Idelma Novais - A Mesa de Inspeção Do Açúcar e Tabaco Da Bahia - 1751-1808

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 266

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA ECONÔMICA

A MESA DE INSPEÇÃO DO AÇÚCAR E TABACO


DA BAHIA, 1751-1808

Idelma Aparecida Ferreira Novais

VERSÃO CORRIGIDA

São Paulo
2016
2

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA ECONÔMICA

A MESA DE INSPEÇÃO DO AÇÚCAR E TABACO


DA BAHIA, 1751-1808

Idelma Aparecida Ferreira Novais

Tese apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em História Econômica da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo para a
obtenção do Título de Doutora em Ciências
(Área de concentração em História
Econômica).

Orientador: Prof. Dr. Rodrigo M. Ricupero

VERSÃO CORRIGIDA
São Paulo
2016
3

Á minha Família,
Meu Porto Seguro!
4

AGRADECIMENTOS

Ao termino de mais uma etapa na minha vida, fico feliz em poder agradecer as
pessoas pelas quais contribuíram em vários momentos e de diversas maneiras, mesmo
correndo o risco de cometer omissões, não poderia deixar de expressar o meu
reconhecimento pelas colaborações de todos, porém há pessoas que não podemos deixar
de mencionar.
Ao orientador, Rodrigo Ricupero, pelo direcionamento do tema que se revelou
um presente desafiador, porém, gratificante. Pela dedicação, acompanhamento, e por ter
encaminhado este trabalho de forma presente, porém atribuindo confiança, liberdade e
incentivo durante as pesquisas. Pude também contar com a sua amizade e compreensão
em vários momentos.
À Professora Eni de Mesquita Samara (in memória), por tem me acolhido como
orientanda no processo de seleção, mas que não pude conviver por mais tempo.
À Professora Dra. Leonor Freire Costa, que prontamente aceitou me orientar em
Portugal, supervisionando as pesquisas e contribuindo com críticas e sugestões
importantes ao trabalho.
Aos professores da banca de qualificação, Pablo Oller Mont Serrath e Daniel
Strum, pelas críticas, e sugestões e por contribuírem com o andamento da pesquisa e
escrita.
Aos meus colegas do grupo de estudos “Antigo Sistema Colonial: estrutura e
dinâmica”, Ronaldo Capel e Beatriz Bastos, Valter Lenine, Fernandes, Thiago Alves Dias,
Leonardo Saad, Dannylo Azevedo, Mário Francisco Simões, Leandro Napoleão, Carol Bueno,
Oziane Mota, especial a Rafael Silva Coelho pela colaboração, pelos momentos de
alegria, debates, aprendizado e pela companhia das constantes.
Á Cátedra Jaime Cortesão por proporcionar um ambiente de pesquisa e estudo e
também pelo apoio da Professora Dra. Vera Lucia Ferlini e aos colaboradores Patrícia
Machado, Bruno Vilagra, Natália Tammone, Luís Otavio Tasso e Tathianni Cristini da
Silva pelo apoio e gentileza em que me receberam.
Aos professores e amigos Maria José Rapassi Mascarenhas, Roque Felipe de
Oliveira Filho, Avanete Pereira Souza, Grayce Bonfim Souza, Belarmino Bomfim
Souza, Caio Adan, Erivaldo Fagundes Neves, Maria Lina Brandão de Aras, Renata
Ferreira de Oliveira, Fernando Ribeiro, Nauk de Jesus, Juciene Ricarte Cardoso, Paulo
de Jesus, Marta Lícia de Jesus, Jacson Tavares de Oliveira Caio Boschi, Leonardo
5

Rolim, Maria Manso, Elaine Cristina Seabra pelos conselhos, apoio, companhia nos
arquivos, congressos e viagens, e também pela amizade e sugestões.
Á Ana Esteves, Fernanda Esteves, e Antônio Tavares pela amizade e carinho com
que me receberam em Portugal.
Á Família Ribeiro Alves por me acolher em São Paulo, me oferecendo apoio,
carinho e conforto em vários momentos.
Aos funcionários das bibliotecas e arquivos pelas quais passei e que foram
extremamente prestativos no decorrer das pesquisas.
A Jornando Pereira pelo auxilio com a informática e Jeorge Almeida por cuidar
das passagens de idas e vindas constantes, pelo atendimento e competência, facilitando
a minha vida em muitos momentos. À Valdir Carvalho Ribeiro por me auxiliar na
pesquisa.
Á Prefeitura Municipal de Barra do Choça, Secretaria de Educação de Barra do
Choça, pelo apoio material e humano cedido durante a realização desse trabalho. Á
Ricardo Amorim, Vera Belinato, e as professoras Robéria Lúcia Silva Proado de
oliveira e Claudia Gomes Santos que direta ou indiretamente colaboraram e foram
prestativos.
À CNPq por tem financiado os quatro anos de pesquisa e a CAPES por ter
financiado o doutorado sanduíche em Portugal, o que foi fundamental para a realização
das pesquisas e participação nos congressos.
Finalmente a minha família, pais, irmãos, sobrinhos, tios, primos e cunhados por
acreditarem em mim, pelo carinho, apoio e ensinamentos. Meu porto seguro! Sem
vocês os meus projetos não seriam possíveis.
6

RESUMO:

A Mesa de Inspeção do Açúcar e do Tabaco da Bahia, 1751-1808

Esta tese tem como objetivo analisar a Mesa de Inspeção do Açúcar e Tabaco da Bahia
entre os anos de 1751, ano de sua criação, até 1808, quando ocorreu a abertura dos
portos Brasil ao comércio internacional e, portanto, o fim do exclusivo colonial e de
mudanças estruturais da comercialização dos produtos coloniais. Foram instaladas em
algumas capitanias como Pernambuco, Maranhão, Rio de Janeiro e Bahia. Era um órgão
administrativo e centralizador, que constituiu um importante instrumento da política
mercantilista da Coroa. Esta instituição tinha o objetivo de assegurar o rendimento e
controle as atividades produtivas e comerciais da colônia, visando garantir a
manutenção do exclusivo colonial. Dentre as suas diferentes atribuições, podemos
destacar a preocupação e empenho da Mesa de Inspeção da Bahia na melhoria da
qualidade dos produtos, principalmente o açúcar, tabaco e algodão, como também sua
atuação para auxiliar os senhores de engenho e lavradores com as novas técnicas de
cultivo, produção do açúcar, armazenamento e comercialização. A Mesa também era
responsável pelo desenvolvimento de projetos destinados às experiências agrícolas,
como o cultivo de produtos oriundos da África e Ásia, a exemplo da pimenta e o cultivo
de amoreiras para criação do bicho da seda e de outros gêneros como o arroz, o linho e
café. Além disso, era encarregada pela Coroa de combater o descaminho e contrabando
que eram intensamente praticados na Capitania da Bahia. O tema se insere no quadro
das políticas adotadas pelo Marques de Pombal, orientadas para a revitalização do
comércio português na segunda metade do século XVIII, tendo como resultado uma
série de medidas conhecidas como Reformas Pombalinas. Durante sua atuação, a Mesa
protagonizou conflitos entre produtores, comerciantes e funcionários da coroa de outros
órgãos da administração colonial, que procuravam defender seus próprios interesses e
agiam, na maioria das vezes, de forma resistente e, até mesmo, contrária a Mesa de
Inspeção.

Palavras Chave: Agricultura; Inspeção; Transporte; Administração; Comércio.


7

ABSTRACT:

The Mesa de Inspeção do Açúcar e do Tabaco da Bahia, 1751-1808

This thesis aims to analyze the Mesa de Inspeção do Açúcar e Tabaco da Bahia between
the years of 1751, year of its creation until 1808, when there was the opening of Brazil
ports to international trade and therefore, the end of colonial exclusive, structural
changes in the marketing of regional products. They were installed in some captaincies
as Pernambuco, Maranhão, Rio de Janeiro and Bahia. It was an administrative and an
institution that centralized negotiations, which was an important instrument of the
mercantilist policy of the Crown. This institution was intended to ensure the
performance and control the productive and commercial activities of the colony in order
to ensure the maintenance of colonial unique. Among its various responsibilities, we
can highlight the concern and commitment of the Mesa de Inspeção da Bahia in
improving the quality of products, especially sugar, tobacco and cotton, as well as its
activities to help the planters and farmers with new techniques farming, sugar
production, storage and marketing. The Mesa was also responsible for developing
projects for agricultural experiences, such as the cultivation of products derived from
Africa and Asia, such as the pepper and mulberry cultivation for creation of silkworm
and other genres such as rice, flax and coffee. In addition, it was charged by the Crown
to combat smuggling and contraband that were intensely practiced in Bahia Captaincy.
The theme fits into the framework of the policies adopted by the Marques de Pombal,
aimed at revitalizing the Portuguese trade in the second half of the eighteenth century,
resulting in a series of measures known as Reformas Pombalinas. During its tenure, the
Mesa starred conflicts between producers, traders and employees of Crown other organs
of the colonial administration, who sought to defend their own interests and acted, in
most cases, the resistant form and even contrary to Mesa de Inspeção.

Keywords: Agriculture; Inspection; Transport; Administration; Trade.


8

Lista de Tabelas

Tabela I: Marcas da Qualificação do Açúcar 77


Tabela II: Marcas da Qualificação do Tabaco 77
9

SUMÁRIO

A MESA DE INSPEÇÃO DO AÇÚCAR E TABACO DA BAHIA, 1751-1808

Introdução:.....................................................................................................................11

Capitulo I
1. A Criação da Mesa de Inspeção...............................................................................25
1.1- Antecedentes da Mesa de Inspeção..........................................................................25
1.2- Instalação e composição da Mesa de Inspeção........................................................38

Capitulo II
2. A Agricultura.............................................................................................................47
2.1- Problemas e visão de decadência.............................................................................47
2.2- Experiências agrícolas..............................................................................................52

Capitulo III
3. Transporte e Inspeção...............................................................................................72
3.1- O transporte e armazenamento.................................................................................72
3.2- Inspeção....................................................................................................................75
3.3-Navegação.................................................................................................................89

Capitulo IV
4. O Comércio e Contrabando......................................................................................99
4.1- Regulamentação do Comércio pela Mesa de Inspeção............................................99
4.2- A Junta do Comércio de Lisboa e sua atuação em conjunto com a Mesa de Inspeção
da Bahia.........................................................................................................................104
4.3- A Mesa de Inspeção entre o Comércio Exclusivo e o Ilícito.................................112

Capítulo V
5. Comércio de escravos e marfim pela Mesa de Inspeção da Bahia......................126
5.1- a questão da mão-de-obra escrava..........................................................................126
5.2- Regulamentação e estrutura do tráfico de escravos pela Mesa de Inspeção..........134
10

5.3- A prestação de contas da Mesa de Inspeção do comércio de escravos e marfim ao


Erário Régio...................................................................................................................142

Capítulo VI
6. Conflitos de Jurisdição............................................................................................152
6.1- Resistencia á Instalação da Mesa de Inspeção na Bahia........................................152
6.2- Mesa de Inspeção e os conflitos com as demais instituições coloniais da Bahia...163
6.3- Conflitos internos da Mesa de Inspeção.................................................................172

Capítulo VI
7- Ápice: A Mesa como Projeto Português................................................................177
7.1- A Mesa de Inspeção inserida no projeto pombalino..............................................177
7.2- A Administração da Mesa de Inspeção na Bahia...................................................187
7.3- Resultados e decadência da Mesa de Inspeção......................................................191

Considerações finais....................................................................................................196

Referências:..................................................................................................................198
Fontes manuscritas........................................................................................................198
Fontes impressas............................................................................................................218
Livros, artigos, teses e dissertações...............................................................................222

Anexos:.........................................................................................................................238
Anexo I: Novo Regimento da Alfândega do Tabaco....................................................238
Anexo II: Regimento das Casas de Inspeção.................................................................249
Anexo III: Decreto de sua Majestade que baixou ao Conselho Ultramarino a favor do
Comércio e Fábrica do Açúcar e Tabaco.......................................................................259
Anexo IV: Marcas antigas e modernas da Inspeção......................................................263
11

INTRODUÇÃO

Nesse estudo, analisaremos a Mesa de Inspeção do Tabaco e Açúcar da Bahia


como uma das políticas adotadas pelo Marquês de Pombal, orientadas para a
revitalização do comércio português na segunda metade do século XVIII, que tiveram
como resultado uma série de medidas conhecidas como Reformas Pombalinas. Dessas
reformas, merece destaque a referida Mesa de Inspeção1, criada em algumas capitanias
como Pernambuco, Maranhão, Rio de Janeiro e Bahia. Era um órgão administrativo e
centralizador que constituiu um importante instrumento da política mercantilista da
Coroa para um maior controle sobre a produção e o comércio dos gêneros produzidos
nas Colônias como a açúcar e o tabaco e, portanto, de manutenção do exclusivo
colonial.
Tendo como objetivo principal analisar a importância e o papel da Mesa de
Inspeção do Açúcar e Tabaco da Bahia no período de 1751 a 1808 para a Coroa
Portuguesa, bem como as consequências da instalação desse órgão para a Colônia,
fomos aos principais arquivos do Brasil e Portugal para obter respostas para esta tese.
Analisamos a instalação, a composição e o funcionamento da Mesa no período
supracitado. Era um instrumento importante da política mercantilista do governo
português, que visava a um maior rendimento e controle sobre as atividades produtivas
e comerciais da Colônia, instalada a partir de 1751.
A escolha da Capitania da Bahia ocorreu por três motivos: primeiro porque a
Bahia era uma das capitanias mais desenvolvidas do período e a maior produtora de
açúcar e tabaco da Colônia; também era a que oferecia um melhor acervo documental
sobre a questão e por estar mais acessível à pesquisa. Ainda em relação ao recorte
espacial da Capitania da Bahia, é importante destacar que, mesmo com a mudança da
sede do vice-reino para a cidade do Rio de Janeiro em 1763, a Bahia disputava com a
Capitania do Rio de Janeiro, a questão era: qual das duas tinha o maior rendimento no
Estado do Brasil. Consoante Guimarães, no final do século XVIII, a diferença entre
ambas era pequena2.
Ao definirmos o período de investigação de 1751-1808, atentamo-nos para as
mudanças políticas e econômicas que estavam ocorrendo no interior do Império

1
Em parte da documentação, inclusive o seu regimento, alguns autores costumam usar o termo Casa de
Inspeção. Mas optamos por usar o termo Mesa, por ser mais frequente.
2
Carlos Gabriel Guimarães. O Rendimento da Capitania do Ouro. Revista do Arquivo Público Mineiro.
v.XLV, pp. 118-129, 2009. P. 118-129.
12

Português, atreladas ao Antigo Sistema Colonial3. Como resultado dessa política, um


maior controle sobre o comércio se fez necessário, e, no caso da Bahia, ocorreu com a
instalação da Mesa de Inspeção do Açúcar e Tabaco em 1751. Entre as principais
funções dessa Mesa, estavam o controle da qualidade do açúcar e do tabaco exportado
pela Capitania, a fiscalização dos seus preços e o combate ao contrabando. Além disso,
cabia à Mesa o exercício de uma série de atividades rotineiras, como verificar a carga
dos navios que saiam e entravam em Salvador, distribuir o carregamento dos navios que
chegavam à Bahia entre os negociantes da praça e fornecer passaportes para todos
aqueles que deixavam a capitania4.
A data limite deste projeto, 1808, é devido à abertura dos portos “às nações
amigas” e, portanto, o fim do monopólio comercial português no Brasil, o que provocou
mudanças nas atividades comerciais. Isso interferiu diretamente nas regras de circulação
de mercadorias e, consequentemente, no comércio do açúcar e tabaco e, portanto, na
administração fiscalização e contrabando. Outro aspecto importante eram as mudanças
ideológicas com o advento das ideias liberais, que questionavam as práticas
mercantilistas, nas quais a Mesa estava embasada.
Contudo, percebemos que, embora não haja um estudo sistemático sobre a Mesa
de Inspeção no Brasil, vários autores a citam como parte de um comentário geral sobre a
estrutura administrativa da segunda metade do século XVIII, ou então fazendo uma
análise mais secundária relacionada ao tema central, como é o caso do estudo de Teresa
Cristina Kirschner, com a sua análise sobre José da Silva Lisboa. Há também uma
descrição do regimento da Mesa de Inspeção, priorizando em sua explicação as funções
dos inspetores e escrivães das capitanias onde o órgão tinha sido instalado. Em tal
trabalho, informa-se apenas a sua estrutura e principais atribuições, porém não se faz
uma análise aprofundada como no caso de Graça Salgado5. Assim, constatamos a
importância de se executar uma análise mais sistemática sobre a Mesa de Inspeção na
Bahia, a sua composição, atuação e atribuições, bem como a sua relação com outros
setores administrativos existentes na Bahia colonial e verificar se este órgão criado para

3
Cf. Fernando Antônio Novais. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808). 3ª
Ed. São Paulo: HUCITEC, 1995. E José Roberto do Amaral Lapa. O Antigo Sistema Colonial. Editora
Brasiliense, São Paulo, 1982.
4
Colecção de Leis, Regimento da Mesa da Inspeção, maço 4, nº 125, decreto de 29/01/1751. Arquivo
Nacional da Torre do Tombo.
5
Graça Salgado. Fiscais e Meirinhos: a administração no Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1985. p. 369-373.
13

cuidar da qualidade da produção e da agricultura em geral, além da navegação e do


comércio colonial cumpriu com o seu papel entre 1751 a 1808.
Dois artigos mais específicos sobre a Mesa de Inspeção de Pernambuco e da
Bahia foram importantes para darmos os passos iniciais na procura da documentação e
da visão preliminar sobre o objeto de estudo. George Félix Cabral de Souza, ao fazer
uma análise sobre a política pombalina e as estratégias do poder local em Recife, afirma
que a Mesa de Inspeção de Pernambuco foi instalada em 1752 e dedicou-se
essencialmente ao açúcar, uma vez que o tabaco não era um produto cultivado na
Capitania6. Afirma ainda que a Mesa de Inspeção sofreu vários protestos no início, mas
houve um “movimento de acomodação e de controle da mesma” por parte dos
agricultores, ocorrendo, inclusive, uma disputa entre a Câmara de Olinda e a de Recife
pela indicação do cargo de Juiz Inspetor que era atribuída à Câmara de Recife. Nesse
contexto, “após um período inicial de rejeição, a elite local acabou aceitando e,
posteriormente, se apropriando da Mesa de Inspeção”. A Câmara passou a utilizá-la
“como uma máscara que permitia exercer oposição à política metropolitana sem os
riscos de uma exposição direta7”.
Tereza Cristina Kirschner8 apresenta um capítulo sobre a Mesa de Inspeção da
Agricultura e Comércio da Bahia em sua obra sobre José da Silva Lisboa, o Visconde
de Cairu, e retrata a sua passagem como deputado e secretário da Mesa de Inspeção da
Bahia entre 1798 a 1808. Segundo a autora, o cargo de secretário e deputado foi criado
por D. Rodrigo de Souza Coutinho para tentar amenizar a tensão existente no meio
mercantil baiano e melhorar a organização das atividades da instituição, com o empenho
em “reforçar a fiscalização do comércio exportador e em incentivar a utilização de
técnicas agrícolas mais modernas na Capitania9”. Além disso, a atuação de José da Silva
Lisboa como secretário da Mesa ocorreu de forma ativa e com sugestões, inclusive, de

6
George Félix Cabral de Souza. O Rosto e a Máscara: estratégias de oposição da Câmara do recife à
política pombalina. In: Congresso Internacional Espaço Atlântico de Antigo Regime: poderes e
sociedades, 2008, Lisboa. Actas do Congresso Internacional Espaço Atlântico de Antigo Regime: poderes
e sociedades, 2005. p. 1-19. http://cvc.instituto-
camoes.pt/eaar/coloquio/comunicacoes/george_cabral_souza.pdf
7
Ibidem.
8
Tereza Cristina Kirschner. A administração portuguesa no espaço atlântico: a Mesa da Inspeção da
Bahia (1751-1808). In: Biblioteca Digital Camões. Disponível em:
<http://www.institutocamoes.pt/cvc/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=76&Itemid=6
9>. Acesso em: 13 jun. 2008. (Actas do Congresso Internacional Espaço Atlântico de Antigo Regime:
poderes e sociedades.)
9
Idem. José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu: itinerários de um ilustrado luso Brasileiro. São Paulo:
Alameda; Belo Horizonte, MG: PUC-Minas, 2009. P. 109-110.
14

uma reforma administrativa do órgão e da compra de dois trapiches como soluções para
acabar com a desorganização e os abusos no comércio da Bahia10.
No entanto, o trabalho de Jean Baptiste Nardi, ao fazer uma análise do fumo no
período colonial, destina um de seus capítulos à Mesa de Inspeção da Bahia – que
estava sempre relacionada diretamente à lavoura, comércio e administração do tabaco –
e faz uma trajetória do órgão institucional desde a sua criação como fruto da legislação
do tabaco, até os anos finais. Para Nardi, as Mesas foram dotadas de atribuições
diversas, recebendo tarefas bem definidas, como cuidar da boa qualidade dos produtos,
sendo também um órgão fiscalizador funcionando ainda como uma alfândega,
incumbida das expedições11. Segundo o autor, ao longo do tempo, a Mesa de Inspeção
foi recebendo competências particulares e, portanto, era como uma “Mesa dos Negócios
Marítimos culminada com as funções agrícolas, comerciais e alfandegárias relativas ao
tabaco e ao fumo12”. Jean Baptiste Nardi afirma ainda que a Mesa foi criada e se
configurava como um órgão administrativo centralizador e mais poderoso que os já
existentes, “era um tribunal supremo em matéria de açúcar e fumo”. Dessa forma, “com
essas reformas, o Marquês de Pombal corrigia certas deficiências da administração do
fumo que, dessa maneira, apresentava em meados do século XVIII, sua forma mais
aperfeiçoada”, pois tinha sua lógica e “formava um sistema próprio com uma estrutura
bem definida13”.
José Roberto do Amaral Lapa, outro estudioso do tema do tabaco e da economia
colonial, aborda a Mesa de Inspeção da Bahia como um órgão que procedia ao exame e
seleção do tabaco, principalmente ao referente às embarcações destinadas à Índia, uma
vez que o “tabaco produzido na Bahia encontrou no Oriente um mercado consumidor
certo, principalmente no século XVIII”. Porém as autoridades proibiram que fossem
feitas remessas de tabaco velho e seco, recomendando o envio sempre de folhas novas e
que garantisse a qualidade do gênero14.
A Mesa de Inspeção era uma instituição inserida no projeto pombalino que tinha
objetivos específicos de revitalizar a produção e tentar reanimar a economia portuguesa.
Segundo Ronald Raminelli, o governo pombalino pretendeu reformular a economia

10
Ibidem, p. 113.
11
Jean Baptiste Nardi. O Fumo Brasileiro no Período Colonial: Lavoura, Comércio e Administração.
São Paulo: Brasiliense, 1996, p. 132-133.
12
Ibidem, p. 135.
13
Ibidem, 22-23.
14
José Roberto do Amaral Lapa. A Bahia e a Carreira da Índia. São Paulo: Brasiliana, 1968. p. 286 –
287 e 291-192.
15

colonial promovendo o desenvolvimento das manufaturas, agricultura, comércio e a


interligação Metrópole e colônias, e, “para melhorar a competitividade, criaram-se as
mesas de inspeção que zelavam pelo comércio e qualidade do açúcar e tabaco. Era
também intenção diversificar as lavouras e introduzir os cultivos de anil, cochonilha,
linho, arroz, café e algodão15”.
Segundo Fernando Antônio Novais, as companhias pombalinas foram fundadas
para recuperar o atraso econômico português e dinamizar o comércio colonial lusitano
e, nesse contexto, aponta a Mesa de Inspeção como sendo uma ferramenta importante
para dinamizar a cultura do tabaco e disciplinar o intercâmbio para recuperar o
comércio lusitano do tráfico de escravos para a Colônia16.
A estrutura e funcionalidade da Mesa de Inspeção ao longo do século XVIII foi
se adaptando à política pombalina e contribuindo para o desenvolvimento do sistema
colonial. Pombal, em vários momentos, dirigia-se diretamente à Mesa de Inspeção da
Bahia para estipular funções, orientar atividades e receber informações.
A Mesa foi um projeto que estava configurado na política pombalina relativa à
Colônia, implementada como resposta aos problemas efetivos para a manutenção da
exploração no Brasil, que surgiam e se manifestavam no plano da prática. Dessa forma,
constatamos que tal órgão se atava ao conjunto do sistema produtivo e comercial e
promovia reajustamentos fundamentais para o desenvolvimento econômico da
Metrópole.
Sebastião José de Carvalho e Melo17, o Conde de Oeiras – mais conhecido como
Marquês de Pombal – nasceu em 13 de maio de 1699. Pertencia a uma família da
pequena nobreza. Durante um curto período de tempo, fez parte do exército e foi
membro da Academia Real de História. Iniciou-se na vida pública somente a partir de
1738, quando foi nomeado para desempenhar as funções de delegado de negócios em
Londres. No reinado de D. João V, Pombal tinha exercido a função de diplomata

15
Ronald Raminelli. Viagens Ultramarinas: monarcas, vassalos e governo a distância. São Paulo:
Alameda, 2008. P. 63-65.
16
Fernando Antônio Novais, op. cit., p. 195.
17
Devido às várias denominações e títulos atribuídos a Sebastião José de Carvalho e Melo, se faz
necessário, a nível de escrita, chama-lo apenas de Pombal. A vida e obra de Sebastião José de Carvalho
foram amplamente estudadas. Para maiores informações, ver: J. Lúcio de Azevedo. O Marquês de
Pombal e a Sua Época. Lisboa, Alfarrábio, 2009; Mário Domingues. O Marquês de Pombal: O Homem e
a Sua Época. Lisboa: Romano torres, 1963; Francisco José Calazans Falcon. A Época Pombalina:
política econômica e monarquia ilustrada. São Paulo: Ática, 1983. (Ensaios; 83). Kenneth Maxwell.
Marquês de Pombal: Paradoxo do Iluminismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996; João Paulo Pereira da
Silva. (coord.). Pombal e o Seu Tempo. Lisboa: Caleidoscópio, 2010. Joaquim Veríssimo Serrão. O
Marquês de Pombal: o homem, o diplomata e o Estadista. Lisboa: Câmara Municipais de Lisboa, Oeiras
e Pombal, 1982.
16

português em Londres (1738-1744) e em Viena (1745-1749). Na época, a governação


portuguesa emanava de três secretarias, a mais importante era a dos Negócios de Reino.
Depois, vinham a da Marinha e Ultramar e a dos Negócios Estrangeiros e da Guerra.
Com a ascensão de D. José I (1750), Sebastião José foi nomeado secretário dos
Negócios Estrangeiros e da Guerra. Após o terremoto de Lisboa de 1755, ascendeu à
secretaria dos Negócios do Reino e colocou gente de sua confiança nas demais. Desde
então, governou até a morte de D. José, em 1777. Sua importância e seu poder
expressam-se nos títulos recebidos: em 1759, ele tornou-se Conde de Oeiras e, em 1769,
Marquês de Pombal18.
Segundo Falcon, a análise de historiadores e pesquisadores acerca das obras e da
vida de Marquês de Pombal pode ser constituída de seis momentos bem próprios: no
primeiro, encontram-se os seus contemporâneos; no segundo, surgem os admiradores e
os críticos imediatos de suas obras; no terceiro, estão os liberais e o mito do liberalismo
pombalino; no quarto, encontram-se os conservadores e o “mito da tirania pombalina”;
no quinto e último, estão os estudos e as investigações apresentadas por pesquisadores e
historiadores durante a primeira metade do século XX e as análises mais recentes do pós
194519. Francisco José Calazans Falcon, ao analisar a “face brasileira” das reformas
pombalinas, aborda preliminarmente o diálogo com uma historiografia, de uma maneira
geral, apresentando algumas características como:

1 – o „inventário‟ descritivo-narrativo, mais ou menos pormenorizado nos


textos legais e regimentais produzidos em Lisboa, nos quais se
consubstanciam as reformas e serem aplicadas à Colônia; 2 – a interpretação
no sentido de tais práticas reformistas segundo o ponto de vista da retórica
das autoridades da Metrópole presente nos respectivos discursos; 3 – o
frequente desprezo pelas especificidades da Colônia, a „situação‟ colonial, a
pluralidade dos „espaços‟ e a diversidade dos „tempos‟; 4 – o silêncio, quase
total é insistente, a respeito da „recepção‟ das reformas no ambiente
colonial20.

Fernando Novais afirma que analisar o Marquês de Pombal é uma tarefa


complicada principalmente ao se situar em meio à “selva bibliográfica” produzida por
historiadores portugueses e brasileiros divididos entre pombalinos e antipombalinos.
Para Fernando Novais, Pombal não foi o único da Europa de seu tempo a ser déspota e

18
Sobre as secretarias e cargos assumidos por Pombal ver: José Subtil. O Terramoto Político (1755-
1759): memoria e poder. Lisboa: EDIUAL, 2006.
19
Francisco José Calazans Falcon. op. cit., p. 213.
20
Idem. Pombal e o Brasil. In.: José Tengarrinha(org.). História de Portugal. Bauru, SP: EDUSP, São
Paulo: UNESP; Portugal: Instituto Camões, 2001, p.227–228.
17

esclarecido, mas destacou-se pelo Consulado Pombalino e pela multiplicidade das


iniciativas, pela pertinácia na sua implementação e pelo estilo autoritário, sempre
atuando no meio adverso, pois a “fúria reformadora” que atravessou os 27 anos do
Consulado, durante o governo de D. José I “contrariava interesses, criava outros, [e]
provocava resistências que eram sufocadas no estilo da época21”.
Ao assumir o cargo de Secretário dos Negócios Estrangeiros e Guerra do rei D.
José I, em 2 de agosto de 1750, no lugar de Azevedo Coutinho, Pombal empreendeu
reformas em diversas áreas da sociedade portuguesa: políticas, administrativas,
econômicas, culturais e educacionais. Essas reformas exigiam um forte controle estatal
e eficiente funcionamento da máquina administrativa e foram empreendidas,
principalmente, contra a nobreza e a Companhia de Jesus, que representavam, para ele,
uma ameaça ao poder absoluto do rei.
Mas, a política pombalina “não nasceu pronta e acabada” desde que Pombal foi
nomeado Secretário de Estado, em dois de agosto de 1750, (seis meses antes da Mesa de
Inspeção, criada em janeiro de 1751). Os secretários anteriores – Pedro da Mota e Silva
no Reino e Diogo de Mendonça Corte Real nos Negócios da Marinha e Domínios
Ultramarinos – tiveram suas contribuições e tinham políticas e propósitos políticos que
não podem se confundir com o de Pombal. “Pombal só poderia e deveria ser
apresentado como responsável pelo conjunto do governo a partir de maio de 1756,
quando passou a Secretário de Estado do Reino”. A política pombalina não poderia
também ter sido tomada como homogênea, nem sequer coerente ao longo dos anos22.
De acordo com Kenneth Maxwell, Pombal exerceu amplos poderes, mas sua força
sempre dependeu do apoio do rei. E isso “era tanto a sua força quanto a sua fraqueza, já
que a posição que ocupava dependia inteiramente da sobrevivência do rei23”. Boxer
também afirma que D. José I nunca deixou de sancionar todas as ações do ministro até
as vésperas da morte, quando assinou uma declaração em que ordenava à sua filha que
libertasse todos os presos políticos e pagasse todas as dívidas contraídas pela Casa Real.
Depois da Morte de D. José I, o Marquês sofreu a perseguição dos inimigos que
exigiram que fosse julgado e executado, porém ficou provado que “todos os atos de

21
Fernando Antônio Novais. Aproximações: estudos de história e historiografia. São Paulo: Cosac Naify,
2005. p. 257-264.
22
Joaquim Romero de Magalhães. Labirintos Brasileiros. São Paulo: Alameda, 2011, p, 173-174.
23
Kenneth Maxwell. Marquês de Pombal: Paradoxo do Iluminismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. P.
159.
18

Pombal haviam sido formalmente aprovados e assinados pelo falecido rei24”. Assim, “as
mudanças profundas que afetaram Portugal e o ultramar não foram todas causadas por
Pombal, certamente, mas decorreram de uma complicada interação das transformações
sociais e econômicas da política internacional e das decisões diplomáticas25”.
Para concretizar este objetivo, Pombal incorporou as novas ideias divulgadas na
Europa pelos iluministas, mas ao mesmo tempo conservou aspectos do absolutismo e da
política mercantilista. Assim, orientava-se no sentido de recuperar a economia por
intermédio de uma concentração do poder real e de modernizar a cultura portuguesa. As
reformas lhe proporcionaram a inimizade das altas classes sociais, em especial da
nobreza, pois fomentou o crescimento dos mercadores com o intuito de dinamizar
economicamente o país e estimulou a mobilidade entre os estratos sociais. “Inaugurou-
se então um período de estabilidade e segurança para os homens de negócios que
conseguiram um prestígio que nunca haviam gozado26”.
Para Arthur Cézar Ferreira Reis, Pombal era um nacionalista e exercia uma
preocupação com a presença do Estado em todas as atividades quando solicitava a
participação do capital privado. Em nenhum momento houve a ausência do poder do
Estado, “inflexível, atento, por vezes torturante”. O controle estatal era o fundamento
maior de sua concepção em matéria de política econômica27. Nesse contexto, a
administração se baseava na política do mercantilismo que se propunha a reunir os
ganhos coloniais possíveis para o próprio país e aplicava a política econômica a serviço
do poder como um fim em si. Assim, Heckscher afirma que o mercantilismo aspirava a
por a vida econômica a serviço do interesse do poder do Estado, o que pode se
apresentar da seguinte forma: “El poder del Estado em el interior, frente a otros
organismos de carácter particular [...] y asegurar el poder Del Estado em el exterior,
frente a otros Estados”28.
Porém, segundo José Subtil, Pombal deixou claro o propósito de “centralizar a
decisão política quando dirigiu um aviso aos tribunais em que determinava que as
decisões deveriam ser passadas pela sua secretaria antes de serem levadas a

24
Charles R. Boxer.O Império Marítimo Português 1415-1825. Lisboa: Edições 70, 1977, P. 203.
25
Kenneth Maxwell. op. cit., p. 150.
26
Ibidem, p. 77-79.
27
Arthur Cézar Ferreira Reis. O comércio colonial e as companhias privilegiadas: inquietações no Norte e
a inconfidência baiana. In.: Sergio Buarque de Holanda (dir.). A Época Colonial: Administração,
economia e sociedade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997, p. 327. (História geral da Civilização
Brasileira Vol. 1, Tomo 2.
28
Eli F. Heckscher. La Época Mercantilista: historia de La organización y las ideas econômicas desde El
final de La Edad Media Hasta La sociedade Liberal. México: Fundo de Cultura Econômica, 1983.
19

despacho29”. Foi Pombal, em grande parte, o responsável pela implementação do


sistema, e ainda deu ao Secretário de Estado da Marinha e de Ultramar o controle
efetivo sobre os outros órgãos metropolitanos que partilhavam a responsabilidade pelas
questões coloniais. Esse órgão superior, sob o controle direto do rei, nomeava os
principais funcionários da administração colonial, como o vice-rei, os governadores das
capitanias, os servidores da justiça e das finanças e os postos mais altos do exército e da
Igreja. Também supervisionava a política geral e emitia ordens sobre a economia e a
administração da justiça, bem como sobre os problemas das missões30.
Segundo Jacome Ratton, o Marquês “orientou a sua teoria econômica por um
pensamento de sistema”, demonstrado na criação de um órgão consultivo essencial à
coordenação das atividades comerciais: a Junta do Comércio, criada em 30 de Setembro
de 175531. “A partir de 1770, a Junta do Comércio revelou-se um organismo
administrativo básico de todo o desenvolvimento que se processava na indústria e
ordenava o comércio”, intervinha na importação de produtos manufaturados e reprimia
o contrabando. Também era necessária a autorização da Junta do Comércio para a
abertura de lojas em Lisboa, a partida de frotas para o Brasil, a instalação de homens de
negócios e a habilitação de determinados ofícios fabris. Para o Brasil, seguindo essa
perspectiva de controle das atividades econômicas, a Mesa de Inspeção passou a ser
subordinada à Junta do Comércio e a seguir suas determinações, principalmente no que
se referia à administração das sociedades, do crédito e dos falidos, e conferimos também
um aumento da sua jurisdição32.
Ao longo do reinado Josefino, a política econômica de Pombal manifestou
bastante interesse em apoiar as manufaturas, criar melhores condições para o
desenvolvimento industrial e diminuir as importações, procurando certa autonomia da
economia portuguesa em relação à inglesa e francesa. Pombal procurou apoio de
mestres tecedeiros e tintureiros estrangeiros, que tomaram a iniciativa de abrir e
desenvolver diversas fábricas em Portugal. Fomentaram-se as manufaturas, protegeram-

29
José Subtil. Op. Cit.. p. 99.
30
Vale ressaltar que a Mesa de Inspeção correspondia diretamente com o Secretário de Estado, e de
acordo com o recorte cronológico utilizado nessa pesquisa, destacamos Sebastião José de Carvalho e
Melo, Martinho de Melo e Castro e José de Souza Coutinho. Cf. Andrée Mansuy-Diniz Silva. Portugal e
o Brasil: a reorganização do império, 1750-1808. In.: Leslie Bethell. História da América Latina:
América Latina Colonial. vol.1. 2ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Brasília, DF:
Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. p. 488–489.
31
Cf. Jacome Ratton. Recordações de Jacome Ratton sobre ocorrências do seu tempo em Portugal entre
1747 a 1810. Londres: H. Breyer, Bridge-street, Blackfrias. 1813.
32
[ESTATUTO da Junta do Comércio], de 12 de dezembro de 1756. Arquivo Nacional da Torre do
Tombo: Junta do Comércio.
20

se as fábricas reais de lanifícios, subsidiou-se a criação de fábricas de vidros, louças,


cutelarias, fundição e outras. Fundou-se também a Real Fábrica da Seda33. A agricultura
era muito importante para o fomento industrial, visto ser esta a principal fornecedora de
matérias-primas. O incremento desse setor, no entanto, processou-se a um ritmo mais
lento, e o desenvolvimento não foi tão grande como o industrial. Na óptica pombalina,
era necessário que todo o país fosse cultivado, para que as necessidades sociais fossem
satisfeitas. “Este objetivo nunca foi completamente atingido, visto que a situação da
agricultura era precária e muito difícil de se inverter. A atividade agrícola era ainda de
tendência tradicional, e os proprietários mostravam-se renitentes em modernizá-la34”.
Na Colônia, procurou, por meio da Mesa de Inspeção, melhorar a agricultura do açúcar
e tabaco como também incentivou a diversificação dos gêneros que fornecessem à sua
indústria a matéria prima. A produção agrícola na Colônia supervisionada pela Mesa
obteve mais êxito do que em Portugal, o que contribuiu para o desenvolvimento
industrial almejado pelo Marquês.
Defendendo uma política mercantil e protecionista, Pombal aplicou todas estas
medidas com o objetivo de valorizar a produção nacional e tentar tirar Portugal da
dependência econômica relativa à Inglaterra. Em termos econômicos gerais, o reinado
de D. José I constituiu um marco essencial e decisivo para o desenvolvimento da
economia portuguesa, na medida em que houve uma redução no déficit da balança
comercial com o estrangeiro e assistiu-se a um importante contributo para o arranque da
indústria de Portugal.
Com a morte de Dom José I em 1777, a ascensão de Dona Maria I e devido aos
vários abusos do poder que cometeu – o que lhe valeu a antipatia e a criação de
inúmeros inimigos –, a oposição ao Marquês tornou-se muito ativa. Com isso, Pombal
pediu demissão, e Dona Maria I mandou realizar uma sindicância em relação aos seus
atos, a nova administração abre um processo contra ele, e em 1780 é considerado
culpado. A rainha tenta anular a política pombalina, e isso valeu-lhe o apelido de a
“Viradeira”. Pombal fora afastado, porém “as reformas eram, na sua dimensão mais
profunda, irreversíveis” e, apesar das mudanças conjunturais da “Viradeira”, “o governo
de D. Maria I apresentou-se mais como um desdobramento do que uma negação do
reinado de D. José I e da administração do Marquês de Pombal”. Com Martinho de

33
Sobre as os exclusivos industriais e as invenções portuguesas ver: Nuno Luís Madureira. Mercado e
Privilégios: A indústria Portuguesa entre 1750-1834. Lisboa: Editorial Estampa, 1997. P. 129.
34
Cf., Joaquim Veríssimo Serrão. op. cit.
21

Melo e Castro, as iniciativas de Pombal foram avante, ampliou-se o raio de ação,


marcou-se um avanço e um desdobramento, o que representou “o ponto mais alto da
Ilustração em Portugal35”. Sobre as punições aplicadas ao Marquês, devido à sua idade
avançada – 80 anos –, este foi apenas condenado a viver afastado de Lisboa e, por isso,
foi se exilar em Pombal, onde faleceu em 8 de maio de 1782 no seu palácio do Pombal.
O novo governo de D. Maria I, apesar de ter um discurso “antimercantil”, com a
adesão ao liberalismo, e do “confronto entre os fidalgos „puritanos‟ e „pombalistas‟”,
adotou a estrutura da política colonial para o Brasil promovida por Pombal e se tornou
ainda mais importante, pois a economia portuguesa estava ainda mais dependente dos
produtos coloniais. Para isso, “o exclusivo colonial se tornou mais restritivo”, o que era
contraditório com a mudança ideológica presente na Corte e na Colônia nesse período.
Um dos exemplos dessa restrição foi a proibição da instalação de manufatura no Brasil
em 178536. Nesse novo contexto, a Mesa de Inspeção não sofreu alteração,
permanecendo com suas atividades em prol do desenvolvimento de produtos coloniais
para a Metrópole.
Nos anos finais do século XVIII e início do XIX, a Mesa de Inspeção manteve
as suas atividades rotineiras, porém com uma maior resistência na Colônia devido às
reclamações de comercias e produtores que questionavam a falta de liberdade às suas
atividades. Na Metrópole não foi diferente, pois os mercadores de lá enviavam
reclamações à junta do Comércio e à Mesa de Inspeção da Bahia, questionando a
qualidade dos produtos.
Por fim, em 1808, D. João VI assinou o decreto de 28 de janeiro que abria os
portos às nações estrangeiras e, portanto, era o fim do exclusivo metropolitano. Este
acontecimento representou um marco para final desta tese, pois levamos em
consideração as mudanças estruturais na comercialização dos produtos coloniais,
principalmente o fumo e o tabaco. Porém, vale salientar que o fim da Mesa de Inspeção
da Bahia só ocorreu em 1827 e, portanto, os anos entre 1808-1827 marcaram também
um período de decadência que não foi aqui analisado37.

35
Fernando Antônio Novais. Aproximações... op. cit., p. 264.
36
Jorge Pedreira. A Economia Política do Sistema Colonial. In.: João Luiz Ribeiro Fragoso; Maria de
Fátima Gouveia (orgs.). O Brasil Colonial. Vol. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. p. 450.
37
Embora a documentação tenha sido catalogada, principalmente no Arquivo Nacional do Rio de janeiro
e na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Apesar de ter sido parcialmente analisada, não podemos
incluí-las no presente trabalho, devido ao marco inicial do projeto e à falta de tempo hábil para a escrita,
mas me comprometo a realiza-la em futuro próximo.
22

A pesquisa foi realizada nos principais arquivos do Brasil e Portugal para obter
respostas aos questionamentos que foram apresentados no projeto, o que embasou esta
investigação. Porém, tal pesquisa nos arquivos não foi tarefa fácil. Primeiramente
porque a Mesa de Inspeção não foi um órgão analisado pela historiografia e, sobretudo,
pela não existência de um fundo específico, no qual a documentação produzida pela
instituição tenha sido depositada. Assim, na prática, os funcionários dos arquivos, na
sua maioria, desconheciam a existência da Mesa de Inspeção e, consequentemente, da
localização de sua documentação. Dessa forma, o trabalho nos arquivos se revelou uma
tarefa árdua, porém desafiadora e não nos dissuadimos de estudá-la, convencidos da
relevância do assunto e do seu papel para a história da Bahia colonial.
Tanto no Brasil como em Portugal foi necessária uma leitura criteriosa da
documentação, em vários tipos de fundos e documentos para encontrar as fontes da
Mesa, e isso ocasionou tempo demasiadamente prolongado. Embora tenha encontrado
algumas correspondências, leis, decretos, requerimentos e atas38 da Mesa de Inspeção da
Bahia, os principais livros e registros de inspeção, pareceres e demais correspondências
ainda não foram encontrados39. Contudo, as fontes encontradas e analisadas nos
possibilitaram ampliar a nossa visão sobre o objeto estudado, proporcionando algumas
considerações acerca da criação, do funcionamento, da atuação e composição da Mesa
de Inspeção da Bahia entre 1751-1808.
Diante da originalidade do tema, tentamos apresentar uma visão global do
assunto, especialmente para compreender o papel da Mesa de Inspeção da Bahia
inserida no projeto pombalino e o seu papel para o desenvolvimento da economia
colonial na segunda metade do século XVIII.
No primeiro capítulo, atentamo-nos em compreender como foi o processo de
criação e instalação da Mesa de Inspeção em 1751 e de que forma ela foi estruturada
para atender aos objetivos da política portuguesa. Também verificamos como foi feita a
composição do seu quadro de funcionários, as principais dificuldades enfrentadas na
instalação e o seu funcionamento a partir da prática.

38
Algumas atas da Mesa de Inspeção da Bahia foram encontradas em um maço identificado pela
Capitania do Maranhão, no fundo da Junta do Comércio, no Arquivo da Torre do Tombo. Como a
experiência no Brasil era olhar o documento e não somente a identificação de seus maços e códices, fiz a
mesma coisa em Portugal, e obtive êxito em alguns casos.
39
De acordo com Caio Boschi, essa documentação da Mesa de Inspeção poderia estar junto com as fontes
do Erário Régio que estão em processo de catalogação pelo Arquivo Nacional da Torre do Tombo; outra
hipótese é que estivesse no Arquivo da Alfandega, em Lisboa. Porém, não obtive sucesso nesses dois
arquivos.
23

No capítulo dois, procuramos analisar a postura da Mesa de Inspeção com


relação à agricultura, que tinha como principal objetivo resolver os problemas da
decadência, muito questionada no período, e procurar melhorar a produção do tabaco e
açúcar, bem como a política da Coroa de executar experiências agrícolas de especiarias
da África e Ásia na Bahia, o que resultou na diversificação das culturas e no
desenvolvimento das exportações no final do século XVIII.
Outras atribuições da Mesa de Inspeção como o processo de inspeção e
transporte foram abordadas no terceiro capítulo. Supervisionar a produção além de
fiscalizar o transporte desses produtos da propriedade até o porto e então realizar a
inspeção, pesando, qualificando, e marcando os produtos era as atividades rotineiras da
Mesa e representavam importantes ações no processo final de comercialização. Cabia
também à Mesa administrar a chegada e saída das frotas, controlar o trânsito de
passageiros e da tripulação e vistoriar as embarcações para que as mercadorias
chegassem em segurança a Portugal sem problemas com fraude ou contrabando.
O comércio e o combate ao contrabando eram também de responsabilidade da
Mesa de Inspeção e foram analisados no quarto capítulo. Abordamos como foi
estabelecida a regulamentação do comércio pela Mesa e como era a sua atuação
associada à Junta do Comércio em Lisboa, para o desenvolvimento das atividades
mercantis e do combate à fraude e ao contrabando.
No quinto capítulo analisamos a regulamentação do comércio de escravos e
marfim pela Mesa na Costa Africana, principalmente com o estabelecimento do
comércio livre em 1758, e como se configurou a institucionalização do tráfico de
escravos e marfim pelo governo português através de alguns órgãos chaves, como a
Real Junta da Administração da Fazenda de Angola, da própria Mesa de Inspeção da
Bahia e do Erário Régio, ao mesmo tempo em que constatamos a dependência
econômica do governo de Angola com relação ao órgão inspecionador da Bahia.
No sexto capítulo discutiremos os conflitos de jurisdição que foram
protagonizados na Bahia com a instalação da Mesa. Constatamos a existência de várias
queixas e reclamações de agricultores, comerciantes e trapicheiros, como também de
membros da administração colonial da Capitania da Bahia, inclusive com a existência
de divergências com os funcionários da própria Mesa ao longo de sua existência.
Por fim, no último capítulo, analisaremos a Mesa de Inspeção da Bahia como
projeto importante da política portuguesa, originada e inserida na política pombalina, e
24

como a sua administração no Brasil foi articulada para o desenvolvimento do sistema


colonial.
25

1 INSTALAÇÃO, ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DA MESA DE INSPEÇÃO

1.1 Antecedentes

Os principais produtos de exportação da Colônia, o açúcar e o tabaco, foram


objeto de diversas leis, que, ao longo do período colonial, procuraram regulamentar
diversos aspectos da produção, do comércio e transporte destes gêneros. Vejamos
inicialmente o caso do tabaco, que sofreu um controle mais rígido por parte da Coroa
Portuguesa.
Ainda em 14 de julho de 1674, a Coroa decretou a criação da Junta da
Administração do Tabaco40, que tinha um papel fiscal e era encarregada da cobrança e
arrecadação dos impostos sobre o produto no Reino e em suas conquistas, instaurando,
em Portugal, “o monopólio de Estado do Tabaco que, baseado no exclusivo
metropolitano e numa alfândega particular em Lisboa, abrangia de fato todos os
domínios da Coroa Portuguesa41”.
Posteriormente, em 1702, foi publicado o Regimento da Junta da Administração
do Tabaco, composto por 53 artigos, seguidos pelo Regimento da Alfândega do Tabaco
e do “Regimento que se há de observar no Estado do Brasil, na arrecadação do Tabaco”.
A Junta do Tabaco deveria cuidar do comércio do fumo e, através de legislação,
regulamentar o contrato do tabaco, ou seja, tratar de questões como isenções,
privilégios, liberdades e prerrogativas concedidas aos seus contratadores; supervisionar
a proibição de comércio e consumo do produto de origem estrangeira, reprimir os
descaminhos e ainda tratar da cultura e dos preços de venda a serem praticados42.
Segundo Jean Baptiste Nardi, a administração portuguesa do tabaco era baseada em três
aspectos: administrativo (Junta da Administração do Tabaco), alfandegário (Alfândega
do Tabaco) e comercial (contrato), presentes no Reino e em suas Colônias e adaptadas
às necessidades geográficas e econômicas de cada localidade. Tal organização, para
Nardi, “testemunha o caráter primordial do tabaco para a economia portuguesa e seus
domínios43”, fato que pode ser comprovado pela estimativa de Fernando Tomaz, cuja

40
DECRETO de 14 de julho de 1674 da Junta da Administração do Tabaco. Arquivo Nacional da Torre
do Tombo: Junta da Administração do Tabaco, maço 2.
41
Jean Baptiste Nardi. O Fumo Brasileiro no Período Colonial: Lavoura, Comércio e Administração.
São Paulo: Brasiliense, 1996, p. 83.
42
Ver: Junta da Administração do Tabaco do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
http://www.aatt.org/site/index.php?op=Nucleo&id=213
43
Jean Baptiste Nardi. Op. Cit. p. 85.
26

indicação é de que 17% da receita da Coroa entre 1762 e 1776 vinham do tabaco,
superior, então, ao quinto do ouro44.
Para supervisionar o embarque do tabaco no Brasil, foram criadas duas
superintendências – uma em Pernambuco e outra na Bahia – com poderes sobre a
produção e o comércio, além de tratar de outros assuntos referentes ao fumo45. Na
Bahia, o cargo de superintendente era ocupado por um desembargador da Relação, e em
Pernambuco pelo ouvidor geral46. Mas a superintendência do tabaco no Brasil se
revelou como umas das principais falhas na administração da Junta do Tabaco, pois
“funcionavam apenas como alfândegas particulares que dependiam da Junta de Lisboa,
mais ainda do Conselho Ultramarino, do governador do Brasil”, e essa dispersão dos
poderes prejudicou a política geral relativa ao produto, faltando assim autonomia da
superintendência. Em “1751 o Marques de Pombal quis preencher esta falha,
substituindo as superintendências pelas Mesas de Inspeção” e “deslocou para o Brasil
parte da função política da Junta do Tabaco47”.
Em 16 de janeiro de 1751, a Coroa Portuguesa promulgou o “Novo Regimento
da Alfândega do Tabaco”, que buscava responder às queixas dos mercadores,
apresentadas pelo provedor e deputados da Mesa dos Homens de Negócio, relativas ao
“deplorável estado que se achava reduzido o tráfico do tabaco”. Para superar as
dificuldades, foram adotadas várias medidas, inclusive a criação das Mesas de Inspeção
nos principais portos do Brasil. Poucos dias depois, em 27 de janeiro, o comércio do
açúcar e tabaco era objeto de um novo decreto que tratava do preço, do frete e da
qualidade desses gêneros, destacando o papel que as Mesas de Inspeção recém criadas
teriam na matéria. Por fim, em abril do mesmo ano, a Coroa estabeleceu o “Regimento
da Mesa de Inspeção” que, segundo palavras do monarca, deveria não só examinar,
qualificar e regular “em benefício comum dos meus vassalos, a bondade e o justo preço
destes dois importantes gêneros”, para, dessa forma, manter “a sua constante reputação
e a sua sucessiva extração”. Além disso, a Mesa deveria propor ao rei “tudo o mais que
a experiência fosse mostrando, que seria conveniente para melhor se promover e animar

44
Fernando Tomaz. As Finanças do Estado Pombalino 1762-1776. In: Estudos e Ensaios: em
homenagem a Vitorino Magalhães Godinho. Lisboa: Sá da Costa, 1988, p. 376.
45
REGIMENTO da Junta da Administração do Tabaco de 18 de outubro de 1702. In.: José Justino de
Andrade e Silva. Coleção Cronológica da Legislação Portuguesa. Lisboa: Imprensa de J.J.A. Silva,
1854.
46
Compunham o órgão em cada capitania, ainda, um escrivão da ementa, um escrivão do registro, um
juiz da balança, um marcador, um guarda-mor e seu escrivão, um guarda-livros e um porteiro. Jean
Baptiste Nardi. Op. Cit. p. 95-96.
47
Idem, ibidem. p. 356-357.
27

a referida agricultura e comércio48”. Pode se dizer então que o Novo Regimento da


Alfândega do Tabaco, o Decreto sobre a Produção, Comércio do Açúcar e Tabaco e o
Regimento das Casas de Inspeção são os três documentos legais que regulamentaram a
ação das Mesas de Inspeção no Brasil49.
A Mesa de Inspeção foi criada sete meses depois do início do governo de D.
José I, o que nos levou a questionar se a Mesa era um projeto do final do reinado de D.
João V ou se seria uma das primeiras medidas do novo monarca. Outro elemento é se o
Marquês de Pombal teve algum papel na criação da Mesa, como sugere o historiador
Jean Baptiste Nardi50.
Não há respostas precisas para tais questões. Contudo, um documento nos
fornece algumas pistas relevantes. Esse documento foi escrito por Pombal após a morte
de D. José I e sua destituição em 177751. Tinha como objetivo responder às várias
acusações que lhe eram dirigidas neste momento. O documento intitulado
“Representação apologética” era, nas palavras de Pombal, um conjunto de “apologias
que tenho escrito sobre cada uma das calunias que a ingratidão e a inveja espalharam
contra mim no grande povo de Lisboa depois da minha ausência52” e era composto por
15 apologias que justificavam as suas ações durante o período que atuou no governo
como secretário.
Dentre as várias apologias, interessa-nos particularmente a oitava, na qual
Pombal se defende da acusação “de se ter arrematado o último contrato geral do tabaco
por menos de duzentos e cinquenta mil cruzados que se ofereciam de
acrescentamento53”. Para tanto, Pombal redigiu, aproveitando-se de antigos textos seus

48
REGIMENTO das Casas de Inspeção, de 1º de abril de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia:
Caixa 54, documento 10326, f. 48.
49
NOVO Regimento da Alfândega do Tabaco, de16 de janeiro de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino –
Bahia: Caixa 54, documento 10325 e “Decreto de sua Majestade que baixou ao Conselho Ultramarino
a favor do Comércio e Fábrica do Açúcar e Tabaco” de 27 de janeiro de 1751. Arquivo Histórico
Ultramarino – Bahia: Caixa 54, documento 10328 e “Regimento das Casas de Inspeção” já citado.
Registro que o primeiro documento trazia, após a assinatura do monarca, a de Pedro da Mota Silva,
Secretário de Estado do Reino e Mercês, e o terceiro documento, também após a do monarca, a de Diogo
de Mendonça Corte-real, Secretário de Estado da Marinha e ultramar.
50
Jean Baptiste Nardi. Op. Cit. p. 357.
51
Sobre essa fase de sua vida ver: Kenneth Maxwell. Marquês de Pombal: Paradoxo do Iluminismo. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1996. P. 160-168. Francisco José Calazans Falcon. A Época Pombalina: política
econômica e monarquia ilustrada. São Paulo: Ática, 1982. (Ensaios; 83). João Lúcio de Azevedo. O
Marques de Pombal e a sua Época. São Paulo: Alameda, 2014, p. 373-1375.
52
APOLOGIAS que tenho escrito sobre cada uma das calúnias que a ingratidão e a inveja espalharam
sobre mim. Biblioteca Nacional de Lisboa: Coleção pombalina: códice 695, fls. 44-180.
53
APOLOGIA Oitava. Biblioteca Nacional de Lisboa: Coleção pombalina: códice 695, fls. 108-129.
28

a “Dedução Compediosa sobre o tabaco que constitui um dos dois gêneros capitais do
Estado do Brasil54”, que constitui parte importante da oitava apologia.
A “Dedução Compediosa” era dividida em três partes além de alguns anexos. Na
primeira parte, Pombal utilizou um texto que escreveu quando retornou de Londres,
sobre “o estado em que estava a agricultura e o comércio do tabaco na Europa até o ano
de 1743”. Na segunda parte ele mostrava como estava o comércio do produto em
Portugal em 1750, quando D. José o nomeou Secretário dos Negócios Estrangeiros e da
Guerra. E na terceira parte da “Dedução Compediosa”, tratou do “Grande Contrato
Geral do Tabaco do Reino, Ilhas adjacentes e Praça de Mazagão”, esta parte, por sua
vez, foi dividida em duas épocas: a primeira relativa aos contratos que decorreram desde
o princípio do governo de D. José I até o falecimento do contratador Duarte Lopes Rosa
e a segunda sobre as mudanças do novo contrato geral do tabaco de 1772.
Nos documentos anexos à “Dedução Compediosa”, também consta o “Plano dos
meios que parecem mais próprios para se facilitar a extração do tabaco do Brasil no
concurso dos tabacos da América Inglesa55”, que nas palavras de Pombal representava o
“Espírito do Novo Regimento da Alfândega do Tabaco56”. Assim, entendemos que a
análise mais detalhada da “Dedução Compediosa”, bem como o referido anexo, é de
fundamental importância para compreender os mecanismos que levaram à criação da
Mesa de Inspeção.
A primeira parte da “Dedução Compediosa” foi escrita por Pombal em 174357 a
pedido do ministro João da Mota e Silva, o Cardeal da Mota, e tinha como objetivo
analisar a possibilidade de um acordo comercial do tabaco com a França58. De acordo
com Pombal, a maior parte do tabaco que se consumia na Europa era exportada pela
Inglaterra, a partir da produção das Colônias da Virginia e da Maryland. O seu
transporte, da América para a Inglaterra, empregava 200 navios, e alguns traziam uma
carga de cerca de 850 barris. A distribuição do produto para os diversos países da
Europa era comumente feita em navios ingleses, o que permitia que estes,

54
DEDUÇÃO Compediosa sobre o tabaco que constitui um dos dois gêneros capitais do Estado do
Brasil, 1777. Biblioteca Nacional de Lisboa: Coleção Pombalina: códice 695, fls. 108-129.
55
PLANO dos meios que parecem mais próprios para se facilitar a extração do tabaco do Brasil no
concurso dos tabacos da América Inglesa. Biblioteca Nacional de Lisboa: Coleção Pombalina 695. fls.
120-129.
56
DEDUÇÃO Compediosa. Fls. 120-129.
57
Ibidem. loc. cit.
58
As relações comerciais com as nações inglesa e francesa foram abordadas por Pombal em seus escritos,
publicados em 1986 pela Biblioteca Nacional. Cf. Sebastião José de Carvalho e Melo. Escritos
Econômicos de Londres (1741-1742). Lisboa: Biblioteca Nacional, 1986.
29

diferentemente dos portugueses, conseguissem um maior lucro do comércio do tabaco,


“donde se tira por boa consequência que neste negócio faz um principal objeto ser
transportado da América e reexportado depois na Europa em navios da mesma nação
que cultiva59”.
Pombal prosseguia informando que o tabaco que chegava à Inglaterra era – na
maioria das vezes – adulterado, arruinando a reputação e ocasionando um prejuízo ao
comércio. A solução inglesa para resolver esses dois problemas de forma eficaz foi
estabelecer armazéns públicos e, nestes, uma Mesa de Inspeção para onde

[…] são trazidos pelos lavradores os seus respectivos tabacos: e nela são
visitados, examinados e aprovados os mesmos tabacos. Os que são
notoriamente bons e sem mistura se embarcam. Os inferiores ou que trazem
mistura são queimados. Em fim os que se acham dignos de aprovação são
marcados com selo da inspeção de cujos Armazéns saem a embarcar-se.
Nenhum outro tabaco que não venham com estas circunstâncias podem ser
vendidos e menos embarcados. Por tudo se vê nas mãos dos Inspetores esta
arruinar os lavradores, que bem lhes parecer e fraudar o comércio em comum
prejuízo. E também pela outra parte animar os mesmos lavradores à cultura e
fazer o mesmo comércio florescente se forem pessoas de justiça e boa
consciência; e principalmente concorrendo nos princípios alguns com as
qualidades que se procuram em quem é fundador.60

Em suas observações sobre o comércio e a cultura do tabaco, Pombal afirmava


que os direitos pagos pela entrada do gênero nas alfândegas da Inglaterra eram
restituídos aos seus comerciantes e produtores quando reexportavam o tabaco; fator que
contribuía para fomentar a cultura e produção e, consequentemente, o repasse, mais
barato do produto às nações estrangeiras:

[…] se estas, pois, o acham por aquele preço; compram-no; por consequência
do consumo se cultivam as terras e favorece o comercio. Contrariamente e
com ele se acaba lavoura e vem a faltar os direitos. Donde tiram os ingleses
que se há de perder lavoura, comércio, navegação e direitos; é melhor perder
só os direitos para conservar a Navegação, o comércio e a lavoura. [...]
Porque se não houvesse aquele ramo do comércio não haveria dentro no
Reino o dinheiro que ele lhe produz. [...].61

Pombal finalizou a primeira parte do seu estudo concluindo que os ingleses


tinham uma estrutura própria para o transporte do tabaco e conseguiam grandes lucros
com o comércio do item de suas Colônias, dificultando a concorrência, e que o negócio

59
DEDUÇÃO Compediosa. Fls. 110-113.
60
DEDUÇÃO Compediosa. Fls. 110-113.
61
Ibidem. loc. cit.
30

do produto com a França não era viável para Portugal, pois ela já estava implementando
a cultura em suas próprias Colônias62.
Na segunda parte da “Dedução Compediosa”, Pombal analisou o comércio do
tabaco em Portugal. De acordo com o texto, em 1750 a Junta do Tabaco tinha emitido
diversas consultas e informava que o item não tinha sido vendido porque o custo da
compra do gênero no Brasil e preço do frete eram altos e, somando aos custos das
despesas com a Alfândega de Lisboa, encarecia-o e dificultava a sua venda63. Desse
modo, havia grande estoque do produto que deveria ser queimado, já que se deteriorava,
e os armazéns deveriam estar disponíveis para a chegada da nova frota64.
A terceira parte da “Dedução Compediosa” trata das mudanças ocorridas no
contrato do tabaco em vários momentos. Segundo Pombal, o contrato geral do tabaco
abrangia o ponto central do sistema das rendas da Coroa, e os Contratadores Gerais
conheciam o seu privilégio exclusivo para o consumo do Reino e Ilhas. O monopólio da
navegação para os países estrangeiros era uma forma de incentivar o comércio do
gênero, sendo importante estabelecer regras e penas proibitivas para evitar a prática do
contrabando. A escolha do Contratador Geral do Tabaco era importante, e os contratos
sempre tinham sido arrematados por homens de negócio que possuíam certa reputação
na praça de Lisboa65.
O contrato do Tabaco para o do período de 1750-1752 foi arrematado por
Feliciano Velho Oldemberg por 2 milhões e 20 mil cruzados. Entre 1753-1755, o
contratador do tabaco foi José Machado Pinto, que pagou 2 milhões e 100 mil cruzados,
e entre 1756- 1758 Duarte Lopes Rosa foi o favorecido, com a proposta de 2 milhões e
220 mil cruzados – contrato arrematado sem a aprovação de Pombal. Para ele, Duarte
Lopes Rosa não era conhecido na Praça de Lisboa e, portanto, poderia dar um golpe e
arruinar o convênio66.
Lopes Rosa revelou ser um comerciante com conhecimentos dos negócios e
cálculos mercantis e estabeleceu um novo método, mais simples, para o cálculo da
arrecadação do contrato. Entretanto, era um negociante ambicioso que se envolveu em
diferentes tipos de negócios, simultaneamente, em Lisboa e em outras regiões da Europa

62
Na segunda observação Pombal cita a Mesa de Inspeção e a instalação dos armazéns. Fls. 112.
63
O preço do tabaco vendido em Lisboa no valor de 1$724 réis a arroba, incluindo os direitos e o custo
com o frete, enquanto que os ingleses vendiam pelo preço de 1$024 réis livres de todos os custos com
fretes e direitos da alfândega. Fls. 114
64
Ibidem. Fls. 113-114.
65
DEDUÇÃO Compediosa. fls. 114-118.
66
Ibidem. fls. 114.
31

e não conseguiu administrá-los com sucesso, fato que resultou na ruína do contrato do
tabaco, como Pombal havia previsto. Para solucionar o problema da falência do
negociante e não prejudicar a Coroa e os outros mercadores portugueses, o rei ordenou
que a junta do tabaco fizesse o sequestro dos bens de Duarte Lopes Rosa para saldar as
dívidas caso esse viesse a falecer.
Diante do ocorrido, era importante escolher o Contratador Geral do tabaco de
forma mais criteriosa. Para tanto, Pombal selecionou para arrematantes do novo
contrato “quatro homens de negócios tão ricos em bens de reais e cabedais e de tão
grande crédito como Policarpio José Machado, João Rodrigues Caldas, seu irmão Luiz
Rodrigues Caldas e Anselmo José da Cruz” e conseguiu que os quatro negociantes
tomassem o mesmo contrato pelo mesmo preço dos dois milhões e duzentos e dez mil
cruzados a “que o tinha feito subir aquele astuto empresário defunto67”.
O principal anexo da “Dedução Compediosa”, conforme já mencionado, era o
“plano dos meios que parece mais próprios para se facilitar a extração do tabaco no
Brasil no concurso dos tabacos da América inglesa68”, elaborado por Pombal a partir
das sugestões de negociantes experientes no comércio do produto, e que tinha como
objetivo propor novos procedimentos a serem adotados em relação ao comércio do
tabaco, especialmente no que tocava à Alfândega, daí o título alternativo proposto por
Pombal: “Espírito do Novo Regimento da Alfândega do Tabaco”.
Na prática, “o plano” serviu de base para o Novo Regimento da Alfândega,
como se percebe pela comparação dos documentos e confirmado pela nota à margem
deste: “havendo se El Rei Nosso Senhor conformado com este plano, mandou lavrar no
teor dele o regimento de 16 de janeiro deste presente anos de 1751 69”. Pombal partia da
ideia de

que nem o lavrador há de continuar a mesma lavoura se não vender o tabaco,


ganhando nele o necessário para se sustentar, nem há de achar quem lhe
compre o mesmo tabaco se vender tão caro que o mercador que o compra o
não possa extrair de Lisboa para os países estrangeiros ganhando também na
sua extração […] daqui resulta a necessidade de se estabelecer um preço
certo que ao mesmo tampo anime o lavrador a cultura deste gênero e anime
ao mercador a comprar lhe com provável esperança de o revender com lucro
aos estrangeiros.70

67
Ibidem. fls. 114-118.
68
Ibidem. loc. cit.. fls. 120.
69
DEDUÇÃO Compediosa. fls. 120.
70
Ibidem. loc. cit.
32

Com base na consulta e informação dos comerciantes, Pombal estabeleceu


algumas regras para o comércio do tabaco. No que toca ao preço, fixou um teto, pois
ainda que o preço fosse acordado entre as partes, este não deveria ser superior a 900 réis
por arroba “livres para o lavrador” no caso do tabaco de primeira folha, também
conhecido como “escolha de Holanda” e 800 réis para o de segunda. Proibiu a
comercialização, em Portugal, do tabaco de terceira folha, pois prejudicava a reputação
do gênero, destinando-o apenas ao comércio e resgate de escravos na Costa da África71.
Diferente dos ingleses, que ordenavam a queima do tabaco de terceira folha72.
O plano também apontava medidas que deveriam solucionar os problemas do
transporte, afinal “pouco importa que o mazombo lavre e o mercador do Reino compre
na América o referido gênero, se não tiver os navios necessários para o transporte a este
Reino, de sorte que o dono do navio o possa fazer navegar com uma honesta
conveniência”, mas sem onerar em demasia o valor do produto. Para tanto, o plano
estabelece que os fretes “fiquem livres a avença das partes” mas sem exceder o valor de
16$201 réis por tonelada “de cinquenta e quatro arrobas ou três tostões por arroba
livres e líquidas a favor do navio” entre outras medidas73.
Um terceiro ponto era o combate às fraudes, pois, segundo Pombal, “os
lavradores e carregadores do Brasil de certos anos a esta parte deram em falsificar os
tabacos que vem a este Reino74”, atrapalhando o comércio com o estrangeiro e
arruinando a reputação do produto. Visando resolver o problema, Pombal propunha
então seguir a experiência inglesa, pois “sucedido o mesmo com os tabacos de Virginia
e Maryland e esmerando-se Inglaterra em obviar aquelas fraudes, não achou nunca
contra elas outro remédio que fosse eficaz se não o que vou referir, por que me parede
conveniente para se adotar e estabelecer nos portos do Brasil75” e que seria descrito por
Pombal, com o perdão da longa citação, nos seguintes termos:

[…] em cada um dos portos daquelas duas ilhas onde se costumavam


embarcar os tabacos ingleses, se estabeleceu um armazém público com uma
Mesa de Inspeção. A ela são trazidos pelos lavradores e carregadores os seus
respectivos tabacos para serem examinados e aprovados. Os que se acham
tais quais se diz na entrada que deles dão os que os manifestam, sem trazer
mistura, nem fraude são marcados com o selo da Inspeção e são recolhidos
no armazém para serem embarcados. Os que são misturados e diferentes do

71
Ibidem. fls. 121.
72
Ibidem. fls.111.
73
Ibidem. fls. 121.
74
DEDUÇÃO Compediosa. fls. 122.
75
Ibidem. loc. cit.
33

que se diz na entrada que deles se fez, são queimados irremissivelmente. E de


tudo resulta que os barris de tabaco que chegam a Londres com a marca da
Inspeção passam logo de Inglaterra para França, Flandres e Holanda, sem que
os compradores estrangeiros requeiram ou procurem neles outro maior
exame, porque a referida marca lhe segura a reputação e o consumo sem
demora nem dúvida contraria. 76

Pombal também deu orientações para a composição do quadro de funcionários


da Mesa de Inspeção, afirmando que deveria ser composta por pessoas instruídas – que
tivessem certa experiência na administração e que fossem pessoas inteligentes,
honradas, capazes de defender os interesses do Reino e melhorar a agricultura e o
comércio, que evidentemente –. Nem sempre eram fáceis de achar. Sugeriu então que os
Presidentes na Bahia e no Rio de Janeiro fossem os Intendentes do Ouro, que já
atuavam em benefício da Coroa. Em Pernambuco e Maranhão, a sugestão era que a
presidência das Mesas de Inspeção fosse ocupada pelos ouvidores77”.
Pombal entendia que, para poder concordar com o tabaco inglês, o produto
português precisava ter, pelo menos, qualidade e preços similares e visto

que o tabaco do Brasil chega a Lisboa em hum quase equilíbrio do preço que
vale em Londres o tabaco da América Inglesa. Custando o primeiro
novecentos réis de primeiro preço para o lavrador, três tostões de frete por
arroba para o mestre do navio e dando-lhe por um racionável arbítrio mais 4
vinténs em cada arroba para embarque no Brasil, para seguro no mar, e para
desembarque em Lisboa até entrar no Armazém da Alfândega, vem a
importar tudo a mil duzentos e quarenta réis por arroba ou dois vinténs por
arrátel que é com pouca distancia o mesmo preço o que se vende em Londres
uma arroba e um arrátel de tabaco da América Inglesa. 78

Ficava claro que o problema eram os excessivos impostos e os custos elevados


da alfândega em Portugal, fatores que aumentavam o preço do tabaco português e
impediam uma maior saída. Dessa forma, propunha-se uma série de reformas.
As rotas comerciais, por exemplo, deveriam ser diretas, pois os circuitos
desnecessários encareceriam o tabaco juntamente com os altos direitos. Um exemplo é a
criação de um comércio direto do tabaco do Brasil com Goa79, o que possibilitou a
redução com os direitos pagos na Alfândega de Lisboa, além de resolver a questão da
demora no reenvio para outras partes do ultramar e evitar que o tabaco se deteriorasse80.

76
Ibidem. fls. 122-123.
77
Ibidem. fls. 123.
78
DEDUÇÃO Compediosa. Fls. 124.
79
Cf. José Roberto do Amaral Lapa. A Bahia e a Carreira da Índia. São Paulo: Brasiliana, 1968.
80
DEDUÇÃO Compediosa. Fls. 120-129.
34

Para melhorar o funcionamento da Alfândega em Lisboa, o plano avançava para


os mínimos detalhes. Assim, ficou determinado que o tabaco que chegasse do Brasil
fosse direto do Navio para o Armazém, pagando somente o frete e a descarga, e que o
armazém fosse dividido por partes e numerado, deixando o meio livre. Essa organização
permitiria melhor armazenamento dos tabacos que eram descarregados, separados e
colocados nas divisões numeradas e separadas de acordo com o mercador, para que cada
um deles soubesse onde estaria o seu tabaco e para o “ver e achar por si mesmo cada
vez que quiser sem dependência de terceira pessoa81”. Outra medida apontada no plano
seria o corte de funcionários e diminuição de gastos alfandegários. Essa proposta de
reduzir as despesas da Alfândega de Lisboa com o tabaco implicava em que a Mesa de
Inspeção fizesse todo o trabalho de exame e qualificação, bem como

[…] que os ditos tabacos que trouxerem a marca da Casa da Inspeção do


Porto do Brasil donde saíram, sejam recolhidos no Armazém da Alfândega e
suas ditas divisões sem exame algum, nem quanto à qualidade, nem quanto
ao peso, porque para se recolher se estará pelas marcas e guias das sobreditas
Casas da Inspeção: suspendendo S. M. toda a ação de se pedirem ou
regularem os direitos do referido tabaco enquanto não for vendido.82

O tabaco só era verificado novamente em Lisboa, caso o comprador ou vendedor


assim o quisessem. Do contrário, passaria diretamente da divisão em que se achavam
para as balanças, e destas, para o navio onde ia ser embarcado, com as guias e cautelas a
serem entregues quando chegassem em Portugal83. Esse processo facilitava o controle
do gênero, pois as marcas e guias das Mesas da Inspeção estabelecidas no Brasil
indicavam as qualidades do tabaco sem a necessidade de outra averiguação ou
diligência que prejudicasse os comerciantes e os negócios84.
Segundo Nardi, os motivos que levaram a uma administração mais rigorosa do
tabaco eram os econômicos e políticos e se inseriam no pensamento da época que era o
mercantilismo e a “Alfândega do Tabaco foi a realização mais concreta e mais
aperfeiçoada do exclusivo colonial metropolitano” não só com relação ao fumo mas
também com os demais produtos coloniais85.
As Alfândegas de Portugal já utilizavam o sistema de mesas como forma de
qualificar os produtos que chegavam ao Reino para redistribuição. Assim, antes da

81
Ibidem. loc. cit.
82
Ibidem. loc. cit.
83
DEDUÇÃO Compediosa. fls. 120-129.
84
Ibidem. loc. cit.
85
Jean Baptiste Nardi. Op. Cit. p. 350.
35

Mesa de Inspeção, o tabaco que chegava a Lisboa era entregue na Alfândega, onde era
recebido e enviado para a Mesa Grande86. Ali era pesado, qualificado e distribuído aos
seus respectivos donos. Já o tabaco que seria reexportado era enviado para os Armazéns
do Jardim, que era o local onde ficavam armazenados os produtos até o embarque, sob a
vigilância de um guarda. Na Mesa do Jardim, o tabaco era novamente pesado e
qualificado, marcado a fogo com a marca dos contratadores na presença do procurador
dos navios, para que fossem efetuados os cálculos dos fretes e, depois de pago, era
embarcado por um feitor. O objetivo desse trabalho todo era garantir a qualidade do
produto e evitar o contrabando e o descaminho87. Jacome Ratton afirma que era
necessário simplificar a administração da Alfândega Grande de Lisboa, cuja
complicação favorecia descaminhos88. Com a criação da Mesa de Inspeção no Brasil,
essas atividades na Alfândega de Lisboa não eram mais necessárias, pois os produtos
exportados já saiam do Brasil qualificados e pesados e com as devidas marcas de
identificação. Com isso também se representava a redução das despesas com a
respectiva redução da mão de obra. O que se percebe são intenções premeditadas de
transferir as atividades exercidas pela Mesa Grande para as Mesas de Inspeção do
Brasil.
Vale lembrar que a origem da Mesa remete a uma época relativamente antiga,
desde quando começou a se cobrar o direito da siza que se pagava pelos produtos e que
era subdividido e arrecadado por diferentes mesas. Com o tempo, criou-se a Alfândega
das Sete Casas, que representava a união dessas mesas onde se despachavam os
produtos da provisão do Reino, que chegavam por mar e terra, para o consumo da
cidade89. As mesas eram também conhecidas por almoxarifados e recebiam
denominações particulares de acordo com a função de cada uma, como “Mesa da
Inspeção dos vinhos”, “Mesa da Siza do Pescado”, “Mesa da Siza da Fruta”, “Mesa das
Carnes”. Foram dirigidas por um chefe com o título de Contador da Fazenda até o ano
de 1776, quando a lei de 19 de janeiro mudou a organização da arrecadação, abolindo a
contadoria e o contador, passando a sua jurisdição para o Superintendente Geral dos

86
Há também instruções de como proceder com o tabaco do Brasil na sua chegada à Alfândega de Lisboa
no “Regimento da Junta da Administração do Tabaco de 08 de outubro 1702”. Folha 47-51. In.: José
Justino de Andrade e Silva. Coleção Cronológica da Legislação Portuguesa. Lisboa: Imprensa de J.J.A.
Silva, 1854.
87
SUMÁRIO histórico da Alfândega do Tabaco desde a sua criação até o ano de 1808. Biblioteca
Nacional de Lisboa. Códice 235.
88
Jacome Ratton, Recordações de Jacome Ratton sobre ocorrências do seu tempo em Portugal entre
1747 a 1810. Londres: H. Breyer, Bridge-street, Blackfrias. 1813. p. 157.
89
RÁPIDA Descrição Histórica da Alfândega das Sete Casas. Biblioteca Nacional de Lisboa. Códice 235.
36

Contrabandos90. Com essa lei, as mesas que se achavam dispersas foram reunidas no
edifício onde se instalou a Superintendência Geral do Contrabando.
As diversas mesas tinham funções de arrecadar os direitos reais dos gêneros que
chegavam à cidade por mar e por terra para o consumo da população. De acordo com os
regimentos, as suas atividades principais eram garantir a qualidade dos produtos e
verificar os pesos, as medidas e o controle dos preços, bem como evitar o descaminho e
contrabando91.
A Casa da Índia e Mina é outra instituição que apresenta algumas semelhanças
com a Mesa de Inspeção, e o seu regimento pode ter influenciado o da Mesa de
Inspeção também92. Francisco Mendes da Luz afirma que o regimento da Casa da Índia,
no século XVII, representava o organismo fundamental ao controle de todo o comércio
– fosse de importação ou de exportação – seja com o Oriente ou com o Brasil93. A
fiscalização e o controle do comércio de escravos e produtos, como a pimenta, o cravo e
a canela eram suas principais responsabilidades94. Era por intermédio da Casa da Índia
que se supervisionava o comércio, assim como a Mesa de Inspeção95.
O Regimento da Casa da Mina e da Guiné encarregava os funcionários de
receber e prestar contas das mercadorias que se destinassem ao resgate de escravos

90
Ibidem. loc. cit.
91
Ibidem. loc. cit.
92
A documentação relativa à Casa da Índia, Guiné e Mina desapareceu depois do terremoto de 1755, com
o incêndio que atingiu os prédios onde estavam estabelecidas à beira do Tejo. Assim, o desaparecimento
da imensa e preciosa documentação é um dos motivos pelo qual não há estudos sistematizados sobre esse
órgão, deixa uma lacuna na história ultramarina de Portugal e dificulta mensurar o papel que aquela
instituição desempenhou na vida econômica e administrativa colonial. Cf. “Regimento da Casa da Índia:
manuscrito do século XVII” existente no Arquivo Geral de Simancas com introdução e Prefácio de
Francisco Mendes da Luz. 2ª ed. Lisboa: Ministério da Educação / Instituto de Cultura e Língua
Portuguesa, 1992. p. 14.
93
Nesse processo, as atividades desenvolvidas no Brasil também eram de responsabilidade da Casa da
Mina e Índia. “pelo Alvará, no ano de 1516, pelo qual se determinava o que o feitor da Casa da Índia e
Mina mandaria dar „machados, enxadas toda a demais ferramenta às pessoas que forem a povoação do
Brasil‟”. Em outro Alvará, também de D. Manuel, “ordenava ao feitor e oficiais da casa escolhessem
pessoa competente para „ir ao Brasil dar princípio a um engenho de açúcar e que se lhe desse sua ajuda
de custo‟, assim como todo o cobre e ferro e demais utensílios necessários á feitura do tal engenho” (está
no livro de cópias de provisões respeitantes à Casa da Índia. Arquivo Geral da Alfândega de Lisboa –
livro 54-B.)
94
REGIMENTO da Casa da Índia: manuscrito do século XVII, existente no Arquivo Geral de Simancas
com introdução e Prefácio de Francisco Mendes da Luz. 2ª ed. Lisboa: Ministério da Educação / Instituto
de Cultura e Língua Portuguesa, 1992. p. 21-22 e 27.
95
Outra instituição que foi criada com o objetivo de administrar o trafico mercantil com as Índias foi “la
Casa de laContratación de las Índias” em Sevilha, na qual representava o empório do comércio da
Espanha. “la Casa de laContratación” foi um poderoso auxiliar do poder central, por onde passava os
assuntos referentes a justiça, administração das Colônias espanholas e era onde se realizavam todas as
transações comerciais, responsável pelas frotas de ouro e prata. Cf. Manuel Danvila. Significación que
TuvieronenelCobierno de América la Casa de laContratación de Sevilla Y El Consejo Supremo de Indias.
Madrid: Establecimiento Tipografico Sucesores Rivadenyra, 1892, p. 20-28.
37

daquelas localidades. No que se refere à forma de funcionamento, eram várias as


semelhanças com a Mesa de Inspeção, como o feitor, que deveria estar sempre
informado para poder esclarecer ao rei sobre as mercadorias que nas várias feitorias se
deviam comerciar, além de estar presente na descarga das naus juntamente com os
escrivães e feitores de cada uma delas, assim como o presidente da Mesa de Inspeção. A
jornada de trabalho também era semelhante, todos os dias da semana. Teria que
preencher os livros de receitas e despesas, registrar as atividades do juiz da balança e
cuidar da correspondência. Também era responsável pela navegação e pelos contratos
de navios e seus armadores que transportavam as mercadorias ultramarinas ou a
reexportação para o restante da Europa96.
De acordo com Tancredo de Morais, a recepção das mercadorias tinha certo
número de formalidades, como pesar, medir, carregar e assentar. Com relação à vistoria
do navio, afirmou ainda que o regimento proibia a venda da especiaria sem ter dado
entrada na Casa da Índia97. Já Carlos Alberto Caldeira Geraldes, ao falar da estrutura e
do funcionamento da Casa da Índia, afirmou que sua ação representava um organismo
econômico, fruto de uma ampla e variada legislação para atender ao comércio e à
administração ultramarina. Efetivamente, a Casa da Índia era não só uma alfândega,
mas, sobretudo, uma repartição que concentrava a administração do comércio
ultramarino e ao longo de sua existência se adaptou para atender as exigências e
resolver problemas apresentados com o crescimento das conquistas e das atividades
comerciais98.
Diante do que foi exposto até aqui, percebe-se que a criação das Mesas de
Inspeção no Brasil foi um projeto da Coroa Portuguesa que recebeu influencias e
algumas instituições reinóis, mas foi, sobretudo, resultado direto da experiência de suas
congêneres existentes nas Colônias inglesas na América, Virginia e Maryland. Coube a
Pombal formulá-las e instalá-las, adaptando-as à realidade portuguesa. Nesse ponto, a
documentação trabalhada nos permite observar a atuação de Pombal e dos
representantes da administração e do comércio99.
A Mesa de Inspeção surgiu com o objetivo de melhorar a distribuição e
qualidade dos produtos coloniais, através de uma administração mais simplificada da

96
REGIMENTO da Casa da Índia, Op. Cit. p. 30-34.
97
Tancredo de Morais. A Casa da Índia. Anais do Club Militar Naval. [S.I.:s.n.] [193-], p. 1437 e 1452
98
Carlos Alberto Caldeira Geraldes. A Casa da Índia: um estudo de estrutura e funcionalidade (1509-
1630). Lisboa: Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras – Departamento de História, setembro de
1997. (Dissertação de mestrado, história moderna). p. 04-05.
99
Cf. “Dedução Compediosa”.
38

Alfândega de Lisboa. É fruto de um processo reformista, decorrente das práticas de


controle do comércio de produtos no mercado local, por meio do sistema de mesas,
então vigentes em Portugal, a exemplo da Alfândega das Sete Casas 100. Observando os
regimentos da Casa da Índia, Mina e Guiné, que eram responsáveis pelos produtos,
comercialização e navegação com as Colônias da Ásia e África, percebem-se certas
semelhanças com a estrutura do comércio de exportação de produtos da Colônia
portuguesa na América101. As Mesas de Inspeção instaladas no Brasil seguiam, em
linhas gerais, o mesmo modelo dessas instituições, cujas atividades de comercialização
de produtos primavam pela observância da qualidade. Ao mesmo tempo, preservavam-
se as particularidades existentes com relação ao comércio dos produtos coloniais do
Brasil. Assim, a Mesa de Inspeção nasceu como um instrumento da Alfândega do
Tabaco que estava diretamente relacionado ao exame do produto e a sua classificação
de acordo com a qualidade102.
Diante do exposto, podemos afirmar quem Pombal foi o grande responsável pela
criação da Mesa de Inspeção e, esta pode ser inserida nas ações reformistas
empreendidas pelo poderoso ministro de D. José I.

1.2 Estrutura e Composição

A Mesa de Inspeção foi criada103 e instalada nos principais portos do Brasil –


isto é, na Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco e Maranhão – e estava, jurídica e
administrativamente, encarregada de examinar, qualificar, regular conservar a qualidade
e reputação dos principais gêneros coloniais104, além de tentar melhor promover a
agricultura e o comércio, como vimos, inspirado no plano redigido por Pombal.
O Novo Regimento da Alfândega do Tabaco, de 16 de janeiro de 1751, foi uma
resposta à súplica dos deputados da Mesa dos Homens de Negócio, que reclamavam da

100
Cf. o documento: “Rápida Descrição Histórica da Alfândega das Sete Casas”. Biblioteca Nacional de
Lisboa. Códice 235.
101
Cf. Regimento da Casa da Índia. 1992. Op. Cit.
102
O tabaco, como os demais gêneros coloniais estavam atrelados a princípio a Alfândega do Açúcar,
porém o tabaco era um gênero de grande interesse do comércio colonial e foi logo desvinculado da
administração da Alfândega do Açúcar, sendo independente a partir de 1665. Porém a Alfândega do
Tabaco passou por várias transformações e parte de seus registros foram destruídos com o incêndio
provocado pelo terremoto de 1755. Cf. “Sumário histórico da Alfândega do Tabaco desde a sua criação
até o ano de 1808”. Biblioteca Nacional de Lisboa. Códice 235.
103
REGIMENTO das Casas de Inspeção, 1º de abril de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia:
Caixa 54, documento 10325 e 10326.
104
Idem.
39

decadência do comércio e tráfico do tabaco e buscavam solução para fomentar a sua


produção e extração no Brasil, ao mesmo tempo em que procuravam favorecer os
lavradores, comerciantes e donos de navios que o transportavam do país para os
mercados estrangeiros. Tal regimento estipulava os direitos, despachos, preços e fretes
do tabaco e criou a Mesa de Inspeção com base no capítulo VI, § 4 ao 6, com o objetivo
de evitar a falsificação dos tabacos e por ela examinar e qualificar o tabaco dos portos
do Brasil. No capítulo VII, determina que o mesmo procedimento fosse adotado em
relação ao açúcar105.
Vejamos agora o “Decreto de sua Majestade, que baixou o Conselho
Ultramarino a favor do comércio e fábrica do açúcar e tabaco” de 27 de janeiro do
mesmo ano. Nas palavras do documento, o rei, foi “informado da grande decadência,
em que se acham a lavoura e o tráfico do tabaco e açúcar, que são os dois gêneros em
que consiste o principal comércio destes reinos, como o Estado do Brasil”, servia, no
estilo oficial, afirmando o desejo real em incentivar efetivamente “em beneficio comum
dos meus vassalos, assim da América, como da Europa, buscando remover os
impedimentos que os prejudicavam incumbindo a Mesa de Inspeção dessa tarefa106. Por
outro lado, o Regimento das Casas ou das Mesas de Inspeção107 deixava clara a sua
relação com o Novo Regimento da Alfândega do Tabaco e orientava, em quatro
capítulos, o funcionamento dessa instituição. Com a instalação da Mesa de Inspeção, as
superintendências do tabaco foram extintas, e a sua jurisdição e inspetores foram
transferidos para a referida Mesa108.
Por esse regimento, verifica se que a Mesa era composta por “três inspetores,
dois escrivães e os mais oficiais” sem maiores detalhes109. Porém, nas “Instruções para
o marques de Valença, Governador e Capitão General da Capitania da Bahia”, de 1779

105
NOVO Regimento da Alfândega do Tabaco, 16 de janeiro de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino –
Bahia: Caixa 54, documento 10325.
106
DECRETO sobre a Produção, Comércio do Açúcar e Tabaco de 27 de janeiro de 1751. Arquivo
Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 54, documento 10328.
107
Há dois Regimentos da Mesa de Inspeção, um de 16 de Janeiro de 1751 e outro de 01 de abril de 1751,
que é uma copia impressa do primeiro e registrado na Chancelaria Mor Corte do Reino no livro das leis,
a folha 2. Onde também foi impresso. de abril de 1751, sendo assinado pelo rei e por Diogo Mendonça
Corte Real e do qual escolhi como referência.
108
REGIMENTO das Casas de Inspeção, 1º de abril de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia:
Caixa: 54, documento 10326.
109
O número de funcionários que era estipulado para os serviços da Mesa de Inspeção foi criticado por
Martino de Melo e Castro em relatório de informações ao novo governado da Capitania Bahia em 1779.
Segundo ele a Mesa não cumpria o seu papel, protagonizando prevaricações, escândalos, falsificações,
contrabando, além do número de funcionário onerar a Real Fazenda. Cf./In: INSTRUÇÕES para o
marques de Valença, Governador e Capitão General da Capitania da Bahia. Palácio de Queluz, 10 de
setembro de 1779. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia. Caixa 54: documento: 10319-10335.
40

foi apresentado o número de vinte e quatro funcionários110, sendo: “Um Inspetor


Presidente Desembargador supranumerário da relação”, quatro Inspetores, dois
examinadores; dois escrivães da Mesa de Inspeção, um guarda-mor; um juiz da balança;
um escrivão do registro, outro da entrada, outro da ementa; um tesoureiro das despesas,
um guarda livros da Inspeção; dois guardas marinhos da Mesa de Inspeção; um
meirinho, um escrivão; dois mercadores do tabaco; dois porteiros111.
O Presidente da Mesa de Inspeção era automaticamente o Intendente Geral do
Ouro112, no caso da Bahia e do Rio de Janeiro, e o Ouvidor Geral, no caso do Maranhão
e Pernambuco. Além disso, o presidente tinha uma carreira estabelecida na Colônia
como magistrado, membro da Câmara de Vereadores e funções de Juiz de Fora e
Desembargador113. Havia também dois inspetores, um da agricultura, que era eleito pela
Câmara de Vereadores114, e um do comércio, que era eleito pelo grupo de comerciantes,
a princípio organizados pela Mesa do Bem Comum e, depois da sua extinção, passou a
ser escolhido pela própria Mesa de Inspeção115. Rodrigo Ricupero chama a atenção para
“o fato de órgãos e funções existentes em certos locais altarem em outros116”, como
observamos com a Mesa de Inspeção em relação à determinação do cargo de presidente,
além de ser um órgão existente apenas em quatro capitanias.

110
INSTRUÇÕES para o marques de Valença, Governador e Capitão General da Capitania da Bahia.
Palácio de Queluz, 10 de setembro de 1779. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia. Caixa 54: documento:
10319-10335.
111
REGIMENTO das Casas de Inspeção, de 1º de abril de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Caixa
54, documento. 10326.
112
Sugestão feita por Pombal quando elaborou o plano de melhoramento do tabaco. Cf./In: “Dedução
Compediosa”. Biblioteca Nacional de Lisboa: Coleção Pombalina 695, f. 120-129.
113
Um exemplo é do Intendente do Ouro, Desembargador e Presidente da Mesa de Inspeção da Bahia,
João Ferreira Bitencourt e Sá em vários documentos que nos evidencia a sua carreira: “Carta régia pela
qual se fez mercê ao bacharel João Ferreira Bitencourt e Sá do cargo de Juiz de Fora do Civil da cidade da
Bahia”. Lisboa, 18 de fevereiro de 1755; “Carta régia pela qual se fez mercê a João Ferreira Betencourt e
Sá de o nomear Intendente e primeiro ministro da Mesa de Inspeção da Bahia”, Lisboa, 28 de janeiro de
1764; “Provisão do Conselho Ultramarino concedendo a João Ferreira Betencourt e Sá a licença para usar
beca em todas as reuniões da Mesa de Inspeção”, Lisboa, 24 de fevereiro de 1764. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 134, documentos 26594 – 26597.
114
Nas atas da Câmara de Vereadores do período de 1765-1776 que foram consultadas, verificamos
registros de reuniões onde eram efetuadas as eleições para o cargo de Inspetor da Agricultura. “Atas da
Câmara de Salvador, 1765-1776”. Arquivo Histórico Municipal de Salvador – Fundação Gregório de
Matos.
115
REPRESENTAÇÃO da Mesa de Inspeção da Bahia expondo certas dúvidas que se apresentavam
acerca da eleição de novos deputados, cujos lugares haviam sido criados depois de suprida a Mesa do
Bem Comum. Bahia, 09 de setembro de 1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 16,
documentos 2853-2856.
116
Rodrigo Ricupero. A Formação da Elite Colonial: Brasil 1530-1630. São Paulo: Alameda, 2009. P.
130.
41

Na composição da Mesa117, havia três inspetores, dois com experiência prática


no comércio e agricultura; e um - que seria intendente do ouro e provedor, com
formação –geralmente eram magistrados que estudaram em Coimbra. Os escrivães e
demais funcionários eram representantes de vários segmentos, como produtores do
tabaco, senhores de engenho e comerciantes, que deveriam ser eleitos para um mandato
de três anos. Esses funcionários, que exerciam diferentes tarefas para o funcionamento
da Mesa, seguiam a determinação do regimento de se reunirem nas respectivas Mesas
de Inspeção duas tardes de cada semana durante todo o ano, para discutirem os assuntos
referentes ao comércio e agricultura, com a finalidade de realizar suas funções
administrativas. Porém, no período da chegada e partida dos navios do Reino, eram
obrigados a comparecer ao “local de trabalho todos os dias cumprindo horário normal e
também todo o tempo que necessário for para se dar despacho as partes118”.
Os Intendentes ocupavam os cargos como membros ordenados e indicados. Já os
outros funcionários, os que não eram ministros letrados, eram eleitos para atuarem por
um período de um ano sem, porém, serem reeleitos e, portanto, só poderiam se
candidatar novamente depois de três anos. Os ordenados eram pagos pela Real Fazenda,
contudo, como se observa no próprio Regimento, havia diferenças de ordenados de uma
capitania para a outra, relacionadas à qualidade e quantidade de produtos de cada uma.
A produção da Bahia era maior e de melhor qualidade, e o volume das exportações era
grande com relação às outras capitanias, por isso, o rendimento anual de cada
funcionário na Bahia era de quatrocentos mil réis. Já no Rio de Janeiro, em Pernambuco
e no maranhão era de duzentos mil réis119.
No primeiro momento, o Regimento do Tabaco previa a existência de dois
escrivães para a Mesa de Inspeção e, ainda, os oficiais da Superintendência do tabaco.
Porém, três oficiais que faziam o trabalho não foram efetivados porque ocupavam
também funções na Alfândega e na Casa da Arrecadação do Tabaco, e era impraticável
realizar as tarefas rotineiras e necessárias da Mesa de Inspeção – como o preenchimento
dos livros de entrada e saída dos gêneros, fazer o exame do produto qualificá-lo – e, ao
mesmo tempo, executar outras tarefas em outras instituições. Com a impossibilidade de
esses oficiais da Superintendência atuarem como escrivães da Mesa de Inspeção, o

117
Cf. Graça Salgado (Org.). Fiscais e Meirinhos: a administração no Brasil Colonial. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1985.
118
REGIMENTO das Casas de Inspeção” de 1º de abril de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Caixa
54, documento. 10326.
119
Ibidem.
42

governador criou dois cargos de escrivão e nomeou dois escrivães da Mesa da Inspeção
que não atuavam na Superintendência do Tabaco120.
O primeiro escrivão da Mesa deveria assistir a todas as sessões dela para
escrever os despachos que propõem nos requerimentos que se apresentavam e as
qualificações do açúcar, assistir ao exame dos fardos de Tabaco de folha, que
anualmente se remetia para o Estado da Índia, fazendo todas as classes de qualificação e
peso necessários para extrair a fatura que acompanhava a remessa, além de também
pagar aos lavradores. O escrivão era responsável pela correspondência da Mesa com as
diferentes instituições na Colônia, Portugal e ultramar, principalmente com a Junta da
Administração da Real Fazenda do Reino de Angola, por cuja ordem recebia em seu
cofre e avultados cabedais. Escrevia também toda a receita e despesa do dito cofre, com
balanças anuais, fazer toda a escrituração da receita e despesa do tesoureiro da Mesa.
Cabiam-lhe também o despacho dos navios que saiam do porto e a matrícula das suas
tripulações. Assistia às visitas que a Mesa fazia a bordo dos navios na sua chegada e
visitava, por ordem da Mesa, todas as embarcações que navegavam para a África121.
Já as atribuições do segundo escrivão da Mesa consistiam em auxiliar o primeiro
escrivão a fazer a conferência das qualidades do açúcar e em escrever em todos os autos
e processos que passavam pela Mesa, como das administrações das heranças dos
negociantes endividados122.
No final do século XVIII e início do XIX, a importância e o papel da Mesa de
Inspeção são ampliados, acarretando um crescente aumento de tarefas em decorrência
disso. Havia sempre a necessidade de mais pessoas para a realização de suas
atribuições. Assim, vários cargos foram criados e outros expandidos, a exemplo do
aumento do numero de escrivães, secretários123 e inspetores do algodão, como também
o de Deputado Fiscal Ordinário, para atuar nas conferências e audiências da Mesa de
Inspeção e elaborar os despachos judiciais, editais que necessitava de conhecimento

120
INFORMAÇÕES da Mesa de Inspeção da Bahia, 20 de maio de 1791. Arquivo Nacional da Torre do
Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 37.
121
TAREFAS do primeiro escrivão da mesa. Muita coisa, trabalho isso. É também um indicio da própria
atribuição da Mesa. “Informações da Mesa de Inspeção da Bahia”, 20 de maio de 1791. Arquivo Nacional
da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 37.
122
Idem. “Informações da Mesa de Inspeção da Bahia”, 20 de maio de 1791. Arquivo Nacional da Torre
do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 37.
123
Um exemplo foi o cardo de secretário para José da Silva Lisboa e sua função principal era percorrer o
Recôncavo, visitando as propriedades, orientando os produtores e verificando o resultado das
experiências implantadas pela Mesa de Inspeção. Sobre isso. Cf. Virginia Maria Trindade Valadares. A
Sombra do Poder: Martinho de Melo e Castro e a Administração de Minas Gerais (1770-1795). São
Paulo: Hucitec, 2006.
43

específico e capacidade e instrução sobre as leis e estilos do comércio de que muito


depende o dito ofício124.
Além disso, havia “notável atraso nas disposições das Administrações
concedidas pela Mesa por falta de quem oficialmente promovesse o seu progresso”, pois
era conveniente haver na mesma Mesa um Deputado Fiscal Ordinário, que fizesse as
funções de solicitador e promotor do Juízo, a exemplo de todos os Juízos de arrecadação
econômica de interesse da Real Fazenda e do público para que se adiantassem os
processos e execuções, fazendo-se cumprimento de Direito e Justiça. Tal pessoa era
responsável pelo arquivo e deveria fiscalizar a execução das leis, ordens, provisões
régias e acordos da casa em todos os processos de administrações, habilitações e mais
causas da competência da Mesa. Visando os autos pendentes processados e que em
diante se autuaram os requerimentos respectivos ao referido expediente, conformando-
se no que for compatível com Regimento do juízo dos defuntos ausentes de
responsabilidade administrativa da Mesa125.
A Mesa de Inspeção deveria priorizar os momentos chaves em que a sua
arregimentação procurava responder às exigências da sua funcionalidade. Ela controlava
as exportações para Portugal, assegurava a recepção de todas as mercadorias oriundas
da metrópole, África e Oriente, como também a sua distribuição. Das mais
competências deste órgão, sua estrutura e funcionamento, assim como da evolução do
mesmo, dão-nos conta o Regimento da Mesa de Inspeção. Porém, com o passar do
tempo, outras atribuições lhes foram acrescentadas.
Depois do seu estabelecimento, a Mesa de Inspeção informava ao rei as
providências tomadas para executar o que se determinava no Regimento e as demais
ordens provenientes de alvarás, leis e decretos, principalmente no que respeitava ao
exame e qualificação do açúcar e tabaco, como também o que se estabelecia a favor do
comércio e dos fabricantes que, segundo a direção da Mesa, estavam muito satisfeitos,
“louvando a reta e boa ordem, como que se fazem estas diligências e distribuições,
desterrando o antigo estilo ou abuso com que se restringia e prejudicava o comércio”126.
As atividades da Mesa de Inspeção da Bahia foram aumentando ao longo do
tempo. Devido à grande carga de trabalho, os funcionários reclamavam que não

125
CÓPIA das folhas 230 do livro 1º dos Acordos da Mesa de Inspeção da Bahia, 07 de julho de 1802.
ArquivoNacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 37.
126
INFORMAÇÃO da Mesa de Inspeção da Alfândega do Tabaco da Bahia acerca da exportação do
tabaco e açúcar, Bahia, 30 de maio de 1753. Arquivo Histórico ultramarino: Bahia. Caixa 05, documento
628-629.
44

recebiam pelos serviços prestados, e que as atividades da Mesa ocupavam praticamente


todo o tempo deles, não podendo, assim, exercer licitamente outra atividade, pedindo
por isso melhores ordenados127.
Nos primeiros anos, a Mesa passou por dificuldades financeiras, pois foi criada
sem renda alguma e não havia dinheiro para o pagamento das despesas com a compra
dos instrumentos utilizados para a execução dos exames e demais trabalhos realizados,
ainda que o seu Regimento deixasse clara a competência da Fazenda Real com o
pagamento dos funcionários. Para a execução de suas atribuições, deveriam ser
providenciados os meios de realizá-las, o que demandava um alto custo como os
aluguéis e reformas em sete trapiches e armazéns que ficavam próximos para receber os
produtos e equipar cada um com pesos, balanças, as marcas de ferro, ferramentas para
furarem e abrirem as caixas e rolos, livros de registros e assentos dos exames128.
A correspondência trocada entre a Mesa e a Coroa em 1754 mostrou essa
dificuldade financeira e, em resposta a essas cartas, o governo incentivava e
aconselhava a Mesa de Inspeção a tomar dinheiro emprestado para efetuar os
pagamentos necessários,

[…] visto não haver consignação proposta, nem quantia livre das disposições
da casa da Fazenda Real, como informava o provedor dela, a mesma Mesa
tomasse emprestado o dinheiro que fosse necessário para a referida despesa e
passasse letra para em Lisboa ser pago pelo tesoureiro da Junta da
Administração do Tabaco na forma do estilo praticado enquanto a S.
Majestade não dava providência para este suprimento.129

Porém, em outra correspondência, o escrivão Simão Gomes Monteiro informava


que não tinha encontrado nenhum homem de negócio que se prontificasse a emprestar o
dinheiro necessário para as despesas da Mesa130. Em 1757, ainda apresentavam-se
dificuldades financeiras, e recorreu-se ao conde Vice-rei para que fosse tomado dinheiro
na praça em forma de letra a ser descontada em Lisboa, como era realizado na Casa da

127
OFICIO do Intendente Geral Wenceslau Pereira da Silva para Diogo de Mendonça Corte Real,
informando acerca de um requerimento dos oficiais da Mesa de Inspeção alegando excesso de trabalho e
pedindo melhoria nos vencimentos, Bahia, 30 de março de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia,
caixa 07, documentos1080-1103.
128
CONSULTA do Conselho Ultramarino ao Rei D. José sobre o que o Vice-Rei e Governador Geral do
estado do Brasil, Luís Pedro Peregrino de Carvalho de Meneses e Ataíde, conte de Autoguia da conta das
despesas para as obras da Casa de Inspeção. Lisboa, 02 de dezembro de 1753. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 112, documento 8782.
129
REPRESENTAÇÕES, ofícios, certidões da Mesa de Inspeção da Bahia informando sobre a falta de
Dinheiro para o pagamento de suas despesas e pedindo providencias a respeito. Bahia 15 de fevereiro de
1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 07, documentos1040-1055.
130
Ibidem.
45

Arrecadação do Tabaco, pelos superintendentes, sem que houvesse resultados. O


escrivão então afirma que “eu escrivão por mandado da Mesa e em seu nome fui pedir
dinheiro sobre as letras a várias pessoas, que o costumam dar e todas se me escusaram
com os pretextos131”.
Além disso, os funcionários da Mesa não estavam dando conta de examinar uma
grande quantidade de açúcar e tabaco, espalhados por sete trapiches e armazéns. Por
isso, convocaram mais sete pessoas para realizar os exames e registros das safras para o
embarque132. Ao mesmo tempo em que faltava dinheiro para pagar os honorários dos
funcionários, a produção aumentava.
Com a Mesa de Inspeção percebemos como o Governo Português ampliava o
seu poder de jurisdição e, de acordo com as necessidades, os alvarás, leis, decretos,
portarias e avisos foram sendo criados para corrigir, complementar e aprimorar a
execução do trabalho que, já na década de 1770, detinha o controle de todas as
atividades comerciais e produtivas da Colônia.
Essas mesmas regras também foram adaptadas ou sofreram alguma alteração de
acordo com as necessidades oriundas do próprio funcionamento da Mesa de Inspeção,
como percebemos em algumas situações que ocorreram e infringiram o regimento, a
exemplo da presidência da Mesa ter sido exercida por João Ferreira Betencourt e Sá por
mais de quatorze anos. De acordo com o Regimento, o cargo de Presidente deveria ser
preenchido pelo Intendente Geral do Ouro no prazo de quatro anos. Porém, João
Ferreira permaneceu no cargo de Intendente do ouro por quatorze anos e,
consequentemente, como presidente da Mesa também, o que originou várias
reclamações.
Outra situação foi a criação e nomeação do cargo de Escrivão e de Deputado
Vitalício em 1799, infringindo o Regulamento que determinava eleições a cada quatro
anos. O fato gerou polêmica. O primeiro caso foi em que o governador e capitão general
da Capitania da Bahia nomeava Manoel Rodrigues Barreto como escrivão da Mesa de
Inspeção “para o servir durante o tempo da sua Vida declarando o motivo que houve
para esta nomeação contra o disposto no Regimento do 1 de março de 1751 e
interpondo o meu parecer”133. Outro caso foi o do agricultor Antônio Alberto Duarte de

131
ESCRIVÃO da Mesa de Inspeção Simão Gomes Monteiro, Bahia, 28 de agosto de 1757. Arquivo
Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 14, documentos 2607-2611.
132
Ibidem.
133
INFORMAÇÕES da Mesa de Inspeção da Bahia, 20 de maio de 1791. Arquivo Nacional da Torre do
Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 37.
46

Brito que, em seção da Câmara, criticou a eleição e a duração de um ano do cargo de


inspetor da agricultura, afirmando que isso era prejudicial à agricultura e sugeria que a
Bahia seguisse o exemplo do Rio de Janeiro com a adoção do cargo de Inspetor
Vitalício com assento e voto geral da Agricultura na Bahia134.
Com isso, vários representantes da agricultura e do comércio enviaram cartas à
Junta do Comércio e à Secretaria de Estado dos Negócios Ultramarinos no final do
século XVIII e início do XIX, com o pedido para uma vaga no cargo de Inspetor
Vitalício tanto na agricultura como no comércio na Mesa de Inspeção da Bahia.
Geralmente as solicitações eram acompanhadas de atestados de boa conduta como
agricultor ou comerciante, tendo atuado ou não na Mesa de Inspeção. A maioria dos
casos foi indeferida, com a justificativa de ir contra o regulamento. Já os casos que
foram aceitos, um para a Bahia e outro para o Rio de Janeiro, tinham como argumento
da necessidade em desenvolver a cultura de novos gêneros, a exemplo de Jeronimo
Vieira de Abreu, por ter promovido o engenho de açúcar e propagar o arroz, e de João
Hopman, por ser um “agricultor hábil”, que propagou a plantação do café e aperfeiçoou
o fabrico do anil, a cultura do cânhamo e de outros gêneros do país. “Serviços estes que
habilitava um e outro para tais empregos, que nenhuma analogia tem com o serviço
auxiliar: nem parece de razão que qualquer graça especial (que é sempre uma exceção
da regra) se converta em regra geral para Vossa Majestade ser requerida a fazer
outras135”. Como veremos no capitulo 3, essa era uma das estratégias utilizadas pela
Coroa para fomentar a agricultura de novos gêneros na Colônia.
Podemos perceber que a atuação da Mesa de Inspeção era ampla, atingia várias
esferas da administração e setores da economia colonial, como agricultura, comércio,
navegação e fiscalização. Nos demais capítulos, analisaremos a atuação da Mesa de
Inspeção em cada uma dessas áreas, verificando se a mesma cumpriu ou não as suas
atribuições.

134
REQUERIMENTOS de Cargos Vitalícios para a Mesa de Inspeção da Bahia, 23 de Março de 1799.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio, caixa 214.
135
Ibidem.
47

2 AGRICULTURA

2.1 Problemas e visão de decadência

A Mesa de Inspeção, como vimos, foi estabelecida em 1751 para incentivar a


agricultura, buscando assim superar o quadro de dificuldades apontado no documento
de sua criação, no qual o rei dizia que tinha sido “informado da grande decadência em
que se acham a lavoura e o tráfico do tabaco e açúcar, que são os dois gêneros em que
consiste o principal comércio deste reino com o Estado do Brasil136”.
Não era apenas a Coroa que apontava a decadência da agricultura. Tal visão
aparece em vários documentos do período que tratam da agricultura do Brasil. Esse tipo
de discurso geralmente era uma crítica às medidas restritivas do monopólio e diversas
taxas impostas pela Coroa e mostrava uma insatisfação com o controle e a intervenção
econômica típicas do mercantilismo. Tais críticas vão acumulando ao longo do século
XVIII, e no final do século passam a expressar a influência das ideias do liberalismo
que chegam por vias diversas ao Brasil. Segundo Avanete Pereira Sousa, era a forma
como produtores rurais e pequenos comerciantes “manifestavam suas discordâncias
através de ações individuais que só posteriormente assumiram a forma de discursos e
protestos mais elaborados137” e representavam as contradições vivenciadas pelos
colonos, que pode ser expressa na famosa frase de Vilhena: “Não é das menores
desgraças viver em Colônias138”.
Luiz Antônio de Oliveira Mendes, por exemplo, elencando alguns problemas
vivenciados pelos produtores em meados do século XVIII, afirmou que os engenhos
eram dispendiosos e necessitavam constantemente de manutenção. Dessa forma, muitos
engenhos da Bahia “se conservavam em inação por diversos princípios, ou porque
precisavam de consertos ou porque lhes faltava o custeio, o suprimento, as canas, a

136
[DECRETO de sua Majestade que baixou ao Conselho Ultramarino a favor do Comércio e Fábrica do
Açúcar e Tabaco] de 27 de janeiro de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 54,
documento 10328.
137
Avanete Pereira Sousa. Manifestações locais da Crise do Antigo Sistema Colonial? (o exemplo das
câmaras municipais da capitania da Bahia) In.: Laura de Melo e Souza, Júnia Ferreira Furtado e Maria
Fernanda Bicalho (Orgs.). O Governo dos Povos. São Paulo: Alameda, 2009. P. 313.
138
Luís dos Santos Vilhena. A Bahia no Século XVIII. Salvador: Itapuã, 1969. (vol. I, II e III) (Coleção
Baiana).
48

escravatura, os bois, cavalos, lenhas e outras coisas139”, além disso, os escravos caros e
que a maioria dos produtores não os tratava adequadamente e que os maus tratos os
debilitava e logo perdiam o vigor, sendo necessários substituí-los, geralmente com dez
escravos a cada ano, além de providenciar vestuário e curativos por escravos, o que
gerava mais gastos140.
Luís António de Oliveira Mendes afirma ainda que o sistema de frotas era
prejudicial, tanto para a agricultura como para o comércio, porque concentrava as
mercadorias, dificultando a venda. Além disso, as frotas não eram constantes, o que
resultava no acúmulo da safra que, muitas vezes, deteriorava-se ao mesmo tempo em
que os produtor ficava sem recurso para continuar produzindo, pois os seus fundos
estavam detidos no produto que não era vendido pela falta da frota 141. Todos esses
entraves apontados por Luiz de Oliveira Mendes resultavam no endividamento dos
agricultores, que sempre recorriam aos credores – na maioria das vezes comerciantes –,
“porque tudo se lhe vende no fiado sobrecarregado142” para manter as propriedades,
renovar a escravatura e poder produzir entre uma frota e outra. Dessa forma, ficavam
presos aos comerciantes que trabalhavam “sempre pela conservação e duração do seu
antigo crédito; porque havendo ele sido um reparador dela, os posteriores têm feito
conhecer que o comércio criou e constituiu na agricultura uma feudatária, para que em
sujeição e eterno cativeiro anualmente lhe esteja contribuindo com uma infalível e
obrigada pensão143”.
O Juiz de Fora da Vila de Cachoeira, Joaquim Amorim Castro, em suas
observações sobre a agricultura e conservação do tabaco de 1788, afirmou que a lavoura
estava em total decadência principalmente pelo diminuto preço dos produtos e pelas
taxas impostas pela Coroa, aliados à “ignorância dos mesmos lavradores sobre sua
respectiva agricultura”, que não tentavam trabalhar para melhorar a qualidade e
reputação do mesmo gênero144, e a ação dos atravessadores, que contribuíam para

139
Luiz Antônio de Oliveira Mendes. Discurso Preliminar, Histórico, Introdutivo, com Natureza de
Descrição Econômica da Comarca e Cidade da Bahia: In.: Pinto de Aguiar. Aspectos da Economia
Colonial. Salvador: Progresso, 1957. (Coleção de Estudos Brasileiros, série cruzeiro). P. 33.
140
Ibidem, p. 37-38.
141
Ibidem, p. 60-61.
142
Ibidem, p. 41.
143
Ibidem, P. 42-43.
144
[CORRESPONDÊNCIA sobre a agricultura e manufatura o tabaco]. Bahia, 23 de junho de 1788.
Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, códice 807, volume 13.
49

agravar a situação comprando antecipadamente a colheita ainda nas propriedades,


prejudicando assim os comerciantes cadastrados na Mesa de Inspeção145.
Tal situação não era restrita à Capitania da Bahia. Raimundo José de Souza
Gaioso, por exemplo, no começo do século XIX, analisando o caso do Maranhão,
afirmava os “mil entraves” que empobreciam os lavradores, tirando as possibilidades de
desenvolvimento da agricultura, tais como:

“o horroroso preço que tem chegado a escravatura no tempo presente […] as


infinitas execuções na mesma escravatura, como consequência daquela
carestia […] o ínfimo preço que se acha reduzido o algodão, não pela falta de
combinação das atuais críticas circunstancias, mas por efeito do escandaloso
monopólio de uns poucos de capitalistas, que souberam aproveitar se das
calamidades públicas” entre outras queixas146.

Outra vertente era a visão de carência, apontada principalmente por Avanete


Pereira Sousa ao trabalhar com as representações da Câmara Municipal, que
evidenciava a falta de alimento, carestia, penúria e “certa insatisfação tanto em
Salvador, vilas do Recôncavo e Sertão com as políticas locais de organização da
economia em seus dois principais aspectos: na produção e no comércio147”.
Esse quadro de carência era constante e afetava a população local, pois os
agricultores dedicavam a produção para exportação e limitavam a cultura de gêneros
para o consumo, ocasionando carestia e falta de alguns alimentos básicos. Para Luiz de
Oliveira Mendes, essa situação de penúria estava relacionada ao crescimento da
população da Capitania da Bahia, à inércia dos produtores, à irregularidade com que se
dedicavam à “plantação de uns gêneros que têm maior preço, desamparando a cultura
totalmente de outros, aliás, necessários”, provocando carestia, e à “insurgência de uma
desmascarada pobreza” que era agravada pela falta de chuvas e secas constantes148.
Ainda segundo Luiz Antônio, a melhoria da produção agrícola era de interesse
do comércio e da navegação. E “que tanto mais seja aumentada, dilatada e crescida a
lavra e a safra do açúcar e próspera a agricultura em todos os ramos, quanto mais
também convalescerá por uma mútua correspondência o comércio e a navegação149”.

145
Ibidem.
146
Raimundo José de Sousa Gaioso. Compêndio Histórico e Politico dos Princípios da Lavoura do
Maranhão (1812). Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1970. p. 266.
147
Avanete Pereira Sousa, op. cit. p. 313.
148
Luiz Antônio de Oliveira Mendes, op. cit. p. 28.
149
Ibidem, p. 40.
50

A dificuldade de se manter a propriedade era outro problema que evidenciava a


decadência, pois o alto custo de estabelecimento e manutenção do engenho era outro
entrave para o desenvolvimento da produção. Mesmo assim, ao redor dos engenhos,
proliferavam-se plantações de cana desenvolvidas pelos lavradores de médias e
pequenas propriedades que contribuíram para o aumento da produção e participavam da
economia exportadora 150.
Alguns autores relacionam a crise aurífera que ocorreu no Brasil como sendo
uma crise generalizada. O visconde de Carnaxide, por exemplo, aponta a década de
1760 como sendo um período de crise econômica no Brasil, com base no declínio da
mineração, mas não apenas desta; para ele “a crise era de todo o sistema econômico,
baseado numa determinada produção de matérias-primas”, e acrescenta que o “declínio
da produção do açúcar era a consequência a que se chegava depois de longos anos em
que as minas atraíram o interesse de toda a gente151”. Essa visão é também confirmada
por Dauril Alden, que associava a existência da crise entre 1760-1770 com a dificuldade
dos principais produtos de exportação, notavelmente o açúcar e o tabaco, tanto pelos
baixos preços na Europa como pela falta do abastecimento de escravos. Para ele, a Mesa
de Inspeção foi uma forma de melhorar a competitividade dos produtos do Brasil,
associada à criação das Companhias de Comércio que visavam promover o
desenvolvimento do Norte e do “nordeste estagnado152”. Contudo, ainda assim, registra
o aumento no número de engenhos e das exportações153.
Assim, apesar das descrições de decadência apresentadas em parte da
documentação, compreendemos que esse discurso expressa uma consciência, ainda que
confusa, dos entraves que o sistema colonial, notadamente monopólios e impostos,
colocam para a agricultura da Colônia.
Tal ideia aparece, por exemplo, em Luís dos Santos Vilhena, que afirmava em
suas cartas que a Capitania da Bahia era a mais rica devido ao seu extenso território com

150
Sobre a agricultura em geral e a questão dos agricultores ver: B. J. Barickman. Um Contraponto
Baiano: açúcar, fumo, mandioca e escravidão no Recôncavo, 1780-1860. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2003; Stuart B. Schwartz. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial.
1550-1835. São Paulo: Companhia das Letras, 1988; Vera Lúcia Amaral Ferlini. Terra, trabalho e poder.
São Paulo: Brasiliense, 1988 e Açúcar e Colonização. São Paulo: Alameda, 2010; Eni de Mesquita
Samara. Lavoura Canavieira, Trabalho Livre e Cotidiano: Itu, 1780 – 1830. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2005, p. 26.
151
António de Sousa Pedroso, visconde de Carnaxide. O Brasil na Administração Pombalina: economia
e política externa. São Paulo: ed. Nacional; Brasília: INL, 1979 (Brasiliana, v.192). p. 52-55.
152
Dauril Alden. O Período Final do Brasil Colônia, 1750-1808. In.: Leslie Bethell. História da América
Latina: América Latina Colonial. vol.1. 2ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Brasília,
DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. P. 549-550.
153
E utiliza como base as caixas com 40 arrobas. Cf. Dauril Alden. op. cit., p.549.
51

amplos recursos naturais, o que possibilitava o desenvolvimento de uma agricultura


florescente154. Ainda segundo Vilhena, de todos os estabelecimentos de Portugal, o
Brasil não só é o mais rico como o mais suscetível de melhoramento e o que mais
atendia aos interesses do comércio. A partir desse paradoxo, o autor questionava “por
que um país tão fecundo das produções da natureza, tão rico em essência, tão vasto em
extensão, há de ser habitado por um tão diminuto número de colonos, a maior parte
pobres, muitos deles esfaimados: será talvez difícil descobrir causa que mais contraria a
razão155”. Portanto, para ele, a Colônia possuía um potencial para produzir “infinitas
mais riquezas que as que envia para a Europa” e aconselha a Coroa dizendo que era
preciso animar a cultura, o comércio, “vigorizar, proteger e dirigir os colonos para que
pudessem produzir o que fosse mais vantajoso para a metrópole e fechar, pelos termos
da mais refinada política, as infinitas portas do contrabando156”.
Como bem salienta José Jobson Arruda, a “esta visão quase pessimista da
conjuntura brasileira no final do século XVIII e início do XIX contrapõem-se
interpretações bastante otimistas”, citando em seguida Nícia Luz, que apontava a
“vitalidade de que dava demonstrações e economia brasileira no início do século XIX, a
riqueza de seus recursos potenciais, favoreciam a visão de um revigoramento do
Império Português, tendo agora como centro o Brasil157”. Afinal tal desenvolvimento na
segunda metade do século XVIII foi comprovado pelos estudos de Stuart Schwartz,
Fernando Antônio Novais, José Jobson de Andrade Arruda e Jean Baptiste Nardi158.

2.2 Experiências agrícolas

O texto “Apontamentos para descobrir na América Portuguesa aquelas


produções naturais que podem enriquecer a medicina e o comércio”, anônimo de 1765,
critica a falta de notícias e conhecimento sobre o Brasil desde o inicio da colonização,

154
Luís dos Santos Vilhena. A Bahia no Século XVIII. Salvador: Itapuã, 1969. (vol. III) (Coleção Baiana).
P. 913.
155
Ibidem, p. 914.
156
Ibidem, p. 943-944.
157
José Jobson de A. Arruda op. cit., p. 633-634.
158
Stuart B. Schwartz. Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. 1550-1835. São
Paulo: Companhia das Letras, 1988, p. 343, e;, Fernando A. Novais. Portugal e Brasil na Crise do
Antigo sistema Colonial (1777-1808). 3ª edição. São Paulo: Hucitec, 1985. (Coleção Estudos Históricos),
p. 287 e; José Jobson de A. Arruda. O Brasil no Comércio Colonial. São Paulo: Ática, 1980. (Ensaios:
67). p. 633-634.
52

dificultando a utilização de plantas e outros produtos para o emprego na medicina, no


comércio e nas artes mecânicas que já eram conhecidas dos castelhanos, ingleses e
holandeses nos seus domínios na América, e que até aquele momento não “se avaliou
aquele domínio se não para dominar os gentios e tirar ouro de suas minas, não
considerando por riqueza aquela que provém da agricultura”, e que ainda estava em
total ignorância por parte dos portugueses159.
Segundo Ronald Raminelli, “o período pombalino criou instituições e metas com
objetivo de produzir saber especializado sobre o mundo colonial”, para o
aperfeiçoamento agrícola e o aumento da produtividade e, por conseguinte, dos ganhos
da metrópole em tempo de decadência das minas160. Além disso, a diversificação dos
produtos e a produtividade agrícola eram importantes para o desenvolvimento das
reformas econômicas implementadas pelo Estado a partir de Pombal161. A Coroa
incentivou importantes estudos sobre o seus domínios162.
Para Ângela Domingues, a construção de um novo conhecimento sobre o
Império tinha repercussões econômicas óbvias, pois a aclimatação e a cultura de novas
espécies deviam se desenvolver paralelamente à racionalização da agricultura
tradicionalmente praticada e à introdução de novas técnicas que rentabilizariam e
tornariam mais produtivas as atividades agrícolas. Nesse processo, os agentes da
administração colonial deveriam contribuir para facilitar o trabalho desenvolvido pela
Mesa de Inspeção e as Câmaras Municipais atuaram diretamente com os lavradores,
distribuindo sementes e difundindo os saberes e técnicas agrícolas com o objetivo de
atingir o nível de desenvolvimento obtido por outras nações163. Para tanto, nesse

159
[APONTAMENTOS para descobrir na América Portuguesa aquelas produções naturais que podem
enriquecer a medicina e o comércio], anônimo, 02 de outubro de 1765. Biblioteca Nacional de Lisboa:
Códice 6941//4.
160
Ronald Raminelli. Viagens Ultramarinas: monarcas, vassalos e governo a distância. São Paulo:
Alameda, 2008. p.62.
161
Ibidem, p. 70-83.
162
Difundiram-se folhetos como a “Memória sobre a reforma dos alambiques”, escrito por Bernardo
José de Lorena e publicado em 1797; “O Método sobre a preparação da cochonilha”, a “Memória sobre
a plantação de algodões” de autoria de Manuel Arruda da Câmara e foi impresso em 1799; a “Memória
sobre a cultura do loureiro cinamomo, vulgo caneleira de Ceilão” e tantos outros como o “Discurso
Sobre o Melhoramento da Economia Rustica do Brasil: pela introdução do arado, reforma das fornalhas,
e conservação das suas matas”, de José Gregório de Moraes Navarro e publicado por José Mariano da
Conceição Veloso e Simão Tadeu Ferreira. Lisboa: na Of. de Simão Thaddeo Ferreira, 1799. “Discurso
Preliminar, Histórico, Introdutivo, com Natureza de Descrição Econômica da Comarca e Cidade da
Bahia”, de Luiz Antônio de Oliveira Mendes. In.: Pinto de Aguiar. Aspectos da Economia Colonial.
Salvador: Progresso, 1957. (Coleção de Estudos Brasileiros, série cruzeiro). “Dissertação a respeito da
Capitania de São Paulo, sua decadência e modo de restabelecê-la” de Marcelino Pereira Cleto em 25 de
Outubro de 1782.
163
Ângela Domingues. Monarcas, Ministros e Cientistas. Mecanismos de Poder, Governação e
53

período havia projetos de estabelecer a aclimatação de espécies vegetais exógenas e a


domesticação de espécies nativas, a exemplo da que foi estabelecido na Comarca de
Ilhéus164.
Segundo Maria Odila Leite da Silva Dias, vários estudiosos dos fins do século
XVIII, imbuídos do espirito Iluminista, voltaram seus estudos principalmente para a
agricultura. Surgia a figura do agricultor que viajava para a Europa “procurando
informar-se das últimas invenções e processos úteis que pudesse introduzir quando
voltava a sua terra, tornam-se comuns nos escritos da época165”. Afirma ainda que a
Coroa tinha um papel importante nesse movimento de estudiosos dedicados às ciências
naturais e patrocinavam a publicação dessas memórias, sobretudo a partir de 1770,
“consciente e preocupada em fomentar a produção de matérias primas para a
industrialização em Portugal e promover o renascimento da agricultura166”.
O processo de conhecimento sobre a agricultura, em parte impulsionado pela
Coroa parte por iniciativa particular, tinha como finalidade introduzir em Portugal e
seus domínios as novas técnicas e métodos desenvolvidos, especialmente em Estudos
ingleses e franceses, que então foram traduzidos e divulgados, mas também através de
estudos originais. Tal esforço foi pesquisado sistematicamente por Maria Odila Leite da
Silva Dias em aspectos da ilustração no Brasil e, como exemplo, podemos citar: José
Mariano da Conceição Velosos, “Quinigraphia portuguesa ou coleção de várias
memórias sobre vinte e duas espécies de quina, tendentes ao seu desenvolvimento nos
vastos domínios do Brasil, copiada de vários autores modernos”. Lisboa: of. De João
Procópio Corrêa da Silva, 1799. José de Sá Bitencourt, “Memórias sobre a plantação
dos algodões e sua exportação; sobre a decadência da lavoura de mandioca no termo
de Camamu, Comarca de Ilhéus, Bahia apresentada e oferecida ao Príncipe do Brasil”.
Lisboa: oficina de Simão Tadeu Ferreira, 1798. João Pereira Manso. “Memória sobre o
método econômico de transportar aguardente do Brasil com grande proveito dos
fabricantes e comerciantes, apresentada e oferecida a Sua Alteza Real o Príncipe do
Brasil”. Lisboa, oficina de Simão Tadeu Ferreira, 1798167.

Informação no Brasil Colonial. Ed. Centro de História de Além-Mar, Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas| Universidade Nova de Lisboa e Universidade dos Açores. Portugal, 2012. p. 143-144.
164
Poliana Cordeiro de Farias. Estratégias de Fomento à Agricultura: aclimatação de espécies vegetais
na Comarca de Ilhéus (1789-1807). In: 2º Encontro de Novos Pesquisadores em História, 2010,
Salvador/BA. 2º Encontro de Novos Pesquisadores em História, 2010. p. 237-250
165
Maria Odila Leite da Silva Dias. Aspectos da Ilustração no Brasil. In.: A Interiorização da Metrópole
e Outros Estudos. São Paulo: Alameda, 2005. P. 46.
166
Ibidem, p. 49.
167
Ibidem, p. 49.
54

Mesmo que a Coroa incentivasse esses estudos sobre as suas Colônias no


Ultramar, muitos relatórios de viagens sobre a Colônia não foram publicados devido à
“política de sigilo e a intenção de Portugal de manter o Brasil fechado para o mundo168”
e serviam apenas para instrução do governo e para orientar as melhores ações de
desenvolvimento e exploração colonial.
Para além da Mesa, outras instâncias administrativas como o Vice-reinado,
Governo das Capitanias e Câmaras Municipais também participavam desse processo.
De acordo com Avanete Pereira Sousa, a intervenção da Câmara em geral ocorria
enquanto instância estimuladora, supervisora e disciplinadora de práticas que
garantissem a manutenção e reprodução da economia. Assim, mesmo a Mesa tendo
poderes diretos com o desenvolvimento da agricultura, não podemos perder de vista a
atuação da Câmara na produção. Mesmo porque o Inspetor da agricultura era membro
do legislativo municipal e aliado da Mesa, pois tinha interesse nesse processo de
disciplina, conhecimento e introdução das técnicas e também já atuava no estimulo à
agricultura, ao supervisionar as práticas de produção e, em geral, agia direta ou
indiretamente tanto no sistema econômico produtivo para o consumo local como para o
mercado externo. Assim, a Câmara procurava direcionar toda a terra disponível aos
gêneros exportáveis, como também orientava ações de todo tipo de agricultor
principalmente aos que se dedicavam à plantação da cana e tabaco, quer aqueles
oriundos das cercanias do Recôncavo e mesmo de outras regiões da Colônia169.
Neste caso, é interessante abordar o tabaco, gênero que ganharia enorme
importância no século XVIII170. Segundo Nardi, a propagação do fumo pelo mundo foi
iniciada pelos marinheiros e soldados que viajavam pelas rotas das Índias Ocidentais,
pois o fumo ajudava a tripulação a passar o tempo durante a viagem e, quando
chegavam ao continente europeu, o fumo provocava a admiração dos que ficavam.
Dessa forma, “o principal propagador do fumo no mundo foi o fator social do qual o
aspecto comercial foi apenas uma consequência171”.
Na Bahia a cultura do tabaco se concentrou na região sul do Recôncavo, entre
Maragogipe, Cachoeira, São Felix, Muritiba e Santo Antônio de Jesus – ao longo do rio
Paraguaçu –, pois seu clima e o solo argiloso rico em húmus eram adequados para a

168
Ibidem, p. 71.
169
Avanete Pereira Sousa. A Bahia no Século XVIII: Poder Político Local e Atividades Econômicas. São
Paulo: Alameda, 2012. p. 204.
170
Jean Baptiste Nardi. op. cit., p. 23.
171
Ibidem, p. 24 e 26.
55

produção do tabaco172. Além do Recôncavo baiano, outras regiões do Brasil também


passaram a cultivá-lo, como é o caso de Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais e
Maranhão173.
Segundo Antonil, o tabaco começou a ser cultivado de forma modesta, ainda nos
quintais no início do século XVII, porém, foi logo difundido pelos lavradores dos
campos de Cachoeira e outras partes do Sertão da Bahia. Ao contrário do açúcar, não
necessitava de grande capital, e qualquer um podia cultivá-lo com facilidade174. Além
disso, em uma mesma unidade produtora, voltada para a exportação, a cultura do tabaco
era realizada com a combinação de mão-de-obra familiar e escrava175. Mas o sucesso da
colheita não dependia somente do lavrador, muitos aspectos do cultivo estavam fora do
controle pessoal e, em muitos casos, o agricultor tinha que contar com a sorte, pois os
fatores climáticos e as pragas poderiam prejudicar a lavoura176.
Com relação ao tabaco, o conde dos Arcos escreveu a Pombal acerca da cultura
do produto e as experiências que estavam sendo realizadas para melhorar a produção e
aperfeiçoar sua preparação de forma a poder competir com o tabaco de outras
províncias, por meio do novo método de produção e cultivo utilizado pelos ingleses,
espanhóis e franceses. A primeira tentativa de melhorar a qualidade do produto foi em
1736, com a introdução da técnica de produção de fumo em folha de Cuba e da
Virginia177. Para isso, selecionaram os principais conhecedores da cultura do tabaco no
Brasil, os lavradores Joaquim Inácio da Cruz e Diogo Alves Campos, que certificaram
que, mesmo com a diferença climática, o tabaco do Brasil poderia ser igual ou ainda
melhor do que os das demais nações; porém a dúvida consistia a respeito do preço,
porque havia gastos e os desperdícios com o novo método, pois no início, só se
aproveitavam as primeiras e segundas folhas, sendo de muito pouco ou nenhum
proveito para o lavrador todas as demais de que se utilizavam para produzir o tabaco ao
modo do Brasil “mas como em se fazendo alguma experiência se não perdia nada mais

172
Elizabete Rodrigues da Silva. Fazer Charutos: uma atividade feminina. Salvador: FFCH/UFBA, 2001.
(Dissertação de Mestrado), p. 27.
173
Cf. Jean Baptiste Nardi. 1996. op. cit. p, 42-51.
174
André João Antonil. Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas. Introdução e notas por
Andrée Mansuy-Diniz Silva. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007. p. 30 e 35.
175
Gustavo Acioli Lopes. A Ascensão do Primo Pobre: o tabaco na economia colonial da América
Portuguesa-Um Balanço historiográfico. SAECULUM – Revista de História [12]. João Pessoa, jan/jun,
2005, p. 35.
176
Timothy Hall Breen. Tabacco Culture: The mentality of the great tidewater planters on the eve of
revolution. New Jersey: Princeton University Press, 1987. p. 59.
177
Jean Baptiste Nardi. O Fumo Brasileiro no Período Colonial: Lavoura, Comércio e Administração.
São Paulo: Brasiliense, 1996.
56

do que o trabalho178”. O conde de Arcos também afirmou que a produção do tabaco e o


modo de cultivo diferiam muito pouco do que era utilizado na Virginia e que “a
dificuldade maior só consiste em haver quem tenha conhecimento de quando as folhas
estão no seu ponto maduras e no modo de as secarem e no de se empacotarem para
poderem ser conduzidas sem que o ar penetre e as faça corromper179”.
Além disso, foi enviado à Bahia em 1757 o especialista na produção de tabaco
André Moreno para auxiliar os lavradores da Bahia a selecionar o terreno, supervisionar
o plantio, aplicar e ensinar o novo método aos lavradores com a utilização das mudas de
tabaco oriundas da Virginia e de Maryland, como também orientar a colheita e
armazenamento, não misturando as folhas de boa qualidade com as inferiores180.
Mesmo com a resistência dos lavradores em aderir à experiência, em 1758, cerca de 30
lavradores da região de Muritiba, no Recôncavo, cultivavam o tabaco através do novo
método181.
No caso do cultivo da cana-de-açúcar182, o trabalho era simples, embora penoso,
além de demandar muito tempo com o preparo do terreno, limpar os campos e arar.
Tudo com ferramentas rudimentares como machados, enxadas, foices. Segundo
Schwartz eram “essas ferramentas, o suor dos escravos e o açoite que produziam a cana
para os engenhos baianos”. Já os engenhos, exigiam um grande investimento. Dentro do
engenho havia três instalações: a moenda, onde era extraído o caldo da cana; a caldeira,
onde o caldo era fervido e se transformava em melaço; e a casa de purgar, lugar em que
o melaço virava açúcar183.
O açúcar também era um dos produtos que a Mesa de Inspeção tinha a
responsabilidade de melhorar a produção para alcançar maior e melhor qualidade no
mercado europeu. Diferente do tabaco, o açúcar era mais dispendioso, pois o engenho
era caro, e sua manutenção exigia um complexo sistema de mão de obra escrava para o

178
[OFICIO do Vice-rei Conde de Arcos para Sebastião José de Carvalho e Mello em que se refere à
cultura do tabaco e as experiências que se estavam realizando]. Bahia, 11 de maio de 1757. Arquivo
Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 16, documento 2810.
179
Ibidem.
180
Ibidem.
181
Cf. Jean Baptiste Nardi. 1996, op. cit. e, Maria Beatriz Nizza da Silva. Bahia a Corte da América. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 2010.
182
Sobre o cultivo da cana ver: José Caetano Gomes. Memória sobre a Cultura e Produtos da Cana de
Açúcar a S. Alteza Real, o Príncipe Regente, pela Mesa de Inspeção do Rio de Janeiro. Lisboa: oficina da
Casa Literária do Arco do Cego, 1800, p. 4, e, José Mariano da Conceição Veloso. O Fazendeiro do
Brasil: melhorado na economia rural dos gêneros já cultivados, e de outros, que se podem introduzir, e
nas fábricas que são próprias, fazendo o melhor que se tem escrito a este assunto. Tomo I: das culturas
das canas e fatura do açúcar. Lisboa: Oficina Tipográfica, 1800. p. 29.
183
Stuart B. Schwartz, op. cit., p.102.
57

trabalho pesado e da lavoura, como também de assalariados para as tarefas mais


especializadas184.
De acordo com a ata da Mesa de Inspeção de 10 de setembro de 1792, o açúcar
produzido na Bahia ainda continuava sendo o melhor, embora a qualidade houvesse
caído. Os deputados da Mesa apontaram como culpados os responsáveis pela produção
que, principalmente nos anos de 1791, haviam descuidado do processo produtivo, pois
conseguiam vender as suas safras a preços exorbitantes, porém fora “reputado no Reino
como o mais inferior que lá entrara”, e os senhores de engenho queiram atribuir esta
notável diferença a uma causa universal nascida da irregularidade das estações do ano.
Contudo:

“é certo que eles e os seus feitores e mestres de açúcar tem grande culpa na
inferioridade dele, por não trabalharem quanto era necessário para o
aperfeiçoarem, cuidando só, e unicamente em fazerem muitas arrobas de
açúcar, deixando de purgar o tempo que era necessário para escorrer o mel, e
adquirir uma boa consistência e qualidade e deixando de o suar depois de
tirado das formas, faltando a fazer lhe este necessário beneficio185”.

Os deputados relataram que as negligências e os descuidos praticados no fabrico


do açúcar poderiam provocar a perda da sua boa reputação nos Reinos Estrangeiros186
para onde era exportado, o que ocasionava “grandes prejuízos à Real Fazenda, ao
comércio e à mesma agricultura do dito gênero, de que tanto depende a subsistência
desta Colônia187, como um dos dois principais ramos do seu comércio”. Por isso,
deveriam pôr em prática providências para restabelecer a perfeição da produção do
açúcar para os quais estava a Mesa autorizada. Assim, esta deliberou, por meio de
editais espalhados por toda a capitania da Bahia, que os Senhores de Engenho eram
obrigados a fazer açúcares bem purgados e secos, antes de ser encaixados, observando
as devidas qualidades como determinava o regimento no capitulo 3º, § 8º188:

184
Eni de Mesquita Samara. op. cit., p. 22
185
[ATA da Mesa de Inspeção acerca da qualidade da produção e fabrico do açúcar, descrevendo as fases
da produção para não perder a qualidade], Bahia, 10 de setembro de 1792. Arquivo Nacional da Torre do
Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
186
Nesse caso, o contrabando não é o único responsável pela entrada do açúcar de má qualidade na
Europa. Há também a questão da má qualidade no fabrico do açúcar na Bahia e, portanto, a tentativa de
melhorar a sua qualidade.
187
Aqui há também a indicação da ideia de Colônia e de que se está trabalhando para melhorar a
qualidade dos gêneros exportados, por também terem consciência da importância do açúcar como um
elemento de subsistência colonial, como da Metrópole. Nesse mesmo ponto, há referências dos alvarás,
decretos e regimento que afirmam o sentido de controle e autoridade da Mesa de Inspeção sobre os
produtos coloniais.
188
O regimento citado é o das Casas de Inspeção de 1º de abril de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia, caixa 54, documento 10326. [ATA da Mesa de Inspeção acerca da qualidade da produção e fabrico
58

Sobre a qualidade do açúcar, a Mesa de Inspeção apontava algumas normas que


deveriam ser seguidas. Com relação ao açúcar branco, este não deveria apresentar, no
ato do exame, uma cor diferenciada que indicasse a presença de mascavado. Caso se
verificasse tal situação, a caixa deveria ser identificada com a marca de mascavado e
não poderia ser embarcada com outra marca. A caixa de açúcar branco que tivesse
muita umidade ou que o açúcar não tivesse sido purgado corretamente, ou seja, por não
ter sido posto a secar pelo tempo necessário, voltaria para o engenho de origem à custa
de seu dono para fazer o benefício que necessitasse, sem o qual não seria admitido para
um novo exame189.
Alarmada com a queda da qualidade do açúcar, a Mesa tratou do tema, como
percebemos por uma ata desse período, os deputados afirmavam que não houve açúcar
fino depois de 1788 e questionavam que, “sendo os Engenhos em que se fabricam os
açúcares que vêm a exame a esta Mesa os mesmos que sempre foram e sendo
presentemente também as mesmas as terras que os produzem e tendo acontecido até o
sobredito ano de 1788”, concluiu-se, então, que era a “negligência dos feitores e mestres
de açúcar dos Engenhos, faltando-lhe ao benefício que lhes deviam fazer para conseguir
a sua perfeição”. Também eram culpabilizadas as intenções de obtenção de lucros dos
senhores de engenho, que “queriam antes ter mais arrobas de açúcar ainda que inferior,
do que menos açúcar fino por fizerem assim maior utilidade190”. Afirma-se ainda que
não foi somente a irregularidade das estações, como alegavam os senhores de engenho,
a causa da inferioridade do dito gênero, mas sim a pressa que os mesmos senhores
exigiam para encaixarem os açúcares “mal purgados e mal secos comprados com
prevenção pelos Comerciantes desta Praça191”.
A Mesa procurou tomar as providências ao longo dos anos para que o açúcar
fosse produzido com qualidade, auxiliando na lavoura, fiscalizando e exercendo os
exames com maior rigor, principalmente nas regiões onde foram identificadas

do açúcar, descrevendo as fases da produção para não perder a qualidade], Bahia, 10 de setembro de
1792. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
189
[ATA da Mesa de Inspeção acerca da qualidade da produção e fabrico do açúcar, descrevendo as fases
da produção para não perder a qualidade], Bahia, 10 de setembro de 1792. Arquivo Nacional da Torre do
Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
190
A Mesa culpa os feitores e mestres do açúcar pela péssima qualidade do produto. Ao mesmo tempo
afirma que os senhores de engenho preferem ter mais açúcar de menor qualidade, pois lucram mais, do
que fazer menos açúcar e ganhar menos. Seria isso uma alternativa para fugir dos excessos da Mesa? Da
colonização?
191
A venda antecipada do açúcar provocou a pressa na produção, ocasionando a má qualidade, aliada à
negligência dos feitores e mestres de açúcares, como também das estações.
59

fraudes192. Além disso, a Mesa passava frequentemente editais públicos 193 destinados
aos agricultores, nos quais informava sobre as principais decisões tomadas, geralmente
seguindo determinações da Coroa194. Um exemplo foi a ordem expedida por Portugal
para que se aprontassem “todos os anos quinhentas caixas de açúcar finos”, e que foi
atendida até o ano de 1788, mas nos anos posteriores não havia produção de açúcar fino
adequada aos critérios da Mesa. A dificuldade em obrigar os senhores de engenho a
produzirem bons açúcares e a restabelecerem a perfeição e a reputação do gênero se
dava em virtude das “ditas providências, por muito gerais, não [serem] capazes de os
obrigarem a fazer açúcar fino195”. A solução encontrada foi ordenar que os principais
senhores de engenho produzissem uma determinada cota196 de caixas de açúcar fino.
Assim, o controle da Mesa foi exercido diretamente com os seguintes senhores de
engenho através dos editais:

“Os Reverendos Religiosos de São Bento, Manoel Pereira Gallo, Manoel


Pereira de Andrade, José Pires de Carvalho e Albuquerque, Antônio Moniz
de Souza Barreto e Aragão, Antônio Teixeira Barbosa, Cristóvão da Rocha
Pitta, Simão Alves da Silva, o Mestre de Campos André Marques da Rocha e
Queiroz, Antônio da Rocha Pitta, Baltazar da Costa Bolcão, José Diogo
Gomes Ferrão, Antônio de Araújo Gomes, O Desembargador João Ferreira
Bitencourt e Sá, o Coronel José Luiz da Rocha Dorea, Diogo Alves Campos,

192
[ATA da Mesa de Inspeção acerca das inspeções de açúcar nos trapiches para combater as fraudes].
Bahia, 16 de janeiro de 1793. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10,
caixa 38.
193
Embora não tenha encontrado a cópia de um edital expedido pela Mesa de Inspeção da Bahia, observa-
se que o seu uso era frequente pelo que consta em vários documentos analisados. Podemos apontar dois
exemplos: O primeiro se refere às ordens da Coroa para que a Mesa “sem a menor perda de tempo se faça
saber todos os Senhores de Engenho por Editais públicos afixados nos lugares competentes desta cidade e
das vilas do Recôncavo, que sendo ele obrigados a fazerem que os açúcares que fabricam sejam bem
purgados e bem secos antes de os encaixarem e que no encaixar se faça uma exata separação das suas
diferentes qualidades, como determina o regimento no capitulo 3º, §8º”. “Ata da Mesa de Inspeção da
Bahia de 10 de novembro de 1972 comentando as ordens da Coroa com relação ao açúcar”. Arquivo
Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 38. O segundo exemplo é a
confirmação dos deputados da Mesa de ter encaminhado edital, pois “sendo esta Mesa de Inspeção da
Capitania da Bahia autorizada pelo respectivo Regimento, Leis e ordens régias do seu governo e,
especialmente pelo alvará de 15 de julho de 1755, § 25 a prover em tudo o que é concernente a cultura,
bondade e legalidade dos gêneros da sua privativa competência e ao mais que for a bem do comércio da
Praça, entendeu ser necessário e do seu dever, tomar o acordo provisório constante da copia junta, que fez
publicar por edital à mesma Praça, o que põe na Presença de V. Alteza Real para que seja servido
confirma-lo ou dar a providência do que for do seu agrado”. Mesa de Inspeção da Bahia, em 06 de maio
de 1800. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 63, caixa 206.
194
[ATAS da Mesa de Inspeção da Bahia]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do
Comércio, maço 10, caixa 38.
195
[ATA da Mesa de Inspeção acerca da qualidade da produção e fabrico do açúcar, descrevendo as fases
da produção para não perder a qualidade], Bahia, 10 de setembro de 1792. Arquivo Nacional da Torre do
Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
196
Porém o documento não apresenta um número preciso da quantidade de caixas a serem produzidas por
cada senhor de engenho. Pressupõe-se que o número de 500 arrobas de açúcar fino determinado pela
Coroa seria distribuído pelos principais senhores de engenho apontados na citação.
60

Fernando Pereira de Macedo, João Mendes Barreto, João de Teive de


Argolo197”.

Era importante que a Mesa mantivesse o controle da produção diretamente com


os senhores para que estes ficassem cientes da sua exigência e assim executassem um
processo adequado de produção.
A Mesa, como veremos, também incentivou a produção de outras culturas, como
as do cacau, da canela, da baunilha e do café, pois, como ponderava Azevedo Coutinho
em sua “memória sobre o preço do açúcar”, “todos estes gêneros dão as mãos entre si:
quanto mais aumentar o gosto destes, tanto mais necessária se fará uma maior
abundância daquele (açúcar), e todos eles nascem e produzem muito no Brasil198”.
O algodão foi também um item que recebeu atenção especial para se aumentar a
sua produção e qualidade. O gênero é nativo do Brasil e ganhou especial importância no
processo de diversificação agrícola na segunda metade do século XVIII, tornando-se um
dos principais produtos de exportação do Nordeste. Na Bahia, o algodão era cultivado
em duas regiões especialmente: Ao norte do Recôncavo, como Inhambupe, Itapicuru e
Abadia, que tinha, em geral, clima mais seco; e no sertão, onde se configuram os
principais centros da lavoura algodoeira, a exemplo de Caetité, Rio de Contas, Jacobina
e Bom Jesus dos Meiras. O transporte e as fortes chuvas eram os problemas enfrentados
na concorrência com as outras regiões produtoras199. Dessa forma, o algodão era um
produto que iria povoar e transformar os “incultos Sertões” e se configurar como um
gênero vantajoso para a Colônia200. Segundo Manoel Correia de Andrade, tal produto
era uma “cultura mais democrática que a da cana-de-açúcar, pois os fazendeiros
utilizavam mão-de-obra escrava e assalariada, além de ser cultivado também por
pequenos proprietários, foreiros e moradores201”. De acordo com Pe. João de Loureiro,
“quase todo o trabalho do algodão é mais leve e mais fácil que o do linho e da lã” e,
assim, poderia ser empregado nele a idade e sexo “mais fracos”, como ocorria na Índia,

197
[ATA da Mesa de Inspeção relacionado ao exame e qualidade do açúcar.] Bahia, 1º de outubro de
1792. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
198
José Joaquim de Azevedo Coutinho. “Memória sobre o preço do açúcar”. In.: Memorias Econômicas
da Academia Real das Ciências de Lisboa (1789-1815). Tomo III. Lisboa: Banco de Portugal, 1990.
(Coleção Obras Clássicas do Pensamento Português) – Direção José Luís Cardoso. P. 280.
199
B. J. Barickman op. cit., p.59-60.
200
[PRODUÇÃO e algodão e a criação da Mesa de Inspeção da Paraíba], 18 de julho de 1799. Arquivo
Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: maço 10, caixa 38.
201
Manuel Correia de Andrade. A Terra e o Homem no Nordeste. São Paulo: Brasiliense, 1973, p. 157-
159.
61

e, portanto, evitar-se-ia a ociosidade e reservaria outros braços de maiores forças para


outros empregos202.
Vários são os tipos de algodão que produzem fibras diferenciadas, desde o
algodão do mato, que crescia sem nenhum trato na região de Jacobina na Bahia; o
algodão arbóreo, tipo nativo, e o herbáceo, que produz uma melhor fibra. Porém,
também várias eram as formas de uso.
A Mesa de Inspeção da Bahia recebeu sementes de algodão colorido da
Secretaria de Estado dos Negócios Ultramarinos, para que fossem utilizadas como
experiências, e as encaminhou ao Coronel José de Sá Bitencourt. Depois de efetuada a
plantação, enviou o resultado para que fosse examinado pela Secretaria, a fim de que
pudesse avaliar se a Mesa poderia continuar com os mesmos esforços de promover a
ampliação da cultura com outros produtores203. Foi acompanhado também por um
relatório do Coronel José de Sá Bitencourt que o enviou à Mesa de Inspeção,
informando como foi o processo e as dificuldades encontradas principalmente com as
ocorrências de “moléstias e das visitas dos vizinhos pataxós”, e, mesmo com as
adversidades, remetia-se as amostras das experiências de diferentes qualidades de
algodão Ganga incluindo as folhas e as combinações que se deveria fazer para obter a
cor de ganga, mais clara, bem próxima ao branco204. Dessa forma, a sua produção é
descrita destacando-se a sua qualidade com “um fardo de Ganga Branco, com a marca
GB, uma de branco para mescla e torna mais agradável a sua cor”. O Coronel ainda
afirmou, em suas palavras, que “para janeiro continuarei a remeter mais cargas de
algodão Ganga e verei se pode ir algum da Índia e trabalhei para enriquecer o nosso
Comércio Português com estes dois gêneros novos e de grande consequência” e também
que “o Guiné Graz tem produzido bastante e a pimenta tem morrido talvez pela ardência
do clima205”.
Em outra correspondência, o Coronel José de Sá Betencourt escreveu relatando
que queria apresentar as diferentes qualidades de algodão Ganga que remeteu “na folha
inclusa e as combinações que se devem fazer para se obter a cor de ganga já mais

202
Pe. João de Loureiro: Memória sobre o Algodão, sua Cultura e Fábrica. In.: Memorias Econômicas da
Academia Real das Ciências de Lisboa (1789-1815). Tomo I. Lisboa: Banco de Portugal, 1990. (Coleção
Obras Clássicas do Pensamento Português) – Direção José Luís Cardoso. P. 42.
203
[INFORMAÇÕES e experiências do Algodão na Bahia pela Mesa de Inspeção]. 18 de novembro de
1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio, Maço 10, caixa 37.
204
[CARTA de José de Sá Bitencourt para José da Silva Lisboa]. Borda da Mata, Bahia, 16 de outubro de
1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: junta do Comércio: Maço 10, caixa 37.
205
Ibidem.
62

açucarada já mais clara; e principiando do fusco ao claro, bem se vê o como a Natureza


esbate esta cor é confundir com o branco”.
Todo esse processo com as várias experiências com o algodão promoveria a sua
cultura, necessária ao comércio e fábricas da metrópole, e evitaria a necessidade de o
trazer da Índia e outras localidades com maiores custos206.
O arroz também era um produto que o governo português investia para aumentar
a qualidade da sua produção e foi sempre objeto da correspondência com a Mesa que,
além de buscar melhorias em seu cultivo, também procurava aprimorar o método de
descascá-lo, substituindo o pilão por engenhos ou moinhos hídricos. Essas experiências
ocorreram principalmente na comarca dos Ilhéus207, na qual o Vice-rei Conde de
Atouguia se propunha a aumentar o “cuidado desta lavoura, de que por ora só se colhe o
preciso para o sustento da maior parte desta gente, mas o que aqui nasce é de qualidade
tal que sempre se procura o que vem do Maranhão para se fazerem as sementeiras208”.
A preocupação em colheita e processamento de forma a melhor aproveitá-lo
levou ao envio, pela Coroa, de engenhos de descascar arroz. O Vice-rei Conde Autoguia
informava em ofício a Diogo de Mendonça Corte Real que no palácio ficavam os
modelos para os engenhos de descascar arroz que não tiveram uso, pela dificuldade que
enfrentou de encontrar pessoa que aderisse à nova técnica e “que os pusesse em tal
conta, que as pedras lançassem fora a casca sem partir o grão; e por haver também
facilidade nos pilões para o mesmo uso como já avisei a V. Excia.209”.
O objetivo era produzir em larga escala para que fosse também comercializado.
Havia também sementes de arroz de melhor qualidade, vindas da Carolina, o que
permitiu uma maior abundância na colheita210. Nos anos posteriores, o arroz apareceu
nos mapas como produto do comércio de exportação, e, segundo José Jobson de Arruda,
em 1781, a produção proveniente das colônias portuguesas, especialmente do Brasil,
estava em condições de abastecer o mercado interno da metrópole, o que gerou a

206
Pe. João de Loureiro, op. cit. p., 42.
207
Ver também: Manuel Ferreira Câmara. Ensaio de descrição física e econômica da Comarca de Ilhéus
na América. In.: Memorias Econômicas da Academia Real das Ciências de Lisboa (1789-1815). Tomo I.
Lisboa: Banco de Portugal, 1990. (Coleção Obras Clássicas do Pensamento Português) – Direção José
Luís Cardoso. P. 236.
208
[OFICIO do Vice-rei Conde de Atouguia para Diogo de Mendonça Corte Real referindo se a cultura
do arroz, do linho, do açúcar e do tabaco]. Bahia, 30 de junho de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia, caixa 02, documento 115-123.
209
[OFICIO do Vice-rei Conde de Atouguia para Diogo de Mendonça Corte Real acerca da cultura do
linho e plantação de amoreiras para a criação dos bichos da seda e dos engenhos de descascar arroz].
Bahia, 25 de junho de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 07, documento 1174-1176.
210
[CARTA do marquês de Lavradio para Martinho de Melo e Castro]. Rio de Janeiro 26 de fevereiro de
1775. Biblioteca Nacional de Lisboa: Códice 10624; microfilme F.R.1239.
63

proibição da entrada de arroz estrangeiro no Reino de acordo com o alvará de 24 de


julho de 1781211.
O linho era outro item que estava na lista do governo português para que fosse
experimentado no Brasil. Assim, para que a cultura ocorresse, foi necessário o envio de
sementes das diversas qualidades, principalmente as mais úteis, como o mourisco, o
cânhamo – que era o mais próprio para a Marinha – e o galego, para o uso doméstico.
Era necessário também que “viessem pessoas práticas da cultura e do benefício desta
erva não só para colherem a terra proporcionada para as sementeiras, mas para depois
de seco o beneficiarem212”.
Por meio de correspondência, a Junta do Comércio se reportou à Mesa de
Inspeção informando acerca de um requerimento da Fábrica de Ençarias em Lisboa que
pedia informações sobre a produção do linho, relatando que não havia pessoas
interessadas no cultivo, e perguntava se havia capacidades de cultivar linhos próprios
nas vizinhanças da Bahia, como também da possibilidade de existirem “pessoas peritas
para o estabelecimento da referida Fábrica; se via o serviço público que animassem
algumas outras pessoas para que se formasse algum plano e disposição muito útil sobre
esta Fábrica213”.
Retratando suas experiências, Manuel Alvares de Moraes informou à Mesa de
Inspeção que a sementeira que fez do cultivo de linho cânhamo não produzira coisa
alguma e que, pela experiência que tinha com semelhante sementeira, da próxima vez
que viessem outras, deveriam ser transportadas em vasilha de vidro bem tampada para
livrar da corrupção214.
Joaquim de Amorim Castro, ao relatar a “Memória sobre o malvaísco do Distrito
da Vila de Cachoeira”, afirma que a planta fornece uma sustância semelhante ao linho,
capaz de receber todas as tintas, é mais resistente que os outros linhos conhecidos no
comércio e, por isso, útil às fábricas das cordas e amarras. Porém, à medida que for
beneficiado, perderá a sua maior aspereza e se constituirá em tecidos finos apreciados

211
José Jobson de A. Arruda., 1980 op. cit., p. 300.
212
[OFICIO do Vice-rei Conde de Atouguia para Diogo de Mendonça Corte Real referindo se a cultura
do arroz, do linho, do açúcar e do tabaco]. Bahia, 30 de junho de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia, caixa 02, documento 115-123.
213
[CARTA da Junta do Comércio para a Mesa de Inspeção da Bahia sobre o plano de fábrica e cultivo
de linho]. Lisboa, 28 de fevereiro de 1764. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do
Comércio, livro 329.
214
[OFICIO do Governo interino para Diogo de Mendonça Corte real, informando acerca das
experiências que se tinham feito na cultura do linho e plantação de amoreiras]. Bahia, 20 de junho de
1755. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 10, documento 1636-1699.
64

nas respectivas fábricas do Reino. Além disso, é uma planta que nascia em abundância
por todos os terrenos sem maior trabalho na sua plantação e preparação. Essa cultura se
configuraria então em grande utilidade e interesse dos próprios cultivadores e do
comércio nacional215.
Já as amoreiras que foram plantadas na roça do Coronel Lourenço Monteiro
vingaram todas, mas de sorte que não engrossaram, e apresentavam ainda folhas muito
ásperas que não tinham semelhança com as das amoreiras216 “que foram remetidas de
Portugal como projeto de se estabelecer nesta capitania a criação de bichos de seda217”.
Além dos listados acima, o café também foi tratado pela Mesa em suas
experiências agrícolas e, possivelmente, um dos que obteve melhores resultados.
Segundo Barickman, a Bahia tornou-se centro de produção de café, juntamente com o
Rio de Janeiro e São Paulo. A lavoura cafeeira teve progresso considerável em três
regiões da Bahia: Comarca de Ilhéus, onde o plantio se iniciou por volta de 1780 pelos
lavradores da Vila de Camamu, no extremo Sul do litoral em Porto Seguro e Caravelas,
e no Recôncavo, entre Nazaré e Cachoeira218.
Segundo Ana Luiza Martins, desde o início o café foi mal plantado, com a
utilização de técnicas primitivas herdadas da lavoura colonial de derrubar matas e
queimar roças, procedimento que esgotava rapidamente o solo. Isso comprometia a
qualidade da produção, com rendimento máximo de seis a oito anos219.
Todas essas experiências eram acompanhadas pela Mesa de Inspeção dando
suporte com o oferecimento de mudas, técnicos especializados e conhecimentos. Alguns

215
Joaquim de Amorim Castro. Memória sobre o malvaísco do Distrito da Vila de Cachoeira. In.:
Memorias Econômicas da Academia Real das Ciências de Lisboa (1789-1815). Tomo III. Lisboa: Banco
de Portugal, 1990. (Coleção Obras Clássicas do Pensamento Português) – Direção José Luís Cardoso. P.
285-286.
216
[OFICIO do Governo interino para Diogo de Mendonça Corte real, informando acerca das
experiências que se tinham feito na cultura do linho e plantação de amoreiras]. Bahia, 20 de junho de
1755. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 10, documento 1636-1699.
217
Manuel Luiz da Veiga nos apresenta como é o processo de produção da seda. Segundo ele, “a seda
cria-se nas entranhas de um bicho, o qual nasce na primavera e morre no outono. Ela consiste em um
humor viscoso que aquele inseto vomita antes de querer morrer, e pelo seu bico já saem fiados os fios da
seda crua. Ele se nutre de folhas de amoreira e nenhum outro alimento lhe é próprio para a subsistência.
Quando no último termo de sua vida, ele faz da matéria que vomita uma pequena maçaroca, ou casulo,
dentro da qual se encerra. Passados alguns tempos, ele se transforma em borboleta e deposita a sua
semente antes de morrer. Estes são uns pequenos ovinhos que, com o calor natural, se chocam, ao
abrolharem aquelas árvores, e deles nascem os bichos. Estes insetos são naturais da Pércia, onde nascem,
criam-se e produzem, sem artificio nem auxilio algum dos homens”. Cf. Andréia Slemian; Claudia Maria
das Graças Chaves (orgs.). Obra de Manoel Luís da Veiga. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, 2012. p. 71.
218
B. J. Barickman. op. cit., p. 61-63.
219
Ana Luiza Martins. O Império do Café: A grande lavoura no Brasil – 1850 a 1890. Rio de Janeiro:
Atual. 1990. (Coleção História em documentos). p.08.
65

dos projetos, porém, eram bastante originais, a exemplo da pretensão de se fazer um


levantamento cadastral do território. Ainda buscaram introduzir o arado puxado a boi e
popularizar a agricultura com a divulgação de panfletos aos proprietários brasileiros
sobre a agronomia. Além disso, buscava-se introduzir máquinas de limpar e debulhar
café e algodão, como também proteger as florestas e nascentes através do controle
rigoroso da derrubada na capitania baiana220.
Para que a produção se desenvolvesse em quantidade e qualidade, o decreto de
27 de janeiro de 1751 também determinava que, em caso de esterilidade do solo, os
lavradores poderiam recorrer às Mesas de Inspeção, que tinham jurisdição para atendê-
los e auxiliá-los no plantio e melhoramento de suas safras221. Nesse caso, a Mesa
deveria se disponibilizar para atender os lavradores e senhores de engenhos no que fosse
solicitado com relação às questões relacionadas à produção.
Podemos perceber que o governo português tinha projetos e auxiliava os
produtores no cultivo dos seus gêneros e nas experiências com novas culturas. Porém,
havia uma resistência dos lavradores com os novos métodos e projetos, sendo esta um
dos principais motivos de alguns insucessos dos projetos agrícolas. Charles Boxer
destacava o atraso das técnicas agrícolas brasileiras como a principal razão dos produtos
do locais não poderem concorrer com os produtos de outras colônias. O uso do bagaço
como combustível nos engenhos e a serra para separar as sementes do algodão
começaram a ser utilizados em outras áreas muito antes do Brasil, que só adotou bem
mais tarde devido à resistência dos agricultores que agiam com indiferença, inércia e
conservadorismo frente às técnicas modernas222. Assim, tal relutância era um dos
principais problemas enfrentados pela Mesa para a realização das experiências de novas
culturas e da introdução das novas técnicas agrícolas.
A Mesa de Inspeção, entretanto, tinha que incentivar esses agricultores para que
realizassem o plantio das novas espécies em suas terras, ao mesmo tempo em que
deveriam relatar o andamento do processo através de um relatório, informando do
sucesso ou não de determinada cultura. Para isso, os incentivos eram vários: os
produtores recebiam sementes, apoio técnico e folhetos de divulgação dos novos
conhecimentos. Ou ainda, ofereciam-se recompensas, como foi o caso dos agricultores

220
Andrée Mansuy-Diniz Silva. op. cit. p.507-508.
221
[DECRETO de sua Majestade que baixou ao Conselho Ultramarino a favor do Comércio e Fábrica do
Açúcar e Tabaco] de 27 de janeiro de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 54,
documento 10328.
222
Charles R. Boxer. O Império Marítimo português 1415-1825. Lisboa: Edições 70, 1977. P. 195-196.
66

João Hopman e Jeremias Vieira de Abreu, que foram nomeados inspetores vitalícios por
terem desenvolvido as culturas do arroz, anil, algodão e café223.
Além do cultivo de gêneros agrícolas, existia também uma preocupação com a
criação de animais224, que eram utilizados principalmente para o transporte e para
mover os engenhos. A princípio o gado era criado nos engenhos e utilizado nas
moendas. Depois, com o aumento da criação, passou a ser criado em terras mais
afastadas, começando a penetrar nas áreas interioranas: primeiro na região agreste e
depois no sertão225.
Além disso, o couro, além de ser usado na Colônia, ocupava lugar considerável
no quadro das exportações. Assim, a grande procura e o consumo dos produtos vindos
do gado apresentavam um mercado certo226. As fazendas de gado geravam recursos que
garantiam o enriquecimento do fazendeiro, movimentando a economia interna com a
comercialização das carnes nas feiras dos centros urbanos como Salvador, Capuame e
Feira de Santana227.
Para Juliana da Silva Henrique, a criação de gado assumiu paralelamente dois
papéis para a configuração espacial da Capitania da Bahia: foi fator de rápida
territorialização ao mesmo tempo em que tornava o interior da Colônia
economicamente mais produtivo segundo as diretrizes impostas através das doações de
sesmarias pela Coroa. Com as fazendas de gado instaladas em vastos territórios,

223
[REQUERIMENTOS de Cargos Vitalícios para a Mesa de Inspeção da Bahia], 23 de Março de 1799.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio, caixa 214.
224
Outra atribuição da Mesa eram as remessas de pássaros para Lisboa provenientes de Angola e da
Bahia. Geralmente essa remessa era feita em grandes quantidades e acompanhado de uma infraestrutura
como viveiros e compra de milho alpiste para o sustento dos pássaros. Uma das remessas era de cinco
viveiros com 517 pássaros de cores que foram comprados em Angola e remetidos pela Mesa de Inspeção
para Lisboa, a ser entregue na Secretaria de Estado ao Ilustríssimo Secretario de Estado Martinho de
Mello e Castro. Outra remessa de cinco viveiros com 625 passarinhos de cores da cidade de São Felipe de
Banguela, enviado por Francisco Roiz Silva tendo o mesmo destino. Porém, nem sempre a viagem era
tranquila, geralmente parte dos pássaros chegavam mortos, como afirma o ofício encaminhado pela Mesa
de Inspeção ao analisar as condições do navio e constatar a “incapacidade do Navio, pouco ou nenhum
cômodo que tem para a boa arrumação de semelhante encomenda e os muitos ratos que tem, por onde me
parece impossível chegarem bem acondicionados, se bem que da minha parte fica a boa diligencia”. Cf.:
[OFICIO da Mesa de Inspeção participando a remessa de 5 viveiros com pássaros de Angola que havia
recebido do Capitão mor de Benguela Francisco Rodrigues Silva]. Bahia, 17 de maio de 1777. Arquivo
Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 50, documento 9434-9437.
225
Sérgio Buarque de Holanda. História da Civilização Brasileira. Tomo III. As Áreas de Criação de
Gado. 1997, p. 221.
226
Maria José Rapassi Mascarenhas. Fortunas coloniais: Elite e Riqueza em Salvador (1760-1808). São
Paulo: USP, 1999 (Tese de Doutorado), p. 126.
227
Francisco Carlos Teixeira da Silva. Pecuária e Formação do Mercado Interno no Brasil Colônia.
Estudo, Sociedade e Agricultura. Rio de Janeiro, nº 08, abril, 1997.
67

afastados da cidade de Salvador, surgiram feiras de gado, como a Capuame ligada ao


abastecimento da capital228.
Como vimos, a Mesa de Inspeção atuou seguindo as determinações da Coroa
Portuguesa e procurava melhorar a produção dos principais produtos coloniais, com o
incentivo à diversificação das culturas de forma a aumentar os gêneros enviados para
Portugal. Dessa forma, analisaremos agora os seus resultados. De acordo com Luiz
Antônio de Oliveira Mendes, só ocorreram melhoras na agricultura e comércio a partir
da década de 1770, devido às várias medidas adotadas pelo governo português para
socorrer a agricultura, o comércio e a navegação, apontando a Mesa de Inspeção como
um órgão que atuava para resolver os problemas da produção do açúcar e tabaco.
Entram nesse bojo também as medidas e leis adotas pela Coroa para impulsionar a
produção e o comércio, como a regulamentação dos preços e dos fretes da navegação, o
fim da frota – auxiliando os comerciantes falidos–, a criação da junta do comércio,
agricultura, navegação e das fábricas229. Para Luiz Antônio de Oliveira Mendes, abria-se
uma “época feliz do restabelecimento da agricultura em geral e com mais força em
particular da lavoura do açúcar”, graças às muitas providências “bem lembradas, que em
seu socorro dera o senhor rei D. José primeiro, quando por peritos de sua real
benignidade estendera seu poderoso braço, para lhe dar a mão. Ele se lembrou em fazer
criar pelos anos de 1750 uma Mesa, chamada de Inspeção”, embora não deixasse de
criticar a falta de conhecimento e de parcialidade dos inspetores230.
João Ferreira Bitencourt e Sá, presidente da Mesa de Inspeção em 1781,
enaltecia o sucesso da Mesa em ofício para Martinho de Melo e Castro. Para ele, há
anos muito se tem adiantado a lavoura do açúcar e do tabaco: “o tabaco, que, em outros
tempos apenas chegava a dez e doze mil rolos, se acha hoje, em dobrado número e da
mesma forma o das caixas de açúcar231”. Porque há um crescente aumento deste ramo
da agricultura. Além disso, destaca a plantação dos mantimentos necessários para os
habitantes e para os navios que costumam sair deste porto para tantas partes do mundo,
pois “da Bahia se provê até os portos da Costa da Mina, os de Angola, Banguela, Pará,
Maranhão, São Thomé, Ilhas do Príncipe e todo o interior de suas vilas e povoações e,
228
Juliana da Silva Henrique. Feira de Capuame: pecuária, territorialização e abastecimento. (Bahia,
século XVIII). São Paulo: FFLCH/USP, 2014. (dissertação de Mestrado), p. 13 e 14.
229
, Luiz Antônio de Oliveira Mendes. op. cit., p.69-80.
230
Ibidem, p. 69-70.
231
[OFICIO do Intendente Geral do Ouro e Presidente da Mesa de Inspeção João Ferreira Bitencourt e Sá
para Martinho de Melo e Castro na qual dá diversas informações sobre a produção e exportação do
tabaco e açúcar]. Bahia, 1º de agosto de 1781. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 57,
documento 10879.
68

por isso se faz um maior número de rolos à proporção do aumento e crescimento dos
povos”. Afirma ainda que, com o aumento da produção, houve uma maior demanda do
trabalho, com o tempo curto e poucos escravos para a satisfação da cultura da terra e
colheita dos frutos, sendo necessário se trabalhar todos os dias do ano e ainda com mais
braços e força para aumentarem aquelas plantações, cujos frutos representam o
“primeiro objeto do comércio, a maior utilidade da Coroa e a opulência da Corte e
Capital do Reino232”.
Essa descrição do desenvolvimento da produção no Brasil, apresentada no ofício
do Presidente da Mesa de Inspeção João Ferreira Bitencourt e Sá, permite-nos verificar
o resultado da aplicação de projetos e técnicas na agricultura. O seu filho, João Ferreira
Bitencourt e Sá, em um requerimento que justificava as ações do seu pai em 1804,
afirmou que o desembargador João Ferreira Bitencourt e Sá era uma pessoa que exerceu
vários cargos, entre eles de presidente da Mesa de Inspeção. Consta no documento que
este “ foi um vassalo útil e desejoso de promover os interesses e crescimento deste país,
sendo o primeiro que nele introduziu a plantação do arroz de Venosa, do café e cacau de
que resulta hoje, uma parte do comércio”, diversificando a produção com a “plantação
da erva capim da Colônia para a nutrição dos cavalos e gado vacum, fazendo de tudo vir
sementes de lugares remotos e animando a sua cultura233”.
Na década de 1790, José Gregório de Moraes Navarro elaborou um plano de
melhoramento da reforma da agricultura no Brasil, que foi publicado em 1799 por José
Mariano da Conceição Veloso e Simão Tadeu Ferreira. No plano, José Gregório critica
a forma de procedimento desenvolvido na agricultura, com o uso de mais de 400
escravos fazendo o mesmo serviço sem o uso do arado, o que ocasiona uma delonga no
preparo da terra, além de um desgaste maior dos cativos. Critica também a forma
desordenada com que os agricultores utilizam-se da lenha, ocasionando o desmatamento
inclusive de nascentes. Navarro sugere, então, o uso de novas fornalhas que
consumissem menos lenha e serviço, além disso, afirma que a falta de lenha em terras
antigas poderia ser suprida com o próprio bagaço da cana234. Com a introdução do
arado, que pode ser utilizado por 40 escravos ao invés de 400, e algumas juntas de bois,
232
Ibidem.
233
[REQUERIMENTO de João Ferreira Bitencourt e Sá, no qual pede justificação dos serviços do seu pai
o Desembargador João Ferreira Bitencourt e Sá]. Bahia, 15 de agosto de 1804. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 134, documento 26594.
234
José Gregório de Moraes Navarro. Discurso Sobre o Melhoramento da Economia Rustica do Brasil:
pela introdução do arado, reforma das fornalhas, e conservação das suas matas. Publicado por José
Mariano da Conceição Veloso e Simão Tadeu Ferreira. Lisboa: na Of. de Simão Tadeu Ferreira, 1799. P.
14-16. Biblioteca Nacional de Lisboa: Reservado: 5780P; microfilme: f.5892.
69

o trabalho poderia ser executado mais rápido e com menor desgaste dos escravos, por
ser mais leve, mas havia a resistência dos lavradores em usar o equipamento de
aragem235. Assim, a sua introdução, o uso de novas fornalhas, a conservação das árvores
e a criação do gado lanisco seriam, para o autor, todo o plano do melhoramento e da
reforma da agricultura no Brasil236.
A atuação da Mesa da Capitania de Pernambuco parece também ter gerado bons
resultados, pois, segundo requerimentos em que pediam aumento de seus vencimentos,
os membros da Mesa justificavam o pedido com base no cumprimento da sua função de
cuidar da promoção da agricultura naquela capitania,

“visto que a agricultura deste país se acha aumentada consideravelmente no


gênero do açúcar e muito importante pelo riquíssimo ramo, que se lhe uniu
do gênero algodão, depois da criação desta mesa, ramo que não só felicita o
Estado pelo comércio, que alenta no troco e permutação de outros gêneros,
como mesmo pela importância dos direitos, que paga; porque tudo isto é
grande interesse para o Estado, acrescendo comparativamente o bem, que lhe
tem vindo de se povoarem sertões, que seriam sempre incultos e desertos se
237
não houvesse a cultura de um tão vantajoso gênero nesta Colônia ”.

Em 1781 o Intendente Geral do Ouro e Presidente da Mesa de Inspeção, João


Ferreira Bitencourt e Sá, escreveu para Martinho de Melo e Castro, oferecendo diversas
informações sobre a produção e exportação do tabaco e açúcar, seguidas do seguinte
questionamento: “Por que com o crescimento da agricultura o lavrador não enriquece?”
Mesmo com o aumento da produção e com o maior preço e área de atuação, os
lavradores e senhores de engenho não enriqueciam, pois todos os gêneros de que se
precisavam nas fábricas tinham dobrado de preço; os mantimentos de que se
sustentavam triplicaram do seu comum valor, os custos com escravos subiram
excessivamente e, além disso, todos os europeus se puseram em alerta reserva com os
descontos e riscos da atual guerra, “de forma tal que para manter as fábricas, tão
dispendiosas, como os engenhos, se fazia indispensável que subisse o açúcar, pois era
muito alta a despesa de viveres e demais gêneros precisos como ferro, aço, escravos e
fazendas238”. Dessa forma, João Ferreira Bitencourt e Sá expõe que “estes proventos em

235
Ibidem, p. 14-15.
236
Ibidem, p. 19.
237
[REQUERIMENTO dos Funcionários da Mesa de Inspeção de Pernambuco reclamando sobre o valor
do seu ordenado ser menos do que o dos funcionários da Mesa de Inspeção da Bahia]. Pernambuco 03 de
agosto de 1806. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
238
[OFICIO do Intendente Geral do Ouro e Presidente da Mesa de Inspeção João Ferreira Bitencourt e Sá
para Martinho de Melo e Castro na qual dá diversas informações sobre a produção e exportação do tabaco
70

maiores preços não enriquecem os lavradores, pois que se tornam a transferir no mesmo
comércio pelo que deste recebem, por tão subidos preços e sem o que não podem
passar, viver e continuar a vida de agricultor”, uma vez que a produção estava com o
preço fixo, o mesmo não ocorria com os produtos de que necessitavam para a
manutenção do engenho e, dessa forma, o lucro das safras mal dava para cobrir as
despesas com a produção.
Se levarmos em conta os dados apresentados por Stuart Schwartz, que estima o
aumento do número de engenhos de 166 em 1759 para um total “que pode ter atingido
quatrocentos” em 1798, é inegável o enorme desenvolvimento da agricultura239. Ainda
que seja difícil mensurar a real contribuição da Mesa de Inspeção neste
desenvolvimento, pensamos que, em alguma medida, a Mesa tenha contribuído para tal
resultado.
O êxito da agricultura no Brasil também foi apresentado por Fernando Novais.
Suas conclusões foram positivas com movimentos ascendentes, com fluxo regular da
Colônia para a metrópole – configurando uma conjuntura de prosperidade nos finais do
século XVIII e início do XIX – com crescimento médio de 2,2% ao ano entre 1796 a
1806. Os produtos do Brasil nesse período correspondiam a 83,7% das importações
portuguesas de suas colônias. Segundo Fernando Novais, “o peso do Brasil no
intercâmbio de Portugal com a suas colônias era de tal ordem que tornava quase que
inexpressiva a posição das demais colônias portuguesas240”.
A exploração da Colônia no final do século XVIII foi realizada de forma
progressiva e concreta, desenvolvendo suas riquezas e ampliando o núcleo
populacional, ao mesmo tempo em que agravava os conflitos e resistências241.
De acordo com J. B. Barickman, as reformas pombalinas provocaram um
verdadeiro “renascimento da agricultura” no Brasil, especialmente na Bahia. Embora os
esforços feitos para encontrar e desenvolver novos produtos de exportação houvessem
rendido poucos resultados na Bahia, “no caso de vários produtos novos, esses esforços
nunca foram além do estágio experimental242”. Além de produtos como o açúcar e
tabaco, que sempre foram os principais produtos do comércio no mercado europeu,

e açúcar]. Bahia, 1º de agosto de 1781. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 57, documento
10879
239
Stuart Schwartz. op. cit., p. 27.
240
Fernando Antônio Novais. op. cit., p.287-290.
241
José Jobson de Andrade Arruda. O sentido da Colônia: revisitando a crise do Antigo Sistema Colonial
no Brasil (1780-1830). In: José Tengarrinha (Org.). História de Portugal. Bauru, SP: EDUSP, São Paulo:
UNESP; Portugal: Instituto Camões, 2001, p. 245.
242
J. B. Barickman. op. cit., p. 58.
71

houve também a exportação do arroz e algodão, acrescidos de menor quantidade de


gêneros, como a pimenta, o cravo-da-índia e a canela. Já o café e o cacau foram as
experiências que mais deram resultados positivos, ampliado o quadro exportador,
principalmente no século XIX243. Já Jean Baptiste Nardi aponta os anos de 1811-1815
como sendo um período de grande expansão da produção do fumo na Bahia244.
Diante do exposto, percebemos que o objetivo do governo português em
diversificar a produção para a exportação, administrada pela Mesa de Inspeção, obteve
resultados concretos. Mesmo se algumas experiências tenham fracassado, outras foram
bem sucedidas, e novos gêneros foram incorporados à lista de exportação245. Também
no tocante aos principais gêneros, o tabaco e açúcar, houve uma melhora na qualidade e
quantidade.

243
Ibidem. p. 58.
244
Jean Baptiste Nardi: Sistema Colonial… op. cit., p. 56.
245
José Jobson de Andrade Arruda. O comércio… op. cit.
72

3 INSPEÇÃO E TRANSPORTE

3.1 Transporte e Armazenamento

Um dos objetivos da Mesa de Inspeção era garantir a qualidade dos produtos


coloniais exportados para Portugal. Mas garantir a qualidade era uma tarefa árdua e
complicada. Era preciso supervisionar a produção desses gêneros e cuidar para que a
produção chegasse em Portugal sem fraudes, em boas condições e com os produtos
devidamente qualificados. Para isso, várias formas de fiscalização e controle foram
utilizadas pela Mesa, a desde saída dos produtos das propriedades rurais até a chegada
destes às alfândegas em Portugal246.
O transporte da cana dentro dos engenhos era realizado por terra e dependia dos
escravos, de muares e de grandes carros de boi, cuja utilização era dificultada pela
ausência de estradas e pontes. Os escravos carregavam e descarregavam os feixes de
cana, as caixas e sacas de açúcar para carregar os carros de bois ou as bruacas utilizadas
pelas mulas. Segundo Alípio Goulart, os engenhos tinham escravos como seus
carregadores para transportar o produto, “animais como os outros, mansos e capazes de
longas caminhadas247”. Para João Rodrigues de Brito, no Recôncavo, onde os locais
eram inacessíveis para os carros e não havia rios, o transporte era realizado às costas dos
escravos, o que era muito mais dispendioso248. Contudo, as diversidades climáticas
influenciavam diretamente, pois no período de grande seca os animais ficavam fracos,
na maioria das vezes morriam, e na época de chuvas as estradas ficavam esburacadas e
alagadas, dificultando ou até impedindo a passagem dos animais249.
A indústria do açúcar do Nordeste era uma atividade para a exportação, a
localização das lavouras próxima ao litoral era condição essencial. Pode-se dizer que a
possibilidade de transporte para o litoral marcava o limite máximo da exploração no
interior do território.

246
[OFÍCIO do governador interino para Diogo de Mendonça Corte Real no qual se refere a falta de
chuvas e carregamento da frota]. Bahia 5 de julho de 1755. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa
10, documento 1786.
247
José Alípio Goulart. Transportes nos Engenhos de Açúcar. Rio de Janeiro: Gráfica Taveira. 1959, p.
50.
248
João Rodrigues de Brito. Cartas Econômica-políticas sobre a Agricultura e Comércio da Bahia.
Lisboa: Imprensa Nacional, 1821.
249
Stuart B. Schwartz O Brasil Colonial, 1580-1750: As Grandes Lavouras e as Periferias. In.:, Leslie
Bethell. História da América Latina: América Latina Colonial. vol. 2. 2ª ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. P. 341.
73

Entre os engenhos e o porto de embarque, o açúcar era transportado por sumacas


e canoas por meio dos rios médios e pequenos, fato que servia inclusive para facilitar a
própria cobrança do dízimo, utilizando os rios para dividir os ramos do contrato de
cobrança. Os rios eram preferidos às estradas porque o transporte era menos
dispendioso, mais rápido e seguro250 e ofereciam maior proteção aos sacos e caixas,
além de oferecer maior capacidade de carga. As canoas e sumacas eram os veículos
mais utilizados no transporte de açúcar do engenho até o porto e, na volta, sempre
levavam outras mercadorias, como sal, ferragens e também madeira para ser usada
como lenha para as fornalhas251.
Outro problema enfrentado no transporte dos produtos e no carregamento nas
embarcações eram as tempestades, frequentes entre os meses de junho e julho,
principalmente quando os navios estavam carregados, como ocorreu com o navio
Netuno Santo Antônio e Almas, que faltando-lhe as amarras encalhou na Praia da
Preguiça, provocando entrada de água em seu interior, sendo preciso descarregá-lo para
se fazer os devidos consertos252. Além disso, carregar o navio em períodos de chuvas
era arriscado, os ventos fortes prejudicavam a estabilidade das sumacas e os trabalhos
dos carregadores, além de deteriorar as mercadorias.
O transporte dos produtos seguia um determinado ritual, no qual primeiramente
saiam das propriedades já com a marca da fazenda e pré-qualificados. Eram
transportados em sumacas, carros-de-bois ou mulas, dependendo das condições
geográficas onde estavam instaladas as propriedades. Em seguida, chegavam aos
armazéns ou trapiches que ficavam estrategicamente fixados próximos da região
portuária para facilitar o carregamento do navio. Nos trapiches, os produtos eram
recebidos, pesados e qualificados, recebendo as marcas da qualificação e da capitania
onde a Mesa de Inspeção estava instalada. Depois, aguardavam o momento do
carregamento da frota, recebidos pelos mestres de navios que eram responsáveis pela
carga até o desembarque em Portugal253.
Uma das preocupações dos mercadores e da administração no Brasil era
centralizar as mercadorias. Na Bahia, os armazéns eram denominados trapiches,

250
José Alípio Goulart. op. cit. p. 30.
251
Idem, p. 37.
252
[OFICIO da Mesa de Inspeção para Martinho de Mello e Castro, em que lhe dá parte das avarias que
um grande temporal causara ao Navio Netuno, Santo Antônio e Almas.] Bahia, 01 de agosto de 1777.
Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 51, documento 9498-9505.
253
[ARMAZENAMENTO do açúcar e tabaco no Trapiche.] 6 de julho de 1755. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 10, documento 1787.
74

enquanto em Pernambuco eram paços. Para Leonor Freire Costa, “o armazém, mais do
que a concentração de existências num espaço para despachar a estiva, simbolizava a
acumulação de mercadorias com pesos e medidas expressos no exterior das
embalagens254”.
No caso da Bahia, a recomendação dada pela Coroa em consulta e segundo
orientação dos Homens de Negócio de Lisboa era que a Mesa de Inspeção alugasse o
trapiche de Barnabé Cardoso “por ser mais conveniente”, que fossem feitas reformas
para melhorar o serviço da Mesa e que as despesas dessa reforma fossem descontadas
no valor do próprio aluguel255. Embora a capacidade de armazenamento do trapiche de
Barnabé Cardoso fosse maior, os produtores reclamavam porque

“este trapiche é mais baixo e subterrâneo de todos os que se fabricaram na


praia da cidade da Bahia e tem nos baixos um olho d‟água que vem do morro
que lhe fica contiguo pela parte de terra, onde não só recebe atualmente muita
umidade, mas também nas ocasiões de inverno o alagam as enxurradas do
dito morro, sucedendo algumas vezes, entupirem lhes as portas fronteiras a
rua com porções de terra que do morro quebram, sendo preciso abrir-se a rua
a enxada para o uso comum, como ainda a poucos anos se sucedeu; além
disso, as inundações da parte dos mares são quase continuas com qualquer
temporal por quebrar ali muito o mar, por causa de um baixo que tem
fronteiro e neste inútil e pernicioso cômodo quer a Mesa de Negócio [de
Lisboa] se acomodar os dois principais gêneros desta América, que importam
anualmente avultada soma de cabedal256”.

Levando em consideração que o açúcar e o tabaco alteravam a sua qualidade


com a mais leve mudança de tempo, a descrição do trapiche mostra como era
inadequado para armazenar os gêneros de exportação. Aliado à demora ou à falta da
frota anual, contribuiu “para perder [o açúcar] assim a sua alvura e por melhor e mais
seco que fosse encaixado, qualificado e marcado, como exige o regimento da Mesa257”.
Os senhores de engenho e os lavradores de tabaco eram, portanto, quem arcavam com
os prejuízos e com as penas estabelecidas pelas mudanças da qualidade e do peso
registradas com as marcas, pois a ação do tempo alterava também as caixas que
armazenavam os produtos, por serem de diversas qualidades de madeiras – umas mais

254
Leonor Freire Costa O Transporte do Atlântico e a Cia Geral do Comércio do Brasil (1580–1663).
Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. 2002. p.329–330.
255
[CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. José sobre a queixa dos oficiais da Câmara da cidade
da Bahia, senhores de engenho, lavradores de cana e tabaco contra a nova lei da Casa de Inspeção.]
Lisboa, 23 de novembro de 1752. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 112, documento 8759.
256
[REQUERIMENTO dos senhores de engenho, lavradores do tabaco e demais pessoas interessadas
nestes dois gêneros ao rei D. José, solicitando para bem de seu requerimento lhes é necessário alvarás de
9 de março de 1672, de 24 de março de 1680 e provisão de janeiro de 1719.] Bahia, 08 de março de 1753.
Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 113, documento 8853.
257
Ibidem, loc. cit.
75

seladas outras mais leves – e, nem a ação do tempo, a umidade e o calor poderiam
interferir na qualidade e peso258.
A produção da Bahia era grande para ser acondicionada em apenas um armazém,
e, como não havia armazém próprio da Mesa de Inspeção – e no início de sua criação,
também não se podia fazer um com a capacidade para recolher e conter ao mesmo
tempo o grande número de caixas de açúcar, estimado em quinze ou dezoito mil, além
de executar a pesagem e exame de cada uma das caixas como determinava o regimento
– a solução foi encaminhar a produção para os sete trapiches ou armazéns de
particulares, como até aquele momento havia se praticado259.
Em ofício, a Mesa de Inspeção da Bahia descrevia a forma de armazenar o
tabaco e como se verificava a sua qualidade e estado de conservação. Apontava algumas
causas de sua alteração, pois logo que se chegava aos trapiches era descarregado por
escravos e ficava à espera do exame, que geralmente era demorado. Durante esse
processo, o carregamento de tabaco era exposto às ações do tempo (sol e unidade), o
que provocava a sua deterioração. Mesmo bem fabricado, examinado e selecionado,
depois de permanecer por algum tempo nos trapiches, o tabaco voltava a ser examinado,
e o resultado era diferente, algumas vezes, achava-se totalmente estragado. Nesse caso,
a Mesa concluía que “as causas naturais intrínsecas e extrínsecas de que lhe provém
isto”, principalmente frutos das “conduções e transmigrações por água em tão dilatadas
viagens e dentro dos porões dos navios abarrotados, o que basta para alguns rolos
chegarem danificados260”.

3.2 Inspeção

Após a chegada da produção aos armazéns de Salvador, era feita a inspeção com
base no “Regimento das Casas de Inspeção261”. Este determinava como deveria ser o

258
Ibidem, loc. cit.
259
[CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. José sobre o que o Vice-rei e Governador Geral do
Estado do Brasil, Luís Pedro Peregrino de Carvalho de Meneses e Ataíde, conde de Atoguia da conta das
despesas para as obras da Casa de Inspeção.] Lisboa, 2 de dezembro de 1753. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 112, documento 8782.
260
[OFICIO da Mesa de Inspeção da Bahia acerca da exportação do tabaco e descrevendo a forma como
se verificava a sua qualidade e estado de conservação.] Bahia, 29 de março de 1754. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 07, documentos10320-1034.
261
REGIMENTO das Casas de Inspeção de 1º de abril de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia:
Caixa 54, documento 10326.
76

processo de exame do açúcar e tabaco nos portos do Brasil, para evitar as fraudes, e
deveriam ser expedidos em caixas o açúcar e em feixes o tabaco. As Mesas de Inspeção
tinham também a jurisdição necessária para evitar as fraudes que eram praticadas nas
qualidades e pesos dos mesmos açúcares, buscando assim que estes gêneros chegassem
ao Reino qualificados e que “os enganos dos particulares venham a cessar inteiramente
com benefício comum da agricultura, e do comércio geral262”.
A utilização das marcas era organizada para a melhor identificação da qualidade
do produto a ser exportado263. As marcas já eram utilizadas pelos portugueses no Brasil
antes da Mesa. No regimento da Junta da Administração do Tabaco de 1702, por
exemplo, já havia recomendações sobre o uso das marcas, determinando que próximo
de cada balança deveria haver uma fornalha para que o mercador fizesse logo as marcas
nos rolos. Além disso, que todos os ferreiros e serralheiros do Estado do Brasil eram
obrigados, a cada ano, assinar um termo afirmando que não fariam marca alguma a
ferro, ou de outro qualquer metal, semelhante às que eram utilizadas para marcar os
rolos – ou sofreriam as punições estabelecidas264.
As marcas eram registradas por propriedade, em livros, denominados “Livro da
Ementa e Marcas”, disponíveis nas alfândegas do Brasil e nas de Portugal para que
houvesse a conferência das marcas existentes nas caixas, fardos e guias, com as
existentes nos livros para identificar a origem dos produtos no Brasil. Existiam vários
tipos de marcas265.
Visando a uma produção de qualidade, a ordem era para os inspetores não
receberem nenhum açúcar ou tabaco que não trouxesse a marca a ferro, para que no
caso de se achar fraude “se possa, a todo tempo, saber quem foi o seu autor, e no caso
de haver maior bondade e exatidão nos gêneros deste ou daquele agricultor, possa esse
colher o devido fruto da maior aplicação que tiver em aperfeiçoá-lo e reputá-lo em

262
DECRETO de sua Majestade que baixou ao Conselho Ultramarino a favor do Comércio e Fábrica do
Açúcar e Tabaco, de 27 de janeiro de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 54, documento
10328. Há uma cópia desse decreto no Arquivo Público da Bahia; Seção Colonial e Provincial: Ordens
Régias (1751-1753), nº 48.
263
Leonor Freire Costa. op. cit. p.330.
264
REGIMENTO da Junta da Administração do Tabaco, de 18 de outubro de 1702. In.: José Justino de
Andrade e Silva. Coleção Cronológica da Legislação Portuguesa. Vol. 11. Lisboa: Imprensa de J.J.A.
Silva, 1854. P. 40.
264
Jean Baptiste Nardi O fumo brasileiro no período colonial: lavoura, comércio e administração. São
Paulo: Brasiliense, 1996. P. 55-57.
265
[INSTRUÇÃO sobre as marcas de entrada e para a balança, 17 de outubro de 1753.] Arquivo Nacional
da Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 16, caixa 15.
77

beneficio público266”. Dessa forma, ficava proibido o uso indiscriminado da marca, bem
como a sua fraude. Além disso, os funcionários da Mesa teriam o conhecimento
específico dos agricultores, dos que eram corretos e dos que fraudavam, podendo
beneficiar e punir de acordo com as circunstâncias267.
Tanto o açúcar como o tabaco tinham três marcas distintas. A primeira era a do
senhor do engenho, ou do produtor do tabaco; a segunda, a da qualidade do produto
conferida pela Mesa e a terceira marca era a identificação da capitania onde estava
instalada a Mesa de Inspeção. As marcas eram organizadas para evitar a confusão e
melhor distribuição pela Alfândega de Lisboa268. Abaixo, os quadros I e II demonstram
como era realizada a classificação do açúcar e do tabaco pela Mesa.

Tabela 1 - Classificação e Identificação do Açúcar


Tipo do açúcar Qualidade Marca da Marca do local Preço da arroba
qualidade da mesa (1) (2)
Branco Fino 1ª sorte BF B 1.500$00
Branco Redondo 2ª sorte BR B 1.200$00
Branco Batido 3ª sorte BB B 900$00
Mascavado Macho 4ª sorte MM B 600$00
Mascavado redondo 5ª sorte MR B ?
Mascavado Broma 6ª sorte MB B 400$00
Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino, Bahia.
(1) A marca da Bahia B, a do Rio de Janeiro R, a de Pernambuco P e a do Maranhão M.
(2) Preço estabelecido pelo regimento das Casas de Inspeção de 1º de abril de 1751.

Tabela 2 - Classificação e Identificação do Tabaco


Tipo do tabaco Qualidade Marca da Marca do local da Preço em
qualidade Mesa (1) arroba (2)
Escolha da Holanda 1ª sorte FP B 1000$00
Maioria do tabaco do 2ª sorte FS B 900$00
Brasil
Campos de Cachoeira (3) 3ª sorte FT B 900$00
Mais inferiores 4ª sorte - B livre
Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino, Bahia. Novo Regimento do Tabaco de 16 de janeiro de 1751.
(1) Idem à do açúcar.
(2) Preço do tabaco de acordo o Novo Regimento do Tabaco, de 16 de janeiro de 1751.
(3) De acordo com o Novo Regimento do Tabaco, o Tabaco produzido nos Campos de Cachoeira era
bom, e sem misturas, poderia se igualar com o tabaco de 2ª sorte.

266
“Regimento das Casas de Inspeção de 1º de abril de 1751”. Arquivo Histórico Ultramarino – Caixa 54,
documento. 10326.
267
Ibidem, loc. cit.
268
Ibidem, loc. cit.
78

Já o algodão deveria ser apurado e ensacado com a maior perfeição pelo


administrador da Inspeção, e o que fosse especial deveria ser posto o ferro na saca com
o nome “Superior”. O de segunda qualidade deveria ter ferro indicando “Refugado”,
para que fossem vendidos, segundo as suas qualidades, e o lavrador faria, então, o que
fosse necessário para alcançar a perfeição269.
Nos primeiros anos de instalação da Mesa de Inspeção o embarque dos produtos
era feito com guias antigas e modernas270. As antigas continham apenas o nome da
embarcação e do mestre de navio, bem como as marcas do contrato e as do produtor,
quantidade de caixas e arrobas, e eram apresentadas de forma simplificada sem as
marcas da qualidade dos produtos, já que isso era realizado nos armazéns do jardim na
alfândega de Lisboa. Já as guias modernas da Inspeção eram compostas pelo nome da
embarcação, do mestre e do contramestre, nome do despachante e da data do despacho.
Do lado dessas informações eram registradas a marca do produto, a marca do local onde
a Mesa estava instalada e a marca do contrato. Abaixo e em colunas estavam dispostas
as marcas do produtor, as marcas das qualidades com a quantidade em arrobas e o
preço271. Na nova forma de preenchimento das guias de carregamento da embarcação,
percebemos que houve um aumento nos itens de segurança da carga. Esse procedimento
foi importante para que os funcionários da alfândega em Portugal se adaptassem às
novas formas de organização das mercadorias e pudessem recebê-las e armazená-las de
acordo às instruções do Novo Regimento do Tabaco e do Regimento das Casas de
Inspeção.
O cuidado com a segurança do carregamento do tabaco não ficava restrito às
marcas. Juntamente com o carregamento, iam dois avisos de resumo sobre o conteúdo
dos produtos, um da Mesa de Inspeção, outro assinado pelo governador – Conde de
Povolide entre os anos de 1769-1774 – e também um certificado do escrivão da Fazenda
Real, comprovando o carreamento272. Esse aviso seria uma forma de o governador da

269
[RESPOSTA aos requerentes sobre a resolução do rei e explicando como fazer o exame do açúcar],
1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
270
Cf. Anexo IV.
271
[CARREGAMENTO dos produtos nos primeiros anos de Instalação da Mesa de Inspeção, 19 de
março de 1754.] Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Ministério do Reino, maço 103, caixa 95, e
[OFICIO do intendente geral Wenceslau Pereira da Silva para Diogo de Mendonça Corte Real
informando sobre o excesso de trabalho e sobre as marcas antigas e as modernas da inspeção], de 30 de
março de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 7, documentos de 1080-1103.
272
[AVISOS de carregamento de tabaco do governador da Capitania da Bahia conde de Povolide e da
Mesa de Inspeção, 22, de fevereiro de 1773.] Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Ministério do Reino,
79

Capitania e da Fazenda Real fiscalizar o trabalho da Mesa de Inspeção e garantir que


não houvesse fraudes administrativas.
Com relação à qualidade do tabaco, várias medidas foram tomadas para melhor
qualificá-lo, sendo em alguns momentos o trabalho feito pelo próprio administrador do
contrato, “Antônio Cardoso dos Santos, o mais prático homem que aqui há neste
continente, junto com dois examinadores atuais, igualmente peritos na matéria em que
são versados há muitos anos”. Estes realizavam a inspeção do tabaco observando o seu
estado, picando cada rolo com uma faca até o centro e “pelo cheiro que exalava daria
para conhecer a qualidade do gênero e do estado atual em que se acha”. Se houvesse
dúvidas com relação à sua qualidade “pelo pico da faca”, os inspetores deveriam tirar a
corda, desenrolar e tirar três amostras das voltas da corda para averiguar a qualidade e o
estado do tabaco, mesmo que “este modo de examinar ainda que seja mais moroso e
nocivo a consistência do gênero273”.
O exame do tabaco era exaustivo. Um exemplo é o caso de Antônio Pereira da
Silva Porto, Inspetor e examinador da Mesa de Inspeção da Bahia, que escreveu a Junta
da Administração do Tabaco informando que exercia a função a vários anos e que o
exame necessitava de um esforço de suspender os, rolos, furar com a faca para tirar a
amostra e verificar a sua qualidade e que o trabalho “o tem debilitado do peito por tal
forma, que tem lançado escarros de sangue e tem padecido grande deterioração no vigor
da idade da sua saúde” e que mesmo com os atestados e certidões em que comprovam a
sua “grande experiência e integridade com que se tem empregado neste laborioso
exercício sem suficiente prêmio e remuneração por só perceber o salário de 1.600$00
somente nos dias que há tabacos para se examinar”, além disso, alegava ser prejudicado
em seu comércio particular. Dessa forma, o inspetor pedia a Junta da Administração do
Tabaco para que o seu salário pago todos os dias fosse pago todos os dias, para que ele
pudesse cuidar melhor da sua saúde e poder trabalhar melhor. Pedia ainda “dois
ajudantes que sejam homens brancos e capazes, que não só ajudem e auxiliem ao
suplicante em todas as ações pendentes”, mas também para que exercitasse, aprendesse
e adquirisse “as necessárias experiências para a falta do suplicante poderem expedir o
exame e Inspeção dos tabacos com verdade e inteligência, sem dano e prejuízo das

maço 108, caixa 114. Entre os anos de 1771 a 1773 foram 36 avisos do conde de Povolide e 39 da Mesa
de Inspeção, provavelmente houve a perda de 3 avisos do Conde de Povolide.
273
[OFÍCIO da Mesa de Inspeção da Bahia acerca da exportação do tabaco e descrevendo a forma como
se verificava a sua qualidade e estado de conservação.] Bahia, 29 de março de 1754. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 07, documentos10320-1034.
80

partes com aquele salário em beneficio do comércio, lavouras e utilidade da


agricultura274”.
Em 30 de março de 1756 o rei ordenou a criação de mais dois cargos de
inspetores da Mesa no intuito de evitar a fraude e melhorar a execução dos exames.
Também colocou uma balança em cada trapiche para pesar os produtos e conferir com o
peso indicado pelos produtores, registrar nos livros correspondentes e colocar a marca
de acordo com a qualidade. Os dois funcionários em questão deveriam ser “peritos e
fieis”, eleitos a cada três anos por “doze homens de negócio dessa praça, seis donos de
engenhos e seis lavradores do Tabaco para fazerem a dita eleição275”.
Diante de várias queixas e denúncias sobre as fraudes praticadas com o açúcar e
tabaco, assim como a ação dos atravessadores que compravam as safras ainda na
propriedade e com os preços acima do estabelecido. A Mesa então elaborou um termo
de resolução sobre as providências tomadas para resolver essas questões, pois a Mesa
tinha “amplos poderes para regular e Comércio desta Capitania” e trabalhava para coibir
as fraudes que causava grandes danos ao comércio e agricultura, pois falsificavam o
açúcar “misturando o da primeira qualidade com outras inferiores e até com matérias
estranhas: procedimento tão malicioso, que tem sido origem, princípio e causa da
decadência em grande parte, deste tão importante ramo do comércio” e como Mesa era
“encarregada de regular o Comercio desta Praça” adotou medidas com base no seu
Regimento para tentar resolver estes problemas276.
No caso do problema dos lavradores que vendiam acima do preço estabelecido
pela Mesa277, a punição era “pagar em tresdobro o preço do açúcar que se houver
vendido por maior preço a metade para o denunciante e a outra metade para as obras
públicas” e quanto aos caixeiros dos trapiches da Bahia que “fazem uma formal
travessia e muitas vezes monopólio, arrogando a si as caixas para as venderem a quem
muito querem por preços que fazem objetos da sua particular utilidade com infração das
Ordens de Sua Majestade” a punição era a prisão e castigos “com inibições de servir as

274
[SOBRE o exame do tabaco pela Mesa de Inspeção.] Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta da
Arrecadação do Tabaco, maço 107, caixa 107.
275
[ORDEM do rei para a Mesa de Inspeção da Bahia tentar evitar a fraude e melhor execução dos
exames, para isso aumentou mais dois funcionários da mesa, eleitos e responsáveis pelo exame e
responsáveis pelas fraudes], de 30 de março de 1756. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio: Maço 10 caixa 38.
276
[TERMO de resolução tomada em Mesa sobre as providencias para os preços de açúcar e outras como
nele abaixo se declara. Mesa de Inspeção da Bahia], 17 de novembro de 1786. Arquivo Nacional da Torre
do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 38.
277
Os atravessadores pagavam aos lavradores preços acima do estabelecido pela Mesa, mas, os lavradores
e caixeiros, ainda saiam lucrando porque não pagavam os direitos e impostos da Coroa.
81

ditas ocupações”278. Mesmo assim, os atravessadores continuavam suas atividades de


compra dos açúcares e tabaco “com tanta preferencia, que esquecendo-se das penas
estabelecidas contra os atravessadores, vão comprá-los pelos campos dos próprios
lavradores e vilas do Recôncavo279”.
Quanto às fraudes na mistura dos produtos de uma qualidade com outra, os
funcionários da Mesa deveria ter maior vigilâncias e cuidado na hora do exame, fazendo
os furos necessários em várias partes da caixa de açúcar e do feixe de tabaco, retirando
as amostras e abrindo os que tinham indícios de alteração e confirmar a sua qualidade e
então por as marcas corretas. Além disso, os agricultores deveriam enviar amostras à
Mesa para que, no ato do exame, pudesse confirmar a procedência do açúcar “a fim de
evitar os enganos 280”.
Com relação à alteração do peso das caixas e taras a Mesa exigiu que o trapiche
executasse a provisão de 30 de março de 1756 e ter balanças nos armazéns e que

“Serão os caixeiros dos ditos trapiches responsáveis por seus bens, e em sua
falta os donos das propriedades pelas faltas que se acharem; porque sendo da
sua primeira obrigação pesarem as caixas na entrada para prevenirem a falta
que ali lhes acharem, dando parte a Mesa, obram pelo contrário, por
condescendência talvez com os senhores delas; e porque estes não mudem a
descarga para outro trapiche. E porque também são constantes a esta Mesa
alguns roubos que tem acontecido dentro dos mesmos trapiches, talvez por
falta das cautelas necessárias, serão as mesmos caixeiros dos Trapiches
obrigados a passa-las pela balança no ato do embarque, para logo se conhecer
de qualquer falta que aconteça. E os capitães e mestres dos navios as não
receberão sem este requerimento, pena de responderem pelas faltas que
depois se acharem. Se, porém as mesmas caixas tiverem as suas taras
falsificadas, se procederá contra os senhores de engenho em que foram
encaixadas na forma que dispõem o §12, cap. 17 dos estatutos da Junta do
281
Comércio ”.

Podemos observar que essas medidas, além de tentar evitar a fraude e o


descaminho, era uma forma de fiscalização e da Mesa exercer o seu poder e o controle.
As denúncias e as marcas eram indicativos de conhecimento de cada uma das partes
envolvidas, permitindo um melhor julgamento e averiguação do local de onde estava
sendo praticada as fraudes.

278
[TERMO de resolução tomada em Mesa sobre as providências para os preços de açúcar e outras como
nele abaixo se declara Mesa de Inspeção da Bahia], 17 de novembro de 1786. Arquivo Nacional da Torre
do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 38.
279
Ibidem, loc. cit.
280
Ibidem, loc. cit.
281
Ibidem, loc. cit.
82

Depois de identificado as fraudes a Mesa aplicava as punições e procurava


indenizar os negociantes. A Mesa informava a “todos os comerciantes desta praça que
comprarem açúcares ou tabacos, achando as fraudes acima indicadas serão atendidos
pela Mesa, logo que apresentarem nela as certidões legais das faltas e fraudes
acontecidas” para assim tomar as devidas providencias, ou seja, e “mandarem passar
mandados exclusivos para haverem os embolsos dos seus prejuízos das pessoas a quem
houverem comprado, onde quem diretamente pertencer”. Para que não houvesse
ignorância das determinações da mesa com relação às medidas adotadas para combater
as fraudes, os altos preços e os atravessadores a Mesa afixava editais 282 nas principais
vilas da Capitania para que a notícia chegasse tanto aos comerciantes e lavradores. Já os
caixeiros dos trapiches tinham que comparecer “a presença da Mesa e ouvindo esta
resolução sejam advertidos das suas obrigações, que tão mal tem cumprido até o
presente e assinem termo de observância inviolavelmente o que a eles diz respeito a esta
resolução e os mais mandados da Mesa283”.
A diferença entre o peso declarado na caixa e o que era efetivamente embarcado
era uma reclamação constante dos mercadores. Para resolver esse problema os
deputados da Mesa de Inspeção se reuniram em 7 de abril de 1798 para adotar um
método para o exame, peso e embarque do açúcar e tabaco. O método de examinar o
açúcar somente quando entrava no trapiche revelou ineficiente e havia causado alguns
problemas como a redução do peso dos produtos entre a entrada no trapiche até o
destino final em Portugal e, dessa forma, não se podia apontar onde havia ocorrido a
falta, se no trapiche ou na embarcação, não se podia, portanto, exigir a quantidade do
açúcar que faltava e nem aplicar a punição pelo engano.
Devido a diferença de peso para menos nas caixas de açúcar quando chegavam
em Lisboa, ficou determinado, nessa reunião, que o açúcar deveria ser pesado na
entrada e saída dos trapiches, “fazendo os administradores destes assento do seu peso
em Livro, que assinaria o capitão do navio que as recebesse, porque praticada esta
formalidade, toda a diminuição que nesse reino se achasse nas caixas a respeito do peso
que houvessem tido na saída para o embarque, se devia imputar ao navio que as
recebesse284”.

282
Ibidem, loc. cit.
283
Ibidem, loc. cit.
284
[DEPUTADOS da Mesa de Inspeção da Bahia discutindo a necessidade de pesar o açúcar antes e
depois de saírem dos trapiches], em 07 de abril de 1789. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio: maço 10, caixa 38.
83

Para pesar novamente os produtos na saída do trapiche, necessitava de trabalho


extra e, portanto, um acréscimo no custo de cento e vinte reis pela nova pesagem do
açúcar e sessenta reis por cada feixo do Tabaco. A Mesa de Inspeção em reunião com os
Senhores de Engenho e negociantes da Bahia determinou “que esta despesa saísse
igualmente dos sobreditos senhores de engenho285 e dos sobreditos comerciantes,
pagando a metade dela o vendedor do açúcar e a outra metade o comprador”. Quando o
produto chegasse à Alfândega em Portugal, deveria ser pesado novamente para conferir
e, no caso ficaria confirmado que esta tinha ocorrido no navio e o capitão deveria
responder por ela. Mas os comerciantes criticaram a determinação da Mesa alegando
que essa medida encareceria os produtos e que estes não poderiam concorrer com os
produtos de outras nações, mas na opinião dos responsáveis pela Mesa, ela estava
agindo “com acerto em estabelecer a referida providencia, e com justiça em não deferir
ao sobredito requerimento dos negociantes e dar as suas ordens para que se ponha em
prática pesarem-se as caixas na entrada da Alfândega dessa cidade286”.
Em 23 de dezembro de 1792, outra reunião teve como pauta as fraudes no
embarque do Tabaco e o estabelecimento de regras para resolver a situação adotando
algumas medidas para prevenir tal prática, ao mesmo tempo em que facilitaria o
trabalho os funcionários da Mesa. Uma das medidas era estabelecer uma escala
indicando os navios que deveriam transportar o Tabaco e determinar a quantidade de
cada um, sendo que na Casa da Arrecadação não deveria alterar a escala e nem a
quantidade estabelecida por navio, ou seja, deveria seguir as determinações da Mesa
para auxiliar no processo de combate às fraudes. Também que os tripulantes deveriam
apresentar uma relação do Tabaco que foi embarcado para o escrivão lançar no livro.
Esse registro era importante para conferir o Tabaco e evitar fraudes. Os inspetores do
Tabaco deveriam ter mais atenção ao examinar o Tabaco, separando os de primeira e
segunda folha dos de Terceira, cortando a “orelha dos rolos refugados”, caso “o
enrolador que assim o não observar será expulso da Casa e castigado como lhe parecer

285
Os produtores já tinham despesas com o transporte dos gêneros da propriedade até os trapiches e a
Mesa de Inspeção deveria adverti-los a entregar a safra no tempo da saída da frota. Cf. CARTA do
Marques de Pombal Para João Bernardo Gonzaga sobre a ampliação da jurisdição da Mesa de Inspeção.
Em 27 de janeiro de 1755. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Papéis do Brasil; Avulsos 4, nº 4 –
Disponível em: pt/tt/pbr/19/4.
286
[DEPUTADOS da Mesa de Inspeção da Bahia discutindo a necessidade de pesar o açúcar antes e
depois de saírem dos trapiches], em 07 de abril de 1789. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio: maço 10, caixa 38.
84

justo287”. Durante a inspeção também era admitidas apenas a presença dos oficiais e
tripulantes dos navios que efetuaria o transporte. Já os oficiais da Mesa e da Casa da
Arrecadação, responsáveis pelos exames, não poderiam abandonar o ato do exame288.
Quando o açúcar chegava em Portugal, era encaminho à alfândega, desembarcado
e separado com base nas marcas de sua qualidade e de cada mercador. Como a Mesa de
Inspeção já tinha realizado o processo de exame, o produto chegava pronto para ser
distribuído289. Caso houvesse alguma irregularidade no açúcar, os mercadores podiam,
com requerimento, pedir um novo exame, que seria realizado pelo Juiz do Ofício de
Confeiteiro290, que abriria as caixas e verificaria uma por uma, emitindo laudo e um
certificado291. Para esse exame, as marcas eram importantes para saber a origem do
açúcar no Brasil, a exemplo do laudo de 18 de novembro de 1800 que consta o seguinte:
“Editadas as diferenças de qualidades achadas em contrário do carimbo da Mesa de
Inspeção nos parece ser responsável o lavrador do mesmo açúcar é este o nosso láudano
debaixo do juramento que prestamos na câmara292”. Pela marca do produtor, é possível
identificar a origem do açúcar adulterado. Nos requerimentos havia o pedido para que a
Mesa de Inspeção indenizassem os proprietários das caixas que estavam falsificadas.
Um outro exemplo de certificado de uma nova inspeção é o emitido por

“João Teixeira, que este presente ano sirvo de escrivão do oficio de


Confeiteiro, com os juízes abaixo assinados, que a requerimento de Antônio
José Batista de Sales, fomos ao Cais da Baldeação e por ele nos foi mandado
mostrar uma caixa de açúcar da Bahia que por inspeção trazia branco baixo,
nº dois mil e quinhentos e quatorze arrobas nas cabeças trinta e oito da
marca, e contramarca, numero, arrobas e engenho à margem; a qual
mandámos abrir e cavar e achamos ser o açúcar da dita caixa Mascavado

287
[ATA da Mesa de Inspeção sobre o método para exame, peso e embarque dos produtos para
exportação], de 23 de dezembro de 1792. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio:
Maço 10 caixa 38.
288
Ibidem. loc. cit.
289
Manoel Ferreira Câmara [et.al.]. Cartas Econômico-Políticas sobre a Agricultura e Comércio da
Bahia. Salvador: FIEB, 2004. (Série FIEB. Documentos Históricos, 2). p. 167.
290
A regulamentação do Ofício de Confeiteiro foi efetuada através do Regimento de 1575, mas antes
disso os confeiteiros já eram reconhecidos como profissão especializada. O ingresso na profissão era por
meio de exames e outros processos seletivos que visava limitar o ingresso na profissão e estabelecer uma
hierarquia dentro do mester e impor padrões de conduta e qualidade pelos quais os profissionais deveriam
zelar. Cf. Daniel Strum. O Comércio do Açúcar: Brasil, Portugal e Países Baixos (1595-1630). Rio de
Janeiro: Versal Editores, 2012. p. 209-210.
291
[RECLAMAÇÕES dos lavradores sobre os exames efetuados pelo Oficial de Confeiteiro em Lisboa],
29 de novembro de 1800. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
292
[LAUDO do Juiz do Oficio dos Confeiteiros], de 18 de novembro de 1800. Arquivo Nacional da Torre
do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
85

macho e por tal o julgamos e certificamos debaixo do juramento de nosso


293
cargo: Lisboa, 11 de junho de 1798 ”.

Entre os anos de 1790-1805 foram emitidas vários requerimentos de


comerciantes de Lisboa questionando a qualidade do açúcar. Um exemplo é o
requerimento do comerciante José da Silva Ribeiro que argumentou que a Mesa de
Inspeção não cumpriu com as suas obrigações de qualificar adequadamente o açúcar,
sendo necessário que o juiz de Oficio dos Confeiteiros, no ato do desembarque na
Alfândega de Lisboa, realizasse a conferencia, furando as caixas, juntamente com o
escrivão da descarga e seus ajudantes, constatada a inferioridade e alegando que “ainda
que o tempo do inverno”, muitas vezes interferisse no açúcar, tornando-o úmido e
melado, além de reduzir o seu peso, este “nunca [poderia] transformar-se de branco em
mascavado e mudar a cor e natureza que a Mesa diz” e o resultado é o descredito do
açúcar da Bahia nas Praças do Norte “como se tem vistos nas contas, dadas a este
respeito, à secretaria de Estado dos Domínios Ultramarinos por João Schuback, Consul
da Nação Portuguesa em Hamburgo” e revelava o prejuízo aos comerciantes, já que a
Mesa vendia um açúcar descrita com uma qualidade e entregava outra294. E ainda
questionou a existência da Mesa de Inspeção ao afirmar que

“A vantagem do Comércio consiste no mais rápido giro das suas operações; e


em favor deste e para suprir a formalidade que lhe obstariam, foi que se
constituíram princípios públicos que servissem de base à boa fé dos seus
contratos. Tal, no gênero, de que se trata, a das Mesas de Inspeção, ferros e
taxas, tornadas hoje ilusórias. Se o comerciante, para remover o engano
estivesse na obrigação de abrir caixa por caixa de examinar a qualidade e
convencionar por ela o preço que lhe conviesse qual a utilidade, qual o efeito
295
de estabelecimento daquelas providencias? ”

Em resposta, a Mesa de Inspeção alegou que os Juízes do Oficio de Confeiteiros


da Corte atuaram de forma arbitrária ao alterar o estilo das vistorias das caixas de açúcar
com um método diferente de inspeção daquele da mesa, além disso, alegava que os
produtos podiam sofrer natural decomposição durante a viagem e que os Juízes do
Ofício de Confeiteiros tinham “de propósito introduzido à nova e indecente formula de

293
[CERTIDÃO do exame do açúcar realizado pelo oficio de confeiteiro de Lisboa], 11 de junho de 1798.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
294
[REQUERIMENTO de José da Silva Ribeiro sobre a Mesa de Inspeção não cumprir com as suas
„obrigações‟ de qualificar adequadamente o açúcar], 1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta
do Comércio: Maço 63, caixa 206.
295
Ibidem. loc. cit.
86

declarar de próprio arbitro ou a requerimento das partes, as caixas mal inspecionadas,


julgando por mascavadas caixas de açúcares inspecionados por brancos e sob pretexto
de tais julgações e atestação que expedem alguns negociantes” que procuravam a Real
Junta do Comércio para reclamar e interferir nos trabalhos da Mesa de tal forma que
“não só em desautoridade desta Mesa, a quem pelo seu Regimento e Ordens Régias,
está confiada a prosperidade e o Regulamento da Agricultura e Comércio do respectivo
Distrito”. Em sua defesa, alegava que desde a sua criação, a Capitania “vinha sempre
tendo progressos nos seus antigos ramos, com adiantamento de novos, mas também em
prejuízo dos Lavradores de boa fé e das reais Ordens”. Além disso, A Mesa de Inspeção
justifica que os Juízes do Ofício de Confeiteiro da Praça do Porto não agiam da mesma
forma que os de Lisboa, pois era os de Lisboa que estavam sempre em contradição com
a Mesa296.
A Mesa de Inspeção também esclareceu que o exame era realizado sempre
obedecendo as determinações do regimento, sempre ao final da colheita, entre a chegada
da safra ao trapiche e a embarcação da frota e, portanto, era difícil determinar “se a
qualidade achada no Reino preexistia já ao tempo das inspeções ou se proviera de
causas posteriores” e que a questão que motivava a ação dos Confeiteiros era o preço297,
já que eram “do seu Grêmio Compradores de Açúcar”, o que “ocasionava dano aos
lavradores e aos dízimos e direitos na diminuição do preço com que a Praça pagava tais
açúcares, que, alias, por mais ou menos inferiores, não deixavam de ser brancos298”.
A Mesa afirmou ainda que o resultado desse reexame dos Juízes do Ofício dos
Confeiteiros “tende a defraudar as Rendas do Estado e paralisar a circulação, alterando a
confiança e a boa fé que deve haver nos tratos entre lavoura e praça”. Também que a
Real Fazenda, pela marca, tinha a intenção de cobrar os dízimos e direitos de maneira
correspondente a qualidade do produto e, quando estes eram reexaminados pelos Juízes
do Ofício dos Confeiteiros, de forma diferenciada e atestando inferioridade e natural
deterioração do gênero em benefício dos comerciantes gerava custos com trabalho extra

296
[ARGUMENTOS e justificativas da Mesa de Inspeção sobre a má qualidade do açúcar], 27 de maio
de 1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
297
“Se os açúcares brancos por mais ou menos inferiores em cor, humildes e graá, forem inspetados por
mascavados, além da injustiça manifesta, o lavrador perderia 700 reis em cada arroba; pois tal é a
diferença com que a praça ordinariamente paga os açúcares brancos baixos sobre o melhor mascavado e a
Fazenda Real perderia também a quota respectiva do Dízimo e Novo Imposto do açúcar branco”.
[ARGUMENTOS e justificativas da Mesa de Inspeção sobre a má qualidade do açúcar], 27 de maio de
1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
298
[ARGUMENTOS e justificativas da Mesa de Inspeção sobre a má qualidade do açúcar], 27 de maio de
1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
87

e a Real fazenda deixava de ganhar o correspondente a inspeção da Mesa. Além disso,


os lavradores não podiam arcar com o prejuízo de setecentos reis em cada arroba, que
era a diferença do preço entre a arroba do açúcar branco baixo do mascavado, pois
quando o açúcar era entregue no trapiche, este estava sujeito a várias adversidades como
a demora nos trapiches, condições do tempo e viagem299. Nesse caso a decisão real era
de punir somente os casos em que realmente fossem encontradas falhas nas inspeções e
fraudes durante a viagem, não podendo emitir medidas contra os produtores dos
açúcares que sofreram com as ações do tempo300.
Todo esse processo de inspeção e controle dos produtos era para garantir que os
mesmos chegassem em Portugal com a qualidade estipulada pelas marcas e as inspeções
nos navios era uma das formas de tentar evitar as fraudes e o contrabando. O alvará de 6
de dezembro de 1755 determinava que a Mesa de Inspeção efetuasse as vistorias nas
frotas logo que chegasse aos portos do Brasil, antes que os tripulantes desembarcassem
“e achando nelas mercadorias de qualquer qualidade que sejam, as autuem, confisquem
e façam beneficiar para se aplicarem na sobredita forma; procedendo a devassa de doze
testemunhas sem determinado tempo contra os culpados e remetendo os autos a minha
real presença” e no caso dos “ministros inspetores acharem qualquer oposição ao
executarem as visitas e diligencias ordenadas, atuem as pessoas que lhes opuserem 301”.
Esse procedimento era para coibir a entrada de fazendas contrabandeadas no Brasil. Já
as vistorias na saída eram para verificar a existência de contrabando do açúcar e tabaco
e outros produtos transportados pelos comissários volantes e mestres de navios302.
A realização das vistorias era acompanhada principalmente pelo presidente da
Mesa de Inspeção, pelo escrivão que deveria tomar nota dos detalhes da inspeção. Mas
durante esse procedimento ocorriam alguns problemas que dificultavam a sua execução,
como acontecia da frota chegar durante a noite e a Mesa ter que mobilizar guardas e
outros funcionários para passar a noite nos navios, como também, ocorrerem às
apreensões de mercadorias transportadas pelos comissários volantes, ou até mesmo

299
[LIVRO 1º dos acordos da Mesa, Af 284 do livro 1º dos acordos da Mesa. 10 e maio de 1805].
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
300
[EDITAL sobre a responsabilidade das faltas e avarias achadas em todos os gêneros importados por
mar nas Alfandegas do Reino]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63,
caixa 206.
301
[ALVARÁ proibindo os comissários volantes de irem ao Brasil de 06 de dezembro de 1755]. In.:
SILVA, António Delgado da. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última Compilação das
Ordenações: suplemento da legislação de 1750-1762. Vol. 1. Lisboa: Tipografia Maigrense, 1828. p.
404-505.
302
Ibidem.
88

divergências entre os próprios funcionários da Mesa, sobre a forma de proceder às


inspeções303.
Em alguns casos de inspeções dos navios, os ânimos se exaltavam e medidas
mais sérias deveriam ser tomadas para manter a ordem e o bom andamento dos
trabalhos como foi o caso do episódio da prisão do mestre do navio denominado
Chocoalho em 1804. Tal fato ocorreu devido à notificação de tabacos foram
examinados apressadamente, deixando passar tabacos de má qualidade. Com isso, os
negociantes enviaram um requerimento ao Governador da Capitania em que pediam a
sua intervenção para informar a Mesa de Inspeção sobre os tais exames e pedindo para
se procedesse a nova inspeção. A Mesa então organizou a nova vistoria, utilizando a
ordem da escala de carregamento do Navio, porém, o mestre do navio Chocoalho, não
aceitou a ordem da escala estabelecida para a vistoria e reexame dos navios e desacatou
os oficiais da alfândega e da Mesa de Inspeção e, por isso o presidente da Mesa de
Inspeção mandou prendê-lo304. No final do período colonial, a influência das ideias
liberais marcaria a crítica do trabalho de inspeção realizado pela Mesa. Nas “Cartas
Econômico-Políticas sobre a Agricultura e Comércio da Bahia”, escritas em 1807 por
alguns agricultores baianos, dentre os quais, José Diogo Gomes Ferrão Castelo Branco,
é visível o questionamento contrário as atividades da Mesa de Inspeção. Para ele os
exames não eram úteis para a lavoura e para o comércio dos tabacos, açúcares e algodão
e defendia a sua extinção para que os lavradores e compradores pudessem negociar os
gêneros sem interferência305. Já Manoel Ferreira Câmara, mesmo sendo um crítico da
Mesa de Inspeção, afirmou que a inspeção era favorável à cultura porque a promovia a
medida que obrigava aos senhores de engenho e lavradores do tabaco a melhorarem os
seus gêneros. Afirmou também que sem a mesa haveria uma grande dificuldade na
venda e em conciliar a opinião do vendedor e comprador sobre a qualidade e preço do
produto, o que os agricultores não eram obrigados a vender os seus gêneros pelo menor
preço como acontecia em várias ocasiões anteriores a Mesa306.
Por outro lado, a Mesa e a inspeção também tinha apoiadores, como por exemplo,
Joaquim Inácio de Siqueira Bulcão que afirmou que os exames dos gêneros de

303
[VISTORIAS dos navios pela Mesa de Inspeção], 12 de dezembro de 1759. Arquivo Nacional da
Torre do Tombo: Junta da Arrecadação do Tabaco, maço 104, caixa 97.
304
[VISTORIA nos navios, irregularidades e prisão do mestre de navio]. 20 de fevereiro de 1804.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: maço 10, caixa 37.
305
José Diogo Gomes Ferrão Castelo Branco [et. al]. Cartas Econômico-Políticas sobre a Agricultura e
Comércio da Bahia. Salvador: FIEB, 2004. (Série FIEB. Documentos Históricos, 2). p. 175-176.
306
Manoel Ferreira [et. Al] Câmara, 2004. op. cit. p. 168.
89

exportação eram úteis e necessários para o beneficio da agricultura e que a sua abolição
causaria grandes danos à produção da capitania307. Ou ainda João Rodrigues de Brito
que também não via inconvenientes nos exames praticados pela Mesa de Inspeção, pois
o exame era realizado sem conhecimento de sua origem e, portanto, “mostra a confiança
que a Mesa tem merecido ao Público” e que sem a qualificação “seria preciso que ou
cada um dos que pretendesse comprar fizesse seu exame particular com trabalho e
deterioração do gênero […] ou que se fiasse na palavra do vendedor”, e assim, era a
marca “um instrumento do comércio que facilita as compras e vendas sem prejudicar
pessoa alguma308”.

3.3 Navegação

A navegação era um ramo importante da economia portuguesa, pois era através


dela que os produtos do ultramar chegavam em Lisboa, por isso os portugueses tinham
um cuidado especial com este setor309. Na opinião de Manuel Luís da Veiga, “a marinha
mercante de Portugal era das mais ativas da Europa, suas embarcações eram uma das
mais fortificadas, tanto para o mar como para os rios e possuíam numerosos carpinteiros
trabalhando na construção de navios nos estaleiros tanto em Portugal como no
Brasil310”.
Dessa forma, o problema do transporte era estratégico para que a economia do
reino se desenvolvesse e, portanto, a coroa procurou introduzir várias melhorias no
transporte marítimo no final do século XVIII, dentro do esforço de desenvolvimento da
agricultura e também do comércio entre a metrópole e suas colônias311. Tais melhorias
navais como a redução dos custos de viagens, redução do número de tripulantes e, em
fim, do armamento dos barcos, permitia o aumento a capacidade da carga e, portanto,

307
Joaquim Inácio de Siqueira Bulcão [et. al]. Cartas Econômico-Políticas sobre a Agricultura e
Comércio da Bahia. Salvador: FIEB, 2004. (Série FIEB. Documentos Históricos, 2). p. 180.
308
João Rodrigues de Brito [et. Al.]. Cartas Econômico-Políticas sobre a Agricultura e Comércio da
Bahia. Salvador: FIEB, 2004. (Série FIEB. Documentos Históricos, 2). P. 149-151.
309
Sobre a navegação portuguesa no Atlântico Cf. Leonor Freire Costa. op. cit.
310
Andréia Slemian; Claudia Maria das Graças Chaves. (Orgs.). Obra de Manoel Luís da Veiga. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012. p.195.
311
José Jobson de A. Arruda. O Brasil no Comércio Colonial. São Paulo: Ática, 1980. (Ensaios: 67). p.
640.
90

dos lucros312 ou ainda a redução do tempo de permanência improdutiva nos portos,


aumentando o tempo útil no mar. Para Jobson, os custos da comercialização e transporte
reduziam-se na proporção inversa do aumento do volume das trocas313. “Infraestruturas
portuárias eficazes seriam, pois, portos com um bom serviço de barcas ou com
profundidade suficiente para os seus cais acolherem navios de grande calado314”, pois,
era necessária toda uma infraestrutura para receber a frota e agilizar os trabalhos da
Mesa de Inspeção e da alfândega.
Segundo Leonor Freire Costa, “Frota era um vocábulo vago, associado à
circunstância em que navios obedeciam a alguns preceitos para se manter na mesma
rota, à vista uns dos ouros, antevendo a possibilidade de entre-ajuda315”. Frotas
significaram concentração do tráfego e consequente desvantagem econômica. Havia
diferença no ritmo de cada navio, uns iam mais rápido que outros e representava mais
tempo de viagem, com gastos inerentes com a tripulação. Outro problema grave era o
congestionamento do cais que dificultava a estiva, a vistoria e a inspeção e, esse
processo era lento. Além disso, a chegada da frota inundava o mercado, reduzindo as
margens de comercializações da mercadoria transportadas316.
A junta do comércio, órgão ao qual competia controlar a “saída das frotas”, fazia
cumprir a proibição dos comissários volantes pelo alvará de 25 de janeiro de 1755 irem
aos portos do Brasil, combater os descaminhos e contrabandos, fiscalizar o peso e
qualidade dos rolos do tabaco e das caixas de açúcar em Portugal317. Era responsável
também por organizar o controle e fomento do comércio colonial inclusive a construção
de navios, no Reino e no Brasil, com madeiras da Colônia318. No Brasil, essas ações,
estavam sob a responsabilidade da Mesa de Inspeção, e o mesmo alvará estabelecia as
suas atribuições com relação às frotas do Brasil e determinava que a Mesa deveria afixar
editais com as datas de chegada e partida da frota, com o prazo de doze dias, para que os
produtores ficassem cientes e preparassem a safra no tempo certo. A safra que chegasse

312
A redução da tripulação e do armamento ocorreu devido a menor intensidade da pirataria e do
crescimento da segurança no transporte. Cf. José Jobson de A. Arruda Ibidem. p. 641.
313
Ibidem. loc. cit.
314
Leonor Freire Costa. op. cit. p. 331–332.
315
Ibidem. p.209.
316
Ibidem. p.211.
317
[ALVARÁ de 25 de janeiro de 1755 sobre a partida e torna-viagem das frotas do Brasil]. In: SILVA,
António Delgado da. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última Compilação das Ordenações:
suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense, 1828. Fl. 347-349.
318
Francisco Calazans Falcon. Pombal e o Brasil. In.: José Tengarrinha (org.) História de Portugal. 2ª
ed., rev. e ampl. Bauru, SP: EDUSC; São Paulo, SP: UNESP; Portugal, PT: Instituto Camões, 2001. p.
232.
91

posterior a data marcada só seria embarcada na frota posterior, sob custos do produtor.
Os navios que fossem pegos com fraudes ficariam sujeitos á lei de 16 de fevereiro de
1740319, e não poderiam carregar, os mestres seriam presos e perderiam o valor da carga
para o denunciante. As transgressões eram investigadas e julgadas através de devassas
pelos Inspetores da Mesa.
O Alvará também concedia a Mesa de Inspeção toda a jurisdição para que “todos
os Ouvidores, Juízes de Fora e mais Ministros e oficiais de Justiça e Fazenda daquele
Estado, a quem se dirigem as ordens sobreditas das Mesas nos respectivos territórios as
executem inviolavelmente”, caso contrário estariam sujeitos a penas de acordo com a
gravidade320.
O referente alvará de 25 de janeiro de 1755 também reforçou as determinações
dos regimentos e decretos de 1751 e 1753 que estabelecia regras para a navegação com
o tempo de chegada das frotas que navegavam entre os portos portugueses e brasileiros
que partiam em datas fixas, vistorias nos navios para evitar fraudes, pois o “desejo de
obter lucros com todos os produtos do Brasil e de bloquear o contrabando, que havia
atingido vastas proporções durante o reinado de Dom João V, levou a um
fortalecimento do sistema de frotas321”.
As frotas da Bahia chegavam com maior regularidade a Lisboa em janeiro ou
outubro, as de Pernambuco aportavam com maior frequência em julho. Para Virgílio
Noya Pinto esta “alternância asseguravam intervalos suficientes para evitar o acumulo
de açúcar, garantindo-se, assim, o escoamento do produto sem dano para sua
cotação322”.
As frotas eram anuais e tinha um tempo determinado para permanecer em cada
porto. Mas no ano em que não tinha frota, ocorria grandes prejuízos para os lavradores e
comerciantes, a exemplo do ano de 1760, causando transtornos também para os
funcionários da Mesa de Inspeção, porque neste ano em questão “ vieram a perder quase
inteiramente os tabacos da safra de 1759 para 1760 e se vieram junta duas safras de
açúcar” o que dificultou o carregamento da frota de 1763, pois mesmo com os navios de
licença utilizados naquele ano, ainda

319
Citada no documento.
320
[ALVARÁ de 25 de janeiro de 1755 sobre a partida e torna-viagem das frotas do Brasil.] loc. cit.
321
André Mansuye; Diniz Silva. Portugal e Brasil: a reorganização do Império, 1750-1808. In.: Leslie
Bethell. História da América Latina: América Latina Colonial. vol.1. 2ª ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. p. 497.
322
Virgílio Noya Pinto. O Ouro Brasileiro e o Comércio Anglo-português. São Paulo: Ed. Nacional;
(Brasília): INL, (Brasiliana; v. 371) p. 134
92

“ficavam na terra muitas caixas pelos engenhos do seu contorno, as quais


nem cabiam nos ditos navios, nem se poderão conduzir para esta cidade por
vir a presente frota em tempo de inverno e não ter sido possível o
conduzirem-se antes, por estarem os seus trapiches cheios com as caixas da
safra passada: Também se faz atendível o dano que nos açúcares que se
emitem padecerá o comercio desta Praça e do Reino323”.

Segundo Luís Antônio de Oliveira Mendes as frotas eram um dos principais problemas
para o agricultor porque não tendo a frota a safra ficava estocada, geralmente estragava,
além de manterem os armazéns ocupados pois só poderiam ser encaminhadas para
Portugal na frota seguinte. Isso prejudicava o agricultor, porque não recebia o
pagamento esperado pela venda da safra e não tinha como custear as despesas da
propriedade, sendo forçado a pedir dinheiro emprestado para manter a produção 324. Para
Mendes as frotas prejudicavam a agricultura da capitania de tal forma que assinala o ano
de 1766, quando estas se aboliram, como a “época feliz do restabelecimento da
agricultura em geral e com mais força em particular da lavoura do açúcar325”.
A falta de um programa adequado de saídas de navios em Portugal e no Brasil,
muitas vezes, provocava a deterioração dos produtos em decorrência dos longos
períodos de espera, além dos problemas com a venda dos gêneros e da constante pratica
de fraudes e contrabando326, “fracassaram todos os esforços da Junta do Comércio no
sentido de reformar o sistema de frota327”, sendo abolidas em 1765.
O governo estabelecia também um controle dos tripulantes e passageiros entre os
dois lados do oceano. Nas frotas espanholas também havia o controle das viagens. Os
mestres de navios deveriam ter a relação da carga e da correspondência da coroa e dos
comerciantes, como também a lista dos tripulantes, passageiros e presos. Quando
chegavam em Cádiz entregavam toda a documentação para o presidente da “Casa de la

323
[CORRESPONDÊNCIA da Mesa de Inspeção da Bahia falando sobre a ausência das frotas e o prejuízo
com a safra e transportes relacionado aos anos de 1760-1765], em 28 de setembro de 1761.Arquivo
Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 38.
324
Luiz Antônio de Oliveira Mendes. Discurso Preliminar, Histórico, Introdutivo, com Natureza de
Descrição Econômica da Comarca e Cidade da Bahia: In.: Pinto de Aguiar. Aspectos da Economia
Colonial. Salvador: Progresso, 1957. (Coleção de Estudos Brasileiros, série cruzeiro). p. 72.
325
Ibidem, p. 54 e 61.
326
ALVARÁ de 10 de Setembro de 1765. Em que Sua Majestade há por bem abolir inteiramente as
Frotas, e Esquadras que até agora foram aos Portos da Baía, e Rio de Janeiro: ordenando, que para eles, e
para todos os mais dos seus Domínios Ultramarinos, (onde o Comércio se não acha vedado por
Privilégios exclusivos) possam os seus Vassalos (enquanto Sua Majestade não mandar o contrário)
navegar livremente, e passar quaisquer mercadorias daquelas, cujo Comércio é permitido. In.: José
Roberto Monteiro de Campos Coelho e Sousa. fl. 1778- , compil. Sistema, ou Coleção dos Regimentos
Reais. Lisboa: Oficina de Francisco Borges de Sousa, 1783
327
Andrée Mansuy; Diniz Silva. op. cit. p. 499.
93

Contratación” que fazia a vistoria nos navios, entregava os presos e só depois


desembarcava as mercadorias328”.
Em Portugal o trânsito de pessoas entre a metrópole e colônia era rigorosamente
controlado. O alvará de 7 de março de 1760 também determinava a obrigatoriedade dos
viajantes requererem os seus passaportes na Junta do Comércio em Lisboa e na Mesas
de Inspeção no Brasil329.
No Brasil, as pessoas passavam um atestado à Mesa de Inspeção com
justificativas, comprovadas por três testemunhas para requerer os seus passaportes
observando o tempo necessário antes da viagem para que os funcionários da mesa
analisassem os requerimentos para conceder ou não o devido passaporte330 .
Era permitido que os colonos viajassem nos navios mercantes desde que tivessem
passaporte e autorização para viajar. A Mesa encaminhava a relação dos passageiros e
dos seus destinos. A exemplo de “José Alves dos Santos, pardo, oficial de polícia, vai
para Lisboa; André Gonçalves de Andrade e Souza, vai para a dita cidade; Bento José
de Andrade e Souza, vai para a dita cidade; Pantalião Nunes de Azevedo natural da Vila
Nova, vai para o Porto; José Teixeira da Matta, natural desta cidade, filho legítimo de
José da conceição de Jesus, vai para Coimbra”. A lista seguia com o total de quatorze
pessoas, nove foram para Lisboa, dois para o Porto e dois para Coimbra 331. Em outra
relação havia um total de trinta pessoas: vinte e quatro pessoas para Lisboa, cinco para o
Porto e sete para Coimbra332. Havia também requerimentos de mulheres, de pessoas
para viajar acompanhado de escravos e de religiosos com identificação de sua ordem e
posição que ocupava na igreja333. Percebemos que o movimento era constante, o que
permitia a circulação de informações, conhecimentos e bens pessoais.
As pessoas poderiam ser punidas com prisão caso viajassem sem passaporte 334 ou
terem efetuado requerimento que tivesse sido negado e, mesmo assim, ter embarcado,

328
Maria Dolores Herrero Gil. El Mundo De Los Negocios De Indias: LasFamilias Álvarez Campana y
Llano San Ginés em el Cádiz delsiglo XVIII. Consejo Superior De Investigaciones Científicas|
Universidad Đ Sevilla| Diputation de Sevilla, Madrid, 2013. p. 147.
329
[ATESTAÇÕES da Mesa de Inspeção sobre as requisições de passaportes, 1760-1770]. Arquivo
Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 01, caixa 01.
330
Ibidem, loc. cit.
331
Ibidem, loc. cit.
332
Ibidem, loc. cit.
333
[RELAÇÃO dos oficiais e marinheiros e mais pessoas da equipagem dos navios (1760-1770)].
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 01, caixas 01 - 04.
334
[OFÍCIO do capitão João Alberto de Castelo Branco ao Secretário de Estado da Marinha e Ultramar
Tomé Joaquim da Costa Corte Real informando a prisão dos passageiros da frota da Bahia que foram
apreendidos sem passaporte]. Lisboa, 11 de fevereiro de 1759. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia,
caixa 140, documento 10786.
94

como foi o caso de Antônio Alvares Viana e Alexandre Francisco que “sendo as suas
atestações passadas anteriormente a data da mesma carta não vieram na relação
incluídos, motivo porque se acham pronunciados na devassa e ficam recomendados na
prisão335”.
Conhecer a tripulação também era importante para a Junta do Comércio 336 e para
a Mesa de Inspeção, pois eram as pessoas que iriam cuidar dos produtos durante a
travessia oceânica. Era mais uma forma de manter o controle sobre a navegação e a
circulação de indivíduos. A inscrição dos tripulantes na Junta do Comércio e Mesa de
Inspeção era bem minuciosa, com a descrição de nacionalidade e endereço, descrição da
estatura, cor dos olhos, formato do rosto, idade, tipo físico (gordo ou magro), formato
do nariz e sobrancelhas, tipo de cabelo e barba, descrição de cicatrizes, quando havia.
Era um verdadeiro retrato falado para que o tripulante fosse reconhecido pelos
funcionários da Alfandegas e da Mesa de Inspeção337.
Na composição da equipagem do navio encontramos os seguintes tripulantes: um
capelão, um capitão, um piloto, um mestre, um cirurgião, um contramestre, um
carpinteiro, um calafate, três marinheiros entre (51 a 36 anos), sete mancebos (entre 20
a 26 anos), quinze moços (entre 14-20 anos), com a informação do tempo em que
atuavam na função338. Segundo Leonor Freire Costa, a maior parte dos tripulantes seria
de conhecimento do mestre, o que facilitaria a disciplina a bordo pois “a aceitação da
autoridade do capitão/mestre constituiria o elemento catalizador da concórdia. O
conhecimento mútuo e a sondagem prévia sobre o comportamento dos homens a
contratar afiguravam-se essenciais339”.
De acordo com Leonor Freire Costa, o açúcar brasileiro trouxe uma nova

335
[ATESTAÇÕES da Mesa de Inspeção sobre as requisições de passaportes, 1760-177]. Arquivo
Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 01, caixa 02.
336
No fundo da Junta do Comércio do Arquivo Nacional da Torre do Tombo há uma série documental
sobre o controle de passageiros e tripulantes entre Portugal e o Brasil para os anos de 1760-1770,
arquivados em quatro caixas. Há também comprovantes da Mesa de Inspeção de remessas de dinheiro do
Brasil para Portugal e contabilidade das viagens. Existe também relação de passageiros e tripulantes de
Angola para Portugal e Brasil. Infelizmente não houve tempo hábil para realizar uma análise detalhada
desse fundo, o que ocorrerá num futuro próximo. Cf. [RELAÇÃO dos oficiais e marinheiros e mais
pessoas da equipagem dos navios (1760-1770)]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio. Maço 01, caixas 01 - 04.
337
[RELAÇÃO dos oficiais e marinheiros e mais pessoas da equipagem dos navios (1760-1770)].
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 01, caixas 01 - 04.
338
Para o ano de 1625, Leonor Freire Costa apresentou a seguinte tripulação “carregando 125 toneladas
de vinho e 605 caixas de açúcar, seria embarcação para cerca de 200 toneladas de frete. Foi tripulada por:
1 mestre-capitão, 1 piloto, 1 Contramestre, 2 artilheiros, 1 despenseiro, 8 marinheiros, 6 grumetes, 4
pagens, 4 moços”. Leonor Freire Costa. op. cit. p.356–357.
339
Ibidem, p.454.
95

repartição das esferas do transporte e do tráfico, retalhando o Atlântico em “rotas


primárias” e “rotas de distribuição340”. Mas em qualquer das direções, era a importação
que punha em marcha os circuitos, assim a circulação e distribuição, o transporte e o
tráfico eram dois setores dinamizados pela expansão da cultura do açúcar.
No caso do tabaco baiano, por exemplo, parte da produção de primeira e segunda
qualidade era enviada para Portugal e outra para o oriente uma vez por ano. Para a
África eram quatro envios (a cada três meses) de tabacos velhos e de terceira e ínfima
qualidade341 para o resgate de escravos342.
Segundo Daniel Strum, os fretes eram efetuados através de um contrato que
observavam alguns pontos como o itinerário, o tempo de espera em cada porto, a carga
a ser transportada em cada trecho e a remuneração pelo serviço343.
A Mesa de Inspeção administrava também o frete do marfim, ajustado pela
provisão de março de 1789. Os mestres de navio não aceitavam o frete do marfim
porque o valor era baixo. Geralmente o marfim era carregado nas embarcações da
Coroa, mas quando havia muita carga e faltavam navios da Coroa a Mesa ajustava o
preço de 280 reis por quintal, mas nem sempre era possível manter esse preço, o que
obrigava a mesa a pagar um valor mais alto344.
Os produtos de Angola enviados para Portugal deveriam fazer escalas nos portos
do Brasil, o que aumentava o frete e “levaria os produtos agrícolas angolanos a chegar a
Lisboa com o preço mais elevado que o de seus similares brasileiros e inviabilizaria a
empreitada345”. Os armadores e mestres das embarcações eram obrigados a declarar a
rota de viajem que deveria abranger um porto onde estivesse instalada uma Mesa, ter
certidões dos produtos e apresenta-las aos funcionários da Mesa para comprovação das
rotas utilizadas, caso contrário estariam sujeitos a pena de terem as embarcações
confiscadas e de pagarem a metade do valor da carga do navio para as reaverem 346. Para

340
Ibidem, p.115 – 116 .
341
Com relação ao tabaco de ínfima qualidade existe o alvará régio dirigido ao Superintendente do tabaco
da Capitania da Bahia, Alexandre Botelho de Moraes, determinando a livre exportação do tabaco de
ínfima qualidade.
342
[MESA de Inspeção da Bahia, 24 de maio de 1755]. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia caixa 09,
docs. 1618-1623.
343
Daniel Strum. op. cit.p. 326.
344
[PROVISÃO para a Mesa de Inspeção da Bahia] em data de 23 de março 1789. Lisboa 23 de abril de
1789. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4219.
345
Luís Felipe de Alencastro. O Trato dos Viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo:
Companhia das Letras, 2006 p. 35.
346
José Carlos Venâncio. A Economia de Luanda e Hinterland no Século XVIII: um estudo de sociologia
histórica. Ed. Estampa. Lisboa, 1996. p. 172.
96

José Carlos Venâncio, os “livros de registo, nas referidas juntas de comércio e casas de
inspecção, ajudariam à fiscalização” e representava “mais uma medida pombalina347”.
Com o clima de guerra em que a Europa estava envolvida, a Coroa encaminhou a
Mesa de Inspeção da Bahia um edital suspendendo o alvará de 29 de abril de 1766 que
regulamentava os fretes e determinou que a mesa afixasse editais em vários lugares da
capitania informando que os fretes dos navios fossem livres durante o período de
guerra, pois o dito

“Alvará de 29 de abril de 1766, que regulou os fretes dos gêneros


transportados dos Portos do Brasil para este Reino não compreende para o
seu efeito e observância o estado atual da guerra em que se acha envolvida
toda a Europa e que tem feito alterar o valor de todos os objetos necessários
para a subsistência da navegação: Ordenando que enquanto durar a mesma
guerra o preço dos fretes fique livre ao arbítrio e convenção das Partes, e que
nesta inteligência e pelas mesmas razões hajam de subsistir em seu inteiro
vigor e validade os que se houverem convencionado por mais do taxado no
sobredito alvará348 […]”.

No final do século XVIII a conjuntura de rivalidade entre Inglaterra e França, e


muitos piratas franceses estavam no Atlântico próximo as ilhas dos Açores349. Devido a
ameaça dos ataques piratas, a Coroa determinou que os navios mercantes estavam
proibidos de navegarem soltos e sem proteção dos navios de guerra e que deveriam ser
em comboio “para proteger e segurar os navios da carreira do Brasil, de que depende o
comércio e a prosperidade do Estado” prevenindo a Mesa de Inspeção e os
governadores das capitanias do Brasil a não permitirem a saída de navios soltos “que
alguns proprietários e capitães inconsideradamente expõe aos riscos dos piratas que
infestam os mares e as costas dos domínios de V. Majestade350”. Segundo Lucy Maffei
Hutter “nessa época os navios portugueses navegavam em comboio, ainda para fazer
frente aos piratas, incluindo aí os argelinos constantes no litoral de Portugal como na
rota dos arquipélagos dos Açores e Madeira351”.

347
Ibidem, p. 172.
348
[EDITAL de 07 de dezembro de 1796 que determinava os fretes dos navios livres a avença das partes
durante a presente guerra]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 36.
349
[SOBRE os piratas franceses]. 25 de junho de 1800. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio. Maço 63, caixa 206.
350
[DETERMINAÇÃO da Real Junta do Comércio para que os navios mercantes não possam sair dos
portos Portugueses para o do Brasil sem ser debaixo de comboios], 15 de maio 1797. Arquivo Nacional
da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
351
Lucy Maffei Hutter. Navegações nos séculos XVII e XVIII Rumo: Brasil. São Paulo; Edusp, 2005.
(Coleção Estante USP; 8), p. 83.
97

A Junta do Comércio, em 1798, determinava algumas ações para melhorar o


controle do comércio da navegação de comboio, principalmente aplicando penas aos
mestres de navios que separavam dos comboios e chagavam antes ou depois nos portos
do Reino ou do Brasil. O governador não deveria dar permissão para o navio sair do
Brasil com carga de açúcar e tabaco fora do comboio e sem a proteção da frota
armada352.
Os mestres que saiam sem o comboio ou se no meio da viagem se afastassem
sofriam uma devassa pela junta do Comércio em Lisboa e pela Mesa de Inspeção no
Brasil, para investigar o porque desse afastamento e se o navio atracasse antes ou depois
da chegada do Comboio não poderia descarregar as mercadorias até que o comboio
estivesse todo reunido no porto para verificar as causas do adiantamento e atraso e, no
caso de tempestades “se permita a descarga do navio, [mas] as suas mercadorias se
conservarão nos armazéns das alfandegas respectivas, como em deposito e se lhes não
dará despacho, até que não chegue o comboio, para então em concorrência com os mais
navios e suas mercadorias serem igualmente despachadas353”.
A Junta do Comércio determinava também, que no fim da devassa, as sentenças
e as decisões não poderia haver apelação ou agravo e nem qualquer outro recuso,
evitando assim “as delongas judiciais sobre um objeto cuja natureza é criminal e por
consequência punível por um modo breve e sumário354” e para que a navegação se
efetuasse com segurança em benefício do comércio.
O cronograma do comboio também foi estabelecido pela Junta do Comércio, e
deveriam sair do Porto de Lisboa para os portos da Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco e
Maranhão no mês de março e outubro e deveriam voltar no mesmo ano e nos tempos
próprios para a exportação dos gêneros daquelas Capitanias355.
O sistema de comboio prejudicava as ilhas de São Miguel, Madeira e Açores,
pois com a presença dos corsários na região, os navios passavam distantes e sem
segurança os comerciantes das ilhas ficaram impossibilitados de comercializar com o
Brasil. O comerciante Antônio Joaquim Ferreira, fez um requerimento para fazer parte
do projeto de navegação da Bahia com a ilha dos Açores, São Miguel e Madeira e pedia
permissão de integrar o comboio para o Brasil, evitando assim os corsários franceses e

352
[JUNTA do Comércio sugerindo algumas ações para melhor controle do comércio de comboio], 24 de
abril de 1798. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.
353
Ibidem, loc. cit.
354
Ibidem, loc. cit.
355
Ibidem, loc. cit.
98

que por isso o “comércio direto entre as ilhas e o Brasil estava parado havia seis
anos356”. A Junta do Comércio autorizou o negociante Antônio Joaquim Ferreira a fazer
sua expedição mercantil para o Brasil compondo o comboio e que na volta quando
chegasse próximo às ilhas a sua escolta seria realizada por um navio de guerra do
comboio geral, para que não ficasse totalmente desprotegido357.
A inspeção e o transporte, sem dúvida eram atividades supervisionadas pela Mesa
de Inspeção que interferia diretamente no resultado final da produção. O cuidado com o
transporte da mercadoria da propriedade para o porto e do porto do Brasil para Portugal
era longa, cara e sujeita a um rigoroso sistema de controle e a navegação deveria seguir
um calendário adequando para a safra não estragasse, não gerasse maiores prejuízos e
para que também não comprometesse a reputação dos gêneros do Brasil no mercado
europeu. Nesse processo, a Mesa de Inspeção executava as suas atribuições para que os
produtos chegassem ao mercado da metrópole com a qualidade exigida e esperada.

356
[REQUERIMENTO do negociante Antônio Joaquim Ferreira da cidade de Ponta Delgada, da Ilha de
São Miguel. 15 de junho de 1800]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 63,
caixa 206.
357
[RESPOSTA da Junta do Comércio ao requerimento do negociante Antônio Joaquim Ferreira, 26 de
junho de 1800]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 63, caixa 206.
99

4 COMÉRCIO E CONTRABANDO

4.1 O papel da Mesa de Inspeção no comércio

Caio Prado Junior, em conhecida passagem de formação do Brasil


Contemporâneo, apontava o “sentido da colonização”. Para o autor, se formos “a
essência da nossa formação, veremos que na realidade nos constituímos para fornecer
açúcar, tabaco358” entre outros gêneros. Dessa forma, segundo Novais, “o comércio foi
de fato o nervo da colonização do Antigo Regime” e o exclusivo metropolitano era o
“mecanismo por excelência do sistema359”.
A política pombalina atuou para o desenvolvimento das atividades coloniais com
a reorganização do comércio português e o reforço dos monopólios por meio das
companhias privilegiadas, a partir de 1755, da Real Junta do Comércio em 1755 e da
instalação da máquina fiscal, com a instituição do Erário Régio em 1761. Assim, “as
restrições vão-se impondo, medidas implacáveis são postas em prática e o comércio
passa a monopólio de uma burguesia ligada aos interesses do ministro-marquês360”.
Segundo Kenneth Maxwell, para desenvolver o Estado português, Pombal tinha como
prioridade “proteger e estimular o potencial econômico do Brasil e dar continuidade aos
benefícios comerciais concedidos aos comerciantes nacionais361”. O resultado dessa
política foi favorável, isso porque “mais da metade das rendas do estado entre 1762 e
1776 originavam-se direta ou indiretamente do império ultramarino, em especial do
Brasil362”. Fato que também foi confirmado por Fernando Tomaz, ao analisar “as
finanças do estado pombalino” nesse mesmo período363.
O exclusivo metropolitano era a proibição do comércio estrangeiro, em outras
palavras, todos os gêneros, tanto importados como exportados, deveriam passar por
Portugal. Além disso, o exclusivo metropolitano era reforçado pelos monopólios de
Estado, como, por exemplo, os que incidiram sobre o pau-brasil, o fumo e os diamantes

358
Caio Prado Junior. Formação Econômica do Brasil Contemporâneo: Colônia. 23. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1997. p. 30.
359
Fernando Antônio Novais. Portugal e Brasil na Crise do Antigo sistema Colonial (1777-1808), 3ª
edição. São Paulo: Hucitec, 1985. Coleção Estudos Históricos. p. 72.
360
Virgílio Noya Pinto. O Ouro Brasileiro e o Comércio Anglo-português. São Paulo: Ed. Nacional;
(Brasília): INL, (Brasiliana; v. 371). P. 131 e 133.
361
Kenneth Maxwell. Marquês de Pombal: paradoxo do iluminismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996, p.
132.
362
Ibidem, p. 139.
363
Fernando Tomaz. As Finanças do Estado Pombalino 1762-1776. In.: Estudos e Ensaios: em
homenagem a Vitorino Magalhães Godinho. Lisboa: Sá da Costa, 1988, p. 376.
100

e pelo monopólio das companhias de comércio364. Por outro lado, o açúcar – principal
produto do período colonial – esteve sempre sob o comércio livre para todos os
mercadores luso-brasileiros, e “era disputado por três partes interessadas. O plantador, o
mercador e a Coroa. Esta última, através dos impostos, desde o dízimo no Brasil aos
direitos alfandegários e outros tributos em Portugal365”. A questão do monopólio era
uma prática considerada, por muitos, como válida. Na opinião, por exemplo, de Gaioso,
quando um país como Portugal não tem muitos recursos, é “lícito então conceder o
privilégio exclusivo do comércio a um particular rico, ou a vários negociantes para
excitar a emulação de todos, pela emulação de um só. Quando se fala de comércio,
todos chamam pela liberdade sem saberem em que ela consiste e o que significa366”.
Na prática, porém, quando a Coroa tentava fixar o preço dos produtos coloniais
para garantir o lucro aos comerciantes portugueses, os lavradores sempre se
manifestavam contrários e tentavam alternativas para não ficarem no prejuízo. Como
exemplo disso, ao se fixar o preço do tabaco de primeira qualidade, os lavradores se
dedicaram à plantação do item de terceira qualidade e conseguiam grandes lucros ao
vendê-lo para a utilização do comércio de escravos na África e, em outros casos,
aderiam ao contrabando367.
O objetivo de Pombal era garantir o comércio ativo de Portugal e gerar um
grupo de mercadores que administrasse o comércio sem recorrer ao crédito estrangeiro.
Para isso, adotou as políticas mercantilistas observando os direitos exclusivos dos
negociantes portugueses sobre o comércio colonial e excluindo os pequenos
comerciantes itinerantes368.
Essa política deu origem ao Alvará de 6 de dezembro de 1755, que proibia os
comissários volantes de comercializar no Brasil e encarregava a Mesa de Inspeção de
vistoriar os navios mercantes e de guerra, podendo confiscar as mercadorias
encontradas. Essa lei também era aplicada aos mestres de navios oficiais e marinheiros
dos navios mercantes. A lei caracterizava os comissários volantes de “ignorantes” e
“destituídos de meios necessários para praticar o comércio” que era considerado ilícito,

364
Ibidem, p. 89.
365
Jacob Gorender. O Escravismo Colonial. São Paulo; Ática 1978 (Ensaios, 29). p.509 - 510.
366
Raimundo José de Sousa Gaioso. Compêndio Histórico e Politico dos Princípios da Lavoura do
Maranhão (1812). Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1970. P. 172.
367
Stuart B. Schwartz. O Brasil Colonial, 1580-1750: As Grandes Lavouras e as Periferias. In.: Leslie
Bethell. História da América Latina: América Latina Colonial.vol. 2. 2ª ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. P. 376.
368
Jorge Pedreira. A economia politica do Sistema Colonial. In.: João Luiz Ribeiro Fragoso; Maria de
Fátima Gouveia (Orgs.). O Brasil Colonial. Vol. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. P. 438.
101

inclusive nos sertões do Brasil, sendo uma ação que “arruinava os interesses dos
negociantes e causava perdas e perturbações no comércio do Brasil369”. Como os
comissários volantes continuaram transportando fazendas, usando uns e outros
“subterfúgios”, outro alvará de 7 de março de 1760 foi estabelecido para ampliar o
controle sobre os comissários volantes e a entrada de fazendas no Brasil 370. Essas
medidas tinham o objetivo de eliminar a concorrência e combater o contrabando,
permitindo o monopólio dos comerciantes portugueses matriculados, tanto na Junta do
Comércio em Lisboa, como nas Mesa de Inspeção no Brasil.
Para Jorge Pedreira, a estrutura comercial marítima beneficiava e preenchia
quatro funções básicas para a economia portuguesa; abastecia a Metrópole de produtos
coloniais, abria mercados privilegiados aos produtos portugueses, estimulava a troca de
produtos entre os territórios ultramarinos e estabelecia a base para o amplo comércio de
reexportação de produtos coloniais para as nações estrangeiras e de produtos
estrangeiros para o ultramar371. Assim, protegidos pelo privilégio que o sistema colonial
lhes garantia, os negociantes portugueses empregavam os seus fundos quase
exclusivamente no tráfego com os domínios portugueses372.
As nações europeias organizaram as Companhias de Comércio com o objetivo
de aumentar os lucros comerciais com a exploração das colônias, aprimorar o processo
produtivo e ultrapassar os países concorrentes373. Seguindo o modelo, durante os
séculos XVII e XVIII, Portugal se organizou em quatro Companhias de Comércio
voltadas para o negócio com o Brasil: Companhia Geral do Comércio do Brasil,

369
ALVARÁ de 6 de dezembro de 1755 que proibia os comissários volantes de comercializar no Brasil.
In.: António Delgado da Silva Coleção da Legislação Portuguesa desde a última Compilação das
Ordenações: suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense, 1828. P. 404-406.
370
ALVARÁ de 7 de março de 1760 acerca dos comissários volantes nos portos do Brasil. In.: SILVA,
António Delgado da. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última Compilação das Ordenações:
suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense, 1828. Páginas 726-727.
371
Jorge Miguel Viana Pedreira. Estrutura Industrial e Mercado Colonial: Portugal e Brasil (1780-
1830). Lisboa: DIFEL, 1994. 270.
372
Ibidem, p. 272.
373
Alguns autores fizeram um estudo mais sistemático sobre as companhias de comércio sobre isso. Cf.
António Carreira. As Companhias pombalinas de navegação, comércio e tráfico de escravos entre a costa
africana e o nordeste brasileiro. Bissau: Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, 1969. Rui de
Figueiredo Marcos. As Companhias Pombalinas: Contributo para a História das Sociedades por Ações
em Portugal. Coimbra: 1997. Érica Simone de Almeida Carlos. O Fim do Monopólio: A extinção da
Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba (1770-1780). Recife: UFPE, 2001. (Dissertação de
Mestrado). Leonor Freire Costa. O Transporte no Atlântico e a Companhia Geral do Comércio do Brasil
(1580-1663). Vol. 2 Lisboa: comissão Nacional para as Comemorações dos descobrimentos Portugueses,
2002. (Outras Margens) e Pernambuco e a Companhia Geral do Comércio do Brasil. Artigo, 2005.
Manuel Nunes Dias. Fomento e Mercantilismo: A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (1755-
1778). Belém: UFPA, 1970. José Ribeiro Junior. Colonização e Monopólio na Nordeste Brasileiro: a
companhia Geral de Pernambuco e Paraíba, 1759-1780. São Paulo: HUCITEC, 2004.
102

Companhia do Comércio do Maranhão, Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e


do Maranhão e Companhia Geral do Comércio de Pernambuco e Paraíba. Estas eram
instituições de caráter mercantilista “contendo em si os elementos ilustrativos básicos
do mecanismo da colonização do Brasil374”.
Entre essas, a primeira a ser criada foi a Companhia Geral do Comércio do
Brasil, em 1649, fornecia escravos e garantia o transporte do açúcar para a Europa. Tal
instituição auxiliou a resistência de Pernambuco contra os holandeses e apoiava a
recuperação da agricultura de cana-de-açúcar na região Nordeste após a expulsão
holandesa. A segunda companhia de comércio foi fundada no ano de 1682 e tinha o
nome de Companhia do Comércio do Maranhão. O intuito desta era fornecer crédito
para a exportação de algodão e açúcar e garantir o transporte de produtores e escravos.
Estas foram as mais importantes Companhias375 no século XVII.
Durante o século XVIII, foram criadas as companhias chamadas pombalinas no
Brasil: a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e do Maranhão, em 1755 e,
quatro anos depois, a Companhia Geral do Comércio de Pernambuco e Paraíba com o
objetivo de incrementar o comércio na região Norte e Nordeste da Colônia376.
Entre as principais características referentes às Companhias de Comércio, estão:
estabelecimento de condições de pagamento e formas de financiar, independência na
organização do transporte ultramarino e monopólio na compra e venda de produtos
dentro de sua área de ação. Por meio das Companhias, Portugal garantia a manutenção
das plantações de fumo e algodão, além dos engenhos açucareiros. Desta forma,
conseguia-se manter os lucros dos mercadores e os impostos cobrados pela Coroa377.
Na Bahia não existia Companhia monopolista de comércio, mas existiam
acordos comerciais de companhias de outras regiões com a Mesa de Inspeção da Bahia,
um exemplo é a “Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro”, fundada
em 1756 que, juntamente com a Mesa, tinha o controle comercial de vinho, aguardente
e azeite no Brasil. Para Jacome Ratton, os vinhos comercializados em alguns portos do
Brasil eram uma forma de a Companhia vender esses produtos de segunda qualidade, e
“não há dúvidas que faz[ia] com que os habitantes destes portos tinham aquele gênero
mais caro e talvez de pior qualidade pela falta de concorrência e que o comércio sofra

374
José Ribeiro Junior. Op. Cit. p. 07.
375
Sobre as companhias de Comércio do século XVII ver: Maria Leonor Freire Costa. Pernambuco e a
Companhia Geral do Comércio do Brasil. Artigo, 2005.
376
Ibidem, p. 19-23.
377
Ibidem, p. 61.
103

um dano considerável378”. O vinho de boa qualidade era exportado principalmente para


a Inglaterra, já os que não tinham saída no mercado europeu eram enviados ao Brasil,
“pois que não havendo no Brasil tão bons conhecedores como na Inglaterra, prefere para
o gasto e para a venda o que é mais barato, ficando sem consumo o que tem maior preço
quando este se lhe não abate para vender com perda379”.
A responsabilidade e administração do comércio dos produtos do Alto Douro no
Brasil competia à da Mesa de Inspeção380. Em carta de 12 de dezembro de 1757, o
presidente da Mesa, Wenceslau Pereira da Silva, informou a Pombal que já tinha
tomado a Bethell s providências para atender ao pedido do rei, de para proteger e
administrar a comercialização dos produtos do Alto Douro na Bahia, e que já tinha
nomeado os inspetores Joaquim Inácio da Cruz e Antônio Cardoso dos Santos como
administradores responsáveis pelo negócio381.
As mercadorias da Companhia de Agricultura e Vinhas do Alto Douro, ao
chegarem à Bahia, eram marcadas, depositadas em armazéns e, logo depois, distribuídas
para as Capitanias da Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo 382. Mas essa
distribuição apresentava algumas dificuldades, principalmente com o alto preço dos
aluguéis dos armazéns, que eram pagos com os gêneros, o que deixava o produto na
“praça” da Bahia mais caro. Da Bahia para as outras capitanias, o custo do transporte
era embutido no preço final, e os produtos ficavam ainda mais caros383. Nesse caso, “o
preço de monopólio é o preço mais elevado que o comprador está disposto e obrigado a
pagar pela mercadoria, sem consideração pelo seu valor intrínseco. O comprador se
submete, portanto, a uma troca de não equivalentes384”

378
Jacome Ratton. Op. Cit. p. 234-235.
379
MISCELÂNEA de Notícias Históricas: papeis vários dos séculos XVII, XVIII e XIX. Biblioteca
Nacional de Lisboa: Coleção Pombalina, 687, fl. 279.
380
Embora Avanete Pereira Sousa afirme que a Câmara Municipal tabelava os produtos da Companhia de
Agricultura das Vinhas do Alto Douro até 1760. Cf. Avanete Pereira Sousa. Manifestações locais da Crise
do Antigo Sistema Colonial? (o exemplo das câmaras municipais da capitania da Bahia) In.: Laura de
Melo e Souza; Júnia Ferreira Furtado; Maria Fernanda Bicalho (Orgs.). O Governo dos Povos. São Paulo:
Alameda, 2009.
381
CARTA de Wenceslau Pereira da Silva à Sebastião José de Carvalho e Melo sobre a proteção e
direção do negócio dos produtos do Alto Douro na Bahia, 12 de dezembro de 1757. Arquivo Nacional da
Torre do Tombo: Ministério do Reino: Negócio do ultramar. Maço 5999, caixa 702.
382
Na Bahia, estimava-se um consumo de dez mil pipas de vinho por ano. Nas outras regiões observava
um grande consumo de giribitas, aguardentes da terra destiladas dos melaços. Cf. CARTA de Wenceslau
Pereira da Silva à Sebastião José de Carvalho e Melo sobre a proteção e direção do negócio dos produtos
do Alto Douro na Bahia, 12 de dezembro de 1757. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Ministério do
Reino: Negócio do ultramar. Maço 5999, caixa 702.
383
Ibidem, loc. cit.
384
Jacob Gorender. Op. Cit.p.503.
104

4.2 A Junta do Comércio de Lisboa e a atuação em Conjunto com a Mesa de


Inspeção na Bahia

A Junta do Comércio em Lisboa teve o propósito original de incentivar e


regulamentar a atividade comercial e tudo o que se relacionava a ela, além da navegação
– inclusive a organização de frotas com destino ao Brasil – e a prevenção do
contrabando. Criada pelo Decreto de 30 de Setembro de 1755, a referida "Junta do
Comércio destes Reinos e seus Domínios" obteve a confirmação dos seus estatutos por
Decreto de 16 de Dezembro de 1756385. Posteriormente, pela Lei de 05 de Junho de
1788, foi elevada a tribunal supremo, passando a designar-se por "Real Junta do
Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação386".
A Junta era presidida por um provedor, um secretário, um procurador e seis
deputados – que eram, obrigatoriamente, homens de negócios das praças de Lisboa ou
do Porto. A mesma tinha vastas atribuições: fiscalização do comércio de retalho na
cidade de Lisboa, definição da política mercantil, tomada de medidas de prevenção,
repressão e fiscalização de contrabandos, fiscalização da indústria a nível nacional,
poder judicial nas causas de comércio, naturalização e trânsito de estrangeiros,
concessão de passaportes para os portugueses, supervisão da Real Fábrica das Sedas,
administração e inspeção das frotas, dos faróis e tudo o que dizia respeito à navegação.
Supervisionava também o comércio no Brasil com o auxílio das Mesas de Inspeção e
tinha ainda funções de caráter consultivo relativas à agricultura e minas387.
Uma das ações da Junta foi a criação da aula de comércio, cujo objetivo era o de
instruir, principalmente os filhos dos negociantes, para que se aprendesse a escrever,
contar e adquirir noções básicas de comércio. Tudo isso com o intuito de melhor se
desenvolver as atividades mercantis tanto no Reino como nas colônias, e também nos
escritórios dos negociantes388.
Outra instituição criada ao longo da segunda metade do século XVIII para
intensificar o controle sobre o comércio e para combater o contrabando e o descaminho
foi a Superintendência Geral do Contrabando, pelo Alvará de 16 de dezembro de 1771.
No entendimento de Fernando Novais e de José Jobson de A. Arruda, para auxiliar a

385
ESTATUTO da Junta do Comércio de 12 de dezembro de 1756. In: SILVA, António Delgado da.
Coleção da Legislação Portuguesa desde a última Compilação das Ordenações: suplemento da
legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense, 1828.
386
A Junta do Comércio foi extinta pelo Decreto de 18 de Setembro de 1834.
387
ESTATUTO da Junta do Comércio, de 12 de dezembro de 1756. op. cit.
388
Jacome Ratton, 1813. Op. Cit. p. 253.
105

Superintendência, “foram criadas as Balanças de Comércio, uma espécie de sub-produto


da instituição (1771) da Superintendência dos Contrabandos, entregue a Maurício José
Teixeira de Moraes, que transformou as Balanças num indicador seguro e eficaz da
mensuração e controle da riqueza gerada pelo fluxo mercantil”389.
Mais uma questão que a Junta do Comércio de Lisboa orientava a Mesa de
Inspeção da Bahia era com relação às dívidas. Na segunda metade do século XVIII,
houve um aumento da oferta dos produtos e das transações comerciais na Bahia,
ampliando-se a pauta das exportações e do número de proprietários “ricos”. No entanto,
“as suas dívidas se multiplicavam nas mãos dos traficantes de escravos e fornecedores
de utilidades. A falta de bancos abriu largo espaço para o capital usurário e a agiotagem
dominou390”. Para Rafael da Silva Coelho, no final do século XVII, houve graves
problemas nas principais regiões produtoras de açúcar, sendo um deles o endividamento
dos produtores que, preocupados em perder suas terras, pediram ao rei que as suas
dívidas fossem executadas apenas nos rendimentos do açúcar, livrando as propriedades.
Porém a crise persistiu, e tiveram que pedir mais empréstimos e dar como garantia as
suas propriedades e seus escravos391. Com o fim das frotas em 1765, começou na Bahia
a perseguição dos credores aos lavradores, com a respectiva execução de cobrança e a
transferência de engenhos para aqueles392.
Segundo Maria José Rapassi Mascarenhas, usava-se o crédito para quase tudo,
desde a aplicação nas propriedades até a compra de objetos pessoais. Tal uso constituía
um dos componentes da riqueza colonial, e sua estrutura criou e manteve um regime de
vínculos e dependência, conservando a hierarquia da elite açucareira associada à
questão do prestígio. Dessa forma, “ter crédito e contrair dívidas eram sinais de riqueza,
prestígio e status na Bahia Colonial 393”.
Segundo Maria Beatriz Nizza da Silva, a legislação pombalina protegia os
credores na cobrança de suas dívidas “por meio das administrações dos bens dos
negociantes falecidos, em geral encabeçadas pelo principal credor, encarregado de

389
Fernando Antônio Novais; José Jobson de Andrade Arruda. Prometeus e Atlantes na forja da Nação.
Economia e Sociedade, Campinas, v. 12, nº. 2 (21), p. 225-243, jul./dez. 2003. p. 230.
390
Luís Henrique Dias Tavares. História da Bahia. São Paulo: Editora UNESP: Salvador, BA: EDUFBA,
2001, p. 192-193.
391
Rafael da Silva Coelho. Moeda no Brasil no Final do século XVII. São Paulo: FFLCH/USP, 2013.
(dissertação de Mestrado). P. 141-142.
392
Luiz Antônio de Oliveira Mendes. Discurso Preliminar, Histórico, Introdutivo, com Natureza de
Descrição Econômica da Comarca e Cidade da Bahia: In.: Pinto de Aguiar. Aspectos da Economia
Colonial. Salvador: Progresso, 1957. (Coleção de Estudos Brasileiros, série cruzeiro). P. 72.
393
Maria José Rapassi Mascarenhas. Fortunas Coloniais: Elite e Riqueza em Salvador (1760-1808) São
Paulo: USP, 1998, (Tese de Doutorado). p. 218.
106

proceder ao pagamento das quantias devidas antes que a viúva e os herdeiros pudessem
tomar posse respectivamente da meação e das legítimas394”.
A Carta Régia de 14 de Janeiro de 1760 encarregava as Mesas de Inspeção do
Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco da correspondência com a Junta e “obrigação de
execução das dívidas de falidos, ampliando um regime de colaboração idêntico aos
provedores de comarca das ilhas da Madeira e dos Açores a partir de 1768395”. No
fundo, representou um novo instrumento da Coroa Portuguesa em fiscalizar o comércio
entre os vários territórios ultramarinos. Nesse contexto, a Mesa tinha uma intensa
correspondência com a Junta do Comércio, e seu trabalho tinha vistas a que, em todas as
atividades comerciais, houvesse, em suas palavras, “o cuidado e obrigação de fazermos
executar as dívidas dos falidos e o mais a este respeito, que consta da carta de 14 de
julho do ano de 1760, assinada pela real mão do mesmo senhor, em execução da qual
logo que recebemos as executórias396”. E, nas frotas, faziam as remessas das cobranças
efetuadas como foi recomendado. Dessa forma, a Mesa de Inspeção escrevia à Junta do
Comércio informando sobre as providências tomadas com relação aos falidos. Em
relação à frota, enviava as listas com a relação das dívidas, credores e seus respectivos
valores. Era uma espécie de prestação das contas e das cartas executórias dos falidos, a
exemplo do mapa com a cobrança de 8:584$144 réis – que ficou da conta que se
cobraram dos falidos e também dos demais devedores que pagaram – e de outro “mapa
se manifestam as executórias que recebemos, as que ainda ficam em execução”, como
aparece em uma das cartas. Isso se dava porque nem todas as cobranças eram
executadas, pois nem sempre os funcionários da Mesa encontravam os devedores, ou
por morarem fora da cidade e não ter endereço definido ou porque não havia notícia de
algumas pessoas executadas, ou ainda porque tinham morrido sem deixar bens nem
herdeiros, e, por esses motivos, algumas execuções ficaram suspensas397.
A Mesa sempre acompanhava as atividades dos comerciantes que atuavam na
Bahia para verificar seu desempenho nesse estado. Um exemplo é o caso do negociante
e contratador do tabaco, Feliciano Velho Oldemberg, ocorrido entre os anos de 1747 a

394
Maria Beatriz Nizza da Silva. Bahia a Corte da América. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
2010. p. 444.
395
Nuno Luís Madureira. Mercado e Privilégios: A indústria Portuguesa entre 1750 e 1834. Lisboa:
Editorial Estampa, 1997 p 47-48.
396
EXECUÇÃO das dívidas dos falidos pela Mesa de Inspeção, 16 de abril de 1761. Arquivo Nacional da
Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 01. Caixa 02.
397
EXECUÇÃO das dívidas pela Mesa de Inspeção da Bahia, 02 de outubro de 1761. Arquivo Nacional
da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 38.
107

1752398. Em uma carta, o seu procurador, Francisco Borges dos Santos, informava sobre
as dívidas ativas que Feliciano tinha para receber na Capitania da Bahia e pedia a
execução da dívida do falido Teodósio Roiz de Faria. Avisava também que tinha
efetuado “amigavelmente a cobrança de algumas pessoas conhecidas que podem pagar”.
Porém havia outras que, mesmo que se obrigasse o pagamento, era difícil de receber,
além do que, alguns viviam nos “sertões de minas em que não são ouvidos e nem
atendidos os procedimentos judiciais”. Então, pedia-se à Mesa para que negociasse e
resolvesse a questão com “melhor método e expediente e se arrecadarem com brevidade
as tais dívidas ativas do dito apresentado remeteres na volta da frota com as mais contas
a de todos os seus devedores com distinção da quantia mencionada no dito
manifesto399”. Este caso do negociante Feliciano Velho Oldemberg é apenas um
exemplo dos vários episódios de comerciantes que entraram com requerimento à Mesa
de Inspeção para que se executassem as suas dívidas da Praça da Bahia, sendo alguns
deles falidos. Geralmente, o pagamento das dívidas era efetuado, em alguns casos, em
dinheiro e, em outros, em gêneros – enviados a Portugal pela frota, a exemplo do
pagamento ao dito negociante, que “incluía a carga de 18 caixas de açúcar” e “47 rolos
de tabaco”, tudo na importância de 1:126$178 réis400.
A Mesa de Inspeção, mesmo sendo a responsável por resolver as questões
referentes aos falidos, geralmente agia em detrimento das ordens da Junta do Comércio,
como podemos perceber com o caso da falência do comerciante Antônio Ribeiro Neves,
o qual, naquele período, estava sem processo de execução porque a Mesa não tinha
recebido “ordem alguma, nem ainda para aviso dessa Junta para se procederem as
contas de sua sociedade, não podemos contra este obrar coisa alguma, o que faremos
todas as vezes que nos vierem ordens positivas para uma ou outra coisa401”.
A provisão da Junta do Comércio de 12 de agosto de 1788 determinava que a
Mesa de Inspeção executasse as dívidas, evitasse as despesas e a demora no pagamento
dos negociantes que experimentavam o juízo dos ausentes, porque logo que morria um
negociante, dever-se-ia ser nomeado um administrador dos seus bens “e sendo
necessário que este administrador demande algum devedor, para pagar o que deve ao

398
CARTA de Feliciano Velho Oldemberg ao Governador da Bahia. Belém, 21/10/1755. Arquivo
Público do Estado da Bahia; Seção Colonial e Provincial: Ordens Régias (1751-1753), nº 48.
399
CARTA de Francisco Borges dos Santos à Mesa de Inspeção sobre créditos e falidos, 01 de agosto de
1761. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 38.
400
CARTA para Francisco Borges dos Santos sobre as dívidas de Fabrício Velho Oldemberg, 28 de
fevereiro de 1764. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Livro 329.
401
Nesse parágrafo fica claro que a mesa só agia em detrimento das ordens da Junta do Comércio.
108

falecido, encontra infinitos obstáculos, e dilatadas e dispendiosas demandas, com que


judicialmente se defende o devedor, talvez somente com o fundamento de demorar o
pagamento”. Esse administrador deveria ser nomeado pela Mesa de Inspeção para
“grande utilidade do comércio desta América402”.
Um dos objetivos da Junta era organizar o comércio de forma que Metrópole e
Colônia estivessem intrinsecamente relacionadas no que se refere aos principais meios
de desenvolvimento mercantil. A Mesa de Inspeção, nesse contexto, era a instituição
que tinha a responsabilidade e jurisdição de incentivar a relação dos comerciantes da
Colônia e da Metrópole, evitando prejuízos nesse processo. Nesse quadro, a sociedade
era um dos mais importantes meios para se exercer as atividades mercantis no ultramar
para se intermediar os interesses dos negociantes da Metrópole com os da Colônia403”.
As atividades desenvolvidas pelas sociedades mercantis no Brasil eram de
interesse da Mesa de Inspeção. Um exemplo foi o caso do comerciante Domingos José
de Almeida, falecido sem testamento na cidade da Bahia, para efeito de liquidar a
sociedade com o seu irmão Antônio José de Almeida, negociante da praça que ficou
responsável pela administração do inventário de Domingos José de Almeida. Durante o
processo, houve conflitos de interesse entre as partes, com a impossibilidade de
entendimento. A Mesa intercedeu de acordo com o poder que lhe foi instituído e
executou a provisão que tinha interditado a remessa dos autos para a Junta do
Comércio404. Informou que, no requerimento do negociante Antônio José de Almeida,
havia alteração dos fatos e “circunstâncias no intuito de fraudar o processo e que
oferecia os ditos autos onde defendia a verdade, seguindo as regras mercantis em
detrimento aos costumes dos praxistas que não deveria ter a menos autoridade com
relação às leis que regiam as instituições comerciais405”.
Dessa forma, o objetivo da Mesa era propugnar pela integral execução daquilo
que foi designada, procurando evitar fraudes e zelar pelo bom andamento das atividades
mercantis. Defendia ainda a referida administração e liquidação da sociedade mercantil
“que evidentemente envolve interesse público do Sistema de Comércio Colono-Europeu
e não pode ser preterida por interpretações arbitrárias e ingerências preposteras, e
402
PROVIDÊNCIAS tomadas pela Mesa de Inspeção quando morriam comerciantes sem deixar
testamento, 31 de julho de 1790. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: maço 10,
caixa 36.
403
SOCIEDADES sob a supervisão da Mesa de Inspeção. 01 de outubro de 1800. Arquivo Nacional da
Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 37.
404
Ibidem.
405
INFORMAÇÕES da Mesa de inspeção sobre a Sociedade, 30 de setembro de 1800. Arquivo Nacional
da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 37.
109

espoliativas dos Juízes”. A Mesa, por fim, trabalhava pelo “interesse social, sendo
notórias nestas colônias a necessidade de comerciar por meio de finanças de efeitos de
Europa e a assistências a Lavradores, cuja cobrança é de ordinário difícil e
demorada406”.
Os comerciantes eram considerados inimigos pelos lavradores, isso porque deixavam os
agricultores cativos através dos endividamentos. Para resolver a situação das dívidas
dos lavradores, Luiz Antônio de Oliveira Mendes apresentou algumas sugestões para
que esses pudessem administrar melhor a sua propriedade e finanças para, então,
conseguir a prosperidade. Segundo o autor, o agricultor deveria ter rigorosa economia e
sobriedade na administração; gerenciar pessoalmente sua propriedade e não delegar a
outro a administração; manter a regularidade da produção e plantar com proporção tanto
para exportar como para o consumo, buscando auxílio na Mesa de Inspeção e tratar
melhor a escravatura407.
A Mesa de Inspeção também tinha interesse no desenvolvimento do comércio da
Capitania da Bahia. As mercadorias desembarcadas nos portos de Salvador eram
distribuídas para outras capitanias, gerando trocas inter-regionais que empregavam
navios e outras embarcações408. A distribuição também era feita pelo interior da Bahia
para abastecer a população que se estabeleceu nos sertões com a instalação de fazendas
de policulturas e que desenvolviam a pecuária. Estes estabelecimentos “formaram os
incipientes mercados locais, conectados por tropeiros e boiadeiros aos circuitos de
comércio inter-regionais409”. Para Avanete Pereira Sousa, não havia dúvidas quanto à
projeção comercial de Salvador no contexto do Império ultramarino português e ao seu
comércio de cabotagem com outras cidades e vilas situadas no interior e ao longo do
litoral brasileiro410.
O comércio local era regulamentado principalmente pela Câmara Municipal, por
meio do código de posturas, que emitia licenças, fazia vistorias nos estabelecimentos
comerciais, conferia os pesos e medidas e estabelecia os locais de funcionamento das
lojas. Essas ações “faziam parte dos atos rotineiros da Câmara e obedeciam à lógica e à

406
Ibidem.
407
Luiz Antônio de Oliveira Mendes. Discurso Preliminar, Histórico, Introdutivo, com Natureza de
Descrição Econômica da Comarca e Cidade da Bahia: In.: Pinto de Aguiar. Aspectos da Economia
Colonial. Salvador: Progresso, 1957. (Coleção de Estudos Brasileiros, série cruzeiro). P. 80-93.
408
Avanete Pereira Sousa. A Bahia no Século XVIII: Poder Político Local e Atividades Econômicas. São
Paulo: Alameda, 2012. p. 40.
409
, Erivaldo Fagundes Neves. Estrutura Fundiária e Dinâmica Mercantil: Alto Sertão da Bahia, séculos
XVIII e XIX. Salvador: EDUFBA; Feira de Santana: UEFS, 2005. p. 205.
410
, Avanete Pereira Sousa. 2012. op. cit. p. 41.
110

dinâmica da expansão urbana, da distribuição espacial da população e das conjunturas


econômicas que afetavam o comércio local411”. Esse desenvolvimento foi ilustrado pela
criação do Celeiro Público de Salvador em 1785, que tinha como objetivo o controle de
farinha, milho, feijão destinados ao mercado local, ao mesmo tempo em que tinha a
tarefa de fiscalizar a cobrança de impostos dessas mercadorias que chegavam à cidade
de várias regiões da capitania e regulamentar sua venda412.
O crescente desenvolvimento do comércio interno na Bahia e a atuação dos
comissários volantes em desobedecer aos alvarás de 06 de dezembro de 1755, 11 de
dezembro de 1756 e 07 de março de 1760413 foram observados pela Mesa, que
identificava a “grande decadência a que se tem reduzido o comércio da praça desta
cidade por causa da referida desordem”, isso porque os comissários conseguiam passar
com as fazendas pela Alfândega e as vendiam com um preço muito mais baixo em suas
residências. Com isso, as casas comerciais da Bahia ficavam com enormes estoques e
permaneceram “por muito tempo empatadas, sem saída, nas casas dos comerciantes
estabelecidos as grossas partidas de fazendas, que mandão vir dessa capital e da cidade
do Porto414”.
Devido a reclamações de alguns comerciantes, que não conseguiam vender suas
fazendas, e a denúncias, a Mesa de Inspeção abriu uma devassa para investigar os fatos
e verificou que os ditos alvarás tinham sido ineficazes para conter os comissários
volantes415. Então, foram adotadas algumas medidas para reforçar a fiscalização e o
controle nas embarcações contra os ditos comissários volantes e regulamentar o
mercado interno, que teve como principal ação instituir a obrigatoriedade da matrícula,
que deveria ser feita “nesse Tribunal dentro de um ano por todos os comerciantes que
formavam o negócio da Praça da Bahia, como também, todos os seus guarda livros,
caixeiros e praticantes: não sendo, contudo, admitidos a matricularem-se sem levarem
atestação desta Mesa”. Informa-se ainda que a matrícula era “absolutamente necessária,

411
Ibid. p. 234.
412
Afrânio Mário Simões Filho. Política de Abastecimento na Economia Mercantil: o Celeiro Público da
Bahia 1785-1866. Salvador: FFCH/UFBA, 2011, p. 45-46.
413
Que declaravam motivos de proibirem os comissários volantes de viajarem do entre os territórios do
Ultramar com fazendas e introduzirem, cladestinamente, na Praça da Bahia e seus sertões.
414
REGULAMENTAÇÃO do mercado interno pela Mesa de Inspeção da Bahia, em 23 de fevereiro de
1789. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 38.
415
Andrée Mansuy-Diniz Silva. Portugal e o Brasil: a reorganização do império, 1750-1808. In.: Leslie
Bethell. História da América Latina: América Latina Colonial .vol. 1. 2ª ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. p. 497.
111

e não possam sem ela, os mesmos comerciantes, gozar das graças, privilégios e isenções
que lhes são concedidas nos §3º e 4º da dita lei”, de 30 de agosto de 1770416.
A Mesa também utilizava o § 14º do capítulo 2º do Estatuto dos Mercadores de
Retalho para obrigar esses mercadores e seus caixeiros a “matricularem-se nesse
Tribunal dentro do referido termo de um ano, debaixo da pena combinada nos
sobreditos parágrafos, procedendo para a matrícula uma atestação desta Mesa417”. E
apontava que, sem a sua ordem, nenhum caixeiro de negociante poderia “estabelecer
casa de negócio, nem caixeiro algum de mercador abrir loja de retalho: a qual somente
se concederá aos que forem matriculados neste Tribunal418”. A Mesa também
determinou que a alfândega da Bahia só recebesse fazendas de negociantes
matriculados. Para que a alfândega executasse tal determinação, a Mesa deveria
encaminhar ao seu provedor, no início de cada ano, uma relação de todas as pessoas
matriculadas para serem admitidas aos despachos das fazendas e, durante o despacho, o
provedor também deveria fazer com que os despachantes declarassem os donos das
mercadorias, sob “o juramento dos Santos Evangelhos”. E se, mesmo assim, o
despachante mentisse, este deveria de ser punido “nas penas de perjuro, na perda de
800$000 réis, estabelecida no Alvará de 07 de março de 1760, e na privação do uso do
comércio ativo e passivo, o que se deve declarar no termo de juramento, às quais penas
lhe serão impostas pelo Presidente desta Mesa419”. Além disso, a Mesa de Inspeção,
eventualmente, fazia a conferência dos seus livros de matrícula com os livros de
despacho da Alfândega para averiguar se havia alguma irregularidade a esse respeito.
A Junta do Comércio em Lisboa também contribuía para combater as práticas
dos comissários volantes e do contrabando, uma vez que, conforme Nuno Madureira, “o
regime de monopólio e o controle apertado dos negociantes que viajam para a América
do Sul, obrigados a requerer atestação prévia em Lisboa para serem admitidos nas
Mesas de Inspeção, reduzem o espaço de manobra do comércio ilegal com o Brasil”. Os
comissários volantes eram obrigados a reconverter a sua atividade, os poucos que

416
Percebe também que, além de controlar o comércio externo, há uma intenção de controle do comércio
interno, da praça, para também poder coibir a entrada de novos comerciantes ou dos comissários que
sempre trazem fazendas nos navios.
417
REGULAMENTAÇÃO do mercado interno pela Mesa de Inspeção da Bahia, em 23 de fevereiro de
1789. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 38.
418
Ibidem, loc. cit.
419
O poder do presidente da Mesa de fazer executar as leis como também de impor outras penas. Há aqui
uma severa punição às pessoas que tentarem entrar com fazendas na Bahia, além disso, percebe-se a
tentativa de controle do grupo de comerciantes da Bahia ao impor a matricula e a punição a quem não
cumprir com as determinações da mesa, sendo inclusive, impedidos de exercerem as atividades
comerciais.
112

tentavam se adaptar ao novo quadro legal eram, na maioria das vezes, neutralizados
pelas autoridades. “A continuidade de redes organizadas de contrabando durante todo o
consulado pombalino põe a claro a incapacidade da Junta do Comércio em debelar
completamente este fenômeno420”.
Portanto, constatamos que o comércio na Bahia, na segunda metade do século
XVIII, era intenso e dinâmico, mas que também sofria um rígido controle, tanto da
Câmara como da Mesa de Inspeção. Porém, esse controle era burlado pelos
comerciantes por meio de fraudes, descaminho e contrabando, principalmente devido à
corrupção.
A organização do comércio inter-regional também era atribuição da Mesa de
Inspeção, a exemplo do procedimento da Mesa sobre a chegada ao porto da Bahia de
uma sumaca vinda de Goiâna com carga de couro e algodão e uma outra carregada de
fazendas. Essas cargas estavam aparentemente abandonadas no porto e estavam sendo
disputadas por três comerciantes. A Mesa, então, nomeou dois administradores para
fazer a investigação do caso e decidir quem deveria ficar com as mercadorias. Não
conseguindo encontrar o seu dono, os administradores venderam parte da carga entre os
comerciantes interessados e entregaram o valor recebido pelos gêneros e o restante da
mercadoria no “depósito público421”. De acordo com a resolução, a Mesa agiu de forma
adequada ao “arrecadar uns efeitos que são objetos peculiares do comércio interno do
Brasil e que o ouvidor do crime não devia ordenar em seus domínios a entrega por um
mandado, mas antes por uma carta precatória dirigida ao presidente da Mesa”, porque o
Regimento determinava que todo recurso referente ao comércio fosse de jurisdição da
Mesa de Inspeção422.

4.3 A Mesa de Inspeção Entre o Comércio Exclusivo e o Ilícito.

Dentre as atribuições da Mesa, estava o combate ao descaminho e contrabando


do açúcar, tabaco e fazendas que eram praticados no território do Brasil na segunda
metade do século XVIII, causando grandes prejuízos à Real Fazenda, aos contratadores,
comerciantes e consumidores.

420
Nuno Luís Madureira. Mercado e Privilégios: A indústria Portuguesa entre 1750 e 1834. Lisboa:
Editorial Estampa, 1997 p. 48-49
421
“Depósito público” era o Celeiro Público de Salvador criado em 1785 para receber as mercadorias da
Capitania da Bahia e região. Sobre isso ver: Afrânio Mário Simões Filho. 2011, Op. Cit.
422
MESA de Inspeção da Bahia e as resoluções sobre o mercado interno, 10 de fevereiro de 1795.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 38.
113

Para Paulo Cavalcante, esse comércio clandestino era “prática enraizada no


sistema existente, só se pode descaminhar porque há um caminho: o da Fazenda
Real423”. Nesse contexto do sistema colonial, havia duas formas de conduzir as
atividades econômicas no Brasil: o caminho e o descaminho; o lícito e o ilícito,
revelando uma “prática social instituinte e constitutiva da sociedade colonial424”.
A documentação analisada, incluindo a legislação que regulamentava a produção
e o comércio na Colônia, mostra a preocupação do governo português com a
fiscalização e o combate ao contrabando425. As medidas de controle e punição
abrangiam todas as instâncias, desde produção, transporte, armazenamento,
qualificação, embarque, navegação até comercialização. Tais medidas representavam,
na prática, a manutenção do exclusivo colonial.
Em resposta circular enviada a todas as comarcas das vilas do Recôncavo e
demais capitanias de Ilhéus, Porto Seguro, Sergipe e seus respectivos distritos, aos
lavradores de tabaco, açúcar e outros gêneros, a determinação do Alvará de 29 de
novembro de 1753, que regulamentava as frotas, o Conde de Atouguia, expõe que:
“considerando que naquelas palavras se impõem aos lavradores o ônus de venderem os
seus gêneros à satisfação da Mesa de Inspeção”, a Coroa tira dos “lavradores a liberdade
de serem árbitros dos seus bens426”.
Além do controle sobre as frotas, também se procurou, como vimos, a proibição
dos comissários volantes de entrarem no Brasil com fazendas, por meio de dois alvarás
– um de 06 de dezembro de 1755 e o outro de 07 de março de 1760 –, que aumentavam
o controle e a fiscalização com o objetivo de se evitar o contrabando ao mesmo tempo
em que reafirmava o exclusivo comercial sob a responsabilidade da Mesa de Inspeção.
No primeiro alvará fica claro que os comissários volantes introduziam as fazendas no
território do Brasil, o que gerava o comércio ilícito, inclusive nos sertões – o que, por
sua vez, representava um ato que arruinava os interesses dos negociantes e causava
perdas e perturbações no comércio do Brasil. Vale ressaltar que a proibição era tanto
para as naus mercantis como para os navios de guerras, sendo responsabilizados e

423
Paulo Cavalcante. Negócios de Trapaça: Caminhos e descaminhos na América Portuguesa (1700-
1750). São Paulo: Hucitec: Fapesp, 2006. p. 36.
424
Ibidem, p. 43.
425
Sobre os crimes de Contrabando ver Roque Felipe de Oliveira Filho. Crimes e Perdões na Ordem
Jurídica Colonial. Bahia (1750/1808). Salvador, UFBA, 2009. (Tese de doutorado). p. 81.
426
OFÍCIOS do Vice-rei Conde de Atouguia sobre o Novo Regimento do Tabaco e a saída das frotas. 28
de fevereiro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia: caixa 06, Doc. 931-936.
114

punidos os mestres de navios que infringissem tal determinação427. Porém, os


comissários volantes continuaram com os transportes de fazendas para o Brasil, o que
resultou na aplicação de um outro alvará, “porque usando dos ditos Comissários
Volantes de uns e outros subterfúgios, continua com seu irregular e proibido comércio,
sendo de difícil averiguação este contrabando por meio da devassa, por falta de
denúncias”. Fazia-se necessário, na época, que se estabelecesse a mesma formalidade
das atestações que se passam pela Junta do Comércio do Reino nas Mesas de Inspeções
dos Portos do Brasil. Dessa forma, a Mesa teria a função de remeter uma relação com os
nomes de todos os negociantes e comissários volantes à Junta do Comércio em Lisboa,
atestando o bom funcionamento e a ausência de fraudes e contrabando de fazendas nos
portos do brasileiros428.
Assim como se fez necessário regular o exame dos produtos e a atuação dos
comissários volantes para evitar as fraudes, descaminhos e contrabando, a Mesa de
Inspeção também procurou organizar o comércio interno e externo. Em observância aos
alvarás de 06 de dezembro de 1755, 11 de dezembro de 1756 e 07 de março de 1760,
atentava-se, principalmente, para resolver as questões do comércio com a aplicação de
procedimentos429 para controlar os comerciantes que poderiam circular com fazendas e
outras mercadorias nas frotas, além de conhecer as ações desses negociantes na Praça da
Bahia com a exigência de suas matrículas respectiva na Mesa, bem como fiscalizar a
passagem desses negociantes pela alfândega. Essas medidas deveriam ser observadas
para se proibir o comércio ilícito que tanto prejudicava a Real Fazenda. Nesse,
documentos, percebe-se a importância da regulação do comércio, sendo que o mercado
interno estava diretamente ligado ao mercado externo e que, para combater o
contrabando, era necessário um maior controle dos pequenos comerciantes locais que
recebiam e comercializavam os produtos importados, a exemplo das fazendas430.
O controle sobre a qualidade e a fiscalização dos produtos, por parte da Mesa,
provocou novos problemas com o aumento das práticas ilícitas como o descaminho, a

427
ALVARÁ de 06 de dezembro de 1755 que proibia os Comissários Volantes de irem ao Brasil. In:
Antônio Delgado da Silva. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última Compilação das
Ordenações: suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense, 1828. p. 404-406.
428
ALVARÁ de 07 de março de 1760 acerca dos Comissários Volantes aos portos do Brasil. In: Antônio
Delgado da Silva. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última Compilação das Ordenações:
suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense, 1828. p. 726-727.
429
REGULAMENTAÇÃO do comércio pela Mesa de Inspeção observando os alvarás de 06 de dezembro
de 1755, 11 de dezembro de 1756 e 07 de março de 1760. Bahia 23 de fevereiro de 1789. Arquivo
Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
430
Ibidem, loc. cit.
115

fraude e o contrabando, principalmente do açúcar de Pernambuco para a Bahia. Essas


situações foram verificadas pela documentação analisada para a realização deste estudo.
A apreensão de caixas de açúcar pertencentes a um comerciante da Bahia e proprietário
do navio onde se encontrava a mercadoria é um dos exemplos de irregularidades, em
que o ouvidor geral das Alagoas, Francisco Nunes da Costa, relata431 em seus ofícios ao
secretário de estado, Martinho de Melo e Castro432. Com isso, percebemos duas formas
de descaminho, uma protagonizada pelos lavradores, que venderam o açúcar a preços
maiores, sem passar pela Mesa de Inspeção de Pernambuco; e a outra efetuada pelo
funcionário da Coroa que informou a apreensão do açúcar, porém declarando uma
quantidade menor, provavelmente se apossando do restante das caixas.
De acordo com a carta, a produção da capitania já estava totalmente vendida a
um preço de treze tostões por arroba a diferentes e muitos traficantes da Bahia, que
transportavam durante a noite até a praia e conduziam em jangadas e sumacas até as
Ilhas de Santo Aleixo e Uma – de onde saíam aproximadamente cinco a seis sumacas
para Itapagipe na Bahia, causando conflitos, pois os comerciantes e contratadores
reclamavam da falta de açúcar na Capitania433. A ocorrência dessas mercadorias serem
transportadas pelos comerciantes à noite devia-se ao fato de o governo, por meio do
ofício de 20 de janeiro de 1779, proibir os trapicheiros de receber o açúcar de
Pernambuco e as sumacas de transportá-lo, pois a saída do produto de Pernambuco para
a Bahia ocasionava grande prejuízo aos contratadores dos direitos se saídas do referido
gênero. Dessa forma, por ordem do governador da Bahia, Manoel da Cunha Menezes,
proibiu-se as sumacas de conduzirem, para a Bahia, caixas de açúcar provenientes do
Sertão de Santo Antônio Grande, Capitania de Alagoas, Pernambuco e Paraíba, sob a
pena de que, sendo-lhes achados, serem tomadas por perdidas e pagar por cada uma
delas quatro mil réis para as fortificações da cidade.
As medidas adotadas provocaram maior rigor no controle do açúcar, os
trapicheiros não podiam receber açúcar oriundo das regiões de Sertão supracitadas.
Porém, os termos que o governador da Bahia obrigou os trapicheiros e donos de
sumacas a assinar não resolveram a situação do descaminho do açúcar dessa região para
a Bahia sendo totalmente ignorados, pois:

431
Segundo informa, foram apreendidas aproximadamente 100 caixas de açúcar e não 18 caixas, como
haviam lhe informado antes.
432
OFÍCIO do Ouvidor Geral das Alagoas, Francisco Nunes da Costa sobre o contrabando e apreensões
de açúcar, em 26 de abril de 1779. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, Caixa 54, documento 10329.
433
Ibidem, loc. cit.
116

“ao mesmo tempo vieram cartas circulares dos mesmos trapicheiros dirigidas
aos seus correspondentes, avisando-os, de que não se aterrassem com esta
notícia, que entrassem de noite ou procurassem Itapagipe, que nenhum perigo
ou risco ocorriam nas descargas. Finalmente cada vez mais animados e
atrevidos procuram a saída dos efeitos, por todos os modos, antes e força,
pois já se preparam armados e associados para resistirem, assim como por
434
vezes o tem feito o celebre povão ”.

O documento acima chama a atenção para a organização dos bandos que


desobedecem à lei, estes são organizados, associados e armados. Pela documentação
analisada, podemos perceber que o bando era formado por diferentes personagens da
sociedade colonial, podendo ser comerciantes, lavradores, senhores de engenho, donos
de trapiches e sumacas, tropeiros e, inclusive, pessoas ligadas à administração colonial.
Dessa forma, Francisco Nunes da Costa admite que é inevitável combater essa prática
sem novas providências e uma nova legislação que contenham os senhores de engenho,
“na facilidade com que vendem as suas safras inteiras conhecidamente a
contrabandistas”. Assim, sugere que a melhor ação seria pedir contas aos senhores de
engenho de suas respectivas safras435.
Em outra carta enviada um mês depois, Francisco Nunes da Costa informou a
apreensão de doze caixas de açúcar no Porto da Barra Grande, na sumaca de
propriedade de um comerciante da Bahia, a qual foi conduzida à praia vizinha para ser
efetuada a arrecadação das referidas caixas pelo procurador da Companhia de Comércio
de Pernambuco. Porém, à noite, o mestre da sumaca, José Gonçalves, juntamente com
“maior parte da sua campanha vieram a terra e violentamente arrancaram o leme e
conduziu-o a bordo, levaram ancora e foram dar fundo, segundo me consta, na Ilha de
Santo Aleixo: Porto livre e seguro destes levantados436”.
Semelhante fato ocorreu no Porto de Santo Antônio Grande437, onde deram
fundo duas sumacas, ambas com despachos para a Bahia, e apreenderam nas primeiras
trinta caixas. O mestre da segunda fez diferentes requerimentos para carregar a
Pernambuco, porém “durante a noite ele e sua campanha vieram, arrombaram a porta e

434
Ibidem, loc. cit.
435
Ibidem, loc. cit.
436
Ibidem, loc. cit.
437
Atual Arquipélago de Fernando de Noronha.
117

paredes da casa de depósito, carregaram as sumacas com as caixas dos contrabandistas e


remaram para a cidade da Bahia438”.
O contrabando cresceu no Brasil à medida que cresceram as formas de
fiscalização e controle. Como foi dito antes, na Bahia os comerciantes gozavam de certa
liberdade comercial e, na década de 1770, principalmente, observa-se que a Mesa de
Inspeção não exercia o mesmo rigor na fiscalização do que as demais Mesas de
Pernambuco, Rio de Janeiro e Maranhão439.
O contrabando do açúcar pernambucano para a Bahia foi impulsionado também
pela atuação da Companhia Geral do Comércio de Pernambuco, instalada em 1759. Isso
porque os produtores deveriam vender os seus gêneros à Companhia por preços fixados
pela Mesa de Inspeção de Pernambuco, embora fosse permitido aos senhores de
engenho e criadores de gado vender seus produtos por conta própria. Porém o transporte
era efetuado pelos navios da Companhia e cobrava-se ainda, dos produtores, o aluguel
de armazém, ocorrendo o risco de deterioração das safras. Essas determinações
provocaram várias manifestações contrárias dos comerciantes e produtores
pernambucanos440. Tal atuação da Companhia de Pernambuco e Paraíba justificava a
ocorrência constante do envio do açúcar de pernambucano para a Bahia. Assim como a
Mesa de Inspeção, a Companhia do Comércio era fruto da política mercantilista adotada
pelo marquês de Pombal e tinha como “objetivo reafirmar o exclusivo das colônias com
Portugal, reprimir o contrabando e a influência inglesa na Colônia441”.
A necessidade da liberdade de comércio exigida pelos mercadores da Colônia
ficou explícita através do ofício do governador Marquês de Valença destinado a
Martinho de Melo e Castro sobre a fiscalização do açúcar. Tal documento tinha o intuito
de evitar contrabando procedente das Alagoas, Pernambuco e Paraíba, em janeiro de
1780. Segundo o ofício, um dos pontos mais importantes das instruções da Mesa de
Inspeção da Capitania da Bahia era que se averiguasse com maior vigilância todas as
caixas de açúcar que se transportavam para Portugal, para que não ficassem dúvidas
com relação a sua qualidade, conforme determinava o capítulo 3º, §13 do regimento.

438
OFÍCIO do Ouvidor Geral das Alagoas, Francisco Nunes da Costa em que dá parte de algumas
apreensões de caixas de açúcar efetuadas a bordo de diversas embarcações, em 05 de maio de 1779.
Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 54, doc. 10330.
439
Ibidem, loc. cit.
440
José Ribeiro Júnior. Op. Cit. P. 108.
441
Érica Dias A Capitania de Pernambuco e a Instalação da Companhia Geral e Comércio. In.:Actas do
Congresso Internacional - Espaço Atlântico de Antigo Regime: poderes e
sociedades.Lisboa.(Comunicação).2005.http://cvc.institutocamoes.pt/index.php?option=com_doc
man&task=cat_view&gid=76&Itemid=69.
118

Pela mesma portaria, o governador Marquês de Valença advertiu e ordenou 442 aos
funcionários da Mesa que não permitissem a entrada de açúcar vindo dos sertões e
portos das Alagoas, Pernambuco e Paraíba, e que também não os examinassem e
qualificassem por serem contrabandeados da Companhia Geral de Pernambuco443.
Outro tipo de fraude foram as remessas de caixas de açúcar devolvidas pela
Junta do Comércio. Dentre essas, houve uma em que constava no seu interior terra sem
mistura de açúcar e outra “cheia de espumas de caldeira, cinza, argila e terra amassada
com mel”, ambas remetidas por Adriano de Araújo Braga. Exigiam-se providências da
Mesa de Inspeção, pois uma tão escandalosa falsificação não era cogitada no regimento,
já que o corrente era a mistura de diferentes qualidades de açúcar, as quais eram
coibidas com penas proporcionais. Afirmava-se que tal fato era a:

“primeira vez que se viu praticada em caixas de açúcar, sendo além disto para
notar que ambas as referidas caixas de açúcar, tão nova e escandalosamente
falsificadas, viessem não de algum engenho do Recôncavo desta cidade, mas
de dois engenhos da Ribeira de Cotenguiba, distrito da comarca de Sergipe
de ElRei, cujos donos talvez confinados na grande distância dos engenhos de
444
que se faz a remessa das referidas caixas se animaram a cometer a dita
falsidade, persuadidos de que não poderiam ser descobertos os autores
445
dela ”.

Em resposta, a Mesa de Inspeção afirmou ter tomado as providências


necessárias, expedindo ordem ao ouvidor da comarca de Sergipe de ElRei para que os
envolvidos nas fraudes do açúcar fossem presos e remetidos às cadeias da cidade da
Bahia para serem processados. Afirma-se ainda que tal ação já estava em andamento,
pois já tinha sido recebida uma outra caixa tão falsificada como as apontadas pela Junta
do Comércio, e, por meio de investigação, ficou comprovado que a falsificação era
procedente da Comarca de Sergipe de ElRei, que são da dita cidade, da Ribeira da
Cotenguiba e do Rio Real446. Outra providência tomada em relação ao caso foi um
maior rigor no exame e na qualificação do açúcar oriundo dessa região e, por essa razão,

442
Vale ressaltar que essas ordens dos governadores à Mesa de Inspeção geraram um conflito de
jurisdição que será tratado em outro capítulo posterior.
443
OFÍCIO do Marques de Valença para Martinho de Melo e Castro sobre a fiscalização dos açúcares de
como evitar o contrabando que se havia com os procedentes das Alagoas, Pernambuco e Paraíba, 05 de
janeiro de 1780. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 54, doc. 10463-10464.
444
SOBRE as fraudes na qualificação do açúcar”. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio, maço 10 caixa 38.
445
OFÍCIO do Marques de Valença para Martinho de Melo e Castro sobre a fiscalização dos açúcares de
como evitar o contrabando que se havia com os procedentes das Alagoas, Pernambuco e Paraíba, 05 de
janeiro de 1780. AHU – Bahia: Caixa 54, doc. 10463-10464.
446
SOBRE as fraudes encontradas na qualificação do açúcar”. Arquivo Nacional da Torre do Tombo:
Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
119

em todas as sessões da Mesa, tinha-se mandado abrir grande número de caixas em que
se receava a fraude, atitude a qual diligenciava a continuar a fazer daquele momento em
diante. A Mesa ainda reforça tudo isso afirmando que “a vista de tanta vigilância e zelo,
se digne honrarmos com o conceito de que desempenhamos a nossa obrigação e
cumprimos o nosso regimento”. Portanto, acreditava-se que as fraudes eram frutos da
malícia e prevaricação de pessoas que agem “de má fé” e não por omissão dos
funcionários da Mesa, que examinavam e qualificavam o açúcar e o tabaco seguindo as
normas do regimento desde a sua criação447.
Devido à atuação de Bittencourt na Mesa de Inspeção da Bahia, o rei foi
informado dos acontecimentos, como também aconselhado a advertir o governador e
Capitão General, Manuel da Cunha Menezes, “da escandalosa liberdade com que se
cometiam os mencionados extravios, a fim de lhe aplicar os meios mais eficazes para os
coibir”, pois o governador possuía esses meios de intervir junto aos administradores dos
trapiches e mestres das sumacas do Porto da Bahia e proibirem de conduzir o açúcar
proveniente do contrabando de Pernambuco448.
Mesmo com a intervenção do governador, os contrabandistas continuaram
“fazendo tão pouco caso a autoridade [...], das suas ameaças e das ordens” e
prosseguiam com o contrabando proveniente de Pernambuco, conduzindo à noite em
direção ao sítio de Itapagipe449 “que nenhum perigo ou risco havia de correr e para
vencer os embaraços que podiam encontrar na saída de Pernambuco muniam de armar
as suas embarcações para resistir como tem resistido aos que se opusessem aos referidos
contrabandos450”. Os fazendeiros e comerciantes desse estado tinham interesse em que o
açúcar passasse para a Bahia, “para lograrem os dez tostões de preço a preço e de que
resulta só falarem eles, e gritarem em que há descaminho e não os evitam, dando todos
os portos daquele território comodidade para fazerem os exames previstos quando as
sumacas estão à carga451”.

447
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
448
RECOMENDAÇÕES ao Novo Governador e Capitão General da Capitania da Bahia. 1779. Arquivo
Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 54, documento 10319-10335.
449
No sítio de Itapagipe era feita a adulteração do açúcar que vinha de Pernambuco e de outros produtos
como o tabaco. Era colocada a marca falsa de um engenho da Bahia para então ser encaminhada a Mesa
de Inspeção onde receberia as outras duas marcas: a de qualidade e a da Mesa. Itapagipe é uma região de
península, que favorecia essas práticas.
450
RECOMENDAÇÕES ao Novo Governador e Capitão General da Capitania da Bahia. 1779. Arquivo
Histórico Ultramarino. Bahia: Caixa 54, documento: 10319-10335.
451
Ibidem, loc. cit.
120

Embora a Mesa de Inspeção da Bahia, principalmente entre as décadas de 1760 a


1770, tenha tomado as precauções que estavam ao seu alcance para manter o comércio
funcionando de acordo com as determinações da Coroa, as grandes fraudes e o
contrabando eram amplamente praticados, inclusive com denúncias de participação de
funcionários da Mesa. Esses acontecimentos também se transformavam em escândalos
para o período, como afirma Martinho de Melo e Castro ao expressar a sua indignação,
pois “o que há de mais extraordinário em todos estes atentados é a indiferença e
insensibilidade com que a Mesa de Inspeção os está vendo, e talvez animando, como se
não fosse ela, a que foi instituída com grande despesa da Real fazenda, para evitar e
coibir” as práticas de descaminho e contrabando452. O que de fato ocorria, pois vários
documentos evidenciam que os contrabandistas agiam durante a noite, porque era o
período em que existia uma inatividade da Mesao e de policiamento da costa, além da
impossibilidade de se fiscalizar toda a região costeira das Capitanias da Bahia,
Pernambuco, Alagoas e Paraíba453.
Em ata do dia 23 de dezembro de 1792, os deputados da Mesa de Inspeção
discutiram questões referentes às fraudes que ocorriam com o tabaco e propunham fazer
um exame mais minucioso na safra do dito ano pra evitar que se passasse tabaco pela
inspeção sem que fossem pesados, examinados e qualificados. Isso porque os
comerciantes aproveitavam a confusão e multidão que se concentravam na Alfândega
do Tabaco para ludibriar os oficiais da Mesa encarregados dos exames e pesos dos
produtos para que pudessem cometer a fraude454. Os deputados, então, propuseram
estabelecer um método que regulasse o exame, peso, embarque dos rolos de tabaco,
todas as obrigações dos examinadores e também dos oficiais encarregados da
escrituração na Casa da Arrecadação do Tabaco, ao mesmo tempo em que determinava
que os capitães e agentes dos navios deveriam proceder para o processo de embarque
dos produtos455, pois o fumo era um dos produtos mais contrabandeados no Brasil
Colônia. Sobre essa questão, Antonil afirma que as penas aplicadas aos comerciantes
transgressores eram graves, mas que o lucro obtido com o fumo era grande, o que

452
Ibidem, loc. cit.
453
Ibidem, loc. cit.
454
ATA da Mesa de Inspeção sobre o estabelecimento de um método para o exame, peso e embarque do
tabaco e combater as fraudes. Bahia, 23 de dezembro de 1792. Arquivo Nacional da Torre do Tombo;
Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.
455
Ibidem, loc. cit.
121

explica porque muitos se arriscavam em manter as atividades clandestinas456. Ainda


segundo Antonil, qualquer descaminho do tabaco, por qualquer destas partes do Brasil,
fora do registro e guias, debaixo do que tudo vai despachando, tem por pena a perda do
tabaco e da embarcação em que se achar e mais cinco anos de degredo para Angola ao
autor da culpa457. Todo esse processo se fez necessário para evitar que os produtos de
má qualidade chegassem à Europa e que prejudicassem a reputação do tabaco do Brasil.
Outra vertente da economia da Colônia é o tráfico de escravos entre a África e a
Bahia. Pierre Verger foi quem aprofundou o tema da escravidão no Brasil e relatou, de
forma pioneira, os aspectos econômicos e culturais decorrentes do tráfico. Segundo
Verger, havia um contrabando de artigos europeus feito pela costa africana,
principalmente na Costa da Mina, em razão da grande liberdade cedida aos negociantes
da Bahia e aos proprietários dos navios, originando assim um “intenso movimento
comercial de tecidos e produtos da Europa que se estabelecera de maneira clandestina,
entre aquela costa e a Bahia e essas trocas se faziam contra o tabaco das duas primeiras
qualidades, em princípio reservadas para Portugal458”.
Inúmeras eram as denúncias, apreensões e evidências da existência da
introdução de fazendas contrabandeadas dos ingleses, holandeses e franceses
provenientes da Costa da Mina, que pela grandeza da Costa da Bahia aliada à falta de
pessoal e da inatividade da Mesa de Inspeção durante a noite, eram facilmente
introduzidas na cidade e comercializadas no mercado. Assim, era impraticável combater
a entrada das embarcações e o desembarque das fazendas, que não só contrariavam as
ordens reais como também não pagavam os direitos a que seriam obrigadas em Lisboa.
A solução para remediar essa situação foi mandar a Alfândega da Bahia recolher
toda a fazenda sem o selo real que se achasse nas casas dos mercantes, resultando na
apreensão de 58.211 fazendas entre retalhos e peças em que não se encontraram o selo.
Procurando-se saber a procedência constatou-se que eram provenientes da Costa da
Mina. Esse episódio mostrava a transgressão na fazenda não só nas que introduziam na
América: “mas também daqui para a Costa, levando cada uma das embarcações, além

456
André João Antonil (Giovanni Antônio Andreoni). Cultura e Opulência no Brasil por suas Drogas e
Minas. (1711). Introdução e notas de Andrée Mansuy Diniz Silva. São Paulo: Edusp, 2007. p, 207.
457
Ibidem, p. 206.
458
Pierre Verger. Fluxo e Refluxo: do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os
Santos, dos séculos VII a XIX. Salvador: Corrupio 2002. P. 134-135.
122

de três mil rolos de tabaco permitidos mil e mil e quinhentos por até muito ouro lavrado
em peças e até em moeda459”.
Diante da apreensão e do prejuízo, alguns negociantes foram obrigados a
recorrer e, por meio de requerimento, fizeram dois pedidos: um que o governo
facultasse o despacho das fazendas estrangeiras que os portugueses trouxerem da Costa
da Mina aos Portos do Brasil, pagando os direitos, alegando que “os holandeses os
obrigaram por força a trazê-las”; no segundo pediam que o suplicante João Machado
tivesse a sua pena relevada pela posse de tais fazendas460. Porém, o desembargador
Rodrigo Coelho Machado Torres contra argumenta, afirmando que esse requerimento
põe em cheque dois pontos básicos: primeiro que não era útil nem admissível a entrada
de fazendas estrangeiras na América oriundas de outras vias que não a do Reino, porque
vem a ser o mesmo que franquear o comércio direto com as nações da Inglaterra,
Holanda e França; segundo porque a entrada das fazendas seria feita com a extração do
ouro, como também existem inúmeras leis que proíbem exatamente este comércio a
exemplo das leis de 01 julho de 1730, alvarás de 06 dezembro de 1755, 11 de dezembro
de 1756 e 07 março 1760. Esta última proíbe inclusive os comissários volantes de
transportarem nos navios as fazendas e comercializá-las461. Além disso, argumenta que
tal prática fere os direitos pátrios estabelecidos na Europa entre todas as nações dela; e
que o comércio da Colônia seja somente com a sua capital, porque o “comércio das
colônias deve enriquecer a corte que as estabelece e manda cultivar e não as outras”; e
pelo direito da política, ainda não é admissível o argumento de que os holandeses os
constrangem a receber as fazendas pela suposta violência, quando na verdade os
mercantes trocam as fazendas por tabaco, uma vez que os negros não gostam de outro
tabaco que não o do Brasil, nem há mercadoria alguma que os interesses. Afirma-se
ainda que nenhuma outra nação que não a portuguesa os pode fornecer e que no
comércio regular não se deve trocar os tabacos pelas mercadorias das outras nações,
“causa que os negros desejam muito e que não podem haver por outra mão e este é o

459
INFORMAÇÃO do Desembargador Rodrigo Coelho Machado Torres sobre o contrabando de
fazendas estrangeiras entre a Bahia e a Costa da Mina, 05 de maio 1779. Arquivo Histórico Ultramarino –
Bahia: Caixa 54, doc. 10331.
460
Ibidem, loc. cit.
461
As coleções da legislação portuguesa podem ser encontrados no Ius Lusitaniae: Fontes do Direito
Português, site: http://iuslusitaniae.fcsh.unl.pt/
123

caso em que ficariam obrigados os estrangeiros a comprar o nosso gênero pelo preço
que nós quisermos462”.
Em outra correspondência de 16 de abril 1779, Rodrigo Coelho Machado Torres
afirma que é impossível surpreenderem-se, pois os suspeitos jogam fora as fazendas
antes de chegarem a terra e, em suas palavras, “para essas não descubro meio se não o
apontado porque para ter vigias nas praias é o mesmo que nada, por estarem
persuadidos estes habitantes, ainda os mais necessitados que o ser denunciante é a maior
desonra que pode ter um homem463”. Sobre essa questão, para Domingos Vandelli, não
adiantaria ter “no Brasil guarda-costas para embaraçar o imenso contrabando
introduzido pelos ingleses sem por freio aos nacionais que não lhes deem pau-brasil,
ouro, diamante em troca deles?”. Complementa afirmando que “não são os estrangeiros
que fazem o contrabando, mas sim os nacionais que procuram e compram464”.

“Tenha V. Excelência por certo que eu sou incapaz de consentir descaminho


da Fazenda Real e nos dois governos que tenho feito provas de meu zelo pela
Fazenda [...] por certo que em qualquer destes governos do Brasil há muitos
indivíduos que não cuidam se não é como hão de enganar a quem governa
465
que em vista tem ”.

Domingos Vandelli afirma ainda que “o único modo de diminuir o desejo de


fraudar os direitos é baixar os mesmos direitos” e aponta que a causa principal de tantos
contrabandos no Brasil são os impostos, chegando a um total de 80% e, por
consequências, as fazendas remetidas do reino não podiam concorrer com as de
contrabando, “pois por tão avultado ganho são convidados os contrabandistas a
arriscar466”.
O cerne dessa análise está na liberdade de comércio, mais evidente na fase final
do século XVIII, a qual Fernando Novais caracteriza como sendo a crise do sistema
colonial, provocada justamente pelo próprio desenvolvimento da Colônia e de seus

462
INFORMAÇÃO do Desembargador Rodrigo Coelho Machado Torres sobre o contrabando de
fazendas estrangeiras entre a Bahia e a Costa da Mina, 05 de maio 1779. Arquivo Histórico Ultramarino
– Bahia: Caixa 54, doc. 10331.
463
CONJUNTO de cartas e ofícios do Governador Manuel da Cunha Menezes para Martinho de Melo e
Castro em que se refere ao contrabando praticado nos navios da Costa da Mina e do descaminho do
açúcar proveniente de Pernambuco entre 08 de dezembro de 1778 a 16 de abril de 1779. Arquivo
Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 53, doc. 10103-10111.
464
Domingues Vandelli. op. cit. p. 207.
465
CONJUNTO de cartas e ofícios do Governador Manuel da Cunha Menezes para Martinho de Melo e
Castro em que se refere ao contrabando praticado nos navios da Costa da Mina e do descaminho do
açúcar proveniente de Pernambuco, entre 08 de dezembro de 1778 a 16 de abril de 1779. Arquivo
Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 53, doc. 10103-10111.
466
Domingues Vandelli, op. cit. p. 206.
124

moradores. A própria Mesa de Inspeção foi um órgão criado para atuar no


aperfeiçoamento do sistema, tendo como meta principal melhorar a qualidade da
produção, bem como a sua diversificação, efetuando experiências de cultivo de
especiarias. Ademais, a Mesa organizava toda a atividade produtiva e comercial, o que
garantia também um aumento na qualidade dos produtos exportados e do seu valor no
mercado, além de auxiliar na orientação desde a produção até o envio do produto à
Europa. Segundo Maximiliano Menz, “o comércio colonial crescia sob o controle
português, e uma elite de homens de negócio atuava automaticamente a partir da capital
do Império467”. Já para Fernando Novais468, a competição comercial se apresentava
nesse contexto como inerente à colonização mercantilista, e o contrabando fazia parte
dos mecanismos do sistema. Este afirma ainda que a “pressão do contrabando era,
portanto, grande [...]. Ingleses, americanos, franceses, até suecos e dinamarqueses iam
cada vez mais rompendo as malhas do exclusivo metropolitano português em terras
brasileiras469”.
Para José Roberto do Amaral Lapa470, no Brasil, a Bahia representou uma
espécie de pulmão por onde respirava a Colônia, chegando em 1796 ao primeiro lugar
entre todos os portos de Portugal ultramarino a exportar e importar mercadorias. Esse
contexto do comércio marítimo da Carreira da Índia e do Brasil foi propício à prática do
contrabando. Os navios nem sempre chegavam a completar suas cargas e sempre as
completavam com os produtos da terra, como o açúcar, o tabaco e a sola da Bahia para
serem exportados. Segundo Amaral Lapa471, os navios vindos do oriente traziam
mercadorias, geralmente fazendas e outros objetos pequenos que eram fácies de
contrabandear, pois os tripulantes desenvolveram a habilidade de ocultar os objetos
portáteis e de valor debaixo das vestimentas. Havia também os contrabandistas mais
audazes que, utilizando botes maiores, articulavam-se com o pessoal de terra para a
consecução dos seus escusos propósitos. “As horas mais propícias para o seu „trabalho‟,
como é fácil concluir, ocorriam à noite, obrigando as autoridades portuárias a manter
uma falua472 rondando os navios”.

467
Maximiliano M. Menz. Entre Impérios: formação do Rio Grande na crise do Sistema Colonial (1777-
1822). São Paulo: Alameda, 2009. P. 91.
468
Fernando Antônio Novais. 1995. op. cit. p. 242.
469
Ibidem, p. 185.
470
José Roberto do Amaral Lapa. A Bahia e a Carreira da Índia. São Paulo: Brasiliana, 1968. p. 02 e
130.
471
Ibidem, p. 134-135.
472
Segundo dicionário Michaelis, falua é uma embarcação de boca aberta, proa e popa afiladas, com dois
mastros e velas latinas triangulares, usada para transportar mercadorias e pessoal em portos, rios.
125

Diante do contexto do Brasil colonial no final do século XVIII e início do XIX,


José Jobson de Andrade Arruda473 evidencia em suas análises que o contrabando podia
ser também do interesse do governo português, “apesar de ilegal, o comércio com as
regiões pertencentes à Espanha era praticado”, especialmente as regiões platinas474.
Para Jobson Arruda, destarte, o contrabando deve ser entendido como um elemento
normal, fruto do próprio sistema e representava uma disputa entre as metrópoles
europeias pela apropriação do excedente colonial.
A costa do Brasil, como diz Manoel Luiz da Veiga, era “tão pacífica” que em
qualquer parte admitia-se desembarque. “Ora, sendo isto sumariamente favorável para
introduzir os contrabandos naquele país, nenhum outro meio há de os evitar do que
dificultar a exportação das fazendas daquela natureza nos portos da Europa475”. Além
disso, os contrabandistas atuavam em bandos e eram também organizados e articulados,
tendo estrutura e audácia para burlar o sistema de fiscalização e a Mesa de Inspeção.
Geralmente o comerciante possuía toda a infraestrutura para efetuar essa prática: era
influente na praça; muitas vezes credor; conhecia os compradores, geralmente
estrangeiros; possuía barcos e armazéns para o transporte e armazenamento das
mercadorias; e também era o produtor. Além disso, existia a associação a grupos de
interesse que colaboravam para a atividade do descaminho e contrabando,
principalmente articulados para fugir da fiscalização, não pagar os direitos reais e
ganhar maior lucro, praticando, assim, o “livre comércio”, o qual alguns
“indivíduos/contrabandistas” apontam na documentação trabalhada aqui. Porém, essa
liberdade de comércio deveria ser compreendida nas limitações impostas pelo meio
socioeconômico, liberdade esta, “realizada a base do monopólio promovido pelo
estado, mas a cargo do capital privado476”.
Diante do exposto, não podemos deixar de reconhecer o esforço e a atuação da
Mesa de Inspeção em cumprir suas atribuições. Entretanto, a própria organização e o
desenvolvimento da Colônia fizeram surgir, por um lado, grupos que exigiam o
comércio livre, e, por outro, setores que se envolveram na prática do contrabando.

473
José Jobson de Andrade Arruda. O Brasil no Comércio Colonial. São Paulo: Ática, 1980. (Ensaios:
67). p. 159.
474
Ibidem, p. 327-328.
475
Andréia Slemian; Claudia Maria das Graças Chaves. (Orgs.) Obra de Manoel Luís da Veiga. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Chaves, 2012. p. 487.
476
Arthur Cesar Ferreira Reis. O comércio colonial e as Companhias Privilegiadas: inquietações no Norte
e a inconfidência baiana. In. Sergio Buarque de Holanda. (org.) História Geral da Civilização Brasileira:
a época colonial. Tomo II: administração, economia e sociedade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1977,
p. 327.
126

5 COMÉRCIO DE ESCRAVOS E MARFIM PELA MESA DE INSPEÇÃO DA


BAHIA

5.1 A questão da mão-de-obra escrava.

A produção colonial tinha como base a utilização da mão-de-obra escrava. O


tráfico negreiro que garantia essa mão de obra era um dos importantes meios de
arrecadação de direitos da Coroa Portuguesa477. Em 1726 foi criada na Bahia uma
associação dos comerciantes de escravos denominada Mesa do Bem Comum da
Bahia478, com o aval do Vice-rei Conde de Sabugosa, mas sem nunca obter a
confirmação real. Seguindo os moldes da que existia em Lisboa, mas com o objetivo de
realizar o comércio de escravos479.
Os comerciantes da Bahia, desde o século XVII, tinham permissão para fazer o
comércio de escravos diretamente com a África sem passar pelo reino, e, portanto,
desfrutavam de certa liberdade comercial480. Em ofício enviado pelo Vice-rei Conde de
Atouguia para Diogo de Mendonça Corte Real, esclarecia-se o projeto para regular o
comércio na Costa da Mina, organizando e estipulando a quantidade de navios, além de
identificar os respectivos donos para atuarem no comércio de escravos481. Ao explicar a
situação existente na Bahia em 1751, o Conde de Atouguia afirmava que o comércio da
Costa da Mina foi estabelecido por disposição do governo em 1699, com o número de
vinte e quatro navios ou embarcações que tinham por objetivos a troca de tabacos e
outros gêneros por escravos. Alegava ainda que, mesmo as embarcações sendo vinte e
quatro, os donos eram menos, pois alguns homens de negócio possuíam dois ou três

477
Sobre o tráfico negreiro ver: Pierre Verger. Fluxo e Refluxo: do tráfico de escravos entre o golfo do
Benin e a Bahia de Todos os Santos, dos séculos VII a XIX. Salvador: Corrupio 2002. Jacob Gorender. O
Escravismo Colonial. São Paulo: Ática, 1978. (Ensaios, 29). Maurício Goulart. A Escravidão Africana
no Brasil: das origens à extinção do tráfico. São Paulo: Alfa-ômega, 1975. Manolo Florentino. Em
Costas Negras: uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro (séculos XVIII e
XIX). São Paulo: Companhia da Letras, 1997. Luiz Felipe de Alencastro. O Trato dos Viventes:
Formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. Jaime Rodrigues. De
Costa a Costa: escravos, marinheiros e intermediários do tráfico negreiro de Angola ao Rio de Janeiro
(1778-1860). São Paulo: Companhia das Letras, 2005. Jean Baptiste Nardi. Sistema Colonial e Tráfico
Negreiro: Novas Interpretações da História Brasileira. Campinas, SP: Pontes, 2002.
478
Em 1757, a Mesa do Bem Comumda Bahia foi extinta pelo Marquês de Pombal, incorporando dois
membros dos seus membros na Mesa de Inspeção.
479
Beatriz Líbano Bastos Azevedo. O Negócio dos Contratos: contratadores de escravos na primeira
metade do século XVIII. São Paulo: FFLCH/USP, 2013. (dissertação de mestrado). p. 123.
480
Pierre Verger. Op. cit, p. 21.
481
[OFICIO do Vice-rei Conde de Atouguia para Diogo de Mendonça Corte Real acerca do comércio
com a Costa da Mina]. Bahia 30 de junho de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 02,
documentos 124-125.
127

navios destinados a este comércio, o que era causa de descontentamento na praça, pela
desigualdade entre os comerciantes, pois os que tinham um maior número obtinham
vantagens que ocasionavam prejuízo para os que não podiam participar da mesma
forma482.
Nessa situação, dizia o Conde: “quando tomei posse deste Governo, e
parecendo-me que a desigualdade se atalhava se os vinte e quatro navios se repartissem
por outros tantos possuidores dos seus números, entrei na diligência de tirar um navio
dos que possuíam três ou dois”. Desse modo, poderia cedê-los aos diversos pretendentes
que ofereceram donativos para a Fazenda Real, a fim de participarem do comércio de
escravos. O Conde prossegue sua exposição nas seguintes palavras: “entendi que sem
injustiça nem opressão podia ganhar esta utilidade para a real Fazenda: com efeito, dei
os navios excedentes aos primeiros presentes, cujos donativos remeti e constavam na
relação que foi na frota passada483”. Nestes termos, o número de navios não foi alterado,
ficando vinte e quatro embarcações para vinte e três donos, quando antes era bem
menos,484 e, com isso, a Real Fazenda obteve ganhos com a redistribuição das licenças.
Cristiana Ferreira Lyrio Ximenes afirma que, além desse comércio realizado
pelos vinte e três proprietários com vinte e quatro embarcações, havia também o
comércio realizado por “navios de licença” e que “encaminhavam os seus
requerimentos à Mesa de Inspeção do Açúcar e do Tabaco, ou, em casos excepcionais,
ao Vice-rei e Governador Geral da capitania – e em última instância ao próprio Rei485”.
Em 1752, os oficiais da Câmara, senhores de engenho, lavradores de cana e
tabaco da Bahia eram contra a instalação da Mesa de Inspeção da Bahia. Entre suas
críticas estava o alto preço na compra dos escravos “tão necessários para se tirarem e
beneficiarem os gêneros” e denunciavam a “desordem com que se comercializavam os
escravos, sem os quais não pode haver cultura dos frutos do Brasil” no qual já saem dos
portos da África com preços excessivos. Dessa forma, “ao que pedem remédio os
lavradores do Brasil e dos que apontam, seria muito útil a propósito taxar lhe o preço
aos do primeiro lote para não poderem vender por mais” e revender no Brasil por preços

482
Ibidem.
483
Ibidem.
484
Ibidem.
485
A autora apenas cita a Mesa de Inspeção sem analisar a importância da instituição nesse processo do
comércio de escravos com a Costa da África. Cristiana Ferreira Lyrio Ximenes. Bahia e Angola: redes
comerciais e tráfico de escravos (1750-1808). Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2012. (Tese de
doutorado), p. 99.
128

menos excessivos, ao mesmo tempo em que eles também sugerem a criação de uma
companhia que comercializasse os escravos na Bahia486.
A Coroa respondeu às queixas dos agricultores da Bahia, dizendo que “a
companhia da Costa da Mina podia muito consistir na melhora da América Portuguesa,
mas que era, sem dúvida, que se não devia nem podia estabelecer na forma que os
suplicantes a propunham e que com mais segurança e mais consideração não podia
subsistir”. Como solução para atenuar o descontentamento dos agricultores do Brasil, a
Coroa Portuguesa propôs a “introdução dos escravos de Moçambique e daquela parte da
Costa da África oriental sujeita ao domínio Português” e, portanto, “sendo muito fácil o
seu resgate e muito barato, necessariamente, haviam de chegar à América em muita
conta” e que, se “estes negros não pudessem servir de minerar (oque havia de qualificar
com a experiência), podiam servir nas roças, nas lavras e nos engenhos487”. A
introdução desses escravos de Moçambique seria realizada pela Fazenda Real, e estes
comercializados por menores preços. Porém, os agricultores ainda sugeriram que a
Coroa permitisse que “todos os seus vassalos em navios nacionais pudessem ir buscar
escravos na referida Costa da África e se persuadia que facultada esta permissão, a
conveniência dos negociantes facilitaria este comércio e, por meio dele, mais pronto
remédio à vexação que se representa488”.
Um ano depois, em 1753, os agricultores e comerciantes da Bahia ainda
reclamavam da escassez de escravos e do seu alto custo489. Nesse mesmo ano, os
agricultores insistiam na instalação de uma Companhia Baiana de resgate de escravos da
Costa da África para melhorar a oferta por menos preços, e explicavam que, para

“haver no Brasil a desejada abundância de escravos e estes serem vendidos


por preços mais cômodos que o presente, se mandasse reduzir a negociação
do resgate de escravos a uma companhia e se regulasse a sua venda por
quatro preços competentes as quatro lotações de sorte que os da primeira não
excedesse o preço de cento e dez mil reis, os da segunda de noventa mil reis,
os de terceiras de oitenta réis e os de quarta de setenta mil reis490”.

486
[CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. José sobre as queixas dos oficiais da Câmara da
Cidade da Bahia, senhores de engenho, lavradores de cana e tabaco contra a nova lei da Casa de
Inspeção]. Lisboa, 23 de novembro de 1752. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia. Caixa 112,
documento 8759.
487
Ibidem.
488
Ibidem.
489
[OFÍCIO da Mesa do Comércio da cidade da Bahia ao Vice-rei e Governador Geral do Estado do
Brasil, Conde de Atouguia, Luís Pedro Peregrino de Carvalho de Meneses e Ataíde, informando da
necessidade de inspetores para o comércio desta cidade]. Bahia, 18 de abril de 1753. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 114, documento 8917.
490
[CARTA do Vice-rei e Governador-Geral do Estado do Brasil, Conde de Atouguia, Luiz Pedro
Peregrino de Carvalho Meneses e Ataíde ao rei D. José em resposta à provisão real, dando seu parecer
129

Mesmo com a ação do governo da Bahia em melhorar o comércio de escravos,


ampliando o número de participantes, o comércio da Costa da Mina continuou alvo de
reclamações, principalmente por causa das irregularidades, desigualdades e excessos,
sobretudo pelo descaminho de fazendas. Essas irregularidades foram comunicadas ao
Rei pela Mesa de Inspeção, que, pela provisão régia de 06 de novembro de 1752,
determinou aos donos dos navios que fossem obrigados a declarar nessa instituição os
nomes das pessoas e a fazenda pertencente a cada uma delas, além de proceder
criminalmente contra os transgressores desta regulamentação491. Além disso, o
documento determinava a forma de se efetuar o carregamento dos navios, possibilitando
que a Mesa de Inspeção pudesse fazer os exames que julgasse convenientes.
Deste modo, as licenças para o carregamento dos navios eram concedidas492,
mas eram proibidas as “embarcações de armas, pólvora, balas nem outro gênero de
nomeações e bem assim o pau-brasil, sob pena de ser castigado com as declaradas nas
condições do contrato dele493”. Também não poderiam levar soldado algum da praça,
transportar estrangeiro nem outra pessoa de qualquer qualidade, foro ou condição que
seja, sem expressa licença. O tabaco transportado nessas embarcações para efetuar o
comércio de escravo era o de terceira qualidade e examinado pela Mesa de Inspeção494.
A regulamentação do Comércio da Costa da Mina atribuiu à Mesa autoridade
através da provisão de 6 de novembro de 1752495. A Mesa, no entanto, continuou a
executar em seu regimento as ordens da Coroa, tendo sofrido oposição de algumas
pessoas “poderosas e ambiciosas” que atuavam na administração e que tinham o intuito
de limitar e restringir a sua jurisdição. Todavia, a Mesa sabia como tratar tais indivíduos
– a exemplo das regras que deveriam ser adotadas para melhor fiscalizar o carregamento

acerca das representações dos donos de engenho da Bahia e Sergipe, que apresentam queixas da carestia
dos escravos e da produção do açúcar]. Bahia, 29 de maio de 1753. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia, caixa 115, documento 8985.
491
[REPRESENTAÇÃO da Mesa de Inspeção da Bahia, dirigida ao Rei, sobre as irregularidades que se
praticavam no carregamento dos navios que faziam comércio para a Costa da Mina]. Bahia, 08 de
novembro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 09, documentos 1473-1482.
492
Geralmente os comerciantes pediam permissão para navegar mediante requerimento, como é o
exemplo do [REQUERIMENTO do capitão José de Sousa Réis ao rei D. José solicitando provisão para
ser conservado na posse do número de navegação da Costa da Mina]. Bahia, 31 de outubro de 1754.
Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 121, documento 9457.
493
[CARTA regia determinando a forma de se efetuar o carregamento dos navios para a Costa da Mina].
Lisboa, 01 de dezembro de 1752. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 09, documentos 1473-
1482.
494
[PORTARIA régia cometendo à Mesa de Inspeção o regulamento da navegação da Costa da Mina].
Lisboa, 21 de janeiro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 9, documentos 1473-1482.
495
[REPRESENTAÇÃO da Mesa de Inspeção acerca da regulamentação do comércio da Costa da Mina].
Bahia 08 de novembro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 9, documentos 1473-1482.
130

do tabaco, observando a quantidade e qualidade do gênero por embarcação para que não
ocorressem dúvidas nem conflitos com o governador e com demais envolvidos com a
instituição – e alertou para a necessidade de reformulação na lei para que pudesse ser
aplicada pela Mesa sem maiores problemas para a execução do comércio entre Brasil e
a Costa Africana496.
Em carta a Pombal em 1755, Wenceslau Pereira da Silva apresenta algumas
sugestões de melhorar a produção no Brasil. Entre elas destacamos a questão da
escravidão, pois “cogitando eu há muito tempo o modo e meio mais adequado e efetivo
para se enriquecer e aumentar mais este Estado, povoando-se a maior parte do
continente dele, que está inculto e não penetrado por falta do poder de gente e
escravatura que é a que vivifica todo este famoso corpo e enfraquecido por falta
dela497”. Por reconhecer a importância da escravatura para melhorar a produção,
Wenceslau Pereira tentava alertar Pombal sobre a situação em que se encontrava a
escravatura e o porquê da necessidade de renovar os escravos, pois

“todo o gênero de serviço braçal no Brasil, pela maior parte, depende


totalmente do trabalho dos escravos e, sendo também experimentado, que o
duro jugo e mau trato deste faltando lhe muitas vezes com o necessário
sustento, abrigo do corpo e curativo das suas enfermidades, o demasiado e
brutal vicio a que são muito inclinados e naturalmente propensos, e o
continuo e violento exercício, sem descanso os faz durar pouco tempo e raro
é o que morre velho, por isso se perde tanto e por que não acabe tudo, se faz
preciso o suprimento deles em cada ano resgatados e conduzidos dos sertões
e portos da África com superabundância e moderada regularidade nos preços,
de maneira que a exorbitância destes não exceda nem absorva toda a
redundância do cabedal que se tira desta formosa conquista como agora
lastimavelmente se experimenta com a carestia daqueles necessários
indivíduos498”.

Além da dificuldade em renovar a escravatura, o modo como os agricultores


tratavam tal mão de obra era um grande prejuízo para o próprio lavrador. Luís Antônio
de Oliveira Mendes também chamou a atenção para esse fato ao afirmar que os
proprietários dos engenhos, lavradores de cana, de tabaco ou todo e qualquer agricultor
deveria tratar melhor a escravatura “a qual lhe vem a ser tão precisa” – evitando os
castigos – e que mantivesse “a escravatura bem vestida, farta e bem tratada, prestando-

496
Ibidem.
497
[OFICIO do Intendente Geral e Presidente da Mesa de Inspeção da Bahia Wenceslau Pereira da Silva a
Secretário de Estado Sebastião José de Carvalho e Melo sobre os meios mais adequados para o
crescimento do Brasil e da necessidade de mão-de-obra escrava]. Bahia 6 de julho de 1755. Arquivo
Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 125, documento 9767.
498
Ibidem.
131

lhe curativo necessário, entregá-la a casamentos para que multipliquem e fugindo ao


empate do custo dela, ao risco de suas vidas499”.
Com a instalação da Mesa de Inspeção e com os vários problemas decorrentes
do contrabando e descaminho ocorridos com o comércio de escravo na costa africana, a
Coroa modificou a legislação do tráfico e concedeu total autoridade para que a Mesa
executasse a administração do comércio com a África, especificamente no que se referia
aos escravos e marfim, dentre outros produtos500.
Percebemos então que, com essas reivindicações dos agricultores, as reformas
pombalinas visavam também modificar a estrutura do comércio e navegação com a
costa da África, principalmente com o estabelecimento dos Alvarás de 11 e 25 de
janeiro de 1758 que decretavam o comércio livre entre Brasil e África, e também com o
novo contrato dos escravos e marfim de 12 de dezembro de 1759501. Como vimos, um
dos objetivos da Coroa com a implementação da Mesa era resolver a questão da mão de
obra escrava e, por isso, esta passa a organizar o transporte e comércio das fazendas,
escravos e marfim entre o Brasil e regiões da África, com o intuito de abolir o
monopólio particular, passando a sua administração diretamente para a Fazenda Real.
As mudanças foram realizadas aos poucos, no decorrer da segunda metade do
século XVIII, com a aplicação de leis, alvarás e decretos que viabilizavam essas
mudanças com o gerenciamento pela Mesa de Inspeção, a exemplo de medidas internas
na Colônia e no ultramar, como o próprio regimento da Mesa de Inspeção, da Alfândega
do tabaco e os alvarás de 11 de janeiro de 1758, 25 de janeiro de 1758 e 20 de dezembro
de 1762, além do contrato de 12 de dezembro de 1759. Essas medidas fizeram parte das
Reformas Pombalinas e também se orientaram para a reestruturação do tráfico negreiro.
As mudanças eram gradativas com a alteração ou extinção de algumas práticas ou com a
sua reformulação ainda no Brasil.

499
Luiz Antônio de Oliveira Mendes. Discurso Preliminar, Histórico, Introdutivo, com Natureza de
Descrição Econômica da Comarca e Cidade da Bahia: In.: Pinto de Aguiar. Aspectos da Economia
Colonial. Salvador: Progresso, 1957. (Coleção de Estudos Brasileiros, série cruzeiro). p. 92-93.
500
[OFICIO do Vice-rei Conde de Arcos referindo-se a ordem regia que determinava privativamente à
mesa de inspeção a administração do comercio da Bahia com a Costa da África]. Bahia, 25 de agosto de
1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 14, documentos 2584-2585.
501
[ALVARÁ de 11 de janeiro de 1758 sobre o livre comércio de Angola e dando certas providencias ao
mesmo respeito]. In.: António Delgado da Silva. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última
Compilação das Ordenações: suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense,
1828. Fl. 704-719. [ALVARÁ de 25 de janeiro de 1758 que esclarecia alguns pontos sobre os escravos e
marfim de Angola]. José Roberto Monteiro de Campos Coelho e Sousa. Sistema, ou Coleção dos
Regimentos Reais: Lisboa: Oficina de Francisco Borges de Sousa, 1783, fl. 106-108. [CONTRATO dos
direitos dos escravos e marfim do Reino de Angola de 12 de dezembro de 1759]. In.: António Delgado da
Silva. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última Compilação das Ordenações: suplemento da
legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense, 1828. Fl. 704-719.
132

Para Luiz Felipe de Alencastro, a colonização portuguesa, fundada no


escravismo, englobou uma zona de produção escravista situada no litoral da América do
Sul e uma zona de reprodução de escravos centrada na Angola. O tráfico de africanos
constituiu um segmento da rede que ligava Portugal ao Oriente e se apresentava como
fonte de receitas para o Tesouro Régio502. O historiador afirma ainda que as deportações
de africanos sincronizam as engrenagens do sistema colonial, e a metrópole era
investida de um poder eminente, na medida em que o controle do tráfico negreiro lhe
dava o comando da reprodução do sistema escravista503.
Vários foram os motivos que contribuíram para que a Mesa de Inspeção
regulamentasse o comércio da Costa da Mina504. Entre eles podemos citar a ocorrência
de várias desordens com o comércio daquela região, aliadas aos baixos direitos que
ocasionavam prejuízos à Real Fazenda e também prejudicavam o comércio do tabaco,
que havia em grandes quantidades. Tal ação afetava a safra, as grandes denúncias de
descaminho, contrabando e fraudes, e também a questão relacionada ao Vice Rei do
Brasil, pelos motivos de ter muitos negócios sob sua responsabilidade e de não
conseguir dar atenção às desordens e de informar das fraudes com que os ditos
negociantes executavam contrárias às resoluções reais505, pois

“todos estes inconvenientes, perdas, danos e prejuízos poderiam sentir a Real


Fazenda e os vassalos de toda esta Conquista tão dilatada procurou sempre a
Mesa de Inspeção evitar, depois que entrou a servir, tomando os expedientes
de facilitar e franquear o negócio da Costa da Mina, obrigando para este
efeito, quanto podia, os senhorios dos navios daquele resgate dos escravos a
buscar e a sir daqui o mais depressa que pode ser, despachando-lhe e
distribuindo-lhe, todo o tabaco que seja velho ou novo contanto que seja
primeiro em presença da mesma Mesa e do processo do contrato geral,
examinado rolo, por rolo e julgado por inferior da terceira e ínfima qualidade
o que se faz com a solenidade e exatidão506”.

502
Luiz Felipe de Alencastro. O Trato dos Viventes, Formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo:
Editora Companhia das Letras, 2006, p. 09 e 30.
503
Ibidem. p. 31-38,
504
Sobre o negócio na Costa da Mina ver: LOPES, Gustavo Acioli. Negócio da Costa da Mina e o
Comércio Atlântico: tabaco, açúcar, ouro e tráfico negreiro, Pernambuco (1654-1760). São Paulo:
FFLCH/USP, 2008. (Tese de doutoramento), 124-132.
505
[INFORMAÇÃO da Mesa de Inspeção acerca de um requerimento do procurador do Contrato Geral do
Tabaco, Joaquim Inácio da Cruz]. Bahia, 11 de novembro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia, caixa 08, documentos 1356-1363.
506
Nesse processo a Mesa de Inspeção também recebeu várias queixas do contratador geral do Tabaco
José Machado Pinto, no qual expos vários requerimentos relacionados dos poucos direitos pagos aos
contratos, fraudes da seca que prejudicava as lavouras de tabaco. [INFORMAÇÃO da Mesa de Inspeção
acerca de um requerimento do procurador do Contrato Geral do Tabaco, Joaquim Inácio da Cruz e outros
requerimentos do contratador geral do tabaco José Machado Pinto]. Bahia, 11 de novembro de 1754.
Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 08, documentos 1356-1363.
133

Assim, por resolução de 17 de janeiro de 1754, através do consulto do Conselho


Ultramarino, o comércio foi regulamentado com o objetivo de negociar o tabaco de
terceira com escravos e marfim, ao mesmo tempo em que procurava evitar as fraudes e
o contrabando de fazendas introduzidas no Brasil.
Em outro alvará, de 30 de março de 1756, ficou estabelecido que a contadoria do
negócio da África restringisse a quantidade da carga e o tipo de embarcações,
permitindo somente navios pequenos, carregados com até três mil rolos de tabaco.
Deste modo, os comerciantes que possuíam embarcações maiores deixaram de usá-las, e
assim houve uma mudança também na fabricação das embarcações destinadas à África,
bem como o desuso de muitas das que já existiam e não atendiam às exigências do
alvará. Tudo isso ocasionou a redução da frequência dos navios para aqueles portos,
causando prejuízos à agricultura e mineração com a redução do número de escravos507.
Diante do problema com a escassez de escravos, a Mesa de Inspeção entrou com
uma representação ao Rei para que modificasse a generalidade do alvará, “restringindo
o seu rigoroso sentido”. Pedia-se que somente na prática do negócio dos portos de
Guiné o alvará tivesse valia, e que para as demais da Costa de África, fora e dentro do
Cabo da Boa Esperança, admitissem-se os navios maiores que já andavam naquela
navegação. “Inda que para o futuro se não admitam outros de novo que excedam a
lotação de quatro e cinco mil rolos ou duzentas e trinta e cinco toneladas que é o
mesmo508”.
Acerca da regulamentação dos navios do comércio da África, ainda podemos
destacar algumas mudanças na estrutura daqueles utilizados no transporte de escravos,
relacionadas ao tipo e tamanho. Tal adequação visava ao seu “bem estar”, e para isso
deveria haver determinados espaços com passagem de ar, para respirarem em liberdade,
além de um porão que pudesse armazenar água e mantimentos a serem utilizados
durante as viagens. Esses navios deveriam ter como destino os portos da Bahia,
Pernambuco e Rio de Janeiro509, locais onde as Mesas de Inspeção estavam instaladas.

507
[ALVARÁ de 30 de março de 1756 sobre a contadoria do negócio da África]. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 23, documento 4436.
508
[REPRESENTAÇÃO da Mesa de Inspeção da Bahia, dirigida ao rei, acerca da lotação dos navios que
podiam fazer o comércio para os diferentes portos da África. Bahia, 26 de julho de 1759]. Arquivo
Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 23, documento 4436.
509
Além disso, há também uma copia da lei de 18 de maio de 1684 que regulamentava a condução dos
escravos dos portos africanos para o Brasil. [OFICIO do Vice-Rei Conde dos Arcos para Thomé Joaquim
da C. Corte Real, informando acerca da arqueação dos navios que transportam escravos de Angola e
outros Portos da África para o estado do Brasil]. Bahia, 18 de janeiro de 1759. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 21, documentos 3932-3950.
134

Essas medidas apresentadas foram apenas transitórias, sendo modificadas depois de


1758, com a mudança de estrutura do tráfico, quando a Fazenda Real passou a deter o
monopólio do tráfico de escravos e marfim ao mesmo tempo em que estabeleceu a
responsabilidade da Mesa em regulamentá-lo.
Nessa conjuntura, o comércio entre Portugal o restante do Império Português e o
Brasil foi dominado pelo comércio de escravos e pelo açúcar, e estava aberto a todos os
portugueses sob pagamento de uma taxa. O recolhimento dessas taxas era arrendado,
mediante um contrato, a um contratador, que estendia as avenças aos traficantes510.

5.2 Regulamentação e estrutura do tráfico pela da Mesa de Inspeção

Em meados do século XVIII, observa-se um esgotamento das fontes de


aprovisionamento da Costa da Mina e a deslocação do grosso do tráfico para Angola511,
correspondendo ao período de atuação das companhias pombalinas. De acordo com
João Carlos Rodrigues, o monopólio português em Angola foi mais intenso, ao
contrário de outras regiões da África, onde muitas nações participavam do tráfico512.
Nesse sentido, em janeiro de 1758, a Coroa Portuguesa decretou mais alvarás
referentes ao comércio de escravista. O primeiro, de 11 de Janeiro, determinava o livre
comércio em Angola, e que qualquer pessoa poderia fazer o resgate de escravos, sem
monopólio. Havia, no entanto, um controle sobre esse comércio com a cobrança de
direitos e número estipulado de escravos por embarcação, além da necessidade de os
negociantes informarem e apresentarem despachos e comprovantes de pagamentos dos
direitos reais aos administradores dos portos, e, principalmente, a determinação de que
os navios só poderiam atracar nos portos do Brasil onde existissem as Mesas de
Inspeção instaladas. A pena, no caso do não cumprimento dessas determinações, era o

510
Frédéric Mauro. Portugal e o Brasil: a estrutura política e econômica do Império, 1750-1808. In.:
Leslie Bethell. História da América Latina: América Latina Colonial. vol.1. 2ª ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. p.462.
511
, Nuno Luís Madureira. Mercado e Privilégios: A indústria Portuguesa entre 1750 e 1834. Lisboa:
Editorial Estampa, 1997 p. 94
512
João Carlos Rodrigues. Pequena História da África Negra. São Paulo: globo. Brasília: Secretaria da
cultura da presidência da republica: Biblioteca nacional. 1990, p.116-117.
135

confisco do navio e o pagamento do valor de sua carga513.


Já o segundo alvará, de 25 de janeiro de 1758, foi adotado para corrigir as falhas
e confusão sobre a arrecadação dos direitos dos escravos e da falta de clareza em se
preencher e proceder com os despachos. O mesmo atribuiu à Mesa de Inspeção a tarefa
de receber os escravos nos portos e fazer os devidos registros, que deveriam ser
efetuados tanto na saída como na chegada desses e do marfim, utilizando guias e
certidões. Esses alvarás representaram, assim, mais uma medida para o reforço do
exclusivo colonial. Os registros auxiliavam na fiscalização, dificultavam as fraudes e
controlavam o comércio e lucros da Coroa. A pena, neste caso, para quem infringisse
essa determinação era a confiscação das embarcações e o pagamento da metade do valor
da carga que transportavam, isso aos mestres que não fossem proprietários dos mesmos
navios. O alvará informava ainda sobre os novos contratos, impostos, novos direitos e
quantidade de escravos por navio para evitar lotação – e estipulava medidas também
para o marfim que deveriam entrar em vigor em 05 de janeiro de 1760514.
Com relação à liberdade de comércio, Cristiana Ferreira Lyrio Ximenes afirma
que houve uma diminuição na centralidade de Lisboa em relação ao monopólio e ao
controle das rotas ultramarinas e, como resultado, a ampliação e o fortalecimento das
comunidades mercantis locais, “cujos interesses comerciais suplantavam, muitas vezes,
as instâncias metropolitanas515”. Mas decretar o livre comércio com a Costa Africana
não significava que a Coroa perdeu a sua centralidade, pelo contrário, a liberdade de
comércio só assumiu nova estrutura mas com o controle por meio das Mesa de Inspeção
e das companhias de comércio do Grão Pará e Maranhão e de Pernambuco e Paraíba,
que deteve o exclusivo do comércio no Nordeste do Brasil.
Segundo José Ribeiro Junior, o comércio de escravos constituiu-se, desde sempre,
numa das mais seguras fontes de renda para os homens de negócio de Portugal e
configurou uma dinâmica dos mercadores metropolitanos, pois grande parte era oriunda
de Portugal516. Para Jacob Gorender, no referente ao Brasil, o tráfico africano esteve

513
[ALVARÁ de 11 de janeiro de 1758 sobre o livre comércio de Angola e dando certas providencias ao
mesmo respeito]. António Delgado da Silva. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última
Compilação das Ordenações: suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense,
1828. Fl. 584-586.
514
[ALVARÁ de 25 de janeiro de 1758 que esclarecia alguns pontos sobre os escravos e marfim de
Angola]. In.: José Roberto Monteiro de Campos Coelho e Sousa. Sistema, ou Coleção dos Regimentos
Reais. Lisboa: Oficina de Francisco Borges de Sousa, 1783. Fl. 106.108.
515
XIMENES, Cristiana Ferreira Lyrio. op. cit., p 86.
516
José Ribeiro Júnior. Alguns aspectos do tráfico escravo para o nordeste brasileiro no século XVIII.
Anais do VI Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História – ANPUH. Goiânia, setembro
1971, p. 05 e 08.
136

sempre aberto à iniciativa particular, à exceção de breves períodos, quando constituiu


privilégio da Coroa ou de companhias de comércio. “Em regra, representou negócios de
traficantes especializados517”.
A implementação do novo contrato518 de 26 de janeiro de 1758 tinha como
objetivo acabar com o monopólio particular dos contratadores de escravos e marfim.
Nele, a respeito do direito da negociação, ficou “arrematado na conformidade do
sistema de um comércio livre a comum interesse dos vassalos de S. M. e exclusivo de
todos os monopólios d e particulares que são também relativas às duas leis de 11 e 25 de
janeiro de 1758519”. Sobre esses alvarás, Manolo Florentino afirma que decretavam o
comércio livre de escravos e era um reconhecimento da Coroa “sobre a debilidade
comercial metropolitana para financiar o tráfico520”.
No contrato de 12 de dezembro de 1759, percebemos que a Mesa de Inspeção
passa a ser responsável pelo recebimento dos escravos e marfim no Brasil e o seu
respectivo pagamento. Na ausência do dinheiro para esse fim, deveria ser realizado com
letras sobre os portos do Brasil, e, no caso do não pagamento, os escravos eram
apreendidos até a execução das dívidas. Além disso, estipulava que o governador e os
oficiais da Câmara não poderiam interferir direta ou indiretamente nas condições do
contrato ou perturbar o contratador de escravos ou a seus procuradores e feitores na
arrecadação e administração, garantindo jurisdição somente à Mesa de Inspeção 521. No
desembarque dos escravos, só era permitida a presença do provedor da Fazenda Real
com o escrivão da feitoria e um deputado da Mesa de Inspeção 522. A organização e
fiscalização do tráfico de escravos e marfim por Pombal foi colocada em prática,
utilizando três órgãos chaves: Junta da Real Fazenda de Angola, Mesa de Inspeção e
Erário Régio523.

517
Jacob Gorender. Op. Cit. p.517.
518
Sobre os contratos de Angola ver: Maurício Goulart. op. cit., p. 192-193.
519
[PROVISÃO para a Junta da Administração da Fazenda Real de Angola, dando orientação sobre como
proceder com o sistema de Livranças e do monopólio]. Lisboa, 18 de agosto de 1768. Arquivo do
Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
520
Manolo Florentino. Op. Cit. P. 119.
521
Essa medida procurava resolver os conflitos de jurisdição existente entre a Mesa de Inspeção e os
outros órgãos administrativos da colônia. Sobre isso ver capitulo VI.
522
[CONTRATO dos direitos dos escravos e marfim do Reino de Angola de 12 de dezembro de 1759].
In.: António Delgado da Silva. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última Compilação das
Ordenações: suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense, 1828. Fl. 704-719.
523
“Pombal, ao criar o regime de centralização das finanças públicas no Erário Régio, concentrava nas
suas mãos todo o poder de expedir ordens no tocante as despesas, retirando dos tesoureiros e almoxarifes
o direito de fazer pagamentos e aos tribunais da Fazenda de arrecadar as receitas. Para efeitos fiscais era o
Reino dividido em 4 contadorias, separadas e distintas, à frente das quais se encontrava um chefe ou
contador geral e quatro escriturários. Competia à primeira destas repartições ou contadorias fazer entrar
137

Sobre essa questão, o contratador de escravos Manoel Eleutério enviou um


requerimento logo depois que findou o seu contrato em 05 de janeiro de 1766,
queixando-se de que os seus administradores, Raimundo Ialamá e Manoel Cardoso da
Silva, excederam no uso das livranças, que eles chamavam regalia ou costume, havendo
passado muitas para os seus interesses particulares com prejuízo do contrato e da Real
Fazenda. Em consulta da Companhia Geral de Pernambuco para o Conselho
Ultramarino em 07 de julho de 1768, queixava-se também de que os administradores do
atual contrato de Angola ao mesmo tempo passavam uma parte das livranças com o
dinheiro líquido e pela outra parte não queriam receber em pagamento dos direitos
devidos ao contrato, quando são os credores. Com todas essas reclamações, D.
Francisco de Souza Coutinho concluiu, em sua carta, alertando à Coroa de que as
mudanças exercidas em Angola e da navegação e comércio do Brasil naquela parte da
África “tem feito e foram ineficazes enquanto a Coroa não acabar com as livranças e
monopólio dos contratadores, raízes que brota flagelo sobre a navegação e sobre o
comércio em Geral e particular524”. Em carta de 2º de agosto de 1768, o governador de
Angola – Dom Francisco Inocêncio de Souza Coutinho – expôs “a tão prejudicial e
deplorável calamidade pela qual se passavam as colônias de sua jurisdição devido ao
abuso das livranças525 e do monopólio que os contratadores de escravos e marfim têm
feito a favor do exclusivo o comércio das mesmas colônias526”.

no Tesouro todas as quantias entregues pelos carregadores, provedores, juízes, almoxarifes, tesoureiros,
recebedores, contratadores das rendas e direitos reais da Corte e província da estremadura; à segunda
promover a entrega dos direitos e rendas das correições, provedorias, tesourarias, recebedorias e contratos
das províncias do Reino e ilhas dos açores e Madeira; Á terceira contadoria arrecadar as rendas das
provedorias, recebedorias e contratos da África Ocidental, Maranhão e do Território da Relação da Bahia;
quarta promover a entrada dos produtos das provedorias e tesourarias, recebedorias e contratos do
território e governos do Rio de Janeiro, África oriental e Ásia. No início do século XIX, diante dos
acontecimentos da invasão francesa, o Erário Régio foi submetido a profundas alterações e em decreto de
1808 foram extintas as Contadorias gerais do Rio de janeiro, África Oriental, Ásia e a do Maranhão,
Bahia e África Ocidental “por se acharem presentemente interrompidos os negócios Ultramarinos e de
haver cessado a expedição dos objetivos de finanças que lhe eram relativos e devendo começar-se pelos
que instam mais”. Por decreto de 28 de junho de 1820, as duas contadorias Ultramarinas são convertidas
numa só, sob a designação de Contadoria Geral do Rio e Bahia, tendo em atenção o decréscimo do seu
expediente”. Fundo Geral do Erário Régio, nº 4258, pp. 22-26, 30-32. In: Alzira Teixeira Leite Moreira.
Inventário do Fundo Geral do Erário Régio do Arquivo do Tribunal de Contas. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1977.
524
[DEMONSTRAÇÃO da ruína em que se acha o Reino de Angola e os outros de sua dependência].
Agosto de 1768, Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
525
Segundo o dicionário Michaelis livrança era uma ordem para pagamento, feita por escrito ou
Conhecimento de um gênero recebido, para poder ser paga a sua importância. Para os Portugueses
constituía um cabedal imaginário, moeda falsa que tinha valor somente no Reino de Angola e Benguela e
que impedia os traficantes de terem os seus retornos, pois só poderiam exclusivamente fazer negócio com
os contratadores.
526
[DEMONSTRAÇÃO da ruína em que se acha o Reino de Angola e os outros de sua dependência].
Agosto de 1768, Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
138

Diante dessa situação, um decreto aboliu o Contrato dos Direitos dos Escravos
de Angola e ordenava que a sua administração ficasse a cargo da Fazenda Real 527. Pelo
contrato, o comércio de escravos de Angola, Congo, Benguela e mais regiões da África
tinha ficado livre. O mesmo proibia todos os monopólios, reduzindo a dita arrematação
e suas condições ao simples arrendamento dos direitos de saída dos escravos, do marfim
e ao estanco deste produto. O decreto denunciava o contratador Domingos Dias da
Silva, que introduziu vastíssimas carregações de todos os gêneros e espécies de
fazendas, que vendia sem concorrência por preços excessivos, absorvia com os valores
delas todas as letras em que Angola se sacavam sobre os portos do Brasil com os
direitos dos escravos e marfim, deixando para o pagamento de outros traficantes
somente as chamadas livranças, alegando que em Angola não havia moeda. Dessa
forma, “em socorro dos vassalos, oprimidos com as vexações e com as livranças 528, e
das ações dos contratadores e administradores que sempre inventam malícias e novas
extorsões por abusos, que o Rei aboliu permanentemente o contrato529”.
Diante desse contexto, a Mesa de Inspeção da Bahia representa um papel
fundamental na reorganização do comércio de escravos e marfim. A mesma, nessa
reestruturação, recebeu uma provisão com cópia dos parágrafos em que se contêm
obrigações para serem executadas e instruções de como se deveriam praticar
corretamente a administração dos direitos dos escravos e do marfim do Reino de
Angola530, e, com isso, garantia a arrecadação para a Fazenda Real. Pombal, por sua
vez, informava à Mesa de Inspeção da Capitania da Bahia que o Contrato de Escravos e
do Marfim do Reino de Angola foi abolido “por justíssimos motivos, que deram ocasião
à lei de cinco do corrente mês de Agosto, e que para sempre ficasse extinto o Contrato
dos Direitos dos escravos do Reino de Angola531”.
Ficou determinado que os direitos, como também o estanco do marfim, fossem
administrados por conta da Fazenda Real pela Junta da Administração e Arrecadação
estabelecida em Angola, e que as Mesas de Inspeção dos Portos do Brasil tivessem à
sua disposição as cobranças das letras que os despachantes passariam no dito Reino de

527
[COMPLEMENTO ao decreto que aboliu o contrato dos escravos de 25 de janeiro 1758]. 5 de agosto
de 1769. Arquivo do Tribunal de Contas, Erário Régio: Livro 4193.
528
Cf. Maximiliano Mac Menz. As “Geometrias” do Tráfico. Revista de História. São Paulo, n. 166, p.
185-222, jan-jun. 2012. P. 206.
529
Idem.
530
[PROVISÃO para a Mesa de Inspeção da Bahia com suas obrigações com a administração dos direitos
dos escravos e marfim]. Lisboa, 18 de agosto de 1769. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio:
Livro 4218.
531
Ibidem.
139

Angola pelos direitos que não pudessem ali pagar com dinheiro; como também os
pagamentos das letras da Fazenda Real, que a referida Junta da Administração devia
passar sobre as ditas Mesas de Inspeção, a encontro dos mesmos direitos; e, finalmente,
a recepção e a remessa para Lisboa de todas as partidas de marfim que a Junta da
Fazenda lhes remetia. Assim, era necessário que a Mesa da Bahia executasse o disposto
nas ordens deste negócio e se expedisse à Junta da Administração e Arrecadação da
Fazenda Real de Angola com data de 14 de agosto. Nas disposições, ficam claras as
obrigações da Mesa de Inspeção532, bem como a relação direta com as instituições
coloniais em Angola para a “Administração Mercantil533”.
Uma provisão para a Junta da Administração da Fazenda Real de Angola, dando
instrução sobre o abuso das livranças534 e sobre a iniquidade do monopólio, foi criada

532
No mesmo documento há uma informação que a Mesa de Inspeção na sua carta de 20/12/1769 avisa
que fica de acordo com as determinações da Coroa a esse respeito.
533
[PROVISÃO para a Mesa de Inspeção da Bahia com suas obrigações com a administração dos direitos
dos escravos e marfim]. Lisboa, 18 de agosto de 1769. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio:
Livro 4218.
534
A primeira solução para evitar o uso das Livranças e do monopólio foi enquadrar tais atividades como
crimes e os contratadores como réus, depois com ações de retirar as livranças da praça de Angola e de
acabar com o contrato existente, tornando livre o comércio de escravos e marfim de suas possessões na
África. Além disso, o segundo recurso foi o de acabar com as livranças e determinar que o governador de
Angola, executasse algumas ações necessárias à organização da economia: primeiro começando pelo
sequestro geral e apreensão de todas as fórmulas impressas em que se costumaram levar até o momento as
livranças, em seguida encaminhando-as à junta da Fazenda, sendo, então seladas, fechadas e remetidas à
presença do Rei pela secretária de estado competente; como segunda ação, depois de recolhidas as
livranças, dever-se-ia publicar a lei com o termo de quinze dias dentro das cidades de Angola, Congo,
Loango, Benguela e presídios adjacentes declarando nulas as livranças, sem nenhum valor, e quem as
tivessem depois da aplicação da lei seriam castigados sob pena de falsidade; a terceira ação se dava após
as livranças serem separadas em classes, por contratador, devendo ser, então, numeradas desde o número
1 até aquele que se estender a referida classe, sempre sem interrupção dos mais modernos para os mais
antigos, até que as livranças sejam realmente extintas; a quarta ação era a de notificar os contratadores
para que comparecessem em até dez dias para realizar o pagamento das ditas livranças com dinheiro,
letras ou mercadorias; em quinto lugar, devia-se efetuar o pagamento das dívidas existentes; em seguida
havia a captura dos administradores contratadores e sequestro dos seus bens, que também deviam
responder pelos fatos dos ditos administradores, por eles nomeados e propostos ao público; em sétimo e
último lugar, em caso de falência, dever-se-ia fazer um registo geral das livranças falidas com as
declarações da importância de cada uma e das pessoas a quem pertenciam até o completo pagamento
delas534. Tendo em vista tudo isso, a terceira solução foi estabelecer as estruturas de reciprocidade
comercial entre Angola e Brasil, através de regras que fossem aceitas nos dois lugares com base em letras,
cabedais e crédito. E é aqui que as Mesas de Inspeção do Brasil desempenham um papel fundamental,
pois a Mesa representava o elo entre o Brasil e a África, a qual deveria informar os comerciantes sobre as
novas medidas, as livranças e o monopólio dos contratadores e administradores das rendas reais de
Angola, para que os negociantes da primeira ordem reconhecessem os “sólidos fundamentos do comercio
e os verdadeiros interesses de um bom comerciante que sempre são inseparáveis dos do bem público”.
Em resposta, de 20 de dezembro de 1769, a Mesa de Inspeção da Bahia afirmou que ficava de acordo com
as determinações da Coroa. O quarto remédio era combater a falta de moeda, através das letras, e o quinto
remédio se referia a redução das despesas do Estado. “Demonstração da ruína em que se acha o Reino de
Angola e os outros de sua dependência. Agosto de 1768”, Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio:
livro 4193.
140

em 18 de agosto de 1768535. Esta explica como era o funcionamento das livranças e


como era constituído o monopólio dos contratadores de escravos e marfim, como
também apresenta os “remédios para acabar com esses dois males” que tanto
prejudicava a Fazenda Real536. A provisão ainda caracterizava os contratadores como
réus de crimes graves, como de simulação e falsidade, utilizando moeda falsa e
arruinando o comércio e o crédito público de Angola, Brasil e do Reino. O crime do uso
das livranças como de moeda falsa, expressa na ordenação do livro 5º, título 12 também
não dificulta o outro subterfúgio de que a “referida prática se estabeleceu e continuou
com ciência e paciência dos governadores, ouvidores e juízes de fora de Angola. Mas a
partir dessa data informou o atual governador para pedir remédio de tão perniciosos
males537”. Já outro crime era o de monopólio dos tais contratadores e poderia ser
cometido de forma declarada ou quando se usava os meios indiretos e por conjurações
criminosas com o uso de artifícios de impedir outros cidadãos de comercializarem e
transportarem as suas mercadorias, e isto é o que tem feito os contratadores de
Angola538.
Ao mesmo tempo em que combatia os vícios praticados pelos contratadores nos
negócios entre a África e Brasil, a Coroa Portuguesa elaborava e tomava medidas que
garantiriam a rentabilidade do tráfico de escravos e marfim à Real Fazenda, reservando
para si o monopólio desse comércio. Tendo em vista tal situação e com base nas
memórias sobre os produtos do contrato de Angola, temos uma ideia clara do lucro que

535
De acordo com a provisão o monopólio do comércio acontecia da seguinte forma: 1º os contratadores
introduziram por sua conta um grande número de fazendas próprias, fazendas compradas com os mesmos
direitos do contrato e da Real Fazenda, e absorveu necessariamente a maior parte do consumo dos
gêneros que se podiam fazer nas terras contratadas. 2º os mestres e equipagens dos navios acima
indicados que ao mesmo tempo carregam pequenas partidas de fazendas próprias com o dinheiro de risco
e outras partidas alheias por comissão eram lançados fora do miúdo trafico, pois recebem em Livranças
que nada são como escravos e assim ficam impossibilitados por ambos os referidos modos de usarem as
livranças em outro mercado e adquirirem outras mercadorias. [PROVISÃO para a Junta da
Administração da Fazenda Real de Angola, dando orientação sobre como proceder com o sistema de
Livranças e do monopólio]. Lisboa, 18 de agosto de 1768. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio:
livro 4193.
536
[PROVISÃO para a Junta da Administração da Fazenda Real de Angola, dando orientação sobre como
proceder com o sistema de Livranças e do monopólio]. Lisboa, 18 de agosto de 1768. Arquivo do
Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
537
De acordo com o documento, “o crime de monopólio se cometia quando a liberdade de vender se
reduz a uma só pessoa ou a poucas outras com ela coligadas, as quais comprando todas as mercadorias
para as venderem pelo único e particular arbítrio por preços definidos. Aumentando o valor das outras.
Servindo assim a avareza, ferindo ao prejuízo ao público e vedando assim o uso dos contratos de
permutação de compra e venda”. [PROVISÃO para a Junta da Administração da Fazenda Real de
Angola, dando orientação sobre como proceder com o sistema de Livranças e do monopólio]. Lisboa, 18
de agosto de 1768. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
538
Ibidem.
141

se tinha e que podia ser administrado pela Fazenda Real539. Sobre tais produtos do
contrato de Angola – que apresentavam um cálculo do contrato dos escravos e do
marfim pelo então contratador Domingos Dias da Silva, do período de 5 de janeiro de
1760 a 4 de janeiro de 1766 – percebemos que o lucro dos contratadores passava a ser
então da Real Fazenda. Assim “foi a contratação de cada ano de 12295 escravos e 39
crias, que importaram os Direitos deles 101.711$700 réis. E sendo o preço do contrato
88.030$000 réis, vieram a ganhar os contratadores 13.681$700 réis cada ano e nos seis
contratos 82.090$200 réis540”.
O cálculo do marfim, por sua vez, para o mesmo sexênio foi de 336 quintais, 3
arrobas e 9 arreteis de marfim anuais, cujos direitos importaram 1.352$354 réis cada
ano e, em todo o sexênio, 8.114$024 réis, que mais acrescentaram aos contratadores.
Com relação ao estanque para esse mesmo período, constou primeiro, no que se refere
aos preços, que os contratadores pagavam pelo marfim em Angola 28$000 réis por cada
quintal da primeira sorte ou chamado de conta, ou de lei, 16$000 réis pela segunda sorte
ou chamado mião e 8$000 pela de terceira sorte ou chamado miúdo ou escravelho;
depois que os contratadores importavam por ano do marfim 7:887$156 réis; também
que em Lisboa o marfim de primeira e segunda sorte foi vendido por 50$000 réis por
quintal sem distinção e o miúdo a 27$500 réis, resultando anualmente 16:407$577 réis.
Constou-se ainda que, com esses cálculos, os contratadores ganharam no mesmo
sexênio pelo menos 4 contos de réis líquidos do referido gênero, os quais “seria útil que
fiquem nos cofres da Real Fazenda em comum benefício e não com os contratadores”.
Estava disposto ainda que este lucro se podia fazer extraindo anualmente dos cofres da
Fazenda Real os vinte mil cruzados que o marfim custa nas mãos dos mesmos primeiros
vendedores, para voltarem no ano seguinte aos mesmos cofres com os grandes avanços
acima referidos; e finalmente que o referido lucro não é de menos que 130:204$224
réis com os quais “é melhor utilizar a Real fazenda em comum benefício dos povos, das
fortalezas e da artilharia e apetrechos delas do que dá-los aos contratadores para os
converterem nas ruinas do dito reino e nas vexações dos habitantes dele e dos
negociantes do Brasil541”.
De acordo com José Carlos, seria errado pensar que todo o marfim exportado de
Angola passasse pela grelha da Fazenda Real, pois muito dele era exportado

539
[MEMÓRIA sobre os produtos do contrato de Angola que dá uma ideia clara do lucro com que pode
ser administrado pela Fazenda Real]. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
540
Ibidem.
541
Ibidem.
142

ilegalmente, em geral, comprado por estrangeiros que se aproximavam da costa, a norte


e a sul de Luanda. Além do mais, “as categorias estabelecidas pela fazenda real apenas
valiam para o marfim não-trabalhado, tendo assim os particulares outro meio à
disposição, que não o ilegal, para realizarem o seu negócio com este produto.
Trabalhavam-no e, por esta razão, poderiam exportá-lo livremente542”.
Logo depois que a Secretaria de Estado tinha feito cálculos em relação ao
comércio de marfim, o governador Dom Francisco Inocêncio de Souza Coutinho,
juntamente com o escrivão da Feitoria Real de Angola, Miguel Ribeiro da Fonseca,
escreveu relatando os rendimentos do dito contrato dos anos de 1765, 1766 e 1767, nos
quais tinha excedido 154:370$962 réis a todos os outros precedentes triênios, e como
consequências, concluiu-se que os “lucros da Fazenda Real em arrecadar a
administração do contrato são muito maiores do que antes se tinha percebido543”.

5.3 A Prestação de Contas da Mesa de Inspeção do comércio de Escravos e marfim


ao Erário Régio.

Depois de constatar os grandes lucros com o contrato dos escravos e do marfim,


a Coroa alterou a administração do contrato pela provisão de 14 de agosto de 1769, que
o tornou extinto na região do Reino de Angola e passou a ser administrado pela Fazenda
Real e pela Junta da Administração e Arrecadação de Angola, estabelecida na cidade de
São Paulo de Assunção544. De acordo com essa, a arrecadação dos direitos dos escravos
e marfim passaria a ser executada de acordo com o alvará de 25 de janeiro de 1758,
pelos oficiais da alfândega, recebendo a importância dos mesmos direitos – ou em
dinheiro ou em letras seguras dos despachantes e pagáveis às Mesas de Inspeção dos
portos do Brasil545, ou em dinheiro ou em letras que a Junta da Fazenda Real deveria

542
José Carlos Venâncio. A Economia de Luanda e Hinterland no Século XVIII: um estudo de sociologia
histórica. Ed. Estampa. Lisboa, 1996. p. 166.
543
[MEMÓRIA sobre os produtos do contrato de Angola que dá uma ideia clara do lucro com que pode
ser administrado pela Fazenda Real]. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
544
[PROVISÃO para a Junta da Real Fazenda de Angola sobre a administração dos direitos dos escravos
e marfim], Lisboa 14 de agosto de 1769. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
545
Além disso, “não deveria ser admitidas as desavenças entre os administradores do contrato com os
mestres ou capitães das embarcações que até aquele momento costumava praticar para estes se obrigarem
à satisfação dos direitos de todos os escravos que conduziam, passando letras e tomando para si a falência
143

publicar todas as saídas dos navios de Angola – observando as condições necessárias


dos direitos do comércio de tais itens para “que estas fossem realizadas nos portos da
América em moeda física546”, nesse caso, nas Mesas de Inspeção.
Pela provisão de 14 de agosto de 1769, foram enviadas orientações para a Junta
da Real Fazenda de Angola sobre a administração dos direitos dos escravos e marfim e,
de acordo com ela, ficou determinada a atuação da Mesa de Inspeção, que ficaria
responsável pela navegação e comércio de escravos dos portos africanos. Antes dessa
provisão, os navios oriundos da África davam entrada nos portos do Brasil, “que era
feita na casa dos administradores [do contrato dos escravos], agora deveriam fazer
perante a Mesa de Inspeção para que não possam fraudar os direitos547”. Contudo, pelo
novo método de arrecadação, ficou admitido passar letras pelos direitos dos escravos
que embarcavam todos os contratadores de escravos e, até mesmo, os marinheiros dos
navios e outros passageiros destituídos de bens e de estabelecimento, os quais, muitas
vezes, embarcavam somente dois ou três escravos – que ocasionalmente morriam na
viagem, o que dificultava os pagamentos das letras que esses comerciantes tinham
passado. Assim, em semelhantes casos, fazia-se indispensável que os passadores das
letras prestassem caução perante a Junta da Administração da Fazenda, para garantir
direitos. Esta diligência não poderia ser considerada um ônus ao comércio, pois era uma
ação praticada em todas as alfândegas onde se dava fiança pelos direitos que não
pagavam na saída ou em lugar diferente, como nos portos do Brasil ou de Portugal548.
Na saída dos escravos e marfim de Angola, ficava determinado o modo de se
depositar os direitos nos cofres das Mesa de Inspeção da América. Restava determinar
igualmente a validade dos direitos deles na Junta da Administração da Fazenda Real
para suprir a todas as suas despesas e para remeter ao Real Erário o rendimento
excedente a elas. Para esse fim, a Junta da Administração da Fazenda Real de Angola
“passava letras sobre os presidentes e deputados das Mesa de Inspeção dos portos da
América, pagáveis aos portadores delas a sessenta dias vistas e registrar os livros

dos mais carregadores, mediante prêmio de 3 a 4 %, mas somente se praticaria cada um dos particulares o
despacho dos escravos que carregasse, passando ele mesmo as letras dos direitos que deveria, quando não
podia paga-los em dinheiro. Portanto, declarava o fim da cobrança dos 3 a 4 % que os metres
costumavam cobrar e que assim, excluíam os outros carregadores”. [PROVISÃO para a Junta da Real
Fazenda de Angola sobre a administração dos direitos dos escravos e marfim], Lisboa 14 de agosto de
1769. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
546
Ibidem.
547
Ibidem.
548
[PROVISÃO para a Junta da Real Fazenda de Angola sobre a administração dos direitos dos escravos
e marfim], Lisboa 14 de agosto de 1769. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
144

referentes à Mesa de Inspeção, a quem se devem passar as referidas letras no decurso de


1 ano549”.
Para evitar a fraude das letras na Mesa de Inspeção, deveria ser preenchido um
talão com uma folha duplicada, sendo uma entregue e a outra, em forma de canhoto,
seria arquivada em livro, servindo de registro para o caso de dúvida a respeito de
falsificação. Nesse caso, poderia-se, então, pela união de mesma letra ao lugar donde foi
extraído, certificar a verdade ou a falsidade da letra que representava valores físicos e
realmente existentes nos cofres das ditas Mesas de Inspeção. Destarte, a Coroa
determinava que as letras seriam pagáveis a quem fosse portador delas, estas continham
requisitos de segurança, poderiam ser usadas como bilhetes de banco e poder girar como
moeda corrente no Reino de Angola550.
Ficava determinado também que, em cada navio que saísse de Angola para
qualquer dos portos da América, a Junta da Administração da Fazenda Real tinha
obrigação de mandar às respectivas Mesas de Inspeção as letras dos despachantes com
os avisos competentes, para que essas instituições tivessem o devido cuidado nas
cobranças, declarando o valor de cada uma pelo seu número. Já as Mesas de Inspeção
teriam obrigação de mandar, igualmente em cada um dos navios que saíssem do Brasil
para Angola, uma relação exata das letras que houverem cobrado dos despachantes e
outros iguais, bem como daquelas que houvessem cobrado dos despachantes e outra
igual relação das letras à Fazenda Real, que tivessem pago. Tudo isso constituía um
rigoroso controle das letras entre a Real Fazenda de Angola e a Mesa de Inspeção, com
uma minuciosa informação sobre as devidas letras, para evitar fraude, como também
para as duas instituições estarem cientes a todo o tempo dos números e valores que
foram resgatados e das letras que ainda circulavam no comércio551.
Esse controle se fazia necessário porque muitas das ditas letras passadas pela
Junta da Administração da Fazenda Real poderiam voltar aos cofres dela em pagamento
de direitos ou de quaisquer outras dívidas. O esperado era não haver a menor dúvida em

549
Ibidem.
550
O giro não era obrigação por parte da Coroa, mas era somente por permissão ao bem do comércio. De
maneira que todo o portador que quiser logo imediatamente depois de receber uma letra, ir ou manda-la
apresentar na Mesa sobre que for passada, terá logo no prazo da mesma letra o pagamento certo. E para
facilitar o giro do comércio a Junta poderia passar as letras na forma grossa ou miúda conforme as
circunstancias e vontade das pessoas que as tomarem. E até será útil ajustarem-se alguns pagamentos com
diversas letras miúdas, a fim de poderem melhor servir na circulação do comércio. [PROVISÃO para a
Junta da Real Fazenda de Angola sobre a administração dos direitos dos escravos e marfim], Lisboa 14 de
agosto de 1769. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
551
Ibidem.
145

se aceitarem como moedas, porém estas deveriam ser separadas das que eram relativas a
cada uma das inspeções. Isso porque era costume formarem-se dos ditos bilhetes das
alfândegas e de novo se iam distribuindo as mesmas letras nos pagamentos futuros, de
sorte que formalmente iam a ter o seu último efeito na Mesa de Inspeção em que foram
passadas552.
Com relação ao marfim, este não somente pertencia ao cuidado da Junta da
Administração da Fazenda Real como a arrecadação dos seus direitos, cuja extração
deveria passar pela mesma regulamentação que a dos escravos. A Junta da Real Fazenda
de Angola deveria cuidar da sua extração e promoção, sendo o seu pagamento efetuado
através das letras sobre as Mesas, muito “mais seguramente do que até agora as faziam
os contratadores com as suas chamadas livranças553”. O item deveria ser remetido para
os costumados portos da América ou a Lisboa – quando houvesse a ocasião de assim o
praticar, fazendo-se assinar conhecimento por conta e risco da Fazenda Real
acompanhando-se das competentes faturas em forma mercantil.
Era preciso ainda dividir e marcar o marfim de acordo com as suas qualidades,
assim como era realizado com o açúcar e tabaco. Com as carregações do dito marfim,
que a Junta expedia para os portos da América, eram mandadas ordens às Mesas de
Inspeção para que nas ocasiões oportunas de saída dos navios fossem remetendo o dito
gênero para Lisboa, com faturas em que ajuntassem as despesas dos referidos Portos,
assinando conhecimento que haveriam de remeter ao tesoureiro Mor do Real Erário,
igualmente feitos por conta e risco da Fazenda Real, a entregar na casa da Índia ao
tesoureiro dela. Do mesmo modo, dirigiriam a Junta àquelas partidas que mandariam
direto para Lisboa554. Assim, haveria um maior controle do marfim que seguia o
seguinte trajeto: Junta da Real Fazenda de Angola – Mesa de Inspeção – Tesoureiro
Mor – Erário Régio – Casa da Índia. Tudo isso era documentado e transformado em
mapas que eram enviados anualmente em duas vias ao Erário Régio independentemente
das certidões dos rendimentos e despesas gerais da Fazenda Real555.
O enquadramento fiscal e administrativo do “comércio triangular”, referente ao
imediatamente exposto, não se fez sem problemas, pois a cobrança de rendimentos
sobre os direitos de extração e de comércio de produtos coloniais – e ainda os impostos
que incidem sobre a população residente – depara-se com uma estrutura administrativa

552
Ibidem.
553
Ibidem.
554
Ibidem.
555
Ibidem.
146

que não acompanha o rápido crescimento da população e da atividade econômica556,


isso afetou tanto o Brasil como as possessões africanas.
Para que o novo sistema de arrecadação colonial ocorresse de forma precisa e a
prestação de contas fosse clara, a Coroa enviou instruções de como deveriam ser
preenchidos os livros de registo das contas do Reino de Angola. Dentre essas instruções,
algumas eram dirigidas diretamente às Mesas de Inspeção do Brasil, que deveriam
observar toda a escrituração, registrando as entradas e saídas, prosseguindo com
coerência e sem erro no fundamento. Em muitas ocorrências deveria diferir muito o
método particular das contas da arrecadação do Reino de Angola do método que
praticavam as outras juntas da fazenda pelos diversos objetos que tinha da
administração do estanco do marfim e do depósito dos cabedais nas Mesas de Inspeção,
que se reduzia a uma forma simples, clara e expedita para que o trabalho, que aliás seria
grande, ficasse “visível e suave557”.
De acordo com as instruções do novo método, os livros 558 (um a cada ano)
deveriam ser preenchidos do primeiro dia de janeiro até o último de dezembro. O livro
de receitas e despesas competia à Mesa de Inspeção, que a cada oito dias devia
organizar o livro de receitas e despesas da tesouraria Geral do reino de Angola,
somando as contas para conferir o saldo que resultaria da maior receita do livro com
dinheiro, letras e saldos das remessas e saques que passaram por ela. Assim, o
escriturário apresentaria na Mesa outro balanço extraído da Conta de Caixa e do livro
duplicado de remessas e saques que havia na contadoria, constando a exatidão das
contas. Esta diligência se praticava e era indispensável e de maior importância no Real
Erário. No fim de cada ano, a Tesouraria Geral fazia o ajustamento radical das contas,
aplicável à Tesouraria Geral do Reino de Angola com aquelas diferenças acidentais
existentes no mesmo cofre, mas grande parte dele nos referidos depósitos das
Inspeções559.

556
MADUREIRA, Nuno Luís. 1997, op. cit., p.100
557
[INSTRUÇÕES e método que devem seguir na escrituração das contas da Fazenda Real do Reino de
Angola]. Lisboa 26 de junho de 1772. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
558
Ibidem.
559
“Declaram ali as ditas letras pelos seus números e não pelo valor de cada uma, mas pela importância
total de todas as que perfazem um pagamento .... e quanto às partes também só quando se recebem,
porque ainda que se devem remeter para se realizarem os valores nos cofres das Inspeções, não se lhes
deve por isso dar saída no livro da Receita e despesas, devendo reputar-se aquele cofre das Inspeções
como partes do dito cofre geral, e bastando somente que conste o que em cada hum deles existe, cobrando
ou para cobrar, fazendo parte do saldo que mostrar o dito livro da receita e despesa, no excesso da maior
receita. Essa notícia do que existia em cada um dos cofres das Mesas de Inspeção conseguir-se há por
meio de um livro auxiliar, do qual agora se vai tratar, por que há de servir como de interprete do que der
147

A orientação era que as Mesas de Inspeção deveriam fazer os registos das letras
que se remetiam560, utilizando para tanto um pergaminho que se anexava na folha em
que começavam as ditas remessas e saques, anotando o nome da capitania, como
também dos pagamentos, pois essas instituições poderiam fazer algumas outras
despesas além de pagarem as letras da Fazenda Real – como despesas com recepção e
embarque do marfim; as comissões que a Coroa permitia; algumas remessas para
presídios e finalmente as remessas do resíduo líquido anual para o Erário Régio.
Portanto, evidencia-se toda uma mudança na organização da contabilidade do
comércio colonial oriundo da África e do Brasil, sendo a Mesa de Inspeção o elo
importante entre a Real Fazenda de Angola e o Erário Régio561. Por esse motivo, foi
destinada uma série de recomendações de como os funcionários dessas instituições
deveriam proceder com as contas, a exemplo do que se afirma em alguns documentos
da época, que devem ser feitos com toda distinção e clareza e com facilidade que o de
qualquer outro método, porque pediam um encadeamento de contas muito mais
laborioso, do qual se devia esperar sempre em dia, e que os títulos de remessas e saques
deveriam ser anuais562.
Para este fim se devia advertir que o saldo do cofre de Angola não poderia
consistir senão no dinheiro que existir nele; e em letras da Fazenda Real sacadas sobre
as Mesas de Inspeção que haviam revertido em pagamento ao mesmo cofre e não se
haviam dado ainda em outros pagamentos, como se devem dar segundo o disposto no §
18º da provisão de 14 de agosto de 1769. Além de consistir o saldo no que excederem as
remessas das letras de partes para as Inspeções, aos saques que se houverem feito sobre
elas e “porque este excesso é como dinheiro, podendo dispor dele a toda hora563”.
Com relação às contas do Marfim, algumas observações consistem no custo de
todas as partidas do item, da importância dos seus direitos e de todas as outras despesas
com ele feitas, ou seja, pagas imediatamente pela Junta ou pelas Mesas de Inspeção.
Deveria ser debitada esta conta do marfim e creditada à conta do caixa, de acordo com o

existente o livro da receita e despesa e ao mesmo tempo de conta corrente com as Mesas de Inspeção; de
sorte que até faça desnecessária outra conta com elas”. [INSTRUÇÕES e método que devem seguir na
escrituração das contas da Fazenda Real do Reino de Angola]. Lisboa 26 de junho de 1772. Arquivo do
Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
560
Não há menção nos documentos aqui consultados no Arquivo do Tribunal de Contas às Mesas de
Inspeção do Maranhão e da Paraíba.
561
Cf. Andréia Slemian; Claudia Maria das Graças Chaves (orgs.). Obra de Manoel Luís da Veiga. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Chaves, 2012.
562
[INSTRUÇÕES e método que devem seguir na escrituração das contas da Fazenda Real do Reino de
Angola]. Lisboa 26 de junho de 1772. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.
563
Ibidem.
148

livro da receita e despesa do Tesoureiro Geral, ou seja, que o dito saldo exista em
espécie no cofre ou em papéis que ali signifiquem dinheiro ou em remessas depositadas
nas Mesas de Inspeção, confirmado com a dita igualdade do saldo ser a sua importância
a que se deve remeter à tesouraria Mor do Erário Régio 564. Nas Mesas de Inspeção,
deveriam também fazer assinar quatro vias dos conhecimentos das remessas ao Erário
Régio: uma via que expediriam para o Erário Régio com as mesmas remessas e com
cópia das letras de ordem – porque remetiam para o governo; outra que expediriam do
mesmo modo em segundas vias; outras para enviarem à Junta da Fazenda de Angola;
em ordem a lhes ser abonada a quantia remetida e, finalmente, outras para ser título de
remessas enquanto não lhes chegar o conhecimento em forma do Real Erário565. Assim,
todas as repartições que faziam a contabilidade estariam cientes do valor das remessas.
Nesse contexto, a função da Mesa de Inspeção era bem clara: deveria receber os
escravos e marfim, fazer o pagamento, receber os direitos e repassá-los para o Erário
Régio. Os pagamentos eram feitos geralmente através da transferência de letras de
câmbio, com vencimento no Brasil e em Portugal, pois a moeda metálica, para além de
rara, não fazia face à especulação de preços mesmo depois da duplicação do seu valor
nominal em Angola e depois de ter sido substituída por uma moeda de valor regional.
Isso beneficiava muito mais os credores brasileiros e lisboetas, já que o juro praticado
era muito elevado, o que gerava uma dependência dos angolanos em relação aos
brasileiros566. Mas, pela documentação analisada, percebemos que a Mesa de Inspeção
também intermediava a comercialização de outros gêneros, a exemplo de cartas
expedidas pela Mesa do ano de 1772, apresentando as faturas e conhecimentos de 505
pontas de marfim, 21 barris de enxosar e um caixote de salitre que a Mesa carregou por
conta e risco da Real Fazenda nos navios a entregar ao tesoureiro da Casa da Índia. E
“todos os ditos gêneros se receberam bem acondicionados na Alfândega da mesma casa
e deles se tomou a devida lembrança no Real Erário para se prosseguirem as disposições
como ordenou a respeito567”.
Pombal, Secretário de Estado e chefe do Erário Régio, acompanhava
diretamente o comércio de escravos e marfim e sempre deixava transparecer o seu
descontentamento com as falhas praticadas pela Mesa de Inspeção na execução de suas

564
Ibidem.
565
Ibidem.
566
José Carlos Venâncio. 1996, op. cit., p.178.
567
[CARTAS da Mesa de Inspeção da Bahia com aviso de expedição de mercadorias para Lisboa]. 1772.
Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4223.
149

tarefas – como fica claro na provisão de 24 de setembro de 1767. Nela, Pombal criticou
a Mesa de Inspeção da Bahia pela falta de clareza e destinação dos comunicados que
acompanharam as remessas568. Isso porque essa instituição tinha enviado uma remessa
de dinheiro no valor de 40.000$000 réis ao Erário Régio proveniente de contribuições
voluntárias além de outras de 40 contos de réis cada uma, que pagaram aos contadores
do tabaco nos anos de 1762 e 1763. Faltavam nessas correspondências as formalidades
exigidas pelo Erário Régio na escrituração da contabilidade e informação às
corporações e casas de arrecadação dos Domínios Ultramarinos, inclusive dirigidas à
Mesa de Inspeção. Por tudo isso, Pombal chamou a atenção para a escrituração correta e
detalhada, observando o cuidado em mandar extrair relações exatas das receitas e
despesas, bem como a importância de cada uma das remessas, com certidões autênticas,
com uma plena e individual noção dos rendimentos de cada ano. Além disso, dever-se-
ia informar a origem do dinheiro, de modo que se identificassem os doadores e o nome
do tesoureiro que entregou os valores569.
Devido a reclamações das Mesas da Bahia e do Rio de Janeiro sobre o aumento
do trabalho com o registo dos escravos e marfim, e com a regularidade da prestação de
contas, a Coroa concedeu uma comissão de 2% sobre a soma das cobranças das letras
que anualmente entrassem nos seus respectivos cofres sobre a importância das faturas
de marfim que expediam pelo seu custo em Angola570. Pela importância das ditas
comissões, pagariam as sobreditas Mesas de Inspeção aos escriturários que fossem
necessários, ficando o resto para repartir ente as pessoas que constituem as ditas
corporações – compreendendo os escrivães e tesoureiros – fazendo “a dita repartição ou
por partes iguais ou havendo respeito ao maior ou menor trabalho, como às Mesas
parecer justo571”.
A troca de informações entre a Junta da Fazenda Real de Angola, Mesa de
Inspeção e Erário Régio era constante e necessária. Mesmo o marfim sendo
encaminhado para a Mesa de Inspeção da Bahia, a Junta da Fazenda Real de Angola
escrevia informando sobre a remessa para o Erário Régio, com dados de sua
composição, como quantidade, qualidade e origem. É o que demonstra a provisão para a
568
[PROVISÃO para a Mesa de Inspeção da Bahia reclamando da falta de clareza nos comunicados que
iam junto com as remessas de dinheiro]. Lisboa 24 de setembro de 1767. Arquivo do Tribunal de Contas:
Erário Régio: livro 4218.
569
Ibidem.
570
[PROVISÃO para a Mesa de Inspeção da Bahia concedendo 2% de comissão sobre as letras e a
importância do marfim]. Lisboa 08 de maio de 1772. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: Livro
4218.
571
Ibidem.
150

Mesa de Inspeção de 29 de maio de 1779, na qual o Erário Régio ordenava à Mesa “que
enviasse pela primeira embarcação as 55 pontas de marfim de lei, 43 do mião e 56 do
miúdo, pertencentes ao ano de 1777, sem que se confunda com as remessas de outro
ano, o qual marfim foi remetido de Benguela à dita mesa, como avisou a Junta da
Fazendo do Reino de Angola em conta de 22 de maio de 1778572”. Sendo confrontado o
mapa com as faturas do marfim recebido, Pombal verificou que não tinha ainda chegado
ao Erário Régio a remessa referida pela Mesa de Inspeção e criticava o fato de o marfim
demorar-se na Bahia, porque, ainda no caso de descaminho do navio, que a
transportava, se receberia a 2º via da fatura. Por esses motivos, ordenava que a mesma
Mesa de Inspeção remetesse pela primeira boa embarcação o referido marfim, sem
demora e que fizesse “na primeira ocasião oportuna, para que não padeça prejuízo à
Real Fazenda nem se admita a menor confusão nas contas dela. Objetos a que a mesa
deve aplicar toda atenção que lhe está recomendada573”. Aqui percebemos o controle do
Erário Régio sobre as contas, o método de contabilidade sendo colocado em prática e a
Mesa sendo advertida pela demora em cumprir com suas obrigações. Sobre isso, José
Carlos Venâncio afirma que a dinâmica interna do Império Colonial Português reservou
à Luanda e ao seu hinterland, no contexto da economia atlântica e da economia-mundo
europeia, um papel periférico em relação ao Brasil574.
Essas mudanças no comércio de escravos e marfim não foram implementadas de
forma pacífica. Comerciantes do Reino de Angola, Benguela, Loango e Cabina
descontentes com o declínio575 apontaram alguns problemas que, segundo eles,
interferiam no comércio e eram as causas de uma decadência, a exemplo da má direção
dos comerciantes e de serem navegantes sem prática comercial; a proibição dos homens
brancos de entrarem no sertão que, por isso, estava deserto; além disso, havia a presença
de estrangeiros na região, resgatando escravos e marfim ao mesmo tempo em que
introduziam fazendas. A solução apontada pelos negociantes seria formar uma nova
companhia para aumentar o comércio e a população no Reino de Angola. De acordo
com esboço do regimento da companhia, percebemos que seria semelhante à Mesa de
Inspeção da Bahia e denominada Mesa de Administração. Esse organismo deveria

572
[PROVISÃO para a Mesa de Inspeção da Bahia] de 29 de maio de 1779. Lisboa, 29 de maio de 1779.
Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: Livro 4220.
573
Ibidem.
574
José Carlos Venâncio. op. cit., p. 163.
575
Sobre as correspondências do governo de Angola e a decadência de Luanda e Benguela ver: Jaime
Rodrigues. De Costa a Costa: escravos, marinheiros e intermediários do tráfico negreiro de Angola ao
Rio de Janeiro (1778-1860). São Paulo: Companhia das Letras, 2005. P. 54.
151

manter uma relação direta com Brasil mediante a Mesa de Inspeção576. Contudo, esta
proposta não chegou a ser executada.
Essa reestruturação do comércio de escravos e marfim, das cobranças dos
direitos via Mesa de Inspeção, não foi bem recebida pelos governadores das regiões
africanas. Várias reclamações surgiram com o intuito de questionar a Mesa, gerando
conflitos tanto com os governadores quanto com os contratadores e comerciantes, que
ficaram evidentes nas correspondências trocadas entre os governadores de Angola e
Bahia577.
Para Gorender, “o tráfico de escravos estabeleceu vínculo tão intenso entre as
colônias portuguesas da África e o Brasil que Angola, em particular, tornou-se na
prática subcolônia brasileira”. As relações da Bahia com a Costa da Mena eram tão
intensas que, mais de uma vez, os traficantes da praça de Salvador pleitearam a
constituição de uma companhia monopolizadora do tráfico578.
Ao decretar o comércio com a Costa Africana livre, houve a quebra do
monopólio dos mercadores particulares, ao mesmo tempo em que a Coroa resolvia duas
questões: adquirir maior controle e lucratividade com o comércio dos escravos e marfim
e ao mesmo tempo fiscalizar a circulação de fazendas e outras mercadorias entre as duas
partes do Atlântico através da Mesa de Inspeção.

576
[PROPOSTA de uma Companhia Geral do Reino de Angola]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo:
Ministério do Reino: Maço 499, caixa 622.
577
“Ver capitulo VI, Conflitos de Jurisdição”. A correspondência entre os governos da Bahia e Angola
que estão no fundo “Correspondência do governo de Angola (1786-1799)”. Arquivo Público da Bahia:
seção colonial e provincial. Maço 195.
578
Jacob Gorender. op. cit., p.521-523.
152

6 CONFLITOS DE JURISDIÇÃO

6.1 Resistências à Instalação da Mesa de Inspeção

A atuação da Mesa de Inspeção da Bahia não se deu sempre de forma


harmoniosa. Houve, como será posteriormente descrito, momentos de conflitos com
membros dos mais diversos grupos sociais, membros da própria administração colonial
ou ainda dentro da própria Mesa, que se opuseram a determinadas medidas ou que –
como será descrito ao final do período aqui tratado – até mesmo questionaram a sua
existência.
Em 1752 os senhores de engenho, lavradores de tabaco e os oficiais da Câmara
de Vereadores da cidade da Bahia enviaram representações ao rei D. José contra a
criação da Mesa de Inspeção. Segundo os oficiais, o requerimento não era só deles, mas
também dos lavradores de cana e tabaco que se sentiam prejudicados com as execuções
das leis da Coroa de 16 e 27 de janeiro de 1751, o que representaria a ruína da
Capitania. O centro da queixa era que o preço dos gêneros não os favorecia,
principalmente porque havia muitas despesas com a produção do açúcar e tabaco, além
disso entendiam que a Mesa dificultava o comércio no Brasil, criticando também o alto
preço dos escravos, necessários para manter a produção. Outro ponto questionado era
que o rei governava sempre em detrimento dos lavradores e a favor dos comerciantes.
Reclamavam também que os exames eram demorados e a frota irregular, o que
ocasionava a alteração na qualidade dos produtos579. Em resposta a esses
questionamentos, o conselho ultramarino justificou que os senhores de engenho e
lavradores receberam as Mesas de Inspeção580 com fortíssima apreensão, mas que a
inspeção dos dois gêneros era uma forma de se conservar e melhorar a produção,
apresentando algumas mudanças para melhorar o trabalho da mesa como aluguel do
trapiche de Barnabé, fazendo as reformas necessárias para receber os gêneros e facilitar
o trabalho. Além disso, cabia-lhe regular as frotas estabelecendo datas de saída tanto de
Portugal como do Brasil, como também mudanças no resgate dos escravos, reduzindo o
direito de entrada no Brasil. Porém, o preço estabelecido era necessário para garantir o

579
[CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. José sobre as queixas dos oficiais da Câmara da
Cidade da Bahia, senhores de engenho, lavradores de cana e tabaco contra a nova lei da Casa de
Inspeção]. Lisboa, 23 de novembro de 1752. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia. Caixa 112,
documento 8759.
580
Vale ressaltar que o documento deixa claro que os agricultores do Rio de Janeiro e de Pernambuco
também questionaram a criação da Mesa de Inspeção em suas capitanias.
153

bom funcionamento do comércio, o que era uma forma de não prejudicar os próprios
produtores581. Um ano depois, os senhores de engenho e lavradores de cana e tabaco
continuavam descontentes com a criação da Mesa e mantinham os mesmos
questionamentos582.
Em outro requerimento também de março de 1753, os agricultores pediam que o
açúcar e tabaco voltassem a ser regulados pelos alvarás de 09 de março de 1672583, de
24 de março de 1680584 e provisão de 24 de janeiro de 1719585 que tratam do comércio
com as demais regiões de domínio da Coroa Portuguesa e trazem medidas para
melhorar do resgate de escravos na Costa da África para o abastecimento de escravos a
baixo custo no Brasil e reivindicavam a liberdade de poderem ajustar o preço dos
produtos quando for necessário e que

Finalmente Sr., de nenhuma forma queremos a Mesa de Inspeção e se V.


Majestade não for servido manda-la tirar, em menos de seis anos se acabarão
todos os engenhos, com cuja disposição já muitos lavradores tem largado as
fazendas que lavram e outros, temidos da conservação dela, tem posto menos
diligência na cultura, sendo este o maior motivo de ter sido a presente safra
tão diminuta e os engenhos se não podem conservar sem lavradores, pois as

581
[CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. José sobre as queixas dos oficiais da Câmara da
Cidade da Bahia, senhores de engenho, lavradores de cana e tabaco contra a nova lei da Casa de
Inspeção.] Lisboa, 23 de novembro de 1752. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia. Caixa 112,
documento 8759.
582
[CARTA do Vice-rei e Governador-Geral do Estado do Brasil, conde de Atouguia, Luiz Pedro
Peregrino de Carvalho Meneses e Ataíde ao rei D. José em resposta à provisão real, dando seu parecer
acerca das representações dos donos de engenho da Bahia e Sergipe, que apresentam queixas da carestia
dos escravos e da produção do açúcar]. Bahia, 29 de maio de 1753. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia, caixa 115, documento 8985.
583
Nesse Alvará de 09 de março de 1672, determinava o comércio livre aos moradores do Reino, Ilhas e
Estado do Brasil com Moçambique, Mombaça e demais Portos da África “com a liberdade de levarem e
trazerem, venderem e comprarem todos os gêneros de fazendas, pimenta, cravos, canela e mais drogas
proibidas e escravos sem impedimento algum”. Anexado ao [REQUERIMENTO dos senhores de
engenho de fazer açúcar, lavradores do tabaco e mais pessoas interessadas nestes dois gêneros ao Rei D.
José solicitando para o bem de seu requerimento lhes é necessários alvarás de 1672, de 24 de março de
1680 e provisão de 24 de janeiro de 1719]. Bahia, 08 de março de 1753. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia, caixa 113, documento 8853.
584
Esse Alvará de 24 de março de 1680 ficou determinado “que o comércio fosse livre a todos os
vassalos, assim deste Reino como da Índia e mais Domínios e Conquistas desta Coroa, para que não haja
estanque algum em todo o gênero de mercadorias e mantimentos”. Anexado ao [REQUERIMENTO dos
senhores de engenho…]. op. cit.
585
Essa provisão de 24 de janeiro de 1719, também determinava o comércio livre nos domínios
portugueses, porém trazia uma preocupação com o abastecimento de escravos e que “no tempo muito útil
pela conveniência que se pode seguir ao Brasil em ser mais bem provido de escravos, viola a dificuldade
que se experimenta na Costa da Mina pelos roubos e violências que fazem os holandeses aos vassalos
desta Coroa” e para solucionar esse problema, “que possam ir embarcações a Ilha de São Lourenço com
condição que não poderão levar para o resgate nem ouro e nem marfim e sendo lhe necessário tomar
porto na terra firme” para proteção “porque desta sorte ficarão salvos os prejuízos que se podem seguir ao
comércio da Índia e ao de Moçambique”. Anexado ao [REQUERIMENTO dos senhores de engenho…].
op. cit.
154

canas destes é que tem os meios, pois nos achamos tão desfabricados, que
solitários não poderemos prosseguir 586.

No ano de 1753, os deputados da Mesa de Inspeção da Bahia escreveram ao rei,


relatando as dificuldades que tiveram para criar a Mesa e cumprir com o Regimento
porque havia resistência dos senhores de engenho e lavradores de tabaco em aceitar as
determinações, principalmente com relação ao exame dos produtos, o preço
estabelecido e a falta de liberdade, colocando em questão a própria criação da Mesa,
pois a mesma, na visão deles, representava ruína da agricultura, e propunham alterações
desses itens em reuniões feitas na Câmara de Vereadores587.
Segundo Vera Lúcia Ferlini, houve uma sucessão de “reclamações dos
produtores, principalmente quanto ao alto custo dos escravos e à irregularidade das
frotas588”, além de todo o controle exercido pelo governo. As polêmicas em relação ao
gênero não param por aí, a ideia de criação da Mesa de Inspeção em Salvador, em 1751,
e a fixação dos preços do açúcar entre produtores e comerciantes provocaram uma nova
onda de descontentamento, o que originou novas “reclamações e petições ao Conselho
Ultramarino, alegando os altos custos dos novos procedimentos legais e os incômodos
para o embarque do produto589”.
De acordo com Kenneth Maxwell, as Mesas de Inspeção eram simples paliativos
que não atingiam as raízes, pois as dificuldades enfrentadas pelos grupos mercantis e
agrícolas provinham do domínio dos comerciantes estrangeiros590, o que demonstra uma
dificuldade por parte dos produtores e comerciantes atrelada a uma insatisfação em
relação ao tratamento dado pelo governo à situação. Os agricultores já tinham
consciência desse fato, principalmente ao afirmarem que os requerimentos enviados por
eles eram encaminhados para a “Mesa dos Homens de Negócio da Corte para que
dissessem sobre a matéria” e que, dessa forma, a Coroa “lembrava mais dos
comerciantes que dos lavradores, ou não refletia que se passaram poucos anos sem que

586
[REQUERIMENTO dos senhores de engenho de fazer açúcar, lavradores do tabaco e mais pessoas
interessadas nestes dois gêneros ao Rei D. José solicitando para o bem de seu requerimento lhes é
necessários alvarás de 1672, de 24 de março de 1680 e provisão de 24 de janeiro de 1719]. Bahia, 08 de
março de 1753. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 113, documento 8853.
587
[CARTA dos Deputados da Mesa de Inspeção da cidade da Bahia ao rei (D. José) a informarem do
embaraço que tiveram para dar cumprimento ao regimento da Inspeção]. Bahia, 30 de maio de 1753.
Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa115, documento 8992.
588
Vera Lúcia do Amara Ferlini. Terra, Trabalho e Poder: O mundo dos engenhos no Nordeste colonial.
Bauru, SP: EDUSC, 2003, p. 124.
589
Ibidem, p. 126.
590
Kenneth Maxwell. A Devassa da Devassa: Inconfidência Mineira, Brasil e Portugal, 1750-1808. São
Paulo: Paz e Terra, 2005, p. 33.
155

os estrangeiros conheciam a conveniência que lhes faz extraírem os açúcares de nossas


colônias591”. Outro questionamento levantado pelos agricultores era sobre os o altos
preços que pagavam pelos produtos que vinham de Portugal e não podiam arcar com
tanto prejuízo, pois os carregadores portugueses enviavam para

esta América todos os gêneros compatíveis sem que lhes haja inspeção, como
vinhos, vinagres, manteiga, queijos, farinhas, muitos já danificados e ainda
nas fazendas secas estrangeiras faltando a verdade do seu peso e medida, e
ainda nas qualidades delas por não considerarem as amostras porque se a
questão com o todo das peças por dentro que deviam se em que tanta
diversidade se experimenta e que deles se aproveita. É a troco de nossos
tabacos e açúcares que vão para a mão dos estrangeiros, trocarem as ditas
fazendas diminuídas não só em pesos e medidas como em qualidades com
mil enganos por dentro das peças e volumes. 592

Como podemos observar pelas queixas dos produtores, as exigências se davam


de um lado só: o da exportação e não da importação. A Mesa de Inspeção ainda
enfrentava outras dificuldades, algumas delas se davam ao fato de que era uma
instituição responsável por administrar as atividades econômicas na Colônia e defender
os interesses da Coroa portuguesa se chocando com os ouvidores, Juízes de Fora e mais
ministros e oficiais de Justiça e Fazenda daquele Estado, o que não seguia as ordens
dadas pelas Mesas nos seus respectivos territórios. Além disso, esse alvará também
evidencia um maior controle da Coroa portuguesa sobre as frotas e o comércio colonial
através da Mesa de Inspeção593, o que, por sua vez, não agradava aos produtores e
comerciantes locais.
Nos anos iniciais de 1751 a 1755, a Mesa de Inspeção passou pela avaliação da
população da Colônia que, às vezes, era propícia à aceitação, outras vezes avessa à sua
instalação e jurisdição. É o exemplo dado por Patrícia Valim ao afirmar que “a
comunidade mercantil da Bahia também reagiu à criação da Mesa de Inspeção594”.

591
[CONSULTA do Conselho Ultramarino ao Rei D. José sobre as queixas dos oficiais da Câmara da
Cidade da Bahia, senhores de engenho, lavradores de cana e tabaco contra a nova lei da Casa de
Inspeção]. Lisboa, 23 de novembro de 1752. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia. Caixa 112,
documento 8759.
592
[OFÍCIO da mesa do Comércio da cidade da Bahia ao Vice-rei e Governador Geral do Estado do
Brasil, conde de Atouguia, Luís Pedro Peregrino de Carvalho de Meneses e Ataíde, informando da
necessidade de inspetores para o comércio desta cidade.] Bahia, 18 de abril de 1753. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 114, documento 8917.
593
[OFICIO do Intendente Geral do Ouro Wenceslau Pereira da Silva para Diogo de Mendonça Corte
Real, referindo-se entre outros assuntos ao carregamento regular dos navios e a posse dos membros da
Mesa de Inspeção da Bahia], em 07 de agosto de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 08,
documentos 1396-1425.
594
Patrícia Valim. Corporação dos Enteados: tensão, contestação e negociação política na Conjuração
Baiana de 1798. São Paulo: FFLCH/USP, 2012. (Tese de doutoramento). p. 49.
156

Destarte, no começo, vários conflitos ocorreram entre os comerciantes e produtores da


Bahia, relacionados às medidas coloniais impostas pelo Governo português através da
Mesa. Os ânimos ficavam mais exaltados nos momentos em que ocorriam algumas
dificuldades em relação às vendas dos produtos e prejuízos, tanto aos comerciantes
como aos produtores em períodos de grandes secas ou de muita chuva, por exemplo.
Deste modo, sempre emitiam requerimentos pedindo principalmente mudanças de
preços595. Segundo Raimundo José de Sousa Gaioso, a exemplo do que acontecia no
Maranhão, o rei D. José I pesou todas as considerações que enfraqueciam o comércio e
embaraçavam o progresso da indústria que chegaram até ele e estabeleceu a Companhia
do Maranhão e Grão Pará. No entanto, “foram infinitos os clamores contra esta
providência, bem como costuma acontecer em todos os estabelecimentos novos,
enquanto não se conhece a sua utilidade596”. Fatos assim eram recorrentes, inclusive aos
relacionados à Mesa de Inspeção.
Os conflitos se estendiam, as opiniões divergiam e as reivindicações eram
constantes em relação à produção e comercialização de produtos agrícolas. A
representação dos Homens de Negócio, emitida em 7 de agosto de 1754, por exemplo,
deixou claro que a categoria se aliava aos capitães de navios, e reivindicava,
principalmente, que o pagamento dos credores fosse efetuado com caixas de açúcar.
Questionava-se os preços dos gêneros, das dificuldades com o transporte e da
correspondência com Lisboa597. Os comerciantes afirmavam que o atraso da frota era
prejudicial, pois “as pessoas que vivem do negócio têm prejuízos graves de faltarem as
suas correspondências com as remessas esperadas na frota e de ficarem privados do
retorno598”. Nesse episódio, a Mesa de Inspeção defendia os interesses dos senhores de
engenho e lavradores em relação ao preço do açúcar, afirmando que “não merecia
atenção alguma a proposta da Mesa de Negócio [ou Mesa do Bem Comum da Bahia],
nem poderia ser contra a ordem de sua Majestade599”, dispostas e ordenadas a favor do

595
[CONSULTA do Conselho Ultramarino ao Rei D. José sobre as queixas dos oficiais da Câmara da
Cidade da Bahia, senhores de engenho, lavradores de cana e tabaco contra a nova lei da Casa de
Inspeção]. Lisboa, 23 de novembro de 1752. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia. Caixa 112,
documento 8759. e
596
Raimundo José de Sousa Gaioso. Compêndio Histórico e Politico dos Princípios da Lavoura do
Maranhão (1812). Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1970. P. 175.
597
[OFICIO do Intendente Geral do Ouro Wenceslau Pereira da Silva para Diogo de Mendonça Corte
Real, referindo-se entre outros assuntos ao carregamento regular dos navios e a posse dos membros da
Mesa de Inspeção da Bahia], em 07 de agosto de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 08,
documentos 1396-1425.
598
Ibidem.
599
Ibidem.
157

comércio colonial. Nota-se um conflito de interesses entre a Mesa de Inspeção, que era
criada e projetada para defender os interesses do exclusivo colonial português, com os
interesses da Mesa do Negócio, também apresentada como Mesa do Bem Comum e
defensora dos interesses dos comerciantes de Salvador.
A referida Mesa do Bem Comum da Bahia foi criada em 14 de junho de 1726 e
funcionava sem a autorização Régia; servia aos interesses dos comerciantes da Bahia
para o benefício comum dos homens de negócio e, mesmo sem a aprovação da Coroa,
seguia sendo tolerada até o momento em que interferia no andamento das atividades da
Mesa de Inspeção. Nos momentos de conflitos, um dos argumentos para extinguir o seu
funcionamento estava relacionado a serem,

proibidas semelhantes juntas, eretas sem preceder autoridade regia, mas


porque depois da ereção da Casa de Inspeção não podia servir a referida
junta, se não de fazer as confusões e desordens que se viram nos anos
próximos precedentes sobre o comércio e navegação deste Estado; e para que
tudo seja dirigido com o maior acerto na referida Casa de Inspeção, sendo
governada por maior número de votos, havia Sua Majestade por bem criar
nela mais 2 deputados escolhidos dos que servissem ou tivessem servido na
Mesa do Bem Comum, sendo um deles homem de negócio e outro lavrador
600
de tabaco.

As confusões e desordens descritas nesse documento referem-se aos


questionamentos dos negociantes sobre o preço do açúcar e sobre a atuação da Mesa,
aliada aos atrasos com a saída da frota.
A extinção da Mesa do Bem Comum gerou certas dúvidas no modo de proceder
com algumas atividades, pois uma das funções dessa instituição era eleger os deputados
representantes do comércio para compor o quadro de funcionários da Mesa de Inspeção.
O seu fim foi decretado em 27 de maio de 1757, por carta enviada pelo rei, e, a partir de
então “se devia eleger os dois deputados que V. M. havia por bem arcar de novo para
servirem nesta Mesa601”. Além disso, foram criados mais dois cargos na Mesa de
Inspeção para incorporar os comerciantes que faziam parte da antiga Mesa. Como foi
abolido o corpo dos comerciantes, de onde era eleito o representante do comércio, surge

600
[OFICIO de Vice-Rei Conde de Arcos para Thomé Joaquim da Costa Corte real em que informa de ter
mandado dissolver a Mesa do Bem Comum ou do Comércio da Bahia, narrando a História de sua
criação]. Bahia, 24 de agosto de 1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 14, documentos
2573-2579. / Arquivo do Estado da Bahia. Série Colonial e Provincial: Alvarás e Ordens Régias, v. 395, f.
123.
601
[REPRESENTAÇÃO da Mesa de Inspeção da Bahia expondo certas dúvidas que se apresentavam
acerca da eleição de novos deputados, cujos lugares haviam sido criados depois de suprida a Mesa do
Bem Comum]. Bahia, 09 de setembro de 1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 16,
documentos 2853-2856.
158

então a dúvida: como será eleito o representante do comércio e dos outros cargos
criados depois do fim da Mesa de Negócio? A eleição não podia seguir o disposto no
capítulo 03 §3º do regimento da Mesa, em que determina que a eleição deveria ser feita
pelo corpo de sua profissão e que estavam abolidas e proibidas as suas corporações
enquanto a eleição de lavradores de tabaco e senhores de engenho era realizada na
Câmara602. Assim, ficou acertado que os representantes do comércio seriam eleitos pela
Mesa de Inspeção a partir daquele momento603.
A Mesa de Inspeção da Bahia com o tempo se consolidou, e, mesmo enfrentando
várias reclamações dos setores comerciais e agrícolas, ampliou as suas funções: não era
somente a Mesa de Inspeção do Açúcar e Tabaco, estava também encarregada de
administrar a agricultura de vários gêneros; como também fazer experiências com
produtos vindos da Ásia e África; utilizar novas técnicas de produção, armazenamento e
exame dos produtos; organizar a navegação, cuidando para que as safras chegassem na
data marcada e não ocorressem atrasos na partida dos navios; passou também a
regulamentar o comércio de escravos e marfim da África; combater o contrabando e
descaminho; como também passou a gerenciar as atividades de crédito, os falidos e as
sociedades, cuidando para que o comércio tivesse um bom andamento e os comerciantes
não fossem prejudicados – inclusive quando um comerciante falecia sem deixar
testamento – pois era responsabilidade da Mesa cuidar para que as dívidas fossem
quitadas e não houvesse prejuízo para nenhuma parte envolvida nos negócios exercidos
na Colônia.
A população, em particular os produtores e comerciantes, criticava a instalação
da Mesa de Inspeção, o que levou o seu presidente, Wenceslau Pereira da Silva, a
instalar uma devassa em 1753, e apontou como principais opositores os baianos João
Eliseu Aires de Sousa e Plácido Fernandes Maciel. De acordo com o auto da devassa, se
ocorresse transgressão e fraude contra o Regimento, alvarás e decretos de 16 e 27 de
janeiro, 1 de abril de 1751, 28 e 29 de novembro de 1753 – que foram estabelecidos
para criar a Mesa de Inspeção na Bahia – ou se falassem mal da criação “dela
publicando temerariamente que os mesmos alvarás e ordens do dito senhor a esse
602
Cf. as atas da Câmara de Salvador do Arquivo Municipal, Fundação Gregório de Matos e que foram
publicadas. Aqui, nos interessa os volumes 9, 10 e 11, onde há registros das eleições e outras solicitações
da Mesa de Inspeção. Atas da Câmara: 1765-1775. Salvador: Câmara Municipal, Fundação Gregório de
Matos, 2010. (Documentos Históricos do Arquivo Municipal)
603
[REPRESENTAÇÃO da Mesa de Inspeção da Bahia expondo certas dúvidas que se apresentavam
acerca da eleição de novos deputados, cujos lugares haviam sido criados depois de suprida a Mesa do
Bem Comum]. Bahia, 09 de setembro de 1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 16,
documentos 2853-2856.
159

respeito604”, deveriam os transgressores e/ou burladores serem investigados e punidos.


A maioria das pessoas contrárias à Mesa era impossibilitada de atuar nela como
deputado e até perseguidas por Wenceslau Pereira da Silva605.
Em 28 de fevereiro de 1754, os senhores de engenho e homens de negócios se
dirigiram à Mesa de Inspeção para contestar algumas eleições que iam contra o seu
regimento, a exemplo da eleição dos senhores Manuel de Saldanha e Domingos Lucas
de Aguiar, o capitão da infantaria Amaro de Souza Coutinho e do homem de negócio
João Martins dos Rios, informando sobre as dúvidas que lhes tinham levantado e
pediam que não assumissem os cargos por não se adequarem ao regimento, sendo o
ideal fazer outra eleição. Além disso, questionavam que os inspetores anteriores eram
inábeis nas suas funções606. Em outro documento, o lavrador Amaro de Souza Coutinho
teve a sua atividade suspensa no cargo de Deputado da Mesa de Inspeção, “porque não
era senhor de engenho e só tinha uma simples hipoteca e o usufruto de um engenho de
seu sogro Simão da Fonseca Pinto para pagamento de certa quantia e mais valia do
engenho607”. Portanto, foi destituído do cargo de acordo com as determinações do
Regimento da Mesa, mesmo tendo dificuldade de encontrar “senhor de engenho que
tivesse fácil acesso à cidade608”. Se era notório que havia resistência à Mesa, por outro
lado temos a participação ativa de senhores de engenho e comerciantes no que se refere
à sua composição e ao seu funcionamento, na qual própria categoria fiscalizava as
eleições e quem devia ocupar os cargos, indicando uma possível divisão no grupo sobre
como proceder frente à Mesa.
Em 1753 o Juiz de Fora Luiz Coelho Ferreira emitiu um parecer acerca das
representações dirigidas ao rei pelos senhores de engenho, lavradores de cana e de
tabaco e afirmou sobre os impostos lançados sobre os gêneros produzidos no Brasil e os
fretes e cargas dos navios. A Mesa de Inspeção, nesse processo, era um projeto da

604
Para Lúcio de Azevedo essas reclamações e reações contra as ordens da metrópole que “os naturais da
terra eram os mais veementes opositores; germes da futura independência já então intumescentes e
preparado por vir”. J. Lucio de Azevedo. Novas Epanáforas: estudos de história e literatura. Lisboa:
Livraria Clássica Editora, 1932, p. 35 e 36.
605
Sobre isso Cf. Capitulo III de Pierre Verger. Fluxo e Refluxo: do tráfico de escravos entre o golfo do
Benin e a Bahia de Todos os Santos, dos séculos VII a XIX. Salvador: Corrupio 2002. P. 91-112.
606
[OFÍCIO do Vice-rei conde de Atouguia acerca das eleições dos Inspetores da Intendência dos açúcares
e dos Tabacos (Mesa de Inspeção)]. Bahia, 28 de fevereiro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia, caixa 06, documentos 937-942.
607
[CARTA do Intendente Geral do Ouro e Presidente da Mesa de Inspeção da Bahia João Bernardo
Gonzaga ao Rei D. José dando parecer acerca da suspensão da ocupação de deputado da Mesa de
Inspeção da Bahia a Amaro de Souza Coutinho]. Bahia, 23 de julho de 1759. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 141, documento 10909.
608
Idem.
160

Coroa para executar as decisões do governo português “em favor e benefício de seus
habitantes609”. Segundo o Juiz de Fora Luiz Coelho da Ferreira, as principais
reclamações dos agricultores estavam centradas sobre a taxa dos açúcares e tabacos, dos
fretes dos navios e do alto custo dos escravos610.
Com relação às frotas, sua saída era sempre acompanhada por navios de guerra,
que faziam a segurança e evitava inconvenientes. Isso contribuía para um melhor
funcionamento de todo o processo, os lavradores e comerciantes deveriam observar o
tempo determinado da colheita para então conduzir os produtos à cidade e estarem
prontos na ocasião do embarque. No tocante ao comércio de escravos611 da África, o
Luiz Coelho Ferreira aconselhou a Coroa a ampliar o comércio e navegação com a costa
da África, sem restrições612. O controle sobre a navegação para esta região era uma das
ações da Coroa para determinar, em 1758, que a Mesa de Inspeção passasse a
regulamentar o comércio de escravos e marfim, fato que deixou os negociantes desse
ramo descontentes.
De acordo com a carta da Mesa de Inspeção ao capitão e comandante da frota da
Bahia, nas palavras do redator, “a Mesa tinha e devia sempre ter gravada na mente e
diante dos olhos a proteção, aumento e conservação dos agricultores e comerciantes e
mais vassalos deste Estado, pois esse é o principal objeto do seu instituto e o que tanto
lhe encoraja e recomenda a S. Majestade com paternal cuidado613”. No geral um dos
principais objetivos da Mesa era o aumento e qualidade da agricultura e do seu
comércio. Mesmo com tal meta, como já foi exposto, era notória a insatisfação por parte
de muitos envolvidos nesse processo.

609
[PARECER do Juiz de Fora Luiz Coelho Ferreira acerca das representações dos Senhores de
Engenhos, Lavradores de Tabacos e comerciantes acerca dos impostos lançados aos gêneros produzidos
no Brasil, dos fretes dos navios e do monopólio de escravos na Costa da Mina]. Bahia, 03 de maio de
1753. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 04, documento 563.
610
Ibidem.
611
Pouco tempo depois, o rei acata o conselho do Juiz de Fora e declara Livre o Comércio de escravos
através do Alvará de 11 de janeiro de 1758. Houve a quebra do monopólio, mas manteve o controle na
arrecadação dos direitos reais, estipulando o desembarque dos escravos apenas nos Portos que a Mesa de
Inspeção atuava como a Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e no Maranhão. [ALVARÁ de 11 de janeiro
de 1758 sobre o livre comércio de Angola e dando certas providencias ao mesmo respeito]. In: SILVA,
António Delgado da. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última Compilação das Ordenações:
suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense, 1828. Fl. 584-586.
612
[PARECER do Juiz de Fora Luiz Coelho Ferreira acerca das representações dos Senhores de
Engenhos, Lavradores de Tabacos e comerciantes acerca dos impostos lançados aos gêneros produzidos
no Brasil, dos fretes dos navios e do monopólio de escravos na Costa da Mina]. Bahia, 03 de maio de
1753. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 04, documento 563.
613
[CARTA da Mesa de Inspeção ao Capitão e comandante da Frota]. Bahia 16 de maio de 1755. Arquivo
Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 11, documento 1922-1947.
161

Esse descontentamento com a Mesa de Inspeção sempre vinha à tona em


momentos de problemas com a frota ou com a ruína da produção devido à seca ou
chuvas abundantes, pois eram momentos em que a instituição mostrava a sua singular
regulação, pois teria que resolver um duplo problema – má safra ou falta dela para
efetivar o carregamento da frota e ainda agir de forma a acalmar os ânimos dos
produtores, comerciantes e mestres dos navios que exigiam que se cumprissem o prazo
de entrada e saída da frota – a exemplo do que foi redigido a respeito da expedição da
frota de 1755: “porque sendo a presente safra de tabaco grande, singularmente vai
regulada que os fabricantes não hão de perder uma arroba. Esta é a base mais real de
que os fabricantes logrem e percebam o lucro de suas lavouras614”.
Devido ao conflito entre o governo da Capitania da Bahia e a Mesa de Inspeção
sobre a partida de uma frota, o seu capitão se pronunciou, dizendo que a intenção da
Mesa era a de dar encaminhamento e executar as ordens da Coroa, “ao mesmo tempo
mostra favorecer à praça e aos Senhores de Engenho e os mais moradores desta
capitania como se vê no assento que se tomou e no Edital”. Afirmou ainda que ao
encaminhar-se ao trapiche para lê-lo, ouviu alguns homens de negócio relatando “que a
intenção da Mesa era muito boa e madura, pois faziam utilidade aos homens de negócio
e senhores de engenho, pois tomavam oito dias615 para dentro do mês de junho poderem
reconduzir aos trapiches [...]616”. Segundo a correspondência, a Coroa deveria enviar as
advertências todos os anos visto que “o governo do ano passado era um, este ano é outro
e para o ano que vem será outro”. Assim, evitar-se-iam desculpas e embaraços e, por
isso, encaminhou “uma tão Regia Ordem e autoridade a Esta Mesa sem subordinação a
pessoa alguma para se executarem as suas ordens sem que pudessem intrometer nem
embaraçar, nem ainda o mesmo governo617”. Em outros momentos, era grande a
oposição à Mesa de Inspeção que tinha:

ainda o desagrado dos moradores desta cidade persiste e se aumenta contra as


disposições do senhor [...] os moradores que afirmam a inutilidade da Mesa e
das Ordens Reais, sendo que todos falam em uma generalidade sem que
nenhum diga o prejuízo particular que teve, porque ou o não conhece, nem o
618
sente ou porque seria escandaloso se o manifestasse [...].

614
[COMENTÁRIOS da Mesa de Inspeção sobre as diversas queixas recebidas]. Bahia, 04 de julho de
1755. Arquivo Histórico Ultramarino; Bahia, caixa 11, documento 1922-1947.
615
Os oito dias era um prazo adequado para que a produção fosse transportada das propriedades até os
trapiches e que a Mesa de Inspeção executasse o processo de exame e qualificação.
616
[COMENTÁRIOS da Mesa de Inspeção sobre as diversas queixas recebidas]. op. cit.
617
Ibidem.
618
Ibidem.
162

Percebemos aqui certa resistência em relação à atuação da Mesa de inspeção,


principalmente porque cortou “regalias” dos vários setores da administração e sociedade
colonial, que deixaram de ganhar em detrimento da Coroa, como o ocorrido com os
eclesiásticos que usavam a frota sempre que desejavam, sem restrições, e os
governadores que tiveram as ações com relação à frota reduzida e transferida para a
Mesa. Destarte, circulavam comentários negativos diversos, como por exemplo, o de
1755, quando os deputados da Mesa questionavam que “com tantas faltas e a tanta gente
de tão boas qualidades, como se pode tolerar uma Mesa que tem e vai extirpando tantas
conveniências particulares e como não há de ter antagonistas poderosos que empenham
todas as forças para destruir [a Mesa]619” ?
Antes mesmo da criação da Mesa de Inspeção, alguns setores da sociedade
baiana, como os agricultores e comerciantes, reclamavam do controle político e
econômico exercido pelas câmaras municipais sob os produtos agrícolas, o que
interferia diretamente na produção e comércio dos mesmos, impedindo ou dificultando a
liberdade que os moradores tinham de comercializá-los. A atuação da Câmara nesse
controle do mercado local e regional620 ia desde a fiscalização no abastecimento da
cidade, a regulação da produção e no preço da farinha, açúcar e tabaco, a movimentação
do porto, o interesse dos produtores e comerciantes, até a configuração do mercado de
exportação621. Contudo, a Câmara atuava na regulação do mercado interno, e a Mesa de
Inspeção regulava a produção do mercado externo. Tudo isso, de fato, contribuía para
que a produção de um modo geral estivesse sob controle do governo, o que aumentou
com a implementação da Mesa.

619
Ibidem.
620
Segundo Avanete Pereira Sousa, as correlações entre os camaristas e os pequenos comerciantes não se
pautavam apenas nos “binômios imposição-subordinação, punição-obediência, norma-transgressão”. O
conflito, inerente a todo e qualquer regime calcado na existência de interesses distintos e contradições
entre os diversos corpos sociais que o compõem, em alguns momentos, podia traduzir-se em atitudes que
revelavam a harmonização de interesses entre uns e outros, contrapostos a terceiros seja comerciante,
produtor, funcionário ou consumidor. Foi o que ocorreu em 1785, quando a câmara também apresentava
momentos de conflitos entre os pequenos comerciantes que negociavam no mercado interno como os
lojistas, principalmente em momentos de cobranças das taxas camarárias. Cf. Avanete Pereira Sousa. A
Bahia no Século XVIII: Poder Político Local e Atividades Econômicas. São Paulo: Alameda, 2012. p.
237.
621
Cf. Avanete Pereira Sousa. Manifestações Locais da Crise do Antigo Sistema Colonial? (O exemplo
das câmaras municipais da capitania da Bahia). Pedro Puntoni. “Coração no meio do corpo”: Salvador,
capital do estado do Brasil. Vera Lucia Amaral Ferlini. O Município do Brasil Colonial e a Configuração
do Poder Econômico. In.: Laura de Melo e Souza, Júnia Ferreira Furtado e Maria Fernanda Bicalho
(Orgs.). O Governo dos Povos. São Paulo: Alameda, 2009.
163

A insatisfação dos agricultores com a Mesa de Inspeção da Bahia perdurou


durante a sua existência. Já no início do século XIX, ao responder ao ofício do
Governador da Capitania, o Conde da Ponte, encaminhado ao Senado da Câmara em
1807, Manuel Ferreira Câmara apontou a Mesa de Inspeção como sendo maior
obstáculo que existia na Cidade da Bahia, “contrário ao progresso das produções, que se
exportavam, contrários aos interesses do Comércio, contrário à liberdade dos que as
produzem” e estabelecido com o intuito de limitar a lavoura e que “nenhuma outra
medida, qualquer que ela seja, poderá corrigir a sua maldade que a de fazer desaparecer
até a sua memória de sua existência do corpo de nossas leis e regimentos622”.
Apesar do descontentamento dos colonos com a instalação e funcionamento da
Mesa de Inspeção, esta permaneceu por longos anos atendendo aos interesses da Coroa
Portuguesa.

6.2 Conflitos entre a Mesa de Inspeção e demais Instituições coloniais da Bahia.

Para Stuart B. Schwartz, deveres, funções e jurisdições sobrepostos em vários


ramos do governo, vistos pela Coroa como um sistema de controle recíproco, eram
constante fonte de atritos e rixas, o que também acarretava protelações burocráticas e
competição administrativa623. Divergências e disputas ente órgãos a propósito de
questões administrativas, muitas vezes com característica pessoais, constituem assim,
não por acaso, fenômeno "normal" do cotidiano da Colônia624. Para Schwartz, os
conflitos jurisdicionais civil-religiosos não eram novidade no Brasil, onde a congruência
de personalidades fortes nas mais altas posições das duas hierarquias costumavam
resultar em algum tipo de disputa625. De acordo com Rodrigo Ricupero, as
competências, jurisdições e hierarquias mal definidas, assim como a ausência de

622
Manuel Ferreira Câmara [et. al.]. Cartas Econômico-Políticas sobre a Agricultura e Comércio da
Bahia, 1807. Salvador: FIEB, 2014. (Série FIEB: Documentos Históricos, 2), p. 165-167.
623
Stuart B. Schwartz. Burocracia e Sociedade no Brasil Colonial: o Tribunal Superior da Bahia e seus
desembargadores. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 163.
624
Francisco Calazans. Falcon. Pombal e o Brasil. In.: José Tengarrinha (org.). História de Portugal.
Bauru, SP: EDUSC; São Paulo, SP: UNESP; Portugal, PT: Instituto Camões, 2001. p. 228.
625
SCHWARTZ, Stuart B. 2011, op. cit. p. 171.
164

especialização e divisão dos poderes são elementos que provocaram o conflito ente as
diversas autoridades e a dificuldade das Ordens Régias626.
Durante o período de atuação da Mesa de Inspeção na Bahia, verificamos na
documentação vários conflitos de jurisdição sobre os mais variados assuntos,
principalmente os relacionados à administração da frota e comércio de escravos627.
Muitas vezes, os impasses eram levados até o conhecimento da Coroa, que sempre
intervia em nome da Mesa. O escrivão Simão Gomes Monteiro, por exemplo, descreveu
os aborrecimentos e oposições sofridas pela Mesa de Inspeção por parte da população e
“da má vontade que vem dos superiores que não lhes declaram o motivo do
aborrecimento”. Isso porque o governo não falava que o seu desagrado estava
justamente em perder o domínio que exercia sob a expedição, fato que será
posteriormente discutido neste estudo. O conteúdo da carta do escrivão, por sua vez, é
bem explícito e evidencia não só a existência de conflitos nos vários ramos da
administração colonial na Bahia, como também apontava os motivos pelos quais cada
setor estava descontente com a criação e atuação da Mesa de Inspeção. Entre eles,
destaca-se a perda de regalias e proveitos particulares que os governadores, eclesiásticos
e magistrados tinham ao exercerem seus cargos. Os Magistrados da Relação também se
descontentavam “porque um dos seus ministros fora sempre superintendente do tabaco e
que hoje se não podem fazer negócios ocultos e particulares”628. Os eclesiásticos, “que
costumavam pedir carga nos navios a troco de remeterem madeiras e encomendas para a
Corte, espalham pelos seus dependentes que a Mesa é uma vexação do povo629”, a qual
chamavam de opressão, sem que o povo soubesse e também sem declararem os
motivos630. “Todo o sobredito atesto pelo ter ouvido em várias conversas nesta cidade
aonde esta murmuração é inteligência e geral631”.
As insatisfações não pararam por aí, muitos lavradores de açúcar e tabaco não
toleravam os exames nem aceitavam que furassem as caixas de açúcares ou picassem os

626
Rodrigo Ricupero. A Formação da Elite Colonial: Brasil 1530-1630. São Paulo: Alameda, 2009. p.
130.
627
Os documentos mencionados foram trabalhados ao longo do capitulo e poderão ser encontrados
principalmente no fundo da Junta do Comércio do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
628
[ESCRIVÃO da Mesa de Inspeção Simão Gomes Monteiro]. Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 14,
documentos 2607-2611.
629
Ibidem.
630
[COMENTÁRIOS da Mesa de Inspeção sobre as diversas queixas recebidas]. Bahia, 04 de julho de
1755. Arquivo Histórico Ultramarino; Bahia, caixa 11, documento 1922-1947.
631
Ibidem.
165

rolos de tabacos a menos que os vendessem pelas taxas do Regimento, resultando um


“conhecido ódio contra a Mesa”632.
Porém, a Mesa seguia o seu Regimento e Ordens Reais como presente
conjuntura, e enfrentava a oposição quando a opinião era contrária: “quando ficavam
todos, grandes e pequenos, como loucos em nova esperança de extrair da Mesa de
Inspeção, mal aceita nesta Bahia a sua jurisdição, crescendo cada vez mais o ódio e
murmuração”, porque os superiores entendiam que lhes tiravam a jurisdição e
independência633.
A Junta da Administração do Tabaco, em representação a favor do
Desembargador Intendente Geral da Mesa de Inspeção da cidade, informava que o rei
criou a Mesa “por sua inata piedade e real grandeza daquela cidade sem subordinação
aos governadores”, como consta no alvará de 25 de janeiro de 1755, em “que todos os
juízes de fora e ouvidores, Ministros de fazenda e justiça dessem cumprimento às
ordens e mandatos da dita Mesa como emanadas de superior competente para o que lhe
conferir toda a jurisdição necessária”, pois os governadores costumavam mandar
portarias à mesma Mesa como subordinada a sua jurisdição, sobre o que, por várias
vezes, se tinha repelido aquele modo de proceder, interferindo sempre nos assuntos que
não eram mais da alçada do governo, “obrigando sempre aquela superioridade e
jurisdição que V. M. lhes delegava634”.
Diante de diversas portarias e demais ordens dos governadores com relação aos
assuntos da Mesa, os inspetores recorriam à Coroa para declarar por cartas as matérias
concernentes ao serviço de Portugal, incumbindo aquelas que eram próprias e do
instituto da mesma Mesa para evitar confusões635. Deste modo, observava-se a
dependência que havia entre o governo e a Mesa de Inspeção. Com relação às causas
que especialmente pertenciam ao mesmo governo e não convinham em alguns casos que
ficassem com a Mesa – havia a liberdade de deixar de fazer o que pelo governo lhe
fosse determinado. Isso era necessário para que um não interferisse nos assuntos do
outro, até de cada um agir de forma independente, dentro da sua jurisdição636. Na

632
[COMENTÁRIOS da Mesa de Inspeção sobre as diversas queixas recebidas]. Bahia, 03 de julho de
1755. Arquivo Histórico Ultramarino; Bahia, caixa 11, documento 1922-1947.
633
Ibidem.
634
[REPRESENTAÇÃO que fizeram a S. Majestade o Desembargado Intendente Geral e Presidente da
Mesa da Inspeção da Bahia e deputados declarando que a mesa não está subordinada ao governo]. Lisboa,
10 de março de 1768. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Ministério do Reino, Junta da
Administração do Tabaco, maço 397, caixa 498.
635
Ibidem.
636
Ibidem.
166

verdade, nos anos iniciais, ainda eram confusas as atribuições da Mesa de Inspeção e do
governo, e foi comum esse tipo de conflito. Até mesmo porque a ordem era para ter
cada um suas funções definidas ao mesmo tempo em que o governo teria que fiscalizar
a atuação da Mesa, como exemplo das atestações do carregamento de tabaco, que a
Mesa e o governador tinham que enviar junto com o carregamento637.
Para Charles Boxer, a forma como os funcionários do governo colonial se
denunciavam mutualmente à Coroa não contribuía para a harmonia administrativa, mas
encaixava-se no sistema colonial de verificações e balanços que garantiam a rápida
chegada dos delitos e enganos cometidos por qualquer dos governadores 638. Contudo,
Stuart Schwartz afirma que o governo português consistia de jurisdições e poderes mal
definidos e muitas vezes contraditórios, que em última análise dependiam de decisões
da metrópole, o que impedia que qualquer instituição colonial adquirisse poderes
excessivos639. Outra questão que ocasionava conflitos era a mútua fiscalização dos
serviços, o que, para Tancredo de Morais, dava a impressão de desconfiança, a qual o
rei manifestava por todos os seus servidores e arquitetava um sistema em que todos se
fiscalizam uns aos outros, para ver se conseguia com isso satisfazer a sua desconfiança.
Para todos os atos administrativos era exigida a intervenção de mais de um
funcionário640, assim, temos um ambiente propício a vários conflitos.
Em fevereiro de 1754, o desembargador e intendente geral Wenceslau Pereira da
Silva fez, perante a Mesa da Inspeção, uma exposição acerca dos meios que se deveriam
empregar para o bom funcionamento das frotas. O documento fazia referência ao alvará
de 29 de novembro de 1753, quando remeteu à Mesa de Inspeção para executar pronta e
pontualmente o que o rei determinava, pois se colocava sempre atento e propício para
favorecer e distribuir mercês aos vassalos. Nesse contexto, a primeira medida adotada
pelo rei foi a ampliação da jurisdição do Regimento da Mesa de Inspeção para que
atuasse contra os opositores, que agiam com “embaraço e pensada malícia de alguns

637
Há uma documentação serial sobre os avisos de carregamento de tabaco, do maço 104 até o maço 116
e 95% da documentação presente nas caixas são compostas por avisos sobre o carregamento do tabaco,
especificando o navio e a quantidade da carga. O interessante é que há duas cópias de cada aviso, uma
feita pela Mesa de Inspeção e outra pelo governador, na época, o Conde de Povolide. (governador da
capitania entre os anos de 1769-1774). Já no aviso do Conde de Povolide, há em anexo uma certidão do
escrivão da Fazenda Real sobre o mesmo aviso. Entre os anos de 1771 a 1773 foram 39 avisos da Mesa
de Inspeção e 36 do Conde de Povolide. Há também duas prestações de conta da Mesa para a Junta do
Tabaco. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Tabaco: Maços de 104 – 116.
638
Charles Ralph Boxer. A Idade de Ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. 3ª
ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
639
Stuart B. Schwartz2011, op. cit., p. 179.
640
Tancredo de Morais. A Casa da Índia. Anais do Club Militar Naval. [S.I.:s.n.] [193-] p. 1458.
167

empenhados em fazer ferir a utilidade pública da Monarquia”. Dessa forma, a Mesa


tinha o dever de aplicar o regimento em “respeito à conservação da navegação e do
comércio que entre si tem sua analogia e dependência” e, portanto, recomendou a
regularidade observada da frota para que tudo se conservasse e aumentasse641.
A segunda recomendação apontada por Wenceslau Pereira da Silva era a de
evitar o mal entendido gerado por avanços e interesses particulares que prejudicavam o
andamento dos trabalhos da Mesa e do Exclusivo Colonial. Deste modo, recomendava
que as frotas fossem dirigidas para as respectivas repartições e

que desta capitania da Bahia saia de Lisboa em primeiro de fevereiro e volte


precisamente por todo o mês de julho e por efeito de atalhar e evitar aquele
depravado e mal entendido desejo de maiores avanços e interesses
particulares com que muitos se pretendem enriquecer e destruir o bem
comum do comércio geral, servindo-se de frívolos pretextos, obséquios,
venerações, respeitos e atenções de algumas pessoas com que costumam
praticar e conhecer a sua insaciável cobiça, foi outrossim o dito senhor
servido estabelecer de novo que esta Mesa de Inspeção, livre e independente
de toda particular afeição, distribua e reparta toda a carga que houver de
açúcar e tabaco, sola e courama pelos navios da frota em tal forma que todos
igualmente por rotação bem ajustada, participem dela, sem desigualdade,
nem queixa justa.642

As reclamações e dificuldades em relação aos carregamentos dos navios e saídas


das frotas não estavam somente no prazo de chagada, mas também nas escolhas dos
produtos a serem transportados, que determinavam o valor do frete. Por isso a
determinação de Wenceslau Pereira da Silva, de que a mesa distribuísse as cargas de
forma que todos os navios fossem carregados com todos os produtos e, assim, evitar
queixas.
Além dos ditos acima, o mesmo ainda afirma que se precisa não só de uma
circulação para maior conhecimento dos assuntos inerentes à mesa, mas também de
“uma resolução constante e muito ativa por parte dessa instituição, e que a mesma não
se demova preocupação alguma nem inteligência sinistra, pois quanto mais pensada é a
lei mais pesa contra ela a malícia643”. Deste modo, em primeiro lugar dever-se-ia
considerar como alternativa devida a importância do negócio, pois quanto mais o rei
está informado sobre a decadência do comércio, mais cuidado se acha de aplicar o
“remédio”; segundo, que é a execução do formado conceito, fazendo público o ânimo
641
[EXPOSIÇÃO em que fez Wenceslau Pereira da Silva na Mesa de Inspeção sobre os meios que se
deviam considerar para a pronta expedição da frota]. Bahia 15 de fevereiro de 1754. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 07, documentos 1040-1055.
642
Ibidem.
643
Ibidem.
168

constante de cumprir e observar pontualmente tudo o quanto o rei dispõe e determina no


alvará e decreto de 28, 29 de novembro de 1753 em relação às embarcações644.
Wenceslau Pereira da Silva aponta também – em suas palavras – que “ainda não
está de todo estabelecida à autoridade da Mesa e poderá não ser criada nem obedecida a
sua ordem por não ter prepotência coativa, é diligência muito necessária recorrer deste
governo geral”. Pediu, assim, para passar uma circular a todas as vilas e comarcas do
recôncavo sobre a carga das frotas, evitando desordens, que o rei “atento às utilidades
dos seus vassalos da América e do nacional comércio, tem resulto que as frotas
destinadas para este Estado e para os do Maranhão e Grão Pará façam o seu giro
anualmente em tempo certo e determinado645”. O que se pretendia, nesse caso, era uma
atuação da Mesa de Inspeção em todos os setores da sociedade, como um mecanismo de
controle com a sua autoridade reconhecida e obedecida.
Pombal escreveu, após a morte de Wenceslau Pereira da Silva, ao novo
presidente da Mesa João Bernardo Gonzaga lhe dando instruções sobre algumas
decisões que deveria tomar com relação à Jurisdição da Mesa. De acordo com os
conselhos enviados anteriormente por Wenceslau indicando a necessidade “que havia de
obviar a tão prejudiciais maquinações, acrescentou aquelas suas reais providências com
o novo Alvará, ampliando a jurisdição das Mesas de Inspeção e desarmando os
artifícios com que as ordens das referidas Mesas se tem procurado invalidar646”. O
alvará tratava principalmente sobre a jurisdição da Mesa em relação à navegação, na
qual deveria usar para que no caso de “outro Capitão de Mar e Guerra tão
inconsiderado, e tão mal instruído”, e que advertisse os Capitães e Mestres de navios
para se “conterem no exercício de sua profissão, sem perturbar a observância das Leis e
Ordens de S. M. de que à Mesa toca a execução e o autue no caso em que se não
contenha, remetendo-me o auto que formar par ao fazer presente a S. M.
imediatamente”. Também deveria observar outros casos semelhantes dos que
“intentarem perturbar o exercício da Mesa com tal ou qual figura de Jurisdição ou de
autoridade647”.
A autoridade da Mesa era exercida sob a frota que ia para Lisboa e também sob
a navegação para a Costa da África. Com isso, o vice-rei Conde de Arcos questionava

644
Ibidem.
645
Ibidem.
646
[CARTA do Marques de Pombal Para João Bernardo Gonzaga. Ampliação da jurisdição da Mesa]. Em
27 de janeiro de 1755. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Papéis do Brasil; Avulsos 4, Nº 4 –
digitalizado: pt/tt/pbr/19/4.
647
Idem.
169

se o controle comercial dos portos da África privativamente pertenciam à Mesa de


Inspeção,

se a jurisdição da Mesa de Inspeção compreende igualmente a todos os portos dessa


América ou se é restrita aos Portos da África, como dão a entender todas as três cartas
[...] porque em nenhuma delas se faz nem tácita, nem expressa menção de alguns dos
Portos donde se frequenta o comércio, mais que somente dos de África; e como para os
outros também costumam algumas vezes os comerciantes pedir licença para levarem
tabaco de terceira e ínfima qualidade ou para o consumo da terra para onde vão ou para
se transportar para a nova Colônia, a onde costuma ser mais bem reputado, parece
necessário saber-se, se os despachos para esses navios poderem carregar os efeitos da
terra, como costuma, há de ser dado por este governo, como até agora o deu, ou se os
requerimentos que fizerem a semelhante respeito se hão de remeter ou não pela Mesa de
Inspeção para que ela seja quem lhe defira, como entender é conveniente ao serviço de
S. Majestade.648

A Mesa era um órgão que deveria obedecer diretamente às decisões da


Metrópole, principalmente da secretaria de Estado, encaminhar os assuntos referentes à
economia ao conhecimento direto do rei ou aos tribunais competentes, ou seja,
Secretário do Reino, Conselho Ultramarino e Junta do Comércio e não mais à Relação
deste Estado649
Os conflitos de jurisdição também ocorreram entre a Mesa de Inspeção e o
governo de Angola depois da regulamentação do tráfico de escravos sob a
responsabilidade da Mesa650, tanto em relação à navegação, tráfico de escravos e
marfim, quanto ao dinheiro arrecadado no negócio. Depois disso, o governo de Angola
passou a depender economicamente da Mesa de Inspeção, já que a Junta da real fazenda
de Angola deveria repassar o dinheiro do comércio de escravos e marfim para o cofre
estabelecido na Bahia em poder da Mesa, a qual era responsável por repassar o dinheiro
para o governo de Angola e saldar as suas despesas. Esse novo método gerou várias
críticas e descontentamentos por parte dos funcionários de Angola, como também dos
comerciantes.
Encontramos várias cartas e ofícios trocados entre o governador de Angola e o
da Bahia, relatando esses descontentamentos, problemas e dificuldades pelas quais

648
[OFÍCIO do Vice-rei conde dos Arcos para Thomé Joaquim da Costa Corte Real, em que consulta se a
jurisdição sobre os navios que faziam o comércio para os Portos da África se estendia também aos navios
que se dirigiam para outros Portos da América]. Bahia, 10 de setembro de 1757. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 15, documento 2558.
649
[OFICIO do Vice-rei conde dos Arcos para Thomé Joaquim da Costa Corte real, acerca da jurisdição
da Mesa de Inspeção sobre os navios que faziam o comercio da Costa da Mina e do recurso das suas
resoluções]. Bahia, 28 de agosto de 1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 14, documentos
2607-2611.
650
Ver capítulo V sobre a escravidão.
170

Angola estava passando. Os mesmos evidenciavam os conflitos de jurisdição entre a


Mesa de Inspeção e o governador angolano, tendo como intermediário o governador da
Bahia, que era sempre solicitado para que intercedesse junto à Mesa em benefício de
Angola. Como exemplo desses atritos, temos a correspondência entre os dois governos,
em que, em 1756, o governador da Bahia escreve ao governador de Angola sobre o
conhecimento mútuo das “novas leis de que são executoras as Mesas de Inspeção do
Brasil”, que não permitiam que os governadores pudessem favorecer os capitães dos
navios com relação às cargas, como era o costume entre eles, bem como a troca de
favores entre os governadores651.
Em outra missiva, percebemos as dificuldades enfrentadas por Angola devido às
medidas da Coroa em controlar o comércio do marfim, escravos e fazendas na região. O
governador angolano reclama da decadência do comércio entre a Bahia e sua terra e
oferecia proteção aos interessados no “importante tráfico para sanar os maus exemplos
que a praça alega da pouca satisfação com os comerciantes de Angola”. Além disso,
reclama da escassez das chuvas e da falta de mantimentos e suplica ao governador da
Bahia que carregasse todos os navios que se dirigissem a Angola com mantimentos e o
mais que “for possível para socorrer a nossa indigência652”. Já em outra carta, o
governador de Angola, Manoel de Almeida e Vasconcelos, critica o novo modelo de
exploração colonial e a submissão de sua terra à Mesa de Inspeção, ao falar sobre a
dependência econômica. Devido a isso, pedia mais auxílio e afirmava que a Mesa

remeteu 400 alqueires de farinha, o que por este modo a mesma deveria ter
praticado por mais vezes e em maiores quantidades e em conformidade das
ordens que tem recebido, não só por ser destinado para as tropas se Sua
Majestade neste reino, mas também da maior necessidade para a subsistência
dos seus vassalos, que o habitam e o sustento do comércio de que o Real
Erário tira tanto interesse e em geral as suas colônias.653

Era frequente o envio de dinheiro da Junta da Real Fazenda de Angola para a


Mesa de Inspeção da Bahia, assim também como a troca de avisos sobre resgate de
crédito, dízimos e despesas com consertos nas embarcações, bem como o envio de
mantimentos para Angola, principalmente de farinha e viveres, atendendo à reclamação

651
[CORRESPONDÊNCIA entre os governadores da Bahia e Angola], 08 de setembro de 1756. Arquivo
Público da Bahia: Seção Colonial e Provincial, maço 76, nº 16.
652
[CARTA do Governador de Angola], 15 de maio de 1787. Arquivo Público da Bahia: Seção Colonial e
Provincial, maço 195.
653
[CARTA do Governador de Angola], 25 de janeiro de 1794. Arquivo Público da Bahia: Seção Colonial
e Provincial, maço 195.
171

do governador angolano, que suplicava ao governador da Bahia que intercedesse por


eles, pois “que nada podia cooperar a Mesa de Inspeção da Real Fazenda deste Reino,
se não em requerer a V. Excelência e prontificar os respectivos pagamentos conforme as
ordens que lhe forem expedidas”, e que, além dos gêneros requeridos, aumentasse
também a contribuição para as despesas, pela qual a Mesa era encarregada e que
demorava além dos dias de seus vencimentos a pagar a importância das letras que era
repassada pela Junta da Real Fazenda de Angola. Pede ainda ao governador, “na
presente ocasião fazendo moderado uso da Jurisdição de que goza para coibir todos os
serviços de Sua Majestade”, para advertir o presidente e deputados da referida Mesa,
para que pudesse cessar os “clamores que tanto tem de público quanto de nocivos ao
comércio em geral, e em particular, ao deste Reino que se verá inteiramente perdido
continuando os abusos e queixas654”. Percebemos com isso a evidente dependência do
governador de Angola em relação à Bahia e, em especial, à Mesa de Inspeção. O que
transpareceu na correspondência que evidenciou o descontentamento do governo
angolano que agia de forma limitada devidos aos recursos estarem em poder da Mesa de
Inspeção.
Podemos perceber que o ponto central do descontentamento dos angolanos era,
sem dúvida, o fato de o dinheiro proveniente do comércio de escravos e marfim ser
destinado aos cofres da Mesa de Inspeção e por ela administrado, o que deixava o
comércio da região em crise e em decadência, pois o dinheiro não circulava em Angola,
já que a Coroa seguia pelo novo método de arrecadação dos direitos e do monopólio.
Em outra correspondência, o governador deixa claro o descontentamento dos
negociantes, a exemplo do comerciante João Barbosa Roiz, que fez uma petição em 29
de novembro de 1799, reclamando da questão do dinheiro de Angola arrecadado com o
comércio de escravos ser destinado aos cofres das Mesa de Inspeção da Bahia e que a
mesma demorava em realizar o pagamento das letras pertencentes aos negociantes
angolanos e que tais ações da Mesa prejudicava o comércio e agia de forma irregular,
diferente do que acontecia com as Mesas de Inspeção do Rio de Janeiro e Pernambuco.
Por isso, os negociantes “procuram e aceitam cédulas sobre as Mesas de Inspeção do
Rio de Janeiro e Pernambuco, quanto a repugnância com que recebem as que são
passadas sobre os cofres da Bahia”. Nas entrelinhas, percebemos as denúncias contra a
Mesa de Inspeção da Bahia em relação a práticas corruptas. Além disso, o documento

654
[CARTA do Governador de Angola], 20 de fevereiro de 1799. Arquivo Público da Bahia: Seção
Colonial e Provincial, maço 195.
172

revela que os negociantes da praça de Angola “João Barbosa Madureira, Adriano de


Araújo e Antônio Rabunha de Oliveira têm, por diversas vezes, se queixado da
Mesa655”. É nesse quadro geral de dependência de Angola em relação à Mesa de
Inspeção da Bahia e da aplicação do novo modelo fiscal efetivado através do Erário
Régio, que os negociantes de angolanos e também do Brasil montaram um plano de
uma nova companhia para a realização do comércio de escravos, denominada Mesa de
Administração, mas que não foi efetivada656.
Se Angola criticava a Mesa de Inspeção, porque queria criar uma companhia de
comércio com a estrutura administrativa da Mesa? Isso pode se dever ao fato de haver
um conhecimento do volume comercial sob sua responsabilidade e o alto lucro dos
negócios que passa por ela. Assim, ao tempo em que criticava os funcionários da Mesa
e a dependência do reino de Angola à Capitania da Bahia, ensejava que uma instituição
semelhante à Mesa se estabelecesse em Angola. Com isso, poderiam ter o controle do
comércio de escravos de volta para os negociantes do tráfico, tanto angolanos como
brasileiros. Porém, essa mudança parece que não atendia aos interesses e necessidades
da Coroa.

6.3 Conflitos Internos da Mesa de Inspeção

Além dos conflitos de jurisdição em que eram envolvidos outros órgãos


administrativos da Colônia, existiam também divergências internas na própria Mesa de
Inspeção, referentes ao melhor procedimento sobre alguns assuntos, entre eles a
classificação dos gêneros a serem exportados. E sobre essa matéria, Wenceslau Pereira
da Silva fez um discurso afirmando “que observou que, na Mesa, existia a aceitação dos
povos lavradores e comerciantes” que respeitavam o regimento e a classificação
estabelecida657. Já João Bernardo Gonzaga, em sua primeira ação como presidente da

655
[CARTA do Governador de Angola], 03 de dezembro de 1799. Arquivo Público da Bahia: Seção
Colonial e Provincial, maço 195.
656
[PROPOSTA de uma Companhia Geral do Reino de Angola]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo:
Ministério de Reino. Maço 499, caixa 622.
657
[OFICIO dos Inspetores da Mesa de Inspeção José Lopes Ferreira e Francisco Xavier de Almeida para
Thomé Joaquim da C. Corte Real, relatando as divergências que havia entre os membros da Mesa de
173

Mesa, afirmou que se deveria avaliar os açúcares entre o médio batido até o redondo, o
que não se praticou658. Os demais deputados queixaram do procedimento irregular do
Inspetor João Bernardo Gonzaga em uma seção que presidia, na qual tentava convencer
os membros da Mesa com o intuito de fazer prevalecer a sua opinião de ampliar o
número de qualidades de açúcares e ir contra o estabelecido no regimento. Sebastião
José de Carvalho respondeu informando que

o rei não podia mandar em contrário, porque nem a Alfândega ou o contratador podem
distinguir o que a mesma lei não distinguiu nem a podem interpretar, além de haver
qualidades de um e outro valor para que, fazendo-se assim, nem fique agravada a
agricultura nem fraudado o comércio que fazem o objeto desta Mesa imitando nesta
parte a lei e o regimento porque a V. Majestade manda qualificar o dito gênero para lhe
taxar o preço maior ou menos a fim de repassar os transcendentes prejuízos que se
seguem a lavoura.659

No período em que Wenceslau Pereira da Silva encontrava-se doente, não havia


um presidente no cargo, e mesmo depois da sua morte a situação permaneceu até a
nomeação do desembargador Sebastião Francisco Manuel para assumir como presidente
interino da Mesa de Inspeção. Durante esse período, o vice-rei Conde de Arcos tomou
várias providências com relação às frotas e ordens necessárias aos oficiais de justiça e
milícia dos portos da Marinha para que fizessem expedir com toda brevidade aos
trapiches e armazéns os efeitos para compor a carga da frota. Porém, a Mesa de
Inspeção, descontente com essa interferência, encaminha várias cartas ao vice-rei Conde
de Arcos, o qual escreveu a Sebastião José de Carvalho e Mello questionando a
jurisdição da Mesa de Inspeção, em que, em suas palavras

afirmo a V. Ex. que me fizeram bastante novidade as cartas que me escreveu


a Mesa de Inspeção, porque de fato não encontrei até agora lei ou regimento
por onde S. Majestade lhe concedesse jurisdição para que ocupando o lugar
de V. Rei deste estado me poder escrever tão imperativamente; mas para não
mover dúvidas, nem suscitar questões, tive para mim que o mais acertado era
atender tão somente ao que pertencia ao serviço de S. Majestade e pedir ao
mesmo senhor, que mandando examinar as referidas cartas, quando julgue

Inspeção sobe a classificação dos açúcares]. Bahia, 27 de maio de 1759. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia, caixa 22, documentos 4147-4149.
658
Ibidem.
659
[OFICIO dos Inspetores da Mesa de Inspeção da Bahia, Antonio da Rocha Pitta, João Bernardo
Gonzaga e José Alvaro Pereira Sodré para Thomé Joaquim da C. Corte Real, relatando as divergências
que havia entre os membros da Mesa de Inspeção sobe a classificação dos açúcares]. Bahia, 27 de maio
de 1759. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 22, documentos 4151-4166 e caixa 23, documentos
4194-4197.
174

que os termos expressivos, com que mais escreveram não são os devidos do
meu ministério, lhe dê a providência que lhe parecer mais conveniente 660

O Conde dos Arcos criticou661 a Mesa de Inspeção e relatava que o rei havia
expedido diferentes ordens e que pela secretaria do governo havia continuado em
expedir alvarás de licença para o comércio da Bahia com a Costa da África, porque da
certidão que remeteu havia sido “tirada dos livros da mesma Mesa de Inspeção, que
constam todas as ordens e despachos que tinha expedido depois que tomou posse do
governo”. Afirmava que os livros continham a informações sobre a jurisdição que
foram concedidas pela Coroa “porque do primeiro dia do estabelecimento desta Mesa
até o presente não saiu navio algum deste Porto para continuar o comércio da Costa da
África sem que primeiro precedessem os requerimentos e despachos que se manifestam
na predita certidão”. Assim, criticou a atuação do desembargador Wenceslau Pereira da
Silva, que foi o primeiro presidente da Mesa, por ter alterado as certidões de navegação
“sem razão porque, neste caso, é que lhe faria infração para as suas regalias, abrindo-lhe
aquele sistema de governo que achava já estabelecido662”.
A resposta das reclamações dos funcionários da Mesa contra o Conde dos Arcos
que acusavam de desobedecer as diversas ordens que haviam sido expedidas à Mesa de
Inspeção, infringindo a jurisdição da Mesa veio em um parecer da Junta do Comércio
que acusava o Conde de “expedir alvarás de licença para o comércio dos Navios dessa
cidade para a Costa de África” e continuava “sobre todo o referido, na inteligência de
que nem [o Conde] tendes jurisdição alguma na referida Mesa de Inspeção” e nem “do
comércio da Costa da África que também na conformidade das mesmas ordens pertence
ao privativo da referida Mesa663”.
O Marquês de Pombal, informado por Wenceslau Pereira da Silva, orientava o
presidente da Mesa João Bernardo Gonzaga sobre “as desordens que se tinham

660
[OFÍCIO do Vice-rei Conde de Arcos para Sebastião José de Carvalho e Mello]. Bahia, 21 de agosto de
1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 16, documentos 2827-2834. Documentos foram
duplicados e podem ser encontrados também na caixa 14, documentos 2555-2566.
661
A critica o Vice-Rei comprova que a Mesa de Inspeção cumpria com o seu papel fiscalizando e
executando o regimentos e demais leis determinadas para o bom funcionamento do comercio colonial.
Apresenta também uma grande dúvida tanto da Mesa de Inspeção quanto do governo em relação a
expedição dos passaportes. Nesse caso foi ele o responsável pela sua instalação e primeiro presidente. Cf.
VERGER, Pierre. 2002. op. cit. p. 113-138.
662
[OFICIO do Vice Rei Conde dos Arcos para Thomé Joaquim da costa Corte Real, acerca da jurisdição
privativa da Mesa de Inspeção, sobre os navios do comercio da Costa da Mina]. Bahia 03 de setembro de
1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 14, documentos 2631-2639.
663
[PARECER da Junta do Comércio ao governador e capitão general]. Lisboa, 10 de março de 1768.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Ministério do Reino, Junta da Administração do Tabaco,
maço 397, caixa 498.
175

praticado pelos que monopolizavam ali os gêneros e cargas dos navios” e “pelos seus
fatores compreendendo a necessidade que havia de obviar a tão prejudiciais
maquinações e sugeria ampliar a jurisdição das Mesas de Inspeção, desarmando os
artifícios com que as ordens das referidas Mesas se tem procurado invalidar664”.
As instruções do Marquês de Pombal para João Bernardo Gonzaga eram para
observar a jurisdição da Mesa no caso de outro governador mal instruído interferir nos
assuntos, e que o advertisse

“para se conter no exercício de sua profissão, sem perturbar a observância


das Leis e Ordens de S. M. de que à Mesa toca a execução e o autue no caso
em que se não contenha [...] que há de observar no mais casos semelhantes
dos que intentarem perturbar o exercício da Mesa com tal ou qual figura de
665
Jurisdição ou de autoridade ”.

Vários foram os conflitos protagonizados pelos administradores coloniais com


relação à jurisdição da Mesa de Inspeção da Bahia Colonial. Mas é importante salientar
que, em cada conflito aqui apresentado, observamos a autoridade da Coroa sobre os
seus domínios. Para João Pinto Furtado, os gestores pareciam mais sensíveis à
percepção da relativa complementariedade de interesses entre Metrópole e Colônia, e o
uso de todo o peso da autoridade metropolitana é tido como recurso político inerente e
desejável nesse contexto, uma vez que, “só por meio da autoridade se anulam e
minimizam os efeitos da descontinuidade absoluta de interesses, principal característica
das relações entre Metrópole e Colônia666”.
Destarte, percebemos que a atuação da Mesa de Inspeção da Bahia não foi
harmoniosa. Existiram conflitos entre vários segmentos da sociedade baiana
setecentista, que tinha os seus próprios interesses e agiu, na maioria das vezes, de forma
resistente e até mesmo contrária à Mesa de Inspeção. Contudo, esta instituição também
era mediadora de conflitos entre lavradores e comerciantes quando estes divergiam
sobre a compra e venda dos produtos, preços, qualidades, pesos e medidas. Nesse caso,

664
[CARTA do Marques de Pombal Para João Bernardo Gonzaga. Ampliação da jurisdição da Mesa]. Em
27 de janeiro de 1755. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Papéis do Brasil, Avulsos, nº03.
665
Ibidem.
666
João Pinto Furtado. “Viva o rei, viva o povo, e morro o governador”: tensão política e práticas de
governo nas Minas dos Setecentos. In.: Maria Fernanda Bicalho; Vera Lúcia Amaral Ferlini (orgs.).
Modos de Governar: ideias e práticas políticas no Império Português (séculos XVI a XIX). São Paulo:
Alameda, 2005. p. 406-407.
176

os inspetores do comércio e da agricultura se reuniam e tentavam resolver o impasse de


forma que não prejudicasse nenhuma das partes667.
A Mesa também era mediadora entre comerciantes que passavam por problemas
entre sócios ou no caso de execução de dívidas. Era ela a responsável por manter o bom
andamento das atividades comerciais na Colônia, como representante direta da Junta do
Comércio, que passou a atribuir à Mesa a tarefa de cuidar dos detalhes dos
procedimentos comerciais. Um exemplo era a administração das dívidas dos falidos ou
dos comerciantes que morriam sem deixar testamentos e garantir que os demais
comerciantes não ficassem no prejuízo. Geralmente, a Mesa assumia a administração do
inventário, calculava as dívidas, retirava a parte dos bens para efetuar os pagamentos
aos credores e devolvia a parte da família668.
Contudo, os conflitos revelaram o descontentamento dos colonos com a Mesa de
Inspeção e com as decisões da Coroa ao mesmo tempo em que resultaram na
reafirmação da Mesa como instituição que administrava a economia colonial, pois a
cada resistência e reclamação, o seu poder e jurisdição era ampliado.

667
[COPIA da reclamação de um lavrador de tabaco contra um comerciante à Mesa de Inspeção da
Bahia] em 28 de setembro de 1761. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10,
caixa 36.
668
[SOCIEDADES, falidos e execução de dívidas]. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio, livros 100 e 139.
177

7 A MESA DE INSPEÇÃO COMO PROJETO PORTUGUÊS

7.1 A Mesa de Inspeção inserida no projeto pombalino.

A Mesa de Inspeção é um projeto pombalino que tinha o objetivo inicial de


resolver os impasses e problemas na produção, no transporte e comércio do tabaco do
Brasil para concorrer com o inglês669. Portanto, foi por meio da legislação do tabaco, em
1751, que a Mesa de Inspeção se originou no intuito tentar estruturar e melhorar a
produção do tabaco brasileiro. Foi realizada então uma reorganização na junta do
Tabaco e na Alfândega do Tabaco em Lisboa para resolver os problemas da
administração do fumo tanto em Portugal como no Brasil. A Mesa, contudo, era o
elemento principal para essa nova administração, instalada na Colônia, e foi atribuída a
ela a jurisdição de supervisionar a produção, o transporte, armazenamento e a qualidade
do tabaco para Portugal, como também regular os preços e fretes dos produtos670.
Embora a Mesa tenha sido criada em função do fumo, ainda na sua origem, e no Novo
Regimento do Tabaco, foi estabelecida que também cuidaria da mesma forma do
açúcar.
A Mesa de Inspeção tinha algumas funções administrativas e outras
especificamente econômicas e financeiras, dentro da política colonial portuguesa. Dessa
forma, procuramos compreender, ainda sob o ponto de vista institucional, a sua
organização naquele contexto, nomeadamente em relação aos principais procedimentos
a cumprir no que se relacionava com as suas atribuições para o desenvolvimento da
agricultura de exportação do Brasil.
A criação da Mesa fazia parte das “reformas Ilustradas” que, segundo Falcon, do
ponto de vista político-administrativo visavam “fortalecer o poder real, racionalizar o
aparelho administrativo em busca de sua maior eficiência, suprimir os abusos
pressupunha o respeito às hierarquias e uma estrita obediência às ordens régias671”.
Do ponto de vista econômico, as reformas de Pombal “derivaram de duas
preocupações principais: aumentar a renda da Coroa mediante o incentivo ao comércio,

669
[DEDUÇÃO compediosa sobre o tabaco, que constitui um dos dois gêneros capitais do Estado do
Brasil], 1777. Biblioteca Nacional de Lisboa: Coleção Pombalina 695, f. 108-129.
670
NOVO Regimento da Alfândega do Tabaco, de 16 de janeiro de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino
– Bahia: Caixa 54, documento 10325.
671
Francisco Calazans Falcon. Pombal e o Brasil. In. José Tengarrinha (org.). História de Portugal. 2ª
ed., rev. e ampl. Bauru, SP: EDUSC; São Paulo, SP: UNESP; Portugal, PT: Instituto Camões, 2001. p.
237.
178

especialmente com o Brasil, e reduzir a dependência econômica de Portugal para com a


Inglaterra”. Pombal foi “um pragmatista, encontrou suas armas no tradicional arsenal de
ideias e políticas mercantilistas, mas tornou-as mais abrangentes e eficazes, adaptando-
as a mudanças nas condições e tendências econômicas672”.
A formação de Pombal também sofreu influência da política econômica inglesa,
pois procurou as soluções neste modelo. Contudo, as suas influências foram adaptadas
devido à existência de uma contradição: a diferença no sistema político dos dois países:
o absolutismo e o parlamentar. Para Jacome Ratton, todos sabiam do poder que a Grã
Bretanha teve sempre em Portugal, depois do tratado de Methuen, mas Pombal “soube
com toda a delicadeza diminuir a dita influência; pelo que não foi muito bem visto da
generalidade daquela nação”, o que explica “que os negociantes ingleses dissessem
muito mal deste ministro; e que em Inglaterra se publicassem alguns escritos contra ele
e sua administração, visto que a prosperidade a que levou o comércio português foi um
golpe considerável nos interesses da Grã Bretanha673”.
Pombal, ao assumir o cargo de Ministro, formulou e implementou reformas
administrativas, visando tornar mais ágil e eficiente o Estado e aumentar a arrecadação.
Ainda no campo das reformas administrativas e econômicas, pretendia com essas
medidas dinamizar a economia nacional e incentivar o desenvolvimento das indústrias e
das companhias de comércio – surgiram indústrias têxteis de seda e de lã, chapéu,
tapetes, fundições, cerâmicas, laticínios, vidros, sabão, entre outras. Contudo, suas
tentativas de consolidar um polo industrial forte e em condições de competir com as
outras nações europeias foram aos poucos se efetivando.
A grande prioridade de Pombal foi sempre a defesa do Brasil e de suas rotas e
fronteiras, ainda mais em um momento de grande prosperidade econômica e de
apreciável crescimento demográfico. Sua atuação foi também fundamental para o
equilíbrio financeiro da monarquia, e, segundo Nuno Monteiro, “a legislação Josefina
visava, ao mesmo tempo incentivar a produção de bens exportáveis do Brasil e impor e
preservar o monopólio português do comércio com os seus portos674”. Porém, cabem
aqui algumas reflexões sobre Pombal e o seu projeto para a Colônia como estratégia
672
Andrée Mansuy-Diniz Silva. Portugal e o Brasil: a reorganização do império, 1750-1808. Leslie
Bethell. História da América Latina: América Latina Colonial. vol.1. 2ª ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. p. 496.
673
Jacome Ratton. Recordações de Jacome Ratton sobre ocorrências do seu tempo em Portugal entre
1747 a 1810. Londres: H. Breyer, Bridge-street, Blackfrias. 1813. p. 197 e 198.
674
Nuno Monteiro. As Reformas na monarquia pluricontinental portuguesa: de Pombal a dom Rodrigo de
Sousa Coutinho. In.: João Luiz Ribeiro Fragoso e Maria de Fátima Gouveia (Orgs.). O Brasil Colonial.
Vol. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. p. 128.
179

para reavivar a economia do reino, já que os produtos coloniais do Brasil representavam


a principal fonte de renda de Portugal.
João Lúcio de Azevedo afirma que as providências adotadas por Pombal sobre o
comércio do Brasil afastaram a ruína do tráfico e deram vida nova às relações de
Portugal com as colônias da América e com o estrangeiro675. Além disso, Pombal
apresentava um conhecimento das questões relativas ao comércio e produção colonial,
pois havia estudado na Inglaterra sobre os negócios do tabaco. Diante disso, a
“concessão do prêmio em abatimento de direitos à exportação era adotada da prática
Britânica, assim como a nova disposição criando nos centros produtores as Mesas de
Inspeção, destinadas a fiscalizar a qualidade dos tabacos, condenando os ruins676”. Para
Humberto José Fonseca, a Mesa de Inspeção foi criada com o intuito de controlar o
comércio, seguindo os moldes das grandes companhias holandesas, inglesas e francesas.
E com a dissolução da Mesa do Bem Comum, a Mesa de Inspeção tornou-se o único
órgão encarregado das questões comerciais da Capitania da Bahia677.
As reformas pombalinas também atingiram o Brasil, ao visar à reformulação dos
serviços públicos por meio, principalmente, do combate à sonegação de impostos. Sua
preocupação orientava-se no sentido de proporcionar certa centralização à
administração. Foi durante o seu governo que foram efetuadas medidas como a
expulsão dos jesuítas e alteração da política indigenista com o diretório.
Era através da legislação colonial que se procurava, nas palavras de Novais,
“disciplinar as relações concretas, políticas e, sobretudo econômicas”. Daí a
“importância das normas legais, pois nelas se cristalizam os objetivos da empresa
colonizadora, aquilo que se visava com a colonização678” e levando “à prática os
princípios formulados pela teoria mercantilista679”.
Segundo as palavras de Romero de Magalhães, Pombal destinou atenção
especial ao comércio de exportação, e os “monopólios são acompanhados com cuidado:
o da pesca da baleia, o do sal, o das companhias de comércio”. Enfim, a atividade
comercial estava “no centro das propostas e intensões econômicas” de Pombal. O

675
J. Lúcio de Azevedo. O Marquês de Pombal e a Sua Época. Lisboa, Alfarrábio, 2009. p. 107.
676
Vale ressaltar que a Mesa de Inspeção é apresentada aqui como criação do Marquês de pombal e sob
influência Britânica. Cf. AZEVEDO, J. Lúcio de. Ibidem, p. 109.
677
Humberto José Fonseca. Comerciantes e cristões novos e m festa de nobre: a transgressão da ordem
“natural”. In.: POLÍTEIA: História e Sociedade. Vitória da Conquista: DH/UESB v7, nº1, p. 103-141,
2007.
678
Fernando Antônio Novais. Portugal e Brasil na Crise do Antigo sistema Colonial (1777-1808). 3ª
edição. São Paulo: Hucitec, 1985. Coleção Estudos Históricos. p. 58.
679
Ibidem, p. 59.
180

“papel orientador e fiscalizador da Junta do Comércio (1755)” ganhou, ainda segundo


Romero de Magalhães, “notável presença” junto com a preocupação com o transporte,
qualidade e preço. A referencia à qualidade dos produtos era essencial na prática
mercantilista. “A intervenção estatal no comércio faz-se pela regulamentação que vai
saindo e pelas inspeções que se instalam – como as Casas de Inspeção para o tabaco e
açúcar”, e também “ressaltando o cuidado com o rendimento das alfândegas – logo
presente em 1751, mas que, sobretudo por 1755 se apurava, quando algumas reformas
comerciais se introduzem680”.
Em relação ao Brasil, a política comercial e colonial adotada por Pombal era
orientada pelas práticas mercantilistas. Estabeleceram-se as Mesas de Inspeção e foram
criadas também a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão em 1755 e
a de Pernambuco e Paraíba em 1759 – que foram consideradas por Francisco José
Calazans Falcon como um “instrumento para atender ao monopólio e fomento dentro da
ideologia mercantilista”, pois atendia aos interesses da Coroa de obter o “controle
monopolístico da circulação, o incentivo mercantil às produções coloniais de interesse
comercial e assegurar o tráfico de escravos681”.
Em 17 de janeiro de 1754, o alvará régio conferia a responsabilidade do tráfico
marítimo para a Costa da Mina (licenças para viajar, controle dos navios e de carga,
legislação) que antes dependia do Vice-rei682. José Carlos Venâncio fez uma análise
sobre os rendimentos do comércio de escravos e marfim de Angola e afirmou que, a
partir de 1758, estes eram transferidos aos principais portos do Brasil onde estavam
estabelecidas as Mesas de Inspeção, uma vez que eram rotas atlânticas obrigatórias para
as embarcações que partissem de Luanda, e “por vias das quais era transferido para o
Erário Régio, em Lisboa, o saldo da Fazenda Real, em Luanda, em „letraordem683‟. Este
saldo, depositado primeiramente nas ditas Mesas, era oriundo sobretudo dos impostos
unificados sobre o despacho da escravatura, que – como se viu – não eram pagos em
Luanda, mas sim nos portos de destino684”.
Além da criação das Companhias de comércio no Brasil, Pombal adotou várias

680
Joaquim Romero de Magalhães. Labirintos Brasileiros. São Paulo: Alameda, 2011, p. 189-190.
681
Francisco José Calazans Falcon. A Época Pombalina: política econômica e monarquia ilustrada. São
Paulo: Ática, 1982. (Ensaios; 83). P. 469-470.
682
[REPRESENTAÇÃO da Mesa de Inspeção acerca da regulamentação do comércio da Costa da Mina].
Bahia 08 de novembro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 09, documentos 1473-1482.
683
Letras de ordem de pagamento.
684
José Carlos Venâncio. A Economia de Luanda e Hinterland no Século XVIII: um estudo de sociologia
histórica. Ed. Estampa. Lisboa, 1996. p. 185.
181

ações atreladas à Mesa de Inspeção para ampliar a sua jurisdição em relação às


atividades econômicas da Colônia. Passou a ser responsabilidade da Mesa de Inspeção
regular a partida e chegada da frota, e o seu frete a partir de 1755. Esta passou também a
controlar o comércio, fiscalizando e combatendo o contrabando, bem como coibir a
prática dos comissários volantes que foram proibidos em 1755. O Marquês decretou
também que a Mesa de Inspeção ficasse subordinada à Junta do Comércio em Portugal a
partir de 1755 e então ela passou a ser responsável por várias questões comerciais como
sociedades, dívidas e falências. A partir de 1761, passou a prestar contas diretamente ao
Erário Régio e, em 1758, passou a regulamentar diretamente também o comércio de
escravos e marfim685.
Em 1759, a Coroa criou a Companhia Geral para o comércio de Pernambuco e
da Paraíba. Esta não contava com a participação da Fazenda Real e era constituída por
um “corpo político” e por uma junta com sede em Lisboa. Objetivava o comércio
exclusivo com as capitanias e com a costa africana, o aumento do número de fábricas e
engenhos na Paraíba e em Pernambuco e o fomento dos atanados, solas e couros686.
Configurava-se assim o monopólio e, “sem ele, provavelmente, nenhum Império se teria
formado nos anos anteriores a 1800, pois significava o direito exclusivo sobre um
determinado produto, ou sobre o comércio com determinado país; sendo que esse direito
exclusivo poderia ser concedido a pessoas ou companhias687”. Como foi o caso das
Companhias do Pará e Maranhão criadas em 1755 e a de Pernambuco e Paraíba criadas
em 1759.
Alguns autores colocam a Mesa de Inspeção como parte integrante da reforma
pombalina, com o objetivo de asseguras funções fiscais na Colônia. José Ribeiro Junior,
ao tratar da colonização e monopólio, tendo como objeto de estudo a Companhia Geral
do Comércio de Pernambuco e Paraíba, caracteriza a Mesa como instrumento das
reformas portuguesas de defesa econômica da administração pombalina, a qual tinha
como preocupação aumentar a eficácia da colonização. Para o autor, “as Casas de
Inspeção investidas de funções fiscais e reguladoras do preço do açúcar e tabaco foram

685
ALVARÁ de 11 de janeiro de 1758 sobre o livre comércio de Angola e dando certas providencias ao
mesmo respeito. António Delgado da Silva. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última
Compilação das Ordenações: suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa: Tipografia Maigrense,
1828. fl. 584-586.
686
Cf. José Ribeiro Júnior. Colonização e Monopólio na Nordeste Brasileiro: a Companhia Geral de
Pernambuco e Paraíba, 1759-1780. São Paulo: HUCITEC, 2004. P. 205-206.
687
José Jobson de Andrade Arruda. O sentido da Colônia: revisitando a crise do Antigo Sistema Colonial
no Brasil (1780-1830). In.: José Tengarrinha (Org.). História de Portugal. Bauru, SP: EDUSP, São Paulo:
UNESP; Portugal: Instituto Camões, 2001, p. 246.
182

criadas como órgão subordinado à Coroa” em um momento em que se articulou todo o


arsenal da política mercantilista688. Já Francisco José Calazans Falcon afirma que a
prática mercantilista adotada pelo governo português apresentava duas diretrizes:
“defender os interesses fiscais da Coroa frente aos demais países e assegurar aos
comerciantes nacionais o usufruto do monopólio comercial colonial”. Nesse contexto, a
Mesa de Inspeção foi estabelecida “como uma primeira medida para assegurar o fluxo e
a qualidade dos principais produtos coloniais: o açúcar e o tabaco [...] e depois as
providências a promover o fomento da produção no ultramar, desenvolver novos
artigos, melhorar os existentes689”. Para o autor, o “reformismo pombalino foi sempre
mercantilista e fiscalista”. Ele cita como exemplo a criação da Mesa em 1751 “para
solucionar os impasses que dificultavam as exportações do açúcar e tabaco690”.
Assim, as práticas mercantilistas pombalinas foram implementadas,
especialmente, visando ao fomento da produção metropolitana, à política comercial e
colonial, à política monetária e ao fiscalismo691. Nesse processo, a Mesa de Inspeção
atendia a todas essas questões, pois o desenvolvimento da agricultura no Brasil
impulsionava a produção na metrópole e também era responsável pelo comércio e
navegação que consolidavam as relações entre Colônia e Metrópole. Por último, a Mesa
tinha a função de fiscalizar tanto a produção como o comércio e navegação, cuidando
sempre para que a Coroa obtivesse os seus direitos – um exemplo era a reorganização e
regulamentação do comércio de escravos pela Mesa de Inspeção.
Em 1761, Pombal executou reformas nas finanças do Reino, em que extinguiu a
Casa dos Contos e criou o Erário Régio. Essa mudança teve como objetivo a
centralização e modernização do aparelho de Estado. Em relação à administração
fazendária, as transformações caracterizaram-se pela preocupação com o sistema fiscal,
a especialização de funções e órgãos, o aumento da produtividade, o combate ao
contrabando e a renovação dos métodos contábeis e de supervisão692. Nesse sentido, a
instalação do Erário Régio, juntamente com a mencionada extinção da Casa dos Contos,
reforçou a centralização das finanças do reino e domínios, processo que foi
incrementado com a criação de Juntas de Fazenda nos territórios pertencentes a
Portugal, subordinadas diretamente ao Erário. Além disso, tentava-se, assim, evitar a

688
, José Ribeiro Júnior. op. cit., p. 42.
689
Francisco José Calazans Falcon. op. cit., p. 469.
690
Ibidem, p. 232.
691
Ibidem, p. 231–232.
692
Andrée Mansuy-Diniz Silva op. cit., p. 498.
183

dispersão existente das cobranças e despesas que tornavam impossível uma gestão
completa e sistemática das contas públicas. Para isso, foram criadas Contadorias Gerais,
tendo cada uma um chefe, em que se dividia o tesouro, com diferentes competências
territoriais: Contadoria das Províncias do Reino e Ilhas dos Açores e Madeira,
Contadoria da África Ocidental, Maranhão e Baía, Contadoria da África Oriental, Rio
de Janeiro e Ásia portuguesa693.
Em Portugal, o Erário Régio fez parte do “projeto de modernização e
racionalização” do aparelho financeiro694. As Juntas da Fazenda eram segmentos do
Erário Régio – e ao qual deveria se reportar – e que atuavam nas principais capitanias
do Brasil de modo regional. Para Jorge Pedreira, isso foi eficaz no combate ao
contrabando e produziu resultados, pois “a guerra ao contrabando foi travada tanto em
nome do Erário Régio combatendo a evasão fiscal como do monopólios dos negociantes
portugueses sobre o comércio colonial695”.
Segundo Arno Wehling a política de centralização e modernização do Estado
conduzida por Pombal reforçou o caráter fiscalista principalmente com a criação do
Erário Régio, no qual se concentrava a contabilidade de Portugal e seus domínios. No
Brasil, “foram criados órgãos como as Mesas de Inspeção e as juntas da fazenda em
substituições das provedorias das Capitanias que visavam incentivar o estimulo às
atividades agrícolas e contornar problemas como a aproximação de órgãos e funções,
ineficiência na arrecadação, a prática de fraudes e contrabandos e a corrupção696”.
As suas reformas causaram impactos econômicos e sociais. Um exemplo foi
quando aboliu a escravidão em Portugal em 1761-73, o que, segundo Charles Boxer, tal
fato não ocorreu “por motivos humanitários, mas antes para impedir que os negros
fossem utilizados como empregados domésticos na metrópole ao invés de trabalhar nas
plantações ou nas minas de ouro do Brasil697”, pois a prioridade era ampliar a oferta de
escravos na Colônia, com baixo custo, e diminuir a insatisfação dos agricultores que se

693
Graça Salgado (coord.). Fiscais e meirinhos: a administração no Brasil colonial. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1985, p. 45.
694
Jorge Pedreira. A Economia Política do Sistema Colonial. In.: João Luiz Ribeiro Fragoso; Maria de
Fátima Gouveia (orgs.). O Brasil Colonial. Vol. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. P. 443
695
Ibidem. p. 443-444.
696
Arno Wehling. Administração Portuguesa no Brasil de Pombal a D. João (1777-1808). In.: Vicente
Tapajós (coord.). História Administrativa do Brasil. Vol. 6. Brasília: Centro de Documentação,
informação e difusão Graciliano Ramos; Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército 1966. P. 111.
697
Charles R. Boxer. O Império Marítimo Português 1415-1825. Lisboa: Edições 70, 1977, P. 191.
184

manifestavam através de requerimentos, a exemplo dos que eram enviados à Coroa, via
Câmara Municipal de Salvador698.
As reformas pombalinas representaram uma relativa mudança, aliada “a uma
vigilância mais rigorosa sobre órgãos e agentes da administração colonial, materializada
em incessantes recomendações, advertências e punições; um esforço para a
racionalização dos procedimentos administrativos e modernização dos quadros
burocráticos699”. Por outro lado, as distâncias territoriais do Brasil dificultavam tal
vigilância, e o resultado, segundo Kenneth Maxwell, foi que “as reformas fiscais de
Pombal no Brasil, aliadas à indicação de funcionários, magistrados e fiscais nativos
designados para administrá-las, encorajaram em várias ocasiões as disputas e os
aborrecimentos que tais medidas deveriam aliviar700”.
Para Fernando Novais as medidas adotadas na Colônia eram para resolver os
“problemas efetivos que a manutenção e a exploração do ultramar apresentavam à
metrópole” se davam “no plano da prática e dos mecanismos estruturais que atuavam
no conjunto do sistema e promoviam, nessa fase, reajustamentos fundamentais701”.
Assim como salienta Francisco Calazans Falcon, “as providências e medidas tomadas
pelo reformismo pombalino podem revelar-nos certas tendências, mas pouco nos
esclarecem acerca dos seus objetivos gerais e dos resultados reais das suas próprias
práticas702”. A primeira dificuldade é a interpretação dos objetivos.
Nesse processo de reformas pombalinas, Falcon salienta para a ação
governamental baseada em uma “nova articulação nas relações metrópole-colônia”,
através da ligação e articulação entre indústria, agricultura e comércio, que definia “um
amplo espaço de ação das políticas públicas almejando a unidade”. Portanto, tendo a
agricultura como centro dessa política “seus efeitos não tardaram, expressando-se na
diversificação agrícola do espaço colonial brasileiro, gerando produtos para a

698
[REPRESENTAÇÃO da Mesa de Inspeção acerca da regulamentação do comércio da Costa da Mina”.
Bahia 08 de novembro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 9, documentos 1473-1482 e
“Oficio do Intendente Geral e Presidente da Mesa de Inspeção da Bahia Wenceslau Pereira da Silva a
Secretário de Estado Sebastião José de Carvalho e Melo sobre os meios mais adequados para o
crescimento do Brasil e da necessidade de mão-de-obra escrava”. Bahia 6 de julho de 1755. Arquivo
Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 125, documento 9767.
699
Francisco Calazans Falcon. op. cit., p. 237-238.
700
Kenneth Maxwell. Marquês de Pombal: Paradoxo do Iluminismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
p. 157.
701
Fernando Antônio Novais. op. cit., p.5.
702
Francisco Calazans Falcon. História de Portugal… op. cit., p. 237.
185

reexportação do Reino, alimentos e matéria prima para a metrópole703”. Sem dúvida a


Mesa de Inspeção era a instituição que foi utilizada para essa nova articulação.
Segundo Jobson, essa nova articulação metrópole-colônia representava também
“um novo arranjo do Antigo Sistema Colonial”, no qual se mantinha o monopólio, mas
se estabelecia a reciprocidade de trocas de produtos, diferente dos séculos XVI e XVII,
em que “as colônias tornam-se mercados consumidores dos produtos industriais
metropolitanos e fornecedoras de matérias-primas e alimentos, declinando
gradativamente a primazia dos produtos ditos tropicais704”. Esse processo se configura
em uma transformação com o crescimento econômico, tanto em Portugal quanto no
Brasil. Para Jobson, significa “o nascimento histórico de um novo padrão de
colonização que emerge do âmago do Antigo Sistema” e esse “novo padrão é definido
pelo enlace metrópole-colônia sob a égide da industrialização705”.
Apesar de ter várias restrições a Pombal, a rainha, D. Maria I deu continuidade à
política pombalina de fomento à produtividade agrícola para exportação, ao mesmo
tempo em que “proibia o desenvolvimento de qualquer manufatura no Brasil, como por
exemplo, as têxtis706”. As medidas adotadas na Colônia em relação à produção, com a
atuação da Mesa de Inspeção, começaram a colher os seus resultados no final do século
XVIII e início do XIX e proporcionavam lucro para a metrópole com a exportação dos
gêneros, bem como o desenvolvimento colonial. Assim, o que seria um “momento
crucial da ruptura entre a metrópole e a colônia, isto é, a crise do Império Luso-
Brasileiro, e não [era] a crise da América Portuguesa707”.
Com a saída de Pombal não houve alteração das políticas voltadas para a
Colônia, e a Mesa de Inspeção continuou atuando com o mesmo poder, jurisdição e com
mais atividades, devido ao aumento da produção e demais atribuições. Segundo Jorge
Pedreira, “apesar da mudança de ambiente político e intelectual, a estrutura promovida
por Pombal sobreviveu à sua queda”, principalmente com relação ao sistema colonial
que tinha se tornado ainda mais importante e “o novo governo procurou tornar o pacto
colonial mais restritivo708”.
Durante a segunda metade do século XVIII e nos primeiros anos do século XIX,

703
José Jobson de Andrade Arruda. História de Portugal… op. cit., p. 254.
704
José Jobson de Andrade Arruda. Decadência ou Crise do Império Luso-brasileiro: o novo padrão de
colonização. In.: Revista USP. São Paulo, nº 45, p. 66-78, junho/agosto, 2000. p. 77
705
Ibidem, p. 77-78.
706
Charles R. Boxer. op. cit. p.195
707
José Jobson de Andrade Arruda. 2001, op. cit., p. 245.
708
Jorge Pedreira. 2014. op. cit., p. 450-451.
186

entre os anos de 1750 a 1816, “a política colonial portuguesa foi colocada nas mãos de
três homens notáveis: Sebastião José de Carvalho e Melo, Martinho de Mello e Castro e
Dom Rodrigo de Souza Coutinho709” – homens formados em direito na Universidade de
Coimbra – que “haviam adquirido experiência nas cortes da Europa e estavam imbuídos
de um desejo de levar grandes benefícios ao reino e elevá-lo ao nível mais intelectual e
econômico da época”. De acordo com Andrée Mansuy-Diniz Silva, suas políticas
estavam baseadas no mercantilismo e absolutismo e “amparado por um governo
„esclarecido‟”. Para a política colonial, “acreditavam que o Brasil era vitalmente
importante para a própria sobrevivência da metrópole”, e portanto, defendiam que a
Coroa deveria ampliar o território e “reforçar sua estrutura administrativa, judicial e
militar mediante o fortalecimento do poder absoluto da monarquia, e assegurar o
desenvolvimento da economia brasileira dentro estritamente da estrutura do pacto
colonial710”.
Nessa última fase do século XVIII, como enfatiza Fernando Novais, a política
em relação ao Brasil se apresentou através da penetração das ideias fisiocráticas, da
economia clássica inglesa e do mercantilismo, o que deu origem a um “mercantilismo
ilustrado”, ou seja, “abandona-se a ortodoxia mercantilista tradicional, mas se mantém
certas linhas de política econômica tradicional. É esse o esquema teórico que orienta a
política colonial da última fase do Antigo Regime, e o „Pombalismo‟ foi a simbiose do
mercantilismo com ilustração.711”.
Finalmente, as reformas pombalinas proporcionaram efeitos a longo prazo. No
final do século XVIII e início do século XIX. Produzia resultados, era a diversificação
agrícola que passava a sustentar o Estado Português, pois sustentava as fábricas do
Reino de matéria-prima, proporcionando a retração das importações, contribuindo para
que a balança comercial com a Inglaterra se tornasse favorável712.

709
Andrée Mansuy-Diniz Silva. op. cit., p.479.
710
Ibidem, p. 479-480.
711
Fernando Antônio Novais. Aproximações: estudos de história e historiografia. São Paulo: Cosac
Naify, 2005. P. 170-171 e 263.
712
José Jobson de A. Arruda. O Brasil no Comércio Colonial. São Paulo: Ática, 1980. (Ensáios: 67). p.
642.
187

7.2 A administração da Mesa de Inspeção

O estudo sobre a Mesa de Inspeção desvenda o sentido das práticas, ações e


normas no trânsito da exploração colonial de forma refinada, camuflada,
desenvolvendo, instruindo o colono agricultor e comerciante para que agisse em comum
acordo com a Coroa, assim o agricultor ganhava, o comerciante também, mas a Coroa
era a que saia com a maior lucro. Era uma forma contraditória e composta de elementos
diferentes. Reproduzia a Colônia desenvolvendo uma nova realidade e afirmação da
exploração colonial e do poder da Coroa no Brasil, sempre era em defesa dos interesses
econômicos da Coroa.
A reforma pombalina no Brasil foi realizada de forma a centralizar a
administração da economia colonial em alguns órgãos-chave, como a Junta do
Comércio de Lisboa e do Erário Régio – que, para a Colônia Mesa de Inspeção, era o
principal deles, uma vez que era responsável pela produção que gerava o
desenvolvimento das atividades de navegação e comércio. Para isso, o Regimento da
Mesa de Inspeção estruturava a composição do quadro de funcionários priorizando os
indivíduos que tivessem atribuições no desenvolvimento das atividades produtivas e
comerciais, mas que também tivesse conhecimento e atuação em outros setores da
economia, sociedade e política da Colônia713.
Os órgãos criados com a reforma pombalina estavam interligados e tinham
funções que às vezes auxiliavam o andamento das ações econômicas de determinada
instituição ou atuava diretamente para que a administração da economia colonial
desenvolvesse de forma dinâmica. Eram órgãos que tinham também função de
fiscalização. Esses órgãos tinham o caráter de descentralizar a administração quando
cada um executava as suas funções localmente, em seu território, mas também tinha a
função centralizadora, já que o resultado de cada instituição estava direcionada ao Rei,
ao Secretário de Estado, ao Erário Régio714. Com relação a isso, Andrée Mansuy-Diniz
Silva afirma que, “durante toda a segunda metade do Século XVIII, à medida que
crescia a dependência econômica da metrópole com relação à dependência com sua
colônia mais rica, a administração do império foi-se tornando cada vez mais complexa e

713
[REGIMENTO das Casas de Inspeção], de 1º de abril de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino –
Bahia: Caixa 54, documento 10326.
714
Andrée Mansuy-Diniz Silva. op. cit., p.489.
188

a autoridade política, mais centralizada e reforçada715”.


No que se refere à estrutura e funcionamento da Mesa de Inspeção e à sua
relação com outras instituições, o seu presidente era escolhido diretamente pela Coroa e
era automaticamente o Intendente Geral do Ouro, cargo criado em 1750, com a reforma
da mineração para controlar e cuidar do comércio do ouro e pedras preciosas nas praças
da Bahia e Rio de Janeiro. Portanto, já era o responsável por parte importante dos
rendimentos reais e, por isso, era a pessoa, segundo Pombal, mais adequada para
assumir a presidência da Mesa716. Além disso, os intendentes gerais da Bahia tinham
uma carreira estabelecida na magistratura, pois tinham cursado direito em Coimbra, e
exerciam o cargo de Juiz de Fora no senado e na Câmara Municipal. Ao assumir a Mesa
de Inspeção, seu título era: “Intendente geral do Ouro Desembargador e Presidente da
Mesa de Inspeção da Bahia”. Dessa forma, concentrava a administração de dois
importantes órgãos que gerenciava a produção colonial a Intendência Geral do Ouro e a
Mesa de Inspeção, além de ter conhecimentos jurídicos que exercia com frequência.
Já os inspetores também eram pessoas que atuavam em outros órgãos, como a
Câmara Municipal717, já que os inspetores da agricultura eram escolhidos entre os
membros da Câmara e os inspetores do Comércio, pela Mesa do Bem Comum até 1757,
e quando esta foi extinta, passou a ser escolhido pelos membros do comércio via Mesa
de Inspeção. Para Nuno Luís Madureira, “a participação de mercadores numa instituição
centralizada, cuja função é a disciplina e a regulação da atividade econômica, dá-lhes
uma dupla vantagem em relação à concorrência” devido ao “monopólio da informação
econômica […] utilizada em proveito próprio718”. Por outro lado, era no seio da Câmara
que saíam os inspetores da agricultura, dois para o fumo e dois para o açúcar, e, como
vereadores, estes tinham que defender os interesses locais. Assim, os agricultores,
atuando nos dois espaços tinham posições específicas: Na Câmara defendiam os
interesses locais, mas na Mesa prevalecia o interesse da Coroa, o que era conflituoso.
O Tesoureiro e os escrivães da Mesa de Inspeção também atuavam na Casa da
Arrecadação do Tabaco, geralmente na prestação de contas e outros assuntos
relacionados ao produto. Na Alfândega, o escrivão atuava junto aos seus funcionários na
vistoria dos navios e na fiscalização do embarque e desembarque das mercadorias.
715
Ibidem. op. cit., p.487–488.
716
A correspondência trocada entre a Mesa de Inspeção e a Coroa, geralmente apresenta o Presidente da
Mesa de Inspeção como sendo também Intendente geral do ouro e Desembargador.
717
[REGIMENTO das Casas de Inspeção] de 1º de abril de 1751. op. cit.
718
Nuno Luís Madureira. Mercado e Privilégios: A indústria Portuguesa entre 1750 a 1834. Lisboa:
Editorial Estampa, 1997 p 45
189

A relação direta entre a Mesa de Inspeção e as instituições administrativas em


Angola ocorreu a partir de 1758, quando o comércio de escravos foi decretado livre. Sua
supervisão passou a ser exercida pela Mesa719. A Real Fazenda da Administração de
Angola enviava para esta todo o rendimento do comércio de escravos, marfim e cera
que foi arrecadado – além da quantidade ainda restante –, juntamente com os registros
de comerciantes, que era depositado no cofre da Mesa. Esta era responsável por receber
os produtos e escravos da África e realizar os procedimentos necessários, cobrando os
direitos reais e fazendo pagamentos das letras dos comerciantes que recebiam em
Angola. Depois, a Mesa enviava os lucros do comércio com Angola para o Erário Régio
em Lisboa, juntamente com a contabilidade. Era também enviado para Angola o
dinheiro para que a Real Administração da Fazenda de Angola e o Governador
efetuassem os pagamentos das despesas com a administração. Desse dinheiro, a Mesa
também retirava os 2% que a Coroa determinou pelo pagamento do trabalho extra em
administrar o comércio dos escravos e marfim. Os escravos que chegavam ao porto da
Bahia eram comercializados ali mesmo, e o marfim era encaminhado a Portugal. A
prestação de contas da Mesa de Inspeção com o Erário Régio era direta720. A Mesa,
nesse sentido, tinha o papel de interligar as instituições no Brasil e Angola com as de
Portugal. Era o elo entre a metrópole e suas colônias para reajustar a administração da
economia colonial, controlando, através de leis e alvarás, as instâncias econômicas.
No cotidiano da Mesa, a sua função era preponderantemente de fiscalizar,
disciplinar, regular, orientar e desenvolver toda a economia diretamente pelas instâncias
superiores estabelecidas em Lisboa para a constituição do espaço colonial o que
fundamentava o sistema e estava dentro da lógica das políticas e determinações
metropolitanas. Medidas sempre apoiadas no monopólio e no exclusivo.
A partir da análise da atuação da Mesa de Inspeção em suas várias instâncias
podemos estabelecer as suas relações institucionais com as existentes em Portugal,
como por exemplo, a Junta da Administração do Tabaco, a Junta do Comércio, a
Alfândega, o Erário Régio, a Secretaria de Estado e a Coroa. A Mesa também se
relacionava com instituições em Angola, sendo a Junta da Administração da Real
Fazenda, a Contadoria Geral da África Ocidental, Maranhã e Bahia. No Brasil, o Vice-
rei, o Governo da Capitania, a Casa da Arrecadação, a Câmara Municipal eram os seus

719
[PROVISÃO para a Mesa de Inspeção da Bahia” de 29 de maio de 1779. Lisboa, 29 de maio de 1779.
Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: Livro 4220.
720
Ibidem.
190

contatos. Embora a Mesa de Inspeção tivesse legislação e jurisdição para atuar e


resolver as questões nas atividades econômicas da Colônia, também estava direta ou
indiretamente trocando informações, recebendo ou dando ordens e dividindo tarefas
com essas instituições da administração portuguesa em Lisboa ou nas colônias721.
Essas relações entre as várias instituições eram uma forma de modernizar a
administração ao mesmo tempo em que também favoreciam uma vigilância maior entre
os órgãos e agentes da administração colonial, materializada em incessantes
recomendações, advertências e punições, em um esforço para a “racionalização dos
procedimentos administrativos e modernização dos quadros burocráticos722”. O
“equilíbrio de poderes entre essas diversas instâncias tinha como centro político Lisboa,
com destaque ao secretário de Estado e cada vez menos ao Conselho Ultramarino723”.
Segundo Heloísa Liberalli Bellotto, havia nos impérios coloniais uma “lentidão
da comunicação que era desfavorável à centralização preconizada pelo absolutismo”. E,
por isso, “aos governadores dos domínios mais distantes foram delegados maiores
poderes724”. Esse também foi um dos motivos de a Mesa ter jurisdição e poder decidir
sobre as questões econômicas da Colônia no intuito de otimizar o tempo e resolver os
problemas.
A partir do conhecimento e compreensão da estrutura da Mesa de Inspeção da
Bahia, podemos criar condições para, na sua funcionalidade, analisarmos a sua
capacidade de resposta perante as já anunciadas alternativas que assistiram a sua
evolução, na forma e resultados e, desse modo, afirmar que esta instituição tinha poder e
jurisdição para administrar a economia colonial do Brasil no que estava a ela atribuída
na Capitania da Bahia. A importância com que Pombal destinava a economia colonial e
o desenvolvimento da agricultura justificava a ampliação dos poderes da Mesa ao longo
da segunda metade do XVIII. Poder esse que a Mesa utilizou no sentido de cumprir e
defender os interesses da Coroa.

721
Geralmente o intendente também era o juiz de fora. Em vários ofícios o Intendente Geral do Ouro e
desembargador presidente da Mesa de Inspeção escrevia ao secretário ou ao rei e “dizia como
intendente… como presidente” lembrar que Bitencourt pediu a permissão de usar a beca durante a reunião
da mesa.
722
Francisco Calazans Falcon. História de Portugal…op. cit. p. 237–238.
723
Nuno Monteiro. op. cit., p. 133-134.
724
Heloísa Liberalli Bellotto. Autoridade e conflito no Brasil Colonial: o governo de Morgado de Mateus
em São Paulo. 2ª.ed. São Paulo: Alameda, 2007.p.221.
191

7.3 Resultados e a decadência da Mesa de Inspeção

Tanto para Portugal como para o Brasil a segunda metade do século XVIII foi
um período de reorientações que culminaram em amplas transformações na Colônia,
principalmente com a política pombalina de reformas agrícolas e comerciais. Para Stuart
B. Schwartz, “o primeiro e mais direto impacto dessas medidas foi sentido pelos
senhores de engenho em janeiro de 1751, com a criação das Mesas de Inspeção nos
principais portos brasileiros, Recife, Rio de Janeiro, São Luiz e Salvador725”. Schwartz
afirma ainda que a Mesa de Inspeção era destinada a restaurar a confiança na qualidade
dos produtos por meio de exame, qualificação, embarque e financiamento, ou seja,
“incumbiram-se de tarefa difícil e impopular”, pois a atuação da Mesa em eliminar as
práticas de falsificação, a fixação de preços do produto, o aumento das taxas de
armazenamento e dos fretes provocaram um descontentamento que gerou inúmeras
“queixas dos produtores contra as Casas de Inspeção, embora motivados por interesses
próprios e talvez por comodismo, não obstante revela algo da situação da economia
açucareira e de como era vista pelos senhores de engenho [...]”. Porém, “em vão foram
as lamentações dos senhores de engenho. A Casas de Inspeção da Bahia não foi abolida;
de fato, seus poderes e seu alcance cresceram com o passar do tempo726”.
Confirmando a tese de que a Mesa de Inspeção era uma instituição instalada na
Colônia com funções administrativas e econômicas que obedecia diretamente às
diretrizes da metrópole para aperfeiçoar a exploração colonial de forma mais refinada,
esta cumpriu com as suas funções administrativas de regular e organizar a produção, o
comércio e a navegação, atendendo a todas as determinações da Coroa, incentivou e
promoveu ações que originaram o desenvolvimento da Colônia.
Porém, no final do século XVIII e início do XIX, com o advento do pensamento
liberal, ganharam volume as críticas às medidas mercantilistas e à política colonial –
“ideias mais favoráveis à liberdade de comércio quando não abertamente defensoras do
liberalismo simithiano727” que embasariam as críticas ao funcionamento da Mesa de
Inspeção.

725
Stuart B. Schwartz. Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. 1550-1835. São
Paulo: Companhia das Letras, 1988. P. 337- 341.
726
Ibidem, p. 341-342.
727
Nuno Monteiro. op. cit. p. 142.
192

Manuel Joaquim Rebelo afirma que os negociantes, em grosso volume –


principalmente os que negociam entre as conquistas e o reino, no exercício do comércio
marítimo – necessitam de “uma regulada inspeção, para que não se intrometa a negociar
quem não teve antecipada prática do comércio e não possui o necessário cabedal de
crédito ou dinheiro para segurar do modo possível os interesses que deles se confiam”,
pois os comerciantes são geralmente os depositários do dinheiro e da riqueza que gira
no Estado e, assim, a “sua profissão requer vigilância superior para que eles hajam de
proceder em boa ordem e com fidelidade e respeito público”. Porém, o governo deve
dar também a liberdade que o negociante precisar para comprar, vender, transportar e
navegar728.
Domingos Vandelli, por sua vez, aponta alguns problemas que provocaram o
aumento significativo do preço do açúcar: o excessivo valor do dinheiro, o grande preço
dos escravos, aos graves tributos e os avultados fretes são as causas dos prejuízos com o
comércio açucareiro. Além disso, afirma que são “as Mesas de Inspeção presentemente
mais prejudiciais que úteis” nesse contexto729.
Nessa última fase da Mesa, os agricultores também reclamavam de sua atuação.
Um exemplo são as queixas e dois abaixo-assinados dos lavradores de tabaco e
mandioca da vila de Cachoeira e da freguesia de São Gonçalo dos Campos – no
Recôncavo da Bahia – de fevereiro de 1822, em que a criticavam pelo caso específico
da proibição da criação de gado vacum e cavalar a uma distancia de 30 léguas da beira
mar, “cujas determinações e ordens nunca se observaram, por ir de encontro aos
interesses dos representantes730”, pois essa medida afetava diretamente a produção do
tabaco, mandioca e outras produções devido à falta de adubação da lavoura. E “para que
não frustre a colheita, sugere a adubação das terras par que não faleça o tabaco, um dos
principais gêneros que o comércio brasiliense oferece a este reino e às Nações
estrangeiras e donde dimana um abundante manancial de riqueza e opulência 731”.
Assim, a redução da criação do gado vacum e cavalar diminuiu também “o necessário
estrume com que adubadas as terras vem os representantes produzirem excelentes

728
Manuel Joaquim Rebelo (M.J.R). Economia Política, 1795. Lisboa: Banco de Portugal, 1993.
(Coleção de Obras Clássicas do Pensamento Econômico Português). P. 49-50.
729
Grifo do autor. Domingos Vandelli. Aritmética Política, Econômica e Finanças, 1770-1804. Lisboa:
Banco de Portugal, 1993. (Coleção de Obras Clássicas do Pensamento Econômico Português).
730
[RECLAMAÇÕES e Abaixo Assinados da vila de Cachoeira e da freguesia de São Gonçalo dos
Campos contra a Mesa de Inspeção proibir a criação do gado vacum e cavalar à 30 léguas distante da
beira mar]. Fevereiro de 1822. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: fundo: Negócios do Ultramar,
Maço 500, caixa 623.
731
Ibidem.
193

tabacos e todas as mais plantações que se cultivam nelas”. Além disso, os ditos animais
eram necessários no processo de produção como tração nos engenhos e no transporte –
o que dificultaria a chegada da produção aos trapiches próximos ao porto na data
prevista para a partida da frota. Outro problema era o prejuízo causado aos criadores
destes animais, que foram obrigados a vendê-los por menos do preço justo porque não
possuíam terras a 30 léguas distantes do mar e pediam, por fim, à Coroa a “ab-rogação
das Ordens da correção e da Mesa de Inspeção por serem contra a bem entendida
economia rural, que deve ser promovida e não definhada, principalmente no Brasil onde
apenas é conhecida732”.
Dessa forma, ao definirmos 1808 como marco final dessa pesquisa, atentamo-
nos para as mudanças políticas e econômicas que estavam ocorrendo no interior do
Império Português e ao Antigo Sistema Colonial733.
Com a abertura dos portos, houve o fim do exclusivo metropolitano, mas não das
características do Antigo Sistema Colonial. Entre 1808 a 1822, ocorreu um período de
transição contraditório entre liberdade comercial e subordinação política. A Mesa
representava essa continuação da administração colonial pelo qual se “preservava uma
legislação pesadíssima que não correspondia mais às novas condições do comércio734”.
As Mesas não foram extintas e permaneceram com as mesmas atribuições. Além disso,
foram criadas novas Mesas pelo alvará de 15 de julho de 1809 e estabeleceram-se taxas
sobre o comércio. Foram denominadas Mesas das Rendas e Contribuições das
Províncias da Junta Real do Comércio e estabelecidas em Porto Alegre, Desterro,
Santos, João Pessoa, Natal, Fortaleza e Belém735.
Embora para os agricultores e comerciantes a Mesa de Inspeção representasse
uma instituição que os prejudicava mais que beneficiava, o contrário não acontecia para
a Coroa. Podemos perceber o sucesso da Mesa para o governo português por meio do
projeto português das Cortes de impulsionar a economia de Portugal com a “Comissão
para o melhoramento do comércio da cidade de Lisboa”. A “recolonização” do Brasil
pelas Cortes tinha o objetivo de reavivar a Mesa de Inspeção como a instituição que
cuidaria dos interesses da qualificação e produção dos produtos como tabaco, açúcar e
algodão, e tinham sugestões de racionalizar o comércio com a “supressão das guias de
732
Ibidem.
733
Cf. Fernando Antônio Novais. 1995. op. cit. e José Roberto do Amaral Lapa. O Antigo Sistema
Colonial. Editora Brasiliense, São Paulo, 1982.
734
Jean Baptiste Nardi. O Fumo Brasileiro no Período Colonial: Lavoura, Comércio e Administração.
São Paulo: Brasiliense, 1996. P.186.
735
Ibidem, p.187.
194

alfândega, a unificação dos preços e medidas, melhor acondicionamento do algodão e


do tabaco responsabilização das Mesas de Inspeção do Brasil pelos pesos e falsificações
e classificação do açúcar e do tabaco em tipos736”.
Além disso, “o comércio entre Portugal e Brasil deveria ser considerado como
de províncias do mesmo continente e como tal reputado de cabotagem 737”, e os gêneros
como açúcar, tabaco e algodão teriam todo um controle acompanhado de certidões ou
cartas e guias da alfândega e despachos da Mesa, que era “encarregada de fiscalizar as
saídas” do Brasil738. Estipulava-se, conforme documento, ainda que

XXI. As Mesas de Inspeção do Brasil deverão ser rigorosamente


responsáveis pelos abusos na inspeção do algodão e farão efetivas as leis de
responsabilidade contra os lavradores que cometerem fraude no peso das
taras das caixas de açúcar e paus nos rolos de tabaco, bem como pelo dolo e
falsificação na qualidade dos gêneros, pelo que deverão os lavradores serem
responsáveis, obrigando-os para isso a porem as suas marcas em todos os
739
volumes.

XXII. As Inspeções no Brasil deverão tomar novo e geral sistema de


classificar o açúcar, devendo ser designados 1, 2 e 3, tanto no branco como
no mascavo e deixar franco ao comércio os preços fixos e a diferença destas
classificações; o tabaco em folha deverá ser classificado como se pratica com
740
o de corda, permitindo-se a sua livre exportação. .

O plano dos portugueses era que a Mesa de Inspeção atuasse de acordo com os
interesses de Portugal, revelando a importância que a esta teve para a exploração dos
produtos coloniais.
Contudo, diante da nova conjuntura do início do século XIX e do quadro de
mudanças, a Mesa de Inspeção passou por alterações em sua estrutura, principalmente
em 1808 com a abertura dos portos, que estabelecia uma comercialização com outras
nações. Além disso, entre 1808 e 1827, o custo da Mesa de Inspeção dobrou e as
eleições não seguiam o procedimento legal. A ampliação das queixas, juntamente com a
má qualidade do tabaco e problemas com a execução dos exames, e o aumento de
atribuições – como a arrecadação de impostos – proporcionaram a decadência da
instituição. Por fim, diante dessas circunstâncias, “a Mesa tornou-se um órgão inútil e

736
Antônio Penalves Rocha. A recolonização do Brasil pelas Cortes: histórias de uma invenção
historiográfica. São Paulo: Ed. UNESP, 2009. p.70.
737
ARTIGOS da Comissão para o melhoramento do comércio da cidade de Lisboa In.: Antônio Penalves
Rocha. Op. Cit. p.127.
738
Ibidem, p.128.
739
Ibidem, p.130.
740
Ibidem, p.130.
195

dispendioso741”, sendo extinta pela lei de 05 de novembro de 1827. Com o fim da Mesa
de Inspeção, as suas jurisdições foram transferidas para órgãos locais – como tribunais
de justiça –, arrecadação dos impostos, ao Conselho da Fazenda, e os funcionários
foram mantidos e direcionados para outros órgãos administrativos da Bahia742.

741
Jean Baptiste Nardi. op. cit., p. 201-102.
742
Ibidem, p. 188.
196

Considerações finais

A Mesa de Inspeção era um projeto da coroa portuguesa para melhorar a


exploração colonial se insere nas reformas pombalinas, postas em prática no governo de
D. José I a partir de 1750 e intensificadas depois de 1755. A Mesa era uma instituição
que administrava alguns setores da economia colonial e cuidava dos interesses da Coroa
a partir da própria Colônia, tendo poder e jurisdição para resolver questões econômicas.
Na agricultura exerceu papel fundamental no melhoramento dos principais
produtos, o tabaco e o açúcar, incentivando novas técnicas de cultivo e auxiliando os
agricultores. Com o objetivo de intensificar a diversificação das culturas na colônia,
seguiu a orientação da Coroa para a introdução de novos gêneros como o Algodão,
arroz, café, anil, além de experiências com outros gêneros da África e Ásia, no exemplo,
como pimenta, linho e criação do bicho da seda obtendo êxitos nestas experiências.
Outro objetivo da Mesa era inspecionar os produtos, fiscalizar o seu
armazenamento e transporte no intuito de garantir que os produtos chegassem em
Portugal, inspecionados qualificados e marcados. Também regulamentou a navegação,
administrando a chegada e saída da frota, vistoriando os navios, controlando o transito
dos passageiros, assim como a tripulação. Tudo isso para que os produtos chegassem
em Portugal com as melhores condições e prontos para serem distribuídos no mercado
metropolitano.
Orientada para a revitalização do comércio português na segunda metade do
século XVIII, a Mesa regulamentou o comércio, ajustando os preços dos produtos e
fretes de acordo com as determinações da Coroa. Além disso, atuou de forma a
combater a fraude e o contrabando e tinha a autoridade de coibir, combater, investigar e
punir os responsáveis por essas práticas ilícitas que tanto prejudicava o Real Fazenda e
ia contra o comércio monopolista estipulado pelo Governo.
A Mesa de Inspeção também desempenhou papel importante no processo de
reestruturação do comércio português da Costa da África, quando, a partir de 1758, o
comércio de escravos e marfim foi decretado livre e passou a regular o tráfico de
escravos e marfim e administrar os rendimentos gerados pelo tráfico negreiro e do
marfim e também inspecionava o negócio do tabaco inferior e de outros produtos
comercializados na Costa Africana.
197

Portanto, a instalação e funcionamento da Mesa de Inspeção da Bahia representou


um instrumento importante da política mercantilista do governo português, sua atuação
sofreu resistências que originaram conflitos entre as várias instâncias da sociedade e da
administração colonial, principalmente com o Governador da Capitania, como também,
dos agricultores, comerciantes, capitães de navios e trapicheiros que procuravam
defender seus próprios interesses e agiam, na maioria das vezes, de forma resistente e,
até mesmo contrária a Mesa de Inspeção.
Constatamos, então, que a Mesa de Inspeção se configurou um projeto refinado da
Coroa Portuguesa, dentro da lógica do Antigo Sistema Colonial, contribuindo para a
melhoria da produção colonial e para a diversificação da produção, favorecendo o que
Jobson Arruda definiu como “novo padrão de colonização”.
198

Referências:

Fontes Manuscritas:

Arquivo Público do Estado da Bahia


Seção Colonial e Provincial

Alvarás, leis e decretos (1713-1797), maço nº 454-1.

Cartas do governo à várias autoridades (1787-1802), maço nº 159.

Cartas do Senado da Câmara (recebidas) (1786-1822), maço nº 485-2

Correspondências recebidas pelo Senado da Câmara (1783-1799), maço nº 201-14

Correspondências Expedidas para o Rei (1797-1799) maço, nº138.

Correspondências de Governos Estrangeiros (1786-1799) maço, nº 197.

Correspondências do Governo de Angola (1786-1799) maço, nº195.

Correspondências Enviadas ao Rei pelo Senado da Câmara, (1794-1795), maço, nº 132.

Correspondências Recebidas: Junta da Real Fazenda de Angola (1794-1795), maço nº


201-38.

Correspondências Recebidas de Autoridades diversas (1740-1799), maço, nº 201-75.

Governo de Pernambuco (1786-1799, maço, nº 201-12.

Intendência do Ouro (1782), maço nº 201-34.

Maço (1674-1822), nº 626.

Correspondências Expedidas do Senado da Câmara de Salvador (1789), maço, nº 485-1.

Série Ordens Regias (1715-1810), maços, d0 nº 03 até o 108.

“Carta de Feliciano Velho Oldemberg ao Governador da Bahia. Belém, 21/10/1755”.


Arquivo Público da Bahia; Seção Colonial e Provincial: Ordens Régias (1751-1753), Nº
48.
199

“Carta do Governador de Angola”, 15 de maio de 1787. Arquivo Público da Bahia:


Seção Colonial e Provincial, maço 195.

“Carta do Governador de Angola”, 25 de janeiro de 1794. Arquivo Público da Bahia:


Seção Colonial e Provincial, maço 195.

“Carta do Governador de Angola”, 20 de fevereiro de 1799. Arquivo Público da Bahia:


Seção Colonial e Provincial, maço 195.

“Carta do Governador de Angola”, 03 de dezembro de 1799. Arquivo Público da


Bahia: Seção Colonial e Provincial, maço 195.

“Correspondência do Governo de Angola 1786-1799”. Arquivo Público da Bahia:


Seção Colonial e Provincial, maço, 195.

“Correspondência entre os governadores da Bahia e Angola”, 08 de setembro de 1756.


Arquivo Público da Bahia: Seção Colonial e Provincial, maço 76, nº 16.

Arquivo Histórico Municipal de Salvador – Fundação Gregório de Matos.

Atas da Câmara de Salvador (1765-1776);

Cartas do Senado à Sua Majestade (1742-1822);

Cartas do Senado aos Governadores das Vilas e Capitanias (1666-1805);

Cartas do Senado volume 03;

Cartas do Senado volume 05;

Documentos Avulsos (1763-1770);

Documentos Diversos (1730-1812).

Arquivo Nacional do Rio de Janeiro

“Correspondência sobre a agricultura e manufatura o tabaco”. Bahia, 23 de junho de


1788. Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, códice 807, volume 13.

“Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação”, caixa 414, pacotes de 1 a 3.


200

“Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação”. Mesa de Inspeção, caixa 179.

Arquivo Histórico Ultramarino


Projeto Resgate: Bahia

“Alvará de 30 de março de 1756 sobre a contadoria do negócio da África”. Arquivo


Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 23, documento 4436.

“Armazenamento do açúcar e tabaco no Trapiche”. 6 de julho de 1755. Arquivo


Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 10, documento 1787.

“Carta regia determinando a forma de se efetuar o carregamento dos navios para a Costa
da Mina”. Lisboa, 01 de dezembro de 1752. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia,
caixa 09, documentos 1473-1482.

“Carta do Vice-rei e Governador-Geral do Estado do Brasil, conde de Atouguia, Luiz


Pedro Peregrino de Carvalho Meneses e Ataíde ao rei D. José em resposta à provisão
real, dando seu parecer acerca das representações dos donos de engenho da Bahia e
Sergipe, que apresentam queixas da carestia dos escravos e da produção do açúcar”.
Bahia, 29 de maio de 1753. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 115,
documento 8985.

“Carta dos Deputados da Mesa de Inspeção da cidade da Bahia ao rei [D. José] a
informarem do embaraço que tiveram para dar cumprimento ao regimento da Inspeção”.
Bahia, 30 de maio de 1753. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa115,
documento 8992.

“Carta régia pela qual se fez mercê ao bacharel João Ferreira Bitencourt e Sá do cargo
de Juiz de Fora do Civil da cidade da Bahia”. Lisboa, 18 de fevereiro de 1755. Arquivo
Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 134, documentos 26594 – 26597.

“Carta da Mesa de Inspeção ao Capitão e comandante da Frota”, Bahia 16 de maio de


1755. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 11, documento 1922-1947.

“Carta régia pela qual se fez mercê a João Ferreira Betencourt e Sá de o nomear
Intendente e primeiro ministro da Mesa de Inspeção da Bahia”, Lisboa, 28 de janeiro de
1764. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 134, documentos 26594 – 26597.
201

“Comentários da Mesa de Inspeção sobre as diversas queixas recebidas”. Bahia, 04 de


julho de 1755. Arquivo Histórico Ultramarino; Bahia, caixa 11, documento 1922-1947.

“Conjunto de cartas e ofícios do Governador Manuel da Cunha Menezes para Martinho


de Melo e Castro em que se refere ao contrabando praticado nos navios da Costa da
Mina e do descaminho do açúcar proveniente de Pernambuco” entre 08 de dezembro de
1778 a 16 de abril de 1779. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 53, doc.
10103-10111.

“Consulta do Conselho Ultramarino ao rei D. José sobre as queixas dos oficiais da


Câmara da cidade da Bahia, senhores de engenho, lavradores de cana e tabaco contra a
nova lei da Casa de Inspeção”. Lisboa, 23 de novembro de 1752. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 112, documento 8759.

“Consulta do Conselho Ultramarino ao Rei D. José sobre o que o Vice-Rei e


Governador Geral do estado do Brasil, Luís Pedro Peregrino de Carvalho de Meneses e
Ataíde, conte de Autoguia da conta das despesas para as obras da Casa de Inspeção”.
Lisboa, 02 de dezembro de 1753. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 112,
documento 8782.

“Decreto de sua Majestade que baixou ao Conselho Ultramarino a favor do Comércio e


Fábrica do Açúcar e Tabaco” de 27 de janeiro de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino
– Bahia: Caixa 54, documento 10328.

“Escrivão da Mesa de Inspeção Simão Gomes Monteiro”, Bahia, 28 de agosto de 1757.


Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 14, documentos 2607-2611.

“Exposição em que fez Wenceslau Pereira da Silva na Mesa de Inspeção sobre os meios
que se deviam considerar para a pronta expedição da frota”. Bahia 15 de fevereiro de
1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 07, documentos 1040-1055.

“Informação da Mesa de Inspeção da Alfandega do Tabaco da Bahia acerca da


exportação do tabaco e açúcar, Bahia”, 30 de maio de 1753. Arquivo Histórico
ultramarino: Bahia. Caixa 05, documento 628-629.

“Informação da Mesa de Inspeção acerca de um requerimento do procurador do


Contrato Geral do Tabaco, Joaquim Inácio da Cruz”. Bahia, 11 de novembro de 1754.
Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 08, documentos 1356-1363.
202

“Informação da Mesa de Inspeção acerca de um requerimento do procurador do


Contrato Geral do Tabaco, Joaquim Inácio da Cruz e outros requerimentos do
contratador geral do tabaco José Machado Pinto”. Bahia, 11 de novembro de 1754.
Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 08, documentos 1356-1363.

“Informação do Desembargador Rodrigo Coelho Machado Torres sobre o contrabando


de fazendas estrangeiras entre a Bahia e a Costa da Mina, 05 de maio 1779”. Arquivo
Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 54, doc. 10331.

“Instruções para o marques de Valença, Governador e Capitão General da Capitania da


Bahia”. Palácio de Queluz, 10 de setembro de 1779. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia. Caixa 54: documento: 10319-10335.

“Mesa de Inspeção da Bahia, 24 de maio de 1755”. Arquivo Histórico Ultramarino:


Bahia caixa 09, docs. 1618-1623.

“Novo Regimento da Alfandega do Tabaco” de 16 de janeiro de 1751. Arquivo


Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 54, documento 10325.

“Oficio do Vice-rei conde de Atouguia para Diogo de Mendonça Corte Real referindo
se a cultura do arroz, do linho, do açúcar e do tabaco”. Bahia, 30 de junho de 1751.
Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 02, documento 115-123.

“Oficio do Vice-rei conde de Atouguia para Diogo de Mendonça Corte Real acerca do
comércio com a Costa da Mina”. Bahia 30 de junho de 1751. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 02, documentos 124-125.

“Ofício da mesa do Comércio da cidade da Bahia ao Vice-rei e Governador Geral do


Estado do Brasil, conde de Atouguia, Luís Pedro Peregrino de Carvalho de Meneses e
Ataíde, informando da necessidade de inspetores para o comércio desta cidade”. Bahia,
18 de abril de 1753. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 114, documento 8917.

“Carta do Vice-Rei e Governador-Geral do Estado do Brasil, Conde de Atouguia, Luiz


Pedro Peregrino de Carvalho Meneses e Ataíde ao rei D. José em resposta à provisão
real, dando seu parecer acerca das representações dos donos de engenho da Bahia e
Sergipe, que apresentam queixas da carestia dos escravos e da produção do açúcar”.
Bahia, 29 de maio de 1753. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 115,
documento 8985.
203

“Ofícios do Vice Rei conde de Atouguia sobre o Novo Regimento do Tabaco e a saída
das frotas”. 28 de fevereiro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia: caixa 06,
Doc. 931-936.

“Ofício do Vice Rei conde de Atouguia acerca das eleições dos Inspetores da
Intendência dos açúcares e dos Tabacos (Mesa de Inspeção)”. Bahia, 28 de fevereiro de
1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 06, documentos 937-942.

“Oficio da Mesa de Inspeção da Bahia acerca da exportação do tabaco e descrevendo a


forma como se verificava a sua qualidade e estado de conservação”. Bahia, 29 de março
de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 07, documentos10320-1034.

“Oficio do Intendente Geral Wenceslau Pereira da Silva para Diogo de Mendonça Corte
Real, informando acerca de um requerimento dos oficiais da Mesa de Inspeção alegando
excesso de trabalho e pedindo melhoria nos vencimentos”, Bahia, 30 de março de 1754.
Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 07, documentos1080-1103.

“Oficio do intendente geral Wenceslau Pereira da Silva para Diogo de Mendonça Corte
Real informando sobre o excesso de trabalho e sobre as marcas antigas e as modernas
da inspeção, 30 de março de 1754”. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 7,
documentos de 1080-1103.

“Oficio do Vice-Rei Conde de Atouguia para Diogo de Mendonça Corte Real acerca da
cultura do linho e plantação de amoreiras para a criação dos bichos da seda e dos
engenhos de descascar arroz”. Bahia, 25 de junho de 1754. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 07, documento 1174-1176.

“Oficio do Intendente Geral do Ouro Wenceslau Pereira da Silva para Diogo de


Mendonça Corte Real, referindo-se entre outros assuntos ao carregamento regular dos
navios e a posse dos membros da Mesa de Inspeção da Bahia” em 07 de agosto de 1754.
Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 08, documentos 1396-1425.

“Oficio do Governo interino para Diogo de Mendonça Corte Real, informando acerca
das experiências que se tinham feito na cultura do linho e plantação de amoreiras”.
Bahia, 20 de junho de 1755. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 10,
documento 1636-1699.
204

“Ofício do governador interino para Diogo de Mendonça Corte Real no qual se refere a
falta de chuvas e carregamento da frota”. Bahia 5 de julho de 1755. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 10, documento 1786.

“Oficio do Intendente Geral e Presidente da Mesa de Inspeção da Bahia Wenceslau


Pereira da Silva a Secretário de Estado Sebastião José de Carvalho e Melo sobre os
meios mais adequados para o crescimento do Brasil e da necessidade de mão-de-obra
escrava”. Bahia 6 de julho de 1755. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 125,
documento 9767.

“Oficio do Vice-rei conde de Arcos para Sebastião José de Carvalho e Mello em que se
refere à cultura do tabaco e as experiências que se estavam realizando”. Bahia, 11 de
maio de 1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 16, documento 2810.

“Ofício do Vice-rei conde de Arcos para Sebastião José de Carvalho e Mello”. Bahia,
21 de agosto de 1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 16, documentos
2827-2834. Documentos foram duplicados e podem ser encontrados também na caixa
14, documentos 2555-2566.

“Oficio de Vice-rei conde de Arcos para Thomé Joaquim da Costa Corte real em que
informa de ter mandado dissolver a Mesa do Bem Comum ou do Comércio da Bahia,
narrando a História de sua criação”. Bahia, 24 de agosto de 1757. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 14, documentos 2573-2579. / Arquivo do Estado da Bahia.
Série Colonial e Provincial: Alvarás e Ordens Régias, v. 395, f. 123.

“Oficio do Vice-rei conde de Arcos referindo-se a ordem regia que determinava


privativamente à mesa de inspeção a administração do comercio da Bahia com a Costa
da África”. Bahia, 25 de agosto de 1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa
14, documentos 2584-2585.

“Oficio do Vice-rei conde dos Arcos para Thomé Joaquim da Costa Corte real, acerca
da jurisdição da Mesa de Inspeção sobre os navios que faziam o comercio da Costa da
Mina e do recurso das suas resoluções”. Bahia, 28 de agosto de 1757. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 14, documentos 2607-2611.

“Ofício do Vice-rei conde dos Arcos para Thomé Joaquim da Costa Corte Real, em que
consulta se a jurisdição sobre os navios que faziam o comércio para os Portos da África
se estendia também aos navios que se dirigiam para outros Portos da América”. Bahia,
205

10 de setembro de 1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 15, documento


2558.

“Oficio do Vice Rei Conde dos Arcos para Thomé Joaquim da costa Corte Real, acerca
da jurisdição privativa da Mesa de Inspeção, sobre os navios do comercio da Costa da
Mina”. Bahia 03 de setembro de 1757. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 14,
documentos 2631-2639.

“Oficio do Vice Rei Conde dos Arcos para Thomé Joaquim da C. Corte Real,
informando acerca da arqueação dos navios que transportam escravos de Angola e
outros Portos da África para o estado do Brasil”. Bahia, 18 de janeiro de 1759. Arquivo
Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 21, documentos 3932-3950.

“Ofício do capitão João Alberto de Castelo Branco ao Secretário de Estado da Marinha


e Ultramar Tomé Joaquim da Costa Corte Real informando a prisão dos passageiros da
frota da Bahia que foram apreendidos sem passaporte”. Lisboa, 11 de fevereiro de 1759.
Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 140, documento 10786.

“Oficio dos Inspetores da Mesa de Inspeção José Lopes Ferreira e Francisco Xavier de
Almeida para Thomé Joaquim da C. Corte Real, relatando as divergências que havia
entre os membros da Mesa de Inspeção sobe a classificação dos açúcares”. Bahia, 27 de
maio de 1759. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 22, documentos 4147-4149.

“Oficio dos Inspetores da Mesa de Inspeção da Bahia, Antonio da Rocha Pitta, João
Bernardo Gonzaga e José Alvaro Pereira Sodré para Thomé Joaquim da C. Corte Real,
relatando as divergências que havia entre os membros da Mesa de Inspeção sobe a
classificação dos açúcares”. Bahia, 27 de maio de 1759. Arquivo Histórico Ultramarino:
Bahia, caixa 22, documentos 4151-4166 e caixa 23, documentos 4194-4197.

“Carta do Intendente Geral do Ouro e Presidente da Mesa de Inspeção da Bahia João


Bernardo Gonzaga ao Rei D. José dando parecer acerca da suspensão da ocupação de
deputado da Mesa de Inspeção da Bahia a Amaro de Souza Coutinho”. Bahia, 23 de
julho de 1759. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 141, documento 10909.

“Oficio do Governador Manuel da Cunha de Menezes para Martinho de Mello e Castro


em que comunica às providências que mandara tomar para segurança dos presos que
tinham chegado a bordo do navio Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora do Paraiso e
informa acerca da fuga do preso Patrício José Vicente Targine e da carga de tabaco que
206

o mesmo navio tomou”. Bahia, 27 de junho de 1776. Arquivo Histórico Ultramarino:


Bahia, caixa 49, documentos 3158-9163.

“Oficio da Mesa de Inspeção participando a remessa de 5 viveiros com pássaros de


Angola que havia recebido do Capitão mor de Benguela Francisco Rodrigues Silva”.
Bahia, 17 de maio de 1777. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 50,
documento 9434-9437.

“Oficio da Mesa de Inspeção para Martinho de Mello e Castro, em que lhe dá parte das
avarias que um grande temporal causara ao Navio Netuno, Santo Antônio e Almas”.
Bahia, 01 de agosto de 1777. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 51,
documento 9498-9505.

“Ofício do Ouvidor Geral das Alagoas, Francisco Nunes da Costa sobre o contrabando e
apreensões de açúcar” em 26 de abril de 1779. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia,
Caixa 54, documento 10329.

“Ofício do Marques de Valença para Martinho de Melo e Castro sobre a fiscalização


dos açúcares de como evitar o contrabando que se havia com os procedentes das
Alagoas, Pernambuco e Paraíba”, 05 de janeiro de 1780. Arquivo Histórico Ultramarino
– Bahia: Caixa 54, doc. 10463-10464.

“Oficio do Intendente Geral do Ouro e Presidente da Mesa de Inspeção João Ferreira


Bitencourt e Sá para Martinho de Melo e Castro na qual dá diversas informações sobre a
produção e exportação do tabaco e açúcar”. Bahia, 1º de agosto de 1781. Arquivo
Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 57, documento 10879.

“Parecer do Juiz de Fora Luiz Coelho Ferreira acerca das representações dos Senhores
de Engenhos, Lavradores de Tabacos e comerciantes acerca dos impostos lançados aos
gêneros produzidos no Brasil, dos fretes dos navios e do monopólio de escravos na
Costa da Mina”. Bahia, 03 de maio de 1753. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia,
caixa 04, documento 563.

“Portaria régia cometendo à Mesa de Inspeção o regulamento da navegação da Costa da


Mina”. Lisboa, 21 de janeiro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 09,
documentos 1473-1482.

“Provisão do Conselho Ultramarino concedendo a João Ferreira Betencourt e Sá a


licença para usar beca em todas as reuniões da Mesa de Inspeção”, Lisboa, 24 de
207

fevereiro de 1764. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 134, documentos 26594
– 26597.

“Regimento das Casas de Inspeção” de 1º de abril de 1751. Arquivo Histórico


Ultramarino – Bahia: Caixa 54, documento 10326.

“Representação da Mesa de Inspeção da Bahia, dirigida ao Rei, sobre as irregularidades


que se praticavam no carregamento dos navios que faziam comércio para a Costa da
Mina”. Bahia, 08 de novembro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa
09, documentos 1473-1482.

“Representação da Mesa de Inspeção acerca da regulamentação do comércio da Costa


da Mina”. Bahia 08 de novembro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa
09, documentos 1473-1482.

“Representações, ofícios, certidões da Mesa de Inspeção da Bahia informando sobre a


falta de Dinheiro para o pagamento de suas despesas e pedindo providencias a respeito”.
Bahia 15 de fevereiro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 07,
documentos1040-1055.

“Representação da Mesa de Inspeção da Bahia expondo certas dúvidas que se


apresentavam acerca da eleição de novos deputados, cujos lugares haviam sido criados
depois de suprida a Mesa do Bem Comum”. Bahia, 09 de setembro de 1757. Arquivo
Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 16, documentos 2853-2856.

“Representação da Mesa de Inspeção da Bahia, dirigida ao rei, acerca da lotação dos


navios que podiam fazer o comércio para os diferentes portos da África. Bahia, 26 de
julho de 1759”. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 23, documento 4436.

“Requerimento dos senhores de engenho, lavradores do tabaco e demais pessoas


interessadas nestes dois gêneros ao rei D. José, solicitando para bem de seu
requerimento lhes é necessário alvarás de 9 de março de 1672, de 24 de março de 1680
e provisão de janeiro de 1719”. Bahia, 08 de março de 1753. Arquivo Histórico
Ultramarino: Bahia, caixa 113, documento 8853.

“Requerimento do capitão José de Sousa Reis ao rei D. José solicitando provisão para
ser conservado na posse do número de navegação da Costa da Mina”. Bahia, 31 de
outubro de 1754. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 121, documento 9457.
208

“Requerimento de João Ferreira Bitencourt e Sá, no qual pede justificação dos serviços
do seu pai o Desembargador João Ferreira Bitencourt e Sá”. Bahia, 15 de agosto de
1804. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia, caixa 134, documento 26594.

Arquivo Nacional da Torre do Tombo

“Argumentos e justificativas da Mesa de Inspeção sobre a má qualidade do açúcar”, 27


de maio de 1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63,
caixa 206.

“Ata da Mesa de Inspeção acerca da qualidade da produção e fabrico do açúcar,


descrevendo as fases da produção para não perder a qualidade”, Bahia, 10 de setembro
de 1792. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10,
caixa 38.

“Ata da Mesa de Inspeção da Bahia de 10 de novembro de 1972 comentando as ordens


da Coroa com relação ao açúcar”. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta
do Comércio, maço 10, caixa 38.

“Ata da Mesa de Inspeção relacionado ao exame e qualidade do açúcar”. Bahia, 1º de


outubro de 1792. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do Comércio,
maço 10, caixa 38.

“Ata da Mesa de Inspeção sobre o método para exame, peso e embarque dos produtos
para exportação”. 23 de dezembro de 1792. Arquivo Nacional da Torre do Tombo:
Junta do Comércio: Maço 10 caixa 38.

“Ata da Mesa de Inspeção sobre o estabelecimento de um método para o exame, peso e


embarque do tabaco e combater as fraudes”. Bahia, 23 de dezembro de 1792. Arquivo
Nacional da Torre do Tombo; Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.

“Ata da Mesa de Inspeção acerca das inspeções de açúcar nos trapiches para combater
as fraudes”. Bahia, 16 de janeiro de 1793. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo
Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.

“Atestações da Mesa de Inspeção sobre as requisições de passaportes, 1760-1770”.


Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 01, caixas 01 e 02.
209

“Avisos de carregamento de tabaco do governador da Capitania da Bahia conde de


Povolide e da Mesa de Inspeção, 22, de fevereiro de 1773”. Arquivo Nacional da Torre
do Tombo: Ministério do Reino, maço 108, caixa 114.

“Carta do Marques de Pombal Para João Bernardo Gonzaga. Ampliação da jurisdição


da Mesa”. Em 27 de janeiro de 1755. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo
Papéis do Brasil, Avulsos, nº03.

“Carta do Marques de Pombal Para João Bernardo Gonzaga sobre a ampliação da


jurisdição da Mesa de Inspeção”. Em 27 de janeiro de 1755. Arquivo Nacional da Torre
do Tombo: Papéis do Brasil; Avulsos 4, Nº 4 – digitalizado: pt/tt/pbr/19/4.

“Carta de Wenceslau Pereira da Silva à Sebastião José de Carvalho e Melo sobre a


proteção e direção do negócio dos produtos do Alto Douro na Bahia”, 12 de dezembro
de 1757. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Ministério do Reino: Negócio do
ultramar. Maço 5999, caixa 702.

“Carta de Francisco Borges dos Santos à Mesa de Inspeção sobre créditos e falidos”, 01
de agosto de 1761. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10,
caixa 38.

“Carta para Francisco Borges dos Santos sobre as dívidas de Fabrício Velho
Oldemberg”, 28 de fevereiro de 1764. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio: Livro 329.

“Carta da Junta do Comércio para a Mesa de Inspeção da Bahia sobre o plano de fabrica
e cultivo de linho”. Lisboa, 28 de fevereiro de 1764. Arquivo Nacional da Torre do
Tombo: Fundo Junta do Comércio, livro 329.

“Cartas da Mesa de Inspeção da Bahia sobre as Experiências com o algodão e com


pimenta e guiné graz”. Bahia, 18 de novembro de 1805. Arquivo Nacional da Torre do
Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 37.

“Carta de José de Sá Bitencourt para José da Silva Lisboa”. Borda da Mata, Bahia, 16
de outubro de 1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: junta do Comércio: Maço
10, caixa 37.

“Carregamento dos produtos nos primeiros anos de Instalação da Mesa de Inspeção, 19


de março de 1754”. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Ministério do Reino, maço
103, caixa 95.
210

“Certidão do exame do açúcar realizado pelo oficio de confeiteiro de Lisboa”, 11 de


junho de 1798. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63,
caixa 206.

“Copia da reclamação de um lavrador de tabaco contra um comerciante à Mesa de


Inspeção da Bahia” em 28 de setembro de 1761. Arquivo Nacional da Torre do Tombo:
Junta do Comércio: Maço 10, caixa 36.

“Cópia das folhas 230 do livro 1º dos Acordos da Mesa de Inspeção da Bahia”, 07 de
julho de 1802. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10,
caixa 37.

“Correspondência da Mesa de Inspeção da Bahia falando sobre a ausência das frotas e o


prejuízo com a safra e transportes relacionado aos anos de 1760-1765” em 28 de
setembro de 1761.Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10,
caixa 38.

“Decreto de 14 de julho de 1674 da Junta da Administração do Tabaco”. Arquivo


Nacional da Torre do Tombo: Junta da Administração do Tabaco, maço 2.

“Deputados da Mesa de Inspeção da Bahia discutindo a necessidade de pesar o açúcar


antes e depois de saírem dos trapiches” em 07 de abril de 1789. Arquivo Nacional da
Torre do Tombo: Junta do Comércio: maço 10, caixa 38.

“Determinação da Real Junta do Comércio para que os navios mercantes não possam
sair dos portos Portugueses para o do Brasil sem ser debaixo de comboios”, 15 de maio
1797. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.

“Edital sobre a responsabilidade das faltas e avarias achadas em todos os gêneros


importados por mar nas Alfandegas do Reino”. Arquivo Nacional da Torre do Tombo:
Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.

“Edital de 07 de dezembro de 1796 que determinava os fretes dos navios livres a avença
das partes durante a presente guerra”. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio: Maço 10, caixa 36.

“Execução das dívidas dos falidos pela Mesa de Inspeção”, 16 de abril de 1761.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 01. Caixa 02.

“Informações da Mesa de Inspeção da Bahia”, 20 de maio de 1791. Arquivo Nacional


da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 37.
211

“Informações da Mesa de inspeção sobre a Sociedade”, 30 de setembro de 1800.


Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 37.

“Informações e experiências do Algodão na Bahia pela Mesa de Inspeção”. 18 de


novembro de 1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio, Maço
10, caixa 37.

“Junta do Comércio sugerindo algumas ações para melhor controle do comércio de


comboio”, 24 de abril de 1798. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio: Maço 63, caixa 206.

“Laudo do Juiz do Oficio dos Confeiteiros” de 18 de novembro de 1800. Arquivo


Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.

“Livro 1º dos acordos da Mesa, Af 284 do livro 1º dos acordos da Mesa”. 10 e maio de
1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.

“Mesa de Inspeção da Bahia e as resoluções sobre o mercado interno”, 10 de fevereiro


de 1795. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 38.

“Mesa de Inspeção da Bahia, em 06 de maio de 1800”. Arquivo Nacional da Torre do


Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 63, caixa 206.

“Ordem do rei para a Mesa de Inspeção da Bahia tentar evitar a fraude e melhor
execução dos exames, para isso aumentou mais dois funcionários da mesa, eleitos e
responsáveis pelo exame e responsáveis pelas fraudes” 30 de março de 1756. Arquivo
Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10 caixa 38.

“Parecer da Junta do Comércio ao governador e capitão general”. Lisboa, 10 de março


de 1768. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Ministério do Reino, Junta da
Administração do Tabaco, maço 397, caixa 498.

“Produção e algodão e a criação da Mesa de Inspeção da Paraíba”, 18 de julho de 1799.


Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: maço 10, caixa 38.

“Proposta de uma Companhia Geral do Reino de Angola”. Arquivo Nacional da Torre


do Tombo: Ministério do Reino: Maço 499, caixa 622.

“Providências tomadas pela Mesa de Inspeção quando morriam comerciantes sem


deixar testamento”, 31 de julho de 1790. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta
do Comércio: maço 10, caixa 36.
212

“Sociedades sob a supervisão da Mesa de Inspeção”. 01 de outubro de 1800. Arquivo


Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 37.

“Sociedades, falidos e execução de dívidas”. Arquivo Nacional da Torre do Tombo:


Junta do Comércio, livros 100 e 139.

“Reclamações dos lavradores sobre os exames efetuados pelo Oficial de Confeiteiro em


Lisboa”, 29 de novembro de 1800. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio: Maço 63, caixa 206.

“Reclamações e Abaixo Assinados da vila de Cachoeira e da freguesia de São Gonçalo


dos Campos contra a Mesa de Inspeção proibir a criação do gado vacum e cavalar à 30
léguas distante da beira mar”. Fevereiro de 1822. Arquivo Nacional da Torre do Tombo:
fundo: Negócios do Ultramar, Maço 500, caixa 623.

“Regulamentação do comércio pela Mesa de Inspeção observando os alvarás de 06 de


dezembro de 1755, 11 de dezembro de 1756 e 07 de março de 1760”. Bahia 23 de
fevereiro de 1789. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Fundo Junta do Comércio,
maço 10, caixa 38.

“Regulamentação do mercado interno pela Mesa de Inspeção da Bahia” em 23 de


fevereiro de 1789. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10,
caixa 38.

“Relação dos oficiais e marinheiros e mais pessoas da equipagem dos navios (1760-
1770)”. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio. Maço 01, caixas 01
- 04.

“Representação que fizeram a S. Majestade o Desembargado Intendente Geral e


Presidente da Mesa da Inspeção da Bahia e deputados declarando que a mesa não está
subordinada ao governo”. Lisboa, 10 de março de 1768. Arquivo Nacional da Torre do
Tombo: Fundo Ministério do Reino, Junta da Administração do Tabaco, maço 397,
caixa 498.

“Requerimentos de Cargos Vitalícios para a Mesa de Inspeção da Bahia”, 23 de Março


de 1799. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio, caixa 214.
213

“Requerimento de José da Silva Ribeiro sobre a Mesa de Inspeção não cumprir com as
suas „obrigações‟ de qualificar adequadamente o açúcar”, 1805. Arquivo Nacional da
Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63, caixa 206.

“Requerimento dos Funcionários da Mesa de Inspeção de Pernambuco reclamando


sobre o valor do seu ordenado ser menos do que o dos funcionários da Mesa de
Inspeção da Bahia”. Pernambuco 03 de agosto de 1806. Arquivo Nacional da Torre do
Tombo: Fundo Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.

“Requerimento do negociante Antônio Joaquim Ferreira da cidade de Ponta Delgada, da


Ilha de São Miguel. 15 de junho de 1800”. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta
do Comércio. Maço 63, caixa 206.

“Resposta da Junta do Comércio ao requerimento do negociante Antônio Joaquim


Ferreira, 26 de junho de 1800”. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do
Comércio. Maço 63, caixa 206.

“Resposta aos requerentes sobre a resolução do rei e explicando como fazer o exame do
açúcar”, 1805. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 63,
caixa 206.

“Sobre o exame do tabaco pela Mesa de Inspeção”. Arquivo Nacional da Torre do


Tombo: Junta da Arrecadação do Tabaco, maço 107, caixa 107.

“Sobre as fraudes encontradas nos qualificação do açúcar”. Arquivo Nacional da Torre


do Tombo : Junta do Comércio, maço 10, caixa 38.

“Sobre os piratas franceses”. 25 de junho de 1800. Arquivo Nacional da Torre do


Tombo: Junta do Comércio. Maço 63, caixa 206.

“Termo de resolução tomada em Mesa sobre as providencias para os preços de açúcar e


outras como nele abaixo se declara. Mesa de Inspeção da Bahia”, 17 de novembro de
1786. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: Maço 10, caixa 38.

“Vistorias dos navios pela Mesa de Inspeção”, 12 de dezembro de 1759. Arquivo


Nacional da Torre do Tombo: Junta da Arrecadação do Tabaco, maço 104, caixa 97.

“Vistoria nos navios, irregularidades e prisão do mestre de navio”. 20 de fevereiro de


1804. Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Junta do Comércio: maço 10, caixa 37.
214

Arquivo Geral da Alfândega De Lisboa (vinculado atualmente ao Arquivo Nacional


da Torre do Tombo)

“Livro de cópias de provisões respeitantes à Casa da Índia”. Arquivo Geral da


Alfandega de Lisboa – livro 54-B.

Biblioteca Nacional de Lisboa


Série Reservados:

“Apologias que tenho escrito sobre cada uma das calúnias que a ingratidão e a inveja
espalharam sobre mim”. Biblioteca Nacional de Lisboa: Coleção pombalina: códice
695, fls. 44-180.

“Apontamentos para descobrir na América Portuguesa aquelas produções naturais que


podem enriquecer a medicina e o comércio”, anônimo, 02 de outubro de 1765.
Biblioteca Nacional de Lisboa: Códice 6941//4.

“Carta do Marquês de Lavradio para Martinho de Melo e Castro”. Rio de Janeiro 26 de


fevereiro de 1775. Biblioteca Nacional de Lisboa: Códice 10624; microfilme F.R.1239.

“Dedução compediosa sobre o tabaco que constitui um dos dois gêneros capitais do
Estado do Brasil”, 1777. Biblioteca Nacional de Lisboa: Coleção Pombalina 695, fls.
108-129.

“Miscelânea de Notícias Históricas: papeis vários dos séculos XVII, XVIII e XIX”.
Biblioteca Nacional de Lisboa: Coleção Pombalina, 687, fl. 279.

“Plano dos meios que parecem mais próprios para se facilitar a extração do tabaco do
Brasil no concurso dos tabacos da América Inglesa”. Biblioteca Nacional de Lisboa:
Coleção Pombalina 695. fls. 120-129.

“Rápida Descrição Histórica da Alfandega das Sete Casas”. Biblioteca Nacional de


Lisboa. Códice 235.

“Sumário histórico da Alfandega do Tabaco desde a sua criação até o ano de 1808”.
Biblioteca Nacional de Lisboa. Códice 235.
215

“Coleção de decretos tocantes ao ministério do Marques de pombal, século XVIII.


Portugal”. Códice - 10508 ²:

“Coleção de leis, decretos, alvarás, desde 1769 até 1780”. Na maior parte impressos.
(fol. 1 vol.) Portugal, 1769-1780. Códice - 6.601

“Comércio de Portugal com as colônias e com as nações estrangeiras”. Códice 234:

“Carta de Manuel da Silva Cunha sobre o tabaco”. Bahia, 1796. Maço 246, nº68:

“Brasil nomeações, cartas e avisos régios relativos ao governo d‟esta colônia (1663-
1822)”. Brasil. Maço 71 n 8.

“Regimentos e cartas regias de diversas épocas relativas ao Brasil”. Códice 255.

Biblioteca da Ajuda

“Máximas, propostas a S. Majestade para melhor governo do Brasil. 1780 – Autor D.


Rodrigo José de Menezes Governador das Minas Gerais pedindo mais amplos poderes
aos governadores”. Nº 1995.
“Carta de Bernardo Clamouse a D. José del Rio, Consul de Espanha relativa ao tabaco
do Brasil”. 1786. Nº 2016
Carta de D. Salvador de Mina ao Conde de Fernão Nunes em Lisboa [...] provisão sobre
a administração do assento do tabaco do Brasil. 1787. Nº 2014
Cartas de D. Juan B. de Lorena – Vários projetos e contratos do tabaco, anos de 1787 e
1797. Nº 2025
“Mesa de Inspeção do Algodão – juízes da balança”. Nº 2122.

Arquivo Histórico do Tribunal de Contas

“Cartas da Mesa de Inspeção da Bahia com aviso de expedição de mercadorias para


Lisboa”. 1772. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4223.
216

“Complemento ao decreto que aboliu o contrato dos escravos de 25 de janeiro 1758”. 5


de agosto de 1769. Arquivo do Tribunal de Contas, Erário Régio: Livro 4193.

“Demonstração da ruína em que se acha o Reino de Angola e os outros de sua


dependência”. Agosto de 1768, Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro
4193.

“Demonstração da ruína em que se acha o Reino de Angola e os outros de sua


dependência. Agosto de 1768”, Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro
4193.

“Instruções e método que devem seguir na escrituração das contas da Fazenda Real do
Reino de Angola”. Lisboa 26 de junho de 1772. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário
Régio: livro 4193.

“Memória sobre os produtos do contrato de Angola que dá uma ideia clara do lucro com
que pode ser administrado pela Fazenda Real”. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário
Régio: livro 4193.

“Provisão para a Mesa de Inspeção da Bahia reclamando da falta de clareza nos


comunicados que iam junto com as remessas de dinheiro”. Lisboa 24 de setembro de
1767. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4218.

“Provisão para a Junta da Administração da Fazenda Real de Angola, dando orientação


sobre como proceder com o sistema de Livranças e do monopólio”. Lisboa, 18 de
agosto de 1768. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4193.

“Provisão para a Junta da Real Fazenda de Angola sobre a administração dos direitos
dos escravos e marfim”, Lisboa 14 de agosto de 1769. Arquivo do Tribunal de Contas:
Erário Régio: livro 4193.

“Provisão para a Mesa de Inspeção da Bahia com suas obrigações com a administração
dos direitos dos escravos e marfim”. Lisboa, 18 de agosto de 1769. Arquivo do Tribunal
de Contas: Erário Régio: Livro 4218.

“Provisão para a Mesa de Inspeção da Bahia concedendo 2% de comissão sobre as


letras e a importância do marfim”. Lisboa 08 de maio de 1772. Arquivo do Tribunal de
Contas: Erário Régio: Livro 4218.

“Provisão para a Mesa de Inspeção da Bahia” de 29 de maio de 1779. Lisboa, 29 de


maio de 1779. Arquivo do Tribunal de Contas: Erário Régio: Livro 4220.
217

“Provisão para a Mesa de Inspeção da Bahia” em data de 23 de março 1789. Lisboa 23


de abril de 1789. Arquivo Histórico do Tribunal de Contas: Erário Régio: livro 4219.

Academia das Ciências de Lisboa (Biblioteca)

O índice Série Azul: Documentos referentes a agricultura, tabaco, açúcar, algodão,


farinha, gado e comércio do Brasil dos séculos XVIII-XIX.
218

Fontes impressas:

A Arte de Furtar. Edição crítica, com introdução e notas de Roger Bismut. Lisboa:
Imprensa Nacional e Casa da Moeda, s/d.
ANTONIL, André João. Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas.
Introdução e notas por Andrée Mansuy Diniz Silva. São Paulo: Editora da Universidade
de São Paulo, 2007.
BEATSON, Roberto. “Discurso apresentado a Mesa da Agricultura sobre vários
objetos relativos à cultura e melhoramento interno do Reino: traduzidos da língua
inglesa debaixo dos auspícios e ordem de Sua Alteza, O Príncipe Regente” traduzido
por José Feliciano Fernandes Pinheiro. Lisboa: Tipografia Chalcográphica e Literária do
Arco do Cego, 1800.
BITENCOURT, José de Sá, “Memórias sobre a plantação dos algodões e sua
exportação; sobre a decadência da lavoura de mandioca no termo de Camamu,
Comarca de Ilhéus, Bahia apresentada e oferecida ao Príncipe do Brasil”. Lisboa:
oficina de Simão Tadeu Ferreira, 1798.
BRITO, João Rodrigues de [ET. AL.]. Cartas Econômica-políticas sobre a Agricultura
e comércio da Bahia. Lisboa: Imprensa Nacional, 1821.
____________________. A Economia Brasileira no Alvorecer do Século XIX.
Salvador: Livraria Progresso Editora, s/data. (Coleção Estudos Brasileiros vol. 02).
CÂMARA Manuel Arruda da. “Memória sobre a plantação de algodões”. impresso em
1799;
______________________. “O Método sobre a preparação da cochonilha”, impresso
em 1799;
______________________. Ensaio de descrição física e econômica da Comarca de
Ilhéus na América. In.: Memorias Econômicas da Academia Real das Ciências de
Lisboa (1789-1815). Tomo I. Lisboa: Banco de Portugal, 1990. (Coleção Obras
Clássicas do Pensamento Português) – Direção José Luís Cardoso.

CARVALHO E MELLO, Sebastião José de. Escritos Econômicos de Londres (1741-


1742). Lisboa: Biblioteca Nacional, 1986. Série Pombalina.
CASTRO, Joaquim de Amorim. Memória sobre o malvaísco do Distrito da Vila de
Cachoeira. In.: Memorias Econômicas da Academia Real das Ciências de Lisboa (1789-
1815). Tomo III. Lisboa: Banco de Portugal, 1990. (Coleção Obras Clássicas do
Pensamento Português) – Direção José Luís Cardoso. P. 285-286.
219

CLETO, Marcelino Pereira. Dissertação a respeito da Capitania de São Paulo, sua


decadência e modo de restabelecê-la. (Em 25 de Outubro de 1782).
COUTINHO, D. Rodrigo de Souza. Textos Políticos, Econômicos e Financeiros, 1783-
1811. Lisboa: Banco de Portugal, 1993. (Coleção de Obras Clássicas do Pensamento
Econômico Português) Tomo I.
_____________________________. Textos Políticos, Econômicos e Financeiros, 1783-
1811. Lisboa: Banco de Portugal, 1993. (Coleção de Obras Clássicas do Pensamento
Econômico Português) Tomo II.
COUTINHO, José Joaquim da Cunha de Azevedo. Ensaio Econômico Sobre o
Comércio de Portugal e suas Colônias (1794). Lisboa: Banco de Portugal, 1992.
(Coleção de Obras Clássicas do Pensamento Econômico Português).
COUTINHO, José Joaquim de Azevedo. Memória sobre o preço do açúcar. In.:
Memorias Econômicas da Academia Real das Ciências de Lisboa (1789-1815). Tomo
III. Lisboa: Banco de Portugal, 1990. (Coleção Obras Clássicas do Pensamento
Português) – Direção José Luís Cardoso.

CUNHA, D. Luís da. Testamento Político (1748). São Paulo: Alfa-Omega, 1976.
DANVILA, Manuel. Significación que Tuvieron en el Cobierno de América la Casa de
la Contratación de Sevilla Y El Consejo Supremo de Indias. Madrid : Establecimiento
Tipografico Sucesores Rivadenyra, 1892
DOCUMENTOS HISTÓRICOS DO ARQUIVO MUNICIPAL: Atas da Câmara (1700-
1718) Volume 07 ao 11. Prefeitura do Município do Salvador – Bahia, 1984.
DOCUMENTOS HISTÓRICOS DO ARQUIVO MUNICIPAL: Cartas do Senado
(1684-1692). Volume 04 e 06. Prefeitura do Município do Salvador – Bahia, 1973.
GAIOSO, Raimundo José de Sousa. Compêndio Histórico e Politico dos Princípios da
Lavoura do Maranhão (1812). Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1970.
GÂNDAVO, Pero de Magalhães de. A Primeira História do Brasil: história da
província Santa Cruz a que vulgarmente chamamos de Brasil. 2ª. ed. - Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 2014.
GOMES, José Caetano Memória sobre a Cultura e Produtos da Cana de Açúcar a S.
Alteza Real, o Príncipe Regente, pela Mesa de Inspeção do Rio de Janeiro. Lisboa:
oficina da Casa Literária do Arco do Cego, 1800.
LISBOA, José da Silva. Escritos Econômicos Escolhidos, 1804-1820. Lisboa: banco de
Portugal, 1993. (Coleção de Obras Clássicas do Pensamento Econômico Português)
Tomos I e II.
220

LOUREIRO, Pe. João de. Memória sobre o Algodão, sua Cultura e Fábrica. In.:
Memorias Econômicas da Academia Real das Ciências de Lisboa (1789-1815). Tomo I.
Lisboa: Banco de Portugal, 1990. (Coleção Obras Clássicas do Pensamento Português).
MANSO, João Pereira. “Memória sobre o método econômico de transportar
aguardente do Brasil com grande proveito dos fabricantes e comerciantes, apresentada
e oferecida a Sua Alteza Real o Príncipe do Brasil”. Lisboa, oficina de Simão Tadeu
Ferreira, 1798.
___________________. “Memória sobre uma nova construção do alambique para se
fazer toda a sorte de destilações com maior economia e maior proveito no resíduo.
Sobre a destilação das águas ardentes” (traduzida do francês por P.J.P. de A.,
acrescentada e ilustrada com notas de João Pereira Manso. Lisboa: Impressão Régia,
1805.
MELO, Sebastião José de Carvalho e. Escritos Econômicos de Londres (1741-1742).
Lisboa: Biblioteca Nacional, 1986.
MENDES, Luiz Antônio de Oliveira. Discurso Preliminar, Histórico, Introdutivo, com
Natureza de Descrição Econômica da Comarca e Cidade da Bahia: In.: AGUIAR, Pinto
de. Aspectos da Economia Colonial. Salvador: Progresso, 1957. (Coleção de Estudos
Brasileiros, série cruzeiro).
NAVARRO, José Gregório de Moraes. Discurso Sobre o Melhoramento da Economia
Rustica do Brasil: pela introdução do arado, reforma das fornalhas, e conservação das
suas matas. Publicado por José Mariano da Conceição Veloso e Simão Tadeu Ferreira.
Lisboa: na Of. de Simão Thaddeo Ferreira, 1799.
SECRETARIADO DA PROPAGANDA NACIONAL (Agência Geral das Colônias). O
Império Colonial Português. Lisboa: Ática, 1942.
POMBO, José Ignacio de. Comercio y Contrabando em Cartagena de Índias.
Bogotá/Colômbia: Linotipia Bolívar, 1986, (Série Breve).
RATTON, Jacome. Recordações de Jacome Ratton sobre ocorrências do seu tempo em
Portugal entre 1747 a 1810. Londres: H. Breyer, Bridge-street, Blackfrias. 1813.
RAYNAL, Abade. A Revolução da América. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1993.
______________ . O Estabelecimento dos Portugueses no Brasil. Rio de Janeiro:
Arquivo Nacional/Brasília: UNB, 1998.
REBELO, Manoel Joaquim (M.J.R). Economia Política, 1795. Lisboa: Banco de
Portugal, 1993. (Coleção de Obras Clássicas do Pensamento Econômico Português).
221

Regimento da Casa da Índia: manuscrito do século XVII existente no Arquivo Geral de


Simancas com introdução e Prefácio de LUZ, Francisco Mendes da. 2ª ed. Lisboa:
Ministério da Educação / Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1992.
RUDERS. Carl Israel. Viagem em Portugal, 1798-1802. Lisboa: Biblioteca nacional/
ministério da Cultura. 2002. Vols. 1 e 2.
SILVA, José Justino de Andrade e. Coleção Cronológica da Legislação Portuguesa.
Lisboa: Imprensa de J.J.A. Silva, 1854.
SILVA, António Delgado da. Coleção da Legislação Portuguesa desde a última
Compilação das Ordenações: suplemento da legislação de 1750-1762. Lisboa:
Tipografia Maigrense, 1828.
SLEMIAN, Andréia e CHAVES, Claudia Maria das Graças (Orgs.). Obra de Manoel
Luís da Veiga. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Chaves, 2012.
SOUSA, José Roberto Monteiro de Campos Coelho e. Sistema, ou Coleção dos
Regimentos Reais: Lisboa: Oficina de Francisco Borges de Sousa, 1783.
VANDELLI, Domingos. Aritmética Política, Econômica e Finanças, 1770-1804.
Lisboa: Banco de Portugal, 1993. (Coleção de Obras Clássicas do Pensamento
Econômico Português).
VELOSO, José Mariano da Conceição. “Quinigraphia portuguesa ou coleção de várias
memórias sobre vinte e duas espécies de quina, tendentes ao seu desenvolvimento nos
vastos domínios do Brasil, copiada de vários autores modernos”. Lisboa: of. De João
Procópio Corrêa da Silva, 1799.
_________________________. O Fazendeiro do Brasil: melhorado na economia rural
dos gêneros já cultivados, e de outros, que se podem introduzir, e nas fábricas que são
próprias, fazendo o melhor que se tem escrito a este assunto. Tomo I: das culturas das
canas e fatura do açúcar. Lisboa: Oficina Tipográfica, 1800.
_________________________. Coleção de memória sobre a quissia amarga e a
simuruba (com estampas). Traduzida por ordem de S. A. R. Lisboa: Tipográfica
Chalcográphica e Literária do Arco do Cego, 1801.
VIEIRA, Padre Antônio. Chaves dos Profetas. Livro III. Lisboa: Biblioteca Nacional,
2001.
VILHENA, Luís dos Santos. A Bahia no Século XVIII. Salvador: Itapuã, 1969. (vol. I, II
e III) (Coleção Baiana).
222

Livros, Artigos, Teses e Dissertações:

ABREU, Capistrano de. Capítulos de História Colonial (1500-1800). Rio de Janeiro:


Sociedade Capistrano de Abreu; Livraria Briguiet, 1954.
__________________ . Caminhos Antigos e Povoamento do Brasil. Rio de Janeiro
Sociedade Capistrano de Abreu; Livraria Briguiet, 1930.
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O Trato dos Viventes: Formação do Brasil no
Atlântico Sul. Companhia das Letras.
ALDEN, Dauril. Royal Government in Colonial Brazil: with special reference to the
administration of the Marquis of Lavradio, Viceroy, 1769-1779. Berkeley: University
of California Press, 1968.
_______________. O período final do Brasil Colônia, 1750-1808. In.: Leslei Bethell
(Org.). História da América Latina: América Latina Colonial. Vol. 2. São Paulo:
Edusp; Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2004.
ALMEIDA, Angela Mendes, ZILLY, Berthold e LIMA, Eli Napoleão de (Orgs.). De
Sertões, Desertos e espaços Incivilizados. Rio de Janeiro: FAPERJ; MAUAD, 2001.
AMED, Fernando. As Cartas de Capistrano de Abreu: sociedade e vida literária na
belle époque carioca. São Paulo: Alameda, 2006.
ANDRADE, Manuel Correia de. A Terra e o Homem no Nordeste. São Paulo:
Brasiliense, 1973.
ARRUDA, José Jobson de Andrade. O Brasil no Comércio Colonial. São Paulo: Ática,
1980. (Ensaios, nº 64).
_______________________. Uma Colônia entre dois Impérios, 1800-1808. Bauru:
EDUSC, 2008.
________________________. Decadência ou Crise do Império Luso-brasileiro: o novo
padrão de colonização. In.: Revista USP. São Paulo, nº 45, p. 66-78, junho/agosto,
2000.
________________________. O sentido da Colônia: revisitando a crise do Antigo
Sistema Colonial no Brasil (1780-1830). In.: José Tengarrinha (Org.). História de
Portugal. Bauru, SP: EDUSP, São Paulo: UNESP; Portugal: Instituto Camões, 2001.
AVELLAR, H. de A. História administrativa do Brasil: a administração pombalina.
2.ed. Brasília: FUNCEP/Editora da Universidade de Brasília, 1983.
223

AZEVEDO, Beatriz Líbano Bastos. O Negócio dos Contratos: contratadores de


escravos na primeira metade do século XVIII. São Paulo: FFLCH/USP, 2013.
(dissertação de mestrado).
AZEVEDO, J. Lucio de. Novas Epanáforas: estudos de história e literatura. Lisboa:
Livraria Clássica Editora, 1932.
___________________. O Marquês de Pombal e a Sua Época. Lisboa, Alfarrábio,
2009.
BARICKAN B. J. Um Contraponto Baiano: açúcar, fumo, mandioca e escravidão no
Recôncavo, 1780-1860. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
BARROS, José D‟Assunção. O Projeto de Pesquisa em História: da escolha do Tema
ao quadro teórico. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
BASTOS, Cristiana, ALMEIDA, Miguel Vale de e FEIDMAN-BIANCO, Bela.
Trânsitos Coloniais: Diálogos críticos luso-brasileiros. Campinas, SP: Unicamp, 2007.
BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Autoridade e Conflito no Brasil Colonial: o governo do
Morgado de Mateus em São Paulo (1765-1775). São Paulo: Alameda, 2007.
BÉQUET, Paul. Contrebande et contrebandiers. Paris: Presses Universitaires de
France, 1959. (que sais-je?, nº 833).
BETHELL, Leslie. História da América Latina: América Latina Colonial. vol.1. 2ª ed.
São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre
BICALHO, Maria Fernanda e FERLINI, Vera Lúcia Amaral (Orgs.). Modos de
Governar: ideias e práticas políticas no Império Português (séculos XVI a XIX). São
Paulo: Alameda, 2005.
BLOC, Marc. A Terra e seus Homens: agricultura e vida rural nos séculos XVII e
XVIII. Bauru, SP: EDUSC, 2001.
BOAVENTURA, Eurico Alves. Fidalgos e Vaqueiros. Salvador: CED/UFBA, 1989.
BOSCHI, Caio César. Exercícios de Pesquisa Histórica. Belo Horizonte: PUC Minas,
2011.
BOXER, Charles. Ralph. O Império Marítimo Português 1415-1825. Lisboa: Edições
70, 1977
_____________________. A Idade de Ouro do Brasil: dores de crescimento de uma
sociedade colonial. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
BRANDÃO, Fernando de Castro. De D. João V a Dona Maria I (1707-1799): Uma
Cronologia. Odivelas: Europress, 1993.
BRAUDEL, Fernand.A dinâmica do Capitalismo. Lisboa, Teorema, 1986.
224

BRAUDEL, Fernand. Civilização Material, Economia e Capitalismo: séculos XV-


XVIII. Vol. 01: As Estruturas do Cotidiano. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
__________________. Civilização Material, Economia e Capitalismo: séculos XV-
XVIII. Vol. 02: Os Jogos das Trocas. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
__________________. Civilização Material, Economia e Capitalismo: séculos XV-
XVIII. Vol. 03: O Tempo do Mundo. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
BREEN, Timothy Hall. Tabacco Culture: The mentality of the great tidewater planters
on the eve of revolution. New Jersey: Princeton University Press, 1987.
CAMARINHAS, Nuno. Juízes e Administração da Justiça no Antigo Regime: Portugal
e o Império colonial, séculos XVII e XVIII. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian /
Fundação para a Ciência e Tecnologia, 2010.
CANABRAVA, Alice Piffer. O Algodão em São Paulo: 1861-1875. São Paulo:
Queiroz. 1984.
_______________________. O Comércio Português no Rio da Prata: 1580-1640.
Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1984.
CARDOSO, Ciro Flamarion S. Economia e Sociedade em Áreas Coloniais Periféricas:
Guiana Francesa e Pará (1750-1817). Rio de janeiro: Graal, 1984.
____________________ e BRIGNOLI, Héctor Pérez. Os Métodos da História. Rio de
Janeiro: Graal, 2002.
CARDOSO, José Luís. História do Pensamento Econômico Português: temas e
problemas. Lisboa: Livros Horizontes, 2001. (Temas de Histórias de Portugal).
CARLOS, Érica Simone de Almeida. O Fim do Monopólio: A extinção da Companhia
Geral de Pernambuco e Paraíba (1770-1780). Recife: UFPE, 2001. (Dissertação de
Mestrado).
CARNAXIDE, Visconde de. O Brasil na Administração Pombalina: economia e
política externa. São Paulo: ed, Nacional; Brasília: INL, 1979.
CARRARA, Ângelo Alves. Minas e Currais: Produção Rural e Mercado Interno de
Minas Gerais 1674-1807. Juiz de Fora, MG: Editora UFJF, 2006.
CARREIRA, António. As Companhias pombalinas de navegação, comércio e tráfico de
escravos entre a costa africana e o nordeste brasileiro. Bissau: Centro de Estudos da
Guiné Portuguesa, 1969.
CARVALHO, Márcia Dometila Lima de. Crimes de Contrabando e Descaminho. São
Paulo: Saraiva, 1988.
225

CAVALCANTE, Paulo. Negócios de Trapaça: Caminhos e descaminhos na América


Portuguesa (1700-1750). São Paulo: HUCITEC/FAPESP, 2006.
CHAVES, Claudia Maria das Graças. Perfeitos Negociantes: mercadores das minas
setecentistas. São Paulo: Annablume, 1999.
COELHO, Rafael da Silva. Moeda no Brasil no Final do século XVII. São Paulo:
FFLCH/USP, 2013. (dissertação de Mestrado).
CORRÊA, Alfredo Pinto de Araujo. O Contrabando e seu Processo. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional. 1907.
COSTA, Leonor Freire. O Transporte no Atlântico e a Companhia Geral do Comércio
do Brasil (1580-1663). Vol. 2 Lisboa: comissão Nacional para as Comemorações dos
descobrimentos Portugueses, 2002. (Outras Margens).
____________________, Lains, Pedro e Miranda, Suzana Münch. História Econômica
de Portugal, 1143-2010. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2011.
____________________. Impérios e Grupos Mercantis: entre o Oriente e o Atlântico
(Século XVII). Lisboa: Livros Horizontes, 2002 (Temas de História de Portugal).
____________________. Pernambuco e a Companhia Geral do Comércio do Brasil.
Artigo, 2005.
COSTA, Wilma Peres e OLIVEIRA, Cecília Helena de Salles (Orgs.). De Um Império
ao Outro: Formação do Brasil, séculos XVIII e XIX. São Paulo: Hucitec;Fapesp, 2007.
COUTO, Monsenhor Gustavo. História da Antiga Casa da Índia em Lisboa.
Conferência realizada na sociedade de Geografia de Lisboa, no dia 28 de abril de 1932.
DEL PRIORI, Mary e VENÂNCIO, Renato. Uma História da Vida Rural no Brasil.
Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
DIAS, Érica. A Capitania de Pernambuco e a Instalação da Companhia Geral e
Comércio. In.: Actas do Congresso Internacional - Espaço Atlântico de Antigo Regime:
poderes e
sociedades.Lisboa.(Comunicação).2005.http://cvc.institutocamoes.pt/index.php?option=
com_docman&task=cat_view&gid=76&Itemid=69.
DIAS, Manuel Nunes. Fomento e mercantilismo: A Companhia Geral do Grão-Pará e
Maranhão (1755-1778). Belém: UFPa, 1970.
DIAS, Maria Odila Leite da Silva. A Interiorização da Metrópole e Outros Estudos. São
Paulo: Alameda, 2009.
DOMINGUES, Ângela. Monarcas, Ministros e Cientistas: mecanismos de poder,
Governação e informação no Brasil Colonial. Lisboa: CHAM, 2012.
226

DOMINGUES, Mário. O Marquês de Pombal: O Homem e a Sua Época. Lisboa:


Romano torres, 1963.
DORNAS FILHO, João. Aspectos da Economia Colonial. Rio de Janeiro: Biblioteca do
Exército, 1958.
FALCON, Francisco José Calazans. A Época Pombalina: política econômica e
monarquia ilustrada. São Paulo: Ática, 1982. (Ensaios; 83).
_______________________. Pombal e o Brasil. In.: José Tengarrinha (org.) . História
de Portugal. Bauru, SP: EDUSC; São Paulo, SP: UNESP; Portugal, PT: Instituto
Camões, 2001.
FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder: Formação do patrimônio político brasileiro.
Vol. 02. Rio de Janeiro: Globo, 1987.
FARIA, Sheila de Castro. A Colônia em Movimento: Fortuna e família no cotidiano
colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
FARIAS, Poliana Cordeiro de. Estratégias de Fomento à Agricultura: aclimatação de
espécies vegetais na Comarca de Ilhéus (1789-1807). In: 2º Encontro de Novos
Pesquisadores em História, 2010, Salvador/BA. 2º Encontro de Novos Pesquisadores
em História, 2010
FERLINI, Vera Lúcia Amaral. Terra, trabalho e poder. São Paulo: Brasiliense, 1988.
_______________________. Açúcar e Colonização. São Paulo: Alameda, 2010.
_______________________ (Orgs.). Modos de Governar: ideias e práticas políticas no
Império Português (séculos XVI a XIX). São Paulo: Alameda, 2005
FERNANDES, Paula porta S. A Corte Portuguesa no Brasil (1808-1821). São Paulo:
Saraiva, 2004. (Que História é Esta?).
FERNANDES, Valter Lenine. Os Contratadores da Dízima da Alfândega da Cidade de
Rio de Janeiro (1726-1743). Rio de Janeiro: UNIRIO, 2010. (Dissertação de Mestrado).
FIGUEIREDO, José Ricardo. Modos de Ver a Produção do Brasil. São Paulo: EDUC;
Campinas, SP: Autores Associados, 2004.
FIGUEIREDO, Lucas. Boa Ventura!. A Corrida do Ouro no Brasil (1697-1810): a
cobiça que forjou um país, sustentou Portugal e inflamou o mundo. Rio de Janeiro:
Record, 2011.
FIGUEIREDO, Luciano Raposo de Almeida. Revoltas, fiscalidade e Identidade
Colonial na América Portuguesa: Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais, 1640-1761.
São Paulo: USP, 1996. (Tese de doutoramento).
227

FLORENTINO, Manolo. Em Costas Negras: uma história do tráfico de escravos entre


a África e o Rio de Janeiro (séculos XVIII e XIX). São Paulo: Companhia da Letras,
1997
FONSÊCA, Humberto José. Comerciantes e cristões novos e m festa de nobre: a
transgressão da ordem “natural”. In.: POLÍTEIA: História e Sociedade. Vitória da
Conquista: DH/UESB v7, nº1, p. 103-141, 2007.
FRAGOSO, João Luís Ribeiro. Homens de Grossa Aventura: acumulação e hierarquia
na praça mercantil do Rio de Janeiro (1790-1830). 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1998.
______________________, ALMEIDA, Carla Maria C. de e SAMPAIO, Antonio
Carlos Jucá de (Orgs.). Conquistadores e Negociantes: Histórias de elites na Antigo
regime nos Trópicos. América Lusa, Séculos XVI – XVIII. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2007.
______________________, e GOUVEIA, Maria de Fátima (Orgs.). O Brasil Colonial.
Vol. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.
FREITAS, Antonio Fernando Guerreiro de e PARAÍSO, Maria Hilda Baqueiro.
Caminhos ao Encontro do Mundo: a capitania, os frutos de ouro e a princesa do sul –
Ilhéus, 1534-1940. Ilhéus: Editus, 2001.
FREITAS, Marcos Cesar (Orgs.). Historiografia Brasileira em Perspectiva. São Paulo:
Contexto, 2000.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 28. ed. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 2004.
FURTADO, João Pinto. “Viva o rei, viva o povo, e morro o governador”: tensão
política e práticas de governo nas Minas dos Setecentos. In.: Maria Fernanda Bicalho e.
FURTADO, Júnia Ferreira. O Livro da Capa Verde: o Regimento Diamantino de 1771
e a vida no distrito Diamantino no período da Real Extração: São Paulo: Annablume;
Belo Horizonte: PPGH/UFMG, 2008. (coleção olhares).
FURTADO, Júnia Ferreira. Homens de Negócio: A interiorização da Metrópole e do
Comércio nas Minas Setecentistas. São Paulo: HUCITEC, 2006.
GARCIA, Emanuel Soares da Veiga. O Comércio Ultramarino Espanhol no Prata. São
Paulo: Perspectiva, 1982. (Khronos, nº 13).
GARCIA, Rodolfo Augusto de Amorim. Ensaio sobre a História Política e
Administrativa do Brasil (1500-1808). Rio de Janeiro: Olympio; Brasília: INL. 1975.
(Coleção Documentos Brasileiros).
228

GENOVESE, Eugene. A Economia Política da Escravidão. Rio de Janeiro: Palas, 1976.


(América: economia e sociedade).
GERALDES, Carlos Alberto Caldeira. A Casa da Índia: um estudo de estrutura e
funcionalidade (1509-1630). Lisboa: Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras –
Departamento de História, setembro de 1997. (Dissertação de mestrado, história
moderna).
GIL, Maria Dolores Herrero El Mundo De Los Negocios De Indias: LasFamilias
Álvarez Campana y Llano San Ginés em el Cádiz delsiglo XVIII. Consejo Superior De
Investigaciones Científicas Universidad de Sevilla: Diputation de Sevilla, Madrid, 2013.
GIL, Tiago Luís. Infiéis Transgressores: elites e contrabandistas nas fronteiras do Rio
Grande e do Rio Pardo (1760-1810). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2007.
GORENDER, Jacob. O Escravismo Colonial. São Paulo: Ática, 1978. (Ensaios, 29).
Goulart, José Alípio. Transportes nos Engenhos de Açúcar. Rio de Janeiro: Gráfica
Taveira. 1959.
GOULART, Maurício. A Escravidão Africana no Brasil: das origens à extinção do
tráfico. São Paulo: Alfa-ômega, 1975.
GUIMARÃES, Alberto Passos. Quatro Séculos de Latifúndio. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1981.
GUIMARÃES, Carlos Gabriel O Rendimento da Capitania do Ouro. Revista do Arquivo
Público Mineiro. v.XLV, pp. 118-129, 2009. P. 118-129.
HECKSCHER, Eli F. La Época Mercantilista: historia de La organización y lãs ideas
econômicas desde El final de La Edad Media Hasta La sociedade Liberal. México:
Fundo de Cultura Econômica, 1983.
HENRIQUE, Juliana da Silva. Feira de Capuame: pecuária, territorialização e
abastecimento. (Bahia, século XVIII). São Paulo: FFLCH/USP, 2014. (dissertação de
Mestrado).
HESPANHA, António Manuel. Caleidoscópio do Antigo Regime. São Paulo: Alameda,
2012.
HICKS, John. Uma Teoria de História Econômica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1972.
HOBSBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das letras, 1998.
HOLANDA, Sergio Buarque de. Monções. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil,
1945. (Coleções Estudos Brasileiros).
229

______________________. (Dir.). A Época Colonial: Administração, economia e


sociedade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. (História geral da Civilização
Brasileira Vol. 1, Tomos 1 e 2).
______________________. Caminhos e fronteiras. São Paulo: Cia. das Letras, 1994.
HUTTER, Lucy Maffei. Navegações nos séculos XVII e XVIII Rumo: Brasil. São Paulo;
Edusp, 2005. (Coleção Estante USP; 8).

IVO, Isnara Pereira. Homens de Caminho: Trânsitos culturais, comércio e cores nos
sertões da América portuguesa. Século XVIII. Vitória da Conquista: Edições UESB,
2012.
JANCSÓ, István. Na Bahia, Contra o Império: história do ensaio de sedição de 1798.
São Paulo: HUCITEC, Salvador: EDUFBA, 1996.
LAJUGIE, Joseph. As Doutrinas Econômicas. São Paulo: Difusão Européia do Livro,
1964. (coleção Saber Atual)
LAPA, José Roberto do Amaral. A Bahia e a Carreira da Índia. São Paulo: Brasiliana,
1968.
________________________.. O Sistema Colonial. 2. ed. São Paulo: Ática. Série
Princípios, 1994.
LENHARO, Alcir. As Tropas da Moderação: o abastecimento da Corte na formação
política do Brasil – 1808-1842. São Paulo: Símbolo, 1979.
LIMA, Heitor, Ferreira. História do Pensamento Econômico na Brasil. São Paulo:
Brasiliana; vol. 360, 1978.
LOPES, Gustavo Acioli. Negócio da Costa da Mina e o Comércio Atlântico: tabaco,
açúcar, ouro e tráfico negreiro, Pernambuco (1654-1760). São Paulo: FFLCH/USP,
2008. (Tese de doutoramento).
____________________. A Ascensão do Primo Pobre: o tabaco na economia colonial
da América Portuguesa-Um Balanço historiográfico. SAECULUM – Revista de
História [12]. João Pessoa, jan./jun., 2005.
KIRSCHNER, Tereza Cristina. José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu: itinerários de
um ilustrado luso Brasileiro. São Paulo: Alameda; Belo Horizonte, MG: PUC-Minas,
2009.
230

_____________________. A administração portuguesa no espaço atlântico: a Mesa da


Inspeção da Bahia (1751-1808). In: Biblioteca Digital Camões. Disponível
em:<http://www.institutocamoes.pt/cvc/index.php?option=com_docman&task=cat_vie
w&gid=76&Itemid=69>. Acesso em: 13 jun. 2008. (Actas do Congresso Internacional
Espaço Atlântico de Antigo Regime: poderes e sociedades.)
KOROBTCHENKO, Júlia Platonovna. A Secretária dos Negócios Estrangeiros e da
Guerra: a ilustração, os instrumentos e os homens (1736-1756). Lisboa: Universidade
de Lisboa, 2011. (Dissertação de Mestrado).
MADUREIRA, Nuno Luís. Mercado e Privilégios: Indústria Portuguesa entre 1500-
1834. Lisboa: Estampa, 1997.
MAGALHÃES, José Calvet. História do Pensamento Econômico em Portugal: da
Idade Média ao Mercantilismo. Coimbra: Coimbra Editora.1967.
MAGALHÃES FILHO, Francisco de B. B. de. História Econômica. São Paulo:
Saraiva, 1983.
MAGALHÃES, Joaquim Romero. Labirintos Brasileiros. São Paulo: Alameda, 2011.
MARCOS, Rui de Figueiredo. As Companhias Pombalinas: Contributo para a História
das Sociedades por Ações em Portugal. Coimbra: 1997.
MARCOS. Rui Manuel de Figueiredo. A Legislação Pombalina: alguns aspectos
fundamentais. Coimbra: Almedina, 2006.
MARTINS, Ana Luiza. O Império do Café: A grande lavoura no Brasil – 1850 a 1890.
Rio de Janeiro: Atual. 1990. (Coleção História em documentos).
MASCARENHAS, Maria José Rapassi. Fortunas Coloniais: Elite e Riqueza em
Salvador (1760-1808) São Paulo: USP, 1998, (Tese de Doutorado).
MATTOS, Florisvaldo. A Comunicação Social na Revolução dos Alfaiates. Salvador:
UFBA, 1974. (Estudos Baianos, nº 09).
MATTOS, Ilmar Rohloff. O Tempo Saquarema: a formação do Estado Imperial. São
Paulo: Hucitec, 1987.
MATTOSO, José. A Escrita da História: Teoria e Métodos. Lisboa: Estampa, 1988.
(Histórias de Portugal).
MATTOSO, Kátia de Queiroz. Da Revolução dos Alfaiates à Riqueza dos Baianos no
Século XIX: Itinerário de uma Historiadora. Salvador: Corrupio, 2004.
MAURO, Frédéric. (Coord.). O Império Luso Brasileiro 1620-1750. Lisboa: Estampa,
1991. (Coleção História da Expansão Portuguesa).
231

MAURO, Frédéric Portugal e o Brasil: a estrutura política e econômica do Império,


1580-1750. In.: Leslie Bethell. História da América Latina: América Latina Colonial.
vol.1. 2ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação
Alexandre de Gusmão, 2012.
MAYER, Arno J. A Força da Tradição: A Persistência do Antigo Regime (1848-1914).
São Paulo: Cia. das Letras, 1987.
MAXWELL, Kenneth. A Devassa da Devassa: A inconfidência Mineira – Brasil e
Portugal (1750-1808). São Paulo: Paz e Terra, 2005. (Estudos Brasileiros, Vol. 22).
_________________. Marquês de Pombal: Paradoxo do Iluminismo. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1996.
MELLO, Evaldo Cabral de. Rubro Veio: o imaginário da restauração pernambucana.
São Paulo: Alameda, 2008.
____________________. A Fronda dos Mazombos: Nobres contra mascates,
Pernambuco, 1666-1715. São Paulo: Ed. 34, 2003.
MELLO, Maria Regina Ciparrone. A Industrialização do Algodão em São Paulo. São
Paulo: Perspectiva, 1983. (Debates).
MENZ, Maximiliano M. Entre Impérios: formação do Rio Grande na crise do Sistema
Colonial (1777-1822). São Paulo: Alameda, 2009.
__________________. “Geometrias” do Tráfico. Revista de História. São Paulo, n.
166, p. 185-222, jan-jun. 2012. P. 206.

MONTEIRO, Rodrigo Bentes. O Rei no Espelho: A Monarquia Portuguesa e a


Colonização da América (1640-1720). São Paulo: Hucitec/Fapesp, 2002.
MONTEIRO, Nuno Gonçalo Freitas. D. José: Na Sombra de Pombal. Lisboa: Temas e
Debates, 2008. (Reis de Portugal).
______________________. A consolidação da Dinastia de Bragança e o apogeu do
Portugal Barroco: centros de poder e trajetórias sociais (1668-1750). In.: José (Org.)
Tengarrinha. História de Portugal. Bauru, SP: EDUSP, São Paulo: UNESP; Portugal:
Instituto Camões, 2001,
MORAIS, Tancredo de. A Casa da Índia. Anais do Club Militar Naval. [S.I.:s.n.] [193-
],
MARCOS, Rui de Figueiredo. As Companhias Pombalinas: Contributo para a
História das Sociedades por Ações em Portugal. Coimbra: 1997.
MOREIRA, Alzira Teixeira Leite. Inventário do Fundo Geral do Erário Régio do
Arquivo do Tribunal de Contas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1977.
232

MOURA, Esmeralda Blanco Bolsonaro de e FERLINI, Vera Lúcia Amaral (Orgs.).


História Econômica: agricultura, indústria e populações. São Paulo: Alameda, 2006.
NARDI, Jean Baptiste. O Fumo no Brasil Colônia. São Paulo: Brasiliense, 1987.
(Coleção Tudo é História).
___________________. O Fumo Brasileiro no Período Colonial: Lavoura, Comércio e
Administração. São Paulo: Brasiliense, 1996.
___________________ . Sistema Colonial e Tráfico Negreiro: Novas Interpretações
da História Brasileira. Campinas, SP: Pontes, 2002.
NEVES, Erivaldo Fagundes. Uma Comunidade Sertaneja: Da Sesmaria ao Minifúndio
(um Estudo de História Regional e Local). Salvador: EDUFBA, 1998.
_________________. Estrutura Fundiária e dinâmica Mercantil: Alto Sertão da Bahia,
séculos XVIII e XIX. Salvador: EDUFBA; Feira de Santana: UFES 2005.
_________________ & Miguel, Antonieta (Orgs.). Caminhos do Sertão: Ocupação
territorial, sistema viário e intercâmbios coloniais dos Sertões da Bahia. Salvador:
Arcádia. 2007.
NOVAIS, Fernando Antônio. Portugal e Brasil na Crise do Antigo sistema Colonial
(1777-1808), 3ª edição. São Paulo: Hucitec, 1985. Coleção Estudos Históricos.
__________________. Aproximações: Estudos de história e Historiografia. São Paulo:
Cosac Naify, 2005. P. 167.
OLIVEIRA FILHO, Roque Felipe de. Crimes e Perdões na Ordem Jurídica Colonial.
Bahia (1750/1808). Salvador, UFBA, 2009. (Tese de doutorado).
OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Crise da Economia Açucareira do Recôncavo na
Segunda Metade do Século XIX. Salvador: FCJA; UFBA – Centro de Estudos Baianos,
1999.
PALACIN, Luiz. O Século do Ouro em Goiás. Goiânia: Oriente; Brasília: INL, 1979.
PARAÍSO, Maria Hilda Baqueiro. Caminhos de Ir e Vir e caminhos Sem Volta: índios
estradas e rios no sul da Bahia. Salvador: UFBA, 1982.
PEREIRA, Adriano. Economia e Sociedade em Angola: Na Época da Rainha Jinga,
século XVII. Lisboa: Estampa, 1997. (Temas de Sociologia).
PEDREIRA, Jorge Miguel Viana. Estrutura Industrial e Mercado Colonial: Portugal e
Brasil (1780-1830). Lisboa: DIFEL, 1994.
__________________. A Economia Política do Sistema Colonial. In.: João Luiz
Ribeiro Fragoso e Maria de Fátima Gouveia (Orgs.). O Brasil Colonial. Vol. 3. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.
233

_______________ e COSTA, Fernando Dores. D. João VI: um príncipe entre dois


continentes. São Paulo: Cia. das Letras, 2008.
PESSOA, Fernando. A Essência do Comércio: e outros textos de teoria econômica.
Lisboa: Nova Ática, 2006.
PINTO, Virgílio Noya O Ouro Brasileiro e o Comércio Anglo-português. São Paulo:
Ed. Nacional; (Brasília): INL, (Brasiliana; v. 371).
PIRES, Pedro José de Souza. Casa da Torre (BA): Castelo da Torre: Primeiros Ávilas.
Rio de Janeiro: Portinho Cavalcanti, 1987.
PRADO JUNIOR, Caio. Formação Econômica do Brasil Contemporâneo: Colônia. 23.
ed. São Paulo: Brasiliense, 1997.
_______________. História Econômica do Brasil. 42. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995.
RAMINELLI, Ronald. Viagens Ultramarinas: Monarcas, vassalos e governo a
distância. São Paulo: Alameda, 2008.
REIS, Arthur Cézar Ferreira. O comércio colonial e as companhias privilegiadas:
inquietações no Norte e a inconfidência baiana. In.: HOLLANDA, Sergio Buarque de
(Dir.). A Época Colonial: Administração, economia e sociedade. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1997. (História geral da Civilização Brasileira Vol. 1, Tomo 2).
REIS, Claudio de Britto. O Marquês de Pombal: Súmula de sua vida e obra. Rio de
Janeiro: Edição Comemorativa do bicentenário da Morte 1782-1982. 1982.
RESENDE, Maria Efigênia Lage de e VILLALTA, Luiz Carlos (Orgs.) As Minas
Setecentistas. Belo Horizonte: Autêntica; Compainha do Tempo, 2007. p. 25-53.
(História de Minas Gerais, Vol. 01).
RIBEIRO JÚNIOR, José. Colonização e Monopólio na Nordeste Brasileiro: a
companhia Geral de Pernambuco e Paraíba, 1759-1780. São Paulo: HUCITEC, 2004.
______________________. Alguns aspectos do tráfico escravo para o nordeste
brasileiro no século XVIII. Anais do VI Simpósio Nacional dos Professores
Universitários de História – ANPUH • Goiânia, setembro 1971.
RICUPERO, Rodrigo. A Formação da Elite Colonial: Brasil 1530-1630. São Paulo:
Alameda, 2009.
ROCHA, Antônio Penalves. A Recolonização do Brasil Pelas Cortes: histórias de uma
invenção historiográfica. São Paulo: UNESP, 2009.
RODRIGUES, Jaime. Infame Comércio: Propostas e experiências no final do tráfico
de africanos para o Brasil (1800-1850). Campinas, SP: UNICAMP, CECULT, 2000.
234

RODRIGUES, Jaime. De Costa a Costa: escravos, marinheiros e intermediários do


tráfico negreiro de Angola ao Rio de Janeiro (1778-1860). São Paulo: Companhia das
Letras, 2005.
RODRIGUES, João Carlos. Pequena História da África Negra. São Paulo: globo.
Brasília: Secretaria da cultura da presidência da republica: Biblioteca nacional. 1990
RODRIGUES, José Damião. Histórias Atlânticas: Os Açores na primeira
modernidade. Lisboa: CHAM/Ponta Pegada, 2012.
SALES, Alberto Jacqueri de, Diccionario do Commercio, Martins Everardo, 1895-?,
ant. possuidor; Livraria Antiquário do Calhariz, ant. possuidor, depois de 1723, 4V
SALGADO, Graça (Org.). Fiscais e Meirinhos: a administração no Brasil Colonial.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
SAMARA, Eni de Mesquita. Lavoura Canavieira, Trabalho Livre e Cotidiano: Itu,
1780 – 1830. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2005.
SAMPAIO, Antonio Carlos Jucá de. Na Encruzilhada do Império: hierarquias sociais
e conjunturas econômicas no Rio de Janeiro (1650-1750). Rio de Janeiro: Arquivo
Nacional, 2003.
SANTOS FILHO, Licurgo. Uma Comunidade Rural no Brasil Antigo: Aspectos da vida
patriarcal no Sertão da Bahia nos séculos XVIII e XIX. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1956;
SCHWARTZ, Stuart B. Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial.
1550-1835. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
___________________. Burocracia e Sociedade no Brasil Colonial: o tribunal
Superior da Bahia e seus desembargadores, 1609-1751. São Paulo: Companhia das
Letras, 2011.
___________________. Escravos, Roceiros e Rebeldes. Bauru, SP: EDUSC, 2001.
(Coleção História).
___________________. e PÉCORA, Alcir (Orgs.). As Excelências do Governador: o
panegírico fúnebre a D. Afonso Furtado, de Juan Lopes Sierra (Bahia, 1676).São
Paulo: Cia. das Letras, 2002.
____________________. O Brasil Colonial, 1580-1750: As Grandes Lavouras e as
Periferias. In.: Leslie Bethell. História da América Latina: América Latina Colonial.
vol. 2. 2ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação
Alexandre de Gusmão, 2012.
235

SERRÃO, Joaquim Veríssimo. O Marquês de Pombal: o homem, o diplomata e o


Estadista. Lisboa: Câmara Municipais de Lisboa, Oeiras e Pombal, 1982.
SIDERI, Sandro. Comércio e Poder: Colonialismo informal nas relações anglo-
portuguesas. Lisboa: Cosmos e São Paulo: Martins Fontes, 1970.
SILVA, Andrée Mansuy-Diniz Portugal e o Brasil: a reorganização do império, 1750-
1808. In.: Leslie Bethell. História da América Latina: América Latina Colonial. vol.1.
2ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação
Alexandre de Gusmão, 2012.
SILVA, Elizabete Rodrigues da. Fazer Charutos: uma atividade feminina. Salvador:
FFCH/UFBA, 2001. (Dissertação de Mestrado).
SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Pecuária e Formação do Mercado Interno na
Brasil Colônia. Estudo, Sociedade e Agricultura, Rio de Janeiro, nº 08, abril, 1997.
SILVA, João Paulo Pereira da. (coord.). Pombal e o Seu Tempo. Lisboa: Caleidoscópio,
2010.
SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Bahia, a Corte da América. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 2010. (Coleção Brasiliana).
______________________. D. João V. Lisboa: Temas e Debates, 2009. (Reis de
Portugal).
SILVA, Maria Beatriz Nizza da (Coord.). O Império Luso-Brasileiro 1750-1822.
Lisboa: Estampa, 1986.
SILVA, Sheyla Farias. Nas Teias da Fortuna: Homens de Negócios na estância
Oitocentista (1820-1888). Salvador: UFBA, 2005 (Dissertação de Mestrado).
SILVEIRA, Marco Antonio. O Universo do Indistinto: Estado e Sociedade na Minas
Setecentistas (1735-1808). São Paulo: HUCITEC, 1997.
SIMÕES FILHO, Afrânio Mário Política de Abastecimento na Economia Mercantil: o
Celeiro Público da Bahia 1785-1866. Salvador: FFCH/UFBA, 2011.
SOUSA, Avanete Pereira. A Bahia no Século XVIII: poder político local e atividades
econômicas. São Paulo: Alameda, 2012.
__________________. Poder Local, Cidade e Atividades Econômicas (Bahia, século
XVIII). São Paulo: Programa de Pós-Graduação em História Econômica da Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da universidade de São Paulo. 2003. (Tese de
Doutorado).
___________________. Manifestações locais da Crise do Antigo Sistema Colonial? (o
exemplo das câmaras municipais da capitania da Bahia) In.: SOUZA, Laura de Melo e,
236

FURTADO, Júnia Ferreira e BICALHO, Maria Fernanda (Orgs.). O Governo dos


Povos. São Paulo: Alameda, 2009.
SOUZA, George Félix Cabral de. O Rosto e a Máscara: estratégias de oposição da
Câmara do recife à política pombalina. In: Congresso Internacional Espaço Atlântico
de Antigo Regime: poderes e sociedades, 2008, Lisboa. Actas do Congresso
Internacional Espaço Atlântico de Antigo Regime: poderes e sociedades, 2005.
SOUZA, Laura de Melo e, FURTADO, Júnia Ferreira e BICALHO, Maria Fernanda
(Orgs.). O Governo dos Povos. São Paulo: Alameda, 2009.
____________________. Norma e Conflito: Aspectos da História de Minas Gerais no
século XVIII. Belo Horizonte: UFMG, 2006.
____________________. O Sol e a Sombra: Política e Administração na América
Portuguesa da Século XVIII. São Paulo: Cia. Das Letras, 2006.
____________________.. Desclassificados do Ouro:a pobreza mineira no século
XVIII. Rio de Janeiro: Graal, 2004.
STRUM, Daniel. O Comércio do Açúcar: Brasil, Portugal e Países Baixos (1595-
1630). Rio de Janeiro: Versal Editores, 2012.
STUMPF, Roberta e CHATURVEDULA, Nandini (Orgs.). Cargos e ofícios nas
Monarquias Ibéricas: provimento, controlo e venalidade (séculos XVII-XVIII). Lisboa:
CHAM, 2012.
SUTIL, José Manuel. Terramoto politico (1755-1759): memória e poder. Lisboa:
EDIUAL - Universidade Autônoma de Lisboa, 2006
TAVARES, Luís Henrique dias. História da Bahia. São Paulo: UNESP: Salvador:
EDUFBA, 2001.
___________________. Comércio Proibido de escravos. São Paulo: Ática, 1988.
TENGARRINHA, José (Org.). História de Portugal. Bauru, SP: EDUSP, São Paulo:
UNESP; Portugal: Instituto Camões, 2001.
TOMAZ, Fernando As Finanças do Estado Pombalino 1762-1776. In.: Estudos e
Ensaios: em homenagem a Vitorino Magalhães Godinho. Lisboa: Sá da Costa, 1988.
THOMPSON, Edward Palmer. Costumes em Comum: Estudos Sobre a Cultura Popular
Tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
VALADARES, Virginia Maria Trindade. A Sombra do Poder: Martinho de Melo e
Castro e a Administração de Minas Gerais (1770-1795). São Paulo: Hucitec, 2006.
VAINFAS, Ronaldo e MONTEIRO, Rodrigo Bentes (Orgs.). Império de Várias Faces:
Relações de Poder no Mundo Ibérico da Época Moderna. São Paulo: Alameda, 2009.
237

VALIM, Patrícia Corporação dos Enteados: tensão, contestação e negociação política


na Conjuração Baiana de 1798. São Paulo: FFLCH/USP, 2012. (Tese de
doutoramento).
VENÂNCIO, José Carlos. A Economia de Luanda e Hinterland no Século XVIII: um
estudo de Sociologia Histórica. Lisboa: Estampa, 1996 (Temas de Sociologia).
VERGER, Pierre. Fluxo e Refluxo: do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a
Bahia de Todos os Santos, dos séculos VII a XIX. Salvador: Corrupio 2002.
VERNHAGEN, Francisco Adolfo de. História Geral do Brasil. São Paulo:
Melhoramentos / MEC, 1975. (Tomos IV e V). (Memória Brasileira).
VIANNA FILHO, Luiz. O Negro na Bahia. Rio de janeiro: José Olympio, 1746.
VILLALTA, Luiz Carlos. 1789-1808: O Império Luso-brasileiro e os Brasis. São
Paulo: Cia das Letras, 2000. (Virando Séculos).
VON WEECH, Friedrich. A Agricultura e o Comércio do Brasil no Sistema Colonial.
São Paulo: Martins Fontes, 1992.
VRIES, Egbert de y ECHAVARRÍA, José Medina. Aspectos Sociales del Desarrollo
Económico em América Latina. México: Unesco, 1966.
XIMENES, Cristiana Ferreira Lyrio. Bahia e Angola: redes comerciais e tráfico de
escravos (1750-1808). Niteroi: Universidade Federal Fluminense, 2012. (Tese de
doutorado),
ZAMELLA, Mafalda P. O Abastecimento da Capitania de Minas Gerais no século
XVIII. 2. ed. São Paulo: HUCITEC e EDUSP, 1990.
WEHLING, Arno. Administração Portuguesa no Brasil de Pombal a D. João (1777-
1808). In.: TAPAJÓS, Vicente (coord.). História Administrativa do Brasil. Vol. 6.
Brasília: Centro de Documentação, informação e difusão Graciliano Ramos; Rio de
Janeiro: Biblioteca do Exército 1966.
238

ANEXOS:

Anexos I – Novo Regimento do Tabaco de 16 de janeiro de 1751743.

743
“Novo Regimento da Alfandega do Tabaco” de 16 de janeiro de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino
– Bahia: Caixa 54, documento 10325
239
240
241
242
243
244
245
246
247
248
249

Anexo II: Regimento das Casas de Inspeção de 1º de abril de 1751744.

744
“Regimento das Casas de Inspeção” de 1º de abril de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia:
Caixa 54, documento 10326.
250
251
252
253
254
255
256
257
258
259

Anexo III - Decreto de sua Majestade que baixou ao Conselho Ultramarino a favor
do Comércio e Fábrica do Açúcar e Tabaco de 27 de janeiro de 1751745.

745
“Decreto de sua Majestade que baixou ao Conselho Ultramarino a favor do Comércio e Fábrica do
Açúcar e Tabaco” de 27 de janeiro de 1751. Arquivo Histórico Ultramarino – Bahia: Caixa 54,
documento 10328.
260
261
262
263

Anexo IV: Marcas utilizadas nas guias de carregamento dos navios antes e depois
da Mesa de Inspeção746.

746
“Ofício do Intendente Geral Wenceslau Pereira da Silva para Diogo de Mendonça Corte Real,
informando acerca de um requerimento dos oficiais da Casa da Arrecadação do Tabaco alegando excesso
de trabalho e pedindo melhoria de vencimento” com anexo sobre os mapas dos carregamentos dos navios
com a forma antiga e nova de preencher as guias de embarque. Arquivo Histórico Ultramarino: Bahia,
caixa 7, documento nº 1080-1103.
264
265
266

Você também pode gostar