Anais Do I Encontro de Pesquisa em Música Do Maranhão
Anais Do I Encontro de Pesquisa em Música Do Maranhão
Anais Do I Encontro de Pesquisa em Música Do Maranhão
DISPONÍVEL EM <HTTPS://WWW.EVEN3.COM.BR/MARAMUSI>
ISBN 978-65-00-62729-9
São Luís/MA
2023
Daniel Lemos Cerqueira
(organizador)
São Luís/MA
2023
Capa Prof. Dr. Daniel Lemos Cerqueira
Projeto Gráfico Prof. Dr. Daniel Lemos Cerqueira
Revisão Prof. Dr. Daniel Lemos Cerqueira
ISBN: 978-65-00-62729-9
PREFÁCIO .........................................................................................................................................3
Artigos
Cadernos de Música de Neném Rêgo: novas contribuições .......................................................5
Guilherme Augusto de Ávila
Resumos
Impactos da pandemia de Covid-19 sobre as condições sociais de trabalho de músicos
instrumentistas em São Luís/MA, Brasil....................................................................................... 58
Paulo Fernandes Keller
A ascensão das mulheres na música: um estudo acerca da atuação de Lilah Lisboa em São
Luís do Maranhão ........................................................................................................................... 64
Débora de Paula; Alberto Dantas Filho
Levantamento de obras musicais para Canto Coletivo no Acervo João Mohana ................. 77
Leonardo Corrêa Botta Pereira
PREFÁCIO
Daniel Lemos
Pianista
4
REGISTRO DA PROGRAMAÇÃO
21 de outubro (Sexta-feira)
Abstract: The present work aims to study the documentary provenance of the music
notebooks Nº3 and Nº5 of the Acervo João Mohana. Aspects of their production and their
possible custody are discussed, in addition to a preliminary biographical study of Neném
Rêgo, as well as a study of the archival history of the notebooks. I used, as a theoretical
framework, the study of Agnes Millar's provenance, using musical diplomacy. This work
allowed me to establish the origin and order of production of the two notebooks in Caxias
(MA), where Neném Rêgo would have produced them between 1900 and 1925. It was also
possible to perceive traces of its musical development, as well as to understand other
aspects such as the use of paper and the treatment given to notebooks in their cataloging
at the Acervo João Mohana. Another finding of the work was the urgency of a new archival
organization of the Acervo João Mohana, aiming at the construction of a new inventory
that benefits the perception of provenance and the typology of its documents.
1 INTRODUÇÃO
2 PESQUISAS ANTERIORES
2
É tão divina a angélica aparência /e a graça que ilumina o rosto dela,/que eu concebera o tipo de
inocência/nessa criança imaculada e bela./ Peregrina do céu, pálida estrela,/ exilada na etérea transparência,/
sua origem não pode ser aquela/ da nossa triste e mísera existência./ Tem a celeste e ingênua formosura/ e a
luminosa auréola sacrossanta / de uma visão do céu, cândida e pura./ E quando os olhos para o céu levanta,/
inundados de mística doçura,/ nem parece mulher – parece santa.
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São Luís, 20 e 21 de outubro de 2022 – UEMA, GPMUSI/UFMA, EMMUS, FAPEMA
Abaixo deste poema (Caderno Nº 5, p. 29) está indicada a relação do poema com a
música da página 32: “a muzica da pagina nº 32 desse - em 16/04/915”. Ou seja, é um caso
de reaproveitamento do espaço no caderno, deixado por uma cópia anterior.
Os documentos até aqui analisados nos permitem afirmar que Neném Rêgo viveu
na cidade maranhense de Caxias pelo menos entre 1890 e 1925. Esse local e datas são
sugeridos pelos dados inseridos nos cadernos, que se iniciam em torno de 1900, além do
fato de ter sido ela proprietária de uma escola nas primeiras décadas do século XX, como
veremos abaixo, no trecho da reportagem de Brunno G. Couto, em que traz uma biografia
da ilustre caxiense Dinir Silva (1919-2007): “[...] nasceu em Caxias no dia 12/06/1919 [...]
iniciou seus estudos nas escolas particulares de d. Neném Rêgo e Lizete Pires” (COUTO,
2020, grifo nosso).
Na análise do Caderno Nº 5, já na altura da décima folha (p. 20), há a inserção da
data de 1906 a partir da qual se supõe que Neném Rêgo era ainda uma jovem quando
iniciou o Caderno Nº5. Nas folhas 1, 13, 38 e 39 do Caderno Nº 5, foi inserida a inscrição
“Benedicta de Moraes Rego” por meio de um carimbo manual. Uma das questões a serem
consideradas na relação deste carimbo com a autoria deste caderno é o porquê da
ausência do acento circunflexo no sobrenome “Rêgo”, que foi inserido pelo menos quinze
vezes no restante do Caderno Nº 5 e dez vezes no Caderno Nº 3, pelas próprias mãos de
Neném Rêgo. Este teria sido um apelido utilizado pela própria autora das cópias, ao longo
de mais de vinte anos, ou teria esse carimbo sido inserido num período posterior? Abaixo,
um exemplo em que podemos observar, ao lado esquerdo, o carimbo e a declaração de
cópia, na parte inferior da folha (Fig. 1):
1.º Encontro de Pesquisa em Música do Maranhão 9
São Luís, 20 e 21 de outubro de 2022 – UEMA, GPMUSI/UFMA, EMMUS, FAPEMA
4 ANÁLISE DOCUMENTAL
5 HISTÓRIA ARQUIVÍSTICA
A música Sonho de Ouro, que no índice produzido pela revisão do APEM conta
com o registro 203/95, contém, na fonte original, o registro 0206/93, como na imagem
abaixo. Observo ainda, que possivelmente, o registro anterior foi apagado, pois os
tamanhos de letras e o lápis utilizado nos registros são diferentes (Fig. 6):
6 CONCLUSÕES
O estudo da proveniência dos cadernos Nº5 e Nº3 do Acervo João Mohana apresentou
dados importantes que apontam fortemente a sua produção e uso à Neném Rêgo. Outro
ganho da pesquisa foi a revelação da sua trajetória técnico musical até o ponto em que a
mesma já possuía recursos técnico musicais suficientes para elaborar seus próprios
acompanhamentos das melodias surgidas aos finais dos cadernos.
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São Luís, 20 e 21 de outubro de 2022 – UEMA, GPMUSI/UFMA, EMMUS, FAPEMA
Como desdobramento arquivístico, fica a proposição para que os dois cadernos tenham a
numeração em ordem imediata, sendo que o primeiro deles deve ser o atual Caderno Nº5
(o primeiro a ser produzido) enquanto que o Caderno Nº3 deve receber um número
posterior. Essa observação se dá pela complementaridade e pela consecução das datas dos
dois documentos.
Outro desdobramento no plano arquivístico musical do presente estudo é que o
Acervo João Mohana necessita de uma urgente organização física e organização do seu
arranjo, a fim de produzir um novo inventário. Este inventário deve visar a verificação da
existência de cadernos - e não apenas de títulos de músicas soltas – assim como a
proveniência de seus documentos. Estas medidas devem auxiliar no estudo da música
maranhense e não apenas um estudo temático a respeito de compositores e obras, como
já apontado em trabalho anterior (ÁVILA, 2021).
Por último, espero que com a atual pesquisa, parte da história cultural musical da
cidade de Caxias entre o final do século XIX e primeiras décadas do século XX possa ter
sido contemplada e enriquecida, o que deve ser ampliado com a contribuição futura de
pesquisadores que tenham acesso a outras informações acerca da vida de Neném Rêgo
como também da sua cidade natal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ÁVILA, Guilherme A.; CERQUEIRA, Daniel L.; SANTOS NETO, Joaquim A. O Violão
Oitocentista nos álbuns da Família Perdigão. Vórtex, Curitiba, v. 8, n. 3, p. 1-36, 2020.
COUTTO, Bruno G.. Caxienses Ilustres: Dinir Silva. Arquivo Caxias, 2020. Disponível em
<https://arquivocaxias.com.br/dinir-silva>. Acesso em <09 mar. 2022>.
CUNHA, Higino Cícero da. Pedro de Amarante. Jornal de Caxias, n.º 341, 1902.
SANTOS, Tiago Fernandes Bastos. Memória violonística maranhense: Obras Inéditas para
Violão Solo no Acervo João Mohana. Trabalho de Conclusão (Licenciatura em Música) –
CCH, UFMA, São Luís, 2019.
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São Luís, 20 e 21 de outubro de 2022 – UEMA, GPMUSI/UFMA, EMMUS, FAPEMA
Abstract: The narrative refers to the contextualizations about concepts about traditional,
folk and popular music from Maranhão, this look refers to my first research focusing on
traditional Maranhão musicalities during my graduation in 2011.
1 INTRODUÇÃO
2 DISCUSSÃO
como parte da tradição de uma região, país ou povo” (HORTA, 1985, p. 251). Assim como
em outros estilos musicais, possui características próprias. Suas composições geralmente
são de autores desconhecidos, anônimos, e essas vêm sendo modificadas à medida que
são reinterpretadas por pessoas diferentes ao longo do tempo.
Outra característica genérica da música folclórica é sua origem em comunidades
rurais. ”As manifestações culturais maranhenses, desde que surgiram, ficaram restritas à
zona rural da capital ou ao interior do estado, principalmente à região da Baixada
Maranhense”, conforme afirmou Chico Pinheiro (2010), pesquisador da cultura popular
maranhense. Segundo ele, foi na zona rural que se desenvolveram e criaram fortes raízes
até mesmo, porque em determinados períodos históricos, foram reprimidas e proibidas de
ultrapassarem as fronteiras de suas comunidades.
Dentre as funções peculiares à música folclórica como, por exemplo, a auto
expressão, a transmissão de tradições populares e notícias de acontecimentos, o
acompanhamento de danças; poderíamos destacar na música folclórica maranhense: uma
ajuda para realização de trabalhos árduos e repetitivos, realizados por africanos
outras correntes musicais, na produção de uma única música com todas as suas influências
e possibilidades.
Outro fator importante a ser observado é a maior abrangência da música popular
em atingir um número maior de pessoas. Diferentemente da música folclórica que como já
foi dito é uma música notadamente rural, a música popular é uma música essencialmente
urbana, faz parte da arte urbana. Desta forma está sujeita a imposições de mídia, mudando
conceitos e influenciando comportamentos.
Em se tratando de música popular, o Brasil apresenta uma das mais ricas
principalmente pela sua diversidade. Na parte rítmica a Música Popular Brasileira, com suas
variações, suas síncopes e sua linguagem própria, hoje em dia é uma das mais respeitadas
em todo o mundo. Alguns gêneros estão presentes em todo o território brasileiro, e
também temos os ritmos específicos de cada localidade, de cada região. Temos o Samba e
todas as suas vertentes, como a bossa nova, o partido alto e o pagode, temos o Baião e
suas variações, temos o Choro, e temos o Bumba-Boi.
O Bumba-Boi do Maranhão, assim como outras manifestações do nosso estado a
exemplo do Tambor de Crioula, adquiriu aqui status de gênero musical. Eles têm a sua
semente, o seu gene, o seu cerne. E neste sentido afirma Chico Pinheiro: “ele tem sua
própria identidade e mesmo sofrendo influências de muitas outras músicas, de muitos
outros modelos que caracterizam a música popular atual, conseguem ser identificado
como algo único” (PINHEIRO In: LEITÃO, 2011). No Maranhão, esse despertar dos
compositores e músicos da música popular em utilizar os ritmos próprios da cultura
maranhense ocorreu a partir dos anos de 1970. Antes a essa data nossos compositores
como Antonio Vieira e Lopes Bogéa, valiam-se mais de batuques parecidos com o do
samba carioca do morro, o samba de Cartola, de Nelson Cavaquinho.
Foi no ano de 1972, segundo o Maestro Chico Pinheiro, que pela primeira vez um
compositor, no caso, Ubiratan Sousa, fez-se valer da rítmica do Boi da Ilha em uma
composição de cunho popular. Foi no Primeiro Festival da Música Popular Brasileira no
Maranhão e a canção chamava-se Toada Antiga. Pela primeira vez foi abolido o modelo
musical sulista adotado na época, em que bonito era “parecer” com Chico Buarque ou Edu
Lobo.
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
música das Companhias Folclóricas que representa um pouco de cada uma, tanto da
música popular revitalizada, quanto da linha da música tradicional das festas populares.
E assim a música maranhense foi-se desenvolvendo de maneira marcante dentro
do cenário da música popular brasileira. Nomes como João do Vale, Chico Maranhão,
Alcione, Tânia Maria (famosa pianista e cantora de jazz-fusion, pouco conhecida do público
maranhense), Nonato Buzar e mais recentemente Rita Ribeiro e Zeca Baleiro já estão
consagrados dentro da nossa MPB, e existem outros tantos com reconhecimento apenas
em nossa região.
Entendemos que os cursos superiores de música representam para nosso estado
um novo momento, tardio de certa forma, porém um momento oportuno para o
desenvolvimento pleno de pesquisas e estudos da música feita aqui no Maranhão. Não
apenas a música folclórica e popular, mas também as que utilizem outras linguagens.
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São Luís, 20 e 21 de outubro de 2022 – UEMA, GPMUSI/UFMA, EMMUS, FAPEMA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUENO, André Paula. Bumba-boi maranhense em São Paulo. São Paulo: Nankin editorial,
2001.
FERRETTI, Sergio Figueiredo. Tambor de Crioula: ritual e espetáculo. 3ed. São Luís:
Comissão Maranhense de Folclore, 2002.
HORTA, Luiz Paulo. Dicionário de Música Zahar. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1985.
PAPETE. Bandeira de aço. São Paulo: Discos Marcus Pereira, 1978. 1 disco de vinil
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Abstract: within the organ repertoire, music on chorale melodies plays an important role.
The chorale prelude in Pachelbel form is known by the work of German composer and
organist Johann Pachelbel (1653-1706), who was not the generator of this form, but
systematized its use in his compositions for organ. It is found in the improvisation of
chorale preludes, both in sacred liturgies and in concerts. The chorale prelude Allein Gott
(All Glory be to God) is part of a collection of chorale preludes in various shapes,
composed by Pachelbel, in order to serve as an improvisation model. This chorale is one of
the classic examples for the use of the Pachelbel form, serving as a model in this study. The
musical elements used as compositional tools in the Pachelbel form were investigated
starting from the analysis of the chorale prelude. After mapping the musical elements I
elaborated a procedure of exercises for improvisation based on the analytical study of the
prelude Allein Gott.
1 INTRODUÇÃO
A improvisação ao órgão, que teve seu tempo áureo na época barroca, ainda hoje
é um elemento fundamental da prática artística de organistas. A origem da improvisação
ao órgão remonta às necessidades litúrgicas dentro da missa católica e do culto
protestante. Uma das práticas da música improvisada no âmbito sacro era - e continua
sendo - o prelúdio coral. Johann Pachelbel (1653-1706) compôs um grande número de
prelúdios corais que chamam atenção pela diversidade formal. Além do legado artístico
que essas obras representam, também podem ter um propósito didático. Vistos como
exemplos fixados da prática improvisatória de Pachelbel, os prelúdios corais podem ter
servido como modelo para a improvisação e estudo para seus alunos. Dentre as diversas
formas de prelúdios corais que aparecem na obra de Pachelbel, uma se sobressaiu.
Embora essa forma não seja a mais típica de Pachelbel, tornou- se a mais conhecida
porque aparece várias vezes na obra de Johann Sebastian Bach, tanto nas obras para
órgão quanto nas cantatas. Na bibliografia musical do século XIX foi classificada como
forma Pachelbel (WILLMETT, 2007, p. 149).
2 METODOLOGIA
3 A FORMA PACHELBEL
Na revisão bibliográfica voltada à forma Pachelbel observei que não existe uma
uniformidade absoluta no que se refere à sua definição e nomenclatura. Christiane Michel-
Ostertun (2011, p. 38) define a forma Pachelbel como um prelúdio coral em que a
execução de cade frase do coral, geralmente na voz do soprano, é antecedida por um
fugato também chamado de pré-imitação (Vorimitation). O tema do fugato é derivado de
cada frase do coral e aparece diminuído em tempo duplo ou quádruplo em relação à
respectiva frase. Michel- Ostertun (idem) entende essa diminuição, na pré-imitação, como
a diferença entre forma Pachelbel e o moteto para órgão (Orgelmotette). Georgii (2010, p.
109) não faz essa diferença e apresenta os termos da forma Pachelbel e moteto para órgão
como sinônimos do prelúdio coral com fugato (fugierter Orgelchoral). No contexto da
classificação dos tipos de prelúdios corais na obra de Johann Sebastian Bach, Tusler define
como característica principal do moteto coral (chorale motet) o “fugato de todas as frases
da melodia coral em sua ordem original. O resultado final é uma série de exposições fugais
[...]. Em geral, a frase da melodia coral utilizada em cada exposição é apresentada em
diminuição, mas ocasionalmente é encontrada em sua forma original.” (TUSLER, 1968, p.
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30) Keller (1999, p. 62) usa o termo como “moteto para órgão segundo Pachelbel”
(Pachelbelsche Orgelmotette). Dupré (2002, p. 59) chama essa forma de “fugato coral”
(fugal chorale) e a vê como “remanescente sobrevivente do moteto vocal do século XVI.”
Quem gerou esta forma não foi Pachelbel, e sim, Samuel Scheidt, conforme Seiffert (1903,
p.13) e Tusler (1968, p. 71).
O prelúdio coral de Pachelbel tem como tema a melodia do coral Allein Gott, in der
Höh ,́ sei Ehr, composto por Nikolaus Decius em 1523. A peça de Pachelbel está escrita em
sol maior e a três vozes, sendo que o cantus firmus do coral aparece por completo no
soprano. Enquanto o soprano só apresenta o cantus firmus do coral, as outras vozes
preparam cada frase do coral com uma pré-imitação: uma elaboração contrapontística a
partir do material melódico de cada frase. A seguir, a análise da pré-imitação da primeira
frase do coral como exemplo.
adaptação melódica ocorre uma condução harmônica de volta para o centro tonal, sol
maior. Nos tempos fortes, as duas vozes andam em intervalos consonantes: oitavas, sextas
e terças. As dissonâncias são notas de passagem. No segundo compasso ocorre uma
suspensão (s) entre as notas do cantus firmus (em círculos) e a voz inferior: uma
dissonância de segunda que resolve (r) no intervalo de terça.
Preparadas pelas pré-imitações nas vozes inferiores, seguem as frases completas
do cantus firmus do coral no soprano, em valores rítmicos aumentados. O
acompanhamento dessas frases acontece pelas vozes inferiores – a voz intermediária e a
voz inferior. Primeiro, proponho um olhar simplificado à estrutura harmônica do
acompanhamento.
Se olharmos a estrutura harmônica do acompanhamento do cantus firmus de
forma simplificada (Fig. 2), podemos fazer algumas observações: Pachelbel só usa acordes
em estado fundamental e na 1ª inversão (ou seja, com a terça no baixo). Aparece o acorde
da 7ª da dominante (c. 4, 10, e 25) mas não na cadência no final de uma frase e, somente
com a sétima na melodia. Em cadências, utiliza o acorde da subdominante com quinta e
sexta (c. 5, 11, e 32) que é uma suspensão: a dissonância (entre a quinta e a sexta) é uma
nota já inserido antes no tempo fraco e resolvida em grau conjunto descendente
(CARVALHO, 2011, p. 91)
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São Luís, 20 e 21 de outubro de 2022 – UEMA, GPMUSI/UFMA, EMMUS, FAPEMA
Essa estrutura harmônica descrita até aqui e mostrada na Figura 2 está preenchida
com diminuições: as vozes inferiores estão elaboradas em figuras de semínimas, colcheias
e semicolcheias (também, raramente, em mínimas) que definem e preenchem o espaço
harmônico e cuja melodia conduz de uma harmonia à seguinte. Confira a Figura 3:
1
Tradução literal: Agora venha, Salvador dos pagãos.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO, A.R. Contraponto tonal e fuga: manual prático. Porto Alegre: Editora Novak
Multimedia, 2002.
GEORGII, C. Anregungen für Vorspiele und Intonationen. In: KAISER, H.; LANGE, B.
Basiswissen Kirchenmusik., 3: Musiktheorie, liturgisches Orgelspiel. Stuttgart: Carus-Verl.,
2009. p. 98-127.
TUSLER, R.L. The type of choral preludes. In: TUSLER, R.L. The style of J.S. Bach's chorale
preludes. New York: Ney York University Press, 1968.
WILLMETT, J. The organ chorales of Johann Pachelbel: origins, purpose, style. Edinburgh:
University of Edinburgh, 2007.
1.º Encontro de Pesquisa em Música do Maranhão 30
São Luís, 20 e 21 de outubro de 2022 – UEMA, GPMUSI/UFMA, EMMUS, FAPEMA
Resumo: O exercício da leitura à primeira vista é uma prática ainda pouco exigida nas
instituições que apresentam o ensino de música como seu principal campo de atuação.
Neste artigo, retirado de uma parte de um trabalho de pesquisa ainda em
desenvolvimento, colocamos em debate um pouco da contextualização da leitura à
primeira vista na vida dos estudantes de violão e também dos profissionais desse
instrumento, apresentando suas dificuldades específicas e sugerindo soluções tanto para o
professor quanto para as instituições de ensino de música.
Abstract: The exercise of sight reading is a practice that is still little demanded in
institutions that present music teaching as their main field of action. In this article, taken
from a part of a research work still under development, we discuss some of the
contextualization of sight reading in the lives of guitar students and also professionals of
this instrument, presenting their specific difficulties and suggesting solutions for both the
teacher and for music education institutions.
1 INTRODUÇÃO
2 JUSTIFICATIVA
vezes ao lado de sua companheira ou companheiro, faz-se acompanhar dos lamentos das
cordas e que, com a ajuda do instrumento, ganha seu sustento, quanto na apresentação
do solista acompanhado por uma orquestra de renome. Parafraseando Márcia Taborda
(2011), o violão tornou-se parte da nossa identidade musical nacional. Entretanto, durante
a formação do violonista ou do professor violonista, o ensino da prática de leitura à
primeira vista não está entre as prioridades de uma parte dos professores responsáveis
pela formação deste profissional. É importante que se debata sobre a importância dessa
habilidade para o violonista e para os músicos em geral.
É relevante explorar os motivos que levam a leitura musical à primeira vista ser
considerado um elemento problemático no meio violonístico. Estes elementos estão
diretamente ligados a aspectos sociais da música urbana e da iniciação do instrumento
1.º Encontro de Pesquisa em Música do Maranhão 32
São Luís, 20 e 21 de outubro de 2022 – UEMA, GPMUSI/UFMA, EMMUS, FAPEMA
trabalho mais amplo, e não estamos nos referindo apenas aos alunos de instrumentos de
orquestra.
É importante que os profissionais responsáveis pela elaboração dos planos de
ensino e dos programas pedagógicos dos cursos entendam a necessidade de esta prática
ser sistematizada. O aluno que está iniciando o estudo do instrumento não tem obrigação
de saber como organizar seu estudo, o quê priorizar e como estudar. Portanto esta
organização precisa ser desenvolvida pelo professor. É ele quem possui o conhecimento e
a vivência para auxiliar o aluno não apenas a colocar o dedo certo no lugar correto no
tempo exato, mas também para ajudá-lo a alcançar uma eficiência profissional e uma
realização musical e pessoal.
Arôxa (2012, p.559) ressalta que o violão pode ser utilizado como um instrumento
solista, acompanhador e camerista, uma característica que herdou de seus ancestrais, a
vihuela, alaúde e guitarra. Por ter sua natureza de utilidade híbrida e por ter várias raízes,
existem diversos tipos de escrita musical a serem usadas e as mais conhecidas e utilizadas
atualmente são a cifra, partitura e tablatura. O uso de cifras, por exemplo, é de uso
predominante na prática da música popular urbana, por ser, na maioria dos casos, simples,
de fácil aprendizado e útil para função de acompanhamento.
Voltando ao ponto, Costa (2014, p.14) coloca que essa utilização quase que
polivalente do violão (solista, acompanhador, melódico, harmônico, erudito e popular) é
um fator que agrava toda essa situação, além de todo o contexto social e histórico. Esse
uso híbrido, acompanhado pelo fato de o instrumento não ter uma metodologia de ensino
consolidada, acabam por agravar mais ainda esse estado. Os casos de acesso tardio ao
ensino formal do instrumento acabam por suprimir etapas do aprendizado, prejudicando o
ato de ler música em consequência do não amadurecimento do conhecimento teórico em
função do tempo, o que afeta negativamente o desenvolvimento da leitura musical à
primeira vista. Poucos violonistas possuem uma fluência notória nessa prática em
consequência do enraizamento de todos esses fatores no âmbito musical. “Mesmo os
violonistas de início precoce tendem ao contato tardio com a partitura, em face da
influência do aprendizado de notação por cifras, comum à música popular urbana”
(ARÔXA apud COSTA, 2014, p. 17-18).
1.º Encontro de Pesquisa em Música do Maranhão 34
São Luís, 20 e 21 de outubro de 2022 – UEMA, GPMUSI/UFMA, EMMUS, FAPEMA
Arôxa (2013, p. 19) relata que o que despertou seu interesse pelo tema foi o
resultado prático de uma boa leitura, que já era esperado para as vantagens de se possuir
essa habilidade bem desenvolvida: uma maior agilidade e rapidez no preparo de uma
performance musical.
Segundo Costa (2014, p. 16), conhecendo como se desenvolve o ensino da leitura
musical à primeira vista, observou-se a nítida dificuldade dos violonistas quando colocados
de frente para uma partitura, de acordo com esse cenário há a necessidade de se buscar
explicações para essa circunstância. O músico que não trabalha essa modalidade de estudo
terá muito mais dificuldade para enfrentar os obstáculos existentes no fazer musical.
Ter uma leitura à primeira vista no mínimo razoável torna o estudo menos
desgastante, mais agradável, menos frustrante. O tempo que se leva para tirar uma peça
se torna menor e o prazer em estudar aumenta.
Mas conseguir tempo para inserir as aulas de leitura à primeira vista em uma aula
de 50 minutos exige do professor estratégias. Caso haja a possibilidade, o ideal é que a
prática de leitura aconteça durante a aula convencional de 50 minutos, podendo ser
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARÔXA, Ricardo. Estratégias de estudo da leitura à primeira vista no violão. In: SIMPÓSIO
BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA, 2, 2012, Rio de Janeiro. Anais... Rio de
Janeiro: Instituto Villa-Lobos, 2012. p. 558-566.
Resumo: este presente artigo discorre sobre a minha Pesquisa de Mestrado que está em
andamento que tem objetivo de investigar a Dramaturgia Musical Descolonial do Grupo
Grita, sendo um recorte de minha revisão de literatura. Logo, usamos como metodologia a
forma da coleta de dados a partir de pesquisas bibliográficas, buscando elencar possíveis
caminhos dialógicos entre a Dramaturgia Musical Descolonial do Grupo Grita em relação
as Teorias do Pensamento Descolonial Contemporâneo. Neste sentido, tivemos enquanto
critério de análises a partir de abordagens de conceito teóricos a luz das ideias de Walter
Mignolo (2003) que estão ligadas as suas propostas de “Gesto Decolonial”, no ponto de
vista da resistência ao colonialismo eurocêntrico; e também o “Pensamento Fronteirico” na
perspectiva da reprodução de novos saberes e práticas pedagógicas. Para tanto, tivemos
como referências: SILVA (2001); SILVA (2017); LEITE (2007); MIGNOLO (2003); BELÉM
(2016), DIAS; ABREU (2019), BALLESTRIN (2013); ICLE;HASS (2019).
Abstract: this present article discusses my Master's Research that is in progress that aims
to investigate the Descolonial Musical Dramaturgy of Grupo Grita, being a clipping of my
literature review. Therefore, we used as a methodology the form of data collection from
bibliographic research, seeking to list possible dialogic paths between the Descolonial
Musical Dramaturgy of Grupo Grita in relation to the Theories of Contemporary Decolonial
Thought. In this sense, we had as a criterion for analysis from theoretical concept
approaches in the light of Walter Mignolo (2003) ideas that are linked to his proposals for
a “Decolonial Gesture”, from the point of view of resistance to Eurocentric colonialism; and
also the “Border Thinking” in the perspective of the reproduction of new knowledge and
pedagogical practices. For that, we had as references: SILVA (2001); SILVA (2017); LEITE
(2007); MIGNOLO (2003); BELÉM (2016), DAYS; ABREU (2019), BALLESTRIN (2013);
ICLE;HASS (2019).
1
Especialista em Teatro e Educação pelo Instituto Federal do Norte de Minas (IFNMG); Licenciado em Letras
– Português pela Faculdade Atenas Maranhense (FAMA); Licenciado em Teatro pela Universidade Federal do
Maranhão (UFMA); Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFMA.
2
Doutor em Educação Musical pela Universidade Federal da Bahia (UFBA); e Orientador pelo Programa de
Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFMA.
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1 INTRODUÇÃO
(1993), que foram iniciadas na década de 80. “O primeiro, desde seu artigo no qual
desenvolve a ideia de colonialidade do poder, e claro quanto à necessidade de
descolonização; Dussel, por sua vez, trouxe a noção de trans-modernidade” (BALLESTRIN,
2013 p.107).
Dessa maneira, as Linhas de Teorias de Pensamentos Descoloniais tiveram as
primeiras discussões iniciadas por alguns intelectuais que começaram a compartilhar suas
ideias teóricas a partir de estudos de pesquisas no campo acadêmico das áreas da
Sociologia e Filosofia realizados pelo “Grupo Modernidade/Colonialidade” que defendia a
renovação crítica das Ciências Sociais por meio dos “Estudos Subalternos” que foram
iniciadas no final da década de 90. Segundos Alder Dias e Waldir Ferreira de Abreu:
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Neste sentido, podemos constatar que o Pensamento Decolonial teve seu começo
por iniciativas que surgiram a partir de pesquisas conduzidas em torno de um coletivo de
autores das Áreas das Ciências Sociais, e intelectuais da Filosofia de origens Latino-
Americanos; tendo como convergência de Pensamentos: o livre compartilhamento de
ideias mútuas de suas atividades de pesquisas acadêmicas buscando outras expectativas
de uma sociedade não eurocêntrica para a criação de um mundo melhor. “O decolonial,
portanto, é um processo de luta tanto contra uma matriz colonial e seus preceitos
universalizantes, homogeneizadores, hierarquizantes e eurocêntricos” (ICLE; HAAS, 2019,
P.98). Neste aspecto, o termo “Descolonial” começou a ser construído a partir dos
conceitos teóricas idealizadas por Maldonado-Torres (2008) e Walter Mignolo (2003)
em ideias convergentes no sentido de resistência enquanto forma de ruptura ao projeto
de modernidade e colonialidade eurocêntrica. Segundos Alder Dias e Waldir Ferreira De
Abreu:
Desse modo, temos como exemplo o “Teatro Experimental Negro Brasileiro” que
vem combatendo o racismo estrutural brasileiro por meio de seus espetáculos teatrais e
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Desse modo, podemos destacar o espetáculo “Via Sacra”, como o principal projeto
de representatividade de Dramaturgia Musical Descolonial do Grupo Grita. Logo, por ser
um símbolo de resistência cultural, enquanto longevidade de tempo de encenação do
espetáculo que apresentou a sua 38 ª edição, em 2019. Para tanto, teve a sua primeira
montagem composta por um elenco de 70 atores em cena, sendo apresentado ao ar livre,
pelas ruas da Comunidade do Bairro do Anjo da Guarda, desde a Sexta-feira Santa, de 17
de abril de 1981 (LISBOA, 2017, p. 357). Segundo Maria José Lisboa:
não mais de apoio, mas sendo protagonista. A letra e a melodia tipicamente maranhenses
ocupam o palco da Via Sacra” (LISBOA, 2017, p. 364).
Dessa forma, outro exemplo de Dramaturgia Musical Descolonial do Grupo Grita é
o espetáculo “Preto Fugido”, direção, Tácito Borralho que foi apresentado na década de
noventa entre os anos de 1991, 1992 e 1993. Assim sendo, o texto é uma adaptação do
livro “Ganzola – a peleja de preto fugido contra os inimigos da lei”, nome “Preto Fugido” é
baseado em brincadeiras de crianças da Cultura Popular Maranhense. Segundo Maria José
Lisboa:
humana, a decadência de uma geração engolida pelo sistema econômico, social e cultural,
que julga, condena e escraviza essa gente, levando-a a degeneração da classe” (SILVA,
2001, p.81). Desse modo, a Dramaturgia Musical Descolonial de “Preto Fugido” foi
composta de cinco canções musicais: “Toada do Soca-pilão”; “Ladainha de Romeiros”;
“Hino do Novo Dia”; “O Nosso Bloco Vai Sair”, “Oração Latina”; e “Preto Fugido”. “As
canções são interpretadas a capela, com as vozes em uníssono, formando assim um
grande coro” (SILVA, 2001, p. 82). Segundo Maria José Lisboa: falando sobre a canção
Preto Fugido que dar nome ao espetáculo.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, esperamos que este artigo possa contribuir abrindo diversos caminhos de
reflexões e análises que estabeleçam relações entre as Teorias do Pensamento Descolonial
Contemporânea a luz das ideias de Walter Mignolo (2003) nos pontos de vistas dos
conceitos teóricos sobre “Gesto Decolonial”, no sentido de resistência, e “Pensamento
Fronteirico”, na perspectiva da reprodução de saberes; que possam estar relacionados a
Dramaturgia Musical Descolonial do Grupo Grita.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Preta, v. 16, n. 1, 2016.
________________. Afinal, como a crítica decolonial pode servir às artes da cena? ILINX –
Revista do LUME, n. 10, 2016.
DIAS, Alder ; ABREU, Waldir. Por uma didática decolonial: aproximações teóricas e
elementos categoriais. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 19, n. 62, p. 1216-1233, 2019.
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ESSLIN, Martin. Brecht: dos males o menor. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979.
ICLE, Gilberto; HAAS, Marta. Gesto decolonial como pedagogia: práticas teatrais no Brasil e
no Peru. Urdimento, Florianópolis, v. 3, n. 36, p. 96-115, 2019.
LEITE, Aldo de Jesus Muniz. Memória do teatro Maranhense. São Luís: FUNC, 2007.
PINTO, Davi de Oliveira. A Música-Gestus nos espetáculos Esta Noite Mãe Coragem,
Um Homem é Um Homem e Nossa Pequena Mahagonny. Dissertação (Mestrado em
Artes) – Escola de Belas Artes, UFMG, Belo Horizonte, 2008.
SILVA, Maria José Lisboa. Teatro Comunitário: um cruzamento sem fronteiras (fenômeno
do século XXI). Nupeart, Florianópolis, v. 23, 2020.
_________________. Grupo Grita: Sua Estética e Sua Política. São Luís: FUNC, 2001.
Resumo: Rap é um ritmo musical urbano, caracterizado por uma declamação rápida,
improvisos, interrupções, “colar” e misturar sons já existentes, inserido na cultural de rua:
hip hop. Este trabalho é produto de uma pesquisa (PIBIC), que objetiva uma investigação
acerca da produção social do rap em São Luís-MA na contemporaneidade, buscando
entender sua origem, produção e consumo. Como metodologia, mobiliza-se o aporte
teórico-metodológico da sociologia e antropologia: primeiro, um exame bibliográfico
sobre o rap em São Luís; segundo, pesquisa documental e jornalística; e, terceiro, trabalho
de campo em formato hibrido, com observação direta e/ou virtual, etnografia das práticas
musicais e entrevistas. Como resultado desta pesquisa, considera-se que a origem social
do rap em São Luís passa por um processo urbano de periferização, e por uma influência
do Quilombo Urbano; e sua produção musical, difusão e consumo encontra-se
principalmente presente em batalhas nas praças, rimas em coletivos e produção de
conteúdos audiovisuais.
Resúmen: El rap es un ritmo musical urbano, caracterizado por la declamación rápida, las
improvisaciones, las interrupciones, el “pegado” y la mezcla de sonidos existentes, inserto
en la cultura de la calle: el hip hop. Este trabajo es producto de una investigación (PIBIC),
que tiene como objetivo investigar la producción social del rap en São Luís-MA en la
época contemporánea, buscando comprender su origen, producción y consumo. Como
metodología, se moviliza el aporte teórico-metodológico de la sociología y la
antropología: primero, un examen bibliográfico sobre el rap en São Luís; segundo,
investigación documental y periodística; y, tercero, trabajo de campo en formato híbrido,
con observación directa y/o virtual, etnografía de prácticas musicales y entrevistas. Como
resultado de esta investigación, se considera que el origen social del rap en São Luís pasa
por un proceso de periferización urbana, y por una influencia del Quilombo Urbano; y su
1
Licenciando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
2
Docente do Departamento de Sociologia e Antropologia (DESOC) da UFMA.
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1 INTRODUÇÃO
Mediante à crise mundial do capitalismo, em 1970, os Estados Unidos foi uma das
principais vanguardas econômicas atingidas, utilizando-se de medidas neoliberais de
reestruturação de produção. Passando por uma reorganização urbana, as populações
negras e hispânicas, moradoras dos guetos, foram as mais impactadas pelo ”aumento do
desemprego, a precarização do trabalho e o aprofundamento da miséria e da violência“.3
Um dos principais bairros, marcado por essas características sociais, foi o Bronx, na cidade
de Nova Iorque, carregadas de feridas abertas, como a violência policial, a violência
urbana, confrontos locais entre gangues, sem espaços de lazer, sem esporte, sem incentivo
à cultura, etc. Fruto desse contexto sociocultural surge um movimento cultural de rua, que
buscava canalizar as tensões locais diluindo-os em seus elementos (break, grafite e rap),
em manifestações específicas, que, aos poucos, se construíam.
O Rap, desse modo, faz parte dessa cultura de rua, intitulada hip hop, que vem de
to hip, to hop, significando em tradução livre: ”pular e saltar’’. Os elementos desse
movimento são: DJ, disc jokey, o artista responsável pelo aparato técnico, como scratch,
sample, back to back, etc; MC, ou “mestre de cerimônias”, responsável pelo canto falado,
por improvisar e embalar o ambiente através das letras; break, uma figura de dança; e
3
SANTOS, R. E. Hip Hop e Educação Popular em São Luís do Maranhão: uma análise da organização
“Quilombo Urbano”. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Maranhão, 2007, p. 23.
4
TEPERMAN, Ricardo. Se Liga no Som: as transformações do rap no Brasil. São Paulo: Claro Enigma, 2015, p.
16-17.
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grafite, uma manifestação de desenho artístico que costumam estar presente nos muros
da cidade. Mais tarde, somou-se outro elemento, demonstrando, assim, a potencialidade
do movimento enquanto instrumento de transformação: o conhecimento. O rap, nesse
sentido, ao somar o trabalho do DJ e do MC, é um ritmo musical urbano de juventude,
influenciado por outros gêneros da música negra, sendo caracterizado por uma
declamação rápida, improvisos, improvisações (scratch), “colar” e misturar sons já
existentes (samples), entre outros aspectos técnicos. A interpretação consagrada da
etimologia da palavra rap é que seria uma sigla, R.A.P., para rhythm and poetry: ritmo e
poesia. Definição dada não à-toa, mas com a defesa de uma ideia: as letras de rap é
poesia.
A partir da década de 1980, por meio da indústria fonográfica e cultural, os
elementos da cultura de rua, hip hop, foram estabelecendo-se também no Brasil, dando
destaque à São Paulo, conhecido mais tarde como o polo do hip hop nacional,
aglomerando jovens da periferia paulista nas praças e metrôs, onde se encontravam para
dançar break, grafitar, fazer batalhas de rimas improvisadas e debater sobre temas centrais
da sociedade brasileira, como a desigualdade social, racismo, cultura, violência, etc. Poucos
anos depois, percebe-se, no Maranhão, entre o final de 1980 e início de 1990, o processo
de periferização da capital maranhense e ampliação de problemas sociais, afetando
sobretudo a juventude negra e pobre. A cultura de rua tem seus elementos representados
por um grande esforço de difusão manual de um grupo organizado de hip hop militante, o
Quilombo Urbano, oferecendo um tempero a mais no debate cultural e político nas
periferias ludovicense.
Nesse sentido, este trabalho aqui é fruto de resultados parciais de uma Pesquisa
de Iniciação Cientifica (PIBIC), que teve por objetivo específico investigar a prática musical
e a produção social do rap em São Luís-MA, diante de seu contexto sociocultural, na
contemporaneidade (2021-2022). Buscando, assim, entender sua origem social, produção e
consumo de DJs, MCs e outros atores sociais envolvidos (como ativistas sociais,
pesquisadores, etc.). Em São Luís, o rap vem adquirindo interpretações específicas sobre as
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5
SILVA, Carlos B. R. da. Ritmos da Identidade: mestiçagens e sincretismos na cultura do Maranhão. Belo
Horizonte: Dialética, 2020.
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cinco elementos do hip hop ao longo dos anos 1980, 90 e 2000”.6 Nesse sentido, São Luís
6
TEPERMAN, Ricardo. Se Liga no Som: as transformações do rap no Brasil. Op., Cit., p. 43.
7
SANTOS, Rosenverck E. A História do Hip Hop em São Luís do Maranhão: periferização da cidade e
resistência político-cultural da juventude negra nos anos 1990. Outros Tempos, Vol. 5, número 6, dezembro
de 2008 – Dossiê Religiosidade, p. 06.
1.º Encontro de Pesquisa em Música do Maranhão 54
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empresariais. Os resultados de tais ações foram grande, que vão desde o crescimento da
urbanização, passando pela supervalorização de terrenos, o aumento da especulação
imobiliária, como o aprofundamento das desigualdades sociais intensificadas pelo
surgimento e proliferação de ”palafitas, ocupações desordenadas e sem infra-estrutura (as
chamadas invasões), enfim, intensificando-se o processo de periferização da ilha de São
Luís“, fazendo com que a cidade sofresse um inchaço com o aparecimento das chamadas
invasões e conjuntos habitacionais8
8
Ibid., p. 06.
1.º Encontro de Pesquisa em Música do Maranhão 55
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A partir das primeiras décadas do século XXI, começam a surgir mais jovens, como
uma ”nova escola“, de maneira mais individualizada, que se interessaram pelos eventos
letras e discussões empreendidos pelo Quilombo Urbano, como Marcha da Periferia,
Batalha nas Praças, apresentações de DJs e MCs e leituras educativas de intelectuais
negros brasileiros nas posses. Essa ”nova escola“ construiu nomes que ganharam
popularidade na cena local, como Marco Gabriel, Mano Magrão, Gugs, Enme, Pantera
Black, Hades, etc., até grupos de rimadores, como os Rimadores de Busão, que, nos
coletivos da capital, rimam sobre o cotidiano e vê a rima como uma forma de trabalho e
subsistência econômica – além, é claro, de MC’s que batalhas nos diversos eventos que
correm na cidade, em diferentes locais, como as Batalhas nas Praças.
Shows, batalhas de rimas, rimas em coletivos e trabalhos audiovisuais feitos em
plataformas digitais (YouTube, Spotfy, Instagram, Facebook, etc.) são aspectos, portanto, em
que o rap se faz mais presente na capital maranhense. Shows de artistas locais costumam
ser organizados através do contato com bares, apresentações em espaços urbanos
culturais, em manifestações, nas poucas oportunidades que editais de secretarias de
cultura abrem – e nesse caso, claro, com ressalvas, pois costumam acontecer atitudes
preconceituosas, desrespeitos e até casos de racismo, como relata o rapper Marco Gabriel,
que mais prefere fazer eventos independentes:
Tipo assim, eu hoje já consigo fazer meu ”próprio mercado“, tá ligado?
Geralmente rola vários estresses assim. Eu vou atrás dessa galera, vou na
casa, bato, negócio com eles, ”porta é minha, bar é deles“. [...] E também
tem o lace aí dos editais, dos festivais, que...tipo assim, não é fácil, não é pra
todos também – aquela velha história da panela, né [...]. Então, eles vão
fazer pelos deles mano, vão deixar mais restrito ainda. Quando vem pros
nossos, é porque tá agradável, quando tem alguém estourando, [...] quando
é uma parada mais assim nem tão contestador. 9
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como resultado parcial desta pesquisa, percebe-se, aqui em São Luís, a
importância do Quilombo Urbano enquanto movimento político-cultural, fazendo
atividades sociais, como busca de lazer e transformação, em meio ao processo de
9
GABRIEL, Marco. Entrevista concedida ao autor. São Luís, 6 de abr. 2022.
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batalhas, outros no busão, outros que já fazem uns sons, etc., cada um com sua forma de
levar a arte para outras pessoas“11, compreendendo-o como um ritmo de uma ”cultura
onde se salva vidas através da música, através das rimas improvisadas, sempre passando
informações que inspiram e mostrando a realidade de pessoas que não tem
oportunidades de erguer sua voz; e através dos MC’s, essa voz é ouvida!“.12
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUSÃO, Rimadores de. Entrevista concedida ao autor. São Luís, 4 de mai. 2022.
SANTOS, R. E. Hip Hop e Educação Popular em São Luís do Maranhão: uma análise da
organização “Quilombo Urbano”. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade
Federal do Maranhão, 2007.
10
BUSÃO, Rimadores de. Entrevista concedida ao autor. São Luís, 4 de mai. 2022.
11
MC, Salete. Entrevista concedida ao autor. São Luís, 8 de mai. 2022.
12
MC, Salete. 8 de mai. 2022.
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TEPERMAN, Ricardo. Se Liga no Som: as transformações do rap no Brasil. São Paulo: Claro
Enigma, 2015.
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São Luís, 20 e 21 de outubro de 2022 – UEMA, GPMUSI/UFMA, EMMUS, FAPEMA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
sem referências.
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ACOMPANHAMENTO SOLÍSTICO:
UM VIOLÃO PROTAGONISTA NA CANÇÃO BRASILEIRA
1
Mestrando em Música/Violão pela UNESPAR/EMBAP.
2
“A timeline é um padrão rítmico de curta duração que é repetido na forma de um ostinato, através de uma
batida de percussão específica” (AGAWU, 2017 apud GOMES, 2019, p. 12)
3
Horondino José da Silva, o Dino Sete Cordas, começou sua carreira no início dos anos 50 como violonista
em vários conjuntos regionais de chôro. Obteve fama de acompanhador com o violão 7 cordas e a sua forma
única e incomparável de acompanhar diversos solistas e cantores. Principal divulgador do instrumento no
Brasil (TABORDA, 1995, p. 7).
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São Luís, 20 e 21 de outubro de 2022 – UEMA, GPMUSI/UFMA, EMMUS, FAPEMA
Figura 01 - Trecho de Saga da Amazônia; composição e execução de Vital Farias no Álbum Cantoria 1 (1984).
4
Nascido no interior da Paraíba, Vital é poeta,violonista e compositor de obras consagradas como Saga da
Amazônia e Ai que saudade d’ocê. Fiel às raízes nordestinas, concluiu sua formação no Rio de Janeiro na
classe do maestro Radamés Gnattali. (ALBIN, 2006); (FARIAS, 2011)
5
Compositor Baiano, Elomar e seu violão representam uma vertente única dentro da Canção Brasileira,
influenciando vários compositores como Geraldo Azevedo, Caetano Veloso entre outros.
6
“O estilo rasgueado (em espanhol) ou estilo battente (em italiano) é um elemento idiomático da guitarra
barroca. Caracteriza-se por golpes de mão direita sobre todas as 5 cordas (ordens) em sentido vertical para
baixo ou para cima e pelos efeitos percussivos nas cordas e no tampo do instrumento.” (EID, 2021, p. 4)
7
Disputas poéticas realizadas no sertão nordestino, também chamadas de Cantorias de viola.
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A partir do terceiro compasso (cc. 69) o violão repete literalmente a frase iniciada
no compasso 67, porém, dessa vez, com um caráter contrapontístico, conectando os
espaços entre as frases da voz principal, já que a melodia também é encontrada no canto.
Geralmente, nesse estilo, além do violão ser tocado semelhante à forma como é ponteada
a viola, o canto e o violão obedecem ao mesmo motivo rítmico, como é comum acontecer
nas cantorias nordestinas. Como afirma Dulce Lamas, o ritmo da cantoria vem da prosódia
e confere à palavra, à poesia da canção, a acentuação métrica da música (LAMAS, 1986, p.
301 e 303). Nesta pesquisa, as músicas escolhidas foram analisadas do ponto de vista
poético e musical/violonístico e os resultados apontaram a proximidade das obras com as
tradições da Cantoria nordestina ao passo que as músicas modificam e inovam a interação
do violão com a canção brasileira. As discussões e análises realizadas neste trabalho
demonstram a complexidade e as nuances da atividade do acompanhador violonista,
principalmente em compositores que se inspiram no repertório violonístico instrumental.
O termo Acompanhamento Solístico visa evidenciar esse estilo de acompanhamento de
outros estilos com demandas distintas em comparação com os exemplos aqui
apresentados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira - Criação e
Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto
Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
Disponível em: <https://dicionariompb.com.br/vital-farias>. Acesso em 07/03/2021.
FARIAS, Vital. Minha história e discografia oficial. Vital Farias, O Cantador. Taperoá/PB. 21
de Jul. 2011. Diponível em: <http://vitalfariascantador.blogspot.com/2011/07/vital-farias-
minha-historia-e.html>
1.º Encontro de Pesquisa em Música do Maranhão 62
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FILHO, Ethmar Vieira de Andrade. As batidas do violão na Bossa Nova e a real importância
da participação de João Gilberto, Tom Jobim e Vinícius de Moraes no movimento: Um
estudo comparativo a respeito do verdadeiro papel de cada um desses artistas na
revolução musical dos anos 50 e 60. LINKSCIENCEPLACE - Interdisciplinary Scientific
Journal, v. 6, n. 4. 2019.
LAMAS, Dulce. A Música na cantoria nordestina. In: Literatura Popular em Verso: Estudos.
Belo Horizonte: Villa Rica, 1986.
RIBEIRO, Eduardo de Carvalho. A obra de Elomar Figueira a Mello: contexto e estilo além
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SCHÖENBERG, Arnold. Funções estruturais da harmonia. São Paulo: Via Lettera, 2004
Em meados dos anos 1700, o feminismo firmava suas primeiras bases do que viria ser a
luta revolucionária pelos direitos iguais entre homens e mulheres. Reprimidas pela Igreja,
pela família e pelos maridos, as mulheres encontraram na literatura um meio de se fazerem
presentes. Por meio de publicações como a Reivindicação dos direitos das mulheres,
publicado por Mary Wollstonecraft em 1792, vemos as mulheres questionarem um dos
alicerces fundamentais para sua liberdade: a educação. Embora a educação tenha sido
uma das bases para a evolução do direito feminino, não foi a única. A partir do século 20,
começamos a ver as diferenças apresentadas dentro do movimento feminista. Durante as
duas primeiras ondas do feminismo, as mulheres buscavam conquistar seus direitos legais,
o sufrágio feminino e discutiam valores como sexualidade, família e mercado de trabalho.
Chegando ao ápice nos anos 60, com a chegada do feminismo negro e a abertura das
pautas feministas para causas que fossem além do próprio movimento. Visto o
aprofundamento dos discursos de gênero ao longo dos anos, juntamente com uma visão
mais crítica em relação ao papel da mulher em nossa sociedade, vê-se uma necessidade de
trazer estas pautas sociais também para o meio artístico, principalmente na música. De
acordo com Lima e Sanches (2009), os homens reconhecem a música como “a mais ideal
das artes, insistindo na dimensão racional da música, e clamam por virtudes tidas como
masculinas, tais como objetividade, universalidade e transcendência, além de lançarem
mão, em diferentes época e ocasiões, da proibição da participação feminina.” Dessa forma,
há uma necessidade intrínseca, no entanto, pouco comentada relativa à abordagem de
gênero dentro da arte. A breve quantidade de mulheres vistas ocupando lugares de
reconhecimento dentro da música até o século XX, a hipersexualização de corpos
femininos dentro das letras musicais e os indícios de um machismo velado dentro das
academias; prova-nos a problemática envolvendo o feminino na música, perspectiva a qual
será aprofundada em pesquisa futura através da figura da professora e musicista Lilah
Lisboa de Araújo. Roque (2018) comenta “A mulher é cada vez mais o sujeito da produção
artística e, como tal, a sua obra é reconhecida e estudada. Porém, continua a faltar o
estudo da representação da mulher na arte [...]”. Através desta, pretende-se aumentar os
estudos sobre mulheres na arte, assim como contribuir historicamente para a criação de
um legado que vá além de uma visão patriarcal e enriqueça o meio artístico de outros
pontos de vista. Não obstante, acreditamos que a falta de conhecimento e mobilização
acerca do tema o tornem obscuro dentro das universidades e meios musicais, fazendo
deste um ambiente propício para o preconceito e o machismo. Rodrigo Gomes cita em
1.º Encontro de Pesquisa em Música do Maranhão 65
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seu artigo “Música, Mulheres, Territórios: uma etnografia da atuação feminina no samba de
Florianópolis” algumas situações de machismo recorrentes dentro do meio musical local,
tal como “[...] as mulheres atuam apenas na posição de pastoras, ou seja, fazendo um
contracanto em partes selecionadas do samba-enredo, enquanto que aos homens cabe
fazer a voz principal.”. Situações como esta não são exclusivas do ambiente musical. As
escritoras tem traçado esse caminho por alguns anos desde Jane Austen (1775 – 1817),
Charlotte Brönte (1816 – 1855) e George Eliot (1819 – 1880). As artistas visuais foram
agraciadas com nomes que derivam de Frida Kahlo (1907 – 1954) a Marina Abramovic
(1946 – presente). Segundo Woolf (2014), o “vírus” do machismo já não tem mais muito
efeito sob uma romancista, porque já houve algumas de mérito, para as pintoras ainda há
de ter algum ferrão, e para as musicistas, ainda hoje ele ainda deve estar ativo e venenoso
ao extremo. Há duas visões comumente apresentadas na música ao tratarmos de gênero e
feminismo. A primeira é a luta diária que mulheres enfrentam dentro de sistemas de
predominância completamente machistas, o que nos faz questionar “onde estavam as
mulheres na história da arte?”. Essa visão representa a parcela das mulheres que tiveram
suas histórias apagadas e rechaçadas ao longo dos livros, como a musicista Germaine
Tailleferre, compositora e pianista francesa que viveu no século XX. Há tamanho descrédito
sobre a produção musical feita por mulheres, que os arquivos e pesquisas que temos são
ínfimos perto do que poderíamos ter. Outra visão analisada é a lírica e suas abordagens
machistas dentro da música brasileira e seus diversos gêneros musicais, entre eles o funk,
o pagode, etc. Letras que ditavam a conduta desejada das mulheres e desprezavam ou
faziam pouco caso de suas atitudes. Paranhos (2013) cita a encruzilhada de gêneros
durante o Estado Novo e o ingresso das mulheres no mercado de trabalho através dos
sambas da época, como a letra de “Emília” de Wilson Batista e Haroldo Lobo, que retratava
a mulher doméstica como a mulher perfeita. Por outro lado, Oliveira (2008) comenta sobre
o papel da mulher e a visão machista dentro da comunidade, expressada através das letras
de funk. A corrente pesquisa tem como enfoque a primeira visão, tratando de traçar um
paradigma sobre o apagamento das mulheres e de suas histórias no meio musical, embora
como dito por Oliveira, “o mundo ser designado pelo gênero masculino é somente um dos
muitos exemplos da caracterização da mulher numa condição de inferioridade.” (2008).
Diante do exposto, esta pesquisa busca evidenciar a figura de Lilah Lisboa, professora de
música e pianista, cujo nome estampa a Escola de Música do Maranhão, sediada onde
outrora foi sua moradia. Essa impactou não apenas no ensino de música, mas igualmente a
sociedade artística da época como cita Maria José Cassas, ex-aluna de Lilah Lisboa, “A
Professora Lilah Lisboa fundou a Sociedade de Cultura Artística do Maranhão. Esta
instituição aproveitava a ocasião quando músicos e cantores vinham em digressão à região
Norte ou Nordeste por meio de outras iniciativas privadas ou públicas, para trazê-los
também ao Maranhão” (Marques, 2015). Dessa forma, procura-se refletir sobre os impactos
causados na sociedade pela atuação de Lilah Lisboa, sobretudo sob as mulheres e a área
musical. A pesquisa tem como polo epistemológico a abordagem musicológico-histórica e
o método da fenomenologia; aplicado a isso serão levantadas pesquisas desenvolvidas
anteriormente na área, de autoras como Paula Figueirêdo (2013), Ana Neuza Araújo (2014),
assim como entrevistas com pessoas que atuaram próximo à professora Lilah Lisboa de
Araújo, além de pesquisa em fontes primárias e secundárias. Os dados a serem analisados
são acerca do legado deixado pela figura de Lilah Lisboa em São Luís, principalmente no
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que diz respeito à sua atuação musical. Ademais, serão também levadas em conta autoras
antecessoras no que diz respeito às pesquisas de gênero e também através das visões
principalmente do feminismo interseccional (Hooks, 2000). Este busca destacar a existência
de diversas formas de opressão relacionadas ao feminino, inclusive dentro do movimento
feminista. Hooks (2000) comenta “o feminismo é um movimento para acabar com o
sexismo, a exploração sexista e a opressão. [...] Praticamente, é uma definição que implica
que todo pensamento e ação sexista é o problema, seja aqueles que o perpetuam
mulheres ou homens, crianças ou adultos.”. Acreditamos na pesquisa como uma
ferramenta importante para obtenção de conhecimentos, sendo esta pesquisa não
direcionada unicamente para as mulheres, nem para os homens, mas para o serviço de
todo uma população musical e acadêmica, sobretudo os mais jovens.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ROQUE, Maria Isabel. A mulher na arte: mais objeto que sujeito. Disponível em
<https://amusearte.hypotheses.org/2192>. Acesso em 21 de abr. de 2021.
WOOLF, Virginia. Um teto todo seu. 1. ed. São Paulo: Tordesilhas, 2014.
PARANHOS, Adalberto . Além das amélias: música popular e relações de gênero sob o
'Estado Novo'. ArtCultura (UFU) , v. 15, p. 133-144, 2013..
HOOKS, Bell. O feminismo é para todo mundo: Políticas arrebatadoras. 1. ed. Rio de
Janeiro: Editora Rosa dos Tempos, 2018.
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MÚSICA EM CONJUNTO
UMA PERSPECTIVA DA COLETIVIDADE NO MOMENTO DE COMPOSIÇÃO
Alana Cristina Conceição de Abreu
Jarmilson Viana de Sousa
João Vitor da Silva Monteiro
Pedro Henrique da Silva Ribeiro
Pedro Henrique Gomes Paz
Thales Gleyson Laune Costa Penha
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
sem referências.
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Palavras-chave: Tambor de Mina. Ile axé Akorô d’Ogum. Religiões de matriz africana.
Processos Criativos em Música. Musicologia Comparada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERRETTI, M. Tambor de Mina, cura e baião na casa Fanti Ashanti. São Luís: SECMA,
1991.
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São Luís, 20 e 21 de outubro de 2022 – UEMA, GPMUSI/UFMA, EMMUS, FAPEMA
LINDOSO, G. C. P. Ilê Ashé Ogum sogbô: Etnografia de um terreiro de mina em São Luís
do Maranhão. São Luís: Café & Lápis, 2014.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
sem referências.
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a sociedade e a própria escola, que muitas das vezes, gera enormes fracassos escolares.
Para Felício e Oliveira: “Compreender o estágio curricular como um tempo destinado a um
processo de ensino e de aprendizagem é reconhecer que, apesar da formação oferecida
em sala de aula ser fundamental, só ela não é suficiente para formar e preparar os alunos
para o pleno exercício de sua profissão. Faz-se necessária a inserção na realidade do
cotidiano escolar para aprender com a prática dos profissionais da docência” (FELÍCIO;
OLIVEIRA, 2008, p. 221). O ensino nas escolas públicas ligadas a área da música é
praticamente pouco ou se não escasso o que desfavorece o acadêmico ao estágio. Muitas
mudanças estão acontecendo no âmbito curricular nas escolas públicas que deixam a
desejar o futuro dos educadores de música e uma preocupação de que o campo nessa
área comprometa o próprio curso de Licenciatura em Música das Universidades Públicas.
Com isso é importante repensar em uma proposta que possibilite uma solução para este
problema que vem acontecendo. Diante disso destaco a importância da criação de células
escolas dentro do curso de Licenciatura em Música servindo de extensão do curso no
ensino da prática da aprendizagem no saber musical, realizada pelos acadêmicos
proporcionada para a comunidade em parcerias com as escolas públicas abrindo portas
para as descobertas de novos talentos e futuros músicos, bem como servindo de
experiência e contabilizando como estágio curricular para o futuro graduado. Esse ensino
teria como base os conteúdos: Os elementos básicos da música, que são primordiais para
compreensão da música na sua totalidade. Esse espaço dentro do curso de licenciatura em
música seria ideal para os acadêmicos de música treinar as suas habilidades, conhecer a
área e desenvolverem novas competências fundamentais como futuros educadores.
Proporcionando experiência profissional e contribuindo para que o acadêmico estabeleça
uma relação de confiança na prática pedagógica e favorecer o aprendizado de ambas as
partes, bem como na preparação e qualificação do acadêmico para o mercado de trabalho.
Visto que a experiência em sala de sala é tão importante, pois sem ela é difícil se realizar
um trabalho com qualidade e resultados eficazes bem como ingressar ao mercado de
trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Assim como os estilos musicais já adotados no Maranhão, bumba- meu- boi, tambor- de-
crioula, reggae e dentre outros, acredito que o choro tem um papel muito importante para
o enriquecimento da música e cultura do nosso estado. De acordo com a revisão
bibliográfica em trabalhos que apresentam discursos fundadores da história do Choro,
esse gênero teria uma origem absoluta no Rio de Janeiro no final do século XIX, tendo
como a matrizes a música vinda com as danças de origem europeia, como a valsa, a polca,
a mazurca no schottisch, e um jeito abrasileirado de tocar essas músicas. Com base em
informações contidas em termos históricos sobre a música no Maranhão, em obras
literárias e na análise de partitura de obras referentes a esse período encontradas no
acervo João Mohana, o autor compara os cenários maranhense e carioca dessa época com
o intuito de evidenciar características análogas que nos permitiram iluminar um processo
de formação do Choro também no Maranhão. A prática dessa música na região Nordeste
tem uma longa história e influenciou toda a música do país. Apesar da disputa de
dominação entre os centros do Rio de Janeiro e São Paulo no Sudeste e os centros do
Nordeste, como São Luís, as análises mostram que esse choro tem muitas variações e
imitações do folclore maranhense. A exemplo de bumba-meu-boi ou Lelê que dão a essa
tradição do choro, uma aparência completamente diferente comparada dos modelos
clássicos de Pixinguinha. O Choro Maranhense deve ser considerado parte da música
Nordestina. Desse ponto de vista, o Maranhão tem e teve outras influências além do
sudeste do Brasil. Isso pode ser encontrado nas tradições e também na música. Como as
análises mostram repetidamente, elementos da música nordestina são onipresentes. As
influências de forró, baião, bumba-meu-boi e do sertão podem ser lidas bem no ritmo,
instrumentação e melodia. As tradições parcialmente familiares desenvolveram-se mais ou
menos independentemente de outras práticas musicais comparáveis do choro. Entre os
músicos, é polêmico a pertença do choro, se ele é música erudita ou música popular. Na
prática, o choro muitas vezes beira outros gêneros. Pode ser combinada com qualquer
outro tipo de música, pode ser repetidamente encontrada como Samba Choro ou em
outros estilos. Muitos estilos e gêneros diferentes também são cultivados no Clube de
Choro. Desse modo, não é de estranhar que o acordeão interprete um choro como um
forró, um triângulo substitua o pandeiro ou se tocam peças e canções de outras tradições.
Tudo é música, e quando uma noite passa de um evento oficial para um não oficial
fazendo música juntos, a união conta mais do que o repertório. Nos treinos mais recentes
no Maranhão tornou-se comum as peças serem tocadas em chumbo. Seguindo o exemplo
carioca, Zezé Alves (2012) publicou um caderno com os Choros do Maranhão. A afirmação
de Livingston-Isenhour também se aplica à prática performática no Maranhão de que
ninguém espera que essas notas sejam cumpridas, que sejam feitas repetições, que a parte
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sugerida seja usada para improvisação ou que uma parte completamente diferente não
seja adicionada. O mesmo vale para o acompanhamento e os acordes. Os músicos que
tocam a melodia sempre trazem seu próprio ritmo e ornamentação pessoais. Peças inteiras
também podem ser improvisadas em uma roda de Choro livre. A improvisação é simples,
principalmente uma forma ornamentada de melodia ou experimentação com motivos
musicais. Todo instrumento melódico, instrumento de acompanhamento e o pandeiro
podem improvisar. A percussão estendida geralmente não improvisa. Sobre o
acompanhamento do Choros Maranhense disse em conversa com Joaquim Santos,
integrante de Camerata Carioca, que o choro carioca difere do Choro Maranhense,
principalmente na forma como são tocados os cavaquinhos e os violões que os
acompanham. Em São Luís é comum encontrar instrumentais que geralmente usam o
cavaquinho em vez do bandolim. Você também pode encontrar o cavaquinho substituído
por um banjo. Os ritmos ou sotaques predominantes do Choros Maranhenses são
variedades e variantes ou formas mistas de choro: Samba-Choro ou Choro-sambado, que
também inclui a forma cantada, Choro-Lelê e outras formas mistas como Choro com o
Frevo. A valsa está lá, mas não tem grande significado e nenhuma peculiaridade rítmica. É
tocada muito raramente. Existem também outros instrumentos rítmicos na prática do
choro no Maranhão. Essa expansão rítmica se dá por meio dos instrumentos típicos do
nordeste. Como no Maranhão grupos que também tocam outros tipos de música
costumam fazer parte do Choro Maranhense, costuma-se usar uma formação de forró,
típica da música nordestina.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
dentro da música. Nota-se, portanto, que os limites de cada gênero musical não estão
definidos univocamente. Para tanto, foi realizado um levantamento da massa documental
passa pelos critérios utilizados na sistematização dos dados – incluindo a definição de
categorias, que permitiram a análise de quase quatro mil processos – e desagua nos eixos
de análises, que possibilitaram a estruturação da redação da tese compilando as
informações extraídas dos desenhos. Além deste acervo, expõe de que maneira outras
documentações, desta e de outras instituições, foram usadas com a intenção de realizar o
cruzamento das fontes de pesquisa em análises quanti-qualitativas, enfatizando a
importância da pesquisa documental para a construção de uma narrativa historiográfica
ampla e inclusiva baseada em evidências documentais. Sobre autoria das peças levantadas,
67 (sessenta e sete) compositores foram associados às obras pesquisadas. Acerca do
registro de nome no inventário, algumas autorias aparecem com os nomes completos,
porém em outros casos, apenas o nome “artístico”, com redução. Há, ainda, casos de
abreviaturas que muito dificultam a identificação autoral, além das variações nominais,
atribuições incertas e atribuições equivocadas de autoria. Há muitas obras com indicativos
de coautoria, sobretudo em relação à letra. Estes informes facilitam sobremaneira o
entendimento contextual dos objetos em análise. A datação é uma demanda que merece
atenção especial, visto que um conjunto de obras certamente foram concebidas entre a
primeira e segunda metade do século XIX. Grande número de obras encontradas aponta
para manuscritos. Além disso, alguns dos documentos possuem assinaturas ou
dedicatórias. Já outras não trazem qualquer informe de origem. Verificou-se que o
inventário não descreve com exatidão a compilação de espécies verificadas nos envelopes,
como arranjos e reduções, livros, libretos, cadernos, roteiros e excertos; igualmente não
menciona características importantes tal qual a natureza das espécies, número de cópias,
se são manuscritos ou impressos, etc. Ao lidar com as fontes, observaram-se vários pontos
adversos, como lacunas, devido à ação do tempo; fontes que não se apresentam como
grade, apenas partes cavadas ou a inexistência de determinadas partes cavadas. O
levantamento realizado nesta pesquisa demonstra a necessidade do estabelecimento de
critérios de análise arquivística e documental que ampliem o entendimento sobre as obras
musicais contidas no Inventário João Mohana. Deste modo, fica patente que as descrições
aqui expostas não são concludentes para definir todo um contingente musical, contudo
apresentam dados que permeiam o objeto de pesquisa, como ponto de partida para
construção de possibilidades analíticas. Pelo interesse e variedade do repertório, de que é
por vezes o único testemunho, tal como pelas variantes musicais que inclui, este Acervo
merece um estudo mais aprofundado e de confronto com novas fontes e novos olhares.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
APEM. Inventário do Acervo João Mohana: Partituras. São Luís: SECMA, 1997.
ÁVILA, Guilherme Augusto de. O elo perdido do tesouro de João Mohana: proveniência
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MOHANA, João. A grande música do maranhão. 2ed. São Luís: Edições SECMA, 1995
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS