A Ilha Dos Amores
A Ilha Dos Amores
A Ilha Dos Amores
A Ilha dos Amores, n’Os Lusíadas, é um dos episódios em que a temática do amor está
presente; no entanto, constitui, simultaneamente, um dos momentos em que a matéria
épica mais se evidencia.
O episódio da Ilha dos Amores simboliza a recompensa dada por Vénus aos marinheiros, como
forma de glorificação dos seus feitos, alcançados com coragem e determinação.
A temática do amor está bem evidente no encontro amoroso entre os marinheiros e as ninfas,
que, predispostas para o amor, se deixam seduzir, num ambiente paradisíaco e idílico. Este encontro
amoroso põe em destaque a superioridade dos portugueses, pois este é um dos poucos povos a
quem foi dado esse privilégio.
A constituição da matéria épica é concretizada quando Tétis mostra a Vasco da Gama a Máquina
do Mundo, uma miniatura do Universo. Tétis dá ao capitão português o acesso a um conhecimento
superior, vedado ao comum dos humanos, graças ao estatuto conseguido, juntamente com os
restantes nautas, por ter realizado feitos heroicos, dando a conhecer novos mundos.
Em suma, o episódio ilustra ambas as temáticas – o amor e os feitos heroicos (a matéria épica)
alcançados durante a aventura marítima portuguesa.
Os Lusíadas é um poema épico que contribui para a mitificação do povo português, objetivo anunciado
desde logo na Proposição, na Invocação e na Dedicatória.
5. Fazendo apelo à tua experiência de leitura e atendendo à afirmação acima enunciada, redige uma
exposição, utilizando entre cento e vinte a cento e cinquenta palavras. Obedece ao plano que se
apresenta.
I – Introdução
1.o parágrafo – Luís de Camões publica a sua obra em 1572, um texto narrativo escrito em
verso que canta feitos grandiosos (reais e imaginários) de heróis que representam valores,
sonhos e capacidades do povo a que pertencem.
– Estrutura interna: Proposição, Invocação, Dedicatória e Narração.
II – Desenvolvimento
2.o parágrafo – Proposição: apresentação do objetivo do poeta que é glorificar os feitos
passados dos heróis portugueses (reis, guerreiros, navegadores – herói coletivo); imortalidade
dos lusos é já anunciada: «Se vão da lei da morte libertando» (canto I, est. 2, v. 6); o povo
português é superior aos deuses: «A quem Neptuno e Marte obedeceram» (canto I, est. 3, v.
6); o povo português é superior aos heróis da Antiguidade, reais ou lendários: Ulisses, Eneias,
Alexandre Magno e Trajano.
3.o parágrafo – Invocação: o heroísmo dos portugueses é sobre-humano, por isso o poeta
pede às Tágides uma ajuda sobrenatural para o cantar; pede um estilo épico, como épico é o
povo que vai cantar.
4.o parágrafo – Dedicatória: afirma novamente a grandiosidade do povo luso que conduzirá o
rei D. Sebastião à imortalidade; a ação do povo português é verdadeira e não fingida/falsa,
como as cantadas por outras epopeias: «As verdadeiras vossas são tamanhas / Que excedem
as sonhadas, fabulosas» (canto I, est. 11, vv. 5-6).
III – Conclusão
5.o parágrafo – a obra reflete a necessidade de imortalização dos nossos heróis .
Lê o texto seguinte.
Efetivamente, em Camões, encontramos a aplicação de um conceito de mimese 1 que nada tem de
limitador. Camões tem lúcida consciência da sua radical originalidade (aliás correlacionada com a
singularidade do seu destino) e afirma-o orgulhosamente não só n’Os Lusíadas, onde a rivalidade e a
superação dos modelos da Antiguidade se tornam um motivo recorrente, mas também na lírica […]
5 Isto é: promete-se uma poesia superior e diferente da de Dante e da de Petrarca – o que não é
pequeno arrojo!
De qualquer forma – em competição com os mestres ou aceitando o seu magistério –, a lírica
camoniana é bem uma lírica da imitação: cultivou quase todos os géneros restaurados (a écloga, a
elegia, a ode) e as formas fixas novas (soneto, terceto, oitava-rima, canção); traduziu ou adaptou
10 muitos poemas de Petrarca, Bembo, Boscán, Garcilaso e outros, sem contudo deixar de lhes dar,
mesmo às traduções, um cunho bem pessoal, uma vez que os conteúdos e as formas são aproveitados
no sentido da expressão da sua singularidade, e não no sentido da expressão da cópia do modelo […].
Descreveu a mulher segundo as convenções temáticas e formais do petrarquismo e falou
incessantemente do amor segundo o mesmo código amoroso; como a maior parte dos poetas seus
15 contemporâneos foi neoplatónico… […]
Para Camões, as convenções poéticas e a sinceridade não são incompatíveis (como aliás nunca o
são para os homens com personalidade forte). A sua poesia constitui uma prova de domínio absoluto
dos materiais usados. Os códigos poéticos são uma linguagem que maneja, muitas vezes lutando com
ela e transformando-a, forçando-a a dizer o que jamais tinha sido dito (o que a poesia sempre faz…
20 quando é poesia), de tal modo que o que resulta é uma poética e uma poesia novas, inconfundíveis
que, apesar disso, não deixam de ser uma expressão exemplar do dolce stil nuovo.2
1
Mimese: imitação. 2 Dolce stil nuovo: expressão italiana («doce estilo novo») que designa um novo movimento literário que, na segunda
metade do século XIII, reagiu contra a poesia trovadoresca e introduziu novas formas poéticas.
1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1 a 1.7, seleciona a opção correta.
1.2 Através da expressão «o que não é pequeno arrojo!» (ll. 6-7), a autora
transmite
(A) uma opinião.
(B) um estado emocional.
(C) uma explicação.
(D) uma conclusão.
1.4 Com a expressão «De qualquer forma» (l. 7), a autora introduz um nexo de
(A) causalidade.
(B) consequência.
(C) oposição.
(D) adição.
1.7 O elemento sublinhado na frase «Os códigos poéticos são uma linguagem
que maneja» (l. 18) classifica-se como
(A) uma conjunção subordinativa substantiva completiva.
(B) um pronome relativo.
(C) um pronome indefinido.
(D) uma conjunção subordinativa adverbial consecutiva.
O canto lírico
Cantar sem desfalecimento, corresponder ao impulso primordial que as motivações humanas e
sobrenaturais indicam, eis a vocação sublime do Poeta [Camões].
É, pois, com o melhor dos propósitos que o sujeito lírico se propõe cantar a doce harmonia do
Amor, de modo a suscitar no «peito» mais insensível o efeito surpreendente e galvanizante de «dous
5 mil acidentes namorados». Visando um destinatário universalizante, tal canto, compulsando as artes
mágicas de «mil segredos delicados», pintará com os recursos desconcertantes da hipérbole e do
oxímoro os sentimentos mais agudos: «brandas iras, suspiros magoados, / temerosa ousadia e pena
ausente». Na aplicação ao destinatário particular do canto, porém, os tercetos restringem o alcance de
tal pintura devido à modéstia retórica do sujeito cantor, como é timbre das convenções socioculturais
10 da época: «Porém, para cantar de vosso gesto / a composição alta e milagrosa, / aqui falta saber,
engenho e arte» [versos do soneto «Eu cantarei de amor tão docemente»].
Dedicado vassalo do Amor, o sujeito cantor encontra na «esperança de algum contentamento» a
motivação necessária para o registo poético dos seus efeitos. Trata-se, todavia, de uma motivação
limitada pela «Fortuna», já que «o gosto de um suave pensamento» cedo se transforma em «tormento»
15 e consciência de «enganos». Então, a escrita poética como fica tolhida pela censura inquisitorial de
Eros1, como adverte o Poeta ao leitor de seus versos, numa denúncia de tal tirania. Mas, como se
infere do processo psicológico do conhecimento, o entendimento de «casos tão diversos» depende da
experiência do próprio leitor e não apenas da sua ingénua boa vontade: «Ó vós, que Amor obriga a ser
sujeitos / a diversas vontades! Quando lerdes / num breve livro casos tão diversos, / verdades puras
20 são, e não defeitos…/ E sabei que, segundo o amor tiverdes, / tereis o entendimento de meus versos»
[versos do soneto «Enquanto quis Fortuna que tivesse»].
1
Eros: deus grego do Amor.
António Moniz, Para uma leitura da lírica camoniana, Lisboa, Editorial Presença, 1998, pp. 37-38
1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1 a 1.7, seleciona a opção correta.
1.1 Com o adjetivo «galvanizante» (l. 4), o autor afirma que, através da poesia,
Camões pretende
(A) reanimar o sentimento do amor no leitor mais insensível.
(B) bloquear o sentimento do amor no leitor mais insensível.
(C) requalificar o sentimento do amor no leitor mais insensível.
(D) surpreender o sentimento do amor no leitor mais insensível.
1.2 O antecedente de «tal canto» (l. 5) é
1.4 Na expressão «Dedicado vassalo do Amor» (l. 12), o autor recorre a uma
(A) metonímia.
(B) metáfora.
(C) apóstrofe.
(D) alegoria.
1.6 Na frase «É, pois, com o melhor dos propósitos que o sujeito lírico se propõe
cantar» (l. 3),
o pronome pessoal aparece anteposto ao verbo porque aparece integrado
(A) numa oração subordinada.
(B) numa frase com um advérbio.
(C) numa frase com um pronome indefinido.
(D) numa frase que apresenta um tempo verbal composto.
1.7 O segmento sublinhado na frase «…a escrita poética como que fica tolhida
pela censura inquisitorial de Eros» (ll. 15-16) desempenha a função sintática
de
(A) complemento oblíquo.
(B) modificador.
(C) modificador restritivo do nome.
(D) complemento agente da passiva.
1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1 a 1.7, seleciona a opção correta.
(35 pontos)
2.1 Classifica a oração «para aprender como se devem manusear livros raros»
(ll. 12-13).