Livro Texto - Unidade I PDF
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Graduada em Biomedicina pelo Centro Universitário de Araraquara (2006). Doutora em Biotecnologia pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2014). Tem experiência em enzimologia, atuando principalmente nos seguintes temas:
imobilização e produção de enzimas secretadas por fungos filamentosos. Atualmente é coordenadora e professora do curso de
Biomedicina da Universidade Paulista-UNIP Araraquara.
Biomédico graduado pela Universidade de Mogi das Cruzes (1996). Especialista em Diagnóstico Laboratorial de Doenças
Tropicais pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-FMUSP. Especialista em Acupuntura Tradicional
Chinesa. Mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP (2000). Doutor em Patologia Ambiental e
Experimental pela UNIP (2017). Habilitações nas áreas de análises clínicas, microbiologia, imunologia, parasitologia, saúde
pública e acupuntura. Atualmente é coordenador do curso de Biomedicina na modalidade semipresencial e docente da UNIP nas
áreas de microbiologia, imunologia, parasitologia e bioquímica. Suas linhas de pesquisa são patologia ambiental e experimental
(neuroimunopatologia), microbiologia e imunologia. Membro do Banco de Avaliadores (BASis) do INEP.
Biomédica graduada em 2011 pela UNIP. Mestra em Ciências na área de tecnologia nuclear – aplicações, pela USP. Atuou
como professora da Escola Técnica PapaMike (2013/2015) e da Escola Técnica Projeta (2014/2016). Atualmente, é docente da
Universidade Paulista (UNIP). Tem experiência na área de toxicologia, energia nuclear, microbiologia, parasitologia, saneamento
ambiental, com ênfase no isolamento e caracterização de crotoxinas e análise proteômica do veneno simile de Crotalus vegrandis.
CDU 641.1
U511.35 – 21
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Aline Ricciardi
Bruna Baldez
Sumário
Análise de Alimentos
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9
Unidade I
1 COMPOSIÇÃO CENTESIMAL DOS ALIMENTOS E ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS
PELA FISCALIZAÇÃO, LEGISLAÇÃO DE ALIMENTOS E ROTULAGEM.................................................. 11
1.1 Conceito geral de composição centesimal................................................................................. 11
1.2 Métodos analíticos............................................................................................................................... 11
1.2.1 O método analítico de Weende......................................................................................................... 12
1.2.2 O método analítico van Soest............................................................................................................ 14
1.2.3 Nutrientes digestíveis totais (NDP).................................................................................................. 16
1.2.4 Determinação de minerais................................................................................................................... 16
1.2.5 Determinação de vitaminas................................................................................................................. 16
1.2.6 Procedimento para análise quantitativa........................................................................................ 17
1.3 Órgãos responsáveis pela fiscalização, legislação de alimentos e rotulagem.............. 18
1.4 Técnicas de amostragem em análise de alimentos................................................................. 21
1.4.1 Coleta............................................................................................................................................................ 23
1.4.2 Preparação e tratamento da amostra pré-tratamento............................................................ 23
2 ÁGUA EM ALIMENTOS.................................................................................................................................... 25
2.1 Atividade de água (Aa)........................................................................................................................ 26
2.2 Métodos de determinação de umidade....................................................................................... 30
2.2.1 Secagem utilizando estufas................................................................................................................. 30
2.2.2 Secagem utilizando radiação infravermelha................................................................................ 31
2.2.3 Secagem utilizando radiação de micro-ondas............................................................................ 32
2.2.4 Secagem utilizando dessecadores.................................................................................................... 32
2.2.5 Destilação.................................................................................................................................................... 33
2.2.6 Método de Karl Fischer.......................................................................................................................... 33
2.2.7 Físicos............................................................................................................................................................ 33
3 CARBOIDRATOS................................................................................................................................................. 34
3.1 Classificação............................................................................................................................................ 34
3.1.1 Monossacarídeos..................................................................................................................................... 35
3.1.2 Oligossacarídeos....................................................................................................................................... 35
3.1.3 Polissacarídeos.......................................................................................................................................... 35
3.2 Carboidratos redutores....................................................................................................................... 36
3.2.1 Dulçor........................................................................................................................................................... 37
3.2.2 Textura.......................................................................................................................................................... 39
3.3 Métodos de determinação de carboidratos em alimentos.................................................. 41
3.3.1 Pré-tratamento......................................................................................................................................... 41
3.3.2 Métodos de análise................................................................................................................................. 41
4 LIPÍDIOS................................................................................................................................................................ 43
4.1 Estrutura, composição e classificação de ácidos graxos
e triacilglicerídeos (triglicerídeos).......................................................................................................... 44
4.1.1 Ácidos graxos............................................................................................................................................. 44
4.1.2 Triglicerídeos (TGs)................................................................................................................................... 46
4.1.3 Outros lipídios........................................................................................................................................... 47
4.2 Caracterização de óleos e gorduras............................................................................................... 48
4.2.1 Índice de acidez........................................................................................................................................ 48
4.2.2 Índice de peróxido................................................................................................................................... 49
4.3 Processamento de óleos e gorduras.............................................................................................. 49
4.3.1 Hidrogenação de lipídios...................................................................................................................... 49
4.3.2 Interesterificação..................................................................................................................................... 50
4.4 Reações de degradação de lipídios................................................................................................ 50
4.4.1 Reações oxidativas.................................................................................................................................. 50
4.4.2 Reações hidrolíticas................................................................................................................................ 52
4.5 Métodos de determinação de lipídios.......................................................................................... 52
4.5.1 Métodos de quantificação com solvente a quente................................................................... 53
Unidade II
5 PROTEÍNAS.......................................................................................................................................................... 60
5.1 Importância nutricional das proteínas......................................................................................... 65
5.2 Desnaturação e propriedades funcionais das proteínas....................................................... 66
5.2.1 Desnaturação proteica........................................................................................................................... 66
5.2.2 Propriedades funcionais das proteínas........................................................................................... 69
5.3 Métodos de análise de proteínas.................................................................................................... 73
5.3.1 Método de Kjeldahl................................................................................................................................. 73
5.3.2 Digestão....................................................................................................................................................... 73
5.3.3 Destilação.................................................................................................................................................... 73
5.3.4 Titulação...................................................................................................................................................... 74
5.3.5 Cálculo de proteínas totais.................................................................................................................. 74
6 VITAMINAS.......................................................................................................................................................... 76
6.1 Conceitos e características gerais................................................................................................... 76
6.2 Vitaminas hidrossolúveis.................................................................................................................... 77
6.2.1 Vitamina C – ácido ascórbico............................................................................................................. 77
6.2.2 Tiamina (vitamina B1)............................................................................................................................ 78
6.2.3 Riboflavina (vitamina B2)..................................................................................................................... 79
6.2.4 Niacina (vitamina B3)............................................................................................................................ 80
6.2.5 Ácido pantotênico (vitamina B5)...................................................................................................... 82
6.2.6 Piridoxina (vitamina B6)....................................................................................................................... 83
6.2.7 Biotina (vitamina B7)............................................................................................................................. 84
6.2.8 Folato (vitamina B9)............................................................................................................................... 85
6.2.9 Colabamina (vitamina B12)................................................................................................................. 86
6.3 Vitaminas lipossolúveis....................................................................................................................... 87
6.3.1 Vitamina A.................................................................................................................................................. 87
6.3.2 Vitamina D.................................................................................................................................................. 88
6.3.3 Vitamina E (α-Tocoferol)...................................................................................................................... 89
6.3.4 Vitamina K.................................................................................................................................................. 90
7 ADITIVOS ALIMENTARES................................................................................................................................ 91
7.1 Tipos de aditivos.................................................................................................................................... 91
7.1.1 Aromatizantes........................................................................................................................................... 92
7.1.2 Corantes....................................................................................................................................................... 92
7.1.3 Conservantes............................................................................................................................................. 93
8 IMPORTÂNCIA E CARACTERÍSTICAS GERAIS DA MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS.............. 94
8.1 Características gerais dos fungos................................................................................................... 95
8.2 Características gerais das bactérias............................................................................................... 95
8.3 Caracteristicas gerais dos vírus........................................................................................................ 96
8.4 Importância dos microrganismos em alimentos...................................................................... 96
8.4.1 Fatores que influenciam na multiplicação microbiana............................................................ 97
8.5 Microrganismos indicadores da qualidade dos alimentos.................................................100
8.5.1 Escherichia coli.......................................................................................................................................100
8.5.2 Coliformes totais....................................................................................................................................100
8.5.3 Bolores e leveduras...............................................................................................................................100
8.6 Detecção, enumeração e identificação de microrganismos –
métodos clássicos e rápidos...................................................................................................................101
8.6.1 Métodos clássicos..................................................................................................................................101
8.6.2 Métodos rápidos....................................................................................................................................103
8.7 Aspectos clínicos e etiológicos das doenças transmitidas por alimentos (DTAs)......104
8.7.1 Bacillus cereus/intoxicação alimentar...........................................................................................107
8.7.2 Clostridium botulinum/botulismo..................................................................................................107
8.7.3 Escherichia coli enterotoxigênica (ETEC)......................................................................................108
8.7.4 Salmonella enteritidis/salmoneloses..............................................................................................108
8.7.5 Staphylococcus aureus/intoxicação alimentar..........................................................................109
8.7.6 Vibrio cholerae/cólera..........................................................................................................................109
8.7.7 Listeria monocytogenes...................................................................................................................... 110
8.7.8 Hepatite A..................................................................................................................................................111
8.7.9 Rotavírus....................................................................................................................................................111
8.7.10 Entamoeba histolytica.......................................................................................................................112
8.7.11 Aflatoxinas e outras micotoxinas.................................................................................................. 112
8.8 Vigilância sanitária em alimentos e produtos de origem animal....................................113
APRESENTAÇÃO
Esta disciplina tem como objetivo apresentar os principais tópicos que norteiam a bromatologia, ou
seja, a ciência responsável pela análise dos alimentos.
Você aprenderá os principais componentes dos alimentos, os métodos para análise desses
componentes, os fatores associados à conservação e manutenção deles. Além disso, você vai conhecer
as normas sanitárias que regulam as técnicas de análises, amostragem e rotulagem de produtos e
comercialização dos alimentos.
Também vai rever as características dos principais grupos microbianos causadores de doenças
alimentares, denominadas de DTAs, ou seja, doenças transmitidas por alimentos. Saberá o que são e
a importância dos microrganismos indicadores da qualidade dos alimentos e terá informações sobre
surtos de DTA no Brasil.
Esperamos que este livro-texto desperte seu interesse para a área de alimentos, visto que esta se
configura como uma área promissora para atuação do profissional, tanto no setor da indústria quanto
no de serviços de saúde pública voltados para a vigilância sanitária de estabelecimentos e empresas do
ramo alimentício e para a vigilância epidemiológico na investigação de surtos de DTA.
INTRODUÇÃO
A palavra bromatologia deriva do grego: broma vem de bromatos e significa “dos alimentos”; e logos
significa “ciência”. Portanto, por extensão dos termos “bromatos” e “logos”, pode-se definir bromatologia
como a ciência que estuda os alimentos.
O objetivo principal da análise é conhecer a composição química dos alimentos, sua ação no
organismo, seu valor alimentício e calórico, suas propriedades físicas, químicas, toxicológicas e também
adulterantes, contaminantes, fraudes etc. Um estudo mais completo dos alimentos, o que, aqui, propomos,
compreenderá o conhecimento das propriedades gerais: aspecto, aroma, sabor, alterações, estrutura
microscópica e, ainda, determinação do teor de substâncias nutritivas por intermédio de análises
aproximativas. Além da análise aproximativa de um alimento, estudaremos seu controle microbiológico.
Conhecer os alimentos que consumimos e que também fornecemos aos animais é o primeiro passo
para que possamos assegurar uma boa qualidade de vida.
Bons estudos!
9
ANÁLISE DE ALIMENTOS
Unidade I
1 COMPOSIÇÃO CENTESIMAL DOS ALIMENTOS E ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS PELA
FISCALIZAÇÃO, LEGISLAÇÃO DE ALIMENTOS E ROTULAGEM
Por convenção, chama-se composição centesimal de um alimento a proporção que revela o valor
calórico ou nutritivo, como também a respectiva proporção de componentes em que aparecem, em
100 g de produto considerado, os grupos homogêneos de substâncias que constituem o alimento. Assim,
é possível, a partir da composição centesimal, observar os constituintes de um determinado alimento
em alguns grupos homogêneos, como, também, verificar através de cálculos o seu valor calórico.
Essa proposta passou a ser um procedimento comum em análise de alimentos, sendo utilizado hoje
em dia, todavia, com modificações na determinação da umidade, realizada através de secagem por
aquecimento; na determinação da fibra bruta, estabelecida pela fração insolúvel depois do tratamento
com ácido e álcali em resíduo sem gordura e minerais; dos carboidratos, calculados por diferença; dos
lipídios, feita pela extração contínua utilizando éter; do teor de proteína, alcançado pela utilização do
fator 6,25 em relação ao conteúdo de nitrogênio.
O uso do fator 6,25 para a conversão de nitrogênio em proteína fundamentou-se no teor de 16%
desse constituinte em proteína animal isolada, considerando que toda proteína possui igual quantidade
de nitrogênio, e todo o nitrogênio é devido à proteína; porém, posteriormente, verificou-se que as duas
conjecturas não eram verdadeiras.
A determinação do componente deve ser feita utilizando a medida de uma propriedade física, como
volume ou massa, de absorção de radiação e do potencial elétrico, entre outras.
Os sistemas instrumentais são aqueles que utilizam equipamentos eletrônicos mais sofisticados,
enquanto os convencionais utilizam apenas a vidraria e os reagentes, em processos de volumetria
e gravimetria.
A seguir, uma breve descrição dos dois métodos analíticos que são os mais utilizados na prática – o
método analítico de Weende e o método analítico de van Soest.
Nesse método, inicialmente, retira-se a umidade do alimento de modo a separar a matéria seca.
Posteriormente, separa-se o material inorgânico (minerais) do material orgânico. Do componente
orgânico, retiram-se os compostos nitrogenados, ou seja, a proteína, restando os compostos não
nitrogenados. Daí se retira o extrato etéreo, a gordura, restando os carboidratos e as fibras (figura
seguinte). Com exceção da fração extrativos não nitrogenados (azotados), calculada por diferença, as
demais frações são determinadas analiticamente.
Não há isolamento de compostos químicos, apenas dos grupos analíticos homogêneos (os seis
itens mencionados anteriormente). A fração de fibra bruta é determinada utilizando um meio
alcalino e ácido no alimento, em hidrólise sucessiva. A fração de fibra bruta, resultante do processo,
é constituída, basicamente, pelos componentes da parede celular (celulose, hemicelulose lenhina).
Porém ocorre que animais com capacidade fermentativa gastrointestinal são capazes de digerir a
celulose e a hemicelulose.
12
ANÁLISE DE ALIMENTOS
Alimento
Lembrete
O fato de a fração da fibra bruta ser usada ainda hoje como critério da qualidade dos alimentos
deve-se a diversos fatores: falta de conhecimentos a respeito dos processos bioquímicos que influem no
valor nutritivo; conceitos errôneos sobre a sua natureza; imposição do Estado do uso de fibra bruta
na rotulagem dos alimentos compostos.
O teor em proteína bruta é calculado com base no teor nitrogênio definido analiticamente, usando
o fator de 6,25 para converter o nitrogênio total em proteína bruta. Esse valor é obtido através da
estimativa de que a proporção média em N das proteínas é de 16%. Todavia sabe-se que essa proporção
em N dos alimentos não corresponde a essa porcentagem.
Simples e eficiente, esse método é muito usado hoje em dia, principalmente, em nutrição animal
e agronomia. Sua vantagem está no fato de seu custo ser baixo, além de ser prático e fácil de ser
executado e aceito internacionalmente. Em relação às desvantagens, em vez de separar os componentes
em nutrientes, ele separa o alimento em grupos de substâncias; além disso, não separa bem fibras
e carboidratos e, por fim, o valor do fator de correção e a determinação dos componentes não são
muito precisos.
13
Unidade I
Para resolver a questão da fibra bruta descrita no método de Weende, em 1966, Peter van Soest
propôs o método de soluções detergentes para a análise de alimentos (figura seguinte). Esse método
foi bem aceito, e o método de Weende, aos poucos, foi sendo substituído pelo de van Soest, alterando,
assim, a fração de fibra bruta para fibra de detergente neutro (NDF), fibra de detergente ácido (ADF)
e lenhina do detergente ácido (ADL); e os extrativos não nitrogenados pelos compostos solúveis em
detergente neutro (NDS).
Alimento
14
ANÁLISE DE ALIMENTOS
Através do método de van Soest, é possível verificar a digestabilidade dos alimentos, utilizando a
seguinte equação:
Y = 0,98X – 12,9
Com relação à digestão aparente, o método de van Soest estabeleceu uma equação que permite
estimar a fração de matéria seca ou de matéria orgânica:
D = 0,98 (100 – NDF) + NDF [1,425 – 0,769 log ADL 100] – 12,9
ADF
Essa equação permite que sejam inseridos fatores de correção em relação ao teor de sílica e de
nitrogênio ligado à lenhina.
O quadro seguinte traz, comparativamente, a equivalência entre os métodos de van Soest e de Weende.
Com relação aspecto nutricional, o método van Soest separa melhor os componentes da fração
fibrosa. Da perspectiva nutricional, aparenta ser interessante a substituição da tradicional fibra bruta
pela fibra em detergente ácido, entretanto, vale ressaltar que para determinar os nutrientes digestíveis
totais, utiliza-se a fibra bruta.
Observação
Temos que os métodos de van Soest e de Weende fornecem, juntos, informações suficientes sobre a
composição de determinado alimento. Todavia informações complementares constantemente se fazem
necessárias e posteriormente serão abordadas.
Como os sistemas vistos anteriormente não examinam os demais componentes dos alimentos, de
modo a prover essa lacuna, Henry & Morrison, em 1910, propuseram o sistema nutrientes digestíveis
totais (NDT). Porém, sua utilização é dispendiosa e demorada.
Hoje em dia, calcula-se o NDT utilizando a energia digestível, com a estimativa de que 1 kg de
NDT gera aproximadamente 4.400 Kcal de energia digestível. O NDT pode ser calculado através
da seguinte expressão:
Diante de inúmeros métodos, qual escolher? O primeiro passo a ser dado, antes da análise, é definir
qual o melhor método de análise para cada caso, porque sendo o alimento uma amostra complexa,
os seus diversos componentes podem interferir entre si. Assim, dependendo da situação, um método
pode ser mais adequado para certo tipo de alimento, mas, ao mesmo tempo, não fornecer uma análise
satisfatória para outro.
16
ANÁLISE DE ALIMENTOS
• Para uma precisão necessária: os métodos clássicos podem atingir uma precisão de 99,9%,
isso quando o componente analisado constitui mais de 10%. A precisão é comprometida quando
componentes constituem frações menores que 10%, portanto, nesse caso, devem-se preferir
métodos instrumentais.
• Em relação aos recursos disponíveis: em muitos casos, o melhor método ou o mais adequado
para a análise não é possível ser utilizado, ou por causa do seu alto custo, um fator limitante em
função do equipamento necessário, ou mesmo por causa do tipo de reagente.
Observação
Quando se realiza uma análise quantitativa, algumas etapas básicas, essenciais, precisam constar no
procedimento geral. Elas estão descritas a seguir.
Amostragem
Nessa primeira etapa, separa-se uma pequena porção homogênea do material a ser analisado, de
dimensões apropriadas para o trabalho que será realizado em laboratório, de modo que essa porção
represente, perfeitamente, todo o material inicial. Também é imperioso que o volume e a massa da
amostra sejam conhecidos para as operações posteriores.
A preparação da amostra é precisamente o tratamento necessário que precisa ser realizado para as
análises subsequentes, tais como a filtração e moagem de sólidos, a eliminação de gases, entre outros.
Nessa etapa, será feita a preparação da amostra. O tipo de tratamento feito aqui depende
essencialmente do método analítico escolhido e da natureza do material estudado.
17
Unidade I
Comumente, o componente de interesse pode ser extraído com o uso de solvente, que pode ter
água ou algum solvente orgânico, ou talvez seja necessário utilizar ácido. Contudo é imperioso que os
reagentes químicos inseridos na preparação da amostra não interfiram nos próximos passos da análise
ou, em caso contrário, pelo menos, deverão ser facilmente removidos.
Separações
Esse passo baseia-se na supressão de substâncias interferentes, pois, não raro, as propriedades físicas
utilizadas na análise quantitativa de uma espécie podem ser confundidas com outras substâncias e,
nesse caso, torna-se imprescindível a subtração desses interferentes antes da análise final.
Uma forma para eliminar a substância interferente é transformá-la em outra espécie inóxia, o que
pode ser realizado por oxidação, redução ou complexação, ou, outra forma seria o seu insulamento em
uma fase separada, utilizando a subtração com solventes e cromatografia.
Medidas analíticas
Esse é o ponto principal de todo o processo analítico. É aqui que é realizada a medição qualitativa
do componente na amostra.
Com os dados em mãos, nesse passo, a análise dos resultados é realizada de forma apropriada,
com um software adequado à análise de dados, com o intuito de se extrair as medidas das médias, os
desvios padrões, as incertezas estatística e instrumental, os coeficientes de variação e a covariação e
incerteza final.
O Brasil possui diversas instituições responsáveis pela fiscalização de alimentos, todavia, destacam-se
duas principais: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (Mapa). Também é compartilhada entre outros órgãos da administração pública: o
Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade
e Tecnologia (INMETRO), Defesa do Consumidor (Decon), entre outros.
Definida pela Lei n. 9.782/1999, a Anvisa, de modo geral, tem responsabilidade na coordenação, na
regulamentação, no controle e na fiscalização dos alimentos destinados ao consumo humano, desde a
produção até a comercialização final, assegurando a saúde pública.
• os que além de serem dispensados de registro, são também dispensados de informar o início de
fabricação – Resolução n. 23/2000, item 5.1.6 (BRASIL, 2000).
Cabe, ainda, à Anvisa a regulamentação, o controle e a inspeção de produtos de origem vegetal, desde
a fabricação até a comercialização no varejo; de produtos de origem animal, no comércio varejista; e
demais produtos processados, desde a indústria até o comércio varejista, como águas envasadas, bebidas,
alimentos, seus respectivos insumos, aditivos alimentares, embalagens, contaminantes orgânicos, sobejos
de agrotóxicos e medicamentos e, por fim, produtos e serviços que, de algum modo, possam gerar risco
à saúde pública.
Em relação ao Mapa, de acordo com a Lei n. 1.283/1950 (BRASIL, 1950), é de sua responsabilidade
a inspeção de todos os alimentos unicamente de origem animal, como ovos, pescados, carnes, mel,
leite e seus derivados; e também as bebidas alcoólicas, fermentadas e não alcoólicas; e, por fim, os
vegetais in natura, comestíveis e não comestíveis, preparados, transformados, manipulados, recebidos,
acondicionados, depositados e em trânsito enquanto localizados nas indústrias, fábricas, usinas, nas
propriedades rurais e nos estabelecimentos entrepostos.
Pelo Decreto n. 30.691/1952 no Art. 51 (BRASIL, 1952), é vedado a qualquer empresa realizar
comércio de produtos de origem animal para outro país ou mesmo para outros estados da federação,
sem o registro na Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa). E, além disso, no caso
do comércio para outros países, a empresa deverá atender à normalização específica estabelecida pela
Dipoa para esse fim.
Dessa forma, para que se possa iniciar o processo de produção e comercialização, tanto nacional
quanto internacionalmente, os estabelecimentos desses produtos devem prover o registro no órgão.
Destaca-se que a Anvisa tem a responsabilidade pela inspeção de todos os produtos do mercado.
Portanto, mesmo que um produto seja também de responsabilidade do Mapa, quando estiver no
comércio, a sua fiscalização pertence à Vigilância Sanitária, concernindo a ela notificar, ou, se for o caso,
apreender os produtos, quando não estiverem em conformidade com a legislação do Brasil.
O quadro seguinte mostra os tipos de alimentos regulamentados pelo Mapa em três subcategorias
– vegetais in natura, bebidas em geral e produtos exclusivamente de origem animal.
Produtos
Vegetais in natura Bebidas em geral exclusivamente de
origem animal
Carnes e derivados
Bebidas não alcoólicas Leite e derivados
Bebidas alcoólicas Ovos e derivados
Bebidas fermentadas Mel e derivados
Pescados e derivados
O quadro seguinte mostra os tipos de alimentos regulamentados pela Anvisa em duas subcategorias
– aditivos alimentares e demais alimentos processados.
20
ANÁLISE DE ALIMENTOS
Há ainda a Portaria INMETRO n. 157/2002, que admite o Regulamento Técnico Metrológico e que
designa o modo de apresentar a quantitativamente o conteúdo líquido dos produtos pré-medidos.
Percebe-se que é necessário somar várias legislações de modo a obter uma rotulagem precisa para
diferentes tipos de alimentos. Em alguns momentos, a legislação exprime anfibologias e conflitos de
competências entre os órgãos ajuizados de fiscalização e regulamentação. Daí a necessidade
de conhecimento e estudo das normas e legislações que se aplicam em cada tipo de negócio e
empreendimento, para impedir possível confusão de duplicidade de regulamentação e inspeção.
Saiba mais
O preparo das amostras é de importância fundamental para a qualidade dos dados obtidos e o
resultado final da análise dos alimentos. Qualquer falha nesse processo ou caso ele não seja bem
executado, comprometerá todo o resultado final.
A amostragem compreende uma série de operações com o objetivo de obter uma porção pequena
e adequada ao método de análise já definido, do material inicial, mas que ao mesmo tempo represente
todo o conjunto da amostra, ou seja, essa porção pequena deve conter a mesma composição química,
propriedades físicas e químicas do material em estudo.
Vimos anteriormente que o passo inicial em análise de alimentos é justamente a definição do método
de análise que será utilizado, cuja escolha depende de diversos fatores, como o custo do método, os
equipamentos disponíveis, a precisão requerida para os dados finais, o tipo de amostra e, entre eles, a
quantidade de amostra inicial disponível para a análise.
21
Unidade I
O que se deseja no processo de amostragem é assegurar que os resultados sejam confiáveis, que eles
representem informações verdadeiras do material em estudo, além disso, os erros cometidos aqui não
poderão ser compensados ou corrigidos nas etapas seguintes. Desse modo, é imperioso que o analista
tenha, tanto quanto possível, o conhecimento prévio da amostra, de modo a avaliar alguns fatores,
como a qualidade média da uniformidade da amostra total.
Amostra
É homogênea? Não
Sim Homogeneizar
Análise
Lembrete
22
ANÁLISE DE ALIMENTOS
1.4.1 Coleta
Precisa haver integração e sincronia entre o sistema de coleta e o laboratório de análise, pois o envio
de amostras não deve exceder a capacidade de análise e o processamento do laboratório, sendo que as
amostras reservadas para a análise de composição deverão ser enviadas separadamente às reservadas
para análises microbiológicas em recipientes limpos com embalagens originais de modo a preservar as
características dos materiais.
Tanto quanto possível, a amostra necessita ser uma representação, não apenas em relação à
composição, mas também quanto à distribuição do tamanho dos grãos. Quando a amostra é um líquido,
o processo de amostragem torna-se mais simples, pois se já não for homogênea, haverá a necessidade
de combinar as diversas partes a fim de obter uma amostra representativa do todo através da agitação
e homogeneização e, então, a coleta deverá ser feita de regiões da parte de baixo, do meio e do alto do
recipiente, de modo a garantir a representatividade. No caso de sólidos, caso não haja homogeneidade,
a amostra deve ser moída e, em seguida, misturada.
Quanto à quantidade, a coleta vai depender do tamanho do lote. Se o material estiver em lotes,
como, por exemplo, de latas ou caixas, a amostragem deve conter entre 10% e 20 % em relação ao total
de embalagens ou de 5% a 10% da massa total do material. Caso o lote seja muito grande, o que torna
inviável a coleta ou análise nas proporções descritas, então se faz o seguinte cálculo da quantidade a
ser analisada: raiz quadrada do número de unidades do lote. O resultado desse cálculo será a quantidade
de amostras a serem coletadas.
Já para uma única embalagem ou lotes pequenos, todo o material poderá ser utilizado como uma
amostra bruta.
Em todo o processo prático de análise, este é o ponto mais crítico, pois é aqui que, em geral, se gasta
a maior parte do tempo, em que os erros aparecem mais frequentemente e cujo custo pode ser elevado.
É nessa etapa que a amostra sofre a transformação necessária para que se torne apta ou adequada
às etapas subsequentes na determinação de seus constituintes, objetivando a sua conversão em uma
23
Unidade I
mistura homogênea. Nesse ponto, ocorrem os processos de filtração e secagem, moagem e separação
de constituintes de sólidos, entre outros.
No caso de alimentos secos, de acordo com a necessidade de cada método escolhido, opera-se a
redução de seu tamanho através de um processo manual chamado de quarteamento ou pela utilização
de um equipamento amostrador (Boerner ou Riffle).
Alimentos úmidos, por exemplo, queijos e chocolates, devem primeiro ser ralados; para frutas,
vegetais e peixes, picá-los e moê-los, para posterior processo de quarteamento ou uso de um
amostrador; devem ser guardados em refrigeração. Alimentos em emulsão, como o requeijão, manteiga
e margarina, devem ser aquecidos em recipientes fechados antes da mistura para amostragem.
Os líquidos devem ser muito bem misturados, para, na sequência, retirarem-se amostras de partes do
fundo, do meio e do topo do recipiente. Essas partes serão misturadas em outro recipiente e constituirão
a amostra final.
A dissolução de uma amostra significa a sua transformação em uma mistura, isto é, quando a
amostra, em qualquer estado da matéria (gás, líquido ou sólido), é dissolvida em determinados líquidos,
a temperaturas baixas, ocorrendo ou não uma reação química. Já a abertura da amostra significa
transformá-la em outra, no estado sólido, por meio de reações químicas.
1.4.2.1 Tratamento
Devido a diversos fatores, muitas vezes, as análises não podem ser realizadas logo após seu preparo
ou coleta, necessitando serem preservadas em seu estado original até o exame final. Assim, existem
alguns modos de conservação, os quais se destacam o controle de oxidação, como o próprio nome diz,
serve para reduzir as ações oxidativas do material a temperaturas baixas através do uso de nitrogênio
líquido; neutralização da atividade enzimática para materiais vivos; controle microbiano, usando a
combinação de congelamento, conservantes e remoção de umidade; por fim, o controle das alterações
dos lipídios devido à própria ação de tratamento da amostra, resfriando-a rapidamente. Estando a
utilização de cada um na dependência do tipo de material e da técnica escolhida.
24
ANÁLISE DE ALIMENTOS
A maior parte das modificações, após a coleta, que se manifestam nos materiais em estudo, é
devido à umidade. Alimentos que possuem alto teor de umidade estão mais sujeitos a essas alterações.
Contudo, o oposto também é possível, quando há a absorção de umidade. Outros fatores também
ocorrem: contaminação devido ao desgaste mecânico dos moedores; oxidação relacionada ao processo
de homogeneização; ataque de microrganismos; perda de elementos voláteis; decomposição química,
entre outros.
2 ÁGUA EM ALIMENTOS
Imagine a situação na qual possuímos a amostra de um alimento, e nosso objetivo seja determinar
a quantidade total de água ou a umidade presente nesse material.
Nosso primeiro passo é medir a massa inicial dessa amostra, depois de submetê-la por um
determinado tempo a um processo de secagem em que constatamos que já não há mais a presença de
umidade no alimento, medimos, então, sua massa final, e assim, com esses dados, tanto da massa final
quanto da inicial, podemos determinar a quantidade total de água que estava presente no alimento, em
porcentagem, antes do processo de secagem:
% de umidade =
(mi − mf ) ×100
mi
onde, mi é a massa inicial e mf é a massa final da amostra, depois de submetida ao processo de secagem.
Essa medida é o teor de umidade, cuja importância está diretamente ligada à qualidade e estabilidade
do alimento. Além disso, assim como nos casos de combustíveis veiculares, a água também é utilizada
como um adulterante, pois os custos dos alimentos estão relacionados à sua quantidade, ou seja, à
sua massa. Dessa forma, quanto maior o teor de umidade, maior é a probabilidade de o produto ser
fraudado. Um exemplo é o que ocorre com a adição de água no leite.
Todavia o teor de umidade fornece apenas um dado geral, e não indica, por exemplo, como é feita a
distribuição dessa água ou como ela está ligada ao alimento. Por que é importante saber isso? O senso
comum diz que quanto maior a quantidade de água, maior a chance de que ocorra a proliferação de
algum microrganismo, correto? Depende.
É de suspeitar que a água presente nos alimentos não esteja ligada de modo uniforme. Você sabe
como as moléculas de água do próprio alimento estão ligadas a ele?
Porque se uma parte dessa água estiver fortemente ligada a outras substâncias do alimento, os
microrganismos não conseguirão utilizá-las para o seu desenvolvimento. Assim, surge o conceito de
água livre, que representa aquela fração de água fracamente ligada ao alimento e presente entre
os poros intragranulares do material com a característica de solvente e que participa de reações
químico-enzimáticas e permite o desenvolvimento de microrganismos e o conceito de água ligada
ou combinada, que possui uma ligação mais forte com as substâncias presentes no alimento e, por
25
Unidade I
conseguinte, não atua como solvente, retardando as reações enzimáticas e químicas, não permitindo o
crescimento de microrganismos.
Exemplo de aplicação
Água total
Moléculas de
Moléculas de água ligada
água livre
Existe ainda uma parte da água total que não é nem água ligada e nem água livre, a chamamos
de água absorvida. Ela constitui uma camada bem fina de água que se liga tanto à superfície externa
quanto interna de amidos, proteínas e outros tipos de coloides macromoleculares.
Enquanto o teor de umidade significa a água total presente no alimento, ou seja, é a água livre mais
a ligada e a absorvida, a atividade de água (Aa) representa apenas a água livre, aquela que atuará
como solvente, interagirá com os microrganismos e participará das atividades enzimáticas. Dessa forma,
podemos estabelecer uma relação entre o valor de Aa e a conservação dos alimentos. Quanto maior o
valor de Aa em determinado alimento, maior é a capacidade de microrganismos se desenvolverem nele.
Conceitualmente, Aa é definida pela relação entre a pressão do vapor de água presente no alimento
(P) e a pressão do vapor de água pura (Po) à mesma temperatura, expressada por:
P
Aa =
Po
26
ANÁLISE DE ALIMENTOS
Mantendo-se a temperatura constante, percebe-se que a Aa, percentualmente, é sempre cem vezes
maior que e a umidade relativa de equilíbrio do ar (URE) em um ambiente fechado. Assim, temos que:
URE
Aa =
100
Existem diversos métodos para determinar a atividade de água. Um deles é submeter o alimento a
ambientes com umidade relativa do ar controlada a temperaturas constantes (isotermas), com a medição
frequente de sua massa (seca e úmida), até que não se perceba mais variações, ou seja, se alcance o
equilíbrio. Tem-se, desse modo, a isoterma de adsorção, que é a representação da pressão parcial da
umidade presente no alimento.
massa de água
Adsorção de água =
massa de material seco
0,5
Massa de água (g)/Massa de matéria seca (g)
0,4
I II III
0,3
0,2
0,1
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Atividade de água (Aa)
A parcela de água livre dentro dos alimentos afeta a sua atividade microbiológica, física, química
e enzimática, de modo que a pressão relativa (Aa) que o vapor de água desempenha nos alimentos
27
Unidade I
Outros métodos para determinar a atividade de água através de equipamentos eletrônicos utilizam
sempre padrões de referência para a pressão de vapor de água. Com base nesses padrões, o alimento é
submetido a sensores que determinam sua resistência ou à corrente que o atravessa. Qualquer variação
desses indicadores relaciona-se diretamente com a variação da pressão ou umidade de água presentes
no próprio alimento.
De modo geral, quanto menor o valor da Aa, maior a probabilidade de conservação dos alimentos.
Para a atividade de água, o valor máximo possível é 1, que é o caso da água pura. Para alimentos, valores
próximos a 1 ou acima de 0,9 são considerados altos e, assim, possuem maior probabilidade de
desenvolverem microrganismos com maior velocidade, caso haja alguma contaminação, pois as soluções
diluídas dos alimentos atuam como substrato para o seu crescimento, ao mesmo tempo em que valores
abaixo de 0,6, tem-se um decréscimo significativo no desenvolvimento de microrganismos.
Na figura a seguir, pode-se verificar que para valores abaixo de 0,8 e acima de 0,4, há um favorecimento
das reações enzimáticas e químicas, pois, nessa faixa, ocorre uma elevação da concentração dos
reagentes. Já para valores abaixo de 0,3, a concentração de água livre é tão baixa que não há dissolução
dos constituintes do alimento, o que diminui a velocidade das reações, excetuando as reações de
oxidação lipídicas, cujo acontecimento se verifica tanto a baixos quanto a altos valores de Aa.
A seguir, veja o quadro com valores de atividade de água em relação a alguns tipos de microrganismos.
28
ANÁLISE DE ALIMENTOS
Oxidação Escurecimento
1,0 1,0
Taxa relativa de
Taxa relativa de
deterioração
deterioração
0,5 0,5
0 0
0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Atividade de água (Aa) Atividade de água (Aa)
Taxa relativa de
deterioração
deterioração
0,5 0,5
0 0
0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Atividade de água (Aa) Atividade de água (Aa)
Crescimento bacteriano
Produção de toxinas
1,0
Taxa relativa de
deterioração
0,5
0
0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Atividade de água (Aa)
Visto que Aa é a água que atuará como solvente disponível às reações químicas e enzimáticas,
quanto maior o seu índice, dependendo da composição do material, haverá maior número dessas reações
e também da oxidação. Desse modo, a deterioração dos alimentos é consequência direta de
reações enzimáticas e químicas causadas por microrganismos ou pela desintegração do próprio
substrato devido a enzimas presentes nele. O desenvolvimento de microrganismos ocorre devido ao
29
Unidade I
Para a rancidez, alguns microrganismos, como Clostridium, leveduras e bolores, entre outros, são
produtores de enzimas lipolíticas que interagem e reagem com as gorduras presentes nos alimentos,
o produto dessa reação são os ácidos, aldeídos e cetonas responsáveis pelo odor e sabor próprio
da rancidez.
A água é retirada do alimento através de aquecimento, em que o calor se propaga por condução.
Devido ao fato de que, em geral, a condutividade térmica dos alimentos é baixa, este processo pode
levar até 18 horas a uma temperatura de 100 °C para ser finalizado, contribuindo com a evaporação de
outros componentes voláteis ou com reações de decomposição, gerando uma superestimação do valor
de umidade obtido.
Apesar de ser um processo muito simples de ser realizado, a secagem utilizando estufas possui
a complicação de não conseguir remover a água completamente devido à formação de crostas na
superfície que impedem sua evaporação para o exterior, ou porque as ligações de hidratação da água
são mais fortes em alguns casos, dificultando a difusão dentro do alimento.
Entre os diversos agentes que influem na precisão do método de secagem por estufa, destacam-se
a temperatura, que, para uma estufa simples que não utiliza vácuo, pode ser um pouco acima do valor
de ebulição da água e, dependendo do substrato, vai até aproximadamente 155 °C; já para estufas que
utilizam vácuo, esse valor pode ser mais baixo, cerca de 70 °C, resguardando a amostra de decomposição
e evitando a formação de crostas na superfície.
Quanto menor o tamanho das partículas dos alimentos, maior é a área de contato entre sua
superfície e a atmosfera, portanto o processo de secagem ocorre mais rápido.
Os cadinhos de alumínio transferem melhor o calor para os alimentos do que os cadinhos feitos de
porcelana ou vidro devido à maior condutividade térmica dos metais, fazendo com que a evaporação
ocorra mais rapidamente. Quanto ao seu formato, os mais rasos permitem maior difusão e área de
contato com a atmosfera, elevando também a velocidade de evaporação da água.
30
ANÁLISE DE ALIMENTOS
As estufas, como já mencionado, as que trabalham com vácuo e, adicionalmente, as com ventilação
forçada, são melhores do que as estufas simples, pois propiciam maior velocidade de evaporação.
A medição da massa da amostra deve ser feita sempre a frio, quando já há um relativo equilíbrio
na variação da massa, pois, a quente, essa variação ainda é elevada.
Quanto ao tempo, este pode variar de 6 a 7 horas, dependendo da quantidade de água presente
no material, esse processo termina quando o valor de medição da massa se torna constante, ou seja, já
não varia mais.
Mesmo sendo o método mais utilizado, ele possui diversas limitações, dependendo do tipo
de alimento, tais como material com alto ter de açúcar ou gordura, que deve ser necessariamente
aquecido, no máximo, a 70 °C em estufas a vácuo devido ao fato de que algumas espécies dessas
substâncias se desagregarem nessa faixa de temperatura liberando água, a valores mais altos, as
reações de caramelização são aceleradas. Esse método não é útil para alimentos condimentados, pois
eles apresentam muitas substâncias voláteis, nesse processo, serão confundidos com a massa de água
vaporizada, levando a um erro de medição.
Por fim, um fator que pode ser determinante para a precisão que se deseja na análise é a imprecisão
do valor da temperatura dentro da estufa, que devido ao gradiente de propagação do calor, pode variar
em 3 °C entre o valor do ponto medido pelo termopar e a temperatura do ponto em que esteja a amostra.
A fonte fornecedora de radiação eletromagnética é uma lâmpada que opera na faixa do infravermelho
com potência que varia entre 250 W e 500 W, fornecendo uma temperatura de aproximadamente 700 °C
no filamento. Assim, a calibração da temperatura absorvida pela amostra depende de sua espessura
e de sua distância até o filamento da lâmpada, que, para ambos os casos, quanto menor, maior a
penetração da radiação. Por exemplo, para uma distância de 10 cm e uma espessura de aproximadamente
12 mm, com uma lâmpada operando na faixa de potência descrita anteriormente, o tempo necessário
para retirar a água de uma amostra de alimentos de grãos fica em torno de 10 minutos, enquanto de
31
Unidade I
carnes, 20 minutos. Esse tipo de equipamento possui a vantagem de possuir uma balança interna para
a medição automática da massa. Além disso, é necessária uma boa instalação elétrica, com o uso de
estabilizadores, de modo a fornecer uma corrente elétrica para a lâmpada com o mínimo de variação
possível para garantir uma potência contínua e a repetibilidade da análise.
Todavia, como o processo se dá com uma amostra por vez, e dependendo da quantidade de material
total, pode tornar a análise lenta e, por conseguinte, custosa na rotina do laboratório.
Assim como no método anterior, neste, se usa também a radiação eletromagnética, porém com uma
diferença: o comprimento de onda. Nesse processo, a faixa de micro-ondas varia de 1 mm até 1 m de
comprimento de onda, e a frequência de 300 GHz até 0,3 GHz. Justamente por causa dessa frequência,
esse processo se torna o mais rápido entre os descritos.
É um processo muito simples, porém lento, em que basicamente se utiliza um dessecador juntamente
com substâncias absorvedoras de umidade em vácuo a uma temperatura de aproximadamente 50 °C.
Sua vantagem é o baixo custo e a simplicidade de operação, e a desvantagem é o tempo lento
de secagem.
32
ANÁLISE DE ALIMENTOS
2.2.5 Destilação
Na destilação, inicialmente, mistura-se o material com um solvente que possua um ponto de ebulição
maior do que o da água, utilizando um destilador, aquece-se a mistura. No recipiente coletor, veem-se
os dois níveis dos líquidos, o da água em baixo e o do solvente na parte superior. Separa-se, então, a
água do solvente, e faz-se a medida de sua massa.
Assim como no caso da secagem por dessecadores, este é um método muito lento. Sua precisão
é comprometida por fatores como a evaporação incompleta da água; pela solubilidade da água no
solvente utilizado; conglutinação da água na parede do vidro, dificultando o escoamento; entre outros.
É um método químico que utiliza uma substância dissecante, o regente de Karl Fischer, daí o seu
nome. Sua composição é basicamente feita por iodo e solventes, que podem ser piridina e metanol,
por exemplo. Ao colocar em contato esse reagente com o alimento, por causa da presença de água da
própria amostra, inicia-se a reação de redução do I2 para o I até que não haja mais água no material.
A medição por eletrométrica é mais precisa que a visual e utiliza eletrodos de platina, bateria e
dispositivos eletrônicos, como resistores e galvanômetro, e se baseia na polarização e despolarização
do cátodo e do ânodo durante a reação de redução do iodo. Quando há o consumo de toda a água e o
aumento da concentração de iodo, há passagem de corrente no circuito eletrônico, que é detectado pelo
galvanômetro, indicando o fim da reação. Para os dois casos, a quantidade total da água na amostra é
calculada através de titulação.
Em geral, esse é um método alternativo ao de secagem a vácuo, e utilizado em alimentos com baixa
quantidade de água, ricos em açúcares e proteínas.
2.2.7 Físicos
Há diversos métodos físicos para a determinação do teor de água nos alimentos, em geral, o custo é
diretamente proporcional a sua precisão.
Entre os mais precisos e caros, destacam-se o de ressonância nuclear magnética (RNM), que
além de ser uma medida muito precisa, não destrói a amostra, é muito rápida, de aproximadamente
1 minuto, e pode ser usado também para medir o teor de gordura, simultaneamente; o de absorção
de radiação infravermelha, que, como o próprio nome diz, utiliza o processo físico em que a água
absorve radiação infravermelha a qual é proporcional à quantidade de água presente na amostra; o
33
Unidade I
de cromatografia gasosa, que é um processo complexo, além do teor de umidade de alimentos, pode
ser utilizado para determinar a composição química de diversas amostras.
Entre os métodos mais baratos e, portanto, mais simples e menos precisos, salientamos a medida
de densidade, que varia de acordo com a quantidade de água presente no material; a medida da
corrente, que atravessa um alimento e é proporcional à quantidade de água; a medida da constante
dielétrica, em que seu valor e sua variação indicam o teor de água presente na amostra.
3 CARBOIDRATOS
3.1 Classificação
Podem ser classificados ou divididos em três tipos, de acordo com a complexidade de sua estrutura
e quanto às suas características em comum: monossacarídeos, dissacarídeos e polissacarídeos.
34
ANÁLISE DE ALIMENTOS
3.1.1 Monossacarídeos
São carboidratos de formato mais simples não polimerizados, sendo mais facilmente absorvidos pelo
organismo humano. Usualmente, em sua composição básica, a sua estrutura apresenta entre três e sete
carbonos, sendo classificados nas formas a seguir:
• Trioses: três carbonos nas ligações da cadeia principal. Exemplo: molécula de aldotriose.
• Tetroses: quatro carbonos nas ligações da cadeia principal. Exemplo: molécula de eritrose.
• Pentoses: cinco carbonos nas ligações da cadeia principal. Exemplo: molécula de tibose.
• Hexoses: seis carbonos nas ligações da cadeia principal. Exemplo: molécula de galactose.
• Heptoses: sete carbonos nas ligações da cadeia principal. Exemplo: molécula de sedoheptulose.
3.1.2 Oligossacarídeos
3.1.3 Polissacarídeos
São carboidratos formados por longas cadeias de monossacarídeos por ligações glicosídicas,
insolúveis em água. Por exemplo, o amido é formado por muitas moléculas de glicose através
de ligações glicosídicas em estrutura amilose; o glicogênio, assim como o amido, é formado por
ligações glicosídicas, porém com moléculas maiores e mais ramificadas em estruturas chamadas de
amilopectina; as dextrinas surgem na hidrólise do amido através do processo de digestão; a celulose
constitui a estrutura celular de vegetais, formadas por moléculas de glicose sem ramificações, não são
digeridas pelo organismo humano.
35
Unidade I
CH2OH
CH2OH
H O
O
H
CH2OH O
H O OH H
H H
H O OH H
O H H OH
H
O OH H
H H OH
H OH H
Um carboidrato é redutor quando seus grupos aldeídos ou cetonas não participam das ligações
glicosídicas e, desse modo, estando livres, doam elétrons a outra molécula sofrendo a oxidação. Todos os
monossacarídeos, alguns dissacarídeos e oligossacarídeo são redutores, por exemplo, maltose, galactose,
lactose, glicose e frutose. Não será redutor o carboidrato que tiver os dois carbonos anoméricos em sua
ligação glicosídica.
Grupo funcional dos Grupo funcional das
aldeídos cetonas
O O
C C H C C C
Como veremos adiante, o uso de uma solução de sulfato de cobre (reagente de Benedict) é utilizado
para a detecção de lactose no leite, pois o aldeído da lactose na presença de cobre sofre oxidação
tornando-se um aldeído carboxílico, enquanto que o cobre é reduzido. Veja a figura:
Aldeído
O H
C
Aldeído Ácido
H C OH carboxílico
C O
HO C H R C + Cu ++ → Cu + + R C
H OH
H C OH
H C OH
CH2OH
36
ANÁLISE DE ALIMENTOS
Um exemplo de açúcar não redutor é a sacarose (α-glicose + β-frutose) que possui os dois carbonos
anoméricos em sua ligação glocosídica. Ela só se torna redutora se passar pelo processo de hidrólise
ácida ou ação de alguma enzima, quebrando em monossacarídeos.
CH2OH
CH2OH
H O H O H
H
OH H H OH
OH O CH2OH
H OH OH H
Carbonos
anoméricos
Outro exemplo de atuação de carboidratos como agentes redutores é uma reação mais complexa,
chamada de reação de Maillard, que ocorre a altas temperaturas devido à união de açúcares redutores,
seu grupo aldeído, com o grupo amínico dos aminoácidos.
Aldeído HO CH3
O
OH O N
OH
HO
CH3 + OH + H
O
O OH
HO
H
NH2 HO
OH
Amina
HO
HO
HO
3.2.1 Dulçor
É uma característica intrínseca, sensorial e relativa ligada ao paladar e que varia de acordo com o
tipo de açúcar. Em geral, para que essa característica possa ser percebida pelo paladar, os alimentos
37
Unidade I
precisam de uma concentração mínima, como no caso da sacarose, que é de 0,3%; para a frutose é
0,2%; e a glicose tem 0,07%.
Segundo Shallenberger e Birch (1975), o caráter doce acontece por causa do efeito das ligações
atômicas de hidrogênio no receptor de sabor nos grupos α-glicol, entre a parte de sabor doce e o
receptor de sabor na molécula.
Saiba mais
A análise sensorial é feita por degustadores especialistas que produzem uma escala de intensidade
para cada tipo de açúcar, comparativamente à sacarose. Apesar de subjetiva, essas tabelas fornecem
uma base de dados confiáveis para a indústria alimentícia. A confiabilidade dos valores das tabelas, além
do treinamento do profissional de degustação, depende de outros fatores, pois existem diversas causas
que afetam a doçura de um alimento.
Como, em geral, os alimentos são compostos por mais de um tipo de açúcar, deve-se considerar que
o grau de doçura é uma mistura de mais de um tipo deles. A seguir, as causas que estabelecem o sabor
doce dos alimentos:
• Concentração: quanto maior, mais intensa é a sensação para o paladar. Por exemplo, uma
concentração de 10% de sacarose consegue o mesmo efeito que cerca de 20% de lactose.
38
ANÁLISE DE ALIMENTOS
• Quanto à forma cristalina: é mais doce na forma cristalina do que em solução. Por exemplo, é
mais difícil a percepção do doce em alimentos viscosos. Há uma variação quanto ao sabor devido
à sua textura.
Açúcar Doçura
Lactose 0,16
Galactose 0,32
Maltose 0,33
D - Glicose 0,74
Sacarose 1,00
Açúcar invertido 1,25
D - Frutose 1,74
Ciclamato de sódio 30
Aspartame 180
Sacarina 300
Sucralose 650
Alitame 2.000
Taumatina e monelina 3.000
Adaptado de: Cardoso, Battochio e Cardello (2004); Brito, Câmara e Bolini (2007).
3.2.2 Textura
A amilopectina possui estrutura ramificada de cadeias lineares de glicoses unidas por ligações
glicosídicas. O inchaço nos grânulos de amido que se verifica durante seu cozimento ocorre devido à
amilopectina, que consegue absorver grande quantidade de água.
39
Unidade I
CH2OH
O
OH
O O
CH2OH CH2OH
OH
O O O
OH OH OH
O O O O
OH OH OH
40
ANÁLISE DE ALIMENTOS
• Forma: um fator importante na determinação da textura dos alimentos, dado que a forma
cristalina hidratada é menos solúvel que a forma cristalina anidra.
• Tamanho: tem-se mais ou menos uma textura cremosa, de acordo o tamanho dos cristais.
Pequenos cristais do tamanho de mícrons podem frear novas cristalizações e manter assim sua
textura ou funcionar como núcleos para novas cristalizações, como no caso do leite condensado.
• Quantidade: de acordo com o número de cristais (sólidos), o alimento se torna mais ou menos
viscoso. A lactose, por exemplo, contribui para aumentar o total de sólidos em sorvetes e, assim,
tornar maior sua viscosidade.
3.3.1 Pré-tratamento
Durante a análise do teor de carboidratos nos alimentos, existem substâncias que podem interferir
nesse processo. A necessidade primeva da remoção desses constituintes visa um resultado confiável e
sua validação.
Temos técnicas de separação por descoloração, resina de permuta iônica e precipitação por agentes
clarificantes. Para amostras opacas ou pouco claras, dependendo do caso, realiza-se a clarificação
utilizando agentes que farão a precipitação dessas substâncias interferentes na medição de açúcares.
Entre os tipos de agentes clarificantes, temos a solução de acetato de chumbo usada para descolorir
soluções; ácido fosfotungístico e ácido tricloroacético que não descolorem, porém precipitam proteínas;
sulfato de zinco e ferrocianeto de potássio, que precipitam proteínas e ao mesmo tempo fazem a
descoloração parcial da amostra; e o uso de sulfato de cobre, especificamente para a determinação de
lactose no leite.
Para que uma substância seja classificada com um agente clarificante, deve possuir a propriedade de
conseguir retirar os componentes que interferem na medição de açúcares da amostra, sem, contudo, se
tornar também um interferente e nem alterar o resultado da análise, o mesmo valendo para o precipitado.
41
Unidade I
redutoras de açúcares que reduzem em soluções alcalinas de sais de cobre, prata, bismuto e mercúrio.
A limitação desses processos é a imprecisão inerente a todo tipo de análise qualitativa.
Temos a reação de Fehling, que é uma solução de sulfato de cobre e tartarato de sódio e potássio com
formação de um precipitado de cor marrom; reação de Barfoed, uma reação em que é possível discernir,
pela sua velocidade, monossacarídeos de dissacarídeos redutores; reação de Seliwanoff, fundamentada
na interação entre ácidos com pentoses, hexoses e compostos aromáticos (resorcinol e anilina), gerando
compostos coloridos.
Ao contrário de outros componentes presentes nos alimentos, no caso de carboidratos, não existe
um método único com a capacidade de quantificar todos os carboidratos concomitantemente. Por
causa disso, com frequência, faz-se uso de mais de uma técnica para esse tipo de análise através de
métodos químicos e físicos, desde princípios que envolvem o índice de refração até o estudo da banda
de absorção do material, utilizando radiação ultravioleta.
• Refratometria: um método físico baseado no princípio da refração da luz que atravessa a amostra.
É rápido, simples e utiliza um equipamento chamado refratômetro. Porém determina apenas a
quantidade total de açúcar presente, não distinguindo entre os tipos diferentes do material.
• Análise titulométrica: um método químico cujo açúcar redutor é o agente titulante. É um método
com baixo custo, porém, em relação aos demais métodos, é o menos preciso; entre a técnica
principal, destaca-se a de Lane-Eynon. Apesar de sua preparação ser demorada, a titulação deve
ser feita rapidamente devido ao aquecimento, de modo a impedir a decomposição de açúcares.
42
ANÁLISE DE ALIMENTOS
• Polarimetria: um método físico e preciso que faz a análise do ângulo de rotação da luz polarizada
ao atravessar o material de estudo e, assim, há necessidade de a amostra ser opticamente ativa.
É muito utilizada para a análise de amido.
• Biossensor eletroquímico: sua vantagem está em ser rápido, preciso, de baixo custo de operação
e sem a necessidade de pré-tratamento para a análise. Seu princípio consiste, basicamente, na
análise da corrente elétrica gerada na redução de água oxigenada pela oxidação da glicose.
Os vários métodos existentes fundamentam-se em conceitos químicos e físicos diversos, e para cada
amostra e cada caso, deve haver uma técnica mais adequada. A escolha do método deve levar em conta
muitos fatores, como aplicabilidade, necessidade, viabilidade, tempo de análise, toxicidade e também os
custos envolvidos.
De modo geral, a titulometria é o método mais adequado para uma análise qualitativa, porém pouco
usual para a quantitativa, devido a sua imprecisão. As técnicas de cromatografia são as melhores no
estudo quantitativo de teor de açúcares, sejam redutores ou não redutores, com a limitação apenas
relacionada aos custos operacionais envolvidos.
4 LIPÍDIOS
Com relação à composição dos lipídios, eles podem ser classificados em três grupos (FRAIZER, 2015):
• Lipídios simples: aqueles que quando hidrolisados liberam duas classes de produtos (por
exemplo, os triglicerídeos quando hidrolisados liberam a molécula de glicerol e seus respectivos
ácidos graxos).
• Lipídios compostos: aqueles que quando hidrolisados liberam três ou mais classes de produtos
(por exemplo: a lecitina – fosfatidilcolina – quando hidrolisada, pode liberar a molécula de glicerol,
grupo fosfato e moléculas de ácidos graxos).
Nos alimentos, são normalmente denominados como gorduras (sólidos) e óleos (líquidos) quando em
temperatura ambiente (25 °C), sendo essa diferença de ponto de fusão determinada pela diversidade de
estruturas químicas que podem ser encontradas com prevalência dos ésteres de ácidos graxos de cadeia
43
Unidade I
carbônica longa, porém, não menos importantes, temos os fosfolipídios, o colesterol, os tocoferois etc.
(FRAIZER, 2015).
Os ácidos graxos (figura a seguir), como a própria expressão sugere, são compostos constituídos por
uma cadeia carbônica alifática (cadeia aberta não ramificada) derivada de hidrocarbonetos, na qual uma
das extremidades apresenta o grupo carboxil ou ácido carboxílico e, na outra extremidade, o grupo metil
(RUSTAN; DREVON, 2005).
A) B)
44
ANÁLISE DE ALIMENTOS
Na natureza, incluindo os alimentos, os ácidos graxos apresentam normalmente uma cadeia alifática
composta por número par de carbonos que podem estar ligados entre si apenas por ligações simples,
sendo denominado de ácido graxo saturado; ou apresentar uma ou mais duplas ligações, o que o define
como ácido graxo de cadeia carbônica insaturada (NELSON; COX, 2014) (figura anterior).
Os ácidos graxos insaturados que apresentam apenas uma dupla ligação são chamados de
monoinsaturados. Aqueles que apresentam duas ou mais duplas ligações entre os carbonos da cadeia
alifática são chamados de poli-insaturados. Em sistemas biológicos, os ácidos graxos insaturados, de
modo geral, apresentam as duplas ligações em configuração cis, ou seja, os hidrogênios ligados a esses
carbonos estão geometricamente do mesmo lado do plano. No entanto podemos ter também ácidos
graxos insaturados cujas duplas ligações adotam a configuração trans (hidrogênios em lados apostos
do plano). Essa configuração pode ser encontrada naturalmente em carnes e leite de ruminantes ou ser
produzida industrialmente durante o processo de hidrogenação de óleos vegetais (NELSON; COX, 2014;
FRAIZER, 2015).
Na quadro a seguir, estão discriminados os ácidos graxos mais comuns encontrados na natureza.
As características físicas de um lipídio são em grande parte determinadas pelo grau de insaturação e
comprimento da cadeia carbônica, como podemos observar no quadro anterior. Entre essas características,
45
Unidade I
temos o ponto de fusão, que é fator determinante para um lipídio ser classificado como óleo ou gordura,
e a solubilidade em água.
Sabe-se que quanto mais longa for a cadeia do ácido graxo e quanto menos ligações duplas ela
tiver, mais baixa é a solubilidade em água, já quanto ao ponto de fusão, cadeias carbônicas menores
apresentam menores ponto de fusão, enquanto os ácidos graxos da cadeia mais longa têm pontos de
fusão mais altos. Na relação ponto de fusão e cadeia carbônica saturada ou insaturada, os ácidos graxos
insaturados possuem um ponto de fusão mais baixo em comparação aos ácidos graxos saturados de
comprimento de cadeia semelhante (MCCLEMENTS; DECKER, 2010; KOSTIK; MEMETI; BAUER, 2013).
A composição dos óleos e gorduras presentes nos alimentos é majoritariamente constituída por
triglicerídeos, também conhecidos como triacilgliceróis.
Os triglicerídeos são moléculas formadas através da reação de esterificação que ocorre entre o grupo
hidroxila (-OH) de um álcool (glicerol) e o grupo ácido carboxílico (-COOH) de três ácidos graxos, ou seja,
são ésteres de três ácidos graxos unidos à molécula de glicerol (BELITZ; GROSCH; SCHIEBERLE, 2009).
Além dos triglicerídeos, também podem ser encontrados monoacilgliceróis (um ácido graxo ligado ao
46
ANÁLISE DE ALIMENTOS
glicerol) ou diacilgliceróis (dois ácidos graxos ligados ao glicerol). Esse último, apesar de pouco comum
nos alimentos, vem sendo produzido industrialmente por se tratar de um excelente emulsificante
(MCCLEMENTS; DECKER, 2010).
Exemplo de aplicação
O conhecimento sobre lipídios é extremamente importante, visto que são elementos essenciais para
a homeostase do nosso organismo, mas que também podem estar associados a inúmeros quadros de
doenças graves, como a aterosclerose e o acidente vascular cerebral. Vale a pena conhecer mais sobre
esse assunto.
A composição dos ácidos graxos ligados à molécula de glicerol pode variar bastante, isto é, os ácidos
graxos podem ser iguais ou diferentes, podem ser saturados ou insaturados, de cadeia carbônica média
(8 a 12 carbonos) ou longa (>12 carbonos) e raramente cadeia curta (<8 carbonos); essa condição é o
que possibilita a ampla variedade de triglicerídeos presentes na natureza, assim como nos alimentos
(FRAIZER, 2015).
Diferentemente de outras moléculas lipídicas como os fosfolipídios, ácidos graxos, colesterol etc.,
os triglicerídeos não ocorrem como componentes estruturais de membrana celular, eles são estocados
nas células para serem usados como principal forma de armazenamento de energia para animais,
sementes e determinadas frutas (por exemplo, abacate). Os TGs são moléculas altamente energéticas,
ou seja, a oxidação completa é capaz de gerar cerca de 9 kcal/g, que é mais que o dobro da energia
gerada pela oxidação de um grama de carboidrato ou proteínas (~4 kcal/g) (CAMPBELL; FARREL, 2015).
Nos alimentos, os TGs, além de fonte dietética de energia, estão associados ao transporte e absorção
das vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) e à sensação de saciedade, e contribuem para deixar os alimentos
mais palatáveis. Do ponto de vista tecnológico, são importantes moléculas anfifílicas que atuam
estabilizando a interface óleo:água, ou seja, atuam na estabilidade de alimentos emulsionados como
sorvetes, maionese, chocolate etc. (YADA; BRYKSA; NIP, 2012).
Fosfoacilgliceróis
47
Unidade I
quimicamente apresenta uma cauda hidrofóbica e uma extremidade hidrofílica (“cabeça” hidrofílica),
o que permite a estabilização da interface óleo:água (YADA; BRYKSA; NIP, 2012; NELSON; COX, 2014).
Ceras
São denominadas de ésteres de ácidos graxos saturados e insaturados de cadeia carbônica longa
(14-36 átomos de carbono) com álcoois de cadeia carbônica longa (16-22 átomos de carbono), ou seja,
tratam-se de moléculas formadas pela ligação entre o grupo ácido carboxílico de um ácido graxo de
cadeia longa com a hidroxila de um álcool também de cadeia longa, sendo essa ligação denominada
de ligação éster (figura a seguir). Em tecidos animais e vegetais, atuam como agentes impermeabilizantes
superficiais. São encontradas em penas, pelos e pele como também no recobrimento de caules, folhas,
frutas e sementes. Como exemplos, temos a cera de abelhas, cera de carnaúba etc. (BELITZ; GROSCH;
SCHIEBERLE, 2009; NELSON; COX, 2014).
Grupo ácido Ligação
carboxílico éster
Grupo
O hidroxila O
-H2O
CH3(CH2)14 — C — OH + HO — CH2 — (CH2)28 — CH3 CH3(CH2)14 — C — O — CH2 — (CH2)28 — CH3
Ácido 1-triacontanol Triacontanol palmitato
palmítico
Esteroides
Moléculas constituídas por um esqueleto carbônico formado por três anéis de seis carbonos e um
anel de cinco carbonos, ou seja, quatro anéis hidrocarbonados fundidos denominados por anéis A,
B, C e D (Figura 36a), isto é, os esteroides não se apresentam sob a forma de ésteres como os lipídios
discutidos até aqui. Entre os esteroides importantes, temos o colesterol, os hormônios sexuais etc.
(NELSON; COX, 2014).
O índice de acidez é um parâmetro de qualidade utilizado para óleos e gorduras para quando se
quer determinar o grau de deterioração que pode ocorrer através de condições que possibilitem o
processo de rancidez hidrolítica, em que a ação de lipases e/ou o aquecimento inadequado dos óleos
e gorduras podem liberar ácidos graxos livres que além de aumentarem a acidez, também promovem a
liberação de aromas e sabores indesejáveis e reduzem a estabilidade oxidativa das matrizes alimentares
(CECCHI, 2003).
48
ANÁLISE DE ALIMENTOS
O índice de acidez é determinado pela técnica de acidez titulável do tipo ácido/base e é definido como
o número de miligramas de hidróxido de potássio necessário para neutralizar um grama da amostra.
Esse método pode ser aplicado para óleos vegetais brutos e refinados e gorduras animais conforme
descrito em métodos físico-químicos para análise de alimentos do Instituto Adolfo Lutz (INSTITUTO
ADOLFO LUTZ, 2008).
O índice de peróxido é outro importante parâmetro de qualidade que ajuda a verificar o estado
de conservação de óleos e gorduras. É uma das técnicas mais utilizadas para determinar o grau de
oxidação que ocorre principalmente durante a auto-oxidação. O processo de auto-oxidação pode ser
acelerado por condições inapropriadas de armazenamento, exposição ao oxigênio, exposição à luz e a
altas temperaturas e pelo contato com íons metálicos (CECCHI, 2003).
A degradação por auto-oxidação pode ocorrer praticamente em todos os alimentos que possuem
triglicerídeos constituídos por ácidos graxos insaturados que em estágios avançados de deterioração,
terá como efeito o comprometimento das características organolépticas dos alimentos (cor, aroma,
sabor e textura), bem como a perda de valor nutricional, pois os produtos gerados durante a
auto-oxidação também atuam degradando oxidativamente vitaminas lipossolúveis, ácidos graxos
essenciais (linoleico e linolênico), proteínas etc. (RAMALHO; JORGE, 2006).
O termo “hidrogenação” é o nome que se dá para a reações em que ocorre a adição de hidrogênios
nos pontos de insaturação de uma cadeia carbônica, ou seja, onde há duplas ligações entre carbonos.
Para que a reação de hidrogenação aconteça, são necessárias condições bastante específicas.
De modo geral, os óleos vegetais são expostos ao gás hidrogênio em condições de alta temperatura
(>150 °C e <180 °C) e alta pressão (2 a 10 atm.), tendo ainda o níquel como um catalisador da
reação. Como reação secundária ao processo de hidrogenação, temos a isomerização de gorduras
cis- para trans- principalmente dos ácidos graxos poli-insaturados (PUFAs). Essa é uma reação
altamente indesejável, uma vez que a presença de gorduras trans- reduz a qualidade nutricional dos
alimentos (FRAIZER, 2015), pois está associada a um maior risco de desenvolvimento de doenças
coronarianas (OTENG; KERSTEN, 2020). Em contrapartida, as gorduras trans- são mais estáveis às
reações de oxidação e possuem maiores pontos de fusão, pois adquirem um comportamento muito
semelhante ao das gorduras saturadas. Nos alimentos, a presença de gorduras trans- melhora a
textura, o sabor e aumenta a vida útil do produto (OTENG; KERSTEN, 2020).
4.3.2 Interesterificação
É sabido que o tipo e a distribuição dos ácidos graxos nas moléculas de triglicerídeos são fundamentais
para determinação das características físico-químicas de uma gordura (ponto de fusão, solubilidade,
viscosidade, estabilidade) (FRAIZER, 2015).
O processo de interesterificação pode ser realizado por duas vias principais: a via química e a via
enzimática, de modo aleatório ou específico, de acordo com as condições e a composição do meio
de reação (MCCLEMENTS; DECKER, 2010). Essa tecnologia já vem sendo muito empregada visando à
obtenção de gorduras mais moldáveis, como é o caso das margarinas interesterificadas.
A degradação dos lipídios ocasionadas por reações oxidativas se dá por uma sequência de reações
complexas que provocam alterações químicas gerando sabores e odores característicos reconhecidos
facilmente como rançosos. As alterações químicas são resultantes do contato entre os lipídios e
o oxigênio, em que os ácidos graxos que se encontram esterificados ao glicerol (triglicerídeos
e fosfolipídios) são degradados formando produtos voláteis responsáveis pelo aroma de ranço
(MCCLEMENTS; DECKER, 2010).
A principal causa de oxidação dos lipídios nos alimentos é o processo de auto-oxidação lipídica, que
ocorre na presença de oxigênio. Esse processo é desencadeado pela formação e ação de radicais livres na
50
ANÁLISE DE ALIMENTOS
cadeia carbônica dos ácidos graxos, principalmente, nos poli-insaturados. As reações de auto-oxidação
podem ser divididas em três etapas: iniciação, propagação e terminação (MCCLEMENTS; DECKER, 2010;
YADA; BRYKSA; NIP, 2012; FRAIZER, 2015).
Iniciação
Formação de radicais livres pela ação de pró-oxidantes como íons metálicos, luz e radicais peróxidos.
Esses pró-oxidantes, por serem altamente reativos, oxidam a cadeia carbônica do ácido graxo
pela retirada de um hidrogênio, gerando, dessa forma, moléculas com elétrons não pareados (radicais
livres) altamente reativas (radical ácido graxo conhecido como radical alquil – R•). Durante a formação
do radical ácido graxo, ainda podem ocorrer modificações químicas nas moléculas de ácidos graxos
poli-insaturados, nas quais os carbonos envolvidos na dupla ligação sofrem o processo de isomerização,
passando à configuração trans-. Todo esse processo é chamado de fase de iniciação (BELITZ; GROSCH;
SCHIEBERLE, 2009).
Os radicais livres são moléculas ou átomos que apresentam elétrons não pareados.
Propagação
Os radicais livres gerados na fase de iniciação vão reagir com o oxigênio atmosférico formando
radicais peróxido (ROO•). O radical peróxido, por sua vez, vai atuar sobre um novo ácido graxo
retirando novamente mais um hidrogênio, formando, dessa forma, um novo radical ácido graxo (R•)
e de um hidroperóxido de ácido graxo (ROOH). Portanto, a reação é propagada de um ácido graxo
para outro (BELITZ; GROSCH; SCHIEBERLE, 2009).
Terminação
Os radicais livres formados nas fases anteriores começam a reagir entre si pela combinação entre dois
radicais e formação de moléculas não radicais. Nessa fase, os aromas e sabores de ranço são marcantes
devido ao elevado grau de degradação lipídica (BELITZ; GROSCH; SCHIEBERLE, 2009).
Saiba mais
Você pode saber mais sobre radicais livres com a leitura do texto a seguir:
A degradação dos lipídios nos alimentos por reações hidrolíticas ocorre normalmente pela ação
enzimática de lipases ou durante a exposição dos lipídios a altas temperaturas, como é o caso das
frituras. De modo geral, na rancidez hidrolítica, nome dado a esse tipo de degradação de lipídios, os
ácidos graxos que se encontram esterificados ao glicerol na molécula de triglicerídeo serão hidrolisados,
ou seja, serão liberados sob a forma de ácidos graxos livres. Quando livres no alimento, os ácidos graxos
promovem o aparecimento de aromas indesejados de ranço (principalmente ácidos graxos de carbônica
curta voláteis), reduzem a estabilidade oxidativa, causam formação de espuma (óleos de fritura) e o
sabor de “sabão” nos alimentos atribuído aos ácidos graxos livres de cadeia longa etc. (MCCLEMENTS;
DECKER, 2010; YADA; BRYKSA; NIP, 2012).
As análises qualitativa e quantitativa dos lipídios em alimentos são necessárias para que se atenda
as normas quanto à rotulagem nutricional, verificar se o alimento atende a padrões de qualidade e
identidade e a especificações de fabricação e, principalmente, se atende aos requisitos mínimos que
garantam segurança alimentar aos consumidores.
Conforme já mencionado anteriormente, os lipídios são moléculas orgânicas que apresentam pouco
ou nenhuma solubilidade em água, mas são solúveis em solventes orgânicos apolares. Os métodos de
quantificação de lipídios dos alimentos estão baseados nesse princípio de solubilidade, ou seja, são
52
ANÁLISE DE ALIMENTOS
usados solventes orgânicos que por questões de compatibilidade química, são predominantemente
apolares, conseguem dissolver e extrair os lipídios a partir de uma matriz alimentar. O tipo de método
empregado sempre terá que se adequar às características físico-químicas do alimento que se deseja
analisar, bem como com o que se deseja analisar de forma que haja o mínimo de degradação da amostra,
ou que a degradação não afete o que se pretende analisar (ELLEFSON, 2017).
Os métodos de quantificação de lipídios por extração a quente envolvem três etapas principais.
A primeira delas é a extração propriamente dita, na qual a amostra será submetida à extração de
seus lipídios com o solvente a quente. A escolha do solvente empregado deverá levar em conta as
características dos componentes lipídios presentes na amostra, mas, de modo geral, os dois solventes
mais usados são o éter de petróleo e o éter etílico por terem uma capacidade de extração mais ampla
(CECCHI, 2003).
A segunda etapa da técnica é separar o solvente dos lipídios extraídos por evaporação, para isso, o
extrato lipídico obtido será submetido a uma fonte de calor a uma temperatura suficiente para que
o solvente entre em ebulição. Após a separação, a eliminação do solvente, a fração lipídica resultante,
será quantificada por pesagem (terceira etapa) (CECCHI, 2003).
O resíduo obtido não é constituído unicamente por lipídios, mas por todos os compostos que nas
condições da determinação, possam ser extraídos pelo solvente como ácidos graxos livres, lecitinas,
ceras, pigmentos, além dos esterois, fosfolipídios, vitaminas lipossolúveis, óleos essenciais etc., porém
em quantidades relativamente pequenas, que não chegam a representar uma diferença significativa
durante a quantificação (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2008).
Para execução dessa técnica, é necessário que o analista conheça previamente a composição dos
alimentos e a infraestrutura do laboratório para que a escolha do método seja adequada. Somado a
isso, para os métodos de extração de lipídios a quente, devem ser levados em conta alguns cuidados
(CECCHI, 2003):
• A extração dos lipídios será mais efetiva em alimentos secos, o que facilita uma penetração
homogênea do solvente na amostra, para tanto, podem ser usadas amostras que foram tratadas
durante a determinação de umidade.
53
Unidade I
• Nos alimentos em que os lipídios podem se encontrar ligados a outras moléculas, como
carboidratos e proteínas, não é recomendada a extração direta com solvente a quente, deve-se
realizar inicialmente uma hidrólise ácida ou básica para facilitar a extração com o solvente.
Entre os métodos de extração a quente mais utilizados, está o que emprega o equipamento
de soxhlet. Trata-se de um método oficial segundo a Association of Official Analytical Chemists
(AOAC, 1995), que é seguido pelo Instituto Adolfo Lutz (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2008).
Nesse sistema, a extração dos lipídios ocorre através de um fluxo intermitente de solvente, o que
permite que a amostra não esteja em contato constante com o solvente em ebulição e evita a sua
decomposição indesejada. Outra vantagem do uso do equipamento de soxhlet é poder analisar amostras
sólidas, porém possui como desvantagens o uso de maiores volumes de solventes e pode ocorrer a
saturação do solvente que permanece em contato com a amostra antes de ser sifonado, o que pode
dificultar e prolongar o tempo de extração (CECCHI, 2003).
Saída de água de
resfriamento
Tubo condensador
Entrada de água de
resfriamento
Dedal de papel
Material sólido a
ser extraído
Tubo condutor
Material passa através de vapor
da parede do dedal
Sifão
Balão
Solvente
Manta aquecedora
54
ANÁLISE DE ALIMENTOS
Em certos casos, podem ser aplicados outros métodos na determinação dos lipídios, como a
extração com solvente a frio (método de Bligh-Dyer ou Folch), hidrólise ácida (método de Gerber ou
Stoldt- Weibull) ou alcalina (método Rose-Gotllieb-Mojonnier) ou ainda por extração a quente (método
de Goldfish).
Para quantificação de lipídios específicos, ou seja, ácidos graxos específicos, ainda podem ser usadas
técnicas de química fina como a cromatografia gasosa, o infravermelho, a absorção por raio-x e a
ressonância magnética nuclear. Entretanto, são métodos que necessitam de equipamentos caros e mão
de obra altamente qualificada, o que pode inviabilizar a aplicação em análises de rotina (ELLEFSON, 2017).
Resumo
55
Unidade I
Exercícios
Disponível em: TORRES, E. A. F. S et al. Composição centesimal e valor calórico de alimentos de origem animal.
Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, v. 20, n. 2, p. 145-150, 2000.
Assinale a alternativa que indica de maneira correta os alimentos que apresentam, respectivamente,
maior proporção de matéria mineral, de compostos nitrogenados e de moléculas solúveis em
extrato etéreo.
56
ANÁLISE DE ALIMENTOS
Análise da questão
A composição centesimal do alimento indica a proporção relativa dos seus componentes (água,
compostos minerais, carboidratos, lipídios e proteínas). Usualmente, é indicada em gramas por 100 gramas
de alimento (g/100g).
Na tabela apresentada, os alimentos com maior teor de cinzas, de proteínas e de lipídios são,
respectivamente, o leite em pó integral, o queijo parmesão e a manteiga.
I – A Anvisa faz parte do Sistema Único de Saúde (SUS) e tem como uma das principais atribuições
assegurar a saúde pública por meio da regulamentação, do controle e da fiscalização dos alimentos
destinados ao consumo humano.
II – Alguns alimentos, como aqueles utilizados para o controle do peso corporal, precisam,
obrigatoriamente, de registro na Anvisa para serem comercializados. Outros, no entanto, são isentos de
registro, como os pães e os biscoitos industrializados.
III – Em alguns casos, pode existir mais de um órgão responsável pela regulamentação do produto
alimentício. Carnes, por exemplo, estão sob responsabilidade do Mapa. Porém, a partir do momento em
que são oferecidas no varejo, cabe à Anvisa fiscalizar, notificar, ou, se for o caso, apreender esses produtos.
57
Unidade I
A) I, III e IV.
B) I, II e III.
D) I e III.
E) II e IV.
I – Afirmativa correta.
Justificativa: a Anvisa é o órgão responsável pela promoção da saúde da população. Parte integrante
do SUS, sua criação se dá pela Lei n. 9.782/1999. A principal atribuição da Anvisa é realizar o controle
sanitário de diversos produtos (tais como medicamentos, alimentos e cosméticos) e serviços (como,
por exemplo, portos, fronteiras e aeroportos). Em relação aos alimentos, a Anvisa é responsável pela
coordenação, pela regulamentação, pelo controle e pela fiscalização dos alimentos destinados ao consumo
humano, desde a produção até a comercialização final. Cabem, ainda, à Anvisa, a regulamentação, o
controle e a inspeção de produtos de origem vegetal, desde a fabricação até a comercialização no varejo;
de produtos de origem animal, no comércio varejista; e demais produtos processados, desde a indústria
até o comércio varejista, tais como águas envasadas, bebidas, alimentos, seus respectivos insumos,
aditivos alimentares, embalagens, contaminantes orgânicos, sobejos de agrotóxicos e medicamentos e,
por fim, produtos e serviços, que, de algum modo, possam gerar risco à saúde pública.
II – Afirmativa incorreta.
Portanto, todos os produtos alimentícios citados na afirmativa II são isentos de registro na Anvisa.
58
ANÁLISE DE ALIMENTOS
IV – Afirmativa incorreta.
59