Módulo 666

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 23

Módulo 0666 - (50 horas)

-1. Atividade Financeira do Estado.

• 1.1. Receitas públicas


o 1.1.1. Receitas coativas
o 1.1.2. Receitas voluntárias
o 1.1.3. Receitas creditícias

-2. Direito Fiscal.

• 2.1. Natureza e fontes do direito fiscal


o 2.1.1. Natureza do direito fiscal
o 2.1.2. Princípios e Fontes do Direito Fiscal
▪ 2.1.2.1. Princípios fundamentais
➢ 2.1.2.1.1. O princípio da legalidade tributária
➢ 2.1.2.1.2. Princípio da segurança jurídica
➢ 2.1.2.1.3. Princípio da igualdade tributária
➢ 2.1.2.1.4. Princípio da capacidade contributiva
▪ 2.1.2.2. Fontes do Direito Fiscal
➢ 2.1.2.2.1. Convenções internacionais
➢ 2.1.2.2.2. Direito da União Europeia
➢ 2.1.2.2.3. As leis ordinárias
➢ 2.1.2.2.4. Decretos-Lei do Governo
➢ 2.1.2.2.5. Resoluções da Assembleia da República
➢ 2.1.2.2.6. Regulamentos
➢ 2.1.2.2.7. Doutrina
➢ 2.1.2.2.8. A Jurisprudência

-3. Impostos

• 3.1. Noção e características do imposto


o 3.1.1. Característica do Imposto
▪ 3.1.1.1. Prestação coativa
▪ 3.1.1.2. Prestação pecuniária
▪ 3.1.1.3. Prestação definitiva
▪ 3.1.1.4. Prestação unilateral
▪ 3.1.1.5. Prestação estabelecida por lei
▪ 3.1.1.6. Prestação exigida a favor de entidades que exercem funções públicas
▪ 3.1.1.7. Meio de financiamento para a realização de fins públicos
▪ 3.1.1.8. Sem carácter sancionatório
• 3.2. Fases do Imposto.
• 3.3.Tributação direta e indireta.
• 3.4. Classificação dos impostos
o 3.4.1. Impostos diretos
o 3.4.2. Impostos indiretos
o 3.4.3. Impostos periódicos
o 3.4.4. Impostos de obrigação única
o 3.4.5. Impostos reais ou objetivos
o 3.4.6. Impostos pessoais ou subjetivos
o 3.4.7. Impostos gerais e impostos pessoais
o 3.4.8. Impostos especiais
o 3.4.9. Impostos de quota fixa
o 3.4.10. Impostos de quota variável
o 3.4.11. Impostos estaduais

P á g i n a 1 | 23
o 3.4.12. Impostos não estaduais
o 3.4.13. Impostos principais
o 3.4.14. Impostos acessórios
o 3.4.15. Impostos proporcionais
o 3.4.16. Impostos progressivos
o 3.4.17. Impostos regressivos

- 3.5. Finalidades fiscais e extrafiscais dos impostos.

P á g i n a 2 | 23
1.Atividade financeira do Estado

A atividade financeira do Estado consiste na atividade relacionada com a obtenção de


receitas, a realização de despesas e a sua recíproca coordenação.

Para acautelar os interesses dos particulares, regulou-se juridicamente a atividade


financeira do Estado. O estado tem de realizar as atividades relativas à obtenção de
receitas e à realização de despesas, obedecendo a um conjunto de regras jurídicas. Essas
regras encontram-se, fundamentalmente, em três ramos de direito: Direito Financeiro,
Direito Tributário e Direito Fiscal.

Direito Financeiro – É o conjunto de normas jurídicas reguladoras da atividade financeira


do Estado, regras relativas à obtenção de receitas e à realização de despesas.

Dentro do Direito Financeiro, temos:


. Direito Tributário;
. Direito Fiscal.

Direito Tributário – É o conjunto de regras reguladoras das receitas coativas (exclui as


contratuais). P. Ex: Impostos e taxas.

Direito Fiscal – É constituído pelo conjunto de normas jurídicas reguladoras dos impostos.
O Direito Fiscal é, portanto, um sub-ramo do Direito Tributário.

P á g i n a 3 | 23
1.1. Receitas Públicas

Despesas públicas
Gastos que o Estado necessita de realizar para suportar os encargos decorrentes da
administração do território (vencimentos dos funcionários, compra de equipamentos, entre
outros) e as necessidades coletivas (segurança, justiça, educação, etc.).

Receitas públicas
Recursos que o Estado obtém, durante um período financeiro, para fazer face às despesas
públicas.

O Orçamento de Estado, caracteriza-se por ser um instrumento de gestão que contempla uma
previsão discriminada das receitas e das despesas do Estado, incluindo as dos fundos
autónomos e o orçamento da segurança social, e é da iniciativa do Governo. A proposta de lei
do OE, deve ser apresentada à AR até dia 10 de Outubro (ano anterior).

1.1.1.Receitas coativas
São fixadas pelo Estado por via legislativa de forma autoritária.
P.Ex: IRS, IVA. Propinas dos alunos, etc.

1.1.2. Receitas voluntárias


São aquelas que o preço é estabelecido por via negocial ou contratual, em que o Estado
intervém em pé de igualdade com qualquer outro particular.

P á g i n a 4 | 23
P.Ex. Venda de madeira das explorações florestais do Estado, rendas de prédios, receitas de
parques públicos, etc.
Estas chamam-se patrimoniais porque derivam do património do Estado.

Propostas de trabalho 1

1. Diga o que entende por atividade financeira do Estado.

2. Distinga receitas voluntárias de receitas coativas.

3. Dê uma noção de Direito Fiscal.

1.1.3.Receitas creditícias
São aquelas que resultam do recurso ao crédito pelo Estado.

A dívida pública do estado em 2021 foi de 127,5% do PIB. A dívida tem vindo a diminuir. Em
2020 era de 133,7%.
Esta redução deveu-se a uma forte recuperação da economia portuguesa, à melhoria das
contas públicas e à otimização da tesouraria global do Estado.

Este resultado é uma excelente notícia para Portugal. A retoma da trajetória de redução da
divida pública é fundamental para a credibilidade internacional da república e para a confiança
na economia portuguesa.

No atual contexto de normalização da política monetária a nível europeu, permite assegurar


maior segurança e estabilidade e melhores condições de financiamento para o Estado, para as
empresas e para as famílias. Um fator fundamental absolutamente determinante para a
recuperação da economia portuguesa e para o investimento.

P á g i n a 5 | 23
Circuito do Imposto

Na figura anterior podemos observar os circuitos das despesas e receitas públicas e a


interdependência entre as famílias, as empresas e o Estado.

P á g i n a 6 | 23
Proposta de trabalho 2:

- Qual o valor da dívida pública no 4º trimestre de 2021?


- Teve um aumento ou um decréscimo?
- A que se deveu esse aumento/decréscimo?
- Que lugar ocupa a dívida pública portuguesa nos países da União Europeia?
- Mapa comparativo da dívida pública dos países do Mundo.
- Quem são os países que não necessitam de recorrer a empréstimos para fazer face às suas
despesas?

2. Direito Fiscal

Normas que disciplinam as relações jurídico-tributárias estabelecias entre o Estado e os


particulares e que visam satisfazer as necessidades coletivas e interesses legalmente
protegidos dos particulares.
Caracteriza-se pela adoção de um conjunto de princípios e normas jurídicas que regulam a
criação e cobranças de impostos.

2.1. Natureza e fontes do direito fiscal

2.1.1. Natureza do Direito Fiscal


O Direito Fiscal é um ramo do Direito Público porque o Estado atua provido de poder público,
ou seja, poder superior ao dos cidadãos. O direito privado caracteriza-se pelo facto de os
sujeitos estarem em pé de igualdade, ou seja nenhuma das partes da relação jurídica tem
poder sobre a outra. No Direito Fiscal isso não acontece. Os cidadãos têm necessariamente
de acatar as regras, sujeitando-se ao poder público do Estado.
O Estado determina os impostos, a respetiva incidência, taxas e outras regras e os cidadãos
são obrigados a obedecer sob pena de lhes serem aplicadas sanções também impostas por lei.

2.1.2. Princípios e Fontes do Direito Fiscal


A Constituição da República Portuguesa é a lei do país com a mais elevada hierarquia e é a
primeira das fontes do Direito Fiscal e a mais importante, por consagrar as normas e
princípios fiscais fundamentais.

2.1.2.1. Princípios fundamentais

2.1.2.1.1. O princípio da legalidade tributária


A atividade tributária é limitada e fundamentada na lei.

P á g i n a 7 | 23
2.1.2.1.2. Princípio da segurança jurídica
Consiste a publicidade nos atos de poder público, assim como a clareza e a determinabilidade
das Fontes de Direito.

Uma das principais características do Princípio da Segurança Jurídica consiste na proibição


de impostos com natureza retroativa, ou seja, a lei só dispõe para o futuro, não atuando sobre
factos que ocorreram no passado.

O n.º 3 do artigo 103º da CRP proíbe expressamente a elaboração de normas fiscais


retroativas que se apliquem a factos passados.

Artigo 12.º
Aplicação da lei tributária no tempo

1 – As normas tributárias aplicam-se aos factos posteriores à sua entrada em vigor, não podendo ser
criados quaisquer tributos retroativos.
2 – Se o facto tributário for de formação sucessiva, a lei nova só se aplica ao período decorrido a
partir da sua entrada em vigor.
3 – As normas sobre procedimento e processo são de aplicação imediata, sem prejuízo das garantias,
direitos e interesses legítimos anteriormente constituídos dos contribuintes.
4 – Não são abrangidas pelo disposto no número anterior as normas que, embora integradas no
processo de determinação da matéria tributável, tenham por função o desenvolvimento das normas
de incidência tributária.
Fonte: www.pwc.pt

Em Direito Fiscal:
- As normas que regulam elementos essenciais (incidências, isenções, taxas, etc.) não devem
ser aplicadas retroativamente.

P á g i n a 8 | 23
- As que regulam elementos não essenciais podem ser aplicadas retroativamente.

2.1.2.1.3. Princípio da igualdade tributária


Os encargos devem ser repartidos de forma justa entre todos os contribuintes. O princípio
da igualdade obriga a tratar «de modo igual o que é igual e forma desigual o que não é igual».
Todos os cidadãos encontram-se vinculados ao dever de pagar impostos, e este dever é
determinado em função da sua capacidade contributiva.

Tipos de igualdade:

Igualdade horizontal (art.13.º CRP): igual imposto para os que dispõe de igual capacidade
contributiva;

Igualdade vertical: pressupõem diferentes imposto para os que se encontrem em condições


diferentes, já que detêm diferente capacidade contributiva. Por exemplo - artigo 104, n° 1 da
CRP: O imposto sobre o rendimento será único e progressivo, tendo em conta as necessidades
e rendimentos do agregado familiar.

2.1.2.1.4. Princípio da capacidade contributiva


Princípio da capacidade contributiva é aplicável a todos impostos. Este princípio conduz à ideia
de justiça na repartição da carga fiscal, tendo em conta a capacidade contributiva das pessoas.
O que se pretende é que a diferenciação da carga fiscal corresponda à real diferença entre
as diversas situações concretas dos contribuintes. A CRP faz uma expressa referência ao
princípio da igualdade e implicitamente ao princípio da capacidade contributiva. – art.104ª /1
da CRP.

P á g i n a 9 | 23
Proposta de trabalho 3

Faz a respetiva correspondência.

2.1.2.2. Fontes de Direito Fiscal

São os modos de formação e revelação das normas jurídicas.

2.1.2.2.1. convenções internacionais


Convenções internacionais estabelecem regras de atribuição de competência e regras de
repartição do poder tributário entre os Estados assinantes. São elaboradas para evitar a
dupla tributação e lutar contra a evasão e fraude fiscais através da cooperação entre os
Estados. As normas constantes das convenções internacionais, ratificadas, aprovadas e
publicadas, vigoram na ordem jurídica portuguesa –artigo 8.º CRP – e têm um valor
infraconstitucional (estão em posição inferior à constituição), por estarem subordinadas aos
princípios e normas constitucionais, mas supralegal (estão acima da lei), pois não podem ser
revogas pelas leis (Lei ou DL).
Assim as convenções que versem sobre os elementos essenciais dos impostos – têm de ser
aprovadas pela AR (Resolução da AR artigo 103.º/2 CRP) As convenções que versem sobre a

P á g i n a 10 | 23
qualificação ou punição de qualquer infração fiscal – têm de ser aprovadas pela AR –
(Resolução da AR (art.165.º/ 1, c), d) i) CRP). As convenções que versem sobre outras
matérias – podem ser aprovadas pelo Governo – Decretos – art.197.º/1 C.

2.1.2.2.2. Direito da União Europeia

Direito originário UE ou Direito Constitucional da União Europeia: Tratados que instituíram e


modificaram as comunidades, hoje União Europeia. O direito Derivado União Europeia: atos de
conteúdo normativo das instituições da União Europeia.

2.1.2.2.3. As leis ordinárias

Compete à Assembleia da República legislar sobre as seguintes matérias:

• Criação de impostos e sistema fiscal (elementos essenciais do imposto);


• Regime geral das taxas;
• Regime geral das contribuições financeiras a favor das entidades públicas;
• Regime geral das contraordenações (ilícitos de mera ordenação social) e do

processo de contraordenação;

• Definição dos crimes, penas e medidas de segurança;


• Estrutura do processo criminal.

P á g i n a 11 | 23
2.1.2.2.4. Decretos-Lei do Governo

O Governo legisla através de Decretos-Lei numa dupla qualidade:

a) No exercício de competências próprias.

• Em matéria fiscal temos:


• Todas as matérias do sistema fiscal não reservadas à Assembleia
da República (Normas de liquidação e cobrança, processo, etc.

• Regulamentação das leis fiscais.

b) No exercício de autorizações da Assembleia da República em matérias fiscais que

lhe são reservadas.

Os Decretos legislativos regionais (das assembleias reginais dos Açores e Madeira), versam
sobre matérias de interesse específico para as regiões (112.º/4 CRP), contudo não podem
contrariar as Leis ou Decreto-Lei.

2.1.2.2.5. Resoluções da Assembleia da República

As resoluções são uma forma frequente de aprovar atos da Assembleia da República. Em matéria
fiscal é através da Resolução que são aprovados os tratados internacionais (que versam matérias
fiscais e outras matérias).

2.1.2.2.6. Regulamentos

Destinam-se a assegurar a boa execução das leis (art.199.º/ c) CRP e 112.º/ 6, e 7 CRP). São
regulamentos do Governo – decretos regulamentares, portarias, despachos normativos.
Os Regulamentos das Regiões Autónomas e Regulamentos das Autarquias, não podem
contrariar as Leis (Lei ou DL), nem disciplinar os elementos essenciais dos impostos - a
incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes - nem versar sobre a
liquidação ou a cobrança dos impostos (artigo 8º, n° 2, al. a) LGT).

P á g i n a 12 | 23
2.1.2.2.7. A Doutrina

A doutrina caracteriza-se pelos estudos, trabalhos, comentários e pareceres produzidos pelos


juristas, economistas e outros especialistas. A doutrina não é fonte direta de Direito Fiscal.
mas pode contribuir para a sua modificação ou melhor interpretação do direito.

2.1.2.2.8. A Jurisprudência

As decisões dos tribunais aplicam o direito a um caso concreto: e só valem para o caso em que
foram proferidas e não para outro caso, mesmo que esteja tudo análogo ao primeiro. São
formas de revelação das normas, através da interpretação que delas fazem os Tribunais. Não
são vinculativas e nessa medida não são fonte direta de direito fiscal, mas influenciam
decisões futuras. Existem decisões judiciais que têm força obrigatória geral. É o que
acontece com o Tribunal Constitucional (declarações de inconstitucionalidade e ilegalidade) e
o STA que pode pronunciar acórdãos de uniformização da jurisprudência, julgando a oposição
de acórdãos (artigo. 280.°, n° 2, e 284° do CPPT), ou até mesmo a oposição de sentenças dos
tribunais tributários de 1ª instância (artigo 280°, n° 5, do CPPT). As decisões dos tribunais
administrativos e fiscais não constituem fonte de direito a não ser quando declarem a
ilegalidade das normas.

Proposta de trabalho 4

1. Justifique a classificação do Direito Fiscal como ramo de Direito Público.

2. A lei é a única fonte imediata de direito, particularmente no domínio do Direito Fiscal.


Comente esta afirmação.

3. Explique os objetivos económicos dos impostos.

3. Impostos

3.1. Noção e características do imposto

Conceito: É uma prestação coativa, pecuniária, unilateral, estabelecida por lei, exigida às
pessoas singulares e coletivas a título definitivo, e sem contrapartida, com vista à cobertura
de despesas públicas e sem natureza sancionatória.

3.1.1. Característica do Imposto

P á g i n a 13 | 23
3.1.1.1. Prestação coativa

A obrigação é imposta pelo Estado.

3.1.1.2. Prestação pecuniária

A obrigação tem de ser paga em dinheiro, característica esta que permite distinguir o
imposto de outras prestações coativas. .É o caso, por exemplo, da prestação de serviço
militar, ou das requisições administrativas, que não vêm pois classificadas como
impostos.

3.1.1.3. Prestação definitiva

O que é pago a título de imposto é entregue sem possibilidade de devolução ou contrapartida.


Diferencia-se do reembolso (IVA ou IRS), pois nestes, há lugar à restituição de um valor
quando, posteriormente, se vem a verificar ter sido cobrado em excesso, e, portanto, não
deveria integrar a prestação de imposto.

3.1.1.4. Prestação unilateral

A natureza unilateral do imposto reside na inexistência de uma contrapartida


individualizada por parte do credor do imposto (Estado) para com o devedor
(contribuinte).Afasta-se pois, o imposto da taxa (onde existe uma contrapartida
individualizada) e do empréstimo público (a contraprestação assume a forma de juro).

3.1.1.5. Prestação estabelecida por lei


Decorre do princípio da legalidade. Só a lei pode criar a obrigação tributária.
3.1.1.6. Prestação exigida a favor de entidades que exercem funções públicas
O imposto é uma prestação exigida aos contribuintes a favor de entidades que exercem
funções públicas (Estado, Regiões Autónomas, Autarquias Locais e demais entidades públicas
– institutos públicos) e pessoas ou entidades privadas que exerçam funções públicas
(empresas concessionárias de obras públicas, de serviços públicos ou de bens do domínio
público, por exemplo: Brisa, REN).

3.1.1.7. Meio de financiamento para a realização de fins públicos

Não é inteiramente correto dizer-se que os impostos destina-se a cobrir as despesas


públicas ou se destinam a obter receitas. Existem impostos em que a finalidade de
obtenção de receitas está de todo ausente, pretende-se com eles, tão-somente,
satisfazer mediante a sua cobrança, necessidades coletivas.

P á g i n a 14 | 23
É o caso dos impostos extrafiscais de que se costuma dar o exemplo dos direitos
alfandegários protetores. A sua finalidade é a proteção da indústria de um país. Outro
exemplo será o dos impostos com finalidades ambientais, cujo objetivo é obter a
redução de certas produções a que se atribuem danos ambientais que se pretendem
controlar.

Se o problema fosse o de cobrir as despesas públicas, sem mais considerações, não seriam
necessários impostos. Dispondo o Estado de soberania sobre os cidadãos, um meio fácil
de “financiamento” seria atribuir poder ao “soberano” de requisitar dos cidadãos o que
precisasse.

Esta situação conduziria a uma intolerável arbitrariedade, pois os que dispusessem ou


produzissem bens que mais interessam ao Estado seriam sobrecarregados relativamente
àqueles que dispusessem ou produzissem bens que ao Estado não interessam.

O meio de financiamento requisição seria intolerável pelo que toca à forma como os
encargos se distribuem pelos membros de uma coletividade política.
O mesmo se diria de um outro meio de financiamento, bem fácil e expedito – a emissão
de notas. Esse financiamento geraria inflação e esta opera uma redistribuição dos
rendimentos a dano dos titulares de rendimentos fixos ou pouco variáveis e a benefício
dos titulares de rendimentos variáveis ou especulativos.

3.1.1.8. Sem carácter sancionatório

Os impostos não têm carácter sancionatório, não constituem uma contrapartida pela prática
de um facto ilícito: pena (crime/multa), coima (contraordenação) ou ilícito cível.

Os impostos são então o meio escolhido para financiar as despesas públicas porque,
com eles se consegue uma distribuição dos encargos com os bens públicos que surge
como mais justa do que a resultante dos meios alternativos. São o meio por que se
consegue a produção de bens públicos sem inflação.

Distinção entre imposto, taxa, multa e coima


A taxa, a multa e a coima são figuras tributárias fontes de receitas públicas não
fiscais.

Taxa – É devida pela utilização de serviços ou bens públicos. Constitui uma prestação
bilateral, tendo em conta que é uma contrapartida em função da utilização de algo, ao
contrário do imposto que é unilateral.

P á g i n a 15 | 23
Exemplo: propinas, taxas moderadoras pagas nos hospitais, portagens, etc.

Multa e coima – Constituem penas pecuniárias por ilícitos criminais e de mera ordenação
social, respetivamente. As penas são aplicadas em ilícitos de natureza criminal e as
coimas em contraordenações. Distinguem-se da taxa e do imposto pelo seu carácter
sancionatório. As multas também são unilaterais, ao contrário das taxas.
Exemplos: Nas transgressões ao Código da Estrada são aplicadas coimas. Mas, quem
conduzir com uma taxa de álcool no sangue igual ou superior a 1,2g/l, será punido com
pena de prisão até um ano ou com pena de multa até 120 dias, visto constituir um ilícito
criminal.

Proposta de trabalho 5

1. O imposto é uma prestação coativa e unilateral. Comente.

2. Distinga imposto de taxa.

3.2. Fases do Imposto

As fases do imposto são os momentos que se sucedem desde o facto gerador do imposto até à
sua entrada nos cofres do Estado: incidência, lançamento, liquidação e cobrança.

P á g i n a 16 | 23
Incidência
A incidência corresponde à primeira fase do imposto, aquela em que a lei, geral e abstrata,
fixa os atos ou situações sujeitas a imposto e as pessoas sobre as quais recai a obrigação da
respetiva prestação. É a fase em que se define a matéria coletável do imposto e se
identificam os sujeitos passivos da relação jurídico-fiscal a que este dá lugar.
A lei que cria o imposto define a sua incidência.

Esta incidência em duas perspetivas:

• Incidência pessoal – quem paga imposto, isto é, as pessoas sobre quem vai recair a
obrigação;
• Incidência real – o que paga o imposto, isto é, aquilo sobre o que o imposto vai recair.

Lançamento
A fase do lançamento é o conjunto de operações de natureza administrativa destinadas a
identificar o contribuinte e a determinar a matéria coletável.

Determinação do contribuinte:
- declaração do próprio (mais comum);
- declaração de terceiro (organismo onde trabalha);
- Administração Fiscal.

Determinação da matéria coletável:


- declaração do contribuinte;
- declaração do contribuinte sujeita a correção pela Administração Fiscal;
- Administração Fiscal.

P á g i n a 17 | 23
Liquidação
Passando para a liquidação, esta é a determinação do imposto a pagar através de uma
operação aritmética. É a fase em que se aplica uma taxa à matéria coletável, obtendo-se a
coleta.
Exemplo: 500 (matéria coletável) x 10% (taxa) = 50 (coleta)

Cobrança
Por último, a cobrança é o momento em que o imposto dá entrada nos cofres do Estado, sendo
a operação através da qual o Estado arrecada o imposto. Vista na ótica do sujeito passivo, é a
fase do pagamento. O pagamento poderá ser voluntário (quando o contribuinte procede
espontaneamente ao pagamento do montante devido, dentro dos prazos previstos nas leis
fiscais ou fora deles, estando o devedor sujeito ao pagamento de juros de mora ao Estado) ou
coercivo (se for necessário utilizar os meios coercivos de que o Estado dispõe como, por
exemplo, a execução fiscal – como meio procedimental e processual tributário de cobrança
coerciva de receitas do Estado).

Proposta de trabalho 6

1. Distinga incidência pessoal de incidência real.

2. Explique a fase da liquidação.

3.3. Tributação direta e indireta


Os impostos diretos são os que recaem diretamente sobre o rendimento. Os mais
importantes deste tipo são o IRS (imposto sobre o rendimento de pessoas singulares) e
o IRC (imposto sobre o rendimento de pessoas coletivas), e a taxa de depósitos
bancários.
Os impostos indiretos são os que recaem sobre a despesa. O mais importante é o IVA
(imposto sobre o valor acrescentado).

3.4. Classificação dos impostos

Segundo o critério orçamental português

3.4.1. Impostos diretos

P á g i n a 18 | 23
Os Impostos Diretos são aqueles impostos que incidem diretamente sobre o
rendimento e o património. Tributam manifestações diretas ou imediatas de riqueza que
se expressam através do rendimento, capital ou património.

o IRS (Imposto sobre o Rendimento Singular), e incide diretamente sobre o


rendimento das pessoas singulares.
o IRC (Imposto sobre o Rendimento Coletivo), e incide sobre o rendimentos
das empresas.
o IMI incide sobre o património.

3.4.2. Impostos indiretos

Os Impostos Indiretos são aqueles que incidem sobre o consumo ou a despesa, e


incidem sobre a generalidade dos bens que consumimos diariamente. Tributam
manifestações indiretas ou mediatas da riqueza que evidenciam através do ato do
consumo.

o IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado)


o IUC (Imposto Único de Circulação)
o IMT (Imposto Municipal sobre Transmissões Onerosas de Imóveis)
o ISP (Imposto sobre os Produtos Petrolíferos e Energéticos)
o IS (Imposto de Selo), etc.

Os impostos indiretos são os mais aplicados, pelos seguintes motivos:


- Há uma menor resistência psicológica, pois os contribuintes quando veem os impostos
incidirem diretamente sobre o próprio rendimento são mais cautelosos.
- Há menor possibilidade de fuga aos impostos.

Segundo a periodicidade.

3.4.3. Impostos periódicos

Dizem respeito a factos tributários que se prolongam no tempo ou apresentam uma


periodicidade regular, por um mais período de tributação (um ou mais anos). P.Ex: IRS, IRC,
IMI.

3.4.4. Impostos de obrigação única

P á g i n a 19 | 23
Respeitam a factos isolados ou ocasionais, sem natureza repetitiva, há uma obrigação isolada
de imposto. P.Ex: IMT, IVA, IS, IEC, direitos alfandegários sobre os bens importados.

Segundo a situação do contribuinte.

3.4.5. Impostos reais ou objetivos

São aqueles em que a matéria coletável é determinada objetivamente; não têm em conta a
situação socioeconómicas do contribuinte, ou seja, não têm em conta as condições pessoais,
económicas e familiares dos contribuintes.: tributam-se os bens económicos em termos
objetivos – os impostos indiretos são sempre reais, IVA, IEC, ISV, IMT.

3.4.6. Impostos pessoais ou subjetivos

A tributação é efetuada tendo em conta a situação pessoal (económico-social) do


contribuinte: rendimento, número de dependentes, e encargos com algumas despesas (saúde,
educação filhos). Não atendem exclusivamente ao montante da matéria coletável tributável.
O IRS é o único imposto pessoal (artigo 104º da CRP).

Segundo o objeto.

3.4.7. Impostos gerais e impostos pessoais

Aplicam-se a uma determinada categoria de situações com a mesma natureza, com vista a
atingir um determinado valor ou situação no seu todo: IVA, IRS, IRC. IVA – incide sobre
generalidade bens e serviços.

3.4.8. Impostos especiais

Tratam fiscalmente certas categorias de bens de modo diferente do geral, que são objeto de
uma disciplina jurídica especial. Por ex., IEC em relação ao IVA: tributa-se de forma
diferente o consumo dos bens sujeitos a IEC dos bens tributados em sede de IVA: IT
(Imposto sobre o tabaco), IABA (Imposto sobre bebidas alcoólicas), ISV, IUC, entre outros.

Segundo o tipo de quota

3.4.9. Impostos de quota fixa

O montante do imposto a pagar corresponde a uma importância fixa, igual para todos os
contribuintes: prestação é igual para todos, por exemplo a contribuição audiovisual.

P á g i n a 20 | 23
3.4.10. Impostos de quota variável

O montante do imposto a pagar varia em função da matéria coletável, aplicando-se a esta


matéria coletável uma taxa (impostos sobre o rendimento: IRS e IRC) ou um valor em função
do número, peso, da superfície ou do volume dos bens (Ex. IT – imposto a pagar é
determinado em função de cada milheiro de cigarros).

As taxas podem ser proporcionais, progressivas, degressivas e regressivas.

1. são proporcionais quando têm por base uma única taxa, ou seja, uma taxa única e
constante, seja qual for o valor da matéria coletável (ex. IMI);
2. são progressivas quando a taxa se eleva, mais do que proporcionalmente, à medida que
aumenta a matéria coletável, podendo esta progressividade ser efetuada por escalões
(como sucede, por exemplo, com o IRS – art. 68º CIRS);
3. são degressivas quando a taxa diminui à medida que a matéria coletável também diminui,
prevendo-se taxas mais baixas para matérias coletáveis de valor inferior;
4. são regressivas quando a taxa aplicável diminui à medida que a matéria coletável
aumenta (tal é proibido no nosso ordenamento jurídico em virtude da sua
inconstitucionalidade).

Segundo a natureza do sujeito ativo.

3.4.11. Impostos estaduais

São aqueles que têm por sujeito ativo o Estado.


P. Ex: IRS, IRC, IVA, IS, IEC.

3.4.12. Impostos não estaduais


O titular ativo ou o credor da relação tributária não é o Estado, mas uma entidade diferente
do Estado - autarquias locais (IMI, IMT, derrama, nos termos LFL, incide sobre lucro
tributável de IRC).

Segundo o grau de autonomia.

3.4.13. Impostos principais


Os impostos principais, existem por si ou têm autonomia própria, não dependem de outros
impostos. P. Ex: IRS, IMI, IMT, IS.

3.4.14. Impostos acessórios

P á g i n a 21 | 23
Os impostos acessórios pressupõem a prévia existência de um imposto principal, a que acresce
e depende. Dependem na sua existência ou nos seus elementos da prévia existência de outros.
P.Ex. A derrama.

Segundo o tipo de taxas.

3.4.15. Impostos proporcionais

São aqueles em que a taxa é fixa. É sempre a mesma independentemente do montante da


matéria coletável. O imposto aumenta proporcionalmente à matéria coletável.

Um exemplo deste tipo de imposto é o IRC: tem uma taxa fixa única e constante, pelo que o
montante do imposto a pagar depende do resultado da matéria coletável.

3.4.16. Impostos progressivos

Impostos onde a taxa aumenta à medida que a matéria coletável aumenta.

São impostos que apresentam um leque com taxas crescentes, sendo o melhor exemplo disso
o IRS.

O sistema de progressividade por escalões (que é o que está em vigor no sistema fiscal
português) é aquele em que se vai taxar através de vários escalões a matéria e rendimento
coletável. A aplicação da taxa máxima é realizada não ao total da matéria coletável, mas sim
ao montante que exceder o limite do escalão anterior. Ou seja, os rendimentos são
tributados por intervalos.
Por exemplo, nos escalões de IRS que serão aplicados este ano, num rendimento anual de
20.000 euros, o montante até 7.112 euros, paga uma taxa normal de 14,5% - que é a taxa
correspondente ao escalão mais baixo. Já os rendimentos superiores a 7.112 euros e até
10.732 euros pagam 23%, enquanto o montante superior a 10.732 e até aos 20.000 euros
paga 28,5%.
Os escalões de IRS são assim um bom exemplo sobre onde se aplica um imposto progressivo.
Em Portugal, há sete escalões sendo que o último é aplicado a rendimentos acima dos 80.882
euros, cuja taxa é de 48%.

P á g i n a 22 | 23
3.4.17. Impostos regressivos

A taxa diminui à medida que a matéria coletável aumenta.


Apesar de o conceito existir, o sistema fiscal português não permite a regressividade dos
impostos.

Proposta de trabalho 7

1. O IRS é um imposto pessoal e progressivo. Justifique.

2. Distinga impostos diretos de impostos indiretos.

3.5. Finalidades fiscais e extrafiscais dos impostos

Finalidades fiscais

Obtenção de meios financeiros para satisfazer as necessidades coletivas ou públicas:


arrecadação de receitas.
O sistema fiscal visa a satisfação das necessidades financeira dos Estado e de outras
entidades públicas (artigo 103.º/1 CRP) .
A tributação visa a satisfação das necessidades financeiras do Estado e de outras entidades
públicas (artigo 5º da LGT).

Finalidades extrafiscais
São objetivos sociais e económico ; metas secundárias ou acessórias dos impostos.
Objetivos sociais:
Os impostos visam a distribuição igualitária da riqueza e dos rendimentos (artigo 103.º/1
CRP). Diminuem o leque salarial (diferença entre o salário mínimo e o salário máximo),
operando uma redistribuição da riqueza e a consequente diminuição das desigualdades (artigo
81.º/b) CRP);

Objetivos económicos:
Através da política fiscal pode-se combater a inflação, tendo em conta que os impostos
reduzem o rendimento disponível, fazendo diminuir o consumo; aplicando-se altas cargas
fiscais a produtos como tabaco, bebidas, etc., obtém-se a seletividade do consumo;
direitos aduaneiros elevados protegem indústrias nacionais; através do desagravamento
fiscal pode-se incentivar o aumento de investimento dos produtores nacionais. (ponto 1 e 2
do artigo 5 da LGT).

P á g i n a 23 | 23

Você também pode gostar