Entrevista Na Pesquisa em Educação de Abordagem Qualitativa

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ARTIGO

ORIGINAL

ENTREVISTA NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO DE ABORDAGEM


QUALITATIVA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS E
PRÁTICAS

INTERVIEW IN RESEARCH IN QUALITATIVE APPROACH EDUCATION: SOME


THEORETICAL AND PRACTICAL CONSIDERATIONS

ENTREVISTA EN INVESTIGACIÓN EN EDUCACIÓN DE ENFOQUE CUALITATIVO:


ALGUNAS CONSIDERACIONES TEÓRICAS Y PRÁCTICAS

Lorrane Stéfane Silva, Guilherme Saramago de Oliveira, Eliana Helena Corrêa Neves
Salge

Palavras-chave Resumo: O presente artigo tem como objeto de estudo a entrevista na


Entrevista. pesquisa qualitativa, cujo objetivo é apreender como a entrevista pode
Pesquisa ser empregada como instrumento de construção de dados na pesquisa
Qualitativa. em educação de abordagem qualitativa. O mesmo foi construído a
Pesquisa em partir da revisão de literatura. Através deste pode-se compreender que a
Educação. pesquisa de abordagem qualitativa permite construir significados e
sentidos através da subjetividade dos/as envolvidos/as na pesquisa
(pesquisadores/as e participantes) que também está relacionada com o
contexto sócio-histórico-cultural em que acontece o fenômeno
educativo investigado. A entrevista configura-se importante ferramenta
para construir dados na pesquisa qualitativa. Para tanto, o/a
pesquisador/a deve agir com ética e garantir uma prévia organização
para a entrevista. O/A investigador/a deve também optar por qual tipo
de entrevista que ele/a trabalhará para construir os dados, pois há três
tipos principais de entrevistas: estruturada, semiestruturada e livre de
roteiro.

Keywords Abstract: This paper has as its object of study the interview in the
Interview. qualitative research. His objective is to understand how the interview
Qualitative can be used as a data construction tool in qualitative research. This
research. article was built from the literature review. Through this it can be
Research in understood that the qualitative approach research allows the
Education. construction of meanings and senses through the subjectivity of those
involved in the research (researchers and participants) which is also
related to the socio-historical-cultural context in which it takes place
the educational phenomenon investigated. The interview is an
important tool to build data in qualitative research. Therefore, the
researcher must act ethically, guaranteeing a prior organization for the
interview. The investigator must also choose which type of interview
he/she will work with to build the data, as there are three main types of
interviews: structured, semi-structured and script-free. * Programa de Pós-
Graduação em Educação
Palabras clave Resumen: Este artículo tiene como objeto de estudio la entrevista en da Universidade Federal de
Entrevista. investigación cualitativa, cuyo objetivo es comprender cómo la Uberlândia
Investigación entrevista puede ser utilizada como instrumento de construcción de
cualitativa. datos en la investigación en educación con enfoque cualitativo. El Recebido em: 21-02-2021
Investigación mismo se construyó a partir de la revisión de la literatura. A través de Aprovado em: 04-07-2021
en Educación. esto, se puede entender que la investigación de enfoque cualitativo Publicado em: 27-12-2021
permite la construcción de significados y sentidos a través de la
subjetividad de los involucrados en la investigación (investigadores y

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participantes) que también se relaciona con el contexto socio-histórico-


cultural en el que se desarrolla. .el fenómeno educativo investigado. La
entrevista es una herramienta importante para generar datos en la
investigación cualitativa. Para eso, el investigador debe actuar
éticamente y garantizar una organización previa para la entrevista. El
investigador también debe elegir con qué tipo de entrevista trabajará
para construir los datos, ya que hay tres tipos principales de entrevistas:
estructuradas, semiestructuradas y sin guiones.

Introdução

O presente artigo foi desenvolvido no transcorrer do conteúdo programático Pesquisa


em Educação do Doutorado em Educação no âmbito do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal de Uberlândia e tem como objeto de estudo a entrevista na
pesquisa qualitativa. O objetivo deste artigo é apreender como a entrevista pode ser
empregada como instrumento de construção de dados na pesquisa em educação de abordagem
qualitativa.
Esse trabalho foi construído como revisão de literatura, pois “[...] o estudo de um
tema específico exige do estudante que se ponha, tanto quanto possível, a par da bibliografia
que se refere ao tema ou ao objeto de sua inquietude” (FREIRE, 1981, p.10). Buscamos
assim, autores/as que debatem acerca da abordagem qualitativa e acerca de entrevistas para
construir as reflexões expostas nesse artigo.
A entrevista propicia ao/à pesquisador/a um diálogo com os/as participantes da
pesquisa a fim de descrever, relatar ou apresentar aspectos particulares do contexto
investigado. Vale ressaltar que a finalidade das entrevistas estará sempre alinhada aos
objetivos da pesquisa, enquanto os modos de realizá-la estão associados às escolhas
metodológicas do/a autor/a.
E por falar em escolhas, as entrevistas podem ser aplicadas em diferentes lócus a
depender do que o/a pesquisador/a pretende averiguar com a investigação. Na pesquisa em
educação os lócus de pesquisa podem ser instituições de Educação Básica ou Superior, órgãos
governamentais, como Secretarias de Educação e/ou Ministério de Educação, dentre outros.
Elas podem ser aplicadas também em espaços de educação não-formal, como por exemplo,
organizações não-governamentais, organizações da sociedade civil e afins.
Desta maneira, as entrevistas podem ser realizadas com os diferentes sujeitos que
integram a comunidade escolar e/ou acadêmica: gestores/as, colaboradores/as e técnicos/as
administrativos/as, corpo docente e corpo discente. Também podem ser aplicadas aos/às
integrantes das Secretarias de Educação e/ou Ministério da Educação.

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Os dados construídos com base nas entrevistas dão ao/à pesquisador/a uma gama de
informações com riquezas de detalhes acerca do contexto investigado e possibilita-o/a a
interpretar os significados e os sentidos que os/as participantes deram para tal contexto. Essa
interpretação, todavia, só pode ser feita na abordagem qualitativa, e é sobre essa abordagem
que se trata a seção seguinte.

Abordagem qualitativa de pesquisa

O fazer pesquisa envolve muitas escolhas por parte do/a pesquisador/a, como
demonstramos até aqui. Todavia, antes de qualquer escolha, o/a investigador/a deve delinear
os contornos de sua pesquisa: objeto de estudo, objetivos, problemática e lócus e sujeitos da
pesquisa. A partir daí o/a pesquisador/a traçará seu plano de estudo, que é o projeto de
pesquisa.
O projeto de pesquisa é um esboço que o/a investigador/a fará para seguir durante a
realização do estudo científico. O projeto de pesquisa é importante para planejar as ações que
serão realizadas no decorrer da investigação e é nesse projeto que o/a pesquisador definirá o
tipo e a abordagem de pesquisa, a metodologia, a base epistemológica e filosófica, a
fundamentação teórica, como se dará a construção e a análise de dados.
Além disso, o/a pesquisador/a terá que analisar se será preciso fazer recortes, que
podem ser temporais (Qual época a ser investigada? Passado ou presente?) ou espaciais (Qual
país a ser investigado? Qual região? Qual estado? Qual município?). Esses recortes servem
para tornar viável a execução do estudo científico, pois geralmente estão associados ao tempo
que o/a pesquisador/a tem para efetivá-lo e às condições objetivas e subjetivas para realizá-lo.
Trouxemos essas considerações acerca do projeto de pesquisa com o fim de ressaltar
que para obter bons resultados em seu estudo científico o/a pesquisador/a deve ter uma boa
organização, escolhas felizes e alinhadas aos objetivos e à problemática da pesquisa. E uma
feliz escolha para um/a pesquisador/a em educação é a abordagem qualitativa. Essa
abordagem permite-lhe interpretar os dados subjetivos e dar significados a um determinado
fenômeno educativo.
Na pesquisa de abordagem qualitativa as interações entre pesquisador/a e participantes
são inevitáveis visto que a subjetividade de ambas as partes está imbricada no contexto da
investigação. A subjetividade do/a pesquisador/a está interligada à maneira em que faz a
leitura, interpretação da realidade investigada (re)construindo e (re)significando de acordo

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com sua curiosidade. A subjetividade dos participantes está associada à maneira que se
envolvem com a pesquisa, como recebem e se posicionam frente às proposições do/a
pesquisador/a e a em que medida estão envolvidos/as no contexto investigado. A respeito
disso, Rey (2005) considera:
A subjetividade está constituída tanto no sujeito individual, como nos
diferentes espaços sociais em que este vive, sendo ambos constituintes da
subjetividade. O caráter relacional e institucional da vida humana implica a
configuração subjetiva não apenas do sujeito e de seus diversos momentos
interativos, mas também dos espaços sociais em que essas relações são
produzidas. Os diferentes espaços de uma sociedade concreta estão
estreitamente relacionados entre si em suas implicações subjetivas (REY,
2005, p.24).

Portanto, compreender a subjetividade na pesquisa de abordagem qualitativa é


perceber a dimensão humana de todos/as envolvidos/as na execução da investigação, isto
porque somos seres sociais, históricos e culturais, únicos e singulares. Em linhas gerais, a
subjetividade na pesquisa qualitativa se expressa em vários aspectos: na (re)leitura das
concepções teórico-filosóficas, na intercomunicação entre o/a pesquisador/a e participantes da
pesquisa, na análise e interpretação dos dados.
Na pesquisa de abordagem qualitativa os dados têm riqueza de detalhes, visto que
os/as pesquisadores/as dialogam com teoria e com outros sujeitos que são atores de um
contexto sócio-histórico-cultural que fazem parte da trama investigada. Sobre a abordagem
qualitativa, Ludke e André (1986) elencam cinco características básicas que configuram esse
tipo de estudo:
1. A pesquisa qualitativa tem um ambiente natural como sua fonte direta de
dados e o pesquisador como seu principal instrumento. [...] sendo assim, as
circunstâncias particulares em que um determinado objeto se insere são
essenciais para que possa entendê-lo. Da mesma maneira as pessoas, os
gestos, as palavras estudadas devem ser sempre referenciadas ao contexto
onde aparecem.
2. Os dados coletados são predominantemente descritivos. O material obtido
nessas pesquisas é rico em descrições de pessoas, situações, acontecimentos
[...] todos os dados da realidade são considerados importantes. O
pesquisador deve assim atentar para o maior número possível de elementos
presentes nas situações estudadas, pois um aspecto supostamente trivial pode
ser essencial para melhor compreensão do problema que está sendo
estudado.
3. A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto. O
interesse do pesquisador ao estudar um determinado problema é verificar
como ele se manifesta nas atividades, nos procedimentos e nas interações
cotidianas.
4. O “significado” que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de
atenção especial pelo pesquisador. Nesses estudos há sempre uma tentativa
de capturar a “perspectiva dos participantes”, isto é, a maneira como os

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informantes encaram as questões que estão sendo focalizadas. […]


5. A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. Os
pesquisadores não se preocupam em buscar evidências que comprovem
hipóteses definidas antes do início dos estudos. As abstrações se formam ou
se consolidam basicamente a partir da inspeção dos dados num processo de
baixo para cima. O fato de não existirem hipóteses ou questões específicas
formuladas a priori não implica em inexistência de um quadro teórico que
oriente a coleta e análise dos dados (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 11-13).

A abordagem qualitativa permite dialogar, criar sentidos e significados. E isto vai ao


encontro de Freire (1981, p. 10): “Estudar não é um ato de consumir ideias, mas de criá-las e
recriá-las”. Logo, pode-se considerar que a pesquisa qualitativa é uma intercomunicação com
sujeitos ímpares que possibilita a criação de sentidos num dado momento e espaço sócio-
histórico-cultural. Esta construção que é dialógica possibilita ao/à investigador/a a construção
de sua interpretação. Em suma, pode-se dizer que a abordagem qualitativa viabiliza
(res)significar o que se estuda, investiga e apreende.
Os dados de uma pesquisa de abordagem qualitativa podem ser construídos com
diferentes tipos de instrumentos: questionários, entrevistas, análise de documentos, grupos
focais, dentre outros. Ressaltando mais uma vez que o/a pesquisador/a fará uso do(s)
instrumento(s) de coleta de dados definido(s) no projeto de pesquisa.
Todas as formas de construir os dados têm suas particularidades, entretanto, aqui nos
aprouve atentarmos à construção de dados através das entrevistas. Assim, a próxima seção é
destinada a discutir como o/a pesquisador/a deve proceder para aplicar as entrevistas aos/às
participantes.

Entrevista na pesquisa qualitativa

Toda pesquisa deve ser realizada com responsabilidade, seriedade e


comprometimento. Isto porque se espera que uma pesquisa agregue novos conhecimentos e
obtenha importantes e relevantes resultados para a sociedade compreender os fenômenos
educativos, no caso da pesquisa em educação. Por isso mesmo o/a investigador/a deve agir
com ética durante a realização de toda a pesquisa. Para compreender melhor sobre a
importância da ética na pesquisa, dialoga-se com Freire (1996):
Não podemos nos assumir como sujeitos da procura, da decisão, da ruptura,
da opção, como sujeitos históricos, transformadores, a não ser assumindo-
nos como sujeitos éticos. Neste sentido, a transgressão dos princípios éticos
é uma possibilidade, mas não é uma virtude. Não podemos aceitá-la [...].
Quer dizer, mais do que um ser no mundo, o ser humano se tornou uma
Presença no mundo, com o mundo e com os outros. Presença que,

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reconhecendo a outra presença como um "não-eu" se reconhece como "si


própria". Presença que se pensa a si mesma, que se sabe presença, que
intervém, que transforma, que fala do que faz mas também do que sonha,
que constata, compara, avalia, valora, que decide, que rompe. E é no
domínio da decisão, da avaliação, da liberdade, da ruptura, da opção, que se
instaura a necessidade da ética e se impõe a responsabilidade. A ética se
torna inevitável e sua transgressão possível é um desvalor, jamais uma
virtude (FREIRE, 1996, p. 8-9).

As pesquisas em Ciências Humanas utilizam a figura humana como participante(s) da


pesquisa. Como a educação é uma área de concentração das Ciências Humanas, é habitual que
investigadores/as recorram a humanos para colaborar com o processo de estudo científico.
Assim sendo, para garantir confidencialidade de dados de todos/as envolvidos/as no processo
de investigação, o/a pesquisador/a deve proceder de forma ética independentemente do
percurso metodológico que este/a utilizará (entrevistas, grupos focais, narrativas, etnografia,
estudo de caso). Como este artigo trata-se especificamente de entrevistas, considera-se
relevante a afirmativa de Rosa e Arnoldi (2008):
O entrevistador deve dar ciência ao entrevistado de todos os procedimentos a
serem utilizados para a manutenção do sigilo, devendo também transmitir-
lhe tranquilidade a esse respeito, verificando quais as consequências para
ambos se o sigilo não se mantiver (ROSA; ARNOLDI, 2008, p.43).

Nessa perspectiva, é que se considera a importante a submissão de trabalhos a um


Comitê de Ética. Diniz e Guerriero (2008) apontam três campos discursivos que a ética em
pesquisa se estabelece: 1. São as normas e regulamentações nacionais e internacionais; 2.
Dizem respeito aos princípios éticos que devem fundamentar as regras e procedimentos de
revisão dos comitês; 3. São os estudos de caso e relatos de pesquisas e experimentos.
Logo, a submissão de trabalhos em Comitês de Ética faz-se necessária para que o/a
pesquisador/a tenha comprometimento e responsabilidade frente aos dados obtidos e assegure
aos sujeitos que farão parte do processo de investigação anonimato para não lhes sujeitar a
riscos. Assim, a submissão do projeto de pesquisa em Comitês de Ética é um dos
procedimentos realizados pelo/a pesquisador para realizar as entrevistas com os/as
participantes.
E por falar em participantes da pesquisa, o/a investigador/a tem que definir quem e
quantos/as serão os/as participantes da pesquisa com critérios estabelecidos e elucidados na
metodologia.
Outro procedimento que o/a pesquisador/a deve realizar para aplicar as entrevistas é a
providência do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

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Muitos pesquisadores insistem, hoje, na necessidade de se obter o


"consentimento esclarecido" do participante, para deixar claro que este deve
não apenas concordar em participar do experimento, mas também tomar essa
atitude plenamente consciente dos fatos, dos questionamentos que lhe serão
feitos, dos motivos da Entrevista, dos riscos e dos favorecimentos que os
resultados podem ocasionar e da sua liberdade de deixar de ser participante,
caso sinta necessidade, por qualquer que seja o motivo (ROSA; ARNOLDI,
2008, p. 69)

O TCLE é um documento que apresenta a pesquisa através do título e do objetivo


geral, quem é o/a (são os/as) responsável(is) pela pesquisa, como se dará a participação do
sujeito. Caso o/a participante concorde com as proposições do TCLE, deve ser assinado tanto
pelo/a investigador/a quanto pelo/a participante. O TCLE firma a postura ética do/a
pesquisador/a para com o/a participante e a autorização do/a participante para o uso dos dados
construídos na entrevista. Portanto, o TCLE é importante para resguardar ambas as partes.
Para Oliveira et al. (2020),
Para que uma determinada entrevista atinja plenamente as finalidades
pretendidas é necessária a sua adequada preparação. A preparação da
entrevista consiste numa etapa importante da pesquisa e requer do
pesquisador tempo e a execução de certas ações fundamentais, dentre elas:
planejar detalhadamente a entrevista; definir os objetivos a serem
alcançados; selecionar entrevistados que possuem conhecimento da temática
estudada; verificar a disponibilidade e interesse dos entrevistados em
participar da entrevista; agendar com antecedência a data, o horário e o local
da entrevista; estabelecer procedimentos que garantam aos entrevistados o
sigilo absoluto de suas confidências e de suas identidades e elaborar o roteiro
ou formulário com as questões consideradas essenciais à efetivação da
pesquisa (OLIVEIRA et al., 2020, p. 04).

Para a realização da entrevista o/a pesquisador/a deve marcá-la previamente segundo a


disponibilidade de dia e horário do/a participante. O/a pesquisador/a deve comunicar ao/à
participante a previsão de duração da entrevista para que o mesmo agende um tempo
específico e não fique preocupado/a com suas demais atividades corriqueiras. Assim sendo, o
agendamento prévio é importante para que o/a participante tenha melhor condição para
refletir acerca daquilo que está sendo proposto na entrevista e consiga articular bem sua
resposta.
Agendada a entrevista previamente, o/a pesquisador/a deve pensar também no local
em que será realizada a entrevista. O local deve ser reservado, para que o/a participante não
seja exposto/a e a fim de que sua identidade seja preservada. O ambiente deve ser silencioso e
livre de ruídos para que ele/a não tenha distrações externas. E ainda deve ser acolhedor para
que o/a participante fique à vontade para expressar suas impressões, compartilhar suas
experiências ou relatar suas vivências no contexto educativo que está em investigação.

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Vale ressaltar que, o mundo enfrenta o cenário pandêmico causado pela COVID-19.
Como o vírus se propaga facilmente e é altamente letal, a Organização Mundial da Saúde tem
orientado que a população mantenha o distanciamento social. Em alguns países do mundo
grande parte da população está imunizada e estes tem flexibilizado o distanciamento social.
Contudo, no Brasil, grande parte da população ainda não recebeu o imunizante contra a
COVID-19 e a recomendação das autoridades locais é que ainda se mantenha esse
distanciamento. Sendo assim, uma opção para os/as pesquisadores/as que realizam entrevistas
é utilizarem plataformas digitais de comunicação. Podemos citar como exemplo: Google
Meet, Microsoft Teams, Zoom, Skype.
Ainda para organizar a entrevista, o/a investigador/a deve providenciar um dispositivo
de gravação que pode ser um gravador digital ou um smartphone. Caso a entrevista seja
realizada por alguma das plataformas digitais que foi acima mencionada, o/a pesquisador/a
tem a opção de gravar também. Ressaltando que algumas dispõem desse recurso
gratuitamente e outras é preciso adquirir um plano pago para disponibilizarem o recurso de
gravação.
A gravação da entrevista deve ser feita com o consentimento do/a participante, ela
deve ser salva em um dispositivo de memória utilizado única e exclusivamente para esse fim e
deve ser mantida arquivada ou descartada segundo as recomendações do Comitê de Ética em
Pesquisa. Ela é importante para que o/a pesquisador/a possa retomar às respostas e transcrevê-
las para melhor analisar os dados.
A transcrição das entrevistas por sua vez é importante porque “Sem esse mecanismo,
não poderíamos realizar inferências sobre como as pessoas falam: suas pausas, inflexões,
ênfases, como assimilam sistemas de coerência e constroem suas identidades, como lidam
com relações de poder etc.” (BASTOS; SANTOS, 2013, p. 30).
Durante a entrevista o/a investigador/a deve desenvolver a capacidade de escuta atenta
e ser respeitoso/a para com o/a participante, conforme recomenda Lüdke e André (1986):
Ao lado do respeito pela cultura e pelos valores do entrevistado, o
entrevistador tem que desenvolver uma grande capacidade de ouvir
atentamente e de estimular o fluxo natural de informações por parte do
entrevistado. Essa estimulação não deve, entretanto, forçar o rumo das
respostas para determinada direção. Deve apenas garantir um clima de
confiança, para que o informante se sinta à vontade para se expressar
livremente (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 35).

Logo, o clima de confiabilidade pode garantir um espaço propício a relatos detalhados,


informações aprofundadas, reflexões e até desabafos. Até aqui foi mencionado como o/a

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pesquisador/a deve proceder antes, durante e após a entrevista, na subseção apresentada a


seguir elucida-se os tipos de entrevistas que podem ser realizadas na pesquisa qualitativa.

Tipos de entrevistas

A entrevista é uma importante ferramenta para a construção de dados na pesquisa em


educação porque ela facilita a comunicação entre as partes envolvidas no processo
investigativo. A comunicação consiste na troca de símbolos linguísticos entre os sujeitos. Os
sujeitos na comunicação ora são emissores, ora são receptores, fazendo com que um diálogo
seja construído. A entrevista na pesquisa em educação propicia essa comunicação, esse
diálogo do/a investigador/a com o/a participante da pesquisa.
A entrevista é muito utilizada nas pesquisas em educação, conforme constam Lüdke e
André (1986) justamente por ter esse caráter de diálogo. Com o diálogo, o/a pesquisador/a
pode obter informações que não são encontradas em documentos com riqueza de detalhes
porque são informações oriundas da experiência e da vivência do/a participante no fenômeno
educativo investigado. Essa riqueza de detalhes, todavia, pode estar associada ao tipo de
entrevista que será realizada. Há três tipos principais de entrevistas: estruturada,
semiestruturada e não estruturada.
A entrevista estruturada segue um roteiro rígido, construído com vistas a obter apenas
as informações pontuais. Rosa e Arnoldi (2008) apresentam como deve ser elaborado o
roteiro para esse tipo de entrevista:
Elaborar um roteiro de Entrevista Estruturada impõe o estabelecimento de
questões formalmente elaboradas, que seguem uma sequência padronizada,
com uma linguagem sistematizada e de preferência fechada, voltando-se
para a obtenção de informação, através de respostas curtas e concisas, sobre
fatos, comportamentos, crenças, valores e sentimentos, mas, muitas vezes,
não se fazendo chegar aos resultados gerais esperados, pelo tipo de
elaboração e preparação a que se presta (ROSA; ARNOLDI, 2008, p. 30).

Compreende-se, portanto, que a entrevista estruturada é roteirizada, seguida à risca e


espera-se do/a participantes respostas objetivas e diretas. Nesse caso, a entrevista estruturada
assemelha-se aos questionários, pois ao que constam Rosa e Arnoldi (2008) ela é aplicada
mais em pesquisas quantitativas. Pesquisa quantitativa ao contrário da pesquisa qualitativa, é
objetiva, trabalha com a exatidão de dados, pois visa analisar índices, quantidades, frações.
Na mesma direção, Lüdke e André (1986) afirmam:
Quando o entrevistador tem que seguir muito de perto um roteiro de
perguntas feitas a todos os entrevistados de maneira idêntica e na mesma

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ordem, tem-se uma situação muito próxima da aplicação de um questionário,


com a vantagem óbvia de se ter o entrevistador presente para algum eventual
esclarecimento (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 34).

Outro tipo de entrevista é a semiestruturada a qual propicia um ambiente de diálogo e


de trocas e caracteriza-se como:
As questões, nesse caso, deverão ser formuladas de forma a permitir que o
sujeito discorra e verbalize seus pensamentos, tendências e reflexões sobre
os temas apresentados. O questionamento é mais profundo e, também, mais
subjetivo, levando ambos a um relacionamento recíproco, muitas vezes, de
confiabilidade. Frequentemente, elas dizem respeito a uma avaliação de
crenças, sentimentos, valores, atitudes, razões e motivos acompanhados de
fatos e comportamentos. Exigem que se componha um roteiro de tópicos
selecionados. As questões seguem uma formulação flexível, e a sequência e
as minúcias ficam por conta do discurso dos sujeitos e da dinâmica que
acontece naturalmente (ROSA; ARNOLDI, 2008, p. 30-31).

Assim, a entrevista semiestruturada é mais flexível, não sendo necessário seguir o


roteiro rigorosamente, como na entrevista estruturada. Isto possibilita
[...] obter informes contidos na fala dos atores sociais. Ela não significa uma
fala despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos
fatos relatados pelos autores [...] que vivenciam uma determinada realidade
que está sendo focalizada (MINAYO, 2002, p. 57).

Desse modo, a entrevista semiestruturada propicia ao/a pesquisador/a maior interação


com o/a participante e consequentemente, mais detalhes acerca do fenômeno educativo
investigado. Por esse motivo
As entrevistas semiestruturadas, em particular, têm atraído interesse, sendo
amplamente utilizadas. Tal interesse está vinculado à expectativa de que é
mais provável que os pontos de vista dos sujeitos entrevistados sejam
expressos em uma situação de entrevista com um planejamento
relativamente aberto do que em uma entrevista padronizada ou em um
questionário (FLICK, 2004, p. 89).

A entrevista semiestruturada, portanto, é um importante instrumento de coleta de


dados para a pesquisa qualitativa, isto porque seu caráter mais flexível e passível de trocas
permite ao/a investigador/a interpretar a realidade com base nos depoimentos dados pelos/as
participantes, conforme observa Bastos e Santos (2013, p. 71) que a entrevista
semiestruturada “[...] uma oportunidade em que os participantes constroem versões e
significados para o mundo em que estão inseridos e do qual fazem parte”.
O terceiro tipo de entrevista é a não estruturada ou livre. A principal característica
desse tipo de entrevista é que não há um roteiro a ser seguido pelo/a pesquisador/a. Desta
maneira,

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[...] as Entrevistas Livres são feitas através de um relato oral que coleta
informações em que o interlocutor desenvolve suas ideias quase sem
interferência do Entrevistador. Tem-se, nesse caso, uma narrativa que segue
uma sequência em função do que e como o sujeito recorda, da seleção que
ele faz de acontecimentos e pessoas a ele relacionadas e do que ele pretende
relatar (ROSA; ARNOLDI, 2008, p. 31).

Nessa direção, Lüdke e André (1986) salientam que quanto menos roteirizada for a
entrevista mais riquezas de detalhes e mais informações o/a pesquisador vai obter. Para
sintetizar as considerações que trouxemos acerca dos tipos de entrevistas, apresentamos
abaixo a Figura 1.

Figura 1 – Tipos de Entrevistas na Pesquisa.

Fonte: Autoria própria.

Considerações finais

Realizar uma pesquisa requer do/a investigador/a um planejamento prévio, que é


expresso no projeto de pesquisa. No projeto de pesquisa, o/a estudioso/a delineará os
contornos da pesquisa - objeto de estudo, objetivos, problemática - bem como fará escolhas
dentre as diversas formas de realizar um estudo científico, quais sejam: aporte teórico, base
epistemológica e filosófica, lócus, participantes, metodologia e como se dará a coleta e análise
de dados.
Se tratando da pesquisa em educação, a abordagem qualitativa é uma boa opção
porque leva-se em consideração a natureza humana de todos/as envolvidos/as no processo de
investigação que são sujeitos sócio-histórico-culturais. Ou seja, a pesquisa de abordagem
qualitativa leva-se em consideração a subjetividade de todos os sujeitos que compõem o

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estudo científico. Assim sendo, a abordagem qualitativa possibilita a construção de


significados e interpretação dos fenômenos educativos que estão em processos de
investigação.
A entrevista tem sido uma ferramenta aliada dos/as pesquisadores/as que usam a
abordagem qualitativa em suas pesquisas. Geralmente, na abordagem qualitativa usa-se as
entrevistas semiestruturas e não estruturadas. Isto porque permite ao/à pesquisador obter
relatos do fenômeno educativo investigado com a subjetividade dos/as participantes, fazendo
com que estes/as deem detalhes mais minuciosos daquilo que se investiga.
Ademais, as entrevistas devem ser realizadas com ética, responsabilidade e em um
ambiente de confiabilidade para que os direitos dos/as participantes não sejam violados e nem
tampouco sejam constrangidos por participarem da pesquisa.

Referências

BASTOS, L. C.; SANTOS, W. S. A entrevista na pesquisa qualitativa: perspectivas em


análise da narrativa e da interação. Rio de Janeiro, RJ: Quartet Faperj, 2013

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