Teste Frei - Amor de Perdição
Teste Frei - Amor de Perdição
Teste Frei - Amor de Perdição
Mário Fonseca
ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA DE LOUSADA NORTE, Lustosa
Ficha de Avaliação de Português – 2018/19
11ºA
01/02/2019
Grupo I
PARTE A
Leia, atentamente, os textos (inseridos nas partes A, B e C) a seguir transcritos e responda às questões
de forma completa. Se necessário, consulte as notas.
Cena XI
O Prior de Benfica, o Arcebispo, Manuel de Sousa, Madalena, etc., Maria, que entra
precipitadamente pela igreja em estado de completa alienação; traz umas roupas brancas, desalinhadas e
caídas, os cabelos soltos, o rosto macerado, mas inflamado com as rosetas héticas 1; os olhos desvairados;
para um momento, reconhece os pais e vai direita a eles. Espanto geral; a cerimónia interrompe-se.
Maria Meu pai, meu pai, minha mãe, levantai-vos, vinde! (Toma-os pelas mãos; eles obedecem
maquinalmente, vêm ao meio da cena: confusão geral).
Madalena Maria! minha filha!
Manuel Filha, filha… Oh, minha filha… (Abraçam-se ambos nela).
Maria (separando-se com eles da outra gente e trazendo-os para a boca de cena) Esperai: aqui não
morre ninguém sem mim. Que quereis fazer? Que cerimónias são estas? Que Deus é esse que está nesse
altar, e quer roubar o pai e a mãe a sua filha? (Para os circunstantes). Vós quem sois, espetros fatais?…
quereis-mos tirar dos meus braços?… Esta é a minha mãe, este é o meu pai… que me importa a mim com o
outro? que morresse ou não, que esteja com os mortos ou com os vivos, que se fique na cova ou que
ressuscite agora para me matar?… Mate- -me, mate-me, se quer, mas deixe-me este pai, esta mãe, que
são meus. Não há mais do que vir ao meio de uma família e dizer: “Vós não sois marido e mulher… e esta
filha do vosso amor, esta filha criada ao colo de tantas meiguices, de tanta ternura, esta filha é…” Mãe, mãe,
eu bem o sabia… nunca to disse, mas sabia-o; tinha-mo dito aquele anjo terrível que me aparecia todas as
noites para me não deixar dormir… aquele anjo que descia com uma espada de chamas na mão, e a
atravessava entre mim e ti, que me arrancava dos teus braços quando eu adormecia neles… que me fazia
chorar quando meu pai ia beijar-me no teu colo. Mãe, mãe, tu não hás de morrer sem mim… Pai, dá cá um
pano da tua mortalha… dá cá, eu quero morrer antes que ele venha: (encolhendo-se no hábito do pai).
Quero-me esconder aqui, antes que venha esse homem do outro mundo dizer-me na minha cara e na tua —
aqui diante de toda esta gente: “Essa filha é filha do crime e do pecado!…” Não sou; dize, meu pai, não
sou… dize a essa gente toda, dize que não sou… (Vai para Madalena). Pobre mãe! tu não podes… coitada!
… não tens ânimo… Nunca mentiste?… Pois mente agora para salvar a honra de tua filha, para que lhe não
tirem o nome de seu pai.
Madalena Misericórdia, meu Deus!
Maria Não queres? Tu também não, pai? Não querem. E eu hei de morrer assim… e ele vem aí…
GARRETT, Almeida (2015). Frei Luís de Sousa. Porto: Porto Editora [pp. 135-137]
Nota: 1. héticas: com a cor dos doentes febris que sofrem de tuberculose.
1. Identifique três traços do perfil psicológico de Maria, tendo em conta o seu discurso e os seus atos.
3. Explicite o sentido da seguinte afirmação, de Maria João Brilhante, e mostre de que forma é
concretizada a dimensão trágica em Frei Luís de Sousa.
“E não esqueçamos que é a dignidade social de Maria, comprometida com a chegada do Romeiro, que
determina em grande parte o desenlace trágico de Frei Luís de Sousa.”
PARTE B
Amava Simão uma sua vizinha, menina de quinze anos, rica herdeira, regularmente bonita e bem-
nascida. Da janela do seu quarto é que ele a vira a primeira vez, para amá-la sempre. Não ficara ela
incólume da ferida que fizera no coração do vizinho: amou-o também, e com mais seriedade que a usual nos
seus anos.
Os poetas cansam-nos a paciência a falarem do amor da mulher aos quinze anos, como paixão 5
perigosa, única e inflexível. Alguns prosadores de romances dizem o mesmo. Enganam-se ambos. O amor
aos quinze anos é uma brincadeira; é a última manifestação do amor às bonecas; é tentativa da avezinha que
ensaia o voo fora do ninho, sempre com os olhos fitos na ave-mãe, que está da fronde 1 próxima chamando:
tanto sabe a primeira o que é amar muito, como a segunda o que é voar para longe.
Teresa de Albuquerque devia ser, porventura, uma exceção no seu amor. 10
O magistrado e sua família eram odiosos ao pai de Teresa, por motivos de litígios, em que Domingos
Botelho2 lhes deu sentenças contra. Afora isso, ainda no ano anterior dois criados de Tadeu de Albuquerque 3
tinham sido feridos na celebrada pancadaria4 da fonte. É, pois, evidente que o amor de Teresa, declinando de
si o dever de obtemperar5 e sacrificar-se ao justo azedume de seu pai, era verdadeiro e forte.
E este amor era singularmente discreto e cauteloso. Viram-se e falaram-se três meses, sem darem 15
rebate à vizinhança, e nem sequer suspeitas às duas famílias. O destino que ambos se prometiam era o mais
honesto: ele ia formar-se para poder sustentá-la, se não tivessem outros recursos; ela esperava que seu velho
pai falecesse para, senhora sua, lhe dar, com o coração, o seu grande património 6. Espanta discrição tamanha
na índole de Simão Botelho, e na presumível ignorância de Teresa em coisas materiais da vida, como são um
20
património!
Na véspera da sua ida para Coimbra, estava Simão Botelho despedindo-se da suspirosa menina,
quando subitamente ela foi arrancada da janela. O alucinado moço ouviu gemidos daquela voz que, um
momento antes, soluçava comovida por lágrimas de saudade. Ferveu-lhe o sangue na cabeça; contorceu-se
no seu quarto como o tigre contra as grades inflexíveis da jaula. Teve tentações de se matar, na impotência
de socorrê-la. As restantes horas daquela noite passou-as em raivas e projetos de vingança. Com o 25
amanhecer esfriou-lhe o sangue e renasceu a esperança com os cálculos.
Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição, Lisboa, Editorial Comunicação, 1983
Notas: 1. fronde (l. 8): folhagem, copa de árvore; 2. Domingos Botelho (ll. 11-12): pai de Simão, também referido no excerto
como «magistrado»; 3. Tadeu de Albuquerque (l. 12): pai de Teresa, inimigo de Domingos Botelho por este ter proferido
sentenças que lhe foram desfavoráveis; 4. celebrada pancadaria (l. 13): briga em que Simão se envolveu, descrita no início da
obra; 5. obtemperar (l.14): obedecer; 6. património (l.18): conjunto dos bens de família, transmitidos por herança.
5. Explicite dois dos valores expressivos das imagens presentes na seguinte afirmação: «é tentativa da
avezinha que ensaia o voo fora do ninho, sempre com os olhos fitos na ave-mãe, que está da fronde
próxima chamando» (ll. 7-8).
6. Descreva a relação existente entre Simão e Teresa, com base nos cinco primeiros parágrafos do excerto.
PARTE C
7. “É necessário arrancar-te daí – dizia a carta de Simão. – Esse convento há de ter uma evasiva. Procura-a, e
diz-me a noite e a hora em que devo esperar-te. Se não puderes fugir, essas portas hão de abrir-se diante da
minha cólera. Se daí te mandarem para outro convento mais longe, avisa-me, que eu irei, sozinho ou
acompanhado, roubar-te ao caminho. É indispensável que te refaças de ânimo para te não assustarem os arrojos
da minha paixão. És minha! Não sei de que me serve a vida, se a não sacrificar a salvar-te. Creio em ti, Teresa,
creio. Ser-me-ás fiel na vida e na morte. Não sofras com paciência; luta com heroísmo. A submissão é uma
ignomínia, quando o poder paternal é uma afronta. Escreve-me a toda a hora que possas. Eu estou quase bom.
Diz-me uma palavra, chama-me e eu sentirei que a perda do sangue não diminui as forças do coração.”
Tendo em conta o texto e os conhecimentos adquiridos nas aulas, elabore uma exposição, com o
mínimo de 80 e o máximo de 120 palavras, na qual apresente a figura de Simão enquanto herói romântico.
Grupo II
Ódios
O ódio também é gente. Não são apenas o amor, a paixão e a fraternidade que nos sustentam. Os
ódios também são animadores. Dão vinagre à salada da vida. Sem eles, o mundo seria demasiado oleoso e
enjoativo.
Os melhores ódios de todos são os ódios de estimação. Os ódios de estimação são aqueles que
adoramos ter. Ao contrário dos ódios naturais, cujas origens e causas são facilmente atribuídas e justificadas, 5
os ódios de estimação são aversões fortes que carecem absolutamente de razão. Eu posso odiar o Júlio
porque acho que ele é mau, ou que me fez mal. Este é um ódio natural. Em contrapartida, eu posso odiar o
Malaquias, apesar de ele ser bom ou de me fazer bem. Um ódio de estimação é uma repugnância apaixonada
por alguém que não nos fez mal nenhum. É uma amargura que sabe bem, um gosto adquirido a contragosto.
Neste aspeto, é mais parecido com o amor do que o ódio natural. Tal como não nos apaixonamos 10
pelas melhores pessoas, ou por aquelas que mais bem nos fazem, também um ódio de estimação nasce
espontaneamente e não olha a corações. Pode ter-se o maior ódio de estimação pela Madre Teresa de
Calcutá ou pela Maria Leonor. Aliás, as pessoas verdadeiramente boazinhas são mais frequentemente
visadas por ódios de estimação que as más. As almas caridosas, em certas circunstâncias, são muito
15
irritantes. […]
Um ódio de estimação […], que é genuíno e sincero, baseia-se muitas vezes em pormenores
irrelevantes. Um queixo ou um nariz conseguem ser afrontosos. Um nó de gravata ou um jeito no cabelo
são, em todos os casos, provocações irresistíveis. Odeia-se um pobre diabo não pelas coisas das quais é
responsável (aquilo que faz mal), mas pelas coisas de que não tem qualquer culpa. Um ódio de estimação
distingue-se dos ódios racionais pelo facto de ser tão injusto. E é por isso que pode ser muito mais violento. 20
Aqueles que odiamos naturalmente são, por assim dizer, os nossos inimigos. Podemos até respeitá-
los. Aqueles que odiamos por estimação são mais odiosos ainda. Eles nada têm contra nós e nós
desrespeitamo-los totalmente. […]
Os ódios de estimação não fazem mal a ninguém, até porque são socialmente inaceitáveis. Também é
por isso que se estimam e guardam. Não há dermatologia social capaz de resistir a estas aversões 25
epidérmicas, instintivas e incontroláveis. Os ódios de estimação têm, contudo, uma função psicológica
importante: esgotam os nossos piores instintos, absorvem as nossas avultadas capacidades para a má vontade
e para a misantropia1, e permitem-nos guardar os bons instintos para os nossos amigos e amores.
CARDOSO, Miguel Esteves (2015). A Causa das Coisas. Porto: Porto Editora [pp. 214-216, com supressões]
1. misantropia: ódio; aversão ao ser humano.
1. Na introdução do texto apresenta-se uma
(A) identificação dos alvos do ódio natural e do ódio de estimação.
(B) reflexão sobre o ódio face a outros sentimentos.
(C) distinção entre os diferentes tipos de ódio.
(D) exemplificação da dicotomia ódio de estimação / ódio natural.
5. De acordo com o autor, ódio natural e respeito são, por vezes, conceitos
(A) coexistentes.
(B) contraditórios.
(C) complementares.
(D) dissociáveis.
9. Classifique a oração subordinada que constitui a frase: “Em contrapartida, eu posso odiar o
Malaquias, apesar de ele ser bom ou de me fazer bem.” (ll. 7-8).
10. Indique a função sintática desempenhada pelo pronome relativo “que” (l. 6).
Grupo III
(Texto expositivo-argumentaivo)
Tendo em conta o texto e os conhecimentos adquiridos nas aulas, elabore uma exposição, com o
mínimo de 80 e o máximo de 120 palavras, na qual apresente a figura de Simão enquanto herói romântico.
Grupo II
Ódios
O ódio também é gente. Não são apenas o amor, a paixão e a fraternidade que nos sustentam. Os
ódios também são animadores. Dão vinagre à salada da vida. Sem eles, o mundo seria demasiado oleoso e
enjoativo.
Os melhores ódios de todos são os ódios de estimação. Os ódios de estimação são aqueles que
adoramos ter. Ao contrário dos ódios naturais, cujas origens e causas são facilmente atribuídas e justificadas, 5
os ódios de estimação são aversões fortes que carecem absolutamente de razão. Eu posso odiar o Júlio
porque acho que ele é mau, ou que me fez mal. Este é um ódio natural. Em contrapartida, eu posso odiar o
Malaquias, apesar de ele ser bom ou de me fazer bem. Um ódio de estimação é uma repugnância apaixonada
por alguém que não nos fez mal nenhum. É uma amargura que sabe bem, um gosto adquirido a contragosto.
Neste aspeto, é mais parecido com o amor do que o ódio natural. Tal como não nos apaixonamos 10
pelas melhores pessoas, ou por aquelas que mais bem nos fazem, também um ódio de estimação nasce
espontaneamente e não olha a corações. Pode ter-se o maior ódio de estimação pela Madre Teresa de
Calcutá ou pela Maria Leonor. Aliás, as pessoas verdadeiramente boazinhas são mais frequentemente
visadas por ódios de estimação que as más. As almas caridosas, em certas circunstâncias, são muito
15
irritantes. […]
Um ódio de estimação […], que é genuíno e sincero, baseia-se muitas vezes em pormenores
irrelevantes. Um queixo ou um nariz conseguem ser afrontosos. Um nó de gravata ou um jeito no cabelo
são, em todos os casos, provocações irresistíveis. Odeia-se um pobre diabo não pelas coisas das quais é
responsável (aquilo que faz mal), mas pelas coisas de que não tem qualquer culpa. Um ódio de estimação
distingue-se dos ódios racionais pelo facto de ser tão injusto. E é por isso que pode ser muito mais violento. 20
Aqueles que odiamos naturalmente são, por assim dizer, os nossos inimigos. Podemos até respeitá-
los. Aqueles que odiamos por estimação são mais odiosos ainda. Eles nada têm contra nós e nós
desrespeitamo-los totalmente. […]
Os ódios de estimação não fazem mal a ninguém, até porque são socialmente inaceitáveis. Também é
por isso que se estimam e guardam. Não há dermatologia social capaz de resistir a estas aversões 25
epidérmicas, instintivas e incontroláveis. Os ódios de estimação têm, contudo, uma função psicológica
importante: esgotam os nossos piores instintos, absorvem as nossas avultadas capacidades para a má vontade
e para a misantropia1, e permitem-nos guardar os bons instintos para os nossos amigos e amores.
CARDOSO, Miguel Esteves (2015). A Causa das Coisas. Porto: Porto Editora [pp. 214-216, com supressões]
1. misantropia: ódio; aversão ao ser humano.
5. De acordo com o autor, ódio natural e respeito são, por vezes, conceitos
(A) dissociáveis.
(B) contraditórios.
(C) coexistentes.
(D) complementares.
8. Indique a função sintática desempenhada pelo pronome relativo “que” (l. 6).
Grupo III
(Texto expositivo-argumentaivo)