Enver Hoxha - A Autogestão Iugoslava - Uma Teoria e Prática Capitalista
Enver Hoxha - A Autogestão Iugoslava - Uma Teoria e Prática Capitalista
Enver Hoxha - A Autogestão Iugoslava - Uma Teoria e Prática Capitalista
”
Karl Marx e Friedrich Engels
ENVER HOXHA
A AUTOGESTÃO IUGOSLAVA:
UMA TEORIA E PRÁTICA CAPITALISTA
Ensaio em oposição às concepções antissocialistas de Edvard Kardelj no
livro Diretriz e Desenvolvimento do Sistema Político de Autogestão Socialista.
1978
“PROLETÁRIOS DE TODO O MUNDO, UNI-VOS!”
Copyleft © Edições Manoel Lisboa, 2023
Ficha Catalográfica:
92p.
ISBN:
1.Política. 2.Albânia. 3.Marxismo-Leninismo. 4.Socialismo. 5.Enver Hoxha.
6.Revolução 7.Iugoslávia. 1978. I. Título.
Introdução 07
7
Capítulo 01
UMA BREVE APRESENTAÇÃO DA HISTÓRIA DOS
REVISIONISTAS TITOÍSTAS
1. Tito conheceu e manteve conversas com Churchill em agosto de 1944 em Nápoles, Itália. Ele também se encontrou com o coman-
dante das Forças Aliadas no Mediterrâneo, General Wilson, assim como o comandante do 8º Exército, Marechal de Campo Alexander.
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Enver Hoxha
2. A posição dos revisionistas iugoslavos em relação a essa questão é analisada pelo camarada Enver Hoxha em seu livro Os Titoís-
tas, Notas Históricas da Casa de Publicações “8 Nëntori”, 1982; Páginas 74 até 122 – Edição Inglesa.
3. Milan Gorkić foi denunciado pelo Comitê Executivo da Internacional Comunista em 1937.
10
Uma Breve Apresentação da História dos Revisionistas Titoístas
desde a sua época de clandestinidade e atividade ilegal, mas se tornou mais evi-
dente especialmente após a libertação da Iugoslávia. Nesse período, o Partido
Comunista da Iugoslávia (KPJ) não dizia seu nome abertamente, mas atuava de
forma disfarçada com o então nome de Frente Popular da Iugoslávia (SSRNJ).
Essa forma de atuar pela ilegalidade foi justificada sob o pretexto de que, caso
contrário, “a grande e mesquinha burguesia, da cidade e do campo, ficaria as-
sustada e preocupada, pois eles pulariam fora do poder que havia emergido da
revolução, e também, os nossos aliados anglo-americanos poderiam se assustar
com o comunismo”. Mesmo com o poder estabelecido, foram feitos grandes es-
forços para convencer a burguesia de que os comunistas não estavam no poder,
que o KPJ existia, mas que era, por assim dizer, um dos membros da Frente
Ampla, no qual os Draža Mihailović, os Milan Nedić, e os Milan Stojadinović e
os outros “-vićs” reacionários da Iugoslávia poderiam participar.
Tito formou um governo provisório com Ivan Šubasić4, o ex-Primeiro-Minis-
tro do governo real Castle no exílio em Londres. Sob constante pressão popular,
as massas não permitiram que ele fosse capaz de governar por muito tempo, e
acabou sendo liquidado. Depois, Tito fingiu que não queria Šubasić, mas que os
Aliados haviam o colocado em seu posto por imposição, mais tarde ele acusou
Stálin da mesma coisa5. A verdade é que Tito havia aceitado Šubasić para agradar
Churchill, pois ele jamais havia gostado de Stálin.
Desde o início, Tito e seus associados mostraram que estavam longe de serem
“marxistas de linha dura”, como a burguesia gosta de taxar os marxista-leninistas
consistentes. Eles eram “marxistas razoáveis”, daqueles que estavam dispostos
a conciliar estreitamente com todos os velhos e novos políticos burgueses rea-
cionários da Iugoslávia.
Apesar de afirmarem ser ainda um partido ilegal, o Partido Comunista da
Iugoslávia (KPJ) atuava na legalidade. No entanto, Ranković e Tito não permi-
4. Ele se tornou Ministro do Exterior do governo iugoslavo depois da libertação da Iugoslávia e renunciou em 5 de outubro de 1945.
5. Em carta para Šubasić em outubro de 1945, em relação à carta de renúncia, Tito escreveu: “Sua renuncia me deixou profunda-
mente atônito. Qual parte do nosso acordo não foi cumprida? Primeiro, um governo unificado com a participação de todos aqueles
ministros do governo de Londres, que você propôs, foi fundado; muitas leis, elaboradas com sua participação, foram endossadas; a
existência de partidos foi aprovada e eles começaram a operar. A liberdade de a imprensa existe, de fato, o fato de que mesmo a opo-
sição tem suas publicações provam que isto é verdade. Isto significa que todos aqueles acordos que eu aprovei e que assinamos em
conjunto estão sendo realizados. Ao aceitar suas declarações e colaboração, eu rejeitei todas as propostas que pudessem nos dividir”.
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Enver Hoxha
tiam que ele tivesse o poder nem o papel de vanguarda que deveria ter, pois o
objetivo estratégico deles não era a construção do socialismo na Iugoslávia. Tito
e Ranković distorceram as diretrizes marxista-leninistas sobre a estrutura e o
papel do partido. O Partido Comunista da Iugoslávia não foi construído com
base nos ensinamentos do marxismo-leninismo. Este partido, que era supos-
tamente fundido com a Frente Popular da Iugoslávia (SSRNJ), fez a lei junto
com o Exército, o Ministério do Interior e o Serviço de Segurança do Estado.
Este partido, que havia liderado a Guerra de Libertação de todos os povos iu-
goslavos, se tornou um destacamento dos órgãos de repressão do Estado após
a guerra, isto é, do Exército, do Ministério do Interior e do Departamento de
Segurança do Estado (UDBA).
A propaganda e a autoridade que o partido conquistou durante a Guerra de
Libertação Nacional, e também durante os primeiros passos de reconstrução
da Iugoslávia após a guerra, deu a impressão à classe trabalhadora iugoslava
que o partido estava na vanguarda. Na realidade, não era a vanguarda da classe
operária, mas da nova burguesia que havia emergido e começado a se instalar.
Essa classe confiava fortemente no prestígio da Guerra de Libertação Nacional
do povo Iugoslavo para atingir seus próprios objetivos contrarrevolucionários,
ao mesmo tempo que limitava as perspectivas dos trabalhadores de constru-
ção de uma nova sociedade socialista. Um partido tão degenerado como este
estava destinado a conduzir a Iugoslávia titoísta por um caminho antimarxista.
O curso antimarxista dos titoístas iugoslavos, liderados por Tito, Kardelj e
Ranković, se opôs abertamente ao marxismo-leninismo, aos partidos comu-
nistas do mundo, à União Soviética, a Stálin e a todos os países de democracia
popular que foram formados após a Segunda Guerra Mundial. É claro que
essa fissura se desenvolveu gradualmente, até chegar em seu momento crítico,
quando o joio foi separado do trigo6.
É um fato inegável que os povos da Iugoslávia lutaram. A Iugoslávia fez grandes
6. Isto aconteceu em junho de 1948, quando a reunião do Cominform examinou a situação no Partido Comunista Iugoslavo (KPJ)
na Romênia. A resolução adotada sobre essa questão diz que a liderança do KPJ abandonou o internacionalismo proletário e se
pôs no caminho do chauvinismo, que “tal marcha nacionalista só poderia levar à degeneração da Iugoslávia em uma república bur-
guesa comum, à perda de sua independência e sua transformação em uma colônia de estados imperialistas”. A vida e confirmou
plenamente estas previsões – Resolução da Cominform sobre a situação no Partido Comunista Iugoslavo (KPJ), publicada no jor-
nal Pela Paz Duradoura, pela Democracia Popular em 1 de julho, 1948, número 16.
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Uma Breve Apresentação da História dos Revisionistas Titoístas
7. Antigo Secretário de Organização do Comitê Central do Partido Comunista da Albânia (PKSH) e Ministro do Interior. Ele foi re-
crutado pelo serviço secreto iugoslavo no começo do verão de 1943 e encabeçou de maneira ininterrupta uma política conspirató-
ria antialbanesa e antimarxista até ser descoberto e receber sua devida condenação.
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Enver Hoxha
va com Tito, Kardelj e Ranković à frente, num esforço para justificar de alguma
forma sua traição “teoricamente”, tomou emprestadas as mais diversas ideias
do arsenal dos antigos revisionistas e, desta forma, reforçaram seu Estado de
tipo fascista por todos os meios possíveis. O Exército, o Ministério do Interior
e a UDBA se tornaram todo-poderosos.
Embora estivesse se estabelecido o capitalismo, a liderança iugoslava revi-
sionista tentou criar, entre as massas populares, a opinião de que os objetivos
da Guerra de Libertação Nacional não tivessem sido traídos, que ali existia um
Estado de orientação socialista, liderado por um partido comunista honesto
que defendia o marxismo e que, supostamente, exatamente por causa disso,
haviam entrado em oposição com a União Soviética, com Stálin, com os parti-
dos comunistas e os países de democracia popular.
Para proteger o seu poder, gravemente abalado com os resultados das denún-
cias feitas à opinião pública nos países socialistas e também em todo movimento
comunista e operário internacional, os titoístas, buscando manter sua políti-
ca enganosa, proclamaram que tomariam “medidas sérias” para a construção
do socialismo no campo, para a coletivização da agricultura de acordo com os
princípios leninistas e, portanto, formaram as chamadas Zadrugas. Quanto à
seriedade das intenções dos titoístas na construção do socialismo no campo,
basta lembrar que a política das Zadrugas desmoronou antes mesmo de serem
devidamente estabelecidas e, agora, não restam vestígios da coletivização do
campo na Iugoslávia.
Até 1948, se concluiu a ruptura entre a União Soviética, que juntava em
torno de si os países de democracia popular e todo o Movimento Comunista
Internacional contra a Iugoslávia, no qual este último ainda se encontrava na
fase inicial de construção do capitalismo. Estava em sua fase mais caótica, no
estado de desorganização política, ideológica, econômica total, em uma situa-
ção extremamente grave. Isso levou a fração de Tito, Kardelj e Ranković a agir
abertamente, a se ligar mais estreitamente ao capitalismo mundial, especial-
mente com o imperialismo americano, a fim de manter seu poder e manobrar
a conjuntura a seu favor.
Depois de 1948, a Iugoslávia ainda se encontrava em uma grave crise polí-
tica, ideológica e econômica, ela estava numa encruzilhada devido aos desvios
14
Uma Breve Apresentação da História dos Revisionistas Titoístas
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Enver Hoxha
8. Com base no acordo militar entre os EUA e a Iugoslávia assinado em 14 de novembro de 1951, as forças armadas iugoslavas foram,
16
Uma Breve Apresentação da História dos Revisionistas Titoístas
de fato, colocadas sob o controle do Pentágono. Em 1953, o tríplice Tratado de Colaboração e Amizade, que em 1954 foi transforma-
do em um pacto militar, foi concluído entre a Iugoslávia, a Grécia e a Turquia. Este pacto vinculou a Iugoslávia também à OTAN,
da qual Turquia e Grécia são membros.
9. De acordo com o jornal The Times, edição de 17 de abril de 1951: em outubro de 1949, o Banco Internacional de Reconstrução
(BIR) concedeu à Iugoslávia um empréstimo de 2,7 milhões de dólares; enquanto que, no mesmo ano, o Fundo Monetário Inter-
nacional (FMI) forneceu dois empréstimos no valor de 12 milhões de dólares. O Congresso Americano autorizou, também, um em-
préstimo de 38 milhões de dólares em dezembro de 1950, e um de 29 milhões de dólares adicionais em abril de 1951.
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Enver Hoxha
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Uma Breve Apresentação da História dos Revisionistas Titoístas
cima sem serem discutidos na base, não eram bem estudados e não eram con-
cebidos para promover um desenvolvimento harmonioso dos vários ramos da
economia das repúblicas e regiões da Federação, as ordens eram arbitrárias e
executadas cegamente, a produção era pelo meio da força. Deste caos, no qual
a iniciativa dos órgãos locais do partido e do Estado, junto às iniciativas das
massas trabalhadoras, não foram levadas em conta em lugar nenhum, por conta
disso, é claro, surgiram divergências, todas elas suprimidas pelo terror e pelo
derramamento de sangue.
Tal situação também foi encorajada pelos estados capitalistas, que haviam
tomado o regime titoísta sob sua asa para dar à Iugoslávia uma orientação ca-
pitalista. Lucrando com este Estado de coisas, os vários imperialistas estavam
competindo entre si em seus esforços para conseguir um maior controle sobre
este Estado corrupto, de modo que, junto com os créditos que eles forneciam,
eles também podiam impor suas visões políticas, ideológicas e organizacionais.
Os capitalistas estrangeiros que apoiaram o grupo de renegados titoístas re-
conheceram claramente que este grupo os serviria, mas eles sentiram, depois
que a situação turbulenta e caótica foi superada, que uma situação mais estável
tinha que ser criada na Iugoslávia. Caso contrário, eles não podiam ter certeza
sobre a segurança dos grandes investimentos que estavam fazendo e que iriam
aumentar no futuro.
A fim de criar a situação desejada em favor do capitalismo, foi necessário rea-
lizar a descentralização da gestão da economia e o reconhecimento e proteção
por lei dos direitos dos capitalistas que estavam fazendo grandes investimen-
tos na economia deste Estado.
A liderança titoísta entendeu claramente que o capitalismo mundial queria que
a Iugoslávia, como uma ferramenta em suas mãos, estivesse na melhor posição
possível para enganar os outros. Consequentemente, não podia aceitar um regime
sanguinário e abertamente fascista, que o antimarxista Tito, Kardelj e Ranko-
vić haviam estabelecido. Por causa disso, a fração de Tito e Kardelj tomaram
medidas em 1967, no qual liquidou a fração de Ranković, que se tornou res-
ponsável por todos os males do regime titoísta até aquele período.
Com a liquidação de Ranković, a Liga dos “Comunistas” da Iugoslávia não
saiu da crise em que tinha entrado. Ela continuou a ser tratada de acordo com
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Enver Hoxha
a antiga visão titoísta, cuja essência era que a Liga deveria manter apenas seu
disfarce “comunista”, mas nunca desempenhar o papel principal na atividade
estatal, no Exército, ou na economia. Os titoístas haviam até mudado o nome de
seu partido, chamando-o de “Liga dos Comunistas”, alegadamente para dar-lhe
um nome autêntico “marxista”, tirado do próprio dicionário de Karl Marx. O
único papel oficialmente reconhecido desta chamada “Liga dos Comunistas” era
um papel educacional. Porém, até mesmo esse papel educacional era inexistente,
porque a sociedade Iugoslava foi colocada para dormir com toda a propagan-
da de uma suposta política e ideologia marxista-leninista da “Aliança Socialista
da Iugoslávia”, que na verdade estava marchando na estrada do capitalismo.
Embora o partido revisionista iugoslavo tenha surgido da ilegalidade, dissol-
veu-se, como resultado da descentralização capitalista, nesse tipo de pluralismo
ideológico que mais tarde seria chamado de sistema “democrático”. O princi-
pal objetivo era que, após a transformação do partido em um partido burguês,
as características capitalistas do desenvolvimento econômico do país deveriam
ser completamente cristalizadas.
Assim, foi preparado terreno adequado na Iugoslávia para o florescimento de
teorias anarco-sindicalistas, contra as quais Marx, Engels, Lênin e Stálin haviam
lutado. Sob estas condições, a teoria pseudo-marxista-leninista do sistema po-
lítico da “Autogestão Socialista”, que Kardelj trata em seu livro, foi inventada.
20
Capítulo 02
O SISTEMA DE “AUTOGESTÃO” NA ECONOMIA
1. Karl Marx e Friedrich Engels: Obras Escolhidas, Volume 1, página 42 – Edição Albanesa.
2. Vladimir Lênin: Obras Completas, Volume 32, página 283 – Edição Albanesa.
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Enver Hoxha
24
O Sistema de “Autogestão” na Economia
7. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 177; “8 Nëntori”, Tirana.
25
Enver Hoxha
26
O Sistema de “Autogestão” na Economia
27
Enver Hoxha
10. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 54 – “8 Nëntori”, Tirana.
11. Truque de Mágica.
28
O Sistema de “Autogestão” na Economia
12. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, páginas 7 e 8 – “8 Nëntori”, Tirana.
29
Enver Hoxha
13. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 160 – “8 Nëntori”, Tirana.
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O Sistema de “Autogestão” na Economia
samente. A fim de mostrar que ele é realista e se opõe às injustiças de seu regi-
me, o próprio Tito admitiu recentemente no discurso que proferiu na reunião
dos principais ativistas da Eslovênia que a “Autogestão” não impede que aque-
les que trabalham mal aumentem sua renda às custas daqueles que trabalham
bem, enquanto os diretores das fábricas que são culpados pelas perdas sofri-
das podem fugir de sua responsabilidade assumindo posições de responsabili-
dade em outras fábricas sem se preocupar que alguém possa repreendê-los pe-
los erros que cometeram.
Embora Edvard Kardelj tenha, em teoria, liquidado a burocracia e a tecno-
cracia, eliminado o papel de uma classe tecnocrata, na realidade, na prática
esta classe foi rapidamente criada e descobriu um amplo campo de atividade
neste sistema supostamente democrático no qual o papel do homem trabalha-
dor é supostamente “decisivo”. De fato, o papel desse estrato de funcionários e
da nova burguesia que domina o empreendimento de “autogestão” é decisivo.
São eles que elaboram o plano, que fixam o número de investimentos e a renda
de todos, a dos trabalhadores e a sua própria e, é claro, que cuidam bem de si
mesmos primeiro. Foram estabelecidas leis e regras a fim de manter os lucros
da liderança tão altos quanto possível e os salários dos trabalhadores baixos.
Na Iugoslávia, essa camada estreita de pessoas, engordadas através do suor
e na labuta dos trabalhadores, que tomam decisões de acordo com os seus pró-
prios interesses, transformou-se em uma classe capitalista. Assim foi criado o
monopólio político na tomada de decisões e na divisão da renda pela elite nas
empresas de “Autogestão” socialista, enquanto Kardelj continua tocando a mes-
ma velha canção: que este sistema político, inventado pelos titoístas, contribui
para a criação de condições para a verdadeira realização da “Autogestão” dos tra-
balhadores e dos direitos “democráticos” que o sistema reconhece em princípio.
A formação da nova classe capitalista foi estimulada precisamente pelo siste-
ma de “Autogestão”. O próprio Tito admitiu este amargo fato, pois alegadamen-
te fez uma “crítica severa” aos exploradores dos trabalhadores, todos aqueles
que dirigem este sistema de “Autogestão socialista” para seu próprio lucro. Em
muitos discursos, por mais que ele tentasse esconder os males de seu sistema
pseudo-socialista, ele teve que admitir a existência da grande crise deste siste-
ma e a polarização da sociedade iugoslava entre ricos e pobres. “Eu não consi-
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Enver Hoxha
dero enriquecimento, diz ele, o que o homem ganha por seu trabalho, inclusive
se, com seus ganhos, tenha construído um chalé. Mas quando se trata de cente-
nas de milhões e inclusive de bilhões, estamos frente a um roubo [...] Estes não
são salários obtidos com a força de trabalho [...] Esta riqueza se cria por meio
de diversas especulações dentro e fora do país [...] Agora, devemos ver o que
ocorreu com aqueles que constroem casas, uma em Zagreb, outra em Belgrado,
uma terceira em algum lugar da costa ou em algum outro lugar. Não se trata
de simples casas de repouso, mas de chalés que frequentemente são alugados.
Além disso alguns não têm um, porém dois ou três carros por família”14. Em
outra ocasião, para mostrar que ele é contra a estratificação da sociedade entre
ricos e pobres, Tito também mencionou que alguns ricos em particular depo-
sitaram cerca de USD$4,5 bilhões somente nos bancos iugoslavos sem calcu-
lar as somas depositadas nos bancos estrangeiros e aquelas que têm em mãos.
Ao escrever sobre o sistema fabricado pelos revisionistas titoístas, Kardelj é
obrigado a mencionar brevemente a necessidade da luta “contra as várias for-
mas de distorções e tentativas de usurpar os direitos de autogoverno dos tra-
balhadores e cidadãos”15. Novamente, ele busca a saída desses “usos indevidos”
dentro do sistema de “Autogestão”, “ampliando o correspondente mecanismo
de controle social democrático”16.
Aqui surge a pergunta: a que classe Kardelj faz alusão, quando fala da “usur-
pação dos direitos dos trabalhadores à autogestão”? Naturalmente não o diz,
porém se trata da velha e da nova classe burguesa que usurpou o poder da clas-
se operária, que a mantém sob a férula e a explora até a medula.
Kardelj, em vão, se esforça para apresentar os “conselhos operários”, as “orga-
nizações fundamentais do trabalho associado” etc. como a expressão mais au-
têntica da “democracia e da liberdade” do homem em todas as esferas sociais.
“Os conselhos operários” não passam de órgãos totalmente formais, defenso-
res e implementadores não dos interesses dos trabalhadores, mas da vontade
dos diretores das empresas porque, sendo materialmente, política e ideologi-
32
O Sistema de “Autogestão” na Economia
17. Vladimir Lênin: Obras Completas – Volume 32, página 80 – Edição Albanesa.
18. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 160 – “8 Nëntori”, Tirana.
33
Enver Hoxha
19. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 95 – “8 Nëntori”, Tirana.
20. Vladimir Lênin: Obras Completas – Volume 32, Páginas 213 e 426 – Edição Albanesa.
34
O Sistema de “Autogestão” na Economia
lismo. Por estas razões, a TANJUG é forçada a admitir que empresários, inter-
mediários e especuladores dominam todo o comércio iugoslavo. Caos, espon-
taneidade, flutuações catastróficas de preços, etc., prevalecem no mercado. De
acordo com dados do Instituto Federal de Estatísticas da Iugoslávia, os preços
dos 45 principais produtos e serviços sociais aumentaram 149,7% no período
de 1972 a 1977 na Iugoslávia.
Em relação às vendas de mercadorias dentro do país, o poder de compra é
muito fraco na Iugoslávia por causa dos baixos salários dos trabalhadores, e
também porque, no balanço final das empresas, não há muito a ser distribuído
entre os operários. A empresa quer vender seus produtos onde puder e de for-
ma independente, porque os principais líderes, ou seja, os patrões, a nova bur-
guesia, querem criar lucros. Porém, como gerar estes lucros, se os comprado-
res são pobres? Então se tem recorrido a outras formas, sendo uma delas a ven-
da a crédito. A venda a crédito dos produtos fabricados por estas empresas de
“autogestão” com pagamento a prazo é outro grilhão ao redor do pescoço dos
trabalhadores iugoslavos, assim como os trabalhadores dos países capitalistas
são acorrentados pelo mesmo sistema capitalista que, na Iugoslávia, é chama-
do de “autogestão socialista”.
Características similares também caracterizam o comércio exterior iugosla-
vo, no qual não existe monopólio estatal. Dependendo dos desejos de seus pro-
prietários, toda empresa pode celebrar contratos e acordos com qualquer em-
presa, multinacional ou Estado estrangeiro para comprar ou vender matérias-
-primas e maquinaria, produtos acabados, meios tecnológicos, etc. Esta práti-
ca antimarxista tem feito também com que a Iugoslávia se transforme em um
país vassalo do capital mundial, que se agregue à profunda crise econômica e
financeira que tem acossado todo o mundo capitalista e revisionista, crise que
se manifesta também em outros setores.
Como revisionista, Edvard Kardelj também nega o papel do Estado socia-
lista em outros campos, tais como as relações financeiras e outras atividades
de caráter diverso. Ele escreve que “As relações nos setores em que assentam
as comunidades de autogestão dos interesses, por regra geral, sem a interven-
ção do Estado, ou seja, sem a mediação do orçamento e de outras medidas
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Enver Hoxha
administrativo-fiscais”21.
Na Iugoslávia, assim como em outros países capitalistas, propagou-se em vas-
ta escala o sistema de concessão de créditos por parte dos bancos em vez do fi-
nanciamento orçamentário dos investimentos com objetivo de desenvolver as
forças produtivas e outras atividades. Os bancos converteram-se em centros do
capital financeiro e são precisamente estes os que dirigem um importantíssimo
papel na economia iugoslava, ou seja, o interesse da nova burguesia revisionista.
Assim, um sistema anarco-sindicalista foi estabelecido na Iugoslávia e este
foi denominado “autogestão socialista”. O que essa “autogestão socialista” trou-
xe para a Iugoslávia? Todo tipo de maldade. Anarquia em produção, em pri-
meiro lugar. Nada é estável lá. Cada empresa lança seus produtos no merca-
do e a competição capitalista se dá porque não há coordenação, já que não é a
economia socialista que orienta a produção. Cada empresa vai sozinha, com-
petindo contra a outra, a fim de garantir matérias-primas, mercados e tudo
mais. Muitas empresas estão fechando devido à falta de matérias-primas, aos
enormes déficits criados por este caótico desenvolvimento capitalista, à acu-
mulação de estoques de bens não vendidos devido à falta de poder aquisitivo e
à saturação do mercado com bens ultrapassados. Os serviços de artesanato da
Iugoslávia também estão em um Estado muito sério. Referindo-se a este pro-
blema na reunião dos principais ativistas da Eslovênia, Tito não conseguiu es-
conder o fato de que “Atualmente, com frequência, cansamo-nos um bocado
para encontrar, por exemplo, um carpinteiro ou algum outro artesão para uma
reparação qualquer, e quando o encontramos, exploramo-lo até o ponto em que
seus cabelos ficam em pé”.
Independentemente do fato anteriormente mencionado de que algumas das
combinações modernas se tornam produtos de boa qualidade, cria-se uma si-
tuação difícil para a Iugoslávia porque ela tem que encontrar um mercado para
a venda dessas mercadorias. Devido a essas dificuldades, o equilíbrio do comér-
cio exterior da Iugoslávia é passivo. Apenas nos primeiros 5 meses deste ano,
o déficit foi de USD$2 bilhões. No 11º Congresso da Liga dos “Comunistas” da
Iugoslávia, Tito declarou que “o déficit referente ao mercado ocidental se tor-
21. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 167 – “8 Nëntori”, Tirana.
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O Sistema de “Autogestão” na Economia
nou quase intolerável”. Quase três meses depois deste congresso, ele declarou
novamente na Eslovênia: “Temos dificuldades especialmente grandes no inter-
câmbio comercial com os países membros do Mercado Comum Europeu. Aí, o
desequilíbrio é constantemente muito sério. Muitos deles nos prometem que
estas coisas serão colocadas em ordem, que as importações da Iugoslávia au-
mentarão, mas até agora temos tido muito poucos benefícios de tudo isso. Cada
um está colocando a culpa no outro”. E o déficit no comércio exterior, que Tito
não menciona neste seu discurso, ultrapassou USD$4 bilhões em 1977. Esta é
uma catástrofe para a Iugoslávia. O país inteiro está sob uma crise sem fim, e
as amplas massas trabalhadoras vivem na pobreza.
Muitos trabalhadores iugoslavos estão desempregados, estão sendo jogados
na rua ou emigrando para o exterior. Tito não só reconheceu essa emigração
econômica, este fenômeno capitalista, mas até mesmo recomendou que se en-
coraje. O desemprego não pode existir em um país socialista, o melhor exem-
plo para isto é a Albânia. Enquanto isso, nos países capitalistas, entre os quais
a Iugoslávia está naturalmente incluída, o desemprego existe e está se desen-
volvendo em todos os lugares. Quando a Iugoslávia tem mais de um milhão de
desempregados, e mais de 1,3 milhões de emigrantes econômicos estão venden-
do sua força de trabalho na Alemanha Ocidental, Bélgica, França, etc., quando
continua aumentando rapidamente a riqueza privada dos indivíduos que exer-
cem altas funções, quer seja no poder, quer seja nas empresas e instituições;
quando os preços dos artigos de primeira necessidade aumentam dia a dia e as
empresas e suas filiais que falem se contam aos milhares, o sistema de “autoges-
tão” iugoslava está provado como uma grande fraude. E, no entanto, Kardelj,
como um grande trambiqueiro, tem a ousadia de escrever: “Em nossas condi-
ções, a autogestão socialista é a forma mais direta e a maior expressão da luta
pela emancipação do trabalhador, por sua liberdade de trabalhar e de criar,
para que sua influência econômica e política seja determinante na sociedade”22.
Indo mais além com sua conhecida fraseologia, com sua demagogia burgue-
sa, Kardelj mente até o extremo ao dizer: “Havendo-se sancionado mediante
a Constituição e as leis, os direitos dos operários, sobre a base de seu trabalho
22. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 158 – “8 Nëntori”, Tirana.
37
Enver Hoxha
23. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 162 – “8 Nëntori”, Tirana.
38
Capítulo 03
A AUTOGESTÃO, CONCEPÇÕES ANARQUISTAS
EM RELAÇÃO AO ESTADO E A QUESTÃO
NACIONAL NA IUGOSLÁVIA
41
Enver Hoxha
1. Karl Marx e Friedrich Engels: Obras Escolhidas, Volume 2; Página 23 – Tirana, 1975; Edição Albanesa.
2. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 235 – “8 Nëntori”, Tirana.
42
A Autogestão, Concepções Anarquistas em Relação ao Estado e a Questão Nacional na Iugoslávia
3. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 08 – “8 Nëntori”, Tirana.
4. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 08 – “8 Nëntori”, Tirana.
43
Enver Hoxha
5. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 08 – “8 Nëntori”, Tirana.
6. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 23 – “8 Nëntori”, Tirana.
44
A Autogestão, Concepções Anarquistas em Relação ao Estado e a Questão Nacional na Iugoslávia
7. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 24 – “8 Nëntori”, Tirana.
8. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 24 – “8 Nëntori”, Tirana.
45
Enver Hoxha
9. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 193 – “8 Nëntori”, Tirana.
10. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 24 e 25 – “8 Nëntori”, Tirana.
46
A Autogestão, Concepções Anarquistas em Relação ao Estado e a Questão Nacional na Iugoslávia
47
Enver Hoxha
melhor, mutila) Karl Marx: “O regime parlamentar vive do debate, então como
ele pode proibir a discussão? Todo interesse social e instituição é aqui trans-
formado em ideias gerais, é tratado como ideia, então como é possível que
qualquer interesse ou instituição fique acima de todas as ideias e se imponha
como um dogma religioso? Um regime parlamentar permite à maioria decidir
tudo, então como é possível que a maioria esmagadora fora do parlamento não
queira tomar decisões?”
Esta citação de Marx é como uma cavilha quadrada em um buraco redondo
no contexto deste livro, portanto dificilmente pode servir para provar o que
Kardelj quer. A ideia de Marx, da maneira complicada como foi citada por este
revisionista, fora do contexto e mutilada, lança dúvidas sobre o fato inegável de
que Marx era absolutamente oposto ao parlamentarismo burguês venal e podre.
Esta tentativa do autor é mal sucedida porque todos conhecem a postura de
Marx que, ao criticar o parlamento burguês e a teoria burguesa da divisão de
poderes, nunca disse que as instituições representativas deveriam ser eliminadas
e que o princípio das eleições deveria ser abandonado, como foi feito na Iugos-
lávia. De fato, ele escreveu que no Estado proletário tais órgãos representativos
deveriam ser criados e operar que não sejam “lojas falantes”, mas verdadeiras
instituições de trabalho, construídas e atuando como “um órgão de trabalho,
executivo e legislativo ao mesmo tempo”11.
O parlamentarismo burguês ganhou “grande força” porque, como afirma o
autor do livro, a prática socialista, com exceção da Iugoslávia, tem sido incapaz
de desenvolver novas formas de vida democrática correspondentes às relações
de produção socialistas de forma mais rápida e ampla. Essa nova forma de
vida democrática, segundo Kardelj, foi supostamente realizada somente sob a
“autogestão socialista”, que atravessou o rubicão do Estado burguês com seus
gerentes tecnocratas-monopolistas do capital. Não se pode deixar de ficar sur-
preso, depois de todos os esforços das forças progressistas e democráticas no
mundo para encontrar e estender as formas de democracia e, de repente, serem
taxadas como “construções artificiais” de parlamentarismo burguês, como ten-
tativas de unir “opostos que não podem ser unificados”, enquanto que Kardelj
11. Karl Marx e Friedrich Engels: Obras Escolhidas, Volume 2 – Página 544; Tirana, 1975 – Edição Albanesa.
48
A Autogestão, Concepções Anarquistas em Relação ao Estado e a Questão Nacional na Iugoslávia
12. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 171 – “8 Nëntori”, Tirana.
49
Enver Hoxha
13. De acordo com os dados da imprensa iugoslava, a renda per capita em Kosovo é seis vezes menor que na Eslovênia, cinco vezes
menor que a Croácia e três vezes e meio menor que a Sérvia.
50
A Autogestão, Concepções Anarquistas em Relação ao Estado e a Questão Nacional na Iugoslávia
14. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 25 – “8 Nëntori”, Tirana.
15. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 27 – “8 Nëntori”, Tirana.
51
Enver Hoxha
pelas pessoas instruídas e qualificadas, que são a elite dominante nesta “comu-
nidade socialista”. Nestas circunstâncias, as decisões serão tomadas na maioria
dos casos precisamente por esta elite, pelo elemento culto da nova burguesia
que faz a lei na Iugoslávia. Quem tem a culpa de que a elite esteja se tornan-
do proeminente e o papel dos trabalhadores esteja diminuindo? Sem dúvida,
a culpa é do próprio sistema social que gera a nova classe capitalista, e lhe dá
a possibilidade de se fortalecer economicamente às custas dos trabalhadores
para se tornar educada, enquanto a classe trabalhadora é deixada em um nível
baixo de educação social e científica. Kardelj não pode deixar de mencionar o
fato de que na prática as decisões são tomadas por uma porcentagem relativa-
mente pequena de pessoas na Iugoslávia. Entretanto, ele nada tem a dizer sobre
o fato de que esta é precisamente a forma como é criado o monopólio político
da elite na tomada de decisões e na divisão da renda nas empresas de “autoges-
tão socialista”. Este monopólio político, contra o qual os revisionistas iugoslavos
supostamente se protegem e combatem, é particularmente marcante em seu
chamado sistema político de “autogestão socialista”.
Na sociedade de “autogestão”, Kardelj afrima: “Ao invés das antigas relações:
as atividades sociais do trabalhador (o Estado), uma nova relação inevitavel-
mente será constituída entre os operários engajados diretamente na produção
e os trabalhadores nas atividades sociais”16. Segundo ele, construir relações
sociais através de um regime socialista onde o socialismo científico é aplicado,
onde há unidade entre os trabalhadores diretamente envolvidos na produção e
os trabalhadores engajados em atividades sociais, onde há uma vigorosa ativi-
dade sociopolítica e uma organização da economia na qual o papel principal é
desempenhado pelo povo trabalhador organizado em seu Estado socialista não
é a forma correta. A forma correta, segundo Kardelj, é a de construir “novas”
relações sociais sem a participação do Estado!
Estas ideias são uma expressão de puro anarquismo. Todas estas frases só
existem para obscurecer qualquer coisa boa que um verdadeiro regime socialista
oferece, para alegar traiçoeiramente que na Iugoslávia eles estão supostamente
marchando em direção à unidade dos trabalhadores e intelectuais através das
16. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 23 – “8 Nëntori”, Tirana.
52
A Autogestão, Concepções Anarquistas em Relação ao Estado e a Questão Nacional na Iugoslávia
17. Vladimir Lênin: Obras Completas, Volume 28, Página 107 – Edição Albanesa.
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Enver Hoxha
54
A Autogestão, Concepções Anarquistas em Relação ao Estado e a Questão Nacional na Iugoslávia
18. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 41 – “8 Nëntori”, Tirana.
19. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 61 – “8 Nëntori”, Tirana.
55
Enver Hoxha
20. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 235 – “8 Nëntori”, Tirana.
21. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 235 – “8 Nëntori”, Tirana.
22. Vladimir Lênin: Obras Completas, Volume 10, Página 366 – Edição Albanesa.
56
A Autogestão, Concepções Anarquistas em Relação ao Estado e a Questão Nacional na Iugoslávia
por cima e nada por baixo. Os protestos dos trabalhadores iugoslavos contra
o enriquecimento e a corrupção dos principais funcionários, suas exigências
para a eliminação das distinções econômicas e sociais, a abolição das empre-
sas privadas, a contenção da corrupção política e moral, os protestos contra a
discriminação nacional, etc., são hoje bem conhecidos. O livro está cheio de
frases longas e pomposas que buscam cansar o leitor e, assim, fazê-lo acredi-
tar na ideia abstrata de que “a autogestão socialista existe na Iugoslávia e que a
autoadministração dos trabalhadores reina”, numa época em que os trabalha-
dores nada têm a dizer. As chaves do governo do país estão na posse da nova
burguesia iugoslava que opera a partir de posições de direita enquanto se dis-
farça com palavras de ordem de esquerda.
57
Capítulo 04
A AUTOGESTÃO E A NEGAÇÃO DO PAPEL
DIRIGENTE DO PARTIDO
1. Vladimir Lênin: Obras Completas, Volume 32; Página 226 – Edição Albanesa.
59
Enver Hoxha
2. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 119 – “8 Nëntori”, Tirana.
60
A Autogestão e a Negação do Papel Dirigente do Partido
ver as múltiplas contradições, assim como dos métodos e formas para o ulterior
desenvolvimento do sistema político da autogestão socialista”. Se o Estado e o
partido não podem criar a felicidade do povo, como escreve Kardelj, então por
que ele pede que estas prerrogativas sejam dadas à Liga dos “Comunistas” da
Iugoslávia? Se a sociedade iugoslava de “autogestão” não tem necessidade da
liderança de um único partido político, como se diz, então, que necessidade há
da direção da Liga dos “Comunistas” da Iugoslávia?
Enquanto Karl Marx defende um autêntico partido da classe operária, que
deve dirigir esta classe e torná-la consciente de sua missão histórica, o prole-
tariado, segundo Kardelj, pode levar o país adiante e realizar suas aspirações
de forma espontânea, inclusive sem o papel dirigente do partido. Kardelj diz
isto para justificar a teoria da “autogestão”, esta teoria que representa tanto o
pluralismo político, ou seja, a unidade de todas as forças da sociedade, inde-
pendentemente de suas diferenças ideológicas e políticas, na chamada Liga
Socialista dos Trabalhadores, e a favor um partido que não tem nenhum valor
comunista, porém que lhe põem o rótulo de dirigente de todo o sistema anti-
marxista da “autogestão”.
Kardelj fala do burocratismo dos partidos ocidentais do capital. Aqui, também,
ele não descobriu nada de novo, porque é sabido que o burocratismo é ineren-
te à natureza do capitalismo e constitui um traço característico deste. Porém,
ele denuncia a burocracia em outros partidos não para criticá-los, mas para
esconder a burocratização e depois a liquidação do Partido Comunista Iugos-
lavo (KPJ) e o esvaziamento de todas as prerrogativas que lhe pertenciam. Se
os titoístas consideram como desburocratização pôr o partido à retaguarda
dos acontecimentos, dos fenômenos e dos processos da vida política e social e
transformá-lo em um partido da burguesia. E, para encobrir sua traição, eles
fundaram o rótulo “Liga dos Comunistas da Iugoslávia”.
Se um partido é ou não comunista, se é ou não um partido da classe traba-
lhadora, não pode ser julgado pelo nome que ostenta, mas sobretudo quem
são aqueles que o dirigem, a composição de seus militantes e qual é a atividade
prática que realizam. Lênin dizia “para que um partido seja, ou não, um autên-
tico partido político da classe operária, isso vai depender, também, de quem o
61
Enver Hoxha
3. Vladimir Lênin: Obras Completas, Volume 31; Página 285 – Edição Albanesa.
4. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 73 – “8 Nëntori”, Tirana.
62
A Autogestão e a Negação do Papel Dirigente do Partido
5. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 64 – “8 Nëntori”, Tirana.
63
Enver Hoxha
6. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 232 – “8 Nëntori”, Tirana.
7. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 64-65 – “8 Nëntori”, Tirana.
64
A Autogestão e a Negação do Papel Dirigente do Partido
8. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 65 – “8 Nëntori”, Tirana.
65
Enver Hoxha
9. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 65-66 – “8 Nëntori”, Tirana.
10. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 263-264 – “8 Nëntori”, Tirana.
66
A Autogestão e a Negação do Papel Dirigente do Partido
67
Enver Hoxha
68
Capítulo 05
O PLURALISMO POLÍTICO-IDEOLÓGICO, A
“DEMOCRACIA E A CONSTRUÇÃO SOCIALISTA”
DA IUGOSLÁVIA
Com sua teoria, Kardelj coloca o “pluralismo dos interesses das massas
trabalhadoras” na vanguarda e, neste pluralismo, ele enfatiza especialmente o
papel da Aliança Socialista dos Trabalhadores da Iugoslávia (SSRNJ) que, de
acordo com ele mesmo, é capaz de unificar todas as forças sociais, independente
de suas diferenças ideológicas. Na realidade, essa “Aliança Socialista” é uma as-
sociação que existe apenas formalmente e que não tem papel nenhum. Kardelj
deixa escapar quando diz: “Eu não acho nenhum exagero dizer que a subestima-
ção do papel social da Aliança Socialista é um fenômeno cada vez mais comum
nas fileiras da Liga dos Comunistas”1. Mais a frente, ao falar sobre a ativida-
de desta “associação de todas as forças organizadas da sociedade”, assim como
eles a chamam na Iugoslávia, Kardelj é novamente forçado a admitir seu caráter
formalista quando diz que “a Aliança Socialista frequentemente resolve diver-
sos problemas apenas na aparência, isto é, através de resoluções e declarações,
muito menos do que deveria na realidade”2. Estes fatos que Kardelj admite, os
quais ele obviamente trata apenas como contratempos, são suficientes para
provar inegavelmente o que é de fato essa Aliança sem vida.
O pluralismo da “autogestão socialista” se expressa, segundo Kardelj, dentro
da “Aliança Socialista”, que inclui em suas fileiras todas as forças “progressistas e
democráticas” (todas as forças, mesmo as mais reacionárias), cujos representantes
1. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 272-273 – “8 Nëntori”, Tirana.
2. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 276 – “8 Nëntori”, Tirana.
71
Enver Hoxha
3. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 74 – “8 Nëntori”, Tirana.
4. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 267 – “8 Nëntori”, Tirana.
72
O Pluralismo Político-Ideológico, a “Democracia e a Construção Socialista” da Iugoslávia
apenas de partido único, ele, inclusive, abole tal sistema, da mesma forma que
abole o sistema pluripartidário da sociedade burguesa” – Isso é um absurdo,
uma tese emprestada dos anarquistas e dos anarco-sindicalistas, que foi cora-
josamente combatida por Marx, Engels, Lênin e Stálin.
A teoria do “pluralismo político” defendida por Kardelj em relação aos direi-
tos iguais a partidos diferentes no Estado socialista, controle recíproco etc. viria
também a servir Hua Guofeng e Deng Xiaoping no momento mais oportuno.
Enquanto se vangloria sobre os caminhos do desenvolvimento do sistema de
“autogestão socialista”, para não extrapolar, Kardelj é obrigado a admitir que
também existem exageros, erros e deficiências, porque “em muitas esferas as
novas relações ainda não existem nem funcionam satisfatoriamente”5. Mesmo se
ele não tivesse admitido isto, porém, a realidade iugoslava está provando todos
os dias que essa “autogestão” chegou a uma estagnação, portanto aqueles que
conhecem de perto a Iugoslávia e seu sistema político não podem acreditar em
suas consoladoras declarações que descrevem a autogestão como o “sistema so-
cialista mais desenvolvido”.
O sistema político da “autogestão” é um disfarce descarado para encobrir a
traição revisionista do marxismo-leninismo, do socialismo científico e do co-
munismo. Os titoístas iugoslavos, como antimarxistas, não são e nunca foram a
favor da construção do socialismo, ao contrário, são ativos defensores da perpe-
tuação do capitalismo em diferentes formas. Eles estão tentando inventar todo
tipo de “teorias” com o objetivo de retardar o processo de decadência da ordem
social capitalista, uma vez que são incompetentes e incapazes de superá-la. Para
os revisionistas iugoslavos, qualquer povo e qualquer Estado podem construir
o socialismo sem se basear em leis e princípios universais ou na ideologia mar-
xista-leninista. Eles não aceitam que o socialismo possa ser apenas um sistema
socioeconômico e afirmam que “várias formas de socialismo” podem existir.
Deliberadamente, abusam e distorcem a justa tese marxista-leninista sobre a
aplicação criativa da ideologia proletária de acordo com as condições especiais
de cada país, insistem que não existem leis universais para a construção do so-
cialismo em todos os países, e que cada país pode construir um “socialismo”
5. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 26 – “8 Nëntori”, Tirana.
73
Enver Hoxha
6. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 49 – “8 Nëntori”, Tirana.
74
O Pluralismo Político-Ideológico, a “Democracia e a Construção Socialista” da Iugoslávia
75
Enver Hoxha
culpa do sistema de autogestão, mas por sua própria negligência, porque não
se preocuparam em defender seus interesses concretos! Na Iugoslávia de “auto-
gestão socialista”, os trabalhadores foram desarmados politicamente a tal ponto
que são incapazes de defender até mesmo seus direitos mais básicos. De fato,
a grande maioria deles foi transformada em uma massa de pessoas cuja única
preocupação é como se agarrar a seus empregos ou encontrar trabalho, mesmo
quando não há nenhum, ou como garantir os meios de subsistência dentro do
país ou no exterior. De fato, muito poucos trabalhadores estão interessados no
que este sistema de “autogestão, trabalho composto e pluralismo democrático”
oferece. Este também é um dos objetivos dos titoístas que, com sua invenção do
“socialismo de autogestão”, querem que os trabalhadores se envolvam o mínimo
possível na defesa de seus direitos, que se preocupem o mínimo possível com
a política, que busquem apenas seus próprios interesses mesquinhos indivi-
dualistas e negligenciem seus interesses de classe comuns a todas as pessoas.
No sistema do parlamentarismo burguês, segundo Kardelj, a classe trabalha-
dora é inevitavelmente “politizada”, porque o sindicalismo e a luta sindical por
si só não a conduzem ao poder político. Mais adiante, ele escreve que tal “poli-
tização” divide a classe trabalhadora em diversos partidos e, assim, ele afirma,
dá origem ao novo perigo de que a “burocracia partidária” possa começar a
operar em nome da classe.
De fato, a luta no contexto do sindicalismo nos países capitalistas não asse-
gura o poder político para a classe operária. É por isso que os trabalhadores
se organizam em partidos políticos para defender seus interesses de classe.
Porém, Kardelj não quer expor os sindicatos nem os vários partidos “operários”
que se constituíram no ocidente, dos quais os revisionistas iugoslavos compar-
tilham verdadeiras alianças. Ele quer demonstrar, por outro lado, que tanto o
parlamentarismo burguês, os partidos burgueses, os partidos comunistas, re-
visionistas, sindicatos são má influência para o movimento operário e por isso
devem ser eliminados. A burguesia e os revisionistas modernos não ficam abor-
recidos com tais dizeres, pois sabem muito bem que Kardelj está falando, na
realidade, apenas da liquidação dos verdadeiros partidos marxista-leninistas,
enquanto os demais partidos burgueses podem continuar existindo, porque
esses partidos, independentemente de sua quantidade, um, dois ou mais, não
76
O Pluralismo Político-Ideológico, a “Democracia e a Construção Socialista” da Iugoslávia
7. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 55 – “8 Nëntori”, Tirana.
77
Enver Hoxha
78
O Pluralismo Político-Ideológico, a “Democracia e a Construção Socialista” da Iugoslávia
8. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 63 – “8 Nëntori”, Tirana.
9. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 67 – “8 Nëntori”, Tirana.
79
Enver Hoxha
e sair abertamente como renegados e traidores, dizendo que também não re-
presentam Marx. Também com este fim, inventarão mais “teorias” adequadas,
que podem ser qualquer coisa, menos comunistas ou proletários.
Lênin, como um verdadeiro marxista, defendeu a democracia socialista, a
participação direta da classe trabalhadora na administração do país, e colocou
em prática essas ideias revolucionárias durante os anos em que permaneceu à
frente do Estado soviético. Seguindo seu exemplo, Stálin continuou no mesmo
rumo. Porém, com a democracia socialista e a participação direta das massas no
governo do país, Lênin não implicou, no menor dos casos que fosse, no enfra-
quecimento do Estado ou da ditadura do proletariado e o papel de vanguarda
dirigente do Partido Bolchevique. Ele nunca contrapôs a ditadura do proletariado
à verdadeira democracia, que ele definiu como “um Estado que é democráti-
co de uma nova maneira para o proletariado e os sem-propriedade em geral
e ditatorial de uma nova maneira para a burguesia”10.
Isso ilustra muito claramente que Lênin nunca defendeu e nunca poderia ter
sido a favor da substituição da ditadura da burguesia por este ou aquele sistema
de “autogestão”, inventado pelos revisionistas iugoslavos a fim de reestabele-
cer o capitalismo.
Nos tempos de Lênin e Stálin, a classe trabalhadora estava no poder na União
Soviética e liderou, planejou e realizou com sucesso as tarefas da construção so-
cialista através do Partido Bolchevique. Na Iugoslávia, o grande papel do Estado
socialista foi desconsiderado e foi substituído pelo chamado “sistema de dele-
gados”, que, como Kardelj admite, “apresenta sérias deficiências em todos os
aspectos de seu funcionamento”11.
O próprio Kardelj entende que sua referência a Lênin sobre a democracia
direta não pode servi-lo, no mínimo, para justificar a “autogestão”, portanto,
através do sofisma, ele tenta convencer as massas de que a ideia de Lênin “não
foi elaborada até suas consequências factuais, mas é claro que sua essência é
precisamente a democracia direta, ou seja, a autogestão”12. Kardelj “filosofa”
10. Vladimir Lênin: Obras Completas, Volume 25, Página 488 – Edição Albanesa.
11. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 213 – “8 Nëntori”, Tirana.
12. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 67 – “8 Nëntori”, Tirana.
80
O Pluralismo Político-Ideológico, a “Democracia e a Construção Socialista” da Iugoslávia
13. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 68 – “8 Nëntori”, Tirana.
81
Enver Hoxha
14. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 70 – “8 Nëntori”, Tirana.
82
O Pluralismo Político-Ideológico, a “Democracia e a Construção Socialista” da Iugoslávia
15. Vladimir Lênin: Obras Completas, Volume 33, Página 202 – Edição Albanesa.
83
Enver Hoxha
16. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 267 – “8 Nëntori”, Tirana.
17. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 280 – “8 Nëntori”, Tirana.
84
O Pluralismo Político-Ideológico, a “Democracia e a Construção Socialista” da Iugoslávia
de base dos sindicatos “serem apêndices dos órgãos de gestão”18 . Isto ocorreu
porque o papel das organizações sociais, seu lugar na sociedade e as relações
que deveriam ter com o partido e o Estado, foram definidos a partir de posi-
ções distorcidas.
Neste livro, Kardelj se refere especialmente à Aliança Socialista dos Traba-
lhadores, aos sindicatos, a Liga da Juventude Socialista, sobre a qual se poderia
escrever e polemizar longamente. Porém, aqui não entraremos em detalhes,
considerando melhor enfatizar apenas os desvios de princípio dos revisionis-
tas iugoslavos na organização, objetivos e atividade das organizações de massa.
Os revisionistas iugoslavos também assumem uma posição reacionária sobre
o papel da religião e sua ideologia. É um fato bem conhecido que a ideologia
religiosa sempre serve e ajuda as classes exploradoras a roubar e oprimir as
massas trabalhadoras. É uma ferramenta para criar o sentimento de impotên-
cia nos humanos diante do sofrimento, do infortúnio e da miséria. A ideologia
religiosa turva a mente humana e paralisa sua vontade de transformação da na-
tureza e da sociedade. É por isso que Marx, como é bem conhecido, comparou
a religião ao ópio. Ele escreveu: “A religião é o suspiro da criatura oprimida, o
ânimo de um mundo sem coração, assim como o espírito de estados de coisas
embrutecidos. Ela é o ópio do povo”19.
Justamente por causa do papel reacionário que desempenha, as classes do-
minantes sempre apoiaram a religião e continuarão a apoiá-la. Em essência,
os capitalistas, os revisionistas e os clérigos reacionários têm uma e a mesma
linguagem. O partido marxista-leninista não pode se reconciliar com a ideolo-
gia religiosa e sua influência. A base teórica da política e do programa de um
partido genuíno da classe trabalhadora é a filosofia marxista-leninista, e não
o idealismo religioso. A luta de classes pela construção do socialismo não pode
ser separada da luta contra a religião.
Na Iugoslávia, a religião foi julgada e tratada exatamente da mesma forma
que nos outros estados capitalistas, aqui não há absolutamente nenhuma di-
ferença. O envenenamento das massas pela ideologia religiosa é visto apenas
18. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 295 – “8 Nëntori”, Tirana.
19. Karl Marx: Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, 1843, Página 145 – Editora Boitempo, 2010.
85
Enver Hoxha
20. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 178 – “8 Nëntori”, Tirana.
21. Edvard Kardelj: Pravci Razvoja Političkog Sistema Socijalističkog Samoupravljanja, página 179-180 – “8 Nëntori”, Tirana.
86
O Pluralismo Político-Ideológico, a “Democracia e a Construção Socialista” da Iugoslávia
87
Enver Hoxha
22. Vladimir Lênin: Obras Completas, Volume 19, Página 09 – Edição Albanesa.
88
ENVER HOXHA