Revolução Cubana - Artigo

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 12

A Revolução Cubana nos manuais didáticos do

Ensino Médio
Gabriel Rodrigues da Costa Farias
Thais de Sousa Silva Pereira
Graduandos em História
Universidade do Estado do Rio de Janeiro –UERJ

Resumo: O objetivo do seguinte trabalho é destacar como a Revolução Cubana e a construção


do socialismo é abordada nos manuais didáticos do ensino médio. Nesse caso, o artigo será
dividido em duas partes: a primeira parte será uma síntese do processo revolucionário até os
dias de hoje; a segunda será como Cuba é vista nos seguintes livros didáticos: Contato
História-Volume 3, de Marcos Pollogrini, Adriana Machado Dias e Keila Grinber;
História(Sociedade & Cidadania-Volume 3, de Alfredo Boulos Junior; Coleção História – de
Ronaldo Vainfas, Sheila de Castro Farias, Jorge Ferreira e Georgina dos Santos. Todos os
livros são edições do ano de 2016.
Palavras-chaves: Revolução Cubana; Socialismo; Livros didáticos

Introdução

Dentro da história da América Latina no século XX, possivelmente o episódio mais


marcante foi a Revolução Cubana de 1959. Essa pequena ilha no mar caribenho foi capaz de
fazer uma revolução de caráter popular e nacional, substituindo o poder da elite latifundiária
para a construir uma sociedade do tipo socialista a poucos quilômetros da maior potência do
mundo capitalista, os Estados Unidos. Passados 60 anos da Revolução, apesar dos momentos
de altos e baixos, Cuba continua resistindo ao embargo econômico e as agressões estrangeiras
norte-americanas. Por conta disso, o presente artigo vai destacar como a Revolução Cubana –
e com ela a construção da sociedade socialista –é abordada nos recentes manuais didáticos do
Ensino Médio. Nesse caso, o artigo será dividido em duas partes: a primeira parte será uma
síntese do processo revolucionário até os dias de hoje; a segunda será como Cuba é vista nos
seguintes livros didáticos: Contato História-Volume 3, de Marcos Pollogrini, Adriana
Machado Dias e Keila Grinber; História(Sociedade & Cidadania-Volume 3, de Alfredo Boulos
Junior; Coleção História – de Ronaldo Vainfas, Sheila de Castro Farias, Jorge Ferreira e
Georgina dos Santos. Todos os livros são edições do ano de 2016.

Revolução Cubana – da guerrilha em Sierra Maestra à construção do Socialismo

Em 1952, o oficial do Exército, Fulgencio Batista, deu um golpe militar em Cuba,


impedindo a realização de eleições e mantendo toda a corrupção e subordinação aos EUA no
país. Nesse cenário, um jovem advogado recém-formado, chamado Fidel Castro, iniciou ali
sua projeção como líder nacional contestando o regime de Batista. Logo no ano seguinte após
o golpe, Fidel organizara um plano insurrecional de tomada de poder, que se iniciaria com o
assalto ao principal quartel de Santiago de Cuba, com o objetivo de iniciar um levante popular
contra a ditadura de Batista. O plano não deu certo e os sobreviventes foram presos e
condenados, sendo estes anistiados em 1955. A continuidade da luta contra o regime de
Batista se daria, a partir de então, no exílio. Castro seguiu para o México, onde passou a
organizar uma nova tentativa de tomada de poder (SADER, 1991, p. 8-11).
No final de 1956, um grupo de 82 pessoas, com armamentos e equipamentos, embarcou,
do México, em um iate rumo ao litoral cubano. No entanto, ao chegar na ilha, o grupo foi
surpreendido pelo Exército de Batista, que os reprimiram, matando vários deles e prendendo
outros. Os sobreviventes, em número de 12, entre eles o próprio Fidel Castro, seu irmão Raul
e um médico argentino chamado Ernesto Guevara, deram início então a uma guerra de
guerrilhas rural. O local escolhido foi o sistema de montanhas mais alto do país, a Sierra
Maestra. Na região, os guerrilheiros conseguiram a simpatia de camponeses e da população
local com a reivindicação da reforma agrária. Os guerrilheiros iniciaram um trabalho de
propaganda e de organização entre os camponeses, que incluía a alfabetização e ajuda
sanitária com orientação médica (SADER, 1991, p. 11-13). Che Guevara (GUEVARA, 2011,
p. 101-102) aborda como foi esse processo de incorporação popular à causa revolucionária :

‘’Pouco a pouco, a atitude dos camponeses para conosco foi mudando devido às
forças repressivas de Batista, que se empenhavam em assassinar, em destruir as
casas; eram hostis de todas as formas possíveis a quem tinha tido, mesmo no modo
ocasional, o mínimo contato com o nosso exército rebelde. Essa mudança se
produziu com a incorporação dos sombreros camponeses à nossa guerrilha. Assim,
o nosso exército civil foi se convertendo em exército camponês. Paralelamente à
incorporação dos camponeses à luta armada por suas reivindicações de liberdade e
justiça social, surgiu a grande palavra mágica que mobilizou as massas oprimidas
de Cuba, na luta pela posse de terra: Reforma Agrária. Assim estava definida a
primeira grande reivindicação social, que se tornaria a bandeira e o lema central do
nosso movimento, apesar de termos atravessado uma etapa de grande
intranquilidade devido a preocupações naturais relacionadas com a conduta e a
politica do nosso grande vizinho do Norte. ‘’

Com o passar dos meses, o número de adeptos foram aumentando e os


revolucionários já estavam em condições de atacar um quartel do Exército, com sucesso.
Batista mobilizou suas tropas para tentar aniquilar o Exército Rebelde, no entanto, apesar de o
número superior de homens nas tropas do regime e dos bombardeios, a ofensiva fracassou.
Em meados de 1958, a guerrilha já contava naquela altura com grandes zonas de ‘’territórios
livres’’, isto é, zonas sob o controle dos revolucionários. Uma reforma agrária havia sido
realizada nessas zonas, possibilitando os camponeses o acesso à terra, pela expropriação de
latifúndios, e organizando os pequenos proprietários em cooperativas. Nessa altura, os
guerrilheiros iniciaram uma contraofensiva para derrotar definitivamente o governo de
Batista. No final do mês de agosto, o Exército Popular avançou sobre Havana, tomando a
capital quatro meses depois. Na virada do ano, Batista e seus partidários fugiram do país. Com
esse cenário, Fidel Castro se dirigiu ao país, através da Rádio Rebelde, convocando o povo a
uma greve geral. Che Guevara recebera a ordem de avançar sobre Havana e tomar as
principais instalações militares da capital. Assim, no primeiro dia de 1959 caiu o regime de
Batista e deu-se início a uma nova etapa do país, agora comandado por um governo
revolucionário (SADER, 1991, p. 13-15).
Em sua gênese, a revolução possuía um caráter de luta democrática-popular, por
querer atender as reivindicações populares. No momento em que o governo revolucionário
começou a colocar em práticas suas reformas, a revolução ganhou um caráter nacionalista,
porque ela passou a se chocar com os interesses imperialistas, principalmente dos Estados
Unidos. As principais medidas do novo governo foram: o Exército Rebelde se tornou a nova
força armada do país, incorporando militares que não estiveram comprometidos com os
crimes do regime anterior; a reforma agrária que expropriou os grandes latifundiários e
nacionalizou as terras; redução dos alugueis, das tarifas de eletricidade e dos preços dos
remédios e dos livros escolares; uma imensa campanha de alfabetização, que buscou terminar
com o analfabetismo em um curto prazo. Diante das medidas que prejudicavam tanto os
antigos proprietários rurais quanto o capital norte-americano, Washington começou a
patrocinar medidas de hostilidade contra o novo governo cubano, tais como agressões
militares e sabotagens. Como resposta aos EUA, o governo cubano intensificou suas relações
com a URSS e o campo socialista. A aliança com os países socialistas foi o encontrado para a
sobrevivência do processo revolucionário. Assim, a revolução passaria de um processo radical
de democratização para o início da construção de uma economia socialista (SADER, 1991,
p.15-19).
No início dos anos de 1960, dois episódios da Guerra Fria que envolveram Cuba
foram marcantes: a tentativa de invasão na Baía dos Portos em 1961 e a crise dos misseis em
1962. Em abril de 1961, uma tropa de exilados treinados e financiados pela CIA
desembarcaram na praia de Girón, na baía dos Portos, região próxima de Havana. A
expectativa dos norte-americanos e da colônia de exilados cubanos em Miami era que o
desembarque produzisse uma rebelião popular que derrubaria o regime revolucionário. No
entanto, em apenas 72 horas, os invasores foram derrotados. O episódio seguinte foi o
bloqueio militar dos EUA, que haviam descoberto que foguetes soviéticos haviam sido
instalados em Cuba. Quando navios soviéticos seguiam viagem à Cuba com abastecimento de
petróleo, navios norte-americanos cercaram a ilha e anunciaram que bombardeariam qualquer
embarcação que tentasse chegar a portos cubanos. Esse episódio foi um dos mais tensos da
Guerra Fria, pois naquele momento a humanidade chegou perigosamente à beira da terceira
guerra mundial. A Crise foi resolvida com um acordo a qual a URSS retiraria seus foguetes de
Cuba contra a promessa norte-americana de que não invadisse a ilha (SADER, 1991, p. 20-
21).
Depois desses momentos de tensão, Cuba se voltou para a construção de uma
sociedade socialista. No seu primeiro plano econômico, foi formulado três objetivos
principais: a industrialização acelerada do país; a diversificação da agricultura; a substituição
crescente das importações por produtos nacionais. Entretanto, esses objetivos eram excessivos
para um país que vinha de uma estrutura econômica que sobrevivia da exportação de açúcar e
era carente de recursos essenciais para a industrialização como mão de obra qualificada,
matérias-primas e tecnologia. Além disso, o país vivia uma forte bloqueio econômico
implementado pelos EUA. Nos anos de 1970, a economia cubana foi se integrando
crescentemente ao Comecon, bloco constituído pela URSS e pelos países da Europa Oriental.
Essa integração permitiu a Cuba contar com um mercado seguro, com preços estáveis, para os
seus produtos de exportação, principalmente o açúcar e outros produtos agrícolas, além de
pôde contar com um abastecimento garantido de petróleo e outros produtos essenciais com
preços estabilizados. Nessa época, o intercâmbio de Cuba com a comunidade socialista
chegou se aproximou de 75% em média (SADER, 1991, p. 24-28).
Com a estabilidade promovida pelo bloco socialista, foi possibilitado que Cuba
tivesse vários avanços educacionais, sociais, políticos e culturais. Um sistema de saúde e de
educação gratuitos a toda população elevaram o grau de escolaridade em níveis do Primeiro
Mundo, o mesmo ocorrendo com as taxas de mortalidade infantil e de esperança de vida ao
nascer. A distribuição de renda em Cuba tornou-se uma das mais equitativas do mundo. No
âmbito político, uma constituição socialista de Cuba foi aprovada em um plebiscito popular
por mais de 90% da população em 1976. A nova estrutura política se baseava em eleições
distritais que elegiam deputados a assembleias do poder popular nas esferas municipal,
provincial e nacional. Os deputados poderiam ser distituidos a qualquer momento por
decisões da maioria dos eleitores do distrito que foram eleitos. O governo nacional, por sua
vez, era eleito pela Assembleia Nacional do poder popular, que deveriam também aprovar os
nomes que compõem o ministério (SADER, 1991, p. 28).
No plano internacional, a década de 1970 foi um momento em que as relações de
Cuba com a América Latina foram gradualmente passando por um processo de normalização.
Governos como o do general nacionalista peruano Velasco Alvarado, o chileno Salvador
Allende e o peronista argentino Hector Caimpora romperam com o bloqueio econômico. As
próprias relações de Cuba com os EUA chegaram a ter um período de détente nos governos de
Gerald Ford e Jimmy Carter. Muitos exilados puderam visitar a ilha novamente. O governo
cubano autorizou a partida de quem desejasse abandonar o país. Mais de cem mil pessoas
decidiram ir embora. No entanto, esses indivíduos foram hostilizados em seus dias de partida
por uma massa de manifestantes que chegaram ao número de um milhão apenas na capital do
país (SADER, 1991, p. 28-29).
Depois de um período breve de boas relações com os EUA, com a chegada de
Reagan a presidência americana, a relação voltou a ser conflituosa . Se a década de 1970 foi
marcada pela deténte nas relações entre os mundos capitalistas e socialistas, o acúmulo de
conflitos no Terceiro Mundo e a ascensão da nova direita no ocidente deu início a uma nova
fase da Guerra Fria, denominada por autores como Fred Halliday como a Segunda Guerra
Fria, período em que os EUA partiram para uma postura de crescente enfrentamento e
confronto global com a URSS e os países socialistas (HALLIDAY, 1983, p. 11). No Caribe, o
triunfo do governo sandista na Nicarágua, a chegada de Maurice Bishop em Granada, avanços
das guerrilhas em El Salvador e o papel de Cuba nessas situações foram os focos de maior
conflito com Washington. A militarização dos conflitos internacionais levou Cuba a dedicar
mais recursos à sua defesa. Ainda na década de 1980, a crise da divida também não poupou
Cuba. Em 1986, o governo cubano decretou a moratória de sua divida. Cuba não teve outra
saída a não ser intensificar seu comércio com o a comunidade socialista, que passou de 70%
para 83% do seu intercâmbio externo. Entretanto, no momento em que Cuba aumentou a sua
dependência econômica com o bloco do leste, aquela comunidade entrou em uma crise brusca
e se desfez rapidamente (SADER, 1991, 29-31).
O colapso do leste europeu trouxe efeitos imediatos para Cuba. No período de
estabilidade do bloco socialista entre 1960 e 1985, o crescimento médio do PIB per capita foi
de 3,5%, contra 1,8% do resto da América Latina. Após o fim da Guerra Fria, Cuba passou
por grandes momentos de dificuldades financeiras e sociais , principalmente no período mais
agudo da crise, entre 1989-1993. O embargo econômico dos EUA continuou vigorando numa
espécie de Guerra Fria sem Fria contra Cuba, independente de quem estaria no comando da
Casa Branca, como o democrata Bill Clinton ou o republicano George W. Bush. Na segunda
metade da década de 1990, o país iniciou uma nova fase de recuperação econômica. As
reformas iniciadas nesse período seguiram as linhas adotadas por outros países socialistas
sobreviventes, como China e Vietnã, na direção de uma economia que combine diversas
formas de propriedade. Nesse contexto, abriram-se oportunidades para a entrada de capital
estrangeiro, cidadãos conseguiram a permissão de abrir pequenos empreendimentos privados
e foi autorizado aos camponeses a venda em mercados públicos de parte de sua produção,
com o objetivo de ampliar a capacidade produtiva da agricultura. O setor mais beneficiado
pelas reformas foi o turismo, que passou a funcionar como principal polo de atração de
investimentos e gerador de novos empregos (AYERBE, 2004, p. 81-85). Em suma, Cuba
inicia o século XXI ainda na construção do socialismo, com momentos de avanços e recuos,
sem deixar de continuar investindo em aspectos sociais, com saúde e educação, e resistindo a
agenda imperialista norte-americana.

Livros didáticos

Os livros didáticos são importantes instrumentos de ensino, por esse motivo necessitam
ser constantemente problematizados. O seguinte trabalho busca analisar como esse
instrumento de grande importância na vida escolar do aluno aborda o tema “Revolução
cubana”, sendo esse um tema tão contemporâneo e com diversas narrativas construídas ao seu
respeito. Desta forma, serão analisadas duas obras: Contato História-Volume 3, de Marcos
Pollogrini, Adriana Machado Dias e Keila Grinber; História(Sociedade & Cidadania-Volume
3, de Alfredo Boulos Junior.
A primeira obra analisada Contato História-Volume 3(2016), dos autores Marcos
Pollogrini, Adriana Machado Dias e Keila Grinber, no capítulo 7-As transformações mundiais
durante a guerra Fria, O tema revolução cubana é abordado. Ainda nesse capítulo, temos os
seguintes temas: Configuração da guerra fria, Revolução Chinesa, Guerra do Vietnã e
movimento negro. Dialogando o contexto mundial (dividido entre capitalismo e socialismos),
percebe-se que os autores optaram por trabalhar o mundo bipolar, observando uma serie de
mudanças políticas e culturais que transformaram o mundo entre a década de 60 e 70.
De forma bem resumida, utilizando apenas uma página, os autores trabalham de forma
muito rápida sobre os eventos históricos da revolução cubana. Em apenas um parágrafo,
Marcos Pollogrini, Adriana Machado Dias e Keila Grinber relatam que antes da revolução
cubana, as estruturas econômicas e sociais eram submissas aos interesses estadunidenses,“A
economia da ilha baseava-se principalmente na produção de açúcar e tabaco, exportados em
grande parte para os Estados Unidos”(PELLEGRINI; DIAS; GRINBERG ,2016 ,p .162).
Entretanto, o livro não fala como a intervenção de tropas militares norte-americana na
independência de Cuba resultou no controle norte-americano na política interna do país.
O livro didático negligência alguns aspectos importantes, para se compreender esse
intenso processo que foi a revolução cubana, apesar de citar figuras como Fidel castro, Raul
castro e Enestro Che Guevara e sua importância na revolução cubana, os autores não dão
muita ênfase a importância desses personagens no movimento revolucionário que implantou o
socialismo em cuba. Além disso, não aborda os desafios enfrentados por Cuba, ao se
reorganizar após rompe relações econômicas com EUA.
Desta maneira, o livro dialoga com a conjuntura de crise pós-segunda guerra mundial,
sendo a revolução cubana uma consequência da guerra fria, entretanto, as questões internas de
cuba são tratadas de formas superficiais.
Partindo agora para obra História: Sociedade & Cidadania-Volume 3(2016), de Alfredo
Boulos Júnior, no capítulo 9-O socialismo real. O capítulo destaca ações de engajamento
político e cultural de movimentos socialista pelo mundo, desta forma, além da Revolução
cubana, outros temas são abordados como: O caso da China e O caso do Vietnã. O livro
mostra como o socialismo se deu nesses países que sofreram influências da União soviética no
contexto da guerra fria.
O Livro aborda a localização geográfica de cuba e afirma que mesmo essa ilha sendo
próxima dos Estados Unidos, optaram pelo socialismo. Diferentemente do primeiro texto
analisado, Boulos discute sobre a Emetta Platt (1901), entretanto, não fala do contexto da
independência de Cuba, sendo esse evento histórico extremamente essencial para se
compreender a intervenção dos Estados Unidos em cuba.
De forma resumida, o livro didático relata sobre o movimento de guerrilheiros e sua
vitória sobre o governo de Fulgência Batista. Apesar de Boulos apresentar de forma rasa e
ligeira os lides da revolução cubana, o autor disponibiliza links de documentários para os
alunos pesquisarem sobre essas figuras, tirando o aluno de uma zona passiva e o tornando um
agente pesquisador:

Durante a luta, os rebeldes foram ganhando apoio, sobretudo entre os camponeses e


os operários e, em janeiro de 1959, entraram na capital cubana, comandados por
Fidel Castro, Che Guevara, Camilo Cienfuego e Raul Castro. Era a vitória da
Revolução Cubana. (BOULOS ,2016,p.172).

Com as medidas populares tomadas por Fidel Castro, o Historiador afirma que as
relações entre cuba e Estados Unidos foram ser tornando cada vez mais tensas. Em 1961 com
a declaração oficial que a Revolução cubana era socialista, os Estados Unidos rompe relações
diplomáticas e realiza uma invasão a cuba, entretanto, os invasores foram derrotados na Baía
dos porcos (BOULOS,2016,p.173). O livro trabalha de forma bastante detalhada o embargo
estadunidense a cuba, relacionando assim, o boicote econômico dos Estados unidos a crise
atual enfrentada em Cuba.

Cuba nos tempos atuais, também é trabalhada pelo autor, possibilitando o aluno analisar as
realizações da revolução Cubana no campo da saúde pública, na medicina e na educação,
entretanto, apesar dos grandes feitos, Cuba no campo econômico vive uma crise
socioeconômica, que encontra-se ligada segundo Boulos, ao abalo decorrente da
democratização no leste Europeu, o fim da União Soviética (1991) e o fator histórico ligado
ao bloqueio econômico imposto à cuba em 1962.

No livro didático é abordado também a análise da crise socioeconômica cubana através de


Maurício Santoro, da fundação Getúlio Vargas, que explica que o abalo se deu junto o fim da
União soviética e seus regimes satélites entre 1989 e 1991, levando assim, o PIB cubano cair.
Para lidar com a crise o governo estabelece uma série de reformas econômicas, dando desta
forma liberdade para iniciativa privada e permissão para que empresas estrangeiras
instalassem em cuba.

“Esses arranjos chegaram ao fim junto com a União Soviética e seus


regimes Satélites, entre 1989 e 1991. Os impactos sobre cuba foram brutais.
Entre 1990 e 1994, o PIB cubano caiu 36%; as exportações 80%, e as
importações, 73% […]. A situação que as estatísticas refletem foi a da perda
do poder de compra cubano no mercado internacional, com a consequente
escassez de gêneros básicos, como alimentos e combustíveis[…] (BOULOS,
2016, p. 174).”

Boulos através de um quadro demonstrativo, afirma que durante décadas Cuba vem
sofrendo um boicote econômico imposto pelos Estados unidos. Mostra que além do fim da
União Soviética , Cuba também sofreu com a redução feita pelos Eua em 700 mil toneladas da
cota de açúcar importada de Cuba em 1961, com o embargo econômico do presidente John
Kennedy em 1962, com a Lei Torricelli que proibiu subsidiarias estrangeiras estadunidenses
de fazer negócios com cuba em 1992 ,com as sanções de 1996 para as empresas estrangeiras
que negociarem com cuba e com a intensificação das investigações e punição em 2006 para os
estadunidenses que foram a cuba através de outros países. Esses elementos somados a baixa
produtividade da economia cubana, ajudam até hoje a intensificar a crise socioeconômica em
cuba.

O autor também ressalta que abertura econômica em 1990, fez com que o turismo torna-
se a principal atividade econômica de cuba e substitui-se a produção de açúcar. Desta forma o
crescimento do turismo diminuiu o desemprego e aumentou a oferta de trabalho. Além disso,
o livro didático através de exercícios, aborda a relação entre Cuba, Estados Unidos e Brasil.
Afirma que apesar de 2015 cuba e Estados Unidos estabelecerem relações diplomáticas, o
embargo econômico imposto pelos EUA, continua em vigor. Já com o Brasil, ocorre o
estreitamento de laços diplomáticos, que são estabelecidos no governo de Lula e de Dilma que
rompem com o Bloqueio econômico e constroem o porto de Mariel e estabelecem o programa
“Mais Médicos”.

No manual didático escrito pelos autores Ronaldo Vainfas, Sheila de Castro Farias,
Jorge Ferreira e Georgina dos Santos, a narrativa da Revolução Cubana começa destacando a
figura do jovem Fidel Castro e seus momentos de liderança contra a ditadura de Batista desde
o ataque ao Quartel Moncada, passando pela organização do Movimento Revolucionário 26
de julho (MR-26) no exílio, o desembarque numa praia de Cuba e o ataque do Exército contra
o iate que teria resultado na sobrevivência de apenas 12 revolucionários. Refugiados nas
montanhas de Sierra Maestra, os guerrilheiros receberam apoio político, alimentos e armas
enviados por lideranças de partidos de esquerda, sindicatos, organizações estudantis e
movimentos sociais das cidades. Com isso, Fidel e seus homens sentiram-se fortes para
derrubar Batista em 1959. O novo governo formou tribunais revolucionários para julgar e
fuzilar os policiais e torturadores do regime de Batista e criou diversas medidas que
beneficiaram a população, como a reforma agrária, redução dos preços dos aluguéis e de
outros serviços essenciais, além dos investimentos na educação e a erradicação do
analfabetismo (VAINFAS, 2016, p. 148).
O livro também enfatiza que Fidel Castro era um revolucionário progressista e
nacionalista, mas não um comunista. Suas medidas em relação a posse das terras teriam
desagrados os norte-americanos, deixando o clima mais hostil quando foi assinado um acordo
comercial assinado entre Cuba e URSS. A represália dos EUA ao governo cubano é destacado
no seguinte trecho:

Para desestabilizar o governo de Fidel Castro, os EUA sabotaram usinas de açúcar


e explodiram uma bomba no porto de Havana, matando cerca de 100 cubanos.
Pouco tempo depois, o governo dos Estados Unidos suprimiu as cotas de
comercialização de açúcar. Fidel, em represália, nacionalizou bancos e empresas
estadunidenses. Os EUA reagiram impondo a Cuba um embargo econômico, que
proibia exportações para a ilha, exceto de alimentos e remédios. Em março de 1962
o governo cubano instituiu o racionamento no consumo de energia e mercadorias.
Decidido a derrubar Fidel Castro, o governo dos EUA organizou e treinou um
grupo de cubanos exilados na Flórida. Eles deveriam desembarcar na baía dos
Porcos, uma praia de Cuba, proclamar um novo governo e, então, pedir ajuda
militar aos Estados Unidos. A Central Intelligence Agency (CIA) acreditava que os
invasores teriam o apoio da população cubana – o que não aconteceu. Recebidos
com pesados ataques, os 1500 homens que chegaram à baia dos Porcos foram
derrotados (VAINFAS, 2016, p. 149).

A crise dos misseis também é abordada no livro didático como um momento em que
o mundo temeu uma guerra nuclear entre os EUA e a URSS. A crise foi resolvida com um
acordo entre John Kennedy e Nikita Krurschev, onde os estadunidenses concordaram em não
invadir Cuba. Apesar de não agredir militarmente, os EUA mantiveram o embargo econômico
à Ilha. A CIA continuou a estudar formas de desestabilizar o governo cubano. Por pressão dos
EUA, a Organização dos Estados Americanos (OEA) suspendeu Cuba como membro da
instituição. Somente em 2009 o país foi readmitido na organização. Os planos de
industrialização não puderam ser viabilizados, e o governo cubano continuou sendo um país
agroexportador dentro do bloco socialista. Outro ponto abordado seria a exportação da
Revolução nos países da América Latina, destacando a figura de Ernesto Che Guevara, que foi
para a Bolívia mas acabou sendo assassinado por militares bolivianos. A partir daí, o governo
cubano teria desistido de incentivar revoluções em outros países. Uma última colocação que o
livro faz é o retorno de diálogos nas releções entre Cuba e EUA durante a gestão do presidente
norte-americano Barack Obama (VAINFAS, 2016, p. 149-150).
Assim, o processo da Revolução Cubana é abordada no livro didático organizado por
Vainfas em apenas três páginas. Além dos fatos mencionados, o livro também recomenda o
filme Diários de motocicleta, do cineasta Walter Salles. No longa, é abordada a juventude de
Che Guevara e sua viagem de motocicleta por vários países da América Latina, presenciando
pobreza e injustiças. Outra recomendação do manual didático é o livro A Revolução Cubana,
de Luis Fernando Ayerbe, obra que faz uma síntese da Revolução até a época que foi escrito
em 2004.

Considerações finais

Com base no que foi analisado, a Revolução é inserida dentro dos capítulos que
abordam a Guerra Fria ou o Socialismo Real. Torna-se evidente que os livros didáticos optam
por privilegiar os episódios factuais mais importantes dos primeiros anos do processo
revolucionário cubano como a guerrilha, a tomada de poder, as primeiras medidas do novo
governo, a invasão da Baía dos Portos e, principalmente, a Crise dos misseis em Cuba. Após
esses eventos, pouca coisa é abordada da construção do socialismo cubano. Longe de
polêmicas, os autores apresentam a Revolução de uma forma amistosa, destacando o caráter
popular e as medidas que favoreceram os cidadãos cubanos, como, por exemplo, os
investimentos sociais em saúde e educação. Além disso, os documentários e os filmes
recomendados podem ser um bom instrumento para auxiliar o professor no ensino da história
desses acontecimentos. O maior problema encontrado nesses livros é a forma resumida como
o assunto é abordado, no entanto, isso acontece com todos os temas dos livros. Para mudar
isso, só com propostas de novos modelos de formatos para os manuais didáticos.

Bibliografia

AYERBE, Luis Fernando. A Revolução Cubana. São Paulo: Editora Unesp, 2004.

BOULOS, Alfredo. “História: Sociedade & cidadania”. 3 vol. São Paulo: FDT, 2016.

DIAS, A; GRINBERG,K; PELLEGRINI,M (orgs). “Contato história”.3vol. São Paulo:


Quinteto, 2016.

HALLIDAY, Fred. The Making of The Second Cold War. London: Verso Editions and NLB,
1983.

SADER, Emir. Cuba, Chile e Nicarágua: Socialismo na América Latina. São Paulo: Atual
Editora, 1991.

VAINFAS, Ronaldo… [etal]. História 3: ensino médio – 3. ed. - São Paulo: Saraiva, 2016.

Você também pode gostar