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FICHA de TRABALHO

Ficha de Trabalho
Português, 9.º Ano

GRUPO I [50%]

Após uma leitura atenta dos textos que se seguem, responda, de forma clara, objetiva e cuidada, às
questões que lhe são apresentadas. Se necessário, consulte o vocabulário dado.

PARTE A [15%]

Contei noutro lugar como e porquê me chamo Saramago. Que esse Saramago não era um apelido do lado paterno,
mas sim a alcunha por que a família era conhecida na aldeia. Que indo o meu pai a declarar no Registo Civil da Golegã o
nascimento do seu segundo filho, sucedeu que o funcionário (chamava-se ele Silvino) estava bêbado (por despeito1,
disso o acusaria sempre meu pai), e que, sob os efeitos do álcool e sem que ninguém se tivesse apercebido da
onomástica2 fraude, decidiu, por sua conta e risco, acrescentar Saramago ao lacónico3 José de Sousa que meu pai
pretendia que eu fosse. E que, desta maneira, finalmente, graças a uma intervenção por todas as mostras divina, refiro-
-me, claro está, a Baco, deus do vinho e daqueles que se excedem a bebê-lo, não precisei de inventar um pseudónimo
para, futuro havendo, assinar os meus livros. (...)
Entrei na vida marcado com este apelido de Saramago sem que a família o suspeitasse, e foi só aos 7 anos, quando,
para me matricular na instrução primária, foi necessário apresentar certidão de nascimento, que a verdade saiu nua do
poço burocrático4, com grande indignação de meu pai, a quem, desde que se tinha mudado para Lisboa, a alcunha
desgostava. Mas o pior de tudo foi quando, chamando-se ele unicamente José de Sousa, como ver se podia nos seus
papéis, a Lei, severa, desconfiada, quis saber por que bula5 tinha ele então um filho cujo nome completo era José de
Sousa Saramago. Assim intimado, e para que tudo ficasse no próprio, no são e no honesto, meu pai não teve outro
remédio que proceder a uma nova inscrição do seu nome, passando a chamar-se, ele também, José de Sousa
Saramago.
Suponho que deverá ter sido este o único caso, na história da humanidade, em que foi o filho a dar o nome ao pai.
Não nos serviu de muito, nem a nós nem a ela, porque meu pai, firme nas suas antipatias, sempre quis e conseguiu que
o tratassem unicamente por Sousa.

José Saramago, As Pequenas Memórias, Porto Editora, 2014

VOCABULÁRIO
1
despeito: ressentimento, vingança.
2
onomástica: ciência que estuda o nome próprio das pessoas.
3
lacónico: curto, sucinto, breve.
4
burocrático: resolução dos assuntos por escrito e dependentes
da assinatura de vários funcionários.
5
bulas: artimanhas, palpites, embustes.

1. As afirmações apresentadas de (A) a (F) registam as duas facetas essenciais deste texto de memórias: a de crítica a
um serviço público e a de apresentação de um facto biográfico. [2,5 pontos]
1.1. Distinga as frases que dizem respeito à crítica a um serviço das que se referem a factos biográficos do autor.

(A) O pai conseguiu que, a ele, nunca ninguém lhe chamasse senão Sousa.

IMP.DP.008-00 1/5
PROVA ESCRITA DE AVALIAÇÃO

(B) O funcionário de Registo Civil da Golegã estava ao trabalho apesar de (ao que parece) não estar com a
lucidez que se impunha.
(C) A família só sete anos mais tarde soube do engano que tinha havido no registo, quando pediu uma certidão de
nascimento para a matrícula na escola.
(D) O apelido veio a ser um útil pseudónimo para o escritor.
(E) A irresponsabilidade do funcionário do Registo Civil (motivada ao que parece pela embriaguez) levou à
introdução ilegal de uma alcunha no nome registado.
(F) Excessos burocráticos forçaram a que o pai adotasse o apelido que estava, por erro, no registo do filho.

2. Selecione, em cada um dos itens de 2.1. a 2.4., a única alternativa que permite obter uma afirmação adequada ao
sentido do texto. Escreva, na folha de respostas, o número de cada item, seguido da letra que identifica a alternativa
correta. [10 pontos]
2.1. Saramago era a alcunha que na aldeia tinham dado à família de José de Sousa, mas

(A) passou de alcunha a apelido oficial por desinteresse da família.


(B) passou de alcunha a pseudónimo adotado, muito mais tarde, pelo escritor.
(C) passou de alcunha a apelido oficial por erro do funcionário do registo, de que a família só se apercebeu muitos
anos depois.
(D) passou de alcunha a apelido oficial por força do uso popular que foi passando de geração em geração.

2.2. Na passagem textual «Entrei na vida marcado com este apelido de Saramago sem que a família o suspeitasse,
[…]» (linha 9), o pronome sublinhado está a referir-se a

(A) «este apelido de Saramago».


(B) «Saramago».
(C) «Entrei na vida marcado».
(D) «a família».

2.3. José de Sousa, pai do autor,

(A) passou a gostar da sua alcunha, em Lisboa.


(B) nunca gostou da sua alcunha.
(C) sempre gostou da sua alcunha.
(D) deixou de gostar da sua alcunha, em Lisboa.

2.4. A partir do excerto textual «[Graças ao deus Baco] não precisei de inventar um pseudónimo para, futuro
havendo, assinar os meus livros.» (linhas 7-8), conclui-se que pela maneira como a conta

(A) a história da origem do seu apelido diverte o autor.


(B) a história da origem do seu apelido irrita o autor.
(C) a história da origem do seu apelido é motivo de orgulho para o autor.
(D) a história da origem do seu nome nunca despertou o interesse do autor.

3. Selecione a opção que corresponde à única afirmação falsa, de acordo com o sentido do texto. Escreva, na folha de
respostas, o número do item, seguido da letra que identifica a alternativa correta. [2,5 pontos]

(A) O pai de José Saramago exigiu ser tratado pelo seu apelido de sempre – Sousa.

IMP.DP.008-00 2/5
PROVA ESCRITA DE AVALIAÇÃO

(B) O pai de José Saramago sentia-se orgulhoso por ter o mesmo nome do único Nobel da literatura portuguesa.
(C) O pai de José Saramago foi vítima de uma burocracia absurda que o obrigou a mudar de nome já na idade
adulta.
(D) José Saramago acha que o que sucedeu ao pai acaba por ser único.
PARTE B [35%]

15 de julho de 1993

À entrada do auditório, umas mocinhas da Universidade encarregam-se da venda dos livros de Torrente1. Escolho
uma meia dúzia deles e fico à espera de que me façam as contas e digam quanto tenho de pagar. Seis livros, seis
parcelas de uma soma simples, nenhuma delas com mais de quatro dígitos. A primeira tentativa falhou, a segunda não foi
melhor. Eu olhava, assombrado, o modo como a rapariga ia somando, dizia sete mais seis, treze, e vai um, escrevia 3 na
soma, 1 ao lado, e prosseguia, adicionando por escrito os que iam aos que estavam, como, nos velhos tempos, um
estudante da primeira classe antes de aprender a usar a memória. Uma colega explicou-me com um sorriso meio
envergonhado: «É que falta a máquina.» Diante daquela florida e ignorante juventude, senti-me de súbito, infinitamente
sábio em aritméticas: pedi o papel e o lápis, e, com um ar de triunfo condescendente2, rematei a soma num instante,
mentalmente. As pobres pequenas ficaram esmagadas, confusas, como se, tendo-lhes faltado os fósforos no meio da
selva, lhes tivesse aparecido um selvagem com dois pauzinhos secos e a arte de fazer lume sem calculadora.

José Saramago, Cadernos de Lanzarote, Diário I, Porto Editora, 2016

VOCABULÁRIO
1
Torrente: Gonçalo Torrente Ballester, escritor espanhol (1910-1999).
2
condescendente: tolerante, bondoso.

1. Refira o motivo que levou o autor a registar este episódio no seu diário. [4 pontos]

2. Em cada uma das seguintes alíneas, indique os sentimentos dos sujeitos e explique o que os motivou.

2.1. «Eu olhava, assombrado […].», linha 5. [4 pontos]


2.2. «Uma colega explicou-me com um sorriso meio envergonhado: […].», linhas 7-8. [4 pontos]
2.3. «[…] senti-me de súbito, infinitamente sábio em aritméticas: […].», linhas 8-9. [4 pontos]
2.4. «As pobres pequenas ficaram esmagadas, confusas, […].», linha 10. [4 pontos]

3. Identifique o recurso expressivo presente na última frase do texto e explicite a sua expressividade. [5 pontos]

4. Mencione a intenção crítica implícita que o episódio narrado apresenta. [5 pontos]

5. Comprove, indicando e exemplificando textualmente, no mínimo, duas características, que o texto apresentado é a
página de um diário. [5 pontos]

GRUPO II [35%]

1. Atente na seguinte frase.

IMP.DP.008-00 3/5
PROVA ESCRITA DE AVALIAÇÃO

Uma soma simples, uma conta fácil que se tornou complicada por falta da preciosa máquina de calcular.

1.1. Transcreva todos os adjetivos presentes na frase e indique a sua respetiva subclasse. [4 pontos]

1.2. Reescreva a frase, substituindo o grau normal dos adjetivos utilizados pelo grau superlativo absoluto sintético.
[5 pontos]
2. Observe o seguinte excerto textual, retirado do texto da Parte B.

«[…] com um ar de triunfo […].» (linha 9)

2.1. Reescreva a frase, substituindo o nome da expressão sublinhada por um sinónimo. [3 pontos]

2.2. Substitua a expressão sublinhada por: [4 pontos]

(A) um adjetivo formado a partir de «triunfo».


(B) um advérbio formado a partir de «triunfo».

3. Associe cada palavra da coluna A (retiradas do texto da Parte A) à sua respetiva classe e subclasse na coluna B.
Escreva, na folha de respostas, a letra de cada item, seguida do número que identifica a alternativa correta. [7 pontos]

COLUNA A COLUNA B
(A) 1. Verbo auxiliar.
(B) 2. Verbo copulativo.
(C) 3. Verbo transitivo direto.
(D) «esse» (linha 1); 4. Determinante artigo.
(E) «não» (linha 1); 5. Determinante relativo.
(F) «sim» (linha 2); 6. Determinante demonstrativo.
(G) «seu» (linha 3); 7. Determinante possessivo.
(H) «o» (linha 4); 8. Determinante indefinido.
(I) «só» (linha 9); 9. Advérbio de afirmação.
(J) «tinha» (linha 11); 10. Advérbio de predicado, com valor de modo.
(K) «então» (linha 13); 11. Advérbio de predicado, com valor de tempo.
(L) «cujo» (linha 13); 12. Advérbio de predicado, com valor de lugar.
(M) «Assim» (linha 14). 13. Advérbio de exclusão.
(N) «outro» (linha 14); 14. Advérbio de inclusão.
«também» (linha15); 15. Advérbio de quantidade e grau.
«este» (linha 17); 16. Pronome relativo.
«muito» (linha 18). 17. Pronome pessoal.
18. Pronome demonstrativo.
19. Pronome possessivo.
20. Pronome indefinido.

4. Classifique as orações sublinhadas nas seguintes frases. [6 pontos]

(A) «Escolho uma meia dúzia deles e fico à espera de que me façam as contas e digam quanto tenho de pagar.»
(Texto da Parte B, linhas 1-2).
(B) «[…] seis parcelas de uma soma simples, nenhuma delas com mais de quatro dígitos.» (Texto da Parte B,
linhas 2-3).
IMP.DP.008-00 4/5
PROVA ESCRITA DE AVALIAÇÃO

(C) As raparigas tinham dificuldades na matemática, logo não sabiam somar as parcelas.
(D) A rapariga falhou não só a primeira tentativa, mas também a segunda.
(E) Quer com calculadora, quer mentalmente, o autor conseguiu somar as parcelas.

5. Partindo do exemplo que se apresenta, escreva as formas verbais que a seguir se enunciam. [6 pontos]

Exemplo:
Forma verbal de primeira pessoa do plural do presente do indicativo do verbo «estudar»: nós estudamos.

5.1. Forma verbal de segunda pessoa do singular do pretérito mais-que-perfeito simples do indicativo do verbo
«querer».
5.2. Forma verbal de primeira pessoa do plural do pretérito imperfeito do indicativo do verbo «trazer».
5.3. Forma verbal de terceira pessoa do plural do pretérito perfeito composto do indicativo do verbo «cobrir».
5.4. Forma verbal de primeira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo «valer».
5.5. Forma verbal de terceira pessoa do singular do pretérito perfeito simples do indicativo do verbo «manter».
5.6. Forma verbal de segunda pessoa do plural do futuro composto do verbo «fazer».

GRUPO III [15%]

Escreva um texto de opinião, com um mínimo de cem e um máximo de cento e quarenta palavras, em que
indique uma personalidade de que gostaria de ler as memórias e a razão da sua escolha.
O texto deve incluir os seguintes tópicos:
- o que sabe sobre essa personalidade (profissão, idade,…);
- o(s) sentimento(s) que ela desperta;
- as razões que o levam a ter interesse em ler as suas memórias.

Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta integre
elementos ligados por hífen (exemplo: /di-lo-ei/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o
constituam (exemplo: /2019/).

2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – um mínimo de 100 e um máximo de 140 palavras –, há que atender ao seguinte:
– um desvio dos limites de extensão requeridos implica uma desvalorização parcial de até dois pontos;
– um texto com extensão inferior a 30 palavras é classificado com 0 (zero) pontos.

FIM

Os Professores: Tiago Nunes e Vanessa Guerreiro

IMP.DP.008-00 5/5

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