Dossie Imigração Santa Catarina
Dossie Imigração Santa Catarina
Dossie Imigração Santa Catarina
Equipe Técnica
Apoio
Créditos dossiê
Pesquisa Histórica e Textos |Dalmo Vieira Filho e Maria Regina Weissheimer
Revisão | Daisi Vogel
Projeto Gráfico e Diagramação | André Luiz de Lima e Maria Regina Weissheimer
Montagem | Maria Regina Weissheimer
Fotografias (banco de imagens da 11aSR)
Realização
11a Superintendência Regional IPHAN/ Santa Catarina
Rua Conselheiro Mafra, 141 2o andar - Antiga Alfândega
CEP 88010-100 - Centro - Florianópolis/SC
Fone/FAX: 48 - 3223 0883
[email protected]
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Roteiros Nacionais de
Imigração
Santa Catarina
Dossiê de Tombamento
VOLUME 1
histórico | análise | mapeamento
AGRADECIMENTOS
Apresentação 11
A Europa 24
O Brasil no século XIX 29
As políticas de colonização 32
O Período Regencial 62
O Segundo Império em Santa Catarina 65
Colônia Industrial do Saí 66
Colônia da Piedade 66
Colônia Belga 66
Colônia Blumenau 67
Dr. Blumenau e os antecedentes da fundação da colônia
1ª fase – Colônia Privada (1850 a 1859)
2ª fase – Colônia Imperial (1860 a 1882)
Colônia Itajaí-Brusque 81
Região Sul 89
Colônia Azambuja
Colônia Grão-Pará
Colônia Jaraguá
As enchentes 112
Festas 258
Abrangência 272
Bibliografia 340
APRESENTAÇÃO
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Apresentação
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Roteiros Nacionais de Imigração - Santa Catarina
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Apresentação
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Roteiros Nacionais de Imigração - Santa Catarina
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Apresentação
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Roteiros Nacionais de Imigração - Santa Catarina
também sofreram mudanças abruptas: a maior parte dos indígenas foi morta
ou escravizada na América e na Oceania. Na África e no Oriente, boa parte do
território foi submetida ao domínio comercial e político dos europeus.
Essas alterações, que representaram a mudança de continente
de milhões de pessoas, sob as mais diversas condições, provocaram choques
terríveis e o quase extermínio dos povos originais da América e da Oceania,
além da transmutação forçada das levas de africanos.
Com a invenção da máquina a vapor, a humanidade começou a
romper os limites do indivíduo, da força dos seus braços, da tração dos animais
amestrados e mesmo das formas incipientes de captação da força da natureza,
como as rodas d’água, os moinhos e os barcos a vela. As transformações re-
sultantes liberaram forças sociais e econômicas incomensuráveis e ampliaram
o poder da Europa sobre os demais continentes.
Na Europa dos séculos XVIII e XIX, essas transformações
foram intensas e romperam relações seculares, provocando o crescimento
desenfreado e a explosão demográfica das cidades e a paulatina diminuição
populacional da área rural. Houve um quase colapso da agricultura e do arte-
sanato. Milhões de pessoas viram-se subitamente desalojadas de seus lugares
e de suas atividades tradicionais. A alternativa de engajamento na nova ordem
era duríssima: trabalho bruto e sem garantias, em jornada de trabalho acima
de 15 horas, vivendo sem qualquer garantia de trabalho, em condições mais
do que precárias de higiene, saúde e moradia.
Nesse contexto, a opção de milhões de pessoas foi emigrar.
O Brasil foi um dos lugares escolhidos, e Santa Catarina um
dos estados que mais se valeu das oportunidades surgidas para ampliar a ocu-
pação do seu território e aumentar seu contingente habitacional.
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Apresentação
O PATRIMÔNIO DO IMIGRANTE NO
BRASIL
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Roteiros Nacionais de Imigração - Santa Catarina
notável. O território não havia tomado parte de nenhum ciclo econômico que
justificasse, por si só, a sua ocupação. Até meados do século XVIII, ou seja,
quase 250 anos depois do Descobrimento, permanecia quase despovoado de
europeus e seus descendentes. Indígenas, escorraçados do litoral ou sobrevi-
ventes dos ciclos de apresamento indígena patrocinados pelos paulistas nos
séculos XVI e XVII, habitavam a vastidão de serras e planaltos. Aos olhos da
época, essa situação equivalia a um absoluto deserto demográfico, exatamente
na região onde primeiro portugueses e espanhóis, e depois brasileiros e platinos,
divergiam sobre seus pretensos direitos históricos e acerca das fronteiras que
deveriam marcar o seu convívio.
Sendo assim, vinha de longe a intenção lusitana de povoar o
atual estado catarinense.
A primeira iniciativa concreta de ocupação induzida deu-se
ainda no século XVII, quando as primeiras povoações estáveis foram fundadas
no litoral catarinense. Antes da metade do século XVIII, houve nova iniciati-
va, com a fortificação da Ilha de Santa Catarina e a criação da Capitania com
o mesmo nome. Poucos anos depois, em 1748, registrou-se a primeira ação
migratória clássica, que ocorreu com a vinda de casais provenientes das Ilhas
Atlânticas, em especial dos Açores. Décadas mais tarde, assinalam-se tentativas
de povoação com colonos portugueses.
Logo depois da Independência, quando o Brasil já passara pela
experiência de ter-se tornado sede do Império Português e abrira seus portos
às “nações amigas”, surgiram oportunidades para o ingresso de populações
não-lusas, a começar por alemães de diversas procedências. Essas primeiras
correntes de novos brasileiros, que chegaram por experiências pioneiras no Rio
de Janeiro, no Espírito Santo, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e na
Bahia, foram prejudicadas pelo conturbado período político das Regências. Os
episódios freqüentemente traumáticos dessa primeira fase foram, aos poucos,
superados, e a imigração para o Brasil conheceu momentos de grande inten-
sidade a partir de meados do século XIX, tornando-se um fluxo contínuo, só
atenuado a partir da segunda metade do século XX.
Durante a Segunda Grande Guerra, o mosaico étnico que
caracteriza Santa Catarina e o Sul do Brasil foi colocado sob suspeição, re-
gistrando-se, então, inúmeras ações governamentais, justificadas ou não, de
repressão às manifestações culturais dos imigrantes, em especial alemães,
italianos e japoneses.
Seguiu-se o conturbado período histórico do pós-guerra,
marcado no plano nacional pelo nacionalismo de Vargas, o otimismo desen-
volvimentista de Juscelino e os anos de chumbo da ditadura militar, em que o
milagre brasileiro e o desenvolvimento a qualquer custo ainda atraíram levas de
imigrantes de diversas procedências ao país. Nos anos seguintes, o preço pelos
devaneios econômicos impôs sua lógica perversa e o Brasil teve seu crescimento
estagnado, com a redução drástica da capacidade de gerar novos empregos.
Ao mesmo tempo, o regime de força e a ausência de liberdade
política tornavam praticamente impossível uma compreensão mais aberta e
democrática da nação e da sociedade brasileira.
Encerrado o regime militar, abriu-se espaço para uma visão
menos simplista e muito mais reflexiva sobre o país. Aos poucos, a obsessão
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Apresentação
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CONTEXTO HISTÓRICO E
GEOGRÁFICO
A EUROPA
A EUROPA
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Contexto histórico e geográfico
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Contexto histórico e geográfico
depois, nada tinham a perder. Sempre que ocorria uma recessão econômica
nas regiões industriais da Europa, certo número de desempregados emigrava.
Terra barata ou até gratuita para agricultores, boas perspectivas de emprego
em mineração e na indústria, além da existência de instituições democráticas,
faziam dos EUA uma terra prometida. A esperança de fazer fortuna levou
milhares de imigrantes para a América e Austrália durante as corridas do ouro
da Califórnia (1849) e Victoria (1851).
Na primeira metade do século 19, o grosso da emigração
européia partiu do Reino Unido (2,4 milhões) e Alemanha (1,1 milhão). Na
segunda metade do século, aos imigrantes do Reino Unido (9,5 milhões) e
Alemanha (5 milhões) vieram juntar-se a outros da Itália (5 milhões), países
escandinavos (1 milhão), Bélgica, Espanha e Bálcãs. Os ingleses foram para
os EUA e colônias britânicas e os alemães dirigiram-se à América do Sul (em
especial ao Rio Grande do Sul, Brasil) e aos EUA (Pensilvânia e Estados do
Meio-Oeste). Emigrantes franceses se localizaram na Argélia; italianos, na
Tunísia e Argentina; e russos, na Sibéria. Estima-se que o grupo branco da
população mundial cresceu de 22% em 1800 para 35% em 1930.
Também ocorreram grandes deslocamentos demográficos
na Ásia e através dos oceanos Índico e Pacífico. A partir da China houve um
fluxo contínuo de colonos para o Sião (Tailândia), Java e península da Malásia.
Chineses também emigraram para a Califórnia, Colúmbia Britânica e Nova
Gales do Sul. Vindos da Índia, os emigrantes cruzaram o oceano Índico em
direção a Natal (África do Sul) e África Oriental. Na África Oriental Britânica,
terminaram superando os brancos em número e, provavelmente, em riqueza.
Alguns imigrantes chineses e indianos, porém, eram trabalhadores braçais con-
tratados por empreiteiros por prazo fixo para trabalhar em minas, plantações
ou obras públicas. Este sistema de mão-de-obra contratada dava margem a
graves abusos que somente aos poucos foram sendo eliminados.”
No caso da imigração para Santa Catarina, predominaram,
primeiramente, os imigrantes provenientes da Alemanha.
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Contexto histórico e geográfico
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fato. Teria sido o próprio monarca quem, depois de tomar a decisão de deixar
na América seu filho mais velho, herdeiro do trono lusitano, sugeriu que ele
próprio encabeçasse um eventual movimento de independência.
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Contexto histórico e geográfico
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AS POLÍTICAS DE COLONIZAÇÃO
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Contexto histórico e geográfico
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Contexto histórico e geográfico
Rituais de canibalismo e
antropofagia eram desenhados
e mostrados como um dos
principais empecilhos à
imigração para o Brasil.
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Contexto histórico e geográfico
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Roteiros Nacionais de Imigração - Santa Catarina
LEGISLAÇÃO, REGULAMENTOS E
CONTRATOS
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Contexto histórico e geográfico
A Lei de Terras
Desembarque de imigrantes na
estação da hospedaria, em São
Paulo, 1907.
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Roteiros Nacionais de Imigração - Santa Catarina
VII - O Governo concederá gratuitamente aos tes-intérpretes que ao mesmo tempo fornecerão todas as
imigrantes hospitalidade e alimentação durante os primeiros informações de que necessitarem.
8 dias de sua chegada, e transportes até as colônias de Estado XIII - Todas as expedições de imigrantes serão
às quais se destinarem. acompanhadas de listas, as quais conterão o nome, a idade,
VIII - O igualmente garantirá aos imigrantes que nacionalidade, profissão, estado civil e religião de cada
quiserem se estabelecer nas colônias do Estado a plena pro- indivíduo.
priedade de um lote de terra, com as condições e os preços XIV - No transporte dos imigrantes o empresário
estabelecidos pelo Decreto n0 3.784 de 19/01/1867; obriga- é obrigado a fazer respeitar as disposições do Decreto n0
se, além disso, a não elevar o preço das terras de suas colônias 2.168 e l° de maio de 1858.
sem avisar o empresário com 12 meses de antecedência. XV - O Governo pagará ao empresário a diferença
IX - Os imigrantes terão plena e completa de preço da passagem entre o Rio de Janeiro e as províncias
liberdade de se estabelecer como agricultores nas colônias ou para as quais serão enviados imigrantes diretamente da Eu-
nas terras do Estado, que escolherão para sua residência, em ropa, quando tais províncias não estejam em comunicação
colônias ou terras das províncias, ou de particulares; assim direta e regular por meio de vapores com a Europa, e o em-
como de encontrar emprego nas cidades, vilas e aldeias. presário deva fazer atracar nos respectivos portos vapores
X - Os imigrantes virão espontaneamente, sem de outras linhas por ele fretados.
compromisso nem contrato algum, e por isso nenhuma XVI - As questões que surgirem entre o Gover-
reclamação poderá ser feita ao Governo, tendo somente o no e o empresário, a respeito de seus direitos e obrigações,
direito aos favores estabelecidos nas presentes cláusulas, e serão resolvidas por árbitros. Se as partes contratantes não
disso estarão completamente conscientes. concordarem pelo mesmo árbitro, nomearão cada uma o seu
XI - O Governo designará com precisa antece- e estes designarão um terceiro, que decidirá definitivamente
dência as províncias onde já existem ou virão a se formar no caso de paridade. Se não houver acordo sobre tal árbitro,
colônias, a fim de que os emigrantes já conheçam da Europa será escolhido por sorteio um Conselheiro de Estado que
os pontos onde poderão se estabelecer. terá voto decisivo.
XII - O Governo nomeará, nos pontos nos
quais se efetuará o desembarque dos imigrantes, agen-
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Roteiros Nacionais de Imigração - Santa Catarina
O “ideal de branqueamento”
retratado através da pintura de
Modesto Brocos “Redenção de
Can”, de 1895. A avó negra,
a mãe mulata e o filho branco
simbolizam, no decorrer de três
geraçãos, um dos objetivos, nem
sempre ocultos, dos projetos de
imigração.
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Contexto histórico e geográfico
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Roteiros Nacionais de Imigração - Santa Catarina
NOTAS
1
“Alemães Imigrantes: as causas” in JOCHEM, Toni Vidal (oranizador); São Pedro da Alcân-
tara (1829-1929) – aspectos de sua história
2
HOLANDA, Sérgio Buarque de... História Geral da Civilização Brasileira
3
FERREIRA, Crsitina; PETRY, Sueli Maria Vanzuita (org.); BLUMENAU, Hermann Bruno
Otto. Um alemão nos trópicos: Dr. Blumenau e a política colonizadora no Sul do
Brasil. Blumenau: Cultura em Movimento – Instituto Blumenau 150 anos, 1999. 280 p.
4
FERREIRA, Crsitina; PETRY, Sueli Maria Vanzuita (org.). Op.cit.
5
PIAZZA, Walter. A colonização de Santa Catarina. 3ª ed. Editora Lunardelli: Florianópo-
lis, 1994.
6
KLUG, João AS Razões da Imigração in São Pedro de Alcântara: Aspectos de sua Histó-
ria.
7
PIAZZA, Walter. A colonização de Santa Catarina. Florianópolis: Ed. Lunardelli, 1994.
376 p.
8
DALL’ALBA, João Leonir; Imigração Italiana em Santa Catarina: documentário. Caxias
do Sul: Editora da Universidade de Caxias do Sul, 1983. 182 p.
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Contexto histórico e geográfico
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SANTA CATARINA NO SÉCULO
XIX
O PERÍODO REGENCIAL
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Santa Catarina no Século XIX
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Santa Catarina no Século XIX
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Santa Catarina no Século XIX
A POLÍTICA DE COLONIZAÇÃO NA
PROVÍNCIA
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Santa Catarina no Século XIX
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O PERÍODO REGENCIAL
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Santa Catarina no Século XIX
assim, as nascentes dos formadores do rio Itajaí do Sul onde, em suas mar-
gens, o Governo Imperial instala a Colônia Militar de Santa Teresa, criada em
novembro de 1850 e instalada em 1854.
Dessa maneira, para fins de apreciação dos resultados da
imigração em Santa Catarina, pode-se considerar que os empreendimentos
iniciados até 1850 devem ser enquadrados como pertencentes aos primórdios
da imigração e dentro da fase das primeiras experiências. Nesse período, a quase
totalidade das colônias, a exemplo da Colônia São Pedro, era oficial, ou seja, o
governo imperial responsabilizava-se por viabilizar a vinda e o assentamento
dos colonos nas novas terras. Entretanto, apesar da Província de Santa Catarina
já dispor de uma Lei da Colonização, que desde 1836 permitia a instalação de
colônias por empresas tanto nacionais como estrangeiras, na prática restavam
dúvidas quanto à validade jurídica de tais concessões. Não existia ainda uma
grande companhia de colonização que tivesse aceitado tomar as rédeas do ne-
gócio, e a maior parte das terras era oferecida pelo governo brasileiro, por meio
de propagandas, diretamente ao possível comprador – muitas vezes colonos
ou comerciantes desejosos de imigrar, porém sem posses suficientes que lhes
possibilitassem correr riscos. O relatório de viagem do Dr. Blumenau, no qual
ele faz uma série de observações e recomendações aos colonos que desejam
Colônias do Período emigrar para o Brasil e também tece uma análise acerca da política brasileira
Regencial em Santa
de colonização até então empregada, é elucidativo:
Catarina
“Várias dúvidas foram levantadas contra a validade das
A lei nº 11, de 5 de maio de concessões de terras já entregues e ainda a serem entregues, baseadas na lei
1835, estabelecia a fixação de
mencionada (referindo-se à Lei de Colonização da Província de 1836), porém
duas colônias, de nacionais
e de estrangeiros, nos rios totalmente sem fundamento, como demonstra o extrato publicado acima sob
Itajaí e Itajaí-Mirim. Foram III4 . Até setembro de 1848 (data da minha partida do Brasil) ainda não havia
assim implementados os sido apresentada nenhuma lei imperial que revogasse a lei provincial supracitada,
arraiais de Pocinho (no rio o que provavelmente não ocorreu até agora. De acordo com esta lei, continuam
Itajaí-Açú) e do Tabuleiro
sendo concedidas terras. Eu mesmo, através desta lei, juntamente com meu
(no Itajaí-Mirim). A mesma
lei ainda estabelecia a criação sócio, o senhor Ferdinand Hackradt, recebi para a nossa colônia uma área às
de outros dois arraiais, um no margens do rio Itajaí, medindo aproximadamente 16.000 Morgen. Menos do
Ribeirão Conceição e outro que 100 Thaler foram pagos para taxas de cartório e outras despesas, referentes
em Belchior. Para esta última, aos documentos necessários, etc. No entanto, a concessão de glebas maiores do
devido aos ataques indígenas,
que aproximadamente 400 Morgen, ocorre somente se os recursos financeiros
foram encaminhados
elementos oriundos da ou crédito necessário para a cultura puderem ser comprovados. Cada um que
Colônia São Pedro e onde se ainda não possui terras, porém uma família e certos recursos financeiros, pode
implantou uma Companhia de reclamar até aproximadamente 400 Morgen. Se tudo estiver em ordem e não
Pedestres. houver direitos de posse anteriores, ele receberá a concessão. Na melhor das
Em 1836, 186 colonos
hipóteses esse procedimento demora de 3 a 6 meses, às vezes, também dois anos.
provenientes da Ilha de
Sardenha chegam à província Para não perder inutilmente tempo e esforço, não se envolver com processos
para efetivar a Colônia Nova jurídicos após ter recebido a terra, é necessário o conhecimento detalhado
Itália. Instalada no vale do Rio da localidade e a observação de algumas medidas de precaução. Além disso,
Tijucas, a colônia representava as terras ainda não reclamadas ou concedidas, encontram-se muito distantes
uma ligação entre o Vale
das vias atuais de comunicação, por isso, aconselha-se ao emigrante que tem
do Maruí (onde estavam os
colonos de São Pedro de o interesse de aplicar o seu tempo e dinheiro de uma forma rápida e boa, a
Alcântara) e os habitantes do comprar preferencialmente terras particulares, ao invés de correr atrás de uma
rio Tijucas, interligando-se, concessão de terras durante muitos meses, pois até então estas terras não têm
mais tarde, também com a valor e somente o terão a partir da abertura de caminhos. Junto ao caminho
Colônia Brusque.
de São José, em direção a Lages, na colônia Santa Isabel, ainda consegue-se
terras mais rapidamente, porque toda esta área ainda pertence ao Governo.
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Roteiros Nacionais de Imigração - Santa Catarina
Lei da Colonização da Província de Santa Catarina possam ou não queiram satisfazer os empenhes contraídos,
1836 - nr. 49 e ainda não desobrigados. Por morte do Empreendedor, e
na falta verificada de herdeiros, que se obriguem a satisfazer
Art. l. É permitida a Colonização por empresa, quer por e exigir os empenhes mutuamente contraídos, o Colono será
Companhias, quer individualmente, tanto a nacionais, como considerado desde logo na propriedade da sorte de terras
estrangeiros, debaixo das regras, e com as vantagens, e que lhe estava destinada, bem como dentro do dito prazo
condições seguintes: de dez anos, em qualquer tempo, que se ache desobrigado,
Art. 2. Para estabelecimento de Colonos, qualquer Empre- para com o Empreendedor.
endedor poderá escolher terrenos, onde os houver devolutos, Art. 5. Os contratos entre o Empreendedor, e os Colonos
ou caídos em comisso, os que serão divididos em sortes de serão feitos por Escritura pública, ou por este modo ratifica-
terras na proporção seguinte: duzentas braças de frente por dos, quando tenham sido feitos em países estrangeiro.
cada Colono solteiro; duzentas e cinquenta, sendo casado Art. 6. Cada Colónia se estabelecerá em um Distrito de duas
sem filhos, trezentas e cinquenta, sendo casado com um até léguas ao quadrado, cada légua será do comprimento de três
três filhos; quatrocentas, sendo casado com mais de três milhas; cada milha do comprimento de mil braças. Poderão
filhos, todas com mil braças de fundo. também haver Quarteirões de Distritos de uma légua ao qua-
Art. 3. Pelo fato do estabelecimento do Colono, metade da drado. Naqueles o Presidente da Província escolherá e fará
sorte de terras fica desde logo pertencendo a propriedade reservar mil braças ao quadrado, neste quinhentas braças ao
do Empreendedor; e a outra metade no fim de dez anos quadrado para arraial e logradouro público.
ficará pertencendo ao Colono. Durante este prazo, o mesmo Art. 7. Dentro do prazo de dois anos depois da conces-
depois que ele findar, a metade, que compete ao Colono, são, será obrigado o Empreendedor a medir, e demarcar
bem como as benfeitorias nela feitas, serão consideradas o Distrito Colônia, pelas quatro faces; e dentro de quatro
como especialmente hipotecadas ao Empreendedor, em anos completará a distribuição das sortes de terras. As que
quanto aquele se não houver desobrigado dos empenhes no fim deste prazo estiverem por distribuir, serão conside-
contraídos; exceto se o empenho a que estiver obrigado con- radas devolutas.
sistir em prestação de serviço, pois neste caso se praticará em Art. 8. O Empreendedor, à medida que for estabelecendo
conformidade da Lei Geral de 13 de Setembro de 1830. os Colonos, será obrigado a medir, e demarcar as sortes de
Art. 4. Dentro do prazo de dez anos, por ausência, terras por um Demarcador juramentado, de nomeação do
ou morte do Colono, a metade da sorte de terras e este Juiz Municipal respectivo, passando-se certidão, a vista da
destinada passará à propriedade do Empreendedor, quando qual o Presidente da Província, dará dois Títulos, um ao
se verifique, que a família, ou herdeiros do Colono não Empreendedor, da metade que tiver escolhido para si, e
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COLÔNIA DA PIEDADE
COLÔNIA BELGA
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COLÔNIA BLUMENAU
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Santa Catarina no Século XIX
falecera duas semanas após o seu embarque, a moça com quem almejava se casar
respondeu negativamente a sua investida e, para completar, Fernando Hackardt
dizia-lhe, por carta, querer desfazer a sociedade. Voltando às margens do Itajaí
para receber os primeiros imigrantes, encontrou desamparado o núcleo em que
investira “o melhor de seus seis mil thalers”. A situação era calamitosa.
Desfeita a sociedade, iniciou sozinho o empreendimento.
Procurou ajuda do Governo Imperial, de quem não obteve nada além de
promessas. Recebeu ajuda de um amigo, que lhe emprestou dinheiro. Assim,
em condição de quase desespero, recebeu o primeiro grupo de imigrantes,
poucos dias depois de seu regresso (segundo Ferreira da Silva, apenas duas
dessas famílias iriam radicar-se definitivamente em Blumenau).
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Roteiros Nacionais de Imigração - Santa Catarina
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Santa Catarina no Século XIX
cer à frente dos negócios, passando ao cargo de diretor da colônia, pelo qual
receberia 4 contos de réis por ano.
A imigração nesse período foi intensificada e houve a neces-
sidade de expandir os domínios da colônia. Era na direção da Serra do Mar
que Blumenau pensava em fazer essa expansão, acompanhando os ribeirões
do sul das serras do Jaraguá e do Itapocu, nos limites da Dona Francisca.
Parece que essa ligação entre as duas colônias teria sido acordo firmado entre
a direção das duas colônias perante o Governo Imperial. Porém, o Dr. Blu-
menau queixava-se do descumprimento de tal acordo por parte da direção da
Colônia Dona Francisca que, ao invés de orientar os trabalhos de demarcação
de lotes ao sul, rumo às margens do Testo, requerera grandes extensões de
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Roteiros Nacionais de Imigração - Santa Catarina
terras a oeste, rumo aos núcleos coloniais de São Bento do Sul, como de fato
acabou acontecendo.
Seguindo sempre o curso dos rios que deságuam no Itajaí-Açu,
a colonização esparramou-se pelo Rio do Testo e seus confluentes, pelos ribei-
rões Branco, do Passo Manso, do Encano, da Mulde e outros dos numerosos
cursos d’água da região. Dessas expansões surgem os municípios de Pomerode
e Indaial, seguidos por Timbó, Rodeio e Rio dos Cedros. Os dois últimos
receberam, em 1875, uma leva de imigrantes italianos e tiroleses. A influência
italiana refletiu-se na arquitetura, na religião, nos hábitos alimentares e em
todos os outros planos da cultura local, formando, nessas áreas, uma mistura
Mapa da Colônia
Blumenau, de 1864.
Fonte: Arquivo Histórico
Nacional
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Roteiros Nacionais de Imigração - Santa Catarina
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Santa Catarina no Século XIX
Criação da Colônia
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Santa Catarina no Século XIX
dotes, com custos baixos. Sabia-se que essas áreas eram produtivas, mas que
Príncipe de Joinville sua ocupação se ressentia de atrações econômicas imediatas, que estimulassem
o povoamento. A solução para esse impasse já havia sido proposta e executada
no século anterior, quando da imigração açoriana.
Ocorre que os empreendimentos migratórios são custosos: é
Terceiro filho
preciso arrendar navios, demarcar terras, divulgar os atrativos da região que se
do Rei da França, Fran-
quer ocupar, construir abrigos provisórios para os colonos, dar-lhes condições
çois Ferdinand Phililippe
de subsistência enquanto a terra não é produtiva etc. O próprio rei de Portugal
Louis Marie, o príncipe de
necessitara pedir empréstimos às freiras de Nazaré para as despesas relacionadas
Joinville esteve apenas três
com a imigração açoriana-madeirense do século XVIII.
vezes no Brasil. Em 1837
conheceu a princesa Dona Assim, quando a princesa Francisca Carolina se casou, seu
Francisca Carolina em um marido, o príncipe de Joinville, recebeu como parte do “Tratado de Casamen-
baile em sua homenagem. to”, uma gleba de “25 léguas quadradas de três mil braças de terras devolutas,
A segunda comandando a que poderiam ser escolhidas nas melhores localidades da Província de Santa
missão de busca dos res- Catarina”. Logo após o casamento, realizado em 1843, o casal foi residir na
tos mortais de Napoleão França (o príncipe era filho do monarca francês). Mas a realeza nesse país,
Bonaparte, trazidos da Ilha depois da revolução francesa, sustentava-se muito precariamente, vivendo em
de Santa Helena para Paris, sobressaltos e apoiando-se principalmente nas tropas estrangeiras estacionadas
e na terceira para casar em seu território.
com a princesa, em 1843. Em 1848, toda a família real exilou-se na Inglaterra. A situa-
Fazendo carreira na mari- ção econômica do casal era precária e o príncipe resolveu se desfazer de parte
nha, o príncipe de Joinville de suas terras. Em 1844, um ano após o casamento e já residindo na Europa,
comandou missões impor- havia nomeado representante para escolher as terras e tomar posse em seu
tantes, como o bombardeio nome. Era Louis François Léonce Aubé, que desempenharia um papel relevante
de Tânger, acabando por na futura colônia. Percorrendo a Província, Aubé escolheu a região da atual
ser promovido a Vice- cidade de Joinville, cujos limites foram demarcados por outro ilustre cidadão:
Almirante. Em agosto de Jerônimo Coelho (Oswaldo Cabral, em sua História de Santa Catarina, afirma
1844 já nascia a primeira que “Jerônimo Francisco Coelho foi, sem dúvida, o mais ilustre catarinense
filha do casal. O Príncipe do século XIX”). Em 1849, Aubé já estava na Inglaterra negociando, sempre
de Joinville, apesar de ter em nome do príncipe, a cessão de 8 léguas de suas terras em Santa Catarina.
contribuído significativa- O contrato foi assinado com o senador Christian Mathias Schroeder, rico
mente para o desenvolvi- comerciante de Hamburgo, dono de navios e com agência funcionando no
mento da colônia, depois Rio de Janeiro. Previa, entre outras cláusulas, a obrigatoriedade de introduzir
cidade, que hoje perpetua 1500 imigrantes em cinco anos. O senador constituiu, então, a Sociedade
o seu nome, jamais voltaria Colonizadora de 1849, em Hamburgo. Ato contínuo, contratou o engenhei-
ao Brasil, nem conheceria a ro Hermann Guenther, que chegou à colônia ainda em 1849, para tratar das
“Colônia Dona Francisca”. providências necessárias à recepção dos imigrantes. Ocorreram problemas.
Representando a família Segundo Apolinário Ternes:
Real, esteve em Joinville
“A inevitável falência do empreendimento liderado pelo sena-
o Conde d’Eu em 1884,
dor Mathias Schroeder, começou a ser contornada a partir de 1º de fevereiro de
sendo festivamente rece-
1851, portanto, apenas 37 dias antes da chegada do veleiro “Colon”. Naquele
bido na cidade e tendo-se
dia desembarcava aqui o filho do senador hamburguês, Eduard, que em visita
apresentado à população
à filial da empresa do pai no Rio de Janeiro, tomou conhecimento da chegada
no terraço da casa do re-
próxima dos primeiros imigrantes e decidiu inspecionar pessoalmente o local
presentante do príncipe
em que se iniciaria a colônia. Depois de uma viagem muito intranqüila pela
de Joinville ( atual Museu
costa brasileira que exigiu 8 dias de navegação a bordo do patacho “Pereira”,
Nacional de Imigração).
Eduard desembarcava no porto de São Francisco, acompanhado por um ami-
go, o médico suíço Dr. Koestlin, que permaneceria aqui por sete semanas e
presenciaria o desembarque dos pioneiros de 9 de março”.
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A estação de trem e a Rua XV, em população, dono do mais importante e diversificado pólo industrial do estado
Joinville, no ano de 1907.
FONTE: Portal SBS
de Santa Catarina.
COLÔNIA LEOPOLDINA
COLÔNIA ITAJAÍ-BRUSQUE
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“Picada de Rodeio”
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Ascurra
Apiúna
VALE DO ITAJAÍ-MIRIM E DO
TIJUCAS (ITALIANOS NA COLÔNIA
BRUSQUE)
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REGIÃO SUL
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Colônia Azambuja
Colônia Grão-Pará
Colônia Jaraguá
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Roma e sob autoridade do Papa, hoje conhecida como Igreja Católica Apos-
tólica Romana) e Igreja Católica Apostólica Oriental (com rito grego, sede
em Constantinopla e sob a autoridade do Patriarca Ecumênico, hoje chamada
Igreja Ortodoxa).
Poloneses
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Ucranianos
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A SOCIEDADE COLONIZADORA
HANSEÁTICA
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Colônia Hansa
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NOTAS
1
CARDOSO, Fernando Henrique. Negros em Florianópolis – relações sociais e econômicas.
Insular: Florianópolis, 2000.
2
CABRAL, Oswaldo R. História de Santa Catarina. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Laurdes,
1970.
3
PIAZZA, Walter. A colonização de Santa Catarina4 Lei de Interpretação dos artigos
diversos da lei das reformas constitucionais – de 12 de maio de 1840. Art.8 – As leis da Pro-
víncia que estão em desacordo com as interpretações nos artigos precedentes, apenas pode-
rão ser consideradas como suprimidas, se esta supressão ocorreu através de uma ata expressa
pelo Poder Imperial Legislativo.
5
Trecho do relatório do Dr. Blumenau de 1850, entitulado “Sul do Brasil em suas referências
à emigração e colonização alemã – fragmentos de notícias, observações e sugestões especial-
mente para emigrantes”, reproduzido no livro “Um alemão nos trópicos: Dr. Blumenau e a
política colonizadora no sul do Brasil”.
6
SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau. Florianópolis: Edeme, 1972.
7
É digno de nota o fato de que, anos mais tarde, o mesmo Sturtz, dispensado do cargo de
cônsul brasileiro em 1859, foi um dos agentes que fizeram intensa propaganda contra a emi-
gração ao Brasil e em favor de outros países, como os Estados Unidos e Chile. Estas campa-
nhas contrárias às terras brasileiras foi um dos principais fatores que dificultaram a introdu-
ção de alemães nas colônias brasileiras, entre elas a Colônia Blumenau.
8
SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau. Florianópolis: Edeme, 1972.
9
PIAZZA, Walter F. A Colonização de Santa Catarina. 3ª edição. Ed. Lunardelli: Florianó-
polis, 1994. Pg. 153.
10
RICHTER, Klaus. A Sociedade Colonizadora Hanseática de 1897 e a colonização do
interior de Joinville e Blumenau. Florianópolis: Editora da UFSC; Blumenau: Editora da
FURB, 1986. pg. 15.
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SÍNTESE DA IMIGRAÇÃO EM
SANTA CATARINA
A SITUAÇÃO ATUAL
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O PODER PÚBLICO E OS
EMPREENDIMENTOS MIGRATÓRIOS
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Síntese da Imigração em Santa Catarina
V. Excia. que em 4 de agosto corrente (1860), quinto dia de viagem pelo Rio
d’Itajaí-Mirim acima, cheguei com a primeira turma de 55 colonos com bom
tempo e com muito zelo conduzidos pelo contraente Pedro Werner, (vulgo
Pedro Miúdo) ao lugar Vicente Só, cujo proprietário Pedro José Werner os
agasalhou com o melhor recebimento no seu espaçoso engenho de farinha”.
Assim foi em todas as colônias. Os primeiros anos foram
sempre muito difíceis para as famílias dos colonos. Havia a adaptação ao clima,
ao solo e a seus produtos. Além disso, corriam o risco de ataques indígenas
que, mesmo não sendo tão freqüentes como desenham alguns relatos, eram
iminentes e fazem parte da história de absolutamente todas as colônias que se
implantaram em Santa Catarina.
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IMIGRANTES E NATIVOS
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Schramm foi ao dormitório, que ficava em cima, para ver o que se passava e
viu três bugres no alto, ao lado do rancho de secar tijolos e telhas. Tomou,
rapidamente da espingarda e correu em direção aos bugres. Estes recuaram um
pouco. Neste momento, aos chamados de Schramm, deixei o jardim e entrei
em casa, Schramm procurou, então, falar aos bugres, por mímica, largando a
espingarda no chão e mostrando-lhes um ramo verde como sinal de paz.
Os três bugres conferenciaram entre si. O cacique se achava
dentro da plantação e dali dirigia o assalto, ordenou-lhes e mais a outros bugres
que se achavam escondidos, que atacassem a casa e os moradores. Os bugres
avançaram e Schramm levantou a arma do chão.
Nesse ínterim, Toepel havia carregado as restantes espingardas
existentes.
Eu e a criada Lisette, que estava muito assustada, apressamo-
nos em ir de canoa, até a embocadura do Garcia para chamar os homens ali
ocupados. No lugar ‘Velha’, achavam-se, no momento, só quatro homens.
Embarcamos na canoa sete homens, entre os quais Fritz
Deschamps e W. Friedenreich. Os restantes seguiram por terra até a Velha.
Quando chegamos perto do local do assalto, ouvimos alguns tiros. Schramm
e Toepel tinham recuado de propósito até o sótão da casa nova para animar
os bugres a se aproximarem. Existia pouca pólvora e chumbo e era preciso
ganhar tempo até que chegassem os homens do Garcia.
Cinco bugres aproximaram-se apressadamente da casa e
entraram na sala, examinaram a mobília e começaram a carregar, com muita
alegria tudo quanto achavam bom. Ressoou, nesse momento, um tiro, partindo
do sótão da casa e um dos bugres foi ferido no ombro. O ferido e os demais
assaltantes, com gritos e lamentos, abandonaram precipitadamente a casa en-
trando na roça de mandioca. Enquanto fugiam, atiraram muitas flechas visando
aos atacantes das janelas das casas, felizmente sem ferir ninguém.
Schramm e Troepel atiraram também contra os fugitivos,
ferindo dois deles. Um caiu, mas auxiliado por seus companheiros pôde entrar
na roça de mandioca e, dali, no mato. Como já fosse noite fechada, deixamos de
perseguir os bugres. Os homens que comigo tinham vindo do Garcia chegaram
pouco depois da fuga dos bugres e pernoitaram conosco na Velha. Perto da
casa e nas imediações da roça encontramos 4 arcos e 8 flechas.
Ao romper o dia 29, principiamos, com a assistência de
Schramm, a perseguir os bugres. Entrando no mato, logo atrás da plantação
de mandioca, achamos um bugre ferido, sem sentidos, em estado gravíssimo.
Mandei sem demora, chamar o Sr. Friedenreich para ver o moribundo. Antes,
porém dele chegar, o bugre faleceu.
Era uma figura aliás, robusta. Tinha aproximadamente, 20
anos e, no lábio inferior, um pedaço de madeira, característico da tribo dos
botocudos. Transportamos o cadáver e demo-lhes sepultura.
Avisei o comandante do destacamento dos soldados de Bel-
chior para mandar percorrer os vales do ‘Velha’ e do ‘Garcia’.
Comunicando estes fatos, observo que aqui continuamos sem-
pre com coragem e trabalho para adiantar a Colônia. Esperando suas ordens ou
seu pronto regresso, subscrevo-me com toda estima. (Ass.:) F. Ostermann.”7
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AS ENCHENTES
Além dos impasses com os índios, outros problemas preci- Imagens da enchente em
Blumenau no ano de 1911.
saram ser enfrentados e resolvidos pelos primeiros imigrantes. A demora na
demarcação dos lotes foi quase uma constante nas diversas colônias, forçando FONTE: Publicação comemorativa
sobre o Centenário de Blumenau,
os imigrantes a passarem os primeiros tempos em condições precárias, em 1950.
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A SITUAÇÃO ATUAL
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época, foram tombadas também algumas unidades isoladas das áreas rurais
de Pomerode, Indaial, Guabiruba, Timbó e Orleans, e ainda em Joinville, São
Bento do Sul e Jaraguá do Sul.
NOTAS
1
A Colônia de São Pedro de Alcântara no contexto da colonização alemã em Santa
Catarina, Walter Piazza in JOCHEM, Toni Vidal. São Pedro de Alcântara 1829-1999:
aspectos de sua história.
2
Caboclo neste contexto não refere-se apenas ao mestiço, mas qualquer outro indivíduo que
não seja imigrante europeu (colono). Assim, os habitantes de origem açoriana encontrados
no litoral são também considerados caboclos, e vistos preconceituosamente como um povo
atrasado, em oposição ao alemão civilizado.
3
RODYCZ, Wilson Carlos (org.). Colônia Lucena – Itaiópolis – Crônica dos imigrantes
poloneses. Florianópolis: BRASPOL, 2002.
4
Bugre deriva do francês bougre, patife, porcalhão.
5
Imigração, colonização e terra indígena, Prof. Dr. Hans-Jürgen Prien – Universität zu
Köln/ Alemanha e do Instituto de História Ibérica e Latino-americana in JOCHEM, Toni
Vidal. São Pedro de Alcântara 1829-1999: aspectos de sua história.
6
SANTOS, Sílvio Coelho dos. Índios e brancos no sul do Brasil: a dramática experiên-
cia dos Xokleng
7
SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau. Florianópolis: Edeme, 1972.
8
FICKER, Carlos. História de Joinville – crônica da Colônia Dona Francisca. 2ª. Edição.
Impressora Ipiranga: joinville. 1965. pág. 283.
9
KOLLROSS, Izabel. Tópicos da imigração polonesa em Itaiópolis in Colônia Lucena
– Itaiópolis: crônica dos imigrantes poloneses.
10
SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau. Florianópolis: Edeme, 1972
11
RODYCZ, Wilson Carlos. Panorama da história da imigração polonesa para a Colô-
nia Lucena in Colônia Lucena – Itaiópolis: crônica dos imigrantes poloneses.
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