Dissertação Finalizada Francinéia Zanetti Da Costa
Dissertação Finalizada Francinéia Zanetti Da Costa
Dissertação Finalizada Francinéia Zanetti Da Costa
Manaus
2016
FRANCINÉIA ZANETTI DA COSTA
Manaus
2016
C837 Costa, Francinéia Zanetti da
CDD 595.386
i
Com amor,
Ao meu esposo Sirlon e minha
filha Iasmim, por sempre estarem ao meu
lado, seguindo junto nesta caminhada, e pela
espera paciente, enquanto estive ausente.
Com gratidão à minha mãe Fátima.
ii
Agradecimentos
Agradeço a Deus, por ter me dado força e coragem para superar várias
dificuldades que a vida ofereceu e principalmente sabedoria para passar por todas.
Ao meu orientador, Dr. Célio Magalhães, por seu apoio e dedicação durante o
decorrer do mestrado.
À minha coorientadora, Profª Drª Patrícia Castro, por todo seu apoio, amizade e
orientação.
Ao Programa de Pós-Graduação em Biologia de Água Doce e Pesca Interior -
BADPI, do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia - INPA.
A Universidade Estadual de Roraima - UERR, pela parceria com o INPA, que nos
possibilitou cursar a maioria das disciplinas em Roraima.
Ao Instituto de Amparo à Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de Roraima-
IACTI-RR, pelo fomento das bolsas durante o curso, na pessoa do senhor Izano
Cavalcante da Silva, pelo esforço demonstrado nos últimos seis meses de 2015.
Ao Museu Integrado de Roraima, por disponibilizar a coleção carcinológica.
Ao Prof. Dr. Luis Fernando Guterres e Patrícia Castro, pelo convite de estágio
voluntário no laboratório da UERR, o qual me iniciou no mundo da pesquisa
carcinológica e também por ter nos apoiado como coordenador do núcleo em Roraima.
À minha amada mãe Fátima, por entender e compreender as vezes que tive que
me ausentar.
Aos meus irmãos Marcos, Fernando, Sandra, Mauricio, Fabiana e Francisco, por
fazerem parte da minha vida e da minha caminhada. Ao meu esposo Sirlon e minha
filha Iasmim, pela paciência e amor a mim dedicado, Sirlon, por sempre ajudar-me nas
coletas e nunca se negando a acompanhar-me.
Aos colegas de curso Fernando, Erasmo e Luís, por fazerem parte desta
caminhada e também pela ajuda em campo em alguns momentos. As colegas e amigas
de curso, Aparecida, Conceição, Isis e Paula, por estarem sempre presentes nas coletas,
nas viagens a Manaus, nas risadas, enfim, todo o tempo que passamos juntos. A
Aparecida, por sempre se prontificar em atender nos momentos mais difíceis.
À senhora Micaele e seu esposo Antenor de Entre Rios, a senhora Maria Junia e
seu esposo Marcos André, de São Luiz do Anauá, a senhora Lurdes de Caroebe, a
iii
senhora Maria da Graça e seu esposo João, em São João da Baliza, os quais nos
abrigaram em suas residências quando fomos ao campo naquela região.
Ao senhor Manoel Elias de Almeida por ter nos recebido em seu sítio, em Entre
Rios, muito obrigada!
Às amigas Rose e Priscila, por ter nos hospedado nas idas à Manaus.
Aos técnicos do laboratório da UERR, Silvania Maria Sampaio, Arthur César e
Irlete Viana.
Ao técnico do MIRR, Anderson Otaviano.
Às professoras doutoras Letícia de Menezes Gonçalves, Rita de Cássia Ferreira,
Ivanise Rizatti, por terem disponibilizado o laboratório da UERR e os materiais que
foram utilizados.
Aos pesquisadores do Labtema (Laboratório de Ecologia, Turismo e Meio
Ambiente) da UERR, por duas vezes permitirem com que eu fosse coletar no baixo rio
Branco.
Aos coordenadores do Curso do BADPI em Manaus, Drª Sidineia Amádio, Dr.
Edinaldo Nelson dos Santos Silva e Dr. Claudia de Deus.
Aos professores doutores que ministraram aulas: Dr. Celso Morato, Dr. Evandro
Ghedin, Drª Domitila Pascoaloto, Dr. Jansen Zuanon, Dr. Roseval Leite, Dr. Efrem
Ferreira, Drª Lucia Rapp e Drª Eliana Feldeberg. Em especial, ao Doutor Geraldo
Mendes, obrigado por tudo, professor.
Ao colega Patrick Viana, pela paciência em me ensinar com o programa Qgis.
Muito obrigada a todos!
iv
“Qualquer investigação nos leva a novas dúvidas”
Aramuru Borges
v
Resumo
O estado de Roraima é banhado em quase toda a sua superfície pela bacia hidrográfica
do rio Branco, a qual apresenta uma diversidade de habitats aquáticos ainda pouco
conhecida do ponto de vista científico. Esse trabalho teve como objetivo realizar o
levantamento da composição específica e da distribuição geográfica da fauna de
caranguejos de água doce em Roraima. O levantamento teve como base os espécimes
depositados no acervo carcinológico das coleções do Museu Integrado de Roraima
(MIRR), Boa Vista, e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Manaus.
Além disso, foram realizadas coletas em dez municípios (Amajari, Bonfim, Cantá,
Caracaraí, Caroebe, Normandia, Pacaraima, São Luiz do Anauá, São João da Baliza e
Rorainópolis), abrangendo regiões de lavrado, florestas, florestas alagadas e áreas de
altas e baixas elevações. Para a captura dos caranguejos foi utilizado puçá, com 1 mm
de malha, percorrendo trechos dos igarapés, amostrando principalmente a serapilheira
submersa, vegetação aquática, margens das barrancas, tocos de paus submersos,
procurando-se abranger todos os microhabitats eventualmente ocupados pelos
caranguejos. Foram utilizadas ainda armadilhas de espera, tipo “covo”, com isca morta
e ração comercial para gatos. Foi registrado um total de onze espécies de caranguejos
em Roraima, sendo quatro da família Trichodactylidae: Moreirocarcinus laevifrons,
Poppiana dentata, Sylviocarcinus pictus e Valdivia serrata, e sete da família
Pseudothelphusidae: Fredius beccarii, Fredius estevisi, Fredius fittkaui, Fredius
platyacanthus, Fredius stenolobus, Kingsleya ytupora e Kingsleya latifrons.
Adicionalmente, são fornecidas chaves de identificação para as famílias, gêneros e
espécies, assim como os dados e mapas de distribuição geográfica para cada espécie.
Dentre as espécies encontradas, Moreirocarcinus laevifrons, Fredius beccarii, Fredius
fittkaui e Kingsleya ytupora são registradas pela primeira vez em Roraima; além disso,
Fredius beccarii é registrada pela primeira vez para o Brasil.
vi
Abstract
The state of Roraima is drained in almost its entire surface by the watershed of the
Branco River. This drainage has diverse aquatic habitats still poorly known from the
scientific point of view. This study aimed to survey the specific composition and
geographical distribution of freshwater crab fauna from Roraima. The survey was based
on specimens deposited in the crustacean collections of the Museu Integrado de
Roraima (MIRR), Boa Vista, and the Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(INPA), Manaus. In addition, samples were taken in ten municipalities (Amajari,
Bonfim, Cantá, Caracaraí, Caroebe, Normandia, Pacaraima, São Luiz do Anauá, São
João da Baliza, and Rorainópolis) covering regions of “Lavrado”, forests, flooded
forests and upland areas and low elevations. The collection of crabs was performed
using dip net with 1 mm mesh, sampling all habitats of the streams, such as the
submerged litter, aquatic vegetation, edges of ravines, hollows of submerged tree
truncks, trying to cover all microhabitats possibly occupied by crabs. Traps were also
used (locally known as "Covo"), with dead bait and commercial cat food. A total of
eleven species of crabs were recorded from Roraima: four of Trichodactylidae:
Moreirocarcinus laevifrons, Poppiana dentata, Sylviocarcinus pictus and Valdivia
serrata; and seven of Pseudothelphusidae: Fredius beccarii, Fredius estevisi, Fredius
fittkaui, Fredius platyacanthus, Fredius stenolobus, Kingsleya ytupora and Kingsleya
latifrons. Additionally, identification keys are provided to families, genera and species,
as well as geographic distribution maps for each species. Among these,
Moreirocarcinus laevifrons, Fredius beccarii, Fredius fittkaui, and Kingsleya ytupora
are recorded for the first time in Roraima; additionally, Fredius beccarii is recorded for
the first time from Brazil.
vii
Lista de Siglas
viii
Lista de Figuras
Figura 1. Mapa de vegetação do estado de Roraima............................................................. 8
Figura 2. Mapa Hidrológico de Roraima.............................................................................. 9
Figura 3. Procedimentos nas coletas dos caranguejos ......................................................... 11
Figura 4. Desenho esquemático do terceiro maxilípede esquerdo e do dáctilo de
Trichodactylidae.................................................................................................... 12
Figura 5. Desenho esquemático do terceiro maxilípede esquerdo e do dáctilo de
Pseudothelphusidae................................................................................................ 13
Figura 6. Gonópodo esquerdo de Fredius ykaa ................................................................... 13
Figura 7. Desenho esquemático da carapaça e do gonópodo 1 de Trichodactylidae............ 14
Figura 8. Fredius beccarii (Coifmann 1939)........................................................................ 22
Figura 9. Fredius estevisi (Rodriguez, 1966)........................................................................ 24
Figura 10. Fredius fittkaui (Bott, 1967), INPA....................................................................... 26
Figura 11. Fredius platyacanthus (Rodríguez & Pereira 1992).............................................. 29
Figura 12. Fredius stenolobus (Rodríguez & Suárez 1994)................................................... 31
Figura 13. Kingsleya latifrons (Randall, 1840)………………………………………........... 34
Figura 14. Kingsleya ytupora Magalhães, 1986..................................................................... 36
Figura 15. Moreirocarcinus laevifrons (Moreira, 1901)........................................................ 38
Figura 16. Poppiana dentata (Randall, 1840)........................................................................ 40
Figura 17. Sylviocarcinus pictus (H. Milne Edwards, 1853)……………………………….. 45
Figura 18. Valdivia serrata White, 1847................................................................................ 49
Figura 19. Mapa de distribuição das espécies de caranguejos da família
Pseudothelphusidae, gênero Fredius, no estado de Roraima, Brasil..................... 61
Figura 20. Mapa de distribuição das espécies de caranguejos da família
Pseudothelphusidae, gênero Kingsleya, no estado de Roraima, Brasil................. 62
Figura 21. Mapa de distribuição das espécies de caranguejos da família Trichodactylidae,
gêneros Moreirocarcinus e Sylviocarcinus, no estado de Roraima, Brasil........... 63
Figura 22. Mapa de distribuição das espécies de caranguejos da família Trichodactylidae,
gêneros Valdivia e Poppiana, no estado de Roraima, Brasil................................ 64
ix
Lista de Tabelas
x
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................1
2. OBJETIVOS ....................................................................................................... 5
2.1 Objetivo geral ......................................................................................................... 5
2.2 Objetivos específicos .............................................................................................. 5
3.1 Área de Estudo ........................................................................................................ 6
3.2 Material ............................................................................................................. 10
3.3 Coleta dos caranguejos ..................................................................................... 10
3.4 Procedimentos de Laboratório .............................................................................. 11
3.5 Identificação e caracterização taxonômica ....................................................... 12
4. RESULTADOS ...................................................................................................... 16
4.1 Chave de identificação dos caranguejos de água doce (adaptada de Magalhães
2003, Rodriguez 1982, 1992) ..................................................................................... 19
Família Pseudothelphusidae.....................................................................................23
Gênero Fredius Pretzmann, 1967 ............................................................................ 21
Gênero Kingsleya Ortmann, 1897 ........................................................................... 32
Família Trichodactylidae H. Milne Edwards, 1853 ................................................ 37
Gênero Moreirocarcinus Magalhães & Türkay, 1996............................................ 37
Gênero Poppiana Bott,1969 ................................................................................... 39
Gênero Sylviocarcinus H. Milne Edwards, 1853 .................................................... 41
Gênero Valdivia White, 1847 ................................................................................. 46
5. DISCUSSÃO .................................................................................................... 50
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................53
REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 54
xi
1. INTRODUÇÃO
1
preservados, e representam uma excelente oportunidade para se obter um conhecimento
consistente acerca da composição e distribuição das espécies de caranguejos dulcícolas
das famílias Pseudothelphusidae e Trichodactylidae.
Apesar de possuir diversas áreas protegidas, o avanço do desmatamento em áreas
de florestas que não se encontram em unidades de conservação tem levado a um
crescente assoreamento dos rios e igarapés, com consequente perda de hábitats e de
diversidade biológica e genética (Fearnside 1997; Meneses 2006).
Os ambientes naturais da Amazônia sofrem alterações aceleradas devido à ação
humana (urbanização, construção de barragens, exploração de madeira e minérios,
colonização agrícola). As espécies da fauna aquática, mais sensíveis a essas alterações,
como os crustáceos, correm riscos que podem levar à diminuição da biodiversidade
(Silva et al. 2014 ).
Ainda, a relevância desse conhecimento pode ser considerada além da sua
importância em termos da sistemática e biogeografia. Essa constatação prende-se ao
fato de que indivíduos de espécies que são utilizadas como itens alimentares de
populações indígenas em áreas vizinhas, como na aldeia Yanomami de Balawa-ú, no
estado do Amazonas (Magalhães et al. 2006), também ocorrem em Roraima. Como os
caranguejos de água doce, especialmente os pseudotelfusídeos, podem ser vetores de
doenças (Amunarriz 1991; Rodríguez & Magalhães 2005), um melhor conhecimento
dessa fauna tem importância quanto a aspectos médicos, econômicos e sanitários.
A heterogeneidade de hábitats e microhábitats aquáticos presente no estado de
Roraima permite supor a existência de uma fauna de caranguejos bem mais
diversificada do que a até agora conhecida. Pois, de acordo com (2002b), estudos sobre
crustáceos amazônicos começaram a ser feitos em meados do século passado de forma
esporádica. Somente a partir da década de 70 que os estudos taxonômicos, biológicos e
ecológicos passaram a ter um caráter mais sistemático e continuado que levaram à
consolidação, no início da década de 80, do Grupo de Pesquisas sobre "Biologia e
Sistemática de Crustáceos da Amazônia", no âmbito da Coordenação de Pesquisas em
Biologia Aquática do INPA.
Os estudos sobre os crustáceos decápodes do estado de Roraima vêm sendo
incrementados, baseado na coleção carcinológica do Museu Integrado de Roraima, esses
dados básicos sobre os crustáceos e seus ambientes existentes, são de fundamental
2
importância e podem contribuir para uma melhor compreensão dos ecossistemas e
facilitam o reconhecimento dos caranguejos em tais ambientes. Estudos preliminares
realizados desde então “evidenciam que a diversidade de caranguejos que ocorre no
estado é consideravelmente maior do que demonstram os registros atualmente
disponíveis” (Castro-Guterres & Guterres 2008a, b).
Os representantes de Pseudothelphusidae e Trichodactylidae se diferenciam entre
si pelo formato da carapaça, pela presença ou ausência de epipodito desenvolvido no
terceiro par de maxilípedes e de espinhos ou cerdas nos dátilos dos pereiópodes
(Magalhães 2003). Já em nível específico, Rodriguez (1980) afirma que o primeiro
pleópodo, também denominado gonópodo, se modifica para formar um canal, no qual se
insere o segundo pleópodo e serve de ducto aos espermatozoides. Assim, a forma dos
gonópodos consiste no único caráter que permite distinguir as espécies.
Esses caranguejos têm importante papel na cadeia trófica dos ambientes aquáticos
durante os seus diferentes estágios de vida, servindo de elo na transferência de energia
entre os diferentes níveis tróficos. Na fase adulta, podem capturar invertebrados e até
mesmo vertebrados, servindo também de alimento para diversos grupos de organismos,
inclusive o ser humano. Podem ser herbívoros, predadores de outros grupos de
invertebrados e vertebrados ou, ainda, necrófagos; são também presas de peixes, aves,
répteis, quelônios, mamíferos aquáticos e primatas (Magalhães 2003).
Ocupam uma diversidade de hábitats, em sistemas lóticos e lênticos, e ocorrem
nos mais diversos ecossistemas, como rios, igarapés, lagos, áreas alagadas, ou até
mesmo no ambiente terrestre. Em geral, são animais de hábitos crípticos e noturnos,
permanecendo escondidos em tocas, fendas e buracos de rochas e troncos submersos, na
serapilheira submersa ou entre as raízes e folhas da vegetação aquática (Magalhães
2003, 2009). Ademais, os crustáceos são importantes na caracterização de ambientes
saudáveis, pois funcionam como bioindicadores de qualidade ambiental (Vieira 2003).
No Brasil, são conhecidas 16 espécies da família Pseudothelphusidae, todas com
distribuição na bacia amazônica, onde normalmente ocorrem em rios provenientes dos
maciços das Guianas e do Brasil Central, ou então em pequenos igarapés na floresta de
terra firme, não sendo encontradas em regiões alagáveis. As espécies dessa família estão
distribuídas em cinco gêneros: Brasiliothelphusa Magalhães & Türkay, 1986, com duas
espécies; Fredius Pretzmann, 1967, com cinco espécies; Kingsleya Ortmann, 1897, com
3
seis espécies; Microthelphusa Pretzmann, 1968, com duas espécies; e Prionothelphusa
Rodríguez, 1980, com uma espécie (Magalhães 2003). Até o presente momento, a única
espécie da família Pseudothelphusidae registrada no estado de Roraima é Kingsleya
latifrons (Randall 1840), tendo sido coletada no rio Surumú, município de Pacaraima
(Magalhães 1986, 2003).
A família Trichodactylidae, por sua vez, tem ampla distribuição geográfica no
Brasil e a maioria das suas espécies ocorre na região amazônica, onde se encontra
representada por dez gêneros: Dilocarcinus H. Milne-Edwards, 1853; Fredilocarcinus
Pretzmann, 1978; Goyazana Bott, 1969; Moreirocarcinus Magalhães & Türkay, 1996;
Poppiana Bott, 1969; Rotundovaldivia Pretzmann, 1968; Sylviocarcinus, H. Milne-
Edwards, 1853; Trichodactylus Latreille, 1828; Valdivia White, 1847 e Zilchiopsis Bott,
1969 (Magalhães 2003). Dessa família, três espécies foram registradas em Roraima:
Poppiana dentata (Randall 1918), Sylviocarcinus pictus (H. Milne-Edwards 1853) e
Valdivia serrata White, 1847, todas em sub-bacias do rio Branco (Magalhães & Türkay
1996, 2008, Magalhães 2003, Castro & Silva 2013).
Os ecossistemas de água doce nas regiões tropicais apresentam uma rica
diversidade faunística de caranguejos e camarões dulcícolas. Contudo, devido à rápida
deterioração dos ambientes, a perda de diversidade biológica vem se constituindo em
uma questão preocupante, pois se considera que haveria a possibilidade de que parcela
significativa dessa biodiversidade se perderia sem ao menos ter sido catalogada pela
Ciência (Carvalho 2009). A deterioração dos ambientes aquáticos, que vem sendo
acelerada pelo desmatamento, por alterações nos padrões de drenagem das bacias e pela
poluição, poderia estar contribuindo para uma eventual perda da diversidade dos
caranguejos de água doce devido ao alto endemismo de algumas espécies, uma vez que
muitas espécies − especialmente de pseudotelfusídeos − têm áreas de distribuição muito
restrita (Cumberlidge et al. 2009).
Dessa forma, diante de tudo que foi dito, torna-se importante realizar um
levantamento atualizado das espécies de caranguejos que ocorrem em Roraima, bem
como da sua distribuição geográfica, visando à indicação de medidas para a preservação
das espécies, principalmenteas espécies endêmicas. Portanto, neste estudo, pretendeu-se
revisar e atualizar o conhecimento acerca da composição e distribuição dos caranguejos
dulcícolas do estado de Roraima.
4
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
5
MATERIAL E MÉTODOS
6
A bacia do rio Amazonas, em território brasileiro, tem uma superfície total de
aproximadamente 4.000.000 km2, incluindo a vertente atlântica no estado do Amapá, o
que representa quase 47% da área do país. Roraima, que se encontra inserido dentro da
bacia amazônica, se localiza na região Norte do Brasil, fazendo divisa com o estado do
Amazonas ao sul, estado do Pará ao leste, com a Venezuela ao norte e a oeste, e com a
Guiana a leste. O estado possui uma área de 224.298,980 km2, estando dividido em 15
municípios (Freitas 2001).
A hidrografia de Roraima é muito ampla, com habitats que são ricos em fauna
aquática, porém pouco conhecidos pela escassez de exploração e estudos científicos
(Ferreira 2005). O estado é banhado em quase toda a sua superfície pela bacia
hidrográfica do rio Branco, a qual possui uma área de 204.640 Km², sendo que
aproximadamente 5% desta estão situadas na Guiana. A parte brasileira da referida
bacia está totalmente no estado de Roraima, tendo como principal corpo d’água o rio
Branco, com 581 km de extensão, formado na confluência dos rios Tacutú e Uraricoera,
e percorrendo o estado na direção nordeste-sudeste. Seus principais afluentes são, na
margem direita, os rios Cauamé, Mucajaí, Água Boa e Catrimani; na margem esquerda,
o rio Quiatuau e Anauá com seu afluente o rio Baruana (Santos et al. 1985; Freitas
2001, Ferreira et al. 2007) e próximos a eles, vários igarapés (Figura 2).
Há igarapés intermitentes, os quais podem secar em vários trechos durante os
períodos de estiagem (agosto-maio) (Barbosa e Ferreira 1997). Por sua vez, em lago no
Lavrado é onde geralmente se originam estes pequenos igarapés próximos aos rios
maiores, para onde se dirigem e se conectam, associados a eles, estão os buritis
rodeados por vegetação arbustiva e arvoretas que protegem as nascentes desses igarapés
(Barbosa et al. 1997, Simões Filho et al. 1997, Veloso et al. 1997, Ferreira et al. 2007;).
O rio Branco é o afluente mais importante da margem esquerda do rio Negro e
está dividido da seguinte forma: o alto rio Branco, que começa na confluência dos rios
Uraricoera e Tacutu, finda na cachoeira do Bem-Querer com extensão de 172 km. O
médio rio Branco inicia-se na cachoeira do Bem-Querer até Vista Alegre, com extensão
de 24 km. O baixo rio Branco tem início em Vista Alegre, percorrendo 388 km até
encontrar-se com o rio Negro, no estado do Amazonas (Freitas 2001, Ferreira et al.
2005).
7
Figura 1. Mapa de vegetação do estado de Roraima. Fonte: Instituto de Terras e Colonização de Roraima
8
Figura 2. Mapa hidrológico de Roraima. Fonte: SIGET-RR
9
3.2 Material
O material utilizado neste estudo foi proveniente de duas fontes: (a) espécimes
depositados no acervo carcinológico das coleções do Museu Integrado de Roraima
(MIRR), Boa Vista, e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Manaus;
(b) coletas adicionais que foram realizadas em corpos d'água que fazem parte das bacias
hidrográficas que drenam o estado, em especial a do rio Branco (Autorização SISBIO
Nº 44857-1). Os cursos d’água de 1a e 2a ordem foram amostrados preferencialmente.
As localizações de cada igarapé em relação às bacias de drenagem foram determinadas
através de GPS.
10
A B
C D
Figura 3. Procedimentos da coleta dos caranguejos. A Puçá sendo passado junto às margens do igarapé;
B armadilha tipo “covo”; C coleta manual na margem do rio; D caranguejo fixado diretamente em
álcool a 90%. Fotos: Zanetti, F.C.; Santos, M.A.L.; Pinheiro, P.R.
11
funcionais. A largura e o comprimento da carapaça dos caranguejos foram mensurados
com paquímetro digital com precisão de 0,1 mm.
Os caranguejos coletados foram depositados nas coleções do MIRR e do INPA-
AM.
12
Figura 5. Desenho esquemático do terceiro maxilípede esquerdo e do dáctilo de Pseudothelphusidae. A
Estruturas do 3º maxilípodo (p: palpo; mmx3: meropodito do terceiro maxilípede; emx3: exopodito do
terceiro maxilípede); B Estrutura do pereiópodo (ed: espinhos no dátilo). Fonte: Magalhães (2003).
Figura 6. Gonópodo esquerdo de Fredius ykaa Magalhães, 2009, com a indicação das principais
estruturas observadas na identificação de caranguejos Pseudothelphusidae. A Vista caudomesial (cl:
lobo cefálico; al: lobo auxiliar; sb: bordo subapical; cs: espinho cefálico; mel: lobo mesial; mal: lobo
marginal; ms: sutura marginal); B Vista laterocefálica (fas: campo de espinhos apicais). Fonte:
Magalhães (2009).
13
A
B
Figura 7. Desenho esquemático da carapaça (vista dorsal) e do primeiro gonópodo direito de
Trichodactylidae, mostrando as principais estruturas utilizadas na identificação taxonômica. A
Estruturas da carapaça (ao: ângulo orbital; da: dente acessório; mf: margem frontal da carapaça; sH: sulco
em forma de “H”; mpl: margem posterolateral; mal: margem anterolateral; mf: margem frontal); B
Estruturas do primeiro gonópodo (ad: abertura distal; ap: abertura proximal; ce: campo de espinhos; csa:
cerdas subapicais; pd: porção distal; pp: porção proximal; sm: sutura marginal). Fonte: Magalhães (2003).
14
registros foram georreferenciados e os mapas da distribuição geográfica de cada
espécie foram confeccionados com o auxílio do programa Quantum GIS.
O tratamento para cada espécie seguiu uma estrutura padrão que abrangeu os
seguintes itens:
15
4. RESULTADOS
16
Tabela 1. Distribuição das espécies de caranguejos de água doce por bacias
hidrográficas e ecossistemas do estado de Roraima.
Táxon Bacias e sub-bacias hidrográfica Ecossistema
Pseudothelphusidae
Fredius beccarii (Coifmann, 1939) Rio Trairão e rio Amajarí Lavrado
Floresta
Fredius estevisi (Rodriguez, 1966) Rio Mucajaí e rio Surumú Lavrado
Floresta
Trichodactylidae
Moreirocarcinus laevifrons (Moreira Rio Anauá e rio Branco Floresta.
1901) Floresta alagada
17
Tabela 2. Distribuição das espécies dos caranguejos de água doce das famílias, de acordo com os municípios onde foram coletados no
estado de Roraima. (AA: Alto Alegre; AMJ: Amajarí; BV: Boa Vista; BFM: Bonfim; CNT: Cantá, CRB: Caroebe; IRA: Iracema;
MCJ: Mucajaí, NRD: Normandia; PCR: Pacaraima; RLIS: Rorainopólis; SJB: São João da Baliza; SLA: São Luiz do Anauá e UMT:
Uiramutã).
Famílias/Espécies Municípios
AA AMJ BV BFM CNT CCI CRB IRA MCJ NRD PCR RLIS SJB SLA UMT
Pseudothelphusidae
Fredius beccarii - x - - - - - - - - - - - - -
Fredius estevisi - x - - - - - - - - x - - - -
Fredius fittkaui x - - - - - - - - - - - - - x
Fredius platyacanthus x x - - - - - - - - - - - - -
Fredius stenolobus x - - - - - - - - - x - - - -
Kingsleya latifrons - - - x - - x - - - - x x X -
Kingsleya ytupora - - - x - - - - - - - - - - -
Trichodactylidae
Moreirocarcinus laevifrons - - - - - x - - - - - - - - -
Poppiana dentata - x - x - - - - x - - - - - -
Sylviocarcinus pictus x x x x x x x - x x - x x X -
Valdivia serrata - - x - x x x x x - x x x - -
18
4.1 Chave de identificação dos caranguejos de água doce (adaptada de Magalhães
2003, Rodriguez 1982, 1992)
2’. Gonópodo 1 sem saliência subapical; lâmina apical (la) fracamente bilobada e com
entalhe na parte distal do campo apical de cerdas (Kingsleya) ....................................7
3. Lobo caudal do gonópodo 1 com espinho; margem distal do lóbulo cefálico com um
ou mais espinhos ou dentículos.....................................................................................4
3’. Lobo caudal do gonópodo 1 com um espinho; lobo mesial cônico, sem espinhos ou
dentículos.......................................................................................................................6
4’. Lobo mesial do gonópodo 1 largo, terminando em uma ponta bífida ........................5
6’. Lobo mesial do gonópodo 1 largo, terminando em uma ponta reduzida.......F. estevisi
7’. Gonópodo com lamina apical (la) de ápice alargado ...................................K. ytupora
19
8. Gonópodo com o ápice ligeiramente curvado em direção mesio-dorsal; bordo ventral
(bv) sem lobo basal proeminente (Sylviocarcinus). Gonópodo com lobo subterminal
evidente; área mesial do campo de espinhos bem desenvolvida, distintamente
confluente com sua área ventral na sua parte distal .....................Sylviocarcinus pictus
8’. Gonópodo com o ápice pouco ou muito curvado em direção mesio-ventral; bordo
ventral com um lobo basal subretangular (lb-bv) em geral proeminente ....................9
9’. Gonópodo com a sutura marginal (sm) reta ou torcida em direção da face dorsal
próximo ao ápice; ápice (ap) subcilíndrico; parte distal sem torção ...........................10
10. Gonópodo com sutura marginal (sm) mais ou menos torcida para a face dorsal
(Poppiana). Gonópodo com a porção distal ligeiramente curvada em direção lateral;
sutura marginal situada na face mesial, torcida para a face dorsal na porção
distal....................................................................................................Poppiana dentata
10’. Gonópodo com sutura marginal (sm) reta, sem torção, acompanhando a linha geral
do órgão (Moreirocarcinus). Gonópodo esguio, porção distal reta, afinando
regularmente; sutura marginal reta, situada na face mesial. Campo de espinhos
descontínuo.....................................................................Moreirocarcinus laevifrons
20
Família Pseudothelphusidae Ortmann, 1893
Material examinado – BRASIL, Roraima: Igarapé do Coimbra, Vila Bom Jesus, vic. II
Trairão, Amajarí (N 03°37' W 061°49'), 31/x/2009, col. Zanetti, F.C., Castro-Guterres,
P.M. & Lima, D.A. 4 machos (MIRR 072). Igarapé Pau Baru, RR 203, Tepequém,
Amajari (N 03º41’ W 61º41’), 24/ii/2011, col. Zanetti, F.C., Otaviano, A.A.; Sales,
A.S.; Teixeira, D. & Neiva. 1 macho (MIRR070) (INPA). Igarapé do Coimbra, Vila
Bom Jesus, vic. II Trairão, Amajarí, 24/ii/2011, col. Zanetti, F.C., Otaviano, A.A.;
Sales, A.S.; Teixeira, D. & Neiva. 1 macho (INPA 1895), 1 fêmea (INPA 1896).
Igarapé do Coimbra, Vila Bom Jesus, vic. II, Trairão, Vila Maracá, Amajarí (N 03°37'
W 061°49'), 18/iv/2015. Col. Zanetti, F.C; Santos, M.A.L. 4 machos (INPA).
21
Figura 8. Fredius beccarii (Coifmann 1939), INPA. Habitus: A – Vista dorsal; B – Vista ventral.
Gonópodo esquerdo: C – Vista total (dorsal); D – Vista total (ventral); E – Vista dorsal; F – Vista ventral;
G, H – Vista lateral.
22
Fredius estevisi (Rodriguez, 1966)
(Figuras 9 A-H )
Material examinado – BRASIL, Roraima: Igarapé Inajá, PIN Parafuri, Alto Alegre, (N
03º20’ W 63º48), 22/iv/1994, col. Equipe Oncocercose; 1 macho; 2 fêmeas (INPA 839).
Nascente do rio Miang, Pacaraima (N 04°29' W 061°07'), 13/vi/2014. Col. Zanetti, F.C.;
Santos, M.A.L.; Farias, R.E.S., Emidio, S.C.; Silva, F.R. 8 machos, 4 fêmeas (INPA ).
Nascente do rio Miang, Pacaraima (N 04°29' W 061°07'), 24/i/2015. Col. Zanetti, F.C.;
Emidio, S.C.; Souza, T.E. 5 machos, 8 fêmeas (INPA).
23
Figura 9. Fredius estevisi (Rodriguez, 1966), INPA 839. Habitus: A – Vista dorsal; B - Vista ventral.
Gonópodo esquerdo: C – Vista total (dorsal); D – Vista total (ventral); E – Vista ventral; F – Vista dorsal;
G, H – Vista lateral.
24
Fredius fittkaui (Bott, 1967)
(Figuras 10 A-H)
25
Figura 10. Fredius fittkaui (Bott, 1967), INPA. Habitus: A – Vista dorsal; B - Vista ventral. Gonópodo
esquerdo: C – Vista total (ventral); D – Vista total (dorsal); E – Vista ventral; F – Vista dorsal; G, H –
Vista lateral.
26
Fredius platyacanthus Rodriguez & Pereira, 1992
(Figuras 11 A-H )
27
Palma da quela maior alongada, não conspicuamente inflada; dedos moderadamente
abertos. Primeiro gonópodo com base robusta, afinando fortemente formando a
protuberância subapical, com lobos cefálico, marginal, e mesial bem desenvolvidos.
Lobo marginal arredondado, reduzido, não se estendendo sobre o campo de espinhos
apicais. Lobo cefálico auriculiforme em vista caudal, com borda mesial arredondada e
borda lateral espatulada, longa; lobo acessório e pequenos espinhos cefálicos cônicos;
campo de espinhos apicais largo. Lobo mesial grande, triangular, dirigido
transversalmente para trás, com ápice bífido; cerdas marginais dispostas em uma densa
linha localizada pouco antes da metade proximal do gonópodo; superfície lateral com
numerosas cerdas plumosas.
28
Figuras 11. Fredius platyacanthus (Rodriguez & Pereira 1992), INPA. Habitus: A – Vista dorsal; B –
Vista ventral. Gonópodo esquerdo: C – Vista total (ventral); D – Vista total caudal (dorsal); E – Vista
ventral; F – Vista dorsal; G, H, – Vista lateral.
29
Fredius stenolobus Rodriguez & Suarez, 1994
(Figuras 12 A-H )
Fredius stenolobus Magalhães et al. 2014, pág. 104 (Tabela I), 107.
30
Figura 12. Fredius stenolobus (Rodríguez & Suárez 1994), INPA. Habitus: A – Vista dorsal; B – Vista
ventral. Gonópodo esquerdo: C – Vista total (ventral); D – Vista total caudal (dorsal); E – Vista ventral; F
– Vista dorsal; G, H – Vista lateral.
31
Gênero Kingsleya Ortmann, 1897
32
Caracterização morfológica: Carapaça com região dorsal quase plana. Margem ântero-
lateral da carapaça irregular, com um entalhe junto ao ângulo exorbital, às vezes
ausente, e uma série de dentes pequenos e rombudos, seguidos de 5-8 dentes maiores,
acuminados e, eventualmente, intercalados por dentes menores. Quelípodo com uma
fileira de tubérculos na margem interna superior do mero. Gonópodo sinuoso; sutura
marginal situada na face mésio cefálica. Processo mesial com uma projeção espiniforme
aguda na porção distal e porção proximal moderadamente saliente. Lâmina apical
estreita, subtriangular, com ápice afilado e formado por dois lobos superpostos, sendo o
lobo proximal mais curto e posicionado transversalmente em relação ao distal. Campo
apical de cerdas situado lateralmente, cercado por duas cristas marginais e por um
entalhe distal na altura do ápice do lobo proximal e da lâmina apical. Face caudal
continua com a face lateral na posição subterminal, sem uma depressão separando-as.
33
Figura 13. Kingsleya latifrons (Randall, 1840), INPA. Habitus: A – Vista dorsal; B – Vista ventral.
Gonópodo esquerdo: C- Vista total (ventral); D – Vista total (dorsal); E – Vista ventral; F – Vista dorsal;
G, H – Vista lateral.
34
Kingsleya ytupora Magalhães, 1986
(Figuras 14 A-H )
Material examinado – BRASIL, Roraima: rio Itacutu, zona urbana, Bonfim, 28/ii/2009,
col. Silva, A.M., Pinto, F.S. & Andrade, P.R.P., 1 macho, 1 fêmea (MIRR 032). Rio
Itacutu, zona urbana, Bonfim, 15/iv/2009, col. Silva, A.M., Pinto, F.S. & Andrade,
P.R.P., 5 fêmeas (MIRR 039). Rio Itacutu, zona urbana, Bonfim, 15/iv/2009, col. Silva,
A.M., Pinto, F.S. & Andrade, P.R.P., 1 fêmea, 7 jovens imaturos (MIRR 040). Rio
Tacutu, Bonfim (N 03°21' W 059°49'), 07/iv/2015, col. Zanetti, F.C., Emidio, S.C., 2
machos, 8 fêmeas (INPA).
Caracterização morfológica: Carapaça com região ventral quase plana. Margem ântero-
lateral da carapaça com um entalhe junto ao ângulo exorbital, seguido de alguns
tubérculos, 3-8 dentes grandes e acuminados, seguidos e eventualmente intercalados por
outros dentes menores. Quelípodo com 2-3 espinhos distais acuminados na margem
interna do mero, seguidos de uma fileira de tubérculos. Gonópodo 1 sinuoso; sutura
marginal situada na face mésio-cefálica. Processo mesial com uma projeção
espiniforme, saliente na porção distal e porção proximal moderadamente saliente.
Lâmina apical tem um ápice arredondado, sendo distintamente alargada na porção
distal. Campo apical de cerdas ligeiramente curvo, situado lateralmente, marginado por
cristas laterais, com a presença de um entalhe profundo na sua porção distal, onde o
lobo proximal da lâmina apical se aproxima com o lobo do lobo apical. Face caudal
contínua com a face lateral na posição subterminal, não exibindo um lobo lateral
definido.
Distribuição geográfica: Brasil (Pará, Amazonas, Roraima). Primeiro registro dessa
espécie em Roraima.
Variação: Não foi observada variação morfológica nos espécimes analisados.
Habitat e microhabitat: Rios correntosos, ocorrendo em cachoeiras e corredeiras,
preferencialmente em áreas de pedral, entre fendas e espaços entre e sob as pedras,
podem ocorrer também fora d’água.
Considerações gerais: O maior espécime coletado uma fêmea e mediu 52,07:33,66 mm
de largura/comprimento da carapaça; o maior macho mediu 43,83:27,63 mm
largura/comprimento de carapaça
35
Figura 14. Kingsleya ytupora Magalhães, 1986, INPA. Habitus: A – Vista dorsal; B – Vista ventral.
Gonópodo esquerdo: C- Vista total (ventral); D – Vista total (dorsal); E – Vista ventral; F – Vista dorsal;
G, H – Vista lateral.
36
Família Trichodactylidae H. Milne Edwards, 1853
Gênero Moreirocarcinus Magalhães & Türkay, 1996
Moreirocarcinus laevifrons (Moreira, 1901)
(Figuras 15 A-H )
Material examinado – BRASIL, Roraima: PARNA Viruá, Parcela do PPBio, Caracaraí,
28/vii/2006, col. Guterres, L.F.R. & Castro-Guterres, P.M., 1 macho (19,70:13,16mm)
(MIRR007). Estrada Perdida, igarapé do Bueiro, Caracaraí (N 01°25'16" W 60°59'17")
21/v/2007, col. Guterres, L.F.R. & Castro-Guterres, P.M., 5 machos (MIRR 0023).
Igarapé do Espelho, Parque Nacional do Viruá, Caracaraí (N 01°21'51,08'' W
60°58'54,2''), 11/iv/2007, col. L. Rapp Py-Daniel, 1 macho (INPA 1750). Parque
Nacional do Viruá, trilha Pallia/Vara do Novo, Caracaraí (UTM 20N 690095/0137474),
24/v/2007, col. Carvallis, V.T. e F.A.D, Esteves. 1 fêmea (INPA 1904). Igarapé do
Defunto, rio Anauá, Caracaraí (0,998832-61,104500), 24/ix/2006, col. L. Rapp Py-
Daniel, 1 macho (INPA). Igarapé do Leite, rio Branco, Caracaraí (1,481892653, -
61,23654976), 29/ix/2006, col. L. Rapp Py-Daniel, 1 fêmea (INPA1904 ).
Caracterização morfológica: Carapaça suborbicular, acentuadamente convexa. Região
frontal ligeiramente declinclinada; margem frontal bilobada, lisa. Margem ântero-lateral
da carapaça com 7-8 dentes delgados e acuminados. Abdome do macho subtriangular,
relativamente estreito; bordas laterais suavemente côncavas. Gonópodo esguio, porção
distal reta, afinando regularmente. Sutura marginal reta, situada na face mesial. Campo
de espinhos descontínuo, com uma área mais desenvolvida na face látero-ventral, uma
área reduzida a uma fileira irregular na face dorsal, e uma área menor na face mesial.
Porção distal da face dorsal plana. Ápice simples, ligeiramente curvado em direção
dorsal, com o bordo látero-distal projetando-se um pouco além do bordo mésio-distal.
Distribuição geográfica: Venezuela (Bolivar), Colômbia (Amazonas), Equador, Brasil
(Amazonas, Pernambuco).
Variação: Não foi observada variação morfológica nos espécimes analisados.
Habitat e microhabitat: rios e lagos de água preta e água branca, ocorrendo em áreas
marginais, associada à serapilheira submersa.
Considerações gerais: É um crustáceo de médio porte, podendo chegar a medir
37,5:27,5 mm de largura/comprimento de carapaça. O maior exemplar coletado mediu
26,00:21,00 mm de largura/comprimento de carapaça.
37
Figura 15. Moreirocarcinus laevifrons (Moreira, 1901), INPA 1904. Habitus: A – Vista dorsal; B - Vista
ventral. Gonópodo direito: C- Vista total (ventral); D – Vista total (dorsal); E – Vista ventral; F- Vista
dorsal; G, H – Vista lateral.
38
Gênero Poppiana Bott,1969
39
Figura 16. Poppiana dentata (Randall, 1840), INPA 1896. Habitus: A – Vista dorsal; B – Vista ventral.
Gonópodo direito: C – Vista total (ventral); D – Vista total (dorsal); E – vista ventral; F – vista dorsal; G,
H – vista lateral.
40
Gênero Sylviocarcinus H. Milne Edwards, 1853
41
Igarapé da Estação Ecológica do SESC (N 3º27’ W 61º41’), Tepequém, Amajari,
30/x/2009, col. Castro-Guterres, P.M. & Souza, R.D., 1 macho, 1 fêmea (MIRR065).
Igarapé do Coimbra, vila Bom Jesus/Tomás, vic. I, Trairão, Amajari, 31/x/2009, col.
Castro-Guterres, P.M., Lima, D.A. & Zanetti, F.C., 1 macho, 5 fêmeas (MIRR 070).
Igarapé do Coimbra, vila Bom Jesus/Tomás, vic. II, Trairão, Amajari, 31/x/2009, col.
Castro-Guterres, P.M., Lima, D.A. & Zanetti, F.C., 2 machos, 1 fêmea (MIRR 071).
Igarapé do Perdido, região do Apiaú, vicinal I, Mucajaí, 28/viii/2010, col. Castro-
Guterres, P.M., Otaviano, A., Lima, D.A., Zanetti, F.C., & Tavares, J.S., 5 machos, 3
fêmeas (MIRR 079) (MIRR 080) (MIRR 081). Igarapé Merenguari, rio Uraricoera, Alto
Alegre(), 25/v/1987, col. Equipe Uaicás, 1 fêmea (INPA). Polo base Waikás, rio
Uraricoera, Alto Alegre (N 3,54941700° W 63,16977800), 23/v/1987, col. Equipe
Uaicás, 1 macho (INPA 1897). Rio Uraricoera, Aldeia Palimiu, Amajari (N 03º20’03’’
W 62º58’16’’), 24/v/1987, col. Equipe Uaicás, 1 macho (INPA1899). Rio Uraricoera,
Aldeia Parimiu, Amajarí, 24/v/1987, col. Equipe Uaicás, 1 fêmea (INPA1900). Rio
Coemim, abaixo da confluência com o rio Ericó, Amajarí, 01/ix/1987, col. Equipe
Ericó, 1 macho, 1 fêmea (INPA1903). Rio Quitauaú, Confiança, Cantá, 18/iii/1992, col.
Zuanon, J. e Gomes, J.A.A. 1 macho (1898) 1 fêmea (INPA 1899). Rio Maú,
Normandia (N 03°52'23,6'' W 059°36'11,8''), 20/iii/2010, col. Py-Daniel, V.; Barbosa,
U.C. e Silva, O.S, 1 fêmea (INPA 1901). Igarapé Jenipapo, BR 401, Bonfim (N
02°51'46,4'' W 060°33'32,0''), 21/iii/2010, col. Py-Daniel, V.; Barbosa, U.C. e Silva,
O.S. 1 macho (INPA 1902). Paranã do Frio, baixo rio Branco, Caracaraí (N 02°21' W
060°25'), 21/iii/2014, col. Zanetti, F.C., Santos, M.A.L., 1 macho, 2 fêmeas (INPA). Rio
Branco, mMargem direita, Sacaí, Caracaraí (N 02°42' W 061°51'), 23/iii/2014, col.
Zanetti, F.C., Santos, M.A.L, 1 macho, 1 fêmea (INPA). Barrento, rio Xeriuiní, baixo
rio Branco, Caracaraí (N 00°51' W 061'57'), 25/iii/2014, col. Zanetti, F.C., Santos,
M.A.L, 1 macho (INPA). Paranã Preguiça, baixo rio Branco, Caracaraí (N 00°29' W
061°39'), 27/iii/2014,col. Zanetti, F.C., Santos, M.A.L, 3 machos, 3 fêmeas (INPA). Rio
Ereú, Amajari (N 04º02’ W 061º23’), 16/iv/2014,col. Zanetti, F.C., Santos, M.A.L, 1
macho (INPA). Rio Tacutu, estrada p/ Normandia, Bonfim (N 03°33' W59°53'), 1
macho, 1 fêmea (INPA). Fazenda Água Limpa, Rio dos Peixes, São Luiz do Anauá (N
00°41' W 060°11'), 19/iv/2014, col. santos, M.A.L.; Santos, F.K.A, 2 fêmeas (INPA
ad). Fazenda Água Limpa, rio dos Peixes, São Luiz do Anauá (N 00°41' W 060°11'),
42
05/ii/2015, col.Zanetti, F.C.; Santos, M.A.L.; Almeida, I.R.; Emidio, S.C. 1 macho
(INPA). Fazenda Laçador, Açude, Cantá (N 02°07' W 060°50'), 24/v/2015, col. Silva,
M.G.S.; Santos, F.P.L. 1 macho, 1 fêmea (INPA). Igarapé Tentativa, Vic. 20, Colinas,
Rorainópolis (N 00°37' W 060°31'), 21/xii/2014, col. Santos, M.A.L. 1 fêmea (INPA).
Igarapé da Vila, Tamandaré, Mucajaí, 11/i/2015, col. Zanetti, F.C.; Souza, T.E.; Souza,
T.E.; Emidio, I.Z., 4 machos (INPA). Igarapé São Luizão, Vic. 21. São Luiz do Anauá
(N 01°05' W 060°00'), 31/i/2015, col. Zanetti, F.C.; Santos, M.A.L.; Almeida, I.R.;
Emidio, S.C., 3 machos (INPA). Igarapé “Espanta Moleque”, vic. 13, Entre Rios,
Caroebe (N00º35’ W059º43’), 02/ii/2015, col. Zanetti, F.C.; Santos, M.A.L.; Almeida,
I.R.; Emidio, S.C. 11 machos, 7 fêmeas (INPA). Igarapé Taboca, vic. 35, Caroebe (N
00°35 W059°43'), 03/ii/2015, col.Zanetti, F.C.; Santos, M.A.L.; Almeida, I.R.; Emidio,
S.C. 3 machos, 3 fêmeas (INPA ad ). Rio Caroebe, Sítio Sumaúma, Caroebe (N 00°50'
W 059°42'),03/ii/2015, col.Zanetti, F.C.; Santos, M.A.L.; Almeida, I.R.; Emidio, S.C. 1
fêmea (INPA).Rio Tacutu, zona urbana, Bonfim (N 03°21' W 059°49'), 07/iv/2015, col.
Zanetti, F.C., Emidio, S.C. 2 machos, 1 fêmea (INPA). Igarapédo Coimbra, Bom Jesus,
Vila Maracá, Amajarí (N 03°37' W061°49'), 18/iv/2015, col. Zanetti, F.C., Santos,
M.A.L., 1 macho (INPA). Rio Trairão, Vila Maracá, Amajarí (N 03°37' W061°51'),
18/iv/2015, col. Zanetti, F.C.; Santos, M.A.L.; Santos, J.; Bezerra, J.1 macho, 1 fêmea
(INPA). Igarapé Traírinha, Bom Jesus, vic. II, Vila Maracá, Amajarí (N 03°35' W
061°46'), 18/iv/2015, col. Zanetti, F.C.; Santos, M.A.L.; Santos, J.; Bezerra, J.1 fêmea
(INPA). Rio Mata Fome, vic. 26, São João da Baliza (N 00°40' W 060°03'), 28/iv/2015,
col. Zanetti, F.C.; Santos, M.A.L.; Emidio, S.C.; Castro, P.M. 2 machos, 1 fêmea
(INPA). Margem esquerda, rio Jauaperi, Rorainópolis (N 00°31' W 060°27’),
29/iv/2015, col. Zanetti, F.C.; Santos, M.A.L.; Emidio, S.C.; Castro, P.M., 2 machos, 2
fêmeas (INPA).
43
espinhos com áreas mesial e lateral bem desenvolvidas e parcialmente coalescentes na
parte distal; área dorsal presente, mas reduzida. Sutura marginal na face mesial, torcida
para a face dorsal na porção distal e retornando à face mésio-ventral próximo ao ápice.
Ápice achatado; abertura distal estreita e comprimida.
Habitat e microhabitat: Rios, igarapés, lagos, diferentes tipos de ambientes, como covos
em barrancos ou em fendas e ocos de troncos submersos apodrecidos, entre as galhadas,
associados a vegetação aquática, nos pedrais de rios correntosos.
Considerações gerais: É uma espécie de médio a grande porte e chega a medir 60,4:52,6
mm de largura/comprimento da carapaça.
44
Figura 17. Sylviocarcinus pictus (H. Milne Edwards, 1853), INPA 1898. Habitus: A – Vista dorsal; B –
Vista ventral. Gonópodo esquerdo: C – Vista total (ventral); D – Vista total (dorsal); E – Vista ventral; F
– Vista dorsal; G, H – Vista lateral.
45
Gênero Valdivia White, 1847
46
05/x/2009, col. Tavares, J.S., Guterres, L.F.R., 1 macho imaturo (MIRR 063). Igarapé
do Mota, Roxinho, Mucajaí, 05/x/2009, col. Tavares, J.S., Guterres, L.F.R., 1 macho
imaturo (MIRR 064). Rio Cauamé, praia do Caçari, Boa Vista, 08/x/2010, col.
Otaviano, A., Zanetti, F.C. & Serafim, R., 1 fêmea imatura (MIRR 087). Rio Cauamé,
praia do Caçari, Boa Vista, 31/i/2011, col. Otaviano, A., Zanetti, F.C. & Serafim, R., 3
fêmeas (MIRR 092). Igarapé Água Fria, rio Branco, Caracaraí (N 01°55'232" W
61°00'291"), 20/ix/2011, col. Rapp Py-Daniel, H.; Ribeiro, R.; Pinna, M. de & Oliveira,
A, 1 fêmea (INPA). Parque Nacional do Viruá, Caracaraí (INPA), 07/v/2009, col. Vale,
J. do, 1 fêmea (INPA). Igarapé Aningal, Km 122, BR 174, sentido Boa
Vista/Pacaraima, Pacaraima,30/xi/1988, col. Desconhecido, fêmeas (INPA). Igarapé do
Mani, rio Uraricoera, Amajarí, 23/v/1987, col. V. Py-Daniel e colaboradores, machos
(INPA). Rio Uraricoera, ESEC Maracá, Amajarí (N 03°21'13,6'' W 61°29'45,0''), col.
desconhecido, macho (INPA). Parque Nacional do Viruá, Caracaraí01/vi/2006, col.
Zuanon, J. e colaboradores, machos (INPA 1505). Rio Ajaraní, Polo Base Ajaraní,
Iracema (N 01°59'51'' W 61°30'40''), 03/iii/1999, col. V. Py-Daniel, U.C. Barbosa &
O.S.Silva, machos (INPA 1906). Igarapé “Espanta Moleque”, vic. 13, Entre Rios,
Caroebe (N00º35’ W059º43’), 02/ii/2015, col. Zanetti, F.C.; Santos, M.A.L.; Almeida,
I.R.; Emidio, S.C., 3 fêmeas (INPA). Rio Mata Fome, vic.26, São João da Baliza (N
00°40' W 060°03'), 28/iv/2015, col. Zanetti, F.C.; Santos, M.A.L.; Emidio, S.C.; Castro,
P.M., 1 macho, 1 fêmea (INPA). Igarapé da 1 ponte, vic. 28, São João da Baliza (N
00°55' W059°52'), 29/iv/2015, col. Zanetti, F.C.; Santos, M.A.L.; Emidio, S.C.; Castro,
P.M., 1 macho, 6 im. (INPA). Rio Jauaperi, margem esquerda, Rorainópolis (N 00°31'
W 060°27’), 29/iv/2015, col. Zanetti, F.C.; Santos, M.A.L.; Emidio, S.C.; Castro, P.M.
2 machos, 1 fêmea (INPA).
47
face látero-ventral quanto na face dorsal; espinhos de aspecto variável, curtos e robustos
ou longos e delgados. Ápice achatado, com as margens látero-distais semelhantes em
forma e posição.
Considerações gerais: É uma espécie de grande porte que pode chegar a medir 68,6:58,1
mm de largura/comprimento de carapaça.
48
Figura 18. Valdivia serrata White, 1847, INPA 1898. Habitus: A – Vista dorsal; B – Vista ventral.
Gonópodo esquerdo: C – Vista total caudal (ventral); D – Vista total (dorsal); E – Vista ventral; F – Vista
dorsal; G, H – Vista lateral.
49
5. DISCUSSÃO
50
Neste, a espécie foi encontrada em três municípios de Roraima: Alto Alegre e Iracema,
na bacia do alto rio Mucajaí, em regiões de florestas de terra firme, e em Amajari, nos
rios Amajari e Parima, também em regiões de florestas de terra firme. A espécie Fredius
stenolobus, originalmente descrita para a bacia do rio Caura, um tributário da margem
direita do rio Orinoco (Rodríguez e Suarez, 1994), foi registrada em Roraima por
Magalhães et al (2014) na região do rio Uraricoera, município de Amajari. Verificou -
se que sua distribuição no estado é mais ampla, sendo encontrada em quatro municípios:
Alto Alegre, na bacia do rio Parima; Amajari, na bacia do rio Auaris; Mucajaí, no rio
Branco; e em Pacaraima, na bacia do rio Surumú (figura 19).
Os representantes do gênero Kingsleya podem ser encontrados em afluentes
das margens norte e sul do rio Amazonas (Magalhães 1986, 2003). Em Roraima, suas
espécies têm uma distribuição mais ampla que as do gênero Fredius, ocorrendo em
bacias do ecossistema de lavrado e de florestas de terra firme (ombrófila densa), nas
áreas de mais baixas altitudes (figura 20). Kingsleya ytupora ocorre nos estados do
Amazonas, Pará e Amapá, com registros conhecidos nos rios Uatumã, Trombetas e
Araguari, respectivamente (Magalhães 1986, 2003). Em Roraima, foi registrada
somente no rio Tacutu, na região de lavrado. Kingsleya latifrons era, até este estudo, a
única espécie de caranguejo pseudotelfusídeo registrada para Roraima, ocorrendo no rio
Surumú, município de Pacaraima (Magalhães, 1986). Os registros verificados neste
estudo expandem sua ocorrência para mais cinco municípios: Bonfim, no rio Tacutu;
Caroebe, nos rios Caroebe e Jatapú, que é um dos principais afluentes da margem
esquerda do rio Uatumã, Amazonas; Rorainópolis, na bacia do rio Jauaperi; São Luiz do
Anauá e São João da Baliza, na bacia do rio Anauá. A distribuição dessa espécie é mais
ampla, abrangendo também a Guiana, o Suriname e a Guiana Francesa (Magalhães e
Pereira, 2007). K. ytupora é muito semelhante a K. latifrons. Além disso, pelo menos
onde são simpátricas, ambas as espécies podem ser distinguidas pela presença (em K.
ytupora) ou ausência (em K. latifrons) de espinhos agudos na metade distal da margem
interna do mero dos quelípodos (Magalhães, 1986). Os pseudotelfusídeos são
considerados caranguejos semi-terrestres por terem elevada capacidade de respiração
aérea (Diaz e Rodriguez, 1977) e, em geral, habitam áreas úmidas do solo da floresta. A
distribuição das espécies dos gêneros Fredius e Kingsleya (figuras 19 e 20) evidencia
uma certa especificidade de cada grupo em termos de suas preferências ecológicas.
51
Enquanto as espécies de Fredius, que são caranguejos restritos a regiões montanhosas
(Rodríguez & Pereira, 1992; Magalhães & Rodríguez, 2002), ocorrem nas regiões
serranas do estado, as espécies de Kingsleya, que são caranguejos típicos de pedrais e
corredeiras, estão distribuídos nas regiões de lavrado e florestas, em áreas de mais baixa
altitude do estado.
Os caranguejos Trichodactylidae apresentaram uma distribuição mais extensa
no estado, como evidenciado nas figuras 21 e 22. Seus representantes ocorrem nos
ecossistemas de lavrados, florestas de terra firme e florestas inundadas, em rios,
igarapés e lagos que estão presentes nas áreas altas e baixas do estado. De acordo com
Magalhães (2003), Moreirocarcinus laevifrons foi encontrada em determinados
afluentes do rio Amazonas: no rio Negro e no rio Uatumã (Magalhães e Pereira 2007),
em geral restrita a rios e igarapés de água preta. Em Roraima, sua distribuição
conhecida ficou restrita ao município de Caracaraí, região de campinaranas, onde há a
maior diversidade de ambientes aquáticos, tais como águas brancas, pretas e claras
(Barbosa 1997). Nesse região foi encontrada em igarapés que fazem parte das bacias
dos rios Anauá e baixo rio Branco.
As demais espécies dessa família encontradas em Roraima, Poppiana dentata,
Sylviocarcinus pictus e Valdivia serrata, têm distribuições bastante amplas, que
abrangem vastas áreas das bacias do rio Amazonas, do rio Orinoco e da bacias costeiras
do norte da América do Sul (Rodríguez, 1992; Magalhães, 2003: Magalhães e Türkay,
1996, 2008); na região do escudo das Guianas elas ocorrem nas bacias dos rios
Amazonas, Araguari, Coppename, Corantijn, Cuyuni, Essequibo, Maroni, Orinoco,
Oyapock e Suriname (Magalhães e Pereira, 2007). Em Roraima. Poppiana dentata e
Sylviocarcinus pictus foram registradas em sub-bacias rio Branco (Magalhães, 2003;
Magalhães e Türkay, 2008), e Valdivia serrata foi registrada na bacia do rio Mucajaí
(Castro & Silva 2013). Neste estudo, as espécies que tiveram distribuição mais ampla
no estado foram S. pictus e V. serrata, encontradas em vários municípios, bem como em
ambientes aquáticos de ecossistemas de lavrado, florestas e florestas inundadas. Por
outro lado, M. laevifrons apresentou uma distribuição mais restrita, encontrada somente
no município de Caracaraí, no baixo rio Branco.
Os habitats e microhabitats explorados pelos caranguejos na bacia hidrográfica
do rio Branco e adjacentes, de uma maneira geral, apresentaram boas condições de
52
preservação, embora em diversas áreas tenha-se verificado problemas localizados de
degradação ambiental, como desmatamento, assoreamento e queimadas. As condições
atuais dos habitats ocupados pelos crustáceos acabam implicando na sua conservação,
pois as ameaças mais significativas ao ambiente aquático que podem influenciar
diretamente a comunidade de decápodes são o desmatamento da mata ciliar, o que leva
ao assoreamento do leito dos rios e a diminuição dos microhabitats disponíveis,
prejudicando o desenvolvimento das populações de crustáceos. A diminuição desses
microhabitats limita a oferta de substrato para abrigo dos caranguejos, bem como a
oferta alimentar disponível no folhiço e na vegetação aquática (macrófitas).
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
53
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Figura 22. Mapa de distribuição das espécies de caranguejos da família Trichodactylidae, gêneros Valdivia e Poppiana, no estado de Roraima, Brasil. Escala: 1: 4500.
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