Descubra o Seu Destino
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Descubra o Seu Destino
ROBIN SHARMA
Tradução de:
Elisa Evangelista
Pergaminho
1
Emergência Espiritual
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desencanto. A verdade é que, quando recuperamos e começamos
a sentir-nos melhor, o mundo também nos parece melhor, e
quando reavemos a alegria interior, o nosso mundo exterior
reflete e devolve-nos esse mesmo estado. Aprendi que o mundo
é como um espelho. O que recebemos do mundo não é o que
queremos, e sim o que somos. Também aprendi que existem ciclos
nas nossas vidas, e que os ciclos dolorosos nunca perduram.
Confie que o inverno da sua tristeza dará origem ao verão da sua
alegria, da mesma forma que os raios brilhantes da manhã se
seguem à escuridão mais profunda da noite.
Eu deixara de ser um caso desesperado e de ter pena de mim
próprio. Deixei de sentir que não havia saída. Naquele dia recuperei
uma espécie de poder, e, apesar de a minha vida ainda se encontrar
numa fase caótica, algo em mim tomou consciência de que eu tinha
o poder de a melhorar. Por alguma razão, confiei que seria ajuda-
do e que melhores dias viriam. O que ignorava é que essa ajuda
seria maravilhosa e que esses melhores dias iriam superar a minha
imaginação… Porém, antes de entrar em pormenores, calculo que
esteja interessado em saber quais as circunstâncias que levaram o
meu espírito a entrar no estado de decadência que me levou a
considerar a hipótese de me suicidar.
Há alguns anos, eu vivia a vida que qualquer pessoa sonha
viver. Era casado com uma mulher inteligente e amorosa, que
me amava profundamente, e tinha três filhos saudáveis, felizes e
cheios de capacidades. Ganhava muito bem, como proprietário
de uma cadeia de hotéis de luxo situados em locais sofisticados
de todo o mundo, frequentados por estrelas de cinema e toda a
espécie de gente rica e famosa. Viajava frequentemente para
destinos exóticos, acumulei objetos de culto e conquistei bastan-
te prestígio, pelo menos na minha área de atividade.
Um dia, porém, o meu mundo ruiu. Cheguei tarde a casa, após
um jantar de negócios com o vendedor de uma propriedade que
tencionava comprar. Rachel, a minha mulher, costumava deixar
sempre uma luz acesa, mas nessa noite a casa estava imersa em
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teligente para os colocar nas mãos de uma excelente equipa de
gestão que, por uma questão de lealdade para comigo, conduziu
tudo da melhor forma enquanto eu lambia as minhas feridas.
Marcava presença nas reuniões mais importantes e no fecho de
negócios, mas passava a maior parte do tempo sozinho em casa,
numa sala às escuras, a ouvir as velhas canções da Billie Holiday
e em longas conversas com o Jack Daniels. Foi este o estado de
decadência que me levou àquele quarto de motel onde começa a
minha narrativa, mas também foi esse o desespero que trouxe
a minha salvação.
Descobri que o sofrimento e a adversidade são veículos po-
derosos para o crescimento pessoal. Nada como as dificuldades
para aprendermos, crescermos e evoluirmos mais rapidamente.
Nada oferece uma oportunidade tão fecunda para recuperar o
seu verdadeiro poder como pessoa. Os nossos olhos humanos
veem essas experiências como algo de negativo, o que não pas-
sa de um mero juízo de valor. Por detrás dessa falsa crença
existe o medo, o medo puro. Na verdade, o sofrimento surge
quando nos acontece algo de indesejado, quando aparece uma
nova condição. Ora o aparecimento de uma nova condição nas
nossas vidas, quer se trate de uma doença, da perda de um ser
amado ou de um revés financeiro, significa que temos de mudar,
de nos desapegar daquilo que temos sido. Estas situações impõem
que nos desapeguemos das nossas expectativas ou dos nossos
hábitos; o desapego pode ser algo de muito assustador para um
ser humano. Tememos zarpar do porto seguro daquilo que nos
é familiar e conhecido. Resistimos à viagem ao desconhecido a
que as nossas vidas nos conduzem. Só a ideia nos assusta. No
entanto, para lá de toda a resistência ao que é novo e desconhe-
cido, está o medo.
Mas não há razão para termos medo. O universo em que vi-
vemos é muito mais amigável do que imaginamos. Um barco que
nunca sai do cais jamais se danificará, mas os barcos não foram
feitos para apodrecerem no cais. Da mesma forma, um ser hu-
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É por essa razão que fazem tudo como os demais, e, ao agirem
dessa maneira, as suas almas brilhantes vão gradualmente per-
dendo o seu fulgor. O aventureiro Alvah Simon disse: «A morte
é apenas uma das formas de perdermos a vida.»
Manter-se perto da dimensão de segurança e conforto não
é senão uma escolha clara de permanecer aprisionado pelos seus
medos. O leitor pode ter a ilusão de que é livre quando vive na
caixa fechada em que se transformou a sua vida, mas, acredite,
é uma mera ilusão, uma mentira na qual quer acreditar. Quan-
do sai dessa caixa e se afasta da multidão, surgem os medos –
afinal, você é humano! Mas a coragem implica que prossiga,
apesar de sentir esses medos. A coragem não é a ausência de
medo, mas a vontade de enfrentá-lo para poder perseguir uma
meta importante. Ao optar por viver sempre em território se-
guro, não está a fazer mais do que habitar o mundo dos mortos-
-vivos. Quando regressa à vida, ou seja, quando decide de novo
aventurar-se e explorar os lugares desconhecidos da sua vida,
o seu coração recomeça a bater. A aventura e o empolgamento
tornam-se presentes. Lembre-se: para lá dos medos reside a sua
felicidade.
Seguidamente, partilharei consigo uma bela e forte metáfora:
se tivesse passado toda a sua vida numa prisão, no dia em que
fosse libertado seria assaltado por imensos medos. Na prisão,
apesar de estar privado da liberdade, vivia no reino do conheci-
do, pois aí estava implementada uma rotina estrita: sabia quando
tinha de despertar, quando podia praticar exercício físico e quan-
do podia comer. Ao ser libertado, iria começar a ter medos, pois
deixaria de saber o que fazer e onde ir. Não existe uma estrutu-
ra, mas apenas incerteza. A sua tendência imediata é regressar ao
que é conhecido, em vez de encarar a aparente insegurança e o
desconforto que lhe causa o desconhecido. Estranhamente, pre-
fere optar pela privação da liberdade do que pelo seu exercício.
Não faz sentido, mas, na verdade, é assim que a maior parte de
nós se desloca na vida.
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gostava muito desse tipo de eventos e era um grande entusiasta
do tema do crescimento pessoal. Eu, pelo contrário, era um cé-
tico. Para ser honesto, não simpatizo nada com oradores moti-
vacionais. Sempre os achei comparáveis ao algodão doce: muito
doces por um momento, mas muito voláteis também.
O filho de Evan ia participar num recital de piano nessa mes-
ma noite, e ele fazia questão de que eu assistisse àquele seminário,
pois era da opinião de que isso poderia contribuir para animar o
meu espírito e, quem sabe, como fonte de inspiração para eu
introduzir na minha vida as mudanças necessárias para regressar
ao ativo, não só no plano profissional como também no pessoal.
Declinei o convite: não estava na disposição de me sentar a ouvir
lugares-comuns e homilias maçudas que supostamente me deve-
riam motivar… Expliquei que ainda andava a debater-me com
muitos problemas e que me apetecia sobretudo ficar só. Nesse
momento, algo de interessante aconteceu. O meu colega, um
homem extremamente intuitivo, olhou-me de forma penetrante
e disse: «Dar, tens de confiar em mim desta vez. Sinto que existe
uma razão pela qual precisas de ir a este seminário. É apenas um
feeling inultrapassável. Por favor, peço-te que vás.»
Sempre fui um homem que viveu sobretudo a componente
racional. Mais do que a paixão, o que sempre me moveu foi a
razão. Se alguma coisa não fizesse sentido para mim numa perspe-
tiva intelectual, não lhe atribuía qualquer importância. No entan-
to, era evidente que essa fórmula não tinha funcionado comigo.
Adoro a definição de loucura de Einstein: fazer sempre as mesmas
coisas e esperar resultados diferentes. Se eu queria resultados novos
na minha vida, teria de ter comportamentos novos, caso contrário
a minha vida seria igual até ao último momento.
Algo em mim me sugeria que talvez houvesse outra forma de
operar como ser humano. Tinha lido o meu primeiro livro de fi-
losofia há pouco tempo; nunca tinha lido nada do género. Não
sei o que me levou a escolher uma tal leitura, mas a inclinação foi
real: talvez pelo facto de me encontrar num sofrimento tão inten-
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O coração conhece esta verdade. A mente, por seu turno, com
todas as suas capacidades de raciocínio e reflexão, é uma fabu-
losa ferramenta que o coração deveria utilizar como suporte para
o seu trabalho, nomeadamente no planeamento, na aprendizagem
e no exercício do pensamento. Estas funções, no entanto, devem
ser executadas em sintonia com o coração, e sob a sua orientação.
Se quisermos viver uma boa vida, a cabeça e o coração devem
fundar uma aliança legítima, refere também o livro. Cabeça e
coração devem operar em harmonia. Se viver apenas com a ca-
beça, ficará privado de sentir a respiração e o ritmo da vida. Se
viver exclusivamente com o coração, correrá o risco de viver sem
discernimento ou disciplina, aprisionado na torrente caótica das
emoções. O equilíbrio é delicado, e requer tempo, energia e
compreensão.
Naquele momento, com Evan à minha frente, pacientemente
à espera, senti o impulso de explorar algo de novo. Por um mo-
mento, consegui parar e prestar atenção ao que estava a passar-se
abaixo da superfície, pelo que decidi abrir mão das limitações da
razão durante umas horas e confiar nos meus sentidos mais pro-
fundos. Aceitei o convite e os bilhetes.
Evan aproximou-se e deu-me um abraço.
– Sabes que gostamos muito de ti.
Fui invadido por uma comoção silenciosa ao ouvir esta afir-
mação impregnada de uma profunda bondade, partilhada pelo
meu colega de longa data. As lágrimas correram pelas minhas
faces, devido, por um lado, à tristeza decorrente dos aconteci-
mentos recentes da minha vida, e, por outro, ao amor incondi-
cional que emanava daquele ser humano tão próximo.
– Obrigado, Evan – retorqui. – És uma boa pessoa. Tenho um
grande apreço por ti.
– Acredita, Dar, este seminário vai ser muito importante para
ti. E quem sabe que encontros terás nesse local?
Eu estava longe de imaginar que nessa noite iria conhecer o
homem que me conduziria à minha vida redimensionada.