M1 - 1 - Introdução À Engenharia de Segurança Do Trabalho - Textos

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A história da Segurança

do Trabalho
Ahistória da Segurança do Trabalho

A história da Segurança do Trabalho, assim como tantas outras áreas,


começou bem antes do reconhecimento dos conceitos relativos à
Segurança e Saúde do Trabalho e sua importância. O homem de
neandertal, espécie prima humana extinta, que habitou a Europa e
partes do oeste da Ásia há mais de 300 mil anos, já utilizava
vestimentas de couro para proteção do seu corpo contra eventuais
ameaças a sua integridade física advindas da floresta (BARSANO;
BARBOSA, 2014).

Os tópicos seguintes se debruçam sobre a origem da segurança e


saúde do trabalho, traçando um panorama geral desde os primeiros
indícios de uso de medidas de proteção e prevenção de danos físicos e
psíquicos; percorrendo as contribuições dos pensadores e filósofos;
chegando à intensificação da discussão dos agravos da precarização
dos ambientes e condições de trabalhos industriais, que culminaram na
evolução dos princípios de segurança do trabalho no mundo e no Brasil.

 
Primórdios da Segurança do Trabalho

Embora sem ainda possuir essa denominação, equipamentos e


procedimentos de segurança eram adotados desde os primórdios da
evolução do homem, visando a proteção contra possíveis ataques de
animais peçonhentos durante a caça e os efeitos da exposição a
intempéries (BARSANO; BARBOSA, 2014).

De acordo com Mattos e Másculo (2019, p. 6), na antiguidade, nos


papiros egípcios, no Império Babilônico e em escritos da civilização
greco-romana, encontram-se conexões entre o processo saúde-doença
e as atividades laborais. Sobre essa temática, os autores afirmam que:

Neste estágio predominava inicialmente o paradigma


mágico religioso e posteriormente o naturalista. No
Egito há registros que datam de 2360 a.C., o Papiro
Seler II, relacionando o ambiente de trabalho e os
riscos inerentes a eles, e o Papiro Anastasi V, mais
conhecido como “Sátira dos Ofícios”, de 1800 a.C.,
descrevendo os problemas de insalubridade,
periculosidade e penosidade das profissões. O
império babilônico, no seu auge, criou o Código de
Hamurabi por volta de 1750 a.C. Dele foram
traduzidos 281 artigos a respeito de relações de
trabalho, família, propriedade e escravidão. No artigo
que fala sobre a responsabilidade profissional, o
imperador Hamurabi [governou entre os anos de
1792 e 1750 a.C.] sentencia com pena de morte um
arquiteto que construir uma casa que se desmorone,
causando a morte de seus ocupantes (MATTOS;
MÁSCULO, 2019, p. 6).

As sociedades gregas e romanas eram fortemente dependentes dos


escravos, os quais eram os responsáveis por desempenhar as
atividades que geravam riscos de acidentes e doenças ocupacionais.
Por essa razão, estudos voltados para esse tema não eram valorizados.
Hipócrates foi um dos primeiros a receber destaque na Grécia, no
século IV a. C., por volta de 460-375 a.C., e seus estudos ocasionaram
a transição do paradigma espiritualista para o paradigma naturalista.
Hipócrates publicou um tratado que informava ao médico sobre a
relação entre ambiente e saúde (clima, topografia, qualidade da água,
organização política). Adicionalmente, descreveu a “intoxicação
saturnina” de um funcionário de mineração, embora tenha omitido o
ambiente de trabalho e a ocupação deste (MATTOS; MÁSCULO,
2019).

Lucrécio foi outro estudioso da Grécia antiga que, no século I a. C. (em


torno de 100 a. C.), também fazia menção aos riscos laborais aos quais
os trabalhadores das minas estavam expostos. Um tempo depois, entre
23 e 79 a.C., Plínio, o Velho, elaborou o “Tratado de História Naturalis”,
o qual apontava para a exposição dos trabalhadores a chumbo,
mercúrio e poeiras. Além disso, também listou os equipamentos de
proteção individual que esses trabalhadores utilizavam, tais como
máscaras, feitas de panos e bexigas de carneiros, para evitar a inalação
de poeiras e fumos (BARSANO; BARBOSA, 2014).

Na realidade, as civilizações greco-romanas foram pioneiras na criação


de comunidades solidárias, na Grécia chamadas “erans” e em Roma de
“collegia”, as quais absorviam os cidadãos gregos, seus filhos, enquanto
membros e seus escravos, cadastrados como capital de trabalho. Essas
cooperativas eram abertas a qualquer cidadão, incluindo os escravos
libertos e tinham o propósito de proteger os participantes de
determinados riscos. Portanto, elas constituíram as primeiras caixas de
auxílio às doenças e acidentes (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

Segurança e saúde do trabalho no mundo

Por volta de 1700 foi publicada na Itália a obra “As Doenças do


Trabalho” (originalmente denominada “De Morbis Arficum Diatriba”), de
autoria do médico italiano Bernardino Ramazzini e consiste no primeiro
livro escrito especificamente sobre doenças ocupacionais e prevenção
de riscos relacionados ao trabalho. Na prática, descrevia 50 ocupações
profissionais e as medidas de proteção e neutralização dos efeitos à
saúde do trabalhador. De acordo com Chirmici e Oliveira (2016, p. 2),
esse livro acabou se tornando “a base para o desenvolvimento da
medicina ocupacional, por isso Bernardino Ramazzini é visto até os dias
atuais como o ‘pai da medicina ocupacional’.

É importante perceber que desde essa época as pessoas já haviam


atentado para o fato de que havia uma relação entre o desempenho das
atividades laborais e o desenvolvimento de enfermidades, resultando na
perda de produtividade e, em última instância, na redução dos
rendimentos financeiros recebidos (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016).

Anos depois, em 1776, foi publicada em Londres a primeira parte da


obra “Riqueza das Nações”, escrita pelo economista britânico Adam
Smith. A segunda edição foi lançada em 1778 e três novas edições se
sucederam nos anos de 1780, 1784 e 1786.

Esse livro trouxe reflexões acerca da necessidade de priorização da


saúde e integridade do trabalhador, como meio de garantir o alcance do
seu potencial máximo de produtividade e o alcance de melhores
resultados econômicos para os empregadores. Além disso, Adam
discute a relação do trabalho com o ganho financeiro, preceituando a
necessidade de estabelecimento de um equilíbrio entre carga de
trabalho e retorno financeiro, ao afirmar que “os empregados, quando
bem pagos por peça, facilmente fazem horas extraordinárias e arruínam
sua saúde e sua constituição em poucos anos” (SMITH, 1776).

 
Revolução Industrial

Uma nova concepção de trabalho que provocou mudanças rápidas e


profundas na ordem política, econômica e social na Europa,
transformando para sempre a estrutural social e comercial, surgiu a
partir da invenção da máquina a vapor por James Watt (1736-1819). Foi
o pontapé inicial da Revolução Industrial na Inglaterra, que pode ser
dividida em duas etapas: 1ª revolução industrial (1780- 1860), também
chamada de revolução do carvão e do ferro; 2ª revolução industrial
(1860- 1914) ou revolução do aço e da eletricidade (CHIAVENATO,
2003).

A Revolução Industrial inseriu uma série de avanços tecnológicos e que


incrementaram a produtividade nas organizações, tais como:
mecanização, aplicação da força motriz e desenvolvimento do sistema
fabril; aceleramento dos transportes e das comunicações. Com isso,
elevou-se a quantidade de bens manufaturados produzidos, com
melhor qualidade de acabamento e menor tempo de produção.
(CHIAVENATO, 2003; CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016).

Porém, Chimirci e Oliveira (2016, p. 3) destacam que:

Concomitantemente ao bônus, surge o ônus, ou seja,


as consequências negativas dessa evolução na
indústria. Em resposta ao processo acelerado de
produção em condições cada vez mais desumanas,
começaram a surgir doenças ocupacionais, e as
taxas de acidentes relacionados ao trabalho
aumentaram a níveis alarmantes – não só homens,
mas também idosos, mulheres e crianças eram
designados para as mais diversas tarefas, em
condições laborais e de vida muitas vezes
deploráveis. Não havia qualquer controle sobre a
segurança no desempenho das atividades ou a carga
horária de trabalho e descanso, que, extenuando o
trabalhador, levavam ao alcoolismo, à prostituição e à
criminalidade. A mortalidade em alguns segmentos
industriais atinge, nesse período, níveis
assombrosos.

Para além da precarização das condições de trabalho, difundiu-se uma


insegurança geral mediante a possibilidade de substituição total da mão
de obra humana por máquinas. Assim, emergiu o primeiro movimento
de luta operária, movido pelos trabalhadores. Com finalidade de
reivindicar os seus direitos, esses trabalhadores associaram-se a
sindicatos e pressionaram os empresários capitalistas a reorganizarem
o trabalho, mediante a recusa e realizar as atividades laborais e a
resistência ao controle dos gerentes (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016).
Em consequência dessa atmosfera de resistência, movimentos sociais
e trabalhistas ganharam destaque e, de forma lenta e gradual,
impulsionaram o surgimento das legislações e normativas visando a
proteção dos trabalhadores, regulamentando as atividades. Assim,
surgiu o Direito do Trabalho, regulação jurídica dos direitos trabalhistas
que objetiva proteger a integridade dos trabalhadores, o
estabelecimento de limites para jornada de trabalho nas horas laborais e
a criação de garantias mínimas contra demissões arbitrárias (CHIRMICI;
OLIVEIRA, 2016).

Segurança e saúde do trabalho no Brasil

Não há basicamente registro algum de doenças associadas ao trabalho


antes do fim do regime de escravidão no Brasil. De forma semelhante
às sociedades gregas e romanas, as atividades laborais manuais que
exigiam maior esforço, promovendo maior desgaste físico e psíquico
eram destinadas aos escravos e, por esse motivo, recebiam pouca
importância entre os seus senhores e demais cidadãos.

Os primeiros registros de doenças relacionadas ao trabalho ocorreram a


partir de 1920, mediante estudos desenvolvidos por Oswaldo Cruz,
durante a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, que se estendeu de
1907 e 1912, tendo se verificado a contaminação de empregados por
doenças infecciosas. Desde então, diferentes pesquisas relativas a
indústrias europeias que foram transferidas para o Brasil e
“demonstraram a relação direta entre as más condições laborais e a
ocorrência de doenças e acidentes no trabalho [...] desencadeando aqui
um reflexo do que houvera na Europa um século antes” (CHIRMICI;
OLIVEIRA, 2016, p. 4).

Logo, por intermédio dos movimentos sociais e trabalhistas, ganharam


força as denúncias de trabalhadores sobre más condições de trabalho,
abrindo portas para a criação de legislações voltadas à proteção do
trabalhador (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016).

Atividade Extra

Assista ao filme “Germinal” (1993), de Émile Zola, cujo título faz menção
ao amadurecimento de movimentos grevistas de trabalhadores de
minas de carvão no século XIX. O filme aborda a complexidade das
relações de trabalho e a luta de classes durante o processo de
desenvolvimento do capitalismo e mudanças na organização do
trabalho. O filme retrata as severas transformações sociais que foram
impostas pelo modo de produção capitalista.

 
Referências Bibliográficas

BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Higiene e segurança do


trabalho.  1. ed. São Paulo: Érica, 2014.

CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração: uma


visão abrangente da moderna administração das organizações. 7. ed.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.

CHIRMICI, A.; OLIVEIRA, E. A. R. Introdução à segurança e saúde


no trabalho. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.

MATTOS, U. A.; MÁSCULO, F. S. Higiene e segurança do trabalho.


2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.

SMITH, A. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e


suas causas. 1776. Versão comentada por Winston Fritsch. São Paulo:
Editora Nova Cultural Ltda, 1996.

Evolução da Higiene e
Segurança do Trabalho
(HST)
Evolução da Higiene e Segurança do Trabalho (HST)

A História abre portas para o entendimento do desenvolvimento do


conhecimento de todas as áreas, incluindo a medicina do trabalho e a
higiene e segurança do trabalho. Com o desenvolvimento da
humanidade e do labor, ao longo do tempo, as condições de trabalho
foram sendo cada vez mais determinantes para a ocorrência de
doenças e acidentes de trabalho, os quais resultaram em incapacidades
temporárias e permanentes e até mesmo na morte de inúmeros
trabalhadores (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

Nos próximos tópicos serão explorados os principais marcos históricos


relativos ao surgimento e desenvolvimento da medicina e higiene do
trabalho, bem como o surgimento de regulamentações e seus
desdobramentos nas relações de trabalho e na incidência de doenças e
acidentes de trabalho.

 Surgimento da medicina do trabalho

A Medicina do Trabalho surgiu no século XIX, através do


estabelecimento de uma relação entre saúde e trabalho. O estudo da
medicina do trabalho não era focado em torná-la uma especialidade,
mas sim na busca por formas de aumentar a produtividade de
trabalhadores e de minimizar as consequências das patologias
adquiridas em virtude das atividades laborais (MATTOS; MÁSCULO,
2019).
Bristot (2019, p. 174) define a medicina do trabalho como um:

Segmento da medicina tradicional, com


características diferenciadas dentro de um programa
de saúde ocupacional, objetivando a realização das
avaliações da capacidade física, mentais e
emocionais, para que o trabalhador possa iniciar suas
atividades laborais sem correr riscos para si e para
seus (BRISTOT, 2019, p. 174).

Logo, podemos afirmar que a medicina do trabalho é uma especialidade


médica dedicada ao tratamento de doenças e ao restabelecimento da
saúde do trabalhador que tenha sido vítima de acidentes e doenças do
trabalho. Desse modo, a medicina do trabalho é decisiva para a
associação dos agravos à saúde e o desempenho do trabalho
(MATTOS; MÁSCULO, 2019).

A conexão entre os agravos e o trabalho remete aos estudos da Escola


da Administração Científica, idealizada e iniciada por Frederick Taylor
(1856-1915), a qual se desenvolveu nos Estados Unidos, com o aporte
de outros autores, como Henry Lawrence Gantt (1861-1919), Frank
Bunker Gilbreth (1868-1924) e Harrington Emerson (1853-1931). A
principal preocupação dessa corrente de pensamento concentra-se na
elevação da produtividade da organização através do aumento de
eficiência dos operários. Assim, no século XIX, grande ênfase era dada
à análise e divisão do trabalho do operário, visto que cada função e
cargo que ocupam consiste numa unidade fundamental da empresa
(CHIAVENATO, 2003).

Mattos e Másculo (2019) apontam que a atuação do médico abria


espaço para interpretações de acordo com o atendimento clínico
individual, não sendo incomum a dissociação dos agravos gerados à
saúde em relação ao trabalho. Isso beneficiava o paradigma taylorista,
uma vez que favorecia a seleção dos funcionários “mais aptos” para
uma função. A associação entre agravo e atividade laboral, também
favorecia o gerenciamento do retorno dos doentes e acidentados e o
controle do absenteísmo.

Porém, de forma um tanto crua, podemos dizer que cada vez mais o
“cerco foi se fechando”, pois, com a incorporação de conhecimentos e
das inovações técnicas (como os motores elétricos), foi ficando cada
mais difícil sustentar uma resposta que não traçasse uma ponte direta
entre o surgimento de agravos e a execução do trabalho, os quais
“inviabilizavam economicamente a produção, principalmente no período
pós-guerra, onde a economia estava sendo reativada e a mão de obra
reassumindo os postos de trabalho” (MATTOS; MÁSCULO, 2019, p.
15).

Nesse contexto, aparece uma nova abordagem para a relação entre


saúde e trabalho: a saúde ocupacional, cuja finalidade consistia em
adequar-se à nova necessidade produtiva (MATTOS; MÁSCULO,
2019).
 Regulamentação das condições de trabalho na Europa

Conforme discutido na aula 1, desde a Antiguidade os pensadores já


apontavam os possíveis efeitos nocivos da exposição prolongada a
diferentes substâncias durante a realização do trabalho. Porém,
bastante tempo depois vieram novos registros de estudos acerca da
toxicidade de substâncias e potenciais consequências à saúde. Em
1473, Ulrich Ellenborg associou sintomas de envenenamento
ocupacional por vapores metálicos (chumbo e mercúrio, por exemplo),
ácido nítrico e monóxido de carbono. Além disso, propôs medidas de
prevenção (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

Entretanto, até o final do século XV publicações de investigações sobre


doenças provocadas por agentes químicos não costumavam propor
formas de tratar, apenas de preveni-las. George Bauer foi o primeiro a
conduzir um estudo completo em 1556. Sua obra, intitulada “De Re
Metallica” abordou as enfermidades relacionadas com as atividades de
extração e fundição de prata e ouro, bem como as doenças e acidentes
de trabalho mais frequentes entre mineiros. O seu diferencial consistiu
em propor, além de formas de prevenção, como a garantia de
condições apropriadas de ventilação, foi a descrição dos sintomas e a
evolução de uma moléstia referida por ele como “asma dos mineiros”, a
qual mais tarde chegou-se à interpretação de ser equivalente ao que
hoje se conhece como silicose (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

Em 1567, Aureolus Theophrastus Bembastus von Hohenheim,


conhecido como Paracelso, publicou o livro “Dos ofícios e doenças da
montanha”, que constituiu a primeira monografia cujo tema foram as
associações entre os métodos de trabalho e doenças ocasionadas pelo
contato com substâncias por profissionais de mineração e fundição de
metais, como a silicose e as intoxicações por chumbo e mercúrio
(MATTOS; MÁSCULO, 2019).

Como definitivamente as atenções estavam voltadas para o risco da


atividade de mineração, em 1665, na cidade Ídria, na Eslovênia, país do
Leste Europeu, reduz-se a jornada dos mineiros de mercúrio a fim de
diminuir a incidência do “idragismo”, doença ocasionada por esse metal.
Esse foi marco regulatório importante em matéria de saúde e segurança
do trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

Conforme já explanado na aula 1, no século XVIII vieram as publicações


de Ramazzini, tido como o Pai da Medicina do Trabalho, fundamentais
para estabelecer uma máxima válida até os dias atuais: “Prevenir é
melhor do que remediar.” Ramazzini descreveu não só as doenças e
suas respectivas medidas de prevenção, mas também introduziu na
anamnese médica o questionamento “Qual a sua ocupação?”
(MATTOS; MÁSCULO, 2019).

No ano de 1740 implementou-se na Dinamarca um sistema de saúde


nacional, criando-se os primeiros exames, os quais serviram de modelo
para os demais países europeus. Anos depois, em 1775, na Inglaterra,
o médico Percival Pott relatou o desenvolvimento de câncer escrotal por
limpadores de chaminés, devido à falta de higiene e ao contato com
fuligem. Treze anos mais tarde foi promulgada no país a Lei de proteção
aos limpadores de chaminé (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

Somente com o advento da Revolução Industrial, com a verificação de


quão degradas estavam as condições de trabalho e com a alta no
número de acidentes de trabalho graves, mutilantes e fatais, mediante
intensa reivindicação e atuação dos movimentos sociais, introduziram-
se medidas legais de controle das condições e dos ambientes de
trabalho. Era urgente que fossem regulamentados muitos dos fatores
que resultavam nos acidentes de trabalho a época, entre eles: a falta de
proteção das máquinas, a falta de treinamento para sua operação, as
extenuantes jornadas de trabalho, os níveis elevados de ruído produzido
pelas máquinas e as más condições de higiene e segurança dos
ambientes de trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

O impacto da abertura de novas fábricas e tipos de atividades


industriais, tornava-se cada vez mais insustentável, visto que subiam os
números de doenças e acidentes de origem ocupacional e não
ocupacional. Diante disso, com o Sir Robert Peel a frente, é inaugurada
uma comissão de inquérito no Parlamento britânico. Em 1802 foi
aprovada a primeira lei de proteção aos trabalhadores, chamada de “Lei
da Preservação da Saúde e da Moral dos Aprendizes e de Outros
Empregados”, a qual, dentre outras providências, fixava a jornada diária
de doze horas de trabalho, proibia o trabalho noturno, determinava a
obrigação de garantir boa ventilação nos ambientes de trabalho, assim
como a limpeza das paredes das fábricas duas vezes ao ano pelos
empregadores. Outras leis complementares foram promulgadas em
1819, mas segundo Mattos e Másculo (2019), elas não foram
propriamente levadas em consideração respeitadas pelos
empregadores, visto que isso exigiria um investimento financeiro alto,
que não era de seu interesse realizar.

Os estudos continuaram avançando ao longo do século XIX, até que no


século seguinte foi fundada a Organização Internacional do Trabalho
(OIT), em 1919, que culminou na evolução das legislações trabalhistas,
estabelecendo, criando condições necessárias para o desenvolvimento
dos aspectos técnicos da Higiene Industrial (BRISTOT, 2019).

 Evolução da HST nos continentes europeu e americano

A Higiene do Trabalho consiste numa área entrelaçada com a Medicina


do Trabalho, visto que têm o objetivo comum “prevenir os danos à
saúde do trabalhador decorrentes das condições do trabalho”
(BRISTOT, 2019, p. 173).

Outra área que possui interface com a Higiene do Trabalho é a


Ergonomia, visto que essa última tem como finalidade a adaptação do
meio ao homem, em outras palavras, a realização de intervenções no
ambiente de trabalho a fim de prover melhorias e a qualidade de vida
dos trabalhadores. De toda forma, admitindo que os riscos ambientais
contribuem para a formação de situações inseguras, a Higiene do
Trabalho é a área responsável pela identificação, análise e avaliação,
com o fim de traçar melhorias necessárias para o aperfeiçoamento das
condições com potencial para acarretar prejuízos à saúde dos
trabalhadores (BRISTOT, 2019).

Apesar da intensificação do processo de industrialização ocorrido nos


Estados Unidos (EUA) a partir da metade do século XIX, as primeiras
ações voltadas para Higiene e Saúde do Trabalho nesse país e nos
demais do continente americano, incluindo o Brasil, começaram apenas
no século XX.

Em 1900, a médica e higienista Alice Hamilton foi responsável por


investigar diferentes ocupações, tendo influenciado as primeiras leis
ocupacionais americanas. Inclusive no ano de 1919 ela se tornou a
primeira mulher a estudar em Harvard, publicando a obra “Explorando
as ocupações perigosas.” As leis sobre indenizações em casos de
acidentes de trabalho foram lançadas entre os anos 1902 e 1911.

De acordo com Mattos e Másculo (2019, p. 12):

Além da regulamentação sobre os serviços, há


também que registrar outros fatos marcantes
ocorridos nos Estados Unidos, como: a criação, em
1916, da Industrial Medical Association (orientada
para a reparação dos acidentes); o início do curso de
graduação em Higiene Industrial na Universidade de
Harvard (1922); a criação da ACGIH – inicialmente
National Conference of Governmental Industrial
Hygienists (1938); a criação da AIHA (American
Industrial Hygiene Association) e da ASA (American
Standards Association, hoje ANSI).

O Brasil e outros países da América Latina tiveram sua Revolução


Industrial ocorrendo por volta dos anos 1930. Nesse contexto, foram
marcos importantes: a origem da área de Higiene Ocupacional no SESI,
em 1945; a concepção da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de
Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho (Fundacentro) em 1966;
em 1972, o lançamento do Plano de Valorização do Trabalhador e a
obrigatoriedade dos Serviços Médico e de Higiene e Segurança do
Trabalho nas empresas com 100 ou mais empregados, de acordo com
a Portaria 3.237/72.

Apesar dos avanços, o Brasil acabou ganhando um título bastante


indesejado na área de segurança do trabalho em 1974, o de campeão
mundial de acidentes de trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

 As várias faces do conceito de saúde

O Comitê misto da OIT e da Organização Mundial da Saúde (OMS)


definiram em 1949, em reunião na Genebra em 1949, que a saúde
ocupacional tem como intuito promover e manter o bem-estar físico,
mental e social dos trabalhadores em todas as funções. Outro objetivo é
a prevenção das doenças ocupacionais desencadeadas pelas
condições de trabalho às quais estão submetidos. Portanto, a saúde
ocupacional é uma abordagem multiprofissional com perfil tecnicista, a
qual valoriza os ambientes de trabalho, focando nas doenças
ocupacionais do trabalhador produtivo (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

Como desdobramento do conhecido como Modelo Operário Italiano,


surge um modelo que consiste num novo modo de abordar saúde e
trabalho, em paralelo com a saúde ocupacional, conhecido como saúde
do trabalhador, com as seguintes características: participativo, em
detrimento do tecnicista, tendo o trabalhador como sujeito das ações,
atuando nas avaliações e na implementação das mudanças nos
processos e organização de trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

Atividade Extra

Assista ao vídeo do Napo mostrando algumas situações de risco que


podem ser encontradas em diferentes ambientes de trabalho. No não
apenas os fatores de risco são expostos, como também alguns
momentos de reflexão e posterior adoção de medidas corretivas para
barrar o potencial prejudicial e degradante desses riscos à saúde do
trabalhador (Link de
acesso: https://www.napofilm.net/pt/napos-films/napo-risky-business).

Referências Bibliográficas
BRISTOT, V. M. Introdução à engenharia de segurança do
trabalho [Recurso

eletrônico]. Criciúma, SC: UNESC, 2019.

CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração: uma


visão abrangente da moderna administração das organizações. 7. ed.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.

MATTOS, U. A.; MÁSCULO, F. S. Higiene e segurança do trabalho.


2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.

Destrinchando o acidente
de trabalho
Destrinchando o acidente de trabalho

O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) é


alimentado pelas informações prestadas nas notificações e
investigações de doenças e agravos que fazem parte da lista nacional
de doenças de notificação provenientes tanto no setor formal quanto
informal da economia. Segundo dados do Sinan, o número de acidentes
de trabalho graves no Brasil cresceu aproximadamente 40% no ano de
2020, saindo de 94.353 em 2019 para 132.623 (OIT, 2021).
Entre 2012 e 2020 registrou-se 5,6 milhões de doenças e acidentes do
trabalho no Brasil, os quais ocasionaram um gasto previdenciário que
ultrapassa 100 bilhões de reais com as despesas acidentárias
resultantes, levando a uma perda de 430 milhões de dias de trabalho.
Adicionalmente, o número de afastamentos e auxílios-doença relativos
à transtornos mentais e comportamentais como depressão, ansiedade,
estresse (acidentários e não-acidentários) foram de 224 mil, em 2019,
para 289 mil em 2020, refletindo num aumento de 30% mesmo durante
o primeiro ano da pandemia de COVID-19 (OIT, 2021).

Nos próximos itens serão apresentados os conceitos de acidente de


trabalho do ponto de vista legal e Prevencionista, as causas prováveis,
bem como os procedimentos obrigatórios de serem realizados mediante
a concretização de um sinistro. Além disso, serão discutidos alguns
exemplos de situações possíveis.

Conceito de Acidente de Trabalho

O acidente de trabalho impacta não somente a própria vítima, como


também: os funcionários da organização, tanto de setores próximos
quanto distantes; os familiares, dependentes e amigos da vítima; a
comunidade presente nos arredores de onde se deu o sinistro; a
comunidade em geral, que obtenha conhecimento do ocorrido de forma
direta ou indireta do ocorrido, até mesmo por meio de noticiários de
rádio e televisão; e, em última instância, toda a sociedade, visto que a
previdência social representa uma despesa para todos os cidadãos.

 Nas palavras de Barsano e Barbosa (2014b, p. 96):

O acidente do trabalho é uma das formas mais cruéis


de castigar a sociedade. Quando ele ocorre, todos
perdem, pois o trabalhador fica lesionado ou até
inválido, sua família terá gastos com medicamentos e
hospitais, a empresa terá de arcar com os depósitos
do FGTS e ficar com uma imagem negativa, e a
previdência social (representando toda a sociedade)
terá́ mais uma despesa com um trabalhador
improdutivo, que poderia estar contribuindo com o
INSS e que, agora, só trará gastos (BARSANO;
BARBOSA, 2014b, p. 96).

A Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os Planos de


Benefícios da Previdência Social, no seu artigo 19 define legalmente o
acidente de trabalho como uma consequência do exercício do trabalho
a serviço de uma organização, de um empregador ou pelos segurados
descritos no inciso VII do art. 11 desta mesma Lei, que resulte em lesão
corporal ou perturbação funcional e que provoque a morte ou a perda
ou redução, de forma permanente ou temporária, da capacidade para o
trabalho (BRASIL, 1991).
O artigo 11 da Lei 8.213/91, referido acima, por sua vez, estabelece que
o segurado especial da Previdência Social é a pessoa física residente
na zona rural ou aglomerado urbano ou rural próximo a ela que, de
forma individual ou em regime de economia familiar, mesmo com o
auxílio eventual de terceiros, na condição de produtor, o qual realize
atividade agropecuária em área de até 4 módulos fiscais. Também está
incluso o seringueiro ou extrativista vegetal ou pessoa que conduza
essas atividades como meio de vida. Adicionalmente, consistem em
segurado especial o pescador artesanal ou que exerça função
semelhante e que tenha a pesca como principal meio de vida. E, ainda,
o cônjuge, companheiro ou filho maior de 16 anos de idade ou
equiparado, do segurado os quais trabalhem com o grupo familiar
(BRASIL, 1991).    

De acordo com a Lei 8.213/91, outras ocorrências e situações que são


reconhecidas como acidente de trabalho, equiparando-se a este
perante a lei. Assim, o artigo 20 estabelece que o acidente do trabalho
contempla também a doença profissional, a qual é produzida ou
desencadeada pelo exercício do trabalho em virtude da realização de
uma atividade de forma constante, descrita pelo Ministério do Trabalho e
da Previdência Social. Além disso, também é tido como acidente de
trabalho a doença do trabalho que venha a ser adquirida ou
desencadeada em função de condições especiais inerentes ao modo
pelo qual o trabalho é realizado e que tenha conexão direta com ele
(BRASIL, 1991).
No entanto, a Lei 8.213/91 distingue as enfermidades que não podem
ser tidas como doença do trabalho, são elas: doenças degenerativas,
doenças relativas ao grupo etário do qual o indivíduo faz parte, as
moléstias que não ocasionem incapacidade laborativa, doenças
endêmicas adquiridas por segurado habitante de região na qual ela seja
frequente, salvo mediante comprovação de que foi adquirida por conta
da exposição ou do contato direto devido à natureza do trabalho.
Porém, a Lei 8.213/91 também descreve casos excepcionais, visto que,
tendo-se constatado que a doença resultou das condições especiais
inerentes ao trabalho ou tenha conexão direta com ele, a Previdência
Social deve sim considerá-la acidente do trabalho (BRASIL, 1991).

No artigo 21 da Lei 8.213/91 são enumerados outros tipos de eventos


que também se equiparam ao acidente do trabalho, tais como o
acidente conectado ao trabalho que, mesmo que não tenha uma causa
única, tenha corroborado diretamente para a morte do segurado, para
redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou que tenha
resultado em lesão que exija assistência médica para a sua
recuperação. Adicionalmente, também são mencionados os acidentes
sofridos pelos segurados no local e no horário do trabalho, como
consequência de algum ato de agressão, sabotagem ou terrorismo
praticado por terceiro ou companheiro de trabalho. Outros eventos
considerados acidentes de trabalho são as ofensas físicas intencionais,
incluindo as provenientes de terceiros, por motivo de disputa
relacionada ao trabalho. Adicionalmente, são englobados os atos de
imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de
companheiro de trabalho, os atos de pessoas privadas do uso da razão
e atos fortuitos como desabamento, inundação, incêndio ou decorrentes
de força maior (BRASIL, 1991).

No artigo 21 ainda são listadas como equiparadas ao acidente de


trabalho as doenças ocasionadas por contaminação acidental do
empregado durante a execução de atividade laboral, bem como o
acidente sofrido pelo segurado fora do local e horário de trabalho,
quando da execução de ordem de serviço sob a autoridade da
organização. Além disso, também se encaixam como acidente de
trabalho a prestação espontânea de serviço à empresa com a finalidade
de evitar prejuízo ou proporcionar algum resultado positivo; durante
viagem a serviço do empregador, inclusive para capacitação da mão-
de-obra, independentemente do meio de locomoção usado, ou mesmo
veículo de propriedade do segurado. Também o acidente que tenha se
dado no percurso da residência para o local de trabalho ou e vice-versa,
utilizando qualquer meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade
do segurado é uma modalidade de acidente de trabalho (BRASIL,
1991).

Um adendo é feito pelo artigo 21 no que diz respeito à delimitação do


que faz parte do exercício do trabalho, definindo que o empregado é
considerado no exercício do trabalho ao longo dos períodos reservados
para a refeição ou descanso, satisfação das necessidades fisiológicas,
no local do trabalho ou durante este (BRASIL, 1991).

De acordo com Mattos e Másculo (2019), críticas são feitas a essa


definição legal devido ao fato dela não descrever o evento em si, se
limitando a determinar o acidente de trabalho perante um antecedente
(o exercício de trabalho e a existência de uma relação com uma
empresa) e uma consequência (lesão ou perturbação funcional). Isso
significa que a definição legal diz respeito a aspectos que têm relação
com o trabalhador, de modo que acaba reportando mais do acidentado
do que do acidente em si. Entretanto, os autores supracitados justificam
essa espécie de “desvio” do foco da definição por se tratar de uma lei
que serve de base para o sistema previdenciário, de modo que, com
base nela, será definido quem faz jus a receber auxílios reparatórios de
perdas provocadas por acidentes de trabalho.

O que se percebe perante a discussão em torno da definição legal é


que ela deixa uma lacuna no tocante à prevenção da ocorrência dos
sinistros. É justamente para preenchê-la que emergiu o conceito
prevencionista do acidente de trabalho. Sob essa perspectiva, o
acidente de trabalho é tido como “qualquer ocorrência fora da
programação, que pode ou não ser inesperada, interrompendo o
processo normal da atividade, tendo como consequência isolada ou
concomitante o tempo perdido, dano material ou lesões humana”
(STUMM, 2020, p.33).

Causas do acidente de trabalho

Mattos e Másculo (2019) destacam que os acidentes de trabalho


costumam ser causados pela existência de disfunções, as quais
provocam perturbações no funcionamento do sistema como um todo,
aumentando a probabilidade de ocorrência de um evento disparador, o
qual culmina no acidente. As disfunções consistem em possíveis falhas
ou traço fora do comum, como, por exemplo, a lâmpada da lanterna
traseira de um carro queimada.

Vejamos de que forma essa disfunção gera um evento disparador, o


qual pode causar um acidente (MATTOS E MÁSCULO, 2019):

1. Quando o motorista do carro que está com a lâmpada queimada


tentar sinalizar a troca de faixa, a seta não acenderá;

2. Portanto, os demais motoristas não serão capazes de perceber que o


veículo com a lâmpada quebrada vai transitar entre as faixas;

3. Em virtude disso, provavelmente os demais motoristas ao redor não


realizarão o movimento de desaceleração necessário para que haja
espaço suficiente para que o carro da lâmpada queimada faça a troca
de faixas.

4. Assim, elevam-se as chances dessa manobra acabar ocasionando


uma colisão (acidente).

Ou seja, as disfunções consistem em anomalias de um ou mais


componentes de um sistema que fazem com que ele não funcione
conforme o planejado e o esperado (MATTOS E MÁSCULO, 2019).
 

Comunicação de acidente de trabalho (CAT)

A Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT) é direcionada à


Previdência Social e deve ser realizada pela empresa no primeiro dia útil
seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato à
autoridade competente. Além de mandatória, a CAT também serve para
fins estatísticos (BARSANO; BARBOSA, 2014).

Atividade Extra

Assista ao vídeo “A cada 48 segundos acontece um acidente de


trabalho no Brasil”, disponibilizado pelo TRT da 5ª Região (Bahia), o
qual discute sobre a incidência de acidentes de trabalho entre os anos
de 2012 e 2018 no país e no estado da Bahia (Link de
acesso: https://www.trt5.jus.br/noticias/cada-48-segundos-acontece-
acidente-trabalho-brasil).

Referências Bibliográficas

BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Higiene e segurança do


trabalho.  1. ed. São Paulo: Érica, 2014a.
BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Legislação aplicada à segurança
do trabalho. 1 ed. São Paulo: Érica, 2014b.

BRASIL. Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras


providências. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Brasília, DF, 1991.
Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>.

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT. Série


SmartLab de Trabalho Decente: Gastos com doenças e acidentes do
trabalho chegam a R$ 100 bi desde 2012. 2021. Disponível em:
<https://www.ilo.org/brasilia/noticias/WCMS_783190/lang--pt/index.htm>
.

MATTOS, U. A.; MÁSCULO, F. S. Higiene e segurança do trabalho.


2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019

STUMM, S. B. Segurança do trabalho e ergonomia [recurso


eletrônico]. Curitiba: Contentus, 2020

Impacto socioeconômico
do acidente de trabalho
Impacto socioeconômico do acidente de trabalho
 

O desenvolvimento da saúde do trabalhador no Brasil se intensificou


com a 1ª Conferência Nacional de Saúde dos Trabalhadores, que
ocorreu em Brasília em 1986. O conceito em si já vinha sendo
amadurecido nos anos anteriores e no meio acadêmico e sindical.
Mesmo num contexto histórico de transição de um regime político de
ditadura militar para a construção da sociedade civil, ganhou força a
reivindicação social por meio das novas leis trabalhistas e mudanças
nos sistemas institucionais, que contribuiu uma nova visão da relação
saúde-mundo do trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

A compreensão dessa interface entre saúde e trabalho é a base da


Higiene do Trabalho e está envolvida por um conflito de interesse entre
a empresa (empregador), o trabalhador (empregado) e a sociedade. O
acidente de trabalho corresponde à materialização desse conflito. É por
esse motivo que nos próximos tópicos serão explanadas as teorias
jurídicas, as responsabilidades civil e social, bem como aspectos
relevantes acerca da previdência social, habilitação e reabilitação do
trabalhador acidentado (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

Teorias jurídicas

 
As teorias jurídicas foram determinantes para explicar as causas dos
acidentes, bem como para atribuir as parcelas de responsabilidade a
cada um dos envolvidos nos mesmos. Conforme comentado
anteriormente, a relação saúde-trabalho é pautada por diferentes
conceitos e correntes de cunho ideológicos. Com base nestas
emergiram três formas de ação e interpretação regidas por uma
combinação de conhecimentos advindos dos seguintes campos de
estudo: medicina do trabalho, saúde ocupacional e saúde do
trabalhador, Ciências Jurídicas e Sociais. As três referidas correntes
resultantes são denominadas teoria da culpa, teoria do risco profissional
e teoria do risco social (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

O Quadro 1 descreve aspectos conceituais relativos à cada uma das


correntes supracitadas.
Quadro 1 - Entendimento dos riscos associados a acidentes de trabalho à luz das teorias jurídicas.

Observa-se que, ao conhecer a linha do tempo do desenvolvimento de


cada uma das teorias, evidencia-se a relação entre a evolução da
ordenação social, política e econômica da sociedade e a elevação da
necessidade de proteção e preservação da segurança e saúde dos
trabalhadores durante a execução dos afazeres laborais, que provêm a
produção de bens e serviços de consumo.
 

Responsabilidades civil e social

De acordo com o art. 7º da Constituição Federal (CF) de 1988, o


pagamento do seguro contra acidentes de trabalho é uma
responsabilidade do empregador e também um direito dos
trabalhadores urbanos e rurais. O prêmio é recolhido pelo INSS e
corresponde entre 1 a 3% da folha de pagamento das empresas. A
definição do percentual de recolhimento é feita em conformidade com o
grau de risco da atividade preponderante da empresa, pregada pela Lei
8.212/91, que determinou o seguinte: 1%, quando o risco é leve; de 2%,
quando o risco é médio; e 3% para risco grave (POLONI, 1998).

 Apesar disso, a Lei 8.212/91 não definiu o que seria risco leve, médio
ou grave, tampouco atividade preponderante, lacunas estas que foram
preenchidas pelo Decreto 612/92. Este delimitou o grau de
periculosidade de cada atividade e esclareceu que a atividade principal
constitui aquela que ocupa o maior número de funcionários da empresa.
Entretanto, ainda assim ocorrem o que podemos chamar de
“inadequação” práticas em virtude da interpretação desse decreto, visto
que, por exemplo: uma empresa cuja atividade econômica principal se
apesar de sua atividade enquadre no grau de risco mais grave (3%),
contribuirá ao SAT pela taxa de risco leve (1%), única e exclusivamente
devido ao fato de possuir um maior número de empregados alocados
nos setores administrativos, de vendas e finanças (POLONI, 1998).

Conforme discutido anteriormente, o SAT segue a teoria do risco social,


e caracteriza-se como uma responsabilidade objetiva ou sem culpa. A
responsabilidade objetiva se dá quando não é necessário comprovar a
culpa do empregador, nem do trabalhador, de forma que não se
questiona se há ou não culpa, mas sim nexo de causalidade. Existindo
nexo de causalidade, é obrigatório indenizar (MATTOS; MÁSCULO,
2019).

De acordo com Sérgio Pontes (2018, p.1):

Na seara da Responsabilidade Civil, o nexo causal é


a ligação entre a conduta do agente e o resultado
danoso. Ou seja, é preciso que o ato ensejador da
responsabilidade seja a causa do dano e que o
prejuízo sofrido pela vítima seja decorrência desse
ato. Impõe-se que se prove a ligação causal entre a
conduta do agente e o resultado danoso. O nexo
causal cumpre uma dupla função: determinar o autor
do dano, e verificar a sua extensão, pois serve como
medida de indenização (PONTES, 2018, p.1).

 
A CF também considera outras três hipóteses: culpa exclusiva da
vítima, caso fortuito ou força maior. A culpa pode constituir uma conduta
positiva ou negativa, que conduz a falta de previsão do que é previsível,
mesmo que a pessoa não tenha a intenção de desencadear o evento
indesejado (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

 Tem-se ainda a responsabilidade civil subjetiva, na qual é dever do


empregador indenizar a vítima do acidente quando incorrer em dolo ou
culpa. No que tange aos casos de responsabilidade objetiva e subjetiva,
em ambos é imprescindível comprovar o nexo de causalidade. A
diferença primordial é que na responsabilidade subjetiva é exigida a
demonstração do elemento subjetivo – a culpa. Já na responsabilidade
objetiva é necessária apenas a presença da conduta, do dano e a
comprovação do nexo causal entre o dano e a conduta (MATTOS;
MÁSCULO, 2019).

Desenvolver uma cultura de responsabilidade social se tornou essencial


para a gestão das organizações que desejam se manter competitivas
no mercado. A responsabilidade social visa a obtenção de ganhos de
cadeia de produção e também para a comunidade, o ambiente, o
governo e os consumidores. Sob essa ótica, o objetivo é ser plural,
distributiva, sustentável e transparente. Também envolve uma melhor
performance nos negócios e, consequentemente, maior lucratividade
(MATTOS; MÁSCULO, 2019).

 
Planos de benefícios da previdência social

De acordo com a Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991:

Art. 18.  O Regime Geral de Previdência Social


compreende as seguintes prestações, devidas
inclusive em razão de eventos decorrentes de
acidente do trabalho, expressas em benefícios e
serviços:

I - quanto ao segurado:

a) aposentadoria por invalidez;

b) aposentadoria por idade;

c) aposentadoria por tempo de contribuição;

d) aposentadoria especial;

e) auxílio-doença;

f) salário-família;

g) salário-maternidade;
h) auxílio-acidente;

I - quanto ao dependente:

a) pensão por morte;

b) auxílio-reclusão;

III - quanto ao segurado e dependente:

b) serviço social;

c) reabilitação profissional.

§ 1o Somente poderão beneficiar-se do auxílio-


acidente os segurados incluídos nos incisos I, II, VI e
VII do art. 11 desta Lei (BRASIL, 1991, art. 18).

Nos artigos 24 e 26, a Lei no 8.213 define os prazos de carência, ou


seja, o número mínimo de contribuições mensais consideradas para
que o beneficiário faça jus à percepção do benefício (BARSANO;
BARBOSA, 2014).

 
Habilitação e reabilitação do trabalhador acidentado

A Lei no 8.213/1991, nos seus artigos 89 a 93 estabelece os principais


direitos dos trabalhadores, as obrigações dos empregadores e do Poder
Público em garantir condições de trabalho seguras, formas de
locomoção adequadas e qualidade de vida, conforme Planos de
Benefícios da Previdência Social disposto nesse instrumento normativo.
Abaixo seguem alguns trechos relevantes:
 

Art. 89. A habilitação e a reabilitação profissional e


social deverão proporcionar ao beneficiário
incapacitado parcial ou totalmente para o trabalho, e
às pessoas portadoras de deficiência, os meios para
a (re)educação e de (re)adaptação profissional e
social indicados para participar do mercado de
trabalho e do contexto em que vive.

[...] Art. 91. Será concedido, no caso de habilitação e


reabilitação profissional, auxílio para tratamento ou
exame fora do domicílio do beneficiário, conforme
dispuser o Regulamento.

 
Assim, o intuito da habilitação e a reabilitação profissional e social é
proporcionar condições de recuperação da integridade orgânica dos
profissionais beneficiários que estejam incapacitados parcial ou
totalmente para o trabalho (BARSANO; BARBOSA, 2014).

Atividade Extra

Assista ao vídeo “Vitalidade Abril Verde – cuidados com a saúde e


segurança do trabalhador”, disponibilizado pela TV Câmara Novo
Hamburgo, o qual traz a entrevista com o médico traumatologista Dr.
Erik Carvalho, o qual discute as principais consequências dos acidentes
de trabalho, a importância da prevenção e aspectos socioeconômicos
dos acidentes de trabalho (Link de
acesso: https://www.youtube.com/watch?v=uPpdreUaSw4).

Referências Bibliográficas

BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Legislação aplicada à segurança


do trabalho. 1 ed. São Paulo: Érica, 2014.
BRASIL. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991: Dispõe sobre os Planos
de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm
>.

POLONI, Antonio S. Seguro Acidente de Trabalho - SAT. Revista Jus


Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 3, n. 27, 23 dez. 1998.
Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/1439>.

PONTES, S. O Nexo de Causalidade. Jusbrasil. Disponível em: <


https://sergiopontes.jusbrasil.com.br/artigos/608749366/o-nexo-de-
causalidade>.

MATTOS, U. A.; MÁSCULO, F. S. Higiene e segurança do trabalho.


2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.

STUMM, S. B. Segurança do trabalho e ergonomia [recurso


eletrônico]. Curitiba: Contentus, 2020.

Prevenção de acidentes
 
Após compreender o conceito, as causas e consequências dos
acidentes e doenças do trabalho, é necessário voltar o olhar para a
prevenção de sua ocorrência. Para que isso seja possível, é necessário
identificar riscos e perigos inerentes ao ambiente e ao método de
execução do trabalho, discutindo a importância da prevenção. Os
próximos tópicos visam explicar essas temáticas.
 

Classificação de riscos
 

A princípio é preciso estabelecer uma distinção entre riscos e


perigos, visto que, embora sejam costumeiramente tratados como
sinônimos, na segurança do trabalho possuem definições diversas. O
risco constitui a medida da perda ou dano, atrelados a uma
consequência econômica, ambiental ou relativa à vida humana. Por
definição, consiste no produto da probabilidade de ocorrência de um
evento pelo seu efeito. Usualmente, o risco é definido como o produto
da probabilidade de ocorrer um evento pela sua consequência
(CASTRO, 2017).
Já o perigo diz respeito a uma condição que possibilita a
ocorrência de danos e se relaciona com aspectos do ambiente e da
natureza do trabalho, de tal modo que nem sempre pode ser alterado
ou controlado de acordo com as circunstâncias. Apesar disso, a
aplicação de medidas de segurança tende a reduzir as chances desse
perigo produzir consequências negativas (CASTRO, 2017). 
Para esclarecer a diferença entre risco e perigo, utilizaremos uma
situação hipotética. Imagine um colaborador de uma subestação de
energia localizada numa área remota, rodeada por vegetação. A
presença de animais peçonhentos nas vizinhanças, os quais podem vir
a atacar o funcionário constitui um perigo. Esse evento é provável de
acontecer se o funcionário exposto e, o somatório do ambiente (em local
isolado e próximo a floresta) com o tempo de permanência do
funcionário constituem o risco de ocorrência de acidentes envolvendo
animais peçonhentos. Entretanto, vale lembrar que esse risco pode ser
reduzido pela adoção das medidas de proteção cabíveis (CASTRO,
2017).
Os riscos e perigos estão em todos os lugares, desde o meio
doméstico até os espaços onde são desempenhadas atividades
laborais. Os riscos identificados no local de trabalho são denominados
ocupacionais ou riscos ambientais e a sua existência justifica a atuação
dos profissionais especialistas em saúde e segurança do trabalho, os
quais são incumbidos de identificar, prevenir e controlá-los. De acordo
com Chirmici e Oliveira (2016, p. 40), “o conhecimento aprofundado dos
tipos de riscos ocupacionais se torna, portanto, de suma importância
para o desempenho de tais profissionais.”
Dessa forma, didaticamente, os riscos ocupacionais são
classificados pela legislação brasileira em cinco grupos: físicos,
químicos, biológicos, ergonômicos e riscos de acidentes (CHIRMICI;
OLIVEIRA, 2016).
Conhecer e diferenciar os riscos ambientais é fundamental,
porque somente classificando os agentes presentes no ambiente laboral
é que o empregador, junto à equipe de segurança do trabalho, poderá
traçar medidas para sua eliminação ou neutralização. 
 

As cores na Segurança do Trabalho


 

Cada grupo de risco abarca uma série de agentes causadores ou


fatores de risco, uma vez que podem desencadear prejuízos à saúde e
integridade física do trabalhador. Na segurança e à saúde no trabalho,
os riscos ocupacionais são representados por cores, as quais são
utilizadas para representá-los e informar sua presença em cada setor da
empresa, através de um instrumento importante denominado mapa de
riscos (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016). 
No Quadro 1 vemos a lista de agentes de acordo com o risco
provocado e as respectivas cores utilizadas para sinalizar a sua
existência no ambiente de trabalho no mapa de riscos.
 
Quadro 1 – Agentes causadores de riscos ambientais.
O mapa de riscos é um esboço visual da distribuição dos riscos
sobre a planta do setor ou departamento que foi submetido a um
levantamento dos riscos ocupacionais (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016).
Conforme parágrafo 5.16 da NR-5, é uma atribuição da Comissão
Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) tanto a identificação dos
riscos do processo de trabalho, quanto a elaboração do mapa de riscos.
Essa norma esclarece, ainda, que, durante o processo de elaboração
do mapa de riscos, a CIPA deve envolver o máximo de trabalhadores
do ambiente em questão para participar, contando também com
assessoria do Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e
em Medicina do Trabalho (SESMT) (BRASIL, 2019).
Além das cores mostradas no Quadro 1, utilizam-se formas,
usualmente círculos, com gradação pequena, média e grande para
representar, no mapa, o risco alocado em cada setor da empresa,
conforme exemplificado Figura 1. 
 

 
 

Figura 1 - Círculos utilizados sobre a planta ou croqui para a representação da intensidade do risco.
É comum encontrar o mapa de riscos fixados em quadros
expostos na parede dos ambientes que compõem os setores e
departamentos das empresas. Isso é feito com o intuito de partilhar com
todos os indivíduos que possam acessá-los, por razões de trabalho ou
não, acessar esses espaços. 
 

Programa de Gerenciamento de Riscos – PGR


 

O Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) está disciplinado


nos textos mais atualizados das Normas Regulamentadoras nº1 e nº9. 
A NR-1 atrela o PGR a uma das formas de comunicação sobre riscos
detectados no ambiente de trabalho e as respectivas medidas de
prevenção e ações voltadas para a sua eliminação ou neutralização.
Isso acontece porque o PGR concretiza o Gerenciamento de riscos
ocupacionais, objeto da NR-1, uma vez que fornece um inventário de
riscos e um plano de ação, estando integrado com os planos,
programas e outros documentos importantes em matéria de segurança
e saúde do trabalho na organização (BRASIL, 2020a).
A NR-9 traça os requisitos para a avaliação das exposições
ocupacionais a agentes físicos, químicos e biológicos descritos no PGR,
definindo que a avaliação quantitativa das exposições aos agentes
físicos, químicos e biológicos, deverá atestar o controle da exposição
ocupacional aos agentes identificados; além de dimensionar a
exposição ocupacional; e proporcionar o equacionamento das medidas
de prevenção. Enquanto a avaliação quantitativa deverá ser conduzida
comprovar que está sendo efetuado o controle da exposição aos
agentes identificados; também para dimensionar a exposição
ocupacional; e prover o equacionamento das medidas de prevenção.
Os resultados das avaliações qualitativa e quantitativa aos agentes
físicos, químicos e biológicos comporão o inventário de riscos do PGR
(BRASIL, 2020b).
 

Importância da Prevenção
 

Em 1971 foi criada a Campanha Nacional de Prevenção de


Acidentes do Trabalho, que “se traduz em um conjunto de ações que
visam à promoção de uma cultura de segurança e saúde no trabalho,
de cunho essencialmente prevencionista” (MINISTÉRIO DA
ECONOMIA, 2021, p.1). Ela perdura até os dias de hoje, abordando, a
cada ano, uma temática diferente, relativa a aspectos gerais de
prevenção de acidentes e doenças do trabalho, visando fomentar
debates específicos. Em 2021, por exemplo, o tema foi “Segurança e
Saúde no Trabalho: um Valor para o Brasil”, com foco nas vantagens da
redução de acidentes para toda a sociedade, com vistas à geração de
valor para o Brasil, o alcance da competitividade para as empresas e de
qualidade de vida para os trabalhadores, através da segurança e a
saúde no Trabalho geram valor para o Brasil (MINISTÉRIO DA
ECONOMIA, 2021).
No ano de 2003, a Organização Internacional do Trabalho (OIT)
elegeu o dia 28 de abril como o Dia Mundial de Segurança e Saúde no
Trabalho, em memória às vítimas de acidentes e doenças de trabalho.
Essa data em particular foi escolhida devido à explosão da mina de
carvão Farmington, localizada nos Estados Unidos, que culminou em 99
vítimas, das quais 78 vieram a óbito e apenas 19 sobreviveram. No
Brasil a data foi formalizada legalmente em 2005, pela Lei Federal
11.121/2005, como Dia Nacional em Memória das Vítimas de Acidentes
e Doença do Trabalho (STUMM, 2020).
Além disso, no Brasil conta com outra data comemorativa que visa
alertar funcionários, trabalhadores, governos e sociedade sobre a
importância das práticas de prevenção de acidentes e doenças do
trabalho, no dia 27 de julho, sendo o Dia Nacional de Prevenção de
Acidentes do Trabalho. Ela foi oficializada em 1972, quando foi
regulamentada a formação técnica em Segurança e Medicina do
Trabalho (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018; STUMM, 2020).
 

Aplicação dos conceitos prevencionistas


 

A análise de situações cotidianas também permite a identificação


de riscos e perigos. Ao aguardar o metrô em uma plataforma, a
proximidade do limite da plataforma, nas proximidades da sinalização do
piso, em geral de cor amarela, expõe ao risco de queda. O declive
acentuado existente entre a plataforma e os trilhos constitui um perigo.
Outro exemplo é o manejo de objetivos perfurantes, como facas. Ao
fazer o corte de alimentos existe o risco de se acidentar, provocando um
ferimento na pele em contato com a lâmina do objeto. A faca, pela sua
característica perfurocortante, é capaz de provocar lesões das mais
simples às mais graves, o que constitui um perigo (CHIRMICI;
OLIVEIRA, 2016).
Algumas atitudes preventivas podem ser implementadas nas
situações do dia a dia de trabalho com a finalidade de evitar acidentes e
doenças do trabalho, dentre elas: assegurar a inutilização e a
substituição de mobiliário defeituoso, quebrado ou que esteja sem as
regulagens; a limpeza e manutenção dos sistemas de refrigeração;
sinalização de pisos molhados ou escorregadios e com diferença de
nível (como rampas e escadas) (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016).
Porém, muitos acidentes se dão debaixo do teto das nossas
próprias casas, devido à adoção de atitudes temerosas devido à
aspectos como pressa, falta de atenção, ou até mesmo falta de
consideração dos riscos associados a algumas ações, tais como: apoiar
o peso do corpo sobre a pia ou vaso sanitário para higienizar as paredes
dos banheiros, limpar janelas ou alcançar prateleiras e armários
suspensos. Outra atitude comum é subir em cadeiras ou bancos para
alcançar objetos que estejam a uma altura tal que não seja possível
atingir o chão. Logo, uma atitude simples e de cunho prevencionista
para todos esses casos é utilizar escadas que sejam de montagem
apropriada para o interior de ambientes com espaço limitado
(CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016).
 
 
Atividade extra
Assista a webinar “28 de Abril: Dia Mundial de Segurança e Saúde no
Trabalho”, disponibilizada pela FUNDACENTRO, na qual especialistas
da área discutem o tema “Gerenciamento de Riscos Ocupacionais
como Sistemas Resilientes de Segurança e Saúde do Trabalho” (Link
de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=stb6B55m4Pw).
 
Referência Bibliográfica
BRASIL. Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1): Disposições gerais e
gerenciamento de riscos ocupacionais. Portaria n.º 6730 da Secretaria
Especial de Previdência e Trabalho (SEPRT), de 09 de março de 2020 a.
Disponível em:
<https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-
especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-
trabalho/ctpp-nrs/nr-1>.
BRASIL. Norma Regulamentadora nº 5 (NR-5): Comissão Interna de
Prevenção de Acidentes – CIPA. Portaria n.º 915 da Secretaria Especial
de Previdência e Trabalho (SEPRT), de 30 de julho de 2019. Disponível
em:
<https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-
especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-
trabalho/ctpp-nrs/norma-regulamentadora-no-5-nr-5>. 
BRASIL. Norma Regulamentadora nº 9 (NR-9): Avaliação e controle
das exposições ocupacionais a agentes físicos, químicos e biológicos.
Portaria n.º 6735 da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho
(SEPRT), de 10 de março de 2020b. Disponível em:
<https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-
especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-
trabalho/ctpp-nrs/norma-regulamentadora-no-9-nr-9>. 
CASTRO, Bruno Albuquerque de. Segurança do trabalho em
eletricidade. São Paulo: Editora Érica, 2017.
CHIRMICI, A.; OLIVEIRA, E. A. R. Introdução à segurança e saúde
no trabalho. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
 

GERÊNCIA DE SAÚDE E PREVENÇÃO DA SUPERINTENDÊNCIA


DE GOIÁS (SGC). Manual de elaboração mapa de riscos. 2012.
Disponível em:
<http://www.sgc.goias.gov.br/upload/arquivos/2012-11/manual-de-
elaboracao-de-mapa-risco.pdf>.
MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Campanha Nacional de Prevenção
será lançada nesta quarta-feira. 2021. Disponível em:
<https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/noticias/2021/trabalho/
marco/campanha-nacional-de-prevencao-sera-lancada-nesta-quarta-
feira>.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. 27/7 – Dia Nacional da Prevenção de
Acidentes do Trabalho. 2018. Disponível em:
<https://bvsms.saude.gov.br/27-7-dia-nacional-da-prevencao-de-
acidentes-do-trabalho-4/>. 
STUMM, S. B. Segurança do trabalho e ergonomia [recurso
eletrônico]. Curitiba: Contentus, 2020.
Segurança do trabalho e
qualidade de vida
 
Conforme discutido, aperfeiçoar o ambiente laboral normalmente
implica na diminuição do índice de acidentes e das doenças causadas
pelo trabalho. Por esse motivo é tão importante proporcionar aos
indivíduos condições adequadas e que não lhe causem prejuízos
físicos, mentais e sociais, proporcionando um desenvolvimento integral
através do seu trabalho (BRISTOT, 2019). 
Podemos afirmar que, mesmo mediante esforços constantes para
oferecer um ambiente seguro, ainda assim os acidentes podem e
provavelmente vão acontecer, visto que os sistemas de trabalho tendem
a experimentar falhas ao longo do tempo. Daí a relevância do
desenvolvimento de uma cultura de segurança que impulsione a
absorção dos princípios da higiene e medicina do trabalho (BRISTOT,
2019).
Os próximos tópicos estão voltados para a discussão acerca de
conceitos e diretrizes da Higiene Laboral, para garantir um local de
trabalho seguro e salubre. E, além disso, nos casos em que isso não for
plenamente possível, serão apresentados os meios de proteção para
assegurar a preservação da saúde e integridade física do trabalhador,
mesmo diante da sua exposição e vulnerabilidade a situações
envolvendo riscos e perigos.
 

Higiene do Trabalho
 

O profissional da área da segurança do trabalho deve estar apto


para reconhecer os riscos ambientais, os quais podem comprometer
tanto a saúde dos indivíduos quanto o seu conforto e eficiência para o
trabalho. Também devem avaliar a magnitude desses riscos, com o
auxílio de técnicas de avaliação quantitativa. E, reunindo esses dados e
informações, prescrever medidas visando prioritariamente eliminar,
porém, quando isso não for viável, reduzi-los a níveis aceitáveis perante
a legislação (BRISTOT, 2019).
Para que seja possível atingir esses e outros objetivos pregados
pela Higiene do Trabalho, é necessário unir dois critérios de avaliações
dos riscos ambientais: qualitativos e quantitativos. Os riscos físicos tais
como, vibrações, pressões anormais, radiações ionizantes e não
ionizantes, temperaturas extremas (calor ou frio) e umidade podem ser
analisados por ambas as óticas, tendo em vista a intensidade, a
duração da exposição e a constatação dos níveis permitidos por lei.
Dentre eles, os ruídos, que consistem em incômodos sonoros, podem
ser classificados em contínuos, intermitentes e de impacto e tendem a
produzir alterações danosas que se manifestam imediata ou
gradualmente, a depender do grau de exposição e das individualidades
dos trabalhadores expostos. Um equipamento chamado decibelímetro
permite medir, em decibéis, a “intensidade do som em qualquer
ambiente acústico (ruidoso ou silencioso), agudo, grave ou de faixa
ampla, intermitente ou contínuo” (BARSANO; BARBOSA, 2014).
As vibrações provenientes de máquinas e equipamentos consiste
noutros agentes físicos muito presentes nos ambientes laborais. Elas
podem ser classificadas como localizadas, ou seja, direcionadas para
determinadas partes do corpo; e generalizadas, voltadas para o corpo
todo do trabalhador. As vibrações localizadas são geradas por
ferramentas pneumáticas e elétricas, e produzem efeitos no organismo
tais como alterações nos nervos e vasos das extremidades, sobretudo
nas mãos, braços, pés e pernas. Já as vibrações generalizadas tendem
a ser produzidas por máquinas maiores, veículos grandes, tais como
ônibus, caminhões e tratores, tendendo a ocasionar consequências
como dores e lesões de coluna (BARSANO; BARBOSA, 2014). 
Os dois tipos de vibração podem ser quantificados por meio do
vibrômetro, que mede as frequências mais baixas, e acelerômetro, que
é aplicado para mensuração das frequências mais altas (BARSANO;
BARBOSA, 2014).
Os riscos de acidentes constituem fatores que podem degradar a
integridade física e/ou moral do trabalhador, capazes de ocasionar
cortes, escoriações, queimaduras, choques elétricos em alguma parte
do seu corpo e até mesmo a perda de membros do corpo. Um dos
agentes de risco de acidentes é a iluminação para o tipo de atividade
profissional ou inadequada para o espaço de trabalho (salas, escritórios,
laboratórios, depósitos, etc.), tanto a baixa iluminação, que provoca
incômodos, quanto a luminosidade excessiva, que causa ofuscamento
nos olhos. O equipamento utilizado para medir o nível de iluminação
ambiente é o luxímetro. 
Sobre iluminação, a NR-17 determina que os seguintes critérios
devem ser atendidos: presença de iluminação natural e artificial
suplementar, na intensidade apropriada à natureza da atividade; a
iluminação geral deve ser uniformemente distribuída e difusa, sendo
projetada, posicionada e fixada de forma a “evitar ofuscamento, reflexos
incômodos, sombras e contrastes excessivos” (BRASIL, 2018, item
17.5.3.2). A NBR 5413/1992, que dispõe sobre a Iluminância de
interiores, estabelece as iluminâncias de acordo com algumas classes
de tarefas visuais, são elas: áreas utilizadas de forma ininterrupta para
tarefas visuais simples; iluminação geral para a área de trabalho em
tarefas com requisitos médios visuais; iluminação adicional para tarefas
visuais que exigem maior acurácia visual, exatidão e tarefas mais
difíceis (ABNT, 1992).
Os riscos químicos, caracterizados como substâncias, compostos
ou produtos que, perante o contato crônico ou acidental, possam
penetrar no organismo de tal como que, provoquem efeitos biológicos
negativos, tais como queimaduras ou mesmo cânceres, mutações,
doenças somáticas, dentre outros. Para avaliá-los é necessário
determinar as concentrações dos agentes químicos no ar em ambientes
de trabalho. Isso pode ser feito através da coleta de amostras por
medidores ou sensores de qualidade do ar, por exemplo (BARSANO;
BARBOSA, 2014).
 

Segurança no ambiente laboral


 
A norma regulamentadora nº 10 (NR-10), que trata da Segurança
em Instalações e Serviços em Eletricidade, vem estabelecer um padrão
de segurança nos procedimentos de serviços e proteção do trabalhador.
A eletricidade está presente em diversos ambientes de trabalho, mesmo
os que não são voltados para a produção e disseminação de energia
elétrica. Assim, ainda que a NR-10 seja específica para área elétrica, ela
tem uma relação com as demais NR de maneira direta (sendo
mencionadas pela NR-10, tais como a NR-6, NR-23, NR-26 E NR-35) 
indireta (que não são mencionadas pela NR-10, mas são afetadas por
ela, é o caso da NR-12, NR-13, NR-30, NR-31), seja pelas duas
determinações mais específicas ou pela ênfase nas penalidades
(normas que pregam programas no contexto da saúde e segurança do
trabalho, a implantação da NR-10 e as penalidades em caso de
descumprimento, como a NR-1, NR-5, NR-7, NR-15, NR-16) (SANTOS
JUNIOR, 2016).
A prevenção de choques elétricos nos ambientes de trabalho é
essencial e envolve a adoção de dispositivos de proteção, a garantia de
um estado de conservação apropriada das instalações elétricas em
geral, utilização do aterramento elétrico; fornecimento de capacitação
técnica aos profissionais que interagem com eletricidade durante o
exercício de suas atividades laborais. Vale ressaltar que a
características individuais das instalações e dispositivos, pode fazer com
que alguns aspectos aumentem a probabilidade de um acidente, daí a
importância de observar o cumprimento das medidas de segurança
(SANTOS JUNIOR, 2016).
Outra norma que estabelece diretrizes importantes para a
prevenção de acidentes desde as fases de projeto do local e das
funções de trabalho, até o uso propriamente dito de máquinas e
equipamentos novos e usados é a Norma Regulamentadora nº12 (NR-
12). Embora cada máquina tenha características de aplicabilidade bem
específicas, cada situação exigirá a adoção de ações e medidas de
proteção específicas, sob a responsabilidade do empregador, o qual
também deve capacitar o empregado. São exemplos de proteções
coletivas utilizadas nos ambientes de trabalho com a finalidade de
prevenção de acidentes e doenças do trabalho: proteções fixas e
móveis, dispositivos e sensores de parada e de emergência. As
proteções individuais variam, mas contemplam: capacete, luvas, óculos
de proteção, vestimenta de proteção, calçado de proteção, dentre outras
(BRISTOT, 2019).
 

Atividades insalubres
 

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em seu art. 189,


define a insalubridade, como (BRASIL, 1943, art. 189):
 

Art. 189 - Serão consideradas atividades ou


operações insalubres aquelas que, por sua natureza,
condições ou métodos de trabalho, exponham os
empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos
limites de tolerância fixados em razão da natureza e
da intensidade do agente e do tempo de exposição
aos seus efeitos (BRASIL, 1943, art. 189).
 

De acordo com a NR-15, o exercício de trabalho em condições de


insalubridade, comprovado mediante laudo de inspeção do local de
trabalho que comprove que os limite de tolerância, concentração ou
intensidade máxima ou mínima não estão conformes, seja em virtude
da natureza, seja graças ao tempo de exposição ao agente; assegura
ao trabalhador a percepção de adicional, que incide sobre o salário-
mínimo, sendo equivalente a (BRASIL, 2019a):
 40%, para grau máximo de insalubridade;
 20%, para grau médio de insalubridade;
 10%, para grau mínimo de insalubridade.
 
Ainda de acordo com a NR-15, são consideradas atividades ou
operações insalubres as que se desenvolvem acima dos limites de
tolerância descritos nos anexos dessa norma acerca dos limites de
exposição a ruídos, calor, radiações ionizantes, radiações não
ionizantes, agentes químicos, condições hiperbáricas, agentes
biológicos, vibrações, umidade. É importante destacar que perante a
incidência de mais de um fator de insalubridade, prevalecerá o que tiver
o grau mais elevado para efeito de acréscimo salarial, não sendo
permitida a acumulação (BARSANO; BARBOSA, 2014; BRASIL,
2019a).
 

Atividades periculosas
 

De forma semelhante às atividades insalubres, a Consolidação


das Leis do Trabalho (CLT), em seu art. 193, define a periculosidade,
como (BRASIL, 1943, art. 193):
Art.193. São consideradas atividades ou operações
perigosas, na forma da regulamentação aprovada
pelo Ministério do Trabalho e Emprego, aquelas que,
por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem
risco acentuado em virtude de exposição permanente
do trabalhador a:    
I - inflamáveis, explosivos ou energia elétrica;
II - roubos ou outras espécies de violência física nas
atividades profissionais de segurança pessoal ou
patrimonial.
[...] § 4º São também consideradas perigosas as
atividades de trabalhador em motocicleta (BRASIL,
1943, art. 193).
 

Foram acrescidas às exposições supracitadas, pela Portaria nº


518, de 2003, as atividades e operações com radiações ionizantes ou
substâncias radioativas. Todas elas, por colocarem em risco a
integridade dos indivíduos envolvidos em atividades laborais envolvendo
os agentes que provoca a periculosidade, fazem com que o trabalhador
faça jus à percepção de um adicional de 30% sobre o salário-base, fora
os acréscimos referentes a gratificações, prêmios ou participações nos
lucros da empresa. Caso o trabalhador tenha direito tanto ao adicional
de insalubridade quanto ao de periculosidade, ele deverá optar por um
deles (BARSANO; BARBOSA, 2014; BRASIL, 2003).
De acordo com o artigo 194 da CLT, eliminando-se o risco que
gera o direito à percepção do adicional de insalubridade ou
periculosidade, estes serão igualmente suspensos (BRASIL, 1943).
 

Atividades penosas
 

De acordo com Barsano e Barbosa (2014), podem ser


classificadas como atividades penosas aquelas que, possam ser
inicialmente presumidas como insalubres ou periculosas, mas que se
distinguem destas pelo fato de ocasionar desconfortos e incômodos
pelo fato de exporem o indivíduo a condições degradantes, cruéis,
árduas, excessivamente difíceis e que lhe impunham dor e sofrimento.
Alguns exemplos de atividades penosas são: trabalho de corte pelos
bóias-frias nos canaviais de cana-de-açúcar; extração do minério de
carvão ou nas carvoarias; trabalhos a céu aberto, sob sol escaldante e
intempéries naturais; trabalho de limpeza subterrânea das tubulações
de esgoto público (BARSANO; BARBOSA, 2014).
 

Atividade extra
Assista ao vídeo intitulado “O trabalho no feminino”, disponibilizado pela
FUNDACENTRO, o qual discute sobre o espaço ocupado pela mulher
no mercado de trabalho, bem como sua relação com aspectos relativos
à segurança e saúde do trabalho, assunto bem importante e pouco
discutido (Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?
v=2vTpgvb_RK0).
 

Referência Bibliográfica
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR
5413: Iluminância de interiores. Abril de 1992. Disponível em:
<http://engplanilhas.com.br/wp-content/uploads/2018/10/NBR-5413-
Ilumin%C3%A2ncia-de-Interiores.pdf>. 
BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Higiene e segurança do
trabalho.  1. ed. São Paulo: Érica, 2014.
BRASIL. Decreto-lei nº 5.452: Aprova a Consolidação das Leis do
Trabalho. 1º de maio de 1943. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>. 
BRASIL. Portaria nº 518 do Ministro de Estado do Trabalho e
Emprego, de 04 de abril de 2003. Disponível em:
<http://www.normaslegais.com.br/legislacao/trabalhista/portariamte518.
htm>. 
BRASIL. Norma Regulamentadora nº 15 (NR-15): Atividades e
operações insalubres. Portaria n.º 1359 da Secretaria Especial de
Previdência e Trabalho (SEPRT), de 09 de dezembro de 2019 a.
Disponível em:
<https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-
especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-
trabalho/ctpp-nrs/norma-regulamentadora-no-15-nr-15>. 
BRASIL. Norma Regulamentadora nº 16 (NR-16): Atividades e
operações perigosas. Portaria n.º 1357 da Secretaria Especial de
Previdência e Trabalho (SEPRT), de 09 de dezembro de 2019 b.
Disponível em:
<https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-
especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-
trabalho/ctpp-nrs/norma-regulamentadora-no-16-nr-16>.
 

BRASIL. Norma Regulamentadora nº 17 (NR-17): Ergonomia.


Portaria n.º 876 do Ministério do Trabalho (MTb), de 24 de outubro de
2018. Disponível em:
<https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-
especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-
trabalho/ctpp-nrs/norma-regulamentadora-no-17-nr-17>. 
BRISTOT, V. M. Introdução à engenharia de segurança do trabalho
[Recurso
eletrônico]. Criciúma, SC: UNESC, 2019.
SANTOS JUNIOR, J. R. dos. NR-10: segurança em
eletricidade: uma visão prática. 2. ed. São Paulo: Érica, 2016.

Responsabilidades dos
profissionais de Segurança
e Saúde do trabalho
No dia 27 de julho de 1972, foram publicadas duas portarias
importantes em matéria de segurança e saúde do trabalho no Brasil: a
nº 3236, que instituiu o Plano Nacional de Valorização do Trabalhador, e
a nº 3237, que tornou obrigatório o Serviços Especializados em
Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) em
todas as empresas com um ou mais trabalhadores. Por intermédio
desse marco a ocorrência de acidentes e doenças ocupacionais
experimentou uma queda significativa, atestada pelas estatísticas
governamentais (BRISTOT, 2019; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). 
Tal fato foi possível devido à integração das entidades envolvidas,
e justifica-se pela ênfase dada a manutenção constante da segurança
do trabalho. Os profissionais que integram o SESMT desempenham
funções que mesclam liderança e gestão de riscos na organização,
sendo responsáveis, em parceria com a Comissão Interna de
Prevenção de Acidentes (CIPA), pela implementação de medidas e
ações de controle de riscos, que visam a melhoria nas condições
laborais, na qualidade do trabalho e nos ambientes de trabalho
(BRISTOT, 2019).
Por essa razão, os próximos itens debruçam sobre alguns dos
requisitos para que a atuação dos profissionais da segurança do
trabalho seja eficiente, comprometida e voltada para princípios legais e
éticos essenciais.
 

Profissionais da Segurança do Trabalho

A equipe envolvida com a segurança do trabalho tem o importante


papel de garantir para os indivíduos um local de trabalho seguro, digno
e que proporciona qualidade de vida. O SESMT tem a função de
proteger os trabalhadores por meio da eliminação (quando possível),
minimização e/ou neutralização dos riscos encontrados no ambiente
laboral (BRISTOT, 2019).
De acordo com a Norma Regulamentadora nº 4, o SESMT deve
ser constituído por: Engenheiro de Segurança do Trabalho, Enfermeiro
do Trabalho, Médico do Trabalho, Técnico de Segurança do Trabalho e
Auxiliar de Enfermagem do Trabalho ou Técnico de Enfermagem do
Trabalho (BRASIL, 2016). 
O SESMT, regulamentado pela NR-4, constitui uma equipe
responsável pela gestão de segurança das organizações, onde cada
qual contribui com conhecimentos segundo a sua especialização, mas
todos focados na preservação da saúde do trabalhador. Caso a
empresa tenha mais de um estabelecimento, ela poderá manter um
SESMT centralizado, isto é, um único SESMT que responda pelas
unidades, de modo que estas precisam obedecer ao critério de distância
máxima de cinco mil metros entre elas. Quando esse for o caso e o
SESMT for unificado, o dimensionamento será feito a partir do número
total de trabalhadores, que corresponde à soma dos funcionários dos
estabelecimentos (BRISTOT, 2019).
O SESMT deve ser registrado no órgão regional Ministério do
Trabalho e Emprego (TEM), onde deve constar dados importantes, tais
como: nome dos profissionais integrantes dos SESMT; número de
registro dos profissionais na Secretaria de Segurança e Medicina do
Trabalho do MTE; número de funcionários da empresa e grau de risco
das atividades desenvolvidas pelo estabelecimento; especificação dos
turnos de trabalho de acordo com o estabelecimento; horário de
trabalho dos profissionais do SESMT (BRISTOT, 2019).
Muitas vezes as pessoas se perguntam se há diferenças entre os
papéis do SESMT e da CIPA, pois pode haver a percepção incorreta de
que eles se sobrepõem, de modo que seria possível dispensar um
quando já se tem o outro. Ocorre que as funções se diferem no seguinte
aspecto: enquanto o SESMT é composto por profissionais especialistas
na área de segurança e saúde no trabalho, que tem a importante
responsabilidade desenvolver uma Política de Segurança e Saúde do
Trabalho que propicie aos trabalhadores o acesso ao direito de exercer
as suas funções laborais de forma segura e digna, se mantendo livres
da exposição a condições prejudiciais à sua integridade física, moral e
psicológica; a CIPA é constituída por empregados de diferentes setores
e departamentos, com a finalidade de agregar ao SESMT informações
inerentes ao dia a dia do trabalho, assim como dissipar entre os
trabalhadores conhecimentos, boas práticas e os critérios da Política de
Segurança e Saúde do Trabalho da organização (BRISTOT, 2019).. 
Em outras palavras, os membros da CIPA atuam como
multiplicadores de segurança, dando subsídios para que o SESMT
garanta a implementação das diretrizes de segurança e saúde do
trabalho e o seu cumprimento. Desse modo, tanto o SESMT quanto a
CIPA terão uma grande parcela de contribuição para a melhoria
contínua dos sistemas de gestão da segurança e saúde do trabalho nas
Organizações (BRISTOT, 2019).
 

Engenheiro e arquiteto na Segurança do Trabalho


 

Nesse ponto chega-se ao tópico que traz esclarecimentos sobre


os procedimentos que todo aluno de Pós-graduação em Engenharia de
Segurança do Trabalho se pergunta: e os engenheiros e arquitetos do
trabalho no meio disso tudo? Pois bem, sabendo que sim, ambos
podem atuar na área de Segurança do Trabalho, vamos compreender o
primeiro ponto relevante para a diferenciação entre tais profissionais.
Conforme informado pelo próprio Conselho de Arquitetura e Urbanismo
(CAU): “hoje as regras que arquitetos e urbanistas devem observar para
o registro do título complementar e o exercício das atividades de
Engenharia de Segurança do Trabalho estão dispostas na Resolução
CAU/BR Nº 162” (CAU MT, 2020, p.1).
De acordo com a Resolução CAU/BR Nº 162, habilitação para o
exercício das atividades na área de Engenharia de Segurança do
Trabalho pelos arquitetos e urbanistas está relacionada a obtenção de
registro profissional ativo e do incremento do título complementar de
“Engenheiro (a) de Segurança do Trabalho (Especialização)” em uma
unidade regional do CAU. Além disso, esse instrumento normativo
assegura que o direito de exercer atividades de Engenharia de
Segurança do Trabalho será permitido, exclusivamente, ao arquiteto e
urbanista que seja portador de certificado de conclusão de curso de
especialização, em nível de pós-graduação, em curso de Engenharia de
Segurança do Trabalho ou especialização em Engenharia de
Segurança do Trabalho, executado em caráter prioritário pelo Ministério
do Trabalho; ou portador de registro de Engenharia de Segurança do
Trabalho, expedido pelo Ministério do Trabalho.
Conforme amplamente divulgado nos meios de informação, os
Engenheiros de Segurança do Trabalho têm sua atuação regida pelo
Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA), a qual está
fortemente atrelada a existência de um registro para obtenção da
segunda atribuição que, por sua vez, depende da existência prévia de
um registro da primeira atribuição. A Resolução nº 1010 do Conselho
Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA), estabelece
no art. 10º que a atribuição inicial de título profissional, habilitação e
competência na categoria profissional Engenharia, em qualquer nível de
formação profissional, será concedida pelo Crea em que o profissional
requereu a extensão, mediante o cumprimento das seguintes
disposições:
 Quando a extensão da atribuição inicial for na mesma modalidade
profissional, o procedimento dependerá de decisão favorável de
Câmara especializada.
 Já quando a extensão da atribuição inicial não for na mesma
modalidade, o procedimento dependerá de decisão favorável das
Câmaras especializadas associadas às respectivas modalidades
envolvidas.
 

De acordo com o artigo 10 da Resolução nº 1010 da CONFEA,


alínea § 4º, a segunda habilitação, a qual consiste numa extensão da
atribuição inicial, será provida aos portadores de certificados de
formação profissional adicional que tenha sido adquirida no nível de
pós-graduação lato senso, desde que tenha sido expedido por curso
que esteja regularmente cadastrado no Sistema CONFEA/CREA
(CONFEA, 2005).
O registro da segundo atribuição depende, normalmente, que o
profissional submeta ao CREA no qual o curso de pós no qual obteve o
certificado está cadastrado: um requerimento padrão preenchido e
assinado; diploma ou certificado de conclusão registrado pelo órgão
competente do sistema de ensino; histórico escolar contendo a lista das
disciplinas e suas respectivas cargas horárias, devidamente carimbado
e assinado pelo coordenador do curso da instituição de ensino;
documento de identificação pessoal com foto ou identidade de
estrangeiro, expedida na forma da lei; quitação com o serviço militar
(para homens brasileiros); título de eleitor; comprovante de quitação
emitido pela justiça eleitoral (apenas para brasileiros); CPF;
comprovante de residência; duas fotografias nas dimensões 3x4cm,
recentes; pagamento das taxas cabíveis e aplicáveis.
 

Principais entidades em matéria de segurança do trabalho


 

A atuação no campo da segurança e saúde do trabalho


transcende os muros das organizações e dos espaços laborais, uma
vez que, como já discutido em outras aulas, a garantia de condições
dignas, adequadas e confortáveis de trabalho é uma responsabilidade
de todos, a fim de reduzir ao máximo a incidência de acidentes e
doenças do trabalho, agindo de forma prevencionista. 
Em virtude disso, as entidades que atuam em matéria de
segurança e saúde do trabalho somam forças às empresas,
fortalecendo o SESMT, com a finalidade de cumprir com o objetivo
comum de reafirmar constantemente a importância da preservação da
saúde e integridade laboral. A seguir serão listadas algumas dessas
entidades a nível internacional e nacional (BRISTOT, 2019).
A Organização Mundial da Saúde (OMS), apesar de não ter como
foco de atuação especificamente o trabalho, é amplamente reconhecida
como uma entidade de interesse prevencionista, a qual corrobora com
avanços nas áreas de higiene, segurança e saúde ocupacional,
sobretudo, na prevenção de acidentes e de doenças ocupacionais
(BRISTOT, 2019). 
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é mundialmente
reconhecida como entidade de referência na prevenção e controle de
acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, atuando nas questões
relativas ao cumprimento da legislação trabalhista e no aperfeiçoamento
das condições dos ambientes de trabalho, assim como do método
utilizado para execução das atividades laborais. Assim, apresenta uma
participação ativa em estudos estatísticos relativos à segurança do
trabalho e saúde ocupacional (BRISTOT, 2019). 
A nível nacional, são várias as entidades governamentais ou não
com foco no controle de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais.
Dentre elas, a entidade governamental mais representativa em termos
de Higiene, Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional no Brasil é o
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o qual é responsável pela
fiscalização da aplicação das normas regulamentadoras (NR) nas
organizações, com poder de interdição e embargo em caso de
constatação de descumprimentos. De acordo com Bristot (2019), sua
competência abrange as áreas da política e geração de emprego e
renda, além de suporte ao trabalhador; diretrizes para a modernização e
adaptação das relações do trabalho; fiscalização do trabalho, bem como
aplicação das sanções previstas em diferentes normas legais ou
coletivas; política salarial; capacitação e formação profissional;
segurança e saúde no trabalho; cooperativismo e associativismo
urbanos.
Nas unidades federativas as Delegacias Regionais do Trabalho
(DRT) são as entidades que representam o TEM, sendo inclusive
mencionadas no texto nas NR. Sua ação é voltada para a
operacionalização desse Ministério nas questões relacionadas à
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional estadual. No âmbito dos
Estados, Os Auditores Fiscais do Trabalho, são os profissionais lotados
nessas DRT e que têm competência para efetuar as inspeções nos
ambientes de trabalho, visando a identificação de não conformidades
quanto aos quesitos da Higiene, Segurança, Medicina do Trabalhos e
das NR.
Outra Instituição muito importante no nosso país quando se trata
da Segurança e Saúde no Trabalho é o Ministério Público do Trabalho
(MPT). O MPT é independente dos Poderes Judiciário, Executivo,
Legislativo, assim como do Tribunal de Contas. O seu papel é fiscalizar
o cumprimento dos requisitos da lei, sempre priorizando os direitos da
sociedade. Por esse motivo, o MPT defende as causas que são de
interesse coletivo e não as de benefício de uma pessoa ou grupo
isolado (BRISTOT, 2019).
A Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do
Trabalho (FUNDACENTRO) é outra entidade conhecida tanto por
produzir quanto por disseminar conhecimento na área de Segurança e
Saúde no Trabalho e Meio Ambiente, fomentando a incorporação dessa
temática na elaboração e gestão de políticas públicas para o
desenvolvimento sustentável e econômico, com fins na promoção da
equidade social e proteção do meio ambiente (BRISTOT, 2019).
 

Medidas de proteção coletiva e individual


 

Conforme já discutido, a prioridade do empregador deve voltar-se


sempre para a eliminação dos riscos ocupacionais, embora nem
sempre isso seja viável para a organização. Por motivos que vão desde
às próprias características do processo, à natureza das atividades ou às
condições de trabalho, não sendo possível eliminá-los, a solução será
buscar a neutralização dos riscos com base numa hierarquia de
alternativas. 
As medidas administrativas e a adoção de equipamentos de
proteção coletiva (EPCs) devem prevalecer sobre a utilização de
equipamentos de proteção individual (EPIs). As medidas administrativas
ou de organização do trabalho, como mudanças de jornada e
flexibilizações das rotinas de trabalho, por exemplo, o treinamento de
equipes multifuncionais, viabilizando a introdução de sistemas de
rotatividade (no inglês conhecido como “job rotation”); visam à redução
do tempo de exposição ao risco. Os EPCs consistem em dispositivos,
sistemas, ou meios, fixos ou móveis, de preservar a integridade física e
a saúde de trabalhadores durante a execução de suas tarefas. O
fornecimento de EPIs corresponde a terceira e última alternativa a ser
adotada pelo empregador, caso as anteriores não sejam viáveis ou
totalmente efetivas no combate ao risco, sendo tido como uma “medida
precária” (CAMISASSA, 2019).
 

Ética na Engenharia de Segurança do Trabalho


 

A ética, em um dos seus significados, por ser tida como um


sinônimo de moralidade. Sendo assim, a atitude ética é aquela que é
orientada por valores morais razoáveis, em conformidade com as ações
ou políticas moralmente admissíveis ou desejáveis. Assim, a ética na
engenharia de segurança do trabalho engloba responsabilidades e
direitos que devem ser assumidos por pelos profissionais cujo papel
seja preservar a saúde dos trabalhadores e assegurar a segurança dos
ambientes e métodos de trabalho (COCIAN, 2017).
Apesar de parecer algo lógico, a moralidade não é um termo fácil
de ser definido e compreendido, uma vez que dependerá do ponto de
vista considerado. É possível associá-la a valores universais, como
coragem, compaixão, generosidade, honestidade e justiça. Ao mesmo
tempo, pode-se considerar que a moralidade consiste em “promover o
bem maior”, que faz menção a uma área da teoria ética denominada
utilitarismo. Se, por outro lado, considerar-se que a moralidade
corresponde aos direitos humanos, daí já se fará referência à área da
teoria ética do direito. Por fim, se for considerado que a moralidade está
relacionada ao bom caráter, volta-se o olhar para a área da teoria ética
da virtude (COCIAN, 2017).
O certo é que a ética está associada à ação de decidir o que está
certo e errado, unindo os vários pontos de vista, além do seu próprio, a
fim de poder julgar alguma ação futura (COCIAN, 2017).
De acordo com Cocian (2017, p. 257):
 

O objetivo do estudo da ética da engenharia é


melhorar a habilidade do engenheiro de se defrontar
efetivamente com a complexidade moral recorrente
das decisões e ações do exercício profissional. [...] O
objetivo principal é melhorar a sua autonomia moral.
A autonomia moral pode ser vista como a habilidade
e o hábito de pensar de forma racional sobre as
questões éticas com base nas preocupações e nos
compromissos morais (COCIAN, 2017, p. 257).
 

Algumas habilidades que tem tudo a ver com a ética da


engenharia na engenharia de segurança do trabalho são: consciência
moral (capacidade de reconhecer os problemas e as questões morais
implicadas na prática laboral); raciocínio moral convincente
(compreensão, esclarecimento e avaliação de argumentos de lados
diferentes acerca de questões morais), comunicação moral (precisão no
uso de uma linguagem ética e comum para expressar e defender os
próprios pontos de vista de forma adequada, equilibrada e confiante);
integridade (integridade moral e interseção entre a vida profissional e as
convicções pessoais) (COCIAN, 2017).
 
 
Atividade extra
Assista ao documentário intitulado “Pilares da Fundacentro”,
disponibilizado pela própria FUNDACENTRO, o qual foi desenvolvido
pelo Grupo Resgate Histórico e traz as principais ações dessa entidade
nas décadas de 1960 e 1970, destacando os principais marcos para
uma efetiva contribuição com a segurança e saúde no trabalho no país.
(Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=vo7s9Rhi2No).

Referência Bibliográfica

 
BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Higiene e segurança do
trabalho.  1. ed. São Paulo: Érica, 2014.
BRASIL. Norma Regulamentadora nº 4 (NR-4): Serviços
Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do
Trabalho - SESMT. Portaria n.º 915 do Ministério do Trabalho e
Previdência Social (MTPS), de 29 de abril de 2016. Disponível em:
<https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-
especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-
trabalho/ctpp-nrs/norma-regulamentadora-no-4-nr-4>. 
BRISTOT, V. M. Introdução à engenharia de segurança do trabalho
[Recurso
eletrônico]. Criciúma, SC: UNESC, 2019.
CAMISASSA, Mara Queiroga. Segurança e Saúde no Trabalho: NRs
1 a 37 comentadas e descomplicadas. 6. ed. São Paulo: MÉTODO,
2019.
COCIAN, L. F. E. Introdução à engenharia [recurso eletrônico]. Porto
Alegre: Bookman, 2017.
CONSELHO DE ARQUITETURA E URBANISMO DO BRASIL (CAU).
Resolução n° 162, de 24 de maio de 2018. Disponível em:
<https://transparencia.caubr.gov.br/arquivos/resolucao162.pdf>. 
CONSELHO FEDERAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E
AGRONOMIA – CONFEA. Resolução nº 1.010, de 22 de agosto de
2005. Disponível em:
<https://normativos.confea.org.br/ementas/visualiza.asp?
idEmenta=550>.
CHIRMICI, A.; OLIVEIRA, E. A. R. Introdução à segurança e saúde
no trabalho. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
 

CONSELHO DE ARQUITETURA E URBANISMO DE MATO


GROSSO (CAU-MT). Consulta Pública: Novas regras para Engenharia
de Segurança do Trabalho. 2020. Disponível em:
<https://www.caumt.gov.br/consulta-publica-novas-regras-para-
engenharia-de-seguranca-do-trabalho/>. 
MINISTÉRIO DA SAÚDE. 27/7 – Dia Nacional da Prevenção de
Acidentes do Trabalho. 2018. Disponível em:
<https://bvsms.saude.gov.br/27-7-dia-nacional-da-prevencao-de-
acidentes-do-trabalho-4/>. 

Novos paradigmas de
gestão de segurança do
trabalho
Embora durante milênios saúde e trabalho tenham sido tratados
como conceitos sem qualquer relação, hoje em dia são basicamente
inseparáveis. Quando se fala em Segurança e Saúde do Trabalho
(SST) nas Organizações não se faz referência apenas aos profissionais
que constituem o Serviço de Engenharia e Segurança e Medicina do
Trabalho (SESMT), aos gestores e líderes responsáveis pela tomada de
decisões nas Organizações; mas sim a Gestão da SST (BRISTOT,
2019). 
A gestão de saúde e segurança do trabalho contempla as ações
preventivas, o conhecimento dos pontos de vulnerabilidade e dos riscos
que possibilitem a ocorrência de sinistros, cujo fim, em última instância,
é a implementação de uma cultura de prevenção e um cronograma de
atividades em prol da preservação da saúde dos indivíduos (BRISTOT,
2019).
Nesse sentido, os próximos tópicos trarão conceitos relativos à
engenharia de resiliência, discutindo o erro humano e suas influências
nos sistemas sob uma ótica um pouco diferente da usual: mostrando
que o erro é inevitável. Portanto, será abordada a importância das
defesas dos sistemas e como elas atuam em um sistema resiliente.
 

Resiliência e segurança do trabalhador


Embora resiliência seja uma palavra bastante difundida, sua
associação com a engenharia originou o termo engenharia de resiliência
de resiliência, que é relativamente novo. A resiliência consiste na
capacidade de organização de um sistema para que este se mantenha
em funcionamento ou recupere rapidamente um a sua estabilidade
mediante a existência de perturbações ou tensões significativas.
Resiliência envolve as habilidades de absorção das tensões, da
preservação em operação contínua apesar da presença de
adversidades, bem como a construção de aprendizados a partir de
eventos prévios para sua recuperação em outros futuros (MATTOS;
MÁSCULO, 2019).
Assim, os sistemas resilientes são aqueles que possuem a
capacidade de retornar ao para o estado inicial, após um evento
adverso, sem gerar consequências severas para o universo do qual
fazem parte. Por esse motivo, são mais seguros e produtivos, uma vez
que toleram estresses e mesmo assim se mantêm operando. Quando
tratamos da segurança do trabalhador, ter um sistema resiliente é
determinante para minimizar os possíveis desdobramentos de uma
situação indesejada que culmine num acidente de trabalho, evitando
consequências mais sérias e até mesmo fatais (MATTOS; MÁSCULO,
2019). 
Nessa perspectiva, um sistema resiliente deve impedir a morte de
um trabalhador frente a sua capacidade de absorver as perturbações
não esperadas ou desejadas. Isso significa que organizações que
possuem altas taxas de gravidade de acidentes de trabalho não são
dotadas de sistemas resilientes, visto os acidentes são severos e
produzem consequências muito impactantes para as vítimas, para os
colegas desse trabalhador, para a família do acidentado e para a
sociedade no geral (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
Sabendo então qual é o caminho a ser trilhado, Mattos e Másculo
esclarece que é preciso reconhecer que as seguintes afirmações não
são realistas sobre as organizações (MATTOS; MÁSCULO, 2019):
 Os sistemas são bem desenhados e mantidos que a planta física é
segura;
 Os designers dos sistemas são capazes de antecipar as possíveis
contingências de forma eficiente, não sendo prováveis as surpresas;
 Os procedimentos são completos, apropriados, factíveis e aplicáveis a
qualquer ocasião;
 As pessoas se comportarão da forma que foram treinadas e conforme o
esperado;
 Estar de acordo com os requisitos nos mantém seguros;
 Se as avaliações e auditorias obtêm resultados positivos, não é
necessário mudar nada, pois tudo vai bem.
 

Apenas desmistificando de uma vez que todas essas afirmações


são falsas, pois não importa o quanto se planeje, se previna e se
preocupe com a ocorrências de falhas e eventos incomuns, nenhum
sistema é perfeito. Logo, para criar segurança e confiabilidade é
impreterível ter resiliência (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
 

Sistemas resilientes e suas defesas


 

Sempre que se fala de acidentes de trabalho pensa-se nos


trabalhadores, visto que estes interagem com os sistemas de forma
contínua. Tal interação está associada à tomada de decisão, com base
no comportamento e nas mensagens que o sistema envia. Mattos e
Másculo (2019, p.485) exemplificam com a seguinte situação:
 

Um operador de máquina, por exemplo, vai tomar a


decisão de aumentar o fluxo de lubrificação, diminuir
a rotação, ou até mesmo parar a máquina, de acordo
com as informações que esta mesma máquina envia
(nesse caso, leitura do nível de óleo,
temperatura/vibração, e limites de segurança
excedidos respectivamente). Nessa relação existem
vários fatores que influenciam diretamente o
comportamento do trabalhador, que pode,
dependendo de como esses fatores o influenciam,
cometer um erro e gerar um desequilíbrio no sistema
(MATTOS; MÁSCULO, 2019, p. 485).
 

Entre 80 e 90% dos acidentes no ambiente de trabalho são


causados por erros humanos, sendo de extrema importância o controle
e monitoramento das causas dos erros e a preparação dos sistemas
para lidar com eles com resiliência. É importante estar ciente de que
esses erros são induzidos pelo sistema aos trabalhadores pela
existência de procedimentos confusos e dúbios, sinalização de
deficiente, sensores sem manutenção, dentre outras condições
existentes nos sistemas que podem gerar uma ação (ou não ação)
equivocada por parte do trabalhador (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
 

De acordo com Mattos e Másculo (2019) alguns fatores


localizados podem ser manipulados e gerenciados com inteligência a
fim de mudar um comportamento de risco bruscamente, tais como:
 
 Expectativas da empresa em relação ao trabalhador, as quais devem
ser claras, sendo propriamente compreendido pelo funcionário que sua
atuação deve ser pautada primeiramente em prol da segurança e só
depois na produção. Quando não está bem estabelecido esse
entendimento, pode o trabalhador tomar decisões equivocadas. Vale a
máxima “segurança em primeiro lugar”, segundo a qual tanto os
indivíduos quanto o processo serão preservados.
 Ferramentas e recursos disponíveis para a execução das tarefas são
fatores essenciais para a segurança do processo, pois guardam relação
direta com o método e os procedimentos de trabalho, devendo atender
a padrões rígidos de segurança. Se ocorrer, por exemplo, do
trabalhador adaptar uma ferramenta, a possibilidade de algum erro
inesperado ocorrer aumenta muito.
 Incentivos e desincentivos: a postura e atuação dos gerentes e
supervisores têm um reflexo gigantesco no comportamento dos
trabalhadores, pois estes percebem como seus líderes recompensam
ou não seus subordinados. Caso a quantidade produzida seja mais
determinante para a recompensa do que a qualidade e a correta
aplicação do método, os trabalhadores terão uma tendência a focar na
produção e não na forma com que o produto é entregue. 
 

Esses três fatores são oriundos da própria organização e,


dependendo da sua cultura de segurança, podem ser mudados com a
finalidade de exercer uma influência positiva no comportamento do
trabalhador, aumentando a probabilidade de ele tomar decisões
acertadas (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
Quando uma falha ocorre e não há uma ou várias defesas, ela
tende a ser a razão de um acidente. Do contrário, a existência de
defesas pode reduzir acidentes e suas respectivas consequências. Vale
lembrar que a segurança não é a não inexistência de erros, e sim a
garantia da existência de defesas no sistema, para absorver os erros e
evitar os acidentes (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
 
Exemplos práticos de defesas 
 

Há defesas do tipo proativas, as quais permitem a antecipação do


erro, evitando a sua intercorrência. Outra categoria de defesa são as
reativas, as quais visam eliminar, controlar, ou remediar o erro,
reduzindo as suas consequências. As defesas podem ser posicionadas
em diferentes partes do sistema e se dividem em três classes:
 Controles: primeira linha de defesa do sistema, a qual tenta fazer com
que o trabalhador execute a tarefa exatamente da forma como ela deve
ser realizada. Tem a finalidade de moldar a ação do funcionário para
que esteja o mais próximo possível do imaginado e desejado. São
exemplos desse tipo de defesa os procedimentos, a sinalização, os
alarmes e os treinamentos. 
 Barreiras: são defesas que protegem o sistema de perigos que não
estão sob controle. Mesmo que haja controles implementados, é certo
que o ser humano vai errar. As barreiras agirão nesse momento, para
impedir que este erro gere um acidente. Essa é a segunda linha de
defesa. São exemplos de barreiras são: poka yokis (soluções simples
que evitam falhas em processos e reduzem custos), sensores de
intertravamento, sensores de leitura digitais, guardas de máquinas etc. 
 Salvaguarda: se tanto a primeira quanto a segunda defesa não
funcionarem, o dano acontecerá. Daí a importância de ter uma terceira e
última linha de defesa para mitigá-lo, o dano. São exemplos de
salvaguardas: equipamento de proteção individual, airbags, sistemas de
sprinklers etc. 
 

Percebe-se, com isso, que um sistema resiliente conta com várias


defesas para reduzir as chances de ocorrência de acidentes. Para que o
erro consiga vencer todas as defesas, resultando no acidente, é
necessário que as defesas estejam alinhadas. Tal alinhamento é raro
em virtude da multiplicidade de defesas. Porém, as defesas sofrem a
ação do tempo e acabam se deteriorando e quanto mais defesas tiver
um sistema, menores serão as chances das debilidades se alinharem,
culminando num sinistro. Como é impossível eliminar o erro, é primordial
que o sistema esteja preparado para enfrentá-lo (MATTOS; MÁSCULO,
2019).
 

Gestão de sistemas resilientes


 

Para gerenciar sistemas resilientes, é preciso desenvolver uma


nova visão baseada nas seguintes ideias (MATTOS; MÁSCULO, 2019):
1. Sim, as pessoas falham;
2. Culpá-las por isso não adiciona valor para compreensão das falhas.
3. A responsabilidade pela segurança volta-se para os cargos
ascendentes na hierarquia da organização.
4. Os processos organizacionais influenciam o comportamento dos
indivíduos.
5. Os futuros acidentes advêm de sementes que estão sendo plantadas
hoje.
6. Tudo o que uma organização precisa para viabilizar uma falha já faz
parte dos sistemas, processos e ambientes de trabalho. Por isso as
falhas acontecem.
 

Se as falhas vão acontecer, visto que não podem ser totalmente


previstas e nem evitadas, o que é determinante para contorná-las é a
forma como a organização reagirá a elas. É imprescindível assimilar que
as pessoas vão errar e que as falhas devem ocorrer, o foco está em
eliminar as possíveis armadilhas e fatores que possam reforçar as
consequências, adicionando controles para minimizar a probabilidade
de acidentes. Logo, após um erro, a reação da organização será
determinante para manter a resiliência do sistema. Estudos sobre a
engenharia de resiliência apontam quatro pilares do pensamento que
podem ser integrados no dia a dia da operação: antecipar (saber o que
esperar), monitorar (saber no que prestar atenção), responder (saber o
que fazer) e aprender (saber o que aconteceu e o que tem que mudar).
Do chão de fábrica até o CEO, as Organizações com performance
excelente pensam dessa forma, antecipando, monitorando,
respondendo e aprendendo com os erros (MATTOS; MÁSCULO,
2019).
 
 
Atividade extra

Leia o artigo intitulado “Gestão da segurança e saúde no trabalho em


empresas produtoras de baterias automotivas: um estudo para
identificar boas práticas” para conhecer mais sobre as práticas, ações e
as principais dificuldades relacionadas à gestão da Segurança e Saúde
do Trabalho em empresas fabricantes de baterias automotivas (Link de
acesso:
https://www.scielo.br/j/prod/a/9WSN7NYR7MkQ6pD5fW3wZ7p/?
format=pdf&lang=p)

Referência Bibliográfica
BRISTOT, V. M. Introdução à engenharia de segurança do trabalho
[Recurso

eletrônico]. Criciúma, SC: UNESC, 2019.


MATTOS, U. A.; MÁSCULO, F. S. Higiene e segurança do trabalho.
2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.

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