5-As Ciencias Humanas
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Material Teórico
As Ciências Humanas
Revisão Textual:
Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos
As Ciências Humanas
• As Ciências Humanas
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Apresentar uma síntese da discussão filosófica em torno das ciências
humanas, como caracterizá-las, a maneira como a teoria interage
com a prática.
ORIENTAÇÕES
Nesta unidade, você conhecerá alguns aspectos dos saberes que vieram a
ser agrupados sob a bandeira de “Ciência Humana”; uma análise da sua
distinção em relação aos chamados saberes teóricos e como as ciências
humanas assumem um duplo papel de teoria e prática.
Além disso, para que a sua aprendizagem ocorra num ambiente mais intera-
tivo possível, na pasta de atividades, você também encontrará as atividades
de Avaliação e uma Atividade Reflexiva. Cada material disponibilizado é mais
um elemento para seu aprendizado.
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Contextualização
Leia o texto extraído dos parâmetros curriculares nacionais para ensino médio em relação à
Explor
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“O que significa uma ciência do humano?”
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de Adam Smith, foi somente no século XIX e no século XX que as ciências humanas
ganharam força a ponto de serem postuladas como autônomas em relação à
especulação filosófica. Nesse contexto, podemos incluir tanto a proposição de uma
“física social” por Auguste Comte (mais tarde rebatizada como sociologia), como
os trabalhos de Edward Tylor, Alfred Kroeber, Émile Durkheim, Max Weber, Karl
Marx, Sigmund Freud, B. F. Skinner e uma longa lista de pensadores notáveis que
contribuíram para circunscrever diferentes aspectos nos fenômenos humanos.
Figura 1 - Aristóteles
Fonte: Wikimedia Commons
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a clareza de que ao contrário das ciências tidas como teoréticas, os saberes voltados
para o agir e o produzir humanos carregam intencionalidade, não é possível agir
e/ou produzir sem intenção.
As ciências tidas como ciências naturais buscam explicar o nexo causal dos
fenômenos, os quais inclusive correspondem a acontecimentos que independem da
vontade direta ou da intencionalidade do seu observador. Por exemplo, se aquecida
a uma temperatura determinada (causa) a água irá ferver (efeito); atendidas essas
condições (o aquecimento), esse fenômeno não deixa da acontecer apenas porque
o observador assim o deseja.
Quando lidamos com aquilo que Dilthey nomeou de ciências do espírito1 (ciências
humanas), a busca passa a ser pela compreensão do fenômeno, ou seja, apreender
a rede de intenções que se articulam para a manifestação daquele fenômeno.
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Iremos seguir de agora em diante a sugestão do tradutor Marco Antônio Casanova, que
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sinaliza com o uso do termo “ciências humanas” para aproveitar o uso corrente na língua
portuguesa, apesar de o termo original usado por Dilthey ser Geisteswissenschaften, que
numa tradução mais literal seria “ciência do espírito”.
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Isso nos conduz à ousada proposta do professor Hilton Japiassu, em seu O mito
da neutralidade científica:
As ciências humanas, tais como elas existem, em suas condições reais
de realização, apresentam-se como técnicas de intervenção na realidade,
participando ao mesmo tempo do descritivo e do normativo: são
praxeologias. A análise epistemológica não tem o direito de dissociar,
no domínio das disciplinas humanas, uma teoria científica de uma técnica
de aplicação, pois não somente se dão sentido uma à outra, mas também
determinam-se reciprocamente.
E ainda:
Num sentido bastante lato, o termo praxeologia pode ser entendido
como conjunto dos equipamentos técnico-metodológicos fornecidos
sobretudo pelas ciências humanas, tendo em vista intervir e transformar
os horizontes do agir humano e de seus comportamentos sociais.
(JAPIASSU, 1975, p. 50 – 51.)
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1. O ser humano passa a ser objetivado (visado, estudado) como ator dos seus
próprios comportamentos.
2. As diferentes ciências humanas, na medida em que elaboram modelos
teóricos visando não apenas a compreensão, mas, além disso, até mesmo
a antecipação de comportamentos, podem – e o têm feito – realizar
aconselhamento científico. Nas mais diferentes esferas, governos, empresas,
organizações diversas no mundo acadêmico ou no chamado terceiro setor.
3. Na condição praxeológica, as ciências humanas dissociariam a finalidade
de execução da finalidade de intenção ou destino (conf. JAPIASSU,
1975. p. 58). Na verdade, voltar-se-iam principalmente para primeira,
buscando um aprimoramento constante da capacidade da realização dos
fins a serem alcançados.
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O que dizer então do Marketing? Enquanto uma das áreas funcionais das
empresas modernas é “responsável por administrar as relações da empresa com
o mercado” (conf. MAXIMIANO, 2000, p. 240), esse tipo de mediação produz
conhecimento, tanto através de publicações, como em teses acadêmicas, além
de expertise para os profissionais do ramo, e dessa maneira assume a condição
de modelo de intervenção ao orientar as ações da empresa com a finalidade de
melhorar ao máximo as relações com o mercado, o que se traduziria em ganhos
de imagem e de vendas.
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Em uma linha de atuação diferente, a psicanálise
também produz um conhecimento que pode ser
classificado como praxeológico, afinal constrói
um modelo teórico que busca auxiliar na
compreensão da vida anímica, compreensão
esta que se originou por um longo processo de
questionamento clínico do então jovem médico
neurologista Sigmund Freud. No final do
século XIX, ele se deparou com sintomas cujas
enfermidades não podiam ser localizadas no corpo
físico, então começou gradualmente a construir
não apenas um modelo abstrato para entender
aquele fenômeno, mas, também, uma prática
clínica que auxiliasse e orientasse o paciente em
um processo de autoconhecimento, levando este a
uma “reconciliação” consigo mesmo ao desarticular
Figura 3 - Sigmund Freud seus conflitos interiores que até o momento eram
Fonte: Wikimedia Commons a fonte dos sintomas e do sofrimento psíquico.
Por fim, outra ciência humana que cumpre os requisitos para a condição
praxeológica é a economia.
Como bem nos lembra Japiassu (conf. JAPIASSU, p. 61, 1975), as leis
econômicas “não são nem psicológicas nem tampouco não-psicológicas”. Ou seja,
elas não são apenas produto das escolhas dos sujeitos e, portanto, mais fortemente
subjetivas e variáveis, como não são exatamente uma força natural, algo similar
àquelas relações investigadas pela física que buscam se posicionar como a-históricas
e completamente exteriores, independentes da vontade individual – sempre
lembrando que mesmo para as ciências naturais essa situação de estar “fora da
história ou de suas influências” é vista como problemática para alguns pensadores
–; de qualquer forma, essa dimensão “natural” não se encaixa completamente ao
saber econômico.
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Todos esses cenários possíveis envolvem comportamento, escolhas feitas
mediante valorações que os próprios indivíduos atribuem em diferentes níveis
a diferentes coisas; nesse contexto, essa lei econômica conseguiria flertar com
abordagens realizadas pela psicanálise e pela psicologia.
Uma leitura distinta pode ser feita de uma segunda lei econômica, a saber:
Lei dos rendimentos de decrescentes – de acordo com essa lei: “[...] ampliando-
se a quantidade de um fator variável, permanecendo fixa a quantidade dos demais
fatores, a produção, de início, aumentará a taxas crescentes; a seguir, após certa
quantidade utilizada do fator variável, passará a aumentar a taxas decrescentes;
continuando o aumento da utilização do fator variável, a produção decrescerá”
(idem, p. 340).
Figura 5 - Agricultores
Fonte: iStock/Getty Images
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Essa lei da economia se debruça sobre aspectos práticos-técnicos que não estão
sujeitos aos caprichos do arbítrio; a curva de declínio da produtividade é investigada
com rigor e ferramental matemático, mesmo assim não descrevem fenômenos
de universalidade a-histórica como fenômenos da química ou da física. Novas
tecnologias e técnicas podem alterar o ponto de declínio da produção.
Por fim, há outras indagações filosóficas a serem feitas, não apenas às ciências
humanas, mas à cientificidade de uma forma geral: “A Razão tornou-se sinônimo
de cientificidade?”. “É a razão na sua forma científica capaz de abarcar a totalidade
da experiência humana?”.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Filosofia da Ciência: Introdução ao Jogo e a Suas Regras
ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e a suas regras. São Paulo: Edições
Loyola, 2000.
A Filosofia no Século XX
LACOSTE, Jean. A Filosofia no século XX. Tradução de Marina Appenzeller; revisão técnica
de Constança Marcondes Cesar. Campinas: Papirus, 1992.
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Referências
ARANHA, M. L. A & MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à Filosofia.
4 ed. São Paulo: Moderna, 2009.
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