Ebook Choqueseptico
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Olá, doutor(a)!
Este material foi preparado pela Sanar Pós especialmente
para você!
SEPSE
A definição mais antiga de sepse afirma que sepse é uma resposta
sistêmica a uma doença, seja essa doença presumida ou confirmada,
que tem como causa alguma bactéria, vírus, fungos ou protozoários.
A definição mais atual diz que sepse se trata de uma resposta desre-
gulada a uma infecção, que acaba por desenvolver uma disfunção
orgânica potencialmente ameaçadora à vida do paciente. Para fechar
o diagnóstico de um quadro de sepse não são necessárias culturas
positivas.
CHOQUE SÉPTICO
Já o choque séptico ocorre quando existe uma hipotensão ou uma
hipoperfusão que não responde a expansão volêmica e há necessi-
dade de utilizar agentes vasopressores, e, claro, esses pacientes pre-
cisam estar em um quadro de sepse anteriormente. Além disso, os
níveis de lactato devem ser superiores a 2 mmol/L (ou 18mg/dL)
apesar da ressuscitação volêmica adequada. Atualmente, o choque
séptico é o mais frequente dos choques distributivos, com letalidade
de 40 a 50% dos casos.
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SÍNDROME DA RESPOSTA
INFLAMATÓRIA SISTÊMICA (SRIS)
FISIOPATOLOGIA
Sempre que nosso organismo detecta a presença de um agente
infeccioso, temos uma resposta de defesa. Essa resposta é constituí-
da pelo processo de inflamação, que inclui a produção de substân-
cias como óxido nítrico, radicais livres de oxigênio, além da ativação
de citocinas. Temos também alterações nos processos referentes à
fibrinólise e à coagulação. É preciso entender que tudo isso é a forma
fisiológica que nosso organismo tem de combater um agente infec-
cioso e de restringir esse agressor ao local onde ele se encontra. No
entanto, é necessário que nosso organismo não exagere nessa res-
posta inflamatória; é preciso que haja equilíbrio. E para isso temos a
ativação da resposta anti-inflamatória para contrarregular. Caso haja
um desequilíbrio entre elas duas, teremos uma disfunção orgânica.
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Já quando essa disfunção ocorre, teremos alterações celulares e
circulatórias, tanto na circulação sistêmica quanto na microcirculação.
Dentro dessas alterações circulatórias, deve-se dar mais ênfase à
vasodilatação e ao aumento da permeabilidade capilar. Isso porque
ambas contribuem para o quadro de hipovolemia e hipotensão.
QUADRO CLÍNICO
O quadro clínico da sepse vai gerar sinais e sintomas relacionados
ao foco infeccioso primário. Essas manifestações clínicas provêm do
órgão que está sofrendo pela infecção. Em geral são sinais e sinto-
mas que caracterizem da resposta inflamatória. Quando há sepse
grave, teremos então esse quadro de sinais/sintomas inflamatórios
associados aos sinais de disfunção orgânica.
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DISFUNÇÃO CARDIOVASCULAR
O quadro clínico inicial da disfunção cardiovascular é caracterizado
por hipovolemia, que advém da redução da ingesta hídrica e do
aumento da permeabilidade capilar, o que causa perda de fluidos para
o terceiro espaço. Devido a essa hipovolemia haverá pressões de en-
chimento e débito cardíaco (DC) diminuídos.
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DISFUNÇÃO RENAL
A fisiopatologia da disfunção renal que ocorre na sepse é multifato-
rial, ela ocorre tanto por dano isquêmico ao túbulo, seja por lesão
direta ou hipovolemia que reduz a perfusão local. Pode acontecer
necrose tubular aguda e lesões por apoptose celular. Clinicamente ela
se apresenta com oligúria e elevação dos níveis séricos de creatinina e
ureia.
DISFUNÇÃO RESPIRATÓRIA
Dispneia, taquipneia e comprometimento das trocas gasosas com
hipoxemia caracterizam a lesão pulmonar na sepse. Essa lesão ocorre
secundária à lesão do endotélio vascular pulmonar, que acarreta
edema intersticial progressivo e gera desequilíbrio entre a perfusão
pulmonar e a ventilação. Ocorre também diminuição da complacência
pulmonar devido à presença de colapso alveolar, que é gerado devido
ao aumento da permeabilidade vascular e redução de surfactante.
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DISFUNÇÃO NEUROLÓGICA
A sepse causa graus variáveis de alterações no nível de consciência,
desde confusão até coma. A disfunção neurológica nesse quadro é
denominada encefalopatia associada à sepse. O delirium é frequente,
principalmente nos pacientes idosos e em pacientes críticos, e está
relacionado a uma pior evolução.
DISFUNÇÃO GASTROINTESTINAL
A disfunção gastrointestinal na sepse está presente em muitos
pacientes, porém ainda são sinais/sintomas muito negligenciados.
Entre suas manifestações temos a colestase trans infecciosa, secundá-
ria ao comprometimento da excreção canalicular de bilirrubina, o que
acarreta a elevação das enzimas canaliculares (GGT e FA). Há uma
elevação discreta de TGO e TGP, as transaminases. Esses pacientes
podem apresentar também uma gastroparesia e íleo adinâmico, o que
resulta em uma dificuldade de manter a manutenção do suporte nu-
tricional. A mucosa também pode sofrer lesões secundárias a isque-
mia. Todas essas manifestações no sistema digestivo podem levar à
intolerância à dieta, refluxo e diarreia.
DISFUNÇÃO HEMATOLÓGICA
Na sepse ocorre um estado pró-coagulante, que acarreta o fenô-
meno denominado coagulopatia de consumo ou coagulação intravas-
cular disseminada (CIVD). A sepse causa também uma redução da
atividade dos sistemas anticoagulantes e do sistema fibrinolítico. A
CIVD se manifesta clinicamente desde fenômenos microtrombóticos
até sangramentos.
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Laboratorialmente, as alterações hematológicas causadas pela
sepse são plaquetopenia, aumento do tempo de protrombina e de
tromboplastina parcial ativada, redução do fibrinogênio e aumento
dos produtos de degradação da fibrina.
DIAGNÓSTICO
De acordo com o Sepsis-3, uma força-tarefa de estudiosos em pato-
biologia da sepse, na emergência os pacientes podem ser avaliados
através do score qSOFA (quick SOFA). Este score é um preditor de pior
prognóstico, de tal forma que pacientes que pontuam ao menos 2
pontos são pacientes em geral mais graves, que necessitam de mais
atenção.
FR > ou = 22 ipm
PAS < ou = 100
Alteração do nível de consciência
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Se suspeito de sepse e o paciente apresenta qSOFA ≥ a 2, devo
aplicar o SOFA (score completo para avaliação de disfunção orgânica).
Sepse será um aumento de pelo menos 2 pontos em relação ao SOFA
basal do paciente.
SCORE 0 1 2 3 4
PaO2/FiO2 > ou = 400 300 a 399 200 a 299 100 a 199 < 100
Bilirrubinas
< 1,2 1,2 a 1,9 2 a 5,9 6 a 11,9 > ou= 12
(mg/dL)
Dopamina Dopamina
Dopamina
(5,1-15) ou > 15 ou
< 5 ou
adrenalina < adrenalina
Pressão PAM > ou 70 PAM < 70 dobutamina
ou = 0,1 ou > 0,1 ou
em qualquer
noradrenalina noradrenalina
dose
< ou = 0,1 > 0,1
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TRATAMENTO
MEDIDAS GERAIS
O tratamento do paciente com choque séptico precisa ser feito de
forma rápida, a partir do momento do diagnóstico. A precocidade no
diagnóstico da disfunção orgânica é essencial para obtenção de me-
lhores desfechos e por isso as primeiras seis horas de atendimento são
as mais cruciais. A demora para o atendimento nesse intervalo de
tempo está associada ao surgimento de disfunções orgânicas.
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A droga vasopressora de escolha é a noradrenalina. Como segunda
escolha temos a adrenalina, que pode ser usada em adição ou substi-
tuição à noradrenalina. A adrenalina tem como efeito adicional o exce-
lente inotropismo, que é necessário nos pacientes com depressão
miocárdica mais grave e que não conseguem tolerar o uso de dobuta-
mina. Em alguns casos específicos, podemos lançar mão da vasopres-
sina. Como parte da estratégia hemodinâmica, além da reposição
volêmica com cristaloides (ou albumina), pode ser utilizada dobutami-
na (2-20 mcg/kg/min). Essa medicação é útil em pacientes com de-
pressão miocárdica absoluta, ou seja, contratilidade reduzida e débito
cardíaco baixo após a otimização volêmica.
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pacientes cujos níveis de hemoglobina < 7,0 g/dL. O objetivo é
manter a Hb entre 7,0 e 9,0. A transfusão de plaquetas acontece
quando elas estiverem abaixo de 50.000, em casos em que há sangra-
mento ativo, cirurgia ou procedimento invasivo; abaixo de 20.000, se
houver risco de sangramento; e abaixo de 10.000, de forma profilática.
O plasma é transfundido quando o INR > 1,5; considerar 10mL/Kg se
CIVD e sangramento ou se procedimento invasivo.
PARÂMETROS VALORES
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ANTIBIOTICOTERAPIA E
CONTROLE DO FOCO INFECCIOSO
O tratamento com antibióticos deve ser instituído na primeira hora
do diagnóstico de choque séptico. Inicia-se com um antibiótico de
cobertura ampla, devido não ser possível esperar o resultado das cul-
turas. A via de administração será a endovenosa.
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CORTICOIDES
Utiliza-se de corticoides nos pacientes que são refratários às expan-
sões volêmicas e que estão em uso de doses progressivas de drogas
vasoativas. A posologia recomendada é de 200 a 300 mg de hidrocor-
tisona por dia; doses maiores não mostraram qualquer benefício. A
hidrocortisona deverá ser suspensa assim que as medicações vaso-
pressoras não forem mais utilizadas.
CONTROLE GLICÊMICO
A meta glicêmica é que ela permaneça < 180mg/dL, sendo impor-
tante evitar hipoglicemia. A monitorização deve ser feita a cada 1 ou 2
horas até os valores ficarem estáveis, então poderá ser realizada de 4
em 4 horas.
PONTOS IMPORTANTES
FIXAR
Va s o p r e s s o r e s Reavaliação da
para manter volemia e perfusão e
PA M > 6 5 m m H g . dos níveis de lactato
Infecção
documentada DEFINIÇÃO
ou suspeita Coleta de
lactato sérico
Hiperlactatemia ou
Hipotensão persistente
Ta q u i c a r d i a
Antibióticos, de largo
e taquipneia
SEPSE MANEJO e s p e c t r o , E V, n a s p r i m e i r a s
horas do tratamento
Edema
Coleto de hemocultura
antes do início da
entibioticoterapia
Reposição volêmica
Febre e QUADRO agressiva em pacientes
hipotermia CLÍNICO com hipotensão ou lactato
acima de 2X vezes o valor
de referência
Hiperglicemia
Alteração do
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estado mental
REFERÊNCIAS
1. Instituto Latino-Americano para Estudos da Sepse. Sepse: um
problema de saúde pública / Instituto Latino-Americano para Estudos
da Sepse. Brasilia: CFM, 2015