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Resumo
Introdução
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Acadêmica de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA – Torres / RS.
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Pós-Doutora, Docente Coordenadora de Pós- Graduação, Pesquisa e Extensão da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA
– Torres / RS
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A autora diz ainda que quando isso acontece, a arte pode possibilitar - por
meio de trabalhos artísticos como: a pintura, o desenho, recorte, etc. - a socialização
do idoso, pois é um meio de expressão e comunicação, uma atividade lúdica que
permite descobertas e aprendizagem e neste processo os indivíduos revelam seus
sentimentos, emoções, além da criatividade e o talento até então não revelados.
Coutinho (2008, p. 74) refere que além das mudanças biológicas e
existenciais o envelhecimento traz também conseqüências psicológicas, que dizem
respeito à implacável consciência da proximidade da morte, “[...] a necessidade de
manter e/ou reinventar um papel social e ao enfrentamento de ‘fantasmas’ interiores,
como culpa, arrependimentos e medos”.
A Arteterapia, como nos mostra Coutinho (2008, p.75) pode ajudar nesta
tarefa, pois esta técnica “auxilia a diminuir alguns preconceitos, como o de que os
idosos são pouco criativos”.
Pensando no aumento da perspectiva de existência é cada vez mais
necessário refletir sobre uma forma multidisciplinar que possibilite e auxilie a
manutenção da qualidade de vida das pessoas idosas.
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A Arteterapia
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etc., sua sensibilidade apontava para outros caminhos. Fundou então, em 1946, a
Seção de Terapia Ocupacional no Centro Psiquiátrico Pedro II.
Nise da Silveira3 queria compreender o que se passava no mundo interno
daqueles indivíduos tão fechados, cuja linguagem verbal, dissociada e cheia de
novas expressões, tornava difícil a comunicação. Para isso a psiquiatra, utilizava a
terapia ocupacional, oferecendo atividades que permitiam os clientes expressarem
vivências não verbalizáveis, como aquelas que se encontravam mergulhadas no
inconsciente, isto é, emoções e impulsos fora do alcance das elaborações da razão
e da palavra.
Andrade (2000, p.104) comenta que Nise da Silveira, a fim de estudos
científicos, enviou para Jung pinturas de seus clientes (hoje expostas no Museu de
Imagem do Inconsciente). Ele respondeu as cartas de Nise e confirmou que as
pinturas enviadas por ela representavam materiais do inconsciente coletivo,
exatamente como os analisados por ele em sua prática clínica. Jung e Nise da
Silveira mantiveram contato até sua morte.
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mas isso não quer dizer qualidade de vida. Segundo Schmidt e Wosiack (2007, p.
32) o envelhecimento não significa:
Pensando neste aspecto, notamos que os idosos de hoje não são mais vistos
como “ridículos”, como eram percebidos em um passado próximo. Hoje, os velhos
são mais respeitados pela sociedade. Após terem sido contemplados na
Constituição Brasileira, a sociedade passou a preocupar-se com a população de
idosos, deixando clara a atenção que deve ser dispensada a eles. Muitas
especialidades começaram a se preocupar também, e com isso lançando estudos
para se adaptar a nova lei (Lei n° 8.842 de Janeiro de 1994)4.
As instituições asilares fazem parte desse processo de preocupação da
sociedade em geral com os idosos. O termo asilo é tradicionalmente usado com
sentido de abrigo e recolhimento, normalmente mantidos pelo poder público, privado
ou grupos religiosos. De acordo com o Estatuto do Idoso (Brasil, 2003)5, as
instituições que abrigam idosos são obrigadas a manter padrões de habitação
compatíveis com as necessidades deles, bem como provê-los com alimentação
regular e higiene indispensáveis às normas sanitárias e com estas condizentes, sob
as penas da lei.
Sabemos que, por mais que as instituições asilares sigam as normas exigidas
no Estatuto do Idoso, a vida destes muda muito. Há influencia sobre os fatores
psicológicos, físicos e sociais como, por exemplo: a perda dos familiares, adaptação
às regras da instituição, perda da identidade, baixa auto-estima, diminuição de
atividades físicas por problemas de saúde ou por falta de oportunidades,
distanciamento do mundo externo, entre outros.
4
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L8842.htm Acesso em: 22.11.2009.
5
Disponível em: http://www.senado.gov.br/web/relatorios/destaques/2003057RF.pdf Acesso em: 22.11.2009.
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Metodologia
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Essa técnica, conforme nos mostra Bardin (2008, p. 105) é centrada no tema,
que é: “[...] uma unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto
analisado segundo critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura.”
A análise dos dados iniciou com a leitura de todo o material coletado, o que
permitiu uma visão ampla, global e a possibilidade de anotações com o objetivo de
classificar e organizar os dados. Esta classificação teve como objetivo facilitar a
busca de categorias.
O Processo
Como já foi explanado anteriormente, o objetivo inicial deste trabalho não foi
totalmente alcançado, pois os idosos demonstraram pouca curiosidade pelas
atividades expressivas e não aderiram a elas. No entanto, a partir da intervenção
realizada foi possível desvelar um mundo invisível, solitário e esquecido pela
sociedade. Podemos dizer que a intervenção participante nos revelou uma condição
de vida surreal à qual denominamos de atemporal. Mais adiante explicaremos
melhor esta denominação.
No primeiro contato com a Coordenadora da instituição asilar a mesma
advertiu que seria difícil fazer com que os idosos participassem, pois segundo sua
impressão eles são muito acomodados. Mesmo assim, aceitou que a pesquisa fosse
realizada, pois poderia beneficiá-los.
Para uma melhor compreensão dos participantes desta pesquisa e seu
contexto, apresentaremos brevemente a história de cada um deles.
No momento, moram sete idosos na instituição, três homens e quatro
mulheres, as idades variam entre 75 e 100 anos, somente quatro idosos aceitaram
fazer parte da pesquisa. Dona I. é a mais velha, diz que não teve mãe e pai e que foi
criada por um casal branco. Conta que trabalhava para eles plantando cebola e
costurando, mas que quando a “idade pegou” eles não a quiseram mais. Conta
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ainda que nunca foi casada e que o único irmão que tinha morreu. Sr. A. tem 89
anos, diz que trabalhava como caseiro e que não tem família, conta que nunca
casou, pois nunca teve boas condições financeiras e que então preferiu passar
trabalho na vida sozinho. Dona N., 95 anos é a mais nova na Instituição e a mais
ativa, conta que não casou, pois sempre trabalhou muito com o pai e não teve tempo
para isso. Seu P. não fala muito, pois tem problema de audição, mas está sempre
presente nas atividades, o pouco que sabemos dele é o que os outros idosos e os
cuidadores nos contam.
Após a leitura e releitura dos dados coletados, surgiram as seguintes
categorias de análise: a incapacidade, solidão, necessidade de cuidados de saúde e
exclusão familiar/abandono. Para uma melhor compreensão dos resultados da
pesquisa, passaremos a explicá-las:
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Nos casos dos idosos que aceitaram participar da pesquisa, não houve
adaptação à Instituição, mas sim acomodação a uma realidade não mutável. Dona I.
diz “eu não vim pra cá porque quis, mas porque não tinha escolha. Era aqui ou
morrer sozinha sem ninguém pra me cuidar. Aqui pelo menos eu sei que não vou
morrer sozinha, não é o melhor lugar do mundo, mas é melhor que a solidão”.
[...] é a adaptação mais comum, uma vez que deseja os objetivos e aceita
os meios de que o sistema dispõe para alcançá-los. Os conformistas
mantêm a rede de expectativas que constitui a ordem social, mediante seu
comportamento obediente aos esquemas estabelecidos.
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dessa população passa a ser a própria instituição, pois é nela que terão acolhimento
e acompanhamento no seu cotidiano.
Por mais que essas pessoas falem que estão na Instituição para evitar a
solidão, elas acabam isoladas do convívio uns com os outros, o interesse pelos
outros acaba por diminuir ficando somente o interesse por si próprios. Conforme
Bessa (2008, p. 263) “As respostas emocionais diminuem, bem como a capacidade
de compreensão e as atividades do pensamento”. A saúde para o idoso é um bem
muito precioso, a perda desse bem significa dependência e a falta de autonomia
para as atividades cotidianas. Dona N. é a idosa mais ativa do asilo, como ela diz
“não deixo a peteca cair, não deixo a dor tomar conta de mim, todos os dias saio pra
dar uma caminhada, participo da reza do terço todos os dias, me apego em Deus e
acho que ele me dá forças. Acho que ficar aqui dentro do asilo dormindo o dia inteiro
acaba com a gente mais rápido”. A religiosidade, para muitas pessoas,
principalmente para os adultos mais velhos, é uma forma de referência para vida e,
também para morte, de uma certa forma.
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para uma nova pesquisa, não havia mais desejo e só nos restava o desânimo e a
paralisação.
Essa experiência nos forçou a ver e refletir, a partir da perspectiva dos idosos,
e por fim, entender que o elemento tempo era uma das respostas que buscávamos.
O tempo dos idosos asilados é outro, bem diferente do tempo da “vida real”.
Bauman (2007, p. 8) denuncia a liquidez do mundo e da vida. O autor diz que “[...] a
vida líquida é uma vida precária, vivida em condições de incerteza”.
Às vezes nos surpreendemos pensando na vida precária dos idosos
entrevistados nesta investigação. Haverá um futuro certo ou não? Essa certeza seria
a morte? Então por que ter desejos? Por que aprender novas coisas? Por que
investir no movimento da vida? Num mundo líquido não há lugar para velhos, pois
eles se tornaram descartáveis. E, tendo a sabedoria suficiente para perceber essa
realidade brutal, optaram por descartar primeiro as coisas desse mundo. Nesse
sentido, elegeram uma existência líquida na qual o tempo se torna um rival muito
poderoso. Não há como vencê-lo, pois ao passo que ele fica cada vez mais
poderoso, a velhice fica cada vez mais fragilizada.
Talvez esse tempo líquido, se torne ainda mais efêmero dentro de uma
instituição asilar. Os dias são repetições, os ritmos são desencontrados, as cores
são opacas, as conversas são breves. A rotina que organiza é a mesma que
engessa e é ela quem marca os espaços de tempo. Hora do banho, hora do café,
hora da TV, hora do almoço e assim por diante. Tudo que escapa a esse script é
descartado.
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Referências
ANDRADE, Liomar Quinto de. Terapias Expressivas. São Paulo: Ed. Vector, 2000.
BAUMAN, Zygmunt. Vida Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2007.
BESSA, Maria Eliana P., SILVA, Maria Josefna da. Motivações para o ingresso
dos idosos em instituições de longa permanência e processos adaptativos: um
estudo de caso. Texto Contexto Enfermagem, Florianópolis, 2008 Abr-Jun; 17(2):
258-65. Disponível em: http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/714/71417206.pdf
Acesso em: 22.05.2010.
BOSI, Ecléa. O tempo vivo da memória: ensaios de psicologia social. São Paulo:
Ateliê Editorial, 2003.
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SILVEIRA, Nise da. Jung – Vida e Obra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.
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