Antropologia E Cultura: Ronaldo Queiroz de Morais Queiroz
Antropologia E Cultura: Ronaldo Queiroz de Morais Queiroz
Antropologia E Cultura: Ronaldo Queiroz de Morais Queiroz
E CULTURA
Introdução
O Brasil, desde o início da colonização, e mais especificamente a partir do
século XIX, promoveu a abertura política para a entrada de imigrantes no
país. Esse movimento é uma das marcas da constituição da cultura e da
identidade brasileira. Por meio da presença dos imigrantes europeus, novos
hábitos, costumes e experiências múltiplas foram incorporados na sociedade
brasileira e são perceptíveis na atualidade, conforme veremos neste texto.
Napoleão Bonaparte movia uma guerra contra a Inglaterra (umas das prin-
cipais potências europeias no século XIX) e acabou por ter consequências para
a Coroa Portuguesa. Após controlar quase toda a Europa ocidental, Napoleão
impôs um bloqueio ao comércio entre os ingleses e o continente, o chamado
Bloqueio Continental, em 1806. Portugal era um país que dependia do comércio
com os ingleses e, inclusive, possuía uma série de dívidas para com os mesmos.
Portugal era uma brecha no bloqueio e era preciso fechá-la (FAUSTO, 2006).
Em novembro 1807, os franceses invadem as fronteiras entre Portugal e Espa-
nha e chegam a Lisboa. Ainda nesse ano, entre 25 e 27 de novembro, o príncipe
regente D. João VI decidiu-se, em poucos dias, pela transferência da corte para
o Brasil. Desse modo, centenas de pessoas embarcaram em navios portugueses
rumo ao Brasil, sob a proteção da frota inglesa. Todo o conselho burocrático veio
para a colônia: ministros, conselheiros, juízes da Corte Suprema, funcionários
reais, membros do exército, da marinha e do alto clero (FAUSTO, 2006).
Inicialmente a Coroa Portuguesa desembarcou na Bahia, em 1808, onde D.
João VI assinou o decreto da Abertura dos Portos às Nações Amigas, liberando
o livre comércio entre Brasil e demais nações. Após trinta dias no nordeste, a
coroa viaja rumo ao Rio de Janeiro e estabelece ali a capital do reino.
Conforme nos aponta Boris Fausto (2006), a vinda da família deslocou
toda administração portuguesa da Colônia para o Rio de Janeiro, mudando,
inclusive, a fisionomia da cidade. Nesse momento, já é possível identificar as
primeiras contribuições dos portugueses à sociedade brasileira do período.
Entre outros aspectos, segundo Boris Fausto, esboçou-se uma vida cultural,
com o acesso aos livros e a uma relativa circulação de ideias.
Em setembro de 1808, foi publicado o primeiro jornal editado na Colônia:
Gazeta do Rio de Janeiro. Abriram-se teatros, bibliotecas, academias literárias
e científicas, sendo tudo isso para atender aos requisitos da corte e de uma
população urbana em rápida expansão. Muitos dos novos habitantes eram
imigrantes, não apenas portugueses, mas espanhóis, franceses e ingleses que
viriam a formar uma classe média de profissionais e artesãos qualificados.
Além desses, vieram ainda cientistas e viajantes estrangeiros, como Jhon
Mawe, Spix, Martius e Saint-Hilaire, todos eles são autores indispensáveis
para o entendimento do conhecimento daquela época. (FAUSTO, 2006).
Vale também destacar a chegada, em março de 1816, da Missão Artística
Francesa, contando com pintores como Taunay e Debret, incluindo também o
arquiteto Montigny, responsável pelos projetos de várias edificações urbanas
no Rio de Janeiro.
Já em meados do século XIX, sobretudo a partir de 1850, com o fim do tráfico
de escravos, havia-se a perspectiva de que, com a abertura para os imigrantes
Entretanto, a autora bem destaca que isso não gerou comunidades fechadas
ou excludentes. A construção de escolas, por iniciativa dos próprios imigrantes,
cujos prédios por vezes foram ocupados pelo governo, bem como a constru-
ção de capelas e cemitérios estava orientada para a sobrevivência diante das
adversidades (COLBARI, 1997).
Por fim, segundo Alexandre Bueno (2011), é possível destacar ainda que
outro fluxo migratório ocorreu no Brasil após o fim da Segunda Guerra
Mundial, em 1945, e foi retomada a imigração de trabalhadores agrícolas até
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Leituras recomendadas
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