Conceitos e Referências em Plantas Medicinais - Contribuição À Implantação Da Fitoterapia No SUS PDF
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ISSN: 2595-6825
DOI:10.34119/bjhrv4n5-241
Ângela Sperry
Farmacêutica
Mestre em Ciências Farmacêuticas - Consultora
Rua Dr. Barros Cassal, 602/11 – Floresta - Porto Alegre - RS
E-mail: [email protected]
RESUMO
Este trabalho busca nivelar o conhecimento dos conceitos, políticas públicas existentes
em Fitoterapia, suas diretrizes, legislação e estratégias que necessitam ser compreendidas
por gestores e por profissionais de saúde para uma efetiva implantação no SUS. Aborda
ainda o contexto histórico e o aspecto intersetorial dessa terapêutica. Pretende contribuir
para o processo de decisão sobre a sua implantação, compondo a pauta sobre a
complexidade da Fitoterapia, suas possibilidades, diferentes abordagens e insumos
terapêuticos. A revitalização das práticas médicas antigas é uma tendência, uma vez que
permitem respostas alternativas aos problemas gerados pela especialização excessiva da
medicina convencional ocidental, sendo a Fitoterapia a prática integrativa mais difundida
na Atenção Primária. Há de se buscar ambiente adequado para conferir e garantir ao
conhecimento tradicional o seu reconhecimento formal e sua utilização nos serviços de
saúde. A busca pela maior aproximação das práticas de saúde com a natureza, e que os
recursos terapêuticos sejam naturais e processados o menos possível, são valores da
humanização do serviço e dos processos de trabalho. É preciso discutir com as equipes
de saúde o respeito ao conhecimento tradicional/popular, desconstruindo e reconstruindo
referências cristalizadas pelo conhecimento científico e seu predomínio na formação da
legislação em saúde.
Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.5, p. 21552-21568 sep./oct. 2021
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ISSN: 2595-6825
ABSTRACT
This work intends to level the knowledge of the concepts, existing public policies in
Phytotherapy, its guidelines, legislation and strategies that need to be understood by
managers and health professionals for an effective implantation in SUS. It also
approaches the historical context and the intersectorial aspect of this therapy. It intends
to contribute to the decision process on its implantation, composing the agenda about the
complexity of Phytotherapy, its possibilities, different approaches and therapeutic inputs.
The revitalization of old medical practices is a trend, since they allow alternative
responses to the problems generated by the excessive specialization of western
conventional medicine, with Phytotherapy being the most widespread integrative practice
in Primary Care. An adequate environment must be sought to confer and ensure to the
traditional knowledge its formal recognition and its use in health services. The search for
a closer approximation between health practices with nature, and that therapeutic
resources are natural and it processed as little as possible, are values of the humanization
of the service and of the work processes. It is necessary to dialogue with the health
professionals the respect for traditional/ popular knowledge, deconstructing and
reconstructing references crystallized by scientific knowledge and its predominance in
the formation of health legislation.
1 INTRODUÇÃO
A inserção da Fitoterapia no SUS é objetivo de duas políticas públicas formuladas
em 2006, em momento de respostas à agenda por políticas públicas e sociais, num clima
de reivindicação popular por essa terapêutica, prática no cuidado em saúde. As diretrizes
da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, PNPMF (BRASIL, 2006a), e
da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, PNPIC (BRASIL,
2006b), representam a conquista da agenda governamental pela Fitoterapia e também das
propostas acadêmicas e de organizações internacionais de saúde pela sua introdução nos
sistemas de saúde.
A institucionalização da Fitoterapia como política pública também vem sendo
acompanhada por estados e municípios em todo o país, como no Rio Grande do Sul, onde
é instituída por lei (RIO GRANDE DO SUL, 2006) e que derivou Nota Técnica de
orientação aos municípios para sua inserção na Rede de Atenção à Saúde (RIO GRANDE
DO SUL, 2020).
Essas políticas envolvem desafios os mais diversos, as quais retratam em suas
diretrizes a complexidade das questões que envolvem a Fitoterapia. Desde a preservação
das espécies medicinais e da cultura em torno do seu uso até a inovação farmacêutica, um
conjunto de valores, campos de conhecimento, atores e relações diversas permeiam seus
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Fitoterapia Indígena, na Medicina das nações nativas, ainda existentes e que preservaram
seu conhecimento e sua farmacopeia. Também pode referir à Medicina Tradicional
Chinesa, à Medicina Ayurvédica, ou outras ainda, delimitadas por tradição ou nação.
E ainda, há de se ter claro que nem sempre o termo “popular” tem a ver com o uso
tradicional legítimo, mas sim com adaptações ou alterações de uso ou da composição de
misturas de plantas medicinais, utilizadas correntemente em comunidades de acordo com
as tradições dos povos que a constituíram. Além disso, esse conhecimento se mistura a
outros, deformando-o e agregando até nomes fantasia e de marcas de medicamentos a
plantas medicinais, como a adoção de termos com significado na farmacoterapia como
“insulina”, “novalgina”, “hortelã-vick”, etc.
Importante discutir a questão da Farmácia Viva, que é um conceito e uma
categoria de estabelecimento farmacêutico restrito ao âmbito do poder público do SUS.
Baseado na contribuição de José de Abreu Matos, da sua experiência exitosa de
integração entre o conhecimento tradicional e popular e o conhecimento científico,
conforme apresentado em Brasil (BRASIL, 2012), a expressão “Farmácia Viva” passou
a ter um conceito claro, instituído pela Portaria Nº 886 de 20 de Abril de 2010 do
Ministério da Saúde, revogada pela Portaria de Consolidação No 5 de 28 de setembro de
2017(BRASIL, 2017):
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todas as formas de uso e produtos de plantas medicinais utilizados na Fitoterapia
dispõem de regramento desde a produção até o consumo. A vigilância deve ser adequada,
qual seja a de não distanciar os conhecimentos, mas que os inclua de forma segura nas
práticas de saúde, com avaliação da segurança e eficácia terapêutica no seu contexto de
uso. Há plantas utilizadas no contexto do uso tradicional que não se adéquam como
recursos terapêuticos às regras da racionalidade médico-farmacêutica nem aos seus
modelos de pesquisa e testes.
A cientificidade se impõe no sistema de saúde, como base para as escolhas
terapêuticas e para os processos de decisão e legislação. Entretanto, como discutido
anteriormente, é importante afirmar o reconhecimento de saberes tradicionais, de base
empírica, que têm ampla garantia de segurança e eficácia comprovadas pela tradição de
uso. É preciso distensionar a utilização desses nas equipes de saúde, incluindo nas práticas
a informação e orientação sobre os critérios para a utilização de plantas medicinais, assim
como suas referências científicas e legislação.
O regramento para plantas medicinais e fitoterápicos, no período pós PNPMF,
avançou no sentido do uso de plantas medicinais (in natura ou como chá medicinal) até
o registro de fitoterápicos com base no uso tradicional, conforme consta na Biblioteca de
Medicamentos/ANVISA (BRASIL, 2021) e nos relatórios da Coordenação da PNPMF
(BRASIL, 2019). Entretanto, cabe ter presente a necessidade de adequação da legislação
a novos conhecimentos que possam surgir da prática do serviço e da pesquisa, e que
mantenha a inclusão do conhecimento tradicional.
A exigência de base científica sempre norteou a incorporação de insumos e
tecnologias nos sistemas de saúde, e, assim, a legislação, os protocolos e as práticas.
Entretanto, há de se discutir também o contexto das práticas tradicionais como o uso para
a dimensão espiritual aceita por muitas racionalidades médicas tradicionais, como, por
exemplo, a indígena brasileira e latino-americana, assim como a chinesa e a indiana,
dentre outras. Isso dificulta a comprovação científica e a adequação de formas de uso,
dose, da formulação, etc., mas que não necessariamente incorram em ausência de eficácia
e segurança. A inserção dessas práticas nas rotinas das equipes de saúde, e por decorrência
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das diretrizes das políticas de saúde, é dificultada por não seguirem as referências
convencionais, estabelecidas nos códigos farmacêuticos e não obterem adequação.
Ampliar a informação e a compreensão desses contextos e conceitos é
fundamental. É preciso informar e capacitar desde as possibilidades de uso da planta
fresca (in natura), ou como produto fitoterápico, já incorporado à legislação, assim como
a modalidade da Farmácia Viva. Acrescentem-se as várias regulamentações profissionais
(farmacêuticos, nutricionistas, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais,
odontólogos, etc.) que autorizam a prescrição, indicação e orientação sobre o uso de
plantas medicinais na Atenção Primária em Saúde.
Promover esse debate em direção a maior aceitação de práticas e produtos de
eficácia validados pelo uso tradicional implica, afinal, em reconhecer que há outros
conhecimentos tão dignos e valorosos quanto o conhecimento científico; ou seja, há
“conhecimentos” a serem respeitados, e não só o conhecimento científico e sua ampla
comprovação, favorecida pela predominância das linhas de financiamento de pesquisa e
pelo sistema de publicações. Há de se buscar ambiente adequado para conferir e garantir
ao conhecimento tradicional o seu reconhecimento formal e sua utilização nos serviços
de saúde.
A Farmácia Viva, com o estímulo ao uso do chá medicinal, da planta medicinal in
natura e de preparações magistrais com drogas vegetais conforme as origens desse
modelo, é uma experiência exitosa na humanização da atenção, na ampliação da oferta de
opções terapêuticas no cuidado, que deve ser valorizada na sua originalidade, nas suas
referências e valores. Assim como a incorporação desse modelo e dessas tecnologias, com
adequados processos de trabalho e eficiência, promove redução no custeio da Assistência
Farmacêutica, um dado importante para a tomada de decisão e para atender a necessidade
de conferir monitoramento e apoio administrativo aos projetos.
Essa questão implica em se reavaliarem os desdobramentos da instituição da
Farmácia Viva, em relação à sua regulamentação, que a alinhou ao regramento da
Farmácia Magistral. A RDC ANVISA Nº 18 de 2013 (BRASIL, 2013b), que instituiu as
boas práticas de manipulação para Farmácias Vivas, a equiparou à Farmácia Magistral.
Entende-se que essa generalização não considerou a proposta de simplicidade tecnológica
e de Atenção Primária que caracteriza a Farmácia Viva iniciada por Matos.
A norma se equipara ao instituído para farmácias com manipulação em relação às
suas práticas, se diferenciando pela etapa de cultivo e não consolida a proposta de Matos
visto não classificar as Farmácias Vivas até a manipulação para chá medicinal. Assim, a
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REFERÊNCIAS
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ISSN: 2595-6825
RIO GRANDE DO SUL. Casa Civil. Lei n. 12.560, de 12 de julho de 2006. Institui a
política intersetorial de plantas medicinais e de medicamentos fitoterápicos no estado do
Rio Grande do Sul e dá outras providências. Diário Oficial do Estado do Rio Grande do
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