Saúde e Aplicações Interdisciplinares

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Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3.

1
Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 2
Editora Chefe
Patrícia Gonçalves de Freitas
Editor
Roger Goulart Mello
2021 by Editora e-Publicar Diagramação
Copyright © Editora e-Publicar Roger Goulart Mello
Copyright do Texto © 2021 Os autores Projeto Gráfico e Edição de Arte
Copyright da Edição © 2021 Editora e-Publicar Patrícia Gonçalves de Freitas
Direitos para esta edição cedidos à Revisão
Editora e-Publicar pelos autores Os Autores

SAÚDE E APLICAÇÕES INTERDISCIPLINARES, VOL. 3

Todo o conteúdo dos capíulos, dados, informações e correções são de responsabilidade


exclusiva dos autores. O download e compartilhamento da obra são permitidos desde que os
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Conselho Editorial
Alessandra Dale Giacomin Terra – Universidade Federal Fluminense
Andréa Cristina Marques de Araújo – Universidade Fernando Pessoa
Andrelize Schabo Ferreira de Assis – Universidade Federal de Rondônia
Bianca Gabriely Ferreira Silva – Universidade Federal de Pernambuco
Cristiana Barcelos da Silva – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
Cristiane Elisa Ribas Batista – Universidade Federal de Santa Catarina
Daniel Ordane da Costa Vale – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Danyelle Andrade Mota – Universidade Tiradentes
Dayanne Tomaz Casimiro da Silva - Universidade Federal de Pernambuco
Diogo Luiz Lima Augusto – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Elis Regina Barbosa Angelo – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Ernane Rosa Martins - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás
Ezequiel Martins Ferreira – Universidade Federal de Goiás
Fábio Pereira Cerdera – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Francisco Oricelio da Silva Brindeiro – Universidade Estadual do Ceará
Glaucio Martins da Silva Bandeira – Universidade Federal Fluminense
Helio Fernando Lobo Nogueira da Gama - Universidade Estadual De Santa Cruz
Inaldo Kley do Nascimento Moraes – Universidade CEUMA
João Paulo Hergesel - Pontifícia Universidade Católica de Campinas
Jose Henrique de Lacerda Furtado – Instituto Federal do Rio de Janeiro
Jordany Gomes da Silva – Universidade Federal de Pernambuco
Jucilene Oliveira de Sousa – Universidade Estadual de Campinas

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 3


Luana Lima Guimarães – Universidade Fede ral do Ceará
Luma Mirely de Souza Brandão – Universidade Tiradentes
Mateus Dias Antunes – Universidade de São Paulo
Milson dos Santos Barbosa – Universidade Tiradentes
Naiola Paiva de Miranda - Universidade Federal do Ceará
Rafael Leal da Silva – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Rita Rodrigues de Souza - Universidade Estadual Paulista
Willian Douglas Guilherme - Universidade Federal do Tocantins

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)

S255 Saúde e aplicações interdisciplinares [livro eletrônico]: volume 3 /


Organizador Inaldo Kley do Nascimento Moraes. – Rio de
Janeiro, RJ: e-Publicar, 2021.

Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-89340-98-0

1. Saúde – Pesquisa – Brasil. I. Moraes, Inaldo Kley do


Nascimento, 1978-.
CDD 613

Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422

Editora e-Publicar
Rio de Janeiro – RJ – Brasil
[email protected]
www.editorapublicar.com.br
Apresentação

É com grande satisfação que a Editora e-Publicar vem apresentar a obra intitulada
“Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3”. Neste livro, engajados pesquisadores da
área de saúde contribuíram com suas pesquisas. A obra é composta por 34 capítulos que
abordam múltiplos temas.

Desejamos a todos uma excelente leitura!

Editora e-Publicar

Roger Goulart Mello

Patrícia Gonçalves de Freitas


Sumário
CAPÍTULO 1 ...................................................................................................................... 16
È POSSIVEL A REABILITAÇÃO IMPLANTOSUPORTADA EM PACIENTES COM
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÉMICO? ......................................................................... 16

Edith Umasi Ramos


Vinícius Ferreira Bizelli
Ana Maira Pereira Baggio
Stéfani Caroline Ferriolli
Ana Paula Farnezi Bassi
CAPÍTULO 2 ...................................................................................................................... 25
ESTRESSE E ANSIEDADE NO ENSINO SUPERIOR: CONSTRUÇÃO E VALIDAÇÃO
DE CARTILHA EDUCATIVA ........................................................................................ 25

Francisca Alana de Lima Santos


Ivo Cavalcante Pita Neto
CAPÍTULO 3 ...................................................................................................................... 35
SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE SAÚDE DE UM HOSPITAL
PÚBLICO ........................................................................................................................ 35

Mussa Abacar
Gildo Aliante
Osvaldo Francisco Coquela
CAPÍTULO 4 ...................................................................................................................... 52
DEPRESSÃO PÓS-PARTO: A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE ......... 52

Ítala Nayara Delfino da Silva


Ana Claudia de Almeida Varão
Maria do Rosário Costa Miranda
José Ilton Lima de Oliveira
Joelson dos Santos Almeida
Emanuella Pereira de Lacerda
Michelle Pereira de Medeiros
Stevânia Silveira Trigueiro
CAPÍTULO 5 ...................................................................................................................... 66
SINTESE E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTITUMORAL DE UM NOVO
DERIVADO DE PRODUTO NATURAL ........................................................................ 66

Josefa Aqueline da Cunha Lima


Jadson de Farias Silva
Renato Ferreira de Almeida Junior
Kleber Juvenal Silva Farias
Paula Renata Lima Machado
Juliano Carlo Rufino Freitas
CAPÍTULO 6 ...................................................................................................................... 76
SAÚDE COLETIVA E TRATAMENTO DE EFLUENTES: UM ESTUDO DE CASO .... 76

Clebes Iolanda Leodice Alves


Leonice Aparecida de Fátima Alves Pereira Mourad
CAPÍTULO 7 ...................................................................................................................... 90
AVALIAÇÃO DA FREQUÊNCIA DO CONSUMO ALIMENTAR DE ATLETAS
UNIVERSITÁRIOS DE UM TIME DE FUTEBOL MASCULINO EM SÃO LUÍS – MA
.........................................................................................................................................90

Thirza Rafaella Ribeiro França Melo


Luis Felipe Castro Araújo
Fabiana Viana Maciel Rodrigues
Matheus Caíck Santos Brandão
Kassiandra Lima Pinto
Ana Carolina Pimenta Santos
Raphael Furtado Marques
Marcos Roberto Campos de Macêdo
CAPÍTULO 8 ...................................................................................................................... 99
A ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR NO MANEJO
DA IDEAÇÃO SUICIDA NO HOSPITAL ....................................................................... 99

Lanna Mouta Cestari Evangelista


Otávio Luiz Vieira Souza
Káthia Braga da Silva Teixeira
Rosita Angélica Gaspar
CAPÍTULO 9 .....................................................................................................................114
FATORES ASSOCIADOS AO AUTORRELATO DE VIOLÊNCIA INTERPESSOAL
SOFRIDA NA POPULAÇÃO ADULTA DO CEARÁ NO ANO DE 2013 ......................114

Kelvia Maria Oliveira Borges


Vitória Antonia Feitosa Lima
Raimunda Hermelinda Maia Macena
Rosa Maria Salani Mota
CAPÍTULO 10 ...................................................................................................................130
SÍNTESE E AVALIAÇÃO IN VITRO E IN SILICO DAS PROPRIEDADES
FARMACOLÓGICAS E TOXICOLÓGICAS DE UM DERIVADO DA D-GLICOSE....130
Rodrigo Ribeiro Alves Caiana
Herbert Igor Rodrigues de Medeiros
Tatiana de Almeida Silva
Ladjane Pereira da Silva Rufino de Freitas
Juliano Carlo Rufino Freitas
CAPÍTULO 11 ...................................................................................................................146
VENENO DE ABELHAS: UM MAPEAMENTO CIENTÍFICO DAS PROPRIEDADES
ANTICÂNCER...............................................................................................................146

Rodrigo Elísio de Sá
Fernanda Iris Araújo Pereira
Rubens Renato de Sousa do Carmo
Juliana Ísis Araújo Pereira
Gabrielle Costa Sousa
Lucicleia Dias Monteiro
Gabriella Linhares de Andrade
Valentina Rhémily de Melo Vasconcelos
CAPÍTULO 12 ...................................................................................................................156
PROPRIEDADES ANTICÂNCER DE PRODUTOS NATURAIS DE
ACTINOBACTÉRIAS MARINHAS: UM MAPEAMENTO CIENTÍFICO ....................156

Rodrigo Elísio de Sá
Fernanda Iris Araújo Pereira
Rubens Renato de Sousa do Carmo
Juliana Ísis Araújo Pereira
Antonia Luzia Lima do nascimento
Lucicleia Dias Monteiro
Gabriella Linhares de Andrade
Valentina Rhémily de Melo Vasconcelos
CAPÍTULO 13 ...................................................................................................................168
ANÁLISE DO USO DE ANTIBIÓTICOS NA PROFILAXIA DE FERIDAS
OPERATÓRIAS NAS CESARIANAS REALIZADAS EM UMA MATERNIDADE, NO
PERÍODO DE 2015 A 2018 ............................................................................................168

Sirlene Maria da Silva


Iran Grijó Praia
CAPÍTULO 14 ...................................................................................................................182
PROCESSO DE REINTERNAÇÃO DE USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
NO CENTRO DE RECUPERAÇÃO REABILITAR EM MACAPÁ ...............................182

Suellen dos Santos Facundes


Paulo Cesar Beckman da Silva Junior
CAPÍTULO 15 ...................................................................................................................195
IMPORTÂNCIA DAS VISITAS DOMICILIARES NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA
FAMÍLIA .......................................................................................................................195

Thuane Teixeira Lima


Brenda de Carvalho Resende Mergulhão
Ricardo de Oliveira Almeida
CAPÍTULO 16 ...................................................................................................................206
ASPECTOS GENÉTICOS, DO CUIDADO E AÇÕES DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
NOS TRANSTORNOS MENTAIS: UMA REVISÃO DE LITERATURA ......................206

Kemily Fonseca Argilero


Wanderson Rocha Oliveira
Márcio Fraiberg Machado
CAPÍTULO 17 ...................................................................................................................216
EFEITOS DE 16 SEMANAS DE EXERCÍCIOS MULTIMODAIS NA CAPACIDADE
FUNCIONAL E COGNITIVA EM IDOSOS COMUNITÁRIOS ....................................216
DOI: 10.47402/ed.ep.c202149017980
Karla Mayane da Silva
Rubens Vinicius Letieri
Paulo Henrique Torres de Araújo
CAPÍTULO 18 ...................................................................................................................228
A SAÚDE DOS SERVIDORES TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS EM EDUCAÇÃO: UMA
HISTÓRIA DE PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO .....................................................228
DOI: 10.47402/ed.ep.c202155718980
Giovana Rodrigues Dall’Apria
Alessandro Vinicius de Paula
CAPÍTULO 19 ...................................................................................................................239
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE ASPECTOS GERAIS DA HANSENÍASE
POR AGENTES DE SAÚDE EM BELÉM-PA................................................................239
DOI: 10.47402/ed.ep.c202158019980
Jean Marcos Souza da Silva
Palmira Steffanny Rodrigues Castro
Gabriel Silva Novais
Ariane Lobato Moraes
Núbia Rocha Marques
Rodrigo Lima do Nascimento
Fernando Rocha Pessoa
Carla Andréa Avelar Pires
CAPÍTULO 20 ...................................................................................................................250
TENDÊNCIA DO HIV/AIDS EM PESSOAS IDOSAS NO PARÁ..................................250
DOI: 10.47402/ed.ep.c202155120980
Jessica Silva Martinho
Luann Wendel Pereira de Sena
Maria Pantoja Moreira
Yuji Magalhães Ikuta
CAPÍTULO 21 ...................................................................................................................268
INTERNAÇÕES POR ANEMIA FERROPRIVA EM MULHERES DE MINAS GERAIS
.......................................................................................................................................268
DOI: 10.47402/ed.ep.c202156221980
Camila Teles Gonçalves
Mateus Augusto de Prince
Carlos Eduardo Mendes D'Angelis
Luçandra Ramos Espírito-Santo
Jaqueline Teixeira Teles Gonçalves
Dorothea Schmidt França
Karina Andrade de Prince
CAPÍTULO 22 ...................................................................................................................278
CORTICOTERAPIA: MANIFESTAÇÕES OCULARES ADVERSAS ..........................278
DOI: 10.47402/ed.ep.c202155822980
Bianca Carollyne Martins Pinto
Felippe Amaral Simões
Gabriela Freitas Moreira
Leonardo Mendonça Monteiro de Castro
Luisa Pires Coscarelli
Matheus Borges de Castro
Emílio Rintaro Suzuki Junior
CAPÍTULO 23 ...................................................................................................................290
ROMANTIZAÇÃO DA MATERNIDADE: COBRANÇAS DA SOCIEDADE BASEADAS
NO PAPEL DE MÃE IDEAL ..........................................................................................290
DOI: 10.47402/ed.ep.c202155523980
Monique Martins Luiz
Amanda Castro
CAPÍTULO 24 ...................................................................................................................303
O PAPEL DA EDUCAÇÃO NA AQUISIÇÃO DE HÁBITOS ALIMENTARES
SAUDÁVEIS PELOS ADOLESCENTES.......................................................................303
DOI: 10.47402/ed.ep.c202151824980
Nelma Maria de Souza Mattioli
Ricardo Bustamante
Rosana Mara de Freitas Viscondi
Maria Auxiliadora Motta Barreto
CAPÍTULO 25 ...................................................................................................................313
A COGNIÇÃO PÓS ICTUS DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS ...........................313

DOI: 10.47402/ed.ep.c202157725980
Isabela Santos Lima
Aline Oliveira Rocha de Lima
Renata Machado de Assis
Juliana Alves Ferreira
Daisy de Araújo Vilela
CAPÍTULO 26 ...................................................................................................................326
EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL POR MATERIAL BIOLÓGICO EM UM HOSPITAL DE
ENSINO: ESTUDO RETROSPECTIVO ........................................................................326
DOI: 10.47402/ed.ep.c202159326980
Eliane Carlosso Krummenauer
Rochele Mosmann Menezes
Letiane de Souza Machado
Igor Neumann
Ana Elizabeth Kautzmann
Jane Dagmar Pollo Renner
Hildegard Hedwig Pohl
Marcelo Carneiro
CAPÍTULO 27 ...................................................................................................................335
ALCANCES E DESAFIOS NOS DOIS ANOS E MEIO DE IMPLEMENTAÇÃO DE UM
NÚCLEO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ...................................................................335
DOI: 10.47402/ed.ep.c202153627980
Taize de Oliveira
Luciana Marolla Garcia
Edson Olivari de Castro
Vera Lucia Messias Fialho Capellini
CAPÍTULO 28 ...................................................................................................................349
TRANSMISSÃO DE PARASITOS POR INSETOS VETORES: A SAÚDE NO AMBIENTE
ACADÊMICO PODE ESTÁ COMPROMETIDA? .........................................................349

Tayná Bezerra Pinho


Wandresa Francelino Pereira
Carolina Agostinho de Jesus
Carla Leitão da Silva
Jaiane Maria Silva
Mônica da Costa Vidal
Thaisy Alencar Balbino
Renata Fernandes de Matos
CAPÍTULO 29 ...................................................................................................................365
ACUPRESSÃO NA DOR DURANTE E APÓS O TRABALHO DE PARTO ..................365

Adna Raquel de Sousa Antunes


Thaysla Leite Lemos
Francisca Raissa Teles Silva
Raymile Nunes da Silva
Aryane Silva Cunha
Anderson de Sousa Lima
Tatianny Alves França
CAPÍTULO 30 ...................................................................................................................373
PRÁTICA DE DANÇA NA TERCEIRA IDADE E OS BENEFÍCIOS NA QUALIDADE DE
VIDA DOS IDOSOS.......................................................................................................373

Gildeene Silva Farias


Sabrina da Silva Barbosa
CAPÍTULO 31 ...................................................................................................................384
A FISIOTERAPIA NA ATENÇÃO BÁSICA E O MANEJO DOS PACIENTES COM
DORES CRÔNICAS DE COLUNA: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO...............384

Jeane Constantino Pereira


Sóstenes Conceição dos Santos
CAPÍTULO 32 ...................................................................................................................392
FUNCIONALIDADE EM GERIATRIA E GERONTOLOGIA: REVISÃO INTEGRATIVA
.......................................................................................................................................392

Luana Almeida de Sá Cavaleiro


Jefferson Nascimento dos Santos
Francisco Valter Miranda
Lizandra Tereza de Souza Vasconcelos
Francisca Meiriane Pereira Lima
Maria Erisnilda Nunes Irineu
Claudiana Batista de Brito
Daniele de Queiroz Martins
CAPÍTULO 33 ...................................................................................................................403
A ESTABILIZAÇÃO SEGMENTAR EM MULHERES COM LOMBALGIA CRÔNICA:
SEU EFEITO NO QUADRO ÁLGICO E NO EQUILÍBRIO ESTÁTICO ........................403

Jorge Fernando dos Santos


Rebecca Izquierdo Jeller
Elisa Ísis Ferreira
CAPÍTULO 34 ...................................................................................................................419
EFICÁCIA DA CINESIOTERAPIA NO TRATAMENTO DE IDOSOS COM
OSTEOARTROSE NO JOELHO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA
LITERATURA...................................................................................................................419

Antônio Oleilson Bento da Silva


Maria Camila Lucas de Brito
Daniele de Queiroz Martins
Franklin Douglas Saboia de Sousa
Carlos Victor Silva Costa
Francisco Valter Miranda Silva
Paula Pessoa de Brito Nunes
CAPÍTULO 1
È POSSIVEL A REABILITAÇÃO IMPLANTOSUPORTADA EM PACIENTES COM
LÚPUS ERITEMATOSO SISTÉMICO?

Edith Umasi Ramos, Doutoranda, UNESP


Vinícius Ferreira Bizelli, Doutorando, UNESP
Ana Maira Pereira Baggio, Mestranda, UNESP
Stéfani Caroline Ferriolli, Mestranda, UNESP
Ana Paula Farnezi Bassi, Professora, UNESP

RESUMO
Uma das doenças autoimunes, como o Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), de difícil
diagnóstico, apesar de se caracterizar por apresentar um quadro grave no início da doença, e
com vários sintomas durante o curso da enfermedidade, é pouco analisada na área da
reabilitação oral, especificamente na implantologia oral. Esta doença causa altos índices de
cárie dental, doença periodontal, lesões da mucosa oral, pois, esses pacientes apresentam
diferentes tipos de edentulismo. O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão da literatura
nas bases de dados Pubmed, Medline, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), sobre reabilitação
com implantes dentários em pacientes com LES, a fim de conhecer a probabilidade de sucesso
desse tratamento, descrever as manifestações orais que podem ser afetadas como
consequências do desenvolvimento da doença e quais considerações devem ser tomadas. Nesta
revisão observou-se que há maior prevalência de LES em mulheres, com diagnóstico médio
após 40 anos, os pacientes com LES apresentam duas vezes mais prevalência de óbito por
complicações do que indivíduos saudáveis; por outro lado, são poucos os estudos que relatam
casos clínicos de implantes dentários em pacientes com LES, porém, com este pequeno número
de estudos observou-se que a reabilitação com implantes é viável, com sucesso em 100% dos
casos, com uma taxa de sobrevida semelhante à de pacientes sem essa doença, os
procedimentos cirúrgicos devem seguir os mesmos critérios que se seguem em pacientes
saudáveis, mas deve ser realizada em pacientes adequadamente controlados. Com base na
revisão desses estudos, podemos concluir que os tratamentos de reabilitação com implantes
dentários é o tratamento ideal e necessário para pacientes com LES, por isso deve ser
considerado como a primeira opção em relação às próteses removíveis, para evitar o
aparecimento de lesões na mucosa oral e complicaçoes posteriores por causa das próteses de
longa duração, a fim de proporcionar uma melhor qualidade de vida, aliviar os níveis de
estresse, permitir uma melhor nutrição, em pacientes em muitos casos imunossuprimidos,
reforçando o importante papel que desempenha na dentista em associação com a área médica.
PALAVRAS-CHAVE: Lúpus Eritematoso Sistêmico, Implantes Dentários, Doenças
Periodontais.

INTRODUÇÃO

O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença autoimune com várias


manifestações clínicas, que afeta a pele, articulações, pulmões, sistema nervoso central, pleura,
pericárdio, rins (ALBILIA et al., 2007; BENLI et al., 2021; GRAVES; CORRÊA; SILVA,

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2019; KAUL et al., 2016) e também membranas mucosas (ALBILIA et al., 2007; CHI et al.,
2012); pode ocorrer em qualquer idade (GORDON et al., 2016), sendo mais prevalente em
mulheres em fase reprodutiva (ALBILIA et al., 2007; GORDON et al., 2016; KAUL et al.,
2016), frequentemente diagnosticada após os 40 anos (GORDON et al., 2016; KAUL et al.,
2016).

A prevalência mundial é de 12 a 50 por 100.000 pessoas de acordo com sua origem e


grupos étnicos(ALBILIA et al., 2007), em 2012 no Reino Unido houve uma incidência de 1
por 1.000 habitantes, 8,3 por 100.000 por ano em mulheres, 31,4 por 100.000 por ano em
mulheres afro-caribenhas, 6,7 por 100.000 por ano em europeus brancos (GORDON et al.,
2016); o diagnóstico desta doença é um desafio, a idade média do descoberto foi de 48 anos
(GORDON et al., 2016; KAUL et al., 2016).

Existe o risco de morte prematura por infecção e doença cardiovascular, com uma média
de 7,5 anos entre o desenvolvimento da doença e a morte do paciente (GORDON et al., 2016),
apesar disso a taxa de mortalidade e o efeito tóxico dos medicamentos diminuíram (KAUL et
al., 2016). As manifestações clínicas são fadiga, mal-estar, artralgia, mialgia, lesões
mucocutâneas além de sintomas musculoesqueléticos (ALBILIA et al., 2007).

Em relação ao estado de saúde bucal, observou-se que os pacientes com LES têm maior
risco de desenvolver doença periodontal, como gengivite descamativa e gengivite marginal
(ALBILIA et al., 2007), bem como doenças periodontais destrutivas (GRAVES; CORRÊA;
SILVA, 2019) e distúrbios temporomandibulares articular (BENLI et al., 2021), também foi
observado por Chi et al. que esses pacientes expõem ulceras orais (ANGELA C. CHI et al.,
2010).

Devido às características descritas de susceptibilidade à saúde bucal, presume-se que


pacientes com LES possam apresentar maior prevalência de perda dentária (BENLI et al.,
2021), sendo necessária a realização de próteses dentárias para poder reabilitá-las, a isto se
acrescenta a predisposição para formação de úlceras mucosas, portanto, a reabilitação com
implantes dentários seria uma opção para esses pacientes.

Por isso o objetivo deste capítulo é descrever a reabilitação oral com implantes dentários
em pacientes com LES, abordando primeiro as características orais nestes pacientes, a segunda
parte descreverá o grau de sucesso ou fracasso da reabilitação com implantes em pacientes
com LES. Por fim, serão descritas as recomendações que devem ser seguidas ao realizar
procedimentos de reabilitação com implantes dentários.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 17


CARACTERÍSTICAS ORAIS DO LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO

Pacientes com LES são caracterizados por uma alta contagem de bactérias cariogênicas,
como Streptococcus Sobrinus e Streptococcus Mutans, na placa supragengival. Associado
a uma prevalência de 100% de cárie em pacientes com LES ativo (GRAVES; CORRÊA;
SILVA, 2019); um estudo na Índia relatou uma prevalência de 87% de cárie em pacientes
com LES (GUALTIEROTTI et al., 2018); além de uma maior predisposição para desenvolver
doença periodontal (BENLI et al., 2021), essa enfermidade ocorreu 1,76 vezes mais em
proporção, associado as alterações nos níveis de inflamação e as elevadas quantidades de
citocinas e bactérias relacionadas coma doença periodontal como a Prevotella oulorum , P.
Nigrescens, P. Oris, Streptococcus noxia, leptotrichia mesmo em áreas periodontalmente
saudáveis (GRAVES; CORRÊA; SILVA, 2019); além de mencionar que pacientes com LES.

Da mesma forma, níveis elevados de lactobacilos e candida albicans foram encontrados


na cavidade oral, deve-se ressaltar que pacientes com LES apresentam diversidade microbiana
reduzida e maior proporção de bactérias patogênicas (GRAVES; CORRÊA; SILVA, 2019).
Assim, quando há maior presença de bactérias patogênicas, observou-se que ela está
correlacionada com o agravamento da inflamação sistêmica (GRAVES; CORRÊA; SILVA,
2019).

Outra característica importante é que as infecções orais podem progredir muito


rapidamente nesses pacientes (ALBILIA et al., 2007); Além disso, quando há aumento da
inflamação, promove o crescimento de bactérias anaeróbias (GRAVES; CORRÊA; SILVA,
2019). Deve ser mencionado que os pacientes com LES apresentam Lúpus Oral que é
assintomático em 25% dos pacientes, este se apresenta como uma área delimitada de eritema
ou erosão de pápulas brancas circundadas por estrias ceráticas na periferia com Telangiectasia
(GRAVES; CORRÊA; SILVA, 2019; MAYS; SARMADI; MOUTSOPOULOS, 2012).

Deve-se notar que o lúpus oral foi mais comumente encontrado no palato duro, mucosa
labial, mucosa bucal, gengivas e borda alveolar (ANGELA C. CHI et al., 2010). Essas lesões
se assemelham ao líquen plano ou leucoplasia; quando essas lesões são crônicas, correm o risco
de se transformarem em carcinoma espinocelular (MAYS; SARMADI; MOUTSOPOULOS,
2012).

No entanto, pacientes com LES têm uma prevalência de 50% de apresentar úlceras
aftosas orais ao longo da vida (GUALTIEROTTI et al., 2018). Um estudo na Índia mostrou que

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 18


há uma prevalência de 86% de lesões apresentando na mucosa oral (NESA AURLENE et al.,
2021).

Em suma, podemos considerar os pacientes com LES mais vulneráveis e com maior
probabilidade de desenvolver doenças bucais em comparação com a população saudável(NESA
AURLENE et al., 2021).

REABILITAÇÃO IMPLANTOSUPORTADA EM PACIENTES COM LÚPUS


ERITEMATOSO SITÉMICO

Como consequência das lesões orais que podem ser causadas durante o uso de próteses
dentárias (BENLI et al., 2021), a reabilitação com implantes dentários tornou-se a melhor opção
para pacientes com Lupus eritematoso sistémico. No entanto, existem vários aspectos que
devemos mencionar.

Em primeiro lugar, devemos mencionar que os pacientes com LES apresentam alto
risco de hipersensibilidade ao metal, conhecida como alergia, tipo IV, aqui estão metais como:
níquel, ouro, mercúrio, cromo, paládio, titânio (BENLI et al., 2021). De acordo com Allaudin
Siddiqi, et al. indicaram que o titânio pode gerar hipersensibilidade em pacientes suscetíveis,
fato que poderia estar relacionado à provável falha do implante.

Por outro lado, foi demonstrado que não há contra-indicação para o tratamento com
implantes em pacientes com LES, e a taxa de sobrevida é semelhante à de pacientes saudáveis
(ZYSSET et al., 1987). No entanto, o LES pode ter influência na qualidade da estrutura óssea,
porém, segundo uma revisão sistemática, foi demonstrado que existe uma taxa de sobrevida de
100% após a reabilitação com implantes (BENLI et al., 2021).

Nessa perspectiva, pacientes com lúpus podem apresentar casos graves de reabsorção e
alteração do desenvolvimento ósseo, devido aos tratamentos farmacológicos prolongados,
principalmente quando diagnosticado na fase de crescimento, conforme relatado por Drew et
al. onde o paciente sofreu atrofias graves, o que levou a tratamentos de formação de estrutura
óssea, além de procedimentos de alta complexidade, com resultados safiscatórios favoráveis
(ALEXANDER S. DREW et al., 2018).

Em conclusão, com base na literatura de estudos relatados, podemos observar que o


tratamento com implantes dentários é viável, tem resultados muito favoráveis principalmente
em pacientes controlados, e procedimentos de alta complexidade podem ser realizados.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 19


REABILITAÇÃO COM APOIO DE IMPLANTE EM PACIENTES COM LÚPUS
ERITEMATOSO SITÉMICO

Pacientes com Lúpus eritematoso sitémico têm um risco de 50% de desenvolver dano
endotelial, portanto, endocardite bacteriana pode ocorrer em 1-4% desses pacientes, porém, o
grau de risco desses pacientes desenvolverem a doença não pode ser determinado com
precisão. Endocardite, por isso é essencial utilizar antibioticoprofilaxia em 100% dos pacientes
com LES, que serão submetidos a procedimentos odontológicos associados à bacteremia
(ZYSSET et al., 1987).

Outro ponto importante em relação aos pacientes com LES refere-se ao fato de esses
pacientes serem mais frequentes em desenvolver acidente vascular cerebral (AVC), uma vez
que o anticoagulante lupídico aumenta o risco de AVC e trombose de seio nasal(HANLY et
al., 2019), recomenda-se que para planejar este tipo de tratamento requer um laudo completo
do médico responsável pelo paciente para evitar complicações.

Alem disso a relação entre doença periodontal (DP) e Lúpus eritematoso sistémico,
observou-se que quando o paciente com doença periodontal não recebe tratamento, as doenças
reumáticas podem se agravar, isso foi confirmado em estudo realizado por Fabri et al., onde
foi observado como os pacientes que receberam tratamento da doença periodontal tiveram
melhora do Lupus eritematoso sistémico com redução da taxa de sangramento em relação ao
grupo de pacientes que não recebeu nenhum tratamento onde a taxa de sangramento
permaneceu a mesma (FABBRI et al., 2014).

Da mesma forma, nota-se que a doença periodontal em pacientes com LES provoca
destruição do aparelho de inserção periodontal, além da perda da estrutura óssea, sendo esta
mais grave do que em pacientes saudáveis, há até evidências que sugerem que haja uma
predisposição genética ( polimorfismo compartilhado) entre LES e doença periodontal
(CALDERARO et al., 2016); Vale ressaltar que pacientes com LES apresentam maior risco
de apresentar periodontite (GRAVES; CORRÊA; SILVA, 2019), por isso é fundamental o
controle periódico da placa bacteriana, com a finalidade de reduzir o risco de peri-implantite.

Outro fator a se considerar sobre o estado emocional dos pacientes com LES, observa-
se que esses as pessoas com LES sofrem altos níveis de estresse, por isso é recomendado o
fornecimento de talas, para proteção de eventos como bruxima por exemplo (BENLI et al.,
2021), uma vez que estes podem causar insucesso do tratamento com implantes dentarios.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 20


Em relação às complicações decorrentes do tratamento farmacológico do LES,
observou-se que pacientes jovens, em decorrência do consumo de glicocorticoides por períodos
prolongados, e imunomoduladores, podem sofrer alterações ósseas como atrofias de mandíbula
(ALEXANDER S. DREW et al., 2018), esta situação clínica pode requerer tratamentos
complexos que devem ser devidamente planificados.

Ou seja, pacientes com LES, que usaram imunossupressores, têm maior risco de sofrer
infecções e retardar o processo de cicatrização, além da redução do fluxo salivar que dificulta
a manutenção de próteses fixas e removíveis convencionais, por isso. recomenda-se que os
implantes dentários sejam considerados a primeira opção para o tratamento reabilitador em
pacientes com LES (F-P STRIETZEL et al., 2019).

DISCUSÃO

O lúpus eritematoso sistêmico é uma doença autoimune caracterizada por vários


sintomas como: febre, artralgia, anemia, fotossensibilidade, erupção malar e úlceras orais
(POWERS, 2008), Menzies et al. Realizo um estudo em pacientes com lúpus, mostrando que o
LES representava 26% de todos os diferentes tipos de lúpus, além disso, 50% dos pacientes
apresentavam lesões orais e 26% apresentavam exame oral normal (CHI et al., 2012). Pode-se
presumir que as próteses removíveis podem ter maiores complicações nesses pacientes.

Assim, Graves et al. mostraram que pacientes com LES apresentam maior quantidade
de bactérias cariogênicas e bactérias associadas à doença periodontal do que indivíduos
saudáveis(GRAVES; CORRÊA; SILVA, 2019). Por outro lado, Merve et al. relataram que
100% dos pacientes com lúpus na fase ativa apresentavam índice de cárie, associado à
predisposição à doença periodontal(BENLI et al., 2021). Por esse motivo, a perda dentária
nesses pacientes é maior, consequentemente, a reabilitação da prótese torna-se um tipo de
tratamento frequente.

Por outro lado, um aspecto fundamental em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico
é a terapia farmacológica, Gatto et al., referem que a terapia farmacológica deve ser
administrada de forma otimizada, visto que esses pacientes utilizam um arsenal de
medicamentos, por isso é necessário prescrever criteriosamente de forma que os efeitos
adversos dos medicamentos sejam reduzidos para evitar o agravamento da doença por eles
decorrente, além do agravamento da própria doença (GATTO et al., 2019). Os glicocorticóides
são fármacos amplamente utilizados no tratamento de pacientes com lúpus, por serem bastante

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 21


eficazes, porém, pode haver resistência a esse fármaco (GAO et al., 2018). Para cirurgia de
implante, os corticosteroides geralmente são usados rotineiramente.

Um relato de caso clínico relatado por Drew et al. demonstraram que foi possível
realizar com sucesso uma reabilitação complexa com implantes em um paciente com consumo
prolongado de glicocorticoide, que durante o procedimento já havia suspendido o uso de
corticoide(ALEXANDER S. DREW et al., 2018). Em vários estudos observaram-se que o
diagnóstico de lúpus eritematoso ocorre em pessoas com mais de 40 anos (ALBILIA et al.,
2007), 48 anos (GORDON et al., 2016), principalmente em mulheres. Nesse aspecto, destaca-
se a importância do diagnóstico precoce e oportuno para início do tratamento (GIAN D
SEBASTIANI et al., 2016) e, dessa forma, reduz-se o risco de morte por complicações de longo
prazo (GATTO et al., 2019), prolongando a expectativa de vida por períodos mais longos.

Por fim, pacientes com lúpus eritematoso sistêmico são suscetíveis a várias
complicações e eventos, como o descrito por Tiao et al. Onde relato o caso clínico de um
paciente de 60 anos, que apresentou eventos de fotossensibilidade à luz durante o tratamento
odontológico, esse paciente já havia relatado esse tipo de fotossensibilidade 30 anos antes à luz
solar, quando foi diagnosticado com lúpus (TIAO; WERTH, 2015). Portanto, considera-se
importante relatar adequadamente todas as eventualidades nesse tipo de paciente, uma vez que
estão sujeitos a diversos tipos de problemas de saúde.

CONCLUSÕES

Podemos concluir afirmando que o lúpus eritematoso é uma doença que apresenta
complicações na mucosa oral; Além disso, há mais número de microrganismos da microbiota
bucal que levam à perda dentária, por isso a reabilitação com implantes dentários é a melhor
opção de tratamento com sucesso favorável mesmo em circunstâncias de maior complexidade.

Também podemos considerar importante a realização de terapia de suporte peri-


implantar para evitar a peri-implantite, uma vez que a doença periodontal é bastante propensa
nesses pacientes.

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CAPÍTULO 2
ESTRESSE E ANSIEDADE NO ENSINO SUPERIOR: CONSTRUÇÃO E
VALIDAÇÃO DE CARTILHA EDUCATIVA

Francisca Alana de Lima Santos, Mestranda em Ensino em Saúde e Docente do Centro


Universitário Doutor Leão Sampaio, Unileão
Ivo Cavalcante Pita Neto, Doutor em Ciências da Saúde, FMABC, e Docente do Centro
Universitário Doutor Leão Sampaio, Unileão

RESUMO

O estresse e a ansiedade no ensino superior são de conhecimento da comunidade científica e


amplamente debatidos, sabendo-se que afetam não apenas o desenvolvimento educacional, mas
também a qualidade de vida, saúde e interações com a sociedade, podendo refletir sobre a saúde
mental dos acadêmicos, funcionando como estimulantes ou bloqueadores para um bom
desempenho. Nesse contexto, essa pesquisa objetivou apresentar o desenvolvimento,
construção e validação de uma cartilha digital sobre estresse e ansiedade voltada para
acadêmicos do Ensino Superior. Caracterizou-se como um estudo metodológico coma criação
de uma cartilha digital, desenvolvida em quatro etapas: estudo transversal sobre estresse e
ansiedade; seleção das informações mais relevantes para inclusão no produto; seleção dos juízes
para validação do conteúdo proposto; realização das correções propostas pelos juízes e
validação do conteúdo. Os conteúdos propostos foram validados e observados como
enriquecedores ao acadêmico do Ensino Superior, podendo ser uma ferramenta de aprendizado
e otimização de processos. Esse estudo reforça a necessidade do cuidado com a saúde mental
dos estudantes assim como ressalta a importância do desenvolvimento de estratégias como um
produto educacional para redução de fatores que possam vir a prejudicar ou impedir a formação
profissional dos indivíduos.
PALAVRAS-CHAVE: Estresse. Ansiedade. Produto Educacional. Tecnologia Educativa.

INTRODUÇÃO

O estresse e a ansiedade no ensino superior são de conhecimento da comunidade


científica e amplamente debatidos, sabendo-se que afetam não apenas o desenvolvimento
educacional, mas também a qualidade de vida, saúde e interações com a sociedade, podendo
refletir sobre a saúde mental dos acadêmicos, funcionando como estimulantes ou bloqueadores
para um bom desempenho (BAYRAM; BINGEL, 2008; SANTOS, 2021).

Nesse contexto, o docente, ao perceber a situação que perpassa o ambiente educacional,


pode ter a oportunidade de transformá-la em aprendizado, auxilia de forma ativa na criação de
estratégias que melhorem a saúde mental dos alunos e contribuindo na formação dos indivíduos.

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Uma dessas estratégias é a criação de um Produto Educacional (PE) para auxílio dos
acadêmicos do Ensino Superior.

O construto dessa pesquisa resultou na produção de uma cartilha digital como produto
educacional (PE) ou tecnologia educativa (TE), abordando aspectos sobre ansiedade e estresse
entre acadêmicos. Um instrumento que pode contribuir com a promoção de qualidade de vida
e, para um desempenho significativo dos acadêmicos.

De acordo com Penteado e Garrido (2010), abordar as questões da realidade envolvida


no ambiente de trabalho do próprio pesquisador, constitui-se como base para construção de um
conhecimento válido. Portanto, aponta se importante a criação de projetos e produtos voltados
para os problemas percebidos pela pesquisadora e que são vistos para ela como empecilhos
nesse processo de ensino-aprendizagem, além de serem embasados na sua vivência, também
consideram o que a literatura pertinente descreve a esse respeito, uma vez que tal experiência
contribui para o aprimoramento educacional do acadêmico e fortalece o desenvolvimento
profissional do docente (ZAIDAN; REIS e KAWASAKI, 2020).

Assim sendo, a construção de material educativo digital perpassa as ideias de Rodrigues,


Moura e Testa (2011) em que o docente deve ter compromisso com as transformações de um
novo tempo e que, as mudanças de estratégias de ensino e aprendizagem podem fazer analisar
e replanejar a prática docente e as relações em sala de aula (BACICH, 2016).

Essa pesquisa objetiva apresentar o desenvolvimento, construção e validação de uma


cartilha digital sobre estresse e ansiedade voltada para acadêmicos do Ensino Superior.

METODOLOGIA

A criação do produto desta pesquisa pautou-se nas considerações de Polit e Beck (2011)
em que, o uso de informações já existentes promove a criação, validação e avaliação de
instrumentos, caracterizando-se como um estudo metodológico na criação de uma cartilha
digital, desenvolvida em quatro etapas, de acordo com o Figura 1.

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Figura 1 – Etapas de Construção e Validação do Produto Educacional

Etapa 1 - Pesquisa de condição epidemiológica


Etapa 2 - Elaboração do Manual Informativo
Nessa etapa houve a
realização de estudo Etapa 3 - Validação do Manual
prévio sobre as Seleção de
variáves analisadas informações a serem Seleção e Avaliação Etapa 4 - Finalização
(ansiedade e abordadas no
produto. dos Juízes;
estresse). Determinação de Execução das
correções a serem correções propostas
desenvolvidas. pelos juízes e
encaminhamento
para divulção
midiática.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2021.

Na etapa 1 foi realizado um estudo transversal, de caráter epidemiológico, em que se


observou a presença de ansiedade e/ou estresse entre os acadêmicos de Odontologia, através de
formulário pelo Google Forms, com a aplicação de instrumentos como uma ficha de
identificação do participante para coleta de dados referentes a sexo, idade, cor, exerce atividade
remunerada, religião, realização de terapia comportamental e, consumo de drogas lícitas
terapêuticas, forma de financiamento estudantil e horas de dedicação ao estudo nos períodos.

Também foi utilizado para esta fase da pesquisa, uma forma adaptada do Inventário
Beck de Avaliação da Ansiedade (BAI) criado por Beck e Steer (1988) e adaptado por Cunha
(2001), sendo composto por 21 itens, dentre os quais investiga a auto-percepção dos sintomas
de ansiedade. Em seguida foi solicitada a Percepção de Estresse e Demais Sensações antes,
durante e após avaliações.

Em sequência, na segunda etapa, foram selecionadas as informações mais relevantes


para incluir no produto, assim como a determinação de layouts, aparência geral, programa de
criação e formas de divulgação deste.

Na terceira etapa foi realizada a seleção dos juízes para validação do conteúdo proposto.
Para tal foi adotado a seleção por conveniência de 9 juízes, seguindo o método adotado por
Bezerra e colaboradores (2019), desde que este alcançasse uma pontuação mínima de 6 pontos
no quadro de classificação (Quadro 1).

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Quadro 1 – Critério de Classificação dos Juízes
CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO DOS JUÍZES PONTOS
Ser Doutor 3 Pontos
Ser Mestre 2 Pontos
Ser Especialista 1 Ponto
Docente universitário 2 Pontos
Possuir formação específica ou continuada em mídias digitais 2 Pontos
Possuir artigo publicado em periódico indexado sobre a área de interesse 2 Pontos
Possuir prática profissional (Ensino e/ ou pesquisa) recente, de no mínimo, 5 anos 2 Pontos
na temática
PONTUAÇÃO FINAL
Fonte: Adaptado por Bezerra et al (2019)
A cada juiz foi entregue um questionário desenvolvido por Oliveira (2006) (Tabela 1),
em que se busca avaliar objetivo, estrutura e apresentação e relevância do produto através de
escala Likert com grau 0 para não se aplica; 1 para inadequado; 2 para parcialmente adequado;
3 para adequado e, 4 para totalmente adequado (LIKERT, 1932).

Tabela 1 –Descrição dos objetivos, estrutura, apresentação e relevância na etapa de avaliação do produto.
OBJETIVOS Pontuação
São coerentes com as necessidades dos professores na sua atuação profissional? (0) (1) (2) (3) (4)

Promove incentivo para modificar mudança de hábitos no planejamento das aulas? (0) (1) (2) (3) (4)
Pode circular no meio científico na área de uso de tecnologias educativas? (0) (1) (2) (3) (4)
ESTRUTURA E APRESENTAÇÃO Pontuação

O material educativo é apropriado para orientação dos professores? (0) (1) (2) (3) (4)
As mensagens estão apresentadas de maneira clara e objetiva. (0) (1) (2) (3) (4)
As informações apresentadas estão cientificamente corretas (0) (1) (2) (3) (4)

Há uma sequência lógica do conteúdo proposto. (0) (1) (2) (3) (4)
O material está adequado ao nível sociocultural do público-alvo proposto (0) (1) (2) (3) (4)
As informações são bem estruturadas em concordância e ortografia (0) (1) (2) (3) (4)

O estilo de redação corresponde ao nível de conhecimento do público-alvo (0) (1) (2) (3) (4)
As informações da apresentação são coerentes (0) (1) (2) (3) (4)
As ilustrações são expressivas e suficientes (0) (1) (2) (3) (4)
O número de páginas está adequado (0) (1) (2) (3) (4)
O tamanho do título e dos tópicos está adequado (0) (1) (2) (3) (4)
RELEVÂNCIA Pontuação
Os temas retratam os aspectos chave que devem ser reforçados (0) (1) (2) (3) (4)

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O material propõe conhecimentos a que se propõe? (0) (1) (2) (3) (4)

O material aborda os assuntos necessários para atuação docente? (0) (1) (2) (3) (4)
Está adequado para ser utilizado por qualquer profissional da área da educação em suas (0) (1) (2) (3) (4)
atividades educativas
Fonte: Adaptado de Oliveira (2006)
Após a recepção das avaliações realizadas pelos juízes, os dados foram tabulados no
software Microsoft Excel 360, para mensuração de cálculos descritivos de média e desvio
padrão, assim como a elaboração de tabelas para melhor elucidar os resultados e seguir para
finalização da etapa 4.

Para análise dos resultados, foi utilizado o Índice de Validação de Conteúdo (IVC) que,
de acordo com Alexandre e Coluci (2011) tem como função mensurar a proporção de
concordância entre os juízes sobre os pontos abordados no instrumento avaliado, no qual
calcula-se o somatório de itens correspondentes à pontuação (3) e (4) determinado pelos juízes
avaliadores, dividido pelo total de respostas, como mostra a figura 2. Tomando por referência
os estudos de Polit e Beck (2011), foi considerado o IVC de 0,80 para validação do conteúdo.
Em seguida, foi deixado o espaço aberto para sugestões e correções por parte dos juízes.

Figura 2 – Fórmula de obtenção do Índice de Validação de Conteúdo (IVC)

Fonte: Alexandre e Colici (2011)

RESULTADOS E DISSCUSÕES

Após a avaliação do produto em questão pelos juízes, estes apontaram conceitos que
determinaram sua adequação completa em quesitos individualmente como “Pode circular no
meio científico na área de uso de tecnologias educativas?”; “As informações apresentadas estão
cientificamente corretas”; “Os temas retratam os aspectos chave que devem ser reforçados”;
entre outros.

Contudo, como é possível observar na Tabela 2, itens como “Promove incentivo para
modificar mudança de hábitos no planejamento das aulas?”; “As ilustrações são expressivas e
suficientes”; e “Está adequado para ser utilizado por qualquer profissional da área da educação
em suas atividades educativas” não atingem o IVC necessário para sua aprovação.

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Tabela 2 - Descrição dos objetivos e relevância na etapa de avaliação da Cartilha Digital.
OBJETIVOS IVC
São coerentes com as necessidades dos professores na sua atuação profissional? 0,89
Promove incentivo para modificar mudança de hábitos no planejamento das aulas? 0,78
Pode circular no meio científico na área de uso de tecnologias educativas? 1,00
ESTRUTURA E APRESENTAÇÃO IVC
O material educativo é apropriado para orientação dos professores? 0,89
As mensagens estão apresentadas de maneira clara e objetiva. 1,00
As informações apresentadas estão cientificamente corretas 1,00
Há uma sequência lógica do conteúdo proposto. 0,89
O material está adequado ao nível sociocultural do público-alvo proposto 0,89
As informações são bem estruturadas em concordância e ortografia 0,89
O estilo de redação corresponde ao nível de conhecimento do público-alvo 1,00
As informações da apresentação são coerentes 1,00
As ilustrações são expressivas e suficientes 0,78
O número de páginas está adequado 0,89
O tamanho do título e dos tópicos está adequado 1,00
RELEVÂNCIA IVC
Os temas retratam os aspectos chave que devem ser reforçados 1,00
O material propõe conhecimentos a que se propõe? 1,00
O material aborda os assuntos necessários para atuação docente? 0,89
Está adequado para ser utilizado por qualquer profissional da área da educação em suas atividades
educativas 0,78
Fonte: Dados da Pesquisa, 2021.
Quanto ao incentivo à mudança de hábitos no planejamento de aula, é preciso apontar
que o produto em questão se destina aos discentes. No entanto, um professor comprometido e
atento a mudanças pode encontrar na leitura da cartilha, fomento para possíveis mudanças em
seu lecionar que podem auxiliar os acadêmicos em sua formação através de estratégias que
modifiquem os aspectos que levem ao incremento de estresse e ansiedade pois, segundo
Rondini, Pedro e Duarte (2020), a realidade atual traz um contexto diferente à docência,
exigindo do educador posturas e atitudes inclusivas e norteadoras que permitam a troca de
saberes, interação e socialização, visto o contexto ao qual o aluno está inserido.

Em se tratando das ilustrações da cartilha, elas retratam de forma objetiva e jovial os


aspectos chave da proposta: ansiedade e estresse em acadêmicos. Optou-se pela suavidade das
ilustrações e a intensificação das cores para destacar as informações nela contidas atingindo o
público ao qual ela se destina. As estratégias educativas utilizadas devem otimizar a edificação
de conhecimentos aos que se destinam, considerando os objetivos e conteúdos a que se propõe
(FONSECA et al., 2011). E ainda, Moreira e colaboradores (2016) apontam que um produto ou

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tecnologia educacional deve se objetivo e claro estimulando o público ao qual ela se propõe, a
autonomia de pô-lo em prática.

Quanto à adequação a qualquer profissional da educação, nota-se ainda uma limitação


do instrumento utilizado para avaliação deste produto, uma vez que este se volta para estudantes
e não docentes. Talvez, a adaptação do instrumento utilizado poderia trazer resultados mais
promissores na avaliação da adequação desse item.

Quando avaliados os quesitos de forma geral pelos juízes, obteve-se adequação


completa em todos eles, obtendo maior IVC aquele relacionado à estrutura e apresentação do
produto (IVC: 0,93), seguido da relevância de tal (IVC:0,92), como pode ser observado na
Tabela 3.

Tabela 3 - Média da proporção dos itens avaliados pelos juízes IVC


QUESITO IVC
Objetivos 0,89
Estrutura e Apresentação 0,93
Relevância 0,92
Geral 0,92
Fonte: Dados da Pesquisa, 2021.
Um produto educacional (PE) ou tecnologia educativa (TE), para ser eficiente em sua
função, deve proporcionar divulgação de conhecimento científico além de participar da
resolução de problemas da sociedade de forma ativa. O leitor ou público-alvo desta precisa
reconhecer-se na construção, tornando-se sujeito no processo e multiplicadores de
conhecimento para modificar a sua realidade (FONSECA et al., 2011).

À medida que avançamos em tecnologias que permitem informação constante, percebe-


se que nem sempre está direciona ou tem intenção educativa. Um PE precisa passar por um
processo de formação questionador, em que se analisa não só o público ao qual ele está
destinado, mas também o contexto que esse público está inserido, tanto social, cultural ou
emocionalmente para só então orientá-lo (SANTOS; MORAES, 2008).

Em se tratando das correções propostas à versão final, houve referência frequente à


necessidade de um adendo à cartilha proposta com observações pertinentes e direcionadas ao
docente, de forma que possa orientar a atuação junto ao aluno, contribuindo para sua saúde
mental durante sua formação. A proposta em questão será acatada em material produzido
futuramente.

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Na atualidade, é estimulado ao docente a capacidade de se reciclar e inovar em seus
conhecimentos e práticas, propondo-se sempre a aprender. Machado e Lima (2017) apontam
que o professor necessita assumir seu papel de mediador/facilitando o processo de ensino e
aprendizagem, atentando-se para as mudanças tecnológicas e informativas e, como estas
refletem na sua forma de lecionar, pois há a exigência constante de transformações nas formas
de estimular o saber, e o docente deve acompanhá-las.

Santos e Moraes (2008), complementam que o professor, independente de área de


atuação, necessita encarar os desafios aos quais é exposto para ganho de novos saberes. Ainda,
que o docente deve oferecer o acesso ao conhecimento armando-se de todos os recursos e
tecnologias de ensino que possam vir a contribuir com o aprendizado do educando.

Portanto, pensar como esse PE pode contribuir para a atuação do docente frente à
momentos de estresse e ansiedade dos seus educandos, perpassa pela capacidade do docente se
reconhecer como uma das partes desse processo, se permitindo modificar atitudes e postura
diante a construção de um novo profissional para melhores ganhos de ambos e concretização
de seu papel como facilitador do conhecimento.

Outra proposta oferecida pelos avaliadores foi o acréscimo de dicas de como aliviar o
estresse e a ansiedade com medidas simples como a prática de exercício, meditação e estudo
prévio. Esta foi acatada e destacada em páginas da cartilha, para que se tivesse ideia da
importância dessas ações para redução dos sintomas.

A realização de atividade física e práticas corporais e sua contribuição para redução da


ansiedade, por exemplo, já foi evidenciada em estudos como o de Chu e colaboradores (2014),
que evidenciam que exercícios resistidos, ioga, dança e exercícios aeróbicos, podem reduzir
sintomas de ansiedade, sendo estes maiores quando não há prática alguma (KHANZADA;
SOOMRO e KHAN, 2015).

Quanto ao estudo prévio, em estudos realizado por Oliveira e colaboradores (2020) e


Silva e colaboradores (2015) ambos apontam para o atitudinal do aluno como instrumento
modificador da boa formação através de ações como comparecer e participar das aulas e
atividades extraclasse e dedicação aos estudos, pode trazer tranquilidade e melhores resultados
ao estudante.

Portanto, faz-se importante a natureza da cartilha proposta e o público ao qual ela foi
direcionada e, ainda, permanece a intenção constante de aprimoramento desta para auxílio dos
acadêmicos em processo de formação, juntamente com sua saúde mental.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 32


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo evidenciou a importância do desenvolvimento de um PE para assistência e


auxílio de acadêmicos do ensino superior para minimizar os efeitos do estresse e ansiedade em
avaliações, reforçando a necessidade do cuidado com a saúde mental dos estudantes assim
como com a redução de fatores que possam vir a prejudicar ou impedir a formação profissional
dos indivíduos.

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Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 34


CAPÍTULO 3
SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE SAÚDE DE UM HOSPITAL
PÚBLICO

Mussa Abacar, Doutor em Psicologia Cognitiva, UFPE, Professor de Psicologia, UR


Gildo Aliante, Doutorando em Psicologia Social e Institucional, UFRGS, Bolsista de CAPES
Osvaldo Francisco Coquela, Licenciado em Psicologia Social e das Organizações, UP,
Técnico de Instrumentação do Hospital Central de Nampula – Moçambique

RESUMO
O objetivo deste estudo foi de avaliar a incidência da Síndrome de Burnout em profissionais de
saúde de um hospital público de nível quaternário da região norte de Moçambique, verificando
possíveis associações com os dados sociodemográficos e laborais. Participaram da pesquisa
150 profissionais de saúde, predominantemente do sexo feminino 92(61,3%) e na faixa etária
entre 25 a 52 anos, que responderam a um questionário de dados sociodemográficos e laborais
e, o Maslach Burnout Inventory – Human Services Survey, versão em português. Os resultados
da análise estatística realizada através do programa estatístico Statistical Packege for the Social
Sciences indicaram que 130(86,6%) profissionais investigados apresentaram níveis altos em
Despersonalização (DP), 108 (72%) em Exaustão Emocional (EE) e 65(43,4%) sinalizaram
baixos índices em Realização Profissional. Em termos globais, 36(24%) revelaram a Síndrome
de Burnout, e apenas a variável nível de formação mostrou-se estatisticamente correlacionada
com as dimensões de EE e DP, sendo que os participantes com nível básico os de maior risco
à doença. É sugerido o delineamento e implementação de programas de atenção a saúde mental
destes profissionais.
PALAVRAS-CHAVE: Enfermeiros; Técnicos de saúde;Sofrimento psíquico;Burnout; Saúde
ocupacional.

INTRODUÇÃO

A saúde do trabalhador está cada vez mais dependente da influência das condições de
trabalho. Assim, a promoção da qualidade de vida no trabalho constitui um desafio para os
profissionais, gestores elíderes das organizações e equipes na atualidade, sendo este um
importante desafio para a realização de um atendimento e assistência aos “clientes” com
excelência (SANTOS et al., 2020). Os profissionais de saúde são por inúmeras vezes expostos
aos diversos estressores psicossociais, decorrente do contato cotidiano com pessoas debilitadas
ou doentes, lidar com tensas relações interpessoais e hierárquicas nas instituições de saúde,
além de suportarem jornada em turnos e os plantões que também contribuem para a sobrecarga
cognitiva e emocional (FERREIRA; LUCCA, 2015) e que leva à exaustão, depressão e outros
problemas de saúde física e mental.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 35


Profissionais de saúde (por exemplo: enfermeiros, técnicos de saúde), comumente, se
deparam com a falta de preparação para enfrentar suas demandas emocionais e a dos pacientes
acometidos por diferentes problemas de saúde e suas famílias. Esses profissionais têm um grau
de interação maior, mais direto e contínuo com o paciente (SANTOS et al., 2020). E geralmente
permanecem mais tempo na organização, enfrentando diariamente com a dor, o sofrimento
alheio e a morte, sem nenhum suporte, expostos a cargas psíquicas que, somadas às outras
condições ruins de trabalho podem ocasionar um sofrimento mental importante, com sintomas
de esgotamento físico e mental (FERREIRA; LUCCA, 2015).

Em Moçambique, os profissionais de saúde se deparam com certas dificuldades como


falta de material, conflitos interpessoais, limitadas oportunidades de desenvolvimento na
carreira,sobrecarga, falta de valorização, baixos salários, bem como lidar com enfermidades e
pacientes em estado grave até a morte (ABACAR; ALIANTE; DINIZ, 2021), o que aumenta a
sua vulnerabilidade ao desenvolvimento do sofrimento psíquico. Ora, um problema
extremamente grave para a saúde desses profissionais é a Síndrome de Burnout (SB).

A SB pode ser definida como um fenômeno psicossocial que ocorre como uma resposta
crônica aos estressores interpessoais ocorridos no ambiente de trabalho (MASLACH;
JACKSON, 1981; MASLACH; LEITER, 1999, 2016). O modelo proposto por esses autores
apresenta três dimensões básicas da síndrome: i) Exaustão Emocional: é a dimensão central da
SB, caracterizada pelo sentimento de carência em recursos emocionais e geralmente
relacionado à sobrecarga de trabalho; ii) Despersonalização: dimensão na qual o trabalhador
desenvolve sentimentos negativos em relação às pessoas com as quais trabalha, acarretando em
atitudes coerentes com estes sentimentos tais como indiferença e cinismo; eiii) Baixa
Realização Pessoal: identificada pela avaliação negativa no trabalho afetando o auto-conceito,
auto-estima e relacionamentos pessoais do sujeito.

São múltiplos os fatores que podem influenciar o desenvolvimento da SB. Os principais


antecedentes organizacionais são a carga de trabalho, controle, recompensa, comunidade ou
união, justiça evalores (MASLACH; LEITER, 1999). Para estes autores, a SB surge da
compatibilidade crônica entre o ambiente de trabalho e a pessoa (i.e. trabalhador), em termos
de algumas ou de todas as áreas ou domínios mencionados.

O quadro de manifestações da SB é bastante variado. Como descrito por Abreu (2017),


a SB apresenta quatro classes sintomatológicas: físicas (fadiga constante, alterações do sono,
distúrbios gastrointestinais, perda de peso, distúrbios cardiovasculares, respiratórios e dores

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 36


musculares e/ou músculo esqueléticas); psíquicas (outros sintomas são a falta de atenção,
alterações de memória, ansiedade, impaciência, mudanças repentinas de humor, desconfiança
e frustração); comportamentais (agressão, irritabilidade, negligência no trabalho, incapacidade
de relaxar, relacionamentos afetados devido ao desapego e a indiferença) e; defensivos
(isolamento, onipotência, atitude irônica e cínica). Os sintomas típicos são a sensação de
esgotamento físico e emocional que se retrata em atitudes negativas, como ausências no
trabalho, isolamento social, mudanças bruscas de humor, irritabilidade, agressividade,
dificuldade de concentração, lapsos de memória, ansiedade, depressão, pessimismo, baixa auto-
estima.

Além das consequências de natureza individual, uma variedade de prejuízos


organizacionais tem sido associada à ocorrência da SB, designadamente: a perda de entusiasmo
e vitalidade no trabalho; baixa moral no trabalho; perda de interesse no trabalho e na vida;
indiferença para com as pessoas ou eventos; obtenção frequente de licenças médicas;
desmotivação, sabotagem, atrasos e poucas horas de trabalho; falta de compromisso, de
criatividade e de inovação no trabalho; evitamento de contatos pessoais e profissionais; falta de
atenção; falta de críticas construtivas; dificuldades em lidar com conflitos e tomar decisões;
perda de flexibilidade ou de iniciativa; reforma antecipada, morbidade e mortalidade
(ABACAR, 2015).

Diversos estudos realizados em diferentes países têm mostrado que a exposição de


fatores psicossocias de risco faz com que os profissionais da saúde sejam mais propensos à SB.
Em Angola, o estudo de Icuma (2010) observou que dos 44 participantes, 27,3% dos indivíduos
apresentavam altos escores em Exaustão Emocional; 38,6% revelaram altos níveis de
Despersonalização e 25% assinalaram baixos níveis na dimensão de Realização Profissional.
Na Polônia, numa amostra de 534 profissionais de saúde (enfermeiros e anestesiologistas)
mostrou-se um alto nível da SB de 18,63% dos enfermeiros e 12,06% dos anestesiologistas, e
nível crítico em 3,74% dos enfermeiros e 5,90% dos anestesistas (MISIOLEK; GIL-MONTE;
MISIOLEK, 2017).

No Brasil, a pesquisa de Ferreira e Lucca (2015), indicou que a prevalência da SB entre


os profissionais de enfermagem (n=553) foi de 5,9%. Nesse estudo, 23,6% destes apresentaram
altas pontuações em Exaustão Emocional; 21,9% em Despersonalização e; 29,9% baixas
médias em Realização Profissional. Noutra investigação (CAMPOS et al., 2015), observou-se
uma alta prevalência da síndrome (47%) em uma amostra de 116 profissionais de saúde, e um

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 37


grande número de trabalhadores em risco de adoecimento (entre 41% a 49% da amostra,
dependendo da dimensão da SB).

Na Arábia Saudita, a investigação de Habadi et al. (2018) com amostra de 182


profissionais de saúde daquele país, revelou a prevalência da SB estimada em 9,34%. Nesse
estudo, 59,89% dos profissionais revelaram Exaustão Emocional. Por fim, destaca-se a
pesquisa realizada na África do Sul por Coetzee e Klyuts (2020) que avaliou a SB em 189
anestesistas do setor público e 309 do setor privado, os resultados indicaram a prevalência
36,5% e 14,2% respectivamente. Deste modo, os profissionais do setor público experimentaram
mais desgaste do que os do privado.

Verifica-se que a relevância da SB é cada vez mais reconhecida por pesquisadores que
tentam estudá-la na tentativa de melhor compreender seu conceito, suas causas e consequências
visando, com isso, lidar, conter e combater sua ocorrência (MASLACH; LEITER, 2016;
SCHAUFELI; LEITER; MASLACH, 2009). Apesar da SB ser reconhecida como um problema
epidêmico transcultural de âmbito mundial (GIL-MONTE, 2008), um fenômeno bastante
prejudicial à saúde e vida para os trabalhadores e para as organizações, pouco se tem feito em
termos de pesquisas e sensibilização a respeito do assunto em países africanos (AMIMO, 2012),
especialmente em Moçambique, de modo a consciencializar os gestores das instituições
hospitalares e os trabalhadores sobre os perigos da doença. Na verdade, a temática da SB é
ainda precariamente discutida no contexto moçambicano, o que justifica a extrema raridade de
estudos em profissionais de saúde.

A partir da revisão da literatura não foi possível encontrar qualquer pesquisa realizada
envolvendo esse grupo profissional, o que permite considerar este estudo como um dos
pioneiros da área. Com efeito, os resultados alcançados servem de evidências para promover
futuras pesquisas no sentido de identificar os fatores psicossociais de risco que estejam a
contribuir no sofrimento mental no trabalho, bem como auxiliar na compreensão do fenômeno
estudado, sublinhando a necessidade de implementação de ações preventivas ou interventivas
de saúde no ambiente de trabalho junto do público-alvo.

Considerando os aspectos mencionados, neste estudo avaliou-se a incidência da


Síndrome de Burnout em profissionais de saúde de um público de nível quaternário da região
norte de Moçambique, verificando possíveis associações com dados sociodemográficos e
laborais. Para o alcance deste objetivo foi levantada a seguinte questão central da pesquisa: qual

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 38


é o nível de incidência da Síndrome de Burnout e variáveis sociodemográficas e laborais
associadas nosprofissionais de saúde?

MÉTODO

Este estudo é de natureza transversal, descritivo, com abordagem quantitativa. Foi


realizado num hospital público quaternário da zona norte Moçambique, envolvendo uma
amostra não probabilística por acessibilidade de 150 profissionaisde saúde de ambos os sexos,
sendo 92 (61,3%) eram do sexo feminino e 58 (38,7%) do sexo masculino, entre técnicos de
saúde e assistentes técnicos. Quanto ao nível de formação, 123 (82%) tinham nível médio
profissional, 16 (10,7%) possuíam o nível superior e 11 (7,3%) eram do nível básico. A maior
parte dos participantes, isto é, 110 (73,3%) eram solteiros e 40 (26,7%) casados.

No que tange ao vínculo com o Estado, todos os participantes tinham nomeação (vinculo
estável). Em relação ao tempo de serviço, a média foi de 12 anos (DP = 6,22 anos), num
intervalo de 2 a 31 anos. A média de idade dos participantes foi aproximadamente de 39 anos
(DP = 8,9anos), numa variância de 25 a 52 anos. A média de número de filhos foi de quatro,
num intervalo de 0 a oito.

A coleta de dados foi realizada pela aplicação do questionário de dados


sociodemográficose laborais e, do Maslach Burnout Inventary –Human Services Survey (MBI-
HSS), traduzido e validado para português do Brasil (BENEVIDES-PEREIRA, 2001;
CARLOTTO; CÂMARA, 2007) e de Portugal (VICENTE; OLIVEIRA; MAROCO, 2013). O
instrumento foi projetado para avaliar a incidência da Síndrome de Burnout em profissionais
que desenvolvem atividades assistenciais, ou seja, envolvidos com tarefas que exigem contato
constante e direto com outras pessoas, como é o caso dos profissionais de saúde.

Na versão original, o MBI-HSS comporta 22 itens cuja frequência de resposta varia de


0 – nunca a 6 – diariamente. Porém, a versão usada apresenta uma pontuação de 1 a 5, a saber:
1 (nunca), 2 (algumas vezes por ano), 3 (algumas vezes por mês), 4 (algumas vezes por semana)
e 5 (todos os dias). A consistência interna das três dimensões da versão original americana é
satisfatória, pois apresenta um alfa de Cronbach (α) que vai de 0,71 até 0,90 e os coeficientes
de teste e reteste que vão de 0,60 a 0,80 em períodos de até um mês (MASLACH; JACKSON,
1981). Assim, há presença da SB caso o indivíduo apresente simultaneamente pontuações
elevadas em Exaustão Emocional e Despersonalização e baixo escore na dimensão de
Realização Profissional (MASLACH; JACKSON, 1981; SCHAUFELI; BAKKER, 2004).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 39


Na versão adaptada por Carlotto e Câmara (2007), os fatores de Exaustão Emocional
(α=0,88) e Realização Profissional (α =0,94), constituem-sesubescalas com alto índice de
consistência interna, podendo ser consideradas como duas dimensões estatisticamente
independentes. O fator de Despersonalização obteveum coeficiente considerado médio (α
=0,65).

A coleta de dados do estudo foi realizada pelo terceiro autor, entre o mês março e abril
de 2019. Antes disso, foram efetuados contatos com a direção geral do hospital pesquisado
tendo o mesmo sido formalizado por meio de carta que apresentava o objetivo da investigação
e solicitava a autorização para a sua execução. Após a autorização, foram contatados os chefes
dos setores e informados sobre os objetivos do estudo. Finalmente, foram agendados os dias
para o preenchimento dos questionários de acordo com a escala e turnos disponíveis. Os
profissionais que consentiram oralmente em participar da pesquisa, responderam
individualmente os instrumentos de pesquisa. Foi garantido o anonimato, confidencialidade e
sigilo total das informações coletadas, bem como a livre e espontânea participação no estudo.

E caso algum participante se sentisse desconfortável durante a realização da pesquisa,


este teria o devido acompanhamento com o autor que coletou os dados que é simultaneamente
profissional de saúde e tem formação em psicologia. E em situação grave, se beneficiaria de
um acompanhamento psicossocial que seria dado pelo primeiro autor, o qual possui formação
em psicologia e coordena o Grupo de Estudos em Saúde e Trabalho (GEST), do Laboratório de
Pesquisa em Psicologia na Universidade Rovuma, em Nampula, que conta com a atuação de
diversos psicólogos.

A análise de dados foi feita com o auxílio do programa de SPSS (Statistical Package
for Social Sciences), versão 20. Foram feitas análises estatísticas e descritivas (Média e Desvio-
padrão) para o levantamento das caracterítiscas sociodemográficas e laborais. A incidência da
SB analisou-se segundo o procedimento dos pontos de referência da escala de frequência de
respostas, tendo o ponto de corte de três (algumas vezes ao mês). Para verificar a associação
entre variáveis sociodemográficas e laborais e as dimensões da SB foram aplicados o teste T-
student para as variáveis quantitativas e Análise de Variância (ANOVA) para as qualitativas.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 40


RESULTADOS

MÉDIAS, DESVIO-PADRÃO E VALAORES DE CORRELAÇÃO PARA MBI-HSS

Inicialmente foram achadas as médias, desvio-padrão e valores de correlação das três


dimensões do Maslach Burnout Inventory-Human Services Survey. Os resultados são
apresentados na Tabela 1.

Tabela 1: Médias, Desvio-padrão e valores de correlação para as dimensões do MBI-HSS


Dimensões N° de itens M DP RP DE n (%)
EE 9 3,11 0,33 0,263* 0,339* 108(72)
DE 5 3,44 0,48 0,133 130(86,6)
RP 8 3,02 0,45 65(43,3)

Fonte: Resultados da pesquisa. *p<0,05


Nota: M – Média; DP – Desvio-padrão; EE – Exaustão Emocional; DE – Despersonalização;
RP – Realização Profissional;% – Porcentagem n – frequência absoluta
De acordo com os resultados da Tabela 1, a dimensão de Despersonalização é que
apresentou maior porcentagem de participantes com níveis altos, ou seja, 130 (86,6%) dos 150
participantes evidenciaram sintomas nesta dimensão, seguida da Exaustão Emocional com 108
(72%) e inversamente, 85(56,6%) sinalizaram baixos índices de Realização Profissional. Do
total da amostra (n=150), 36(24%) apresentaram sinais evidentes da Síndrome de Burnout
(SB)por apresentarem simultaneamente altas médias nas dimensões de EE e DE, e baixas
pontuações na subescala de Realização Profissional. Ainda, adimensão de Exaustão Emocional
teve uma correlação positiva e estatisticamente significativa com as dimensões de Realização
Profissional no trabalho (r=0,263; p<0,05) e de Despersonalização (r=0,339; p<0,05).

3.2 ANÁLISE DE INFLUÊNCIA DAS VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS SOBRE


AS DIMENSÕES DA SÍNDROME DE BURNOUT

Na sequência das análises, usando estatística descritiva, por meio do sistema de


correlação, procurou-se apurar a influência das variáveis sociodemográficas quantitativas
(idade, tempo de serviço e número de filhos) e qualitativas (estado civil, nível de formação e
sexo) sobre as dimensões da Síndrome de Burnout. Os resultados são apresentados nos itens a
seguir.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 41


3.2.1 CORRELAÇÃO ENTRE AS DIMENSÕES DA SB COM AS VARIÁVEIS
QUANTITATIVAS

Foram achadas as correlações entre as subescalas da SB e variáveis quantitativas. A


Tabela 2 visualiza os resultados da análise realizada.

Tabela 2: Correlação entre as dimensões da SBcom as variáveis quantitativas


Dimensões Variáveis
Idade N° de filhos Tempo de serviço
Exaustão Emocional 0,053 -0,068 0,045
Despersonalização 0,143 -0,051 0,065
Realização Profissional -0,138 -0,009 -0,103

Fonte: Resultados da pesquisa.


Observa-se, na Tabela 2, que as variáveis idade, número de filhos e anos de experiência
profissional não apresentaram qualquer correlação estatisticamente significativa com as três
dimensões da SB.

3.2.2 CORRELAÇÕES ENTRE AS DIMENSÕES DA SB COM AS VARIÁVEIS


QUALITATIVAS

Por fim, verificou-se a associação entre as dimensões daSB e variáveis qualitativas. Os


resutados são exibidos na Tabela 3.

Tabela 3: Correlações entre as dimensões da SB com as variáveis qualitativas


Dimen- Variáveis
Sões Estado civil Nível de formação Sexo
Solt. Cas. Bás. Prof. Sup. Masc. Fem.
Med. Med. T Med. Med. Med. F Med. Med. F
EE 3,13 3,10 0,471 3,32 3,12 2,99 3,359* 3,11 3,12 -0,204
DE 3,46 3,41 0,586 3,30 3,49 3,20 3,233* 3,48 3,34 0,72
RP 3,03 3,00 0,360 2,95 3,06 2,89 1,195 2,96 3,06 -1,27

Fonte: Resultados da pesquisa *p<0,05


Nota: Med. – Média; prof. – profissional; Sup.– Superior; Solt. – Solteiro; Cas. - Casado
Os resultados da Tabela 3 demonstram a ausência de diferenças estatisticamente
significativas entre as duas categorias da variável estado civil e as três subescalas de MBI.
Exaustão Emocional (t(147=0,471; p=0,638) Despersonalização (t(147=0,586; p=0,559) e
Envolvimento Pessoal no trabalho (t(147=0,360; p=0,719). Ainda, na mesma Tabela 3

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 42


verificam-se diferenças estatisticamente significativas entre os distintos níveis de formação em
relação às subescalas Exaustão Emocional [F(2,143)=3,359; p=0,038) e Despersonalização
[F(2,143)=3,233; p=0,042). Ao passo que, na subescala Envolvimento Pessoal no Trabalho não
foram encontradas diferenças significativas[F(2,143)=1,195; p=0,306). Para os profissionais de
menor escolaridade, com nível básico de ensino, apresentaram maior vulnerabilidade de sofrer
da doença. Os testes de comparações múltiplas para a subescala Exaustão Emocional indicaram
que as diferenças significativas foram observadas entre os indivíduos com o nível Superior e
Básico (p<0,032) e para a Despersonalização observou-se uma diferença parcial entre os
indivíduos de nível Superior com o Médio (p<0,061). Portanto, as médias mais baixas nas
subescalas de Exaustão Emocional (M = 2,99; DP = 0,36) e Despersonalização (M = 3,20; DP
= 0,37) pertencem aos participantes de nível Superior. Em relação às médias, os profissionais
donível básico apresentaram uma média relativamente alta na dimensão de EE.Os do nível
médio profissional sinalizaram níveis ligeiramente altos em DE e os do nível superior sentem-
se menos realizados profissionalmente. Contudo, estes últimos apresentaram baixos níveis nas
duas dimensões de EE e DE, indicando serem menos susceptíveis de sofrer da doença quando
comparado com osoutros grupos profissionais.

Finalmente, na variável sexo também não apresenta alguma correlação com as


dimensões que o MBI-HSS compõe. Na comparação das médias, na variável sexo nota-se
apenas uma pequena ligeira diferença na variável sexo, sendo que os profissionais do sexo
feminino apresentaram maior probabilidade de desgaste e pelo inverso maior tendência de
realização profissional que os masculinos. Estes últimos revelaram um índice ligeiramente alto
na dimensão de Despersonalização.

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo apontam que dos 150 profissionais investigados, 86,6%
apresentou níveis altos em Despersonalização, 72% em Exaustão Emocional e 56,6% revelou
baixos índices na dimensão de Realização Profissional. Ademais, do total da amostra envolvida
no estudo, 24% apresentou Síndrome de Burnout (SB), ou seja, evidenciaram simultaneamente
altos níveis nas dimensões de Exaustão Emocional e Despersonalização e, baixas pontuações
na subescala de Realização Profissional. Conforme o critério de avaliação dos níveis da SB
estabelecido por Maslach e Jackson (1981), pontuações elevadas nas duas primeiras dimensões
(Exaustão Emocional e Despersonalização) e baixo escore na terceira dimensão (Realização
profissional) corresponde elevado nível da doença.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 43


É preciso lembrar que o estudo foi desenvolvido num hospital de nível quaternário. De
modo geral, a taxa de cobertura do Serviço Nacional de Saúde é estimada em 84 camas e cinco
médicos para cada 100.000 habitantes, bem como 1.531 unidades de saúde nos cuidados de
saúde primários para 27.909.798 habitantes. Existem ao nível do país sete hospitais do nível
quaternário que prestam serviços especializados, consultas e internamentos (GOUVEIA, 2018).
E ao nível da região norte de Moçambique, o hospital estudado é único de nível quaternário que
responde as demandas da população residente nesta parcela do país.

Portanto, a comparação dos dados hospitalares de Moçambique com os disponíveis ao


nível do continente africano, verifica-se que o país dispõe de menos recursos e mais população
sob responsabilidade (CONCEIÇÃO, 2011). Aliando ao medo de lidar com pacientes com
patologias graves e situações de morte, pode levar a estes profissionais a se sentirem cada vez
mais esgotados, bem como desenvolverem sentimentos de Despersonalização devido às
exigências do próprio trabalho hospitalar que exige lidar com doentes com estado debilitado de
saúde.

Os resultados encontrados são compatíveis com os da literatura internacional. Alqahtani


et al. (2019) mostraram que em 282 profissionais de saúde sauditas, a maioria (88,7%)
apresentava altos níveis em Exaustão Emocional (EE); 20,6% altos índices de
Despersonalização (DP) e 41,1% baixos níveis na dimensão de Realização Profissional (RP).
E, em termos gerais, a prevalência da SB entre os profissionais pesquisados foi de 16,3%.
Recentemente, Alqahtani, Al-Otaibi e Zafar (2020) demonstraram que 82,3% dos
participantes (n=395) apresentaram sinais evidentes da SB, variando de leve a muito grave.
Resultados congruentes foram encontrados numa pesquisa dos Estados Unidos da América
realizada por DYRBYE et al. (2019), a qual indicou que 35,3% dos 812 profissionais de saúde
tinham sintomas da SB.

Na mesma direção, no Brasil, Lima et al. (2013), constataram altos níveis de EE (61,4%)
e DP (36,7%) e baixo nível de RP (13,3%) numa amostra de 158 profissionais de saúde. Na
investigação de Valério et al. (2020), identificou-se altos escores para EE (53,8%), médios em
DP (60,3%). É neste sentido que vão os resultados do estudo de Nimmawitt, Wannarit e
Pariwatcharakul (2020), com profissionais de saúde tailandeses. Nesse estudo, dos 227
participantes, 112 (49,3%) revelaram níveis altos em EE e 60 (26,4%) em DE
Surpreendentemente, ao serem entrevistados, quase a totalidade dos participantes do mesmo
estudo (99,6%) demonstrou maior RP. Recentemente, Fuente-Solana et al. (2021) ao estudar a

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 44


SB em amostra de 95 profissionais de saúde, verificaram que 22% destes apresentaram níveis
altos em EE; 18,5% níveis altos em DP e 39,6% baixos níveis em RP.

No que diz respeito à taxa de incidência da SB, os resultados deste estudo são
semelhantes com os de outras pesquisas. García (2020), por exemplo, numa pesquisa com uma
amostra de 150 trabalhadores de saúde perunaos, achou a prevalência de SB em 24,2% dos
participantes. Muito recentemente, Freitas et al. (2021), encontraram uma prevalência da
síndrome em 25,5% da amostra analisada (n=94). Nos estudos desenvolvidos por Fuente-
Solana et al. (2021) e Raju et al. (2021), foram obtidos níveis altos da SB nos enfermeiros, com
taxas de prevalência de 38,6% e 83% sucessivamente.

Marôco et al. (2016), avaliando a SB em uma amostra nacional em Portugal, concluíram


que 47,8% dos 1.262 enfermeiros e 466 médicos reportam altos níveis da SB. Na mesma
direção, na investigação de Lima et al. (2018), a prevalência da síndrome foi de 51%,
destacando-se que ela foi maiorentre os profissionais de enfermagem do Brasil. Simões e
Bianchi (2016), notaram que 61,73% dos 45 técnicos de enfermagem apresentaram alto índice
para a manifestação da SB, também no contexto brasileiro. E na Turquia, Güler, Sengül, Çalis
e Karabulut (2019), encontram uma incidência da SB mais alta que os nossos achados na
presente investigação, situada em 77,8% dos 258 envolvidos.

Contrariamente, no Brasil, 9,2% dos 141 profissionais apresentaram SB, segundo os


critérios do MBI-HSS (FRANÇA et al., 2012). Adicionalmente, no estudo de Mata, Machado
e Alexandra (2016) estimou-se uma prevalência de 5,7% na amostra de 433 profissionais de
saúde dos portugueses, sendo superior nos enfermeiros (9,9%) seguida dos médicos
especialistas (7,2%).

Na análise da influência de dados sociodemográficos e laborais, quantitativos ( idade,


número de filhos e tempo de serviço), constatou-se que nenhuma dessas variáveis apresentou
correlação estatisticamente significativa sobre as três subescalas de Maslach Burnout Inventory
– Human Services Survey. Nas variáveis qualitativas (sexo, estado civil e nível de formação),
apenas o nível de formação revelou uma correlação estatisticamente significativa com as
dimensões Exaustão Emocional e Despersonalização, isto é, os profissionais com nível básico
são os mais propensos em desenvolver a SB. Este achado corrobora com o de França e Ferrari
(2012) ao verificarem que quanto à incidência da SB em função dos aspectos
sociodemográficos, o maior número de casos foi verificado nos profissionais com menos tempo

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 45


de formação. Pelo contrário, Pereira et al. (2021), os por profissionais de saúde com maior
escolaridade é que revelaram maior tendência de sofrer da SB.

Vale salientar que em termos comparativos, os profissionais de saúde habilitados com


o nível superior têm menos horas de trabalho e recebem maior salário relativamente aos seus
congêneres com nível médio e básico de escolaridade. E por sua vez, entre estes dois últimos,
os com nível básico de formação são os menos pagos e sem direito de alguns benefícios e
incentivos profissionais, tais como subsídio de risco e bônus especial. Como procurou
demonstrar Milićević-Kalašić (2013), a educação pode influenciar a realização pessoal, o que
significa maior nível educacional poder ser interpretado como um fator de proteção contra a
SB.

Enfim, a SB é um problema atual que tem atingido com particular incidência


profissionais de saúde. Os resultados alcançados nesta pesquisa mostram um sofrimento
acentuado e um adoecimento em processo na amostra de profissionais de saúde estudados, o
que sugere a necessidade dos órgãos de gestão do setor a adotar ações de promoção de saúde
no trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste estudo foi deavaliar a incidência da Síndrome de Burnout (SB) em


profissionais de saúde de um público de nível quaternário da região norte de Moçambique,
verificando possíveis associações com os dados sociodemográficos e laborais. O estudo traz
uma contribuição para pesquisadores e profissionais da área de saúde, pois discute um problema
de saúde mental e física relacionadocom o trabalho. Considerando que não foram identificados
estudos moçambicanos sobre a SB em profissionais de saúde, o principal mérito desta pesquisa
é ser das pioneiras nessa área em Moçambique.

Em função dos resultados, foi observada a presença de níveis preocupantes da SB nos


profissionais de saúde estudados, pois os mesmos revelaram índices elevados nas dimensões de
Exaustão Emocional e de Despersonalização e, baixas pontuações em Realização Profissional.
Esse resultado pôs em evidência que os profissionais de saúde constituem um grupo bastante
vulnerável a SB, tal como elencam vários autores (por exemplo: CARDOSO et al., 2017;
MASLACH; JACKSON, 1981; MASLACH; LEITER, 1999; PÊGO; PÊGO, 2016;
SCHWARZER; HALLUM, 2008; SILVA et al., 2020; SHIROM; MELAMED, 2005). Isso
pressupõe que no trabalho desses profissionais ainda há maior preocupação com os resultados,
em detrimento dos aspectos relativos à saúde. Além de comprometer a saúde mental e física, o

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 46


adoecimento dos profissionais pode levar a deterioração das relações de trabalho e ao mau
atendimento dos pacientes. Schwarzer e Hallum (2008) realçam que trabalhadores acometidos
pela SB evitam tornarem-se mais exaustos, afastando-se dos “clientes” e se dedicando mais à
sua vida privada em detrimento da vida laboral, o que faz com que não estejam totalmente
conectados com seu papel profissional. Os estudos de Bakker e Costa (2014) e Upadyaya,
Vartiainen e Salmela-Aro (2016) demonstraram, inclusive, que a SB enfraquece o
engajamento no trabalho.

O quadro instalado da SB na amostra estudada pode ser o reflexo,conforme a hipótese


aventada por Maslach e Jackson (1981) e Maslach e Leiter (1999), da ideia do local de trabalho
como máquina eficiente continuar a persistir nas organizações, o que mina o ideal do trabalho
como ambiente seguro e saudável, onde os trabalhadores possam realizar o seu potencial por
meio de um trabalho intrinsecamente compensador. Diante disso, um dos desafios das
instituições hospitalares em Moçambique deve ser garantir aos trabalhadores maior conforto e
bem-estar no exercício das suas atividades. Para tal, se faz necessário a melhoria das condições
de trabalho que podem comprometer a saúde mental e física, bem como o desenvolvimento de
ações de prevenção e intervenção em saúde ocupacional. A implementação destas medidas é
fundamental para facultar aos profissionais de saúde condições apropriadas para o seu bem-
estar e realização profissional.

Convém mencionar duas limitações neste estudo. A primeira limitação que deve ser
enfatizada é o caráter não probabilístico da amostra. Apenas foram envolvidos profissionais de
um único hospital regional em Moçambique. A segunda relaciona-se com o tamanho da amostra
relativamente menor, o que sugere, nos estudos futuros, ampliar o número de participantes e
envolver diferentes hospitais em todo o país.

As análises das relações entre a SB e variáveis sociodemográficas e laborais não


demonstraram correlações estatisticamente significativas, excetuando a variável nível de
formação. Nos estudos futuros, existe, assim, a necessidade de investigar as relações entre a SB
e as variáveis estudadas ou outras variáveis de interesse do pesquisador. Da mesma forma, é
sugerida a realização de estudos qualitativos com vista a apurar as causas da Síndrome de
Burnout nos profissionais de saúde em Moçambique.

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Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 51


CAPÍTULO 4
DEPRESSÃO PÓS-PARTO: A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE

Ítala Nayara Delfino da Silva, Enfermeira, Graduada pela Universidade Estadual do


Maranhão (UEMA), Bacabal, Maranhão
Ana Claudia de Almeida Varão, Enfermeira, Mestre em Ciências da Educação. Docente da
Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Bacabal, Maranhão
Maria do Rosário Costa Miranda, Psicóloga, Especialista em Psiquiatria Social, Doutora
em Ciências Pedagógicas, Docente da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Parnaíba,
Piauí
José Ilton Lima de Oliveira, Enfermeiro, Mestrando em Gestão e Inovação em Saúde,
UFRN
Joelson dos Santos Almeida, Enfermeiro, Mestre em Saúde e Ambiente, Doutorando em
Saúde Coletiva, UECE
Emanuella Pereira de Lacerda, Enfermeira Obstétrica - HUUFMA
Michelle Pereira de Medeiros, Especialista em Obstetrícia e Neonatologia, Hospital
Materno Infantil, Preceptora, UEMA
Stevânia Silveira Trigueiro, Especialista em Obstetrícia e Neonatologia, Hospital Materno
Infantil, Bacabal, MA

RESUMO
A gravidez é uma fase de muitas mudanças na vida de uma mulher. Há transformações físicas
e psicológicas. A expectativa da espera por outro ser causa vários sentimentos e nem todas estão
preparadas para tais transformações, tornando-a vulnerável ao desenvolvimento de
perturbações emocionais. Os fatores de risco são diversos para o surgimento dos sintomas da
depressão pós-parto (DPP), um problema de saúde que pode ser detectado precocemente ainda
na gestação. O objetivo desse estudo foi realizar uma revisão da literatura com o intuito de
demonstrar a necessidade do conhecimento e consequentemente as orientações sobre a
importância do diagnóstico precoce na prevenção da DPP, por ser um assunto pouco enfatizado
pelas ações de promoção à saúde, não dando importância necessária ao estado psicológico da
gestante e depois puérpera. A pesquisa tem um caráter exploratório de abordagem qualitativa
do tipo bibliográfico com base em textos obtidos em fontes eletrônicas. A bibliografia
consultada mostra algumas escalas de rastreamento da DPP, porém a mais utilizada é a Escala
de rastreamento de Depressão pós-parto Edimburgo (EDPS) que rastreia os sintomas
depressivos manifestados no pós-parto, por ser eficaz e de fácil aplicação e pode ser utilizada
por qualquer profissional de saúde, pois quando o profissional sabe com o que está lidando, fica
mais adequado o manejo e o uso de intervenções corretas para prevenir e retardar essa patologia.
PALAVRAS-CHAVE: Depressão Pós-Parto; Fatores De Risco; Gestação; Prevenção.

INTRODUÇÃO

A gravidez é uma fase de muitas mudanças na vida de uma mulher. Há transformações


físicas e psicológicas, a expectativa da espera por outro ser causa vários sentimentos sendo eles

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 52


bons ou até mesmo ruins e nem toda mulher está preparada para tais transformações, tornando-
a vulnerável ao desenvolvimento de perturbações emocionais.

Conforme Azevedo (2006) apud Daandels; Arboit; Sand (2013), do ponto de vista
específico da mulher, o nascimento representa uma das maiores mudanças de vida. Com a
maternidade, a mulher se vê frente a papéis sociais, cujo descumprimento pode resultar em
dificuldades, o que contribui para sofrimento, e que, por vezes, se constitui em base para a
depressão pós-parto.

A depressão transformou-se em problema de saúde pública, doença grave e muitas vezes


incapacitante que se tratada inadequadamente pode causar prejuízos tanto para os pacientes,
como para a sociedade (LANDIM; VELOSO; AZEVEDO, 2014).

A Depressão Pós-Parto tem prevalência entre 10 a 15%, e é caracterizada como um


conjunto de sintomas que tem início entre a quarta e oitava semana após o parto. Esses sintomas
são: choro frequente, irritabilidade, transtornos alimentares e do sono, sentimento de tristeza e
incapacidade, falta de motivação, desinteresse sexual e sensação de incapacidade diante da
responsabilidade de mãe (OLIVEIRA; DUNNINGHAM, 2015).

Os sintomas da depressão pós-parto (DPP) tem caráter variável. Quando ocorrem


modificam-se dependendo da personalidade da mulher e da resposta do seu organismo às
alterações bioquímicas. Na maioria dos casos, esses sintomas desaparecem rapidamente. Mas,
para algumas mães, eles persistem por um tempo maior, caracterizando a DPP.

Segundo Morais et al. (2015), o estudo sobre a DPP tem merecido especial atenção pelo
fato de ocorrer em um período sensível e vulnerável para a mãe e seu bebê, o que a torna,
também, um importante tema para a atenção em saúde. Tais características justificam o grande
número de trabalhos sobre o assunto.

Doenças psiquiátricas tem poucas ações de promoção à saúde devido ao grau de


instrução dos profissionais para identificar sinais e sintomas, principalmente na atenção
primária de saúde. No rastreamento da DPP é necessária a preparação desses profissionais para
fazer uma abordagem de parâmetro eficaz e rápido na busca da identificação precoce dos riscos,
dando importância para o desenvolvimento de uma relação de confiança entre
profissional/gestante.

Destarte, reforça-se a necessidade de se averiguar a presença dos fatores de risco para


DPP ainda nas consultas de pré-natal, introduzindo questionamento acerca da aceitação,

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 53


presença do parceiro ou da família. Fornecendo-se, a par disso, uma atenção integral à saúde
da mulher voltada tanto para saúde física da mulher quanto da criança, sobretudo prestar um
olhar à conjuntura socioeconômica, emocional, entre outros, visando minimizar o aparecimento
de DPP e seus possíveis efeitos deletérios sobre mãe e filho (SOARES; GONÇALVES;
CARVALHO, 2015).

O objetivo desse estudo foi realizar uma revisão da literatura acerca do tema em questão
e sobre a importância do conhecimento dos fatores de risco associados à depressão pós-parto e
do devido rastreamento dessa patologia no intuito do diagnóstico precoce, fornecendo um
panorama das pesquisas realizadas em que a depressão pós-parto é objeto de estudo. Assim,
espera-se que este trabalho contribua para que os profissionais de enfermagem tenham
conhecimento sobre a depressão pós-parto e participem da prevenção dessa patologia.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de caráter exploratório, de natureza integrativa


e de abordagem qualitativa, com base em textos obtidos em fontes eletrônicas. A pesquisa
bibliográfica acompanhou todo percurso, do desenvolvimento a conclusão do trabalho
monográfico. Foram utilizadas referências teóricas por meio de artigos científicos, localizados
em sites especializados como SCIELO (Scientific Electronic Library Online) e GOOGLE
ACADÊMICO.

A busca nas bases de dados foi realizada durante os meses de novembro de 2017 a julho
de 2018. As palavras para obtenção dos artigos foram: depressão pós-parto, fatores de risco,
gestação e prevenção. Dentre esses foram selecionados a princípio 23 artigos. Usando o critério
de inclusão para este estudo, publicações datadas entre os anos de 2013 a 2017, no idioma
português. Após analisados e excluídos aqueles que não atingiam os critérios de inclusão,
permaneceram 13 artigos que compõem este estudo.

Para o desenvolvimento desta revisão de literatura integrativa elaborou-se a seguinte


questão norteadora: Qual a importância do conhecimento dos fatores de risco da depressão pós-
parto para um eventual diagnóstico precoce dessa patologia no pré-natal e depois no período
do puerpério?

Foram estabelecidas nas bases de dados as palavras de pesquisa, assim como critérios
de seleção para definir quais as fontes condizentes para a etapa seguinte. O levantamento
bibliográfico foi realizado na internet, no site GOOGLE ACADÊMICO e SCIELO. Para a

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busca nas bases de dados utilizou-se as palavras-chave: depressão pós-parto, fatores de risco,
gestação e prevenção, cruzadas aleatoriamente.

Para a realização da triagem das fontes encontradas, utilizou-se os critérios de seleção


da amostra a partir de: Artigos que abordam sobre a Depressão Pós-Parto, contudo, contendo a
sua prevalência; fatores de risco e/ou diagnóstico precoce, bem como os artigos publicados no
idioma português e artigos publicados entre os anos de 2013 a 2017.

Os critérios de exclusão foram: Artigos que não abordam as temáticas dos critérios de
inclusão; Artigos não disponíveis na íntegra; Artigos em Língua Estrangeira; Artigos
elaborados fora da data proposta. O levantamento dos dados realizado na base SCIELO e
GOOGLE ACADÊMICO ocorreu a partir do segundo semestre de 2017.

Para seleção e análise dos artigos, a autora elaborou um instrumento contendo


informações dos estudos, na forma de tabela, com: título do artigo; ano de publicação; base de
dados e delineamento da pesquisa, incluindo principalmente artigos com ano de publicação
respeitando o critério de 2013 a 2017. Para facilitar a identificação dos artigos, os mesmos
receberam um código numérico (1 a 13). A partir desta triagem foi realizada a leitura na íntegra
dos artigos incluídos nesta pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através de busca nos bancos de dados SCIELO e GOOGLE ACADÊMICO obteve-se


um total de 23 artigos, após a leitura dos artigos selecionados, realizou-se extração das
evidências científicas que trazem as respostas aos objetivos da pesquisa. Posteriormente a
realização da leitura na íntegra e, de acordo com o primeiro critério de seleção, foram excluídos
10 artigos por não abordarem os critérios pré-selecionados. Ao final desta análise, obtivemos
um total de 13 artigos destes SCIELO (04) e do GOOGLE ACADÊMICO (09) para a
composição desta revisão integrativa de literatura. Abaixo, o Quadro 1 explana quais foram os
artigos incluídos.

Quadro 1 - Artigos incluídos na revisão integrativa.


Nº Titulo Ano Base de Delineamento da pesquisa
dados
1 Avaliação da depressão pós-parto: 2015 Google Estudo descritivo e
prevalência e fatores associados acadêmico exploratório com abordagem
quantitativa

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2 Sintomas depressivos no período 2016 Google Estudo transversal
puerperal: identificação pela escala de acadêmico
depressão pós-parto de Edinburgh

3 Prevalência e fatores de risco 2015 Google Estudo observacional


relacionados a depressão pós-parto em acadêmico analítico e descritivo
Salvador
4 Uso da escala de Edinburgh pelo 2016 Google Revisão integrativa da
enfermeiro na identificação da acadêmico literatura
depressão pós-parto: revisão
integrativa da literatura

5 A depressão em gestantes no final da 2015 Google Estudo quantitativo, do tipo


gestação acadêmico descritivo, transversal

6 Produção de enfermagem sobre 2013 Google Revisão bibliográfica, do


depressão pós-parto acadêmico tipo narrativa

7 Pré-natal psicológico como programa 2014 SCIELO Pesquisa-ação


de prevenção à depressão pós-parto
8 Depressão pós-parto: uma reflexão 2014 Google Pesquisa bibliográfica
teórica acadêmico descritiva de natureza
integrativa de
abordagem qualitativa

9 Depressão entre puérperas: prevalência 2017 SCIELO Estudo transversal


e fatores associados
10 Fatores psicossociais e 2015 SCIELO Estudo analítico,
sociodemográficos associados à exploratório
depressão pós-parto: Um estudo em
hospitais público e privado da cidade
de São Paulo, Brasil.
11 Prevalência de depressão pós-parto e 2015 Google Revisão integrativa
fatores associados: revisão integrativa acadêmico
da literatura
12 Depressão pós-parto: uma revisão 2017 Google Revisão da literatura
sobre fatores de risco e de proteção acadêmico
13 Sintomas depressivos na gestação e 2017 SCIELO Estudo longitudinal
fatores associados: estudo longitudinal

4.2 CATEGORIZAÇÃO DO ESTUDO

A categorização foi constituída a partir do tema depressão pós-parto, trazendo


informações sobre os estudos quanto à prevalência durante o período gravídico puerperal; assim
como os sintomas, fatores de risco da DPP, detecção precoce e o uso da triagem pelo
enfermeiro.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 56


4.2.1 DEPRESSÃO PÓS-PARTO E SUA PREVALÊNCIA

O ciclo gravídico-puerperal é uma fase da vida da mulher que precisa ser avaliado com
especial atenção por englobar inúmeras modificações físicas, hormonais, psíquicas e de
inserção social, que podem refletir diretamente na saúde mental (LIMA et al., 2017).

A gestação pode trazer consigo diversas alterações não só fisiológicas e físicas


características dessa fase, mas também pode ser acompanhada por diversos momentos e
situações angustiantes e estressantes que se originam em patologias como, a depressão pós-
parto (LANDIM; VELOSO; AZEVEDO, 2014).

Landim, Veloso e Azevedo (2014) identificaram no seu estudo diversos aspectos


sociais, físicos e emocionais que influenciam no desencadeamento da depressão pós-parto, bem
como as repercussões que essa patologia pode causar tanto na vida da mãe, no seu
relacionamento mãe-bebê e conjugal, provocando uma inteira desordem no âmbito familiar e
psicossocial.

De acordo com a OMS (2009) apud Hartmann; Mendoza-Sassi; Cesar, (2017) a


literatura indica que as mulheres apresentam um risco duas vezes maior para desenvolver
depressão do que os homens, sendo esta diferença ainda mais enfatizada na fase da vida em que
se veem responsáveis pelo cuidado de seus filhos.

A gestação por muitas vezes é tratada como a fase corriqueira da vida de qualquer ser
humano, acontecimento natural, ímpar para o indivíduo, sendo período marcante na trajetória
existencial do homem e quase sempre marcada por satisfação e alegrias, desde a concepção do
feto até o desenvolvimento do bebê, por isso mesmo banalizado quanto a sua magnitude e
abrangência. (LANDIM; VELOSO; AZEVEDO, 2014).

A alta carga a que as mulheres são submetidas hoje em dia; a falta de tempo para curtir
a gestação devido às questões até mesmo profissionais traz uma grande preocupação que afeta
muitas mulheres, a depressão pós-parto. É comum as mulheres apresentarem oscilações de
humor durante e pós gravidez, porém quando essas mudanças atrapalham toda rotina e se
tornam um problema na vida dessa mulher, pode surgir a depressão pós-parto.

Numa revisão da literatura realizado por Alfaia, Rodrigues e Magalhães (2016), os


artigos mostraram que a DPP afeta uma em cada oito mulheres no período pós-parto e pode ter
consequências adversas para a mãe, bebê e sua família, pois constatou-se que a DPP é resultado
da adaptação psicológica, social e cultural imprópria da mulher frente à maternidade. Já em

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 57


estudo alcançado por Hartmann; Mendoza-Sassi; Cesar (2017) verificou-se que uma em cada
sete gestantes foi afetada por depressão.

Oliveira e Dunningham (2015), relatam no seu estudo que durante o período da gestação
ocorrem diversas alterações hormonais, que interferem nas mudanças constantes de humor das
gestantes. Essas alterações se acentuam no período do pós-parto, onde a mulher tem “crise” de
identidade, junto ao seu papel na sociedade, no que se refere à transição de filha para mãe, dona
de casa, esposa, profissional entre suas demais funções. Por isso este torna-se um período onde
grandes reflexões e responsabilidades vêm à tona.

Soares, Gonçalves e Carvalho (2015) realizaram um estudo descritivo e exploratório


com abordagem quantitativa que teve como objetivo conhecer a prevalência e fatores
associados à depressão pós-parto (DPP). A pesquisa foi realizada no período de janeiro a março
de 2014, com 176 puérperas de uma maternidade pública no município de Teresina (PI). Os
instrumentos utilizados foram um questionário envolvendo variáveis socioeconômicas e
obstétricas, além da Escala de Depressão Pós-Parto de Edimburgo (EPDS). A prevalência da
DPP encontrada foi de 25% sobressaindo-se ao cenário mundial, de 10% a 15% de DPP.

Boska, Wisniewski e Lentsck (2016), publicaram um estudo realizado em Guarapuava


(RS) a partir de unidades básicas de saúde do município, entre fevereiro e maio de 2014, com
amostra de 51 mulheres no puerpério tardio. A coleta de dados ocorreu no domicílio da
participante, através de questionário de caracterização sociodemográfica e da Escala de
Depressão Pós-Parto de Edinburgh, com análise descritiva e inferencial dos dados. Foi
identificado que 21,6% das puérperas apresentaram sintomas depressivos, sendo estes passíveis
de mensuração pela escala aplicada.

Pesquisa realizada por Morais et al. (2015), em hospitais públicos e privados da cidade
de São Paulo (SP), com uma amostra total de 462 mulheres, mostrou que a prevalência de DPP
no hospital público atingiu 26% de 205 e do hospital privado 9% de 257 mulheres. Ilustram que
os fatores psicossociais e sociodemográficos mostram com clareza modos de vida diferentes
entre as classes sociais a que as participantes pertenciam.

Outro estudo realizado por Oliveira e Dunningham (2015) de maneira observacional


analítica e descritiva com 40 mulheres no período em Pós-Parto atendidas no Ambulatório de
Puericultura do Hospital Martagão Gesteira, que é um nosocômio especializado em Pediatria,
constatou-se, a partir de avaliação de escore da EPDS, que a prevalência de Depressão Pós-
parto foi de 17,5%, no total da amostra.

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Uma revisão integrativa da literatura sobre a prevalência da DPP e fatores associados
no Brasil feita por Galvão et al. (2015) incluiu oito estudos na qual se verificou que a
prevalência da DPP está entre 10% e 20% de acordo com a maioria dos estudos.

4.2.2 SINTOMATOLOGIA E OS FATORES DE RISCO DA DPP

A depressão pós-parto apresenta vários sintomas que se caracteriza pela redução da


qualidade de vida, isolamento social, fadiga, instabilidade do humor, sentimento de tristeza,
inconstância emocional, choro, ansiedade, irritabilidade, cansaço, sentimento de culpa e
inutilidade, sobretudo, por sentir-se incapaz de cuidar do recém-nascido, da nova situação,
medo de machucá-lo e relutância em amamentá-lo, desligamento emocional para com o bebê e
com os outros membros da família. (OLIVEIRA; DUNNINGHAM, 2015) (LACERDA, 2009
apud BOSKA; WISNIEWSKI; LENTSCK, 2016).

Embora não se conheça a causa da depressão pós-parto, sabe-se que alguns fatores
podem contribuir para o surgimento de tal distúrbio psicológico. Os artigos estudados
mostraram que vários são os fatores de risco para desenvolver a Depressão Pós-Parto.

Segundo Moraes et al. (2006) apud Arrais; Mourão; Fragalle, (2014) compreende-se por
risco os fatores ou eventos negativos que se configuram preditores, aumentando o grau de
tensão, influenciando nas respostas individual ou ambiental que potencializam a
vulnerabilidade do desenvolvimento de uma vida saudável do indivíduo afetando aspectos de
ordem física, social e emocional.

Soares, Gonçalves e Carvalho (2015), relatam que o estado civil; não planejamento da
gravidez; complicações médicas na gestação e pós-parto; histórico de transtorno mental prévio
são fatores de risco.

Observou-se neste estudo que os extremos de idade das mulheres que participaram da
pesquisa foram as mais acometidas pela DPP. Isso pode ser explicado pelo fato que
com o decorrer da idade, espera-se que a mulher, adquira mais maturidade, podendo
emergir o sentimento de preocupação, receio com a criação dos filhos, pois pode
acreditar que não terá tanta disposição em acompanhar a vitalidade, energia da criança
ou simplesmente não tenham planejado uma gravidez depois dos 37 anos, bem como
medo da reação das pessoas por engravidar, ter uma criança com tal idade (SOARES;
GONÇALVES; CARVALHO, 2015).
Boska, Wisniewski e Lentsck (2016) e Soares, Gonçalves e Carvalho (2015), ressaltam,
em contrapartida, que mulheres jovens, primíparas, deparam-se com uma nova realidade, em
que precisam cuidar de um novo ser, acabam se sentindo desorientadas durante este processo,
além de se abster em realizar atividades prazerosas típicas da idade, diante das novas
responsabilidades que uma criança exige ou por não ter uma estabilidade financeira.

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Landim, Veloso e Azevedo (2014), observou no seu estudo que alguns autores
descrevem que certas situações e fatores do tipo socioeconômicos são representantes de
condições significativas para o desencadeamento e desenvolvimento dessa patologia nas
puérperas.

Já em outro estudo realizado por Moura et al. (2015), mulheres que possuem emprego,
apresentam sinais indicativos de depressão, pela dificuldade de conciliar inteiramente suas
funções tradicionais e profissionais, recriminando-se por sua incapacidade de harmonizar todas
as tarefas.

Uma revisão da literatura realizada por Arrais e Araújo (2017), mostrou que, ter tido
depressão na vida, a presença de estresse e ansiedade e depressão durante a gestação, baixo
suporte social e familiar, falta de apoio do parceiro e falta de apoio social no puerpério, são
fatores que aumentam o risco de ter DPP.

Segundo Arrais e Araújo (2017), as condições em que se dá a gravidez, tanto de caráter


físico/hormonal quanto de caráter psicossocial podem influenciar na depressão pós-parto. Desta
forma, entender essas condições no período gestacional e pós-parto em especial os processos
psicológicos da mulher, conhecendo os fatores de risco bem como o de proteção da DPP e a
utilização do mesmo para tal fim de proteção é fundamental para prevenção, diagnóstico
precoce e tratamento dessa patologia.

A partir do conhecimento dos fatores de risco da depressão pós-parto, o enfermeiro


poderá planejar e executar ações preventivas, tais como: favorecer o apoio emocional da
família, amigos e companheiro, proporcionando segurança à puérpera (ALFAIA;
RODRIGUES; MAGALHÃES, 2016).

4.2.3 O RASTREAMENTO DA DEPRESSÃO PÓS-PARTO E A IMPORTÂNCIA DO


DIAGNÓSTICO PRECOCE

A adesão ao pré-natal é de extrema importância para o desenvolvimento saudável de


sua gestação, tanto nos aspectos fisiológicos como nos psicológicos, pois esses fatores
influenciáveis, tanto no parto como no puerpério, devem ser reconhecidos nas consultas
(BOSKA; WISNIEWSKI; LENTSCK, 2016).

Galvão et al. (2015) ressalta no seu estudo que os sinais depressivos indicativos em
puérperas são pouco utilizados na rotina assistencial, dificultando o diagnóstico precoce. Desta
forma, a equipe de saúde que presta assistência à gestante deve deter o conhecimento acerca da

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Depressão Pós-Parto, para que durante o pré-natal promovam-se ações que envolvam
acolhimento, cuidados e trocas sociais para prevenção deste possível transtorno mental.

O profissional que acompanha essas mulheres tem que estar atento a esses sinais,
investigando-os e oferecendo-lhes um suporte adequado, pois gestação nem sempre é visto
como um momento sublime na vida de uma mulher; muitas vezes tem um lado obscuro
transformando esse momento, que deveria vir cheio de alegria, expectativa e emoção, em um
momento de tristeza e medos.

Por ser o lugar de acesso prévio da maioria das gestantes, a atenção básica de saúde tem
se tornado a principal via para o rastreamento da DPP, dessa maneira os profissionais devem
ser capacitados para o devido acompanhamento psicológico dessa gestante e depois dessa
puérpera.

Oliveira e Dunningham (2015), afirmam que os profissionais ainda não conseguem


reconhecer com facilidade os sintomas da Depressão Pós-Parto e não tem acesso a métodos que
contribuem para o diagnóstico. Dessa forma, é necessária uma maior atenção às mulheres, a
fim de evitar o subdiagnóstico da DPP, contribuindo dessa forma para uma melhor qualidade
de vida da mãe e maior acesso e adesão ao tratamento.

Diante desses fatores, destaca-se a escala Edinburgh que é considerado um método


eficaz para diagnosticar a DPP, visto que é facilmente utilizado, sendo possível para
investigação em diferentes níveis socioeconômicos e etnias, que visa detectar
precocemente a depressão, através de uma intervenção efetiva e eficaz por parte dos
profissionais de enfermagem, que a partir do conhecimento dos fatores de risco da
depressão pós-parto, poderão planejar e executar ações preventivas, a partir do apoio
emocional da família, amigos e companheiro, proporcionando fortalecimento do
vínculo mãe-filho (ALFAIA; RODRIGUES; MAGALHÃES, 2016).
Boska, Wisniewski e Lentsck (2016), no seu estudo, afirmam que a escala de Edinburgh
por ser uma alternativa de fácil e rápida aplicação, é possível identificar sintomas depressivos
nas mulheres e a partir disso interligar ao diagnóstico clínico e iniciar as ações de prevenção e
de promoção da saúde mental para esta população.

A aplicação da EPDS com sua simplicidade e rapidez, não exigindo mais do que 10
minutos para o seu preenchimento, a torna ideal para uso na rotina clínica por profissionais não
especializados na área de saúde mental, com a finalidade de rastrear mães que apresentem
sintomas depressivos, não sobrecarregando os serviços especializados (OLIVEIRA;
DUNNINGHAM, 2015).

Investigações acerca da DPP são importantes, pois a identificação precoce dos sintomas
poderá contribuir com o planejamento de ações e a efetivação de condutas que podem melhorar

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a qualidade de vida da mulher no período puerperal (BOSKA; WISNIEWSKI; LENTSCK,
2016).

Sendo assim, quanto antes os sintomas depressivos forem identificados mais


rapidamente as intervenções poderão ser implementadas. Logo, a participação nas consultas de
pré-natal é de extrema importância, como também para a detecção de outras complicações
durante a gestação que futuramente podem desencadear uma reação depressiva na mulher
(BOSKA; WISNIEWSKI; LENTSCK, 2016).

O enfermeiro é o profissional que tem mais facilidade para realizar a triagem e oferecer
aconselhamento acerca da depressão, com realce para o uso de outras habilidades, como a
observação da interação da puérpera com seu filho.

Arrais, Mourão e Fragalle (2014) destacam em seu estudo o uso de outra forma
complementar ao rastreamento, o uso de um programa denominado: Programa de pré-natal
psicológico (PNP) que é um conceito em atendimento perinatal voltado para maior
humanização do processo gestacional e do parto e da parentalidade. Pioneiro em Brasília, o
programa visa à integração da gestante e da família a todo o processo gravídico-puerperal, por
meio de encontros temáticos em grupo com ênfase psicoterápica na preparação psicológica para
a maternidade e paternidade, e prevenção da depressão pós-parto (DPP).

Com o objetivo de avaliar a contribuição do PNP para prevenir a DPP, Arrais, Mourão
e Fragalle (2014) evidenciaram o potencial preventivo do PNP para a DPP onde o PNP atuou
como fator de proteção para prevenção da DPP nas gestantes do grupo-intervenção. Assim, os
autores defendem que a assistência psicológica na gestação, por meio da utilização do PNP, é
importante instrumento psicoprofilático. Sabendo da alta incidência de depressão e após as
evidências do caráter preventivo do PNP proposto no estudo, seria interessante a ampliação da
assistência pré-natal oferecida nos serviços de saúde, sendo complementada com o PNP.

Esse tipo de serviço pode ser oferecido nas maternidades e centros de saúde. Proposta
viável por ser uma intervenção em grupo, abrangendo grande número de pessoas, podendo ser
adaptado à realidade de cada comunidade. É importante instrumento psicoprofilático de baixo
custo que pode ser implementado como uma política pública nos serviços de pré-natal do País
(ARRAIS; MOURÃO; FRAGALLE, 2014).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A depressão pós-parto por ser um problema de saúde que pode ser detectado
precocemente ainda na gestação torna essencialmente importante uma assistência de pré-natal
qualificada com estratégias para prevenção da mesma. Um pré-natal bem feito ajuda a mulher
lidar melhor com a gravidez; a iniciar a construção de sua identidade de mãe para quando a
criança chegar; a estar apta para vivenciar esse momento com toda segurança e preparo
adequado.

Para isso é necessário a implementação de ações contínuas de ensino aos profissionais


que estão diariamente em contato com as gestantes e depois puérperas. A fim de conhecerem
os fatores de risco, os sinais e os sintomas da depressão logo no início do seu surgimento para
que possam prestar uma assistência humanizada, e garantir uma gestação, parto e puerpério
saudável.

Do ponto de vista de políticas públicas com efeito preventivo, chama a atenção o dado
de que uma educação formal de maior duração e mais completa é um fator protetor para a
depressão pós-parto, devendo ser incentivada e aprimorada no Brasil, visando a um
acompanhamento mais global.

A equipe multiprofissional pode e deve diagnosticar, mas devem investir em educação


continua, pois é ela que possibilita ações adequadas. Entretanto, ainda há a necessidade da
difusão de cursos de capacitação para as equipes de saúde na sistematização do cuidado com
essas mulheres. Quando o profissional sabe com o que está lidando, fica mais adequado o
manejo e o uso de intervenções corretas de prevenção e de retardo de tal patologia que vem
crescendo de maneira absurda.

Dessa forma a equipe deve ser capaz de utilizar por exemplo escalas que são de fácil
manejo como a escala de Edimburgo – EDPS. Está prontamente enfatizada pela maioria dos
estudos citados.

A escala EDPS, que rastreia os sintomas depressivos manifestados no pós-parto, é de


fácil aplicação e pode ser manejada por qualquer profissional de saúde, não necessariamente
profissional da saúde mental ou psicólogo. A investigação com a escala de Edimburgo mostrou
nos artigos estudados que é de largo benefício, a qual deve ser utilizada em níveis primários de
atenção à saúde, evitando assim o subdiagnóstico da DPP e a superlotação nos serviços
especializados de forma tardia.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 63


As mudanças que ocorrem na mulher têm que ser vistas além do setor hormonal, como
também o sociopsicológico. Um dos artigos relatou o uso do Programa de pré-natal psicológico
PNP que seria de grande utilidade para o uso em grupos, utilizando redes de apoio disponíveis.
Seria um método de inspiração para os profissionais na atenção à saúde dessas mulheres.

Os profissionais da atenção primária de saúde estão em uma posição favorável para


detectar precocemente a DPP e intervir, evitando o agravamento do processo de depressão
puerperal, uma vez que a equipe se faz mais presente na vida da população por ela assistida,
além de contar com profissionais de várias áreas.

Este estudo pode ser usado como um direcionador e estimulador em estudo da saúde
mental das gestantes e puérperas, constituindo um protocolo de rotina assistencial. Sendo assim,
sugerem estudos qualitativos com a população aqui citada, de modo a comprovar a eficácia do
rastreamento e do devido diagnóstico precoce dessa patologia, que aflige um número
exacerbado de mulheres.

REFERENCIAS

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Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 65


CAPÍTULO 5
SINTESE E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTITUMORAL DE UM NOVO
DERIVADO DE PRODUTO NATURAL

Josefa Aqueline da Cunha Lima, doutoranda em química, UFRPE


Jadson de Farias Silva, doutorando em química, UFRPE
Renato Ferreira de Almeida Junior, doutor em biomedicina, UFRN
Kleber Juvenal Silva Farias, Doutor em imunologia, USP
Paula Renata Lima Machado, Doutor em biomedicina, UFRN
Juliano Carlo Rufino Freitas, Doutor em química, Professor da UFCG/CES

RESUMO
As plantas são fontes primárias dos produtos naturais, os quais, atualmente, atuam como
fármacos no tratamento do câncer, a citar a vimblastina, paclitaxel (Taxol®), docetaxel dentre
outros. Diante da relevância dos produtos naturais, aliado a necessidade do desenvolvimento
de novos fármacos com propriedades anticâncer, buscou-se realizar a síntese e a avaliação
antitumoral de um novo derivado de produto natural. Dessa forma, inicialmente foi realizado a
síntese do 4-alil-1-(4-fluorofenoxi)-2-metoxibenzeno a partir da reação de eterificação do
eugenol e do ácido 4-fluorofenilborônico, seguida da caracterização estrutural, e avaliação da
atividade antitumoral frente as linhagens de células tumorais utilizadas MCF-2 e CACO-2. O
4-alil-1-(4-fluorofenoxi)-2-metoxibenzeno foi obtido na forma de um óleo incolor com 75% de
rendimento em tempo reacional de 16 horas e seus os dados espectroscópicos corroboram a
obtenção desse produto. Este composto apresentou uma baixa atividade antitumoral quando
comparado ao fármaco padrão, com valores de IC50 de 0,629 e 1,659 mg/mL para a linhagem
MCF-2 e CACO-2. Os resultados obtidos são estudos preliminares acerca da investigação da
atividade antitumoral desta estrutura, no entanto, mais estudos são necessários afim de
mensurar as propriedades biológicas deste composto, visto que, se trata de um novo composto
que não possuem relatos quanto a sua ação. Esses resultados contribuem de forma
imprescindível para o desenvolvimento de novos agentes com propriedades antitumoral.
PALAVRAS-CHAVE: Produtos naturais, Atividade antitumoral, Ensaio de viabilidade MTT.

INTRODUÇÃO

O câncer é uma das principais causas de morte no mundo, sendo considerado um


problema de saúde mundial (Montana et al., 2019). Cabe destacar que o câncer é o termo
genérico que se refere a um grande grupo de doenças que podem afetar qualquer parte do corpo,
ou seja, a criação rápida de células anormais que crescem além de seus limites usuais e que
podem invadir partes adjacentes do corpo e se espalhar para outros órgãos (WHO, 2021).
Adicionalmente, a Organização Mundial de Saúde (2021), relatou a morte de 10 milhões de
pessoas, apenas em 2020, provocada pelo câncer.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 66


Uma das principais abordagem de tratamento clínico do câncer é a quimioterapia (Sun
et al., 2014), que apesar de progredir significativamente nos últimos anos tem apresentado
diversos obstáculos quanto ao uso desses medicamentos antitumorais. Essas limitações estão
associadas ao rápido desenvolvimento de resistência aos medicamentos e os efeitos colaterais
agudos (Xu, Zhao, Liu 2019), em resposta do fraco direcionamento e a falta de seletividade
deste método de tratamento, o que gera grandes danos às células normais e têm consideráveis
efeitos tóxicos e colaterais (Zhang et al., 2020). Consequentemente, a busca por novos
medicamentos que apresentem alta eficácia e nenhum ou baixos efeitos colaterais vêm
aumentando. Dessa forma, uma classe bastante conhecida que tem atuado no desenvolvimento
de diversos medicamentos quimioterápicos são produtos naturais.

Mais de 60% dos antitomurais comercializados foram direta ou indiretamente obtidos


de fontes naturais (Newman, Cragg 2010). Notavelmente, no período de 1981 a 2014 foram
registrados no mundo cerca de 136 medicamentos contra o câncer sendo que 83% dessas drogas
eram produtos naturais ou eram com base neles, ou imitar produtos naturais e apenas 17% de
origem totalmente sintética (Amaral et al., 2019).

Esses fatos demonstram a grande contribuição dos produtos naturais obtidos de plantas,
a citar, a vimblastina (VBL) e vincristina (VCR), etoposídeo, paclitaxel (Taxol®), docetaxel,
topotecano e irinotecano, sendo estes os quimioterápicos mais eficazes para o câncer
disponíveis na atualidade (Cragg, Pezzuto, John 2016).

Figura 1: Medicamentos anticâncer derivados de plantas

Fonte: adaptado de Cragg, Pezzuto, John (2016)

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 67


Além disso, os produtos naturais são considerados como uma alternativa para resolver
um problema recorrente do câncer, a resistência a multidrogas. As células cancerosas
apresentam resistência a quase todos os tipos de drogas quimioterápicas e medicamentos
direcionados tornaram-se prevalentes e aproximadamente 80% a 90% das mortes em pacientes
com câncer são atribuídas direta ou indiretamente à resistência aos medicamentos (Amaral et
al., 2019).

Diante da importância dos produtos naturais, no desenvolvimento de novas estruturas


bioativas que venham a exibir propriedades anticancerígenas, o presente trabalho tem como
objetivo realizar a síntese e avaliação antitumoral de um novo derivado do produto natural.

METODOLOGIA

REAGENTES E EQUIPAMENTOS

Os reagentes e os solventes utilizados foram obtidas na forma comercial da Merck e


Sigma Aldrich. O diclorometano foi utilizado sem necessidades de purificações, enquanto que
o acetato de etila e o hexano foram purificados por meio da destilação em coluna de Vigreaux.
A trietilamina foi refluxada sobre hidróxido de potássio e destilada. O monitoramento das
reações foi realizado através da cromatografia em camada delgada (CCD) utilizando placas de
sílica-gel contendo indicador fluorescente F254. Essas placas foram eluidas em um sistema
eluente constituído de hexano:acetato de etila na proporção 95:05 e foram visualizadas por meio
da utilização uma lâmpada de ultravioleta (254 nm).

A purificação do 4-alil-1-(4-fluorofenoxi)-2-metoxibenzeno sintetizado foi realizada


através da cromatografia líquida em coluna de vidro utilizando sílica-gel 60 Merck (70-230
mesh) como fase estacionária e como fase móvel um sistema de solventes: o hexano e o acetato
de etila na proporção 95:05. Foi utilizado um evaporador rotativo da marca Büchi Rotavapor
modelo R-114 conectado a uma bomba de vácuo modelo KNF Neuberger para concentração
do 4-alil-1-(4-fluorofenoxi)-2-metoxibenzeno.

A caracterização estrutural do composto sintetizados o 4-alil-1-(4-fluorofenoxi)-2-


metoxibenzeno foi realizada através da técnica de ressonância magnética nuclear de hidrogênio
(RMN 1H) e carbono (RMN 13C) em um espectrômetro Varian Unity Plus, cuja frequência para
o núcleo de hidrogênio foi 300 MHz e para o núcleo de carbono foi de 75 MHz. As análises
foram realizadas utilizando como solvente o CDCl3. Os deslocamentos químicos foram
expressos em δ (ppm) e as constantes de acoplamentos (J) em hertz (Hz) em relação ao pico
13
central do CDCl3 (7,27) para o espectro de RMN 1H e para o espectro de RMN C os

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 68


deslocamentos foram obtidos em relação aos picos centrais do CDCl3 (77,0). O aparelho foi
calibrado usando Si(CH3)4 (0,0 ppm) como referência externa no caso do RMN 1H e 13C.

PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL PARA A SÍNTESE DO 4-ALIL-1-(4-


FLUOROFENOXI)-2-METOXIBENZENE.

Em um balão de capacidade de 50 mL foram adicionados o ácido 4-fluorfenilborônico


(349,8 mg; 2,5 mmol), 4ml de diclorometano, acetato de cobre (1 mmol; 199 mg), a peneira
molecular 4Å (75 mg), o eugenol (1 mmol; 164 mg) e por último foi adicionado ao balão a
trietilamina (5 mmol; 505 mg) de forma lenta a 0ºC. A mistura reacional ficou sob agitação e
temperatura ambiente durante 16h. O término da reação foi comprovado por cromatografia de
camada delgada (CCD) utilizando o sistema eluente hexano:acetato de etila, na proporção
95:05. Após a comprovação do término da reação a mistura reacional foi filtrada em um funil
acoplado ao vácuo contendo sílica e celite. O filtrado foi vertido num funil de separação e
adicionado solução saturada de cloreto de amônio, a camada orgânica foi então seca com sulfato
de sódio anidro e concentrada no rotaevaporador. Por último a purificação foi realizada em
cromatografia líquida em coluna de vidro com um sistema de solventes hexano:acetato de etila
numa proporção de 95:05.

ATIVIDADE ANTITUMORAL

A avaliação da atividade antitumoral foi realizada conforme o protocolo descrito por


Sieuwerts e colaboradores em (1995). Os valores da concentração que reduziu em 50% a
viabilidade celular (IC50) foram obtidos por análise de regressão dos percentuais referente às
diferentes concentrações da amostra. Os valores de IC50 representam de experimentos
realizados em triplicatas isoladas.

As soluções da amostra a serem testadas em PBS e DMSO (proporção 1:12) em


concentração igual a 1000 µg/mL utilizando um agitador mecânico para otimizar a
homogeneização. As soluções foram filtradas (filtro 0,22 µm) e o preparado foi submetido a
avaliação da citotoxicidade que, para o qual, avaliou-se a viabilidade das linhagens MCF-7
(Carcinoma de mama) e CACO-2 (adenocarcinoma de cólon humano).

As células foram cultivadas em placas de 96 poços (1x104) em meio de cultura RPMI-


1640 modificado contendo 1500 mg/L bicarbonato de sódio, 4500 mg/L glicose, 2 mM L-
glutamina, 10 mM HEPES, 1 mM piruvato de sódio, e SBF (20%) e antibióticos (penicilina
100 U/mL, estreptomicina 1mg/mL), incubadas por 24 horas em estufa a 37°C com 5% (CO 2).
Logo após, adicionou-se as soluções das amostras, em cada poço, nas diluições de 200, 100, 50

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 69


e 25 µl/mL por período de 72 horas e com procedimento realizado em triplicata. Com o cessar
do período, o meio com composto diluído foi retirado e adicionado à solução de MTT [3-(4,5-
dimetiltiazol-2-il) -2,5-difenil brometo de tetrazolina] a 1 mg/mL, em cada poço. O MTT foi
retirado e adicionou-se DMSO, após incubação de 4 horas, de modo a realizar a leitura da placa
a 540 nm.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente, foi realizado a síntese de um novo composto denominado 4-alil-1-(4-


fluorofenoxi)-2-metoxibenzeno através da reação de eterificação do eugenol e o ácido 4-
fluorofenilborônico utilizando a metodologia descrita por Cham e colaboradores (1998).

Figura 2: Esquema reacional para a síntese do 4-alil-1-(4-fluorofenoxi)-2-metoxibenzeno.

Fonte: Autoria própria


O 4-alil-1-(4-fluorofenoxi)-2-metoxibenzeno foi obtido na forma de óleo incolor com
75% de rendimento em tempo reacional de 16 horas e sua estrutura foi confirmada através da
técnica de ressonância magnética nuclear de hidrogênio (RMN 1H) e carbono (RMN 13C). Na
Figura 3 corresponde ao espectro de hidrogênio (RMN 1H) do composto sintetizado o 4-alil-1-
(4-fluorofenoxi)-2-metoxibenzeno.

Figura 3: Espectro de hidrogênio do 4-alil-1-(4-fluorofenoxi)-2-metoxibenzeno em CDCl3, 300 MHz


3.829

Q0918_2 TRATADO.esp

Q0918_2 TRATADO.esp
6.860
6.885
6.970

6.901

6.829
6.917
6.944

6.835

6.762
6.756
7.001

6.735
6.729

4.56 0.96 0.97


6.860
6.885
6.993 6.970

6.901

3.402
3.379
6.829
6.917

5.093
6.944

6.762

5.150
5.156
6.003
5.981
5.946
6.036

5.925
6.060

4.56 0.96 0.97 0.99 1.86 2.98 2.02

7.0 6.5 6.0 5.5 5.0 4.5 4.0 3.5 3.0 2.5
Chemical Shift (ppm)
Fonte: Autoria própria

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 70


Conforme a Figura 3 os sinais presentes na confirmam a formação da estrutura do 4-
alil-1-(4-fluorofenoxi)-2-metoxibenzeno. Os valores de deslocamentos químicos em: 3,37 ppm
(dupleto) e 3,83 ppm (simpleto) correspondem aos hidrogênios metilênicos -CH2 e o
hidrogênio do grupo metoxi O-CH3, respectivamente. Os sinais em 5,09- 5,15 ppm e em 5,92-
6,06 ppm, ambos multipletos correspondem aos dois hidrogênios vinílicos presentes na
estrutura. Na região entre 6,72-7,00 ppm foram observados os sinais na forma de um multipleto
dos hidrogênios aromáticos presentes em ambos anéis aromáticos da estrutura em estudo.

A Figura 4 apesenta o espectro de carbono treze (RMN 13C) do 4-alil-1-(4-


fluorofenoxi)-2-metoxibenzeno.

Figura 4: Espectro de carbono do 4-alil-1-(4-fluorofenoxi)-2-metoxibenzeno em CDCl3, 75 MHz


116.035

Q0918_2.esp
115.728
120.954

55.910
118.242120.571

CDCl3
77.444

39.971
77.014
76.601
113.138
136.940
151.101

137.200
156.618

143.545
159.791

160 152 144 136 128 120 112 104 96 88 80 72 64 56 48 40 32


Chemical Shift (ppm)

Fonte: Autoria própria


Os sinais com os valores de deslocamentos químicos em: 31,72; 34,34; 55,98; 62,28;
71,23 ppm correspondem aos cinco carbonos de hibridização sp3 presentes na estrutura em
estudo. Os sinais entre 112,35 a 149,60 ppm correspondem aos carbonos de hibridização sp2
presentes na porção vinílica e em ambos anéis aromáticos da respectiva estrutura em estudo. O
aumento no número de sinais nessa região ocorre devido a presença do átomo de flúor na
estrutura, o qual acopla com os carbonos próximos levando a duplicação desses sinais no
espectro de RMN 13C (BRANCO et al., 2015). Foi visualizado o acoplamento do átomo de
flúor com os carbonos próximos (carbono ipso, carbono na posição orto e o carbono na posição
meta presentes no anel aromático). Portanto, o conjunto desses sinais característicos e seus

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 71


respectivos valores de deslocamentos químicos indicam a formação do produto desejado os
quais estão sumarizados na Tabela 1.

Tabela 1: Deslocamentos químicos presentes nos espectros de RMN 1H e RMN 13C do 4-alil-1-(4-fluorofenoxi)-
2-metoxibenzeno.

Composto deslocamentos químicos (ppm)

3,30 (d, 1H, J = 6.9 Hz); 3,82


(s, 3H), 5,09- 5,15(m, 2H);
1
RMN H 5,92-6,06 (m, 1H); 6,72 (dd,
1H, J = 1,8 e 8,1); 6,82 (d, 1H,
J = 1,8); 6,86- 7,00 (m, 5H, J =
1,8).
4-alil-1-(4-fluorofenoxi)-2-
metoxibenzeno
31,72, 34,34, 55,98, 62,28,
71,23, 112,35, 114,30, 120,23,
RMN 13C
127,27, 127,74, 128,49, 135,14,
137,41, 146,38, 149,60.

Fonte: Autoria própria


Após a síntese e confirmação da estrutura do 4-alil-1-(4-fluorofenoxi)-2-metoxibenzeno
através das técnicas de RMN a próxima etapa consistiu na avaliação da atividade antitumoral
desse composto. Esta etapa foi realizada através do ensaio de MTT, considerado um dos
métodos mais utilizados para a triagem da propriedade antiproliferativa de compostos em
células cultivadas. Por ser amplamente aplicado, versátil e popular o ensaio de MTT se tornou
um método padrão para avaliar a viabilidade celular (Rai et al., 2018).

De modo geral, este ensaio se baseia na redução do sal de tetrazólio MTT para o
formazan (coloração roxo e insolúvel) nas células metabolicamente ativas por efeito das
enzimas mitocondriais, predominantemente succinato desidrogenase, por ser impermeável às
membranas celulares, o farmazan se acumula dentro das células vivas, as quais solubilizadas e
será detectado pela medição colorimétrica. Consequentemente a capacidade das células de
reduzir o MTT fornece uma indicação da integridade e atividade mitocondrial (viabilidade)
(Maioli et al., 2009).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 72


Diante da importância e grande aplicabilidade do ensaio de MTT para avaliar a
viabilidade celular o 4-alil-1-(4-fluorofenoxi)-2-metoxibenzeno foi submetido a avaliação da
atividade antitumoral através do ensaio de MTT no qual foi utilizado as linhagens de células
tumorais utilizadas MCF-7 (Carcinoma de mama) e CACO-2 (adenocarcinoma de cólon
humano) e os valores de IC50 são mostrados na tabela abaixo:

Tabela 2: Avaliação da atividade antitumoral CI50 do o 4-alil-1-(4-fluorofenoxi)-2-metoxibenzeno.


IC50 (mg/mL)
Entrada Composto
MCF-7 Caco-2

1 0,629 1,659

Fonte: Autoria própria


Diante dos resultados dispostos na tabela 2, foi constatado que o 4-alil-1-(4-
fluorofenoxi)-2-metoxibenzeno apresentou uma baixa atividade antitumoral perante as
linhagens utilizadas MCF-7 e CACO-2 com valores de IC50 de 0,629 e 1,659 mg/mL,
superiores ao fármaco referência utilizado a Doxorrubicina (DOX) que apresentou valores de
5,83± 0.2 µM para MCF-7 e 2,85 ± 0.068 µM para Caco-2 ).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da relevância que os produtos naturais aliado a necessidade urgente para o


desenvolvimento de novos fármacos com propriedades antitumoral, foi realizada a síntese de
um novo composto. O 4-alil-1-(4-fluorofenoxi)-2-metoxibenzeno foi obtido na forma de um
óleo incolor com 75% de rendimento e teve sua estrutura confirmada através de técnicas
espectroscópicas. A atividade antitumoral foi avaliada pelo ensaio de MTT frente as linhagens
de células tumorais MCF-2 e CACO-2. A atividade antitumoral do 4-alil-1-(4-fluorofenoxi)-2-
metoxibenzeno foi baixa quando comparado ao fármaco padrão com valores de IC50 de 0,629
e 1,659 mg/mL,. Os resultados obtidos são estudos preliminares acerca da investigação da
atividade antitumoral desta estrutura, no entanto, mais estudos são necessários afim de
mensurar as propriedades biológicas deste composto, visto que, se trata de um novo derivado
que não possuem relatos quanto a sua ação. Esses relatos contribuem de forma imprescindível
para o desenvolvimento de novos agentes com propriedades antitumoral.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 73


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CAPÍTULO 6
SAÚDE COLETIVA E TRATAMENTO DE EFLUENTES: UM ESTUDO DE CASO

Clebes Iolanda Leodice Alves, Especialista, enfermeira, Prefeitura de Cariacica-ES


Leonice Aparecida de Fátima Alves Pereira Mourad, Doutora, geógrafa, UFSM- RS

RESUMO
O presente artigo pretende apresentar a relação entre saúde coletiva e tratamento de água,
tomando como referência o tratamento de águas residuárias de uma agroindústria, do tipo
frigorífico de abate e processamento de carnes. Pela sua natureza, utiliza um grande volume de
água, gerando proporcional quantidade de efluentes com elevada carga orgânica, que são
tratados nas estações de tratamento de efluentes (ETEs). Apresentamos o resultado da análise
microbiológica do lodo, que apresenta condições que indicam uma boa depuração, não sendo
prejudicial à saúde quando estes efluentes forem lançados nos corpos hídricos, de tal sorte a
não provocar agravos na saúde da população que reside no seu entorno.
PALAVRAS-CHAVE: Águas Residuárias; Qualidade da Água; Saúde Pública; Vigilância em
Saúde.

INTRODUÇÃO

O surgimento das primeiras civilizações, como as egípcias e as mesopotâmicas (do


grego meso: meio, entre; potami: rio), se deu ao longo dos cursos d’água, como o rio Nilo e os
rios Tigre e Eufrates. Isso ocorreu basicamente devido a necessidade de domínio da agricultura,
que impulsionava o ser humano a se fixar às margens dos rios onde teriam disponibilidade de
água potável e terras mais férteis. Além dessas necessidades alimentares, também destaca-se as
higiênicas e da saúde.

Atualmente, a questão do abastecimento de água ainda é uma preocupação tanto em


termos quantitativos, como qualitativos. Tal preocupação baseia-se principalmente na ação
antrópica, que resulta na deterioração dos mananciais e escassez desse recurso com o
consequente comprometimento da saúde das populações.

Devido ao acelerado crescimento populacional e desenvolvimento industrial, as águas,


tanto superficiais, quanto subterrâneas, sofrem os impactos desse desenvolvimento. Inúmeras
são as descargas industriais e domésticas realizadas de forma direta ou indireta através das
chuvas (carreamento de poluentes presentes nos solos).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 76


Essa contaminação representa um grande problema de saúde pública, a qual visa a
promoção da saúde, através do combate aos fatores condicionantes da propagação de doenças,
ou seja, controlando as incidências através de ações de vigilância.

Nesse contexto, a vigilância em saúde tem papel essencial, uma vez que suas ações são
de “promoção, prevenção e controle de doenças e agravos à saúde, devendo-se constituir em
espaço de articulação de conhecimentos e técnicas.” (BRASIL, 2010)

O conceito de vigilância em saúde inclui: a vigilância e o controle das doenças


transmissíveis; a vigilância das doenças e agravos não transmissíveis; a vigilância da situação
de saúde, vigilância ambiental em saúde, vigilância da saúde do trabalhador e a vigilância
sanitária.

Implica na articulação de diversos temas, tais como política e planejamento,


territorialização, epidemiologia, processo saúde-doença, condições de vida e situação de saúde
das populações, ambiente e saúde e processo de trabalho, podendo se distribuir entre:
epidemiológica, ambiental, sanitária e saúde do trabalhador.

A vigilância epidemiológica elenca as principais doenças de notificação compulsória,


investiga epidemias, além de agir no controle de doenças específicas.

Cabe a vigilância ambiental atentar às interferências dos ambientes físico, psicológico


e social na saúde. Neste contexto, destaca-se as ações de controle de qualidade da água, dos
resíduos e vetores de transmissão de doenças.

Já a vigilância sanitária atua no controle de bens, serviços e processos produtivos que


possam oferecer risco à saúde da população ou a um grupo de trabalhadores, em específico, e
ao meio ambiente. Enquanto que a vigilância da saúde do trabalhador promove ações de
prevenção, assistência a agravos laborais.

Na temática em discussão neste estudo, se faz necessária a atuação de todas as


dimensões da vigilância, com maior destaque para a vigilância epidemiológica, e ambiental e a
sanitária.

A falta de condições de potabilidade decorrentes de possíveis lançamentos industriais


indevidos, pode ocasionar agravos na saúde da população, tais como doenças de veiculação
hídrica. Desta maneira, é preocupante a incidência de patologias, sobretudo as protozooses,
uma vez que seus agentes etiológicos são mais resistentes (forma de cistos e oocistos).

As principais protozoários e respectivas protozooses de veiculação hídrica são:

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 77


● Cryptosporidium é um dos protozoários intestinais mais comum que parasita
hospedeiros humanos e animais. Causa diarreia com efeitos mais severos nas crianças,
grávidas e imunodeprimidos.
● Giardia duodenalis é um protozoário flagelado que parasita o intestino delgado e
provoca a giardíase. É uma das causas mais comuns de diarréia em crianças além de
problemas de má nutrição e atraso no desenvolvimento
● Entamoeba histolytica é um protozoário sarcodíneo que parasita o intestino grosso,
provocando a enfermidade amebíase
● Toxoplasma gondii é um protozoário intracelular e o agente etiológico desta
enfermidade apresenta transmissão congênita, fato que gera grandes preocupações no
público das gestantes.

A legislação vigente, que normatiza a proteção da população contra a contaminação por


esses patógenos, é a Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011, do Ministério da Saúde, que
dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo
humano e seu padrão de potabilidade. (BRASIL, 2011)

De acordo com Franco; Branco; Leal (2012, p. 124), a detecção destes protozoários no
ambiente é realizada através de três etapas: Coleta e concentração, purificação e
identificação/enumeração dos protozoários.

Segundo Vieira (2020),

De acordo com as mais recentes estimativas, publicadas em 2019, ocorrem


anualmente, em todo o mundo, cerca de 2 milhões de mortes causadas por precárias
condições sanitárias, com relação a água insegura para consumo humano, a
inadequado saneamento e a insuficiente higiene (falta de instalações básicas para a
lavagem das mãos com água e sabão). Neste contexto, a propagação de doenças
infecciosas, que pode tomar a dimensão de epidemia ou até de pandemia, tem
particular incidência em países menos desenvolvidos, atingindo em especial, o grupo
vulnerável das crianças com menos de 5 anos de idade (VIEIRA, 2020, p. 3).
Para melhor entendimento de como se dá a relação entre água e saúde (não restrita ao
âmbito das doenças), retomemos à definição de saúde datada de 1946 e que, segundo a
Organização Mundial de Saúde – OMS, menciona “[...] é um estado de completo bem-estar
físico, mental e social e não apenas a mera ausência de doença ou enfermidade”.

Destacamos ainda que a aproximação entre questões ambientais e o campo da saúde


coletiva data dos anos de 1970, sendo o tema do tratamento de efluentes de grande importância
para as discussões de saúde coletiva, especialmente oriundos de agroindustrias de grande porte
bastante comuns na região sul do Brasil.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 78


O efetivo cumprimento da legislação que regulamenta a matéria é de suma importância
para garantir o equilíbrio do meio ambiente, com especial destaque aos cursos hídricos e,
consequentemente, evitar um conjunto de agravos na saúde das populações que vivem no seu
entorno.

Os desafios de garantir os serviços de abastecimento de água potável e o tratamento das


águas residuárias, neste cenário de crescente urbanização e industrialização, são enormes. Isso
se confirma pela elaboração de um Plano Global que estabeleceu 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS), com destaque ao 6º ODS, que trata da Água Potável e
Saneamento - Assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e saneamento para
todos. (ONU BRASIL, 2015)

Em seu item 6.3, o referido ODS menciona que até 2030, é preciso “melhorar a
qualidade da água, reduzindo a poluição, eliminando despejo e minimizando a liberação de
produtos químicos e materiais perigosos, reduzindo à metade a proporção de águas residuais
não tratadas e aumentando substancialmente a reciclagem e reutilização segura globalmente.”

Corroborando com a ideia acima, Shubo (2003) discorre sobre o reuso indireto
planejado da água, que

Ocorre quando os efluentes depois de tratados são descarregados de forma planejada


nos corpos de águas superficiais ou subterrâneas, para serem utilizadas à jusante, de
maneira controlada, no atendimento de algum uso benéfico. O reuso indireto
planejado da água pressupõe que exista também um controle sobre as eventuais novas
descargas de efluentes no caminho, garantindo assim que o efluente tratado estará
sujeito apenas a misturas com outros efluentes que também atendam aos requisitos de
qualidade do reuso objetivado. (SHUBO, 2003)
De acordo com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), no Brasil,
a indústria de transformação representa o terceiro maior uso consuntivo1 de água, atrás somente
do abastecimento urbano e da agricultura que utiliza o processo de irrigação. Esse intenso
consumo, varia de acordo com a matéria prima utilizada, com o tipo de processo e tecnologias
empregadas e com as práticas de gestão de qualidade e sustentabilidade preconizadas no
processo. (BRASIL, 2017)

Esse intenso consumo e a necessidade de reuso nos faz refletir acerca da importância
dos processos de tratamentos dos efluentes produzidos por essas indústrias. É necessário que,

1 Os usos consuntivos são aqueles que retiram água do manancial para sua destinação, como a irrigação, a
utilização na indústria e o abastecimento humano. Disponível em: https://www.gov.br/ana/pt-br/assuntos/gestao-
das-aguas/usos-da-agua/outros-
usos#:~:text=Os%20usos%20consuntivos%20s%C3%A3o%20aqueles,da%20%C3%A1gua%20sem%20consum
i%2Dla.

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ao final do processo, no lançamento a jusante, essa água tenha características físicas, químicas,
biológicas e organolépticas adequadas.

Tais características de lançamento devem estar de acordo com o dita o Conselho


Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) na Resolução nº. 430/2011, que “Dispõe sobre as
condições e padrões de lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução nº. 357, de
17 de março de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA.” Essa resolução
menciona que o gerador de efluente só poderá lançar seu efluente após o devido tratamento, em
conformidade com os padrões exigidos. (BRASIL, 2005)

Já os padrões de potabilidade, estão normatizados pela Portaria de Consolidação nº. 5,


de 28 de setembro de 2017 do Ministério da Saúde - MS, que trata da “Consolidação das normas
sobre as ações e os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde”, e seu Anexo XX, que “dispõe
sobre o controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de
potabilidade.” (BRASIL, 2017).

Segundo Fortes; Barrocas; Kligerman (2019),

O acesso à água potável é um processo complexo em função dos diversos fatores


envolvidos, devendo considerar requisitos como disponibilidade,
qualidade/segurança, aceitabilidade de suas características pelo consumidor,
acessibilidade física e financeira; além dos princípios gerais dos direitos humanos.
Envolve, portanto, a perspectiva quantitativa e qualitativa; e o simples acesso à rede
ou o percentual de cobertura não reflete verdadeiramente a universalização do serviço,
tampouco a qualidade deste, devendo, portanto, considerar também elementos
socioeconômicos e culturais das comunidades e a qualidade dos serviços ofertados.
(FORTES; BARROCAS; KLIGERMAN, 2019, p. 29-30).
O presente estudo propõe a reflexão acerca da evidente relação epidemiológica entre
qualidade da água e condições de saúde, a partir da análise de um estudo técnico que avaliou a
qualidade do processo de depuração da água, em estação de tratamento de efluentes (ETE) de
indústria frigorífica de abate de aves.

A análise microbiológica da água tem um papel de destaque no processo de mensurar a


potabilidade, principalmente pelo grande número e diversidade de microrganismos envolvidos
numa indústria com tal especificidade. O estudo técnico de cunho qualitativo, analisou amostras
quanto a presença de protozoários, conforme parâmetros microbiológicos, principalmente no
que se refere a dominância dos protozoários observados.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 80


ESTUDO QUALITATIVO DE LODO ATIVADO DE E.T.E DE ABATEDOURO DE
AVES

Os resíduos industriais e domésticos devem ser corretamente tratados com vistas a


remoção da maior quantidade possível de poluentes. Isso se faz necessário para mitigar a
poluição de corpos hídricos, preservando, assim, o ecossistema envolvido e evitando também
possíveis danos à saúde pública.

Os órgãos ambientais desempenham um papel importante na fiscalização dos


lançamentos dos efluentes, de acordo com as legislações vigentes, tais como os Decretos N.º
9.016/2017 (Brasil, 2017) e o N.º 10.468/2020 (Brasil, 2020) que regulamentam a inspeção
industrial e sanitária de produtos de origem animal.

As indústrias, especificamente as agroindustrias, como os frigoríficos de abate e


processamento de carnes, utilizam um grande volume de água. Consequentemente, geram
volumes de efluentes igualmente grandes e com elevada carga orgânica, que são tratados nas
estações de tratamento de efluentes (ETEs).

Dessa forma, é premente reduzir o consumo de água através de processo de reutilização


e garantir a qualidade dos efluentes gerados que serão, posteriormente, lançados nos corpos
hídricos.

Os tratamentos realizados para obter um efluente em condições para esse lançamento se


dividem em etapas, preliminar, primário, secundário, terciário, de acordo com a característica
da planta industrial e nelas são realizados procedimentos físicos, químicos e biológicos,
dependendo da etapa.

No tratamento secundário, cujo objetivo é remover a matéria orgânica, procedimentos


biológicos são executados de acordo com a demanda de oxigênio (aeróbios, anaeróbios e
facultativos). Dentre o processo aeróbio (com presenças de oxigênio), temos o sistema de lodo
ativado.

A análise técnica deste estudo ocorreu durante o mês de abril, quando foram analisadas
amostras de lodo ativado de uma indústria frigorífica de aves, localizada em município do oeste
do Paraná. Tais análises se deram no Laboratório de Microbiologia da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Campus Medianeira, sob a supervisão e orientação
da professora Dra. Marcia Antonia Bartolomeu Agustini.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 81


Teve como objetivo avaliar a qualidade do tratamento de efluente de ETE de indústria
frigorífica de aves, do oeste do Paraná, conforme parâmetros microbiológicos, principalmente
no que se refere a dominância dos protozoários observados (mais abundante).

MATERIAIS E MÉTODOS

Para determinarmos a melhor destinação do lodo resultante do tratamento de efluentes,


precisamos conhecer as características físico-químicas presentes, como por exemplo, o tipo de
matéria orgânica, de nutrientes e o grau de toxicidade dos compostos orgânicos. A partir disso,
também conseguimos inferir sobre a qualidade desse ambiente.

Para esse estudo, realizamos a coleta e, posterior, análise da qualidade microbiológica


de amostras de lodo ativado, colhidas em ETE de frigorífico agroindustrial de processamento
de aves de município do oeste paranaense.

Essa Unidade Industrial de Aves (UIA), faz parte da terceira maior cooperativa do
estado do Paraná, com unidades presentes também no estado de Santa Catarina e Mato Grosso
do Sul. São quatro unidades de aves, que juntas totalizaram, em 2020, a marca de 179.881.682
cabeças de ave para abate, conforme Relatório e Balanço 2020 - Visão Global e Estratégica
(2020).

Acerca dos sistemas de lodos ativados, Bento et al (2005) mencionam que

Os sistemas de tratamento de esgotos por lodos ativados são os mais amplamente


empregados no mundo todo, principalmente pela alta eficiência alcançada associada
à pequena área de implantação requerida, quando comparado a outros sistemas de
tratamento. (BENTO et al., 2005, p. 330)
Sobre esse processo de aglutinação em flocos de bactérias, fungos, protozoários e outros
animais; e como é obtido, Orssato (201-) menciona que "A biomassa consegue ser facilmente
separada no decantador secundário devido à sua propriedade de flocular.”

Segundo Freddo (2014),

Este lodo é concentrador de diversos compostos e elementos que podem oferecer risco
à saúde da população e ao meio ambiente caso não sejam controlados e monitorados
de forma adequada. Assim, suas características são fundamentais para a definição da
melhor forma de disposição final sem expor a saúde populacional e o meio ambiente.
(FREDDO, 2014, p. 16-17)
De encontro a isso, Von Sperling (2016) refere que “Lodo ativado é um sistema muito
utilizado no tratamento de águas residuárias domésticas e industriais [...].” (VON SPERLING,
2016, p. 11)

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Abaixo, podemos verificar o esquema ilustrativo de funcionamento de um sistema de
lodos ativados do tipo convencional. A diferença entre esse sistema e o de aeração prolongada
é a não presença do decantador primário, pois, como não há a necessidade de se estabilizar o
lodo biológico excedente, não há a necessidade de estabilização adicional do lodo, por
processos anaeróbios ou aeróbios.

Figura 1 - Esquema ilustrativo de um sistema de lodos ativados

Fonte: Lervolio, 2019.


Sobre como se dá esse sistema, Lervolino (2019) refere que

O processo biológico que ocorre dentro do tanque é todo aeróbio. No tanque, a aeração
tem por finalidade proporcionar oxigênio aos microrganismos (biomassa) e evitar a
deposição dos flocos bacterianos, a fim de misturá-los homogeneamente com o
efluente. O oxigênio pode ser introduzido por meio de um sistema de aeração
mecânica, por ar comprimido, ou ainda pela introdução de oxigênio puro.
(LERVOLINO, 2019)
O lodo é caracterizado por grande quantidade de microrganismos, que podem ser
animais, protozoários, fungos ou bactérias. Sobre a importância de estudos sobre o lodo ativado,
Bento et al. (2005) afirma que “O diagnóstico obtido pela microscopia do lodo ativado é
utilizado para alterar as características operacionais do sistema, tais como a idade do lodo e a
concentração de oxigênio dissolvido no reator”. (BENTO et al. 2005, p. 331).

Para determinar a qualidade das amostras supracitadas, no laboratório de Microbiologia


da UTFPR, Campus Medianeira, PR, foram pipetadas gotas dessas amostras de lodo no
conjunto lâminas/lamínulas e em seguidas visualizadas em microscópio óptico.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Essa análise resultou na identificação de protozoários, entre eles do tipo amebóides (em
forma de ameba) - gênero Arcella sp; do tipo ciliados (que possuem cílios para locomoção e

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para alimentação) - gênero Euplotes sp.; gênero Parameciun sp. e do tipo pedunculados -
gênero Opercularia sp; gênero Vorticella sp. Nesse lodo, houve a dominância de protozoários
pedunculados ciliados e livres.

A seguir, nas figuras 2 (a), (b) e (c), podemos ver as imagens captadas via observação
pelo microscópio.

Figura 2 (a) - Protozoários presentes em lodo de efluente – Arcella sp

Fonte: Agustini, 2021.

Figura 2 (b) - Protozoários presentes em lodo de efluente – Euplotes sp.; gênero Parameciun sp., Opercularia
sp; Vorticella sp

Fonte: Agustini, 2021.

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Figura 2 (c) - Protozoários presentes em lodo de efluente – Opercularia sp e Vorticella sp.

Fonte: Agustini, 2021.


Além dos protozoários supracitados, foram encontrados metazoários 2 do gênero
Rotifero sp, conforme figura abaixo.

Figura 3 - Metazoário presente em lodo de efluente

Fonte: Agustini, 2021.


Também foi possível observar a presença de bactérias do tipo zoogléa, que são
responsáveis pela formação dos flocos.

Os organismos responsáveis pela purificação e estruturação dos flocos são as bactérias.


Porém, são os protozoários e os micrometazoários que desempenham importante papel no
equilíbrio bacteriano, na remoção de E. coli e na redução do DBO5. (BENTO et al., 2005, p.
330).

Bento et al. (2005) ainda complementa que

Por serem extremamente sensíveis às alterações no processo, os componentes da


microfauna alternam-se no sistema em resposta às mudanças nas condições físico-
químicas e ambientais. Desse modo, a composição da microfauna do lodo ativado
revela tendências do processo, quanto a eficiência da remoção da demanda bioquímica

2 Animais microscópicos que se caracterizam por serem organismos multicelulares heterótrofos, que ingerem o
seu alimento, apresentando um desenvolvimento embrionário típico após a fecundação do zigoto, no mínimo com
os estágios de mórula e blástula. Disponível em:
http://botanicaonline.com.br/geral/arquivos/Texto%20Base%20Aula%2017.pdf.

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de oxigênio – DBO5; a eficiência da remoção de sólidos suspensos - SS; as condições
de sedimentação do lodo; o nível de aeração empregado no sistema; a presença de
compostos tóxicos, tais como metais pesados e amônia; além de poder indicar a
ocorrência de sobrecargas orgânicas e de nitrificação. (BENTO et al., 2005, p. 330).
Em concordância com a ideia expressa acima, Moeller e Ortiz (2004) reforçam a ideia
de que protozoários são

[...] microorganismos eucariotes unicelulares de 10 a 100 micras de longitud que se


reproducen por fisión binaria. Algunos se encuentran libres en la naturaleza, mientras
que otros son parásitos, viviendo dentro o fuera de un organismo. Los huéspedes
varían de organismos primitivos como las algas a organismos complejos, incluyendo
al ser humano. La mayoría son heterótrofos aerobios o facultativos. Su fuente
principal de alimento son las bacterias que además de alimento les suministran otros
factores necesarios para su crecimiento que ellos mismos no pueden sintetizar. Los
protozoarios juegan un papel importante en los procesos biológicos de tratamiento de
aguas residuales. (MOELLER, ORTIZ, 2004, p. 175)

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final desse trabalho apresentamos os resultados da análise da amostra do efluente,
bem como considerações sobre a importância do processo de tratamento de efluentes, que
demandam tratamento para minimizar os impactos de seus descartes à saúde ambiental

De acordo com as condições microscópica resultantes da análise das amostras do


efluente, onde:

● Há dominância de protozoários ciliados livres e pedunculares;

● Sabendo que os protozoários são importantes nos processos biológicos e na detecção de


compostos tóxicos;
● Que os protozoários ciliados pedunculados e livres indicam boas condições de
depuração da matéria orgânica;
● Não tem relação com a ocorrência de nitrificação (diferentemente dos protozoários
ciliados fixos) e
● A presença das amebas pode indicar um lodo jovem;

Podemos inferir que as condições imediatas do ambiente representado pelas amostras


coletas em efluente de ETE de frigorífico de aves, apresenta condições que indicam uma boa
depuração, e, possivelmente, se trata de um lodo jovem, com caraterísticas de início de
operação.

Cumpre referir que a significativa presença de organismos patogênicos, com especial


destaque aos protozoários com essas características, um problema frequente nos ambientes
aquáticos e nas diversas formas de eutrofização dos corpos hídricos, faz urgente a ampliação

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das estratégias de controle da contaminação desses recursos, sendo o tratamento de resíduos de
ETE uma estratégia importante para o controle da qualidade da água.

A vigilância em saúde pública, aqui relacionada às práticas de atenção e promoção da


saúde dos cidadãos e aos mecanismos adotados para prevenção de doenças, é um instrumento
de implementação, fortalecimento e fiscalização das ações desenvolvidas pelas agroindústrias
processadoras de carne.

Para evitar que os efluentes descartados nos corpos hídricos causem efeitos tóxicos à
biota aquática e à saúde humana é preciso otimizar os métodos de detecção de fatores
determinantes e condicionantes presentes nos corpos hídricos que possam interferir na saúde
humana, identificando e implementando com brevidade, medidas de prevenção e controle de
fatores que colocam o meio ambiente em risco, minimizando assim, a incidência de doenças ou
outros agravos à saúde pública.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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de esgotos do tipo lodos ativados: um instrumento de avaliação e controle do processo.
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Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 89


CAPÍTULO 7
AVALIAÇÃO DA FREQUÊNCIA DO CONSUMO ALIMENTAR DE ATLETAS
UNIVERSITÁRIOS DE UM TIME DE FUTEBOL MASCULINO EM SÃO LUÍS – MA

Thirza Rafaella Ribeiro França Melo, Bacharela em Nutrição, Centro Universitário Estácio
de São Luís
Luis Felipe Castro Araújo, Bacharel em Nutrição, Centro Universitário Estácio de São Luís
Fabiana Viana Maciel Rodrigues, Mestranda em Educação Física, UFMA
Matheus Caíck Santos Brandão, Mestrando em Educação Física, UFMA
Kassiandra Lima Pinto, Mestranda em Educação Física, UFMA
Ana Carolina Pimenta Santos, Bacharela em Nutrição, Centro Universitário Estácio de São
Luís:
Raphael Furtado Marques, mestre em Educação Física, UFMA e professor do Centro
Universitário Estácio de São Luís
Marcos Roberto Campos de Macêdo, Mestre em Saúde do Adulto e da Criança, UFMA e
professor do Centro Universitário Estácio de São Luís

RESUMO
A prática de avaliar o consumo e quantificar a ingestão alimentar nos possibilita monitorar as
tendências temporais do consumo alimentar e suas consequências a longo prazo. No esporte,
essa investigação nos permite compreender o perfil dietético do atleta e as suas variações em
decorrência da intensidade dos treinos e competições. Além disso, o estudo da dieta
pregressa/habitual fornece respaldo às questões frequentes sobre a saúde ou desempenho dos
atletas. Dessa forma, o objetivo do presente estudo é avaliar a frequência do consumo alimentar
de atletas universitários de um time de futebol masculino em São luís- MA. Foram avaliados
27 atletas universitários, do gênero masculino, com idade entre 19 e 30 anos. A análise do
consumo alimentar destacou consumo favorável para o grupo das frutas com destaque para
banana 85,2% (n=23), laranja, mexerica e abacaxi 70,4% (n=19). Além disso, o grupo das
“verduras e legumes” revelou um consumo frequente, com destaque para o alface 81,5%
(n=22), 85,2% (n=23) em relação ao tomate e de 81,5% (n=14) para a cenoura. Apesar disso, a
amostra em questão também demonstrou uma predileção ao consumo frequente de alimentos
com alta densidade energética, como: salgados fritos 70,4% (n=19) , biscoitos recheados 48,1%
(n=13), refrigerantes 63,0% (n=17) e de doces como: chocolate, bombom e brigadeiro por
59,3% (n=16). O presente estudo e os resultados encontrados na literatura, enfatizam a
necessidade do público esportivo dispor de um acompanhamento nutricional, de modo orientar
e intervir nas escolhas alimentares. E dessa forma, alcançar benefícios à saúde e desempenho
dos atletas.
PALAVRAS-CHAVE: Consumo de Alimentos; Frequência; Nutrição; Futebol.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 90


INTRODUÇÃO

A nutrição e o treinamento são condições essenciais para que o jogador de futebol


obtenha um bom desempenho. A demanda energética dos treinamentos e competições requer
dos jogadores uma dieta balanceada e particularmente rica em carboidratos (Daniel, Cosmo e
Navarro, 2010).

É fundamental aliar o treinamento a uma dieta equilibrada, de modo a ofertar


quantidades apropriadas de calorias para suprir o gasto energético. E assim, otimizar o
rendimento através da manutenção da força, resistência e massa muscular. Além de diminuir
os efeitos negativos do estresse causado pelo exercício (Serejo e colaboradores, 2018; Ferigollo
e colaboradores, 2017).

Um aporte adequado de carboidratos é fundamental para a otimização dos estoques


iniciais de glicogênio muscular e manutenção da glicose sanguínea ao longo dos
exercícios, podendo ainda retardar o mecanismo da fadiga nos atletas durante os
exercícios físicos intensos e prolongados (Kreider e colaboradores, 2010).

Em conjunto, os lipídeos também são utilizados no organismo como fonte de energia,


além de desempenhar um papel importante na formação de hormônios esteróides e na
modulação da resposta inflamatória (Poortmans e colaboradores, 2012).

Associado a isso, uma oferta protéica ajustada às necessidades do atleta irá atuar sobre
o reparo das lesões nas fibras musculares, recuperação e aumento da massa muscular (Ferigollo
e colaboradores, 2017).

Em razão do futebol ser um esporte que sobretudo exige dos atletas resistência,
velocidade e força, onde por muitas vezes os jogadores chegam aos seus limites máximos de
exaustão física, é imprescindível que eles disponham de uma alimentação ajustada no que diz
respeito à quantidade e a qualidade dos alimentos, antes, durante e depois dos treinamentos e
competições (Bezerra e colaboradores, 2018).

Nesse sentido faz- se necessário conhecer os hábitos alimentares, detectar as


deficiências presentes e realizar os ajustes precisos às necessidades existentes, afim de melhorar
a composição corporal e a performance do atleta.

Atentando para essa necessidade, o presente estudo objetivou avaliar a frequência do


consumo alimentar de atletas universitários de um time de futebol masculino em São Luís- MA.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 91


MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da Universidade


Federal do Maranhão/UFMA sob o número do parecer 3.716.752. Trata-se de um estudo
descritivo, de corte transversal e de caráter quantiqualitativo. Todos os participantes da pesquisa
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e foram mantidos em anonimato em
todas as etapas da pesquisa.

Foram avaliados 27 atletas universitários, do gênero masculino, com idade entre 19 e


30 anos, que integram um time de futebol de uma universidade federal do município de São
Luís-MA.

Os participantes foram submetidos uma avaliação da composição corporal realizada


com o auxílio de uma balança de bioimpedância de marca Tanita BC 601, e posteriormente foi
realizada a aplicação do questionário de avaliação da frequência do consumo alimentar
elaborado por Fisberg e colaboradores, (2008), para estimar o consumo alimentar habitual de
adultos.

O questionário é dividido em três segmentos, composto pelos grupos alimentares, a


frequência do consumo, que se subdivide em: dia, semana, mês e ano. E a terceira divisão
composta pela medida e tamanho das porções consumidas, subdividida em: porções pequena,
média, grande e extragrande. Sendo assim, foi considerado para análise o período referente ao
consumo frequente “diário/semanal” e pouco frequente o consumo “mensal/anual”. Da mesma
forma, foram considerados como “não consumidos” os alimentos que não obtiveram destaque
na análise dentre os períodos relatados.

Os dados obtidos foram tabulados no programa Microsoft Excel® 2019 e analisados por
meio de estatística descritiva e foram expressos na forma de média e desvio padrão, valor
absoluto e valor relativo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os 27 atletas avaliados apresentaram média de idade de 22,4 ±3,1 anos, massa corporal
de 75,6 ±9,7 quilogramas, estatura de 1,80 ±0,1 metros e índice de massa corporal de 24,5 ±3,0
kg/m².

Avaliando os resultados obtidos através da análise do consumo alimentar podemos


perceber que dentre o consumo do grupo de “sopas e massas” 63,0% da amostra (n=17) relatou
consumir com frequência salgados fritos e 70,4% (n=19) macarrão com molho e sem carne.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 92


Já o grupo das “carnes e ovos” apontou como consumido com maior frequência a carne
bovina e o frango com 96,3% (n=26), o que nos sugere um bom aporte proteico proveniente da
origem animal. Entretanto, no mesmo grupo notou-se um consumo pouco frequente de peixes
em 63,0% (n=17). Além disso, a amostra apresentou um consumo frequente da linguiça em
59,3% (n=16) e de alimentos embutidos em 51,9% (n=14), fato que nos chama atenção devido
as possíveis implicações futuras a partir do consumo frequente desses alimentos, tendo em vista
a sua composição.

Contudo, o grupo dos “ovos e leguminosas” evidenciou um consumo favorável dos ovos
e do feijão, onde 92,6% (n=25) relatou consumir esses alimentos com frequência.

No grupo dos “leites e derivados” os itens destacados foram o leite (integral, desnatado
e semidesnatado) onde 70,4% (n=19) da amostra relatou consumir com frequência, e 63,0%
(n=17) relatou consumir com frequência os queijos (muçarela, prato, parmesão e provolone), o
que pode não ser considerado tão interessante devido à quantidade de gordura e sódio presente
nesses tipos de queijos.

Com relação ao grupo do “arroz e tubérculos” podemos notar o consumo frequente e


prevalente de toda a amostra em relação ao arroz (branco e/ou integral) e de 92,6% (n=25) das
farinhas de mandioca, aveia, cuscuz e tapioca, que pode ser explicado devido à infuência dos
aspectos culturais e habituais da região.

Analisando o grupo das “verduras e legumes” obtemos um resultado satisfatório, onde


foi destacado o consumo frequente do alface em 81,5% (n=22) da amostra, 85,2% (n=23) em
relação ao tomate e de 81,5% (n=14) para a cenoura.

Da mesma forma, o grupo das “frutas”, apresentou consumo frequente da banana de


85,2% (n=23), laranja, mexerica e abacaxi em 70,4% (n=19), maçã e pêra de 63,0% (n=13) e
do melão e melancia de 59,3% (=16) da amostra.

Quanto ao grupo dos “molhos e condimentos” foi observado um consumo frequente do


óleo, azeite, vinagrete de 81,5% (n=22), condimentos de 63,0% (n=17) e uso do sal para
temperar salada por 51,9% (n=14) da amostra.

A análise do grupo das “bebidas” destacou o consumo preferencial para o suco natural,
consumido com frequência por 88,9% (n=24) da amostra. Além disso, somente 33,3% (n=9)
da amostra relatou consumir cerveja com frequência. Entretanto, o mesmo grupo também
apresentou consumo frequente de refrigerantes por 63,0% (n=17) da amostra

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 93


Em relação ao grupo dos “pães e biscoitos” 96,3% (n=26) da amostra relatou consumir
com frequência Pães (forma, integral) e torradas, junto ao consumo de manteiga e margarina
por 92,6% (n=25). Além disso, 48,1% (n=13) relatou consumir com frequência Biscoito
recheado (doce, salgado).

Quanto ao grupo do “açúcar e sobremesas” foi destacado o consumo prevalente do


Açúcar, mel e geleia por 81,5% (n=22) da amostra. Além disso, a análise também destacou o
consumo frequente de chocolate, bombom e brigadeiro por 59,3% (n=16) da amostra e tortas,
pudins e doces de 51,9% (n=14). Os resultados destacados a partir da análise dos dados estão
expressos na tabela 1.

Tabela 1. Análise do consumo dos grupos e alimentos presentes no questionário de avaliação do consumo
alimentar aplicado aos atletas universitários.

Grupos e Consumo diário/ Semanal Consumo Mensal/Anual Não consome


Alimentos
N % n % n %

Sopas e massas

Salgados Fritos 17 63,0% 10 37,0% 0 0,0%

Macarrão com 19 70,4% 4 14,8% 4 14,8%


molho sem carne

Carnes e ovos

Carne de boi 26 96,3% 1 3,7% 0 0,0%

Frango 26 96,3% 1 3,7% 0 0,0%

Peixe 6 22,2% 17 63,0% 4 14,8%

Embutidos 14 51,9% 10 37,0% 3 11,1%

Linguiça 16 59,3% 8 29,6% 3 11,1%

Carne de sol, carne 8 29,6% 14 51,9% 5 18,5%


seca e bacon

Leites e Derivados

Leite (integral, 19 70,4% 3 11,1% 5 18,5%


desnatado,
semidesnatado)

Queijo (muçarela, 17 63,0% 7 25,9% 3 11,1%


prato, parmesão,
provolone)

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 94


Leguminosas e ovos

Ovo (cozido, 25 92,6% 0 0,0% 2 7,4,%


frito)

Feijão 25 92,6% 1 3,7% 1 3,7%

Arroz e Tubérculos

Arroz (Branco, 27 100% 0 0,0% 0 0,0%


integral)

Farinha de 25 92,6% 1 3,7% 5 18,5%


mandioca, farofa,
cuscuz, aveia,
tapioca
Verduras e Legumes

Alface 22 81,5% 2 7,4% 3 11,1%

Tomate 23 85,2% 4 14,8% 0 0,0%

Cenoura 14 81,5% 5 18,5% 8 29,6%

Molhos e Temperos

Óleo, azeite, 22 81,5% 2 3,7% 3 11,1%


vinagrete

Condimentos 17 63,0% 2 3,7% 8 29,6%

Sal para temperar 14 51,9% 0 0,0% 13 48,1%


salada

Frutas

Laranja, 19 70,4% 4 14,8% 4 14,8%


mexerica e
abacaxi

Banana 23 85,2% 2 7,4% 2 7,4%

Maçã, Pêra 17 63,0% 5 18,5% 5 18,5%

Melão, melancia 16 59,3% 4 14,8% 7 25,9%

Bebidas

Suco natural 24 88,9% 3 11,1% 0 0,0%

Refrigerante 17 63,0% 7 25,9% 3 11,1%

Cerveja 9 33,3% 6 22,2% 12 44,4%

Pães e Biscoitos

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 95


Pães (forma, 26 96,3% 1 3,7% 0 0,0%
integral),
torradas

Biscoito 13 48,1% 8 29,6% 6 22,2%


recheado (doce,
salgado)

Manteiga e 25 92,6% 1 3,7% 1 3,7%


margarina

Doces e Sobremesas

Açúcar, mel e 22 81,5% 5 18,5% 0 0,0%


geleia

Chocolate, 16 59,3% 6 22,2% 5 18,5%


bombom e
brigadeiro

Tortas, pudins e 14 51,9% 4 14,8% 9 33,3%


doces

Fonte: Os autores.
Os resultados do presente estudo assemelham-se aos encontrados em um estudo
realizado por Kotacho Jr e colaboradores, (2020), que avaliou frequência alimentar de 26
jogadores de futebol do gênero masculino, com faixa etária entre 17 aos 19 anos, através da
aplicação de um questionário e recordatório alimentar de 24 horas.

O estudo avaliou o consumo alimentar diário, semanal e quinzenal. Dessa forma, foi
possível observar que a amostra em estudo apresentou um consumo regular dos grupos das
frutas, onde 76,9% consomem diariamente, enquanto 15,4% semanalmente. De hortaliças, onde
57,7% dos atletas relataram consumir diariamente e 30,8% semanalmente. E das leguminosas,
consumido regularmente por 76,9% da amostra. Com relação ao consumo de carne vermelha
foi relatado no estudo que 42,3% consomem diariamente. Além disso, em relação ao consumo
de frituras, 30,8% da amostra relatou consumir diariamente e 46,2% semanalmente. Quanto ao
consumo de refrigerantes, 42,3% relataram consumir semanalmente. Enquanto ao consumo da
bebida alcoólica, foi relatado que 3,8% consomem mensalmente e 96,2% não consomem.

Apesar do consumo frequente de alimentos com alta densidade energética e baixo valor
nutritivo, o estado nutricional da amostra em estudo, de acordo com o índice de massa corporal,
é predominantemente eutrófica.

Da mesma forma, apresentou-se a amostra de um estudo realizado por Magella e


colaboradores, (2019), que avaliou o consumo alimentar de 33 adolescentes, na faixa etária de
15 a 17 anos de idade, integrantes do projeto Nutfut da Universidade federal de Juiz de Fora.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 96


Apesar disso, a amostra apresentou um alto consumo diário de sucos artificiais e refrigerantes,
assim como o elevado consumo de snacks. Observou-se também um baixo consumo de sucos
naturais, folhas cruas e hortaliças cozidas.

Os resultados encontrados podem ser explicados devido à faixa etária da amostra, sendo
a maioria composta por adolescentes, além do gênero masculino, que possuem uma tendência
a apresentarem inadequação no consumo alimentar, evidenciando uma baixa ingestão de
alimentos saudáveis e um alto consumo de alimentos industrializados e embutidos.

CONCLUSÃO

Apesar do consumo alimentar da amostra em estudo prevalentemente apresentar


conformidade em relação ao consumo regular de frutas, verduras e legumes e de carnes brancas
e vermelhas, o que favorece a sua condição nutricional. A amostra em questão também
demonstrou uma predileção ao consumo frequente de alimentos com alta densidade energética,
como: salgados fritos, biscoitos recheados, refrigerantes e de doces e sobremesas.

Dessa forma, o presente estudo e os resultados encontrados na literatura, enfatizam a


necessidade do público esportivo dispor de um acompanhamento nutricional, de modo a intervir
e identificar as carências e excessos existentes. E a partir disso, traçar estratégias necessárias e
portanto alcançar um melhor rendimento e desempenho atlético durante os treinos e
competições.

REFERÊNCIAS

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Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 98


CAPÍTULO 8
A ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR NO
MANEJO DA IDEAÇÃO SUICIDA NO HOSPITAL

Lanna Mouta Cestari Evangelista, psicóloga do Programa de Residência


Multiprofissional no eixo atenção ao câncer, Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim
Otávio Luiz Vieira Souza, psicólogo do Programa de Residência Multiprofissional no eixo
Intensivismo/ Urgência e Emergência, Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim
Káthia Braga da Silva Teixeira, Psicóloga mestranda em Cognição e Linguagem pela
UENF
Rosita Angélica Gaspar, psicóloga especialista em atenção ao câncer pelo Hospital
Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim
RESUMO
O suicídio, atualmente está entre as dez causas de morte no mundo e no Brasil é a terceira causa
de morte entre jovens de 15 a 29 anos. O comportamento suicida geralmente começa na ideação,
passando pelas ameaças de suicídio, depois as tentativas e por fim, o autoextermínio. Dessa
forma, a construção deste trabalho, ancorado no método qualitativo, realizou uma revisão
narrativa na literatura, com caráter descritivo e exploratório. As bases de dados utilizadas foram
a Scientific Electronic Library Online (SciELO), Periódicos en Psicologia (PePSIC), Biblioteca
Virtual em Saúde (BVS) e Google acadêmico, em que foi encontrado um total de 226 artigos,
entre os anos de 2010 e 2021, no idioma português, do total foram selecionados 19 artigos. A
carga negativa atrelada ao imaginário social sobre o suicídio, se estabelecem atualmente em
forma de tabu, em assunto censurado, que agride as crenças religiosas e sociais. Os maiores
casos de tentativas de suicidio ocorrem no domicílio, em segundo lugar se dá no hospital geral.
Além dos estressores que comumente são observados no espaço hospitalar, acrescenta-se um
fator específico, a pandemia do coronavírus. Sendo assim, a equipe multiprofissional,
geralmente composta por profissionais de: Enfermagem, medicina, fisioterapia, farmácia,
psicologia, nutrição e assistência social, podem direcionar tanto as ações comuns a todos, como
também, ações próprias de sua área, visando a prevenção da tentativa de suicidio. Nesse
contexto, viu-se a importância de cada membro no acolhimento e minimização do risco do
suicídio no hospital, ressaltando sempre o aspecto empático, humano e acolhedor nas ações
prestadas ao usuário. Todavia, durante a pesquisa teve-se dificuldades em encontrar artigos que
abordassem a atuação da equipe multiprofissional no manejo do risco de suicidio no ambiente
hospitalar, o que demonstra a necessidade de iniciativa de mais estudos na área. Por fim, espera-
se que esse artigo possa incentivar a importância da escrita na temática e contribuir para futuras
pesquisas no âmbito da saúde.
PALAVRAS-CHAVES: Ideação suicida; Hospital; Equipe Multidisciplinar.

INTRODUÇÃO

O suicídio, atualmente, está entre as dez causas de morte no mundo e, no Brasil é a


terceira causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos (SAÚDE, 2020; VASCONCELOS-
RAPOSO, 2016). O comportamento suicida geralmente começa na ideação, passando pelas

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 99


ameaças de suicídio, depois as tentativas e por fim, o autoextermínio. Concluindo essa última
etapa, ou seja, concretizando o suicídio, este torna-se um problema sociocultural e psicossocial.

A partir da vivência de práticas na residência multiprofissional, percebemos por parte


da equipe, certa desinformação e dificuldades em lidar com o paciente de ideação suicida.
Portanto, buscamos estudar mais sobre o assunto, assim como autores da psicologia hospitalar
já buscam respostas ou compreensão acerca do tema (TORO, 2013).

Nesse sentido, considerando os múltiplos fatores envolvidos no contexto desse


fenômeno, é imprescindível um trabalho interdisciplinar e intersetorial que abranja a área da
saúde, instituições governamentais e privadas (FONTÃO et al, 2018).

O ambiente hospitalar, contexto onde presta-se assistência à saúde do usuário, favorece


condições estressoras, que podem colaborar para o sofrimento psíquico, consequentemente
influenciar a exacerbação dos comportamentos suicidas.(MAGALHÃES, FIGUEIREDO,
2019). Dessa maneira, além dos aspectos citados, atualmente em virtude da pandemia do Sars-
Cov-2 (COVID-19), identifica-se outros estressores, decorrentes das mudanças na rotina, e
aplicação de protocolos que incluem o isolamento social. Assim sendo, estudos recentes
apontam relacão do suicídio e a pandemia do novo coronavírus, em que evidenciam o aumento
da ansiedade, depressão, medo de contrair o vírus e problemas financeiros, que são elementos
intensificadores do risco de suicídio no conexto de internação (DE OLIVEIRA SOARES,
2021).

Autores apontam uma abordagem multidisciplinar e colaborativa como promissora no


acolhimento e avaliação relacionados às preocupações a respeito da reincidência de tentativa
de suicídio. Indicam que algumas práticas como: elaboração de um vínculo inicial, estabilização
do humor do paciente, acolhimentos às famílias para visitas humanizadas, organização das
rotinas assistenciais da equipe e avaliação contínua podem contribuir como fatores de proteção
no que se refere a reincidência da tentativa de suicídio (PLAZZI et al, 2020).

O suicidio é um tema com diversas facetas e que emerge reflexões sobre vida e morte.
Os estudos tentam se aprofundar sobre suas causas e compreensões psicológicas do tema
(TORO, 2013). Sendo assim, o presente artigo visou descrever a atuação da equipe
multidisciplinar frente ao manejo da ideação suicida no contexto hospitalar, por meio da
conceituação do suicídio e abordagem aos estigmas relacionados ao tema; expondo as
principais dificuldades do tema no contexto hospitalar e apresentando as atribuições de cada
área profissional no manejo da temática.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 100


METODOLOGIA

Dessa forma, a construção deste trabalho, ancorado no método qualitativo, realizou uma
revisão narrativa da literatura, com caráter descritivo e exploratório. Utilizamos materiais de
acervo pessoal e artigos elencados nas seguintes bases de dados: Scientific Electronic Library
Online (SciELO), Periódicos em Psicologia (PePSIC), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e
Google acadêmico, em que foi encontrado um total de 226 artigos, entre os anos de 2010 e
2021, no idioma português. O critério de inclusão foi: artigos que abordassem a temática do
suicidio no contexto hospitalar e que abordassem a participação da equipe multidisciplinar.
Critério de exclusão foram artigos repetidos. Do total de artigo encontrados, foram selecionados
19 artigos.

DISCUSSÃO E ANÁLISE

SUICÍDIO: CONCEITO E ESTIGMA

O fenômeno do suicídio não tem uma causa única, trata-se de uma origem multifatorial
e complexa, por isso a importância de considerá-lo a partir de diversas perspectivas (PORTO;
DELZIOVO e QUEIROZ, 2019). Cabe salientar, que o comportamento suicida não diz respeito
à uma doença, apesar deste geralmente estar associado a algum transtorno mental
(BERTOLOTE, MELLO-SANTOS, BOTEGA, 2010).

Entende-se como comportamento suicida um conjunto de fatores, dentre estes, a ideação


suicida. A autodestruição, propriamente dita, refere-se, segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS), ao ato intencional de findar seu ciclo vital (ROCHA, ARAUJO FILHO, AVILA,
2020). Os autores apontam que embora a ideação suicida não seja o ato em si, ela é relevante
visto que possibilita a identificação do sofrimento psíquico, a avaliação de uma tentativa de
suicídio e proporcionar um tratamento a essas pessoas (STEFANELLO, FURLANETTO,
2012).

Por se tratar de uma das três principais causas de morte, no mundo, da população entre
15 e 44 anos de idade, que resulta em perdas econômicas, sociais e psicológicas, o suicídio
torna-se um problema de saúde pública, exigindo do governo medidas de proteção para prevenir
os atos suicidas (ROCHA, ARAÚJO FILHO, AVILA, 2020).

Nesse contexto, a abordagem da temática entre os profissionais de saúde ainda é


delicada, havendo certo desconforto emocional em falar sobre. Desse modo, para melhor

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 101


entendermos esse sentimento de reprovação, se faz necessário a contextualização histórica, que
incluem elementos formadores do senso-comum em relação ao suicídio (BITELO,2018).

historicamente o suicídio na Europa cristã vincula-se às atrocidades praticadas pelo


Estado e pelas religiões, que além de punirem o suicida pós-morte, pregando o
impedimento da ascensão ao paraíso, transformavam a vida dos seus familiares em
um rosário de vergonha e desespero (grifo meu), à medida que suas propriedades
passavam ao poder dos reis. Deste modo tanto os reis como a igreja usufruíram do
suicídio (BITELO, 2018 apud VENCO, 2010, p. 6).
Nesse sentido, o suicídio aparece ao longo das civilizações como algo preocupante,
como no caso da civilização greco-romana, o suicído era tolerado, mas com ressalvas.
Aristóteles já afirmava que o suicidio enfraquecia a economia e perturbava os deuses. Santo
Agostinho, pela tradição judaico-cristã, também evidenciou um estigma forte ao considerar o
suicídio um ato inaceitável pelo viés cristão. Com essa construção ao longo do tempo, rótulos
foram sendo criados em torno da temática como: vergonha, pecado, crime, fracasso, sem fé e
provenientes de famílias de má índole. Isso contribui para uma marginalização dos indivíduos
que tentaram o ato, ou para aqueles familiares da pessoa que tiveram êxito na tentativa (SILVA,
SOUGEY, SILVA, 2015).

Nessa perspectiva, a carga negativa atrelada ao imaginário social sobre o suicídio, se


estabelecem atualmente em forma de tabu, em assunto censurado, que agride as crenças
religiosas e sociais. Portanto, esse ideário influencia diretamente nas práticas em saúde, na qual
os profissionais evitam e se distanciam do tema, todavia, o problema ainda permanece
(BITELO,2018).

O desconhecimento e minimização da temática, geram distanciamento dos pacientes de


ideação suicida, por meio de preconceitos, atitudes de rejeição, estereótipos, que além de
desqualificar a assistência prestada, contribuem negativamente para o enfrentamento do
problema, para a recuperação e busca por ajuda pelo usuário (BITELO,2018).

Dessa maneira, nas medidas adotadas pelo governo é importante que seja trabalhado a
prevenção e conscientização para que se enfrente a estigmatização acerca desse fenômeno, uma
vez que, devido ao estigma atrelado ao suicídio, algumas pessoas não buscam ajuda ou são
abandonadas (ROCHA, ARAUJO FILHO, AVILA, 2020).

Nesse contexto, pensando sobre os estigmas relacionados ao tema, apresentamos uma


tabela que expõe alguns mitos acerca do suicídio. com a finalidade de desmistificar e elucidar
algumas dúvidas apresentadas pelo senso comum.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 102


Tabela 1: Mitos sobre suicidio
Quem fala de suicidio é uma forma de MITO. Deve-se levar a sério qualquer
chamar atenção, mas não irão se matar. indício e fala sobre suicídio.

O suicidio acontece do nada, de repente. MITO. Por mais que o ato possa ser
realizado por impulso, as ideações têm
sido ponderadas há tempo e a pessoa
sinaliza em comportamentos ou falas.

Após sobreviver a uma tentativa e mostrar MITO. É nesse momento que se deve ter
sinais de melhora, não há mais riscos, um olhar de cuidado maior e apoio.
Comumente o risco maior é após um ano
da tentativa.

Falar sobre suicídio dará ideias a como ela MITO. Ouvir de forma empática e abordar
irá se matar. o tema sem julgamentos auxiliará na
busca de novas formas de enfrentamento e
será fonte de apoio nesse momento.

Suicídio é uma doença MITO. Os comportamentos suicidas não


constituem uma doença, apesar de estarem
associados a diversos transtornos mentais.

Só o psicólogo ou psiquiatra pode MITO. Quando o paciente manifesta


identificar pacientes com ideação suicida. sinais, qualquer pessoa poderá, através de
uma escuta empática e sem julgamentos,
acolher o paciente e identificar os sinais
de risco.

FONTES: PORTO; DELZIOVO e QUEIROZ, 2019; BERTOLOTE, MELLO-SANTOS, BOTEGA, 2010

HOSPITAL COMO PALCO PARA O COMPORTAMENTO SUICIDA

No geral, a taxa de suicidio é maior em pessoas do sexo masculino sendo 13,7 suicídios
a cada 100 mil homens e 7,5 suicídios a cada 100 mil mulheres. No que se refere a idade, as
taxas aumentam nos idosos acima de 70 anos e torna-se a segunda causa de morte entre jovens

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 103


de 15 a 29 anos. As formas mais comuns de autodestruição são o enforcamento, auto
intoxicação e uso de armas de fogo (PORTO; DELZIOVO e QUEIROZ, 2019).

A maioria das tentativas de suicidio ocorrem no domicílio, em segundo lugar se dá no


hospital geral. Estudos apontam que a chance do ato suicida no ambiente hospitalar é quase três
vezes maior, em relação à população geral. Isso se dá, em razão do caráter assistencial para
tratamento de doenças, que estão relacionadas a fatores de risco para o autoextermínio
(EBSERH, 2017).

A internação traz aspectos delicados que podem causar estresses como: “ansiedade de
separação, medo de estranhos, medo da perda de controle, sentimento de culpa e retaliação,
perda de amor e aprovação, medo de danos a partes do corpo, medo da dor e da morte”
(EBSERH, 2017, p.7).

Alguns estudos, apresentam a vinculação da temática do suicídio em pacientes


internados com diversas patologias, dentre essas publicações são apontadas as doenças renais
crônicas, pacientes submetidos a tratamentos de hemodiálise, paciente oncológicos, depressão
e doenças crônicas não transmissíveis (SANTOS, 2017; ANDRADE, SESSO, DINIZ, 2015;
MAGALHÃES, FIGUEIREDO, 2019; SILVA, BENINCA, 2018; STEFANELLO,
FURLANETTO, 2012).

Além dos estressores que comumente são observados no espaço hospitalar, acrescenta-
se um fator específico, a pandemia do coronavírus. O coronavírus começou no final do ano de
2019 na cidade Wuhan na China e, devido a grande globalização, foi-se alastrando, atingindo
níveis internacionais. Quando se instaurou a pandemia, medidas foram adotadas pelos governos
como forma de prevenção da doença, essas medidas essenciais para evitar o contágio incluíam
o distanciamento físico, quarentena, isolamento, uso de máscara e higienização das mãos com
maior frequência (FARO et al, 2020).

Essas medidas acarretam mudanças na rotina, visto que, devido o distanciamento social,
reuniões de grupos, aglomerações são proibidas (FARO et al, 2020). Na temática do suicidio
fica evidente os riscos de autoextermínio, devido ao impacto das restrições, decorrentes do novo
coronavírus. Nesse contexto, segundo estudos: “[...] a pandemia do COVID-19 está associada
a angústia, ansiedade, medo de contágio, depressão e insônia na população em geral e entre
profissionais de saúde.” (DE OLIVEIRA SOARES, 2021, p. 1863) e isso pode estar relacionado
ao aumento de transtornos psiquiátricos no futuro (DE OLIVEIRA SOARES, 2021).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 104


Outro aspecto estressor no hospital, após as restrições resultantes da pandemia, foram
as alterações na rotina para prevenir o contágio, o que inclui cancelamento de cirurgias eletivas,
suspensão de atendimentos ambulatoriais, restrição do número de visitas e circulação dentro do
ambiente terciário (SANTOS et al, 2020).

IDENTIFICANDO RISCO DE SUICÍDIO

Qualquer pessoa que mencione sobre suicídio, bem como, que tenha histórico de
transtorno mental, automutilação, dor crônica e sofrimento emocional agudo, deve ser avaliada
quanto ao risco de suicídio (PORTO; DELZIOVO e QUEIROZ, 2019).

Quando falamos de suicídio, o transtorno mental é o fator de risco mais alarmante. Em


dados, cerca de 90 a 98% das pessoas que cometem o ato, são portadores de algum transtorno
mental (BERTOLOTE, MELLO-SANTOS, BOTEGA, 2010). Todavia, existem outros fatores
de risco que devemos nos atentar, como o uso abusivo de álcool e outras drogas, rede de apoio
fragilizada ou escassa, tentativa pregressa de suicídio, condições clínicas incapacitantes
(neoplasias, doenças renais, outras doenças crônicas) isolamento social e perdas recentes
(SILVA, BENINCA, 2018; GRANDIZOLI, ARAÚJO, 2020).

No entanto, quando se trata de avaliação da ideação suicida, entende-se que a


identificação do risco deve se basear na cientificidade e, não na intuição. Para isso, existe a
formulação de risco (Tabela 2), que contém informações como alicerce científico, que permite
um julgamento clínico, com a finalidade de priorizar ações destinadas ao paciente (EBSERH,
2017).

Tabela 2: Formulação de risco


Risco Baixo Risco Moderado Risco Alto

Nunca tentou suicídio; Tentativa de suicídio Tentativa de suicídio


Ideias de suicídio são prévia; Depressão ou prévia; Depressão grave,
passageiras e transtorno bipolar; Ideias influência de delírio ou
perturbadoras; Não planeja persistentes de suicídio, alucinação;
se matar; Transtorno vistas como solução; Não Abuso/dependência de
mental, se presente, com tem um plano de como se álcool; Desespero, tormento
sintomas bem controlados; matar; Não é uma pessoa psíquico intolerável, não vê
Boa adesão ao tratamento; impulsiva; Não saída; Plano definido de se
abusa/depende de álcool ou matar; Tem meios de como

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 105


Tem vida e apoio sociais. drogas; Conta com apoio fazê-lo; Já tomou
social. providências para o ato
suicida

Fonte: EBSERH, 2017


Nesse contexto, existem também fatores de proteção que viabilizam práticas de
prevenção do risco. Dentre elas: vínculos familiares fortalecidos, crenças religiosas ou
espirituais, capacidade de enfrentar adversidades e estilo de vida saudável (PORTO;
DELZIOVO e QUEIROZ, 2019).

Dessa forma, todo e qualquer profissional de saúde pode identificar risco e deve se
responsabilizar com a prevenção do suicidio no ambiente hospitalar. Mas como? Uma das
estratégias é investigar melhor sobre a ideação. No entanto, cabe destacar que é importante que
o profissional tenha vínculo com o paciente ao abordar a temática e, que o mesmo tenha uma
postura empática, clara e sem julgamentos. Sendo assim, alguns pontos devem ser considerados
durante o diálogo (PORTO; DELZIOVO e QUEIROZ, 2019).

● Se há pensamentos e ideação sobre morte; (frequência dos pensamentos, como


são os pensamentos)
● Se há algum planejamento da ação e acesso meios letais;
● Identificar Fatores de risco;
● Identificar Fatores de Proteção;(PORTO; DELZIOVO e QUEIROZ, 2019, p.
29)
Para melhor ilustrar, será apresentado algumas perguntas que podem ser feitas para
avaliar o risco:

- Você tem planos para o futuro? (A pessoa com risco de suicídio responderá, não).

- A vida vale a pena ser vivida? (A pessoa com risco de suicídio responderá, não).

- Se a morte viesse, ela seria bem-vinda? (A pessoa com risco de suicídio responderá,
sim.

- Você já planejou se machucar ou morrer?

- Já teve alguma tentativa de suicídio recente? (PORTO; DELZIOVO e QUEIROZ,


2019)

Assim sendo, entende-se que se o paciente falou sobre a ideação suicida com aquele
profissional, independentemente de ser especialista em saúde mental ou não, simboliza que o

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 106


mesmo sentiu confiança para se expressar. Portanto, oportunizar o diálogo com o paciente
poderá fazer com que o mesmo se sinta acolhido e compreendido (PORTO; DELZIOVO e
QUEIROZ, 2019).

ATRIBUIÇÕES DE CADA PROFISSIONAL DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL NA


PREVENÇÃO DO SUICÍDIO NO HOSPITAL.

Como relatado, a equipe multiprofissional deve se responsabilizar pela prevenção do


risco de suicídio no hospital, adotando medidas e estragégias eficazes que contribuem para
diminuição do sofrimento, bem como, do ato suicida no ambiente hospitalar (EBSERH, 2017).

Nesse sentido, mais do que identificar os fatores de risco, quando se fala em manejo do
suicídio pela equipe, inúmeras dúvidas e dificuldades surgem, decorrente do estigma associado
à ideação suicida, gerando apreensão, medo e distanciamento, ao se abordar o tema, além do
sentimento de incapacidade de controlar o sofrimento do paciente. Como bem define o trecho
abaixo:

[...] As dificuldades dos profissionais em lidar com os diferentes aspectos


relacionados à morte, e em especial ao suicídio, podem desencadear conflitos
emocionais naqueles que lidam com esses pacientes. Esses conflitos podem significar
dificuldades na abordagem do tema dentro da equipe de saúde e no relacionamento
com o próprio paciente ou com seus familiares. Essa postura pode interferir, então,
associar-se à incapacidade para controlar o sofrimento do paciente (VIDAL,
GONTIJO, 2017, p. 113).
Ainda segundo Vidal e Gontijo (2017), algumas evidências apontam comportamentos
negativos, por parte da equipe para com o paciente que apresenta comportamento suicida. Dessa
maneira percebe-se atitudes de rejeição e minimização do sofrimento, além de discursos
julgadores como: “É para chamar a atenção” ou “Ele tem de tudo, por quê quer se matar?”
Todavia, o Manual de prevenção ao suicídio, esclarece que tentar contra a própria vida, indica
sofrimento psiquico intenso, dessa forma, toda tentavia de suicídio deve ser considerada, uma
vez que, o comportamento, sinaliza a expressão da angústia e, que o sujeito necessita de ajuda.
Assim sendo, todo sofrimento deve ser acolhido como legítimo (BITELO, 2018; FREITA,
BORGES,2017).

Além de que, a escassez de conteúdo ainda na graduação, a ausência ou pouco


investimento em educação continuada pela instituição hospitalar, são reforçadores desses
estigmas e dificuldades na prática da prevenção ao suicídio (VIDAL, GONTIJO,2017).

Nessa perspectiva, entender melhor sobre a contribuição de cada profissional nessa


missão, poderá não só desmistificar tabus, como colaborar para ações coletivas eficazes, não

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 107


restringindo a prática apenas a profissionais especializados. Para mais, o cuidado em saúde
mental, deve compreender aspectos psíquicos, individuais, sociais, financeiros e dentre outros
(FONTÃO, et al. 2018), desse modo se faz necessário o trabalho da equipe como um todo.

A equipe multiprofissional, geralmente composta por profissionais de: enfermagem,


medicina, fisioterapia, farmácia, psicologia, nutrição e assistência social, podem direcionar
tanto as ações comuns a todos, como também, ações próprias de sua área. Sendo assim, a seguir
descreve-se sobre a prática específica de cada membro da equipe, na prática de prevenção do
suicídio no hospital.

ENFERMAGEM

O profissional de enfermagem, geralmente é o primeiro contato do paciente, além de ser


o membro da equipe que passa mais tempo com o mesmo. Sendo assim, além da escuta
acolhedora e empática, a avaliação do risco, a comunicação ao médico assistente, o
acionamento do serviço de psicologia e assistência social, são atribuições do enfermeiro
(FONTÃO et al, 2018; EBSERH, 2017).

Em casos de risco moderado ou grave, acionar a equipe e realizar discussão de caso,


monitorar os efeitos indesejados dos medicamentos, aproximar leito do posto de enfermagem,
retirar do campo sensorial do paciente meios letais, supervisionar idas ao banheiro, evitar
isolamento, incentivar a aproximação da rede de apoio do usuário e registrar condutas em
prontuário (SANTOS et. al, 2017; EBSERH, 2017).

MEDICINA

Segundo o protocolo de prevenção de risco de suicídio no hospital, EBSERH (2017),


cabe ao médico a avaliação clínica do paciente, identificando o risco. Em casos moderados ou
graves, deve-se registrar em prontuário, acionar um avaliação especializada, comunicar ao
enfermeiro, realizar a discussão do caso, orientar quanto à aproximação do leito ao posto da
enfermagem, e a retirada de meios letais. Em casos de agitação do paciente, verificar a
possibilidade de sedação ou contenção no leito. Ademais, estar disposto a acolher e ouvir o
paciente empaticamente.

FISIOTERAPIA

Como citado, o risco de suicidio está frequentemente associado a transtornos


psiquiátricos. Os autores, após uma revisão sobre o papel da fisioterapia na saúde mental,

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 108


analisaram os possíveis efeitos das atividades físicas e atuação do fisioterapeuta a esses
pacientes com transtorno mental (BARBOSA; SILVA, 2014).

Os pacientes que se encontram sedentários podem ter um aumento nos níveis de


ansiedade, raiva, estresse, fadiga muscular, depressão e afeto positivo. A fisioterapia pode atuar
“[...] melhorando a marcha, equilíbrio, postura, consciência corporal, propriocepção,
socialização do paciente através de grupos operativos” (BARBOSA; SILVA, 2014, p. 22). Isso
colabora para aspectos positivos na saúde mental, que se torna um fator de proteção para o
paciente com ideação suicida, esses exercícios geram bem estar físico, emocional e psíquico
(BARBOSA; SILVA, 2014).

FARMÁCIA

Os estudos da farmacologia a respeito das interações medicamentosas têm aumentado


nos últimos tempos, além disso, é notório a grande taxa de mortalidade devido à intoxicação
medicamentosa. Os estudos acerca da interação medicamentosa auxiliam na prevenção e alerta
a possíveis administrações de fármacos que combinados podem ser letais. (SUCAR, 2002).

NUTRIÇÃO

Em relação ao nutricionista, esse pode colaborar para além da comunicação com a


equipe e, escuta acolhedora ao usuário, em casos moderados ou graves, pode-se criar estratégias
que reduzam o acesso a meios letais oferecidos pela cozinha, como garfos, facas e marmita de
alumínio, por exemplo. Ademais, a prescrição de uma dieta equilibrada poderá colaborar para
a estabilidade do humor, refletindo na amenização no sofrimento (ASBRAN,2019). Assim
sendo, cabe salientar a importância da notificação das condutas em prontuário.

ASSISTÊNCIA SOCIAL

Cabe ao serviço social, buscar a localização da família, caso o paciente não tenha um
familiar de referência, realizar atendimento com os familiares para entender a dinâmica e
contexto social do paciente, se o usuário estiver em tratamento psiquiátrico, obter informações
clínicas relevantes com o profissional, acionar os serviços pós-alta, orientar sobre os direitos
sociais e descrever as ações em prontuário.

PSICOLOGIA

A conduta do psicólogo nesses casos devem compreender, a avaliação e o


acompanhamento de intercorrências ou atendimento de pacientes sinalizados pela equipe,
analisar a necessidade de acionar o serviço de psiquiatria, comunicando ao médico assistente,

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 109


realizar o acolhimento da família, realizar articulação de serviços pós alta e registrar conduta
em prontuário. Ademais, trabalhar para promoção de saúde e prevenção de agravos, além de
reforçar as redes de apoio ao usuário (MELO et.al, 2018; EBSERH, 2017).

Em suma, entende-se que existem outros diversos profissionais que colaboram para
prevenção do risco do suicídio no contexto hospitalar, como o técnico de enfermagem, a
copeira, o auxiliar de serviços gerais e entre outros, que em geral podem e devem participar do
cuidado e acolhimento desses pacientes, colaborando para o seu bem-estar e alívio de estresse
emocional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O suicídio é um problema de saúde pública mundial que tem preocupado as autoridades.


No hospital, em função de diversos estressores, percebe-se o risco aumentado, na qual deve-se
ligar um sinal de alerta quanto ao debate sobre o tema entre a equipe.

No cenário atual, além dos fatores estressantes comumente associado ao hospital, como
tratamentos invasivos, medo do abandono, quebra da rotina, medo morte e entre outros, em
razão da Pandemia de Covid-19, observa-se que decorrente dos novos protocolos adotados, que
incluem restrição de visitas, isolamento, uso de máscara e higienização das mãos, entende-se
que esses pacientes são ainda mais impactados, o que é gerador de conflitos emocionais,
fragilização da rede de apoio presente, dificultando a comunicação e/ou desconforto na
respiração pelo uso máscara, a qual se intensifica o acometimento do comportamento suicida.

Em síntese, percebe-se a dificuldade da equipe no manejo da ideação suicida, em razão


de estigmas associados, em que reflete diretamente na qualidade da assistência prestada ao
paciente, bem como colabora para o sofrimento e distanciamento.

A escassez de conteúdos voltados à temática da ideação suicida no hospital, são


evidências que cooperam para o desconhecimento e falta de preparo, por parte de todos
profissionais da equipe.

Nesse contexto, durante o artigo observou-se a importância de cada membro no


acolhimento e minimização do risco do suicídio no hospital, ressaltando sempre o aspecto
empático, humano e acolhedor nas ações prestadas ao usuário. Todavia, durante a pesquisa
teve-se dificuldades em encontrar artigos que abordassem a atuação da equipe multiprofissional
no manejo do risco de suicídio no ambiente hospitalar, o que demonstra a necessidade de
iniciativa de mais estudos na área.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 110


Por fim, espera-se que esse artigo possa incentivar a importância da escrita na temática
e contribuir para futuras pesquisas no âmbito da saúde.

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CAPÍTULO 9
FATORES ASSOCIADOS AO AUTORRELATO DE VIOLÊNCIA INTERPESSOAL
SOFRIDA NA POPULAÇÃO ADULTA DO CEARÁ NO ANO DE 2013

Kelvia Maria Oliveira Borges, Mestre em Saúde Pública, Universidade Federal do Ceará
Vitória Antonia Feitosa Lima, Graduanda em Fisioterapia, Universidade Federal do Ceará
Raimunda Hermelinda Maia Macena, Pós-Doutora em Saúde Coletiva e Sistema Prisional,
Universidade Federal do Ceará
Rosa Maria Salani Mota, Pós-Doutora em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Ceará

RESUMO
Introdução: A violência interpessoal (VIP) é um evento de elevado impacto epidemiológico
por suas graves consequências sociais, financeiras e nos indicadores de saúde. Objetivo:
Descrever a violência física e estimar a prevalência e os fatores associados ao autorrelato de
violência interpessoal sofrida na população adulta do Ceará no ano de 2013. Métodos: Estudo
seccional, realizado a partir de dados secundários da Pesquisa Nacional de Saúde de 2013,
sendo consideradas 2.900 entrevistas domiciliares e 2.560 individuais dos adultos selecionados
no Ceará. Para estimar a prevalência de VIP foi criada uma variável a partir das questões: Nos
últimos 12 meses, o (a) sr. (a) sofreu alguma violência ou agressão de pessoa desconhecida
(como bandido, policial, assaltante etc.)? E/ou nos últimos 12 meses, o (a) sr. (a) sofreu alguma
violência ou agressão de pessoa conhecida (como pai, mãe, filho (a), cônjuge, parceiro (a),
namorado (a), amigo (a), vizinho (a))? O banco foi padronizado através do SPSS® versão 20,
por meio do módulo survey analisys. Resultados: No Ceará, 6,9% dos entrevistados relatam
VIP por pessoa conhecida ou desconhecida, sendo que 3,8% por desconhecidos. Os indivíduos
que mais referem VIP, por desconhecidos, são do sexo masculino (51,0%), com menos de 30
anos (44,0%), brancos (66,4%), não casados (65,5%), com ensino médio completo ou ensino
superior (65,2%), único emprego (95,8%), com renda média de R$1.103,00 (ep= ± 124,3).
Características individuais também apresentaram maior prevalência de sofrer violência por
desconhecidos. Conclusão: A prevalência de VIP no Ceará por agressores desconhecidos é
física, com uso de arma de fogo, por pessoas que buscam roubo ou furto. Homens, jovens e
trabalhadores, com maior renda e escolaridade, associam-se ao autorrelato de violência por
desconhecido na população adulta. Se faz necessário desenvolver ações públicas intersetoriais
efetivas que fortaleçam e reorganizem a Segurança Pública para o combate e controle da VIP
por agressor desconhecido na população adulta do Ceará.
PALAVRAS-CHAVE: Epidemiologia. Exposição à Violência. Autorrelato.

INTRODUÇÃO

A violência é caracterizada por ser um fenômeno de natureza multicausal, impactando


os sistemas de saúde, principalmente, em razão do número de mortes que provoca, bem como
pela necessidade de atendimento médico que têm as pessoas lesionadas e, consequentemente,

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 114


uma sobrecarga no setor (OLIVEIRA et al., 2011). Entendida como o resultado da complexa
interação de fatores individuais, de relacionamentos, sociais, culturais e ambientais a violência
é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como o uso de força física ou poder,
em ameaça ou na prática, contra si próprio, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade
que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento
prejudicado ou privação. (KRUG et al., 2002).

Há que se destacar que as violências ocorrem em todos os ciclos de vida e em todas as


sociedades, independentemente do nível de desenvolvimento socioeconômico ou cultural
(OMS, 2002; SOUZA; LIMA, 2006; MAGALHÃES, 2010; RUOTTI et al., 2011; ALENCAR-
RODRIGUES E CANTERA, 2012; OMS, 2014; WHO, 2016). A tipologia da violência se
refere às características de quem cometeu a violência, sendo classificada em autodirigida,
interpessoal e coletiva (COELHO et al., 2014). Já quanto à natureza dos atos violentos, pode-
se classificá-la em física, sexual, psicológica e por negligência, abandonos e privação de
cuidados (MINAYO, 2009).

Na comunidade, a violência faz parte das raízes sociais de território, tomando forma na
organização das coletividades e resultante de uma soma de fatores como pobreza, desigualdade,
interação social, impunidade e ausência de Estado. (MINAYO, 2009). Ademais, anualmente, é
responsável por mais de 1,3 milhão de mortes no mundo, o que corresponde a 2,5% da
mortalidade global (AZEVEDO LEITÃO MÁSSIMO et al., 2015). Além da mortalidade, a
violência tem uma morbidade de grande magnitude na da população mundial (OMS, 2016).

A Violência Interpessoal (VIP) ocorre entre pessoas conhecidas e/ou desconhecidas e


inclui desde maus-tratos contra a criança, violência juvenil, violência contra a mulher e abusos
praticados contra idosos (OMS, 2014). De forma geral, a violência atinge todos os grupos
etários, assumindo características diferenciadas, trazendo consequências sociais e de saúde,
graves e permanentes (OMS, 2014) podendo acarretar graves consequências biopsicossociais
(BRASIL, 2016).

Durante a vida, os agressores tendem a se modificar. Os pais são apontados com os


agressores entre as vítimas até 9 anos de idade, e os parceiros entre as vítimas entre 20 e 50
anos (OMS, 2014). A partir dos 60 anos de idade, os filhos que assumem papel de destaque nas
agressões (CAVALCANTE; LOPES, 2014).

Contudo, cabe destacar que a morbimortalidade de violência interpessoal no gênero


masculino é relacionada com uso de arma de fogo, além do local da ocorrência geralmente ser

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 115


em espaços públicos, ruas, bares e outro locais públicos. Além disso, os homicídios masculinos
são em grande parte perpetrados por homens desconhecidos, diferente dos agressores das
mulheres são seus conhecidos, companheiros e ex-companheiros (SOUZA, 2005).

Diversos são os tipos de violências que os indivíduos de regiões menos favorecidas


socioeconomicamente estão expostos (RUOTTI et al., 2011; CERQUEIRA et al., 2017). Por
vezes, estas violências estão fortemente associadas a determinantes sociais, como quase ou
nenhuma garantia de direitos; normas culturais e sociais; desemprego; desigualdade de renda e
de gênero; rápidas mudanças sociais; e poucas oportunidades de educação (OMS, 2014).

As elevadas taxas de VIP entre os homens e as mulheres revelam a importância de se


direcionar esforços sob a ótica da integralidade e da intersetorialidade para prevenir novos
casos, oferecer assistência social adequada às vítimas e minimizar as sérias consequências
sociais que a violência permite que se manifestem (OMS, 2014). Ademais, ela tem
consequências negativas e devem ser abordadas pelo sistema de saúde (WHO, 2016). Além da
mortalidade, ela tem uma morbidade de grande magnitude na população mundial
(REICHENHEIM et al., 2015). Apesar de todos estes esforços para compreender a extensão,
características, consequências, os fatores correlatados e os fatores associados da violência para
o delineamento de políticas públicas efetivas, há uma carência nos estudos sobre características
da agressão não letal por agressor desconhecido. E que a PNS se trata de um estudo de base
populacional, subsidiando informações sobre a prevalência e fatores associados ao autorrelato
de violência interpessoal, por vezes, os dados produzidos não são amplamente analisados e
divulgados.

Frente à esta situação, este estudo tem por objetivo descrever a violência física e estimar
a prevalência e os fatores associados ao autorrelato de violência interpessoal sofrida na
população adulta do Ceará no ano de 2013, dados obtidos pela PNS.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo seccional, de base populacional, utilizando a base de dados


completa da Pesquisa Nacional de Saúde, conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde no ano de 2013. A população
pesquisada na pesquisa original da PNS compreendeu uma sub amostra da Amostra Mestra do

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Sistema Integrado de Pesquisas Domiciliares (SIPD3) do IBGE e incluiu moradores de
domicílios particulares (permanentes e improvisados), nas áreas urbana e rural do país, exceto
setores censitários especiais4.

Para este estudo, foi considerando o número de 290 Unidades Primárias de Amostragem
(UPA) selecionadas e tamanhos de amostra de domicílios, estimou-se uma amostra de 2.900
domicílios com entrevista realizada. Entretanto, ocorreu uma taxa de 22% de não resposta, ao
final, foram selecionados 3.770 domicílios 5. Ao final, no estado do Ceará, foram realizadas
2.900 entrevistas domiciliares e 2.560 entrevistas individuais dos adultos selecionados nos
domicílios. A taxa de perda para as entrevistas domiciliares foi de 25,9% e 4,7% para as
entrevistas individuais.

Os dados deste estudo são mantidos pelo IBGE e disponibilizados para o público na
área de download do Portal institucional, no banco de dados agregados SIDRA e em outros
canais de disseminação de dados (https://www.ibge.gov.br/estatisticas-
novoportal/sociais/educacao/9134-pesquisa-nacional-de-saude-do-escolar.html?=&t=o-que-
e). Inicialmente, realizou-se o download do banco de dados no site do IBGE em formato
Microsoft Office Excel® 2010 for Windows® 2010 (Microsoft Corporation; Redmond, WA,
USA). A seguir, o banco foi padronizado, tendo sido analisada a consistência interna.

As variáveis abordadas foram extraídas de módulos da pesquisa original oriundos dos


três questionários (SZWARCWALD et al., 2014), utilizando os módulos A (informações do
domicílio), B (visitas domiciliares de Equipe de Saúde da Família e Agentes de Endemias), C
(características gerais dos moradores), P (estilos de vida), O (acidentes e violências) e N
(percepção do estado de saúde sobre sua saúde em geral, tanto sobre sua saúde física como sua
saúde mental).

A violência interpessoal sofrida foi estimada sendo criada como variável dependente
uma nova variável a partir da associação de 2 perguntas: Nos últimos 12 meses, o (a) sr. (a)
sofreu alguma violência ou agressão de pessoa desconhecida (como bandido, policial,
assaltante etc.)? E/ou Nos últimos 12 meses, o (a) sr. (a) sofreu alguma violência ou agressão

3 Sistema Integrado de Pesquisas Domiciliares - SIPD do IBGE, cuja abrangência geográfica é constituída pelos
setores censitários da Base Operacional Geográfica do Censo Demográfico 2010, exceto aqueles com número
muito pequeno de domicílios e os setores especiais (SZWARCWALD et al., 2014).
4 Quartéis, bases militares, alojamentos, acampamentos, embarcações, penitenciárias, colônias penais, presídios,
cadeias, asilos, orfanatos, conventos e hospitais.
5 Foram também realizadas medidas antropométricas e de pressão arterial, assim como, coleta de material
biológico (amostras de sangue e urina) que não serão abordados neste estudo.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 117


de pessoa conhecida (como pai, mãe, filho(a), cônjuge, parceiro(a), namorado(a), amigo(a),
vizinho(a))?

As variáveis relacionadas ao autorrelato de exposição a violência/agressão foram


geradas a partir da pergunta: Sofreu violência/agressão nos últimos 12 meses (sim ou não).

Para caraterização da violência consideramos as seguintes variáveis: Tipo de agressor;


tipo de violência/agressão; objeto da violência/agressão; autor da violência/agressão; local
de ocorrência da violência/agressão; frequência da agressão. Foram considerados os efeitos
da severidade da violência para busca da atenção à saúde, utilizando a variável Trabalho e
renda (DESLANDES, 1999; ALMEIDA et al., 2016; FREITAS et al., 2017; AQUINO,
ANTONIASSI, 2014).

As análises estatísticas foram realizadas utilizando o software SPSS ® (Statistical


Package for the Social Sciences) versão 20, por meio do módulo survey analisys, que considera
efeitos da amostragem complexa. Foram utilizados os pesos amostrais propostos no estudo
original considerando probabilidade de seleção das UPAs, domicílios e todos os seus moradores
e para o morador selecionado 6.

Os pesos das UPAs foram calculados considerando a UPA para a Amostra Mestra e a
probabilidade de seleção para a amostra da pesquisa. Os pesos para os domicílios e todos os
seus moradores, utilizados para a estimação das características investigadas para todos os
moradores e para todos os idosos, foram definidos levando-se em conta o peso da UPA
correspondente e ajustes para correção de não respostas e para calibrar as estimativas com totais
populacionais estimados pela Coordenação de População e Indicadores Sociais - Copis, do
IBGE (SZWARCWALD et al., 2014; DAMACENA et al., 2015).

Foram feitos ajustes para correção de não respostas e para calibrar as estimativas com
totais populacionais estimados pela Coordenação de População e Indicadores Sociais - Copis,
do IBGE de acordo com o proposto no método de análise na pesquisa original
(SZWARCWALD et al., 2014; DAMACENA et al., 2015).

A pesquisa original foi aprovada na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP),


sob a CAAE 328.159, de 26 de junho de 2013. Este estudo foi submetido ao PROPESQ/UFC
que informou que não cabe avaliação ética posto que tratar-se de pesquisa que utiliza

6 Mais detalhes sobre o processo de amostragem e fatores de ponderação podem ser encontrados na publicação
sobre os resultados da PNS (SZWARCWALD et al., 2014; DAMACENA et al., 2015).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 118


informações de acesso público nos termos da Lei nº12.527, de 18 de novembro de 2011, e por
utilizar bancos de dados, cujas informações são agregadas, sem possibilidade de identificação
individual, de maneira similar ao disposto na RESOLUÇÃO CNS Nº 510, de 07 de abril de
2016.

RESULTADOS

Na amostra cearense, 194 (6,9%) pessoas responderam ter sofrido violência


interpessoal, independentemente do tipo de agressor, sendo 3,8% cometida por agressor
desconhecido e 3,4% por agressor conhecido. Excluindo-se aqueles que sofreram violência por
ambos os tipos de agressores, a maioria (52,7%) sofreu violência apenas por pessoa
desconhecida (TABELA 1).

A violência interpessoal praticada por desconhecido é caracterizada por ser física


(70,3%), com uso de arma de fogo (32,4%), tendo como autores pessoas que buscam
roubo/furto (62,5%) e ocorre, majoritariamente, em bares e vias públicas (67,8%). Deste tipo
de violência, há baixo relato de ferimento ou lesão corporal (7,9%) e, entre os que buscaram
assistência médica, 43,7% relataram alguma sequela resultante do evento agressor. Destaca-se
que, quando ocorre ferimento ou lesão corporal, 1/5 da amostra informa que ficou
impossibilitada de realizar algumas de suas atividades habituais (21%) (TABELA 1).

Para a violência decorrente de pessoas conhecidas, prevalece outros tipos de violência


(57,9%), em especial a psicológica, através do uso de palavras ofensivas, xingamentos ou
palavrões (51,7%), sendo os principais autores conhecido sem vínculo familiar ou laboral
(28,9%) e irmão/irmã (19,1%). Frequentemente, essa violência ocorre no interior das
residências (47,9%), com baixa frequência (1-2x/ano - 77,2%). Poucos são impossibilitados de
realizar suas atividades habituais por conta do evento agressor (13,5%) e dentre os que
buscaram algum tipo de assistência à saúde em decorrência da violência, apenas 2,3% tiveram
sequelas (TABELA 1).

Tabela 3 – Características da violência entre os que autorrelatam violência sofrida por qualquer tipo de agressor.
Ceará, 2013
VIOLÊNCIA SOFRIDA NOS ÚLTIMOS 12 MESES n¹/N %² IC95%²
LI LS
Sofreu violência/Amostra cearense 194/2560 6,9 5,8 8,3
Tipo de agressor
Desconhecido 93/194 51,0 41,8 60,2
Conhecido 92/194 45,8 36,9 55,0
Ambos 9/194 3,2 1,3 7,4
Sofreu violência/ agressão apenas por
Desconhecido 93/185 52,7 43,3 61,9
Conhecido 92/185 47,3 38,1 56,7

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 119


Violência sofrida por desconhecido 102/194 54,2 45,0 63,1
Tipo de violência
Física 71/102 70,3 57,7 80,3
Arma de fogo 33/102 32,4 22,6 44,1
Objeto perfuro cortante 13/102 10,3 5,1 19,7
Com objeto contundente 7/102 5,3 2,1 13,2
Psicológica 26/102 25,2 15,7 37,8
Outras 5/102 4,6 1,7 11,4
Autor da violência
Bandido, ladrão ou assaltante 71/102 62,5 48,7 74,5
Agente legal público (policial/agente da lei) 3/102 5,0 1,2 18,5
Outro 28/102 32,5 21,2 46,3
Local da violência
Residência 14/102 9,3 4,7 17,4
Trabalho 17/102 15,9 9,2 26,1
Bar ou similar/Via pública 65/102 67,8 55,9 77,8
Outro 6/102 7,0 2,7 16,8
Resultou em lesão corporal ou ferimento 12/102 7,9 4,0 15,2
Sequela 3/8 43,70 13,7 79,2
Deixou de realizar atividades habituais* 27/102 21,0 13,0 32,1
Violência sofrida por conhecido 101/194 49,0 39,8 58,2
Tipo de violência por conhecido
Física 49/101 43,3 33,6 53,6
Com força corporal/espancamento 37/101 31,3 21,8 42,6
Com objeto perfuro cortante 6/101 7,3 4,0 13,0
Com objeto contundente 4/101 3,5 1,0 11,5
Substância, objetos e/ou envenenamento 2/101 1,3 0,3 5,2
Outro 54/101 57,9 47,4 67,8
Psicológica 50/101 51,7 41,2 62,1
Outra 2/101 4,9 1,2 17,9
Autor da violência por conhecido
Parceiro atual ou anterior 20/101 15,0 8,3 25,5
Pai/mãe, padrasto/madrasta, filho, irmão (ã) 25/101 28,7 19,3 40,3
Outro parente, amigo (a) /colegas 26/101 23,9 14,7 36,4
Patrão/chefe, outra pessoa 30/101 32,4 24,2 42,0
Patrão/chefe 2/101 3,5 0,8 14,5
Outra pessoa conhecida 28/101 28,9 20,0 39,8
Local da violência por conhecido
Residência 52/101 47,9 35,2 60,9
Trabalho 7/101 8,8 3,9 18,8
Via pública/Bar ou similar 38/101 38,0 25,8 52,0
Bar ou similar 6/101 4,9 2,0 11,5
Via pública 32/101 33,1 21,7 46,8
Outro 4/101 5,3 1,5 16,8
Frequência da violência por conhecido
Uma a duas vezes ao ano 74/101 77,2 66,2 85,4
De três a doze vezes ao ano 16/101 11,8 6,4 20,9
Pelo menos uma vez por semana 11/101 11,0 5,7 20,2
Deixou de realizar quaisquer de suas atividades habituais* 15/101 13,5 8,4 21,1
Sequela 1/8 2,5 0,3 17,1
Legenda: 1 observado na amostra; 2 ponderado.
*
Atividades habituais: trabalhar, realizar afazeres domésticos etc.
Fonte: Pesquisa Nacional de Saúde, 2013.
As pessoas que mais relataram violência interpessoal sofrida são do sexo feminino
(53,6%), jovens (entre 30 e 49 anos = 44,3%, idade média= 36,5 anos, erro-padrão (ep) =±1,4,
mínimo= 18 anos, máximo= 80 anos, mediana= 35,5 anos), pardas (64,2%) e com cônjuge
(53,2%), embora não se reconheçam como casadas (67,6%) e se autodefiniram como solteiros

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 120


(59,2%). Na amostra, observa-se baixa proporção de frequência escolar em 2013 (84,3%), com
escolaridade de ensino médio completo ou superior incompleto (37,1%). Quase metade da
amostra (49,4%) relata comparecer a cultos ou atividades de sua religião pelo menos uma vez
ao mês. A maioria (94,4%) informa ter único emprego com rendimento bruto mensal no
trabalho principal de R$ 935,47 (com ep= ±72,15) e renda média de todos os empregos de
R$983,95; ep= ±80,69. Além disso, grande parte da amostra reside na zona urbana (88,8%) nas
cidades do interior do estado do Ceará (49,8%), seguidos por moradores de Fortaleza (36,8%)
(TABELA 2).

Tabela 2 – Fatores individuais relativos a características pessoais dos que autorrelatam violência sofrida,
segundo Bronfenbrenner. Ceará, 2013
FATORES INDIVIDUAIS n¹/N %² IC95%²
LI² LS²
Características pessoais
Sexo
Masculino 78/194 46,4 36,1 56,9
Feminino 116/194 53,6 43,1 63,9
Idade (anos)
média (±ep) 36,5 ±1,4
< 30 58/194 36,3 27,0 46,7
30 |--| 49 91/194 44,3 35,7 53,2
≥ 50 45/194 19,4 13,6 27,0
Cor ou raça
Branca 49/194 26,2 18,5 35,6
Preta/parda 140/194 71,5 62,2 79,3
Outras 5/194 2,3 0,9 5,4
Vive com cônjuge ou companheiro (a) 94/194 53,2 43,9 62,3
Estado civil
Casado (a) 64/194 32,4 24,2 41,9
Outros 130/194 67,6 58,1 75,8
Frequenta escola 23/194 15,7 9,4 25,1
Nível de instrução mais elevado alcançado
Sem instrução/Fundamental incompleto 71/194 31,5 24,6 39,3
Fundamental completo /Médio incompleto 28/194 14,4 9,6 20,9
Médio completo /superior incompleto 68/194 37,1 29,6 45,3
Superior completo ou mais 27/194 17,0 11,6 24,3
Frequência em cultos ou atividades de sua religião
Pelo menos uma vez ao mês 106/194 49,4 41,2 57,6
Anualmente 44/194 27,0 21,2 33,8
Nenhuma vez 44/194 23,6 16,3 32,8
Nº de trabalhos
Um 119/129 94,4 88,8 97,3
Dois ou mais 10/129 5,6 2,7 11,2
Rendimento bruto mensal no principal trabalho (sm=678): média ±
R$935,47±72,15
ep
Renda*: média ± ep R$983,94±80,69
Local de moradia
Situação censitária
Urbano 166/194 88,8 85,7 91,4
Rural 28/194 11,2 8,6 14,3
Região
Capital 78/194 36,8 31,3 42,7
Região Metropolitana, excluindo a capital 56/194 13,4 10,6 16,8

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Municípios do interior * 60/194 49,8 43,2 56,5
1 2 *
Legenda: observado na amostra; ponderado. Renda média de todos os empregos. Fonte: Pesquisa
Nacional de Saúde, 2013.

DISCUSSÃO

Os achados deste estudo sinalizam no nível individual ter escolaridade elevada (cursado
ensino médio completo ou ensino superior completo/incompleto) reduzem a chance de sofrer
VIP por desconhecidos. Características relacionadas à pessoa tais como sexo masculino,
branco, jovem, solteiro, estar inserido no mercado de trabalho, ter remuneração média superior
à realidade brasileira e residir em áreas urbanas apresentaram maior prevalência de sofrer
violência por desconhecidos, semelhantes a outros estudos com os indivíduos vítimas de crimes
contra o patrimônio (CARVALHO SOUZA; CUNHA, 2015; LIRA; SAMPAIO, 2011).
Acrescente ainda que pessoas com maiores níveis de instrução, maior escolaridade, e maiores
rendas tendem a ser mais atrativas para a violência por desconhecidos (OLIVEIRA, 2009). O
ser jovem com escolaridade mais elevada e inserção no mercado de trabalho amplia a
vulnerabilidade a crimes contra o patrimônio. Segundo dados da PNAD, no Brasil, indivíduos
mais jovens (16 a 34 anos) e solteiros, devido à maior exposição tendem a ter maiores chances
de vitimização por agressões físicas (LIRA; SAMPAIO, 2011).

O trabalho é considerado como uma variável indicativa tanto de exposição quanto de


atratividade, pois uma pessoa que trabalha, além de sair de casa, transitar por vias públicas e
interagir com mais pessoas no dia a dia, ela também recebe pelos seus serviços, o que a torna
uma vítima mais atrativa pelo maior poder econômico (SALVATO et al., 2016). No estudo
sobre vitimização no Brasil, indivíduos brancos, com alta renda e escolaridade sofreram mais
tentativa de roubo comparando com outros crimes, nos dois anos analisados. Para os crimes de
roubo e furto ou tentativas, a indicação de que o indivíduo que trabalha também se mostrou
significativa, apresentando um aumento de chance de mais de 30% para os três tipos de crime
em comparação com as pessoas que não trabalham (CARVALHO SOUZA; CUNHA, 2015).

A renda média deste estudo é superior à realidade brasileira pressupõe um grupo com
padrão de vida e acesso ao trabalho, lazer, serviços, educação diferente da população geral de
homens no país no período, que pode ser associado à presença em bares e maior circulação em
vias públicas, o que pode ampliar o risco à exposição de violência interpessoal por
desconhecido (CARVALHO SOUZA; CUNHA, 2015). Há que se destacar que este perfil de
pessoas, por possuir renda superior à da população brasileira, frequentam mais lugares públicos
que também pode influenciar em maior chance de sofrer violência, principalmente crimes

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contra o patrimônio (CARVALHO SOUZA; CUNHA, 2015). Acrescente-se ainda que
confirma uma tendência de maior chance de ser vítima de roubo do que por outros crimes
aqueles que moram em bairros com maior concentração de renda, o que pode ser um
condicionante para a

As condições sanitárias foram associadas à VIP por desconhecidos. Este nível


corresponde ao contexto mais amplo, como condições sociosanitárias, moradia, saneamento
básico e políticas públicas. Há que se considerar que as questões sanitárias influenciam e são
influenciadas pelo nível de escolaridade, renda, aglomeração urbana e criminalidade
(CARCARA; SILVA; MOITA NETO, 2019; RODRIGUES; VENSON; DA CAMARA, 2019;
SAWAYA; ALBUQUERQUE; DOMENE, 2018). Entre os anos de 2006 e 2015 foi observada
melhoria no desempenho da provisão de serviços de saneamento básico (água e esgoto) nos
municípios cearenses. Apesar disso, há municípios analisados que permaneceram com baixo
desempenho e grandes dispersões da provisão dos serviços de saneamento básico após a
vigência da Lei Nacional de Saneamento Básico (SOUZA NUNES; FERREIRA; SOUSA,
2018).

O autorrelato de violência interpessoal no estado do Ceará é mais frequente por


agressores desconhecidos sendo esta violência do tipo física, com uso de arma de fogo, mas
com pouca ocorrência de ferimentos/lesão corporal e baixa demanda por serviços de saúde.

A prevalência de autorrelato de violência interpessoal por desconhecido no Ceará ocorre


com a expansão e proliferação de novas facções criminosas no Ceará (MANSO; DIAS, 2017).
Desde a última década, o Ceará vivência o aumento da criminalidade, insegurança, violência e
medo à população advindos da atuação das principais facções criminosas que se espalharam
em todo território cearense (MANSO; DIAS, 2017; XAVIER, 2017; FRAMENTO, 2018).

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, em 2013 a


taxa de crimes violentos contra o patrimônio (todos os tipos de roubo/furto) foi de 585,68 por
100.000 habitantes (CEARÁ, 2019). Os crimes violentos contra o patrimônio, geralmente,
resultam em poucas lesões corporais, exceto nos casos de latrocínios (SOUZA, 2003;
SANT'ANNA DE ANDRADE, 2013; NASCIMENTO et al., 2017), os achados desse estudo
também encontraram baixa demanda por serviços de saúde.

A violência interpessoal no estado do Ceará parece estar associada à expansão e atuação


de facções criminosas no estado, com o aumento de crimes contra o patrimônio, como roubo
ou furto, com uso de arma de fogo, em bares e vias públicas. No Ceará, as facções

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 123


estabeleceram-se como um centro de produção de crime e redes de ações criminosas complexas
com atuação em todo estado do Ceará (XAVIER, 2017; FRAMENTO, 2018). A VIP por
desconhecidos ocorre em bares/vias públicas, tendo como principais autores pessoas que
buscam roubo ou furto. Há que se ressaltar que a capitalização das facções é oriunda,
primordialmente, do tráfico de drogas e armas o que gera uma fonte de renda incalculável que
fomenta outros crimes violentos como assaltos e homicídios com uso de arma de fogo no
contexto comunitário (ARAUJO, 2018; FRAMENTO, 2018).

A exposição à violência conforma-se como um estressor psicossocial que, quando


presente, gera uma atmosfera de medo, insegurança e sentimento de perda de controle sobre o
mundo e sobre a própria vida, acabando por produzir uma série de alterações comportamentais
com a adoção de condutas de risco para doenças crônicas, como tabagismo, consumo de álcool
e outras drogas, inatividade física e alterações nos hábitos alimentares (PERES; RUOTTI,
2015). As consequências da exposição direta ou indireta à violência são muitas e envolvem
desde lesões físicas leves até a morte até efeitos menos palpáveis, que se expressam através de
sentimentos difusos de medo e insegurança, que geram sofrimento, levam a mudanças de
comportamento e interferem nos padrões de sociabilidade.

Deste modo, a VIP pode ser entendida como resultante da conjunção de diversos fatores
de risco que envolvem características individuais, relacionais, comunitárias e sociais (KRUG
et al., 2002), assim, a tarefa de prevenção é concebida de forma múltipla, esta, que envolve não
só um conjunto de ações de prevenção (primárias, secundárias e terciárias), mas a conexão com
outros campos de saberes e de intervenção. Apesar dos esforços, esta pesquisa apresentou
limitações inerentes às pesquisas transversais e oriundas de dados documentais no que refere
às baixas frequências em diversas variáveis, impossibilitando a verificação de associação com
o desfecho, e os vieses usuais (recordação) em estudos dependentes de autorrelato.

Acrescente-se a não completitude das variáveis que expliquem o evento multicausal da


VIP por desconhecidos e as inconsistências para algumas variáveis na utilização de bases de
dados secundários. Outro elemento há de ser destacado está a dificuldade de compreensão do
significado dos termos limitação e sequelas, sem informação conceitual detalhada ou sobre a
nomenclatura utilizada na Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
Saúde, que pode ter contribuído por ocasionar viés de resposta.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 124


Por fim, a variável “internação por 24 horas ou mais” para quem sofreu violência por
desconhecido estava ausente no banco de dados, bem como a variável “Frequência da violência
por desconhecido”, não existia, por esta violência não se repetir com o mesmo autor.

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos nesse estudo permitem inferir que a VIP por agressor
desconhecido na população adulta do Ceará no ano de 2013 é mais prevalente, sendo mais
comum entre homens, jovens e trabalhadores, com maior padrão aquisitivo e de escolaridade,
revelando que as características individuais atuam no perfil de exposição e atratividade para
crimes contra o patrimônio, como roubos ou furtos.

O maior nível de instrução e renda tendem a ser mais atrativas para a VIP por
desconhecidos, o que pode ser associado à presença em bares e maior circulação em vias
públicas sendo assim expostas a crimes contra o patrimônio, remetendo-nos as características
da pessoa e do contexto, segundo modelo ecológico da violência.

A VIP predominante é física, com uso de arma de fogo, tendo como principais autores
pessoas que buscam roubo ou furto, mas com pouca ocorrência de ferimentos ou lesão corporal
e baixa demanda por serviços de saúde.

Diante disto, recomendamos o desenvolvimento de políticas e programas, integrados e


intersetoriais, de desenvolvimento urbano e comunitário com componentes de prevenção da
violência com proposição nacionais de intervenções mais eficazes tratando a violência como
um evento epidêmico, reconhecendo que se trata de fenômeno alimentado por uma combinação
de fatores de risco decorrentes de circunstâncias individuais e sociais, bem como o
favorecimento do intercâmbio de conhecimentos (educação, assistência social, justiça e
segurança pública, de âmbito governamental e não governamental) entre cidades e países para
união de esforços combate e controle da VIP por agressor desconhecido.

Além disso, sugerimos a realização novos estudos analisando o trabalho analítico sobre
o valor da prevenção, estabelecendo as bases de uma formulação de políticas sólidas e
fundamentadas em evidências, assim como a proposição de integração, nas práxis, dos
diferentes setores e políticas públicas, afim não só de reconhecer que há perfis diferenciados
para a exposição à VIP não letal por desconhecidos no Ceará, mas sobretudo desenvolver ações
públicas intersetoriais efetivas que fortaleçam e reorganizem a Segurança Pública para o
combate e controle da VIP por agressor desconhecido na população adulta do Ceará.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 125


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Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 129


CAPÍTULO 10
SÍNTESE E AVALIAÇÃO IN VITRO E IN SILICO DAS PROPRIEDADES
FARMACOLÓGICAS E TOXICOLÓGICAS DE UM DERIVADO DA D-GLICOSE

Rodrigo Ribeiro Alves Caiana, doutorando em Ciências Farmacêuticas (PPGCF), UFPE


Herbert Igor Rodrigues de Medeiros, Mestrando em Farmacologia (PPGPNSB), UFPB
Tatiana de Almeida Silva, Graduanda em Química, UFCG
Ladjane Pereira da Silva Rufino de Freitas, Professora do Centro de Educação e Saúde,
UFCG
Juliano Carlo Rufino Freitas, Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Naturais e Biotecnologia (PPGCNBiotec), UFCG

RESUMO
Os medicamentos e as tecnologias farmacêuticas desempenham um papel essencial na saúde
mundial, por isso, seu processo de desenvolvimento e descoberta é amplamente necessário.
Neste âmbito, uma classe de moléculas que vem atraindo a comunidade científica são os O-
glicosídeos 2,3-insaturados, moléculas simples, derivadas de fontes naturais com interessantes
atividades biológicas. Deste modo, o objetivo deste trabalho consistiu na síntese do iso-propil
4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo, avaliação da sua toxicidade
frente a Artemia salina Leach e o estudo teórico de suas propriedades farmacológicas e
toxicológicas a partir de diferentes métodos in silico. Este O-glicosídeo 2,3-insaturado foi
obtido com 91% de rendimento após 30 minutos de reação, sendo posteriormente caracterizado.
A avaliação da toxicidade frente a Artemia salina resultou em uma CL50 de 779,503 µg/mL nos
limites de 683,246 a 883,730 μg/mL, classificada como levemente tóxica, resultado bastante
promissor. Os métodos in silico apontaram que este composto apresenta uma baixa
probabilidade de apresentar efeitos tóxicos, boas características para se tornar um bom fármaco,
um ótimo potencial de biodisponibilidade oral, boas características farmacocinéticas e baixa
probabilidade de desencadear efeitos tóxicos. Em suma, o iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-
didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo apresentou boas características farmacológicas,
assemelhando-se aos compostos que lideram o processo de descoberta de novos medicamentos.
Estes resultados fomentam a aplicação deste composto em estudos mais detalhados, cooperando
assim para o desenvolvimento de novos candidatos farmacêuticos.
PALAVRAS-CHAVE: Química Medicinal, Carboidratos, Rearranjo de Ferrier, Artemia
salina Leach, Métodos in silico.

INTRODUÇÃO

Os medicamentos e as tecnologias farmacêuticas têm um papel essencial na saúde


mundial, se mostrando como aspectos decisivos para o bom funcionamento das políticas de
saúde pública (CORRÊA; RODRIGUES; CAETANO, 2018). Entretanto, cotidianamente
surgem novos desafios, a citar, o aparecimento de agentes patogênicos resistentes aos fármacos
comerciais, a necessidade de aperfeiçoamento dos tratamentos já existentes, o desenvolvimento

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 130


de agentes que atuem no tratamento de doenças recém-identificadas e a produção de moléculas
mais seguras pela redução ou remoção de seus efeitos adversos. Tais situações apontam, de
maneira indubitável para a necessidade do desenvolvimento de novos fármacos (THOMAS,
2012).

A necessidade de novos agentes terapêuticos, bem como o desenvolvimento de seu


processo de descoberta faz com que se voltem às atenções para moléculas promissoras que
possam vir a suprir os problemas relatados. Neste âmbito, uma classe de moléculas que vem
atraindo a comunidade científica são os O-glicosídeos, moléculas simples, derivadas de fontes
naturais com interessantes atividades já relatadas, e que compõem diversos produtos naturais
(FREITAS et al., 2012; ALMEIDA, 2015).

O interesse por estes O-glicosídeos é intensificado pelo fato deles serem obtidos a partir
de carboidratos simples e comuns presentes nos organismos vivos, como, por exemplo, a D-
glicose e a D-galactose, o que pode implicar em uma maior biocompatibilidade e baixa
toxicidade (DELBIANCO et al., 2016).

No entanto, para que estas moléculas se tornem fármacos e desempenhem seu papel na
melhoria da saúde devem primeiramente passar por inúmeros testes clínicos, um processo que
leva um longo tempo, apresenta um custo elevado, além da considerável utilização de animais,
o que desperta uma busca por métodos alternativos que venham solucionar estes problemas
(SANTOS, 2011).

Neste horizonte, o bioensaio com Artemia salina vem se destacando devido ser um teste
simples, rápido, sensível e de baixo custo (RAJABI et al., 2015), consolidando-se cada vez
mais como uma excelente ferramenta para a análise preliminar da toxicidade geral (ROCHA-
FILHO et al., 2015).

Ao mesmo tempo, a química medicinal se empenha para oferecer ferramentas que


possam facilitar o processo de descoberta de novos fármacos, merecendo destaque para as
análises in silico, ferramentas que utilizam métodos computacionais e matemáticos com
comprovada efetividade para prever uma grande diversidade de características biológicas de
uma molécula em um menor tempo e com custo reduzido (PAPA, 2017).

Estas metodologias inovadoras vêm se unindo a diferentes estratégias para a obtenção


de novas moléculas, onde se destacam as modificações moleculares, uma vez que objetivam o
desenvolvimento de agentes com características agradáveis de eficácia e segurança (LUCIO
NETO, 2011).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 131


Diante da crescente necessidade de novos fármacos, dos entraves notados no processo
de pesquisa e desenvolvimento dos mesmos e das favoráveis características químicas,
biológicas, toxicológicas e de biocompatibilidade dos carboidratos, o presente trabalho buscou
a obtenção de moléculas que possam vir a suprir estas importantes necessidades, utilizando
métodos simples e eficazes para colaborar com a descoberta de novos agentes com boas
características farmacológicas e que sejam seguras para o homem e meio ambiente.

METODOLOGIA

MATERIAIS, SOLVENTES E REAGENTES

O monitoramento das reações foi realizado através da cromatografia em camada delgada


(CCD) utilizando placas de sílica-gel contendo indicador fluorescente F254. Para visualização,
as placas foram colocadas em solução ácida (EtOH/H2SO4, na proporção 95:5) ou solução de
vanilina. A purificação dos compostos foi realizada através da cromatografia líquida em coluna
de vidro utilizando sílica-gel 60 (70-230 mesh) como fase estacionária e sistemas
hexano:acetato de etila como fase móvel em diferentes proporções.

Os solventes comerciais foram purificados de acordo com os protocolos descritos na


literatura (PERRIN; AMAREGO, 1996). O hexano e o acetato de etila foram destilados
individualmente, em coluna de Vigreaux, enquanto que o diclorometano foi destilado sob
hidreto de cálcio. Os reagentes tri-O-acetil-D-glucal e o álcool iso-propílico foram adquiridos
da empresa Sigma Aldrich.

SÍNTESE DO ISO-PROPIL 4,6-DI-O-ACETIL-2,3-DIDESOXI-Α-D-ERITRO-HEX-2-


ENOPIRANOSÍDEO

A síntese do O-glicosídeo 2,3-insaturado foi realizada através do protocolo de Toshima


e colaborados (1995), com algumas modificações. Deste modo, em um balão de fundo redondo
com capacidade de 50 mL foram adicionados o 3,4,6-tri-O-acetil-D-glucal (0,27 g; 1 mmol), o
álcool iso-propílico (0,70 g; 1,2 mmol) e diclorometano seco (20 mL). Em seguida, o balão foi
resfriado a 0ºC e mantido sob agitação por 5 minutos. Após este intervalo de tempo foi
adicionado montmorillonita K-10 (0,27 g; 100% m/m) e um sistema de refluxo acoplado ao
balão. A mistura reacional foi mantida sob agitação e aquecimento (50 ± 5ºC) por cerca de 30
minutos. Após este intervalo de tempo o aquecimento foi interrompido e o término da reação
verificado por CCD.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 132


Em seguida, a solução contida no balão foi filtrada e o solvente removido sob pressão
reduzida utilizando evaporador rotativo. O produto bruto foi purificado em coluna
cromatográfica utilizando inicialmente hexano e terminando com um sistema de hexano:acetato
de etila, na proporção de 90:10.

CARACTERIZAÇÃO

As análises de ressonância magnética nuclear (RMN) foram realizadas em um


espectrômetro VARIAN® modelo Unity Plus-300 utilizando como solvente o clorofórmio
deuterado (CDCl3). Este espectrômetro foi calibrado usando tetrametilsilano (0,00 ppm) como
referência interna para os núcleos de hidrogênio ( 1H) e carbono (13C), e todas as constantes de
acoplamento (J) foram descritas em hertz (Hz). O espectro de infravermelho (IV) foi registrado
em um espectrofotômetro de infravermelho com transformada de Fourier no Spectrum 400 FT-
IR/FT-NIR Spectrometer modelo PerkinElmer, sendo a amostra preparada como pastilhas de
KBr, com número de scans de 16, resolução 4 e número de onda de 4000 a 400 cm-1. A rotação
específica foi determinada em um polarímetro digital da marca JASCO® P-2000 equipado com
a luz de sódio em comprimento de onda 589 nm. A amostra foi preparada em concentração de
1 m/v % (em MeOH) em uma cubeta de 1 mL. O ponto de fusão foi realizado no Electro-
thermal série IA 9100 Digital Melting Point. A chapa de agitação com aquecimento e a manta
aquecedora são da marca Fisaton modelo 754A e 102E, respectivamente. O solvente foi
removido utilizando um evaporador rotativo da Büchi Rotavapor modelo R-114 conectado a
uma bomba de vácuo modelo KNF Neuberger, e o solvente remanescente foi removido
utilizando uma bomba de alto vácuo da Edwards modelo RV3.

TOXICIDADE FRENTE A LARVAS DE ARTEMIA SALINA LEACH

O teste de toxicidade frente às larvas de Artemia salina Leach foi realizado seguindo-se
o protocolo descrito por Meyer e colaboradores (1982). Após sintetizado e caracterizado, o iso-
propil 4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo foi utilizado para a
obtenção de uma solução estoque utilizando como solvente água salina artificial preparada a
partir de 38 g de sal marinho Marinex® em 1 L de água destilada em pH entre 8 e 9.

Desta solução foram retiradas alíquotas para a realização de diluições obtendo-se


inicialmente as concentrações de 125, 250, 500, 750 e 1000 µg/mL. Após este teste preliminar
as concentrações foram ajustadas para novos testes envolvendo concentrações menores que 125
µg/mL e maiores que 1000 µg/mL.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 133


O dicromato de potássio foi utilizado como controle positivo ao passo que o solvente da
solução estoque foi utilizado como controle negativo a fim de atestar a viabilidade do teste.

Os cistos do microcrustáceo foram incubados em água salina artificial sob iluminação


também artificial por um período de 24 horas visando a eclosão dos metanáupilos (larvas). Este
processo aconteceu em uma incubadora, que consiste em um recipiente retangular de vidro com
uma divisória contendo furos de aproximadamente 0,02 cm de espessura e distribuídos
uniformemente, formando-se assim dois lados distintos.

Os cistos foram depositados em um dos lados do recipiente, o qual foi recoberto com
papel alumínio, para que as larvas, após a eclosão dos cistos, fossem atraídas pela luz do outro
lado do sistema, forçando-as a atravessar a divisória, facilitando sua coleta e transferência para
os tubos de ensaio. As larvas foram coletadas com auxílio de uma pipeta de Pasteur.

As larvas foram divididas em diferentes tubos de ensaio em grupos de 10 para cada tubo,
sendo estas expostas aos controles positivo, negativo e às soluções de concentração crescente
do iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo, sendo realizados
inicialmente um total de cinco testes, todos em triplicata.

Os testes foram submetidos a iluminação artificial por um período de 24 horas, sendo


posteriormente contabilizada a quantidade de indivíduos vivos e mortos para cada teste.

ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os valores da concentração capaz de matar 50% dos indivíduos testados (CL50) foram
obtidos através do software POLO-PC (Copyright LeOra Software 1987).

ANÁLISES IN SILICO

Os valores de Log Po/w consensual (cLogP), massa molecular (MM), N° de doadores de


ligação de hidrogênio (nDLH), N° de aceptores de ligação de hidrogênio (nALH), N° de
violações da regra de Lipinski, absorção gastrointestinal, a Área da Superfície Polar
Topológica, a presença de fragmentos moleculares de alerta e a avaliação de Leadlikeness
foram realizadas através da plataforma digital de bioinformática SwissADME, a qual compila
a contribuição de diferentes autores na área de química medicinal e quimioinformática para
processar diferentes análises in silico (DAINA; MICHIELIN; ZOETE, 2017).

Com o auxílio do programa Osiris Property Explorer foi possível avaliar a


probabilidade do iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo
demonstrar mutagenicidade, tumorogenicidade, irritabilidade e interferência na reprodução

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 134


humana, o que é indicado no software através de cores, em que a cor vermelha indica alto risco,
a cor amarela risco moderado e a cor verde baixo risco.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O trabalho foi iniciado com a síntese do iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-


eritro-hex-2-enopiranosídeo (3) a partir da reação entre o 3,4,6-tri-O-acetil-D-glucal (1) e o
álcool iso-propílico (2) empregando a montmorillonita K-10 como ácido de Lewis (Figura 1).

Figura 1: Esquema para a síntese do iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo


(3).

Fonte: Próprio autor.


Nesta reação de glicosilação, também denominada de Rearranjo de Ferrier (FERRIER,
2001), o álcool iso-propílico (2) atua como agente nucleofílico e, dependendo da quantidade de
montmorillonita K-10, o tempo pode variar significativamente. A fim de comprovar a
influência da quantidade de K-10 no tempo de reação, optou-se por realizar a reação
empregando 100% (m/m) de K-10 em relação ao reagente limitante 3,4,6-tri-O-acetil-D-glucal
(1), uma quantidade 3 vezes superior a empregada por Toshima e colaboradores (1995). Como
resultado, o tempo reacional diminuiu de 60 para 30 minutos sem variação significativa da
proporção dos compostos 3 e 3’. Esta redução drástica do tempo reacional pode ser atribuída
ao aumento dos sítios ácidos na solução orgânica oriundos do aumento da quantidade de K-10.

O iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo foi obtido


na forma líquida com 91% de rendimento, sendo este valor superior ao obtido por Regueira e
colaboradores (2016), que descreveram um novo método para síntese destes compostos
empregando a irradiação ultrassom. Vale ressaltar que Santos e colaboradores (2017) utilizando
outro método para a obtenção de diferentes glicosídeos 2,3-insaturados, entre eles o iso-propil
4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo, conseguiram reduzir o tempo
reacional, porém, o rendimento foi de 83%.

Este iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo foi


caracterizado por diferentes técnicas espectroscópicas, conforme detalhado na Tabela 1, e os
dados obtidos estão de acordo com os descritos na literatura (REGUEIRA et al., 2016).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 135


De acordo com o espectro de RMN 1H, contata-se que o somatório das áreas das
integrais sob cada sinal foi igual a 20, valor igual ao número de átomos de hidrogênio que a
substância apresenta. Com relação ao espectro de RMN 13C, constata-se a presença de 14 sinais
de carbonos quimicamente diferentes, mesmo número de carbonos que a substância apresenta.

Tabela 1: Dados espectrais do glicosídeo 2,3-insaturado.


RMN 13C (75
Estrutura [𝜶]𝟐𝟎
𝑫
RMN 1
H (300 MHz, CDCl3 ) IV (filme)
MHz, CDCl3)

5,76 (dl, 1H, H-3, J = 11,7


Hz), 5,69 (dt, 1H, H-2, J2,3 =
11,7 Hz e J2,1 = J2,4 = 1,8 Hz),
170,4;
5,19-5,15 (m, 1H, H-4), 5,02
169,9; 128,5;
+104,7 (c (sl, 1H, H-1), 4,17-4,01 (m, max 2971;
128,2; 92,5;
1,00 3H, H-5, H-6 e H-6’), 3,98- 2902; 1745;
70,4; 66,5;
g/mL; 3,84 (m, 1H, -CH(CH3)CH3), 1450; 1372;
65,1; 62,8;
MeOH) 1,98 (s, 3H, -OAc), 1,97 (s, 3H, 1234 cm-1
23,2; 21,7;
-OAc), 1,14 (d, 3H, -
20,7; 20,5.
CH(CH3)CH3, J = 6,3 Hz), 1,07
(d, 3H, -CH(CH3)CH3, J = 6,0
Hz)

Legenda: [α]: rotação específica; RMN 1H: ressonância magnética nuclear de hidrogênio; RMN 13C:
ressonância magnética nuclear de carbono 13; IV: infravermelho; c: concentração comum; : deslocamento
químico; dl: dupleto largo; J: constante de acoplamento; dt: dupleto largo; m: miltipleto; sl: singleto largo; -OAc:
grupo acetoxi; s: singleto; d: dupleto; max: número de ondas.
Fonte: Próprio autor.
Pela análise da Tabela 1, constata-se que o ângulo de desvio óptico da solução
metabólica do iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo foi
positivo, corroborando a estereoquímica dos centros quirais do composto. Além disso, as
bandas de vibração obtidas através do espectro de infravermelho, expressas em números de
ondas foram de 2971; 2902; 1745; 1450; 1372; 1234 cm-1 sendo referentes às ligações Csp3-H
(deformação axial assimétrica, forte), Csp3-H (deformação axial simétrica, forte), C=O
(deformação axial, forte), C-H (deformação angular, fraca), C-O (deformação axial, forte) e C-
O (deformação axial, forte) corroborando a estrutura proposta para o glicosídeo 2,3-insaturado
sintetizado.

Adicionalmente, as imagens dos espectros de RMN 1H e 13C (Figuras 2 e 3) indicam os


deslocamentos químicos dos átomos de hidrogênio e carbono presentes na estrutura da
molécula sintetizada.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 136


Figura 2: Espectro de RMN 1H (300 MHz, CDCl3) do iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-
enopiranosídeo (3).
M1103_6

2.14 0.96 1.01 3.38 1.29 6.31 3.29 3.54

7.5 7.0 6.5 6.0 5.5 5.0 4.5 4.0 3.5 3.0 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5
Chemical Shif t (ppm)

Fonte: Próprio autor.

Figura 3: Espectro de RMN 13C (75 MHz, CDCl3) do iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-


enopiranosídeo (3).
128.756

M1103_6
76.999
128.419

77.429

21.963
66.731
65.382
76.586
92.801

23.481
63.099
70.731

20.936
20.737
170.765
170.290

168 160 152 144 136 128 120 112 104 96 88 80 72 64 56 48 40 32 24 16


Chemical Shif t (ppm)

Fonte: Próprio autor.


Após sintetizado e caracterizado, o iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-
hex-2-enopiranosídeo foi submetido ao bioensaio com Artemia salina Leach a fim de avaliar
sua toxicidade.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 137


Foram realizados testes com concentrações que variaram de 500 μg/mL a 1250 μg/mL
a fim de obter concentrações capazes de matar 5% e 95% dos indivíduos testados além de
concentrações situadas entre estes dois pontos.

Através do software POLO-PC foi identificado com um intervalo de 95% de confiança


que a concentração capaz de matar 50% dos indivíduos testados (CL50) para a molécula
estudada foi de 779,503 μg/mL com intervalo de confiança nos limites de 683,246 a 883,730
μg/mL.

Nguta e colaboradores (2011), bem como Merino e colaboradores (2015), determinaram


que amostras com valores de CL50 inferiores a 100 μg/mL são considerados altamente tóxicas,
valores entre 100 e 500 μg/mL são moderadamente tóxicas, entre 500 e 1000 μg/mL são
levemente tóxicas e acima de 1000 μg/mL possuem baixa toxicidade.

Partindo desta premissa, o iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-


enopiranosídeo foi enquadrado como levemente tóxico frente ao bioensaio com Artemia salina
Leach, concordando com a expectativa de baixa toxicidade por ser derivado de moléculas
compatíveis e presentes numa grande diversidade de organismos.

Este valor de CL50 se mostra bem melhor do que o encontrado para outras moléculas,
inclusive fármacos amplamente comercializados como a dipirona e o paracetamol, por
exemplo. Utilizando o mesmo método, Garcez e colaboradores (2018) identificaram uma CL 50
de 654,1 μg/mL para a dipirona de referência, ao passo que Rego e colaboradores (2015)
encontrou uma CL50 ainda mais baixa para o paracetamol, um valor de 298,34 µg/mL.

Diante deste resultado promissor de toxicidade, notou-se a necessidade de ir além nos


estudos a fim de explorar como essa molécula pode se comportar no meio biológico e quais
ações são esperadas para a mesma, o que foi possível com o advento dos métodos in silico.
Estes resultados encontram-se sumarizados na Tabela 2.

Seguindo na avaliação de parâmetros toxicológicos, o programa Osiris Property


Explorer foi utilizado para a analisar o potencial do iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-
D-eritro-hex-2-enopiranosídeo desenvolver efeitos de toxicidade crônica. A análise foi
realizada pela busca de fragmentos na estrutura da molécula testada que indiquem risco de
toxicidade. Conforme descrito pelo programa, uma análise realizada com 3.343 fármacos
evidenciou que: 88% deles não apresentava risco de mutagenicidade; 92% não apresentava
risco de causar efeitos irritantes; 94% não apresentava risco de tumorogenicidade; e 90% não
apresentava risco de interferir na reprodução. Isso permite concluir que o ideal é a ausência da

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 138


possibilidade de risco na molécula analisada. Os resultados obtidos para o composto sintetizado
encontram-se listados na Tabela 2.

Tabela 2: Predição das propriedades farmacocinéticas, toxicolólicas e químicas do iso-propil 4,6-di-O-acetil-


2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo.
Propriedades Resultados obtidos

Baixo risco
Toxicidade Crônica
Não
Fragmentos de Alerta
1,32
cLogP
272,29
MM
0
nDLH
6
nALH
0
Lipinski
71,06
TPSA
84,48
%ABS
Alta
Absorção GI
Sim
Leadlikeness
0,45
Druglikeness
0,76
Drug-score
Legenda: cLogP: Log Po/w consensual; MM: Massa molecular em g/mol; nDLH: Nº de doadores de ligação de
hidrogênio; nALH: Nº de aceptores de ligação de hidrogênio; Lipinski: Nº de violações da regra de Lipinski;
TPSA: área de superfície polar topológica em Å2; %ABS: percentual de absorção oral teórica; Absorção GI:
Absorção gastrointestinal.
Fonte: Próprio autor.
A análise apontou a ausência de fragmentos estruturais indicadores de toxicidade
crônica na molécula do iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-
enopiranosídeo, resultando um uma baixa probabilidade desta molécula vir a apresentar efeitos
tóxicos para os parâmetros avaliados.

Adicionalmente, a partir da plataforma SwissADME foi possível constatar que o


glicosídeo em questão não apresenta em sua estrutura molecular fragmentos indicativos de
alerta, corroborando o bom padrão de toxicidade apontado pelas outras avaliações in vitro e in

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 139


silico. A busca por tais fragmento de alerta foi realizada seguindo o que foi desenvolvido por
Brenk e colaboradores (2008), os quais criaram uma lista com fragmentos moleculares
conhecidos por serem tóxicos, quimicamente reativos, metabolicamente instáveis ou serem
responsáveis por padrões farmacocinéticos insatisfatórios.

Estes resultados fomentaram a continuidade dos estudos computacionais envolvendo


este glicosídeo para a determinação de parâmetros que indiquem o potencial deste composto
tornar-se um bom fármaco futuramente. Nesse sentido, o próximo ponto a ser discutido entre
os resultados apresentados na Tabela 2 é a lipofilicidade do iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-
didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo, representada pelo valor de cLogP. Conforme
defendido por Barreiro e Fraga (2015), a lipofilicidade dos fármacos influencia diretamente nas
suas características farmacocinéticas, sendo um dos pontos responsáveis por reger o processo
de absorção, distribuição, biotransformação e eliminação destes compostos do corpo humano.
Estes autores defendem a existência de uma faixa de lipofilicidade ideal para um fármaco, a
qual apresenta valores de LogP entre 1 e 3. Conforme apresentado na Tabela 2, o iso-propil 4,6-
di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo apresenta um valor de cLogP dentro
da faixa de lipofilicidade ideal, o que é um indicativo da de boas propriedades farmacocinéticas
por parte deste composto.

Seguindo na avaliação farmacocinética, avaliou-se a adequação do iso-propil 4,6-di-O-


acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo segundo a “Regra dos 5” desenvolvida
por Lipinski (2004). Ao analisar 2.245 fármacos que apresentavam bons padrões de
biodisponibilidade oral, Lipinski desenvolveu um conjunto de parâmetros que se tornaram um
dos principais pontos de partida no desenvolvimento de novas moléculas promissoras. De
acordo com o autor, um candidato a fármaco apresentará bons padrões de biodisponibilidade
oral quando satisfazer um conjunto de parâmetros físico-químicos, que são: massa molecular
(MM) menor do que 500 Daltons, coeficiente de partição (cLogP) menor que 5, máximo de
cinco grupos doadores de ligação de hidrogênio (nDLH) e máximo de dez grupos aceptores de
ligação de hidrogênio (nALH) (Lipinski, 2004). Conforme apresentado na Tabela 2, o iso-
propil 4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo atendeu a todas as
especificações contidas na Regra dos 5 corroborando o bom potencial farmacocinético que foi
apresentado pela análise de cLogP e reforçando a expectativa de boa absorção deste composto
após uma administração oral.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 140


A partir do valor obtido para a Área da Superfície Polar Topológica (do inglês:
Topological Polar Surface Area – TPSA) foi possível calcular o percentual de absorção oral
teórica (%ABS) do composto a partir da fórmula matemática %ABS= 109 - (0,345 x TPSA)
(ZHAO et al., 2002), sendo portanto esperada uma absorção de 84,48%. Além disso, a
plataforma SwissADME indicou uma expectativa de alta absorção para o glicosídeo analisado,
corroborando os resultados descrito anteriormente.

Uma boa absorção oral é considerada um ponto relevante, uma vez que esta á uma via
de administração com benefícios singulares, como conveniência, baixo custo, possibilidade de
autoadministração, maior adesão ao tratamento e menores riscos de desencadear infecções
sistêmicas no usuário (Golan et al., 2014).

Por fim, seguiu-se para a avaliação do potencial farmacêutico do iso-propil 4,6-di-O-


acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo a partir de diferentes métodos
computacionais. Com o auxílio do SwissADME, foi possível constatar que o glicosídeo em
questão apresenta características físico-químicas que se assemelham aos compostos que
lideram os processos de descoberta por novos fármacos (Leadlikeness) (TEAGUE et al., 1999;
BRENK et al., 2008).

A partir do software Osiris foi possível obter os valores de drug-likeness e drug score,
os quais avaliam a probabilidade de uma molécula tornar-se um novo fármaco baseado em suas
características físico-químicas e biológicas, bem como na sua semelhança com outras
moléculas já em comercialização.

O valor de drug-likeness avalia a semelhança da molécula testada com uma lista criada
a partir da fragmentação de 3.300 fármacos comerciais e 15.000 substâncias químicas não
medicamentosas presentes no catálogo Fluka® resultando em uma lista completa com todos os
fragmentos disponíveis (URSO et al., 2011).

Uma pontuação é gerada exprimindo a semelhança do iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-


didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo com o banco de dados indicando a probabilidade
deste composto tornar-se um fármaco futuramente. Como mostrado na Figura 11, 80% dos
fármacos apresenta um valor positivo de drug-likeness, ao passo que a grande maioria das
substâncias não medicamentosas apresenta valores negativos, por isso, o ideal é que o candidato
a novo fármaco apresente um valor de drug-likeness positivo.

O iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo apresentou


um valor de drug-likeness positivo (0,45) de forma semelhante a 80% dos fármacos analisados

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 141


pelo programa, indicando a semelhança entre eles e fomentando a possibilidade deste composto
vir a apresentar as mesmas características estruturais que levaram os demais fármacos à
comercialização.

O drug score é calculado combinando-se os resultados de drug-likeness, da


lipofilicidade (cLogP), da solubilidade (LogS) e do risco de toxicidade, gerando um valor útil
que pode ser usado para avaliar o potencial geral do composto para se tornar um medicamento.

Segundo os critérios estabelecidos, quanto mais próximo de 1 (um) for o resultado de


drug score, maior é a probabilidade teórica dessa molécula vir a se tornar um bom fármaco. O
iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo obteve uma
pontuação de 0,76 indicando uma harmonia entre suas características moleculares e apontando
uma elevada probabilidade de se tornar um bom fármaco.

Em conjunto, estes resultados apontaram a presença de características promissoras para


o iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo, fomentando o
desenvolvimento de novos estudos que possam explorar mais a fundo as propriedades
biológicas deste composto bem como de seus derivados, cooperando assim para o
desenvolvimento de inovações farmacêuticas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo foi obtido


em excelente rendimento (91%), baixo tempo reacional (um total de 30 minutos) e as
adaptações realizadas na metodologia proporcionaram um aumento do rendimento quando
comparados a outras metodologias descritas na literatura.

O composto sintetizado foi caracterizado por diferentes técnicas espectroscópicas, tais


como, infravermelho, ressonância magnética nuclear de hidrogênio e carbono e rotação
específica, em que os dados encontrados confirmam sua estrutura e estão de acordo com os
descritos na literatura.

O ensaio de toxicidade in vitro pelo bioensaio com Artemia salina Leach apontou que
o iso-propil 4,6-di-O-acetil-2,3-didesoxi-α-D-eritro-hex-2-enopiranosídeo apresenta-se como
levemente tóxico, com uma CL50 de 779,503 µg/mL nos limites de 683,246 a 883,730 μg/mL.

Os resultados obtidos com o advento das ferramentas in silico enalteceram o potencial


deste glicosídeo 2,3-insaturado, apresentando uma probabilidade deste composto se comportar

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 142


de forma satisfatória do ponto de vista farmacocinético, com baixo potencial de desencadear
efeitos tóxicos.

Pode-se concluir que tais resultados são suficientes para que se fomente o
desenvolvimento de mais estudos que visem explorar as atividades que esta molécula e seus
derivados possam expressar, buscando identificá-las, entende-las e molda-las, cooperando para
o processo de desenvolvimento de novos fármacos.

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CAPÍTULO 11
VENENO DE ABELHAS: UM MAPEAMENTO CIENTÍFICO DAS PROPRIEDADES
ANTICÂNCER

Rodrigo Elísio de Sá, Biomédico e Mestrando em Biotecnologia, UFDPar


Fernanda Iris Araújo Pereira, Graduanda em Ciências Biológicas, UFDPar
Rubens Renato de Sousa do Carmo, Graduando em Biomedicina, UFDPar
Juliana Ísis Araújo Pereira, Graduanda em Engenharia de pesca, UFDPar
Gabrielle Costa Sousa, Graduanda em Biomedicina, UFDPar
Lucicleia Dias Monteiro, Biomédica pela UFDPar
Gabriella Linhares de Andrade, Biomédica e Mestranda em Biotecnologia, UFDPar
Valentina Rhémily de Melo Vasconcelos, Biomédica pela UFPI

RESUMO
O veneno de abelha (BV) tem sido amplamente utilizado no tratamento de algumas doenças
relacionadas ao sistema imunológico, bem como nos últimos tempos no tratamento de tumores.
Várias células cancerosas, incluindo células cancerosas renais, pulmonares, hepáticas, de
próstata, bexiga e mamárias, bem como células de leucemia, podem ser alvos de peptídeos de
veneno de abelha, como a melitina e a fosfolipase A2. Os efeitos citotóxicos das células através
da ativação da PLA2 pela melitina têm sido sugeridos como sendo o mecanismo crítico para a
atividade anticancerígena de veneno de abelha. A indução da morte celular apoptótica por meio
de vários mecanismos de morte celular, incluindo a ativação da caspase e das metaloproteinases
da matriz, é importante para os efeitos anticâncer induzidos pela melitina. A conjugação de
peptídeo lítico celular (melitina) com receptores hormonais e terapia genética com melitina
pode ser útil como uma nova terapia direcionada para alguns tipos de câncer, como câncer de
próstata e mama. Este mapeamento resume o conhecimento atual sobre o potencial do veneno
de abelha e seus compostos, como a melitina, para induzir efeitos citotóxicos, antitumorais,
imunomoduladores e apoptóticos em diferentes células tumorais in vivo ou in vitro.
PALAVRAS-CHAVE: Anticâncer, Compostos bioativos, Veneno de abelha.

INTRODUÇÃO

O câncer é umas causas mais comuns de mortalidade e morbidade em todo o mundo.


De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (2020), é estimado a ocorrência de
aproximadamente 625 mil novos casos de câncer no triênio 2020 a 2022, com inclusão de casos
de câncer de pele não melanoma, comum tanto para o sexo masculino quanto para o feminino.
As células cancerosas possuem como característica um crescimento descontrolado e
desorganizado, podendo desencadear invasão para órgãos e tecidos e formação de tumor
(FLOOR et al., 2012). Esse tipo de célula apresenta grande heterogeneidade dentro do tumor,

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 146


devido por exemplo à presença de populações fenotipicamente distintas, mas genotipicamente
idênticas (PIACENTINI; MENEZES, 2012).

O uso de produtos naturais para tratar e prevenir doenças é uma prática bastante antiga
e tem sido repassada através das gerações que tem uma importância para a manutenção de
costumes e culturas (MENDOZA; SILVA, 2018). Muitas pesquisas estão sendo desenvolvidas
com o intuito de buscar medicamentos e tratamentos utilizando como matéria prima os recursos
biológicos, pois suas substâncias ativas isoladas podem servir como protótipos para síntese de
novos fármacos (CASANOVA; COSTA, 2017). Os agentes quimioterápicos de origem natural
têm-se mostrado importantes para o tratamento do câncer no que concerne a permitir a
amplificação do conhecimento na área de farmacologia do câncer (JIMENEZ et al., 2019).

Pesquisas têm demonstrado que as toxinas de origem animal representam um importante


recurso de compostos bioativos ainda pouco explorado. Muitos organismos produzem essas
toxinas como modo de defesa contra predadores e abaixo de doses ditas agressivas, as toxinas
podem apresentar ações fisiológicas importantes e até terapêuticas (KUNITZ, 2015). Neste
sentido, toxinas derivadas de insetos da ordem Himenóptera, compreendendo as abelhas vespas
e formigas têm sido estudadas.

A busca pelo conhecimento das propriedades antitumorais da apitoxina e da melitina


tem aumentado nos últimos anos e isso pode estar relacionado ao aumento dos casos de
diagnóstico de câncer, fazendo com que muitos problemas de cunho econômico e clínico
fiquem evidentes (KUNITZ, 2015). Em estudo de Pereira (2017) é fornecido a informação de
que a administração de apitoxina em indivíduos com doenças inflamatórias teve contribuição
para diminuir as excessivas respostas imunes, sendo uma boa alternativa para combate e
controle de doenças inflamatórias.

Estudo de Borojeni e colabores (2020) forneceu dados de que o veneno de abelha e seus
constituintes, especialmente a melitina possuem efeitos citotóxicos nas linhas celulares A549,
HeLa e MDA-MB-231. Já estudo de Gao e colaboradores (2018) demonstrou que a melitina
ativou a caspase-2 inibindo a expressão de miR-183 induzindo a apoptose de NSCLC nos
ensaios de linha de células de câncer NCI-H441 e um modelo de xenoenxerto in vivo. Neste
mesmo estudo, evidenciou-se efeito inibitório da melitina no crescimento de células cancerosas
NSCLC.

Sisakht e colaboradores (2017) em estudo com o veneno de abelha mostraram que o


mesmo apresentou inibição de células de glioblastoma através da indução de apoptose e

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 147


diminuição da expressão de MMP-2, sugerindo um papel potencial na inibição da metástase de
glioblastoma. O efeito inibidor do crescimento de veneno de abelha e melitina contra células
de melanoma foi avaliado e resultou em uma inibição significativa da capacidade de formação
de colônias em células de melanoma B16F10, A375SM e SK-MEL-28 (LIM et al., 2019). Dado
isso, objetivou-se explorar na literatura científica acerca do potencial anticâncer de compostos
bioativos oriundos de venenos de abelhas.

REFERENCIAL TEÓRICO

CÂNCER: CONCEITOS, ESTIMATIVAS E ASPECTOS GERAIS DA


CARCINOGÊNESE

O câncer é o principal problema de saúde pública no mundo e já está entre as quatro


principais causas de morte prematura na maioria dos países (BRAY et al, 2018; CARIOLI et
al., 2021). Conforme a estimativa do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva
(INCA, 2019), sobre a incidência de câncer no Brasil, é apontado que para cada ano do triênio
2020-2022 ocorrerão 625 mil casos novos de câncer. O câncer de pele não melanoma será o
mais incidente (177 mil), seguido pelos cânceres de mama e próstata (66 mil cada), cólon e reto
(41 mil), pulmão (30 mil) e estômago (21 mil).

O câncer é considerado um conjunto de doenças em que células anormais se dividem


incontrolavelmente, podendo invadir os tecidos próximos e se espalhar através da corrente
sanguínea e do sistema linfático para outras partes do corpo. (AMERICAN CANCER
SOCIETY, 2018; SILVA et al., 2019). O processo de formação do câncer é lento e ocorre por
meio de várias etapas, sendo determinado principalmente por fatores genéticos e ambientais
(INCA,2019). Segundo INCA (2006), o câncer é desenvolvido quando o processo natural de
crescimento, desenvolvimento e morte de uma célula é alterado, por meio de mutações. Dessa
forma, as células cancerosas se dividem anormalmente, de forma mais rápida em comparação
com as células normais e com o tempo podem se empilhar umas sobre as outras formando um
tumor (FOUAD; AANEI, 2017; HANAHAN; WEINBERG, 2011).

O câncer representa a causa mais importante de morte no mundo, com o número de


mortes excedendo o de outros grupos de patologias específicas, e atualmente 7,6 milhões de
pessoas morrem, no mundo, em decorrência dessa doença a cada ano e no Brasil em 2017
ocorreram cerca de 218.640 óbitos devido neoplasias (INCA, 2019; INCA, 2020). O câncer
representa uma enfermidade cada vez mais comum em todo o mundo e a busca por moléculas
cada vez mais potentes e menos tóxicas na natureza é constante, sendo os produtos naturais

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 148


considerados fonte nobres de moléculas para o tratamento de várias formas de câncer
(ALVARENGA et al., 2014).

APLICAÇÃO DE PRODUTOS NATURAIS NO CÂNCER

É de amplo conhecimento que o ser humano, ao longo dos anos, utiliza para benefício
próprio e como forma de suprir suas necessidades, os produtos encontrados na natureza. Esse
fato se consuma, dentre outras formas, na utilização de produtos de procedência natural como
remédio para uma variedade de doenças (GURIB-FAKIM, 2006; TRENDOWSKI, 2015).
Entre as mais variadas aplicações, pode-se citar a contra o câncer.

Segundo Sznarkowska et al. (2017), em torno de 60% dos medicamentos disponíveis


para tratamento contra o câncer são de origem natural. O efeito anticâncer e consequente
potencial de desenvolvimento de quimioterápicos, já foi noticiado como um benefício presente,
por exemplo, em extratos naturais de plantas, em microrganismos (SZNARKOWSKA et al.,
2017) e substâncias produzidas por insetos, contidas no veneno de abelha (SISAKHT et al.,
2017) e no mel (ABEL; BAIRD, 2018). Essa característica é conferida pela diversidade de
compostos, estruturas, propriedades farmacológicas e moleculares presentes nestes produtos
(PAN et al., 2012).

Entre os microrganismos, pode-se citar a utilização de extratos pigmentados


bacterianos, a exemplo a prodigiosina, extraída da Pseudoalteromonas sp., em que se notou, in
vitro, citotoxicidade contra células de leucemia. Podendo também ser observada a atividade
indução à morte e inibição da proliferação celular em um painel de 60 linhagens de células
tumorais humanas (VENIL; ZAKARIA; AHMAD, 2013).

Já entre as plantas, há o alcaloide vincristina, extraído das folhas de Catharanthus


roseus. Esse composto vem sendo utilizado contra a leucemia linfoblástica aguda em crianças.
O seu uso no tratamento tem a capacidade de aumentar em 80% a taxa de sobrevivência,
mostrando-se, assim, uma droga de grande valia (EVANS et al., 1963; SECA et al., 2018).

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo retrospectivo, com revisão literária a partir de publicações


indexadas nas bases de dados PubMed, SciELO e Science Direct. Utilizou-se como descritores
de busca os termos: bee poison, anticancer and antitumor, estes devidamente cadastrados nos
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Os critérios de inclusão utilizados foram: artigos
publicados nos idiomas inglês e português, publicados no recorte temporal de 2000 a 2020, os

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 149


quais abordassem a temática proposta e possuíssem no resumo o potencial anticâncer de
compostos isolados de venenos de abelhas. Desse modo, como critérios de exclusão, foram
desconsideradas publicações em duplicata, editoriais, trabalhos in silico, monografias,
dissertações, teses e outros que não atendiam aos objetivos da presente revisão. Assim,
selecionou-se 15 artigos que correspondiam aos critérios do presente estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

ATIVIDADE ANTITUMORAL DO VENENO DE ABELHA E SEUS COMPONENTES

Recentemente, muitos estudos relataram que alguns produtos naturais inibem o


crescimento de células tumorais e metástases e induzem apoptose sugerindo uma aplicação
crescente desses compostos naturais como um tratamento de medicina alternativa de tumores
humanos (YUSUF et al., 2007). Durante as últimas duas décadas, os peptídeos no veneno de
abelha contendo melitina, atraiu considerável atenção pelo seu uso potencial em terapia do
câncer (LEUSCHNER; HANSEL, 2007; LING et al., 2004). A melitina, um peptídeo anfifílico
(26 resíduos de aminoácidos) isolado da espécie de abelha Apis mellifera (EISENBERG, 1984),
é conhecido por exercer uma variedade de efeitos de perturbação da membrana, como
hemolítico e antimicrobiano. A melitina também induz alterações estruturais de membranas
incluindo formação de poros, fusão e vesiculação (KATSU et al.,1989). Essas mudanças
morfológicas das membranas provocado pela melitina pode ser atribuído à indução de secreção
de hormônio (KIESEL et al., 1984), agregação de proteínas de membrana e alteração do
potencial de membrana (CARRASQUER et al.,1998). Esses diversos efeitos implicam que a
melitina exerce múltiplas efeitos nas funções celulares.

Fosfolipase secretora de veneno de abelha A2, um membro da família de fosfolipases


A2 (PLA2) de enzimas que catalisam a hidrólise do acil graxo sn-2 ligação éster de glicero-3-
fosfolipídios de membrana para gerar ácidos graxos livres e lisofosfolipídios (DENNIS, 1994).
A princípio, as enzimas sPLA2 podem influenciar a imunogenicidade e as capacidades
proliferativas das células tumorais por vários mecanismos. A atividade da sPLA2 hidrolisa
cataliticamente e digere a célula componentes da membrana (KUDO; MURAKAMI, 2002) e,
consequentemente, interrompe a integridade das bicamadas lipídicas, tornando as células
suscetíveis para maior degradação. Interação direta de proteína de PLA2 enzimas com
receptores de superfície celular regulam uma variedade de atividades biológicas incluindo
proliferação (FONTEH et al., 2000). Ação imunoestimulante ou citotóxica dos produtos da

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 150


reação sPLA2 como lisofosfatidilcolina e mediadores lipídicos foram observadas
frequentemente (GRÄLER; GOETZL, 2002).

A melitina pode induzir parada do ciclo celular, inibição do crescimento e apoptose em


várias células tumorais (DUKE et al., 1994). Além disso, a melitina demonstra reverter o
fenótipo transformado de células transformadas H-ras. Foi demonstrado que a melitina
especificamente seleciona células em cultura que expressam altos níveis de oncogene ras
(SHARMA, 1993).

EFEITO ANTITUMORAL E ANTIMETASTÁTICO DO VENENO DE ABELHA


COMPONENTES E SUA EFICÁCIA QUIMIOTERÁPICA ATRAVÉS DO SISTEMA
DE ENTREGA

Liu e colaboradores (2008) demonstraram que a melitina inibe a metástase de células


tumorais reduzindo a motilidade celular e a migração por meio da supressão da via dependente
de Rac1 em modelos de camundongos nus, sugerindo que a melitina é um potencial agente
terapêutico para carcinoma hepatocelular (HCC). A melitina também inibe a viabilidade e
motilidade das células HCC, que se correlaciona com sua supressão da atividade dependente
de Rac1, motilidade celular, e despolimerização de microfilamentos. Parece que a inibição da
expressão e atividade de MMP-9 pelo veneno de abelha através da supressão da expressão de
p38 / JNK e NF-κB é essencial para os efeitos da melitina nas vias de sinalização que induzem
metástase e invasão (CHO et al., 2010). Cho et al. (2010) demonstrou que o veneno de abelha
inibe diretamente a capacidade invasiva e migratória de células MCF-7 através da supressão da
expressão de MMP-9 sem abolir a expressão de TIMP-1 e -2. Além disso, a atividade
enzimática de MMP-9 foi suprimida por veneno de abelha e melitina, mas não por apamina e
PLA2. Esses resultados sugerem que a inibição específica de MMP-9 foi regulado por um único
componente do veneno de abelha, que é melitina. Esses resultados indicam que o veneno de
abelha é um potencial agente antimetastático e anti-invasivo.

POTENCIAÇÃO DA LETALIDADE QUIMIOTERAPÊUTICA PARA CÉLULAS


CANCEROSAS POR COMPONENTES DO VENENO DE ABELHA

Miller e colaboradores (2009) demonstrou que a melitina era uma das inibidoras mais
potentes da atividade da calmodulina e mais potente inibidor do crescimento celular e
clonogenicidade do que fenotiazinas (HAIT; LEE, 1985). Drogas que inibem a calmodulina
demonstraram inibir a síntese de DNA na linhagem celular de glioblastoma, bloqueando o
movimento de cromossomos durante a metáfase (MEANS et al., 1982), inibindo o crescimento

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 151


de células de ovário de hamster chinês, e aumentando a citotoxicidade de vincristina,
doxorrubicina e bleomicina (KILLION; DUNN, 1986).

CITOTOXICIDADE DIRETA DO VENENO DE ABELHA E SEUS COMPONENTES


EM CÉLULAS TUMORAIS

O grau de inibição do crescimento das células MCa na presença de veneno de abelha


foi dependente da dose por até 24 h. Isto é provável que o veneno de abelha induza efeito
citotóxico por inibição de calmodulina ou por indução de apoptose e necrose de células
tumorais (PAWLAK et al., 1994). O mecanismo pelo qual os agentes que exercem a atividade
anticalmodulina inibem o crescimento das células é desconhecido. O mecanismo de inibição da
calmodulina parece ser mediado através da formação de uma alta afinidade dependente de
cálcio complexo entre calmodulina e melitina (SHARMA, 1993). Embora uma fosfodiesterase
tenha sido a primeira enzima que demonstrou ser ativada pela calmodulina, agora é conhecido
que numerosas enzimas e proteínas estruturais são dependentes desta proteína de ligação ao
cálcio (RAGHURAMAN; CHATTOPADHYAY, 2007). Calmodulina é essencial para muitos
processos que são necessários para função celular normal, incluindo a montagem e
desmontagem de microtúbulos, extrusão de cálcio das células por uma ATPase de cálcio-
magnésio e a ativação de numerosas enzimas intracelulares, como proteínas quinases,
fosfatases e nucleotídeo cíclico fosfodiesterase (LIU et al., 2002).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dado isso, observa-se que os estudos numerados sugeriram que o veneno de abelhas
poderia ser usado como um agente quimioterápico contra tumores. Outrossim, é provável que
mais atenção deva ser dada ao inibidor natural de crescimento de tumor, como veneno de abelha
e outros produtos de colméia em testar sua atividade antitumoral para o futuro possível uso na
prática clínica. Parece que as nanopartículas como veículos de entrega para melitina, estignina
e outros peptídeos citolíticos com um amplo espectro, antivascular multimodal ou ações
antitumorais, poderiam ser exploradas para terapia anticâncer. Ensaios in vitro e in vivo, bem
como os ensaios clínicos, demonstram que a terapia com veneno de abelha pode ser uma
importante modalidade na medicina tradicional para tratar diferentes tipos de câncer.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 152


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CAPÍTULO 12
PROPRIEDADES ANTICÂNCER DE PRODUTOS NATURAIS DE
ACTINOBACTÉRIAS MARINHAS: UM MAPEAMENTO CIENTÍFICO

Rodrigo Elísio de Sá, Mestrando em Biotecnologia, UFDPar


Fernanda Iris Araújo Pereira, Graduanda em Ciências Biológicas, UFDPar
Rubens Renato de Sousa do Carmo, Graduando em Biomedicina, UFDPar
Juliana Ísis Araújo Pereira, Graduanda em Engenharia de pesca, UFDPar
Antonia Luzia Lima do nascimento, Mestranda em Biologia Celular e Molecular, UFRGS
Lucicleia Dias Monteiro, Graduanda em Biomedicina, UFDPar
Gabriella Linhares de Andrade, Mestranda em Biotecnologia, UFDPar
Valentina Rhémily de Melo Vasconcelos, Biomédica pela UFPI

RESUMO
A quimioterapia é um dos principais tratamentos utilizados no combate ao câncer. Grande parte
dos compostos antitumorais são produtos naturais ou seus derivados, produzidos
principalmente por microrganismos. Em particular, os actinomicetos são produtores de um
grande número de produtos naturais com diferentes atividades biológicas, incluindo
propriedades antitumorais. Estes compostos antitumorais pertencem a várias classes estruturais,
como antraciclinas, enedines, indolocarbazoles, isoprenóides, macrolídeos, peptídeos não
ribossômicos e outros, e eles exercem atividade antitumoral induzindo apoptose através da
clivagem do DNA mediada pela inibição da topoisomerase I ou II, inibição da permeabilização
da mitocôndria, das principais enzimas envolvidas na transdução de sinal, como proteases, ou
metabolismo celular e, em alguns casos, inibindo a angiogênese induzida por tumor. O objetivo
deste mapeamento científico é chamar a atenção para o potencial anticâncer dos metabólitos
secundários desse grupo de bactérias.
PALAVRAS-CHAVE: Citotoxicidade, Metabólitos secundários, Actinobactérias.

INTRODUÇÃO

O câncer é designado como um conjunto de mais de 100 doenças, onde suas células
possuem algumas falhas nos mecanismos que regulam a proliferação normal e homeostase
celular, o que leva a um crescimento descontrolado e desordenado (HANAHAN, 2000). É
considerada uma doença de cunho genético que se desenvolve devido ao acúmulo de mutações
no DNA da célula, com alterações dinâmicas no genoma, resistência à morte celular, metástase
e autossuficiência em sinais de crescimento (HANAHAN; WEINBERG, 2017). As doenças
cancerosas estão entre uma das principais causas de morte em todo o mundo, o que expande a
necessidade de descoberta de substâncias com propriedades antitumorais com boa atividade e
efeitos adversos reduzidos (OPAS, 2020).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 156


O Brasil é um país que possui uma ampla biodiversidade com variedade de fauna e flora,
sendo uma fonte valiosa de produtos naturais com potencial uso na descoberta de novos
compostos bioativos (SANTOS et al., 2018). Os produtos naturais são utilizados pela
humanidade desde tempos imemoriais e representam uma importante fonte de uso para as
comunidades locais. Eles têm sido uma importante fonte para a descoberta de novas moléculas
para potencial fornecimento de novos fármacos e tratamento de doenças (COSTA-LOTUFO et
al., 2009). Em relação aos produtos naturais microbianos, existe uma importante aplicação na
produção de fármacos e é esperado que esses produtos tenham funções essenciais nas
associações simbióticas gerando vantagens de adaptação e evolução (MACHADO, 2019).

De acordo com Jimenez e colaboradores (2019), os compostos naturais de origem


marinha apesar de terem uma história recente, estudos têm mostrado novos potenciais alvos e
modos de ação podendo trazer renovação para o campo da farmacologia. No ambiente marinho
existem condições ambientais muito diversificadas e complexas, permitindo que se encontre
uma enorme biodiversidade com organismos como bactérias, cianobactérias, protozoários,
fungos, algas e mamíferos aquáticos (YADAV, 2021). Os produtos naturais de origem marinha
têm demonstrado uma boa atividade para a terapêutica e as substâncias derivadas desses
produtos representa uma importante alternativa para tratamento de doenças como o câncer
(MACHADO, 2019). Segundo este autor, apesar de muitos novos compostos terem sido
isolados de organismos marinhos e muitos com uma boa atividade biológica, ainda há poucos
comercializados como produtos farmacêuticos.

As actinobactérias ou Actinomicetos são bactérias gram-positivas que apresentam uma


grande quantidade de guanina e citosina na composição do seu DNA. Conhece-se oito gêneros
dessas bactérias sendo eles Arthrobacter, Corynebacterium, Nocardia, Rhodococcus,
Streptomyces, Mycobacterium, Actinomyces, Bifidobacterium e Butyrivibrio (LACAZ et al.,
2002). Elas estão distribuídas pelos ecossistemas terrestres e marinhos, encontradas em solos e
sedimentos de lugares rasos e profundos ou mesmo associados a organismos marinhos
(MORAIS et al., 2013).

O estudo de Berdy (2005) demonstrou que os actinomicetos são importantes produtores


de produtos com potencial bioativos, constituindo um grande grupo de microorganismos
produtos de metabólitos. Esses metabólitos presentes nesses organismos possuem importância
biomédica com efeitos antibacteriano, antitumoral, antiinflamatório e antifúngico
(GUIMARÃES, 2013). No estudo de Guimarães (2013) numa investigação de potencial

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antitumoral de actinomicetos da costa do Ceará, demonstrou-se que é uma fonte de substâncias
com potencial anticâncer, mostrando-se ser bastante citotóxica contra diversas linhagens de
células tumorais. Dado isso, objetivou-se explorar na literatura científica acerca do potencial
anticâncer de compostos bioativos oriundos de bactérias da classe dos actinomicetos.

REFERENCIAL TEÓRICO

ACTINOBACTÉRIAS

Dentro do domínio bacteriano, o filo Actinobacteria é um dos mais amplos que se tem
conhecimento até o momento (LUDWIG et al., 2012). São bactérias Gram-positivas e com alta
quantidade de guanina e citosina no DNA. Em sua maioria, as actinobactérias são encontradas
em solo, podendo ser encontradas também no ar, em água doce e salgada. São microrganismos
saprófitos – obtém nutrientes a partir da decomposição de matéria orgânica –, estando a maior
parte da vida como esporos semidormentes e representam uma parcela importante da
microbiota em solos alcalinos e ricos em material orgânico, além de possuírem uma morfologia
variada e um estilo de vida micelial (BARKA et al., 2015).

Além desse microrganismo se mostrar de grande importância por seu papel nos
ambientes em que estão presentes, sua relevância se traduz pela possibilidade de criação de
compostos bioativos a partir da utilização destes. As actinobactérias marinhas são bem descritas
pela capacidade de produzir grandes quantidades de metabólitos secundários (LAM, 2006).
Estes, por sua vez, possuem elevada capacidade terapêutica em antagonismo a vários problemas
de saúde. Algumas finalidades bioativas desses metabólitos secundários são: antibióticos,
antioxidantes, imunossupressores e agentes antitumorais (HASSAN et al., 2016).

No que diz respeito às actinobactérias marinhas, essas são de valor inominável, pois
possuem uma gama de metabólitos secundários (BLUNT et al., 2016). Entre as famílias que
produzem esses metabólitos, o Streptomyces se destaca pela quantidade de moléculas já
descobertas, isoladas e testadas, podendo ser sintetizadas em laboratório (WATVE et al., 2001).
Drogas antitumorais derivadas de Streptomyces - antraciclina doxorrubicina e o glicopeptídeo
bleomicina já se encontram em uso clínico e demonstram a relevância da procura por novos
agentes desta natureza que sejam produzidos por cepas de tal gênero, pois são de grande valia
no tratamento do câncer e de outras doenças (TANGERINA et al., 2020).

PRODUTOS NATURAIS MARINHOS

O Brasil é detentor de uma ampla biodiversidade, uma grandeza de litoral e possui a

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 158


maior floresta tropical úmida do planeta. Diante disso, é uma fonte valiosa de produtos naturais
com potentes atividades biológicas (SANTOS et al., 2018). Os oceanos cobrem 70 % da
superfície da Terra e abrigam quase todos os grupos de organismos vivos, incluindo
representantes de 34 dentre os 36 filos descritos. O ecossistema marinho é um dos sistemas
mais complexos em decorrência das interações dos processos físicos, químicos e biológicos,
além disso são detentores de uma ampla biodiversidade com grande potencial biotecnológico
(CHUANYU et al, 2021; HATJE et al, 2013; LIANG et al, 2021).

O estudo dos compostos sintetizados pelas espécies marinhas é de grande valia para a
compreensão das comunidades (fauna e flora) dos oceanos. Algumas das atividades mais
associadas aos produtos naturais marinhos são as de mediação na reprodução, de defesa contra
predadores, patógenos, bioincrustação ou competidores de substrato (TEIXEIRA, 2013). Além
disso, quanto à atividade farmacológica, foram encontrados nessas espécies, substâncias com
atividade anticâncer, antioxidante, antiviral, anticoagulante e antitrombótica (BHUYAR et al.,
2021; DINARVAND; SPAIN, 2021; SEPAY et al., 2021).

Os produtos naturais constituem fontes valiosas de substâncias bioativas. Os produtos


naturais de origem marinha são diretamente influenciados por fatores abióticos como a pressão,
salinidade, temperatura, pH, e bióticos, como a competição por espaço, predação, incrustação
da superfície e reprodução (CONTI et al., 2012; GOZARI et al., 2021). Tais fatores influenciam
o metabolismo desses organismos, que como mecanismo de defesa produzem compostos e
metabólitos secundários que possuem uma diversidade de metabólitos secundários
responsáveis por uma variedade de atividades biológicas (CONTE et al., 2021). Dentre as
fontes de produtos naturais marinhos pode-se destacar as algas marinhas, invertebrados,
esponjas, corais, moluscos e os microorganismos (LU et al., 2021; ROTTER et al., 2021).

AS ESTRATÉGIAS DE PROSPECÇÃO E ELUCIDAÇÃO DO ALVO MOLECULAR


DE PRODUTOS NATURAIS MARINHOS ANTICÂNCER

Os organismos marinhos produzem compostos bioativos como uma forma de proteção


a diferentes efeitos danosos existentes, a exemplo os ocasionados pela luz e oxigênio.
Atualmente, tem-se conhecimento de que diferentes fontes sintetizam esses produtos bioativos
– como fungos, bactérias, algas, plantas e animais – que possuem grande atividade
farmacológica (RUIZ-TORRES et al., 2017). Um fato interessante sobre alguns
microrganismos, é que estes só crescem em associação simbiótica com organismos superiores.
Em outros casos, não há expressão em ensaios in vitro dos genes que codificam a capacidade

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 159


biossintética (LINDEQUIST, 2016)

O achado de um novo produto natural, que possua uma estrutura química inédita e
potente bioatividade para o tratamento, ou até mesmo cura de alguma doença humana, por
intermédio da interação com um novo alvo molecular, causa grande alvoroço entre
pesquisadores (WILLIAMS; ANDERSEN, 2019). Porém, para que se chegue ao desenrolar
desse acontecimento, deve-se, portanto, entender a forma como o agente descoberto interfere
no metabolismo celular, sua via de ação e seu mecanismo molecular para o combate às células
cancerosas (NIGAM et al., 2019).

Para isso, pode-se empregar procedimentos de triagem de alto rendimento juntamente


com técnicas de proteômica, metabolômica e genômica (Omics) e triagem gerada por
computador. Além, também, de haver possibilidade de utilizar uma abordagem
farmacogenômica e farmacocinética, tendo em vista os obstáculos provenientes das
subpopulações de células cancerosas e da heterogeneidade característica do câncer (NIGAM et
al., 2019). Alguns desses agentes anticâncer são: inibidores de topoisomerase, microtúbulos,
indutores de autofagia e apoptose, inibidores de quinase, inibidores de angiogênese e metástase,
e inibidores do fator indutível de hipóxia. (BHATNAGAR; KIM, 2010; RUIZ-TORRES et al.,
2017; CHEETHAM, 2004; SEMENZA, 2001; NIGAM et al., 2019).

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo retrospectivo, com revisão literária a partir de publicações


indexadas nas bases de dados PubMed, SciELO e Science Direct. Utilizou-se como descritores
de busca os termos: anticancer, antitumor and actinomycetes, estes devidamente cadastrados
nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Os critérios de inclusão utilizados foram: artigos
publicados nos idiomas inglês e português, publicados no recorte temporal de 2000 a 2020, os
quais abordassem a temática proposta e possuíssem no resumo o potencial anticâncer de
compostos isolados de bactérias da classe dos actinomicetos. Desse modo, como critérios de
exclusão, foram desconsideradas publicações em duplicata, editoriais, trabalhos in silico,
monografias, dissertações, teses e outros que não atendiam aos objetivos da presente revisão.
Assim, selecionou-se 15 artigos que correspondiam aos critérios do presente estudo.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 160


RESULTADOS E DISCUSSÃO

POLICETÍDEOS

Os policetídeos são uma grande família de produtos naturais produzidos por


condensação do tipo Claisen descarboxilativa passo a passo de precursores acil-CoA, reações
catalisadas por policetídeos sintases (PKSs). Um grande número de compostos derivados de
policetídeo do tipo I com atividade antitumoral foi isolado de actinomicetes marinhos. Em
particular, descobriu-se que o arenicolida A exibe citotoxicidade moderada em relação à
linhagem de células de adenocarcinoma do cólon humano HCT-116 com um IC 50 de 30 μg /
mL. (WILLIAMS et al., 2007). Usando culturas de células T24 de carcinoma da bexiga humana
em conjunto com ácido tereftálico, um potente promotor de tumor que induz a ornitina
descarboxilase (ODC), os salinicetais foram encontrados para inibir a indução de ODC com
valores de IC50 de 1,95 e 7,83 μg / mL, respectivamente (WILLIAMS et al., 2007). ODC, um
alvo importante para a quimioprevenção do câncer, é um alvo transcricional direcionado do
oncogene myc e é superexpresso em várias células tumorais (GERNER; MEYSKENS, 2004).

PEPTÍDEOS NÃO RIBOSSOMAIS

Esta classe de produtos naturais compreende peptídeos sintetizados por peptídeos


sintetases não ribossomais (NRPS). Os monômeros de aminoácidos incorporados pelas linhas
de montagem NRPS são anidridos mistos de aminoacil-AMP que seguem a mesma lógica
química que os PKSs para o alongamento da cadeia e são então modificados com base no
programa codificado por diferentes domínios presentes nos módulos NRPS, que podem incluir
epimerização, metiltransferase, atividades de redutase ou oxidase. Muitas vezes, os peptídeos
não ribossomais também contêm algumas características estruturais únicas, como elementos
heterocíclicos e desoxissacarídeos (WALSH, 2004; FISCHBACH; WALSH, 2006).

Proximicinas A, B e C mostraram atividades inibidoras de crescimento significativas


para adenocarcinoma gástrico humano AGS (GI 50 de 0,6, 1,5 e 0,25 μM, respectivamente) e
carcinoma hepatocelular Hep G2 (IC 50 de 0,82, 9,5 e 0,78 μM, respectivamente) (FIEDLER
et al.,2008; SCHNEIDER et al., 2008), e foram encontrados para induzir células AGS de parada
em G0 / G1e aumentar os níveis de p53 e p21 (SCHNEIDER et al., 2008). Além disso, as
arenamidas têm sido associadas à quimioprevenção da carcinogênese pela supressão da
ativação do NF κB. O NF κB regula a expressão de vários genes, cujos produtos estão
envolvidos na tumorigênese (AGGARWAL et al.,2006; BAUD; KARIN, 2009). O efeito das
arenamidas na atividade de NF κB foi estudado com células renais embrionárias humanas 293

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 161


/ NF κB-Luc transfectadas de forma estável induzidas por tratamento com fator de necrose
tumoral (TNF). As arenamidas A e B bloquearam a ativação induzida por TNF de uma maneira
dependente da dose e do tempo com valores de IC50 de 3,7 e 1,7 μM, respectivamente
(ASOLKAR et al.,2009).

PEPTÍDEOS MISTOS POLICETÍDEO-NÃO-RIBOSSÔMICO

O composto mais conhecido desta família é a salinosporamida A, um inibidor altamente


potente do proteassoma 20S atualmente em ensaios clínicos de fase I para o tratamento de
câncer (BUTLER, 2008). A salinosporamida A exibiu potente citotoxicidade in vitro contra o
carcinoma do cólon humano HCT-116 com um IC50 no valor de 11 ng / mL, e mostrou-se
potente e altamente seletivo no painel de 60 linhagens de células do NCI. A maior potência foi
observada contra as linhas de células humanas de câncer de pulmão de células não pequenas
NCI-H226, câncer do sistema nervoso central SF-539, melanoma SK-MEL-28 e câncer de
mama MDA-MB-435 (todos com valores LC 50 menores de 10 nM). Quando a
salinosporamida A foi testada contra o proteassoma 20S de músculo de coelho purificado, um
complexo multicatalítico responsável pela degradação da maioria das proteínas intracelulares
em eucariotos, ela inibiu a atividade proteolítica semelhante à quimiotripsina proteassomal com
um valor de IC 50 de 1,3 nM (FELING et al., 2008).

ISOPRENÓIDES

Os isoprenóides, semelhantes aos terpenos, são uma das maiores famílias de compostos
naturais. Os isoprenóides são derivados de unidades de isopreno de cinco carbonos montadas e
modificadas de diferentes maneiras. Eles são classificados em vários grupos com base no
número de unidades C5 que fazem parte de sua estrutura: monoterpenos (C10), sesquiterpenos
(C15) e diterpenos (C20) (DAIRI, 2005). Sete dos oito sesquiterpenos da família T-muurolol
foram testados quanto à sua citotoxicidade contra 37 linhagens de células tumorais humanas,
mas, exceto para 15-hidroxi-T-muurolol que foi moderadamente citotóxico com um IC 50 de
6,7 μg / mL, os outros compostos incluindo 3-oxo-T-muurolol, 11,15-di-hidroxi-T-muurolol,
T-muurolol e 3α-hidroxi-T-muurolol não mostrou atividade (DING et al., 2009).

Actinobacterium sp. MS1 / 7 isolado de sedimentos retirados na Baía de Bengala é o


produtor do composto 4a, 8a-dimetil-6- (2-metil-propeniloxi) -3,4,4a, 4b, 5,6,8a, 9-octa-hidro
-1H-fenantreno-2-ona, com origem isoprenóide putativa. Este composto inibiu o crescimento
em 54% da linha celular de leucemia humana HL-60 a 0,05 μg / mL e possui uma toxicidade

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 162


reduzida contra células não tumorais, uma vez que apenas 2,3% dos eritrócitos murinos e 1,6%
dos eritrócitos humanos foram lisados em concentrações de 35–40 μg / mL (SAHA et al., 2006).

INDOLOCARBAZOLES

A maioria dos compostos desta família contém um núcleo característico de indolo


[2,3- a ] pirrolo [3,4- c ] carbazol derivado de duas unidades de triptofano, com açúcares
anexados derivados de glicose e metionina. Esses compostos constituem um tipo separado de
drogas antitumorais com vários mecanismos de ação, incluindo dano ao DNA direcionado às
topoisomerases I e II, e inibição de proteínas quinases, incluindo serina / treonina e tirosina
quinases (SÁNCHEZ; MÉNDEZ; SALAS, 2006). As atividades citotóxicas desses
indolocarbazóis foram determinadas in vitro em culturas de células de macrófago murino
P388D 1 (IC 50 de 0,01, 0,02 e 0,04 μg / mL), adenocarcinoma de pulmão humano A549 (IC
50 de 0,0005, 0,002 e 0,004 μg / mL), adenocarcinoma do cólon HT-29 (IC 50 de 0,02, 0,004
e 0,004 μg / mL) e linhas de células de melanoma SK-MEL-28 (IC 50 de 0,001, 0,002 e 0,004
μg / mL) (SÁNCHEZ; MÉNDEZ; SALAS, 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os actinomicetos e, em particular o gênero Streptomyces, foram bem conhecidos


durante os últimos setenta anos como produtores prolíficos de novos compostos bioativos,
incluindo drogas antitumorais. Com o crescente desenvolvimento de estudos oceanográficos
levando ao isolamento de novos actinomicetos de fontes marinhas, novos gêneros prolíficos na
produção de compostos úteis foram encontrados, como Salinispora. Entretanto, o Oceano, sem
dúvida, está mantendo uma miríade de novos actinomicetos, proporcionando uma nova
diversidade estrutural a ser descoberta e utilizada. Além disso, o esforço contínuo para
desvendar a biossíntese dos compostos já conhecidos e o isolamento e caracterização de seus
clusters de genes de biossíntese levará ao desenvolvimento de novos compostos antitumorais,
esperançosamente com propriedades terapêuticas melhoradas, usando abordagens de
biossíntese combinatória.

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CAPÍTULO 13
ANÁLISE DO USO DE ANTIBIÓTICOS NA PROFILAXIA DE FERIDAS
OPERATÓRIAS NAS CESARIANAS REALIZADAS EM UMA MATERNIDADE, NO
PERÍODO DE 2015 A 2018

Sirlene Maria da Silva, Médica Residente em Ginecologia e Obstetrícia, UEA


Iran Grijó Praia, Médico Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas, UEA

RESUMO
Introdução: A elevação nas taxas de utilização da cesariana para resolução do parto é um
fenômeno que vem ocorrendo em todo o mundo. No entanto, o parto cesáreo favorece as
complicações puerperais, dentre elas, as infecciosas são as mais comuns sendo que a infecção
de sítio cirúrgico é a de maior ocorrência. A realização desse estudo se justifica pelas
repercussões negativas na recuperação da mulher no período puerperal, comprometendo a
involução puerperal satisfatória, prolongando o tempo de hospitalização e retardando o vínculo
mãe/recém-nascido e família. Objetivo: Analisar o uso de antibióticos na profilaxia de ferida
operatória, através da demonstração dos esquemas de antibióticos prescritos no pré e pós
operatório, análise do perfil epidemiológico e identificação dos fatores de risco para infecção
de feridas operatórias nas cesarianas realizadas na Maternidade Estadual Ana Braga, no período
de 2015 a 2018. Métodos: trata-se de um estudo transversal de caráter retrospectivo e
abordagem quantitativa, a partir da análise de prontuários das pacientes que foram submetidas
a cesarianas e tiveram infecção de feridas operatórias, na Maternidade Estadual Ana Braga, no
período de 2015 a 2018. Resultados: a amostra deste estudo foi de 303 gestantes. A média de
idade das pacientes estudadas foi de 24,1 anos (24,8%), e a indicação mais prevalente para a
cesariana foi a Pré-eclâmpsia (17,2%). Os principais critérios clínicos de infecção do sítio
cirúrgico presentes foram o eritema (38,9%) e o edema (36,6%). A antibioticoprofilaxia foi
administrada em 87% dos casos, sendo realizada com cefalosporina de primeira geração com
predomínio da Cefalotina com 54,3%, seguida da Cefazolina em 45,7%. Para o tratamento da
ferida operatória infectada, o esquema mais utilizado foi o esquema tríplice Cefalotina
associada a Gentamicina e Metronidazol (75%). Conclusão: As taxas de infecção do sítio
cirúrgico foram elevadas durante o período de estudo em comparação a outros estudos, em
consequência do aumento progressivo do número de cesarianas. A infecção do sítio cirúrgico
prolonga em torno de 7 a 15 dias, o tempo de internação e reinternação das pacientes que
possuem infecção do sítio cirúrgico tardio. Percebeu-se que a associação da Cefalotina,
Ceftriaxona, Gentamicina e Metronidazol se tornam desnecessária, visto que, já havia sido
utilizada como antibioticoprofilaxia, obedecendo os princípios da farmacocinética e
farmacodinâmica.
PALAVRAS-CHAVE: Cesárea, Infecção da Ferida Cirúrgica, Infecção Puerperal.

INTRODUÇÃO

Não há dúvidas na literatura sobre a elevada importância do parto cesáreo para ajudar a
salvar vidas e prevenir sequelas neonatais, como as originadas de partos vaginais distócicos.
Por outro lado, o aumento da incidência da cesariana aumenta a morbidade e o custo

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 168


operacional para o sistema, podendo tornar-se um problema potencial (FREITAS F, et al.,
2001).

O Brasil vem apresentando, nos últimos anos, uma das mais elevadas taxas de cesáreas
do mundo, correspondendo a 55% do total de partos, enquanto a média recomendada é de 10
a 15%, mesmo frente a atitude do Ministério da Saúde que vem buscando alterar o modelo de
assistência ao parto considerado hoje como intervencionista e caracterizado por vezes como
evento cirúrgico. O parto cesáreo constitui uma importante questão na assistência à saúde da
mulher em função das possíveis complicações e pela maior morbimortalidade associada quando
comparado ao parto normal (ROMANELLI RMC, 2014; ZIMMERMMANN JB, 2009).

A infecção no período puerperal é um problema grave para a saúde pública, confirmado


pelas altas taxas de morbi-mortalidade na população em geral. Ademais, o próprio parto cesáreo
constitui um dos principais riscos para a infecção do sítio cirúrgico, ao passo que este permite
a entrada de bactérias devido ao rompimento da barreira cutânea de proteção (RICCI SS, 2013).

O parto cesárea favorece as complicações puerperais, sendo fator predisponente para


elevar o risco de endometrite, bacteremia, abscesso ou tromboflebite pélvica e morte por
infecção. Dentre essas complicações possíveis no período puerperal, as infecciosas são as mais
comuns sendo que a infecção de sítio cirúrgico é de maior ocorrência (CHIANCA LM, 2015).
Nesse sentido, a infecção do sítio cirúrgico enquadra-se como uma das principais infecções
relacionadas à assistência à saúde no Brasil, caracterizando-se por ocorrer nos primeiros 30 dias
após o procedimento cirúrgico (ANVISA, 2017).

A infecção do sítio cirúrgico pós-cesárea pode ser conceituada como um processo


infeccioso inflamatório da ferida ou cavidade operada com drenagem de secreção purulenta,
com ou sem cultura positiva. A infecção pode ser restringida à região de incisão operatória, e
neste caso a área apresentará sinais flogísticos como edema e hiperemia, ou pode ainda abranger
tecidos que foram manuseados durante a cirurgia adjacentes à região de incisão (MARTINS
ACM e SILVA LKM, 2006).

Os fatores de risco relacionados à infecção do sítio cirúrgico dividem-se em duas


categorias: origem exógena (contaminação externa, relacionada ao procedimento propriamente
dito e condições locais de higiene) ou endógena, relacionada à própria flora genital da paciente.
Os fatores endógenos, tais como a flora materna (do endométrio, líquido amniótico e
cervicovaginal), causam a maioria das ISC pós-cesárea (ROMANELLI RMC, et al, 2014;
ANVISA, 2017).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 169


É de extrema importância ressaltar que alguns fatores, além da técnica operatória
propriamente dita, são importantes como proteção de fontes exógenas como, por exemplo, o
banho no pré-operatório, tricotomia apenas na sala de operações, antissepsia do local da incisão,
realização da antibioticoprofilaxia na indução anestésica, degermação e paramentação de toda
a equipe cirúrgica, proteção da ferida operatória com curativo estéril por 24 h e controle de
pessoas circulantes na sala de operações (LACERDA R, 2003).

Entretanto, após 24 h do procedimento, a ferida cirúrgica está selada e, portanto,


protegida da contaminação exógena. As infecções à distância podem ser fonte de
microrganismos que contaminam a ferida cirúrgica e devem ser pesquisadas e tratadas no pré-
operatório. Por isso, há necessidade de avaliação pré-operatória de todo paciente cirúrgico
(SANTOS AA, et al., 2005).

As Infecções do Sítio Cirúrgico (ISC) são as complicações operatórias mais relevantes,


levando-se em consideração as frequentes subnotificações dos casos, além da falta de vigilância
ativa pós-alta, alta antes do tempo previsto e atraso da paciente para conseguir ser atendida
quando considerada a contra-referência para as Unidades Básicas de Saúde (UBS) (CUNHA
MR, et al., 2018).

O objetivo deste estudo é analisar o uso de antibióticos na profilaxia das feridas


operatórias nas cesarianas realizadas em uma maternidade, no período de 2015 a 2018, de forma
a demonstrar os esquemas de antibióticos prescritos na antibioticoprofilaxia e no tratamento
das feridas operatórias e identificar os fatores epidemiológicos e socioeconômicos para esta
patologia. Diante da relevância de investigar infecções puerperais, especialmente as
relacionadas com o parto cesáreo, a realização desse estudo se justifica pelas repercussões
negativas na recuperação da mulher no período pós parto, comprometendo a involução
puerperal satisfatória, prolongando o tempo de hospitalização e retardando o vínculo
mãe/recém-nascido e família.

MÉTODOS

A presente proposta de estudo consiste em uma pesquisa transversal, de caráter


retrospectivo e abordagem quantitativa, a partir da análise de prontuários das pacientes que
realizaram cesarianas e tiveram infecção de feridas operatórias, em uma maternidade, no
período de 2015 a 2018. A população do presente estudo trata-se de mulheres que realizaram
partos do tipo cesáreo e que apresentaram infecção de ferida pós-operatória, no período de 2015
a 2018 em uma maternidade de Manaus. O tamanho amostral da pesquisa foi de 167 pacientes.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 170


Durante a coleta, foram catalogados os dados referentes à idade, escolaridade, renda
familiar, indicação da realização da cesariana, antibioticoprofilaxia prescrita para a cirurgia,
antibioticoterapia prescrita para a infecção da ferida cirúrgica e tempo de tratamento. Estes
dados foram coletados através de uma ficha de coleta.

Os critérios de inclusão do estudo foram mulheres que foram submetidas a parto cesáreo
e mulheres que apresentaram infecção de feridas operatórias na maternidade em estudo. O
critério de exclusão adotado foram prontuários sem dados acerca da antibioticoprofilaxia ou
antibioticoterapia. O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)
através da Plataforma Brasil, com o CAEE 11931019.8.0000.5016.

RESULTADOS

As taxas de realização de cesarianas nos anos de 2015, 2016, 2017 e 2018 na


maternidade em estudo foram respectivamente: 40,7% (n=3352); 39,4% (n=3387); 41,6%
(n=3414) e 42% (n=3445), como mostra o Gráfico 1 a seguir. Quanto à taxa global de infecção
de sítio cirúrgico, nesses 4 anos, foi de 3,83%, uma vez que do total de 13.498 partos cesáreos,
518 evoluíram com Infecção do Sítio Cirúrgico.

Gráfico 1. Número de cesáreas realizadas por ano na instituição (N total = 13.598).

Fonte: Praia IG e Silva SM, 2021.


Foram investigados 518 casos de infecção de sítio cirúrgico, de um total de 13.498
cesarianas. A amostra deste estudo foi de 303 gestantes submetidas a partos cesáreos com
Infecção de Sítio Cirúrgico (ISC) no período de janeiro de 2015 a dezembro de 2018 que se
adequaram aos critérios de inclusão. Os 215 prontuários restantes não contemplavam os dados
requeridos pelo projeto, sendo, pois, excluídos das análises.

Os 303 prontuários disponíveis para análise indicaram que a média de idade do grupo
de pacientes foi de 24,7 anos. A maioria das pacientes (24,8%, n=75) estão no intervalo de

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idade entre 18 e 21 anos. Apenas 9 pacientes (3%) tinham mais de 41 anos, e 46 pacientes
possuíam abaixo de 18 anos, conforme o Gráfico 2.

Gráfico 2. Faixa etária das pacientes que tiveram infecção de sítio cirúrgico após cesárea (n total = 303).

Fonte: Praia IG e Silva SM, 2021.


Como descrito na Tabela 1, em 33,3% dos casos (n=101), as pacientes foram
reinternadas devido à infecção do sítio cirúrgico. Em relação à paridade, 37% (n=112)
apresentaram infecção do sítio cirúrgico na primeira gestação, secundigesta 24,1% (n=73),
seguida das multíparas com 38.9% (n=118).

Ao analisar-se as condições socioeconômicas podemos observar que o baixo índice de


escolaridade associado à baixa renda contribuem para elevar o número de casos de infecção de
ferida operatória. Analfabetismo e ensino fundamental totalizam 60,39% (n=183) e a baixa
renda abaixo de 3 salários mínimos 87,46% (n=265).

As comorbidades associadas às pacientes, notou-se que o mais prevalente foi a


Síndrome Hipertensiva, presente em 17,2% (n=52) das pacientes, seguida de Infecção do Trato
Urinário, presente em 15,5% (n=47) das mesmas.

Em relação ao tempo de hospitalização, em torno de 10 dias, em uso de


antibioticoterapia em esquema tríplice (Cefalosporina de terceira geração associada à
Gentamicina e Metronidazol) de Acordo com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar
(CCIH) da maternidade onde foi realizado o estudo, caso a paciente não evolua
satisfatoriamente, com melhora do quadro de hiperemia, hematoma de parede e exsudação
purulenta de ferida operatória é realizado a cultura da secreção com antibiograma, com o
objetivo de instituir um tratamento individualizado, baseado na resistência bacteriana que
provavelmente já está instalada, aumentando o tempo de internação para em torno de 20 a 25
dias.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 172


Em relação ao pré-natal, 62 (n=188) das pacientes o realizaram, independente do
número de consultas. No entanto, 10,6% (n=32) das pacientes não tinham essa informação no
prontuário e 27,4% (n=83) não realizaram o pré-natal.

Tabela 1. Características das pacientes que tiveram infecção de sítio cirúrgico após cesárea na maternidade,
2015-2018 (N total = 303).
Variáveis N %

Paridade
Primípara 112 37
Secundigesta 73 24,1
Multípara 118 38,9

Escolaridade
Analfabeta 25 8,25
Ensino Fundamental 158 52,14
Ensino Médio 83 27,39
Ensino Superior 37 12,22

Renda Familiar
< de 1 salário mínimo 158 52,14
De 1 a 3 salário mínimos 107 35,32
> 3 salário mínimos 38 12,54

Comorbidades
Diabetes Mellitus 13 4,3
Infecção do Trato Urinário 47 15,5
Infecção por HIV 7 2,3
Sífilis 11 3,6
Síndrome Hipertensiva 52 17,2

Tempo de Hospitalização
1-5 dias 17 5,6
6-10 dias 88 29
11-15 dias 69 22,8
16-20 dias 88 29
21-25 dias 29 9,6
26-30 dias 6 2
>30 dias 6 2

Pré-natal
Sim 188 62
Não 83 27,4
Não Informado 32 10,6
Fonte: Praia IG e Silva SM, 2021.

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Dentre as pacientes que realizaram pré-natal, apenas 5,9% (n=11) das pacientes
realizaram 1 consulta, 9,5% (n=18) 2 consultas, 11,7% (n=22) 3 consultas, 8,5% (n=16) 4
consultas, 11,7% (n=22) 5 consultas e 52,7% (n=99) tiveram seis ou mais consultas. A média
de consultas no pré-natal foi de 5,72.

As indicações clínica e obstétricas que levaram à realização da cesárea mais frequentes


foram a Pré-eclâmpsia, com 17,2% dos casos (n=52); seguida da Desproporção Cefalopélvica,
que predominou em 12,2% dos casos (n=37) e Amniorrex prematura com 9,2% dos casos
(n=28).

Os principais critérios clínicos associados à infecção do sítio cirúrgico estão


apresentados no Gráfico 3. O sinal mais prevalente foi o eritema, presente em 38,9% dos casos
(n=118), seguido pelo edema, relatado em 36,6% (n=111). Outros critérios clínicos frequentes
foram a febre, em 20,1% (n=61) e a deiscência da sutura, em 15,5% dos casos (n=47).

Gráfico 3. Frequência de critérios clínicos em infecções de ferida cirúrgica (N total = 388).

Fonte: Praia IG e Silva SM, 2021.


Pode-se observar através da Tabela 2 que a antibioticoprofilaxia foi realizada em
97,35% (n=295) das pacientes que apresentaram posteriormente ferida operatória, sendo 2,65%
(n=8) não realizaram antibioticoprofilaxia. A classe utilizada na profilaxia foi a cefalosporina
de primeira geração, dentro da qual, o esquema mais utilizado foi a Cefalotina, representando
54,12 % (n=164) dos casos, seguido da Cefazolina, em 45,88% (n=131) dos casos, administrada
na indução anestésica.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 174


Tabela 2. Perfil da antibioticoprofilaxia utilizada nas pacientes que evoluíram para infecção de sítio cirúrgico
após cesárea (N total = 303).
Variáveis N %

Antibioticoprofilaxia
Sim 295 97,35
Não realizado 8 2,65
Total 303 100%

Antibiótico de escolha para antibioticoprofilaxia


Cefalotina 164 55,60
Cefazolina 131 44,4
Total 295 100%
Fonte: Praia IG e Silva SM, 2021.
Pode-se observar na Tabela 3 quais os antibióticos mais utilizados no tratamento da
ferida operatória infectada, além de quantas vezes ocorreu falha terapêutica (necessidade de
substituição). O esquema mais utilizado foi a Cefalotina associada a Gentamicina e
Metronidazol, em 65% dos casos (n=197), com tempo médio de terapia de 8,38 dias, e com
falha terapêutica em 29 casos.

O segundo esquema mais utilizado foi a Ceftriaxona associada a Gentamicina e


Metronidazol, em 14,8% dos casos (n=45), com tempo médio de terapia de 8,54 dias, e com
falha terapêutica em 2 casos. O terceiro esquema mais utilizado foi a Cefalotina em
monoterapia, em 4,2% dos casos (n=13), com tempo médio de terapia de 5,8 dias, e com falha
terapêutica em 4 casos.

Tabela 3. Perfil do uso de antibióticos de 1º escolha no tratamento de infecção de sítio cirúrgico após cesárea (N
total = 303).
Quantas vezes foi
Frequência de Tempo médio de uso necessário substituir
Antibióticos escolha (N) % esquema
(dias)

Cefalotina + 197 65,0 8,38 29


Gentamicina +
Metronidazol

Ceftriaxona + 45 14,85 8,54 2


Gentamicina +
Metronidazol

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Cefalotina 13 4,30 5,8 4

Clindamicina + 9 2,98 8,5 0


Gentamicina

Cefalotina + 5 1,65 9 1
Clindamicina +
Gentamicina

Ceftriaxona 5 1,65 8 0

Ceftriaxona + 5 1,65 7,5 0


Clindamicina

Outros (n<5) 24 7,92 9,3 4

Fonte: Praia IG e Silva SM, 2021.


O antibiótico mais utilizado como segunda escolha foi a Ceftriaxona, escolhida em 50%
dos casos (n=20). Em segundo lugar, encontra-se o esquema Cefalotina associada a
Gentamicina e Metronidazol, com uma porcentagem de 27,5% (n=11). Em terceiro lugar,
encontram-se a Ceftriaxona associada Clindamicina 12,5% dos casos (n=5) e a Clindamicina
10% dos casos (n=4) em monoterapia.

A ultrassonografia abdominal foi realizada em 47,85% (n=145) das pacientes. Dessas


52,4% (n=76) destes exames evidenciaram abscesso de parede e 46,3% (n=67) hematoma,
seguidos pela combinação de hematoma e abscesso representando 0,68%, (n=1) e 0,68 (n=1)
sem alterações. Sobre a drenagem abdominal, 49,65% (n=72) das puérperas foram submetidas
a este procedimento, sendo que na maioria (56,7%, n=38) drenou-se hematoma e o restante,
44,73% (n=34), abscesso. Por fim, o procedimento de ressutura foi realizado em menos da
metade das pacientes, isto é, 43,44% (n=63).

DISCUSSÃO

O Brasil apresenta a segunda maior taxa de cesáreas do mundo com 55%, ficando atrás
da República Dominicana, onde a taxa é de 56% (WHO, 2018). No local de estudo, a taxa
média de cesárea entre os anos de 2015 e 2018 foi de 40,9%, abaixo dos índices brasileiros,
mas muito além do preconizado pela OMS. Quanto à taxa média de ISC, nesses 4 anos, foi de

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 176


3,83%, muito acima do valor de 2,8% encontrado no estudo do Hospital de Clínicas de Porto
Alegre (BENINCASA BC, 2012).

A idade materna acima de 35 anos é considerada como fator de risco para infecção de
sítio cirúrgico pós-cesariana (CAPUZZI IF, et al., 2007; PAIVA VP, et al., 2012). Neste estudo,
13,9% (n=42) das pacientes tem mais de 35 anos. A média de idade foi de 24,7 e a maioria das
pacientes (24,8%, n=75) estão no intervalo de idade entre 18 e 21 anos. O fator idade não foi
uma agravante para infecção de ferida operatória.

Sobre a paridade, a maioria das pacientes eram primíparas totalizando 37% (n=112) de
todas as pacientes analisadas, seguidas das multíparas com 33,6% (n=102). É apontado a
primiparidade como fator de risco para infecção puerperal (MAHARAJ D, 2007).

Em um estudo foram encontrados como fatores predisponentes à ISC pós-cesárea: a


anemia, a HAS, infecção puerperal em cesárea prévia e o tabagismo (MEDEIROS GO e
SOUZA LM, 2010). O que se corrobora de forma parcial, ao que foi encontrado neste estudo,
no qual o mais incidente foi a síndrome hipertensiva com 17,2%, seguida de infecção do trato
urinário com 15,5%, estando também identificados em menor número o diabetes mellitus e as
infecções por sífilis e HIV.

Sobre o pré-natal, observou-se que 62% (n=188) das pacientes do estudo realizaram. O
número de consultas de pré-natal deve ser no mínimo seis para que o acompanhamento seja
considerado adequado (PETTER CE, 2013). Em nossa amostra das pacientes que realizaram
pré-natal, somente 52,7% (N=99) tiveram seis consultas ou mais e a média de consultas no pré-
natal foi de 5,72. É importante mencionar que 27,4% (N=83) não realizaram o pré-natal. O
restante, 10,6% (n=32), não havia informação acerca deste tópico no prontuário. O que se
mostra mais um fator predisponente para infecção de ferida operatória em nosso estudo.

O aumento no tempo de hospitalização interfere no puerpério da mulher com seu recém-


nascido e, ainda promove a ocupação dos leitos por mais tempo, impedindo a disponibilidade
de vagas para outros pacientes. Nesta pesquisa, a maioria das puérperas permaneceu internada
em um período superior a 10 dias, sugerindo que o tratamento adotado para estas não obteve
resultado rápido e eficiente (SOUSA AFL, et al, 2020).

O número de gestantes que iniciam o pré-natal é um dos parâmetros utilizados para


avaliar a qualidade da assistência materno-fetal. O pré-natal tem papel fundamental em termos
de prevenção e/ou detecção precoce de patologias, tanto maternas como fetais (FEBRASGO,
2014).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 177


As principais indicações para cesariana foram: pré-eclâmpsia, desproporção
cefalopélvica e amniorrexe prematura. Considerando esses últimos dados, verifica-se que os
resultados corroboraram com os encontrados em outros estudos (SCHNEID-KOFMAN N,
2005; BENINCASA BC, 2012). O primeiro identificou como fatores predisponentes diabetes
mellitus, hipertensão e ruptura prematura de membranas, já o segundo demonstrou que
amniorrexe prematura é predisponente de riscos.

Existem evidências consistentes de que a antibioticoprofilaxia administrada antes da


incisão cutânea nas cesarianas diminui a incidência de infecção de sítio cirúrgico (OWENS SM,
2009; CONSTANTINE MM, 2008). Desta forma, a maior parte das pacientes, isto é, 57% (173)
realizaram a antibioticoprofilaxia no momento correto (pré-operatório). O restante, 43%, não
realizou a antibioticoprofilaxia.

A profilaxia da cesariana é indicada após ruptura da membrana amniótica há mais de 6


horas, ou quando o trabalho de parto tem mais de 12 horas e nas situações gerais de risco. O
esquema recomendado é Cefalotina ou Cefazolina 1 a 2 g, IV, após o clampeamento do cordão
em dose única (FRONZO C, 2019; LACERDA R, 2003).

De acordo com um estudo de meta-análise, não há diferença de efetividade entre as


cefalosporinas de primeira, segunda e terceira geração na profilaxia de infecção de ferida
operatória, sendo ambos altamente eficazes (HOPKINS L e SMAIL F, 1999). Desta forma,
todos os antibióticos utilizados no pré-operatório, ou seja, Cefalotina e Cefazolina apresentam,
de acordo com a literatura, capacidade de evitar a infecção de sítio cirúrgico. No entanto, foi
relatado que a gravidez é capaz de interferir na farmacocinética da ceftriaxona e da gentamicina,
tornando-as menos eficazes (POPOVIC J, 2007).

Os achados neste estudo demonstraram que a infecção de ferida operatória ocorreu


mesmo adotando o tempo de administração e o tipo de antibiótico. Por isso, outros fatores que
influenciam a eficiência da antibioticoprofilaxia que não estavam informados no prontuário,
como tempo de cirurgia, preparo da paciente com banho, degermação, técnica cirúrgica, tempo
cirúrgico, experiência cirúrgica e tipo de curativo utilizado deveriam ser analisados para ser
encontrada a falha na profilaxia realizada.

Na terapêutica das complicações cirúrgicas o esquema mais utilizado foi a Cefalotina


associada a Gentamicina e Metronidazol, em 65% dos casos. Em um estudo, foram analisadas
culturas obtidas de foco de infecção puerperal, e demonstrou-se que a flora presente é
polimicrobiana, sendo mais prevalente a anaeróbia. Em material colhido durante as cesáreas

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 178


encontraram-se microorganismos anaeróbios e aeróbios em 63,0%, anaeróbios em 30,0% 26 e
aeróbios em apenas 7,0% (SANTOS VB, 2017).

A associação da Cefalotina aos antibióticos supracitados no tratamento das infecções


puerperais nas pacientes que já haviam realizado antibioticoprofilaxia com Cefalosporina de
primeira geração, mesmo sendo uma ótima opção no tratamento de uma gama de infecções,
inclusive em infecções de pele e da estrutura da pele, é desnecessária, já que após falha da
antibioticoprofilaxia com cefalosporinas deve-se optar por classes diferentes de antibióticos,
além de sua utilização excessiva ser considerada um dos fatores que mais contribui para o
problema da resistência microbiana (LOUREIRO RJ, 2016).

A identificação do microrganismo causador da infecção do sítio cirúrgico é necessária,


pois orientará no sentido da prescrição de antibioticoterapia dirigida e fornecerá dados para
análise da flora prevalente numa dada instituição (SANTOS VB, 2017). No presente estudo,
foi observado que nenhum paciente fez coleta de fragmentos da ferida operatória para cultura.
Ou seja, todas as pacientes internadas para o tratamento da ISC pós-cesárea iniciaram algum
tipo de antibioticoterapia sem análise do agente etiológico. Somente se a paciente não
apresentasse uma evolução satisfatória, seria realizado a cultura com antibiograma, para
conduzir individualmente, os casos que houvesse falhas a antibioticoterapia empírica, pela
inviabilidade do exame foram realizadas em torno de 10 culturas por ano, onde não tivemos
acesso, que conforme o relato do responsável pela CCIH se extraviou.

CONCLUSÃO

A taxa de infecção de sítio cirúrgico foi elevada durante o período de estudo (3,83%).
Os extremos de idade e pacientes com comorbidades são os mais propensos a desenvolver
infecção de ferida pós-operatória. Pacientes com baixo índice socioeconômico possuem maior
risco de apresentarem infecção de ferida operatória. A antibioticoprofilaxia não define proteção
absoluta contra a infecção de ferida operatória. As classes de antibióticos mais utilizadas para
o tratamento da ferida operatória infectada são as cefalosporinas de primeira geração,
associadas ou não com aminoglicosídeos e metronidazol. A importância de estudos sobre
infecção puerperal reside no fato de constituir-se em uma das principais causas de
morbimortalidade no período puerperal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A importância de estudos sobre infecção puerperal reside no fato de constituir-se em


uma das principais causas de morbimortalidade no período puerperal. Nosso estudo, em que

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pese seus limites, forneceu reflexões e aprimoramento de saberes sobre o tema com vistas a
diminuir o risco de morte por infecção, bem como, fornecer subsídios atualizados para a tomada
de decisão e o eventual aperfeiçoamento de diretrizes clínicas sobre o assunto.

REFERÊNCIAS

ANVISA. Caderno 2 - Critérios Diagnósticos de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde.


2017. Disponível: www.anvisa.gov.br/segurancadopaciente. Acessado em: 20 de julho de
2020.

ANVISA. Diagnóstico do Controle de Infecção Hospitalar no Brasil. 2005. Disponível:


www.anvisa.gov.br. Acessado em: 18 de julho de 2020. ]

ARAÚJO ABS, et al. Ocorrência de infecções de sítio cirúrgico pós-cesárea em uma


maternidade pública. Revista Enfermería Actual de Costa Rica, 2019; 37: 16-29.

BENINCASA BC, et al. Taxas de Infecção relacionados a partos cesáreos e normais no hospital
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CAPÍTULO 14
PROCESSO DE REINTERNAÇÃO DE USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIAS
PSICOATIVAS NO CENTRO DE RECUPERAÇÃO REABILITAR EM MACAPÁ

Suellen dos Santos Facundes, Especialista em Saúde mental e atenção psicossocial pela
Faculdade de Teologia e Ciências Humanas, Macapá, AP, Brasil
Paulo Cesar Beckman da Silva Junior, Especialista em Saúde mental pelo programa de
Residência Multiprofissional em Saúde coletiva da Universidade Federal do Amapá-
UNIFAP, Macapá, AP, Brasil

RESUMO
O presente artigo aborda os fatores que levam ao processo de reinternação (recaída) dos sócios
educandos de uma Comunidade Terapêutica do estado do Amapá, Brasil. Foi realizada uma
análise de cunho quantitativo e como instrumento de coleta de dados recorreu-se para pesquisa
documental e revisão bibliográfica. Os resultados evidenciaram potencial relação com
substâncias licitas e ilícitas. Destacou-se o predomínio do consumo do crack entre os usuários,
potencializado por ser uma substância que desestabiliza a funcionalidade do indivíduo levando-
os a novas internações.
PALAVRAS-CHAVES: Comunidade Terapêutica, Abuso de Substâncias, Centros de
Tratamento de Abuso de Substâncias.

INTRODUÇÃO

O uso de substâncias psicoativas ilícitas é uma das maiores preocupações que as


comunidades brasileiras enfrentam atualmente, tornou-se habitualmente aceitável e
parcialmente livre no espaço de convívio, mesmo que isso possa ir de encontro com as leis que
regem as proibições. Carneiro (2010) destaca que as substâncias psicoativas estão
intrinsicamente associadas à vida de uma parcela significativa da sociedade.

Os índices mundiais do consumo de substâncias psicoativas ilícitas estão em cada vez


mais em alta, segundo os dados do Relatório Mundial sobre Drogas da Organização das Nações
Unidas em torno de 35 (trinta e cinco) milhões de pessoas sofrem dos transtornos de
dependência química pelo uso abusivo de drogas e necessitam de intervenção e tratamento por
vezes em caráter de urgência (UNODC, 2019).

Substâncias psicoativas consideradas ilícitas como cocaína, crack, maconha, entre


outras, são substâncias que produzem mudanças nas sensações, no grau de consciência e no
estado emocional das pessoas. As alterações que são provocadas pelo uso substâncias

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 182


psicoativas variam de pessoa para pessoa, no qual são observados alguns fatores como
características individuais, emocionais, quantidades, frequência, circunstâncias e a droga de
preferência consumida (BRASIL, 2009).

No município de Macapá torna-se cada vez mais evidente o uso de drogas ilícitas no
meio familiar, nas comunidades, em vias públicas. Conforme os dados da Vigilância de
Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico – VIGITEL em relação a Macapá, 7,2% dos adultos
relataram ser fumantes, sendo 11% homens e 3,4% mulheres. Em relação ao álcool, 15,9%,
relataram ter feito o consumo abusivo de álcool, sendo homens (23,7%) e mulheres (8,6%),
porém dados do uso abusivo de drogas ilícitas são relatados empiricamente apresentando-se no
cotidiano da população e cada vez mais crescente (BRASIL, 2018).

Para o auxílio dos usuários de substância psicoativas que sofrem nas garras da
dependência o município de Macapá possui o Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e
Drogas (CAPS AD) e Comunidades Terapêuticas (CT), este último em maior número.

As CT’s são de caráter privado e acolhem usuários de substância psicoativas em três


modalidades, as de caráter voluntário, involuntário e compulsória e devem estar em
conformidade a Lei 10.216 de 06 de abril de 2001, que dispõe sobre os direitos das pessoas que
são diagnosticadas com transtornos mentais e a proteção que devem receber antes, durante e
pós o tratamento para que os usuários do serviço possam ser submetidos a tratamentos e
reinseridos de forma significativa no meio social e familiar (BRASIL, 2001).

Essas modalidades de acolhimento devem obedecer aos critérios estabelecidos pela


legislação, perpassando por unidades de acolhimento do CAPS AD (BRASIL, 2002), unidades
ambulatoriais ou outro tratamento que tenha sido adotado e só quando os recursos extra
hospitalares se mostrarem insuficientes, a internação será tomada como medida urgente.

As normativas também designam que as CT´s devem promover a cidadania, a liberdade


e o direito de expressão aliado ao acompanhamento multiprofissional que devem observar seus
clientes quanto as crises de abstinência os processos de intervenção de ideal para efetivar o
tratamento, conforme descrito no artigo 19 da RDC Nº 29, de 30 de junho de 2011, que trata os
requisitos de segurança sanitária para o funcionamento de instituições que prestem serviços de
atenção a pessoas com transtornos decorrentes do uso, abuso ou dependência de substâncias
psicoativas (ANVISA, 2011).

De acordo com a Lei 13.840 de 05 de junho de 2019, que dispõe sobre o Sistema
Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas e as condições de atenção aos usuários de

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 183


substâncias psicoativas, o tempo necessário de internação é de 90 (noventa) dias no máximo,
em que se realizará o processo de desintoxicação, tendo seu término determinado pelo médico
responsável pela unidade de internação (BRASIL, 2019).

Os clientes acompanhados nessas CT´s são submetidos a metodologias de trabalho


designadas de Laborterapia, resgate de responsabilidades pessoais, cuidado com o ambiente,
reeducação cronológica, aliado a isso a espiritualidade e acompanhamento terapêuticos
baseados no livro dos Narcóticos Anônimos para a obtenção do autocontrole, com o objetivo
de prevenir as possíveis recaídas (SABINO; CAZENAVE, 2005).

Segundo Silva et al. (2014) a recaída é considerada quando o uso de uma determinada
substância psicoativa, é feita após um período de pelo menos dois meses de abstinência. Isso
ocorre por variados motivos principalmente aos fatores externos e internos que por vezes os
usuários não conseguem enfrentar, geralmente ligados pelas inúmeras dificuldades em relações
interpessoais, familiares e sociais, além da falta de habilidades, controle pessoal e crises
extensivas de abstinências. Outro fator que é substancial nesse processo é a falta de
acompanhamento em um pós-tratamento em centros destinados para esses fins, onde em muitos
casos a exigência de uma atenção relacionada a prevenção das recaídas e grupos comunitários
de autoajuda tornam-se necessário.

Neste contexto, em Macapá no estado do Amapá, existe um Centro de Recuperação


denominado Centro Reabilitar, localizado na Zona Sul da capital, que atende as demandas de
internações voluntárias, involuntárias e compulsórias, priorizando o atendimento ao sexo
masculino, com idade entre 18 e 60 anos. Sua principal demanda concentra-se em usuários que
fazem abuso de substâncias psicoativas e que tem como proposta o modelo terapêutico
residencial de internação, baseado na convivência com o outro que também buscam sanar o
problema com a dependência comportamental e psicológica, utiliza-se então a entrevista
motivacional, juntamente com laborterapia e espiritualidade.

Com isso, é importante a realização de estudos neste viés. Diante do exposto, o presente
estudo tem o objetivo de analisar os fatores que levam ao processo de reinternação dos sócios
educandos de um Centro de Reabilitação no estado do Amapá, Brasil. Os dados servirão como
evidências para a proposição de estudos comparativos e novas políticas que norteará o
funcionamento das CT’s tanto em Macapá como em outras regiões do Brasil. Também servirão
para o fortalecimento da temática em questão, já que estudos que envolvem análises de dados
de reinternações em CT’s são escassos na literatura brasileira local.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 184


METODOLOGIA

Fez-se um estudo de cunho quantitativo (GERHARDT; SILVEIRA, 2009),


exploratório e descritivo (GIL, 2008), em uma Comunidades Terapêuticas (CT) de pequeno
porte, situada ao sul da capital do estado do Amapá, Brasil.

A CT possui aproximadamente 60 leitos para internação, atende usuários adolescentes


desde que tenha autorização do familiar responsável e em caráter voluntário e adultos do sexo
masculino, podendo ser nas modalidades voluntário e involuntário, dos quais a predominância
do uso é álcool e outras drogas, como maconha, cocaína, merla (pasta base), crack, entre outras.

O público consiste em usuários de substâncias psicoativas variadas, atendidos por


profissionais da saúde, dentre os quais psiquiatra, clínico geral, psicólogos, educador físico,
técnico de enfermagem, enfermeiro, assistente social e educador social.

Os serviços administrativos são compartilhados com os dependentes químicos


denominados monitores, que já fizeram o tratamento e estão aptos para a supervisão das
atividades, disciplina, coordenação e organização dos grupos. Considerando como critério
estabelecido (Critério de inclusão) aqueles que já haviam passado uma temporalidade de pelo
menos seis meses e que eram considerados aptos para atuar no processo de ajuda mútua, para
monitorar os que eram recém-chegados.

Para o instrumento de coleta de dados recorreu-se para pesquisa documental (GIL,


2008). A análise documental obteve informações como nome do paciente que será preservado
o anonimato, idade, função ocupacional, escolaridade, tipos de drogas utilizadas e número de
reinternações, extraídos do banco de dados da CT. Registrados no período entre janeiro de 2018
a dezembro de 2019. O número amostral é composto de 100 indivíduos que realizaram
tratamento de dependência química em regime de internação.

Dados analisados por meio do percentual e agrupados pela ocorrência de respostas,


sendo que tais dados foram interpretados, compilados e organizados em gráficos, com o auxílio
do Programa Microsoft Office Excel® 2019, ilustrados em tabelas e quadros a fim de identificar
e visualizar os resultados.

RESULTADOS

Amostra coletada foi composta por 100 (cem) usuários de substâncias psicoativas, todos
do gênero masculino, com idade média de 37,76 anos, mediana de 36 anos e desvio padrão de
± 14,26 anos, média do tempo de internação entre os participantes foi de 4 (quatro) meses e

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13(treze) dias. Verificou-se que os clientes internados que possuíam idade entre 17 a 27 anos
representavam 40% do público, de 28 a 38 anos (35%), 39 a 49 (14%), 50 a 60 anos (8%) e os
mais de 61 (3%) (Tabela 1).

Tabela 1: Idade dos usuários que foram internados no período de 2018 a 2019.
Idade Percentual
17 - 27 40%
28- 38 35%
39-49 14%
50- 60 8%
Mais 61 3%
Fonte: Dados obtidos por meio da pesquisa
Foi analisado os níveis de ocupação dos participantes e ficou constatado que 28% nunca
haviam trabalhado, eram exclusivamente dependentes de seus familiares, 26% trabalhavam em
seu próprio negócio, 12% eram funcionários que possuíam cargos públicos, 10% haviam ficado
desempregados ao longo do ano, 7% recebiam benefícios, 6% eram assalariados e estavam
afastados do trabalho para tratamento e apenas 1% tinham empresas (Tabela 2).

Tabela 2: Função ocupacional dos usuários em estudo no período de 2018 a 2019.


Função Ocupacional Percentual
Nunca trabalhou 28%
Autônomo 26%
Funcionário público 12%
Desempregado 10%
Aposentado 7%
Assalariado 6%
Empresário 1%
Fonte: Dados obtidos por meio da pesquisa
Quanto aos níveis de escolaridade ilustrado, se verificou que 48% possuíam o ensino
médio completo, 11% não concluíram o ensino médio, 20% tinham o ensino fundamental
incompleto, 5% estavam cursando o ensino superior, 4% tinham o ensino superior completo e
1% possuía o ensino técnico (Tabela 3).

Tabela 3: Níveis de Escolaridade dos usuários no período de 2018 a 2019.


Escolaridade Percentual
Ensino médio completo 48%
Ensino fundamental incompleto 20%
Ensino médio incompleto 11%
Ensino superior incompleto 5%
Ensino superior completo 4%
Ensino técnico 1%
Fonte: Dados obtidos por meio da pesquisa

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 186


Em relação ao consumo de substâncias psicoativas ilícitas foram agrupadas entre as
drogas consideradas de uso controlado e as que fazem sair do controle, e que colocam em riscos
suas vidas e de familiares, dentre elas houve prevalência de Merla/Crack (30%), seguido de
Álcool/Crack (29%), LSD/Cocaína (18%), Cocaína/Crack (11%) e Maconha/Crack (5%). Com
relação ao uso de álcool foi de 7% (Tabela 4). Ressaltando que nesta questão, o percentual
calculado por número de ocorrências registrados em documentos institucionais.

Tabela 4: Tipos de substâncias psicoativas consumidas no período de 2018 a 2019.


Tipos de substâncias psicoativas Percentual
Merla /Crack 30%
Álcool/Crack 29%
LSD/Cocaína 18%
Cocaína/Crack 11%
Álcool 7%
Maconha/Crack 5%
Fonte: Dados obtidos por meio da pesquisa
Houve prevalência das substâncias ilícitas merla (pasta base) e/ou crack, considerando
que o indivíduo tinha no banco de dados registrado, mais de uma opção em que considerava o
uso controlado, ou seja, sem nenhum efeito externo e as substâncias que eram consideradas de
uso preferencial, em havia efeitos de perda de controle sobre seus atos, sendo o crack foi um
fator potencial provocando efeitos danosos.

Através da análise documental foi evidenciado as entradas para novas internações


provenientes de recaídas, onde as famílias solicitavam ou por conta própria os residentes
buscavam reinterna-se. Foi averiguado que 32% deram entrada para nova internação apenas
uma vez, 37% foram submetidos a segunda internação, 12% foi submetido a terceira internação,
6% a quarta internação e 13% tiveram que ser internado pela quinta vez (Tabela 5).

Tabela 5: Números registrados de recaídas dos usuários.


Número de internações
1ª reinternação 32%
2ª reinternação 37%
3ª reinternação 12%
4ª reinternação 6%
5ª reinternação 13%

DISCUSSÕES

Observou-se o perfil dos usuários, possibilitando identificar a faixa etária predominante,


a função ocupacional e seus desdobramentos que interferem na eficaz recuperação do indivíduo,

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 187


bem como as principais substâncias psicoativas utilizadas entre os pacientes. Partindo desse
pressuposto, esses sócios educandos evidenciaram a potencial relação com substâncias licitas e
ilícitas, fomentando a vulnerabilidade social e o declínio do indivíduo na sociedade, por
sucessivas perdas de controle, alucinações, motivando as recaídas e consequentemente as
reintegrações aos centros de reabilitações.

Com a indicação da prevalência da faixa etária de idade, os quais demostra uma amostra
jovem de dependente químicos, corroborando com estudos que descrevem o início do consumo
de substâncias lícitas e ilícitas, em sua maioria entre adolescência e juventude. Nesta fase há
construção da identidade do indivíduo, geralmente a curiosidade é aguçada, por vezes entram
em choque com familiares dificultando o convívio e as situações de riscos torna tal consumo
atrativo (ALVAREZ et al., 2014).

As substâncias psicoativas proporcionam aos adolescentes emoções e circunstâncias


que propiciam a falsa ideia de autossuficiência, autonomia, controle da situação e de sua própria
vida. Entretanto, com este consumo precoce associados ao uso dessas substâncias, há um maior
risco de dependência química na idade adulta, com grande probabilidade de manifestar
consequências psicossociais e danos em funções neurológicas.

Em relação as condições ocupacionais e de empregabilidade Carvalho et al. (2011)


ponderam que esses parâmetros socioeconômicos influenciam na recaída dos dependentes
químicos e na busca constante de substâncias licitas e ilícitas. A inatividade desperta o desejo
pelo uso excessivo de substâncias psicoativas, levam a dificuldades de lidar com as frustrações
decorrentes pela destituição de suas funções sociais.

Quanto ao nível de ocupação é expressivo o percentual dos usuários que não exercem
nenhum tipo de atividade como fonte de renda (28%), são indivíduos que são sustentados
economicamente e moram com a família e com isso estão mais propensos ao estado do consumo
e compra dessas substâncias ilícitas. Seguindo dos trabalhadores autônomos (26%) que por
vezes são chefes de família e acabam em situações de consumo intenso trabalhando
exclusivamente para suprir as necessidades do seu próprio consumo. Isso ocorre devido o
usuário não possuir interesse pelo trabalho, ou seu grau de tolerância não permite que ele esteja
sujeito a regras.

As principais motivações para o uso de substâncias psicoativas conforme a literatura


(FERNANDES et al., 2017), que percorre todos os níveis de formação estão relacionadas a
fuga da realidade, uma espécie de válvula de escape, associados a aliviar condições estressantes,

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 188


além dos recreativos (diversão). Todavia, a baixa escolaridade pode estar associada à
prejudicada condição financeira familiar. A vulnerabilidade às substâncias psicoativas é
potencializada para os indivíduos de baixa renda e baixa escolaridade, por fatores como
exposição constante à violência, perspectivas de um futuro incerto, concomitantemente a
desmotivação em relação à escola (PAULILO; JEOLÁS, 2008).

Na presente amostra em relação as questões do nível de escolaridade, o grupo desse


estudo com maior expressividade foram os que concluíram o ensino médio, porém identificou-
se que não houveram motivações para continuidade de avançar para outros níveis de
escolaridade. Com o aumento dos níveis de escolaridade, aumenta-se as possibilidades de
autonomia e independência, além da desvinculação dos familiares, havendo mais liberdade de
constituir vínculos de amizades de vários grupos que englobam idades similares ou com linhas
de pensamentos parecidos, favorecendo o envolvimento com os fatores de riscos que propiciam
a experimentar quaisquer drogas, pois, quanto maior o grau de conhecimento, mais tem chances
de consumo de substâncias psicotrópicas (JINEZ et al., 2009).

Também se observou uma significativa parcela de usuários que não concluíram o ensino
fundamental caracterizando-os com baixa instrução, resultado semelhante à analisada por
Sanchez e Nappo (2002) em que a amostra da pesquisa não frequenta a escola, tendo como um
dos fatores a desistência de seus estudos. Os dependentes de substâncias psicoativas não
conseguem conciliar os estudos com o vício, sendo este um fator que causa efeitos sociais e
efeitos físicos representada pela deterioração do organismo humano levando-os até a
hospitalização, além dos efeitos morais que são repercutidos na sociedade como um fator
negativo, prevalecendo o uso de drogas viciantes sobre todas as outras responsabilidades
impostas.

Verificou-se dentre o consumo registrado: o álcool (etanol); o chamando, o ácido


lisérgico que é componente do LSD; maconha (Cannabis sativa); a cocaína (Erythroxylon
coca), encontrada em diferentes variedades, fumada na forma de pasta, conhecida como merla,
na forma de pó ou microcristais (cloridrato de cocaína), na composição sólida ou em pedra
(cloridrato de cocaína mais bicarbonato), o crack, fumado em cachimbos, produz efeitos
intensos e fugazes em segundos (LEMOS, 2008).

Para os tipos de substâncias psicoativas consumidas de forma lícitas houve destaque ao


álcool, segundo Silva et al. (2014), o consumo elevado do álcool é justificado por ser de fácil e
livre aquisição contribuindo para amplo uso. Com isso, uma parcela de usuários considera que

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substância não causa danos tão significativos, porém o início do consumo faz com que o
dependente inicie uma etapa chamada de abertura de compulsão, havendo a necessidade de
adquirir outras substâncias para satisfazer o uso de sua droga de preferência.

De acordo com Kessler e Pechansky (2008), o crack é uma droga que possui um enorme
poder de devastação e causa prejuízos mais rápidos e intensos que o álcool, além de possuir
efeitos viciantes mais intensificados, causando ao usuário fissuras (vontade intensa) em um
curto espaço de tempo, alterando comportamento significativamente. Seu demasiado uso causa
transtornos depressivos e o desenvolvimento de psicopatologias. (SCHEFFER et al., 2010).

Em análise documental foi possível identificar tais características que o uso e os efeitos
do crack marcavam o declínio do indivíduo, evoluindo de pequenos furtos dentro em suas
residências a cometer delitos mais graves contra a sociedade, como em muitos casos respondem
processos na vara de execução penal, a maioria relata que seus delitos são cometidos a fim de
satisfazer o consumo de substâncias psicoativas, e que na maioria das vezes ocorrem sob efeitos
de drogas, os incapacitando de analisar as consequências de seus atos.

Com isso é possível constatar algumas das causas que levam os usuários a retomar ao
uso de substâncias psicoativas provocando a recaída, perda de controle, e novas entradas para
a internação, principalmente na categoria involuntária. Fatores como ociosidade e falta de
continuidade do tratamento pós internação são portas de entradas para a volta do uso e eventuais
perdas de controle sobre o uso. Estabelece-se como “recaída” o momento em que um
dependente em processo de recuperação volta a consumir as substâncias psicoativas.

A experiência da recaída descrito por Rigotto e Gomes (2002) associado a reincidências


no consumo das substâncias psicoativas licitas e ilícitas é desafiador e muito difícil, pois com
a abstinência surge as situações problemas e o estímulo para retornar às drogas, por encontrar
alívio, seja como meios para enfrentar ou fugir dos novos problemas. Seja por conflitos
familiares, atração e o impulso para o consumo, fortes frustrações, entre outras, tendenciado o
episódio da recaída.

Em muitos casos as reações e sensações evidenciadas por esses usuários trazem um


desconforto fisiológico e social severo, com isso, o indivíduo retorna ao uso da substância que
traz um melhor alívio dos sintomas da abstinência (BÜCHELE et al., 2004).

Após o período de abstinência as crises pelo excessivo uso das substâncias em conjunto
com a dificuldade em administrar as barreiras que surgem na jornada de um dependente em
recuperação, podem levá-lo à recidiva, Büchele et al. (2004) realizou estudo em que seus

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entrevistados passaram por “recaídas”, relatando que a estimativa era de por 5 a 9 recidivas,
sendo possível perceber que os usuários tinham a “fissura” de natureza psicológica,
representando um importante fator de risco para recaída. No auge desse mecanismo para
satisfazer o consumo frequente torna-se mais suscetíveis sensações de necessidade do velho
uso das substâncias psicoativas, sendo mais difícil manter o autocontrole.

Conforme dados da amostra foi possível identificar que os usuários foram submetidos a
mais de um processo de internação, em que a volta do uso de substâncias psicoativas
descontrolada foi a grande motivação para busca de um novo processo de internação, tanto
voluntariamente como involuntariamente. Através da análise documental foi constatado que os
aspectos inerentes as recaídas estão relacionadas a ociosidade, contato com as pessoas em uso,
frequência a lugares que realizam a venda ou consumo, as frustações adquiridas com os
conflitos do dia a dia, e a falta e/ou busca de acompanhamento continuado para os portadores
de transtornos de dependência química.

CONCLUSÃO

Através dos resultados obtidos foi possível mensurar alguns aspectos característicos dos
usuários que dão entrada nos processos de reinternação na CT em questão. Os processos de
reinternações atingem principalmente o público formado por jovens (40%), evidenciando que
o uso de substâncias se inicia precocemente na adolescência, fase de descobertas, conflitos e
geração de identidade. Nesse mesmo grupo foi evidenciado que o nível de desocupação é levado
(28%), sendo um público que é sustentado por seus familiares, não necessitando
necessariamente obter responsabilidades diárias, e com isso ficam mais suscetíveis e propensos
a lidar com o uso de substâncias psicoativas desencadeando o vício diário.

Outro fator relacionado as reinternações é quanto ao nível de entendimento sobre o


consumo de substâncias psicoativas, todos os residentes analisados consideravam que podiam
consumir substâncias consideradas por eles “fracas” e que não causaria danos ao longo do
consumo, até que se tornaria insuficiente para suprir a necessidade imposta pelo constante uso.
Com isso, buscam por substâncias psicoativas consideradas preferencias e que melhor traz a
satisfação do uso, causando com isso descontrole.

Em relação ao uso de substâncias de caráter preferencial recebe destaque o consumo do


crack, presente predominantemente entre os usuários, destacando-se por ser uma substância que
desestabiliza a funcionalidade do indivíduo a ponto que este fica fora do controle, perde
habilidades de convívio social, não há busca ou procura por serviços de atenção psicossociais,

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havendo com isso uma desestruturação nos aspectos culturais e de convívio familiar, em que o
usuário já não responde por seus atos, sendo necessária ou como única alternativa a internação
em CT para a estabilização dos sintomas provocados pelo excessivo uso da substância,
observando-se com isso os processos de reinternações e os aspectos inerentes do uso de drogas.

Este estudo tem suas limitações, pois foi realizado em uma pequena capital brasileira,
com características muito peculiares - culturais, geográficas, econômicas, e de saúde -, o que
pode que os sujeitos do estudo possuam uma compreensão permeada por essas peculiaridades
locais, além de apoiar-se em dados registrados em documentos institucionais.

O estudo se torna relevante, pois espera-se oferecer subsídios para desenvolvimento e


aprimoramento de políticas de atenção ao usuário de substâncias psicoativas, voltadas os fatores
característicos dos usuários que adentrem sejam quaisquer as modalidade para internação em
uma CT , afim de que se promova uma atenção melhorada para a continuidade do tratamentos
pós internação, promova ações voltadas a prevenção de recaídas, programas de educação
continuada aos profissionais que atuam nessa área de abrangência para que possa entender sobre
os processos que levam os usuários ao retorno de substâncias psicoativas, implicando
diretamente na qualidade de vida dos dependentes químicos e de seus codependentes,
possibilitando com isso a identificação e o enfrentamento ao processo de abstinência a
recuperação ao longo da vida.

Através desse estudo observa-se a necessidade da aplicabilidade das políticas voltadas


para os usuários de substâncias psicoativas, pois a assistência oferecida não supri a demanda de
acompanhamento que poderiam ser subsidiadas pelo poder público, assim não haveria tantas
CT’s com superlotação de pessoas. Com isso, verifica-se a necessidade de ações que possam
melhorar o tratamento e pós tratamento em dependência química na realidade local.

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CAPÍTULO 15
IMPORTÂNCIA DAS VISITAS DOMICILIARES NA ESTRATÉGIA
DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Thuane Teixeira Lima, Acadêmica de Medicina do Centro Universitário CESMAC, Maceió


AL. Discente do Curso de Medicina do Centro Universitário CESMAC
Brenda de Carvalho Resende Mergulhão, Acadêmica de Medicina do Centro Universitário
CESMAC, Maceió-AL. Discente do Curso de Medicina do Centro Universitário CESMAC
Ricardo de Oliveira Almeida, Médico e Preceptor da Atenção básica do Município de
Arapiraca-AL

RESUMO
Introdução: O presente trabalho teve como tema a importância das visitas domiciliares nas
Estratégias de Saúde da família. Objetivo: Apresentar a importância do monitoramento das
ações e serviços de saúde dentro da estratégia saúde da família. Métodos: Foi realizada uma
revisão de literatura em artigos publicados em periódicos online, nas bases de dados LILACS,
SciELO, e PubMed/MEDLINE. Discussão e Resultados: O trabalho mostrou uma
contextualização da saúde no Brasil, destacando a promoção de saúde na atenção primária, e
por fim, apresentando a importância da estratégia de saúde da família para a sociedade,
enfatizando as visitas domiciliares como ferramentas a atenção básica à saúde. Conclusões: A
pesquisa não esgota o tema e o deixa em aberto, propondo que no futuro se realize novos
estudos, com a finalidade de contextualizar os temas aqui abordados com diferentes cenários
pelo Brasil. Juntamente com esta nova pesquisa, sugere-se a realização de um estudo de caso,
para o qual propõe-se que se realize uma análise em região específica, a fim de compreender a
necessidade e impacto destas campanhas de saúde em cada região.
PALAVRAS-CHAVE: Monitoramento; Serviços de Saúde; Estratégia Saúde da Família.

1 INTRODUÇÃO

O Brasil é marcado por profundas desigualdades regionais, fruto de um patrimônio


histórico que demarca o uso do território e a configuração política e econômica do país. Ao
longo da primeira metade do século XX, o desenvolvimento concentrou-se nas atividades
produtivas relacionadas às especificidades geográficas das macrorregiões, que produziam
diversos complexos econômicos que não eram necessariamente integrados entre si. A
concentração de atividades urbanas, produtivas em áreas costeiras (nordeste) e em grandes
centros metropolitanos (sudeste e sul) expandiu-se com a industrialização e transição rural-
urbana da população (MACHADO, 2007).

As políticas públicas estimularam a integração internacional de forma fragmentada,


através da incorporação de novos lugares, atividades, sistemas e regulamentos técnicos, e
configurando regiões cada vez menos concentradas, fluidas, densas, competitivas e

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 195


interdependentes em relação aos centros mais avançados do mundo. Essa modernização
resultou em um processo de reorganização produtiva e também em aumento das desigualdades
socioespaciais, que permaneceram associadas à concentração de poder nas mãos de
determinados grupos e à concentração de infraestruturas e riqueza em lugares e atividades
específicos (FURTADO, 2004).

Em geral, a configuração territorial do Sistema Único de Saúde (SUS) expressa e


reproduz as desigualdades regionais no Brasil. Na primeira década de sua implementação
(1990-2000), a distribuição espacial dos serviços públicos de saúde seguiu as tendências de
desconcentração e desigualdade que marcaram o processo de globalização. Nos anos 2000, o
Brasil experimentou uma redução da pobreza e da desigualdade, considerando, em particular,
a distribuição de renda na base da população, seguindo uma tendência contrária àquela em curso
nos países ricos e democráticos e o Brasil se tornou um exemplo para o resto do mundo. Por
exemplo, as mudanças no início deste século podem ser medidas por um aumento no PIB, renda
média municipal, renda individual, poder de consumo das famílias e o nível de escolaridade da
população. Com relação aos indicadores de saúde, o Brasil também registrou ganhos
significativos, mantendo as tendências de redução da mortalidade infantil e aumento da
expectativa de vida que ocorreram nas décadas anteriores, bem como atingindo níveis muito
melhores do que outros emergentes e de renda média em 2010 (BRASIL, 2010).

Desta maneira, o presente trabalho buscará responder em que medida se dá a


importância do monitoramento das ações e serviços de saúde dentro da Estratégia saúde da
Família? Assim, o objetivo geral desta pesquisa buscou apresentar a importância do
monitoramento das ações e serviços de saúde dentro da estratégia saúde da família. Os
objetivos específicos buscaram mostrar a saúde no Brasil, bem como destacar a promoção de
saúde e por fim, apresentar a importância da estratégia de saúde da família para a sociedade.

2 MÉTODOS

Para o presente trabalho a metodologia utilizada foi uma revisão de literatura baseada
em artigos publicados em periódicos online, nas bases de dados LILACS, SciELO, e
PubMed/MEDLINE. Para a elaboração da estratégia de busca foram utilizadas as seguintes
palavras-chave: “Monitoramento”; “Serviços de Saúde”; “Estratégia Saúde da Família”.
Brevemente associadas aos operadores booleanos AND, OR, NOT.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 196


3 DISCUSSÃO

3.1 A SAÚDE NO BRASIL

A saúde no Brasil é um direito constitucional. É fornecido por instituições privadas e


governamentais. O Ministro da Saúde administra a Política Nacional de Saúde. A atenção
primária à saúde é também de responsabilidade do governo federal, cujos elementos terciários
quando exigidos, (como a operação dos hospitais) são supervisionados por estados individuais.
A saúde pública é fornecida a todos os residentes permanentes brasileiros e estrangeiros no
território brasileiro por meio do Sistema Nacional de Saúde, conhecido como o Sistema Único
de Saúde (SUS). O SUS é universal e gratuito para todos (DIAS, 1992).

A Política Nacional de Saúde baseia-se na Constituição Federal de 1988, que estabelece


os princípios e diretrizes para a prestação de cuidados de saúde no país por meio do Sistema
Único de Saúde (SUS). De acordo com a constituição, as atividades do governo federal devem
basear-se em planos plurianuais aprovados pelo congresso nacional por períodos de quatro
anos. Os objetivos essenciais para o setor da saúde foram a melhoria da situação geral de saúde,
com ênfase na redução da mortalidade infantil reorganização político-institucional do setor,
com vistas a potencializar a capacidade operativa do SUS. Reforçar os objetivos anteriores e
priorizar novas medidas para garantir o acesso às atividades e serviços, melhorando o
atendimento e consolidando a descentralização da gestão do SUS é uma prática extremamente
necessária (JUNQUEIRA, 1991).

A principal ação para o fortalecimento da atenção básica é a Estratégia de Saúde da


Família, introduzida pelas secretarias municipais de saúde em colaboração com os Estados e o
Ministério da Saúde. O governo federal fornece apoio técnico e transfere fundos para o Piso de
Atenção Básica. As atividades de prevenção e controle de doenças seguem diretrizes
estabelecidas por especialistas técnicos do Ministério da Saúde. Para melhor planejamento das
ações centros de Epidemiologia, devem coordenar o sistema nacional de vigilância
epidemiológica, que fornecerá informações e análises sobre a situação sanitária nacional
(KOMATSU, 1993). Atualmente com o advento da Internet, as informações de interesse desse
sistema passaram a ser divulgadas regularmente pelo Ministério da Saúde, pelo Sistema
Nacional de Vigilância Epidemiológica – (SNVE).

Em 2014, havia 6.706 hospitais no Brasil. Mais de 50% dos hospitais são encontrados
em 5 estados: São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro e Paraná. Em todo o país, 78%
dos hospitais praticam medicina geral, enquanto 16% são especializados e 6% prestam

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 197


atendimento apenas ambulatorial. Em 2012, 66% dos hospitais do país, 70% de seus 485 mil
leitos hospitalares e 87% de seus 723 hospitais especializados pertenciam ao setor privado. Na
área de apoio diagnóstico e terapia, 95% dos 7.318 estabelecimentos também eram privados.
73% das 41.000 instalações de atendimento ambulatorial foram operadas pelo público.

A infraestrutura do hospital público exigia que os hospitais fossem distribuídos por um


território de 8,516 milhões de quilômetros quadrados (3,288 milhões de milhas quadradas).
Como tal, a infraestrutura do hospital público depende de uma vasta rede de pequenos hospitais.
Mais de 55% dos hospitais públicos têm menos de 50 leitos (DRAIBE, 1985). Os leitos
hospitalares do setor público foram distribuídos da seguinte forma: cirurgia (21%), clínica
médica (30%), pediatria (17%), obstetrícia (14%), psiquiatria (11%) e outras áreas (7%). No
mesmo ano, 43% dos leitos hospitalares públicos e metade das internações hospitalares
ocorreram em estabelecimentos municipais.

Desde 1999, o Ministério da Saúde Pública vem realizando um projeto de vigilância


sanitária na Amazônia que inclui vigilância sanitária epidemiológica e ambiental, saúde
indígena e controle de doenças. Com US $ 600 milhões de um empréstimo do Banco Mundial,
estão sendo feitos esforços para melhorar a infraestrutura operacional, o treinamento de
recursos humanos e estudos de pesquisa. Estima-se que 25% da população esteja coberta por
pelo menos uma forma de seguro de saúde; 75% dos planos de seguro são oferecidos por
operadores comerciais e empresas com planos autogeridos (FALEIROS, 1986).

3.2 PROMOÇÃO DE SAÚDE

A promoção da saúde não é um conceito novo. O fato de que a saúde é determinada por
fatores não só dentro do setor de saúde, mas também por fatores externos foi reconhecido há
muito tempo. Durante o século XIX, quando a teoria do germe da doença ainda não tinha sido
estabelecida, a causa específica da maioria das doenças foi considerada 'miasma' mas havia uma
aceitação de que a pobreza, a miséria, más condições de vida, a falta de educação, etc.,
contribuiu para doença e morte. Os relatórios de William Alison (1827-1828) sobre o tifo
epidêmico e febre recorrente, relatório de Louis Rene Villerme (1840) sobre Levantamento das
condições físicas e morais dos trabalhadores empregados nas fábricas de algodão, lã e seda John
Snow's classic studies of cholera (1854 ), etc (LAPOINTE DA, 2012).

O termo "Promoção da Saúde" foi cunhado em 1945 por Henry E. Sigerist, o grande
historiador da medicina, que definiu as quatro principais tarefas da medicina como promoção
da saúde, prevenção de doenças, restauração dos doentes e reabilitação. Sua declaração de que

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 198


a saúde era promovida por meio de um padrão de vida decente, boas condições de trabalho,
educação, cultura física, meios de descanso e recreação e exigia os esforços coordenados de
estadistas, trabalhadores, indústria, educadores e médicos. Encontrou reflexões 40 anos depois
na Carta de Ottawa para promoção da saúde.

A observação de Sigerist, pensador que defendia a Medicina Social, estabeleceu que “a


promoção da saúde obviamente tende a prevenir doenças, mas a prevenção eficaz exige
medidas especiais de proteção”, ele destacou a consideração dada às causas gerais na causação
da doença, juntamente com causas específicas, como também o papel da promoção da saúde
no tratamento dessas causas gerais. Na mesma época, a dupla causalidade das doenças foi
também reconhecida por outro pensador, JARyle, o primeiro professor de medicina social na
Grã-Bretanha, que também chamou a atenção para sua aplicabilidade às doenças não
transmissíveis (LAPOINTE DA, 2012).

Os esforços de promoção da saúde podem ser direcionados para condições de saúde


prioritárias envolvendo uma grande população e promovendo múltiplas intervenções. Essa
abordagem baseada em problemas funcionará melhor se for complementada por designs
baseados em configurações.

Os projetos baseados em configurações podem ser implementados em escolas, locais de


trabalho, mercados, áreas residenciais, etc. para abordar problemas prioritários de saúde,
levando em consideração os complexos determinantes da saúde, como comportamentos,
crenças culturais, práticas etc. que operam nos locais onde as pessoas vivem. trabalhos. O
design baseado em configurações também facilita a integração de ações de promoção da saúde
nas atividades sociais, levando em consideração as situações locais existentes

Medidas de promoção da saúde são muitas vezes direcionadas para uma série de doenças
prioritárias - tanto comunicáveis quanto não-transmissíveis. Os Objetivos de Desenvolvimento
do Milênio (MDGs) identificaram certas questões-chave de saúde, cuja melhoria foi
reconhecida como crítica para o desenvolvimento. Estas questões incluem a saúde materna e
infantil, a malária, a tuberculose e o HIV e outros determinantes da saúde. Embora não tenha
sido reconhecida na Cúpula do Milênio e não refletida nos Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável (ODM), as últimas duas décadas viram o surgimento de Doenças Tropicais
Negligenciadas (DTN), como o principal contribuinte para a carga global de doenças e
mortalidade (ABBA, K. 2011).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 199


As DTNs são amplamente evitáveis por intervenções de saúde pública eficazes e
viáveis, como por exemplo o saneamento básico, além disso em países subdesenvolvidos tem-
se doenças que abordam também os principais fatores de risco modificáveis como o uso de
tabaco, dieta imprópria, inatividade física e uso prejudicial de álcool. No Brasil, é grande a
porcentagem das doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais que levam a morte. Contra
esse pano de fundo, a promoção da saúde como “a ciência e a arte de ajudar as pessoas a mudar
seu estilo de vida para avançar para um estado de saúde ideal” é uma intervenção-chave no
controle das DTNs (ABBA, K. 2011).

4 RESULTADOS

4.1 A IMPORTÂNCIA DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA PARA A


SOCIEDADE

A Estratégia de Saúde da Família no Brasil começou como um programa federal em


1994 para fornecer uma atenção primária integrada. Dessa forma, visa a prestação de cuidados
preventivos e básicos de saúde, utilizando equipes profissionais multidisciplinares, geralmente
constituídas por médico, enfermeiro e cerca de seis Agentes comunitários de saúde (ACS). Essa
equipe principal também pode ser apoiada por uma equipe odontológica localizada. Cada grupo
de quatro ou cinco equipes de saúde também conta com outros profissionais, como psicólogos,
farmacêuticos comunitários e fisioterapeutas, para fornecer assistência e apoio especializado
adicionais. Cada equipe principal recebe uma área geográfica de 3.000 a 4.000 pessoas, com
um máximo de 150 famílias por ACS (M. HOSTETTER E S. KLEIN, 2015).

As equipes são responsáveis por registrar todas as famílias em sua área, monitorar as
condições de vida e o estado de saúde e fornecer os cuidados primários. Os ACS são capazes
de resolver muitos problemas de baixo nível, como a verificação para garantir que os pacientes
estejam tomando seus medicamentos para hipertensão ou diabetes corretamente, ou podem
encaminhar questões mais complexas para o profissional apropriado. Os ACS são totalmente
integrados à equipe, conversando regularmente com a enfermeira e o médico. Suas anotações
são discutidas nas reuniões da equipe e adicionadas ao prontuário, que geralmente é eletrônico.
Eles também passam o tempo na clínica, ajudando a organizar a sala de espera e as consultas,
além de realizar sessões de educação em saúde. Cada família recebe pelo menos uma visita
todos os meses de um ACS dedicado, independentemente da necessidade, o que permite a coleta
de dados com qualidade de censo. Embora os pacientes não possam escolher seus ACS,
nenhuma família que deseja uma visita é deixada de fora (M. VISWANATHAN, 2009).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 200


Hoje, atualmente o Brasil conta com mais de 265.000 agentes comunitários de saúde,
os quais atendem a quase 67% da população, eles são recrutados em suas próprias comunidades
e são predominantemente jovens e mulheres (86% são mulheres, 83% têm entre 21 e 49 anos).
O ensino médio geralmente é um requisito mínimo, mas os ACS são provenientes de todas as
esferas da vida e 67% possuem um diploma profissional. A remuneração e os benefícios são
estabelecidos localmente, embora os municípios sejam financiados nacionalmente para pagar
aos agentes o valor de um salário mínimo ou mais. Nas áreas mais ricas, o recrutamento dentro
da comunidade é mais desafiador do que nas áreas mais pobres.

Os ACS são importantes nas comunidades, porque são frequentemente a presença


estável e duradoura na experiência de uma família com os cuidados primários. Como resultado,
a rotatividade é baixa, eles também estão envolvidos em áreas perigosas e relatam que sua
posição profissional é respeitada na comunidade o que muitas vezes, lhes concede proteção à
violência no decorrer de seu trabalho (SG PHILANDER, 2012).

A entrega de um programa educacional estruturado para ACS em um movimentado


centro de saúde é um desafio. O treinamento deve ser constante para os agentes, desde a
preparação inicial e treinamento informal adicional no local de trabalho e as condições
socioeconômicas as quais a comunidade está inserida. Os ACS podem operar na comunidade
sem muita tecnologia de suporte, embora os municípios estejam vendo cada vez mais os
benefícios de equipar os ACS com telefones celulares e tablets para permitir diagnósticos
remotos e comunicação em tempo real com a clínica. A extensão em que os ACS têm acesso à
tecnologia de suporte depende das necessidades e recursos locais, está sendo desenvolvido um
programa nacional para entrega de smartphones e tablets, em muitas cidades isso já é uma
realidade. (J. PAIM, 2011).

A Estratégia de Saúde da Família é totalmente pública. O orçamento federal da atenção


primária multiplicou-se seis vezes nos últimos 13 anos. Atualmente, mais da metade é dedicada
à ESF. Apesar da atual crise econômica no Brasil - a economia está encolhendo nos últimos
três anos 6 - uma lei nacional impede que o orçamento federal da saúde diminua. Para incentivar
o dimensionamento da ESF, os municípios recebem pagamento integral pela atenção básica se
o modelo de serviço estiver alinhado com a estratégia (KS BABAMOTO, 2013).

A estratégia demonstrou um progresso robusto, expandindo-se em todo o país de


maneira sustentável e constante. A ESF tem sido fundamental na redução das iniquidades no
acesso à assistência, embora as variações regionais nos resultados de saúde, mortalidade infantil

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 201


e nutrição continuem sendo um problema, com o sul do país se saindo melhor do que o norte.
Devido às diferenças nas necessidades da população e nos recursos municipais, o
dimensionamento do programa exigiu contínua adaptação local. Os ACS têm sido cruciais para
a resposta do governo brasileiro, por exemplo no combate ao Zika vírus, fornecendo conselhos
de saúde e relatórios de incidência, como fizeram para Dengue e Chikungunya, e apoiando os
militares na inspeção de casas e espaços públicos para locais de criação de mosquitos. (KS
BABAMOTO, 2013).

O ACS é o elo de fortalecimento da Estratégia de Saúde da Família, através desse


profissional a família atendida pode relatar o desejo de uma visita domiciliar, tanto do médico,
enfermeiro ou dentista, isso é importante pois nem todos os pacientes conseguem se locomover
até a unidade básica de saúde. Essa flexibilidade é o que garante à Atenção primária a saúde
uma proximidade com o paciente, sendo esta capaz de resolver cerca de 80% dos problemas de
saúde mais simples do pais.

A visita domiciliar é uma ferramenta que permite criar vínculos com a comunidade,
sendo assim permite a equipe entender o que ocorre com aquela família no quesito saúde, As
interpretações devem ser contextualizadas tanto para o cenário socioeconômico quanto no
quesito amplo do que é saúde. Estes são momentos de cumplicidade nos quais pode haver a
responsabilização em torno dos problemas que serão enfrentados. A visita permite, entre outras
possibilidades, trabalhar com: comunicação, observação, diálogo, relato oral e escrito (Lopes,
Saupe, Massaroli, 2008).

Para Takahashi e Oliveira (2001), a visita domiciliar propicia proximidade dos


profissionais e serviços com as pessoas e suas maneiras de viver, permitindo, dessa forma, uma
aproximação com os determinantes do processo saúde-doença no âmbito familiar - e é
considerada fonte de informações necessárias à organização do serviço que se faz na ESF.

Sendo assim, a visita domiciliar é um diferencial da Estratégia de Saúde de Família,


podendo contribuir significativamente para a melhor abordagem a determinados grupos, pois
faz valer a máxima da definição do que é saúde em todos os âmbitos sociais e não apenas como
ausência de doença, portanto a equipe pode sim, contribuir de maneira significativa para
diminuir certos agravos de saúde daquela comunidade, vistos esses durante uma visita
domiciliar.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como tema a importância das visitas domiciliares nas
estratégias saúde da família. O método adotado na formulação deste trabalho, encontra-se em
concordância com a proposta de estudo, a qual foi adequada por meio dos objetivos a serem
alcançados. O desenvolvimento da ciência tem como base o alcance de resultados que permite
validar hipóteses sobre determinado acontecimento ou fato, presente em nossas vidas, ou não.

Por meio desta pesquisa foi possível entender a sua importância de acompanhamento e
supervisão sobre o alcance e acessibilidade a saúde para a família brasileira. Entende-se que o
Brasil ainda é uma país com alta divergência social e econômica, e isso influencia diretamente
na qualidade do atendimento de saúde oferecida a população, uma vez que sua maioria se
enquadra como baixa renda, embora a saúde seja um direito garantido por lei a todo cidadão
brasileiro.

Assim, conclui-se que medidas estratégicas de promoção à saúde tornam-se essenciais


na realidade do país, pois, embora exista grande avanço médico, grande parte da população
ainda são vítimas de doenças que já possuem fórmulas de cura e diversas medidas de prevenção.
A partir desse ponto percebe-se a necessidade do acompanhamento familiar, onde cada
integrante da família possua um acompanhamento e supervisão, como é o caso de campanhas
de vacinação, para que a informação de acessibilidade chegue a um maior número de cidadãos.

Também é conclusivo que o serviço público de saúde atenda e se adapte a necessidade


que cada região possui, e isso só se torna possível com acompanhamento e incentivo do governo
federal, para que cada necessidade seja atendia, levando qualidade de vida a população.

Por fim, o presente trabalho deixa o tema em aberto, propondo que no futuro se realizem
novas pesquisas, por exemplo, com finalidade de contextualizar os temas aqui abordados.
Juntamente com esta nova pesquisa, sugere-se a realização de um estudo de caso, para o qual
propõe-se que se realize uma análise em região específica, a fim de compreender a necessidade
e impacto destas campanhas de saúde na região.

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CAPÍTULO 16
ASPECTOS GENÉTICOS, DO CUIDADO E AÇÕES DOS PROFISSIONAIS DE
SAÚDE NOS TRANSTORNOS MENTAIS: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Kemily Fonseca Argilero, Graduanda em Enfermagem na Faculdade Adventista Paranaense


Wanderson Rocha Oliveira, Mestrando pelo Programa de Biociências e Fisiopatologia na
Universidade Estadual de Maringá
Márcio Fraiberg Machado, Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica –
RS

RESUMO
Os transtornos mentais estão descritos no Manual de Diagnóstico Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM-IV) e na Classificação Internacional de Doenças (CID-10); dentre eles: a
depressão, ansiedade, autismo e esquizofrenia. Nesse cenário, esta última é uma das com maior
incidência; é caracterizada pela perda do contato com realidade, psicose, além de alucinações,
delírios e comportamento alterados. Dentro do ambiente familiar a presença do sofrimento
mental, altera toda a rotina, tornando-se necessário adaptar-se as mais variadas situações. Este
trabalho objetivou i) identificar aspectos epigenéticos para o surgimentos das doenças mentais;
ii) apontar os impactos do cuidado de um paciente com transtornos mentais sobre o
familiar/cuidador; iii) apontar intervenções em saúde que auxiliem o familiar/cuidador. Trata-
se de uma revisão integrativa da literatura. Realizadas buscas nas bases de dados BVS, SciELO
e LILACS, utilizando os seguintes descritores do DeCS: ‘Epigenética’, ‘Distúrbios Mentais’ e
‘Esquizofrenia’, operados entre si pelo booleano and. Os critérios foram: artigos publicados no
período de 2012 a 2018 com resumos e textos completos disponíveis no idioma português.
Selecionaram-se trabalhos pelo título, resumo e sua relevância aos objetivos do trabalho. Foram
excluídas as teses, dissertações, estudos com texto completo indisponível, as repetições e
aqueles que não respondiam a questão norteadora. A qualidade de vida dos familiares e
cuidadores de pacientes com esquizofrenia sofre mudanças, principalmente após o diagnóstico,
pois a rotina e estilo de vida sofrem transformações, devido a progressão da doença e o
surgimento da dependência total. As estratégias realizadas nos Centros de Atenção Psicossocial
(CAPS) oportuniza uma avaliação individual das necessidades de cada paciente, buscando o
melhor processo de intervenção e tratamento, além de aumentar o vínculo entre o paciente e
profissional de saúde.
PALAVRAS-CHAVE: Epigenética. Distúrbios Mentais. Esquizofrenia. Qualidade de vida.

INTRODUÇÃO

Por muito tempo a genética foi vista com os mesmos olhos e conceitos de imutabilidade
e determinismo, permitindo que suas descobertas se mesclassem com abordagens sociológicas,
históricas e ideológicas. O estudo dos componentes genéticos, evidenciado nos distúrbios e no
comportamento, destaca-se não só por haver componentes humanos envolvidos, mas por servir
de base, de auxílio para os profissionais da área (SILVA, K. L., et al. 2014).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 206


Compreender a origem genética dos transtornos mentais poderá ser uma ponte para a
compeensão das abordagens diagnósticas, terapêuticas e preventivas. A investigação sobre as
influências das questões epigenéticas nos distúrbios mentais, buscam encontrar o gene
“causador” desses transtornos e sobre o funcionamento cerebral, buscando correlacioná-lo a
sinais e sintomas de doenças (FREITAS-SILVA, L. R., & ORTEGA, F. J. G, 2014).

Apesar destes estudos, ressalta-se que os possíveis alelos a serem encontrados, poderiam
não ser específicos, mas podendo contribuir com a combinação dos multifatores para visualizar
uma possível predisposição ao transtorno, proporcionando intervenções precoces, porém, a
presença do alelo não significa a determinação da expressão da patologia (SILVA, K. L., et al,
2014).

O ramo da genética que estuda a interação do genoma, genes e alelos com os


multifatores é denominado epigenética. Os mecanismos epigenéticos permitem a relação entre
o ambiente e as alterações genéticas expressas que podem coduzir ao surgimento de doenças.
A alteração do mecanismo epigenético, resultante das ações externas é diferente das
modificações que podem ocorrer em termos apenas biológicos, na expressão do gene, pois
nesse, estas alterações são provenientes do ambiente e podem ou não, influenciar na
expressividade do gene (FREITAS-SILVA, L. R., & ORTEGA, F. J. G, 2014; JIRTLE, R.
L.; SKINNER, M.K , 2007)).

De acordo com Brasil (2019), saúde mental está relacionada com o equilíbrio emocional
entre o patrimônio interno e as exigências ou vivências externas. Neste contexto, pode-se
considerar o distúrbio mental, como uma condição clinicamente significativa, que se destaca
por alterações que fogem deste padrão, pois é caracterizada pela junção de percepções,
emoções, pensamentos e comportamentos anormais que podem afetar as relações sociais ou
desencadear desordens no funcionamento pessoal (OPAS, 2018).

Os transtornos mentais se classificam como doença com manifestação psicológica


associada a algum comprometimento funcional resultante de disfunção biológica, social,
psicológica, genética, física ou química. Podem ser classificados, ainda, como alterações do
modo de pensar e/ou do humor associadas a uma angústia expressiva, produzindo prejuízos no
desempenho global da pessoa no âmbito pessoal, social, ocupacional e familiar (SANTOS, É.
G. D., & SIQUEIRA, M. M. D. 2010).

Os transtornos mentais estão descritos no Manual de Diagnóstico Estatístico de


Transtornos Mentais (DSM-IV) e na Classificação Internacional de Doenças (CID-10); dentre

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 207


eles: a depressão, ansiedade, autismo e esquizofrenia (ASSIS, P. 2010). Nesse cenário, esta
última é uma das com maior incidência; é caracterizada pela perda do contato com realidade,
psicose, além de alucinações, delírios e comportamento alterados.

Estudos realizados com os componentes da família de pacientes esquizofrênicos,


demonstram esses parentes possuem uma maior chance do aparecimento da doença e uma
predisposição que pode aumentar de acordo com o grau de parentesco (JÚNIOR, Q. C. 2007;
VALLADA FILHO; SAMAIA, 2000). Dentro de um ambiente familiar a presença do
sofrimento mental, altera toda a rotina, tornando-se necessário adaptar-se as mais variadas
situações (BORBA, L. D. O., et al. (2008).

Este trabalho objetivou i) identificar aspectos epigenéticos para o surgimentos das


doenças mentais; ii) apontar os impactos do cuidado de um paciente com transtornos mentais
sobre o familiar/cuidador; iii) apontar intervenções em saúde que auxiliem o familiar/cuidador.

MÉTODOS

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, método que auxilia na síntese de


conhecimento de um amplo estudo de determinado assunto por meio de levantamento de dados,
possibilitando multiplicidade de propostas, criando uma ampla abordagem, além da integração
de estudos experimentais e não-experimentais (SOUZA, M. T. D., et al, 2010).

Realizadas buscas nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific
Electronic Library Online (SciELO), base de dados Latino-Americana de informação
bibliográfica em ciências da saúde (LILACS), utilizando os seguintes descritores do DeCS:
‘Epigenética’, ‘Distúrbios Mentais’ e ‘Esquizofrenia’, operados entre si pelo booleano and.

Os critérios de inclusão aplicados foram: artigos publicados no período de 2012 a 2018


com resumos e textos completos disponíveis no idioma português. Selecionaram-se trabalhos
pelo título, resumo e sua relevância aos objetivos do trabalho. Foram excluídas as teses,
dissertações, estudos com texto completo indisponível, as repetições e aqueles que não
respondiam a questão norteadora.

Para análise das informações, os artigos incluídos foram lidos exaustivamente e seu
conteúdo padronizado do material encontrado, de acordo com os objetivos propostos. Os
resultados foram organizados em tabelas e posteriormente foram categorizados, conforme os
resultados e as contribuições observadas nesses artigos.

RESULTADOS

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 208


Com a pesquisa foram selecionados 10 trabalhos científicos, que após serem lidos na
íntegra foram distribuídos em um quadro de forma resumida com as seguintes variáveis:
autores, ano de publicação, periódico, título do trabalho, objetivo e conclusão. Os artigos foram
enumerados para facilitar a análise e identificação das etapas, conforme descritos no Quadro
1.

Quadro 1: Síntese dos principais achados sobre o tema


N Autores (Ano) Principais Achados

1 FREITAS-SILVA, L. R., & ORTEGA, A complexidade genética, o papel formativo do


F. J. G. (2016) ambiente e as variações que caracterizam a
vulnerabilidade implicam importantes modificações nas
principais teses sobre a determinação biológica dos
transtornos mentais.

2 SILVA, K. L., et al, (2014) A concepção entre gene x ambiente está ligada à ideia de
complexidade e heterogeneidade em oposição ao
reducionismo determinista. Foi proposta uma abordagem
integrada, apontando a necessidade de novos modelos
que levem em consideração o caráter multifatorial dos
transtornos mentais.

Percebeu-se que o sistema dopaminérgico foi o mais


3 RANGEL, B. L., & DOS SANTOS,
estudado. Apenas 3 estudos relataram associação dos
A, (2013) genes com a esquizofrenia. Apesar disso todos os
resultados contribuem para uma maior compreensão da
doença e para estudos posteriores.

4 ELOIA, S. C., et al. (2018) Os resultados mostraram que o grau de sobrecarga global
objetiva foi maior no grupo de cuidadores na UIPHG.

5 OLIVEIRA, R. M., et al. (2012) Esta pesquisa pode permitir a ampliação do olhar para
os portadores de esquizofrenia, uma vez que o
conhecimento sobre a doença e suas implicações
ocorreram a partir da perspectiva de quem vivencia
cotidianamente este sofrimento.

6 ALVES, J. F. M., et al., (2018) Existe sobrecarga familiar na amostra em estudo. O


apoio dos enfermeiros reflete-se na ajuda recebida.
Assim, nas intervenções que reduzam a sobrecarga
familiar o enfermeiro especialista em sáude mental dos
cuidados de saúde primários tem um papel primordial.

Os resultados parecem indicar que existiram diferenças


7 PINHO, L. M. G. D., & PEREIRA, A.
possivelmente potenciadas pelo programa, permitindo
M. S. (2015)
assim concluir a eficácia da aplicação deste tipo de
intervenção, ao nível da diminuição da sobrecarga
familiar e da emoção expressa. São referidas algumas
implicações deste estudo para a prática clínica e para a
intervenção junto dos familiares visando a promoção
da saúde e o bem-estar destes indivíduos.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 209


8 CAMPANA, M. C., & SOARES, M. H. Com a finalidade de aliviar tais dificuldades, acredita-se
(2015) ser importante a intervenção do serviço de saúde no
âmbito familiar.

9 POMPEO, D. A., et al. (2016) As estratégias de enfrentamento mais utilizadas pelos


familiares foram suporte social e resolução de
problemas. Pais e mães utilizaram mais estratégias
funcionais (autocontrole p=0,037; reavaliação positiva
p=0,037; suporte social p=0,021). Não foram
evidenciadas diferenças significativas entre as
estratégias e as demais variáveis estudadas.

Entre as ações terapêuticas realizadas, se destacam os


10 MOLL, M. F., et al. (2015) atendimentos psicoterápicos e as oficinas terapêuticas
grupais. Entre essas oficinas a geradora de renda foi
considerada como um meio de aceitação do portador de
transtorno mental na comunidade. Assim, é importante
que o enfermeiro estimule a participação das pessoas
com diagnóstico de esquizofrenia nessas oficinas e que
sejam elaborados novos estudos referentes às atividades
terapêuticas que promovem a reabilitação de portadores
de esquizofrenia.

Fonte: ARGUILERO KF, et al. 2021.


A pesquisa foi constituída de artigos que foram publicados entre os anos de 2012 e 2018,
conforme Figura 01. A maior quantidade de publicações encontradas foi no ano de 2015 com
três publicações. Quanto aos periódicos científicos, foram encontrados artigos em 9 periódicos
diferentes, conforme distribuídos na Figura 2, do qual percebeu-se que a maior quantidade de
publicações ocorreu na Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, com três
publicações selecionadas.

Figura 01: Distribuição do número de artigos científicos encontrados quanto ao ano de publicação.

Fonte: ARGUILERO KF, et al. 2021.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 210


Figura 02: Número de artigos publicados de acordo com o periódico científico.

Fonte: ARGUILERO KF, et al. 2021.


DISCUSSÃO

Dentro do campo da neurociência a epigenética está relacionada ao


neurodesenvolvimento, neste sentido o distúrbio mental é resultado de uma constante de
anormalidades do desenvolvimento do cérebro; tais processos podem ocorrer durante um
período de desenvolvimento e vulnerabilidade do indivíduo que é exposto aos fatores
ambientais (FREITAS-SILVA, L. R., & ORTEGA, F. J. G, 2016).

Estudos apontaram possíveis causas para os distúrbios mentais relacionadas ao sistema


dopaminérgico, especificamente nos genes receptores dopaminérgicos D3 onde se encontra o
transportador de dopamina (SLC6A3) localizado no cromossomo 5, que trabalha regulando a
dopamina e reabsorvendo a mesma de volta para os neurônios, e no receptor D2 localizado no
cromossomo 11 que age como autorreceptor e receptor pós-sináptico, em ambos os estudos
foram encontrados resultados que evidenciam relação entre tais genes a esquizofrenia
(RANGEL, B. L., & DOS SANTOS,A. 2013).

No campo psiquiátrico a epigenética surge com o propósito de encontrar explicações de


como o ambiente altera e atribui marcas no cérebro que influencia no aparecimento dos
transtornos mentais. Como enfatizado anteriormente, a esquizofrenia é uma patologia
complexa, com sua origem multifatorial e atualmente tem-se estudado a sua relação com
determinados genes e, apesar de alguns estudos não indicarem associação, os resultados
contribuem para uma melhor compreensão da etiologia da esquizofrenia (RANGEL, B. L., &
DOS SANTOS, A. 2013).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 211


Com essa ótica, analisar tal estudo em sua complexidade a partir de uma única
perspectiva é reduzir as possibilidades de entender sua origem, devendo ser considerados os
novos modelos e estudos de caráter multifatorial, que auxiliem no desenvolvimento de
estratégias de prevenção e tratamento dos sintomas advindos da doença mental (SILVA, K. L.,
et al. 2014).

Reconhecer a complexidade biológica no estudo em questão não garante o uso de tais


conhecimentos, nem reformulação dos antigos, porém leituras atentas e críticas das recentes
teses em neurociência e psiquiatria mostram que a cada dia a biologia está se revelando menos
determinista e mais promissora (FREITAS-SILVA, L. R., & ORTEGA, F. J. G, 2016).

A qualidade de vida dos familiares e cuidadores de pacientes com esquizofrenia sofre


mudanças, principalmente após o diagnóstico, pois a rotina e estilo de vida sofrem
transformações, devido a progressão da doença e o surgimento da dependência total. Além da
carga de cuidados é necessário conciliar com as questões financeiras, falta de preparo e
alteração na área social e profissional, em alguns casos o nível de stress pode desencadear
distúrbios mentais impossibilitando o cuidado necessário (OLIVEIRA, R. M., et al. 2012).

Entre as mudanças, está a dificuldade de aliar o emprego e as tarefas domésticas com o


cuidado ao paciente, sendo que no primeiro caso muitos abandonam seu trabalho. Desta forma
começam a se desenvolver preocupações com a situação financeira (OLIVEIRA, R. M., et al.
2012). A sobrecarga decorrente do cuidar podem ser classificadas em:

a. sobrecarga subjetiva, que refere-se a concepção do indivíduo, medos, emoções e


anseios; e

b. sobrecarga objetiva, relacionada ao grau de dependência do doente, situação da


residência, renda, gastos, mudança de rotina e ao tratamento que o mesmo precisa; contudo,
mesmo em meio a vulnerabilidade ainda é possível desenvolver uma rotina com afeto, amor e
cuidado, de forma a lidar com as emoções para criar um ambiente favorável (CAMPANA, M.
C., & SOARES, M. H. 2015).

Estudos apontaram que a sobrecarga subjetiva dos familiares é maior que a objetiva,
devido a sua relação com a evolução da doença, falta de tempo para lazer e preocupação com
o futuro. Essa carga é amenizada pelo contato com o profissional de saúde que através de
intervenções educativas promovam um maior vínculo terapêutico, conhecimento sobre assunto
e continuidade do cuidado no domicílio (ALVES, J. F. M., et al. 2018).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 212


Com relação a sobrecarga subjetiva, existe uma mistura de sentimentos em alguns
familiares que levam a diferentes visões de cuidado, os que são referidos com maior frequência
são: a tristeza, o medo, a impotência perante crises, a compaixão e a “pena”; visto que o paciente
não tem controle sobre os atos. Há ainda relatos de amigos, uma preocupação caso venham a
falecer, sobre quem irá realizar os cuidados, além do esgotamento físico (CAMPANA, M. C.,
& SOARES, M. H. 2015).

Em um estudo realizado com 10 portadores de esquizofrenia, foi alegado tal dificuldade


e relatado os prejuízos na qualidade de vida, na qual em alguns casos o cuidador relata que foi
necessário o “abandono” seja do filho, do curso superior ou do emprego; ainda como agravante,
existe a estigmatização do portador que pode afetar sua autoestima, a partir do momento que só
é dada relevância para a doença e não para o indivíduo, além dos rótulos que muitos recebem
por sua debilidade (OLIVEIRA, R. M., et al.2012; ELOIA, S. C., et al. 2018).

O equilíbrio emocional que a família do esquizofrênico necessita desenvolver é vital na


implementação e adesão das medidas de psicoeducação, como um dos meios para facilitar o
enfrentamento por parte do doente e da família. Estes trazem abordagens para que os mesmos
possam conhecer a doença mental, reduzindo o stress e possibilitando formas de confronto
(PINHO, L. M. G. D., & PEREIRA, A. M. S. 2015).

Este modelo de abordagem tem demonstrado ser uma estratégia de recuperação do


esquizofrênico e conservação da autoestima e saúde da família que podem sentir o peso da
caminhada, sendo dividido com profissionais preparados que podem ajudar (PINHO, L. M. G.
D., & PEREIRA, A. M. S. 2015).

A forma de enfrentamento por parte do cuidador sofre influência do grau de parentesco


com o doente e muitos fazem uso dos suportes sociais como meio para a resolução de
problemas, onde ao invés de negá-las, o cuidador opta por enfrentar as situações estressoras e
a reavaliação positiva que é a forma de ver os pontos positivos e com eles, mudar a visão perante
uma situação de conflito (POMPEO, D. A., et al., 2016).

A idade e o nível de escolaridade também podem influenciar, pois indivíduos mais


jovens tem consciência de seu papel como auxiliadores, porém apresentavam grande tendência
de fuga e esquiva. No entanto, indivíduos com baixos níveis de escolaridade, normalmente
apresentam tais características devido a dificuldade de identificar e resolver o problema
(POMPEO, D. A., et al. 2016).

Uma das formas de sobrecarga que a família de um esquizofrênico pode sofrer é devido

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 213


a mudança de rotina e a carga de cuidados que o mesmo recebe; dentro da psicoterapia,
atividades específicas são desenvolvidas de acordo com a situação do paciente podendo ser
individual ou em grupo, como por exemplo: música, dança, artesanato, grupos de psicoterapia
e consulta médica (MOLL, M. F., et al. 2015).

As estratégias realizadas nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) oportuniza uma


avaliação individual das necessidades de cada paciente, buscando o melhor processo de
intervenção e tratamento, além de aumentar o vínculo entre o paciente e profissional de saúde.
Através das atividades desenvolvidas, o paciente pode aprimorar a autonomia, exercer sua
cidadania, oportunizar o retorno de algumas atividades que pareciam impossíveis, tais como: a
produção de produtos de limpeza, brinquedos e dentre outros que podem ser comercializados
podendo gerar renda (MOLL, M. F., et al. 2015).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa apresentou que não apenas os familiares e cuidadores do esquizofrênico,


mas todos os que possuem algum distúrbio mental sofrem com a sobrecarga devido a mudança
na rotina. O Enfermeiro em toda sua graduação estuda disciplinas relacionadas à saúde mental,
educação em saúde, saúde coletiva, saúde da família, entre outras; e com isso, podem
proporcionar para os mesmos, um conhecimento sobre o assunto que pode ser vital durante o
auxílio primário. O cuidado porém, não se realiza apenas pelo Enfermeiro, mas de forma
multiprofissional, sendo mais específica e individual. Os profissionais que se encontram mais
próximos da rede familiar de um paciente, que começou uma transição de rotina devido algum
distúrbio mental, no contexto da territorialização das Unidades de Saúde da Família
(UBS/EFS), devem estar capacitados e instruídos para ajudar na adaptação dos mesmos.

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CAPÍTULO 17
EFEITOS DE 16 SEMANAS DE EXERCÍCIOS MULTIMODAIS NA CAPACIDADE
FUNCIONAL E COGNITIVA EM IDOSOS COMUNITÁRIOS
DOI: 10.47402/ed.ep.c202149017980
Karla Mayane da Silva, UFT, Núcleo de Investigação Multidisciplinar em Educação Física,
NIMEF
Rubens Vinicius Letieri, UFT, NIMEF
Paulo Henrique Torres de Araújo, UFT, NIMEF

RESUMO
O presente estudo buscou verificar o efeito de 16 semanas de exercícios multimodais na
capacidade funcional e cognitiva em idosos comunitários do município de Tocantinópolis- TO.
A pesquisa teve caráter descritivo, longitudinal e quase- experimental. Participaram deste
estudo 44 idosos, sendo 20 do sexo masculino, com média de idade de 69 ± 7,3 anos e 24 do
sexo feminino, com média de idade de 66 ± 7,6 anos. A seleção dos participantes foi realizada
por meio da técnica de amostragem por conveniência em utentes da Academia da Melhor Idade
(AMI), em Tocantinópolis-TO. Antes e após as 16 semanas de intervenção com exercícios
multimodais, foram aplicadas: a bateria Senior fitness test de Rikli & Jones (2013) e avaliação
do estado cognitivo com o Mini Exame de Estado Mental (MEEM). Em relação às variáveis da
capacidade funcional, apenas o teste de “Caminhada de 6 minutos” apresentou diferença
significativa nos participantes do sexo masculino (C6Min pré = 516,2 metros vs. pós = 545,8
metros; p < 0,05). Nas mulheres foram observadas diferenças significativas nas variáveis
“Levantar e Sentar da Cadeira” (LSC pré = 12,5 repetições vs. Pós = 14,1 repetições; p < 0,05),
“Sentado, Caminhar 2,44 m e sentar” (SCS pré = 7,3 segundos vs. pós = 6,8 segundos; p < 0,05)
e “Caminhada de 6 minutos” (C6Min pré = 483,1 m vs. pós = 514,1 m; p < 0,05). O nível de
cognição apresentou diferença significativa após 16 semanas de intervenção em relação aos
valores verificados no baseline, tanto para os homens (MEEM pré = 21,2 vs. pós = 23,9; p <
0,05), quanto para as mulheres (MEEM pré = 23,9 pontos vs. pós = 25,1 pontos; p < 0,05).
Conclui-se que tanto as mulheres como os homens apresentaram melhoras na cognição e em
algumas variáveis da capacidade funcional.
PALAVRAS-CHAVES: Cognição. Envelhecimento. Atividade física.

INTRODUÇÃO

O envelhecimento é um fenômeno marcado por processos neurodegenerativos que


causam perdas substanciais das funções sensoriais, auditivas e visuais, além de diminuírem o
controle motor estando, desta forma, associado à má qualidade de vida da população idosa em
todo o mundo (SMOLAREK et al., 2016). Embora os declínios na cognição atribuídos ao
processo normal de envelhecimento sejam bem elucidados na literatura, algumas dessas
alterações podem estar relacionadas com doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e
outros tipos de demência (KIRK-SANCHEZ; MCGOUGH, 2013). A demência é uma das

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 216


principais doenças relacionadas ao envelhecimento e, segundo a organização mundial da saúde
(OMS) estima-se que o número de pessoas com esta morbidade triplique – de 50 milhões, para
152 milhões até 2050. Por ser uma doença debilitante, o impacto sobre o indivíduo e sua família
é muito forte, tanto em termos emocionais quanto econômicos (BOFF; SEKYIA; BOTTINO,
2015).

Dentre as doenças cognitivas não classificadas como demência, encontra-se o


Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) que, segundo Furtado e colaboradores (2019), é
caracterizado como um estado transitório entre o envelhecimento cognitivo normal e a
demência leve, acarretando uma perda progressiva de memória maior do que a esperada para a
sua idade e seu nível educacional enquanto que outras funções cognitivas estão, de uma forma
geral, preservadas não interferindo, desta forma em tarefas do cotidiano. (CUI et al., 2018).
Adicionalmente, o envelhecimento pode afetar o sistema nervoso central (alterações no volume
cerebral) e as propriedades do sistema neuromuscular (diminuição na quantidade de neurônios
sensoriais e motores)levando a déficits no equilíbrio e no desempenho da marcha (GSCHWIND
et al., 2013). Além disso, diversos estudos estabelecem que a atividade moderada durante a
meia-idade está associada a um menor risco de ter CCL em idades mais avançadas e apresentam
efeitos benéficos sobre a aptidão física e função cognitiva de adultos com CCL (GEDA et al.,
2010; HEYN, ABREU, & OTTENBACHER, 2004),

Nos últimos anos, diversos estudos demonstraram que benefícios cognitivos podem ser
alcançados com diferentes modalidades de exercícios em populações com CCL (BAKER et al.,
2010; NAGAMATSU et al., 2013; NASCIMENTO et al., 2015). O exercício aeróbico
demonstrou melhorias significativas nos escores cognitivos globais com um efeito positivo na
memória de pessoas com CCL (ZHENG et al., 2016). Adicionalmente verifica-se que
intervençoes utilizando exercícios multicomponentes, como exercícios aeróbicos e de força,
possam ter um efeito maior sobre a cognição do que exercícios os aeróbicos quando realizados
isoladamente (SMITH et al., 2010).

Neste sentido, postula-se que os exercícios físicos com diferentes tipos de estímulos
(multimodais) podem auxiliar na melhora do desempenho cognitivo da população idosa haja
vista que esta população é mais acometida por doenças neurodegenerativas. Desta forma, o
objetivo do presente estudo foi verificar o efeito de 16 semanas de intervenção utilizando
exercícios multimodais na performance cognitiva e funcional de idosos comunitários.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 217


MATERIAIS E MÉTODOS

TIPO DE ESTUDO, ASPECTOS ÉTICOS E SELEÇÃO DE PARTICIPANTES

O estudo caracteriza-se como descritivo, longitudinal e quase-experimental (THOMAS;


NELSON; SILVERMANN, 2012). Participaram do estudo 44 idosos, sendo 20 do sexo
masculino (média de idade 69 ± 7,3 anos) e 24 do sexo feminino (média de idade 66 ± 7,6
anos). A seleção dos participantes foi realizada por meio da técnica de amostragem por
conveniência, em utentes da Academia da Melhor Idade de Tocantinópolis (AMI), na cidade
de Tocantinópolis-TO. Foram considerados como critérios de inclusão: a) ter 60 anos ou mais;
b) apresentar pontuação superior a 18 no Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) para idosos
com baixa/média escolaridade; c) não possuir limitação física ósteo-músculo-articular; d)
completar a bateria de testes funcionais. Como critério de exclusão: a) desistência voluntária
da pesquisa; b) ausência por três vezes consecutivas nas intervenções; c) não realizar as baterias
de reavaliações cognitivas e funcionais.

INSTRUMENTOS

AVALIAÇÃO DO ESTADO FÍSICO

A massa corporal foi obtida utilizando-se uma balança antropomética com precisão de

0.100 kg (Whelmy®). Para a estatura utilizou-se o estadiômetro acoplado à balança com

precisão de 0,1 cm (Whelmy®). Os procedimentos foram realizados com os participantes em


posição anatômica com o mínimo de roupa possível. Os valores do IMC (índice de Massa
Corporal) foram obtidos conforme o Anthropometric Standardization Reference Manual
(LOHMAN; ROCHE; MARTORELL, 1992), através do cálculo: IMC=(massa

corporal/estatura2).

AVALIAÇÃO DO ESTADO COGNITIVO

A cognição foi avaliada através do Mini-Exame do Estado Mental (MEEM), uma escala
de avaliação cognitiva que auxilia na investigação e monitoração da evolução de possíveis
déficits cognitivos em pessoas com risco de demência, quais os seus pontos fortes e fracos a
nível cerebral com um breve questionário de 30 pontos, composto pelos seguintes módulos:
orientação, retenção, atenção e cálculo, evocação, linguagem e habilidade construtiva.. Seu
escore tem variação de 0 (zero) ponto, que indica um resultado negativo acerca do estado
cognitivo entre os sujeitos, indo até o máximo de 30 (trinta) pontos, o que representa um
resultado positivo na capacidade cognitiva do idoso (ARAUJO et al., 2015)

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EXERCÍCIOS MULTIMODAIS

Para estabelecer um programa progressivo de treinamento de força, com o objetivo de


melhorar a capacidade de velocidade da marcha, o equilíbrio e outras habilidades motoras
correlatas, foram realizadas atividades específicas com um número determinado de exercícios,
repetições, séries/circuitos e outras variáveis envolvidas neste tipo de programa de exercícios
que envolvem treinamento progressivo convencional de resistência, força, capacidade aeróbia,
flexibilidade, exercícios de sustentação de peso, equilíbrio, tem uma boa evidência para reduzir
os fatores de risco para quedas e fraturas, além de melhorar as habilidades motoras (Tobalina
et al., 2013; Gianoudis et al., 2014). As intervenções com exercícios multimodais foram
realizadas com intensidade moderada, três vezes na semana, com duração de 50 a 60
minutos/sessão, utilizando a escala de Borg para a percepção de esforço (E SILVA et al., 2011),
enfatizando diferentes componentes da capacidade funcional, principalmente força, equilíbrio,
coordenação motora e resistência aeróbica.

PROCEDIMENTOS

As informações foram coletadas durante 16 semanas, em momentos de socialização dos


idosos, na AMI e a pesquisa se deu em três fases (Figura 1):

figura 1. Desenho do estudo

ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados descritivos são apresentados com os valores de média e desvio-padrão (DP).


A normalidade dos dados foi verificada pelo teste de Shapiro-Wilk. Foi realizado o teste T de
Student de amostras pareadas para comparar os momentos pré e pós (16 semanas). Os valores
de referência % são apresentados pelo Δ% através da fórmula: Δ % = (pós-pré)/pré*100. O
índice de significância estatística adotado foi de 95% ou p < 0,05. Os dados foram analisados

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 219


através do software Statistical Package for Social Sciences – SPSS, versão 23.0 A(rmonk, NY:
IBM Corp, USA) e pelo GraphPad Prism 7 (GraphPad Software, Inc., La Jolla California,
USA).

RESULTADOS

A tabela 2 apresenta os valores médios e desvios-padrões (DP) das variáveis de


caracterização dos participantes do estudo.

Tabela 2. Características antropométricas dos participantes do estudo


Variáveis Mulheres (n=24) Homens (n=20)
Média (DP) Média (DP)

Idade (anos) 66,7 ± 7,62 69,21 ± 7,33

Massa Corporal (kg) 60,52 ± 10,25 69,87 ± 8,46

IMC (kg/m2) 26,39 ± 3,98 25,41 ± 3,80


Nota: IMC = Índice de Massa Corporal.
A tabela 3 apresenta os resultados das comparações dos momentos pré e pós-
intervenção para as variáveis da capacidade funcional e cognitiva.

Tabela 3. Valores médios, desvios-padrões (DP) e percentual de alteração (Δ%) das variáveis funcionais e perfil
cognitivo dos participantes da pesquisa antes e após 16 semanas.
Mulheres (n=24) Homens (n=20 )

Pré Pós Percentual Pré Pós Percentual


Alteração Alteração
Variáveis Média (DP) Média (DP) ( Δ%) Média (DP) Média (DP) ( Δ%)

LSC (reps) 12,57 ± 3,52 14,14 ± 3,89* 12 14,30 ± 4,52 14,62 ± 3,13 2
FC (reps) 17,64 ± 4,63 15,64 ± 4,37 -11 18,83 ± 2,57 19,60 ± 3,68 4
SA (cm) 5,21 ± 4,28 3,71 ± 4,64 -28 6,30 ± 4,96 3,80 ± 9,75 -39
TUG (s) 7,35 ± 1,47 6,81 ± 2,14* -7 6,83 ± 1,61 8,49 ± 2,89 24
AAC (cm) -7,35 ± 9,47 -3,21 ± 8,19 -56 -13,60 ± 8,87 -14,62 ± 10,85 7
514,14 ± 516,20 ±
C6M (m) 483,24 ± 83,03 6 545,80 ± 59,77* 5
98,42* 63,37
MEEM (pontos) 23,92 ± 3,89 25,14 ± 2,95* 5 21,22 ± 5,41 23,91 ± 5,56* 3
Nota: * p<0,05; LSC = Levantar e sentar da cadeira; FC = Flexão de cotovelo; SA = Sentar e alcançar; TUG =
2,44m Timed-Up-And-Go; AAC = Alcançar atrás das costas; C6M = Caminhar 6 minutos; MEEM = Mini-
Exame do Estado Mental.

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Figura 2. Gráficos representativos da comparação antes e após 16 semanas nas variáveis funcionais e cognitiva
dos participantes

a) LSC b) AAC

c) SA d) TUG

e) AAC f) C6M

Pré

Pós

G) MEEM
Nota: *p < 0,05; a) LSC = Levantar e sentar da cadeira; b) FA= Flexão de antebraço; c) AS= Sentar e alcançar;
d) TUG= Timed-Up-And-Go;me) AAC= Alcançar atrás das costas; f) C6M = Caminhada 6 minutos; g) MEEM=
Mini-Exame do Estado Mental.

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DISCUSSÃO

O presente estudo buscou verificar os efeitos de exercicios multimodais na capacidade


funcional e cognotova em idosos comunitários do município de Tocantinópolis-TO. Isto posto,
com base nos dados apresentados na figura 2, foi possível verificar diferenças significativas em
variáveis da capacidade funcional em ambos os sexos, quando comparados os momentos pré e
pós intervenção, bem como na cognição. Tais resultados indicam a importância de um programa
de exercício físico para sujeitos idosos, tendo em vista que os indivíduos conseguiram realizar
alguns testes da bateria funcional com maior eficiência.

Esses achados corroboram com o estudo de Fernandes et al. (2012), onde verificaram
os efeitos de um programa de exercícios físicos na marcha e na mobilidade funcional de idosos.
Assim foi possível identificar aumento no comprimento dos passos e das passadas, além de um
aumento na velocidade da marcha reafirmando, desta forma a hipótese de que programas de
exercícios físicos podem influenciar de forma positiva nas condições de estabilidade e
locomoção de pessoas idosas, uma vez que com o passar dos anos a velocidade e o comprimento
da marcha podem ser reduzidos.

Na variável Levantar e Sentar da Cadeira (LSC), foi verificada diferença em ambos os


sexos, no entanto apenas nas mulheres notou-se resultado significativo. O estudo de Wamser et
al. (2000), buscou avaliar uma melhor mobilidade funcional poderia estar associada a um menor
número de quedas e melhor desempenho funcional de idosas saudáveis, foi demonstrada
associação entre mobilidade funcional e desempenho, sendo possível verificar que, quanto
menor o tempo de realização em teste funcional, melhor potência muscular e capacidade
funcional de exercício.

Em relação ao teste alcançar atrás das costas (AAC), verificou-se que os indivíduos de
ambos os sexos não obtiveram um resultado significativo quando comparados nos diferentes
momentos. Feland et al. (2001) em um estudo realizado com idosos, apontaram que sessões de
alongamento de 15 a 30 segundos realizados quatro vezes por sessão e cinco vezes por semana,
aumentaram significativamente os níveis de amplitude de movimento quando comparados com
o grupo controle. Holland et al. (2002), apontam que entre os 30-70 anos, é possível ocorrer
uma redução de 20 a 50% da flexibilidade dependendo do membro, confirmando assim a
importância de um programa de exercícios físicos.

Entretanto, na variável sentar e alcançar, que também de trata de flexibilidade, mesmo


não sendo significativo, os homens apresentaram um resultado mais satisfatório, quando

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 222


comparados às mulheres, fortalecendo, desta forma, a ideia de Fidelis et al (2012), que analisou
o resultado da prática de exercícios físicos sobre a força muscular manual, flexibilidade e
mobilidade funcional em idosos usuários de unidades de saúde. Após avaliarem 74 idosos
divididos em dois grupos (grupo participante, e grupo não participante de atividades da unidade
de saúde), foi possível identificar uma diferença significativa na flexibilidade dos idosos que
participavam do programa de atividade física ressaltando, desta forma, a eficácia do exercício
físico supervisionado.

A habilidade de sentar e levantar da cadeira no período de 30 segundos envolve


mecanismos relacionado a função muscular e fatores complexos relacionados aos aspectos
comportamentais (CAWTHON et al., 2009; JONES, RIKLI, & BEAM, 1999). Segundo Gobbi
et al. (2005) a premissa de que manutenção de um estilo de vida ativo retarda os efeitos
biológicos negativos do envelhecimento preservando, se sustenta, preservando a autonomia do
idoso por meio da melhoria das qualidades físicas e da aptidão funcional. Tal conclusão também
pode ser observada nos resultados encontrados no presente estudo no teste Time-up-and-go
(TUG) onde foi observado que as mulheres tiveram um resultado positivo após as 16 semanas
de intervenção com exercício multimodal, diminuindo de 7,3s para 6,8s o tempo de realização
do teste.

No teste de “flexão de cotovelo”, não foram identificadas diferenças significativas entre


os momentos pré e pós-intervenção. Entretanto, sugere-se que a prática deste tipo de exercício
seja realizada com o objetivo de fortalecer a musculatura culminando, desta forma, em uma
melhora no desempenho de tarefas cotidianas. Costa, 2018, avaliou os efeitos de um programa
de exercícios resistidos sobre a força e resistência muscular de 14 idosos de ambos os gêneros
utilizando o teste de flexão de cotovelos da bateria de testes funcionais de Rikli e Jones (2013).
Os resultados apontaram que um programa de exercícios resistidos, realizados por um período
de dois meses foi capaz de melhorar ou manter a força muscular de membros superiores e
inferiores. Mazo et al. (2015), analisaram os valores normativos da bateria Senior Fitness Test
de idosas brasileiras praticantes de atividades físicas e compararam com os valores de
referências de idosas americanas e portuguesas, na variável “flexão de cotovelo” as idosas
brasileiras foram 13,5% melhores quando comparadas com as americanas.

Nos resultados referentes ao desempenho cognitivo (MEEM), foi verificado que após
16 semanas de intervenção utilizando exercícios multimodais, o nível de cognição apresentou
diferença significativa em relação aos valores pré-intervenção em ambos os sexos. Um estudo

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 223


de 24 semanas em 63 homens idosos sedentários sem demência ( pontuação no Mini
Mental>23) comparou um grupo de protocolo de exercícios de força com intensidade moderada
e de alta intensidade (resistência do corpo superior e inferior a 50% e 80% de 1 Repetição
Máxima-RM) a um grupo de controle. Ambos os grupos de exercícios apresentaram melhorias
em vários domínios cognitivos, bem como níveis aumentados de Insulin Growth Factor 1 (IGF-
1), que pode estar relacionado à preservação da função cognitiva (CASSILHAS et al. 2007).

Em relação aos exercícios aeróbicos e a função cognitiva, na última década houve um


crescimento no número de estudos de intervenção que investigaram os efeitos do exercício
aeróbico, de força e exercícios multicomponentes na saúde do cérebro e função cognitiva em
adultos (KIRK-SANCHEZ & MCGOUGH, 2014). Uma metanálise de 29 ensaios clínicos
randomizados, concluiu que os adultos submetidos a exercícios aeróbicos tiveram melhoras na
atenção, velocidade de processamento e memória (SMITH et al., 2010).

Um estudo feito com 18 mulheres e 11 homens (idade: 65,60 ± 5,66 anos), buscou
verificar os efeitos do treinamento físico sobre a ativação cerebral, utilizou-se como
procedimentos metodológicos a ressonância magnética, e o teste cognitivo de descriminação de
estímulos (Flanker Task). Com apenas 3 sessões por semana de caminhada (~40 – 70% da
Frequência Cardíaca Máxima - FCmáx) durante um período de 6 meses, foi possível identificar
que o grupo treinando mostrou redução de 11% no conflito de resposta na tarefa de
discriminação de estímulos e um aumento ativação cerebral na área de controle da atenção
(COLCOMBE et al. 2004).

Em 2019 um estudo avaliou o impacto do exercício físico sobre a função cognitiva de


370 idosos hospitalizados com 75 anos ou mais, distribuídos aleatoriamente nos grupos controle
e intervenção. As intervenções consistiam em um programa de treinamento físico
multicomponente realizado durante 5 a 7 dias consecutivos (2 sessões / dia). O programa de
treinamento fisico trouxe beneficios significativos, onde o grupo das intervenções apresentou
um aumento de 0,1m/s no teste de velocidade da marcha (TVM) em relação ao grupo controle,
bem como uma melhora no escore Trail Making Test (TMT-A) e noteste de fluência verbal
(SÁEZ DE ASTEASU et al., 2019).

Este estudo apresenta algumas limitações importantes, como um número baixo de


idosos que compuseram a amostra, o que impossibilita a extrapolação dos resultados verificados
para outras populações. Além disso, o instrumento de análise da capacidade funcional, apesar

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 224


de amplamente utilizado, também não permite uma análise mais profunda acerca dos níveis de
força e resistência muscular, bem como da capacidade cardiorrespiratória.

Todavia, importa salientar que este estudo poderá auxiliar e fornecer informações aos
profissionais de Educação Física ou profissionais na área da saúde acerca da relação dos
exercícios físicos e as funções cognitivas dos idosos. Por fim, o estudo apresenta informações
que podem servir como subsídio para futuras pesquisas científicas da mesma natureza.

CONCLUSÃO

Com base nos achados do presente estudo conclui-se que 16 semanas de treinamento
multimodal foram capazes de gerar incrementos significativos na cognição, tanto em homens
quanto em mulheres idosas.

Ademais, em relação à capacidade funcional, verificou-se que o teste de caminhada de


6 minutos apresentou diferença significativa apenas para participantes do sexo masculino. Nas
mulheres houve diferenças significativas apenas no teste LSC, “Sentado, caminhar 2,44m e
sentar”, e Caminhada de 6 minutos. Assim pode-se inferir que, exercícios multimodais podem
ser positivos na capacidade funcional e cognitiva de idosos.

Os dados apresentados nessa pesquisa, em concordância com outros estudos


evidenciados, podem contribuir para expandir os conhecimentos acerca da cognição e
capacidade funcional em idosos. Sugere-se novos estudos com outros delineamentos acerca da
temática.

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CAPÍTULO 18
A SAÚDE DOS SERVIDORES TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS EM EDUCAÇÃO:
UMA HISTÓRIA DE PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO
DOI: 10.47402/ed.ep.c202155718980
Giovana Rodrigues Dall’Apria, Mestre em Psicologia, Universidade Federal de Mato
Grosso
Alessandro Vinicius de Paula, Doutor em Administração, Docente do Departamento de
Psicologia/IE, Universidade Federal de Mato Grosso

RESUMO
Tomando como base um resgate histórico e uma contextualização sociopolítica da criação e
regulamentação da carreira dos servidores públicos Técnico-Administrativos em Educação
(TAE) das instituições federais de ensino brasileiras, apresentamos uma análise das relações
entre a carreira pública de TAE e a conjuntura política do Brasil. A análise dessa conjuntura
indica um potencial risco de agravos à saúde física e mental desses trabalhadores. Embora essa
categoria profissional represente quase 20% da força de trabalho ativa no âmbito do Poder
Executivo Federal, os servidores da carreira TAE ainda não recebem um devido cuidado. Tanto
na elaboração de normativas que visem assegurar o bem-estar, direitos e desenvolvimento
desses trabalhadores, quanto no âmbito da própria pesquisa acadêmica, a carreira Técnico-
Administrativa em Educação parece ter sofrido um apagão. A partir da análise do contexto
histórico de surgimento, desenvolvimento e constituição da identidade social da categoria TAE,
é possível notar que, desde seu implemento até os dias atuais, uma significativa transformação
do perfil desse servidor se processou. Algumas das dimensões dessa transformação parecem se
relacionar com os baixos salários, desinvestimento por parte do Estado brasileiro, baixo grau
de oportunidades de desenvolvimento na carreira e com uma desvalorização significativa que
se reflete na alta carga horária imposta e altos rendimentos esperados. Como consequência,
verifica-se servidores comprometidos com normas e tarefas, mas com tímidos vínculos
emocionais em relação à instituição em que trabalham e permanência na carreira.
PALAVRAS-CHAVE: Técnico-Administrativos em Educação (TAE's). Saúde Mental e
Trabalho. Serviço público brasileiro.

A partir da análise das relações entre o surgimento e o desenvolvimento da carreira


pública dos servidores Técnico-Administrativos em Educação (TAE), a conjuntura política do
Brasil, e os estudos científicos já realizados na área, observou-se potencial cenário para agravo
à saúde desses trabalhadores.

Cabe destacar que as discussões aqui apresentadas são uma versão resumida do debate
apresentado no estudo de Dall’Apria (2021), que realizou uma análise do nexo causal entre
atividade desenvolvida e doença ocupacional/afastamentos médicos de servidores ativos na

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 228


carreira dos Técnico-Administrativos em Educação de uma instituição federal de ensino
superior do Centro-Oeste do Brasil.

Os atravessamentos ideológicos contrários à preservação do serviço e servidor público


brasileiro, especialmente os atuantes nas Instituições Públicas de Ensino, constituem parte da
reflexão. Assim, apresenta-se, em sequência, uma breve discussão dos tópicos citados.

CARREIRA TÉCNICO-ADMINISTRATIVA EM EDUCAÇÃO: SURGIMENTO E


DESENVOLVIMENTO NAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO NO BRASIL

Examinando a história de surgimento da Carreira Técnico-Administrativa em Educação


nas Instituições Federais de Ensino no Brasil (IFEs), identifica-se que esta foi marcada por
vários movimentos paredistas em prol da afirmação da identidade dos servidores Técnico-
Administrativos em Educação (TAEs) como agentes do processo de formação do cidadão e da
construção do conhecimento (FASUBRA, 2013).

A efetiva implantação da carreira ocorrera em 2005, com a publicação da Lei nº 11.091,


de 12 de janeiro de 2005 (BRASIL, 2005), que firmou o Plano de Carreira dos Cargos Técnico-
Administrativos em Educação [PCCTAE] (FASUBRA, 2013). No entanto, anteriormente a sua
consolidação, estudos destacam que a carreira técnico-administrativa, própria das
universidades, já havia sido instituída, de maneira formal, pelo extinto Plano Único de
Classificação e Retribuição de Cargos e Empregos (PUCRCE), mas de forma desarticulada do
planejamento e desenvolvimento das instituições (LOUREIRO; MENDES; SILVA, 2017).

No decorrer do tempo, especialmente durante os anos de 2003 a 2012, e, posteriormente,


em 2015, verifica-se que os desafios enfrentados pelos TAEs retratam um contexto de
desinvestimento acentuado, que acarretaram prejuízos à qualidade de vida no trabalho dos
servidores e colaboraram para a formação de quadros de sofrimento e adoecimento no trabalho.
De 2003 a 2012, Loureiro, Mendes e Silva (2017) indicam um contraste entre o percentual de
ampliação de vagas discentes nas Instituições Federais de Ensino no País (111%), vagas
docentes (44%), número de universidades federais (31%) e corpo técnico-administrativo (16%).
Em análise dos dados indicados, é possível observar a insuficiente reposição de postos de
trabalho técnico-administrativo em relação ao elevado percentual de ampliação de vagas
discentes.

Em 2015, a Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em


Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (FASUBRA) registra a última greve

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 229


empreendida em prol da categoria, que, entre outros assuntos, envolveu o diálogo sobre ajustes
salariais e benefícios, como o auxílio saúde, auxílio pré-escolar e auxílio alimentação. A greve
se seguiu após outras já ocorridas em 2007, 2011, 2012 e 2014 (FASUBRA, 2015). Os termos
do acordo da greve de 2015 refletiram a desvalorização da categoria, que, desde então, não
obteve mais nenhuma revisão política de sua remuneração e benefícios.

Em 2020, por meio do exame ao Painel Estatístico de Pessoal do Governo Federal,


observou-se que do total de servidores ativos do Poder Executivo Federal no ano, no
país, 227.459 servidores (17,39%) eram do Plano de Carreira dos Cargos Técnico-
Administrativos em Educação (BRASIL, 2020). No entanto, apesar de representar quase 20%
da força de trabalho ativa no âmbito do referido Poder Executivo, a categoria ainda parece estar
relegada ao anonimato (RIBEIRO, 2011).

Isto porque tanto na elaboração de normativas que visem assegurar o bem-estar, direitos
e desenvolvimento desses trabalhadores, quanto no âmbito da própria pesquisa acadêmica, a
carreira Técnico-Administrativa em Educação parece ter sofrido um apagão. Paradoxalmente,
estes profissionais encontram-se atuantes dentro das Universidades e Institutos Federais,
instituições responsáveis por grande parte da produção científica no Brasil (UNIFESP, 2019).

A apatia do poder público em relação à carreira TAE parece estar tradicionalmente


fundamentada na “oneração” que o investimento na área da educação e valorização dos
trabalhadores poderia provocar sobre os cofres públicos. Por essas razões, os servidores ligados
ao PCCTAE não possuem um dispositivo legal que preveja uma Revisão Geral Anual de seus
vencimentos, nem uma data-base para repactuação de suas condições de trabalho junto ao
Governo. Adicionalmente, somam-se os dilemas próprios da Educação Superior no Brasil, que
vive um cenário de contradições decenário (FRANCO, 2008).

Os contornos históricos do surgimento dos Técnico-Administrativos em Educação


também contribuíram para fragilização de sua visibilidade e permanência no interior das IFEs.
Medeiros, Dantas e Silva (2017, p. 590) indicam que entre os anos 1970 e 1980 “(...) o trabalho
Técnico-Administrativo ficou restrito e somente vinculado às atividades-meio, como mero
apoio às unidades acadêmicas (...)” e que, posteriormente, não houve nenhuma contratação para
a categoria, tampouco reajustes salariais. Quase 50 anos depois, a conjuntura parece continuar
a mesma, marcada por uma escassez de recursos e interesse pelo poder público, e convicta de
que os profissionais permanecem realizando atividades de baixa eficiência.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 230


Como consequências do cenário, estudos identificam servidores com potencial para
sofrimento e adoecimento no trabalho (RIBEIRO, 2011), bem como pouco entusiasmados com
o serviço público (SILVA, 2019). Além dos desafios específicos da carreira, a conjuntura
política do Brasil, marcada pela tendência à privatização e estrangulação das carreiras públicas,
também se apresenta como fator possivelmente agravante dos quadros sofrimento psicológico
identificados na categoria.

SERVIÇO PÚBLICO BRASILEIRO: CONJUNTURA POLÍTICA E OS DESAFIOS


PARA AS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE ENSINO

Em análise ao cenário político que atravessou as universidades públicas brasileiras nos


últimos anos, Figueiredo (2017) indica que a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional
n. 55/16 (PEC 55/16), apontada como principal inciativa do governo de Michel Temer, que
estabeleceu o congelamento dos gastos públicos por um período de 20 anos, visava, além da
“desoneração” do governo com investimentos em políticas públicas, a especial liberação de
recursos para o financiamento da iniciativa privada no país. Com isso, além do ataque aos
direitos constitucionais dos trabalhadores, faz referência à ocorrência de inúmeros projetos em
tramitação no Congresso Nacional com o mesmo objetivo, afora a Reforma da Previdência, que
viria a provocar grandes perdas para todos os trabalhadores do país.

Referente à privatização das universidades públicas brasileiras, o autor ainda postula


que a questão “(...) assume traços complexos, pois, envolve uma continuidade política que
perpassa os governos de corte neoliberais, como Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso
(FHC), e incluem os de Lula da Silva e Dilma Rousseff, governos que têm sua origem no
processo de (re) democratização (...).” (FIGUEIREDO, 2017, p. 163).

Ainda na linha da privatização, o Banco Mundial (WB, 2019b), a partir do exame de


reformas administrativas direcionadas para o serviço público em outros países como Portugal
e França, defende, para o Brasil, a equiparação do salário do servidor público ao do empregado
do setor privado, ainda que, na iniciativa privada, a lógica reinante seja da exploração da mão-
de-obra em prol da acumulação flexível do capital (DRUCK, 2011).

Com base em dados relativos à folha de pagamento do setor público brasileiro e


informações relativas ao contexto de transição demográfica do país, o Banco Mundial sugere
uma série de reformas administrativas que racionalizem os gastos com pessoal nas esferas
federais e estaduais (WB, 2019b). De acordo com o Banco Mundial:

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 231


A maior flexibilidade dos contratos aplicada ao Brasil permitiria a adequação do
número de servidores ao contexto de transição demográfica e de avanços
tecnológicos. Com a queda da taxa de natalidade e envelhecimento da população, há
menor necessidade de reposição de servidores na área de educação e maior
necessidade de reposição na área de saúde. De acordo com o IBGE, nos próximos 20
anos, a população em idade escolar irá cair 10%, enquanto a população de idosos irá
aumentar mais de 82%. Quanto aos avanços tecnológicos, a automatização de
processos, a intensificação do uso de serviços digitais e o desenvolvimento de
aplicativos (de transporte, por exemplo) também irão alterar de forma
significativa a necessidade de reposição de servidores em determinadas áreas,
como motoristas, ascensoristas, telefonistas, entre outros. (WB, 2019b, p. 41).
(Grifo nosso)
As opções políticas orientam revisões/diminuições salariais, aumento do intervalo entre
as progressões e a diminuição do reajuste entre elas, redução da taxa de reposição de pessoal e
a reestruturação e diminuição do número de carreiras (WB, 2019a, 2019b).

Verifica-se, igualmente, a intenção de se substituir massivamente a mão-de-obra e os


postos de trabalho e de emprego dos servidores públicos pelos serviços digitais e em áreas
específicas, como a saúde em detrimento da educação. À propósito do desenvolvimento de toda
a tecnologia que viria amparar a não reposição de servidores, pode-se questionar de que forma
se dariam os avanços científicos e tecnológicos necessários para o alcance de tais metas se não
houvesse o devido investimento em educação.

Como consequências desse enredo, identifica-se uma gestão pelo medo, o sequestro da
subjetividade, desvalorização simbólica e coisificação das relações humanas (FRANCO,
DRUCK E SELIGMANN-SILVA, 2010). Como exemplo, pode-se citar estudo realizado sobre
indicadores de depressão no trabalho, em suma atrelados ao cenário de “flexibilidade e
desempenho” ao qual o mundo do trabalho vem sendo planejado, especialmente no âmbito da
educação no Brasil, em que Paula (2015), por meio de pesquisa realizada com professores do
magistério superior de duas universidades federais brasileiras, constatou que a precarização do
trabalho dos docentes investigados está associada a três elementos principais, definidos como
o “tripé da precarização do trabalho docente universitário”, sendo seus componentes: a)
o produtivismo acadêmico; b) o excesso de atividades burocráticas e trabalho administrativo;
c) as condições inadequadas de trabalho (PAULA, 2015).

No novo contexto de trabalho precarizado, os agravos à saúde aparecem, em maioria,


sobre a esfera subjetiva (LOUREIRO; MENDES; SILVA, 2017), e esse modo particular de
adoecer não se restringe aos servidores docentes, mas alcança muitos trabalhadores que, de
maneira geral, vivem uma precarização rápida de suas condições de trabalho nas Instituições
Federais de Ensino, entre os quais os Técnico-Administrativos em Educação.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 232


SAÚDE DOS SERVIDORES TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS EM EDUCAÇÃO:
EVIDÊNCIAS SOBRE AS CONSEQUÊNCIAS DA PRECARIZAÇÃO DO
TRABALHO

Como relatos de agravos à saúde dos servidores Técnico-Administrativos em Educação


(TAEs) das Instituições Públicas de Ensino, Faria, Leite e Silva (2017) apontam para um
desencantamento, pressão, sofrimento e afetação negativa da organização do trabalho
provocados pela visão negativa acerca do servidor público e pelos impedimentos políticos e
financeiros criados pelo próprio Estado e reformas administrativas, que se fundamentam em
uma lógica mercantilista.

Loureiro, Mendes e Silva (2017) citam a existência de condutas


patrimonialistas, rotatividade das chefias e influência política externa e interna – com destaque
para as relações de poder – como aspectos que influenciam o prazer-sofrimento
de TAEs das Instituições Federais de Ensino (IFEs). Lopes e Silva (2018) observam elevada
proporção de TAEs com sobrepeso/obesidade, que pode ser relacionada com a longa jornada
de trabalho exercida de maneira sentada; o que caracteriza trabalho sedentário.

Ribeiro (2011) compreende que é comum que essa ocupação de TAE se transforme em
um lugar de passagem; como um degrau na carreira dos concursos públicos. Outra razão
também identificada para a permanência apenas temporária em cargo da carreira Técnico-
Administrativa em Educação é a busca pela segurança propiciada pela estabilidade. Em
pesquisa com TAEs da Universidade Federal do Maranhão, observa que a oscilação do
mercado de trabalho privado incentiva a permanência dos servidores no quadro funcional,
apesar da baixa remuneração e baixa identificação com as atividades desenvolvidas em relação
divergente aos seus projetos de vida (RIBEIRO, 2011).

A autora identifica, ainda, que os servidores mais novos apresentam um desejo maior
de deixar a instituição, visto que, com esta, estabelecem “vínculos frouxos e transitórios”
(RIBEIRO, 2011, p. 43). Na contrapartida, observa que os mais antigos se revelam adaptados
ou até mesmo satisfeitos. Em análise às razões que levam a tal quadro, pondera que seja fruto
da incompatibilidade do perfil desses novos servidores com a demanda organizacional, somada
com a remuneração pouco atrativa e o baixo grau de oportunidade de desenvolvimento das
habilidades na carreira (RIBEIRO, 2011).

Resultado semelhante fora identificado por Silva (2019) em pesquisa com


servidores TAEs da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Segundo ele:

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 233


Com esse coletivo de servidores novatos, tanto na carreira de docente quanto na de
TAE, as diferenças de comportamento ficavam mais evidentes. O comprometimento
afetivo dos servidores com mais tempo de serviço, contrastava com o
comprometimento mais normativo dos novos servidores, e o entusiasmo de ser
servidor público era substituído pelo cumprimento de normas e de tarefas (SILVA,
2019, p. 19).
Em análise dos resultados da pesquisa, o autor identifica um baixo
comprometimento afiliativo entre os servidores TAEs da UFMT, o que indica uma certa
dificuldade de se criar ou fortalecer vínculos com outros trabalhadores da instituição. Segundo
o pesquisador, “(...) a base afiliativa trata de um sentimento de fazer parte da organização e de
se sentir membro da equipe, de ser reconhecido por todos na empresa como parte de um grupo”
(SILVA, 2019, p. 88). O cenário de desvalorização, desinvestimento, violência e intimidação
dos servidores públicos, especialmente os da área da educação, seriam os possíveis fatores de
influência dos resultados gerais (SILVA, 2019).

Outras consequências psicossociais desse contexto para os servidores públicos da


educação podem ser o adoecimento mental e mal-estar subjetivo, que afetam o corpo e podem
provocar distúrbios orgânicos, como os transtornos osteomusculares identificados na categoria
técnico-administrativa (OLIVEIRA; BARRETO, 2017).

Ainda sobre os TAEs, Ribeiro (2011), identifica número significativo de trabalhadores


com potencial subutilizados, normalmente colocados à margem dos processos de decisão,
funcionando como mero apoio às unidades acadêmicas.

O assédio moral no trabalho também é encontrado na literatura como motivo que leva
servidores TAEs a terem experiências com potencial adoecedor (LOUREIRO; MENDES;
SILVA, 2017). No entanto, conforme retratado, tal panorama de sofrimento não refletiria as
vivências dos servidores da carreira como um todo, visto que os mais antigos parecem
comprazerem-se mais com as atividades e relações interpessoais estabelecidas no âmbito
profissional (RIBEIRO, 2011; SILVA, 2019).

Tal cenário viera retratar o espaço de esquecimento que esses servidores por muito
tempo ocuparam, apesar de disporem, muitas vezes, de competências técnicas e
comportamentais de grau elevado. Em seus resultados de pesquisa com servidores públicos da
carreira PCCTAE, Ribeiro (2011) observa que esse cenário cria um terreno fértil para o
surgimento de estratégias defensivas, sofrimento patogênico, e, possivelmente, menor
engajamento e mobilização.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 234


CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com Druck (2011) o novo espírito do capitalismo seria caracterizado por uma
especulação financeira pautada na enfermidade, volatividade, curtos prazos e concorrência
desmedida, onde homens e mulheres se tornariam obsoletos e descartáveis em uma busca
incessante pela acumulação flexível. A flexibilidade almejada na remodelação do serviço
público se caracterizaria, assim, pelo trabalho precarizado, com pilares na terceirização,
subcontratação e trabalho part-time (ANTUNES; ALVES, 2004).

Esse tipo de trabalho surge como resultado de uma reestruturação produtiva marcada
por políticas neoliberais, processos de desindustrialização, privatizações e mutações
organizacionais e tecnológicas em que parcelas significativas de trabalhadores são expulsas do
mundo produtivo industrial (ANTUNES; ALVES, 2004).

Um dos recursos utilizados para viabilizar esse cenário se refere, segundo Druck (2011),
ao consentimento dos trabalhadores; que passam a acreditar que as transformações sociais do
trabalho são inexoráveis, e que a flexibilização é, portanto, uma fatalidade da qual não se pode
fugir (DRUCK, 2011). Configurada como estratégia de dominação, a precarização do trabalho
se apresenta em suas dimensões como a informalidade, a terceirização, a flexibilização da
legislação trabalhista, o desemprego, o adoecimento, os acidentes de trabalho, a perda salarial,
a fragilidade dos sindicatos e outras formas de vulnerabilidade social (DRUCK, 2011).

Dessa forma, no trabalho precarizado da segunda década do século XXI, verifica-se não
somente a expulsão de parcelas significativas de trabalhadores do mundo produtivo industrial
(ANTUNES; ALVES, 2004), mas também do serviço público brasileiro. Neste caso, seus
pilares se referem aos serviços digitais e desenvolvimento de aplicativos e ao contexto de
transição demográfica (WB, 2019b).

Com base nas reflexões de Franco, Druck e Seligmann-Silva (2010), a precarização


mostra-se em sua forma multidimensional, isto é, quando passa a alterar a vida dentro e fora do
trabalho, alcançando a saúde do trabalhador, podendo levar ao desgaste psíquico. No caso em
tela, pode-se observar que o novo espírito do capitalismo, marcado pela acumulação flexível
do capital (DRUCK, 2011) adentra o serviço público por meio do esfacelamento das carreiras
públicas, sobretudo em razão da diminuição do número de cargos e não reposição de vacâncias,
bem como por meio da imposição de uma lógica remuneratória que, além de enfraquecida,
sedimenta-se no mérito e desempenho.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 235


A substituição de força de trabalho humana por serviços digitais torna-se uma tônica e
o contexto de transição demográfica aparece como pretexto para a implementação de ideologias
políticas. Novamente, as questões ligadas à saúde do trabalhador não se tornam pauta no nível
preventivo e não são consideradas como fundamentais para o sustento e avanço da lógica que
se pretende implementar, que pode ser interpretada como estruturalmente assediante à
existência do serviço e servidor público brasileiro.

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de-Pessoas-e-Folha-de-Pagamentos-no-Setor-P%C3%BAblico-Brasileiro-o-Que-Os-Dados-
Dizem.pdf. Acesso em: 24 mai. 2020.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 238


CAPÍTULO 19
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE ASPECTOS GERAIS DA
HANSENÍASE POR AGENTES DE SAÚDE EM BELÉM-PA
DOI: 10.47402/ed.ep.c202158019980
Jean Marcos Souza da Silva, Graduando em Medicina, UFPA
Palmira Steffanny Rodrigues Castro, Graduando em Medicina, UFPA
Gabriel Silva Novais, Graduando em Medicina, UFPA
Ariane Lobato Moraes, Graduando em Medicina, UFPA
Núbia Rocha Marques, Graduando em Medicina, UFPA
Rodrigo Lima do Nascimento, Graduando em Medicina, UFPA
Fernando Rocha Pessoa, Graduando em Medicina, UFPA
Carla Andréa Avelar Pires, Doutora em Medicina, UFPA e Professora adjunto IV, UFPA

RESUMO
Introdução: A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo agente etiológico
Mycobacterium leprae, transmitida através de vias aéreas de doentes multibacilares sem
tratamento, desde que haja contato prolongado. Apresenta tropismo por células cutâneas e
nervos periféricos. Esta afinidade é elucidada na apresentação clínica: diminuição ou perda da
sensibilidade térmica, dolorosa e tátil e diminuição ou perda da força muscular nas
extremidades. O Agente Comunitário de Saúde (ACS) é um elo entre as necessidades de saúde
e a comunidade, desempenhando o papel de mediador social. Portanto, deve estar apto a abordar
a temática da hanseníase, assim como acompanhar e orientar usuários sobre o tratamento.
Objetivos: Avaliar o conhecimento de ACS sobre as formas de contágio, identificação da
doença, manifestações clínicas, avaliação neurológica simplificada e os tratamentos
preconizados para Hanseníase. Métodos: Trata-se de um estudo observacional e descritivo,
realizado em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e duas Estratégias de Saúde da Família
(ESF) em Belém-PA, comparando as respostas de um questionário de 10 questões sobre
características gerais da hanseníase aplicado para os ACS antes e depois de uma palestra
elucidativa. O estudo foi aprovado por Comitê de Ética. Resultados: O questionário foi
aplicado para 33 participantes em 3 ambientes de atenção básica distintos, na UBS Guamá e
nas ESF Parque Amazônia I e Terra Firme. Dezesseis dos questionários preenchidos antes da
palestra apresentaram 100% de acerto, oito apresentaram 90% de acerto, seis 80% e três 60%
ou menos. Após a palestra elucidativa abordando via de transmissão, manifestações clínicas,
classificação da doença, avaliação neurológica simplificada, reações hansênicas e vacinação, o
mesmo questionário foi aplicado. Vinte e seis apresentaram 100% de acerto, seis apresentaram
90% de acerto e um questionário 80% acerto, havendo um aumento de 30,3% de total acerto
em relação a antes de receberem o conteúdo. Conclusão: Devido à alta prevalência de
hanseníase no estado do Pará e pelo caráter de notificação compulsória da doença, é
imprescindível a constante atualização sobre a mesma. Notou-se impacto positivo da presente
pesquisa quanto ao oferecimento de informações atuais sobre a hanseníase e os aspectos gerais
da doença para os ACS.
PALAVRAS-CHAVE: Hanseníase. Atenção Básica. Agentes Comunitários de Saúde.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 239


INTRODUÇÃO

A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo agente etiológico


Mycobacterium leprae, com afinidade por células cutâneas e por células dos troncos nervosos
periféricos, que se instala no organismo da pessoa infectada, podendo se multiplicar e ocasionar
doença. Não distingue sexo ou faixas etárias, ou seja, a doença pode atingir pessoas de ambos
os sexos e todas as idades. O tempo de multiplicação do bacilo é lento, podendo durar, em
média, de 11 a 16 dias. Quando o tratamento não é instituído, pode provocar deformidades e
incapacidades físicas irreversíveis (BRASIL, 2020).

O homem é reconhecido como única fonte de infecção (reservatório), embora tenham


sido identificados animais naturalmente infectados. O bacilo possui alta infectividade e baixa
patogenicidade. A via de eliminação do bacilo e a porta de entrada são as vias aéreas e a
transmissão depende do contato prolongado com doente multibacilar sem tratamento.
(BRASIL, 2002).

A fim de propiciar operacionalidade de tratamento, os doentes são classificados de


acordo com a quantidade de lesões e a característica da baciloscopia, podendo ser paucibacilares
ou multibacilares. Os paucibacilares (PB) são aqueles que apresentam até cinco lesões de pele
e a baciloscopia de raspado intradérmico é negativo, quando disponível. Os multibacilares
(MB) são caracterizados pela presença de seis ou mais lesões de pele ou a baciloscpia de
raspado intradérmico positiva. Além disso, pode-se determinar os diferentes tipos de acordo
com a classificação de Madri (1953): hanseníase indeterminada (PB), tuberculóide (PB),
dimorfa (MB) e virchowiana (MB) (BRASIL, 2017).

A hanseníase indeterminada é a primeira fase da doença e todos os doentes passam por


ela, podendo ou não ser perceptível. A lesão notada é geralmente única, hipocrômica,
caracterizada por mácula, sem alteração de relevo e com limites mal definidos, havendo
diminuição ou perda da sensibilidade. Na forma tuberculóide da hanseníase, o sistema imune
do doente é capaz de destruir os bacilos espontaneamente, manifesta-se por placa anestésica ou
por placa com bordas papulosas bem delimitadas e centro livre de lesão. A dimorfa é
evidenciada por várias placas avermelhadas ou esbranquiçadas com bordas elevadas e mal
delimitadas, com hipoestesia ou anestesia. A forma virchowiana é a mais contagiosa, não são
observadas manchas visíveis, a pele apresenta-se avermelhada, seca, infiltrada, com aspecto de
“casca de laranja”. É comum, na evolução, o surgimento de pápulas e nódulos normocrômicos,
endurecidos e assintomáticos (BRASIL, 2017).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 240


Ao dar início a poliquimioterapia (PQT) preconizada para o tratamento da hanseníase,
composta pela associação dos medicamentos Rifampicina, Dapsona e Clofazimina, o doente
interrompe a transmissão, devido às primeiras doses inviabilizarem este processo. O
diagnóstico precoce, assim como o tratamento bem executado evitam a evolução da doença
(BRASIL, 2002).

Em 2019, o Brasil registrou 23.612 casos novos de hanseníase, sendo 78,2%


classificados como multibacilares. Dos casos novos diagnosticados, 1.319 diagnosticados
foram em pacientes menores de 15 anos de idade. A Unidade Federativa que mais diagnosticou
casos novos de hanseníase foi o Mato Grosso, em seguida Maranhão, Pará e Pernambuco com
mais de dois mil casos novos registrados em cada estado (BRASIL, 2020).

Segundo o Ministério da Saúde, é pela Atenção Básica de Saúde, dos milhares de


trabalhadores das ESF e dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) que o Departamento de
Atenção Básica (DAB) busca a eliminação da hanseníase como problema de saúde pública
(BRASIL, 2007). O ACS é um elo entre os objetivos das políticas sociais do Estado e os
objetivos próprios da comunidade; entre as necessidades de saúde e saber popular da
comunidade e o saber científico da equipe de saúde, desempenhando o papel de mediador social
(SANTANA et al., 2009).

O ACS deve estar capacitado para reconhecer os sinais e sintomas da doença, visto que
é ele o responsável por promover o vínculo entre a população e a Estratégia de Saúde da Família
(ESF) (CRUZ; ODA, 2009; BRASIL, 2007). A ESF é posta como o caminho que possibilita e
dá auxílio para o ACS desenvolver ações que abordem a temática da hanseníase, identificar a
doença, acompanhar e orientar usuários quanto ao tratamento; realizar busca ativa de faltosos;
desenvolver atividades educativas e de mobilização da comunidade, almejando uma vigilância
epidemiológica da hanseníase mais eficiente (BRASIL, 2002).

Em observância do caráter impactante que a Hanseníase possui no cenário da saúde


brasileira, é necessário que Agentes Comunitários de Saúde estejam aptos a identificar e
esclarecer para a população acerca da doença. O estudo objetiva avaliar o conhecimento de
Agentes Comunitários de Saúde sobre as formas de contágio, identificação da doença,
manifestações clínicas, avaliação neurológica simplificada e os tratamentos preconizados para
Hanseníase, doença de grande importância epidemiológica, bem como estimular estes agentes
a se tornarem multiplicadores de saberes.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 241


METODOLOGIA

Trata-se de um estudo observacional e descritivo conduzido na Unidade Básica de


Saúde do Guamá e nas Estratégias de Saúde da Família Parque Amazônia I e Terra Firme, em
Belém-PA, durante o período de outubro de 2020 a janeiro de 2021. A amostra foi integrada
por 33 agentes comunitários de saúde participantes da pesquisa dos referidos âmbitos de
atenção básica. Foram incluídos os ACS maiores de 18 anos e que tenham entregue o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) assinados. Foram excluídos os ACS que não
assinaram o TCLE, não preencheram o questionário por completo ou não participaram da
palestra.

A equipe de pesquisadores foi composta por graduandos do curso de Medicina da


Universidade Federal do Pará e uma docente orientadora médica dermatologista e
hansenologista. O formulário com dez perguntas objetivas (Figura 1) e apresentação em
diapositivos foram embasados nos manuais mais recentes sobre a hanseníase disponibilizados
pelo Ministério da Saúde. O formulário abordava características gerais sobre a doença, como
mecanismo de transmissão, manifestações sintomáticas, avaliação neurológica simplificada,
reações hansênicas, tratamento e prevenção. Todas as perguntas tinham duas opções a serem
marcadas: verdadeiro (V), caso o participante acreditasse que a afirmativa fosse condizente com
seu conhecimento e experiência ou falso (F), caso o participante julgasse a afirmativa como
errada.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Ciências da
Saúde da Universidade Federal do Pará sob o CAAE 39568420.2.0000.0018.

Figura 1: Formulário aplicado aos participantes da pesquisa. Belém-PA, 2020.


1 – A hanseníase é uma doença que se apresenta de forma aguda, ou seja, surge rapidamente e é causada
por vários microorganismos;

2 – A principal via de transmissão é através da água contaminada com o agente etiológico;

3 – A principal via de transmissão é através das vias aéreas (tosse, espirro e gotículas de saliva) de pessoas
infectadas por hanseníase, desde que haja um contato prolongado entre o doente e a pessoa saudável;

4 – O paciente com hanseníase pode apresentar alterações de sensibilidade da pele (temperatura e/ou dor
e/ou toque), assim como podem apresentar alteração motora (diminuição ou ausência de força nas mãos,
pés e dedos);

5 – Em todos os infectados por hanseníase, a apresentação da doença é somente uma lesão esbranquiçada;

6 – Na avaliação do acometimento da doença, além da avaliação da sensibilidade da pele, é necessário avaliar


a força muscular das mãos, pés e dedos;

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 242


7 – Ao iniciar o tratamento, o paciente deve ficar isolado até o final da última cartela (6 ou 12 meses);

8 – Os pacientes com hanseníase, dependendo da forma clínica que apresentam, podem apresentar períodos
que parece “piora” da doença e são conhecidos como estados reacionais ou reação hansênica;

9 – Os pacientes que iniciam o tratamento não devem ser orientados sobre o uso da medicação, pois não há
nenhum tipo de efeito adverso decorrente da terapia;

10 – A vacina BCG-ID deve ser administrada na infância e em contatos próximos de pacientes


diagnosticados com hanseníase.

Fonte: Protocolo de pesquisa, 2021.

RESULTADOS

Os resultados dos formulários preenchidos antes da palestra (Tabela 1) apontam para


as questões com maiores índices de erro, sendo a mais errada a primeira questão que aborda
sobre a evolução da hanseníase e indaga qual seria seu agente etiológico. Além disso, a quarta
pergunta, a qual se refere a manifestações clínicas da doença e a oitava, que remete a estados
reações, também denominados reação hansênica, mostraram considerável quantidade de erros.
A pergunta que foi respondida corretamente por todos os participantes no primeiro
preenchimento do formulário foi a nona, que questiona sobre a necessidade ou não de
orientação no início do tratamento. Em seguida, a quinta, que limita a hanseníase a apenas um
sinal clínico (mancha esbranquiçada) e a sétima, a qual debate “Ao iniciar o tratamento, o
paciente deve ficar isolado até o final da última cartela (6 ou 12 meses)”.

Dentre os 33 participantes da pesquisa, 16 responderam corretamente todo o


questionário antes da palestra elucidativa sobre hanseníase.

Tabela 1. Respostas das perguntas dos agentes comunitários de saúde da Unidade Básica de Saúde do Guamá e
das Estratégias de Saúde da Família Parque Amazônia I e Terra Firme antes da palestra. Belém-PA, 2021.
Pergunta N % N %

Verdadeiro (V) Falso (F)

1 - A hanseníase é uma doença que se


apresenta de forma aguda, ou seja, surge
rapidamente e é causada por vários 9 27,3 % 24 72,7%
microorganismos.

2 - A principal via de transmissão é através 6 18,1% 27 81,9%


da água contaminada com o agente
etiológico.

3 - A principal via de transmissão é através


das vias aéreas (tosse, espirro e gotículas de
saliva) de pessoas infectadas por hanseníase, 25 75,75% 8 24,25%

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 243


desde que haja um contato prolongado entre
o doente e a pessoa saudável.

4 – O paciente com hanseníase pode


apresentar alterações de sensibilidade da
pele (temperatura e/ou dor e/ou toque), 28 84,9% 5 15,1%
assim como podem apresentar alteração
motora (diminuição ou ausência de força nas
mãos, pés e dedos)

5 – Em todos os infectados por hanseníase, a


apresentação da doença é somente uma lesão
esbranquiçada. 4 12,1% 29 87,9%

6 – Na avaliação do acometimento da
doença, além da avaliação da sensibilidade
da pele, é necessário avaliar a força 24 72,7% 9 27,3%
muscular das mãos, pés e dedos.

7 - Ao iniciar o tratamento, o paciente deve


ficar isolado até o final da última cartela (6
ou 12 meses) 4 12,1% 29 87,9%

8 – Os pacientes com hanseníase,


dependendo da forma clínica que
apresentam, podem apresentar períodos que 21 63,6% 12 36,4%
parece “piora” da doença e são conhecidos
como estados reacionais ou reação hansênica

9 - Os pacientes que iniciam o tratamento


não devem ser orientados sobre o uso da
medicação, pois não há nenhum tipo de 33 100% 0 -
efeito adverso decorrente da terapia

10 - A vacina BCG-ID deve ser administrada 26 78,8% 7 21,2%


na infância e em contatos próximos de
pacientes diagnosticados com hanseníase.

Fonte: Protocolo de pesquisa, 2021.

Tabela 2. Respostas das perguntas dos agentes comunitários de saúde da Unidade Básica de Saúde do Guamá e
das Estratégias de Saúde da Família Parque Amazônia I e Terra Firme depois da palestra. Belém-PA, 2021.
Pergunta N % N %

Verdadeiro (V) Falso (F)

1 - A hanseníase é uma doença que se


apresenta de forma aguda, ou seja, surge
rapidamente e é causada por vários 3 9% 30 90,1%
microorganismos.

2 - A principal via de transmissão é através - 100%


da água contaminada com o agente
etiológico. 0 33

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 244


3 - A principal via de transmissão é através
das vias aéreas (tosse, espirro e gotículas de
saliva) de pessoas infectadas por hanseníase, 33 100% 0 -
desde que haja um contato prolongado entre
o doente e a pessoa saudável.

4 – O paciente com hanseníase pode


apresentar alterações de sensibilidade da
pele (temperatura e/ou dor e/ou toque), 33 100% 0 -
assim como podem apresentar alteração
motora (diminuição ou ausência de força nas
mãos, pés e dedos)

5 – Em todos os infectados por hanseníase, a


apresentação da doença é somente uma lesão
esbranquiçada. 0 - 33 100%

6 – Na avaliação do acometimento da
doença, além da avaliação da sensibilidade
da pele, é necessário avaliar a força 33 100% 0 -
muscular das mãos, pés e dedos.

7 - Ao iniciar o tratamento, o paciente deve


ficar isolado até o final da última cartela (6
ou 12 meses) 3 9% 30 90,1%

8 – Os pacientes com hanseníase,


dependendo da forma clínica que
apresentam, podem apresentar períodos que 29 87,9 4 12,1%
parece “piora” da doença e são conhecidos %
como estados reacionais ou reação hansênica

9 - Os pacientes que iniciam o tratamento


não devem ser orientados sobre o uso da
medicação, pois não há nenhum tipo de 0 - 33 100%
efeito adverso decorrente da terapia

10 - A vacina BCG-ID deve ser administrada -


na infância e em contatos próximos de
pacientes diagnosticados com hanseníase. 33 100% 0

Fonte: Protocolo de pesquisa, 2021.


Ao término da palestra e diálogo sobre a hanseníase, o mesmo formulário foi aplicado
aos agentes comunitários de saúde participantes da pesquisa (Tabela 2). Desta maneira, 26 dos
ACS responderam as perguntas com 100% de acerto. Houve aumento de 30,3% em relação a
antes de receberem o conteúdo (Tabela 3).

Tabela 3. Quantitativo de acertos e erros (%) dos formulários preenchidos por cada participante da pesquisa
antes e depois da palestra sobre aspectos gerais da hanseníase. Belém-PA, 2021.
Participante Acertos antes (%) Erros antes (%) Acertos depois (%) Erros depois (%)

1 100% - 100% -

2 100% - 100% -

3 100% - 100% -

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 245


4 100% - 100% -

5 100% - 100% -

6 100% - 100% -

7 100% - 100% -

8 100% - 100% -

9 100% - 100% -

10 100% - 100% -

11 100% - 100% -

12 100% - 100% -

13 100% - 100% -

14 100% - 100% -

15 100% - 100% -

16 100% - 100% -

17 90% 10% 100% -

18 90% 10% 100% -

19 90% 10% 100% -

20 90% 10% 100% -

21 90% 10% 100% -

22 90% 10% 100% -

23 90% 10% 100% -

24 90% 10% 100% -

25 80% 20% 100% -

26 80% 20% 100% -

27 80% 20% 90% 10%

28 80% 20% 90% 10%

29 80% 20% 90% 10%

30 80% 20% 90% 10%

31 60% 40% 90% 10%

32 50% 50% 90% 10%

33 40% 60% 80% 20%

Fonte: Protocolo de pesquisa, 2021.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 246


DISCUSSÃO

No total foram 10 questões aplicadas, os formulários plenamente respondidos foram


incorporados ao estudo, sendo observado que algumas questões apresentaram mais erros que
outras antes da palestra. A pergunta que apresentou o maior número de acertos foi “Os pacientes
que iniciam o tratamento não devem ser orientados sobre o uso da medicação, pois não há
nenhum tipo de efeito adverso decorrente da terapia”, que remete a necessidade de
acompanhamento do doente que inicia o tratamento da hanseníase. Mesmo sendo a primeira
aplicação do formulário, todos responderam corretamente, evidenciando que têm consciência
de que as orientações são essenciais para a adesão à terapêutica.

Foram duas perguntas com a segunda maior porcentagem de acerto na primeira


aplicação, a quinta e a sétima do formulário, ambas com 87,9% de acerto. A quinta pergunta
questionava sobre a apresentação clínica mais conhecida da hanseníase, a mancha hipocrômica,
generalizando o sintoma como único e exclusivo em todos os infectados, o que não condiz com
a gama de manifestações da doença. De acordo com Cruz e Oda (2009), a estimativa é de que
um quarto dos acometidos pela hanseníase pode apresentar algum grau de incapacidade física
ou deformidade, como consequência das lesões em nervos periféricos.

A sétima pergunta, também com 87,9% de acerto, remete o agente comunitário de saúde
a pensar sobre como orientar um paciente que acabou de ser diagnosticado e inicia o tratamento
para a hanseníase, explicando-o que pode levar uma vida normal “Ao iniciar o tratamento, o
paciente deve ficar isolado até o final da última cartela (6 ou 12 meses)”. Segundo Borenstein
e colaboradores (2008), os pacientes internados em Santa Catarina de 1940 à 1960, sofriam
discriminação pelo aspecto das lesões, privando-se da socialização. Atualmente, o paciente
infectado deixa de transmitir o bacilo a partir da primeira dose do esquema terapêutico, podendo
levar uma vida sem restrições por causa da doença.

Houve indagações com significativos erros. A pergunta com maior porcentagem de erro
(36,4%) referia-se aos estados reacionais ou reação hansênica, que são casos de
hipersensibilidade aguda que ocorrem na presença de antígenos do Mycobacterium leprae.
Podem surgir antes ou, mais repetidamente, durante e/ou após o tratamento específico com a
poliquimioteria (PIRES, 2013). Este elevado percentual de erros reflete a necessidade da
abordagem sobre o tema com mais frequência com a equipe de saúde.

Foram duas perguntas com a segunda maior porcentagem de erro, a primeira e a sexta
ambas com 27,3% de erro. A primeira diz respeito à patogênese e evolução da hanseníase, que

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 247


é transmitida pelas vias aéreas de pacientes multibacilares não tratados e causada pelo agente
etiológico Mycobacerium leprae. Além disso, possui caráter crônico de evolução, podendo
levar 6 meses a 5 anos para o aparecimento de manifestações clínicas (BRASIL, 2002;
ARAÚJO, 2003).

A sexta pergunta, também com 27,3% de erro, refere-se a avaliação da sensibilidade da


pele e da força muscular das extremidades, visando inferir o grau de comprometimento causado
pela infecção. A porcentagem de erro nesta indagação foi significativa, visto que esta avaliação
primária do acometimento da doença deve ser um conhecimento básico para toda a equipe de
saúde. Para que os municípios de regiões endêmicas possam assumir as ações de controle da
hanseníase, é necessário capacitar os profissionais da atenção básica em saúde (CRUZ; ODA,
2009).

Segundo Silva e colaboradores (2020), é fundamental que ocorra o diálogo entre a


equipe de saúde e o paciente no momento do diagnóstico e início de tratamento. Os profissionais
de saúde devem estar aptos a elucidar ao paciente em linguagem acessível sobre a patologia e
seu tratamento, facilitando o aceite do diagnóstico e o seguimento adequado do tratamento.

Não obstante, de acordo com Lourenço (2007), a educação em saúde assume papel
essencial para o diagnóstico precoce da hanseníase, prevenindo incapacidades físicas e
prejuízos na qualidade de vida. O oferecimento de informações atualizadas sobre a doença
reduzem o estigma e o preconceito causado pela infecção.

A segunda aplicação do questionário evidenciou o impacto positivo da palestra e do


diálogo com os agentes comunitários de saúde. O aumento de acerto total, ou seja, respostas
corretas em todas as perguntas do questionário foi de 30,3% comparado ao primeiro
questionário, antes da palestra, ressaltando a importância de trazer a discussão sobre o assunto
principalmente em um estado de alta endemia. A educação em saúde mostra-se prática
transformadora para o combate da hanseníase no Brasil e deve ser inerente a todas as ações de
controle da doença (BRASIL, 2002).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os agentes comunitários de saúde apresentaram dificuldade para responder


corretamente perguntas que indagavam sobre reações hansênicas, patogênese, evolução da
hanseníase e avaliação do acometimento da doença. Os profissionais demonstraram
conhecimento e consciência a respeito da importância das orientações no início e durante o

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 248


tratamento com a poliquimioterapia, além de que após iniciar o tratamento, o doente pode levar
uma vida sem restrições. Os participantes, em sua maioria, demonstraram ter ciência de que a
hanseníase não se limita a apenas um tipo de lesão. Após a palestra, houve aumento
significativo na porcentagem de acertos dos formulários, evidenciado o impacto positivo do
estudo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, G. M. Hanseníase no Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina


Tropical. v. 36, n. 3, p. 373-382, 2003.

BORENSTEIN, M. S. et al. Hanseníase: estigma e preconceito vivenciados por pacientes


institucionalizados em Santa Catarina (1940-1960). Revista Brasileira de Enfermagem, v.
61, n. esp, p. 708-712, 2008.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE.


Boletim Epidemiológico Hanseníase 2020. Secretaria de Vigilância em Saúde. Ministério da
Saúde, 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância


das Doenças Transmissíveis. Guia prático sobre a hanseníase. Ministério da Saúde. Secretaria
de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Brasília:
Ministério da Saúde, 2017.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia para o Controle da hanseníase. Brasília:


Ministério da Saúde, 2002. BRASIL. 2007.

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controle da hanseníase em um município do Noroeste do Paraná. Arquivos de Ciências da
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LOURENÇO, S. C. O papel do núcleo de educação em saúde nas estratégias pedagógicas


das ações de controle da hanseníase no estado de São Paulo. 2007. 115 f. Trabalho de
Conclusão de Curso (Especialização) - Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São
Paulo - Curso de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, São Paulo, 2007.

PIRES, C. A. A. Reações hansenicas em paceintes coinfectados com HIV/Hanseníase:


clínica e imunopatologia. Tese (Doutorado em Clínica das Doenças Tropicais) - Universidade
Federal do Pará, Núcleo de Medicina Tropical, Programa de Pós-Graduação em Doenças
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SANTANA, J. C. B. et al. Agente Comunitário de Saúde: percepções na Estratégia Saúde


da Família. Cogitare Enfermagem, Minas Gerais, v.14, n. 4, p.645-52, 2009.

SILVA, W. C. S. et al. A estigmatização da Hanseníase: Vivências dos pacientes tratados


em uma unidade básica de saúde. Brazilian Journal of Development. Curitiba. v. 6, n. 3, p
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Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 249


CAPÍTULO 20
TENDÊNCIA DO HIV/AIDS EM PESSOAS IDOSAS NO PARÁ
DOI: 10.47402/ed.ep.c202155120980

Jessica Silva Martinho, Mestra em Saúde na Amazônia, Enfermeira Responsável Técnica,


Unimed Belém
Luann Wendel Pereira de Sena, Doutor em Inovação Farmacêutica, Professor Assistente A,
UFPA
Maria Pantoja Moreira, Mestra em Assistência Farmacêutica, Coordenadora da Assistência
Farmacêutica, Secretaria Municipal de Saúde de Belém
Yuji Magalhães Ikuta, Doutor em Doenças Tropicais, Professor Assistente, UFPA

RESUMO
Introdução: Os primeiros casos da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS),
notificados a partir de 1980, estavam associados aos grupos considerados de risco para a
aquisição do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV): homens que fazem sexo com homens
(HSH), profissionais do sexo, hemofílicos e usuários de drogas. No início da epidemia, não se
categorizavam os idosos como vulneráveis e as campanhas de prevenção direcionadas a essa
população eram inexistentes. Ao longo das últimas décadas, o número de idosos vem crescendo
de maneira acelerada e esse estrato da população brasileira aumentou de 14,5 milhões para 20,6
milhões. Como estão vivendo mais e utilizando drogas que melhoram o desempenho sexual, os
idosos estão redescobrindo o sexo. Ao mesmo tempo, com a introdução do tratamento com
terapia antirretroviral (TARV), ocorreu o aumento da expectativa de vida, ou seja, os indivíduos
infectados estão envelhecendo com o HIV. O grande desafio é conhecer as características de
cada região para auxiliar na tomada de decisões quanto aos aspectos preventivos e de controle
da doença. Objetivo: Descrever a tendência da epidemia de HIV/AIDS em idosos no Estado
do Pará. Métodos: Trata-se de um estudo ecológico descritivo, transversal, com abordagem
quantitativa. A população foi constituída por notificações de indivíduos com AIDS, de idade
igual ou superior a 60 anos, residentes no Pará, no período de 2004 a 2014, disponíveis no
Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN). As variáveis utilizadas foram:
município; ano de diagnóstico; faixa etária; sexo; raça/cor; escolaridade; e categoria de
exposição hierarquizada. Foram consideradas como variável dependente (Y) os coeficientes
padronizados de incidência da AIDS e como variável independente (X) os anos calendário do
estudo. O nível de significância adotado foi de 95% (p<0,05). Resultados: O coeficiente de
incidência revelou que houve um constante crescimento na frequência, com pouca oscilação.
Os resultados demonstraram um total de 198 casos notificados, tendo a região metropolitana de
Belém a mais prevalente (58%). O gênero masculino foi o mais frequente (74,24%) e a faixa-
etária predominante ocorreu entre 60-69 anos (79,29%). A cor parda demonstrou o maior
número de infectados. Há um nível de ocorrência maior em idosos de baixa escolaridade e
heterossexuais. A tendência da HIV/AIDS em idosos no Pará apresentou uma reta crescente
desde 2004 a 2014; e um coeficiente de incidência de 4,5 casos por 100.000 habitantes em 2020.
Conclusão: A ocorrência da HIV/AIDS em pessoas idosas no Pará apresentou constante
crescimento no decorrer do período de dez anos de estudos, o que permitiu observar sua
tendência. Por isso, a informação e a quebra de tabu são importantes. É necessário que o
coletivo social e as equipes multidisciplinares de saúde estejam acessíveis à contemporaneidade

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 250


da tendência epidemiológica desta síndrome quanto ao acometimento de idosos, falando
abertamente sobre sexualidade e orientando as pessoas, independentemente da idade, sobre
todas as formas de prevenção.
PALAVRAS-CHAVE: HIV, AIDS, Idosos.

INTRODUÇÃO

O envelhecimento tem se tornado uma realidade da maioria das sociedades. Em países


desenvolvidos e em desenvolvimento, a população idosa é aquela que possui idade igual ou
superior a 65 e 60 anos, respectivamente. Até pouco tempo, o Brasil era considerado um país
jovem, mas ao longo da última década a população brasileira com idade igual ou superior a 60
anos aumentou de 14,5 milhões para 20,6 milhões, tornando-se até 2025, de acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS), o sexto país no mundo em número de idosos. Por isso,
deve-se preocupar com políticas públicas de saúde voltadas à população que envelhece
(ARAUJO LF, et al., 2018).

A população nessa faixa etária, geralmente apresenta alterações morfofuncionais que


conduzem a um processo contínuo e irreversível de decomposição orgânica. Essas variações
acontecem de acordo com cada indivíduo e suas características genéticas, do meio ambiente,
idade, dieta, ocupação e estilo de vida. Os fatores sociais também apresentam impactos diretos
sobre a saúde dos idosos. Todos esses fatores favorecem condições de fragilidade, muitas vezes
associada a uma doença crônico-degenerativa ou a comorbidades, provocando maiores
vulnerabilidades e aumentando os processos patológicos (GOMES BKA, et al., 2017;
NARDELLI GG, et al., 2016).

Dentre as doenças crônicas e infecciosas que acometem as pessoas idosas, tem-se


evidenciado um aumento na incidência da infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana
(HIV). A inexistência de campanhas para prevenção com o foco nas pessoas idosas é um dos
motivos para o aumento da incidência do HIV nessa população. Os idosos, por hábito ou por
falta de informações, negligenciam o uso de métodos preventivos, como os preservativos,
tornando-se mais vulneráveis a infecção. Além da maior exposição a situações de risco para a
infeção pelo HIV, podem ter um diagnóstico tardio da doença, pois os profissionais da saúde
os estigmatiza, desconsiderando que mantenham uma vida sexualmente ativa (AGUIAR RB, et
al., 2020; ARAUJO RCSN, NASCIMENTO DHCU, 2018).

O HIV é um retrovírus pertencente à família Retroviridae. Sua transmissão pode ocorrer


por via sexual, sanguínea, parenteral e acidental. Após a infecção, o vírus provoca redução

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gradual e constante de linfócitos T CD4+, fazendo com que o indivíduo infectado evolua para
a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). Os sintomas relacionados ao HIV são
difíceis de serem mensurados, e podem surgir algumas semanas após a infecção, manifestando-
se semelhante à gripe, podendo desaparecer espontaneamente. No entanto, mesmo com seu
desaparecimento, isso não significa que o vírus tenha sido eliminado e, em casos de indivíduos
assintomáticos, a ausência de sintomas pode durar por cerca de 10 anos – período de latência.
Normalmente, após o HIV provocar a AIDS, que é caracterizada por um grande
enfraquecimento do sistema imunológico, o indivíduo portador pode apresentar febre alta,
sudorese noturna, manchas vermelhas na pele, dificuldade para respirar, feridas na região
genital, perda de peso, problemas de memória, entre outros (BRASIL, 2019; CARVALHO AC,
et al., 2018).

No Brasil, o primeiro caso identificado de HIV/AIDS ocorreu nos anos de 1980,


apresentando uma rápida dispersão pelo país. A princípio, a doença acometia pequenos grupos:
homens que fazem sexo com homens, portadores de hemofilia, usuários de drogas injetáveis e
profissionais do sexo. Em seguida, tornou-se habitual em outros grupos populacionais, em todas
as camadas sociais, faixas etárias, gêneros e etnias. Nos dias de hoje, a infecção pelo HIV é
uma doença global que apresenta mudanças epidemiológicas significativas, evidenciando um
caráter pandêmico, dinâmico e instável (BRASIL, 2019; SILVA RA, et al., 2017).

Os dados de incidência do HIV/AIDS no Brasil seguem uma tendência mundial de


aumento. Segundo a OMS, se os casos continuarem crescendo na mesma constância, em 2030,
70% da população mundial com 60 anos ou mais estará com o vírus. Esse quantitativo pode ser
maior se forem considerados os idosos soropositivos ainda não notificados, conhecedores ou
não de sua condição sorológica, o que dificulta determinar o número exato de indivíduos
pertencentes a esse grupo etário que estão infectados com HIV. Essa condição se estabelece,
entre outros fatores, devido ao aumento do período de incubação da doença que, por sua vez,
está relacionada à introdução do tratamento com Terapia Antirretroviral (TARV) de alta
potência, além de reconhecer que os aprimoramentos dos recursos clínicos e laboratoriais
utilizados no seguimento dos pacientes e das medidas preventivas adotadas pelos programas de
controle da AIDS, mesmo que positivos, têm contribuído para essa realidade (KUNDRO MA,
et al., 2016; NARDELLI GG, et al., 2016).

Destaca-se, ainda, que muitos idosos que mantém comportamentos de risco não
procuram os serviços de saúde mais próximos à sua residência, pois temem encontrar pessoas

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conhecidas que podem “descobrir” seu diagnóstico. Assim, com vergonha e medo de serem
discriminados, acabam sendo subnotificados e sem tratamento adequado. Dessa forma, a
epidemia de HIV/AIDS se configura nas pessoas acima de 60 anos como um dos mais sérios
problemas de saúde pública, apresentando um grau elevado de morbidade e mortalidade
(MARTINHO JS, 2017).

Ressalta-se ainda que, em decorrência dos medicamentos para tratamento de disfunção


erétil, disponíveis no mercado a partir da década de 1990, ocorreu uma mudança no padrão
sexual dos homens idosos, proporcionando-lhes a intensificação da atividade sexual. Em
relação às mulheres, apesar de terem a frequência de relações sexuais diminuídas por ocasião
da menopausa, elas continuaram com atividade sexual ativa e encontram muitas dificuldades
em negociar o uso do preservativo com os parceiros. Mesmo diante dessa realidade,
profissionais da área da saúde ainda apresentam resistência em associar a AIDS aos idosos,
desvalorizando os processos de educação voltadas a essa população (BRASIL, 2017).

As mudanças que acontecem no sistema imunológico durante o processo de


envelhecimento do corpo, chamado de imunossenescência, por sua vez, é a principal causa por
trás do risco de os idosos terem uma infecção por HIV. Por isso, em idosos, a doença pode ser
ainda mais severa, pois a presença do vírus nessa população acelera o processo de
envelhecimento, assim, a imunidade, que costuma diminuir com o envelhecimento, pode ficar
ainda mais baixa com a presença do vírus. Em pessoas idosas, em geral, a transmissão ocorre
por via sexual e, com a desmistificação do sexo na terceira idade, os familiares e profissionais
de saúde devem atentar cada vez mais para as medidas de prevenção (CASTRO SS, et al., 2020;
NARDELLI GG, et al., 2016).

Mesmo com os avanços obtidos, no Brasil ainda há um grande número de pessoas não
diagnosticadas, problemas como dificuldades na adesão ao tratamento e uma heterogeneidade
epidemiológica. A cobertura de testagem do HIV ainda é insuficiente e diversas ações estão
sendo disparadas em busca de garantir não apenas a melhoria do acesso aos serviços de saúde,
mas também, qualidade no tratamento, porém, necessitam atingir os diversos níveis sociais
(CALIARI JS, et al., 2017).

Portanto, em decorrência da ampliação da expectativa de vida, facilitada pela descoberta


de novos casos nessa faixa etária e pela TARV, e diante do reconhecimento das mudanças no
padrão sexual dos idosos, conhecer as características de cada região é um importante passo para

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 253


a tomada de decisões quanto aos aspectos preventivos e de controle da doença (ALENCAR RB
e CIOSAK SI, 2016).

A Região Norte, mais especificamente o Estado do Pará, vem acompanhando essa


tendência de aumento da incidência observada no Brasil, mesmo a AIDS tendo uma baixa
incidência entre os idosos quando relacionada à outra faixa etária, percebe-se uma nova
veracidade da doença, contrariando a estimativa de redução do número de casos registrados nos
últimos anos, ocorrendo um aumento no número de casos em idosos, heterossexualidade da
epidemia e um discreto envelhecimento (MARTINHO JS, 2017).

Segundo dados apresentados pelo Ministério da Saúde (MS), o Pará ocupa o segundo
estado com maior número de mortes causadas por HIV no Brasil. Segundo a pesquisa, a falta
de informação e os descuidos são as principais causas da contaminação pelo vírus (MEDEIROS
RC, et al., 2017).

O envelhecimento relacionado ao diagnóstico de HIV/AIDS demonstra complexidade e


destaque para a compressão do processo saúde-doença na esfera individual e social. Portanto,
atribuir ações que envolvam a sexualidade e prevenção de Infecções Sexualmente
Transmissíveis (ISTs) na terceira idade se tornou um desafio para as políticas públicas de saúde.
Com base nestas informações, este estudo teve como objetivo descrever a tendência do
HIV/AIS em pessoas idosas no Estado do Pará.

ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DO HIV/AIDS

Após 30 anos desde o estabelecimento da pandemia da AIDS, a disseminação do HIV


ainda se configura como um dos maiores desafios de saúde pública no mundo. A OMS estima
que 36,7 milhões de pessoas estejam infectadas pelo HIV, e dessas, apenas 46% recebem a
TARV adequada para o controle da infecção. Apenas no ano de 2015, 2,1 milhões de pessoas
foram infectadas pelo vírus, enquanto 1,1 milhões de mortes relacionadas ao HIV foram
registradas (UNAIDS, 2016; WHO, 2016).

Em 2016, por ocasião da Declaração Política da Assembleia Geral das Nações Unidas
sobre o Fim da AIDS, um conjunto de países havia se comprometido com as metas propostas
— um deles, o Brasil. A meta 90-90-90 do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre
HIV/AIDS (UNAIDS) estabelecia que, desde 2015 até 2020, 90% das pessoas deveriam saber
seu estado sorológico; 90% destas deveriam estar em tratamento ininterrupto; e 90% delas
deveriam usufruir de tratamento capaz de fazê-las atingir a carga viral indetectável, ou seja,

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com supressão viral, pois se manteriam saudáveis e evitariam a propagação do vírus. Porém,
segundo os dados que constam no Boletim Epidemiológico de HIV/AIDS 2020, o país não
atingiu a meta (BRASIL, 2020; UNAIDS, 2016).

Atualmente, estima-se que cerca de 920 mil pessoas vivem com HIV no Brasil. Dessas,
89% foram diagnosticadas, 77% fazem tratamento com TARV e 94% destas que estão em
tratamento não transmitem o HIV por via sexual por terem atingido carga viral indetectável
(BRASIL, 2020).

A infecção pelo HIV e a AIDS fazem parte da Lista Nacional de Notificação


Compulsória de doenças (Portaria de Consolidação nº 4, de 28 de setembro de 2017), sendo
que a AIDS é de notificação compulsória desde 1986; a infeção pelo HIV em gestantes, desde
2000; e a infecção pelo HIV, desde 2014 - o que impede uma análise epidemiológica mais
rigorosa com relação às tendências da infecção no Brasil.

Segundo dados do MS, no período de 1980 a junho de 2018, foram notificados 982.129
casos de AIDS no país, com ampla distribuição em todo território brasileiro e maior predomínio
nas regiões Sul e Sudeste. As dimensões continentais do país fazem com que se estabeleçam
importantes diferenças regionais quanto ao perfil da epidemia (BRASIL, 2018).

O número de pessoas com idade acima de 60 anos infectadas com HIV tem aumentado
ano a ano, crescendo 103% entre 2007 e 2017. No mesmo período, em mulheres com mais de
60 anos, houve aumento de 21,2% dos casos. Essa é a única faixa etária em que a incidência de
mulheres com o vírus aumentou. Já na população masculina, ocorreu um crescimento de mais
de 30% de idosos com HIV (BRASIL, 2017).

Em 2019, foram diagnosticados 41.909 novos casos de HIV e 37.308 casos de AIDS,
com uma taxa de detecção de 17,8/100 mil habitantes, totalizando, no período de 1980 a junho
de 2020, 1.011.617 casos de AIDS no país. O Brasil tem registrado, anualmente, uma média de
39 mil novos casos de AIDS entre 2015 e 2019. A região Norte apresentou uma média de 4,5
mil casos ao ano (BRASIL, 2020).

A taxa de detecção de AIDS vem caindo no Brasil na última década. Em 2011, essa taxa
foi de 22,2 casos por 100 mil habitantes; e em 2019, chegou a 17,8. Em um período de dez
anos, a taxa de detecção apresentou queda de 17,2%. Em contrapartida, no estado do Pará, em
2009, a taxa de detecção de AIDS foi de 18,7 casos em 100 mil habitantes; em 2019 foi de 24,4
casos em 100 mil habitantes, representando um aumento de 46,5%, o segundo maior aumento

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na taxa do país, ficando apenas atrás do Acre, com 61%. Entre os maiores de 60 anos de idade,
a taxa de detecção de AIDS em 2009 foi de 11,6 casos em 100 mil habitantes; e de 12,2 em
2019 (BRASIL, 2020).

Outro dado preocupante se refere ao coeficiente de mortalidade relacionado à AIDS,


que cresceu significativamente no estado do Pará. Em 2019, o coeficiente de mortalidade
nacional foi 4,1 óbitos para cada 100 mil habitantes; no Pará, este coeficiente foi de 7,7, o maior
dentre todas as unidades federativas (UF). Entre os anos de 2009 e 2019, apresentou um
aumento de 26,2%, a terceira UF em número de óbitos por AIDS para cada 100 mil habitantes
(BRASIL, 2020).

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo ecológico, descritivo, transversal, com abordagem quantitativa,


tomando-se como unidade de análise o Estado do Pará.

O estudo foi constituído de todas as notificações de indivíduos com AIDS –


considerando que somente a partir de 2014 a infecção por HIV se tornou de notificação
compulsória –, com idade igual ou superior a 60 anos, residentes no Estado do Pará, no período
de 2004 a 2014. As variáveis tiveram como referência o conteúdo disponibilizado no Sistema
de Informações de Agravos de Notificações (SINAN) para HIV/AIDS, sendo elas: municípios,
ano de diagnóstico, faixa etária, sexo, raça/cor, escolaridade e categoria de exposição
hierárquica.

Os dados obtidos foram armazenados em planilha do software Microsoft Excel 2010,


organizados em categorias para os procedimentos estatísticos. A análise de tendência das taxas
de incidência da AIDS padronizadas por faixa etária e por sexo foram realizadas no software
SPSS 20.0, bem como as análises descritivas e de regressão linear simples. Foram consideradas
como variável dependente (Y) os coeficientes padronizados de incidência da AIDS e como
variável independente (X) os anos calendário do estudo (período de 2004 a 2014),
estabelecendo o nível de significância de 95% (p>0.05).

RESULTADOS

Os resultados apresentados na Tabela 1 demonstram o número de notificações de idosos


residentes no Estado do Pará com HIV/AIDS ao longo de 10 anos. Esse período apresentou um
total de 198 casos notificados. O maior registro ocorreu nos anos de 2010 e 2012, ambos, com

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27 casos, e o menor em 2014 com 7 notificações. A queda acentuada em 2014 decorre do fato
que nesse ano os dados disponíveis são apenas referentes ao primeiro semestre (até 30/06/2014).

As incidências em homens e mulheres oscilam durante todo o período, porém, sempre


se apresentam crescentes. A maior ocorrência foi de homens em 2010 (19 / 9,60%) e mulheres
no ano de 2012 (9 / 4,55%). As mulheres se mantiveram com baixa ocorrência entre 2004 a
2014 (Tabela 1).

Conforme mostra a Tabela 1, entre 2004 e 2014 os coeficientes de incidência


apresentaram, inicialmente, uma queda de 2,25 casos por 100 mil habitantes em 2004 para 1,87
casos por 100 mil habitantes em 2005; mas logo aumentaram significativamente, ano a ano,
passando de 1,87 casos por 100 mil habitantes para 5,05 casos por 100 mil habitantes; e os
homens apresentaram um coeficiente de incidência superior ao de mulheres em todo o período.

Tabela 1 - Número de casos e coeficiente de incidência geral e por sexo das notificações de HIV/AIDS no
Estado do Pará, no período de 2004 a 2014.
Sexo
Casos notificados
Masculino Feminino
Ano N % Coef. de N % Coef. de N % Coef. de
incidência* incidência* incidência*
2004 12 6,06 2,25 8 4,04 1,50 4 2,02 0,75
2005 10 5,05 1,87 8 4,04 1,50 2 1,01 0,37
2006 17 8,59 3,18 14 7,07 2,62 3 1,52 0,56
2007 17 8,59 3,18 13 6,57 2,43 4 2,02 0,75
2008 18 9,09 3,37 16 8,08 2,99 2 1,01 0,37
2009 19 9,60 3,55 16 8,08 2,99 3 1,52 0,56
2010 27 13,64 5,05 19 9,60 3,55 8 4,04 1,50
2011 22 11,11 4,12 17 8,59 3,18 5 2,53 0,94
2012 27 13,64 5,05 18 9,09 3,37 9 4,55 1,68
2013 22 11,11 4,12 14 7,07 2,62 8 4,04 1,50
2014 7 3,54 1,31 4 2,02 0,75 3 1,52 0,56
Total 198 100,0 8 4,04 4 2,02
*Por 100.000 habitantes.
Fonte: MARTINHO JS, 2017; MARTINHO JS, et al., 2021; dados extraídos do SINAN.
Em relação aos casos de HIV/AIDS por município, a Região Metropolitana de Belém
(RMB) apresentou 58% (114,84) de casos notificados e os outros 42% (83,16) foram
distribuídos em outros municípios do Estado do Pará (Gráfico 1).

Conforme apresentado no Gráfico 1, essa pequena diferença na concentração de casos


entre a RMB e outros municípios só passou a ocorrer a partir de 2010, sendo que a partir de
2011 ocorreram mais notificações provenientes de outros municípios do que da RMB.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 257


Gráfico 1 – Distribuição dos casos notificados de HIV/AIDS em idosos no Estado do Pará, segundo o município
de notificação, no período de 2004 a 2014 - RMB (Região Metropolitana de Belém) e outros (outros Municípios
do Estado do Pará).
RMB Outros
1
4 5
4 7
7 12
11 12 4
17

9
13 13
8 12
10 15
9 11 3
11

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Fonte: MARTINHO JS, et al., 2021; dados extraídos do SINAN.


Nota-se, no que diz respeito a idade, a faixa etária com maiores casos notificados de
HIV/AIDS foi de 60-69 anos, atingindo 11% dos casos nos anos de 2010 e 2012 e totalizando
79,29% das infecções no período estudado. A menor foi a faixa etária de idade igual ou maior
a 80 anos, com apenas 3,03% de casos notificados em todo período do estudo (Tabela 2).

Conforme a Tabela 2, na faixa etária entre 60 a 69 anos houve um pico no coeficiente


de incidência nos anos de 2010 e 2012 (4,30 e 4,12 casos por 100.000 hab.), no entanto, houve
uma queda em 2011 para esta categoria.

Tabela 2 - Distribuição dos casos notificados e coeficiente de incidência de HIV/AIDS em idosos no Estado do
Pará, segundo a faixa etária, no período de 2004 a 2014.
Faixa etária
60-69 70-79 >80
Ano
Coef. de Coef. de Coef. de
N % N % N %
incidência* incidência* incidência*
2004 12 6,06 2,25 0 0,00 0,00 0 0,00 0,00
2005 9 4,55 1,68 1 0,51 0,19 0 0,00 0,00
2006 12 6,06 2,25 3 1,52 0,56 2 1,01 0,37
2007 14 7,07 2,62 3 1,52 0,56 0 0,00 0,00
2008 12 6,06 2,25 5 2,53 0,94 1 0,51 0,19
2009 15 7,58 2,81 4 2,02 0,75 0 0,00 0,00
2010 23 11,62 4,30 3 1,52 0,56 1 0,51 0,19
2011 14 7,07 2,62 6 3,03 1,12 2 1,01 0,37
2012 22 11,11 4,12 5 2,53 0,94 0 0,00 0,00
2013 18 9,09 3,37 4 2,02 0,75 0 0,00 0,00
2014 6 3,03 1,12 1 0,51 0,19 0 0,00 0,00
Total 157 79,29 25 17,68 6 3,03
*Por 100.000 habitantes.
Fonte: MARTINHO JS, 2017; MARTINHO JS, et al., 2021; dados extraídos do SINAN.

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Para a variação raça/cor, duas categorias se destacaram, a branca e a parda, sendo que
esta última apresentou um aumento expressivo a partir de 2006 e tem significativa ocorrência
em todo o período de estudo, chegando a uma frequência de 21 indivíduos em 2013, contra
apenas uma ocorrência da cor branca e ausência nas demais categorias (Tabela 3).

Tabela 3 - Distribuição dos casos notificados de HIV/AIDS em idosos no Estado do Pará, segundo a raça/cor, no
período de 2004 a 2014.
Ano de Diagnóstico
Raça/Cor
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Total
Branca 2 2 3 4 5 0 4 1 1 1 1 24
Preta 0 1 0 2 1 1 1 2 2 0 0 10
Amarela 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Parda 8 6 14 10 10 13 16 18 20 21 6 148
Indígena 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1
Não
2 1 0 0 2 3 6 1 0 0 0 15
Notificada
Fonte: MARTINHO, JS, et al., 2021; dados extraídos do SINAN.
Com relação à escolaridade, o número de analfabetos no início do período eram dois e
tem sua maior ocorrência no ano de 2010, com quatro indivíduos. As categorias que englobam
de 1ª a 8ª são as de maior frequência, sendo que as 5ª a 8ª é a categoria que apresenta o maior
número de idosos. As menores frequências foram em escolaridades mais elevadas, com
destaque para aquelas que possuem nível superior (incompleto ou completo), apresentando
ausência de indivíduos em boa parte, no período do estudo (Tabela 4).

Tabela 4 - Distribuição dos casos notificados de HIV/AIDS em idosos no Estado do Pará, segundo a
escolaridade, no período de 2004 a 2014.
Ano de Diagnóstico
Escolaridade
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Total
ANALF 2 0 2 3 3 2 4 0 6 3 2 27
1ª a 4ª 3 2 3 1 2 5 5 5 3 4 2 35
4ª CP 0 0 2 0 1 0 3 2 2 2 0 12
5ª a 8ª 2 3 5 3 2 6 6 3 2 5 1 38
FUND C 1 0 0 2 1 0 2 2 2 2 0 12
MED. I 0 2 3 0 1 1 0 1 1 0 0 9
MED. C 0 0 0 2 1 1 1 0 2 3 1 11
SUP. I 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1
SUP. C 1 0 1 2 2 0 0 0 0 2 0 8
Não
0 3 1 2 5 3 4 5 1 0 0 24
Notificada
Legenda: ANALF – Analfabetos; 4ª CP – 4ª Completa; FUND. C – Fundamental Completo; MED. I – Médio
Incompleto; MED. C – Médio Completo; SUP. I- Superior Incompleto; SUP. C – Superior Completo.

Fonte: MARTINHO, JS, et al., 2021; dados extraídos do SINAN.

A categoria de exposição apresentou que os casos de HIV/AIDS em idosos


homossexuais no início do período eram ausentes, surgindo apenas uma ocorrência em 2006,
2007 e 2008. Os dados apontam um quantitativo de maior expressividade em 2012 e 2013, com
duas ocorrências. A bissexualidade esteve presente desde os primeiros anos do período,

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tornando-se ausente a partir de 2011. Os casos entre heterossexuais são predominantes durante
todo o período (Tabela 5).

Tabela 5 - Distribuição dos casos notificados de HIV/AIDS em idosos no Estado do Pará, segundo a
sexualidade, no período de 2004 a 2014.
Exposição Ano de Diagnóstico
ao HIV 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Total
Homos. 0 0 1 1 1 0 1 0 2 2 0 8
Bissex. 1 2 0 2 0 5 1 0 0 0 0 11
Heteros 11 7 14 14 15 11 18 20 18 20 7 162
Não
0 1 2 0 2 2 7 2 3 0 0 19
notificado
Legenda: Homos. – Homossexual; Bissex. – Bissexual; Heteros – Heterossexual.

Fonte: MARTINHO, JS, et al., 2021; dados extraídos do SINAN.

A análise de tendência geral foi feita pelo modelo de tendência linear (padrão), onde foi
construída uma linha reta de melhor ajuste, pois é utilizado com conjuntos de dados lineares
simples; equação linear possui o formato Y = bX + a, onde: Y é a previsão da demanda para o
período X; a é a ordenada à origem ou intersecção no eixo dos Y; b é o coeficiente angular; e
X o período (partindo de X = 0) para previsão.

Os coeficientes de incidência anteriormente apresentados serviram de base para esta


análise de tendência, que se inicia nos anos de 2004 a 2014. A partir dos coeficientes de
incidência foi traçada uma reta linear de tendência até 2020. Com esta projeção futura dos
dados, observa-se que permanece uma reta crescente mesmo com o declínio apresentado em
2014, decorrente da falta de dados no sistema.

Para a reta de tendência de 2014 a 2020, no início do período (2014) a reta mostra um
coeficiente de incidência aproximado de 4,0 casos de HIV/AIDS em idosos por 100 mil
habitantes. Com o crescimento de ano a ano, nos próximos 5 anos (2015-2020) foi projetado
para aproximadamente 4,7 casos por 100 mil habitantes.

Embora esse crescimento fique abaixo de picos dos coeficientes de incidência que
ocorreram em 2010 e 2012, a tendência se mostra acima de todos os demais coeficientes de
incidência de todo o período do estudo.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 260


Gráfico 2 - Tendência do HIV/AIDS em idosos, Pará, 2004-2020.
5.50
5.05 5.05
5.00
4.50 4.12 4.12
4.00 3.55
3.37
3.50 3.18 3.18
y = 0.1225x + 2.6331
3.00 R² = 0.1127

2.50 2.25
1.87
2.00
1.50 1.31

1.00
0.50
0.00
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Fonte: MARTINHO JS, 2017; MARTINHO JS, et al., 2021; dados extraídos do SINAN.

DISCUSSÃO

O número de pessoas vivendo com HIV/AIDS em idades avançadas vem crescendo no


mundo. Segundo Brega MP, et al. (2017), o número de indivíduos maiores de 50 anos vivendo
com HIV/AIDS triplicará nos próximos anos, passando de 3,1 milhões em 2011 para 9,1
milhões em 2040, mudando dramaticamente a composição etária da epidemia do HIV.

Conforme dados do Boletim Epidemiológico 2017 (BRASIL, 2017), o número de idosos


vivendo com HIV/AIDS no Brasil vem crescendo desde o ano de 2012. Neste estudo, observou-
se um crescimento da epidemia do HIV/AIDS em idosos no Estado do Pará a partir de 2004,
com uma aceleração de crescimento a partir de 2010. Foram identificados 198 casos notificados
entre os anos de 2004 a 2014, dos quais 74,24% foram do sexo masculino, corroborando com
os dados do MS, em que 65% das notificações em um período de 31 anos foram de indivíduos
do sexo masculino.

No estudo de Greco DB (2016), com dados oriundos do Distrito Federal, observou-se o


mesmo padrão de crescimento de notificações de HIV em idosos durante os anos de 1999 a
2009, assim como a predominância de indivíduos do sexo masculino. Em estudo realizado por
Nunes AA, et al. (2011), após análise de 208 prontuários de indivíduos portadores do
HIV/AIDS com idade de 50 anos ou mais, encontrou-se o número de 95 indivíduos (45,7%) do

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 261


sexo feminino e 113 (54,3%) do sexo masculino. Essa tendência também foi observada no
estudo de Toledo LS, et al. (2010), acometendo mais homens (62,4%) do que mulheres (37,6%).

Entretanto, foram observadas tendências de aumento no número de casos de HIV/AIDS


em mulheres acima de 60 anos. Em um estudo realizado entre os anos de 2006 e 2015, observou-
se que, entre as mulheres, a taxa de detecção apresentou aumento nas idades compreendidas
entre 55 a 59 e 60 anos e mais, representando 27% e 24,8% de aumento de 2006 para 2015,
respectivamente, corroborando com os achados deste estudo e com os dados do Boletim
Epidemiológico 2018, onde as mulheres idosas apresentaram um aumento de 21,2% de
diagnósticos de HIV/AIDS entre os anos de 2007 e 2017, representando uma (BRASIL, 2018;
SILVA SRA, et, al., 2018)

Quanto aos municípios de notificação, observou-se uma tendência maior na


concentração de casos na Região Metropolitana de Belém, comparados a outros municípios do
Estado do Pará. Essa distinção pode estar relacionada à densidade geográfica e elevados níveis
de pobreza característicos dos grandes centros urbanos. Além disso, de acordo com Gomes HN,
et al. (2019), as capitais do país possuem serviços clínicos mais especializados e condições de
diagnósticos e tratamento favoráveis para a doença, aumentando o número de casos registrados
e notificados. Contudo, há que se considerar que a população que vive fora dos centros urbanos,
no geral, é mais cautelosa e o preconceito ainda é um obstáculo considerável para realização do
teste anti-HIV, o que favorece uma maior procura em centros urbanos para efetivarem
diagnóstico e tratamento adequados.

Quanto à faixa etária, este estudo demonstrou maior incidência de HIV/AIDS na idade
de 60 a 69 anos, com 79,29% das notificações. Resultados semelhantes foram encontrados por
Ferreira TC, et al. (2015), onde 95% dos pacientes também possuíam esta idade. O aumento da
atividade sexual entre os idosos, o incremento de tecnologias que favorecem o prolongam o
desempenho sexual e a rejeição no uso de preservativos, são fatores que podem estar
cooperando para este novo perfil de pandemia. A idade mais avançada está significativamente
associada à sobrevida encurtada, sugerindo que fatores como a gravidade de doenças crônicas
comuns complicadas ou a capacidade de lidar com infecções graves, ao invés de padrão de
doença, são responsáveis pela diminuição do tempo de vida (SILVA RA, et al., 2017).

A estratificação dos dados conforme a raça/cor demonstrou maior predominância de


indivíduos pardos, em 71,71% das notificações, o que vai ao encontro de dados evidenciados
acerca da doença. Torna-se necessário destacar as características brasileiras e regionais, onde

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 262


dos dez estados brasileiros com maior população parda, cinco estão na Região Norte e o Estado
do Pará apresentou 72,9% de sua população dentro dessa categoria. O HIV é crescente em
populações mais vulneráveis socioeconomicamente, que neste caso, tem a raça parda em maior
proporção, comparada a raça branca (CARVALHO AC, et al., 2018).

No início da pandemia, os indivíduos que obtinham um maior grau de instrução eram


os maiores acometidos pelo HIV, no entanto, com o crescimento da doença, houve
transformações nesse padrão, atingindo atualmente pessoas com menor grau de conhecimento
(CONFORTIN SC, et al., 2017).

Neste estudo, a baixa escolaridade foi evidente, com predominância de idosos com
escolaridade até o fundamental completo. O baixo nível educacional é um indicador importante
para o aumento das taxas de idosos infectados, uma vez que as pessoas com menor escolaridade
tendem a assimilar a informação inadequadamente, contribuindo para uma baixa compreensão
da doença. A educação é uma variável importante da estratificação social. As pessoas idosas
que possuem baixa escolaridade são mais vulneráveis a infecções, incluindo o HIV. Além disso,
quanto mais elevado for o nível de conhecimento, maior será o grau de instrução e menores as
ocorrências de patologias como as ISTs (ALENCAR RA e CIOZAK SI, 2015).

Em relação à categoria de exposição, quanto à orientação sexual dos idosos envolvidos


nesta pesquisa, identificou-se um predomínio de indivíduos heterossexuais em todos os anos,
assim como, relatados em outros estudos (ABREL SR, et al., 2016; SOARES FN, et al., 2014;
SILVA SF, et al., 2010). A relevante transmissão heterossexual em pessoas mais velhas pode
ter como fatores predisponentes a resistência ao uso de preservativos e o advento de grandes
números de drogas farmacológicas facilitadoras da relação sexual.

A ascensão da Medicina, a inclusão de fármacos que agem na reposição hormonal e


medicamentos para impotência sexual, têm permitido que os idosos redescubram a vida sexual,
o que, por sua vez, contribui para o aumento de práticas sexuais inseguras, tornando-lhes mais
vulneráveis às infecções pelo HIV e outras ISTs (NARDELLI GG, et al., 2016).

A prática sexual é um fator importante para a manutenção da resposta sexual e o


interesse culmina em uma melhor qualidade de vida. Devido ao crescimento da infeção
provocada pelo HIV em pessoas idosas, os profissionais da saúde necessitam abordar assuntos
referentes à sexualidade, a fim de orientar essa população na prevenção e quanto a complicações
oriundas da AIDS. Por isso, existe a necessidade de estimular campanhas governamentais, para

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um correto direcionamento com a sexualidade na terceira idade e sua vulnerabilidade frente às
ISTs (CONFORTIN SC, et al., 2017).

Silva SRA, et al. (2018), corrobora os achados do estudo, levando em consideração o


diagnóstico tardio, sobretudo entre a população idosa; o envelhecimento da população, com
consequente maior risco de exposição; a proporção entre idosos (38,1%) ser três vezes maior
dentre as pessoas vivendo com HIV/AIDS em comparação à população de 18 a 24 anos
(11,9%); e o fato de, cerca de 100.000 pessoas em países de baixa e média renda com idade ≥
50 anos estarem propensas a adquirir o HIV a cada ano, confirmando-se a necessidade de incluir
as pessoas idosas em programas de prevenção, tratamento e controle para o HIV.

Na tentativa de reduzir os riscos de contrair o HIV, o MS incluiu à medidas preventivas


duas medicações que possuem o objetivo de evitar que o indivíduo com prática sexual
desprotegida recorrente e contraia e dissemine o vírus. A primeira refere-se à profilaxia pós-
exposição (PPE) e Profilaxia pré-exposição (PrEP), sendo que ambas não substituem a
camisinha (BRASIL, 2019).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As conclusões encontradas a partir desta pesquisa mostram que a ocorrência do


HIV/AIDS em idosos no Pará apresenta constante transformação no decorrer do período de dez
anos estudados, somando-se a isto mais cinco anos de projeção que recaem no período atual,
corroborando com o crescimento identificado nos dados do MS.

Os achados também corroboram para a relevante necessidade dos profissionais de saúde


abordarem a sexualidade com os idosos, com foco em realizarem educação sexual para redução
de comportamento de risco. Nesse sentido, obter estratégias a serem utilizadas pelos
profissionais da saúde no combate da infecção, se faz necessário, principalmente no que diz
respeito à adesão das medidas preventivas, como o uso de preservativos, onde na sua maioria,
são negligenciadas pela população idosa. Por isso, a informação e a quebra de tabu são
importantes, no sentido de sensibilizar a população da gravidade da doença.

Também é necessário fornecer informações relativas à prevenção combinada – quando


se faz uso simultâneo de diferentes abordagens de prevenção (biomédica, comportamental e
socioestrutural) aplicadas em múltiplos níveis (individual, nas parcerias/relacionamentos,
comunitário, social) – como forma de responder a essas necessidades específicas de idosos
quanto à transmissão do HIV.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 264


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CAPÍTULO 21
INTERNAÇÕES POR ANEMIA FERROPRIVA EM MULHERES DE MINAS
GERAIS
DOI: 10.47402/ed.ep.c202156221980

Camila Teles Gonçalves, Médica pelo Centro Universitário UNIFUNORTE,


Montes Claros MG
Mateus Augusto de Prince, Graduando em Medicina pelo Centro Universitário
UNIFUNORTE, Montes Claros MG
Carlos Eduardo Mendes D'Angelis, Doutor em Ciências Farmacêuticas, FCFRP-USP e
Professor do Departamento de Fisiopatologia da UNIMONTES, Montes Claros MG
Luçandra Ramos Espírito-Santo, Doutora em Ciências da Saúde, UNIMONTES e
Professora do Departamento de Saúde Mental e Coletiva da UNIMONTES, Montes Claros
MG
Jaqueline Teixeira Teles Gonçalves, Mestre em Cuidado Primário em Saúde, UNIMONTES
e
Professora do curso de Medicina e Enfermagem da UNIMONTES, Montes Claros MG
Dorothea Schmidt França, doutora em Ciências Biológicas-Fisiologia e Farmacologia pela
UFMG e Professora UNIFIPMoc / UNIMONTES, Montes Claros MG
Karina Andrade de Prince, Doutora em Biociências e Biotecnologia, UNESP e Professora
da UNIFIPMoc / UNIFUNORTE, Montes Claros MG

RESUMO
A anemia ferropriva é um importante distúrbio que afeta um terço da população mundial, tendo
como principais causas a ingesta restrita de alimentos que contenham o mineral, doenças
primárias que dificultam a absorção, debilidade no transporte do ferro, aumento da demanda ou
perdas por sangramentos. Este trabalho teve por objetivo analisar o perfil das internações por
anemia ferropriva em mulheres de Minas Gerais. Teve como universo de pesquisa o Sistema
de Informações Hospitalares do Sistema único de Saúde (SIH/SUS), disponibilizado pelo
Departamento de Informática do SUS (DATASUS), no endereço eletrônico
http://www2.datasus.gov.br, referente ao número e perfil clínico das internações em Minas
Gerais, no período de janeiro de 2008 a dezembro de 2020. Foram registrados um total de
10.141 casos de interações hospitalares por anemia ferropriva em mulheres de Minas Gerais,
com taxa de mortalidade média de 4,15. O número variou de 646 a 1.295, com uma média de
780 casos. Observou-se uma diminuição expressiva no número de casos entre 2008 e 2020
(45,9%), no entanto, a taxa de mortalidade aumentou. Houve um maior número de notificações
na região Sul (n. 2.581/25,4%) e Centro (n. 1.588/15,6%). No entanto, regiões com baixos
índices de internações (Nordeste e Centro Sul), apresentaram maiores taxas de mortalidade 6,4
e 6,33%. As internações predominaram, na faixa acima de 60 anos (n. 4.613/44,3%) e em
mulheres da cor/raça branca (n. 3.834/39,46%). Quanto ao caráter de atendimento, a maior parte
dos casos foram de urgência (n. 10.062/99,26%) e em regime privado (n. 5.243/64,93%). No
que diz respeito aos gastos, o valor total foi de 3.640.775,18 reais, com gasto médio de R$ 359
por internação. O número total de óbitos pela doença foi de 421, com média anual de 32 casos.
Ao analisar o número de óbitos e taxa de mortalidade de acordo com a faixa etária, esses foram
mais expressivos acima dos 60 anos. De acordo com os resultados do presente estudo, foi

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 268


possível detectar uma redução no número de internações por anemia ferropriva em mulheres de
Minas Gerais, no período analisado. No entanto, a taxa de mortalidade tem aumentado
principalmente entre as pacientes idosas. Diante disso, percebe-se a necessidade de estudos para
a otimização da prevenção, diagnóstico e tratamento, o que permitiria uma redução dos números
de internações e uma maior disponibilidade dos leitos de internações no Sistema Único de
Saúde.
PALAVRAS-CHAVE: Hospitalizações; Anemia Ferropriva; Perfil Epidemiológico
INTRODUÇÃO

A anemia ferropriva (AF) é a condição mais exacerbada da deficiência de ferro, que a


precede e a suplanta em prevalência. A rigor, a deficiência de ferro afeta todo o organismo, não
apenas a eritropoese e o transporte de oxigênio, uma vez que o ferro é constituinte de todas as
células e tecidos, como, por exemplo, os músculos, cuja proteína mioglobina também contém
o grupo heme (DE SANTIS, 2019).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a anemia ferropriva é


considerada uma desordem nutricional de elevada prevalência, afetando de 20% a 30% da
população mundial, sendo as mulheres, gestantes ou não, assim como as crianças, os grupos de
maior vulnerabilidade. Devido ao fluxo menstrual, as mulheres tendem a apresentar uma menor
quantidade de ferro no seu organismo em comparação ao sexo oposto e consequentemente
apresentam maior risco de desenvolver anemia, cuja prevalência varia de acordo com a faixa
etária, sendo a menacme, associada à maior incidência e por conseguinte à menorragia
(RODRIGUES; JORGE, 2010).

As causas da anemia por deficiência de ferro são múltiplas e geralmente envolvem


hábitos alimentares, perda da capacidade fisiológica de absorção do ferro, distúrbios
metabólicos ou distributivos, aumento da demanda do organismo ou a perda do mineral em si,
sendo assim, de etiologia multifatorial. Na mulher a principal causa seria a menorragia, que
acarretaria um transporte deficiente de oxigênio levando a uma hipóxia tecidual (RODRIGUES;
JORGE, 2010).

A anemia ferropênica se encontra no estágio mais avançado da desordem causada pela


deficiência de ferro, cuja evolução geralmente é lenta e progressiva, podendo ser percebida pela
baixa quantidade sérica de ferritina, associada ao quadro anêmico. No entanto, a depender da
etiologia subjacente que levou a depleção do ferro no organismo, a quantidade de ferritina sérica
pode variar, sendo valores abaixo de 12 nanogramas por mililitro de sangue, aqueles que
praticamente confirmam o diagnóstico (CANÇADO; CHIATTONE, 2010).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 269


O tratamento padrão é a suplementação de sal de ferro por via oral, na dose de 50-200
mg/dia de ferro elementar (o ferro elementar corresponde a 20% da massa do sulfato ferroso)
para indivíduos adultos. Em caso de intolerância ao sal de ferro oral ou por suposta ou
confirmada má absorção, pode-se administrar ferro por via parenteral (sacarato de hidróxido
férrico ou carboximaltose férrica) (DE SANTIS, 2019), fato que contribui para a hospitalização
dos portadores de anemia ferropriva.

O presente artigo teve por objetivo analisar o perfil das internações por anemia
ferropriva em mulheres do estado de Minas Gerais, no período entre 2008 e 2020.

MÉTODO

Trata-se de um estudo retrospectivo, descritivo, quantitativo, de base documental com


procedimento comparativo-estatístico. A amostra foi composta por todos as internações
ocorridas por anemia ferropriva em mulheres no estado de Minas Gerais, durante o período de
janeiro de 2008 a dezembro de 2020.

A coleta de dados ocorreu no mês de março de 2020 por meio da utilização do Sistema
de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), disponibilizados pelo Departamento de
Informática do SUS (DATASUS), no endereço eletrônico (http://www2.datasus.gov.br)
(BRASIL, 2020). As variáveis estudadas foram: as sociodemográficas (faixa etária e cor/raça)
e clínicas (número de internações por ano e região; caráter e regime de atendimento; taxa de
mortalidade; bem como os custos das internações).

Para análise estatística (análise descritiva e teste qui-quadrado) foi utilizado o software
Excel 12.0 (Office 2013) e o programa StatisticalPocckage for the Social Sciences (SPSS) para
Windows, versão 15.0 e Origin 7.1.

Tendo em vista que a pesquisa se baseou em dados disponibilizados em meio eletrônico


pelo Ministério da Saúde, sendo esses de domínio público e, pelo fato de haver sigilo acerca
das informações de identificação inerentes aos seres humanos envolvidos, esse estudo dispensa
a apreciação e a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa.

RESULTADOS

No período entre janeiro de 2008 a dezembro de 2020, foram registrados um total de


10.141 casos de interações hospitalares por anemia ferropriva em mulheres de Minas Gerais,
com taxa de mortalidade média de 4,15. O número variou de 646 a 1.295, com uma média de

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 270


780 casos. Observou-se uma diminuição expressiva no número de casos entre 2008 e 2020
(45,9%), no entanto, a taxa de mortalidade aumentou em 2010, 2015, 2017 e 2020 (Figura 1).

Em referência a distibuição das internações por anemia ferropriva em mulheres de


acordo com as macrorregiões de saúde de Minas Gerais, verifica-se um maior número de
notificações na região Sul (n. 2.581/25,4%) e Centro (n. 1.588/15,6%). No entanto, regiões com
baixos índices de internações (Nordeste e Centro Sul), apresentaram maiores taxas de
mortalidade 6,4 e 6,33% respectivamente (Figura 2).

Figura 1. Número de internações por anemia ferropriva em mulheres de Minas Gerais, 2008 a 2020.

Fonte: Sistema de Informações Hospitalares do SUS – SIH/SUS

Figura 2. Número de internações e taxa de mortalidade por anemia ferropriva em mulheres de acordo com as
macrorregiões de saúde de Minas Gerais, 2008 a 2020.

12,000 10,141 7
6.33 6.25 6.4 6
10,000 5.87 5.53 5.36
8,000 4.83 5
4.27 4.15 4
6,000 3.56 3.72 3.39 3.87
3
4,000 2,581 2.52 1.94
379 1,588 2
128 528 211 1,033 1,111 318 414 453 253 783
2,000 361 1
0 0

INTERNAÇÃO TAXA DE MORTALIDADE

Fonte: Sistema de Informações Hospitalares do SUS – SIH/SUS


Em relação aos dados sociodemográficos e clínicos das pacientes, nota-se, o predomínio
das internações na faixa acima de 60 anos (n. 4.613/44,3%) e em mulheres da cor/raça branca
(n. 3.834/39,46%). Quanto ao caráter de atendimento, a maior parte dos casos foram de urgência

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 271


(n. 10.062/99,26%) e em regime privado (n. 5.243/64,93%). No que diz respeito aos gastos, o
valor total foi de 3.640.775,18 reais, com gasto médio de R$ 359 por internação, dos quais
34,74% foram destinados às internações em regime privado (Tabela 1).

Tabela 1: Dados sociodemográficos e clínicos das pacientes internadas por anemia ferropriva em Minas
Gerais, 2008 a 2020.

Variáveis N %

Faixa etária
Menor de 1 ano 151 1,55
1 a 4 anos 283 2,86
5 a 9 anos 85 0,93
10 a 14 anos 162 1,57
15 a 19 anos 374 3,93
20 a 29 anos 737 7,64
30 a 39 anos 1.009 10,13
40 a 49 anos 1.653 16,36
50 a 59 anos 1.074 10,70
60 a 69 anos 1.219 11,59
70 a 79 anos 1.632 16,16
80 anos e mais 1.762 16,52
Cor/Raça
Branca 3.834 39,46
Preta 686 6,66
Parda 2.979 27,74
Amarela 11 0,75
Indígena 13 0,16
Sem informação 2.518 25,20
Caráter de atendimento
Eletivo 79 0,74
Urgência 10.062 99,26
Regime
Público 1.317 16,31
Privado 5.243 64,93
Ignorado 3.581 18,76
Gastos
Público 509.589,17 18,10
Privado 1.734.964,42 61,64
Ignorado 1.396.221,59 20,26
Fonte: Sistema de Informações Hospitalares do SUS – SIH/SUS
O número total de óbitos pela doença foi de 421, com média anual de 32 casos. Os anos
de 2008 a 2010 detiveram os maiores números, devendo lembrar que nesses anos houve também
os maiores números de internações.

Ao analisar o número de óbitos de acordo com a faixa etária, esses começaram a ocorrer
de forma mais expressiva a partir da faixa de 20 a 29 anos, aumentando progressivamente até
atingir seu pico na faixa etária com maior número de internações, acima dos 80 anos (28,61%).
Entretanto, a taxa de mortalidade apresenta oscilações em função da faixa etária, sendo mais
expressiva também acima dos 80 anos (7,43%) (Figura 3).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 272


Figura 3: Taxa de mortalidade e óbito por anemia ferropriva em mulheres de acordo com a faixa etária. Minas
Gerais, 2008 a 2020.

Fonte: Sistema de Informações Hospitalares do SUS – SIH

DISCUSSÃO

A anemia por deficiência de ferro (ADF), afeta pessoas de todas as idades em todo o
mundo, em países desenvolvidos ou em desenvolvimento, sendo considerada um problema de
saúde pública pela Organização Mundial de Saúde (WHO, 2001).

Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, em torno de 20% a 35% das mulheres
não gestantes têm ADF, principalmente por perdas menstruais ou inadequada ingestão ou
absorção do ferro (SILLA et al., 2013), fatores que podem contribuir para hospitalização dos
pacientes acometidos.

Os resultados do presente estudo evidenciaram que no período de janeiro de 2008 a


dezembro de 2020, em Minas Gerais, ocorreram cerca de 10.141 casos de internações por ADF,
com média anual de internações de 780 casos e um decaimento expressivo (45,9%), no número
ao longo do período avaliado. Sendo que, o maior número de internações ocorreu em 2008, fato
também relatado pelo estudo realizado por Sousa Junior et. al. (2019), em Goiás. Tais achados
merecem atenção, uma vez que a ADF pode reduz a qualidade de vida dessa população, com
consequências à saúde como: redução na capacidade de trabalho, fadiga, sentimento de
insegurança e irritabilidade (OLIVEIRA et al., 2002; BEZERRA et al., 2018).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 273


Assim, a identificação de fatores de risco e da doença em seu estágio inicial e o
encaminhamento ágil e adequado para o atendimento especializado são essenciais para um
melhor resultado terapêutico e prognóstico dos casos, podendo contribuir para a redução do
número de internações pela doença.

É possível observar através do presente estudo que as regiões Sul (n. 2581) e Central (n.
1588), foram as que apresentaram um maior número de internações. O alto número de
internações por ADF nessas macrorregiões podem ser interpretadas pelo maior volume
populacional, associado há um maior número de leitos, estrutura e complexidade de
atendimento à saúde existentes nestas áreas. No entanto, é fundamental a compreensão dos
fatores de risco em cada população para que se possam oferecer medidas eficazes de prevenção
e controle.

Quanto às internações por faixa etária, observou-se maior frequência entre pacientes
com idade acima de 60 anos (44,3%), semelhante a taxa encontrada no estudo de Fernandes et.
al. (2020) e de Souza Junior et. al. (2019). No entanto, divergentes dos resultados encontrados
por FABIAN et. al. (2007) no Rio Grande do Sul. A ADF na população idosa está relacionada
ao péssimo estado nutricional, que contribuí ao intenso acesso aos sistemas de saúde e
consequentemente as hospitalizações.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) mais de dois bilhões de pessoas
no mundo estavam acometidas por anemia no ano de 2015, contudo a anemia é o problema
hematológico mais comum identificado em pessoas idosas, por isso é importante a prevenção
da anemia para evitar consequências, como a redução da qualidade de vida dessa população
(BUFFON et al., 2015).

Em relação a raça, observa-se um predomínio da doença entre mulheres da cor branca


(39,46%), como no estudo realizado por de Fernandes et. al. (2020) (33,45%). Contudo, no
estudo de Bezerra et al. (2018), houve predomínio entre mulheres pardas (68,3%) e no de
Fabian et al. (2007) em mulheres negras (53,8%). Assim, a diferença étnica na prevalência de
anemia tem sido evidenciada em alguns estudos e essas diferentes podem estar relacionadas ao
fato de o país apresentar uma intensa miscigenação racial.

Em relação ao caráter das internações, nota-se uma prevalência do caráter de urgência


em relação ao de eletivo, representando 99,26% dos casos. Observando o regime das
internações, foi percebido que o maior número ocorreu em regime privado, sendo responsáveis
por 64,93%, de todas as internações. A deficiência de ferro (DF) em adultos e mulheres

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 274


menopausadas é incomum, representando, na maior parte das vezes, um sinal secundário
relacionado a algum tipo de sangramento. Portanto, situações cuja intensidade da anemia
compromete a qualidade de vida e coloca em risco a sobrevida do paciente, a administração de
ferro e eritropoetina por via parenteral, bem como a transfusão de concentrado de hemácias
pode ser necessária, especialmente nos pacientes mais idosos e nos pacientes com neoplasias
(CANÇADO; LOBO; FRIEDRICH, 2010; ZALTIMAN; COSTA, 2010). Fato esses, que
tendem a contribuir para o aumento do número de internações, principalmente em caráter de
urgência e em unidades de saúde com melhores medidas intervencionistas.

No presente estudo, verifica-se, que no período de treze anos, o estado de Minas Gerais
gastou R$ 3.640.775,18 reais, com gasto médio de R$ 359 por internação relacionado a anemia
ferropriva. Um estudo realizado na Bahia por Martins e Teixeira (2017), com pacientes
internados por anemia falciforme, destacou um gasto total em 7 anos de R$ 2.894.556,63, e
médio de R$ 357,8 por internação. Apesar de não se tratar da mesma patologia, percebe-se que
o valor médio dos gastos das internações por anemia falciforme e por anemia ferropriva se
assemelham. A forma de análise financeira utilizada pela AIH e pelo SIH/SUS é uma condição
limitante das informações do sistema, que se baseia em características de bancos de dados
administrativos em geral (MARTINS; TEIXEIRA, 2017).

Percebe- se uma grande variação nas taxas de mortalidades por macrorregiões de saúde
de Minas Gerais, com destaque para as regiões Nordeste (6,4) e Centro Sul (6,33), com taxas
que ultrapassam a média estadual (4,15). Estudos também têm demonstrado que pessoas com
pior condição socioeconômica e escolaridade mais baixa estão mais propensas a apresentar
maior morbimortalidade pela doença, por conta do menor acesso a uma alimentação adequada
e variada, bem como tratamentos intensivos (MACHADO et al., 2019).

O número total de óbitos pela doença foi de 421, com média anual de 32 casos. Ao
analisar o número de óbitos e taxa de mortalidade de acordo com a faixa etária, esses são mais
expressivos acima dos 60 anos. A anemia em idosos é um problema comum, com aumento da
prevalência a cada década, estando associada a incapacidades, pior função cognitiva e aumento
da morbidade e mortalidade. Além disso, condições crônicas que afetam grandemente a
população idosa, como câncer e doença renal crônica, podem resultar em anemia e levar a um
pior prognóstico. Assim, a anemia em indivíduos mais velhos requer maior atenção da saúde
pública, não apenas por sua alta prevalência, mas também por suas potenciais consequências
para a saúde (MACHADO et al., 2019).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 275


CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os resultados do presente estudo, foi possível detectar uma redução no
número de internações por anemia ferropriva em mulheres de Minas Gerais, no período
analisado. No entanto, a taxa de mortalidade tem aumentado principalmente entre as pacientes
idosas.

Apesar do número de internações ter diminuído, os dados apresentados no DATASUS


podem estar subnotificados, visto que a anemia ferropriva não é considerada uma doença de
notificação compulsória. Investimentos na educação continuada de profissionais de saúde são
importantes para a capacitação e consequente melhoria dos sistemas de informação que fazem
parte do Sistema Único de Saúde.

Diante disso, percebe-se a necessidade de estudos para a otimização da prevenção,


diagnóstico e tratamento, o que permitiria uma redução dos números de internações e uma
maior disponibilidade dos leitos de internações no Sistema Único de Saúde.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Informática do SUS. Sistema de Informações


Hospitalares do SUS (SIH/SUS). Brasília: Ministério da Saúde, 2020. Disponível em:
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sih/cnv/nimg.def, acesso em: 01 abril de 2020.

BEZERRA, Adriana Guimarães Negromonte et al. Anemia e fatores associados em mulheres


de idade reprodutiva de um município do Nordeste brasileiro. Rev. Bras. Epidemiol., São
Paulo, v. 21, e180001, 2018.

BUFFON, Pedro Luis Dinon et al. Prevalência e caracterização da anemia em idosos atendidos
pela Estratégia Saúde da Família. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., Rio de Janeiro, v. 18, n. 2, p.
373-384, 2015.

CANCADO, Rodolfo D.; CHIATTONE, Carlos S. Anemia ferropênica no adulto: causas,


diagnóstico e tratamento. Rev. Bras. Hematol. Hemoter., São Paulo, v. 32, n. 3, p. 240-246,
2010.

CANCADO, Rodolfo D.; LOBO, Clarisse; FRIEDRICH, João Ricardo. Tratamento da anemia
ferropriva com ferro por via parenteral. Rev. Bras. Hematol. Hemoter., São Paulo, v. 32, supl.
2, p. 121-128, 2010.

DE SANTIS, Gil Cunha. Anemia: definição, epidemiologia, fisiopatologia, classificação e


tratamento Anemia: definition, epidemiology, pathophysiology, classification, clinical picture,
and treatment. Medicina, Ribeirão Preto, v. 52, n. 3, p. 239-51, 2019.

FABIAN, Cristina et al. Prevalência de anemia e fatores associados em mulheres adultas


residentes em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de
Janeiro, v. 23, n. 5, p. 1199-1205, 2007.

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FERNANDES, J F. et al. Análise epidemiológica das internações por anemia Ferropriva no
Brasil. Hematol. Transfus. Cell Ther, v. 42, Suppl. 2, p. 18-19, 2020.

MACHADO, Ísis Eloah et al. Prevalência de anemia em adultos e idosos brasileiros. Rev.
Bras. Epidemiol., Rio de Janeiro, v. 22, supl. 2, E190008, 2019.

MARTINS, Maísa Mônica Flores; TEIXEIRA, Martha Carvalho Pereira. Análise dos gastos
das internações hospitalares por anemia falciforme no estado da Bahia. Cad. Saúde Colet., Rio
de Janeiro, v. 25, n. 1, p. 24-30, 2017.

OLIVEIRA, Rejane Santana de et al. Magnitude, distribuição espacial e tendência da anemia


em pré-escolares da Paraíba. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 36, n. 1, p. 26-32, 2002.

RODRIGUES, Lilian P.; JORGE, Silvia Regina P F. Deficiência de ferro na gestação, parto e
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population in southern Brazil. PLoS One, v. 8, n. 7, e68805, 2013.

SOUSA JUNIOR, Vilson Rodrigues et al. Internações devido a anemia Ferropriva de acordo
com a faixa etária, em Goiás entre 2008 e 2018. Rev. Edu. Saúde, Anápolis, v. 7, supl. 3, p.
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WHO. World Health Organization (WHO). Iron deficiency anaemia: assessment,


prevention, and control: a guide for programme managers. Geneva: WHO 2001.

ZALTMAN, Cyrla; COSTA, Marcia HM. Deficiência de ferro nas afecções gastrointestinais
do adulto. Rev. Bras. Hematol. Hemoter., São Paulo, v. 32, supl. 2, p. 70-77, 2010.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 277


CAPÍTULO 22
CORTICOTERAPIA: MANIFESTAÇÕES OCULARES ADVERSAS
DOI: 10.47402/ed.ep.c202155822980

Bianca Carollyne Martins Pinto, Acadêmica de Medicina, Pontifícia Universidade Católica


de Minas Gerais
Felippe Amaral Simões, Acadêmico de Medicina, Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais
Gabriela Freitas Moreira, Acadêmica de Medicina, Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais
Leonardo Mendonça Monteiro de Castro, Acadêmico de Medicina, Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais
Luisa Pires Coscarelli, Acadêmica de Medicina, Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais
Matheus Borges de Castro, Médico, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Emílio Rintaro Suzuki Junior, Médico Oftalmologista, Centro Oftalmológico de Minas
Gerais

RESUMO
Objetivo: Analisar as manifestações oculares adversas ao uso de corticosteróides na
oftalmologia, apresentando indicações e vias de administração dessas drogas. Revisão
bibliográfica: Os corticóides são hormônios endógenos, produzidos pelo córtex da adrenal e
também podem ser obtidos de forma exógena pelas medicações. Nesse contexto, a
corticoterapia é aplicada em uma gama de patologias, incluindo as oculares. Somando-se a isso,
existem diversas vias de administração utilizadas na oftalmologia, como: comprimidos,
injeções subconjuntivais, perioculares, intraoculares ou intravítreas e medicamentos tópicos.
Apesar das vantagens da corticoterapia em tratamentos oftalmológicos, há possibilidade de
ocorrência de efeitos adversos, muitas vezes graves e irreversíveis, relacionados ao uso,
principalmente naqueles pacientes que fazem administração prolongada e/ou de doses elevadas.
Em relação ao sistema ocular, os principais efeitos adversos são aumento da pressão intraocular,
glaucoma, catarata e, raramente, endoftalmite e coriorretinite. Considerações finais: Esta
revisão bibliográfica, portanto, tem como objetivo abordar o uso indispensável da corticoterapia
e as ressalvas sobre o seu manejo cauteloso, com indicação e supervisão médica, baseado na
clínica e no perfil do paciente.
PALAVRAS-CHAVE: Corticosteróides, Manifestações oculares, Efeitos adversos

INTRODUÇÃO

Os corticoides são hormônios esteroides produzidos, de forma endógena, pelo córtex da


glândula adrenal e obtidos, de forma exógena, pelas medicações. São drogas amplamente
utilizadas por desempenharem papéis diversos em quase todos os sistemas fisiológicos do
corpo, incluindo efeitos antiinflamatórios e imunossupressores, inibição da formação de
prostaglandinas, leucotrienos e supressão da produção de interleucina 2, entre outras citocinas.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 278


Esses efeitos podem variar conforme a posologia e o tempo de uso; em geral, doses mais
baixas conferem efeito antiinflamatório e mais altas, imunossupressor. A corticoterapia é
aplicada em uma gama de patologias, como asma, alergias e doenças autoimunes, por diferentes
especialidades da área da saúde. Por esse fator, os corticoides se enquadram como um dos
grupos de drogas mais prescritos mundialmente, movimentando em torno de 10 bilhões de
dólares por ano (FINAMOR LP, et al., 2002; RAMAMOORTHY S e CIDLOWSKI JA, 2016;
ZEMANOVÁ M e MATUSKOVÁ V, 2017).

As vias de administração são diversas e sua escolha se baseia nas características da


comorbidade apresentada e no perfil do paciente. Quando se deseja que eles atuem em nível
ocular, deve-se ter em mente que existem duas barreiras anatômicas, tanto a hematoaquosa
quanto a hematoretiniana, que limitam a difusão do medicamento. Na oftalmologia, as
principais vias são: tópica, periocular, sistêmica e intraocular (FINAMOR LP, et al., 2002;
HERNÁEZ-ORTEGA MC, 2003).

Apesar das vantagens da corticoterapia em tratamentos oftalmológicos, como em


processos inflamatórios da córnea e na minimização de rejeição do enxerto na ceratoplastia, há
possibilidade de ocorrência de efeitos adversos, muitas vezes graves e irreversíveis,
relacionados ao uso, principalmente naqueles pacientes que fazem administração prolongada
e/ou de doses elevadas.

Tais eventos podem ser sistêmicos, como aumento da glicemia, retenção de líquidos,
acidose, hipocalemia, ou restritos a alguns sistemas do organismo. Aumento da pressão
intraocular, glaucoma, catarata, endoftalmite e coriorretinite constituem os principais eventos
adversos que acometem o sistema ocular (FUNG AT, et al., 2020; KADMIEL M, et al., 2016).

O controle de inflamações intraoculares que se encontram na fase aguda é extremamente


necessário, como dito anteriormente, complicações podem prejudicar a visão até mesmo de
forma irreversível. Nesse contexto, pode ser utilizada a estratégia “step-up” para o controle das
inflamações. Ela se trata de uma terapia progressivamente introduzida, como primeira escolha,
via tópica, até que atinja um bom controle da inflamação intraocular.

Entretanto, é a falha nesse tratamento que pode desencadear o surgimento de glaucoma


ou catarata ou apenas ausência de resposta, sendo necessário outra forma de tratamento. Vale
ressaltar, além dos corticosteróides tópicos outras formas são utilizadas na oftalmologia, como:
comprimido ou injeções subconjuntivais, perioculares e intraoculares ou intravítreas (ROSSI
C, et al., 2019; KACMAR J e CHOLEVIK D, 2018). Diante desta situação é necessário cautela

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 279


ao indicar a utilização dos corticosteróides, visto que, além de alterar o quadro clínico do
paciente, a prescrição incorreta pode agravar o equilíbrio diagnóstico- terapêutico e,
frequentemente, prolongar ou piorar o tratamento.

Recomenda-se um monitoramento mais rigoroso dos recém-nascidos que recorrem a


este medicamento; em geral, não devem ser utilizados quando o benefício não excede
significativamente o risco de sua administração (ZEMANOVÁ M e MATUSKOVÁ V, 2017;
JINAGAL J, et al., 2019). Este artigo tem como objetivo analisar as manifestações oculares
adversas ao uso de corticosteróides na oftalmologia, apresentando indicações e vias de
administração dessas drogas.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O olho é vulnerável a danos por níveis relativamente baixos de inflamação intraocular.


As barreiras hematoaquosas e hematoretinianas geralmente limitam a penetração de proteínas
e células da circulação periférica, no entanto, a presença de condições inflamatórias e/ou trauma
cirúrgico induz alterações nessas barreiras resultando em sinais e sintomas clínicos clássicos de
inflamação ocular, incluindo vermelhidão, dor, inchaço e coceira, os quais, se não tratados,
podem levar a efeitos temporários ou perda permanente da visão (COMSTOCK T e DECORY
H, 2012).

Os corticóides são utilizados na oftalmologia principalmente para suprimir as condições


inflamatórias e alérgicas, reduzir inflamações pós-traumáticas, retardar a cicatrização pela
diminuição de fibroblastos e, mais recentemente, são testados em tratamentos contra a
proliferação fibrovascular do pólo posterior.

Além disso, são usados, isoladamente ou em combinação com terapia antiangiogênica,


para inibir a neovascularização ocular patológica que pode ocasionar a perda da visão se não
tratada. A fim de otimizar a droga, minimizando os eventos adversos locais e sistêmicos, uma
gama diversificada de gotas, pomadas e veículos tópicos de liberação retardada foram
desenvolvidos nos últimos anos.

No entanto, apesar do desenvolvimento contínuo de técnicas e meios para a


administração de corticosteróides, efeitos colaterais continuam sendo relatados (AWAN M, et
al., 2009; GÓMEZ DP, et al., 2011; SULAIMAN R, et al., 2018).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 280


INDICAÇÕES E VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DA CORTICOTERAPIA

A corticoterapia na oftalmologia é amplamente utilizada. Seu uso deve ser racional e


bem indicado para se realizar um tratamento clínico eficaz e com menos efeitos colaterais. As
diferentes respostas terapêuticas e reações adversas dos glicocorticóides sistêmicos dependem
da regulação das suas principais ações - antiproliferativa e antiinflamatória. Portanto, ao indicar
a corticoterapia, deve-se basear principalmente, no tipo de glicocorticóide utilizado, sua via de
administração e patologia.

A uveíte não infecciosa é um grupo heterogêneo de patologias inflamatórias, cuja


evolução pode complicar em catarata, glaucoma e edema macular, que devido a esses possíveis
danos irreparáveis, se torna uma das principais causas de cegueira em países desenvolvidos. O
tratamento de primeira linha para conter o dano visual e a inflamação são os corticóides,
administrados via tópica, periocular, intravítrea e sistêmica (oral ou endovenosa) e mais
recentemente os implantes intravítreos (LEAL I, et al., 2016).

O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) pode acometer a visão, especialmente, se houver


concomitante uma Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide, sendo caracterizada por vasculite
(mais comum na doença ativa), retinopatia (7,5%) e lesão trombótica da artéria e veia central
retinianas (13,9%) sendo acompanhado ou não de edema macular com descolamento da retina.

Como tais quadros cursam com vasculite, ao ser diagnosticado devemos na emergência
fazer corticóide endovenoso, pulsoterapia com metilprednisolona e, geralmente, iniciar dose
diária de corticóide oral. Quando não há respostas clínicas dessa terapêutica, edema macular ou
inflamação crônica, se usa a via de depósito subtenoniano (acetato de triancinolona), pois
possibilita maior absorção e reduz efeitos colaterais (HADLER BC e BORGES H, 2018).

Outra importante indicação dessas drogas é contra a rejeição ao transplante de córnea.


Este é o tecido mais transplantado do país, segundo o Registro Brasileiro de Transplantes de
janeiro a setembro de 2019 foram realizados 10.995, 54% do total de transplantes do país.

Para inflamações de conjuntivas, pálpebras, córnea, conjuntivite alérgica, indica-se o


uso de acetato de prednisolona a 1% pomada ou colírio. Caso haja intensa inflamação local ou
alto risco de rejeição deve-se optar por vias de administração subconjuntivais ou intravenosas
(MELO R, 2018; RANDLEMAN e STULTING, 2004).

A corticoterapia para toxoplasmose ocular não apresenta consenso sobre o seu uso e
início. A terapia clássica é antibiótico com corticóide, principalmente prednisona via oral. Há

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serviços que iniciam apenas quando há acometimento do polo posterior, vitreíte intensa, lesões
próximas ao disco óptico, ou ainda quando estão diante de pacientes imunossuprimidos; outros
já iniciam junto com a antibioticoterapia ou um a três dias depois (LIMA GSC, 2017).

CORTICÓIDE TÓPICO

O uso de corticóide tópico pode ser indicado de forma isolada ou, em casos graves e
refratários, junto com a via sistêmica. Na oftalmologia, o uso tópico se dá por meio de colírios
ou pomadas, preparados em soluções ou suspensões, permitindo melhor absorção na câmara
anterior do olho e, assim, rápida ação antiinflamatória. Seus principais exemplares são os
colírios de dexametasona, fluormetolona, betametasona, prednisolona e rimexolona (GÓMEZ
DP, et al., 2011; ZEMANOVÁ M e MATUSKOVÁ V, 2017).

Destacam-se como principais indicações desta via: uveítes, blefarite, esclerite, ceratites,
hemangioma neonatal, conjuntivite alérgica, síndrome do olho seco grave, lesões mucocutâneas
da conjuntiva, inflamações pós-operatórias e até transplantes de córnea. Para a terapia de
qualquer um desses quadros, é recomendado que o início da terapia seja realizado de forma
mais agressiva garantindo resolução mais rápida do quadro, e reduzindo a duração do
tratamento e os efeitos colaterais. Além disso, é necessário o monitoramento periódico da PIO
dos pacientes durante o uso e, logo após a melhora clínica, deve-se realizar o desmame do
corticóide (FINAMOR LP, et al., 2002).

CORTICÓIDE PERIOCULAR

Utilizado em dois meios - subconjuntival ou subtenoniana, sendo a primeira preparação


mais rápida e de curta ação e a segunda de depósito e longa duração. A principal solução
disponível para uso subconjuntival é a dexametasona e para uso subtenoniano o acetato de
metilprednisolona e a triancinolona. Devido à erros técnicos, algumas complicações podem ser
geradas como hemorragia subconjuntival, edema palpebral e atrofia óptica em consequência à
lesão do nervo óptico. Esta via é contraindicada na esclerite e na conjuntivite, sendo também
controversa na ceratite (FINAMOR LP, et al., 2002; GÓMEZ DP, et al., 2011).

O uso do corticóide periocular tem como principais indicações: uveíte anterior aguda
severa em portadores de Espondilite Anquilosante, uveítes anteriores crônicas resistentes, nas
quais é utilizado juntamente de corticóides sistêmicos, pós-operatórios de cirurgia de catarata,
transplante de córnea e retina, uveítes intermediárias e vasculites retinianas, reação inflamatória
vítrea associada com a síndrome de recuperação imunológica em pacientes com AIDS, em

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 282


pacientes com baixa adesão ao tratamento tópico ou sistêmico e má adesão ao tratamento ou
contraindicações às drogas sistêmicas. É recomendado monitorar a PIO devido ao maior risco
de glaucoma corticogênico, principalmente nas preparações de depósito de longa duração
(FINAMOR LP, et al., 2002).

CORTICÓIDE SISTÊMICO

Esta é uma terapia que necessita de cautela e controle ao ser administrada. Inicialmente,
deve-se excluir infecções, calcular a pressão intraocular (PIO) e acompanhá-la. Está associada
com a formulação tópica e a primeira escolha é a prednisona de 1 a 1,5 mg/kg/dia, em dose
única pela manhã (SULAIMAN R, et al., 2018; ZEMANOVÁ M e MATUSKOVÁ V, 2017).

Podem ser listadas como principais indicações dessa modalidade de terapia: uveíte
tuberculosa, oftalmia simpática, sarcoidose, espondilite anquilosante, Síndrome de Behçet,
vasculites idiopáticas, toxoplasmose, conjuntivite herpética, oftalmopatia associada à tireoide,
rejeições graves de enxerto da córnea, traumas oculares e pseudotumor orbital. É recomendado
iniciar uma redução lenta da dosagem inicialmente estabelecida, monitorando cuidadosamente
os pacientes em relação aos efeitos adversos da medicação a longo prazo e utilizar a
pulsoterapia em alguns casos de uveíte autoimune, especialmente em pacientes com doença
ocular grave bilateral e com risco de perda visual rápida, como neurite óptica. Em geral o
tratamento é feito com metilprednisolona 500 mg-1g/dia, durante três dias (FINAMOR LP, et
al., 2002).

CORTICÓIDE INTRA-OCULAR

Os corticóides administrados por via sistêmica ou tópica, normalmente não atingem


concentrações terapêuticas na retina, pois devem primeiro atravessar a barreira
hematorretiniana. Assim, um meio alternativo para atingir concentrações terapêuticas no
segmento posterior é a aplicação intravítrea (NENTWICH MM e ULBIG MW, 2012).

Um dos usos recentes de corticoterapia é a aplicação na forma de implantes intraoculares


de depósito (de longa duração), como a Dexametasona ou injeções intravítreas de
Triancinolona. Esses implantes foram desenvolvidos para prolongar o efeito de drogas
intravítreas e diminuir a necessidade de aplicação repetida. Sua principal ação é reduzir a
inflamação no pós-operatório e são indicados no tratamento de edema macular cistoide, na
uveíte posterior crônica e em processos vasculares proliferativos do vítreo e da retina. Ademais,
os principais efeitos adversos dos corticosteróides intravítreos incluem a indução ou piora da

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catarata e PIO elevada, sendo que a probabilidade de uma complicação varia de implante para
implante e depende da duração da ação daquele em particular usado (FINAMOR LP, et al.,
2002; GÓMEZ DP, et al., 2011; NENTWICH MM e ULBIG MW, 2012; SULAIMAN R, et
al., 2018).

REAÇÕES ADVERSAS DA CORTICOTERAPIA

As reações adversas sistêmicas geradas pela corticoterapia estão intimamente


relacionadas ao bloqueio do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal produzindo uma insuficiência
adrenal aguda ou efeitos tóxicos devido a doses suprafisiológicas, como doenças digestivas
(gastroduodenite), musculoesqueléticas (osteoporose), dérmicas (acne, púrpura),
cardiovasculares (hipertensão, arritmias), psiquiátricas (irritabilidade, alterações mentais),
metabólicas (estado cushingoide, função gonadal prejudicada, aumento do apetite,
desequilíbrio eletrolítico), além de resultar em uma maior predisposição a infecções
bacterianas, fúngicas e virais (GÓMEZ DP, et al., 2011).

Em pediatria, o uso de corticóides tópicos, podem levar a repercussões sistêmicas. Por


possuir córneas mais finas e permeáveis, a criança tem uma rápida e intensa absorção ocular da
medicação, por conseguinte é comum pacientes com sintomas característicos de Síndrome de
Cushing e glaucoma corticogênico.

O Instituto de Pós-Graduação em Educação e Pesquisa Médica, Chandigarh, Índia;


apresentou um relato de caso que ilustra a toxicidade do corticóide tópico em crianças. O
lactente de 6 meses, diagnosticado com catarata congênita bilateral precisou usar, por 6
semanas, betametasona tópica 0,1% 8x/dia, primeiramente devido ao pós-operatório de uma
facoaspiração com capsulotomia, e posterior, com aumento da dosagem para ambos os olhos,
devido à retirada de uma membrana na área pupilar, originada pelo uso tópico de
corticosteróides. Após 6-8 semanas, intercorreu com ganho de peso, obesidade central e em
tronco, e face de “lua cheia”, quadro característico de Síndrome de Cushing por uso exógeno
de corticosteróides (JINAGAL J, et al., 2019; ZEMANOVÁ M e MATUSKOVÁ V, 2017).

O glaucoma corticogênico acomete 18% a 36% dos pacientes oftalmológicos. Este é


definido como neuropatia óptica desencadeada pela drenagem defeituosa do humor aquoso pela
malha trabecular, resultando em acúmulo de glicosaminoglicanos em tal região, e aumento da
resistência a saída deste líquido. Por isso, há um consequente aumento da PIO e compressão
dos elementos do nervo óptico, gerando aumento da escavação, defeito no campo visual e,
então, glaucoma de ângulo aberto.

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Além da via de administração, o glaucoma corticotrófico tem relação com a
concentração, dosagem, tipo de medicamento e predisposição genética do indivíduo, sendo que
muitos são sensíveis a ele, mas poucos desenvolvem o glaucoma.

Fluormetolona, rimexolona ou medrisona têm menos tendência à aumento da pressão


intraocular do que prednisona ou dexametasona. Seus principais fatores de risco são idade (os
dois extremos da vida), diabetes, miopia e histórico familiar de glaucoma (CAPACIA RBS e
FERRAZ RRN, 2018; JINAGAL J, et al., 2019; LIESENBORGHS I, et al., 2020).

A catarata é um importante efeito adverso da corticoterapia. Alguns fatores estudados


relacionam sua ocorrência com a forma de administração, dose diária, dose cumulativa, duração
do tratamento, idade e etnia do paciente. Somando-se a isso, o tempo mínimo para o
aparecimento das complicações é de aproximadamente 1 ano de uso da medicação com doses
iguais ou superiores a 10 mg/dia de corticóide (prednisona é um exemplo).

Após o início de tratamento com corticoide oral e o tempo necessário para o surgimento
das complicações, foi relatado em variados ensaios clínicos randomizados que a incidência de
catarata varia entre 6,4% e 38,7%. Diante do diagnóstico, deve-se suspender a corticoterapia;
se estágio inicial, pode haver resolução do quadro, entretanto em alguns pacientes, mesmo após
a retirada da droga, a doença progride.

Em relação ao uso de glicocorticóides, a dexametasona influencia na proliferação e


alongamento das células induzidas por FGF2, assim como na capacidade das células de se
espalharem e cobrirem a cápsula posterior, resultando em catarata (CARDOZO PAL, et al.,
2011; GURBAXANI A, et al., 2013; WANG C, et al., 2013).

A administração intraocular de corticosteroides pode ter como uma forma de


complicação a endoftalmite bacteriana, decorrente da entrada de um microrganismo exógeno
durante ou logo após o procedimento, que se prolifera causando reação inflamatória. A clínica,
em geral, inicia com reação inflamatória leve a moderada, que possui como maior característica
dor, reação intraocular e formação de fibrina. A endoftalmite não infecciosa se enquadra como
evento adverso com prevalência que varia de 0,5% a 2,0% ao uso de corticosteroides.

Essa patologia se caracteriza por uma reação inflamatória transitória que, de forma
geral, apresenta-se com hipópio e manifesta após dois a três dias da injeção intravítrea de
acetato triancinolona. Em sua maioria, é ausente ou mínima a inflamação da esclera e da
conjuntiva; dor e fibrina na câmara anterior são encontrados em raros casos. Tal quadro

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habitualmente é autolimitado, com resolução em uma a duas semanas, no entanto há um número
pequeno de situações em que há opacificação vítrea persistente (FUNG AT, et al., 2020; ROTH
DB e JUNIOR HWF, 2008). Apesar de ser uma condição rara, a endoftalmite continua sendo
um efeito adverso devastador em pacientes que recebem injeções intravítreas. Em um estudo
utilizando injeções de corticoide e de bactérias em coelhos, foi constatado que os olhos que
recebiam injeções de corticoides necessitavam de uma carga de bactérias menor para
desenvolver endoftalmite em comparação ao grupo controle (VANDERBEEK BL, et al., 2015).

A coriorretinite serosa central, complicação menos reconhecida do uso do


corticosteróide, pode ocorrer pelo uso de esteróides tópicos, orais ou inalatórios. Os pacientes
apresentam escotoma central com redução variável da acuidade visual, frequentemente
associada a discromatopsia, micropsia e sensibilidade ao contraste reduzida. Além disso, o
paciente pode queixar embaçamento da visão resultante de uma mudança na refração, a
hipermetropia. Ainda é obscuro o motivo desencadeante desses fatos, porém acredita-se que
seja relacionado a permeabilidade alterada da vasculatura coróide e/ou disfunção focal do
epitélio da retina, eventos que, mesmo, autolimitados, podem provocar danos permanentes
(GURBAXANI A, et al., 2013).

O manejo deve ser cauteloso e bem monitorado, preferindo terapias com baixas
dosagens e medindo a PIO prévia ao tratamento, para dar seguimento de acordo com a proposta
terapêutica. Em pacientes com terapia tópica, a PIO deve ser reavaliada em 2 semanas após
início do tratamento, depois em 4 semanas e a cada 2 a 3 meses posteriormente. Já pacientes
portadores de doenças como LES, que necessitam de corticoterapia crônica deve acompanhar
a PIO no primeiro mês, depois após 3 meses e, por fim, a cada 6 meses. Caso a PIO aumente
muito com o uso do corticóide tópico ou sistêmico, deve-se retirá-lo ou substituí- lo por outra
formulação, como Fluormetolona, se não puder suspender a terapia, pode-se adicionar um
colírio betabloqueador como o Maleato de Timolol (LIAÑO LP, et al., 2012).

Para a retirada dos glicocorticóides (GC) deve-se atentar à possibilidade de que o eixo
hipotálamohipófise- adrenal esteja suprimido. Dessa forma, é aceitável uma retirada abrupta do
GC quando é feito seu uso por até 7 dias, independente da dose, pois nessas condições o eixo
tem condições de se recuperar. Nesse contexto, propõe-se uma retirada mais rápida quando está
bem acima da dose fisiológica e assim, quando se encontra na faixa de dose fisiológica, gradua-
se a retirada proporcionando às glândulas supra-renais uma estimulação progressiva por ACTH
endógeno e a recuperação de seu trofismo e capacidade de produção de esteróide. Ressalta-se

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 286


que a retirada do GC pode desencadear um quadro sindrômico (síndrome da retirada do
glicocorticoide) que requer atenção (DAMIANI D, et al., 2001).

Não há um consenso proposto de retirada, com exceção da terapia aguda (7-14 dias),
em que não há supressão do eixo HHA, e, assim, a retirada abrupta é recomendada. Os
protocolos fazem uma retirada gradual, cujo objetivo inicial é reduzir para dose fisiológica.
Antes de iniciar a retirada deve se realizar exames para monitorar a doença base e ficar atento
a reagudização, caso não tenha doença base, a redução para posologia fisiológica será mais
rápida (ALVES C, et al., 2008).

(ALVES C, et al., 2008) propõe no seu serviço reduzir 20% (se doença base, reduzir
10%) da dose a cada 2-4 dias até atingir a dose fisiológica, em seguida, diminuir para metade
da dose fisiológica, em 2-4 semanas. Ao atingir a metade da dose fisiológica (5-6 mg/m2/dia
hidrocortisona ou 5-6 mg/m2/dia de prednisona) dosar o cortisol sérico matinal e ACTH
mensalmente até atingir valores normais. Esta redução pode ser por meio da dose apenas uma
vez ao dia (matinal) e depois passar a administrar em dias alternados ao longo da semana.

INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS

Os corticóides possuem ação tanto endócrina (glicocorticóide) quanto metabólica


(mineralocorticóide). Em virtude disso, apresentam também repercussões na reabsorção renal
dos eletrólitos, metabolismo de glicose e consequente impacto no controle glicêmico e na
pressão arterial. Portanto, ao introduzir uma corticoterapia deve-se estar atento às interações
medicamentosas decorrentes do uso concomitante dos esteróides com fármacos de uso
controlado ou agudo do paciente (GÓMEZ DP, et al., 2011).

Suas ações principais são antagonizar os efeitos hipogicêmicos dos antidiabéticos e os


efeitos anti-hipertensivos dos bloqueadores alfa e beta; são antagonistas dos receptores da
angiotensina II e reduzem a eficácia das drogas anticálcicas. Com o cetoconazol, a ação do
corticosteróide integra-se a mais um resultado, gerando um aumento das propriedades
imunossupressoras de ambos os medicamentos. Carbamazepina, barbitúricos e rifampicina
diminuem as ações dos corticosteróides. O risco de sangramento gastroduodenal intensifica-se
com o uso simultâneo de agentes antiinflamatórios não esteroidais. Os contraceptivos orais
elevam as concentrações de esteroides no plasma (GÓMEZ DP, et al., 2011).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 287


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os corticosteróides são hormônios de significativa importância fisiológica no corpo


humano. Por possuírem, entre outros papéis, efeitos antiinflamatórios e imunossupressores, eles
são capazes de controlar a exacerbação de patologias diversas. Entretanto, é notável que o uso
de forma indiscriminada, na oftalmologia, por exemplo, pode propiciar o surgimento de eventos
adversos, como catarata, coriorretinite, glaucoma, aumento da pressão intraocular e
endoftalmite, além de reações medicamentosas a drogas em uso concomitante. Dessa forma,
em alguns casos específicos é indispensável, o uso da corticoterapia, porém, devem ser
realizadas de forma cautelosa, sob indicação e supervisão médica, baseado na clínica e no perfil
do paciente.

REFERÊNCIAS

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CAPÍTULO 23
ROMANTIZAÇÃO DA MATERNIDADE: COBRANÇAS DA SOCIEDADE
BASEADAS NO PAPEL DE MÃE IDEAL

DOI: 10.47402/ed.ep.c202155523980

Monique Martins Luiz, Graduanda em psicologia, Centro Universitário Estácio de Santa


Catarina
Amanda Castro, Doutora em Psicologia, Docente no Centro Universitário Estácio de Santa
Catarina e Psicóloga

RESUMO
Na atualidade, apesar dos avanços sociais e científicos, a concepção de maternidade no senso
comum se mantém alimentada por opiniões pautadas em ideais machistas e patriarcais, que
entendem o desejo pela maternidade como algo inerente às mulheres e consideram o maternar
como determinante para a autorrealização das mesmas, além de correlacionar o cuidado das
crianças com o feminino. Esta visão, por sua vez, invalida as subjetividades e particularidades
de cada experiencia materna. O objetivo deste trabalho é compreender o impacto da
romantização da maternidade na vida das mães, propondo a reflexão sobre o peso das cobranças
sociais envolvidas neste processo. Como metodologia foi realizada a revisão bibliográfica de
seis artigos relacionados ao tema, que foram analisados a partir dos livros utilizados na
introdução e embasamento teórico deste trabalho. As informações encontradas demonstraram
que a maternidade pode ser tanto fundamental quanto dispensável na vida de uma mulher,
portanto, não é passível de definição universal. Além disso, constatou-se que as contradições
entre a visão romantizada que se mantém no imaginário do senso comum e a maternidade real,
passível de dificuldades, influenciam na saúde emocional das mulheres.
PALAVRAS-CHAVE: Romantização; Maternidade; Cobrança social; Saúde emocional

INTRODUÇÃO

De acordo com Badinter (1985), a maternidade constitui-se numa vivência humana


como qualquer outra, portanto passível de atravessamentos, dificuldades, imperfeições,
sentimentos e incertezas que variam de acordo com as diferentes realidades sócio-históricas,
econômicas, pessoais e emocionais da mulher. Sendo assim, segundo a autora, ao contrário das
crenças culturais tão presentes na sociedade, o desejo pela maternidade, o sentimento de amor
incondicional e o instinto materno não são inerentes à existência feminina ou à sua natureza
biológica, mas sim construídos e mutáveis à medida que são vivenciados.

Ao longo do século XX, a ideia da maternidade associada pelo senso comum como algo
característico e atribuído às mulheres de maneira universal foi bastante questionada, inclusive
por influências do feminismo, porém, mesmo com as influências do movimento, ainda

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 290


percebemos a reprodução dessa imagem culturalmente construída, assim como os reflexos que
a idealização do papel materno traz (VÁSQUEZ, 2014).

Diante do exposto, faz-se necessário que o debate sobre a romantização da maternidade


continue, com a finalidade de aumentar a visibilidade da temática, de modo que a sociedade
reconheça a sua importância e que a mudança seja impulsionada através da problematização e
do entendimento do impacto desse fenômeno na vida das mães.

Na busca por esse entendimento, foram estabelecidos os objetivos específicos de


identificar os fatores que influenciam no exercício do papel de mãe, descrever as consequências
da cobrança social na saúde emocional das mães e discutir a percepção de maternidade no
contexto social.

REFERENCIAL TEÓRICO

Na contemporaneidade, a mulher é comumente relacionada à maternidade, sendo esse


período considerado um fenômeno preestabelecido em seu curso de vida, algo necessário e
prestes a acontecer assim que o seu corpo esteja maturado para a procriação. Ou seja, sendo a
procriação um processo biológico e fisiológico, em que o corpo da mulher oferece a estrutura
necessária para gerar outro ser, e a gravidez um processo correlato a este, idealizamos que a
função materna corresponda e se faça da mesma maneira como algo inato e instintivo, de ordem
natural (BADINTER, 1985). Porém, nem sempre a maternidade foi vista assim.

De acordo com Badinter (1985), no século XVIII era comum que as mães se separassem
das crianças, inclusive em seus primeiros anos de vida, período de amamentação dos bebês.
Ainda segundo a autora, esse fenômeno originado na França urbana do século XVII e
constatado por historiadores revela que muitas crianças na época eram amamentadas por amas
de leite, umas em suas próprias residências, enquanto outras deixavam o seio materno para ter
sua criação e serem alimentadas no domicílio de alguma ama até certa idade, quando
retornavam ao lar. Já algumas faleceram sem ter contato com suas mães ou sequer
conhecimento delas.

Então, “por que razões a mãe indiferente do século XVIII transformou-se em mãe coruja
nos séculos XIX e XX? Estranho fenômeno essa variação das atitudes maternas, que contradiz
a ideia generalizada de um instinto próprio tanto da fêmea como da mulher!” (BADINTER,
1985, p. 19). Segundo a autora supracitada, a imagem da mãe indiferente do século XVIII serviu
de alicerce para a construção da imagem contemporânea da “boa mãe” ao longo da história.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 291


A convicção acerca de um instinto maternal existente na contemporaneidade, segundo
Souza, Franca e de Deus (2019), começou a tomar forma no início do século XIX em razão das
mudanças sociais do período, influenciadas por valores do sistema patriarcal, em que o poder e
a autoridade são concebidos exclusivamente aos homens, seja na esfera política, econômica,
social ou familiar. Já quanto ao papel da mulher, são associados os afazeres da casa, a
maternidade e o cuidado com as crianças.

Segundo Carvalho, Schiavon e Sacco (2018), essa convicção se concretizou conforme


as mulheres eram incentivadas por publicações da época a cuidarem de seus próprios bebês,
dispensando os serviços das amas de leite, o que reforçava a ideia de amor genuíno de toda mãe
por sua cria. Além disso, de acordo com as autoras, tais publicações demonstravam interesse
no aumento populacional por parte do governo, pois, enquanto as mulheres garantiam a
amamentação e os cuidados necessários aos seus descendentes, os índices de mortalidade
tendiam a diminuir. Simultaneamente, as mulheres viam a maternidade como única opção de
reconhecimento na sociedade e consideração familiar, pois, ao assumirem esse papel no
desenvolvimento das crianças, efetivavam sua posição e presença no lar, visto que essa era uma
função “nobre” que os homens não poderiam exercer (BADINTER, 1985; CARVALHO;
SCHIAVON; SACCO, 2018).

As heranças dessa lógica de funcionamento permanecem até a atualidade, sustentando


a ideia de que a existência da mulher está necessariamente associada à maternidade, assim como
a perfeita e dedicada execução do papel de mãe (SOUZA; FRANCA; DE DEUS, 2019). Em
paralelo com esse pensamento, os estereótipos sociais dos papéis “feminino” e “masculino”,
culturalmente construídos e atribuídos às pessoas, determinam como devem se comportar,
sentir e atuar no mundo, contribuindo com a associação da mulher à maternidade conforme a
rotulam como um ser ontologicamente mais sensível, amoroso e delicado (ROCHA-
COUTINHO, 1994; SOUZA; FRANCA; DE DEUS., 2019).

Concomitantemente, “à medida que a função materna abrangia novas responsabilidades,


repetia-se cada vez mais alto que o devotamento era parte integral da "natureza" feminina, e
que nele estava a fonte mais segura de sua felicidade” (BADINTER, 1985, p. 267). Ou seja,
assim como a ideia de mãe exemplar foi construída e replicada, também foi a maternidade como
função de afirmação e possibilidade de realização da mulher tanto pessoal como sujeito perante
a sociedade. “A partir, então, da imagem da “boa mãe” emergem as crenças que romantizam a
maternidade” (CARVALHO; SCHIAVON; SACCO, 2018, p. 5).

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A romantização desse período, por sua vez, caracteriza-se por um conjunto de ideias
pautadas, que vão desde discursos morais a religiosos, correlacionando a maternidade com um
“presente de Deus” e compreendendo que a mulher deve honrar essa dádiva, retribuindo-a com
o sacrifício de sua vida e de seus desejos, dedicando-se amorosa e inteiramente às crianças
(CARVALHO; SCHIAVON; SACCO, 2018). Segundo as autoras supracitadas, a romantização
repercute em conjunto com o discurso do amor materno como um sentimento inerente a todas
as mulheres gestantes, a ideia de ser mãe como uma espera pela completude de seu ser.

A maternidade romantizada e constituinte da identidade da mulher impõe regras


construídas culturalmente pela fusão do discurso científico-clínico – que diz respeito ao saber
médico sobre a gravidez, a maternidade e os cuidados com o bebê – com o discurso religioso,
os quais possuem considerável valor na contemporaneidade (LAUXEN; QUADRADO, 2018;
VÁZQUEZ, 2014). Portanto, “a função de boa mãe monopoliza integralmente a vida da mulher,
que [...], presa a essa função, não mais poderá abandoná-la sob pena de condenação moral”
(CARVALHO; SCHIAVON; SACCO, 2018, p. 5). Como “condenação moral”, entende-se a
consequência sofrida pela mulher que não sucumbe às cobranças sociais relacionadas à ideia
social de “boa mãe”, permitindo-se vivenciar a maternidade de acordo com a sua realidade.

As cobranças sociais, além de serem o resultado de “toda a idealização introduzida


culturalmente sobre a maternidade” (CARVALHO; SCHIAVON; SACCO, 2018, p. 6),
atravessam a vida das mulheres desde o seu nascimento, intensificando-se conforme o seu
desenvolvimento e atuando através da pressão social, que pode ser identificada como controle
sobre seus corpos e ações, como, por exemplo, no caso da amamentação, vista geralmente como
um momento tranquilo e genuíno, no qual a mãe demonstra e transmite todo o amor por sua
cria (LAUXEN; QUADRADO, 2018). Além desse exemplo, de acordo com as autoras
supracitadas, a cobrança social se mostra através da responsabilização da mulher, seja por não
se prevenir de uma gravidez indesejada ou por tê-la desejado e posteriormente “reconhecer que
se enganou, que não era feita para ser mãe e que obteve com isso poucas satisfações”
(BADINTER, 2011, p. 24).

Segundo Souza, Franca e De Deus (2019, p. 2), perante essa realidade, “o exercício da
maternidade apresenta-se então como umas das principais funções da mulher, que ante o receio
da estigmatização social, independentemente das condições a que está submetida, sente-se não
raramente obrigada moralmente a exercê-la”. Ainda segundo as autoras, diante de sentimentos
como culpa e obrigação, a maternidade na vida das mulheres se apresenta de forma

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 293


compulsória, pois quando se designa a elas, de modo generalista, a responsabilização por criar
e cuidar das crianças, além da manutenção dos afazeres da casa, limitando-as ao espaço privado,
suas possibilidades de crescimento pessoal e profissional ficam reduzidas, o que faz com que a
sua saúde emocional seja fragilizada, podendo levar inclusive ao adoecimento.

A maternidade compulsória remete ao aprisionamento da liberdade de escolha da


mulher, que, quando vai na direção contrária das imposições e expectativas sociais, sejam quais
forem os motivos e as realidades envolvidas, como, por exemplo, a infertilidade, a entrega da
criança para adoção, ou o simples fato de não desejar ser mãe e priorizar outros aspectos de sua
vida, acaba por resultar em julgamentos, cobranças sociais e sofrimento (SOUZA; FRANCA;
DE DEUS, 2019).

Nesse contexto, a saúde emocional das mulheres, mais especificamente das mães, é
bombardeada por todos os lados. Muitas vezes, na tentativa de cumprir com a “moral e os bons
costumes”, saciar as expectativas de mãe ideal na sociedade buscando dedicar-se integral e
exclusivamente às crianças, as mães se esquecem de si mesmas enquanto suas próprias
identidades e subjetividades se esvaem, fundidas na imagem e no desempenho do papel
socialmente aceito de mãe. Como reflexo disso, deparamo-nos com “mulheres sobrecarregadas,
infelizes, excluídas e culpabilizadas” (SOUZA; FRANCA; DE DEUS, 2019, p. 3), pois, como
ressalta Badinter (1985, p. 22), “o amor materno é apenas um sentimento humano. E como todo
sentimento, é incerto, frágil e imperfeito”. Assim como o amor, o exercício da maternidade é
algo humano, com todas as suas particularidades, contextualidades, dificuldades e realidades,
sendo, portanto, inalcançável a perfeição em seu desempenho.

Associando-se o exposto ao pensamento de Badinter (1985), não se nega a existência


do amor materno, porém ressalta-se a importância de se considerar que ele não exista em todas
as mulheres, ao passo que qualquer pessoa que não seja mãe pode exercer a função materna.
Além disso, fica evidente que “não é só o amor que leva a mulher a cumprir seus "deveres
maternais". A moral, os valores sociais, ou religiosos, podem ser incitadores tão poderosos
quanto o desejo da mãe” (BADINTER, 1985, p. 17).

METODOLOGIA

Esta pesquisa foi realizada a partir de uma revisão de literatura integrativa, ou seja, os
dados para o presente estudo foram pré-selecionados, levantados e coletados de estudos já
existentes, e posteriormente analisados de modo a estabelecer relações, reflexões e críticas com
a problemática proposta (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).

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Com caráter qualitativo, teve como principal característica compreender e interpretar os
fenômenos de forma a atribuir grande importância às inter-relações emergentes, considerando-
se que os comportamentos e atos humanos assim como suas intenções podem ser entendidos
através de seus significados, conforme cada contexto (ALVES-MAZZOTTI;
GEWANDSZNAJDER, 1999).

Através da pesquisa nas bases de dados Scielo e Bvs-Psi utilizando as palavras-chave


“Maternidade e Romantização” – os pontos centrais da temática investigada –, nenhum material
foi encontrado. Como segunda opção, empregou-se a ferramenta de busca Google Acadêmico
com os mesmos termos. Diante da vasta quantidade de páginas geradas pelo Google
Acadêmico, foram considerados apenas os resultados das três primeiras. Como critério inicial
de seleção, consideraram-se os títulos relacionados ao tema, e como segundo critério, levou-se
em conta o texto contido em seus resumos. Foram encontrados seis artigos científicos, uma
dissertação de mestrado, um relato de experiência, uma monografia e um documentário. Para
esta pesquisa, foram selecionados apenas os artigos, tendo em vista a intenção da pesquisadora
e o tempo hábil para o tratamento dos dados e para a finalização da pesquisa. As referências
não analisadas foram utilizadas como recursos na discussão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da exploração dos dados encontrados nos artigos, foram identificados, por
repetição, quatro grandes grupos de assuntos pertinentes à temática estudada. A partir dos
grandes grupos foram eleitas quatro categorias de análise, a saber: (1) Maternidade como
construção histórica, social e cultural; (2) Maternidade como produção de desigualdade entre
gêneros; (3) Julgamento social do comportamento materno; e (4) Influência do feminismo na
temática da maternidade.

A maternidade como construção histórica, social e cultural nos traz a compreensão de


que, assim como concepções de mundo e teorias, a percepção social desse fenômeno é mutável
e passível de influências de diversas ordens. Discursos como o religioso, o médico, a ideia de
amor materno inerente às mulheres e as discussões feitas pelo movimento feminista são
exemplos de influências no entendimento sobre a maternidade no decorrer do tempo
(LAUXEN; QUADRADO, 2018). O argumento anterior vem ao encontro do trecho citado por
Vásquez (2014, p. 177), que traz: “A maternidade não é uma essência que, de modo exato,
defina ou limite o que somos”.

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Não se tratando de essência, é de acordo com as possibilidades de experiências, nos
mais variados contextos, que a maternidade assim como as mulheres se fazem – decidam elas
ser ou não mães. Dessa forma, considera-se que “a maternidade possui variadas facetas,
podendo ser abordada como símbolo de opressão, símbolo de realização ou simplesmente como
uma experiência sociobiológica feminina” (VÁSQUEZ, 2014, p. 177).

Em resumo, a maternidade precisa continuar sendo pensada a partir das diversas


realidades sociais, históricas e culturais, não devendo ser negada ou idealizada, e sim
considerada uma construção da sociedade que influencia nas relações de poder entre homens e
mulheres (VÁSQUEZ, 2014).

Retomando o parágrafo anterior, Vasconcelos (2019) parece reforçar a ideia de Vásquez


(2014) no que diz respeito à maternidade como produção de desigualdade entre gêneros,
quando argumenta ser necessário compreender que muitas vezes o desejo pela maternidade não
abarca os sentimentos primários e planos da mulher na sua condição de sujeito, podendo ter
origem de influências patriarcais atreladas a mecanismos de pressão social e cultural.

Conforme Vasconcelos (2019, p. 78), “O padrão familiar e de gênero que supunha um


casal heterossexual, no qual o homem representava a responsabilidade econômica e das
decisões e a mulher centralizava o lugar dos afazeres da casa7, há várias gerações deixou de ser
uma referência”. Porém, apesar de não ser mais referência, tal padrão se mantém no imaginário
comum, alimentando a naturalização que associa as mulheres à maternidade
(VASCONCELOS, 2019) e consequentemente a opressão sofrida por elas, mantendo-as em um
lugar de submissão, violência e desigualdade de direitos.

Atualmente, mesmo diante dos avanços sociais e tecnológicos, os afazeres da casa e o


cuidado das crianças se mantêm, para muitas famílias, relacionadas ao feminino, inclusive no
campo profissional (VASCONCELOS, 2019), como, por exemplo, nas profissões de faxineira,
cozinheira, babá e diarista. “Manter a mulher aprisionada aos afazeres da casa foi sempre uma
importante estratégia para a manutenção da ordem patriarcal, afastando-a dos lugares de poder”
(VASCONCELOS, 2019, p. 79). Essa dinâmica de funcionamento que mantém os padrões de
comportamento ao decorrer da história “tem retardado a igualdade de papéis entre homens e

7 A autora citada geralmente utiliza o termo “cuidados domésticos”, porém nesta pesquisa optou-se por substituí-
lo por “afazeres da casa” em razão da origem do termo “doméstico”, que, segundo publicado no site Carta Capital,
reproduz o processo histórico de animalização de pessoas negras, como demonstra o seguinte trecho: “Domésticas
eram as mulheres negras que trabalhavam dentro da casa das famílias brancas e eram consideradas domesticadas.
Isso porque os negros eram vistos como animais e por isso precisavam ser domesticados através da tortura”
(ALEXANDRE PUTTI, 2019, seção Sociedade).

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mulheres” (VASCONCELOS, 2019, p. 79), e além de impactar especificamente sobre as
estruturas familiares, define como as mulheres podem ocupar o mundo do trabalho e participar
da política que as rodeia (VASCONCELOS, 2019).

Como evidência dos argumentos de Vasconcelos (2019) destacados acima, pode-se citar
o seguinte trecho de Xavier e Zanello (2018, p. 19): “São mulheres que sofrem violência de
gênero pela via da imposição da maternidade e se encontram extremamente desempoderadas”.
Aparentemente, segundo Xavier e Zanello (2018), essas mulheres percebem a violação de seus
direitos fundamentais, porém habitualmente entendem por ajuda as ações do Estado a favor da
garantia de tais direitos e a atitude dos homens quando assumem suas responsabilidades e
exercem a paternidade de forma adequada, cumprindo com os seus deveres.

Mesmo percebendo que os cuidados com as crianças estão exclusivamente em seus


domínios, algumas mulheres se encontram sem conseguir exigir o cumprimento de seus
direitos, subjetivadas pelo dispositivo materno e amoroso que se alimenta da lógica patriarcal
e do ideal de maternidade sustentado pela sociedade (XAVIER; ZANELLO, 2018). Isso é “[...]
prova de que a engrenagem social sustentada pelos diferentes dispositivos de gênero funciona”
(XAVIER; ZANELLO, 2018, p. 19).

Tanto os estudos de Vasconcelos (2019) quanto os de Xavier e Zanello (2018) são


similares no que diz respeito ao peso da responsabilidade solitária na vida das mulheres que são
mães, o que fica evidente no trecho escrito pela autora Vasconcelos (2019, p. 82), que analisa
as personagens dos contos de Dina Salústio e Conceição Evaristo: “Ambas lidam com uma
carga sobre-humana de atribuições e representam situações nada incomuns, agravadas pela
naturalização da responsabilização solitária”.

A ausência do suporte familiar no cuidado com as crianças e a sobrecarga do sentimento


de culpa e responsabilidade aparecem como fatores agravantes no que tange ao cansaço físico
e emocional, e à sensação de abandono e falta de rede de apoio (VASCONCELOS, 2019;
XAVIER; ZANELLO, 2018). O sentimento de culpa, por sua vez, aparentemente está
relacionado com o julgamento social do comportamento materno. Diante do sofrimento gerado
pela maternidade e não validado pela sociedade, as mulheres, por conta da construção social
ilusória de uma realidade materna constituída apenas de amor e felicidade (BADINTER, 2011),
acabam ignorando seus sentimentos de “[...] esgotamento, de frustração, de solidão, e até
mesmo de alienação, com seu cortejo de culpa” (BADINTER, 2011, p. 22).

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Luna e Corradi (2017, p. 11) fornecem evidências para a discussão através dos discursos
de julgamento encontrados em sua pesquisa, que, segundo as autoras “[...] mostram ser
repercussões do que já foi dito e está enraizado no entendimento social”. Tais repercussões
estão impregnadas “[...] de ideologias construídas a partir de uma sociedade onde a mulher é
delegada à função do cuidado a qualquer custo, não é permitido sentir medo, dor, cansaço,
cometer erros, etc.” (LUNA; CORRADI, 2017, p. 11).

De acordo com os comentários retirados de uma rede social e analisados por Luna e
Corradi (2017, p. 13), como citado em: “[…] tiro minha roupa do corpo, minha pele, minha
alma, mas não iria expor meu bebê às bactérias e ao frio desse jeito”, os usuários demonstram
inconformidade diante da atitude da mãe em questão, comparando-a com o que esperam de um
comportamento materno. Além disso, parecem entender que uma mulher-mãe ideal é a que se
dedica inteiramente para a sua criança, a qualquer custo (LUNA; CORRADI, 2017).

Além dos discursos de afastamento/discordância, que, segundo Luna e Corradi (2017,


p. 12), “[...] demonstram a não compreensão e julgamento da atitude tomada pela mãe”, no
estudo das autoras foram encontrados discursos que contrastam com estes, como, por exemplo,
os de teor solidário para com a mãe e os de concordância, apoiando as suas atitudes.

Conforme Luna e Corradi (2017, p. 16), “[...] entre os comentários analisados, os com
teor julgativo são os que têm maior número de curtidas”, possivelmente demonstrando que,
para a maioria das pessoas envolvidas no estudo, as mulheres-mãe que não exercem a
maternidade correspondendo às expectativas sociais de comportamento materno são
consideradas inadequadas ou descuidadas. Diante disso, é possível que muitas mulheres sejam
oprimidas no exercício de sua maternidade por se comportarem de maneira não validada pelo
ideal imposto no âmbito social (VÁSQUEZ, 2014).

Considerando a maternidade como uma construção social romantizada e constituída por


discursos diversos que, quando reproduzidos, podem culminar em opressão e cobranças
incompatíveis com a realidade, é notável a necessidade de discussão e luta por mudanças
(VÁSQUEZ, 2014). A temática da maternidade, por sua vez, foi muito discutida e influenciada
pelo movimento feminista, como ilustra Vásquez (2014, p. 176): “[...] a opressão contra a qual
as feministas lutavam e lutam não se expressa pelo “destino biológico” da maternidade, mas da
significação e dos discursos sociais atribuídos à maternidade”.

O movimento feminista tem as suas ideias pautadas no iluminismo e nas concepções e


transformações das revoluções francesa e americana, as quais almejavam a igualdade de direitos

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 298


sociais e políticos, o que influenciou na concepção desenvolvida por algumas mulheres de que,
assim como era possível a igualdade entre os homens, seria possível também a igualdade entre
homens e mulheres (VÁSQUEZ, 2014).

Ao longo da história, o feminismo levantou diversas discussões e posições sobre a


maternidade. Em um primeiro momento, segundo Vásquez (2014, p. 173), “[...] a luta maior,
ou talvez única, era pela igualdade jurídica”, reivindicando os direitos da mãe e incorporando
a luta pela criação da licença-maternidade aos direitos trabalhistas, o que evidencia que o
movimento da época não questionava o papel da maternidade na vida das mulheres e a entendia
como natural (VÁSQUEZ, 2014). “Acredita-se que tal fato se deve à vitoriosa articulação feita
por diversos agentes, como o religioso e o médico, entre a felicidade feminina e a maternidade”
(VÁSQUEZ, 2014, p. 173).

Na chamada segunda onda do movimento, o foco foi a desnaturalização da maternidade,


descrevendo-a e denunciando-a como principal forma de dominação dos corpos das mulheres
(VÁSQUEZ, 2014). Vasconcelos (2019, p. 77) parece reforçar a ideia de Vásquez (2014) com
o trecho a seguir: “[...] a maternidade foi, para uma parte das feministas, uma experiência que
devia ser evitada, já que representava uma situação que conduzia as mulheres a uma
normatização que reduzia a independência”.

Segundo Vásquez (2014), após sua segunda onda, o movimento feminista passou a
questionar se de fato todas as mulheres desejavam desvencilhar as suas existências da
maternidade. Estabeleceu-se então uma nova discussão e relação com a temática que valorizava
a concepção de que exercer a maternidade era um poder exclusivamente feminino (VÁSQUEZ,
2014), ou seja, “[...] o poder da mulher residia justamente na capacidade de gestar o ‘outro’
dentro de si mesma” (VÁSQUEZ, 2014, p. 175). Já no século XXI, “[...] o feminismo da
contemporaneidade pretende romper com categorias fixas e fechadas para a ideia de uma
possível “identidade feminina” (VÁSQUEZ, 2014, p. 178).

Em suma, a maternidade foi vista desde a concepção que a naturaliza como “[...] inscrita
no corpo e na mente das mulheres desde sempre” (VÁSQUEZ, 2014, p. 177) até a concepção
atual, considerada um fenômeno social, histórico, mutável e questionável no que tange ao
exercício da maternidade relacionado aos estereótipos de gênero criados e impostos pela
sociedade (VÁSQUEZ, 2014).

As normas culturais assim como as expectativas sociais e os conceitos de maternidade


criados ao longo da história implicam na saúde mental das mulheres, uma vez que as

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responsabilizam unicamente por desempenhar o papel de mãe de forma infalível e impecável.
Apesar de algumas mudanças e movimentos atuais contrários à cobrança social de um
comportamento materno idealizado e direcionado às mulheres, muito há que se fazer na busca
pela compreensão de uma maternidade ampla e que agregue novos cuidadores à concepção de
família.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se a partir desta pesquisa que a maternidade fora do senso comum não é algo
inscrito na natureza da mulher, mas sim uma concepção que foi construída ao longo da história
da humanidade, portanto mutável e influenciada por diversos discursos e seus desdobramentos,
os quais atravessam as experiências de maternidade de muitas mulheres. Diante disso,
compreende-se que a maternidade não é determinante para a felicidade das mulheres nem deve
ser determinada na vida delas. Tampouco é passível de definição absoluta, sendo vivenciada de
forma única por cada mulher que desejar passar por essa experiência.

Na busca pela desconstrução de uma maternidade romantizada e pela redução de danos


emocionais e psíquicos às mulheres, entende-se que é necessária a validação social do outro
lado dessa experiência humana, passível de erros e de dificuldades, em que pode existir o
sofrimento e o choro, inclusive da mãe, sem invalidar a possibilidade de que algumas mulheres
se autorrealizem vivenciando a maternidade, mas não somente através dela.

Os dados e os resultados aqui apresentados surgiram de um pequeno recorte, porém com


o propósito de servir como semente para futuras pesquisas na temática da romantização da
maternidade, assim como contribuir com a sensibilização de olhares para novas intervenções,
mais atentas e aprofundadas sobre o tema na área da Psicologia.

Sugere-se a realização de uma pesquisa de campo com homens para que sejam coletados
dados a respeito de quantos deles contribuem no cuidado e na educação das crianças e quantos
entendem esse papel como responsabilidade conjunta ou como ajuda às mães. Além disso,
sugere-se ainda um grupo de mulheres visando o fortalecimento de vínculo entre elas,
propiciando também o autoconhecimento e o empoderamento para enfrentar a culpabilização,
a sobrecarga e o julgamento social.

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CAPÍTULO 24
O PAPEL DA EDUCAÇÃO NA AQUISIÇÃO DE HÁBITOS ALIMENTARES
SAUDÁVEIS PELOS ADOLESCENTES
DOI: 10.47402/ed.ep.c202151824980

Nelma Maria de Souza Mattioli, Diretora Pedagógica - Colégio São Joaquim, Lorena, SP.
Ricardo Bustamante, Docente no Centro Universitário Salesiano de São Paulo, Lorena, SP.
Mestrando em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Projeto Educacionais, EEL-
USP, Lorena, SP.
Rosana Mara de Freitas Viscondi, Docente em Ciências Biológicas na instituição “E.E. PEI
Professor Luiz de Castro Pinto” – Lorena, SP.
Maria Auxiliadora Motta Barreto, docente e pesquisadora, EEL-USP

RESUMO
O espaço educativo é ideal para desenvolver ações que promovam a saúde por meio de uma
alimentação saudável, pois exerce grande influência na vida dos alunos. A presente atividade
visou desenvolver a compreensão da importância da alimentação saudável, por meio de
estratégias investigativas sobre as escolhas de alimentos, contribuindo na prevenção das
doenças comuns relacionadas à má alimentação. A pesquisa foi realizada em Lorena – S.P,
numa escola da rede privada, como público-alvo 25 alunos do 8º ano B, do Ensino Fundamental.
Em sete etapas propostas, foram utilizadas estratégias de investigação, informação e orientação
sobre as escolhas de alimentos, oportunizando a participação e vivência em diversas
experiências, onde os alunos atribuíram significados a novas informações apresentadas ou por
eles descobertas. No decorrer deste trabalho, observou-se que na discussão acerca de hábitos
alimentares mais saudáveis, os alunos demonstraram aquisição de conhecimentos
contextualizados sobre alimentação e facilidade na compreensão dos conceitos apresentados.
Na análise dos dados obtidos, verificou-se que os alunos desenvolveram o senso crítico acerca
de hábitos alimentares mais saudáveis e escolhas conscientes.
PALAVRAS-CHAVE: Práticas alimentares. Promoção de saúde. Ensino Fundamental.

1 INTRODUÇÃO

O espaço educativo é o lugar ideal para desenvolver ações que promovam a saúde por
meio de uma alimentação saudável, pois exerce grande influência na vida dos alunos. O
componente curricular de Ciências do 8º ano do Ensino Fundamental propõe uma discussão
fundamentada e contextualizada dos conteúdos básicos sobre alimentação, educação alimentar
e nutricional inseridos no ambiente escolar (BNCC, 2018).

A nova realidade da sociedade tem desafiado o professor a repensar a sua prática


pedagógica e assumir uma atitude de investigação, de articulação e de mediação, atuando como
pesquisador crítico e reflexivo nas ações docentes. Nesse contexto, além de profissional

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 303


competente, precisa se tornar um cidadão autônomo e criativo, que saiba solucionar problemas
e manter constante iniciativa para questionar e transformar a sociedade (BEHRENS, 2006).

A escola e o professor deixaram de ser os detentores do conhecimento e passaram a


assumir o papel de mediadores no processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, o
professor investiga e identifica os conhecimentos já presentes na estrutura cognitiva do aluno,
denominado conhecimentos prévios, e os utiliza na construção da aprendizagem significativa,
que tem como ferramenta básica a noção de subsunçor ou ideia-âncora, ou seja, faz a interação
entre os conhecimentos prévios e os novos conhecimentos a ele apresentado (AUSUBEL,
1980).

Corrobora com esse pensamento Moreira (2012), afirmando que os novos


conhecimentos adquirem significado para o sujeito e os conhecimentos prévios adquirem novos
significados ou maior estabilidade cognitiva.

Campos e Nigro (1999) comentam que alguns professores e pesquisadores, preocupados


em estabelecer o que realmente se ensina na escola, propuseram que tudo que é passível de
aprendizagem, é um conteúdo. Assim, além dos conteúdos conceituais, ou seja, do “saber
sobre”, o currículo contém ainda os conteúdos procedimentais, ou seja, o “saber fazer”, e os
conteúdos atitudinais, o “ser”. Os conteúdos conceituais são os que se remetem aos
conhecimentos construídos ao longo da história. Os conteúdos procedimentais referem-se às
técnicas e aos métodos que possibilitam a execução de certas tarefas. Os conteúdos atitudinais
remetem aos comportamentos que facilitam a aprendizagem.

Nesse sentido, a escola e o professor passam a adotar novas práticas que possibilitem
aos alunos desenvolverem autonomia para realizar escolhas que favoreçam comportamentos
adequados e positivos, entre eles, estão os hábitos alimentares saudáveis.

A função da escola é articular vida, experiência e aprendizagem, possibilitando novas


práticas vivenciadas pela criança e pelo adolescente. Partindo do pressuposto de que as escolhas
alimentares são experiências aprendidas, assim como a educação na atualidade, nossa proposta
foi promover relação contextualizada entre escolhas alimentares saudáveis e ambiente escolar.

Para Viunisk (2005) apud Sousa (2006) a escola tem potencial para estimular hábitos
alimentares saudáveis, através do desenvolvimento de programas educativos que promovam
modificações nos alimentos comercializados nas cantinas, explicando o porquê das alterações

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 304


realizadas e incentivando a substituição e não simplesmente a proibição. Afinal, não existem
alimentos proibidos e sim aqueles que devem ser ingeridos com moderação.

A presente pesquisa prática visou desenvolver nos alunos a compreensão da importância


de uma alimentação saudável, por meio de estratégias investigativas sobre as escolhas de
alimentos. Desta forma, indiretamente, o objetivo foi contribuir na prevenção das doenças
comuns relacionadas à má alimentação, tais como: obesidade, hipertensão, diabetes, anemia,
altas de taxas de colesterol, doenças cardiovasculares, insônia, distúrbios alimentares, artrite,
artrose, entre outras.

Nessa perspectiva, Benetti & Carvalho (2002) apontam que a utilização de diferentes
procedimentos de ensino pode fomentar uma atitude reflexiva por parte do aluno, na medida
em que oferece oportunidades de participação e de vivência em diversas experiências, desde
que seja solicitada a tomada de decisões, de julgamentos e de conclusões.

Diante disso, empregamos a estratégia de Sala de aula invertida ou flipped classroom,


que visa mudar os paradigmas do ensino presencial, alterando sua lógica de organização
tradicional. O principal objetivo dessa abordagem, em linhas gerais, é que o aluno tenha prévio
acesso ao material do curso e possa discutir o conteúdo com o professor e os demais colegas.
Dessa forma, a sala de aula se transforma em um espaço dinâmico e interativo, permitindo a
realização de atividades em grupo, estimulando debates e discussões, enriquecendo o
aprendizado do estudante.

Segundo o Plano Curricular Nacional (PCN) (1998, p. 62), o aprendizado em Ciências


deve proporcionar aos alunos o desenvolvimento de uma compreensão de mundo em sua
integralidade, proporcionando condições para tomar decisões e para atuar positiva e
criticamente no seu meio social, o que vai ao encontro das atividades de aprendizagem no
âmbito escolar, pois essas fornecem uma base epistemológica sobre os fenômenos e sobre os
eventos que se contrapõem à percepção desordenada do cotidiano.

Forato et al. (2003) apud Sousa (2006) defende que a escola é um espaço propício para
a aprendizagem sobre alimentação e nutrição, podendo ser integrada às atividades pedagógicas.

A adolescência é o período de transição entre a infância e a vida adulta, caracterizada


pelos impulsos do desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e social. Nessa fase é que
se consolidam os hábitos alimentares para a vida adulta.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 305


A alimentação é um fenômeno complexo, que tem funções biológicas e sociais. Do
ponto de vista cultural e social, a alimentação é plena de significados. Nesse sentido, a dimensão
biológica não pode estar desvinculada da dimensão social - do prazer, uma vez que pode
ocasionar a perda da identidade cultural, conforme Fischler (2001). A alimentação saudável, de
um modo geral, deve favorecer a mudança no consumo de alimentos pouco saudáveis para
alimentos mais saudáveis, respeitando as características culturais e sociais do indivíduo.

O consumo de alimentos de alta densidade energética e com baixo valor nutricional é


elevado entre os jovens. De acordo com o novo Guia Alimentar para População Brasileira
(2014), do Ministério da Saúde, os passos para alimentação saudável são: reduzir o consumo
de alimentos processados e evitar o consumo de alimentos ultraprocessados, que são os mais
consumidos pelos adolescentes, causando o surgimento precoce de doenças. A justificativa
mais frequentemente alegada pelas famílias é a falta de tempo, assim, substituem a comida
caseira pela comida congelada, o suco natural pelo industrializado, entre outros. A praticidade
para os pais se traduz em problemas de saúde para os filhos.

Triches (2005) apud Sousa (2006) relata que as crianças têm pouco conhecimento sobre
hábitos alimentares saudáveis, evidenciando que as mensagens transmitidas pela escola, pelos
pais e pela mídia são insuficientes ou ineficazes.

2 METODOLOGIA

A atividade foi realizada numa escola da rede privada, no interior do estado de São
Paulo, com 25 alunos do 8º ano do Ensino Fundamental.

Na metodologia utilizada foram propostas as seguintes etapas:

1ª Etapa: Divulgação do projeto, onde os alunos realizaram antecipadamente a leitura


prévia das bases conceituais postadas em mídias digitais do material didático, indicadas pelo
professor (Flipped Classroon).

Foi discutida a importância de fazer atividade física e os riscos nutricionais em razão de


maus hábitos alimentares, tais como: deixar de nos alimentarmos no café da manhã, pular
algumas refeições ou substituí-las por lanches, consumir muitos alimentos industrializados e
refrigerantes, podendo acarretar em aumento de peso, que é um problema de saúde pública
(BRASIL, 2014).

Foram dadas orientações sobre fazer, no mínimo, cinco refeições diárias: café da manhã,
lanche, almoço, lanche e jantar, sem pular as refeições, dando preferência para frutas ou iogurtes

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 306


nos lanches. Alguns exemplos de hábitos saudáveis apresentados: aumentar o consumo e a
variedade de frutas, legumes e verduras; comer feijão pelo menos uma vez ao dia; reduzir o
consumo de sal e gordura; controlar o consumo de doces, bolos e biscoitos ricos em açúcares;
comer devagar; beber muita água; fazer atividade física. Possibilitamos a troca de experiências,
vivenciadas no contexto social em que estamos inseridos, favorecendo um diálogo participativo
sobre o conhecimento prévio dos alunos, incluindo informações relevantes sobre alimentação
saudável por meio da pirâmide alimentar brasileira atual. Foi solicitado que trouxessem rótulos
para análise na etapa seguinte.

2ª Etapa: Partindo da frase “somos o que comemos” trabalhamos os grupos de


nutrientes e suas funções: proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas e sais minerais.
Analisamos recortes ou imagens de rótulos e suas diversas informações, entre elas: nome do
produto, local de produção, ingredientes, data de validade e tabela nutricional. Orientamos que,
antes de comprar o produto, comparassem as informações nutricionais e optem pelo alimento
mais nutritivo e saudável, com uma lista de ingredientes reduzida. Alimentos mais simples,
menos processados e com menos aditivos: espessantes (que dão textura), aromatizantes (que
dão cheiro e sabor) e conservantes (que fazem o produto durar mais). Foi solicitado que
observassem o modelo de um rótulo retirado de bolo com recheio de baunilha.

3ª Etapa: Os alunos elaboraram um diário individual, registrando os alimentos


consumidos em todas as refeições realizadas durante o período de uma semana. A realização
dessa atividade proposta favoreceu a observação sistemática do tipo, composição e origem dos
alimentos presentes na sua prática alimentar, desenvolvendo atenção no momento das refeições,
pois a maioria dos jovens na atualidade se alimentam utilizando celulares, assistindo televisão,
entre outros.

4ª Etapa: Foi realizada a coleta de dados coletiva e o registro dos tipos de alimentos
consumidos nas refeições propostas pelos alunos. Foi proposto a realização de um café da
manhã coletivo e compartilhado com alimentos saudáveis, trazidos e escolhidos pelos alunos
para degustação e apreciação.

5ª Etapa: Os alunos trouxeram para partilha alimentos variados, identificando as


diferenças nos produtos, recomendando ou não o consumo destes. Análise e reflexão dos dados
coletados em sala de aula, registrados e apresentados em tabela e gráfico.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 307


6ª etapa: Aplicamos como instrumento avaliativo para verificação da aprendizagem,
um questionário com dezoito questões online na plataforma gratuita Kahoot, realizado em sala
de aula, referente a conceitos do material didático trabalhados no decorrer da pesquisa .

7ª etapa: Divulgamos o projeto por meio de fotos e texto explicativo dos pesquisadores,
publicados no site, Facebook e Instagram do colégio para socialização das experiências com a
comunidade educativa e seguidores.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o processo de construção do conhecimento, coletamos dados de todos os alunos


em relação aos tipos de alimentos consumidos nas refeições diárias.

No Quadro 1, os dados coletados na sala de aula, foram identificados como porcentagem


real e referem-se aos alimentos consumidos pelos alunos durante o período de um dia; e os
dados da pirâmide alimentar brasileira, foram identificados como porcentagem ideal para
consumo diário, considerando alimentação necessária para o desenvolvimento saudável dos
adolescentes.

Quadro 1 – Coleta de dados


Grupos de Alimentos Porcentagem Real Porcentagem Ideal
Açucares e Doces 12,59 5,56
Leite, Queijo, Iogurte 5,42 16,68
Carnes e Ovos 15,23 5,56
Feijões e Oleaginosas 4,98 5,56
Legumes e Verduras 9,66 16,68
Frutas 18,16 16,68
Arroz, Pão, Massa, Batata e Mandioca 33,96 33,28
TOTAL 100,00 100,00
Fonte: Autoria própria
Constatamos que 30% dos jovens não se alimentam pela manhã e desconhecem a
importância do desjejum e da última refeição. Comparamos os dados coletados dos alimentos
consumidos pelos alunos com a pirâmide alimentar brasileira, resultando no gráfico:

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 308


Figura 1 – Pirâmide Alimentar Brasileira

Fonte: Ministério da Saúde

Figura 2 – Comparação da alimentação baseada na pirâmide alimentar e alimentação dos alunos

Hábitos alimentares dos adolescentes


40
35
30
25
20
15
10
5
0
Açucares e Leite, Queijo, Carnes e Ovos Feijões e Legumes e Frutas Arroz, Pão,
Doces Iogurte Oleaginosas Verduras Massa, Batata
e Mandioca

Porcentagem Real Porcentagem Ideal

Fonte – Autoria própria


A partir dos resultados que os alunos apresentaram, devemos considerar: consumo
elevado de açúcares e doces, carnes e ovos; baixo consumo de leite e derivados, legumes e
verduras; consumo equivalente de feijões e oleaginosas, frutas, arroz e massas.

No instrumento avaliativo Kahoot, os alunos responderam online a questões referentes


aos conceitos da proposta de pesquisa, resultando em 56,86% referentes ao número de acertos
e 43,14% em relação ao número erros. Nas questões relacionadas a satisfação com o projeto
desenvolvido, os alunos relataram ter sido divertido, recomendariam a participação,
aprenderam “alguma coisa” e se sentiram bem.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 309


Na metodologia baseada em sala de aula invertida, 30% dos alunos realizaram as
atividades propostas para casa, sendo necessário retomar no momento de aula. Por outro lado,
foi relevante para que os alunos participassem coletivamente, desenvolvendo competências
atitudinais importantes para aprendizagem significativa.

O ambiente de aprendizado colaborativo, contribuiu para que os alunos se envolvessem


em atividades de construção coletiva dos conceitos sobre alimentação, com níveis de
conhecimentos distintos, por meio da mediação constante do professor, desenvolvendo a
compreensão e o senso crítico acerca dos hábitos alimentares.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escola tem um papel essencial para formar atitudes e valores que atribuem significado
no processo de ensino e aprendizagem, principalmente quando o trabalho aborda temas que
envolvam o cotidiano destes, contribuindo para diminuição ou resolução dos problemas.

Na experiência aqui apresentada, constatamos que é possível aplicar e associar várias


estratégias no contexto escolar, colocando os estudantes no centro do processo educativo,
valorizando o protagonismo nos alunos, conferindo-lhes maior autonomia e responsabilidade
no seu próprio aprendizado, por meio da metodologia Flipped Classroom (sala de aula
invertida), apesar das dificuldades dos estudantes em lidar com a construção de seu próprio
processo de aprendizagem.

Os alunos participaram na formulação de hipóteses, produção de textos, coleta de dados,


interpretação, análise e pesquisas, dentre outras habilidades e competências importantes na
disciplina de Ciências, de forma ativa.

Foi observado que, grande parte das atitudes em relação à alimentação são baseadas em
crenças, valores e predisposições pessoais. Desse modo, uma modificação nos hábitos
alimentares, requer tempo e práticas pedagógicas integradas às famílias, para a promoção de
uma alimentação composta dos nutrientes essenciais para o desenvolvimento saudável da
criança e do adolescente.

Observou-se baixo número de publicações relacionadas aos hábitos alimentares


saudáveis em escolares, em particular nos estudos de intervenção e com descrição de
metodologias utilizadas como estratégias.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 310


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CAPÍTULO 25
A COGNIÇÃO PÓS ICTUS DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS
DOI: 10.47402/ed.ep.c202157725980
Isabela Santos Lima - fisioterapeuta graduada pela UFJ
Aline Oliveira Rocha de Lima - discente do curso de Educação Física da UFJ
Renata Machado de Assis - doutora em Educação, UFG, docente do Programa de Pós-
Graduação em Educação e dos cursos de Educação Física da UFJ
Juliana Alves Ferreira - mestre em Ciências Aplicadas à Saúde, UFJ, e fisioterapeuta do
Albergue São Vicente de Paulo, Jataí-GO
Daisy de Araújo Vilela - doutoranda em Ciências da Saúde, UFG, docente do curso de
Fisioterapia da UFJ

RESUMO
O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é uma doença crônica não transmissível que acomete
o Sistema Nervoso Central (SNC). Este artigo tem o objetivo de descrever o desempenho de
idosos pós AVE inseridos em uma instituição de longa permanência de idosos (ILPI) localizada
em Jataí, Goiás, Brasil, utilizando o Montreal Cognitive Assessment (MoCA test versão
brasileira). Trata-se de um estudo quantitativo de caráter descritivo, analítico e transversal. A
coleta de dados foi realizada por uma equipe de acadêmicos dos cursos de Educação Física e
Fisioterapia da Universidade Federal de Goiás, Regional Jataí, treinada pelas pesquisadoras, a
fim de proporcionar maior amplitude de coleta. A amostra foi composta por sete idosos (58,3
%), a maioria do sexo masculino (85,71 %), estado civil solteiro (57,13%), escolaridade ensino
fundamental completo (42,85%) e tempo de lesão pelo AVE menos de um ano (42,85 %). Em
relação à cognição, todos tiveram notas abaixo do score de corte do MoCA, sendo que 42,8%
da amostra obteve a pontuação ente 2 a 7 pontos. Concluiu-se que, após ictus, todos os idosos
institucionalizados apresentam prejuízo cognitivo, principalmente nas funções
visoespacial/executiva. Verificou-se que os dados encontrados possibilitam conhecer a
população de idosos institucionalizados acometida com AVE na ILPI estudada.
PALAVRAS-CHAVE: Pessoa idosa; Função cognitiva; Instituição de longa permanência para
idosos.

INTRODUÇÃO

Desde meados de 2007 o Brasil passa por processos de transição demográfica e


epidemiológica, que consistem na redução das taxas de fecundidade e mortalidade, atenuação
das doenças infecciosas, além de significativa evolução na assistência à saúde e, por
conseguinte, aumento da expectativa de vida (MELO et al, 2017). As projeções demonstram
que em 2050, o Brasil será a quinta nação em número de idosos no mundo, abaixo apenas das
grandes populações como China, Índia e América do Norte (IBGE, 2017). O aumento da
longevidade permite registrar a tendência de alterações nos padrões de morbimortalidade
(PAULA et al, 2013).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 313


O envelhecimento é um processo fisiológico, contínuo e gradual que acompanha o
indivíduo ao longo de seu ciclo vital (QINGWEI et al, 2015; VIEIRA; RESENDE, 2018), é
individual, inerente a cada pessoa, o que permite diferentes maneiras de enfrentá-lo (MELLO;
HADDAD; DELLAROZA, 2012). Os processos são dinâmicos e provocam transformações em
nível molecular e celular, de caráter morfológico e bioquímico, que afetam a capacidade
funcional do idoso e ampliam a incidência do registro de doenças crônicas incapacitantes que
influenciam diretamente na sua qualidade de vida (MENEZES et al, 2018).

Com o avanço da idade, surgem comprometimentos no Sistema Nervoso Central (SNC)


com alterações na ativação de inúmeras regiões do cérebro, semelhantes às redes neuronais
específicas que capacitam o indivíduo para a vida social (MENDES; NOVELLI, 2015;
OLIVEIRA; SILVA; NOBRE, 2015). A senescência traz o declínio gradual da capacidade
cognitiva de memória, raciocínio lógico, juízo crítico, funções práxicas e gnósicas, afetividade,
personalidade e humor (MELLO; HADDAD; DELLAROZA, 2012).

Das patologias que comprometem a cognição, o Acidente Vascular Encefálico (AVE)


destaca-se como uma doença crônica não transmissível que mais acomete o SNC. Essa
enfermidade é resultante da suspensão do aporte sanguíneo ao encéfalo e/ou ruptura de vasos
sanguíneos cerebrais, definida como uma síndrome neurológica de instalação rápida, com sinais
e sintomas focais ou globais levando a alterações das funções cerebrais, com duração superior
a 24 horas (SILVA et al, 2011). Quando não evolui para óbito, tem grande potencial para gerar
déficits nos níveis de consciência e comprometimentos nas funções de sentidos, motricidade,
cognição, percepção e linguagem, causando impacto no cotidiano e no desempenho do
indivíduo frente às atividades da vida diária. É comum trazer como consequência a perda da
independência parcial ou total do indivíduo, com graves impactos psicológicos e financeiros
para o paciente, família e serviços de saúde (FERRO; LINS; TRINDADE FILHO, 2013;
GIALANELLA; SANTORO; FERLUCCI, 2013; RANGEL; BELASCO; DICCINI, 2013).
Por isso, caracteriza-se o AVE como um sério problema de saúde pública.

Dentre as sequelas, destaca-se a dificuldade na realização dos movimentos, relacionada


à diminuição da função cognitiva, indicando dano à parte do cérebro que controla o equilíbrio
e a coordenação, e como consequência afeta a reabilitação e recuperação do paciente, porque
dependem de aprender novas habilidades para executar os exercícios e relembrar as instruções
(SILVA et al, 2011). Compreende-se por cognição o termo utilizado para descrever toda a
esfera do funcionamento mental que implica na habilidade para sentir, pensar, perceber,

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 314


lembrar, raciocinar, formar estruturas complexas de pensamentos e a capacidade para produzir
respostas a solicitações e estímulos externos (MELO et al, 2017). As disfunções cognitivas
podem interferir na habilidade de o indivíduo entender e integrar precisamente todas as partes
de uma situação. Além disso, podem ser encontradas dificuldades em manter uma recordação
de eventos anteriores e associar informações relacionadas entre si (FERRO; LINS; TRINDADE
FILHO, 2013).

De acordo com a gravidade das sequelas apresentadas, esses pacientes têm


comprometido seu nível de independência funcional nas atividades cotidianas, tais como
alimentar-se, tomar banho, fazer a toalete, vestir-se, deambular, deitar-se e levantar-se,
necessitando de auxílio de outra pessoa para a realização das atividades de vida diária
(BENVEGNU et al, 2008).

Associadas a isso, surgem as complicações como limitações na realização de atividades


de vida diárias, presença de doenças crônicas e alterações do estado cognitivo, que predispõem
ao encaminhamento destas pessoas às instituições de longa permanência de idosos (ILPI),
muitas vezes pelos seus familiares (MELLO; HADDAD; DELLAROZA, 2012). A dificuldade
da família em fornecer suporte contínuo que idosos dependentes necessitam, somada à
incapacidade em permanecer em casa por tempo integral e por impossibilidade de contratar
profissionais especializados são motivos primordiais para a institucionalização (LINI;
PORTELLA; DORING, 2016).

A maioria dessas ILPI não possui recursos financeiros e humanos para oferecer ao idoso
uma atenção integral (MELLO; HADDAD; DELLAROZA, 2012). Contudo, são necessárias
abordagens multidimensionais e uma avaliação completa, principalmente em idosos pós AVE,
pois analisar em qual estágio as alterações cognitivas e funcionais aparecem permitirá
identificar um preditor da evolução e prognóstico do paciente, delineando de forma mais
objetiva a reabilitação e desenvolvendo atividades específicas (SILVA et al, 2011).

O interesse em pesquisar sobre a cognição pós ictus dos idosos institucionalizados e de


aprofundar os conhecimentos sobre esta temática partiu das acadêmicas da Universidade
Federal de Goiás, Regional Jataí (UFG/REJ), participantes do projeto de pesquisa intitulado
“Saúde do idoso institucionalizado: qualidade de vida, atividade física e integração social”.
Durante a coleta de dados referentes a este projeto, realizada na ILPI selecionada, entendeu-se
a necessidade de estudar o impacto do comprometimento cognitivo nesta população. É
relevante rastrear o nível de consciência, que pode contribuir para o aumento da precisão

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 315


diagnóstica, influenciar no uso de medicamentos e principalmente para se repensar ações que
contribuam para o desenvolvimento por meio de um plano de reabilitação adequado e particular,
além de embasar ações de saúde focadas nesta população.

Nesse sentido, objetiva-se, com este estudo, descrever o desempenho de idosos inseridos
em uma ILPI em Jataí, Goiás, Brasil, que tiveram AVE, por meio do Montreal Cognitive
Assessment (MoCA test versão brasileira).

METODOLOGIA

TIPO DE ESTUDO

Trata-se de um estudo quantitativo de caráter descritivo, analítico e transversal


(ESTRELA, 2018). O método quantitativo é conclusivo, o objetivo é o de quantificar um
problema e entender a sua dimensão e característica. Em suma, esse tipo de pesquisa fornece
informações numéricas sobre o comportamento do participante (PÁDUA, 2019). Pesquisa
descritiva é uma das classificações da pesquisa científica, cujo objetivo é descrever as
características de uma população, um fenômeno ou experiência para o estudo realizado de
acordo com o tempo e o lugar. Estudos analíticos são delineados para examinar a existência de
associação entre uma exposição, doença ou condição relacionada à saúde. Os estudos
transversais descrevem uma situação ou fenômeno em um momento não definido, apenas
representado pela presença de uma doença ou transtorno (ESTRELA, 2018; PÁDUA, 2019).

LOCAL DA PESQUISA

A pesquisa foi realizada nas dependências de uma ILPI localizada no município de Jataí,
Goiás, Brasil. Trata-se de uma instituição fundada em 19 de agosto de 1952, é uma organização
espírita, de caráter científico e filosófico, beneficente, ambulatorial, de assistência social, sem
finalidade lucrativa, com prazo de duração indeterminado. Presta serviços de apoio social a
pessoas acima de sessenta anos com atendimento em período integral. O quadro de funcionários
é constituído por cuidadores (14), fisioterapeuta (1), nutricionista (1), assistente social (1),
recursos humanos (1), recepcionista (1), psicóloga (1), geriatra (1), enfermeiras (2), servidoras
gerais (4), faxineiros (4), cozinheiros (3), copeiras (4), camareiras (3), lavadeiras (2),
totalizando 42 funcionários no ano de 2019, na instituição.

AMOSTRA

A amostra por conveniência foi constituída de um grupo de sete idosos residentes na


ILPI.

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CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Foram incluídos idosos que em alguma fase da vida tenham sido acometidos pelo AVE
e aceitaram participar da pesquisa. Entretanto, foram excluídos os que apresentavam:
deficiência auditiva ou visual sem método de correção e alterações motoras graves suficientes
para interferir na realização da avaliação cognitiva.

INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

Para a realização da pesquisa foram utilizados os seguintes instrumentos: formulário de


pesquisa adaptado, composto por dados sociodemográficos, e o Montreal Cognitive Assessment
(MoCA).

O questionário sociodemográfico utilizado continha as seguintes variáveis: sexo, idade,


última profissão antes do ictus, arranjo conjugal, escolaridade, comorbidades, tempo de lesão e
tempo de ILPI.

O MoCA foi selecionado para avaliar a função cognitiva, com o objetivo de rastrear o
declínio cognitivo. O MoCA test foi desenvolvido por Nasreddine et al (2005) com finalidade
de construir um instrumento de rastreio cognitivo que detecta comprometimento de déficit
cognitivo leve (DCL). Este teste está disponível em várias línguas e avalia oito domínios
cognitivos diferentes: funções executivas, atenção e concentração, linguagem, memória,
capacidades visoconstrutivas, cálculo, orientação e capacidade de abstração (NASREDDINE
et al, 2005; BERTOLUCCI; MINETT, 2003; SARMENTO; BERTOLUCCI; WAJMAN,
2008).

No Brasil, o MoCA test foi adaptado e traduzido pela equipe da Universidade Federal
de São Paulo (Unifesp) conduzida por Bertolucci e Minett (BERTOLUCCI; MINETT, 2003;
SARMENTO; BERTOLUCCI; WAJMAN, 2008). A pontuação total máxima do instrumento
é de 30 pontos e pode variar de 0 a 30, sendo que deve ser atribuído um ponto suplementar à
pontuação obtida se o indivíduo tiver menos de doze anos de escolaridade. Uma pontuação
igual ou superior a 26 pontos é considerada normal (NASREDDINE et al, 2005).

PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS

A coleta de dados foi realizada em janeiro de 2019, pela equipe acadêmica composta
por alunas de iniciação científica dos cursos de Educação Física e Fisioterapia, após orientação
e treinamento específico realizado pelas professoras e pesquisadoras, com foco na aplicação do
formulário da pesquisa e do MoCA, a fim de proporcionar padronização durante a coleta. A

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 317


equipe foi monitorada pela pesquisadora principal frente às atividades realizadas em campo.
Em um primeiro momento foi preenchido o formulário de pesquisa e em seguida a aplicação
do MoCA para os membros da amostra.

PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DOS DADOS

Elaborou-se um banco de dados no aplicativo Excel 2016 para a implementação do


processo de avaliação. Foram realizadas análises descritivas quanto a idade, gênero e
escolaridade, última profissão antes do ictus, arranjo conjugal, referências de doenças, tempo
de lesão e tempo de ILPI. Os resultados foram apresentados segundo distribuições de
frequências e medidas estatísticas descritivas, tais como média aritmética, desvio-padrão (DP),
valores mínimo e máximo para as variáveis quantitativas.

ASPECTOS ÉTICOS

O estudo respeita os princípios éticos das Resoluções do Conselho Nacional de Saúde


466/2012 e 510/2016, de acordo com suas diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa
envolvendo seres humanos. O trabalho é parte integrante do projeto de pesquisa intitulado
“Saúde do idoso institucionalizado: qualidade de vida, atividade física e integração social”,
aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa sob o parecer número 2.025.061, de 20/4/2017.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A amostra foi composta por sete indivíduos com predominância do sexo masculino
(85,71 % homens), o que é incompatível com o perfil demográfico dos idosos brasileiros, pois
há predomínio de idosos do sexo feminino, conforme apontam os resultados das pesquisas de
Almeida et al (2015), Rosa, Santos Filha e Moraes (2018), Melo et al (2018) e Ferreira et al
(2019). Em um destes estudos (FERREIRA et al, 2019), dentre 130 idosos institucionalizados
avaliados, 73,1% são do sexo feminino, caracterizando o fenômeno da feminização da
população idosa.2

A maior frequência de idade apresenta-se na faixa etária dos 60 aos 65 anos (42,85%),
sendo que a idade mínima foi de 65 anos e a máxima de 84 anos. Considerando o arranjo
conjugal, 57,13% declararam-se solteiros, o que condiz com os estudos realizados por Melo et
al (2018), em que 214 idosos institucionalizados foram investigados, 54 % deles apresentam o
estado civil solteiro; por Melo et al (2017), em que houve predomínio de 67,6 % de idosos
solteiros; e por Lini, Portella e Doring (2016), em que 90,5 % dos idosos institucionalizados
não tinham companheiro.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 318


Com relação à escolaridade, 42,85 % declararam possuir ensino fundamental completo;
28,57% possuem nível superior; 14,29 % concluíram o ensino médio; e 14,29 % declararam ser
analfabetos e relataram que nunca receberam uma educação escolar formal. Destaca-se que a
maioria da amostra apresenta até nove anos de escolaridade (57,14%). Esses resultados
corroboram com o estudo realizado na cidade de Fortaleza com 33 idosos em que 48,5 % dos
idosos apresentaram ter o ensino fundamental incompleto/completo (CORDEIRO et al, 2015).
O estudo realizado por Ferreira et al (2019) também coincide com os resultados encontrados,
pois dos 130 idosos institucionalizados, 28,5% apresentavam as séries iniciais do ensino
fundamental e 20,8% eram analfabetos. A descrição geral da amostra baseada nas variáveis
sociodemográficas colhidas se encontra na tabela 1.

Tabela 1 - Variáveis sociodemográficas de idosos pós ictus institucionalizados. Jataí, Goiás, Brasil, 2019.
Variável N %
Sexo
Masculino 6 85,71
Feminino 1 14,29
Faixa Etária
60 a 65 anos 3 42,85
66 a 71 anos 1 14,29
72 a 77 anos 2 28,57
78 a 84 anos 1 14,29
Arranjo Conjugal
Solteiro (a) 4 57,13
Divorciado (a) 1 14,29
Separado (a) 1 14,29
Viúvo (a) 1 14,29
Escolaridade
Analfabeto 1 14,29
Fundamental 3 42,85
Médio 1 14,29
Fonte: dados da pesquisa
Para reconhecer o padrão cognitivo dos idosos institucionalizados pós ictus foram
colhidas variáveis clínicas para a identificação e caracterização do padrão de saúde da
população estudada. Na variável comorbidades identificou-se as seguintes categorias: doenças
cardíacas (28,70 %), doenças cardíacas e diabetes mellitus (14,20%), doenças neurológicas
(14,20%), artrite e artrose (14,20%) e 28,70% não possuem nenhuma doença de base.

Um estudo realizado por Jerez-Roig et al (2016) em 10 ILPI do município de Natal-RN,


com 144 idosos, encontrou que 94,4% eram portadores de doenças crônicas. Especificamente,
63,9% hipertensão arterial, 32,6% diabetes, 12,5% doença cardiovascular, 11,8% doença
reumática e 9,0% acidente vásculocerebral. Outro estudo desenvolvido em Goiânia, por

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 319


Borgesa, Garcia e Ribeiro (2009) constatou que 53% dos idosos institucionalizados
apresentaram doenças cardiovasculares e 31 % doenças musculoesqueléticas.

Considerando o histórico de AVE, em 42,85 % da amostra o quadro da doença ocorreu


a menos de um ano e 28,57% entre 10 a 14 anos. O maior percentual da amostra (85,71%)
ocorreu entre profissionais assalariados antes do AVE e apenas 14,29 % foram profissionais
liberais.

A análise do tempo de institucionalização dos idosos demonstrou que 28,57% dos


indivíduos foram inseridos a menos de um ano, entre 1 a 5 anos e entre 5 a 9 anos e apenas
14,29% da amostra foi inserido entre 10 a 14 anos. A pesquisa desenvolvida em nove ILPI da
cidade do Recife, que investigou o total de 214 de idosos, constatou que 29,4% foram inseridos
a menos de um ano, 43,4% entre 1 a 5 anos e 27,1% a mais de 5 anos (MELO et al, 2018),
dados que corroboram com este estudo, que embora seja uma série de estudos de casos,
conseguiu representar o perfil sócio demográfico de outras regiões do País. A descrição geral
da amostra baseada nas variáveis sócio demográficas colhidas se encontra na tabela 2.

Tabela 2 - Variáveis clínicas de idosos pós ictus institucionalizados. Jataí, Goiás, Brasil, 2019.
Variável N %
Comorbidades
Não apresenta 2 28,7
Doenças Cardíacas 2 28,7
Doenças Cardíacas e Diabetes 1 14,2
Doenças Neurológicas 1 14,2
Artrite e Artrose 1 14,2
Tempo de Lesão
Menos de 1 ano a 4 anos 3 42,85
5 a 9 anos 1 14.29
10 a 14 anos 2 28,57
Sem informação 1 14.29

Variável N %
Tempo de Institucionalização

Menos de 1 ano 2 28,57


1 a 5 anos 2 28,57
5 a 9 anos 2 28,57
10 a 14 anos 1 14,29
Fonte: dados da pesquisa
Após a aplicação do teste foi feita a avaliação e interpretação pelo pesquisador principal.
Dos 58, 3% dos indivíduos que responderam ao teste aplicado todos apresentaram notas abaixo
do score de corte. A menor pontuação alcançada no MoCA foi de 2 pontos e a maior foi de 20

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 320


pontos. Dessa forma, 42,8% da amostra, obteve a pontuação ente 2 a 7 pontos, 42,8% teve a
pontuação entre 15 a 21 pontos e 14,2 % pontuaram entre 8 a 14 pontos (tabela 3).

Tabela 3 - Pontuação dos idosos pós ictus institucionalizados no MoCA test. Jataí, Goiás, Brasil, 2019.
Amostra Pontuação MoCA %
3 1a7 42,8
1 8 a 14 14,2
3 15 a 21 42,8
Fonte: dados da pesquisa
Os valores médios dos escores MoCA do estudo foram menores do que os encontrados
pelo estudo de validação da MoCA no Brasil (MEMÓRIA et al, 2013) e do estudo inicial de
Pádua et al (2019).

A variação dos escores médios do MoCA nos diversos estudos é grande, e pode ser
explicada pelas diferenças linguísticas e culturais entre a versão original em inglês e demais
versões do MoCA e, principalmente, pelas diferenças de idade, escolaridade e demais
características sociodemográficas e clínicas da população em estudo. Em relação ao teste, a
tabela 4 mostra a média geral do teste, mediana, taxas de variância e desvio padrão.

Tabela 4 - Desempenho no MoCA test dos idosos pós ictus institucionalizados. Jataí, Goiás, Brasil, 2019.
Média Mediana Variância Desvio Padrão
11,7 13 54,57 7,38
Fonte: dados da pesquisa
A média de desempenho no MoCA foi de 11,7. O estudo transversal realizado por
Toglia et al (2012) com a população de idade média de 70 anos e que haviam sofrido AVE sub
agudo constatou que os participantes obtiveram média no MoCA de 17,8 e desvio padrão de
6,3 o que contrasta com o resultados desse estudo, pois mostra-se inferior à média estabelecida
como nota de corte do teste utilizado, o que significa que em geral a amostra não está dentro
dos índices aceitáveis do teste.

Em relação às propriedades psicométricas do teste foram avaliadas sete funções:


visoespacial/executiva, nomeação, atenção, linguagem, abstração, evocação tardia e orientação.
Foi avaliado ainda a média, variância, desvio padrão, mínimo e máximo, dos sete domínios
avaliados pelo MoCA test na amostra estudada (tabela 5).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 321


Tabela 5 - Propriedades psicométricas do MoCA test dos idosos pós ictus institucionalizados. Jataí, Goiás,
Brasil, 2019.
Média Variância Desvio Mínimo Máximo
Padrão
Visoespacial/ 0,57 0,29 0,53 0 1
Executiva
Nomeação 1,57 1,62 1,27 0 3
Atenção 2,42 2,29 1,51 0 4
Linguagem 1,28 0,57 0,76 0 2
Abstração 0,28 0,57 0,76 0 2
Evocação tardia 1,00 1,29 0 3

Orientação 3,85 6,48 2,54 0 6


Fonte: dados da pesquisa
Ao avaliar as propriedades psicométricas do teste notou-se que as que apresentaram
maior índice de desempenho foram as de orientação e atenção, já a que apresentou o menor
desempenho pela amostra estudada foram as de visoespacial/executiva.

Um estudo normativo norte americano (n=2.653) evidenciou um declínio na pontuação


do MoCA com o incremento da idade, principalmente nos idosos com menor escolaridade
(ROSSETTI et al, 2011). Nessa investigação a maioria dos idosos possui menos que 12 anos
de ciclo de estudos. É possível que o maior impacto da idade sobre a cognição ocorra em
indivíduos com baixa escolaridade, devido a uma menor reserva cognitiva entre os indivíduos
menos estudados, levando a uma menor capacidade de recrutar rede neuronal e compensar as
alterações cognitivas relacionadas com a idade.

Por fim, é possível que idosos com menor escolaridade se exponham menos à
estimulação cognitiva nas atividades de vida diária ao longo dos anos, levando a maior risco de
declínio cognitivo. Educação é um importante fator de estímulo para a cognição, levando ao
aumento na capacidade cognitiva (TRINDADE et al, 2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É possível depreender, a partir da análise realizada, que todos os idosos pós ictus
institucionalizados, residentes na ILPI investigada, apresentaram prejuízo cognitivo, bem como
dificuldades principalmente nas funções visoespacial/executiva. Considera-se importante que
os profissionais de saúde propiciem, durante a reabilitação, incentivos mentais e físicos
constantes, por meio de exercícios que estimulem a cognição, motivação, aprendizado e
mantenham preservadas as capacidades cerebrais dos idosos para potencializar a funcionalidade
cognitiva e reduzir perdas. As dimensões afetadas no âmbito do comprometimento cognitivo

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 322


podem ser melhor estudadas em outras ILPI a fim de promover a detecção precoce de alterações
cognitivas para contribuir com uma melhor qualidade de vida desta população.

FINANCIAMENTO

Este projeto não contou com nenhum tipo de financiamento. Teve alunos vinculados ao
Programa Institucional Voluntário de Iniciação à Pesquisa (Pivic) pela universidade.

AGRADECIMENTOS

Agradecimentos especiais ao Albergue São Vicente de Paulo, ILPI que recebeu a equipe
de pesquisa e de extensão da universidade, e que não mediu esforços para criar condições e
auxiliar em tudo o que foi necessário para o bom andamento das atividades.

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CAPÍTULO 26
EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL POR MATERIAL BIOLÓGICO EM UM HOSPITAL
DE ENSINO: ESTUDO RETROSPECTIVO
DOI: 10.47402/ed.ep.c202159326980

Eliane Carlosso Krummenauer, Enfermeira, Hospital Santa Cruz e Mestre em Promoção da


Saúde, UNISC
Rochele Mosmann Menezes, Farmacêutica Clínica, Hospital Santa Cruz, e Mestre em
Promoção da Saúde, UNISC
Letiane de Souza Machado, Mestre em Promoção da Saúde, UNISC
Igor Neumann, Acadêmico de Farmácia, UNISC
Ana Elizabeth Kautzmann, Enfermeira, Hospital Santa Cruz
Jane Dagmar Pollo Renner, Docente e Doutora Biologia Celular e Molecular, UNISC
Hildegard Hedwig Pohl, Docente e Doutora Desenvolvimento Regional, UNISC
Marcelo Carneiro, Médico, Doutorado Ciências Médicas, UNISC

RESUMO
Objetivo: Caracterizar os acidentes de trabalho com material biológico em trabalhadores de um
hospital de ensino do interior do Rio Grande do Sul. Metodologia: Delineamento retrospectivo,
quantitativo, com coleta de janeiro de 2016 a dezembro de 2019, em fichas de registro no
Sistema de Informação de Agravos de Notificação, analisados por meio de estatística descritiva.
Resultados: Foram identificados 111 acidentes de trabalho com material biológico.
Destacaram-se: mulheres (86,5%%), 98,2%) e técnicas de enfermagem (81,1%) A média de
idade dos profissionais foi de 30,9 (+8,4) anos e a média de ocupação na atividade foi de 3,6
(+4,6) anos. A principal lesão foi percutânea (78,4%), com agente de lesão a agulha com lúmen
(52,3%). Em 93,7% dos casos o sangue apareceu como como o tipo de secreção, sendo o
procedimento cirúrgico o principal tipo de acidente (22,5%), seguido da administração de
medicação endovenosa (17,1%) e a taxa de uso de EPI’s foi de 66,7%. A taxa de vacinação
contra hepatite B foi de 97,3% e destes a soroconversão aconteceu em 95,5% dos casos. Quanto
aos pacientes fonte verificou-se que os testes foram não reagentes em 93 (83,8%) casos para
HBsAg, 95 (85,6%) casos para anti-HIV e 94 (84,7%) casos para anti-HCV. Esse diagnóstico
é relevante para estabelecer políticas institucionais atualizadas de prevenção de acidentes
através de ações de prevenção de doenças e agravos para a promoção da saúde dos
trabalhadores.
PALAVRAS-CHAVE: Exposição Ocupacional; Material Biológico; Acidente de Trabalho;
Feminização; Promoção da Saúde

INTRODUÇÃO

O trabalhador da área da saúde está exposto constantemente à riscos de contaminação


com materiais biológicos. Podemos destacar às doenças infectocontagiosas como as principais
fontes de transmissão de microrganismos para os profissionais. Essa disseminação pode
acontecer decorrente do contato direto com fluidos durante a realização de procedimentos

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 326


invasivos ou pela manipulação de artigos, resíduos e até mesmo através de superfícies conta-
minadas, pelo não uso adequado das medidas de biossegurança (BRASIL, 2019a; BRASIL,
2011b; CARDOSO et al., 2019; GARNER, 1996).

Várias ações e protocolos de atendimento são recomendados para minimizar o risco de


exposição ocupacional inerente à prática. Essas medidas estão contempladas nas diretrizes das
precauções padrões que orientam cuidados para manipular dispositivos, descartá-los em locais
apropriados, não reencapar agulhas, usar luvas, máscaras e óculos sempre que houver risco de
contato com sangue ou outro material biológico, além da utilização de dispositivos de segurança
(BRASIL, 2011c; BRASIL, 1998d; BRASIL, 2012e)

O problema dos acidentes de trabalho (AT) com exposição a material biológico entre
trabalhadores de saúde é uma preocupação mundial. Esses acidentes expõem esses profissionais
ao risco de infecções, principalmente, as hepatites B e C e o vírus da imunodeficiência humana
adquirida (HIV). O risco para as soroconversões após a exposição ocupacional depende do grau
de contato com o material biológico e das medidas profiláticas aplicadas (BRASIL, 2017h).

A Norma Regulamentadora nº. 32 (NR 32) orienta condutas para proteção e segurança
dos trabalhadores da área de saúde. Pode-se destacar a oferta de equipamentos de proteção
individual (EPI), capacitação, imunização contra hepatite B e recipientes adequados para
descarte de perfurocortantes. Também define o plano de prevenção de riscos de acidentes com
materiais perfurocortantes, sendo preconizado o uso de dispositivos de segurança (BRASIL,
2005f, BRASIL, 2011g)

Todos os casos confirmados de acidentes de trabalho com exposição a material


biológico devem ser registrados na ficha de investigação de acidente de trabalho com exposição
a material biológico do sistema de informação de agravos de notificação (SINAN). Nesta ficha,
a exposição ocupacional ao material biológico é avaliada quanto ao potencial de transmissão
de doenças infecciosas, com base em alguns critérios tais como: tipo de exposição, tipo e
quantidade de fluido e tecido, status sorológico da fonte e do acidentado e susceptibilidade do
profissional exposto (BRASIL, 2017h).

Esse estudo teve por objetivo caracterizar os acidentes de trabalho com material
biológico em trabalhadores hospitalares.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 327


METODOLOGIA

Trata-se de estudo retrospectivo realizado em um hospital de ensino no interior do Rio


Grande do Sul. Os dados foram obtidos a partir das fichas de notificações compulsória do
SINAN, disponibilizadas pelo Serviço Especializado em Engenharia e Segurança e em
Medicina do Trabalho (SESMT). Os critérios de inclusão foram as notificações selecionadas
de acidentes com exposição à material biológico e perfurocortante que ocorreram no hospital
nos anos de 2016 à 2019.

Para a verificação das variáveis categóricas foram realizadas testes de frequência,


percentual e média. As análises estatísticas foram realizadas através do software Statistical
Package for Social Sciences (SPSS) versão 23.0 (IBM, Armonk, NY, USA).

RESULTADOS

Foram identificados 111 acidentes de trabalho com material biológico. Verificou-se que
a maior parte dos trabalhadores foram mulheres (86,5%), brancas (98,2%) e técnicas de
enfermagem (81,1%). Os grupos menos notificados foram os enfermeiros 12,6%, médicos
2,7%, auxiliar de higienização 1,8%, auxiliar de lavanderia 0,9% e auxiliar de resíduo 0,9%.

A média de idade dos profissionais foi de 30,9 (+8,4) anos e a média de ocupação na
atividade foi de 3,6 (+4,6) anos. A principal lesão foi percutânea (78,4%), com agente de lesão
a agulha com lúmen (52,3%). Em 93,7% dos casos o sangue apareceu como o tipo de material
biológico de contato, sendo o procedimento cirúrgico o principal tipo de acidente (22,5%),
seguido da administração de medicação endovenosa (17,1%). A taxa de uso de EPI’s foi de
66,7%, onde o principal EPI utilizado foi a luva em 65,8%.

Na Tabela 1 estão descritos os acidentes com material biológico quanto à


exposição (local, secreção, circunstância do acidente, material e EPI).

Tabela 1. Descrição dos Acidentes com Material Biológico ocorridos em ambiente hospitalar de
2016-2019
Variável N (%)
Tipo de Exposição
Percutânea 87 (78,4)
Mucosa 19 (17,1)
Outros 5 (4,5)

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 328


Tipo de Secreção
Sangue 104 (93,7)
Outros 7 (6,3)

Circunstância do Acidente
Punção/Administração de Medicamentos 45 (40,5)
Descartes/manipulação inadequado de perfurocortante 20 (18,0)
Procedimento cirúrgico 25 (22,5)
Outros/Ignorado 21 (19,0)

Agente
Agulha com lúmen 58 (52,3)
Agulha sem lúmen 9 (8,1)
Lâminas/lancetas 10 (9,0)
Outros 34 (30,6)

Uso do EPI
Sim 74 (66,7)
Não 37 (33,3)

Dentre as circunstâncias do acidente, a punção/administração de medicamentos foi de


45 (39,6%) casos [punção/administração medicação intravenosa foi de 31 (68,8%), a
administração de medicação subcutânea 10 (22,2%) e a administração de medicação
intramuscular 4 (8,88%)]. A classificação “Outros” dentro das análises refere-se à opção
apresentada pela ficha do SINAN, não sendo possível identificar o tipo de acidente.

Em 97,3% dos funcionários o esquema vacinal completo contra hepatite B foi


confirmado e apresentavam 95,5% de anticorpos reagentes (anti-HBs). Quanto a descrição
sorológica do paciente fonte, verificou-se que os testes foram não reagentes em 93 (83,8%)
casos para HBsAg, 95 (85,6%) casos para anti-HIV e 94 (84,7%) casos para anti-HCV.

De todos os pacientes fontes submetidos ao teste sorológico, 3 (2,7%) apresentavam


anti-HIV, anti-HCV e HBsAg reagente. Em 2 (1,8%) pacientes fontes não foi realizado testes
sorológicos. O teste não foi realizado em dos pacientes conhecidos. Referente a conduta no
momento do acidente, 96 (86,5%) casos não possuíam indicação para quimioprofilaxia, e 8

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 329


(9,0%) necessitaram iniciar esquema profilático para HIV. Um (0,9%) profissional exposto
recusou-se a utilização de quimioprofilaxia para HIV. Nos desfechos dos casos, 101 (91,0%)
profissionais de saúde tiveram alta sem soroconversão. Os pacientes fonte apresentam testes de
triagem não reagentes em 84,7%. Devido a problemas relacionados aos efeitos colaterais dos
antirretrovirais, 4 (3,6%) profissionais de saúde abandonaram a quimioprofilaxia.

DISCUSSÃO

Dos trabalhadores que sofreram maior exposição à material biológico predominaram


mulheres e da equipe de enfermagem, sendo os técnicos de enfermagem os profissionais em
destaque. Os resultados encontrados neste estudo são semelhantes a outros e destacamos a
feminização do processo. É possível entender esta relação dos acidentes com a equipe de
enfermagem, pois apresentam o maior contingente do sexo feminino, maior contato com
pacientes, inclusive realizando procedimentos invasivos para medicação parenteral, ou seja, os
acidentes envolvendo sangue e os ocorridos durante a administração de medicamentos foram
mais frequentes (BORGES, DETONI, 2017; JULIO, FILARDI, MARZIALE, 2014; VIEIRA,
PADILHA, PINHEIRO, 2011; LIMA, OLIVEIRA, RODRIGUES, 2011; BAKKE, ARAÚJO,
2010; CHIODI et al., 2010).

O tipo de exposição verificada durante o acidente com material biológico e que se


destacou neste e outro estudo foi a percutânea em pele íntegra. O sangue foi o fluido ao qual os
trabalhadores foram expostos com maior frequência no momento do acidente. A exposição
percutânea pode ser atribuída ao fato de os procedimentos realizados pela enfermagem serem
executados com materiais perfurocortantes e estes podem estar contaminados com o HIV e os
vírus das hepatites (NWANKWO, ANIEBUE, 2011; GUILARDE et al., 2010; ARAÚJO et al.,
2012; MACHADO, MACHADO, 2011).

A taxa de vacinação contra hepatite B encontrada está semelhante as identificadas na


literatura, no entanto, revelando que o ideal de 100% não é alcançado, embora legalmente uma
medida segura, gratuita e extremamente eficaz. Para os funcionários que realizaram a vacinação
contra o Vírus B, o anti-HBs estava dentro dos parâmetros satisfatórios e corrobora com os
resultados encontrados na literatura. A indicação para este controle sorológico, a fim de detectar
anticorpos protetores contra a hepatite B é desejado e seguro, pois a vacina tem sua eficácia
comprovada de 80% a 100% em prevenir a infecção ou a doença clínica naqueles que recebem
o esquema completo (CDC, 2012; BRASIL, 2017I; WONG, TSANG, 1994).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 330


A utilização do EPI indicado para o tipo de risco de exposição foi identificado em apenas
67,9%. A literatura evidencia fortemente que o acidente de trabalho com material biológico
pode ser evitado mediante a utilização das medidas de biossegurança asseguradas pela NR 32
Este estudo não avaliou os motivos para que tal resultado não tenha adesão orientada (BRASIL,
2011g; RODRIGUES et al., 2017; GIANCOTTI et al., 2014).

Todavia merece destaque, a elevada adesão ao tratamento profilático pelos


trabalhadores. Frisamos a importância de um protocolo de atendimento institucional bem
consolidado e amplamente divulgado para identificação imediata da situação sorológica do
paciente fonte e a rápida conduta de quimioprofilaxia quando indicada e aplicada (REAM et
al., 2016; BARROS, et al., 2016; WU HC et al.,2015; MA et al., 2019).

A exposição ocupacional aos agentes biológicos podem causar danos à saúde física e
mental dos trabalhadores, sentimento de medo e preocupação quanto ao próprio adoecimento e
à transmissão da doença a familiares, interferindo diretamente na organização dos processos de
trabalho, podendo acarretar prejuízos às instituições, em razão dos custos trabalhistas e
previdenciários implicados (MIRANDA et al., 2017).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo possibilitou melhor compreensão sobre os acidentes de trabalho na


instituição e os principais fatores envolvidos neste contexto os quais influenciam na segurança
e no cuidado de saúde aos profissionais e pacientes envolvidos, sendo assim os resultados são
importantes para definição de medidas de prevenção e controle na perspectiva do cuidado à
saúde dos trabalhadores. Esta avaliação de risco continuada e em tempo real, de acordo com a
realidade da instituição, políticas institucionais de prevenção de acidentes através de ações de
promoção da saúde com adequação de dispositivos, atendendo normas de biossegurança e
educação continuada. É necessário fortalecer as estratégias do sistema de notificação para
contribuir no desenvolvimento de políticas públicas para a promoção da saúde dos
trabalhadores.

AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de


Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 331


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Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 334


CAPÍTULO 27
ALCANCES E DESAFIOS NOS DOIS ANOS E MEIO DE IMPLEMENTAÇÃO DE
UM NÚCLEO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
DOI: 10.47402/ed.ep.c202153627980

Taize de Oliveira, Doutoranda em Psicologia do desenvolvimento e aprendizagem, UNESP


Bauru.
Luciana Marolla Garcia, Doutoranda em Psicologia do desenvolvimento e aprendizagem,
UNESP Bauru.
Edson Olivari de Castro, Professor assistente do departamento de Psicologia da UNESP
Bauru.
Vera Lucia Messias Fialho Capellini, Professora titular do departamento de Educação e
vice-diretora da Faculdade de Ciências, UNESP Bauru

RESUMO
O período de graduação universitária possibilita muitas mudanças para os indivíduos que a
experimentam. O crescimento pessoal é vivido como oportunidade de experiências que
promovem a ampliação de enfrentamentos, sendo ocasião para a resolução de novos problemas
e incremento de habilidades socialmente relevantes para a boa interação social. No entanto, esse
contexto pode também salientar dificuldades e acentuar manifestações ansiosas e depressivas
desencadeadoras de sofrimento, em especial inibições e sintomas, o que interfere na vivência
dos estudantes e seu processo de desenvolvimento como indivíduo e sujeito social. O presente
estudo visa descrever os primeiros trinta meses de construção de um Núcleo Técnico de
Atenção Psicossocial que visa atender a comunidade acadêmica no Ensino Superior de uma
universidade pública num município do interior paulista. As atividades iniciais do Núcleo
abraçaram a atenção a propósitos emergentes devido a sinalizadores de fatores de risco à saúde
mental no ambiente acadêmico – afastamentos de estudantes e casos de suicídio – e posterior
adequação a outras demandas, ampliando sua abrangência com ações de prevenção, e
especificação de práticas devido a outros cenários emergentes: pandemia causada pelo vírus
SARS-CoV-2, afastamento social e mudança para o ensino remoto. Os resultados indicam
progressos na implementação e execução do Núcleo, com ampliação de público atingido –
inicialmente concebido para atender alunos do Programa de Permanência Estudantil –; aumento
de graduandos que visam contribuir participando da efetivação das ações; a vinculação de
pesquisas que buscam compreender os efeitos das ações na comunidade e o incremento na busca
e acompanhamento dos estudantes através das redes sociais do Núcleo. Por fim, os resultados
o revelam como um projeto que tem se estruturado para garantir serviços de qualidade, em
conformidade com pressupostos éticos e legais, e acentua o caráter da Universidade como
ambiente de promoção de desenvolvimento social e cidadania, investindo, nesse processo,
também em Saúde Mental.
PALAVRAS-CHAVE: Saúde mental; Núcleo Técnico de Atenção Psicossocial;
Universidade; Prevenção; Acolhimento.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 335


INTRODUÇÃO

O contexto universitário pode ser importante cenário de promoção de crescimento


pessoal, de relacionamentos interpessoais e de resolução de problemas e enfrentamentos. Esse
cenário, que visa desenvolver habilidades profissionais em jovens adultos, pode ser indicado
como ambiência que amplia os alcances de desenvolvimento dos sujeitos, mas que também
pode configurar-se em fatores de risco para o desenvolvimento de experiências de sofrimento,
considerando as demandas dos diferentes públicos e o fato de que muitos iniciam os cursos com
pouca plasticidade nos modos de se relacionar além de respostas estereotipadas e pouco
flexíveis diante dos novos problemas com os quais se deparam.

Leal et al (2019) indica que um importante sinalizador de desenvolvimento no contexto


universitário com os discentes é o desempenho na graduação e que dificuldades na
aprendizagem denotam que o estudante está enfrentando obstáculos e assim necessitando de
assistências diversas. Os autores discorrem sobre as barreiras identificadas que afetam na
aprendizagem, e dentre elas, estão as socioeconômicas e os desafios emocionais e até os
chamados transtornos mentais.

Dentre os desafios emocionais, há apontamentos que destacam desde alterações na


rotina e exigências de vários tipos, até processos de mudanças que esse período da graduação
demanda nas questões de trabalho acadêmico, transferências de cidade em alguns casos, de
organização e planejamento de tarefas, de variações nos relacionamentos e rede de apoio, entre
outras mudanças de desenvolvimento (COSTA; MOREIRA, 2016; BRAGA et. al., 2017,
LEAL et. al., 2019). Dados do FONAPRACE (2014), salientam que dentre as dificuldades
emocionais mais observadas em contexto universitário, com os discentes, está a ansiedade.

O acesso dos estudantes à rede de atenção psicossocial pelo Sistema Único de Saúde
(SUS) é importante medida de enfrentamentos a questões decorrentes dos desafios emocionais
nessa fase, em especial devido ao contexto socioeconômico de muitos deles. No entanto, a
informação é escassa para o público que quase nunca acessou a rede. Rodrigues et. al (2020)
aponta que o acesso às unidades básicas do SUS ainda é difícil, em especial no contexto
pandêmico do COVID-19 que o cenário nacional enfrenta. As autoras referem-se a importantes
estratégias de proteção à saúde mental no contexto universitário que devem fortalecer o SUS a
partir de informações de apoio e das ações universitárias, (p.10):

O foco das ações do Apoio Institucional pela Universidade enfatiza dar potência aos
espaços coletivos para co-gestão e operacionalização de diretrizes da política pública
de saúde mental implementada no município, além da análise e revisão do espaço

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 336


instituído, seus objetivos com definição de nova formatação e atribuições a partir das
diretrizes apresentadas pelos grupos.
Se o ambiente universitário pode se mostrar como contexto de adoecimento, também
pode utilizar estratégias de prevenção e promoção para melhor alcançar a saúde e o
desenvolvimento de todos que convivem nesse universo e lidam diariamente com os fatores de
risco à saúde mental no interior do mesmo, além de oferecer complementos à rede de atenção.
Cerchiari, Caetano e Faccenda (2005) realizaram um histórico sobre a preocupação das
universidades com a saúde mental e adoecimento, em especial com os estudantes. No Brasil,
apenas a partir de 1962, – não por coincidência, época em que se concebiam os primeiros cursos
de psicologia – há estudos referentes a esse contexto como promotor de fatores de risco e análise
da saúde de estudantes. Mas, segundo os autores, apenas em 1987 aparecem relatos da efetuação
de um serviço voltado ao atendimento psicológico dos alunos: o Serviço de Atendimento
Psicológico e Psiquiátrico ao Estudante (SAPPE), da Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP), promovendo ações assistenciais e ações preventivas.

Muitas universidades têm buscado iniciativas referentes às frentes de prevenção e


assistência para atender à comunidade interna. Embora, vise à comunidade acadêmica como
um todo, os maiores índices de procura dos serviços são dos estudantes, e tais autores detalham
a implantação de um serviço de atenção à comunidade, no qual 85% dos prontuários eram de
estudantes, 3% de técnicos administrativos, 6% de docentes e 6% de familiares de discentes.
Dentre a população atendida estava o maior número de estudantes do gênero feminino e com
idade entre 19 e 20 anos, na qual as queixas identificadas eram: dificuldades em
relacionamentos interpessoais, dificuldades na aprendizagem, baixa autoestima, entre outros
sintomas emocionais.

A atuação da universidade em relação à promoção de saúde mental e responsabilidade


com todos os sujeitos que convivem nesse ambiente se mostra como importante estratégia
complementar ao desenvolvimento pessoal e profissional dos sujeitos que frequentam e
desfrutam dessa conjuntura, mas em especial, se caracteriza como uma responsabilidade
institucional. Assis e Oliveira (p.167, 2010) definem:

[...] os serviços e espaços que compõem a assistência estudantil ofertada por uma
universidade refletem o compromisso social desta para com toda a comunidade
universitária e a sociedade que a mantém financeiramente, e lhe confere o título de
escola formadora de pensamentos, opiniões e projetos de desenvolvimento do país.
Isso posto, o presente trabalho objetiva explanar os três primeiros anos de um núcleo de
atenção psicossocial voltado para a comunidade universitária numa cidade do interior paulista.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 337


O projeto inicialmente ofereceu atendimentos em caráter de atenção, e posteriormente, a partir
das demandas observadas, se organizou para uma configuração que fosse capaz de uma atuação
dirigida tanto à promoção de ações referentes a atenção e prevenção em saúde mental, quanto
práticas de acolhimentos e assistência. Justifica-se a criação e implementação do núcleo como
entidade que visa promover a saúde mental em contexto universitário que se mostrava prenhe
de fatores de risco, buscando alterá-lo para um ambiente que promovesse fatores de proteção e
melhorar nos patamares de desenvolvimento.

I – A ELABORAÇÃO DO ESTUDO

Utilizou-se no relato o método cartográfico para narrar o presente trabalho,


caracterizado como mapeamento da experiência fática, real, por ocasião da implantação e
implementação de um núcleo técnico de atenção psicossocial incluindo seu percurso de dois
anos e meio de funcionamento, em um dos campi de uma universidade pública do interior
paulista. Este capítulo, portanto, apresenta-se como um relato de experiência que abrange desde
a elaboração do projeto, sua efetuação e resultados ao longo de 2 anos e meio da existência do
núcleo.

O núcleo foi elaborado, enquanto projeto inicial, a partir da mudança de diretorias e


vice-diretorias no ano de 2018, como uma iniciativa das vice-diretorias de três unidades de um
dos campi da universidade. Ressalta-se a Resolução 78, de 7 de outubro de 2016, que estabelece
normas para a concessão de auxílios de permanência estudantil, e dentre as disposições aborda
que “outras formas de auxílio poderão ser desenvolvidas pelas unidades visando a permanência
estudantil”: o núcleo, nesse sentido, visa agregar-se às políticas de permanência. Inicialmente
o projeto foi piloto e depois apoiou-se nessa resolução.

O projeto de criação e desenvolvimento do NTAPS (Núcleo Técnico de Atenção


Psicossocial) não requereu submissão ao comitê de ética devido ao fato deste ser um projeto de
gestão de vice-diretorias e não se caracterizar como pesquisa, além de não envolver dados
identitários dos sujeitos acolhidos, compreendendo apenas a “descrição” de uma ação de gestão,
seu contexto, suas justificativas de elaboração e os efeitos posteriores à efetivação, embora
tenha se tornado, com o passar do tempo em rico campo de pesquisas.

II - PERCURSO E RESULTADOS DO NÚCLEO

O Núcleo enquanto projeto inicial em 2018 objetivou atender alunos do Programa de


Permanência Estudantil (PPE) a partir de ações assistenciais e de promoção. Em 2019 o NTAPS

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 338


teve seus objetivos e ações implementadas reconfigurados, cujos principais resultados serão
abordados no presente relato. Inicialmente, será descrito o contexto universitário no qual o
Núcleo surge e as mudanças realizadas nos dois anos e meio de sua efetivação e resultados.

O CONTEXTO UNIVERSITÁRIO DA ÉPOCA

O contexto no qual o núcleo se insere é o de uma universidade pública do interior


paulista. A unidade universitária é compreendida por cerca de 420 docentes, 490 servidores
técnicos e administrativos e ultrapassa a casa dos 7 mil discentes. Nesse contexto, nos anos de
2017 e 2018, ocorreram dois suicídios de estudantes vinculados à universidade, um em cada
ano. Em 2018, ocorreu a solicitação de afastamento de discentes das atividades acadêmicas
devido a tentativas de suicídio ou quadros específicos dos chamados “transtornos de humor”.
A elaboração da ideia do núcleo ocorre em ano de troca de gestão, de diretorias das unidades,
e a realização de ações voltadas à promoção da saúde mental vê-se corroborada pelos trágicos
dados.

O NÚCLEO

O Núcleo Técnico de Atenção Psicossocial tem como objetivos promover e discutir a


saúde mental dentro do contexto universitário, a partir de ações voltadas para a prevenção -
com grupos de discussão sobre vários temas (racismo, diversidade, uso de substâncias
psicoativas etc.) – e atenção às demandas, por meio de acolhimento individual e assistência (aos
estudos, organização do tempo etc.) e ainda através de ações informativas (suicídio, infecções
sexualmente transmissíveis, entre outros) de caráter preventivo. O Núcleo atua hoje, então, por
meio de acolhimento, assistência e ações informativas de prevenção. Atua por meio de ações
individuais, grupais e coletivas voltadas a toda comunidade universitária, com três frentes de
atuação: promoção e prevenção (atividades temáticas de saúde mental); acolhimento; e
assistência.

Contudo, iniciou suas atividades em 2018 com atuação apenas na atenção a demandas
já existentes em saúde mental e assistência voltada para atendimento de um grupo específico
da universidade: alunos do PPE. Em 2019 foi implementada a frente de prevenção, com o
objetivo de disseminar no ambiente universitário, a informação e comunicação sobre fatores de
riscos à saúde mental e diminuir os riscos associados ao adoecimento (WEIZ et al., 2005;
ABREU et al., 2014), além da ampliação do público-alvo atendido, que foi estendido para todos
os alunos do contexto universitário que buscassem o núcleo diretamente (assistência,
acolhimentos) e indiretamente (promoção e prevenção).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 339


A equipe, assim como o público alvo, e os objetivos do núcleo foram alterados ao longo
dos dois anos e meio, com expansão do número de bolsistas, psicólogos e professores
vinculados para a supervisão. O quadro da equipe também foi modificado entre o primeiro e
segundo ano, com ampliação do número de bolsistas e voluntários. A figura 1 apresenta as
mudanças, em números, de participantes da equipe.

Figura 1. Alteração da equipe nos primeiros anos de Núcleo

2018 2019 2020

2 bolsistas da psicologia 2 bolsistas da psicologia 1 bolsista da frente de


clínica (graduadas); clínica (graduadas); Atenção (pós graduanda);
8 voluntárias da 8 voluntárias da 2 bolsistas da psicologia
psicologia clínica psicologia clínica da frente de Prevenção
(graduandas); (graduandas); (graduanda e pós
2 bolsistas da assistência 2 bolsistas da assistência graduanda);
social; social; 9 voluntárias da
1 Assistente social. 1 Assistente social; psicologia frente de
3 docentes de Psicologia 3 Docentes de Psicologia prevenção (graduandas);
como Supervisor como Supervisor 2 bolsistas da assistência
social;
26 alunos voluntários de
acolhimento;
1 Assistente social;
7 psicólogos voluntários
(da Pós Graduação) como
Supervisor ;
3 Docentes de Psicologia
como Supervisor

Fonte: elaborado pelos autores.


Atualmente, o núcleo conta com uma coordenadora (Docente e Vice-Diretora da
Faculdade de Ciências), um psicólogo responsável pela área de promoção e prevenção e
voluntários da área; uma assistente social e dois estagiários de serviço social, 7 psicólogos
voluntários da Pós-Graduação da mesma universidade que atuam como supervisores de casos
clínicos de 26 alunos do curso de Psicologia. O atual modelo, que configurou em 2020 os 7
encontros de acolhimento seguiam um percurso comum, o primeiro encontro com o serviço
social e a psicologia em conjunto, 4 deles com psicólogo ou voluntário de psicologia (sob
supervisão), 1 encontro de encaminhamento e outro de acompanhamento após um mês de
encerramento.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 340


O Fluxograma, na figura 2, indica o modelo organizativo da equipe ao final de 2019 até
meados de 2020.

Figura 2. Equipe atual do NTAPS

Coordenação
Docente da
universidade

Gestão de Pessoas
Docente e
estagiários de
Psicologia
Organizacional

Promoção e
Acolhimento Assistência
Prevenção
Acolhimento e Ações contínuas e
Ações contínuas e
encaminhamentos pontuais
para a rede pontuais

Supervisora Serviço Supervisor Supervisor Psicólogo Psicólogo


Social Psicologia Psicologia responsável responsável
Servidora da Aluno da Pós Coordenação Coordenação
universidade Graduação Docente

Bolsistas e Bolsistas e
estagiários do Voluntários Voluntários voluntários voluntários
serviço social Psicologia Psicologia
Triagem social e 7 sessões de 7 sessões de Realização das Realização das
acolhimento acolhimento acolhimento atividades atividades

Fonte: elaborado pelos autores


Como dissemos, o Núcleo atua em três frentes principais, sendo elas: promoção e
prevenção; acolhimento e assistência. Em todas as frentes de atuação há ações e supervisão,
planejamento de ações por equipe e alterações de condutas conforme necessidades específicas
do contexto universitário, visando atingir a todos de maneira efetiva, segura e ética. A seguir,
são apresentadas as frentes de atuação.

ATUAÇÃO NA PROMOÇÃO E PREVENÇÃO

Tem como público-alvo toda a comunidade universitária: discentes, docentes,


servidores técnicos e administrativos. O objetivo dessa frente de atuação é informar sobre saúde
mental, fatores de riscos e proteção, elucidar sobre comportamentos relevantes para a saúde
mental e promover a diminuição de riscos de adoecimento mental, assim como ampliar

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 341


possibilidades e modos de enfrentamentos. São utilizados como recursos os cine debates, as
rodas de conversas, a comissão de saúde mental, e eventos com temáticas relevantes à saúde
mental. O planejamento de intervenções dessa frente de atuação é feito por reuniões semanais,
visando discutir ações presenciais e remotas no atual contexto de pandemia da COVID-19.

ATUAÇÃO NO ACOLHIMENTO

Tem como público-alvo toda a comunidade universitária: discentes, docentes,


servidores técnicos e administrativos. O objetivo dessa frente é a escuta acolhedora,
identificação de demandas e a elaboração e execução de uma rede de encaminhamentos. São
utilizados como recursos, os atendimentos individuais, sendo um realizado pelo Serviço Social
e quatro (em 2020 passou a sete atendimentos) realizados pelos profissionais da psicologia,
estudantes bolsistas e voluntários e psicólogos vinculados. O planejamento de intervenções
dessa frente de atuação ocorre mensalmente. Os alunos que atendem recebem supervisão
semanal ou quinzenal em grupo ou individual, a depender do tempo de formação.

Em 2020, o NTAPS passou a contar com atividade de pesquisa de 1 doutoranda na área


de Psicologia, e passou a ter atendimentos em grupos para alunos do primeiro e segundo anos
da graduação. O tema dos atendimentos para esse público é de Habilidades Sociais, pois
compõe uma das áreas de formação contempladas no curso. Sendo assim foi aplicado dentro
do NTAPS, o programa PROMOVE Universitários (BOLSONI, 2019). O público para os
encontros em grupo foi selecionado dentre os inscritos para o acolhimento no NTAPS, que
apresentassem queixas como déficit de habilidades sociais, sintomas de ansiedade e depressão.

Em 2020 foi criado um formulário próprio para inscrição para receber atendimento
psicológico individual na frente de Acolhimento do NTAPS. Antes disso as inscrições eram
feitas por e-mail. Além da elaboração de redes sociais que passaram a atuar como canal de
comunicação e informar a comunidade acadêmica sobre as possibilidades de atendimento e
meios de buscar o Núcleo.

Também em 2020 os atendimentos e a supervisão ocorreram na modalidade online


devido a pandemia no novo coronavírus. A partir de 2020 também se fez necessário uma
formação específica para todos os alunos e voluntários que pretendessem ingressar no NTAPS.
Tal formação compreende como parte do regimento de atuação do Núcleo e visa garantir a
segurança dos serviços ofertados, em consonância com princípios legais de atenção em saúde
mental.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 342


ATUAÇÃO NA ASSISTÊNCIA/ATENÇÃO

Tem como público-alvo os discentes. O objetivo dessa frente é dar continuidade ao


serviço ofertado pela frente de acolhimento, em casos em que há necessidade de atendimento
psicológico por longo prazo. Nessa frente, o caso pode ser atendido por Psicólogo voluntário
do núcleo ou ser encaminhado à rede externa à comunidade universitária como clínicas sociais
por exemplo ou rede de atenção do munícipio. São utilizados como recursos, os atendimentos
individuais e grupais.

ALUNOS ATENDIDOS PELO NTAPS

O núcleo, em 2018 e 2019, atendeu, clinicamente, o maior número de alunos que


procurou por atendimento. Em 2020, já com a implementação de ações preventivas, além das
de assistência e acolhimento, vale a ressalva de que as ações não foram interrompidas com o
cenário pandêmico da COVID-19, mas modificadas para ocorrerem no modelo remoto, devido
à impossibilidade de acontecer presencialmente. Outra observação é que o modelo de ensino
remoto aumentou o número de alunos que buscou o serviço, por demandas atreladas ao novo
modelo de ensino e condições psicológicas promovidas pela pandemia. A figura 3 apresenta
essa alteração em números, sendo que o ano de 2018 é contemplado por apenas um semestre
de execução.

Figura 3. Número de alunos atendidos pelo NTAPS.

2020
98 alunos atendidos
52 alunos nos primeiros
3.340 alunos alcançados
seis meses;
em eventos de prevenção;
90 atendimentos da frente
de acolhimento;
26 atendimentos de longo
2018 e 2019 prazo. (assistência)

Fonte: Relatório Anual NTAPS – 2020.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 343


RESULTADOS

Há, como resultados desse percurso, uma baixa desistência dos alunos atendidos e uma
mudança na realização do núcleo que se mostra diretamente relacionada à mudança do número
de alunos atendidos ao longo dos anos. O núcleo ao longo do tempo modificou sua forma de
atuar, com a colaboração e serviços da rede psicossocial de atenção pública e privada. Há um
número significativo de alunos que são diretamente encaminhados para a rede, outros que são
orientados no atendimento do acolhimento ao serviço mais adequado. Ainda, a mudança
efetuada com a efetuação e ações preventivas, com espaços que promovam elucidações sobre
saúde mental a toda a comunidade, atingiu a comunidade de maneira ampla, sendo tais ações
ofertadas e abertas à participação de todos.

Um dos ganhos do Núcleo no ano de 2019, segundo ano de atuação, foi a Comissão de
Saúde Mental, que é um espaço aberto à toda a comunidade universitária com propostas de
reuniões que discutem tópicos sobre saúde mental no campus e debate sobre possibilidades de
intervenções a serem planejadas e executadas no semestre.

Há ainda, no terceiro ano, em 2020, a construção do Protocolo de saúde Geral e Saúde


Mental, que se embasa em orientações e diretrizes a respeito da atuação do Núcleo sobre as
demandas de saúde geral e mental no contexto universitário. O protocolo será objeto de
treinamento no ano de 2021, com avaliação do mesmo e modificações a partir de estudo piloto.

Nos anos de 2019 e 2020 foram realizadas formações continuadas da equipe técnica do
núcleo, visando capacitá-las para as diferentes demandas e a respeito das diretrizes que orientam
a atuação do núcleo. As capacitações foram ofertadas às equipes de psicologia e de serviço
social e foram elaboradas por uma docente de Psicologia. No mesmo ano, as supervisões dos
atendimentos clínicos se tornaram semanais, diferente do primeiro semestre de 2018, que
ocorriam com periodicidade quinzenal. Outra mudança ocorrida foi a instituição das reuniões
mensais ou quinzenais das diferentes frentes de atuação, que tem o objetivo de reunir a equipe
de cada uma das frentes e busca avaliar e discutir a execução do planejamento. Outro importante
resultado é a participação da comunidade nas ações promovidas pelo núcleo; há alcances
notáveis nesse sentido, tanto na busca pelos serviços de assistência e acolhimento individuais
ou grupais, como também na adesão às ações coletivas e preventivas do núcleo voltadas à
comunidade por inteira. Conforme citado anteriormente, nos anos que antecederam o núcleo
houve dois suicídios de discentes, e posterior à sua realização os casos com fatores de riscos de

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 344


adoecimento semelhantes se mostraram ativos na busca por apoio, não configurando outros
casos de suicídio posterior ao início do trabalho.

No segundo ano de núcleo, houve também ações de orientação e informação sobre a


rede psicossocial municipal que possibilitou outros acessos à comunidade universitária, a partir
da compreensão do funcionamento da rede e a fluência à mesma. Tais ações informativas,
aumentaram a autonomia dos universitários para buscar ajuda posto que muitos discentes não
tinham acesso à rede privada de atenção psicossocial.

Embora o Núcleo tenha sido ampliado à toda a comunidade universitária, a grande


demanda foi por parte dos discentes. Quanto às principais queixas que surgiram no acolhimento,
foram identificadas: a) sintomas de ansiedade e os transtornos de humor; b) baixo conjunto de
habilidades sociais e firmeza nas atitudes de resistência à mudança; c) baixa identificação de
suporte emocional e frouxa rede de apoio; c) baixo repertório de acesso à informação sobre a
rede psicossocial; d) barreiras de relacionamentos interpessoais com colegas e docentes; baixa
qualidade de planejamento e organização para o trabalho acadêmico; e) barreiras
socioeconômicas/financeiras e f) dificuldades em relação a demandas sociais e acadêmicas com
a atual pandemia, que exigiu comportamentos e enfrentamentos específicos os alunos. Todas
as demandas identificadas foram alvos de intervenção por todas as frentes do NTAPS ao longo
dos dois anos e meio – exceto as demandas relacionadas a COVID-19 que foi alvo de ações
apenas em 2020. O resultado das ações ainda indica demandas nas áreas sinalizadas, mas elas
continuam sendo objetos de intervenção.

Ainda, entre os anos de 2019 e 2020 mudou-se o arranjo da organização do Núcleo para
mantê-lo estruturado: foi criado um regimento próprio com regras de condutas relativas ao seu
funcionamento; elaborou-se cargos de coordenação e vice coordenação para implementação do
regimento, e ocorreram formação de equipes para reconhecimento legal do regimento e
conformidade da atuação em consonância com o mesmo.

Outro resultado positivo do Núcleo foi o crescimento e alcance em suas redes sociais,
em especial em 2020, no Instagram o núcleo atinge 960 seguidores, e se encontra em
crescimento e no Facebook já atinge 1.200, contando também já com um site que informa e
orienta sobre como ter acesso aos serviços do Núcleo. As redes sociais facilitaram a
comunicação com o público-alvo além de ampliar as possibilidades de atingi-los com ações
informativas e de prevenção, eventos como lives e interações por perguntas e respostas foram
fomentados por estes canais.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 345


Dentre os princípios e pressupostos do Núcleo definiu-se a) condutas que estejam em
consonância com princípios éticos de cuidado em saúde mental; b) utilização do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido que possibilite atuação de pesquisadores e engajamento
com sinalizadores de fatores de risco ou proteção da comunidade acolhida; c) a extensão de
atendimento a toda a comunidade universitária do campus; d) respeito às normas e regimes do
campus e do Núcleo, visando à promoção de saúde mental com excelência. Os resultados, em
número de pessoas que buscam e se mantém conectadas ao Núcleo, seja como voluntários e
colaboradores ou seja como público que busca os serviços ofertados, indicam que as ações estão
em consonância com os pressupostos, visando um serviço de qualidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Garcia, Capellini e Reis (2020) analisaram a opinião de alunos na mesma universidade


onde este Núcleo foi implantado, porém antes de sua efetivação. O estudo concluiu que na
estrutura universitária identifica-se a escassez de ações voltadas para a promoção de saúde
mental, posto que o número de vezes que os estudantes mencionam as palavras “psicologia” ou
“acompanhamento psicológico”, ou ainda “atendimento psicológico” como necessidade e a
expectativa de que a universidade promovesse o acesso a tais serviços se mostraram como
nuvens de maior frequência. Os números de casos atendidos e de pessoas atingidas através dos
eventos online de Frente de Prevenção (em 2020) mostram que o NTAPS foi bem aceito pelos
discentes em sua atuação e também que já faz parte do dia a dia dos alunos, posto que há
participação dos vários discentes em suas ações e procura dos serviços, além do crescimento
das redes sociais ser outro indicador.

A implantação do NTAPS mostrou-se de suma importância para os alunos desta


universidade, podendo servir como modelo para demais órgãos estudantis e contribuindo na
compreensão do contexto universitário que atue diretamente em ações protetivas à saúde
mental. Além de contribuir com a saúde mental dos alunos, em especial dos discentes
vinculados à permanência estudantil que foram público-alvo desde o início da implementação
do núcleo, ainda há outros indicadores que apontam prática efetiva, como o fato de não ocorrer
novos casos de suicídio ou afastamento devido a questões de saúde mental. Ainda, o NTAPS
se mostrou como fundamental na formação prática dos alunos de Psicologia do campus, que
puderem ter sua primeira experiência prática no NTAPS, desde a atuação em acolhimento
clínico, preventivo e mesmo através da psicologia organizacional e do trabalho, em que atuam

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 346


na organização colaborativa de todos os envolvidos no núcleo, e o número de alunos em
formação que busca atuar como bolsistas ou voluntários se mantém crescente.

Fortalecer a rede de apoio pública, em especial no atual cenário pandêmico que a


sociedade enfrenta, se mostra importante estratégia de promoção de saúde. As dificuldades de
acesso se ampliaram devido à demanda emergente que aumenta casos de transtornos ansiosos
e depressivos devido ao presente contexto; desta forma, assegurar o acolhimento, ações
preventivas e acesso a informações no ambiente universitário visa também contribuir com a
rede de apoio psicossocial ofertada à sociedade para lidar com os efeitos em saúde mental do
quadro que vivemos. Ampliação da atuação e de ações preventivas com foco em promover
saúde nesse contexto é um dos objetivos no Núcleo.

Por fim, ressalta-se que ocorrem constantemente avaliações da estrutura do núcleo e


modificações no quadro colaborativo para atender às demandas emergentes da comunidade
universitária. Em 2020, por exemplo, por conta de demandas associadas ao ensino remoto
devido à pandemia da COVID-19 promoveu ações especificas visando atingir necessidades
desse contexto, tais como: a adequação ao modelo remoto, dificuldades de acesso a esse modo
de ensino, além de respostas emocionais desenvolvidas nessa conjuntura. Há também previsão
de ampliação do NTAPS em 2021 com novas parceiras e atendimento para outras unidades da
mesma universidade, ampliando seu alcance para além do campus sede de criação do projeto.
Por fim, ressalta-se que pesquisas estão ocorrendo com os dados emergentes do Núcleo e
visarão elucidar sinalizadores da saúde mental da comunidade acadêmica e avaliar as iniciativas
propostas por ele.

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CAPÍTULO 28
TRANSMISSÃO DE PARASITOS POR INSETOS VETORES: A SAÚDE NO
AMBIENTE ACADÊMICO PODE ESTÁ COMPROMETIDA?

Tayná Bezerra Pinho, Licenciada em Ciências Biológicas, UECE


Wandresa Francelino Pereira, Doutoranda em Biotecnologia, UECE, Professora de
Microbiologia, Universidade Estadual do Ceará
Carolina Agostinho de Jesus, Pós-Graduanda em Ensino de Ciências e Matemática, IFCE
Carla Leitão da Silva, Mestranda em Educação, UFSCar
Jaiane Maria Silva, Pós-Graduanda em Ensino de Ciências e Matemática, IFCE
Mônica da Costa Vidal, Pós-Graduanda em Metodologia de Ensino de Biologia e Química,
Faculdade Futura
Thaisy Alencar Balbino, Licenciada em Ciências Biológicas, UECE
Renata Fernandes de Matos, Engenheira Agrônoma, Doutora em Agronomia/Fitotecnia,
UFC, Professora de Genética, Universidade Estadual do Ceará

RESUMO
Os insetos podem ser carreadores de diversos microrganismos, entre eles os parasitos que são
seres vivos capazes de provocar inúmeras patogenicidades na população. Os insetos funcionam
como vetores podendo transmitir entre outros organismos, os parasitos causadores de doenças
como malária, leishmaniose, tripanossomíase, amebíase, giardíase, entre outras. O objetivo
desse trabalho foi verificar a presença de estruturas parasitárias em insetos presentes no Campus
Multi-Institucional, os quais podem comprometer esse ambiente acadêmico. Através da análise
de insetos como barata, da ordem Blattodea, formiga, da família Formicidae, borboleta, de
ordem Lepidóptera, vespa, da família Sphecidaee, e um aracnídeo da família Pholcidae, foi
possível identificar a existência de parasitos como Endolimax nana, além de outros
microrganismos como fungos e bactérias, então conclui-se que a saúde no ambiente acadêmico
pode está comprometida.
PALAVRAS-CHAVE: Doenças. Microrganismos. Parasitologia.

INTRODUÇÃO
O estudo da entomologia teve início no ano de 1850, e desde então inúmeras pesquisas
nessa área passaram a ser realizadas. A palavra entomologia tem sua origem no grego
(entomo=inseto e logos=ciência), representando o ramo da biologia responsável pelo estudo
dos insetos e suas relações com os demais seres vivos, sejam humanos, vegetais, ou outros
animais, bem como com o ambiente em que vivem (MOLINARO, 2012).
O estudo dessa temática tem sua importância devido esses animais possuirem funções
essenciais, sobretudo, para o homem, promovendo interações que podem ser benéficas ou
maléficas. A maioria dos insetos são inofensivos e contribuem positivamente para o equilíbrio
ecológico, oferecendo uma vasta gama de compostos químicos, como a quitina, que agem como

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anticoagulantes e possibilitam maior rapidez na cura de feridas e queimaduras. Contudo, alguns
desses indivíduos são ofensivos aos seres humanos e estabelecem relações maléficas com estes,
como é o caso dos insetos que agem como vetores e podem transmitir agentes etiológicos
causadores de doenças parasitárias (GULLAN, 2017).
Grella (2011) destaca que devido a afinidade que o homem apresentam com o ambiente,
várias ordens de insetos podem estar associadas de forma direta ou indireta com a origem e a
causa de patologias. Entre essas ordens destaca-se a Lepidóptera, que tem como representantes
mariposas e borboletas, e Hymenoptera, a qual inclui abelhas, vespas e formigas.
Brasil (2013) ressalta que as moscas também são vetores de microrganismos diversos,
podendo transmitir agentes causadores de giardíase, amebíase, febre tifoide e ascaridíase.
Assim como as moscas, as baratas podem transportar em suas patas e corpos agentes etiológicos
que podem contaminar alimentos que, ao serem consumidos, causarão problemas como febre
tifoide, giardíase e verminoses. Os mosquitos também são vetores e podem transmitir os
parasitos causadores de leishmaniose e malária.
Vieira et al. (2013) aponta que outros insetos como as formigas também são vetores de
patógenos, podendo transportar microrganismos causadores de doenças aos seres humanos,
contaminando alimentos depois do contato com fezes, saliva ou escarros. Machado et al. (2011)
destacam que os formicideos podem transmitir cistos de protozoários e ovos de helmintos que
ficam aderidos ao corpo e são carreados de um ambiente a outro sem dificuldades.
Nesse contexto é viável ressaltar que, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde
(OPAS, 2018), “as populações mais afetadas por doenças transmitidas por vetores são aquelas
que vivem em condições de vulnerabilidade [...] e que sofrem pela falta de medidas sanitárias
e de controle de vetores”.
De acordo com Wermelinger e Ferreira (2013), devido à grande importância das
doenças transmitidas por insetos vetores no país, é necessário que sejam realizados estudos
sobre os diversos métodos de controle desses vetores. Entre estes, os caracterizados como mais
usuais são os métodos de controle químico, ambiental, mecânico e biológico.
Partindo do exposto, o presente trabalho teve como objetivo verificar a presença de
estruturas parasitárias em insetos presentes no Campus Multi-Institucional, os quais podem
comprometer esse ambiente acadêmico.

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CONHECIMENTO SOBRE PARASITOSES E A PREVENÇÃO DE DOENÇAS
A parasitologia é um ramo da Biologia que estuda os parasitas, incluindo sua
morfologia, atividade no meio ambiente, relação com animais e vegetais e, principalmente, as
epidemiologias ocasionadas por estes indivíduos. Grande parte dessas doenças estão associadas
ao padrão socioeconômico da população, tendo maior incidência em lugares com precariedade
de saneamento básico, de forma que as regiões de climas tropicais apresentam maiores casos
de contaminação (MELLO, 2003).
Pimenta, Freitas e Secundino (2012) ressaltam que a incidência de doenças em
humanos, mediante a contaminação por insetos, é um fato bastante antigo. Um exemplo disso
é a leishmaniose que foi registrada historicamente em 1764. Apesar da demora na sua
identificação, a doença é comum no Brasil, a qual é transmitida pela picada dos insetos
flebotomíneos (ARAÚJO, 2017).
A leishmaniose é uma doença que ataca principalmente o sistema imunológico, de forma
que, quando não tratada, pode evoluir para o estágio visceral e ser letal (BARRAL et al., 1991;
MODABBER, 1993; BRASIL, 2001). O registro da incidência de leishmaniose no Brasil está
muito aquém da realidade, de forma que no período de 1980 a 1990, diversas estimativas foram
realizadas, sendo necessário meses para se manifestar no organismo. Outra peculiaridade da
enfermidade é o despreparo clinico (BASANO; CAMARGO, 2004).
A malária é outra parasitose, sendo esta ocasionada pelo parasita protozoário do gênero
Plasmodium, a qual por sua vez é transmitida pelo mosquito fêmea Anopheles (REY, 2008).
Essa doença pode ser movida por quatro tipo de plasmódios: Plasmodium vivax, Plasmodium
falciparum, Plasmodium malariae e Plasmodium ovale. Contudo, de acordo com a Fiocruz
2013, no Brasil encontram-se três dos citados anteriormente, (P. vivax, P. falciparun e P.
malarie).
Essa trata-se de uma doença infectoparasitária, a qual, mesmo com tratamento, tem sua
relevância na visão da saúde global, sendo considerada pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) como um problema de saúde pública que aflige o planeta (BEZERRA, 2020;
WOLFARTH-COUTO, 2020). A mesma surgiu inicialmente em áreas tropicais. Apesar de
boletins mostrarem sua manifestação em regiões diferentes, a mesma está concentrada em
ambientes como a bacia amazônica, o que ocorre devido ao grande número de florestas, ao
índice de insetos e a problemas de controle (SOUZA, 2019).
A doença de chagas é uma infecção que tem por agente patológico o protozoário
Tripanosoma cruzi (Chagas, 1909). Sua transmissão ocorre através dos insetos triatomíneos,

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conhecidos popularmente como barbeiros (RASSI et al., 2010). Apesar de sua incidência, a
doença de chagas ainda é negligenciada, contando com uma elevada taxa de mortalidade
(WHO, 2012). No Amazonas essa doença é considerada endêmica, com casos frequentes tanto
em localidades urbanas como rurais. Nessa região é muito comum a transmissão via oral devido
ao alto consumo de açaí, pois a planta é um viveiro comum dos insetos transmissores (PINTO
et al., 2005).
Quando as parasitoses entram em discussão, um dos primeiros pontos abordados deve
ser a prevenção. O conhecimento é uma das chaves principais no cuidado com essas doenças,
e, por isto, torna-se necessário praticas didáticas no ensino de Ciências e Biologia. Um desses
métodos que mostrou ser eficaz na prevenção de parasitoses foi o uso do Brainstorming
(Tempestade de ideias) (SANTOS; DIAS; CABRAL, 2019).

RELAÇÃO PARASITO-HOSPEDEIRO COMO AMEAÇA INVISÍVEL


Os parasitas são adaptados ao seu hospedeiro ou habitat, de forma que muitos possuem
um ciclo complexo, com a presença de hospedeiros intermediários. Morfologicamente, esses
parasitas possuem uma organização anatômica simplificada, contando com órgãos de sentido
complexos desaparecidos em favor de um plano corporal (BERTÉ, 2015).
Uma característica de todos os parasitos é que eles não são encontram em qualquer tipo
de ambiente, cada um ocupa determinados territórios e nichos ecológicos. Assim, a
especificidade parasitária está relacionada com a capacidade de adaptação, bem como com a
interação, de forma que o parasito retira do hospedeiro a energia que precisa para se manter
vivo, sem enfraquecer o organismo que está sendo parasitado a tal ponto que possa causar sua
morte, pois assim não conseguiria completar seu ciclo de vida (GOMES, 2018).
Parasito, hospedeiro e ambiente formam uma tríade complexa, dependendo um dos
outros. Nesse contexto, o ambiente é o fator que influencia o comportamento das infecções,
determinando o aparecimento ou desaparecimento das doenças parasitárias (FERREIRA;
CHIEFFI; ARAUJO, 2012).
Os artrópodes podem ser vetores, transmissores mecânicos e biológicos de vírus,
bactérias, protozoários, fungos e helmintos (ARAUJO, 2019). Um exemplo de artrópodes
ectoparasitas são os carrapatos da classe Arachnida, os quais estão entre os principais gêneros
que podem parasitar o homem no Brasil. Os carrapatos dos gêneros Amblyomma, Ixodes,
Rhipicephalus, Anocentor e Boophilus parasitam animais selvagens, aves, cães, equinos e
bovinos, sendo o primeiro um dos principais parasitas de humanos (JUNIOR et al., 2018).

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Como principais vetores tem-se os mosquitos como o Aedes aegypti, sendo este capaz
de transmitir agentes de dengue, febre-amarela, chikungunya e zika. Devendo-se destacar
também os Flebótomos, os quais são vetores de diversas doenças, sendo a principal a
leishmaniose (PARREIRA, 2019).
Dessa forma, é preciso conhecer as interações parasito-hospedeiro para entender suas
formas de contaminação (SILVA, 2016). As formigas, por exemplo, podem disseminar
microrganismos patógenos, pois podem ter acesso aos ambientes hospitalares, possuindo a
capacidade de se deslocar rapidamente, passando por áreas extensas diversas (SILVA; FULCO;
BARBOSA, 2017).

INSETOS VETORES E O AMBIENTE ACADÊMICO


O desequilíbrio ambiental tem potencializado os surtos de doenças causadas por insetos
vetores em áreas urbanas e periurbanas (CAMPOS et al., 2018). Os insetos são altamente
adaptáveis às mais vaiadas condições do meio ambiente. De cinco a quinze mil espécies são
consideradas nocivas à saúde humana, contudo as demais são essências para a manutenção e
equilíbrio dos ecossistemas. Há uma proporção dez vezes maior de insetos que podem
eventualmente se tornar pragas, por atuarem como vetores de doenças em seres humanos
(FINKLER, 2012).
Diversos estudos revelam a ocorrência de doenças infecciosas endêmicas em regiões
tropicais do Brasil. As condições meteorológicas (quente e úmido) favorecem a proliferação de
patologias causadas por vírus, vermes e protozoários (SILVA; LUZ, 2016). Dentre os principais
vetores estão os insetos dípteros pertencentes a família Culicidae, conhecidos como pernilongos
e muriçocas, os quais são considerados como principais vetores de doenças parasitárias, sendo
as fêmeas hematófagas e mais acometidas por patógenos e parasitas (FEUSER, 2018). Dentre
os representantes epidemiológicos mais recorrentes nas regiões brasileiras estão o Aedes, Culex
sp, Anopheles sp e o Flebotomíneos sp. Além de outros vetores como Triatomíneos, que
também são foco dos estudos da Entomologia Médica (BRASIL, 2016).
Os mosquitos do gênero Aedes são representados por duas espécies principais, como o
Aedes aegypti (Linnaeus, 1762), recorrente em países tropicais; e o Aedes albopitus (Skuse,
1894), mais comum em países asiáticos (OLIVEIRA; ALMEIDA, 2017). O A. aegypti foi
introduzido no Brasil em meados do século XIX, com características peculiares que os
diferenciam de demais espécies de pernilongos, como sua tonalidade preta com listras brancas
nas patas, hábitos diurnos e reprodução em água limpa (RIZZI et al., 2017).

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Os insetos do gênero Culex são comumente nomeados por mosquito tropical ou
muriçoca, devido a sua ampla distribuição em faixas tropicais e equatoriais. Estudos indicam a
presença de alguns grupos no território brasileiro, como o Cx. Pipiens (Linnaeus, 1758) e Cx.
Quinquefasciatus (Say, 1823), presentes em áreas urbanas e rurais (HUMERES et al., 1998).
O Cx. Quinquefasciatus possui hábitos noturnos, costuma reproduzir-se em águas limpas e
turvas, se alimenta do sangue humano e de aves e é considerado um agente transmissor de
algumas arboviroses como encefalite japonesa, febre do nilo ocidental e a filariose linfática
(elefantíase), causada por um verme nematoide Wuchereria bancrofti (COBBOLD, 1877;
MORAIS, 2011).
Os integrantes do gênero Anophele, também denominados de mosquito-prego em
algumas regiões do Brasil, apresentam uma população diversificada de espécies vetores. Dentre
as mais comuns estão a An. aquasalis, presente em algumas regiões do Nordeste e Norte do
estado do Paraná; e a An. darlingi, distribuída ao longo da costa brasileira (FINKLER, 2012).
Esses mosquitos possuem maior atividade no crepúsculo vespertino e no amanhecer, sendo
considerados os vetores potenciais da malária em humanos, uma patologia causada pelo
protozoário do gênero Plasmodiun sp (RODRIGUES et al., 2020).
Os Flebotomíneos sp se caracterizam como um grupo de insetos conhecidos como
mosquito-palha, em virtude de seus tons amarelados. São espécies hematófagas de hábitos
alimentares noturnos e costumam reproduzir-se em locais úmidos e cheios de matéria orgânica
(BRASIL, 2019). Esse gênero é representado pelas espécies Lutzomya longipalpis e Lutzomya
cruzi, principais vetores da doença leishmaniose no Brasil. As espécies acometidas por
protozoários do gênero Leishmania sp passam a transmitir dois tipos de doenças designadas de
leishmaniose tegumentar (cutânea) e a leishmaniose visceral, conhecida popularmente como
calazar (SILVINO et al., 2017).
Os Triatomíneos correspondem a um grupo de insetos pertencentes ao gênero Triatoma
sp, tendo como principal representant o Triatoma infectans (Klug, 1834), mais conhecido como
barbeiro. Esse inseto é vetor de uma doença parasitaria chamada de doença de chagas,
ocasionada pelo Tripanossoma (Schyzotripanum) cruzi (Chagas, 1909), um protozoário
infeccioso com diferentes formas de disseminação que podem contaminar uma diversidade de
mamíferos (SILVA et al., 2018).
Sobre esse enfoque, Rizzi et al. (2017) destacam que os principais fatores contribuintes
para as elevadas taxas de contaminação, como também para o surgimento de novas doenças
parasitarias, são a ineficiência ou inexistência do saneamento básico, coleta irregular de lixo,

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hábitos da população, bem como a falta de conhecimento destes sobre a transmissão e o controle
dessas infecções. Desse modo, torna-se indispensável a realização de práticas educativas com
a população, uma vez que a saúde e a educação são a base para a aquisição de novos
conhecimentos a respeito dessa problemática (RIBEIRO et al., 2013).
Corroborando com esse pensamento, Albuquerque, Cerqueira e Batistas (2021) afirmam
que a educação é a melhor forma de transformar a vida das pessoas. O ambiente escolar é o
espaço mais adequado para o desenvolvimento de ações relacionadas à saúde. Componentes
curriculares como as Ciências Naturais e Humanas ajudam no entendimento da dinâmica das
diferentes formas de vida, do comportamento das comunidades bióticas e abióticas, bem como
da relação entre estas com o bem-estar do humano. Em 2007 foi implementado nas redes
públicas de ensino o Programa Saúde na Escola (PSE), uma parceria colaborativa entre saúde
e educação que realiza a promoção de políticas públicas relacionadas a prevenção, promoção e
atenção com a saúde (BRASIL, 2011).
De modo geral, as instituições escolares, tanto do Ensino Básico como do Ensino
Superior, realizam estudos sobre doenças parasitárias em plantas e animais, por intermédio do
Ensino de Ciência/Biologia. Estas permitem uma maior aproximação dos estudantes com o
meio ambiente, através de conhecimentos teóricos, projetos educacionais, palestras, vídeos,
debates, entre outros recursos que possam favorecer a compreensão desse alunado sobre esses
assuntos (MOREIRA; VIEIRA; FERNANDES, 2021).

EDUCAÇÃO COMO FERRAMENTA PARA EVITAR AS PARASITOSES


O melhor recurso para a prevenção e a incidência de qualquer doença é a educação, e
com as doenças causadas por agentes parasitários não é diferente. Através de métodos
educacionais voltados para a saúde há, por exemplo, a aprendizagem de estratégias de higiene,
o que melhora significadamente a vivência dos indivíduos. Esse objetivo é alcançado
principalmente quando essas informações são repassadas de maneira lúdica, a priori para as
populações com menor poder socioeconômico (GAZINELLI et al., 2005 apud SOUZA;
CHUPIL, 2019).
Uma pesquisa realizada por Silva e Mota (2018) constatou que a ausência de
informações sobre estratégias de saúde foi a principal causa de episódios de doenças causadas
pelos mais diversos parasitas. No momento em que esses autores usaram métodos de ensino
lúdicos, como jogos didáticos, ficou evidenciado que esses estudantes ampliaram seus

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conhecimentos em prevenção e saúde, impactando positivamente os participantes da pesquisa,
bem como o meio em que vivem.
Nessa perspectiva, o ensino tanto de Ciências como de Biologia deve ser o responsável
por essa profilaxia, de forma que o ambiente escolar deve ser o palco para a disseminação dessas
aprendizagens. Apesar de todos os benefícios, ainda existem dificuldades no ensino e
aprendizagem de aspectos relacionados as doenças parasitárias. Uma das principais é a falta de
conhecimento sobre as principais enfermidades causadas por parasitas, características e ciclos
de vida desses microrganismos, bem como métodos de higiene para evitar sua infecção
(COSTA et al., 2017).
Dessa forma, é necessário que os professores desenvolvam diferentes abordagens de
ensino baseadas na didática, permitindo que essas lacunas na aprendizagem sejam preenchidas,
sendo as Metodologias Ativas de Aprendizagem (MAA) as mais utilizadas (MATOS et al.,
2019). Nesse mesmo contexto destaca-se que:
A metodologia ativa se caracteriza pela inter-relação entre educação, cultura,
sociedade, política e escola, sendo desenvolvida por meio de métodos ativos e
criativos, centrados na atividade do aluno com a intenção de propiciar a
aprendizagem. Essa concepção surgiu [...] com o movimento chamado Escola nova,
cujos pensadores, defendiam uma metodologia de ensino centrada na aprendizagem
por experiência e no desenvolvimento da autonomia do aprendiz (BACICH;
MORAN, 2018, p. 16)

Além da educação em saúde para evitar a manifestação de doenças causadas por


parasitas, é necessário que ocorram pesquisas sobre o tema no ambiente escolar. Os ambientes
em que mais ocorrem contaminações em crianças, por exemplo, são os locais comuns de
recreação, principalmente os que possuem areia, lugar em que muitos parasitas se desenvolvem.
Diante de intervenções educacionais e sanitárias, como a proteção das áreas de lazer para evitar
a circulação de animais domésticos, é possível evitar o surgimento desse tipo de infecção,
principalmente em determinadas épocas do ano, como o verão (FIGUEIREDO et al., 2011).

METODOLOGIA
O presente estudo foi realizado nos meses de abril a setembro de 2019. Neste período
procedeu-se a análise bibliográfica da temática, com posterior coleta de insetos considerados
potenciais vetores de parasitoses, bem como a realização de sua análise. Foram coletados
insetos no Campus Multi-Institucional, localizado na cidade de Iguatu, região Centro-Sul do
estado do Ceará. Este campus abriga duas instituições de ensino.
As amostras foram coletadas com de utensílios estéreis, além da utilização de luvas
descartáveis. Foram coletados insetos como barata da ordem Blattodea, formiga da família

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Formicidae, borboleta de ordem Lepidóptera, vespa da família Sphecidaee, e um aracnídeo da
família Pholcidae. Os insetos foram subdivididos, ainda no momento da coleta, em recipientes
estéreis de acordo com a espécie. E logo em seguida foram levados ao laboratório de Ensino e
Pesquisa em Biologia do Campus, para análise parasitológica.
A análise parasitológica foi efetuada através da metodologia de filtração por membrana
Millipore GU (Durapore) em Fluoreto de Polivinilideno (PVDF), com porosidade de 0,22 μm,
sendo, anteriormente à essa técnica, desenvolvida uma preparação da amostra. Posteriormente
foi adicionado em cada recipiente 100 mL de água destilada estéril, de forma que as amostram
foram homogeneizadas por um período de 15 minutos.
O homogenato resultante foi filtrado com ajuda de uma membrana em um cálice de
sedimentação. Após eese processo, o sedimento foi depositado entre lâmina e lamínula com
auxílio do corante Lugol e analisado ao microscópio de acordo com a metodologia de filtração
por membrana utilizada por Oliveira e Germano (1992).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com a realização desta pesquisa foi possivel obter o resultado da análise parasitológica
dos insetos coletados (Tabela 1) e a visualização ao microscópio dos insetos coletados (Figura
1). Por estas fica perceptível que tais indivíduos estão exercendo a função de veículo de
transmissão de microrganismos distintos, como bactérias e fungos, os quais podem ser agentes
patogênicos.

Tabela 1: Resultado da análise parasitológica dos insetos e demais animais coletados no Campus Multi-
Institucional
SEDIMENTOS E
INSETOS E ARANHA PARASITAS MICRORGANISMOS
ANALISADOS ENCONTRADOS VISUALIZADOS
BARATA (Ordem Blattodea) Endolimax Bactérias (Cocos e
nana Bacilos), e
Fungos
FORMIGA (Família Formicidae) Endolimax Fungos e Detritos
nana
BORBOLETA (Ordem ---------- Fungos
Lepidóptera)
VESPA (Família Sphecidaee) ---------- Bactérias (Cocos) e
Detritos
ARANHA (Família Pholcidae) ---------- Fungos
Fonte: as autoras (2019)

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Figura 1: Visualização dos insetos encontrados no Campus Multi-Institucional

Fonte: as autoras (2019)


É viável destacar que insetos como a barata foram encontrados nas proximidades do
Refeitório Universitário (RU) da instituição. Esse fato mostra que estes insetos estão servindo
de veículo de transmissão de um protozoário denominado Endolimax nana em um ambiente de
alimentação.
A E. nana é um tipo de ameba parasita de humanos e animais domésticos, muito comum
no meio ambiente (CIMERMAN, CIMERMAN, 2010). Esta é muito pequena e vive em seções
dos cólicos do intestino humano sem causar nenhum dano (REY, 2011). Sua transmissão ocorre
pela injestão de cistos, geralmente semelhante aos amebídeos (MORAES, 2008).
Segundo Teixeira (2016), esse parasita não é considerado patogênico, porém, sua
presença pode indicar uma contaminação fecal de uma determinada região. Foi observado
também neste inseto, a presença de fungos. De acordo com Nazari et al. (2019), as baratas
também podem ser hospedeiras intermediárias de helmintos que infestam alguns mamiferos,
principalmente o ser humano.
Outros microrganismos foram visualizados na análise desse inseto, como bactérias que,
conforme Moraes et al. (2009), causam muitas patologias, desde pequenas cáries até grandes
enfermidades, podendo ocasionar a morte de pessoas e também de animais (...). As baratas são
comumente tidas como pragas domiciliares, pois estas estão relacionadas com a capacidade de
transmitir microrganismos nocivos ao humano, como vírus, diversas bactérias e protozoários,
além de causarem danos contaminando alimentos e também a água (LOPES, 2005).
Nas formigas analisadas nesta pesquisa foi identificado também a presença do parasito
Endolimax nana que, de acordo com Dias et al. (2017), apesar de ser um parasito comensal,
este é um indicador de baixo nível higiênico-sanitário. Isto pode estar diretamente relacionado
com o local onde estes insetos foram coletados, ou seja, em um dos banheiros do campus, que
são considerados ambiente altamente contaminados por diversos microrganismos. Ainda neste
inseto foram visualizados fungos e também detritos.

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Em insetos como a vespa, foi visualizado a presença de bactérias, o que é um fator
preocupante. Estas podem ser prejudiciais aos humanos, ocasionando diversas doenças, como
tétano, febre tifoide, pneumonia, sífilis, cólera, tuberculose e outras.
Nos insetos como a borboleta e no artrópode coletado (no caso a aranha) foi verificada
somente a presença de fungos. Segundo Baggio (2013), estes são agentes etiológicos das
micoses e de milhares de doenças que afetam plantas economicamente importantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados desta pesquisa demonstram que os insetos encontrados e coletados no


Campus Multi-Institucional, onde funciona duas instituições de ensino, apresentam uma
variabilidade de microrganismos que podem ser patogênicos a saúde, logo se conclui que a
saúde no ambiente acadêmico pode sim está comprometida, o que significa que os acadêmicos
e funcionários estão vulneráveis a doenças de veiculação por insetos vetores, o que pode causar
danos gravíssimos a saúde. Nesse contexto, é imprescindível a adoção de procedimentos
higiênicos e de controle desses insetos como medida profilática no combate a possíveis
enfermidades.

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Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 364


CAPÍTULO 29
ACUPRESSÃO NA DOR DURANTE E APÓS O TRABALHO DE PARTO

Adna Raquel de Sousa Antunes, Graduanda de Fisioterapia, Unileão


Thaysla Leite Lemos, Graduanda de Fisioterapia, Unileão
Francisca Raissa Teles Silva, Graduanda de Fisioterapia, Unileão
Raymile Nunes da Silva, Graduanda de Fsioterapia, Unileão
Aryane Silva Cunha, Graduanda de Fisioterapia, Unileão
Anderson de Sousa Lima, Graduando de Fisioterapia, Unileão
Tatianny Alves França, Fisioterapeuta/Docente, Unileão

RESUMO
As alterações fisiológicas como contrações uterinas e dilatação cervical, são algumas das causas
de dor durante o parto, que podem afetar negativamente a saúde da mãe e do feto, por gerar
medo, ansiedade e estresse. As possibilidades alternativas para serem usadas no atendimento as
parturientes, buscam cada vez mais estratégias não invasivas, que proporcionem conforto e
humanização. Nesse raciocínio, as aplicações de acupressão durante o parto, estão entre os
métodos não farmacológicos usados para aliviar a dor, abordando fatores psicoemocionais e
aspectos físicos; além de ter fator importante na redução da dor perineal que se desenvolve
poucos dias após o nascimento. O objetivo desse estudo é identificar os efeitos da acupressão
durante e após o trabalho de parto. Compõe-se de uma revisão integrativa da literatura, com
pesquisa nas bases de dados, Scielo, Bvs e Pubmed. Para as buscas utilizou-se as palavras-
chaves “acupressão”, “dor de parto” e “terapias integrativas” e como critério de inclusão
aplicou-se artigos publicados nos últimos 05 anos, nos idiomas inglês e português, do tipo
ensaio clínico, disponibilizados na integra e de forma gratuita, que se adequassem ao tema.
Excluiu-se os estudos em duplicidade e do tipo revisão. Após a seleção inicial, realizou-se a
leitura crítica-reflexiva dos artigos e elaboração do PICOT, os dados foram apresentados de
forma descritiva. Dentre a pesquisa, cinco artigos foram selecionados, demonstrando que a
aplicação de acupressão em pontos específicos como em BL32, SP6, L14 e BP6, quando
comparados a grupo controle ou cuidados de rotina, obteve-se resultado satisfatório na redução
da dor de parto, como também diminuição da duração total do trabalho e aumento do nível de
satisfação das parturientes; além de ter efeito redutor quando contraposta com terapia
compressiva de gelo na dor perineal aguda. A partir do estudo dos artigos expostos, conclui-se
que a acupressão é um método complementar que pode contribuir para a redução das dores
durante o período do trabalho de parto, diminuição da fase ativa e da duração total do trabalho,
além de promover um melhor nível de satisfação. Também atuando na diminuição da dor
perineal, sendo uma terapia de baixo custo e fácil aplicação, que colabora para humanização
nessa fase.
PALAVRAS-CHAVE: Acupressão. Dor de parto. Terapias integrativas.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 365


INTRODUÇÃO

A dor de parto se manifesta a partir das contrações uterinas, dilatação cervical e tensão
da vagina com o assoalho pélvico, aumentando constantemente de acordo com estágios e
transição do trabalho, podendo causar estresse, medo e afetar negativamente a saúde da mãe,
do feto e do recém-nascido, além de contribuir para uma vasoconstrição periférica, que reduz o
fluxo sanguíneo para a placenta (TURKMEN, 2019). Já a dor perineal que se desenvolve
poucos dias após o nascimento está associada a morbidades de curto e longo prazo. Em todo o
mundo, um quinto das mulheres sentem dor perineal por aproximadamente 10 dias após um
parto normal. Dos traumas perineais, 68% estão associados a lacerações induzidas por parto
vaginal, 15,6% a lacerações induzidas por episiotomia e 49,8% por lacerações espontâneas (da
primeira à quarta lacerações). (KIRCA; GUL, 2020).

As aplicações de acupressão durante o parto estão entre os métodos não farmacológicos


usados para aliviar a dor, abordando fatores psicoemocionais e aspectos físicos. Essa terapia
colabora com a regulação do fluxo sanguíneo e permite a vasodilatação, reduzindo a liberação
de adrenalina e noradrenalina e aumentando a secreção de oxitocina e endorfina, atuando na
eficiência das contrações uterinas e encurtando a duração do trabalho de parto, além de redução
das dores por impedir que os estímulos cheguem a medula espinhal, pela teoria das comportas
(TURKMEN, 2019).

As estratégias de possibilidades alternativas para serem usadas no atendimento as


parturientes atualmente, buscam cada vez mais métodos não invasivos, que proporcionem
conforto e humanização. Nesse raciocínio, a acupressão se baseia em manter o equilíbrio de
duas entidades opostas de energia, a “negativa” (Yin) e a “positiva” (Yang), nos diversos canais
que circulam pelo corpo. Utilizando as mãos e os dedos, os estímulos são aplicados em pontos
específicos que correspondem a um órgão-alvo, sendo que em alguns casos, combinam-se
pontos para maiores efeitos (MAFETONI, 2015).

Considerando as complicações que podem ser geradas no progresso do trabalho de parto


e os efeitos negativos para a saúde da mãe e do feto, devido a dor ocasionada durante e após o
trabalho de parto, os métodos não farmacológicos devem ser cada vez mais estudados e
pesquisados, para que se possa entender quais são os benefícios que podem ser proporcionados.
Assim, esse estudo tem como objetivo identificar os efeitos da acupressão sobre a dor durante
e após o trabalho de parto.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 366


METODOLOGIA

O presente estudo trata-se de uma revisão de literatura, do tipo narrativo, onde os artigos
científicos foram buscados nas bases de dados Scielo, Pubmed e BVS, por meio dos descritores
“acupressão”, “dor”, “parto” e “terapia complementar”, nos idioma português e inglês e
publicado no período entre os anos de 2014 e 2020. Optou-se em excluir os estudos do tipo
revisão, incompletos e que não estivessem disponíveis de forma gratuita.

Os textos selecionados foram analisados e sintetizados, através da elaboração do


PICOT, sendo P= participantes, I= intervenção, C= comparação, O= outcomes (desfecho), T=
tempo, de forma crítica e reflexiva a fim de compilar as informações, cuidando da investigação
do nível de evidência apresentado em cada estudo. A partir daí, construiu-se uma síntese
descritiva dos resultados, apresentando-os e correlacionando-os, possibilitando discussão das
ideias.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após as buscas e refinamentos pelos critérios de elegibilidade, um n=05 artigos foram


eleitos para compor a discussão, sendo explanados nas tabelas a seguir.

Tabela 1: The effect of acupressure on labor pain and the duration of labor when applied to the SP6
point: Randomized clinical trial
PARTICIPANTES 60 gestantes (primípara, a termo, feto único e
saudável, com dilatação cervical de 4 cm, contrações
regulares, sem receber analgesia ou anestesia e sem
qualquer risco).

INTERVENÇÃO Divido em dois grupos, sendo que, o grupo


experimental recebeu aplicação de acupressão no
ponto SP6 e o grupo controle apenas um leve toque;
aplicado do início ao fim de cada contração, no
estágio ativo e estágio de transição do trabalho de
parto, cerca de 90 vezes.

COMPARAÇÃO O grupo experimental teve redução efetiva da dor


durante as contrações na fase ativa do trabalho de
parto em comparação com o grupo
controle. Nenhuma diferença estatisticamente
significativa foi encontrada entre os termos de dor
percebida na fase de transição do trabalho de parto. A
aplicação também teve um efeito positivo no nível de
dor percebido e nos níveis de satisfação.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 367


DESFECHO Este estudo revelou que a pressão aplicada no ponto
SP6 reduz a dor do parto percebida pelas parturientes
e a duração da fase ativa da primeira fase do trabalho
de parto, além da redução da duração total do
trabalho, contribuído também para um melhor nível
de satisfação.

TEMPO Entre 1º de março e 31 de dezembro de 2015.

Fonte: TURKMEN (2020).

Tabela 2: Effect of L14 and BL32 acupressure on labor pain and delivery outcome in the firts stage of
labor in primiparous women: A randomized controlled trial
PARTICIPANTES 105 mulheres primíparas na fase ativa do primeiro
estágio do trabalho de parto.

INTERVENÇÃO Os grupos experimentais receberam acupressão em


LI4 (n =35) ou BL32 (n = 35) e cuidados de rotina e
o grupo controle (n =35) recebeu apenas cuidados de
rotina.

COMPARAÇÃO A redução da dor foi significativamente maior nos


grupos LI4 e BL32 em comparação com o controle
em todos os períodos do estudo. Além disso, a
acupressão no ponto BL32 foi superior ao ponto LI4
no alívio da dor na primeira e na segunda, mas não na
terceira intervenção.

DESFECHO A acupressão nos pontos BL32 e LI4 são eficazes na


redução da dor do parto em comparação com o grupo
de controle, com uma ligeira superioridade para os
pontos BL32, podendo ser aplicada para o alívio da
dor no trabalho de parto como um método barato e
fácil de administrar.

TEMPO Dentre o ano 2016

Fonte: OZGOLI (2016)

Tabela 3: The effects of acupressure on labor pains during child birth: randomized clinical trial.
PARTICIPANTES 156 participantes, divididas em 3 grupos, 52 em cada
(BP6,GT E GC), idade gestacional > ou = 37
semanas, dilatação cervical > ou = 4 cm e duas ou
mais contrações em 10 min.

INTERVENÇÃO As parturientes do grupo BP6 receberam pressão


profunda com descompressão brusca e rápida com o
dedo polegar, sem ocasionar desconforto e no GT
receberam um toque superficial, de baixíssima
intensidade. Em ambos os grupos o contato foi no

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 368


ponto BP6 bilateral, durante as contrações, em
período único de 20 minutos.

COMPARAÇÃO Nos valores da EVA em cada grupo, nos três tempos


de avaliação, houve diferença estática. Apresentando
redução significativa no grupo que recebeu
acupressão no ponto BP6 em comparação ao GT e
GC.

DESFECHO Os resultados deste estudo indicaram que a


acupressão no ponto BP6 é um meio complementar e
não invasivo para o alívio da dor na fase ativa do
trabalho de parto, sem ocasionar efeitos adversos
para parturiente ou para o neonato.

TEMPO Janeiro a agosto de 2013.

Fonte: Dados da pesquisa, MAFETONI (2016)

Tabela 4: The efect of acupressure applied to points LV4 and LI4 on perceived acute postpartum perineal
pain after vaginal birth with episiotomy: a randomized controlled study.
PARTICIPANTES 120 mulheres, com idade superior a 18 anos, que
realizaram episiotomia e sentiram dor perineal > 4

INTERVENÇÃO Dividido em 3 grupos, com 40 participantes em cada,


sendo que um grupo recebeu acupressão, o outro
embalagens de gelo (os dois grupos na região do
períneo) e o terceiro formou o grupo controle.

COMPARAÇÃO Não houve diferença significativa encontrada entre os


escores médios de dor dos grupos de acupressão e
embalagem de gelo imediatamente após o
procedimento e no 30° minuto após o procedimento.
Os escores médios de dor do grupo de acupressão
avaliados no 60° minutos e 120° minuto foram
significativamente menores em comparação com
grupo da bolsa de gelo.

DESFECHO Neste estudo, a gravidade da dor aguda diminuiu em


ambos os grupos experimentais, mas houve uma
redução significativa na dor aguda de longo prazo no
grupo de acupressão.

TEMPO Janeiro a maio de 2019

Fonte: KIRKA (2020)

Tabela 5: Comparison of the Effects of Maternal Supportive Care and Acupressure (BL32 Acupoint) on
Pregnant Women’s Pain Intensity and Delivery Outcome

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 369


PARTICIPANTES 150 participantes, entre 18-35 anos de idade,
gravidez a termo e única, com membranas fetais
saudáveis.

INTERVENÇÃO Dividas em 3 grupos (suporte, acupressão e controle),


cada um com 50 participantes; o grupo suporte
recebeu medidas psicológicas, emocionais,
educacionais e físicas; o grupo acupressão teve a
intervenção no ponto BL32 no início das contrações e
continuou durante a fase de transição do trabalho de
parto até o final do primeiro estágio, durante 30
minutos e o grupo controle recebeu apenas cuidados
de rotina do departamento.

COMPARAÇÃO A intensidade da dor de todas as participantes


aumentou com o aumento da dilatação na primeira
fase do trabalho de parto. Ainda assim, a intensidade
da dor foi menor nos dois grupos de intervenção em
comparação com o grupo controle. A taxa de parto
vaginal natural foi significativamente maior no grupo
de acupressão em comparação com o grupo controle
e a taxa mais alta de parto cesáreo foi observada no
grupo controle.

DESFECHO O suporte contínuo e a mudança de posição durante o


trabalho de parto, bem como a acupressão, reduziram
a intensidade da dor e a taxa de parto
cesáreo. Portanto, esses dois métodos não
farmacológicos podem ser usados para melhorar os
resultados do parto e criar uma experiência de parto
positiva.

TEMPO Dentre o ano de 2012

Fonte: AKBARZADEH (2014)


No contexto em que o parto é considerado um fenômeno natural, o mesmo pode ser
acompanhado por uma experiência complexa e que envolve mudanças que dependem de cada
mulher em si, podendo ser influenciadas por diversas variáveis, que interferirem na dor sentida.
Por isso, a busca por métodos não invasivos que reduzam o processo doloroso, apresenta-se
cada vez mais em pauta.

Nesse sentido, Kirca e Gul (2020) em seu estudo, relatam que a acupressão é responsável
por preservar a função natural do corpo e aliviar a dor, a partir da secreção de
neurotransmissores, ativação do sistema opióide e excreção do ácido lático, favorecendo um
equilíbrio entre os símbolos Ying e Yang. Com esse objetivo, utilizou-se esse método para
redução da dor associada a episiotomia no período pós-parto, sob os pontos LV4 e L14,
apresentando resultado satisfatório na redução da dor aguda a longo prazo.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 370


Em um outro estudo desenvolvido por Ozgoli et. al, (2016), utilizou-se também pressão
sob o ponto L14 em mulheres primíparas na fase ativa do trabalho de parto, obtendo redução
significativa da dor, tendo uma ligeira superioridade para o segundo grupo que recebeu a
acupressão em BL32. O autor ainda ressalta o método como fácil de administrar e com baixo
custo. O mesmo ponto que teve resultado superior, foi citado por Akbarzadeh et. al (2014),
apresentando redução tanto na intensidade da dor quanto na taxa de cesárea, sendo considerado
uma maneira não-farmacológica de oferecer melhores resultados e experiência positiva.

Corroborando na ideia que a acupressão no ponto SP6, citada em dois estudos do tipo
ensaio clínico randomizado, possibilita a diminuição do nível da dor e e a redução de tempo
no trabalho de parto, sem ocasionar efeitos adversos para parturiente ou para o neonato,
mostrando-se ser uma medida útil e facilmente implementada na prática clínica, elevando a
satisfação das que recebem (TURKMEN; TUFAN, 2019; MAFETONI; SHIMO, 2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos apontamentos expostos, torna-se possível identificar que a acupressão é um


método complementar não farmacológico, que quando aplicado em pontos específicos pode
contribuir para a redução das dores durante o período do trabalho de parto, tanto na fase ativa,
quanto na fase transição, além de promover um melhor nível de satisfação sem ocasionar efeitos
adversos para parturiente e o neonato. Assim como, também atuando na diminuição da dor
perineal no pós-parto, sendo possível destacar que é uma técnica de baixo custo e fácil
aplicação, além de ofertar um meio de abordagem mais humanizada durante essa fase.

REFERÊNCIAS

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Alavi; SHEIKHAN, Zohreh. Effect of LI4 and BL32 acupressure on labor pain and delivery
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duration of labor when applied to the SP6 point: Randomized clinical trial. Japan Academy of
Nursing Science, Turquia, v. 17, n. 1, p. 1-9, out./2019. Disponível em:
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CAPÍTULO 30
PRÁTICA DE DANÇA NA TERCEIRA IDADE E OS BENEFÍCIOS NA QUALIDADE
DE VIDA DOS IDOSOS

Gildeene Silva Farias, Me. Em Educação Física, Docente Faculdade Estácio de Teresina
Sabrina da Silva Barbosa, Esp. Em Saúde da Família, Tutora Faculdade Unopar

RESUMO
Envelhecer é um processo contínuo no qual passa por alterações biológicas, fisiológicas,
psicológicas e funcionais, e suas consequências tem sua relevância quando relacionadas a
saúde, onde o desafio é viver cada vez mais e com qualidade de vida. A prática regular de
atividade física pode ser uma alternativa para contribuição nessa melhoria da qualidade de vida
e a dança é considerada uma opção para o idoso por ser importante para o combate ao estresse,
ansiedade, tensão muscular entre outros benefícios para saúde. Este estudo teve como objetivo
identificar e analisar a influência da dança e seus benefícios na melhoria da qualidade de vida
de idosos. Trata-se de um estudo de bibliográfico de caráter descritivo, no qual utilizou de uma
busca nas bases de dados eletrônicas: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca
Virtual em Saúde (BVS) e Google acadêmico, e foi utilizado os descritores, escritos no idioma
português com as seguintes palavras chaves: “idosos”, “dança”, “atividade física”, “qualidade
de vida” e “promoção de saúde”. Os operadores booleanos “AND” e “OR” foram utilizados
para combinações dos termos. Utilizou-se como critérios de elegibilidade, artigos originais,
publicados entre os anos de 2015 a 2020, com publicações escritas no idioma português,
população idosa (idade ≤ 60 anos) com estudos transversais ou longitudinais, e foram excluídos
teses, dissertações e trabalhos publicado em anais e sendo selecionado ao final um total 8 artigos
após processo de inclusão seguindo critérios estabelecidos. Quanto aos resultados, percebeu-se
que os estudos encontrados foram publicados entre os anos de 2016 a 2018, as amostras
apresentaram variação quanto número de participantes, com n de 10 a 54, e todos os estudos
utilizaram como instrumento de avaliação via questionários, além do mais os tipos de estudos
destra revisão apresentou uma predominância para estudos de campo feitos através de algum
tipo de intervenção com a prática da dança além de aplicação de questionários antes de depois
de um determinado período pré-determinado com objetivos de analisar os efeitos e os principais
benefícios da dança para os idosos, no qual foi apresentado nos estudos selecionados, que
através da prática regular da dança o praticante pode adquirir inúmeros benefícios que podem
ser favorável para qualidade de vida auxiliando na melhoria dos aspectos físico, psicológicos e
social, favorecendo a manutenção da saúde auxiliando na melhoria das atividades diárias,
coordenação motora, alívio nas dores musculares, condição cardiorrespiratórias, favorecendo
melhor qualidade de vida da população idosa. Conclui-se, no entanto, a importância da prática
regular da atividade física para todos e a dança pode ser considerado como uma alternativa para
os idosos, por ser divertida, prazerosa e poder ser praticada por qualquer idade, no entanto há
uma necessidade de mais pesquisas sobre o tema, sugerindo-se criação de políticas públicas
através de programas voltadas para essa população, quanto a prática de dança, atendendo suas
necessidades para promoção de saúde e bem-estar da população idosa.
PALAVRAS-CHAVE: Dança. Idoso. Envelhecimento. Atividade Física. Qualidade de Vida.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 373


INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é considerado como um processo contínuo sinalizado


por alterações biológicas, fisiológicas, psicológicas e funcionais, que pode determinar como
uma faixa etária pode ser caracterizada (FERRETTI et al., 2020). As pessoas consideradas
idosas, representa 12% de toda a população do mundo, com previsão de aumentar duas vezes
mais até 2050, e três vezes até 2100 (SUZMAN et al., 2015). No Brasil, o número de idosos,
ou seja, aqueles com idade maior ou igual a 60 anos, do ano 1960 passou de 3 milhões para 7
milhões em 1975, e de 14 milhões em 2002, tendo um aumento de 500% em 40 quarenta anos,
no qual deve alcançar 32 milhões de idosos em 2020 (CLOSS & SCHWANKE, 2012). A
estimativa é que até 2025, o Brasil passa a se tornar a sexta maior população de pessoas idosas
no mundo (BRASIL, 2105)

As consequências quanto ao envelhecimento para a população são relevantes


principalmente relacionado a saúde, pois com o aumento da longevidade o desafio é viver cada
vez mais, com melhor qualidade de vida e de forma mais saudável. (MARI et al., 2016). Estudos
comprovam que com o aumento da idade, há uma desaceleração no metabolismo, decorrendo
nas células reações mais lentas no organismo, podendo favorecer uma maior instabilidade nos
movimento corporais, como perda de flexibilidade, agilidade, coordenação motora, tônus
muscular e diminuição de força.(SANTOS et al., 2009,) (GUERRA & CALDAS, 2010) Além
de outros problemas como na perda de densidade óssea, alterações no sistema respiratórios e
cardiovascular, podendo ocasionar em inúmeros problemas à saúde da pessoa idosa.( CHAGAS
& ROCHA, 2012; OSELAME et al., 2016).

Com esse progressivo aumento da população idosa, estudos epidemiológicos apontam


um crescente aumento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) nessa faixa etária, e
consequentemente aumentando a necessidade de serviços de atenção à saúde do idoso
(WITTER et al., 2013). Considerando-se que as doenças diagnosticadas nos indivíduos nessa
faixa etária, quando não tratada de forma adequada, podem apresentar maiores complicações e
problemas que comprometem a independência e autonomia do idoso (CUNHA et al., 2012).
No entanto o envelhecimento populacional se configura em maior carga de doenças e
incapacidades funcionais, o que reflete em uma maior procura por serviços de saúde, gerando
maiores custos para o sistema único de saúde (SUS) (CIPRIANI et al., 2010).

Diante desses inúmeros problemas relacionados quanto ao crescimento com a população


idosa, esse público, passou a ser de grande interesse por parte de estudiosos em vários países

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 374


do mundo, e a atividade física tem sido um dos pontos mais importantes para manutenção da
saúde e melhoria da qualidade de vida dessa parcela da população (MAZO & SILVA, 2007).
Porém o número de pessoas que não realizam atividades físicas vem aumentando
consideravelmente, e como consequência refletindo diretamente em uma sociedade cada vez
mais inativa, com sérios problemas como obesidade e maiores possibilidades de desenvolver
DCNT. Sabe-se que as DCNT refletem negativamente na funcionalidade dos idosos, que podem
dificultar ou até mesmo impedir no desempenho das atividades da vida diária (AVD),
comprometendo a qualidade de vida dos mesmos (MACIEL, 2010).

Dessa forma deve-se estimular a população idosa à prática regular de atividade física,
promovendo a melhoria da aptidão física relacionada a saúde (CAMÕES et al., 2016), ou seja,
a prática de atividade física é de fundamental importância para a qualidade de vida da população
em geral, e que inúmeros são os seus benefícios, principalmente para essa população (MACIEL,
2010). Entretanto percebe-se que aulas dinâmicas e com inovações são mais atrativas,
chamando mais atenção e tendo maior adesão as práticas principalmente para essas pessoas da
terceira idade (MARQUES, 2011). E a dança se destaca porque permite que o praticante sinta
a leveza, fluência, alegria, liberdade, distrai, colocando a pessoa em contato com sua verdadeira
essência, o que é uma estratégia particularmente eficaz no combate ao estresse, à ansiedade,
tensão muscular; na busca da autoconfiança, da melhora do autoconceito e da imagem corporal
(ANDRADE & SANTIAGO, 2008).

A dança sempre foi presente em nossa cultura como forma de expressão e arte, podendo
ser utilizada como educação, lazer, diversão, atividade física e muitas outras formas, com seus
variados elementos corporais e expressivos, sendo capaz de contribuir para melhorar a
qualidade de vida do indivíduo (SILVA et al., 2018). Dessa forma, a dança vem se tornando
uma atividade alternativa para a terceira idade, que pode oportunizar em vários benefícios como
melhora na autoestima, equilíbrio, aumento dos tônus, diminuição do stress, e colesterol, além
do controle da diabetes, diminuição da pressão arterial, evitando atrite, artrose, osteoporose,
doenças cardíacas entre outras séries de doenças, dessa forma contribuindo para uma melhoria
na qualidade de vida. Diante do exposto, o objetivo do presente estudo, foi identificar e analisar
a influência da dança e seus benefícios na melhoria da qualidade de vida de idosos.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 375


METODOLOGIA

Trata-se se um estudo descritivo, retrospectivos, utilizando-se método de pesquisa


bibliográfica baseado em materiais já publicados anteriormente, através de levantamento de
produção acadêmicas sobre a temática em questão.

Utilizou-se por uma busca de forma sistematizada com o propósito de delinear de forma
mais adequada os estudos encontrados, na qual foi realizada no mês de maio de 2020, utilizou-
se métodos de pesquisa avançada nas seguintes bases de dados eletrônicas: Scientific Electronic
Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Google acadêmico. Para
estratégia de busca foram incluído três grupos de descritores, escritos no idioma português com
as seguintes palavras chaves: “idosos”, “dança”, “atividade física”, “qualidade de vida” e
“promoção de saúde”. Os operadores booleanos “AND” e “OR” foram utilizados para
combinações dos termos e os grupos de descritores, e os símbolos de trucagem ($, *) foram
usados para aumentar o intervalo de pesquisa para as variações do descritor específico conforme
cada base de dados.

Os critérios de elegibilidade para a inclusão dos artigos nesta revisão bibliográfica,


foram, os artigos originais, publicados entre os anos de 2015 a 2020, com publicações escritas
no idioma português, população idosa (idade ≤ 60 anos) com estudos transversais ou
longitudinais, e foram excluídos teses, dissertações e trabalhos publicado em anais. Foram
delineados 4 temas como enfoque para a presente pesquisa fundamentados nas publicações
como: Qualidade de vida com a prática da dança, qualidade de vida em idosos e contribuição
da dança, atividade física e benefícios para os idosos, dança na terceira idade e seus benefícios
para qualidade de vida.

Após realização das buscas, inicialmente foi realizada a leitura dos títulos e desses
estudos selecionados foi realizada a leitura dos resumos, posteriormente, os artigos escolhidos
a partir dos resumos foram obtidos para a leitura na íntegra e posteriormente feito uma análise
qualitativa dos dados selecionados.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados desta revisão fundamentam-se nas informações dos 8 artigos selecionados


sobre dança e qualidade de vida. A partir das bases de dados desse estudo foram localizados
um total de 987 artigos potenciais, e destes selecionados 384 foram excluídos por duplicatas,
no qual foram rastreados 603. Na fase seguinte foi realizado análise mais detalhada, através de

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 376


leitura de títulos e resumos permanecendo 31 artigos para leitura na íntegra, no qual após análise
foram excluídos 23 com justificativas por não atenderem aos critérios de elegibilidade,
permanecendo ao final um total de 08 artigos que atenderam aos critérios pré-estabelecidos e
compuseram esta revisão (Figura 01).

Quanto as características dos estudos selecionados, os artigos foram publicados entre os


anos de 2016 e 2018, sendo a maior parte das publicações no ano de 2016, as amostras
apresentaram variação quanto ao número de participantes entre 10 a 54 idosos, e todos os
estudos utilizaram como instrumentos questionários, sendo alguns criados para o próprio estudo
e outros questionários validados para análise de qualidade de vida já utilizado em estudos
anteriores. Com relação aos tipos de estudos percebeu-se um predomínio para os estudos de
campo de forma qualitativo e quantitativos, e em sua grande maioria feito acompanhamento
através de intervenção com aulas práticas de dança além de aplicação dos questionários antes e
depois da intervenção (tabela 01).

Figura 1 – Fluxograma de informações das diferentes fases da revisão.

Estudos identificados nas bases de dados


(n = 987)
Scielo (n = 158)
BVS (n = 95)
Google acadêmico (n = 733)

Estudos eliminados por duplicação (n =384)

Estudos rastreados (n = 603) Relatos excluídos (n =


572)

Artigos na íntegra avaliados para Artigos completos


elegibilidade excluídos com justificativa

(n = 31) (n = 23)

Estudos incluídos na revisão


(n = 8)

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Ao analisar os resultados dos estudo selecionados, percebeu-se que através da prática
regular de dança pode-se promover benefícios entre todos os praticantes, encontrando nos
resultados valores satisfatórios, influenciando na melhoria da qualidade de vida, favorecendo
também contribuição nos aspectos físicos, beneficiando aos aspectos psicológicos, auxiliando
nas atividades do dia-a-dia, contribuindo para uma melhora na satisfação consigo mesmo,
refletindo na integração social, nas emoções da população estudada, também contribuindo com
diminuição da ansiedade, favorecendo para a elevação na auto estima (tabela 1).
Tabela 1 - Características dos estudos selecionados nesta revisão
Autores n Sexo Instrumento Tipos de estudo Resultados
Rios (2016). 38 F = 29 Questionário Pesquisa de campo A dança promove qualidade
M = 09 desenvolvido para do tipo transversal, de vida, influenciando o bem-
o estudo. quantitativa e estar psicológico, aspectos
qualitativa. sociais e amenização das
doenças físicas com causa
emocionais.
Marba et al. 50 F = 50 Questionários Pesquisa de campo Benefícios como perda de
(2016) M=0 desenvolvido para do tipo transversal, peso, servindo como terapia
o estudo. quantitativa e motivacional, integração
qualitativa social, e melhoria da auto
estima, favorecendo uma
melhor qualidade de vida.
Farrencena et 15 F= 10 Questionário Pesquisa de campo A dança interfere
al. (2016) M= 05 desenvolvido para do tipo experimental positivamente na saúde física,
o estudo. qualitativa. psíquica, e social refletindo na
melhoria da percepção na
qualidade de vida.
Castro et al. 50 N/A Medida Pesquisa de campo Comparando sedentários com
(2016) antropométricas do tipo praticantes encontrou-se
(peso, altura), para Experimental resultados satisfatórios na
cálculo do IMC e Qualitativa e melhoria quanto os domínios
questionários quantitativa. de habilidades sensoriais,
validado autonomia atividades
(Whoqol-old.) passadas, presente e futuras,
participação social e melhoria
na qualidade de vida.
Verregoso et 54 F= 42 Questionário de Pesquisa de campo Melhoria na liberação das
al. (2016) M= 12 satisfação com as do tipo experimental emoções, ansiedade, mais
aulas (QSA) descritivo, satisfação consigo mesmo,

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validado quanto a exploratório e mais positivos com a vida,
percepção quanto quantitativo. melhoria no bem-estar e as
a prática de dança. relações sociais, melhorando a
qualidade de vida.
Gaspar et al. 30 F=23 Questionário Estudo de campo A dança tem relação com a
(2017). M=03 desenvolvido para descritivo e melhoria na qualidade de vida,
o estudo. quantitativo. bem-estar social e físicos dos
idosos auxiliando nas
atividades do cotidiano,
causando motivação e
autoestima.
Garcia & 10 F=7 Questionários Estudo qualitativo e Percebeu-se mudança positiva
Garros (2017). M=3 validado para quantitativo no relacionado ao trabalho, em
medida de seu cotidiano em sua qualidade
qualidade de vida de vida quanto a socialização,
Whoqol-100 percepção de si e satisfação
com a vida, promovendo
melhoria na qualidade de vida.
Cavalcante et 47 F=47 Questionários As idosas apresentaram nível
al. (2018) M=0 validados para satisfatório de qualidade de
qualidade de vida, vida, em todos os domínios,
Whoqol-old e concluindo que a prática
Whoqol-breef regular da dança pode
promover melhoria na saúde,
qualidade de vida e na
longevidade.
N/A: Não apresenta: Fonte: autores 2020

Conforme Barancelli & Pawlowytsch (2016), a dança contribui para a qualidade de vida
das pessoas, favorecendo ao bem-estar físico, no qual essa prática vem sendo utilizada para que
as pessoas consigam se sentir melhor consigo mesmo, procurando através dela ter uma vida
mais saudável tendo em vista a pressão que sofrem no seu dia-a-dia, pelas obrigações e
frustações no decorrer da vida que são impostas pela sociedade.

A dança é considerada como uma forma de exercitar o corpo em todas as idades, por ser
considerado uma atividade prazerosa, que pode trazer benefícios físicos, apresentando
melhorias como a resistência cardiorrespiratória, auxiliando na diminuição da pressão arterial,
protegendo articulação, além de ser indicado contra a depressão considerados como um dos
fatores que mais são acometidos terceira idade. (RIOS, 2016)

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Segundo estudo de Marba et al. (2016), entre a população estudada, com a prática de
dança entre os idosos, foram apontados vários benefícios como a melhoria para a auto estima,
no condicionamento físico, diminuição do estresses e dores musculares, além de favoráveis
quanto a redução na glicemia, do colesterol, e também na melhoria da coordenação motora,
melhorando a qualidade do sono, o controle na pressão arterial e dessa forma favorecendo ao
melhor desempenho em outras atividades físicas.

Farrencena et al. (2016), apresentou em seu estudo resultados com relação a aderência
para prática de dança de salão pelos idosos e seus benefícios quanto a sua prática, mostrando
que inicialmente tem-se o gosto pela dança e ganhos de benefícios como na melhora da postura,
além fazer novas amizades e um estreitamento de novos relacionamentos já que a prática da
dança pode favorecer a socialização, permitindo encontros, conversas em comum e integração
em grupos. A dança também pode aprimorar a capacidade criativa, exercendo influência quanto
ao estado emocional entre os praticantes, e proporciona uma melhora na qualidade de vida,
bem-estar melhora na saúde.

Um estudo feito com 50 idosos praticantes de atividades física de dança e musculação


foi comparado com 20 idosos considerados sedentários que foram acompanhados por um
determinado período, no qual mostrou que aqueles praticantes das atividades apresentaram
maiores níveis de qualidade de vida quando se comparado aos sedentários, onde essa prática
principalmente a dança atuaram para melhoras quanto aos domínios das habilidades sensoriais,
nas atividades passados, presentes e futuras e uma maior participação social (CASTRO et al.,
2016).

No estudo de Varregoso et al. (2016) verificou-se o feito de aulas de dança na qualidade


de vida entre idosos durante 4 meses com sessões semanais, concluindo que as aulas
contribuíram para a melhoria de indicadores de saúde, no qual os idosos passaram a sentir-se
mais ativos, com melhora na condição física, ajudando nas tarefas do dia-a-dia, além de
contribuições para o bem-estar e as relações sociais entre grupos, com melhora significativa na
qualidade de vida.

Para Gaspar (2016), a dança tem uma relação com a melhoria na qualidade de vida,
contribuindo para o bem-estar social e físico de praticantes na terceira idade, que pode facilitar
nas atividades do cotidiano, sendo considerado contributo motivacional para melhora na
autoestima e gerando maior participação na sociedade em que vive. A dança promove um efeito
na melhoria da qualidade de vida, especialmente nos aspectos sociais na percepção de si e

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 380


satisfação com a vida, favorecendo uma mudança positiva relacionado ao trabalho (GARCIA
& GARROS, 2017).

É através da dança que a população pode viver e alcançar uma determinada idade com
boa saúde e disposição, e sua prática pode ser capaz de contribuir para a melhoria da saúde,
tornando-se um exercício físico capaz trazer muitos benefícios favorecendo principalmente
uma melhora na qualidade de vida (CAVALCANTE et al., 2018).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do presente estudo, percebeu-se que a prática regular de atividade física


contribui para manutenção da saúde, e a dança é considerada uma alternativa para o idoso, por
ser uma atividade divertida, prazerosa, e sua prática contribui para melhoria na qualidade de
vida, refletindo positivamente em inúmeros benefícios para uma vida mais saudável junto a
pessoa idosa. A dança como atividade física pode auxiliar na melhoria da disposição para as
atividades do dia-a-dia, proporcionando aos praticantes melhora na sua saúde, contribuindo em
uma melhor qualidade do sono, coordenação motora, alivio das dores musculares e melhoria na
condição cardiorrespiratória.

Salienta-se ainda que a dança como atividade física praticada pelos idosos tem objetivos
de trabalhar principalmente o físico, o psicológico e a parte social, considerando-se que nesse
processo de envelhecimento são os fatores mais afetados entre essa população, e a prática
regular de atividade física ou mesmo a dança pode beneficiar para uma melhoria na qualidade
de vida dos mesmos.

Conclui-se, entretanto, que há uma necessidade de mais pesquisas sobre esse tema com
essa população, levando para a comunidade mais conhecimentos sobre os benefícios que a
prática da dança pode proporcionar para a população, e precisamente na terceira idade, por
ajudar a prevenir uma séria de doenças podendo ser utilizado como um instrumento para
melhoria da qualidade de vida, promovendo saúde e bem-estar auxiliando para uma vida mais
saudável. No entanto sugere-se criação de políticas públicas com programas voltadas para essa
população que possa atender suas necessidades criando oportunidades para todos, respeitando
suas limitações fazendo-o sentir-se útil na sociedade diante da sociedade priorizando a auto
estima para viver bem e melhor.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 381


REFERÊNCIAS

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CAPÍTULO 31
A FISIOTERAPIA NA ATENÇÃO BÁSICA E O MANEJO DOS PACIENTES COM
DORES CRÔNICAS DE COLUNA: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Jeane Constantino Pereira, Mestra em Neurociência Cognitiva e Comportamento, UFPB


Sóstenes Conceição dos Santos, Mestre em Saúde Coletiva, ISC/UFBA

RESUMO
O manejo da dor crônica é complexo e a eficácia do tratamento requer a abordagem educativa
e multiprofissional prolongada. Logo, o tratamento, em regra geral, não é rápido. Assim, a
oferta de serviço nem sempre acompanha a demanda, o que acarreta o crescimento das filas de
espera para atendimento fisioterapêutico. Diante disso, o principal objetivo desse trabalho é
apresentar ações estratégicas que possam contribuir para a diminuição da fila de espera para
atendimento fisioterapêutico através da elaboração de uma proposta de intervenção que inclui:
a implantação da auriculoterapia como tratamento complementar, criação de grupos de
exercícios terapêuticos para usuários com dores crônicas de coluna, o desenvolvimento de um
trabalho integrado entre os profissionais de saúde do município, dentre outras ações que
envolvem todos os atores da saúde presentes nesses espaços. Por fim, espera-se que essa
proposta de intervenção seja reavaliada e aprimorada continuamente e que proporcione um
melhor manejo dos pacientes e um menor tempo na fila de espera para atendimento
fisioterapêutico proporcionando um cuidado continuado e mais qualidade de vida para a
população assistida.
Palavras-chave: Fisioterapia; Atenção Primária à Saúde; Saúde Pública; Dor crônica.

INTRODUÇÃO

O curso superior de Fisioterapia foi reconhecido no Brasil no ano de 1969 e


regulamentado através da criação do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
(COFFITO) que estabeleceu o código de ética para atuação profissional. Para legalizar e
fiscalizar o exercício profissional foram criados os Conselhos Regionais (CREFITO) através
da Lei nº 6.316/1975 (NAVES; BRICK, 2011).

Nos anos iniciais de seu surgimento a fisioterapia era mais voltada à recuperação e
reabilitação. Contudo, em meados da década de 80, o profissional passou a incorporar as ações
de promoção e prevenção da saúde no seu campo de atuação (NEVES; ACIOLE, 2011). As
mudanças no perfil de atuação do fisioterapeuta acompanharam a evolução do modelo de saúde
que teve como marco histórico a criação da Estratégia de Saúde da Família (ESF), na década
de 90, que propõe uma reorientação do modelo assistencial através da inserção de equipes

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 384


multiprofissionais em territórios delimitados para atuar junto à comunidade (ARANTES;
SHIMIZU; MERCHÁN-HAMANN, 2016).

Em 2008, diante da necessidade de outros profissionais para apoiar o trabalho da ESF


foi criado o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), o qual contempla o profissional de
fisioterapia (BRASIL, 2008; NEVES; ACIOLE, 2011). A portaria do NASF nº 154/GM
estabelece que este profissional deve realizar o acolhimento das pessoas que necessitam de
reabilitação fornecendo orientações e acompanhando-as de acordo com as necessidades
específicas de cada uma, além de realizar visitas domiciliares a usuários e orientações aos
cuidadores (BRASIL, 2008). Essa portaria foi um dos primeiros documentos oficiais com
atribuições sobre a atuação do fisioterapeuta na Atenção Básica (GALLO, 2005).

BISPO JÚNIOR (2010) recomenda que a atuação do fisioterapeuta na Atenção Básica


deve ocorrer, preferencialmente, por meio de atividades coletivas e com a participação e
envolvimento da comunidade, buscando a intersetorialidade das ações e a atuação sobre os
determinantes e condicionantes de saúde.

Diante desse contexto, uma revisão integrativa sobre a fisioterapia na Atenção Básica,
ressaltou que o profissional encontra alguns desafios para o exercício pleno do seu trabalho.
Tais desafios ocorrem pelas condições físicas e econômicas inadequadas para realização das
ações, o desconhecimento dos profissionais da equipe sobre o trabalho do fisioterapeuta, o
número reduzido de profissionais atuantes neste nível de atenção à saúde e, sobretudo, pelo
predomínio das ações curativas (FONSECA et al., 2016).

No cotidiano de práticas do fisioterapeuta, um dos problemas mais frequentes é a


elevada demanda de pacientes apresentando quadro clínico de dor crônica, sobretudo na região
da coluna. No ano de 2007, o Brasil alcançou uma taxa de 29,06 aposentadorias por invalidez
associadas à dor na coluna por cada 100 mil contribuintes, sendo maior entre os indivíduos do
sexo masculino e mais idosos (MEZIAT FILHO; SILVA, 2011). Uma pesquisa realizada com
3.182 pessoas, de ambos os sexos, residentes na Região Sul do Brasil apontou que variáveis
como sexo, escolaridade, situação conjugal, tabagismo, trabalho na posição deitada, índice de
massa corporal, realização de movimentos repetitivos e carregamento de peso demonstraram
relação com a existência de dor lombar (SILVA; FASSA; VALLE, 2004)

A identificação da dor crônica de coluna pelo indivíduo está associada ao nível de


percepção e frequência de sintomas e sinais, à acessibilidade aos serviços e aos testes e exames

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 385


diagnósticos. Assim, é necessário que sejam desenvolvidas ações direcionadas aos grupos
populacionais que demonstram maior prevalência para esse problema (MALTA et al., 2017).

Dessa forma, o manejo da dor crônica é complexo e a eficácia do tratamento requer a


abordagem educativa e multiprofissional prolongada. Logo, o tratamento em regra geral, não é
rápido. Assim, a oferta de serviço nem sempre acompanha a demanda, o que acarreta o
crescimento das filas de espera para atendimento fisioterapêutico. Diante disto, se faz
necessário a construção de estratégias para o manejo dos pacientes com dores crônicas de
coluna atendidos pelos fisioterapeutas na Atenção Básica.

Nesse sentido, pretende-se apresentar alternativas para melhorar o manejo desses


pacientes, criando um fluxo e promovendo a qualidade do cuidado por meio de uma proposta
de intervenção.

METODOLOGIA

A proposta de intervenção foi desenvolvida por uma fisioterapeuta integrante do NASF


de um município do estado da Paraíba para obtenção do título de Especialista em Micropolítica
da Gestão e do Trabalho em Saúde pela Universidade Federal Fluminense.

O estado da Paraíba possui 4 Macrorregiões de Saúde subdivididas em 12 Gerências


Regionais de Saúde com a finalidade de prestar apoio à gestão dos 223 municípios paraibanos.
Cada uma dessas unidades administrativas pertence à Secretaria Estadual de Saúde e é
responsável por um grupo de cidades limítrofes delimitadas, a partir de identidades culturais,
econômicas e sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados,
com o intuito de integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de
saúde, de acordo com as particularidades de cada região.

O município onde esse trabalho foi desenvolvido possui aproximadamente 14.560


habitantes e pertence a I Macrorregião de Saúde e é apoiado pela 2ª Gerência Regional de
Saúde. Sua Rede de Saúde é formada por 7 Unidades de Saúde da Família, sendo uma na zona
rural e as demais na zona urbana. Possui, ainda, 2 Academias de Saúde,1 Centro de Apoio
Psicossocial – CAPS, 1 base do SAMU, 1 Farmácia Básica, 1 Policlínica, 1 Posto Noturno, 1
Laboratório de Análises Clínicas e 1 equipe do NASF-AB composta por 2 fisioterapeutas, 1
nutricionista, 1 fonoaudiólogo, 1 psicólogo e 1 terapeuta ocupacional.

Durante o Curso de Especialização foi realizada uma oficina que teve como objetivo
preparar os estudantes para a construção metodológica do Projeto de Intervenção. Diante da

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 386


realidade do local de trabalho, o problema escolhido pela fisioterapeuta para ser priorizado foi
a alta demanda de pacientes com dores crônicas de coluna que procuram o atendimento
fisioterapêutico na Atenção Básica trazendo, como consequência, o crescimento da lista de
espera. A partir da análise do problema buscou-se identificar as principais causas,
consequências e o nó crítico, conforme pode ser observado abaixo:

Tabela 1: Análise do problema

Causas Consequências Nó crítico


•Poucos profissionais e •Demora para •Como a dor crônica
espaço físico conseguir vaga; não tem cura, os
insuficiente; pacientes não querem
•Aumento da lista de receber alta e quando
•Ausência de trabalho espera; recebem, voltam a
em rede; procurar o serviço.
•Sobrecarga de
•Ausência de um trabalho profissional.
acompanhamento
multidisciplinar.

Fonte: Autores.
Com isso, as ações estratégicas propostas para o plano de intervenção foram as
seguintes:

1. Dialogar com a gestão sobre o problema e pedir apoio para solucioná-lo;

2. Dialogar com os profissionais das equipes de saúde da família acerca da situação com
o intuito de diminuir os encaminhamentos equivocados;

3. Construir um fluxograma para atendimento fisioterapêutico e um protocolo para os


pacientes com dores crônicas de coluna, levando em consideração as necessidades
individuais de cada usuário;

4. Implantar a auriculoterapia como terapia complementar ao tratamento da dor crônica de


coluna;

5. Criar grupos com a ajuda da equipe NASF e em parceria com a Academia de Saúde para
acompanhar os portadores de dor crônica de forma multidisciplinar;

6. Construir ações de vigilância em saúde do trabalhador com o intuito de diminuir a


incidência de dor crônica de coluna em decorrência dos fatores de risco inerentes ao
ambiente de trabalho;

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 387


7. Definir papéis: fisioterapeuta NASF exercendo seu papel de apoio às equipes de
Atenção Básica e fisioterapeuta reabilitativo desenvolvendo um trabalho mais
direcionado à assistência.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Analisando a proposta de intervenção, a governabilidade das ações, de uma forma geral,


é boa. Este fato é confirmado pois a maior parte das ações requer a criação de um trabalho
integrado entre todos os profissionais inseridos nas equipes de saúde do município. No entanto,
a governabilidade sobre o item 9 é baixa, tendo em vista que em municípios pequenos o
fisioterapeuta NASF atua mais na assistência do que propriamente desenvolvendo seu papel de
apoio matricial às equipes de saúde. A contratação de um novo profissional que desempenhasse
um trabalho mais voltado à assistência ajudaria a diminuir a sobrecarga e a direcionar melhor
o fluxo de pacientes. Além disso, mais pessoas poderiam ser atendidas, o que diminuiria a lista
de espera. No entanto, a governabilidade depende também da gestão.

Após a reunião com a gestão para apresentar o plano, os fisioterapeutas do município


também se reuniram (2 da equipe NASF e 1 da Academia da Saúde) para estabelecer os critérios
do serviço para admissão imediata e à médio prazo dos pacientes, para que dessa forma pudesse
ser estabelecido um fluxo. Esses critérios tomaram como base protocolos de livros e artigos
científicos.

Ficou estabelecido, também, que a auriculoterapia seria utilizada como terapia


complementar no tratamento dos pacientes com dores crônicas. Essa implantação tem sido
gradativa, tendo em vista que apenas 2, dos 3 fisioterapeutas possuem a formação. Dessa forma,
o fisioterapeuta da Academia da Saúde agregou a oferta do serviço e criou grupos de
relaxamento e exercícios voltados para usuários com dores crônicas.

Além disso, os fisioterapeutas da equipe NASF reavaliaram os pacientes com dores


crônicas de coluna e, aqueles que apresentaram condições para participar dos grupos de
exercícios foram encaminhados. Atualmente, existem 2 grupos de exercícios terapêuticos que
também são baseados na metodologia da Escola de Posturas e que são coordenados pelos
fisioterapeutas do NASF, um acontece no turno da noite e outro no turno da tarde. Cada grupo
apresenta uma média de 8 participantes por encontro e acontece semanalmente. Dessa forma,
ficou estabelecido o seguinte fluxo: pacientes com dores crônicas de coluna passam pela
fisioterapia convencional e após um determinado número de sessões são encaminhados para o

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 388


grupo de exercícios terapêuticos e em seguida para os grupos de exercícios na Academia da
Saúde.

Pretende-se inserir nesses grupos rodas de conversa sobre educação em dor e também
articular a participação dos demais profissionais da equipe NASF para uma abordagem
interdisciplinar, o que ainda não foi viável devido a incompatibilidade de horários e dias de
trabalho dos profissionais. Entendemos que a vertente educativa e interdisciplinar pode ser
muito efetiva por considerar condicionantes e determinantes sociais para o estabelecimento de
um plano terapêutico adequado às necessidades de cada indivíduo.

As ações de vigilância em saúde do trabalhador têm acontecido dentro do Programa


Saúde na Escola e são mais voltadas aos professores. Pretende-se criar uma agenda e estabelecer
esse diálogo com outras categorias profissionais. Esta medida visa o estabelecimento de ações
intersetoriais com o reforço de temas relacionados à educação em saúde no currículo escolar.

Para compor o escopo de ações estratégicas é necessário estabelecer um protocolo de


atendimento voltado aos pacientes com dores crônicas e definir o número de sessões em cada
etapa do fluxo. As particularidades e necessidades de cada paciente são levadas em
consideração. Entretanto, ainda não foi possível definir esses critérios. Mas é algo que a equipe
deseja estabelecer aos poucos para nortear o tempo e o fluxo dos pacientes no serviço.

É perceptível que o fluxo de pacientes pelo serviço tem melhorado e o tempo na fila de
espera tem diminuído. No entanto, tendo em vista a grande demanda de pacientes e uma lista
de espera com mais de 100 pessoas, em outubro de 2018, foi realizada outra reunião com a
gestão para dialogar novamente sobre o problema. Ficou definido que seria contratado mais um
fisioterapeuta para o município com a finalidade de suprir a demanda ambulatorial. Logo, o
item 9 que era considerado de governabilidade baixa foi conquistado. Espera-se que com essa
contratação e as demais ações propostas nesse plano, a fila e o tempo de espera por atendimento
diminuam, melhorando o fluxo e o cuidado oferecido aos usuários do município.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O número elevado de usuários com dores crônicas de coluna é um problema de saúde


pública em todo o mundo. Para serem resolutivas, as ações preventivas e reabilitativas
necessitam de um trabalho integrado de todos os profissionais da equipe de saúde. Nesse
sentido, o Curso de Micropolítica da Gestão e do Trabalho em Saúde mostrou-se essencial por
permitir aos profissionais uma visão ampliada do Sistema Único de Saúde, proporcionando

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 389


possíveis caminhos, bem como as ferramentas necessárias para a resolução das dificuldades
encontradas no âmbito da gestão e do trabalho na saúde.

Nessa perspectiva, é possível refletir e, a partir de uma necessidade real, criar estratégias
para resolução, fortalecendo os vínculos, a capacidade de dialogar, planejar e sobretudo
trabalhar em equipe.

Por fim, espera-se que essa proposta de intervenção seja reavaliada e aprimorada
continuamente e que alcance seu objetivo principal de diminuir o tempo e a fila de espera para
atendimento fisioterapêutico proporcionando um cuidado continuado e mais qualidade de vida
para a população assistida.

REFERÊNCIAS

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Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 391


CAPÍTULO 32
FUNCIONALIDADE EM GERIATRIA E GERONTOLOGIA: REVISÃO
INTEGRATIVA

Luana Almeida de Sá Cavaleiro, Doutora em Ciências da Reabilitação (UFMG), Liga


Multidisciplinar de Gerontologia (LAMEG), UniAteneu
Jefferson Nascimento dos Santos, Mestrando em Fisioterapia e Funcionalidade, UFC
Francisco Valter Miranda, Mestrando em Saúde Coletiva, UNIFOR
Lizandra Tereza de Souza Vasconcelos, Fisioterapeuta, Liga Multidisciplinar de
Gerontologia (LAMEG), UniAteneu
Francisca Meiriane Pereira Lima, Fisioterapeuta, Programa de Residência Multidisciplinar
em Saúde Coletiva, Escola de Saúde Pública do Ceará
Maria Erisnilda Nunes Irineu, Fisioterapeuta, Liga Multidisciplinar de Gerontologia
(LAMEG), UniAteneu
Claudiana Batista de Brito, Fisioterapeuta, Liga Multidisciplinar de Gerontologia
(LAMEG), UniAteneu
Daniele de Queiroz Martins, Fisioterapeuta, Liga Multidisciplinar de Gerontologia
(LAMEG), UniAteneu
RESUMO
Introdução: O envelhecimento populacional vem sendo estudado principalmente nos países em
desenvolvimento, o crescimento da expectativa de vida trouxe novos desafios para a assistência
do idoso, visto a necessidade de cuidados complexos e longos; neste leque de cuidados existe
a necessidade de promover ou manter o nível funcional do idoso. A funcionalidade é
compreendida como a capacidade de executar atividades simples ou complexas do cotidiano
desenvolvida ao longo da vida com habilidades físicas, mentais e psicossociais, considerada
como um padrão para uma independência e autonomia na sociedade. Enquanto, a incapacidade
funcional é definida como o impedimento ou incapacidade de realizar as atividades de vida
diária. Objetivo: objetiva-se com este estudo analisar a evolução da produção científica acerca
da funcionalidade em geriatria e gerontologia. Metodologia: Trata-se de um estudo de revisão
integrativa. Para o levantamento dos artigos na literatura, realizou-se uma busca nas bases de
dados Pubmed e Scielo, com a utilização de descritores em inglês, physiotherapy, functioning,
older, e seus respectivos descritores em português. A seleção dos estudos teve como critérios
de inclusão: artigos completos; responder a questão norteadora; objetivo de investigar a
funcionalidade em idosos. Resultados: 6 estudos foram classificados como nível 4,
demonstrando que a maioria dos dados são provenientes de estudos descritivos ou qualitativos.
Os domínios mais frequentes nos instrumentos são: Condição de saúde; Estrutura e função;
Atividade. Considerações finais: A literatura relativa a funcionalidade em idosos é abundante,
mas precisa continuamente de novas pesquisa. Observou-se que a maioria das evidências
postuladas foram de nível 4, e apenas 2 foram nível 1. Torna-se necessário maiores estudos com
outros delineamentos metodológicos a fim de fornecer melhores níveis de evidências. Em
análise crítica, evidenciou-se que modelo conceitual proposto pela CIF não está sendo utilizado
em sua totalidade e de forma equânime em idosos.
PALAVRAS-CHAVES: fisioterapia, funcionalidade, idosos.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 392


INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional vem sendo motivo de estudo principalmente nos países


em desenvolvimento, devido o número de pessoas com 65 anos ou mais e tende a dobrar em
2050. No Brasil segundo o Instituto brasileiro de Geografia e Estatística há aproximadamente
um total de 20 milhões de indivíduos acima de 60 anos, e estima-se que em 2025 essa população
terá um aumento em até 60%, podendo chegar a 32 milhões. Diante desses dados a saúde
pública sofre grandes impactos não só pelo fato do envelhecimento em si, mas por conta das
doenças crônico-degenerativas que acometem essa população (IBGE, 2010).

O envelhecimento é caracterizado por um processo dinâmico, progressivo e fisiológico,


que naturalmente o predispõe a um declínio funcional, morbidez, deficiência, má qualidade de
vida gerando redução da capacidade funcional, tornando o indivíduo dependente de auxílio para
realizar das atividades diárias. Desse modo exige-se uma avaliação correta da sua
funcionalidade para identificar as principais incapacidades e dificuldades (PERRACINI, 2009).

O crescimento da expectativa de vida apresentou à gerontologia novos desafios para a


assistência do idoso, visto que esses indivíduos aspiram a necessidade de cuidados mais
complexos e de longa duração, além do uso de diversos medicamentos, que podem contribuir
para a necessidade de serviços de saúde e desenvolvimento da redução da capacidade funcional.
Neste contexto, entende-se como incapacidade funcional o impedimento ou incapacidade de
realizar as atividades de vida diária (GAZZOLA et al., 2004; SIQUEIRA et al., 2002).

A funcionalidade define-se como a capacidade de executar atividades simples ou


complexas do cotidiano desenvolvida ao longo da vida com habilidades físicas, mentais e
psicossociais, considerada como um padrão normal para uma vida com independência e
autonomia na sociedade. Diante disso a manutenção e a prevenção da capacidade funcional no
idoso avalia o estado de saúde, no qual utilizam ferramentas que auxiliam nas possíveis perdas
funcionais, permitindo o indivíduo sua independência para as atividades básicas e instrumentais
de vida diária (PEDREIRA, et al., 2015; SANTOS, et al., 2013; NUCIATO, et al., 2012;
LOURENÇO, et al., 2012).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou em 2001 a classificação


Internacional de Funcionalidade Incapacidade e Saúde (CIF) que tem sido um instrumento
importante na classificação das condições específicas de saúde e na promoção de políticas de
inclusão social, compreendendo funcionamento e incapacidade como interação dinâmica entre
problemas de saúde e fatores contextuais, tanto pessoais quanto ambientais (ROSENBAUM,

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 393


2015). Segundo Di Nubila e Buchalla (2008) a CIF auxilia aos profissionais da saúde tanto na
avaliação, na intervenção como no registro funcional, colaborando na prática clínica e
possibilitando uma intervenção distinta e um acompanhamento longitudinal.

O objetivo deste estudo visa analisar a evolução da produção científica acerca da


funcionalidade em geriatria e gerontologia.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo de revisão integrativa, no período de outubro e novembro de


2017, a partir da elaboração da pergunta norteadora: “Como a funcionalidade tem sido abordada
na área da gerontologia e geriatria ao longo do tempo?”. Para o levantamento dos artigos na
literatura, realizou-se uma busca nas bases de dados “Pubmed” (278) e “Scielo” (13), com a
utilização de descritores em inglês, physiotherapy AND functioning AND older, e seus
respectivos descritores em português, fisioterapia AND funcionalidade AND idosos.

A análise dos estudos selecionados para a pesquisa tem como critérios de inclusão:
artigos completos em inglês ou português; responder a questão norteadora; objetivo de
investigar a funcionalidade em idosos. E os critérios de exclusão foram: estudos que não
abordavam a funcionalidade como variável e a Hierarquia das evidências. A tabela 1, descreve
o nível hierárquico de evidência adaptado por Souza et al. (2010) e adotado neste estudo. Em
seguida foi realizado a discussão dos resultados após a apresentação da revisão integrativa:
tabela e quadro, realizados pelos autores deste estudo. Selecionados para o estudo “Pubmed”
(11) e “Scielo” (3), no total de de 14 artigos.

Tabela 1: Método de Nível de evidência

Nível de Evidência

Nível 1: evidências resultantes da meta-análise de múltiplos estudos clínicos controlados e


randomizados;

Nível 2: evidências obtidas em estudos individuais com delineamento experimental;

Nível 3: evidências de estudos quase-experimentais;

Nível 4: evidências de estudos descritivos (não-experimentais) ou com abordagem qualitativa;

Nível 5: evidências provenientes de relatos de caso ou de experiência;

Nível 6: evidências baseadas em opiniões de especialistas.

Fonte: Adaptado de Souza et al. (2010)

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RESULTADOS

Os dados da análise dos dados encontrados são descritos abaixo. O quadro 1 consta a
descrição teórica presente nos artigos elencados, focando os objetivos e principais resultados
relatados em cada pesquisa. 6 estudos foram classificados como nível 4 no ranking de níveis de
evidência, demonstrando que a maioria dos dados são provenientes de estudos descritivos ou
qualitativos.

Quadro 1. Descrição dos estudos elegíveis

Autor e Nível de
Objetivo Resultados
ano evidência

Analisar as adaptações Melhora geral de 11,6% no VO2 máximo com aumento de


Blumenthal cardiovasculares, domínios 13% no limiar anaeróbio. Evidenciado níveis mais baixos de
et al. 3 psicológicos e comportamentais colesterol e pressão arterial diastólica. Não foi encontrado
(1989) associados ao programa de mudanças psicológicas significativas.
treinamento aeróbico

Determinar a eficácia de um
programa de treinamento Encontrado melhoria em equilíbrio, se mantendo após 1
Harada et individualizado em idosas para mês. A velocidade da marcha não melhorou
4
al. (1995) mobilidade, marcha, equilíbrio e significativamente, entretanto houve melhora de desempenho
desempenho funcional de idosas em funcional.
cuidados residenciais

Avaliação após 2 meses de intervenção e com 6 meses


Descrever resultados da
depois; mostrou-se viável, seguro e efetivo. O BBSS evoluiu
Tinetti et implementação de um protocolo de
3 de 13 para 20,5 scores (DP 6,8 p <.0001). E o Índice Total
al. (1997) reabilitação domiciliar para idosas
AVD aumentou de 48,2 (DP 15,0) para 77,7 (SD 18,8 p<
após fratura de quadril
0,0001).

Earles Observou-se melhora do pico de força em 22% no grupo


et al. Testar a eficácia do treinamento de alta velocidade. O poder extensor da perna e força aumentou
2
(2001) alta velocidade em idosos saudáveis em ambos os grupos (p <.0001). O treinamento não melhorou
o desempenho das tarefas funcionais em nenhum dos grupos.

2 grupos (experimental e grupo de exercícios) com 12


semanas de intervenção. O Grupo experimental percebeu
Analisar eficácia de exercícios significativamente menos dor articular, relatando menos
Song et taichi para reduzir os sintomas e dificuldades percebidas na funcionalidade física. Na aptidão
2
al. (2003) melhorar a funcionalidade de física, houve melhora significativa em equilíbrio (t= 3.34,
pacientes idosos artríticos p=0.002) e força muscular abdominal (t=2.74, p=0.009) no
grupo tai chi. Não foram encontradas diferenças na
flexibilidade e força muscular em ambos os grupos.

Pacientes idosos relatam melhor adaptação psicossocial à


Revisae evidências sobre questões
diálise do que os pacientes mais jovens.
em cuidados geriátricos e
Kutner A função física e as perdas de função cognitiva desafiam
5 implicações relacionadas ao
(2008) a QV do idoso. O gerenciamento precoce da DRC + atenção
cuidado de pacientes idosos com
à anemia e exercício ou atividade física regular melhoraram a
doença renal crônica (DRC)
funcionalidade e o bem estar dos pacientes idosos

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Usar o modelo teórico da CIF para
Arnadottir criar uma compreensão dos fatores Participação de 185 idosos. A auto-percepção em saúde
et al. 4 associados a auto percepção da foi significativamente associada a todos os componentes da
(2011) saúde entre idosos comunitários de CIF
áreas urbanas e rurais

Inclusão de 96 ensaios. A participação foi medida em 20%


destes. Instrumentos adotados para medir a participação
Avaliar como a mensuração
foram: PASE, Physical Activity Scaleforthe Elderly; Lawton;
da participação tem sido abordada
GARS; FAI; FHI; LLFDI; AAP; OARS; NEADL.
Fairhall et em o efeito de ensaios de
1 O efeito das intervenções, incluindo o exercício, indicou
al. (2011a) intervenções de prevenção
pequena melhoria na participação (p=0,006). Intervenção
de queda e determinar intervenções
multidisciplinar teve efeito maior do que a intervenção
de exercícios na participação
isolada de exercício, mas a diferença não foi estatisticamente
significante (p=0,10).

Amostra de 180 sujeitos. 80% apresentaram restrição de


participação em pelo menos um aspecto de sua vida. Mais
Determinar a extensão da prevalente nas áreas de trabalho em casa ou comunidade
restrição de participação (63%) e mobilidade da comunidade (51%) e menos comum
Fairhall et
4 em uma amostra de idosos frágeis e em relação às relações interpessoais (5%).
al. (2011b)
identificar os domínios Força, humor, número de condições médicas e mobilidade
de participação mais restritos foram independentes e significativamente associadas à
restrição de participação. Enquanto que cognição e vida
isolada não foram associadas de forma significativa.

Investigar os efeitos de um
Edgren et programa de reabilitação domiciliar Houve redução da incapacidade de idosos após a fratura
2
al. (2015) sobre incapacidade física após do quadril.
fratura de quadril.

Observada pior funcionalidade tanto no questionário


Lequesne (p=0,007) como no WOMAC (p=0,013) e em
domínios Intensidade da Dor (p=0,013), Rigidez (p=0,032) e
Funcionalidade (p=0,018). Não foram verificadas diferenças
Analisar a influência do gênero,
Santos, et nos instrumentos avaliados quanto a diferentes faixas etárias
idade e farmacoterapia da
al. (2015) 4 ou comprometimento.
osteoartrite (OA) sobre a
Houve pior funcionalidade em comparação aos que não
funcionalidade de idosos
utilizavam medicamentos para OA (Lequesne: p=0,005;
WOMAC: p=0,008 e domínios: Intensidade da Dor: p=0,004;
Rigidez: p=0,007 e Funcionalidade: p=0,023). Mulheres e
indivíduos medicados apresentaram pior funcionalidade.

Verificar a correlação entre As idosas com menores picos de força apresentaram pior
Pereira et
4 sarcopenia, capacidade funcional e desempenho no teste de sentar e levantar
al. (2016)
interleucina-6

Avaliar a relação entre o O status socioeconômico inflenciou o estado de saúde


Mosallanez status socioeconômico (SES), através da mediação de alguns aspectos comportamentais e de
-had et al. 4 a atividade física, a independência e autoconfiança, incluindo atividade física e independência em
(2017) o estado de saúde das pessoas AVD’s
idosas no Irã

Revisar as publicações que 25 instrumentos foram utilizados para medir a


possuem como desfecho a funcionalidade do idoso: Sitting down and standing up from
Gomes et funcionalidade de idosos brasileiros the chair test (30 sec); TUG; 6 minutes wanlking; Berg; 10
1
al. (2017) analisando os instrumentos meters wanlking test; SGLP; Sitting down and standing up
utilizados para sua avaliação e from the chair test (5 times); 8 foot up and go; SCS; Lawton;
verificar sua coerência com O Sit and reach; GUCMAH.

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modelo da CIF. Frequência dos domínios da CIF: condição de saúde
(0,28%), função e estrutura do corpo (1,71%), atividade
(82,34%), participação (3,42%), fatores ambientais (12,25%)
e fatores pessoais (0%)

Legenda: AAP - Adelaide Activities Profile; BBSS - Berg Balance Scale Score; CIF - Classificação Internacional de
Funcionamento, Incapacidade e Saúde; DRC - doença renal crônica; FAI - Frenchay Activities Index; FHI - Falls Handicap
Inventory; GARS - Groningen Activity Restriction Scale; GE - grupo experimental; GUCMAH - Get up from the chair and
move around the house Test; LLFDI - Late Life Functionand Disability Instrument; NEADL - Nottingham Extended
Activities of Daily Living Scale; OA - Osteoartrite; OARS - Older Americans Resources and Services Activities of Daily
Living Scale; SCS - Speed to climb stairs; SES - status socioeconômico; SGLP - Speed to get up from a lying position.

O quadro 2 apresenta o detalhamento dos instrumentos utilizados para avaliar níveis de


funcionalidade, e quais os domínios do CIF engloba estes instrumentos.

Quadro 2. Instrumentos para medição e domínios da CIF

Autor e ano Instrumento e/ou escala de medida Domínio (CIF)

Medidas fisiológicas: pressão arterial, lipídios, densidade óssea e


Blumenthal et al. aptidão cardiorrespiratória. Medidas psicológicas: humor,
Estrutura e Função
(1989) sintomas psiquiátricos, função neuropsicológica (testes de
memória e fluência verbal)

Harada et al. (1995) Berg balance; Escala de Tinetti; POMA e velocidade de marcha Estrutura e Função; Atividade

Escala de Berg e AVD (medicação, comendo, tocando, higiene


Condição de saúde; Estrutura e
Tinetti et al. (1997) oral, tomando banho, vestir-se, preparação refeição, lavanderia,
Função Atividade
serviço de limpeza)

Pico de força extensora da perna; Distância do TC6; SPPB; Teste


Earles et al. (2001) Estrutura e função; Atividade
de desempenho físico e estudo de saúde de curto prazo

Sintomas físicos e aptidão física; índice de massa corporal;


Condição de saúde; Estrutura e
Song et al. (2003) funcionalidade cardiovascular e dificuldades percebidas na
função; Atividade
funcionalidade física

Condição de saúde;
Kutner (2008) (não detalhado )
Estrutura e função

Geriatric Depression Scale, Mini-Mental State, Activities-


Estrutura e função; Atividade
Arnadottir et al. Specific Balance Confidence Scale, Timed Up & Go test, Bodily
e participação; Fatores
(2011) Pain sub scale of SF-36, LLFDI e Physical Activity Scale for the
pessoais; Fatores ambientais
Elderly

Fairhall et al.
(não detalhado ) Atividade e participação
(2011a)

Fairhall et al. Condição de saúde; Atividade


Índice de reintegração para vida normal
(2011b) e participação

Questionário de avaliação de atividades básicas e instrumentais Condição de saúde; Estrutura e


Edgren et al. (2015)
da vida diária (AIVDs). Escala de berg. função; Atividade

Condição de saúde; Estrutura e


Santos, et al. (2015) WOMAC e Índice Algofuncional de Lequesne função; Atividade; Fatores
pessoais

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Força de preensão manual; teste de sentar e levantar da cadeira Condição de saúde; Estrutura e
Pereira et al. (2016)
cinco vezes; e interleucina-6. função; Atividade

Indicadores de estado de saúde: sentiram-se saudáveis (sim ou


Mosallanez-had et não), cansados (sim ou não). Indicadores de SES: Anos de
Atividade; Fatores ambientais
al. (2017) educação, trabalho. Indicadores de nível de atividade física
ABVD e AIVD

Condição de saúde; Estrutura e


função; Atividade;
Gomes et al. (2017) Checklist de Downs e Black.
Participação; Fatores
ambientais; Fatores pessoais

Legenda: ABVD - atividade básica de vida diária; AIVD - atividade instrumental de vida diária; AVD - atividade de vida
diária; LLFDI - late life functionand disability instrument; POMA - performance oriented mobility assessment;
SES - status socioeconômico; SPPB - bateria de desempenho físico curto; TC6- Teste de caminhada de 6 minutos;
WOMAC - western ontario and mcmaster universities osteoarthritis index.

DISCUSSÃO

Em 1980, a OMS lançou a Classificação Internacional das Deficiências, Incapacidades


e Desvantagens abreviada como CIDID em português; este modelo tinha como foco os
conceitos de deficiência, incapacidade e desvantagem. Descrevendo de maneira linear a
correlação destes conceitos (FARIAS, BUCHALLA, 2005; DI NUBILA, BUCHALLA, 2008).
Diante dos processos revisionais da classificação, no ano de 2001 houve a aprovação da nova
Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) (WHO, 2001).

Em seu modelo conceitual, a CIF revela o entendimento acerca de funcionalidade e


incapacidade relacionado ao estado de saúde. Ao passo em que aborda múltiplos componentes,
então denominados: funções e estruturas do corpo; atividade; participação social; e os fatores
ambientais, o qual age de forma facilitadora ou como barreira ao desempenho das atividades
do indivíduo. Portanto, este modelo de interação entre os componentes, permitem à CIF adquirir
uma abordagem biopsicossocial (DI NUBILA, BUCHALLA, 2008; ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE, 2013).

A partir da análise dos dados extraídos, ao observarmos o conjunto de instrumentos


medidores e investigativos de funcionalidade se mostrou amplamente heterogêneo não havendo
uma similaridade no emprego destes instrumentos, demonstrando que não há relativo consenso
na pesquisa clínica sobre qual aplicar, tampouco qual destes seria um considerado um padrão
para investigar domínios específicos de funcionalidade. Estes dados vão de encontro aos
achados de Barreto, Nunes e Castro (2019), em sua revisão os autores apontam uma
discordância entre os instrumentos ao avaliarem funcionalidade, ao passo em que eles
contemplam com maior frequência o domínio de atividades.

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Em paralelo, 02 estudos (HARADA et al., 1995; EDGREN et al., 2015) aplicaram a
escala de Berg e 03 pesquisas (TINETTI et al., 1997; EDGREN et al., 2015; Mosallanez-had
et al. 2017) propuseram o uso de escalas avaliativas de AVD’s, ABVD’s ou AIVD, em reflexão,
este dado revela uma sensibilidade por parte das investigações de analisarem o comportamento
dos idosos na execução de suas atividades diárias, o que por si é um dos objetivos preconizados
durante a assistência em saúde ao idoso.

Outros testes físicos ao exemplo do teste de caminhada de 6 minutos, SPPB e TUG,


foram aplicados para dimensionar a funcionalidade (EARLES et al., 2001; ARNADOTTIR et
al., 2011) entretanto eles têm finalidade de rastrear mobilidade, quedas e o risco de cair, assim
não são bons indicadores de funcionalidade isoladamente, pois suas funções clínicas remetem
a mobilidade e equilíbrio, componentes do domínio estrutura e função, perfazendo uma das
dimensões da CIF.

De acordo com os resultados, os domínios que se destacaram com a empregabilidade da


CIF são: atividade e participação (32,43%), estrutura e função (29,73%), e condição de saúde
(21,62%). Gomes et al. (2017), obtiveram achados similares quanto à frequência dos domínios
existentes no material teórico incluído em sua revisão, havendo prevalência do fator atividade
(82,34%), seguido por fatores ambientais (12,25%). Portanto, é observado uma crescente de
pesquisas e ampliação da visão acerca de funcionalidade, superando uma ideia simplista de ser
apenas estrutura e atividade.

Dentre os estudos citados nos resultados apresentados, 02 (14,28%) são de nível de


evidência 1; 03 (21,43%) são do nível 2; 2 (14,28%) estão no nível 3; 6 (42,86%) encontram-
se no nível 4 e 1 (7,14%) no nível 5. Diante desses achados o mais prevalente foi o nível de
evidência 4 correspondente aos estudos provenientes de pesquisas qualitativas e/ ou descritivos,
o que nos mostra um nível de baixa a moderada evidência.

O World Health Disability Assessment Schedule (WHODAS 2.0) é um instrumento de


fácil aplicação e entendimento, considerado vantajoso para avaliar a saúde e o grau de
funcionalidade/incapacidade na população geral, por não ser exclusivo de determinada
condição de saúde. O WHODAS respeita o modelo proposto pela CIF pois foi embasado no
seu arcabouço teórico, objetivando averiguar principalmente as condições de incapacidade,
fator este não contemplado totalmente pela CIF. Mostrando assim a eficácia para uma avaliação
íntegra no idoso quanto a sua funcionalidade, facilitando e completando a aplicação da CIF
(MOREIRA et al., 2015).

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Há atualmente 3 versões de aplicação do WHODAS, uma composta por 36 perguntas,
uma de forma resumida com 12 itens, e uma combinada (12+24 itens) onde a aplicação dos 24
itens depende das respostas atribuídas aos 12 itens iniciais. Recentemente Ferrer et al. (2019)
propuseram uma normatização de pontos de corte para incapacidade em idosos com base em
versão de 10 itens adaptados da versão 12 itens. Seus resultados mostraram boa aplicabilidade
e o construto foi sensível para detectar incapacidade no idoso, sendo assim uma nova alternativa
para uso na população geriátrica associada à CIF, garantindo uma classificação biopsicossocial
integral e ampla.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A literatura relativa a funcionalidade em idosos é abundante, mas precisa continuamente


de novas pesquisa, principalmente com enfoque na temática de funcionalidade em gerontologia.
Observamos que a maioria das evidências postuladas na presente revisão com base na
Classificação Hierárquica das Evidências foram de nível 4 (42,86%), e apenas 2 (14,28%)
foram nível 1, desta maneira torna-se necessário maiores estudos com outros delineamentos
metodológicos a fim de fornecer melhores níveis de evidências.

Durante a análise crítica e pontual dos resultados apresentados, evidenciou-se que


modelo conceitual proposto pela CIF não está sendo utilizado em sua totalidade e de forma
equânime quando se trata de funcionalidade em idosos.

Ressaltamos a importância de produzir pesquisas amplas objetivando identificar, avaliar


e propor mecanismos de uso e aplicação da CIF em gerontologia, além de identificar as
principais barreiras ou motivos para a não aplicação da CIF em todo seu escopo.

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CAPÍTULO 33
A ESTABILIZAÇÃO SEGMENTAR EM MULHERES COM LOMBALGIA
CRÔNICA: SEU EFEITO NO QUADRO ÁLGICO E NO EQUILÍBRIO ESTÁTICO

Jorge Fernando dos Santos, Docente, Faculdade Anhanguera de Joinville


Rebecca Izquierdo Jeller, Fisioterapeuta, clínica CURE
Elisa Ísis Ferreira, Docente, Faculdade Guilherme Guimbala

RESUMO
Introdução: A lombalgia é um sintoma relatado mundialmente e suas técnicas de tratamento
estão se aprimorando. A estabilização segmentar é uma técnica segura e indolor que visa à
melhora deste quadro álgico. Objetivo: Analisar uma série de casos tratados com a técnica de
estabilização segmentar no equilíbrio estático e no quadro álgico em diferentes situações de
atividade de vida diária (AVD’s). Métodos: A amostra consistiu em quatro participantes
mulheres com lombalgia que receberam 10 sessões de estabilização segmentar lombar (ESL).
Foram mensuradas a dor no início, meio e fim do tratamento com a escala analógica visual da
dor (EVA). A estabilidade estática foi mensurada através da estabilometria no início e final do
tratamento. Resultados: Em relação ao quadro álgico, todas as participantes apresentaram
melhora. A análise estabilométrica não apresentou alterações no equilíbrio estático após o
tratamento com ESL. Conclusão: Conclui-se que após o tratamento com a técnica de ESL
houve redução da dor lombar em mulheres sedentárias, porém, os dados estabilométricos não
sofreram alterações após 10 sessões de ESL.
Palavras-chave: lombalgia, escala visual analógica, equilíbrio.

INTRODUÇÃO

COLUNA VERTEBRAL

A coluna vertebral é uma estrutura comparada a um edifico de ossos. Esses ossos são
denominados como vértebras que se sobrepõem uma em cima da outra. São 33 vértebras, sendo
separadas didaticamente como 7 cervicais, 12 torácicas, 5 lombares, 5 sacrais e 4 coccígeas. O
segmento vertebral não é somente composto por ossos, mas sim, por um conjunto de músculos,
ligamentos, nervos e fáscia (1,2).
Os músculos da coluna podem ser subdivididos em dois grupos, os músculos profundos
e os músculos superficiais. Os músculos profundos são: oblíquos internos, transverso
abdominal e multifídios; já os superficiais, são: os oblíquos externos, os eretores da coluna e o
(1, 3, 4)
reto do abdome. Todos esses músculos contribuem para o suporte vertebral e pélvico .
Para que esse segmento ósseo possa permanecer estável ele necessita da força e do

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controle de um grupo muscular e ligamentar. A estabilidade da coluna decorre através de três
sistemas, sendo: passivo, ativo e o neural. O sistema passivo é composto pelas vértebras, discos
vertebrais, articulações e ligamentos, que são essas as estruturas que fornecem estabilidade pela
limitação passiva no fim do movimento. Já o sistema ativo, é constituído pelos músculos e
tendões, tendo como função o suporte e rigidez ao nível intervertebral. O sistema neural, por
sua vez, é formado pelo sistema nervoso central e periférico, tendo como função a coordenação
da atividade muscular em respostas a esforços esperados ou não, proporcionando dessa forma
a estabilidade dinâmica. Esse sistema deve ativar o músculo certo no momento certo, para a
realização de movimentos e a para que ocorra a proteção de lesões (5).
Se ocorrer a falha de um desses sistemas, ocorre a reorganização dos outros dois
restantes, para dar continuidade a homeostase. Muitas vezes, a reorganização é inadequada
sobrecarregando os subsistemas, promovendo assim, uma cronicidade da disfunção-
instabilidade vertebral (5, 6).

EQUILÍBRIO E ESTABILIDADE

A estabilidade nada mais é do que o alinhamento em posições sustentadas e padrões de


movimento que reduzam a tensão tecidual, evitando causas de trauma para a articulação ou
tecidos moles, fornecendo a ação muscular eficiente (9).
A instabilidade da cintura pélvica e da coluna lombar, tem uma grande importância no
equilíbrio corpóreo. A pelve transmite a força da cabeça, do tronco e das extremidades
superiores e as forças ascendentes dos membros inferiores. Já a coluna lombar é responsável
pela sustentação de carga do nosso corpo. Acredita-se que a maioria das disfunções da coluna
lombar ocorre graças à instabilidade articular da região lombossacra, em virtude da
movimentação articular sem controle muscular protetor, que acaba afetando a quantidade e a
qualidade do movimento (8).
O equilíbrio corpóreo é um processo que envolve as recepções e integrações de
estímulos sensoriais, o planejamento e a execução de movimentos para controlar o centro de
gravidade sobre a base de suporte. Esta integração é realizada pelo sistema de controle postural,
que é composto pelas informações do sistema vestibular, dos receptores visuais e do sistema
somatossensorial. O sistema sensorial fornece o posicionamento dos segmentos corporais em
relação ao ambiente e aos outros segmentos. O sistema motor, por sua vez, faz a ativação, a
correção e adapta os músculos para a realização do movimento, e o sistema nervoso central,
conecta as informações obtidas do sistema sensorial para enviar impulsos nervosos aos

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 404


músculos (9, 10).

LOMBALGIA
A lombalgia é caracterizada por uma sensação desagradável na região inferior da coluna
tendo dimensões sociais, biológicas e psicológicas na vida do indivíduo. Segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 80% dos adultos terão pelo menos uma vez
na vida, uma crise de dor lombar. A lombalgia é a maior causa de queixas de trabalho nos países
desenvolvidos, proporcionando além de um problema médico, um déficit econômico para o
país. Essa dor pode ser causada por processos degenerativos, inflamatórios, sedentarismo,
alterações congênitas e/ou mecano-posturais. As últimas citadas são responsáveis pela maior
parte das dores. Nelas ocorre um desequilíbrio entre a carga funcional e a capacidade funcional,
que é o potencial para a execução (11).
Sabemos também que a dor lombar crônica ocorre pela perda da estabilidade da coluna
vertebral, devido sua perda no controle dos mecanismos passivos (vértebras, discos e
ligamentos), ativos (músculos e tendões) e do controle motor. Como já citado, o sistema local
de estabilização consiste nos músculos profundos intrínsecos que estão ligados diretamente à
coluna lombar, já o sistema global é constituído por grandes grupos musculares superficiais que
se originam na pelve e tem sua inserção na caixa torácica, ambos são necessários para a
estabilidade e controle do movimento (12, 13, 14).
Acredita-se também que a estrutura e a função dos músculos profundos do tronco estão
(16)
alteradas nos indivíduos com dor lombar , por isso recentemente há um maior foco nos
exercícios de estabilização, para a melhora do controle neuromuscular, diminuindo a
recorrência a dor (13, 14, 17, 18).
O desequilíbrio muscular constitui um dos principais fatores da dor, pois a coluna
necessita da estabilidade durante os movimentos para evitar uma sobrecarga excessiva. Esta
estabilidade parte das estruturas ligamentares íntegras e de uma boa musculatura do sistema
muscular global (eretores espinhais, obliquo externo e reto abdominal) e local (transverso
abdominal, oblíquo interno, quadrado lombar e multifídios lombares) (10,15,16).
ESTABILIZAÇÃO SEGMENTAR
A estabilização segmentar (ES) caracteriza-se por exercícios de isometria, de baixa
intensidade e sincronia dos músculos profundos do tronco, que tem como objetivo estabelecer
o segmento da coluna e o proteger de desgastes excessivos. Esses exercícios são práticas de co-
contração dos músculos transversos abdominais, oblíquos internos e multifídios de modo a

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proporcionar suporte localizado aos segmentos vertebrais (15, 16, 19, 20, 21).
Os exercícios são sutis, específicos e precisos, reduzem assim a chance de dor ou reflexo
de inibição. Para maiores benefícios é preciso repetir quantas vezes forem necessárias. A
progressão pode-se dar por estágios. As séries podem ser progressivas com baixa carga com
(19, 22)
peso mínimo até posições funcionais com aumento gradual da carga .
Os exercícios de estabilização segmentar são práticas de reaprendizagem da co-
contração dos músculos transversos abdominais, oblíquos internos e multifídios lombares de
(16)
modo a proporcionar um suporte localizado aos segmentos vertebrais . Por virtude das
diferenças funcionais entre os músculos locais e globais, esses exercícios devem ser feitos de
forma diferente quando se objetiva em tratar as disfunções e diminuir o quadro álgico. Existe
uma dificuldade em detectar a ativação dos locais ocorre durante os exercícios, por isso, são
propostos exercícios específicos, que proporcionam o isolamento dos músculos locais dos
globais. Os exercícios de estabilização segmentar não colocam a estrutura lesada em risco,
principalmente no início da reabilitação, reduzindo a carga externa e mantendo a coluna em
posição neutra (22).
O objetivo deste estudo foi apresentar uma série de casos de dor lombar crônica tratados
com a técnica de ESL no equilíbrio estático e no quadro álgico, mensurar a dor lombar antes,
durante e após o tratamento e quantificar a instabilidade estática antes e após o tratamento.

MÉTODO

Trata-se de uma série de casos, envolvendo mulheres sedentárias com lombalgia. Este
projeto obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Joinville –
Univille, parecer 650.159 em 16 de maio de 2014.
A amostra foi composta por quatro mulheres com lombalgia e sedentárias. Não houve
distinção de etnia, religião, condição social ou financeira. Após a identificação das participantes
que se encaixaram nos critérios de inclusão, as mesmas foram convidadas a participar do estudo
mediante contato individual realizado pelos pesquisadores. Neste momento as convidadas
foram esclarecidas sobre os objetivos do estudo, bem como os benefícios e riscos de sua
participação. Após a leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE, as
convidadas que concordaram em participar da pesquisa assinaram o TCLE, e foram convidadas
a comparecer em local e data pré-determinadas para a coleta de dados.
Os critérios de exclusão foram idade inferior a 18 e maior que 60 anos, ser praticante de
qualquer atividade física, estar realizando qualquer tipo de tratamento conservador para coluna,

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ser portador de doença pré-diagnosticada da coluna vertebral, neurológica ou ortopédica e ter
realizado cirurgia prévia de coluna vertebral.
A coleta de dados foi realizada na Clínica de Fisioterapia da Associação Catarinense de
Ensino – Faculdade Guilherme Guimbala em Joinville, SC, nos meses de maio e junho de 2014.
Cada coleta pré-tratamento foi adquirida individualmente, agendando-se 04 participantes por
dia e obedecendo a disponibilidade de horário das mesmas. As informações coletadas foram
registradas em formulário especifico e abrangeram:
• Dados pessoais (nome, idade, endereço, telefone, estado civil, profissão, escolaridade e
renda);
• Dados antropométricos (peso e estatura);
• Atividades de vida diária (uso de medicação, limitação de atividade gerada por dor);
• Quadro álgico, utilizando a escala visual analógica (EVA).
A EVA é uma escala semelhante a uma régua, numerada de 0 a 10, sendo 0 sem dor e
10, a dor mais insuportável sentida pelo paciente. Este assinala a nota da dor no dia da avaliação.
A EVA é utilizada e validada como um método de mensuração (quantitativa) da dor, uma vez
que pode detectar pequenas diferenças na intensidade da dor quando comparada com outras
(22)
escalas. Adicionalmente, consiste em método de fácil utilização pelo examinador . Foi
avaliado a dor no início, na quinta sessão e após o término do tratamento nos seguintes aspectos:
ao acordar pela manhã, ao sentar-se, ao levantar-se, ao caminhar, durante a noite, durante o
trabalho e durante demais atividades específicas para cada paciente.

Imagem 1 – Escala visual analógica.

Fonte: Revill et al, 1976.


O equilíbrio foi avaliado através da estabilometria (Plataforma Estabilométrica S-
Plate®), que é um método de avaliação não invasivo do equilíbrio através de uma plataforma
de pressão plantar (baropodometria). A estabilometria é um método de avaliação do equilíbrio
que se dá pela quantificação das oscilações do corpo, cujos deslocamentos nos eixos ântero-
posterior e látero-lateral são analisados através do centro de pressão (23).

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Imagem 2 – Plataforma Estabilométrica S-Plate®

Fonte: < https://www.medicalexpo.com/pt/prod/medicapteurs/product-74712-454604.html > Acesso em 20 de


abril de 2021, às 18h31mim.

As participantes realizaram a estabilometria antes e após o tratamento de ESL. O teste


foi realizado da seguinte maneira: a participante permaneceu sobre a plataforma, sem sapatos,
olhando para frente e em posição ortostática estática por 15 segundos. Foram repetidas três
vezes o mesmo procedimento e para a análise dos resultados foi utilizada à média dos três
valores. Neste, foram avaliados os desvios médios látero-lateral e ântero-posterior e a
instabilidade postural.
TÉCNICA – ESL
Após a avaliação pré-tratamento, as participantes iniciaram um programa de tratamento
composto por 10 sessões de fisioterapia utilizando a ESL como tratamento da lombalgia. Essas
sessões foram realizadas 2 vezes por semana no período matutino e consistiram cinco exercícios
de ESL, intercalando três exercícios na primeira sessão da semana e os demais na segunda.
A aplicação da técnica consiste em 6 etapas progressivas de exercícios, realizando a
contração isométrica do transverso do abdome e multifídio, assim como contração da
musculatura do assoalho pélvico. Foram realizadas três séries de 10 repetições de cada
exercício, com intervalo de 1 minuto por série.
Os exercícios realizados foram:
O exercício 1: Participante em decúbito dorsal, joelhos fletidos em 90 graus e apoiados

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na maca, braços em posição anatômica, com contração abdominal, participante realiza uma
flexão de tronco, mantendo a mesma por 10 segundos.

Imagem 3 – Exercício ESL 1

Fonte: Acervo pessoal

Exercício 2: Participante em decúbito dorsal, membro inferior esquerdo em flexão e o


contralateral em extensão. Com abdome contraído, realiza a elevação do membro em extensão
e mantendo a mesma por 10 segundos, é realizada bilateralmente.

Imagem 4 – Exercício ESL 2

Fonte: Acervo pessoal

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Exercício 3: Participante em decúbito dorsal, joelhos em flexão de 90º e apoiados na
maca. Com abdome em contração, participante realiza uma rotação em báscula, mantendo em
10 segundos.

Imagem 5 – Exercício ESL 3

Fonte: Acervo pessoal

Exercício 4: Participante em decúbito ventral, participante apoia cotovelos e pés na


maca e realiza a elevação do corpo, ficando em posição de prancha, com abdome contraído
mantendo a posição por 10 segundos.

Imagem 6 – Exercício ESL 4

Fonte: Acervo pessoal


Exercício 5: Participante em decúbito lateral, apoia o cotovelo do mesmo lado e o pé na
maca, vai realizar a elevação do corpo, ficando em posição de prancha lateral, com contração

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de abdome, mantendo por 10 segundo, realizado bilateralmente.

Imagem 7 – Exercício ESL 5

Fonte: Acervo pessoal

RESULTADOS

Após 10 sessões de tratamento com ESL as participantes obtiveram os seguintes


resultados:
Participante 1: 60 anos, zeladora, iniciou o quadro de dor há 6 meses após queda da
própria altura. Ao início do tratamento referiu dor quando: realiza sua atividade laboral (varrer,
passar pano), quando acorda e ao levantar-se. A dor limita suas atividades quando varre ou
passa pano. Não possui diagnóstico clínico definido.

A Tabela 1 descreve o quadro álgico antes, durante e após o tratamento da estabilização


segmentar lombar na participante 1 durante as atividades descritas.

Tabela 1. Tabela descritiva do quadro álgico antes, durante e após o tratamento de ESL da participante 1 (P1).
Pré-tratamento 5ª sessão Pós-tratamento
P P P
Ao acordar 2 1 0
Ao levantar 4 3 0
Durante o trabalho 2 1 0
Demais atividades 6 5 4

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Média 3,50 2,50 1,00
Desvio Padrão 1,65 1,65 1,73
P - Pontuação EVA
Participante 2: 48 anos, do lar e cuidadora de filho com necessidades especiais, iniciou
quadro de dor há três anos. Ao início do tratamento referiu dor quando: acorda pela manhã, ao
sentar-se, durante a noite, fica muito tempo em pé, realiza serviços domésticos. A dor limita
suas atividades quando realiza serviços domésticos. Diagnóstico clínico de desgaste de discos
lombares em 2012.

A Tabela 2 descreve o quadro álgico antes, durante e após o tratamento da ESL da


participante 2 durante as atividades descritas.

Tabela 2. Tabela descritiva do quadro álgico antes, durante e após o tratamento de ESL da participante 2 (P2).
Pré-tratamento 5ª sessão Pós-tratamento
P P P
Ao acordar 5 3 3
Ao sentar 3 1 0
Ao levantar 3 1 0
Durante a noite 6 3 3
Durante o trabalho 7 3 2
Demais atividades 7 3 3
Média 5,16 2,33 1,83
Desvio Padrão 1,67 0,94 1,34
P – Pontuação EVA
Participante 3: 55 anos, do lar, sente dor lombar há 6 anos. Ao início do tratamento
referiu dor quando: ao levantar-se, ao caminhar, durante a noite, fica muito tempo em pé e
realizada serviços domésticos. A dor limita suas atividades quando realiza serviços domésticos
e serviços pesados. Não possui diagnóstico clínico definido.
A Tabela 3 descreve o quadro álgico antes, durante e após o tratamento da ESL da
participante 3 durante as atividades descritas.

Tabela 3. Tabela descritiva do quadro álgico antes, durante e após o tratamento de ESL da participante 3 (P3).
Pré-tratamento 5ª sessão Pós-tratamento
P P P
Ao sentar 4 0 0
Ao caminhar 4 0 0
Durante a noite 6 2 0
Durante o trabalho 6 2 2
Demais atividades 5 3 3
Média 5,00 1,40 1,00
Desvio Padrão 0,89 1,20 1,26
P – Pontuação EVA

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Participante 4: 49 anos, empresária, sente dor há três anos. Ao início do tratamento
referiu dor quando: acorda pela manhã, ao sentar-se, ao levantar-se, ao caminhar, durante a
noite, durante o trabalho e na faculdade. A dor limita suas atividades quando fica muito tempo
sentada (aula). Não possui diagnostico clinico definido.

A Tabela 4 descreve o quadro álgico antes, durante e após o tratamento da ESL da


participante 4 durante as atividades descritas.

Tabela 4. Tabela descritiva do quadro álgico antes, durante e após o tratamento de ESL da participante 4 (P4).
Pré-tratamento 5ª sessão Pós-tratamento
Nota Nota Nota
Ao acordar 3 2 0
Ao sentar 2 1 1
Ao levantar 2 2 1
Ao caminhar 6 5 1
Durante a noite 7 5 1
Durante o trabalho 6 4 1
Demais atividades 7 4 1
Média 4,71 3,28 0,85
Desvio Padrão 2,11 1,48 0,34
P – Pontuação EVA
A Tabela 5 demonstra os valores estabilométricos pré e pós-tratamento de ESL de todas
as participantes.

Tabela 5. Tabela Descritiva dos valores estabilométricos pré e pós-tratamento de ESL de todas as participantes.
Pré-tratamento Pós-tratamento
DLL DAP IP DLL DAP IP
M DP M DP M DP M DP M DP M DP
P1 1,2 0,8 1,3 0,7 34,9 9,4 0,8 0,6 1,1 0,7 48,0 5,5
P2 0,3 0,1 0,4 0,0 21,5 2,0 0,4 0,1 2,1 0,4 29,1 7,0
P3 0,6 0,3 0,9 0,2 20,5 2,8 0,9 0,4 0,6 0,2 25,3 1,2
P4 0,4 0,2 0,8 0,3 19,1 4,5 0,6 0,2 2,1 1,3 30,4 2,3
DLL – Desvio látero-lateral; DAP – Desvio ântero-posterior; IP – Instabilidade postural; M – Média; DP-
Desvio padrão; P1 – Participante 1; P2 – Participante 2; P3 – Participante 3; P4 – Participante 4.

DISCUSSÃO

Foram realizadas dez sessões de ESL na Clínica Escola de Fisioterapia da Associação


Catarinense de Ensino - ACE, com uma amostra de quatro participante do gênero feminino,
sedentárias, apresentando sintomatologia de lombalgia com etiologias diferentes.
A ESL foi utilizada para o fortalecimento dos músculos profundos e superficiais da
coluna lombar e pelve: músculos oblíquos internos, transverso abdominal, multifídios, oblíquos

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externos, os eretores da coluna e o reto do abdome (15, 16, 19, 20, 21, 22). Em relação ao quadro álgico,
após o tratamento, houve um desaparecimento completo nesse sintoma na maioria das
atividades diárias avaliadas e nos demais itens houve uma diminuição acentuada da dor. Foi
possível analisar a melhora do quadro álgico a partir da quinta sessão de ESL.
O resultado do tratamento com exercícios de ESL é positivo em relação à dor crônica
inespecífica (25, 26, 27, 28) e não costuma ser observado nos casos de dor lombar aguda (28).
Em um estudo comparativo que também utilizou a EVA como instrumento para
verificar a variação da dor lombar, comparou as técnicas de ESL, alongamento e fortalecimento
superficial. Dentre os três protocolos utilizados o de ES obteve o melhor resultado na dor
(27)
(Média inicial: 5,95; Média final: 0,06) e na capacidade funcional .
Em outro estudo, a ESL também obteve resultados positivos, realizando um programa
de seis semanas, utilizando a técnica de estabilização segmentar, com frequência de duas vezes
semanais, concluindo no fim do estudo, a eficácia do tratamento na redução da dor e na
capacidade funcional na dor lombar mecânico postural em mulheres (19). Quando se comparou
a eficácia de dois programas de exercícios, a estabilização segmentar e o fortalecimento dos
músculos abdominais e tronco, em pacientes com dor lombar crônica, ambas as técnicas
diminuíram a dor, mas a eficácia da ESL, na redução da incapacidade foi superior ao
fortalecimento superficial para todas as variáveis analisadas (25).
Foi avaliada a eficácia da ESL na melhora da dor lombar, utilizando a Escala Modificada
de Borg, obtendo também uma redução no quadro álgico. Neste estudo participaram seis
indivíduos de ambos os sexos. Após a intervenção, houve desparecimento total da dor em dois
indivíduos, mas a dor ainda permaneceu em quatro. Apesar da redução do nível de dor não ter
sido significativa (p=0,06), tal valor foi muito próximo do valor significativo, ou seja, caso haja
um aumento do tamanho da amostra, o valor de “p”, tem uma tendência a se tornar significativo
(27)
.
Vinte e nove voluntários portadores de lombalgia crônica inespecífica foram
randomizados em dois grupos. Um grupo recebeu um programa de ESL e outro grupo placebo
foi submetido à aplicação de Ultra Som e Ondas curtas em parâmetros mínimos. Os dois grupos
realizaram 12 sessões de fisioterapia. Os autores concluíram a melhora da dor e desempenho
funcional no grupo que foi submetido o programa de exercícios de ESL, quando comparado ao
placebo. No grupo de ESL, a dor e a incapacidade funcional melhoraram significativamente,
(29)
após o período de tratamento, e se mantiveram em longo prazo .
Pesquisas comparando a diminuição da dor em número de semanas comprovam que a

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partir da 4º semana de tratamento com exercícios de ESL obtém-se um início de melhora no
quadro álgico(30).
Outros estudos justificam os efeitos positivos dos exercícios de ES nas lombalgias
devido ao aumento da ativação muscular observada em diferentes graus dos músculos
constituintes do complexo lombo-pélvico(29). O fortalecimento da musculatura lombo-pélvica
aumenta o desempenho esportivo, reduz a fadiga muscular, aperfeiçoa movimentos
apendiculares, além de prevenir lesões musculoesqueléticas, dentre elas a lombalgia (32).
Ao contrário dos resultados obtidos com o quadro álgico, os resultados obtidos com a
estabilometria não demonstraram redução dos valores da instabilidade estática após as dez
sessões de exercícios de ESL.
Dessa forma, o tempo de intervenção do estudo pode não ter sido suficiente para gerar
adaptações neuromusculares e morfológicas. Achados da literatura descrevem que essas
adaptações ocorrem após um período mínimo de seis semanas de treinamento (em atletas),
quando se observam ganhos de coordenação intra e intermuscular, como também hipertrofia
(33)
.
Aumentos de oscilação na postura ereta estática de curta duração ocorrem pela
diminuição dos torques corretivos gerados para controlar as oscilações e velocidades do corpo,
além do aumento do tempo para sentir, transmitir, processar e ativar a musculatura. Estas
alterações estariam relacionadas à diminuição de força muscular (34).
A literatura é escassa de pesquisas que avaliem, por meio da estabilometria, o efeito dos
exercícios de ESL sobre a estabilidade postural estática em indivíduos com lombalgia.
Indivíduos com essa sintomatologia tem maior oscilação postural quando comparado com
indivíduos saudáveis, podendo essa alteração ser correlacionada com níveis aumentados de
(35, 36)
incapacidade física e baixa qualidade de vida .Há relatos que essa intervenção seja mais
efetiva nos tratamentos do que estratégias tradicionais de alongamento. Isso pode ser explicado
devido ao fato de exercícios de contrações isométricas sincronizadas, sutis e específicas,
atuarem diretamente no alívio da dor por meio do aumento da estabilidade do segmento
vertebral (15).

CONCLUSÃO

Conclui-se que a técnica de ESL obteve um resultado positivo no tratamento da dor em


coluna lombar em mulheres sedentárias. Em relação à estabilidade estática, não se observou
redução nas variáveis estabilométricas. Como limitações do estudo, pode-se citar o número

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reduzido de participantes e a escassez de estudos que abordem a estabilometria como um
instrumento de avaliação em portadores de lombalgia. Sugere-se um aumento no número de
participantes, além do aumento do número de sessões de ESL.

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Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 418


CAPÍTULO 34
EFICÁCIA DA CINESIOTERAPIA NO TRATAMENTO DE IDOSOS COM
OSTEOARTROSE NO JOELHO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA
LITERATURA

Antônio Oleilson Bento da Silva, Fisioterapeuta Graduado, FAECE


Maria Camila Lucas de Brito, Fisioterapeuta Graduada, FAECE
Daniele de Queiroz Martins, Fisioterapeuta Graduada, UNIATENEU
Franklin Douglas Saboia de Sousa, Fisioterapeuta Graduado, UNIATENEU
Carlos Victor Silva Costa, Fisioterapeuta Graduado, UNINASSAU
Francisco Valter Miranda Silva, Fisioterapeuta Graduado, UNIATENEU
Paula Pessoa de Brito Nunes, Docente de Curso de Fisioterapia, UNIATENEU

RESUMO

Introdução: A osteoartrose (OA) é uma doença crônica-degenerativa de origem multifatorial


que acomete preferencialmente a população idosa, que está crescente mundialmente. A OA gera
dor, rigidez, fraqueza muscular, amplitude de movimento diminuída, perda da capacidade
funcional e qualidade de vida. Objetivo: Analisar a eficácia da cinesioterapia como terapêutica
em pacientes idosos com osteoartrose nos joelhos por meio de uma revisão integrativa.
Metodologia: Trata-se uma Revisão Integrativa da Literatura, com base em artigos nas bases
de dados PubMed, SciELO e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), realizado no ano de 2020,
com publicações nos últimos 10 anos, nos idiomas inglês, português e espanhol, por meio dos
descritores “cinesioterapia”; “osteoartrite do joelho” e “idosos”. Resultados: Foram
encontrados 2833 artigos, após os critérios de exclusão e inclusão, restaram 08 artigos para
serem analisados. Observou-se que a utilização da cinesioterapia por meio dos exercícios
apresentou-se, eficaz nas variáveis; dor, rigidez, força muscular, amplitude de movimento,
capacidade funcional e qualidade de vida. Conclusão: O presente estudo evidenciou a eficácia
da cinesioterapia no tratamento de idosos com OA de joelho, sendo observado a diminuição do
quadro álgico, rigidez, ganho de força e amplitude de movimento, melhora na capacidade
funcional e qualidade de vida dos pacientes. Porém não se pode concluir entre os tipos de
exercícios que foram utilizados qual é o mais adequado no tratamento de OA, sendo assim é
necessários mais estudos para um consenso.

Palavras-chave: Cinesioterapia, Osteoartrite do Joelho, Idoso.

INTRODUÇÃO

Mundialmente há um aumento significativo de pessoas idosas na sociedade, a população


idosa representa mais de 19,6 milhões, somando cerca de 10,6% da população total, como
consequência disso há um aumento no número de ocorrências de doenças crônicas e
incapacidades relacionadas ao envelhecimento (GRAGNOLATI et al., 2011).

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 419


O processo histórico do envelhecimento no Brasil sinalizou um período entre 1940 e
2018 uma elevação na longevidade dos idosos, onde a expectativa de vida ao nascer no Brasil
era de 45,5 anos, hoje pode se dizer que essa expectativa vem subindo desde então, e chegou a
76,2 anos em 2018, enquanto a expectativa de vida dos homens é de 72,7 anos, a das mulheres
chega há 79,8 anos. Portanto, houve modificações nos padrões de morbidade, invalidez e
mortalidade (IBGE, 2018).

Nesse contexto, as doenças associadas ao envelhecimento são típicas e inúmeras, dentre


estas destaca-se a osteoartrose (OA) também conhecida como artrose, que representa um dos
problemas mais frequentes e sintomáticos em pessoas de meia idade e idosos, causando dor e
incapacidade nesta população (ALVES; BASSITT, 2012).

Na OA evidencia-se o desgaste da cartilagem articular, na qual dentre as articulações de


sustentação de peso, o joelho é o mais afetado. Indivíduos com OA referem dor, apresentam
rigidez articular, diminuição de função física, mobilidade e fraqueza muscular, resultando em
uma menor qualidade de vida (SILVA et al., 2012)

Para os casos de OA se faz necessário um tratamento fisioterapêutico, onde este pode


utilizar-se da cinesioterapia por meio de exercícios isométricos, isotônicos, isocinéticos, além
da orientação postural com o intuito de proteger a articulação comprometida, dessa forma
possibilita o ganho de Amplitude de Movimento (ADM), fortalecimento muscular, analgesia,
diminuição de edemas, ganho e manutenção de equilíbrio (TEIXEIRA; PIVA; FITZGERALD,
2011).

A cinesioterapia ou exercício terapêutico é vista como um treinamento planejado e


sistemático de movimentos corporais, posturas ou atividades físicas com objetivos de
proporcionar ao indivíduo meios de tratamento ou prevenção de comprometimentos
osteoarticulares, visando melhorar, restaurar ou potencializar a função física, prevenindo ou
reduzindo fatores de risco ligados à saúde, bem como possibilita a otimização do estado de
saúde geral promovendo o bem-estar (GOMES, 2016).

Diante do exposto, se faz necessário o estudo da OA na população idosa e da


cinesioterapia como alternativa de tratamento como a para esta patologia. Assim surgiu o
seguinte questionamento: Qual a eficácia da cinesioterapia no tratamento de pacientes idosos
com osteoartrose de joelho? E com base nesse questionamento, objetivou-se realizar uma
revisão integrativa da literatura, com a finalidade de analisar a eficácia da cinesioterapia no
tratamento de pacientes idosos com osteoartrose de joelho.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 420


METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura realizada no período de fevereiro de


2020 a outubro de 2020 sobre a eficácia da cinesioterapia no tratamento de pacientes idosos
com osteoartrose de joelho. A presente revisão contempla as seguintes etapas: definição da
questão norteadora (problema) e objetivos da pesquisa; estabelecimento de critérios de inclusão
e exclusão das publicações (seleção da amostra); busca na literatura; análise e categorização
dos estudos, apresentação e discussão dos resultados (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).

Realizou-se a busca dos artigos indexados nas bases de dados: PubMed, SciELO e
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) por meio dos descritores nas línguas portuguesa e inglesa
e combinados com o operador booleano AND, formando os seguintes grupos de palavras:
“cinesioterapia” AND “osteoartrite do joelho” AND “idosos” e “kinesiotherapy” AND
“osteoarthirtis of knee” AND “eldery”.

Os critérios empregados para inclusão foram: artigos completos, publicados em revistas


indexadas, no idioma inglês, português e espanhol publicados nos últimos 10 anos. Os critérios
de exclusão foram: editoriais, revisões, estudos que não estivessem de acordo com o objetivo
desta revisão, assim também como artigos de opinião ou reflexão, dissertações, teses e livros-
textos.

Para otimizar a seleção, categorização das informações e análise dos estudos, elaborou-
se um instrumento composto pelos seguintes itens: Título, autor, ano, local do estudo,
metodologia, população estudada, objetivo e principais resultados.

Os artigos selecionados passaram por um processo de leitura dos dados que ocorreu
primeiramente por leitura textual, a qual se trata de um modo de aprofundamento em processos
discursivos, visando alcançar saberes sob a forma de compreensões reconstruídas dos discursos.
Essa leitura permite identificar e isolar enunciados dos conteúdos a ele submetidos, categorizar
tais enunciados e produzir textos, de maneira a integrar descrição e interpretação. A análise
textual utiliza como fundamento de sua construção o sistema de categorias, o corpus - conjunto
de textos submetidos à apreciação, que representa a multiplicidade de visões de mundo dos
sujeitos acerca do fenômeno investigado (MORAES, 2016).

Foi utilizada a técnica de análise temática (MINAYO, 2010), para a compreensão dos
núcleos temáticos escolhidos na construção dos problemas do estudo. Após esse procedimento,

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 421


os estudos foram categorizados em 2 núcleos temáticos, que subsidiou a interpretação e
apresentação dos resultados da revisão.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram encontrados 2833 artigos nas bases de dados, sendo que 2737 na PubMed, 91 na
BVS e 05 na SciELO. Deste total, após a utilização dos critérios de inclusão foram selecionados
838 artigos, distribuídos nas bases de dados da seguinte forma: PubMed (800), SciELO (05) e
BVS (33). Dos 838 artigos após a leitura dos títulos e resumos foram excluídos 830 artigos que
não respondiam ao objetivo da revisão. Assim, a seleção foi finalizada com 08 artigos para
serem lidos na íntegra (Figura 1).

Figura 1: Fluxograma da descrição da busca dos artigos nas bases de dados. Fortaleza-CE, 2020.

Fonte: Autores, 2020


Os artigos foram dispostos em 2 quadros contemplando: Quadro 1 - título, autor, ano,
local e metodologia, Quadro 2 -Título, população de estudo, objetivo e principais resultados
sobre a eficácia da cinesioterapia no tratamento de idosos com osteoartrose do joelho (Quadro
1 e Quadro 2).

Com relação à metodologia empregada, 05 estudos utilizaram o ensaio clínico


randomizado; 2 estudos de intervenção e 1 estudo observacional de grupos paralelos. Quanto
ao local da pesquisa e período, os estudos foram conduzidos da seguinte forma: dois no
continente Europeu, três na América do Sul, dois no continente asiático, um na América do
Norte, todos publicados no período de 2011 a 2019.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 422


Quadro 1: Descrição dos artigos sobre a utilização da cinesioterapia por meio de exercícios na reabilitação
pacientes com OA de joelhos. Fortaleza-CE, 2020.
Título Autores Ano Local Metodologia
Efficacy of passive Suzuki 2019 Asia Ensaio clínico randomizado. cego de participantes
extension et al. único e desenho pré-pós comparando dois grupos
mobilization in paralelos – exercícios múltiplos (treinamento e
addition to exercise in alongamento dos músculos do joelho e quadril) e
the osteoarthritic controle (treinamento apenas dos músculos
knee: An quadríceps)
observational
parallel-group study
Eccentric and Vincent 2019 América Estudo randomizado, controlado e cego de 4 meses
Concentric et al. do norte de dois programas diferentes de treinamento de
Resistance Exercise exercícios de resistência em sintomas do OA do
Comparison for Knee joelho. Este estudo seguiu as diretrizes do
Osteoarthritis Consolidaled Standards of Reporting Trials 2010
para relatar estudos randomizados de grupos
paralelos.
Effects of quadriceps Huang et 2017 Ásia Os pacientes foram divididos em dois grupos
functional exercise al. aleatoriamente, um grupo de teste de tratamento de
with isometric exercícios (128 pacientes) e um grupo de controle
contraction in the tratamento tradicional (122 pacientes). Os exercícios
treatment of knee de contração isométrica do quadríceps foram usados
osteoarthritis no grupo teste e a fisioterapia local e os anti-
inflamatórios não esteroides orais foram usados no
grupo controle.
Capacidade funcional Barduzzi 2013 América Estudo de intervenção clínica contendo 15
de idosos com et al. do Sul voluntários onde foram distribuídos aleatoriamente
osteoartrite entre os grupos FA: (N=5), realizou cinesioterapia
submetidos a em imersão; FT: (N=5), que realizou cinesioterapia
fisioterapia aquática e em solo; e grupo controle (GC) (N=5), não recebeu
terrestre qualquer tipo de intervenção fisioterapêutica. A
capacidade funcional foi avaliada com base da
velocidade da marcha usual, por meio de células
fotoelétricas, nos movimentos de caminhar e subir e
descer escadas.
Comparação dos Oliveira 2016 América Trata-se de um ensaio clínico prospectivo
efeitos de exercícios et al. do Sul randomizado e simples cego. Os voluntários foram
resistidos versus avaliados quanto a dor, rigidez articular,
cinesioterapia na funcionalidade, mobilidade funcional e força, por
Osteoartrite de joelho um avaliador cego antes e após as intervenções. Por
meio de sorteio simples os participantes foram
aleatoriamente direcionados a um dos dois grupos de
intervenção, e submetidos a 15 sessões de
tratamento, com duração de 30 minutos cada, duas
vezes por semana.
Efficacy of passive 2014 Europa Estudo observacional de grupos paralelos, incluídos
extension Kappetji 17 participantes com foram tratados com protocolo
mobilization in n et al. de exercícios e, adicionalmente receberam
addition to exercise in mobilizações manuais para melhorar ADM de
the osteoarthritic extensão passiva. O outro grupo com características
knee: An iguais foi tratado apenas com um protocolo de
observational terapia de exercício idêntico. Antes da participação,
parallel-group study mediações detalhadas de ROM foram registradas em
seguida nos testes de função muscular, dor (VAS),
teste de caminhada de 6 minutos (TC6).
Assessment of the Duman et 2011 Ásia Estudo randomizado 54 pacientes com diagnóstico
impact of al. de osteoartrite de joelho de acordo com os critérios

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 423


proprioceptive da American Collage of Rheumatology com grau 3
exercises on balance ou superior de acordo com a escala K/L foram
and proprioception in incluídos no estudo. Os pacientes foram alocados
patients with aleatoriamente em dois grupos, o grupo de estudos
advanced knee incluiu 30 pacientes e o grupo de controle incluiu 24
osteoarthritis pacientes.
Efeitos de um Cordeiro 2016 América Estudo de intervenção clínica Voluntários com OA
treinamento de et.al do Sul de joelho foram submetidos, antes e após o período
resistência muscular de treinamento, a aplicação do questionário
em indivíduos com WOMAC e SF – 36 e da escala visual analógica
osteoartrite de (EVA), a avaliação musculo esquelético, teste de 10
joelhos. RM e teste de caminhada de 10 metros. O
treinamento realizado consistiu em um programa de
resistência muscular e alongamentos, por 12
semanas (3 sessões de 80 por semana).
Fonte: Autores, 2020.

Quadro 2 - Descrição dos artigos sobre a utilização da cinesioterapia por meio de exercícios na reabilitação
pacientes com OA de joelhos por Título, população, objetivo e principais resultados. Fortaleza-CE, 2020.
Autores População Objetivo Resultado
Suzuki 52 pacientes Investigar o efeito da terapia de No resultado da participação JKOM
et al. exercícios em casa visando melhorar a em atividades sociais, uma tendência
força de vários músculos e aumentar a de melhora foi observada no grupo de
flexibilidade das articulações em idosos exercícios múltiplos em comparação
residentes na comunidade com AO pré- com o grupo de controle.
radiográfica do joelho e examinar a
adesão do paciente dos programas de
exercícios
Vincent 90 Comparar a eficácia do exercício de Incluíram ganho de força máxima em
et al. participantes resistência com foco excêntrico com extensão e flexão da perna de uma
exercício de resistência com foco repetição em leg press, redução da dor
concêntrico nos sintomas e força da segundo WOMAC
oesteoartrite de joelho.
Huang et 250 Investigar os efeitos de um método de A pontuação VAC e questionário
al. participantes exercício de contração isométrica do WOMAC mostraram alívio
quadríceps no tratamento da osteoartrite significativo da dor um mês após o
de joelho. tratamento no grupo de teste
(percentual menor que 0,05), mais
alívio mínimo no grupo de controle;
em um mês, também melhora mínima
da função articular no grupo de teste
(percentual maior que 0,05), mais
melhora significativa no grupo de
controle (percentual menor que 0,05).
No entanto, três meses após o
tratamento o alívio da dor e função da
articulação do joelho melhoraram
mais no grupo de teste do que no
grupo de controle com uma diferença
significativa (percentual menor que
0,05).
Barduzzi 15 voluntários. Avaliar o impacto da fisioterapia Observou que os participantes da FA
et al. aquática e terrestre na capacidade apresentaram melhora significativa do
funcional de idosos com diagnóstico de tempo marcha usual (P=0,007),
osteoartrose de joelho. marcha rápida (P=0,02), subir escadas
(P=0,02), descer escadas (P=0,01).
Oliveira 30 pacientes. Comparar a dor, mobilidade, Ambas as intervenções promoveram
et al. capacidade funcional e força de melhorias significantes em todas as
indivíduos com osteoartrose de joelhos variáveis, avaliadas, dor, mobilidade,

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 424


submetidos a dois tipos de intervenção, capacidade funcional e força, e não
exercício resistido e cinesioterapia. houve relato de nenhum efeito adverso
ao longo da pesquisa.
34 Avaliar a eficácia da mobilização Mobilização passiva DM de extensão
Kappetji participantes. passiva da extensão do joelho. Além da significativamente melhorada no
n et al. terapia com exercício na amplitude de grupo de intervenção (5,2 X 5,6,
movimento da extensão em paciente P=0,017), o grupo mobilizado
com osteoartrite do joelho. manualmente também teve melhores
capacidades físicas avaliadas pelo
TC6, menos dor e uma pontuação
PSFS mais baixa.
Duman et 54 pacientes. Investigar o impacto dos exercícios Houve uma melhora significativa no
al. proprioceptivos no equilíbrio, equilíbrio estático. Foi obtido uma
percepção proprioceptiva e clínica. melhora significativamente nos
escores de equilíbrio dinâmico.
Cordeiro 27 Avaliar o impacto de um treinamento Houve uma melhoria no desempenho
et.al Voluntários. sistematizado de resistência muscular funcional, aumento na velocidade da
no desempenho funcional e na marcha, percepção da dor diminuiu
qualidade de vida em indivíduos com após o treinamento. A melhoria da
OA de joelhos. qualidade de vida ocorreu
principalmente por modificações nos
domínios de dor, capacidade funcional
e aspectos físicos do SF – 36.
Fonte: Autores, 2020.
Os 08 artigos selecionados para a revisão foram separados em 2 categorias:
Cinesioterapia através de exercícios para fortalecimento muscular e qualidade de vida em
pacientes idosos com OA no joelho e Cinesioterapia por meio de exercícios para promover
ganho de amplitude de movimento, capacidade funcional e alívio da dor em pacientes idosos
com OA de joelho (Quadro 3).

Quadro 3: Categorias e números de identificação. Fortaleza-Ce, 2020.


Nº identificação CATEGORIAS
I Cinesioterapia através de exercícios para fortalecimento muscular e qualidade de vida em
pacientes idosos com OA no joelho

II Cinesioterapia por meio de exercícios para promover ganho de amplitude de movimento,


capacidade funcional e alívio da dor em pacientes idosos com OA de joelho
Fonte: Autores, 2020.
De acordo com Gomes-Neto et al. (2015) a AO é uma doença proveniente do desgaste
da cartilagem presente nas articulações do corpo humano, que acometem principalmente as
articulações do joelho, que suportam o peso do corpo, caracterizando o aparecimento de dores,
artralgia, rigidez e limitação da função articular, alterando a qualidade de vida. OA tem elevada
incidência, atingindo cerca de 20% da população mundial com idade acima de 60 anos
(SILVEIRA et al., 2011).

Categoria 1- Cinesioterapia através de exercícios para fortalecimento muscular


proporcionando qualidade de vida em pacientes idosos com OA no joelho.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 425


De acordo com Dos Santos et al. (2020), em sua revisão de literatura, foi encontrada
uma grande variedade de instrumentos de avaliação e de técnicas de exercícios para o
tratamento conservador da AO em indivíduos com idade superior a 50 anos de idade, a fim de
observar os benefícios das terapias para alívio da dor, melhora da função física e qualidade de
vida dessa população.

Diante dos artigos analisados, foram encontrados quatro estudos que enfatizam o uso e
a eficácia da cinesioterapia através dos exercícios de fortalecimento proporcionando qualidade
de vida em pacientes idosos com AO no joelho.

Segundo os autores Aguiar et.al. (2016) e Oliveira (2016), os exercícios de resistência


muscular em pacientes idosos com OA no joelho se mostraram eficientes, constatados durante
a utilização de testes como: teste 10 RM, teste de caminhada de dez metros e treinamento de
resistência muscular. Foi obtido como resultados: fortalecimento muscular, melhoria na
capacidade funcional, diminuição na dor e rigidez, possibilitando assim a melhoria na qualidade
de vida desses pacientes.

De acordo com Suzuki et al. (2019), em seu estudo clínico randomizado foi realizado a
comparação de dois programas de terapia com uso de exercícios em domicílio. Os resultados
foram: melhora da força muscular, alívio da dor e rigidez, proporcionando qualidade de vida
para as pessoas com OA de joelho.

Vincent et al. (2019), em seu estudo randomizado foi feito a comparação entre o uso de
exercícios resistidos concêntricos e excêntricos no tratamento de idosos acometidos por OA no
joelho. Ambos os grupos obtiveram um aumento de ganho de força muscular, diminuição do
quadro de dor e consequentemente melhora da qualidade de vida.

Em concordância com os achados do presente estudo, os autores Jorge et al. (2018),


demonstrou em sua pesquisa que a cinesioterapia por meio de exercícios é um recurso eficiente
no tratamento de idosos acometido pela OA de joelho. Os estudos utilizados apontam que o
aquecimento, alongamento dos músculos isquiotibiais e fortalecimento do quadríceps se
mostraram eficientes em relação ao desempenho muscular, funcionalidade, diminuição da dor
e rigidez, proporcionando assim uma melhor qualidade de vida aos indivíduos acometidos pela
OA no joelho.

Magalhães et al. (2006) em seu estudo, encontrou resultados semelhantes ao utilizar


exercícios excêntricos associado aos alongamentos no tratamento de pacientes idosos com OA

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 426


de joelho, verificando que os mesmos, tendem a apresentar resultados eficientes na força
muscular, analgesia, ganho da amplitude de movimento, melhora da capacidade funcional e
qualidade de vida.

Segundo estudo experimental apresentado por Cordeiro et al. (2016), o tratamento de


doze semanas realizado com exercícios de resistência muscular também apresentou resultados
positivos na reabilitação de pacientes idosos com OA de joelho, coletados por meio da escala
WOMAC E SF-36, teste da caminhada de seis minutos (TC6), timed up and go (TUG), escala
visual analógica. Assim foi visto diminuição da dor, ganho de força, aumento de amplitude de
movimento e qualidade de vida dos pacientes com OA.

Em Discordância com os achados da presente pesquisa, os autores Teixeira et al. (2011),


em seu estudo relatou que o tratamento com uso de programas de exercícios não é eficiente em
sua totalidade em pacientes com OA de joelho; demonstrando que após análise dos resultados
dos grupos observou-se que a probalidade de melhora foi baixa. Portanto os resultados indicam
que as respostas ao treinamento ainda são limitadas, e não sejam suficientes para a melhora de
forma geral e efetiva a função física de pessoas com OA.

Categoria 2- Cinesioterapia por meio de exercícios para promover ganho de amplitude de


movimento, capacidade funcional e alívio da dor em pacientes idosos com OA de joelho.

Segundo Raymundo (2014) o tratamento da OA é direcionado à redução da dor, ganho


de amplitude de movimento, diminuição da rigidez nas articulações; manutenção e melhora da
mobilidade articular; redução da incapacidade física, a qual limita as atividades da vida diária
desses pacientes; limitação da progressão das lesões articulares; educação dos pacientes sobre
a natureza da doença e consequentemente melhora da qualidade de vida.

De posse dos artigos analisados quatro abordaram a cinesioterapia por meio de


exercícios para promover ganho de amplitude de movimento, capacidade funcional e alívio da
dor em pacientes idosos com OA de joelho.

Duman et al. (2011), em sua pesquisa demonstrou os benefícios do tratamento de


pessoas acometidas pela OA avançada no joelho através dos exercícios proprioceptivos,
estáticos e dinâmicos, onde as variáveis analisadas foram: dor, rigidez e diminuição da função
articular. Os resultados obtidos com os exercícios apresentados pelos pacientes foram:
diminuição da dor, rigidez, melhora do equilíbrio estático e da função articular.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 427


Segundo Huang et al. (2017) em seu estudo o emprego de exercícios isométricos para o
quadríceps no tratamento da OA de joelho mostrou-se eficaz na diminuição da dor e melhora
da função articular nos pacientes com OA no joelho.

No estudo de Barduzzi et al. (2013) foi realizado a comparação entre a fisioterapia


terrestre e aquática no tratamento de idosos com OA. Obteve-se como resultados que os
exercícios executados na água são mais eficientes na melhora da capacidade funcional, no
tempo da marcha usual e em subir e desce escadas, nos pacientes com OA. Em concordância,
Mioto et al. (2013), relatam que, a fisioterapia aquática, pode ser considerada uma das possíveis
intervenções no tratamento da OA, devido as propriedades físicas da água possibilitarem uma
maior segurança na realização dos exercícios em comparação com a execução em solo. O
aquecimento da água durante o procedimento possibilita vários benefícios, como: melhora na
mobilidade articular, ADM, controle muscular, resistência, alivio das dores e maior velocidade
no processo de recuperação da capacidade funcional.

De acordo com Duarte et al. (2013), a utilização de um grupo de exercícios


cinesioterapêuticos aquáticos, isocinéticos e resistidos tendem a ser eficazes no tratamento da
osteoartrite em idosos, reduzindo o quadro de dor e melhorando o aumento da mobilidade
funcional; em concordância com os achados do presente estudo. Ressalta -se que não se tem
ainda um consenso entre quais os parâmetros de aplicação são mais efetivo no tratamento,
porém sua eficácia é comprovada.

Segundo Kappetijn et al. (2014) em seu estudo, demonstrou a eficácia da mobilização


passiva combinada com exercícios ativos livres e de fortalecimento para o joelho na OA;
resultando em melhora da ADM em extensão e capacidade funcional, e diminuição da dor nos
pacientes com OA no joelho.

Semelhante aos achados supracitados, Imoto et al. (2012) apresentou como efetivo os
exercícios de fortalecimento de quadríceps femoral na reabilitação de pessoas com OA de
joelho; obtendo como resultado: melhora na capacidade funcional e diminuição da dor.

Corroborando com Imoto et al. (2012) Pelletier et al (2013) em seu estudo piloto,
utilizou um programa de exercícios resistidos para o quadríceps femoral em mulheres com OA
no joelho. As mesmas foram submetidas a exercícios de resistência por um período de oito
semanas, após a utilização dos exercícios foi visto a eficácia em relação as atividades de vida
diária, diminuição do quadro álgico e na capacidade funcional das pacientes estudadas. Sendo
assim se se evidenciou que o uso de exercícios é eficiente no tratamento de OA de joelho.

Editora e-Publicar – Saúde e aplicações interdisciplinares, Volume 3. 428


Rodrigues e Camargo (2015), concluiu por meio de sua revisão da literatura que, o
recurso mais citado e utilizado no tratamento de pacientes com OA de joelho foi, a
cinesioterapia, apresentando resultados positivos nas variáveis como; dor, rigidez, capacidade
funcional. A cinesioterapia foi citada 17 vezes na pesquisa o que corrobora para a importância
da sua utilização e eficácia no tratamento da OA de joelho.

CONCLUSÃO

A presente revisão da literatura demonstrou que o uso da cinesioterapia com o uso dos
exercícios no tratamento de idosos com OA de joelho, se mostrou eficaz na melhora do quadro
álgico, ganho de força muscular, amplitude de movimento articular, redução da rigidez
articular, melhora da capacidade funcional, possibilitando uma melhor qualidade de vida para
esses idosos. Foi visto que os exercícios foram variados, sendo isométricos, isotônicos,
resistidos, passivos e ativos, não podendo apontar qual desses é o mais eficiente no tratamento
da OA, portanto se faz necessário mais estudos sobre a temática.

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