Descubra o Seu Destino

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Descubra o Seu Destino

ROBIN SHARMA

Descubra o Seu Destino


A Sequela de O Monge Que Vendeu o Seu Ferrari

Tradução de:
Elisa Evangelista

Pergaminho
1
Emergência Espiritual

A vida não se rege pela sua lógica; imperturbável, segue


os seus próprios preceitos. Escute-a; a vida não escuta a sua
lógica, não é esta que a move.
– OSHO

S enti a frescura do metal contra a minha cabeça. Como era


possível que aquilo estivesse a acontecer? Estava num quarto de
um motel de segunda categoria e tinha o cano de uma arma
prestes a ser disparada apontado à minha têmpora. O suor
escorria-me pela testa, o meu coração batia descompassadamen-
te e as minhas mãos tremiam, descontroladas. Ninguém sabia
onde eu me encontrava. Dir-se-ia que ninguém se importava.
Deixara de ter razões para viver, e por isso estava a preparar-me
para morrer.
Conseguia visualizar as palavras que constariam do meu obituá-
rio: «Dar Sandersen, empresário no ramo da hotelaria internacio-
nal, divorciado e pai de três filhos, suicidou-se aos 44 anos.»
Porém, quando fechei os olhos e disse em voz alta uma última
oração, aconteceu algo de inesperado, ou melhor, de miraculoso.
Senti vertigens e caí no chão; a arma escorregou-me da mão e
também caiu no chão. Enquanto ali permaneci, imobilizado, uma
luz ofuscante começou a percorrer o meu corpo. Espere! Antes
de pôr de parte a minha história, é importante que saiba que
sempre fui um tipo terra-a-terra e razoável.
Jamais me tinha acontecido algo de semelhante. Nunca levei
a sério as histórias místicas, que sempre encarei como inconsis-
tentes, e até ridículas e irresponsáveis. Nunca conversei (nem
converso) com anjos, nem oriento a minha vida segundo a posi-

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ção das estrelas e dos astros. No entanto, não posso ignorar ou
negar o que me aconteceu naquele quarto de motel há apenas
doze meses. Terá sido uma experiência com o divino? Terá sido
um despertar espiritual, ou meramente uma reação física ao
stresse extremo que estava a ser vivido? Na verdade não sei, mas
sei, isso sim, que o que quer que ali se tenha passado desencadeou
uma série de acontecimentos que operaram uma transformação
em todas as vertentes da minha vida, da vida que eu vivera até
àquele momento.
A luz tornou-se mais e mais brilhante, e o meu corpo come-
çou a tremer intensamente, como que vitimado por um ataque
apoplético violento. Suava copiosamente, enquanto os meus
braços, pernas e tronco tremiam naquele chão frio e encardido.
O fenómeno parecia nunca mais acabar. Subitamente, do nada,
surgiram umas palavras como que vindas das minhas próprias
profundezas: «A tua vida é um tesouro e tu és muito mais do
que supões.»
E foi assim! Quando essas palavras percorreram a minha
mente, parei de tremer. Permaneci estendido no chão, comple-
tamente transpirado e a olhar para o teto. Jamais tinha sentido
uma tal paz interior. Sentia-me completamente dentro do meu
corpo e do meu coração. A vida é um tesouro e tu és muito mais
do que supões.
Passado algum tempo, levantei-me, lenta e cuidadosamente,
e arrumei os meus pertences. Algo de muito profundo em mim,
embora inexplicável, tinha sofrido uma transformação. Apenas
conseguia senti-lo. Deixei de ter vontade de morrer. Talvez essa
voz tivesse razão: talvez eu tivesse muito mais dentro de mim do
que podia imaginar.
Regra geral, quando enfrentamos dificuldades, pensamos que
a forma como vemos o mundo reflete o que ele verdadeiramen-
te é. No entanto, esse pressuposto é falso. Nesses momentos,
temos tendência a ver o mundo de uma perspetiva desesperan-
çada: vemos tudo à nossa volta com o olhar da tristeza e do

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desencanto. A verdade é que, quando recuperamos e começamos
a sentir-nos melhor, o mundo também nos parece melhor, e
quando reavemos a alegria interior, o nosso mundo exterior
reflete e devolve-nos esse mesmo estado. Aprendi que o mundo
é como um espelho. O que recebemos do mundo não é o que
queremos, e sim o que somos. Também aprendi que existem ciclos
nas nossas vidas, e que os ciclos dolorosos nunca perduram.
Confie que o inverno da sua tristeza dará origem ao verão da sua
alegria, da mesma forma que os raios brilhantes da manhã se
seguem à escuridão mais profunda da noite.
Eu deixara de ser um caso desesperado e de ter pena de mim
próprio. Deixei de sentir que não havia saída. Naquele dia recuperei
uma espécie de poder, e, apesar de a minha vida ainda se encontrar
numa fase caótica, algo em mim tomou consciência de que eu tinha
o poder de a melhorar. Por alguma razão, confiei que seria ajuda-
do e que melhores dias viriam. O que ignorava é que essa ajuda
seria maravilhosa e que esses melhores dias iriam superar a minha
imaginação… Porém, antes de entrar em pormenores, calculo que
esteja interessado em saber quais as circunstâncias que levaram o
meu espírito a entrar no estado de decadência que me levou a
considerar a hipótese de me suicidar.
Há alguns anos, eu vivia a vida que qualquer pessoa sonha
viver. Era casado com uma mulher inteligente e amorosa, que
me amava profundamente, e tinha três filhos saudáveis, felizes e
cheios de capacidades. Ganhava muito bem, como proprietário
de uma cadeia de hotéis de luxo situados em locais sofisticados
de todo o mundo, frequentados por estrelas de cinema e toda a
espécie de gente rica e famosa. Viajava frequentemente para
destinos exóticos, acumulei objetos de culto e conquistei bastan-
te prestígio, pelo menos na minha área de atividade.
Um dia, porém, o meu mundo ruiu. Cheguei tarde a casa, após
um jantar de negócios com o vendedor de uma propriedade que
tencionava comprar. Rachel, a minha mulher, costumava deixar
sempre uma luz acesa, mas nessa noite a casa estava imersa em

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escuridão, o que não fazia qualquer sentido, visto que eram
apenas dez da noite. Onde estava Rachel? E as crianças?
Entrei em casa e acendi as luzes do hall de entrada e da
cozinha. Apenas o silêncio me acolheu. Sobre a mesa da cozi-
nha, encontrei uma nota escrita com a caligrafia de Rachel,
que dizia:
Dar, trouxe as crianças para a casa da minha mãe. Já não te
amo. O meu advogado ligar-te-á de manhã.
Não há nada que nos possa preparar para ler uma carta destas.
Nada. Apesar de ter fingido que o meu casamento funcionava,
eu bem sabia que estávamos muito longe um do outro. Passava
muito tempo fora, em viagens de negócios. Todo esse tempo foi,
na verdade, subtraído à minha família e ao meu casamento.
O amor que nos unira evaporara-se entretanto. Também fingi ser
um bom pai, e, visto do exterior, assim parecia, mas as almas
conscientes dos meus filhos sabiam a verdade. Mesmo quando
me sentava junto deles, eu não estava realmente presente.
A minha mente estava permanentemente ocupada com o trabalho
e, a nível emocional, eu estava indisponível. O que acontece é
que fui, acima de tudo, um homem extraordinariamente egoísta.
Acreditava que o mundo girava à minha volta. No fundo, as
necessidades e os sentimentos das outras pessoas nunca foram
importantes para mim. Eu queria ser rico e ser reconhecido.
Queria ser um vencedor, e, nesse processo de conquista, acabei
por perder o mais importante.
A carta da minha mulher e o processo de divórcio que se seguiu
arrasaram o meu coração. Tive de sair da minha casa e comecei
a viver num dos meus hotéis. Além disso, só podia estar com os
meus filhos uma vez por semana e em fins de semana alternados.
Comecei a beber muito e ganhei imenso peso. Sempre tive muito
bom aspecto e costumava estar em forma, mas, de repente, tornei-
-me desmazelado. De manhã acordava com dores de cabeça terrí-
veis, que só me abandonavam quando as afogava em álcool.
Felizmente não perdi os meus negócios. Fui suficientemente in-

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teligente para os colocar nas mãos de uma excelente equipa de
gestão que, por uma questão de lealdade para comigo, conduziu
tudo da melhor forma enquanto eu lambia as minhas feridas.
Marcava presença nas reuniões mais importantes e no fecho de
negócios, mas passava a maior parte do tempo sozinho em casa,
numa sala às escuras, a ouvir as velhas canções da Billie Holiday
e em longas conversas com o Jack Daniels. Foi este o estado de
decadência que me levou àquele quarto de motel onde começa a
minha narrativa, mas também foi esse o desespero que trouxe
a minha salvação.
Descobri que o sofrimento e a adversidade são veículos po-
derosos para o crescimento pessoal. Nada como as dificuldades
para aprendermos, crescermos e evoluirmos mais rapidamente.
Nada oferece uma oportunidade tão fecunda para recuperar o
seu verdadeiro poder como pessoa. Os nossos olhos humanos
veem essas experiências como algo de negativo, o que não pas-
sa de um mero juízo de valor. Por detrás dessa falsa crença
existe o medo, o medo puro. Na verdade, o sofrimento surge
quando nos acontece algo de indesejado, quando aparece uma
nova condição. Ora o aparecimento de uma nova condição nas
nossas vidas, quer se trate de uma doença, da perda de um ser
amado ou de um revés financeiro, significa que temos de mudar,
de nos desapegar daquilo que temos sido. Estas situações impõem
que nos desapeguemos das nossas expectativas ou dos nossos
hábitos; o desapego pode ser algo de muito assustador para um
ser humano. Tememos zarpar do porto seguro daquilo que nos
é familiar e conhecido. Resistimos à viagem ao desconhecido a
que as nossas vidas nos conduzem. Só a ideia nos assusta. No
entanto, para lá de toda a resistência ao que é novo e desconhe-
cido, está o medo.
Mas não há razão para termos medo. O universo em que vi-
vemos é muito mais amigável do que imaginamos. Um barco que
nunca sai do cais jamais se danificará, mas os barcos não foram
feitos para apodrecerem no cais. Da mesma forma, um ser hu-

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mano que nunca ousa aventurar-se no desconhecido da vida ja-
mais se magoará, mas não foi para isso que nasceu. Fomos feitos
para viver o crescimento que decorre de visitarmos paragens
desconhecidas na nossa viagem pela vida. A parte mais sábia de
nós sabe esta verdade e vê a mudança e o sofrimento como o que
realmente são: um médico empenhado que aparece para curar o
que está doente em nós. O sofrimento serve para nos aprofundar.
O sofrimento surge para nos ajudar e leva-nos a tomar consciên-
cia de quem realmente somos. O sofrimento abre-nos e força-nos
a render-nos, a abrirmos mão de tudo aquilo a que nos apegámos,
como acontece com uma criança no primeiro dia de escola, com
medo de largar a mão da mãe e de entrar sozinha numa sala de
aulas cheia de colegas novos, onde aprenderá muitas coisas novas
e maravilhosas. O desconhecido é o lugar do novo, e o novo é o
único lugar do mundo onde existe a possibilidade. Cada ser hu-
mano está apetrechado para caminhar em direção à possibilida-
de e ao seu potencial. Todos nascemos para sermos grandiosos.
Nesse caso, como podemos afirmar que o sofrimento é algo de
mau e negativo, quando na verdade não é senão o que nos torna
melhores? Claro que o nosso lado humano sente o sofrimento
quando somos atingidos, e isso é natural, mas esse sofrimento
acaba por ceder, mais tarde ou mais cedo, e o que surge é um ser
mais enriquecido, mais forte e mais sábio.
«Não temas o desconhecido, pois é no desconhecido que reside
a tua grandeza», disse-me um dia um professor de quem falarei
bastante neste livro. A maior parte das pessoas passa os melhores
anos das suas vidas na dimensão do conhecido, pois falta-lhes a
coragem para se aventurarem em territórios estranhos e temem
distanciar-se da multidão. Querem ser iguais aos outros e receiam
mostrar as suas particularidades. Vestem-se como as outras pes-
soas, pensam como as outras pessoas e comportam-se como as
outras pessoas, mesmo que isso não as faça sentir bem. Têm
bastante relutância em escutar a voz do coração e em experimen-
tar coisas novas, recusando-se a transpor o território da segurança.

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É por essa razão que fazem tudo como os demais, e, ao agirem
dessa maneira, as suas almas brilhantes vão gradualmente per-
dendo o seu fulgor. O aventureiro Alvah Simon disse: «A morte
é apenas uma das formas de perdermos a vida.»
Manter-se perto da dimensão de segurança e conforto não
é senão uma escolha clara de permanecer aprisionado pelos seus
medos. O leitor pode ter a ilusão de que é livre quando vive na
caixa fechada em que se transformou a sua vida, mas, acredite,
é uma mera ilusão, uma mentira na qual quer acreditar. Quan-
do sai dessa caixa e se afasta da multidão, surgem os medos –
afinal, você é humano! Mas a coragem implica que prossiga,
apesar de sentir esses medos. A coragem não é a ausência de
medo, mas a vontade de enfrentá-lo para poder perseguir uma
meta importante. Ao optar por viver sempre em território se-
guro, não está a fazer mais do que habitar o mundo dos mortos-
-vivos. Quando regressa à vida, ou seja, quando decide de novo
aventurar-se e explorar os lugares desconhecidos da sua vida,
o seu coração recomeça a bater. A aventura e o empolgamento
tornam-se presentes. Lembre-se: para lá dos medos reside a sua
felicidade.
Seguidamente, partilharei consigo uma bela e forte metáfora:
se tivesse passado toda a sua vida numa prisão, no dia em que
fosse libertado seria assaltado por imensos medos. Na prisão,
apesar de estar privado da liberdade, vivia no reino do conheci-
do, pois aí estava implementada uma rotina estrita: sabia quando
tinha de despertar, quando podia praticar exercício físico e quan-
do podia comer. Ao ser libertado, iria começar a ter medos, pois
deixaria de saber o que fazer e onde ir. Não existe uma estrutu-
ra, mas apenas incerteza. A sua tendência imediata é regressar ao
que é conhecido, em vez de encarar a aparente insegurança e o
desconforto que lhe causa o desconhecido. Estranhamente, pre-
fere optar pela privação da liberdade do que pelo seu exercício.
Não faz sentido, mas, na verdade, é assim que a maior parte de
nós se desloca na vida.

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Aprendi esta filosofia com o professor que mencionei ante-
riormente, que foi, até este momento, a pessoa que mais marcou
a minha vida. A sabedoria e o processo composto por sete fases
que começou a partilhar comigo há pouco mais de um ano revo-
lucionaram a minha vida. Jamais me senti tão feliz e jamais tive
tanto respeito por mim próprio. Encontrei o amor da minha vida,
tenho uma saúde perfeita e a minha atividade profissional está
melhor que nunca. Nunca imaginei que a vida pudesse ser tão
plena, e o mesmo pode acontecer consigo. As dádivas que recebo
também estão disponíveis para si. Claro que terá de fazer algumas
novas escolhas e de correr alguns riscos, e também de investir
algum tempo e energia na religação às partes magníficas do seu
ser que possa ter perdido pelo caminho. Claro que terá de enfren-
tar os medos que o têm mantido pequeno, quer esteja ou não
consciente disso. Ao fazê-lo estará a despertar o seu ser superior,
o melhor de si. Haverá algo de mais importante do que isso?
O professor a quem me referi é a pessoa mais sábia, podero-
sa e nobre que conheço. Excêntrico e original também, devo
admitir, com uma forma de estar nada ortodoxa, e, por vezes,
até algo selvagem. De certeza que nunca conheceu alguém assim,
e é muito provável que nunca venha a conhecer. Este homem é
dotado de uma capacidade excecional para transmitir conheci-
mentos que estimulam mudanças de vida, como se falasse dire-
tamente à sua alma e induzisse a experiência dessas mudanças
que abrem caminho a uma vida mais plena e intensa. As lições
dele são uma ajuda preciosa no processo de descoberta do seu
destino e na vivência da vida maravilhosa à qual você tem o
pleno direito desde que nasceu.
Estou convicto de que nada acontece por acaso. Encontrei o
meu professor no dia seguinte ao da revelação vivida naquele
quarto de motel. Nesse mesmo dia compareci a uma reunião com
a minha equipa, e o meu diretor de recursos humanos, Evan
Janssen, entrou no meu gabinete com dois bilhetes para um se-
minário sobre motivação que teria lugar ao final da tarde. O Evan

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gostava muito desse tipo de eventos e era um grande entusiasta
do tema do crescimento pessoal. Eu, pelo contrário, era um cé-
tico. Para ser honesto, não simpatizo nada com oradores moti-
vacionais. Sempre os achei comparáveis ao algodão doce: muito
doces por um momento, mas muito voláteis também.
O filho de Evan ia participar num recital de piano nessa mes-
ma noite, e ele fazia questão de que eu assistisse àquele seminário,
pois era da opinião de que isso poderia contribuir para animar o
meu espírito e, quem sabe, como fonte de inspiração para eu
introduzir na minha vida as mudanças necessárias para regressar
ao ativo, não só no plano profissional como também no pessoal.
Declinei o convite: não estava na disposição de me sentar a ouvir
lugares-comuns e homilias maçudas que supostamente me deve-
riam motivar… Expliquei que ainda andava a debater-me com
muitos problemas e que me apetecia sobretudo ficar só. Nesse
momento, algo de interessante aconteceu. O meu colega, um
homem extremamente intuitivo, olhou-me de forma penetrante
e disse: «Dar, tens de confiar em mim desta vez. Sinto que existe
uma razão pela qual precisas de ir a este seminário. É apenas um
feeling inultrapassável. Por favor, peço-te que vás.»
Sempre fui um homem que viveu sobretudo a componente
racional. Mais do que a paixão, o que sempre me moveu foi a
razão. Se alguma coisa não fizesse sentido para mim numa perspe-
tiva intelectual, não lhe atribuía qualquer importância. No entan-
to, era evidente que essa fórmula não tinha funcionado comigo.
Adoro a definição de loucura de Einstein: fazer sempre as mesmas
coisas e esperar resultados diferentes. Se eu queria resultados novos
na minha vida, teria de ter comportamentos novos, caso contrário
a minha vida seria igual até ao último momento.
Algo em mim me sugeria que talvez houvesse outra forma de
operar como ser humano. Tinha lido o meu primeiro livro de fi-
losofia há pouco tempo; nunca tinha lido nada do género. Não
sei o que me levou a escolher uma tal leitura, mas a inclinação foi
real: talvez pelo facto de me encontrar num sofrimento tão inten-

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so me sentisse impelido a procurar a minha salvação por qualquer
via. É verdade que são os nossos momentos mais negros que nos
levam a aprofundarmo-nos mais intensamente. Quando a vida
corre bem, vivemos à superfície e não refletimos muito, mas quan-
do tudo se complica, saímos de nós próprios e questionamo-nos
acerca da ordem das coisas e do encadeamento dos acontecimen-
tos. Regra geral, a adversidade torna-nos mais filosóficos. Nos
períodos de grandes desafios começamos a fazer as melhores
perguntas, questionamo-nos sobre a razão do sofrimento, sobre o
insucesso dos nossos planos e intenções, e sobre o papel das esco-
lhas e da sorte no nosso destino.
Nesse livro de filosofia que escolhi, o autor refere que a men-
te é limitada, ao passo que o coração é ilimitado. A mente pode
ser cruel e fazê-lo passar os melhores anos da sua vida aprisiona-
do no passado, desperdiçando o presente com preocupações em
torno de coisas que jamais acontecerão, ou seja, de falsas realida-
des. A mente tem como meta conquistar poder externo – mais
mundano que espiritual –, associado ao dinheiro, à posição social
e aos bens materiais. O problema é que o poder externo é eféme-
ro. Quando perde dinheiro, ou é destituído da sua posição social
ou das suas posses materiais, o leitor perde o poder. Se associou
a sua identidade a esses aspectos, quando se vê privado deles,
perde também o sentido de quem é. O único poder que vale a
pena é o verdadeiro, ou seja, o que vem do interior.
Segundo esse livro, o coração não persegue estas conquistas
menores, pois, consciente das leis da vida, vive no momento pre-
sente. O coração preocupa-se com a recuperação da integridade,
com o amor, a compaixão e o serviço prestado a outros seres hu-
manos. O coração tem consciência de que todos os seres estão
ligados a um nível invisível, de que todos somos irmãos e irmãs da
mesma família, e de que a felicidade provém da dádiva e do apoio
que prestamos ao crescimento e ao encontro dos demais com o
seu ser essencial. «Esquece a gota e sê o oceano», escreveu Rumi,
um brilhante poeta sufi.

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O coração conhece esta verdade. A mente, por seu turno, com
todas as suas capacidades de raciocínio e reflexão, é uma fabu-
losa ferramenta que o coração deveria utilizar como suporte para
o seu trabalho, nomeadamente no planeamento, na aprendizagem
e no exercício do pensamento. Estas funções, no entanto, devem
ser executadas em sintonia com o coração, e sob a sua orientação.
Se quisermos viver uma boa vida, a cabeça e o coração devem
fundar uma aliança legítima, refere também o livro. Cabeça e
coração devem operar em harmonia. Se viver apenas com a ca-
beça, ficará privado de sentir a respiração e o ritmo da vida. Se
viver exclusivamente com o coração, correrá o risco de viver sem
discernimento ou disciplina, aprisionado na torrente caótica das
emoções. O equilíbrio é delicado, e requer tempo, energia e
compreensão.
Naquele momento, com Evan à minha frente, pacientemente
à espera, senti o impulso de explorar algo de novo. Por um mo-
mento, consegui parar e prestar atenção ao que estava a passar-se
abaixo da superfície, pelo que decidi abrir mão das limitações da
razão durante umas horas e confiar nos meus sentidos mais pro-
fundos. Aceitei o convite e os bilhetes.
Evan aproximou-se e deu-me um abraço.
– Sabes que gostamos muito de ti.
Fui invadido por uma comoção silenciosa ao ouvir esta afir-
mação impregnada de uma profunda bondade, partilhada pelo
meu colega de longa data. As lágrimas correram pelas minhas
faces, devido, por um lado, à tristeza decorrente dos aconteci-
mentos recentes da minha vida, e, por outro, ao amor incondi-
cional que emanava daquele ser humano tão próximo.
– Obrigado, Evan – retorqui. – És uma boa pessoa. Tenho um
grande apreço por ti.
– Acredita, Dar, este seminário vai ser muito importante para
ti. E quem sabe que encontros terás nesse local?
Eu estava longe de imaginar que nessa noite iria conhecer o
homem que me conduziria à minha vida redimensionada.

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