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Justiça Constitucional

1. Definição de Direito Constitucional


 Este tipo de direito é a parcela da ordem jurídica que rege o próprio Estado enquanto comunidade e poder, ou
seja, é um conjunto de várias regras e/ou normas que regulam o Estado.
O Direito Constitucional é do ramo de direito público interno, formado pelo conjunto das normas constitutivas
do estatuto jurídico do político que estabelecem os princípios políticos e jurídicos da sociedade, regulam a
organização do poder político, consagram e garantem os direitos e deveres fundamentais dos cidadãos e
definem a ordem-quadro económica, social e cultural.

2. Definição de Constituição
 O Direito Constitucional é o direito da constituição.
A constituição é o conjunto de normas jurídicas que definem a estrutura (povo, território e poder político), os
fins (segurança, justiça e bem-estar económico-social), as funções do Estado (política, legislativa, judicial e
administrativa), a organização (económica, social e política), a titularidade (órgãos), o exercício (processo de
feitura e execução de leis) e o controlo do poder político (fiscalização da constitucionalidade, tribunais e
provedor de Justiça).

3. As primeiras constituições escritas e os antecedentes do constitucionalismo


 É possível verificar a existência de documentos que regulavam as fases de organização e o exercício do poder
político. Tais documentos designam-se por antecedentes do constitucionalismo, pois visavam a limitação do
poder político e a defesa dos direitos dos cidadãos. A Magna Carta, a Petition of Rights, os forais e as leis
fundamentais do reino são exemplos de extrema importância que procuravam cumprir a sua função.
As constituições escritas são um elemento do tempo moderno e qualquer sociedade politicamente organizada
possuía certas formas de ordenação, uma vez que a organização constitucional só ganhou forma com o
movimento constitucional (séc.XVIII, devido às revoluções liberais). As primeiras constituições escritas
surgem com a transição da Monarquia absoluta para o Estado de Direito Liberal.
No Estado de Direito Liberal a preocupação fundamental era a limitação do poder, logo a Constituição versava
principalmente sobre a organização do poder político, consagrando, então, a separação de poderes e os
direitos dos cidadãos.

4. Constituição Portuguesa
 A 1ª constituição escrita apareceu em 1822, como produto do movimento revolucionário de 1820. Foi elaborada
pelas cortes extraordinárias e constituintes de 1821, que foram eleitas, pelo povo através de assembleia,
especificamente para este fim (pertencia ao modelo de monarquia parlamentar).
 Ocorrida a Revolução do 25 de abril de 1974, que tinha como finalidade pôr fim ao regime político ditatorial e
instaurar um regime político democrático, surge a constituição de 1976 (que causa uma rutura constitucional ou
uma descontinuidade constitucional).
Rutura Constitucional porquê?
Pois a revolução de 1974 provocou um corte político, jurídico e social na ordem existente (regime de ditadura
que tinha uma constituição que acompanhava – constituição de 1933), criando uma nova ordem que teria a sua
estrutura fundamental no texto da Constituição de 1976. Esta nova constituição assenta no poder constituinte de
uma Assembleia Constituinte soberana, onde há legitimidade representativa. Defendia que a soberania residia
no povo português.

5. Sentidos de constituição
 Constituição em sentido material: abrange todas as normas que versam sobre matéria com dignidade
constitucional (atende ao seu objeto e conteúdo, delimita a matéria com dignidade)
 Constituição em sentido formal: conjunto de normas qualificadas como constitucionais e revestidas de força
jurídica superior à de quaisquer outras normas (deve-se vincular à constituição em sentido material).
 Requisitos que assinalam a constituição em sentido formal:
1) Intencionalidade na formação – as normas constitucionais são criadas com a intenção de serem
constitucionais, são elaboradas por um poder com legitimidade para esse mesmo fim, de acordo
com um processo específico de formação.
2) Sistematização própria – as normas integram-se num conjunto sistemático com uma unidade e
coerência próprias, dentro da unidade e da coerência gerais do ordenamento jurídico.
 Constituição em sentido instrumental: documento onde se inserem as normas constitucionais; tem como
objetivo tornar patente a Constituição em sentido formal e a qualificação de certas normas como
constitucionais.
Em sentido amplo, considera-se todo e qualquer texto constitucional (seja ou não Constituição em sentido
formal), mas num sentido mais estrito, é o próprio texto chamado constituição, que depende sempre da
existência de uma Constituição em sentido formal.

6. Classificação das constituições


 O conceito de constituição surgiu no séc. XVIII e devido à sua repercussão, tornou-se num conceito aberto a
diversos conteúdos, permitindo o aparecimento da classificação das constituições a partir dos mais diversos
critérios.
a) Constituição escrita – baseia-se num texto escrito criando com a intenção de ser Constituição; tanto
pode ser constituição em sentido formal como em sentido material (é a que é adotada na generalidade
dos Estados contemporâneos, onde o costume não possui tanta relevância).
Constituição mista – o costume e a lei escrita encontram-se no mesmo plano, ou seja, existe
constituição em sentido material, normas consuetudinárias sobre a organização do poder político, mas
não existe em sentido formal, pois não existe uma lei chamada constituição e não há distinção entre
leis, sendo estas constitucionais ou não (sistema britânico).
Fontes de Direito Constitucional – custom (prática social da qual nasce uma norma obrigatória e
aplicada judicialmente); statutes (atos do Parlamento que criam normas, do nosso ponto de vista,
ordinárias, mas com conteúdo constitucional); judicial precedentes (decisões jurisprudenciais);
conventions (práticas sociais que vinculam os órgãos do poder político, não têm sanção jurisdicional).
b) Constituição flexível – pode ser revista pelo mesmo processo adotado para a elaboração de leis
ordinárias.
Constituição rígida – apenas pode ser modificada mediante um processo específico, que se encontra
previsto na própria (é distinto do processo legislativo ordinário).
Constituição semi-rígida – permite que certa parte possa ser revista por um processo análogo ao
legislativo ordinário, contudo a outra parte apenas é revista mediante um processo específico.
c) Constituição normativa – quando o processo do poder político se adapta às normas constitucionais e
se submete a elas. Ou seja, a constituição é válida (porque limita o poder político e defende os
direitos fundamentais) e eficaz (pois é vivida e aplicada na sociedade).
Constituição nominal – implica que os pressupostos sociais e económicos existentes operam contra as
normas constitucionais e o processo do poder. É uma constituição válida, mas ineficaz pois a
dinâmica do processo político não se adapta às normas (a constituição carece de realidade existencial).
Constituição semântica – é vista como uma formalização da situação do poder político existente, de
forma a beneficiar os detentores do poder. A constituição é inválida mas eficaz, uma vez que não visa
a limitação do poder (é antes um instrumento de estabilização do mesmo); é vivida e imposta, porém
não está de acordo com os valores e ideais dominantes. Normalmente, corresponde a um sistema de
governo ditatorial.
d) Constituição utilitária – regulamenta as matérias de organização do poder político e dos direitos,
liberdades e garantias. Cronologicamente, foi o primeiro tipo de constituição, correspondendo ao
Estado de Direito Liberal.
Constituição ideológica-programática – determina o sentido da organização do poder político,
assinala certos objetivos económicos e sociais e estabelece a Constituição económica do Estado
(semelhante a um programa genérico de governo).

7. Classificação das normas constitucionais


a) Normas constitucionais precetivas – normas de aplicação direta; a sua eficácia depende de condições
institucionais ou de facto. Vincula todos os sujeitos de direito.
b) Normas constitucionais programáticas – normas de aplicação diferida, dirigem-se a certos fins e a
transformações. Dirigem-se a todos os órgãos do poder (ao Estado), que devem tomar as medidas
necessárias para as realizar.
 Normas exequíveis por si mesmas – são aplicáveis por si só, sem necessidade de lei que as complemente
(todas as normas exequíveis podem ser precetivas, mas nem todas as normas precetivas podem ser exequíveis).
 Normas não exequíveis por si mesmas – carecidas de normas legislativas que as tornem plenamente
aplicáveis às situações da vida (pertencem a este conjunto todas as normas programáticas).
a) Poder Constituinte
 É o poder de elaborar as normas constitucionais, a faculdade de um povo definir as grandes linhas do seu
futuro coletivo através da feitura da Constituição. É o poder mais elevado, em que a soberania se realiza mais
plenamente.
Em sentido amplo, abrange a produção de todas as normas constitucionais. Em sentido estrito, é apenas a
elaboração das normas constitucionais escritas que são a trave do ordenamento jurídico.
 Poder constituinte originário – cronologicamente anterior à Constituição, logo não lhe está vinculado. É o
poder de criar uma Constituição ex-novo para um Estado que nunca a teve ou já não a tem devido à
desagregação social.
 Poder constituinte derivado (poder constituído) – move-se dentro dos quadros constitucionais e é uma
faculdade concedida pela Constituição, decorre dela. É o poder de rever a constituição existente para corrigir
imperfeições ou colmatar lacunas ou apenas para a adaptar à evolução da sociedade.

b) Modificação da Constituição
 Defende-se que a criação de uma constituição envolve duas realidades diferentes: a faculdade de criar ex-
novo uma constituição e a faculdade de rever a constituição existente. É crucial o asseguramento da
continuidade da Constituição para que esta possa cumprir a sua tarefa, o que implica a proibição da revisão
constitucional total e alterações que eliminem a identidade da própria constituição.
A revisão pode consistir em: modificação (substituição), eliminação (supressão) ou introdução (aditamento)
de um preceito constitucional.
 Podem ainda ocorrer ruturas constitucionais – regulamentações constitucionais específicas, contrárias ao
regime genérico consagrado na Constituição. Temos como exemplos as auto-ruturas (disposições de
conteúdo contrário a outras normas constitucionais gerais e abstratas), os atos decorrentes da vigência do
regime do estado de sítio ou estado de emergência (a constituição admite-os para poder sobreviver) e a lei-
medida constitucional (possibilidade de a revisão revestir a forma de uma lei concreta na modalidade de lei-
medida).
 Desconstitucionalização – consiste na transformação de normas constitucionais anteriores em normas
legislativas ordinárias. Pode ser originária (resulta do exercício do poder constituinte originário),
superveniente (resulta do exercício do poder de revisão), expressa (a transformação é expressamente prevista
na constituição) ou tácita (a transformação resulta do silêncio do legislador sobre normas que não revoga de
forma explícita).

c) Diversidade de vicissitudes suscetíveis de afetarem a subsistência da Constituição


 Nenhuma constituição que vigore por um período longo deixa de sofrer modificações. É a própria intenção de
durabilidade da constituição que determina as alterações necessárias, de modo a adaptar-se às circunstâncias e
aos novos tempos. O que varia vem a ser a frequência, a extensão e os modos como se processam as
modificações.
 As vicissitudes constitucionais são todos os eventos que versam sobre a sobrevivência da constituição, ou de
algumas das suas normas.
Quanto ao modo como se produzem: expressas (o evento constitucional produz-se como resultado de ato) ou
tácitas (o evento é o resultado indireto, uma consequência).
Quanto ao objeto: totais (atingem a constituição na sua forma total, todas as suas normas ou apenas os
princípios fundamentais) ou parciais (atingem apenas uma parte da constituição, nunca os princípios
definidores da ideia de Direito que as caracteriza).
Quanto ao alcance (situações da vida e destinatários das normas postos em causa): alcance
concreto/excecional (têm-se em vista situações concretas, verificadas e alguns destinatários possíveis
abrangidos) ou alcance geral e abstrato (tem-se em vista todas e quaisquer situações de idêntica contextura e
todos os destinatários que nelas se encontrem).
Quanto à duração dos seus efeitos: efeitos temporários ou efeitos definitivos.
 Reforma da constituição (vicissitude que se processa com a observância das regras previstas na própria
constituição) ≠ Rutura da constituição (alteração da constituição feita sem a observância das disposições
constitucionais)
 Reforma da constituição:
 Revisão Constitucional – reforma da constituição expressa, parcial, em princípio de alcance geral e
abstrato. Traduz o princípio de continuidade institucional. A sua finalidade é a de eliminação de
normas já não justificadas e a adição de elementos novos.

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