2 - A Inspetora e o Fantasma Dançarino
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Foi como Malu tinha pensado, uma noite horrível. Elas tiveram de
ficar sentadas direitinho na sala, escutando a conversa das duas
mulheres. Era uma prosa chata, dona Tuluca só falava dos tios dela que
haviam sido barões, das primas que tinham se casado com gente rica,
dos parentes, que, enfim, eram os sujeitos mais importantes do mundo.
Certa altura, não se aguentando mais, Malu puxou a prima pela manga:
— Essa velha bem que podia escrever novelas, não acha? Do jeito
que ela inventa “casos"!...
A Inspetora fechou a cara e fez psiiiiiiu. Dona Aurélia olhou com o
rabo dos olhos.
Às dez horas, Malu bocejou tão alto que dona Tuluca
compreendeu. Olhou para o relógio:
— É tarde, e as crianças estão com sono. Acho melhor nos
recolhemos ao leito...
Despediram-se. Dona Tuluca saiu com a imponência de uma
rainha, e tia Aurélia, atrás. As duas meninas seguiram para o quarto.
Quando Malu fechou a porta, explodiu:
— Mais cinco minutos, e eu tinha um acesso! Você viu só, que
velha antipática? Em vez de dizer - “Vamos dormir", vem com esse:
“Acho melhor nos recolhemos, ao leito!"
A Inspetora começou a trocar de roupa.
— Ela é muito educada...
— Nem por isso precisa ficar falando dos barões parentes dela. É
verdade, é?
— É, sim. Ela tem sangue azul...
— Pensei que não existisse mais isso no Brasil.
— Existem alguns casos. Ela é um deles.
— Onde ela mora?
— No Castelo do Morro.
— Uma fazenda?
— É. Uma fazenda diferente das outras porque, em vez de ter uma
casa, tem um castelo.
— Castelo de verdade?
— De verdade. Pequeno, mas castelo de verdade. Foi construído
pelo tataravô dela.
— Ela é casada?
— Não. É solteirona. Parece que ela está por vender o castelo, mas
deve querer uma fortuna. Papai está interessado em comprar, mas,
você sabe, não temos tanto dinheiro.
— Por que seu pai não pede dinheiro emprestado?
— Ele está pensando em fazer um empréstimo no banco, mas,
antes, é preciso saber se dona Tuluca realmente nos dá a preferência
de compra... você não viu como mamãe lida com ela? Toda cheia de
atenções... dona Tuluca disse que tem recebido boas propostas... ela é
muito inteligente, sabe? Afinal, não são todas as fazendas que tem
castelos...
Malu sentou-se na cama.
— Eu não sabia! Pensei que ela fosse apenas uma velha muito
chata...
A Inspetora abotoou a gola do pijama e deitou-se.
— Não faz mal. Você não foi mal-educada. É mesmo muito difícil
lidar com pessoas como dona Tuluca.
— Você não acha que ela é maluca?
— Por quê?
— Aquelas flores, aquele chapéu, aquele véu e o vestido que
parece roupa de museu...!
— Ela vive num outro mundo - um mundo do passado. Mas acho
que você tem um pouco de razão: ela é mesmo uma mulher muito
esquisita...
— Em pleno século XX não se usa vestido como aquele - disse
Malu bocejando. — Ela parece que saiu do retrato do casamento da
minha tataravó...
— É mesmo.
A Inspetora não falou mais nada. Cruzou as mãos na barriga e
ficou olhando para o forro.
— Posso apagar a luz? - perguntou Malu.
— Pode.
— Então, boa noite, Inspetora.
— Boa noite, secretária...
Malu apagou a luz e, em menos de dois minutos, estava
roncando. Mas a Inspetora, não. Em vez de dormir, ela ficou com os
olhos grudados no forro. Pensando, pensando, pensando em coisas que
ninguém sabia o que eram.
Capítulo IV
Um e dois - um empurrão;
O que vem não vai voltar.
Se você entende ou não,
Lá eu volto pra ficar!
Um e dois - um empurrão;
O que vem não vai voltar.
Se você entende ou não,
Lá eu volto pra ficar!
Um e dois, um empurrão;
O que vem, não vai voltar.
Se você entende, ou não,
Lá eu volto pra ficar!
Um e dois - um empurrão;
O que vem não vai voltar.
Se você entende, ou não,
Lá eu volto pra ficar!