Economia e Sociedade

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ECONOMIA E

SOCIEDADE
PROF. DR. ÉDER RODRIGO GIMENES
Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior


A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma
ação integrada de suas atividades educacionais, visando à
geração, sistematização e disseminação do conhecimento,
para formar profissionais empreendedores que promovam
a transformação e o desenvolvimento social, econômico e
cultural da comunidade em que está inserida.

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salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a
emissão de conceitos.
ECONOMIA E SOCIEDADE
PROF. DR. ÉDER RODRIGO GIMENES

SUMÁRIO

AULA 01 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 06

AULA 02 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ECONOMIA 13

AULA 03 MICROECONOMIA, DEMANDA E OFERTA 20

AULA 04 MICROECONOMIA E O FUNCIONAMENTO DO 27


MERCADO

AULA 05 AS CIÊNCIAS SOCIAIS E A VIDA EM SOCIEDADE 33

AULA 06 AS CIÊNCIAS SOCIAIS E A RELEVÂNCIA DA POLÍTICA 39

AULA 07 ESTADO E DEMOCRACIA 45

AULA 08 MACROECONOMIA E POLÍTICAS MONETÁRIA E FISCAL 52

AULA 09 MACROECONOMIA E CONTEXTO INTERNACIONAL 60

AULA 10 O FENÔMENO DA GLOBALIZAÇÃO 66

AULA 11 GLOBALIZAÇÃO E A SOCIEDADE EM REDES 72

AULA 12 PROCESSOS SOCIAIS E IMPLICAÇÕES ECONÔMICAS 77


EM CONTEXTO GLOBALIZADO

AULA 13 TEMAS ECONÔMICOS DE INTERESSE SOCIAL 86

AULA 14 GESTÃO PÚBLICA E SOCIAL 94

AULA 15 GOVERNO E POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL 101

AULA 16 PROTAGONISMO SOCIAL NO ENFRENTAMENTO ÀS 110


DESIGUALDADES
ECONOMIA E SOCIEDADE
PROF. DR. ÉDER RODRIGO GIMENES

INTRODUÇÃO

As relações entre economia e sociedade permeiam o dia a dia de cada um de nós de


modo que o conteúdo desta disciplina é pertinente e relevante, por um lado, à formação
acadêmica de profissionais que estão em processo de capacitação para ingressar no mercado
de trabalho ou que já estão inseridos e buscam melhorar sua condição. Por outro lado,
considerando os impactos dessa relação sobre o cotidiano individual, trata-se também de
conteúdos importantes à formação cidadã, por conta de valores, percepções e aspectos
teóricos capazes de contribuir à conformação de sua visão de mundo, de modo amplo.
Nosso foco central, obviamente, recai sobre o primeiro aspecto, mas ao longo de nossas
dezesseis aulas há diversos insights relativos à sua formação cidadã, os quais dialogam e
complementam seu processo de formação profissional. Nesse sentido, o conjunto de aulas
está dividido em quatro partes, conforme a expectativa relacionada ao seu desenvolvimento
e apreensão do conteúdo.
A primeira parte do conteúdo é a aula um, de abertura de nossas discussões, na qual
estabeleço considerações sobre o fenômeno econômico que mais exerce influência sobre
as sociedades contemporâneas até a atualidade: a Revolução Industrial. Trata-se de uma
única aula separada dos blocos que apresento na sequência, pelo fato de que a referida
revolução exerce impactos em distintas esferas da vida social.
Isto posto, a primeira aula trata de aspectos históricos concernentes ao contexto em
que se realizou a Revolução Industrial, bem como discorre acerca de um dos elementos
que impactaram e continuam a impactar mais diretamente a vida dos indivíduos de modo
geral, a questão da divisão social do trabalho.
A segunda e a terceira parte de nosso conteúdo são compostas por blocos com seis
aulas, cada, em que tratamos de aspectos da teoria econômica e da vida em sociedade sob
distintas perspectivas. No primeiro desses blocos, abordamos a relação entre microeconomia,
sociedade e política; no segundo, enfocamos macroeconomia e globalização.
Cada um desses blocos de aulas tem como objetivo explorar, por meio de diferentes
discussões empíricas e argumentações baseadas em dados de realidade social, como a
relação entre economia e sociedade opera no cotidiano contemporâneo.
Entre as aulas dois e sete tratamos da definição e dos princípios da Ciência Econômica,
conhecemos os elementos básicos da microeconomia (demanda e oferta, equilíbrio e

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estruturas de mercado) e sua relação com as Ciências Sociais, área do conhecimento voltada
à compreensão da sociedade em seu funcionamento e conformação; e, de modo mais
específico, com a política no contexto democrático.
Já no bloco de aulas oito a treze, a abordagem adotada parte dos conceitos de natureza
macroeconômica relacionados às políticas monetária, fiscal e cambial, implementadas pelo
governo, e perpassa as discussões sobre comércio internacional, globalização e aspectos
da vida em rede. Concluímos esse conjunto de aulas tratando de temas de interesse social
que tem se destacado nos estudos e reflexões sobre o binômio economia-sociedade.
A última parte desta disciplina reúne as aulas catorze a dezesseis, nas quais são discutidos
os caminhos do desenvolvimento das políticas públicas e sociais no Brasil, com vistas a
evidenciar aspectos da conformação das relações entre economia e sociedade que não
foram tratados de modo específico nas aulas anteriores de nossa disciplina.
Isto posto, esse bloco de aulas tem o objetivo de oferecer um panorama contemporâneo
das relações entre Estado e sociedade para consecução de políticas públicas, bem como
diagnósticos recentes tanto sobre o desenvolvimento das políticas públicas e da participação
social no Brasil quanto da perspectiva de mobilização social para o enfrentamento de
desigualdades sociais e econômicas.
Diante desse conjunto de aulas e conteúdos, ao fim desta disciplina teremos conformado o
conhecimento acerca da maneira como a economia e a sociedade influenciam-se mutuamente
ao longo da História e na atualidade, tanto em caráter global quanto no plano nacional, de
modo que você terá subsídios para interpretar informações e formular raciocínios críticos
sobre temas correlatos tanto a aspectos de ordem microeconômica e relacionados à política
quanto macroeconômicos e relativos à globalização, bem como sobre as nuances da gestão
pública e social no país.

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AULA 1
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Tendo em vista a preocupação desta disciplina em oferecer subsídios à compreensão


sobre como as relações entre aspectos econômicos e a vida em sociedade se organizam e
estruturam o funcionamento de aspectos como as decisões de governos, nosso cotidiano
e o modo como coletividades interagem economicamente é pertinente iniciarmos nosso
conteúdo com a abordagem do grande evento histórico que promoveu a reorganização dos
processos produtivos e da vida em sociedade: a Revolução Industrial. Isto posto, nesta aula
abordamos aspectos contextuais referentes ao período e qual a maneira como as relações
de trabalho se estabeleceram desencadearam inúmeras alterações sociais com as quais
nos depararemos ao longo deste conteúdo.

1.1 Contexto histórico da Revolução Industrial

A Revolução Industrial consistiu em um grande processo de transformações econômicas e


sociais desencadeadas no século XVIII na Inglaterra, cujos efeitos se expandiram aos demais
Estados posteriormente, primeiramente no hemisfério Norte e posteriormente, em alguma
medida, por todo o globo. Segundo Paiva e Cunha (2008), tal fenômeno fez da Inglaterra a
maior potência econômica ao longo do século XIX e decorreu entre cerca de 1760 até as
primeiras duas décadas do século seguinte.
Um aspecto anterior à Revolução Industrial é a expansão crescente do comércio,
principalmente após a instauração do mercantilismo, os avanços colonialistas e a constituição
do liberalismo. Tal processo histórico se caracterizou pelo acúmulo de capital que, por um
lado, representou elevado aumento da riqueza da elite econômica e, por outro lado, permitiu
a esse grupo pensar maneiras para aperfeiçoar as técnicas de produção de modo a otimizar
recursos (incluída, com destaque, a mão de obra) para gerar mais capital. Segundo Thompson
(1987), somente a partir da alteração do processo de produção foi possível o acúmulo de
capital.
Segundo Hobsbawn (2001), a ocorrência do fenômeno em debate na Inglaterra se deu pela
confluência de fatores de diversas ordens. De modo geral, a Europa passava por um período
de crescimento demográfico, o que significava a elevação da mão de obra passível de inserção

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no trabalho e de ausência de barreiras alfandegárias, o que permitia o livre comércio entre


os Estados. Na Inglaterra, combinaram-se os efeitos do fim da monarquia absolutista com
implementação do parlamentarismo, o fortalecimento da burguesia, expressiva quantidade
de matérias-primas, grandes jazidas de carvão (fonte de energia para o funcionamento das
máquinas), mão de obra a baixo custo por conta do êxodo rural e hegemonia naval com
posição geográfica estratégica, o que lhe favoreceu tanto o recebimento de matérias-primas
importadas quanto o escoamento de sua produção para exportação.
De maneira sucinta, poderíamos afirmar que a Revolução Industrial representou a alteração
do modo de produção, de artesanal para industrial, baseado na utilização de máquinas em
detrimento do trabalho manual. Esse processo, entretanto, promoveu modificações para
além do mundo do trabalho, implicando novos arranjos nas relações sociais e organização
das sociedades, por exemplo, pelo estabelecimento da relação entre patrões e empregados,
denominados como as classes sociais burguesia e proletariado, respectivamente, por Marx
e Engels no “Manifesto do Partido Comunista” (1998).
O período destaca-se pela invenção da máquina de fiar, do tear mecânico e da máquina
a vapor e também pela otimização das atividades agrícolas, caracterizando-se pela relação
entre êxodo rural e urbanização em decorrência da combinação entre redução da necessidade
de mão de obra no campo e aumento da demanda por trabalhadores para as indústrias e
a operação de máquinas.
As alterações nos processos produtivos intensificaram a possibilidade de comercialização
de mercadorias, anteriormente iniciada ainda durante as Cruzadas - expedições da Igreja
Católica e alguns Estados nacionais entre os séculos XI e XII com vistas, respectivamente, à
catequização de povos e à expansão dos domínios territoriais (incluindo grupos humanos) e
descoberta de matérias-primas. Aliás, cabe aqui destacar que na primeira metade do milênio
passado, ainda que de modo rudimentar, iniciou-se um processo de trocas e circulação de
mercadorias que configurou uma primeira experiência de globalização (STOKES BROWN,
2010).
Com relação aos desdobramentos da Revolução Industrial cabem três considerações. A
primeira, de âmbito geral, diz respeito à maneira como os Estados nacionais vivenciaram tal
processo e seus reflexos na atualidade: os países europeus foram os primeiros a experimentar
os efeitos do fenômeno iniciado na Inglaterra, o qual se expandiu para outros países “livres”
durante o século XIX, de modo que as colônias daquele período - incluído o Brasil - puderam
vivenciar os efeitos da industrialização apenas posteriormente, pois eram exploradas como
fontes de matérias-primas.

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Isso significa que, de saída, países com distintos históricos de formação ao longo do tempo
vivenciaram a possibilidade de evolução dos processos produtivos de modos distintos, o
que explica, em alguma medida, a força de grupos de Estados com grande prestígio e poder
econômico e político, ao passo que outros tantos passaram por processos de industrialização
tardia e, não raramente, persistem como fornecedores de matérias-primas e produtos agrícolas
às grandes potências econômicas mundiais.
O segundo desdobramento relevante diz respeito à organização dos trabalhadores. A
maneira como a vida nas cidades se impôs à massa operária - com grandes turnos de
trabalho, pouco descanso, incorporação de mulheres e crianças à produção, ausência de
direitos e baixa remuneração, por exemplo, colocou-lhes na condição de manutenção de
condições para sobrevivência, de modo restrito.
Ademais, ainda relacionados ao trabalho, para além da questão da mão de obra operária,
destacamos que a organização dos trabalhadores deu-se em virtude da divisão e da
especialização das atividades - que exploraremos na próxima seção desta aula -, o que
atrelou-se a aspectos como redução da manufaturas por sua substituição pela maquinofatura,
formação de uma elite industrial com concentração de poder econômico e político pelos
burgueses e aumento da produção.
A elevação da oferta decorrente da implementação de linhas de produção, com consequente
ampliação dos ganhos dos burgueses e manutenção dos rendimentos dos trabalhadores
combinou-se com as condições de vida e trabalho descritos dois parágrafos acima, gerando
animosidade dos operários com relação à classe industrial, de modo que ao operariado
coube sua organização para buscar por melhores condições de trabalho e de vida, por meio
da criação de sindicatos.

Isto acontece na prática

A organização dos trabalhadores em lutas operárias é um dos efeitos mais expressivos


da Revolução Industrial o qual continua existindo até a atualidade. A organização de
sindicatos de trabalhadores, as greves e piquetes e mesmo a criação de partidos de
trabalhadores e/ou comunistas remetem a estratégias de articulação do operariado
que foram inicialmente utilizadas no contexto de desenvolvimento da grande revolução
econômica ocorrida entre os séculos XVIII e XIX.

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Por fim, cabe destacar outros efeitos da Revolução Industrial no âmbito da organização
econômica da vida social: o desenvolvimento do comércio e da concorrência por conta
da ampliação das tecnologias de produção promoveu alterações de ordem econômica na
demanda e oferta de produtos e serviços no mercado; a exploração de recursos naturais
tornou-se expressiva e preocupante; houve desenvolvimento desigual de cidades e sua
organização em centros de produção e segregação; e a globalização de instaurou em âmbitos
diversos da vida social. Todos esses aspectos serão abordados em distintos momentos de
nossas aulas posteriores.

Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/6073219360/ed2a67282d/

1.2 A divisão social do trabalho

A divisão social do trabalho é um importante tema no âmbito do conteúdo da Revolução


Industrial, uma vez que tratou-se de uma de suas principais características, a qual gerou
inúmeros desdobramentos posteriores, dentre os quais perda de sentimento de pertença
dos trabalhadores no processo produtivo e a especialização das atividades laborais, sobre
o que tratamos nesta seção. Contudo, cabe iniciarmos falando sobre o papel da divisão do
trabalho no contexto de produção.
Conforme destacado na primeira seção desta aula, o processo de produção em larga
escala fomentado pela Revolução Industrial propiciou a expansão da riqueza dos proprietários

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dos meios de produção e elevou o distanciamento entre esse grupo e os trabalhadores,


geradores de tal riqueza.
Segundo Marx (1983), a circulação de mercadorias seria o ponto de partida do capital, a
partir do momento em que a preocupação e o objetivo dos detentores dos meios de produção
deixaram de ser a comercialização daquilo que geravam e passou ao acúmulo dos recursos
financeiros envolvidos no processo de produção e circulação de mercadorias.
Para o autor clássico das Ciências Sociais, os processos de troca ou circulação de
mercadorias não seriam capazes de gerar, per se, valor de modo que a geração de valor
(excedente) ocorreria somente quando incorporado algum insumo cuja precificação pudesse
ser subvalorizada, ou seja, ter seu custo incorporado à mercadoria com valor menor do que
o adequado. Segundo Marx (1983), foi exatamente o que aconteceu com a atribuição de
valor ao trabalho empregado nos processos produtivos.
Nesse sentido, o trabalho operário seria mais um insumo no processo produtivo, como
uma mercadoria a ser incorporada a outras para a feitura de um produto final, com maior
valor do que a soma de todos os insumos empregados em sua realização. Assim, o elemento
capaz de gerar maior valor às mercadorias produzidas no contexto industrial seria a mão
de obra, o que, em tese, deveria conferir protagonismo aos operários no processo produtivo.
Contudo, tal protagonismo não se instaurou basicamente por conta de dois aspectos:
primeiro, pelo fato de que os trabalhadores encontravam-se sob o controle dos proprietários
dos meios de produção, a quem pertencia seu trabalho e que vistoriavam se as atividades
eram desenvolvidas de maneira apropriada, ou seja, com aplicação adequada dos meios de
produção, sem desperdício de matérias-primas e mau uso do maquinário, de modo a consumir
apenas os recursos imprescindíveis à execução do trabalho; em segundo lugar, em virtude
da propriedade do produto, também do capitalista, em detrimento daquele que realmente
produziu a mercadoria e que, por ela, receberia apenas um valor ínfimo que lhe garantisse
a subsistência. O segundo aspecto configuraria o conceito de mais valia (MARX, 1983).
Talvez você esteja se perguntando por que estamos tratando desses aspectos. A resposta
é simples e direta: essa lógica de cálculo de remuneração pelo trabalho segue vigente até
os dias atuais, o que reforça a manutenção de muitos desdobramentos do trabalho sobre
a vida em sociedade.
Perceba a atualidade da abordagem do referido autor clássico em sua argumentação sobre
a carga horária de trabalho dos indivíduos ser dividida em duas partes: na primeira parte, o
operário produz em referência àquilo que recebe como salário; na segunda - e, geralmente,
maior - parte do tempo, trabalha “para o empregador”.

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O que essa divisão significa? Conforme Marx (1983), o valor recebido pelos operários
como salário diria respeito apenas ao montante de recursos financeiros que lhes garantisse
condições mínimas de subsistência, como um teto para dormir e alimentação para repor as
energias, ou seja, o salário corresponderia ao suficiente para que o trabalhador mantivesse
sua força para desempenhar sua função. Por outro lado, a segunda parte da jornada de
trabalho, em que o operário trabalha para além do que receberá como remuneração, não
representa valor algum a ele, sendo chamado tempo de trabalho excedente. A mais valia
corresponderia à produção ou ao trabalho realizado pelo operário em seu tempo excedente
de atividade, ou seja, a mais valia corresponderia à diferença entre o quanto o trabalhador
produz em termos de mercadorias e o quanto recebe por seu trabalho.
Em virtude da busca por geração cada vez maior de tempo de trabalho excedente em
relação à remuneração, os empregadores passaram a buscar a extensão das jornadas de
trabalho ao máximo possível, ao que enfrentaram limites de duas naturezas: a necessidade
física de descanso e reposição de energias e a necessidade moral de ocupação com questões
espirituais e sociais.
Essas condições trouxeram diversos impactos à sociedade: ausência de preocupação
com educação e desenvolvimento intelectual, exaustão dos trabalhadores e redução da mão
de obra produtiva ao longo das faixas etárias, ampliação dos turnos de funcionamento das
fábricas e indústrias com incorporação de mulheres e até de crianças e a especialização
das atividades laborais (BRESCIANI, 1986).
Esse último aspecto tem, cada vez mais, definido os caminhos do funcionamento de nossa
sociedade por conta da relevância do trabalho no cotidiano. No contexto da Revolução Industrial
manifestou-se a preocupação em otimizar os processos produtivos com a instalação de linhas
de produção, ou seja, delimitar a função ou atividade que cada trabalhador realizaria para que
se tornasse o mais ágil e eficiente naquela tarefa, de modo que, ao fim do processo, cada
trabalhador teria desempenhado uma função em específico, seja a separação de insumos,
sua manipulação ou a montagem de partes ou mesmo um produto todo.
Sob a perspectiva da burguesia essa especialização foi benéfica por tornar mais ágil o
processo de produção e também por permitir a substituição mais precisa de trabalhadores
que não desempenhassem a contento sua função. Contudo, para os operários tratou-se
de um processo desmotivador, pois já não tinham mais noção daquilo que produziam, de
modo que o sentimento de pertença com relação à produção deixou de fazer sentido e eles
tornaram-se cada vez menos conhecedores sobre o trabalho como um todo.
Assim, os operários foram, ao mesmo tempo, se especializando em determinada tarefa
e perdendo a dimensão do processo como um todo, tendo reduzida sua racionalidade com

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relação ao trabalho e tornando-se, em alguma medida, reféns de seu desempenho por conta
da especificidade da tarefa que desempenhavam.

Anote isso

As universidades surgiram como grandes espaços de conformação do conhecimento


sobre temas amplos, majoritariamente filosóficos, soba perspectiva de universalidade
do saber. A maneira como as instituições de ensino superior funcionam no mundo
todo atualmente segue a perspectiva contrária: os cursos de graduação e de pós-
graduação Lato sensu, conhecidos no senso comum como especializações são reflexos
dessa perspectiva de especificidade das atividades laborais a ser desenvolvidas pelos
trabalhadores desde a Revolução Industrial!

Esta primeira aula teve como objetivo expor aspectos pertinentes ao maior evento de
ordem econômica e social, ao mesmo tempo, ocorrido na história da humanidade, de modo
a evidenciar seus desdobramentos à maneira como as sociedades contemporâneas se
organizam e, portanto, são definidas relações pertinentes ao debate empreendido em toda
a nossa disciplina, entre economia e sociedade.

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AULA 2
CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE
ECONOMIA

O primeiro termo que compõe o título de nossa disciplina, economia, é nosso primeiro
foco de discussões. Nesse sentido, conhecidas as bases da Revolução Industrial passamos
nesta aula ao debate em torno do conceito e dos princípios desse campo do conhecimento
científico, a Ciência Econômica. Ademais, discutimos como essa área trata de questões
pertinentes à vida em sociedade, como ênfase ao capitalismo e aos processos produtivos.

2.1 As bases da Ciência Econômica

Cada um de nós, baseados no senso comum, tem uma noção do que seja economia, já
que cotidianamente pensamos ou mesmo falamos algo como “preciso economizar”, certo?
Esse princípio de associar economia com redução de despesas ou provisionamento de
recursos não é incorreto, ainda que não contemple com exatidão o campo do conhecimento
das Ciências Econômicas em sua complexidade.
A palavra economia, aqui desconsiderando os aspectos científicos de construção do
conhecimento - sobre os quais tratamos nas aulas 2 e 3 ao abordarmos conceitos relacionados
às áreas de micro e macroeconomia - de etimologia grega e significa administração da casa,
pois decorre da junção entre oikós e nomos, termos que significam casa e lei ou norma.
No âmbito doméstico, portanto, trata-se da alocação dos recursos disponíveis para sanar
as despesas existentes, considerando as possibilidades de aplicações de excedentes ou nova
destinação dos recursos (como poupança, reforma ou viagens, por exemplo) ou ainda de
busca por mais recursos quando “a conta não fecha” (casos de empréstimos, consignados,
penhora ou venda de bens).
Se transpusermos a administração dos recursos domésticos para os entes públicos (gestão
do Estado) ou empresas privadas, devemos seguir a mesma perspectiva econômica: há
necessidades a serem supridas, recursos disponíveis e despesas às necessidades relacionadas
e cabe ao ente responsável sua administração.

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Conforme autores como Mendes (2009) e Passos e Nogami (2012), a economia trataria da
alocação de recursos escassos (finitos, portanto) para a produção, realização ou consecução
de bens e/ou serviços que atendam as necessidades humanas (ilimitadas ou infinitas).

Isto está na rede

O crescimento dos canais com conteúdos científicos favoreceu a produção de vídeos e


materiais didáticos sobre diversos temas, inclusive acerca de conceitos, teorias, correntes
de pensamento e análises empíricas no campo da economia. Um desses canais é do
professor, empresário e consultor José Kobori, onde há vídeos explicativos em linguagem
acessível sobre diversos temas no âmbito da economia e gestão.
https://www.youtube.com/c/Jos%C3%A9KoboriOficial/

Explicam esses mesmos autores que a economia só se justifica diante da existência


de disparidade entre recursos e necessidades - enquanto os recursos são limitados, as
necessidades são ilimitadas - porque se os recursos e necessidades fossem ambos ilimitados,
em algum momento, seria possível saná-los em sua totalidade e, em contrapartida, se tanto
recursos quanto necessidades fossem limitados, também em algum ponto do tempo (mesmo
que mais longínquo) seria possível satisfazer todas as vontades da humanidade. Assim, é
a ausência de possibilidade de atender a todos em sua totalidade que faz da economia um
campo do conhecimento importante e pertinente às discussões no âmbito das sociedades
contemporâneas.
Em seu manual de introdução à economia, Mankiw (2012) afirma que a economia baseia-
se em um conjunto de princípios ou pressupostos, os quais poderiam ser sintetizados em
dez aspectos, conformados em três conjuntos como exposto no quadro a seguir.

Grupo Princípio
Como as pessoas tomam decisões 1 — As pessoas enfrentam trade-offs
2 — O custo de algo é o que você desiste
para obtê-lo
3 — Pessoas racionais pensam na margem
4 — Pessoas reagem a incentivos

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Como as pessoas interagem 5 — O comércio pode ser bom para todos


6 — Os mercados geralmente são uma boa
maneira de organizar a atividade econômica
7 — Às vezes os governos podem melhorar
os resultados dos mercados
Como a economia funciona 8 — O padrão de vida de um país depende da
sua capacidade de produzir bens e serviços
9 — Os preços sobem quando o governo
emite moeda demais
10 — A sociedade enfrenta um trade-off de
curto prazo entre inflação e desemprego

Quadro 1 - Princípios de economia. Fonte: elaborado pelo autor, baseado em Mankiw (2012).

Com relação ao primeiro grupo de princípios, trata-se daqueles relacionados à tomada de


decisões individuais e referem-se a aspectos relacionados entre si: a tomada de decisões é
sempre uma escolha entre possibilidades que implicam em abrir mão de algo para conseguir
ou realizar outra coisa, de modo que trade-off diz respeito às escolhas conflitantes a que
estamos sujeitos rotineiramente (princípio 1) e aquilo de que abrimos mão para conseguir
algo é denominado custo de oportunidade (princípio 2).
Para tanto, é pertinente considerar que a racionalidade humana é permeada, em alguma
medida, por considerarmos que existe a possibilidade de que ocorram imprevistos capazes
de alterar nosso planejamento inicial e exijam mudanças marginais (princípio 3), de modo
que, por fim, é necessário considerar ainda que cada ação empreendida gera uma reação e
que cada tomada de decisão precisa levar em conta as respostas aos incentivos (princípio 4).
Para além da tomada de decisão individual é pertinente à economia considerar as maneiras
como os indivíduos interagem, uma vez que nem sempre nossas decisões são plenamente
individuais e que, em boa parte das situações, tanto nossas decisões afetam a vida de outros
quanto somos afetados por aquilo que outros fazem. Nesse sentido, é relevante considerar
que a concorrência não é ruim, já que mesmo que haja diferentes pessoas, empresas ou
países (por exemplo) que ofereçam o mesmo produto ou serviço, há também muitos outros
produtos e serviços sendo oferecidos e consumidos, de modo que a multiplicidade de oferta
pode ser positiva tanto para quem oferece quanto para quem consome (princípio 5).
De acordo com Mankiw (2012), as relações entre esses diferentes agentes (pessoas,
empresas ou países) deveriam ser organizadas pelos próprios atores econômicos que

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conformam o funcionamento do mercado, sob a perspectiva de que a atividade econômica


poderia ser autorregulada aos moldes da teoria liberal de Adam Smith (1983), em que os
preços dos bens e serviços seriam definidos a partir da relação entre oferta e procura (princípio
6). Em tal contexto, contudo, cabe um papel relevante ao governo, responsável por garantir
o cumprimento de regras que mantenham o direito de propriedade e promovam políticas
públicas que concedam relativa igualdade aos agentes econômicos para competirem no
mercado (princípio 7).
Por fim, o último grupo trata dos princípios gerais de funcionamento da economia,
relacionados ao âmbito dos países. Isto posto, é pertinente considerar que o padrão de
vida de uma nação depende de sua capacidade de produção de bens e serviços, pois a
produtividade implica na geração de riqueza a partir da utilização de mão de obra e insumos
e, portanto, interfere diretamente no padrão de vida médio dos cidadãos (princípio 8).
Ademais, cabe destacar que os governos têm poder para emitir moedas, mas devem
ser cautelosos porque o aumento de moeda circulando reduz seu valor, já que a elevação
do poder aquisitivo permite aos indivíduos comprarem mais e isso implica em elevação de
preços de bens e serviços, de modo que, consequentemente, seja necessário mais dinheiro
para adquirir algo (princípio 9). Se, por um lado, esse aumento de produção gera inflação
pela desvalorização da moeda e alta dos preços, por outro lado tem como efeito positivo
a redução do desemprego, uma vez que a elevação do consumo leva à necessidade de
contratação de mais mão de obra para produção ou prestação de serviços (princípio 10).

Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/6567669/bfdfa17833/

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2.2 Economia e capitalismo

De maneira sucinta, o capitalismo é um modo de organização econômica das sociedades


baseado na utilização dos meios de produção para a geração de riquezas por meio do lucro,
que consiste na venda de bens e serviços por valores superiores àqueles necessários ao
pagamento dos custos e/ou à manutenção das atividades.
Isto posto, Mendes (2009) e Passos e Nogami (2012) destacam distintos aspectos
pertinentes ao capitalismo, quais sejam: suas principais características, os agentes econômicos
desse sistema, os fatores de produção e as atividades produtivas. Com relação ao primeiro
aspecto, o quadro a seguir resume os principais aspectos definidores do sistema capitalista.

Característica Descrição
Propriedade privada Concentração de fatores de produção, bens
de consumo e dinheiro entre grupos, sem
ampla circulação à população
Sistema de preços Regulação dos processos de produção com
relação à quantidade e distribuição de bens
e serviços
Lucro Geração de recursos excedentes na relação
entre receita total e custo total de produção
Competição Existência de concorrência entre proprietários
e/ou prestadores de bens e serviços
Governo Atuação limitada à fiscalização para garantia
de aplicação da legislação e competição

Quadro 2 - Características do capitalismo. Fonte: elaborado pelo autor, baseado em Mendes (2009).

No quadro acima são evidenciadas características que, em alguma medida, conformam


os princípios da economia expostos nas seções anteriores desta aula, de modo que cabem
duas considerações específicas: a primeira diz respeito à competição, que nem sempre se
configura na prática por conta do estabelecimento de monopólios ou oligopólios que são
combatidos pelos próprios agentes do mercado e/ou pelos governos; em segundo lugar,
nem sempre a atuação econômica do governo diz respeito à intervenção na regulação do
mercado, uma vez que é crescente o estabelecimento de parcerias e o estímulo à atuação no
âmbito das políticas públicas sociais tanto para empresas privadas - por meio de ações ou

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instituições de responsabilidade social - quanto para a sociedade em geral - pelas organizações


da sociedade civil ou Terceiro Setor. Acerca das ações ou instituições de responsabilidade
social e do Terceiro Setor trataremos de maneira mais aprofundada em aulas posteriores.
Em se tratando de agentes econômicos, Passos e Nogami (2012) afirmam serem quatro
os grupos: [1] as empresas, unidades de produção de bens e serviços que circulam entre a
sociedade e são geradores de lucros; [2] os consumidores, indivíduos e famílias que adquirem
bens e serviços e são, também, aqueles que vendem sua força de trabalho; [3] o governo,
que fiscaliza e/ou regula as relações econômicas e pode ainda contratar serviços, adquirir
bens e atuar por meio de empresas estatais; e [4] agentes internacionais, outras empresas,
consumidores e países, por meio de relações econômicas no mundo globalizado - sobre o
qual trataremos, a partir de distintas perspectivas, em próximas aulas.
Já os fatores de produção (os recursos finitos) referem-se àqueles elementos que, por serem
escassos, demandam da economia a preocupação com sua utilização para a satisfação de
necessidades. De modo sintético, esses fatores podem ser resumidos em três: os recursos
naturais, a mão de obra e o capital.

Fator Descrição
Recursos naturais Bens econômicos utilizados na produção,
obtidos da natureza, como solo, minerais,
água, fontes de energia, fauna e flora
Mão-de-obra Atividade humana, física ou mental, utilizada
para a produção de bens ou a prestação de
serviços
Capital Bens materiais utilizados nos processos
produtivos, como edificações, maquinários
e demais instalações e equipamentos

Quadro 3 - Fatores de produção. Fonte: elaborado pelo autor, baseado em Mendes (2009).

Diante desses elementos envolvidos nos processos produtivos é pertinente considerar o


último aspecto destacado na relação entre economia e capitalismo: as atividades produtivas.
Estas consistem nos modos como os recursos são empregados e aquilo que geram. Nesse
sentido, Mendes (2009) destaca que o sistema capitalista trabalha a partir de três problemas
ou questões: O que produzir? Como produzir? Para quem produzir?

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Em outras palavras, significa que num sistema capitalista é necessário escolher entre que
produtos ou serviços oferecer diante da escassez de recursos, decidir sobre como aplicar
os recursos para a obtenção de determinados bens e/ou serviços e conhecer o público a
quem se destina tal produção, a fim de saber se terão condições de pagar pelo que lhes é
oferecido.
Conforme o mesmo autor, as respostas a essas perguntas determinam em que setor da
economia ou atividade de produção um bem ou serviço se enquadra, de modo que há três
possibilidades: as atividades ou setores primário, secundário e terciário.
São atividades primárias aquelas que exigem menor utilização de tecnologias, relacionadas
majoritariamente ao campo ou a atividades tradicionais rurais, como agricultura, pecuária
e extração vegetal. As atividades secundárias tratam-se das indústrias relacionadas à
estrutura de funcionamento das sociedades com relação à produção, como extração mineral,
construção, alimentos processados, vestuário, bebidas, móveis e redes de telecomunicações
e transportes. Por fim, as atividades terciárias dizem respeito ao comércio (atacadista e
varejista) e à prestação de serviços de toda natureza, como transportes, bancos, habitacionais,
de saúde, educação e serviços públicos, por exemplo.

Isto acontece na prática

Nesta aula, mencionamos os setores produtivos como categorias em uma classificação,


portanto, expomos essas três atividades de modo separado. Contudo, no dia a dia
de um mercado econômico, a cadeia de produção e/ou comercialização de bens e
serviços não necessariamente implica em empresas que operem isoladamente ou em
apenas um desses setores produtivos. Assim, tanto é possível considerar uma empresa
inserida numa rede ou cadeia produtiva quanto observar que um mesmo ente jurídico
atua em dois tipos de atividades.

Nesta aula, você foi apresentado aos elementos básicos que conformam a noção de
economia. Na primeira seção, ao tratarmos de conceito e princípios econômicos, a expectativa
é de que você tenha percebido o quanto esse campo do conhecimento encontra-se relacionado
ao nosso cotidiano. Já com relação à segunda seção esperamos que tenha percebido como
elementos de nossas relações financeiras compõem estruturas de funcionamento do sistema
capitalista, com impacto em nossas vidas individuais e em coletividade.

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AULA 3
MICROECONOMIA, DEMANDA E
OFERTA

Após tomarmos contato com as bases da Ciência Econômica em nossa aula passada,
podemos avançar para compreendermos um dos campos de atuação da economia pautada
pela maneira como a mesma influencia e é influenciada pelos indivíduos, tomados como
consumidores e como geradores de recursos, simultaneamente. Assim, na terceira e quarta
aulas de nossa disciplina trataremos da microeconomia, de modo que, nesta aula, nosso
foco recai sobre dois importantes conceitos microeconômicos: demanda e oferta.

Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/5141329292/b95301ccbb/

3.1 Demanda

Considerando que o fundamento básico da economia é a relação entre recursos disponíveis


e necessidades, mesmo o conhecimento do senso comum aplica esse princípio básico

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no dia a dia, afinal quem nunca ouviu falar sobre “a lei da oferta e da procura” ou ouviu
comentários do tipo “o preço subiu porque está em falta no mercado” ou ainda “tem muita
gente procurando, aí sobe mesmo o preço”?
Pois bem, essas afirmações não estão erradas, ainda que não sejam embasadas por
conceitos sobre o funcionamento das relações econômicas. Isso porque alguns dos principais
elementos da microeconomia dizem respeito às análises relacionadas à existência de demanda,
à produção de bens e serviços e sua comercialização.
De modo geral, a microeconomia é o ramo das Ciências Econômicas que se dedica a
compreender o funcionamento do mercado de produtos e serviços, focado em aspectos
teóricos relacionados ao consumo e aos consumidores, à demanda e oferta, à produção e
às estruturas de mercado (ROSSETTI, 2008; VICECONTI; NEVES, 2010).
Considerando que esta disciplina aborda questões de natureza econômica sob a perspectiva
de sua relação com a vida em sociedade, de maneira ampla, nesta seção discorremos sobre
os conceitos que permeiam as teorias de demanda e de oferta e como estas se relacionam
na busca pelo equilíbrio de mercado.
A demanda diz respeito à escolha dos consumidores por determinado produto ou serviço e
busca oferecer subsídios para compreendermos porque alguém paga por algo em detrimento
de outras opções. Nesse sentido, Passos e Nogami (2012) destacam que a demanda diz
respeito à vontade do consumidor, aquilo que ele deseja adquirir, de modo que se configura
como intenção de compra.
Nesse sentido, ainda para ser considerada como demanda, a intenção de adquirir um bem
ou serviço deve estar atrelada à capacidade de pagamento do consumidor e à sua percepção
sobre a utilidade daquilo que pretende comprar, num determinado espaço temporal. Em outras
palavras, os “sonhos de consumo” sem recursos disponíveis mesmo que para planejamento
futuro não são considerados como demandas de mercado, assim como a noção do conceito
em discussão é perpassada ainda pelo modo como o consumidor percebe que a utilização
de determinado produto ou serviço lhe trará alguma satisfação.
Assim, a demanda tem natureza dinâmica, uma vez que diversos fatores macroeconômicos
- como discutiremos na próxima aula e ao abordarmos futuramente questões pertinentes à
globalização - estão associados à decisão do consumidor.
Por enquanto voltemos ao nosso cotidiano. O valor do salário mínimo, a taxa de inflação,
os serviços públicos disponíveis, a complexidade de determinados serviços e a tecnologia
empregada em certos produtos são alguns dos aspectos que “pesam” na decisão do
consumidor quando pensa em como investir seus recursos na aquisição de um bem ou
serviço.

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Ainda, segundo Passos e Nogami (2012), são muitos os aspectos que influenciam a
composição da demanda, dentre os quais destaco a seguir alguns que são pertinentes à
nossa discussão - lembrando que esta disciplina tem caráter formativo amplo e que, portanto,
não objetiva aprofundar-se em conceitos ou análises das teorias econômicas. Atentemo-nos
aos seguintes fatores: renda, os preços dos bens e serviços complementares e substitutos,
a propaganda, os hábitos e costumes e sazonalidades.
Com relação à renda, principal fator a influenciar a demanda, trata-se da maneira como a
oscilação do rendimento individual influencia o desejo por bens e serviços, sendo que, para
além das situações em que o aumento da renda gera elevação da demanda e a redução
da renda diminui a demanda, deve se considerar ainda que existe a demanda saciada
(independentemente de oscilações de renda) por especificidades daquilo que é comercializado.
Por exemplo, podemos comprar mais ou menos carne a depender do preço e de quanto
dispomos de recursos a cada semana ou mês, ao passo que a compra de uma geladeira
ou sofá não tende a se repetir no curto prazo (em condições normais).
Em se tratando dos preços dos bens e serviços complementares, há bens e serviços cujo
consumo ou aquisição são complementares a outros, de modo que oscilações no preço ou
na percepção de utilidade de um pode influenciar o desejo pela aquisição do outro. Como
exemplos, podemos mencionar café e açúcar como produtos para consumo ou a relação
bem-serviço entre compra de aparelhos condicionadores de ar e sua instalação.

Anote isso

A aquisição de bens ou serviços complementares é diferente da “venda casada”, termo


que remete à aquisição de itens diferentes sob a alegação de que não podem ser
vendidos separadamente. Conforme a legislação e os órgãos de defesa do consumidor,
“a prática de venda casada configura-se sempre que alguém condicionar, subordinar
ou sujeitar a venda de um bem ou utilização de um serviço à aquisição de outro bem
ou ao uso de determinado serviço”.
Fonte: https://www.procon.sc.gov.br/index.php/orientacoes-ao-consumidor/290-venda-
casada

Por sua vez, os preços de bens e serviços substitutos referem-se àqueles que podemos
selecionar pelo que pagarmos, obtendo resultados parecidos, em alguma medida, com relação
ao que recebemos. Nesse sentido, o principal exemplo de que dispomos em nossa sociedade

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brasileira é o caso dos medicamentos genéricos, cuja composição é igual a de remédios


vendidos com preço muito superior por conta da marca a que estão vinculados. Contudo,
outro exemplo relevante está relacionado ao que Marx (1983) denominou como fetiche da
mercadoria, quando os indivíduos se preocupam mais com o status que manifestarão a
partir da exposição de determinado bem do que com seu uso efetivo - lembrando, aqui, que
se a finalidade da aquisição de algo é a exibição ou, falando na linguagem das redes sociais,
a ostentação, trata-se de demanda.
Vinculado a tal fator temos a questão da propaganda que influencia, sobremaneira, a
conformação do sentimento de desejo por parte dos consumidores, em muito por conta do
reforço do fetiche da mercadoria e pela maneira como o consumismo encontra-se relacionado
às noções de sucesso e felicidade. A lógica das propagandas e ações de marketing é criar
necessidades de consumo que se tornem desejos, influenciando a demanda para o que temos
exemplos constantes ao assistirmos peças publicitárias na TV, em vídeos na internet, em
outdoors e anúncios escritos em jornais, revistas e sites e, também, de maneira implícita e
expressivamente impactante, quando inseridos em filmes, novelas, séries ou outros produtos
de entretenimento que ajudam a introjetar a necessidade por determinado bem ou serviço.
Já os hábitos e costumes são elementos de ordem cultural que influenciam o desejo dos
consumidores por determinado bem ou serviço e, ainda que haja tendência de manutenção
- como no caso do arroz com feijão para os brasileiros -, há possibilidade de mudanças ao
longo do tempo, as quais demoram alguns anos ou mesmo gerações para se consolidarem.
Dois exemplos, um mais enraizado e outro em curso: primeiro, o consumo de cigarros ao
redor do mundo tem sido reduzido nas últimas décadas com a redução ou extinção (por leis,
em muitos países) de propagandas e aparições como atos cotidianos em filmes e outras
produções, ao passo que no Brasil há leis que obrigam empresas a expor problemas de saúde
decorrentes do vício em embalagens de cigarros e que proíbem os indivíduos de fumarem
em locais de circulação pública que sejam fechados ou possuam cobertura; segundo, a
redução do consumo de carne é uma pauta que ganha cada vez mais visibilidade, atrelada
tanto aos malefícios do consumo exagerado dessa fonte de proteínas quanto à maneira
como os animais são maltratados para procriação e engorda.
Por fim, há demandas sazonais relacionadas a aspectos climáticos ou períodos do ano
em que há festividades específicas, nos quais é possível verificar oscilações na demanda
por determinados produtos. É o caso de aparelhos condicionadores de ar ou de roupas de
banho/praia com relação ao clima, bem como de procura por uvas passas, chester ou outros
alimentos associados às festas de Natal e réveillon.

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3.2 Oferta

Ao contrário da demanda, a oferta diz respeito ao conceito econômico relacionado


aos processos de produção e/ou disponibilização de bens e serviços, ou seja, trata-se da
quantidade de determinado item que as empresas, indústrias e prestadores de serviços
desejam comercializar em determinado período de tempo (PASSOS; NOGAMI, 2012).

Isto acontece na prática

É comum que supermercados façam propagandas com suas ofertas na semana ou, ao
menos, aos fins de semana. Você já reparou que muitas vezes encontramos produtos
semelhantes ou até mesmo os mesmos itens em oferta em diferentes estabelecimentos?
Isso acontece quando o fornecedor repassa seus produtos a preços menores, geralmente
buscando novos consumidores que ainda não conhecem o produto ou acham-no caro
em comparação com outros. Assim, trata-se de estratégia para atrair consumidores,
assim como divulgar listas de ofertas é uma tentativa dos supermercados para atrair
consumidores interessados em adquirir aquilo que foi anunciado com preço menor do
que na concorrência, sendo que essas pessoas costumeiramente acabam comprando
outros itens com a impressão de estarem economizando.

A oferta, portanto, é a disposição pela disponibilização de itens aos consumidores para


que sejam adquiridos. Assim, se ao ler a palavra que consta no título dessa seção lhe veio à
mente alguma promoção daquelas anunciadas com descontos ou mesmo as situações em
que realizamos pesquisas em diversos locais antes de comprar algo, você não está errado!
Ainda que no cotidiano chamemos de ofertas os produtos ou serviços disponibilizados à
venda com preços menores do que os habitualmente praticados pelo próprio fornecedor ou
por seus concorrentes, a definição das Ciências Econômicas para oferta também é permeada
pela relação entre preço e produção (disponibilidade).
Tanto os autores anteriormente citados nesta seção quanto Mendes (2009) afirmam que a
oferta - assim como apontado para a demanda - é influenciada por múltiplos fatores, dentre
os quais destacamos o preço dos insumos, a tecnologia empregada, a competitividade do
produto, a existência de políticas de governo e outros aspectos sazonais.
Insumos são os elementos necessários à produção de determinada mercadoria ou à
prestação de um serviço, o que significa que elevações no preço desses itens tendem a
encarecer o custo do bem ou serviço e podem levar seu produtor a repensar o quanto cobra

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do consumidor ou até mesmo, em último caso, sua continuidade no mercado. Um exemplo


recente nesse sentido foi o fechamento de linhas de produção de diversas montadoras de
veículos no Brasil por conta da combinação entre baixa venda de alguns modelos, aumento
nos custos para importação de peças do exterior e desaquecimento da economia no segmento
por conta da pandemia, ou seja, uma combinação de fatores entre menor procura pelos
veículos, aumento do custo dos insumos e menor poder de compra do consumidor - lembre-
se da questão da utilidade da demanda - culminaram em decisões de natureza econômica
com vistas à saúde das empresas montadoras de veículos.
No que se refere à tecnologia utilizada na produção ou prestação de serviços, Marx (1983)
já destacara em sua clássica interpretação sobre os processos produtivos pós-Revolução
Industrial que a utilização de máquinas e equipamentos para otimização da produção é
uma estratégia econômica frutífera aos empresários. Nesse sentido, o aumento da oferta de
determinado item está associado, em alguma medida, aos recursos tecnológicos empregados
para aumentar a capacidade produtiva, seja por redução de custos, por elevação da quantidade
de itens produzidos num determinado período de tempo e/ou pela qualidade daquilo que
é disponibilizado ao consumidor. É o caso dos fabricantes de aparelhos smartphones,
que apresentam atualmente muitas finalidades e recursos para além da possibilidade de
comunicação por linhas telefônicas e mensagens de texto, como na década passada era
comum aos aparelhos celulares.
Com relação aos preços dos produtos ou serviços oferecidos pela empresa, a oferta
depende, também, do quanto cada item oferecido ao consumidor é compensador no que
se refere à utilização de insumos, tempo de produção e retorno financeiro. Assim, um dos
aspectos que conformam a decisão sobre o que ofertar ao consumidor é considerar o custo
de produção, a necessidade de uso de tecnologia e a demanda. Como exemplo, podemos
pensar uma marmitaria que aceita a proposta de entrega de 20 refeições diárias para os
funcionários de uma empresa a um preço inferior àquele de venda no balcão; ainda que a
marmitaria tenha menor lucro em cada uma das refeições entregues à empresa, trata-se de
uma venda diária fixa que garante um lucro mínimo independente do quanto for comercializado
no estabelecimento.
Outro aspecto importante a ser considerado é a existência de políticas governamentais
que podem contribuir à oferta de determinado bem ou serviço, o que é representado por
subsídios do Estado em diversas situações, como a cessão de terrenos para instalação de
indústrias para geração de empregos, isenção de impostos para importação de maquinários
ou oferta de cursos técnicos para capacitação de mão de obra com garantia de contratação
por empresas.

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Por fim, o último fator que influencia a oferta de bens e serviços é, assim como ocorre no
caso da demanda, a questão da sazonalidade, a qual também pode se manifestar por conta
de condições climáticas, mas tende a sofrer impacto de aspectos econômicos internacionais
em muitos casos. Recentemente, vivenciamos no Brasil diversos exemplos de aspectos
sazonais que impactam a oferta de produtos - e, consequentemente, seu preço - no caso
dos tomates, do feijão, do gás de cozinha e de eletroeletrônicos importados, por conta da
desvalorização de nossa moeda em relação ao dólar.
Nesta aula, discorremos sobre demanda e oferta dois conceitos centrais à área da
microeconomia e, por conseguinte, à interpretação de muitos aspectos compreendidos na
vida em sociedade, já que permeiam as relações de consumo e suas nuances degeneradas,
o consumismo e o fetiche da mercadoria. Contudo, apesar de tratados em separado aqui,
os conceitos de demanda e oferta operam intimamente relacionados, como discutiremos
em nossa próxima aula.

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AULA 4
MICROECONOMIA E O
FUNCIONAMENTO DO MERCADO

Na aula anterior, tratamos de dois importantes e norteadores conceitos no campo da


microeconomia, demanda e oferta, a fim de apresentar como esses elementos operam de
maneira separada. Contudo, pensando em nosso cotidiano e na vida em sociedade de modo
geral, trata-se de elementos que operam de modo concomitante por meio de estruturas de
produção de competição. Nesse sentido, esta aula expõe o conceito de equilíbrio de mercado
e discorre sobre as diferentes estruturas de competição de mercado.

4.1 Equilíbrio de mercado

Ainda que expostos de maneira separada na aula anterior, demanda e oferta são aspectos
interligados no funcionamento da economia e, portanto, é necessário considerar como se
dá sua relação para compreendermos seu impacto sobre a vida em sociedade. Assim, a
realidade econômica é de constante interpenetração entre demandas dos consumidores e
ofertas das empresas e prestadores de serviços, sendo que as sinalizações de um grupo
influenciam as ações futuras do outro.
Podemos pensar essa relação olhando para o mercado de ações. Sabemos que quando é
anunciado que as ações de determinada empresa estão “em alta”, ou seja, rendendo dividendos
por sua valorização, a tendência é de que mais pessoas busquem comprar aquelas ações
e, muito rapidamente, é elevado o valor de cada ação, de modo que tanto os consumidores
quanto os gestores responsáveis pelas ações agem buscando maximizar seus rendimentos.
Mas, para trazermos à discussão para uma realidade mais próxima do dia a dia do cidadão
comum - reconhecendo a complexidade do mercado de ações - podemos mencionar como
a relação entre demanda e oferta alterou sobremaneira os preços de imóveis no Brasil: em
meados dos anos 2000 foi criado pelo Governo Federal brasileiro o Programa Minha Casa,
Minha Vida (PMCMV) para financiamento de habitações populares à parcela dos cidadãos
com renda baixa e outros critérios relacionados à política pública de assistência social. A
implementação do programa fez com que diversos loteamentos e construtoras alterassem
o preço médio de venda de seus terrenos e imóveis para adequá-los às faixas contempladas

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pelo PMCMV, sendo que relatórios das unidades regionais da rede Observatório das Metrópoles
identificou elevação dos preços em muitos municípios (para chegar ao limite financiável) e,
em combinação, a delimitação de locais em áreas periféricas dos municípios para construção
das unidades habitacionais, o que contribuiria à segregação espacial dos beneficiários da
política pública (GIMENES; ARAÚJO, 2011).

Isto está na rede

A rede de pesquisas de Observatórios das Metrópoles encontra-se estruturada desde


o fim da década de 1990 e conta com centenas de pesquisadores espalhados por
centros urbanos de grande parte das unidades da federação. Trata-se de um Instituto
Nacional de Ciência e Tecnologia que opera no país e goza de parcerias internacionais,
tendo muitos dos resultados de suas pesquisas disponibilizados gratuitamente de
modo digital em sua plataforma, que contempla relatórios de pesquisas, artigos, livros
e outros documentos.
https://www.observatoriodasmetropoles.net.br/

O fato é que independente do segmento econômico, a relação entre demanda e oferta


existe e, no caso de nossa discussão nessa disciplina, é importante compreendê-la sob a
perspectiva da preocupação com o equilíbrio de mercado que consiste na maneira como são
manifestadas as demandas pelos consumidores e as respostas ou estímulos que fornecedores
(produtores de bens e prestadores de serviços) oferecem em contrapartida.

Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/5569528073/8704a7648e/

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Para Mendes (2009), todos os elementos que influenciam tanto a demanda quanto a oferta
concorrem simultaneamente para a existência de um equilíbrio que seria o funcionamento do
mercado de modo que haja diferentes grupos de consumidores e de fornecedores, motivados
por distintas demandas e ofertas, onde a relação entre possibilidade de consumo e garantia
de receita sejam existentes.
Para o autor, esse equilíbrio depende da estrutura de competição no mercado - sobre o
que trataremos na próxima seção desta aula - e da maneira como o poder público intervém
no funcionamento da economia. Sobre o segundo aspecto, destaco que o governo pode
atuar de modo a fixar preços mínimos ou máximos, além da concessão de subsídios
(anteriormente expostos) e do congelamento ou tabelamento de preços, prática recorrente
no país especialmente entre meados das décadas de 1980 e início dos anos 1990 por conta
da elevada taxa de inflação.
Sobre a fixação de preços, a definição de limites visa oferecer garantias mínimas, ou seja,
defender um dos grupos: no caso da determinação de preços mínimos, o intuito é garantir
que os produtores tenham garantidos recursos para custear suas atividades; quando se trata
da fixação de preços máximos, a preocupação é com os consumidores, estabelecendo um
limite para que o ganho de capital não sobrepuje a capacidade de compra dos indivíduos
que necessitam de algo.
Na próxima seção, ao tratarmos da questão da competição no mercado, a intervenção do
governo na fixação de preços será retomada como ilustração das possibilidades de arranjos
comerciais.

4.2 Estruturas de competição

De modo geral, a estrutura de funcionamento de um mercado econômico diz respeito aos


aspectos organizacionais que permitem compreendermos como se manifestam as relações
entre consumidores e fornecedores e entre demanda e oferta para o equilíbrio do mercado.
Nesse sentido, Mendes (2009) destaca características estruturantes do funcionamento de
um mercado,os graus de concentração e de diferenciação dos produtos e também barreiras à
entrada de novos players que podem ser traduzidos objetivamente do inglês como jogadores
e referem-se àqueles que disputam espaço no mercado econômico.
O grau de concentração refere-se a quanto o mercado de determinado item encontra-se
concentrado entre um número pequeno de fornecedores ou apenas um, em caso extremo.
Conforme o autor destacado, quanto maior a concentração do mercado, menor o nível de
competitividade e, por conseguinte, os consumidores ficam à mercê dos preços praticados

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pelas empresas e sujeitos à qualidade dos produtos que oferecem. Em outras palavras, a
concentração do mercado de determinado bem ou serviço é prejudicial aos consumidores.
Com relação ao grau de diferenciação do produto, a heterogeneidade daquilo que é ofertado
ao consumidor interfere diretamente em seu preço, de modo que produtos com qualidade
superior aos seus concorrentes diretos tendem a ser vendidos com maior preço. Assim,
para um mercado competitivo seria interessante a existência de múltiplas possibilidades de
escolhas aos consumidores, de modo que os preços de venda fossem regulados de maneira
mais equitativa.
Esses conceitos lhe parecem distantes ou próximos, tangíveis ou abstratos? Pois bem, que
tal pensarmos em nossa lista de compras quando vamos ao supermercado ou à maneira
como costumeiramente a maioria de nós se refere a determinados produtos? Como você
anota ou menciona as lâminas de barbear, o sabão em pó, a esponja de lã de aço, o creme
de avelãs?
Não se trata de julgar, aqui, quem anota em sua lista ou fala Gilette, Omo, Bombril ou
Nutella, considerando a pergunta acima e as respectivas menções mais recorrentes, mas de
demonstrar como, em nosso cotidiano, tomamos como natural que certos produtos sejam
tratados como “o” item e não como uma possibilidade ou marca. Nesses quatro casos
utilizados como exemplos, se trata, em alguma medida, de concentração de mercado e de
diferenciação do produto.
O terceiro item caracterizador de uma estrutura de mercado diz respeito à existência de
barreiras ao ingresso de novos players, o que implica considerar as dificuldades que novos
fornecedores enfrentam para disputar a comercialização de bens e serviços, majoritariamente
relacionados aos seus limites em termos de escala de produção - tecnologia, mão de obra
especializada e qualidade dos insumos, por exemplo.
Conforme Mendes (2009), diante dessas características é possível delimitar quatro cenários
de estruturas de mercados, conforme explicados no quadro a seguir, disposto do modelo
mais competitivo ao menos concorrencial e, portanto, menos favorável ao consumidor.

Estrutura Descrição
Concorrência Dificilmente encontrada empiricamente, remete à existência de grande
perfeita número de fornecedores, oferta de produtos e serviços homogêneos, sem
barreiras à entrada de concorrentes no mercado e com livre determinação
de preços, onde os consumidores fariam suas escolhas pelos produtos
considerando seu custo e não haveria necessidade de intervenções do
governo.

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Concorrência Organização do mercado com elevado número de empresas que oferecem


monopolística produtos diferenciados entre si, mas com qualidades que são equivalentes ou
não impactam efetivamente a concorrência que se dá por meio de marcas,
serviços especiais, propagandas ou busca por melhor imagem junto aos
consumidores (responsabilidade social empresarial). Por conta da relativa
equivalência entre os diferentes produtos ofertados, há pouca possibilidade
de controle dos preços pelas empresas (que precisam considerar os
concorrentes para estabelecer valores) e reduzidas barreiras à entrada de
novos concorrentes na disputa.
Oligopólio Cenário com poucos players oferecendo produtos que podem ser
diferenciados ou homogêneos, de modo que as opções aos consumidores
são restritas e, portanto, é possível às empresas controlar seus preços,
focando em sua diferenciação - conforme estratégias válidas também para
concorrência monopolística - e ainda, por conta da concentração do mercado,
verifica-se a existência de barreiras à inclusão de novos competidores.
Monopólio Comum para determinados setores produtivos, marcado por apenas uma
grande empresa responsável pela concentração das demandas e por oferta
de produto diferenciado, de modo que há ausência de concorrência efetiva
e a empresa determina o preço, o que exige interferência do governo para
evitar grandes abusos. Dadas as especificidades da produção e a inserção
no mercado de maneira ampla, em monopólios há expressivas barreiras à
instalação de novos concorrentes.

Quadro 4 - Características das estruturas de mercado. Fonte: elaborado pelo autor, baseado em Mendes (2009).

Isto acontece na prática

O controle sobre as estruturas de mercado quanto aos graus de concentração/competição


e de diferenciação/homogeneidade de produtos e as barreiras para participação de
novos fornecedores cabe, no Brasil, ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(CADE), vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública do Governo Federal.
https://www.gov.br/cade/pt-br

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Nesta aula, avançamos com relação ao nosso conhecimento sobre microeconomia ao


compreendermos como seus elementos operam em ambientes relacionais, ou seja, no sentido
de que as demandas e ofertas são múltiplas e inter-relacionadas, configurando-se em um
sistema que deve buscar o equilíbrio de mercado e onde diferentes interesses financeiros
disputam a concentração do poder econômico por meio de estruturas de competição.

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AULA 5
AS CIÊNCIAS SOCIAIS E A VIDA EM
SOCIEDADE

Uma vez conhecidos os elementos estruturantes do primeiro termo que compõe o nome
desta disciplina, a economia, podemos avançar à compreensão de aspectos pertinentes
ao segundo termo, a sociedade. Para tanto, esta e nossas próximas duas aulas tratam de
conteúdos relacionados ao campo do conhecimento que tem como foco o estudo da vida
em sociedade: as Ciências Sociais. Nesse sentido, nesta aula são apresentados aspectos
pertinentes à origem e definição das Ciências Sociais.

5.1 As bases de fundação histórica das Ciências Sociais

De modo geral, a vida em sociedade se caracteriza por conjuntos de ações que podem
ser individuais ou coletivas, cujos reflexos ou resultados também ocorrem nessas duas
dimensões, seja de maneira combinada ou isolada. É fato, ainda que parcela expressiva da
população não perceba, que a esmagadora maioria dessas ações que podem nos parecer
“normais” não são naturais, mas construções sociais que, com o passar do tempo e/ou
utilização de modos de imposição, se tornam práticas recorrentes e reconhecidas como
legítimas.
O grande campo do conhecimento dedicado aos estudos e investigações sobre as
construções sociais e seus impactos na conformação das sociedades humanas é denominado
Ciências Sociais, área subdividida em Sociologia, Antropologia e Ciência Política e que tem
na primeira seu mais conhecido termo, tanto porque a Sociologia emergiu com o próprio
estabelecimento das Ciências Sociais quanto pelo fato de que os conteúdos das três áreas
das Ciências Sociais são tratados no âmbito da disciplina de Sociologia no Ensino Médio
brasileiro.
Com relação ao período histórico de surgimento das Ciências Sociais, trata-se do século
XVIII, no qual aconteceram duas grandes e expressivas revoluções que moldaram os caminhos
do desenvolvimento das sociedades desde então: a Revolução Industrial (1780-1860) e a
Revolução Francesa (1789-1799).

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A Revolução Industrial consistiu em um grande processo de transformações econômicas


e sociais desencadeadas no século XVIII na Inglaterra, cujos efeitos se expandiram aos
demais Estados, primeiramente no hemisfério Norte e posteriormente, em alguma medida,
por todo o globo. Segundo Paiva e Cunha (2008), tal fenômeno fez da Inglaterra a maior
potência econômica ao longo do século XIX.
Um aspecto anterior à Revolução Industrial foi a expansão crescente do comércio,
principalmente após a instauração do mercantilismo, os avanços colonialistas e a constituição
do liberalismo, de modo que, segundo Thompson (1987), somente a partir da alteração do
processo de produção foi possível o acúmulo de capital, pois o arrendamento de terras e a
atividade artesanal não permitiam tal intento.
De maneira sucinta, a Revolução Industrial representou a alteração do modo de produção,
de artesanal para industrial, baseado na utilização de máquinas em detrimento do trabalho
manual. Diante do descontentamento dos trabalhadores rurais com a imobilidade social,
uma parcela deles migrou e provocou o êxodo rural, com consequente intensificação da
urbanização, ao mesmo tempo em que se desenvolveram as indústrias por conta da criação de
maquinários, da mecanização dos processos produtivos e do aperfeiçoamento das técnicas de
produção, estendidas, em um segundo momento, do setor têxtil e da agricultura à metalurgia
e aos transportes.
Como principais resultados de impacto social da Revolução Industrial destacam-se a divisão
e na especialização das atividades laborais e os impactos ambientais de tal evolução, de
modo que já entre os séculos XVIII e XIX constatava-se a exploração dos recursos naturais
de maneira enfática.
Para além dessas mudanças, a maneira como o conhecimento se conformava e o
pensamento social se desenvolvia também se alteravam na Europa. A Revolução Francesa
é, nesse sentido, resultado de um contexto amplo de contestação da metafísica e das
explicações da Igreja Católica como fundamentos dos fenômenos sociais, o que culminou
no fortalecimento do conhecimento filosófico e científico e do destaque a pensadores que
ficaram conhecidos como iluministas.
Esses pensadores, relacionados ao movimento denominado Iluminismo defendiam, de
certo modo, que a vida em sociedade decorreria de aspectos socialmente construídos, sendo
que as instituições postas estariam a serviço de elites políticas, econômicas e religiosas e,
portanto, deveriam ser combatidas em favor do estabelecimento de igualdade e liberdade
entre os indivíduos.
Por conta de sua preocupação com a disseminação do conhecimento filosófico e científico,
os iluministas sistematizaram a Enciclopédia, publicação que reunia - e ainda hoje reúne,

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aos mesmos moldes - verbetes com explicações detalhadas sobre fatos, fenômenos e
processos sociais. Essa Enciclopédia, que consistiria num tipo de dicionário de explicações
(para além da definição do termo, como em um dicionário) enfatizava aspectos que buscavam
o estranhamento dos indivíduos com relação àquilo que lhes estava posto, de modo a romper
com a naturalização de questões, condições e posições sociais postas.
A tomada do poder pela burguesia em 1798, que gerou o termo Revolução Francesa, marca
a passagem da Idade Moderna para a Contemporânea e a queda do regime feudal sob o
reinado de Luís XVI, o que impactou a organização da sociedade francesa e disseminou o
ideário de igualdade, liberdade e fraternidade, atrelado ao questionamento de ordens instituídas
e à perspectiva crítica de racionalização da vida em sociedade.
Assim, o contexto de surgimento das Ciências Sociais - ou Sociologia, simplesmente,
naquele momento - caracterizou-se pela necessidade de compreensão de problemas sociais
latentes, quais sejam: as consequências da industrialização e o enfrentamento à ordem
social. Conforme Castro e O’Donnell (2018), essa é, inclusive, a característica central das
Ciências Sociais até a atualidade: o esforço em desarraigar nossa visão de mundo pautada
pela naturalização de processos e ações sociais que são socialmente constituídos, o que
Wright Mills (1969) denominou imaginação sociológica.

Isto acontece na prática

Giddens (2005) trata da imaginação sociológica a partir de um exemplo simples, cotidiano


para a maioria dos brasileiros: tomar uma xícara de café. Esse ato pode ser interpretado
como um rito de socialização, como o consumo de uma droga lícita por conta do vício
em cafeína, como parte de uma rede internacional de comércio para importação e
exportação ou ainda sob a perspectiva do passado rural brasileiro.

Analisar a vida em sociedade por meio da imaginação sociológica é um processo constante,


cujo surgimento não teve data ou texto determinado. Contudo, atribui-se a Auguste Comte a
primeira sistematização de um modo sociológico de observar os processos sociais, sendo
tal autor considerado o precursor das Ciências Sociais.

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5.2 Física Social e as Ciências Sociais

Como primeira área de desenvolvimento das Ciências Sociais, a Sociologia responde pelos
primeiros e principais autores de destaque no contexto de surgimento do grande campo
das Ciências Sociais.

Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/10314708534/c0d9d9b8d0/

Auguste Comte é considerado o antecessor dos primeiros clássicos estudos das Ciências
Sociais. Apontado por autores com Sell (2012) como o “Pai da Sociologia” buscava conhecer
as Ciências Naturais e também compreender os fenômenos da vida social. Assim, em seus
estudos, considerou o método das Ciências Naturais como fundamental ao estabelecimento
dos princípios para interpretação das sociedades humanas, originando o que ficaria conhecido
como Física Social.

Entendo por física social a ciência que tem por objeto próprio o estudo dos
fenômenos sociais, segundo o mesmo espírito com que são considerados
os fenômenos astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos, isto é,
submetidos a leis invariáveis, cuja descoberta é o objetivo de suas
pesquisas. Assim, ela se propõe diretamente a explicar, com a maior

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precisão possível, o grande fenômeno do desenvolvimento da espécie


humana, visto em todas as suas partes essenciais (COMTE, 1989, p. 86).

A Física Social deveria buscar compreender os fenômenos sociais como resultado da


evolução das civilizações até chegar à “Europa civilizada”, entendendo o homem como parte
do corpo social, elemento em uma lógica universal de respeito às leis naturais dentro da vida
social. Nesse sentido, o pensador tratou das relações entre positivismo e racionalidade ao
definir que a positivação das ações dos homens com relação à política e à moral ocorreriam
de distintas maneiras, denominadas conjuntamente como a “lei dos três estágios”, pautada
pela busca pelo entendimento do desenvolvimento humano a partir do conhecimento científico
acerca da vida social.
No primeiro estágio, teológico, os fenômenos naturais só seriam compreendidos com a
crença de um elemento divino, sendo que nosso conhecimento sobre a vida seria superficial
e a verdadeira compreensão da vida estaria além de nossa capacidade humana.
O segundo estágio, de abstração, seria marcado pela preocupação com a compreensão
de fenômenos físicos a partir da observação, o que permitiria a comprovação de fenômenos
sociais aos moldes das Ciências Naturais, sendo que o corpo social (sociedade como um
todo) deveria ser regulado pelo Estado.
Por fim, no terceiro estágio, positivo, a compreensão de fenômenos sociais passaria pela
observação e pela comprovação científica, sendo que descobertas seriam consideradas
científicas conforme sua aplicabilidade.
Com o desenvolvimento dos estudos e dos caminhos dialógicos e de análise da realidade
social, a perspectiva da Física Social perdeu espaço para interpretações menos relacionadas à
replicação de caminhos analíticos, mas voltados à criação de um modo específico de análise
do campo científico posteriormente denominado Ciências Sociais, que busca conhecer o
processo de formação da sociedade atual e as condições nas quais ela se desenvolveu. Para
tanto, implica na realização de estudos e análises dos processos históricos de conformação
das relações sociais enquanto saberes específicos.
Isso significa que as Ciências Sociais se constituem enquanto campo de conhecimento
dinâmico e perene, uma vez que as sociedades estão em constante alteração ou ressignificação
de elementos e fenômenos ao mesmo tempo em que determinados aspectos persistem e/
ou possuem características explicativas semelhantes ao longo dos séculos.
Nesse sentido, os dois conceitos que conformam o termo, “ciência” e “social” (ou sociedade),
nos coloca diante de um paradoxo, que é, também, o diferencial das Ciências Sociais com
relação a outras áreas do conhecimento das Humanidades: considerando que a ciência tem

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por finalidade a organização sistemática do conhecimento adquirido e que a sociedade é


um objeto em constante movimento e alteração, as Ciências Sociais constituem o campo
do conhecimento científico que visa compreender as regularidades e as especificidades das
dinâmicas sociais.
Diante do exposto, concluímos esta aula destacando que as Ciências Sociais se
constituem como área de conhecimento ampla e multifacetada, cujos diálogos com a
economia tangenciam, em grande medida, os caminhos do desenvolvimento das sociedades
contemporâneas. Compreender esses aspectos fundantes da área é essencial para avançarmos
em nossa compreensão sobre os caminhos do desenvolvimento dos estudos que têm na
sociedade seu foco de preocupação.

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AULA 6
AS CIÊNCIAS SOCIAIS E A
RELEVÂNCIA DA POLÍTICA

O desenvolvimento das Ciências Sociais, ainda que recente em comparação com outros
campos do conhecimento estruturou-se em três diferentes momentos: primeiramente com
a Sociologia, decorrente de maneira direta da Física Social, e depois com o estabelecimento
da Antropologia e da Ciência Política como subáreas de estudos. Esta aula destaca os
elementos fundantes e caracterizadores das três subáreas das Ciências Sociais em sua
primeira seção e, na sequência, aborda a política como objeto de atenção para avançarmos
na compreensão acerca das relações entre economia e sociedade.

6.1 Áreas das Ciências Sociais e olhares sobre a realidade social

Fonte: https://visualhunt.com/search/instant/?q=antropologia

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Conforme destacado anteriormente, as Ciências Sociais emergiram no contexto das


Revoluções Industrial e Francesa, cujas consequências produziram mudanças sociais
expressivas nas sociedades à época e até a atualidade. Foi naquele contexto que iniciou-se
a sistematização de estudos de debates relacionados aos campos de atuação e pesquisa
em Ciências Sociais: Sociologia, Antropologia e Ciência Política.
A Sociologia tem raízes diversas nas Ciências Humanas e é considerada a mãe das Ciências
Sociais, pois estuda os arranjos sociais, suas transformações e implicações, tendo como
foco o estudo do homem atuando em sociedade, de maneira ativa e/ou passiva. Esta área
surgiu relacionada às interpretações sociais decorrentes das grandes navegações, com novos
territórios explorados, o surgimento dos burgos no contexto das Cruzadas, as migrações
e o estabelecimento de nova classe social. Inicialmente, se debruçou sobre a Revolução
Industrial e o debate em torno da necessidade de mão de obra nas cidades, o êxodo rural, os
processos de urbanização, as condições de vida e de trabalho, a insatisfação e organização
operária, sendo que atualmente discute - em diálogo com o Serviço Social - desigualdades
sociais, problemas sociais (como alcoolismo, suicídio, prostituição e homicídios), pautas
dos trabalhadores e a necessidade de intervenção do Estado diante do binômio contenção
x políticas públicas.
Por sua vez, a Antropologia se dedica aos estudos sobre culturas, desenvolvidos a partir
da descoberta de sociedades tribais por contas das grandes navegações, com abandono
da percepção do europeu como divino e conhecimento a partir da visão do “eu” e do “outro”.
O objeto da área é o homem e seu relacionamento consigo e com a sociedade (mundo
exterior). Como surgiu no contexto do expansionismo europeu, o inicialmente os estudos
antropológicos se depararam com o novo homem desconhecido e a necessidade de conhecê-
lo à luz do homem europeu, de modo que a perspectiva analítica da evolução do homem se
revelou influente à área tanto no âmbito físico/biológico quando cultural. Para tanto, esta
área desenvolveu uma técnica de pesquisa específica, a etnologia, pautada pela observação
participante, pesquisa do/no cotidiano, estranhamento e relativização.
Por fim, a Ciência Política foi a última área das Ciências Sociais a se desenvolver e
se constitui voltada aos estudos e discussões relacionadas ao campo da política e seus
desdobramentos, como as relações de poder, estruturas e instituições, com foco no estudo do
homem sob a perspectiva da ação política, ativa e/ou passiva, bem como das interfaces com
o Estado, suas estruturas e outros elementos, como partidos políticos e o comportamento
dos indivíduos. A origem da Ciência Política remonta ao fim do século XIX nos Estados
Unidos e o fato de ser ainda um campo autônomo de pesquisa remete às relações de seu
objeto com áreas como a Sociologia, a Filosofia e o Direito, por exemplo. Contudo, o primeiro

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texto reconhecido (posteriormente) como relacionado a tal campo é “O Príncipe”, de Nicolau


Maquiavel (1976), com publicação original de 1512. Ao longo do século XX e neste início
de século XXI, a Ciência Política tem ganhado destaque por conta das relações políticas
globalizadas e dos embates sociais, culturais, políticos, ambientais e territoriais relacionados
à elevação das desigualdades sociais em virtude da concentração de riquezas.
Contudo, cabe destacar que as análises sobre as relações sociais, culturais e de poder
estão, todas, voltadas às investigações sobrea vida em sociedade, de modo que os três
campos das Ciências Sociais se interligam por meio de múltiplas temáticas, de modo que
o campo de investigação da área é amplo e multifacetado, já que, para além da distinção
entre as três grandes subáreas de conhecimento - Sociologia, Antropologia e Ciência Política
- há um contingente expressivo de campos temáticos transversais ao desenvolvimento de
pesquisas.
Um exemplo dessa multiplicidade é o conjunto de temas definidos pela Associação Nacional
de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) em seu edital para composição
de grupos de trabalhos em encontro de pesquisa realizado em 2020, o que expressa, de
modo geral, a percepção coletiva dos pesquisadores da área acerca de recortes de objetos
de pesquisa nas Ciências Sociais. Cabe a ressalva de que esse compêndio temático não é
estanque, já que a importância das pautas em pesquisas está intrinsecamente relacionada
ao impacto desses temas sobre a conformação e as vivências sociais.

Anote isso

As bases das Ciências Sociais e a potencialidade do impacto de suas análises estão


presentes em muitas obras, sendo que “Introdução às Ciências Sociais” (CASTRO;
O’DONNELL, 2018) oferece uma análise didática e relevante sobre a conformação da
área e seus impactos sobre a vida em sociedade.

Assim, evidencia-se que os estudos realizados no âmbito das Ciências Sociais assumem
distintas possibilidades teóricas, críticas e analíticas, as quais refletem a multiplicidade de
possibilidades de manifestação de aspectos da vida em sociedade, em que contribui aos
debates no âmbito desta disciplina.

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6.2 O significado da política

A política é parte do cotidiano de cada um, sendo que são múltiplas as experiências
e relações que cada indivíduo desenvolve com o tema. Por um lado, falar sobre o tema
implica em considerar um conjunto de aspectos e elementos conformadores das relações
humanas, inclusive o espectro que reúne economia e sociedade. Por outro lado, trata-se de
um tema complexo que está muito além do que as experiências individuais, especialmente
as eleitorais, dariam conta de compreender.
De acordo com Coelho (2017, p. 22), “como as primeiras discussões sobre os sentidos
da Política datariam de mais de dois mil anos atrás, alguns entusiastas do tema afirmam
que não existiria Ciência mais antiga no mundo do que a Política”.
Conforme encontrado no verbete sobre o tema no Dicionário de Ciência Política, de Bobbio,
Matteucci e Pasquino (2000), a política pode ser definida a partir da etimologia do termo,
que decorre da palavra grega pólis, cujo significado remete a tudo que em relação à cidade
e, por consequência, ao urbano, ao civil e ao público.
De fato, as bases iniciais das discussões em torno de questões políticas remetem à vida
em Atenas, já que foram primeiramente os gregos, com destaque a Platão e Aristóteles, que
se debruçaram a estabelecer conjecturas acerca das relações sociais em coletividades, tendo
em vista aspectos como liberdade, pluralidade, racionalidade e interações no âmbito público.
Por sua vez, para Weber (2004, p. 60), um dos fundadores das Ciências Sociais, a política
poderia ser compreendida como “[...] o conjunto de esforços feitos visando participar do poder
ou a influenciar a divisão do poder, seja entre Estados, seja no interior de um único Estado”.
Nesse sentido, o autor tinha no Estado a instituição que permitiria a materialização da
política, tanto que afirmou ainda que “[...] por política entenderemos tão somente a direção
de um agrupamento político hoje denominado ‘Estado’ ou a influência que se exerce nesse
sentido”, tendo em vista que “[...] o Estado consiste em uma relação de dominação do homem
pelo homem, com base no instrumento da violência legítima – ou seja, da violência considerada
como legítima” (WEBER, 2004, p. 59).
Assim, o autor clássico delimitou a organização política do Estado a partir da existência
de dois grupos sociais e políticos distintos, dominadores e dominados, em que os primeiros
exerceriam autoridade sobre o segundo grupo. No mesmo sentido, em sua clássica obra “O
Príncipe”, Maquiavel destacou a maneira como o governante deveria atuar para garantir sua
permanência no poder, para o que, caso necessário e em última instância, deveria fazer uso
da força, legítimo quando protagonizado pelo Estado.

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Diante do exposto, é perceptível que a política se impõe aos indivíduos que vivem em
sociedade, de modo que não se coloca a possibilidade de manter-se completamente afastado
ou alheio à política, isso porque a temática está presente no cotidiano de cada um de
diversas maneiras: de como fiscalizamos a distribuição e a utilização de recursos públicos
à determinação dos caminhos das políticas públicas e sua utilização pela população, do modo
como cada um define seu voto até o interesse em acompanhar notícias e o desempenho
dos políticos eleitos.
Assim, tanto o alto interesse por assuntos relacionados à política quanto o completo
afastamento com relação a questões dessa natureza compreendem modos de relacionamento
dos indivíduos com a política, como explicita Coelho (2017, p. 29) ao tratar do tema da apatia
e indiferença política:

Curiosamente, o significado etimológico da palavra “idiota” deriva do


grego e sua definição está relacionada inicialmente aquele indivíduo que
não participava da Pólis e por isso seria incapaz de exercer qualquer
ofício público, passando depois a ser compreendido como “homem
comum” – sem especial distinção – e finalmente “sujeito ignorante, de
pouca inteligência e pouca valia”. Resumidamente, o “idiota” pode ser
percebido também como aquele que não se interessa pelos assuntos
públicos, somente pelos privados”.

Isto acontece na prática

Ao tratarmos da vida em sociedade estamos sempre falando em política, ainda que


não percebamos ou mesmo quando rechaçamos o tema. Por exemplo, ser usuário da
educação pública ou de programas de acesso ao ensino superior privado tem a ver
com política,ser vacinado no Sistema Único de Saúde (SUS) também é política, assim
como pagarmos impostos, votarmos e termos liberdade de expressão, inclusive para
criticar o funcionamento da própria política.

Nesse sentido, cabe destacar que, para Faria (2017), os principais objetos de estudo da
Ciência Política dizem respeito às teorias sobre a organização dos Estados e a distribuição ou
concentração do poder político, os sistemas político, partidário e eleitoral e os mecanismos
de atuação dos indivíduos na política.
Lembre-se que esses objetos estão relacionados à preocupação central dos estudos
sobre a política, as questões de poder, e que, conforme salientado em diversos momentos

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em nossas aulas anteriores e também nas próximas aulas, poder econômico e poder político
são, historicamente, intimamente relacionados.
Conhecidas as especificidades das subáreas das Ciências Sociais que estudam as
sociedades a partir de distintos elementos e a relevância de aprendermos sobre a política
por conta de sua relação com a economia, finalizamos essa aula com a perspectiva de
que a política é definidora, em alguma medida, dos caminhos do desenvolvimento de uma
sociedade sob as perspectivas econômica e social, mas também com impacto sobre as
ordens cultural, tecnológica, ambiental e religiosa, por exemplo.

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AULA 7
ESTADO E DEMOCRACIA

Tendo em vista a relevância da intersecção entre economia e sociedade com a questão


da política, explorada em nossa aula anterior, é pertinente avançarmos no sentido de
compreendermos as implicações dessa intersecção. Para tanto, em nossa sétima aula nos
detemos à discussão sobre como o Estado, enquanto órgão que materializa a política, se
coloca em relação à sociedade e sobre os caminhos ao desenvolvimento dessa relação no
contexto democrático.

7.1 Estado e sociedade

Estado e sociedade se constituem em diferentes forças sociais, cujas interações conduzem


a também diferentes padrões de dominação, determinados por meio das principais lutas
propagadas pelas múltiplas arenas de dominação e de oposição existentes no ambiente
social. Desta forma, diferentes respostas individuais dentro do Estado indicam que não
podemos simplesmente supor que a sociedade, como um todo e de modo geral, age de
maneira racional e coerente ou ainda que siga um conjunto determinado de interesses.

Anote isso

A questão do Estado e sua relação com a sociedade é abordada desde os primeiros


escritos sobre a política, tanto na Grécia Antiga quanto entre os romanos. Contudo, a
primeira obra reconhecida como fundadora deste debate no âmbito da Ciência Política
é “O Príncipe”, escrito por Nicolau Maquiavel no início do século XVI.

A partir das diferentes relações estabelecidas entre Estado e sociedade por conta de
necessidades, conflitos e acordos ocorrem interações entre as referidas forças sociais que,
conforme Migdal (1994) acabam por remodelar tanto o Estado quanto a sociedade.
Nesse cenário, desde o fim da II Guerra Mundial as estruturas estatais se tornaram o
centro de uma intensa discórdia acerca da forma como as sociedades devem lidar com sua

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inserção e integração na economia mundial. Entretanto, tais lutas não ocorrem apenas por
conta da política econômica externa, mas tratam fundamentalmente da essência de como
tais sociedades são e da maneira como deveriam ser constituídas, ou seja, são discussões
cuja pauta se compõe das normas, regras, regulamentos, leis, símbolos e valores dos Estados.
Na verdade, as definições formais do Estado tendem a enfatizar sua natureza institucional,
suas funções e seus recursos à coerção. O centro de tais definições consiste na autoridade
do território reclamado pelo Estado e do grau em que suas instituições são dominadas,
tanto pelas leis e regras quanto pela coerção, quando necessária. Em suma, segundo Migdal
(1994), no mundo moderno o “Estado-nação” é a única forma de unidade política reconhecida
e autorizada.
Entretanto, o Estado não se constitui em uma entidade fixa ideológica, uma vez que é
dinâmico e formado por conjunto de metas constantemente alteradas por conta dos grupos
e forças sociais envolvidos em sua constituição. O engajamento de tais grupos e forças
sociais ocorre tanto por meio do contato direto com representantes formais, na maior parte
das vezes os legisladores, quanto pela relação estabelecida entre partidos políticos e o
próprio Estado.
Assim, as alterações que fazem do Estado uma entidade ideologicamente dinâmica se
dão por conta da resistência oferecida por outras forças sociais aos projetos propostos e
implementados pelo poder estatal e pela incorporação de grupos no processo de organização
do Estado por meio da promoção de mudanças em suas bases sociais e ideológicas. A
formulação da política no âmbito estatal, na verdade, se constitui em resultado desse processo
dinâmico, já que resulta das metas dos líderes superiores do poder estatal ou do processo
legislativo, cujos produtos dos trabalhos podem ser modificados por outras forças sociais
alheias ao Estado, que não raras vezes influenciam até mesmo a agenda do Estado e podem
alterar, inclusive, a própria natureza do Estado (MIGDAL, 1994).
No século XX, a organização do Estado se constituiu em ator-chave na luta pela dominação,
uma vez que houve situações em que as iniciativas do Estado provocaram intensas lutas
sociais, houve momentos em que o Estado defendeu o desenvolvimento econômico e a
redistribuição dos recursos e ainda situações em que sua agenda teve como principal objetivo
preservar os padrões existentes de dominação econômica.
Segundo o autor, a maioria dos líderes políticos tem defendido a primazia do Estado,
privilegiando grupos sociais poderosos cujos líderes estatais são aliados e as organizações
dos grupos dominantes, como mercados e igrejas. No entanto, busca-se um papel de controle
direto pelo Estado da totalidade dos assuntos que dominam sua agenda para que possam
ser impostos os sistemas próprios de identificação do Estado e os limites de comportamento

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corretamente aceitável aos cidadãos, abrangendo questões que tratam desde as relações
trabalhistas até uniões sexuais.
No âmbito da sociedade, as lutas têm ocorrido muitas vezes visando a definição dos
responsáveis pelo estabelecimento de procedimentos numa disputa paralela à concorrência
no espaço estatal pelo desenvolvimento de políticas públicas dentro da estrutura legítima da
sociedade. Tal situação se dá por conta do fortalecimento da democracia e pela oportunidade
de mobilização dela decorrente, que abriu caminho para novos grupos e forças sociais,
especialmente aqueles advindos das camadas mais baixas e média-baixa da sociedade,
cuja participação no cenário político sofreu uma ampliação substancial.
Segundo Migdal (1994), o resultado desse processo é que ao invés de proporcionar soluções
de longo prazo para a gestão de conflitos, a democracia tem, cada vez mais, facilitado
a criação de políticas públicas fragmentadas, contribuindo para o baixo crescimento dos
quadros institucionais, nos quais a concorrência é crescente.
Nesse sentido, as forças sociais se constituem em poderosos mecanismos para o
comportamento associativo na sociedade e incluem as organizações formais e informais,
bem como os movimentos sociais, incluídos aqueles que se mantêm unidos por conta
de objetivos, motivações e ideias comuns. Migdal (1994) afirma que a capacidade de tais
forças sociais para o exercício do poder se origina de sua organização interna, de modo
que as forças sociais não operam no vácuo social. Além da contestação sobre a política
governamental, lutas, coligações e acomodações ocorrem e podem transformar, assim como
reforçar, a capacidade de uma força social para atingir seus objetivos, já que a base social
e ideológica de uma determinada força social pode sofrer alterações radicais em virtude
dos recursos existentes e ainda como resultado de suas interações em uma arena social.
O autor aponta ainda três dimensões nas quais o domínio de uma força social pode
se expandir. Primeiramente, Migdal (1994) afirma que dentro de uma determinada arena,
uma força social pode dominar um número crescente de áreas temáticas, de modo a ditar
o crescimento das culturas através da concessão de créditos e da definição da natureza
da salvação. Em segundo lugar, o referido autor afirma que as arenas podem crescer e
incorporar uma parcela maior da população e um território mais vasto e que o alinhamento
de forças sobre as quais as pessoas devem usar linguagem, por exemplo, pode começar em
uma determinada cidade e se espalhou para incorporar grandes porções de um país e sua
população. Por fim, Migdal (1994) apresenta a terceira dimensão de expansão do domínio de
uma força social, que se constitui na utilização de recursos acumulados em outras arenas,
quaisquer que sejam, para o domínio de outras áreas, com diferentes conjuntos de forças
sociais.

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Diante do exposto, Migdal (1994) afirma que há limites para a atuação do Estado, mas
destaca também que seu poder e autonomia não devem ser superestimados, uma vez
que o Estado tem necessidade de buscar a afirmação das regras e normas sociais por ele
implementadas junto aos demais atores e forças sociais, bem como determinar a quem tais
regras serão impostas, uma vez que, conforme apresentado no início do presente tópico
de discussão, a dominação estatal não se dá apenas por meio da coerção, mas também
hegemonia exercida pelo Estado por conta das referidas regras estabelecidas.

7.2 Modelos de democracia

Ainda que não seja preciso determinar que o surgimento da democracia ocorreu na Grécia
Antiga, as primeiras discussões e o primeiro governo denominado como democrático remetem
a Atenas, tanto que quando se discute o tema é recorrente que se referencia aquela cidade-
Estado como berço da democracia.

Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/18434114403/05de9b2b38/

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Os princípios democráticos estavam relacionados à participação igualitária. O método


associado à democracia era, portanto, o sorteio, utilizado em Atenas para preencher os
cargos que não exigissem capacitação ou experiência específicas e o governo do povo se
materializava na noção de igualdade política que se manifestava em métodos nos quais
preponderavam oportunidades igualitárias de exercer o poder político (MANIN, 1997). Não
por acaso, a democracia era o governo de muitos, em contraste ao governo de poucos,
chamado de aristocracia (ou de oligarquia, em sua forma degenerada).
Aquele modelo democrático tinha duas características importantes e discrepantes: por um
lado era positivo o fato de que as questões e problemas eram discutidos na esfera pública,
com busca por deliberações que se aproximassem do consenso; por outro lado era negativa
restrição àqueles considerados cidadãos, que poderiam participar das discussões, sendo
excluídos escravos, mulheres e estrangeiros.
Com o crescimento dos Estados nacionais, as reuniões públicas para deliberações se
tornaram inviáveis, ao passo que os grupos sociais considerados cidadãos - cujas necessidades
podem ser colocadas à esfera pública - se expandiram, o que constitui um paradoxo: a
democracia avança conforme se distancia de seu modelo original.
Embora haja diferentes perspectivas sobre a democracia, uma delas se sobrepôs às
demais a ponto de o Ocidente considerá-la como única forma possível (HEYWOOD, 2004), o
liberal-pluralismo, projeto democrático baseado na existência de um conjunto de garantias
legais, como as liberdades cidadãs, a competição eleitoral e a livre organização mediante
grupos de pressão.
Dentre os autores que defendem tal perspectiva democrática há distinções expressivas:
enquanto Schumpeter (1961) argumentava que a desigualdade política seria um aspecto
natural da sociedade e que caberia aos indivíduos “comuns” limitarem sua atuação política
ao momento de escolha de representantes (voto) porque as massas seriam incapazes de
governar devido à sua irracionalidade inata, Dahl (1997) argumenta que uma poliarquia –
regime real mais próximo de uma democracia – seria caracterizada pela fragmentação do
poder político, o qual não está concentrado em apenas um grupo devido à dispersão dos
variados recursos na sociedade, de modo que a igualdade política também se relaciona à
distribuição do poder.
Conforme Albrecht (2019), dentre as demais vertentes da teoria democrática, a maioria
consiste em alternativas a esse modelo e está amplamente relacionada às perspectivas
de representação, deliberação e participação. Isto posto, pensando os caminhos do
desenvolvimento da democracia nos dias atuais e seus impactos sobre a vida social,

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destacam-se duas perspectivas com algum nível de diálogo e relação diretas: as teorias
feministas e o multiculturalismo.
Com relação às teorias feministas - mencionadas no plural por haverem diferentes
formas de pensar e de construir o movimento e suas intersecções - é salutar destacar seu
enfrentamento à diferenciação socialmente construída entre as esferas pública e privada,
já que essa divisão constitui historicamente uma dicotomia que reflete a ordem da divisão
sexual, que também é uma diferença política, porque relega as mulheres a uma posição de
sujeição na esfera privada enquanto associa os homens à esfera pública, na qual se manifesta
a liberdade, de modo que a subordinação das mulheres decorreria da representação do
mundo público como inerentemente superior ao privado (PATEMAN, 1992).
Já o multiculturalismo trata das discussões atreladas à inclusão de grupos cujos valores são
inferiorizados pela sociedade em que vivem e entende os grupos não como mera agregação
de indivíduos, mas como conjuntos de pessoas que compartilham uma identidade (MIGUEL,
2005). As principais contribuições do multiculturalismo para a teoria democrática consistem
em três: (1) valorização do grupo como agente político; (2) consideração da necessidade de
incluir políticas direcionadas a minorias; e (3) crítica ao ideal da imparcialidade.
Nesse contexto, a representação específica de grupos marginalizados estimularia a
participação e o engajamento e revelaria a parcialidade das perspectivas politicamente
predominantes ao trazer à deliberação compreensões diferentes. Assim, de maneira resumida,
não se trataria de ter um parlamento totalmente “igual” à sociedade, mas de dar oportunidade
para diferentes grupos se expressarem e terem suas perspectivas consideradas (YOUNG,
2006). Para Albrecht (2019), o multiculturalismo traz ainda uma reflexão adicional sobre o
próprio significado de democracia: constantemente associado à maioria, esse regime, em
defesa do multiculturalismo, passaria a ser tomado como protetor de minorias, constituídas
não pelo aspecto numérico, mas pela posição que ocupam na sociedade em uma perspectiva
relacional, de modo a opor-se, assim, à ideia de que democracia é meramente um governo
“do maior número”.
A preocupação com a possibilidade de vocalização de demandas de diferentes grupos no
contexto democrático é entendida como positiva ao regime por permitir que - por caminhos
da representação, da participação estendida e de instâncias de deliberação - os diferentes
conjuntos de atores sociais interfiram na vida em sociedade, a qual define, em alguma
medida, suas existências individuais.

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Isto está na rede

A plataforma “Varieties of Democracy” é uma iniciativa das Universidades de Notre


Dame (Estados Unidos) e Gotemburgo (Suécia) para mapeamento da evolução de
características relacionadas ao regime democrático para todos os países ao longo
do tempo. Seu indicador, o V-Dem, é resultado de cinco conjuntos de aspectos que
podem ser consultados na plataforma oficial do projeto, pesquisando por países, anos
ou características (gerais ou específicas).
https://www.v-dem.net/

Conhecer sobre política é pertinente à nossa formação de cidadão, de modo amplo, e


também em nossa formação profissional, de modo que, no contexto desta disciplina, a
compreensão acerca das relações entre Estado e sociedade em contextos democráticos é
pertinente para avançarmos aos nossos próximos assuntos, relacionados à maneira como
políticas econômicas se estabelecem e seus impactos.

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AULA 8
MACROECONOMIA E POLÍTICAS
MONETÁRIA E FISCAL

No primeiro bloco de aulas desta disciplina, tratamos de elementos relacionados aos


termos que conformam o título de nosso estudo: economia e sociedade. Com relação à
economia, discorremos nas aulas três e quatro sobre fundamentos microeconômicos; com
relação à sociedade exploramos especialmente nas aulas seis e sete a relação entre os eixos
temáticos desta disciplina e a política. Nesta aula, passamos à abordagem de outra vertente
do pensamento econômico: a macroeconomia. Para tanto, trataremos de seus fundamentos
e duas perspectivas relevantes à interpretação das relações entre economia e sociedade: as
políticas monetária e fiscal.

8.1 Fundamentos de macroeconomia

Ao tratarmos da microeconomia, em nossa segunda e terceira aulas, discorremos sobre o


funcionamento do mercado e as relações estabelecidas entre consumidores e fornecedores
de bens e serviços. Isto posto, a macroeconomia é o ramo da Ciência Econômica que trata
de aspectos mais amplos e complexos, relacionados ao funcionamento da economia em
sua totalidade.
Conforme Viceconti e Neves (2010, p. 9), é correto definir a macroeconomia como “[...]
o ramo da teoria econômica que estuda o funcionamento da economia como um todo,
procurando identificar e medir inúmeras variáveis”.
Coadunando com tal conceito, Rossetti (2008) destacou como objetos de atenção da
macroeconomia elementos como o desempenho econômico de determinado elemento
(empresa, município, país ou bloco econômico, por exemplo), indicadores nacionais - Produto
Interno Bruto (PIB), taxas de emprego, inflação, taxas de juros, variações cambiais etc. - e
suas conexões e influências e também aspectos de natureza econômica internacional. Nesta
aula, nas próximas seções abordaremos elementos relacionados às políticas monetária e
fiscal, sendo que elementos de natureza cambial e internacional serão tratados na aula 8.
Sistematizado inicialmente após a crise econômica de 1929, conhecida como Grande
Depressão, o conhecimento teórico sobre macroeconomia remete inicialmente a Keynes

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(1936), que defendeu que o governo deveria atuar na economia para garantir que houvesse a
manutenção de determinadas condições influenciadoras da vida em sociedade. Nesse sentido,
Vasconcellos e Garcia (2008) afirmam que a política macroeconômica de um governo deve
atender a pelo menos quatro objetivos, explicados no quadro conceitual a seguir: buscar
alto nível de empregos, garantir a estabilidade dos preços, promover distribuição da renda
de modo socialmente justo e conduzir ao crescimento econômico.

Objetivos de curto prazo: devem ser atingidos rapidamente e estão relacionados à


conjuntura atual
Objetivo Descrição
Alto nível de empregos Preocupação com a geração de postos de trabalho,
especialmente após o contexto de demissões em
massa por conta da quebra de empresas. Empregos
geram renda aos indivíduos, possibilitando-os ser
consumidores e contribuir à economia.
Estabilidade dos preços Olhar atento à oscilação dos preços de produtos e
serviços, que geram a inflação e podem reduzir o valor
“prático” do dinheiro por conta da perda do seu “poder
de compra”.
Objetivos de longo prazo: devem ser atingidos cautelosamente e em período maior de
tempo, pois estão relacionados à estruturação econômica ampla
Objetivo Descrição
Distribuição social e justa de renda Além de ser uma política pública de natureza social
presente em democracias que visem à promoção do
bem coletivo, é economicamente pertinente combater,
em alguma medida, as desigualdades sociais.
Crescimento econômico Trata-se da elevação da proporção de renda de um
país com relação aos seus habitantes, ou seja, remete
à elevação geral dos rendimentos nacionais. É um
indicador econômico relevante, porém sem reflexo
direto sobre a qualidade de vida da população .

Quadro 5 - Objetivos da política macroeconômica dos governos. Fonte: elaborado pelo autor, baseado em Vasconcellos e Garcia (2008).

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Isto acontece na prática

A diferenciação entre crescimento econômico e desenvolvimento econômico não é


recente, nem sequer configura objeto menor da política macroeconômica, tanto que,
no caso brasileiro, no ano de 1970 Berlinck e Cohen publicaram uma análise sobre
esse binômio, com foco no município de São Paulo.
https://www.scielo.br/pdf/rae/v10n1/v10n1a03.pdf

Para a consecução desses quatro grandes objetivos macroeconômicos - que não operam
de modo desconexo, mas são interdependentes entre si, em alguma medida - cabe aos
governos desempenhar algumas funções, as quais Giambiagi e Alem (2011) afirmam se
tratar de preocupações com estabilização, distribuição e alocação: a função estabilizadora
do governo busca o equilíbrio entre os objetivos para garantir o funcionamento assertivo
da economia nacional; a função distributiva diz respeito à atuação pública no sentido de
colher dividendos daqueles que possuem mais recursos para promover sua distribuição
àqueles com menor renda; e a função alocativa visa garantir direitos sociais por meio da
destinação de recursos a ações, projetos e programas específicos, que atendam demandas
da população em suas coletividades.

8.2 Política monetária

A política monetária é o ramo da política macroeconômica responsável pelo dinheiro de


modo amplo, considerando sua circulação, as taxas de juros e de crédito de um país. Segundo
autores como Gremaud et al (2008) e Souza (2011), por se tratar do campo econômico
preocupado com o funcionamento da economia em termos de liquidez, no caso brasileiro
essa política é de responsabilidade de atuação pelo Banco Central.
Os autores destacados e diversos outros economistas destacam que a moeda é o elemento
central da política monetária, como Sandroni (2003) e Bacha e Lima (2006), sendo que
Souza (2011) afirma que a moeda tem quatro funções: [1] é meio de troca para aquisição de
produtos ou serviços na relação entre consumidores e fornecedores; [2] é reserva de valor
por ter, em si, poder de compra; [3] é medida de valor para estabelecimento de métrica que
determinam os preços de mercadorias e serviços; e [4] é padrão para pagamento diferido

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no tempo por permitir negociações que não impliquem em quitação integral no momento
da compra.
Dentre os autores mencionados nesta seção, é pertinente mencionar a maneira como
abordam os dois tipos de políticas monetárias que podem ser desenvolvidas por um país,
cada qual com objetivos econômicos específicos: expansionismo e contracionismo.
A política monetária expansionista se caracteriza pelo processo que agentes do governo
e do mercado, economistas e jornalistas costumam chamar de “aquecimento da economia”.
Cada um de nós, em algum momento ou situação, já deve ter ouvido falar sobre essa estratégia
macroeconômica de atuação, a qual, inclusive, foi e tem sido amplamente mencionada e
discutida por inúmeros países diante dos impactos econômicos decorrentes do isolamento
social e da redução ou mesmo suspensão de atividades laborais, bem como por conta do
impacto dessas mudanças desde o início de 2020 sobre o poder e os padrões de consumo
das populações.
O expansionismo monetário implica em elevação na oferta de moeda combinada com
redução da taxa de juros, visando promover o crescimento econômico por meio da ampliação
do consumo. Com mais moeda disponível, o consumidor tende a demandar mais bens
e serviços e os fornecedores, diante de maior demanda e de taxas de juros mais baixas,
contraem mais financiamentos para gerar maior oferta.
Contudo, a elevação na demanda pode levar ao aumento do preço daquilo que é ofertado,
independentemente da redução de taxa de juros para sua consecução, o que pode conduzir
à elevação da taxa que mensura esses aumentos, denominada inflação.
Por outro lado, ou mesmo diante de situações em que a política monetária expansionista
culminou em elevada inflação, a política monetária contracionista é adotada pelo governo
para conter a inflação, que tem como consequência efetiva a redução da demanda.
Pensemos juntos como um país chega a tal situação: em virtude de uma política monetária
expancionista, ocorre aumento da demanda e os fornecedores contraem dívidas para ofertar
mais produtos e serviços aos consumidores. Caso ocorra escassez de algum insumo ou os
fornecedores percebam o mercado aquecido como oportunidade para lucrarem mais, pode
ocorrer a elevação dos preços. Diante de produtos e serviços mais caros, mesmo tendo mais
dinheiro, não necessariamente os consumidores pagarão os valores pedidos e podem optar
por não comprar o que se oferta ou buscar algo com características diferentes e finalidade
parecida, por exemplo. Lembre-se dos conceitos de utilidade e substituição!
Quando o consumo é reduzido no país, a circulação de moeda diminui e isso implica em
menor crescimento econômico, o que denota a atuação do governo, que promove - no caso
brasileiro por meio do Banco Central - a elevação da taxa de juros combinada com menor

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fluxo de moeda em circulação. Com menos dinheiro para o consumidor e menos recursos
financiáveis para fornecedores, diminui o desejo possível dos indivíduos por compras e
o anseio de produtores por oferecer mais produtos ou serviços. Assim, aquilo que já foi
custeado precisa ser comercializado e há possibilidade de redução do preço, com consequente
diminuição da taxa de inflação.
No caso brasileiro, a execução da política monetária cabe ao Banco Central a partir de
normas estabelecidas pelo Comitê de Política Monetária (COPOM), que determina a meta de
controle da inflação e como devem ser executadas ações expansionistas ou contracionistas.
Que tal um exercício rápido e cotidiano? Preste atenção às notícias em jornais, sites ou
jornais durante algumas semanas e você perceberá que recorrentemente é mencionado
o acompanhamento da evolução da taxa de inflação e as medidas do COPOM para que a
inflação permaneça dentro da margem estabelecida.
Para finalizar, um detalhe sobre o caso brasileiro: ainda que o COPOM determine ações
relacionadas às políticas monetárias expansionista e contracionista no Brasil com alguma
frequência, até mesmo mensal em alguns períodos, vivemos atualmente um período de
relativa estabilidade monetária no país se compararmos as décadas de 2001-2010 e de
2011-2020 com os anos 1980 e 1990.

Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/4441449869/393bc88682/

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Caso você não se lembre ou sequer tenha nascido antes da implantação do Plano Real,
em 1994, pode pesquisar por notícias ou mesmo perguntar a familiares ou pessoas próximas
como o consumidor percebia a elevação da inflação em caráter praticamente constante.
Para se ter ideia, muitas vezes, enquanto as pessoas estavam em supermercados fazendo
compras, por exemplo, havia funcionários remarcando (etiquetando) produtos com novos
valores (e maiores), tanto que o Brasil era internacionalmente reconhecido como um dos
países com maior taxa de inflação no mundo.

8.3 Política fiscal

Você já ouviu a frase: “O Brasil é um dos países com maior carga tributária no mundo”?
Essa frase remete ao aspecto central da política econômica de natureza fiscal, os impostos,
mas antes de falarmos sobre eles cabe destacar que a política fiscal não trata somente
ou especificamente deles, mas da relação entre arrecadação e gastos públicos (excluídas
dívidas e seus juros) num determinado período de tempo.
Conforme Gremaud et al (2008), a política fiscal pode ser superavitária ou deficitária:
superávit remete à arrecadação maior do que os gastos, enquanto o déficit trata-se da
situação contrária, quando há mais despesas do que recebimentos.
Os mesmos autores destacam que diante dessas duas possibilidades de estratégias de
atuação, a política fiscal encontra-se atrelada à política monetária no seguinte sentido: um
governo superavitário recolhe mais recursos do que disponibiliza à economia, então oferece
menor possibilidade de moeda para circulação e geração de renda, empregos e crescimento
econômico; quando o governo está deficitário significa que optou pelo estímulo à economia
por meio da injeção de moeda em circulação (mais do que arrecadou, inclusive), o que
configuraria uma política expansionista.
Contudo, cabe destacar que a simples aplicação de recursos não configura sua utilização
com qualidade a toda a população, lembrando-nos do conceito de crescimento econômico,
que não reflete necessariamente em desenvolvimento econômico.
A política fiscal brasileira é pautada especialmente pelos impostos, tendo em vista que
sua arrecadação confere aos cofres públicos trilhões de reais anualmente. Para se ter uma
ideia, conforme dados disponibilizados pela plataforma Impostômetro, somente nos primeiros
dez dias de 2021 (em que houve um feriado e dois fins de semana) a arrecadação nacional
de impostos superou 75 bilhões de reais!
Nossos impostos podem ser classificados como diretos ou indiretos, sendo diretos aqueles
que incidem sobre a renda e patrimônio individual ou empresarial e indiretos os que incidem

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sobre o consumo. Ademais, é possível classificá-los também como neutros ou progressivos a


depender da maneira como se relacionam com a renda individual, sendo neutros os impostos
taxados de maneira uniforme, independentemente da condição de renda de quem deve
recolhê-los e progressivos aqueles cuja incidência está vinculada à renda, ou seja, quanto
mais se ganha, mais imposto é pago.
No quadro a seguir, exponho os principais impostos em vigor no Brasil, bem como sua
classificação.

Imposto Classificações
Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) Direitos e progressivos
Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ)
Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) Diretos e neutros
Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU)
Imposto Territorial Rural (ITR)
Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) Indiretos e neutros
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)
Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS)

Quadro 6 - principais impostos brasileiros. Fonte: elaborado pelo autor.

Cabe destacar que há especificidades para esses impostos, dentre as quais destaco três:
primeiramente, IRPF e IRPJ são taxados pelo estabelecimento de alíquotas relacionadas às
faixas de rendimentos de indivíduos e empresas, respectivamente; em segundo lugar, IRPF,
IRPJ, ITR e IPI são impostos nacionais (federais), ao passo que IPVA e ICMS são estaduais
e IPTU e ISS são de arrecadação municipal; e, por fim, as esferas recolhedoras podem
determinar a alíquota para estabelecimento de taxas, sendo o ICMS o principal exemplo de
imposto com variações expressivas entre os estados, tanto que é recorrente que empresas,
especialmente multinacionais, considerem tal imposto antes de definir em que unidade da
federação se instalarão.

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Isto está na rede

Na página do Impostômetro, iniciativa coordenada pelo Instituto Brasileiro de


Planejamento e Tributação em parceria com entidades comerciais do estado de São
Paulo é possível verificar em tempo real a arrecadação da União (Governo Federal,
unidades da federação (estados e Distrito Federal) e municípios.
https://impostometro.com.br/

Ademais, diferentes produtos sofrem incidência também distinta de impostos, o que


podemos comprovar ao observarmos cupons fiscais de supermercados ou mesmo as
etiquetas de preços em gôndolas (quando os estabelecimentos seguem a legislação), por
exemplo.
Ainda em se tratando de nosso cotidiano e sua relação com a política fiscal, o recolhimento
de impostos por empresas está atrelado ao seu “reconhecimento”, que significa o registro
contábil formal de que determinada mercadoria ou serviço foi disponibilizada ao consumidor,
que pagou pelo recebido. Por conta de um histórico nacional de sonegação de impostos
por grandes empresas e de recolhimento tributário abaixo da expectativa relacionada à
circulação de moeda, tem sido cada vez incentivadas as iniciativas governamentais que
atrelam a exigência de nota fiscal pelo consumidor à possibilidade de recebimento parcial
do imposto recolhido, como nos casos da Nota Fiscal Paulista e do Nota Paraná.
Concluímos esta aula conhecendo parte dos principais elementos da macroeconomia,
a segunda vertente de estudos e área de conhecimento da Ciência Econômica, que
complementa o que estudamos anteriormente sobre microeconomia. Nesse sentido, é
relevante lembrarmo-nos, em se tratando dos fundamentos de macroeconomia, dos quatro
objetivos macroeconômicos dos governos, especialmente porque a abordagem das políticas
monetária e fiscal corresponde a dois dos três eixos de políticas macroeconômicas, assunto
que seguimos expondo em nossa próxima aula.

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AULA 9
MACROECONOMIA E O CONTEXTO
INTERNACIONAL

Seguindo nossa explanação acerca de aspectos macroeconômicos, avançamos nesta


aula para compreendermos o terceiro eixo das políticas vinculadas ao referido campo da
Ciência Econômica: a política cambial. Contudo, antes de abordarmos a questão, cabem
considerações acerca do comércio internacional, considerando seus fundamentos históricos
e perspectiva atual.

9.1 Comércio internacional

A Revolução Industrial potencializou o desenvolvimento das cidades e o fortalecimento da


burguesia como classe dominante nos espaços urbanos. Assim, a concentração do poder
político e econômico conformou-se com foco em aspectos como a manutenção do direito
à propriedade privada e o desenvolvimento atrelado à produção manufatureira e à geração
de riquezas.
As bases desse contexto decorreram do mercantilismo, modo de organização político-
econômica pautada, dentre outros aspectos, pela intervenção do Estado na busca pela
manutenção da balança comercial favorável. Conforme Lima e Pedro (2005), a face econômica
do mercantilismo era composta pelo metalismo, pelo protecionismo e pelo colonialismo.
O metalismo dizia respeito à preocupação em acumular riquezas (metais) no interior
do Estado, de modo que era incentivada a exportação e reguladas as importações, já que
implicariam em saídas de recursos nacionais. O protecionismo, portanto, dizia respeito ao
cuidado do governo com a circulação de moeda e a determinação de taxas alfandegárias, ao
passo que o colonialismo implicava na conquista e manutenção de territórios para exploração
(ANDERSON, 1985).
Conforme Deyon (1982), o mercantilismo foi essencial ao desenvolvimento do nacionalismo,
principalmente na Inglaterra e na França, tendo sido um dos propulsores da Revolução
Industrial no primeiro país mencionado.
Um dos principais autores do pensamento econômico, Adam Smith (1983), se tornou um
clássico com sua crítica ao mercantilismo e defesa do liberalismo. Para o autor, o Estado

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deveria intervir o mínimo possível nas relações econômicas, cabendo aos agentes do mercado
sua organização e funcionamento, de modo que o autor defendia que a estabilidade da
economia decorreria de uma “mão invisível” que controlaria aspectos como demanda e
oferta e as negociações entre agentes econômicos.
Conforme Bonavides (2004), a perspectiva do Estado liberal é pautada por liberdades.
Trata-se de uma expressão ideológica da burguesia pautada pelo direito à vida, à liberdade
individual e de propriedade e também com relação aos aspectos econômicos, cabendo ao
Estado especificamente a manutenção da ordem - conforme preceituaram os contratualistas
(HOBBES, 2000; LOCKE, 2001; ROUSSEAU, 1999; 2002).
Contudo, apesar da crítica à ampla intervenção do Estado na economia e sua preocupação
com a balança comercial, o desenvolvimento do liberalismo acabou por atrelar-se à referida
característica mercantilista. Perceba que a preocupação com o comércio internacional e com
o estabelecimento de preceitos como a manutenção de balança comercial favorável remete
à organização econômica dos Estados nacionais e são, até os dias atuais, importantes para
a compreensão sobre como a macroeconomia atua.
Considerando os teóricos da Ciência Econômica essa preocupação e sua consequente
transformação em ação governamental foi definida por David Ricardo ainda no século XIX
como princípio das vantagens comparativas e consiste na ocupação de um país com a
produção daqueles itens em que é considerado mais eficiente ou que lhe gere menor custo,
pensando na exportação uma vez que lhe renderá mais moeda. Por outro lado, como explica
Vasconcellos (2011), é pertinente que um país importe os produtos que não é capaz de
produzir com eficiência ou que gerariam alto custo, de modo que assim configura-se um
amplo e complexo processo de trocas internacionais.
Com relação à eficiência e custos, podemos pensar no caso brasileiro e como somos grandes
exportadores de matérias-primas e grãos diversos, por exemplo, de modo que, posteriormente,
importamos dos países para os quais vendemos nossos itens sem processamento os produtos
finais, com maior custo. Por que fazemos isso? Basicamente, por dois distintos motivos:
outros países podem pagar por determinados itens do que o mercado interno, como no
caso de bens alimentícios que são cultivados no Brasil; e não detemos certos maquinários
e tecnologias para o processamento de outros itens, de modo que não conseguiríamos
atender a demanda com eficiência e baixo custo.
Contudo, apesar de ter apresentado o exemplo do caso brasileiro, por ser aquele que
mais nos interessa conhecer e compreender, todos os países se inserem nesse processo
de trocas globalizado, de modo que Vasconcellos (2011) afirma que a teoria das vantagens
comparativas é explicativa para o funcionamento da globalização justamente porque permite

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entendermos a movimentação das mercadorias de diferentes origens entre os países, portanto


o fluxo de mercadorias.
Ademais, pontua ainda o autor que essa condição de importar ou exportar, de dispor de
maior ou menor eficiência e com relação aos custos não são perenes, ou seja, em diferentes
períodos de tempo é possível que a maneira como um país se coloca no comércio internacional
se altere - de produtor a consumidor de determinado item, por exemplo, importador ou
exportador - por conta da escassez ou abundância dos fatores de produção pertinentes,
seja a matéria-prima ou os demais insumos envolvidos num processo produtivo.

Isto acontece na prática

A preocupação do governo brasileiro com o comércio internacional e o reconhecimento


das relações entre economia e política são foco de atenção constante do Governo
Federal, tanto que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) publica desde
2010 o Boletim de Economia e Política Internacional (BEPI), que chegou a trinta edições
no segundo semestre de 2020.
https://www.ipea.gov.br/sites/manualeditorial/publicacoes-do-ipea/boletins/boletim-de-
economia-e-politica-internacional-bepi

Perceba, aqui, que estamos tratando de relações econômicas desenvolvidas entre atores
(governo e instituições - como empresas e empresários, com reflexos e potencialidade sobre o
consumidor) no âmbito supranacional, o que significa uma expansão do debate que tratamos
em nossa aula anterior.

9.2 Política fiscal

Diferentemente das políticas econômicas de ordem monetária e fiscal, a política cambial


diz respeito à preocupação historicamente decorrente da organização do mercantilismo nas
bases do Estado liberal: a questão das trocas internacionais e seu impacto sobre a economia.
Nesse sentido é de responsabilidade da política cambial de um governo preocupar-se
com o alcance e a manutenção de uma taxa de câmbio que seja considerada satisfatória ou
favorável à economia nacional, considerando a explicação de Vasconcellos e Garcia (2008)
de que o termo câmbio tem origem no idioma espanhol e significa troca. Assim, quando

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falamos sobre operações de câmbio, estamos tratando do estabelecimento de trocas de


moedas de diferentes países.

Fonte: https://visualhunt.com/photo4/437544/

A partir dessa informação, certamente você já se familiarizou, mesmo que minimamente,


com o tema da política fiscal, não é? Cada um de nós já deve ter passado, ao menos uma
vez, por pelo menos uma dessas duas situações: primeiro, ver notícias sobre a desvalorização
de nossa moeda (Real) diante da elevação do câmbio para compra de dólares ou euros
(moedas mais costumeiramente trocadas pela nossa), especialmente no ano de 2020 por
conta das oscilações e incertezas econômicas diante da pandemia do coronavírus; segundo,
pesquisou o valor de uma moeda estrangeira antes de decidir sobre a compra de algum produto
importado ou programar uma viagem para algum outro país - inclusive (ou principalmente)
o Paraguai, onde muitos brasileiros vão, ano após ano, realizar compras de itens diversos,
com destaque a eletroeletrônicos e perfumes.
Você se identificou com alguma das duas situações acima ou mesmo com ambas? Se
sua resposta foi sim, você já teve contato com o objeto da política cambial: o valor de troca
da moeda de um país por outra.

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Isto está na rede

O Banco Central do Brasil disponibiliza uma plataforma online para verificação de


conversões de valores entre moedas do mundo todo, considerando tanto a data atual
quanto outros períodos de tempo. Ademais, a página contém ainda informações e
relatórios também sobre a política econômica monetária.
https://www.bcb.gov.br/conversao

Para Gremaud et al (2008), pensar a política cambial passa por dois aspectos: o primeiro é
essa dimensão da realização de trocas decorrente das medidas de valor de cada moeda em
comparação com as demais; o segundo é o fato de que um governo pode adotar distintos
regimes cambiais, o que significa que a estratégia definida para a realização de trocas pode
impactar a economia nacional de modo geral, inclusive as políticas monetária e fiscal, bem
como sofrer impactos por parte das demais.
Com relação ao segundo aspecto, os regimes podem ser de câmbio fixo ou flutuante.
Quando um governo adota um regime de câmbio fixo, determina que a taxa de câmbio, ou
seja, o valor pelo qual sua moeda será negociada - permanecerá estável, de modo que não
pode sofrer oscilações diante da comparação ou operações com outras moedas.
Para garantir essa estabilidade, o país precisa dispor de alto volume de reservas de moedas
internacionais, pois ao ocorrerem oscilações o Banco Central precisa dispor de mais moeda
estrangeira aos consumidores que são os cidadãos que pretendem adquirir aquela moeda.
Por exemplo: se o valor do Dólar é estável (fixo), tende a haver maior demanda da população
por tal moeda e cabe ao governo injetar uma quantidade dessa moeda capaz de suprir a
demanda dos consumidores, pois se o governo não agir tende a haver elevação do valor da
referida moeda estrangeira por conta da maior procura.
Nesse sentido, a situação contrária também é pertinente: caso haja pouca procura por
uma moeda estrangeira e ela comece a sofrer desvalorização (por haver maior oferta do que
demanda no mercado), cabe ao governo comprar essa moeda para evitar sua desvalorização,
mantendo seu preço (taxa de câmbio) fixo.
Já o regime de câmbio flutuante, em contrapartida, é aquele em que há liberdade para
variação da taxa de câmbio, de modo que o governo acompanha as oscilações entre demanda
e oferta e as variações dos preços e intervém de maneira menos definidora do funcionamento
das relações comerciais. Nesse sentido, é recorrente que os Bancos Centrais adquiram moedas

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estrangeiras com a finalidade de utilização, portanto sem preocupação com o controle das
taxas cambiais.
Assim, é mais simples verificarmos o funcionamento desse segundo regime cambial, tanto
por ser aquele que encontra-se praticado no Brasil quanto porque a ausência de intervenção
do governo permite a regulação do próprio mercado, no sentido de que o aumento da procura
por determinada moeda (demanda) faz subir seu valor de troca (elevação da taxa de câmbio)
e, ao contrário, a redução da demanda culmina em baixa no valor da oferta.
Contudo, cabe destacar que esses regimes cambiais não são definições perenes dos
governos, o que significa que um governo pode adotar um cambial flexível em boa parte do
tempo e, em caso de crises econômicas severas ou risco à manutenção do valor da moeda
nacional, adotar ações de controle, pertinentes ao regime cambial fixo.
Outro ponto importante de destaque é que ambos os regimes possuem pontos positivos
e negativos, o que reforça a observação de que sua aplicabilidade no contexto econômico
nacional depende de aspectos conjunturais e de prospecções.
Sobre o regime de câmbio fixo, sua principal vantagem é o maior controle da inflação,
especialmente por conta da manutenção da estabilidade dos custos de importações, enquanto
que, por outro lado, esse tipo de política cambial mantém a política monetária dependente
das reservas cambiais, o que implica em vulnerabilidade econômica diante de eventuais
especulações financeiras.
Já com relação ao regime de câmbio flutuante, é positivo considerar que se trata de uma
política cambial com menor influência sobre a política monetária e que tende a manter as
reservas cambiais nacionais relativamente protegidas de especulações. Contudo, a taxa
de câmbio fica dependente das oscilações do mercado nacional e internacional, o que
gera dificuldade para controlar preços, e manter a taxa de inflação por conta de potenciais
desvalorizações cambiais.
O comércio internacional é um dos principais aspectos delimitadores do funcionamento
da política cambial de um país, uma vez que as relações econômicas praticadas por meio
de importações e exportações são responsáveis pela maior parcela dos recursos financeiros
que adentram ou deixam o país por meio de operações de compra e venda. Nesse sentido,
a compreensão dessa relação entre comércio internacional e política cambial atingiu
dois objetivos: primeiro, de concluir nossa abordagem acerca dos principais aspectos da
macroeconomia no âmbito de suas relações com a sociedade (e com a política, por conseguinte);
e, segundo, de oferecer subsídios ao avanço de nossas discussões para tratarmos do grande
fenômeno econômico de nosso tempo, a globalização, tema de nossas próximas aulas.

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AULA 10
O FENÔMENO DA GLOBALIZAÇÃO

Na aula anterior tomamos contato com aspectos macroeconômicos de caráter internacional,


de modo que foi lhe apresentada a relação entre comércio internacional e política econômica
cambial como elementos basilares ao processo de globalização, o qual remete à grande
articulação entre economia e sociedade nos dias atuais. Diante de sua relevância, nesta aula
abordamos a globalização sob duas perspectivas, uma ampla e relacionada a elementos
anteriormente discutidos e outra específica, focada na compreensão desse processo de
conformação da vida em sociedade de maneira mundial.

10.1 A vida em rede como base do processo de globalização

Em virtude da globalização que dominou o planeta, os mais diversos tipos de redes são
de fundamental importância para fazer a conexão entre os diversos pontos do globo em que
as sociedades desenvolvem suas atividades. Os intensos fluxos de pessoas, mercadorias,
recursos e informações exigem canais de distribuição e nós de encontro e redistribuição
para sua efetividade. Os países são cada vez mais interdependentes, tanto em termos de
produção de bens de capital e de consumo, quanto em relação à criação e distribuição de
conhecimento.
Karl Marx (2013, p. 112) já pregava, ainda no século XIX, quando tratava o início do
processo de trocas, que:

Um objeto útil só pode se tornar valor de troca depois de existir como


um não valor de uso, e isso ocorre quando a quantidade do objeto útil
ultrapassa as necessidades diretas do seu possuidor. As coisas são
extrínsecas ao homem e, assim, por ele alienáveis. Para a alienação
ser recíproca, é mister que os homens se confrontem, reconhecendo,
tacitamente, a respectiva posição de proprietários particulares dessas
coisas alienáveis e, em consequência, a de pessoas independentes
entre si. Essa condição de independência recíproca não existe entre os
membros de uma comunidade primitiva, tenha ela a forma de uma família
patriarcal, de uma velha comunidade indiana ou de um estado inca etc.
A troca de mercadorias começa nas fronteiras da comunidade primitiva,
nos pontos de contato com outras comunidades ou com membros de
outras comunidades.

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De acordo com o mesmo autor, desde o princípio da divisão do trabalho, ainda em tempos
remotos, já eram necessárias rotas de transportes de produtos, bem como “nós” onde estes
eram trocados, uma primeira configuração do que viriam a se tornar, mais tarde, as redes.
O Império Romano, que se estendia por boa parte da Europa, do Oriente Médio e do norte da
África, edificou uma ampla rede de transporte de soldados, escravos e mercadorias. A própria
cidade de Roma, que na época contava com quase um milhão de habitantes, desenvolveu
redes políticas e administrativas, além de um surpreendente sistema de aquedutos.
Já na Idade Média, com o declínio do poder dos senhores feudais, a Igreja Católica abriu
rotas de comércio com o Oriente. Mais tarde, o crescimento das cidades decorrente da
Revolução Industrial, fez surgir redes de esgotos e de energia. Se utilizarmos exemplos mais
próximos, o Brasil desenvolveu redes de transporte e de energia elétrica nas décadas de
1950 e 1960 e, nos anos posteriores, redes de comunicação de massa (rádio e televisão).

Fonte: https://visualhunt.com/photo4/7960/man-holding-mobile-phone-against-map-of-world/

Já no final do século XX intensificaram-se as redes eletrônicas, sendo a Internet sua mais


famosa representante, por onde é constante o fluxo de informações, documentos, programas,
sons e imagens, de modo que, hoje, diversas aplicações são possíveis por meio das redes
virtuais. Além dos já citados fluxos, desenvolvem-se rapidamente o comércio eletrônico
(e-commerce) e a educação a distância (EAD), por exemplo.

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Isto acontece na prática

A pandemia do Covid-19 obrigou a população da maioria dos países a cumprirem


períodos de restrição de circulação, conhecidos com quarentenas, em que o acesso
ao trabalho, às escolas e outros espaços e atividades se tornaram restritos. A internet
assumiu papel essencial à manutenção - ainda que com limitação - de rotinas que
foram adaptadas, como aulas remotas ao invés do ensino presencial, a expansão do
trabalho na modalidade home office para quem desenvolvia atividades em ambiente
empresarial e até mesmo as sociabilidades, por conta de videochamadas e maior
utilização das redes sociais em virtude da necessidade de distanciamento social.

10.2 O processo de globalização

A globalização, na maneira como conhecemos atualmente, é um processo cunhado a


partir de bases econômicas de circulação de mercadorias, marcas e empresas, o qual se
expandiu para outros setores da vida em sociedade, como a cultura, o acesso às viagens
e ao lazer, os esportes e, mais recentemente, até mesmo às questões de saúde, diante da
iminência de uma pandemia com proporções jamais vivenciadas anteriormente, o Covid-19
ou coronavírus.
Contudo, como nosso foco nesta disciplina é discutir as relações entre aspectos econômicos
e sociais, pensemos esse fenômeno sob a perspectiva de seu impacto na transformação
das relações econômicas. Nesse sentido, falaremos da vertente que Vasconcellos (2011)
denomina globalização produtiva, relacionada a todos os processos que dizem respeito
aos processos de produção de bens, inclusive seus impactos sobre a conformação das
cidades, os meios de transporte e de comunicação e a integração de sistemas monetários,
financeiros e cambiais.
Segundo o autor, o avanço das relações econômicas entre empresas, países e blocos
econômicos desenvolveu-se a tal ponto que as estruturas de mercado - abordadas
anteriormente em nossas aulas - podem ser classificadas mundialmente para amplo conjunto
de itens, já que o acesso ao comércio é extensivo.
Pense no seu próprio dia a dia: muito provavelmente você já realizou alguma compra
online, correto? Você sabe ou mesmo já fez uso de plataformas de compras que permitem
a aquisição de itens do exterior? Atualmente, há muitos sites e aplicativos para smartphones

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específicos para a realização de tais compras, especialmente de empresas ou plataformas


estadunidenses ou japonesas. E para, além disso pense no consumo de entretenimento
via streaming: você assina alguma plataforma de conteúdos, como Netflix, Amazon Prime
ou Disney, por exemplo? Por vezes pensamos a globalização apenas a partir de situações
macroeconômicas, mas seus reflexos estão em nosso cotidiano!
Nesse sentido, especialmente desde meados do século passado, mais precisamente
após o encerramento da catástrofe social que foi a Segunda Guerra Mundial, instituições
supranacionais têm sido criadas para regular as relações entre países e definir alguns limites
à sua atuação, bem como, em outras situações, favorecer processos de articulação e/ou
negociações, como é o caso da Organização das Nações Unidas (ONU) e muitos outros
organismos internacionais.
Conforme o jurista Núñez Novo (2018, online), “as organizações internacionais ganharam
maior relevância tanto em termos numéricos como no que se refere a sua atuação nas
diversas áreas temáticas no cenário internacional”. No quadro a seguir, expomos as instituições
destacadas pelo referido autor.

Instituição/Organismo Descrição
Organização das Fundada em 1945 é a maior organização internacional do mundo.
Nações Unidas (ONU) Tem como objetivos principais a manutenção da paz mundial,
respeito aos direitos humanos e o progresso social da humanidade.
Organização dos Fundada em 1948, conta com a participação de 35 nações do
Estados Americanos continente americano. Tem como objetivos principais a integração
(OEA) econômica, a segurança (combate ao terrorismo, tráfico de drogas
e armas), combate a corrupção e o fortalecimento da democracia
no continente.
Organização Mundial Fundada em 1994, conta com a participação de 149 países
do Comércio (OMC) membros. Atua na fiscalização e regulamentação do comércio
mundial, além de gerenciar acordos comerciais.
Organização para Fundada em 1960, esta organização internacional é formada
a Cooperação do por 34 países. Tem como metas principais o desenvolvimento
Desenvolvimento econômico e a manutenção da estabilidade financeira entre os
Econômico (OCDE) países membros.

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Organização Mundial Fundada em 1948, este organismo faz parte da ONU e tem como
da Saúde (OMS) objetivo principal a gestão de políticas públicas voltadas para a
saúde em nível mundial.
Organização Organismo especializado da ONU foi fundada em abril de 1919.
Internacional do Atua, em nível mundial, em assuntos relacionados ao trabalho e
Trabalho (OIT) relações trabalhistas.
Fundo Monetário Criado em 1945, tem como objetivos principais a manutenção da
Internacional (FMI) estabilidade financeira e monetária no mundo, o aumento do nível
de emprego e a diminuição da pobreza. Conta com a participação
de 188 nações.
Organização do Criada em 1949, conta com a participação de 28 países membros.
Tratado do Atlântico Tem como objetivo principal a manutenção da segurança militar
Norte (OTAN) na Europa.

Quadro 7 - Principais Organizações Internacionais. Fonte: elaborado pelo autor, baseado em Núñez Novo (2018).

Com vistas à discussão de assuntos econômicos com preocupações comerciais,


desenvolvimentistas e de regulação, o Brasil encontra-se atualmente inserido em dois
expressivos blocos, um de caráter regional e outro em nível mundial, respectivamente: o
Mercado Comum do Sul (Mercosul) foi constituído em 1991 por meio de um tratado firmado
entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai para a promoção de integração regional na América
do Sul e atualmente conta ainda com a Venezuela como Estado parte e com os Estados
associados da Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname; já o segundo bloco,
de caráter intercontinental, foi fundado a partir de um relatório sobre países emergentes
economicamente e de articulação da ONU, primeiramente entre Brasil, Rússia, Índia e China
em 2006, com consolidação em 2011 com a incorporação da África do Sul (RODRIGUES;
PINTO; FREITAS, 2014).

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Anote isso

Os países componentes do BRICS possuem importância crescente no arranjo econômico


global, conforme explicita o artigo “A (re)emergência do BRICS e o reordenamento de
poder na geopolítica contemporânea”, de Pennaforte e Luigi, publicado no segundo
semestre de 2020 da Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais.
https://www.seer.ufrgs.br/austral/issue/viewFile/4221/899

Nesta aula, você foi apresentado de maneira mais específica à globalização enquanto
processo econômico e social crescente e determinante das relações na contemporaneidade.
Conhecidas as bases de conformação e de estruturação desse fenômeno, nas próximas
duas aulas trataremos da maneira como a vida em rede se coloca às sociedades nesse
contexto globalizado.

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AULA 11
GLOBALIZAÇÃO E A SOCIEDADE EM
REDES

Após compreendermos a importância do comércio internacional e as bases constitutivas


da globalização no contexto macroeconômico é pertinente avançarmos para conhecermos
seus impactos sobre a organização da vida social. Tendo em vista que o mundo global se
caracteriza pela estruturação de redes articuladas, nesta aula discorreremos sobre a construção
humanística do conceito de (vida em) redes e abordaremos um de seus desdobramentos
mais relevantes na atualidade: as redes de comunicações.

11.1 Conceito de redes

Inicialmente, destacamos que a palavra rede é usada para designar o conjunto de fios
entrelaçados, linhas e nós usados para capturar animais pequenos. A rede também foi usada
para representar o organismo humano, como organizador de fluxos, de tecidos e do cérebro.
Na segunda metade do século XVIII, surgiu um novo conceito de redes, a partir do momento
em que engenheiros cartógrafos passaram a empregar o termo no sentido moderno de rede
de comunicação e começaram a representar o território como um plano de linhas imaginárias
ordenadas em redes para matematizá-lo e construir mapas (SILVEIRA, 2003).
No campo das Ciências Humanas, o conceito de rede e a promessa de transformação da
sociedade não constituem uma forma recente ou original de representar a realidade, mas se
manifestam desde a primeira metade do século XIX, quando o conceito moderno de rede se
formou na filosofia de Saint-Simon. Totalmente influenciado por ideias iluministas, o filósofo
e economista defendeu a criação de um Estado organizado racionalmente por cientistas e
industriais. Saint-Simon desejava um Estado industrializado, dirigido pela ciência moderna,
no qual a sociedade seria organizada para o trabalho produtivo pelos homens mais capazes.
O alvo da sociedade seria produzir as coisas úteis à vida (COBRA, 2014).
As obras do autor destacavam a ideia de que sua época sofria de um individualismo
doentio e selvagem, resultante de uma quebra da ordem e da hierarquia. Porém, Saint-Simon
afirmava que a época continha também as sementes de sua própria salvação que deviam ser
buscadas no nível de crescimento da ciência e da tecnologia e na colaboração dos industriais

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e dos técnicos que tinham começado já a construir uma ordem industrial nova. A união do
conhecimento científico e tecnológico à industrialização inauguraria o governo dos peritos.
A grande contribuição de Saint-Simon ao pensamento social foi sua insistência no dever
do Estado de planejar e organizar o uso dos meios de produção, de modo a se manter
continuamente a par das descobertas científicas e a sua insistência na função de governo dos
peritos industriais e administrativos, e não dos políticos e dos meros “homens de negócio”.
Na discussão sobre redes e territórios, as redes são definidas por atores que as desenham,
modelam e regulam. O território, de acordo com Milton Santos, é suporte das redes que
transportam as verticalidades, ou seja, é o conjunto de regras e normas utilitárias, enquanto
as horizontalidades consideram também a totalidade dos atores e das ações (SANTOS,
2000). As redes técnicas exercem visível influência sobre o território; por outro lado, este
se apresenta como um condicionante ao desenvolvimento dessas novas tecnologias, em
função tanto das suas características físico-ambientais, como também enquanto espaço
social e historicamente produzido.

Anote isso

Milton Santos é um autor expressivo no campo de estudos da Geografia Humana,


área das humanidades que trabalha com questões relacionadas ao espaço e suas
modificações decorrentes de processos sociais. Assim, em debates sobre globalização,
cabe considerar a pertinência de buscar conteúdos sobre Geografia Humana por conta
de sua relevância às relações sociais e, também, à economia.

Para o mesmo autor, as técnicas dizem respeito ao conjunto de meios instrumentais e


sociais pelos quais o homem realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaços.
Nesse sentido, as técnicas expressam, por meio dos objetos técnicos, seu conteúdo histórico,
e em cada momento de sua existência, da sua criação à sua instalação e operação, revelam
a combinação, em cada lugar, das condições políticas, econômicas, sociais, culturais e
geográficas que permitem seu aproveitamento. Um desses objetos técnicos é a rede.
Em relação ao conceito de rede podemos, ainda de acordo com Milton Santos, defini-la
a partir de duas dimensões complementares. Uma primeira se refere a sua forma, a sua
materialidade. Nesse aspecto a rede é toda infraestrutura que permitindo o transporte de
matéria, de energia ou de informação, se inscreve sobre um território onde se caracteriza
pela topologia dos seus pontos de acesso ou pontos terminais, seus arcos de transmissão,

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seus nós de bifurcação ou de comunicação. Por sua vez, a segunda dimensão trata de seu
conteúdo, de sua essência. Nesses termos, a rede também se manifesta no âmbito social
e político, por meio de indivíduos, mensagens e valores que a permeiam. Desconsiderados
esses dois aspectos, afirma Santos (2000), a rede se torna, na verdade, mera abstração.
Com a criação de novas técnicas, a rede passou a ser representada como organismo
planetário, parecendo desenhar a infraestrutura invisível da sociedade pensada enquanto rede.
A história das redes técnicas é também a história das inovações tecnológicas em resposta
às demandas sociais que surgem em determinados locais e em determinados momentos.
Esse é o sentido do surgimento, por exemplo, das redes de transporte como a ferrovia e a
rodovia, das redes de comunicação, como a telegrafia, a telefonia e a teleinformática; ou ainda
das redes de energia, como energia elétrica, os gasodutos e os oleodutos (CASTELLS, 2011).
O grande desenvolvimento da tecnologia causou um grande impacto em diversas áreas
das relações humanas. Para Castells (1999), as sociedades contemporâneas estão vivendo
num espaço caracterizado por uma profusão sem precedentes dos fluxos, conhecendo uma
economia que o autor denomina “global”, e um capitalismo “informacional”, o que o leva a
reconhecer a sociedade atual como “sociedade em rede”.
Ao mesmo tempo em que a técnica possui sempre um conteúdo social, simultaneamente,
a sociedade contemporânea possui um conteúdo essencialmente tecnológico. Nesse sentido,
Dias (2007, p. 22) afirma que as redes são construções sociais conformadas por indivíduos,
grupos e instituições.

Fonte: https://visualhunt.com/photo4/15832/woman-working-on-laptop/

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11.2 Comunicação em redes

A comunicação existe desde o surgimento do homem. As primeiras formas de comunicação


foram os desenhos e imagens que os homens faziam nas rochas e paredes das cavernas que
demonstravam como era sua vida e seu espaço geográfico. Depois, as formas de comunicar-
se foram evoluindo até os dias atuais, desde a invenção do papel que foi um dos grandes
feitos históricos, até a partir do século XX quando houve a criação de aparelhos eletrônicos
e portáteis que facilitaram a vida deste homem. Por exemplo, ao mandar uma mensagem
através de uma carta, esta mesma levava dias para ser entregue, o que hoje chega ao seu
destino em questão de segundos por e-mail.
As redes de comunicação atuais se referem ao uso moderno do termo meios de comunicação,
reunindo não apenas modalidades digitais, mas livros ou a imprensa como meios, de modo
que o termo tomou relevância com o surgimento da comunicação de longa distância
mediante à tecnologia da telecomunicação. A telegrafia foi o primeiro meio de comunicação
verdadeiramente moderno. Depois rapidamente vieram a telefonia, o rádio, a televisão, a
transmissão por cabo e satélite e, obviamente, a internet. Todos estes acontecimentos se
deram nos últimos 150 anos e a internet, em destaque, se popularizou apenas a partir da
década passada.
Entre os novos meios de comunicação alternativos destaca-se o desenvolvimento inédito
de comunidades virtuais, em uma perspectiva de maior apropriação individual, ao mesmo
tempo local e internacional. Conforme Castells (2011), trata-se do advento das redes como
nova morfologia social, baseada na interconexão e flexibilidade da nova topologia que permite
enunciados que produzem novos sentidos e efeitos para a ação social e a cidadania e
cybercomunidades sobre temas de caráter mundial, como a defesa do meio ambiente e a
promoção dos direitos da mulher, através da Conferência Mundial da Mulher da ONU e da
Marcha Mundial das Mulheres.

Isto acontece na prática

A atuação de grupos sociais com espaço restrito ou baixa perspectiva de encaminhamento


de pautas políticas têm ocorrido exponencialmente nas redes físicas e virtuais, ou
seja, tanto por meio de articulações que acontecem pela internet e ganham as ruas e
espaços públicos e coletivos quanto pela visibilidade que conquistam no cyberespaço,
com destaque às redes sociais.
http://www.pgc.uem.br/arquivos-dissertacoes/eloisa-de-souza-amaral.pdf

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Este desenvolvimento não deixa, contudo, de enfrentar enormes desafios, como o


excesso de informação. Alguns estudos indicam que, se antes havia apenas alguns meios
de comunicação em cada localidade, agora existem milhões de sites acessíveis. Deste modo,
a riqueza da informação traduz-se em diminuição da atenção e a questão da credibilidade
da informação transforma-se em questão fundamental.
Todo o avanço da tecnologia contribuiu para o estabelecimento de laços, como teias numa
rede, sendo que esta se constrói enquanto veículo de um movimento dialético que opõe o
território e o lugar ao mundo e controla o lugar ao território tomado como um todo. Nesse
sentido, é impossível tratar dos avanços das redes sem mencionar a globalização. E, nesse
ponto, cabe destacar que este não é um fenômeno recente, mas que já se realizava no início
do segundo milênio, quando as rotas comerciais se estabeleceram, e foi intensificado com
as grandes navegações (STOKES BROWN, 2010). Há que se reconhecer ainda a relevância
da Revolução Industrial ao desenvolvimento de países industrializados.
No final dos anos 1970, os economistas passaram a usar o termo globalização fora das
discussões econômicas, facilitando as negociações entre os países. Nos anos 1980, assistiu-
se à difusão de novas tecnologias que unia os avanços da tecnologia com a produção, como
a relação entre aceleração do tempo de produção e redução da mão de obra humana e a
difusão de propagandas pela televisão.
Os últimos dois séculos se caracterizaram por revoluções de todos os tipos. Entretanto,
talvez a revolução que mais venha a moldar o futuro da humanidade seja a dos meios
de comunicação, uma vez que o ser humano é um ser social e a comunicação com seus
semelhantes é indispensável.
Hoje consideramos os meios de comunicação como instâncias da comunicação em massa.
O período atual e a universalidade mostram as transformações recentes que modificaram
profundamente as dimensões técnica e política da comunicação. É esse cenário que permeia
o que Milton Santos (2000) considera como período da globalização.
Com a importância da política econômica e geográfica do conteúdo discutido nesta
aula para o período atual, torna-se imprescindível investigar os circuitos informacionais,
as transformações espaciais para o abrigo desses circuitos e as densidades e rarefações
nos territórios em função da informação e da comunicação. Assim, este conteúdo não se
encerra completamente nesta aula, já que seguiremos tratando de aspectos da vida em
redes na próxima aula.

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AULA 12
PROCESSOS SOCIAIS E
IMPLICAÇÕES ECONÔMICAS EM
CONTEXTO GLOBALIZADO

Os efeitos da globalização sobre a vida em sociedade são econômicos, mas perpassam


diversas outras ordens de organização de nossas estruturas coletivas. Na aula anterior,
tratamos da vida em rede e exploramos esse binômio globalização-redes sob a perspectiva
das comunicações. Nesta aula, nosso foco recai sobre dois outros âmbitos em que o referido
binômio opera: a vida urbana e a questão dos transportes.

12.1 Cidades em redes

Para falar sobre as redes no que tange às cidades é necessário primeiramente tratar do
surgimento dessa sociedade urbana, como a conhecemos hoje, e também discorrer sobre
como as cidades evoluíram até atingirem a proporção que apresentam hoje, especialmente
aquelas que são megalópoles e megacidades, as quais controlam a economia mundial.
Sobre a história do surgimento das cidades, os únicos registros que possuímos sobre o
tema relatam que as primeiras cidades surgiram nos vales dos rios Nilo (no Egito), Tigre e
Eufrates (na Mesopotâmia), cujos povos dos entornos desenvolviam a agricultura e, com o
decorrer do tempo, emergiram organizações sociais que culminaram no que hoje se conhece
como cidades, organizações estas que se apresentam tanto possíveis quanto necessárias
(MUMFORD, 1982).
Tais cidades, que eram quase que unicamente guiadas pela agricultura, foram formadas
em áreas próximas aos rios e cujo solo aparentava ser de melhor qualidade. Nesses locais,
os homens abriram canais de irrigação e construíram represas, o que necessitou de sua
organização em coletividades. Assim, duas características marcaram essas primeiras cidades:
primeiro, o fato de serem formadas por várias aldeias reunidas em torno de um templo do
principal deus da comunidade; e, segundo, a evolução de suas organizações sociais para além
da agricultura, sendo que o aperfeiçoamento das técnicas de transformação de metais e o

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surgimento de novas profissões não apenas estimularam o comércio, como também foram
fortemente impactantes sobre a transformação das aglomerações de aldeias em cidades.
Ainda segundo Mumford (1982), através do estímulo do comércio essas cidades se
organizaram de fato, o que possibilitou o surgimento da chamada vida urbana e, em decorrência
disto, a invenção da escrita, a divisão do trabalho e sua consequente classificação dos
cidadãos de acordo com a sua profissão. Nesse período, se evidenciaram as desigualdades
de riquezas entre os cidadãos, o que culminou na necessidade de criação de leis e governos,
os quais geralmente eram exercidos pelos mais velhos e sábios da comunidade. Com isso,
a cidade se tornava cada vez mais orgânica.
Passando à Europa, as primeiras cidades que se destacaram eram gregas, como Atenas
e Esparta, que eram centros religiosos, comerciais, políticos e artísticos. Contudo, a cidade
que mais se destacou foi Roma, que, com seus grandes avanços econômicos, militares e
culturais, geridos por seu império, dominou a Europa e grande parte da Ásia, ainda que por
um determinado período de tempo, após o qual esse grande império desmoronou. Nessa
época, os bárbaros começaram a invadir as cidades que antes eram dominadas pelo Império
Romano, forçando os habitantes a fugirem para os grandes latifúndios, onde comunidades
começaram a ser formadas, conferindo um caráter rural ao feudalismo que encontrava-se
ainda em processo embrionário, por assim dizer. No feudalismo, o comércio diminuiu muito e
as cidades, como eram antes conhecidas, deixaram de existir, embora ainda se mantivessem
pequenos centros comerciais semelhantes às cidades. A grande exceção foi Constantinopla
que se tornou o grande centro urbano e comercial da Europa no período.
O real crescimento das cidades é retratado pelo mesmo autor a partir do fim do feudalismo
e do surgimento dos burgos, grandes centros comerciais e culturais, quando surgiu o
capitalismo. Em decorrência dele houve crescimento exponencial das cidades e a ligação,
a comunicação e a dependência entre essas cidades era se intensificar. Com a Revolução
industrial, tais condições se tornaram ainda mais fortes e as pessoas passaram a sair do
campo e ir para a cidade cada vez mais frequentemente, o que contribuiu para a formação
de grandes cidades nesse momento, em que essas não apenas cresciam como também
giravam em torno das fábricas.
Conforme Mumford (1982), tudo era feito e apenas feito, de modo que não existia
organização e o único objetivo era o lucro. Até mesmo ações como o fornecimento de água
para a população não eram pensadas e existia também a falta de moradia num momento
em que existiam muitas moradias em porões, impróprias para a ocupação humana, mas que
ainda existiam no ano de 1930, principalmente em Londres de em Nova York, os grandes
centros urbanos do mundo na época (como de fato ainda o são). Obviamente, tal situação

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se desenvolveu ao ponto de atingir um caos, o que levou à necessidade de um planejamento


para essa urbanização, o qual nunca foi realmente realizado.
Considerado tal cenário, a parte que realmente nos interessa se concentra a partir desse
momento caracterizado pela urbanização pela aglomeração de pessoas, pela necessidade
de organização para uma sociedade tão orgânica e pelo fato de que a globalização continua
a se fortalecer no capitalismo, assim como as metrópoles e megalópoles não apenas não
param de crescer, como entre elas existe uma constante troca de informações para controlar
a economia mundial, como cita Manuel Castells em trecho que recupera de Saskia Sassen
(1991, p. 3-4):

A combinação de dispersão espacial e integração global criou novo papel


estratégico para as principais cidades. Além de sua longe história como
centros de comércio e atividades bancárias internacionais, essas cidades
agora funcionam em quatro novas formas: primeira, como pontos de
comando altamente concentrados na organização da economia mundial;
segunda, como localizações-chaves para empresas financeiras e de
serviços especializados...; terceira, como locais de produção, inclusive
a produção de inovação nesses importantes setores; e quarta, como
mercados para produtos as inovações produzidas.

Esse novo espaço, essa cidade na era da informação é extremamente dinâmica, bem
como baseada no conhecimento, nas altas tecnologias e no constante e rápido fluxo de
informação. Essas são, na verdade, as megacidades que entre as definições existentes,
entendemos que a que melhor enquadra o conceito com o qual concordamos é de Manuel
Castells (2011, p. 492-493), qual seja:

Megacidades são aglomerações enormes de seres humanos com mais


de dez milhões de pessoas em 1992, e quatro projetadas para ultrapassar
vinte milhões em 2010. Mas o tamanho não é sua qualidade definidora.
São os nós da economia global e concentram tudo isto: as funções
superiores direcionais, produtivas e administrativas de todo o planeta; o
controle de mídia; a verdadeira política do poder; e a capacidade simbólica
de criar e difundir mensagens.

Essas megacidades são conectadas por redes globais e trocam informações o tempo
todo, mas são desconectadas das pessoas que não possuem uma função nessa nova
forma de cidade, mesmo essas pessoas vivendo dentro dessas megacidades. Tal situação
é claramente vista em Nova York, por exemplo, onde existem as tecnologias mais inovadoras
e ainda assim há muitas pessoas que são tratadas como lixo, consideradas desnecessárias
à existência da cidade.

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As megacidades, consideradas em contexto, promovem atualmente uma intensiva troca


de informações entre si, conformando uma grande rede internacional que é principalmente
dominada por megalópoles como Nova York e Los Angeles, embora muitas outras cidades
também participem dessa rede, como São Paulo, Tóquio e Seul, por exemplo. Tais cidades
possuem expressiva influência sobre a economia mundial e conectam grandes parcelas da
população mundial a esse sistema de informações através do qual as grandes empresas
mantêm relações e interesses entre si e empregam pessoas, assim como através da internet,
que conecta a tudo e a todos em todo momento, ou por meio do controle ou incentivo da
mídia que representam, de fato, os “centros” do mundo capitalista.

Fonte: https://visualhunt.com/photo4/50967/

Cabe ainda considerar os grandes agrupamentos de cidades, denominadas regiões


metropolitanas pela legislação brasileira, as quais consistem em arranjos sociais interligados
entre municípios que possuem alguma fronteira em comum ou um polo de referência. Castells
(2011), ao falar das regiões metropolitanas, afirma que nada mais são do que cidades em
redes, o que se reforça com o passar do tempo tanto sob a perspectiva institucional quanto
cultural.

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Isto acontece na prática

A cidade de São Paulo é a mais populosa do Brasil - com população estimada de 12,3
milhões de pessoas em 2020 segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
- e está entre as doze maiores do mundo. Conforme reportagem da rede internacional
de notícias BBC, em 2018 a Região Metropolitana de São Paulo era a quinta maior do
mundo, com cerca de 19,5 milhões de habitantes.
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-45177144

12.2 Transportes em redes

Transportes em redes. Duas palavras que sempre tiverem características e acontecimentos


entrelaçados, uma interagindo com a outra. Se, por um lado, o próprio surgimento dos
transportes criou as redes, quase que automaticamente, o desenvolvimento e evolução
das redes potencializaram os transportes, surgindo a cada década um novo nó na teia
dos transportes em redes, unindo cidades já existentes e ajudando a desenvolver outras.
Possivelmente, podemos encontrar várias explicações e momentos históricos diferentes
para o surgimento dos transportes em rede, porém é muito mais convincente dizer que o
transporte existe desde quando surgiu o homem.
Nesse sentido, caberia nos perguntarmos a partir de quando o simples transporte passou
a se organizar em redes. Existem algumas teorias de como o ser humano teria se espalhado
pelo planeta, sendo que uma destas afirma que o primeiro hominídeo foi o Australopitecos,
que teria surgido no sul de onde conhecemos hoje como África há cerca de três milhões de
anos e, posteriormente, através do primeiro transporte conhecido, os próprios pés, se espalhou
pelo planeta em busca de mais alimentos e recursos para sobreviver. Conforme foram se
espalhando pelo globo e se dividindo em diferentes grupos culturais, as glaciações e muitos
outros eventos geológicos foram isolando os grupos uns dos outros (BRASIL 247, 2014).
Com o passar do tempo, esses grupos foram se diferenciando cada vez mais, até mesmo
fisicamente, bem como se ampliaram tanto em quantidade de pessoas quanto culturalmente,
uns mais que outros, conforme os recursos naturalmente disponíveis e as maleabilidades
culturais criadas, desenvolvendo instrumentos e formas de consumo diversas. Alguns desses
grupos passaram a aderir a culturas de nomadismo, não se fixando em territórios, mas
transitando por grandes distâncias e se utilizando de algumas técnicas novas de transporte,

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como animais, porém ainda não muito distribuídos em redes organizadas. Contudo, com os
grupos em constante crescimento, o desenvolvimento de culturas complexas e o surgimento
de algumas civilizações foi uma consequência que muitos desses grupos passassem a
perceber a existência de outros (STOKES BROWN, 2010).
Os nômades tiveram papel importante nesse desenvolvimento, uma vez que se deslocavam
e transitavam por sociedades diferentes, trocando objetos, instrumentos e alimentos que não
se encontravam em alguns lugares e criando caminhos por onde passaram a se estabelecer
trocas entre sociedades, sendo que um dos mais antigos e conhecidos é a rota da seda que
se estendia por sete mil quilômetros, interligando o território chinês Xiang à Síria.
Conforme as trocas de produtos entre as sociedades se tornaram cada vez mais intensas,
os transportes foram evoluindo e se adequando, com a finalidade de carregar cada vez mais
carga e pessoas. Nesse momento, teve grande importância o uso da roda para distribuir
melhor o peso e diminuir o atrito das cargas no chão, mas também foram relevantes os
transportes que aproveitavam a força e a extensão dos rios e mares, pois grande parte das
cidades se instalavam em suas margens, por conta da agricultura.
Desenvolvidos os primeiros transportes em redes, a partir de então esses foram se
expandindo. Os grandes líderes de várias sociedades incentivaram muito os transportes,
aquecendo o mercado de trocas em seus territórios e aprimorando funcionalidades, o que
implicou na ampliação e manutenção das rotas e em altos investimentos em veículos,
em conhecimentos sobre navegação, na confecção de mapas com informações de rios e
florestas e também de cidades entre os caminhos, entre diversos outros incrementos. Foi
nesse contexto que iniciou-se uma grande busca por novas terras ainda inexploradas, o que
foi realizado por meio das grandes navegações, quando novas terras foram encontradas
do outro lado do Oceano Atlântico e, nelas, novas culturas e novos elementos passíveis de
comercialização e exploração que logo foram colocados em circulação na rede de transportes.
Por meio dos estudos que buscavam um aproveitamento cada vez maior dos recursos
naturais decorrentes da exploração dessas novas terras, a ciência surgiu com grande explosão
de novas áreas de estudo, novas tecnologias e avanços, que contribuíram tanto na fabricação
em massa de produtos para serem trocados, quanto para aumentar a eficiência em seu
transporte. Um grande exemplo é a utilização da expansão do vapor, que quando aquecido
em recipiente específico se expandia e gerava uma pressão capaz de movimentar pistões,
produzindo movimentos circulares que, conectados a engrenagens, aceleravam a produção,
substituindo a força de animais ou até mesmo humana, e que, conectadas a rodas, inovaram
os transportes, principalmente com a invenção do trem, que por meio dos trilhos podia
carregar muito mais carga em menos tempo (ALMEIDA; RIGOLIM, 2009).

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O anseio por conhecer produtos de outras sociedades ou de criar muitos outros que
nenhum humano conhecia antes, estimulou vários conflitos, tanto entre sociedades que eram
diferentes em sua essência, quanto entre os membros no interior de cada uma delas. Os
conflitos internos das sociedades se davam em grande parte por conta da divisão de classes,
uma vez que enquanto os indivíduos de camadas mais baixas trabalhavam nos transportes
de mercadorias, apenas aqueles da classe mais alta usufruíram livremente das chamadas
especiarias exóticas. Por outro lado, os conflitos externos se davam pela competitividade
entre civilizações por dominar territórios desconhecidos e por desconcertos entre culturas
muito diferentes, o que culminou num grande número de guerras entre grupos, geralmente
por conquista de novos territórios e influências comerciais de poder (AZEVEDO; SERIACOPI,
2008).
Conforme os atritos entre as sociedades se tornaram mais frequentes e complexos, mais
difícil também foi estabelecer as conexões entre essas sociedades. No entanto, o desejo
de ampliar as trocas e dominar cada vez mais o mercado (e aumentar seu poder), eram
objetivos comuns entre quase todos esses grupos, o que os levou a um patamar de guerra
estabelecida. Ainda que possamos imaginar que em guerras aconteçam apenas destruições,
a realidade histórica é diferente e aponta que existem muitas relações conectadas por trás
desses grandes conflitos. Nas práticas de guerra é preciso inovar e, assim como em várias
outras áreas, os transportes foram essenciais e receberam várias tecnologias novas se
tornando mais eficientes, afinal era preciso transportar, com agilidade e cautela, grande
número de soldados, alimentação e recursos médicos para os combatentes, além de armas
e outros materiais. Nesses termos, os navios porta-aviões são grandes exemplos de tipos
de transportes que se desenvolveram em período de guerra e que, colocados em redes e
interligados para funcionar melhor, mesclaram transporte aéreo e marítimo de pessoas,
suprimentos e mantimentos durante conflitos (AZEVEDO; SERIACOPI, 2008).
Outra grande contribuição das guerras para os transportes, principalmente para o terrestre e
fluvial foi o desenvolvimento da engenharia para construir pontes. Obviamente, a humanidade
já conhecia as pontes, mas nunca descobriram tantas técnicas e maneiras diferentes de se
construir pontes como durante a Segunda Guerra Mundial, principalmente pelo fato de que
o contexto dessa guerra demonstrou ser necessária a rápida construção de pontes capazes
de serem montadas e desmontadas para impedir a passagem de tropas inimigas e de
possibilitar às tropas que as possuíam atravessar rios sem obstruir a passagem de grandes
embarcações, entre muitas outras necessidades. Graças aos avanços nessa especialidade
da engenharia, hoje podemos encontrar pontes para navios em rios que atravessam outros
rios, pontes levadiças, estradas que atravessam rios e mares de modo subterrâneo, viadutos

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que facilitam o trânsito, estradas que atravessam serras e desníveis geográficos em menores
distâncias, metrôs em e entre cidades. Enfim, muitas construções que facilitam os transportes.
Também interligado com a história das guerras está o transporte aéreo. O avião foi inventado
antes da Segunda Guerra Mundial, mas foi durante esse período que recebeu sua maior
quantidade de investimentos, sendo extremamente útil para agilizar os transportes e também
para realizar ataques. Tal invenção levou a guerra a outras proporções, aumentando muito
o poder de destruição. Como exemplo, destacamos as bombas de Hiroshima e Nagasaki
(Japão), que dizimaram essas cidades e puseram fim à Segunda Guerra Mundial em 1945.
Essas armas (bombas), que chocaram todo o planeta e deixam marcas até hoje, foram
lançadas de aviões norte-americanos e dificilmente teriam êxito com outro tipo de transporte
no sentido que de as bombas atingissem o alvo desejado com tamanha precisão (AZEVEDO;
SERIACOPI, 2008).
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo passou a contar com muitas novidades
tecnológicas, como a medicina muito mais avançada, as comidas enlatadas, o surgimento
de computadores e, posteriormente, da internet, dentre outros avanços. Nos transportes
passamos a ter o controle aéreo por radares e GPS, pois o fluxo de aeronaves passou a ser
mais intenso.
No contexto do pós-guerra, as sociedades voltaram ao cenário de disputa pela hegemonia
do poder global, por conta da chamada Guerra Fria estabelecida entre os Estados Unidos
e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), dois países que não entraram em
confrontos bélicos, mas se prepararam muito caso ocorresse. As disputas se focaram em
competências econômicas e científicas, dentre as quais sobre qual desses países detinha
as maiores descobertas e o maior mérito de poder (ALMEIDA; RIGOLIM, 2009). Esse período
foi marcado por alto investimento de dinheiro na “corrida espacial”, colocando assim em
prática os transportes espaciais, considerados ainda muito recentes e de pouca afinidade
aparente com a população em geral.
Mas este transporte está muito mais relacionado com a vida cotidiana das pessoas do que
boa parte delas imaginam, já que é por meio deste que os satélites chegam até suas órbitas
e transmitem informações e se comunicam com a Terra, transmitindo programas de televisão
e rádios, informações meteorológicas e resultados decorrentes de pesquisas científicas
desenvolvidas em módulos espaciais por meio de coleta de amostras e imagens, que buscam
novas descobertas científicas. Muitos comparam a corrida espacial às grandes navegações,
afirmação esta que Almeida e Rigolim consideram não ser tão incorreta quanto pode se
pensar à primeira vista, pois assim como no passado estamos em busca de novos recursos

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para explorar e novas descobertas. Além disso, cogita-se hoje até mesmo a possibilidade
de encontrar seres extraterrestres, diferentes do ser humano.
Atualmente, os transportes tomaram proporções globais fazendo parte diretamente das
nossas vidas. Com eles, a humanidade mudou os mapas e os padrões de vida, de modo que,
hoje, se pode conhecer muitos lugares diferentes com um tempo e investimento muito menor
do que há algumas décadas. Para aumentar a eficiência, os transportes foram dispostos
em redes, que integram diversas cidades do mundo e diferentes culturas, o que tornou
necessário que também os diferentes meios de transportes se integrassem uns aos outros,
como nos portos e aeroportos multimodais onde as cargas e as pessoas podem passar de
um transporte terrestre para um aéreo ou ferroviário para fluvial e marítimo.

Isto está na rede

Conforme dados do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o Brasil possui o segundo


maior número de aeroportos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos: em 2019
eram 99 aeroportos, sendo 18 para voos internacionais e os demais cobrindo a malha
aérea nacional.
https://cbie.com.br/artigos/quantos-aeroportos-existem-no-brasil/

Um país só consegue se desenvolver economicamente com transportes organizados, o


que demanda grandes investimentos em todos os tipos de transporte para poder exportar
sua produção e mesmo organizar a vida social. Nesse sentido, é perceptível em países
com menor desenvolvimento que os transportes são mais precários e pouco organizados,
especialmente aqueles aéreo, marinho, fluvial e ferroviário, não havendo boas conexões entre
eles ou até mesmo sem existência de todas essas modalidades (AZEVEDO; SERIACOPI, 2008).
Os efeitos da globalização sobre a vida dos indivíduos em sociedade foi, também, foco de
discussão nesta décima segunda aula de nossa disciplina. Em continuidade à abordagem
da aula anterior, trabalhamos a perspectiva de sociedades em rede como nuance social do
processo econômico de globalização. Olhando para as cidades e para a maneira como as
redes de transportes estão configuradas, os efeitos da globalização sobre as sociedades se
revela expressivo e dinâmico, ao mesmo tempo. Esse dinamismo, contudo, afeta também
outras áreas da vida social, conforme exploraremos nas aulas restantes de nossa disciplina.

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AULA 13
TEMAS ECONÔMICOS DE
INTERESSE SOCIAL

Os efeitos da globalização sobre a vida em sociedade são múltiplos e inter-relacionados,


conforme destacamos ao abordar ao abordar a vida em rede e algumas de suas dimensões.
Nesta aula, tratamos de temas de interesse social cuja relevância encontra-se atrelada a
questões de natureza econômica: as preocupações com o desenvolvimento econômico em
contraposição à busca específica por crescimento econômico e com o desenvolvimento
sustentável a partir do estabelecimento de um pacto global e também as relações entre
mercado de trabalho e desemprego.

13.1 Desenvolvimento econômico

Ao tratarmos de fundamentos da macroeconomia, em nossa oitava aula, mencionados o


crescimento econômico como um dos objetivos de governos, sinalizando que crescimento
econômico e desenvolvimento econômico não são sinônimos. Nesta seção, destacamos o
segundo termo, de caráter social, já que o primeiro, de cunho econômico, foi anteriormente
exposto.
De modo sintético, Souza (2011) destaca que o desenvolvimento econômico diz respeito
à relação existente entre o aumento da capacidade de produção e geração de riquezas de
um país com a efetivação de melhorias da qualidade de vida da população.
Assim, o desenvolvimento econômico está atrelado, em alguma medida, ao crescimento
econômico, mas é diferente do conceito macroeconômico, uma vez que, em quantidade
expressiva de situações, é perceptível que a expansão da produção e da riqueza beneficia
grupos detentores de capital, de modo direto e restrito, sem gerar transformações ou
mudanças sociais amplas.
Para o mesmo autor, o desenvolvimento só ocorre, de fato, quando há efeitos sobre a vida
em coletividade, de maneira direta ou indireta. Em se tratando de efeitos diretos, podemos
mencionar alterações na oferta de políticas públicas, distribuição de renda e elevação de
salários, por exemplo, ao passo que são indiretos os efeitos que não necessariamente cada
indivíduo percebe, mas que contribui à sua vida, como a conservação do meio ambiente.

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Em termos práticos, Souza (2011) afirma que o desenvolvimento econômico implica


em aumento do nível de empregos combinado com redução do desemprego, elevação da
arrecadação pública e gastos sociais para enfrentamento de desigualdades, bem como
ações ambientais. Em suma, seria um conjunto de estratégias e ações capazes de conferir
maior qualidade de vida à população.
E como mensurar essa qualidade de vida? Como é possível sabermos se o crescimento
econômico está refletindo em desenvolvimento econômico? Quais as medidas ou
indicadores para tanto? Conforme Souza (2011), podemos utilizar o PIB per capita, o Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH) e o Índice de Gini.
Considerando que o PIB diz respeito ao produto interno bruto decorrente dos processos
produtivos, o PIB per capita significa a medida de distribuição ou concentração dessa renda
entre a população, calculado pela divisão do PIB pelo tamanho de uma população. Assim,
quanto maior o PIB per capita, maior a indicação de perspectiva de dispersão das riquezas entre
a população, certo? Não necessariamente, pois o valor pode esconder grandes discrepâncias
sociais (disparidades entre alguns com altíssima renda e outros em condição de miséria),
de modo que é necessário combinar a análise do PIB per capita com os demais indicadores
mencionados.
O IDH é um indicador que combina o PIB per capita com outras duas medidas relacionadas
a condições sociais - expectativa de vida ao nascer e taxas de alfabetização de adultos e de
matriculados nos ensinos fundamental, médio e superior - para inferir se há desenvolvimento
econômico de maneira ampliada.
Por fim, o índice de Gini é uma medida específica para identificar a concentração ou
distribuição da renda entre os indivíduos, de modo que permite identificarmos se há
desigualdades ou relativa homogeneidade na maneira como os recursos financeiros
encontram-se alocados à população.

Isto acontece na prática

O IPEA disponibiliza e mantém atualizada uma plataforma que reúne indicadores de


desenvolvimento econômico que podem ser consultados tomando como referência
o país, unidades da federação, regiões metropolitanas e municípios, baseados em
dezesseis indicadores que conformam o Altas da Vulnerabilidade Social.
http://ivs.ipea.gov.br/index.php/pt/

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13.2 Desenvolvimento sustentável

A Organização das Nações Unidas definiu um conjunto de parâmetros para a melhor


adequação do funcionamento das sociedades atuais por meio do estabelecimento da
Agenda 2030, na qual foram firmados os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS),
relacionados a três eixos práticos: a biosfera, a sociedade e a economia, conforme exposto
na representação abaixo, extraída da página oficial do documento.

Fonte: http://www.agenda2030.com.br/os_ods/. Acesso em: 23 dez. 2020.

Conforme evidenciado na imagem, são quatro os objetivos relacionados à biosfera e,


portanto, diretamente relacionados à questão do desenvolvimento econômico.

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ODS Título Descrição


6 Água potável e saneamento Assegurar a disponibilidade e a gestão
sustentável da água e saneamento para
todos.
13 Ação contra a mudança global do clima Tomar medidas urgentes para combater a
mudança do clima e seus impactos.
14 Vida na água Conservar e promover o uso sustentável
dos oceanos, dos mares e dos recursos
marinhos para o desenvolvimento
sustentável.
15 Vida terrestre Proteger, recuperar e promover o uso
sustentável dos ecossistemas terrestres,
gerir de forma sustentável as florestas,
combater a desertificação, deter e reverter
a degradação da terra e deter a perda.

Quadro 8 - ODS relacionados à biosfera. Fonte: http://www.agenda2030.com.br/os_ods/. Acesso em: 23 dez. 2020 (adaptado).

Seguindo em nossa explanação, a figura demonstra que a maioria dos objetivos encontra-
se vinculada à sociedade, tratando-se, portanto, de aspectos relacionados ao interesse social
e também ao desenvolvimento econômico, permeando as temáticas da política - como
democracia, cidadania e multiculturalismo, por exemplo.

ODS Título Descrição


1 Erradicação da pobreza Acabar com a pobreza em todas as suas
formas, em todos os lugares.
2 Fome zero e agricultura sustentável Acabar com a fome, alcançar a segurança
alimentar e melhoria da nutrição e promover
a agricultura sustentável.
3 Saúde e bem-estar Assegurar uma vida saudável e promover o
bem-estar para todos, em todas as idades.
4 Educação de qualidade Assegurar a educação inclusiva e equitativa
de qualidade e promover oportunidades de
aprendizagem ao longo da vida para todos.

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5 Igualdade de gênero Alcançar a igualdade de gênero e empoderar


todas as mulheres e meninas.
7 Energia acessível e limpa Assegurar o acesso confiável, sustentável,
moderno e a preço acessível à energia para
todos.
11 Cidades e comunidades sustentáveis Tornar as cidades e os assentamentos
humanos inclusivos, seguros, resilientes e
sustentáveis.
16 Paz, justiça e instituições eficazes Promover sociedades pacíficas e inclusivas
para o desenvolvimento sustentável,
proporcionar o acesso à justiça para todos
e construir instituições eficazes, responsáveis
e inclusivas em todos os níveis.

Quadro 9 - ODS relacionados à sociedade. Fonte: http://www.agenda2030.com.br/os_ods/. Acesso em: 23 dez. 2020 (adaptado).

Por fim, o terceiro conjunto de ODS diz respeito especificamente à economia, de modo
que se trata de quatro objetivos que dialogam diretamente com aspectos tratados nas
discussões desta disciplina.

ODS Título Descrição


8 Trabalho decente e crescimento econômico Promover o crescimento econômico
sustentado, inclusivo e sustentável, o
emprego pleno e produtivo e o trabalho
decente para todos.
9 Indústria, inovação e infraestrutura Construir infraestruturas resilientes,
promover a industrialização inclusiva
e sustentável e fomentar a inovação.
10 Redução das desigualdades Reduzir a desigualdade dentro dos
países e entre eles.
12 Consumo e produção responsáveis Assegurar padrões de produção e de
consumo sustentáveis

Quadro 10 - ODS relacionados à economia. Fonte: http://www.agenda2030.com.br/os_ods/. Acesso em: 23 dez. 2020 (adaptado).

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Diante desse conjunto de objetivos, é perceptível como o desenvolvimento sustentável é


perpassado pelo cuidado com o meio ambiente, ações com vistas à melhoria na qualidade
de vida da população e também voltadas à face econômica das sociedades. Tendo em vista
que cada ODS encontra-se interligado com outros e que mudanças efetivas precisam ocorrer
em nível mundial por conta da vida em redes nesse contexto globalizado, o décimo sétimo
e último ODS, destacado no topo da figura que ilustra essa seção diz respeito aos meios
para implementação de parcerias, com vistas ao fortalecimento de propostas que visem o
desenvolvimento sustentável de modo global.

13.3 Mercado de trabalho e desemprego

Diversos ODS no âmbito social encontram-se relacionados à questão do desenvolvimento


das condições de vida dos indivíduos, o que perpassa, em alguma medida, sua condição no
mercado de trabalho.
O mercado de trabalho diz respeito à relação entre o conjunto de vagas disponíveis e
os trabalhadores que ocupam ou estão aptos a ocupar tais postos laborais. Basicamente,
os conceitos relacionados ao tema podem ser resumidos em salário mínimo, sindicalismo,
status e condição da população economicamente ativa e inativa e desemprego.
O fato dos trabalhadores receberem um salário capaz de suprir minimamente suas
necessidades já foi abordado anteriormente em nossas aulas. Nesse sentido, cabe aqui
destacar sua institucionalização por meio do estabelecimento de legislação trabalhista para
garantir um valor mínimo a ser pago pelo empregador: o salário mínimo. Tanto no Brasil
quanto em muitos outros países, há especificidades na legislação que determinam qual o
rendimento mínimo a ser pago ao trabalhador de qualquer categoria profissional, sendo
que profissões específicas - por conta das atividades desempenhadas, da pressão exercida
por conselhos profissionais ou de cargas horárias diferenciadas, por exemplo - podem ter
definições diferenciadas sobre tetos mínimos para pagamentos (BLANCHARD, 2011).
É importante destacar que a existência de um salário é econômica e socialmente relevante
por dois motivos: primeiro, por garantir ao trabalhador uma garantia à subsistência material
com relação à alimentação e moradia (ao menos em tese); e, segundo, por estabelecer a
equivalência, mesmo que pautada pela base salarial para que pessoas possam ser remuneradas
de modo igualitário, independente de sexo, gênero, idade, etnia etc.
Com relação ao sindicalismo, trata-se de mecanismo de participação social e de organização
sócio-política dos trabalhadores desde o século XVIII, o qual segue obtendo conquistas
importantes, sendo que estas se dão tanto quando direitos trabalhistas são ampliados quanto

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em situações em que é garantida a manutenção de direitos que os empregadores ou mesmo


o governo buscaram cessar (SOUZA, 2011).

Anote isso

A “Coleção Primeiros Passos”, da Editora Brasiliense, produziu dezenas de livros em


formato pequeno (de bolso) com discussões diretas e didáticas com explanações
sobre temas relacionados à economia, política e aspectos da vida em sociedade. A
edição sobre sindicalismo, de autoria do professor Ricardo Antunes, aborda aspectos
históricos sobre o desenvolvimento da organização de trabalhadores.

No caso brasileiro, por exemplo, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943,
não foi uma benesse do então presidente Getúlio Vargas, mas o resultado de lutas sociais
e mobilizações por meio de pressões de grupos de trabalhadores sindicalizados.
Quando tratamos de trabalho logo nos vêm à mente a questão do desemprego e seus
indicadores, certo? Para compreender esse problema econômico e social, primeiramente
cabe explicar quem é considerado apto a estar empregado. Nesse sentido, Bacha e Lima
(2006) expõem que devemos considerar a população economicamente ativa (PEA) como o
contingente de indivíduos em idade compatível com o desenvolvimento de atividades laborais
- no caso brasileiro aqueles com mais de 16 anos para estágios ou usufruto de bolsas de
tempo parcial e os maiores de 18 anos.
Sobre esses indivíduos, contudo, os mesmos autores destacam que estar apto ao trabalho
não implica estar inserido no mercado de trabalho, pois dentre a PEA existem aqueles que
se encontram: ocupados, trabalhando para um empregador, independentemente de haver
registro formal; atuando por conta própria, de maneira individual ou com sócios, mas sem
empregados; como empregadores; ou como trabalhadores não remunerados, como nos
casos de empreendimentos familiares em que não há recebimento de salário.
Ademais, seguem os autores, há também aqueles que não se encontram inseridos no
mercado de trabalho, o que pode decorrer de três situações: ser incapacitado ao trabalho por
algum tipo de deficiência física ou mental, por conta da saúde ou estar preso; ser parte da
população não economicamente ativa, que possui características semelhantes à PEA, mas
que opta por não procurar ocupação ou encontra-se em condição de realização de atividade
(como estudantes e aqueles responsáveis pelo cuidado do lar) ou percepção financeira que
as desobriga do trabalho (aposentados, rentistas e pensionistas, por exemplo); e, por fim, as

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pessoas desempregadas ou desocupadas, que estão em busca de colocação ou recolocação


profissional e não encontram postos de trabalho.
Perceba, portanto, que o desemprego diz respeito apenas à última situação mencionada,
de modo que não podemos confundir não estar trabalhando com estar desempregado!
Nesse sentido, Sandroni (2003) define desemprego como situação de ócio involuntário do
indivíduo, ao passo que Passos e Nogami (2012) reforçam que só podem ser classificados
como desempregados aqueles que buscam por um trabalho ou ocupação e não encontram.
Nesse sentido, o desemprego é um problema social porque consiste na ausência de
atendimento de necessidades dos indivíduos com relação à sua colocação no mercado de
trabalho, ainda que com vistas ao recebimento de salário mínimo, capaz de lhes conferir
garantia de subsistência.
Se me fosse solicitado resumir essa aula em uma frase, seria: Economia e sociedade são
indissociáveis! As explanações expostas sobre crescimento econômico, desenvolvimento
sustentável e mercado de trabalho reforçam o argumento apresentado ao longo de toda
essa disciplina, de que a vida social é imbricada por aspectos econômicos e a economia
sofre influência do funcionamento das sociedades. Esses três temas de interesse social,
inclusive, reforçam a relevância da organização social no contexto global, já que abordamos
temas que não se limitam a realidades sociais específicas.

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AULA 14
GESTÃO PÚBLICA E SOCIAL

Chegamos ao último bloco de aulas de nossa disciplina. Depois de tratarmos da relação


entre economia e sociedade sob as perspectivas das chaves explicativas entre microeconomia
e política e macroeconomia e globalização podemos nos ater ao contexto da gestão pública
e social, uma vez que tanto a vida em democracias quanto as experiências em redes são
mediadas, em alguma medida, por desigualdades econômicas por impacto social. Isto posto,
nesta aula abordamos a relação entre Estado e políticas públicas, bem como a intersecção
entre esses aspectos e a gestão no âmbito das organizações da sociedade civil.

Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/21462365232/e5e38cc230/

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14.1 Estado e políticas públicas

Diversos autores apresentam conceitos de Estado. Temos em Maquiavel (1976) uma


discussão sobre Estado e poder, nos autores contratualistas – Hobbes (2000), Locke (2001)
e Rousseau (1999) – construções que tratam o surgimento do Estado como decorrente de
pactos sociais pela vida em sociedade e, em Smith (1983), a preocupação em discutir o
impacto da economia liberal sobre o Estado.
Segundo Azambuja (2005), é difícil estabelecer uma definição única por conta da
complexidade que o Estado assume enquanto fato social. Contudo, o autor apresenta seu
conceito como uma organização político-jurídica, com governo e territórios próprios, que visa
o bem público e que necessita de hierarquização entre governantes e governados.
Diante de tal definição compreende-se que o governo é um dos componentes do Estado,
responsável por sua administração. Segundo Levi (2010),o governo trata do conjunto de
pessoas que exercem o poder político, sendo que a necessidade de governos é anterior ao
surgimento dos Estados, ainda que os primeiros governos assumissem formas rudimentares.
O funcionamento do governo pode ocorrer de maneira mais ou menos autônoma com relação
aos governados.
Assim, um governo pode aproximar-se ou distanciar-se da população, atender ou ignorar
suas necessidades e demandas, permitir ou negar a possibilidade de manifestação e
participação política e social. Conforme se compõe a sua estrutura, é possível definir a
origem da força de um governo (e, por conseguinte, de um Estado): o consenso e apoio
popular ou a imposição e a coerção sobre a população.
Diante do exposto, um governo é resultado da soma de, ao menos, três aspectos relevantes:

• As formas de governo: modelos institucionais por meio dos quais uma sociedade
é administrada, sendo recorrentes a república em que o posto de chefe de Estado
pode ser ocupado por um indivíduo ou por um conjunto, eleito pelo povo de maneira
direta ou indireta (MATTEUCCI, 2010); bem como a monarquia que tem como chefe
de Estado um monarca, imperador ou rei, o qual goza de poderes absolutos e exerce
seu cargo de maneira vitalícia até sua morte ou abdicação, sendo que seu sucessor
advém de sua linhagem familiar direta por hereditariedade, sem realização de eleições
para chefe de Estado (FARIA, 2017).
• Sistemas de governo: maneiras como o poder político é exercido ou organizado, havendo
o parlamentarismo, no qual há distribuição de poder entre Executivo e Legislativo,
em que o chefe de Estado representa a sociedade e o Legislativo é composto por

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membros vencedores das eleições, sendo que o primeiro ministro é escolhido dentre
os eleitos pelo partido que obteve o maior número de assentos; e o presidencialismo
que tem no presidente sua figura central no comando do Poder Executivo, sendo que
os demais Poderes – Legislativo e Judiciário – atuam de maneira independente do
primeiro (FARIA, 2017).
• Regimes políticos: conjunto de leis e instituições que conformam a organização dos
Estados e a maneira como ocorre o exercício do poder para com os cidadãos, sendo que
diferentes tipos de regimes políticos emergiram ao longo dos séculos, com governos
absolutistas, autoritários, totalitários, ditatoriais e democráticos. Com relação ao último,
trata-se daquele no qual a soberania é exercida pela população que elege representantes
por meio de eleições.

É especialmente em governos democráticos que as políticas públicas se desenvolvem,


uma vez que se constituem como mecanismos de efetivação das deliberações do poder
público para/com a população. Considerando sua amplitude, em termos de áreas de ação,
atuação e as distinções que podem assumir, conforme os arranjos entre Estado e governo,
não há um conceito único para tratar do tema.
Sintetizando conceitos de Souza (2006), Amabile (2012) e Kerstenetzky (2015), é possível
definir políticas públicas como um conjunto de ações administrativas, programas e decisões
governamentais adotados por atores públicos (gestores, membros do Executivo ou Legislativo)
para garantir direitos que tangenciam a cidadania, em diálogo com as Constituições.
No caso nacional, as políticas públicas correspondem à materialização de direitos sociais
previstos na Constituição Federal de 1988, cujo capítulo II prevê que todos os cidadãos
brasileiros devem ser acesso a direitos como educação, saúde, alimentação, trabalho,
moradia, transporte, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância
e assistência aos desamparados.

Anote isso

O texto atual da Constituição Federal brasileira considera todas as alterações ocorridas


desde sua promulgação em 1988, encontra-se disponível na página oficial do Planalto,
onde pode ser lida em sua redação original e também considerando as mudanças,
com indicação dos documentos pertinentes àquilo que foi modificado.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm

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14.2 Ciclo de consecução de políticas públicas

Os processos que envolvem a criação de políticas podem, de fato, ser lentos ou rápidos,
a depender de aspectos como os atores envolvidos na discussão e a urgência em sanar
ou minimizar problemas. As etapas que conformam a estruturação de uma política pública
compõem seu ciclo de realização, abordado por autores, como Faria (2003) e Amabile (2012).

Isto está na rede

O professor Leonardo Secchi é uma das principais referências em se tratando de


explicações didáticas sobre políticas públicas no Brasil. No vídeo destacado, ele trata
das etapas do ciclo de políticas públicas, tema desta seção de seu material didático.
https://www.youtube.com/watch?v=N8phb0UN2WY&t=8s

Para além da definição de temas que comporão a agenda de discussões, destacam-


se as etapas de formulação, implementação, monitoramento e avaliação. A formulação
compreende a elaboração de alternativas e escolha para criação de legislação (lei, decreto,
medida provisória etc.), uma vez que um problema tenha sido identificado e provoque a
necessidade de resposta do governo (AZEREDO; LUIZA; BAPTISTA, 2012).
A discussão e análise devem considerar tanto se há perspectiva de alcance da coletividade
que necessita daquela política pública quanto os resultados esperados (TREVISAN; VAN
BELLEN, 2008), sendo que tal processo finda-se com a tomada de decisão acerca da política
pública a ser implementada.
A implementação diz respeito à conversão da legislação aprovada em ações, quando a
política pública entra em vigor, ou seja, efetiva-se à população. A partir dessa etapa ocorre
também o monitoramento das ações, pois diante de eventualidades ou da verificação de
falhas de planejamento, faz-se necessária a alteração do curso da política em favor da
melhor gestão dos recursos e dos interesses públicos (AZEREDO; LUIZA; BAPTISTA, 2012).
Com relação ao monitoramento, cabe salientar que diversos atores podem influenciar essa
atividade, tanto organizados, enquanto sociedade civil, quanto por meio de instituições formais
e mesmo oficiais (movimentos sociais, organizações da sociedade civil, Ministério Público,
grupos empresariais partidos, políticos etc.). Assim, tendo em vista que a participação da
população na política é prevista constitucionalmente, o controle social remete aos mecanismos

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e às possibilidades da população fiscalizar, acompanhar e avaliar a implementação e o


funcionamento das políticas públicas (CARDOSO JUNIOR, 2015; FERREIRA et al., 2016).
A última etapa do ciclo é a avaliação, que parte do entendimento de que uma política é
composta de ações que ocorrem entre uma situação atual e uma nova, provocando mudanças.
Seus objetivos podem ser de incremento no conhecimento, levantamento de informações
causais, eficácia de métodos e sobre a operação da política e de seus impactos, entre outros
(AZEREDO; LUIZA; BAPTISTA, 2012, p. 9). Ainda sobre a avaliação, Trevisan e Van Bellen
(2008) e Chiari (2012) afirmam que essa etapa sempre tem como princípio a análise dos
objetivos propostos, quando da formulação da política.
Por fim, cabe destacar que os relatórios produzidos devem ser utilizados como informações
para novas tomadas de decisões, pois constituem feedback da política implementada que
pode subsidiar novo início do ciclo com retomada da pauta e/ou reformulação da política,
se pertinente.

14.3 Gestão social, Estado e Terceiro Setor

A origem dos Estados remete ao momento da história da humanidade em que os indivíduos


passaram a romper com o nomadismo e começaram a se estabelecer em espaços, levando,
com o tempo, à sua organização, que caminhou à conformação das cidades-estado e, mais
tarde, dos Estados nacionais como conhecemos atualmente. Assim, o Estado corresponde
ao primeiro setor da economia e se caracteriza pela busca do atendimento ao bem público.
O comércio surgiu em decorrência da formação dos Estados nacionais, em uma época
em que camponeses trocavam aquilo que produziam entre si, visando apenas a própria
subsistência e a de sua família. Quando as relações de troca passaram a considerar a
obtenção de vantagens e, posteriormente, com alterações expressivas nos meios de produção,
estabeleceram-se o Capitalismo e o segundo setor da economia, cuja finalidade é o lucro.
Contudo, com o passar do tempo, a globalização e o aumento de desigualdades sociais,
o lucro passou a não ser o único objetivo direto das empresas que se formaram, uma vez
que estas passaram a buscar crescimento e novos mercados, mas também construir uma
imagem “amigável” mediante a população.
A caridade, a ajuda humanitária, a cidadania e o voluntariado sempre existiram, desde os
tempos bíblicos. Entretanto, somente no século XX a sociedade civil passou a se organizar,
originando uma nova vertente no cenário social, paralela ao Estado e às empresas privadas,
e criando o Terceiro Setor da economia, composto por organizações que visam suprir as

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falhas do Estado e apresentam-se como alternativas no processo de desenvolvimento de


políticas públicas e na prestação de serviços à sociedade.
De acordo com Fernandes (1994), o Estado é composto por agentes públicos que
trabalham para atender o público em geral, o mercado é regulado por agentes privados que
atuam pautados por seus próprios interesses e das organizações da sociedade civil (termo
definido na legislação brasileira para referir-se ao Terceiro Setor – que trataremos como
OSCs e caracterizam-se por agentes privados que buscam contribuir ao bem público). Assim,
considerados os objetivos ou fins do Estado e das OSCs, temos que a gestão pública e do
Terceiro Setor compõem o campo de atuação da gestão social, que pode ainda dialogar
com iniciativas específicas do mercado.
O debate em torno da gestão social ainda é recente, pois se trata de um campo de estudos
em construção para o qual não há um texto fundante ou um conceito tão abrangente a
ponto de tornar-se reconhecido como definição clássica. Contudo, uma definição pertinente
foi apresentada por Lima e Pereira (2015), que apontaram tal campo de gestão como uma
intersecção entre as relações do Estado, do mercado e da sociedade, com vistas às ações
e à tomada de decisões políticas que tenha como fim o interesse público e a realização do
bem comum.
Nesse sentido, duas considerações são pertinentes à gestão social. Primeiramente, a
gestão social deve desempenhar as quatro funções básicas de qualquer processo de gestão,
quais sejam:

• Planejar refere-se a conhecer a realidade social em que a gestão social ocorre, de


modo que tal contexto permita a realização de análises de conjuntura e construções
de prospecções sobre demandas e oportunidades.
• Organizar trata da delimitação de aspectos administrativos relacionados ao trato de
pessoas, recursos, serviços e informações, com vistas à identificação de necessidades
sociais e ao diagnóstico sobre capacidade para atendimento, captação de recursos e
demandas profissionais, materiais, físicas e financeiras.
• Dirigir remete ao monitoramento da execução das ações planejadas e organizadas
para diminuir falhas e garantir a aplicação mais assertiva de recursos à consecução
de atividades.
• Comunicar diz respeito à apresentação de informações e prestação de contas aos
diferentes segmentos relacionados às atividades desempenhadas, como o público
atendido, os voluntários, o Ministério Público e os doadores: pessoas jurídicas e físicas.

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Contudo, para além desses aspectos relacionados à administração em geral, a segunda


consideração remete à especificidade do campo da gestão social no que tange aos aspectos,
como a capacidade de mobilização da população, a identificação de problemas sociais de
responsabilidade do Estado, as estratégias de pressão sobre a construção da agenda de
debates públicos, a habilidade de articulação por meio de redes e do estabelecimento de
parcerias e alianças e, principalmente, o compromisso com a melhoria efetiva da qualidade
de vida da população por meio da redução de desigualdades sociais, uma vez que a gestão
social é pautada na promoção de mudanças assertivas na realidade social pública.
Findados nossa primeira aula sobre gestão pública e social, de caráter conceitual, tendo
atingido o objetivo de estabelecer as bases acerca das relações entre Estado, políticas públicas
e a gestão de organizações sociais. Por se tratar de uma aula introdutória às questões
mais específicas relacionadas a duas perspectivas de gestão é pertinente destacar que
as aulas quinze e dezesseis tratam, em separado e com maior profundidade, de aspectos
relacionados à consecução de políticas públicas no Brasil e à organização do setor social
enquanto alternativa à garantia de direitos sociais e campo de atuação.

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AULA 15
GOVERNO E POLÍTICAS PÚBLICAS
NO BRASIL

Da determinação na Constituição Federal à materialização em termos empíricos há um


longo caminho para as políticas públicas no Brasil. Considerada a realidade histórica nacional,
um caminho até mesmo tomado como desafiador por conta de condições socialmente
naturalizadas devido ao modo como a sociedade nacional se organizou. Diante de tal reflexão
(ou, por quê não, provocação?), esta aula discorre sobre a conformação das políticas públicas
no país, perpassando desde o início do Brasil república até os desdobramentos de direitos
sociais em políticas na década entre 2011-2020.

15.1 Breve histórico das políticas públicas no país

O início do Brasil república caracterizou-se pela alteração da condição de sociedade


escravocrata e rural para o capitalismo industrial com crescimento da vida urbana. Como
desde a segunda metade do século 19 houve expressiva migração de europeus, os ex-
escravos libertos em 1888 tiveram dificuldades ao serem incorporados ao mercado de trabalho
nascente, sendo que Fernandes (1978) afirma que os negros não foram integrados à sociedade
de classe nacional, mas relegados à condição de subtrabalho e à vida na periferia, distantes
de equipamentos públicos e espaços de circulação com alguma qualidade de vida.
Para Fernandes (1978), a discriminação no Brasil seria uma questão de classe social, mais
do que de raça, já que nas primeiras décadas do século 20 havia indivíduos de distintas
raças em todos os diferentes estratos sociais, ainda que em proporções discrepantes. A
divisão do trabalho, então, considerava as classes sociais, porém, os negros compunham a
maioria da população do estrato mais baixo. Assim, a sociedade brasileira continuou com a
mentalidade conservadora e escravocrata anterior, de modo que os negros, ainda que livres,
permaneceram capturados de sua condição de sujeito e não puderam se integrar, de fato,
à sociedade capitalista nascente, já que a mão de obra negra era sempre preterida frente à
europeia (FERNANDES, 1978).
Em se tratando de políticas públicas, os primeiros resultados decorreram da organização
da classe operária no Brasil, que desde as primeiras décadas do século 20 se articulou em

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sindicatos, por meio de greves e piquetes e do Partido Comunista, com vistas a conquistar
direitos sociais que se efetivaram com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em 1943.
Para além da força do operariado, apenas a conquista do voto feminino em 1932 se destaca
no período anterior ao regime militar, no qual houve refreamento de manifestações populares,
de movimentos sociais, de tentativas de organização e de crítica ao governo instituído.
No período militar, em resposta à organização popular, o governo emitiu em 1968 o Ato
Institucional nº 5, que proibia manifestações públicas e vigorou até 1979. No entanto, de
acordo com Avritzer (1997), a década de 70 foi de grande fertilidade às ações coletivas no
país, uma vez que a insatisfação com o regime militar e as condições efetivas de sobrevivência
da população culminaram na organização e manifestação de novos sujeitos políticos. Greves
operárias, associações de moradores, grupos de mulheres e ambientalistas foram, dentre
outros, exemplos de revigoramento político-associativo, assim como a Igreja Católica, por
meio de pastorais, de comunidades eclesiais de base e de centros de educação popular
relacionados ao movimento de Teologia da Libertação (SCHERER-WARREN, 2012),
Segundo Sader (1988), entre o fim da década de 1970 e o início da década de 80, ocorreu
a abertura política gradual e controlada, quando os militares buscaram manter-se no poder,
mas perderam espaço e poder político, especialmente, em decorrência da articulação e
pressão de movimentos sociais e da sociedade em geral.
O contexto de ampliação de direitos e de cidadania se materializou por meio da Constituição
Federal de 1988, internacionalmente conhecida como “Constituição cidadã” por conta de
aspectos que ampliaram os direitos dos brasileiros e os mecanismos de participação
social. Dentre os fundamentos da República brasileira, destaca-se a relevância dos aspectos
valorizados pelo regime democrático: a autoridade soberana do Estado, a ampliação efetiva
da cidadania, a valorização da dignidade humana, o reconhecimento de aspectos laborais
e econômicos, bem como o respeito à organização de grupos em partidos com diferentes
ideários políticos.

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Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/4965932115/6fa7efd328/

A Carta Magna determinou, dentre outros aspectos, a construção de uma sociedade


livre, justa e solidária, na qual fossem garantidos os direitos à vida, à liberdade, à igualdade,
à segurança e à propriedade, bem como os objetivos de erradicação da pobreza e da
marginalização, combinados coma diminuição de desigualdades sociais e regionais e, ainda,
a promoção do bem de todos, sem preconceito ou discriminação (BRASIL, 1988).
Em se tratando de direitos sociais, o artigo define um amplo conjunto de áreas de políticas
públicas, como educação, saúde, moradia, previdência social e trabalho como responsabilidades
do Estado para com os brasileiros (BRASIL, 1988). Houve, também, determinação do sufrágio
universal (com facultatividade para analfabetos, jovens entre 16 e 17 anos e idosos com 70
anos ou mais), determinação de voto secreto e direto e estabelecimento de mecanismos
de participação, como plebiscito, referendo e iniciativa popular (BRASIL, 1988). Ademais, a
Constituição extinguiu distinções quanto às diferentes ocupações e à condição urbana/rural
ao definir um conjunto de direitos dos trabalhadores.

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Diferentemente do tratamento conferido às organizações operárias no período militar, a


Carta Magna de 1988 define aspectos que permitem a livre associação profissional e sindical
(artigo 8º), o direito à realização de greves (artigo 9º) e de representação dos trabalhadores
junto aos colegiados, no caso de órgão público (artigo 10º) ou aos empregadores (artigo 11º)
(BRASIL, 1988). Já com relação à cidadania e oferta de políticas públicas, houve preocupação
com atendimento de necessidades e com a estruturação de ações que contribuíssem com
a redução de desigualdades sociais.

15.2 Desenvolvimento de políticas afirmativas no Brasil

Considerando que o texto constitucional brasileiro trata dos direitos sociais que devem
ser atendidos pelo Estado, cabem considerações de três naturezas: a primeira remete a
políticas públicas de áreas mais estruturadas; a segunda trata de políticas afirmativas; e a
terceira diz respeito aos retrocessos sofridos especialmente desde 2016.
Com relação ao primeiro aspecto, os principais destaques em termos de políticas públicas
no país são os Sistemas Únicos de Saúde (SUS) e de Assistência Social (SUAS), instituídos em
decorrência da Carta Magna de 1988 e estruturados em distintas medidas. Ambos contam
com amplos conjuntos de dispositivos legais e estruturas institucionais hierarquizadas, ainda
que o SUS esteja muito mais organizado e obtenha resultados mais expressivos do que o
SUAS, especialmente por conta da destinação compulsória de recursos públicos à área de
saúde. Ainda com relação a tais políticas estruturadas, têm-se ações relacionadas à garantia
de direitos de minorias que impactam de maneira transversal a habitação e a educação,
por exemplo.
As políticas afirmativas remetem aos direitos sociais direcionados a grupos considerados
minorias por conta do acesso a garantias constitucionais não contempladas em sua totalidade,
como mulheres, negros, indígenas, idosos, homossexuais e deficientes, por exemplo. Cabe
destacar o fortalecimento da cidadania feminina como exemplo de ação transversal que
perpassou distintas políticas, como a determinação de que a mulher seja beneficiária
preferencial do Programa Bolsa Família (2003), de que imóveis adquiridos por meio do
Programa Minha Casa, Minha Vida (2009) prioritariamente seriam registrados em nome da
mulher e a materialização da luta pela defesa da vida e combate à violência contra a mulher
por meio da Lei Maria da Penha (2006).
Ainda com relação às políticas afirmativas, cabe destacar que a despeito da persistência
da maneira como a educação básica se desenvolve no país, houve incremento na oferta de
possibilidades de acesso à população ao Ensino Superior, por meio de programas sociais que

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garantem parcelas das vagas de universidades públicas a estudantes que cursaram Ensino
Fundamental e Médio em escolas e colégios também públicos, bem como políticas de crédito
estudantil e de cotas raciais e sociais, por meio do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES)
de 2001, o Programa Universidade para Todos (PROUNI) de 2005 e o Sistema de Seleção
Unificada (SiSU) de 2012.
Ademais, merecem destaque também outras minorias que galgaram avanços em termos
de direitos conquistados, como a aprovação dos Estatutos do Idoso em 2003, da Igualdade
Racial em 2010 e da Juventude em 2013 e a decisão do Conselho Nacional de Justiça que
dispôs sobre a habilitação, a celebração de casamento civil ou de conversão de união estável
em casamento entre pessoas de mesmo sexo.
Posteriormente a esse período de expressivo avanço em termos de políticas públicas
e afirmativas entre 2002 e 2015, o país vivenciou um período de apatia em termos de
desenvolvimento social entre 2016 e 2018, em que pouco se produziu de modo geral, sem
impacto expressivo sobre as políticas públicas, em geral, e sobre aquelas afirmativas, em
específico.
O presidente eleito, em 2018, em seu primeiro ano de atuação, revogou mais de 2.000
decretos, conforme informado pela Secretaria Geral da União em 2 de janeiro de 2020, com
impactos negativos sobre espaços de participação e/ou políticas públicas, como a redução
do número e das áreas de funcionamento de conselhos de políticas públicas, incluídas
especialmente aquelas afirmativas. Até o fim do primeiro trimestre de 2020, contudo, o
Ministério Público e as instâncias do poder Judiciário barraram muitas ações negativas
ao desenvolvimento de políticas públicas no país sob o argumento de que tais retrocessos
seriam contrários à previsão constitucional de garantia de direitos sociais e de fortalecimento
da cidadania.

Isto acontece na prática

As alterações na legislação nacional acontecem com grande regularidade, uma vez que
os três Poderes podem atuar nesse sentido: o Executivo pode propor novas normas
ou alteração das vigentes, o Legislativo é responsável pela elaboração e o Judiciário
fiscaliza a aplicação das leis e a legalidade das propostas. Para manter-se atualizado
com relação à legislação vigente é pertinente manter-se atento à plataforma do Planalto.
http://www4.planalto.gov.br/legislacao/

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15.3 Participação social e desenvolvimento democrático

Dentre os avanços da Constituição de 1988, destaca-se a participação social, com ênfase


aos distintos mecanismos de envolvimento da população com a política, para além do voto,
como por meio de plebiscitos, referendos, projetos de iniciativa popular, manifestações e
de instituições participativas (BRASIL, 1988). Sobre esse último mecanismo, a participação
institucional é ampla e multifacetada, de modo que “a diversidade dos experimentos pode
ser vista nos níveis de governo em que são aplicados, nas áreas de políticas públicas e nos
contextos políticos e regionais [...]” (ALMEIDA, 2013, p. 12) e que são diversos os conceitos
que buscam expressar tal fenômeno, como de instituições participativas ou de controle
social (LÜCHMANN, 2011).

Anote isso

Os mecanismos de participação institucional representam, também, espaços para


a tomada de decisões coletivas acerca de políticas públicas de diferentes áreas e
representam uma importante alteração democrática: o Brasil passou, nas duas últimas
décadas do século 20, da condição de país com baixa propensão à participação
associativa à nação de destaque por conta de mecanismos de participação institucional
(AVRITZER, 2015).

São muitas as formas de participação institucional, como conselhos de políticas públicas,


conferências de políticas públicas, audiências públicas, orçamentos participativos, ouvidorias
e reuniões para discussões sobre Planos Diretores, por exemplo. Com relação às políticas
públicas em geral e às políticas afirmativas, de modo mais específico, cabe explorarmos os
conselhos e conferências de políticas públicas.
Os conselhos de políticas públicas são espaços organizados, nos quais são discutidos
aspectos que remetem a cada área ou setor de desenvolvimento de políticas públicas
de maneira específica. Castro (2012) define suas funções como as seguintes: formular,
acompanhar, monitorar e deliberar sobre questões relacionadas às políticas públicas.
Os conselhos existem nas esferas Municipal, Estadual e Federal, sendo obrigatórios
para algumas áreas de políticas públicas – como assistência social, saúde e direitos da
criança e do adolescente – e facultativos para as demais. O primeiro grupo está presente
em praticamente todo o território nacional, ainda que de maneira formal, uma vez que o

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recebimento de recursos do governo para o desenvolvimento de determinadas ações depende


da existência desse mecanismo. Já os conselhos das demais áreas podem se constituir
com diferentes composições, específicas para cada política ou reunindo grupos com algum
aspecto em comum.
Outra característica relevante é seu desenho institucional, para o qual não há padrão
determinado. Conforme Lüchmann, Almeida e Gimenes (2016), de acordo com a esfera de
governo e a área de política pública, há diferenças na composição (se paritária ou com maior
presença de representantes da sociedade civil ou do governo), no método de escolha dos
representantes da sociedade civil (se por eleição, indicação do setor, por entidade ou mesmo
indicação do governo), na competência (se deliberativo ou consultivo), no perfil dos membros
e no modo como os temas são discutidos (diretamente em assembleia ou, primeiramente,
entre comissões de estudos e, somente depois, entre a totalidade dos membros).
Por fim, destaque-se que a participação da sociedade ocorre de duas maneiras distintas:
a primeira diz respeito à ocupação de cadeira como membro do conselho, que cabe aos
representantes definidos conforme a legislação e, majoritariamente, recai sobre indivíduos
engajados em ações coletivas – como organizações do Terceiro Setor, movimentos sociais
ou associações – que têm direito à voz e ao voto; e o segundo corresponde à população
em geral, que pode assistir às reuniões do conselho, mas necessita de autorização para
manifestação oral (salvo exceções e conforme determinações em legislação específica).
Por sua vez, as conferências são reuniões de representantes de grupos de determinada
área de política pública, as quais têm por finalidade o “debate público sobre as relações
federativas no contexto das políticas e o estabelecimento de pactos entre representantes
de governos municipais e estaduais e o governo federal” (ROMÃO, 2014, p. 8).
Diferentemente dos conselhos, as conferências representam uma modalidade de
participação institucional surgida, ainda na década de 40, durante o governo Vargas, quando
da realização da primeira Conferência Nacional de Saúde. Até o ano de 2002, ocorreram 41
conferências no Brasil, sendo que o desenvolvimento dessa modalidade ocorreu de maneira
mais expressiva após 2002, quando foram realizadas 82 conferências entre 2003 e 2010,
nas mais diversas áreas, como assistência social, direitos humanos e saúde, por exemplo
(SOUZA et al., 2013).
De modo geral, são características das conferências a convocação pelo Poder Executivo
Federal, a participação da sociedade civil e do Estado, a realização de etapas preparatórias
nos Municípios e Estados, com eleição/escolha de representantes para “avançar” às demais
instâncias e as formulações de propostas ao longo das etapas.

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Com relação a pontos positivos, as conferências promovem a articulação federativa para


pensar políticas públicas, já que desde a esfera municipal, tem-se o objetivo da conferência
nacional. Ademais, a maioria das conferências busca a proposição de políticas públicas e
estabelece diálogos transversais, especialmente, no âmbito federal, por conta dos distintos
grupos engajados.
Já entre os pontos negativos é salutar apontar que, ainda que busquem propor políticas, como
não há obrigatoriedade de realização e determinação de recorrência formal (temporalidade),
como os conselhos, a avaliação das propostas e o acompanhamento da implementação
de políticas públicas é frágil. Por consequência, podem ocorrer dificuldades de verificação
de resultados por se tratar de discussões nacionais atreladas às demandas específicas e
locais, bem como de implementação das deliberações no nível local, dada a fragmentação
dos atores políticos envolvidos no processo.
Tomadas em conjunto, as instituições participativas representam avanço à democracia
por proporcionarem aumentos dos espaços e das possibilidades de apresentação e defesa
de demandas, bem como pela diversidade de modalidades existentes, em termos de
burocratização, desenho institucional, formas de acesso, direito de voz etc., o que permite
aos indivíduos estabelecer contato com o Estado por mecanismos diferentes. Além disso,
é benéfica ao regime democrático, também, a disseminação da participação institucional
nas três esferas de governo, em ampla gama de áreas de políticas públicas e pluralidade de
contextos socioeconômicos e políticos.
Em contrapartida, o envolvimento institucional também requer disponibilidade de recursos,
como tempo livre, dinheiro, cognição e redes de contatos. Como os dados do Projeto
Democracia Participativa (PRODEP, 2011) apontam que aqueles que participaram de conselhos,
conferências e/ou OPs atuam, politicamente, também por meio de outras atividades é possível
inferir que o modelo de repertório de ação política inclui as modalidades institucionalizadas,
o que representaria, em alguma medida, limitação do alcance dessas práticas participativas,
já que há características recorrentes entre aqueles que mais se engajam politicamente no
Brasil – homens, brancos e pessoas mais jovens têm maior chance de participar, além
de que quanto maiores o nível de escolarização, a renda e o tempo livre, maior também a
probabilidade de envolvimento (RIBEIRO; BORBA; HANSEN, 2016; CARREIRÃO et al., 2018).
Por outro lado, minorias em relação ao gênero e à etnia, com menores recursos financeiros e
nível educacional menor, têm menor propensão ao envolvimento. Ademais, carece de atenção
o risco da utilização dos mecanismos participativos institucionais como modo de captação
de votos e/ou de desenvolvimento de práticas clientelistas ou personalistas, ao passo que
perspectivas de políticas afirmativas precisam ser analisadas com atenção.

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Nesta aula, analisamos a constituição histórica das políticas públicas, aquelas de caráter
afirmativo e debatemos a relevância da participação social no contexto de desenvolvimento
dessas políticas. A despeito de retrocessos históricos e tentativas recentes de desarticulação
de espaços de discussões sobre políticas públicas, os conteúdos expostos denotam o
fortalecimento dessas políticas no Brasil, com ênfase à sua contribuição para a efetividade
do regime democrático brasileiro com relação ao atendimento de direitos sociais e à ampliação
da cidadania.

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AULA 16
PROTAGONISMO SOCIAL
NO ENFRENTAMENTO ÀS
DESIGUALDADES

A consecução de ações sociais voltadas ao atendimento dos direitos previstos no texto


constitucional pode se dar, como destacado na aula catorze, para além do Estado, ou seja,
por outros mecanismos e estratégias sociais diferentes das políticas públicas - destacadas na
aula anterior. Diante de tal contexto, esta aula é dedicada à compreensão de como a sociedade
pode se organizar para atender demandas sociais com vistas à redução de desigualdades,
promovendo, portanto, mudanças sociais com efeitos econômicos, ainda que indiretos.

16.1 Caracterização das organizações da sociedade civil no Brasil

De acordo com dados oficiais disponibilizados pelo Governo Federal, por meio do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), referentes a 2016 e publicados em 2018, haveria
820.185 OSCs em funcionamento no Brasil, desconsideradas entidades, como partidos
políticos, sindicatos, cartórios, condomínios e outras que não se enquadram na seguinte
caracterização.

a) São privadas e não estão vinculadas, jurídica ou legalmente, ao Estado;


b) Não possuem finalidades lucrativas, ou seja, não distribuem o excedente
entre proprietários ou diretores e, se houver geração de superávit, este
é aplicado em atividades-fim da organização;
c) São legalmente constituídas, ou seja, possuem personalidade jurídica
e inscrição no CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas);
d) São autoadministradas e gerenciam as suas próprias atividades de
modo autônomo;
e) São constituídas de forma voluntária por indivíduos e as atividades
que desempenham são de livre escolha por seus responsáveis (LOPEZ,
2018, p. 15-16).

Desse conjunto de entidades, são 86% de associações privadas, 12% de organizações


religiosas e 2% de fundações privadas. Essas OSCs foram formalizadas juridicamente – já que
muitas entidades funcionam informalmente, ou seja, sem registro junto ao Cadastro Nacional

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de Pessoas Jurídicas (CNPJ) – majoritariamente a partir dos anos 2000, já que 52,4% dos
registros datam do período entre 2000 e 2016. Sobre tal crescimento, cabe ressaltar que
atinge todas as diversas áreas de atuação e todas as regiões do país.
Em relação às áreas de atuação dessas OSCs, destaca-se que 41,3% atuam voltadas ao
desenvolvimento e à defesa de interesses e de direitos e 25,4% à religião, sendo que as demais
áreas de atuação concentram percentuais de organizações: 9,7% para cultura e recreação,
4,8% para educação e pesquisa, 3,3% para assistência social, 2,7% associações patronais
e profissionais, e 0,8% para saúde. Outras atividades associativas e/ou organizações, que
o estudo conduzido pelo IPEA não classificou em área específica, somam 11,8% das OSCs.

Isto está na rede

O IPEA mantém uma plataforma para cadastro de organizações da sociedade civil,


na qual é possível pesquisar informações por região, unidade da federação, município
ou por entidades em específico, pelo nome ou CNPJ. Para as organizações, há dados
sobre fundação, áreas de atuação e número de colaboradores.
https://mapaosc.ipea.gov.br/

Diante dessa caracterização, tem-se o Terceiro Setor como campo econômico de atuação
promissor para a gestão social, diante da multiplicidade de interesses, finalidades e arranjos
das organizações existentes no país, bem como de seu potencial para crescimento.

Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/39650656444/373365b73f/

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16.2 Relações do Terceiro Setor com Estado e mercado

A relação entre a atuação no interior de uma OSC e o macroambiente, em que ela se


insere, passa pelas relações estabelecidas com os demais setores da economia: o Estado
e o mercado.
No que diz respeito ao Estado, são crescentes, no Brasil, o diálogo e a possibilidade de
participação em discussões sobre políticas públicas com vistas à redução de desigualdades
sociais. Por um lado, têm-se especificadas as normas e as leis que tratam das relações
de trabalho (inclusive, o voluntariado) e institucionais (como parcerias, alianças e redes),
bem como o cadastro e o reconhecimento em áreas de políticas públicas para participação
em conselhos e conferências, bem como para o recebimento de recursos públicos (via
chamamentos e editais) e/ou destinados por meio de impostos de renda de pessoas físicas e
jurídicas, além do Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC), aprovado
por meio da Lei nº 13.019/2014. Dentre tais aspectos, destacam-se os conselhos de políticas
públicas, descritos em nossa aula anterior.
Já em relação às relações do Terceiro Setor com o mercado dizem respeito às ações de
responsabilidade social empresarial que remetem ao contexto de percepção, pelas empresas
privadas, de que o seu lucro decorreria não apenas de seus produtos de maneira direta, mas
também da imagem que constroem junto aos consumidores, o que levaria à realização de
projetos e às ações de cunho social ou socioambiental.

Isto acontece na prática

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) oferece materiais


gratuitos e cursos para empreendedores que buscam, dentre outros objetivos, conhecer
o que é e como trabalhar a responsabilidade social em seu negócio. No link a seguir,
encontra-se disponível um e-book sobre o tema.
https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/cursosonline/responsabilidade-social-
empresarial,fe34b8a6a28bb610VgnVCM1000004c00210aRCRD

De maneira direta, essas entidades com fins lucrativos podem direcionar recursos de
seu Imposto de Renda às causas e às entidades sociais para que definam a aplicação dos
recursos ou realizem parcerias em que fazem doações com fins específicos e utilizam-se da

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publicidade relacionada a tais ações. Há também a possibilidade de criação de institutos de


responsabilidade social no interior das empresas, tema que será retomado na próxima seção.

16.3 Oportunidades de atuação profissional no Terceiro Setor

Considerando as áreas de atuação pertinentes ao Terceiro Setor, não é incorreto afirmar


que profissionais com a maioria das formações podem se inserir em OSCs. Contudo, em
se tratando das discussões pertinentes à relação entre economia e sociedade é adequado
focarmos de modo mais específico no processo de gestão.
A gestão de OSCs implica no conhecimento acerca das especificidades com relação às
atividades, como planejamento, gestão de projetos, gestão de pessoas, sustentabilidade,
marketing e comunicação. Assim, cabem considerações sobre cada área no âmbito da atuação
profissional de um gestor, as quais cabem àqueles públicos, mas remetem, especialmente,
aos que atuam no Terceiro Setor.
Um gestor deve desenvolver a capacidade de promover o planejamento estratégico no
âmbito organizacional, de modo que consiga compreender o contexto em que a OSC atua
(conjuntura) para delimitar estratégias e tomar decisões em curto, médio e longo prazo
com relação às questões operacionais, burocráticas, técnicas e estratégicas que podem
até determinar a continuidade do funcionamento da entidade. Assim, o planejamento trata
da realização de análises de viabilidade das atividades, do estabelecimento de metas e de
estratégias por meio de cronogramas e de indicadores de resultados.
A gestão de projetos é atividade relevante à gestão no Terceiro Setor por conta da
necessidade de elaboração de propostas adequadas às demandas sociais e pertinentes aos
recursos disponíveis ou passíveis de serem pleiteados, por meio de chamamentos públicos
ou estabelecimento de parcerias com o setor privado. Nesse sentido, um projeto deve ser
formulado de modo a estimar investimentos e potenciais impactos (financeiros e sociais),
através de indicadores que apontem a efetividade da proposta quanto à utilização assertiva
de recursos (humanos, materiais e financeiros), ao alinhamento do projeto com a missão e
atuação da OSC e à transparência na prestação de contas da entidade, fundamental tanto
para estabelecimento de parcerias quanto para recebimento de doações de pessoas jurídicas
e físicas (incluído o voluntariado).
O voluntariado é característica expressiva do Terceiro Setor, mas parte das OSCs possui
também trabalhadores registrados, de modo que a gestão de pessoas deve lidar com as
especificidades de cada categoria, considerando aspectos jurídicos para cada grupo e ainda
que, por um lado, os voluntários precisem conhecer a missão da organização e ser motivados

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à participação; por outro lado, os funcionários necessitam ser capacitados para atuar de
maneira assertiva no âmbito da OSC. Um desafio à gestão de pessoas é o seu diferencial, não
raras vezes, de trabalhar com ambos os grupos na mesma ação de maneira complementar,
colaborativa e produtiva, com atenção aos eventuais conflitos e às dissonâncias que precisam
ser sanadas.
No que tange à sustentabilidade, uma OSC deve, obrigatoriamente, assumir um papel
relacionado às práticas atreladas ao desenvolvimento sustentável e/ou à responsabilidade
social, consideradas as múltiplas dimensões de sua atuação nos âmbitos social, econômico,
ambiental, cultural e, até mesmo, político e religioso, por vezes. Para tanto, o gestor deve
conhecer ferramentas, legislações e certificações, bem como compreender ou buscar apoio
para a consecução de uma gestão transparente quanto à utilização de recursos e à oferta
de balanço social à comunidade.
O marketing e a comunicação são elementos importantes à gestão social, pois permitem
a transmissão e o compartilhamento de informações, como a missão da OSC, as atividades
que desenvolvem as ações que realiza para captação de recursos e as suas necessidades.
Assim, trata-se de atividades relacionadas às demais destacadas nesta seção, uma vez que
o marketing social e a comunicação social no Terceiro Setor implicam no diálogo com os
diversos stakeholders com os quais se estabelecem relações.
Em se tratando do mercado de trabalho, os registros da Relação Anual de Informações
Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego (RAIS/MTE), divulgados no estudo do IPEA,
referentes ao cômputo de 2015, apontaram 2.904.888 trabalhadores registrados e remunerados
pelas organizações, concentrados especialmente na região Sudeste (58,5%). Quanto às áreas
de ocupação, 25,4% atuam em entidades da saúde e 19% em educação e pesquisa, a despeito
de serem áreas com baixos percentuais de organizações.
Essa distribuição desigual entre números de organizações e empregados formais indica,
ainda, a existência de dependência do voluntariado na maioria das OSCs no Brasil, uma vez
que 83% não apresentaram nenhum registro de vínculo empregatício, 7% teriam um ou dois
funcionários e apenas 10% teriam três trabalhadores registrados ou mais. Assim, ainda que
existam no país grandes organizações com número expressivo de colaboradores remunerados,
a realidade nacional revela um campo a ser explorado em termos de profissionalização e
alteração da cultura do voluntariado à prática profissional.
A atuação profissional de um gestor no Terceiro Setor pode extrapolar as OSCs,
individualmente, de modo a constituir agrupamentos que permitam a realização de atividades
conjuntas, como realização de campanhas para arrecadação de fundos e outras doações

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para conscientização da população e para capacitação do pessoal envolvido nas atividades.


É o caso, por exemplo, da Associação Maringaense das Organizações da Sociedade Civil.
Outra possibilidade é o desenvolvimento de negócios sociais, que remetem à mesma causa
do empreendedorismo social (impactar a sociedade de modo a promover transformações),
mas o fazem por meio da geração de receitas que permita cobrir custos, “devolver” eventuais
investimentos e investir o excedente em ações sociais e/ou ambientais. Conforme Yunus
(2010), são como empresas, mas têm como missão solucionar problemas sociais de modo
autossustentável e sem distribuição de dividendos.
Contudo, para além das próprias OSCs outros espaços e outras oportunidades de inserção
profissional se colocam aos gestores sociais, que podem ainda se ocupar de atividades
autônomas e/ou vinculadas aos setores público e privado. Em se tratando da atuação
como autônomo, um gestor social pode atuar como prestador de serviços ou consultor
para governos, empresas privadas ou mesmo organizações do Terceiro Setor em diversas
áreas, com destaque à elaboração de projetos sociais e, para o mercado e as OSCs, também
buscando a captação de recursos por meio de chamamentos públicos.
Em diálogo com o setor privado, conforme destacado anteriormente há atividades, setores
e até institutos de responsabilidade social, nos quais um gestor, que conheça o setor público
e as organizações do Terceiro Setor, pode se inserir profissionalmente, uma vez que se trata
de espaços que buscam promover mudanças sociais efetivas em comunidades e/ou para
grupos específicos, pautados na promoção de ações e no investimento de recursos, mediante
(ainda que não de modo explícito) o retorno que tal atuação gera à “imagem” empresarial.
No setor público é possível ainda a inserção de um gestor social em projetos específicos
ou na condição de assessor, consultor ou outro cargo/função passível de nomeação que
permita a atuação relacionada à promoção, ao monitoramento e/ou à avaliação de projetos,
programas, ações e políticas públicas com finalidade social, tanto aquelas de responsabilidade
exclusiva do Estado quanto financiadas, parceirizadas ou “terceirizadas” a entes privados do
mercado ou do Terceiro Setor.
Diante do exposto, concluímos esta aula afirmando que a despeito das dificuldades que
o Terceiro Setor enfrenta até a atualidade em relação à dependência do voluntariado e à
baixa profissionalização é perceptível o fortalecimento das OSCs no Brasil, com ênfase às
interfaces de diálogo que têm estabelecido entre si e com os demais setores econômicos,
o que denota a relevância da gestão social, pública e no Terceiro Setor, no contexto de
enfrentamento de desigualdades sociais com vistas ao atendimento de direitos sociais e à
ampliação da cidadania.

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CONCLUSÃO

Dezesseis aulas, diversos temas, teorias, conceitos e chaves explicativas... enfim, chegamos
à conclusão de nosso trajeto formativo nesta disciplina dedicada à compreensão acerca das
relações existentes entre economia e sociedade!
Na introdução, destaquei que abordaríamos essa relação sob a perspectiva de sua formação
acadêmica e profissional, mas que nosso conteúdo reflete sobremaneira em sua vida como
cidadão, então espero que o percurso percorrido tenha lhe trazido, também, insights nesse
sentido.
Nesta conclusão, destaco especialmente os principais pontos de atenção sobre o conteúdo
tratado, de modo geral ou mesmo superficial, com o intuito de sinalizar a você em que cada
parte de nosso conteúdo objetivou contribuir com sua formação profissional. Assim, essa
conclusão é, também, um checklist sobre o conhecimento conformado ao longo dessas
dezesseis aulas.
Na introdução, informei que a disciplina possuía quatro partes, sendo a primeira composta
exclusivamente pela aula um, na qual a abordagem histórica da Revolução Industrial, com
ênfase em seu impacto sobre a divisão social do trabalho, buscou demonstrar tanto a
manutenção e fortalecimento de um sistema de produção cada vez mais pela especialização
das atividades realizadas quanto a maneira como o trabalho com remuneração mínima para
subsistência gera insatisfação entre os trabalhadores em perspectiva histórica longitudinal.
No que tange à relação entre microeconomia e política, a aula dois oferece importantes
conceitos sobre o que é economia, seus princípios e sua relação com o capitalismo, ao passo
que as aulas três e quatro focaram nos fundamentos da microeconomia, importantes para
compreendermos como as análises sobre a vida em sociedade são permeadas pelas decisões
daqueles que detêm o poder econômico e político. Daí a pertinência de compreendermos a
importância da política no contexto das Ciências Sociais e de como os Estados nacionais
operam, com foco na preocupação socioeconômica de ampliação da democracia sob a
perspectiva multicultural - o que tratamos nas aulas cinco a sete.
A outra grande vertente teórica da Ciência Econômica, a macroeconomia, foi explorada
nas aulas oito e nove, em que tratamos de sua conceituação, das três principais áreas de
desenvolvimento de suas políticas econômicas - monetária, fiscal e cambial - e do comércio
internacional sob a perspectiva econômica. Na aula dez, estabelecemos um diálogo entre

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Ciência Econômica e Ciências Sociais na abordagem sobre a globalização, ao passo que


entre as aulas onze e treze nosso foco recaiu sobre os efeitos desse fenômeno sobre a vida
em redes e seus desdobramentos no âmbito social.
Por fim, exploramos o “fazer” existente entre a economia e a sociedade com relação ao
desenvolvimento de ações que contribuam ao desenvolvimento econômico adequado no
contexto político democrático. Para tanto, trabalhamos os temas de gestão pública e social e
exploramos elementos como a consecução de uma política pública e o que são organizações
da sociedade civil, bem como oferecemos subsídios à sua interpretação crítica sobre o
funcionamento das políticas públicas e a atuação da sociedade por meio do Terceiro Setor,
com vistas à possibilidade de redução de desigualdades econômicas e sociais no Brasil.
Agora, concluída essa exposição, você tem disponível um arcabouço teórico, conceitual e
analítico capaz de lhe permitir a formulação de análises e de críticas acerca do desenvolvimento
de aspectos amplos das relações entre economia e sociedade. Ademais, o conjunto de
elementos abordados oferece subsídios a diversas outras disciplinas em sua formação nesta
graduação, uma vez que os temas tratados sobre microeconomia, política e democracia,
macroeconomia, globalização e as gestões pública e social, permeiam múltiplas temáticas,
seja de modo direto e objetivo ou de forma transversal.

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ELEMENTOS COMPLEMENTARES

LIVRO

Título: O livro da economia


Autor: Diversos [sem indicação]
Editora: Globo
Sinopse: Escrito por um grupo de economistas, professores, jornalistas e analistas
financeiros, apresenta as bases do pensamento que pautou a evolução e as diversas teorias
da economia em todo o mundo, com abordagem de temas como o dinheiro, o comércio,
a especulação, as crises econômicas e seus desdobramentos e as teorias econômicas. O
livro oferece um glossário de termos específicos e apêndice com informações sobre outros
economistas e suas contribuições ao estudo dessa área do conhecimento.

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FILME

Título: A última hora


Ano: 2008
Sinopse: Documentário sobre desastres naturais e outros efeitos da ação humana sobre
o planeta, com vistas à provocação de nossa reflexão acerca dos caminhos da produção
econômica e de como a vida social no contexto global se desenvolve nesse início de século
XXI.

WEB

O canal de vídeos “Xadrez Verbal” conta com diversas playlists sobre diversos temas de
caráter coletivo - dos sociais aos culturais -e também sobre história, economia e política
brasileira e internacional.
<https://www.youtube.com/user/xadrezverbal>

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