Economia e Sociedade
Economia e Sociedade
Economia e Sociedade
SOCIEDADE
PROF. DR. ÉDER RODRIGO GIMENES
Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior
“
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emissão de conceitos.
ECONOMIA E SOCIEDADE
PROF. DR. ÉDER RODRIGO GIMENES
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
estruturas de mercado) e sua relação com as Ciências Sociais, área do conhecimento voltada
à compreensão da sociedade em seu funcionamento e conformação; e, de modo mais
específico, com a política no contexto democrático.
Já no bloco de aulas oito a treze, a abordagem adotada parte dos conceitos de natureza
macroeconômica relacionados às políticas monetária, fiscal e cambial, implementadas pelo
governo, e perpassa as discussões sobre comércio internacional, globalização e aspectos
da vida em rede. Concluímos esse conjunto de aulas tratando de temas de interesse social
que tem se destacado nos estudos e reflexões sobre o binômio economia-sociedade.
A última parte desta disciplina reúne as aulas catorze a dezesseis, nas quais são discutidos
os caminhos do desenvolvimento das políticas públicas e sociais no Brasil, com vistas a
evidenciar aspectos da conformação das relações entre economia e sociedade que não
foram tratados de modo específico nas aulas anteriores de nossa disciplina.
Isto posto, esse bloco de aulas tem o objetivo de oferecer um panorama contemporâneo
das relações entre Estado e sociedade para consecução de políticas públicas, bem como
diagnósticos recentes tanto sobre o desenvolvimento das políticas públicas e da participação
social no Brasil quanto da perspectiva de mobilização social para o enfrentamento de
desigualdades sociais e econômicas.
Diante desse conjunto de aulas e conteúdos, ao fim desta disciplina teremos conformado o
conhecimento acerca da maneira como a economia e a sociedade influenciam-se mutuamente
ao longo da História e na atualidade, tanto em caráter global quanto no plano nacional, de
modo que você terá subsídios para interpretar informações e formular raciocínios críticos
sobre temas correlatos tanto a aspectos de ordem microeconômica e relacionados à política
quanto macroeconômicos e relativos à globalização, bem como sobre as nuances da gestão
pública e social no país.
AULA 1
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Isso significa que, de saída, países com distintos históricos de formação ao longo do tempo
vivenciaram a possibilidade de evolução dos processos produtivos de modos distintos, o
que explica, em alguma medida, a força de grupos de Estados com grande prestígio e poder
econômico e político, ao passo que outros tantos passaram por processos de industrialização
tardia e, não raramente, persistem como fornecedores de matérias-primas e produtos agrícolas
às grandes potências econômicas mundiais.
O segundo desdobramento relevante diz respeito à organização dos trabalhadores. A
maneira como a vida nas cidades se impôs à massa operária - com grandes turnos de
trabalho, pouco descanso, incorporação de mulheres e crianças à produção, ausência de
direitos e baixa remuneração, por exemplo, colocou-lhes na condição de manutenção de
condições para sobrevivência, de modo restrito.
Ademais, ainda relacionados ao trabalho, para além da questão da mão de obra operária,
destacamos que a organização dos trabalhadores deu-se em virtude da divisão e da
especialização das atividades - que exploraremos na próxima seção desta aula -, o que
atrelou-se a aspectos como redução da manufaturas por sua substituição pela maquinofatura,
formação de uma elite industrial com concentração de poder econômico e político pelos
burgueses e aumento da produção.
A elevação da oferta decorrente da implementação de linhas de produção, com consequente
ampliação dos ganhos dos burgueses e manutenção dos rendimentos dos trabalhadores
combinou-se com as condições de vida e trabalho descritos dois parágrafos acima, gerando
animosidade dos operários com relação à classe industrial, de modo que ao operariado
coube sua organização para buscar por melhores condições de trabalho e de vida, por meio
da criação de sindicatos.
Por fim, cabe destacar outros efeitos da Revolução Industrial no âmbito da organização
econômica da vida social: o desenvolvimento do comércio e da concorrência por conta
da ampliação das tecnologias de produção promoveu alterações de ordem econômica na
demanda e oferta de produtos e serviços no mercado; a exploração de recursos naturais
tornou-se expressiva e preocupante; houve desenvolvimento desigual de cidades e sua
organização em centros de produção e segregação; e a globalização de instaurou em âmbitos
diversos da vida social. Todos esses aspectos serão abordados em distintos momentos de
nossas aulas posteriores.
Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/6073219360/ed2a67282d/
O que essa divisão significa? Conforme Marx (1983), o valor recebido pelos operários
como salário diria respeito apenas ao montante de recursos financeiros que lhes garantisse
condições mínimas de subsistência, como um teto para dormir e alimentação para repor as
energias, ou seja, o salário corresponderia ao suficiente para que o trabalhador mantivesse
sua força para desempenhar sua função. Por outro lado, a segunda parte da jornada de
trabalho, em que o operário trabalha para além do que receberá como remuneração, não
representa valor algum a ele, sendo chamado tempo de trabalho excedente. A mais valia
corresponderia à produção ou ao trabalho realizado pelo operário em seu tempo excedente
de atividade, ou seja, a mais valia corresponderia à diferença entre o quanto o trabalhador
produz em termos de mercadorias e o quanto recebe por seu trabalho.
Em virtude da busca por geração cada vez maior de tempo de trabalho excedente em
relação à remuneração, os empregadores passaram a buscar a extensão das jornadas de
trabalho ao máximo possível, ao que enfrentaram limites de duas naturezas: a necessidade
física de descanso e reposição de energias e a necessidade moral de ocupação com questões
espirituais e sociais.
Essas condições trouxeram diversos impactos à sociedade: ausência de preocupação
com educação e desenvolvimento intelectual, exaustão dos trabalhadores e redução da mão
de obra produtiva ao longo das faixas etárias, ampliação dos turnos de funcionamento das
fábricas e indústrias com incorporação de mulheres e até de crianças e a especialização
das atividades laborais (BRESCIANI, 1986).
Esse último aspecto tem, cada vez mais, definido os caminhos do funcionamento de nossa
sociedade por conta da relevância do trabalho no cotidiano. No contexto da Revolução Industrial
manifestou-se a preocupação em otimizar os processos produtivos com a instalação de linhas
de produção, ou seja, delimitar a função ou atividade que cada trabalhador realizaria para que
se tornasse o mais ágil e eficiente naquela tarefa, de modo que, ao fim do processo, cada
trabalhador teria desempenhado uma função em específico, seja a separação de insumos,
sua manipulação ou a montagem de partes ou mesmo um produto todo.
Sob a perspectiva da burguesia essa especialização foi benéfica por tornar mais ágil o
processo de produção e também por permitir a substituição mais precisa de trabalhadores
que não desempenhassem a contento sua função. Contudo, para os operários tratou-se
de um processo desmotivador, pois já não tinham mais noção daquilo que produziam, de
modo que o sentimento de pertença com relação à produção deixou de fazer sentido e eles
tornaram-se cada vez menos conhecedores sobre o trabalho como um todo.
Assim, os operários foram, ao mesmo tempo, se especializando em determinada tarefa
e perdendo a dimensão do processo como um todo, tendo reduzida sua racionalidade com
relação ao trabalho e tornando-se, em alguma medida, reféns de seu desempenho por conta
da especificidade da tarefa que desempenhavam.
Anote isso
Esta primeira aula teve como objetivo expor aspectos pertinentes ao maior evento de
ordem econômica e social, ao mesmo tempo, ocorrido na história da humanidade, de modo
a evidenciar seus desdobramentos à maneira como as sociedades contemporâneas se
organizam e, portanto, são definidas relações pertinentes ao debate empreendido em toda
a nossa disciplina, entre economia e sociedade.
AULA 2
CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE
ECONOMIA
O primeiro termo que compõe o título de nossa disciplina, economia, é nosso primeiro
foco de discussões. Nesse sentido, conhecidas as bases da Revolução Industrial passamos
nesta aula ao debate em torno do conceito e dos princípios desse campo do conhecimento
científico, a Ciência Econômica. Ademais, discutimos como essa área trata de questões
pertinentes à vida em sociedade, como ênfase ao capitalismo e aos processos produtivos.
Cada um de nós, baseados no senso comum, tem uma noção do que seja economia, já
que cotidianamente pensamos ou mesmo falamos algo como “preciso economizar”, certo?
Esse princípio de associar economia com redução de despesas ou provisionamento de
recursos não é incorreto, ainda que não contemple com exatidão o campo do conhecimento
das Ciências Econômicas em sua complexidade.
A palavra economia, aqui desconsiderando os aspectos científicos de construção do
conhecimento - sobre os quais tratamos nas aulas 2 e 3 ao abordarmos conceitos relacionados
às áreas de micro e macroeconomia - de etimologia grega e significa administração da casa,
pois decorre da junção entre oikós e nomos, termos que significam casa e lei ou norma.
No âmbito doméstico, portanto, trata-se da alocação dos recursos disponíveis para sanar
as despesas existentes, considerando as possibilidades de aplicações de excedentes ou nova
destinação dos recursos (como poupança, reforma ou viagens, por exemplo) ou ainda de
busca por mais recursos quando “a conta não fecha” (casos de empréstimos, consignados,
penhora ou venda de bens).
Se transpusermos a administração dos recursos domésticos para os entes públicos (gestão
do Estado) ou empresas privadas, devemos seguir a mesma perspectiva econômica: há
necessidades a serem supridas, recursos disponíveis e despesas às necessidades relacionadas
e cabe ao ente responsável sua administração.
Conforme autores como Mendes (2009) e Passos e Nogami (2012), a economia trataria da
alocação de recursos escassos (finitos, portanto) para a produção, realização ou consecução
de bens e/ou serviços que atendam as necessidades humanas (ilimitadas ou infinitas).
Grupo Princípio
Como as pessoas tomam decisões 1 — As pessoas enfrentam trade-offs
2 — O custo de algo é o que você desiste
para obtê-lo
3 — Pessoas racionais pensam na margem
4 — Pessoas reagem a incentivos
Quadro 1 - Princípios de economia. Fonte: elaborado pelo autor, baseado em Mankiw (2012).
Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/6567669/bfdfa17833/
Característica Descrição
Propriedade privada Concentração de fatores de produção, bens
de consumo e dinheiro entre grupos, sem
ampla circulação à população
Sistema de preços Regulação dos processos de produção com
relação à quantidade e distribuição de bens
e serviços
Lucro Geração de recursos excedentes na relação
entre receita total e custo total de produção
Competição Existência de concorrência entre proprietários
e/ou prestadores de bens e serviços
Governo Atuação limitada à fiscalização para garantia
de aplicação da legislação e competição
Quadro 2 - Características do capitalismo. Fonte: elaborado pelo autor, baseado em Mendes (2009).
Fator Descrição
Recursos naturais Bens econômicos utilizados na produção,
obtidos da natureza, como solo, minerais,
água, fontes de energia, fauna e flora
Mão-de-obra Atividade humana, física ou mental, utilizada
para a produção de bens ou a prestação de
serviços
Capital Bens materiais utilizados nos processos
produtivos, como edificações, maquinários
e demais instalações e equipamentos
Quadro 3 - Fatores de produção. Fonte: elaborado pelo autor, baseado em Mendes (2009).
Em outras palavras, significa que num sistema capitalista é necessário escolher entre que
produtos ou serviços oferecer diante da escassez de recursos, decidir sobre como aplicar
os recursos para a obtenção de determinados bens e/ou serviços e conhecer o público a
quem se destina tal produção, a fim de saber se terão condições de pagar pelo que lhes é
oferecido.
Conforme o mesmo autor, as respostas a essas perguntas determinam em que setor da
economia ou atividade de produção um bem ou serviço se enquadra, de modo que há três
possibilidades: as atividades ou setores primário, secundário e terciário.
São atividades primárias aquelas que exigem menor utilização de tecnologias, relacionadas
majoritariamente ao campo ou a atividades tradicionais rurais, como agricultura, pecuária
e extração vegetal. As atividades secundárias tratam-se das indústrias relacionadas à
estrutura de funcionamento das sociedades com relação à produção, como extração mineral,
construção, alimentos processados, vestuário, bebidas, móveis e redes de telecomunicações
e transportes. Por fim, as atividades terciárias dizem respeito ao comércio (atacadista e
varejista) e à prestação de serviços de toda natureza, como transportes, bancos, habitacionais,
de saúde, educação e serviços públicos, por exemplo.
Nesta aula, você foi apresentado aos elementos básicos que conformam a noção de
economia. Na primeira seção, ao tratarmos de conceito e princípios econômicos, a expectativa
é de que você tenha percebido o quanto esse campo do conhecimento encontra-se relacionado
ao nosso cotidiano. Já com relação à segunda seção esperamos que tenha percebido como
elementos de nossas relações financeiras compõem estruturas de funcionamento do sistema
capitalista, com impacto em nossas vidas individuais e em coletividade.
AULA 3
MICROECONOMIA, DEMANDA E
OFERTA
Após tomarmos contato com as bases da Ciência Econômica em nossa aula passada,
podemos avançar para compreendermos um dos campos de atuação da economia pautada
pela maneira como a mesma influencia e é influenciada pelos indivíduos, tomados como
consumidores e como geradores de recursos, simultaneamente. Assim, na terceira e quarta
aulas de nossa disciplina trataremos da microeconomia, de modo que, nesta aula, nosso
foco recai sobre dois importantes conceitos microeconômicos: demanda e oferta.
Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/5141329292/b95301ccbb/
3.1 Demanda
no dia a dia, afinal quem nunca ouviu falar sobre “a lei da oferta e da procura” ou ouviu
comentários do tipo “o preço subiu porque está em falta no mercado” ou ainda “tem muita
gente procurando, aí sobe mesmo o preço”?
Pois bem, essas afirmações não estão erradas, ainda que não sejam embasadas por
conceitos sobre o funcionamento das relações econômicas. Isso porque alguns dos principais
elementos da microeconomia dizem respeito às análises relacionadas à existência de demanda,
à produção de bens e serviços e sua comercialização.
De modo geral, a microeconomia é o ramo das Ciências Econômicas que se dedica a
compreender o funcionamento do mercado de produtos e serviços, focado em aspectos
teóricos relacionados ao consumo e aos consumidores, à demanda e oferta, à produção e
às estruturas de mercado (ROSSETTI, 2008; VICECONTI; NEVES, 2010).
Considerando que esta disciplina aborda questões de natureza econômica sob a perspectiva
de sua relação com a vida em sociedade, de maneira ampla, nesta seção discorremos sobre
os conceitos que permeiam as teorias de demanda e de oferta e como estas se relacionam
na busca pelo equilíbrio de mercado.
A demanda diz respeito à escolha dos consumidores por determinado produto ou serviço e
busca oferecer subsídios para compreendermos porque alguém paga por algo em detrimento
de outras opções. Nesse sentido, Passos e Nogami (2012) destacam que a demanda diz
respeito à vontade do consumidor, aquilo que ele deseja adquirir, de modo que se configura
como intenção de compra.
Nesse sentido, ainda para ser considerada como demanda, a intenção de adquirir um bem
ou serviço deve estar atrelada à capacidade de pagamento do consumidor e à sua percepção
sobre a utilidade daquilo que pretende comprar, num determinado espaço temporal. Em outras
palavras, os “sonhos de consumo” sem recursos disponíveis mesmo que para planejamento
futuro não são considerados como demandas de mercado, assim como a noção do conceito
em discussão é perpassada ainda pelo modo como o consumidor percebe que a utilização
de determinado produto ou serviço lhe trará alguma satisfação.
Assim, a demanda tem natureza dinâmica, uma vez que diversos fatores macroeconômicos
- como discutiremos na próxima aula e ao abordarmos futuramente questões pertinentes à
globalização - estão associados à decisão do consumidor.
Por enquanto voltemos ao nosso cotidiano. O valor do salário mínimo, a taxa de inflação,
os serviços públicos disponíveis, a complexidade de determinados serviços e a tecnologia
empregada em certos produtos são alguns dos aspectos que “pesam” na decisão do
consumidor quando pensa em como investir seus recursos na aquisição de um bem ou
serviço.
Ainda, segundo Passos e Nogami (2012), são muitos os aspectos que influenciam a
composição da demanda, dentre os quais destaco a seguir alguns que são pertinentes à
nossa discussão - lembrando que esta disciplina tem caráter formativo amplo e que, portanto,
não objetiva aprofundar-se em conceitos ou análises das teorias econômicas. Atentemo-nos
aos seguintes fatores: renda, os preços dos bens e serviços complementares e substitutos,
a propaganda, os hábitos e costumes e sazonalidades.
Com relação à renda, principal fator a influenciar a demanda, trata-se da maneira como a
oscilação do rendimento individual influencia o desejo por bens e serviços, sendo que, para
além das situações em que o aumento da renda gera elevação da demanda e a redução
da renda diminui a demanda, deve se considerar ainda que existe a demanda saciada
(independentemente de oscilações de renda) por especificidades daquilo que é comercializado.
Por exemplo, podemos comprar mais ou menos carne a depender do preço e de quanto
dispomos de recursos a cada semana ou mês, ao passo que a compra de uma geladeira
ou sofá não tende a se repetir no curto prazo (em condições normais).
Em se tratando dos preços dos bens e serviços complementares, há bens e serviços cujo
consumo ou aquisição são complementares a outros, de modo que oscilações no preço ou
na percepção de utilidade de um pode influenciar o desejo pela aquisição do outro. Como
exemplos, podemos mencionar café e açúcar como produtos para consumo ou a relação
bem-serviço entre compra de aparelhos condicionadores de ar e sua instalação.
Anote isso
Por sua vez, os preços de bens e serviços substitutos referem-se àqueles que podemos
selecionar pelo que pagarmos, obtendo resultados parecidos, em alguma medida, com relação
ao que recebemos. Nesse sentido, o principal exemplo de que dispomos em nossa sociedade
3.2 Oferta
É comum que supermercados façam propagandas com suas ofertas na semana ou, ao
menos, aos fins de semana. Você já reparou que muitas vezes encontramos produtos
semelhantes ou até mesmo os mesmos itens em oferta em diferentes estabelecimentos?
Isso acontece quando o fornecedor repassa seus produtos a preços menores, geralmente
buscando novos consumidores que ainda não conhecem o produto ou acham-no caro
em comparação com outros. Assim, trata-se de estratégia para atrair consumidores,
assim como divulgar listas de ofertas é uma tentativa dos supermercados para atrair
consumidores interessados em adquirir aquilo que foi anunciado com preço menor do
que na concorrência, sendo que essas pessoas costumeiramente acabam comprando
outros itens com a impressão de estarem economizando.
Por fim, o último fator que influencia a oferta de bens e serviços é, assim como ocorre no
caso da demanda, a questão da sazonalidade, a qual também pode se manifestar por conta
de condições climáticas, mas tende a sofrer impacto de aspectos econômicos internacionais
em muitos casos. Recentemente, vivenciamos no Brasil diversos exemplos de aspectos
sazonais que impactam a oferta de produtos - e, consequentemente, seu preço - no caso
dos tomates, do feijão, do gás de cozinha e de eletroeletrônicos importados, por conta da
desvalorização de nossa moeda em relação ao dólar.
Nesta aula, discorremos sobre demanda e oferta dois conceitos centrais à área da
microeconomia e, por conseguinte, à interpretação de muitos aspectos compreendidos na
vida em sociedade, já que permeiam as relações de consumo e suas nuances degeneradas,
o consumismo e o fetiche da mercadoria. Contudo, apesar de tratados em separado aqui,
os conceitos de demanda e oferta operam intimamente relacionados, como discutiremos
em nossa próxima aula.
AULA 4
MICROECONOMIA E O
FUNCIONAMENTO DO MERCADO
Ainda que expostos de maneira separada na aula anterior, demanda e oferta são aspectos
interligados no funcionamento da economia e, portanto, é necessário considerar como se
dá sua relação para compreendermos seu impacto sobre a vida em sociedade. Assim, a
realidade econômica é de constante interpenetração entre demandas dos consumidores e
ofertas das empresas e prestadores de serviços, sendo que as sinalizações de um grupo
influenciam as ações futuras do outro.
Podemos pensar essa relação olhando para o mercado de ações. Sabemos que quando é
anunciado que as ações de determinada empresa estão “em alta”, ou seja, rendendo dividendos
por sua valorização, a tendência é de que mais pessoas busquem comprar aquelas ações
e, muito rapidamente, é elevado o valor de cada ação, de modo que tanto os consumidores
quanto os gestores responsáveis pelas ações agem buscando maximizar seus rendimentos.
Mas, para trazermos à discussão para uma realidade mais próxima do dia a dia do cidadão
comum - reconhecendo a complexidade do mercado de ações - podemos mencionar como
a relação entre demanda e oferta alterou sobremaneira os preços de imóveis no Brasil: em
meados dos anos 2000 foi criado pelo Governo Federal brasileiro o Programa Minha Casa,
Minha Vida (PMCMV) para financiamento de habitações populares à parcela dos cidadãos
com renda baixa e outros critérios relacionados à política pública de assistência social. A
implementação do programa fez com que diversos loteamentos e construtoras alterassem
o preço médio de venda de seus terrenos e imóveis para adequá-los às faixas contempladas
pelo PMCMV, sendo que relatórios das unidades regionais da rede Observatório das Metrópoles
identificou elevação dos preços em muitos municípios (para chegar ao limite financiável) e,
em combinação, a delimitação de locais em áreas periféricas dos municípios para construção
das unidades habitacionais, o que contribuiria à segregação espacial dos beneficiários da
política pública (GIMENES; ARAÚJO, 2011).
Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/5569528073/8704a7648e/
Para Mendes (2009), todos os elementos que influenciam tanto a demanda quanto a oferta
concorrem simultaneamente para a existência de um equilíbrio que seria o funcionamento do
mercado de modo que haja diferentes grupos de consumidores e de fornecedores, motivados
por distintas demandas e ofertas, onde a relação entre possibilidade de consumo e garantia
de receita sejam existentes.
Para o autor, esse equilíbrio depende da estrutura de competição no mercado - sobre o
que trataremos na próxima seção desta aula - e da maneira como o poder público intervém
no funcionamento da economia. Sobre o segundo aspecto, destaco que o governo pode
atuar de modo a fixar preços mínimos ou máximos, além da concessão de subsídios
(anteriormente expostos) e do congelamento ou tabelamento de preços, prática recorrente
no país especialmente entre meados das décadas de 1980 e início dos anos 1990 por conta
da elevada taxa de inflação.
Sobre a fixação de preços, a definição de limites visa oferecer garantias mínimas, ou seja,
defender um dos grupos: no caso da determinação de preços mínimos, o intuito é garantir
que os produtores tenham garantidos recursos para custear suas atividades; quando se trata
da fixação de preços máximos, a preocupação é com os consumidores, estabelecendo um
limite para que o ganho de capital não sobrepuje a capacidade de compra dos indivíduos
que necessitam de algo.
Na próxima seção, ao tratarmos da questão da competição no mercado, a intervenção do
governo na fixação de preços será retomada como ilustração das possibilidades de arranjos
comerciais.
pelas empresas e sujeitos à qualidade dos produtos que oferecem. Em outras palavras, a
concentração do mercado de determinado bem ou serviço é prejudicial aos consumidores.
Com relação ao grau de diferenciação do produto, a heterogeneidade daquilo que é ofertado
ao consumidor interfere diretamente em seu preço, de modo que produtos com qualidade
superior aos seus concorrentes diretos tendem a ser vendidos com maior preço. Assim,
para um mercado competitivo seria interessante a existência de múltiplas possibilidades de
escolhas aos consumidores, de modo que os preços de venda fossem regulados de maneira
mais equitativa.
Esses conceitos lhe parecem distantes ou próximos, tangíveis ou abstratos? Pois bem, que
tal pensarmos em nossa lista de compras quando vamos ao supermercado ou à maneira
como costumeiramente a maioria de nós se refere a determinados produtos? Como você
anota ou menciona as lâminas de barbear, o sabão em pó, a esponja de lã de aço, o creme
de avelãs?
Não se trata de julgar, aqui, quem anota em sua lista ou fala Gilette, Omo, Bombril ou
Nutella, considerando a pergunta acima e as respectivas menções mais recorrentes, mas de
demonstrar como, em nosso cotidiano, tomamos como natural que certos produtos sejam
tratados como “o” item e não como uma possibilidade ou marca. Nesses quatro casos
utilizados como exemplos, se trata, em alguma medida, de concentração de mercado e de
diferenciação do produto.
O terceiro item caracterizador de uma estrutura de mercado diz respeito à existência de
barreiras ao ingresso de novos players, o que implica considerar as dificuldades que novos
fornecedores enfrentam para disputar a comercialização de bens e serviços, majoritariamente
relacionados aos seus limites em termos de escala de produção - tecnologia, mão de obra
especializada e qualidade dos insumos, por exemplo.
Conforme Mendes (2009), diante dessas características é possível delimitar quatro cenários
de estruturas de mercados, conforme explicados no quadro a seguir, disposto do modelo
mais competitivo ao menos concorrencial e, portanto, menos favorável ao consumidor.
Estrutura Descrição
Concorrência Dificilmente encontrada empiricamente, remete à existência de grande
perfeita número de fornecedores, oferta de produtos e serviços homogêneos, sem
barreiras à entrada de concorrentes no mercado e com livre determinação
de preços, onde os consumidores fariam suas escolhas pelos produtos
considerando seu custo e não haveria necessidade de intervenções do
governo.
Quadro 4 - Características das estruturas de mercado. Fonte: elaborado pelo autor, baseado em Mendes (2009).
AULA 5
AS CIÊNCIAS SOCIAIS E A VIDA EM
SOCIEDADE
Uma vez conhecidos os elementos estruturantes do primeiro termo que compõe o nome
desta disciplina, a economia, podemos avançar à compreensão de aspectos pertinentes
ao segundo termo, a sociedade. Para tanto, esta e nossas próximas duas aulas tratam de
conteúdos relacionados ao campo do conhecimento que tem como foco o estudo da vida
em sociedade: as Ciências Sociais. Nesse sentido, nesta aula são apresentados aspectos
pertinentes à origem e definição das Ciências Sociais.
De modo geral, a vida em sociedade se caracteriza por conjuntos de ações que podem
ser individuais ou coletivas, cujos reflexos ou resultados também ocorrem nessas duas
dimensões, seja de maneira combinada ou isolada. É fato, ainda que parcela expressiva da
população não perceba, que a esmagadora maioria dessas ações que podem nos parecer
“normais” não são naturais, mas construções sociais que, com o passar do tempo e/ou
utilização de modos de imposição, se tornam práticas recorrentes e reconhecidas como
legítimas.
O grande campo do conhecimento dedicado aos estudos e investigações sobre as
construções sociais e seus impactos na conformação das sociedades humanas é denominado
Ciências Sociais, área subdividida em Sociologia, Antropologia e Ciência Política e que tem
na primeira seu mais conhecido termo, tanto porque a Sociologia emergiu com o próprio
estabelecimento das Ciências Sociais quanto pelo fato de que os conteúdos das três áreas
das Ciências Sociais são tratados no âmbito da disciplina de Sociologia no Ensino Médio
brasileiro.
Com relação ao período histórico de surgimento das Ciências Sociais, trata-se do século
XVIII, no qual aconteceram duas grandes e expressivas revoluções que moldaram os caminhos
do desenvolvimento das sociedades desde então: a Revolução Industrial (1780-1860) e a
Revolução Francesa (1789-1799).
aos mesmos moldes - verbetes com explicações detalhadas sobre fatos, fenômenos e
processos sociais. Essa Enciclopédia, que consistiria num tipo de dicionário de explicações
(para além da definição do termo, como em um dicionário) enfatizava aspectos que buscavam
o estranhamento dos indivíduos com relação àquilo que lhes estava posto, de modo a romper
com a naturalização de questões, condições e posições sociais postas.
A tomada do poder pela burguesia em 1798, que gerou o termo Revolução Francesa, marca
a passagem da Idade Moderna para a Contemporânea e a queda do regime feudal sob o
reinado de Luís XVI, o que impactou a organização da sociedade francesa e disseminou o
ideário de igualdade, liberdade e fraternidade, atrelado ao questionamento de ordens instituídas
e à perspectiva crítica de racionalização da vida em sociedade.
Assim, o contexto de surgimento das Ciências Sociais - ou Sociologia, simplesmente,
naquele momento - caracterizou-se pela necessidade de compreensão de problemas sociais
latentes, quais sejam: as consequências da industrialização e o enfrentamento à ordem
social. Conforme Castro e O’Donnell (2018), essa é, inclusive, a característica central das
Ciências Sociais até a atualidade: o esforço em desarraigar nossa visão de mundo pautada
pela naturalização de processos e ações sociais que são socialmente constituídos, o que
Wright Mills (1969) denominou imaginação sociológica.
Como primeira área de desenvolvimento das Ciências Sociais, a Sociologia responde pelos
primeiros e principais autores de destaque no contexto de surgimento do grande campo
das Ciências Sociais.
Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/10314708534/c0d9d9b8d0/
Auguste Comte é considerado o antecessor dos primeiros clássicos estudos das Ciências
Sociais. Apontado por autores com Sell (2012) como o “Pai da Sociologia” buscava conhecer
as Ciências Naturais e também compreender os fenômenos da vida social. Assim, em seus
estudos, considerou o método das Ciências Naturais como fundamental ao estabelecimento
dos princípios para interpretação das sociedades humanas, originando o que ficaria conhecido
como Física Social.
Entendo por física social a ciência que tem por objeto próprio o estudo dos
fenômenos sociais, segundo o mesmo espírito com que são considerados
os fenômenos astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos, isto é,
submetidos a leis invariáveis, cuja descoberta é o objetivo de suas
pesquisas. Assim, ela se propõe diretamente a explicar, com a maior
AULA 6
AS CIÊNCIAS SOCIAIS E A
RELEVÂNCIA DA POLÍTICA
O desenvolvimento das Ciências Sociais, ainda que recente em comparação com outros
campos do conhecimento estruturou-se em três diferentes momentos: primeiramente com
a Sociologia, decorrente de maneira direta da Física Social, e depois com o estabelecimento
da Antropologia e da Ciência Política como subáreas de estudos. Esta aula destaca os
elementos fundantes e caracterizadores das três subáreas das Ciências Sociais em sua
primeira seção e, na sequência, aborda a política como objeto de atenção para avançarmos
na compreensão acerca das relações entre economia e sociedade.
Fonte: https://visualhunt.com/search/instant/?q=antropologia
Anote isso
Assim, evidencia-se que os estudos realizados no âmbito das Ciências Sociais assumem
distintas possibilidades teóricas, críticas e analíticas, as quais refletem a multiplicidade de
possibilidades de manifestação de aspectos da vida em sociedade, em que contribui aos
debates no âmbito desta disciplina.
A política é parte do cotidiano de cada um, sendo que são múltiplas as experiências
e relações que cada indivíduo desenvolve com o tema. Por um lado, falar sobre o tema
implica em considerar um conjunto de aspectos e elementos conformadores das relações
humanas, inclusive o espectro que reúne economia e sociedade. Por outro lado, trata-se de
um tema complexo que está muito além do que as experiências individuais, especialmente
as eleitorais, dariam conta de compreender.
De acordo com Coelho (2017, p. 22), “como as primeiras discussões sobre os sentidos
da Política datariam de mais de dois mil anos atrás, alguns entusiastas do tema afirmam
que não existiria Ciência mais antiga no mundo do que a Política”.
Conforme encontrado no verbete sobre o tema no Dicionário de Ciência Política, de Bobbio,
Matteucci e Pasquino (2000), a política pode ser definida a partir da etimologia do termo,
que decorre da palavra grega pólis, cujo significado remete a tudo que em relação à cidade
e, por consequência, ao urbano, ao civil e ao público.
De fato, as bases iniciais das discussões em torno de questões políticas remetem à vida
em Atenas, já que foram primeiramente os gregos, com destaque a Platão e Aristóteles, que
se debruçaram a estabelecer conjecturas acerca das relações sociais em coletividades, tendo
em vista aspectos como liberdade, pluralidade, racionalidade e interações no âmbito público.
Por sua vez, para Weber (2004, p. 60), um dos fundadores das Ciências Sociais, a política
poderia ser compreendida como “[...] o conjunto de esforços feitos visando participar do poder
ou a influenciar a divisão do poder, seja entre Estados, seja no interior de um único Estado”.
Nesse sentido, o autor tinha no Estado a instituição que permitiria a materialização da
política, tanto que afirmou ainda que “[...] por política entenderemos tão somente a direção
de um agrupamento político hoje denominado ‘Estado’ ou a influência que se exerce nesse
sentido”, tendo em vista que “[...] o Estado consiste em uma relação de dominação do homem
pelo homem, com base no instrumento da violência legítima – ou seja, da violência considerada
como legítima” (WEBER, 2004, p. 59).
Assim, o autor clássico delimitou a organização política do Estado a partir da existência
de dois grupos sociais e políticos distintos, dominadores e dominados, em que os primeiros
exerceriam autoridade sobre o segundo grupo. No mesmo sentido, em sua clássica obra “O
Príncipe”, Maquiavel destacou a maneira como o governante deveria atuar para garantir sua
permanência no poder, para o que, caso necessário e em última instância, deveria fazer uso
da força, legítimo quando protagonizado pelo Estado.
Diante do exposto, é perceptível que a política se impõe aos indivíduos que vivem em
sociedade, de modo que não se coloca a possibilidade de manter-se completamente afastado
ou alheio à política, isso porque a temática está presente no cotidiano de cada um de
diversas maneiras: de como fiscalizamos a distribuição e a utilização de recursos públicos
à determinação dos caminhos das políticas públicas e sua utilização pela população, do modo
como cada um define seu voto até o interesse em acompanhar notícias e o desempenho
dos políticos eleitos.
Assim, tanto o alto interesse por assuntos relacionados à política quanto o completo
afastamento com relação a questões dessa natureza compreendem modos de relacionamento
dos indivíduos com a política, como explicita Coelho (2017, p. 29) ao tratar do tema da apatia
e indiferença política:
Nesse sentido, cabe destacar que, para Faria (2017), os principais objetos de estudo da
Ciência Política dizem respeito às teorias sobre a organização dos Estados e a distribuição ou
concentração do poder político, os sistemas político, partidário e eleitoral e os mecanismos
de atuação dos indivíduos na política.
Lembre-se que esses objetos estão relacionados à preocupação central dos estudos
sobre a política, as questões de poder, e que, conforme salientado em diversos momentos
em nossas aulas anteriores e também nas próximas aulas, poder econômico e poder político
são, historicamente, intimamente relacionados.
Conhecidas as especificidades das subáreas das Ciências Sociais que estudam as
sociedades a partir de distintos elementos e a relevância de aprendermos sobre a política
por conta de sua relação com a economia, finalizamos essa aula com a perspectiva de
que a política é definidora, em alguma medida, dos caminhos do desenvolvimento de uma
sociedade sob as perspectivas econômica e social, mas também com impacto sobre as
ordens cultural, tecnológica, ambiental e religiosa, por exemplo.
AULA 7
ESTADO E DEMOCRACIA
Anote isso
A partir das diferentes relações estabelecidas entre Estado e sociedade por conta de
necessidades, conflitos e acordos ocorrem interações entre as referidas forças sociais que,
conforme Migdal (1994) acabam por remodelar tanto o Estado quanto a sociedade.
Nesse cenário, desde o fim da II Guerra Mundial as estruturas estatais se tornaram o
centro de uma intensa discórdia acerca da forma como as sociedades devem lidar com sua
inserção e integração na economia mundial. Entretanto, tais lutas não ocorrem apenas por
conta da política econômica externa, mas tratam fundamentalmente da essência de como
tais sociedades são e da maneira como deveriam ser constituídas, ou seja, são discussões
cuja pauta se compõe das normas, regras, regulamentos, leis, símbolos e valores dos Estados.
Na verdade, as definições formais do Estado tendem a enfatizar sua natureza institucional,
suas funções e seus recursos à coerção. O centro de tais definições consiste na autoridade
do território reclamado pelo Estado e do grau em que suas instituições são dominadas,
tanto pelas leis e regras quanto pela coerção, quando necessária. Em suma, segundo Migdal
(1994), no mundo moderno o “Estado-nação” é a única forma de unidade política reconhecida
e autorizada.
Entretanto, o Estado não se constitui em uma entidade fixa ideológica, uma vez que é
dinâmico e formado por conjunto de metas constantemente alteradas por conta dos grupos
e forças sociais envolvidos em sua constituição. O engajamento de tais grupos e forças
sociais ocorre tanto por meio do contato direto com representantes formais, na maior parte
das vezes os legisladores, quanto pela relação estabelecida entre partidos políticos e o
próprio Estado.
Assim, as alterações que fazem do Estado uma entidade ideologicamente dinâmica se
dão por conta da resistência oferecida por outras forças sociais aos projetos propostos e
implementados pelo poder estatal e pela incorporação de grupos no processo de organização
do Estado por meio da promoção de mudanças em suas bases sociais e ideológicas. A
formulação da política no âmbito estatal, na verdade, se constitui em resultado desse processo
dinâmico, já que resulta das metas dos líderes superiores do poder estatal ou do processo
legislativo, cujos produtos dos trabalhos podem ser modificados por outras forças sociais
alheias ao Estado, que não raras vezes influenciam até mesmo a agenda do Estado e podem
alterar, inclusive, a própria natureza do Estado (MIGDAL, 1994).
No século XX, a organização do Estado se constituiu em ator-chave na luta pela dominação,
uma vez que houve situações em que as iniciativas do Estado provocaram intensas lutas
sociais, houve momentos em que o Estado defendeu o desenvolvimento econômico e a
redistribuição dos recursos e ainda situações em que sua agenda teve como principal objetivo
preservar os padrões existentes de dominação econômica.
Segundo o autor, a maioria dos líderes políticos tem defendido a primazia do Estado,
privilegiando grupos sociais poderosos cujos líderes estatais são aliados e as organizações
dos grupos dominantes, como mercados e igrejas. No entanto, busca-se um papel de controle
direto pelo Estado da totalidade dos assuntos que dominam sua agenda para que possam
ser impostos os sistemas próprios de identificação do Estado e os limites de comportamento
corretamente aceitável aos cidadãos, abrangendo questões que tratam desde as relações
trabalhistas até uniões sexuais.
No âmbito da sociedade, as lutas têm ocorrido muitas vezes visando a definição dos
responsáveis pelo estabelecimento de procedimentos numa disputa paralela à concorrência
no espaço estatal pelo desenvolvimento de políticas públicas dentro da estrutura legítima da
sociedade. Tal situação se dá por conta do fortalecimento da democracia e pela oportunidade
de mobilização dela decorrente, que abriu caminho para novos grupos e forças sociais,
especialmente aqueles advindos das camadas mais baixas e média-baixa da sociedade,
cuja participação no cenário político sofreu uma ampliação substancial.
Segundo Migdal (1994), o resultado desse processo é que ao invés de proporcionar soluções
de longo prazo para a gestão de conflitos, a democracia tem, cada vez mais, facilitado
a criação de políticas públicas fragmentadas, contribuindo para o baixo crescimento dos
quadros institucionais, nos quais a concorrência é crescente.
Nesse sentido, as forças sociais se constituem em poderosos mecanismos para o
comportamento associativo na sociedade e incluem as organizações formais e informais,
bem como os movimentos sociais, incluídos aqueles que se mantêm unidos por conta
de objetivos, motivações e ideias comuns. Migdal (1994) afirma que a capacidade de tais
forças sociais para o exercício do poder se origina de sua organização interna, de modo
que as forças sociais não operam no vácuo social. Além da contestação sobre a política
governamental, lutas, coligações e acomodações ocorrem e podem transformar, assim como
reforçar, a capacidade de uma força social para atingir seus objetivos, já que a base social
e ideológica de uma determinada força social pode sofrer alterações radicais em virtude
dos recursos existentes e ainda como resultado de suas interações em uma arena social.
O autor aponta ainda três dimensões nas quais o domínio de uma força social pode
se expandir. Primeiramente, Migdal (1994) afirma que dentro de uma determinada arena,
uma força social pode dominar um número crescente de áreas temáticas, de modo a ditar
o crescimento das culturas através da concessão de créditos e da definição da natureza
da salvação. Em segundo lugar, o referido autor afirma que as arenas podem crescer e
incorporar uma parcela maior da população e um território mais vasto e que o alinhamento
de forças sobre as quais as pessoas devem usar linguagem, por exemplo, pode começar em
uma determinada cidade e se espalhou para incorporar grandes porções de um país e sua
população. Por fim, Migdal (1994) apresenta a terceira dimensão de expansão do domínio de
uma força social, que se constitui na utilização de recursos acumulados em outras arenas,
quaisquer que sejam, para o domínio de outras áreas, com diferentes conjuntos de forças
sociais.
Diante do exposto, Migdal (1994) afirma que há limites para a atuação do Estado, mas
destaca também que seu poder e autonomia não devem ser superestimados, uma vez
que o Estado tem necessidade de buscar a afirmação das regras e normas sociais por ele
implementadas junto aos demais atores e forças sociais, bem como determinar a quem tais
regras serão impostas, uma vez que, conforme apresentado no início do presente tópico
de discussão, a dominação estatal não se dá apenas por meio da coerção, mas também
hegemonia exercida pelo Estado por conta das referidas regras estabelecidas.
Ainda que não seja preciso determinar que o surgimento da democracia ocorreu na Grécia
Antiga, as primeiras discussões e o primeiro governo denominado como democrático remetem
a Atenas, tanto que quando se discute o tema é recorrente que se referencia aquela cidade-
Estado como berço da democracia.
Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/18434114403/05de9b2b38/
destacam-se duas perspectivas com algum nível de diálogo e relação diretas: as teorias
feministas e o multiculturalismo.
Com relação às teorias feministas - mencionadas no plural por haverem diferentes
formas de pensar e de construir o movimento e suas intersecções - é salutar destacar seu
enfrentamento à diferenciação socialmente construída entre as esferas pública e privada,
já que essa divisão constitui historicamente uma dicotomia que reflete a ordem da divisão
sexual, que também é uma diferença política, porque relega as mulheres a uma posição de
sujeição na esfera privada enquanto associa os homens à esfera pública, na qual se manifesta
a liberdade, de modo que a subordinação das mulheres decorreria da representação do
mundo público como inerentemente superior ao privado (PATEMAN, 1992).
Já o multiculturalismo trata das discussões atreladas à inclusão de grupos cujos valores são
inferiorizados pela sociedade em que vivem e entende os grupos não como mera agregação
de indivíduos, mas como conjuntos de pessoas que compartilham uma identidade (MIGUEL,
2005). As principais contribuições do multiculturalismo para a teoria democrática consistem
em três: (1) valorização do grupo como agente político; (2) consideração da necessidade de
incluir políticas direcionadas a minorias; e (3) crítica ao ideal da imparcialidade.
Nesse contexto, a representação específica de grupos marginalizados estimularia a
participação e o engajamento e revelaria a parcialidade das perspectivas politicamente
predominantes ao trazer à deliberação compreensões diferentes. Assim, de maneira resumida,
não se trataria de ter um parlamento totalmente “igual” à sociedade, mas de dar oportunidade
para diferentes grupos se expressarem e terem suas perspectivas consideradas (YOUNG,
2006). Para Albrecht (2019), o multiculturalismo traz ainda uma reflexão adicional sobre o
próprio significado de democracia: constantemente associado à maioria, esse regime, em
defesa do multiculturalismo, passaria a ser tomado como protetor de minorias, constituídas
não pelo aspecto numérico, mas pela posição que ocupam na sociedade em uma perspectiva
relacional, de modo a opor-se, assim, à ideia de que democracia é meramente um governo
“do maior número”.
A preocupação com a possibilidade de vocalização de demandas de diferentes grupos no
contexto democrático é entendida como positiva ao regime por permitir que - por caminhos
da representação, da participação estendida e de instâncias de deliberação - os diferentes
conjuntos de atores sociais interfiram na vida em sociedade, a qual define, em alguma
medida, suas existências individuais.
AULA 8
MACROECONOMIA E POLÍTICAS
MONETÁRIA E FISCAL
(1936), que defendeu que o governo deveria atuar na economia para garantir que houvesse a
manutenção de determinadas condições influenciadoras da vida em sociedade. Nesse sentido,
Vasconcellos e Garcia (2008) afirmam que a política macroeconômica de um governo deve
atender a pelo menos quatro objetivos, explicados no quadro conceitual a seguir: buscar
alto nível de empregos, garantir a estabilidade dos preços, promover distribuição da renda
de modo socialmente justo e conduzir ao crescimento econômico.
Quadro 5 - Objetivos da política macroeconômica dos governos. Fonte: elaborado pelo autor, baseado em Vasconcellos e Garcia (2008).
Para a consecução desses quatro grandes objetivos macroeconômicos - que não operam
de modo desconexo, mas são interdependentes entre si, em alguma medida - cabe aos
governos desempenhar algumas funções, as quais Giambiagi e Alem (2011) afirmam se
tratar de preocupações com estabilização, distribuição e alocação: a função estabilizadora
do governo busca o equilíbrio entre os objetivos para garantir o funcionamento assertivo
da economia nacional; a função distributiva diz respeito à atuação pública no sentido de
colher dividendos daqueles que possuem mais recursos para promover sua distribuição
àqueles com menor renda; e a função alocativa visa garantir direitos sociais por meio da
destinação de recursos a ações, projetos e programas específicos, que atendam demandas
da população em suas coletividades.
no tempo por permitir negociações que não impliquem em quitação integral no momento
da compra.
Dentre os autores mencionados nesta seção, é pertinente mencionar a maneira como
abordam os dois tipos de políticas monetárias que podem ser desenvolvidas por um país,
cada qual com objetivos econômicos específicos: expansionismo e contracionismo.
A política monetária expansionista se caracteriza pelo processo que agentes do governo
e do mercado, economistas e jornalistas costumam chamar de “aquecimento da economia”.
Cada um de nós, em algum momento ou situação, já deve ter ouvido falar sobre essa estratégia
macroeconômica de atuação, a qual, inclusive, foi e tem sido amplamente mencionada e
discutida por inúmeros países diante dos impactos econômicos decorrentes do isolamento
social e da redução ou mesmo suspensão de atividades laborais, bem como por conta do
impacto dessas mudanças desde o início de 2020 sobre o poder e os padrões de consumo
das populações.
O expansionismo monetário implica em elevação na oferta de moeda combinada com
redução da taxa de juros, visando promover o crescimento econômico por meio da ampliação
do consumo. Com mais moeda disponível, o consumidor tende a demandar mais bens
e serviços e os fornecedores, diante de maior demanda e de taxas de juros mais baixas,
contraem mais financiamentos para gerar maior oferta.
Contudo, a elevação na demanda pode levar ao aumento do preço daquilo que é ofertado,
independentemente da redução de taxa de juros para sua consecução, o que pode conduzir
à elevação da taxa que mensura esses aumentos, denominada inflação.
Por outro lado, ou mesmo diante de situações em que a política monetária expansionista
culminou em elevada inflação, a política monetária contracionista é adotada pelo governo
para conter a inflação, que tem como consequência efetiva a redução da demanda.
Pensemos juntos como um país chega a tal situação: em virtude de uma política monetária
expancionista, ocorre aumento da demanda e os fornecedores contraem dívidas para ofertar
mais produtos e serviços aos consumidores. Caso ocorra escassez de algum insumo ou os
fornecedores percebam o mercado aquecido como oportunidade para lucrarem mais, pode
ocorrer a elevação dos preços. Diante de produtos e serviços mais caros, mesmo tendo mais
dinheiro, não necessariamente os consumidores pagarão os valores pedidos e podem optar
por não comprar o que se oferta ou buscar algo com características diferentes e finalidade
parecida, por exemplo. Lembre-se dos conceitos de utilidade e substituição!
Quando o consumo é reduzido no país, a circulação de moeda diminui e isso implica em
menor crescimento econômico, o que denota a atuação do governo, que promove - no caso
brasileiro por meio do Banco Central - a elevação da taxa de juros combinada com menor
fluxo de moeda em circulação. Com menos dinheiro para o consumidor e menos recursos
financiáveis para fornecedores, diminui o desejo possível dos indivíduos por compras e
o anseio de produtores por oferecer mais produtos ou serviços. Assim, aquilo que já foi
custeado precisa ser comercializado e há possibilidade de redução do preço, com consequente
diminuição da taxa de inflação.
No caso brasileiro, a execução da política monetária cabe ao Banco Central a partir de
normas estabelecidas pelo Comitê de Política Monetária (COPOM), que determina a meta de
controle da inflação e como devem ser executadas ações expansionistas ou contracionistas.
Que tal um exercício rápido e cotidiano? Preste atenção às notícias em jornais, sites ou
jornais durante algumas semanas e você perceberá que recorrentemente é mencionado
o acompanhamento da evolução da taxa de inflação e as medidas do COPOM para que a
inflação permaneça dentro da margem estabelecida.
Para finalizar, um detalhe sobre o caso brasileiro: ainda que o COPOM determine ações
relacionadas às políticas monetárias expansionista e contracionista no Brasil com alguma
frequência, até mesmo mensal em alguns períodos, vivemos atualmente um período de
relativa estabilidade monetária no país se compararmos as décadas de 2001-2010 e de
2011-2020 com os anos 1980 e 1990.
Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/4441449869/393bc88682/
Caso você não se lembre ou sequer tenha nascido antes da implantação do Plano Real,
em 1994, pode pesquisar por notícias ou mesmo perguntar a familiares ou pessoas próximas
como o consumidor percebia a elevação da inflação em caráter praticamente constante.
Para se ter ideia, muitas vezes, enquanto as pessoas estavam em supermercados fazendo
compras, por exemplo, havia funcionários remarcando (etiquetando) produtos com novos
valores (e maiores), tanto que o Brasil era internacionalmente reconhecido como um dos
países com maior taxa de inflação no mundo.
Você já ouviu a frase: “O Brasil é um dos países com maior carga tributária no mundo”?
Essa frase remete ao aspecto central da política econômica de natureza fiscal, os impostos,
mas antes de falarmos sobre eles cabe destacar que a política fiscal não trata somente
ou especificamente deles, mas da relação entre arrecadação e gastos públicos (excluídas
dívidas e seus juros) num determinado período de tempo.
Conforme Gremaud et al (2008), a política fiscal pode ser superavitária ou deficitária:
superávit remete à arrecadação maior do que os gastos, enquanto o déficit trata-se da
situação contrária, quando há mais despesas do que recebimentos.
Os mesmos autores destacam que diante dessas duas possibilidades de estratégias de
atuação, a política fiscal encontra-se atrelada à política monetária no seguinte sentido: um
governo superavitário recolhe mais recursos do que disponibiliza à economia, então oferece
menor possibilidade de moeda para circulação e geração de renda, empregos e crescimento
econômico; quando o governo está deficitário significa que optou pelo estímulo à economia
por meio da injeção de moeda em circulação (mais do que arrecadou, inclusive), o que
configuraria uma política expansionista.
Contudo, cabe destacar que a simples aplicação de recursos não configura sua utilização
com qualidade a toda a população, lembrando-nos do conceito de crescimento econômico,
que não reflete necessariamente em desenvolvimento econômico.
A política fiscal brasileira é pautada especialmente pelos impostos, tendo em vista que
sua arrecadação confere aos cofres públicos trilhões de reais anualmente. Para se ter uma
ideia, conforme dados disponibilizados pela plataforma Impostômetro, somente nos primeiros
dez dias de 2021 (em que houve um feriado e dois fins de semana) a arrecadação nacional
de impostos superou 75 bilhões de reais!
Nossos impostos podem ser classificados como diretos ou indiretos, sendo diretos aqueles
que incidem sobre a renda e patrimônio individual ou empresarial e indiretos os que incidem
Imposto Classificações
Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) Direitos e progressivos
Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ)
Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) Diretos e neutros
Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU)
Imposto Territorial Rural (ITR)
Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) Indiretos e neutros
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)
Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS)
Cabe destacar que há especificidades para esses impostos, dentre as quais destaco três:
primeiramente, IRPF e IRPJ são taxados pelo estabelecimento de alíquotas relacionadas às
faixas de rendimentos de indivíduos e empresas, respectivamente; em segundo lugar, IRPF,
IRPJ, ITR e IPI são impostos nacionais (federais), ao passo que IPVA e ICMS são estaduais
e IPTU e ISS são de arrecadação municipal; e, por fim, as esferas recolhedoras podem
determinar a alíquota para estabelecimento de taxas, sendo o ICMS o principal exemplo de
imposto com variações expressivas entre os estados, tanto que é recorrente que empresas,
especialmente multinacionais, considerem tal imposto antes de definir em que unidade da
federação se instalarão.
AULA 9
MACROECONOMIA E O CONTEXTO
INTERNACIONAL
deveria intervir o mínimo possível nas relações econômicas, cabendo aos agentes do mercado
sua organização e funcionamento, de modo que o autor defendia que a estabilidade da
economia decorreria de uma “mão invisível” que controlaria aspectos como demanda e
oferta e as negociações entre agentes econômicos.
Conforme Bonavides (2004), a perspectiva do Estado liberal é pautada por liberdades.
Trata-se de uma expressão ideológica da burguesia pautada pelo direito à vida, à liberdade
individual e de propriedade e também com relação aos aspectos econômicos, cabendo ao
Estado especificamente a manutenção da ordem - conforme preceituaram os contratualistas
(HOBBES, 2000; LOCKE, 2001; ROUSSEAU, 1999; 2002).
Contudo, apesar da crítica à ampla intervenção do Estado na economia e sua preocupação
com a balança comercial, o desenvolvimento do liberalismo acabou por atrelar-se à referida
característica mercantilista. Perceba que a preocupação com o comércio internacional e com
o estabelecimento de preceitos como a manutenção de balança comercial favorável remete
à organização econômica dos Estados nacionais e são, até os dias atuais, importantes para
a compreensão sobre como a macroeconomia atua.
Considerando os teóricos da Ciência Econômica essa preocupação e sua consequente
transformação em ação governamental foi definida por David Ricardo ainda no século XIX
como princípio das vantagens comparativas e consiste na ocupação de um país com a
produção daqueles itens em que é considerado mais eficiente ou que lhe gere menor custo,
pensando na exportação uma vez que lhe renderá mais moeda. Por outro lado, como explica
Vasconcellos (2011), é pertinente que um país importe os produtos que não é capaz de
produzir com eficiência ou que gerariam alto custo, de modo que assim configura-se um
amplo e complexo processo de trocas internacionais.
Com relação à eficiência e custos, podemos pensar no caso brasileiro e como somos grandes
exportadores de matérias-primas e grãos diversos, por exemplo, de modo que, posteriormente,
importamos dos países para os quais vendemos nossos itens sem processamento os produtos
finais, com maior custo. Por que fazemos isso? Basicamente, por dois distintos motivos:
outros países podem pagar por determinados itens do que o mercado interno, como no
caso de bens alimentícios que são cultivados no Brasil; e não detemos certos maquinários
e tecnologias para o processamento de outros itens, de modo que não conseguiríamos
atender a demanda com eficiência e baixo custo.
Contudo, apesar de ter apresentado o exemplo do caso brasileiro, por ser aquele que
mais nos interessa conhecer e compreender, todos os países se inserem nesse processo
de trocas globalizado, de modo que Vasconcellos (2011) afirma que a teoria das vantagens
comparativas é explicativa para o funcionamento da globalização justamente porque permite
Perceba, aqui, que estamos tratando de relações econômicas desenvolvidas entre atores
(governo e instituições - como empresas e empresários, com reflexos e potencialidade sobre o
consumidor) no âmbito supranacional, o que significa uma expansão do debate que tratamos
em nossa aula anterior.
Fonte: https://visualhunt.com/photo4/437544/
Para Gremaud et al (2008), pensar a política cambial passa por dois aspectos: o primeiro é
essa dimensão da realização de trocas decorrente das medidas de valor de cada moeda em
comparação com as demais; o segundo é o fato de que um governo pode adotar distintos
regimes cambiais, o que significa que a estratégia definida para a realização de trocas pode
impactar a economia nacional de modo geral, inclusive as políticas monetária e fiscal, bem
como sofrer impactos por parte das demais.
Com relação ao segundo aspecto, os regimes podem ser de câmbio fixo ou flutuante.
Quando um governo adota um regime de câmbio fixo, determina que a taxa de câmbio, ou
seja, o valor pelo qual sua moeda será negociada - permanecerá estável, de modo que não
pode sofrer oscilações diante da comparação ou operações com outras moedas.
Para garantir essa estabilidade, o país precisa dispor de alto volume de reservas de moedas
internacionais, pois ao ocorrerem oscilações o Banco Central precisa dispor de mais moeda
estrangeira aos consumidores que são os cidadãos que pretendem adquirir aquela moeda.
Por exemplo: se o valor do Dólar é estável (fixo), tende a haver maior demanda da população
por tal moeda e cabe ao governo injetar uma quantidade dessa moeda capaz de suprir a
demanda dos consumidores, pois se o governo não agir tende a haver elevação do valor da
referida moeda estrangeira por conta da maior procura.
Nesse sentido, a situação contrária também é pertinente: caso haja pouca procura por
uma moeda estrangeira e ela comece a sofrer desvalorização (por haver maior oferta do que
demanda no mercado), cabe ao governo comprar essa moeda para evitar sua desvalorização,
mantendo seu preço (taxa de câmbio) fixo.
Já o regime de câmbio flutuante, em contrapartida, é aquele em que há liberdade para
variação da taxa de câmbio, de modo que o governo acompanha as oscilações entre demanda
e oferta e as variações dos preços e intervém de maneira menos definidora do funcionamento
das relações comerciais. Nesse sentido, é recorrente que os Bancos Centrais adquiram moedas
estrangeiras com a finalidade de utilização, portanto sem preocupação com o controle das
taxas cambiais.
Assim, é mais simples verificarmos o funcionamento desse segundo regime cambial, tanto
por ser aquele que encontra-se praticado no Brasil quanto porque a ausência de intervenção
do governo permite a regulação do próprio mercado, no sentido de que o aumento da procura
por determinada moeda (demanda) faz subir seu valor de troca (elevação da taxa de câmbio)
e, ao contrário, a redução da demanda culmina em baixa no valor da oferta.
Contudo, cabe destacar que esses regimes cambiais não são definições perenes dos
governos, o que significa que um governo pode adotar um cambial flexível em boa parte do
tempo e, em caso de crises econômicas severas ou risco à manutenção do valor da moeda
nacional, adotar ações de controle, pertinentes ao regime cambial fixo.
Outro ponto importante de destaque é que ambos os regimes possuem pontos positivos
e negativos, o que reforça a observação de que sua aplicabilidade no contexto econômico
nacional depende de aspectos conjunturais e de prospecções.
Sobre o regime de câmbio fixo, sua principal vantagem é o maior controle da inflação,
especialmente por conta da manutenção da estabilidade dos custos de importações, enquanto
que, por outro lado, esse tipo de política cambial mantém a política monetária dependente
das reservas cambiais, o que implica em vulnerabilidade econômica diante de eventuais
especulações financeiras.
Já com relação ao regime de câmbio flutuante, é positivo considerar que se trata de uma
política cambial com menor influência sobre a política monetária e que tende a manter as
reservas cambiais nacionais relativamente protegidas de especulações. Contudo, a taxa
de câmbio fica dependente das oscilações do mercado nacional e internacional, o que
gera dificuldade para controlar preços, e manter a taxa de inflação por conta de potenciais
desvalorizações cambiais.
O comércio internacional é um dos principais aspectos delimitadores do funcionamento
da política cambial de um país, uma vez que as relações econômicas praticadas por meio
de importações e exportações são responsáveis pela maior parcela dos recursos financeiros
que adentram ou deixam o país por meio de operações de compra e venda. Nesse sentido,
a compreensão dessa relação entre comércio internacional e política cambial atingiu
dois objetivos: primeiro, de concluir nossa abordagem acerca dos principais aspectos da
macroeconomia no âmbito de suas relações com a sociedade (e com a política, por conseguinte);
e, segundo, de oferecer subsídios ao avanço de nossas discussões para tratarmos do grande
fenômeno econômico de nosso tempo, a globalização, tema de nossas próximas aulas.
AULA 10
O FENÔMENO DA GLOBALIZAÇÃO
Em virtude da globalização que dominou o planeta, os mais diversos tipos de redes são
de fundamental importância para fazer a conexão entre os diversos pontos do globo em que
as sociedades desenvolvem suas atividades. Os intensos fluxos de pessoas, mercadorias,
recursos e informações exigem canais de distribuição e nós de encontro e redistribuição
para sua efetividade. Os países são cada vez mais interdependentes, tanto em termos de
produção de bens de capital e de consumo, quanto em relação à criação e distribuição de
conhecimento.
Karl Marx (2013, p. 112) já pregava, ainda no século XIX, quando tratava o início do
processo de trocas, que:
De acordo com o mesmo autor, desde o princípio da divisão do trabalho, ainda em tempos
remotos, já eram necessárias rotas de transportes de produtos, bem como “nós” onde estes
eram trocados, uma primeira configuração do que viriam a se tornar, mais tarde, as redes.
O Império Romano, que se estendia por boa parte da Europa, do Oriente Médio e do norte da
África, edificou uma ampla rede de transporte de soldados, escravos e mercadorias. A própria
cidade de Roma, que na época contava com quase um milhão de habitantes, desenvolveu
redes políticas e administrativas, além de um surpreendente sistema de aquedutos.
Já na Idade Média, com o declínio do poder dos senhores feudais, a Igreja Católica abriu
rotas de comércio com o Oriente. Mais tarde, o crescimento das cidades decorrente da
Revolução Industrial, fez surgir redes de esgotos e de energia. Se utilizarmos exemplos mais
próximos, o Brasil desenvolveu redes de transporte e de energia elétrica nas décadas de
1950 e 1960 e, nos anos posteriores, redes de comunicação de massa (rádio e televisão).
Fonte: https://visualhunt.com/photo4/7960/man-holding-mobile-phone-against-map-of-world/
Instituição/Organismo Descrição
Organização das Fundada em 1945 é a maior organização internacional do mundo.
Nações Unidas (ONU) Tem como objetivos principais a manutenção da paz mundial,
respeito aos direitos humanos e o progresso social da humanidade.
Organização dos Fundada em 1948, conta com a participação de 35 nações do
Estados Americanos continente americano. Tem como objetivos principais a integração
(OEA) econômica, a segurança (combate ao terrorismo, tráfico de drogas
e armas), combate a corrupção e o fortalecimento da democracia
no continente.
Organização Mundial Fundada em 1994, conta com a participação de 149 países
do Comércio (OMC) membros. Atua na fiscalização e regulamentação do comércio
mundial, além de gerenciar acordos comerciais.
Organização para Fundada em 1960, esta organização internacional é formada
a Cooperação do por 34 países. Tem como metas principais o desenvolvimento
Desenvolvimento econômico e a manutenção da estabilidade financeira entre os
Econômico (OCDE) países membros.
Organização Mundial Fundada em 1948, este organismo faz parte da ONU e tem como
da Saúde (OMS) objetivo principal a gestão de políticas públicas voltadas para a
saúde em nível mundial.
Organização Organismo especializado da ONU foi fundada em abril de 1919.
Internacional do Atua, em nível mundial, em assuntos relacionados ao trabalho e
Trabalho (OIT) relações trabalhistas.
Fundo Monetário Criado em 1945, tem como objetivos principais a manutenção da
Internacional (FMI) estabilidade financeira e monetária no mundo, o aumento do nível
de emprego e a diminuição da pobreza. Conta com a participação
de 188 nações.
Organização do Criada em 1949, conta com a participação de 28 países membros.
Tratado do Atlântico Tem como objetivo principal a manutenção da segurança militar
Norte (OTAN) na Europa.
Quadro 7 - Principais Organizações Internacionais. Fonte: elaborado pelo autor, baseado em Núñez Novo (2018).
Anote isso
Nesta aula, você foi apresentado de maneira mais específica à globalização enquanto
processo econômico e social crescente e determinante das relações na contemporaneidade.
Conhecidas as bases de conformação e de estruturação desse fenômeno, nas próximas
duas aulas trataremos da maneira como a vida em rede se coloca às sociedades nesse
contexto globalizado.
AULA 11
GLOBALIZAÇÃO E A SOCIEDADE EM
REDES
Inicialmente, destacamos que a palavra rede é usada para designar o conjunto de fios
entrelaçados, linhas e nós usados para capturar animais pequenos. A rede também foi usada
para representar o organismo humano, como organizador de fluxos, de tecidos e do cérebro.
Na segunda metade do século XVIII, surgiu um novo conceito de redes, a partir do momento
em que engenheiros cartógrafos passaram a empregar o termo no sentido moderno de rede
de comunicação e começaram a representar o território como um plano de linhas imaginárias
ordenadas em redes para matematizá-lo e construir mapas (SILVEIRA, 2003).
No campo das Ciências Humanas, o conceito de rede e a promessa de transformação da
sociedade não constituem uma forma recente ou original de representar a realidade, mas se
manifestam desde a primeira metade do século XIX, quando o conceito moderno de rede se
formou na filosofia de Saint-Simon. Totalmente influenciado por ideias iluministas, o filósofo
e economista defendeu a criação de um Estado organizado racionalmente por cientistas e
industriais. Saint-Simon desejava um Estado industrializado, dirigido pela ciência moderna,
no qual a sociedade seria organizada para o trabalho produtivo pelos homens mais capazes.
O alvo da sociedade seria produzir as coisas úteis à vida (COBRA, 2014).
As obras do autor destacavam a ideia de que sua época sofria de um individualismo
doentio e selvagem, resultante de uma quebra da ordem e da hierarquia. Porém, Saint-Simon
afirmava que a época continha também as sementes de sua própria salvação que deviam ser
buscadas no nível de crescimento da ciência e da tecnologia e na colaboração dos industriais
e dos técnicos que tinham começado já a construir uma ordem industrial nova. A união do
conhecimento científico e tecnológico à industrialização inauguraria o governo dos peritos.
A grande contribuição de Saint-Simon ao pensamento social foi sua insistência no dever
do Estado de planejar e organizar o uso dos meios de produção, de modo a se manter
continuamente a par das descobertas científicas e a sua insistência na função de governo dos
peritos industriais e administrativos, e não dos políticos e dos meros “homens de negócio”.
Na discussão sobre redes e territórios, as redes são definidas por atores que as desenham,
modelam e regulam. O território, de acordo com Milton Santos, é suporte das redes que
transportam as verticalidades, ou seja, é o conjunto de regras e normas utilitárias, enquanto
as horizontalidades consideram também a totalidade dos atores e das ações (SANTOS,
2000). As redes técnicas exercem visível influência sobre o território; por outro lado, este
se apresenta como um condicionante ao desenvolvimento dessas novas tecnologias, em
função tanto das suas características físico-ambientais, como também enquanto espaço
social e historicamente produzido.
Anote isso
seus nós de bifurcação ou de comunicação. Por sua vez, a segunda dimensão trata de seu
conteúdo, de sua essência. Nesses termos, a rede também se manifesta no âmbito social
e político, por meio de indivíduos, mensagens e valores que a permeiam. Desconsiderados
esses dois aspectos, afirma Santos (2000), a rede se torna, na verdade, mera abstração.
Com a criação de novas técnicas, a rede passou a ser representada como organismo
planetário, parecendo desenhar a infraestrutura invisível da sociedade pensada enquanto rede.
A história das redes técnicas é também a história das inovações tecnológicas em resposta
às demandas sociais que surgem em determinados locais e em determinados momentos.
Esse é o sentido do surgimento, por exemplo, das redes de transporte como a ferrovia e a
rodovia, das redes de comunicação, como a telegrafia, a telefonia e a teleinformática; ou ainda
das redes de energia, como energia elétrica, os gasodutos e os oleodutos (CASTELLS, 2011).
O grande desenvolvimento da tecnologia causou um grande impacto em diversas áreas
das relações humanas. Para Castells (1999), as sociedades contemporâneas estão vivendo
num espaço caracterizado por uma profusão sem precedentes dos fluxos, conhecendo uma
economia que o autor denomina “global”, e um capitalismo “informacional”, o que o leva a
reconhecer a sociedade atual como “sociedade em rede”.
Ao mesmo tempo em que a técnica possui sempre um conteúdo social, simultaneamente,
a sociedade contemporânea possui um conteúdo essencialmente tecnológico. Nesse sentido,
Dias (2007, p. 22) afirma que as redes são construções sociais conformadas por indivíduos,
grupos e instituições.
Fonte: https://visualhunt.com/photo4/15832/woman-working-on-laptop/
AULA 12
PROCESSOS SOCIAIS E
IMPLICAÇÕES ECONÔMICAS EM
CONTEXTO GLOBALIZADO
Para falar sobre as redes no que tange às cidades é necessário primeiramente tratar do
surgimento dessa sociedade urbana, como a conhecemos hoje, e também discorrer sobre
como as cidades evoluíram até atingirem a proporção que apresentam hoje, especialmente
aquelas que são megalópoles e megacidades, as quais controlam a economia mundial.
Sobre a história do surgimento das cidades, os únicos registros que possuímos sobre o
tema relatam que as primeiras cidades surgiram nos vales dos rios Nilo (no Egito), Tigre e
Eufrates (na Mesopotâmia), cujos povos dos entornos desenvolviam a agricultura e, com o
decorrer do tempo, emergiram organizações sociais que culminaram no que hoje se conhece
como cidades, organizações estas que se apresentam tanto possíveis quanto necessárias
(MUMFORD, 1982).
Tais cidades, que eram quase que unicamente guiadas pela agricultura, foram formadas
em áreas próximas aos rios e cujo solo aparentava ser de melhor qualidade. Nesses locais,
os homens abriram canais de irrigação e construíram represas, o que necessitou de sua
organização em coletividades. Assim, duas características marcaram essas primeiras cidades:
primeiro, o fato de serem formadas por várias aldeias reunidas em torno de um templo do
principal deus da comunidade; e, segundo, a evolução de suas organizações sociais para além
da agricultura, sendo que o aperfeiçoamento das técnicas de transformação de metais e o
surgimento de novas profissões não apenas estimularam o comércio, como também foram
fortemente impactantes sobre a transformação das aglomerações de aldeias em cidades.
Ainda segundo Mumford (1982), através do estímulo do comércio essas cidades se
organizaram de fato, o que possibilitou o surgimento da chamada vida urbana e, em decorrência
disto, a invenção da escrita, a divisão do trabalho e sua consequente classificação dos
cidadãos de acordo com a sua profissão. Nesse período, se evidenciaram as desigualdades
de riquezas entre os cidadãos, o que culminou na necessidade de criação de leis e governos,
os quais geralmente eram exercidos pelos mais velhos e sábios da comunidade. Com isso,
a cidade se tornava cada vez mais orgânica.
Passando à Europa, as primeiras cidades que se destacaram eram gregas, como Atenas
e Esparta, que eram centros religiosos, comerciais, políticos e artísticos. Contudo, a cidade
que mais se destacou foi Roma, que, com seus grandes avanços econômicos, militares e
culturais, geridos por seu império, dominou a Europa e grande parte da Ásia, ainda que por
um determinado período de tempo, após o qual esse grande império desmoronou. Nessa
época, os bárbaros começaram a invadir as cidades que antes eram dominadas pelo Império
Romano, forçando os habitantes a fugirem para os grandes latifúndios, onde comunidades
começaram a ser formadas, conferindo um caráter rural ao feudalismo que encontrava-se
ainda em processo embrionário, por assim dizer. No feudalismo, o comércio diminuiu muito e
as cidades, como eram antes conhecidas, deixaram de existir, embora ainda se mantivessem
pequenos centros comerciais semelhantes às cidades. A grande exceção foi Constantinopla
que se tornou o grande centro urbano e comercial da Europa no período.
O real crescimento das cidades é retratado pelo mesmo autor a partir do fim do feudalismo
e do surgimento dos burgos, grandes centros comerciais e culturais, quando surgiu o
capitalismo. Em decorrência dele houve crescimento exponencial das cidades e a ligação,
a comunicação e a dependência entre essas cidades era se intensificar. Com a Revolução
industrial, tais condições se tornaram ainda mais fortes e as pessoas passaram a sair do
campo e ir para a cidade cada vez mais frequentemente, o que contribuiu para a formação
de grandes cidades nesse momento, em que essas não apenas cresciam como também
giravam em torno das fábricas.
Conforme Mumford (1982), tudo era feito e apenas feito, de modo que não existia
organização e o único objetivo era o lucro. Até mesmo ações como o fornecimento de água
para a população não eram pensadas e existia também a falta de moradia num momento
em que existiam muitas moradias em porões, impróprias para a ocupação humana, mas que
ainda existiam no ano de 1930, principalmente em Londres de em Nova York, os grandes
centros urbanos do mundo na época (como de fato ainda o são). Obviamente, tal situação
Esse novo espaço, essa cidade na era da informação é extremamente dinâmica, bem
como baseada no conhecimento, nas altas tecnologias e no constante e rápido fluxo de
informação. Essas são, na verdade, as megacidades que entre as definições existentes,
entendemos que a que melhor enquadra o conceito com o qual concordamos é de Manuel
Castells (2011, p. 492-493), qual seja:
Essas megacidades são conectadas por redes globais e trocam informações o tempo
todo, mas são desconectadas das pessoas que não possuem uma função nessa nova
forma de cidade, mesmo essas pessoas vivendo dentro dessas megacidades. Tal situação
é claramente vista em Nova York, por exemplo, onde existem as tecnologias mais inovadoras
e ainda assim há muitas pessoas que são tratadas como lixo, consideradas desnecessárias
à existência da cidade.
Fonte: https://visualhunt.com/photo4/50967/
A cidade de São Paulo é a mais populosa do Brasil - com população estimada de 12,3
milhões de pessoas em 2020 segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
- e está entre as doze maiores do mundo. Conforme reportagem da rede internacional
de notícias BBC, em 2018 a Região Metropolitana de São Paulo era a quinta maior do
mundo, com cerca de 19,5 milhões de habitantes.
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-45177144
como animais, porém ainda não muito distribuídos em redes organizadas. Contudo, com os
grupos em constante crescimento, o desenvolvimento de culturas complexas e o surgimento
de algumas civilizações foi uma consequência que muitos desses grupos passassem a
perceber a existência de outros (STOKES BROWN, 2010).
Os nômades tiveram papel importante nesse desenvolvimento, uma vez que se deslocavam
e transitavam por sociedades diferentes, trocando objetos, instrumentos e alimentos que não
se encontravam em alguns lugares e criando caminhos por onde passaram a se estabelecer
trocas entre sociedades, sendo que um dos mais antigos e conhecidos é a rota da seda que
se estendia por sete mil quilômetros, interligando o território chinês Xiang à Síria.
Conforme as trocas de produtos entre as sociedades se tornaram cada vez mais intensas,
os transportes foram evoluindo e se adequando, com a finalidade de carregar cada vez mais
carga e pessoas. Nesse momento, teve grande importância o uso da roda para distribuir
melhor o peso e diminuir o atrito das cargas no chão, mas também foram relevantes os
transportes que aproveitavam a força e a extensão dos rios e mares, pois grande parte das
cidades se instalavam em suas margens, por conta da agricultura.
Desenvolvidos os primeiros transportes em redes, a partir de então esses foram se
expandindo. Os grandes líderes de várias sociedades incentivaram muito os transportes,
aquecendo o mercado de trocas em seus territórios e aprimorando funcionalidades, o que
implicou na ampliação e manutenção das rotas e em altos investimentos em veículos,
em conhecimentos sobre navegação, na confecção de mapas com informações de rios e
florestas e também de cidades entre os caminhos, entre diversos outros incrementos. Foi
nesse contexto que iniciou-se uma grande busca por novas terras ainda inexploradas, o que
foi realizado por meio das grandes navegações, quando novas terras foram encontradas
do outro lado do Oceano Atlântico e, nelas, novas culturas e novos elementos passíveis de
comercialização e exploração que logo foram colocados em circulação na rede de transportes.
Por meio dos estudos que buscavam um aproveitamento cada vez maior dos recursos
naturais decorrentes da exploração dessas novas terras, a ciência surgiu com grande explosão
de novas áreas de estudo, novas tecnologias e avanços, que contribuíram tanto na fabricação
em massa de produtos para serem trocados, quanto para aumentar a eficiência em seu
transporte. Um grande exemplo é a utilização da expansão do vapor, que quando aquecido
em recipiente específico se expandia e gerava uma pressão capaz de movimentar pistões,
produzindo movimentos circulares que, conectados a engrenagens, aceleravam a produção,
substituindo a força de animais ou até mesmo humana, e que, conectadas a rodas, inovaram
os transportes, principalmente com a invenção do trem, que por meio dos trilhos podia
carregar muito mais carga em menos tempo (ALMEIDA; RIGOLIM, 2009).
O anseio por conhecer produtos de outras sociedades ou de criar muitos outros que
nenhum humano conhecia antes, estimulou vários conflitos, tanto entre sociedades que eram
diferentes em sua essência, quanto entre os membros no interior de cada uma delas. Os
conflitos internos das sociedades se davam em grande parte por conta da divisão de classes,
uma vez que enquanto os indivíduos de camadas mais baixas trabalhavam nos transportes
de mercadorias, apenas aqueles da classe mais alta usufruíram livremente das chamadas
especiarias exóticas. Por outro lado, os conflitos externos se davam pela competitividade
entre civilizações por dominar territórios desconhecidos e por desconcertos entre culturas
muito diferentes, o que culminou num grande número de guerras entre grupos, geralmente
por conquista de novos territórios e influências comerciais de poder (AZEVEDO; SERIACOPI,
2008).
Conforme os atritos entre as sociedades se tornaram mais frequentes e complexos, mais
difícil também foi estabelecer as conexões entre essas sociedades. No entanto, o desejo
de ampliar as trocas e dominar cada vez mais o mercado (e aumentar seu poder), eram
objetivos comuns entre quase todos esses grupos, o que os levou a um patamar de guerra
estabelecida. Ainda que possamos imaginar que em guerras aconteçam apenas destruições,
a realidade histórica é diferente e aponta que existem muitas relações conectadas por trás
desses grandes conflitos. Nas práticas de guerra é preciso inovar e, assim como em várias
outras áreas, os transportes foram essenciais e receberam várias tecnologias novas se
tornando mais eficientes, afinal era preciso transportar, com agilidade e cautela, grande
número de soldados, alimentação e recursos médicos para os combatentes, além de armas
e outros materiais. Nesses termos, os navios porta-aviões são grandes exemplos de tipos
de transportes que se desenvolveram em período de guerra e que, colocados em redes e
interligados para funcionar melhor, mesclaram transporte aéreo e marítimo de pessoas,
suprimentos e mantimentos durante conflitos (AZEVEDO; SERIACOPI, 2008).
Outra grande contribuição das guerras para os transportes, principalmente para o terrestre e
fluvial foi o desenvolvimento da engenharia para construir pontes. Obviamente, a humanidade
já conhecia as pontes, mas nunca descobriram tantas técnicas e maneiras diferentes de se
construir pontes como durante a Segunda Guerra Mundial, principalmente pelo fato de que
o contexto dessa guerra demonstrou ser necessária a rápida construção de pontes capazes
de serem montadas e desmontadas para impedir a passagem de tropas inimigas e de
possibilitar às tropas que as possuíam atravessar rios sem obstruir a passagem de grandes
embarcações, entre muitas outras necessidades. Graças aos avanços nessa especialidade
da engenharia, hoje podemos encontrar pontes para navios em rios que atravessam outros
rios, pontes levadiças, estradas que atravessam rios e mares de modo subterrâneo, viadutos
que facilitam o trânsito, estradas que atravessam serras e desníveis geográficos em menores
distâncias, metrôs em e entre cidades. Enfim, muitas construções que facilitam os transportes.
Também interligado com a história das guerras está o transporte aéreo. O avião foi inventado
antes da Segunda Guerra Mundial, mas foi durante esse período que recebeu sua maior
quantidade de investimentos, sendo extremamente útil para agilizar os transportes e também
para realizar ataques. Tal invenção levou a guerra a outras proporções, aumentando muito
o poder de destruição. Como exemplo, destacamos as bombas de Hiroshima e Nagasaki
(Japão), que dizimaram essas cidades e puseram fim à Segunda Guerra Mundial em 1945.
Essas armas (bombas), que chocaram todo o planeta e deixam marcas até hoje, foram
lançadas de aviões norte-americanos e dificilmente teriam êxito com outro tipo de transporte
no sentido que de as bombas atingissem o alvo desejado com tamanha precisão (AZEVEDO;
SERIACOPI, 2008).
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo passou a contar com muitas novidades
tecnológicas, como a medicina muito mais avançada, as comidas enlatadas, o surgimento
de computadores e, posteriormente, da internet, dentre outros avanços. Nos transportes
passamos a ter o controle aéreo por radares e GPS, pois o fluxo de aeronaves passou a ser
mais intenso.
No contexto do pós-guerra, as sociedades voltaram ao cenário de disputa pela hegemonia
do poder global, por conta da chamada Guerra Fria estabelecida entre os Estados Unidos
e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), dois países que não entraram em
confrontos bélicos, mas se prepararam muito caso ocorresse. As disputas se focaram em
competências econômicas e científicas, dentre as quais sobre qual desses países detinha
as maiores descobertas e o maior mérito de poder (ALMEIDA; RIGOLIM, 2009). Esse período
foi marcado por alto investimento de dinheiro na “corrida espacial”, colocando assim em
prática os transportes espaciais, considerados ainda muito recentes e de pouca afinidade
aparente com a população em geral.
Mas este transporte está muito mais relacionado com a vida cotidiana das pessoas do que
boa parte delas imaginam, já que é por meio deste que os satélites chegam até suas órbitas
e transmitem informações e se comunicam com a Terra, transmitindo programas de televisão
e rádios, informações meteorológicas e resultados decorrentes de pesquisas científicas
desenvolvidas em módulos espaciais por meio de coleta de amostras e imagens, que buscam
novas descobertas científicas. Muitos comparam a corrida espacial às grandes navegações,
afirmação esta que Almeida e Rigolim consideram não ser tão incorreta quanto pode se
pensar à primeira vista, pois assim como no passado estamos em busca de novos recursos
para explorar e novas descobertas. Além disso, cogita-se hoje até mesmo a possibilidade
de encontrar seres extraterrestres, diferentes do ser humano.
Atualmente, os transportes tomaram proporções globais fazendo parte diretamente das
nossas vidas. Com eles, a humanidade mudou os mapas e os padrões de vida, de modo que,
hoje, se pode conhecer muitos lugares diferentes com um tempo e investimento muito menor
do que há algumas décadas. Para aumentar a eficiência, os transportes foram dispostos
em redes, que integram diversas cidades do mundo e diferentes culturas, o que tornou
necessário que também os diferentes meios de transportes se integrassem uns aos outros,
como nos portos e aeroportos multimodais onde as cargas e as pessoas podem passar de
um transporte terrestre para um aéreo ou ferroviário para fluvial e marítimo.
AULA 13
TEMAS ECONÔMICOS DE
INTERESSE SOCIAL
Quadro 8 - ODS relacionados à biosfera. Fonte: http://www.agenda2030.com.br/os_ods/. Acesso em: 23 dez. 2020 (adaptado).
Seguindo em nossa explanação, a figura demonstra que a maioria dos objetivos encontra-
se vinculada à sociedade, tratando-se, portanto, de aspectos relacionados ao interesse social
e também ao desenvolvimento econômico, permeando as temáticas da política - como
democracia, cidadania e multiculturalismo, por exemplo.
Quadro 9 - ODS relacionados à sociedade. Fonte: http://www.agenda2030.com.br/os_ods/. Acesso em: 23 dez. 2020 (adaptado).
Por fim, o terceiro conjunto de ODS diz respeito especificamente à economia, de modo
que se trata de quatro objetivos que dialogam diretamente com aspectos tratados nas
discussões desta disciplina.
Quadro 10 - ODS relacionados à economia. Fonte: http://www.agenda2030.com.br/os_ods/. Acesso em: 23 dez. 2020 (adaptado).
Anote isso
No caso brasileiro, por exemplo, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943,
não foi uma benesse do então presidente Getúlio Vargas, mas o resultado de lutas sociais
e mobilizações por meio de pressões de grupos de trabalhadores sindicalizados.
Quando tratamos de trabalho logo nos vêm à mente a questão do desemprego e seus
indicadores, certo? Para compreender esse problema econômico e social, primeiramente
cabe explicar quem é considerado apto a estar empregado. Nesse sentido, Bacha e Lima
(2006) expõem que devemos considerar a população economicamente ativa (PEA) como o
contingente de indivíduos em idade compatível com o desenvolvimento de atividades laborais
- no caso brasileiro aqueles com mais de 16 anos para estágios ou usufruto de bolsas de
tempo parcial e os maiores de 18 anos.
Sobre esses indivíduos, contudo, os mesmos autores destacam que estar apto ao trabalho
não implica estar inserido no mercado de trabalho, pois dentre a PEA existem aqueles que
se encontram: ocupados, trabalhando para um empregador, independentemente de haver
registro formal; atuando por conta própria, de maneira individual ou com sócios, mas sem
empregados; como empregadores; ou como trabalhadores não remunerados, como nos
casos de empreendimentos familiares em que não há recebimento de salário.
Ademais, seguem os autores, há também aqueles que não se encontram inseridos no
mercado de trabalho, o que pode decorrer de três situações: ser incapacitado ao trabalho por
algum tipo de deficiência física ou mental, por conta da saúde ou estar preso; ser parte da
população não economicamente ativa, que possui características semelhantes à PEA, mas
que opta por não procurar ocupação ou encontra-se em condição de realização de atividade
(como estudantes e aqueles responsáveis pelo cuidado do lar) ou percepção financeira que
as desobriga do trabalho (aposentados, rentistas e pensionistas, por exemplo); e, por fim, as
AULA 14
GESTÃO PÚBLICA E SOCIAL
Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/21462365232/e5e38cc230/
• As formas de governo: modelos institucionais por meio dos quais uma sociedade
é administrada, sendo recorrentes a república em que o posto de chefe de Estado
pode ser ocupado por um indivíduo ou por um conjunto, eleito pelo povo de maneira
direta ou indireta (MATTEUCCI, 2010); bem como a monarquia que tem como chefe
de Estado um monarca, imperador ou rei, o qual goza de poderes absolutos e exerce
seu cargo de maneira vitalícia até sua morte ou abdicação, sendo que seu sucessor
advém de sua linhagem familiar direta por hereditariedade, sem realização de eleições
para chefe de Estado (FARIA, 2017).
• Sistemas de governo: maneiras como o poder político é exercido ou organizado, havendo
o parlamentarismo, no qual há distribuição de poder entre Executivo e Legislativo,
em que o chefe de Estado representa a sociedade e o Legislativo é composto por
membros vencedores das eleições, sendo que o primeiro ministro é escolhido dentre
os eleitos pelo partido que obteve o maior número de assentos; e o presidencialismo
que tem no presidente sua figura central no comando do Poder Executivo, sendo que
os demais Poderes – Legislativo e Judiciário – atuam de maneira independente do
primeiro (FARIA, 2017).
• Regimes políticos: conjunto de leis e instituições que conformam a organização dos
Estados e a maneira como ocorre o exercício do poder para com os cidadãos, sendo que
diferentes tipos de regimes políticos emergiram ao longo dos séculos, com governos
absolutistas, autoritários, totalitários, ditatoriais e democráticos. Com relação ao último,
trata-se daquele no qual a soberania é exercida pela população que elege representantes
por meio de eleições.
Anote isso
Os processos que envolvem a criação de políticas podem, de fato, ser lentos ou rápidos,
a depender de aspectos como os atores envolvidos na discussão e a urgência em sanar
ou minimizar problemas. As etapas que conformam a estruturação de uma política pública
compõem seu ciclo de realização, abordado por autores, como Faria (2003) e Amabile (2012).
AULA 15
GOVERNO E POLÍTICAS PÚBLICAS
NO BRASIL
sindicatos, por meio de greves e piquetes e do Partido Comunista, com vistas a conquistar
direitos sociais que se efetivaram com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em 1943.
Para além da força do operariado, apenas a conquista do voto feminino em 1932 se destaca
no período anterior ao regime militar, no qual houve refreamento de manifestações populares,
de movimentos sociais, de tentativas de organização e de crítica ao governo instituído.
No período militar, em resposta à organização popular, o governo emitiu em 1968 o Ato
Institucional nº 5, que proibia manifestações públicas e vigorou até 1979. No entanto, de
acordo com Avritzer (1997), a década de 70 foi de grande fertilidade às ações coletivas no
país, uma vez que a insatisfação com o regime militar e as condições efetivas de sobrevivência
da população culminaram na organização e manifestação de novos sujeitos políticos. Greves
operárias, associações de moradores, grupos de mulheres e ambientalistas foram, dentre
outros, exemplos de revigoramento político-associativo, assim como a Igreja Católica, por
meio de pastorais, de comunidades eclesiais de base e de centros de educação popular
relacionados ao movimento de Teologia da Libertação (SCHERER-WARREN, 2012),
Segundo Sader (1988), entre o fim da década de 1970 e o início da década de 80, ocorreu
a abertura política gradual e controlada, quando os militares buscaram manter-se no poder,
mas perderam espaço e poder político, especialmente, em decorrência da articulação e
pressão de movimentos sociais e da sociedade em geral.
O contexto de ampliação de direitos e de cidadania se materializou por meio da Constituição
Federal de 1988, internacionalmente conhecida como “Constituição cidadã” por conta de
aspectos que ampliaram os direitos dos brasileiros e os mecanismos de participação
social. Dentre os fundamentos da República brasileira, destaca-se a relevância dos aspectos
valorizados pelo regime democrático: a autoridade soberana do Estado, a ampliação efetiva
da cidadania, a valorização da dignidade humana, o reconhecimento de aspectos laborais
e econômicos, bem como o respeito à organização de grupos em partidos com diferentes
ideários políticos.
Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/4965932115/6fa7efd328/
Considerando que o texto constitucional brasileiro trata dos direitos sociais que devem
ser atendidos pelo Estado, cabem considerações de três naturezas: a primeira remete a
políticas públicas de áreas mais estruturadas; a segunda trata de políticas afirmativas; e a
terceira diz respeito aos retrocessos sofridos especialmente desde 2016.
Com relação ao primeiro aspecto, os principais destaques em termos de políticas públicas
no país são os Sistemas Únicos de Saúde (SUS) e de Assistência Social (SUAS), instituídos em
decorrência da Carta Magna de 1988 e estruturados em distintas medidas. Ambos contam
com amplos conjuntos de dispositivos legais e estruturas institucionais hierarquizadas, ainda
que o SUS esteja muito mais organizado e obtenha resultados mais expressivos do que o
SUAS, especialmente por conta da destinação compulsória de recursos públicos à área de
saúde. Ainda com relação a tais políticas estruturadas, têm-se ações relacionadas à garantia
de direitos de minorias que impactam de maneira transversal a habitação e a educação,
por exemplo.
As políticas afirmativas remetem aos direitos sociais direcionados a grupos considerados
minorias por conta do acesso a garantias constitucionais não contempladas em sua totalidade,
como mulheres, negros, indígenas, idosos, homossexuais e deficientes, por exemplo. Cabe
destacar o fortalecimento da cidadania feminina como exemplo de ação transversal que
perpassou distintas políticas, como a determinação de que a mulher seja beneficiária
preferencial do Programa Bolsa Família (2003), de que imóveis adquiridos por meio do
Programa Minha Casa, Minha Vida (2009) prioritariamente seriam registrados em nome da
mulher e a materialização da luta pela defesa da vida e combate à violência contra a mulher
por meio da Lei Maria da Penha (2006).
Ainda com relação às políticas afirmativas, cabe destacar que a despeito da persistência
da maneira como a educação básica se desenvolve no país, houve incremento na oferta de
possibilidades de acesso à população ao Ensino Superior, por meio de programas sociais que
garantem parcelas das vagas de universidades públicas a estudantes que cursaram Ensino
Fundamental e Médio em escolas e colégios também públicos, bem como políticas de crédito
estudantil e de cotas raciais e sociais, por meio do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES)
de 2001, o Programa Universidade para Todos (PROUNI) de 2005 e o Sistema de Seleção
Unificada (SiSU) de 2012.
Ademais, merecem destaque também outras minorias que galgaram avanços em termos
de direitos conquistados, como a aprovação dos Estatutos do Idoso em 2003, da Igualdade
Racial em 2010 e da Juventude em 2013 e a decisão do Conselho Nacional de Justiça que
dispôs sobre a habilitação, a celebração de casamento civil ou de conversão de união estável
em casamento entre pessoas de mesmo sexo.
Posteriormente a esse período de expressivo avanço em termos de políticas públicas
e afirmativas entre 2002 e 2015, o país vivenciou um período de apatia em termos de
desenvolvimento social entre 2016 e 2018, em que pouco se produziu de modo geral, sem
impacto expressivo sobre as políticas públicas, em geral, e sobre aquelas afirmativas, em
específico.
O presidente eleito, em 2018, em seu primeiro ano de atuação, revogou mais de 2.000
decretos, conforme informado pela Secretaria Geral da União em 2 de janeiro de 2020, com
impactos negativos sobre espaços de participação e/ou políticas públicas, como a redução
do número e das áreas de funcionamento de conselhos de políticas públicas, incluídas
especialmente aquelas afirmativas. Até o fim do primeiro trimestre de 2020, contudo, o
Ministério Público e as instâncias do poder Judiciário barraram muitas ações negativas
ao desenvolvimento de políticas públicas no país sob o argumento de que tais retrocessos
seriam contrários à previsão constitucional de garantia de direitos sociais e de fortalecimento
da cidadania.
As alterações na legislação nacional acontecem com grande regularidade, uma vez que
os três Poderes podem atuar nesse sentido: o Executivo pode propor novas normas
ou alteração das vigentes, o Legislativo é responsável pela elaboração e o Judiciário
fiscaliza a aplicação das leis e a legalidade das propostas. Para manter-se atualizado
com relação à legislação vigente é pertinente manter-se atento à plataforma do Planalto.
http://www4.planalto.gov.br/legislacao/
Anote isso
Nesta aula, analisamos a constituição histórica das políticas públicas, aquelas de caráter
afirmativo e debatemos a relevância da participação social no contexto de desenvolvimento
dessas políticas. A despeito de retrocessos históricos e tentativas recentes de desarticulação
de espaços de discussões sobre políticas públicas, os conteúdos expostos denotam o
fortalecimento dessas políticas no Brasil, com ênfase à sua contribuição para a efetividade
do regime democrático brasileiro com relação ao atendimento de direitos sociais e à ampliação
da cidadania.
AULA 16
PROTAGONISMO SOCIAL
NO ENFRENTAMENTO ÀS
DESIGUALDADES
De acordo com dados oficiais disponibilizados pelo Governo Federal, por meio do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), referentes a 2016 e publicados em 2018, haveria
820.185 OSCs em funcionamento no Brasil, desconsideradas entidades, como partidos
políticos, sindicatos, cartórios, condomínios e outras que não se enquadram na seguinte
caracterização.
de Pessoas Jurídicas (CNPJ) – majoritariamente a partir dos anos 2000, já que 52,4% dos
registros datam do período entre 2000 e 2016. Sobre tal crescimento, cabe ressaltar que
atinge todas as diversas áreas de atuação e todas as regiões do país.
Em relação às áreas de atuação dessas OSCs, destaca-se que 41,3% atuam voltadas ao
desenvolvimento e à defesa de interesses e de direitos e 25,4% à religião, sendo que as demais
áreas de atuação concentram percentuais de organizações: 9,7% para cultura e recreação,
4,8% para educação e pesquisa, 3,3% para assistência social, 2,7% associações patronais
e profissionais, e 0,8% para saúde. Outras atividades associativas e/ou organizações, que
o estudo conduzido pelo IPEA não classificou em área específica, somam 11,8% das OSCs.
Diante dessa caracterização, tem-se o Terceiro Setor como campo econômico de atuação
promissor para a gestão social, diante da multiplicidade de interesses, finalidades e arranjos
das organizações existentes no país, bem como de seu potencial para crescimento.
Fonte: https://visualhunt.com/f5/photo/39650656444/373365b73f/
De maneira direta, essas entidades com fins lucrativos podem direcionar recursos de
seu Imposto de Renda às causas e às entidades sociais para que definam a aplicação dos
recursos ou realizem parcerias em que fazem doações com fins específicos e utilizam-se da
à participação; por outro lado, os funcionários necessitam ser capacitados para atuar de
maneira assertiva no âmbito da OSC. Um desafio à gestão de pessoas é o seu diferencial, não
raras vezes, de trabalhar com ambos os grupos na mesma ação de maneira complementar,
colaborativa e produtiva, com atenção aos eventuais conflitos e às dissonâncias que precisam
ser sanadas.
No que tange à sustentabilidade, uma OSC deve, obrigatoriamente, assumir um papel
relacionado às práticas atreladas ao desenvolvimento sustentável e/ou à responsabilidade
social, consideradas as múltiplas dimensões de sua atuação nos âmbitos social, econômico,
ambiental, cultural e, até mesmo, político e religioso, por vezes. Para tanto, o gestor deve
conhecer ferramentas, legislações e certificações, bem como compreender ou buscar apoio
para a consecução de uma gestão transparente quanto à utilização de recursos e à oferta
de balanço social à comunidade.
O marketing e a comunicação são elementos importantes à gestão social, pois permitem
a transmissão e o compartilhamento de informações, como a missão da OSC, as atividades
que desenvolvem as ações que realiza para captação de recursos e as suas necessidades.
Assim, trata-se de atividades relacionadas às demais destacadas nesta seção, uma vez que
o marketing social e a comunicação social no Terceiro Setor implicam no diálogo com os
diversos stakeholders com os quais se estabelecem relações.
Em se tratando do mercado de trabalho, os registros da Relação Anual de Informações
Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego (RAIS/MTE), divulgados no estudo do IPEA,
referentes ao cômputo de 2015, apontaram 2.904.888 trabalhadores registrados e remunerados
pelas organizações, concentrados especialmente na região Sudeste (58,5%). Quanto às áreas
de ocupação, 25,4% atuam em entidades da saúde e 19% em educação e pesquisa, a despeito
de serem áreas com baixos percentuais de organizações.
Essa distribuição desigual entre números de organizações e empregados formais indica,
ainda, a existência de dependência do voluntariado na maioria das OSCs no Brasil, uma vez
que 83% não apresentaram nenhum registro de vínculo empregatício, 7% teriam um ou dois
funcionários e apenas 10% teriam três trabalhadores registrados ou mais. Assim, ainda que
existam no país grandes organizações com número expressivo de colaboradores remunerados,
a realidade nacional revela um campo a ser explorado em termos de profissionalização e
alteração da cultura do voluntariado à prática profissional.
A atuação profissional de um gestor no Terceiro Setor pode extrapolar as OSCs,
individualmente, de modo a constituir agrupamentos que permitam a realização de atividades
conjuntas, como realização de campanhas para arrecadação de fundos e outras doações
CONCLUSÃO
Dezesseis aulas, diversos temas, teorias, conceitos e chaves explicativas... enfim, chegamos
à conclusão de nosso trajeto formativo nesta disciplina dedicada à compreensão acerca das
relações existentes entre economia e sociedade!
Na introdução, destaquei que abordaríamos essa relação sob a perspectiva de sua formação
acadêmica e profissional, mas que nosso conteúdo reflete sobremaneira em sua vida como
cidadão, então espero que o percurso percorrido tenha lhe trazido, também, insights nesse
sentido.
Nesta conclusão, destaco especialmente os principais pontos de atenção sobre o conteúdo
tratado, de modo geral ou mesmo superficial, com o intuito de sinalizar a você em que cada
parte de nosso conteúdo objetivou contribuir com sua formação profissional. Assim, essa
conclusão é, também, um checklist sobre o conhecimento conformado ao longo dessas
dezesseis aulas.
Na introdução, informei que a disciplina possuía quatro partes, sendo a primeira composta
exclusivamente pela aula um, na qual a abordagem histórica da Revolução Industrial, com
ênfase em seu impacto sobre a divisão social do trabalho, buscou demonstrar tanto a
manutenção e fortalecimento de um sistema de produção cada vez mais pela especialização
das atividades realizadas quanto a maneira como o trabalho com remuneração mínima para
subsistência gera insatisfação entre os trabalhadores em perspectiva histórica longitudinal.
No que tange à relação entre microeconomia e política, a aula dois oferece importantes
conceitos sobre o que é economia, seus princípios e sua relação com o capitalismo, ao passo
que as aulas três e quatro focaram nos fundamentos da microeconomia, importantes para
compreendermos como as análises sobre a vida em sociedade são permeadas pelas decisões
daqueles que detêm o poder econômico e político. Daí a pertinência de compreendermos a
importância da política no contexto das Ciências Sociais e de como os Estados nacionais
operam, com foco na preocupação socioeconômica de ampliação da democracia sob a
perspectiva multicultural - o que tratamos nas aulas cinco a sete.
A outra grande vertente teórica da Ciência Econômica, a macroeconomia, foi explorada
nas aulas oito e nove, em que tratamos de sua conceituação, das três principais áreas de
desenvolvimento de suas políticas econômicas - monetária, fiscal e cambial - e do comércio
internacional sob a perspectiva econômica. Na aula dez, estabelecemos um diálogo entre
ELEMENTOS COMPLEMENTARES
LIVRO
FILME
WEB
O canal de vídeos “Xadrez Verbal” conta com diversas playlists sobre diversos temas de
caráter coletivo - dos sociais aos culturais -e também sobre história, economia e política
brasileira e internacional.
<https://www.youtube.com/user/xadrezverbal>
REFERÊNCIAS
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 2004.
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brasil247.com/pt/247/revista_oasis/89206/S%C3%B3-existe-uma-ra%C3%A7a-e-ela-
surgiu-na-%C3%81frica.htm. Acesso em: 07 nov. 2014.
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