Idelma Novais - A Mesa de Inspeção Do Açúcar e Tabaco Da Bahia - 1751-1808
Idelma Novais - A Mesa de Inspeção Do Açúcar e Tabaco Da Bahia - 1751-1808
Idelma Novais - A Mesa de Inspeção Do Açúcar e Tabaco Da Bahia - 1751-1808
VERSÃO CORRIGIDA
São Paulo
2016
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VERSÃO CORRIGIDA
São Paulo
2016
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Á minha Família,
Meu Porto Seguro!
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AGRADECIMENTOS
Ao termino de mais uma etapa na minha vida, fico feliz em poder agradecer as
pessoas pelas quais contribuíram em vários momentos e de diversas maneiras, mesmo
correndo o risco de cometer omissões, não poderia deixar de expressar o meu
reconhecimento pelas colaborações de todos, porém há pessoas que não podemos deixar
de mencionar.
Ao orientador, Rodrigo Ricupero, pelo direcionamento do tema que se revelou
um presente desafiador, porém, gratificante. Pela dedicação, acompanhamento, e por ter
encaminhado este trabalho de forma presente, porém atribuindo confiança, liberdade e
incentivo durante as pesquisas. Pude também contar com a sua amizade e compreensão
em vários momentos.
À Professora Eni de Mesquita Samara (in memória), por tem me acolhido como
orientanda no processo de seleção, mas que não pude conviver por mais tempo.
À Professora Dra. Leonor Freire Costa, que prontamente aceitou me orientar em
Portugal, supervisionando as pesquisas e contribuindo com críticas e sugestões
importantes ao trabalho.
Aos professores da banca de qualificação, Pablo Oller Mont Serrath e Daniel
Strum, pelas críticas, e sugestões e por contribuírem com o andamento da pesquisa e
escrita.
Aos meus colegas do grupo de estudos “Antigo Sistema Colonial: estrutura e
dinâmica”, Ronaldo Capel e Beatriz Bastos, Valter Lenine, Fernandes, Thiago Alves Dias,
Leonardo Saad, Dannylo Azevedo, Mário Francisco Simões, Leandro Napoleão, Carol Bueno,
Oziane Mota, especial a Rafael Silva Coelho pela colaboração, pelos momentos de
alegria, debates, aprendizado e pela companhia das constantes.
Á Cátedra Jaime Cortesão por proporcionar um ambiente de pesquisa e estudo e
também pelo apoio da Professora Dra. Vera Lucia Ferlini e aos colaboradores Patrícia
Machado, Bruno Vilagra, Natália Tammone, Luís Otavio Tasso e Tathianni Cristini da
Silva pelo apoio e gentileza em que me receberam.
Aos professores e amigos Maria José Rapassi Mascarenhas, Roque Felipe de
Oliveira Filho, Avanete Pereira Souza, Grayce Bonfim Souza, Belarmino Bomfim
Souza, Caio Adan, Erivaldo Fagundes Neves, Maria Lina Brandão de Aras, Renata
Ferreira de Oliveira, Fernando Ribeiro, Nauk de Jesus, Juciene Ricarte Cardoso, Paulo
de Jesus, Marta Lícia de Jesus, Jacson Tavares de Oliveira Caio Boschi, Leonardo
5
Rolim, Maria Manso, Elaine Cristina Seabra pelos conselhos, apoio, companhia nos
arquivos, congressos e viagens, e também pela amizade e sugestões.
Á Ana Esteves, Fernanda Esteves, e Antônio Tavares pela amizade e carinho com
que me receberam em Portugal.
Á Família Ribeiro Alves por me acolher em São Paulo, me oferecendo apoio,
carinho e conforto em vários momentos.
Aos funcionários das bibliotecas e arquivos pelas quais passei e que foram
extremamente prestativos no decorrer das pesquisas.
A Jornando Pereira pelo auxilio com a informática e Jeorge Almeida por cuidar
das passagens de idas e vindas constantes, pelo atendimento e competência, facilitando
a minha vida em muitos momentos. À Valdir Carvalho Ribeiro por me auxiliar na
pesquisa.
Á Prefeitura Municipal de Barra do Choça, Secretaria de Educação de Barra do
Choça, pelo apoio material e humano cedido durante a realização desse trabalho. Á
Ricardo Amorim, Vera Belinato, e as professoras Robéria Lúcia Silva Proado de
oliveira e Claudia Gomes Santos que direta ou indiretamente colaboraram e foram
prestativos.
À CNPq por tem financiado os quatro anos de pesquisa e a CAPES por ter
financiado o doutorado sanduíche em Portugal, o que foi fundamental para a realização
das pesquisas e participação nos congressos.
Finalmente a minha família, pais, irmãos, sobrinhos, tios, primos e cunhados por
acreditarem em mim, pelo carinho, apoio e ensinamentos. Meu porto seguro! Sem
vocês os meus projetos não seriam possíveis.
6
RESUMO:
Esta tese tem como objetivo analisar a Mesa de Inspeção do Açúcar e Tabaco da Bahia
entre os anos de 1751, ano de sua criação, até 1808, quando ocorreu a abertura dos
portos Brasil ao comércio internacional e, portanto, o fim do exclusivo colonial e de
mudanças estruturais da comercialização dos produtos coloniais. Foram instaladas em
algumas capitanias como Pernambuco, Maranhão, Rio de Janeiro e Bahia. Era um órgão
administrativo e centralizador, que constituiu um importante instrumento da política
mercantilista da Coroa. Esta instituição tinha o objetivo de assegurar o rendimento e
controle as atividades produtivas e comerciais da colônia, visando garantir a
manutenção do exclusivo colonial. Dentre as suas diferentes atribuições, podemos
destacar a preocupação e empenho da Mesa de Inspeção da Bahia na melhoria da
qualidade dos produtos, principalmente o açúcar, tabaco e algodão, como também sua
atuação para auxiliar os senhores de engenho e lavradores com as novas técnicas de
cultivo, produção do açúcar, armazenamento e comercialização. A Mesa também era
responsável pelo desenvolvimento de projetos destinados às experiências agrícolas,
como o cultivo de produtos oriundos da África e Ásia, a exemplo da pimenta e o cultivo
de amoreiras para criação do bicho da seda e de outros gêneros como o arroz, o linho e
café. Além disso, era encarregada pela Coroa de combater o descaminho e contrabando
que eram intensamente praticados na Capitania da Bahia. O tema se insere no quadro
das políticas adotadas pelo Marques de Pombal, orientadas para a revitalização do
comércio português na segunda metade do século XVIII, tendo como resultado uma
série de medidas conhecidas como Reformas Pombalinas. Durante sua atuação, a Mesa
protagonizou conflitos entre produtores, comerciantes e funcionários da coroa de outros
órgãos da administração colonial, que procuravam defender seus próprios interesses e
agiam, na maioria das vezes, de forma resistente e, até mesmo, contrária a Mesa de
Inspeção.
ABSTRACT:
This thesis aims to analyze the Mesa de Inspeção do Açúcar e Tabaco da Bahia between
the years of 1751, year of its creation until 1808, when there was the opening of Brazil
ports to international trade and therefore, the end of colonial exclusive, structural
changes in the marketing of regional products. They were installed in some captaincies
as Pernambuco, Maranhão, Rio de Janeiro and Bahia. It was an administrative and an
institution that centralized negotiations, which was an important instrument of the
mercantilist policy of the Crown. This institution was intended to ensure the
performance and control the productive and commercial activities of the colony in order
to ensure the maintenance of colonial unique. Among its various responsibilities, we
can highlight the concern and commitment of the Mesa de Inspeção da Bahia in
improving the quality of products, especially sugar, tobacco and cotton, as well as its
activities to help the planters and farmers with new techniques farming, sugar
production, storage and marketing. The Mesa was also responsible for developing
projects for agricultural experiences, such as the cultivation of products derived from
Africa and Asia, such as the pepper and mulberry cultivation for creation of silkworm
and other genres such as rice, flax and coffee. In addition, it was charged by the Crown
to combat smuggling and contraband that were intensely practiced in Bahia Captaincy.
The theme fits into the framework of the policies adopted by the Marques de Pombal,
aimed at revitalizing the Portuguese trade in the second half of the eighteenth century,
resulting in a series of measures known as Reformas Pombalinas. During its tenure, the
Mesa starred conflicts between producers, traders and employees of Crown other organs
of the colonial administration, who sought to defend their own interests and acted, in
most cases, the resistant form and even contrary to Mesa de Inspeção.
Lista de Tabelas
SUMÁRIO
Introdução:.....................................................................................................................11
Capitulo I
1. A Criação da Mesa de Inspeção...............................................................................25
1.1- Antecedentes da Mesa de Inspeção..........................................................................25
1.2- Instalação e composição da Mesa de Inspeção........................................................38
Capitulo II
2. A Agricultura.............................................................................................................47
2.1- Problemas e visão de decadência.............................................................................47
2.2- Experiências agrícolas..............................................................................................52
Capitulo III
3. Transporte e Inspeção...............................................................................................72
3.1- O transporte e armazenamento.................................................................................72
3.2- Inspeção....................................................................................................................75
3.3-Navegação.................................................................................................................89
Capitulo IV
4. O Comércio e Contrabando......................................................................................99
4.1- Regulamentação do Comércio pela Mesa de Inspeção............................................99
4.2- A Junta do Comércio de Lisboa e sua atuação em conjunto com a Mesa de Inspeção
da Bahia.........................................................................................................................104
4.3- A Mesa de Inspeção entre o Comércio Exclusivo e o Ilícito.................................112
Capítulo V
5. Comércio de escravos e marfim pela Mesa de Inspeção da Bahia......................126
5.1- a questão da mão-de-obra escrava..........................................................................126
5.2- Regulamentação e estrutura do tráfico de escravos pela Mesa de Inspeção..........134
10
Capítulo VI
6. Conflitos de Jurisdição............................................................................................152
6.1- Resistencia á Instalação da Mesa de Inspeção na Bahia........................................152
6.2- Mesa de Inspeção e os conflitos com as demais instituições coloniais da Bahia...163
6.3- Conflitos internos da Mesa de Inspeção.................................................................172
Capítulo VI
7- Ápice: A Mesa como Projeto Português................................................................177
7.1- A Mesa de Inspeção inserida no projeto pombalino..............................................177
7.2- A Administração da Mesa de Inspeção na Bahia...................................................187
7.3- Resultados e decadência da Mesa de Inspeção......................................................191
Considerações finais....................................................................................................196
Referências:..................................................................................................................198
Fontes manuscritas........................................................................................................198
Fontes impressas............................................................................................................218
Livros, artigos, teses e dissertações...............................................................................222
Anexos:.........................................................................................................................238
Anexo I: Novo Regimento da Alfândega do Tabaco....................................................238
Anexo II: Regimento das Casas de Inspeção.................................................................249
Anexo III: Decreto de sua Majestade que baixou ao Conselho Ultramarino a favor do
Comércio e Fábrica do Açúcar e Tabaco.......................................................................259
Anexo IV: Marcas antigas e modernas da Inspeção......................................................263
11
INTRODUÇÃO
1
Em parte da documentação, inclusive o seu regimento, alguns autores costumam usar o termo Casa de
Inspeção. Mas optamos por usar o termo Mesa, por ser mais frequente.
2
Carlos Gabriel Guimarães. O Rendimento da Capitania do Ouro. Revista do Arquivo Público Mineiro.
v.XLV, pp. 118-129, 2009. P. 118-129.
12
3
Cf. Fernando Antônio Novais. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808). 3ª
Ed. São Paulo: HUCITEC, 1995. E José Roberto do Amaral Lapa. O Antigo Sistema Colonial. Editora
Brasiliense, São Paulo, 1982.
4
Colecção de Leis, Regimento da Mesa da Inspeção, maço 4, nº 125, decreto de 29/01/1751. Arquivo
Nacional da Torre do Tombo.
5
Graça Salgado. Fiscais e Meirinhos: a administração no Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1985. p. 369-373.
13
6
George Félix Cabral de Souza. O Rosto e a Máscara: estratégias de oposição da Câmara do recife à
política pombalina. In: Congresso Internacional Espaço Atlântico de Antigo Regime: poderes e
sociedades, 2008, Lisboa. Actas do Congresso Internacional Espaço Atlântico de Antigo Regime: poderes
e sociedades, 2005. p. 1-19. http://cvc.instituto-
camoes.pt/eaar/coloquio/comunicacoes/george_cabral_souza.pdf
7
Ibidem.
8
Tereza Cristina Kirschner. A administração portuguesa no espaço atlântico: a Mesa da Inspeção da
Bahia (1751-1808). In: Biblioteca Digital Camões. Disponível em:
<http://www.institutocamoes.pt/cvc/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=76&Itemid=6
9>. Acesso em: 13 jun. 2008. (Actas do Congresso Internacional Espaço Atlântico de Antigo Regime:
poderes e sociedades.)
9
Idem. José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu: itinerários de um ilustrado luso Brasileiro. São Paulo:
Alameda; Belo Horizonte, MG: PUC-Minas, 2009. P. 109-110.
14
uma reforma administrativa do órgão e da compra de dois trapiches como soluções para
acabar com a desorganização e os abusos no comércio da Bahia10.
No entanto, o trabalho de Jean Baptiste Nardi, ao fazer uma análise do fumo no
período colonial, destina um de seus capítulos à Mesa de Inspeção da Bahia – que
estava sempre relacionada diretamente à lavoura, comércio e administração do tabaco –
e faz uma trajetória do órgão institucional desde a sua criação como fruto da legislação
do tabaco, até os anos finais. Para Nardi, as Mesas foram dotadas de atribuições
diversas, recebendo tarefas bem definidas, como cuidar da boa qualidade dos produtos,
sendo também um órgão fiscalizador funcionando ainda como uma alfândega,
incumbida das expedições11. Segundo o autor, ao longo do tempo, a Mesa de Inspeção
foi recebendo competências particulares e, portanto, era como uma “Mesa dos Negócios
Marítimos culminada com as funções agrícolas, comerciais e alfandegárias relativas ao
tabaco e ao fumo12”. Jean Baptiste Nardi afirma ainda que a Mesa foi criada e se
configurava como um órgão administrativo centralizador e mais poderoso que os já
existentes, “era um tribunal supremo em matéria de açúcar e fumo”. Dessa forma, “com
essas reformas, o Marquês de Pombal corrigia certas deficiências da administração do
fumo que, dessa maneira, apresentava em meados do século XVIII, sua forma mais
aperfeiçoada”, pois tinha sua lógica e “formava um sistema próprio com uma estrutura
bem definida13”.
José Roberto do Amaral Lapa, outro estudioso do tema do tabaco e da economia
colonial, aborda a Mesa de Inspeção da Bahia como um órgão que procedia ao exame e
seleção do tabaco, principalmente ao referente às embarcações destinadas à Índia, uma
vez que o “tabaco produzido na Bahia encontrou no Oriente um mercado consumidor
certo, principalmente no século XVIII”. Porém as autoridades proibiram que fossem
feitas remessas de tabaco velho e seco, recomendando o envio sempre de folhas novas e
que garantisse a qualidade do gênero14.
A Mesa de Inspeção era uma instituição inserida no projeto pombalino que tinha
objetivos específicos de revitalizar a produção e tentar reanimar a economia portuguesa.
Segundo Ronald Raminelli, o governo pombalino pretendeu reformular a economia
10
Ibidem, p. 113.
11
Jean Baptiste Nardi. O Fumo Brasileiro no Período Colonial: Lavoura, Comércio e Administração.
São Paulo: Brasiliense, 1996, p. 132-133.
12
Ibidem, p. 135.
13
Ibidem, 22-23.
14
José Roberto do Amaral Lapa. A Bahia e a Carreira da Índia. São Paulo: Brasiliana, 1968. p. 286 –
287 e 291-192.
15
15
Ronald Raminelli. Viagens Ultramarinas: monarcas, vassalos e governo a distância. São Paulo:
Alameda, 2008. P. 63-65.
16
Fernando Antônio Novais, op. cit., p. 195.
17
Devido às várias denominações e títulos atribuídos a Sebastião José de Carvalho e Melo, se faz
necessário, a nível de escrita, chama-lo apenas de Pombal. A vida e obra de Sebastião José de Carvalho
foram amplamente estudadas. Para maiores informações, ver: J. Lúcio de Azevedo. O Marquês de
Pombal e a Sua Época. Lisboa, Alfarrábio, 2009; Mário Domingues. O Marquês de Pombal: O Homem e
a Sua Época. Lisboa: Romano torres, 1963; Francisco José Calazans Falcon. A Época Pombalina:
política econômica e monarquia ilustrada. São Paulo: Ática, 1983. (Ensaios; 83). Kenneth Maxwell.
Marquês de Pombal: Paradoxo do Iluminismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996; João Paulo Pereira da
Silva. (coord.). Pombal e o Seu Tempo. Lisboa: Caleidoscópio, 2010. Joaquim Veríssimo Serrão. O
Marquês de Pombal: o homem, o diplomata e o Estadista. Lisboa: Câmara Municipais de Lisboa, Oeiras
e Pombal, 1982.
16
18
Sobre as secretarias e cargos assumidos por Pombal ver: José Subtil. O Terramoto Político (1755-
1759): memoria e poder. Lisboa: EDIUAL, 2006.
19
Francisco José Calazans Falcon. op. cit., p. 213.
20
Idem. Pombal e o Brasil. In.: José Tengarrinha(org.). História de Portugal. Bauru, SP: EDUSP, São
Paulo: UNESP; Portugal: Instituto Camões, 2001, p.227–228.
17
21
Fernando Antônio Novais. Aproximações: estudos de história e historiografia. São Paulo: Cosac Naify,
2005. p. 257-264.
22
Joaquim Romero de Magalhães. Labirintos Brasileiros. São Paulo: Alameda, 2011, p, 173-174.
23
Kenneth Maxwell. Marquês de Pombal: Paradoxo do Iluminismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. P.
159.
18
Pombal haviam sido formalmente aprovados e assinados pelo falecido rei24”. Assim, “as
mudanças profundas que afetaram Portugal e o ultramar não foram todas causadas por
Pombal, certamente, mas decorreram de uma complicada interação das transformações
sociais e econômicas da política internacional e das decisões diplomáticas25”.
Para concretizar este objetivo, Pombal incorporou as novas ideias divulgadas na
Europa pelos iluministas, mas ao mesmo tempo conservou aspectos do absolutismo e da
política mercantilista. Assim, orientava-se no sentido de recuperar a economia por
intermédio de uma concentração do poder real e de modernizar a cultura portuguesa. As
reformas lhe proporcionaram a inimizade das altas classes sociais, em especial da
nobreza, pois fomentou o crescimento dos mercadores com o intuito de dinamizar
economicamente o país e estimulou a mobilidade entre os estratos sociais. “Inaugurou-
se então um período de estabilidade e segurança para os homens de negócios que
conseguiram um prestígio que nunca haviam gozado26”.
Para Arthur Cézar Ferreira Reis, Pombal era um nacionalista e exercia uma
preocupação com a presença do Estado em todas as atividades quando solicitava a
participação do capital privado. Em nenhum momento houve a ausência do poder do
Estado, “inflexível, atento, por vezes torturante”. O controle estatal era o fundamento
maior de sua concepção em matéria de política econômica27. Nesse contexto, a
administração se baseava na política do mercantilismo que se propunha a reunir os
ganhos coloniais possíveis para o próprio país e aplicava a política econômica a serviço
do poder como um fim em si. Assim, Heckscher afirma que o mercantilismo aspirava a
por a vida econômica a serviço do interesse do poder do Estado, o que pode se
apresentar da seguinte forma: “El poder del Estado em el interior, frente a otros
organismos de carácter particular [...] y asegurar el poder Del Estado em el exterior,
frente a otros Estados”28.
Porém, segundo José Subtil, Pombal deixou claro o propósito de “centralizar a
decisão política quando dirigiu um aviso aos tribunais em que determinava que as
decisões deveriam ser passadas pela sua secretaria antes de serem levadas a
24
Charles R. Boxer.O Império Marítimo Português 1415-1825. Lisboa: Edições 70, 1977, P. 203.
25
Kenneth Maxwell. op. cit., p. 150.
26
Ibidem, p. 77-79.
27
Arthur Cézar Ferreira Reis. O comércio colonial e as companhias privilegiadas: inquietações no Norte e
a inconfidência baiana. In.: Sergio Buarque de Holanda (dir.). A Época Colonial: Administração,
economia e sociedade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997, p. 327. (História geral da Civilização
Brasileira Vol. 1, Tomo 2.
28
Eli F. Heckscher. La Época Mercantilista: historia de La organización y las ideas econômicas desde El
final de La Edad Media Hasta La sociedade Liberal. México: Fundo de Cultura Econômica, 1983.
19
29
José Subtil. Op. Cit.. p. 99.
30
Vale ressaltar que a Mesa de Inspeção correspondia diretamente com o Secretário de Estado, e de
acordo com o recorte cronológico utilizado nessa pesquisa, destacamos Sebastião José de Carvalho e
Melo, Martinho de Melo e Castro e José de Souza Coutinho. Cf. Andrée Mansuy-Diniz Silva. Portugal e
o Brasil: a reorganização do império, 1750-1808. In.: Leslie Bethell. História da América Latina:
América Latina Colonial. vol.1. 2ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Brasília, DF:
Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. p. 488–489.
31
Cf. Jacome Ratton. Recordações de Jacome Ratton sobre ocorrências do seu tempo em Portugal entre
1747 a 1810. Londres: H. Breyer, Bridge-street, Blackfrias. 1813.
32
[ESTATUTO da Junta do Comércio], de 12 de dezembro de 1756. Arquivo Nacional da Torre do
Tombo: Junta do Comércio.
20
33
Sobre as os exclusivos industriais e as invenções portuguesas ver: Nuno Luís Madureira. Mercado e
Privilégios: A indústria Portuguesa entre 1750-1834. Lisboa: Editorial Estampa, 1997. P. 129.
34
Cf., Joaquim Veríssimo Serrão. op. cit.
21
35
Fernando Antônio Novais. Aproximações... op. cit., p. 264.
36
Jorge Pedreira. A Economia Política do Sistema Colonial. In.: João Luiz Ribeiro Fragoso; Maria de
Fátima Gouveia (orgs.). O Brasil Colonial. Vol. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. p. 450.
37
Embora a documentação tenha sido catalogada, principalmente no Arquivo Nacional do Rio de janeiro
e na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Apesar de ter sido parcialmente analisada, não podemos
incluí-las no presente trabalho, devido ao marco inicial do projeto e à falta de tempo hábil para a escrita,
mas me comprometo a realiza-la em futuro próximo.
22
A pesquisa foi realizada nos principais arquivos do Brasil e Portugal para obter
respostas aos questionamentos que foram apresentados no projeto, o que embasou esta
investigação. Porém, tal pesquisa nos arquivos não foi tarefa fácil. Primeiramente
porque a Mesa de Inspeção não foi um órgão analisado pela historiografia e, sobretudo,
pela não existência de um fundo específico, no qual a documentação produzida pela
instituição tenha sido depositada. Assim, na prática, os funcionários dos arquivos, na
sua maioria, desconheciam a existência da Mesa de Inspeção e, consequentemente, da
localização de sua documentação. Dessa forma, o trabalho nos arquivos se revelou uma
tarefa árdua, porém desafiadora e não nos dissuadimos de estudá-la, convencidos da
relevância do assunto e do seu papel para a história da Bahia colonial.
Tanto no Brasil como em Portugal foi necessária uma leitura criteriosa da
documentação, em vários tipos de fundos e documentos para encontrar as fontes da
Mesa, e isso ocasionou tempo demasiadamente prolongado. Embora tenha encontrado
algumas correspondências, leis, decretos, requerimentos e atas38 da Mesa de Inspeção da
Bahia, os principais livros e registros de inspeção, pareceres e demais correspondências
ainda não foram encontrados39. Contudo, as fontes encontradas e analisadas nos
possibilitaram ampliar a nossa visão sobre o objeto estudado, proporcionando algumas
considerações acerca da criação, do funcionamento, da atuação e composição da Mesa
de Inspeção da Bahia entre 1751-1808.
Diante da originalidade do tema, tentamos apresentar uma visão global do
assunto, especialmente para compreender o papel da Mesa de Inspeção da Bahia
inserida no projeto pombalino e o seu papel para o desenvolvimento da economia
colonial na segunda metade do século XVIII.
No primeiro capítulo, atentamo-nos em compreender como foi o processo de
criação e instalação da Mesa de Inspeção em 1751 e de que forma ela foi estruturada
para atender aos objetivos da política portuguesa. Também verificamos como foi feita a
composição do seu quadro de funcionários, as principais dificuldades enfrentadas na
instalação e o seu funcionamento a partir da prática.
38
Algumas atas da Mesa de Inspeção da Bahia foram encontradas em um maço identificado pela
Capitania do Maranhão, no fundo da Junta do Comércio, no Arquivo da Torre do Tombo. Como a
experiência no Brasil era olhar o documento e não somente a identificação de seus maços e códices, fiz a
mesma coisa em Portugal, e obtive êxito em alguns casos.
39
De acordo com Caio Boschi, essa documentação da Mesa de Inspeção poderia estar junto com as fontes
do Erário Régio que estão em processo de catalogação pelo Arquivo Nacional da Torre do Tombo; outra
hipótese é que estivesse no Arquivo da Alfandega, em Lisboa. Porém, não obtive sucesso nesses dois
arquivos.
23
1.1 Antecedentes
40
DECRETO de 14 de julho de 1674 da Junta da Administração do Tabaco. Arquivo Nacional da Torre
do Tombo: Junta da Administração do Tabaco, maço 2.
41
Jean Baptiste Nardi. O Fumo Brasileiro no Período Colonial: Lavoura, Comércio e Administração.
São Paulo: Brasiliense, 1996, p. 83.
42
Ver: Junta da Administração do Tabaco do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
http://www.aatt.org/site/index.php?op=Nucleo&id=213
43
Jean Baptiste Nardi. Op. Cit. p. 85.
26
indicação é de que 17% da receita da Coroa entre 1762 e 1776 vinham do tabaco,
superior, então, ao quinto do ouro44.
Para supervisionar o embarque do tabaco no Brasil, foram criadas duas
superintendências – uma em Pernambuco e outra na Bahia – com poderes sobre a
produção e o comércio, além de tratar de outros assuntos referentes ao fumo45. Na
Bahia, o cargo de superintendente era ocupado por um desembargador da Relação, e em
Pernambuco pelo ouvidor geral46. Mas a superintendência do tabaco no Brasil se
revelou como umas das principais falhas na administração da Junta do Tabaco, pois
“funcionavam apenas como alfândegas particulares que dependiam da Junta de Lisboa,
mais ainda do Conselho Ultramarino, do governador do Brasil”, e essa dispersão dos
poderes prejudicou a política geral relativa ao produto, faltando assim autonomia da
superintendência. Em “1751 o Marques de Pombal quis preencher esta falha,
substituindo as superintendências pelas Mesas de Inspeção” e “deslocou para o Brasil
parte da função política da Junta do Tabaco47”.
Em 16 de janeiro de 1751, a Coroa Portuguesa promulgou o “Novo Regimento
da Alfândega do Tabaco”, que buscava responder às queixas dos mercadores,
apresentadas pelo provedor e deputados da Mesa dos Homens de Negócio, relativas ao
“deplorável estado que se achava reduzido o tráfico do tabaco”. Para superar as
dificuldades, foram adotadas várias medidas, inclusive a criação das Mesas de Inspeção
nos principais portos do Brasil. Poucos dias depois, em 27 de janeiro, o comércio do
açúcar e tabaco era objeto de um novo decreto que tratava do preço, do frete e da
qualidade desses gêneros, destacando o papel que as Mesas de Inspeção recém criadas
teriam na matéria. Por fim, em abril do mesmo ano, a Coroa estabeleceu o “Regimento
da Mesa de Inspeção” que, segundo palavras do monarca, deveria não só examinar,
qualificar e regular “em benefício comum dos meus vassalos, a bondade e o justo preço
destes dois importantes gêneros”, para, dessa forma, manter “a sua constante reputação
e a sua sucessiva extração”. Além disso, a Mesa deveria propor ao rei “tudo o mais que
a experiência fosse mostrando, que seria conveniente para melhor se promover e animar
44
Fernando Tomaz. As Finanças do Estado Pombalino 1762-1776. In: Estudos e Ensaios: em
homenagem a Vitorino Magalhães Godinho. Lisboa: Sá da Costa, 1988, p. 376.
45
REGIMENTO da Junta da Administração do Tabaco de 18 de outubro de 1702. In.: José Justino de
Andrade e Silva. Coleção Cronológica da Legislação Portuguesa. Lisboa: Imprensa de J.J.A. Silva,
1854.
46
Compunham o órgão em cada capitania, ainda, um escrivão da ementa, um escrivão do registro, um
juiz da balança, um marcador, um guarda-mor e seu escrivão, um guarda-livros e um porteiro. Jean
Baptiste Nardi. Op. Cit. p. 95-96.
47
Idem, ibidem. p. 356-357.
27
48
REGIMENTO das Casas de Inspeção, de 1º de abril de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia:
Caixa 54, documento 10326, f. 48.
49
NOVO Regimento da Alfândega do Tabaco, de16 de janeiro de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino –
Bahia: Caixa 54, documento 10325 e “Decreto de sua Majestade que baixou ao Conselho Ultramarino
a favor do Comércio e Fábrica do Açúcar e Tabaco” de 27 de janeiro de 1751. Arquivo Histórico
Ultramarino – Bahia: Caixa 54, documento 10328 e “Regimento das Casas de Inspeção” já citado.
Registro que o primeiro documento trazia, após a assinatura do monarca, a de Pedro da Mota Silva,
Secretário de Estado do Reino e Mercês, e o terceiro documento, também após a do monarca, a de Diogo
de Mendonça Corte-real, Secretário de Estado da Marinha e ultramar.
50
Jean Baptiste Nardi. Op. Cit. p. 357.
51
Sobre essa fase de sua vida ver: Kenneth Maxwell. Marquês de Pombal: Paradoxo do Iluminismo. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1996. P. 160-168. Francisco José Calazans Falcon. A Época Pombalina: política
econômica e monarquia ilustrada. São Paulo: Ática, 1982. (Ensaios; 83). João Lúcio de Azevedo. O
Marques de Pombal e a sua Época. São Paulo: Alameda, 2014, p. 373-1375.
52
APOLOGIAS que tenho escrito sobre cada uma das calúnias que a ingratidão e a inveja espalharam
sobre mim. Biblioteca Nacional de Lisboa: Coleção pombalina: códice 695, fls. 44-180.
53
APOLOGIA Oitava. Biblioteca Nacional de Lisboa: Coleção pombalina: códice 695, fls. 108-129.
28
a “Dedução Compediosa sobre o tabaco que constitui um dos dois gêneros capitais do
Estado do Brasil54”, que constitui parte importante da oitava apologia.
A “Dedução Compediosa” era dividida em três partes além de alguns anexos. Na
primeira parte, Pombal utilizou um texto que escreveu quando retornou de Londres,
sobre “o estado em que estava a agricultura e o comércio do tabaco na Europa até o ano
de 1743”. Na segunda parte ele mostrava como estava o comércio do produto em
Portugal em 1750, quando D. José o nomeou Secretário dos Negócios Estrangeiros e da
Guerra. E na terceira parte da “Dedução Compediosa”, tratou do “Grande Contrato
Geral do Tabaco do Reino, Ilhas adjacentes e Praça de Mazagão”, esta parte, por sua
vez, foi dividida em duas épocas: a primeira relativa aos contratos que decorreram desde
o princípio do governo de D. José I até o falecimento do contratador Duarte Lopes Rosa
e a segunda sobre as mudanças do novo contrato geral do tabaco de 1772.
Nos documentos anexos à “Dedução Compediosa”, também consta o “Plano dos
meios que parecem mais próprios para se facilitar a extração do tabaco do Brasil no
concurso dos tabacos da América Inglesa55”, que nas palavras de Pombal representava o
“Espírito do Novo Regimento da Alfândega do Tabaco56”. Assim, entendemos que a
análise mais detalhada da “Dedução Compediosa”, bem como o referido anexo, é de
fundamental importância para compreender os mecanismos que levaram à criação da
Mesa de Inspeção.
A primeira parte da “Dedução Compediosa” foi escrita por Pombal em 174357 a
pedido do ministro João da Mota e Silva, o Cardeal da Mota, e tinha como objetivo
analisar a possibilidade de um acordo comercial do tabaco com a França58. De acordo
com Pombal, a maior parte do tabaco que se consumia na Europa era exportada pela
Inglaterra, a partir da produção das Colônias da Virginia e da Maryland. O seu
transporte, da América para a Inglaterra, empregava 200 navios, e alguns traziam uma
carga de cerca de 850 barris. A distribuição do produto para os diversos países da
Europa era comumente feita em navios ingleses, o que permitia que estes,
54
DEDUÇÃO Compediosa sobre o tabaco que constitui um dos dois gêneros capitais do Estado do
Brasil, 1777. Biblioteca Nacional de Lisboa: Coleção Pombalina: códice 695, fls. 108-129.
55
PLANO dos meios que parecem mais próprios para se facilitar a extração do tabaco do Brasil no
concurso dos tabacos da América Inglesa. Biblioteca Nacional de Lisboa: Coleção Pombalina 695. fls.
120-129.
56
DEDUÇÃO Compediosa. Fls. 120-129.
57
Ibidem. loc. cit.
58
As relações comerciais com as nações inglesa e francesa foram abordadas por Pombal em seus escritos,
publicados em 1986 pela Biblioteca Nacional. Cf. Sebastião José de Carvalho e Melo. Escritos
Econômicos de Londres (1741-1742). Lisboa: Biblioteca Nacional, 1986.
29
[…] são trazidos pelos lavradores os seus respectivos tabacos: e nela são
visitados, examinados e aprovados os mesmos tabacos. Os que são
notoriamente bons e sem mistura se embarcam. Os inferiores ou que trazem
mistura são queimados. Em fim os que se acham dignos de aprovação são
marcados com selo da inspeção de cujos Armazéns saem a embarcar-se.
Nenhum outro tabaco que não venham com estas circunstâncias podem ser
vendidos e menos embarcados. Por tudo se vê nas mãos dos Inspetores esta
arruinar os lavradores, que bem lhes parecer e fraudar o comércio em comum
prejuízo. E também pela outra parte animar os mesmos lavradores à cultura e
fazer o mesmo comércio florescente se forem pessoas de justiça e boa
consciência; e principalmente concorrendo nos princípios alguns com as
qualidades que se procuram em quem é fundador.60
[…] se estas, pois, o acham por aquele preço; compram-no; por consequência
do consumo se cultivam as terras e favorece o comercio. Contrariamente e
com ele se acaba lavoura e vem a faltar os direitos. Donde tiram os ingleses
que se há de perder lavoura, comércio, navegação e direitos; é melhor perder
só os direitos para conservar a Navegação, o comércio e a lavoura. [...]
Porque se não houvesse aquele ramo do comércio não haveria dentro no
Reino o dinheiro que ele lhe produz. [...].61
59
DEDUÇÃO Compediosa. Fls. 110-113.
60
DEDUÇÃO Compediosa. Fls. 110-113.
61
Ibidem. loc. cit.
30
do produto com a França não era viável para Portugal, pois ela já estava implementando
a cultura em suas próprias Colônias62.
Na segunda parte da “Dedução Compediosa”, Pombal analisou o comércio do
tabaco em Portugal. De acordo com o texto, em 1750 a Junta do Tabaco tinha emitido
diversas consultas e informava que o item não tinha sido vendido porque o custo da
compra do gênero no Brasil e preço do frete eram altos e, somando aos custos das
despesas com a Alfândega de Lisboa, encarecia-o e dificultava a sua venda63. Desse
modo, havia grande estoque do produto que deveria ser queimado, já que se deteriorava,
e os armazéns deveriam estar disponíveis para a chegada da nova frota64.
A terceira parte da “Dedução Compediosa” trata das mudanças ocorridas no
contrato do tabaco em vários momentos. Segundo Pombal, o contrato geral do tabaco
abrangia o ponto central do sistema das rendas da Coroa, e os Contratadores Gerais
conheciam o seu privilégio exclusivo para o consumo do Reino e Ilhas. O monopólio da
navegação para os países estrangeiros era uma forma de incentivar o comércio do
gênero, sendo importante estabelecer regras e penas proibitivas para evitar a prática do
contrabando. A escolha do Contratador Geral do Tabaco era importante, e os contratos
sempre tinham sido arrematados por homens de negócio que possuíam certa reputação
na praça de Lisboa65.
O contrato do Tabaco para o do período de 1750-1752 foi arrematado por
Feliciano Velho Oldemberg por 2 milhões e 20 mil cruzados. Entre 1753-1755, o
contratador do tabaco foi José Machado Pinto, que pagou 2 milhões e 100 mil cruzados,
e entre 1756- 1758 Duarte Lopes Rosa foi o favorecido, com a proposta de 2 milhões e
220 mil cruzados – contrato arrematado sem a aprovação de Pombal. Para ele, Duarte
Lopes Rosa não era conhecido na Praça de Lisboa e, portanto, poderia dar um golpe e
arruinar o convênio66.
Lopes Rosa revelou ser um comerciante com conhecimentos dos negócios e
cálculos mercantis e estabeleceu um novo método, mais simples, para o cálculo da
arrecadação do contrato. Entretanto, era um negociante ambicioso que se envolveu em
diferentes tipos de negócios, simultaneamente, em Lisboa e em outras regiões da Europa
62
Na segunda observação Pombal cita a Mesa de Inspeção e a instalação dos armazéns. Fls. 112.
63
O preço do tabaco vendido em Lisboa no valor de 1$724 réis a arroba, incluindo os direitos e o custo
com o frete, enquanto que os ingleses vendiam pelo preço de 1$024 réis livres de todos os custos com
fretes e direitos da alfândega. Fls. 114
64
Ibidem. Fls. 113-114.
65
DEDUÇÃO Compediosa. fls. 114-118.
66
Ibidem. fls. 114.
31
e não conseguiu administrá-los com sucesso, fato que resultou na ruína do contrato do
tabaco, como Pombal havia previsto. Para solucionar o problema da falência do
negociante e não prejudicar a Coroa e os outros mercadores portugueses, o rei ordenou
que a junta do tabaco fizesse o sequestro dos bens de Duarte Lopes Rosa para saldar as
dívidas caso esse viesse a falecer.
Diante do ocorrido, era importante escolher o Contratador Geral do tabaco de
forma mais criteriosa. Para tanto, Pombal selecionou para arrematantes do novo
contrato “quatro homens de negócios tão ricos em bens de reais e cabedais e de tão
grande crédito como Policarpio José Machado, João Rodrigues Caldas, seu irmão Luiz
Rodrigues Caldas e Anselmo José da Cruz” e conseguiu que os quatro negociantes
tomassem o mesmo contrato pelo mesmo preço dos dois milhões e duzentos e dez mil
cruzados a “que o tinha feito subir aquele astuto empresário defunto67”.
O principal anexo da “Dedução Compediosa”, conforme já mencionado, era o
“plano dos meios que parece mais próprios para se facilitar a extração do tabaco no
Brasil no concurso dos tabacos da América inglesa68”, elaborado por Pombal a partir
das sugestões de negociantes experientes no comércio do produto, e que tinha como
objetivo propor novos procedimentos a serem adotados em relação ao comércio do
tabaco, especialmente no que tocava à Alfândega, daí o título alternativo proposto por
Pombal: “Espírito do Novo Regimento da Alfândega do Tabaco”.
Na prática, “o plano” serviu de base para o Novo Regimento da Alfândega,
como se percebe pela comparação dos documentos e confirmado pela nota à margem
deste: “havendo se El Rei Nosso Senhor conformado com este plano, mandou lavrar no
teor dele o regimento de 16 de janeiro deste presente anos de 1751 69”. Pombal partia da
ideia de
67
Ibidem. fls. 114-118.
68
Ibidem. loc. cit.. fls. 120.
69
DEDUÇÃO Compediosa. fls. 120.
70
Ibidem. loc. cit.
32
71
Ibidem. fls. 121.
72
Ibidem. fls.111.
73
Ibidem. fls. 121.
74
DEDUÇÃO Compediosa. fls. 122.
75
Ibidem. loc. cit.
33
que o tabaco do Brasil chega a Lisboa em hum quase equilíbrio do preço que
vale em Londres o tabaco da América Inglesa. Custando o primeiro
novecentos réis de primeiro preço para o lavrador, três tostões de frete por
arroba para o mestre do navio e dando-lhe por um racionável arbítrio mais 4
vinténs em cada arroba para embarque no Brasil, para seguro no mar, e para
desembarque em Lisboa até entrar no Armazém da Alfândega, vem a
importar tudo a mil duzentos e quarenta réis por arroba ou dois vinténs por
arrátel que é com pouca distancia o mesmo preço o que se vende em Londres
uma arroba e um arrátel de tabaco da América Inglesa. 78
76
Ibidem. fls. 122-123.
77
Ibidem. fls. 123.
78
DEDUÇÃO Compediosa. Fls. 124.
79
Cf. José Roberto do Amaral Lapa. A Bahia e a Carreira da Índia. São Paulo: Brasiliana, 1968.
80
DEDUÇÃO Compediosa. Fls. 120-129.
34
81
Ibidem. loc. cit.
82
Ibidem. loc. cit.
83
DEDUÇÃO Compediosa. fls. 120-129.
84
Ibidem. loc. cit.
85
Jean Baptiste Nardi. Op. Cit. p. 350.
35
Mesa de Inspeção, o tabaco que chegava a Lisboa era entregue na Alfândega, onde era
recebido e enviado para a Mesa Grande86. Ali era pesado, qualificado e distribuído aos
seus respectivos donos. Já o tabaco que seria reexportado era enviado para os Armazéns
do Jardim, que era o local onde ficavam armazenados os produtos até o embarque, sob a
vigilância de um guarda. Na Mesa do Jardim, o tabaco era novamente pesado e
qualificado, marcado a fogo com a marca dos contratadores na presença do procurador
dos navios, para que fossem efetuados os cálculos dos fretes e, depois de pago, era
embarcado por um feitor. O objetivo desse trabalho todo era garantir a qualidade do
produto e evitar o contrabando e o descaminho87. Jacome Ratton afirma que era
necessário simplificar a administração da Alfândega Grande de Lisboa, cuja
complicação favorecia descaminhos88. Com a criação da Mesa de Inspeção no Brasil,
essas atividades na Alfândega de Lisboa não eram mais necessárias, pois os produtos
exportados já saiam do Brasil qualificados e pesados e com as devidas marcas de
identificação. Com isso também se representava a redução das despesas com a
respectiva redução da mão de obra. O que se percebe são intenções premeditadas de
transferir as atividades exercidas pela Mesa Grande para as Mesas de Inspeção do
Brasil.
Vale lembrar que a origem da Mesa remete a uma época relativamente antiga,
desde quando começou a se cobrar o direito da siza que se pagava pelos produtos e que
era subdividido e arrecadado por diferentes mesas. Com o tempo, criou-se a Alfândega
das Sete Casas, que representava a união dessas mesas onde se despachavam os
produtos da provisão do Reino, que chegavam por mar e terra, para o consumo da
cidade89. As mesas eram também conhecidas por almoxarifados e recebiam
denominações particulares de acordo com a função de cada uma, como “Mesa da
Inspeção dos vinhos”, “Mesa da Siza do Pescado”, “Mesa da Siza da Fruta”, “Mesa das
Carnes”. Foram dirigidas por um chefe com o título de Contador da Fazenda até o ano
de 1776, quando a lei de 19 de janeiro mudou a organização da arrecadação, abolindo a
contadoria e o contador, passando a sua jurisdição para o Superintendente Geral dos
86
Há também instruções de como proceder com o tabaco do Brasil na sua chegada à Alfândega de Lisboa
no “Regimento da Junta da Administração do Tabaco de 08 de outubro 1702”. Folha 47-51. In.: José
Justino de Andrade e Silva. Coleção Cronológica da Legislação Portuguesa. Lisboa: Imprensa de J.J.A.
Silva, 1854.
87
SUMÁRIO histórico da Alfândega do Tabaco desde a sua criação até o ano de 1808. Biblioteca
Nacional de Lisboa. Códice 235.
88
Jacome Ratton, Recordações de Jacome Ratton sobre ocorrências do seu tempo em Portugal entre
1747 a 1810. Londres: H. Breyer, Bridge-street, Blackfrias. 1813. p. 157.
89
RÁPIDA Descrição Histórica da Alfândega das Sete Casas. Biblioteca Nacional de Lisboa. Códice 235.
36
Contrabandos90. Com essa lei, as mesas que se achavam dispersas foram reunidas no
edifício onde se instalou a Superintendência Geral do Contrabando.
As diversas mesas tinham funções de arrecadar os direitos reais dos gêneros que
chegavam à cidade por mar e por terra para o consumo da população. De acordo com os
regimentos, as suas atividades principais eram garantir a qualidade dos produtos e
verificar os pesos, as medidas e o controle dos preços, bem como evitar o descaminho e
contrabando91.
A Casa da Índia e Mina é outra instituição que apresenta algumas semelhanças
com a Mesa de Inspeção, e o seu regimento pode ter influenciado o da Mesa de
Inspeção também92. Francisco Mendes da Luz afirma que o regimento da Casa da Índia,
no século XVII, representava o organismo fundamental ao controle de todo o comércio
– fosse de importação ou de exportação – seja com o Oriente ou com o Brasil93. A
fiscalização e o controle do comércio de escravos e produtos, como a pimenta, o cravo e
a canela eram suas principais responsabilidades94. Era por intermédio da Casa da Índia
que se supervisionava o comércio, assim como a Mesa de Inspeção95.
O Regimento da Casa da Mina e da Guiné encarregava os funcionários de
receber e prestar contas das mercadorias que se destinassem ao resgate de escravos
90
Ibidem. loc. cit.
91
Ibidem. loc. cit.
92
A documentação relativa à Casa da Índia, Guiné e Mina desapareceu depois do terremoto de 1755, com
o incêndio que atingiu os prédios onde estavam estabelecidas à beira do Tejo. Assim, o desaparecimento
da imensa e preciosa documentação é um dos motivos pelo qual não há estudos sistematizados sobre esse
órgão, deixa uma lacuna na história ultramarina de Portugal e dificulta mensurar o papel que aquela
instituição desempenhou na vida econômica e administrativa colonial. Cf. “Regimento da Casa da Índia:
manuscrito do século XVII” existente no Arquivo Geral de Simancas com introdução e Prefácio de
Francisco Mendes da Luz. 2ª ed. Lisboa: Ministério da Educação / Instituto de Cultura e Língua
Portuguesa, 1992. p. 14.
93
Nesse processo, as atividades desenvolvidas no Brasil também eram de responsabilidade da Casa da
Mina e Índia. “pelo Alvará, no ano de 1516, pelo qual se determinava o que o feitor da Casa da Índia e
Mina mandaria dar „machados, enxadas toda a demais ferramenta às pessoas que forem a povoação do
Brasil‟”. Em outro Alvará, também de D. Manuel, “ordenava ao feitor e oficiais da casa escolhessem
pessoa competente para „ir ao Brasil dar princípio a um engenho de açúcar e que se lhe desse sua ajuda
de custo‟, assim como todo o cobre e ferro e demais utensílios necessários á feitura do tal engenho” (está
no livro de cópias de provisões respeitantes à Casa da Índia. Arquivo Geral da Alfândega de Lisboa –
livro 54-B.)
94
REGIMENTO da Casa da Índia: manuscrito do século XVII, existente no Arquivo Geral de Simancas
com introdução e Prefácio de Francisco Mendes da Luz. 2ª ed. Lisboa: Ministério da Educação / Instituto
de Cultura e Língua Portuguesa, 1992. p. 21-22 e 27.
95
Outra instituição que foi criada com o objetivo de administrar o trafico mercantil com as Índias foi “la
Casa de laContratación de las Índias” em Sevilha, na qual representava o empório do comércio da
Espanha. “la Casa de laContratación” foi um poderoso auxiliar do poder central, por onde passava os
assuntos referentes a justiça, administração das Colônias espanholas e era onde se realizavam todas as
transações comerciais, responsável pelas frotas de ouro e prata. Cf. Manuel Danvila. Significación que
TuvieronenelCobierno de América la Casa de laContratación de Sevilla Y El Consejo Supremo de Indias.
Madrid: Establecimiento Tipografico Sucesores Rivadenyra, 1892, p. 20-28.
37
96
REGIMENTO da Casa da Índia, Op. Cit. p. 30-34.
97
Tancredo de Morais. A Casa da Índia. Anais do Club Militar Naval. [S.I.:s.n.] [193-], p. 1437 e 1452
98
Carlos Alberto Caldeira Geraldes. A Casa da Índia: um estudo de estrutura e funcionalidade (1509-
1630). Lisboa: Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras – Departamento de História, setembro de
1997. (Dissertação de mestrado, história moderna). p. 04-05.
99
Cf. “Dedução Compediosa”.
38
100
Cf. o documento: “Rápida Descrição Histórica da Alfândega das Sete Casas”. Biblioteca Nacional de
Lisboa. Códice 235.
101
Cf. Regimento da Casa da Índia. 1992. Op. Cit.
102
O tabaco, como os demais gêneros coloniais estavam atrelados a princípio a Alfândega do Açúcar,
porém o tabaco era um gênero de grande interesse do comércio colonial e foi logo desvinculado da
administração da Alfândega do Açúcar, sendo independente a partir de 1665. Porém a Alfândega do
Tabaco passou por várias transformações e parte de seus registros foram destruídos com o incêndio
provocado pelo terremoto de 1755. Cf. “Sumário histórico da Alfândega do Tabaco desde a sua criação
até o ano de 1808”. Biblioteca Nacional de Lisboa. Códice 235.
103
REGIMENTO das Casas de Inspeção, 1º de abril de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia:
Caixa 54, documento 10325 e 10326.
104
Idem.
39
105
NOVO Regimento da Alfândega do Tabaco, 16 de janeiro de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino –
Bahia: Caixa 54, documento 10325.
106
DECRETO sobre a Produção, Comércio do Açúcar e Tabaco de 27 de janeiro de 1751. Arquivo
Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 54, documento 10328.
107
Há dois Regimentos da Mesa de Inspeção, um de 16 de Janeiro de 1751 e outro de 01 de abril de 1751,
que é uma copia impressa do primeiro e registrado na Chancelaria Mor Corte do Reino no livro das leis,
a folha 2. Onde também foi impresso. de abril de 1751, sendo assinado pelo rei e por Diogo Mendonça
Corte Real e do qual escolhi como referência.
108
REGIMENTO das Casas de Inspeção, 1º de abril de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia:
Caixa: 54, documento 10326.
109
O número de funcionários que era estipulado para os serviços da Mesa de Inspeção foi criticado por
Martino de Melo e Castro em relatório de informações ao novo governado da Capitania Bahia em 1779.
Segundo ele a Mesa não cumpria o seu papel, protagonizando prevaricações, escândalos, falsificações,
contrabando, além do número de funcionário onerar a Real Fazenda. Cf./In: INSTRUÇÕES para o
marques de Valença, Governador e Capitão General da Capitania da Bahia. Palácio de Queluz, 10 de
setembro de 1779. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia. Caixa 54: documento: 10319-10335.
40
110
INSTRUÇÕES para o marques de Valença, Governador e Capitão General da Capitania da Bahia.
Palácio de Queluz, 10 de setembro de 1779. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia. Caixa 54: documento:
10319-10335.
111
REGIMENTO das Casas de Inspeção, de 1º de abril de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Caixa
54, documento. 10326.
112
Sugestão feita por Pombal quando elaborou o plano de melhoramento do tabaco. Cf./In: “Dedução
Compediosa”. Biblioteca Nacional de Lisboa: Coleção Pombalina 695, f. 120-129.
113
Um exemplo é do Intendente do Ouro, Desembargador e Presidente da Mesa de Inspeção da Bahia,
João Ferreira Bitencourt e Sá em vários documentos que nos evidencia a sua carreira: “Carta régia pela
qual se fez mercê ao bacharel João Ferreira Bitencourt e Sá do cargo de Juiz de Fora do Civil da cidade da
Bahia”. Lisboa, 18 de fevereiro de 1755; “Carta régia pela qual se fez mercê a João Ferreira Betencourt e
Sá de o nomear Intendente e primeiro ministro da Mesa de Inspeção da Bahia”, Lisboa, 28 de janeiro de
1764; “Provisão do Conselho Ultramarino concedendo a João Ferreira Betencourt e Sá a licença para usar
beca em todas as reuniões da Mesa de Inspeção”, Lisboa, 24 de fevereiro de 1764. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 134, documentos 26594 – 26597.
114
Nas atas da Câmara de Vereadores do período de 1765-1776 que foram consultadas, verificamos
registros de reuniões onde eram efetuadas as eleições para o cargo de Inspetor da Agricultura. “Atas da
Câmara de Salvador, 1765-1776”. Arquivo Histórico Municipal de Salvador – Fundação Gregório de
Matos.
115
REPRESENTAÇÃO da Mesa de Inspeção da Bahia expondo certas dúvidas que se apresentavam
acerca da eleição de novos deputados, cujos lugares haviam sido criados depois de suprida a Mesa do
Bem Comum. Bahia, 09 de setembro de 1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 16,
documentos 2853-2856.
116
Rodrigo Ricupero. A Formação da Elite Colonial: Brasil 1530-1630. São Paulo: Alameda, 2009. P.
130.
41
117
Cf. Graça Salgado (Org.). Fiscais e Meirinhos: a administração no Brasil Colonial. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1985.
118
REGIMENTO das Casas de Inspeção” de 1º de abril de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Caixa
54, documento. 10326.
119
Ibidem.
42
governador criou dois cargos de escrivão e nomeou dois escrivães da Mesa da Inspeção
que não atuavam na Superintendência do Tabaco120.
O primeiro escrivão da Mesa deveria assistir a todas as sessões dela para
escrever os despachos que propõem nos requerimentos que se apresentavam e as
qualificações do açúcar, assistir ao exame dos fardos de Tabaco de folha, que
anualmente se remetia para o Estado da Índia, fazendo todas as classes de qualificação e
peso necessários para extrair a fatura que acompanhava a remessa, além de também
pagar aos lavradores. O escrivão era responsável pela correspondência da Mesa com as
diferentes instituições na Colônia, Portugal e ultramar, principalmente com a Junta da
Administração da Real Fazenda do Reino de Angola, por cuja ordem recebia em seu
cofre e avultados cabedais. Escrevia também toda a receita e despesa do dito cofre, com
balanças anuais, fazer toda a escrituração da receita e despesa do tesoureiro da Mesa.
Cabiam-lhe também o despacho dos navios que saiam do porto e a matrícula das suas
tripulações. Assistia às visitas que a Mesa fazia a bordo dos navios na sua chegada e
visitava, por ordem da Mesa, todas as embarcações que navegavam para a África121.
Já as atribuições do segundo escrivão da Mesa consistiam em auxiliar o primeiro
escrivão a fazer a conferência das qualidades do açúcar e em escrever em todos os autos
e processos que passavam pela Mesa, como das administrações das heranças dos
negociantes endividados122.
No final do século XVIII e início do XIX, a importância e o papel da Mesa de
Inspeção são ampliados, acarretando um crescente aumento de tarefas em decorrência
disso. Havia sempre a necessidade de mais pessoas para a realização de suas
atribuições. Assim, vários cargos foram criados e outros expandidos, a exemplo do
aumento do numero de escrivães, secretários123 e inspetores do algodão, como também
o de Deputado Fiscal Ordinário, para atuar nas conferências e audiências da Mesa de
Inspeção e elaborar os despachos judiciais, editais que necessitava de conhecimento
120
INFORMAÇÕES da Mesa de Inspeção da Bahia, 20 de maio de 1791. Arquivo Nacional da Torre do
Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 37.
121
TAREFAS do primeiro escrivão da mesa. Muita coisa, trabalho isso. É também um indicio da própria
atribuição da Mesa. “Informações da Mesa de Inspeção da Bahia”, 20 de maio de 1791. Arquivo Nacional
da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 37.
122
Idem. “Informações da Mesa de Inspeção da Bahia”, 20 de maio de 1791. Arquivo Nacional da Torre
do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 37.
123
Um exemplo foi o cardo de secretário para José da Silva Lisboa e sua função principal era percorrer o
Recôncavo, visitando as propriedades, orientando os produtores e verificando o resultado das
experiências implantadas pela Mesa de Inspeção. Sobre isso. Cf. Virginia Maria Trindade Valadares. A
Sombra do Poder: Martinho de Melo e Castro e a Administração de Minas Gerais (1770-1795). São
Paulo: Hucitec, 2006.
43
125
CÓPIA das folhas 230 do livro 1º dos Acordos da Mesa de Inspeção da Bahia, 07 de julho de 1802.
ArquivoNacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 37.
126
INFORMAÇÃO da Mesa de Inspeção da Alfândega do Tabaco da Bahia acerca da exportação do
tabaco e açúcar, Bahia, 30 de maio de 1753. Arquivo Histórico ultramarino: Bahia. Caixa 05, documento
628-629.
44
[…] visto não haver consignação proposta, nem quantia livre das disposições
da casa da Fazenda Real, como informava o provedor dela, a mesma Mesa
tomasse emprestado o dinheiro que fosse necessário para a referida despesa e
passasse letra para em Lisboa ser pago pelo tesoureiro da Junta da
Administração do Tabaco na forma do estilo praticado enquanto a S.
Majestade não dava providência para este suprimento.129
127
OFICIO do Intendente Geral Wenceslau Pereira da Silva para Diogo de Mendonça Corte Real,
informando acerca de um requerimento dos oficiais da Mesa de Inspeção alegando excesso de trabalho e
pedindo melhoria nos vencimentos, Bahia, 30 de março de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia,
caixa 07, documentos1080-1103.
128
CONSULTA do Conselho Ultramarino ao Rei D. José sobre o que o Vice-Rei e Governador Geral do
estado do Brasil, Luís Pedro Peregrino de Carvalho de Meneses e Ataíde, conte de Autoguia da conta das
despesas para as obras da Casa de Inspeção. Lisboa, 02 de dezembro de 1753. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 112, documento 8782.
129
REPRESENTAÇÕES, ofícios, certidões da Mesa de Inspeção da Bahia informando sobre a falta de
Dinheiro para o pagamento de suas despesas e pedindo providencias a respeito. Bahia 15 de fevereiro de
1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 07, documentos1040-1055.
130
Ibidem.
45
131
ESCRIVÃO da Mesa de Inspeção Simão Gomes Monteiro, Bahia, 28 de agosto de 1757. Arquivo
Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 14, documentos 2607-2611.
132
Ibidem.
133
INFORMAÇÕES da Mesa de Inspeção da Bahia, 20 de maio de 1791. Arquivo Nacional da Torre do
Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 37.
46
134
REQUERIMENTOS de Cargos Vitalícios para a Mesa de Inspeção da Bahia, 23 de Março de 1799.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio, caixa 214.
135
Ibidem.
47
2 AGRICULTURA
136
[DECRETO de sua Majestade que baixou ao Conselho Ultramarino a favor do Comércio e Fábrica do
Açúcar e Tabaco] de 27 de janeiro de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 54,
documento 10328.
137
Avanete Pereira Sousa. Manifestações locais da Crise do Antigo Sistema Colonial? (o exemplo das
câmaras municipais da capitania da Bahia) In.: Laura de Melo e Souza, Júnia Ferreira Furtado e Maria
Fernanda Bicalho (Orgs.). O Governo dos Povos. São Paulo: Alameda, 2009. P. 313.
138
Luís dos Santos Vilhena. A Bahia no Século XVIII. Salvador: Itapuã, 1969. (vol. I, II e III) (Coleção
Baiana).
48
escravatura, os bois, cavalos, lenhas e outras coisas139”, além disso, os escravos caros e
que a maioria dos produtores não os tratava adequadamente e que os maus tratos os
debilitava e logo perdiam o vigor, sendo necessários substituí-los, geralmente com dez
escravos a cada ano, além de providenciar vestuário e curativos por escravos, o que
gerava mais gastos140.
Luís António de Oliveira Mendes afirma ainda que o sistema de frotas era
prejudicial, tanto para a agricultura como para o comércio, porque concentrava as
mercadorias, dificultando a venda. Além disso, as frotas não eram constantes, o que
resultava no acúmulo da safra que, muitas vezes, deteriorava-se ao mesmo tempo em
que os produtor ficava sem recurso para continuar produzindo, pois os seus fundos
estavam detidos no produto que não era vendido pela falta da frota 141. Todos esses
entraves apontados por Luiz de Oliveira Mendes resultavam no endividamento dos
agricultores, que sempre recorriam aos credores – na maioria das vezes comerciantes –,
“porque tudo se lhe vende no fiado sobrecarregado142” para manter as propriedades,
renovar a escravatura e poder produzir entre uma frota e outra. Dessa forma, ficavam
presos aos comerciantes que trabalhavam “sempre pela conservação e duração do seu
antigo crédito; porque havendo ele sido um reparador dela, os posteriores têm feito
conhecer que o comércio criou e constituiu na agricultura uma feudatária, para que em
sujeição e eterno cativeiro anualmente lhe esteja contribuindo com uma infalível e
obrigada pensão143”.
O Juiz de Fora da Vila de Cachoeira, Joaquim Amorim Castro, em suas
observações sobre a agricultura e conservação do tabaco de 1788, afirmou que a lavoura
estava em total decadência principalmente pelo diminuto preço dos produtos e pelas
taxas impostas pela Coroa, aliados à “ignorância dos mesmos lavradores sobre sua
respectiva agricultura”, que não tentavam trabalhar para melhorar a qualidade e
reputação do mesmo gênero144, e a ação dos atravessadores, que contribuíam para
139
Luiz Antônio de Oliveira Mendes. Discurso Preliminar, Histórico, Introdutivo, com Natureza de
Descrição Econômica da Comarca e Cidade da Bahia: In.: Pinto de Aguiar. Aspectos da Economia
Colonial. Salvador: Progresso, 1957. (Coleção de Estudos Brasileiros, série cruzeiro). P. 33.
140
Ibidem, p. 37-38.
141
Ibidem, p. 60-61.
142
Ibidem, p. 41.
143
Ibidem, P. 42-43.
144
[CORRESPONDÊNCIA sobre a agricultura e manufatura o tabaco]. Bahia, 23 de junho de 1788.
Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, códice 807, volume 13.
49
145
Ibidem.
146
Raimundo José de Sousa Gaioso. Compêndio Histórico e Politico dos Princípios da Lavoura do
Maranhão (1812). Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1970. p. 266.
147
Avanete Pereira Sousa, op. cit. p. 313.
148
Luiz Antônio de Oliveira Mendes, op. cit. p. 28.
149
Ibidem, p. 40.
50
150
Sobre a agricultura em geral e a questão dos agricultores ver: B. J. Barickman. Um Contraponto
Baiano: açúcar, fumo, mandioca e escravidão no Recôncavo, 1780-1860. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2003; Stuart B. Schwartz. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial.
1550-1835. São Paulo: Companhia das Letras, 1988; Vera Lúcia Amaral Ferlini. Terra, trabalho e poder.
São Paulo: Brasiliense, 1988 e Açúcar e Colonização. São Paulo: Alameda, 2010; Eni de Mesquita
Samara. Lavoura Canavieira, Trabalho Livre e Cotidiano: Itu, 1780 – 1830. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2005, p. 26.
151
António de Sousa Pedroso, visconde de Carnaxide. O Brasil na Administração Pombalina: economia
e política externa. São Paulo: ed. Nacional; Brasília: INL, 1979 (Brasiliana, v.192). p. 52-55.
152
Dauril Alden. O Período Final do Brasil Colônia, 1750-1808. In.: Leslie Bethell. História da América
Latina: América Latina Colonial. vol.1. 2ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Brasília,
DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. P. 549-550.
153
E utiliza como base as caixas com 40 arrobas. Cf. Dauril Alden. op. cit., p.549.
51
154
Luís dos Santos Vilhena. A Bahia no Século XVIII. Salvador: Itapuã, 1969. (vol. III) (Coleção Baiana).
P. 913.
155
Ibidem, p. 914.
156
Ibidem, p. 943-944.
157
José Jobson de A. Arruda op. cit., p. 633-634.
158
Stuart B. Schwartz. Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. 1550-1835. São
Paulo: Companhia das Letras, 1988, p. 343, e;, Fernando A. Novais. Portugal e Brasil na Crise do
Antigo sistema Colonial (1777-1808). 3ª edição. São Paulo: Hucitec, 1985. (Coleção Estudos Históricos),
p. 287 e; José Jobson de A. Arruda. O Brasil no Comércio Colonial. São Paulo: Ática, 1980. (Ensaios:
67). p. 633-634.
52
159
[APONTAMENTOS para descobrir na América Portuguesa aquelas produções naturais que podem
enriquecer a medicina e o comércio], anônimo, 02 de outubro de 1765. Biblioteca Nacional de Lisboa:
Códice 6941//4.
160
Ronald Raminelli. Viagens Ultramarinas: monarcas, vassalos e governo a distância. São Paulo:
Alameda, 2008. p.62.
161
Ibidem, p. 70-83.
162
Difundiram-se folhetos como a “Memória sobre a reforma dos alambiques”, escrito por Bernardo
José de Lorena e publicado em 1797; “O Método sobre a preparação da cochonilha”, a “Memória sobre
a plantação de algodões” de autoria de Manuel Arruda da Câmara e foi impresso em 1799; a “Memória
sobre a cultura do loureiro cinamomo, vulgo caneleira de Ceilão” e tantos outros como o “Discurso
Sobre o Melhoramento da Economia Rustica do Brasil: pela introdução do arado, reforma das fornalhas,
e conservação das suas matas”, de José Gregório de Moraes Navarro e publicado por José Mariano da
Conceição Veloso e Simão Tadeu Ferreira. Lisboa: na Of. de Simão Thaddeo Ferreira, 1799. “Discurso
Preliminar, Histórico, Introdutivo, com Natureza de Descrição Econômica da Comarca e Cidade da
Bahia”, de Luiz Antônio de Oliveira Mendes. In.: Pinto de Aguiar. Aspectos da Economia Colonial.
Salvador: Progresso, 1957. (Coleção de Estudos Brasileiros, série cruzeiro). “Dissertação a respeito da
Capitania de São Paulo, sua decadência e modo de restabelecê-la” de Marcelino Pereira Cleto em 25 de
Outubro de 1782.
163
Ângela Domingues. Monarcas, Ministros e Cientistas. Mecanismos de Poder, Governação e
53
Informação no Brasil Colonial. Ed. Centro de História de Além-Mar, Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas| Universidade Nova de Lisboa e Universidade dos Açores. Portugal, 2012. p. 143-144.
164
Poliana Cordeiro de Farias. Estratégias de Fomento à Agricultura: aclimatação de espécies vegetais
na Comarca de Ilhéus (1789-1807). In: 2º Encontro de Novos Pesquisadores em História, 2010,
Salvador/BA. 2º Encontro de Novos Pesquisadores em História, 2010. p. 237-250
165
Maria Odila Leite da Silva Dias. Aspectos da Ilustração no Brasil. In.: A Interiorização da Metrópole
e Outros Estudos. São Paulo: Alameda, 2005. P. 46.
166
Ibidem, p. 49.
167
Ibidem, p. 49.
54
168
Ibidem, p. 71.
169
Avanete Pereira Sousa. A Bahia no Século XVIII: Poder Político Local e Atividades Econômicas. São
Paulo: Alameda, 2012. p. 204.
170
Jean Baptiste Nardi. op. cit., p. 23.
171
Ibidem, p. 24 e 26.
55
172
Elizabete Rodrigues da Silva. Fazer Charutos: uma atividade feminina. Salvador: FFCH/UFBA, 2001.
(Dissertação de Mestrado), p. 27.
173
Cf. Jean Baptiste Nardi. 1996. op. cit. p, 42-51.
174
André João Antonil. Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas. Introdução e notas por
Andrée Mansuy-Diniz Silva. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007. p. 30 e 35.
175
Gustavo Acioli Lopes. A Ascensão do Primo Pobre: o tabaco na economia colonial da América
Portuguesa-Um Balanço historiográfico. SAECULUM – Revista de História [12]. João Pessoa, jan/jun,
2005, p. 35.
176
Timothy Hall Breen. Tabacco Culture: The mentality of the great tidewater planters on the eve of
revolution. New Jersey: Princeton University Press, 1987. p. 59.
177
Jean Baptiste Nardi. O Fumo Brasileiro no Período Colonial: Lavoura, Comércio e Administração.
São Paulo: Brasiliense, 1996.
56
178
[OFICIO do Vice-rei Conde de Arcos para Sebastião José de Carvalho e Mello em que se refere à
cultura do tabaco e as experiências que se estavam realizando]. Bahia, 11 de maio de 1757. Arquivo
Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 16, documento 2810.
179
Ibidem.
180
Ibidem.
181
Cf. Jean Baptiste Nardi. 1996, op. cit. e, Maria Beatriz Nizza da Silva. Bahia a Corte da América. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 2010.
182
Sobre o cultivo da cana ver: José Caetano Gomes. Memória sobre a Cultura e Produtos da Cana de
Açúcar a S. Alteza Real, o Príncipe Regente, pela Mesa de Inspeção do Rio de Janeiro. Lisboa: oficina da
Casa Literária do Arco do Cego, 1800, p. 4, e, José Mariano da Conceição Veloso. O Fazendeiro do
Brasil: melhorado na economia rural dos gêneros já cultivados, e de outros, que se podem introduzir, e
nas fábricas que são próprias, fazendo o melhor que se tem escrito a este assunto. Tomo I: das culturas
das canas e fatura do açúcar. Lisboa: Oficina Tipográfica, 1800. p. 29.
183
Stuart B. Schwartz, op. cit., p.102.
57
“é certo que eles e os seus feitores e mestres de açúcar tem grande culpa na
inferioridade dele, por não trabalharem quanto era necessário para o
aperfeiçoarem, cuidando só, e unicamente em fazerem muitas arrobas de
açúcar, deixando de purgar o tempo que era necessário para escorrer o mel, e
adquirir uma boa consistência e qualidade e deixando de o suar depois de
tirado das formas, faltando a fazer lhe este necessário beneficio185”.
184
Eni de Mesquita Samara. op. cit., p. 22
185
[ATA da Mesa de Inspeção acerca da qualidade da produção e fabrico do açúcar, descrevendo as fases
da produção para não perder a qualidade], Bahia, 10 de setembro de 1792. Arquivo Nacional da Torre do
Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
186
Nesse caso, o contrabando não é o único responsável pela entrada do açúcar de má qualidade na
Europa. Há também a questão da má qualidade no fabrico do açúcar na Bahia e, portanto, a tentativa de
melhorar a sua qualidade.
187
Aqui há também a indicação da ideia de Colônia e de que se está trabalhando para melhorar a
qualidade dos gêneros exportados, por também terem consciência da importância do açúcar como um
elemento de subsistência colonial, como da Metrópole. Nesse mesmo ponto, há referências dos alvarás,
decretos e regimento que afirmam o sentido de controle e autoridade da Mesa de Inspeção sobre os
produtos coloniais.
188
O regimento citado é o das Casas de Inspeção de 1º de abril de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia, caixa 54, documento 10326. [ATA da Mesa de Inspeção acerca da qualidade da produção e fabrico
58
do açúcar, descrevendo as fases da produção para não perder a qualidade], Bahia, 10 de setembro de
1792. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
189
[ATA da Mesa de Inspeção acerca da qualidade da produção e fabrico do açúcar, descrevendo as fases
da produção para não perder a qualidade], Bahia, 10 de setembro de 1792. Arquivo Nacional da Torre do
Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
190
A Mesa culpa os feitores e mestres do açúcar pela péssima qualidade do produto. Ao mesmo tempo
afirma que os senhores de engenho preferem ter mais açúcar de menor qualidade, pois lucram mais, do
que fazer menos açúcar e ganhar menos. Seria isso uma alternativa para fugir dos excessos da Mesa? Da
colonização?
191
A venda antecipada do açúcar provocou a pressa na produção, ocasionando a má qualidade, aliada à
negligência dos feitores e mestres de açúcares, como também das estações.
59
fraudes192. Além disso, a Mesa passava frequentemente editais públicos 193 destinados
aos agricultores, nos quais informava sobre as principais decisões tomadas, geralmente
seguindo determinações da Coroa194. Um exemplo foi a ordem expedida por Portugal
para que se aprontassem “todos os anos quinhentas caixas de açúcar finos”, e que foi
atendida até o ano de 1788, mas nos anos posteriores não havia produção de açúcar fino
adequada aos critérios da Mesa. A dificuldade em obrigar os senhores de engenho a
produzirem bons açúcares e a restabelecerem a perfeição e a reputação do gênero se
dava em virtude das “ditas providências, por muito gerais, não [serem] capazes de os
obrigarem a fazer açúcar fino195”. A solução encontrada foi ordenar que os principais
senhores de engenho produzissem uma determinada cota196 de caixas de açúcar fino.
Assim, o controle da Mesa foi exercido diretamente com os seguintes senhores de
engenho através dos editais:
192
[ATA da Mesa de Inspeção acerca das inspeções de açúcar nos trapiches para combater as fraudes].
Bahia, 16 de janeiro de 1793. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10,
caixa 38.
193
Embora não tenha encontrado a cópia de um edital expedido pela Mesa de Inspeção da Bahia, observa-
se que o seu uso era frequente pelo que consta em vários documentos analisados. Podemos apontar dois
exemplos: O primeiro se refere às ordens da Coroa para que a Mesa “sem a menor perda de tempo se faça
saber todos os Senhores de Engenho por Editais públicos afixados nos lugares competentes desta cidade e
das vilas do Recôncavo, que sendo ele obrigados a fazerem que os açúcares que fabricam sejam bem
purgados e bem secos antes de os encaixarem e que no encaixar se faça uma exata separação das suas
diferentes qualidades, como determina o regimento no capitulo 3º, §8º”. “Ata da Mesa de Inspeção da
Bahia de 10 de novembro de 1972 comentando as ordens da Coroa com relação ao açúcar”. Arquivo
Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 38. O segundo exemplo é a
confirmação dos deputados da Mesa de ter encaminhado edital, pois “sendo esta Mesa de Inspeção da
Capitania da Bahia autorizada pelo respectivo Regimento, Leis e ordens régias do seu governo e,
especialmente pelo alvará de 15 de julho de 1755, § 25 a prover em tudo o que é concernente a cultura,
bondade e legalidade dos gêneros da sua privativa competência e ao mais que for a bem do comércio da
Praça, entendeu ser necessário e do seu dever, tomar o acordo provisório constante da copia junta, que fez
publicar por edital à mesma Praça, o que põe na Presença de V. Alteza Real para que seja servido
confirma-lo ou dar a providência do que for do seu agrado”. Mesa de Inspeção da Bahia, em 06 de maio
de 1800. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 63, caixa 206.
194
[ATAS da Mesa de Inspeção da Bahia]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do
Comércio, maço 10, caixa 38.
195
[ATA da Mesa de Inspeção acerca da qualidade da produção e fabrico do açúcar, descrevendo as fases
da produção para não perder a qualidade], Bahia, 10 de setembro de 1792. Arquivo Nacional da Torre do
Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
196
Porém o documento não apresenta um número preciso da quantidade de caixas a serem produzidas por
cada senhor de engenho. Pressupõe-se que o número de 500 arrobas de açúcar fino determinado pela
Coroa seria distribuído pelos principais senhores de engenho apontados na citação.
60
197
[ATA da Mesa de Inspeção relacionado ao exame e qualidade do açúcar.] Bahia, 1º de outubro de
1792. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
198
José Joaquim de Azevedo Coutinho. “Memória sobre o preço do açúcar”. In.: Memorias Econômicas
da Academia Real das Ciências de Lisboa (1789-1815). Tomo III. Lisboa: Banco de Portugal, 1990.
(Coleção Obras Clássicas do Pensamento Português) – Direção José Luís Cardoso. P. 280.
199
B. J. Barickman op. cit., p.59-60.
200
[PRODUÇÃO e algodão e a criação da Mesa de Inspeção da Paraíba], 18 de julho de 1799. Arquivo
Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: maço 10, caixa 38.
201
Manuel Correia de Andrade. A Terra e o Homem no Nordeste. São Paulo: Brasiliense, 1973, p. 157-
159.
61
202
Pe. João de Loureiro: Memória sobre o Algodão, sua Cultura e Fábrica. In.: Memorias Econômicas da
Academia Real das Ciências de Lisboa (1789-1815). Tomo I. Lisboa: Banco de Portugal, 1990. (Coleção
Obras Clássicas do Pensamento Português) – Direção José Luís Cardoso. P. 42.
203
[INFORMAÇÕES e experiências do Algodão na Bahia pela Mesa de Inspeção]. 18 de novembro de
1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio, Maço 10, caixa 37.
204
[CARTA de José de Sá Bitencourt para José da Silva Lisboa]. Borda da Mata, Bahia, 16 de outubro de
1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: junta do Comércio: Maço 10, caixa 37.
205
Ibidem.
62
206
Pe. João de Loureiro, op. cit. p., 42.
207
Ver também: Manuel Ferreira Câmara. Ensaio de descrição física e econômica da Comarca de Ilhéus
na América. In.: Memorias Econômicas da Academia Real das Ciências de Lisboa (1789-1815). Tomo I.
Lisboa: Banco de Portugal, 1990. (Coleção Obras Clássicas do Pensamento Português) – Direção José
Luís Cardoso. P. 236.
208
[OFICIO do Vice-rei Conde de Atouguia para Diogo de Mendonça Corte Real referindo se a cultura
do arroz, do linho, do açúcar e do tabaco]. Bahia, 30 de junho de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia, caixa 02, documento 115-123.
209
[OFICIO do Vice-rei Conde de Atouguia para Diogo de Mendonça Corte Real acerca da cultura do
linho e plantação de amoreiras para a criação dos bichos da seda e dos engenhos de descascar arroz].
Bahia, 25 de junho de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 07, documento 1174-1176.
210
[CARTA do marquês de Lavradio para Martinho de Melo e Castro]. Rio de Janeiro 26 de fevereiro de
1775. Biblioteca Nacional de Lisboa: Códice 10624; microfilme F.R.1239.
63
211
José Jobson de A. Arruda., 1980 op. cit., p. 300.
212
[OFICIO do Vice-rei Conde de Atouguia para Diogo de Mendonça Corte Real referindo se a cultura
do arroz, do linho, do açúcar e do tabaco]. Bahia, 30 de junho de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia, caixa 02, documento 115-123.
213
[CARTA da Junta do Comércio para a Mesa de Inspeção da Bahia sobre o plano de fábrica e cultivo
de linho]. Lisboa, 28 de fevereiro de 1764. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do
Comércio, livro 329.
214
[OFICIO do Governo interino para Diogo de Mendonça Corte real, informando acerca das
experiências que se tinham feito na cultura do linho e plantação de amoreiras]. Bahia, 20 de junho de
1755. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 10, documento 1636-1699.
64
nas respectivas fábricas do Reino. Além disso, é uma planta que nascia em abundância
por todos os terrenos sem maior trabalho na sua plantação e preparação. Essa cultura se
configuraria então em grande utilidade e interesse dos próprios cultivadores e do
comércio nacional215.
Já as amoreiras que foram plantadas na roça do Coronel Lourenço Monteiro
vingaram todas, mas de sorte que não engrossaram, e apresentavam ainda folhas muito
ásperas que não tinham semelhança com as das amoreiras216 “que foram remetidas de
Portugal como projeto de se estabelecer nesta capitania a criação de bichos de seda217”.
Além dos listados acima, o café também foi tratado pela Mesa em suas
experiências agrícolas e, possivelmente, um dos que obteve melhores resultados.
Segundo Barickman, a Bahia tornou-se centro de produção de café, juntamente com o
Rio de Janeiro e São Paulo. A lavoura cafeeira teve progresso considerável em três
regiões da Bahia: Comarca de Ilhéus, onde o plantio se iniciou por volta de 1780 pelos
lavradores da Vila de Camamu, no extremo Sul do litoral em Porto Seguro e Caravelas,
e no Recôncavo, entre Nazaré e Cachoeira218.
Segundo Ana Luiza Martins, desde o início o café foi mal plantado, com a
utilização de técnicas primitivas herdadas da lavoura colonial de derrubar matas e
queimar roças, procedimento que esgotava rapidamente o solo. Isso comprometia a
qualidade da produção, com rendimento máximo de seis a oito anos219.
Todas essas experiências eram acompanhadas pela Mesa de Inspeção dando
suporte com o oferecimento de mudas, técnicos especializados e conhecimentos. Alguns
215
Joaquim de Amorim Castro. Memória sobre o malvaísco do Distrito da Vila de Cachoeira. In.:
Memorias Econômicas da Academia Real das Ciências de Lisboa (1789-1815). Tomo III. Lisboa: Banco
de Portugal, 1990. (Coleção Obras Clássicas do Pensamento Português) – Direção José Luís Cardoso. P.
285-286.
216
[OFICIO do Governo interino para Diogo de Mendonça Corte real, informando acerca das
experiências que se tinham feito na cultura do linho e plantação de amoreiras]. Bahia, 20 de junho de
1755. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 10, documento 1636-1699.
217
Manuel Luiz da Veiga nos apresenta como é o processo de produção da seda. Segundo ele, “a seda
cria-se nas entranhas de um bicho, o qual nasce na primavera e morre no outono. Ela consiste em um
humor viscoso que aquele inseto vomita antes de querer morrer, e pelo seu bico já saem fiados os fios da
seda crua. Ele se nutre de folhas de amoreira e nenhum outro alimento lhe é próprio para a subsistência.
Quando no último termo de sua vida, ele faz da matéria que vomita uma pequena maçaroca, ou casulo,
dentro da qual se encerra. Passados alguns tempos, ele se transforma em borboleta e deposita a sua
semente antes de morrer. Estes são uns pequenos ovinhos que, com o calor natural, se chocam, ao
abrolharem aquelas árvores, e deles nascem os bichos. Estes insetos são naturais da Pércia, onde nascem,
criam-se e produzem, sem artificio nem auxilio algum dos homens”. Cf. Andréia Slemian; Claudia Maria
das Graças Chaves (orgs.). Obra de Manoel Luís da Veiga. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, 2012. p. 71.
218
B. J. Barickman. op. cit., p. 61-63.
219
Ana Luiza Martins. O Império do Café: A grande lavoura no Brasil – 1850 a 1890. Rio de Janeiro:
Atual. 1990. (Coleção História em documentos). p.08.
65
220
Andrée Mansuy-Diniz Silva. op. cit. p.507-508.
221
[DECRETO de sua Majestade que baixou ao Conselho Ultramarino a favor do Comércio e Fábrica do
Açúcar e Tabaco] de 27 de janeiro de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 54,
documento 10328.
222
Charles R. Boxer. O Império Marítimo português 1415-1825. Lisboa: Edições 70, 1977. P. 195-196.
66
João Hopman e Jeremias Vieira de Abreu, que foram nomeados inspetores vitalícios por
terem desenvolvido as culturas do arroz, anil, algodão e café223.
Além do cultivo de gêneros agrícolas, existia também uma preocupação com a
criação de animais224, que eram utilizados principalmente para o transporte e para
mover os engenhos. A princípio o gado era criado nos engenhos e utilizado nas
moendas. Depois, com o aumento da criação, passou a ser criado em terras mais
afastadas, começando a penetrar nas áreas interioranas: primeiro na região agreste e
depois no sertão225.
Além disso, o couro, além de ser usado na Colônia, ocupava lugar considerável
no quadro das exportações. Assim, a grande procura e o consumo dos produtos vindos
do gado apresentavam um mercado certo226. As fazendas de gado geravam recursos que
garantiam o enriquecimento do fazendeiro, movimentando a economia interna com a
comercialização das carnes nas feiras dos centros urbanos como Salvador, Capuame e
Feira de Santana227.
Para Juliana da Silva Henrique, a criação de gado assumiu paralelamente dois
papéis para a configuração espacial da Capitania da Bahia: foi fator de rápida
territorialização ao mesmo tempo em que tornava o interior da Colônia
economicamente mais produtivo segundo as diretrizes impostas através das doações de
sesmarias pela Coroa. Com as fazendas de gado instaladas em vastos territórios,
223
[REQUERIMENTOS de Cargos Vitalícios para a Mesa de Inspeção da Bahia], 23 de Março de 1799.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio, caixa 214.
224
Outra atribuição da Mesa eram as remessas de pássaros para Lisboa provenientes de Angola e da
Bahia. Geralmente essa remessa era feita em grandes quantidades e acompanhado de uma infraestrutura
como viveiros e compra de milho alpiste para o sustento dos pássaros. Uma das remessas era de cinco
viveiros com 517 pássaros de cores que foram comprados em Angola e remetidos pela Mesa de Inspeção
para Lisboa, a ser entregue na Secretaria de Estado ao Ilustríssimo Secretario de Estado Martinho de
Mello e Castro. Outra remessa de cinco viveiros com 625 passarinhos de cores da cidade de São Felipe de
Banguela, enviado por Francisco Roiz Silva tendo o mesmo destino. Porém, nem sempre a viagem era
tranquila, geralmente parte dos pássaros chegavam mortos, como afirma o ofício encaminhado pela Mesa
de Inspeção ao analisar as condições do navio e constatar a “incapacidade do Navio, pouco ou nenhum
cômodo que tem para a boa arrumação de semelhante encomenda e os muitos ratos que tem, por onde me
parece impossível chegarem bem acondicionados, se bem que da minha parte fica a boa diligencia”. Cf.:
[OFICIO da Mesa de Inspeção participando a remessa de 5 viveiros com pássaros de Angola que havia
recebido do Capitão mor de Benguela Francisco Rodrigues Silva]. Bahia, 17 de maio de 1777. Arquivo
Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 50, documento 9434-9437.
225
Sérgio Buarque de Holanda. História da Civilização Brasileira. Tomo III. As Áreas de Criação de
Gado. 1997, p. 221.
226
Maria José Rapassi Mascarenhas. Fortunas coloniais: Elite e Riqueza em Salvador (1760-1808). São
Paulo: USP, 1999 (Tese de Doutorado), p. 126.
227
Francisco Carlos Teixeira da Silva. Pecuária e Formação do Mercado Interno no Brasil Colônia.
Estudo, Sociedade e Agricultura. Rio de Janeiro, nº 08, abril, 1997.
67
por isso se faz um maior número de rolos à proporção do aumento e crescimento dos
povos”. Afirma ainda que, com o aumento da produção, houve uma maior demanda do
trabalho, com o tempo curto e poucos escravos para a satisfação da cultura da terra e
colheita dos frutos, sendo necessário se trabalhar todos os dias do ano e ainda com mais
braços e força para aumentarem aquelas plantações, cujos frutos representam o
“primeiro objeto do comércio, a maior utilidade da Coroa e a opulência da Corte e
Capital do Reino232”.
Essa descrição do desenvolvimento da produção no Brasil, apresentada no ofício
do Presidente da Mesa de Inspeção João Ferreira Bitencourt e Sá, permite-nos verificar
o resultado da aplicação de projetos e técnicas na agricultura. O seu filho, João Ferreira
Bitencourt e Sá, em um requerimento que justificava as ações do seu pai em 1804,
afirmou que o desembargador João Ferreira Bitencourt e Sá era uma pessoa que exerceu
vários cargos, entre eles de presidente da Mesa de Inspeção. Consta no documento que
este “ foi um vassalo útil e desejoso de promover os interesses e crescimento deste país,
sendo o primeiro que nele introduziu a plantação do arroz de Venosa, do café e cacau de
que resulta hoje, uma parte do comércio”, diversificando a produção com a “plantação
da erva capim da Colônia para a nutrição dos cavalos e gado vacum, fazendo de tudo vir
sementes de lugares remotos e animando a sua cultura233”.
Na década de 1790, José Gregório de Moraes Navarro elaborou um plano de
melhoramento da reforma da agricultura no Brasil, que foi publicado em 1799 por José
Mariano da Conceição Veloso e Simão Tadeu Ferreira. No plano, José Gregório critica
a forma de procedimento desenvolvido na agricultura, com o uso de mais de 400
escravos fazendo o mesmo serviço sem o uso do arado, o que ocasiona uma delonga no
preparo da terra, além de um desgaste maior dos cativos. Critica também a forma
desordenada com que os agricultores utilizam-se da lenha, ocasionando o desmatamento
inclusive de nascentes. Navarro sugere, então, o uso de novas fornalhas que
consumissem menos lenha e serviço, além disso, afirma que a falta de lenha em terras
antigas poderia ser suprida com o próprio bagaço da cana234. Com a introdução do
arado, que pode ser utilizado por 40 escravos ao invés de 400, e algumas juntas de bois,
232
Ibidem.
233
[REQUERIMENTO de João Ferreira Bitencourt e Sá, no qual pede justificação dos serviços do seu pai
o Desembargador João Ferreira Bitencourt e Sá]. Bahia, 15 de agosto de 1804. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 134, documento 26594.
234
José Gregório de Moraes Navarro. Discurso Sobre o Melhoramento da Economia Rustica do Brasil:
pela introdução do arado, reforma das fornalhas, e conservação das suas matas. Publicado por José
Mariano da Conceição Veloso e Simão Tadeu Ferreira. Lisboa: na Of. de Simão Tadeu Ferreira, 1799. P.
14-16. Biblioteca Nacional de Lisboa: Reservado: 5780P; microfilme: f.5892.
69
o trabalho poderia ser executado mais rápido e com menor desgaste dos escravos, por
ser mais leve, mas havia a resistência dos lavradores em usar o equipamento de
aragem235. Assim, a sua introdução, o uso de novas fornalhas, a conservação das árvores
e a criação do gado lanisco seriam, para o autor, todo o plano do melhoramento e da
reforma da agricultura no Brasil236.
A atuação da Mesa da Capitania de Pernambuco parece também ter gerado bons
resultados, pois, segundo requerimentos em que pediam aumento de seus vencimentos,
os membros da Mesa justificavam o pedido com base no cumprimento da sua função de
cuidar da promoção da agricultura naquela capitania,
235
Ibidem, p. 14-15.
236
Ibidem, p. 19.
237
[REQUERIMENTO dos Funcionários da Mesa de Inspeção de Pernambuco reclamando sobre o valor
do seu ordenado ser menos do que o dos funcionários da Mesa de Inspeção da Bahia]. Pernambuco 03 de
agosto de 1806. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
238
[OFICIO do Intendente Geral do Ouro e Presidente da Mesa de Inspeção João Ferreira Bitencourt e Sá
para Martinho de Melo e Castro na qual dá diversas informações sobre a produção e exportação do tabaco
70
maiores preços não enriquecem os lavradores, pois que se tornam a transferir no mesmo
comércio pelo que deste recebem, por tão subidos preços e sem o que não podem
passar, viver e continuar a vida de agricultor”, uma vez que a produção estava com o
preço fixo, o mesmo não ocorria com os produtos de que necessitavam para a
manutenção do engenho e, dessa forma, o lucro das safras mal dava para cobrir as
despesas com a produção.
Se levarmos em conta os dados apresentados por Stuart Schwartz, que estima o
aumento do número de engenhos de 166 em 1759 para um total “que pode ter atingido
quatrocentos” em 1798, é inegável o enorme desenvolvimento da agricultura239. Ainda
que seja difícil mensurar a real contribuição da Mesa de Inspeção neste
desenvolvimento, pensamos que, em alguma medida, a Mesa tenha contribuído para tal
resultado.
O êxito da agricultura no Brasil também foi apresentado por Fernando Novais.
Suas conclusões foram positivas com movimentos ascendentes, com fluxo regular da
Colônia para a metrópole – configurando uma conjuntura de prosperidade nos finais do
século XVIII e início do XIX – com crescimento médio de 2,2% ao ano entre 1796 a
1806. Os produtos do Brasil nesse período correspondiam a 83,7% das importações
portuguesas de suas colônias. Segundo Fernando Novais, “o peso do Brasil no
intercâmbio de Portugal com a suas colônias era de tal ordem que tornava quase que
inexpressiva a posição das demais colônias portuguesas240”.
A exploração da Colônia no final do século XVIII foi realizada de forma
progressiva e concreta, desenvolvendo suas riquezas e ampliando o núcleo
populacional, ao mesmo tempo em que agravava os conflitos e resistências241.
De acordo com J. B. Barickman, as reformas pombalinas provocaram um
verdadeiro “renascimento da agricultura” no Brasil, especialmente na Bahia. Embora os
esforços feitos para encontrar e desenvolver novos produtos de exportação houvessem
rendido poucos resultados na Bahia, “no caso de vários produtos novos, esses esforços
nunca foram além do estágio experimental242”. Além de produtos como o açúcar e
tabaco, que sempre foram os principais produtos do comércio no mercado europeu,
e açúcar]. Bahia, 1º de agosto de 1781. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 57, documento
10879
239
Stuart Schwartz. op. cit., p. 27.
240
Fernando Antônio Novais. op. cit., p.287-290.
241
José Jobson de Andrade Arruda. O sentido da Colônia: revisitando a crise do Antigo Sistema Colonial
no Brasil (1780-1830). In: José Tengarrinha (Org.). História de Portugal. Bauru, SP: EDUSP, São Paulo:
UNESP; Portugal: Instituto Camões, 2001, p. 245.
242
J. B. Barickman. op. cit., p. 58.
71
243
Ibidem. p. 58.
244
Jean Baptiste Nardi: Sistema Colonial… op. cit., p. 56.
245
José Jobson de Andrade Arruda. O comércio… op. cit.
72
3 INSPEÇÃO E TRANSPORTE
246
[OFÍCIO do governador interino para Diogo de Mendonça Corte Real no qual se refere a falta de
chuvas e carregamento da frota]. Bahia 5 de julho de 1755. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa
10, documento 1786.
247
José Alípio Goulart. Transportes nos Engenhos de Açúcar. Rio de Janeiro: Gráfica Taveira. 1959, p.
50.
248
João Rodrigues de Brito. Cartas Econômica-políticas sobre a Agricultura e Comércio da Bahia.
Lisboa: Imprensa Nacional, 1821.
249
Stuart B. Schwartz O Brasil Colonial, 1580-1750: As Grandes Lavouras e as Periferias. In.:, Leslie
Bethell. História da América Latina: América Latina Colonial. vol. 2. 2ª ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. P. 341.
73
250
José Alípio Goulart. op. cit. p. 30.
251
Idem, p. 37.
252
[OFICIO da Mesa de Inspeção para Martinho de Mello e Castro, em que lhe dá parte das avarias que
um grande temporal causara ao Navio Netuno, Santo Antônio e Almas.] Bahia, 01 de agosto de 1777.
Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 51, documento 9498-9505.
253
[ARMAZENAMENTO do açúcar e tabaco no Trapiche.] 6 de julho de 1755. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 10, documento 1787.
74
enquanto em Pernambuco eram paços. Para Leonor Freire Costa, “o armazém, mais do
que a concentração de existências num espaço para despachar a estiva, simbolizava a
acumulação de mercadorias com pesos e medidas expressos no exterior das
embalagens254”.
No caso da Bahia, a recomendação dada pela Coroa em consulta e segundo
orientação dos Homens de Negócio de Lisboa era que a Mesa de Inspeção alugasse o
trapiche de Barnabé Cardoso “por ser mais conveniente”, que fossem feitas reformas
para melhorar o serviço da Mesa e que as despesas dessa reforma fossem descontadas
no valor do próprio aluguel255. Embora a capacidade de armazenamento do trapiche de
Barnabé Cardoso fosse maior, os produtores reclamavam porque
254
Leonor Freire Costa O Transporte do Atlântico e a Cia Geral do Comércio do Brasil (1580–1663).
Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. 2002. p.329–330.
255
[CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. José sobre a queixa dos oficiais da Câmara da cidade
da Bahia, senhores de engenho, lavradores de cana e tabaco contra a nova lei da Casa de Inspeção.]
Lisboa, 23 de novembro de 1752. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 112, documento 8759.
256
[REQUERIMENTO dos senhores de engenho, lavradores do tabaco e demais pessoas interessadas
nestes dois gêneros ao rei D. José, solicitando para bem de seu requerimento lhes é necessário alvarás de
9 de março de 1672, de 24 de março de 1680 e provisão de janeiro de 1719.] Bahia, 08 de março de 1753.
Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 113, documento 8853.
257
Ibidem, loc. cit.
75
seladas outras mais leves – e, nem a ação do tempo, a umidade e o calor poderiam
interferir na qualidade e peso258.
A produção da Bahia era grande para ser acondicionada em apenas um armazém,
e, como não havia armazém próprio da Mesa de Inspeção – e no início de sua criação,
também não se podia fazer um com a capacidade para recolher e conter ao mesmo
tempo o grande número de caixas de açúcar, estimado em quinze ou dezoito mil, além
de executar a pesagem e exame de cada uma das caixas como determinava o regimento
– a solução foi encaminhar a produção para os sete trapiches ou armazéns de
particulares, como até aquele momento havia se praticado259.
Em ofício, a Mesa de Inspeção da Bahia descrevia a forma de armazenar o
tabaco e como se verificava a sua qualidade e estado de conservação. Apontava algumas
causas de sua alteração, pois logo que se chegava aos trapiches era descarregado por
escravos e ficava à espera do exame, que geralmente era demorado. Durante esse
processo, o carregamento de tabaco era exposto às ações do tempo (sol e unidade), o
que provocava a sua deterioração. Mesmo bem fabricado, examinado e selecionado,
depois de permanecer por algum tempo nos trapiches, o tabaco voltava a ser examinado,
e o resultado era diferente, algumas vezes, achava-se totalmente estragado. Nesse caso,
a Mesa concluía que “as causas naturais intrínsecas e extrínsecas de que lhe provém
isto”, principalmente frutos das “conduções e transmigrações por água em tão dilatadas
viagens e dentro dos porões dos navios abarrotados, o que basta para alguns rolos
chegarem danificados260”.
3.2 Inspeção
Após a chegada da produção aos armazéns de Salvador, era feita a inspeção com
base no “Regimento das Casas de Inspeção261”. Este determinava como deveria ser o
258
Ibidem, loc. cit.
259
[CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. José sobre o que o Vice-rei e Governador Geral do
Estado do Brasil, Luís Pedro Peregrino de Carvalho de Meneses e Ataíde, conde de Atoguia da conta das
despesas para as obras da Casa de Inspeção.] Lisboa, 2 de dezembro de 1753. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 112, documento 8782.
260
[OFICIO da Mesa de Inspeção da Bahia acerca da exportação do tabaco e descrevendo a forma como
se verificava a sua qualidade e estado de conservação.] Bahia, 29 de março de 1754. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 07, documentos10320-1034.
261
REGIMENTO das Casas de Inspeção de 1º de abril de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia:
Caixa 54, documento 10326.
76
processo de exame do açúcar e tabaco nos portos do Brasil, para evitar as fraudes, e
deveriam ser expedidos em caixas o açúcar e em feixes o tabaco. As Mesas de Inspeção
tinham também a jurisdição necessária para evitar as fraudes que eram praticadas nas
qualidades e pesos dos mesmos açúcares, buscando assim que estes gêneros chegassem
ao Reino qualificados e que “os enganos dos particulares venham a cessar inteiramente
com benefício comum da agricultura, e do comércio geral262”.
A utilização das marcas era organizada para a melhor identificação da qualidade
do produto a ser exportado263. As marcas já eram utilizadas pelos portugueses no Brasil
antes da Mesa. No regimento da Junta da Administração do Tabaco de 1702, por
exemplo, já havia recomendações sobre o uso das marcas, determinando que próximo
de cada balança deveria haver uma fornalha para que o mercador fizesse logo as marcas
nos rolos. Além disso, que todos os ferreiros e serralheiros do Estado do Brasil eram
obrigados, a cada ano, assinar um termo afirmando que não fariam marca alguma a
ferro, ou de outro qualquer metal, semelhante às que eram utilizadas para marcar os
rolos – ou sofreriam as punições estabelecidas264.
As marcas eram registradas por propriedade, em livros, denominados “Livro da
Ementa e Marcas”, disponíveis nas alfândegas do Brasil e nas de Portugal para que
houvesse a conferência das marcas existentes nas caixas, fardos e guias, com as
existentes nos livros para identificar a origem dos produtos no Brasil. Existiam vários
tipos de marcas265.
Visando a uma produção de qualidade, a ordem era para os inspetores não
receberem nenhum açúcar ou tabaco que não trouxesse a marca a ferro, para que no
caso de se achar fraude “se possa, a todo tempo, saber quem foi o seu autor, e no caso
de haver maior bondade e exatidão nos gêneros deste ou daquele agricultor, possa esse
colher o devido fruto da maior aplicação que tiver em aperfeiçoá-lo e reputá-lo em
262
DECRETO de sua Majestade que baixou ao Conselho Ultramarino a favor do Comércio e Fábrica do
Açúcar e Tabaco, de 27 de janeiro de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 54, documento
10328. Há uma cópia desse decreto no Arquivo Público da Bahia; Seção Colonial e Provincial: Ordens
Régias (1751-1753), nº 48.
263
Leonor Freire Costa. op. cit. p.330.
264
REGIMENTO da Junta da Administração do Tabaco, de 18 de outubro de 1702. In.: José Justino de
Andrade e Silva. Coleção Cronológica da Legislação Portuguesa. Vol. 11. Lisboa: Imprensa de J.J.A.
Silva, 1854. P. 40.
264
Jean Baptiste Nardi O fumo brasileiro no período colonial: lavoura, comércio e administração. São
Paulo: Brasiliense, 1996. P. 55-57.
265
[INSTRUÇÃO sobre as marcas de entrada e para a balança, 17 de outubro de 1753.] Arquivo Nacional
da Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 16, caixa 15.
77
beneficio público266”. Dessa forma, ficava proibido o uso indiscriminado da marca, bem
como a sua fraude. Além disso, os funcionários da Mesa teriam o conhecimento
específico dos agricultores, dos que eram corretos e dos que fraudavam, podendo
beneficiar e punir de acordo com as circunstâncias267.
Tanto o açúcar como o tabaco tinham três marcas distintas. A primeira era a do
senhor do engenho, ou do produtor do tabaco; a segunda, a da qualidade do produto
conferida pela Mesa e a terceira marca era a identificação da capitania onde estava
instalada a Mesa de Inspeção. As marcas eram organizadas para evitar a confusão e
melhor distribuição pela Alfândega de Lisboa268. Abaixo, os quadros I e II demonstram
como era realizada a classificação do açúcar e do tabaco pela Mesa.
266
“Regimento das Casas de Inspeção de 1º de abril de 1751”. Arquivo Histórico Ultramarino – Caixa 54,
documento. 10326.
267
Ibidem, loc. cit.
268
Ibidem, loc. cit.
78
269
[RESPOSTA aos requerentes sobre a resolução do rei e explicando como fazer o exame do açúcar],
1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
270
Cf. Anexo IV.
271
[CARREGAMENTO dos produtos nos primeiros anos de Instalação da Mesa de Inspeção, 19 de
março de 1754.] Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Ministério do Reino, maço 103, caixa 95, e
[OFICIO do intendente geral Wenceslau Pereira da Silva para Diogo de Mendonça Corte Real
informando sobre o excesso de trabalho e sobre as marcas antigas e as modernas da inspeção], de 30 de
março de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 7, documentos de 1080-1103.
272
[AVISOS de carregamento de tabaco do governador da Capitania da Bahia conde de Povolide e da
Mesa de Inspeção, 22, de fevereiro de 1773.] Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Ministério do Reino,
79
maço 108, caixa 114. Entre os anos de 1771 a 1773 foram 36 avisos do conde de Povolide e 39 da Mesa
de Inspeção, provavelmente houve a perda de 3 avisos do Conde de Povolide.
273
[OFÍCIO da Mesa de Inspeção da Bahia acerca da exportação do tabaco e descrevendo a forma como
se verificava a sua qualidade e estado de conservação.] Bahia, 29 de março de 1754. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 07, documentos10320-1034.
80
274
[SOBRE o exame do tabaco pela Mesa de Inspeção.] Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta da
Arrecadação do Tabaco, maço 107, caixa 107.
275
[ORDEM do rei para a Mesa de Inspeção da Bahia tentar evitar a fraude e melhor execução dos
exames, para isso aumentou mais dois funcionários da mesa, eleitos e responsáveis pelo exame e
responsáveis pelas fraudes], de 30 de março de 1756. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio: Maço 10 caixa 38.
276
[TERMO de resolução tomada em Mesa sobre as providencias para os preços de açúcar e outras como
nele abaixo se declara. Mesa de Inspeção da Bahia], 17 de novembro de 1786. Arquivo Nacional da Torre
do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 38.
277
Os atravessadores pagavam aos lavradores preços acima do estabelecido pela Mesa, mas, os lavradores
e caixeiros, ainda saiam lucrando porque não pagavam os direitos e impostos da Coroa.
81
“Serão os caixeiros dos ditos trapiches responsáveis por seus bens, e em sua
falta os donos das propriedades pelas faltas que se acharem; porque sendo da
sua primeira obrigação pesarem as caixas na entrada para prevenirem a falta
que ali lhes acharem, dando parte a Mesa, obram pelo contrário, por
condescendência talvez com os senhores delas; e porque estes não mudem a
descarga para outro trapiche. E porque também são constantes a esta Mesa
alguns roubos que tem acontecido dentro dos mesmos trapiches, talvez por
falta das cautelas necessárias, serão as mesmos caixeiros dos Trapiches
obrigados a passa-las pela balança no ato do embarque, para logo se conhecer
de qualquer falta que aconteça. E os capitães e mestres dos navios as não
receberão sem este requerimento, pena de responderem pelas faltas que
depois se acharem. Se, porém as mesmas caixas tiverem as suas taras
falsificadas, se procederá contra os senhores de engenho em que foram
encaixadas na forma que dispõem o §12, cap. 17 dos estatutos da Junta do
281
Comércio ”.
278
[TERMO de resolução tomada em Mesa sobre as providências para os preços de açúcar e outras como
nele abaixo se declara Mesa de Inspeção da Bahia], 17 de novembro de 1786. Arquivo Nacional da Torre
do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 38.
279
Ibidem, loc. cit.
280
Ibidem, loc. cit.
281
Ibidem, loc. cit.
82
282
Ibidem, loc. cit.
283
Ibidem, loc. cit.
284
[DEPUTADOS da Mesa de Inspeção da Bahia discutindo a necessidade de pesar o açúcar antes e
depois de saírem dos trapiches], em 07 de abril de 1789. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio: maço 10, caixa 38.
83
285
Os produtores já tinham despesas com o transporte dos gêneros da propriedade até os trapiches e a
Mesa de Inspeção deveria adverti-los a entregar a safra no tempo da saída da frota. Cf. CARTA do
Marques de Pombal Para João Bernardo Gonzaga sobre a ampliação da jurisdição da Mesa de Inspeção.
Em 27 de janeiro de 1755. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Papéis do Brasil; Avulsos 4, nº 4 –
Disponível em: pt/tt/pbr/19/4.
286
[DEPUTADOS da Mesa de Inspeção da Bahia discutindo a necessidade de pesar o açúcar antes e
depois de saírem dos trapiches], em 07 de abril de 1789. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio: maço 10, caixa 38.
84
justo287”. Durante a inspeção também era admitidas apenas a presença dos oficiais e
tripulantes dos navios que efetuaria o transporte. Já os oficiais da Mesa e da Casa da
Arrecadação, responsáveis pelos exames, não poderiam abandonar o ato do exame288.
Quando o açúcar chegava em Portugal, era encaminho à alfândega, desembarcado
e separado com base nas marcas de sua qualidade e de cada mercador. Como a Mesa de
Inspeção já tinha realizado o processo de exame, o produto chegava pronto para ser
distribuído289. Caso houvesse alguma irregularidade no açúcar, os mercadores podiam,
com requerimento, pedir um novo exame, que seria realizado pelo Juiz do Ofício de
Confeiteiro290, que abriria as caixas e verificaria uma por uma, emitindo laudo e um
certificado291. Para esse exame, as marcas eram importantes para saber a origem do
açúcar no Brasil, a exemplo do laudo de 18 de novembro de 1800 que consta o seguinte:
“Editadas as diferenças de qualidades achadas em contrário do carimbo da Mesa de
Inspeção nos parece ser responsável o lavrador do mesmo açúcar é este o nosso láudano
debaixo do juramento que prestamos na câmara292”. Pela marca do produtor, é possível
identificar a origem do açúcar adulterado. Nos requerimentos havia o pedido para que a
Mesa de Inspeção indenizassem os proprietários das caixas que estavam falsificadas.
Um outro exemplo de certificado de uma nova inspeção é o emitido por
287
[ATA da Mesa de Inspeção sobre o método para exame, peso e embarque dos produtos para
exportação], de 23 de dezembro de 1792. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio:
Maço 10 caixa 38.
288
Ibidem. loc. cit.
289
Manoel Ferreira Câmara [et.al.]. Cartas Econômico-Políticas sobre a Agricultura e Comércio da
Bahia. Salvador: FIEB, 2004. (Série FIEB. Documentos Históricos, 2). p. 167.
290
A regulamentação do Ofício de Confeiteiro foi efetuada através do Regimento de 1575, mas antes
disso os confeiteiros já eram reconhecidos como profissão especializada. O ingresso na profissão era por
meio de exames e outros processos seletivos que visava limitar o ingresso na profissão e estabelecer uma
hierarquia dentro do mester e impor padrões de conduta e qualidade pelos quais os profissionais deveriam
zelar. Cf. Daniel Strum. O Comércio do Açúcar: Brasil, Portugal e Países Baixos (1595-1630). Rio de
Janeiro: Versal Editores, 2012. p. 209-210.
291
[RECLAMAÇÕES dos lavradores sobre os exames efetuados pelo Oficial de Confeiteiro em Lisboa],
29 de novembro de 1800. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
292
[LAUDO do Juiz do Oficio dos Confeiteiros], de 18 de novembro de 1800. Arquivo Nacional da Torre
do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
85
293
[CERTIDÃO do exame do açúcar realizado pelo oficio de confeiteiro de Lisboa], 11 de junho de 1798.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
294
[REQUERIMENTO de José da Silva Ribeiro sobre a Mesa de Inspeção não cumprir com as suas
„obrigações‟ de qualificar adequadamente o açúcar], 1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta
do Comércio: Maço 63, caixa 206.
295
Ibidem. loc. cit.
86
296
[ARGUMENTOS e justificativas da Mesa de Inspeção sobre a má qualidade do açúcar], 27 de maio
de 1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
297
“Se os açúcares brancos por mais ou menos inferiores em cor, humildes e graá, forem inspetados por
mascavados, além da injustiça manifesta, o lavrador perderia 700 reis em cada arroba; pois tal é a
diferença com que a praça ordinariamente paga os açúcares brancos baixos sobre o melhor mascavado e a
Fazenda Real perderia também a quota respectiva do Dízimo e Novo Imposto do açúcar branco”.
[ARGUMENTOS e justificativas da Mesa de Inspeção sobre a má qualidade do açúcar], 27 de maio de
1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
298
[ARGUMENTOS e justificativas da Mesa de Inspeção sobre a má qualidade do açúcar], 27 de maio de
1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
87
299
[LIVRO 1º dos acordos da Mesa, Af 284 do livro 1º dos acordos da Mesa. 10 e maio de 1805].
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
300
[EDITAL sobre a responsabilidade das faltas e avarias achadas em todos os gêneros importados por
mar nas Alfandegas do Reino]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63,
caixa 206.
301
[ALVARÁ proibindo os comissários volantes de irem ao Brasil de 06 de dezembro de 1755]. In.:
SILVA, António Delgado da. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última Compilação das
Ordenações: suplemento da legislação de 1750-1762. Vol. 1. Lisboa: Tipografia Maigrense, 1828. p.
404-505.
302
Ibidem.
88
303
[VISTORIAS dos navios pela Mesa de Inspeção], 12 de dezembro de 1759. Arquivo Nacional da
Torre do Tombo: Junta da Arrecadação do Tabaco, maço 104, caixa 97.
304
[VISTORIA nos navios, irregularidades e prisão do mestre de navio]. 20 de fevereiro de 1804.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: maço 10, caixa 37.
305
José Diogo Gomes Ferrão Castelo Branco [et. al]. Cartas Econômico-Políticas sobre a Agricultura e
Comércio da Bahia. Salvador: FIEB, 2004. (Série FIEB. Documentos Históricos, 2). p. 175-176.
306
Manoel Ferreira [et. Al] Câmara, 2004. op. cit. p. 168.
89
exportação eram úteis e necessários para o beneficio da agricultura e que a sua abolição
causaria grandes danos à produção da capitania307. Ou ainda João Rodrigues de Brito
que também não via inconvenientes nos exames praticados pela Mesa de Inspeção, pois
o exame era realizado sem conhecimento de sua origem e, portanto, “mostra a confiança
que a Mesa tem merecido ao Público” e que sem a qualificação “seria preciso que ou
cada um dos que pretendesse comprar fizesse seu exame particular com trabalho e
deterioração do gênero […] ou que se fiasse na palavra do vendedor”, e assim, era a
marca “um instrumento do comércio que facilita as compras e vendas sem prejudicar
pessoa alguma308”.
3.3 Navegação
307
Joaquim Inácio de Siqueira Bulcão [et. al]. Cartas Econômico-Políticas sobre a Agricultura e
Comércio da Bahia. Salvador: FIEB, 2004. (Série FIEB. Documentos Históricos, 2). p. 180.
308
João Rodrigues de Brito [et. Al.]. Cartas Econômico-Políticas sobre a Agricultura e Comércio da
Bahia. Salvador: FIEB, 2004. (Série FIEB. Documentos Históricos, 2). P. 149-151.
309
Sobre a navegação portuguesa no Atlântico Cf. Leonor Freire Costa. op. cit.
310
Andréia Slemian; Claudia Maria das Graças Chaves. (Orgs.). Obra de Manoel Luís da Veiga. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012. p.195.
311
José Jobson de A. Arruda. O Brasil no Comércio Colonial. São Paulo: Ática, 1980. (Ensaios: 67). p.
640.
90
312
A redução da tripulação e do armamento ocorreu devido a menor intensidade da pirataria e do
crescimento da segurança no transporte. Cf. José Jobson de A. Arruda Ibidem. p. 641.
313
Ibidem. loc. cit.
314
Leonor Freire Costa. op. cit. p. 331–332.
315
Ibidem. p.209.
316
Ibidem. p.211.
317
[ALVARÁ de 25 de janeiro de 1755 sobre a partida e torna-viagem das frotas do Brasil]. In: SILVA,
António Delgado da. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última Compilação das Ordenações:
suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense, 1828. Fl. 347-349.
318
Francisco Calazans Falcon. Pombal e o Brasil. In.: José Tengarrinha (org.) História de Portugal. 2ª
ed., rev. e ampl. Bauru, SP: EDUSC; São Paulo, SP: UNESP; Portugal, PT: Instituto Camões, 2001. p.
232.
91
posterior a data marcada só seria embarcada na frota posterior, sob custos do produtor.
Os navios que fossem pegos com fraudes ficariam sujeitos á lei de 16 de fevereiro de
1740319, e não poderiam carregar, os mestres seriam presos e perderiam o valor da carga
para o denunciante. As transgressões eram investigadas e julgadas através de devassas
pelos Inspetores da Mesa.
O Alvará também concedia a Mesa de Inspeção toda a jurisdição para que “todos
os Ouvidores, Juízes de Fora e mais Ministros e oficiais de Justiça e Fazenda daquele
Estado, a quem se dirigem as ordens sobreditas das Mesas nos respectivos territórios as
executem inviolavelmente”, caso contrário estariam sujeitos a penas de acordo com a
gravidade320.
O referente alvará de 25 de janeiro de 1755 também reforçou as determinações
dos regimentos e decretos de 1751 e 1753 que estabelecia regras para a navegação com
o tempo de chegada das frotas que navegavam entre os portos portugueses e brasileiros
que partiam em datas fixas, vistorias nos navios para evitar fraudes, pois o “desejo de
obter lucros com todos os produtos do Brasil e de bloquear o contrabando, que havia
atingido vastas proporções durante o reinado de Dom João V, levou a um
fortalecimento do sistema de frotas321”.
As frotas da Bahia chegavam com maior regularidade a Lisboa em janeiro ou
outubro, as de Pernambuco aportavam com maior frequência em julho. Para Virgílio
Noya Pinto esta “alternância asseguravam intervalos suficientes para evitar o acumulo
de açúcar, garantindo-se, assim, o escoamento do produto sem dano para sua
cotação322”.
As frotas eram anuais e tinha um tempo determinado para permanecer em cada
porto. Mas no ano em que não tinha frota, ocorria grandes prejuízos para os lavradores e
comerciantes, a exemplo do ano de 1760, causando transtornos também para os
funcionários da Mesa de Inspeção, porque neste ano em questão “ vieram a perder quase
inteiramente os tabacos da safra de 1759 para 1760 e se vieram junta duas safras de
açúcar” o que dificultou o carregamento da frota de 1763, pois mesmo com os navios de
licença utilizados naquele ano, ainda
319
Citada no documento.
320
[ALVARÁ de 25 de janeiro de 1755 sobre a partida e torna-viagem das frotas do Brasil.] loc. cit.
321
André Mansuye; Diniz Silva. Portugal e Brasil: a reorganização do Império, 1750-1808. In.: Leslie
Bethell. História da América Latina: América Latina Colonial. vol.1. 2ª ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. p. 497.
322
Virgílio Noya Pinto. O Ouro Brasileiro e o Comércio Anglo-português. São Paulo: Ed. Nacional;
(Brasília): INL, (Brasiliana; v. 371) p. 134
92
Segundo Luís Antônio de Oliveira Mendes as frotas eram um dos principais problemas
para o agricultor porque não tendo a frota a safra ficava estocada, geralmente estragava,
além de manterem os armazéns ocupados pois só poderiam ser encaminhadas para
Portugal na frota seguinte. Isso prejudicava o agricultor, porque não recebia o
pagamento esperado pela venda da safra e não tinha como custear as despesas da
propriedade, sendo forçado a pedir dinheiro emprestado para manter a produção 324. Para
Mendes as frotas prejudicavam a agricultura da capitania de tal forma que assinala o ano
de 1766, quando estas se aboliram, como a “época feliz do restabelecimento da
agricultura em geral e com mais força em particular da lavoura do açúcar325”.
A falta de um programa adequado de saídas de navios em Portugal e no Brasil,
muitas vezes, provocava a deterioração dos produtos em decorrência dos longos
períodos de espera, além dos problemas com a venda dos gêneros e da constante pratica
de fraudes e contrabando326, “fracassaram todos os esforços da Junta do Comércio no
sentido de reformar o sistema de frota327”, sendo abolidas em 1765.
O governo estabelecia também um controle dos tripulantes e passageiros entre os
dois lados do oceano. Nas frotas espanholas também havia o controle das viagens. Os
mestres de navios deveriam ter a relação da carga e da correspondência da coroa e dos
comerciantes, como também a lista dos tripulantes, passageiros e presos. Quando
chegavam em Cádiz entregavam toda a documentação para o presidente da “Casa de la
323
[CORRESPONDÊNCIA da Mesa de Inspeção da Bahia falando sobre a ausência das frotas e o prejuízo
com a safra e transportes relacionado aos anos de 1760-1765], em 28 de setembro de 1761.Arquivo
Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 38.
324
Luiz Antônio de Oliveira Mendes. Discurso Preliminar, Histórico, Introdutivo, com Natureza de
Descrição Econômica da Comarca e Cidade da Bahia: In.: Pinto de Aguiar. Aspectos da Economia
Colonial. Salvador: Progresso, 1957. (Coleção de Estudos Brasileiros, série cruzeiro). p. 72.
325
Ibidem, p. 54 e 61.
326
ALVARÁ de 10 de Setembro de 1765. Em que Sua Majestade há por bem abolir inteiramente as
Frotas, e Esquadras que até agora foram aos Portos da Baía, e Rio de Janeiro: ordenando, que para eles, e
para todos os mais dos seus Domínios Ultramarinos, (onde o Comércio se não acha vedado por
Privilégios exclusivos) possam os seus Vassalos (enquanto Sua Majestade não mandar o contrário)
navegar livremente, e passar quaisquer mercadorias daquelas, cujo Comércio é permitido. In.: José
Roberto Monteiro de Campos Coelho e Sousa. fl. 1778- , compil. Sistema, ou Coleção dos Regimentos
Reais. Lisboa: Oficina de Francisco Borges de Sousa, 1783
327
Andrée Mansuy; Diniz Silva. op. cit. p. 499.
93
328
Maria Dolores Herrero Gil. El Mundo De Los Negocios De Indias: LasFamilias Álvarez Campana y
Llano San Ginés em el Cádiz delsiglo XVIII. Consejo Superior De Investigaciones Científicas|
Universidad Đ Sevilla| Diputation de Sevilla, Madrid, 2013. p. 147.
329
[ATESTAÇÕES da Mesa de Inspeção sobre as requisições de passaportes, 1760-1770]. Arquivo
Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 01, caixa 01.
330
Ibidem, loc. cit.
331
Ibidem, loc. cit.
332
Ibidem, loc. cit.
333
[RELAÇÃO dos oficiais e marinheiros e mais pessoas da equipagem dos navios (1760-1770)].
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 01, caixas 01 - 04.
334
[OFÍCIO do capitão João Alberto de Castelo Branco ao Secretário de Estado da Marinha e Ultramar
Tomé Joaquim da Costa Corte Real informando a prisão dos passageiros da frota da Bahia que foram
apreendidos sem passaporte]. Lisboa, 11 de fevereiro de 1759. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia,
caixa 140, documento 10786.
94
como foi o caso de Antônio Alvares Viana e Alexandre Francisco que “sendo as suas
atestações passadas anteriormente a data da mesma carta não vieram na relação
incluídos, motivo porque se acham pronunciados na devassa e ficam recomendados na
prisão335”.
Conhecer a tripulação também era importante para a Junta do Comércio 336 e para
a Mesa de Inspeção, pois eram as pessoas que iriam cuidar dos produtos durante a
travessia oceânica. Era mais uma forma de manter o controle sobre a navegação e a
circulação de indivíduos. A inscrição dos tripulantes na Junta do Comércio e Mesa de
Inspeção era bem minuciosa, com a descrição de nacionalidade e endereço, descrição da
estatura, cor dos olhos, formato do rosto, idade, tipo físico (gordo ou magro), formato
do nariz e sobrancelhas, tipo de cabelo e barba, descrição de cicatrizes, quando havia.
Era um verdadeiro retrato falado para que o tripulante fosse reconhecido pelos
funcionários da Alfandegas e da Mesa de Inspeção337.
Na composição da equipagem do navio encontramos os seguintes tripulantes: um
capelão, um capitão, um piloto, um mestre, um cirurgião, um contramestre, um
carpinteiro, um calafate, três marinheiros entre (51 a 36 anos), sete mancebos (entre 20
a 26 anos), quinze moços (entre 14-20 anos), com a informação do tempo em que
atuavam na função338. Segundo Leonor Freire Costa, a maior parte dos tripulantes seria
de conhecimento do mestre, o que facilitaria a disciplina a bordo pois “a aceitação da
autoridade do capitão/mestre constituiria o elemento catalizador da concórdia. O
conhecimento mútuo e a sondagem prévia sobre o comportamento dos homens a
contratar afiguravam-se essenciais339”.
De acordo com Leonor Freire Costa, o açúcar brasileiro trouxe uma nova
335
[ATESTAÇÕES da Mesa de Inspeção sobre as requisições de passaportes, 1760-177]. Arquivo
Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 01, caixa 02.
336
No fundo da Junta do Comércio do Arquivo Nacional da Torre do Tombo há uma série documental
sobre o controle de passageiros e tripulantes entre Portugal e o Brasil para os anos de 1760-1770,
arquivados em quatro caixas. Há também comprovantes da Mesa de Inspeção de remessas de dinheiro do
Brasil para Portugal e contabilidade das viagens. Existe também relação de passageiros e tripulantes de
Angola para Portugal e Brasil. Infelizmente não houve tempo hábil para realizar uma análise detalhada
desse fundo, o que ocorrerá num futuro próximo. Cf. [RELAÇÃO dos oficiais e marinheiros e mais
pessoas da equipagem dos navios (1760-1770)]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio. Maço 01, caixas 01 - 04.
337
[RELAÇÃO dos oficiais e marinheiros e mais pessoas da equipagem dos navios (1760-1770)].
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 01, caixas 01 - 04.
338
Para o ano de 1625, Leonor Freire Costa apresentou a seguinte tripulação “carregando 125 toneladas
de vinho e 605 caixas de açúcar, seria embarcação para cerca de 200 toneladas de frete. Foi tripulada por:
1 mestre-capitão, 1 piloto, 1 Contramestre, 2 artilheiros, 1 despenseiro, 8 marinheiros, 6 grumetes, 4
pagens, 4 moços”. Leonor Freire Costa. op. cit. p.356–357.
339
Ibidem, p.454.
95
340
Ibidem, p.115 – 116 .
341
Com relação ao tabaco de ínfima qualidade existe o alvará régio dirigido ao Superintendente do tabaco
da Capitania da Bahia, Alexandre Botelho de Moraes, determinando a livre exportação do tabaco de
ínfima qualidade.
342
[MESA de Inspeção da Bahia, 24 de maio de 1755]. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia caixa 09,
docs. 1618-1623.
343
Daniel Strum. op. cit.p. 326.
344
[PROVISÃO para a Mesa de Inspeção da Bahia] em data de 23 de março 1789. Lisboa 23 de abril de
1789. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4219.
345
Luís Felipe de Alencastro. O Trato dos Viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo:
Companhia das Letras, 2006 p. 35.
346
José Carlos Venâncio. A Economia de Luanda e Hinterland no Século XVIII: um estudo de sociologia
histórica. Ed. Estampa. Lisboa, 1996. p. 172.
96
José Carlos Venâncio, os “livros de registo, nas referidas juntas de comércio e casas de
inspecção, ajudariam à fiscalização” e representava “mais uma medida pombalina347”.
Com o clima de guerra em que a Europa estava envolvida, a Coroa encaminhou a
Mesa de Inspeção da Bahia um edital suspendendo o alvará de 29 de abril de 1766 que
regulamentava os fretes e determinou que a mesa afixasse editais em vários lugares da
capitania informando que os fretes dos navios fossem livres durante o período de
guerra, pois o dito
347
Ibidem, p. 172.
348
[EDITAL de 07 de dezembro de 1796 que determinava os fretes dos navios livres a avença das partes
durante a presente guerra]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 36.
349
[SOBRE os piratas franceses]. 25 de junho de 1800. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio. Maço 63, caixa 206.
350
[DETERMINAÇÃO da Real Junta do Comércio para que os navios mercantes não possam sair dos
portos Portugueses para o do Brasil sem ser debaixo de comboios], 15 de maio 1797. Arquivo Nacional
da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
351
Lucy Maffei Hutter. Navegações nos séculos XVII e XVIII Rumo: Brasil. São Paulo; Edusp, 2005.
(Coleção Estante USP; 8), p. 83.
97
352
[JUNTA do Comércio sugerindo algumas ações para melhor controle do comércio de comboio], 24 de
abril de 1798. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
353
Ibidem, loc. cit.
354
Ibidem, loc. cit.
355
Ibidem, loc. cit.
98
que por isso o “comércio direto entre as ilhas e o Brasil estava parado havia seis
anos356”. A Junta do Comércio autorizou o negociante Antônio Joaquim Ferreira a fazer
sua expedição mercantil para o Brasil compondo o comboio e que na volta quando
chegasse próximo às ilhas a sua escolta seria realizada por um navio de guerra do
comboio geral, para que não ficasse totalmente desprotegido357.
A inspeção e o transporte, sem dúvida eram atividades supervisionadas pela Mesa
de Inspeção que interferia diretamente no resultado final da produção. O cuidado com o
transporte da mercadoria da propriedade para o porto e do porto do Brasil para Portugal
era longa, cara e sujeita a um rigoroso sistema de controle e a navegação deveria seguir
um calendário adequando para a safra não estragasse, não gerasse maiores prejuízos e
para que também não comprometesse a reputação dos gêneros do Brasil no mercado
europeu. Nesse processo, a Mesa de Inspeção executava as suas atribuições para que os
produtos chegassem ao mercado da metrópole com a qualidade exigida e esperada.
356
[REQUERIMENTO do negociante Antônio Joaquim Ferreira da cidade de Ponta Delgada, da Ilha de
São Miguel. 15 de junho de 1800]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 63,
caixa 206.
357
[RESPOSTA da Junta do Comércio ao requerimento do negociante Antônio Joaquim Ferreira, 26 de
junho de 1800]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 63, caixa 206.
99
4 COMÉRCIO E CONTRABANDO
358
Caio Prado Junior. Formação Econômica do Brasil Contemporâneo: Colônia. 23. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1997. p. 30.
359
Fernando Antônio Novais. Portugal e Brasil na Crise do Antigo sistema Colonial (1777-1808), 3ª
edição. São Paulo: Hucitec, 1985. Coleção Estudos Históricos. p. 72.
360
Virgílio Noya Pinto. O Ouro Brasileiro e o Comércio Anglo-português. São Paulo: Ed. Nacional;
(Brasília): INL, (Brasiliana; v. 371). P. 131 e 133.
361
Kenneth Maxwell. Marquês de Pombal: paradoxo do iluminismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996, p.
132.
362
Ibidem, p. 139.
363
Fernando Tomaz. As Finanças do Estado Pombalino 1762-1776. In.: Estudos e Ensaios: em
homenagem a Vitorino Magalhães Godinho. Lisboa: Sá da Costa, 1988, p. 376.
100
e pelo monopólio das companhias de comércio364. Por outro lado, o açúcar – principal
produto do período colonial – esteve sempre sob o comércio livre para todos os
mercadores luso-brasileiros, e “era disputado por três partes interessadas. O plantador, o
mercador e a Coroa. Esta última, através dos impostos, desde o dízimo no Brasil aos
direitos alfandegários e outros tributos em Portugal365”. A questão do monopólio era
uma prática considerada, por muitos, como válida. Na opinião, por exemplo, de Gaioso,
quando um país como Portugal não tem muitos recursos, é “lícito então conceder o
privilégio exclusivo do comércio a um particular rico, ou a vários negociantes para
excitar a emulação de todos, pela emulação de um só. Quando se fala de comércio,
todos chamam pela liberdade sem saberem em que ela consiste e o que significa366”.
Na prática, porém, quando a Coroa tentava fixar o preço dos produtos coloniais
para garantir o lucro aos comerciantes portugueses, os lavradores sempre se
manifestavam contrários e tentavam alternativas para não ficarem no prejuízo. Como
exemplo disso, ao se fixar o preço do tabaco de primeira qualidade, os lavradores se
dedicaram à plantação do item de terceira qualidade e conseguiam grandes lucros ao
vendê-lo para a utilização do comércio de escravos na África e, em outros casos,
aderiam ao contrabando367.
O objetivo de Pombal era garantir o comércio ativo de Portugal e gerar um
grupo de mercadores que administrasse o comércio sem recorrer ao crédito estrangeiro.
Para isso, adotou as políticas mercantilistas observando os direitos exclusivos dos
negociantes portugueses sobre o comércio colonial e excluindo os pequenos
comerciantes itinerantes368.
Essa política deu origem ao Alvará de 6 de dezembro de 1755, que proibia os
comissários volantes de comercializar no Brasil e encarregava a Mesa de Inspeção de
vistoriar os navios mercantes e de guerra, podendo confiscar as mercadorias
encontradas. Essa lei também era aplicada aos mestres de navios oficiais e marinheiros
dos navios mercantes. A lei caracterizava os comissários volantes de “ignorantes” e
“destituídos de meios necessários para praticar o comércio” que era considerado ilícito,
364
Ibidem, p. 89.
365
Jacob Gorender. O Escravismo Colonial. São Paulo; Ática 1978 (Ensaios, 29). p.509 - 510.
366
Raimundo José de Sousa Gaioso. Compêndio Histórico e Politico dos Princípios da Lavoura do
Maranhão (1812). Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1970. P. 172.
367
Stuart B. Schwartz. O Brasil Colonial, 1580-1750: As Grandes Lavouras e as Periferias. In.: Leslie
Bethell. História da América Latina: América Latina Colonial.vol. 2. 2ª ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. P. 376.
368
Jorge Pedreira. A economia politica do Sistema Colonial. In.: João Luiz Ribeiro Fragoso; Maria de
Fátima Gouveia (Orgs.). O Brasil Colonial. Vol. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. P. 438.
101
inclusive nos sertões do Brasil, sendo uma ação que “arruinava os interesses dos
negociantes e causava perdas e perturbações no comércio do Brasil369”. Como os
comissários volantes continuaram transportando fazendas, usando uns e outros
“subterfúgios”, outro alvará de 7 de março de 1760 foi estabelecido para ampliar o
controle sobre os comissários volantes e a entrada de fazendas no Brasil 370. Essas
medidas tinham o objetivo de eliminar a concorrência e combater o contrabando,
permitindo o monopólio dos comerciantes portugueses matriculados, tanto na Junta do
Comércio em Lisboa, como nas Mesa de Inspeção no Brasil.
Para Jorge Pedreira, a estrutura comercial marítima beneficiava e preenchia
quatro funções básicas para a economia portuguesa; abastecia a Metrópole de produtos
coloniais, abria mercados privilegiados aos produtos portugueses, estimulava a troca de
produtos entre os territórios ultramarinos e estabelecia a base para o amplo comércio de
reexportação de produtos coloniais para as nações estrangeiras e de produtos
estrangeiros para o ultramar371. Assim, protegidos pelo privilégio que o sistema colonial
lhes garantia, os negociantes portugueses empregavam os seus fundos quase
exclusivamente no tráfego com os domínios portugueses372.
As nações europeias organizaram as Companhias de Comércio com o objetivo
de aumentar os lucros comerciais com a exploração das colônias, aprimorar o processo
produtivo e ultrapassar os países concorrentes373. Seguindo o modelo, durante os
séculos XVII e XVIII, Portugal se organizou em quatro Companhias de Comércio
voltadas para o negócio com o Brasil: Companhia Geral do Comércio do Brasil,
369
ALVARÁ de 6 de dezembro de 1755 que proibia os comissários volantes de comercializar no Brasil.
In.: António Delgado da Silva Coleção da Legislação Portuguesa desde a última Compilação das
Ordenações: suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense, 1828. P. 404-406.
370
ALVARÁ de 7 de março de 1760 acerca dos comissários volantes nos portos do Brasil. In.: SILVA,
António Delgado da. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última Compilação das Ordenações:
suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense, 1828. Páginas 726-727.
371
Jorge Miguel Viana Pedreira. Estrutura Industrial e Mercado Colonial: Portugal e Brasil (1780-
1830). Lisboa: DIFEL, 1994. 270.
372
Ibidem, p. 272.
373
Alguns autores fizeram um estudo mais sistemático sobre as companhias de comércio sobre isso. Cf.
António Carreira. As Companhias pombalinas de navegação, comércio e tráfico de escravos entre a costa
africana e o nordeste brasileiro. Bissau: Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, 1969. Rui de
Figueiredo Marcos. As Companhias Pombalinas: Contributo para a História das Sociedades por Ações
em Portugal. Coimbra: 1997. Érica Simone de Almeida Carlos. O Fim do Monopólio: A extinção da
Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba (1770-1780). Recife: UFPE, 2001. (Dissertação de
Mestrado). Leonor Freire Costa. O Transporte no Atlântico e a Companhia Geral do Comércio do Brasil
(1580-1663). Vol. 2 Lisboa: comissão Nacional para as Comemorações dos descobrimentos Portugueses,
2002. (Outras Margens) e Pernambuco e a Companhia Geral do Comércio do Brasil. Artigo, 2005.
Manuel Nunes Dias. Fomento e Mercantilismo: A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (1755-
1778). Belém: UFPA, 1970. José Ribeiro Junior. Colonização e Monopólio na Nordeste Brasileiro: a
companhia Geral de Pernambuco e Paraíba, 1759-1780. São Paulo: HUCITEC, 2004.
102
374
José Ribeiro Junior. Op. Cit. p. 07.
375
Sobre as companhias de Comércio do século XVII ver: Maria Leonor Freire Costa. Pernambuco e a
Companhia Geral do Comércio do Brasil. Artigo, 2005.
376
Ibidem, p. 19-23.
377
Ibidem, p. 61.
103
378
Jacome Ratton. Op. Cit. p. 234-235.
379
MISCELÂNEA de Notícias Históricas: papeis vários dos séculos XVII, XVIII e XIX. Biblioteca
Nacional de Lisboa: Coleção Pombalina, 687, fl. 279.
380
Embora Avanete Pereira Sousa afirme que a Câmara Municipal tabelava os produtos da Companhia de
Agricultura das Vinhas do Alto Douro até 1760. Cf. Avanete Pereira Sousa. Manifestações locais da Crise
do Antigo Sistema Colonial? (o exemplo das câmaras municipais da capitania da Bahia) In.: Laura de
Melo e Souza; Júnia Ferreira Furtado; Maria Fernanda Bicalho (Orgs.). O Governo dos Povos. São Paulo:
Alameda, 2009.
381
CARTA de Wenceslau Pereira da Silva à Sebastião José de Carvalho e Melo sobre a proteção e
direção do negócio dos produtos do Alto Douro na Bahia, 12 de dezembro de 1757. Arquivo Nacional da
Torre do Tombo: Ministério do Reino: Negócio do ultramar. Maço 5999, caixa 702.
382
Na Bahia, estimava-se um consumo de dez mil pipas de vinho por ano. Nas outras regiões observava
um grande consumo de giribitas, aguardentes da terra destiladas dos melaços. Cf. CARTA de Wenceslau
Pereira da Silva à Sebastião José de Carvalho e Melo sobre a proteção e direção do negócio dos produtos
do Alto Douro na Bahia, 12 de dezembro de 1757. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Ministério do
Reino: Negócio do ultramar. Maço 5999, caixa 702.
383
Ibidem, loc. cit.
384
Jacob Gorender. Op. Cit.p.503.
104
385
ESTATUTO da Junta do Comércio de 12 de dezembro de 1756. In: SILVA, António Delgado da.
Coleção da Legislação Portuguesa desde a última Compilação das Ordenações: suplemento da
legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense, 1828.
386
A Junta do Comércio foi extinta pelo Decreto de 18 de Setembro de 1834.
387
ESTATUTO da Junta do Comércio, de 12 de dezembro de 1756. op. cit.
388
Jacome Ratton, 1813. Op. Cit. p. 253.
105
389
Fernando Antônio Novais; José Jobson de Andrade Arruda. Prometeus e Atlantes na forja da Nação.
Economia e Sociedade, Campinas, v. 12, nº. 2 (21), p. 225-243, jul./dez. 2003. p. 230.
390
Luís Henrique Dias Tavares. História da Bahia. São Paulo: Editora UNESP: Salvador, BA: EDUFBA,
2001, p. 192-193.
391
Rafael da Silva Coelho. Moeda no Brasil no Final do século XVII. São Paulo: FFLCH/USP, 2013.
(dissertação de Mestrado). P. 141-142.
392
Luiz Antônio de Oliveira Mendes. Discurso Preliminar, Histórico, Introdutivo, com Natureza de
Descrição Econômica da Comarca e Cidade da Bahia: In.: Pinto de Aguiar. Aspectos da Economia
Colonial. Salvador: Progresso, 1957. (Coleção de Estudos Brasileiros, série cruzeiro). P. 72.
393
Maria José Rapassi Mascarenhas. Fortunas Coloniais: Elite e Riqueza em Salvador (1760-1808) São
Paulo: USP, 1998, (Tese de Doutorado). p. 218.
106
proceder ao pagamento das quantias devidas antes que a viúva e os herdeiros pudessem
tomar posse respectivamente da meação e das legítimas394”.
A Carta Régia de 14 de Janeiro de 1760 encarregava as Mesas de Inspeção do
Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco da correspondência com a Junta e “obrigação de
execução das dívidas de falidos, ampliando um regime de colaboração idêntico aos
provedores de comarca das ilhas da Madeira e dos Açores a partir de 1768395”. No
fundo, representou um novo instrumento da Coroa Portuguesa em fiscalizar o comércio
entre os vários territórios ultramarinos. Nesse contexto, a Mesa tinha uma intensa
correspondência com a Junta do Comércio, e seu trabalho tinha vistas a que, em todas as
atividades comerciais, houvesse, em suas palavras, “o cuidado e obrigação de fazermos
executar as dívidas dos falidos e o mais a este respeito, que consta da carta de 14 de
julho do ano de 1760, assinada pela real mão do mesmo senhor, em execução da qual
logo que recebemos as executórias396”. E, nas frotas, faziam as remessas das cobranças
efetuadas como foi recomendado. Dessa forma, a Mesa de Inspeção escrevia à Junta do
Comércio informando sobre as providências tomadas com relação aos falidos. Em
relação à frota, enviava as listas com a relação das dívidas, credores e seus respectivos
valores. Era uma espécie de prestação das contas e das cartas executórias dos falidos, a
exemplo do mapa com a cobrança de 8:584$144 réis – que ficou da conta que se
cobraram dos falidos e também dos demais devedores que pagaram – e de outro “mapa
se manifestam as executórias que recebemos, as que ainda ficam em execução”, como
aparece em uma das cartas. Isso se dava porque nem todas as cobranças eram
executadas, pois nem sempre os funcionários da Mesa encontravam os devedores, ou
por morarem fora da cidade e não ter endereço definido ou porque não havia notícia de
algumas pessoas executadas, ou ainda porque tinham morrido sem deixar bens nem
herdeiros, e, por esses motivos, algumas execuções ficaram suspensas397.
A Mesa sempre acompanhava as atividades dos comerciantes que atuavam na
Bahia para verificar seu desempenho nesse estado. Um exemplo é o caso do negociante
e contratador do tabaco, Feliciano Velho Oldemberg, ocorrido entre os anos de 1747 a
394
Maria Beatriz Nizza da Silva. Bahia a Corte da América. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
2010. p. 444.
395
Nuno Luís Madureira. Mercado e Privilégios: A indústria Portuguesa entre 1750 e 1834. Lisboa:
Editorial Estampa, 1997 p 47-48.
396
EXECUÇÃO das dívidas dos falidos pela Mesa de Inspeção, 16 de abril de 1761. Arquivo Nacional da
Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 01. Caixa 02.
397
EXECUÇÃO das dívidas pela Mesa de Inspeção da Bahia, 02 de outubro de 1761. Arquivo Nacional
da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 38.
107
1752398. Em uma carta, o seu procurador, Francisco Borges dos Santos, informava sobre
as dívidas ativas que Feliciano tinha para receber na Capitania da Bahia e pedia a
execução da dívida do falido Teodósio Roiz de Faria. Avisava também que tinha
efetuado “amigavelmente a cobrança de algumas pessoas conhecidas que podem pagar”.
Porém havia outras que, mesmo que se obrigasse o pagamento, era difícil de receber,
além do que, alguns viviam nos “sertões de minas em que não são ouvidos e nem
atendidos os procedimentos judiciais”. Então, pedia-se à Mesa para que negociasse e
resolvesse a questão com “melhor método e expediente e se arrecadarem com brevidade
as tais dívidas ativas do dito apresentado remeteres na volta da frota com as mais contas
a de todos os seus devedores com distinção da quantia mencionada no dito
manifesto399”. Este caso do negociante Feliciano Velho Oldemberg é apenas um
exemplo dos vários episódios de comerciantes que entraram com requerimento à Mesa
de Inspeção para que se executassem as suas dívidas da Praça da Bahia, sendo alguns
deles falidos. Geralmente, o pagamento das dívidas era efetuado, em alguns casos, em
dinheiro e, em outros, em gêneros – enviados a Portugal pela frota, a exemplo do
pagamento ao dito negociante, que “incluía a carga de 18 caixas de açúcar” e “47 rolos
de tabaco”, tudo na importância de 1:126$178 réis400.
A Mesa de Inspeção, mesmo sendo a responsável por resolver as questões
referentes aos falidos, geralmente agia em detrimento das ordens da Junta do Comércio,
como podemos perceber com o caso da falência do comerciante Antônio Ribeiro Neves,
o qual, naquele período, estava sem processo de execução porque a Mesa não tinha
recebido “ordem alguma, nem ainda para aviso dessa Junta para se procederem as
contas de sua sociedade, não podemos contra este obrar coisa alguma, o que faremos
todas as vezes que nos vierem ordens positivas para uma ou outra coisa401”.
A provisão da Junta do Comércio de 12 de agosto de 1788 determinava que a
Mesa de Inspeção executasse as dívidas, evitasse as despesas e a demora no pagamento
dos negociantes que experimentavam o juízo dos ausentes, porque logo que morria um
negociante, dever-se-ia ser nomeado um administrador dos seus bens “e sendo
necessário que este administrador demande algum devedor, para pagar o que deve ao
398
CARTA de Feliciano Velho Oldemberg ao Governador da Bahia. Belém, 21/10/1755. Arquivo
Público do Estado da Bahia; Seção Colonial e Provincial: Ordens Régias (1751-1753), nº 48.
399
CARTA de Francisco Borges dos Santos à Mesa de Inspeção sobre créditos e falidos, 01 de agosto de
1761. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 38.
400
CARTA para Francisco Borges dos Santos sobre as dívidas de Fabrício Velho Oldemberg, 28 de
fevereiro de 1764. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Livro 329.
401
Nesse parágrafo fica claro que a mesa só agia em detrimento das ordens da Junta do Comércio.
108
espoliativas dos Juízes”. A Mesa, por fim, trabalhava pelo “interesse social, sendo
notórias nestas colônias a necessidade de comerciar por meio de finanças de efeitos de
Europa e a assistências a Lavradores, cuja cobrança é de ordinário difícil e
demorada406”.
Os comerciantes eram considerados inimigos pelos lavradores, isso porque deixavam os
agricultores cativos através dos endividamentos. Para resolver a situação das dívidas
dos lavradores, Luiz Antônio de Oliveira Mendes apresentou algumas sugestões para
que esses pudessem administrar melhor a sua propriedade e finanças para, então,
conseguir a prosperidade. Segundo o autor, o agricultor deveria ter rigorosa economia e
sobriedade na administração; gerenciar pessoalmente sua propriedade e não delegar a
outro a administração; manter a regularidade da produção e plantar com proporção tanto
para exportar como para o consumo, buscando auxílio na Mesa de Inspeção e tratar
melhor a escravatura407.
A Mesa de Inspeção também tinha interesse no desenvolvimento do comércio da
Capitania da Bahia. As mercadorias desembarcadas nos portos de Salvador eram
distribuídas para outras capitanias, gerando trocas inter-regionais que empregavam
navios e outras embarcações408. A distribuição também era feita pelo interior da Bahia
para abastecer a população que se estabeleceu nos sertões com a instalação de fazendas
de policulturas e que desenvolviam a pecuária. Estes estabelecimentos “formaram os
incipientes mercados locais, conectados por tropeiros e boiadeiros aos circuitos de
comércio inter-regionais409”. Para Avanete Pereira Sousa, não havia dúvidas quanto à
projeção comercial de Salvador no contexto do Império ultramarino português e ao seu
comércio de cabotagem com outras cidades e vilas situadas no interior e ao longo do
litoral brasileiro410.
O comércio local era regulamentado principalmente pela Câmara Municipal, por
meio do código de posturas, que emitia licenças, fazia vistorias nos estabelecimentos
comerciais, conferia os pesos e medidas e estabelecia os locais de funcionamento das
lojas. Essas ações “faziam parte dos atos rotineiros da Câmara e obedeciam à lógica e à
406
Ibidem.
407
Luiz Antônio de Oliveira Mendes. Discurso Preliminar, Histórico, Introdutivo, com Natureza de
Descrição Econômica da Comarca e Cidade da Bahia: In.: Pinto de Aguiar. Aspectos da Economia
Colonial. Salvador: Progresso, 1957. (Coleção de Estudos Brasileiros, série cruzeiro). P. 80-93.
408
Avanete Pereira Sousa. A Bahia no Século XVIII: Poder Político Local e Atividades Econômicas. São
Paulo: Alameda, 2012. p. 40.
409
, Erivaldo Fagundes Neves. Estrutura Fundiária e Dinâmica Mercantil: Alto Sertão da Bahia, séculos
XVIII e XIX. Salvador: EDUFBA; Feira de Santana: UEFS, 2005. p. 205.
410
, Avanete Pereira Sousa. 2012. op. cit. p. 41.
110
411
Ibid. p. 234.
412
Afrânio Mário Simões Filho. Política de Abastecimento na Economia Mercantil: o Celeiro Público da
Bahia 1785-1866. Salvador: FFCH/UFBA, 2011, p. 45-46.
413
Que declaravam motivos de proibirem os comissários volantes de viajarem do entre os territórios do
Ultramar com fazendas e introduzirem, cladestinamente, na Praça da Bahia e seus sertões.
414
REGULAMENTAÇÃO do mercado interno pela Mesa de Inspeção da Bahia, em 23 de fevereiro de
1789. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 38.
415
Andrée Mansuy-Diniz Silva. Portugal e o Brasil: a reorganização do império, 1750-1808. In.: Leslie
Bethell. História da América Latina: América Latina Colonial .vol. 1. 2ª ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. p. 497.
111
e não possam sem ela, os mesmos comerciantes, gozar das graças, privilégios e isenções
que lhes são concedidas nos §3º e 4º da dita lei”, de 30 de agosto de 1770416.
A Mesa também utilizava o § 14º do capítulo 2º do Estatuto dos Mercadores de
Retalho para obrigar esses mercadores e seus caixeiros a “matricularem-se nesse
Tribunal dentro do referido termo de um ano, debaixo da pena combinada nos
sobreditos parágrafos, procedendo para a matrícula uma atestação desta Mesa417”. E
apontava que, sem a sua ordem, nenhum caixeiro de negociante poderia “estabelecer
casa de negócio, nem caixeiro algum de mercador abrir loja de retalho: a qual somente
se concederá aos que forem matriculados neste Tribunal418”. A Mesa também
determinou que a alfândega da Bahia só recebesse fazendas de negociantes
matriculados. Para que a alfândega executasse tal determinação, a Mesa deveria
encaminhar ao seu provedor, no início de cada ano, uma relação de todas as pessoas
matriculadas para serem admitidas aos despachos das fazendas e, durante o despacho, o
provedor também deveria fazer com que os despachantes declarassem os donos das
mercadorias, sob “o juramento dos Santos Evangelhos”. E se, mesmo assim, o
despachante mentisse, este deveria de ser punido “nas penas de perjuro, na perda de
800$000 réis, estabelecida no Alvará de 07 de março de 1760, e na privação do uso do
comércio ativo e passivo, o que se deve declarar no termo de juramento, às quais penas
lhe serão impostas pelo Presidente desta Mesa419”. Além disso, a Mesa de Inspeção,
eventualmente, fazia a conferência dos seus livros de matrícula com os livros de
despacho da Alfândega para averiguar se havia alguma irregularidade a esse respeito.
A Junta do Comércio em Lisboa também contribuía para combater as práticas
dos comissários volantes e do contrabando, uma vez que, conforme Nuno Madureira, “o
regime de monopólio e o controle apertado dos negociantes que viajam para a América
do Sul, obrigados a requerer atestação prévia em Lisboa para serem admitidos nas
Mesas de Inspeção, reduzem o espaço de manobra do comércio ilegal com o Brasil”. Os
comissários volantes eram obrigados a reconverter a sua atividade, os poucos que
416
Percebe também que, além de controlar o comércio externo, há uma intenção de controle do comércio
interno, da praça, para também poder coibir a entrada de novos comerciantes ou dos comissários que
sempre trazem fazendas nos navios.
417
REGULAMENTAÇÃO do mercado interno pela Mesa de Inspeção da Bahia, em 23 de fevereiro de
1789. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 38.
418
Ibidem, loc. cit.
419
O poder do presidente da Mesa de fazer executar as leis como também de impor outras penas. Há aqui
uma severa punição às pessoas que tentarem entrar com fazendas na Bahia, além disso, percebe-se a
tentativa de controle do grupo de comerciantes da Bahia ao impor a matricula e a punição a quem não
cumprir com as determinações da mesa, sendo inclusive, impedidos de exercerem as atividades
comerciais.
112
tentavam se adaptar ao novo quadro legal eram, na maioria das vezes, neutralizados
pelas autoridades. “A continuidade de redes organizadas de contrabando durante todo o
consulado pombalino põe a claro a incapacidade da Junta do Comércio em debelar
completamente este fenômeno420”.
Portanto, constatamos que o comércio na Bahia, na segunda metade do século
XVIII, era intenso e dinâmico, mas que também sofria um rígido controle, tanto da
Câmara como da Mesa de Inspeção. Porém, esse controle era burlado pelos
comerciantes por meio de fraudes, descaminho e contrabando, principalmente devido à
corrupção.
A organização do comércio inter-regional também era atribuição da Mesa de
Inspeção, a exemplo do procedimento da Mesa sobre a chegada ao porto da Bahia de
uma sumaca vinda de Goiâna com carga de couro e algodão e uma outra carregada de
fazendas. Essas cargas estavam aparentemente abandonadas no porto e estavam sendo
disputadas por três comerciantes. A Mesa, então, nomeou dois administradores para
fazer a investigação do caso e decidir quem deveria ficar com as mercadorias. Não
conseguindo encontrar o seu dono, os administradores venderam parte da carga entre os
comerciantes interessados e entregaram o valor recebido pelos gêneros e o restante da
mercadoria no “depósito público421”. De acordo com a resolução, a Mesa agiu de forma
adequada ao “arrecadar uns efeitos que são objetos peculiares do comércio interno do
Brasil e que o ouvidor do crime não devia ordenar em seus domínios a entrega por um
mandado, mas antes por uma carta precatória dirigida ao presidente da Mesa”, porque o
Regimento determinava que todo recurso referente ao comércio fosse de jurisdição da
Mesa de Inspeção422.
420
Nuno Luís Madureira. Mercado e Privilégios: A indústria Portuguesa entre 1750 e 1834. Lisboa:
Editorial Estampa, 1997 p. 48-49
421
“Depósito público” era o Celeiro Público de Salvador criado em 1785 para receber as mercadorias da
Capitania da Bahia e região. Sobre isso ver: Afrânio Mário Simões Filho. 2011, Op. Cit.
422
MESA de Inspeção da Bahia e as resoluções sobre o mercado interno, 10 de fevereiro de 1795.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 38.
113
423
Paulo Cavalcante. Negócios de Trapaça: Caminhos e descaminhos na América Portuguesa (1700-
1750). São Paulo: Hucitec: Fapesp, 2006. p. 36.
424
Ibidem, p. 43.
425
Sobre os crimes de Contrabando ver Roque Felipe de Oliveira Filho. Crimes e Perdões na Ordem
Jurídica Colonial. Bahia (1750/1808). Salvador, UFBA, 2009. (Tese de doutorado). p. 81.
426
OFÍCIOS do Vice-rei Conde de Atouguia sobre o Novo Regimento do Tabaco e a saída das frotas. 28
de fevereiro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia: caixa 06, Doc. 931-936.
114
427
ALVARÁ de 06 de dezembro de 1755 que proibia os Comissários Volantes de irem ao Brasil. In:
Antônio Delgado da Silva. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última Compilação das
Ordenações: suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense, 1828. p. 404-406.
428
ALVARÁ de 07 de março de 1760 acerca dos Comissários Volantes aos portos do Brasil. In: Antônio
Delgado da Silva. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última Compilação das Ordenações:
suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense, 1828. p. 726-727.
429
REGULAMENTAÇÃO do comércio pela Mesa de Inspeção observando os alvarás de 06 de dezembro
de 1755, 11 de dezembro de 1756 e 07 de março de 1760. Bahia 23 de fevereiro de 1789. Arquivo
Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
430
Ibidem, loc. cit.
115
431
Segundo informa, foram apreendidas aproximadamente 100 caixas de açúcar e não 18 caixas, como
haviam lhe informado antes.
432
OFÍCIO do Ouvidor Geral das Alagoas, Francisco Nunes da Costa sobre o contrabando e apreensões
de açúcar, em 26 de abril de 1779. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, Caixa 54, documento 10329.
433
Ibidem, loc. cit.
116
“ao mesmo tempo vieram cartas circulares dos mesmos trapicheiros dirigidas
aos seus correspondentes, avisando-os, de que não se aterrassem com esta
notícia, que entrassem de noite ou procurassem Itapagipe, que nenhum perigo
ou risco ocorriam nas descargas. Finalmente cada vez mais animados e
atrevidos procuram a saída dos efeitos, por todos os modos, antes e força,
pois já se preparam armados e associados para resistirem, assim como por
434
vezes o tem feito o celebre povão ”.
434
Ibidem, loc. cit.
435
Ibidem, loc. cit.
436
Ibidem, loc. cit.
437
Atual Arquipélago de Fernando de Noronha.
117
438
OFÍCIO do Ouvidor Geral das Alagoas, Francisco Nunes da Costa em que dá parte de algumas
apreensões de caixas de açúcar efetuadas a bordo de diversas embarcações, em 05 de maio de 1779.
Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 54, doc. 10330.
439
Ibidem, loc. cit.
440
José Ribeiro Júnior. Op. Cit. P. 108.
441
Érica Dias A Capitania de Pernambuco e a Instalação da Companhia Geral e Comércio. In.:Actas do
Congresso Internacional - Espaço Atlântico de Antigo Regime: poderes e
sociedades.Lisboa.(Comunicação).2005.http://cvc.institutocamoes.pt/index.php?option=com_doc
man&task=cat_view&gid=76&Itemid=69.
118
Pela mesma portaria, o governador Marquês de Valença advertiu e ordenou 442 aos
funcionários da Mesa que não permitissem a entrada de açúcar vindo dos sertões e
portos das Alagoas, Pernambuco e Paraíba, e que também não os examinassem e
qualificassem por serem contrabandeados da Companhia Geral de Pernambuco443.
Outro tipo de fraude foram as remessas de caixas de açúcar devolvidas pela
Junta do Comércio. Dentre essas, houve uma em que constava no seu interior terra sem
mistura de açúcar e outra “cheia de espumas de caldeira, cinza, argila e terra amassada
com mel”, ambas remetidas por Adriano de Araújo Braga. Exigiam-se providências da
Mesa de Inspeção, pois uma tão escandalosa falsificação não era cogitada no regimento,
já que o corrente era a mistura de diferentes qualidades de açúcar, as quais eram
coibidas com penas proporcionais. Afirmava-se que tal fato era a:
“primeira vez que se viu praticada em caixas de açúcar, sendo além disto para
notar que ambas as referidas caixas de açúcar, tão nova e escandalosamente
falsificadas, viessem não de algum engenho do Recôncavo desta cidade, mas
de dois engenhos da Ribeira de Cotenguiba, distrito da comarca de Sergipe
de ElRei, cujos donos talvez confinados na grande distância dos engenhos de
444
que se faz a remessa das referidas caixas se animaram a cometer a dita
falsidade, persuadidos de que não poderiam ser descobertos os autores
445
dela ”.
442
Vale ressaltar que essas ordens dos governadores à Mesa de Inspeção geraram um conflito de
jurisdição que será tratado em outro capítulo posterior.
443
OFÍCIO do Marques de Valença para Martinho de Melo e Castro sobre a fiscalização dos açúcares de
como evitar o contrabando que se havia com os procedentes das Alagoas, Pernambuco e Paraíba, 05 de
janeiro de 1780. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 54, doc. 10463-10464.
444
SOBRE as fraudes na qualificação do açúcar”. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio, maço 10 caixa 38.
445
OFÍCIO do Marques de Valença para Martinho de Melo e Castro sobre a fiscalização dos açúcares de
como evitar o contrabando que se havia com os procedentes das Alagoas, Pernambuco e Paraíba, 05 de
janeiro de 1780. AHU – Bahia: Caixa 54, doc. 10463-10464.
446
SOBRE as fraudes encontradas na qualificação do açúcar”. Arquivo Nacional da Torre do Tombo:
Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
119
em todas as sessões da Mesa, tinha-se mandado abrir grande número de caixas em que
se receava a fraude, atitude a qual diligenciava a continuar a fazer daquele momento em
diante. A Mesa ainda reforça tudo isso afirmando que “a vista de tanta vigilância e zelo,
se digne honrarmos com o conceito de que desempenhamos a nossa obrigação e
cumprimos o nosso regimento”. Portanto, acreditava-se que as fraudes eram frutos da
malícia e prevaricação de pessoas que agem “de má fé” e não por omissão dos
funcionários da Mesa, que examinavam e qualificavam o açúcar e o tabaco seguindo as
normas do regimento desde a sua criação447.
Devido à atuação de Bittencourt na Mesa de Inspeção da Bahia, o rei foi
informado dos acontecimentos, como também aconselhado a advertir o governador e
Capitão General, Manuel da Cunha Menezes, “da escandalosa liberdade com que se
cometiam os mencionados extravios, a fim de lhe aplicar os meios mais eficazes para os
coibir”, pois o governador possuía esses meios de intervir junto aos administradores dos
trapiches e mestres das sumacas do Porto da Bahia e proibirem de conduzir o açúcar
proveniente do contrabando de Pernambuco448.
Mesmo com a intervenção do governador, os contrabandistas continuaram
“fazendo tão pouco caso a autoridade [...], das suas ameaças e das ordens” e
prosseguiam com o contrabando proveniente de Pernambuco, conduzindo à noite em
direção ao sítio de Itapagipe449 “que nenhum perigo ou risco havia de correr e para
vencer os embaraços que podiam encontrar na saída de Pernambuco muniam de armar
as suas embarcações para resistir como tem resistido aos que se opusessem aos referidos
contrabandos450”. Os fazendeiros e comerciantes desse estado tinham interesse em que o
açúcar passasse para a Bahia, “para lograrem os dez tostões de preço a preço e de que
resulta só falarem eles, e gritarem em que há descaminho e não os evitam, dando todos
os portos daquele território comodidade para fazerem os exames previstos quando as
sumacas estão à carga451”.
447
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
448
RECOMENDAÇÕES ao Novo Governador e Capitão General da Capitania da Bahia. 1779. Arquivo
Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 54, documento 10319-10335.
449
No sítio de Itapagipe era feita a adulteração do açúcar que vinha de Pernambuco e de outros produtos
como o tabaco. Era colocada a marca falsa de um engenho da Bahia para então ser encaminhada a Mesa
de Inspeção onde receberia as outras duas marcas: a de qualidade e a da Mesa. Itapagipe é uma região de
península, que favorecia essas práticas.
450
RECOMENDAÇÕES ao Novo Governador e Capitão General da Capitania da Bahia. 1779. Arquivo
Histórico Ultramarino. Bahia: Caixa 54, documento: 10319-10335.
451
Ibidem, loc. cit.
120
452
Ibidem, loc. cit.
453
Ibidem, loc. cit.
454
ATA da Mesa de Inspeção sobre o estabelecimento de um método para o exame, peso e embarque do
tabaco e combater as fraudes. Bahia, 23 de dezembro de 1792. Arquivo Nacional da Torre do Tombo;
Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
455
Ibidem, loc. cit.
121
456
André João Antonil (Giovanni Antônio Andreoni). Cultura e Opulência no Brasil por suas Drogas e
Minas. (1711). Introdução e notas de Andrée Mansuy Diniz Silva. São Paulo: Edusp, 2007. p, 207.
457
Ibidem, p. 206.
458
Pierre Verger. Fluxo e Refluxo: do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os
Santos, dos séculos VII a XIX. Salvador: Corrupio 2002. P. 134-135.
122
de três mil rolos de tabaco permitidos mil e mil e quinhentos por até muito ouro lavrado
em peças e até em moeda459”.
Diante da apreensão e do prejuízo, alguns negociantes foram obrigados a
recorrer e, por meio de requerimento, fizeram dois pedidos: um que o governo
facultasse o despacho das fazendas estrangeiras que os portugueses trouxerem da Costa
da Mina aos Portos do Brasil, pagando os direitos, alegando que “os holandeses os
obrigaram por força a trazê-las”; no segundo pediam que o suplicante João Machado
tivesse a sua pena relevada pela posse de tais fazendas460. Porém, o desembargador
Rodrigo Coelho Machado Torres contra argumenta, afirmando que esse requerimento
põe em cheque dois pontos básicos: primeiro que não era útil nem admissível a entrada
de fazendas estrangeiras na América oriundas de outras vias que não a do Reino, porque
vem a ser o mesmo que franquear o comércio direto com as nações da Inglaterra,
Holanda e França; segundo porque a entrada das fazendas seria feita com a extração do
ouro, como também existem inúmeras leis que proíbem exatamente este comércio a
exemplo das leis de 01 julho de 1730, alvarás de 06 dezembro de 1755, 11 de dezembro
de 1756 e 07 março 1760. Esta última proíbe inclusive os comissários volantes de
transportarem nos navios as fazendas e comercializá-las461. Além disso, argumenta que
tal prática fere os direitos pátrios estabelecidos na Europa entre todas as nações dela; e
que o comércio da Colônia seja somente com a sua capital, porque o “comércio das
colônias deve enriquecer a corte que as estabelece e manda cultivar e não as outras”; e
pelo direito da política, ainda não é admissível o argumento de que os holandeses os
constrangem a receber as fazendas pela suposta violência, quando na verdade os
mercantes trocam as fazendas por tabaco, uma vez que os negros não gostam de outro
tabaco que não o do Brasil, nem há mercadoria alguma que os interesses. Afirma-se
ainda que nenhuma outra nação que não a portuguesa os pode fornecer e que no
comércio regular não se deve trocar os tabacos pelas mercadorias das outras nações,
“causa que os negros desejam muito e que não podem haver por outra mão e este é o
459
INFORMAÇÃO do Desembargador Rodrigo Coelho Machado Torres sobre o contrabando de
fazendas estrangeiras entre a Bahia e a Costa da Mina, 05 de maio 1779. Arquivo Histórico Ultramarino –
Bahia: Caixa 54, doc. 10331.
460
Ibidem, loc. cit.
461
As coleções da legislação portuguesa podem ser encontrados no Ius Lusitaniae: Fontes do Direito
Português, site: http://iuslusitaniae.fcsh.unl.pt/
123
caso em que ficariam obrigados os estrangeiros a comprar o nosso gênero pelo preço
que nós quisermos462”.
Em outra correspondência de 16 de abril 1779, Rodrigo Coelho Machado Torres
afirma que é impossível surpreenderem-se, pois os suspeitos jogam fora as fazendas
antes de chegarem a terra e, em suas palavras, “para essas não descubro meio se não o
apontado porque para ter vigias nas praias é o mesmo que nada, por estarem
persuadidos estes habitantes, ainda os mais necessitados que o ser denunciante é a maior
desonra que pode ter um homem463”. Sobre essa questão, para Domingos Vandelli, não
adiantaria ter “no Brasil guarda-costas para embaraçar o imenso contrabando
introduzido pelos ingleses sem por freio aos nacionais que não lhes deem pau-brasil,
ouro, diamante em troca deles?”. Complementa afirmando que “não são os estrangeiros
que fazem o contrabando, mas sim os nacionais que procuram e compram464”.
462
INFORMAÇÃO do Desembargador Rodrigo Coelho Machado Torres sobre o contrabando de
fazendas estrangeiras entre a Bahia e a Costa da Mina, 05 de maio 1779. Arquivo Histórico Ultramarino
– Bahia: Caixa 54, doc. 10331.
463
CONJUNTO de cartas e ofícios do Governador Manuel da Cunha Menezes para Martinho de Melo e
Castro em que se refere ao contrabando praticado nos navios da Costa da Mina e do descaminho do
açúcar proveniente de Pernambuco entre 08 de dezembro de 1778 a 16 de abril de 1779. Arquivo
Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 53, doc. 10103-10111.
464
Domingues Vandelli. op. cit. p. 207.
465
CONJUNTO de cartas e ofícios do Governador Manuel da Cunha Menezes para Martinho de Melo e
Castro em que se refere ao contrabando praticado nos navios da Costa da Mina e do descaminho do
açúcar proveniente de Pernambuco, entre 08 de dezembro de 1778 a 16 de abril de 1779. Arquivo
Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 53, doc. 10103-10111.
466
Domingues Vandelli, op. cit. p. 206.
124
467
Maximiliano M. Menz. Entre Impérios: formação do Rio Grande na crise do Sistema Colonial (1777-
1822). São Paulo: Alameda, 2009. P. 91.
468
Fernando Antônio Novais. 1995. op. cit. p. 242.
469
Ibidem, p. 185.
470
José Roberto do Amaral Lapa. A Bahia e a Carreira da Índia. São Paulo: Brasiliana, 1968. p. 02 e
130.
471
Ibidem, p. 134-135.
472
Segundo dicionário Michaelis, falua é uma embarcação de boca aberta, proa e popa afiladas, com dois
mastros e velas latinas triangulares, usada para transportar mercadorias e pessoal em portos, rios.
125
473
José Jobson de Andrade Arruda. O Brasil no Comércio Colonial. São Paulo: Ática, 1980. (Ensaios:
67). p. 159.
474
Ibidem, p. 327-328.
475
Andréia Slemian; Claudia Maria das Graças Chaves. (Orgs.) Obra de Manoel Luís da Veiga. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Chaves, 2012. p. 487.
476
Arthur Cesar Ferreira Reis. O comércio colonial e as Companhias Privilegiadas: inquietações no Norte
e a inconfidência baiana. In. Sergio Buarque de Holanda. (org.) História Geral da Civilização Brasileira:
a época colonial. Tomo II: administração, economia e sociedade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1977,
p. 327.
126
477
Sobre o tráfico negreiro ver: Pierre Verger. Fluxo e Refluxo: do tráfico de escravos entre o golfo do
Benin e a Bahia de Todos os Santos, dos séculos VII a XIX. Salvador: Corrupio 2002. Jacob Gorender. O
Escravismo Colonial. São Paulo: Ática, 1978. (Ensaios, 29). Maurício Goulart. A Escravidão Africana
no Brasil: das origens à extinção do tráfico. São Paulo: Alfa-ômega, 1975. Manolo Florentino. Em
Costas Negras: uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro (séculos XVIII e
XIX). São Paulo: Companhia da Letras, 1997. Luiz Felipe de Alencastro. O Trato dos Viventes:
Formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. Jaime Rodrigues. De
Costa a Costa: escravos, marinheiros e intermediários do tráfico negreiro de Angola ao Rio de Janeiro
(1778-1860). São Paulo: Companhia das Letras, 2005. Jean Baptiste Nardi. Sistema Colonial e Tráfico
Negreiro: Novas Interpretações da História Brasileira. Campinas, SP: Pontes, 2002.
478
Em 1757, a Mesa do Bem Comumda Bahia foi extinta pelo Marquês de Pombal, incorporando dois
membros dos seus membros na Mesa de Inspeção.
479
Beatriz Líbano Bastos Azevedo. O Negócio dos Contratos: contratadores de escravos na primeira
metade do século XVIII. São Paulo: FFLCH/USP, 2013. (dissertação de mestrado). p. 123.
480
Pierre Verger. Op. cit, p. 21.
481
[OFICIO do Vice-rei Conde de Atouguia para Diogo de Mendonça Corte Real acerca do comércio
com a Costa da Mina]. Bahia 30 de junho de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 02,
documentos 124-125.
127
navios destinados a este comércio, o que era causa de descontentamento na praça, pela
desigualdade entre os comerciantes, pois os que tinham um maior número obtinham
vantagens que ocasionavam prejuízo para os que não podiam participar da mesma
forma482.
Nessa situação, dizia o Conde: “quando tomei posse deste Governo, e
parecendo-me que a desigualdade se atalhava se os vinte e quatro navios se repartissem
por outros tantos possuidores dos seus números, entrei na diligência de tirar um navio
dos que possuíam três ou dois”. Desse modo, poderia cedê-los aos diversos pretendentes
que ofereceram donativos para a Fazenda Real, a fim de participarem do comércio de
escravos. O Conde prossegue sua exposição nas seguintes palavras: “entendi que sem
injustiça nem opressão podia ganhar esta utilidade para a real Fazenda: com efeito, dei
os navios excedentes aos primeiros presentes, cujos donativos remeti e constavam na
relação que foi na frota passada483”. Nestes termos, o número de navios não foi alterado,
ficando vinte e quatro embarcações para vinte e três donos, quando antes era bem
menos,484 e, com isso, a Real Fazenda obteve ganhos com a redistribuição das licenças.
Cristiana Ferreira Lyrio Ximenes afirma que, além desse comércio realizado
pelos vinte e três proprietários com vinte e quatro embarcações, havia também o
comércio realizado por “navios de licença” e que “encaminhavam os seus
requerimentos à Mesa de Inspeção do Açúcar e do Tabaco, ou, em casos excepcionais,
ao Vice-rei e Governador Geral da capitania – e em última instância ao próprio Rei485”.
Em 1752, os oficiais da Câmara, senhores de engenho, lavradores de cana e
tabaco da Bahia eram contra a instalação da Mesa de Inspeção da Bahia. Entre suas
críticas estava o alto preço na compra dos escravos “tão necessários para se tirarem e
beneficiarem os gêneros” e denunciavam a “desordem com que se comercializavam os
escravos, sem os quais não pode haver cultura dos frutos do Brasil” no qual já saem dos
portos da África com preços excessivos. Dessa forma, “ao que pedem remédio os
lavradores do Brasil e dos que apontam, seria muito útil a propósito taxar lhe o preço
aos do primeiro lote para não poderem vender por mais” e revender no Brasil por preços
482
Ibidem.
483
Ibidem.
484
Ibidem.
485
A autora apenas cita a Mesa de Inspeção sem analisar a importância da instituição nesse processo do
comércio de escravos com a Costa da África. Cristiana Ferreira Lyrio Ximenes. Bahia e Angola: redes
comerciais e tráfico de escravos (1750-1808). Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2012. (Tese de
doutorado), p. 99.
128
menos excessivos, ao mesmo tempo em que eles também sugerem a criação de uma
companhia que comercializasse os escravos na Bahia486.
A Coroa respondeu às queixas dos agricultores da Bahia, dizendo que “a
companhia da Costa da Mina podia muito consistir na melhora da América Portuguesa,
mas que era, sem dúvida, que se não devia nem podia estabelecer na forma que os
suplicantes a propunham e que com mais segurança e mais consideração não podia
subsistir”. Como solução para atenuar o descontentamento dos agricultores do Brasil, a
Coroa Portuguesa propôs a “introdução dos escravos de Moçambique e daquela parte da
Costa da África oriental sujeita ao domínio Português” e, portanto, “sendo muito fácil o
seu resgate e muito barato, necessariamente, haviam de chegar à América em muita
conta” e que, se “estes negros não pudessem servir de minerar (oque havia de qualificar
com a experiência), podiam servir nas roças, nas lavras e nos engenhos487”. A
introdução desses escravos de Moçambique seria realizada pela Fazenda Real, e estes
comercializados por menores preços. Porém, os agricultores ainda sugeriram que a
Coroa permitisse que “todos os seus vassalos em navios nacionais pudessem ir buscar
escravos na referida Costa da África e se persuadia que facultada esta permissão, a
conveniência dos negociantes facilitaria este comércio e, por meio dele, mais pronto
remédio à vexação que se representa488”.
Um ano depois, em 1753, os agricultores e comerciantes da Bahia ainda
reclamavam da escassez de escravos e do seu alto custo489. Nesse mesmo ano, os
agricultores insistiam na instalação de uma Companhia Baiana de resgate de escravos da
Costa da África para melhorar a oferta por menos preços, e explicavam que, para
486
[CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. José sobre as queixas dos oficiais da Câmara da
Cidade da Bahia, senhores de engenho, lavradores de cana e tabaco contra a nova lei da Casa de
Inspeção]. Lisboa, 23 de novembro de 1752. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia. Caixa 112,
documento 8759.
487
Ibidem.
488
Ibidem.
489
[OFÍCIO da Mesa do Comércio da cidade da Bahia ao Vice-rei e Governador Geral do Estado do
Brasil, Conde de Atouguia, Luís Pedro Peregrino de Carvalho de Meneses e Ataíde, informando da
necessidade de inspetores para o comércio desta cidade]. Bahia, 18 de abril de 1753. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 114, documento 8917.
490
[CARTA do Vice-rei e Governador-Geral do Estado do Brasil, Conde de Atouguia, Luiz Pedro
Peregrino de Carvalho Meneses e Ataíde ao rei D. José em resposta à provisão real, dando seu parecer
129
acerca das representações dos donos de engenho da Bahia e Sergipe, que apresentam queixas da carestia
dos escravos e da produção do açúcar]. Bahia, 29 de maio de 1753. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia, caixa 115, documento 8985.
491
[REPRESENTAÇÃO da Mesa de Inspeção da Bahia, dirigida ao Rei, sobre as irregularidades que se
praticavam no carregamento dos navios que faziam comércio para a Costa da Mina]. Bahia, 08 de
novembro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 09, documentos 1473-1482.
492
Geralmente os comerciantes pediam permissão para navegar mediante requerimento, como é o
exemplo do [REQUERIMENTO do capitão José de Sousa Réis ao rei D. José solicitando provisão para
ser conservado na posse do número de navegação da Costa da Mina]. Bahia, 31 de outubro de 1754.
Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 121, documento 9457.
493
[CARTA regia determinando a forma de se efetuar o carregamento dos navios para a Costa da Mina].
Lisboa, 01 de dezembro de 1752. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 09, documentos 1473-
1482.
494
[PORTARIA régia cometendo à Mesa de Inspeção o regulamento da navegação da Costa da Mina].
Lisboa, 21 de janeiro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 9, documentos 1473-1482.
495
[REPRESENTAÇÃO da Mesa de Inspeção acerca da regulamentação do comércio da Costa da Mina].
Bahia 08 de novembro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 9, documentos 1473-1482.
130
do tabaco, observando a quantidade e qualidade do gênero por embarcação para que não
ocorressem dúvidas nem conflitos com o governador e com demais envolvidos com a
instituição – e alertou para a necessidade de reformulação na lei para que pudesse ser
aplicada pela Mesa sem maiores problemas para a execução do comércio entre Brasil e
a Costa Africana496.
Em carta a Pombal em 1755, Wenceslau Pereira da Silva apresenta algumas
sugestões de melhorar a produção no Brasil. Entre elas destacamos a questão da
escravidão, pois “cogitando eu há muito tempo o modo e meio mais adequado e efetivo
para se enriquecer e aumentar mais este Estado, povoando-se a maior parte do
continente dele, que está inculto e não penetrado por falta do poder de gente e
escravatura que é a que vivifica todo este famoso corpo e enfraquecido por falta
dela497”. Por reconhecer a importância da escravatura para melhorar a produção,
Wenceslau Pereira tentava alertar Pombal sobre a situação em que se encontrava a
escravatura e o porquê da necessidade de renovar os escravos, pois
496
Ibidem.
497
[OFICIO do Intendente Geral e Presidente da Mesa de Inspeção da Bahia Wenceslau Pereira da Silva a
Secretário de Estado Sebastião José de Carvalho e Melo sobre os meios mais adequados para o
crescimento do Brasil e da necessidade de mão-de-obra escrava]. Bahia 6 de julho de 1755. Arquivo
Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 125, documento 9767.
498
Ibidem.
131
499
Luiz Antônio de Oliveira Mendes. Discurso Preliminar, Histórico, Introdutivo, com Natureza de
Descrição Econômica da Comarca e Cidade da Bahia: In.: Pinto de Aguiar. Aspectos da Economia
Colonial. Salvador: Progresso, 1957. (Coleção de Estudos Brasileiros, série cruzeiro). p. 92-93.
500
[OFICIO do Vice-rei Conde de Arcos referindo-se a ordem regia que determinava privativamente à
mesa de inspeção a administração do comercio da Bahia com a Costa da África]. Bahia, 25 de agosto de
1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 14, documentos 2584-2585.
501
[ALVARÁ de 11 de janeiro de 1758 sobre o livre comércio de Angola e dando certas providencias ao
mesmo respeito]. In.: António Delgado da Silva. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última
Compilação das Ordenações: suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense,
1828. Fl. 704-719. [ALVARÁ de 25 de janeiro de 1758 que esclarecia alguns pontos sobre os escravos e
marfim de Angola]. José Roberto Monteiro de Campos Coelho e Sousa. Sistema, ou Coleção dos
Regimentos Reais: Lisboa: Oficina de Francisco Borges de Sousa, 1783, fl. 106-108. [CONTRATO dos
direitos dos escravos e marfim do Reino de Angola de 12 de dezembro de 1759]. In.: António Delgado da
Silva. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última Compilação das Ordenações: suplemento da
legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense, 1828. Fl. 704-719.
132
502
Luiz Felipe de Alencastro. O Trato dos Viventes, Formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo:
Editora Companhia das Letras, 2006, p. 09 e 30.
503
Ibidem. p. 31-38,
504
Sobre o negócio na Costa da Mina ver: LOPES, Gustavo Acioli. Negócio da Costa da Mina e o
Comércio Atlântico: tabaco, açúcar, ouro e tráfico negreiro, Pernambuco (1654-1760). São Paulo:
FFLCH/USP, 2008. (Tese de doutoramento), 124-132.
505
[INFORMAÇÃO da Mesa de Inspeção acerca de um requerimento do procurador do Contrato Geral do
Tabaco, Joaquim Inácio da Cruz]. Bahia, 11 de novembro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia, caixa 08, documentos 1356-1363.
506
Nesse processo a Mesa de Inspeção também recebeu várias queixas do contratador geral do Tabaco
José Machado Pinto, no qual expos vários requerimentos relacionados dos poucos direitos pagos aos
contratos, fraudes da seca que prejudicava as lavouras de tabaco. [INFORMAÇÃO da Mesa de Inspeção
acerca de um requerimento do procurador do Contrato Geral do Tabaco, Joaquim Inácio da Cruz e outros
requerimentos do contratador geral do tabaco José Machado Pinto]. Bahia, 11 de novembro de 1754.
Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 08, documentos 1356-1363.
133
507
[ALVARÁ de 30 de março de 1756 sobre a contadoria do negócio da África]. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 23, documento 4436.
508
[REPRESENTAÇÃO da Mesa de Inspeção da Bahia, dirigida ao rei, acerca da lotação dos navios que
podiam fazer o comércio para os diferentes portos da África. Bahia, 26 de julho de 1759]. Arquivo
Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 23, documento 4436.
509
Além disso, há também uma copia da lei de 18 de maio de 1684 que regulamentava a condução dos
escravos dos portos africanos para o Brasil. [OFICIO do Vice-Rei Conde dos Arcos para Thomé Joaquim
da C. Corte Real, informando acerca da arqueação dos navios que transportam escravos de Angola e
outros Portos da África para o estado do Brasil]. Bahia, 18 de janeiro de 1759. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 21, documentos 3932-3950.
134
510
Frédéric Mauro. Portugal e o Brasil: a estrutura política e econômica do Império, 1750-1808. In.:
Leslie Bethell. História da América Latina: América Latina Colonial. vol.1. 2ª ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. p.462.
511
, Nuno Luís Madureira. Mercado e Privilégios: A indústria Portuguesa entre 1750 e 1834. Lisboa:
Editorial Estampa, 1997 p. 94
512
João Carlos Rodrigues. Pequena História da África Negra. São Paulo: globo. Brasília: Secretaria da
cultura da presidência da republica: Biblioteca nacional. 1990, p.116-117.
135
513
[ALVARÁ de 11 de janeiro de 1758 sobre o livre comércio de Angola e dando certas providencias ao
mesmo respeito]. António Delgado da Silva. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última
Compilação das Ordenações: suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense,
1828. Fl. 584-586.
514
[ALVARÁ de 25 de janeiro de 1758 que esclarecia alguns pontos sobre os escravos e marfim de
Angola]. In.: José Roberto Monteiro de Campos Coelho e Sousa. Sistema, ou Coleção dos Regimentos
Reais. Lisboa: Oficina de Francisco Borges de Sousa, 1783. Fl. 106.108.
515
XIMENES, Cristiana Ferreira Lyrio. op. cit., p 86.
516
José Ribeiro Júnior. Alguns aspectos do tráfico escravo para o nordeste brasileiro no século XVIII.
Anais do VI Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História – ANPUH. Goiânia, setembro
1971, p. 05 e 08.
136
517
Jacob Gorender. Op. Cit. p.517.
518
Sobre os contratos de Angola ver: Maurício Goulart. op. cit., p. 192-193.
519
[PROVISÃO para a Junta da Administração da Fazenda Real de Angola, dando orientação sobre como
proceder com o sistema de Livranças e do monopólio]. Lisboa, 18 de agosto de 1768. Arquivo do
Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
520
Manolo Florentino. Op. Cit. P. 119.
521
Essa medida procurava resolver os conflitos de jurisdição existente entre a Mesa de Inspeção e os
outros órgãos administrativos da colônia. Sobre isso ver capitulo VI.
522
[CONTRATO dos direitos dos escravos e marfim do Reino de Angola de 12 de dezembro de 1759].
In.: António Delgado da Silva. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última Compilação das
Ordenações: suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense, 1828. Fl. 704-719.
523
“Pombal, ao criar o regime de centralização das finanças públicas no Erário Régio, concentrava nas
suas mãos todo o poder de expedir ordens no tocante as despesas, retirando dos tesoureiros e almoxarifes
o direito de fazer pagamentos e aos tribunais da Fazenda de arrecadar as receitas. Para efeitos fiscais era o
Reino dividido em 4 contadorias, separadas e distintas, à frente das quais se encontrava um chefe ou
contador geral e quatro escriturários. Competia à primeira destas repartições ou contadorias fazer entrar
137
no Tesouro todas as quantias entregues pelos carregadores, provedores, juízes, almoxarifes, tesoureiros,
recebedores, contratadores das rendas e direitos reais da Corte e província da estremadura; à segunda
promover a entrega dos direitos e rendas das correições, provedorias, tesourarias, recebedorias e contratos
das províncias do Reino e ilhas dos açores e Madeira; Á terceira contadoria arrecadar as rendas das
provedorias, recebedorias e contratos da África Ocidental, Maranhão e do Território da Relação da Bahia;
quarta promover a entrada dos produtos das provedorias e tesourarias, recebedorias e contratos do
território e governos do Rio de Janeiro, África oriental e Ásia. No início do século XIX, diante dos
acontecimentos da invasão francesa, o Erário Régio foi submetido a profundas alterações e em decreto de
1808 foram extintas as Contadorias gerais do Rio de janeiro, África Oriental, Ásia e a do Maranhão,
Bahia e África Ocidental “por se acharem presentemente interrompidos os negócios Ultramarinos e de
haver cessado a expedição dos objetivos de finanças que lhe eram relativos e devendo começar-se pelos
que instam mais”. Por decreto de 28 de junho de 1820, as duas contadorias Ultramarinas são convertidas
numa só, sob a designação de Contadoria Geral do Rio e Bahia, tendo em atenção o decréscimo do seu
expediente”. Fundo Geral do Erário Régio, nº 4258, pp. 22-26, 30-32. In: Alzira Teixeira Leite Moreira.
Inventário do Fundo Geral do Erário Régio do Arquivo do Tribunal de Contas. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1977.
524
[DEMONSTRAÇÃO da ruína em que se acha o Reino de Angola e os outros de sua dependência].
Agosto de 1768, Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
525
Segundo o dicionário Michaelis livrança era uma ordem para pagamento, feita por escrito ou
Conhecimento de um gênero recebido, para poder ser paga a sua importância. Para os Portugueses
constituía um cabedal imaginário, moeda falsa que tinha valor somente no Reino de Angola e Benguela e
que impedia os traficantes de terem os seus retornos, pois só poderiam exclusivamente fazer negócio com
os contratadores.
526
[DEMONSTRAÇÃO da ruína em que se acha o Reino de Angola e os outros de sua dependência].
Agosto de 1768, Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
138
Diante dessa situação, um decreto aboliu o Contrato dos Direitos dos Escravos
de Angola e ordenava que a sua administração ficasse a cargo da Fazenda Real 527. Pelo
contrato, o comércio de escravos de Angola, Congo, Benguela e mais regiões da África
tinha ficado livre. O mesmo proibia todos os monopólios, reduzindo a dita arrematação
e suas condições ao simples arrendamento dos direitos de saída dos escravos, do marfim
e ao estanco deste produto. O decreto denunciava o contratador Domingos Dias da
Silva, que introduziu vastíssimas carregações de todos os gêneros e espécies de
fazendas, que vendia sem concorrência por preços excessivos, absorvia com os valores
delas todas as letras em que Angola se sacavam sobre os portos do Brasil com os
direitos dos escravos e marfim, deixando para o pagamento de outros traficantes
somente as chamadas livranças, alegando que em Angola não havia moeda. Dessa
forma, “em socorro dos vassalos, oprimidos com as vexações e com as livranças 528, e
das ações dos contratadores e administradores que sempre inventam malícias e novas
extorsões por abusos, que o Rei aboliu permanentemente o contrato529”.
Diante desse contexto, a Mesa de Inspeção da Bahia representa um papel
fundamental na reorganização do comércio de escravos e marfim. A mesma, nessa
reestruturação, recebeu uma provisão com cópia dos parágrafos em que se contêm
obrigações para serem executadas e instruções de como se deveriam praticar
corretamente a administração dos direitos dos escravos e do marfim do Reino de
Angola530, e, com isso, garantia a arrecadação para a Fazenda Real. Pombal, por sua
vez, informava à Mesa de Inspeção da Capitania da Bahia que o Contrato de Escravos e
do Marfim do Reino de Angola foi abolido “por justíssimos motivos, que deram ocasião
à lei de cinco do corrente mês de Agosto, e que para sempre ficasse extinto o Contrato
dos Direitos dos escravos do Reino de Angola531”.
Ficou determinado que os direitos, como também o estanco do marfim, fossem
administrados por conta da Fazenda Real pela Junta da Administração e Arrecadação
estabelecida em Angola, e que as Mesas de Inspeção dos Portos do Brasil tivessem à
sua disposição as cobranças das letras que os despachantes passariam no dito Reino de
527
[COMPLEMENTO ao decreto que aboliu o contrato dos escravos de 25 de janeiro 1758]. 5 de agosto
de 1769. Arquivo do Tribunal de Contas, Erário Régio: Livro 4193.
528
Cf. Maximiliano Mac Menz. As “Geometrias” do Tráfico. Revista de História. São Paulo, n. 166, p.
185-222, jan-jun. 2012. P. 206.
529
Idem.
530
[PROVISÃO para a Mesa de Inspeção da Bahia com suas obrigações com a administração dos direitos
dos escravos e marfim]. Lisboa, 18 de agosto de 1769. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio:
Livro 4218.
531
Ibidem.
139
Angola pelos direitos que não pudessem ali pagar com dinheiro; como também os
pagamentos das letras da Fazenda Real, que a referida Junta da Administração devia
passar sobre as ditas Mesas de Inspeção, a encontro dos mesmos direitos; e, finalmente,
a recepção e a remessa para Lisboa de todas as partidas de marfim que a Junta da
Fazenda lhes remetia. Assim, era necessário que a Mesa da Bahia executasse o disposto
nas ordens deste negócio e se expedisse à Junta da Administração e Arrecadação da
Fazenda Real de Angola com data de 14 de agosto. Nas disposições, ficam claras as
obrigações da Mesa de Inspeção532, bem como a relação direta com as instituições
coloniais em Angola para a “Administração Mercantil533”.
Uma provisão para a Junta da Administração da Fazenda Real de Angola, dando
instrução sobre o abuso das livranças534 e sobre a iniquidade do monopólio, foi criada
532
No mesmo documento há uma informação que a Mesa de Inspeção na sua carta de 20/12/1769 avisa
que fica de acordo com as determinações da Coroa a esse respeito.
533
[PROVISÃO para a Mesa de Inspeção da Bahia com suas obrigações com a administração dos direitos
dos escravos e marfim]. Lisboa, 18 de agosto de 1769. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio:
Livro 4218.
534
A primeira solução para evitar o uso das Livranças e do monopólio foi enquadrar tais atividades como
crimes e os contratadores como réus, depois com ações de retirar as livranças da praça de Angola e de
acabar com o contrato existente, tornando livre o comércio de escravos e marfim de suas possessões na
África. Além disso, o segundo recurso foi o de acabar com as livranças e determinar que o governador de
Angola, executasse algumas ações necessárias à organização da economia: primeiro começando pelo
sequestro geral e apreensão de todas as fórmulas impressas em que se costumaram levar até o momento as
livranças, em seguida encaminhando-as à junta da Fazenda, sendo, então seladas, fechadas e remetidas à
presença do Rei pela secretária de estado competente; como segunda ação, depois de recolhidas as
livranças, dever-se-ia publicar a lei com o termo de quinze dias dentro das cidades de Angola, Congo,
Loango, Benguela e presídios adjacentes declarando nulas as livranças, sem nenhum valor, e quem as
tivessem depois da aplicação da lei seriam castigados sob pena de falsidade; a terceira ação se dava após
as livranças serem separadas em classes, por contratador, devendo ser, então, numeradas desde o número
1 até aquele que se estender a referida classe, sempre sem interrupção dos mais modernos para os mais
antigos, até que as livranças sejam realmente extintas; a quarta ação era a de notificar os contratadores
para que comparecessem em até dez dias para realizar o pagamento das ditas livranças com dinheiro,
letras ou mercadorias; em quinto lugar, devia-se efetuar o pagamento das dívidas existentes; em seguida
havia a captura dos administradores contratadores e sequestro dos seus bens, que também deviam
responder pelos fatos dos ditos administradores, por eles nomeados e propostos ao público; em sétimo e
último lugar, em caso de falência, dever-se-ia fazer um registo geral das livranças falidas com as
declarações da importância de cada uma e das pessoas a quem pertenciam até o completo pagamento
delas534. Tendo em vista tudo isso, a terceira solução foi estabelecer as estruturas de reciprocidade
comercial entre Angola e Brasil, através de regras que fossem aceitas nos dois lugares com base em letras,
cabedais e crédito. E é aqui que as Mesas de Inspeção do Brasil desempenham um papel fundamental,
pois a Mesa representava o elo entre o Brasil e a África, a qual deveria informar os comerciantes sobre as
novas medidas, as livranças e o monopólio dos contratadores e administradores das rendas reais de
Angola, para que os negociantes da primeira ordem reconhecessem os “sólidos fundamentos do comercio
e os verdadeiros interesses de um bom comerciante que sempre são inseparáveis dos do bem público”.
Em resposta, de 20 de dezembro de 1769, a Mesa de Inspeção da Bahia afirmou que ficava de acordo com
as determinações da Coroa. O quarto remédio era combater a falta de moeda, através das letras, e o quinto
remédio se referia a redução das despesas do Estado. “Demonstração da ruína em que se acha o Reino de
Angola e os outros de sua dependência. Agosto de 1768”, Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio:
livro 4193.
140
535
De acordo com a provisão o monopólio do comércio acontecia da seguinte forma: 1º os contratadores
introduziram por sua conta um grande número de fazendas próprias, fazendas compradas com os mesmos
direitos do contrato e da Real Fazenda, e absorveu necessariamente a maior parte do consumo dos
gêneros que se podiam fazer nas terras contratadas. 2º os mestres e equipagens dos navios acima
indicados que ao mesmo tempo carregam pequenas partidas de fazendas próprias com o dinheiro de risco
e outras partidas alheias por comissão eram lançados fora do miúdo trafico, pois recebem em Livranças
que nada são como escravos e assim ficam impossibilitados por ambos os referidos modos de usarem as
livranças em outro mercado e adquirirem outras mercadorias. [PROVISÃO para a Junta da
Administração da Fazenda Real de Angola, dando orientação sobre como proceder com o sistema de
Livranças e do monopólio]. Lisboa, 18 de agosto de 1768. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio:
livro 4193.
536
[PROVISÃO para a Junta da Administração da Fazenda Real de Angola, dando orientação sobre como
proceder com o sistema de Livranças e do monopólio]. Lisboa, 18 de agosto de 1768. Arquivo do
Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
537
De acordo com o documento, “o crime de monopólio se cometia quando a liberdade de vender se
reduz a uma só pessoa ou a poucas outras com ela coligadas, as quais comprando todas as mercadorias
para as venderem pelo único e particular arbítrio por preços definidos. Aumentando o valor das outras.
Servindo assim a avareza, ferindo ao prejuízo ao público e vedando assim o uso dos contratos de
permutação de compra e venda”. [PROVISÃO para a Junta da Administração da Fazenda Real de
Angola, dando orientação sobre como proceder com o sistema de Livranças e do monopólio]. Lisboa, 18
de agosto de 1768. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
538
Ibidem.
141
se tinha e que podia ser administrado pela Fazenda Real539. Sobre tais produtos do
contrato de Angola – que apresentavam um cálculo do contrato dos escravos e do
marfim pelo então contratador Domingos Dias da Silva, do período de 5 de janeiro de
1760 a 4 de janeiro de 1766 – percebemos que o lucro dos contratadores passava a ser
então da Real Fazenda. Assim “foi a contratação de cada ano de 12295 escravos e 39
crias, que importaram os Direitos deles 101.711$700 réis. E sendo o preço do contrato
88.030$000 réis, vieram a ganhar os contratadores 13.681$700 réis cada ano e nos seis
contratos 82.090$200 réis540”.
O cálculo do marfim, por sua vez, para o mesmo sexênio foi de 336 quintais, 3
arrobas e 9 arreteis de marfim anuais, cujos direitos importaram 1.352$354 réis cada
ano e, em todo o sexênio, 8.114$024 réis, que mais acrescentaram aos contratadores.
Com relação ao estanque para esse mesmo período, constou primeiro, no que se refere
aos preços, que os contratadores pagavam pelo marfim em Angola 28$000 réis por cada
quintal da primeira sorte ou chamado de conta, ou de lei, 16$000 réis pela segunda sorte
ou chamado mião e 8$000 pela de terceira sorte ou chamado miúdo ou escravelho;
depois que os contratadores importavam por ano do marfim 7:887$156 réis; também
que em Lisboa o marfim de primeira e segunda sorte foi vendido por 50$000 réis por
quintal sem distinção e o miúdo a 27$500 réis, resultando anualmente 16:407$577 réis.
Constou-se ainda que, com esses cálculos, os contratadores ganharam no mesmo
sexênio pelo menos 4 contos de réis líquidos do referido gênero, os quais “seria útil que
fiquem nos cofres da Real Fazenda em comum benefício e não com os contratadores”.
Estava disposto ainda que este lucro se podia fazer extraindo anualmente dos cofres da
Fazenda Real os vinte mil cruzados que o marfim custa nas mãos dos mesmos primeiros
vendedores, para voltarem no ano seguinte aos mesmos cofres com os grandes avanços
acima referidos; e finalmente que o referido lucro não é de menos que 130:204$224
réis com os quais “é melhor utilizar a Real fazenda em comum benefício dos povos, das
fortalezas e da artilharia e apetrechos delas do que dá-los aos contratadores para os
converterem nas ruinas do dito reino e nas vexações dos habitantes dele e dos
negociantes do Brasil541”.
De acordo com José Carlos, seria errado pensar que todo o marfim exportado de
Angola passasse pela grelha da Fazenda Real, pois muito dele era exportado
539
[MEMÓRIA sobre os produtos do contrato de Angola que dá uma ideia clara do lucro com que pode
ser administrado pela Fazenda Real]. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
540
Ibidem.
541
Ibidem.
142
542
José Carlos Venâncio. A Economia de Luanda e Hinterland no Século XVIII: um estudo de sociologia
histórica. Ed. Estampa. Lisboa, 1996. p. 166.
543
[MEMÓRIA sobre os produtos do contrato de Angola que dá uma ideia clara do lucro com que pode
ser administrado pela Fazenda Real]. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
544
[PROVISÃO para a Junta da Real Fazenda de Angola sobre a administração dos direitos dos escravos
e marfim], Lisboa 14 de agosto de 1769. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
545
Além disso, “não deveria ser admitidas as desavenças entre os administradores do contrato com os
mestres ou capitães das embarcações que até aquele momento costumava praticar para estes se obrigarem
à satisfação dos direitos de todos os escravos que conduziam, passando letras e tomando para si a falência
143
dos mais carregadores, mediante prêmio de 3 a 4 %, mas somente se praticaria cada um dos particulares o
despacho dos escravos que carregasse, passando ele mesmo as letras dos direitos que deveria, quando não
podia paga-los em dinheiro. Portanto, declarava o fim da cobrança dos 3 a 4 % que os metres
costumavam cobrar e que assim, excluíam os outros carregadores”. [PROVISÃO para a Junta da Real
Fazenda de Angola sobre a administração dos direitos dos escravos e marfim], Lisboa 14 de agosto de
1769. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
546
Ibidem.
547
Ibidem.
548
[PROVISÃO para a Junta da Real Fazenda de Angola sobre a administração dos direitos dos escravos
e marfim], Lisboa 14 de agosto de 1769. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
144
549
Ibidem.
550
O giro não era obrigação por parte da Coroa, mas era somente por permissão ao bem do comércio. De
maneira que todo o portador que quiser logo imediatamente depois de receber uma letra, ir ou manda-la
apresentar na Mesa sobre que for passada, terá logo no prazo da mesma letra o pagamento certo. E para
facilitar o giro do comércio a Junta poderia passar as letras na forma grossa ou miúda conforme as
circunstancias e vontade das pessoas que as tomarem. E até será útil ajustarem-se alguns pagamentos com
diversas letras miúdas, a fim de poderem melhor servir na circulação do comércio. [PROVISÃO para a
Junta da Real Fazenda de Angola sobre a administração dos direitos dos escravos e marfim], Lisboa 14 de
agosto de 1769. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
551
Ibidem.
145
se aceitarem como moedas, porém estas deveriam ser separadas das que eram relativas a
cada uma das inspeções. Isso porque era costume formarem-se dos ditos bilhetes das
alfândegas e de novo se iam distribuindo as mesmas letras nos pagamentos futuros, de
sorte que formalmente iam a ter o seu último efeito na Mesa de Inspeção em que foram
passadas552.
Com relação ao marfim, este não somente pertencia ao cuidado da Junta da
Administração da Fazenda Real como a arrecadação dos seus direitos, cuja extração
deveria passar pela mesma regulamentação que a dos escravos. A Junta da Real Fazenda
de Angola deveria cuidar da sua extração e promoção, sendo o seu pagamento efetuado
através das letras sobre as Mesas, muito “mais seguramente do que até agora as faziam
os contratadores com as suas chamadas livranças553”. O item deveria ser remetido para
os costumados portos da América ou a Lisboa – quando houvesse a ocasião de assim o
praticar, fazendo-se assinar conhecimento por conta e risco da Fazenda Real
acompanhando-se das competentes faturas em forma mercantil.
Era preciso ainda dividir e marcar o marfim de acordo com as suas qualidades,
assim como era realizado com o açúcar e tabaco. Com as carregações do dito marfim,
que a Junta expedia para os portos da América, eram mandadas ordens às Mesas de
Inspeção para que nas ocasiões oportunas de saída dos navios fossem remetendo o dito
gênero para Lisboa, com faturas em que ajuntassem as despesas dos referidos Portos,
assinando conhecimento que haveriam de remeter ao tesoureiro Mor do Real Erário,
igualmente feitos por conta e risco da Fazenda Real, a entregar na casa da Índia ao
tesoureiro dela. Do mesmo modo, dirigiriam a Junta àquelas partidas que mandariam
direto para Lisboa554. Assim, haveria um maior controle do marfim que seguia o
seguinte trajeto: Junta da Real Fazenda de Angola – Mesa de Inspeção – Tesoureiro
Mor – Erário Régio – Casa da Índia. Tudo isso era documentado e transformado em
mapas que eram enviados anualmente em duas vias ao Erário Régio independentemente
das certidões dos rendimentos e despesas gerais da Fazenda Real555.
O enquadramento fiscal e administrativo do “comércio triangular”, referente ao
imediatamente exposto, não se fez sem problemas, pois a cobrança de rendimentos
sobre os direitos de extração e de comércio de produtos coloniais – e ainda os impostos
que incidem sobre a população residente – depara-se com uma estrutura administrativa
552
Ibidem.
553
Ibidem.
554
Ibidem.
555
Ibidem.
146
556
MADUREIRA, Nuno Luís. 1997, op. cit., p.100
557
[INSTRUÇÕES e método que devem seguir na escrituração das contas da Fazenda Real do Reino de
Angola]. Lisboa 26 de junho de 1772. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
558
Ibidem.
559
“Declaram ali as ditas letras pelos seus números e não pelo valor de cada uma, mas pela importância
total de todas as que perfazem um pagamento .... e quanto às partes também só quando se recebem,
porque ainda que se devem remeter para se realizarem os valores nos cofres das Inspeções, não se lhes
deve por isso dar saída no livro da Receita e despesas, devendo reputar-se aquele cofre das Inspeções
como partes do dito cofre geral, e bastando somente que conste o que em cada hum deles existe, cobrando
ou para cobrar, fazendo parte do saldo que mostrar o dito livro da receita e despesa, no excesso da maior
receita. Essa notícia do que existia em cada um dos cofres das Mesas de Inspeção conseguir-se há por
meio de um livro auxiliar, do qual agora se vai tratar, por que há de servir como de interprete do que der
147
A orientação era que as Mesas de Inspeção deveriam fazer os registos das letras
que se remetiam560, utilizando para tanto um pergaminho que se anexava na folha em
que começavam as ditas remessas e saques, anotando o nome da capitania, como
também dos pagamentos, pois essas instituições poderiam fazer algumas outras
despesas além de pagarem as letras da Fazenda Real – como despesas com recepção e
embarque do marfim; as comissões que a Coroa permitia; algumas remessas para
presídios e finalmente as remessas do resíduo líquido anual para o Erário Régio.
Portanto, evidencia-se toda uma mudança na organização da contabilidade do
comércio colonial oriundo da África e do Brasil, sendo a Mesa de Inspeção o elo
importante entre a Real Fazenda de Angola e o Erário Régio561. Por esse motivo, foi
destinada uma série de recomendações de como os funcionários dessas instituições
deveriam proceder com as contas, a exemplo do que se afirma em alguns documentos
da época, que devem ser feitos com toda distinção e clareza e com facilidade que o de
qualquer outro método, porque pediam um encadeamento de contas muito mais
laborioso, do qual se devia esperar sempre em dia, e que os títulos de remessas e saques
deveriam ser anuais562.
Para este fim se devia advertir que o saldo do cofre de Angola não poderia
consistir senão no dinheiro que existir nele; e em letras da Fazenda Real sacadas sobre
as Mesas de Inspeção que haviam revertido em pagamento ao mesmo cofre e não se
haviam dado ainda em outros pagamentos, como se devem dar segundo o disposto no §
18º da provisão de 14 de agosto de 1769. Além de consistir o saldo no que excederem as
remessas das letras de partes para as Inspeções, aos saques que se houverem feito sobre
elas e “porque este excesso é como dinheiro, podendo dispor dele a toda hora563”.
Com relação às contas do Marfim, algumas observações consistem no custo de
todas as partidas do item, da importância dos seus direitos e de todas as outras despesas
com ele feitas, ou seja, pagas imediatamente pela Junta ou pelas Mesas de Inspeção.
Deveria ser debitada esta conta do marfim e creditada à conta do caixa, de acordo com o
existente o livro da receita e despesa e ao mesmo tempo de conta corrente com as Mesas de Inspeção; de
sorte que até faça desnecessária outra conta com elas”. [INSTRUÇÕES e método que devem seguir na
escrituração das contas da Fazenda Real do Reino de Angola]. Lisboa 26 de junho de 1772. Arquivo do
Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
560
Não há menção nos documentos aqui consultados no Arquivo do Tribunal de Contas às Mesas de
Inspeção do Maranhão e da Paraíba.
561
Cf. Andréia Slemian; Claudia Maria das Graças Chaves (orgs.). Obra de Manoel Luís da Veiga. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Chaves, 2012.
562
[INSTRUÇÕES e método que devem seguir na escrituração das contas da Fazenda Real do Reino de
Angola]. Lisboa 26 de junho de 1772. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
563
Ibidem.
148
livro da receita e despesa do Tesoureiro Geral, ou seja, que o dito saldo exista em
espécie no cofre ou em papéis que ali signifiquem dinheiro ou em remessas depositadas
nas Mesas de Inspeção, confirmado com a dita igualdade do saldo ser a sua importância
a que se deve remeter à tesouraria Mor do Erário Régio 564. Nas Mesas de Inspeção,
deveriam também fazer assinar quatro vias dos conhecimentos das remessas ao Erário
Régio: uma via que expediriam para o Erário Régio com as mesmas remessas e com
cópia das letras de ordem – porque remetiam para o governo; outra que expediriam do
mesmo modo em segundas vias; outras para enviarem à Junta da Fazenda de Angola;
em ordem a lhes ser abonada a quantia remetida e, finalmente, outras para ser título de
remessas enquanto não lhes chegar o conhecimento em forma do Real Erário565. Assim,
todas as repartições que faziam a contabilidade estariam cientes do valor das remessas.
Nesse contexto, a função da Mesa de Inspeção era bem clara: deveria receber os
escravos e marfim, fazer o pagamento, receber os direitos e repassá-los para o Erário
Régio. Os pagamentos eram feitos geralmente através da transferência de letras de
câmbio, com vencimento no Brasil e em Portugal, pois a moeda metálica, para além de
rara, não fazia face à especulação de preços mesmo depois da duplicação do seu valor
nominal em Angola e depois de ter sido substituída por uma moeda de valor regional.
Isso beneficiava muito mais os credores brasileiros e lisboetas, já que o juro praticado
era muito elevado, o que gerava uma dependência dos angolanos em relação aos
brasileiros566. Mas, pela documentação analisada, percebemos que a Mesa de Inspeção
também intermediava a comercialização de outros gêneros, a exemplo de cartas
expedidas pela Mesa do ano de 1772, apresentando as faturas e conhecimentos de 505
pontas de marfim, 21 barris de enxosar e um caixote de salitre que a Mesa carregou por
conta e risco da Real Fazenda nos navios a entregar ao tesoureiro da Casa da Índia. E
“todos os ditos gêneros se receberam bem acondicionados na Alfândega da mesma casa
e deles se tomou a devida lembrança no Real Erário para se prosseguirem as disposições
como ordenou a respeito567”.
Pombal, Secretário de Estado e chefe do Erário Régio, acompanhava
diretamente o comércio de escravos e marfim e sempre deixava transparecer o seu
descontentamento com as falhas praticadas pela Mesa de Inspeção na execução de suas
564
Ibidem.
565
Ibidem.
566
José Carlos Venâncio. 1996, op. cit., p.178.
567
[CARTAS da Mesa de Inspeção da Bahia com aviso de expedição de mercadorias para Lisboa]. 1772.
Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4223.
149
tarefas – como fica claro na provisão de 24 de setembro de 1767. Nela, Pombal criticou
a Mesa de Inspeção da Bahia pela falta de clareza e destinação dos comunicados que
acompanharam as remessas568. Isso porque essa instituição tinha enviado uma remessa
de dinheiro no valor de 40.000$000 réis ao Erário Régio proveniente de contribuições
voluntárias além de outras de 40 contos de réis cada uma, que pagaram aos contadores
do tabaco nos anos de 1762 e 1763. Faltavam nessas correspondências as formalidades
exigidas pelo Erário Régio na escrituração da contabilidade e informação às
corporações e casas de arrecadação dos Domínios Ultramarinos, inclusive dirigidas à
Mesa de Inspeção. Por tudo isso, Pombal chamou a atenção para a escrituração correta e
detalhada, observando o cuidado em mandar extrair relações exatas das receitas e
despesas, bem como a importância de cada uma das remessas, com certidões autênticas,
com uma plena e individual noção dos rendimentos de cada ano. Além disso, dever-se-
ia informar a origem do dinheiro, de modo que se identificassem os doadores e o nome
do tesoureiro que entregou os valores569.
Devido a reclamações das Mesas da Bahia e do Rio de Janeiro sobre o aumento
do trabalho com o registo dos escravos e marfim, e com a regularidade da prestação de
contas, a Coroa concedeu uma comissão de 2% sobre a soma das cobranças das letras
que anualmente entrassem nos seus respectivos cofres sobre a importância das faturas
de marfim que expediam pelo seu custo em Angola570. Pela importância das ditas
comissões, pagariam as sobreditas Mesas de Inspeção aos escriturários que fossem
necessários, ficando o resto para repartir ente as pessoas que constituem as ditas
corporações – compreendendo os escrivães e tesoureiros – fazendo “a dita repartição ou
por partes iguais ou havendo respeito ao maior ou menor trabalho, como às Mesas
parecer justo571”.
A troca de informações entre a Junta da Fazenda Real de Angola, Mesa de
Inspeção e Erário Régio era constante e necessária. Mesmo o marfim sendo
encaminhado para a Mesa de Inspeção da Bahia, a Junta da Fazenda Real de Angola
escrevia informando sobre a remessa para o Erário Régio, com dados de sua
composição, como quantidade, qualidade e origem. É o que demonstra a provisão para a
568
[PROVISÃO para a Mesa de Inspeção da Bahia reclamando da falta de clareza nos comunicados que
iam junto com as remessas de dinheiro]. Lisboa 24 de setembro de 1767. Arquivo do Tribunal de Contas:
Erário Régio: livro 4218.
569
Ibidem.
570
[PROVISÃO para a Mesa de Inspeção da Bahia concedendo 2% de comissão sobre as letras e a
importância do marfim]. Lisboa 08 de maio de 1772. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: Livro
4218.
571
Ibidem.
150
Mesa de Inspeção de 29 de maio de 1779, na qual o Erário Régio ordenava à Mesa “que
enviasse pela primeira embarcação as 55 pontas de marfim de lei, 43 do mião e 56 do
miúdo, pertencentes ao ano de 1777, sem que se confunda com as remessas de outro
ano, o qual marfim foi remetido de Benguela à dita mesa, como avisou a Junta da
Fazendo do Reino de Angola em conta de 22 de maio de 1778572”. Sendo confrontado o
mapa com as faturas do marfim recebido, Pombal verificou que não tinha ainda chegado
ao Erário Régio a remessa referida pela Mesa de Inspeção e criticava o fato de o marfim
demorar-se na Bahia, porque, ainda no caso de descaminho do navio, que a
transportava, se receberia a 2º via da fatura. Por esses motivos, ordenava que a mesma
Mesa de Inspeção remetesse pela primeira boa embarcação o referido marfim, sem
demora e que fizesse “na primeira ocasião oportuna, para que não padeça prejuízo à
Real Fazenda nem se admita a menor confusão nas contas dela. Objetos a que a mesa
deve aplicar toda atenção que lhe está recomendada573”. Aqui percebemos o controle do
Erário Régio sobre as contas, o método de contabilidade sendo colocado em prática e a
Mesa sendo advertida pela demora em cumprir com suas obrigações. Sobre isso, José
Carlos Venâncio afirma que a dinâmica interna do Império Colonial Português reservou
à Luanda e ao seu hinterland, no contexto da economia atlântica e da economia-mundo
europeia, um papel periférico em relação ao Brasil574.
Essas mudanças no comércio de escravos e marfim não foram implementadas de
forma pacífica. Comerciantes do Reino de Angola, Benguela, Loango e Cabina
descontentes com o declínio575 apontaram alguns problemas que, segundo eles,
interferiam no comércio e eram as causas de uma decadência, a exemplo da má direção
dos comerciantes e de serem navegantes sem prática comercial; a proibição dos homens
brancos de entrarem no sertão que, por isso, estava deserto; além disso, havia a presença
de estrangeiros na região, resgatando escravos e marfim ao mesmo tempo em que
introduziam fazendas. A solução apontada pelos negociantes seria formar uma nova
companhia para aumentar o comércio e a população no Reino de Angola. De acordo
com esboço do regimento da companhia, percebemos que seria semelhante à Mesa de
Inspeção da Bahia e denominada Mesa de Administração. Esse organismo deveria
572
[PROVISÃO para a Mesa de Inspeção da Bahia] de 29 de maio de 1779. Lisboa, 29 de maio de 1779.
Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: Livro 4220.
573
Ibidem.
574
José Carlos Venâncio. op. cit., p. 163.
575
Sobre as correspondências do governo de Angola e a decadência de Luanda e Benguela ver: Jaime
Rodrigues. De Costa a Costa: escravos, marinheiros e intermediários do tráfico negreiro de Angola ao
Rio de Janeiro (1778-1860). São Paulo: Companhia das Letras, 2005. P. 54.
151
manter uma relação direta com Brasil mediante a Mesa de Inspeção576. Contudo, esta
proposta não chegou a ser executada.
Essa reestruturação do comércio de escravos e marfim, das cobranças dos
direitos via Mesa de Inspeção, não foi bem recebida pelos governadores das regiões
africanas. Várias reclamações surgiram com o intuito de questionar a Mesa, gerando
conflitos tanto com os governadores quanto com os contratadores e comerciantes, que
ficaram evidentes nas correspondências trocadas entre os governadores de Angola e
Bahia577.
Para Gorender, “o tráfico de escravos estabeleceu vínculo tão intenso entre as
colônias portuguesas da África e o Brasil que Angola, em particular, tornou-se na
prática subcolônia brasileira”. As relações da Bahia com a Costa da Mena eram tão
intensas que, mais de uma vez, os traficantes da praça de Salvador pleitearam a
constituição de uma companhia monopolizadora do tráfico578.
Ao decretar o comércio com a Costa Africana livre, houve a quebra do
monopólio dos mercadores particulares, ao mesmo tempo em que a Coroa resolvia duas
questões: adquirir maior controle e lucratividade com o comércio dos escravos e marfim
e ao mesmo tempo fiscalizar a circulação de fazendas e outras mercadorias entre as duas
partes do Atlântico através da Mesa de Inspeção.
576
[PROPOSTA de uma Companhia Geral do Reino de Angola]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo:
Ministério do Reino: Maço 499, caixa 622.
577
“Ver capitulo VI, Conflitos de Jurisdição”. A correspondência entre os governos da Bahia e Angola
que estão no fundo “Correspondência do governo de Angola (1786-1799)”. Arquivo Público da Bahia:
seção colonial e provincial. Maço 195.
578
Jacob Gorender. op. cit., p.521-523.
152
6 CONFLITOS DE JURISDIÇÃO
579
[CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. José sobre as queixas dos oficiais da Câmara da
Cidade da Bahia, senhores de engenho, lavradores de cana e tabaco contra a nova lei da Casa de
Inspeção]. Lisboa, 23 de novembro de 1752. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia. Caixa 112,
documento 8759.
580
Vale ressaltar que o documento deixa claro que os agricultores do Rio de Janeiro e de Pernambuco
também questionaram a criação da Mesa de Inspeção em suas capitanias.
153
bom funcionamento do comércio, o que era uma forma de não prejudicar os próprios
produtores581. Um ano depois, os senhores de engenho e lavradores de cana e tabaco
continuavam descontentes com a criação da Mesa e mantinham os mesmos
questionamentos582.
Em outro requerimento também de março de 1753, os agricultores pediam que o
açúcar e tabaco voltassem a ser regulados pelos alvarás de 09 de março de 1672583, de
24 de março de 1680584 e provisão de 24 de janeiro de 1719585 que tratam do comércio
com as demais regiões de domínio da Coroa Portuguesa e trazem medidas para
melhorar do resgate de escravos na Costa da África para o abastecimento de escravos a
baixo custo no Brasil e reivindicavam a liberdade de poderem ajustar o preço dos
produtos quando for necessário e que
581
[CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. José sobre as queixas dos oficiais da Câmara da
Cidade da Bahia, senhores de engenho, lavradores de cana e tabaco contra a nova lei da Casa de
Inspeção.] Lisboa, 23 de novembro de 1752. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia. Caixa 112,
documento 8759.
582
[CARTA do Vice-rei e Governador-Geral do Estado do Brasil, conde de Atouguia, Luiz Pedro
Peregrino de Carvalho Meneses e Ataíde ao rei D. José em resposta à provisão real, dando seu parecer
acerca das representações dos donos de engenho da Bahia e Sergipe, que apresentam queixas da carestia
dos escravos e da produção do açúcar]. Bahia, 29 de maio de 1753. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia, caixa 115, documento 8985.
583
Nesse Alvará de 09 de março de 1672, determinava o comércio livre aos moradores do Reino, Ilhas e
Estado do Brasil com Moçambique, Mombaça e demais Portos da África “com a liberdade de levarem e
trazerem, venderem e comprarem todos os gêneros de fazendas, pimenta, cravos, canela e mais drogas
proibidas e escravos sem impedimento algum”. Anexado ao [REQUERIMENTO dos senhores de
engenho de fazer açúcar, lavradores do tabaco e mais pessoas interessadas nestes dois gêneros ao Rei D.
José solicitando para o bem de seu requerimento lhes é necessários alvarás de 1672, de 24 de março de
1680 e provisão de 24 de janeiro de 1719]. Bahia, 08 de março de 1753. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia, caixa 113, documento 8853.
584
Esse Alvará de 24 de março de 1680 ficou determinado “que o comércio fosse livre a todos os
vassalos, assim deste Reino como da Índia e mais Domínios e Conquistas desta Coroa, para que não haja
estanque algum em todo o gênero de mercadorias e mantimentos”. Anexado ao [REQUERIMENTO dos
senhores de engenho…]. op. cit.
585
Essa provisão de 24 de janeiro de 1719, também determinava o comércio livre nos domínios
portugueses, porém trazia uma preocupação com o abastecimento de escravos e que “no tempo muito útil
pela conveniência que se pode seguir ao Brasil em ser mais bem provido de escravos, viola a dificuldade
que se experimenta na Costa da Mina pelos roubos e violências que fazem os holandeses aos vassalos
desta Coroa” e para solucionar esse problema, “que possam ir embarcações a Ilha de São Lourenço com
condição que não poderão levar para o resgate nem ouro e nem marfim e sendo lhe necessário tomar
porto na terra firme” para proteção “porque desta sorte ficarão salvos os prejuízos que se podem seguir ao
comércio da Índia e ao de Moçambique”. Anexado ao [REQUERIMENTO dos senhores de engenho…].
op. cit.
154
canas destes é que tem os meios, pois nos achamos tão desfabricados, que
solitários não poderemos prosseguir 586.
586
[REQUERIMENTO dos senhores de engenho de fazer açúcar, lavradores do tabaco e mais pessoas
interessadas nestes dois gêneros ao Rei D. José solicitando para o bem de seu requerimento lhes é
necessários alvarás de 1672, de 24 de março de 1680 e provisão de 24 de janeiro de 1719]. Bahia, 08 de
março de 1753. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 113, documento 8853.
587
[CARTA dos Deputados da Mesa de Inspeção da cidade da Bahia ao rei (D. José) a informarem do
embaraço que tiveram para dar cumprimento ao regimento da Inspeção]. Bahia, 30 de maio de 1753.
Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa115, documento 8992.
588
Vera Lúcia do Amara Ferlini. Terra, Trabalho e Poder: O mundo dos engenhos no Nordeste colonial.
Bauru, SP: EDUSC, 2003, p. 124.
589
Ibidem, p. 126.
590
Kenneth Maxwell. A Devassa da Devassa: Inconfidência Mineira, Brasil e Portugal, 1750-1808. São
Paulo: Paz e Terra, 2005, p. 33.
155
esta América todos os gêneros compatíveis sem que lhes haja inspeção, como
vinhos, vinagres, manteiga, queijos, farinhas, muitos já danificados e ainda
nas fazendas secas estrangeiras faltando a verdade do seu peso e medida, e
ainda nas qualidades delas por não considerarem as amostras porque se a
questão com o todo das peças por dentro que deviam se em que tanta
diversidade se experimenta e que deles se aproveita. É a troco de nossos
tabacos e açúcares que vão para a mão dos estrangeiros, trocarem as ditas
fazendas diminuídas não só em pesos e medidas como em qualidades com
mil enganos por dentro das peças e volumes. 592
591
[CONSULTA do Conselho Ultramarino ao Rei D. José sobre as queixas dos oficiais da Câmara da
Cidade da Bahia, senhores de engenho, lavradores de cana e tabaco contra a nova lei da Casa de
Inspeção]. Lisboa, 23 de novembro de 1752. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia. Caixa 112,
documento 8759.
592
[OFÍCIO da mesa do Comércio da cidade da Bahia ao Vice-rei e Governador Geral do Estado do
Brasil, conde de Atouguia, Luís Pedro Peregrino de Carvalho de Meneses e Ataíde, informando da
necessidade de inspetores para o comércio desta cidade.] Bahia, 18 de abril de 1753. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 114, documento 8917.
593
[OFICIO do Intendente Geral do Ouro Wenceslau Pereira da Silva para Diogo de Mendonça Corte
Real, referindo-se entre outros assuntos ao carregamento regular dos navios e a posse dos membros da
Mesa de Inspeção da Bahia], em 07 de agosto de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 08,
documentos 1396-1425.
594
Patrícia Valim. Corporação dos Enteados: tensão, contestação e negociação política na Conjuração
Baiana de 1798. São Paulo: FFLCH/USP, 2012. (Tese de doutoramento). p. 49.
156
595
[CONSULTA do Conselho Ultramarino ao Rei D. José sobre as queixas dos oficiais da Câmara da
Cidade da Bahia, senhores de engenho, lavradores de cana e tabaco contra a nova lei da Casa de
Inspeção]. Lisboa, 23 de novembro de 1752. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia. Caixa 112,
documento 8759. e
596
Raimundo José de Sousa Gaioso. Compêndio Histórico e Politico dos Princípios da Lavoura do
Maranhão (1812). Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1970. P. 175.
597
[OFICIO do Intendente Geral do Ouro Wenceslau Pereira da Silva para Diogo de Mendonça Corte
Real, referindo-se entre outros assuntos ao carregamento regular dos navios e a posse dos membros da
Mesa de Inspeção da Bahia], em 07 de agosto de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 08,
documentos 1396-1425.
598
Ibidem.
599
Ibidem.
157
comércio colonial. Nota-se um conflito de interesses entre a Mesa de Inspeção, que era
criada e projetada para defender os interesses do exclusivo colonial português, com os
interesses da Mesa do Negócio, também apresentada como Mesa do Bem Comum e
defensora dos interesses dos comerciantes de Salvador.
A referida Mesa do Bem Comum da Bahia foi criada em 14 de junho de 1726 e
funcionava sem a autorização Régia; servia aos interesses dos comerciantes da Bahia
para o benefício comum dos homens de negócio e, mesmo sem a aprovação da Coroa,
seguia sendo tolerada até o momento em que interferia no andamento das atividades da
Mesa de Inspeção. Nos momentos de conflitos, um dos argumentos para extinguir o seu
funcionamento estava relacionado a serem,
600
[OFICIO de Vice-Rei Conde de Arcos para Thomé Joaquim da Costa Corte real em que informa de ter
mandado dissolver a Mesa do Bem Comum ou do Comércio da Bahia, narrando a História de sua
criação]. Bahia, 24 de agosto de 1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 14, documentos
2573-2579. / Arquivo do Estado da Bahia. Série Colonial e Provincial: Alvarás e Ordens Régias, v. 395, f.
123.
601
[REPRESENTAÇÃO da Mesa de Inspeção da Bahia expondo certas dúvidas que se apresentavam
acerca da eleição de novos deputados, cujos lugares haviam sido criados depois de suprida a Mesa do
Bem Comum]. Bahia, 09 de setembro de 1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 16,
documentos 2853-2856.
158
então a dúvida: como será eleito o representante do comércio e dos outros cargos
criados depois do fim da Mesa de Negócio? A eleição não podia seguir o disposto no
capítulo 03 §3º do regimento da Mesa, em que determina que a eleição deveria ser feita
pelo corpo de sua profissão e que estavam abolidas e proibidas as suas corporações
enquanto a eleição de lavradores de tabaco e senhores de engenho era realizada na
Câmara602. Assim, ficou acertado que os representantes do comércio seriam eleitos pela
Mesa de Inspeção a partir daquele momento603.
A Mesa de Inspeção da Bahia com o tempo se consolidou, e, mesmo enfrentando
várias reclamações dos setores comerciais e agrícolas, ampliou as suas funções: não era
somente a Mesa de Inspeção do Açúcar e Tabaco, estava também encarregada de
administrar a agricultura de vários gêneros; como também fazer experiências com
produtos vindos da Ásia e África; utilizar novas técnicas de produção, armazenamento e
exame dos produtos; organizar a navegação, cuidando para que as safras chegassem na
data marcada e não ocorressem atrasos na partida dos navios; passou também a
regulamentar o comércio de escravos e marfim da África; combater o contrabando e
descaminho; como também passou a gerenciar as atividades de crédito, os falidos e as
sociedades, cuidando para que o comércio tivesse um bom andamento e os comerciantes
não fossem prejudicados – inclusive quando um comerciante falecia sem deixar
testamento – pois era responsabilidade da Mesa cuidar para que as dívidas fossem
quitadas e não houvesse prejuízo para nenhuma parte envolvida nos negócios exercidos
na Colônia.
A população, em particular os produtores e comerciantes, criticava a instalação
da Mesa de Inspeção, o que levou o seu presidente, Wenceslau Pereira da Silva, a
instalar uma devassa em 1753, e apontou como principais opositores os baianos João
Eliseu Aires de Sousa e Plácido Fernandes Maciel. De acordo com o auto da devassa, se
ocorresse transgressão e fraude contra o Regimento, alvarás e decretos de 16 e 27 de
janeiro, 1 de abril de 1751, 28 e 29 de novembro de 1753 – que foram estabelecidos
para criar a Mesa de Inspeção na Bahia – ou se falassem mal da criação “dela
publicando temerariamente que os mesmos alvarás e ordens do dito senhor a esse
602
Cf. as atas da Câmara de Salvador do Arquivo Municipal, Fundação Gregório de Matos e que foram
publicadas. Aqui, nos interessa os volumes 9, 10 e 11, onde há registros das eleições e outras solicitações
da Mesa de Inspeção. Atas da Câmara: 1765-1775. Salvador: Câmara Municipal, Fundação Gregório de
Matos, 2010. (Documentos Históricos do Arquivo Municipal)
603
[REPRESENTAÇÃO da Mesa de Inspeção da Bahia expondo certas dúvidas que se apresentavam
acerca da eleição de novos deputados, cujos lugares haviam sido criados depois de suprida a Mesa do
Bem Comum]. Bahia, 09 de setembro de 1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 16,
documentos 2853-2856.
159
604
Para Lúcio de Azevedo essas reclamações e reações contra as ordens da metrópole que “os naturais da
terra eram os mais veementes opositores; germes da futura independência já então intumescentes e
preparado por vir”. J. Lucio de Azevedo. Novas Epanáforas: estudos de história e literatura. Lisboa:
Livraria Clássica Editora, 1932, p. 35 e 36.
605
Sobre isso Cf. Capitulo III de Pierre Verger. Fluxo e Refluxo: do tráfico de escravos entre o golfo do
Benin e a Bahia de Todos os Santos, dos séculos VII a XIX. Salvador: Corrupio 2002. P. 91-112.
606
[OFÍCIO do Vice-rei conde de Atouguia acerca das eleições dos Inspetores da Intendência dos açúcares
e dos Tabacos (Mesa de Inspeção)]. Bahia, 28 de fevereiro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia, caixa 06, documentos 937-942.
607
[CARTA do Intendente Geral do Ouro e Presidente da Mesa de Inspeção da Bahia João Bernardo
Gonzaga ao Rei D. José dando parecer acerca da suspensão da ocupação de deputado da Mesa de
Inspeção da Bahia a Amaro de Souza Coutinho]. Bahia, 23 de julho de 1759. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 141, documento 10909.
608
Idem.
160
Coroa para executar as decisões do governo português “em favor e benefício de seus
habitantes609”. Segundo o Juiz de Fora Luiz Coelho da Ferreira, as principais
reclamações dos agricultores estavam centradas sobre a taxa dos açúcares e tabacos, dos
fretes dos navios e do alto custo dos escravos610.
Com relação às frotas, sua saída era sempre acompanhada por navios de guerra,
que faziam a segurança e evitava inconvenientes. Isso contribuía para um melhor
funcionamento de todo o processo, os lavradores e comerciantes deveriam observar o
tempo determinado da colheita para então conduzir os produtos à cidade e estarem
prontos na ocasião do embarque. No tocante ao comércio de escravos611 da África, o
Luiz Coelho Ferreira aconselhou a Coroa a ampliar o comércio e navegação com a costa
da África, sem restrições612. O controle sobre a navegação para esta região era uma das
ações da Coroa para determinar, em 1758, que a Mesa de Inspeção passasse a
regulamentar o comércio de escravos e marfim, fato que deixou os negociantes desse
ramo descontentes.
De acordo com a carta da Mesa de Inspeção ao capitão e comandante da frota da
Bahia, nas palavras do redator, “a Mesa tinha e devia sempre ter gravada na mente e
diante dos olhos a proteção, aumento e conservação dos agricultores e comerciantes e
mais vassalos deste Estado, pois esse é o principal objeto do seu instituto e o que tanto
lhe encoraja e recomenda a S. Majestade com paternal cuidado613”. No geral um dos
principais objetivos da Mesa era o aumento e qualidade da agricultura e do seu
comércio. Mesmo com tal meta, como já foi exposto, era notória a insatisfação por parte
de muitos envolvidos nesse processo.
609
[PARECER do Juiz de Fora Luiz Coelho Ferreira acerca das representações dos Senhores de
Engenhos, Lavradores de Tabacos e comerciantes acerca dos impostos lançados aos gêneros produzidos
no Brasil, dos fretes dos navios e do monopólio de escravos na Costa da Mina]. Bahia, 03 de maio de
1753. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 04, documento 563.
610
Ibidem.
611
Pouco tempo depois, o rei acata o conselho do Juiz de Fora e declara Livre o Comércio de escravos
através do Alvará de 11 de janeiro de 1758. Houve a quebra do monopólio, mas manteve o controle na
arrecadação dos direitos reais, estipulando o desembarque dos escravos apenas nos Portos que a Mesa de
Inspeção atuava como a Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e no Maranhão. [ALVARÁ de 11 de janeiro
de 1758 sobre o livre comércio de Angola e dando certas providencias ao mesmo respeito]. In: SILVA,
António Delgado da. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última Compilação das Ordenações:
suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense, 1828. Fl. 584-586.
612
[PARECER do Juiz de Fora Luiz Coelho Ferreira acerca das representações dos Senhores de
Engenhos, Lavradores de Tabacos e comerciantes acerca dos impostos lançados aos gêneros produzidos
no Brasil, dos fretes dos navios e do monopólio de escravos na Costa da Mina]. Bahia, 03 de maio de
1753. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 04, documento 563.
613
[CARTA da Mesa de Inspeção ao Capitão e comandante da Frota]. Bahia 16 de maio de 1755. Arquivo
Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 11, documento 1922-1947.
161
614
[COMENTÁRIOS da Mesa de Inspeção sobre as diversas queixas recebidas]. Bahia, 04 de julho de
1755. Arquivo Histórico Ultramarino; Bahia, caixa 11, documento 1922-1947.
615
Os oito dias era um prazo adequado para que a produção fosse transportada das propriedades até os
trapiches e que a Mesa de Inspeção executasse o processo de exame e qualificação.
616
[COMENTÁRIOS da Mesa de Inspeção sobre as diversas queixas recebidas]. op. cit.
617
Ibidem.
618
Ibidem.
162
619
Ibidem.
620
Segundo Avanete Pereira Sousa, as correlações entre os camaristas e os pequenos comerciantes não se
pautavam apenas nos “binômios imposição-subordinação, punição-obediência, norma-transgressão”. O
conflito, inerente a todo e qualquer regime calcado na existência de interesses distintos e contradições
entre os diversos corpos sociais que o compõem, em alguns momentos, podia traduzir-se em atitudes que
revelavam a harmonização de interesses entre uns e outros, contrapostos a terceiros seja comerciante,
produtor, funcionário ou consumidor. Foi o que ocorreu em 1785, quando a câmara também apresentava
momentos de conflitos entre os pequenos comerciantes que negociavam no mercado interno como os
lojistas, principalmente em momentos de cobranças das taxas camarárias. Cf. Avanete Pereira Sousa. A
Bahia no Século XVIII: Poder Político Local e Atividades Econômicas. São Paulo: Alameda, 2012. p.
237.
621
Cf. Avanete Pereira Sousa. Manifestações Locais da Crise do Antigo Sistema Colonial? (O exemplo
das câmaras municipais da capitania da Bahia). Pedro Puntoni. “Coração no meio do corpo”: Salvador,
capital do estado do Brasil. Vera Lucia Amaral Ferlini. O Município do Brasil Colonial e a Configuração
do Poder Econômico. In.: Laura de Melo e Souza, Júnia Ferreira Furtado e Maria Fernanda Bicalho
(Orgs.). O Governo dos Povos. São Paulo: Alameda, 2009.
163
622
Manuel Ferreira Câmara [et. al.]. Cartas Econômico-Políticas sobre a Agricultura e Comércio da
Bahia, 1807. Salvador: FIEB, 2014. (Série FIEB: Documentos Históricos, 2), p. 165-167.
623
Stuart B. Schwartz. Burocracia e Sociedade no Brasil Colonial: o Tribunal Superior da Bahia e seus
desembargadores. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 163.
624
Francisco Calazans. Falcon. Pombal e o Brasil. In.: José Tengarrinha (org.). História de Portugal.
Bauru, SP: EDUSC; São Paulo, SP: UNESP; Portugal, PT: Instituto Camões, 2001. p. 228.
625
SCHWARTZ, Stuart B. 2011, op. cit. p. 171.
164
especialização e divisão dos poderes são elementos que provocaram o conflito ente as
diversas autoridades e a dificuldade das Ordens Régias626.
Durante o período de atuação da Mesa de Inspeção na Bahia, verificamos na
documentação vários conflitos de jurisdição sobre os mais variados assuntos,
principalmente os relacionados à administração da frota e comércio de escravos627.
Muitas vezes, os impasses eram levados até o conhecimento da Coroa, que sempre
intervia em nome da Mesa. O escrivão Simão Gomes Monteiro, por exemplo, descreveu
os aborrecimentos e oposições sofridas pela Mesa de Inspeção por parte da população e
“da má vontade que vem dos superiores que não lhes declaram o motivo do
aborrecimento”. Isso porque o governo não falava que o seu desagrado estava
justamente em perder o domínio que exercia sob a expedição, fato que será
posteriormente discutido neste estudo. O conteúdo da carta do escrivão, por sua vez, é
bem explícito e evidencia não só a existência de conflitos nos vários ramos da
administração colonial na Bahia, como também apontava os motivos pelos quais cada
setor estava descontente com a criação e atuação da Mesa de Inspeção. Entre eles,
destaca-se a perda de regalias e proveitos particulares que os governadores, eclesiásticos
e magistrados tinham ao exercerem seus cargos. Os Magistrados da Relação também se
descontentavam “porque um dos seus ministros fora sempre superintendente do tabaco e
que hoje se não podem fazer negócios ocultos e particulares”628. Os eclesiásticos, “que
costumavam pedir carga nos navios a troco de remeterem madeiras e encomendas para a
Corte, espalham pelos seus dependentes que a Mesa é uma vexação do povo629”, a qual
chamavam de opressão, sem que o povo soubesse e também sem declararem os
motivos630. “Todo o sobredito atesto pelo ter ouvido em várias conversas nesta cidade
aonde esta murmuração é inteligência e geral631”.
As insatisfações não pararam por aí, muitos lavradores de açúcar e tabaco não
toleravam os exames nem aceitavam que furassem as caixas de açúcares ou picassem os
626
Rodrigo Ricupero. A Formação da Elite Colonial: Brasil 1530-1630. São Paulo: Alameda, 2009. p.
130.
627
Os documentos mencionados foram trabalhados ao longo do capitulo e poderão ser encontrados
principalmente no fundo da Junta do Comércio do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
628
[ESCRIVÃO da Mesa de Inspeção Simão Gomes Monteiro]. Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 14,
documentos 2607-2611.
629
Ibidem.
630
[COMENTÁRIOS da Mesa de Inspeção sobre as diversas queixas recebidas]. Bahia, 04 de julho de
1755. Arquivo Histórico Ultramarino; Bahia, caixa 11, documento 1922-1947.
631
Ibidem.
165
632
[COMENTÁRIOS da Mesa de Inspeção sobre as diversas queixas recebidas]. Bahia, 03 de julho de
1755. Arquivo Histórico Ultramarino; Bahia, caixa 11, documento 1922-1947.
633
Ibidem.
634
[REPRESENTAÇÃO que fizeram a S. Majestade o Desembargado Intendente Geral e Presidente da
Mesa da Inspeção da Bahia e deputados declarando que a mesa não está subordinada ao governo]. Lisboa,
10 de março de 1768. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Ministério do Reino, Junta da
Administração do Tabaco, maço 397, caixa 498.
635
Ibidem.
636
Ibidem.
166
verdade, nos anos iniciais, ainda eram confusas as atribuições da Mesa de Inspeção e do
governo, e foi comum esse tipo de conflito. Até mesmo porque a ordem era para ter
cada um suas funções definidas ao mesmo tempo em que o governo teria que fiscalizar
a atuação da Mesa, como exemplo das atestações do carregamento de tabaco, que a
Mesa e o governador tinham que enviar junto com o carregamento637.
Para Charles Boxer, a forma como os funcionários do governo colonial se
denunciavam mutualmente à Coroa não contribuía para a harmonia administrativa, mas
encaixava-se no sistema colonial de verificações e balanços que garantiam a rápida
chegada dos delitos e enganos cometidos por qualquer dos governadores 638. Contudo,
Stuart Schwartz afirma que o governo português consistia de jurisdições e poderes mal
definidos e muitas vezes contraditórios, que em última análise dependiam de decisões
da metrópole, o que impedia que qualquer instituição colonial adquirisse poderes
excessivos639. Outra questão que ocasionava conflitos era a mútua fiscalização dos
serviços, o que, para Tancredo de Morais, dava a impressão de desconfiança, a qual o
rei manifestava por todos os seus servidores e arquitetava um sistema em que todos se
fiscalizam uns aos outros, para ver se conseguia com isso satisfazer a sua desconfiança.
Para todos os atos administrativos era exigida a intervenção de mais de um
funcionário640, assim, temos um ambiente propício a vários conflitos.
Em fevereiro de 1754, o desembargador e intendente geral Wenceslau Pereira da
Silva fez, perante a Mesa da Inspeção, uma exposição acerca dos meios que se deveriam
empregar para o bom funcionamento das frotas. O documento fazia referência ao alvará
de 29 de novembro de 1753, quando remeteu à Mesa de Inspeção para executar pronta e
pontualmente o que o rei determinava, pois se colocava sempre atento e propício para
favorecer e distribuir mercês aos vassalos. Nesse contexto, a primeira medida adotada
pelo rei foi a ampliação da jurisdição do Regimento da Mesa de Inspeção para que
atuasse contra os opositores, que agiam com “embaraço e pensada malícia de alguns
637
Há uma documentação serial sobre os avisos de carregamento de tabaco, do maço 104 até o maço 116
e 95% da documentação presente nas caixas são compostas por avisos sobre o carregamento do tabaco,
especificando o navio e a quantidade da carga. O interessante é que há duas cópias de cada aviso, uma
feita pela Mesa de Inspeção e outra pelo governador, na época, o Conde de Povolide. (governador da
capitania entre os anos de 1769-1774). Já no aviso do Conde de Povolide, há em anexo uma certidão do
escrivão da Fazenda Real sobre o mesmo aviso. Entre os anos de 1771 a 1773 foram 39 avisos da Mesa
de Inspeção e 36 do Conde de Povolide. Há também duas prestações de conta da Mesa para a Junta do
Tabaco. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Tabaco: Maços de 104 – 116.
638
Charles Ralph Boxer. A Idade de Ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. 3ª
ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
639
Stuart B. Schwartz2011, op. cit., p. 179.
640
Tancredo de Morais. A Casa da Índia. Anais do Club Militar Naval. [S.I.:s.n.] [193-] p. 1458.
167
644
Ibidem.
645
Ibidem.
646
[CARTA do Marques de Pombal Para João Bernardo Gonzaga. Ampliação da jurisdição da Mesa]. Em
27 de janeiro de 1755. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Papéis do Brasil; Avulsos 4, Nº 4 –
digitalizado: pt/tt/pbr/19/4.
647
Idem.
169
648
[OFÍCIO do Vice-rei conde dos Arcos para Thomé Joaquim da Costa Corte Real, em que consulta se a
jurisdição sobre os navios que faziam o comércio para os Portos da África se estendia também aos navios
que se dirigiam para outros Portos da América]. Bahia, 10 de setembro de 1757. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 15, documento 2558.
649
[OFICIO do Vice-rei conde dos Arcos para Thomé Joaquim da Costa Corte real, acerca da jurisdição
da Mesa de Inspeção sobre os navios que faziam o comercio da Costa da Mina e do recurso das suas
resoluções]. Bahia, 28 de agosto de 1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 14, documentos
2607-2611.
650
Ver capítulo V sobre a escravidão.
170
remeteu 400 alqueires de farinha, o que por este modo a mesma deveria ter
praticado por mais vezes e em maiores quantidades e em conformidade das
ordens que tem recebido, não só por ser destinado para as tropas se Sua
Majestade neste reino, mas também da maior necessidade para a subsistência
dos seus vassalos, que o habitam e o sustento do comércio de que o Real
Erário tira tanto interesse e em geral as suas colônias.653
651
[CORRESPONDÊNCIA entre os governadores da Bahia e Angola], 08 de setembro de 1756. Arquivo
Público da Bahia: Seção Colonial e Provincial, maço 76, nº 16.
652
[CARTA do Governador de Angola], 15 de maio de 1787. Arquivo Público da Bahia: Seção Colonial e
Provincial, maço 195.
653
[CARTA do Governador de Angola], 25 de janeiro de 1794. Arquivo Público da Bahia: Seção Colonial
e Provincial, maço 195.
171
654
[CARTA do Governador de Angola], 20 de fevereiro de 1799. Arquivo Público da Bahia: Seção
Colonial e Provincial, maço 195.
172
655
[CARTA do Governador de Angola], 03 de dezembro de 1799. Arquivo Público da Bahia: Seção
Colonial e Provincial, maço 195.
656
[PROPOSTA de uma Companhia Geral do Reino de Angola]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo:
Ministério de Reino. Maço 499, caixa 622.
657
[OFICIO dos Inspetores da Mesa de Inspeção José Lopes Ferreira e Francisco Xavier de Almeida para
Thomé Joaquim da C. Corte Real, relatando as divergências que havia entre os membros da Mesa de
173
Mesa, afirmou que se deveria avaliar os açúcares entre o médio batido até o redondo, o
que não se praticou658. Os demais deputados queixaram do procedimento irregular do
Inspetor João Bernardo Gonzaga em uma seção que presidia, na qual tentava convencer
os membros da Mesa com o intuito de fazer prevalecer a sua opinião de ampliar o
número de qualidades de açúcares e ir contra o estabelecido no regimento. Sebastião
José de Carvalho respondeu informando que
o rei não podia mandar em contrário, porque nem a Alfândega ou o contratador podem
distinguir o que a mesma lei não distinguiu nem a podem interpretar, além de haver
qualidades de um e outro valor para que, fazendo-se assim, nem fique agravada a
agricultura nem fraudado o comércio que fazem o objeto desta Mesa imitando nesta
parte a lei e o regimento porque a V. Majestade manda qualificar o dito gênero para lhe
taxar o preço maior ou menos a fim de repassar os transcendentes prejuízos que se
seguem a lavoura.659
Inspeção sobe a classificação dos açúcares]. Bahia, 27 de maio de 1759. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia, caixa 22, documentos 4147-4149.
658
Ibidem.
659
[OFICIO dos Inspetores da Mesa de Inspeção da Bahia, Antonio da Rocha Pitta, João Bernardo
Gonzaga e José Alvaro Pereira Sodré para Thomé Joaquim da C. Corte Real, relatando as divergências
que havia entre os membros da Mesa de Inspeção sobe a classificação dos açúcares]. Bahia, 27 de maio
de 1759. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 22, documentos 4151-4166 e caixa 23, documentos
4194-4197.
174
que os termos expressivos, com que mais escreveram não são os devidos do
meu ministério, lhe dê a providência que lhe parecer mais conveniente 660
O Conde dos Arcos criticou661 a Mesa de Inspeção e relatava que o rei havia
expedido diferentes ordens e que pela secretaria do governo havia continuado em
expedir alvarás de licença para o comércio da Bahia com a Costa da África, porque da
certidão que remeteu havia sido “tirada dos livros da mesma Mesa de Inspeção, que
constam todas as ordens e despachos que tinha expedido depois que tomou posse do
governo”. Afirmava que os livros continham a informações sobre a jurisdição que
foram concedidas pela Coroa “porque do primeiro dia do estabelecimento desta Mesa
até o presente não saiu navio algum deste Porto para continuar o comércio da Costa da
África sem que primeiro precedessem os requerimentos e despachos que se manifestam
na predita certidão”. Assim, criticou a atuação do desembargador Wenceslau Pereira da
Silva, que foi o primeiro presidente da Mesa, por ter alterado as certidões de navegação
“sem razão porque, neste caso, é que lhe faria infração para as suas regalias, abrindo-lhe
aquele sistema de governo que achava já estabelecido662”.
A resposta das reclamações dos funcionários da Mesa contra o Conde dos Arcos
que acusavam de desobedecer as diversas ordens que haviam sido expedidas à Mesa de
Inspeção, infringindo a jurisdição da Mesa veio em um parecer da Junta do Comércio
que acusava o Conde de “expedir alvarás de licença para o comércio dos Navios dessa
cidade para a Costa de África” e continuava “sobre todo o referido, na inteligência de
que nem [o Conde] tendes jurisdição alguma na referida Mesa de Inspeção” e nem “do
comércio da Costa da África que também na conformidade das mesmas ordens pertence
ao privativo da referida Mesa663”.
O Marquês de Pombal, informado por Wenceslau Pereira da Silva, orientava o
presidente da Mesa João Bernardo Gonzaga sobre “as desordens que se tinham
660
[OFÍCIO do Vice-rei Conde de Arcos para Sebastião José de Carvalho e Mello]. Bahia, 21 de agosto de
1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 16, documentos 2827-2834. Documentos foram
duplicados e podem ser encontrados também na caixa 14, documentos 2555-2566.
661
A critica o Vice-Rei comprova que a Mesa de Inspeção cumpria com o seu papel fiscalizando e
executando o regimentos e demais leis determinadas para o bom funcionamento do comercio colonial.
Apresenta também uma grande dúvida tanto da Mesa de Inspeção quanto do governo em relação a
expedição dos passaportes. Nesse caso foi ele o responsável pela sua instalação e primeiro presidente. Cf.
VERGER, Pierre. 2002. op. cit. p. 113-138.
662
[OFICIO do Vice Rei Conde dos Arcos para Thomé Joaquim da costa Corte Real, acerca da jurisdição
privativa da Mesa de Inspeção, sobre os navios do comercio da Costa da Mina]. Bahia 03 de setembro de
1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 14, documentos 2631-2639.
663
[PARECER da Junta do Comércio ao governador e capitão general]. Lisboa, 10 de março de 1768.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Ministério do Reino, Junta da Administração do Tabaco,
maço 397, caixa 498.
175
praticado pelos que monopolizavam ali os gêneros e cargas dos navios” e “pelos seus
fatores compreendendo a necessidade que havia de obviar a tão prejudiciais
maquinações e sugeria ampliar a jurisdição das Mesas de Inspeção, desarmando os
artifícios com que as ordens das referidas Mesas se tem procurado invalidar664”.
As instruções do Marquês de Pombal para João Bernardo Gonzaga eram para
observar a jurisdição da Mesa no caso de outro governador mal instruído interferir nos
assuntos, e que o advertisse
664
[CARTA do Marques de Pombal Para João Bernardo Gonzaga. Ampliação da jurisdição da Mesa]. Em
27 de janeiro de 1755. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Papéis do Brasil, Avulsos, nº03.
665
Ibidem.
666
João Pinto Furtado. “Viva o rei, viva o povo, e morro o governador”: tensão política e práticas de
governo nas Minas dos Setecentos. In.: Maria Fernanda Bicalho; Vera Lúcia Amaral Ferlini (orgs.).
Modos de Governar: ideias e práticas políticas no Império Português (séculos XVI a XIX). São Paulo:
Alameda, 2005. p. 406-407.
176
667
[COPIA da reclamação de um lavrador de tabaco contra um comerciante à Mesa de Inspeção da
Bahia] em 28 de setembro de 1761. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10,
caixa 36.
668
[SOCIEDADES, falidos e execução de dívidas]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio, livros 100 e 139.
177
669
[DEDUÇÃO compediosa sobre o tabaco, que constitui um dos dois gêneros capitais do Estado do
Brasil], 1777. Biblioteca Nacional de Lisboa: Coleção Pombalina 695, f. 108-129.
670
NOVO Regimento da Alfândega do Tabaco, de 16 de janeiro de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino
– Bahia: Caixa 54, documento 10325.
671
Francisco Calazans Falcon. Pombal e o Brasil. In. José Tengarrinha (org.). História de Portugal. 2ª
ed., rev. e ampl. Bauru, SP: EDUSC; São Paulo, SP: UNESP; Portugal, PT: Instituto Camões, 2001. p.
237.
178
675
J. Lúcio de Azevedo. O Marquês de Pombal e a Sua Época. Lisboa, Alfarrábio, 2009. p. 107.
676
Vale ressaltar que a Mesa de Inspeção é apresentada aqui como criação do Marquês de pombal e sob
influência Britânica. Cf. AZEVEDO, J. Lúcio de. Ibidem, p. 109.
677
Humberto José Fonseca. Comerciantes e cristões novos e m festa de nobre: a transgressão da ordem
“natural”. In.: POLÍTEIA: História e Sociedade. Vitória da Conquista: DH/UESB v7, nº1, p. 103-141,
2007.
678
Fernando Antônio Novais. Portugal e Brasil na Crise do Antigo sistema Colonial (1777-1808). 3ª
edição. São Paulo: Hucitec, 1985. Coleção Estudos Históricos. p. 58.
679
Ibidem, p. 59.
180
680
Joaquim Romero de Magalhães. Labirintos Brasileiros. São Paulo: Alameda, 2011, p. 189-190.
681
Francisco José Calazans Falcon. A Época Pombalina: política econômica e monarquia ilustrada. São
Paulo: Ática, 1982. (Ensaios; 83). P. 469-470.
682
[REPRESENTAÇÃO da Mesa de Inspeção acerca da regulamentação do comércio da Costa da Mina].
Bahia 08 de novembro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 09, documentos 1473-1482.
683
Letras de ordem de pagamento.
684
José Carlos Venâncio. A Economia de Luanda e Hinterland no Século XVIII: um estudo de sociologia
histórica. Ed. Estampa. Lisboa, 1996. p. 185.
181
685
ALVARÁ de 11 de janeiro de 1758 sobre o livre comércio de Angola e dando certas providencias ao
mesmo respeito. António Delgado da Silva. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última
Compilação das Ordenações: suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense,
1828. fl. 584-586.
686
Cf. José Ribeiro Júnior. Colonização e Monopólio na Nordeste Brasileiro: a Companhia Geral de
Pernambuco e Paraíba, 1759-1780. São Paulo: HUCITEC, 2004. P. 205-206.
687
José Jobson de Andrade Arruda. O sentido da Colônia: revisitando a crise do Antigo Sistema Colonial
no Brasil (1780-1830). In.: José Tengarrinha (Org.). História de Portugal. Bauru, SP: EDUSP, São Paulo:
UNESP; Portugal: Instituto Camões, 2001, p. 246.
182
688
, José Ribeiro Júnior. op. cit., p. 42.
689
Francisco José Calazans Falcon. op. cit., p. 469.
690
Ibidem, p. 232.
691
Ibidem, p. 231–232.
692
Andrée Mansuy-Diniz Silva op. cit., p. 498.
183
dispersão existente das cobranças e despesas que tornavam impossível uma gestão
completa e sistemática das contas públicas. Para isso, foram criadas Contadorias Gerais,
tendo cada uma um chefe, em que se dividia o tesouro, com diferentes competências
territoriais: Contadoria das Províncias do Reino e Ilhas dos Açores e Madeira,
Contadoria da África Ocidental, Maranhão e Baía, Contadoria da África Oriental, Rio
de Janeiro e Ásia portuguesa693.
Em Portugal, o Erário Régio fez parte do “projeto de modernização e
racionalização” do aparelho financeiro694. As Juntas da Fazenda eram segmentos do
Erário Régio – e ao qual deveria se reportar – e que atuavam nas principais capitanias
do Brasil de modo regional. Para Jorge Pedreira, isso foi eficaz no combate ao
contrabando e produziu resultados, pois “a guerra ao contrabando foi travada tanto em
nome do Erário Régio combatendo a evasão fiscal como do monopólios dos negociantes
portugueses sobre o comércio colonial695”.
Segundo Arno Wehling a política de centralização e modernização do Estado
conduzida por Pombal reforçou o caráter fiscalista principalmente com a criação do
Erário Régio, no qual se concentrava a contabilidade de Portugal e seus domínios. No
Brasil, “foram criados órgãos como as Mesas de Inspeção e as juntas da fazenda em
substituições das provedorias das Capitanias que visavam incentivar o estimulo às
atividades agrícolas e contornar problemas como a aproximação de órgãos e funções,
ineficiência na arrecadação, a prática de fraudes e contrabandos e a corrupção696”.
As suas reformas causaram impactos econômicos e sociais. Um exemplo foi
quando aboliu a escravidão em Portugal em 1761-73, o que, segundo Charles Boxer, tal
fato não ocorreu “por motivos humanitários, mas antes para impedir que os negros
fossem utilizados como empregados domésticos na metrópole ao invés de trabalhar nas
plantações ou nas minas de ouro do Brasil697”, pois a prioridade era ampliar a oferta de
escravos na Colônia, com baixo custo, e diminuir a insatisfação dos agricultores que se
693
Graça Salgado (coord.). Fiscais e meirinhos: a administração no Brasil colonial. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1985, p. 45.
694
Jorge Pedreira. A Economia Política do Sistema Colonial. In.: João Luiz Ribeiro Fragoso; Maria de
Fátima Gouveia (orgs.). O Brasil Colonial. Vol. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. P. 443
695
Ibidem. p. 443-444.
696
Arno Wehling. Administração Portuguesa no Brasil de Pombal a D. João (1777-1808). In.: Vicente
Tapajós (coord.). História Administrativa do Brasil. Vol. 6. Brasília: Centro de Documentação,
informação e difusão Graciliano Ramos; Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército 1966. P. 111.
697
Charles R. Boxer. O Império Marítimo Português 1415-1825. Lisboa: Edições 70, 1977, P. 191.
184
manifestavam através de requerimentos, a exemplo dos que eram enviados à Coroa, via
Câmara Municipal de Salvador698.
As reformas pombalinas representaram uma relativa mudança, aliada “a uma
vigilância mais rigorosa sobre órgãos e agentes da administração colonial, materializada
em incessantes recomendações, advertências e punições; um esforço para a
racionalização dos procedimentos administrativos e modernização dos quadros
burocráticos699”. Por outro lado, as distâncias territoriais do Brasil dificultavam tal
vigilância, e o resultado, segundo Kenneth Maxwell, foi que “as reformas fiscais de
Pombal no Brasil, aliadas à indicação de funcionários, magistrados e fiscais nativos
designados para administrá-las, encorajaram em várias ocasiões as disputas e os
aborrecimentos que tais medidas deveriam aliviar700”.
Para Fernando Novais as medidas adotadas na Colônia eram para resolver os
“problemas efetivos que a manutenção e a exploração do ultramar apresentavam à
metrópole” se davam “no plano da prática e dos mecanismos estruturais que atuavam
no conjunto do sistema e promoviam, nessa fase, reajustamentos fundamentais701”.
Assim como salienta Francisco Calazans Falcon, “as providências e medidas tomadas
pelo reformismo pombalino podem revelar-nos certas tendências, mas pouco nos
esclarecem acerca dos seus objetivos gerais e dos resultados reais das suas próprias
práticas702”. A primeira dificuldade é a interpretação dos objetivos.
Nesse processo de reformas pombalinas, Falcon salienta para a ação
governamental baseada em uma “nova articulação nas relações metrópole-colônia”,
através da ligação e articulação entre indústria, agricultura e comércio, que definia “um
amplo espaço de ação das políticas públicas almejando a unidade”. Portanto, tendo a
agricultura como centro dessa política “seus efeitos não tardaram, expressando-se na
diversificação agrícola do espaço colonial brasileiro, gerando produtos para a
698
[REPRESENTAÇÃO da Mesa de Inspeção acerca da regulamentação do comércio da Costa da Mina”.
Bahia 08 de novembro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 9, documentos 1473-1482 e
“Oficio do Intendente Geral e Presidente da Mesa de Inspeção da Bahia Wenceslau Pereira da Silva a
Secretário de Estado Sebastião José de Carvalho e Melo sobre os meios mais adequados para o
crescimento do Brasil e da necessidade de mão-de-obra escrava”. Bahia 6 de julho de 1755. Arquivo
Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 125, documento 9767.
699
Francisco Calazans Falcon. op. cit., p. 237-238.
700
Kenneth Maxwell. Marquês de Pombal: Paradoxo do Iluminismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
p. 157.
701
Fernando Antônio Novais. op. cit., p.5.
702
Francisco Calazans Falcon. História de Portugal… op. cit., p. 237.
185
703
José Jobson de Andrade Arruda. História de Portugal… op. cit., p. 254.
704
José Jobson de Andrade Arruda. Decadência ou Crise do Império Luso-brasileiro: o novo padrão de
colonização. In.: Revista USP. São Paulo, nº 45, p. 66-78, junho/agosto, 2000. p. 77
705
Ibidem, p. 77-78.
706
Charles R. Boxer. op. cit. p.195
707
José Jobson de Andrade Arruda. 2001, op. cit., p. 245.
708
Jorge Pedreira. 2014. op. cit., p. 450-451.
186
entre os anos de 1750 a 1816, “a política colonial portuguesa foi colocada nas mãos de
três homens notáveis: Sebastião José de Carvalho e Melo, Martinho de Mello e Castro e
Dom Rodrigo de Souza Coutinho709” – homens formados em direito na Universidade de
Coimbra – que “haviam adquirido experiência nas cortes da Europa e estavam imbuídos
de um desejo de levar grandes benefícios ao reino e elevá-lo ao nível mais intelectual e
econômico da época”. De acordo com Andrée Mansuy-Diniz Silva, suas políticas
estavam baseadas no mercantilismo e absolutismo e “amparado por um governo
„esclarecido‟”. Para a política colonial, “acreditavam que o Brasil era vitalmente
importante para a própria sobrevivência da metrópole”, e portanto, defendiam que a
Coroa deveria ampliar o território e “reforçar sua estrutura administrativa, judicial e
militar mediante o fortalecimento do poder absoluto da monarquia, e assegurar o
desenvolvimento da economia brasileira dentro estritamente da estrutura do pacto
colonial710”.
Nessa última fase do século XVIII, como enfatiza Fernando Novais, a política
em relação ao Brasil se apresentou através da penetração das ideias fisiocráticas, da
economia clássica inglesa e do mercantilismo, o que deu origem a um “mercantilismo
ilustrado”, ou seja, “abandona-se a ortodoxia mercantilista tradicional, mas se mantém
certas linhas de política econômica tradicional. É esse o esquema teórico que orienta a
política colonial da última fase do Antigo Regime, e o „Pombalismo‟ foi a simbiose do
mercantilismo com ilustração.711”.
Finalmente, as reformas pombalinas proporcionaram efeitos a longo prazo. No
final do século XVIII e início do século XIX. Produzia resultados, era a diversificação
agrícola que passava a sustentar o Estado Português, pois sustentava as fábricas do
Reino de matéria-prima, proporcionando a retração das importações, contribuindo para
que a balança comercial com a Inglaterra se tornasse favorável712.
709
Andrée Mansuy-Diniz Silva. op. cit., p.479.
710
Ibidem, p. 479-480.
711
Fernando Antônio Novais. Aproximações: estudos de história e historiografia. São Paulo: Cosac
Naify, 2005. P. 170-171 e 263.
712
José Jobson de A. Arruda. O Brasil no Comércio Colonial. São Paulo: Ática, 1980. (Ensáios: 67). p.
642.
187
713
[REGIMENTO das Casas de Inspeção], de 1º de abril de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino –
Bahia: Caixa 54, documento 10326.
714
Andrée Mansuy-Diniz Silva. op. cit., p.489.
188
719
[PROVISÃO para a Mesa de Inspeção da Bahia” de 29 de maio de 1779. Lisboa, 29 de maio de 1779.
Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: Livro 4220.
720
Ibidem.
190
721
Geralmente o intendente também era o juiz de fora. Em vários ofícios o Intendente Geral do Ouro e
desembargador presidente da Mesa de Inspeção escrevia ao secretário ou ao rei e “dizia como
intendente… como presidente” lembrar que Bitencourt pediu a permissão de usar a beca durante a reunião
da mesa.
722
Francisco Calazans Falcon. História de Portugal…op. cit. p. 237–238.
723
Nuno Monteiro. op. cit., p. 133-134.
724
Heloísa Liberalli Bellotto. Autoridade e conflito no Brasil Colonial: o governo de Morgado de Mateus
em São Paulo. 2ª.ed. São Paulo: Alameda, 2007.p.221.
191
Tanto para Portugal como para o Brasil a segunda metade do século XVIII foi
um período de reorientações que culminaram em amplas transformações na Colônia,
principalmente com a política pombalina de reformas agrícolas e comerciais. Para Stuart
B. Schwartz, “o primeiro e mais direto impacto dessas medidas foi sentido pelos
senhores de engenho em janeiro de 1751, com a criação das Mesas de Inspeção nos
principais portos brasileiros, Recife, Rio de Janeiro, São Luiz e Salvador725”. Schwartz
afirma ainda que a Mesa de Inspeção era destinada a restaurar a confiança na qualidade
dos produtos por meio de exame, qualificação, embarque e financiamento, ou seja,
“incumbiram-se de tarefa difícil e impopular”, pois a atuação da Mesa em eliminar as
práticas de falsificação, a fixação de preços do produto, o aumento das taxas de
armazenamento e dos fretes provocaram um descontentamento que gerou inúmeras
“queixas dos produtores contra as Casas de Inspeção, embora motivados por interesses
próprios e talvez por comodismo, não obstante revela algo da situação da economia
açucareira e de como era vista pelos senhores de engenho [...]”. Porém, “em vão foram
as lamentações dos senhores de engenho. A Casas de Inspeção da Bahia não foi abolida;
de fato, seus poderes e seu alcance cresceram com o passar do tempo726”.
Confirmando a tese de que a Mesa de Inspeção era uma instituição instalada na
Colônia com funções administrativas e econômicas que obedecia diretamente às
diretrizes da metrópole para aperfeiçoar a exploração colonial de forma mais refinada,
esta cumpriu com as suas funções administrativas de regular e organizar a produção, o
comércio e a navegação, atendendo a todas as determinações da Coroa, incentivou e
promoveu ações que originaram o desenvolvimento da Colônia.
Porém, no final do século XVIII e início do XIX, com o advento do pensamento
liberal, ganharam volume as críticas às medidas mercantilistas e à política colonial –
“ideias mais favoráveis à liberdade de comércio quando não abertamente defensoras do
liberalismo simithiano727” que embasariam as críticas ao funcionamento da Mesa de
Inspeção.
725
Stuart B. Schwartz. Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. 1550-1835. São
Paulo: Companhia das Letras, 1988. P. 337- 341.
726
Ibidem, p. 341-342.
727
Nuno Monteiro. op. cit. p. 142.
192
728
Manuel Joaquim Rebelo (M.J.R). Economia Política, 1795. Lisboa: Banco de Portugal, 1993.
(Coleção de Obras Clássicas do Pensamento Econômico Português). P. 49-50.
729
Grifo do autor. Domingos Vandelli. Aritmética Política, Econômica e Finanças, 1770-1804. Lisboa:
Banco de Portugal, 1993. (Coleção de Obras Clássicas do Pensamento Econômico Português).
730
[RECLAMAÇÕES e Abaixo Assinados da vila de Cachoeira e da freguesia de São Gonçalo dos
Campos contra a Mesa de Inspeção proibir a criação do gado vacum e cavalar à 30 léguas distante da
beira mar]. Fevereiro de 1822. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: fundo: Negócios do Ultramar,
Maço 500, caixa 623.
731
Ibidem.
193
tabacos e todas as mais plantações que se cultivam nelas”. Além disso, os ditos animais
eram necessários no processo de produção como tração nos engenhos e no transporte –
o que dificultaria a chegada da produção aos trapiches próximos ao porto na data
prevista para a partida da frota. Outro problema era o prejuízo causado aos criadores
destes animais, que foram obrigados a vendê-los por menos do preço justo porque não
possuíam terras a 30 léguas distantes do mar e pediam, por fim, à Coroa a “ab-rogação
das Ordens da correção e da Mesa de Inspeção por serem contra a bem entendida
economia rural, que deve ser promovida e não definhada, principalmente no Brasil onde
apenas é conhecida732”.
Dessa forma, ao definirmos 1808 como marco final dessa pesquisa, atentamo-
nos para as mudanças políticas e econômicas que estavam ocorrendo no interior do
Império Português e ao Antigo Sistema Colonial733.
Com a abertura dos portos, houve o fim do exclusivo metropolitano, mas não das
características do Antigo Sistema Colonial. Entre 1808 a 1822, ocorreu um período de
transição contraditório entre liberdade comercial e subordinação política. A Mesa
representava essa continuação da administração colonial pelo qual se “preservava uma
legislação pesadíssima que não correspondia mais às novas condições do comércio734”.
As Mesas não foram extintas e permaneceram com as mesmas atribuições. Além disso,
foram criadas novas Mesas pelo alvará de 15 de julho de 1809 e estabeleceram-se taxas
sobre o comércio. Foram denominadas Mesas das Rendas e Contribuições das
Províncias da Junta Real do Comércio e estabelecidas em Porto Alegre, Desterro,
Santos, João Pessoa, Natal, Fortaleza e Belém735.
Embora para os agricultores e comerciantes a Mesa de Inspeção representasse
uma instituição que os prejudicava mais que beneficiava, o contrário não acontecia para
a Coroa. Podemos perceber o sucesso da Mesa para o governo português por meio do
projeto português das Cortes de impulsionar a economia de Portugal com a “Comissão
para o melhoramento do comércio da cidade de Lisboa”. A “recolonização” do Brasil
pelas Cortes tinha o objetivo de reavivar a Mesa de Inspeção como a instituição que
cuidaria dos interesses da qualificação e produção dos produtos como tabaco, açúcar e
algodão, e tinham sugestões de racionalizar o comércio com a “supressão das guias de
732
Ibidem.
733
Cf. Fernando Antônio Novais. 1995. op. cit. e José Roberto do Amaral Lapa. O Antigo Sistema
Colonial. Editora Brasiliense, São Paulo, 1982.
734
Jean Baptiste Nardi. O Fumo Brasileiro no Período Colonial: Lavoura, Comércio e Administração.
São Paulo: Brasiliense, 1996. P.186.
735
Ibidem, p.187.
194
O plano dos portugueses era que a Mesa de Inspeção atuasse de acordo com os
interesses de Portugal, revelando a importância que a esta teve para a exploração dos
produtos coloniais.
Contudo, diante da nova conjuntura do início do século XIX e do quadro de
mudanças, a Mesa de Inspeção passou por alterações em sua estrutura, principalmente
em 1808 com a abertura dos portos, que estabelecia uma comercialização com outras
nações. Além disso, entre 1808 e 1827, o custo da Mesa de Inspeção dobrou e as
eleições não seguiam o procedimento legal. A ampliação das queixas, juntamente com a
má qualidade do tabaco e problemas com a execução dos exames, e o aumento de
atribuições – como a arrecadação de impostos – proporcionaram a decadência da
instituição. Por fim, diante dessas circunstâncias, “a Mesa tornou-se um órgão inútil e
736
Antônio Penalves Rocha. A recolonização do Brasil pelas Cortes: histórias de uma invenção
historiográfica. São Paulo: Ed. UNESP, 2009. p.70.
737
ARTIGOS da Comissão para o melhoramento do comércio da cidade de Lisboa In.: Antônio Penalves
Rocha. Op. Cit. p.127.
738
Ibidem, p.128.
739
Ibidem, p.130.
740
Ibidem, p.130.
195
dispendioso741”, sendo extinta pela lei de 05 de novembro de 1827. Com o fim da Mesa
de Inspeção, as suas jurisdições foram transferidas para órgãos locais – como tribunais
de justiça –, arrecadação dos impostos, ao Conselho da Fazenda, e os funcionários
foram mantidos e direcionados para outros órgãos administrativos da Bahia742.
741
Jean Baptiste Nardi. op. cit., p. 201-102.
742
Ibidem, p. 188.
196
Considerações finais
Referências:
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“Carta regia determinando a forma de se efetuar o carregamento dos navios para a Costa
da Mina”. Lisboa, 01 de dezembro de 1752. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia,
caixa 09, documentos 1473-1482.
“Carta dos Deputados da Mesa de Inspeção da cidade da Bahia ao rei [D. José] a
informarem do embaraço que tiveram para dar cumprimento ao regimento da Inspeção”.
Bahia, 30 de maio de 1753. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa115,
documento 8992.
“Carta régia pela qual se fez mercê ao bacharel João Ferreira Bitencourt e Sá do cargo
de Juiz de Fora do Civil da cidade da Bahia”. Lisboa, 18 de fevereiro de 1755. Arquivo
Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 134, documentos 26594 – 26597.
“Carta régia pela qual se fez mercê a João Ferreira Betencourt e Sá de o nomear
Intendente e primeiro ministro da Mesa de Inspeção da Bahia”, Lisboa, 28 de janeiro de
1764. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 134, documentos 26594 – 26597.
201
“Exposição em que fez Wenceslau Pereira da Silva na Mesa de Inspeção sobre os meios
que se deviam considerar para a pronta expedição da frota”. Bahia 15 de fevereiro de
1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 07, documentos 1040-1055.
“Oficio do Vice-rei conde de Atouguia para Diogo de Mendonça Corte Real referindo
se a cultura do arroz, do linho, do açúcar e do tabaco”. Bahia, 30 de junho de 1751.
Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 02, documento 115-123.
“Oficio do Vice-rei conde de Atouguia para Diogo de Mendonça Corte Real acerca do
comércio com a Costa da Mina”. Bahia 30 de junho de 1751. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 02, documentos 124-125.
“Ofícios do Vice Rei conde de Atouguia sobre o Novo Regimento do Tabaco e a saída
das frotas”. 28 de fevereiro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia: caixa 06,
Doc. 931-936.
“Ofício do Vice Rei conde de Atouguia acerca das eleições dos Inspetores da
Intendência dos açúcares e dos Tabacos (Mesa de Inspeção)”. Bahia, 28 de fevereiro de
1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 06, documentos 937-942.
“Oficio do Intendente Geral Wenceslau Pereira da Silva para Diogo de Mendonça Corte
Real, informando acerca de um requerimento dos oficiais da Mesa de Inspeção alegando
excesso de trabalho e pedindo melhoria nos vencimentos”, Bahia, 30 de março de 1754.
Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 07, documentos1080-1103.
“Oficio do intendente geral Wenceslau Pereira da Silva para Diogo de Mendonça Corte
Real informando sobre o excesso de trabalho e sobre as marcas antigas e as modernas
da inspeção, 30 de março de 1754”. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 7,
documentos de 1080-1103.
“Oficio do Vice-Rei Conde de Atouguia para Diogo de Mendonça Corte Real acerca da
cultura do linho e plantação de amoreiras para a criação dos bichos da seda e dos
engenhos de descascar arroz”. Bahia, 25 de junho de 1754. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 07, documento 1174-1176.
“Oficio do Governo interino para Diogo de Mendonça Corte Real, informando acerca
das experiências que se tinham feito na cultura do linho e plantação de amoreiras”.
Bahia, 20 de junho de 1755. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 10,
documento 1636-1699.
204
“Ofício do governador interino para Diogo de Mendonça Corte Real no qual se refere a
falta de chuvas e carregamento da frota”. Bahia 5 de julho de 1755. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 10, documento 1786.
“Oficio do Vice-rei conde de Arcos para Sebastião José de Carvalho e Mello em que se
refere à cultura do tabaco e as experiências que se estavam realizando”. Bahia, 11 de
maio de 1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 16, documento 2810.
“Ofício do Vice-rei conde de Arcos para Sebastião José de Carvalho e Mello”. Bahia,
21 de agosto de 1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 16, documentos
2827-2834. Documentos foram duplicados e podem ser encontrados também na caixa
14, documentos 2555-2566.
“Oficio de Vice-rei conde de Arcos para Thomé Joaquim da Costa Corte real em que
informa de ter mandado dissolver a Mesa do Bem Comum ou do Comércio da Bahia,
narrando a História de sua criação”. Bahia, 24 de agosto de 1757. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 14, documentos 2573-2579. / Arquivo do Estado da Bahia.
Série Colonial e Provincial: Alvarás e Ordens Régias, v. 395, f. 123.
“Oficio do Vice-rei conde dos Arcos para Thomé Joaquim da Costa Corte real, acerca
da jurisdição da Mesa de Inspeção sobre os navios que faziam o comercio da Costa da
Mina e do recurso das suas resoluções”. Bahia, 28 de agosto de 1757. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 14, documentos 2607-2611.
“Ofício do Vice-rei conde dos Arcos para Thomé Joaquim da Costa Corte Real, em que
consulta se a jurisdição sobre os navios que faziam o comércio para os Portos da África
se estendia também aos navios que se dirigiam para outros Portos da América”. Bahia,
205
“Oficio do Vice Rei Conde dos Arcos para Thomé Joaquim da costa Corte Real, acerca
da jurisdição privativa da Mesa de Inspeção, sobre os navios do comercio da Costa da
Mina”. Bahia 03 de setembro de 1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 14,
documentos 2631-2639.
“Oficio do Vice Rei Conde dos Arcos para Thomé Joaquim da C. Corte Real,
informando acerca da arqueação dos navios que transportam escravos de Angola e
outros Portos da África para o estado do Brasil”. Bahia, 18 de janeiro de 1759. Arquivo
Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 21, documentos 3932-3950.
“Oficio dos Inspetores da Mesa de Inspeção José Lopes Ferreira e Francisco Xavier de
Almeida para Thomé Joaquim da C. Corte Real, relatando as divergências que havia
entre os membros da Mesa de Inspeção sobe a classificação dos açúcares”. Bahia, 27 de
maio de 1759. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 22, documentos 4147-4149.
“Oficio dos Inspetores da Mesa de Inspeção da Bahia, Antonio da Rocha Pitta, João
Bernardo Gonzaga e José Alvaro Pereira Sodré para Thomé Joaquim da C. Corte Real,
relatando as divergências que havia entre os membros da Mesa de Inspeção sobe a
classificação dos açúcares”. Bahia, 27 de maio de 1759. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia, caixa 22, documentos 4151-4166 e caixa 23, documentos 4194-4197.
“Oficio da Mesa de Inspeção para Martinho de Mello e Castro, em que lhe dá parte das
avarias que um grande temporal causara ao Navio Netuno, Santo Antônio e Almas”.
Bahia, 01 de agosto de 1777. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 51,
documento 9498-9505.
“Ofício do Ouvidor Geral das Alagoas, Francisco Nunes da Costa sobre o contrabando e
apreensões de açúcar” em 26 de abril de 1779. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia,
Caixa 54, documento 10329.
“Parecer do Juiz de Fora Luiz Coelho Ferreira acerca das representações dos Senhores
de Engenhos, Lavradores de Tabacos e comerciantes acerca dos impostos lançados aos
gêneros produzidos no Brasil, dos fretes dos navios e do monopólio de escravos na
Costa da Mina”. Bahia, 03 de maio de 1753. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia,
caixa 04, documento 563.
fevereiro de 1764. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 134, documentos 26594
– 26597.
“Requerimento do capitão José de Sousa Reis ao rei D. José solicitando provisão para
ser conservado na posse do número de navegação da Costa da Mina”. Bahia, 31 de
outubro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 121, documento 9457.
208
“Requerimento de João Ferreira Bitencourt e Sá, no qual pede justificação dos serviços
do seu pai o Desembargador João Ferreira Bitencourt e Sá”. Bahia, 15 de agosto de
1804. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 134, documento 26594.
“Ata da Mesa de Inspeção sobre o método para exame, peso e embarque dos produtos
para exportação”. 23 de dezembro de 1792. Arquivo Nacional da Torre do Tombo:
Junta do Comércio: Maço 10 caixa 38.
“Ata da Mesa de Inspeção acerca das inspeções de açúcar nos trapiches para combater
as fraudes”. Bahia, 16 de janeiro de 1793. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo
Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
“Carta de Francisco Borges dos Santos à Mesa de Inspeção sobre créditos e falidos”, 01
de agosto de 1761. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10,
caixa 38.
“Carta para Francisco Borges dos Santos sobre as dívidas de Fabrício Velho
Oldemberg”, 28 de fevereiro de 1764. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio: Livro 329.
“Carta da Junta do Comércio para a Mesa de Inspeção da Bahia sobre o plano de fabrica
e cultivo de linho”. Lisboa, 28 de fevereiro de 1764. Arquivo Nacional da Torre do
Tombo: Fundo Junta do Comércio, livro 329.
“Carta de José de Sá Bitencourt para José da Silva Lisboa”. Borda da Mata, Bahia, 16
de outubro de 1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: junta do Comércio: Maço
10, caixa 37.
“Cópia das folhas 230 do livro 1º dos Acordos da Mesa de Inspeção da Bahia”, 07 de
julho de 1802. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10,
caixa 37.
“Determinação da Real Junta do Comércio para que os navios mercantes não possam
sair dos portos Portugueses para o do Brasil sem ser debaixo de comboios”, 15 de maio
1797. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
“Edital de 07 de dezembro de 1796 que determinava os fretes dos navios livres a avença
das partes durante a presente guerra”. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio: Maço 10, caixa 36.
“Execução das dívidas dos falidos pela Mesa de Inspeção”, 16 de abril de 1761.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 01. Caixa 02.
“Livro 1º dos acordos da Mesa, Af 284 do livro 1º dos acordos da Mesa”. 10 e maio de
1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
“Ordem do rei para a Mesa de Inspeção da Bahia tentar evitar a fraude e melhor
execução dos exames, para isso aumentou mais dois funcionários da mesa, eleitos e
responsáveis pelo exame e responsáveis pelas fraudes” 30 de março de 1756. Arquivo
Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10 caixa 38.
“Relação dos oficiais e marinheiros e mais pessoas da equipagem dos navios (1760-
1770)”. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 01, caixas 01
- 04.
“Requerimento de José da Silva Ribeiro sobre a Mesa de Inspeção não cumprir com as
suas „obrigações‟ de qualificar adequadamente o açúcar”, 1805. Arquivo Nacional da
Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
“Resposta aos requerentes sobre a resolução do rei e explicando como fazer o exame do
açúcar”, 1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63,
caixa 206.
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Brasil no concurso dos tabacos da América Inglesa”. Biblioteca Nacional de Lisboa:
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230
ANEXOS:
743
“Novo Regimento da Alfandega do Tabaco” de 16 de janeiro de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino
– Bahia: Caixa 54, documento 10325
239
240
241
242
243
244
245
246
247
248
249
744
“Regimento das Casas de Inspeção” de 1º de abril de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia:
Caixa 54, documento 10326.
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Anexo III - Decreto de sua Majestade que baixou ao Conselho Ultramarino a favor
do Comércio e Fábrica do Açúcar e Tabaco de 27 de janeiro de 1751745.
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“Decreto de sua Majestade que baixou ao Conselho Ultramarino a favor do Comércio e Fábrica do
Açúcar e Tabaco” de 27 de janeiro de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 54,
documento 10328.
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Anexo IV: Marcas utilizadas nas guias de carregamento dos navios antes e depois
da Mesa de Inspeção746.
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“Ofício do Intendente Geral Wenceslau Pereira da Silva para Diogo de Mendonça Corte Real,
informando acerca de um requerimento dos oficiais da Casa da Arrecadação do Tabaco alegando excesso
de trabalho e pedindo melhoria de vencimento” com anexo sobre os mapas dos carregamentos dos navios
com a forma antiga e nova de preencher as guias de embarque. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia,
caixa 7, documento nº 1080-1103.
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