TN 2ed Volume 2
TN 2ed Volume 2
TN 2ed Volume 2
ISBN:978 – 85 – 88375 – 66 – 6
CDU: 511.68
CDD: 512.7
1. Teoria dos Números, 2ª ed: 511.68
ÍNDICE
3. REPRESENTAÇÃO DE INTEIROS EM OUTRAS BASES
6. RAÍZES PRIMITIVAS
3. REPRESENTAÇÃO DE INTEIROS
EM OUTRAS BASES
A forma como os inteiros são representados tem um grande impacto sobre a facilidade
com que as pessoas e os computadores podem fazer a aritmética com esses números inteiros. O
objetivo deste capítulo é explicar como os números inteiros são representados usando
expansões de base b e como operações aritméticas básicas podem ser realizadas usando essas
expansões. Em particular, mostraremos que quando b é um inteiro positivo, cada inteiro
positivo tem uma única base de expansão b. Por exemplo, quando b é 10, temos a expansão
decimal de um número inteiro; Quando b é 2, temos a expansão binária desse inteiro; E quando
bis 16, temos a expansão hexadecimal. Vamos descrever um procedimento para encontrar a
expansão de base b de um inteiro e descrever os algoritmos básicos usados para realizar a
aritmética de números inteiros com expansões de base b. Finalmente, após a introdução da
notação big-0, vamos analisar a complexidade computacional dessas operações básicas em
termos de estimativas de grande-0 do número de operações de bit que eles usam.
Na vida diária, usamos notação decimal para representar números inteiros. Escrevemos
números usando dígitos para representar poderes com freqüência. Por exemplo, quando
escrevemos o inteiro 37 465, queremos dizer
𝟑 ∙ 𝟏𝟎𝟒 + 𝟕 ∙ 𝟏𝟎𝟑 + 𝟒 ∙ 𝟏𝟎𝟐 + 𝟓
Notação decimal é um exemplo de um sistema de números posicional, em que a posição
que um dígito ocupa em uma representação determina a quantidade que representa. Ao longo
da história antiga e moderna, muitas outras notações para números inteiros têm sido usadas. Por
exemplo, os matemáticos babilônicos que viveram há mais de 3000 anos expressaram números
inteiros usando sessenta como base. Os romanos usaram numerais romanos, que são usados até
hoje para representar anos. Os antigos maias usavam uma notação posicional com vinte como
base. Muitos outros sistemas de notação de números inteiros foram inventados e usados ao
longo do tempo.
Não há nenhuma razão especial para usar dez como a base em um sistema de número
de posição fixa, além de que temos dez dedos. Como veremos, qualquer inteiro positivo maior
que 1 pode ser usado como uma base. Com a invenção ea proliferação de computadores, bases
diferentes de dez tornaram-se cada vez mais importantes. Em particular, as representações de
números inteiros base 2, base 8 e base 16 são utilizadas extensivamente por computadores para
várias finalidades.
Vamos demonstrar que não importa qual o inteiro positivo b é escolhido como uma
base, cada inteiro positivo pode ser expresso unicamente na notação de base b. Mostraremos
agora que cada inteiro positivo maior que 1 pode ser usado como uma base.
Teorema 3.1. Dado um inteiro qualquer 𝑏 > 1, todo inteiro positivo n admite uma única
representação da forma:
𝒏 = 𝒂𝒎 𝒃𝒎 + 𝒂𝒎−𝟏 𝒃𝒎−𝟏 + ⋯ + 𝒂𝟐 𝒃𝟐 + 𝒂𝟏 𝒃 + 𝒂𝟎
onde os ai são tais que 0 ≤ 𝑎𝑖 ≤ 𝑏, 𝑖 = 0, 1, . . . , 𝑚.
Corolário 3.1. Cada inteiro positivo pode ser representado como uma soma de potências
distintas de base 2.
As demonstrações desses resultados estão no final desta seção.
Nas expansões descritas no Teorema 3.1, b é chamada de base ou raiz da expansão.
Chamamos base notação 10, a nossa maneira convencional de escrever números inteiros,
notação decimal. As expansões de base 2 são chamadas expansões binárias, as expansões de
base 8 são chamadas expansões octais e as expansões de base 16 são chamadas hexadecimais
ou hexadecimais. Os coeficientes 𝑎𝑖 são chamados os dígitos da expansão. Os dígitos binários
são chamados de bits (dígitos binários) na terminologia do computador.
Para distinguir representações de inteiros com bases diferentes, usamos uma notação
especial. Escrevemos (𝑎𝑘 𝑎𝑘−1 … 𝑎1 𝑎0 )𝑏 para representar o número 𝑎𝑘 𝑏 𝑘 + 𝑎𝑘−1 𝑏 𝑘−1 + ⋯ +
𝑎1 𝑏 + 𝑎0
Continuamos este processo, sucessivamente dividindo o quociente obtido por b, para obter os
(𝟏 𝟖𝟔𝟒)𝟏𝟎 = (𝟏 𝟏𝟏𝟎𝟏𝟎𝟎𝟏𝟎𝟎𝟎)𝟐 .
meios). Portanto, temos dois estados possíveis para cada comutador. Podemos usar "on" para
representar o dígito 1 e "off" para representar o dígito 0; É por isso que os computadores usam
expansões binárias para representar inteiros internamente.
Os computadores usam base 8 ou base 16 para fins de exibição. Na notação de base 16
(hexadecimal) há 16 dígitos, geralmente indicados por 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, A, B, C, D, E,
F. As letras A , B, C, D, E e F são utilizados para representar os dígitos que correspondem a 10,
11, 12, 13, 14 e 15 (escritos em notação decimal). O exemplo a seguir demonstra a conversão
de notação hexadecimal para decimal.
Exemplo 3.4. Para converter (𝐴35𝐵0𝐹)16 de hexadecimal para notação decimal, escrevemos
(𝐴35𝐵0𝐹)16 = 10 · 165 + 3 · 164 + 5 · 163 + 11 · 162 + 0 · 16 + 15 = (10705679)10
Uma conversão simples é possível entre notação binária e hexadecimal. Podemos
escrever cada dígito hexadecimal como um bloco de quatro dígitos binários de acordo com as
correspondências dadas na Tabela 3.1.
Observamos que uma conversão entre duas bases diferentes é tão fácil quanto uma
conversão hexadecimal sempre que uma das bases for uma potência da outra.
Multiplicando por b ambos os membros de (1), por 𝑏 2 ambos os membros de (2), por base
𝑏 3 ambos os membros de (3), ..., por 𝑏 𝑚−1 ambos os mebros de (m-1), obtemos o conjunto de
igualdades:
𝑛 = 𝑏𝑞1 + 𝑎0 , 0 ≤ 𝑎0 < 𝑏
𝑏𝑞1 = 𝑏 2 𝑞2 + 𝑎1 𝑏, 0 ≤ 𝑎1 < 𝑏
𝑏 2 𝑞2 = 𝑏 3 𝑞3 + 𝑎2 𝑏 2 , 0 ≤ 𝑎2 < 𝑏
𝑏 3 𝑞3 = 𝑏 4 𝑞4 + 𝑎3 𝑏 3 0 ≤ 𝑎3 < 𝑏
…………………….. …………
𝑏 𝑚−1 𝑞𝑚−1 = 𝑏 𝑚 𝑎𝑚 + 𝑎𝑚−1 𝑏 𝑚−1 , 0 ≤ 𝑎𝑚−1 < 𝑏
ou finalmente:
PRECIOSIDADES – Parte I
PRECIOSIDADES – Parte II
7) Explique por que realmente estamos usando a base 1000 quando quebramos inteiros decimais
grandes em blocos de três dígitos ligeiramente separados.
8) Mostre que se b é um inteiro negativo menor que −1, então cada inteiro n diferente de zero
pode ser escrito de forma única como
𝑛 = 𝑎𝑘 𝑏 𝑘 + 𝑎𝑘−1 𝑏 𝑘−1 + ⋯ + 𝑎1 𝑏 + 𝑎0
10) Encontre as representações na base −2 dos números decimais −7, −17 e 61.
11) Mostre que qualquer “peso” que não exceda 2𝑘 − 1 kg, por exemplo, pode ser medido
usando pesos de 1, 2, 22 , … , 2𝑘−1 , quando todos os pesos são colocados em uma balança.
12) Mostre que cada inteiro não nulo pode ser representado unicamente na forma
𝑒𝑘 3𝑘 + 𝑒𝑘−1 3𝑘−1 + ⋯ + 𝑒1 3 + 𝑒0
3𝑘 −1
13) Use a questão 12 para mostrar que qualquer peso que não exceda pode ser medido
2
14) Explique como converter de base 3 para base 9, e de base 9 para base 3.
15) Explique como converter de base r para base 𝑟 𝑛 , e de base 𝑟 𝑛 para base r, quando 𝑟 > 1
e n são números inteiros positivos.
16) Mostre que se 𝑛 = (𝑎𝑘 𝑎𝑘−1 … 𝑎1 𝑎0 )𝑏 , então o quociente e o resto quando n é dividido por
bj são 𝑞 = (𝑎𝑘 𝑎𝑘−1 … 𝑎𝑗 )𝑏 e 𝑟 = (𝑎𝑗−1 … 𝑎1 𝑎0 )𝑏 , respectivamente.
a) 22 b) 31 c) −7 d) −29
19) Determine quais são os números inteiro nas seguintes representações binárias
complementares de comprimento cinco.
23) Quais números inteiros estão com representação binária dupla na questão 19?
24) Mostre que se m for um inteiro com uma representação complementar binária dupla
𝑎𝑛−1 𝑎𝑛−2 … 𝑎1 𝑎0, então 𝑚 = −𝑎𝑛−1 (2𝑛−1 ) + ∑𝑛−2 𝑗
𝑖=0 𝑎𝑖 2 .
26) Como conseguir a representação binária complementar dupla de um inteiro a partir da sua
representação binária complementar?
27) Algumas vezes, os inteiros positivos são codificados usando expansões binárias de quatro
dígitos para representar cada dígito decimal. Isso produz a forma decimal binária codificada
(DBC) do inteiro. Por exemplo, vamos codificar 791. Primeiro temos que 1 = (0001)2,
9 = (1001)2 e 7 = (0111)2 , assim 011110010001 é a representão binária codificada de 791.
Quantos bits são necessários para representar um número com n dígitos decimais usando este
tipo de codificação? Converta os inteiros 21, 79 e 126 para a forma decimal binária codificada.
29) Mostre que cada inteiro positivo tem uma única expansão de Cantor.
30) Um certo número decimal de três dígitos aumenta de 36 se permutarmos os dois dígitos da
direita, e diminui de 270 se permutarmos os dois dígitos da esquerda. O que acontece ao número
se permutarmos os dois dígitos extremos? (c. Hefez)
31) Escolha um número decimal abc de três dígitos, de modo que o dígito das centenas a e o
das unidades c difiram de, pelo menos, duas unidades. Considere os números abc e cba e
subtraia o maior do menor, obtendo xyz. A soma xyz com zyx vale 1089. Justifique esse fato.
(c.Hefez)
32) Mostre que o único inteiro com uma expansão decimal de quatro dígitos distintos, tal que
𝑇(𝑎) = 𝑎 é 𝑎 = 6174. O inteiro 617 4 é chamado de constante de Kaprekar (em homegem ao
matemático indiano D.R. Kaprekar (1905-1986)), porque é o único inteiro com esta
propriedade.
33) a) Mostre que se a é um inteiro positivo com uma expansão decimal de quatro dígitos
distintos, então a seqüência 𝑎, 𝑇(𝑎), 𝑇(𝑇(𝑎)), 𝑇(𝑇 (𝑎))), …, obtido por iteração de T, atinge
sempre o número inteiro 6174.
b) Determine o número máximo de passos necessários para que a sequência definida na parte
(a) atinja 6174.
Seja b um inteiro positivo e seja a seja um inteiro com uma expansão de quatro dígitos distintos
na base b. Defina 𝑇𝑏 (𝑎) = 𝑎’ − 𝑎’’ onde 𝑎’ é o inteiro com uma expansão na base b obtida
escrevendo os dígitos de a em ordem decrescente, e 𝑎’’ é o inteiro com uma expansão na base
b obtida escrevendo os dígitos de a em ordem crescente.
34) Seja 𝑏 = 5. Encontre o único inteiro com uma expansão de 4 dígitos distintos na base b tal
que 𝑇5 (𝑎0 ) = 𝑎0 · Mostre que este inteiro a0 é uma constante de Kaprekar para a base 5, ou
seja, que 𝑎, 𝑇 (𝑎), 𝑇(𝑇(𝑎)), 𝑇(𝑇 (𝑎))), … , , . .. eventualmente atinge 𝑎0 , sempre que a for um
inteiro com uma expansão de 4 dígitos distintos na base 5.
35) Mostre que não existe uma constante de Kaprekar para números de quatro dígitos distintos
na base 6.
36) Determine se há uma constante de Kaprekar para inteiros de três dígitos distintos na base
10. Prove que sua resposta está correta.
4. CONGRUÊNCIAS
A linguagem das congruências foi inventada pelo importante matemático alemão Gauss.
Permite-nos trabalhar com relações de divisibilidade da mesma forma como trabalhamos com
igualdades. Vamos desenvolver as propriedades básicas das congruências neste capítulo,
descrever como fazer aritmética com congruências e estudar congruências envolvendo
incógnitas, as congruências lineares. Um exemplo que leva a uma congruência linear é o
problema de encontrar todos os inteiros x tais que quando 7𝑥 é dividido por 11, o resto é 3.
Também estudaremos sistemas de congruências lineares que surgem de problemas como o
antigo quebra-cabeça chinês que pede um número que deixa restos 2, 3 e 2, quando dividido
por 3, 5 e 7, respectivamente. Vamos aprender como resolver esse quebra-cabeça e o sistema
que resulta desse enigma, usando um famoso método conhecido como o teorema do resto
chinês. E por último estudaremos como resolver congruências polinomiais.
A linguagem especial das congruências é extremamente útil na teoria dos números, foi
desenvolvida no início do século XIX por Karl Friedrich Gauss, um dos matemáticos mais
famosos da história.
A linguagem das congruências possibilita trabalhar com relações de divisibilidade tanto
quanto trabalhamos com igualdades. Antes da introdução de congruências, a notação utilizada
para as relações de divisibilidade era difícil e complicada de trabalhar. A introdução de uma
notação conveniente ajudou a acelerar o desenvolvimento da teoria dos números.
Definição. Sejam a e r inteiros quaisquer e seja 𝑚 > 1 um inteiro positivo fixo. Diz-se que a
é congruente a r módulo m se, e somente se, m divide a diferença 𝑎 − 𝑟. Em outros termos a é
congruente a r módulo m se, e somente se, existe um inteiro q tal que 𝑎 − 𝑟 = 𝑚𝑞.
Simbolicamente:
a r (mod m) m | ( a – r ) a - r = mq a = mq + r
Ilustrando.
3 ≡ 24 (mod 7) e 3 = 7. (−3) + 24; −31 ≡ 11 (mod 6);
−15 ≡ −63 (mod 8); 19 ≡ −2 (mod 7) e 19 = 3.7 + (− 2)
Observações:
Teorema 4.1.1. Para inteiros arbitrários a e r, 𝑎 ≡ 𝑟(𝑚𝑜𝑑 𝑚) se, e somente se, a e r deixam o
mesmo resto não negativo quando divididos por m.
Exemplos. 279 ≡ 149 (mod 13), pois 279 = 13.21 + 𝟔 e 149 = 13.11 + 𝟔.
−79 ≡ 137 (mod 18), pois −79 = 18. (−5) + 𝟏𝟏 e 137 = 18.7 + 𝟏𝟏.
−46 ≡ −95 (mod 7), pois −46 = 7. (−7) + 𝟑 e −95 = 7. (−14) + 𝟑.
A congruência pode ser vista como uma forma generalizada da igualdade, no sentido de
que seu comportamento em relação à adição e multiplicação é uma reminiscência da igualdade
comum. Algumas propriedades elementares da igualdade que são transferidas para
congruências aparecerão no Teorema 4.1.2. Faremos as ilustrações dos resultados desse
teorema e deixaremos sua demonstração e de todos os outros resultados para o final desta seção.
Teorema 4.1.2. Seja 𝑚 > 1 um inteiro positivo fixo e sejam a, r, c e d inteiros quaisquer.
Valem as propriedades:
1) 𝑎 ≡ 𝑎 (mod 𝑚) (Reflexiva)
2) Se 𝑎 ≡ 𝑟 (mod 𝑚), então 𝑟 ≡ 𝑎 (mod 𝑚) (Simétrica)
3) Se 𝑎 ≡ 𝑟 (mod 𝑚) e se 𝑟 ≡ 𝑐 (mod 𝑚), então 𝑎 ≡ 𝑐 (mod 𝑚) (Transitiva)
Nota: De acordo com as partes 1, 2 e 3 do Teorema 4.1.2 , vemos que o conjunto de inteiros é
dividido em m conjuntos diferentes chamados classes de congruência modulo m, cada um
contendo números inteiros que são mutuamente congruentes módulo m. Observe que quando
𝑚 = 2, isso nos dá as duas classes de inteiros pares e ímpares.
𝑎
6) Se 𝑎 ≡ 𝑟 (mod 𝑚) e se a, b, m são todos divisíveis pelo inteiro 𝑑 > 1, então ≡
𝑑
𝑟 𝑚
(mod )
𝑑 𝑑
Ilustração. 289 179 (mod 22) e 𝑐 = −8, então 281 ≡ 171 (mod 22) e
−2312 ≡ −1432 (mod 22).
𝑚
10) Se 𝑎𝑐 ≡ 𝑟𝑐 (mod 𝑚) e se o mdc(𝑐, 𝑚) = 𝑑, então 𝑎 ≡ 𝑟 (mod )
𝑑
Definição. Um sistema completo de restos módulo m é um conjunto de inteiros tais que cada
inteiro é congruente módulo m para exatamente um inteiro do conjunto.
PRECIOSIDADES – Parte I
4) Sabendo-se que 1766 ≡ 1066 (mod 𝑚), achar todos os possíveis valores do módulo m.
5) Exprimir que “n é ímpar” de três outras maneiras.
6) Achar todos os inteiros x tais que 0 < 𝑥 < 15 e 3𝑥 ≡ 6 (mod 15)
7) Achar todos os inteiros x tais que 1 < 𝑥 < 100 e 𝑥 ≡ 7 (𝑚𝑜𝑑 17)
8) Sabendo-se que 𝑘 ≡ 1 (mod 4), mostrar que 6𝑘 + 5 ≡ 3 (mod 4)
9) Mostrar, mediante um exemplo, que 𝑎2 ≡ 𝑏 2 (mod 𝑚) não implica 𝑎 ≡ 𝑏 (mod 𝑚).
10) Mostrar que todo primo ímpar é congruente módulo 4 a 1 ou 3.
11) Mostrar que todo primo maior que 3 é congruente módulo 6 a 1 ou 5.
12) Mostrar que
a) 1110 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 100)
b) 31000 + 3 é divisível por 28.
a) 250 por 7
b) 4165 por 7
c) 25100 + 11500 por 3
d) 35555 por 80.
e) 51000 por 126.
f) 3399300 + 29 por 13
32) Demonstrar que, se o inteiro positivo n não é divisível por 4, então a soma: 𝑆 = 1𝑛 + 2𝑛 +
3𝑛 + 4𝑛 é divisível por 5.
33) Determinar todos os inteiros positivos n para os quais 2𝑛 + 1 é divisível por 3.
34) Mostrar que 63! ≡ 61! (mod 7)
35) Mostrar que não existe inteiro algum n que verifique as condições: 𝑛 ≡ 5 (mod 12) e 𝑛 ≡
4 (mod 15)
36) Na divisão do inteiro n por 10 o quociente é q e o resto é r, tais que |2𝑟 − 𝑞| ≡ 0 (𝑚𝑜𝑑 7).
Mostrar que 7 | 𝑛.
37) Determinar quais dos seguintes conjuntos são sistemas completos de restos módulo 4.
a) {−2, −1, 0, 1}
b) {0, 4, 8, 12}
c) {−13, 4, 17, 18 }
d) {−5, 0, 6, 22 }
38) Determinar quais dos seguintes conjuntos são sistemas completos de restos módulo 6.
a) { 1, 2, 3, 4, 5}
b) {0, 5, 10, 15, 20, 25}
c) {−4, −3, −2, −1, 0, 1}
d) {17, −4, 6, 7, 10, 3}
39) Achar um sistema completo de restos {𝑝1 , 𝑝2 , . . . 𝑝𝑖 , . . . , 𝑝7 } módulo 7, tal que todo 𝑝𝑖 é
primo.
40) Achar um sistema completo de restos módulo 7 formado só de múltiplos não negativos de
4.
41) Se n é um múltiplo positivo de 4, qual o resto da divisão de 1𝑛 + 2𝑛 +. . . +8𝑛 + 9𝑛 por 10?
42) Mostre que 121𝑛 − 25𝑛 + 1900𝑛 − (−4)𝑛 é divisível por 2000, para todo natural n.
43) Determinar o algarismo das unidades do número 3100.
44) Que valores de a e b tornam o número 30a0b03 divisível por 13?
45) Determine para que inteiros positivos n, 2𝑛 − 1 é divisível por 7.
46) Prove que 2n + 1 nunca é divisível por 7, para qualquer inteiro positivo n.
47) Demonstre que para todo inteiro 𝑛 ≥ 0, 17 é um divisor de 34𝑛+2 + 26𝑛+3 .
48) Determine o algarismo das dezenas do número 7999999 .
2 3 100
49) Determine o resto da divisão por 7 do número 1010 + 1010 + 1010 +. . . +1010 .
50) Mostre que, para todo n natural, temos 102n + 1 + 1 0 (mod 11).
PRECIOSIDADES – Parte II
2. Para cada um dos pares de inteiros, determine se eles são congruentes módulo 7.
a) 1, 15 c) 2, 99 e) -9, 5
b) 0, 42 d) -1, 8 f) -1, 699
3. Para quais inteiros positivos m, cada uma das seguintes afirmações são verdadeiras?
a) 27 ≡ 5 (mod m) b) 1000 ≡ 1 (mod m) c) 1331 ≡ 0 (mod m)
6. Encontre o menor resto não negativo módulo 13 de cada um dos seguintes números inteiros.
a) 22 c) 1001 e) -100
b) 100 d) -1 f) -1000
7. Encontre o menor resíduo não negativo módulo 28 de cada um dos seguintes números
inteiros.
a) 99 c) 12,345 e) -1000
b) 1100 d) -1 f) -54 321
14. Quais os possíveis dígitos das unidades que ocorrem de uma quarta potência de um número
inteiro?
15. O que você pode concluir se 𝑎2 ≡ 𝑏 2 (mod 𝑝), onde a e b são inteiros e p é primo?
16. Mostre que se 𝑎𝑘 ≡ 𝑏 𝑘 (mod 𝑚) e 𝑎𝑘+1 ≡ 𝑏 𝑘+1 (mod 𝑚), onde a, b, k e m são números
inteiros com 𝑘 > 0 e 𝑚 > 0 tal que mdc (𝑎, 𝑚) = 1, então 𝑎 ≡ 𝑏 (mod 𝑚). Se a condição
mdc (𝑎, 𝑚) = 1 é descartada, a conclusão de que 𝑎 ≡ 𝑏 (mod 𝑚) ainda é válida?
17. Mostre que se n é um inteiro positivo ímpar, então
1 + 2 + 3 + · · · +(𝑛 − 1) ≡ 0 (mod 𝑛).
Esta afirmação é verdadeira se n é par?
18. Mostre que se n é um inteiro positivo ímpar ou se n é um inteiro positivo divisível por 4,
então
13 + 23 + 33 + · · · + (𝑛 − 1)3 ≡ 0 (mod 𝑛).
Esta afirmação é verdadeira se n é par mas, não divisível por 4?
19. Para quais inteiros positivos n, é verdade que
12 + 22 + 32 + · · · + (𝑛 − 1)2 ≡ 0 (mod 𝑛)?
20. Mostre por indução matemática que se n é um inteiro positivo, então 4𝑛 ≡ 1 + 3𝑛 (mod 9).
21. Mostre por indução matemática que se n é um inteiro positivo, então 5𝑛 ≡ 1 +
4𝑛 (mod 16).
22. Dê um sistema completo de restos modulo 13 consistindo inteiramente de inteiros ímpares.
23. Mostre que se 𝑛 ≡ 3 (mod 4), então n não pode ser a soma dos quadrados de dois inteiros.
24. Mostre que se p é primo, então as únicas soluções da congruência 𝑥 2 ≡ 𝑥 (mod 𝑝) são
aquelas inteiros x tais que x ≡ 0 ou 1 (mod p).
25. Mostre que se p é primo e k é um inteiro positivo, então as únicas soluções de x2 ≡ x (mod
pk) são aqueles inteiros x tais que x ≡ 0 ou 1 (mod pk).
26. Encontre os menores resíduos positivos modulo 47 de cada um dos seguintes números
inteiros.
a) 232 b) 247 c) 2200
para algum t.
Entre os vários inteiros que satisfazem a primeira estas fórmulas, considere aqueles que
ocorrem quando t assume os valores sucessivos t=0, 1, 2, … , d – 1 :
𝑛 2𝑛 (𝑑−1)𝑛
𝑥0 , 𝑥0 + 𝑡, 𝑥0 + , …, 𝑥0 +
𝑑 𝑑 𝑑
Afirmamos que esses inteiros são incongruentes módulo n, e todos os outros inteiros inteiros
x são congruentes com algum deles. Se acontecesse que
𝑛 𝑛
𝑥0 + 𝑡1 ≡ 𝑥0 + 𝑡2 (mod 𝑛)
𝑑 𝑑
onde 0 ≤ 𝑡1 < 𝑡2 ≤ 𝑑 − 1, então teríamos
𝑛 𝑛
𝑡1 ≡ 𝑡2 (mod 𝑛)
𝑑 𝑑
Agora mdc(𝑛/𝑑, 𝑛) = 𝑛/𝑑, e, portanto, pela parte 10 do Teorema 4.1.2, o fator 𝑛/𝑑 pode
ser cancelado para chegar à congruência
𝑡1 ≡ 𝑡2 (mod 𝑑)
o que significa que 𝑑|𝑡2 − 𝑡1 . Mas isso é impossível devido a desigualdade 0 < 𝑡2 −
𝑡1 < 𝑑.
Resta argumentar que qualquer outra solução 𝑥0 + (𝑛/𝑑)𝑡 é congruente módulo n para um dos
d inteiros listados acima. O Algoritmo da Divisão nos permite escrever t como 𝑡 = 𝑞𝑑 + 𝑟,
onde 0 ≤ 𝑟 ≤ 𝑑 − 1. Consequentemente
𝑛 𝑛
𝑥0 + 𝑡 = 𝑥0 + (𝑞𝑑 + 𝑟)
𝑑 𝑑
𝑛
= 𝑥0 + 𝑛𝑞 + 𝑑 𝑟
𝑛
= 𝑥0 + 𝑑 𝑟 (mod 𝑛)
com 𝑥0 + (𝑛/𝑑)𝑟 sendo uma das nossas d soluçõess. Isso conclui a prova.
O argumento que demos no Teorema 4.2.2.1 traz um ponto que vale a pena declarar
explicitamente: se 𝑥0 é qualquer solução de 𝑎𝑥 ≡ 𝑏 (mod 𝑛), então as 𝑑 = mdc(𝑎, 𝑛) soluções
inongruentes são dadas por
𝑛 𝑛 𝑛
𝑥0 , 𝑥0 + , 2 ( ) , . . . , 𝑥0 + (𝑑 − 1) ( )
𝑑 𝑑 𝑑
Para facilitat, vamos também registrar a forma que o Teorema 4.2.2.1 assume o caso especial
em que a e n são relativamente primos.
Corolário 4.2.2.1: Se o mdc (a, n) = 1, então a congruência linear 𝑎𝑥 ≡ 𝑏 (mod 𝑛) tem uma
única solução módulo m.
Dados inteiros relativamente primos a e n, a congruência 𝑎𝑥 ≡ 1(mod 𝑛) tem uma
única solução. Esta solução é chamada de inverso (multiplicativo) de a módulo n.
Exemplo 4.2.2.1. As soluções de 7𝑥 ≡ 1 (mod 31) são 𝑥 ≡ 9 (mod 31), 9 e todos os inteiros
congruentes a 9 módulo 31 são inversos de 7 módulos 31. De forma análoga, como 9·7≡
1 (mod 31), 7 é um inverso de 9 módulo 31.
Quando temos um inverso de a módulo m, podemos usar para resolver qualquer
congruência da forma 𝑎𝑥 ≡ 𝑏 (mod 𝑚). Para ver isso, seja 𝑎′ um inverso de a módulo m, então
𝑎𝑎′ ≡ 1 (mod m). Então, se 𝑎𝑥 ≡ 𝑏 (mod 𝑚), podemos multiplicar ambos os lados de sua
congruência por 𝑎′ para encontrar que 𝑎′(𝑎𝑥) ≡ 𝑎′𝑏 (mod 𝑚), de modo que 𝑥 ≡
𝑎′ 𝑏 (mod 𝑚).
Exemplo 4.2.2.2. Para encontrar as soluções de 7𝑥 ≡ 22 (mod 31), multiplicamos os dois
lados desta congruência por 9, um inverso de 7 módulos 31, para obter 9 · 7𝑥 ≡
9,22 (mod 31). Assim, 𝑥 ≡ 198 ≡ 12 (mod 31).
É importante saber quais números inteiros são seus próprios inversos modulo p, onde p
é um primo. O seguinte teorema nos diz quais inteiros possuem essa propriedade.
Teorema 4.2.2.2. Seja p um primo. O inteiro positivo a é seu próprio inverso módulo p se, e
somente se, 𝑎 ≡ 1 (mod 𝑝) ou 𝑎 ≡ −1 (mod 𝑝).
Prova. Se 𝑎 ≡ 1 (mod 𝑝) ou 𝑎 ≡ −1 (mod 𝑝), então 𝑎2 ≡ 1 (mod 𝑝) ⇔ 𝑎. 𝑎 ≡ 1(mod 𝑝),
de modo que a é seu próprio inverso módulo inverso p.
Por outro lado, se a é o seu próprio inverso módulo p, então 𝑎2 = 𝑎. 𝑎 ≡ 1(mod 𝑝). Assim,
𝑝|(𝑎2 − 1). Como 𝑎2 − 1 = (𝑎 − 1)(𝑎 + 1), isso implica que 𝑝|(𝑎 − 1) ou 𝑝|(𝑎 + 1).
Portanto, 𝑎 ≡ 1(mod 𝑝) ou 𝑎 ≡ −1(mod 𝑝).
PRECIOSIDADES GRATUITAS
Solução:
Como o mdc(48,7) = 1, a equação dada tem uma única solução.
Como, 48 6 ( mod 7) e 17 3 (mod 7), podemos escrever:
6𝑥 ≡ 3 (𝑚𝑜𝑑 7) ⇔ 2𝑥 ≡ 1 (mod 7)
Pode-se ver que x = 4 é a solução da congruência.
Podemos simplificar,
3𝑥 − 7𝑦 = 5. (I)
Considerando o módulo 3, temos que 3 ≡ 0 (mod 3), −7 ≡ 2 (mod 3)𝑒 5 ≡ 2 (mod 3),
assim:
As soluções para esta congruências são dadas por 𝑦 = 1 + 3𝑡. Substituindo este valores de y
em ( I ), vem:
PRECIOSIDADES
e
𝜔(𝑛) = 𝑟.
Ou de modo equivalente, em termos de somatório, temos
𝜔(𝑛) = ∑ 1
𝑝|𝑛
𝜏(360) = (3 + 1) ∙ (2 + 1) ∙ (1 + 1) = 4 ∙ 3 ∙ 2 = 24
24 − 1 33 − 1 52 − 1
𝜎(360) = ∙ ∙ = 15 ∙ 13 ∙ 6 = 1170
2 − 1 3 − 21 5 − 1
Ω(360) = 3 + 2 + 1 = 6
e
𝜔(360) = 3
Em particular, para todo primo p:
𝜏(𝑝) = 2, 𝜎(𝑝) = 1 + 𝑝, Ω(𝑝) = 1 e 𝜔(𝑝) = 1.
Definição. Uma função aritmética f diz-se uma função aritmética multiplicativa se subsiste a
igualdade:
𝑓(𝑚 ∙ 𝑛) = 𝑓(𝑚) ∙ 𝑓(𝑛)
Exemplo. A função 𝑔: ℕ → ℕ definida por 𝑔(𝑛) = 𝑛!, não é uma função aritmética
multiplicativa, pois:
𝑔(2 ∙ 3) = 𝑔(6) = 6! = 720 𝑒 𝑔(2) ∙ 𝑔(3) = 2! ∙ 3! = 2 ∙ 6 = 1
Logo, 𝑔(2 ∙ 3) ≠ 𝑔(2) ∙ 𝑔(3), com mdc(2,3) = 1.
𝛼 𝛼 𝛼
Corolário 4.4.2.1. Se f é uma função aritmética multiplicativa e se 𝑛 = 𝑝1 1 ∙ 𝑝2 2 ∙∙∙ 𝑝𝑟 𝑟 é a
fatoração canônica de um inteiro positivo 𝑛 ≥ 1, então:
𝑟
𝛼 𝛼 𝛼 𝑎
𝑓(𝑛) = 𝑓(𝑝1 1 ) ∙ 𝑓(𝑝2 2 ) ∙∙∙ 𝑓(𝑝𝑟 𝑟 ) = ∏ 𝑓(𝑝𝑖 𝑖 )
𝑖=1
PRECIOSIDADES
Al-Haitham e Lagrange
O que hoje é conhecido como teorema de Wilson, apareceu primeiramente nos trabalhos
do matemático árabe Abu Ali al-Hasan Ibn Al-Haitham (965 - 1040). Al-Haitham resolveu
problemas envolvendo congruências usando o que hoje é chamado teorema de Wilson. Em sua
Opuscula, Alhazen considera a solução de um sistema de congruências e oferece dois métodos
gerais de solução. Seu primeiro método, o método canônico, envolveu o que chamamos de
Teorema de Wilson, enquanto seu segundo método envolveu uma versão do Teorema Chinês
do Resto.
Exemplo: Com 𝑝 = 13, existe um único inteiro positivo 𝑎’, com 1 𝑎’ 𝑝 − 1, tal que
𝑎. 𝑎’ ≡ 1 (mod 𝑝)
Tabela 5.1.1
a 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
a' 1 7 9 10 8 11 2 5 3 4 6 12
Nota: Este teorema recíproco dá um critério para se reconhecer se um inteiro dado é primo.
Mas, do ponto de vista prático, no momento, ainda é de interesse apenas teórico, pois o cálculo
de fatoriais exigiria muito tempo.
Teorema 5 (Teorema de Leibniz). Um inteiro 𝑛 >1 é primo, se e somente se,
(𝑛 − 2)! ≡ 1 (mod 𝑛)
Demonstração:
() suponhamos que o inteiro 𝑛 > 1 é primo. Então, pelo teorema de Wilson:
(𝑛 − 1)! ≡ −1 (mod 𝑛)
obviamente,
(𝑛 − 1)! = (𝑛 − 1). (𝑛 − 2)! ≡ −(𝑛 − 2)! (mod 𝑛)
portanto,
(𝑛 − 2)! ≡ 1 (mod 𝑛)
() reciprocamente, se (𝑛 − 2)! ≡ 1 (mod 𝑛), então:
(𝑛 − 1)! ≡ −(𝑛 − 2)! ≡ −1 (mod 𝑛)
Logo, pelo recíproco do Teorema de Wilson, o inteiro n é primo.
Gostaríamos de fechar este item com uma aplicação do teorema de Wilson ao estudo
das congruências quadráticas. [Entende-se que a congruência quadrática significa uma
congruência da forma 𝑎𝑥 2 + 𝑏𝑥 + 𝑐 ≡ 0 (mod 𝑛), com um 𝑎 ≠ 0) (mod n). ] Este é o
conteúdo do Teorema 5.1.2.
portanto, 1 ≡ −1(mod 𝑝). O resultado disso é que 𝑝|2, que é obviamente falso. Assim, p deve
ser da forma 4k + 1.
Agora, na direção oposta. No produto
𝑝−1 𝑝+1
(𝑝 − 1)! = 1 ∙ 2 ∙ ∙ ∙ ∙ ∙ ∙ ∙ (𝑝 − 2)(𝑝 − 1)
2 2
Temos as congruências
𝑝 − 1 ≡ −1(mod 𝑝)
𝑝 − 2 ≡ −2(mod 𝑝)
.
.
.
𝑝+1 𝑝−1
≡− (mod 𝑝)
2 2
Reorganizando os fatores, temos
𝑝−1 𝑝−1
(𝑝 − 1)! ≡ 1 ∙ (−1) ∙ 2 ∙ (−2) ∙ ∙ ∙ ∙ (− ) (mod 𝑝)
2 2
𝑝−1 𝑝−1 2
≡ (−1) 2 (1 ∙2∙∙∙ ) (mod 𝑝)
2
Porque há (𝑝 − 1)/2 sinais menos envolvidos. É neste ponto que o teorema de Wilson pode
ser levado a efeito; como, (𝑝 − 1)! ≡ −1(mod 𝑝), consequentemente,
𝑝−1 𝑝 −1 2
−1 ≡ (−1) 2 [( ) !] (mod 𝑝)
2
PRECIOSIDADES
36 ≡ 1 (mod 7)
Corolário 5.2.1: se p é um primo, então 𝑎𝑝 ≡ 𝑎 (mod 𝑝), qualquer que seja o inteiro a.
Demonstração: se p divide a, então 𝑎 ≡ 0 (mod 𝑝) e 𝑎𝑝 ≡ 0 (mod 𝑝), que implica em:
𝑎𝑝 ≡ 𝑎 (mod 𝑝)
Se, ao invés disto, p não dividisse a, então pelo PTF:
𝑎𝑝−1 ≡ 1 (mod 𝑝), e 𝑎𝑝 ≡ 𝑎 (mod 𝑝)
Teorema 5.2.2: se p e q são primos distintos tais que 𝑎𝑝 ≡ 𝑎 (mod 𝑞) e 𝑎𝑞 ≡ 𝑎 (mod 𝑝),
então:
𝑎𝑝𝑞 ≡ 𝑎 (mod 𝑝. 𝑞)
Demonstração: pelo corolário 1 e da hipótese, temos:
(𝑎𝑞 )𝑝 ≡ 𝑎𝑞 (mod 𝑝) 𝑎𝑞 ≡ 𝑎 (mod 𝑝) 𝑎𝑝𝑞 ≡ 𝑎 (mod 𝑝)
(𝑎𝑝 )𝑞 ≡ 𝑎𝑝 (mod 𝑞) 𝑎𝑞 ≡ 𝑎 (mod 𝑞) 𝑎𝑝𝑞 ≡ 𝑎 (mod 𝑞)
Portanto, 𝑝 | (𝑎𝑝𝑞 − 𝑎), e 𝑞 | (𝑎𝑝𝑞 − 𝑎), que implica em:
(𝑝. 𝑞) | (𝑎𝑝𝑞 − 𝑎), isto é, 𝑎𝑝𝑞 ≡ 𝑎 (mod 𝑝. 𝑞)
Ilustrando: 211 ≡ 2(𝑚𝑜𝑑 31) e 231 ≡ 2(𝑚𝑜𝑑 11)
211×31 ≡ 2 (𝑚𝑜𝑑 31 × 31)
2341 ≡ 2 (𝑚𝑜𝑑 341)
Teorema 5.2.3: Se p é primo e a é um inteiro tal que p não divide a, então 𝑎𝑝−2 é um inverso
de a módulo p.
Prova. Se p não divide a, pelo pequeno teorema de Fermat, temos 𝑎⋅
𝑎𝑝−2 = 𝑎𝑝−1 ≡ 1(𝑚𝑜𝑑 𝑝).
Assim, 𝑎𝑝−2 é um inverso de a módulo p.∎
O teorema 1 nos dá uma outra maneira de resolver congruências lineares em relação a
um módulo primo.
Ilustrando: Seja p = 7 e a = 4.
47−2 = 45 ≡ 2 (𝑚𝑜𝑑 7)
e, 2 × 4 ≡ 1(𝑚𝑜𝑑 7).
Corolário 5.2.3. Se a e b são números inteiros positivos e p é primo que não divide a, então as
soluções da congruência linear 𝑎𝑥 ≡ 𝑏 (mod 𝑝) são os inteiros x tais que 𝑥≡
𝑎𝑝−2 (mod 𝑝).
Prova. Suponha que 𝑎𝑥 ≡ 𝑏 (mod 𝑝) . Como p não divide a, sabemos pelo Teorema 1 que
Ilustrando: 4𝑥 ≡ 6(𝑚𝑜𝑑 7)
2 × 4𝑥 ≡ 2 × 6(𝑚𝑜𝑑 7)
𝑥 ≡ 12 ≡ 5(𝑚𝑜𝑑 7)
𝑥 = 7𝑘 + 5
PRECIOSIDADES
26) Mostre que 1𝑝−1 + 2𝑝−1 + 3𝑝−1 + ⋯ + (𝑝 − 1)(𝑝−1) ≡ −1(mod 𝑝) sempre que o p é
primo.
27) Mostre que 1𝑝 + 2𝑝 + 3𝑝 + ⋯ + (𝑝 − 1)𝑝 ≡ 0 (mod 𝑝) quando p é um primo ímpar.
28) Mostre que, se p primo e a e b são inteiros e inteiros não divisíveis por p, com
𝑎𝑝 ≡ 𝑏 𝑝 (𝑚𝑜𝑑 𝑝), então 𝑎𝑝 ≡ 𝑏 𝑝 (𝑚𝑜𝑑 𝑝2 ).
29) Achar todos os primos p tais que 𝑝 | (2𝑝 + 1).
30) Sejam p um número primo, a e n e inteiros positivos. Prove que se 2p + 3p = an, então n
= 1.
31) Seja p um número primo da forma 4k + 3. Mostre que p | m2 + n2 ⇔ p | m e p | n.
Por outro lado, quando n tem a fatoração 𝑛 = 𝑎𝑏, com 𝑎 ≥ 𝑏 ≥ 1, então podemos
escrever
a+b 2 a−b 2
𝑛=( ) −( )
2 2
Além disso, como n é um inteiro ímpar, a e b são ímpares; consequentemente (𝑎 + 𝑏)/2
e (𝑎 − 𝑏)/2 serão números inteiros não negativos.
Assim, começa uma busca por possíveis x e y que satisfaçam a equação
𝑛 = 𝑥 2 − 𝑦 2 , ou de modo equivalente 𝑥 2 − 𝑛 = 𝑦 2, determinando primeiro o menor número
inteiro k para o qual 𝑘 2 ≥ 𝑛. Agora, olhe sucessivamente os números
𝑘 2 − 𝑛, (𝑘 + 1)2 − 𝑛, (𝑘 + 2)3 − 𝑛, (𝑘 + 3)3 − 𝑛, …
Até um valor de 𝑚 ≥ ⌊√𝑛⌋ ser encontrado fazendo 𝑚2 − 𝑛 um quadrado. O processo não pode
continuar indefinidamente, porque finalmente se chega a
n+1 2 n−1 2
( ) −𝑛 =( )
2 2
a representação de n correspondente à fatoração trivial 𝑛 = 𝑛 · 1. Se este ponto for alcançado
sem que uma diferença entre quadrados tenha sido descoberta antes, então n não tem outros
fatores além de n e 1, caso em que é um primo.
Fermat usou o procedimento que acabamos de descrever para fatorar
2027651281 = 44021.46061
em apenas 11 passos, em comparação com fazer 4580 divisões pelos primos ímpares até 44021.
Este foi provavelmente um caso favorável elaborado com o objetivo de mostrar a principal
virtude de seu método: Ele não exige que se conheça todos os primos menores do que ⌊√𝑛⌋
para encontrar os fatores de n.
Exemplo. Para ilustrar a aplicação do método de Fermat, vamos fatorar o número inteiro 𝑛 =
119143. De uma tabela de quadrados, encontramos que 3452 < 119143 < 3462 ; portanto,
basta considerar valores de 𝑘 2 − 119143 para aqueles k que satisfazem a desigualdade
119143+1
346346 ≤ 𝑘 ≤ = 59572. Os cálculos começam da seguinte forma:
2
k √𝑘 2 − 𝑛
346 √573 =23,93
347 √1266 =35,58
348 √1961 =44,28
349 √2658 =51,55
350 √3357 =57,93
351 √4058 =63,70
352 √4761 =69
Esta última linha exibe a fatoração
119143 = 3522 − 692 = (352 + 69)(352 − 69) = 421. 283
os dois fatores sendo primos. Em apenas sete etapas, obtivemos a fatoração em primos do
número 119143. Claro, nem sempre isso acontece tão facilmente; isto pode demorar muitas
etapas antes de uma diferença ser um quadrado.
O método de Fermat é mais eficaz quando os dois fatores de n são muito próximos, pois,
neste caso, um quadrado adequado aparecerá rapidamente. Para ilustrar, vamos fatorar 𝑛 =
23449. O menor quadrado que excede n é 1542, de modo que a sequência 𝑘 2 − 𝑛 comece com
k √𝑘 2 − 𝑛
154 √267 =16,34
155 √576 =24
Por isso, os fatores de 23449 são
23449 = (155 + 24) (155 − 24) = 179.131
Ao examinar as diferenças 𝑘 2 − 𝑛 como possíveis quadrados, muitos valores podem ser
imediatamente excluídos por inspeção dos dígitos finais. Sabemos, por exemplo, que um
quadrado deve terminar em um dos seis dígitos 0, 1, 4, 5, 6, 9. Isso nos permite excluir todos
os valores no Exemplo 5.2, salvo para 1266, 1961 e 4761. Ao calcular os quadrados dos inteiros
de 0 a 99 do módulo 100, vemos ainda que, para um quadrado, os dois últimos dígitos estão
limitados às seguintes 22 possibilidades:
00 01 04 09 16 21 24 25 29 36 41 44 49 56 61 64 69 76 81 84 89 96
O número inteiro 1266 pode ser eliminado a partir dessa consideração. Como 61 está entre os
dois últimos dígitos permitidos em um quadrado, é necessário apenas olhar para os números
1961 e 4761; O primeiro não é um quadrado, mas 4761 = 692.
Há uma generalização do método de fatoração de Fermat que tem sido usado com algum
sucesso. Aqui, procuramos inteiros distintos x e y, de modo que 𝑥 2 − 𝑦 2 seja um múltiplo de n
em vez do próprio n; isso é,
𝑥 2 ≡ 𝑦 2 (mod 𝑛)
Tendo obtido tais números inteiros, 𝑑 = mdc (𝑥 − 𝑦, 𝑛) (ou 𝑑 = mdc (𝑥 + 𝑦, 𝑛)) pode ser
calculado por meio do Algoritmo euclidiano. Claramente, d é um divisor de n, mas é um divisor
não trivial? Em outras palavras, temos 1 < 𝑑 < 𝑛?
Na prática, n é geralmente o produto de dois primos p e q, com 𝑝 < 𝑞, de modo que d é
igual a 1, p, q ou pq. Agora, a congruência 𝑥 2 ≡ 𝑦 2 (mod 𝑛) se traduz em 𝑝𝑞 | (𝑥 − 𝑦)(𝑥 + 𝑦).
O lema de Euclides nos diz que p e q devem dividir um dos fatores. Se acontecer de que 𝑝 | 𝑥 −
𝑦 e 𝑞 | 𝑥 − 𝑦, então 𝑝𝑞 | 𝑥 − 𝑦, ou expresso como uma congruência 𝑥 ≡ 𝑦(mod 𝑛). Além
disso, 𝑝 | 𝑥 + 𝑦 e 𝑞 | 𝑥 + 𝑦 fornecem 𝑥 ≡ −𝑦(mod 𝑛).. Ao procurar números inteiros x e y que
satisfaçam 𝑥 2 ≡ 𝑦 2 (mod 𝑛), onde 𝑥 ≢ ±𝑦(mod 𝑛), estas duas situações são descartadas. O
resultado de tudo isso é que d é p ou q, dando-nos um divisor não trivial de n.
Isso leva ao divisor primo 11 de 2189. O outro fator, ou seja, 199, pode ser obtido observando
que
mdc (579 + 18, 2189) = mdc (59 7, 2189) = 199
O leitor pode se perguntar como chegamos a um número, como 579, cujo quadrado é
congruente também é um quadrado perfeito módulo 2189. À procura de quadrados próximos
de múltiplos de 2189, observou-se que
812 − 3 · 2189 = −6 e 1552 − 11 · 2189 = −54
que se traduz em
812 ≡ −2 · 3 (mod 2189) e 1552 ≡ −2 · 33 (mod 2189)
𝑦 2 (mod 𝑛), com 𝑥 ≢ ±𝑦(mod 𝑛), resultará em um divisor não trivial de n. É claro que quanto
mais soluções dessa congruência estiverem disponíveis, melhor a chance de se encontrar os
fatores desejados de n.
Exemplo. Seja 𝑛 = 12 499 o número inteiro a ser fatorado. O primeiro quadrado maior que n
é 1122 = 12544. Então, começamos por considerar a sequência dos números x2 – n para x =
112, 113, .... Como antes, nosso interesse é obter um conjunto de valores x1,x2 , ..., xk para o
qual o produto (𝑥𝑖 − 𝑛) · · · (𝑥𝑘 − 𝑛) é um quadrado, digamos 𝑦 2 . Então (𝑥1 . . . 𝑥𝑘 )2 ≡
𝑦 2 (mod 𝑛), o que pode levar a um fator não trivial de n.
Uma breve pesquisa revela que
1122 − 12499 = 45
1172 − 12499 = 1190
1212 − 12499 = 2142
ou, escrito como congruência,
1122 ≡ 32 · 5 (mod 12499)
1172 ≡ 2 · 5 · 7 · 17 (mod 12499)
1212 ≡ 2 · 32 · 7 · 17 (mod 12499)
Multiplicar as congruências resulta em
(112 · 117 · 121)2 ≡ (2 · 32 · 5 · 7 · 17)2 (mod 12499)
ou seja,
15855842 ≡ 107102 (mod 12499)
Mas não tivemos sorte com essa combinação de quadrados. Como
1585584 ≡ 10710 (mod 12499)
PRECIOSIDADES
5. Utilize o método de fatoração generalizado de Fermat para fatorar cada um dos seguintes
números:
(a) 2911
(b) 4573
(c) 6923
6. Fatore 13561 com a ajuda das congruências
2332 ≡ 32 · 5 (𝑚𝑜𝑑 13561) 𝑒 12812 ≡ 24 · 5 (mod 13561)
7. (a) Fatore o número 4537 procurando por x tal que
𝑥 2 − 𝑘 · 4537
é o produto de potências de pequenos números primos.
(b) Utilize o procedimento indicado na parte (a) para o fatorar 14429.
8. Use o método de Kraitchik para fatorar o número 20437.
5.2.4. Pseudoprimos
Pelo corolário 5.2.1, se p é primo, então 2𝑝 ≡ 2 (mod 𝑝), isto é, 𝑝 | (2𝑝 − 2).
Entretanto, a recíproca “se 𝑛 | (2𝑛 − 2), então n é primo” não é uma proposição verdadeira, e
os inteiros positivos ímpares compostos que satisfazem essa condição são chamados de
pseudoprimos.
Por exemplo, 2341 ≡ 2 (mod 341), isto é, 341 | (2341 − 2), onde o inteiro 341 =
11.31 é composto. Com efeito, temos:
211.31 ≡ 2 (mod 11.31), isto é, 2341 ≡ 2 (mod 341), ou que 2340 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 341)
Definição (Pseudoprimos): todo inteiro positivo composto n tal que 2𝑛 ≡ 2 (mod 𝑛) se chama
um pseudoprimo para a base 2.
Há um número infinito de pseudoprimos para a base 2, mas somente sete são menores que 2000,
e todos ímpares:
Nota: O primeiro exemplo de um pseudoprimo par para a base 2 foi dado pelo matemático
americano LEHMER em 1950. O menor deles é 161038 = 2.73.1103 e, em 1951, BEEGER
mostrou a existência da infinidade de pseudoprimos pares para a base 2.
𝑎2𝑝 − 1 𝑎𝑝 − 1 𝑎𝑝 + 1
𝑛= 2 =( )∙( )
𝑎 −1 𝑎−1 𝑎+1
é um pseudoprimo na base a.
𝑎𝑝 −1 𝑎𝑝 +1
( 𝑎−1 ) ≡ ( 𝑎+1 ) (mod 𝑝) ≡ 1 (mod 𝑝)
e se verifica facilmente que estes números são ímpares, de onde 𝑛 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 2. 𝑝), ou
𝑛 = 2. 𝑘. 𝑝 + 1, para um k inteiro. Assim, como 𝑎2𝑝 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 𝑛), temos:
PRECIOSIDADES
1. Demonstrar que 161038 é um pseudoprimo para a base 2, i.e., que 161038 | (2161038 – 2).
2. Mostrar que 2047 é um pseudoprimo para a base 2.
3. Mostre que 341 não é um pseudoprimo para a base 3.
4. Mostrar que 561 é um pseudoprimo para a base 2, 3 e 5.
5. Demonstrar que se 7 não divide n, então 𝑛6 ≡1996 (mod 7).
6. Demonstrar que se MDC (𝑛, 7) = 1 então, 7 | (𝑛12 – 1).
7. Demonstrar que se MDC (𝑎, 240) = 1, então 240 é um divisor de 𝑎4 − 1.
8. Demonstrar que todo primo maior que 5 divide um inteiro formado só de algarismos 1.
9. Demonstrar que para todo inteiro positivo n, temos que (𝑛3 − 𝑛). (58𝑛+4 + 34𝑛+2 ) é um
múltiplo de 3804.
10. Prove que 15 divide 3𝑛5 + 5𝑛3 + 7𝑛.
11. Prove que 91 divide 𝑎12 − 𝑏12 , onde a e b são relativamente primo com 91.
Ao final de vida estava completamente cego. Aliás, já era cego de um olho desde os
vinte anos, o que não o perturbara em nada. Certa vez disse: “agora eu terei menos distrações”.
Aos sessenta anos foi acometido por catarata que o cegou completamente. Apesar disto,
continuou a produzir Matemática por mais sete anos. Seu imenso conhecimento permitia-lhe
criar conceitos sem ter que colocá-los no papel e sua memória fenomenal permitia-lhe usar seu
cérebro como uma biblioteca mental. Passou os anos finais de sua vida na Rússia, então sob a
proteção de Catarina, a Grande.
O pequeno teorema de Fermat nos diz como trabalhar com certas congruências
envolvendo expoentes quando o módulo é primo. Como trabalhamos com as congruências
correspondentes quando o módulo é um inteiro composto?
Para este propósito, gostaríamos de estabelecer uma congruência análoga à fornecida
pelo pequeno teorema de Fermat para números inteiros compostos. Conforme mencionado, o
grande matemático suíço Leonhard Euler publicou uma prova do pequeno teorema de Fermat
em 1736. Em 1760, Euler conseguiu encontrar uma generalização do pequeno teorema de
Fermat que é válido para inteiros com módulo compostos. Antes de apresentar esse resultado,
precisamos definir uma função de contagem especial (introduzida por Euler) usada no teorema.
Definição: Chama-se Função Phi de Euler a função aritmética multiplicativa 𝜑 assim definida
para todo inteiro positivo n:
𝜑(𝑛) = quantidade de inteiros positivos menores que n relativamente primos a n.
Em outros termos, 𝜑(𝑛) é igual ao número de elementos do conjunto
#{ 𝑥 ℤ | 1 𝑥 < 𝑛, MDC (𝑥, 𝑛) = 1 }
Observação: 𝜑(1) = 1 , pois MDC (1, 1) = 1.
Exemplo: 𝜑(30)=8 e 𝜑(12) = 4 .
1 2 ... H ... r
r+1 r+2 ... r+h ... 2.r
2.r + 1 2.r + 2 ... 2.r + h ... 3.r
... ... ... ... ... ...
(s – 1).r + 1 (s – 1).r + 2 ... (s – 1).r + h ... s.r
Como o MDC (𝑞. 𝑟 + ℎ, 𝑟) = MDC (ℎ, 𝑟), os inteiros da h-ésima coluna são primos com
r, se e somente se, h é primo com r. Além disto, como na primeira linha o número de inteiros
que são primos com r é igual a 𝜑(𝑟), segue que há somente 𝜑(𝑟)colunas formadas com inteiros
que são todos os primos com r. Por outro lado, em cada uma destas 𝜑(𝑟)colunas existe
precisamente 𝜑(𝑠)inteiros que são primos com s, porque na progressão aritmética:
ℎ, 𝑟 + ℎ, 2. 𝑟 + ℎ, . . . , (𝑠 − 1). 𝑟 + ℎ
onde o MDC (𝑟, ℎ) = 1, o número de termos que são primos com s é igual a 𝜑(𝑠).
Assim sendo, o número total de inteiros que são primos com r e s, isto é, que são primos a 𝑟. 𝑠,
é igual a 𝜑(𝑟). 𝜑(𝑠), e isto significa que 𝜑(𝑟. 𝑠) = 𝜑(𝑟). 𝜑(𝑠)∎
ou seja,
𝑟 𝑟
𝑘 𝑘 −1 1
𝜑(𝑛) = ∏(𝑝𝑖 𝑖 − 𝑝𝑖 𝑖 ) = 𝑛 ∙ ∏ (1 − )
𝑝𝑖
𝑖=1 𝑖=1
ou seja,
𝑘 𝑘 𝑘𝑟+1 𝑘 𝑘 𝑟+1 𝑘 𝑟+1 𝑘 𝑘 𝑘 −1
𝜑[(𝑝1 1 ∙ 𝑝2 2 ∙ ⋯ ∙ 𝑝𝑟 𝑟 ) ∙ 𝑝𝑟+1 ] = 𝜑(𝑝1 1 ∙ 𝑝2 2 ∙ ⋯ ∙ 𝑝𝑟 𝑟 ) ∙ ( 𝑝𝑟+1 − 𝑝𝑟+1 )
ou, à vista da hipótese de indução:
𝑘 𝑘 𝑘 𝑟+1 𝑘 𝑘 𝑘 −1 𝑘 𝑘 −1 𝑘 𝑟+1 𝑟+1 𝑘 −1
𝜑(𝑝1 1 ∙ 𝑝2 2 ∙ ⋯ ∙ 𝑝𝑟 𝑟 . 𝑝𝑟+1 ) = (𝑝1 1 − 𝑝1 1 ) ∙ ⋯ ∙ ( 𝑝𝑟 𝑟 − ∙ 𝑝𝑟 𝑟 ) ∙ ( 𝑝𝑟+1 − 𝑝𝑟+1 )
e isto significa que a proposição é verdadeira para 𝑟 = 𝑖 + 1. Logo, a proposição é verdadeira
para todo inteiro positivo r.
Teorema 5.3.2.4. Para todo inteiro positivo 𝑛 > 2 , 𝜑 (𝑛) é um inteiro par
Demonstração. Se n é uma potência de 2, isto é, 𝑛 = 2𝑘 , com 𝑘 ≥ 2, então:
1
𝜑(2𝑘 ) = 2𝑘 (1 − ) = 2𝑘−1
2
que é um inteiro par.
Se, ao invés, n não é uma potência de 2, então n é divisível por um primo impar p, isto
é:
𝑛 = 𝑝𝑘 𝑚, onde 𝑘 ≥ 1 e o mdc (𝑝𝑘 , 𝑚) = 1
e como 𝜑(𝑛) é uma função aritmética multiplicativa temos:
𝜑(𝑛) = 𝜑(𝑝𝑘 𝑚) = 𝜙(𝑝𝑘 ) 𝜑(𝑚) = 𝑝𝑘−1 (𝑝 − 1)𝜑(𝑚)
que é também um inteiro par, por que 2 | (𝑝 − 1).
Assim, 𝜑(𝑛) é um inteiro ímpar somente para 𝑛 = 1 e 𝑛 = 2:
𝜑(1) = 𝜑(2) = 1 ∎
Lema 5.3.2.1. Sejam a e 𝑛 > 1 inteiros tais que o MDC (𝑎, 𝑛) = 1. Se 𝑎1 , 𝑎2 , . . . , 𝑎𝜑(𝑛) são
inteiros positivos menores que n e que são relativamente primos com n, então cada um dos
inteiros 𝑎. 𝑎1 , 𝑎. 𝑎2 , . . . , 𝑎. 𝑎𝜑(𝑛) é congruente módulo n a um dos inteiros 𝑎1 , 𝑎2 , . . . , 𝑎𝜑(𝑛) (não
necessariamente nesta ordem em que aparecem).
O Teorema de Euler
𝑎𝑥 ≡ 𝑏. 𝑎𝜑(𝑚) (mod 𝑚)
Como o MDC (𝑎, 𝑚) = 1, podemos cancelar o fator comum a, que resulta em:
𝑥 ≡ 𝑏 𝑎𝜑(𝑚)−1 (mod 𝑚)
Exemplo: no caso da congruência linear 3. 𝑥 ≡ 5 (mod 8), onde o MDC (3, 8) = 1, temos:
𝑥 5. 3𝜑(8)−1 (mod 8) ≡ 5. 34−1 (mod 8) ≡ 5.27 (mod 8) ≡ 135 (mod 8) ≡ 7 (mod 8)
Em particular,
𝑎. 𝑥 ≡ 1 (mod 𝑛) 𝑥 ≡ 𝑎𝜑(𝑚)−1 (mod 𝑛)
determina um inverso de a módulo n.
PRECIOSIDADES
O livro “Manual Aritmético do Mestre Sol” foi escrito por Sun Zi Suanjing (ou Sun Tzu
Suan Ching), provavelmente entre 280 d.C. a 483 d.C. O livro está dividido em 3 capítulos.
O 1º capítulo, contém apenas dois problemas que dizem respeito sobretudo a métodos
para fazer multiplicações e divisões, utilizando “palitinhos chineses”. O segundo capítulo,
contém 28 problemas, apresenta métodos para o cálculo com frações, extração da raiz quadrada,
determinação de áreas e volumes, proporções e regra de três simples. O terceiro capítulo contém
36 problemas aritméticos.
No problema 26 (também conhecido como “problema do Mestre Sun”) do 3° capítulo,
Sun Tzu utiliza pela primeira vez o chamado Teorema Chinês do Resto (TCR). O problema
está enunciado abaixo:
“Temos coisas, mas não sabemos quantas; se as contarmos de três em três, o resto é 2;
se as contarmos de cinco em cinco, o resto é 3; se as contarmos de sete em sete, o resto é 2.
Quantas coisas temos?”
Em notação moderna, este problema equivale a procurar as soluções do seguinte sistema
de congruências:
𝑥 ≡ 2(𝑚𝑜𝑑 3)
{𝑥 ≡ 3(𝑚𝑜𝑑 5)
𝑥 ≡ 2(𝑚𝑜𝑑 7)
Resolver problemas como esse é um dos objetivos deste tópico.
Problemas envolvendo sistemas de congruências ocorrem nos escritos do matemático
grego Nicômaco no primeiro século. Eles também podem ser encontrados nas obras de
Brahmagupta na Índia no século VII. No entanto, foi apenas no ano de 1247 que um método
geral para resolver sistemas de congruências lineares foi publicado por Ch’in ChiuShao em seu
Tratado Matemático em Nove Seções. Apresentamos agora o teorema principal relativo à
solução de sistemas de congruências lineares em uma incógnita. Este teorema é chamado o
teorema chinês do resto, muito provavelmente por causa das contribuições de matemáticos
chineses tais como Ch'in Chiu-Shao a sua solução.
Onde:
𝑚
(i) 𝑀𝑘 = 𝑚 , 𝑘 = 1, 2, 3, . ..
𝑘
𝑥 ≡ 8 (mod 5)
𝑥 ≡ 5 (mod 3)
𝑥 ≡ 11 (mod 7)
{ 𝑥 ≡ 2 (mod 4)
𝑚 420
𝑀4 = = = 105
𝑚4 4
Um quadro resumo:
𝑚 = 𝑚1 ∙ 𝑚2 ∙∙∙ 𝑚𝑘
𝑚𝑘 𝑎𝑘 𝑚 𝜑(𝑚𝑘 )−1 𝑘
𝑀𝑘 = 𝑥𝑘 ≡ 𝑀𝑘 (𝑚𝑜𝑑 𝑚𝑘 )
𝑚𝑘 𝑥 ≡ (∑ 𝑎𝑖 ∙ 𝑀𝑖 ∙ 𝑥𝑖 ) (𝑚𝑜𝑑 𝑚)
𝑖=1
5 8 84 4 𝑥 ≡ 5618 (𝑚𝑜𝑑 420)
3 5 140 2 𝑥 ≡ 158 (𝑚𝑜𝑑 420)
7 11 60 2 𝑥 = 158 + 420𝑡, 𝑡∈ℤ
4 2 105 1
Exemplo 5.4.2:
5𝑥 ≡ 11 (mod 17)
{3𝑥 ≡ 19 (mod 32)
11𝑥 ≡ 6 (mod 37)
Solução: Como o mdc (17, 32) = mdc(17, 37) = mdc (32, 37) = 1, o sistema possui
solução.
5𝑥 ≡ 11 (mod 17) ⇔ 𝑥 ≡ 5𝜑(17)−1 ∙ 11 ⇔ 𝑥 ≡ 9 (mod 17).
3𝑥 ≡ 19 (mod 32)) ⇔ 𝑥 ≡ 3𝜑(32)−1 ∙ 19 ⇔ 𝑥 ≡ 17 (mod 32)
11𝑥 ≡ 6 (mod 37)) ⇔ 𝑥 ≡ 11𝜑(37)−1 ∙ 6 ⇔ 𝑥 ≡ 14 (mod 37)
Então 1184. 𝑥1 1 (mod 17), 629. 𝑥2 1 (mod 32) e 544. 𝑥3 1 (mod 37).
De onde concluímos: 𝑥1 = 14 , 𝑥2 = 29 e 𝑥3 = 10.
A solução geral será:
𝑥 ≡ 9 . 14 . 1184 + 17 . 29 . 629 + 14 . 10 . 544 (mod 20128)
x ≡ 535441 ≡ 12113 (mod 20128)
𝑥 = 12113 + 20128𝑡, 𝑡∈ℤ
PRECIOSIDADES
Exemplo:
Queremos calcular 25432675 (mod 13). Da maneira como vínhamos procedendo
teríamos que efetuar uma quantidade enorme de potenciações módulo 13. Usando a idéia acima,
obtemos o resto da divisão de 𝑘 = 5432675 por 𝜑(13), que é 𝑟 = 11, e assim:
25432675 ≡ (2𝜑(13) )𝑞 . 211 (mod 13) ≡ 211 (mod 13) ≡ 7 (mod 13)
Logo, 25432675 ≡ 7 (mod 13).
Assim, estamos supondo que, na fatoração de n, cada fator primo aparece com
multiplicidade 1. Neste caso fica muito fácil calcular a forma reduzida de 𝑎𝑚 (mod 𝑛).
Em primeiro lugar, usamos o PTF para achar a forma reduzida de 𝑎𝑚 módulo cada um dos
primos 𝑝1 . , 𝑝2 , . .. , 𝑝𝑘 separadamente. Digamos que:
𝑎𝑚 ≡ 𝑟1 (mod 𝑝1 ) e 0 ≤ 𝑟1 < 𝑝1
𝑎𝑚 ≡ 𝑟2 (mod 𝑝2 ) e 0 ≤ 𝑟2 < 𝑝2
...
𝑎𝑚 ≡ 𝑟𝑘 (mod 𝑝𝑘 ) e 0 ≤ 𝑟𝑘 < 𝑝𝑘
Para achar a forma reduzida de am (mod n), basta resolver o sistema:
𝑥 ≡ 𝑟1 (mod 𝑝1 )
𝑥 ≡ 𝑟2 (mod 𝑝2 )
...
𝑥 ≡ 𝑟𝑘 (𝑚𝑜𝑑 𝑝𝑘 )
Observe que este sistema sempre tem solução, já que os módulos são primos distintos
e, portanto, o MDC entre dois quaisquer entre eles é sempre igual a 1. Além disto, o teorema
nos garante que o sistema tem uma única solução 𝑟 (mod 𝑛), onde 𝑛 = 𝑝1 . 𝑝2 . . .. . 𝑝𝑘 Logo
𝑎𝑚 ≡ 𝑟 (mod 𝑛), e obtivemos o que queríamos.
Vejamos um exemplo numérico. Digamos que queremos calcular a forma reduzida de
26754 (mod 1155)
Fatorando 1155 vemos que é 1155 = 3 . 5 . 7 . 11, todos primos entre si com multiplicidade 1.
Aplicando o PTF a cada um destes primos, temos que:
26754 ≡ 2𝑟1 (mod 3)
26754 ≡ 2𝑟2 (mod 5)
26754 ≡ 2𝑟3 (mod 7)
26754 ≡ 2𝑟4 (mod 11)
Assim:
6754 = 𝜑(3). 𝑞1 + 𝑟1 6754 = 2 . 3377 + 0, logo 20 ≡ 1 (mod 3).
6754 = 𝜑(5). 𝑞2 + 𝑟2 6754 = 4 . 1688 + 2, logo 22 ≡ 4 (mod 5).
6754 = 𝜑(7). 𝑞3 + 𝑟3 6754 = 6 . 1125 + 4, logo 24 ≡ 2 (mod 7).
6754 = 𝜑(11). 𝑞4 + 𝑟4 6754 = 10 . 675 + 4, logo 24 ≡ 5 (mod 11).
Precisamos, portanto, resolver o sistema:
𝑥 ≡ 1 (mod 3)
𝑥 ≡ 4 (mod 5)
𝑥 ≡ 2 (mod 7)
𝑥 ≡ 5 (mod11)
Solução:
𝑚 = 𝑚1 . 𝑚2 . 𝑚3 . 𝑚4 = 3 . 5 . 7 . 11 = 1155
𝑚 1155
𝑀1 = = = 385;
𝑚1 3
𝑚 1155
𝑀2 = = = 231;
𝑚2 5
𝑚 1155
𝑀3 = = = 165;
𝑚3 7
𝑚 1155
𝑀4 = = = 105.
𝑚4 11
CONGRUÊNCIAS POLINOMIAIS
Definição: Chama-se congruência polinomial com uma incógnita toda congruência de forma
geral:
𝑓(𝑥) ≡ 0 (mod 𝑚) (1)
onde f(x) é um polinômio de grau 𝑛 ≥ 1 com coeficientes inteiros:
f(𝑥) = 𝑎𝑛 𝑥 𝑛 + 𝑎𝑛−1 𝑥 𝑛−1 + ⋯ + 𝑎1 𝑥 + 𝑎0
e m é um inteiro positivo.
Para 𝑛 = 1, temos a congruência linear:
𝑓(𝑥) ≡ 𝑎1 𝑥 + 𝑎0 ≡ 0(mod 𝑚)
cuja resolução já foi estudada, por isso, daqui por diante, o grau n do polinômio 𝑓(𝑥) será
suposto ≥ 2.
Definição: Todo inteiro r tal que 𝑓(𝑟) ≡ 0 (mod 𝑚) diz-se uma solução da congruência
polinomial (1).
Se r é uma solução da congruência polinomial (1) e se 𝑟 ≡ 𝑠 (mod 𝑚), então s também é uma
solução da congruência polinomial (1), pois:
𝑓(𝑟) ≡ 0 (mod 𝑚) e 𝑓(𝑟) ≡ 𝑓(𝑠) (mod 𝑚) , implica 𝑓(𝑠) ≡ 0 (mod 𝑚).
Entretanto, por uma convenção geral, sempre que se fala de soluções distintas da congruência
polinomial (1), deve-se entender que se trata de soluções incongruentes módulo m.
Sejam r uma solução qualquer da congruência polinomial (1) e 𝑆 = {𝑟1 , 𝑟2 , … , 𝑟𝑚 } um sistema
completo de restos módulo m, Então, o inteiro r é congruente módulo m a um único elemento
𝑟1 do conjunto 𝑆 ∶ 𝑟 ≡ 𝑟1 (mod 𝑚), o que implica:
𝒇(𝑟1 ) ≡ 𝒇(𝒓) ≡ 𝟎 (𝐦𝐨𝐝 𝒎)
isto é 𝑟1 é solução da congruência polinomial (1). Portanto, as soluções desta
congruência são os elementos 𝑟1 do conjunto S tais que 𝑓(𝑟1 ) ≡ 0 (mod 𝑚).
Em particular, como o conjunto 𝑆0 = {0,1,2, . . . , 𝑚 − 1} é um sistema completo de
restos módulo m, segue-se que todas as soluções da congruência polinomial (1) são
elementos deste conjunto 𝑆0 , e por conseguinte esta congruência pode ter, quando muito, m
soluções.
𝑚 42 𝑚 42 𝑚 42
𝑀1 = 𝑚 = = 21, 𝑀2 = 𝑚 = = 14, 𝑀3 = 𝑚 = =6
1 2 2 3 3 7
Veremos que existe uma maneira relativamente simples de resolver congruências polinômiais
modulo 𝑝𝑘 , uma vez que todas as soluções modulo p sejam conhecidas. Vamos mostrar que
soluções modulo p podem ser usadas para encontrar soluções modulo 𝑝2 , as soluções modulo
𝑝2 podem ser usadas para encontrar soluções modulo 𝑝3 , e assim por diante. Antes de introduzir
o método geral, apresentamos um exemplo que ilustra a ideia básica usada para encontrar
soluções de uma congruência polinomial modulo 𝑝2 a partir da solução módulo p.
Vamos apresentar um método geral que nos ajudará a encontrar as soluções de congruências
cujos módulos são potências de números primos. Em particular, mostraremos como as soluções
da congruência 𝑓(𝑥) ≡ 0(𝑚𝑜𝑑 𝑝𝑘 ) , onde p é primo e k é um inteiro positivo com 𝑘 ≥ 2,
podem ser encontradas a partir da congruências 𝑓(𝑥) ≡ 0(𝑚𝑜𝑑 𝑝𝑘−1 ). As soluções da
congruência modulo 𝑝𝑘 são obtidas a partir das soluções modulo 𝑝𝑘−1 . Apesar do teorema usar
𝑓 ′(𝑥), como a derivada de f, no entanto, não precisaremos de resultados do cálculo. Em vez
disso, podemos definir a derivada de um polinômio diretamente e descrever as propriedades
que precisaremos.
Lema 4.3.3. Se 𝑓(𝑥) e 𝑔(𝑥) são polinômios e 𝑐 é uma constante, então (𝑓 + 𝑔)’(𝑥) = 𝑓’(𝑥) +
𝑔’(𝑥) e (𝑐𝑓)’(𝑥) = 𝑐(𝑓’(𝑥). Além disso, se 𝑘 é um número inteiro positivo, então
(𝑓 + 𝑔)(𝑘) (𝑥) = 𝑓 (𝑘) (𝑥) + 𝑔(𝑘) (𝑥) e (𝑐𝑓)(𝑘) (𝑥) = 𝑐(𝑓 (𝑘) (𝑥)).
Teorema 4.3.3. (Lema de Hensel). Suponha que 𝑓(𝑥) seja um polinômio com coeficientes
inteiros 𝑘 é um número inteiro com 𝑘 ≥ 2, e 𝑝 é um primo. Suponha ainda que 𝑟 é uma solução
da congruência 𝑓(𝑥) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘−1 ). Então,
(i) se 𝑓′(𝑟) ≢ 0 (mod 𝑝), então existe um único inteiro 𝑡, 0 ≤ 𝑡 < 𝑝, tal que
𝑓 (𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 ) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘 ), dado por
̅̅̅̅̅̅̅
𝑓 ′ (𝑟)(𝑓(𝑟))
𝑡≡− (𝑚𝑜𝑑 𝑝)
𝑝𝑘−1
̅̅̅̅̅̅̅
onde 𝑓 ′ (𝑟) é um inverso multiplicativo de 𝑓′(𝑟) módulo 𝑝;
(ii) se 𝑓 ′(𝑟) ≡ 0 (mod 𝑝) e 𝑓(𝑟) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘 ), então 𝑓(𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 ) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘 ) para
todos os inteiros 𝑡;
(iii) se 𝑓 ′(𝑟) ≡ 0 (mod 𝑝) e 𝑓(𝑟) ≢ 0 (mod 𝑝𝑘 ), então 𝑓(𝑥) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘 ) não possui
soluções com 𝑥 ≡ 𝑟 (mod 𝑝𝑘−1 ).
No caso (i), vemos que uma solução para 𝑓(𝑥) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘−1 )leva para uma solução única
de 𝑓(𝑥) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘 ) e nos casos (ii) e (iii ), tal solução leva as principais soluções
incongruentes módulo 𝑝𝑘 ou a nenhuma.
Antes de prova do Teorema 4.3.3 precisamos estabelecer o seguinte lema sobre a expansão
do polinômio de Taylor.
Lema 4.3.2. Se 𝑓(𝑥) é um polinômio de grau 𝑛 e 𝑎 e 𝑏 são números reais, então
𝑓(𝑎 + 𝑏) = 𝑓(𝑎) + 𝑓 ′ (𝑎)𝑏 + 𝑓"(𝑎)𝑏 2 /2! + ⋯ + 𝑓 (𝑛) (𝑎)𝑏 𝑛 /𝑛!,
onde por cada valor dado dos coeficientes (ou seja, 1, 𝑓′(𝑎), 𝑓 "(𝑎)/2!, . . . , 𝑓 (𝑛) (𝑎)/𝑛!) são
polinômios em a com coeficientes inteiros.
Agora que temos todos os resultados necessários para provar o lema de Hensel.
Prova. Se 𝑟 é uma solução de 𝑓(𝑟) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘 ), então também é uma solução de (𝑟) ≡
0 (mod 𝑝𝑘−1 ). Por isso, é igual a 𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 para algum número inteiro 𝑡. A prova segue uma
vez que determinamos as condições em 𝑡.
Pelo Lema 4.6, segue-se que
𝑓"(𝑟) 𝑓 (𝑛) (𝑟)
𝑓(𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 ) = 𝑓(𝑟) + 𝑓 ′ (𝑟)𝑡𝑝𝑘−1 + (𝑡𝑝𝑘−1 )2 + ⋯ + (𝑡𝑝𝑘−1 )𝑛 ,
2! 𝑛!
onde 𝑓 (𝑛) (𝑟)/𝑘! É um número inteiro para 𝑘 = 1, 2, . . . , 𝑛. Dado que 𝑘 ≥ 2, segue-se que 𝑘 ≤
𝑚(𝑘 − 1) e 𝑝𝑘 |𝑝𝑚(𝑘−1) para 2 ≤ 𝑚 ≤ 𝑛. Consequentemente,
𝑓(𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 ) ≡ 𝑓(𝑟) + 𝑓 ′ (𝑟)𝑡𝑝𝑘−1 (mod 𝑝𝑘 )
Como 𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 é uma solução de 𝑓(𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 ) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘 ), segue-se que 𝑓 ′ (𝑟)𝑡𝑝𝑘−1 ≡
−𝑓(𝑟) (mod 𝑝𝑘 ).
Além disso, podemos dividir essa congruência por 𝑝𝑘−1 , 𝑓(𝑟) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘−1 ).
Quando fazemos isso e reorganizamos os termos, obtemos uma congruência linear em 𝑡, ou
seja,
𝑓 ′ (𝑟)𝑡 ≡ −𝑓(𝑟)/𝑝𝑘−1 mod 𝑝)
̅̅̅̅̅̅̅
Onde 𝑓 ′ (𝑟) é um inverso de 𝑓′(𝑟) módulo 𝑝. Isso estabelece o caso (i)
Quando 𝑓 ′(𝑟) ≡ 0 (mod 𝑝), temos (𝑓′(𝑟), 𝑝) = 𝑝. Pelo teorema 4.11, se 𝑝|(𝑓(𝑟)/𝑝𝑘−1 ), que
se mantém se e somente se 𝑓(𝑟) ≡ 0 (mod 𝑝𝑘 ), então todos os valores 𝑡 são soluções. Isso
significa que 𝑥 = 𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 é uma solução para 𝑡 = 0, 1, . . . , 𝑝 − 1. Isso estabelece o caso (ii).
Finalmente, considere o caso quando 𝑓′(𝑟) ≡ 0 (𝑚𝑜𝑑 𝑝), mas 𝑝 ∤ (𝑓(𝑟)/𝑝𝑘−1 ). Nós temos
(𝑓′(𝑟), 𝑝) = 𝑝 e 𝑓(𝑟) ≢ (mod 𝑝𝑘 ); então,pelo Teorema 4.11, nenhum valor de 𝑡 são soluções.
Isso completa o caso (iii). ∎
Corolário 4.3.3 (de Hensel). Suponha que 𝑟 seja uma solução da congruência polinomial
𝑓(𝑥) ≡ 0 (mod 𝑝), onde 𝑝 é primo. Se 𝑓′(𝑟) ≢ 0 (mod 𝑝), então há uma única solução 𝑟𝑘
módulo 𝑝𝑘 , 𝑘 = 2, 3, . . ., de modo que 𝑟1 = 𝑟 e
̅̅̅̅̅̅̅
𝑟𝑘 = 𝑟𝑘−1 − 𝑓(𝑟𝑘−1 )𝑓 ′ (𝑟),
̅̅̅̅̅̅̅
onde 𝑓 ′ (𝑟) é um inverso multiplicativo de 𝑓′(𝑟) módulo 𝑝.
Prova. Usando as hipóteses, vemos pelo lema de Hensel que 𝑟 eleva-se para uma solução única
̅̅̅̅̅̅̅
𝑟2 módulo 𝑝2 com 𝑟2 = 𝑟 + 𝑡𝑝, onde 𝑡 = −𝑓 ′ (𝑟)(𝑓(𝑟)/𝑝). Consequentemente,
̅̅̅̅̅̅̅
𝑟2 = 𝑟 − 𝑓(𝑟)𝑓 ′ (𝑟)
Como 𝑟2 ≡ 𝑟 (mod 𝑝), segue-se que 𝑓′(𝑟2 ) ≡ 𝑓′(𝑟) ≢ 0 (mod 𝑝). Usando o lema de Hensel
novamente, vemos que existe uma única solução 𝑟3 módulo 𝑝3 , que pode ser mostrado como
̅̅̅̅̅̅̅
𝑟3 = 𝑟2 − 𝑓(𝑟2 )𝑓 ′ (𝑟). Se continuarmos dessa maneira, achamos que o corolário segue para
todos os inteiros 𝑘 ≥ 2. ∎
Assim, o problema recai no caso (i) do Lema de Hensel. Para obtermos a solução módulo 52 ,
basta então substituir o valor de t na equação
𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 = 1 + 5𝑡.
Como
̅̅̅̅̅̅̅
𝑓 ′ (𝑟)(𝑓(𝑟))
𝑡≡− (𝑚𝑜𝑑 𝑝)
𝑝𝑘−1
Onde, r = 1, k =2, f’(r) =f’( 1)=3 e p =5. Logo, o valor de t é obtido com os passos
seguintes:
̅̅̅̅̅̅̅ ≡ 1 (mod 5) ⇔ 𝑓
3𝑓′(1) ̅̅̅̅̅̅̅ ̅̅̅̅̅̅̅ é 𝑜 inverso de 3 módulo 5].
′ (1) ≡ 2(𝑚𝑜𝑑 5) , [𝑓′(1)
Se 𝑓(𝑥) = 𝑥 2 + 𝑥 + 7 ≡ 0 (mod 3), por inspeção, testando os valores 0,1 e 2, vemos que
𝑥 ≡ 1 (mod 3) é a única solução.
Vejamos agora em que caso do Lema de Hensel o polinômio recai:
𝑓(𝑥) = 𝑥 3 + 𝑥 2 + 2𝑥 + 26 (𝑚𝑜𝑑 7)
𝑓’(𝑥) = 3𝑥 2 + 2𝑥 + 2 (mod 7)
𝑓′(𝑟) = 𝑓’(2) = 18 ≡ 4 ≢ 0 (mod 7).
Então, o problema recai no caso (i) do Lema de Hensel. Assim, para obtermos a solução
módulo 72, basta então substituir o valor de t na equação
𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 = 2 + 7𝑡.
O valor de t é obtido com os seguintes passos:
𝑓(𝑥) = 𝑥 2 + 𝑥 + 7 (mod 3)
𝑓’(𝑥) = 2𝑥 + 1 (mod 3)
Como 𝑓’(1) = 3 ≡ 0 (mod 3) e 𝑓(1) = 9 0 (𝑚𝑜𝑑 32 ), temos o caso (ii).
Por esse caso do Lema de Hensel, podemos concluir que 𝑟 + 𝑡𝑝𝑘−1 = 1 + 3𝑡 é uma solução
modulo 32 para todos os inteiros t.
Substituindo t = 0, 1 e 2 temos as soluções módulo 32 , 𝑥 ≡ 1, 4 e 7 (mod 9).
Vamos verificar essas três soluções no módulo 33 .
• Como 𝑓(1) = 9 ≢ 0 (mod 33 ), pelo caso (iii) do lema de Hensel, não existem soluções
para 𝑓(𝑥) ≡ 0 (mod 33 ), com 𝑥 ≡ 1 (mod 32 ).
• Como 𝑓(4) = 27 ≡ 0 (mod 33 ), pelo caso (ii), 4 + 9𝑡 é uma solução módulo 27 para
todos os inteiros t. Substituindo t = 0, 1 e 2 temos as soluções
𝑥 ≡ 4, 13 e 22 (𝑚𝑜𝑑 33 ).
• Como 𝑓(7) = 63 ≢ 0 (𝑚𝑜𝑑 33 ), pelo caso (iii), não há soluções para
𝑓 (𝑥) ≡ 0 (mod 33 ), com 𝑥 ≡ 7 (mod 32 ).
Logo, todas as soluções incongruentes para 𝑓 (𝑥) ≡ 0 (mod 27) são x 4, 13 e 22 (mod 27).
Exemplificando o Corolário do Lema de Hensel:
Vejamos:
𝑓 ′ (𝑟1 ) = 𝑓’(1) = 3 (mod 5).
̅̅̅̅̅̅̅ ≡ 1 (mod 5) ⇔ 𝑓
3𝑓′(1) ̅̅̅̅̅̅̅
′ (1) ≡ 2(𝑚𝑜𝑑 5) [o inverso de 𝑓’(1) módulo 5].
Então,
̅̅̅̅̅̅̅
𝑟𝑘 = 𝑟𝑘−1 − 𝑓(𝑟𝑘−1 )𝑓 ′ (𝑟) (mod 𝑝 𝑘 )
̅̅̅̅̅̅̅ (mod 𝑝2 )
𝑟2 = 𝑟1 − 𝑓(𝑟1 )𝑓′(𝑟)
̅̅̅̅̅̅̅ = 1 − 5.2 = −9 ≡ 16 (mod 52 ).
𝑟2 = 1 − 𝑓(1). 𝑓′(1)
𝑟2 = 16 (mod 52 )
̅̅̅̅̅̅̅(mod 𝑝3 )
𝑟3 = 𝑟2 − 𝑓(𝑟2 ) 𝑓′(𝑟)
𝑟3 = 16 – 𝑓(16). 2 = 16 – 8300. 2 = −16584 ≡ 41 (mod 53 )
𝑟3 = 41 (mod 53 )
𝑥 ≡ 41 (𝑚𝑜𝑑 125)
PRECIOSIDADES - I
PRECIOSIDADES –II
01) Construa as tabelas de operações em 𝒁𝟖 , 𝒁𝟗 , 𝒁𝟏𝟎 , 𝒁𝟏𝟑 e 𝒁𝟏𝟕 Digite a equação aqui.
02) Encontre os dois números primos, cujos produtos, geraram os números abaixo,
utilizando o método da Fatoração de Fermat:
a) 437623 b) 919199 c) 9797 d) 4061 e) 19109
03) Calcule a potências utilizando o método da exponenciação rápida.
a) 332768 (mod 335)
b) 1774096 (mod 277)
c) 818192 (mod 92)
d) 482048 (mod 20)
04) Calcule as potências utilizando o Pequeno Teorema de Fermat
a) 52349899 (mod 17)
b) 4511223311 (mod 19)
c) 1001002003007 (mod 281)
05)Calcule as potências utilizando o Pequeno Teorema de Fermat e o Algoritmo Chinês do
Resto.
a) 4753 (mod 437623)
b) 51773 (mod 919199)
c) 8397 (mod 2926)
d) 313961 (mod 12369)
6. RAÍZES PRIMITIVAS
Sejam a e 𝑚 > 1 dois inteiros tais que o mdc (𝑎, 𝑚) = 1. Pelo teorema de Euler:
𝑎𝜑(𝑚) ≡ 1 (mod 𝑚)
isto é, 𝜑(𝑚) é uma solução inteira e positiva da congruência exponencial:
𝑎 𝑥 ≡ 1 (mod 𝑚)
Entretanto, esta congruência exponencial pode ter soluções inteiras e positivas menores
que 𝜑(𝑚).
Assim, por exemplo, para 𝑎 = 3 e 𝑚 = 13, vejamos na linha que inicia com 3, na
Tabela 1
Tabela 6.1.1
Definição: Sejam a e 𝑚 > 1 dois inteiros tais que o mdc (𝑎, 𝑚) = 1. Chama-se ordem de a
módulo m o menor inteiro positivo k tal que 𝑎𝑘 ≡ 1 (mod m).
Em outros termos, a ordem de a módulo m é a menor solução inteira e positiva 𝑥 = 𝑘
da congruência exponencial:
𝑎 𝑥 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 𝑚)
Indica-se que a ordem de a módulo m é k com a notação: 𝚶𝒎 (𝒂) = 𝒌.
Como, pelo teorema de Euler, 𝑎𝜑(𝑚) ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 𝑚), existe sempre Ο𝑚 (𝑎), tal que
0 < 𝑂𝑚 (𝑎) ≤ 𝜑(𝑚).
PRCIOSIDADES GRATUITAS
Solução:
Temos: 21 ≢ 1 (mod 7), 22 ≢ 1 (mod 7), 23 ≡ 1 (mod 7),
Logo, a ordem de 2 módulo 7 é 3: Ο7 (2) = 3.
Solução:
Temos:
51 ≢ 1 (mod 13), 52 ≢ 1 (mod 13), 53 ≢ 1 (mod 13), 54 ≡ 1 (mod 13)
Logo, 5 tem ordem 4 módulo 13: Ο13 (5) = 4.
Nota: O conceito de ordem de um inteiro módulo 𝑚 > 1 só tem sentido para inteiros a tais
que o mdc (𝑎, 𝑚) = 1, pois, não existe inteiro positivo k tal que:
𝑎𝑘 ≡ 1 (mod 𝑚) se o 𝑚𝑑𝑐 (𝑎, 𝑚) > 1
Realmente, se tal inteiro k existisse, então 𝑥 = 𝑎𝑘−1 seria solução da congruência linear
𝑎𝑥 ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 𝑚), o que é impossível.
Exemplo: Temos que 𝛰13 (5) = 2, e também 58 ≡ 1(mod 13). Então, 2 divide 8.
Exemplo: Seja determinar a ordem de 9 módulo 11. Por ser 𝜙(11) = 10, a 𝑘 = 𝛰11 (9) | 10,
de modo que basta considerar as potências de 9 cujos expoentes são 1, 2 e 5, divisores positivos
de 10. Temos, módulo 11,
91 ≢ 1, 92 ≢ 1, 95 ≡ 1
Teorema 6.1.1.3: Seja mdc (𝑎, 𝑚) = 1 e 𝑚 > 0. Se um inteiro a tem ordem k módulo m,
então, 𝑎𝑖 ≡ 𝑎 𝑗 (mod 𝑚), se e somente se, 𝑖 ≡ 𝑗 (mod 𝑘)
Exemplo: Seja 𝑎 = 4, 𝑚 = 13 e 𝛰13 (4) = 6. Assim, temos que 410 ≡ 44 ≡ 9(mod 13) e
10 ≡ 4 (mod 6), mas 419 ≢ 48 (mod 13), pois 19 ≢ 8 (mod 6).
3 ≡ 3, 3² ≡ 9, 3³ ≡ 5, 34 ≡ 4, 35 ≡ 1 (mod 11)
são incongruentes módulo 11. Veja a tabela 6.1.1.1 das ordens módulo 11 dos inteiros positivos
menores que 11:
Tabela 6.1.1.1
a1 a2 a3 a4 a5 a6 a7 a8 a9 a10
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
2 4 8 5 10 9 7 3 6 1
3 9 5 4 1 3 9 5 4 1
4 5 9 3 1 4 5 8 3 1
5 3 4 9 1 5 3 4 9 1
6 3 7 9 10 5 8 4 2 1
7 5 2 3 10 4 6 9 8 1
8 9 6 4 10 3 2 5 7 1
9 4 3 5 1 9 4 3 5 1
10 1 10 1 10 1 10 1 10 1
𝑘
𝛰𝑚 (𝑎ℎ ) = (mod 𝑚)
mdc (𝑘, ℎ)
Corolário 6.1.1.3: Se um inteiro a tem ordem k módulo m, então 𝑎ℎ tem ordem k módulo m se
e somente se o mdc (ℎ, 𝑘) = 1.
Exemplo: A tabela abaixo dá as ordens módulo 13 dos inteiros positivos menores que 13:
a 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
O13(a) 1 12 3 6 4 12 12 4 3 6 12 2
Definição: Chama-se raiz primitiva de um inteiro positivo n um inteiro r, tal que mdc (r, n) =
1, e a ordem de r módulo n é 𝜑(𝑛) , isto é, 𝑂𝑛 (𝑟) = 𝜑(𝑛). Em outros termos, raiz primitiva
de um inteiro positivo n é um inteiro r, tal que
𝑟 𝜑(𝑛) ≡ 1 (𝑚𝑜𝑑 𝑛)
Exemplo: 7 é uma raiz primitiva de 13, uma vez que o mdc (7, 13) = 1 e a ordem de 7 módulo
13 é 12 = 𝜑 (13). Veja a linha que inicia com 7 na tabela 6.1.2.1:
Tabela 6.1.2.1
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
2 4 8 3 6 12 11 9 5 10 7 1
3 9 1 3 9 1 3 9 1 3 9 1
4 3 12 9 10 1 4 3 12 9 10 1
5 12 8 1 5 12 8 1 5 12 8 1
6 10 8 9 2 12 7 3 5 4 11 1
7 10 5 9 11 12 6 3 8 4 2 1
8 12 5 1 8 12 5 1 8 12 5 1
9 3 1 9 3 1 9 3 1 9 3 1
10 9 12 3 4 1 10 9 12 3 4 1
11 4 5 3 7 12 2 9 8 10 6 1
12 1 12 1 12 1 12 1 12 1 12 1
Tabela 6.1.2.2
a1 a2 a3 a4
1 1 1 1
2 4 8 4
3 9 3 9
4 4 4 4
5 1 5 1
6 0 0 0
7 1 7 1
8 4 8 4
9 9 9 9
10 4 4 4
11 1 11 1
Exemplo: 3 é uma raiz primitiva de 7, uma vez que o mdc (3, 7) = 1 e a ordem de 3 módulo
7 é 6 = 𝜙(7). Veja a Tabela:
Tabela 6.1.2.3
x 1 2 3 4 5 6
3x 3 2 6 4 5 1
Tabela 6.1.2.4
x 1 2 3 4 5 6
2x 2 4 8 7 5 1
Tabela 6.1.2.5
x 1 2 3 4 5 6
5x 5 4 6 2 3 1
Teorema 6.1.2.1: Seja o mdc (𝑎, 𝑛) = 1 e 𝑛 > 0, e sejam 𝑏1 , 𝑏2 , … , 𝑏𝜑(𝑛) os inteiros positivos
menores que n e relativamente primos com n. Se a é uma raiz primitiva de n, então
𝑎, 𝑎2 , … , 𝑎𝜑(𝑛)
são congruentes módulo n aos inteiros 𝑏1 , 𝑏2 , … , 𝑏𝜑(𝑛) , numa certa ordem. Logo,
𝑎, 𝑎2 , … , 𝑎𝜑(𝑛) forma um sistema completo de restos módulo n.
Corolário 6.1.2.1: Seja r uma raiz primitiva módulo 𝑛 > 1. Então 𝑟 𝑢 é uma raiz primitiva
módulo n se, e somente se, 𝑚𝑑𝑐(𝑢, 𝜑(𝑛)) = 1.
O corolário seguinte no diz que, nos casos em que há uma raiz primitiva, pode-se afirmar
exatamente quantas são elas.
Corolário 6.1.2.2: Se um inteiro n tem uma raiz primitiva, então n tem precisamente 𝜑(𝜑(𝑛))
raízes primitivas.
Portanto, em particular, todo primo p tem uma raiz primitiva e, consoante o Corolário
6, tem exatamente 𝜑(𝜑(𝑝)) = 𝜑(𝑝 − 1) raízes primitivas.
Ilustração: Sabendo que 11 tem 𝜑(𝜑(11)) = 4 raízes primitivas e que 2 é a menor raiz,
as outras são determinadas pelas potências de 2u, onde 𝑚𝑑𝑐(𝑢, 𝜑(11)) = 1. Como 𝜑(11) =
10 , temos que 23, 27 e 29 são as outras raízes, ou seja, 8, 7 e 6. Veja a tabela 6.1.2.6.
Tabela 6.1.2.6
a1 a2 a3 a4 a5 a6 a7 a8 a9 a10
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
2 4 8 5 10 9 7 3 6 1
3 9 5 4 1 3 9 5 4 1
4 5 9 3 1 4 5 9 3 1
5 3 4 9 1 5 3 4 9 1
6 3 7 9 10 5 8 4 2 1
7 5 2 3 10 4 6 9 8 1
8 9 6 4 10 3 2 5 7 1
9 4 3 5 1 9 4 3 5 1
10 1 10 1 10 1 10 1 10 1
Tabela 6.1.2.7
a1 a2 a3 a4 a5 a6
1 1 1 1 1 1
2 4 8 7 5 1
4 7 1 4 7 1
5 7 8 4 2 1
7 4 1 7 4 1
8 1 8 1 8 1
PRECIOSIDADES
PRECIOSIDADES EXTRAS
Nosso objetivo é determinar quais inteiros têm raízes primitivas. Vamos iniciar
mostrando que todo número primo tem uma raiz primitiva. Antes isso, vamos dar uma atenção
para o teorema de Lagrange, que determina o número de soluções de uma congruência
polinomial.
Seja 𝑓(𝑥) um polinômio com coeficientes inteiros. Dizemos que um número inteiro c é
uma raiz de 𝑓(𝑥) módulo m se 𝑓(𝑐) ≡ 0 (mod m). É fácil ver que, se c é uma raiz de f (x)
modulo m, então todo inteiro congruente a c modulo m também é uma raiz.
Tabela 6.2.1
x 1 2 3 4 5 6
f(x) 3 0 6 0 3 1
Exemplo 6.2.2. O polinômio 𝑔(𝑥) = 𝑥 2 + 2 não tem raízes módulo 5. Veja Tabela 6.2.2.
Tabela 6.2.2
x 1 2 3 4
f(x) 3 1 1 3
Tabela 6.2.3
x 1 2 3 4 5 6
x7-1 - 1 0 0 0 0 0 0
Tabela 6.2.4
x 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
f(x) 9 7 8 3 1 6 5 0 7 0
𝑥 𝑑 − 1 ≡ 0 (𝑚𝑜𝑑 𝑝)
tem exatamente d raízes incongruentes módulo p.
Por exemplo, 𝑥 3 − 1 ≡ 0 (mod 7), temos x = 1, 2, e 4. Ver Tabela
Tabela 6.2.5
x 1 2 3 4 5 6
x3 -1 0 0 6 0 6 6
O Teorema 2 pode ser usado para provar um resultado útil que nos diz quantos inteiros
incongruentes têm uma determinada ordem módulo p.
Tabela 6.2.6
a 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
O13(a) 1 12 3 6 4 12 12 4 3 6 12 2
Exemplo 6.2.5. Seja 𝑝 = 11, 𝑑 = 5 e 𝜙(𝑑) = 4. Então para 𝑂𝑝 (𝑎) = 𝑑, temos 𝜙(𝑑) = 4
valores para a = 3, 4, 5 e 9, isto é, 𝑂11 (3) = 𝑂11 (4) = 𝑂11 (5) = 𝑂11 (9) = 5.
Tabela 6.2.7
a 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
O11(a) 1 10 5 5 5 10 10 10 5 2
Corolário 6.2.1. Se p é um número primo, então p tem exatamente 𝜙(𝑝 − 1) raízes primitivas
incongruentes módulo p.
Exemplo 6.2.6. Seja 𝑝 = 17, então 𝜙(16) = 8. As oito raízes primitivas de 17 são {3, 5, 6, 7,
10, 11, 12, 14}.
Tabela 6.2.8
a 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
O17(a) 1 8 16 4 16 16 16 8 8 16 16 16 4 16 8 2
Note que Corolário 6.2.1 fornece uma prova não-construtiva de existência de raízes
primitivas módulo um primo. A menor raiz primitiva de cada primo menor que 200 é dada na
tabela abaixo.
Tabela 6.2.9
PRECIOSIDADES
Na seção anterior, mostramos que todo primo possui uma raiz primitiva. Nesta seção,
vamos encontrar todos os inteiros positivos que têm raízes primitivas.
Vamos começar com dois resultados negativos.
Teorema 6.2.1.2: Se mdc (𝑚, 𝑛) = 1, em que 𝑚 > 2 e 𝑛 > 2, então o inteiro 𝑚𝑛 não possui
raízes primitivas.
Demonstração:
Em primeiro lugar, vamos mostrar que cada potência de um primo ímpar possui uma
raiz primitiva. O primeiro passo para se mostrar que toda potência de um primo ímpar tem uma
raiz primitiva é mostrar que cada quadrado de um primo ímpar tem um raiz primitiva.
Lema 6.2.1.1. Se p é um primo ímpar, então existe uma raiz primitiva r de p, tal que
𝑟 𝑝−1 ≢ 1 (mod 𝑝2 ).
Ilustrando: 8 é uma raiz primitiva de 11 e 810
1(mod 112 ).
Note que é extremamente raro para a congruência
𝑟 𝑝−1 ≡ 1 (mod 𝑝2 )
Ser verdadeira quando r é uma raiz primitiva módulo p com 𝑟 < 𝑝. Por conseguinte, raramente
uma raiz primitiva r módulo p não é também uma raiz primitiva módulo 𝑝2 . Vejamos o
corolário seguinte.
Corolário 6.2.1.2. Se p é um primo ímpar, então 𝑝2 tem uma raiz primitiva; de fato, para uma
raiz primitiva r de p, ou r ou 𝑟 + 𝑝 (ou ambos) é uma raiz primitiva de 𝑝2 .
Ilustração. 3 é uma raiz primitiva de 7 e pode-se verificar que que 3 e 10 são raízes primitivas
de 72 . Por outro lado, 14 é uma raiz primitiva de 29 mas não de 292, enquanto 43 (14 + 29) é
uma raiz primitiva de 29.
Precisamos do seguinte lema técnico para alcançarmos o nosso objetivo.
Lema 6.2.1.2. Seja p um primo ímpar e seja r uma raiz primitiva de p com a propriedade de
que 𝑟 𝑝−1 ≢ 1 (mod 𝑝2 ). Então, para cada inteiro positivo k≥ 2,
𝑘−2(𝑝−1)
𝑟𝑝 ≢ 1 (mod 𝑝𝑘 )
Ilustração. 3 é uma raiz primitiva 7 e 36 ≢ 1 (mod 72 ) 72. Então, para todo 𝑘 ≥ 2,
6(𝑘−2)
𝑟7 ≢ 1 (mod 7𝑘 )
Vejamos para 𝑘 = 3:
6
37 ≡ 325 ≢ 1 (mod 73 )
Agora vamos juntar as etapas para provar que as potências de qualquer primo ímpar
têm uma raiz primitiva.
Teorema 6.2.1.3. Se p é um número primo ímpar e 𝑘 ≥ 1, então existe uma raiz primitiva de
𝑝𝑘 .
Com o teorema anterior, resta apenas o caso 2𝑝𝑘 para ser considerado.
Corolário 6.2.1.3. Existem raízes primitivas para 2𝑝𝑘 , em que p é um primo ímpar e k≥ 1.
Ilustração. O número primo 5 tem 2 e 3 como raízes primitivas. Como
25−1 ≢ 1 (mod 25) e 35−1 ≢ 1 (mod 25)
estes também servem como raízes primitivas para 52 e, consequentemente, para todas potências
superiores de 5. O corolário garante que 3 é uma raiz primitiva de todos os números da forma
2. 5k.
O teorema seguinte resume tudo o que foi feito.
Teorema 6.2.1.4. O número inteiro positivo n, 𝑛 > 1, possui uma raiz primitiva se, e somente
se 𝑛 = 2, 4, 𝑝𝑘 ou 2𝑝𝑘 , onde p é um primo ímpar e k é um número inteiro positivo.
PRECIOSIDADES
Definição: Seja r uma raiz primitiva de n 𝑂𝑛 (𝑟) = 𝜑(𝑛). Se a é um inteiro positivo com
mdc(a, n) = 1, então o único inteiro x com 1 ≤ 𝑥 ≤ 𝜑(𝑛), tal que
𝑟 𝑥 ≡ 𝑎(𝑚𝑜𝑑 𝑛)
é chamado de Logaritmo Discreto(dlog ou ld) de a na base r módulo n, isto é,
𝑥 = 𝑑𝑙𝑜𝑔𝑟 𝑎 (𝑚𝑜𝑑 𝑛)
De acordo com a definição, temos
𝑟 𝑑𝑙𝑜𝑔𝑟 (𝑎) ≡ 𝑎 (𝑚𝑜𝑑 𝑛)
O problema do logaritmo discreto é encontrar o valor de x dado r, a e n tal que
𝑟 𝑥 ≡ 𝑎 (𝑚𝑜𝑑 𝑛)
O algoritmo básico seria calcular todas as potências de r, r2, r3,...,rn-1 até encontrar o valor a.
Teorema 6.3.1.1 Se n tem uma raiz primitiva r e dlog(a) denota, de forma resumida, o
logaritmo discreto de a na base r temos que:
( i ) 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑎𝑏) = 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑎) + 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑏) (𝑚𝑜𝑑 𝜑(𝑛))
( ii ) 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑎𝑘 ) = 𝑘 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑎) (𝑚𝑜𝑑 𝜑(𝑛)), 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑘 > 0
( iii ) 𝑑𝑙𝑜𝑔(1) = 0 (𝑚𝑜𝑑 𝜑(𝑛)) 𝑒 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑟) = 1 (𝑚𝑜𝑑 𝜑(𝑛)).
Vamos explicar brevemente, em uma tabela, como as regras dos logaritmos discretos
podem ser usadas para simplificar os cálculos e resolver congruências. Para o que queremos
usaremos uma tabela de logaritmos para o número primo n = 37 e a base r = 2, que é uma das
raízes primitivas de 37,pois 𝑂37 (2) = 𝜑(37) = 36. As outras raízes são: 2, 5, 13, 15, 17, 18,
19, 20, 22, 24, 32, 35.
Tabela 6.3.1.1 Logaritmos discretos de x na base 2 (mod 37) ⇔ 2𝑛 ≡ 𝑥(𝑚𝑜𝑑 37)
x 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
𝑑𝑙𝑜𝑔2 𝑥 ≡ 𝑛 36 1 26 2 23 27 32 3 16 24 30 28 11 33 13 4
x 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
𝑑𝑙𝑜𝑔2 𝑥 ≡ 𝑛 7 17 35 25 22 31 15 29 10 12 6 34 21 14 9 5
x 33 34 35 36
𝑑𝑙𝑜𝑔2 𝑥 ≡ 𝑛 20 8 19 18
x 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
𝑑𝑙𝑜𝑔7 𝑥 ≡ 𝑛 6-15-24-
33
x 33 34 35 36
𝑑𝑙𝑜𝑔7 𝑥 ≡ 𝑛 4-13-22- 7-16-25-
31 34
Logaritmos Discretos são úteis para estudar congruências da forma 𝑥 𝑘 ≡ 𝑎 (mod 𝑚),
onde m é um número inteiro positivo com uma raiz primitiva e MDC (𝑎, 𝑚) = 1. Antes de
estudar tais congruências, vamos apresentar uma definição.
onde 𝑑 = 𝑀𝐷𝐶 (𝑘, φ(𝑚)). Além disso, se houver soluções de 𝑥 𝑘 ≡ 𝑎 (mod 𝑚), então há
exatamente d soluções incongruentes módulo m.
Note que o Teorema nos diz que se p é primo, k é um inteiro positivo, e a é um número
inteiro relativamente primo com p, então a é o resíduo k-ésimo módulo p se, e somente se,
p−1
𝑎 𝑑 ≡ 1 (mod 𝑝),
onde 𝑑 = 𝑀𝐷𝐶 (𝑘, 𝑝 − 1). Ilustraremos esta observação com um exemplo.
Exemplo 6.3.2.1. Determinar se 5 é um resíduo de uma sexta potência módulo 17, isto é, se a
congruência 𝑥 6 ≡ 5 (mod 17) tem uma solução, em outras palavras, se existem inteiros x do
sistema completo de restos módulo 17, que satisfaçam a equação.
Como 𝑑 = 𝑀𝐷𝐶(6, 𝜑(17)) = 2, temos
16
5 2 = 58 ≡ −1 (mod 17)
Assim, 5 não é um resíduo de uma sexta potência módulo 17, quer dizer, não existe
nenhum 𝑥 ∈ {1, 2, 3, … , 16}, que satisfaça a equação 𝑥 6 ≡ 5 (mod 17).
Exemplo 6.3.2.2. Determinar se 13 é um resíduo de uma quarta potência módulo 18, isto é, se
a congruência 𝑥 4 ≡ 13 (mod 18) tem uma solução, em outras palavras, se existem inteiros x
do sistema completo de restos módulo 18, que satisfaçam a equação.
Como 5 e 11 são as raízes primtivas de 18, o MDC (13,18) = 1 e 𝑑 = MDC (4, 𝜑 (18)) =
MDC(4, 6) = 2, então,
6
132 = 133 ≡ 1 (mod 18)
Assim, 13 é uma quarta potência residual módulo 18, quer dizer, existem 𝑑 = 2
soluções em 𝑥 ∈ {1, 2, 3, … , 17}, que satisfazem a equação 𝑥 4 ≡ 13 (mod 18). Neste caso
𝑥 = 5 e 𝑥 = 13.
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Solução:
Uma raiz primitiva de 17 é 3 ( as outras são 5, 6, 7, 11, 12 e 14).
Tabela 6.3.2.5 Logaritmos discretos de x na base 3 (mod 17) ⇔ 3𝑛 ≡ 𝑥(𝑚𝑜𝑑 17)
x 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
𝑑𝑙𝑜𝑔3 𝑥 ≡ 𝑛 16 14 1 12 5 15 11 10 2 3 7 13 4 9 6 8
Solução:
Como 3 é uma raiz primitiva der 17, vamos usar como base dos logaritmos discretos e
utilizar a Tabela 6.3.2.5.
𝑑𝑙𝑜𝑔(7𝑥 ) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(6)(mod 16)
𝑥𝑑𝑙𝑜𝑔(7) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(6)(mod 16)
11𝑥 ≡ 15 (mod 16)
𝑥 ≡ 11𝜑(16)−1 . 15 (𝑚𝑜𝑑 16)
𝑥 ≡ 3.15 = 45 (𝑚𝑜𝑑 16)
𝑥 ≡ 45 ≡ 13(mod 16)
05. Resolver 7𝑥 ≡ 5 (mod 11).
Solução:
Vamos usar a raiz primitiva 2 como base.
𝑑𝑙𝑜𝑔(7𝑥 ) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(5)(mod 10)
𝑥𝑑𝑙𝑜𝑔(7) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(5)(mod 10)
7𝑥 ≡ 4 (mod 10).
𝑥 ≡ 7𝜑(10)−1 . 4 (𝑚𝑜𝑑 10)
𝑥 ≡ 3.4 = 12 ≡ 2 (mod 10).
06. Resolver 4𝑥 9 ≡ 7 (mod 13)
Solução:
Vamos usar a raiz primitiva 2 como base.
3𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 3 (mod 4)
𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 1 (mod 4)
Quais valores de 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) da Tabela deixam resto 1 na divisão por 4? Os valores são
𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 1, 5, 9. Consultando a Tabela novamente, encontramos os valores para x≡ 2, 6, 5.
07. Resolver 𝑥 5 ≡ 3 (mod 41), sabendo que 6 é uma raiz primitiva de 41( as outras são 7, 11,
12, 13, 15, 17, 19, 22, 24, 26, 28, 29, 30, 34 e 35).
Solução:
Temos 𝑑 = mdc (5, 𝜙(41)) = mdc (5, 40) = 5. Então, se houver solução, serão
exatamente 5 soluções incongruentes módulo 41.
40
Temos ainda que 3 5 = 38 ≡ 1 (mod 41). Logo, a congruência tem solução.
5𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 𝑑𝑙𝑜𝑔(3) (mod 40)
5𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 15 (mod 40)
Simplificando, temos
𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 3 (mod 40)
𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 3 (mod 8).
Assim, 𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) = 3 + 8𝑡. Atribuindo valores a t, temos: 𝑑𝑙𝑜𝑔6 (𝑥) = 3, 11, 19 27 𝑒 35.
Então: 𝑥 ≡ 63 , 611 , 619 , 627 𝑒 635 (mod 41) ou 𝑥 ≡ 11,12,28,34 𝑒 38 (mod 41).
10𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 2 (mod 6)
5𝑑𝑙𝑜𝑔(𝑥) ≡ 1 (mod 3)
PRECIOSIDADES
1. Construa uma tabela de logaritmos discretos módulo 23 usando como base a raiz primitiva
5.
2. Encontre todas as soluções das seguintes congruências.
a) 3𝑥 5 ≡ 1 (mod 23) b) 3𝑥14 ≡ 2 (mod 23)
3. Encontre todas as soluções das seguintes congruências.
a) 3𝑥 ≡ 2 (mod 23) b) 13𝑥 ≡ 5 (mod 23)
4. Para que inteiros positivos a congruência 𝑎𝑥 4 ≡ 2 (mod 13) é solucionável?
5. Para que inteiros positivos a congruência 8𝑥 7 ≡ 𝑏 (mod 29) é solucionável?
6. Encontre as soluções de 2𝑥 ≡ 𝑥 (mod 13) , usando para a base a raiz primitiva 7.
7. Encontre todas as soluções de 𝑥 𝑥 ≡ 𝑥 (mod 23).
8. Mostre que, se p é um primo ímpar e r é uma raiz primitiva de p, então
dlog r (𝑝 − 1) = (𝑝 − 1)/2.
9. Seja p um primo ímpar. Mostre que a congruência 𝑥 4 ≡ −1 (mod 𝑝) tem uma solução se e
somente se, p está na forma 8𝑘 + 1.
10. Prove que existem infinitos números primos na forma 8k + 1. (Sugestão: Assuma que p1,
p2, ...., pn são os únicos números primos nesta forma. Seja 𝑄 = (2𝑝1 , 𝑝2 . . . 𝑝𝑛 )𝑘 + 1. Mostre
que Q deve ter um fator primo ímpar diferente de 𝑝1 , 𝑝2 , . . . , 𝑝𝑛 e, pelo Exercício 9, seja
necessariamente na forma 8𝑘 + 1.
Vimos que o problema da exponenciação discreta não é tão difícil (pode ser computado
eficientemente utilizando exponenciação por quadrados, por exemplo), já o problema inverso,
computar logaritmos discretos é aparentemente muito difícil. Não apenas não se conhece
algoritmo eficiente para os piores casos, mas a complexidade para os casos médios é
demonstrada quase tão difícil quanto o pior caso.
Existem muitos sistemas de criptografia cuja segurança é baseada na dificuldade em
resolver logaritmos discretos. Nesta parte ilustramos (as justificativas matemáticas fogem ao
nível elementar desta apresentação) dois métodos para calcular logaritmos discretos, a saber: O
Algoritmo Shanks e o Algoritmo Silver-Pohlig-Hellman.
I. ALGORITMO DE SHANKS
Exemplo 6.3.3.1. Vamos determinar o logaritmo discreto de 12 na base 2 módulo 53, ou seja,
𝑥 = 𝑑𝑙𝑜𝑔2 12 (mod 53).
Temos: m = 53, b = 12, a = 2 , n = ⌊√𝑚⌋ = 8 e
Por (i) determinamos o conjunto dos passos mínimos.
𝑩 = {(12. 2−𝑟 , 𝑟); 0 ≤ 𝑟 < 8, mod 53 }
Assim, temos o seguinte conjunto B formado pelos pares ordenados (12. 2−𝑟 , 𝑟):
B={{12,0}, {6,1}, {3,2}, {28,3}, {14,4}, {7,5}, {30,6}, {15,7}}
Por (ii) determinamos o conjunto B’ dos passos gigantes
𝑩′ = {( 28𝑞 , 𝑞); 𝑞 = 1,2,3, … , mod 𝑚 }
Assim, temos o seguinte conjunto B’ formado pelos pares ordenados ( 28𝑞 , 𝑞):
𝑩′ = {{1,0}, {44,1}, {28,2}, {13,3}, {42,4}, {46,5}, {10,6}, {16,7}, {15,8}}
Dos conjuntos B e B’ temos os pares (28, 3) e (28, 2), cujas primeiras coordenadas são
iguais. Segue que r = 3 e q = 2. Podemos então calcular
𝑥 = 𝑛𝑞 + 𝑟 = 8.2 + 3 = 19 (mod 53).
Teorema 6.3.3.2 (Teorema de Euler): Se mdc (a, n) = 1, então 𝑎𝑑 ≡ 1 (mod 𝑛) para algum
divisor d de 𝜑(𝑛).
Seja 𝜑(𝑛) = 𝑝𝑞, onde mdc ( p,q) =1. Para resolvermos 𝑎 𝑥 ≡ 𝑏 (mod 𝑛) usando o Algoritmo
de Pohlig-Hellman, fazemos 𝑥 = 𝑎0 + 𝑎1 𝑝.
Então
𝑎𝑞𝑥 ≡ 𝑏 𝑞 (mod 𝑛)
𝑎𝑎0 𝑞+𝑎1 𝑝𝑞 ≡ 𝑏 𝑞 (mod 𝑛)
𝑎 𝑎0 𝑞 𝑎𝑎1 𝑝𝑞 ≡ 𝑏 𝑞 (mod 𝑛)
(𝑎𝑞 )𝑎0 (𝑎𝑎1 )𝑝𝑞 ≡ 𝑏 𝑞 (mod 𝑛)
Pelo teorema de Euler (𝑎𝑎1 )𝑝𝑞 ≡ 1 (mod 𝑛), logo:
(𝑎𝑞 )𝑎0 ≡ 𝑏 𝑞 (mod 𝑛)
As congruências 𝑎𝑞 (mod 𝑛) e 𝑏 𝑞 (mod 𝑛) podem ser calculadas com algum tipo de
procedimento, então
𝑥 = 𝑎0 + 𝑎1 𝑝, ou 𝑥 ≡ 𝑎0 (mod 𝑝).
O modo é semelhante para encontrar 𝑥 ≡ 𝑏0 (mod 𝑞).
Por fim, usamos o Algortimo Chinês do resto para determinar o valor de x.
Tendo sempre em mente o Teorema de Euler, vamos obter valores do tipo (7𝑘 )40 ≡
1 (mod 41), nos expoetes diferentes do segundo termo 𝑏1 .
(71+2𝑏1+4𝑏2 +8𝑏3 )10 ≡ 2610 (mod 41)
710+20𝑏1+40𝑏2 +80𝑏3 ≡ 2610 (mod 41)
710 (720 )𝑏1 ≡ 2610 (mod 41)
9(40)𝑏1 ≡ 32 (mod 41)
Por tentativas temos, 𝑏1 = 1
Seja,
(71+2+4𝑏2+8𝑏3 )5 ≡ 265 (mod 41)
Usando os mesmos procedimentos anteriores, obtemos
715+20𝑏2 +40𝑏3 ≡ 265 (mod 41)
715 (720 )𝑏2 ≡ 265 (mod 41)
14(40)𝑏2 ≡ 27 (mod 41)
Por tentativas temos, 𝑏2 = 1, 𝑒𝑛𝑡ã𝑜 𝑥 = 1 + 2 + 4 + 8𝑎3, ou 𝑥 ≡ 7(mod 8).
Aplicando o Algoritmo Chinês do Resto para resolver o sistema
𝑥 ≡ 3(mod 5)
𝑥 ≡ 7(mod 8)
Obtemos, x = 23 como solução de 𝑥 = 𝑑𝑙𝑜𝑔17 13 (mod 41).
Exemplo 6.3.3.5. Vamos determinar o logaritmo discreto de 12 na base 2 módulo 53, ou seja,
𝑥 = 𝑑𝑙𝑜𝑔2 12 (mod 53).
Solução:
Lembrando que 𝜑(53) = 4𝑥13. vamos considerar p = 4 e q = 13.
Então, 𝑥 = 𝑎0 + 𝑎1 𝑝 = 𝑎0 + 4𝑎1 .
(2𝑎0 +4𝑎1 )13 ≡ 1213 (mod 53)
213𝑎0 +52𝑎1 ≡ 1213 (mod 53)
(213 )𝑎0 (2𝑎1 )52 ≡ 1213 (mod 53)
Pelo teorema de Euler (2𝑎1 )52 ≡ 1 (mod 53), logo:
(213 )𝑎0 ≡ 1213 (mod 53)
Sabendo que 213 ≡ 30(mod 53) e 1213 ≡ 23(mod 53)
30𝑎0 ≡ 23 (mod 53)
Como 𝑎0 = 3. 𝑒𝑛𝑡ã𝑜 𝑥 = 3 + 4𝑎1 , ou 𝑥 ≡ 3(mod 4).
A próxima etapa será 𝑥 = 𝑏0 + 𝑏1 𝑞 = 𝑏0 + 13𝑏1 .
Chegamos agora ao resultado mais importante em curso inicial de Teoria dos Números:
a Lei de Reciprocidade quadrática, ou como Gauss a chamou, "O Teorema de ouro da
Aritmética".
Geralmente num primeiro contato não é possível avaliar completamente o valor desse
teorema de ouro. A descoberta da reciprocidade foi inevitável e sua prova até hoje é motivo de
comemoração na Aritmética.
O círculo de ideias em torno da reciprocidade quadrática é tão rico que é difícil organiza-
las em uma apresentação escrita ou em qualquer apresentação falada.
A história começa com o matemático "amador" francês Fermat no século 17. Fermat
estava interessado em representar inteiros como a soma de dois quadrados. Ele ficou surpreso
quando encontrou um critério elegante quanto ao fato de um número primo poder ser escrito
na forma x2+y2 e comunicou o seu resultado a outro matemático francês Mersenne, no dia de
Natal de 1640. Vejamos alguns exemplo:
5 = 12 + 2; 13 = 22 + 32 ; 17 = 12 + 42 ; 29 = 22 + 52 .
Mas, que tipos de primos podem ser representados desse modo? Fermat apresentou o
seguinte resultado.
Teorema 7.1 ( Fermat). Um primo p ímpar pode ser escrito como 𝑝 = 𝑥 2 + 𝑦 2 e somente se
𝑝 ≡ 1(mod 4), isto é, deixa resto 1 quando dividido por 4.
Mas, por que o "se e, somente se"? Isso está longe de ser trivial. Em sua carta, Fermat
afirmou que ele tinha uma "prova sólida". Mas ninguém foi capaz de encontrar a prova entre
seus trabalhos.
Anos depois, Euler deu a primeira prova rigorosa, que consiste em dois passos:
De maneira mais direta, podemos dizer que a Lei de Reciprocidade Quadrática trata da
solução de congruências quadráticas, onde os resíduos e os módulos são números primos
ímpares. Tivemos um contato inicial com congruências quadráticas quando usamos o Teorema
de Wilson para demonstrar o Teorema 5.1.2 Para melhor elucidar, comecemos considerando a
seguinte congruência:
𝑎𝑥 2 + 𝑏𝑥 + 𝑐 ≡ 0 (mod 𝑝) (1)
onde p é um primo ímpar e 𝑎 ≢ 0 (mod 𝑝); ou seja, 𝑚𝑑𝑐(𝑎, 𝑝) = 1. A hipótese de que p é um
primo ´ımpar implica que mdc(4a, p) = 1. Então, a congruência (1) é equivalente a:
4𝑎(𝑎𝑥 2 + 𝑏𝑥 + 𝑐) ≡ 0 (mod 𝑝)
Usando a identidade
4𝑎(𝑎𝑥 2 + 𝑏𝑥 + 𝑐) = (2𝑎𝑥 + 𝑏)2 − (𝑏 2 − 4𝑎𝑐),
a última congruência escrita pode ser expressa como
(2𝑎𝑥 + 𝑏)2 ≡ (𝑏 2 − 4𝑎𝑐) (mod 𝑝).
Fazendo agora 𝒕 = 𝟐𝒂𝒙 + 𝒃 e 𝚫 = 𝒃𝟐 − 𝟒𝒂𝒄 obtemos
𝑡 2 ≡ Δ (𝑚𝑜𝑑 𝑝). (2)
Se 𝑥 ≡ 𝑥0 (mod 𝑝) é uma solução de (1), então 𝑡 ≡ 2𝑎𝑥0 + 𝑏 (mod 𝑝) satisfaz a
congruência (2). Reciprocamente, se 𝑡 ≡ 𝑡𝑦0 (mod 𝑝) é a solução de (2), então a congruência
2ax ≡ ty0 − b (mod p) pode ser resolvida para obter uma solução de (1).
Como se pode observar, o maior esforço desenvolvido foi para obter um teste para a
existência da congruência quadrática
𝑥 2 ≡ 𝑎 (mod 𝑝), mdc (𝑎, 𝑝 ) = 1
Logo, o que queremos é identificar os inteiros a que são quadrados perfeitos módulo p.
A questão de resolver em ℤ uma congruência quadrática é um problema de fácil
enunciado, mas resolvê-lo exige técnicas aritméticas sofisticadas. Tal problema é sem dúvida
um dos mais importantes da Teoria dos Números e sua solução envolve conceitos e resultados
que são clássicos desta área, entre os quais se destaca de modo especial e Lei de Reciprocidade
Quadrática.
A Lei de Reciprocidade quadrática é dividida em três partes como veremos neste
capítulo. Ela responde a dois problemas centrais relacionados à Teoria dos Resíduos
Quadráticos, que são:
(1) Dado um primo p, quais inteiros são resíduos quadráticos de p e quais não o são.
(2) Dado um inteiro a, determinar os números primos p para os quais a é um resíduo
quadrático e aqueles tais que a não é um resíduo quadrático.
Veremos que, tanto o Critério de Euler quanto o Lema de Gauss, respondem a primeira
pergunta, embora não sejam práticos para números primos muito grandes. A segunda e,
certamente a mais complicada, depende da Lei de Reciprocidade Quadrática de Gauss.
Seja p um primo ímpar e a um inteiro relativamente primo com p. Concentraremos nossa
atenção inicialmente na seguinte pergunta:
É a um quadrado perfeito módulo p?
Em outras palavras: a é um resíduo quadrático módulo p? Começamos com uma
definição.
Não se deve esquecer que se 𝑎 ≡ 𝑏 ( 𝑚𝑜𝑑 𝑝), então a é um resíduo quadrático de p se,
e somente se, b é um resíduo quadrático de p. Assim, só precisamos determinar o caráter
quadrático dos inteiros positivos menores que p para determinar qualquer inteiro.
Tabela 7.1.1
x 1 2 3 4 5 6
x2 1 4 2 2 4 1
Por outro lado, a congruência quadrática 𝑥 2 ≡ 3 (mod 5) não tem solução, conforme
pode ser ver pela tabela, segue-se que 3 é um resíduo não quadrático módulo 5.
Tabela 7.1.2
x 1 2 3 4
x2 1 4 4 1
Lema 7.1.1. Seja p um primo ímpar e a e p tal que mdc (𝑎, 𝑝) = 1. Então, a congruência
quadrática
𝑥 2 ≡ 𝑎 (mod 𝑝)
tem exatamente duas soluções incongruentes módulo p ou não tem soluções.
Tabela 7.1.3
x 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
x2 1 4 9 16 8 2 15 13 13 15 2 8 16 9 4 1
Tabela 7.1.4
x 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
x2 1 4 9 5 3 3 5 9 4 1
7. 2. Critério de Euler
Teorema 7.2.1 (Critério de Euler). Seja a um inteiro e p um primo ímpar tais que o
mdc (𝑎, 𝑝) = 1. Nestas condições, o inteiro a é um resíduo quadrático de p, se e somente se
𝑝−1
𝑎 2 ≡ 1 (mod 𝑝).
No caso em que é a é um resíduo não quadrático de p, então
𝑝−1
𝑎 2 ≡ −1 (mod 𝑝).
Lema 7.2.1. Se a é um resíduo quadrático de um primo ímpar p, então a não é uma raiz
primitiva de p.
Prova: Se a é um resíduo quadrático de um primo ímpar p, então pelo critério de Euler temos
𝑝−1
que 𝑎 2 ≡ 1 (mod 𝑝). Segue que a ordem de a módulo p é menor que 𝑝 − 1 = 𝜑(𝑝), assim a
não pode ser uma raiz primitiva de p.
Ilustrando: Resíduos quadráticos de 13: {1,3,4, 9,10, 12}
Corolário 7.2.1. A equação 𝑥 2 ≡ 𝑎 (mod 𝑝) não tem solução se, e somente se,
𝑝−1 𝑝−1
𝑎 2 ≡ −1 (mod 𝑝). Assim, a é um resíduo quadrático se 𝑎 2 ≡ 1 (mod 𝑝) ou um resíduo
𝑝−1
não quadrático se 𝑎 2 ≡ −1 (mod 𝑝).
PRECIOSIDADES
3. (a) Para um primo ímpar p , provar que os resíduos quadráticos de p são congruentes modulo
p com os inteiros
2 2 2
𝑝−1 2
1 ,2 ,3 ,…,( )
2
(b) Verifique se os resíduos quadráticos de 17 são 1, 2, 4, 8, 9, 13, 15, 16.
4. Mostre que 3 é um resíduo quadrático de 23, mas um não é de 31.
5. Dado que a é um resíduo quadrático de um primo ímpar p, provar o seguinte:
(a) a não é uma raiz primitiva de p.
(b) O número inteiro 𝑝 − 𝑎 é ou não é resíduo quadrático de p de acordo com 𝑝 ≡ 1 (mod 4)
ou 𝑝 ≡ 3 (mod 4).
(c) Se 𝑝 ≡ 3 (mod 4), então 𝑥 ≡ ± 𝑎(𝑝 + 1)/4 (mod 𝑝) são as soluções da congruência 𝑥 2 ≡
𝑎 (mod 𝑝).
6. Seja p um primo ímpar e mdc (𝑎, 𝑝) = 1. Prove que a congruência quadrática 𝑎𝑥 2 + 𝑏𝑥 +
𝑐 ≡ 0 (mod 𝑝) possui solução se, e somente se, 𝑏 2 − 4𝑎𝑐 for zero ou um resíduo quadrático
de p.
7. Se 𝑝 = 2𝑘 + 1 for primo, verifique se todo resíduo não quadrática de p é uma raiz primitiva
de p. [Dica: aplique o critério de Euler.]
8. Suponha que o inteiro r é uma raiz primitiva do primo p, onde 𝑝 ≡ 1 (mod 8).
(a) Mostre que as soluções da congruência quadrática 𝑥 2 ≡ 2 (mod p) são dadas por
7(𝑝−1) (𝑝−1)
𝑥 ≡ ∓ (𝑟 8 +𝑟 8 ) (mod 𝑝)
3(𝑝−1)
[Dica: primeiro verifique que 𝑟 2 ≡ −1(mod 𝑝).]
(b) Use a parte (a) para encontrar todas as soluções das congruências 𝑥 2 ≡ 2 (mod 17) e 𝑥 2 ≡
2 (mod 41).
9. (a) Se 𝑎𝑏 ≡ 𝑟 (mod 𝑝), onde r é um resíduo quadrático do primo ímpar p, provar que a e b
são ambos resíduos quadráticos de p ou ambos não são.
(b) Se a e b são ambos resíduos quadráticos do primo ímpar p ou se ambos não resíduos de p,
mostre que a congruência 𝑎𝑥 2 ≡ 𝑏 (mod 𝑝) possui solução.
[Dica: multiplique a congruência dada por um a’onde 𝑎𝑎’ ≡ 1 (mod 𝑝).]
10. Seja p um primo ímpar e mdc (𝑎, 𝑝) = mdc (𝑏, 𝑝) = 1. Prove que ou as três congruências
quadráticas
𝑥 2 ≡ 𝑎 (mod 𝑝).; 𝑥 2 ≡ 𝑏 (mod 𝑝).; 𝑥 2 ≡ 𝑎𝑏 (mod 𝑝).
possuem solução ou exatamente uma delas admite solução.
11. (a) Sabendo que 2 é uma raiz primitiva de 19, encontre todos os resíduos quadráticos de 19.
(b) Encontre os resíduos quadráticos de 29 e 31.
12. Se 𝑛 > 2 e mdc (𝑎, 𝑛) = 1, então a é chamado de resíduo quadrático de n sempre que existe
um inteiro x tal que 𝑥 2 ≡ 𝑎 (mod 𝑛). Prove que se a é um resíduo quadrático de 𝑛 > 2, então
𝜑(𝑛)
𝑎 2 ≡ 1(𝑚𝑜𝑑 𝑛).
13. Mostre que o resultado do problema anterior não fornece uma condição suficiente para a
existência de um resíduo quadrático de n; em outras palavras, encontre números inteiros
𝜑(𝑛)
relativamente primos a e n, com 𝑎 2 ≡ 1(𝑚𝑜𝑑 𝑛), para os quais a congruência 𝑥 2 ≡
𝑎 (mod 𝑛) não possui solução.
O SÍMBOLO DE LEGENDRE
O critério de Euler não é um teste muito prático para determinar se um inteiro é ou não
um resíduo quadrático: os cálculos a serem feitos são muito trabalhosos quando os módulos
não são pequenos. Porém é um critério importante para fins teóricos. Um método de cálculo
mais eficaz está estabelecido na Lei da Reciprocidade Quadrática.
Uma forma de simplificar os esforços seguintes será com o uso do símbolo de Legendre.
O matemático francês Adrien Marie Legendre (1752 – 1833) introduziu um símbolo de grande
utilidade na pesquisa do caráter quadrático de um inteiro a em relação a um primo ímpar p.
Definição. Sejam a um inteiro e p um primo ímpar tais que o mdc (a, p) = 1. O símbolo de
a
Legendre é definido pelas condições:
b
𝑎 1, 𝑠𝑒 𝑎 é 𝑢𝑚 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜 𝑞𝑢𝑎𝑑𝑟á𝑡𝑖𝑐𝑜 𝑑𝑒 𝑝
( )={
𝑝 −1, 𝑠𝑒 𝑎 𝑛ã𝑜 é 𝑢𝑚 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜 𝑞𝑢𝑎𝑑𝑟á𝑡𝑖𝑐𝑜 𝑑𝑒 𝑝
Por falta de melhor terminologia, vamos nos referia ao termo de cima a como
𝑎
numerador e ao termo p como denominador do síbolo (𝑝). Outra notação padrão para o
Teorema 7.3.1. Seja p um primo ímpar e sejam a e b dois inteiros não divisíveis por p, isto é,
tais que o mdc (𝑎, 𝑝) = mdc (𝑏, 𝑝) = 1. Então, o símbolo de Legendre possui as seguintes
propriedades:
𝑎 𝑏
(i) Se 𝑎 ≡ 𝑏 (mod 𝑝), então (𝑝) = (𝑝).
𝑎𝑏 𝑎 𝑏
(ii) ( 𝑝 ) = (𝑝) (𝑝)
𝑎2
(iii) (𝑝) = 1
(𝑝−1)
1 −1
(iv) (𝑝) = 1 e ( 𝑝 ) = (−1) 2
𝑝−1
𝑎
(v) (𝑝) ≡ 𝑎 2 (mod 𝑝)
a𝑏 2 𝑎 𝑏2 𝑎
(vi) ( ) = (𝑝) ( 𝑝 ) = (𝑝)
p
Em outras palavras, um fator quadrado que é relativamente primo com p, pode ser
retirado do numerador sem afetar o valor do símbolo de Legendre.
−9 32 (−1) 32 1
( )=[ ] = ( ) (− ) = (−1)(13−1)/2 = (−1)6 = 1
13 13 13 13
Como (𝑝 − 1)/2 é para um primo p da forma 4𝑘 + 1 e ímpar para p da forma 4𝑘 + 3,
a equação (−1/𝑝) = (−1)(𝑝−1)/2 no permite adicionar um corolário suplementar ao Teorema
4 que diz respeito ao valor de (−1/𝑝).
Esse corolário é considerado a primeira parte da Lei de Reciprocidade Quadrática. De
certa forma ja discutimos esse resultado quando apresentamos o Teorema de Wilson ( ver ....);
apenas fornecemos aqui um caminho diferente.
Para quais primos ímpares que não superam 20, -1 é um resíduo quadrático? Veja a
tabela.
Tabela 7.4.1
p 3 5 7 11 13 17 19
𝑥 2 ≡ −1 (𝑚𝑜𝑑 𝑝) 2e3 5e8 4 e 13
−1 1, 𝑠𝑒 𝑝 ≡ 1(mod 4)
( )={
𝑃 −1, 𝑠𝑒 𝑝 ≡ −1 ( mod 4)
Este corolário pode ser entendido como a afirmação de que a congruência quadrática
𝑥 2 ≡ −1(mod 𝑝) tem uma solução para um primo ímpar se, e somente se, p é da forma
4𝑘 + 1.
Mas,
3 (17−1)
( ) ≡ 3 2 ≡ 38 ≡ −1(mod 17)
17
−46
Uma vez que ( 17 ) ≡ −1, a congruência 𝑥 2 ≡ −46(mod 17) não tem solução.
2 4 8 3 6 12 11 9 5 10 7 1
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
1 4 9 3 12 10 10 12 3 9 4 1
resultado que é conhecido como Lema de Gauss. Embora este lema dê o caráter quadrático de
um número inteiro, ele é mais útil do ponto de vista teórico do que computacional.
𝑝−1
𝑆 = {𝑎, 2𝑎, 3𝑎, … , ( ) 𝑎}
2
𝑝
cujos restos da divisão por p é maior do que 2, então,
𝑎
(𝑝) = (−1)𝑛 .
5
( ) = (−1)3 = −1
17
isto é, 5 é um resíduo não quadrático de 17. Significa que a congruência quadrática 𝑥 2 ≡
5 (mod 17) não tem solução.
5
Ilustração 2. Seja 𝑎 = 5 e 𝑝 = 11. Para determinar (11), isto é, se 5 é um resíduo quadrático
módulo 11. Pelo lema de Gauss, calculamos os restos módulo 11 de {5, 10, 15, 20, 25}, que são
5, 10, 4, 9 e 3 respectivamente. Como 𝑛 = 2 desses resíduos são maiores que 11/2, o lema de
5
Gauss diz que (11) = (−1)2 = 1. O que mostra que 5 é um resíduo quadrático módulo 11, isto
é, 42 ≡ 5 (mod 11).
O Lema de Gauss nos permite chegar a uma variedade de resultados interessantes. Por
um lado ele fornece um meio para determinar quais primos têm 2 como um resíduo quadrático.
Essa é a segunda parte da Lei de Reciprocidade quadrática.
Pela tabela 7.5.1 vemos que 2 é um resíduo quadrático de 7, 17, 23, 31, 41 e 47. No
entanto, 𝑥 2 ≡ 2 (mod 𝑝) não tem nenhuma solução quando p = 3, 5, 11, 13, 19, 29, 37, e 43.
Tabela 7.5.1
p 3 5 7 11 13 17 19 23 29 31 37 41 43 47
𝑥 2 ≡ 2 (𝑚𝑜𝑑 𝑝) 3- 4 6- 11 5-18 8- 23 17-24 7- 40
Existe um padrão para os primos p para que 2 seja um resíduo quadrático módulo p?
Examinando essa questão foi conjecturado que 2 seria um resíduo quadrático de um
número primo ímpar p se, e somente, se 𝑝 ≡ ± 1 (mod 8). Novamente o Lema de Gauss, prova
que essa conjectura é verdadeira.
2 1 se 𝑝 ≡ ±1 (mod 8)
( )={
𝑝 −1 se 𝑝 ± 3 (mod 8)
Vejamos alguns primos do tipo (𝑝, 2𝑝 + 1): (3, 7), (11, 23), (29,59), (23,47),
(53,107), (89, 179), (83, 167). O Teorema 7.5.2 indica, por exemplo que os números primos
11, 59, 107 e 179 têm 2 como uma raiz primitiva. Da mesma foram, o número -2 é uma raiz
primitiva para 7, 23, 47 e 167.
Há outro resultado do mesmo tipo: se os primos p e 4𝑝 + 1 são primos, então 2 é uma
raiz primitiva. Logo, podemos acrescentar os primos 13, 29, 53 e 173 à lista de primos que tem
2 como raiz como raiz primitiva. Temos os primos (𝑝, 4𝑝 + 1) = (3,13), (7,29), (13, 59),
(43, 173).
Há uma prova interessante da infinitude de números primos da forma 8𝑘 + 1 que se
baseia no Teorema 7.5.1.
Lema de Eisenstein. Se p é um primo ímpar e a é um inteiro ímpar, com mdc (a, p ) = 1, então
a
( ) = (−1)𝜇(𝑎,𝑝)
p
onde
p−1
2
ka
𝜇(𝑎, 𝑝) = ∑ ⌊ ⌋
p
𝑘=1
ka
Ilustrando. Seja p = 13 e a = 5. Como (p-1)/2 = 6, é necessário calcular ⌊ p ⌋ para k = 1, 2, ...,
6:
5 10
⌊ ⌋=⌊ ⌋=0
13 13
15 20 25
⌊ ⌋=⌊ ⌋=⌊ ⌋=1
13 13 13
30
⌊ ⌋=2
13
Pelo Lema, temos
5
⌊ ⌋ = (−1)1+1+1+2 = −1
13
Confirmando o que já foi visto.
Apesar do Lema de Eisenstein ser principalmente uma ferramenta para auxiliar na prova
da Reciprocidade Quadrática de Gauss, ele também pode ser usado para calcular o símbolo de
Legendre.
7
Exemplo 7.5.1. Para encontrar (11) usando o lema de Eisenstein, escrevemos a soma
5
7k 7 14 21 28 35
∑⌊ ⌋= ⌊ ⌋+⌊ ⌋+⌊ ⌋+⌊ ⌋+⌊ ⌋= 0+1+1+2+3 = 7
11 11 11 11 11 11
𝑘=1
7
Então, (11) = (−1)7 = −1.
11
Do mesmo modo, para encontrar ( 7 ), observe que
3
11k 11 22 33
∑⌊ ⌋= ⌊ ⌋+⌊ ⌋+⌊ ⌋ =1+3+4= 8
7 7 7 7
𝑘=1
11
Logo, ( 7 ) = (−1)8 = 1.
PRECIOSIDADES
5. Prove que 2 não é uma raiz primitiva de qualquer primo da forma 𝑝 = 3 · 2𝑛 + 1, exceto
quando p = 13.
6. (a) Se p é um primo ímpar e mdc (𝑎𝑏, 𝑝) = 1, provar que pelo menos um entre a, b ou ab é
um
resíduo quadrático de p.
(b) Dado um primo p, mostre que, para alguma escolha de 𝑛 > 0, p divide
(𝑛2 − 2)(𝑛2 − 3)(𝑛2 − 6)
a a+1 b b+1
(p) = ( ) = 1 e (p) = ( ) = −1
p p
(c) Mostre que, para um primo 𝑝 ≡ ± 3 (mod 8), a equação 𝑥 2 − 2𝑦 2 = 𝑝 não possui solução.
17. Demonstrar que os divisores primos ímpares p dos inteiros 9𝑛 + 1 são da forma 𝑝 ≡
1 (mod 4).
18. Para um primo 𝑝 ≡ 1 (mod 4), verifique se a soma dos resíduos quadráticos de p é igual a
𝑝(𝑝 − 1)/4.
Sejam p e q são números primos distintos ímpares, de modo que ambos os símbolos de
𝑝 𝑞
Legendre (𝑞 ) ⇔ 𝑥 2 ≡ 𝑝 (𝑚𝑜𝑑 𝑞) e (𝑝) ⇔ 𝑥 2 ≡ 𝑞 (𝑚𝑜𝑑 𝑝) estejam definidos. Um
𝑝 𝑞
questionamento natural é se é possível obter o valor (𝑞 ) sendo conhecido o valor de (𝑝). Ou
de forma mais geral: Existe alguma conexão entre os valores desses dois símbolos?
Euler conjecturou a relação de forma experimental em 1783 e, Legendre deu uma prova
incompleta em 1785. Usando o seu símbolo, Legendre enunciou esta relação de forma elegante,
que desde então se tornou conhecida como a Lei de Reciprocidade Quadrática:
𝑝 𝑞 𝑝−1 𝑞−1
( ) ( ) = (−1) 2 . 2
𝑞 𝑝
Legendre cometeu uma falha ao assumir um resultado tão difícil de provar quanto a lei
em si, a saber, que para qualquer primo p ≡ 1 (mod 8), existe outro primo q≡ 3 (mod 4) para
o qual p é um resíduo quadrático. Destemido, ele tentou outra prova em seu Essai sur theorie
des Nombres (1798); esta também continha uma lacuna, porque Legendre tinha como certo que
há um número infinito de primos em certas progressões aritméticas (um fato que foi provado
por Dirichlet em 1837, usando no processo argumentos muito sutis da teoria das variáveis
complexas).
Aos 18 anos, Gauss (em 1795), aparentemente inconsciente dos trabalhos de Euler ou
Legendre, redescobriu essa lei de reciprocidade e, após o trabalho incessante de um ano, obteve
a primeira prova completa. "Ela me torturou", diz Gauss, "durante todo o ano e escapou dos
meus esforços mais árduos até, finalmente, eu obter a prova explicada na quarta seção do
Disquisitiones Arithmeticae". No Disquisitiones Arithmeticae - que foi publicada em 1801,
apesar de terminado em 1798 - Gauss atribuiu a si mesmo a descoberta da Lei Quadrática de
Reciprocidade, considerando que um teorema pertence àquele que dá a primeira demonstração
rigorosa. Indignado, Legendre foi levado a reclamar: "Essa impudência excessiva é
inacreditável em um homem que tem mérito pessoal suficiente para não ter a necessidade de se
apropriar das descobertas dos outros". Gauss publicou cinco demonstrações diferentes do que
ele chamou de "a jóia da aritmética superior", e outra foi encontrado entre seus papéis. A versão
apresentada abaixo, uma variante dos argumentos de Gauss, é devida ao seu aluno, Ferdinand
Eisenstein (1823-1852). A prova é desafiadora (e talvez não seja razoável esperar uma prova
fácil), mas a ideia subjacente é bastante simples.
.
Teorema 7.6.1 (Reciprocidade Quadrática de Gauss). Se p e q são primos ímpares distintos,
então
𝑝 𝑞 𝑝−1 𝑞−1
( ) ( ) = (−1) 2 . 2
𝑞 𝑝
que nenhum desses pares satisfaz a equação da reta 11𝑥 = 7𝑦, porque essa igualdade implica
que 11 divide 7y, logo 11 divide 7 ou 11 divide y. Claramente 11 não divide 7. E também 11
11
não divide y, pois ≤ 𝑦 ≤ 5. Logo, nenhum dos 15 pontos está sobre a reta 𝑦 = 𝑥.
7
Dividimos esses 15 pontos em dois grupos, dependendo daqueles que estão acima e abaixo da
11
reta 𝑦 = 𝑥, como mostrado na Figura 7.6.1.
7
7 11
Figura 7.6.1: Contando pontos interiores para determinar (11) ( 7 )
11
Os pontos de coordenadas inteiras (x, y) com 1 ≤ 𝑥 ≤ 3, 1 ≤ 𝑦 ≤ 5 𝑒 𝑦 < 𝑥 são
7
11𝑥
precisamente aqueles pontos que satisfazem 1 ≤ 𝑥 ≤ 3 𝑒 1 ≤ 𝑦 ≤ . Para um inteiro fixo x
7
11𝑥
com 1 ≤ 𝑥 ≤ 3, existem ⌊ ⌋ valores permitidos de y. Assim, o número total de pares que
7
esses oito pares são (1, 1), (2, 1), (2, 2), (2, 3), (3, 1), (3, 2), (3, 3) e (3, 4).
11
Os pontos de coordenadas inteiras (x, y) com 1 ≤ 𝑥 ≤ 3, 1 ≤ 𝑦 ≤ 5 𝑒 𝑦 > 𝑥 são
7
7𝑦
precisamente aqueles pontos que satisfazem 1 ≤ 𝑥 ≤ 𝑒 1 ≤ 𝑦 ≤ 5 . Para um inteiro fixo y
11
7𝑦
com 1 ≤ 𝑦 ≤ 5, existem ⌊ 11⌋ valores permitidos de x. Assim, o número total de pares que
esses sete pares são (1, 2), (1, 3), (1, 4), (1, 5), (2, 4), (2, 5) e (3, 5).
Consequentemente, podemos ver que
3 5
(11 − 1) (7 − 1) 11𝑘 7𝑘
⋅ = 5⋅3 = ∑⌊ ⌋+∑⌊ ⌋ = 8+7
2 2 7 11
𝑘=1 𝑘=1
Então,
(11−1) (7−1)
⋅
(−1) 2 2 = (−1)𝜇(11,7)+𝜇(7,11)
= (−1)𝜇(11,7) ⋅ (−1)𝜇(7,11)
Como o Lema de Eisenstein, diz que
11 7
( ) = (−1)𝜇(11,7) 𝑒 ( ) = (−1)𝜇(7,11)
7 11
vemos que
7 11 (11−1) (7−1)
( ) ( ) = (−1) 2 ⋅ 2
11 7
Estabelecemos um caso particular da Reciprocidade Quadrática de Gauss para os
primos 𝑝 = 7 e 𝑞 = 11.
A Reciprocidade Quadrática de Gauss gera importantes consequências e pode ser usada
para avaliar o símbolo de Legendre.
𝑞
( ) , se 𝑝 ≡ 1 (mod 4) ou se 𝑞 ≡ 1(mod 4)
𝑝 𝑝
( )={ 𝑞
𝑞 − ( ) , se 𝑝 ≡ 𝑞 ≡ 3 ( mod 4)
𝑝
Vamos ver o que essa última série de resultados realiza. Tome p um primo ímpar e 𝑎 ≠
∓1 um inteiro não divisível por p. Suponha ainda que a tenha a fatoração
𝑘 𝑘 𝑘
𝑎 = ±2𝑘0 𝑝1 1 𝑝2 2 … 𝑝𝑟 𝑟
onde os pi são primos ímpares distintos. Como o símbolo Legendre é multiplicativo,
𝑎 1 2 𝑘0 𝑝𝑖 𝑘1 𝑝𝑟 𝑘𝑟
( ) = (± ) ( ) ( ) … ( )
𝑝 𝑝 𝑝 𝑝 𝑝
Para avaliar (𝑎/𝑝), temos apenas que calcular cada um dos símbolos (−1/𝑝), (2/𝑝), e
(𝑝𝑖 /𝑝). Os valores de (−1/𝑝) e (2/𝑝) foram discutidos anteriormente, de modo que o único
obstáculo é (𝑝𝑖 /𝑝), onde pi e p são primos ímpares distintos; é aí que a Reciprocidade
Quadrática de Gauss entra. Pois pelo Corolário 2, podemos substituir (𝑝𝑖 /𝑝) por um novo
símbolo Legendre com um menor denominador. Através da inversão e divisão contínuas, o
cálculo pode ser reduzido para as quantidades conhecidas
(−1/𝑞) (1/𝑞) (2/𝑞)
Isso é muito teórico, então, vejamos um exemplo concreto.
3 1, 𝑠𝑒 𝑝 ≡ ±1(mod 12)
( )={
𝑝 −1, 𝑠𝑒 𝑝 ≡ ±5 ( mod 12)
PRECIOSIDADES
(b) Usando a parte (a), mostre que existem infinitamente primos da forma 6𝑘 + 1.
6. Use o Teorema 9.2 e as questões 4 e 5 para determinar quais primos podem dividir inteiros
das formas 𝑛2 + 1, 𝑛2 + 2 ou 𝑛2 + 3 para algum valor de n.
7. Demonstrar que existem infinitos primos da forma 8𝑘 + 3.
8. Encontre um número primo p que seja simultaneamente expresso nas formas 𝑥 2 + 𝑦 2 , 𝑢2 +
2𝑣 2 ,e 𝑟 2 + 3𝑠 2 .
9. Se p e q são primos ímpares satisfazendo 𝑝 = 𝑞 + 4𝑎 para algun a, prove que
(𝑎/𝑝) = (𝑎/𝑞)
e, em particular, que (6/37) = (6/13).
10. Prove cada uma das seguintes afirmações:
(a) (5/𝑝) = 1 se e somente se 𝑝 ≡ 1, 9, 11 ou 19 (mod 20).
𝑎 𝑏 (a−1) (b−1)
( ) ( ) = (−1) 2 . 2
𝑏 𝑎
20. Usando a Lei de Reciprocidade Quadrática Generalizada, determine se a congruência 𝑥 2 ≡
231 (mod 1105) tem solução.