Infecção Do Trato Urinário (Capítulo de Livro)
Infecção Do Trato Urinário (Capítulo de Livro)
Infecção Do Trato Urinário (Capítulo de Livro)
para confirmar o
diagnóstico de infecção
do trato urinário e como
fazer o seguimento por
imagens, segundo
recomendação da
Sociedade Brasileira de
Pediatria?
8.1 INTRODUÇÃO
A Infecção do trato urinário (ITU), doença importante e bastante
comum na infância, caracteriza-se pela multiplicação bacteriana
em qualquer segmento do aparelho urinário, incluindo próstata e
epidídimo, que resulte em sintomas. A ITU alta, pielonefrite, pode
levar a cicatrizes renais, hipertensão e doença renal crônica.
Embora crianças com pielonefrite geralmente se apresentem
com febre, é sempre difícil distinguir clinicamente entre cistite e
pielonefrite, particularmente nas crianças com menos de 2 anos.
Com exceção daquela que ocorre no período neonatal, a maioria
das ITUs são infecções ascendentes, em que as bactérias
penetram pela uretra, chegam à bexiga e, eventualmente,
ascendem pelo ureter, atingindo os rins.
8.2 EPIDEMIOLOGIA
A prevalência geral em crianças menores de 2 anos e febris é de
aproximadamente 7%, mas pode variar de acordo com a idade, a
raça, o sexo e a presença ou não de circuncisão nos meninos.
Lactentes do sexo feminino têm duas a quatro vezes mais ITUs do
que meninos circuncidados. De maneira geral, predominam no
sexo feminino (exceto nos primeiros seis meses de vida, quando
ocorre mais no sexo masculino), podendo chegar à proporção de
20:1 a partir do sexto mês de vida. Seu pico de incidência
acontece ao redor de 3 a 4 anos.
No 1º ano de vida, a infecção de urina febril pode corresponder a
pielonefrite aguda na maioria dos casos (90%).
Os recém-nascidos de mães que apresentaram, na gestação, ITU
de repetição têm risco maior, até quatro vezes, de ter ITU no
período neonatal.
8.3 ETIOLOGIA
Escherichia coli é o agente bacteriano mais comum da ITU,
responsável por, aproximadamente, 80% a 90% dos casos na
infância.
Outras bactérias Gram negativas incluem Klebsiella, Proteus e
Enterobacter. Patógenos bacterianos Gram positivos incluem
Staphylococcus saprophyticus, Enterococcus e, raramente,
Staphylococcus aureus.
As ITUs causadas por bactérias que não a E. coli estão mais
associadas a anomalias do trato urinário, ITU materna no período
neonatal e tratamento prévio com antibióticos. Vírus e fungos
também são causas menos comuns de ITUs em crianças.
A patogênese das ITUs, principalmente as relacionadas com a E.
coli, deve-se à contaminação pela flora fecal da região periuretral,
que chega à bexiga ou às vias urinárias altas pela via ascendente.
Proteus é responsável por cerca de 30% das cistites e apresenta
maior incidência em meninos não circuncisados, pois nestes as
bactérias que ascendem pela uretra são provenientes do
prepúcio. Porém, a presença de bactérias na mucosa periuretral
não é suficiente para a ocorrência de ITU. A ligação das bactérias
com as células uroepiteliais constitui um processo ativo mediado
por adesinas bacterianas e receptores específicos dessas células
(pili ou fímbrias).
Em recém-nascidos, como a infecção pode ocorrer pela via
hematogênica, o agente etiológico fica na dependência do foco
original da infecção. Muitas vezes, a ITU no recém-nascido é
oriunda da disseminação transplacentária da infecção urinária
materna. Já em adolescentes, 20% a 30% das ITUs são causadas
pelo Staphylococcus saprophyticus.
As bactérias que mais comumente causam quadros de ITU a
depender da situação são:
▶ Klebsiella sp.: mais frequentes em recém-nascidos;
▶ Proteus sp.: 30 a 40% dos meninos;
▶ Staphylococcus saprophyticus: 30% dos adolescentes de
ambos os sexos;
▶ Proteus sp., Enterococcus, Pseudomonas, Staphylococcus
aureus ou epidermidis: crianças com malformação ou disfunção
do trato urinário.
8.4 FATORES DE RISCO
8.4.1 Idade
A prevalência é bem maior nos meninos com menos de 1 ano e
nas meninas com menos de 4 anos.
8.4.2 Meninos não circuncidados
Meninos não circuncidados com febre de origem desconhecida
têm até 20 vezes mais chances de estarem com ITU do que
meninos circuncidados da mesma idade. Além de a mucosa do
prepúcio ser mais suscetível à colonização de uropatógenos do
que a pele queratinizada, a obstrução parcial do meato uretral
também está relacionada com maior facilidade a essa colonização
e consequente desenvolvimento de ITU.
8.4.3 Disfunção miccional temporária
Durante o treinamento ao uso do banheiro, em meninas, há uma
disfunção miccional temporária, pois a criança pode reter a urina
para permanecer seca, ao mesmo tempo em que há contração da
musculatura vesical. Assim, há tendência a retenção urinária e
ITU.
Muitas vezes, as disfunções miccionais estão associadas a
disfunções intestinais, como constipação e incontinência fecal.
Essas duas alterações da função intestinal também estão
relacionadas como fatores de risco para ITU.
8.4.4 Uropatia obstrutiva
Crianças com esta condição podem apresentar esvaziamento
incompleto da bexiga, sendo a urina estagnada um excelente
meio de cultura para a maioria dos patógenos relacionados. A
predisposição às anormalidades obstrutivas pode ser anatômica
(válvula de uretra posterior, estenose de junção ureteropélvica e
estenose de junção ureterovesical), neurológica
(mielomeningocele com bexiga neurogênica) ou funcional;
alterações que podem cursar simultaneamente com refluxo
vesicoureteral e, em alguns casos, levar a hidronefrose e lesões
parenquimatosas renais. Essas lesões serão mais graves se
estiverem associadas à ITU.
Em meninos, a válvula da uretra posterior é a principal causa
obstrutiva primária de uropatia.
A obstrução pode ocorrer em qualquer nível do trato urinário, do
meato uretral aos infundíbulos dos cálices renais. Pode ser
causada por processos traumáticos, neoplasia (tumor de Wilms,
neuroblastoma), cálculos, processos inflamatórios (tuberculose)
ou mesmo procedimentos cirúrgicos.
8.4.5 Refluxo vesicoureteral
O refluxo vesicoureteral é a anomalia urológica mais comum nas
crianças e compreende a passagem retrógrada da urina da bexiga
para o trato urinário alto.
Crianças com refluxo vesicoureteral apresentam risco aumentado
para o desenvolvimento de ITUs recorrentes e pielonefrite clínica
à medida que a urina presente na bexiga retorna em direção ao
ureter, podendo chegar até os cálices renais, na dependência da
gravidade do refluxo.
8.5 QUADRO CLÍNICO
A ITU pode apresentar-se com sinais e sintomas inespecíficos,
particularmente no período neonatal e nos lactentes jovens. O
quadro clínico varia conforme a faixa etária e o segmento do trato
urinário acometido.
8.5.1 Faixa etária
8.5.1.1 Recém-nascidos e lactentes
Fonte: Blamb.
8.7.1 Antibioticoterapia
O tratamento com antibióticos deve ser instituído imediatamente
quando há suspeita de ITU em crianças sintomáticas (febre ou
sintomas locais), mesmo antes do resultado da urocultura e do
antibiograma. A instituição da terapêutica imediata visa evitar o
aumento da gravidade da infecção e a possibilidade de lesão
renal.
8.7.1.1 Crianças com mais de 2 meses
Quadro 8.2 - Medicamentos para tratamento da infecção do trato urinário por via
oral