Aula 05 - A Doutrina de Anjos e Demônios

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AULA 05 • MÓDULO 01

A doutrina de

ANJOS e Demônios.
Ele respondeu: "Eu vi Satanás caindo do céu como relâmpago.

Lucas 10:18

introdução
Quando criou o mundo, “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gn
1.31). Isso significa que mesmo o mundo angélico que Deus criara não tinha ainda
anjos maus ou demônios naquele momento. Mas já em Gênesis 3, vemos que Satanás,
na forma de uma serpente, tentava Eva ao pecado (Gn 3.1-5). Portanto, em algum
momento entre os eventos de Gênesis 1.31 e Gênesis 3.1 deve ter havido uma rebelião
no mundo angélico, na qual muitos anjos se voltaram contra Deus e se tornaram maus.
O Novo Testamento fala disso em dois trechos. Pedro nos diz: “Deus não poupou
anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no inferno, os entregou a abismos de
trevas, reservando-os para juízo” (2Pe 2.4).

Judas também diz que os anjos “que não guardaram o seu estado original, mas
abandonaram o seu próprio domicílio, ele tem guardado sob trevas, em algemas
eternas, para o juízo do grande Dia” (Jd 6). Novamente enfatiza-se o fato de terem
sido afastados da glória da presença de Deus e de sua atividade (metaforicamente,
estão em “algemas eternas”), mas o texto não implica que a influência dos demônios
foi afastada do mundo, nem que alguns demônios são mantidos em algum lugar de
castigo longe do mundo, enquanto outros podem influenciá-lo. Antes, tanto 2 Pedro
quanto Judas nos dizem que alguns anjos se rebelaram contra Deus e se tornaram
hostis adversários da sua Palavra. Seu pecado, aparentemente, foi o orgulho, a recusa
de aceitar o lugar que lhes foi reservado, pois “não guardaram o seu estado original,
mas abandonaram o seu próprio domicílio” (Jd 6). É também possível que haja uma
referência à queda de Satanás, o príncipe dos demônios, em Isaías 14.

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Descrevendo o juízo de Deus contra o rei da Babilônia (rei terreno, humano), a partir
de certo ponto Isaías passa a usar uma linguagem que parece forte demais para referir-
se a qualquer rei meramente humano:

Como caíste do céu, ó estrela da manhã,3 filho da alva! Como foste lançado por
terra, tu que debilitavas as nações! Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu;
acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me
assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei
semelhante ao Altíssimo. Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no
mais profundo do abismo (Is 14.12-15).

Essa linguagem de subir ao céu e exaltar o trono, e dizer “Serei semelhante ao


Altíssimo”, sugere fortemente a rebelião de uma criatura angélica de grande poder e
dignidade. No discurso profético hebraico não é incomum passar de descrições de
acontecimentos humanos para descrições de eventos celestes que lhes sejam
análogos, e que os acontecimentos terrenos retratam de modo limitado. Sendo
assim, o pecado de Satanás é pintado como o orgulho e a tentativa de se igualar a
Deus em posição e autoridade.

satanás como chefe dos demônios


“Satanás” é o nome do chefe dos demônios. Esse nome é mencionado em Jó 1.6, onde
lemos: “... os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o S e n h o r, veio também
Satanás entre eles” (ver também Jó 1.7-2.7). Aqui ele aparece como inimigo do
Senhor, que impõe severas tentações a Jó. Do mesmo modo, perto do fim da vida de
Davi, “Satanás se levantou contra Israel e incitou a Davi a levantar o censo de Israel”
(lC r 21.1). Além disso, Zacarias teve uma visão e contemplou “o sumo sacerdote
Josué, o qual estava diante do Anjo do S e n h o r , e Satanás [que] estava à mão direita
dele, para se lhe opor” (Zc 3.1). O nome “Satanás” é uma palavra hebraica (satãn) que
significa “adversário”.

O Novo Testamento também usa o nome “Satanás”, simplesmente tomando-o


emprestado do Antigo Testamento. Assim Jesus, sendo tentado no deserto, fala a
Satanás diretamente, dizendo: “Retira-te, Satanás” (Mt 4.10) ou “Eu via Satanás
caindo do céu como um relâmpago” (Lc 10.18). A Bíblia usa também outros nomes
para Satanás. Ele é chamado “Diabo” (somente no Novo Testamento: Mt 4.1; 13.39;
25.41; Ap 12.9; 20.2), “serpente” (Gn 3.1, 14; 2Co 11.3; Ap 12.9; 20.2), Belzebu (Mt
10.25; 12.24,27; Lc 11.15), “príncipe deste mundo” (Jo 12.31; 14.30; 16.11),
“príncipe da potestade do ar” (Ef 2.2) ou “maligno” (Mt 13.19; Jó 2.13). 

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Quando Jesus fala a Pedro: “Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque
não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens” (Mt 16.23), ele reconhece que
a tentativa de Pedro de evitar que sofra e morra na cruz é na verdade uma tentativa de
afastá-lo da obediência aos desígnios do Pai. Jesus percebe que a oposição vem em
última análise não de Pedro, mas do próprio Satanás.
a atividade de satanás e seus demônios
1. Satanás originou o pecado.

Satanás pecou antes que qualquer ser humano o fizesse, como se depreende do fato de
ele (na forma de uma serpente) ter tentado Eva (Gn 3.1-6; 2Co 11.3). O Novo
Testamento também nos informa que Satanás “foi homicida desde o princípio” e é
“mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44). Também diz que “o Diabo vive pecando desde
o princípio” (lJo 3.8). Nos dois textos, a expressão “desde o princípio” não implica que
Satanás é mau desde o início da criação do mundo (“desde o princípio do mundo”)
nem desde o início da sua existência (“desde o princípio da sua vida”), mas sim desde a
fase “inicial” da história do mundo (Gênesis 3 e mesmo antes). O Diabo se caracteriza
por ter dado origem ao pecado e por tentar os outros ao pecado.

2. Os demônios se opõem a toda obra de Deus, tentando destruí-la.

Assim como Satanás levou Eva a pecar contra Deus (Gn 3.1-6), também tentou fazer
Jesus pecar e assim falhar na sua missão de Messias (Mt 4.1-11). As táticas de Satanás e
dos seus demônios são a mentira (Jo 8.44), o engano (Ap 12.9), o homicídio (SI
106.37; Jo 8.44) e todo e qualquer tipo de ação destrutiva no intuito de fazer as
pessoas se afastarem de Deus, rumo à destruição. Os demônios lançam mão de
qualquer artifício para cegar as pessoas ao evangelho (2Co 4.4) e mantê-las presas a
coisas que as impedem de aproximar-se de Deus (G1 4.8). Também procuram usar a
tentação, a dúvida, a culpa, o medo, a confusão, a doença, a inveja, o orgulho, a calúnia,
ou qualquer outro meio para obstruir o testemunho e a utilidade do cristão.

3. Contudo, os demônios estão limitados pelo controle de Deus e têm poder


restrito.

A história de Jó deixa claro que Satanás podia fazer só o que Deus lhe permitia, e nada
mais (Jó 1.12; 2.6). Os demônios são mantidos em “algemas eternas” (Jd 6), e os
cristãos podem muito bem resistir-lhes por intermédio da autoridade que Cristo nos
legou (Tg 4.7). Além disso, o poder dos demônios é limitado. Depois de rebelar-se
contra Deus, eles já não têm o poder que tinham quando eram anjos, pois o pecado é
uma influência debilitante e destruidora. O poder dos demônios, embora significativo,
é portanto provavelmente menor que o dos anjos.

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No campo do conhecimento, não devemos pensar que os demônios conseguem


prever o futuro, ler a nossa mente ou conhecer os nossos pensamentos. Em muitas
passagens do Antigo Testamento, o Senhor se distingue como o Deus verdadeiro, em
oposição aos falsos (demoníacos) deuses das nações, pelo fato de só ele conhecer o
futuro: “Eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio
anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não
sucederam” (Is 46.9-10). Mesmo os anjos não sabem o tempo da volta de Jesus (Mc
13.32), e as Escrituras tampouco indicam que eles ou os demônios saibam qualquer
coisa sobre o futuro. Com respeito aos nossos pensamentos, a Bíblia nos diz que Jesus
conhecia os pensamentos das pessoas (Mt 9.4; 12.25; Mc 2.8; Lc 6.8; 11.17) e que
Deus conhece os pensamentos das pessoas (Gn 6.5; Sl 139.2, 4, 23; Is 66.18), mas não
há indicação de que anjos ou demônios possam conhecê-los.

Fatos contemporâneos de curandeiros, adivinhadores ou outros, evidentemente sob


influência demoníaca, capazes de dar detalhes precisos da vida de uma pessoa,
detalhes que ela pensava que ninguém mais conhecia, como (por exemplo) o que
comeu no café da manhã, onde guarda dinheiro escondido em casa, etc. É possível
explicar a maioria deles pela compreensão de que os demônios podem observar o que
acontece no mundo, e assim provavelmente tirar algumas conclusões dessas
observações. Um demônio pode saber o que comi no café da manhã simplesmente
porque me viu comer! Pode saber o que eu disse numa conversa telefônica particular
porque ouviu a conversa. Os cristãos não se devem deixar desencaminhar caso se
deparem com membros de seitas ocultistas ou de outras falsas religiões que pareçam
exibir estranhos conhecimentos de quando em quando. Como não passam do
resultado da observação, esses conhecimentos não provam que os demônios podem
ler os nossos pensamentos, e nada na Bíblia nos leva a pensar que eles têm esse poder.

A Natureza dos Anjos


“São seres espirituais criados, dotados de juízo moral e alta inteligência, mas
desprovidos de corpos físicos” (GRUDEM, 1999, p. 323). Sabemos que os seres
espirituais são assim porque não possuem fisicalidade como nós, humanos. Anjos
não são vistos porque são espirituais. Não existe um registro deles possuindo corpo
físico. Quando eles aparecem no AT “como homens”, existe um nível de encarnação
dos anjos. Eles se manifestam por meio de uma figura “humana”. Eles são seres
dotados de julgamento moral, conseguindo julgar o certo e o errado, e possuem
alta inteligência. Eles são tratados como figuras que conhecem a realidade, o
mundo, o cosmos, o mundo espiritual, a doutrina e as verdades acerca de Deus.
Anjos foram criados (Sl 148.2,5; Cl 1.16). Eles não existem desde sempre, mas
foram formados pelo próprio Senhor.
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Nas Escrituras os anjos pertencem ao âmbito do mistério. Eles vêm e vão; falam e
desaparecem; agem e não são encontrados em lugar algum. Muitas vezes
apareceram em momentos importantíssimos na história bíblica; por exemplo, no
NT, no nascimento de Jesus, em sua ressurreição e em sua ascensão, e reaparecerão
em seu futuro retorno. Os anjos nunca chamam a atenção para si próprios, mas
invariavelmente apontam para outra coisa — muitas vezes misteriosa, até
incompreensível. Eles sempre parecem ser parte da ação de Deus e têm existência
ao Seu lado ou em relação a Ele. A existência dos anjos é uma questão de pouco
interesse bíblico; a atividade deles é assunto de muito mais interesse. Agora, o que
podemos dizer acerca da natureza dos anjos? Aqui precisamos exercer certa
modéstia, já que eles provavelmente não reclamariam tamanha atenção e porque as
Escrituras não fornecem muita informação a respeito disso. Vamos, portanto,
mover-nos com circunspeção.

A palavra “anjo” em grego é angelos. Pode ser referência a um mensageiro humano,


como em Marcos 1.2: “Enviarei à tua frente o meu mensageiro [João Batista]; ele
preparará o teu caminho” (v. Mt 11.10; Lc 7.27); Lucas 7.24: “Depois que os
mensageiros de João foram embora [...]”; Lucas 9.52: “[...] e enviou mensageiros à
sua frente”; Tiago 2.25: “Raabe [...] acolheu os emissários e os fez partir por outro
caminho” (ARA). Em todas elas, encontra-se alguma forma de anjos,
representando um mensageiro humano. Entretanto, em todos os outros casos no
NT, angelos refere-se a um mensageiro celestial.

Os anjos são seres morais.

Quando consideramos a natureza dos anjos, precisamos reconhecer que eles


pertencem a uma das seguintes categorias: os santos ou os não santos. Os “santos
anjos” são o interesse principal das Escrituras; são anjos de Deus ou os anjos de
Cristo, muitas vezes chamados simplesmente “anjos” com o entendimento de que
são santos e bons. Aliás, faz-se referência a anjos santos nas Escrituras sempre que a
palavra “anjos” (ou “anjo”) aparece, exceto em quatro casos: Mateus 24.41; 2Pedro
2.4; Judas 6 e Apocalipse 12.7-9.28. Antes de prosseguir no estudo dos anjos bons
ou santos, vamos comentar brevemente sobre essa categoria negativa. De acordo
com 2 Pedro e Judas, há anjos que pecaram, perderam sua alta posição anterior e
são mantidos em “abismos tenebrosos” até o dia do julgamento. Em Mateus, Jesus
fala do “Diabo e os seus anjos”, para quem está preparado o “fogo eterno”. O livro
de Apocalipse fala do “dragão [Satanás] e os seus anjos” e como eles foram
lançados sobre a terra.

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C U R S O D E D O U T R I N AS
Pelas passagens de 2 Pedro e Judas evidencia-se que anjos impuros são na realidade
anjos decaídos e, em Mateus e Apocalipse, que estão associados com o Diabo
(Satanás). Além disso, não há nenhum retrato bíblico claro da atividade deles. É
possível que os demônios — espíritos impuros ou malignos — mencionados com
frequência, especialmente no NT, sejam anjos decaídos; entretanto, essa ligação
não é declarada. De qualquer modo, essa discussão acerca de anjos será
concentrada nos anjos santos ou não decaídos, pois, conforme foi dito, é deles que
a Escritura se ocupa quase totalmente. Vamos ao nosso ponto básico: o próprio
fato da existência de anjos tanto decaídos como não decaídos demonstra que os
anjos são seres morais. Fica evidente pelos registros em 2 Pedro e Judas que os
anjos que caíram eram culpados de uma decisão moral orgulhosa; eles
“abandonaram sua própria morada” (Jd 6 ).

Isso implica que outros anjos não tomaram a mesma decisão e permanecem na
vontade de Deus desde o princípio. Assim, os anjos santos não são simplesmente
santos por necessidade, mas mantiveram a própria santidade e bondade por uma
escolha moral livre. Os anjos — e daqui em diante vamos usar essa designação para
anjos santos — são seres morais. Eles são confirmados na santidade por decisão
moral e servem como mensageiros de Deus numa liberdade de compromisso total.
Como seres morais, estão também sempre do lado da retidão e da justiça entre as
pessoas. De tal caráter são os anjos revelados a nós na Escritura Sagrada

Os anjos são espíritos.

Os anjos são seres espirituais puros. No livro de Hebreus os anjos são descritos
como ‘espíritos ministradores” (1.14). A palavra traduzida por “espíritos” é
pneumata, a forma plural pneuma (“espírito”), também usada em relação a Deus,
por exemplo, em João 4.24: “Deus é espírito”. Os anjos, portanto, são seres reais
cuja natureza, como a de Deus, é totalmente espiritual. Isso não é um atributo ou
qualidade da existência deles; antes, em essência, os anjos são espíritos. Os anjos,
por conseguinte, são incorpóreos: não têm corpo. Um espírito, um pneuma, não
tem carne ou ossos. Jesus numa manifestação ressurreta a seus discípulos disse:
“Vejam as minhas mãos e os meus pés. Sou eu mesmo! Toquem-me e vejam; um
espírito não tem carne nem ossos, como vocês estão vendo que eu tenho” (Lc
24.39). Os anjos são espíritos, portanto, sem carne ou ossos: são incorpóreos.
Agora, por um lado, isso não significa que os anjos não tenham forma. Eles não são
nebulosos, informes, amorfos. Os anjos têm existência particular assim como Deus
e as pessoas. Por outro lado, ter forma não significa que os anjos possuam algum
tipo de corporalidade. Às vezes se pensa que, ocasionalmente, os anjos podem ser
vistos como uma luz vaga, vaporosa, que aparece e desaparece. 

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Os anjos são criaturas finitas

Os anjos foram criados por Deus; são, portanto, criaturas dEle. Nas lindas palavras
de abertura do Salmo 148, há primeiro um chamado para os anjos, o exército
celestial, louvarem ao Senhor: “Aleluia! Louvem ao Senhor desde os céus, louvem-
no nas alturas! Louvem-no todos os seus anjos, louvem-no todos os seus exércitos
celestiais”. Segue-se um chamado para todo o exército cósmico: “Louvem-no sol e
lua, louvem-no todas as estrelas cintilantes”. Depois disso, o salmista, dirigindo-se
aos exércitos tanto celestial como cósmico, entoa: “Louvem todos eles o nome do S
e n h o r , pois ordenou, e eles foram criados”. Os anjos, bem como o Sol e a Lua; o
exército celestial, bem como as estrelas cintilantes, são criaturas de Deus: ao seu
comando todos passaram a existir. Em correspondência com as palavras há pouco
citadas de Colossenses 1.16 — “Nele foram criadas todas as coisas nos céus e na
terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades”
— , as “ordens invisíveis”  que consistem em tronos, domínios, governantes e
autoridades referem-se aos anjos. Assim, Deus criou não só todas as coisas visíveis
— tudo no Universo físico (os céus e a terra visíveis, todos os seres vivos, incluindo
a humanidade) — , mas também o vasto reino invisível de seres angelicais. Eles
também são criação de Deus em Cristo; são igualmente suas criaturas.

Os anjos são assexuados .

Os anjos não são nem machos nem fêmeas: são seres assexuados. Eles são pessoais,
conforme acabamos de discutir, mas pessoalidade não significa sexualidade para os
anjos. A declaração mais nítida desse efeito encontra-se nas palavras de Jesus acerca
da futura ressurreição das pessoas: “Quando os mortos ressuscitam, não se casam
nem são dados em casamento, mas são como os anjos nos céus” (Mc 12.25). A
sexualidade e o casamento pertencem ao reino terreno onde na primeira criação o
homem e a mulher receberam a ordem: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham
[...] a terra!” (Gn 1.28). A raça humana não apareceu in totum no princípio; assim,
a sexualidade e a reprodução eram essenciais para sua multiplicação. Foi assim que
Deus fez os seres humanos — bem diferentes dos anjos. Os anjos eram assexuados
desde o início, pois Deus não os criou como um casal para encher a terra, mas em
vasto número para habitar no céu. Eles não formavam — e não formam — uma
raça que continua a se multiplicar por nascimento, mas uma companhia que existe
totalmente desde sua criação original. Assim, não há necessidade de um meio de
reprodução. Conforme já discutimos, os anjos às vezes aparecem como seres
humanos; aliás, observamos alguns casos em que são descritos como homens.
Entretanto, essa descrição de modo algum quer dizer que os anjos são masculinos. 

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Já que o anjo é um “mensageiro”, e os mensageiros nas Escrituras são basicamente


entendidos como homens, segue-se que sejam referidos como homens. Entretanto,
deve-se acrescentar, a vestimenta deles, quando mencionada, não é
necessariamente masculina: pode, por exemplo, ser “roupas que brilhavam como a
luz do sol” ou “roupas brancas”, e essas são expressões neutras. Na realidade, esse
linguajar indica mais o brilho e a pureza dos anjos do que descrições de vestes.

Uma palavra final acerca dos anjos como pessoas assexuadas: para os seres
humanos, a sexualidade está tão relacionada com a pessoalidade que pode nos ser
difícil pensar em seres assexuados como pessoas plenas. Ainda assim, como se
observou, Jesus ensina que na ressurreição por vir seremos como anjos, não nos
casando nem nos dando em casamento, Isso significaria uma diminuição em
pessoalidade e em relacionamento pessoal encontrados na beleza de uma relação
matrimonial feliz? Certamente não pode significar isso, já que a vida por vir deve
ser de plenitude, não diminuição, talvez por meio de relacionamentos de tão
grande intensidade que em muito transcenda a contida no melhor casamento sobre
a terra. Se for assim, os anjos mesmo agora podem conhecer e experimentar entre si
e com Deus um relacionamento que mal podemos imaginar. Ele bem pode ser
grande e profundamente pessoal.

c l a s s i f i ca çã o d o s a n j o s

Arcanjos

Por definição, o arcanjo é um “anjo superior”, Juízes traz: “O Senhor se voltou para
ele e disse [...]” ( Jz 6.11,14). 2 Samuel 14.20, em que se diz que “o anjo de Deus” é
tão sábio que “nada lhe escapa de tudo o que acontece no país”, e Zacarias 12.8, em
que “Deus” e “o anjo do Senhor” são imediatamente ligados. Teofania significa
“aparição de Deus”. Interessante as palavras em Isaías 63.9, em que o profeta diz: “O
anjo da sua presença os salvou”. Essa expressão é uma linda combinação dos dois
aspectos: um anjo, mas também a presença de Deus. Pode-se falar disso como
visitas temporárias da segunda pessoa da Trindade, antes de sua vinda em carne
humana. V. Mateus 1.20; 2.13,19; 28.2; Lucas 1.11; 2.9; João 5.4; Atos 5.19; 8.26;
12.7,23; Gálatas 4.14. Arché em grego significa “primeiro”; “a primeira pessoa ou
coisa numa série, o líder” (Thayer). Já observamos que arché pode ser traduzido
por “governantes”. Um arcanjo é, portanto, um chefe, um governante, até um
príncipe dos anjos. Na realidade, a palavra “arcanjo” é empregada só duas vezes.
Vamos observar esses dois casos. Um lugar em que a palavra ocorre é
ITessalonicenses 4.16, em que Paulo fala da “voz do arcanjo”. Isso, em relação ao
retorno de Cristo: “Dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de
Deus, o próprio Senhor descerá dos céus”. Literalmente, é “com uma voz de um
arcanjo”, implicando com isso que não existe apenas um arcanjo.

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A identidade desse arcanjo não é mencionada, talvez porque a figura de fato
importante é o próprio Senhor. O que pode ser significativo, porém, é que se trata
de um arcanjo, não um simples anjo, cuja voz será ouvida na volta do Senhor. É
possível que esse arcanjo seja Gabriel. Embora já tenhamos observado que ele é
chamado de “o anjo Gabriel” no evangelho de Lucas, não há menção de Gabriel
como um “arcanjo”. Entretanto, Gabriel fala de si mesmo da seguinte maneira: “Sou
Gabriel, o que está sempre na presença de Deus” (Lc 1.19), uma declaração que
insinua alta posição. Além disso, é função de Gabriel anunciar o futuro nascimento
de Cristo a Maria; é sua voz que exclama: “Alegre-se, agraciada! O Senhor está com
você!” (Lc 1.28). Ele é o anjo da anunciação. Já que Gabriel anunciou a primeira
vinda de Cristo, bem pode ser — ainda que não se possa provar — que ele vai
anunciar a segunda vinda. Nesse caso, ele será pela segunda vez o anjo da
anunciação! Isso também significaria que Gabriel é o arcanjo cuja voz um dia será
ouvida na volta de Cristo.

Anjos e querubins

Os anjos chamados querubins são mencionados mais de 90 vezes no AT e uma vez


no NT. Não há descrição clara da aparência deles, exceto pelo fato de que são
representados como criaturas em geral com asas. Em todo caso, são de grande
esplendor e poder no serviço de Deus. Os querubins são retratados servindo
especialmente de duas maneiras, sendo a primeira delas guardar a santidade de
Deus. Isso se evidencia logo no livro de Gênesis, onde lemos que, quando o
homem pecou, “depois de expulsar o homem, [Deus] colocou a leste do jardim do
Éden querubins e uma espada flamejante que se movia, guardando o caminho para
a árvore da vida” (3.24). Os querubins e a espada flamejante evitavam que o
homem e a mulher pecadores voltassem à presença do Deus santo e, como
pecadores, participassem da vida eterna. Os querubins são em seguida retratados
no livro de Êxodo como figuras esculpidas de ouro nas duas pontas do
propiciatório da arca da aliança no tabernáculo. Eles ficavam frente a frente,
abrindo suas asas e cobrindo toda a arca (25.18-22).

Assim, simbolicamente, os querubins protegiam o conteúdo sagrado da arca


(especialmente os Dez Mandamentos) e também formavam o ambiente para Deus
falar: “Ali, sobre a tampa, no meio dos dois querubins que se encontram sobre a
arca da aliança, eu me encontrarei com você [...]” (v. 22). Também no véu que
separava o Lugar Santíssimo (contendo a arca) do Lugar Santo do tabernáculo,
havia querubins bordados (26.31). Assim, de novo, os querubins representam
guardiões do Santíssimo. Tudo isso é mais tarde repetido com alguma variação na
construção do templo (v. 1Rs 6.23-35; 2Cr 3.7-14). No mínimo, os querubins do
templo são ainda mais impressionantes, com envergadura de 15 metros, cobrindo
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uma parede inteira. Assim, seja junto à porta do Éden, seja no tabernáculo, seja no
templo, os querubins são vistos como guardiões do Santo e também do lugar da
santa presença de Deus. Eles são vistos não só como um pedestal fixo para o trono
de Deus, mas também como um pedestal móvel.

Os serafins

Há também os seres angelicais chamados “serafins”. Diferentes dos querubins,


mencionados muitas vezes na Bíblia, só há uma referência indubitável aos serafins,
a saber, em Isaías 6 . Numa visão do templo com Deus assentado sobre um trono
elevado e exaltado, Isaías também vê os serafins: “Acima dele estavam serafins; cada
um deles tinha seis asas: com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os pés e
com duas voavam” (v. 2). De novo, assim como com os querubins, há a descrição
de asas, mas, os serafins têm seis (em lugar de quatro ou duas). Além disso, os
serafins ficam acima de Deus e de seu trono; não sob ele (como os querubins), mas
acima. Em seguida, observamos que as asas dos serafins estavam sendo usadas de
um modo surpreendente. Eles voavam com duas asas, mas o voo não era um
movimento em alguma direção, pois os serafins mantinham-se acima dele, portanto
suspensos, sem mudanças de posição. Duas asas cobriam a face em temor diante da
glória do Senhor; duas asas cobriam os pés em humildade diante da majestade
irresistível. Então um proclamava ao outro: “Santo, santo, santo é o S e n h o r dos
Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória” (v. 3).

Com o clamor, as próprias fundações tremeram e a fumaça da santa presença de


Deus encheu o templo. Os serafins, pois, são apresentados como seres que, diante
do trono de Deus, cultuam constantemente Deus e declaram sua santidade. São
também — como demonstra a cena — os emissários do perdão divino, pois um
dos serafins desceu para tocar a boca de Isaías e purgou seu pecado e culpa (v. 5-8).
Os serafins são seres santos que se empenham para que toda a terra esteja repleta da
santidade e da glória de Deus. Ao comparar querubins e serafins, fica evidente que,
embora ambos estejam bem ligados a Deus e à sua santidade, a esfera de atividade
deles não é a mesma. Os querubins protegem a santidade de Deus, sustentam seu
trono e até servem como carruagem dele. Nesse sentido, são servos de Deus. Os
serafins estão em nível superior, acima até do trono de Deus, e estão
constantemente declarando a santidade e o louvor de Deus, sempre prontos para
cumprir suas ordens. São “os mais nobres dentre os anjos”. Os querubins e serafins
são como um lindo círculo em torno do trono de Deus, tendo na metade de baixo
os querubins, e na de cima, os serafins. Juntos, em perfeita unidade, vivem para
glorificar Deus.

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CURSO DE DOUTRINAS
Seitas em torno dos anjos
Quanto à presença de anjos nas revelações do islamismo e do mormonismo,
podemos aplicar novamente as palavras de Paulo: “Mas, ainda que nós ou mesmo
um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos
pregado, seja anátema” (G1 1.8). Assim, já que as mensagens de Maomé e de
Joseph Smith contradizem o evangelho de Jesus Cristo, podemos afirmar que estas
são revelações falsas. Mesmo se fossem entregues por anjos, evidentemente esses
anjos seriam demônios, porque um anjo eleito nunca daria um evangelho diferente
daquele que a Bíblia ensina. Por outro lado, nunca foi comprovado que foram anjos
que visitaram os profetas nessas revelações. No caso de Joseph Smith, existem
várias contradições nas diversas histórias que ele contou sobre o que aconteceu.

Isto, aliado ao fato de que ele era conhecido pela prática de enganar pessoas com
histórias de poderes sobrenaturais, parece suficiente para colocar em dúvida tudo
que ele disse acerca da questão. No caso de Maomé, ele recebeu as revelações num
estado de consciência alterada, semelhante a um episódio de epilepsia. Nenhuma
testemunha pôde confirmar a presença de um anjo que lhe deu o conteúdo do
Alcorão. Nosso estudo apologético sobre os anjos não seria completo sem
responder às alegações das testemunhas de Jeová a respeito da identidade do
arcanjo Miguel. Não é difícil entender como as testemunhas de Jeová se
confundiram em relação a Miguel. Uma vez negando a divindade de Cristo, a
tentação de torná-lo igual a qualquer outra criatura é grande. Mas contra essa
afirmação, podemos notar o seguinte:

Primeiro, o autor de Hebreus (1.5-8) faz uma série de perguntas retóricas a


respeito dessa questão, que pressupõem uma resposta negativa. Assim, ele indaga:
“Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei?” A resposta é
óbvia: a nenhum! No versículo 6, os anjos adoram ao Filho mas, no versículo 8, o
Pai diz acerca do Filho: “O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre”. Não existe
dúvida de que o autor de Hebreus colocou Jesus Cristo num patamar acima de
todos os anjos. Visto que Miguel é um anjo e Jesus Cristo não é, deduz-se que
Miguel evidentemente não é Jesus Cristo. A segunda consideração é o fato de que o
arcanjo Miguel não tinha poder e autoridade em si mesmo, para enfrentar Satanás
(Jd 9). Por outro lado, Jesus Cristo tem toda autoridade no céu e na terra (Mt
28.19). Vimos em nosso estudo sobre os demônios que Jesus mostrou sua própria
autoridade sobre as potestades e poderes de Satanás. Ele não precisou apelar para a
ajuda do Senhor, para repreender o diabo, porque ele mesmo é o Senhor, ao passo
que Miguel é um mero servo do Senhor, uma criatura de Deus. A conclusão
irrefutável, portanto, é que Jesus e Miguel, o arcanjo, não são a mesma pessoa.

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CURSO DE DOUTRINAS

anotações

Referências bibliográficas

GRUDEM , Wayne. Teologia Sistemática - Atual e Exaustiva. 2. ed. São Paulo: Editora Vida, 2010.

FERREIRA, Franklin. Teologia Sistemática - uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. 1. ed. São
Paulo: Editora Vida, 2007.

WILLIAMS, J.Rodman. Teologia Sistemática - Uma perspectiva pentecostal 1. ed. São Paulo: Editora Vida, 2011.

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