Mamede MauricioCubadosSantos M

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Mauricio Cuba dos Santos Mamede

Avaliação Econômica e Ambiental do


Aproveitamento Energético de Resíduos Sólidos
no Brasil

05∕2014

Campinas
2013

i
iii
iv
v
Dedicatória

De modo geral, dedico este trabalho à todas as pessoas que, assim como eu, possuem uma
preocupação honesta com relação ao gerenciamento de resíduo sólido, considerando esta questão na
plenitude de sua complexidade, tendo em vista suas relações com a sociedade e ambiente. Estou
certo que o aprimoramento do conhecimento com relação às diversas formas de gestão de resíduos é
decisivo na elaboração de estratégias capazes de coser a natureza ambiental, social e econômica em
que se relaciona, maximizando a mitigação de impactos ambientais, contribuindo para a interação
saudável dos diversos atores, colaborando com a minimização de custos e permitindo a valorização
dos resíduos.
Particularmente, dedico este trabalho à minha grande companheira, e à minha querida família,
que sem os quais não teria sido possível. Dedico também aos amigos e colegas de curso que
colaboraram nas diversas discussões sobre o assunto e além dele.

vii
Agradecimentos

Agradeço imensamente à colaboração de minha companheira, a qual me motivou nos


momentos difíceis, dando todo o suporte para que pudesse me dedicar mais livremente a este e outros
trabalhos.
À minha família pela plena colaboração e auxílio.
Ao Joaquim Seabra, pela excelência na orientação do trabalho, pela constante disponibilidade
para debates e pela coerência das sugestões.
Ao Paulo Correia e Eglé Novaes pelas consideráveis contribuições no aperfeiçoamento do
trabalho e no refinamento da análise.
Aos colegas da Universidade de Boras, pela receptividade, visitas e compartilhamento de
conhecimento, e pela iniciativa de parcerias.
Ao James Martins e Eliane Mosman pela parceria no município de Boituva.
Ao Wai Nam Chan pela visita ao aterro do Estre em Paulínia, e pelos trabalhos realizados.
À Aline Tripodi, Tatiane Campanholo e Simone do Canto pela realização de trabalhos em
conjunto e pela companhia.
Aos demais professores pelo auxílio direto e indireto na melhoria do trabalho executado.
Aos amigos e colegas, pelo auxilia na formação pessoal e no debate de temas relevantes à vida
profissional.
Ao CNPQ pelo apoio financeiro.

Obrigado!

ix
“A poluição nada é além dos recursos que
deixamos de colher. Nós permitimos que eles se
dispersem porque temos sido ignorantes quanto
ao seu real valor.”

Richard Buckminster Fuller

xi
Resumo

Considerando-se a necessidade de aprofundar o conhecimento da gestão de resíduo sólido


municipal (RSM) e seus efeitos no ambiente natural e sobre a viabilidade econômica, este trabalho
procurou contribuir analisando diferentes rotas de aproveitamento energético de RSM no contexto
brasileiro. Foram utilizadas as características de geração de RSM de 81 municípios brasileiros, com
vistas à comparação de dois cenários distintos: cenário Combustível, com a combinação das
tecnologias de digestão anaeróbia (D.A.) - com foco na produção de combustível veicular - e
combustível derivado de resíduo (CDR), para utilização industrial; e cenário Eletricidade, com a
aplicação das tecnologias de D.A. - com foco no uso do biogás em motor estacionário - e incineração,
com geração elétrica em ciclo Rankine. Na avaliação econômica, realizou-se fluxo de caixa com
entradas e saídas financeiras para a obtenção dos indicadores valor presente líquido (VPL) e taxa
interna de retorno (TIR). Ao final realizou-se uma análise de sensibilidade, variando custos e receitas
considerados, composição do RSM, além de analisar a tarifa de tratamento necessária para zerar o
VPL de cada tecnologia. Na análise ambiental foi utilizada a avaliação do ciclo de vida (ACV) para
consolidar os inventários dos cenários, considerando-se uso de materiais, energia, além das emissões
durante a construção e operação das unidades, com posterior avaliação do impacto do ciclo de vida
(AICV) pelo software SIMAPRO, no método CML 2, para sete categorias de impacto (acidificação,
aquecimento global, eutrofização, depleção abiótica, depleção da camada de ozônio, toxicidade, e
oxidação fotoquímica). Os resultados majoritariamente indicaram melhores desempenhos econômico
e ambiental do cenário Combustível. Há vantagens econômicas e ambientais na comercialização do
biogás veicular para frota automotiva à produção de eletricidade a partir do mesmo, apesar de maior
necessidade de investimento e maior complexidade tecnológica. As emissões do composto orgânico e
do uso de combustíveis auxiliares perfazem as maiores cargas ambientais desta tecnologia. A
incineração permite diminuir significativamente o volume do RSM, entretanto é a tecnologia mais
cara das analisadas e colabora significativamente com a toxicidade humana pela emissão de metais
pesados. Os investimentos na planta de CDR são muito menores, entretanto há a produção
significativa de rejeitos que necessitam ser gerenciados, implicando em maiores custos e emissões de
transporte e disposição destes. Ainda, incertezas de comercialização do CDR podem comprometer a
viabilidade do cenário. Ademais, a análise indicou significativa sensibilidade em relação às variações

xiii
na composição do RSM, principalmente com relação à fração reciclável, a qual influencia
diretamente o poder calorífico inferior (PCI) do CDR e incineração, e portanto as receitas obtidas.
Menores taxas de adesão da população ao programa de coleta seletiva implicam em maior fluxo de
materiais incinerados e de CDR, sendo a última beneficiada economicamente, devido ao maior PCI.
Com exceção do CDR, as demais tecnologias necessitam de maiores tarifas de tratamento para sua
viabilidade econômica comparado à atividade de aterro sanitário, que é relativamente baixa
comparada à praticada em países europeus. O deslocamento de combustíveis traz maior benefício
comparado ao deslocamento da matriz elétrica nacional, que é majoritariamente hidrelétrica.

Palavras Chave: Resíduos sólidos municipais; Aproveitamento energético; Digestão anaeróbia;


Incineração; Combustível Derivado de Resíduo; Biomassa.

xiv
Abstract

Considering the necessity to deepen the knowledge about municipal solid waste (MSW)
management and its effects on the natural environmental and economic performance, this work
assessed different alternatives of energy recovery from MSW in Brazil. The characteristics of MSW
generated in 81 Brazilian municipalities were used for the comparison of two different scenarios:
Fuel scenario, with combined use of anaerobic digestion (A.D.) – focused on the production of
biomethane – and refuse derived fuel (RDF), for industrial utilization; and Electricity scenario, with
the employment of A.D. – focused on biogas use in stationary engines – and incineration, with
electricity generation through the Rankine cycle. For the economic assessment, a cash flow analysis
was carried out to evaluate the feasibility indicators net present value (NPV) and internal rate of
return (IRR). Sensitivity analyses were performed varying costs and revenues, MSW composition,
besides the analysis of the break even gate fee for achieving a zero NPV for each technology. For the
environmental analysis, the life cycle assessment (LCA) technique was employed to consolidate the
inventory of each scenario, accounting for the use of materials, energy, and the emissions during the
construction and operation of the plants. The life cycle impact assessment, modeled in SIMAPRO,
was based on the CML 2 method considering seven impact categories (acidification, global warming,
eutrophication, abiotic depletion, ozone layer depletion, toxicity, and photochemical oxidation). For
the majority of the municipalities, the Fuel scenario showed better economic and environmental
performance. The commercialization of biogas as vehicle fuel has economic and environmental
advantages over the production of electricity, despite the higher investments and technology
complexity. The emissions from the organic compost and the use of auxiliary fuels are the main
environmental burdens related to this technology. The incineration has the advantage of significantly
reduce the volume of MSW, but it is the most expensive technology analyzed and contributes to
human toxicity through the emissions of heavy metals. The required investments in the RDF plant are
much smaller, although it produces significant amounts of rejects that need to be managed, implying
in higher costs and emissions due to transportation and final disposal. Moreover, the uncertainty in
commercializing RDF could affect the economic performance of the scenario. Furthermore, the
analysis indicated significant sensitivity with respect to waste composition, mainly recyclables
fraction, which has direct effects on the low calorific value (LCV) of RDF and incineration fuel,

xv
therefore affecting the revenues. Lower participation rates in the source separation program imply in
grater fluxes of materials to be incinerated and production of RDF, with better economic performance
for the RDF plant, because of the higher LCV. With the exception of RDF, the others technologies
require higher gate fees, compared to landfill, in order to reach economic viability because of the
lower fees for disposal in Brazil compared with European countries. Regarding the environmental
analysis, the displacement of fuels leads to greater benefits when compared with the displacement of
electricity, which is basically hydroelectricity.

Key words: Municipal solid waste; Waste recovery; Anaerobic digestion; Incineration; Refuse
derived fuel; Biomass.

xvi
Lista de figuras

PÁGINA
FIGURA 1.1: GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E GASES DE EFEITO ESTUFA ................................. 1
FIGURA 1.2: RELAÇÃO ENTRE PRODUÇÃO DE RSM E PIB PARA O ANO DE 2000 ..................................... 2
FIGURA 1.3: HIERARQUIA NO GERENCIAMENTO DE RESÍDUO SÓLIDO ...................................................... 3
FIGURA 2.1: COMPOSIÇÃO GRAVIMÉTRICA MÉDIA BRASIL EM 2008 ....................................................... 7
FIGURA 2.2: DESTINO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS EM 2008.......................................................................... 8
FIGURA 2.3: PRÁTICA DE DESTINAÇÃO DE RESÍDUOS EM DIVERSOS PAÍSES ANO 2000 ........................... 15
FIGURA 2.4: AUMENTO DA CAPACIDADE INSTALADA DA DIGESTÃO ANAERÓBIA NA EUROPA ............... 16
FIGURA 2.5: ESTRATÉGIA DE GESTÃO DE RESÍDUOS SUÉCIA ................................................................. 18
FIGURA 2.6: PLANTA TÍPICA DE INCINERADOR COM GRADES MÓVEIS .................................................... 21
FIGURA 2.7: EXEMPLO DE PROCESSO DE CDR, ALBANY, NOVA IORQUE .............................................. 24
FIGURA 2.8: PROCESSO DE PRODUÇÃO DE CDR .................................................................................... 27
FIGURA 2.9: ROTAS METABÓLICAS E GRUPOS MICROBIANOS DA DIGESTÃO ANAERÓBIA ....................... 32
FIGURA 2.10: ESQUEMA PLANTA DE DIGESTÃO ANAERÓBIA DE RSM ................................................... 34
FIGURA 4.1: DIAGRAMA........................................................................................................................ 47
FIGURA 4.2: LÓGICA ADOTADA PARA CÁLCULO DOS FLUXOS DE MASSA NA COLETA SELETIVA ............ 49
FIGURA 4.3: LÓGICA ADOTADA NA SEGREGAÇÃO DA D.A. ................................................................... 51
FIGURA 4.4: INVESTIMENTO DIGESTÃO ANAERÓBIA - CENÁRIO ELETRICIDADE..................................... 55
FIGURA 4.5: O&M DIGESTÃO ANAERÓBIA - CENÁRIO ELETRICIDADE ................................................... 55
FIGURA 4.6: INVESTIMENTO PLANTA DE LIMPEZA E BENEFICIAMENTO DO BIOGÁS ................................ 56
FIGURA 4.7: O&M PLANTA DE LIMPEZA E BENEFICIAMENTO DO BIOGÁS .............................................. 56
FIGURA 4.8: OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO POSTO DE BIOGÁS VEICULAR ................................................. 57
FIGURA 4.9: FATOR MULTIPLICADOR CONSÓRCIO INCINERAÇÃO .......................................................... 58
FIGURA 4.10: INVESTIMENTO CDR ....................................................................................................... 59
FIGURA 4.11: O&M CDR ..................................................................................................................... 60
FIGURA 4.12: UNIDADE FUNCIONAL DO SISTEMA .................................................................................. 65
FIGURA 4.13: EMISSÕES DO INCINERADOR ............................................................................................ 68

xvii
FIGURA 5.1: COMPARAÇÃO DO VPL ENTRE CENÁRIOS ......................................................................... 72
FIGURA 5.2: COMPARAÇÃO DA TIR ENTRE CENÁRIOS .......................................................................... 73
FIGURA 5.3: INVESTIMENTO - D.A. CENÁRIO ELETRICIDADE ................................................................ 74
FIGURA 5.4: O&M – D.A. CENARIO ELETRICIDADE.............................................................................. 74
FIGURA 5.5: RECEITAS CENÁRIO ELETRICIDADE .................................................................................. 75
FIGURA 5.6: INVESTIMENTO CENÁRIO COMBUSTÍVEL ........................................................................... 75
FIGURA 5.7: O&M CENÁRIO COMBUSTÍVEL ......................................................................................... 76
FIGURA 5.8: RECEITAS CENÁRIO COMBUSTÍVEL ................................................................................... 76
FIGURA 5.9: VPL EM RELAÇÃO ÀS COMPOSIÇÕES - CENÁRIO ELETRICIDADE ........................................ 77
FIGURA 5.10: VARIAÇÃO DO VPL EM RELAÇÃO À TAXA DE ADESÃO PARA AMBOS OS CENÁRIOS ......... 80
FIGURA 5.11: VARIAÇÃO E MÉDIA DA TARIFA DE TRATAMENTO PARA CADA TECNOLOGIA ................... 82
FIGURA 5.12: ANÁLISE DE SENSIBILIDADE CUSTOS E RECEITAS - CENÁRIO ELETRICIDADE ................... 83
FIGURA 5.13: ANÁLISE DE SENSIBILIDADE CUSTOS E RECEITAS - CENÁRIO COMBUSTÍVEL ................... 84
FIGURA 5.14: DEPLEÇÃO ABIÓTICA - COMPARAÇÃO CENÁRIOS ............................................................. 85
FIGURA 5.15: ACIDIFICAÇÃO - COMPARAÇÃO CENÁRIOS ...................................................................... 86
FIGURA 5.16: EUTROFIZAÇÃO - COMPARAÇÃO CENÁRIOS ..................................................................... 87
FIGURA 5.17: AQUECIMENTO GLOBAL - COMPARAÇÃO CENÁRIOS ........................................................ 88
FIGURA 5.18: DEPLEÇÃO DA CAMADA DE OZÔNIO - COMPARAÇÃO CENÁRIOS ...................................... 89
FIGURA 5.19: ECOTOXICIDADE - COMPARAÇÃO CENÁRIOS ................................................................... 90
FIGURA 5.20: TOXICIDADE HUMANA - COMPARAÇÃO CENÁRIOS ........................................................... 90
FIGURA 5.21: OXIDAÇÃO FOTOQUÍMICA - COMPARAÇÃO CENÁRIOS ..................................................... 91
FIGURA C.1: VPL EM RELAÇÃO ÀS COMPOSIÇÕES - CENÁRIO COMBUSTÍVEL ..................................... 112

xviii
Lista de tabelas

PÁGINA
TABELA 2.1: COMPOSIÇÃO DO RSM NO BRASIL E POTENCIAL DE ENERGIA CONSERVATIVA ................. 19
TABELA 2.2: PERCENTAGEM E CARACTERÍSTICAS DAS IMPUREZAS CONTIDAS NO BIOGÁS .................... 33
TABELA 2.3: CARACTERÍSTICAS REQUERIDAS PARA USO DE BIOGÁS COMO COMBUSTÍVEL NA SUÉCIA . 36
TABELA 4.1: PARÂMETROS OPERACIONAIS DIGESTÃO ANAERÓBIA ....................................................... 45
TABELA 4.2: PARÂMETROS OPERACIONAIS INCINERADOR .................................................................... 45
TABELA 4.3: SELETIVIDADE DE MATERIAIS PELOS EQUIPAMENTOS DO PROCESSO DE CDR .................. 46
TABELA 4.4: EXEMPLO DE ENTRADA DE DADOS .................................................................................... 48
TABELA 4.5: ENERGIA CONTIDA NAS FRAÇÕES DE RESÍDUOS ................................................................ 53
TABELA 4.6: TAXAS DE CÂMBIO UTILIZADAS ........................................................................................ 54
TABELA 4.7: CUSTOS DIRETOS E INDIRETOS CDR ................................................................................. 60
TABELA 4.8: CUSTOS O&M CDR. ........................................................................................................ 60
TABELA 4.9: VALORES DE COMERCIALIZAÇÃO DOS PRODUTOS – CENÁRIO ELETRICIDADE ................... 61
TABELA 4.10: PREÇOS E PARÂMETROS DO BIOMETANO E CDR ............................................................. 63
TABELA 4.11: PARÂMETROS UTILIZADOS NO FLUXO DE CAIXA ............................................................. 63
TABELA 4.12: VARIAÇÕES CONSIDERADAS NA ANÁLISE DE SENSIBILIDADE.......................................... 64
TABELA 4.13: MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO E DE DECOMISSIONAMENTO PLANTA DE INCINERAÇÃO ..... 69
TABELA 5.1: CUSTOS, RECEITAS E PCI - CENÁRIO ELETRICIDADE ........................................................ 78
TABELA A.1: COMPOSIÇÃO GRAVIMÉTRICA E POPULAÇÃO DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS ................. 109
TABELA B.1: PREÇOS DE COMBUSTÍVEIS POR ESTADO ........................................................................ 111
TABELA C.1: CUSTOS, RECEITAS E PCI - CENÁRIO COMBUSTÍVEL ...................................................... 112
TABELA C.2: VARIAÇÕES DA TAXA DE ADESÃO À COLETA SELETIVA – CENÁRIO ELETRICIDADE ........ 113
TABELA C.3: VARIAÇÕES DA TAXA DE ADESÃO À COLETA SELETIVA - CENÁRIO COMBUSTÍVEL ......... 113
TABELA D.1: INVENTÁRIO CENÁRIO ELETRICIDADE PARA O MUNICÍPIO DE CAMPINAS....................... 114
TABELA D.2: INVENTÁRIO CENÁRIO COMBUSTÍVEL PARA O MUNICÍPIO DE CAMPINAS ....................... 119

xix
Lista de abreviaturas e siglas

Abreviaturas

ACV – Avaliação do ciclo de vida


AICV – Avaliação do impacto do ciclo de vida
CDR – Combustível derivado de resíduo
CEPCI – Chemical engineering`s plant cost index
CML – Instituto de ciências ambientais Universidade de Leiden
DA – Digestão anaeróbia
DGE – Diesel gallon equivalent
DQO – Demanda química de óxigênio
EU – European Union
EUA – Estados Unidos da America
FGV – Faculdade Getúlio Vargas
GEE – Gases de efeito estufa
GNV – Gás natural veicular
IGP-DI – Índice geral de preços
ISO – International organization for standardization
IWM – Integrated waste management
LCC – Life cycle costing
M - Moinho
MDL – Mecanismo de desenvolvimento limpo
O&M – Operação e manutenção
PIB – Produto interno bruto
PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos
PR – Peneira rotativa
PSA – Pressure swing adsorption
RSM – Resíduo sólido municipal
SF – Separador Focault
SM – Separador magnético

xxi
T - Triturador
TIR – Taxa interna de retorno
VPL – Valor presente líquido
WID – Waste incineration directive

...................................................................................................................................................................
Componentes químicos

CFC – Clorofluorcarbono
CH4 - Metano
Cl - Cloro
CClF3 - Clorotrifluormetano
CO - Monóxido de carbono
CO2 – Dióxido de carbono
H2 - Hidrogênio
H2S – Sulfeto de hidrogênio
HCFC - Hidroclorofluorocarboneto
HCl – Ácido clorídrico
HF – Ácido fluorídrico
OH- - Ânion hidroxila
N2 - Nitrogênio
NH3 - Amônia
NOx – Óxidos de nitrogênio
SO2 – Dióxido de enxofre
SOx – Óxidos de enxofre

xxii
Sumário

PÁGINA

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................1

1.1 Objetivo ..........................................................................................................................5

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................................6

2.1 Contextualização política e panorama do resíduo sólido ...............................................6

2.2 Aproveitamento energético de resíduo sólido ..............................................................14

2.3 Tecnologias de tratamento de resíduo sólido ...............................................................19

2.3.1 Tratamento térmico....................................................................................................20

2.3.1.1 Incineração..............................................................................................................20

2.3.1.2 Tecnologia de Combustível Derivado de Resíduo (CDR) .....................................23

2.3.2 Tratamento biológico .................................................................................................29

2.3.2.1 Digestão Anaeróbia (DA) .......................................................................................30

3 ESTUDOS ANTERIORES ....................................................................................................37

4 METODOLOGIA ...................................................................................................................39

4.1 Considerações preliminares ..........................................................................................41

4.2 Definição de cenários ...................................................................................................43

4.3 Tecnologias ...................................................................................................................44

4.4 Diagrama ......................................................................................................................47

4.5 Cálculos dos fluxos de massa e energia........................................................................48

4.6 Análise econômica ........................................................................................................54

4.7 Análise ambiental .........................................................................................................64

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ..........................................................................................72

5.1 Análise econômica ........................................................................................................72

xxiii
5.2 Análise de sensibilidade ...............................................................................................77

5.3 Análise ambiental .........................................................................................................84

6 CONCLUSÕES ......................................................................................................................92

7 RECOMENDAÇÕES .............................................................................................................95

REFERÊNCIAS .....................................................................................................................96

ANEXO A – Categorias de impacto ambiental ....................................................................108

APÊNDICE A – Composição gravimétrica e população dos municípios ............................112

APÊNDICE B – Variação dos preços de combustíveis por Estados brasileiros ..................114

APÊNDICE C – Gráficos e tabelas análise econômica ........................................................115

APÊNDICE D – Inventários de ciclo de vida cenário eletricidade e combustível ...............117

xxiv
1 INTRODUÇÃO

As atividades humanas vêm aumentando a concentração de gases de efeito estufa (GEE) na


atmosfera, resultando em significante aquecimento da superfície terrestre, e outras mudanças
associadas ao clima, nesta e nas próximas décadas. Dos gases que mais contribuem para o efeito
estufa (CO2, CH4 e N2O), todos também são produzidos durante o gerenciamento e disposição de
resíduo sólido (Figura 1.1) (AEA TECHNOLOGY, 2001). De modo geral, o setor de resíduos
contribui com aproximadamente 5% das emissões globais de GEEs, fazendo valer, portanto,
esforços para um gerenciamento adequado com vistas à minimização dos danos ambientais
(BOGNER et al., 2007).

Figura 1.1: Gerenciamento de resíduos sólidos e gases de efeito estufa

Fonte: UNEP (2010b)

Segundo Bogner et al. (2007; EGUCHI et al., 2013) as emissões de metano, que de acordo
com UNEP (2010b) tem seu potencial de aquecimento global 25 vezes maior que o dióxido de
carbono (CO2) quando se considera um horizonte de 100 anos, em aterros e lixões são a maior
fonte de impactos climáticos no setor de resíduos. Entretanto, quando há o gerenciamento
adequado do resíduo sólido aliado a estratégias de valorização energética, há possibilidades de
reverter esta situação pelo aproveitamento do elevado poder calorífico do metano, resultando em
1
mitigações diretas de impactos ambientais e, possivelmente, indiretas pela substituição de fontes
não renováveis de energia (BOGNER et al., 2007).
Historicamente, foi a partir da Revolução Industrial, com o crescimento vultoso da
economia e da população, sem a devida preocupação com danos ambientais e sem planejamentos
municipais adequados, que houve um agravamento dos problemas associados ao resíduo sólido
municipal (RSM) (RIBEIRO, 2011).
De acordo com estimativas da UNEP (2010a), em 2006 o montante total de RSM gerado
globalmente alcançou o patamar de 2,0 bilhões de toneladas, representando uma taxa de
crescimento anual de 7% desde 2003, aproximadamente 6 vezes superior à taxa de crescimento
populacional de 2003. Ainda, observa-se que a geração de RSM tende a acompanhar o
crescimento do produto interno bruto (PIB) em uma correlação aproximadamente linear (Figura
1.2), sendo, portanto, os países ricos os quais mais contribuem para o agravamento da questão
(LUDWIG, HELLWEG e STUCKI, 2003).

Figura 1.2: Relação entre produção de RSM e PIB para o ano de 2000

Fonte: Ludwig, Hellweg e Stucki (2003)

2
Cheremisinoff (2003) identificou como principais razões desta crescente geração de RSM:
a ineficiente utilização de recursos pelos processos industriais; a baixa durabilidade dos bens
produzidos; e os atuais padrões insustentáveis de consumo.
A urgência de um gerenciamento acessível, efetivo e sustentável do resíduo sólido é
justificada pelos nocivos impactos à saúde e segurança pública, e ao ambiente que o
gerenciamento inadequado pode proporcionar (BARGIGLI, CHERUBINI e ULGIATI, 2009). A
base da sustentabilidade do gerenciamento do resíduo sólido na União Europeia (EU), assim
como no Brasil, calca-se na conhecida hierarquia do resíduo, a qual define a devida ordem de
prioridades nas ações associadas à sua gestão (Figura 1.3). Esta hierarquia é composta pelas
etapas de: prevenção de geração de resíduo na fonte; reutilização; reciclagem; outras
recuperações (incluindo o aproveitamento energético); e por último a disposição final
ambientalmente adequada (COUNCIL OF THE EUROPEAN UNION, 2008; BRAZIL, 2011).

Figura 1.3: Hierarquia no gerenciamento de resíduo sólido

Fonte: Adaptado de Zunft e Fröhlig (2009)

Fica claro que as estratégias de redução ou eliminação do resíduo antes deste ser gerado
representam as opções mais desejáveis, tanto do ponto de vista dos impactos ambientais
associados ao seu gerenciamento, como em relação ao aspecto econômico, uma vez que as
despesas de coleta, tratamento e disposição deste são evitadas (CHEREMISINOFF, 2003).
Entretanto, uma vez que sua geração se justifique, até o presente momento, não é possível
reutilizar ou reciclar todo o resíduo produzido. Deste modo, este material possui valor na forma

3
de energia recuperada, e outros produtos, a exemplo do composto orgânico (condicionador de
solo). O aproveitamento energético dos resíduos encontra-se no quarto patamar da hierarquia, e
seus principais objetivos são agregar valor econômico pela valorização energética dos resíduos,
promovendo oportunidades de negócio, e mitigando impactos ambientais associados à sua gestão.
Mesmo que a tendência para o futuro seja intensificar programas de prevenção, reutilização e
reciclagem, o rejeito, apesar de se tornar um recurso cada vez mais escasso, ainda demandará um
gerenciamento adequado, fazendo com que a recuperação energética continue a ser uma das
principais estratégias a serem consideradas (DEFRA, 2011).
Entretanto, vale ressaltar que o uso energético deve respeitar à hierarquia do resíduo;
conforme ressalta o governo Britânico, “o objetivo da recuperação energética do resíduo sólido é
tirar o máximo de energia do lixo residual (rejeito), e não incluir o máximo de lixo (resíduo) na
recuperação energética” (DEFRA, 2011, tradução nossa).
A utilização de ferramentas de avaliação econômica e ambiental na gestão de resíduo sólido
é de fundamental importância para a tomada de decisões sobre quais as rotas mais apropriadas a
serem tomadas. No caso específico da recuperação energética de resíduo sólido, estas ferramentas
permitem não somente aprofundar o conhecimento sobre as diversas possibilidades de utilização
tecnológica, mas também identificar e mensurar os benefícios do deslocamento de produtos
convencionais pela energia elétrica, calor ou combustíveis produzidos a partir dos resíduos
sólidos. Ainda, é possível levar em consideração aspectos locais e culturais que são determinantes
para o diagnóstico correto das possibilidades, uma vez que não existem soluções ideais que
atendam adequadamente todas as circunstâncias.

4
1.1 Objetivo

Tendo em vista o exposto na seção anterior, o objetivo deste trabalho foi avaliar e discutir,
utilizando-se de ferramentas de análise ambiental e econômica, diferentes rotas para o
aproveitamento energético dos resíduos sólidos no contexto brasileiro, considerando as
características de geração de 81 municípios para dois cenários distintos: cenário Eletricidade; e
cenário Combustível.
Como objetivos específicos do trabalho, destacam-se:
 Identificar o contexto político do resíduo sólido no Brasil;
 Identificar estruturas econômicas (custos e receitas) das tecnologias de
aproveitamento energético de resíduo sólido;
 Identificar a variação da composição gravimétrica do resíduo sólido gerado nos
municípios brasileiros;
 Identificar as principais emissões que acarretam em impactos ambientais para as
tecnologias de aproveitamento energético de resíduo sólido, e quais categorias de
impacto estão associadas à gestão dos mesmos;

5
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Contextualização política e panorama do resíduo sólido

De acordo com o Panorama Nacional de Resíduos Sólidos (ABRELPE, 2012), a quantidade


de RSM gerada no Brasil em 2012 teve crescimento de 1,3% em relação ao ano anterior. Esta
taxa foi superior à taxa de crescimento populacional urbana do período, por volta de 0,9%.
Ademais, a geração per capta teve crescimento de 0,4% em relação ao ano de 2011, atingindo o
patamar de 383,2 kg/hab./ano.
A urbanização das áreas rurais é outro ponto que merece destaque, uma vez que a migração
de populações das áreas rurais para os centros urbanos tem provocado rápida expansão das
cidades (DUTTA e DAS, 2010). Segundo dados do Plano Nacional de Resíduos Sólidos
(BRASIL, 2011), ultimamente tem-se notado no Brasil, seguindo a tendência mundial, que a
composição do resíduo nas áreas rurais, mesmo que diversificado, tem se tornado cada vez mais
semelhante ao resíduo das regiões urbanas, devido à disseminação de hábitos e bens de consumo
contemporâneos, inseridos por toda a sociedade. Anos atrás, o resíduo sólido rural era
essencialmente composto por restos orgânicos. Atualmente, no entanto, verifica-se um volume
crescente de frascos, sacos plásticos, pilhas, pneus, lâmpadas, aparelhos eletroeletrônicos, etc.,
que se acumulam ou se espalham ao longo das propriedades. Outro ponto que chama atenção é a
ineficiência no trato com este resíduo, a qual é refletida nas práticas indevidas de destinação:
aproximadamente 70% dos domicílios rurais queimam, enterram ou lançam o resíduo em terrenos
baldios, rios, lagos, igarapés e açudes (BRASIL, 2011).
Com o intuito de melhor gerenciar esta quantidade crescente de resíduo, o Governo, por
força da Lei 12.305/2010 (BRASIL, 2010), instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS) que reúne “[...] o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e
ações adotadas pelo Governo Federal, isoladamente ou em regime de cooperação com Estados,
Distrito Federal, Municípios ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento
ambientalmente adequado dos resíduos sólidos” (BRASIL, 2010, p. 3). Dentre seus princípios

6
norteadores, destacam-se: a prevenção e precaução; a política do poluidor-pagador e o protetor-
recebedor; em uma visão sistêmica de gestão do resíduo sólido abrangendo variáveis ambiental,
social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública; a responsabilidade compartilhada
pelo ciclo de vida dos produtos; o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável
como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania
(BRASIL, 2010).
Dentre os principais instrumentos da PNRS, destaca-se a criação do Plano Nacional de
Resíduos Sólidos (BRASIL, 2011), o qual contempla, entre outros: diagnóstico da situação atual
dos resíduos sólidos no Brasil; tendências (cenários); metas de redução, reutilização, reciclagem,
com vistas a reduzir a quantidade de resíduo e rejeito encaminhados para disposição final
ambientalmente adequada; metas para o aproveitamento energético dos gases gerados nas
unidades de disposição final de resíduo sólido; metas para a eliminação e recuperação de lixões;
etc.
O primeiro passo para a elaboração de qualquer plano de gestão integrada de resíduo sólido
é o conhecimento dos fluxos e da composição do mesmo (UNEP, 2010a). No Brasil, a
composição média do resíduo sólido gerado (Figura 2.1), foi realizada por meio do levantamento
dos estudos municipais de diversos autores. Uma análise dos dados levantados por este estudo
indica que o teor de matéria orgânica varia de 20 a 76% (média 51,4%), e a somatória do
reciclável varia de 14 a 67% (média de 31,9%), nos municípios brasileiros (IPEA, 2012).

Figura 2.1: Composição gravimétrica média Brasil em 2008

Fonte: BRASIL (2011)


7
controlados, destaca-se o aporte de recursos e linhas de financiamento para o encerramento dos
mesmos e, posterior implantação de unidades de aterros sanitários (técnica de disposição que
utiliza princípios de engenharia para minimização dos impactos ambientais associados). Também
são propostas medidas para recuperação e/ou minimização dos impactos ambientais nas unidades
de lixões e aterros controlados já existentes (BRASIL, 2011).
Entretanto, observa-se nos relatórios elaborados pela ABRELPE (2010, 2012) que desde a
existência da Lei 12.305 (2010), até o presente momento não houve avanços significativos com
relação ao resíduo que é destinado de forma inadequada, permanecendo cerca de 40% do resíduo
sólido total coletado encaminhado para lixões e aterros controlados. Observa-se, portanto, que
apesar dos esforços, os desafios encontrados têm refletido na dificuldade de colocar este plano
em prática. Segundo a ABRELPE (2012), grande parte desta dificuldade é devido ao fato de mais
de 40% do resíduo gerado no Brasil com destinação inadequada estar distribuído em mais de
3.000 municípios, cuja maioria possui menos de 10.000 habitantes, portanto não tendo condições
técnicas e financeiras para enfrentar o problema.
Para minimizar as dificuldades encontradas por municípios pequenos (com população
menor que 100.000 habitantes) com respeito à viabilização técnica e econômica das soluções
adequadas ao gerenciamento do resíduo sólido, criou-se o incentivo à formação de sistemas de
gestão compartilhada com municípios vizinhos, a qual visa a ganhos de economia de escala para
viabilizar soluções (BRASIL, 2011).
Estas propostas devem constar nos planos municipais de gestão integrada de resíduo sólido,
que deve ser elaborado por todos os municípios. Este plano deve conter, entre outros: o
diagnóstico da situação atual do resíduo sólido gerado no respectivo território (contendo a
origem, o volume, a caracterização do resíduo e as formas de destinação e disposição final,
adotadas); identificação das possibilidades de implantação de soluções consorciadas ou
compartilhadas com outros Municípios; metas de redução, reutilização, coleta seletiva e
reciclagem, entre outras, com vistas a reduzir a quantidade de rejeito encaminhado para
disposição final ambientalmente adequada (BRASIL, 2011).
No cenário internacional, medidas semelhantes a esta (de eliminação da disposição
inadequada) foram tomadas há mais de 20 anos, como consta na diretiva 91/156/EEC de 1991
(COMUNIDADES EUROPEIAS, 1991), que em seu artigo 4° exige dos Estados Membros da

9
União Europeia que as sejam tomadas as ações necessárias para a proibição do abandonamento
do resíduo sólido, criações de lixões ou outras formas de disposição ilegal que não possuem
qualquer forma de controle dos impactos causados, pretendendo assegurar que o resíduo seja
recuperado ou disposto sem danos à saúde humana, ou ao ambiente nos processos ou métodos
utilizados.
Embora a legislação na Europa contra a disposição ilegal seja mais antiga, ainda há uma
grande batalha contra o “crime do lixo”. Só na Inglaterra e País de Gales, foram identificados
mais de 1200 locais ilegais de disposição de lixo em 2012 (ENVIRONMENT AGENCY, 2013).
Para os produtores de resíduo, a destinação ilegal representa economia de dinheiro, enquanto para
os operadores destes depósitos, significa “dinheiro fácil”, ou a qualquer custo ambiental. O custo
da disposição ilegal na Inglaterra chega a 50% do valor cobrado pela disposição legal, uma vez
que são evitados os pagamentos de licenças, permissões e taxas, das operações do correto
tratamento do resíduo, da reciclagem de qualquer produto de valor e da sua consequente venda.
Só em 2011 foram investidos mais de £17 milhões em campanhas contra o “crime do lixo”
(HENLEY, 2012).
Apesar do encerramento dos lixões e aterros controlados constituir estratégia essencial para
o desenvolvimento do programa nacional de gerenciamento de resíduo sólido no Brasil, a
escassez de lugares para disposição final demandará a implementação de outras medidas,
representando grande desafio. Este fato é agravado em grandes aglomerados urbanos, onde os
custos de transporte de rejeito aumentam significativamente em virtude da disposição em locais
cada vez mais distantes das fontes geradoras, em vista da escassez de área nos arredores urbanos
(CENBIO, 2010). Esta transferência de resíduo de grandes municípios ocasiona acréscimos
significativos no fluxo de material disposto em aterros sanitários nos municípios de pequeno e
médio porte (BRASIL, 2011).
Segundo dados da ABRELPE (2012), a região sudeste do Brasil gastou em 2012 R$ 4,25
bilhões na gestão de resíduo sólido, o que abrange aproximadamente de 52% dos recursos totais
aplicados no país para o setor no ano, sendo que a região conta com 46% da população nacional.
Este dado indica que pela região contemplar as maiores cidades, e a maior densidade
populacional no país, os gastos na área de resíduo (coleta e demais serviços de limpeza) são

10
maiores por habitante equivalendo a R$ 12,72/mês, contra R$ 11,13 /mês por habitante na média
brasileira.
Além disto, o termo “disposição final ambientalmente adequada de rejeitos” (BRASIL,
2010), implica que o resíduo, ou seja, material passível de tratamento ou recuperação, seja
reutilizado, reciclado ou recuperado sempre que possível. Isto acarreta em intensificar os esforços
nos programas associados ao desvio destes materiais das unidades de destinação final
ambientalmente adequada1.
Com vistas a esta minimização de fluxos de material encaminhado à destinação final, e
consequente mitigação dos impactos associados à disposição deste, o governo promoverá a
reutilização e reciclagem de materiais, tendo foco na inclusão de catadores. Para tanto, pretende-
se implantar a coleta seletiva em todos os municípios brasileiros, com a participação de
cooperativas ou associações de catadores, nas ações de coleta, triagem e adequação do material
aos padrões estabelecidos para fins de aproveitamento em unidades recicladoras. No tocante aos
catadores, propõe-se elevar o nível de eficiência das cooperativas e associações, bem como
estimular a participação dos mesmos nas ações de educação ambiental e sensibilização porta-a-
porta, para a separação de resíduo na fonte geradora (BRASIL, 2011). Conforme artigos 40 e 41
do Decreto 7.404, haverá priorização desta participação, na coleta seletiva e logística reversa,
cujas formas deverão estar definidas nos planos municipais de gestão integrada de resíduos
sólidos (BRASIL, 2010b).
Outro ponto importante no que tange à fração seca do RSM é a implantação de sistemas de
logística reversa pós-consumo, que visa a viabilizar a coleta e restituição do resíduo sólido ao
setor empresarial. Há também de se destacar os acordos setoriais, que são contratos firmados
entre o poder público e fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes, com vistas à
implantação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto (MMA, 2013). Em
outras palavras, a indústria terá de se responsabilizar pelo recolhimento, tratamento e/ou

1
Segundo o economista Sabetai Calderoni, o Brasil poderia conseguir anualmente US$ 10
bilhões a partir da reciclagem do lixo domiciliar (CALDERONI, 2010).

11
destinação ambientalmente adequada das embalagens, e de seus produtos, em parceria com a
gestão municipal.
Com vistas a facilitar o acesso dos catadores na coleta, processamento e comercialização de
RSM reciclável ou reutilizável, foi proposta a dispensa de licitação em áreas com sistema de
coleta seletiva efetuada por associações ou cooperativas. Ademais, as empresas têm papel
fundamental no processo de fortalecimento das cooperativas no que diz respeito a investimentos
em sua capacitação, na gestão para coleta seletiva e na melhoria de infraestrutura (BICCA, 2010).
Entretanto, há algumas questões que precisam ser iniciadas o quanto antes, como a
implantação de um programa efetivo de separação do resíduo na fonte. Conforme conclusões do
próprio Plano Nacional, a falta destes programas dificulta o processo de reciclagem, inclusive da
fração orgânica que compõe aproximadamente 50% em peso da composição média nacional de
resíduo sólido, fazendo com que este material seja encaminhado para disposição final. A
disposição final da matéria orgânica em aterros sanitários gera, para a maioria dos municípios,
despesas que poderiam ser evitadas caso houvesse separação adequada na fonte e posterior
encaminhamento para unidades recicladoras e/ou de tratamento (BRASIL, 2011). Ademais, a
matéria orgânica é a principal fonte de lixiviado, dos gases e odores gerados na disposição de
resíduo o que colabora com problemas de poluição atmosférica e dos corpos de água, acarretando
em riscos à saúde pública. Ainda, por meio do desvio desta é possível melhorar as condições de
trabalho dos catadores (MCDOUGALL et al., 2001).
Em muitos países Europeus, a coleta seletiva da fração orgânica do RSM é ativamente
encorajada. Isto inclui a separação da fração orgânica putrescível, também conhecida como
“resíduo verde” ou “resíduo biológico” (BECK, 2004). A experiência Europeia e nos EUA
mostra que a coleta seletiva total da fração orgânica provê a melhor qualidade de matéria prima
tanto para compostagem como para uso em digestor anaeróbio, com o mínimo de contaminação
de metais pesados e plástico. As experiências de algumas comunidades Europeias indicam que
30% a 50% do total da fração orgânica do RSM podem ser com sucesso coletadas e gerenciadas
separadamente (BECK, 2004).
Na Holanda, desde 1994, a população é obrigada a separar a fração orgânica, e muitos
municípios implantaram tanto a separação obrigatória, bem como a incentivada da fração
reciclável (DEFRA, 2010).

12
Pioneiramente, no cenário internacional com o estabelecimento da Diretiva 1999/31/EC
(COMUNIDADES EUROPEIAS, 1999), os Estados Membros foram obrigados a estabelecer
estratégias nacionais para redução da matéria orgânica encaminhada para aterros. Medidas mais
severas foram tomadas em alguns países da Europa (Áustria, Alemanha, Suécia e Holanda), em
uma região da Bélgica (Flanders), e em um estado dos EUA (Massachusetts), os quais
implementaram restrições ou proibições para o aterramento de uma certa variedade de materiais
(DEFRA, 2010). Na Áustria, por exemplo, as taxas cobradas para aterrar matéria orgânica não
tratada aumentaram drasticamente desde 1999, de modo a desestimular financeiramente esta
prática aos gestores de resíduo sólido (DEFRA, 2010).
No que se refere a formas de tratamento da fração orgânica no Brasil, as experiências
nacionais com compostagem e biodigestão, as duas formas mais utilizadas para esta finalidade
mundialmente, são quase inexistentes. Do total de resíduo orgânico coletado, somente 1,6%
(1.509 t/d) é encaminhada para tratamento via compostagem, sendo que 211 municípios
brasileiros possuem unidades desta tecnologia. Seguindo a tendência internacional, o governo
propôs minimizar a disposição da fração úmida em aterros sanitários, por meio da indução à
compostagem, com a separação de resíduo na fonte (BRASIL, 2011).
A disseminação de técnicas de tratamento via compostagem, depende que estas tecnologias
apresentem viabilidade técnica e ambiental, há ainda a necessidade de demonstração da
viabilidade econômica (BRASIL, 2011). Tal viabilidade é comprometida pela baixa tarifa de
disposição de resíduo sólido paga no Brasil, que geralmente representa metade ou menos do
montante das taxas pagas em países europeus. Vale ressaltar que o trato para com o resíduo
sólido em países em desenvolvimento é em sua grande maioria baseada numa visão de curto
prazo, ficando os custos dos impactos socioambientais sem serem considerados nas decisões
tomadas, deixando a cargo da futura sociedade arcar com os prejuízos (OLIVEIRA, MAHLER E
ROSA, 2012).
No âmbito nacional, “o gerador de resíduos sólidos domiciliares tem cessada sua
responsabilidade pelos resíduos com a disponibilização adequada para a coleta, ou, [...] (em
alguns casos) com a devolução” (BRASIL, 2010, p. 17). Quando houver estabelecido sistema de
coleta seletiva pelo plano municipal de gestão integrada de resíduo sólido, os consumidores são
obrigados a “acondicionar adequadamente e de forma diferenciada os resíduos sólidos gerados

13
[...] e disponibilizar adequadamente os resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis para coleta e
devolução” (BRASIL, 2010, p. 21).
Apesar da escassez de dados, observou-se que, muito embora tenham havido significativos
avanços entre os anos de 2000 a 2008, com aumento de 120% do número de municípios que
desenvolviam programas de reciclagem, a situação da reciclagem no Brasil ainda não é
satisfatória, sendo principalmente mantida pela reciclagem pré-consumo (do resíduo gerado nos
processos produtivos), e pela coleta pós-consumo informal (realizada por catadores autônomos,
sem vínculos com o município). Até 2008, apenas 18% dos municípios brasileiros desenvolviam
programas de reciclagem. Ainda, a quantidade irrisória de material recuperado por tais programas
indica a necessidade de aprofundamento e melhoria de eficiência (BRASIL, 2011).
Conforme ressalta o economista Sabetai Calderoni, quando questionado da integração dos
catadores: “Hoje nós temos a ilusão de que os catadores conseguem resolver o problema da
reciclagem. Eles não conseguem! Eles não são tão numerosos e não têm o treinamento técnico
adequado nem assistência social” (CALDERONI, 2010, p. 25). Segundo Calderoni (2010), a
solução está em implantar centrais de reciclagem, e em estabelecer uma parceria com as
empresas, que devem assumir a responsabilidade pela reciclagem, deste modo “a prefeitura e as
cooperativas terão seu patamar social elevado”.

2.2 Aproveitamento energético de resíduo sólido

No Brasil, a utilização de resíduo sólido com vistas ao aproveitamento energético,


incluindo o coprocessamento, obedecerá às normas estabelecidas pelos órgãos competentes,
podendo ser utilizadas tecnologias que comprovem sua viabilidade técnica e ambiental, havendo
a necessidade da implantação de programa de monitoramento de emissão de gases tóxicos,
aprovado pelo órgão ambiental (BRASIL, 2010).
No âmbito nacional, a valorização local do resíduo sólido e sua posterior utilização para
fins energéticos poderão auxiliar no desvio de significantes quantidades de resíduo que iriam
parar na disposição final. Ademais, “[...] embora não se trate de potencial com dimensão
suficiente para sustentar uma estratégia de expansão da oferta de energia elétrica no país no longo
14
prazo, [...], é sem dúvida, elemento importante de uma estratégia regional ou local e, portanto,
não deve ser desconsiderada” (EPE, 2008, p. 11).
A adoção de novas tecnologias para tratamento de resíduo vem ganhando interesse
mundialmente nos últimos anos pelo reconhecimento de que o aterramento, ou na pior das
hipóteses a disposição em lixões, apenas transfere o problema para o futuro sem efetivamente
enfrentá-lo (EPE, 2008). Na Figura 2.3 mostra-se a adoção de incineradores em diversos países.
Na Europa, por exemplo, em 2000 havia 304 plantas de incineração, com capacidade de
processamento de 50,2 milhões de toneladas de RSM e outros resíduos, contemplando uma
recuperação energética da ordem de 49,6 TWh/ano, sendo que 70% dessa energia era destinada a
geração de calor e 30% para geração de eletricidade (LUDWIG, HELLWEG e STUCKI, 2003).
Na Figura 2.4 mostra-se o crescimento da capacidade instalada de digestores anaeróbios para
tratamento de resíduo sólido em alguns países Europeus.

Figura 2.3: Prática de destinação de resíduos em diversos países ano 2000

Fonte: Ludwig, Hellweg e Stucki (2003)

15
Figura 2.4: Aumento da capacidade instalada da digestão anaeróbia na Europa

Fonte: Baere e Mattheeuws (2013)

O Brasil continua muito dependente de duas fontes: a hídrica e a térmica a gás natural. A
diversificação não é só uma exigência de segurança nacional, mas também a necessidade da
inclusão de fontes mais limpas de energia na matriz brasileira. Na geração hídrica, os melhores
aproveitamentos já foram construídos e já fazem parte da matriz energética atual, enquanto na
geração térmica há dependência do preço do petróleo, gás natural e da taxa de câmbio
(LANDAU, 2008). O resíduo sólido tem sido visto como parte integrante das estratégias do setor
energético como uma proposta viável e que poderá ajudar o setor a evitar a necessidade de
construção de novas plantas, trazendo benefícios socioambientais e financeiros para a sociedade
(OLIVEIRA, MAHLER e ROSA, 2012).
O resíduo possui uma vantagem econômica em comparação com outras fontes de biomassa
devido a ser coletado regularmente às despesas públicas (BOGNER et al., 2007).
Oliveira, Henriques e Pereira (2010), demonstraram que a produção de energia elétrica a
partir da fração orgânica do resíduo sólido, com o uso da tecnologia de biodigestão anaeróbia, é
mais barata que a geração de energia eólica, com benefícios socioambientais além da redução de
CO2. Ademais, há pouca experiência no aproveitamento do gás de aterro para produção de

16
energia no Brasil, apesar do grande potencial. Foram identificados no país apenas dois projetos
que já relatam a geração de eletricidade, a saber, os aterros Bandeirantes e São João, com uma
geração de 755.700 MWh entre 2004-2010 e 476.900 MWh entre 2008-2012, respectivamente
(ABRELPE, 2013). A usina termelétrica do aterro Bandeirantes em São Paulo é a maior
utilização de biogás para energia elétrica no mundo (BIOGAS ENERGIA AMBIENTAL S/A,
2012). Segundo estimativas do governo, a usina impedirá que cerca de 8 milhões de toneladas de
gás carbônico equivalente sejam emitidas até 2012 (CENBIO, 2010).
O Brasil conta com 4,74% dos projetos registrados para obtenção de créditos de
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), formando um total de 46 projetos. Destes, 28
referem-se a aterros sanitários, dos quais 23 projetos contemplam o aproveitamento energético do
biogás, e 22 incluem geração de eletricidade e somente 1 considera a purificação do biogás para
posteriormente injetá-lo em rede de gás natural. No total, a capacidade instalada para geração de
eletricidade, oriunda de gás de aterro, declarada nos projetos é de 254 MW. Adicionalmente, as
estimativas para potencial energético no Brasil, de futuros projetos de captura e utilização de gás
de aterro é de cerca de 282 MW (ABRELPE, 2013).
Neste quesito, o governo pretende estimular o aproveitamento de gases gerados em aterros
para fins energéticos, com aporte de recursos para estudos de viabilidade técnica e econômica da
implantação destes sistemas (BRASIL, 2011).
Em 2005, a Suécia implementou a proibição do aterramento da fração orgânica do resíduo
sólido, e em 2007, apenas eram aterrados 4% do total de resíduo produzido no país. Estratégias
de reciclagem, tratamento biológico e incineração foram intensificadas, como resultado do
declínio nas práticas de aterramento (Figura 2.5), e em 2010 a Suécia atingiu a reciclagem e
compostagem de 50% de todo o lixo domiciliar (DEFRA, 2010). Vê-se a partir daí uma clara
estratégia de gerenciamento de resíduo sólido aliado a um programa de expansão do
aproveitamento energético deste material.

17
Figura 2.5: Estratégia de gestão de resíduos Suécia

Fonte: DEFRA (2010).

Apesar destas imposições poderem trazer consequências positivas para a gestão de resíduo,
impactos negativos também podem ser observados, a exemplo do aumento na exportação de
resíduo para outros lugares onde as leis são menos severas. É fundamental que estas mudanças
sejam implementadas de forma estruturada e progressiva para que seu efeito seja positivo no
gerenciamento de resíduo de modo geral. Outro ponto central para o sucesso destas medidas é o
efetivo engajamento entre os diversos atores, os quais devem discutir e negociar as metas, o
tempo para cumprimento destas e o desenvolvimento de infraestrutura de tratamento alternativo
(DEFRA, 2010).
Para o economista Calderoni, a energia a partir de resíduo sólido tem que ser pensada de
duas formas. Uma é a energia obtida por meio da geração e a outra é por meio da conservação.
“Se a sucata de plástico é separada e levada para o reaproveitamento na indústria, você está
usando o processo de conservação de energia, no qual se consegue o dobro de aproveitamento
energético que no processo de geração. Se eu usar esse mesmo plástico num gaseificador, por
exemplo, vou conseguir muito menos ganho energético, já que há perdas nesse processo”,
completa (CALDERONI, 2010, p. 24).
Oliveira, Mahler e Rosa (2012), estimaram o potencial de conservação de energia a partir
da reciclagem no Brasil (Tabela 2.1). Segundo o estudo, obteve-se um potencial de eletricidade
18
equivalente anual de 87,5 TWh, ou 22 Mtep, o que seria suficiente para atender ao consumo do
setor residencial nacional, sendo similar a toda a geração de eletricidade a partir de plantas
térmicas de resíduo sólido no mundo em 2000. Ademais, esta quantidade é equivalente à planta
hidrelétrica de Itaipu.

Tabela 2.1: Composição do RSM no Brasil e potencial de energia conservativa


Fração RSU Fator de conservação Potencial de conservação
Material
(%) (MWh/t) (TWh/a)
Papel e Papelão 12 3,51 54,6
Plástico (incluindo PET) 18 5,06 25,3
Vidro 3 0,64 1,15
Metal (alumínio, aço) 2 5,3 6,36
Fonte: Oliveira, Mahler e Rosa (2012)

Previsões indicam que mesmo com as melhorias esperadas na redução, reutilização e


reciclagem, suficiente matéria prima estará disponível, as quais suportarão significante
crescimento na área de recuperação energética sem que haja conflitos em galgar maiores
patamares na hierarquia do resíduo (DEFRA, 2011). Dentre os principais desafios futuros da área
de recuperação energética de resíduo sólido, pode-se destacar a necessária flexibilidade do
sistema para adaptar-se às mudanças de matéria prima de tempos em tempos. À medida que há
mais reciclagem, é necessário compreender como será possível recuperar o melhor valor do
resíduo remanescente, enquanto devolvendo os melhores resultados ambientais (DEFRA, 2011).

2.3 Tecnologias de tratamento de resíduo sólido

Existe uma variedade de processos para tratamento de resíduo sólido, muitas delas
passíveis de aproveitamento energético. Segundo Kothari et al. (2011), as tecnologias mais
utilizadas classificam-se em: conversão térmica (incineração, pirólise, gasificação, produção de
combustível derivado de resíduo (CDR)); conversão bioquímica (compostagem,
vermicompostagem, digestão anaeróbia); conversão química (transesterificação e outros
processos que convertem resíduo orgânico em biodiesel). A escolha do processo de conversão
19
depende das características do RSM (composição e fluxo de material), a forma desejada de
obtenção de energia, requisitos de uso final, legislações ambientais, aspectos econômicos e
fatores específicos de projeto (KOTHARI et al., 2011).

2.3.1 Tratamento térmico

Resíduo sólido é utilizado para a produção de calor e energia desde o início do século 19. O
valor calorífico de muitos dos resíduos é entre a quarta parte e a metade do valor calorífico do
carvão. Uma variedade de materiais que compõe o RSM pode ser queimada sem o uso de
combustível auxiliar. Entretanto, uma vez que há presença de umidade e de material orgânico
e/ou inerte, que não contribuem na valorização do poder calorífico, o processamento do mesmo,
visando à minimização do teor de umidade e à redução do teor de cinzas, pode melhorar
significativamente a qualidade do combustível e a eficiência de combustão (MCDOUGALL et
al., 2001).

2.3.1.1 Incineração

Tipicamente, um incinerador com recuperação energética é constituído dos seguintes


elementos (Figura 2.6) (ENVIROS, 2007):
 recepção de resíduos e transferência;
 câmara de combustão;
 planta de recuperação energética;
 limpeza dos gases de combustão;
 manipulação das cinzas de fundo e controle de poluição dos resíduos; e,
 tratamento de água residual;

20
As configurações de planta vão variar de acordo com a matéria prima. O RSM é
normalmente entregue via veículos de coleta e entornados em um armazém onde é misturado. A
mistura é requerida para assegurar, na medida do possível, a equidade do poder calorífico do
resíduo de entrada (ENVIROS, 2007).

Figura 2.6: Planta típica de incinerador com grades móveis

Fonte: Doka (2009)

Na Figura 2.6 é mostrado o princípio de operação de um incinerador de resíduo sólido.


Cada linha de incineração é equipada com um forno com grelha de fundo (8). Ao final da grelha
o material remanescente da combustão é coletado como cinzas (cinzas de fundo) e resfriado em
água (9). O gás é direcionado para um trocador de calor (10). O calor recuperado na forma de
vapor é passado por uma turbina (24) para a geração de eletricidade. Após o resfriamento no
trocador, o gás resultante da combustão é então direcionado a um precipitador eletrostático para a
21
separação das cinzas de combustão (12). O precipitador eletrostático utiliza o princípio da atração
eletrostática para remover partículas do gás. Ele consiste em uma série de eletrodos de descarga,
nos quais são aplicados elevada voltagem. Após esta etapa, um lavador multi-estágios (14) é
utilizado para eliminar componentes perigosos do gás como SOx, HCl pela lavagem do gás em
uma torre de reação projetada para promover o máximo de contato entre o gás e o líquido. Em um
primeiro estágio, o gás é resfriado pela pulverização de “spray” de água, removendo HCl, HF,
particulados e metais pesados. No segundo estágio hidróxido de cálcio ou outra substância
alcalina é utilizada para a remoção de SOx e o HCl remanescente. O líquido do lavador é
neutralizado (18), os metais pesados são precipitados (19) e o lodo é separado (20) para na
estação de tratamento de água. A água tratada é usualmente despejada em um rio. Após a
lavagem, o gás de combustão passa por uma instalação de redução catalítica de NOx (15).
Posteriormente, o gás de combustão purificado é encaminhado para a chaminé.
Aproximadamente 75% da massa de resíduo original é transferida para os componentes gasosos
como dióxido de carbono, nitrogênio, água e traços de gases (DOKA, 2009).
Da energia total disponível, mais de 80% pode ser utilizada na produção de vapor. O
vapor pode ser utilizado para a geração de energia via turbina a vapor e/ou utilizado diretamente
como fonte de energia. Um incinerador produzindo exclusivamente calor pode ter uma eficiência
térmica de geração entre 80-90%. A produção de energia elétrica pode ter sua eficiência
prejudicada devido ao limite de temperatura no trocador de calor. Um incinerador produzindo
somente eletricidade alcança um máximo de eficiência de 27%, com uma faixa típica variando de
14% a 24%. A eficiência de um incinerador para geração de eletricidade é menor que uma
unidade de grande porte a carvão ou gás. Tipicamente, uma unidade a carvão pode atingir entre
33% - 38%; uma turbina a gás em ciclo combinado pode atingir eficiências elétricas superiores a
50%. As razões para estas eficiências mais elevadas são questões técnicas e o amadurecimento
das unidades em larga escala de carvão e gás (ENVIROS, 2007).
Há três principais tecnologias de combustão que podem ser empregadas no processo de
incineração. Ambas as tecnologias presentes são capazes de suprir requesitos técnicos que
atendam a legislação europeia, a exemplo, temperatura de combustão mínima de 850°C e tempo
de residência do sólido de dois segundos (ENVIROS, 2007). São elas:
 grelhas fixas e móveis;

22
 leito fluidizado; e,
 tambores rotativos;

O sistema de grelhas móveis é o mais conhecido. O resíduo é vagarosamente propelido


até a câmara de combustão (fornalha) por grelhas mecanizadas. O fluxo de entrada é contínuo, ao
passo que também é contínua a saída de cinzas no final da grelha. A planta é configurada para a
completa combustão enquanto o resíduo se movimenta pela grelha. As condições do processo são
controladas para otimizar a combustão, e assegurar a combustão completa. Ao final da grelha,
geralmente há um resfriador para as cinzas quentes remanescentes (Figura 2.6).
A técnica de combustão em leitos fluidizados envolve uma pré-segregação do RSM para
remover metais inertes e pesados, antes do processamento no forno. O resíduo é então processado
mecanicamente com o intuito de reduzir o tamanho das partículas. De modo geral, o resíduo
requer mais preparação em comparação com o sistema de forno com grades móveis. A
combustão é normalmente um processo de único estágio e consiste em uma câmara forrada com
um leito de material inerte granular como areia grossa ou mídia similar (ENVIROS, 2007).
O leito é fluidizado com ar (o qual pode ser diluído com gás de escape reciclado), sendo
soprado verticalmente pelo material a uma alta vazão. O resíduo é movimentado pela ação das
partículas do leito fluidizado.
Os fornos rotativos possuem vasta aplicação, e podem ser constituídos de vaso de rotação
completa ou parcial. Consiste normalmente em um processo de dois estágios: o forno; e uma
câmara de combustão separada. O forno consiste na primeira câmara de combustão e é inclinada
para permitir o movimento do resíduo de entrada. A rotação move o resíduo pelo forno com a
ação de tombamento a qual expõe o resíduo ao calor e oxigênio (ENVIROS, 2007).

2.3.1.2 Tecnologia de Combustível Derivado de Resíduo (CDR)

O início do desenvolvimento da tecnologia de CDR ocorreu principalmente no Reino


Unido e na Itália, com unidades sendo construídas em meados da década de 70. Entretanto,

23
muitas destas foram fechadas, devido à dificuldade em se encontrar mercado para o combustível
CDR na forma de peletes. A falta de mercado levou ao desenvolvimento do CDR grosseiro, o
qual é apropriado para uso local (MCDOUGALL et al., 2001). Os regulamentos atuais exigem
elevado padrão de qualidade para o CDR, de modo que este pode ter aceitação como combustível
substituto ou auxiliar em muitos sistemas de combustão, com o mínimo de modificações no
esquema padrão da planta (CAPUTO e PELAGAGGE, 2002).
O CDR é produzido pela seleção mecânica da fração combustível do resíduo sólido. A
produção do CDR é parte do sistema de tratamento térmico, o qual visa a valorizar parte dos
fluxos de resíduo pela recuperação do teor energético (Figura 2.7) (MCDOUGALL et al., 2001).

Figura 2.7: Exemplo de processo de CDR, Albany, Nova Iorque

Fonte: Hasselriis e Mahoney (2012)

Sua utilização acarreta inúmeros benefícios, dentre os quais se destaca o elevado poder
calorífico, a homogeneidade da composição físico-química, o fácil armazenamento, manipulação
e transporte, a baixa emissão de poluentes e a reduzida necessidade de excesso de ar durante a
combustão. Entretanto, a produção de CDR com elevado poder calorífico pede uma complexa
24
linha de produção, conduzindo à baixa eficiência mássica, gerando significante quantidade de
rejeito. O desejo pelo elevado poder calorífico inferior leva à maior quantidade de passos e menor
massa final de CDR. Isso conduz a custos mais elevados de produção os quais reduzem o apelo
de mercado do produto (CAPUTO e PELAGAGGE, 2002). Tipicamente, cerca de 30% da massa
de entrada é convertida em CDR densidificado, peletizado (MCDOUGALL et al., 2001). O RSM
apresenta tipicamente teor energético de 9 – 11 MJ/kg, enquanto o CDR pode apresentar 17
MJ/kg (ENVIROS, 2007).
Uma linha de produção de CDR consiste em inúmeras estações arranjadas em série, com
o objetivo de separar componentes indesejados e condicionar a matéria combustível a fim de
obter combustível de características pré-determinadas. Isto é realizado por meio de sucessivos
estágios de tratamento como peneiramento, trituração, redução de tamanho, classificação,
separação, secagem e densidificação. De fato, o tipo, número e posição dos equipamentos de
processo ao longo da linha de produção afetam largamente o balanço de massa e a qualidade do
produto final (CAPUTO e PELAGAGGE, 2002).
O correto projeto de uma unidade de CDR é uma tarefa delicada devido a inúmeros
fatores. Primeiro, a composição exata do RSM é difícil de prever-se e é provável de mudar ao
longo do tempo. Ademais, os equipamentos do processo são frequentemente derivados de outros
setores industriais (exemplo, indústria da mineração) dificultando sua otimização quando da
utilização de RSM. Finalmente, as dimensões dos diferentes tipos de máquinas são padronizadas,
de modo que é difícil atingir a combinação ideal entre as diferentes unidades de operação. Isso
implica, muitas vezes, no emprego de linhas paralelas de processos, podendo haver gargalos
devido às limitações específicas. Outro ponto é que a configuração de plantas de maiores
capacidades geralmente implica na colocação de inúmeras linhas em paralelo, fazendo com que
os benefícios da economia de escala sejam perdidos. Além disso, erros no estágio de projeto
levam a um rendimento reduzido e um produto final de menor qualidade do que se esperava, com
pesadas penalidades econômicas (CAPUTO e PELAGAGGE, 2002).
Há dois processos básicos de CDR, cada um produzindo um produto distinto, conhecido
como CDR densidificado e CDR grosseiro, respectivamente. O CDR densidificado é produzido
como peletes. Antes de ser peletizado é seco, de modo a ficar relativamente estável e poder ser
transportado, manuseado e armazenado como qualquer outro combustível sólido. Ele pode ser

25
queimado em unidades dedicadas, ou utilizado em co-combustão com carvão e outros
combustíveis sólidos (MCDOUGALL et al., 2001).
O CDR densidificado requer considerável processamento, incluindo secagem e
peletização, e também requer elevada quantidade de energia no processo. O consumo de energia
global para o processo de CDR densidificado tem sido estimado para 55,5 kWh por tonelada de
RSM que entra na planta. Ademais, o processo de secagem anterior à peletização requer cerca de
400 MJ de calor por tonelada (ETSU 1993b, apud MCDOUGALL et al., 2001).
Já o CDR grosseiro requer menos processamento, mas como não é seco, não pode ser
armazenado por um longo período. Ele é apropriado para uso local na geração de eletricidade
e/ou calor (MCDOUGALL et al., 2001).
De modo geral, o processo básico de produção do CDR pode ser dividido em cinco
estágios distintos (Figura 2.8), descritos a seguir:
 recepção e armazenamento;
 liberação e triagem;
 refinamento do combustível;
 preparação e combustível; e,
 armazenamento e controle de qualidade;

26
Figura 2.8: Processo de produção de CDR
Recepção e armazenamento

Fração Grosseira

Liberação e triagem

Fração Fina

Metal ferroso

Refinamento do combustível

Metal não ferroso

CDR
tipo A
Preparação do combustível

CDR
tipo B
CDR densidificado

Armazenamento e controle de qualidade


Fonte: Mcdougall et al. (2001)

Inicialmente o RSM é entregue por veículos de coleta na recepção onde, após inspeção
visual, são removidos materiais com potencial de danificarem os equipamentos.
Consequentemente, após a liberação, há a triagem dos materiais onde primeiramente se visa a
esvaziar sacos ou containers, e consequentemente remover frações finas e muito grosseiras. O
processo de abertura dos sacos envolve o uso de moinhos, trituradores, dispositivos de ponta ou
esgarço. Já a triagem frequentemente envolve peneira rotativa, que pela ação do tombamento
esvazia os sacos ou containers e seleciona os materiais pelo gradeamento das peneiras. A fração
fina é rica em umidade e material putrescível, bem como cinzas, areia e cacos de vidro, e deve ser
removida do processo. A fração grosseira consiste principalmente em pedaços muito grandes de
papel, papelão ou plástico filme, que também devem ser removidos. Após estes processos, a
fração resultante pode ser utilizada como CDR grosseiro (tipo A), apesar de conter metal e outros
materiais não combustíveis.
27
A etapa de refinamento do combustível envolve redução de tamanho de partícula,
classificação e separação magnética. A redução de tamanho usualmente é feita por triturador ou
moinho. A separação por densidade (classificação) é necessária para separar a fração pesada
(metal, plástico denso) da fração combustível leve (plástico filme, papel), a qual irá formar o
CDR densidificado. Dois principais processos são utilizados nesta etapa, a classificação por ar e a
separação balística, os quais se resumem a submeter o material a um fluxo de ar e selecioná-lo
pela densidade. O separador magnético pode ser utilizado para remoção de metal ferroso e o
separador de corrente de Focault remove metais não ferrosos. A fração leve, juntamente com o
que restou da separação magnética e/ou pela corrente de Focault pode ser utilizado como uma
forma mais refinada de CDR grosseiro (tipo B).
Já o estágio de preparação do combustível representa a grande diferença entre o CDR
grosseiro e o densidificado. Uma trituração secundária é necessária para reduzir o tamanho de
partícula necessário na operação de peletização, e a secagem reduz o teor de umidade de 30%
para 12% aproximadamente. Baixa umidade é requerida para um bom armazenamento e
características de combustão. Uma vez que a fração combustível é seca, os resíduos orgânicos e
inertes são facilmente peneirados, reduzindo o teor de cinzas do produto. Muito do cloro, metal
pesado e silicato estão contidos no resíduo inerte. Após este estágio o CDR densidificado pode
ser produzido com um teor final de cinzas de 10% em peso. O CDR densidificado pode tomar
forma de pelete ou briquete. Os moinhos de pelete são energo-intensivos, consumindo mais de 35
kWh por tonelada de combustível produzido, de modo que este precisa ser resfriado antes do
armazenamento, para remoção do calor produzido na compressão. Estes equipamentos são
suscetíveis a sofrer danos com contaminação de partículas densas, de modo que estágios de
separação magnética e separador balístico são frequentemente utilizados para remoção de metais
ferrosos e outros materiais densos.
Uma vez secos e na forma de pelete, o CDR densidificado pode ser armazenado; em
contraste, o CDR grosseiro necessita ser queimado dentro de pouco tempo após sua produção.
(MCDOUGALL et al., 2001).

28
2.3.2 Tratamento biológico

Frações de resíduo orgânico e a parcela não reciclável de papel do RSM podem ser
submetidas ao tratamento biológico, o qual pode ocorrer por meio de dois processos distintos –
processo aeróbio e anaeróbio –, os quais utilizam as tecnologias de compostagem, e biodigestão.
Seu principal objetivo é a valorização dos produtos finais (biogás (anaeróbio) e composto
(aeróbio e anaeróbio)) (MCDOUGALL et al., 2001).
O tratamento biológico envolve a utilização de microrganismos, de ocorrência natural, que
decompõem os componentes biodegradáveis do resíduo. Os organismos aeróbios requerem
oxigênio molecular como aceptor externo de elétrons no metabolismo respiratório, resultando em
rápida taxa de crescimento e elevado rendimento celular. O processo aeróbio tem como produtos
principais o dióxido de carbono (CO2), calor, água e composto orgânico aeróbio. Já o
metabolismo anaeróbio ocorre na ausência de oxigênio externo, portanto não envolvendo aceptor
externo de elétrons. Este metabolismo fermentativo é menos efetivo na produção de energia que o
processo de respiração aeróbia e, portanto resulta em menor crescimento e rendimento celular.
Seus produtos principais são o metano (CH4), dióxido de carbono (CO2), água e composto
orgânico anaeróbio (MCDOUGALL et al., 2001).
Os processos biológicos resultam na estabilização do substrato, uma vez que a demanda
cumulativa de oxigênio pode ser reduzida cerca de seis vezes em relação à inicial, além da taxa
de carbono/nitrogênio (C/N) cair significativamente durante o processo (MCDOUGALL et al.,
2001).
Ambos os processos biológicos, compostagem e biodigestão são efetivos na destruição da
maioria dos patógenos presentes no substrato. A compostagem é um processo fortemente
exotérmico, e pode atingir temperaturas entre 60-65°C, suficiente para destruir a maioria dos
patógenos. O processo de biodigestão é somente em parte exotérmico, mas pode operar a
temperaturas de 55° (processo termofílico) pelo uso de fonte externa de calor (MCDOUGALL et
al., 2001).
Apesar do processo de biodigestão necessitar de um reator fechado, e maior nível de
tecnologia que algumas formas de compostagem, esta contenção permite maior controle sobre o

29
processo e sobre a emissão de odores, além de permitir a captura e posterior utilização do gás
metano formado. Ainda, o devido à unidade de biogasificação ser usualmente vertical, esta requer
menor área (MCDOUGALL et al., 2001).
Quando se observa o tratamento da fração orgânica de RSU sob a perspectiva de economia
local e considerações ambientais, o processo anaeróbio leva vantagem em relação à compostagem
pela elevada valorização de seus produtos finais (DEFRA, 2011).
Com vistas ao aproveitamento energético, será discutido somente o processo anaeróbio,
uma vez que permite a utilização do biogás como fonte de geração de eletricidade ou
combustível.

2.3.2.1 Digestão Anaeróbia (DA)

No processo de oxidação da matéria orgânica em ambientes anaeróbios ocorrem os


processos metabólicos de fermentação e respiração anaeróbia. A formação do metano ocorre
preferencialmente em ambientes onde oxigênio, nitrato e sulfato não estejam prontamente
disponíveis como aceptores de elétrons. Isso porque, na presença destes compostos, a matéria
orgânica é oxidada por meio de processos aeróbios, redução de nitrato e sulfato, respectivamente.
Naturalmente, a produção de metano ocorre em diferentes ambientes, tais como pântanos, solo,
sedimentos de rios, lagos e mares, assim como nos órgãos digestivos de animais ruminantes.
Estima-se que a digestão anaeróbia, com formação de metano, seja responsável pela completa
mineralização de 5 a 10% de toda a matéria orgânica disponível na Terra (CHERNICHARO,
2007).
Em princípio, todos os compostos orgânicos podem ser degradados pela via anaeróbia,
sendo que o processo se mostra mais eficiente e mais econômico quando os dejetos são
facilmente biodegradáveis (CHERNICHARO, 2007).
A digestão anaeróbia representa um sistema ecológico delicadamente balanceado,
envolvendo processos metabólicos complexos, que ocorrem em duas etapas sequenciais e que
dependem da atividade de, no mínimo, três grupos fisiológicos de microrganismos: i) bactérias

30
fermentativas (ou acidogênicas); ii) bactérias sintróficas (ou acetogênicas); e iii) microrganismos
metanogênicos. Cada grupo microbiano tem funções específicas. As bactérias fermentativas
acidogênicas convertem, por hidrólise e fermentação, os compostos orgânicos complexos
(carboidratos, proteínas e lipídios) em outros compostos mais simples, principalmente ácidos
orgânicos, além de hidrogênio e dióxido de carbono. Os microrganismos sintróficos acetogênicos
convertem compostos intermediários, como propionato e butirato, em acetato, hidrogênio e
dióxido de carbono. Por fim, o acetato e o hidrogênio produzidos nas etapas anteriores são
convertidos em metano e dióxido de carbono. Esta conversão é efetuada por um grupo especial
de microrganismos, denominados arqueas metanogênicas, os quais são procariotas estritamente
anaeróbios (CHERNICHARO, 2007).
Os microrganismos metanogênicos desenvolvem duas funções primordiais nos
ecossistemas anaeróbios: i) produzem um gás insolúvel (metano), possibilitando a remoção de
carbono orgânico contido na fase líquida; e ii) são responsáveis pela manutenção da pressão
parcial de hidrogênio do meio em níveis suficientemente baixos, permitindo que as bactérias
fermentativas e formadoras de ácidos produzam produtos mais oxidados, a exemplo o ácido
acético, que é substrato direto da metanogênese (CHERNICHARO, 2007).
Além das rotas metabólicas e dos grupos microbianos descritos anteriormente, o processo
de digestão anaeróbia pode incluir, ainda, a fase de redução de sulfatos e formação de sulfetos ou,
simplesmente, sulfetogênese (Figura 2.9). Entretanto, as bactérias redutoras de sulfato utilizam
hidrogênio e acetato, o que as torna agentes competidoras por substratos comuns aos das
metanogênicas. A predominância desta fase depende essencialmente da composição química do
substrato (presença significativa de sulfato) e das condições operacionais do reator. A demanda
química de oxigênio (DQO) removida pela sulfetogênese leva à produção do gás sulfídrico e
pode resultar em problemas de corrosão, emanação de maus odores e toxicidade do meio.
Ademais, prejudica a produção de metano, que pode ter seu conteúdo energético aproveitado
(CHERNICHARO, 2007).

31
Figura 2.9: Rotas metabólicas e grupos microbianos da digestão anaeróbia
Orgânicos complexos
(carboidratos, proteínas, lipídios)

Bactérias fermentativas
(hidrólise)

Orgânicos simples
(açucares, aminoácidos, peptídeos)

Bactérias acidogênicas
(acidogênese)

Ácidos orgânicos
(propionato, butirato, etc.)

Bactérias acetogênicas
(acetogênese)

Bactérias acetogênicas
Produtoras de hidrogênio

H2 + CO2 Acetato
Bactérias acetogênicas
Consumidoras de hidrogênio

Arqueas metanogênicas
(metanogênese)
CH4 + CO2
Metanogênicas Metanogênicas
hidrogenotróficas acetoclásticas

Bactérias redutoras de sulfato


(sulfetogênese)
H2S + CO2

Fonte: Chernicharo (2007)

A produção de biogás pelo processo anaeróbio é, na prática, associado a muitos fatores, tais
como: composição, tamanho de partícula, e proporções dos substratos utilizados; capacidade de
degradação da biomassa microbiana; pH e alcalinidade do meio; teor de matéria seca e de matéria
orgânica seca; relação entre os nutrientes; e presença de material tóxico. Também, os parâmetros
da tecnologia de fermentação são importantes, a exemplo, o número de fases e estágios do
processo, a temperatura de operação, o tempo de residência do substrato e da biomassa
microbiana no reator, o tipo e frequência da mistura do substrato no reator, e a quantidade e

32
frequência da adição de substratos (DEUBLEIN e STEINHAUSER, 2008; CHERNICHARO,
2007).
O biogás consiste principalmente em metano (55–70 % de CH4) e dióxido de carbono (30-
45% de CO2), mas também contém impurezas que necessitam ser removidas, dependendo de qual
será sua utilização posterior (Tabela 2.2). Os componentes do gás são específicos de cada
unidade e substrato e devem ser monitorados regularmente (DEUBLEIN e STEINHAUSER,
2008).

Tabela 2.2: Percentagem e características das impurezas contidas no biogás


Componente Teor Efeito
• Baixo poder calorífico
• Aumenta a formação de metano na combustão
CO2 • Modifica as propriedades anti-detonação
25-50% (volume)
quando utilizado em motores
• Causa corrosão quando há presença de
umidade
• Efeito corrosivo em equipamentos e sistemas
de tubulação
H2S 0-0,5% (volume) • Emissões pós combustão de SO2 ou H2S
quando a combustão é incompleta
• Emissões pós combustão de NOx
NH3 0-0,05% (volume)
• Aumento das propriedades anti-detonação
• Causa corrosão de equipamentos e sistemas de
Vapor de água 1-5% (volume)
tubulações
N2 • Diminui o poder calorífico
0-5% (volume)
• Aumento das propriedades anti-detonação
Siloxanos 0-50 mg/m³ • Age como abrasivo e danifica motores
Fonte: Deublein e Steinhauser (2008)

O principal propósito da digestão anaeróbia é a recuperação energética do processo, pela


utilização do metano, um dos poucos combustíveis renováveis que é apropriado para uso em
veículos de carga pesada. Isso significa que, apesar do processo permitir a reciclagem do
composto orgânico e sua posterior utilização como condicionador de solo, na maioria dos casos a
digestão anaeróbia será classificada como “outras recuperações” dentro da hierarquia do
gerenciamento do resíduo sólido (DEFRA, 2011).

33
Sistemas de DA são fechados (Figura 2.10) de modo que as emissões de gases são
limitadas à queima incompleta em motores de combustão, emissões fugitivas de tubulações e do
reator, e traços de metano emitidos durante a maturação do composto orgânico sólido gerado
(UNEP, 2010b; MOLLER, BOLDRIN e CHRISTENSEN, 2009).

Figura 2.10: Esquema planta de digestão anaeróbia de RSM

Fonte: adaptado de AXPO KOMPOGAS (2013)

A remoção dos gases indesejáveis é feita pela aplicação de técnicas de lavagem, adsorção,
absorção, e secagem, entre outras, cuja sequência é (DEUBLEIN e STEINHAUSER, 2008):
• separação grosseira de sulfeto de hidrogênio no reator ou em lavador a parte;
34
• remoção de traços de sulfeto de hidrogênio;
• separação do dióxido de carbono e outros componentes do biogás; e,
• desumidificação;

Dependendo da utilização do biogás, o metano necessita ser comprimido ou liquefeito.


Ambos os processos ocorrem analogamente à compressão ou liquefação do gás natural
(DEUBLEIN e STEINHAUSER, 2008).
Na utilização do biogás para geração de eletricidade, e possivelmente calor
combinadamente, normalmente utiliza-se motores de quatro tempos ciclo Otto ou motores ciclo
diesel. Alternativamente, podem ser utilizados motores Stirling ou turbina a gás, micro-turbina a
gás, células de combustível de baixa ou alta temperatura, ou uma combinação de células
combustíveis a alta temperatura com turbina a gás. O biogás pode também ser utilizado na
produção de vapor por um ciclo Rankine, onde o vapor aciona um motor ou turbina. O poder
calorífico da mistura biogás/ar é 15% menor que o da mistura gasolina/ar para veículos,
resultando em uma potência 15% menor para a mesma taxa de compressão. A potência do motor
é ainda reduzida pela baixa taxa de combustão do biogás. Esta desvantagem é compensada pela
elevada qualidade de anti-detonação, permitindo o uso de taxas de compressão mais elevadas. Em
se utilizando um motor quatro tempos ao invés de um motor diesel a gás, a eficiência pode ser
melhorada (DEUBLEIN e STEINHAUSER, 2008).
A purificação e beneficiamento do biogás objetiva a produção de um gás (biometano) com
qualidade de gás natural a ser inserido na rede de distribuição de gás municipal, ou como
combustível automotivo. Comparado com o gás natural, o biogás cru é pesado e a presença de
CO2 e vapor de água reduzem seu poder calorífico e fazem com que não seja economicamente
viável sua compressão e transporte a longas distâncias. Portanto, é essencial a remoção destes
elementos para melhoria da qualidade do gás. A remoção de H2S também é importante para que
se evite problemas de corrosão em equipamentos (JUNGBLUTH et al., 2007).
Com respeito à tecnologia e economia, a utilização do biogás como combustível aparenta
ser uma opção interessante. Comparado ao uso do biogás para alimentação de redes de gás
natural, sua utilização como combustível pode ser economicamente mais atrativa. Um motor de
quatro tempos adaptado ao uso de gás natural é apropriado para este propósito (DEUBLEIN e

35
STEINHAUSER, 2008). As características, as quais o biogás deve ter com o propósito de
utilização como combustível, são internacionalmente recomendadas na ISO 15403-1:2006. A
Suécia tem sua própria norma para uso de biogás como combustível (Tabela 2.3).

Tabela 2.3: Características requeridas para uso de biogás como combustível na Suécia
Índice de Wobbe 12.2-13.1kWh/Nm³
Teor CH4 97 ± 2% em volume
Número de metano >130
Teor de O2 <1% em volume
Teor CO2 + O2 + N2 <5% em volume
Nitrogênio total (sem N2) <20mg/Nm³
Teor H2S <23mg/Nm³
Teor H2O <32mg/Nm³
Temperatura do ponto de orvalho -5°C
Fonte: Deublein e Steinhauser (2008)

Na Suécia, o governo adotou a meta de tornar-se independente da importação de petróleo e


gás natural em um futuro próximo. Em muitas cidades é comum a utilização de carros “verdes”,
abastecidos com biogás (DEUBLEIN e STEINHAUSER, 2008). Em Linkoeping, 200 km ao sul
de Estocolmo, toda a frota de ônibus, assim como taxis, veículos transportadores, caminhões de
coleta de resíduo, veículos privados, e mesmo um trem são movidos a biogás. Grandes esforços
têm sido realizados para tornar possível mover um trem a biogás. Por exemplo, o motor diesel
teve de ser substituído por dois motores a biogás. Doze tanques de pressão contendo biogás são
suficientes para garantir uma distância percorrida de 600 km (DEUBLEIN e STEINHAUSER,
2008).
A mais aplicável característica de matéria prima para a digestão anaeróbia é quando a
fração orgânica pode ser coletada na fonte de geração (ex. indústria de alimentos, papel, etc.).
Ademais, o baixo nível de contaminação permite uma composição mais consistente do resíduo ao
longo do tempo, o qual torna mais fácil atingir um nível constante de produção de biogás (BECK,
2004).

36
3 ESTUDOS ANTERIORES

Bozorgirad, Zhang e Karl (2013), avaliaram, sob o aspecto econômico e ambiental, três
cenários: incineração com aproveitamento energético do calor gerado; incineração com geração
de eletricidade; e produção de etanol a partir de resíduo sólido. Os resultados indicam que a
geração de etanol a partir de RSM tem melhor desempenho ambiental nas categorias de impacto
de saúde humana e ecotoxicidade, e também mostra-se como a opção mais atrativa do ponto de
vista econômico. O aproveitamento energético do calor gerado em incineração apresentou o pior
desempenho ambiental e econômico. Ademais, os resultados ambientais e econômicos se
mostraram sensíveis às mudanças na composição do resíduo sólido.
Kara (2012) avaliou a viabilidade econômica e ambiental do uso de CDR em fornos de
cimento. Em seu estudo, verificou o nível de emissão de poluentes para diferentes proporções na
co-incineração do CDR com coque de petróleo. Para averiguar os resultados foram realizadas
coletas de gases na chaminé em um forno de escala industrial. Os resultados mostraram que, de
modo geral, as emissões se mantiveram abaixo dos padrões limite de aceitação. Observou-se
ainda que utilizando a proporção de 15% de CDR adicionado ao coque não houve perda na
qualidade da escória e nenhuma alteração significativa nas emissões da chaminé. Ademais,
observou-se economias financeiras com o uso do CDR, uma vez que o resíduo sólido é coletado
às custas do município.
Bargigli, Cherubini e Ulgiati (2009) realizaram uma análise de ciclo de vida comparando,
no contexto da cidade de Roma (Itália), quatro cenários de gerenciamento de resíduo sólido:
aterro sem aproveitamento energético do biogás; aterro com aproveitamento energético do
biogás; produção de CDR e encaminhamento da fração orgânica para tecnologia de digestão
anaeróbia; incineração direta do resíduo com produção de eletricidade. A análise considerou a
triagem mecanizada do resíduo recebido. Os resultados indicaram o aterro sem aproveitamento
energético do biogás como a pior opção. Ainda, observou-se uma melhoria nos impactos
ambientais para os cenários com elevado percentual de recuperação energética.

37
Reich (2005) elucidou as possibilidades e limitações em se traçar um paralelo entre
informações econômicas e a avaliação de ciclo de vida aplicada a sistemas de gerenciamento de
resíduo municipal. Em seu trabalho foi definida uma metodologia para abordar as possibilidades
de combinações dos dados ambientais e econômicos, as quais foram utilizadas em um estudo de
caso. A metodologia consistiu em um “Life cycle costing (LCC)” financeiro e ambiental. O
estudo apontou que os métodos econômicos podem prover ferramenta útil para avaliar o
gerenciamento de sistemas de resíduo sólido, entretanto ressalta dificuldades de consistência na
combinação dos dados.
Murphy e McKeogh (2004) realizaram análise econômica e ambiental da produção de
energia a partir de RSM na Irlanda, considerando quatro tecnologias (incineração, gasificação,
geração de biogás em aterro sanitário com produção de eletricidade e calor, e geração de biogás
em aterro sanitário, com posterior beneficiamento e utilização como combustível veicular). Em
seus resultados, no tratamento da fração seca, apesar da tecnologia de gasificação não ser (até a
data do estudo) comprovada em escala comercial, esta se mostrou melhor em relação à
incineração, com custos menores e maior eficiência. Para melhorar a sustentabilidade econômica
e ambiental de incineradores sugeriram a comercialização do calor gerado, na qual obtiveram
reduções econômicas e ambientais significantes. Para o uso final do biogás, sua utilização como
veículo de transporte mostrou-se favorável economicamente em relação à produção de
eletricidade, com reduções de 40% nas emissões de CO2 de veículos à gasolina.

38
4 METODOLOGIA

A metodologia abordada neste trabalho servira ao propósito de conduzir à identificação,


análise e comparação, sob o aspecto econômico e ambiental, do aproveitamento energético do
tratamento do resíduo sólido de municípios brasileiros, com foco em dois cenários: geração
alternativa de eletricidade; e geração de combustíveis.
As capacidades das unidades, seu funcionamento, a quantidade de produtos gerados, seus
custos e receitas estão correlacionados com fatores específicos de cada município (tais como:
tamanho da população, composição gravimétrica, preço de eletricidade e combustíveis) os quais
exercem uma influência direta na viabilidade financeira e na geração de impactos ambientais.
Deste modo, foram analisados 81 municípios brasileiros (Tabela A.1) considerando as
composições específicas do RSM gerado (IPEA, 2012), o tamanho populacional (IBGE, 2010), e
os preços de eletricidade e combustível de cada região (Tabela B.1).
Um primeiro passo, conforme abordado no capítulo 2, foi a identificação das tecnologias
envolvidas no tratamento de resíduos sólidos, cujos produtos são passíveis de aproveitamento
energético. Para a tecnologia de digestão anaeróbia, foram identificadas duas opções de utilização
do biogás gerado, passíveis de serem implementadas no contexto nacional: (i) queima direta em
motor de combustão interna, ciclo Otto, estacionário, com gerador acoplado; e, (ii) purificação e
beneficiamento do biogás para a qualidade de combustível veicular. Para a tecnologia de
incineração, foi considerada a queima do resíduo sólido em forno com fundo de grelha, com
consequente geração de vapor e seu aproveitamento em turbina para a geração de eletricidade
(ciclo Rankine). Para a produção do CDR, considerou-se a seleção e classificação do resíduo
sólido, através de processos mecanizados, para a obtenção de combustível a ser comercializado
para queima em fornos industriais. Ademais, foram coletados dados sobre os parâmetros
operacionais de cada tecnologia, os quais foram necessários para o cálculo da quantidade de
produtos gerados, e rejeitos encaminhados para outras destinações.
Posteriormente, foram elaborados os cenários: eletricidade - destinado à produção de
energia elétrica, com o uso combinado das tecnologias de digestão anaeróbia e incineração; e,

39
combustível - destinado à produção de combustíveis, com a combinação das tecnologias de
digestão anaeróbia, e CDR.
Em seguida, foram levadas em considerações as seguintes premissas, necessárias para os
cálculos dos fluxos de massa: cada município adotará um programa de segregação do resíduo na
fonte geradora, nos quais o mesmo será diferenciado em três classes distintas (orgânicos,
recicláveis e rejeitos); foi estabelecida uma taxa de adesão (percentual de participação) da
população à coleta seletiva de 60%; considerou-se uma eficiência de reciclagem para as
cooperativas de catadores de material de 76%; e, considerou-se um percentual de contaminação
nas frações segregadas de 5% de materiais indesejáveis.
A partir deste ponto, foi elaborado o diagrama e posteriormente foram determinados os
fluxos de massa, com a identificação da composição e dos montantes de entrada em cada etapa
dos cenários considerados. A determinação dos fluxos de massa é fundamental para a realização
dos estudos de viabilidade econômica e do estudo dos impactos ambientais.
Para a análise econômica foram coletadas informações sobre custos e receitas dos
empreendimentos, com consequente elaboração de fluxos de caixa contendo entradas e saídas
financeiras visando à obtenção dos indicadores econômicos: valor presente líquido (VPL); taxa
interna de retorno (TIR).
Com relação à análise ambiental, para ambos os cenários considerados foram elaborados
inventários de ciclo de vida dos processos, contendo fluxos de material e energia, e foram obtidas
as respectivas emissões para água, ar e da disposição de rejeitos das unidades consideradas. Os
dados ambientais provêm, principalmente, da base de dados do Ecoinvent versão 2.0, e de fontes
brasileiras (CAVALETT et al., 2013). 2 As avaliações dos inventários dos ciclos de vida dos
cenários foram realizadas com o auxílio do software SIMAPRO versão 7.3. A avaliação do
impacto do ciclo de vida foi realizada com base no método CML 2, considerando sete categorias
de impacto ambiental (acidificação, aquecimento global, toxicidade, eutrofização, depleção
abiótica, depleção da camada de ozônio e oxidação fotoquímica). Foi analisada a consequência da
utilização dos produtos gerados, computando-se os benefícios ou perdas ambientais do

2
Foram utilizados os inventários de gasolina e etanol produzidos pelos autores.
40
deslocamento dos produtos convencionais: mix de geração elétrico brasileiro, óleo combustível e
gasolina.
Deste modo, todos os dados foram organizados em uma planilha de cálculos, na qual as
saídas (indicadores econômicos, ou inventário de emissões) foram correlacionadas com dados de
entrada (composição e montante gerado dos resíduos sólidos, preços de eletricidade e
combustíveis).
Por fim, uma análise de sensibilidade foi conduzida, com a variação de diversos parâmetros
(Tabela 4.12), para verificar o comportamento dos resultados obtidos frente a flutuações de
custos, receitas e parâmetros de entrada.

4.1 Considerações preliminares

Da composição gravimétrica dos 93 municípios listados no relatório do IPEA (2012), 81


foram selecionados para este estudo. O critério de seleção adotado foi baseado na população dos
municípios, de modo que municípios menores que 10.000 ou maiores que 3.000.000 habitantes
foram descartados da análise, uma vez que os dados econômicos considerados para a tecnologia
de incineração são válidos para o intervalo de capacidade entre 20.000 a 600.000 t/ano
(TSILEMOU e PANAGIOTAKOPOULOS, 2006). Deste modo, nem mesmo considerando-se
um consórcio com 10 municípios de porte igual a 10.000 habitantes é possível gerar quantidade
suficiente de resíduo para atender à necessidade de uma planta de incineração de 20.000 t/ano.
Analogamente, um município maior que 3.000.000 habitantes necessitaria de uma unidade de
incineração maior que 600.000 t/ano, fato que extrapola os limites para a validade das
informações consideradas. As tecnologias de digestão anaeróbia e CDR possuem caráter
modular, podendo ser construídas unidades em paralelo quando há a necessidade de aumento de
capacidade.
Para a obtenção dos fluxos de massa de cada cenário, primeiramente levou-se em
consideração a premissa de que os municípios, conforme está previsto no Plano Nacional de
Resíduos Sólidos (BRASIL, 2011), contarão com um programa de coleta seletiva. Uma análise

41
de casos de sucesso no exterior indicou que o programa praticado na cidade de Oslo (Noruega)
em 2012, cuja segregação se dá na fonte geradora em três diferentes frações (orgânicos,
recicláveis e rejeitos), pode constituir um modelo adequado de coleta seletiva para os municípios
brasileiros uma vez que este permite grande aproveitamento do material segregado. Ainda, pela
observação do que de fato ocorre em programas de coleta seletiva no exterior, há em média uma
taxa de participação da população de 60%, a qual foi adotada também neste estudo, uma vez que
na prática, por motivos diversos, mesmo em países com programas maduros, raramente atinge-se
à adesão da totalidade da população (IEA BIOENERGY, 2001; RIGAMONTI, GROSSO e
GIUGLIANO, 2009; MCDOUGALL et al., 2001). Por fim, dentre aqueles que aderem ao
programa de coleta seletiva, observa-se que a separação não é 100% correta, muitas vezes devido
a confusões sobre o que deve ser inserido em cada fração, e/ou pela falta de motivação em
relação ao programa. MCDOUGALL et al. (2001) relatou um nível de 5% de contaminação nas
frações separadas, a qual foi utilizada no presente estudo.
Com relação à fração reciclável (vidro, metal ferroso e não ferroso, plástico filme e rígido,
papel e papelão) seguiu-se a orientação do Plano Nacional de Resíduos Sólidos de que este
material deve ser encaminhado para cooperativas ou associações de catadores de materiais. Como
a maioria das cooperativas e associações de catadores no Brasil utiliza técnica de segregação
manual, estimativas indicam que a eficiência desta operação é de 76% para todas as classes de
materiais recicláveis (EPA, 1991). Deste modo, de todo o material que é encaminhado para a
cooperativa de catadores, 76% da fração reciclável (vidro, metal ferroso e não ferroso, plástico
filme e rígido, papel e papelão) é recuperada e considerada como comercializada, compondo o
restante o rejeito deste processo. Ademais, a fração orgânica e a fração outros não são
recuperadas pela cooperativa e associações de catadores e, portanto, compõem o restante do
rejeito do processo. Este rejeito é encaminhado ao tratamento da fração seca (incineração no
cenário Eletricidade, e CDR no cenário Combustível), por ser este material passível de
aproveitamento energético.
A utilização da fração orgânica de RSM como substrato do processo de digestão anaeróbia
preferencialmente requer uma unidade de pré-seleção, uma vez que é corrente a contaminação
por material indesejável que necessita ser retirado por não sofrer degradação biológica no reator.
Para este estudo, considerou-se que a pré-seleção é capaz de remover 100% do material

42
indesejável, contudo há também a remoção de 2,5% de orgânicos e papéis e papelão. Estas
estimativas foram baseadas no software IWM2 (MCDOUGALL et al., 2001). Os rejeitos deste
pré-processamento são encaminhados à unidade de tratamento da fração seca (incineração no
cenário Eletricidade, e CDR no cenário Combustível). Desse modo, a composição do material de
entrada no reator é na sua totalidade composta da fração orgânica, e certa quantidade de papéis e
papelão. Apesar desta hipótese não representar o que de fato ocorre na realidade, a dificuldade de
mensurar as implicações da entrada de material indesejável no reator anaeróbio, seja com relação
ao aspecto técnico, econômico ou ambiental, foram determinantes para adotar esta simplificação.
Adicionalmente, uma análise das variações das frações de resíduo sólido existentes no
estudo de composição gravimétrica de municípios brasileiros do IPEA (2012) mostrou que a
fração orgânica varia entre 20 e 76% (média de 51,4%), a de recicláveis varia entre 14 e 67%
(média de 39,5%), e a de outros de 2 a 60% (média 16,7%). Observa-se que a fração outros é a
que sofre maior variação devido ao uso de diferentes metodologias para a caracterização do RSM
de cada município (BRASIL, 2011). Estas faixas de valores foram utilizadas como base para
variação dos intervalos considerados na análise de sensibilidade (Tabela 4.12).

4.2 Definição de cenários

De modo geral, podemos classificar o resíduo sólido em fração seca (material reciclável e
rejeitos) e úmida (material orgânico). Esta classificação simplista é útil para a identificação das
tecnologias de tratamento de resíduo sólido passíveis de aproveitamento energético. Das
possibilidades de utilização energética a partir de resíduo sólido destacam-se a incineração e
CDR para a fração seca, e o tratamento biológico via digestão anaeróbia para a fração úmida.
Com as possibilidades de utilização do biogás produzido via digestão anaeróbia, tanto para
geração de eletricidade como para combustível, ficou evidente a necessidade de análise destas
duas vertentes de uso energético, juntamente com a possibilidade de combinação das tecnologias.
Deste modo, as análises econômica e ambiental serão conduzidas para dois cenários distintos:

43
 Cenário Eletricidade: Uso combinado das tecnologias de digestão anaeróbia,
utilizando o biogás para a geração de eletricidade em motor estacionário, e
incineração, com a geração de eletricidade oriunda de ciclo a vapor (Rankine). A
eletricidade gerada por ambas as tecnologias desloca o mix de eletricidade
brasileira.
 Cenário Combustível: Combinação das tecnologias de digestão anaeróbia, com
limpeza e beneficiamento do biogás para a qualidade de combustível veicular, e sua
utilização como substituto da gasolina em veículos de passeio, e produção e
comercialização do CDR como combustível industrial, substituindo o óleo
combustível industrial.

4.3 Tecnologias

Com relação aos parâmetros de operação das tecnologias, para a digestão anaeróbia foi
considerado o uso de tecnologia “seca” (que opera com elevado teor de sólidos totais), e os
parâmetros utilizados estão listados na Tabela 4.1. Ademais, considerou-se que o composto
orgânico gerado é comercializado como condicionador de solo. Para o cenário Combustível, o
beneficiamento do biogás para remoção de impurezas é realizado por meio da tecnologia de
adsorção pressurizada (do inglês “Pressure swing adsorption”) (PERSSON, 2003).
Para o processo de incineração, considerou-se o uso da tecnologia de forno com fundo de
grelha. Os parâmetros de operação considerados estão listados na Tabela 4.2. As cinzas geradas
são encaminhadas para o aterro sanitário.
Para o CDR, adotou-se a utilização de uma linha de equipamentos composta por:
triturador, peneira rotativa, separador de Focault, triturador, peneira rotativa, separador
magnético, moinho de martelos, peneira rotativa (CAPUTO e PELAGAGGE, 2002). A escolha
da linha se deu em uma análise do estudo de Caputo e Pelagagge (2002), considerando a
configuração de custo e eficiência medianos. Quanto à eficiência de seletividade dos materiais,

44
baseou-se no software IWM2 (MCDOUGALL et al., 2001) cujos parâmetros estão listados na
Tabela 4.3. O rejeito da linha de CDR é encaminhado para o aterro sanitário.

Tabela 4.1: Parâmetros operacionais digestão anaeróbia


Parâmetros Unidade Valor Fonte
Reator
Produção de biogás Nm³/t digerida 188 McDougall et al. (2001)
Produção de composto (refinado) kg/t digerida 407 McDougall et al. (2001)
Consumo de energia interna kWh/t digerida 50 McDougall et al. (2001)
Biogás
CH4 % 56 Bolzonella, D. et al. (2006)
CO2 % 44 Bolzonella, D. et al. (2006)
PCI kcal/Nm³ 5093 EPE (2008)
Fator de Capacidade % 90 EPE (2008)
Eletricidade
Rendimento de transformação
% 35 Beck, R. W. (2004)
térmica – elétrica
Beneficiamento
Eficiência remoção CO2 % 92 ELTAWIL e BELAL (2009)
Perda CH4 % 1 STARR, K. et al. (2012)
Características biometano
CH4 % 94
CO2 % 6
PCI biogás veicular (94% CH4) kWh/Nm³ 9,37 PERSSON, M. (2003)
PCI Diesel No.2 kcal/l 8.563 AFDC, (2013)
PCI Gasolina kcal/kg 10.400 BEN, (2013)

Tabela 4.2: Parâmetros operacionais incinerador


Parâmetros Valor Fonte
Eficiência transformação térmica - elétrica 25% C-Tech Innovation (2003)
Consumo de eletricidade (kWh/t incinerada) 70 McDougall et al. (2001)
Fator de capacidade 83% GLA (2008)
Cinzas de fundo 25,1% Doka (2009)
Cinzas de combustão 1,7% Doka (2009)
Quantidade total de cinzas geradas 26,8%

45
Tabela 4.3: Seletividade de materiais pelos equipamentos do processo de CDR
Combustível Metal ferroso Metal não ferroso Rejeitos
Papel 0,813 0 0 0,187
Vidro 0 0,005 0 0,995
Metal Ferroso 0 0,867 0 0,133
Metal não ferroso 0,141 0 0,5 0,359
Plástico filme 0,808 0 0 0,192
Plástico rígido 0,283 0,003 0 0,714
Texteis 0,61 0,008 0 0,382
Orgânico 0,116 0,006 0 0,878
Outros 0,142 0,002 0 0,856
Fonte: Mcdougall et al. (2001)

46
4.4 Diagrama

O diagrama completo, para ambos os cenários, é mostrado na Figura 4.1, onde a linha
pontilhada representa a fronteira do sistema, com suas entradas e saídas.

Figura 4.1: Diagrama


Resíduo Sólido
Municipal

Cooperativa de Material
Recicláveis
Catadores Reciclado

Orgânicos Rejeitos Rejeitos

Segregação

Digestão
Biogás CDR / Incineração
Anaeróbica

Aterro
Sanitário
Beneficiamento Biogás

Sistema de Recuperação Energética: Fronteiras

Composto
Biometano Eletricidade CDR / Eletricidade
Orgânico

47
4.5 Cálculos dos fluxos de massa e energia

Para o cálculo dos fluxos de massa envolvidos, houve a necessidade de obter os parâmetros
operacionais de cada tecnologia (Tabelas 4.1 a 4.3) para a elaboração de uma planilha de
cálculos. Esta planilha foi utilizada para a análise dos 81 municípios brasileiros (Tabela A.1),
onde dados específicos de cada município (composição dos resíduos gerados e população), além
de preços regionais de eletricidade e combustível (Tabela B.1), foram correlacionados com as
saídas de indicadores econômicos e inventários de ciclo de vida. A Tabela 4.4 mostra um
exemplo dos dados de entrada na planilha de cálculos.

Tabela 4.4: Exemplo de entrada de dados


Nome do Município Adesão Coleta Seletiva
média nacional 60%

População Município (habitantes) Contaminação Fração Segregada


310000 5%

Composição RSM Eficiência Reciclagem


Recicláveis 31,9% 76%
Orgânicos 51,4%
Outros 16,7%

Composição dos Recicláveis Consórcio Incineração


Metais 2,9%
n° municípios participantes 1,537410986
Aço 2,3%
Alumínio 0,6%
Papel, Papelão e Tetrapak 13,1%
Plástico total 13,5%
Plástico filme 8,9% Valor Comercialização
Plástico rígido 4,6% Eletricidade (R$/MWh) R$ 230,00
Vidro 2,4% Composto (R$/t.) R$ 100,00
Soma 31,9% Biogás veicular (R$/Nm³) R$ 1,31
Preço Óleo combustível (R$/t) R$ 1.125,00
CDR (R$/t.) R$ 554,52

Geração RSU (kg/hab.dia) Taxa de Tratamento


1,1 D.A. Eletricidade (R$/t.) R$ 47,65
Incineração (R$/t.) R$ 47,65
D.A. Combustível (R$/t.) R$ 47,65
CDR (R$/t.) R$ 47,65
Aterro (R$/t.) R$ 47,65

48
Considerando-se o programa de coleta seletiva, e contando que a adesão a este programa
não corresponde à totalidade da população, além da existência de contaminantes nas frações
segregadas, conforme detalhado anteriormente, as respectivas fórmulas para o cálculo das
composições das três frações finais da coleta seletiva (orgânicos, recicláveis e outros), que são
geradas pelos munícipes, estão representadas na Figura 4.2. As frações resultantes são derivadas
da somatória da parcela da população que adere ao programa de coleta seletiva, pelo modo como
estes gerenciam os resíduos sólidos gerados, com a parcela que não adere, e portanto, trata os
resíduos sólidos gerados sem distinção de classe.

Figura 4.2: Lógica adotada para cálculo dos fluxos de massa na coleta seletiva
Composição RSM gerado
X – Orgânicos
Y – Recicláveis
Z – Outros

60% População adere 40% População não adere


à coleta seletiva à coleta seletiva

Orgânicos Recicláveis Outros Orgânicos Recicláveis Outros

95% Orgânicos 95% Recicláveis 95% Outros X%/3 Orgânicos Y%/3 Recicláveis Z%/3 Outros
2,5% Recicláveis 2,5% Orgânicos 2,5%Recicláveis Y%/3 Recicláveis X%/3 Orgânicos Y%/3 Recicláveis
2,5% Outros 2,5% Outros 2,5%Orgânicos Z%/3 Outros Z%/3 Outros X%/3 Orgânicos
Composição das frações segregadas Composição das frações não segregadas

Orgânicos Recicláveis Outros

Orgânicos = X*0,6*0,95 + (X*0,4)/3 Recicláveis= Y*0,6*0,95 + (Y*0,4)/3 Outros=Z*0,6*0,95 + (Z*0,4)/3


Recicláveis=Y*0,6*0,025 + (Y*0,4)/3 Orgânicos = X*0,6*0,025 + (X*0,4)/3 Recicláveis=Y*0,6*0,025 + (Y*0,4)/3
Outros=Z*0,6*0,025 + (Z*0,4)/3 Outros=Z*0,6*0,025 + (Z*0,4)/3 Orgânicos= X*0,6*0,025 + (X*0,4)/3
Fórmulas para cálculo das frações coletadas

A fração de recicláveis, após ser coletada seletivamente, é destinada à cooperativa de


catadores. Neste estudo, considerou-se uma eficiência de seleção manual de materiais de 76%
(EPA, 1991), com a qual é possível estabelecer a porcentagem de material que de fato é reciclada

49
e, portanto, sai do sistema, por entrar novamente na cadeia produtiva. O material que não for
reciclado - portanto o rejeito da cooperativa - entra nas fronteiras do sistema, sendo encaminhado
para tratamento da fração seca (incineração no cenário Eletricidade, e CDR no cenário
Combustível).
Uma vez que as composições de entrada de resíduo sólido que são encaminhadas às
tecnologias foram definidas, é possível quantificar o montante dos fluxos de entrada destes
materiais (Equação 1) conhecendo a taxa de geração de RSM. No Brasil, a média de geração de
resíduo sólido é de 1,1kg/hab.dia (BRASIL, 2011), a qual foi adotada neste estudo.

(1)
Onde:
Fm = Fluxo de entrada, em massa (t/ano)
Fe = Fração de entrada (% em relação ao total gerado pelo município)
Tg = Taxa de geração de resíduos pela população (1,1kg/hab.dia)
P = população do município (habitantes)

Já com relação à fração de orgânicos que é encaminhada para o tratamento anaeróbio, esta
passa antes por uma pré-seleção. Esta etapa remove 100% do material indesejável (plástico filme
e rígido, metal ferroso e não ferroso, vidro, e outros), e 2,5% do material útil ao processo
(orgânicos e papel, papelão), os quais são encaminhados para tratamento da fração seca (Figura
4.3). Estas informações foram retiradas de Mcdougall et al. (2001).

50
Figura 4.3: Lógica adotada na segregação da D.A.
FRAÇÃO ORGÂNICOS
•A% Plástico filme
•B% Plástico rígido
•C% Metal ferroso
•D% Metal não ferroso
•E% Vidro
•F% Papel e papelão
•G% Orgânicos
•H% Outros CDR /INCINERAÇÃO
•1*A% Plástico filme
•1*B% Plástico rígido
•1*C% Metal ferroso
SEGREGAÇÃO •1*D% Metal não ferroso
•1*E% Vidro
•0,025*F% Papel e papelão
•0,025*G% Orgânicos
DIGESTÃO ANAERÓBIA •1*H% Outros
•0*A% Plástico filme
•0*B% Plástico rígido
•0*C% Metal ferroso
•0*D% Metal não ferroso
•0*E% Vidro
•0,975*F% Papel e papelão
•0,975*G% Orgânicos
•0*H% Outros

Após a obtenção das composições e fluxos de massa que entram nas tecnologias, o próximo
passo foi o cálculo dos produtos e rejeitos gerados por estas.
No caso da tecnologia de digestão anaeróbia, os cálculos referentes à produção de
composto orgânico e de biogás são obtidos diretamente pela multiplicação da quantidade de
matéria orgânica, papel e papelão que entram no biodigestor pela taxa de produção de composto,
e taxa de produção de biogás (Tabela 4.1), respectivamente.
Para o cenário Eletricidade, o cálculo do montante de eletricidade gerado pelo biogás se dá
conforme Equação 2:

(2)
Onde:
Eg = Energia gerada (kWh/ano)
%CH4 = Percentual de metano no biogás
PCICH4 = Poder calorífico inferior do metano (kcal/Nm³)
Pbiogás = Produção de biogás (Nm³/t digerida)
Fe D.A. = Fluxo de entrada de resíduos no biodigestor (t/ano)

51
Re = Rendimento de transformação térmica – elétrica (%)
0,00116 = constante de conversão kWh/kcal

Já com relação ao cenário Combustível, a quantidade de biogás veicular produzida obedece


à Equação 3:

[( ) ( ) ( )] (3)

Onde:
Bv = Biogás veicular produzido (Nm3/ano)
Pbiogás = Produção de biogás (Nm³/t digerida)
Fe D.A. = Fluxo de entrada de resíduos no digestor anaeróbio (t/ano)
%PCH4 = Perda de metano durante o beneficiamento (%)
%CH4 = Percentual de metano no biogás
ECO2 = Eficiência de remoção de CO2 do biogás no beneficiamento (%)

Com relação às tecnologias de incineração e produção de CDR, foi necessário determinar o


poder calorífico inferior (PCI) dos resíduos de entrada. Os PCI das frações de resíduo
consideradas estão listados na Tabela 4.5.
Para a incineração, a determinação do PCI total é resultante da multiplicação direta dos
fluxos de entrada relacionados a cada material com seus respectivos PCI individuais.

52
Tabela 4.5: Energia contida nas frações de resíduos
Incineração
Fração de entrada PCI (GJ/t)
Orgânico 8,47
Plástico 32,8
Papel e Papelão 18,4
Metal 0
Vidro 0
Outros 10
Fonte: C-Tech Innovation (2003)

Posteriormente calculou-se a eletricidade gerada pelo processo de incineração utilizando


dados da Tabela 4.2, conforme Equação 4:

(4)
Onde:
Eg = Energia gerada (MWh/ano)
∑PCIf = Somatória dos poderes caloríficos de cada fração de material que é incinerada (GJ/ano)
Ee = Eficiência de transformação de energia térmica para elétrica (%)
0,28 = constante de conversão MWh/GJ

No processo produtivo do CDR, ocorre a seleção dos materiais de maior poder calorífico,
por meio de processos mecânicos de segregação. O valor energético e a quantidade, em peso, do
produto gerado está relacionado com os materiais remanescentes do processo. Na Tabela 4.3
representa-se a seletividade de materiais pelos equipamentos do processo de produção do CDR.
Deste modo, o material remanescente é resultado do fluxo de entrada multiplicado pelos valores
listados na coluna “Combustível” da Tabela 4.3.
Com o montante e a composição final do CDR, é possível estimar seu valor energético.

53
4.6 Análise econômica

Com relação aos custos e receitas, foram levantados dados disponíveis na literatura sobre
necessidade de capital, custos de operação e manutenção, parâmetros operacionais para cada
tecnologia. Todos os dados coletados foram trazidos ao ano referência (2011). A necessidade de
capital foi trazida ao ano de 2011 utilizando-se o Chemical Engineering`s Plant Cost Index
(CEPCI), elaborado pela revista Chemical Engineering Magazine. Para os custos de operação e
manutenção, utilizou-se o Índice Geral de Preços (IGP-DI), disponibilizado pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV), para atualização dos valores. As taxas de dólar e euro utilizadas estão na
Tabela 4.6.

Tabela 4.6: Taxas de câmbio utilizadas


2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Dolar - 2,35 2,92 3,08 2,93 2,43 2,18 1,95 1,83 2,00 1,76 1,68
Euro 2,13 2,83 3,52 3,64 3,04 2,74 2,67 2,68 2,79 2,35 2,33 2,32

Para o cenário Eletricidade, com relação à tecnologia de digestão anaeróbia foram


levantados dados sobre custos, provenientes de diversas fontes (NREL, 2013; BECK, 2004;
BECK, 2010; RIS INTERNATIONAL, 2005; ALLEN KANI AND ENVIROS RIS, 2001), para
diferentes capacidades. Os dados foram plotados em gráficos, para a obtenção das curvas de
tendência e suas equações, conforme Figuras 4.4 e 4.5, as quais foram utilizadas na planilha de
cálculos.

54
Figura 4.4: Investimento digestão anaeróbia - cenário Eletricidade
120

Investimento (milhões R$)


100
y = 11576x0,754
80

60

40

20

0
0 50 100 150 200
Escala (kTon/ano)
Figura 4.5: O&M digestão anaeróbia - cenário Eletricidade
18
16
14
O&M (milhões R$)

12
10
8 y = 614,4x0,798
6
4
2
0
0 50 100 150 200
Escala (kTon/ano)

Para o cenário Combustível, com relação à tecnologia de digestão anaeróbia, uma


investigação no estudo de Beck (2004) mostrou que os custos relacionados à geração de
eletricidade (motor de combustão interna, gerador, instalações elétricas e limpeza do biogás)
correspondem a cerca de 25% do investimento total. Como no cenário Combustível estes
equipamentos serão substituídos pela purificação, beneficiamento e compressão do biogás (de
modo diferente do que é feito quando o biogás é utilizado para geração de eletricidade), e pela
instalação de um posto de abastecimento, estes 25% foram abatidos dos custos da tecnologia, e
em seu lugar adicionou-se os custos dos equipamentos necessários especificamente para a

55
produção do biogás veicular. Os custos de limpeza e beneficiamento do biogás, para a estimativa
do investimento e O&M da unidade, foram coletados do estudo de Persson (2003), a qual se
baseou em dados obtidos de fornecedores de equipamentos (Suécia), unidades instaladas (Suécia)
e dados disponíveis na literatura. Na Figuras 4.6 e 4.7, os dados utilizados foram coletados
diretamente das informações de Persson (2003), e as respectivas curvas de tendência e equações
foram estimadas e utilizadas na planilha de cálculos.

Figura 4.6: Investimento planta de limpeza e beneficiamento do biogás


12
Investimento (milhões R$)

y = 86392x0,6226
10
8
6
4
2
0
0 500 1000 1500 2000 2500
Vazão de entrada de biogás (Nm³/h)

Figura 4.7: O&M planta de limpeza e beneficiamento do biogás


1,8
1,6 y = 1283,6x0,952
O&M (milhões R$/ano)

1,4
1,2
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 500 1000 1500 2000
Vazão de entrada de biogás (Nm³/h)

56
Como há a necessidade de um posto para o abastecimento dos veículos, coletaram-se dados
sobre seu investimento e custo de O&M no estudo de Johnson (2010). Ademais o valor
energético do biogás veicular, necessário para cálculo do investimento e O&M, foi estimado para
uma composição final de 94% de metano, e sua equivalência com a unidade DGEs (do inglês
“Diesel Gallon Equivalent” = galão de diesel equivalente) foi realizada utilizando-se os poderes
caloríficos listados na Tabela 4.1. Os custos de O&M foram calculados segundo a Figura 4.8, e o
investimento conforme Equação 5:

(5)
Onde:
Iposto = investimento para o posto de abastecimento (R$)
P = tamanho da unidade em DGEs/mês

Figura 4.8: Operação e manutenção posto de biogás veicular


60
y = 431,75x0,3856
50
Milhares de R$/mês

40
30
20
10
0
0 50 100 150 200 250 300 350
Milhares de DGEs/mês

Com relação à tecnologia de incineração, o investimento e os custos de O&M foram


estimados a partir do estudo de Tsilemou e Panagiotakopoulos (2006), os quais desenvolveram
equações de custos baseados em dados disponíveis na literatura. Adicionalmente, uma vez que
esta tecnologia frequentemente requer investimentos elevados, a implantação de projetos de
incineração se justifica em municípios que geram maiores volumes de resíduo sólido. Entretanto,
como a intenção era de não excluir municípios pequenos (com população menor que 100.000
57
habitantes) na análise de viabilidade econômica destes projetos, ficou definido que esta
tecnologia seria adquirida através de um consórcio de municípios. Este consórcio funcionária,
para os cálculos, como um fator multiplicador da quantidade de resíduos que são gerados. O fator
multiplicador varia de acordo com o porte do município. Para definir este fator e sua
correspondente variação, foram levadas em consideração informações sobre tamanho de escala
mínimo e máxima usualmente encontrados para unidades de incineração. Segundo Tsilemou e
Panagiotakopoulos (2006), as unidades de incineração são encontradas na faixa de 20.000 à
600.000 t/ano, o que corresponderia, tomando-se parte das considerações já apresentadas, a
aproximadamente municípios entre 100.000 a 3.000.000 de habitantes. Considerando que um
incinerador de 150.000 t/ano (equivalente a aproximadamente 750.000 habitantes) seria uma
escala razoável, o fator multiplicador tenderia a elevar o resíduo gerado por municípios menores
ao mais próximo deste valor possível. Na Figura 4.9 mostra-se a variação do fator multiplicador
em relação à população e apresenta a fórmula utilizada.

Figura 4.9: Fator multiplicador consórcio incineração


12
10
Fator multiplicador

8
6
4
2 y = 10,73691951e-6,26964E-06x
0
0 200 400 600 800 1000
População (milhares habitantes)

O investimento necessário para a unidade de incineração, bem como a O&M foram


calculadas conforme as equações 6 e 7 (TSILEMOU e PANAGIOTAKOPOULOS, 2006):

58
( ) (6)
Onde:
C = Custo da unidade (R$)
T = Tamanho da unidade (t/ano)

( ) (7)
Onde:
O&M = Custo de operação e manutenção (R$/ano)
T = Tamanho da unidade (t/ano)

Ainda no cenário Combustível, a produção do CDR é realizada mediante a uma linha de


equipamentos alocados em série, os quais perfazem as etapas do processo. Caputo e Pelagagge
(2002) analisaram operacional e economicamente diversas configurações de linhas. Dentre as que
foram apresentadas, a linha “T-PR-SF-T-PR-SM-M-PR” (T = triturador; PR = peneira rotativa;
SF= separador de Focault; SM = separador magnético; M = moinho) foi selecionada pela boa
eficiência e poder calorífico final, além de custo médio. Baseado nos custos dos equipamentos, e
do investimento necessário para construção das unidades (Tabela 4.7), além dos custos de O&M
(Tabela 4.8), retirados do estudo de Caputo e Pelagagge (2002), e considerando-se a configuração
de linha selecionada, algumas escalas foram selecionadas aleatoriamente para estimar as curvas
de tendência e equações da necessidade de investimento e do custo de O&M, conforme Figuras
4.10 e 4.11, respectivamente.

Figura 4.10: Investimento CDR


R$ 25
Investimento (milhões R$)

y = 835,9x0,8051
R$ 20

R$ 15

R$ 10

R$ 5

R$ -
- 50 100 150 200 250 300
Capacidade (kTon./ano)

59
Figura 4.11: O&M CDR
R$ 20

O&M (milhões R$/ano) R$ 15 y = 91,142x0,9583

R$ 10

R$ 5

R$ -
- 50 100 150 200 250 300
Capacidade (kTon./ano)

Tabela 4.7: Custos diretos e indiretos CDR


Custos Planta CDR (R$)
Equipamentos I
Instalação 0,3 x I
Instrumentação 0,15 x I
Tubulações 0,1 x I
Instalações elétricas 0,15 x I
Construção 0,25 x I
Serviços e preparo do terreno 0,3 x I
Terreno 0,05 x I
Subtotal T
Engenharia e supervisão 0,1 x T
Construção 0,01 x T
Despesas gerais 0,1 x T
Total S

Tabela 4.8: Custos O&M CDR.


Itens Planta CDR (R$/ano)
Consumo de energia¹ (CE) E x 0,329
Mão de obra² 0,0892 x S
Manutenção da mão de obra (MO) 0,1 x S
Manutenção de materiais 0,015 x S
Laboratório 0,1 x MO

60
Taxas locais 0,02 x S
Seguro 0,01 x S
Subtotal (ST) (0,145 x S) + CE + MO
Administração 0,15 x MO + 0,15 x S
Distribuição e vendas 0,05 x ST
Despesas financeiras 0,05 x S
¹ Tarifa de energia R$ 329/MWh (FIRJAN, 2011). ² (FOTH & VAN DYKE AND
ASSOCIATES, INC, 2006)

Com relação às receitas obtidas, para o cenário Eletricidade foram adotadas as seguintes
premissas:
• comercialização do composto como condicionador de solo;
• incinerador adquirido através de consórcio de municípios;
• para ambas as tecnologias, há comercialização do excedente de eletricidade gerada
para a rede; e,
• pagamento de tarifa por tonelada pelo tratamento do RSM paga pelo município
gerador.

A geração de eletricidade e o composto para a tecnologia de digestão anaeróbia são


decorrentes do montante de matéria biodegradável que adentra no reator, e têm relação com os
parâmetros de operação que foram considerados e mencionados anteriormente (Tabela 4.1).
Desse modo a receita obtida é uma simples multiplicação do excedente de eletricidade gerado
pelo preço de comercialização considerado, conforme Tabela 4.9.

Tabela 4.9: Valores de comercialização dos produtos – cenário Eletricidade


Atividade Unidade Valor Fonte
Comercialização eletricidade R$/MWh 230,00 Tetraplan, A. (2010)
Comercialização composto R$/Tonelada RSM 100,00 MFRural (2012)
Taxa tratamento resíduo R$/Tonelada RSM 47,65 Brasil (2011)

Para a tecnologia de incineração, calculou-se o poder calorífico dos materiais de entrada e


considerou-se a eficiência de conversão térmica – elétrica do sistema (Tabela 4.2). Deste modo, a
receita é originária da multiplicação do excedente gerado pelo preço de comercialização,
conforme Tabela 4.9.
61
Ademais, inicialmente considerou-se que ambas as tecnologias receberiam a mesma taxa de
tratamento (Tabela 4.9), calculada por tonelada de entrada, a qual representa uma média da taxa
praticada em aterros sanitários no Brasil (BRASIL, 2011). Apesar desta ser uma hipótese
conservadora, esta consideração teve a intenção de testar a robustez das tecnologias ora
apresentadas, frente ao atual cenário brasileiro. Naturalmente, estes valores foram variados na
análise de sensibilidade, que foi conduzida consequentemente, onde se pode verificar o efeito de
considerarem-se taxas maiores.
Para o cenário Combustível, foram adotadas as seguintes premissas:
• comercialização do composto como condicionador de solo;
• instalação de um posto de abastecimento de veículos a biometano;
• comercialização do biometano para veículos de passeio a GNV;
• comercialização do CDR para uso como combustível industrial como substituto do óleo
combustível; e,
• pagamento de tarifa por tonelada tratada de RSM pelo município gerador.

Para a tecnologia de digestão anaeróbia, o biogás é purificado e beneficiado para a


qualidade de biogás veicular, o qual é comprimido para comercialização em posto de
abastecimento. O preço do biometano foi considerado 10% inferior ao preço de venda do GNV,
na intenção de torná-lo mais atrativo para o consumidor. Ademais, considerou-se a variação de
preços de combustíveis para diferentes estados do Brasil, conforme Tabela B.1. Portanto a receita
é originária da produção do biogás veicular e do preço de venda estabelecido na Tabela 4.10.
Para o cálculo da receita de comercialização do CDR, estimou-se seu respectivo poder
calorífico de (Tabela 4.5), de acordo com a seleção de materiais feita pela linha de produção,
considerando as respectivas eficiências de remoção de materiais (Tabela 4.3). Deste modo,
utilizando o poder calorífico inferior do óleo combustível, e seu respectivo preço de venda
(Tabela 4.4), chegou-se ao valor em reais por unidade energética (kJ). Este valor multiplicado
pela quantidade de energia por tonelada de CDR determinou o valor final de comercialização.

62
Tabela 4.10: Preços e parâmetros do biometano e CDR
Unidade Valor Referência
Biogás veicular
Preço biogás veicular R$/Nm³ 1,22 ANP (2012)
CDR
PCI óleo combustível kJ/kg 40151 EPE, (2012)
Preço óleo combustível R$/GJ 26,027 EPE, (2012)

Por fim, para a elaboração do fluxo de caixa considerou-se horizonte de 25 anos,


depreciação linear, imposto de renda de 34%, e taxa de desconto de 8%, e impostos incidentes
sobre os produtos (Tabela 4.11).

Tabela 4.11: Parâmetros utilizados no fluxo de caixa


Parâmetros Valor
Imposto de renda (IR) 34%
Necessidade de capital de giro (NCG) 3% do Lucro Bruto
Taxa de desconto 8%
Tributos Valor Fonte
Eletricidade 21,6% Tetraplan (2010)
Composto orgânico 21,2% IBRAM (2010)
Biogás veicular 21,3% Cavalcanti (2006)
CDR 23% Silva (2007)

Em seguida, para entender como a variação na composição dos resíduos sólidos gerados
pelos municípios afeta os indicadores econômicos, foi conduzida uma análise de sensibilidade na
qual a composição dos resíduos foi variada conforme a Tabela 4.12. Estas variações foram
baseadas em uma análise do relatório do IPEA (2012), no qual a fração orgânica varia entre 20 e
76% (média de 51,4%), a de recicláveis varia entre 14 e 67% (média de 39,5%), e a de outros de
2 a 60% (média 16,7%). Já a variação dos demais preços e custos foi baseada no estudo de Beck
(2010). Para a análise de sensibilidade foi considerada como referência a composição da média
nacional dos resíduos sólidos gerados no Brasil (BRASIL, 2011), e considerando uma cidade
hipotética de 310.000 habitantes.

63
Tabela 4.12: Variações consideradas na análise de sensibilidade
Parâmetro Variação
Matéria orgânica ±40%
Outros ±100%
Recicláveis ±40%
Taxa de adesão +20%/-80%
Preço eletricidade/ e combustíveis ±20%
O&M ±10%
Capital de investimento ±25%
Tarifa de tratamento ±12,5
Preço composto ±40%

4.7 Análise ambiental

Para a análise ambiental, utilizou-se a técnica de avaliação do ciclo de vida (ACV).


A ACV consiste em uma análise do “berço ao túmulo”, portanto considerando a extração
de matéria-prima e suas emissões, do consumo de materiais auxiliares e emissões atmosféricas
relacionadas à operação, e por fim considera os impactos ambientais oriundos do
decomissionamento, e/ou destinação final de rejeitos, durante a cadeia produtiva do produto ou
sistema em estudo.
Conforme a definição das normas ISO da série 14040 (NBR 14040/2009), a ACV é
constituída de quatro etapas: definição de objetivo e escopo; análise do inventário de ciclo de
vida (ICV); avaliação do impacto do ciclo de vida (AICV); e interpretação.
Para este estudo, o objetivo de conduzir a ACV se deu no sentido de comparar o
desempenho ambiental dos cenários eletricidade e combustível. O escopo é a gestão de resíduo
sólido municipal no Brasil, e a fronteira do sistema considerado é a linha pontilhada da Figura
4.1. Além da fronteira considerada, realizou-se uma análise da consequência do uso dos produtos
gerados, computando-se os benefícios ou danos ambientais do deslocamento dos produtos
convencionalmente utilizados (mix de geração elétrica no Brasil, gasolina automotiva, óleo
combustível industrial e fertilizante químico) pelos produtos gerados no sistema em estudo
(eletricidade, biometano, CDR e composto orgânico, respectivamente).

64
A unidade funcional utilizada é 1 tonelada de resíduo sólido que entra no sistema, conforme
Figura 4.12.
Figura 4.12: Unidade funcional do sistema

1 tonelada de
RSM

Segregação CDR / Incineração

Digestão
Anaeróbica
Sistema de Recuperação Energética: Fronteira

A base de dados Ecoinvent reúne milhares de inventários de ciclo de vida com respeito às
atividades ligadas a agricultura, suprimento de energia, transporte, biocombustíveis e
biomateriais, substâncias químicas, materiais de construção, materiais de embalagem, metais
básicos, preciosos e processados, eletrônicos e tecnologia da informação, bem como tratamento
de resíduo (ECOINVENT). Deste modo, foi necessário buscar nesta base de dados os inventários
que, em conjunto, representassem coerentemente os cenários eletricidade e combustível, do modo
como foram apresentados até o momento. Adicionalmente, foram utilizados inventários nacionais
de combustíveis e eletricidade (CAVALETT et al., 2013), os quais melhor representam a
realidade brasileira que aqueles encontrados no Ecoinvent. Ainda, foi necessário tornar o
inventário dependente das variáveis de entrada de cada município estudado. Para isso foi
elaborada uma planilha, semelhante ao que foi realizado na análise econômica, com entradas de
dados específicos dos municípios como a composição de resíduo sólido gerado e com a saída do
inventário, posteriormente importado pelo SIMAPRO. O SIMAPRO é um software de ACV, no
qual foram compilados os inventários do ciclo de vida para a realização da avaliação do impacto
do ciclo (AICV).

65
Para o cenário Eletricidade, com relação à tecnologia de digestão anaeróbia, a infraestrutura
considerada está relacionada à unidade de biodigestão e a unidade de cogeração de eletricidade e
calor.
Para a elaboração do inventário da unidade de digestão anaeróbia, disponível no Ecoinvent,
considerou-se uma capacidade referência de 10.000 t/ano e tempo de operação de 25 anos,
consumo de eletricidade de 40kWh/t digerida, e de calor de 594 MJ/t digerida, além do consumo
de 18MJ/t digerida de diesel, que diz respeito à operação de tratores (JUNGBLUTH et al., 2007).
As emissões de metano ocorrem durante a cura do composto orgânico gerado e durante a
combustão do biogás em motor estacionário. As emissões para o solo, e as emissões de amônia
ocorrem quando os compostos sólido e líquido são utilizados como biofertilizante. A alocação
das emissões é de 50% para o composto orgânico e os demais 50% sendo atribuídos ao
tratamento do resíduo orgânico, exceto para as emissões de CO2, as quais a alocação é baseada no
balanço de carbono (JUNGBLUTH et al., 2007).
De posse do inventário, foi necessário multiplicar o valor da capacidade de referência,
considerando os dados de entrada de cada município e a distribuição de massa dentro da fronteira
do sistema. Ou seja, considerando-se a entrada de uma tonelada na fronteira do sistema (unidade
funcional), a fração de resíduos sólidos orgânicos que são encaminhados para a tecnologia de
digestão anaeróbia é dependente da composição dos resíduos do município em estudo e de outras
considerações como a adesão da população na coleta seletiva. Portanto, a multiplicação do valor
de referência do inventário da planta de digestão anaeróbia se deu segundo a Equação 8:

(8)

Onde:
UD.A. = Unidade de digestão anaeróbia (P)
%D.A.e = Percentual em massa que entra na planta de digestão anaeróbia (%)
CD.A. = Capacidade da unidade de digestão anaeróbia, ecoinvent (10.000 t/ano)
VD.A. = Vida de operação da planta, ecoinvent (25 anos)
Uf = Unidade funcional (1 tonelada de RSM)

66
Com relação à unidade de cogeração, a infraestrutura requerida é dividida em: comum;
específica para aproveitamento do calor gerado; e específica para a geração de eletricidade. A
unidade de cogeração considerada para realização do inventário corresponde a um motor ciclo
Otto a gás, de mistura pobre (do inglês: “lean lambda engine”), com potência de 500 kWelétrico, e
equipado de conversor catalítico (catalisador). A eficiência de geração de calor é de 55% e a de
eletricidade é de 32%. A vida útil de operação da unidade é de 70.000 horas. A alocação das
emissões é feita considerando-se a exergia dos produtos (JUNGBLUTH et al., 2007).
A multiplicação da capacidade de referência é realizada considerando a quantidade e o teor
energético do biogás produzido, e a eficiência elétrica da unidade de cogeração.
O inventário considera, durante a operação da unidade de digestão anaeróbia e do
cogerador, consumo de óleo lubrificante, o transporte de rejeitos para a incineração e aterro
sanitário, além do transporte e aplicação do composto orgânico no campo. Para o cálculo do óleo
lubrificante, é considerado um consumo de 0,0003 kg/kWh de eletricidade gerada. Para o
transporte de rejeitos da fração que é removida no pré-sorteamento da digestão anaeróbia e é
encaminhada para a incineração, e para o transporte do rejeito referente ao refinamento do
composto que é encaminhado ao aterro, adotou-se uma distância de 50km em relação à planta de
digestão. Para a aplicação do composto no campo, adotou-se uma distância de 15km.
A incineração resulta em emissões para o ar, água e no uso da terra. Danos indiretos são
originários do consumo de materiais auxiliares, energia e infraestrutura. Considerou-se que as
cinzas de fundo, fração sólida remanescente da incineração, são aterradas em aterro sanitário de
resíduos não perigosos, e as cinzas de combustão são solidificadas com cimento e encaminhadas
para aterro sanitário especial. No caso da incineração, 100% da alocação das cargas é atribuída
ao tratamento dos resíduos sólidos e 0% para a geração de eletricidade. Isso significa que, neste
caso, a incineração é vista prioritariamente como uma ferramenta de remediação no
gerenciamento de resíduos sólidos, ao invés de uma tecnologia de geração de eletricidade. Deste
modo, a produção de energia é livre de qualquer carga ambiental e não há qualquer impacto nas
cargas quanto ao teor energético dos resíduos que entram (DOKA, 2009).
Em resumo as emissões da incineração são originárias da chaminé, tratamento de água e
disposição de cinzas (Figura 4.13).

67
Figura 4.13: Emissões do incinerador

Fonte: Doka (2009)

A natureza das emissões durante o processo de incineração, grosso modo, pode ser dividida
em duas partes: emissões associadas à composição do resíduo de entrada (são calculadas
baseando-se na composição elementar do resíduo sólido que entra, e a distribuição dos fluxos
destes elementos químicos dentro do incinerador); e emissões relacionadas aos parâmetros de
operação do incinerador (temperatura, oxigênio disponível e velocidade do fluxo). As emissões
relacionadas à composição do resíduo são calculadas utilizando-se o coeficiente de transferência
de cada elemento químico. Este coeficiente é a relação da massa deste elemento em um
determinado fluxo (ex: cinzas de combustão) e sua massa de entrada no incinerador, obtido
através de estudos específicos. Já as emissões relacionadas à operação do incinerador são
consideradas como indiferentes quanto à composição do resíduo de entrada, e se modificam de
acordo com as condições nas quais o resíduo é incinerado. Exemplos de emissões dependentes
das condições operacionais são: dióxido de carbono; dioxinas; e óxidos de nitrogênio (DOKA,
2009).
Com relação à infraestrutura são consideradas a construção das edificações, além de
despesas com manutenção das mesmas, e a ocupação e transformação da área. O inventário foi
feito com base em uma planta de 100.000 toneladas/ano de capacidade, e um tempo de operação
de 40 anos. Para esta capacidade estima-se uma área de ocupação de 120.000m², com área
construída de 15.000m². Os materiais para a construção e o que é considerado no
68
decomissionamento estão listados na Tabela 4.13. O consumo de água é computado para atender
à necessidade de resfriar as cinzas de fundo, de abastecer o lavador de gás e para o processo de
geração de vapor, sendo estimado em 1 litro por kg de resíduo incinerado. Ademais, há o
consumo de 0,839 MJ de calor e 0,144 kWh de eletricidade por quilograma de resíduos
incinerados (DOKA, 2009).
Devido à extensão do inventário, e às variações do mesmo quanto à composição dos
resíduos sólidos incinerados e teor de umidade, o ecoinvent disponibiliza uma planilha de Excel,
na qual é possível entrar com dados específicos e obter os respectivos inventários, que podem ser
importadas pelo programa SIMAPRO.

Tabela 4.13: Materiais de construção e de decomissionamento planta de incineração


Construção g/kg resíduo sólido
Aço de alta liga 0,02
Aço de baixa liga 0,98
Cimento para concreto 1,25
Brita para concreto 8,75
Betume 0,2
Areia 2,5
Decomissionamento
Concreto reforçado (com 3% de aço) 10,3
Betume 0,2
Concreto não reforçado 2,5
Aço para reciclagem 0,7
Fonte: Doka (2009)

Neste caso, entrou-se com a composição de cada município considerado e foi necessário
multiplicar o inventário de referência, para levar em consideração o cenário Eletricidade e a
unidade funcional. Para tanto, todas as saídas contidas na planilha do inventário disponibilizado
pelo ecoinvent foram multiplicadas conforme equação 9:

(9)
Onde:
Iinc. = Inventário do incinerador (Unidade do parâmetro em questão)

69
Einc. = Emissões da incineração, ecoinvent (Unidade/kg resíduos incinerados)
%Ince = Percentual em massa que entra na planta de incineração (%)
Uf = Unidade funcional (1 tonelada de RSM)
1000 = conversão de kg para tonelada

Com relação ao cenário Combustível, o inventário do ecoinvent para o beneficiamento e


purificação do biogás considera a tecnologia de adsorção pressurizada (do inglês: “pressure
swing adsorption technology (PSA)”). Nesta, primeiramente o biogás cru é comprimido e
direcionado a um reator de remoção de H2S. A remoção do H2S é baseada no princípio de
craqueamento das moléculas quando em contato com carvão ativado em um ambiente com
temperatura entre 60-90 °C. O teor de H2S resultante no biogás é da ordem de 5 mg/Nm³ ou
menos. Subsequentemente, o biogás é resfriado a seco a uma temperatura na faixa de 20-30 °C.
Então, o biogás “livre” de H2S é encaminhado para a planta de adsorção pressurizada para
purificação do metano. A adsorção ocorre em um ciclo de quatro etapas (adsorção,
despressurização, regeneração, pressurização). Ao final deste ciclo o gás encontra-se com uma
composição predominantemente de metano (94%), estando adequado aos padrões requeridos para
sua aplicação como combustível automotivo (JUNGBLUTH et al., 2007).
Para a infraestrutura do beneficiamento e purificação do biogás considerou-se a utilização
de um módulo genérico de unidade química, por não haver dado representativo de melhor
qualidade disponível. A eficiência da unidade é contabilizada pela relação entre entrada de biogás
por saída de metano, sendo deste modo equivalente a 1,5 Nm³ biogás/Nm³ CH4. O consumo de
eletricidade no processo é de 0,5 kWh/Nm³ biometano. As emissões para o ar são baseadas na
composição do gás residual do processo que é expelido para a atmosfera contendo as impurezas
retiradas do biogás cru. As emissões do H2S removido são contabilizadas como emissões de
dióxido de enxofre, assumindo que este sofre oxidação na atmosfera (JUNGBLUTH et al., 2007).
Para a tecnologia de produção do CDR, não foram encontrados inventários prontos
disponíveis, seja na base de dados do ecoinvent ou em fontes externas. A consideração de queima
do CDR produzido em fornos industriais também gerou dificuldades, uma vez que não foi
possível encontrar dados sobre as emissões envolvidas. Desse modo, por simplificação,
considerou-se inventário equivalente ao da incineração para a massa de CDR queimada em

70
fornos industriais. Para a massa rejeitada pela linha de produção, utilizou-se o inventário de
emissões relativo às atividades de aterro sanitário, uma vez que este é o destino final destes
rejeitos. Apesar da aproximação entre emissões de fornos industriais e emissões de incineradores
ser grosseira, uma vez que os mecanismos de controle de emissões em incineradores são mais
rigorosos que em processos industriais, foi o possível frente à ausência de dados.
Portanto, o inventário para o CDR foi elaborado seguindo a equação 10:

(10)
Onde:
ICDR = Inventário CDR (Unidade do parâmetro em questão)
Einc. = Emissões da incineração, ecoinvent (Unidade/kg resíduos incinerados)
%CDRe = Percentual em massa de CDR que é produzido por unidade funcional (%)
Uf = Unidade funcional (1 tonelada de RSM)
1000 = transformação de tonelada para kg

Ao final, cada cenário foi compilado em uma planilha de inventário, no qual são inseridos
os dados específicos de geração de resíduo de cada município, sendo obtidas as respectivas saídas
de emissões e consumo de material.
Posteriormente, para cada município considerado, os inventários de ambos os cenário
foram importados pelo SIMAPRO. A avaliação do impacto do ciclo de vida foi realizada com o
método do CML 2 (2000) V2.05, com o uso das categorias de impacto no nível de midpoint:
Depleção abiótica; Acidificação; Eutrofização; Aquecimento global; Depleção da camada de
ozônio; Toxicidade; e Oxidação fotoquímica.

71
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 Análise econômica

Os indicadores econômicos valor presente líquido (VPL) e taxa interna de retorno (TIR)
foram obtidos com a entrada dos dados específicos (composição dos resíduos gerados, população
e preços regionais de combustíveis) dos 81 municípios brasileiros. Desse modo, estas variações
foram analisadas em relação ao impacto na viabilidade econômica de ambos os cenários. As
figuras 5.1 e 5.2 resumem a comparação dos indicadores VPL e TIR, respectivamente, para os
dois cenários. Cada ponto representa o resultado específico de um dos 81 municípios. A linha
tracejada indica a linha de indiferença entre os cenários; os pontos que estão abaixo dela relatam
melhor desempenho no cenário Combustível e vice versa.

Figura 5.1: Comparação do VPL entre cenários


300
VPL - Cenário Eletricidade (milhões R$)

200

100

-100

-200
-200 -100 0 100 200 300
VPL - Cenário Combustível (milhões R$)

72
Figura 5.2: Comparação da TIR entre cenários
30%

20%
TIR - Cenário Eletricidade

10%

0%

-10%

-20%
-20% -10% 0% 10% 20% 30%
TIR - Cenário Combustível

Tanto em relação ao VPL como para a TIR (Figuras 5.1 e 5.2), observa-se que a maioria
dos dados demonstra melhor desempenho econômico para o cenário Combustível (pontos abaixo
da linha tracejada). Ademais, cerca de 30% dos resultados obtiveram VPL positivo e TIR ≥ 8%
(valor igual ou maior que a taxa de desconto considerada) para o cenário Combustível, indicando
que para a maioria dos casos (70% restantes) não houve viabilidade financeira do investimento.
Com relação ao efeito de escala, a viabilidade econômica foi identificada em municípios a
partir de 190.000 habitantes. Dos 35 municípios com população maior que 190.000, 24
apresentaram viabilidade econômica (68,6%). Ainda, dos 20 municípios com população entre
190.000 e 400.000 habitantes, 9 apresentaram viabilidade (45%), indicando que nem sempre
municípios de mesmo porte apresentam resultados semelhantes.
Para o cenário Eletricidade, a necessidade de investimento está entre 20 e 45% (média
32,4%) do total relacionada à tecnologia de digestão anaeróbia (Figura 5.3). Os custos de O&M
também variam de maneira bastante similar com média de 33,1% para o tratamento biológico,
seguindo a tendência da necessidade de investimento (Figura 5.4). Por sua vez, a receita obtida
pela produção de eletricidade da digestão anaeróbia varia entre 15 e 48% (média 33,1%) da
receita total do cenário (Figura 5.5). Percebe-se certo equilíbrio entre custos e receitas para este
cenário, com a predominância dos fatores econômicos na tecnologia de incineração.
73
respectivamente. Para a digestão anaeróbia, com investimento em média 32% superiores e custos
de operação e manutenção em média 25% maiores para a produção do biogás veicular, obtêm-se
receitas em média 44% maiores. Já para a produção de CDR, com um investimento 14 vezes
menor, obtêm-se em média 45% da receita total obtida pela incineração com custos de operação e
manutenção 30% menores, apesar da elevada massa de rejeito desta tecnologia (eficiência
mássica média de 28%).

5.2 Análise de sensibilidade

Na primeira sensibilidade realizada foi descartada a variação regional de preços de


combustíveis. Não houve alteração significativa no número de municípios que apresentaram
viabilidade, indicando que a amplitude da variação destes preços é muito pequena para interferir
significativamente nos resultados.
Além da escala, a variação na composição dos resíduos deve afetar significativamente os
resultados. Para melhor compreender de que maneira isso ocorre, fixou-se uma composição de
referência (média nacional), e uma escala de município (310.000 habitantes representando a
média dos municípios analisados neste estudo) e variaram-se as composições, conforme Tabela
4.12. Na Figura 5.9 mostra-se as variações do VPL em relação às composições do cenário
Eletricidade.

Figura 5.9: VPL em relação às composições - cenário Eletricidade


-R$ 40
VPL (milhões R$)

-R$ 45
-R$ 50
-R$ 55
-R$ 60
-R$ 65
-100% -50% 0% 50% 100%
Variação

Matéria orgânica Outros Recicláveis


77
Tanto com relação ao cenário Eletricidade, como no Combustível (Figura C.1), observa-se
que o VPL é mais sensível às variações na fração de recicláveis. Ademais, em composições com
elevado teor de recicláveis há vantagens financeiras, ao passo que em composições com
predominância em matéria orgânica, ou elevado teor de “outros” há prejuízo. Este fato é atribuído
à dependência dos preços dos combustíveis e da produção de eletricidade com relação ao poder
calorífico dos resíduos sólidos que são encaminhados à incineração e ao CDR.
A Tabela 5.1 mostra os efeitos das variações nas composições em relação aos custos,
receitas e PCI, para o cenário Eletricidade.

Tabela 5.1: Custos, receitas e PCI - cenário Eletricidade


Cenário Eletricidade
Variação composições Nominal Orgânico Outros Recicláveis
40% -40% 100% -100% 40% -40%
Investimento (milhões R$)
Digestão anaeróbia 37,10 47,45 25,65 31,34 39,84 32,03 41,94
Incineração 91,90 81,41 102,15 108,12 83,58 91,12 92,60
O&M (milhões R$/ano)
Digestão anaeróbia 3,31 4,31 2,23 2,76 3,57 2,83 3,78
Incineração 7,22 6,47 7,96 8,38 6,62 7,17 7,27
Receitas (milhões R$/ano)
Digestão anaeróbia 7,19 9,96 4,41 5,75 7,90 5,92 8,46
Incineração 15,00 11,70 18,31 17,20 13,91 16,27 13,72
PCI Incineração (GJ/t) 12,93 11,47 14,04 11,91 13,64 14,47 11,45
Cap. D.A. (t/ano) 44623 61853 27359 35681 49052 36731 52517
Cap. Inc. (t/ano) 58619 50377 66901 71819 52061 57995 59174
VPL D.A (milhões R$) -10,61 -8,06 -11,34 -11,28 -10,09 -11,23 -9,62
VPL Inc. (milhões R$) -43,22 -50,97 -34,94 -52,80 -37,94 -32,44 -53,89

Com relação ao teor de matéria orgânica no RSM, observa-se que quando há aumento de
40% em relação à porcentagem nominal ocorre o efeito do ganho de escala no investimento e
O&M da unidade de digestão anaeróbia. Entretanto, apesar da maior capacidade de geração de
produtos desta unidade, este aumento de capacidade instalada é pequeno para considerar-se que
houve ganho de eficiência nos equipamentos. Para a unidade de incineração, maiores percentuais
de matéria orgânica gerada implicam unidades menores e, portanto, com investimento e O&M
mais caros. Ainda, observa-se redução na receita desta tecnologia, uma vez que há maior
78
contaminação de material úmido, com baixo teor energético, na composição de entrada do
incinerador, prejudicando a produção de eletricidade.
De modo geral, o cenário é prejudicado com maior teor de material orgânico. Para entender
melhor a magnitude do efeito da variação desta fração nas unidades de digestão anaeróbia e
incineração, isolou-se o fluxo de caixa, considerando apenas uma das unidades por vez. Para a
incineração, a análise individual indicou redução de 15% no VPL, com aumento de 40% na
matéria orgânica do cenário. Inversamente, uma diminuição de 40% no teor de matéria orgânica,
representa ganho de escala para a incineração, com aumento do poder calorífico, devido a menor
contaminação de material úmido. Para a tecnologia de digestão anaeróbia, observou-se redução
de 7% no VPL, com diminuição de 40% da fração orgânicos, que, somado ao bom desempenho
da incineração, não chega a comprometer a viabilidade do cenário. Com base nos dados da
Tabela 5.1, podemos afirmar que para municípios com elevado teor de matéria orgânica, o
tratamento da matéria seca torna-se proibitivamente custoso, com receitas menores devido ao
menor poder calorífico. Uma possível alternativa para estes municípios seria considerar somente
o uso da tecnologia de digestão anaeróbia.
Para a fração outros, analogamente ao que ocorre com a fração orgânica, os resultados são
prejudicados em virtude de seu aumento. Apesar de colaborar com o efeito de escala com relação
ao investimento e O&M na incineração, há diminuição no poder calorífico por tonelada
incinerada prejudicando o desempenho econômico do cenário. Como esta fração representa um
conjunto de possibilidades de materiais, a falta de critério para a especificação desta classe
prejudica o diagnóstico adequado para tratamento deste material.
Já com relação à fração de recicláveis, por estas serem compostas principalmente de
plástico e papel, que possuem poder calorífico elevado, o desempenho econômico é melhorado
quando há maior percentual na composição dos resíduos. Neste caso, a redução de pouco mais de
5,5% no VPL individual da digestão anaeróbia é compensada pela boa melhoria de 33% no VPL
da incineração.
Para o cenário Combustível os resultados são similares. A Figura C.1 e a Tabela C.3 são
referentes a este cenário.
Com relação à taxa de adesão da população em relação ao programa de coleta seletiva, o
valor considerado como referência de 60% poderia porventura não ser atingido, visto o histórico

79
de matéria orgânica encaminhada tende a diminuir o poder calorífico médio dos resíduos de
entrada, e o efeito só não é pior devido à fração de materiais, com elevado poder calorífico que
deveriam ser reciclados, mas que foram destinados à incineração. Isolando-se as tecnologias na
análise de viabilidade econômica, observa-se que para a incineração a queda no poder calorífico
não é capaz de frear o crescimento da TIR (devido ao maior volume de resíduo tratado, e
consequentemente maior geração de eletricidade), apesar do VPL diminuir (menor PCI faz com
que o investimento seja mais “pesado”). Ao final, a soma das perdas ocorridas na digestão
anaeróbia e o resultado misto da incineração, tendem a piorar a viabilidade do cenário.
Para o cenário Combustível, em virtude da linha de seleção do CDR, a diminuição da taxa
de adesão implica em poder calorífico ligeiramente maior, uma vez que os materiais com baixo
potencial energético são em grande parte descartados. Entretanto, o impacto negativo na digestão
anaeróbia é maior, visto o investimento e O&M mais elevados que no cenário Eletricidade. O
resultado individual positivo do CDR não faz peso às perdas na digestão anaeróbia, conduzindo o
cenário à pior viabilidade.
Com o propósito de comparar o cenário atual da gestão de resíduo sólido no Brasil, a qual
se resume a atividades de aterro, com a introdução das tecnologias apresentadas, utilizou-se a
mesma tarifa de tratamento paga por tonelada para aterro sanitário no território nacional. Deste
modo, os resultados de VPL negativo vistos até então, indicam que a introdução de novas
tecnologias no cenário atual seria mais custosa para que o modelo que é praticado atualmente.
Entretanto, nota-se em projetos desenvolvidos em outros países que estas tarifas são diferentes
para cada tecnologia, e ainda variam de acordo com escala, fatores regionais, retorno sobre o
investimento e especificidades de projeto. Desse modo, é importante a noção da variação destas
para cada tecnologia. A Figura 5.11 mostra a variação das tarifas de tratamento para cada
tecnologia, e as médias encontradas na análise, para zerar o VPL. Vale ressaltar que as
capacidades para a tecnologia de digestão anaeróbia variaram de 1.930 t/ano a 360.215 t/ano
(média de 45.844 t/ano), o CDR variou de 1.710 t/ano a 521.364 t/ano (média de 58.032 t/ano) e
a incineração, devido ao efeito do consórcio, variou de 18.970 t/ano a 521.325 t/ano (média de
127.312 t/ano). Na diferença entre os menores valores de escala, para o CDR e incineração,
percebe-se o efeito do consórcio ao multiplicar por 11 vezes a fração encaminhada para a
incineração do RSM produzido pelo município.

81
CDR gera benefícios significantes correspondendo a 75% do total de impactos evitados. Com
relação às emissões, 60% é atribuído à extração e uso de gás natural, que é utilizado para
aquecimento do biodigestor, uma vez que para este cenário prioriza-se ao máximo a produção de
biogás veicular, não o utilizando para suprir as necessidades internas de sua produção. No cenário
Eletricidade, 55% das emissões são oriundas da extração de petróleo, devido ao uso de seus
derivados em operações de transporte, e manufatura de materiais (plásticos, borracha, etc.).
Ademais, 20% das emissões estão atreladas à extração de carvão para a produção de cimento,
hidróxido de sódio, e outros materiais de infraestrutura e operação das plantas de biodigestão e
incineração. O cenário Combustível leva vantagem em relação ao cenário Eletricidade pela maior
contribuição das emissões evitadas com relação ao óleo combustível e à gasolina, que é cerca de
11 vezes maior que o deslocamento da eletricidade brasileira. Isso porque a matriz elétrica
brasileira não é intensiva na extração de recursos abióticos durante a operação por ser
majoritariamente baseada em hidroeletricidade.

Figura 5.14: Depleção abiótica - comparação cenários


Eletricidade (Kg SBeq)
-4 -3,5 -3 -2,5 -2 -1,5 -1 -0,5 0
0

Combustível (Kg SBeq)


-0,5
-1
-1,5
-2
-2,5
-3
-3,5
-4

Para a categoria de acidificação (Figura 5.15), o cenário Combustível obteve benefícios


ambientais, enquanto o cenário Eletricidade resultou em impactos. Com relação ao cenário
Combustível, 54% das emissões evitadas são atribuídas ao óleo combustível e 9% em relação à
gasolina. Ademais, 65% das emissões estão atreladas à queima do biogás veicular e à queima do
CDR, 8% é associado ao uso de eletricidade nas instalações e diesel para transporte. Para o
cenário Eletricidade, 88% das emissões são atribuídas às emissões de queima do biogás em motor

85
estacionário, e às emissões da incineração dos resíduos, havendo predominância desta última.
Emissões durante a cura do composto orgânico também colaboram nos dois cenários, pela
liberação de dióxido de enxofre. Novamente, as emissões evitadas no cenário Combustível são
cerca de 13 vezes maiores que o cenário Eletricidade, o que resulta em vantagens em relação a
este último.
Figura 5.15: Acidificação - comparação cenários
Eletricidade (Kg SO2 eq)
-4 -3 -2 -1 0 1
1

Combustível (Kg SO2 eq)


0

-1

-2

-3

-4

Para a categoria eutrofização (Figura 5.16), ambos os cenários resultaram em impactos


positivos. No cenário Combustível, as principais emissões negativas (evitadas) são atreladas ao
deslocamento do óleo combustível e gasolina. Entretanto, a soma dos impactos evitados é 42
vezes menor que a soma dos impactos introduzidos pelo cenário. A disposição de rejeitos do
CDR em aterro sanitário conta com 31% do total das emissões do cenário, principalmente pela
formação de chorume, e 66% está associado majoritariamente à aplicação do composto orgânico,
produzido pela digestão anaeróbia da fração orgânica. Para o cenário Eletricidade, as emissões
evitadas pelo mix de geração elétrico nacional são cerca de 70 vezes menores que as emissões
atreladas às atividades do cenário. Os impactos atribuídos à incineração e a aplicação do
composto orgânico no solo perfazem 98% das emissões. Como não há disposição significativa de
rejeitos orgânicos em aterros sanitários o cenário Eletricidade leva vantagem em relação ao
combustível.

86
Figura 5.16: Eutrofização - comparação cenários

Combustível (Kg PO4 eq)


4

0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5
Eletricidade (Kg PO4 eq)

Na categoria de impacto aquecimento global (Figura 5.17), a maioria dos resultados foram
de emissões negativas no cenário Combustível. Para este cenário, 53% das emissões evitadas são
atribuídos ao deslocamento do óleo combustível e 35% estão relacionados à gasolina. Com
relação às emissões do cenário, 31% estão associados à disposição de rejeitos da produção do
CDR em aterro sanitário, devido às emissões fugitivas de metano, e outros 33% estão associados
às emissões de metano (CH4) durante a cura do composto orgânico após ser extraído do reator
anaeróbio e também às emissões da queima do CDR. Para o cenário Eletricidade, 90% das
emissões são atribuídas à queima do biogás em motor estacionário, às emissões da incineração e
às emissões de metano devido à cura do composto. Observa-se maior variação dos resultados
quanto à composição dos municípios. Esta variação é devido à contribuição significativa de cada
uma das tecnologias em relação às emissões, e da relação destas com a composição dos resíduos
de entrada. Vale ressaltar que as emissões da incineração e da queima do CDR são variáveis com
a composição dos resíduos queimados, e ainda a variação desta composição afeta o balanço de
massa; em ambos os cenários isso implica em maior ou menor produção de composto, e no
cenário Combustível em maior ou menor percentual de rejeitos encaminhados para aterro
sanitário.

87
Figura 5.17: Aquecimento global - comparação cenários
100

Combustível (Kg CO2 eq)


50
0
-50
-100
-150
-200
-250
-300
-300 -250 -200 -150 -100 -50 0 50 100
Eletricidade (Kg CO2 eq)

Com relação ao potencial de depleção do ozônio na estratosfera (Figura 5.18), ambos os


cenários apresentaram benefícios em relação aos produtos deslocados. No cenário Combustível
79% das emissões evitadas esta relacionado ao deslocamento do óleo combustível, e 21% é
atribuído à gasolina. Para este cenário 30% das emissões está relacionado ao uso de derivados do
petróleo principalmente para transporte e na construção das plantas. Outros 55% estão associados
ao uso de gás natural para aquecimento do biodigestor, e incinerador em início de operação. Para
o cenário Eletricidade, 95% está relacionado ao uso de derivados do petróleo principalmente para
transporte e operação de tratores. O cenário Combustível leva vantagem em relação ao cenário
Eletricidade, principalmente devido às emissões deslocadas de óleo combustível e gasolina frente
ao mix de geração elétrico, cerca de 13 vezes maior. Ademais, o cenário Combustível apresenta
sensibilidade em relação à composição dos resíduos, principalmente pela flutuação na quantidade
de rejeitos da produção de CDR, envolvendo mais ou menos transporte deste material para aterro
sanitário.

88
Figura 5.18: Depleção da camada de ozônio - comparação cenários
Eletricidade (kg CFC-11 eq)
-6,00E-05 -4,00E-05 -2,00E-05 0,00E+00

Combustível (kg CFC-11 eq)


0,00E+00

-2,00E-05

-4,00E-05

-6,00E-05

Para a categoria de toxicidade, esta foi dividida em ecotoxicidade (Figura 5.19) e


toxicidade humana (Figura 5.20). Ambos os cenários mostraram maiores impactos que os
produtos deslocados. Para o cenário Combustível, as principais emissões estão relacionadas à
toxicidade marinha (99,6% do total), seguida pela aquática, humana e terrestre. A disposição dos
rejeitos do CDR em aterro sanitário perfazem 78% das emissões relacionadas à toxicidade
marinha, 88% da aquática, e 28% da humana. Estas emissões são significativas pela presença de
metais pesados no resíduo aterrado que podem se solubilizar devido à presença de ácidos e serem
carreados pelo chorume gerado no aterro. Com relação à toxicidade humana, 52% das emissões
são atreladas à queima do CDR, e às atividades da digestão anaeróbia. As principais emissões
evitadas são originários do deslocamento do óleo combustível que conta com considerável
contribuição em relação à toxicidade marinha e humana. Para o cenário Eletricidade, as principais
emissões estão relacionadas à toxicidade marinha (99,6% do total), seguida pela aquática,
humana e terrestre. As emissões da incineração perfazem as maiores contribuições, com mais de
90% das emissões em todas as subcategorias (toxicidade marinha, aquática, terrestre e humana).
Observa-se que os maiores responsáveis são as emissões de metais pesados. Ademais, a maioria
destes componentes vai contaminar ambientes aquáticos. Também há toxicidade significante nas
cinzas que são aterradas, apesar de o serem em aterros considerados secos, minimizando os
impactos gerados devido ao carreamento destes componentes pelo lixiviado. O deslocamento da
matriz elétrica nacional evita toxicidade principalmente marinha, mas esta é cerca de 9 vezes
menor comparado com o deslocamento do óleo combustível. No geral, na ecotoxicidade o

89
cenário Eletricidade leva vantagem, uma vez que as emissões do aterro dos rejeitos do CDR são
muito significativas. Entretanto, para a toxicidade humana as emissões de metais pesados da
incineração são bastante significativas, portanto o cenário Combustível é o que menos causa
impactos.

Figura 5.19: Ecotoxicidade - comparação cenários


300000
Combustível (kg 1,4 DB eq)

200000

100000

0
0 100000 200000 300000
Eletricidade (kg 1,4 DB eq)

Figura 5.20: Toxicidade humana - comparação cenários


Eletricidade (kg 1,4 DB eq)
-200 -150 -100 -50 0 50 100 150 200
200
150 Combustível (kg 1,4 DB eq)
100
50
0
-50
-100
-150
-200

Para a categoria de oxidação fotoquímica (Figura 5.21), ambos os cenários mostraram em


sua maioria emissões negativas. Para o cenário Combustível, 31% das emissões estão associadas
à disposição de rejeitos em aterro sanitário para a produção de CDR. A queima do CDR e as
emissões fugitivas de metano do composto orgânico perfazem outros 31% do total, e a combustão
90
do biometano é responsável por 28% do total. Com relação às emissões evitadas, 48% está
relacionado ao deslocamento do óleo combustível e 29% com a gasolina. As emissões evitadas
somadas do óleo e da gasolina são quase 3 vezes maiores que as emissões evitadas no cenário
Eletricidade. Para o cenário Eletricidade, as maiores contribuições estão associadas à incineração
e à queima do biogas. O cenário Combustível apresenta vantagens em relação ao Eletricidade.

Figura 5.21: Oxidação fotoquímica - comparação cenários


Eletricidade (kg C2H4 eq)
-0,1 -0,075 -0,05 -0,025 0 0,025
0,025

Combustível (kg C2H4 eq)


0
-0,025
-0,05
-0,075
-0,1

Pudemos observar, pela maioria das categorias apresentadas que o deslocamento de


combustíveis gera benefícios ambientais significantes. Já com relação ao cenário Eletricidade,
apesar da matriz elétrica brasileira ser majoritariamente hidroelétrica, com emissões
relativamente baixas para a maioria das categorias, observa-se que há casos de emissão negativa,
o que sugere que a utilização de RSM para fins energéticos tende a trazer benefícios ambientais.

91
6 CONCLUSÕES

Os atuais desafios enfrentados pelo setor de resíduo sólido no Brasil são fruto de uma visão
imediatista, na qual grande parte das ações tomadas são meramente de remediação, e da falta de
um planejamento nacional unificado e estratégico. As consequências desta má gestão fazem com
que a população e as futuras gerações sejam prejudicadas com seus efeitos diretos e indiretos nos
ambientes naturais e na saúde humana. Desse modo, é urgente o consentimento de que é
necessário mudar a visão contemporânea sobre a gestão de resíduo sólido, que, fruto da cultura de
abundância, despreza o real valor do resíduo e suas possibilidades de aproveitamento. Entretanto,
para que esta mudança se torne viável, é preciso aprimorar o conhecimento sobre os efeitos das
ações vinculadas ao gerenciamento do resíduo sólido nas três esferas em que ela se relaciona
(social, ambiental e econômica). Neste sentido, este trabalho procurou contribuir com a análise
das possibilidades de valorização energética do resíduo sólido, tendo em vista as consequências
de diferentes rotas na viabilidade econômica e nos impactos ambientais.
Foram avaliadas as características de RSM de 81 municípios brasileiros com vistas ao
aproveitamento energético. Com base nas tecnologias já consagradas de aproveitamento
energético de resíduo sólido no cenário internacional, foram identificadas duas principais rotas de
utilização dos produtos gerados, as quais deram origem aos dois cenários avaliados: cenário
Combustível – com o uso combinado das tecnologias de digestão anaeróbia, com beneficiamento
do biogás e comercialização como combustível veicular, e produção de CDR, destinado a uso
industrial; e cenário Eletricidade – com a combinação das tecnologias de digestão anaeróbia, com
a utilização do biogás em motor estacionário para produção de energia elétrica, e incineração,
com utilização do calor de combustão em ciclo Rankine.
Levando-se em consideração as hipóteses adotas neste estudo, podemos concluir que há
favorecimento da produção de combustíveis à geração de eletricidade a partir de RSM nos
municípios brasileiros, tanto em relação a aspectos econômicos como a impactos ambientais.
Entretanto, observou-se que, para a aplicação destas tecnologias no âmbito nacional é necessário
adotar tarifas de tratamento de RSM maiores que as praticadas em aterros sanitários, e/ou haver
incentivos na comercialização de energia elétrica e combustíveis provenientes deste material.

92
Considerando a mesma tarifa de tratamento praticada em aterro sanitário, somente municípios
com população maior que 190.000 habitantes indicaram viabilidade econômica no cenário
Combustível. Vale ressaltar que a tarifa de tratamento para aterro sanitário praticada no Brasil é
pequena comparada à de países europeus, uma vez que estes países elevam os custos de
disposição em aterros como forma de estimular práticas alternativas a esta.
Para o tratamento da fração úmida de RSM, via digestão anaeróbia, o beneficiamento do
biogás para comercialização como combustível veicular é mais caro que a produção direta de
eletricidade. Entretanto, as receitas obtidas são maiores, fato que favorece esta rota tecnológica.
No tratamento da fração seca, a tecnologia de incineração colabora com a redução
significativa do volume de resíduo que é encaminhada para o aterro sanitário, entretanto é a
tecnologia mais cara das que foram analisadas, requerendo elevado investimento e custos de
O&M. Para minimizar este elevado custo, a proposta do consórcio mostrou-se eficiente para
pleitear ganhos de escala em municípios de pequeno e médio porte; entretanto, este ganho ainda
não foi suficiente para superar a diferença nas receitas oriundas da comercialização de energia
elétrica e combustível, fazendo com que esta rota não seja atrativa. Com relação ao CDR, é a
tecnologia mais barata em termos de necessidade de investimento e custos de O&M, com receitas
proporcionalmente maiores (receitas sobre investimento). Entretanto, possui uma baixa eficiência
mássica (28% em média) o que acarreta em custos adicionais no transporte e disposição dos
rejeitos gerados, além de impactos ambientais significantes devido à queima de combustíveis
fósseis e emissões de metano em aterro.
A variação da composição do resíduo sólido municipal é bastante significativa para a
viabilidade econômica dos cenários. A falta de padronização nos estudos de composição
gravimétrica de RSM no Brasil dificulta uma análise mais detalhada da fração “outros”, uma vez
que sua composição varia muito de um estudo para outro, dificultando a estimativa de seu valor
energético. A fração reciclável é a que mais afeta os indicadores VPL e TIR, uma vez que o teor
energético deste material é elevado. No cenário Eletricidade, municípios com alto teor de fração
orgânica devem considerar somente a análise de aplicação da tecnologia de digestão anaeróbia,
uma vez que os custos de incineração se tornam proibitivamente elevados, com penalidades nas
receitas devido ao menor PCI dos materiais de entrada.

93
Menores taxas de adesão ao programa de coleta seletiva implicam em piores desempenhos
econômicos em ambos os cenários. Ademais, a maior dispersão dos materiais tende a dificultar o
processo de reciclagem, fazendo com que grande parte deste material seja encaminhado para a
incineração ou CDR. Isso provoca aumento na escala destes empreendimentos, entretanto, como
também há maior contaminação de materiais úmidos o PCI da incineração é prejudicado, ao
passo que o do CDR, por haver seleção de materiais, aumenta.
A valorização energética do resíduo sólido pode auxiliar na mitigação de impactos
ambientais, haja vista os resultados de emissão negativa para a maioria das categorias de impacto
analisadas em ambos os cenários analisados. O deslocamento de combustíveis gera maiores
benefícios que o mix de geração elétrica brasileiro, uma vez que este é majoritariamente
abastecido de hidroeletricidade. Emissões de metano durante a cura do composto orgânico e uso
de combustível auxiliar para aquecimento do reator são as principais fontes de emissão da
tecnologia de digestão anaeróbia. Para o CDR, as emissões de transporte e disposição de rejeitos
são significantes, bem como a queima do mesmo. Na incineração, observa-se que esta é
predominante na emissão de metais pesados que colaboram com a toxicidade humana.

94
7 RECOMENDAÇÕES

Alguns pontos de sugestão para trabalhos futuros poderão ser considerados, tais como:
• Considerar na análise as tecnologias de pirólise, gasificação e outras;
• Expandir a análise para possibilidades de comercialização de calor para uso
industrial, bem como do biometano para uso industrial, ou em rede municipal de
distribuição de gás;
• Utilizar maior número de fontes de dados sobre investimento e O&M para cada
tecnologia;
• Considerar outras configurações para a planta de CDR, como a comercialização de
CDR peletizado;
• Estimar custos de implantação e propor diferentes sistemas de coleta seletiva,
comparando-os com o cenário atual;
• Revisar e refinar as hipóteses adotadas com o intuito de melhor representar a
realidade;
• Encontrar fonte de dados sobre emissões de CDR no setor industrial;

95
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104
A. ANEXO A – Categorias de impacto ambiental

Para a avaliação do ciclo de vida dos cenários, foram utilizadas sete categorias de impacto.
Uma breve explanação sobre estas categorias é fornecida a seguir.

Depleção biótica e abiótica

A principal diferença entre estas duas categorias de impacto são: depleção abiótica envolve
jazidas (recursos fósseis, minerais), recursos ambientais (água subterrânea, etc), e recursos de
fluxo natural (solar, ar, água). A depleção biótica esta associada à fauna e flora (GUO, 2012).
Ademais, os recursos naturais podem ser vistos como valores funcionais e não funcionais
com relação à vida humana. A funcionalidade dos recursos naturais é conhecida como sua
capacidade de suportar funções na vida do homem, e a parcela não funcional está atrelada à áreas
não exploradas, de preservação. Do ponto de vista de funcionalidade, não é o recurso abiótico
propriamente dito em que o Homem tem interesse, mas no seu potencial de cumprir funções na
vida humana. Desse modo, podemos definir a depleção de recursos abióticos pelo decaimento da
disponibilidade do seu potencial funcional. (OERS et al., 2002).

Acidificação

Os efeitos da acidificação estão relacionados à exposição a longo prazo de ácidos no


ecossistema acarretando em declínio da floresta e depleção da fauna. É principalmente
ocasionado pela liberação de prótons ou seus correspondentes ânions, como SO2-, NOx-, NH3+,
Cl- (GUO, 2012).

105
Eutrofização

Eutrofização é normalmente referida como o enriquecimento com nutrientes do ecossistema


aquático resultando no aumento da produção de fitoplânctons, algas e plantas aquáticas
superficiais, deteriorando a qualidade da água e reduzindo o valor de utilização do ecossistema
aquático. A eutrofização pode ocorrer tanto em ecossistemas aquáticos como em terrestres. O
aumento de nitrogênio e fósforo são os mais importantes elementos, os quais em conjunto com a
degradação de componentes orgânicos, são os maiores causadores do potencial de eutrofização
(GUO, 2012).

Depleção da camada de ozônio

O conceito do potencial de depleção do ozônio foi introduzido por Wuebbles em 1981 e


desenvolvido pela Organização Mundial Meteorológica (WMO) sendo utilizado para avaliar os
efeitos de componentes na camada estratosférica de ozônio. Os principais substâncias
identificadas que deplecionam o ozônio são os componentes halogenados (como CFC, HCFC,
halons) (GUO, 2012).

Potencial de aquecimento global

Há uma discussão frequente a respeito das mudanças climáticas e o aumento da


temperatura média global acompanhado pelo derretimento do gelo e aumento do nível dos
oceanos. Para avaliar a influência de fatores relacionados à mudanças climáticas, o conceito da
força radioativa quantificada em termos da “taxa de mudança da energia por unidade de área do
globo medida no topo da atmosfera” foi introduzido. O potencial de aquecimento global é

106
calculado para diferentes horizontes de tempo (20, 100, 500 anos). Isso significa que
componentes com vida longa tendem a contribuir mais em uma perspectiva de longo prazo, a
exemplo CClF3, ao passo que componentes de vida curta, como o CH4, são menos importantes a
longo prazo. Ademais, complementando o potencial de aquecimento global direto, há abordagens
que avaliam potenciais indiretos, os quais levam em consideração efeitos como degradação de
produtos ou efeitos radioativos devido às mudanças na concentração de gases de efeito estufa. Os
principais componentes envolvidos nestes efeitos são CH4, CO, H2, NOx, componentes orgânicos
voláteis e hidrocarbonos. O efeito indireto da radioatividade está relacionado principalmente com
formação/depleção da camada de ozônio, produção de CO2, mudanças no nível estratosférico de
vapor de água, e prolongamento da vida do CH4 devido às mudanças na concentração de OH-
(GUO, 2012).

Toxicidade humana e eco-toxicidade

A categoria de impacto toxicidade é reconhecidamente tida como a mais difícil de modelar


na ACV devido à limitada cobertura de inventário, falta de consenso nos modelos de
caracterização, e a falta de dados toxicológicos e físico-químicos necessários para a análise do
impacto. Geralmente, nos modelos de caracterização da ACV, eco-toxicidade é dividida nas
subcategorias aquática e terrestre, mas as abordagens sobre a toxicidade humana variam entre os
modelos. Tanto a humana quanto a eco-toxicidade não são somente dependentes dos efeitos e
destino das substâncias, como também do processo de exposição (GUO, 2012).

Oxidação fotoquímica

Dois diferentes tipos de névoas (do inglês “smog”) podem ser diferenciados: névoas de
verão e névoas de inverno. As névoas de verão, também conhecida como névoa fotoquímica,
referem-se à formação fotoquímica de ozônio de reações entre NOx e hidrocarbonetos ou
107
componentes orgânicos voláteis na presença de luz solar. O ozônio fotoquímico é altamente
reativo e conhecido por afetar a saúde humana (exemplo: irritações nos olhos, problemas
respiratórios) e as plantas (exemplo: danos às folhas e funções fotossintéticas). O nevoeiro de
inverno é também conhecido como nevoeiro ácido, é causado por poluentes urbanos como SO2 e
material particulado em suspensão em conjunto com NOx, CO e substâncias orgânicas. O mais
conhecido nevoeiro de inverno foi o nevoeiro de Londres ocorrido em 1952, o qual acredita-se
que tenha causado aproximadamente 1200 mortes (GUO, 2012).

108
A. APÊNDICE A – Composição gravimétrica e população dos
municípios brasileiros

Tabela A.1: Composição gravimétrica e população dos municípios brasileiros


Papel,
Plástico Plástico Plástico
Cidade População Estado Metal Alumínio Aço papelão e Vidro Orgânico Outros
total filme rígido
tetrapak
Almirante Tamandaré 105.458 PR 3,3 1,3 2 19 18,8 12,3 6,5 2,9 36,5 19,5
Aracaju 587.701 SE 1,7 10 7,9 2,2 75 3,2
Araucária 122.878 PR 2,3 21,1 19,1 12,5 6,6 3,3 39,1 15,1
Balneario Camboriu 113.319 SC 2,2 14,7 21,5 3,8 44,4 13,4
Bauru 348.146 SP 2,6 11,7 14 8,6 5,3 1,8 65,9 4
Bela Vista 23.395 MS 3,8 19 18,8 1,9 52,9 3,7
Belem 1.410.430 PA 2,6 17,1 15 1,5 45,9 17,9
Benevides 54.083 PA 4,3 13,4 18,7 4 48 11,7
Bento Gonçalves 109.653 RS 3,3 0,4 2,9 9 11,1 3,2 51,5 21,9
Betim 388.873 MG 3,7 15,6 10,2 1,1 55,3 14,1
Bituruna 15.903 PR 6,4 6,8 12,2 2,9 56,5 15,2
Blumenau 316.139 SC 2,7 11,7 14,1 4,2 42,5 24,8
Bombinhas 15.136 SC 3,8 11,5 17,7 5,1 47,2 14,7
Botucatu 130.201 SP 3,9 0,3 3,5 8,4 8,4 4,9 3,6 2 74,1 3,2
Cabedelo 60.226 PB 1,3 6,6 6,8 1,4 66,4 17,5
Caldas novas 73.616 GO 2,1 0,8 1,3 13,4 12,8 1,6 58,6 11,5
Camacari 255.238 BA 0,3 4,2 7 2,1 59,4 27
Campina Grande 389.995 PB 3,0 5 11 4 67 10
Campina Grande do
39.404 PR 2,9 0,3 2,6 19,4 18,4 13,2 5,2 4 41,1 14,2
Sul
Campinas 1.098.630 SP 4,4 19,8 15,2 1,7 45,7 13,3
Campo Grande 805.397 MS 3,9 12,4 11,1 2,2 68 2,4
Campo Largo 115.336 PR 3 0,4 2,6 18,8 18,9 12,9 6 - 42,9 16,4
Campo Magro 25.513 PR 3,8 0,3 3,5 19,6 18,6 12,1 6,5 3 38,7 16,3
Caxias do Sul 446.911 RS 2,5 0,1 2,4 13,1 15,3 2,4 46 20,7
Coari 77.305 AM 1,5 11,9 13,5 10,1 3,4 2,4 66,7 3,9
Colombo 217.443 PR 2,8 16 19,6 14,5 5,1 2,6 43,3 15,7
Contenda 16.292 PR 3,3 0,3 3 18,7 16,5 11,6 4,9 2,9 44,1 14,5
Criciúma 195.614 SC 3,3 21,1 17,1 2,1 45,2 11,2
Cururupu 32.487 MA 1,5 5,8 12 0,2 76,2 4,2
Estrela 31.105 RS 1,8 6,7 11,6 7,5 4,1 2,3 57,1 20,7
Extremoz 25.324 RN 2,3 0,1 2,2 8,7 6,1 3,2 2,9 1,3 65,5 16,1
Fazenda Rio Grande 84.514 PR 2,2 0,3 1,9 16,1 16,4 12,2 4,2 1,8 43,9 19,6
Florianopolis 433.158 SC 3,4 14,6 15,2 4,1 45,1 17,6
Fortaleza 2.500.194 CE 2,4 0,6 1,8 7,2 13,3 9,6 3,7 2 50,3 24,8
Gaspar 59.728 SC 4,8 12 17,2 4,8 33,3 27,9
Guajara mirim 42.202 RO 5,5 10 16,1 1,3 57,1 10
Hidrolandia 19.548 CE 2,1 8,2 13,2 2,5 67,9 6,1
Imbituba 40.845 SC 2,5 0,5 2 18,8 15,1 9,8 5,4 4,4 50,7 8,6
Indaiatuba 209.859 SP 2 0,5 1,5 10,3 10,7 5,6 5,1 1,9 53,7 21,4
Itabuna 205.885 BA 1,9 1,7 0,2 9 13 8,5 4,5 1,2 48,2 26,7
Itajai 188.791 SC 2,1 13,2 14,6 2,5 50,3 17,3
Itamogi 10.293 MG 2,2 6,6 11,7 1,6 67,8 10,1

109
Itaocara 22.884 RJ 2,1 11,7 8,8 6,7 2,1 0,6 52,5 24,4
Itapicuru 33.008 BA 1,5 0,3 1,2 16,9 17,1 14,1 3 1,6 38,1 24,8
Jaboticabal 72.305 SP 6,3 0,3 6 16,4 6 3,9 2,1 6 55,6 9,7
Joao Pessoa 742.478 PB 1,9 0,6 1,4 8,8 10,3 6,9 3,5 2,9 62,3 13,7
Juina 39.442 MT 3,4 10,8 17,4 3,6 56 8,9
Lajeado 73.201 RS 1,4 9,5 11,6 7,5 4,1 2,2 57,5 17,8
Maceio 953.393 AL 1,7 8,9 13,6 10,3 3,3 1,3 56,6 17,9
Manacapuru 86.985 AM 1,9 8,4 10,1 7,4 2,7 0,9 53,7 25
Manaus 1.861.838 AM 4,3 18,9 8,6 2,2 58,7 7,3
Mandirituba 22.927 PR 3,3 0,6 2,7 21,1 16,2 11,1 5,1 3,4 40,1 15,9
Manicoré 48.373 AM 4 17 20 2 52 5
Maringa 367.410 PR 5 17,7 13,5 3,1 52,2 8,6
Mossoro 266.758 RN 1,4 0,1 1,3 14,6 18,4 13,9 4,5 1,8 30,4 33,4
Natal 817.590 RN 2,4 0,2 2,3 11,5 6 3,4 2,6 0,7 57,3 22
Navegantes 63.764 SC 4,4 11,7 16,7 5 40,1 22,1
Palmas 242.070 TO 5,9 10,7 11,4 2,4 62,5 7,1
Parintins 103.828 AM 3,4 6 8,7 6,7 2 1,3 20,1 60,4
Parnamirim 214.199 RN 1,8 0,1 1,7 9,9 4,7 2,9 1,7 0,8 69,2 13,6
Passos 107.661 MG 2 11,8 10,5 1,8 69 4,9
Pau dos Ferros 28.197 RN 0,6 16,9 8,1 3,1 5 - 40 34,4
Pinhais 119.379 PR 2,1 18 20,2 14,7 5,5 2,3 41,8 15,6
Piraquara 96.023 PR 3,2 1,3 1,9 18,4 18 11,9 6,1 2,7 38,8 18,9
Porto Alegre 1.416.714 RS 4 0,8 3,2 11,4 12,3 5,4 7 3,4 43,8 25
Presidente Prudente 210.393 SP 5,4 21 8,9 2,6 55 7,1
Propriá 28.612 SE 1,1 7,4 10 5,3 4,7 0,8 65,3 15,3
Quatro Barras 20.409 PR 2,6 0,3 2,3 19,8 15 10,5 4,5 2,8 44,8 15,0
Rio Grande 198.842 RS 6,6 19 9,5 3,7 51,2 10
Salvador 2.710.968 BA 3,7 1,1 2,5 16,2 17,1 12 5,1 2,9 46,9 13,3
Santa Cruz 36.477 RN 3,6 0,4 3,2 3,5 13,5 6,4 7,1 0,9 25,2 53,4
Sao Carlos 226.322 SP 1,3 7,4 10,5 7,6 2,8 1,7 59,1 20,1
Sao Joao Batista 27.982 SC 3,3 18,5 14,1 4,2 34,3 25,6
Sao Jose 215.278 SC 3 14,1 20,1 3,2 41,7 17,9
Sao Jose dos Pinhais 273.255 PR 3,2 20,5 19,3 13,4 5,9 2,7 37,1 17,2
Sao Leopoldo 217.189 RS 1,5 0,4 1,1 14,6 12,3 8,5 3,8 1,7 58,7 11,2
Sao Marcos 20.276 RS 2,3 0,5 1,8 7,7 5,6 0,8 56,9 26,7
SAo SebastiAo 76.344 SP 3,3 18,5 7,9 2,8 49 18,5
Teresina 830.231 PI 3,4 0,9 2,4 15,8 20,5 11,6 8,9 2,4 45,4 12,5
Uberlandia 619.536 MG 3 7 11 3 72 4
Vitoria 333.162 ES 3,3 19,1 11,8 2,7 53,1 10,1
Fonte: IPEA, (2012)

110
B. APÊNDICE B – Variação dos preços de combustíveis por
Estados brasileiros

Tabela B.1: Preços de combustíveis por estado

Estado Gasolina (R$) Diferença – SP Óleo combustível (R$) Diferença - SP


AL 2,89 5% 1,04 4%
AM 3,16 14% 1,15 15%
BA 2,95 7% 1,07 7%
CE 3,00 9% 1,09 9%
ES 2,94 7% 1,08 8%
GO 2,91 5% 1,06 6%
MA 2,95 7% 1,07 7%
MG 2,97 8% 1,08 8%
MT 3,03 10% 1,10 10%
PA 3,16 14% 1,15 15%
PB 2,80 1% 1,01 1%
PI 2,81 2% 1,02 2%
PR 2,89 5% 1,05 5%
RJ 3,04 10% 1,10 10%
RN 2,88 4% 1,04 4%
RO 3,09 12% 1,12 12%
RS 2,92 6% 1,06 6%
SC 2,87 4% 1,04 4%
SP 2,76 0% 1,00 0%
TO 3,00 9% 1,09 9%
Fonte: ANP (2013)

111
C. APÊNDICE C – Gráficos e tabelas da análise econômica

Figura C.1: VPL em relação às composições - cenário Combustível

R$ 15

R$ 10
VPL (milhões R$)

R$ 5

R$ -

-R$ 5

-R$ 10

-R$ 15
-100% -50% 0% 50% 100%

Matéria orgânica Outros Recicláveis

Tabela C.1: Custos, receitas e PCI - cenário Combustível


Cenário Combustível
Orgânico Outros Recicláveis
Nominal
40% -40% 100% -100% 40% -40%
Investimento (milhões R$)
Digestão anaeróbia 40,06 50,54 28,53 34,25 42,83 34,95 44,96
CDR 5,77 5,10 6,41 6,79 5,24 5,72 5,81
O&M (milhões R$/ano)
Digestão anaeróbia 3,85 5,00 2,62 3,23 4,15 3,30 4,38
CDR 5,41 4,79 6,03 6,75 4,74 5,19 5,63
Receitas (milhões R$/ano)
Digestão anaeróbia 10,22 14,17 6,27 8,18 11,24 8,42 12,03
CDR 7,00 4,78 9,27 6,85 7,12 8,75 5,36
PCI CDR (GJ/t) 19,79 17,83 20,83 17,66 20,88 21,49 17,25
VPL D.A (milhões R$) 3,12 10,82 -3,18 -0,38 4,99 0,01 6,51
VPL CDR (milhões R$) 1,12 -7,53 10,05 -9,58 6,71 13,10 -10,18

112
Tabela C.2: Variações da taxa de adesão à coleta seletiva – cenário eletricidade
Cenário Eletricidade
Taxa de adesão
12% 60% 72%
Investimento (milhões R$)
Digestão anaeróbia 25,33 37,10 39,84
Incineração 124,03 91,90 83,45
O&M (milhões R$/ano)
Digestão anaeróbia 2,20 3,31 3,57
Incineração 9,51 7,22 6,61
Receitas (milhões R$/ano)
Digestão anaeróbia 4,34 7,19 7,90
Incineração 21,61 15,00 13,35
PCI incineração (GJ/t) 12,78 12,93 13,00
Cap. D.A. (t/ano) 26910 44623 49051
Cap. Inc./CDR (t/ano) 85263 58619 51957
Soma capac. (t/ano) 112174 103242 101009

Tabela C.3: Variações da taxa de adesão à coleta seletiva - cenário Combustível


Cenário Combustível
Taxa de adesão
12% 60% 72%
Investimento (milhões R$)
Digestão anaeróbia 28,21 40,06 42,83
CDR 7,80 5,77 5,23
O&M (milhões R$/ano)
Digestão anaeróbia 2,59 3,85 4,15
CDR 7,81 5,41 4,81
Receitas (milhões R$/ano)
Digestão anaeróbia 6,17 10,22 11,24
CDR 10,17 7,00 6,21
PCI CDR (GJ/t) 19,85 19,79 19,77

113
D. APÊNDICE D – Inventários de ciclo de vida cenário eletricidade
e combustível

Tabela D.1: Inventário cenário Eletricidade para o município de Campinas


Products Value Unit
Scenario Electricity Campinas 705,0748957 kWh
Avoided products
Electricity mix/BR U 705,0748957 kWh
Carbon dioxide, in air 92,67942542 kg
Urea ammonium nitrate, as N, at regional storehouse/RER U 533,0937876 g
Diammonium phosphate, as N, at regional storehouse/RER U 307,4569059 g
Potassium chloride, as K2O, at regional storehouse/RER U 435,9522529 g
Materials/fuels
Anaerobic digestion plant, biowaste/CH/I U 6,23055E-07 p
Cogen unit 200kWe, common components for heat+electricity/RER/I U 4,0756E-06 p
Cogen unit 200kWe, components for heat only/RER/I U 4,0756E-06 p
Cogen unit 200kWe, components for electricity only/RER/I U 4,0756E-06 p
Lubricating oil, at plant/RER U 0,00171175 kg
Transport, lorry 20-28t, fleet average/CH U 13,4631311 tkm
Transport, lorry 3.5-20t, fleet average/CH U 0,950764736 tkm
Solid manure loading and spreading, by hydraulic loader and spreader/CH U 63,38431574 kg
Diesel, burned in building machine/GLO U 2,803747324 MJ
Municipal waste incineration plant/CH/I U 2,11059E-07 p
Slag compartment/CH/I U 8,97485E-08 p
Residual material landfill facility/CH/I U 1,34697E-08 p
Sodium hydroxide, 50% in H2O, production mix, at plant/RER U 2,682796672 kg
Quicklime, milled, packed, at plant/CH U 0,358909736 kg
Hydrochloric acid, 30% in H2O, at plant/RER U 0,004482306 kg
Iron (III) chloride, 40% in H2O, at plant/CH U 0,004538794 kg
Chemicals organic, at plant/GLO U 0,000741926 kg
Chemicals inorganic, at plant/GLO U 0,007470511 kg
Cement, unspecified, at plant/CH U 2,58618803 kg
Transport, lorry 3.5-16t, fleet average/RER U 7,780596193 tkm
Ammonia, liquid, at regional storehouse/RER U 0,873439667 kg
Natural gas, burned in industrial furnace low-NOx >100kW/RER U 85,17984461 MJ
Titanium dioxide, production mix, at plant/RER U 0,025002094 kg

114
Chromium oxide, flakes, at plant/RER U 0,000510247 kg
Emissions to air
Carbon monoxide, biogenic 0,189848919 kg
Carbon monoxide, fossil 0,029138994 kg
Carbon dioxide, biogenic 908,4467254 kg
Carbon dioxide, fossil 136,5038143 kg
Methane, biogenic 1,347980378 kg
Methane, fossil 0,000834309 kg
Sulfur dioxide 0,021136846 kg
Hydrogen sulfide 0,038162116 kg
Nitrogen dioxide 0,550833124 kg
Ammonia 0,063406743 kg
Dinitrogen monoxide 0,090259024 kg
Cyanide 0,015581679 kg
Phosphorus 0,001175813 kg
Boron 0,000190218 kg
Hydrogen chloride 2,24914E-05 kg
Bromine 2,78639E-06 kg
Hydrogen fluoride 1,71819E-05 kg
Iodine 4,18791E-11 kg
Arsenic 4,64091E-12 kg
Barium 6,63748E-06 kg
Cadmium 8,29863E-09 kg
Cobalt 2,45744E-11 kg
Chromium 3,90322E-10 kg
Copper 4,29825E-08 kg
Mercury 2,21545E-12 kg
Manganese 6,79842E-11 kg
Molybdenum 1,06784E-06 kg
Nickel 6,03556E-11 kg
Lead 1,14975E-06 kg
Antimony 0 kg
Selenium 8,65927E-13 kg
Tin 1,64195E-06 kg
Vanadium 4,64172E-08 kg
Zinc 3,99261E-07 kg
Silicon 0,014408161 kg
Iron 4,78906E-06 kg
Calcium 0,009401675 kg

115
Aluminium 0,002417074 kg
Potassium 0,002268747 kg
Magnesium 0,001471566 kg
Sodium 0,009123584 kg
Heat, waste 8260,281204 MJ
Nitrogen oxides 0,009627391 kg
NMVOC, non-methane volatile organic compounds, unspecified origin 0,001283652 kg
Platinum 4,49278E-09 kg
Emissions to water
BOD5, Biological Oxygen Demand 0,009100317 kg
COD, Chemical Oxygen Demand 0,016253287 kg
TOC, Total Organic Carbon 0,006666504 kg
DOC, Dissolved Organic Carbon 0,006666504 kg
Sulfate 0,877082581 kg
Nitrate 0,221453254 kg
Phosphate 0,000230988 kg
Boron 0,000247916 kg
Chloride 2,012129834 kg
Bromine 0,000765455 kg
Fluoride 0,002509464 kg
Iodide 3,87824E-06 kg
Arsenic, ion 0,000205123 kg
Barium 9,12673E-07 kg
Cadmium, ion 1,07436E-07 kg
Cobalt 1,32406E-07 kg
Chromium VI 0,000172693 kg
Copper, ion 9,78394E-06 kg
Mercury 6,85972E-07 kg
Manganese 3,18742E-06 kg
Molybdenum 9,11899E-05 kg
Nickel, ion 1,42742E-05 kg
Lead 1,00573E-06 kg
Antimony 2,86928E-06 kg
Selenium 5,60814E-05 kg
Tin, ion 2,63062E-07 kg
Vanadium, ion 2,5604E-06 kg
Zinc, ion 4,61954E-06 kg
Silicon 0,001334599 kg
Iron, ion 0,000118263 kg

116
Calcium, ion 0,021319895 kg
Aluminium 0,000197694 kg
Potassium, ion 0,130489565 kg
Magnesium 0,003741154 kg
Sodium, ion 0,209643605 kg
Chromium, ion 1,68242E-05 kg
Heat, waste 1731,539319 MJ
BOD5, Biological Oxygen Demand 1,962923086 kg
COD, Chemical Oxygen Demand 6,00103011 kg
TOC, Total Organic Carbon 2,374622394 kg
DOC, Dissolved Organic Carbon 2,374622394 kg
Sulfate 4,550687976 kg
Nitrate 0,621936024 kg
Phosphate 0,138361555 kg
Boron 0,001044785 kg
Chloride 0,053196419 kg
Bromine 0,000162414 kg
Fluoride 0,029120749 kg
Iodide 3,24392E-14 kg
Arsenic, ion 0,000249869 kg
Barium 0,005892679 kg
Cadmium, ion 7,74543E-05 kg
Cobalt 0,000677656 kg
Chromium VI 0,000717917 kg
Copper, ion 0,279691128 kg
Mercury 3,33747E-06 kg
Manganese 0,059377035 kg
Molybdenum 0,000441653 kg
Nickel, ion 0,022570687 kg
Lead 0,01003532 kg
Antimony 0,00061572 kg
Selenium 0,000115771 kg
Tin, ion 0,014121781 kg
Vanadium, ion 0,000574695 kg
Zinc, ion 0,004618537 kg
Silicon 0,542780389 kg
Iron, ion 4,367704353 kg
Calcium, ion 4,907920111 kg
Aluminium 5,431669867 kg
Potassium, ion 0,619753917 kg
117
Magnesium 0,986521857 kg
Sodium, ion 0,75092955 kg
Emissions to soil
Phosphorus 0,176013026 kg
Boron 0,00158879 kg
Chloride 0,623054961 kg
Bromine 0,000934582 kg
Fluoride 0,031152748 kg
Arsenic 0,000311527 kg
Cadmium 2,14954E-05 kg
Cobalt 0,000778819 kg
Chromium 0,00124611 kg
Copper 0,002803747 kg
Iodide 8,56701E-06 kg
Mercury 1,09035E-05 kg
Manganese 0,000669784 kg
Molybdenum 6,23055E-05 kg
Nickel 0,000844239 kg
Nitrogen 0,573210564 kg
Lead 0,002897206 kg
Selenium 7,78819E-05 kg
Sulfur 0,23364561 kg
Tin 0,00124611 kg
Vanadium 0,000467291 kg
Zinc 0,00906545 kg
Silicon 6,230549608 kg
Iron 0,093458244 kg
Calcium 3,395649536 kg
Aluminium 1,557637402 kg
Potassium 0,545173091 kg
Magnesium 0,439253747 kg
Sodium 0,23364561 kg
Waste to treatment
Process-specific burdens, municipal waste incineration/CH U 844,2362598 kg
Process-specific burdens, slag compartment/CH U 50,48352589 kg
Process-specific burdens, residual material landfill/CH U 6,465470076 kg
Disposal, cement, hydrated, 0% water, to residual material landfill/CH U 6,465470076 kg
Disposal, inert material, 0% water, to sanitary landfill/CH U 11,53804329 kg

118
Tabela D.2: Inventário cenário Combustível para o município de Campinas
Products Value Units
Scenario Fuel Campinas 3,098904405 GJ
Avoided products
Heavy fuel oil, burned in industrial furnace 1MW, non-modulating/CTBE
BR 2,516110272 GJ
Operation, passenger car, petrol, with 22% anhydrous ethanol, BR 147,1161986 km
Urea, as N, at regional storehouse/RER U 533,0937876 g
Diammonium phosphate, as P2O5, at regional storehouse/RER U 307,4569059 g
Potassium chloride, as K2O, at regional storehouse/RER U 435,9522529 g
Resources
Carbon dioxide, in air 92,67942542 kg
Materials/fuels
Transport, lorry 16-32t, EURO3/RER U 34,17134191 tkm
Slag compartment/CH/I U 1,70952E-08 p
Residual material landfill facility/CH/I U 2,5657E-09 p
Municipal waste incineration plant/CH/I U 4,02024E-08 p
Facilities, chemical production/RER/I U 6,90624E-10 kg
Natural gas service station/CH/I U 1,11391E-06 p
Anaerobic digestion plant, biowaste/CH/I U 6,23055E-07 p
Transport, lorry 20-28t, fleet average/CH U 11,00127106 tkm
Solid manure loading and spreading, by hydraulic loader and spreader/CH U 63,38431574 kg
Transport, lorry 3.5-20t, fleet average/CH U 0,950764736 tkm
Diesel, burned in building machine/GLO U 2,803747324 MJ
Operation, passenger car, methane, 96 vol-%, from biogas/CH S 241,7184088 km
Sodium hydroxide, 50% in H2O, production mix, at plant/RER U 0,511016882 kg
Quicklime, milled, packed, at plant/CH U 0,068364828 kg
Hydrochloric acid, 30% in H2O, at plant/RER U 0,000853786 kg
Iron (III) chloride, 40% in H2O, at plant/CH U 0,000864546 kg
Chemicals organic, at plant/GLO U 0,000141321 kg
Chemicals inorganic, at plant/GLO U 0,001422977 kg
Cement, unspecified, at plant/CH U 0,492614948 kg
Transport, lorry 3.5-16t, fleet average/RER U 1,482041501 tkm
Ammonia, liquid, at regional storehouse/RER U 0,166372062 kg
Natural gas, burned in industrial furnace low-NOx >100kW/RER U 16,22498606 MJ
Titanium dioxide, production mix, at plant/RER U 0,004762378 kg
Chromium oxide, flakes, at plant/RER U 9,71914E-05 kg
Electricity/heat
119
Electricity mix, Brazil, 2011/CTBE BR U S 27,28394386 kWh
Heat, natural gas, at boiler condensing modulating >100kW/RER U 92,52366168 MJ
Emissions to air
Methane, biogenic 1,713812557 kg
Dinitrogen monoxide 0,029471008 kg
Hydrogen sulfide 0,038222373 kg
Heat, waste 1622,64712 MJ
Carbon dioxide, biogenic 266,6777162 kg
Ammonia 0,052301647 kg
Sulfur dioxide 0,015737436 kg
Carbon monoxide, biogenic 0,030294049 kg
Carbon monoxide, fossil 0,005550371 kg
Carbon dioxide, fossil 26,00113318 kg
Methane, fossil 0,000158918 kg
Nitrogen dioxide 0,104922236 kg
Cyanide 0,002967985 kg
Phosphorus 0,000223968 kg
Boron 3,62325E-05 kg
Hydrogen chloride 4,28414E-06 kg
Bromine 5,3075E-07 kg
Hydrogen fluoride 3,2728E-06 kg
Iodine 7,9771E-12 kg
Arsenic 8,83997E-13 kg
Barium 1,2643E-06 kg
Cadmium 1,58072E-09 kg
Cobalt 4,68092E-12 kg
Chromium 7,43482E-11 kg
Copper 8,18728E-09 kg
Mercury 4,21997E-13 kg
Manganese 1,29496E-11 kg
Molybdenum 2,03401E-07 kg
Nickel 1,14965E-11 kg
Lead 2,19004E-07 kg
Antimony 0 kg
Selenium 1,64941E-13 kg
Tin 3,12757E-07 kg
Vanadium 8,8415E-09 kg
Zinc 7,6051E-08 kg
Silicon 0,002744455 kg

120
Iron 9,12217E-07 kg
Calcium 0,001790823 kg
Aluminium 0,000460402 kg
Potassium 0,000432149 kg
Magnesium 0,000280303 kg
Sodium 0,001737853 kg
Emissions to water
BOD5, Biological Oxygen Demand 0,001733421 kg
COD, Chemical Oxygen Demand 0,003095913 kg
TOC, Total Organic Carbon 0,00126983 kg
DOC, Dissolved Organic Carbon 0,00126983 kg
Sulfate 0,167065962 kg
Nitrate 0,042182232 kg
Phosphate 4,39983E-05 kg
Boron 4,72228E-05 kg
Chloride 0,452316101 kg
Bromine 0,000145803 kg
Fluoride 0,000478001 kg
Iodide 7,38724E-07 kg
Arsenic, ion 3,90716E-05 kg
Barium 1,73845E-07 kg
Cadmium, ion 2,04644E-08 kg
Cobalt 2,52206E-08 kg
Chromium VI 3,28944E-05 kg
Copper, ion 1,86364E-06 kg
Mercury 1,30663E-07 kg
Manganese 6,07138E-07 kg
Molybdenum 1,73698E-05 kg
Nickel, ion 2,71894E-06 kg
Lead 1,9157E-07 kg
Antimony 5,46539E-07 kg
Selenium 1,06823E-05 kg
Tin, ion 5,01079E-08 kg
Vanadium, ion 4,87703E-07 kg
Zinc, ion 8,79926E-07 kg
Silicon 0,000254213 kg
Iron, ion 2,25267E-05 kg
Calcium, ion 0,004060996 kg
Aluminium 3,76567E-05 kg

121
Potassium, ion 0,024855544 kg
Magnesium 0,000712612 kg
Sodium, ion 0,03993274 kg
Chromium, ion 3,20466E-06 kg
Heat, waste 329,8221713 MJ
BOD5, Biological Oxygen Demand 0,373895959 kg
COD, Chemical Oxygen Demand 1,143071232 kg
TOC, Total Organic Carbon 0,452316101 kg
DOC, Dissolved Organic Carbon 0,452316101 kg
Sulfate 0,866811266 kg
Nitrate 0,118465857 kg
Phosphate 0,026354994 kg
Boron 0,00019901 kg
Chloride 0,01013281 kg
Bromine 3,09365E-05 kg
Fluoride 0,005546896 kg
Iodide 6,179E-15 kg
Arsenic, ion 4,75948E-05 kg
Barium 0,001122433 kg
Cadmium, ion 1,47534E-05 kg
Cobalt 0,000129079 kg
Chromium VI 0,000136748 kg
Copper, ion 0,053275334 kg
Mercury 6,35719E-07 kg
Manganese 0,011310088 kg
Molybdenum 8,41258E-05 kg
Nickel, ion 0,004299246 kg
Lead 0,001911519 kg
Antimony 0,000117282 kg
Selenium 2,2052E-05 kg
Tin, ion 0,002689905 kg
Vanadium, ion 0,000109467 kg
Zinc, ion 0,000879735 kg
Silicon 0,103388358 kg
Iron, ion 0,831956698 kg
Calcium, ion 0,934856547 kg
Aluminium 1,034619965 kg
Potassium, ion 0,118050211 kg
Magnesium 0,187911864 kg
Sodium, ion 0,143036437 kg
122
Emissions to soil
Phosphorus 0,176013026 kg
Boron 0,00158879 kg
Chloride 0,623054961 kg
Bromine 0,000934582 kg
Fluoride 0,031152748 kg
Arsenic 0,000311527 kg
Cadmium 2,14954E-05 kg
Cobalt 0,000778819 kg
Chromium 0,00124611 kg
Copper 0,002803747 kg
Iodide 8,56701E-06 kg
Mercury 1,09035E-05 kg
Manganese 0,000669784 kg
Molybdenum 6,23055E-05 kg
Nickel 0,000844239 kg
Nitrogen 0,573210564 kg
Lead 0,002897206 kg
Selenium 7,78819E-05 kg
Sulfur 0,23364561 kg
Tin 0,00124611 kg
Vanadium 0,000467291 kg
Zinc 0,00906545 kg
Silicon 6,230549608 kg
Iron 0,093458244 kg
Calcium 3,395649536 kg
Aluminium 1,557637402 kg
Potassium 0,545173091 kg
Magnesium 0,439253747 kg
Sodium 0,23364561 kg
Waste to treatment
Process-specific burdens, municipal waste incineration/CH U 160,8094216 kg
Process-specific burdens, slag compartment/CH U 9,616060085 kg
Process-specific burdens, residual material landfill/CH U 1,23153737 kg
Disposal, cement, hydrated, 0% water, to residual material landfill/CH U 1,23153737 kg
Disposal, municipal solid waste, 22.9% water, to sanitary landfill/CH U 683,4268382 kg
Process-specific burdens, sanitary landfill/CH U 683,4268382 kg
Disposal, inert material, 0% water, to sanitary landfill/CH U 11,53804329 kg

123

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