
outro? Essa situação é ilustrada esquematicamente na Figura 80.
É o que ocorre com a partícula fluida quando ela está sujeita a um
campo de velocidades na qual a componente u adquire valores
diferentes em diferentes pontos.

Figura 80 – Diferenças de velocidade ao longo da direção x para


uma partícula fluida
Fonte: autoria própria

174
Camila Pacelly Brandão de Araújo

A diferença entre as distâncias percorridas por cada ponto


pode ser dada por:

u xt u0 t
Na qual podemos entender a velocidade no ponto ∆xt como
dada pela expansão em série de Taylor do valor conhecido na
origem u0 . Assim:

u u
u ∆ ∆t ∆ ∆
x x
Substituindo:

u
∆ t ∆
x
x lim
∆t 0 ∆ t. ∆ xt

Verificamos que:

u
x 
x
A taxa segundo esta se deforma é contabilizada consideran-
do-se a taxa de deformação relativa sofrida por cada um destes
lados, assim:

v
y 
y

w
z 
z

175
4 Análise diferencial doescoamento de fluidos

Para a totalidade da partícula fluida, podemos considerar


uma taxa de dilatação volumétrica para ser dada pelo somatório
das deformações lineares em cada direção, tal que:
u v w
.V taxa de dilatação volumétrica
x y z
Perceba que a expressão para a estimativa da taxa de dilata-
ção volumétrica de uma partícula fluida é uma quantidade escalar
cuja expressão muito se assemelha à equação da continuidade
para escoamentos incompressíveis. Nestes, se verifica que a taxa
de dilatação volumétrica é nula.

4.3.3 Rotação

Uma partícula, ao mover-se em um escoamento, também


pode, simultaneamente, rotacionar em torno de cada um dos
eixos coordenados.
Assim como a deformação linear, a rotação não altera
qualquer característica dos ângulos internos da partícula fluida,
permanecendo-os retos. A Figura 81 ilustra o processo para um
elemento no plano x-y, que rotaciona em torno do eixo z.

Figura 81 – Rotação pura da partícula fluida em torno do eixo z


Fonte: adaptado de Duarte (1997)

176
Camila Pacelly Brandão de Araújo

A rotação é provocada pelo fluido na vizinhança da partícula. É


a componente tangencial desta ação que provoca a rotação do elemento,
sendo medida pela velocidade angular. Essa grandeza é definida como
uma grandeza vetorial que representa a taxa de rotação média de duas
retas, perpendiculares entre si, que se interceptam em um ponto.
Para cada plano considerado, esta velocidade é definida como
a média das velocidades angulares de duas linhas mutuamente
perpendiculares que identificam a partícula. Considere a partícula
fluida apresentada na Figura 82, inicialmente descrita conforme
a imagem da esquerda. Mediante sua rotação ao longo do eixo z,
uma quantidade angular α é percorrida no sentido anti-horário pela
reta o-a, sendo a quantidade Δη o seu correspondente em distância
linear. Já para a reta o-b, o ângulo β é varrido, sendo a distância Δε
o seu correspondente linear.

Figura 82 – Rotação de uma partícula fluida em torno de z


Fonte: autoria própria

Percebemos, pela definição da velocidade angular, que:

1
z  oa  ob 
2
Assim, devemos obter expressões para cada uma das retas
ωoa e ωob .

177
4 Análise diferencial doescoamento de fluidos

Sendo a velocidade angular ωoa dada pelo ângulo varrido


em um intervalo de tempo, podemos escrever:


oa
∆t
Para ângulos pequenos


tan
∆x
Assim,


∆x
oa
∆t
Perceba que a rotação do eixo o-a e a deflexão Δη são conse-
quências da diferença de valores da componente v observada entre os
pontos extremos deste eixo (o e a). A Figura 83 ilustra essa situação.
Pode-se observar que, caso exista uma diferença de velocidades entre
esses pontos, ela produzirá um momento resultante.

Figura 83 – Variação de valores da componente v da velocidade


Fonte: autoria própria

178
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Assim, a quantidade Δη representa a diferença entre os


percursos na direção y dos pontos o e a que ocorreram durante
o intervalo Δt.

∆ va vo ∆t

Sendo

v
va vo ∆x
x
Logo:

v
∆x
x ∆t
∆ ∆x
∆x v
oa
∆t ∆t x
O mesmo raciocínio pode ser aplicado para a reta o-b e, de
maneira análoga, podemos calcular:


ob
∆t

tan
∆y

E descrevermos ∆ε como decorrente das variações do com-


ponente da velocidade. Porém, há de se notar que, nesse caso, a
componente u da velocidade no ponto b, para promover uma
rotação no sentido proposto pela Figura 82, deve apontar no sentido
do eixo x negativo. Assim,

179
4 Análise diferencial doescoamento de fluidos

∆ ub u0 ∆t
Sendo

u
ub u0 ∆y
y
Portanto,

u
Δy
y
Δt
Δ Δy
Δy u
ob
Δt Δt y
De posse dessas duas informações, podemos substituir na
definição de velocidade angular:

1
z  oa  ob 
2
Para obter

1 v u
z
2 x y
O mesmo procedimento pode ser realizado para avaliar a
velocidade angular com respeito à rotação em torno do eixo x e
y, para ser:

1 w v
x
2 y z

180
Camila Pacelly Brandão de Araújo

1 u w
y
2 z x
Logo, podemos descrever o vetor velocidade angular de
uma partícula fluida para ser:

 1 w v ^ u w ^ v u ^
i j k
2 y z z x x y
Essa equação estabelece a relação entre a intensidade de rota-
ção de uma partícula e o rotacional do vetor velocidade. Podemos
escrever que o vetor velocidade angular resulta do produto vetorial
do operador del sobre o campo de velocidade, produzindo um vetor:

 1 
xV
2
Nessa perspectiva, podemos entendê-lo como sendo calcu-
lado a partir do determinante da seguinte matriz:

 1  1 ^^^
xV i jk uvw
2 2 x y z
A existência do fenômeno de rotação das partículas é con-
sequência da ação de esforços tangenciais.
Desse modo, na condição de escoamento irrotacional, não
se verificam tensões tangenciais que, por sua vez, implicam na
ausência de deformação angular. A condição de escoamento não
rotacional somente é verificada quando se trata de escoamento
de fluido ideal ou não viscoso. Matematicamente, essa condição
resume-se simplesmente à expressão:

181
4 Análise diferencial doescoamento de fluidos


xV 0
Observe que a característica viscosa de um escoamento induz,
necessariamente, a ocorrência de rotação das partículas fluidas.

4.3.4 Deformação angular

Diferentemente dos modos anteriores de movimentação


da partícula fluida, a deformação angular impõe mudanças nos
ângulos originais da partícula fluida ou em linhas imaginárias dela.
Se tomarmos novamente a partícula fluida infinitesimal
representada na Figura 84, podemos perceber que a taxa segundo
o elemento se deforma é determinada pela velocidade com que o
ângulo γ entre as retas o-a e o-b varia. Este ângulo decresce de
forma inversamente proporcional ao crescimento dos ângulos β e
α, ou seja, na medida em que β e α aumentam, o ângulo γ formado
entre elas diminui.

d  d d 
  
dt dt dt

Figura 84 – Partícula fluida em deformação angular pura


Fonte: autoria própria

182
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Similarmente ao desenvolvido no caso do movimento de


rotação pura, a taxa de variação do ângulo α será dada por:


d ∆ ∆x
dt ∆t ∆t
O qual pode ser expresso por:

v
∆x
x ∆t
∆x
d v
dt ∆t x
Para o ângulo β, realizando o mesmo desenvolvimento,
podemos chegar em:


d ∆ ∆y
dt ∆t ∆t
Porém, diferentemente do caso da rotação, para que haja a
deformação linear, a componente u da velocidade deve apontar
para a direção do x positivo.
Assim,

∆ ub u0 ∆t

u
ub u0 ∆y
y

183
4 Análise diferencial doescoamento de fluidos

E,

u
∆y
y
∆t
∆ ∆y
d ∆y u
dt ∆t ∆t y

Logo:

d v u
  
dt xy x y

Nos demais planos, podemos obter também:

d u w
  
dt xz z x
E

d w v
  
dt yz y z

4.4 Conservação do momento linear

Sobreviveu até aqui? Ótimo! Já estamos quase acabando


nossa análise diferencial do escoamento de fluidos!
Lembra que, no início da disciplina, prometemos trabalhar
fundamentalmente com as forças que atuam sobre uma partícula
fluida e os efeitos dessas forças sobre seu movimento ou repouso?
É o que faremos agora.

184
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Uma vez que já temos em mãos informações sobre como uma


partícula fluida pode acelerar, então, podemos utilizar a Segunda
Lei de Newton para modelar a relação entre a ação das forças e o
movimento da partícula fluida.

  dP
F m=
= .a |Sistema
dt
Para uma partícula infinitesimal, podemos escrever:

 DV
dF = dm.
Dt

DV
Onde Dt representa a aceleração da partícula fluida, con-
forme apresentamos na seção 3.1. Assim:

   
 V V V V
dF dm u v w
x y z t

Descrevendo a massa infinitesimal da partícula fluida em


termos do volume do volume de controle infinitesimal e da massa
específica do fluido, temos, portanto:
   
 V V V V
dF .dx.dy.dz u v w
x y z t

Esse já é um excelente começo! Resolvemos metade do nosso


problema com bastante simplicidade, não foi mesmo? Vamos,
agora, analisar a composição de forças que podem estar atuando
sobre a partícula fluida?

185
4 Análise diferencial doescoamento de fluidos

Como dissemos no início da nossa conversa sobre Mecânica


dos Fluidos, existem dois tipos de forças que podem estar atuando
sobre uma massa qualquer de fluido: forças de campo (FB) e forças
de superfície (Fs). Definimos as forças de superfície como aquelas
que surgem da interação entre a partícula e o fluido na vizinhança
dessa partícula, e as forças de campo como aquelas que surgem
em decorrência da presença de campos – gravitacional, magnético
ou outros – que agem sobre a massa fluida da partícula.
Portanto:
   
 Fpart  FB  Fs
Na maioria das situações aplicadas, o campo gravitacional
configura-se no único campo que age sobre fluidos em escoa-
mentos. Dessa forma:
  
dFB  Bdm  g . .dx.dy.dz
Como essa é uma equação vetorial, podemos escrever uma
para cada uma das componentes dos eixos coordenados. Conforme
indicado na Figura 85, a aceleração pode apresentar componentes
em mais de um eixo, a depender da orientação espacial da partícula
fluida no campo de escoamento.

186
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Figura 85 – Decomposição da força de campo gravitacional para


uma partícula fluida
Fonte: adaptado de Çengel (2008)

 
FBx  g x . .dx.dy.dz
 
FBy  g y . .dx.dy.dz
 
FBz  g z . .dx.dy.dz

As forças de superfície, por sua vez, subdividem-se nas


componentes normal e tangencial e, para contabilizá-las, nos uti-
lizamos do tensor de tensões que foi descrito na primeira unidade.

 xx � � xy  xz � � yx  yy � � yz  zx � � zy  zz � 

187
4 Análise diferencial doescoamento de fluidos

Porém, como já vem se tornando praxe nos nossos desen-


volvimentos, consideramos que, no centro da partícula fluida,
possamos tomar os valores dessas tensões conforme o descrito
pelo tensor, mas precisamos usar a expansão em série de Taylor
(novamente, eu sei!) para avaliar os valores de cada uma delas em
cada face da partícula fluida.
Vamos fazer isso? Considere as tensões referentes à direção x
mostradas na Figura 86. A expansão em série de Taylor dessas tensões
para cada uma das faces (+dx/2 e –dx/2) está descrita na figura.

Figura 86 – Tensões em cada uma das faces da partícula fluida para a direção X
Fonte: adaptado de Çengel (2008)

Somando todas as parcelas para a direção x, temos:

(formula)

A qual resulta em:

188
Camila Pacelly Brandão de Araújo

yx
dFsx xx zx
dxdydz
x y z
Para as direções y e z, temos, realizando o mesmo procedimento:

xy yy zy
dFsy dxdydz
x y z

yz
dFsz xz zz
dxdydz
x y z
A Figura 87 ilustra a composição da equação da Segunda
Lei de Newton, contabilizando todas essas parcelas para as três
componentes.

Figura 87 – Composição de forças de campo e superfície e suas


componentes para uma partícula fluida
Fonte: autoria própria

Cancelando os termos referentes ao volume da partícula


fluida e decompondo o termo de aceleração da partícula em suas
componentes em cada uma das direções, podemos obter o ilustrado
na Figura 88.

189
4 Análise diferencial doescoamento de fluidos

Figura 88 – Somatório de forças atuando sobre uma partícula fluida


Fonte: autoria própria

Esse conjunto de equações representa as equações de con-


servação da quantidade de movimento no interior de fluidos que
admitem a hipótese do contínuo.
Para completá-las, no entanto, são necessárias equações que
correlacionem as tensões normal e tangencial ao campo de velocidade,
de modo a se obter equações diferenciais para u, v e w. Tais equações
representam as relações entre o estado de deformação do fluido e o
campo de tensões observado e denominam-se equações constitutivas.
Uma equação desse tipo é bastante conhecida por nós e a
utilizamos desde o começo do nosso estudo em Mecânica dos Fluidos.
A Lei da Viscosidade de Newton relaciona a tensão cisalhante à taxa
de deformação do fluido, a qual se expressa por meio da derivada do
perfil de velocidades para um escoamento unidimensional, como:

du
 xy  
dy

190
Camila Pacelly Brandão de Araújo

4.5 Equações de Navier-Stokes

O conjunto de equações denominado Equações de Navier-


Stokes representa as equações de conservação da quantidade
de movimento para o escoamento de fluidos newtonianos e
incompressíveis.
Para um escoamento tridimensional, podemos relacionar
as tensões cisalhantes com a taxa de deformação angular para ser:

v u
yx xy
x y

w v
yz zy
y z

u w
zx xz
z z
Para as tensões normais, a seguinte relação pode ser usada
para relacioná-las com as componentes da velocidade:
2 u
xx p .V 2
3 x

2 v
yy p .V 2
3 y

2 w
zz p .V 2
3 z

191
4 Análise diferencial doescoamento de fluidos

Sendo o escoamento incompressível, vimos na seção 3.1 que a


taxa de dilatação volumétrica da partícula fluida era nula .
Assim, podemos escrever, substituindo, na equação da conservação
do movimento, as relações das forças de superfície descritas ante-
riormente, para a direção x:

p u v u u w Du
gx 2
x x x y x y z z x Dt

A qual pode ser reescrita para ser conforme descrito a seguir,


quando separamos todos os termos derivativos isoladamente:
2 2 2 2 2
p u u v u u w Du
gx.
x x2 x2 y x y2 z2 z x Dt

Compreendendo que a ordem de derivação para uma função


exata não impõe qualquer diferença, podemos escrever:
2 2 2 2 2
p u u u u v w Du
gx.
x x2 y2 z2 x2 x y x z Dt

A qual podemos tornar:


2 2 2
p u u u u v w Du
gx
x x2 y2 z2 x x y z Dt
Se nos recordarmos que o escoamento é incompressível, a
equação da continuidade impõe que:

u v w
  0
x y z
E nos resta:
2 2 2
p u u u Du
gx
x x2 y2 z2 Dt

192
Camila Pacelly Brandão de Araújo

ou
2 2 2
p u u u u u u u
gx u v w
x x2 y2 z2 t x y z
O mesmo pode ser feito para as direções y e z para obtermos:

(formula)
2 2 2
p w w w w w w w
gz u v w
z x2 y2 z2 t x y z

4.6 Equação de Euler

As equações de Euler resultam da consideração de que o


fluido incompressível que escoa é também um fluido invíscido,
ou seja, os efeitos viscosos podem ser desprezados.
Dessa maneira, podemos simplificar as equações de Navier-
Stokes para obtermos:

p u u u u
g x .    u v w
x t x y z

p v v v v
gy     u v w
y t x y z

p w w w w
gz     u v w
z t x y z

193
4 Análise diferencial doescoamento de fluidos

Resumo

Neste capítulo, utilizamos a equação de conservação da massa


descrita na formulação integral para obter expressão equivalente em
uma formulação diferencial. Além disso, foram avaliados os modos
pelos quais uma partícula fluida pode se movimentar em um campo
de escoamento; assim, descrevemos os fenômenos de translação, de
rotação, de deformação linear e de deformação angular.
Também exploramos ideias referentes a como determinar se
um escoamento é incompressível usando o campo de velocidade e,
dada uma componente da velocidade de um campo de escoamento
incompressível e bidimensional, como deduzir as outras compo-
nentes da velocidade. Em seguida, aplicamos esses conceitos para
avaliar as forças atuantes sobre uma partícula de fluidos com uso
da Segunda Lei de Newton, de tal modo que obtivemos as equações
para conservação do momento linear diferencial. Aplicamos essa
equação para um fluido incompressível e newtoniano e obtivemos
as equações de Navier-Stokes. Consideramos, então, o caso invíscido
para obtermos as expressões de Euler.

Exercícios

1) Uma série de experimentos realizados num escoamento


tridimensional e incompressível indicou que u = 6xy² e v = -4y²z.
Entretanto, os dados relativos à velocidade na direção z apresentam
conflitos. Um conjunto de dados experimentais indica que w = 4yz²
e outro indica w = 4yz² - 6y²z. Qual dos dois conjuntos é o correto?
Justifique sua resposta.

2) Os conjuntos de equações a seguir representam possíveis


casos de escoamento incompressível?

194
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Vr Ucos

2 2
a a
Vr Ucos V Usen
r r

3) A componente x da velocidade em um campo de escoa-


mento permanente e incompressível, no plano xy, é u = A/x, onde
A = 2m2/s e x é medido em metros. Determine a mais simples
componente y da velocidade para esse campo de escoamento.

4) Uma aproximação grosseira para a componente x da


velocidade em uma camada limite laminar e incompressível é uma
variação linear de u = 0 na superfície (y = 0) até a velocidade de
corrente livre, U, na borda da camada limite (y = δ). A equação do
perfil é u = Uy/δ, onde δ = cx (1/2), sendo c uma constante. Mostre
que a expressão mais simples para a componente y da velocidade
é v = uy/4x. Avalie o valor máximo da razão v/U (que ocorre em
y = δ) em um local onde x = 0,5 m e δ = 5 mm.

5) Uma aproximação útil para a componente x da velocidade


em camada limite laminar e incompressível é uma variação para-
bólica de u = 0 na superfície (y = 0) até a velocidade de corrente
livre, U, na borda da camada limite (y = δ). A equação do perfil é
2
u  y  y
 2      , onde   cx1/ 2 , sendo c uma constante. Mostre
U    
que a expressão mais simples para a componente y da velocidade é:
2 3
v 1 y 1 y
U x 2 3

195
4 Análise diferencial doescoamento de fluidos

6) Considere o campo de velocidade no plano xy:


 2 ^ ^
V A x4 6 x2 y y4 i A 4 xy 3 4 x ^ 3 y j

onde A = 0,25 m-3s-1 e as coordenadas são medidas em metros.


Este é um possível campo de escoamento incompressível? Calcule
a aceleração de uma partícula fluida no ponto (x, y)=(2,1).

7) Um escoamento é representado pelo campo de velocidade


V 10 xi 10 y j 30k . O escoamento é uni, bi ou tridimensional?
É incompressível? É rotacional?

8) Um fluido incompressível escoa entre duas placas para-


lelas verticais (separadas pela distância “b”). A da esquerda está
fixa e a outra move-se para cima com velocidade constante, V0.
Considerando-se o fluido newtoniano (μ = cte) e o fluxo laminar,
determine o perfil de velocidade e de tensão de cisalhamento para
este escoamento (unidirecional e permanente).

9) Um amortecedor a gás na suspensão de um automóvel


comporta-se como um dispositivo pistão-cilindro.
No instante em que o pistão está afastado de uma distância
L = 0,20m da extremidade fechada do cilindro, a massa específica
do gás ρ = 19kg/m³ é uniforme e o pistão começa a se mover, afas-
tando-se da extremidade fechada do cilindro com uma velocidade
V = 15m/s.
O movimento do gás é unidimensional e proporcional à
distância em relação à extremidade fechada; varia linearmente de
zero, na extremidade, a u = V no pistão. Avalie a taxa de variação
da massa específica do gás nesse instante.

196
Camila Pacelly Brandão de Araújo

10) Um líquido escoa para baixo sobre uma superfície plana


inclinada em um filme laminar, permanente e completamente
desenvolvido, de espessura l. Descreva esse escoamento a partir de
simplificações das equações de Navier-Stokes para obter expressões
para o perfil de velocidades no filme líquido, a distribuição de
tensões de cisalhamento e a vazão volumétrica.

197
5

5
Análise dimensional

198
5 Análise dimensional

5.1 Introdução

Olá, pessoal! Bem-vindos à nossa terceira e última unidade


do curso de Mecânica dos Fluidos. Agora, nós vamos nos distan-
ciar um pouco da nossa realidade puramente teórica para nos
aproximarmos mais da experimentação em Mecânica dos Fluidos.
É bem verdade que as ferramentas desenvolvidas na unidade
anterior – análise integral e análise diferencial – são fundamen-
tais para a compreensão dos fenômenos envolvidos em um dado
escoamento fluido. Alguns processos, contudo, são complexos
demais para prover uma solução analítica simples, ou o excesso
de simplificação (para permitir chegar a uma solução analítica)
pode ocasionar perda na compreensão dos fenômenos envolvidos.
Veremos que a análise dimensional é uma ferramenta pode-
rosa, que permitirá que estabeleçamos relações entre as variáveis
de interesse do problema e façamos uma abordagem experimental
mais racional e com menos custos do que faríamos na sua ausência.
Além disso, veremos que, com o uso dessa ferramenta, seremos
capazes de descartar naturalmente as variáveis que não são impor-
tantes para o estudo de um dado processo e poderemos, também,
aumentar ou diminuir a escala de um dado experimento.
Finalmente, poderemos analisar os problemas de escoa-
mentos mais complexos de maneira mais simples e completa, sem
perda de fidelidade ao processo real, com o seu auxílio.
Vamos trabalhar?
5 Análise dimensional

5.2 Homogeneidade dimensional

Antes de começarmos a falar em análise dimensional e em


como achar os grupos adimensionais que caracterizam um dado
problema físico, é importante que reconheçamos duas coisas: a
existência de dimensões – e que possamos identificá-las – e de
grandezas de base que as representam.
Devemos ter em mente os seguintes conceitos de maneira clara:
Dimensão: é uma medida de uma quantidade física (sem
valores numéricos);
Unidade: é a forma de atribuir um número à dimensão.
Assim, para a dimensão comprimento, por exemplo, pode-
mos usar várias unidades (ft, km, cm, m, jardas etc.). A Figura 89
ilustra esse exemplo.

Figura 89 – Dimensão versus unidade de medida


Fonte: adaptado de Çengel (2008)

Um sistema de unidades, como SI ou o sistema inglês, é


formado por um conjunto de grandezas primárias ou básicas que
não dependem de qualquer outra para serem definidas. Para o SI,
por exemplo, temos a grandeza de comprimento sendo representada
pela unidade padrão metros (m). Em um outro sistema de unidades,

200
Camila Pacelly Brandão de Araújo

como o inglês, essa mesma grandeza é representada pela unidade


padrão pés (ft). A Figura 90 apresenta as unidades que representam
as sete grandezas primárias nas quais o SI se baseia.

Figura 90 – SI e suas grandezas e unidades básicas


Fonte: autoria própria

Todas as dimensões não primárias podem ser formadas


por alguma combinação dessas sete. A Segunda Lei de Newton,
por exemplo, apresenta uma forma de relacionar a massa com o
tempo e o comprimento para produzir uma dimensão ou grandeza
secundária nesse sistema. Assim, no SI, a grandeza força é uma
grandeza secundária obtida pela relação:

 F  m.a
Na qual podemos observar que há uma relação entre as
dimensões M, L e t conforme:

 L
F  M. 2 
 t 
Já no sistema inglês, que tem como grandezas de base força,
comprimento e tempo (F, L e t), podemos observar que a Segunda Lei
de Newton nos proporciona a massa como uma grandeza secundária:

201
5 Análise dimensional

F
m
L
 2
t 
É importante, também, lembrar que, em uma dada equação
física, ambos os lados da igualdade devem apresentar a mesma
dimensão física e que todo termo aditivo de uma equação deve
apresentar as mesmas dimensões, para que ela seja homogênea
dimensionalmente.
Além disso, quando utilizamos uma equação qualquer, é fun-
damental verificar se todos os termos também apresentam as mesmas
unidades. Isso porque, se na Equação de Bernoulli apresentada a
seguir, um termo estiver expresso em unidades de comprimento,
como o metro, e outro resulte uma quantidade em centímetros,
obviamente a adição desses termos resultará em um valor incorreto.
Afinal, não podemos somar maçãs e melancias e achar que vai estar
tudo certo no final. A Figura 91 ilustra essa situação.

Figura 91 – Homogeneidade dimensional na soma de frutas


Fonte: autoria própria

v1² p1 v2² p2
z1 z2
2g 2g

202
Camila Pacelly Brandão de Araújo

5.3 Análise dimensional

Agora que já podemos confortavelmente avaliar as dimensões


de qualquer quantidade que tenhamos interesse, temos condições
para começar a trabalhar na perspectiva de análise dimensional.
Em engenharia, os projetos de Mecânica dos Fluidos con-
sideram o uso de muitos resultados experimentais. Estes dados
são frequentemente difíceis de apresentar num formato de fácil
acesso e compreensão. Até mesmo os gráficos destes resultados
são difíceis de interpretar.
Imagine a situação em que se deseje estudar o escoamento
de um fluido ao redor de um corpo rombudo – como uma bola,
por exemplo. Evidentemente, esperamos que a força de arrasto
dependa do tamanho da esfera (caracterizado pelo diâmetro D), da
velocidade do fluido V e da sua viscosidade μ. Além disso, a massa
específica do fluido, ρ, também pode ser importante. Representando
a força de arrasto por F, podemos escrever a equação simbólica:

F  f  D,  ,  , V 
Um experimentador, então, poderia supor que o caminho
para avaliar esse processo passaria por realizar um número de
ensaios com o escoamento de diferentes fluidos (mudando a massa
específica do fluido e mantendo a viscosidade, e vice-versa) ao
redor da esfera (de diferentes diâmetros), conforme as Figuras 92
e 93 apresentam.

203
5 Análise dimensional

Figura 92 – Experimentação envolvida no estudo do escoamento ao


redor de uma esfera
Fonte: adaptado de Brunetti (2002)

Figura 93 – Descrição dos experimentos e dados para o problema do


escoamento ao redor da esfera
Fonte: adaptado de Brunetti (2002)

Poderíamos estabelecer um procedimento experimental para


a determinação da dependência de F em relação a V, D, ρ e μ. Para
verificar como o arrasto F é afetado pela velocidade V, colocaríamos
a esfera em um túnel de vento e mediríamos F para uma faixa de
valores de V. Em seguida, faríamos mais testes para explorar o efeito
de D sobre F, utilizando esferas com diâmetros diferentes.

204
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Já estaríamos gerando uma grande quantidade de dados: se


fizermos experimentos em um túnel de vento com 10 velocidades
diferentes e 10 tamanhos de esferas diferentes, teríamos dados de
100 pontos experimentais. Poderíamos apresentar estes resultados
sobre um gráfico (por exemplo, 10 curvas de F em função de V, uma
para cada tamanho da esfera), mas um bom tempo seria consumido
na obtenção dos dados se considerarmos que cada experimento
consome 1/2 hora – já teríamos acumulado 50 horas de trabalho!
E ainda não terminamos – em um tanque de água, deveríamos
repetir todos esses experimentos para valores diferentes de ρ e de μ.
Nesta etapa, talvez fosse necessário pesquisar meios de
utilizar outros fluidos, de modo a criar condições de testes em uma
faixa de valores de ρ e de μ (digamos, 10 valores de cada). Findos
os testes (de fato, ao final de 2 anos e meio, com a semana de 40
horas!), teríamos realizado em torno de 104 testes experimentais.
Em seguida, viria a etapa de tratamento de dados e análise
de resultados: como traçaríamos gráficos de F em função de V,
tendo D, ρ e μ como parâmetros? Essa seria uma tarefa gigantesca,
mesmo sendo o fenômeno relativamente simples como o arrasto
sobre uma esfera!
Felizmente, não temos que fazer todo esse trabalho.
A análise dimensional fornece uma estratégia para escolher
dados relevantes e a forma de serem apresentados. Trata-se de uma
técnica útil aplicada aos resultados experimentais de diferentes
áreas de Engenharia, ou seja, não é exclusiva para a Mecânica
dos Fluidos.
Numa experiência, devem ser identificados os fatores envol-
vidos na situação física para que a análise dimensional possa avaliar
o relacionamento entre eles com o uso de parâmetros adimensio-
nais. A análise dimensional é uma ferramenta que nos permite
obter o máximo de informação com um mínimo de experiências.

205
5 Análise dimensional

Os parâmetros adimensionais obtidos podem, também, ser usados


para correlacionar os dados para apresentação sucinta, usando o
número mínimo possível de gráficos.

O resultado da análise dimensional sobre um


problema é uma equação relacionando a forma
como os fatores físicos interagem

5.4 Teorema dos π’s de Buckingham

O Teorema dos grupos π adimensionais de Buckingham


proporciona um algoritmo para determinar os parâmetros adi-
mensionais relacionados com uma dada situação física que se
deseje analisar. Assim como qualquer algoritmo, ele envolve uma
sequência de etapas que precisam ser vencidas na ordem proposta,
para que a resposta seja alcançada.
Sabemos que uma equação dimensionalmente homogênea
que envolve k variáveis pode ser reduzida a uma relação de k-j
produtos adimensionais independentes, onde j é o número mínimo
de dimensões de referência necessário para descrever as variáveis.
Portanto, o procedimento proposto envolve expressar ini-
cialmente a relação funcional entre as variáveis que se relacionam
com um dado problema físico na forma:

x  f  x1 , x2 , x3 , .xn 
Como

f x, x1 , x 2 x 3 ..xn

206
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Sendo a dimensão do lado direito da equação igual à dimen-


são do lado esquerdo (para que a homogeneidade dimensional seja
mantida), podemos escrever esse conjunto dimensional na forma
de menos parâmetros adimensionais, tal que:

, ,
Sendo essa quantidade k de parâmetros adimensionais
menor que o número inicialmente considerado n.
A diferença entre o número necessário de parâmetros adi-
mensionais П (k) e o número de variáveis original (n) é igual a j,
sendo j o número mínimo de dimensões de referência utilizado
para descrever todas as variáveis originais da equação.
Tipicamente j = 3 = MLT ou FLT, mas essa não é uma regra!

Algoritmo:
a) Listar os parâmetros do problema e contar seu
número total n
Nessa etapa, deve-se incluir qualquer quantidade (incluindo
constantes dimensionais e adimensionais) que se considere impor-
tante para o fenômeno investigado. Geralmente, nos problemas
de mecânica dos fluidos, devemos incluir variáveis:

• Geométricas
• De propriedades dos fluidos
• Efeitos externos

b) Listar as dimensões primárias dos n parâmetros


identificados no item a
Nessa etapa, é importante escrever cada um dos parâmetros
do item a em termos de suas dimensões primárias (usando qualquer
um dos sistemas: FLT ou MLT).

207
5 Análise dimensional

c) Definir a redução j como o número de dimensões


primárias do problema.
Nessa etapa, deve-se contar o número de dimensões primá-
rias que caracterizam os parâmetros que você identificou.

d) Calcular k, o número esperado de parâmetros


adimensionais π's k = n-j

e) Escolher os j parâmetros repetidos


A escolha dos parâmetros repetidos é crucial para o sucesso
do processo. Algumas regras gerais devem ser obedecidas e outras
ferramentas para uma escolha interessante surgem da prática e do
exercício. Há de se considerar, por exemplo, que:
• Os parâmetros repetidos devem poder formar, ao serem
combinados com cada uma das restantes, um termo adimensional;
• Os parâmetros repetidos devem conter todas as dimensões
de referência que foram listadas no item b;
• Os parâmetros repetidos não podem formar, por si sós,
um grupo adimensional;
• É interessante escolher pelo menos um parâmetro que
caracterize cada um dos grandes grupos de variáveis presentes
nos problemas de Mecânica dos Fluidos: propriedades dos fluidos,
efeitos externos e geometria.

f) Determinar os k Пs e manipulá-los

g) Escrever a relação funcional final e checar os cálculos

208
Camila Pacelly Brandão de Araújo

5.5 Semelhança entre modelos

Agora que já sabemos como determinar que grupos adimen-


sionais são relevantes para um dado fenômeno físico, podemos usar
essa informação para fazer aumentos (ou diminuição) de escala.
Retomando a ideia do escoamento sobre uma esfera, rea-
lizando-se a análise dimensional daquele processo poderíamos
verificar que a força de arrasto observada depende fundamental-
mente do número de Reynolds, e essa relação pode ser expressa
graficamente conforme a Figura 94. Assim, a mudança de qualquer
variável do processo (D, ρ , μ, V) resultaria, igualmente, em mudar
o número de Reynolds que caracteriza o regime de escoamento,
de tal maneira que não faria mais sentido usar milhares de fluidos
diferentes para avaliar o processo, mas sim, formas quaisquer de
se modificar o parâmetro adimensional como um todo.

Figura 94 – Relação entre arrasto e número de Reynolds para o


escoamento sobre uma esfera
Fonte: adaptado de Fox (2008)

Essa racionalização da experimentação é um dos grandes


pontos positivos da ferramenta de análise dimensional. Outro
ponto positivo é o que estudaremos agora.

209
5 Análise dimensional

De posse dos parâmetros adimensionais que são pertinentes


ao fenômeno físico, podemos transpor os resultados obtidos em
ensaios com modelos em escala para as condições de operação
do protótipo (real).
Nós nos valemos dos critérios de semelhança para que esse
processo seja realizado de maneira segura. Semelhança é o estudo
da previsão das condições de um protótipo a partir das observações
de modelos. O princípio da similaridade dá confiança ao engenheiro
com relação ao aumento de escala do seu processo ou projeto.
O uso de modelos facilita nos casos em que os protótipos
são muito grandes e pequenos também. É necessário desenvolver
os meios pelos quais uma quantidade medida no modelo possa
ser usada para prever as quantidades associadas no protótipo.
Similaridade geométrica: Todas as dimensões características
do problema devem, em escala apropriada, ser mantidas, ou seja,
existe um fator de escala que relaciona as dimensões geométricas
de um modelo com as dimensões do protótipo. A Figura 95 ilustra
isso para uma casa modelo (15m) (escala de 1:100) com relação à
casa protótipo (15cm).
Dmodelo
  fator � de
� escala  �
D � protótipo

Figura 95 – Critério de similaridade geométrica


Fonte: autoria própria

210
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Similaridade cinemática: A velocidade em determinado


ponto do escoamento do modelo deve ser proporcional à velocidade
no ponto correspondente de escoamento do protótipo. A Figura 96
ilustra isso para um carro de Fórmula 1 modelo (280km/h) com
relação ao carro protótipo (100km/h). Lembrando que velocidade
é uma quantidade vetorial; essa condição de similaridade impõe
tanto a proporcionalidade para o módulo da velocidade quanto a
obrigatoriedade da mesma direção. Assim, essa condição representa
que a razão de velocidades seja constante entre todos os pontos
correspondentes dos escoamentos.

Vmodelo
  fator � de
� escala  � 
Vprotótipo

Figura 96 – Critério de similaridade cinemática


Fonte: autoria própria

Similaridade dinâmica: Todas as forças de escoamento


atuando no modelo devem ser proporcionais, por um fator de
escala constante, às forças de escoamento atuantes no protótipo.
É quando as forças que agem em massas correspondentes no
escoamento do modelo e no escoamento do protótipo estão na
mesma razão em toda a extensão do escoamento. Essa condição
é ilustrada na Figura 97, na qual se observa a ação de uma força

211
5 Análise dimensional

Fp no protótipo (magnitude indicada pelo comprimento da seta)


em relação à força Fm correspondente, no modelo (magnitude
diminuída, e indicada pela seta).

Figura 97 – Critério de similaridade dinâmica


Fonte: autoria própria

“Para garantir a similaridade completa, o


modelo e o protótipo devem ser geometricamente
similares e todos os grupos П independentes
devem coincidir no modelo e no protótipo.”
(ÇENGEL, 2007, p. 239).

5.6 Grupos adimensionais importantes

Durante o desenvolvimento da Mecânica dos Fluidos e de


outras ciências, vários grupos adimensionais importantes para a
engenharia foram identificados.
Alguns desses grupos são tão fundamentais e ocorrem com
tanta frequência que é importante que lhe dediquemos algum tempo
para compreensão de suas definições e suas aplicações. O entendi-
mento do significado físico desses grupos permite que possamos
compreender mais amplamente os fenômenos que estudamos.

212
Camila Pacelly Brandão de Araújo

As forças encontradas nos fluidos em escoamento incluem


as de inércia, de viscosidade, de pressão, de gravidade, de tensão
superficial e de compressibilidade. A razão entre duas forças quais-
quer será adimensional.
Podemos demonstrar que a força de inércia pode ser expressa:

Outras forças podem também ser descritas de maneira similar,


tais como:

213
5 Análise dimensional

Podemos, agora, comparar as intensidades relativas das


várias forças fluidas em relação às forças de inércia, conforme a
Tabela 2:

VL 
Fviscosa /Finércia 2 2

L V  LV 2

pL2 p
Fpressão /Finércia
L2V 2 V2

 gL3 gL
Fgravidade /Finércia 
 L2V 2 V 2
L 
Ftensão superficial /Finércia 
 L2V 2  LV 2

Ev L2 E
Fcompressibilidade /Finércia 2 2
 v2
L V V
Tabela 2 – Relações entre forças importantes da Mecânica dos Fluidos
Fonte: autoria própria

A Tabela 3 apresenta alguns desses números adimensionais,


os quais são obtidos a partir de pequenas alterações (geralmente
tomando-se o inverso, ou adicionando alguma constante multipli-
cativa) das relações há pouco apresentadas.

214
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Equação Nome Aplicação Relação de forças

VD Determinação de regimes Inércia/Pressão


Reynolds, Re
de escoamento

V Inércia/
Escoamentos com
Froude, Fr Gravitacional
gL superfície livre

Problemas com pressão Pressão/Inércia


P ou gradientes de pressão
Euler, Eu
V2 importantes (Cavitação
em bombas, p.ex.)
Avaliação dos efeitos de Inércia/
V
Mach, Ma compressibilidade em Compressibilidade
c escoamentos de gases
Problemas com necessidade Inércia/Tensão
V 2L
Weber, We de avaliação da importância superficial
σ da tensão superficial

Tabela 3 – Grupos adimensionais e aplicações em Mecânica dos Fluidos


Fonte: adaptado de Fox (2008)

Número de Reynolds: É provavelmente o número adimen-


sional mais famoso da Mecânica dos Fluidos, sendo responsável
pela descrição do regime de escoamento de um dado fluido. Como
o número de Reynolds surge da razão entre forças inerciais e
viscosas para produzir

VD ,
Re

valores elevados de Reynolds implicam uma predominância


dos efeitos inerciais sobre os efeitos viscosos, caracterizando o
escoamento como turbulento. Já valores pequenos de Reynolds
indicam a predominância dos efeitos viscosos, caracterizando,
assim, um escoamento ordenado e de característica laminar.

215
5 Análise dimensional

Número de Mach: Análises e experimentos têm mostrado


que o número de Mach é um parâmetro chave que caracteriza os
efeitos de compressibilidade em um escoamento. O número de
Mach pode ser escrito como

V V V
M  
c dp Ev
d 
ou

V 2
M2 
Ev
O qual pode ser interpretado como uma razão entre forças
de inércia e forças de compressibilidade. Para um escoamento
verdadeiramente incompressível (e note que, sob algumas con-
dições, mesmo os líquidos são bastante compressíveis), c = ∞, de
modo que M = 0.
Número de Euler: O número de Euler é a razão entre forças
de pressão e de inércia.

∆p
Eu
1
V2
2
Em testes de modelos aerodinâmicos e outros, é conveniente
modificar o segundo parâmetro, Δp/ρV2, inserindo um fator de
1/2 para fazer o denominador representar a pressão dinâmica (o
fator, evidentemente, não afeta as dimensões e atribui um valor
físico ao denominador).

216
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Essa razão é usada de forma que Δp é a pressão local menos


a pressão da corrente livre, e ρ e V são propriedades do escoamento
na corrente livre:

P  Pv
Ca 
1
V 2
2
No estudo dos fenômenos de cavitação, a diferença de
pressão, Δp, é tomada como Δp = p − pυ, em que p é a pressão na
corrente líquida e pυ é a pressão de vapor do líquido na tempe-
ratura de teste. Mediante esse uso, se obtém o número ou índice
de cavitação, que é um fenômeno físico que conheceremos mais
à fundo nas próximas aulas.

Resumo

Neste capítulo, descrevemos as dimensões fundamentais e


os princípios básicos de homogeneidade dimensional. Em seguida,
enunciamos o teorema dos grupos π de Buckingham e o utilizamos
para determinar parâmetros adimensionais dependentes e inde-
pendentes que caracterizavam uma dada situação física de estudo.
Apresentamos os principais números adimensionais usados na
Mecânica dos Fluidos, tais como número de Reynolds, de Mach
e de cavitação. O significado físico desses números adimensionais
foi discutido, bem como as situações em que se aplicam.

Exercícios

1) A análise dimensional, juntamente com a homogeneidade


dimensional, permitem uma avaliação da consistência física de uma
dada equação. A equação abaixo é dimensionalmente homogênea.

217
5 Análise dimensional

Se A representa vazão mássica, B é pressão, C é o raio de uma


circunferência, E é a viscosidade absoluta de um fluido, F é um
comprimento e H é área, determine as unidades de D e G no
sistema internacional de unidades (SI).

BC 4 D
A  DGH
EF
2) Um aluno de ensino médio sabe que a pressão representa
a atuação de uma força em uma dada área. Você aprendeu no
segundo capítulo que a medida da variação de pressão de um fluido
hidrostático depende da massa específica dele, da aceleração local
da gravidade e da profundidade em questão. Ambas as pressões
são representadas pela mesma dimensão? Explique justificando
seu raciocínio.

3) A ferramenta de homogeneidade dimensional permite


verificar, além de vários outros aspectos, se todos os termos de
uma equação estão sendo usados de maneira adequada e com
unidades coerentes. Na equação abaixo, A representa força, B é
densidade relativa, C é aceleração, F é velocidade, D é volume e E
é viscosidade. A equação é homogênea dimensionalmente?

A  BCD 3  DEF
4) Os critérios de semelhança são fundamentais para que o
engenheiro tenha segurança durante a realização de uma proposta
de condições de experimentação referentes a um problema físico
qualquer. Descreva os critérios de semelhança principais. Os fatores
que relacionam as características de protótipo e de modelo devem
ser iguais em todos os critérios? Explique e justifique.

218
Camila Pacelly Brandão de Araújo

5) Uma placa fina e retangular está imersa num escoamento


uniforme com velocidade ao longe igual a V. A placa apresenta
largura e altura respectivamente iguais a w e h, e está montada
perpendicularmente ao escoamento principal. Admita que o arrasto
na placa FD é função de l e h, da massa específica do fluido, da
viscosidade dinâmica e da velocidade do escoamento ao longe.
Determine o conjunto de termos pi adequado para o estudo expe-
rimental deste problema.

6) Uma ponte está sujeita à ação da formação de vórtices


ao longo de um componente estrutural, conforme a figura. O
desenvolvimento desses vórtices na parte posterior do corpo ocorre
de maneira regular e com frequência definida quando o vento
escoa em torno desse corpo. Como esse fenômeno pode ocasio-
nar o surgimento de forças periódicas que atuam na estrutura, é
importante determinar a frequência com que eles são emitidos.

219
5 Análise dimensional

Para a estrutura mostrada na figura, D = 0,5m e H = 0,8m


e a velocidade do vento é de 60km/h. Admita que as condições
do ar são as normais (ρ = 1,23 kg/m³ e µ = 1,79. 10-5kg/m.s). A
frequência de emissão dos vórtices deve ser determinada com a
utilização de um pequeno modelo (Dm = 70mm) para ser testado
em um túnel de água a 20°C (ρ = 998 kg/m³ e µ = 10-3 kg/m.s).
Realize a análise dimensional deste problema, mostrando a
obtenção dos parâmetros π que o caracterizam. Se a frequência do
desprendimento de vórtices ωm no modelo for igual a 60Hz, qual
será a frequência de desprendimento de vórtices ωp no protótipo?

7) A potência W fornecida a uma bomba centrífuga é


uma função da vazão volumétrica Q, do diâmetro do rotor D, da
velocidade de rotação ω e da massa específica do fluido ρ, e da
viscosidade µ do fluido que escoa. Um protótipo de uma bomba de
água tem diâmetro de rotor de 61cm e é projetada para trabalhar
a uma vazão de 0,34m³/s com rotação de 750rpm. Um modelo de
bomba com diâmetro de rotor de 30,5cm é avaliado com ar (ρ =
1,24 kg/m³) com rotação de 1800 rpm. Desprezam-se os efeitos
do número de Reynolds. Para condições similares, qual deve ser
a vazão volumétrica do modelo? Se o modelo da bomba requer
uma potência de 0,082HP para ser acionado, qual será a potência
de acionamento do protótipo?

8) O número de Reynolds é o número adimensional mais


utilizado em Mecânica dos Fluidos. Descreva sua importância,
o seu uso e os limites para caracterização entre os regimes de
escoamento.

220
Camila Pacelly Brandão de Araújo

9) Escoamentos hipersônicos são caracterizados por números


de Mach maiores do que 1. Obtenha a expressão usual do número
de Mach a partir das forças às quais ele se refere.

10) Ao realizar um estudo de análise dimensional de um


processo, um engenheiro pediu para que seu colega conferisse
as etapas realizadas para validação. Nessa verificação, o colega
optou por usar força, comprimento e tempo como dimensões
fundamentais, ao invés de comprimento, massa e tempo, que o
primeiro tinha utilizado. Você acha que a verificação produzirá
o mesmo resultado? Explique.

221
6

6
Escoamento viscoso

222
6 Escoamento viscoso

6.1 Introdução

Olá, pessoal! Agora que nós já dominamos a análise dimen-


sional, vamos usar essa ferramenta para facilitar nossa análise de
casos complexos de escoamento de fluidos?
Quando trabalhamos com as equações de conservação da
quantidade de movimento na perspectiva diferencial, tivemos a
oportunidade de observar a necessidade de se descrever as tensões
cisalhantes para avaliar as forças que atuavam sobre a partícula
fluida. Vimos, também, que os problemas eram exponencialmente
simplificados quando essas podiam ser desprezadas. Foi o que
aconteceu quando usamos a Equação de Euler e a Equação de
Bernoulli, que se aplicam aos escoamentos invíscidos.
Iniciamos, neste capítulo, o estudo dos escoamentos viscosos,
ou seja, aqueles nos quais os efeitos promovidos pela ação do atrito
interno entre as partículas de fluido são importantes. Isso quer dizer
que consideraremos todos os termos referentes à ação do atrito e
às características viscosas para explicar o escoamento de fluidos.
Vamos trabalhar?
6 Escoamento viscoso

6.2 Uma breve retomada

Até agora, em nossos estudos de Mecânica dos Fluidos,


fizemos algumas considerações acerca da natureza viscosa dos
fluidos e dos escoamentos.
Primeiramente, dissemos que a propriedade viscosidade
dizia respeito à tendência de um fluido a resistir ao movimento,
sendo associada à resistência que um fluido oferece à deformação
por cisalhamento. E entendemos, naquela ocasião, que a viscosidade
se relacionava com o atrito interno nos fluidos devido às interações
intermoleculares, sendo, geralmente, uma função da temperatura.
A Lei da Viscosidade de Newton nos mostrava que, para os
fluidos que a obedeciam, a tensão cisalhante aplicada e a taxa de
deformação sofrida pelo fluido eram diretamente proporcionais,
sendo a constante de proporcionalidade a viscosidade do fluido.

du
 xy   � �
dy
Nesse sentido, podíamos idealizar o escoamento do fluido
entre duas placas ocorrendo de modo que a tensão cisalhante fosse
transferida camada por camada do fluido, como ilustrado na Figura 98:

Figura 98 – Característica viscosa dos fluidos newtonianos em um


escoamento laminar entre placas planas
Fonte: adaptado de Fox (2008)

224
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Em seguida, para os escoamentos viscosos, avaliamos que o


grupo adimensional número de Reynolds apresentava a importância
relativa dos efeitos viscosos em relação aos efeitos inerciais. Com
base nesse critério, tínhamos estipulado dois regimes de escoamento
distintos.

Fviscosa
Finércia LV

VD
Re 


No regime laminar, os efeitos viscosos eram tão pronun-


ciados que o fluido escoava em camadas, sendo a quantidade de
movimento transferida sucessivamente de uma camada para a
próxima. Dessa maneira, conseguíamos resolver as equações de
conservação do momento linear analiticamente.
Já no regime turbulento, se verificam as interações entre as
camadas sucessivas de fluido, havendo mistura entre elas. Assim,
os efeitos inerciais sobrepunham-se aos efeitos viscosos resultando
em elevado número de Reynolds. Esse movimento aleatório de
partículas apresentava, entretanto, uma orientação global de esco-
amento. A Figura 99 ilustra os regimes de escoamento segundo
esse critério.

225
6 Escoamento viscoso

Figura 99 – Experimento de Reynolds e regimes de escoamento para tubos


Fonte: adaptado de Fox (2008)

Uma pergunta, porém, ainda precisava ser respondida com


relação aos efeitos viscosos e ao papel da viscosidade no escoamento:
como a informação da existência de um contorno sólido, percebida
inicialmente pela porção de fluido imediatamente em contato com
o mesmo, se propaga pelas outras regiões do fluido?
É o que trataremos de responder agora.

6.3 Camada-limite

Dissemos, no começo do nosso curso, que o fluido era


solidário ao contorno sólido com o qual estava em contato. No
caso do escoamento entre duas placas planas em que uma delas
se movia a uma dada velocidade u, o fluido em contato com a
placa em movimento adquiria a sua velocidade, enquanto o fluido
em contato com a placa parada adquiria velocidade zero. Esse
comportamento foi chamado de condição de não deslizamento.

226
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Nosso olhar agora se volta para a avaliação de como a infor-


mação da existência deste contorno, percebida inicialmente pela
porção de fluido imediatamente em contato com o mesmo, se
propaga por meio das outras regiões do fluido.
A forma mais simples de lidar com essa avaliação é aplican-
do-a para o escoamento laminar de fluido incompressível sobre uma
placa plana estacionária, considerando que o fluido se aproxime
dessa com um perfil de velocidade uniforme caracterizado pela
velocidade U∞, conforme a Figura 100. Podemos imaginar essa
situação simplesmente como escoamento de ar, forçado por um
ventilador ou soprador, por sobre uma mesa parada, por exemplo.

Figura 100 – Desenvolvimento de camada-limite sobre uma placa plana


Fonte: adaptado de Alé (2011)

O fluido, inicialmente escoando à velocidade U∞, ao se deparar


com o contorno sólido estacionário, adere-se à superfície deste,
adquirindo a sua velocidade nessa interface, qual seja, u = 0. À
medida que o fluido escoa sobre a mesma superfície a partir da
borda de ataque, ou ponto de estagnação, a informação de que ali
existe uma superfície estacionária é transferida à camada fluida
imediatamente superior. A viscosidade é o agente envolvido nesta
transmissão, que tende a desacelerar o fluido, o qual antes se des-
locava com velocidade U∞.

227
6 Escoamento viscoso

A cada nova posição posterior na direção do escoamento


x, mais e mais fluido passa ser perturbado pela presença da placa,
permanecendo, porém, sempre uma região afastada dela e que
ainda não foi afetada pela sua presença, na qual o fluido ainda
escoa com velocidade U∞. Nessa região, o fluido pode ser tratado
como ideal e as equações desenvolvidas nos primórdios da hidro-
dinâmica servem para sua formulação. Por outro lado, a região do
escoamento entre a superfície e esta posição limite y é fortemente
influenciada pelo contorno por meio da força viscosa.
Prandtl foi o primeiro a sugerir a existência de uma camada-
limite. Ela seria uma camada imaginária que limita a região do
escoamento próxima à interface entre o fluido que escoa e um outro
corpo, nas quais os efeitos viscosos determinam a configuração do
escoamento. No interior da camada-limite, a velocidade do fluido
varia desde o valor nulo (em contato com a placa estacionária) até
a velocidade de escoamento não perturbado.
Perceba que a camada-limite não para de crescer. Enquanto
houver placa (ou cotas na direção x do escoamento), haverá cres-
cimento da camada-limite, pois mais e mais fluidos passarão a ser
perturbados pela presença do contorno sólido.
Apesar desta apresentação do conceito de camada-limite
ter considerado, por hipótese, o escoamento como laminar, ele
continua válido também para casos em que fenômenos associados
à turbulência (tais como vórtices e redemoinhos) são percebidos.

6.4 Escoamento viscoso interno

Agora que já sabemos como a informação da existência de


um contorno sólido é transferida pelas camadas de fluido para uma

228
Camila Pacelly Brandão de Araújo

placa plana, podemos analisar esse fenômeno em um escoamento


interno e seus efeitos sobre as variáveis do nosso interesse.
Você deve se recordar que escoamentos internos são aqueles
nos quais o fluido encontra-se completamente restrito por paredes
sólidas, sejam elas de tubos, de dutos, de restrições, de difusores
etc. Assim, o fluido deverá entrar em contato com esses contornos
sólidos e uma camada-limite também deverá surgir.

6.4.1 Aspectos qualitativos

Imaginemos uma tubulação através da qual deve escoar um


fluido, conforme ilustrado na Figura 101. Se o tubo estivesse imerso
em um reservatório (ou na saída de um reservatório), a velocidade
na sua entrada poderia ser considerada uniforme em toda a seção.

Figura 101 – Aspectos qualitativos do escoamento interno viscoso


Fonte: adaptado de Munson, Young e Okiishi (2005)

229
6 Escoamento viscoso

A partir da região de entrada, à medida que o fluido se


depara com o contorno sólido da tubulação os efeitos viscosos
provocam aderência do fluido às paredes do tubo, em consequ-
ência da condição de não deslizamento. Da mesma maneira que
observamos para o caso da placa plana, também nas paredes da
tubulação se verificará o desenvolvimento de uma camada-limite.
O desenvolvimento da camada-limite ocorre tal qual na placa
plana; verificamos uma região próxima às paredes da tubulação
nas quais os efeitos viscosos são pronunciados e uma região na
qual esses efeitos ainda não são percebidos. Na região do núcleo
ainda não atingida pela camada-limite, os efeitos viscosos são
desprezíveis e essa região é denominada região invíscida.
A existência da camada-limite provoca uma mudança
no perfil de velocidades do escoamento, para que a equação da
continuidade permaneça válida. Assim, o perfil de velocidades
muda a cada nova seção na direção do escoamento e ao longo
da direção radial:

u  u  r, x 
A extensão de tubulação na qual se verifica essa situação
denomina-se região de entrada. Na medida em que avança para
o interior do tubo, a camada-limite cresce, restando, a cada nova
seção posterior na direção do escoamento, uma porção cada vez
menor de fluido não perturbado pela presença da tubulação.
Em determinada posição x, a porção do fluido atingida pelos
efeitos viscosos corresponde à totalidade da seção transversal. Em
outras palavras, em determinada posição x da tubulação, a camada
-limite cresce ao ponto de atingir a linha central da tubulação. A

230
Camila Pacelly Brandão de Araújo

partir desse ponto, o perfil de velocidade não se altera mais de


uma posição x para outra e dizemos que o escoamento atingiu
seu completo desenvolvimento.

u  u  r  somente
Chamamos de comprimento de entrada (Le) a distância
da seção de entrada até o local no qual a camada-limite atinge a
linha central (de simetria) do tubo. A partir deste ponto, o perfil
de velocidade é plenamente desenvolvido, significando que seu
formato não varia mais na direção de x.
Evidentemente, o comprimento de entrada para um dado
escoamento depende do regime de escoamento, uma vez que esse
parâmetro terá influência direta no crescimento da camada-limite.
Como, no regime turbulento, se tem mistura entre as camadas de
fluido, a camada-limite se desenvolve mais rapidamente que no
caso laminar. Logo, modelos empíricos estimam o comprimento
de entrada em função do regime de escoamento para ser:

Le
0 06 Re escoamento laminar
D

Le 1
4 4 Re 6 escoamentoturbulento
D
Substituindo os limites de cada regime de escoamento,
podemos ver que, para o escoamento laminar, o comprimento
de entrada ocorre a aproximadamente 140D, enquanto que, para
o escoamento em regime turbulento, esse comprimento está na
ordem de 40D.

231
6 Escoamento viscoso

6.4.2 Aspectos quantitativos

Embora não sejam comuns, na prática, como forma de


simplificação, muitos escoamentos podem ser considerados com-
pletamente desenvolvidos, permanentes e laminares. Considere o
elemento infinitesimal de fluido conforme indicado na Figura 102:

Figura 102 – Elemento infinitesimal para análise do escoamento


viscoso incompressível
Fonte: adaptado Alé (2011)

Pelo Teorema do Transporte de Reynolds, para uma pro-


priedade genérica do escoamento:

dN
d V dA
dt Sistema t VC sc

Para a conservação do momento linear, temos:

dP
dA FSx FBx
dt Sistema t VC sc

232
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Considerando:
1) Escoamento completamente desenvolvido  u  u  r  somente

2) Em regime permanente  0
t
3) De um fluido incompressível    cte

4) Em um tubo horizontal  FBx  0
Assim, vemos que:

FSx = 0
Por análise das forças atuantes sobre o volume de controle,
conforme indicado na Figura 103, podemos avaliar que:

Figura 103 – Elemento infinitesimal e forças atuantes sobre o V.C.


Fonte: adaptado Alé (2011)

Considerando que a pressão tenha um valor definido p no


centro da partícula fluida infinitesimal, podemos ver que, usando
expansão em série de Taylor, essa tem os seguintes valores nas
faces esquerda e direita, respectivamente:

p dx
p
x 2
p dx
p
x 2

233
6 Escoamento viscoso

Considerando a ação da tensão cisalhante atuante em decor-


rência dos efeitos viscosos, na superfície do elemento cilíndrico,
temos que o somatório das forças de superfície pode ser expresso por:

p dx p dx
p r rx .2 rdx 0
x 2 x 2

p
r rx .2
x
Se os efeitos gravitacionais são desprezados, a pressão é
constante em qualquer seção transversal do tubo, mas varia de
uma seção para outra:

p r
rx
x 2

Podemos, então, verificar que a tensão de cisalhamento no


fluido varia linearmente na direção transversal ao tubo, de zero
na linha de centro até um máximo na parede.
Se desejarmos saber a tensão de cisalhamento na parede
da tubulação, temos r=R e

A Figura 104 apresenta a distribuição de tensão de cisalha-


mento em uma dada seção do escoamento e o correspondente perfil
de velocidades. É interessante perceber que a tensão é máxima
na parede, onde a condição de não escorregamento impõe um
valor nulo para a velocidade do fluido, e é mínima na linha de
centro da tubulação, onde também se verifica o máximo valor de
velocidade do fluido.

234
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Figura 104 – Distribuição de tensão de cisalhamento e perfil de


velocidades em uma seção do escoamento
Fonte: adaptado Alé (2011)

Há de se notar, também, que o termo (∂p/∂x) diz respeito


à variação de pressão entre duas seções do escoamento. Assim:

p p p ∆p
cte
x 2 1 L

Onde podemos observar que ∆p representa a queda de


pressão de uma seção 1 até uma seção 2. A Figura 105 ilustra a
diferença entre a variação da pressão e a queda da pressão entre
uma seção e outra.

Figura 105 – Diferenças de pressão ao longo do escoamento em


uma tubulação
Fonte: adaptado Alé (2011)

235
6 Escoamento viscoso

Assim, podemos escrever, finalmente:

∆p R
w
L 2
Perceba que, nesse nosso desenvolvimento, não estabe-
lecemos qualquer dependência com o regime de escoamento.
Veremos que a consideração acerca do regime de escoamento
impõe várias condicionantes na modelagem do processo e que,
no regime laminar, podemos chegar a uma solução puramente
analítica, enquanto no escoamento turbulento, teremos que nos
apoiar na ferramenta de análise dimensional e em dados empíricos
para formular uma modelagem.

6.4.3 Para o escoamento laminar

a) Perfil de velocidades
Conforme dissemos, o fato de um escoamento ocorrer em
regime laminar não é o mais representativo da realidade: a maioria
dos escoamentos é turbulento. O escoamento laminar, porém, nos
permite relacionar as quantidades analiticamente.
Usando a relação funcional entre a tensão cisalhante e a
variação de pressão obtida anteriormente:

p
r rx .2
x
E admitindo que o fluido que escoa é newtoniano:

du
 
dr

236
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Podemos escrever:

p du
r 2
x dr
p
Sabendo que cte em uma dada seção do escoamento,
temos: x

du
2
p dr
x r
Rearranjando:

p 1
du rdr
x 2
Realizando a integração mediante as condições de contorno:

r  r � u  u  r 

r R u 0 condição de não escorregamento

Temos:

u u r r p 1
du rdr
u 0 R x 2
O que nos fornece:

p 1 2
u r   0 
x 4 

r  R2 

237
6 Escoamento viscoso

∆p 1
u r R2 r 2
L 4
2
∆p 2
u r 1
L 4 R

Esta equação representa o perfil de velocidades para esco-


amento laminar em tubos. Você deve notar que é uma equação
de segundo grau com dependência com a direção radial, caracte-
rizando, assim, uma parábola.
b) Velocidade máxima
A velocidade máxima em uma seção do escoamento pode
ser determinada entendendo-se que um ponto de máximo é um
ponto de inflexão do perfil de velocidades e, portanto, neste ponto,
a derivada primeira da função deve ser igual a zero:

d u  r 
umáx  0
dr

2
∆ pR 2 r
d 1
4 l R
0
dr

∆p
2r 0
4 l
Desse modo, podemos verificar que o ponto de máximo
ocorre quando a coordenada radial tiver valor zero, ou seja, na
linha central da tubulação:

238
Camila Pacelly Brandão de Araújo

umáx  r  0
Substituindo essa condição na equação do perfil de velo-
cidades para determinar o valor da velocidade máxima, temos:

∆p 2
umáx R
4 l

c) Vazão volumétrica
Definimos vazão volumétrica durante nosso estudo de
conservação da massa na perspectiva integral para ser:

Q   u  r  dA

Sendo o infinitesimal de área caracterizado pela área através


da qual o fluido escoa, podemos ver que:

dA  2 rdr
Assim,

Q   u  r  2 rdr

Substituindo a equação do perfil de velocidades:

R ∆p 2
Q R r ² 2 rdr
0 4 l
∆p R
Q R 2 r rdr
2 l 0

239
6 Escoamento viscoso

Realizando a integração, temos:

∆p 2 2 4
Q R .
2 l 2 4

Considerando a totalidade da seção de escoamento (r = R):

R4 p D4 p
Q
8 l 128 l
Essa equação recebe o nome de Equação de Hagen-Poiseuille
e permite a estimativa da vazão de escoamento do fluido mediante
informações da queda de pressão por unidade de comprimento da
tubulação e do diâmetro dela, sendo de grande importância prática.
d) Velocidade média
Também durante nossos estudos de conservação da massa
na perspectiva integral, estipulamos que a velocidade média de um
dado escoamento era fornecida pela razão entre a vazão volumétrica
e a área disponível para que o fluido escoasse:

Q
Vmédia 
A
Dessa maneira,

R4 p
8 l
Vmédia
R2

R2 p
Vmédia
8 l

240
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Relacionando-a com a velocidade máxima do escoamento,


podemos escrever:

1
Vmédia  umáx
2

6.4.4 Para o escoamento turbulento

Muitos escoamentos não podem ser considerados como


laminares e as simplificações adotadas nas seções anteriores do
texto podem gerar erros importantes nas análises dos escoamentos.
Escoamentos turbulentos são muito comuns e desejáveis na prática,
como, por exemplo, os processos de mistura ou de transferência
de calor em resfriadores ou em trocadores de calor. Além disso, as
velocidades necessárias aos escoamentos para atender os requeri-
mentos de fornecimentos de produto, produção etc. em geral são
muito acima do limite do escoamento laminar.
No desenvolvimento que realizamos para o escoamento
laminar, simplesmente nos valemos da relação entre a tensão
cisalhante e o gradiente de pressão para, em seguida, usarmos a
expressão da Lei da Viscosidade de Newton e obtermos todas as
informações acima.
Para o escoamento turbulento, porém, o comportamento
da tensão cisalhante com relação ao perfil de velocidades não é
tão direto como no caso laminar e, infelizmente, não existe uma
equação equivalente da tensão para escoamento turbulento, de
modo que não podemos repetir o procedimento anterior para
esse tipo de escoamento.
O escoamento turbulento é representado, em cada ponto,
pela velocidade média temporal mais as componentes u’ e ν’ nas

241
6 Escoamento viscoso

direções x e y (para um escoamento bidimensional) da flutuação


aleatória de velocidade (neste contexto, y representa a distância a
partir da parede do tubo). A Figura 106 ilustra esse comportamento.

Figura 106 – Comportamento da velocidade no escoamento turbulento


Fonte: adaptado de Fox (2008)

Essas flutuações aleatórias da velocidade continuamente


transferem quantidade de movimento entre as camadas de fluido
adjacentes, promovendo a mistura entre as partículas fluidas, o que
tende a reduzir qualquer gradiente de velocidade presente. Esse efeito,
que é o mesmo de uma tensão aparente, foi introduzido pela primeira
vez por Osborne Reynolds, e denominado de tensões de Reynolds.
Portanto, no escoamento turbulento, dizemos que o fluido
está sujeito a uma tensão global que contabiliza as contribuições de
uma parcela laminar (referente à velocidade média do escoamento)
e uma parcela turbulenta (referente às flutuações de velocidade).
A Figura 107 apresenta o comportamento das tensões cisa-
lhantes no caso laminar e no caso turbulento.

242
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Figura 107 – Tensão cisalhante para o escoamento laminar


(esquerda) e turbulento (direita)
Fonte: Yokisih (2000)

   laminar   turbulenta
 du
  u ' v '
dy
É interessante notar que podemos chegar a esse resultado a
partir da definição de momento e da informação de que as flutuações
de velocidade o transferem. De maneira simplificada, teríamos:

.
P = mV
 
dP dV 
.
= m= F
dt dt
F dV  1 
    
A dt  A 
 dL
 .V
dt
  u ' v '

243
6 Escoamento viscoso

O sinal negativo surge devido ao fato de u’ e v’ estarem


negativamente correlacionadas, tal que o termo -ρu'v' produz uma
quantidade positiva, resultando em uma tensão efetivamente maior
que a verificada para o escoamento laminar.
Se formos analisar como se comporta a tensão cisalhante
ao longo da seção transversal de um tubo, poderemos verificar
que, próximo à parede, o termo referente à tensão turbulenta,
ou às tensões de Reynolds, tendem a zero. Isso ocorre porque a
condição de não deslizamento prevalece, de modo que não apenas
a velocidade média tende a zero, mas também as flutuações de
velocidade, uma vez que a parede tende a suprimir as flutuações.
Assim, a tensão turbulenta se aproxima do valor nulo conforme
nos aproximamos da parede, e vale zero na parede.
Se a tensão de Reynolds é zero na parede, podemos esperar
que a tensão de cisalhamento de parede seja dada somente por:

du
w
dy y 0

Isso significa que, na região muito próxima à parede do tubo,


ou seja, na camada de parede, o cisalhamento viscoso é dominante.
Na região entre a camada de parede e a porção central do tubo,
tanto o cisalhamento viscoso quanto o turbulento são importantes.
Esse comportamento é ilustrado na Figura 108.

244
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Figura 108 –Distribuição da tensão cisalhante em uma seção


transversal para o escoamento turbulento
Fonte: adaptado de Munson (2004)

Infelizmente, no escoamento turbulento, não dispomos de


uma relação como a Lei da Viscosidade de Newton para relacionar
diretamente a tensão cisalhante com o gradiente de velocidades.
Por isso, perfis de velocidade empíricos são adotados.
Em geral, uma lei de potência como

É capaz de representar, com algum sucesso, esse tipo de


escoamento. Note que essa relação não pode ser aplicada próxima
à parede (R = 0), já que o gradiente de velocidade seria infinito.
Porém, para regiões até o limite em que:
y
0 004 sendo y R r
R
podemos considerar a sua adequação ao comportamento
da velocidade do escoamento.

245
6 Escoamento viscoso

O expoente n depende do número de Reynolds segundo:

E pode ser determinado também, graficamente, de acordo


com a Figura 109.
De maneira geral, quanto maior o expoente n, mais achatado
se torna o perfil de velocidades para o escoamento turbulento. A
Figura 110 ilustra essa diferença de comportamento de maneira
comparativa entre valores de n para o escoamento turbulento e
com relação ao escoamento laminar.

Figura 109 – Relação entre o número de Reynolds e o expoente n da


lei de potência
Fonte: adaptado de Alé (2011)

Figura 110 – Efeito do número de Reynolds sobre o perfil de velocidades


Fonte: adaptado de Duarte (1997)

246
Camila Pacelly Brandão de Araújo

6.5 Considerações de energia no escoamento interno viscoso

Quando tratamos da equação da conservação da energia


na unidade 2, dissemos que poderíamos desprezar qualquer efeito
de troca térmica ou variação da energia interna do fluido para
chegarmos à Equação de Bernoulli.
A Equação de Bernoulli, porém, trata do caso de escoamento
de fluidos invíscidos. No nosso cenário atual, não podemos fazer
mais esse tipo de consideração e os termos referentes ao atrito
interno e à variação da energia interna do fluido deverão perma-
necer na equação da conservação da energia.
Devemos nos lembrar que o atrito é consumidor da energia
disponível do fluido e que energia é um custo de operação impor-
tante e impacta diretamente no custo, também, dos equipamentos
necessários para se realizar uma dada operação (de bombeamento,
de agitação ou de mistura de tanques).
Desse modo, se tomarmos a equação de conservação de
energia na perspectiva integral:

V2
Q Weixo Wcis Woutros e d u gz pv A
t VC sc 2

E considerarmos:
1) Escoamento em regime permanente;
2) De um fluido incompressível;
3) Na ausência de qualquer outra forma de trabalho que
não seja o de escoamento;
4) Uniformidade dos valores de pressão e energia interna
em cada seção.

247
6 Escoamento viscoso

Podemos escrever:

p p V22 V12
Q m u2 u1 m mg
 z2 z1 V2 dA2 V1dA1
A2 2 a1 2

Para que seja possível trabalhar com essa equação sem


necessitar do uso de integrais, e ainda mantê-la capaz de ser aplicada
para escoamentos laminares e turbulentos, é definido um fator de
correção da energia cinética, que nos permite usar uma velocidade
média para computar a energia cinética em cada seção transversal.

V 3 dA
Fator de correção da energia cinética
mV
 ²

O fator de energia cinética nada mais é do que uma pon-


deração entre a energia cinética obtida por meio da integração do
perfil de velocidades e o valor médio da energia cinética ao longo
da seção. Quanto mais próximo de uma uniformidade ao longo da
seção, mais próximo de 1 o fator de correção da energia cinética
se torna, indicando que pouca ou nenhuma diferença faz se optar
pela integração ao longo da seção ou não.

Em geral, escoamentos turbulentos tendem a produzir perfis


mais próximos da uniformidade que escoamentos laminares,
conforme ilustrado na Figura 110. Assim, α ≈ 1 para escoamentos
turbulentos e se pode provar que α = 2 para escoamentos laminares.
Dessa maneira, a equação da conservação da energia poderia
ser reescrita para ser:

248
Camila Pacelly Brandão de Araújo

p p  V2 V 1 2

Q  m  u2  u1   m  2  1   mg
  z2  z1    2 m 2  1m
   2 2
Se o escoamento estiver plenamente desenvolvido, o perfil de
velocidades será o mesmo entre duas seções quaisquer e 2 1

Rearranjando:

Q p2 p1 V22 V2
u2 u1 g z2 z1 2
m 2 2

Q p1 V12 p2 2
u2 u1 gz1 1
gz2
m 2 2
O termo da esquerda da igualdade representa a diferença
em energia mecânica entre as duas seções e contabiliza, portanto,
as perdas de energia mecânica sob a forma de calor e energia
interna do fluido:
2 2
p1
gz1 2
gz2 hlT
2 2
Quando escrita dessa maneira, a conservação da energia para
o escoamento viscoso tem dimensões de (L²/t²), que representa uma
quantidade de energia por unidade de massa. Nessa configuração:
2 2
p1 p2 hlT
z1 z2 H lT
g 2g g 2g g

tem dimensão de L e pode ser interpretada como altura de


uma coluna manométrica para cada termo da equação. Ambos os

249
6 Escoamento viscoso

termos HlT e hlT são denominados perda de carga indistintamente;


portanto, o aluno deve ser capaz de distinguir qual é a equação
adequada em cada caso.
A variação da pressão num duto resulta da variação de
elevação, de velocidade e do atrito. Se não houver perdas por
atrito, a variação da pressão poderá ser determinada pelo uso da
Equação de Bernoulli. Se o escoamento for viscoso, porém, há de
se estimar a perda de carga.

6.6 Perda de carga

A perda de carga hlT, contabiliza toda a perda de energia


mecânica entre duas seções do escoamento. Podemos, didatica-
mente, dividir essa perda em duas grandes porções: aquelas causa-
das somente pelos efeitos de atrito no escoamento completamente
desenvolvido em tubos de seção constante, e aquelas causadas pela
presença de elementos que alteram as características do escoamento,
como entradas, acessórios, regiões de variações de área e outras.
Dizemos, portanto, que a perda de carga total é dada pela
soma das contribuições da perda de carga principal hL(ou maior)
com a perda de carga secundária hac (ou menor).

hLT  hL  hac
A nomenclatura maior ou menor não é a mais adequada,
pois as perdas secundárias podem, por vezes, causar maior perda
de energia mecânica entre duas seções do que as perdas principais.
Dese modo, usaremos os termos principal e secundária na maioria
dos casos.

250
Camila Pacelly Brandão de Araújo

a) Perda de carga principal


O termo de perda de carga principal refere-se somente ao
atrito no escoamento plenamente desenvolvido entre pontos da
tubulação com área constante. Consideremos um escoamento ple-
namente desenvolvido numa tubulação horizontal de comprimento
L com área de seção transversal constante. Então, podemos escrever:

Onde a variação de cotas foi desprezada pelo fato de a tubu-


lação ser horizontal, e a velocidade ser a mesma entre duas seções
de mesma área. Assim, vemos que:

( p1 p2 ) p
HL
g g

( p1 p2 ) p
hL

Esse resultado nos informa que a perda de carga principal


independe da orientação da tubulação, ou sua inclinação. De fato,
podemos ponderar que o atrito entre o fluido e a tubulação não
faz, realmente, distinção acerca da sua disposição geométrica.
• Perda de carga principal no escoamento laminar:
Na seção precedente, quando trabalhamos com variáveis
de interesse para o escoamento laminar, vimos que:

251
6 Escoamento viscoso

R2 p
V
8 l
A qual poderia ser expressa em termos do diâmetro da
tubulação para ser:

D2 p
V
32 l
Isolando a variação de pressão:

32 VL
p
D2
Dividindo por:

p 32 VL
HL
g gD 2
Retomando a definição do número de Reynolds, podemos
escrever:
VD
Re
VD
32 VL
Re V 2 32 L 1
HL
gD 2 Re D g

64 L V 2
Ou HL 
Re D 2 g
Similarmente,

64 L V 2
hL 
Re D 2

252
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Assim, para o escoamento laminar, a perda de carga pode ser


calculada a partir de dados da tubulação (diâmetro, comprimento
e velocidade do escoamento) e do número de Reynolds.
• Perda de carga principal no escoamento turbulento:
Para o escoamento turbulento, como dito anteriormente, a
queda de pressão não pode ser avaliada analiticamente, de modo
que não dispomos de uma equação relacionando a velocidade
média, por exemplo. Para contornar essa situação, usaremos da
ferramenta de análise dimensional do problema, em conjunto
com experimentação.
É observado que a queda de pressão causada pelos efeitos
de atrito em tubulações horizontais de diâmetro constante em
escoamento turbulento depende do diâmetro da tubulação D, do
comprimento do tubo L, da velocidade média do escoamento V,
da massa específica do fluido que escoa ρ e da sua viscosidade µ,
além da rugosidade da parede da tubulação (e).

p p D, , , L V e
Pelo procedimento de análise dimensional, podemos verifi-
car que são sete (n = 7) as variáveis de importância para o processo,
e que elas podem ser descritas por um conjunto de três dimensões
fundamentais (M, L e t), tal que j = 3, de tal forma que 4 grupos
adimensionais podem ser formados pelo algoritmo de Buckingham.
Escolhendo como variáveis repetidas ρ, V e D, podemos
escrever a seguinte relação entre os adimensionais:

∆p e L
f , ,
V2 VD D D

253
6 Escoamento viscoso

Ou

∆p e L
e, ,
V2 D D
Os experimentos mostram que a perda de carga é diretamente
proporcional a L/D. Assim, podemos representar o processo por:

hL L  e
 f  Re, 
V 2
D  D
Como f permanece indeterminada, é permitido introduzir
uma constante no lado direito da relação. A constante ½ é adi-
cionada para que o termo do lado esquerdo represente a razão
entre a perda de carga principal e a energia cinética por unidade
de massa do escoamento.

hL L  e
 f  Re, 
1 2 D  D
V
2
Essa função denominamos de fator de atrito de Darcy (f),
e podemos escrever:

L V2
hL = f
D 2
Ou

L V2
HL = f .
D 2g
Dedicaremos o próximo tópico para a avaliação do com-
portamento do fator de atrito.

254
Camila Pacelly Brandão de Araújo

b) Fator de atrito
O fator de atrito, conforme indicado, é expresso por uma
relação funcional do regime de escoamento e das características
da tubulação.

 e
f  f  Re, 
 D
Para determinar o fator de atrito, utiliza-se o Diagrama de
Moody. Para tal, deve-se ter o valor do número de Reynolds e a
rugosidade relativa e = ε/D. A rugosidade absoluta depende do tipo
de material da tubulação e do seu acabamento e representa o valor
médio das alturas da rugosidade da parede interna da tubulação.
A Figura 111 ilustra esse fenômeno.

Figura 111 – Rugosidades em uma tubulação


Fonte: adaptado de Alé (2011)

O diagrama de Moody apresenta a relação entre a rugosidade


relativa de uma tubulação e o regime de escoamento para um esco-
amento completamente desenvolvido sob condições conhecidas.

255
6 Escoamento viscoso

Conhecendo-se o número de Reynolds e avaliando-se a rugosidade


relativa da tubulação, é possível avaliar o fator de atrito para uma
dada condição. A Figura 112 apresenta as regiões de comportamento
descritas no diagrama de Moody.

Figura 112 – Representação do Diagrama de Moody


Fonte: adaptado de Alé (2011)

Vários aspectos da Figura 112 merecem discussão. É possível


observar que o diagrama de Moody apresenta uma zona laminar
(Re < 2000), uma zona crítica (Re de 2000 e 4000), uma zona de
transição e uma zona inteiramente rugosa. Nestas zonas, o fator de
atrito f apresenta diferentes dependências em relação ao número
de Reynolds (Re) e em relação a rugosidade relativa.
I) Na zona laminar, o fator de atrito f é independente da
rugosidade relativa e inversamente proporcional ao número de
Reynolds. Podemos verificar que, nessa situação:

64
f =
Re

256
Camila Pacelly Brandão de Araújo

II) Na zona crítica, o fator de atrito apresenta aumentos


bruscos. Essa zona crítica para o fator de atrito coincide com a
região de transição entre os regimes de escoamento laminar e
turbulento.
III) Na zona de transição para o fator de atrito (não para
os regimes de escoamento!), se pode observar que, para um deter-
minado Re, o fator de atrito f diminui conforme a rugosidade
relativa diminui. Alternativamente, podemos verificar que, para
uma determinada rugosidade relativa, o fator de atrito f diminui
ao aumentar o Re até alcançar a zona inteiramente rugosa.
IV) Dentro da zona inteiramente rugosa, indicada no
diagrama da Figura 112 pela linha tracejada, para uma determinada
rugosidade relativa, o fator de atrito f se mantém praticamente
como um valor constante, independente do Re.
Resumindo a discussão precedente, vimos que o fator de
atrito decresce com o aumento do número de Reynolds enquanto
o escoamento permanecer laminar. Na transição, f aumenta brus-
camente. No regime de escoamento turbulento, o fator de atrito
decresce gradualmente e, por fim, nivela-se em um valor constante
para grandes números de Reynolds. Assim, concluímos que a perda
de carga sempre aumenta com a vazão mássica, e mais rapidamente
quando o escoamento é turbulento.
Para evitar a necessidade do uso de métodos gráficos na
obtenção de f para escoamentos turbulentos, diversas expressões
matemáticas foram criadas por ajuste de dados experimentais.
A expressão mais usual para o fator de atrito é a de Colebrook:
e
1 2.51
0.5
2log D
f 3.7 Re . f 0.5

257
6 Escoamento viscoso

Essa equação é implícita em f, mas, atualmente, a maior parte


das calculadoras científicas possui programas para resolver equações
que podem ser prontamente utilizadas na determinação de f, para
uma dada razão de rugosidade e/D e um dado número de Reynolds.
Usando um simples processo interativo com algumas inte-
rações, é possível alcançar a convergência. Iniciamos com um
valor estimado para f no lado direito e, depois de muito poucas
iterações, teremos um valor convergido para f com três algarismos
significativos. Observando o diagrama de Moody, podemos ver
que, para escoamentos turbulentos, f < 0,1; logo, um chute inicial
de f = 0,1 poderia ser um bom valor.
c) Perda de carga secundária
A perda de carga secundária surge devido ao escoamento
através de acessórios como válvulas, joelhos, registros e em porções
do sistema de área variável, tais como saídas de reservatórios, bocais
convergentes e divergentes. Essas perdas serão, em geral, menores
que a perda de carga principal e concentradas nas regiões de aces-
sórios do escoamento. A depender do equipamento e dos dados
disponíveis, duas formas podem ser utilizadas para o cálculo das
perdas de carga secundárias.
O método dos coeficientes de perda K estabelece o valor desse
coeficiente experimentalmente para cada acessório do escoamento:

V2
hac = K
2
Onde K é o coeficiente de perda de carga e V a velocidade média.
O coeficiente de perda de carga será maior quanto mais abrupto for o
elemento originando zonas de recirculação de fluxo e altos níveis de
turbulência, aumentando, dessa forma, a energia dissipada. A tabela
4 mostra o coeficiente de perda e carga de diversos elementos.

258
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Acessório K
Ampliação gradual 0,20
Bocais 2,75
Comporta aberta 1,00
Controlador de vazão 2,50
Cotovelo 90º 0,90
Cotovelo 45º 0,40
Crivo 0,75
Curva 90 0,40
Curva 0,20
Curva 22,5 0,10
Entrada normal 0,50
Entrada de borda 1,00
Existência de derivação 0,03
Junção 0,40
Medidor Venturi 2,50
Redução gradual 0,15
Registro de ângulo aberto 5,0
Registro de gaveta aberto 0,20
Registro de globo aberto 10,00
Saída de canalização 1,00
Tê passagem direta 0,60
Tê saída de lado 1,30
Tê saída bilateral 1,80
Válvula de pé 1,75
Válvula de retenção 2,05
Velocidade 1,00
Tabela 4 – Coeficiente de perda de carga para alguns acessórios comuns
Fonte: adaptado de Alé (2011)

259
6 Escoamento viscoso

Já o método dos comprimentos equivalentes, ilustrado na


Figura 113, avalia a perda de carga causada pelo elemento em
comparação com aquela que o escoamento experimentaria caso o
elemento fosse substituído por um dado comprimento de tubulação
nas mesmas condições de fluxo.
O comprimento equivalente em metros de canalização retilí-
nea (Leq) é tabelado segundo o tipo de acessório, o material utilizado
e o diâmetro da tubulação. Se substituirmos certo acessório por
uma tubulação retilínea com o comprimento igual ao comprimento
equivalente (com igual material e diâmetro), ambos originariam a
mesma perda de carga. A tabela 5 a seguir mostra o comprimento
equivalente adimensional (Leq/D) de diversos acessórios:

Figura 113 – Método dos comprimentos equivalentes


Fonte: adaptado de Alé (2011)

Acessório Leq/D
Válvula de globo aberta 340
Válvula de gaveta aberta 8
Válvula de gaveta 3/4 aberta 35
Válvula gaveta 1/2 aberta 160
Válvula gaveta 1/4 aberta 900
Válvula borboleta aberta 45
Válvula esfera aberta 3
Válvula retenção globo 660
Válvula retenção em ângulo 55

260
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Acessório Leq/D
Válvula de pé com crivo, 75
de disco móvel
Cotovelo padronizado 90º 30
Cotovelo padronizado 45º 16
Tê padronizado fluxo direto 20
Tê padronizado fluxo ramal 60
Tabela 5 – Coeficiente de perda de carga para alguns acessórios comuns
Fonte: adaptado de Alé (2011)

6.7 Bombas

Como dissemos no início das nossas considerações energé-


ticas, no fluido viscoso se verifica significativa perda de energia
mecânica, entre uma seção e outra no escoamento, em decorrência
do atrito e das suas interações com os acidentes presentes na
tubulação. Os equipamentos de bombeamento, como bombas e
ventiladores ou sopradores servem, também, ao propósito de manu-
tenção do fluxo fluido, apesar das perdas durante o escoamento.
A força motriz para manter o escoamento contra o atrito é
fornecida por uma bomba (para líquidos) ou por um ventilador ou
soprador (para gases). Aqui, vamos considerar as bombas, embora
todos os resultados sejam igualmente aplicáveis a ventiladores
ou a sopradores. Se desconsiderarmos a transferência de calor e
as variações na energia interna do fluido (vamos incorporá-las
mais tarde, juntamente com a definição de eficiência da bomba),
a primeira lei da termodinâmica aplicada através da bomba é

261
6 Escoamento viscoso

Produzindo:

Em muitos casos, os diâmetros das tubulações de entrada


e de saída são iguais, o que impõe, pela conservação da massa,
que as velocidades nas seções de entrada e saída sejam as mesmas
(Ventrada = Vsaída), e não se observam variações significativas de
elevação ao longo do equipamento de bombeio.
Assim:


bomba

saída entrada

Em se tratando de um fluido incompressível:

∆ pbomba
bomba

Podemos expressar esse resultado, também, como:

Wbomba
.
∆ pbomba
∆ hbomba .
m
E verificar que o bombeamento proporciona um ganho de
energia do fluido na forma de pressão (e não de energia cinética do
fluido). Essa constatação advém do fato de a carga cinética, repre-
sentada pela velocidade média na seção, permanecer inalterada,
em virtude de a seção da tubulação não mudar desde a entrada
até a saída da bomba.

262
Camila Pacelly Brandão de Araújo

A ideia é que, em um sistema bomba-tubulação, a altura


de carga produzida pela bomba (Δhbomba) é usada para superar
a perda de carga de toda a tubulação. Portanto, a vazão em tal
sistema depende das características da bomba e das perdas de
carga maiores e menores da tubulação.
Lembrando que a bomba é um equipamento que fornece
energia ao fluido e, portanto, deve ser acionada para funcionar.
Podemos expressar a sua eficiência de funcionamento relacio-
nando a potência por ela desenvolvida (e transferida ao fluido) e
o requerimento para o seu funcionamento:
.
Wbomba
bomba .
Wentrando

Notamos que, na aplicação da equação da energia a um


sistema de tubos, podemos, algumas vezes, escolher os pontos 1 e 2
de modo a incluir uma bomba no sistema. Para esses casos, podemos
simplesmente incluir a altura de carga da bomba como uma perda
negativa, uma vez que a bomba adiciona energia ao fluido.
2 2
p1
gz1 2
gz2 hLT hbomba

2 2

6.7.1 Cavitação

Uma propriedade dos fluidos de grande importância para


a operação de bombeamento é a pressão de vapor ou de saturação
do fluido na temperatura da operação.
Estamos acostumados a imaginar a mudança de fases
de líquido para vapor ocorrendo sempre por um processo de

263
6 Escoamento viscoso

fornecimento de calor ao líquido, até que este ganhe energia sufi-


ciente para mudar de fase a uma dada temperatura.
A Figura 114, porém, nos mostra que a mudança de fases L-V
pode também ocorrer de outra maneira. A Figura 114 representa
um diagrama P-v-T para uma substância pura. Nesse diagrama, a
porção mais à direita do domo representa a fase de vapor, enquanto a
porção mais à esquerda representa a região da fase líquida. Podemos
observar que um líquido a uma dada temperatura pode ser par-
cialmente vaporizado mediante uma diminuição da pressão do
escoamento. Quando, ao diminuir a pressão, o ponto de trabalho
cruza a curva de saturação do fluido, verifica-se que o fluido passa
a ser uma mistura líquido-vapor.

Figura 114 – Diagrama P-v-T para uma substância pura


Fonte: adaptado de Moran et al (2018)

Assim, se a Psistema < Pvapor em algum ponto do escoamento, são


geradas bolhas de vapor ou bolhas de cavitação. Tipicamente, esse é

264
Camila Pacelly Brandão de Araújo

um potencial problema que envolve as operações de bombeamento,


devido ao fato de se verificar, no interior dos equipamentos, regiões
de baixa pressão (necessárias para que o fluido seja succionado).
Se a pressão nessas regiões ficar em um valor abaixo do valor de
saturação do fluido à temperatura de escoamento, surgirão as
bolhas de vapor, as quais implodem na medida que atingem zonas
de alta pressão novamente (dentro do próprio equipamento) e
criam ondas de choques dentro do fluido.
O fenômeno de cavitação é causa comum para a queda
de desempenho e até mesmo para a erosão de pás de hélices, de
turbinas e de bombas e deve ser evitada porque reduz a eficiência
da operação, gera vibrações e ruídos e causa severas avarias.
Um critério simples para evitar a ocorrência de cavitação é o
de que a carga líquida de pressão disponível na sucção (NPSH – Net
Pressure Suction Head) da bomba seja superior a um valor mínimo,
o qual está relacionado com a pressão de saturação do fluido.

NPSH disponível > NPSH requerido


6.8 Escoamento viscoso externo

Oba! Você chegou até aqui! Está muito orgulhoso de ter


chegado ao nosso último tópico em Mecânica dos Fluidos? Eu estou!
Agora, começaremos a tratar do escoamento viscoso quando
ele ocorre por sobre algum elemento, ou seja, o escoamento
externo viscoso! Os escoamentos externos são observados em
diversas situações:
• na análise do escoamento do ar em torno dos vários com-
ponentes de uma aeronave;

265
6 Escoamento viscoso

• no escoamento de um fluido em torno das pás de turbinas;

• em torno de automóveis, em edificações, em estádios


esportivos, em pilares de pontes;

• no projeto das chaminés industriais e nas gotículas de


pulverização;

• no projeto de submarinos, na previsão da sedimentação


de rios, em glóbulos vermelhos do sangue etc.

No início deste capítulo, tratamos do caso simples do desen-


volvimento de camada-limite em uma placa plana. Esse é o caso de
análise mais simples para o escoamento externo. Nessa situação, o
fluido tem sua inércia consumida apenas por efeitos viscosos, sendo
a velocidade e a quantidade de movimento do fluido determinadas
apenas por esses dois parâmetros. A pressão, que normalmente é
o principal agente do escoamento, foi admitida como constante
para efeito didático na apresentação da camada-limite.
Quer retomar um pouco da nossa discussão? Volte para a
seção 3.0 para refrescar a memória!
Agora trataremos do caso em que existem gradientes de
pressão no escoamento externo. A Figura 115 apresenta o esco-
amento por sobre um elemento cilíndrico submerso quando os
efeitos viscosos são desprezados (a) e considerados (b).

266
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Figura 115 – Escoamento por sobre um objeto cilíndrico submerso


Fonte: adaptado de Fox (2008)

Ao contrário do caso de placa plana, a seção disponível para


o escoamento do fluido é reduzida pela disposição do cilindro, a
qual força o fluido a se desviar dele, mesmo para o escoamento
de fluido ideal (a). É possível observar que as linhas de corrente
se aproximam na medida que o fluido se desvia do tubo. Como
vimos anteriormente, quando isso ocorre, inferimos o aumento da
velocidade do escoamento, já que as linhas de corrente são sempre
tangentes ao vetor velocidade e, por definição, não há escoamento
por meio delas.
Na perspectiva da equação de Bernoulli, para o escoamento
invíscido entre dois pontos ao longo de uma linha de corrente,
um aumento da velocidade corresponde sempre a um decréscimo
da pressão no escoamento de fluido ideal. Para o escoamento em
análise, a pressão apresenta um valor máximo no ponto A da Figura
115a e decresce até atingir o menor valor, quando a velocidade é
máxima, no ponto B. A pressão volta a crescer entre os pontos
B e C, retornando o valor máximo do ponto A e o escoamento
torna-se simétrico em relação aos eixos x e y.

267
6 Escoamento viscoso

Muito embora a relação entre a pressão e a velocidade não seja


descrita pela mesma equação, qualitativamente observa-se o mesmo
comportamento da pressão em torno do cilindro sob a carga do fluido
real da Figura 115b. A pressão também cresce entre os pontos B e D,
mas não atinge o valor máximo verificado no ponto de estagnação A.
Essa diferença de pressão entre as faces anterior e posterior do corpo
submerso que faz surgir uma força que tende a arrastar o cilindro na
direção do escoamento é conhecida como força de arrasto.
A consideração da natureza viscosa do escoamento também
impõe ao processo a formação de uma camada-limite a partir do ponto
de estagnação A. Essa camada-limite, inicialmente laminar, cresce,
similarmente ao observado para o caso da placa plana, até se tornar
instável em determinado ponto onde qualquer perturbação (ruído,
vibração ou transferência de calor) pode concorrer para sua transição
para o regime turbulento. Este fenômeno é identificado pelo ponto B
na Figura 115b e esse ponto é denominado de ponto de transição. A
camada-limite turbulenta mantém-se desenvolvendo até que ocorre
o fenômeno do descolamento em algum ponto posterior (D).
O descolamento da camada-limite pode ser analisado consi-
derando-se uma partícula fluida no interior da camada-limite entre
os pontos A e D. Entre A e B, a partícula com uma certa quantidade
de movimento é impulsionada pela diferença favorável de pressão
entre estes pontos para vencer a resistência viscosa ao seu escoamento.
Entre os pontos B e D, no entanto, ambas a diferença de pressão e
a força de atrito viscoso reúnem-se para impedir que a partícula
escoe entre esses pontos. Como a partícula já não dispõe de inércia
suficiente para vencer este duplo campo contrário ao movimento, a
partícula é desacelerada até o repouso e passa a deslocar-se segundo
a orientação D-B, caracterizando o descolamento designado pelo
ponto B na ilustração.

268
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Após o descolamento, o escoamento torna-se completamente


desordenado e ocorre a formação da esteira de vórtices, que perdura
até que a turbulência seja amortecida por efeitos viscosos.

6.9 Escoamento Fluido em torno de corpos submersos

Agora que já entendemos como ocorre a formação de uma


camada-limite sobre um objeto submerso, vamos analisar as forças
que sobre ele irão atuar em decorrência desse escoamento?
Inicialmente, devemos ter em mente que, sempre que houver
movimento relativo entre um corpo sólido e o fluido viscoso que
o circunda, o corpo experimentará uma força resultante.
O módulo dessa força poderá depender de muitos fatores
– certamente da velocidade relativa, mas também da forma e
do tamanho do corpo, e das propriedades do fluido (ρ, μ etc.).
Conforme o fluido escoa em torno do corpo, ele gerará tensões
superficiais sobre cada elemento da superfície, e é isso que fará
aparecer a força resultante.
Suponha a ação de uma força resultante conforme ilustrado
na Figura 116, atuando sobre um objeto de forma qualquer sub-
merso em um fluido viscoso que escoa.
Essa força resultante pode ser decomposta em duas com-
ponentes: uma na direção do movimento (FD – Força de arrasto)
e uma na direção perpendicular (FL – Força de sustentação) ao
movimento do fluido.
  
� FR  FD  FL

269
6 Escoamento viscoso

Da geometria do processo, podemos inferir que:

FD  FR cos  
E

FL  FR  �

Figura 116 – Força resultante no escoamento externo viscoso


Fonte: adaptado de Çengel (2008)

Tendo em vista que as tensões superficiais atuantes sobre


o objeto submerso são compostas de tensões tangenciais (devido
à ação viscosa) e de tensões normais (devido à pressão local),
podemos escrever:

dFD   PdAcoscos � �   da � sen  

dFL   PdA  �  da
� cos  

270
Camila Pacelly Brandão de Araújo

Se imaginarmos uma placa plana horizontal, como a descrita


na Figura 117, podemos observar que a força de arrasto será depen-
dente somente da contribuição dos efeitos cisalhantes (θ = 90°).

FD   dFD    PdAcoscos � �   da � sen  


dA

Se, ao contrário, a placa plana tem orientação vertical, a


força de arrasto será dependente exclusivamente da componente
relativa às tensões normais (P) (θ = 0°).

Figura 117 – Avaliação da força de arrasto sobre uma placa plana


horizontal e vertical
Fonte: adaptado de Çengel (2008)

Dividimos, portanto, a força de arrasto em duas compo-


nentes: o arrasto de atrito e o arrasto de pressão.

FD  FD ,� atrito  FD ,� pressão

271
6 Escoamento viscoso

Resumo

Neste capítulo, utilizamos a equação de conservação do


momento linear e a Lei da Viscosidade de Newton para descrever o
escoamento viscoso laminar em termos quantitativos e descrevê-lo
completamente. Para o escoamento turbulento, por não haver uma
expressão tal como a de Newton, utilizamos a ferramenta de análise
dimensional para descrever a perda de energia mecânica em um
escoamento viscoso. Em seguida, relacionamos a perda de carga
ao fator de atrito e apresentamos formas de estimá-lo: por meio
do diagrama de Moody e de correlações empíricas.
Aplicamos a equação de conservação para um escoamento
viscoso para descrevermos o comportamento de bombas e fizemos
análise similar para o escoamento externo viscoso; descrevemos
as forças de arrasto e de sustentação que surgem nesse tipo de
escoamento. Também descrevemos o arrasto de atrito e de pressão
e os calculamos.

Exercícios

1) Em um conjunto cilindro-pistão, uma região de alta


pressão é criada. O diâmetro do pistão é 8mm e ele penetra 50mm
no cilindro. A folga radial entre o pistão e o cilindro é de 0,3mm.
O óleo SAE 10W a 350°C (viscosidade absoluta = 0,04 N.s/m²)
é utilizado como fluido de lubrificação nessa folga. Considere
que o escoamento de óleo nessas condições é laminar e despreze
deformações elásticas do pistão e do cilindro causadas pela pres-
são. Estime a vazão por unidade de largura para uma pressão no
cilindro de 500 MPa.

272
Camila Pacelly Brandão de Araújo

2) Um mancal de deslizamento selado é formado por cilin-


dros concêntricos. Os raios interno e externo são 25 e 26mm,
respectivamente, o comprimento do cilindro interno é 100mm e ele
tem velocidade angular de 2800 rpm. A folga radial é preenchida
com óleo em movimento laminar. Considerando que o perfil de
velocidade é linear através da folga e que o torque necessário para
girar o cilindro interno é 0,03 N.m., estime a viscosidade do óleo.

3) Um medicamento líquido, com a viscosidade e a massa


específica da água, deve ser administrado através de uma agulha
hipodérmica. O diâmetro interno da agulha é de 0,25mm e o seu
comprimento é de 50mm. Sabendo que, em valores de Reynolds até
o valor de 2100, o escoamento é laminar, determine: (a) A máxima
vazão em volume para o qual o escoamento será laminar; (b) A
queda de pressão requerida para fornecer a vazão máxima.

4) Perda de carga pode ser definida como sendo a perda de


energia que o fluido sofre durante o escoamento viscoso. Representa
a perda de energia mecânica em um escoamento viscoso devido
ao atrito entre o fluido e a tubulação e pode ter sua magnitude
variável em função de características geométricas do escoamento,
das propriedades do fluido e das condições de fluxo de fluido. A
respeito disso, julgue os seguintes itens como verdadeiros ou falsos.
Justifique suas escolhas.
( ) A perda de carga da válvula de retenção é igual à perda
de carga da válvula de gaveta.
( ) Para duas tubulações de mesmo material, de mesmo
comprimento e de mesmo diâmetro, a perda de carga é maior no
tubo em que se observa a menor vazão.

273
6 Escoamento viscoso

( ) O regime de escoamento (laminar ou turbulento) não


influencia na perda de carga que ocorre no escoamento de um
fluido através de uma tubulação.
( ) A perda de carga ao longo de um tubo de uma insta-
lação predial depende do comprimento, do diâmetro interno, da
espessura e da rugosidade da superfície interna do tubo.
( ) A perda de carga de um fluido ao longo de uma tubulação
é proporcional ao quadrado da sua vazão.

5) Osborne Reynolds, por meio de experimentos, verificou


que fluidos reais (viscosos) escoam em regimes caracterizados
como laminar ou turbulento. Sabendo que o fluido escoa em regime
laminar, sendo a massa específica do fluido de 1800kg/m³, viscosi-
dade de 0,20kg/m.s, ao longo de 10m da tubulação com diâmetro
de 2cm e o regime de escoamento obedece a função de velocidade
para qualquer valor do raio do tubo v (r) = 8 (1 - (r/R)²), determine
o número de Reynolds e a vazão volumétrica em m³/h. Calcule o
comprimento de entrada e esquematize abaixo a camada -limite
de uma tubulação e a região onde o escoamento se apresenta com
o regime plenamente em desenvolvimento. Determine a tensão de
cisalhamento na parede da tubulação.

6) O petróleo bruto recém-extraído do pré-sal apresenta


peso específico de 8500N/m³ e viscosidade dinâmica de 4.10-3
Pa.s. Esse óleo deve escoar em um oleoduto de 1,2m de diâmetro
em uma tubulação rugosa (ε = 0,091mm). Determine a tensão de
cisalhamento na parede da tubulação de 300 metros de compri-
mento, onde o fluido escoa a uma velocidade média igual a 3,0 m/s.
A velocidade para r = R/2,5.

274
Camila Pacelly Brandão de Araújo

7) Numa certa instalação de ar-condicionado, é requerida


uma vazão de 35m³/min de ar nas condições padrão. Um duto
quadrado fabricado em chapa de aço fina (e = 0,045mm), com 0,3m
de lado, deve ser usado. Determine a queda de pressão para um
trecho de 30m de um duto horizontal. Considere a massa específica
do ar sendo 1,23kg/m³ e sua viscosidade dinâmica de 1,45.10-5Pa.s.

8) Em um campo de exploração, água para resfriamento de


perfuratrizes de rocha é bombeada em uma tubulação de alumínio
com rugosidade de 1,5.10-6m de um reservatório para o local da
perfuração, conforme a figura abaixo. A vazão deve ser de 40L/s
e a água (ρ = 1000kg/m³ e υ = 8.10-7m²/s) deve deixar o tubo com
uma velocidade de 37m/s. a) Calcule o número de Reynolds e
determine o fator de atrito usando a Equação de Colebrook e pelo
gráfico de Moody; b) calcule a perda de carga distribuída e a perda
de carga localizada e, c) determine a potência de acionamento da
bomba com um rendimento de 80%.

275
6 Escoamento viscoso

9) A esfera mostrada na figura abaixo apresenta diâmetro


e massa iguais a 51mm e 64g. Observe que a esfera está sendo
sustentada por um jato de ar. O coeficiente de arrasto da esfera vale
0,5. Determine a pressão indicada no manômetro, considerando
que os efeitos gravitacionais e os devidos ao atrito são desprezíveis
no escoamento entre a seção onde está instalado o manômetro e
a seção de descarga do bocal.

10) Um caminhão, com massa total igual a 22,7 toneladas,


perde o freio e desce a ladeira de concreto indicada na figura
abaixo. A velocidade terminal do caminhão, V, é determinada
pelo equilíbrio das forças peso, pela resistência ao rolamento e
pelo arrasto aerodinâmico. Admita que a resistência ao rolamento
é igual a 1,2% do peso do caminhão e que o coeficiente de arrasto é
0,96 quando o defletor de ar montado na cabine não está presente
e 0,70 quando o defletor está presente. Determine a velocidade
terminal do caminhão nestas duas situações.

276
Lista de figuras

Figura 1 – Escopo da Mecânica dos Fluidos...................................................8


Figura 2 – Estados físicos da matéria e forças intermoleculares................9
Figura 3 – Alguns tipos de esforços mecânicos aplicados a um material...9
Figura 4 – Comportamento de sólidos e fluidos frente a um
esforço cisalhante................................................................................................10
Figura 5 – Métodos de descrição do escoamento de fluidos........................13
Figura 6 – A hipótese do contínuo e a determinação da massa específica...14
Figura 7 – Sala de aula hipotética e regiões de massa específica distintas
no domínio...........................................................................................................16
Figura 8 – Forças atuantes sobre um meio contínuo..................................19
Figura 9 – Componentes da força e das tensões sobre o elemento de área
orientado conforme os eixos coordenados x, y, z........................................20
Figura 10 – Estado de tensões de uma partícula fluida e tensor de tensões....20
Figura 11 – Escoamento de um fluido entre duas placas planas paralelas...21
Figura 12 – Comportamento reológico de fluidos newtonianos e
não newtoniano...................................................................................................25
Figura 13 – Comportamento da viscosidade de fluidos em
função da temperatura..................................................................................26
Figura 14 – Alguns exemplos de efeitos da tensão superficial.................27
Figura 15 – Forças não balanceadas na superfície de um líquido...........28
Figura 16 – Ângulo de contato para avaliação da molhabilidade de um
fluido sobre uma superfície..............................................................................28
Figura 17 – Estimativa da altura de um menisco de um dado fluido....29
Figura 18 – Efeito capilar para água e para o mercúrio.............................29
Figura 19 – Dependência do campo de velocidades e classificação com
respeito às coordenadas espaciais...................................................................32
Figura 20 – Regimes de escoamento interno de fluidos............................33
Figura 21 – Trajetórias de partículas em escoamentos laminar e turbulento
unidimensionais.................................................................................................................34
Figura 22 – Razão de pesos específicos inicial e final com respeito ao Ma....34
Figura 23 – Configurações espaciais do escoamento......................................35
Figura 24 – Linhas de tempo como forma de visualização de um escoamento.....36
Figura 25 – Linhas de trajetória..................................................................................36
Figura 26 – Linhas de emissão....................................................................................37
Figura 27 – Linhas de corrente desenhadas para uma região de um escoamento..37
Figura 28 – Ilustração de uma linha de corrente e sua relação com os compo-
nentes do campo de velocidades..............................................................................38
Figura 29 – Elemento prismático triangular e forças sobre ele atuantes...........43
Figura 30 – Aplicação do Princípio de Pascal em um elevador mecânico........45
Figura 31 – Elemento fluido infinitesimal em um sistema de coordenadas
cartesianas.............................................................................................................45
Figura 32 – Princípio de Stevin..................................................................................48
Figura 33 – Considerações na obtenção da equação geral da estática........49
Figura 34 – Variação de pressão no interior de uma massa fluida......................50
Figura 35 – Relação linear da pressão com a profundidade em uma massa
de fluido incompressível........................................................................................51
Figura 36 – Variação de temperatura com a altitude na atmosfera-padrão nos
Estados Unidos...........................................................................................................53
Figura 37 – Níveis de pressão....................................................................................54
Figura 38 – Barômetro................................................................................................55
Figura 39 – Tubo piezométrico...............................................................................56
Figura 40 – Tubo em U.............................................................................................57
Figura 41 – Medição de diferenças de pressão usando um tubo em U...........58
Figura 42 – Manômetro de tubo inclinado...............................................................59
Figura 43 – Manômetro de Bourdon.........................................................................60
Figura 44 – Transdutor de pressão.........................................................................61
Figura 45 – Distribuição da pressão em uma superfície horizontal plana.....63
Figura 46 – Distribuição da carga de pressão hidrostática em uma superfície
plana vertical.............................................................................................................63
Figura 47 – Superfície plana inclinada e a composição de força..................64
Figura 48 – Determinação do centro geométrico de uma superfície.................65
Figura 49 – Coordenadas do centro geométrico e o momento de inércia de
algumas figuras.........................................................................................................68
Figura 50 – Determinação da força hidrostática em superfícies curvas
submersas...........................................................................................................69
Figura 51 – Determinação da força hidrostática em superfície está acima
do líquido...............................................................................................................70
Figura 52 – Exemplos de situação em que o empuxo pode ser verificado.......70
Figura 53 – Empuxo sofrido por um elemento submerso.........................71
Figura 54 – Estabilidade de embarcações......................................................73
Figura 55 – Abordagem por sistemas versus abordagem por volume de
controle............................................................................................................................79
Figura 56 – Representação do volume de controles e superfície de controle
em uma tubulação...................................................................................................79
Figura 57 – Convenção de sinais para a Primeira Lei da Termodinâmica.........82
Figura 58 – Porção de fluido em escoamento nos instantes t0 (a) e t0 + ∆t (b).......85
Figura 59 – Vista ampliada da sub-região III.......................................................87
Figura 60 – Avaliação do produto escalar..................................................................88
Figura 61 – Representação da conservação da massa para um V.C...........91
Figura 62 – Volume de controle fixo.....................................................................94
Figura 63 – Volume de controle em movimento uniforme...............................95
Figura 64 – Trabalho realizado sobre o volume do controle.................................97
Figura 65 – Regiões de escoamento viscoso e não viscoso de um escoamento
sobre um aerofólio....................................................................................................102
Figura 66 – Funcionamento de um dispositivo Tubo de Pitot para medição
de velocidades..........................................................................................................104
Figura 67 – Análise integral para um V.C..........................................................109
Figura 68 – Análise diferencial................................................................................109
Figura 69 – Transformação das equações integrais para a formulação
diferencial.........................................................................................................................111
Figura 70 – Elemento infinitesimal e respectivas componentes da velocidade e
valores de massa específica e pressão....................................................................111
Figura 71 – Expansão em série de Taylor para o produto componente da
velocidade em cada direção...................................................................................112
Figura 72 – Manipulação matemática para conservação da massa
diferencial...................................................................................................................113
Figura 73 – Volume de controle infinitesimal em coordenadas cilíndricas..115
Figura 74 – Conservação da massa em coordenadas cilíndricas - avaliação de
termos.......................................................................................................................115
Figura 75 – Componentes do movimento de uma partícula fluida........116
Figura 76 – Translação de uma partícula fluida.....................................................117
Figura 77 – Aceleração da partícula fluida.......................................................118
Figura 78 – Aceleração convectiva em um escoamento em regime permanente..119
Figura 79 – Deformação linear pura de uma partícula fluida........................120
Figura 80 – Diferenças de velocidade ao longo da direção x para uma partícula
fluida.....................................................................................................................121
Figura 81 – Rotação pura da partícula fluida em torno do eixo z....................122
Figura 82 – Rotação de uma partícula fluida em torno de z........................123
Figura 83 – Variação de valores da componente v da velocidade.....................124
Figura 84 – Partícula fluida em deformação angular pura...........................126
Figura 85 – Decomposição da força de campo gravitacional para uma
partícula fluida........................................................................................................129
Figura 86 – Tensões em cada uma das faces da partícula fluida para a
direção X...............................................................................................................130
Figura 87 – Composição de forças de campo e superfície e suas componentes
para uma partícula fluida.....................................................................................131
Figura 88 – Somatório de Forças atuando sobre uma partícula fluida......132
Figura 89 – Dimensão versus unidade de medida......................................139
Figura 90 – SI e suas grandezas e unidades básicas.............................................140
Figura 91 – Homogeneidade dimensional na soma de frutas.............................141
Figura 92 – Experimentação envolvida no estudo do escoamento ao redor
de uma esfera..........................................................................................................142
Figura 93 – Descrição dos experimentos e dados para o problema do esco-
amento ao redor da esfera.....................................................................................142
Figura 94 – Relação entre arrasto e nº de Reynolds para o escoamento
sobre uma esfera..................................................................................................146
Figura 95 – Critério de similaridade geométrica................................................147
Figura 96 – Critério de similaridade cinemática.................................................147
Figura 97 – Critério de similaridade dinâmica.....................................................148
Figura 98 – Característica viscosa dos fluidos newtonianos em um escoa-
mento laminar entre placas planas.......................................................................156
Figura 99 – Experimento de Reynolds e regimes de escoamento para tubos....157
Figura 100 – Desenvolvimento de camada-limite sobre uma placa plana...158
Figura 101 – Aspectos qualitativos do escoamento interno viscoso......160
Figura 102 – Elemento infinitesimal para análise do escoamento viscoso
incompressível......................................................................................................162
Figura 103 – Elemento infinitesimal e forças atuantes sobre o V.C...............163
Figura 104 – Distribuição de tensão de cisalhamento e perfil de velocidades
em uma seção do escoamento...............................................................................164
Figura 105 – Diferenças de pressão ao longo do escoamento em uma tubulação...164
Figura 106 – Comportamento da velocidade no escoamento turbulento......169
Figura 107 – Tensão cisalhante para o escoamento laminar (esquerda) e
turbulento (direita)................................................................................................169
Figura 108 – Distribuição da tensão cisalhante em uma seção transversal
para o escoamento turbulento...............................................................................171
Figura 109 – Relação entre o número de Reynolds e o expoente n da lei
de potência.......................................................................................................172
Figura 110 – Efeito do número de Reynolds sobre o perfil de velocidades......172
Figura 111 – Rugosidades em uma tubulação..................................................178
Figura 112 – Representação do Diagrama de Moody.......................................179
Figura 113 – Método dos comprimentos equivalentes..................................181
Figura 114 – Diagrama P-v-T para uma substância pura...............................184
Figura 115 – Escoamento por sobre um objeto cilíndrico submerso.............186
Figura 116 – Força resultante no escoamento externo viscoso.........................188
Figura 117 – Avaliação da força de arrasto sobre uma placa plana horizontal
e vertical...............................................................................................................189
Lista de símbolos
ρ – massa específica (kg/m³)
σ – tensão normal (N/m²)
τ – tensão cisalhante (N/m²)
η – viscosidade aparente
μ – viscosidade absoluta (Pa.s)
ω – velocidade angular (rad/s)
δ – espessura da camada limite
ν – viscosidade cinemática (m²/s²)
– Campo de velocidade
∀ - Volume (m³)
SG – Densidade relativa
d – Densidade absoluta
γ – peso específico (N/m³)
v – volume específico (m³/kg)
Fs – Forças de superfície (N)
FB – Forças de campo (N)
– Taxa de realização de trabalho (W)
eixo
– Taxa de realização de trabalho de eixo (W)
normal
– Taxa de realização de trabalho pelas tensões normais (W)
cisalhamento
– Taxa de realização de trabalho pelas tensões cisalhantes (W)
outros
– Taxa de realização de trabalho por outras fontes (W)
Referências
ALÉ, Jorge A. Villar. MECÂNICA DOS FLUIDOS, Curso Básico, Porto
Alegre, 2011. 209p.
BRUNETTI, Franco. Mecânica dos fluidos. 2. ed. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2008, 431p.
ÇENGEL, Yunus A. et al. Mecânica dos fluidos: fundamentos e
aplicações. São Paulo: McGraw-Hill, 2007, 816p. ISBN: 9788586804588.
DERIVADA. In: WIKIPEDIA, 2021. Disponível em <https://
pt.wikipedia.org/wiki/Derivada> Acesso em: 20 mar. 2020.
DUARTE, Raimundo N. C. Mecânica dos Fluidos Aplicada – Volume
A - Caderno de texto. Campina Grande: 1997.
FOX, Robert W.; MCDONALD, Alan T.; PRITCHARD, Philip J.
Introdução à mecânica dos fluidos. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC – Livros
Técnicos e Científicos Editora LTDA., 2011. 710p. ISBN: 9788521617570.
MAGALHÃES, C. O Sistema Internacional de Unidades (SI), Rev.
Ciência Elem., V9(01):003. doi.org/10.24927/rce2021.003, 2021.
MORAN, Michael J., SHAPIRO, Princípios de termodinâmica para
engenharia. 6ª. ed. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos
Editora LTDA., 2009, 800p. ISBN 978-85-216-1689-4.
MUNSON, Bruce Roy; YOUNG, Donald F; OKIISHI, T. H.
Fundamentos da mecânica dos fluídos. 4. ed. São Paulo: Edgard
Blucher, 2004, 501p. ISBN 85-212-0343-8.
MUNSON, Bruce Roy; YOUNG, Donald F; OKIISHI, T. H. Uma introdução
concisa a mecânica dos fluidos. São Paulo: Edgard Blucher, 2004. 384p.
WHITE, Frank M. Mecânica dos fluidos. 6. ed. Porto Alegre: AMGH,
2011. 880p. ISBN: 9788563308214
VILANOVA, Luciano C. Mecânica dos fluidos. 3. ed. Santa Maria, Rio
Grande do Sul: Colégio Técnico Industrial de Santa Maria, Curso em
Automação Industrial, 2011, 82p.
WHITE, Frank M. Mecânica dos fluidos. 4. ed. São Paulo: McGraw-
Hill, 1999. 448p.
Sobre a autora
Graduada, mestre e doutora em Engenharia Química pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN (2013,
2015 e 2018, respectivamente). Atualmente, é Professora Adjunta
do Magistério Superior na Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN), atuando na disciplina de Mecânica dos Fluidos
para a Escola de Ciência e Tecnologia e na linha de pesquisa de
Fluidodinâmica Computacional aplicada à escoamentos hiper-
sônicos para a área de Engenharia Aeroespacial e com Processos
Químicos e Catálise, com ênfase em Reatores Heterogêneos para o
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da UFRN.

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