Cópia de MELLO - Suzy - de - As - Vilas - Do - Ouro
Cópia de MELLO - Suzy - de - As - Vilas - Do - Ouro
Cópia de MELLO - Suzy - de - As - Vilas - Do - Ouro
(5) Silva Telles, Augusto Carlos da. "A Ocupa9ao do Territ6rio e a Trama (7) Vasconcellos, Sylvio de. Op. cit., p. 28.
Urbana". Revista Barroco, Belo Horizonte (10), 1978/9, p. 43 e ss. (8) Vasconcellos, Sylvio de. Op. cit., p. 34-5.
(6) Vasconcellos, Diogo de. Historia Antiga das Minas Gerais. Rio de Ja- (9) Omegna, Nelson. Op. cit., p. 65-7.
neiro, Imprensa Nacional, 1948, 2? v., p. 188. (10) Silva Telles, Augusto Carlos da. Op. cit., p. 46.
o ciclo do aura e, portanto, urbano por excelencia e, a "E os primeiros povoados chamam-se 'arraiais' - nome
fun~ao explorativa vai logo se sobrepor a comercial e, em se- que em Portugal se da ao acampamento, a reuniao festiva do
quencia, ados transportes, que a complementa naturalmen- povo, por ocasHio das romarias." 14 Esses arraiais, nao muito
te," tanto no caso de escoamento da produ~ao extrativa quan- distantes entre si, porem entao separados por dens as matas,
to no recebimento de generos e mercadorias indispensaveis a situavam-se nas areas da explora~ao aurlfera e tinham tam-
vida humana, mesmo nos ambientes de maior rusticidade bern, como ponto comum, a proximidade indispensavel do ca-
como eram os das primeiras decadas do seculo XVIII nas minho ou da "estrada". Esse foi 0 elemento chave das fixal;oes
Minas. iniciais, seguin do meias encostas ou lanl;ando-se de cumeada
E, assim, importante notar que existiu aqui praticamente ja que 0 terreno era sempre marcado pela acidentada topo-
urn equilibrio de for~as que, a par de determinar uma ime- grafia das areas ricas em dep6sitos aurlferos.
diata urbaniza~ao, tambem estabeleceu uma outra interes- Esse intimo relacionamento com os caminhos, alem de
sante tipicidade diretamente vinculada a situa~ao dos primei- acentuar a conformal;ao longilinea das povoa~oes, dava-Ihes
ros nucleos estaveis, implantados nos "aforamentos", ou se- outra caracteristica: "suas ruas sao sempre antigas estradas.
ja, terrenos cedidos por concessao mediante 0 pagamento de Por isso mesmo, foram a principio cham ad as de rua da Pra-
imposto anual, e que se refere tanto a sua proximidade das l;a, da Matriz, da Camara, etc. Nao porque nelas se localizas-
catas e das lavras quanto a sua mais direta liga~ao com os sem est as edifical;oes, mas porque a elas conduziam. Por isso
precarios caminhos do comercio e dos transportes. mesmo ainda hoje os habitantes da zona rural tratam a cidade
Por tais motivos, Sylvio de Vasconcellos resume exem- como 'a rua', no singular, como uma reminiscencia do trecho
plarmente estas caracteristicas das povoa~oes mineiras ao es- unico da estrada on de se construiam estabelecimentos comer-
crever que "sao elas determinadas espontaneamente pela mi- ciais. 'Vou a rua fazer compras', dizem. E, realmente, a rua
nera~ao; consolidam-se pelo comercio e desenvolvem-se pelo quase s6 vao com essa finalidade. A cidade e 0 entreposto, 0
artesanato" .12 local de suprimento e das trocas comerciais. E ainda por isso
Essa precisa observa~ao, porem, inclui urn outro dado de que, ao contrario das povoal;oes litoraneas, onde as igrejas
grande significa~ao no quadro urbano das Minas e que e, jus- colocam-se no interior das quadras, tangenciando os logra-
tamente, mais urn de seus importantes e peculiares aspectos: douros publicos, em Minas os templos sao erguidos no centro
a forma~ao espontanea dos aglomerados nas regioes. Efetiva- de largos, circundados por pra~as ou ruas e independentes das
mente, em regra geral que e confirmada por duas unicas ex- quadras urbanas deles vizinhas. Em muitos casos inserem-se
ce~oes, as vilas do aura nunca obedecem aos tra~ados regula- em terra~os definidos por bifurca~ao de estradas ou em outei-
dores que, mesmo de forma pouco rigida, norteavam 0 esta- ros a cavaleiro delas. Essa solul;ao, de certo modo, valoriza
belecimento dos demais nucleos coloniais no Brasil. Pelo con- bastante os edificios religiosos, acrescentando as povoal;oes
trario, vao os primeiros arraiais, que surgem "como amparo urn incipiente paisagismo e bons efeitos de perspectiva, nor-
direto ao trabalho das lavras" /3 se definir como extensoes dos malmente ausentes das cidades litoraneas. Por sua vez, a con-
caminhos e tomar, quase sempre, uma configura~ao linear em figura~ao espontanea e longilinea da as povoal;oes uma confi-
total oposi~ao as organiza~oes urbanas radiais ou nucleares gural;ao mais organica, uma adaptal;ao maior as condil;oes do
que 0 gosto e a tradi~ao portugueses repetiriam no Brasil co- terreno e urn agenciamento natural bastante diverso do racio-
lonial. nal partido preconizado pelas 'Leis das Indias'. 0 tral;ado fica
mais dinamico e, frequentemente, permite arranjos plasti-
(11) Boltshauser, Joao. Nop3es de Evo/ur;iio Urbana nas Americas. Belo Horj- cos, que funcionam como cenarios, em perfeita harmonia com
zonte, Edifi:oesEscola de Arquitetura da UFMG, 1959, I? v., p. 13.
(12) Vasconcellos, Sylviode. Gp. cit., p. 84.
(13) Latif, Miran de Barros. As Minas Gerais. Rio de Janeiro, Agir, 1960,
p.109.
a paisagem circundante. 0 povoado cresce como the convem, veitar ao maXImo. Fazem-se minimas as testadas, compri-
espicha e encolhe conforme seu estagio de desenvolvimento, mindo as frentes rueiras das moradias". 16
ameniza os aclives com tra.;ados coleantes, absorve os terrenos Entao, e facil verificar que essa rua - prolongamento da
mais favoniveis e rejeita os improprios, participando da vida estrada - acaba por ter tambem urn outro senti do que Sylvio
de seus habitantes como uma entidade tambem viva e livre das de Vasconcellos igualmente captou e que e muito interessante:
conten.;oes determinadas por regras fixas ou tentativas de ra- as vilas do ouro nao resultam de interrup.;oes do transito -
cionaliza.;ao divorciadas da realidade" .15 como e 0 caso dos portos, maritimos ou fluviais, por exemplo
Ainda de acordo com essa interpreta.;ao do caminho ou - mas, antes, de sua continuidade. E por isso que as vilas
estrada como eixo fundamental e elemento demarcador basico mineiras podem ser mesmo confundidas com "a propria es-
dos povoados mineradores decorre uma indica.;ao que, em- trada, conduzem-na, facilitam-na, deixam-se por ela penetrar
bora usual nos tempos coloniais, em Minas adquire maior sig- livremente, apenas emoldurando-as. 0 dificil e deixar de per-
nifica.;ao e que e a denomina.;ao de "Rua Direita" a uma via corre-Ias por inteiro, pois sao a continuidade natural das es-
que, freqiientemente, se lan.;a em sinuoso desenvolvimento. E tradas que as atingem. So contornos distantes as podem evitar
que, entao, nao se trata de urn tta.;ado reto mas, antes, da pois que, alem do mais, plantadas em relevos dificeis, seus
liga.;ao mais direta entre pontos ou areas de importancia na acessos sao aqueles unicos que a experiencia encontrou. Nao
aglomera.;ao. A correta acep.;ao da palavra e, por corruptela, traduzem, assim, solu.;oes de continuidade de trafego; antes,
alterada dando uma no.;ao diversa daquela que, efetivamertte, sua propria e dinamica continuidade". 17 -
lhe corresponde, fato que a muitos passa despercebido. A insistencia na acentua.;ao desse ponto se justifica de
forma especial por dele decorrer urn outro aspecto, tambem
Tambem, nos acidentados terrenos das vilas do ouro, dis-
muito peculiar a urbaniza.;ao mineira setecentista embora
punham-se os arruamentos da forma mais logica, procurando
atualmente ocorra nao so no Brasil como em to do 0 mundo: as
seguir de modo muito natural as curvas de nivel que fadlita-
vilas do ouro, resultantes da interliga.;ao dos arraiais e de sua
yam 0 acesso das mulas e escravos e cansavam menos seus
espontanea ~mexa.;ao com 0 decorrer do tempo, configuram
donos, mas 0 que nem sempre era conseguido.
exatamente uma situa.;ao urbana que hoje e conhecida como
Por outro lado, a par de tantas solu.;oes peculiares, per- "conurba.;ao", ou seja, uma cidade formada pela liga.;ao de
maneceu nas Minas uma grande semelhan.;a com urn aspecto diversos nucleos proximos.
comum tanto a Portugal quanto as demais regioes do Brasil Assim, fica claro que "a vila do ouro antecipava 0 feno-
colonial - 0 gregarismo - embora aqui fossem diferentes as me no que so viria a ser verificado com freqiiencia apos as
motiva.;oes como explica Sylvio de Vasconcellos: "Nas urbani- grandes concentra.;oes industriais. Ficava marcado nos pri-
za.;oes lusitanas e brasileiras junto ao mar, as constru.;oes se mordios do seculo XVIII, em Minas Gerais, portanto, 0 exem-
apertam umas as outras, em consequencia da exigiiidade das plo e a experiencia definitiva da aglomera.;ao urbana intima-
areas que lhes sao reservadas no interior das fortifica.;oes ou mente integrada a atividade basica exercida no chao sobre 0
de delimita.;oes favoraveis a defesa. Nas mineiras tambem as qual se assenta. 0 dualismo campo-cidade reduzia-se a ex-
constru.;oes se amontoam, se interpenetram, multiplicam-se pressao unica da atividade extrativa, tendo a cata e a grupiara
para 0 alto e para os fundos, escoram-se mutuamente, mas como seu suporte fisico e economico. ( ... ) Em vez de ligar-se
por outras razoes: so ha uma rua disponivel que importa apro- ao chao-agricola e afirmar-se como nucleo prestador de servi-
.;os, as vilas mineiras ligaram-se inicialmente ao chao-de-ouro
(15) Vasconcellos, Sylvio de. Formal,:ao das Povoal,:oes de Minas Gerais in (16) Vasconcellos, Sylvio de. Mineiridade. Belo Horizonte, Imprensa Oficial,
Arquitetura no Brasil- Pintura Mineira e Outros Temas, Belo Horizonte, Edil,:Oes
1968, p. 89.
Escola de Arquitetura da UFMG, 1959, p. 5-6. (17) Vasconcellos, Sylviode. Op. cit., p. 87-8.
e sobre ele se edificaram. Os 'arruados' acompanharam as
'grupiaras', pel as encostas dos montes, ou se plantaram as
margens dos ribeiros, pelos vales. 0 'crescimento em vizi-
nhan~a' garantiria continuidades urbanas que modernamente
se denominam 'areas sucessivas' e se explicam pelo fenomeno
da conurba~ao. A li~ao esta registrada nos 'autos de ere~ao'
das primeiras vilas, quando se justificava a localiza~ao pela
maior 'conveniencia do comercio' reunindo povoados pr6-
ximos" .18
Dentro desses parametros, mesmo uma resumida analise
das primeiras vilas mineiras indica suas especificas condi~oes I
de formal;ao atraves da integra~ao espontanea dos arraiais
primitivos, podendo ser citados inumeros exemplos, entre os QArro;o;.
Velhos
quais Sabara, que resulta de uma serie de nuc1eos, como "os
dois Arraiais Velhos - antigo Arraial do Borba - de Sant'
Ana e de Santo Antonio da Mouraria - que tiveram, ha mui-
tissimos anos, uma ponte a liga-los, cada 'um com sua Igreja e
Paroco" alem de varios outros como os arraiais da Ro~a Gran-
de, do Caquende, do Largo do Rosario, do "morro da barra",
da Igreja Nova e da Igreja Velha e 0 "arraial de Tapanhua-
canga, onde se construiu em 1717 a Igreja de N. Senhora
doQ".19
Estes arraiais situavam-se principalmente entre os rios
Sabara e das Velhas e seu caminho de liga~ao foi trans for-
mado na rua Direita (atual Pedro II) que, efetivamente, cor-
responde ao trajeto mais reduzido entre esses aglomerados.
Em se tratando de Sao Joao del Rei, repetiu-se a situa~ao
dos nuc1eos subseqiientes, integrados tambem pela via mais
direta, apenas nesse caso saD estes mais distanciados entre si,
localizando-se principalmente "nas en costas das serras hoje
denominadas Senhor do Monte e Merces", 20 na margem es-
querda do c6rrego do Lenheiro, com exce~ao de urn outro pri-
mitivo povoado, erguido no chamado Morro da Forca, do lado
oposto ao c6rrego e on de os paulistas construiram a primeira
(21) Lefevre, Renee & Vasconcellos, Sylvio de. Minas: cidades barrocas. Silo
Paulo, Cia. Ed. Nacional; Ed. Universidade de Silo Paulo, 1968, p. 23. (23) Vasconcellos, Sylvio de. Mineiridade. Belo Horizonte, Imprensa Oficial,
(22) Lefevre, Renee & Vasconcellos, Sylvio de. Op. cit , p. 9. 1968, p. 20.
plo de urbaniza~ao das vilas do ouro nao so por se localizar em
area de topografia particularmente acidentada - tipica, alias,
dos grandes depositos auriferos - como por ter sido resul-
tante da integra~ao de diversos arraiais que, dispostos linear-
mente, foram se agrupando de forma espontanea para se con-
solidar no povoado que, em 1711, foi elevado categoria dea
vila e, em 1720, tornou-se a capital da Capitania das Minas
Gerais.
Seu desenvolvimento seguiu, a principio, 0 direciona-
mento das areas de aura facil e farto, mais proximas dos vales
de corregos como 0 do Tripui no qual, segundo consta, foram
encontradas as primeiras pepitas. Depois pesquisas mais pe-
nosas se impuseram, exigindo a explora~ao dos abruptos mor-
ros que dominavam a paisagem. Esta, por sua vez, e marcada
por duas serras - a de Ouro Preto e a do Itacolomi - que
constituiam dificeis obstaculos.
Assim e que Vila Rica vai ter seu povoamento esparso,
come~ando em urn ponto alto conhecido como "Cabecas"
para dai descer ate 0 Pilar, subindo novamente pelo morro de
Santa Quiteria (onde hoje se situa a Pra~a Tiradentes) e vol-
tando a descer para Antonio Dias, de onde "subia vertiginosa-
mente ate Santa Efigenia, para tornar a descer rumo ao Padre
Faria. Dai tomava a estrada de Mariana, bem no Vira-Saia.
Expressao que deve ser, como muitos sugerem, corruptela de
vira e sai" .24 Como tambem, alias, seria 0 inicio das fixa~oes
chamado de ca-aquem e resultar em Caquende, designa~ao
bastante comum na regiao.
Esses aglomerados eram, na epoca, relativamente distan-
ciados e, a par das dificuldades topograficas, do sobe-e-desce
cansativo e continuo, tinham densas matas entre si. Interliga-
varn-se, porern, por varios caminhos, sendo que "urn e mais
irnportante, rnais transitado, por assirn dizer, a estrada-tron-
co. Entra na vila e vai direto a
Matriz do Pilar, de on de se
endireita para a Matriz de Antonio Dias, saindo por Santa
Efigenia" .25
Entre esses sucessivos povoados iniciais incluiam-se os ar-
raiais do Padre Faria, de Antonio Dias, dos Paulistas, de San-
(24) Teixeira de Salles, Fritz. Vila Rica do Pilar. Belo Horizonte, Itatiaia,
1965, p. 20.
(25) Vasconcellos, Sylvio de. Vila Rica. Sao Paulo, Perspectiva, 1977, p. 71.
tana, do Taquaral, do Born Sucesso, de Sao Joao e do Ouro outras, incluiria as atuais ruas Alvarenga Peixoto, Bernardo
Podre, entre outros. Porem todos se interligavam por cami- Guimaraes, Getulio Vargas, S. Jose, Tiradentes, Parana,
nhos, ficando os principais diretamente a margem da "es- Conde de Bobadela, Claudio Manoel da Costa, Bernardo de
trada-tronco", quase sempre. Vasconcelos, Santa Efigenia e Padre Faria.29
"A Vila tern, assim, uma configura<,;ao linear apegada a Portanto, Vila Rica enquadra-se no esquema de forma-
.estrada tronco que, aos poucos, se corrige em trechos de me- <,;aocentripeta, com os dois nucleos principais - Pilar e An-
lhor tra<,;ado, em geral mais ao alto que os primitivos, ata- tonio Dias - que contem, igualmente, as duas matrizes da
lhando-os e ao mesmo tempo acompanhando a marcha das vila sendo unidos pelo desenvolvimento dos arraiais interme-
minera<,;oes que, a principio apegadas aos vales profundos, fo- diarios. E 0 que explica Sylvio de Vasconcellos ao indicar,
ram depois galgando a serra. " 26 como centro do povoamento inicial, 0 eixo longitudinal em
as trechos refeitos com melhores condi<,;oes eram chama- cujos pontos extremos estavam, de urn lado, 0 Rosario e Pilar
dos de "caminhos novos" e a "estrada- tronco" , adaptada aqui e, do outro, Santa Efigenia e 0 Padre Faria. No centro desse
e ali para favorecer os trajetos transformou-se na via mais di- eixo, seria cruzado urn outro - transversal - que incluiria 0
reta - ou Rua Direita - entre os pontos urbanos de maior morro de Santa Quiteria, onde se ergueriam as constru<,;oes
importancia. E "todas as igrejas e edificios principais da Vila oficiais portuguesas.
balizam esta rua-tronco com poucas excecoes".27 "Neste movimento centripeto, com a constru<,;ao da an-
E interessante notar, ainda, que "as ruas em que, poste- tiga Casa de Camara e Cadeia e depois do Palacio dos Gover-
riormente, se transform a, subdividindo-se, a estrada princi- nadores (por volta de 1740), unem-se as duas freguesias e,
pal, tomam com 0 correr do tempo, designa<,;oes varias, a prin- com a delimita<,;ao do centro administrativo, estabelece-se 0
cipio apenas explicativas, como a 'rua que segue da ponte seca nucleo principal da povoa<,;ao. Este nucleo, configurado pela
ate a ponte do Ouro Preto', a que 'vai da igreja do bairro do Pra<,;ado Palacio, ampliada em 1797 para desafogar a Casa de
Ouro Preto para 0 arraial dos paulistas, direta da Vila. Depois Camara e Cadeia, e, aqui, uma conseqiiencia do povoamento ja
tomam 0 nome dos seus mais importantes moradores: Rua do existente e nao origem dele, correspondendo mais aos limites
Vigario, dos paulistas, dos caldeireiros, etc., ou das constru- de duas povoa<,;oesvizinhas que centro de irradia<,;ao delas." 30
<,;oesmais valiosas que nela se erguem: Rua da Ponte, da Ca- Ainda que, posteriormente, novas ruas fossem abertas e
deia, do Palacio, etc., etc.".28 Esse procedimento, alias, e ge- outras se desenvolvessem. paralelamente as mais antigas, in-
neralizado no Brasil colonial, repetindo-se nas Minas de forma cluindo becos e vielas que indicavam tanto maior progresso
muito natural. quanto uma tendencia centrifuga, Vila Rica manteria sempre
No caso de Vila Rica, devido a sua forma<,;ao acentuada- sua configura<,;ao linear tao propria das vilas do ouro, que
mente linear, a "estrada-tronco", que iria gerar a Rua Direita "tendem a centripetar 0 agrupamento humano e nao a difun~
em seu setor mais central e importante, e subdividida, basica- di-Io",31 como urn marco definitivo ·da urbaniza<,;ao esponta-
mente em tres principais segmentos: 0 primeiro vai das "Ca- nea das Minas setecentistas.
be<,;as" ate 0 atual Largo do Rosario; 0 segundo vai do Rosario
ao Pilar, continuando ate a Pra<,;a e descendo ate Antonio
Dias; dai seguindo 0 terceiro, que se subdivide em duas ladei-
ras, a do Vira-Saia e a do Padre Faria. Em termos da atual
Ouro Preto, seria urn longo e acidentado percurso que, entre
(32) Vasconcellos, Salomao de. Breviario Historieo e Turlstico da Cidade de (33) Silva Telles, Augusto Carlos da. Op. eit., p. 47.
Mariana. Belo Horizonte, Biblioteca Mineira de Cultura. vol. XVII, 1947, p. 9. (34) Vasconcellos, Sylvio de. Op. cit., p. 88-9.
tangenciando 0 reHingulo que enquadrava a trama ortogonal
de Alpoim. Enquanto isso, 0 eixo longitudinal, urn pouco in-
c1inado e mais alongado, saia do Alto de Sao Pedro dos Cle-
rigos na direr;ao da igreja do Rosario e do antigo Mata-Ca-
valos, dentro do esquema linear tipico das vilas do ouro.
E, ainda, oportuno lembrar que, em Mariana, a rua Di-
reita "chamava-se, antigamente, ao tempo do arraial do Car-
mo e depois da Vila, 'caminho de cima', e ligava a prar;a da
Conceir;ao ao Rosario e a Sao Gonr;alo". 35
Mariana apresentava-se, portanto, bem diversa da vizi-
nha Vila Rica pelo que a descreveu Sylvio de Vasconcellos
como sendo "mais concentrada, e muitas de suas ruas cortam-
se em perpendiculares. E pouco acidentada e aproveita as fal-
das que descem preguir;osas do Alto de Sao Pedro, por onde
entra 0 caminho de Ouro Preto. 0 cenario urbano e calmo.
Nao 0 agitam tortuosos caminhos e aflitos aglomerados arqui-
tetonicos. Mariana e romantica. De urn romantismo discreto
que flui de sua horizontalidade e de seus espar;os, abertos em
pracas" .36
o Tijuco
A persistencia da integrar;ao dos primitivos arraiais de
mineradores em vilas de urbanizar;ao espontanea e linear nao
se limitou, porem, aos aglomerados mais concentrados nas
areas de Vila Rica, Sabara ou Sao Joao del Rei. Tambem nas
regioes mais ao nordeste, na direcao do Vale do Jequitinhonha
e da Bahia, os primeiros povoados surgiram de uma fusao