ATENCÃO EM UMA TAREFA DE CANCELAMENTO INFANTIL: IDADE E
TIPO DE ESCOLA
Fernanda de Bastani Busnello
Monografia apresentada como exigência parcial do
Curso de Especialização em Neuropsicologia sob
orientação da Profa. Dra. Rochele Paz Fonseca
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Psicologia
Porto Alegre, janeiro/2011.
Agradecimentos
Impossível apresentar este trabalho sem antes fazer os devidos agradecimentos,
afinal, ele é fruto de dois anos de muita aprendizagem, em todos os sentidos que essa
palavra compreende. Certamente não consiste em uma simples monografia de conclusão
de curso e, por isso, sinto a necessidade de agradecer a muitas pessoas que contribuíram
para o meu aperfeiçoamento acadêmico, profissional e pessoal.
Sou grata, em primeiro lugar, às pessoas admiráveis que conheci na UFRGS.
Tenho muito orgulho dessa turma maravilhosa da qual fiz parte, porque as dificuldades
que enfrentamos ao longo do curso nos uniram e permitiram a construção de uma linda
amizade. Admiro todos vocês psicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogas e terapeuta
ocupacional, pelo conhecimento e experiência que transmitiram de forma tão generosa,
sempre contribuindo imensamente para a nossa aprendizagem. Provamos, com isso, que
a Neuropsicologia é, intrinsecamente, um campo multidisciplinar. “A nossa diferença é
o que temos em comum”.
Agradeço também a todos os professores com os quais tive a oportunidade de
aprender. Alguns foram muito especiais, pois não temeram perder espaço profissional
ao compartilharem generosamente a sua experiência.
Novamente tenho que agradecer ao Chris, meu amor. Dessa vez a tua paciência
foi insuperável e o teu apoio fundamental! Obrigada por compreender todas as minhas
ausências motivadas por reuniões e coletas nos domingos e feriados. Tu sabes que essa
é mais uma conquista na minha vida e, profissionalmente falando, uma das mais
importantes. O estímulo que me deste foi essencial para a felicidade que sinto nesse
momento.
Família, obrigada por continuarem me apoiando nessa vida acadêmica que
parece não ter fim (na verdade esse é apenas o começo). É muito estimulante perceber
que cada vitória minha é também uma conquista para vocês. Obrigada por tudo mesmo!
Este parágrafo será, provavelmente, o mais extenso, pois é o momento de
agradecer ao GNCE, esse grande grupo – sentido literal e figurado – que me acolheu e
me ensinou muito. Sou grata a todos os membros do Grupo de Neuropsicologia Clínica
e Experimental da PUCRS pela oportunidade que me foi dada (e que agarrei com todas
as forças) de alavancar os meus incipientes conhecimentos em Neuropsicologia.
Estendo o meu agradecimento a todos os mestrandos, doutorandos, auxiliares de
pesquisa, bolsistas de Iniciação Científica e demais colaboradores e, principalmente à
coordenadora, Rochele Paz Fonseca. Esse grupo não tem só tamanho, tem também
muita competência e amizade. Tenho a obrigação e a felicidade de agradecer de forma
muito especial à subequipe de Avaliação Neuropsicológica Infantil: Mirella, Larissa,
Janice, Hosana, Rafaela e Geise. Em outros momentos já explicitei toda a minha
gratidão e alegria em fazer parte dessa equipe magnífica! Obrigada por me receberem e
confiarem no meu trabalho. Nesses dois anos de convivência tive o prazer de
compartilhar conhecimento, diversão e muitas risadas, inclusive diante de situações um
pouco estressantes. Espero que esse “grupo de apoio” siga fazendo parte da minha vida.
Vocês são incríveis!
Rochele: não tenho dúvidas de que ser colaboradora do GNCE foi uma das
maiores conquistas que tive durante a especialização. Faltam palavras para agradecer a
oportunidade que me proporcionaste, pois, além de aprender muito, conheci pessoas
maravilhosas e competentes. Serei sempre grata pela força que me deste desde o
começo, para poder fazer esse curso. A minha determinação (ou teimosia?) permitiu que
tu fosses a minha orientadora e que eu continuasse aprendendo muito contigo, dando
continuidade à admiração que sinto por ti desde que entrei no mestrado. A tua
competência e dedicação à pesquisa, o profissionalismo que mostras em tudo o que faz
e a facilidade que tens em vislumbrar o impacto da pesquisa no âmbito clínico me
inspiram a ser uma profissional melhor.
SUMÁRIO
Pág.
Resumo.............................................................................................................................4
Capítulo I
Introdução .....................................................................................................................5
1.1 Desenvolvimento da atenção na segunda infância: papel da idade.................7
1.2 Avaliação Neuropsicológica da Atenção em crianças.....................................9
1.3 Teste de Cancelamento dos Sinos .................................................................11
1.4 Influência do tipo de escola no processamento atencional ...........................14
Capítulo II
Método ........................................................................................................................15
2.1 Participantes ..................................................................................................15
2.2 Instrumentos ..................................................................................................16
2.3 Delineamento e Procedimentos ....................................................................17
Capítulo III
Resultados e Discussão...............................................................................................19
Capítulo IV
Considerações Finais..................................................................................................26
Referências......................................................................................................................27
Anexos
Anexo A..........................................................................................................................32
Resumo
A carência de instrumentos de avaliação neuropsicológica específicos para a
população brasileira, que considerem suas características sociais, culturais e
econômicas, acarreta a utilização de testes e tarefas validados em outros países, muitas
vezes apenas traduzidos para a língua portuguesa. Embora exista, nos últimos anos, um
interesse crescente pelo desenvolvimento de tarefas e testes neuropsicológicos
específicos para o contexto brasileiro, ainda observa-se a escassez de instrumentos de
avaliação infantil, sobretudo na segunda infância. No âmbito da neuropsicologia do
desenvolvimento, diversas pesquisas têm mostrado a relação de variáveis
sociodemográficas no desenvolvimento das funções cognitivas. Estudos mais recentes
apontam a influência de fatores como idade e escolaridade no desenvolvimento de
muitas dessas funções. Por outro lado, a relação do tipo de escola com o
desenvolvimento neuropsicológico tem sido pouco explorada nas pesquisas em
neuropsicologia. Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo investigar se há
diferenças quanto ao tipo de escola no processamento atencional na segunda infância, a
partir da análise do desempenho no Teste de cancelamento dos Sinos. Participaram da
pesquisa 131 crianças saudáveis, de ambos os sexos, distribuídos igualmente quanto à idade
(6 a 9 anos), ao ano escolar (1o ano ao 4o ano do Ensino Fundamental em curso) e ao tipo
de escola (pública e privada). Os resultados mostraram que, em geral, tanto a idade
quanto o tipo de escola exerceram um papel importante no processamento atencional e
na velocidade processual em crianças de 6 a 9 anos desta amostra, tendo sido
encontrados mais efeitos para a variável idade. A análise qualitativa também evidenciou
efeito de idade e tipo de escola nas estratégias utilizadas na busca visual dos estímulos
da tarefa, corroborando pesquisas anteriores. Os resultados obtidos nesse estudo
indicam que o Teste de Cancelamento dos Sinos infantil, em processo de adaptação, é
um instrumento sensível para a investigação de prejuízos atencionais em crianças
saudáveis.
Palavras-chave: avaliação neuropsicológica, processamento atencional, Teste de
Cancelamento dos Sinos, tipo de escola, idade.
Capítulo I
Introdução
Embora os conhecimentos na área da neuropsicologia e da avaliação
neuropsicológica tenham avançado significativamente nos últimos anos, inclusive com
contribuições relevantes de pesquisadores brasileiros, existe ainda uma lacuna
importante no que diz respeito aos instrumentos utilizados na avaliação
neuropsicológica infantil, especialmente no Brasil (Fonseca, Salles & Parente, 2007). A
escassez de instrumentos adaptados e padronizados para a população brasileira dificulta
a realização de uma avaliação confiável, que represente de fato o perfil
neuropsicológico do indivíduo avaliado.
Diante da necessidade urgente de testes e tarefas que possam ser empregadas na
avaliação neuropsicológica, objetivando compreender o funcionamento cognitivo dos
indivíduos brasileiros, é recorrente a utilização de instrumentos que, apesar de
padronizados, não são adaptados para a realidade social, econômica e cultural do Brasil
(Serafini, Fonseca, Bandeira & Parente, 2008). Tal dificuldade é ainda mais evidente no
contexto da avaliação neuropsicológica infantil (Argollo et al., 2009), o que dificulta e
restringe o exame neuropsicológico para a clínica e pesquisa. Há estudos que se propõem a
analisar o desempenho neuropsicológico de determinadas populações mais jovens,
como crianças com idades entre 3 e 7 anos ou indivíduos a partir de 15 anos de idade
(Byrd, Arentoft, Scheiner, Westerveld & Baron, 2008). No entanto, a faixa etária
correspondente à segunda infância tem sido pouco explorada nos estudos publicados até
o momento, dificultando a obtenção de parâmetros de desempenho para o diagnóstico
neuropsicológico, especialmente em crianças saudáveis.
Assim, a falta de instrumentos neuropsicológicos brasileiros justifica a prática
corriqueira de apenas traduzir testes normatizados para outras populações, com diferenças
culturais, sociais e econômicas importantes. Essa carência observada por pesquisadores e
clínicos torna-se ainda mais preocupante devido às mudanças desenvolvimentais que
ocorrem em diferentes etapas da vida, salientando-se o período da infância, especialmente
nas transições entre a primeira e a segunda infância, e a adolescência (Miranda & Muskat,
2004). Além disso, esses períodos do ciclo vital também são favorecidos pela
neuroplasticidade, contribuindo para a melhora observada no desempenho desses
indivíduos ao longo do seu desenvolvimento (Gilmour, 2005).
No entanto, além do aspecto da avaliação neuropsicológica propriamente dita,
observa-se também uma lacuna em relação a marcos e pontos de corte que permitam o
entendimento das fases de desenvolvimento dos componentes cognitivos na segunda
infância, inclusive em nível internacional. Observa-se que, apesar dos avanços expressivos
obtidos até então acerca do conhecimento sobre o funcionamento cerebral e as
particularidades de cada função, algumas funções cognitivas são bastante complexas e
envolvem vários componentes que ainda não foram completamente elucidados. Nesse
contexto, estudos com enfoque desenvolvimental e que sigam os pressupostos da
neuropsicologia cognitiva são cruciais para a promoção de análises acerca do papel de
fatores biológicos e sociodemográficos no processamento de diferentes componentes
cognitivos na segunda infância, contribuindo para o estabelecimento de marcos
desenvolvimentais em indivíduos saudáveis.
No âmbito da neuropsicologia cognitiva, uma das funções mais básicas e que
tendem a impactar de forma expressiva o comportamento e o desempenho dos
indivíduos é a atenção, que está envolvida em diversas situações que requerem, entre
outras capacidades, concentração, seleção de tarefas e distribuição de recursos entre
mais de uma atividade (Alberto, 2003). Observam-se, em algumas patologias, recursos
atencionais deficitários que podem causar diversos prejuízos para o indivíduo (Montiel &
Capovilla, 2008; Andrade, Brodeur, Waschbusch, Stewart & McGee, 2009). Um dos
transtornos predominantemente psiquiátricos mais estudados nesse contexto é o Transtorno
de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Quanto a quadros neurológicos, destaca-
se a síndrome de heminegligência visual, recentemente estudada em crianças (Laurent-
Vannier, Chevignard, Pradat-Diehl, Abada & Agostini, 2006). Este transtorno é definido
como a incapacidade de perceber estímulos localizados em um dos campos visuais, sendo
mais freqüente a dificuldade em relação ao hemisfério contralateral ao da lesão (Laurent-
Vannier et al., 2006; Verfaellie e Heilman, 2006). A atenção aumentada, por outro lado,
também pode causar dificuldades, como em condições paranóides, abuso de substâncias ou
em situações de estresse (Benczik, 2000).
Assim como o exame neuropsicológico de outras funções cognitivas, a avaliação
neuropsicológica da atenção é comumente realizada por meio de testes desenvolvidos
especificamente para avaliar indivíduos com lesões neurológicas (Lezak, Howieson &
Loring, 2004; Strauss, Sherman & Spreen, 2006). Desse modo, a carência de
instrumentos de avaliação neuropsicológica que, mesmo elaborados para diagnóstico de
patologias, possa discriminar indivíduos saudáveis dificulta a compreensão acerca do
desenvolvimento típico da atenção, bem como do estabelecimento de pontos de corte
que forneçam dados sensíveis sobre o processamento atencional, através de parâmetros
que contribuam para diagnosticar déficits atencionais em indivíduos sem lesão
neurológica. É importante destacar, ainda, a necessidade da elaboração de instrumentos
específicos para o exame neuropsicológico infantil, considerando que o
desenvolvimento típico dessa população passa por diversas transformações
desenvolvimentais (Miranda & Muskat, 2004).
1.1 Desenvolvimento da atenção na segunda infância
Ainda que o interesse pela atenção não seja recente, tendo em vista os registros
existentes desde o século XIX, o estudo dessa função como um processo cognitivo foi
intensificado a partir do desenvolvimento da psicologia cognitiva (Nabas & Xavier, 2004),
com o surgimento progressivo de experimentos e pesquisas nessa área. Desde então,
diversas teorias procuram explicar o funcionamento da atenção no sistema cognitivo
humano, inclusive com definições divergentes acerca dos subprocessos envolvidos. Para
Sternberg (2008), a atenção é o fenômeno por meio do qual o indivíduo processa
ativamente uma quantidade limitada de informação, estando envolvida em atividades que
requerem concentração, busca ativa de um estímulo dentre outros, capacidade de selecionar
um estímulo e distribuição de recursos entre duas tarefas simultâneas.
O impacto da existência de muitas teorias acerca de um mesmo processo cognitivo
não se restringe às diferenças conceituais, pois a falta de consenso entre os estudiosos
influencia também na compreensão de quais subcomponentes são abrangidos pela função
estudada. Além disso, a teoria que embasa o estudo de um processo cognitivo determina
quais outras funções podem estar envolvidas no desempenho da função examinada.
No caso da atenção, inúmeras pesquisas têm mostrado que esse não é um construto
unitário e que, por isso, não pode ser estudado isoladamente de outras funções, sugerindo
que a atenção é um processo bastante complexo e que depende de outros mecanismos
cognitivos (Lehman, Naglieri & Aquilino, 2009; Nabas & Xavier, 2004). Nesse sentido,
diferentes classificações podem ser empregadas na investigação do processamento
atencional, dependendo da teoria na qual se embasa o estudo.
Dentre as várias teorias que explicam esse construto, uma das mais empregadas no
estudo da atenção é a Teoria do Filtro, proposta por Broadbent (1958). Segundo essa
teoria, o processamento de informações sensoriais tem uma capacidade limitada,
necessitando de um mecanismo que filtre somente as informações mais relevantes
(Matlin, 2004). Essa teoria se desenvolveu em decorrência dos experimentos com
audição seletiva, mostrando-se útil na explicação do processo através do qual as pessoas
selecionam determinadas informações, acessando apenas as mais importantes
(Gazzaniga & Heatherton, 2005). Esse artifício funcionaria como um filtro, impedindo a
sobrecarga de informações além de sua limitada capacidade.
A atenção, conforme já mencionado, não constitui um processo único e, dessa
forma, pode ser classificada de acordo com diferentes critérios. Uma primeira categorização
pode ser feita quanto aos processos voluntários (controlados) e automáticos (espontâneos)
da atenção. Quanto ao tipo de processamento envolvido na realização de uma tarefa, a
atenção pode ser classificada em quatro tipos: seletiva, sustentada, alternada e dividida.
Atenção seletiva ou focalizada é a capacidade de escolher determinado estímulo em
detrimento de outros, julgados como menos relevantes. Já a atenção sustentada ou
concentrada se refere à capacidade de manter o foco da atenção em um estímulo durante um
determinado período, e de reagir de forma imediata diante da detecção de um estímulo
específico (Gazzaniga & Heatherton, 2005). Na atenção alternada existe a possibilidade de
alternar o foco da atenção um estímulo e outro e a atenção dividida, por sua vez, é a
distribuição de recursos atencionais entre tarefas simultâneas, durante a execução de tarefas
independentes (Sternberg, 2008).
No âmbito da neuropsicologia do desenvolvimento, pesquisas apontam que o
desenvolvimento da capacidade atencional parece progredir em função da idade, de modo
que, até os cinco anos, a atenção da criança é orientada para um estímulo específico ao
passo que, com o aumento da idade, ela torna-se capaz de fazer uma busca mais seletiva e a
focalizar seus objetos de interesse, passando a controlar melhor a sua atenção (Lewis, 1995;
Rutter, Taylor & Hersov, 1994). O processamento atencional vai se aprimorando ao longo
do desenvolvimento, permitindo que o indivíduo controle melhor a sua atenção e selecione
com propriedade os estímulos mais relevantes em cada ocasião (Rutter, 1994). Além disso,
a idade também traz avanços em relação ao controle de respostas impulsivas, à
manutenção do nível atencional e ao tempo de reação (Lewis, 1995).
Pesquisas revelam que as crianças apresentam um desempenho melhor em
tarefas de atenção que fornecem uma história que as contextualize, e também quando há
um feedback claro sobre seu desempenho (Berger, Jones, Rothbart, & Posner, 2000).
Esses estudos também têm mostrado que alguns mecanismos da atenção estão presentes
desde o início da infância, sugerindo que existe um desenvolvimento quantitativo que
ocorre em diferentes níveis para várias funções atencionais. De acordo com Gruber,
Lercari e Posner (2003), muito do que hoje se conhece sobre o desenvolvimento da
atenção na infância tem sido completamente revisto em estudos mais recentes. Em um
experimento que avaliou a atenção visual de crianças entre 6 e 9 anos, através de um
teste computadorizado, esses autores constataram um progresso significativo quanto à
velocidade de processamento e à acurácia das respostas, evidenciando a evolução da
atenção dentro dessa faixa etária.
Contudo, ainda são poucos os estudos que tratam sobre o processamento
atencional na segunda infância, principalmente em condições típicas de
desenvolvimento. A maior parte dos trabalhos publicados recentemente no contexto da
avaliação neuropsicológica investiga o desempenho de indivíduos adultos ou
adolescentes em testes de atenção. A neuropsicologia, portanto, carece de estudos que
contemplem a população infantil, bem como de instrumentos neuropsicológicos
específicos para avaliar esse público, considerando as particularidades relacionadas ao
desenvolvimento cognitivo.
1.2 Avaliação Neuropsicológica da Atenção
A atenção é um dos processos básicos da cognição humana e uma das funções
cognitivas que mais impactam na vida das pessoas, de modo que déficits nessa função
podem gerar diversos prejuízos sociais e pessoais (Montiel & Capovilla, 2008; Nabas &
Xavier, 2004). Dificuldades atencionais também são observadas em muitas patologias
sendo, por isso, fundamental a utilização de testes e tarefas apropriadas para o exame
dessa função cognitiva.
Não existe uma avaliação que mensure o processamento atencional
isoladamente em relação aos outros aspectos cognitivos e comportamentais do
indivíduo (Van Zomeren & Brouner, 1992). Tendo em vista que esse é um construto
complexo e multidimensional, que envolve tanto a entrada de informação como a
realização de tarefas complexas, não se deve desconsiderar a influência de outros
processos cognitivos complementares como memória, linguagem e funções executivas
(Lehman, Naglieri & Aquilino, 2009; Montiel & Capovilla, 2008; Ostrosky-Solís et al.,
2007).
Dentre os instrumentos que se propõem a examinar especificamente os
mecanismos da atenção, em todos os seus subprocessos, podem-se encontrar três tipos
de testes: de realização contínua, de duplicação de tarefa e de cancelamento (Montiel &
Capovilla, 2008). Os testes de realização contínua são computadorizados e envolvem a
apresentação de estímulos-alvo e distratores em intervalos de tempo previamente
estipulados. Quanto aos testes de duplicação de tarefas, são utilizados principalmente
para avaliar a atenção dividida, de modo que o examinando deve escolher determinados
estímulos a partir de um conjunto aleatório de estímulos. Dentre os instrumentos
existentes para avaliação da atenção dividida, Lezak, Howieson e Loring (2004) citam o
Brief Test of Attention – BTA, Symbol Digit Modalities Test - SDMT e Trail Making
Test -TMT.
Os testes de cancelamento, por sua vez, são aplicados principalmente para
examinar os subcomponentes da atenção seletiva e sustentada, mas também contribuem
para verificação de percepção visual e velocidade de processamento (Miranda, 2008;
Montiel & Capovilla, 2008), e estabeleceram-se como um método clássico para avaliar
esses processos. O componente de atenção seletiva é avaliado através da seleção e
sinalização de um alvo, ao passo que a verificação da atenção sustentada é realizada por
meio da manutenção do nível atencional ao longo da tarefa, visto que o teste exige
persistência para a execução da tarefa.
Tanto em pesquisas como no contexto clínico, é freqüente a utilização de tarefas
de cancelamento para avaliação do processamento atencional, em que o examinando
deve selecionar, através de uma busca visual, os estímulos-alvo que estão misturados a
outros estímulos distratores (Geldmacher, 1998; Montiel & Capovilla, 2008). As provas
de cancelamento são habitualmente realizadas com lápis e papel, e o examinando deve
riscar (cancelar) apenas os estímulos-alvo, de acordo com a instrução que lhe foi
passada previamente, o mais rápido que for capaz, sinalizando para o avaliador o
término da tarefa.
Na avaliação de pacientes adultos, internacionalmente um dos instrumentos mais
sensíveis para o exame da hemingligência e de déficits atencionais é o Bells
Cancellation Test (Gauthier, Dehaut & Joanette, 1989), em processo de adaptação para
uma versão brasileira por Fonseca et al. (no prelo). Seguindo o paradigma de
cancelamento, o Teddy Bear Cancellation Test é referência na avaliação do
processamento atencional em crianças. Dentre os testes padronizados do tipo lápis e
papel disponíveis no Brasil, cita-se ainda o Continuous Performance Test - CPT e a
tarefa de cancelamento de figuras do NEUPSILIN.
1.3 Teste de Cancelamento dos Sinos
Na avaliação neuropsicológica da atenção concentrada visual, o paradigma do
cancelamento é tradicionalmente utilizado em pesquisas nessa área, sendo bastante
empregado em diversos estudos (Brucki & Nitrini, 2008; Montiel & Capovilla, 2008),
com a finalidade de examinar principalmente a atenção seletiva, atenção concentrada e
percepção visual, além de contribuir para a avaliação da velocidade de processamento.
Entretanto, a condição mais freqüente de aplicação desse tipo de tarefa é a avaliação de
pacientes com lesão neurológica, no intuito de examinar possíveis déficits relacionados
ao processamento atencional, sobretudo heminegligência visual (Brucki & Nitrini,
2008).
O Teste de Cancelamento dos Sinos, em sua forma original, foi desenvolvido
por Gauthier, Dehaut e Joanette (1989), e as análises desse instrumento revelaram que
se trata de um teste apropriado para investigar quadros de heminegligência visual, por
meio de diversos escores que fornecem dados quantitativos e também qualitativos dos
tipos de erros cometidos e estratégias utilizadas pelo examinando. As estratégias de
busca e de cancelamento dos estímulos-alvo e o cancelamento incorreto de figuras
distratoras são alguns dos indicadores dos déficits no processamento atencional, em
associação com medidas de tempo que permitem inferências de velocidade de
processamento da informação.
O instrumento elaborado por Gauthier, Dehaut e Joanette (1989) para avaliar
indivíduos adultos consiste em uma folha com 315 figuras repetidas e misturadas de
forma aparentemente aleatória, dentre as quais aparecem 35 sinos, que são os estímulos-
alvo da tarefa. O indivíduo é instruído a cancelar todos os sinos que conseguir
visualizar, procurando completar essa tarefa no menor tempo que puder. A disposição
dos alvos e colunas indica onde se concentram as omissões, o que possibilita a detecção
de heminegligência e de outros prejuízos atencionais (Drake & Harris, 2008).
Diante das diversas limitações encontradas para o exame dos componentes
atencionais, é essencial a criação de instrumentos válidos para esse fim e que forneçam
dados fidedignos acerca do perfil atencional dos indivíduos (Montiel & Capovilla,
2008). A carência de instrumentos para avaliação do processamento atencional
específicos para a população infantil saudável incita a urgência da elaboração de
ferramentas adequadas para esse público, possibilitando a compreensão dos aspectos
desenvolvimentais dos processos cognitivos, além de contribuir para a detecção de
prejuízos no processamento atencional e para o manejo dos déficits constatados.
O Teste de Cancelamento dos Sinos para crianças (em adaptação pelo Grupo
Neuropsicologia Clínica e Experimental), da coleção Teste de Cancelamento dos Sinos
(Fonseca et al., no prelo) é um instrumento de cancelamento de alvos (sinos) que avalia
atenção concentrada e seletiva, percepção visual e velocidade de processamento. É
formado por estímulos-alvo e distratores e dividido em duas etapas. Na primeira etapa é
oferecida uma folha de treino, e a criança é instruída a fazer um risco/traço em todos os
sinos iguais aos do modelo que lhe é mostrado, o mais rápido que puder. Essa etapa
objetiva a familiarização da criança com o estímulo, além de fornecer esclarecimentos
possíveis sobre a instrução se, eventualmente, não tiver sido bem compreendida.
A segunda etapa é a tarefa propriamente dita. É apresentada à criança uma folha
com os mesmos estímulos-alvo e distratores da folha de treino, porém em maior
quantidade. Essa mesma etapa é dividida em duas partes, tempo 1 e tempo 2. No tempo
1 é oferecida uma caneta vermelha para a criança e repete-se a instrução da primeira
etapa. Após a criança sinalizar que acabou, toma-se dela a folha da tarefa e pergunta-se
se ela tem certeza de que riscou todos os sinos. Neste momento a folha da tarefa é
devolvida à criança e ela é instruída a riscar com uma caneta azul os sinos que
eventualmente não foram riscados no tempo 1. No presente estudo, apenas as variáveis
do tempo 1 serão investigadas, na medida em que a aplicabilidade clínica do tempo 2
ainda está sendo verificada.
Para que o examinador possa registrar a estratégia de cancelamento utilizada
pela criança, utiliza-se um crivo com os sinos que devem ser riscados, dividido em
colunas (1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7), que permite acompanhar o examinando conforme ele for
cancelando os estímulos. O Teste de Cancelamento dos Sinos mostra-se sensível para a
detecção de negligência leve e moderada e permite uma melhor exploração para as
manifestações clínicas no espaço dos déficits atencionais, sendo essencial no contexto
na avaliação neuropsicológica, sobretudo para o exame dos processos atencionais.
No que tange à avaliação dos processos atencionais em crianças, parece haver
apenas um estudo de adaptação do Teste de Cancelamento dos Sinos em nível
internacional e, até onde se sabe, sem versões adaptadas para o contexto brasileiro.
Assim, o Teddy Bear Cancellation Test foi elaborado a partir dos mesmos princípios do
Teste de Cancelamento dos Sinos desenvolvido para adultos, e tem como objetivo
investigar o processamento atencional e a presença de heminegligência visual em
crianças (Laurent-Vannier, 2006). Os aspectos considerados para avaliar os prejuízos
atencionais são o número de omissões, a coluna em que ocorreram as omissões e a
coluna na qual foi cancelado o primeiro alvo.
Embora esse teste seja específico para a avaliação da atenção em crianças, a
faixa etária a qual se destina é restrita, abrangendo crianças entre 3 anos e 7 anos e 11
meses. Os estímulos utilizados nessa tarefa de cancelamento são bastante infantilizados
e, por isso, não são adequados para avaliar crianças mais velhas. Outro aspecto
limitador do Teddy Bear Cancellation Test é que esse instrumento foi elaborado
especificamente com a finalidade de examinar o desempenho de crianças com déficits
neurológicos, não sendo apropriado para o exame de crianças saudáveis.
1.4 Influência do tipo de escola no processamento atencional
O desenvolvimento neuropsicológico tem sido freqüentemente relacionado a um
conjunto amplo de variáveis culturais e sociodemográficas, por meio de estudos que
buscam examinar quais fatores influenciam de fato o desenvolvimento das diversas
funções neuropsicológicas (Lezak, Howieson & Loring, 2004). Com essa finalidade,
muitos trabalhos analisam o desempenho dos indivíduos em tarefas e instrumentos
neuropsicológicos, relacionando-o a determinadas variáveis como idade (Gómez-Pérez
& Ostrosky-Solís, 2006; Ostrosky-Solís et al., 2007; Rueda et al., 2004), escolaridade
(Ardila, Ostrosky-Solís, Rosselli & Gómez-Pérez, 2000; Reis & Petersson, 2003;
Rosselli & Ardila, 2003) e gênero (Nitrini, Brucki, Smid, Carthery-Goulart, Anghinah,
2008; Tombaugh, 2004, Rosselli & Ardila, 2003), além de estudos que investigam o
impacto dos aspectos sociodemográficos em populações clínicas (Caeyenberghs, Van
Roon, Swinnen & Smits-Engelsman, 2009; Paradise, Cooper & Livingston , 2009; Solé-
Padullés, 2009).
Dentro dessa gama de fatores investigados em diversas pesquisas da área, o tipo
de escola, referente ao ensino público ou privado, é uma das questões importantes para a
realidade brasileira, e vem despertando o interesse dos pesquisadores que investigam as
variáveis sociosemograficas e sua relação com o desenvolvimento cognitivo infantil
(Rosselli, Matute & Ardila, 2006; Nogueira et al., 2005). Além disso, alguns
instrumentos neuropsicológicos apresentam dados normativos acerca do desempenho
das crianças em relação ao tipo de escola. Para exemplificar, pode-se citar o NEPSY
(Argollo et al., 2009), o Teste de Stroop (Duncan, 2006) e a Bateria de Avaliação
Neuropsicológica Infantil ENI (Rosselli-Cock et al., 2004).
Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo investigar se há diferenças
quanto ao tipo de escola no processamento atencional na segunda infância, a partir da
análise do desempenho no Teste de cancelamento dos Sinos, em uma versão adaptada
para a população infantil. Pretende-se, assim, obter dados preliminares acerca do
desempenho de crianças saudáveis em uma tarefa de atenção, à luz do paradigma do
cancelamento visual e analisar a sensibilidade desse instrumento para discriminar
processos atencionais deficitários na população infantil saudável.
Capítulo II
Método
2.1 Participantes
Participaram deste estudo 131 crianças saudáveis, de ambos os sexos, oriundas de
quatro escolas da cidade de Porto Alegre, sendo duas da rede privada e duas da rede pública
de ensino. Os participantes foram distribuídos quanto à idade em quatro grupos (n=33 de 6
anos, n= 37 de 7 anos, n=32 de 8 anos, e n=29 de 9 anos), e em dois grupos quanto ao tipo
de escola (n=53 pública e n=78 privada).
Os grupos de tipos de escola não se diferenciaram quanto à idade (t(129)=-0,813,
p=0,418). As crianças de escola pública tinham em média 7,91 (1,13) anos de idade, e de
escola privada, 8,07 (1,09) anos. Os grupos etários também não se diferenciaram quanto à
sua distribuição por tipo de escola (x2 (3)1,007, p=0,800).
Para a participação nesse estudo, foram estabelecidos os seguintes critérios de
inclusão: capacidade de auto-relato, ausência de histórico de repetência escolar, queixas
generalizadas de aprendizagem e queixas relacionadas a trocas na fala, atraso na
linguagem, etc.; ausência de dificuldades auditivas ou visuais não corrigidas; ausência
de histórico de doenças neurológicas, tais como epilepsia, traumatismo crânio-
encefálico, acidente vascular cerebral, etc.; e ausência de histórico de doenças
psiquiátricas (depressão, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, transtorno de
humor bipolar, deficiência intelectual, estresse pós-traumático).
A fim de garantir o cumprimento desses critérios, foram utilizados os seguintes
instrumentos: questionário de dados sociodemográficos, condições de saúde e condições
culturais, respondido pelos pais ou responsáveis pela criança, Questionário Abreviado de
Conners (Barbosa & Gouveia, 1993), adaptado para pais e professores (Goyette &
Conners, 1978), com o objetivo de averiguar possíveis sintomas de déficit de atenção e
hiperatividade e o Teste das Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (Raven, 1947),
utilizado para avaliar o desenvolvimento intelectual dos participantes, a fim de verificar
sinais sugestivos de déficits intelectuais
2.2 Instrumentos
Para examinar o processamento atencional dos participantes deste estudo foi
utilizada a adaptação para o Português Brasileiro do Teste de Cancelamento dos Sinos
para crianças, realizada pelo Grupo Neuropsicologia Clínica e Experimental da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Esse instrumento encontra-se
em processo de validação por Fonseca et.al. (no prelo).
O Teste de Cancelamento dos Sinos, desenvolvido originalmente por Gauthier,
Dehaut e Joanette (1989), é embasado no paradigma do cancelamento visual, em que os
alvos (sinos) devem ser cancelados em uma folha com outras figuras distratoras. São
avaliadas principalmente a atenção concentrada e seletiva visual e a percepção visual.
Além disso é possível avaliar, ainda que indiretamente, as praxias e a velocidade de
processamento.
Na versão utilizada, há dois conjuntos de distratores relacionados não presentes
na versão original, para tornar o instrumento mais sensível a crianças e a quadros não
necessariamente neurológicos. O teste é composto por estímulos-alvo (sino com alça e
badalo) e estímulos distratores (não-sinos, sinos sem alça e com badalo, sinos com alça
e sem badalo), sendo dividido em duas etapas (treino e tarefa propriamente dita). Na
primeira etapa, entrega-se a folha de treino ao examinando, pedindo-lhe que aponte
onde há um sino na folha que recebeu. Se o alvo apontado estiver correto, ou seja, o
sino que possui badalo e alça, o indivíduo é instruído a fazer um risco (cancelar) em
todos os sinos iguais ao do modelo da folha de treinamento, o mais rápido que
conseguir, sinalizando ao examinador o término da tarefa. A tarefa propriamente dita é
realizada em dois momentos. Primeiramente, instrui-se o examinando a cumprir a
mesma tarefa que acabou de completar, riscando com uma caneta vermelha todos os
sinos iguais ao do modelo, o mais rápido que puder. Assim que o indivíduo avisa que
terminou, o cronômetro é parado e registra-se o tempo de execução da tarefa. Em
seguida, é oferecida outra canela (azul), pedindo-lhe que risque os sinos que
eventualmente não foram cancelados anteriormente, e registra-se novamente o tempo
despendido.
2.3 Delineamento e Procedimentos
O presente estudo, de delineamento comparativo, transversal e quantitativo, está
inserido em um projeto mais abrangente, que tem como objetivo adaptar instrumentos
neuropsicológicos internacionais para o Português Brasileiro, bem como adaptar e
normatizar instrumentos brasileiros de avaliação neuropsicológica de adultos às
especificidades da infância. Esse projeto pretende, ainda, verificar se existem diferenças
de desempenho neuropsicológico entre grupos distintos por fatores sócio-demográficos,
além de verificar a associação entre funções cognitivas na segunda infância.
As escolas foram contatadas e convidadas a participar do estudo, por meio de carta
de apresentação e de autorização. Os alunos aptos a participar da pesquisa foram indicados
pelos próprios professores e receberam um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE), no qual estavam descritos os objetivos do estudo e os procedimentos que
seriam realizados. Só participaram da pesquisa os alunos que voluntariamente aceitaram
participar, mediante a assinatura do TCLE pelos responsáveis.
Àqueles indivíduos que aceitaram participar do estudo, com anuência de um
responsável, foi enviado o Questionário de dados demográficos, condições de saúde e
culturais, com informações como situação socioeconômica, profissão, hábitos culturais e
comunicativos dos responsáveis pelas crianças. As crianças que aceitaram e estavam aptas a
participar do estudo, conforme o preenchimento dos instrumentos enviados, foram
avaliadas individualmente em uma única sessão com duração de 20 minutos, utilizados para
aplicação das Matrizes Progressivas do Raven Infantil (Pasquali, Wechsler & Bensusan,
2002) e do Teste de Cancelamento dos Sinos – versão infantil. A avaliação foi realizada
na própria escola, em uma sala disponibilizada pela pessoa responsável, em condições
acústicas, de luminosidade e de ventilação apropriadas para a avaliação.
O projeto Avaliação Neuropsicológica Infantil: Estudos Sociodemográficos,
Psicométricos e Neuropsicológicos, do qual o presente estudo faz parte, foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS (protocolo 06009). Os indivíduos foram
convidados a participar do estudo por meio de um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Anexo A), assinado pelos pais ou responsáveis, de modo que a
participação na pesquisa foi voluntária. Somente após esse procedimento, as crianças
começaram a ser avaliadas individualmente na própria escola, em condições adequadas.
No que diz respeito à análise de dados, os dados foram comparados entre grupos
por fatores idade ou tipo de escola pelo Teste two-way ANOVA, na medida em que os
dados apresentaram um comportamento paramétrico por grupo no Teste Kolmogorov-
Smirnov. Além disso, grupos de tipos de escola foram comparados pelo teste t de
Student para amostras independentes para as variáveis quantitativas e o Qui-quadrado
para comparação quanto à distribuição de variáveis categóricas.
Capítulo III
Resultados e Discussão
Na Tabela 1 podem ser vistos os resultados inferenciais do teste Two-Way
ANOVA. Apresentam-se os efeitos de idade e tipo de escola, assim como as possíveis
interações.
Tabela 1: Desempenho no Teste de Cancelamento dos Sinos – efeito de idade, tipo de
escola e interação entre fatores sociodemográficos.
Escores Teste dos Sinos Idade Tipo de escola Interaç o
F p F p F p
omissões coluna central 2.121 0.101 1.479 0.226 1.946 0.126
omissões esquerda 4.058 0.009 0.369 0.545 0.598 0.618
omissões direita 2.040 0.112 0.012 0.913 1.115 0.346
omissões - total 3.829 0.012 0.274 0.601 1.393 0.248
omissões esquerda-direita 1.427 0.238 0.688 0.408 0.431 0.731
erros (distratores não sinos) esquerda-direita * * * * * *
erros (distratores sinos sem badalo) 4.405 0.006 1.055 0.306 1.101 0.351
erros (distratores sinos sem argola) 2.561 0.058 6.886 0.010 2.561 0.058
erros - total 2.465 0.066 7.078 0.009 2.465 0.066
tempo 3.397 0.020 0.032 0.857 2.071 0.108
A análise do desempenho das crianças no Teste de Cancelamento dos Sinos
(versão infantil) demonstrou efeito de idade em alguns escores ponderados no exame de
possíveis prejuízos atencionais e de velocidade de processamento (Tabela 1). Essa
variável se diferenciou em relação aos estímulos localizados à esquerda, ao número total
de omissões, aos erros no cancelamento dos estímulos (sinos sem badalo cancelados
incorretamente) e ao tempo total necessário para o cumprimento da tarefa.
A Tabela 2 revela que, quanto ao número de omissões à esquerda, o grupo de 6
anos diferenciou-se do grupo de 7 anos (p=0.039), do grupo de 8 anos (p=0.034) e do
grupo de 9 anos (p=0.010). Os demais grupos etários não apresentaram diferenças
significativas. Portanto, o efeito de idade para o escore de omissões de estímulos-alvo à
esquerda foi observado somente na comparação entre crianças de 6 anos com os demais
grupos etários. Laurent-Vannier et al. (2006) encontraram resultados semelhantes em
seu estudo, constatando que crianças mais novas não utilizaram estratégias de
cancelamento do tipo esquerda-direita. Segundo esses autores, com o avanço da idade, a
partir do desenvolvimento cognitivo, as crianças passam a utilizar estratégias mais
eficientes de busca visual, como o cancelamento de estímulos a partir do lado esquerdo.
Uma das hipóteses possíveis para a mudança de estratégia de cancelamento é o processo
de escolarização e alfabetização, pois os processos de leitura e escrita são realizados da
esquerda para a direita, de modo que a maior escolarização, paralelamente ao avanço da
idade, possibilita o aperfeiçoamento das estratégias de busca visual. Portanto, os hábitos
de leitura parecem influenciar as habilidades visuo-espaciais (De Agostini, 2000),
sugerindo que a aprendizagem está subjacente ao desempenho nesse tipo de tarefa.
Em relação ao número total de omissões, apenas os grupos de 6 e 9 anos se
diferenciaram (p=0.048), ou seja, houve diferença estatisticamente significativa apenas
nos extremos dos grupos etários investigados. Esses resultados vão ao encontro do
estudo conduzido por Laurent-Vannier et al. (2006), que investigaram o desempenho de
crianças entre 3 anos e 7 anos e 11 meses no Teddy Bear Cancellation Test, verificando
um maior número de omissões nas crianças menores, quando comparadas às crianças
mais velhas e ao grupo controle. Segundo Rueda et al. (2003), embora alguns
mecanismos atencionais estejam presentes desde a infância, há evidencias de um avanço
quantitativo em vários subprocessos, que ocorre a partir do desenvolvimento cognitivo.
Em relação aos erros do tipo sinos sem badalo, houve diferenças apenas entre o
grupo de 6 e 7 anos (p=0.038) e o grupo de 6 e 8 anos (p=0.049). Os erros do tipo Sinos
sem Argola tiveram significância limítrofe. Alguns estudos mostram que a acurácia da
atenção melhora com a idade (Rueda et al., 2003). Ainda considerando o fator idade na
análise dos diferentes escores obtidos no teste, verificou-se diferença quanto ao tempo
total utilizado para cumprir a tarefa apenas entre os grupos etários de 7 e 9 anos
(p=0.048). Alguns componentes atencionais mais complexos podem estar relacionados
ao funcionamento executivo, o que justifica a falta de controle executivo das crianças
menores em tarefas de atenção, inclusive quanto á velocidade de processamento (Ruff
& Rothbart, 1996). Rueda et al. (2003) também observaram o aprimoramento da
velocidade processual e da acurácia durante a segunda infância, entre os 6 e 9 anos de
idade.
Tabela 2. Efeito da idade no desempenho no Teste de Cancelamento dos Sinos
Escores Teste dos Sinos 6 anos 7 anos 8 anos 9 anos
M dp M dp M dp M dp
omissões coluna central 1.45 1.46 1.00 1.31 1.19 1.03 0.69 0.89
omissões esquerda 4.24 3.03 2.62 2.40 2.53 2.59 2.21 1.66
omissões direita 3.67 2.88 2.65 2.04 3.19 2.51 2.24 1.92
omissões - total 9.27 5.91 6.27 5.08 6.78 4.90 4.93 3.81
omissões esquerda-direita 0.57 2.44 -0.27 1.81 -0.65 2.43 -0.03 1.70
erros (distratores não sinos) E-D 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00
erros (distratores sinos sem badalo) 0.21 0.60 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00
erros (distratores sinos sem argola) 0.06 0.35 0.00 0.00 0.34 1.94 0.79 3.31
erros - total 0.09 0.52 0.00 0.00 0.34 1.94 0.79 3.31
tempo 146.72 61.85 161.19 63.10 132.04 46.12 126.72 34.32
A Tabela 1 mostra ainda que houve efeito do tipo de escola no desempenho das
crianças no Teste de Cancelamento dos Sinos. Como se pode observar, os erros do tipo
distratores sinos sem argola (p=0.010) e o número total de erros (p=0.009) tiveram
diferenças quando comparamos o desempenho de estudantes de escola pública e
privada. As demais categorias de erro não apresentaram diferença significativa. Por fim,
não foi observado efeito de interação entre as variáveis tipo de escola e idade.
Em relação à análise qualitativa do teste, conforme indica o Gráfico A, a
estratégia utilizada para o cancelamento dos sinos mostrou que aproximadamente 20%
dos participantes de escola pública utilizaram estratégias organizadas, enquanto 80%
utilizaram a desorganizada. Na escola privada, quase 70% das crianças utilizaram
estratégias organizadas de cancelamento, ao passo que pouco mais de 30% delas não
apresentaram um critério organizado de busca. A análise das estratégias de
cancelamento utilizadas revelou diferença significativa entre os grupos por tipo de
escola (x=29.665 df=1 p< 0.001). De cordo com Ostrosky-Solís et al. (1999), além do
efeito da alfabetização sobre a cognição, o processo educacional influencia a cognição
de modo geral, em conjunto com outras questões sociodemográficas importantes.
No que diz respeito à estratégia utilizada pelo examinando de acordo com sua
idade, conforme mostra o Gráfico B, observou-se que 39% das crianças de 6 anos
usaram estratégias organizadas de busca enquanto 61% usaram estratégias
desorganizadas; das crianças com 7 anos de idade, aproximadamente 48% usaram
estratégias organizadas para cancelar os sinos alvo versus 52% que não tiveram nenhum
critério aparente em suas buscas; 50% das crianças de 8 anos usaram estratégias
organizadas de cancelamento e 50% delas usaram estratégias desorganizadas e; mais de
60% dos participantes na faixa etária dos 9 anos utilizaram estratégias organizadas de
cancelamento, enquanto menos de 40% delas usaram estratégias desorganizadas.
Contudo, não houve diferença estatística significativa quanto às estratégias de
cancelamento no Teste dos Sinos entre os grupos etários ( x=0,363 df=3 p=0,363).
Gráfico A - Tipo de escola Gráfico B - Idade
Em suma, os resultados evidenciaram que tanto a idade quanto o tipo de escola
apresentam um papel importante no processamento atencional e de velocidade
processual em crianças de 6 a 9 anos desta amostra. Esperava-se um efeito de idade e de
tipo de escola em praticamente todas as variáveis mensuradas do Teste de
Cancelamento dos Sinos Infantil. No entanto, esta hipótese geral foi apenas
parcialmente confirmada nesta amostra. Houve efeito de idade na acurácia (omissões à
esquerda, omissões totais e erros de distratores relacionados), assim como na velocidade
(tempo total). Esses resultados corroboram achados de pesquisas anteriores que
identificaram melhora no desempenho de tarefas de atenção ao longo do
desenvolvimento, sugerindo que a idade contribui para o aperfeiçoamento de alguns
subprocessos da atenção. Em um estudo que objetivou investigar o desenvolvimento de
habilidades atencionais em crianças de 6 a 15 anos, Capovilla e Dias (2008) observaram
que crianças mais velhas apresentaram melhor desempenho quanto à acurácia,
cometendo menos erros no Teste de Atenção por Cancelamento. Crianças mais novas,
além de cometerem mais erros, também tiveram mais omissões no cancelamento dos
estímulos. Gruber, Lercari e Posner (2003), em um experimento que avaliou a atenção
visual de crianças entre 6 e 9 anos, também constataram um progresso significativo
quanto à velocidade de processamento e à acurácia das respostas, evidenciando a
evolução da atenção dentro dessa faixa etária. Habilidades de atenção sustentada e
controle inibitório foram investigadas Reck e Hund (2010), identificando que essas
habilidades vão se aperfeiçoando em função da idade
No presente estudo, o tipo de escola pareceu influenciar apenas na acurácia,
especificamente nas variáveis erros de distratores relacionados e escore total de erros.
No que concerne ao tipo de escola, em geral os achados da literatura trazem diferenças
mais freqüentes na performance cognitiva de crianças de escola pública e escola
privada. Surpreendentemente, nesta amostra, houve diferenças apenas quanto aos erros
do tipo distratores sinos sem argola e em relação ao número total de erros, de modo que
crianças que estudam em escolas privadas obtiveram melhor desempenho do que
estudantes de escolas públicas. Uma das principais hipóteses que justificam esses
resultados é a de que há maior efeito de tipo de escola em tarefas neuropsicológicas
verbais. O Teste de Cancelamento dos Sinos, sendo uma tarefa não verbal,
aparentemente requer menos habilidades relacionadas ao ensino formal e, por isso, não
teria muita influência do tipo de escola. Qualitativamente, a diferença em relação ao
tipo de escola foi observada no uso de estratégias de cancelamento. Crianças da escola
privada utilizaram estratégias mais organizadas em comparação às estratégias das
crianças de escola pública.
A análise dos resultados obtidos no presente estudo deve considerar algumas
limitações observadas. Em relação ao tamanho da amostra, compreende-se que um
maior número de participantes alocados por grupo etário e por tipo de escola indicaria
efeitos mais significativos entre essas variáveis e o desempenho cognitivo, conforme
achados de estudos anteriores que investigaram a relação entre variáveis
sociodemográficas e outros processos cognitivos. Salienta-se que a validação do Teste
de Cancelamento dos Sinos para crianças possibilitará o entendimento acerca do
processamento atencional, com o estabelecimento de normas e pontos de corte que
certamente contribuirão para o entendimento do desenvolvimento da atenção nessa
população.
Além disso, para os próximos estudos, a utilização desse instrumento para
avaliar o processamento atencional infantil possibilitará a avaliação de grupos
comparativos, verificando a performance de grupos clínicos em relação ao grupo
controle. Nesse contexto, ressalta-se a importância de se investigar o desempenho
apresentado pelas crianças no Teste de Cancelamento dos Sinos em face de quadros
neurológicos e psiquiátricos mais freqüentemente observados, como a Síndrome de
Heminegligência visual e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, visto
que essas condições tendem a impactar negativamente a vida pessoal e acadêmica das
crianças. Os resultados preliminares apresentados nesse estudo fornecerão dados
importantes para o processo de validação do Teste de Cancelamento dos Sinos – versão
infantil, bem como para a análise de fidedignidade do instrumento desse instrumento.
Diante da carência de estudos que investiguem o impacto do tipo de escola no
desempenho em tarefas neuropsicológicas, sugere-se que outras pesquisas sejam
realizadas com esse enfoque já que, no contexto brasileiro, o tipo de escola está
intrinsecamente relacionado ao melhor nível social e econômico, inclusive a partir dos
ganhos culturais oportunizados pelas questões de ordem econômica que implicam, em
geral, em maior estimulação cognitiva das crianças (Matute et al., 2009; Mulenga,
Ahonen & Aro, 2001).
Capítulo IV
Considerações Finais
Apesar do progresso observado nos últimos anos em relação à avaliação
neuropsicológica, inclusive a partir do interesse dos pesquisadores pela elaboração de
instrumentos adaptados à realidade brasileira, ainda são escassos os instrumentos
desenvolvidos especificamente para a avaliação neuropsicológica infantil.
No que tange à investigação dos processos atencionais em crianças, são ainda
mais raros os testes apropriados para o exame neuropsicológico dessa população,
especialmente no que se refere a indivíduos saudáveis. O paradigma do cancelamento
tem sido freqüentemente utilizado para a avaliação dos processos atencionais,
mostrando-se bastante sensível à detecção de prejuízos nessa função, principalmente na
heminegligência visual.
Os estudos sobre o desenvolvimento cognitivo infantil têm considerado também
a influência de fatores sociodemográficos no processamento cognitivo e no desempenho
em tarefas que avaliam diversas funções cognitivas. Nesse contexto, o presente estudo
se propôs a investigar o processamento atencional na segunda infância e sua relação
com o tipo de escola, analisando o desempenho de crianças entre 6 e 9 anos em uma
tarefa de cancelamento infantil, através da versão infantil do Teste de Cancelamento dos
Sinos, adaptada por Fonseca et al. (no prelo).
A análise do desempenho das crianças nesse instrumento evidenciou associação
entre o processamento atencional e os fatores sociodemográficos de interesse (idade e
tipo de escola). Além disso, esse estudo forneceu dados preliminares acerca da
sensibilidade da versão infantil do Teste de Cancelamento dos Sinos para avaliação de
crianças saudáveis. A continuidade dos estudos sobre o desenvolvimento cognitivo
infantil e, especialmente, sobre o desenvolvimento da atenção em condições típicas de
desenvolvimento, possibilitarão a detecção precoce de déficits relacionados ao
processamento atencional, contribuindo também para o manejo adequado desses
prejuízos.
Observa-se que déficits em processos atencionais podem impactar
significativamente a vida das crianças. Uma das condições mais freqüentemente
observadas e investigadas nessa população é o Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade, que acarreta prejuízos sociais importantes, além de prováveis
manifestações cognitivas. Ressalta-se assim, que instrumentos neuropsicológicos
específicos para a avaliação infantil são essenciais para a investigação clínica, bem
como para a elaboração de estratégias que auxiliem no manejo de tais condições.
Referências
Alberto, I. M. M. (2003). Atenção, por favor (!) à avaliação da atenção! Psychologica.
Revista da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação de Coimbra, 34,
231-243.
Andrade, B. F., Brodeur, D. A., Waschbusch, D.A., Stewart, S. H., & McGee, R.
(2009). Selective and Sustained Attention as Predictors of Social Problems in
Children With Typical and Disordered Attention Abilities. Journal of Attention
Disorders, 12(4), 341-352.
Angelini, A. L., Alves, I. C. B., Custódio, E. M., Duarte, W. F., & Duarte, J. L. M.
(1999). Matrizes Progressivas Coloridas de Raven: Escala Especial. Manual. São
Paulo: CETEPP.
Ardila, A., Ostrosky-Solis, F., Rosselli, M., & Gómez, C. (2000). Age-related cognitive
decline during normal aging: the complex effect of education. Archieves of
Clinical Neuropsychology, 15, 495-513.
Argollo, N., Bueno, O. F. A., Shayer, B., Godinho, K., Abreu, K., Duran, P. et al.
(2009). Adaptação transcultural da Bateria NEPSY - avaliação neuropsicológica
do desenvolvimento: estudo-piloto. Avaliação Psicológica, 8(1), 69-75.
Benczik, E. B. P. (2000). Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade: Atualização
diagnóstica e terapêutica. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Berger, A., Jones, L., Rothbart, M. K., & Posner, M. I. (2000). Computerized games to
study the development of attention in childhood. Behavioral Research Methods
and Instrumentation, 32, 290–-303.
Brucki, S. M. D. & Nitrini, R. (2008) Cancellation task in very low educated people.
Archives of Clinical Neuropsychology, 23, 139-147.
Byrd, D., Arentoft, A., Scheiner, D., Westerveld, M., & Baron, I. S. (2008). State of
Multicultural Neuropsychological Assessment in Children: Current Research
Issues. Neuropsychology Review, 18(3), 214-222.
Caeyenberghs, K., Van Roon, D., Swinnen, S. P., Smits-Engelsman, B. C. M. (2009).
Deficits in executed and imagined aiming performance in brain-injured children.
Brain and Cognition, 69, 154–161.
Capovilla, A. G. S., & Dias, N. M. (2008). Desenvolvimento de habilidades atencionais
em estudantes da 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental e relação com rendimento
escolar. Revista de Psicopedagogia, 25(78), 198-211.
De Agostini, M. (1992) Le développement de la spécialisation hémisphérique. In:
Kremin H, Leclercq M, editors. Approche Neuropsychologique de l’Enfant.
Paris: Société de Neuropsychologie de Langue Française. p 43-59.
Drake, M. & Harris, P. (2008) Evalución de la atención. In Labos, E.; Manes, F.;
Slachevsky & Fuentes, P. Tratado de Neuropsicologia Clínica. Buenos Aires:
Libreria Akadia Editorial.
Duncan, M. T. (2006). Obtenção de dados normativos para desempenho no teste de
Stroop num grupo de estudantes do ensino fundamental de Niterói. Jornal
Brasileiro de Psiquiatria, 55(1), 42-48.
Fonseca, R. P., Salles, J. F. & Parente, M. A. P. (2007). Ferramenta útil na pesquisa e
clínica de neuropsicologia: “um compêndio de testes neuropsicológicos”.
Revista Interamericana de Psicologia, 41(3), 403-405.
Fonseca, R. P.; Parente, M. A. M. P.; Ortiz, K. Z.; Soares, E. C. S.; Scherer, L. C.;
Gauthier, L., & Joanette, Y. (no prelo) Teste de Cancelamento dos Sinos. São
Paulo: Vetor Editora.
Gauthier, L., Dehaut, F. & Joanette, Y. (1989) The Bells Test: a quantitative and
qualitative test for visual neglect. International Journal of Clinical
europsychology, vol. XI, 2.
Gazzaniga, M. S., & Heatherton, T. F. (2005). Ciência Psicológica. Porto Alegre: Artmed.
Gazzaniga, M. S., Ivry, R. B., & Mangun, G. R. (2006). Neurociência Cognitiva. Porto
Alegre: Artmed.
Geldmacher, D. S. (1998). Stimulus Characteristics Determine Processing Approach on
Random Array Letter-Cancellation Tasks. Brain and Cognitio, 36, 346–354.
Gilmour, J. (2005). Specialist neuropsychological assessment procedures for children
and adolescents. Psychiatry, 7(6), 246-252.
Gómez-Pérez, E. & Ostrosky-Sólis, F. (2006) Attention and Memory Evaluation Across
the Life Span: Hetetogeneous Effects of Age and Education. Journal of Clinical
and Experimental Neuropsychology, 28, 477-494.
Laurent-Vannier, A., Chevignard, M., Pradat-Diehl, P., Abada, G., & De Agostini, M.
(2006). Assessment of unilateral spatial neglect in children using the Teddy Bear
Cancellation Test. Developmental Medicine & Child Neurology, 48, 120-125.
Lehman, E.B.; Naglieri, J.A. & Aquilino, S.A. (2009) A National Study on the
Development of Visual Attention Using the Cognitive Assessment System.
Journal of Attention Disorders.
Lezak, M. D., Howieson, D. B. & Loring, D. W. (2004) Neuropsychological
Assessment. New York: Oxford University Press.
Lewis, M. (1995). Tratado de Psiquiatria da Infância e Adolescência. Porto Alegre:
Artes Médicas.
Matute, E. V., Sanz, A. M., Gumá, E. D., Rosselli, M., & Ardila, A. (2009). Influencia
del nivel educativo de los padres, el tipo de escuela y el sexo en el desarrollo de la
atención y la memoria. Revista Latinoamericana de Psicología, 41(2), 257-276.
Miranda, M. C. & Muszkat, M. (2004). Neuropsicologia do Desenvolvimento. In V. M.
Andrade, F. H. Santos & O. F. A. Bueno (Org.). Neuropsicologia Hoje. São
Paulo.
Montiel, J. M., & Capovilla, A. G. S. 2008. Teste de Atenção por Cancelamento:
análise de critérios de correção. Integração, 14 (54), 288-296.
Mulenga, K., Ahonen, T., & Aro, M. (2001). Performance of Zambian Children on the
NEPSY: A Pilot Study. Developmental Neuropsychology, 20, 375-383.
Nabas, T.R. & Xavier, G.F. (2004) Atenção. In Andrade, V.M.; Santos, F.H.; Bueno,
O.F.A. (Org.). Neuropsicologia hoje. São Paulo: Artes Médicas.
Nitrini, R., Brucki, S.M.D., Smid,J., Carthery-Goulart, M.T., Anghinah, R., et.al. (2008)
Influence of age, gender and educacional level on performance in the Brief
Cognitive Batterry-Edu. Dementia & Neuropsychologia, 2(2), 114-118.
Nogueira, G. J., Castro, A., Naveira, L., Nogueira-Antuano, F., Natinzon, A., Gigli, S.
L., et al. (2005). Evaluación de las funciones cerebrales superiores en niños de 1˚
y 7˚ grado pertenecientes a dos grupos socioeconómicos diferentes. Revista de
Neurología, 40(7), 397-406.
Ostrosky-Solís, F., Ardila, A., & Rosselli, M. (1999). NEUROPSI: a brief
neuropsychological test battery in Spanish with norms by age and educational
level. Journal of the International Neuropsychological Society, 5, 413-433.
Ostrosky-Solís, F., Gómez-Pérez, M. E., Matute, E., Rosselli, M., Ardila, A., & Pineda,
D. (2007). NEUROPSI Attention and memory: A neuropsychological test
battery in spanish with norms by age and educational level. Applied
Neuropsychology, 14(3), 156-170.
Paradise, M., Cooper, C., & Livingston, G. (2009). Systematic review of the effect of
education on survival in Alzheimer’s disease. International Psychogeriatrics,
21, 25-32.
Reck, S. G. & Hund, A.M. (2010). Sustained attention and age predict inhibitory control
during early childhood. Journal of Experimental Child Psychology, 1-9.
Reis, A., & Petersson, K. (2003). Educational level socioeconomic status and aphasia
research: a comment on Connor et al. (2001) - effect socioeconomic status on
aphasia severity and recovery. Brain and Language, 87, 449-452.
Rosselli, M., & Ardila, A. (2003). The impact of culture and education on non-verbal
neuropsychological measurements: a critical review. Brain and Cognition, 52,
326-333.
Rosselli-Cock, M., Matute-Villaseñor, E., Ardila-Ardila, A., Botero-Gómez, V. E.,
Tangarife-Salazar, G. A., Echeverría-Pulido, S. E., et al. (2004). Evaluación
Neuropsicológica Infantil (ENI): una bateríapara la evaluación de niños entre 5 y
16 años de edad.Estudio normativo colombiano. Revista de Neurologia, 38(8),
720-731.
Rueda, R. M., Fan, J., McCandliss, B. D., Halparin, J. D., Gruber, D. B., Lercari, L.P.,
& Posner, M. I. (2004). Development of attentional networks in childhood.
Neuropsychologia, 42, 1029–1040.
Ruff, H. A. & Rothbart, M. K. (1996). Attention in early development: Themes and
variations. New York: Oxford University Press.
Rutter, M., Taylor, E., & Hersov, L. (1994). Child and Adolescent Psychiatry: Modern
Aapproaches. London: BlackWell Science.
Serafini, A. J., Fonseca, R. P., Bandeira, D. R., & Parente, M. A. M. P. (2008).
Panorama Nacional da Pesquisa Sobre Avaliação Neuropsicológica de
Linguagem. Psicologia Ciência e Profissão, 28 (1), 34-49.
Solé-Padullés, C., Bartrés-Faz, D., Junqué, C., Vendrell, P., Rami, L., Clemente, I. C.,
Bosch, B., Villar, A., Bargalló, N., Jurado, M. A., Barrios, M., & Molinuevo, J.
L. (2009). Brain structure and function related to cognitive reserve variables in
normal aging, mild cognitive impairment and Alzheimer’s disease.
Neurobiology of Aging, 30, 1114-1124.
Sternberg, R.J. (2008) Psicologia Cognitiva. Porto Alegre: Artmed.
Strauss, E., Sherman, E. M. S., & Spreen, O. (2006). A compendium of
neuropsychological tests: Administration, norms and commentary. New York:
Oxford University Press.
Van Zomeren, A. H., & Brouner, W. H. (2003). Assessment of Attention. In Crowford, J.
R., Parker, D. M, McKinlay, W. W. (orgs.). A Handbook of Neuropsychological
Assessment. Hove (UK): Lawrence Erbaum Assciates, 1992.
Verfaellie, M., & Heilman, K. M. (2006). Neglect syndromes. In P. J. Snyder, P. D.
Nussbaum, & D. L. Robins. Clinical neuropsychology: a pocket handbook for
assessment (pp. 489-507). Washington: APA.
ANEXO A
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Autorização para participar de um projeto de pesquisa
Nome do estudo: “Avaliação Neuropsicológica Infantil: estudos
sociodemográficos, psicométricos e neuropsicológicos”
Instituição: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS
Pesquisadores responsáveis: Rochele Paz Fonseca e colaboradores
Telefone para contato: (51)3320.3500, ramal 7742
Nome da criança:____________________________________________________
1. Objetivo e benefícios do estudo
Objetivo: Investigar como crianças com acidentes vasculares encefálicos, traumatismo
crânio-encefálico e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade em tarefas que
examinam as seguintes habilidades cognitivas (funções mentais de aprendizagem
relacionadas ao funcionamento cerebral): orientação temporo-espacial, atenção,
percepção, memória, linguagem, habilidades matemáticas, motricidade e funções
executivas (inibição, alternância da atenção, etc). Com os resultados desse estudo serão
obtidos dados referentes ao desempenho desta população clínica nas funções
supracitadas e, a partir destes resultados, será possível analisar se as tarefas utilizadas
irão contribuir para a caracterização de perfis de desempenho, para o diagnóstico,
prognóstico e elaboração de estratégias de reabilitação.
2. Explicação dos procedimentos
Você e seu(ua) filho(a) poderão responder a perguntas e a tarefas que fazem parte desse
estudo: questionário sociocultural (questões sobre hábitos de leitura e escrita, condições
gerais de saúde e nível socioeconômico); tarefas de lápis-e-papel muito semelhantes às
da escola envolvendo palavras, frases, textos, números, figuras com perguntas e
respostas. Estas tarefas avaliarão diferentes funções da cognição, tais como, atenção,
memória, linguagem, matemática etc. Para a avaliação serão necessárias de duas a três
sessões, com duração estimada de noventa minutos cada. A criança poderá ser avaliada
na própria residência, na escola, em horário de aula, ou em local a combinar.
3. Possíveis riscos e desconfortos
O possível desconforto do participante está relacionado ao tempo e ao possível
cansaço na resolução das tarefas propostas. Em caso de observação de sinais de
cansaço, a avaliação será interrompida e reagendada para sua continuação.
4. Direito de desistência
Você e/ou seu(ua) filho(a) poderão desistir de participar a qualquer momento
sem quaisquer conseqüências e/ou prejuízos para si ou para seu(ua) filho(a).
5. Sigilo
Todas as informações obtidas neste estudo poderão ser publicadas com
finalidade científica, preservando-se o completo anonimato dos participantes, os quais
serão identificados apenas por um número. Assim, o sigilo da identidade dos pais
(responsáveis) e da identidade do(a) filho(a) será mantido.
Os dados serão utilizados estritamente para fins de pesquisa, ficando
armazenados em armário chaveado na sala 932 da Faculdade de Psicologia, sob a
responsabilidade de Rochele Paz Fonseca, durante 5 anos.
6. Consentimento
Declaro ter lido – ou me foram lidas – as informações acima antes de assinar
este termo. Foi-me dada oportunidade de fazer perguntas, esclarecendo totalmente as
minhas dúvidas. Por este documento, tomo parte, voluntariamente, deste estudo.
Em caso de quaisquer dúvidas, contatar, além do pesquisador, a equipe do Comitê de
Ética em Pesquisa da PUCRS, no telefone (51) 3320 3345.
Porto Alegre, _____ de __________________ de 20____.
____________________________________ _____________________________
Nome dos pais/responsáveis Assinatura dos pais/responsáveis
____________________________________
Nome da criança
________________________________________________
Assinatura do pesquisador responsável: Rochele Paz Fonseca