Revolução Cubana - Artigo
Revolução Cubana - Artigo
Revolução Cubana - Artigo
Ensino Médio
Gabriel Rodrigues da Costa Farias
Thais de Sousa Silva Pereira
Graduandos em História
Universidade do Estado do Rio de Janeiro –UERJ
Introdução
‘’Pouco a pouco, a atitude dos camponeses para conosco foi mudando devido às
forças repressivas de Batista, que se empenhavam em assassinar, em destruir as
casas; eram hostis de todas as formas possíveis a quem tinha tido, mesmo no modo
ocasional, o mínimo contato com o nosso exército rebelde. Essa mudança se
produziu com a incorporação dos sombreros camponeses à nossa guerrilha. Assim,
o nosso exército civil foi se convertendo em exército camponês. Paralelamente à
incorporação dos camponeses à luta armada por suas reivindicações de liberdade e
justiça social, surgiu a grande palavra mágica que mobilizou as massas oprimidas
de Cuba, na luta pela posse de terra: Reforma Agrária. Assim estava definida a
primeira grande reivindicação social, que se tornaria a bandeira e o lema central do
nosso movimento, apesar de termos atravessado uma etapa de grande
intranquilidade devido a preocupações naturais relacionadas com a conduta e a
politica do nosso grande vizinho do Norte. ‘’
Livros didáticos
Os livros didáticos são importantes instrumentos de ensino, por esse motivo necessitam
ser constantemente problematizados. O seguinte trabalho busca analisar como esse
instrumento de grande importância na vida escolar do aluno aborda o tema “Revolução
cubana”, sendo esse um tema tão contemporâneo e com diversas narrativas construídas ao seu
respeito. Desta forma, serão analisadas duas obras: Contato História-Volume 3, de Marcos
Pollogrini, Adriana Machado Dias e Keila Grinber; História(Sociedade & Cidadania-Volume
3, de Alfredo Boulos Junior.
A primeira obra analisada Contato História-Volume 3(2016), dos autores Marcos
Pollogrini, Adriana Machado Dias e Keila Grinber, no capítulo 7-As transformações mundiais
durante a guerra Fria, O tema revolução cubana é abordado. Ainda nesse capítulo, temos os
seguintes temas: Configuração da guerra fria, Revolução Chinesa, Guerra do Vietnã e
movimento negro. Dialogando o contexto mundial (dividido entre capitalismo e socialismos),
percebe-se que os autores optaram por trabalhar o mundo bipolar, observando uma serie de
mudanças políticas e culturais que transformaram o mundo entre a década de 60 e 70.
De forma bem resumida, utilizando apenas uma página, os autores trabalham de forma
muito rápida sobre os eventos históricos da revolução cubana. Em apenas um parágrafo,
Marcos Pollogrini, Adriana Machado Dias e Keila Grinber relatam que antes da revolução
cubana, as estruturas econômicas e sociais eram submissas aos interesses estadunidenses,“A
economia da ilha baseava-se principalmente na produção de açúcar e tabaco, exportados em
grande parte para os Estados Unidos”(PELLEGRINI; DIAS; GRINBERG ,2016 ,p .162).
Entretanto, o livro não fala como a intervenção de tropas militares norte-americana na
independência de Cuba resultou no controle norte-americano na política interna do país.
O livro didático negligência alguns aspectos importantes, para se compreender esse
intenso processo que foi a revolução cubana, apesar de citar figuras como Fidel castro, Raul
castro e Enestro Che Guevara e sua importância na revolução cubana, os autores não dão
muita ênfase a importância desses personagens no movimento revolucionário que implantou o
socialismo em cuba. Além disso, não aborda os desafios enfrentados por Cuba, ao se
reorganizar após rompe relações econômicas com EUA.
Desta maneira, o livro dialoga com a conjuntura de crise pós-segunda guerra mundial,
sendo a revolução cubana uma consequência da guerra fria, entretanto, as questões internas de
cuba são tratadas de formas superficiais.
Partindo agora para obra História: Sociedade & Cidadania-Volume 3(2016), de Alfredo
Boulos Júnior, no capítulo 9-O socialismo real. O capítulo destaca ações de engajamento
político e cultural de movimentos socialista pelo mundo, desta forma, além da Revolução
cubana, outros temas são abordados como: O caso da China e O caso do Vietnã. O livro
mostra como o socialismo se deu nesses países que sofreram influências da União soviética no
contexto da guerra fria.
O Livro aborda a localização geográfica de cuba e afirma que mesmo essa ilha sendo
próxima dos Estados Unidos, optaram pelo socialismo. Diferentemente do primeiro texto
analisado, Boulos discute sobre a Emetta Platt (1901), entretanto, não fala do contexto da
independência de Cuba, sendo esse evento histórico extremamente essencial para se
compreender a intervenção dos Estados Unidos em cuba.
De forma resumida, o livro didático relata sobre o movimento de guerrilheiros e sua
vitória sobre o governo de Fulgência Batista. Apesar de Boulos apresentar de forma rasa e
ligeira os lides da revolução cubana, o autor disponibiliza links de documentários para os
alunos pesquisarem sobre essas figuras, tirando o aluno de uma zona passiva e o tornando um
agente pesquisador:
Com as medidas populares tomadas por Fidel Castro, o Historiador afirma que as
relações entre cuba e Estados Unidos foram ser tornando cada vez mais tensas. Em 1961 com
a declaração oficial que a Revolução cubana era socialista, os Estados Unidos rompe relações
diplomáticas e realiza uma invasão a cuba, entretanto, os invasores foram derrotados na Baía
dos porcos (BOULOS,2016,p.173). O livro trabalha de forma bastante detalhada o embargo
estadunidense a cuba, relacionando assim, o boicote econômico dos Estados unidos a crise
atual enfrentada em Cuba.
Cuba nos tempos atuais, também é trabalhada pelo autor, possibilitando o aluno analisar as
realizações da revolução Cubana no campo da saúde pública, na medicina e na educação,
entretanto, apesar dos grandes feitos, Cuba no campo econômico vive uma crise
socioeconômica, que encontra-se ligada segundo Boulos, ao abalo decorrente da
democratização no leste Europeu, o fim da União Soviética (1991) e o fator histórico ligado
ao bloqueio econômico imposto à cuba em 1962.
Boulos através de um quadro demonstrativo, afirma que durante décadas Cuba vem
sofrendo um boicote econômico imposto pelos Estados unidos. Mostra que além do fim da
União Soviética , Cuba também sofreu com a redução feita pelos Eua em 700 mil toneladas da
cota de açúcar importada de Cuba em 1961, com o embargo econômico do presidente John
Kennedy em 1962, com a Lei Torricelli que proibiu subsidiarias estrangeiras estadunidenses
de fazer negócios com cuba em 1992 ,com as sanções de 1996 para as empresas estrangeiras
que negociarem com cuba e com a intensificação das investigações e punição em 2006 para os
estadunidenses que foram a cuba através de outros países. Esses elementos somados a baixa
produtividade da economia cubana, ajudam até hoje a intensificar a crise socioeconômica em
cuba.
O autor também ressalta que abertura econômica em 1990, fez com que o turismo torna-
se a principal atividade econômica de cuba e substitui-se a produção de açúcar. Desta forma o
crescimento do turismo diminuiu o desemprego e aumentou a oferta de trabalho. Além disso,
o livro didático através de exercícios, aborda a relação entre Cuba, Estados Unidos e Brasil.
Afirma que apesar de 2015 cuba e Estados Unidos estabelecerem relações diplomáticas, o
embargo econômico imposto pelos EUA, continua em vigor. Já com o Brasil, ocorre o
estreitamento de laços diplomáticos, que são estabelecidos no governo de Lula e de Dilma que
rompem com o Bloqueio econômico e constroem o porto de Mariel e estabelecem o programa
“Mais Médicos”.
No manual didático escrito pelos autores Ronaldo Vainfas, Sheila de Castro Farias,
Jorge Ferreira e Georgina dos Santos, a narrativa da Revolução Cubana começa destacando a
figura do jovem Fidel Castro e seus momentos de liderança contra a ditadura de Batista desde
o ataque ao Quartel Moncada, passando pela organização do Movimento Revolucionário 26
de julho (MR-26) no exílio, o desembarque numa praia de Cuba e o ataque do Exército contra
o iate que teria resultado na sobrevivência de apenas 12 revolucionários. Refugiados nas
montanhas de Sierra Maestra, os guerrilheiros receberam apoio político, alimentos e armas
enviados por lideranças de partidos de esquerda, sindicatos, organizações estudantis e
movimentos sociais das cidades. Com isso, Fidel e seus homens sentiram-se fortes para
derrubar Batista em 1959. O novo governo formou tribunais revolucionários para julgar e
fuzilar os policiais e torturadores do regime de Batista e criou diversas medidas que
beneficiaram a população, como a reforma agrária, redução dos preços dos aluguéis e de
outros serviços essenciais, além dos investimentos na educação e a erradicação do
analfabetismo (VAINFAS, 2016, p. 148).
O livro também enfatiza que Fidel Castro era um revolucionário progressista e
nacionalista, mas não um comunista. Suas medidas em relação a posse das terras teriam
desagrados os norte-americanos, deixando o clima mais hostil quando foi assinado um acordo
comercial assinado entre Cuba e URSS. A represália dos EUA ao governo cubano é destacado
no seguinte trecho:
A crise dos misseis também é abordada no livro didático como um momento em que
o mundo temeu uma guerra nuclear entre os EUA e a URSS. A crise foi resolvida com um
acordo entre John Kennedy e Nikita Krurschev, onde os estadunidenses concordaram em não
invadir Cuba. Apesar de não agredir militarmente, os EUA mantiveram o embargo econômico
à Ilha. A CIA continuou a estudar formas de desestabilizar o governo cubano. Por pressão dos
EUA, a Organização dos Estados Americanos (OEA) suspendeu Cuba como membro da
instituição. Somente em 2009 o país foi readmitido na organização. Os planos de
industrialização não puderam ser viabilizados, e o governo cubano continuou sendo um país
agroexportador dentro do bloco socialista. Outro ponto abordado seria a exportação da
Revolução nos países da América Latina, destacando a figura de Ernesto Che Guevara, que foi
para a Bolívia mas acabou sendo assassinado por militares bolivianos. A partir daí, o governo
cubano teria desistido de incentivar revoluções em outros países. Uma última colocação que o
livro faz é o retorno de diálogos nas releções entre Cuba e EUA durante a gestão do presidente
norte-americano Barack Obama (VAINFAS, 2016, p. 149-150).
Assim, o processo da Revolução Cubana é abordada no livro didático organizado por
Vainfas em apenas três páginas. Além dos fatos mencionados, o livro também recomenda o
filme Diários de motocicleta, do cineasta Walter Salles. No longa, é abordada a juventude de
Che Guevara e sua viagem de motocicleta por vários países da América Latina, presenciando
pobreza e injustiças. Outra recomendação do manual didático é o livro A Revolução Cubana,
de Luis Fernando Ayerbe, obra que faz uma síntese da Revolução até a época que foi escrito
em 2004.
Considerações finais
Com base no que foi analisado, a Revolução é inserida dentro dos capítulos que
abordam a Guerra Fria ou o Socialismo Real. Torna-se evidente que os livros didáticos optam
por privilegiar os episódios factuais mais importantes dos primeiros anos do processo
revolucionário cubano como a guerrilha, a tomada de poder, as primeiras medidas do novo
governo, a invasão da Baía dos Portos e, principalmente, a Crise dos misseis em Cuba. Após
esses eventos, pouca coisa é abordada da construção do socialismo cubano. Longe de
polêmicas, os autores apresentam a Revolução de uma forma amistosa, destacando o caráter
popular e as medidas que favoreceram os cidadãos cubanos, como, por exemplo, os
investimentos sociais em saúde e educação. Além disso, os documentários e os filmes
recomendados podem ser um bom instrumento para auxiliar o professor no ensino da história
desses acontecimentos. O maior problema encontrado nesses livros é a forma resumida como
o assunto é abordado, no entanto, isso acontece com todos os temas dos livros. Para mudar
isso, só com propostas de novos modelos de formatos para os manuais didáticos.
Bibliografia
AYERBE, Luis Fernando. A Revolução Cubana. São Paulo: Editora Unesp, 2004.
BOULOS, Alfredo. “História: Sociedade & cidadania”. 3 vol. São Paulo: FDT, 2016.
HALLIDAY, Fred. The Making of The Second Cold War. London: Verso Editions and NLB,
1983.
SADER, Emir. Cuba, Chile e Nicarágua: Socialismo na América Latina. São Paulo: Atual
Editora, 1991.
VAINFAS, Ronaldo… [etal]. História 3: ensino médio – 3. ed. - São Paulo: Saraiva, 2016.